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1 - Heather
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5 - Heather
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41 - Heather
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47 - Heather
48 - Heather
49 - Rogan
50 - Rogan
51 - Heather
52 - Heather
53 - Asher
54 - Heather
55 - Heather
56 - Heather
Epílogo
Cena Bônus
Visualizar - Tentação Tripla
Autora
Uma babá
para os
Fuzileiros
Por Cassie Cole
Copyright © 2022 Juicy Gems Publishing
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode
ser reproduzida, distribuída ou transmitida de nenhuma forma sem
consentimento prévio da autora.
Traduzido por Moema Sarrapio
Revisado por Thomas Frizeiro

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(em Inglês)
Broken In
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Five Alarm Christmas
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Triple Team
Shared by her Bodyguards
Saved by the SEALs
The Proposition
Full Contact
Sealed With A Kiss
Smolder
The Naughty List
Christmas Package
Trained At The Gym
Undercover Action
The Study Group
Tiger Queen
Triple Play
Nanny With Benefits
Extra Credit
Hail Mary
Snowbound
Frostbitten
Unwrapped
Naughty Resolution
Her Lucky Charm
Nanny for the Billionaire
Shared by the Cowboys
Nanny for the SEALs
Nanny for the Firemen
Nanny for the Santas
Shared by the Billionaires
1

Heather

Não tínhamos sido pegos. Não ainda.


“Você tem certeza de que é uma boa ideia?”, Maurice
sussurrou perto de mim.
“Sim!”, murmurei. “Cale a boca e aja naturalmente. Ênfase no
aja.”
Estávamos no andar superior da Crypto.com Arena, e o som
dos dribles com a bola de basquete e os guinchos dos tênis
enchiam o ar. Os Los Angeles Lakers estavam jogando contra os
Milwaukee Bucks, mas não conseguíamos ver muito dos nossos
assentos. Nossos ingressos eram para a última fila, tão no alto que
nós podíamos praticamente esticar o braço e tocar o teto.
Certo, eram ingressos grátis que ganhamos do nosso
professor, Sr. Howard. Deveríamos ter ficado contentes com
qualquer lugar. Eu já morava em Los Angeles faziam três anos e até
então não tinha ido a nenhum tipo de evento esportivo. Era difícil
para uma aspirante a atriz que mal conseguia pagar as contas.
Então agora que eu estava ali, eu queria realmente ver o jogo. E nós
não conseguíamos ali da última fila. Queríamos chegar mais perto.
Bem, eu deveria dizer que eu queria chegar mais perto.
Maurice, meu melhor amigo, estava relutante.
“Não vale o risco”, ele sussurrou.
Fiz um sinal com as mãos para ele parar enquanto observava
os funcionários da Arena no outro andar. “Vai dar tudo certo.”
“Heather, você não está me ouvindo”, insistiu Maurice. Como
um ator, ele tinha uma forma de enunciar cada sílaba. “Eu não
posso ser preso. Mesmo. Não tenho dinheiro para a fiança. Só o
bilhete do metrô até aqui levou embora metade do saldo que eu
tinha em conta.”
“Não vamos ser presos”, eu disse, impacientemente. “Se
formos pegos, fingimos que estamos perdidos. O máximo que eles
podem fazer é nos expulsar do ginásio.”
“Você não pode ter certeza”, ele suspirou. “Quero chegar mais
perto da quadra tanto quanto você, mas…”
“Na vida, você nem sempre consegue o que quer”, disse a ele.
“Você só consegue as coisas pelas quais luta.”
Era uma das frases que meu pai sempre dizia, que acabou
ficando guardada na minha cabeça. Sempre tentei viver daquele
jeito. Era o que havia me trazido tão longe.
Segurei o rosto de Maurice pelas bochechas e olhei nos seus
olhos. “Você confia em mim?”
“De jeito nenhum”, ele respondeu, dando uma gargalhada.
“Bom, finge que confia então. Vou nos fazer chegar mais perto
do jogo. E, com sorte, descolar petiscos e bebidas.”
O design da Crypto.com Arena era como o da maioria dos
estádios modernos. Havia um andar térreo que dava acesso aos
assentos mais próximos da quadra. E um andar superior que dava
aos assentos mais altos – onde eram os nossos, e onde estávamos
de pé naquele momento.
Mas havia um andar intermediário entre os dois. Era lá que
ficavam os lugares mais caros. Aquele andar só podia ser acessado
pela escada rolante e funcionários guardavam a porta o tempo todo
para verificar os ingressos.
Dos nossos lugares, no andar superior, dava para ver a escada
rolante que dava no andar das tribunas. Dois funcionários de calças
amarelas e camisas roxas – as cores dos Lakers – estavam
guiando as pessoas de forma educada, porém firme para os
assentos baratos.
“O que estamos fazendo?”, sussurrou Maurice.
“Esperando pela funcionária certa”, eu disse. “Quando
chegamos aqui, havia mais alguém ali. Uma senhorinha mais velha.
Ela parecia mais amistosa do que os dois que estão ali agora. Acho
que eles se revezam.”
“Estamos parados aqui há dez minutos”, Maurice reclamou.
“Estou perdendo o LeBron. Aposto que ele já está todo suado agora.
Imagine isso, Heather, os músculos de LeBron brilhando com as
luzes dos holofotes enquanto ele enterra uma bola…”
“Você pode cobiçar seu namorado do andar das tribunas”, eu
disse. “Você vai poder realmente vê-lo de lá.”
“Não se nunca chegarmos lá.”
Levantei uma mão. “Xiu, vai começar a troca.”
Logo abaixo, a funcionária de cabelo grisalho que eu tinha visto
antes se aproximou e tocou no ombro de um dos outros dois. Eles
trocaram algumas palavras e então a Vovó – era como eu estava
chamando na minha cabeça – assumiu seu posto de verificadora de
ingressos.
“Luzes, câmera, ação”, eu disse, pegando meu celular. “Venha,
vamos tirar uma selfie.”
Maurice franziu o cenho enquanto eu segurava o telefone. “Por
que estamos tirando uma selfie bem agora?”
“Apenas confie em mim. E sorria.”
Maurice estava vestindo um terno para o jogo, porque é óbvio
que sim. Ele nunca saía de casa vestindo menos que esporte fino.
Eu estava usando meu vestido favorito, azul com um decote
profundo e a cintura marcada. Completando meu visual, uma
aliança de noivado com um diamante pomposo brilhava no terceiro
dedo da minha mão esquerda. Era falsa, só um adereço da aula de
interpretação do Sr. Howard, mas parecia real o suficiente.
Posicionei minha mão no peito enquanto tirava a selfie para
assegurar que a aliança estava bem visível.
Depois de tirar a foto, vaguei próximo ao gradil acima dos
funcionários. O andar superior continuava ao longo da parede
externa da arena, com vista para as tribunas logo abaixo. Elas não
estavam lotadas. Na verdade, depois de caminhar por uns seis
metros naquela área observando os funcionários, não vi ninguém
abaixo de nós. Todo mundo estava dentro de sua respectiva tribuna
assistindo ao jogo.
Eu estava a pelo menos 15 metros de altura. Muito longe para
pular, mas não tão longe para um pequeno objeto de metal…
Tirei a aliança do meu dedo, coloquei-a sobre o gradil e a
deixei cair. Após um longo momento de silêncio, a aliança tilintou no
andar de baixo, desaparecendo da vista.
“O que você está fazendo?”, Maurice sibilou. “Se o Sr. Howard
descobre que você perdeu um dos seus adereços…”
“Ele nem sabe que peguei emprestado”, respondi.
“O QUÊ!”, Maurice deixou escapar. Ele chacoalhou sua cabeça
devagar e disse, “Você perdeu o juízo. Estou conversando com uma
pessoa louca. Do tipo que deveria ser levada para um hospício em
uma camisa de força.”
Agarrei a mão dele. “Confie em mim. Tenho um plano. Siga-
me.”
Eu o guiei até a escada rolante. Maurice estava inquieto
enquanto descemos um andar. Assim que nos aproximamos do
andar das tribunas, Vovó e a outra funcionária olharam para nós.
Nos avaliando e se preparando para nos despachar para a outra
escada rolante que nos carregaria para o andar de baixo. Fechei
meus olhos e inspirei profundamente, como sempre fazia antes de
entrar em um personagem.
Na vida, você nem sempre consegue o que quer. Eu disse a
mim mesma. Você só consegue as coisas pelas quais luta.
“Com licença!”, eu disse para a Vovó. “Você pode nos ajudar,
por favor?”
Ela gesticulou. “A entrada geral é por ali, aqui é só para – ”
“Estamos na tribuna dezessete”, eu disse, com a voz pomposa.
“A comida estava simplesmente medíocre. Sem opções veganas ou
sem glúten. Inaceitável, especialmente vindo de MacKenzie Scott,
entre tanta gente! Você consegue imaginar? Eu esperava este tipo
de tratamento vindo do seu ex-marido Jeff, mas MacKenzie sempre
teve bom gosto.”
Vovó piscou confusa na nossa direção. “Hmm…”
Coloquei meu braço em volta de Maurice e o pousei em seu
ombro. “Então meu maravilhoso noivo e eu fomos procurar opções
aceitáveis para comer. Percorremos este lugar de cima a baixo –
honestamente, é como um labirinto. Juro que meus sapatos Stuart
Weitzman estão gastos de tanto andar.”
Aqueles eram, na verdade, sapatos de dez dólares da JC
Penny, mas eu esperava que Vovó não notasse a diferença.
“Felizmente, meu noivo – ” (Me certifiquei de enfatizar a
palavra dessa vez) “ – encontrou opções vegetarianas no andar de
cima. Rolinhos primavera com repolho orgânico de produção local,
obviamente. Simplesmente delicioso e melhor do que eu esperava
neste lugar.”
Os olhos de Vovó vasculharam minha mão. “Como ele pode
ser seu noivo se você nem tem uma aliança?”
“Você é muito observadora!”, me emocionei. “Este é
precisamente o problema. Eu estava tão aborrecida com as opções
de comida que minha aliança deve ter escorregado do meu dedo
quando saímos da tribuna! Você pode imaginar? Perder uma aliança
de noivado uma semana após o pedido?”
A outra funcionária, muito austera, não estava acreditando em
nada daquilo. “Posso ver seus ingressos para a tribuna, por favor?”
“Os deixamos lá dentro”, eu disse. “Corremos para fora sem
pensar…”
Maurice colocou seu braço em volta de mim e finalmente
entrou no jogo. Ele era devagar na improvisação, mas era um ator
excelente.
“É minha culpa por não ter ajustado o tamanho da aliança
corretamente”, ele disse, com a voz cheia de medo e
arrependimento. “Eu sabia que deveria tê-la levado para ajustar
assim que ela aceitou se casar comigo, mas a Tiffany não tinha
horário disponível até o próximo mês! Simplesmente precisamos
encontrar a aliança. São seis quilates, então vai ser fácil de achar”,
ele levantou uma palma, confiante. “Não que pudesse ser um
problema comprar outra. Meu pai tem uma mina de diamante em
Serra Leoa. Mas é uma questão de princípios!”
“Querido, não se culpe”, eu disse, acariciando sua bochecha.
Então me virei para Vovó e disse, “acho que perdemos a aliança por
ali. Se você puder nos ajudar a verificar, tenho certeza de que
podemos encontrá-la rapidamente…”
Vovó olhou para a outra funcionária. Por um momento pensei
que elas não fossem nos deixar ir. Naquele caso, eu teria que
explicar ao Sr. Howard como perdi a aliança.
“Vou com você”, a outra funcionária disse. Não Vovó – a de
cara austera. “Mas se não houver aliança nenhuma, vou chamar os
seguranças.”
“Se não houver aliança nenhuma”, eu disse dramaticamente,
“você vai ter que chamar a funerária – porque vou me jogar deste
andar de angústia!”
A funcionária revirou os olhos e nos guiou até as tribunas de
honra. Diferente das áreas superior e inferior, este andar estava
praticamente deserto. Todo mundo estava dentro das cabines.
“Paramos aqui para olhar o mapa”, eu disse, apontando. “Eu
estava mexendo na aliança, por pura inquietação. Devo tê-la
deixado cair ali.”
A funcionária olhou em volta. “Não vejo nenhuma aliança.”
“Deve estar aqui em algum lugar…”, entrei em pânico enquanto
procurava. A funcionária era mais durona do que Vovó. O truque
não ia funcionar com ela. E a aliança não estava em lugar nenhum,
o que significava que alguém já deveria tê-la encontrado.
“Não vejo nada”, a funcionária repetiu. “Deve ter sido
encontrada, posso te acompanhar até o setor de Achados e
Perdidos…”
“Ali!”, Maurice disse com um alívio genuíno. Ele apontou para a
quina da parede. “Estou vendo. Bem onde a parede se encontra
com o chão…”
A funcionária foi mais rápida do que nós. Ela levantou a
aliança, olhos arregalados para o tamanho do diamante. Ela nos
olhou, então olhou de volta para a aliança, perplexa.
“Muito obrigada”, eu disse, esticando a mão.
Ele ia me entregar, então mudou de ideia. “Como eu vou saber
se é sua?”, ela perguntou. “Você pode ter visto alguém deixar cair e
está tentando roubá-la.”
Sorri e peguei meu telefone. “Tenho certeza de que tenho uma
foto aqui, deixe-me ver… Ah, sim. Aqui está.”, virei o telefone para
mostrar a ela a selfie que tínhamos tirado antes. “Não fica
maravilhosa em mim? Maurice insistiu que seis quilates eram muita
coisa, mas os homens não sabem de nada.”
Enquanto ela apertava os olhos para a tela, dei um olhar de eu
te disse para Maurice.
O rosto austero da funcionária foi substituído por um sorriso
caloroso. “Madame, vou ser honesta. Pensei que vocês dois
estavam inventando isso tudo só para entrar. Dei corda só porque
esse trabalho é um tédio e eu queria uma distração. Mas posso ver
que vocês estavam falando a verdade. Me desculpe por ter
duvidado.”
“Não precisa se desculpar!”, eu disse. “Estou apenas muito
feliz por ter encontrado minha aliança.”
“É realmente uma beleza”, ela apertou os olhos para ler. “O
que a gravação dentro significa?”
Merda. Eu não sabia que tinha alguma coisa escrita na aliança.
Eu tinha usado o acessório para diferentes esquetes, mas nunca
tinha olhado tão de perto.
“Ah”, eu disse. “Bom, a gravação…”
“Está escrito verum, que é a palavra em latim para seja
verdadeiro,” Maurice disse suavemente. “Quando finalmente nos
unirmos em matrimônio, minha aliança terá os mesmos dizeres.”
A funcionária sorriu e finalmente me entregou a aliança. “Ah,
que meigo.”
“Obrigada…”, olhei para seu crachá. “… Lisa. Me certificarei de
mencionar como você foi prestativa da próxima vez que encontrar
Jeanie.”
Ela franziu a testa. “Jeanie?”
“Jeanie Buss”, eu disse improvisando. “A proprietária
majoritária dos Lakers, obviamente.”
Ela encolheu os ombros timidamente: “Ah, você não precisa
fazer isso. Aproveitem o resto do jogo e certifiquem-se de ficar com
seus ingressos da próxima vez”, e se afastou.
Abracei Maurice. “Ah, obrigada, querido! Eu não sei o que faria
se tivesse perdido a aliança…”
Maurice murmurou, “Ela já foi. Pode parar com o teatro.”
Eu ri e respondi, “eu te disse que funcionaria! Aprenda a lição:
sempre confie em Heather Hart.”
“Só funcionou porque lembrei da inscrição no anel.”
Olhei para ele de lado. “Sim, como você sabia disso?”
Ele bufou. “Você não é a única que gosta de pegar adereços
emprestados do Sr. Howard. Às vezes eu também gosto de ficar
bonito.”
Peguei sua mão e o guiei até o andar das tribunas. “Mina de
diamantes em Serra Leoa, hein?”
“Você me disse pra entrar no jogo”, ele respondeu. “Se somos
ricos o suficiente para estar nas tribunas, precisamos de um bom
enredo.”
Abanei meu dedo adornado com o diamante. “Se sua família
fosse realmente dona de uma mina de diamantes, você saberia que
este só tem quatro quilates. Você disse à funcionária que eram
seis.”
Maurice revirou os olhos de novo. “Ok, James Bond. Estamos
no andar das cabines. O que fazemos agora?”
“Agora”, eu disse, “encontramos a suíte certa para nos infiltrar.”
2

Rogan

Eu odiava pra caralho ir a eventos daquele tipo.


Estávamos de pé na tribuna durante o jogo dos Lakers, de
braços cruzados, olhando sempre que o barulho da multidão se
elevava. Eu não dava a mínima para basquete. Era assim que eu
me sentia com a maioria dos esportes. Jogos eram apenas jogos.
Não eram a vida real.
Mas eu me importava com os negócios e isso significava que
clientes e clientes em potencial precisavam ser bajulados. A maioria
dos nossos clientes eram atletas, modelos ou atores. As três
categorias precisavam de carinho no ego antes de fechar um
contrato.
“Você precisa simplesmente diversificar”, o cara na minha
frente estava dizendo. Ele era o presidente de uma agência de
talentos de Los Angeles. “É verdade que você tem um retorno maior
na bolsa, mas o ponto é reduzir o risco à medida em que você se
aproxima da aposentadoria. Atualmente estou me envolvendo com
diversos fundos de resgate automático…”
Me distraí em cinco segundos daquela conversa de novo.
Aposentadoria? Eu tinha trinta e dois anos e meu trabalho era
proteger pessoas. Eu não iria me aposentar nas próximas décadas.
Com quem diabos aquele cara achava que estava falando?
Como eu disse: eu odiava eventos daquele tipo. Mas era como
a vida às vezes: uma série de eventos que eu não queria frequentar
e um desfile infinito de pessoas com quem não queria falar.
Às vezes eu sentia falta das missões. Pelo menos a vida era
mais simples.
Acenei para o cara, tomei um gole da minha cerveja e encarei
o resto da cabine. Além dele, havia um membro das relações
públicas dos Los Angeles Rams falando com um dos meus sócios.
Asher – meu sócio – estava parado, explicando a rede de
computadores que usávamos na nossa sede. Ocasionalmente,
ajustava os óculos no nariz enquanto a mulher acenava e fazia
perguntas.
O outro peixe grande na sala era Boras Scottsdale, um dos
melhores agentes de atletas do sul da Califórnia. Agarrada em seu
braço, havia uma pequena mulher toda vinílica com os maiores
peitos falsos que eu já tinha visto na vida – e isso veio de um cara
que mora em Los Angeles, a capital mundial do silicone. Brady –
meu outro sócio – estava contando uma longa história, falando
muito alto com seu sotaque de Boston.
“Então aterrissamos no meio da porra da noite nos arredores
de Bagdá. Estava tão escuro que podia também ser a porra do
fundo do mar. Mas tínhamos equipamento tático, então sem
problemas. Com óculos de visão noturna, podemos enxergar melhor
do que o maldito do Ted Williams.”
Minha atenção se dispersou da história de guerra de Brady que
eu já tinha ouvido mil vezes. Os três clientes em potencial na cabine
eram bons, mas esperava mais gente. Nós havíamos distribuído
vinte e cinco ingressos originalmente. Boras Scottsdale ficou com
cinco, mas ele só levou a Madame Tetas de Melão ao invés de seus
clientes atletas. A diretora de relações públicas dos Rams tinha
aceitado seis ingressos, mas a única pessoa que ela levou foi seu
marido. O presidente da agência de talentos – que estava me
explicando sobre rendimentos de fundos mútuos – tinha ficado com
o resto dos ingressos, mas apareceu sozinho.
Eu não ligava para desperdício de dinheiro. Nossa companhia
tinha muito para gastar. Mas eu odiava absolutamente desperdiçar
tempo.
Quando o presidente da agência de talentos parou para
respirar, eu o interrompi. “Alguém da sua agência vem hoje?”
“Convidei algumas pessoas”, ele disse, improvisando,
ignorando o motivo pelo qual eu perguntava. “Novos talentos, na
maioria. Ah, e Amirah Pratt. É aquela loira bonita que está na série
da Netflix baseada em livros.”
“Fantástico”, eu disse, mesmo sem ter a menor ideia de quem
era Amirah Pratt. Mas se ela estava em uma série da Netflix, não
era um peixe pequeno.
“Amirah – garota adorável – insisti para ela estar aqui!”, o cara
disse. “Ela teve algumas ameaças de morte nas redes sociais desde
que a série foi ao ar. Um monte de malucos nessa cidade.”
“É isso que nossa empresa faz”, eu disse suavemente.
“Mantemos pessoas como ela seguras. Não há preço por paz de
espírito.”
Ele abruptamente pegou o telefone. “Preciso atender!” e, sem
nenhum outro comentário, correu para fora da cabine.
Respirei aliviado quando ele saiu e me aproximei um pouco
mais da arena. A tribuna de honra era uma cabine que parecia uma
grande caixa de sapato. A entrada era em uma das extremidades e
a quadra era do lado oposto. As paredes eram de vidro e uma porta
dava para quatro fileiras de assentos sobre a quadra. Eram
assentos privativos, acessados somente pela nossa tribuna e não
era conectado aos outros por nenhum dos lados. Naquele momento
não havia ninguém sentado neles.
Dei um gole na cerveja e assisti alguns segundos do jogo. Os
Lakers estavam ganhando, mas era só o segundo quarto. A plateia
estava feliz, mas eu pouco me importava. Para mim não fazia
sentido nenhum.
Brady apareceu do meu lado com um copo de cerveja em uma
mão e um de licor na outra. “A porra do LeBron só pegou dois
rebotes. Apostei um engradado que ele faria um triplo-duplo hoje.”
O sotaque de Boston de Brady era mais forte do que o do bom
Will Hunting. “Engradado” soou como “Guardado”. Às vezes, quando
eu não estava prestando atenção, parecia uma língua totalmente
diferente.
Eu não fazia a menor ideia do que um triplo-duplo era, então
eu disse: “Não estamos aqui para assistir ao jogo. Nossa função é
focar no recrutamento de clientes.”
Brady engoliu o licor em uma golada e franziu o cenho. “Olhe
em volta, mano. Não temos muitos sacos para puxar, pelo menos
não na nossa cabine.”
“Eu sei.”
“Foda-se. Podemos muito bem aproveitar.”, saiu como
apresentar. Como se ele quisesse enfatizar seu ponto, engoliu
metade da sua cerveja. “Ninguém vai dirigir e Patty está cuidando
dos meninos.”
Peguei meu telefone e mostrei a tela para ele. “Patty me enviou
isso dez minutos atrás.”

Patty: Primeiro eles se recusaram a jantar e agora estão


correndo pela casa pelados dizendo que são monstros polvos. Eles
estão deixando Cora doida.
Patty: Estão ME deixando doida também. Acho que não
consigo cuidar deles por muito mais tempo. Vocês já encontraram
uma babá permanente?

“Por que minha irmã está mandando mensagens para você e


não para mim?”, Brady perguntou após ler os textos.
“Porque ela sabe que eu dou ouvidos às suas preocupações.”
Brady deu de ombros. “Ela se preocupa muito. Meninos agem
como meninos.”
“Patty é boazinha”, eu disse. “Ela precisa ser mais dura com
eles.”
Brady grunhiu. “Patty está fazendo um bom trabalho. É mais
fácil falar do que fazer. Você sabe como Dustin é. Um diabinho.”
“Sim”, eu disse casualmente. “Parece com o pai.”
Brady suspirou e colocou uma mão no peito: “Você está
partindo meu coração”, ele pronunciou algo como canção.
“Eles não respeitam mais sua irmã”, insisti. “Ela é a tia Patty.
Ela não pode discipliná-los sem se sentir mal com isso. Precisamos
de uma babá profissional.”
“Ah, eu não sei…”
A porta da cabine se abriu. Brady olhou por cima do ombro e
suspirou. “Caralho…”
Entendi a reação dele quando vi a mulher que entrava na
cabine. Ela era deslumbrante. Com um longo vestido azul com
flores, que caia como uma luva no seu corpo esbelto. Cachos loiros
dançavam pelos seus ombros enquanto ela olhava da esquerda
para a direita, observando os ocupantes da tribuna.
Fiz uma análise minuciosa dela rapidamente, como eu
costumava fazer com as pessoas. Ela não era só esbelta. Era
sarada. Atlética. Meu primeiro instinto foi pensar que ela era uma
das clientes atletas de Boras Scottsdale, mas desisti da suposição.
A mulher era uma atriz. Eu já tinha trabalhado para atores o
suficiente para reconhecer um quando via. Era a maneira como ela
se portava: coluna reta e queixo para cima, como se ela tivesse
acabado de subir no palco e estivesse esperando para dizer sua
primeira fala.
A parte analítica do meu cérebro deu espaço para o instinto
novamente. Era impossível não admirar sua aparência. Algo dentro
de mim se apertou, e parecia que eu estava sendo puxado na
direção dela por um ímã. Meu pau se curvou involuntariamente
quando segui a linha profunda do seu decote com os olhos.
Eu nunca fui guarda-costas de uma mulher como essa antes,
pensei.
Um homem afro-americano a seguiu para dentro da cabine
meio relutante. Ele usava um terno com uma gravata borboleta
colorida e gentilmente apoiava sua mão nas costas dela.
Foi quando notei a pedra no dedo dela. O baita diamante que
eu deveria ter notado imediatamente se não estivesse tão distraído
pela sua aparência.
Ela era comprometida. É claro que era. Mulheres como ela
nunca estavam solteiras, porque o mundo era injusto. Uma pontada
de luto se formou no meu peito.
Afastei aquele sentimento rapidamente. Estávamos ali para
encontrar clientes, não namoradas. E aquela mulher era o tipo exato
de cliente que buscávamos.
“Vou dar a ela as boas-vindas à festa”, disse Brady. Fés no
lugar de festa.
Levantei a mão para pará-lo. “Ela não precisa ouvir sua história
sobe Bagdá.”
Brady se eriçou. “Ah, vamos lá. É uma boa história.”
“Deixa comigo”, corri a mão pelo cabelo e me preparei para dar
a ela meu melhor sorriso.
Sim. Eu odiava eventos como aquele. E eu odiava ser um
lambe-botas. Mas aquela mulher? Eu lamberia qualquer coisa que
ela pedisse.
3

Heather

Maurice e eu caminhamos pelo andar, olhando todas as


cabines pelas quais passávamos. Todas elas tinham as portas
fechadas, então não tínhamos como saber quem estava dentro de
cada uma delas.
“Talvez eu não tenha raciocinado direito”, eu disse.
Maurice apontou para a frente. “Alguém está saindo daquela
porta… Oh, é uma despedida de solteira.”
“Não vamos conseguir nos misturar ali”, respondi. “Precisamos
de uma tribuna cheia de pessoas de alguma empresa local. Então
podemos fingir que trabalhamos em algum outro departamento.”
“Desde que você tome cuidado com o linguajar”, Maurice
sussurrou.
“O que você quer dizer?”
“Quero dizer que você fala muito palavrão”, ele respondeu.
“Isso não é apropriado em um ambiente corporativo.”
“Sim, sim, vou tomar cuidado com a bosta do meu linguajar…”
Maurice apontou para mim. “Exatamente. É disso que eu estou
falando.”
“Bosta não conta como palavrão. Não se preocupe. Fui babá
por três anos. Se eu conseguia me controlar perto das crianças,
posso muito bem fazer o mesmo aqui.”
Assim que estávamos passando por uma das tribunas, a porta
se abriu de repente. Um homem no telefone correu para a fora,
gesticulando ferozmente.
“Me pergunto qual é o problema dele”, sussurrei, esticando o
pescoço para ver dentro da cabine. Mas a porta já estava fechada.
A cabeça de Maurice girou para acompanhar o homem. Então
ele começou a bater no meu braço. “Heather. Heather! Aquele é
Jonah Weiman.”
Virei minha cabeça para olhar. “Da Agência Weiman?”
Ele me deu uma olhada cínica: “Quantos Jonah Weimans você
conhece?”
Apertei os olhos para ver o homem melhor antes dele sumir da
nossa vista. “Você tem certeza?”
“Positivo! Eu tenho uma planilha com os nomes de todas as
agências de talento para as quais me inscrevi. Jonah Weiman está
no topo da lista, junto com outros agentes da Weiman e Wiliam
Morris. Enviei fotografias para todas eles. Nunca tive resposta”, ele
adicionou, reclamando. “Mas eu reconheceria qualquer um deles.”
“Perfeito, então”, eu disse. “É a nossa cabine.”
Maurice me encarou. “Você está louca?”
“Isso é muito melhor do que encontrar uma tribuna empresarial
para invadir”, expliquei. “Provavelmente há vários agentes e outros
atores lá dentro. Nós somos atores, Maurice. É perfeito.”
“Só porque somos atores não significa que vamos conseguir
nos misturar”, ele argumentou. “Não conhecemos ninguém, eles vão
nos perguntar quem nos convidou.”
“Então diremos que fomos convidados por um dos agentes.
Alguém que não esteja lá. Você acabou de dizer que tem uma
planilha cheia de nomes, certo? Escolha um e ele será nosso
disfarce. Vamos nos misturar facilmente. E pense nisso – podemos
dizer que estamos buscando um agente. Talvez eles queiram
assinar conosco. Se você enviou fotografias para eles, isso pode
refrescar a memória deles e tirar seu currículo do fundo da lista!”
Maurice parecia que ia vomitar. “O Sr. Howard diz que se uma
agência não responde, significa que não estão interessados.”
“Sr. Howard diz várias coisas”, respondi, desinteressada. “Pode
ser nossa única chance de estar na mesma sala que alguém como
Jonah Weiman. Você pode falar com ele, Maurice. Deixá-lo saber
quem você é. É muito melhor do que só ver uma foto. Temos que
aproveitar a oportunidade! Vamos lá.”
Agarrei sua mão e o puxei para a frente. Maurice estava
sussurrando entre respirações. Parecia uma oração.
Abri a porta da cabine sem hesitar. Era uma questão de
confiança. Se você tiver a atitude adequada, pode ser dar muito
bem na vida. Uma boa atuação, como se você pertencesse ao
meio.
E atuação era literalmente nossa especialidade.
Entrei decidida na cabine, cabeça erguida. Havia um meio
sorriso no meio rosto, do tipo que eu reservava para encarnar uma
personagem metida. Avaliei o espaço. Havia um banheiro privativo
do lado direito. Duas mesas do lado esquerdo, uma delas com
tabuleiros aquecidos de comida e a outra com um bar completo e
um bartender fazendo coquetéis. Havia quatro pessoas – uma
mulher com os peitos mais feios que eu já vi na vida – e três caras
bonitões vestindo ternos. Dois deles tinham tatuagens aparecendo
pelas mangas das camisas.
Havia uma pilha de cartões de visita na mesa mais próxima. A
logo tinha o formato de um escudo, mas as linhas de dentro
formavam um labirinto. Definitivamente não era a logo de uma
agência de talentos.
“Heather!”, Maurice sussurrou. “Não tem gente o suficiente aqui
pra nos misturarmos.”
Eu imediatamente concordei. Metade das pessoas na sala
estavam nos olhando com curiosidade. Estávamos chamando
atenção. O plano não ia funcionar.
Antes que pudéssemos sair de lá, um dos caras de terno
caminhou até nós. De ombros largos e musculoso, ele era
provavelmente o mais bonito dos três fortões. Cabelos castanhos e
sedosos divididos de lado, bochechas anguladas e macias, como se
tivessem sido esculpidas em mármore por um mestre do
Renascimento Italiano.
As bochechas se ampliaram em um sorriso perfeito quando ele
estendeu a mão. “Rogan Holt. Um terço da HSL Segurança. Você
deve ser… Amirah Pratt?”
Apertei sua mão – era enorme e quente – e entrei em pânico.
Ele achava que eu era outra pessoa. Seus olhos pretos estavam me
penetrando com tanta intensidade que quase me convenci que eu
era essa tal de Amirah Pratt.
Aquilo me pegou desprevenida. Eu tinha uma longa história na
cabeças. Já estava tentada a testar meu sotaque elegante de
Londres. Sim, eu consigo imitar uma inglesa com perfeição. Diga
aos seus agentes.
Eu deveria ter corrigido Rogan, teria sido mais esperto da
minha parte dizer a ele que eu era outra pessoa – meu nome real
ou um fictício. Mas com sua mão envolvendo a minha totalmente e
seu sorriso derretendo meu coração, eu só concordei com ele.
“Prazer em conhecê-lo, Sr. Holt”, eu disse com a voz normal.
Ele finalmente soltou minha mão, “Pode me chamar de Rogan.”
“Só se você me chamar de Amirah!”
Ele apontou um dedo para mim e disse, “Combinado.”
Sorri de orelha a orelha. Nem precisava fingir. Esse tal de
Rogan era deslumbrante. Eu poderia ser qualquer pessoa que ele
pedisse se ele continuasse me olhando daquele jeito.
Maurice se apresentou como Maurice (muito criativo, amigão) e
eles trocaram um aperto de mãos. Então Rogan fez um gesto com a
cerveja. “Só queria dizer oi e dar as boas-vindas à tribuna. Sirvam-
se de comida e bebidas. Podemos discutir negócios mais tarde, se
estiverem interessados. Ouvi dizer que vocês podem estar
precisando dos nossos serviços.”
“Oh, eu preciso de todos os tipos de serviço que você puder
oferecer”, deixei escapar.
Maurice me deu uma cotovelada.
Rogan deu uma risada e se afastou. Nós dois ficamos
observando aquele corpo de terno caminhar para o outro lado da
cabine e descer pelos assentos sobre a quadra de basquete.
Maurice suspirou. “Que pena.”
“O quê?”
“Que pena que este homem é hétero. Eu o deixaria fazer
qualquer coisa comigo”, ele olhou para mim. “Coisas mais
indecentes do que você deixaria.”
Eu ri e me virei para a comida. “Você não tem ideia do quão
obscena eu sou.”
“Aposto que você é uma puritana na cama.”
Eu expirei fingindo estar ofendida.
Nos servimos de comida do buffet. Repreendi Maurice quando
ele tentou empilhar muita comida no prato. Tínhamos que fingir ser
convidados elegantes e não aspirante a atores mortos de fome que
trapacearam para estar naquele lugar. O bartender nos deu bebidas
– vinho para Maurice, cerveja para mim – e caminhamos em
direção aos assentos sobre a quadra. A música empolgava a arena
enquanto os dois times – Lakers de roxo, Bucks de verde – corriam
pela quadra, manobrando a bola.
“Estes assentos são bem melhores que os nossos”, eu disse,
esticando o pescoço para olhar para o anel superior. Nossa fileira
era tão lá em cima que quase dava para encostar nas nuvens. “Você
não está feliz que estamos aqui?”
Maurice já estava enchendo a pança com um segundo prato de
carne de porco. “Você sabe quem é Amirah Pratt?”
“Alguém que parece comigo, aparentemente.”
Maurice engoliu sua comida e disse, “Ela é a aquela garota na
nova série da Netflix. Uma que se passa na era vitoriana, com
tantos outros períodos mais interessantes… Amirah Pratt é famosa.
Eles vão se dar conta de que você não é ela.”
“Você não está reclamando”, sussurrei enquanto ele enfiava
dois outros pedaços de comida na boca.
Enquanto ele mastigava, procurou uma imagem no celular. A
mulher na tela estava usando um vestido vitoriano de muitas
camadas, provavelmente ela demorou uma hora para vestir. Seu
rosto estava pálido de maquiagem e seu cabelo estava arrumado
em uma torre de anéis elaborados. Ela parecia sim comigo, de
modo geral. Alta, loira e magra. Ou pelo menos eu achei que ela
fosse magra. Era difícil precisar com aquele furacão de seda
enrolado da sua cintura para baixo.
“Olha toda essa maquiagem”, apontei. “Eles não têm ideia de
como ela é de verdade. Eu posso totalmente fingir ser ela. Atuar e
convencer. Foco no atuar.”
Maurice abriu a boca para argumentar – ou para enfiar mais
comida – , mas parou quando dois homens caminharam na nossa
direção. Eram os outros caras de terno. Eles se sentaram na outra
ponta da nossa fileira, distraídos numa conversa.
Bom, não exatamente uma conversa. O cara loiro de óculos
estava quieto enquanto o de cabelo preto fazia um discurso com um
sotaque de Boston.
“Sem chance de ele ser melhor que Jordan. Ele é bom, porra,
ele é ótimo. Mas não tem comparação com a verdadeira estrela.
Você é um cara de exatas, Asher. Conte os títulos.”
“Sou um cara da informática,” o loiro – Asher? – disse,
silenciosamente.
“Que seja. Você entendeu o que eu falei. Merda! Você viu
aquele lance?”
Maurice se inclinou para perto e sussurrou, “Não consigo
decidir qual dos três é mais delicioso.”
“Algum deles é gay?”, perguntei.
Maurice riu com luxúria. “Depois de uma hora comigo, todos
serão.”
Eu ri e tomei um gole da minha cerveja. Maurice não estava
errado. Eles eram tão sensuais quanto Rogan, suas camisas justas
nos seus corpos musculosos. Eles pareciam militares. O tipo de
cara que abruptamente teria que partir numa missão secreta.
“O que Rogan disse que eles fazem?”, perguntei. “Ele disse
que era um terço de alguma coisa…”
“Uma empresa de segurança, eu acho.”
Maurice terminou seu último pedaço de comida e olhou triste
para seu prato vazio. Como se fosse a deixa, Rogan se levantou do
seu assento do outro lado da fileira e veio na nossa direção.
“Posso te servir mais alguma coisa?”, ele perguntou.
Maurice começou a levantar o prato, mas eu disse
rapidamente. “Estamos bem, obrigada.”
Maurice suspirou, mas a atenção de Rogan estava voltada
para mim. Ele se sentou na fileira da frente e torceu o corpo para
poder falar conosco.
“Agradecemos sua presença no jogo. Espero que vocês
tenham gostado dos lugares.”
“Sim, são incríveis. Obrigada pelo convite.”
“Ficamos felizes em fazê-lo, especialmente para clientes em
potencial.”
Clientes em potencial. Fazia sentido. Eles pareciam guarda-
costas. E Rogan já havia mencionado que eu pudesse precisar dos
seus serviços. Eles estavam esperando que Amirah Pratt – a
original – provavelmente os fosse contratar para proteção ou algo
do tipo. Se ela era uma grande estrela da Netflix, então
provavelmente tinha vários fãs doidos.
E eu sou só uma aspirante a atriz que precisa roubar comida e
álcool de uma tribuna de honra. Talvez eu tivesse sido muito
gananciosa.
“Você mora aqui?”, Rogan perguntou.
“Nos arredores”, menti. Nunca tinha ido para os subúrbios, mas
eu sabia que várias pessoas famosas moravam lá. Sem contar que
era o lugar onde a maioria dos estúdios ficava.
Regan acenou. “Faz quanto tempo que vocês estão noivos?”
Hesitei. Ele estava olhando para o meu anel de diamantes.
Mas a verdadeira Amirah Pratt estava noiva? Aquilo destruiria meu
disfarce imediatamente.
“Ah, não estamos noivos”, eu disse, rindo para Maurice. “Só
uso a aliança para evitar que as pessoas deem em cima de mim
quando estou em locais públicos.”
“Esperta”, disse Rogan. “Aposto que todo mundo te chama
para sair não importa onde esteja.”
Eu ri, apesar de tudo. Era lisonjeiro um cara lindo daqueles –
já mencionei que ele era muito sexy? – flertando comigo. Me dando
atendimento VIP como se eu fosse a convidada de honra da tribuna.
Claro, os caras davam em cima de mim geralmente, mas Rogan não
era do tipo que se encontra depois do trabalho em bares vendo
jogo. Ele era diferente. Ele era excepcional.
Então me lembrei que ele só estava me tratando daquele jeito
porque ele achava que eu era uma atriz famosa. E, não vou mentir,
aquilo me feriu um pouco.
Rogan acenou para meu copo vazio. “Quer outra cerveja?”
“Adoraria,” disse, entregando meu copo vazio para ele, que
desapareceu dentro da cabine.
“Por quanto tempo você acha que conseguimos manter o
disfarce?”, sussurrou Maurice.
“Não sei! Estou meio que improvisando.”
Rogan voltou e me entregou a cerveja. “Ouvi dizer que você
teve problemas com fãs malucos. Ameaças de morte, coisas do
tipo?”
Dei de ombros e tomei um gole da cerveja para ter um tempo
para pensar. “Ah, você sabe. O mesmo que todo mundo em
Hollywood!”
Rogan se sentou no assento em frente ao meu e passou um
braço pelo encosto. “A HLS Segurança oferece uma variedade de
serviços de proteção, dependendo do que você precisa. Ou do que
você acha que precisa. Está tudo bem ter proteção extra, desde que
isso te faça se sentir confortável.” Ele apontou para os sócios nos
outros assentos, “Brady, Asher e eu começamos a empresa quando
voltamos do Oriente Médio. Temos outros cinquenta e cinco guarda-
costas trabalhando conosco – a maioria no sul da Califórnia, Bay
Area e Nova Iorque – mas nós somos os três originais.”
“Eu adoraria ter um cara como você vigiando minha
retaguarda”, eu disse, como uma adolescente bajuladora.
Rogan sorriu de volta com seu olhar seguro. “Acredite. O
prazer seria todo meu.”
Maurice deve ter se sentido excluído porque limpou a garganta.
“Você sabe onde Jonah Weiman foi?”
“Ele teve que atender o telefone. Provavelmente vai voltar
logo.” Rogan alongou o pescoço para olhar de volta para a cabine.
“Vocês gostam dele?”
Hesitei. “Ele, hm… Acho que ele é um cara legal? Eu não…
hm…”
“Eu queria saber se vocês gostam dele como agente?”, Rogan
explicou. “Ele disse que está trabalhando para conseguir um papel
para você em um filme?”
Merda. Essa tal de Amirah Pratt já era cliente de Jonah
Weiman. Isso significava duas coisas importantes. Uma, Maurice e
eu não conseguiríamos convencê-lo a nos ter como clientes. E dois:
ele saberia imediatamente que eu não era Amirah Pratt. Porque ele
conhecia a verdadeira Amirah Pratt. Assim que Jonah Weiman
voltasse, estaríamos ferrados.
Merda, merda, merda.
4

Heather

Sentada no meu banco com Maurice de um lado e Rogan de


frente para mim, me senti como um animal enjaulado. Só havia uma
saída da cabine e Jonah Weiman poderia voltar por ela a qualquer
momento e revelar que estávamos mentindo.
Temos que dar o fora daqui.
“Vou pegar algo para comer”, eu disse.
Rogan se animou. “Me diga o que você quer e eu pego um
prato para você, assim você pode aproveitar o jogo.”
“Não, não, tudo bem! Não tenho certeza do que quero comer”,
fiquei de pé, “Maurice, quer ir comigo?”
Ele sorriu para mim. “Estou me divertindo conversando com
nosso novo amigo Rogan. Quero saber todos os tipos de serviço
que ele oferece.”
“Maurice, preciso da sua ajuda”, peguei o braço dele e
praticamente o arrastei para fora. Rogan já tinha se virado e estava
assistindo os dois minutos finais daquele quarto.
“Qual é o seu problema?”, Maurice sussurrou quando voltamos
para a cabine.
“Jonah Weiman é meu agente. Bem, não meu agente. Agente
de Amirah Pratt.”
“Eu estava distraído pelos olhos do senhor Rogan da Silva
Lindo”, disse Maurice melancolicamente. “Mas eu ouvi essa parte da
conversa.”
Fiz um barulho impaciente. “Se Weiman é o agente dela, vai
saber que sou uma impostora quando ele voltar! Temos que dar o
fora daqui.”
Maurice pegou um prato e começou a enchê-lo novamente.
“Você tem que dar o fora daqui. Eu não estou fingindo ser ninguém
que não sou. Sou apenas Maurice, um ator charmoso – e
secretamente sexy – que quer saber mais sobre como estes
guarda-costas podem proteger minha retaguarda.”
“Precisei praticamente te arrastar para cá”, sibilei, “e agora
você se recusa a ir embora?”
“Isso foi antes de eu conhecer os fortões da HLS Segurança.
Não tenho medo de ser descoberto porque estou ocupado demais
decidindo qual deles é meu favorito”, ele se virou e apertou os olhos
contra os assentos. “Até agora o garoto loiro delicioso está
ganhando. Ele parece um bibliotecário sexy.”
Tomei o prato das mãos dele. “Você veio comigo. Se eu for
pega, você também vai ser”, apontei para a porta da cabine. “Temos
que ir antes que Jonah Weiman entre por aquela…”
Eu parei. A porta da cabine se abriu naquele exato momento, é
claro. Eu estremeci e congelei, esperando ver o homem que poderia
revelar nossa farsa – e o faria.
Relaxei quando vi que não era Jonah Weiman. Não era um
homem, na verdade era uma mulher alta e esguia, com o cabelo
loiro preso num rabo de cavalo. Ela usava jeans e uma camiseta de
marca, do tipo que parecia ter vindo de um brechó, mas que
provavelmente custou centenas de dólares. Ela era vagamente
familiar. Na verdade, até que parecia comigo um pouco.
Oh.
Oh não.
Maurice fez um barulho de engasgo e bateu no meu braço.
“Heather, é a…”
“Oi, desculpe, estou atrasada!”, a mulher loira disse
alegremente. Ela estendeu o braço para duas outras pessoas que
estavam na cabine. “Sou Amirah."
Entrando na cabine atrás dela estava Jonah Weiman.
“Finalmente a encontrei. Ela estava distribuindo autógrafos na
entrada principal. Eu te disse, na próxima vez que viermos a
eventos assim, você entra por outro lugar.
“Eu gosto de falar com meus fãs!”, ela disse. “Só me custa
alguns segundos e eles ganham o dia.”
Toda a cor sumiu do rosto de Maurice. “Mudei de ideia”, ele
sussurrou. “Eu quero ir para casa agora.”
“Temos que nos esconder!”
“Não, espera…”, sibilou Maurice.
O banheiro era a porta mais próxima de mim, e estava aberto,
com a luz acesa, então me precipitei para dentro. Maurice não me
seguiu e não tínhamos tempo, então dei a ele um olhar de pânico e
fechei a porta.
Embora a porta do banheiro estivesse aberta, o espaço não
estava desocupado. Rogan estava parado lá, secando a mão com
uma toalha de papel. Eu me choquei contra seu corpo, o que era
funcionalmente a mesma coisa que bater de frente com uma
parede.
“Ai”, gemi, desconcertada em esbarrar nele. Minha visão
piscou e senti que ia desmaiar. Rogan largou a toalha de papel e
seus braços me envolveram, me impedindo de cair no chão.
Eu raramente ficava muda – Maurice podia atestar – mas
quando encarei os olhos escuros de Rogan, me esforcei para
pensar o que dizer. Eu sabia que ele era forte com base na sua
forma física, mas era diferente do que realmente senti-lo me
segurando com aquela força toda. Ele me manuseava facilmente,
como se eu fosse aquela toalha de papel que ele tinha deixado cair
no chão perto de nós.
E o cheiro dele. A colônia de Rogan era pungente da melhor
maneira possível, enchendo minhas narinas com o cheiro
intoxicante de fumaça e especiarias e doçura. Nossos rostos
estavam muito próximos e seus lábios estavam franzidos em um
sorrisinho. Eles eram irresistíveis. Me dei conta de que queria beijá-
los. Quem não quereria? Especialmente enquanto ele me segurava
daquele jeito…
“Ei, você”, ele disse. “Tudo bem, Amirah?”
Ouvir o nome de outra mulher me tirou do transe. “Me
desculpe, achei que não havia ninguém aqui. A porta estava
aberta…”
“Só vim lavar as mãos. Vou deixar o banheiro livre para você.”,
ele acenou e começou a se mover em direção à cabine.
Onde a Amirah de verdade estava.
Antes de contar a estupidez que fiz a seguir, tenho que explicar
a situação. Eu estava em pânico. Eu tinha entrado de penetra em
uma tribuna de honra que pertencia a um bando de seguranças
fingindo que era outa pessoa. E a pessoa que eu fingia ser tinha
acabado de chegar. Eu estava prestes a ser pega. Me senti como
um animal acuado num canto. E animais acuados em cantos tomam
atitudes desesperadas.
Que atitude desesperada tomei? Beijei Rogan Holt.
Tive que ficar na ponta dos pés para espremer meus lábios
contra os dele. Ele estava endurecido no começo, mas pressionar
meu peito contra o dele fez seu corpo acordar. Seus braços me
envolveram de novo e ele se inclinou sobre mim, agitando seus
lábios quentes contra os meus. Eu me movia para cima enquanto
ele me apertava ainda mais forte. Uma das suas mãos fortes
escorregou pela minha lombar, me puxando para ele enquanto seu
joelho invadia o meio das minhas pernas. Me apoiei nele, roçando
contra sua perna dura feito pedra, o tecido suave do meu vestido
sibilava com cada choque cintilante.
Por alguns segundos, nos rendemos aos impulsos sexuais que
nos guiavam. Dois estranhos aproveitando um ao outro longe do
resto do grupo.
Rogan interrompeu o beijo tempo o suficiente para perguntar
com a voz rouca, “Isso significa que você quer nos contratar?”
“Quero”, respondi, me comprimindo contra ele com desejo. Eu
podia sentir o comprimento da sua ereção dentro da calça, radiando
contra minha coxa. “Mas não para a segurança.”
Ele riu com luxúria, mas antes que pudesse me beijar de novo,
um sotaque de Boston veio da cabine atrás de nós.
“Espera um minuto. Você não pode ser Amirah Pratt, ela já
está aqui”, ao invés de aqui ouvimos algo como iah.
Os olhos de Rogan se arregalaram, então se fixaram em mim
com um tipo diferente de intensidade. Mais alarmantes do que
desejosos.
Como um segurança maltratando um frequentador de boates
desordeiro, Rogan pegou um punhado do tecido da parte de trás do
meu vestido e me arrastou para a cabine. Todos os olhares se
direcionaram para mim. Maurice estava perto da porta do banheiro,
suas costas pressionando a parede como se ele quisesse sumir
como um camaleão.
Jonah Weiman deu um passo na minha direção e estendeu a
mão. “Jonah Weiman. E você é…?”
Apertei sua mão e tentei pensar em algo para dizer. Olhei para
a porta, ela estava a poucos metros de distância. Se nós
corrêssemos, poderíamos escapar provavelmente.
A voz de Rogan surgiu, profunda e imponente. “O que está
acontecendo aqui?”
O sócio de Boston apontou para a Amirah de verdade. “Oh,
merda. Ela poderia ser sua dublê.”
“Minha… minha o quê?”, a Amirah de verdade perguntou, com
uma risadinha confusa.
Rogan fixou o olhar em mim. Me senti hipnotizada. Eu não
podia olhar para outro lugar agora que tinha sigo pega. Acho que é
esse o sentimento de um cervo antes de ser atropelado por um
carro.
“Ela estava mentindo”, o cara loiro, Asher, disse. Ele ajustou os
óculos e disse, “Ela não é Amirah. Ela é.”
Maurice se afastou de mim com um pulo e deixou um suspiro
dramático digno de uma indicação ao Oscar. “Você não é Amirah
Pratt?”
Ninguém acreditou no drama. Ele suspirou e olhou
desajeitadamente para os pés.
Enquanto isso, o cara de Boston tinha casualmente se
esgueirado pela parede até ficar na frente da porta. Ele estava
bloqueando a saída. A única outra forma de sair era pular da sacada
para a quadra. O que, naquele momento parecia mais tentador do
que eu gostaria de admitir.
Todo mundo estava me encarando, então eu disse, “Isso não é
o que parece.”
“Sério?”, perguntou Rogan. Sua voz tinha um tom autoritário, o
que me lembrou um oficial do Exército à paisana. “Porque parece
que você invadiu nossa cabine para comer e beber de graça.”
Eu estremeci. “Ok, então isso é exatamente o que parece. Mas
não foi só pela comida e pela bebida! Escolhemos essa cabine
porque vimos Jonah Weiman saindo daqui. Queríamos falar com ele
sobre a agência de talentos, mas quando você pensou que eu era
outra pessoa, entrei em pânico e continuei o jogo.”
Maurice deu um grande passo para a direita e deu uma
cotoveladinha em Jonah. “Você tem que ser um grande ator para
fazer isso, certo? Sou Maurice Whitman, como o poeta. Mas sou
mais um ator do que um homem das letras. Você provavelmente me
reconheceu das fotos.”
“Jovem, eu não tenho a ideia de quem você é!”, disse Jonah
secamente.
Os ombros de Maurice se encolheram alguns centímetros.
Amirah olhou ao redor e riu de nervoso. “Isso é algum tipo de
piada? Eu não entendi, ha ha.”
“Não é uma piada”, disse Rogan solenemente. “Preciso chamar
os seguranças do estádio.”
A mulher vinílica com os enormes peitos bufou alto. “Eu sabia
que ela não era a Amirah Pratt de verdade. Eu te disse, não disse,
querido? Eu sou boa fisionomista. E olha o cabelo dela, cheio de
pontas duplas. Não orna muito com esse rosto…”
Todo mundo reage lutando ou fugindo. Até aquele momento,
fuga era o ideal para mim. Correr pela porta, pular da sacada,
agarrar uma toalha de mesa e usar como paraquedas. Ok, essa
última parte talvez não funcionasse. Impulsos nem sempre tem
lógica.
Mas aquela Barbie insultou a minha aparência! Imediatamente
o modo fuga deu lugar ao modo luta.
“Nem todo mundo pode pagar um cabeleireiro toda semana”,
gritei com ela. “Alguns de nós mal consegue sobreviver. Preciso
implorar, pegar emprestado ou roubar cada oportunidade. É uma
cidade cruel, e eu não vou pedir desculpas por ter feito o que fiz. E
acontece que eu acho que sou muito bonita, apesar de todas as
coisas.”
A mulher deu um passo para trás quando dei um passo na sua
direção.
“E mesmo que eu fosse feia, você é a última pessoa que
deveria julgar a aparência de alguém.”
Ela zombou, “O que você quer dizer com isso?”
“Quero dizer que parece que alguém afixou duas bolas de vôlei
no seu peito. E uma das bolas está mais cheia do que a outra. Eu
não vou deixar alguém como você ridicularizar a minha aparência ou
o que quer que eu tenha feito.”
Escutei o telefone de Rogan tocar vagamente. Ele atendeu e
disse, “Te ligo daqui a pouco, Patty”, e o enfiou de volta no bolso. Os
olhos dele não se desgrudaram da cena que eu estava fazendo.
“Se acalme, querida”, disse Jonah, em tom condescendente.
“Você não precisa ficar nervosinha.”
“Você quer um pouco também?”, perguntei, me virando na
direção dele. “O Maurice aqui enviou fotos para todo mundo na
Agência Weiman. Ele usou uma lista, agente por agente. E ele
nunca recebeu nem um mísero e-mail de rejeição pelo menos.”
Jonah ficou surpreso com a minha fúria. “Não temos tempo de
responder cada…”
“Você sabe quanto custa uma sessão fotográfica?”, encostei
um dedo no seu peito, fazendo ele dar um passo para trás. “Não são
baratos. Especialmente para um aspirante a ator tentando encontrar
um representante. Demora dez segundos para enviar um e-mail de
rejeição para alguém. Você está ocupado demais para isso?
Contrate a porra de um estagiário.”
Jonah piscou para mim, sem palavras.
“Senhorita, não tente agir como se fosse a vítima aqui”, disse o
cara de Boston. Ele ainda estava parado na porta da cabine, rindo
da situação. “Você invadiu nossa tribuna e bebeu de graça, você
precisa pagar por isso.”
Eu olhei para ele. “Sério? Você está mais preocupado com a
uma cerveja e meia que eu tomei ou os seis pratinhos de aperitivo?
Tem sete pessoas aqui, vocês têm comida e bebida o suficiente
para um exército. Nós mal desfalcamos o estoque. Acho que sua
empresa deve estar na pindaíba para você ser mesquinho assim.”
Uma ideia passou pela minha cabeça. Não ajudaria muito, mas
era uma tentativa e eu não conseguia parar.
“Que tipo de empresa de segurança é essa, afinal?”, olhei de
volta para Rogan. “Vocês são seguranças pessoais de atletas, mas
não conseguem impedir dois penetras de invadir sua tribuna. Eu
teria vergonha se fosse vocês.”
Rogan estremeceu, eu tinha atingido seu moral.
Meu sangue estava quente e eu sentia minha pulsação
aumentar. Era bom deixar um pouco de raiva sair. Olhei em volta,
procurando outro alvo para a minha ira.
“Bem?”, perguntei. “Mais alguém quer chutar cachorro morto?
Estamos aqui, vamos lá!”
Mas Maurice puxou a manga do meu vestido. Enquanto eu
gritava com o cara de Boston, ele tinha saído de frente da porta. A
saída estava livre.
Hesitei, então peguei a maçaneta e abri a porta. Aquele bando
de estúpidos ficou assistindo enquanto saímos da cabine e da
arena.
5

Heather

Acordei sem a ajuda do despertador na manhã seguinte. A luz


do sol invadiu a janela sobre minha cama. Me espreguicei, rolei para
o lado e vi Maurice em sua cama, na parede oposta. Ele tinha tirado
a coberta e sibilava suavemente com a cabeça enterrada no
travesseiro.
Saí do quarto em silêncio e fui até a cozinha preparar o café da
manhã. Tecnicamente, a “cozinha” era o mesmo cômodo.
Morávamos num estúdio. Se eu esticasse o braço, poderia derrubar
os ovos mexidos da frigideira direto na boca do Maurice ainda
deitado na cama.
Mas era barato e essa é a palavra mágica para aspirantes a
atores com quase nada de dinheiro no bolso.
Quando Maurice se esticou, anunciei. “O café da manhã vai
ficar pronto em dois minutos.”
Ele se virou na cama até olhar para mim. Um dos olhos
abertos, uma ilha branca no meio do mar preto. “Por que você está
fazendo café da manhã?”, ele resmungou.
“Porque estou com fome.”
“Não”, ele disse, se sentando na cama. “Eu quis dizer por que
você está fazendo café da manhã para mim?”
Deslizei os ovos em um prato e entreguei para ele. “Como um
pedido de desculpas pela noite passada.”
“Ah, então ela tem vergonha na cara.”
“Às vezes. Mas só um pouco.”
Eu não me sentia envergonhada do que tinha feito. Todo
mundo naquela cabine era rico. Jonah Weiman tinha um patrimônio
de dez milhões de dólares. Amirah Pratt só tinha vinte e dois anos,
mas já era mais do que milionária. Eu não sabia o que a peitos-de-
bola-de-vôlei fazia da vida, mas eu a odiava independente do seu
saldo bancário. E os caras da segurança deviam ser ricos, porque
podiam pagar por uma tribuna de honra no jogo dos Lakers.
Los Angeles era dividida em duas classes sociais: aqueles que
tinham conseguido e aqueles que não. Não gostei da forma como
eles nos humilharam naquela noite. Especialmente a peitos-de-bola-
de-vôlei. Pontas duplas? Meu cabelo era fabuloso, mesmo sem um
cabeleireiro por perto.
Enquanto isso, Maurice e eu mal conseguíamos sobreviver.
Ok, roubamos algumas bebidas e dois pratos de comida. E daí?
Eles iam jogar fora os restos todos. Até onde eu conseguia analisar,
foi um crime sem vítimas.
Eu não me sentia envergonhada por nada daquilo. Se muito, a
experiência toda me deixou um gostinho de emoção. Mas eu me
sentia mal em arrastar Maurice para aquela situação. Dentro do
metrô na volta para casa ele não me dirigiu a palavra. O que era
raro. Maurice era geralmente muito falante, e ele falava sem se
importar se você quer ouvir ou não.
“Me desculpe pela noite passada”, eu disse, trazendo o prato
de ovos para ele. Me sentei na quina da sua cama. “Você tentou me
alertar de que era uma má ideia. Eu deveria ter ouvido.”
“Obrigado”, ele pegou o prato e o garfo. “Agora que você se
desculpou, devo admitir que foi divertido.”
“E não fomos presos!”, eu disse. “Como eu havia prometido.”
“Eu acho que eles ficaram chocados demais para chamar os
seguranças”, ele deu uma garfada na comida. “Você realmente deu
um sermão. O que foi aquilo?”
Dei de ombros. “Não gostei da forma com que eles nos
trataram. Como se fossem melhores do que nós.”
“Eles são melhores do que nós, querida.”
“Eu sei! Mas não precisam ser cuzões”, eu chacoalhei a
cabeça. “Acho que ainda estou chateada com a última audição.”
“A que você não foi aprovada?”
Olhei para ele furiosa. “Obrigada por ser direto. Sim, aquela.
Eu estava lá de frente para o agente e… não consegui dar o meu
melhor.”
Maurice tocou minha perna. “Talvez o Sr. Howard tenha algo
novo para você.”
“Talvez”, olhei para o relógio. “Você vai trabalhar no turno do
jantar?”
“Sim, mas vou chegar três horas antes. Eles querem minha
ajuda para treinar a garota nova. Aquela da franja”, Maurice revirou
os olhos para mostrar o que ele pensava sobre aquilo.
Nós trabalhávamos servindo mesas em uma churrascaria perto
da Disneylândia, em Anaheim. Não era uma boa churrascaria, era
uma rede de restaurantes que rimava com contracheque. Era tão
glamuroso quanto se podia esperar, mas nos dava muita prática de
atuação porque tínhamos que passar o turno todo agindo como se
não odiássemos nosso trabalho.
“Se você quer ganhar hora extra, você pode treinar a Mandy”,
Maurice sugeriu.
Dei uma gargalhada e me levantei da cama. “Eu passo.”
Tomamos nosso café da manhã, tomamos banho e deixamos o
apartamento juntos. O Estúdio do Sr. Howard era em Boyle Heights,
meia hora de carro da nossa casa. Mas nenhum de nós tinha carro,
então tínhamos que caminhar quatro quarteirões, pegar dois ônibus
e depois caminhar mais quatro quarteirões para chegar lá. Acabava
demorando uma hora para ir e uma para voltar, se os ônibus
estivessem no horário (o que era longe de ser a realidade cotidiana).
O estúdio era em um centro comercial velho entre uma
tabacaria e uma loja de canabis. Havia mais onze outros alunos lá, a
maioria deles com vinte e poucos anos, como eu e Maurice. Havia
três fileiras de cadeiras dobráveis de frente para um palco com uma
sala adjacente que servia como camarim e sala de figurino.
Antes da aula começar, tirei a aliança da bolsa e a coloquei de
volta na caixa de adereços no guarda-roupa, sem nenhum dano.
O Sr. Howard – que insistia em ser chamado assim, porque
era sensível ao seu primeiro nome, Eugene – era um homem baixo
e eclético que usava jeans skinny com um suéter roxo. Ele tinha
sido ator trinta anos antes, especialista em novelas da tarde. Ele
teve dois papeis em filmes B que foram fracassos de bilheteria e
não fez mais nada desde então.
Nada, exceto ensinar teatro.
Apesar de ser robusto e ter as pernas roliças, ele parecia
flutuar quando entrava na sala cumprimentando todo mundo.
“Sentem-se, sentem-se todos! Falta um minuto para o meio-dia e se
você chegou na hora, já está atrasado! Sentem-se para podermos
começar!”
Maurice e eu nos sentamos no fundo. Sr. Howard sorriu
amplamente para os alunos de cima do palco.
“Ok”, ele disse melancolicamente, “Todo mundo esvaziando a
cabeça. O mundo lá fora não existe mais! Enquanto vocês estão
aqui, vocês são atores, e atores precisam de foco!”
Durante a hora seguinte, Sr. Howard nos treinou para atuar.
Treinou, não ensinou. Ele insistia que não era um professor, porque
não se pode ensinar a atuar como se fosse um jogo de tabuleiro.
Oh, não. Sr. Howard nos treinava para trazer nossas habilidades já
existentes para a superfície. Como um treinador de futebol que
ajuda um atleta talentoso a encontrar uma forma de marcar o ponto.
As metáforas esportivas eram sempre estranhas para mim. Sr.
Howard era vagamente afeminado e parecia nunca ter pisado em
um estádio na vida. Mas ele insistia, então nós aceitávamos.
Fizemos exercícios de voz para enunciar palavras mais
corretamente. Nos dividimos em pares e ensaiamos falas, fazendo
um papel, depois o outro. Finalmente, nos alternamos no palco,
fazendo improvisações enquanto os outros da turma gritavam
palavras para nos dar ideias.
Os últimos quinze minutos de cada sessão eram reservados
para atendimento individual com Sr. Howard, para que ele pudesse
nos dar feedbacks personalizados. Maurice falou com ele antes de
mim e saiu do escritório após três minutos.
“Você quer que eu te espere?”, ele perguntou antes de eu
entrar no escritório.
Ele estava sendo legal – eu sabia que ele queria pegar o
ônibus o mais rápido possível. “Você não precisa esperar. Sei que
você precisa chegar mais cedo no trabalho.”
“Obrigado”, ele hesitou. “Ah, e eu tenho um favor para te pedir.
Tenho um encontro depois do trabalho.”
“Com o novo cozinheiro?”, fiz um gesto de comemoração.
“Legal. Vai ser o seu terceiro encontro, certo?”
Ele acenou. “E como vai ser o terceiro, eu estava pensando
se…?”
Me dei conta do que ele queria. “Você precisa que eu fique fora
essa noite.”
“Eu realmente gosto desse cara”, Maurice implorou. “Por favor,
deixe a gente sozinho essa noite? Por favorzinho? Juro que
compenso depois.”
Suspirei. “Sim, claro. Mas é melhor você fazer valer a pena.”
“Garota, você sabe que eu sempre faço”, Maurice me jogou um
beijo e saiu pela porta.
Sr. Howard era tipo um agente, mas sem nos representar
legalmente. Funcionava bem para os aspirantes a atores: tínhamos
papeis recomendados, mas ainda tínhamos a opção das agências
em aberto, no caso de alguma delas – como a de Jonah Weiman –
quisesse nos agenciar.
Sr. Howard estava sentado do outo lado da mesa com as
pontas dos dedos unidas formando um triângulo com as mãos, me
examinando. “Heather, querida. Está sendo desafiador o suficiente
para você?”, ele continuou sem me deixar responder. “Você se
destaca nas sessões. Você tem talento, mas ainda não pulou para a
próxima fase na sua carreira.”
Eu dei de ombros. “Não sei. Preciso ser muito desafiada?”
Sr. Howard batia as pontas dos dedos. “A agência de talentos
me deu uma resposta sobre sua última audição. O agente disse que
você estava entediada. Ele achou que você nem tentou.”
Pensei em protestar, mas parei. Ele estava certo. Eu não fui
bem na última audição. Mas não tinha certeza do motivo.
“Talvez eu não tenha sido desafiada o bastante”, admiti. “Era
um comercial de cereal e eu só tinha uma fala. É difícil encontrar
motivação para isso.”
“Você sabe como as coisas são. Um degrau de cada vez. Você
precisa ir muito bem nesses papéis pequenos antes de subir de
patamar. Até o Brad Pitt começou a carreira em comerciais.”
“Eu sei, é só que…”
Ele escorregou um pedaço de papel para mim e voltou a unir
os dedos. “Tenho outro teste para você. É um comercial
antitabagismo. Você vai concorrer ao papel de garota descolada
número dois. Você é uma das garotas que fuma no Ensino Médio e
morre de câncer de pulmão anos depois.”
Peguei o papel com as informações. “Empolgante.”
“Não existem papeis pequenos, minha querida! Apenas
atitudes pequenas. Dê o seu melhor absoluto nesta audição e nós
podemos discutir sobre formas de desafiar suas habilidades.”
“Obrigada, Sr. Howard.”
Li rapidamente o script enquanto caminhava para o ponto de
ônibus. O diálogo era brega e super dramático. Me arrepiei lendo.
Era literalmente assustador.
Mas já era alguma coisa e eu seria paga, pelo menos. Presumi.
Eu esperava que fossem me pagar. Garçonetes não ganhavam
muito dinheiro, especialmente em um restaurante na área da
Disney.
Eu estava lendo o script pela segunda vez quando notei um
movimento do leu lado esquerdo.
Tentei me virar para ver, mas era tarde demais. Uma mão
cobriu minha boca antes que eu pudesse gritar. Tentei alcançar o
teaser dentro da minha bolsa, os dedos arranhando a alça…
Outra mão alcançou minha boca, dessa vez com um cheiro
agudo e químico. Tentei gritar e inalei a substância
automaticamente…
Então tudo ficou preto.
6

Heather

Acordei na penumbra.
A primeira coisa que notei foi minha cabeça. Doía
terrivelmente, como se todas as ressacas da minha vida tivessem
voltado para me assombrar. A dor pulsava na minha têmpora a cada
batimento cardíaco.
Estava úmido e eu estava suando. Abri meus olhos e pisquei.
Nada mudou. Virei a cabeça e senti algo se mexer. Havia um saco
cobrindo minha cabeça. Era por isso que eu não conseguia ver
nada. Era por isso que eu sentia a umidade – porque minha
respiração estava molhando meu rosto.
Eu gemi enquanto tentava me lembrar do que havia
acontecido. Eu estava saindo da sessão do Sr. Howard e então algo
aconteceu. Estava quase me vindo a memória, mas quando eu
tentava lembrar, a recordação evaporava feito nuvem.
Ouvi um som abafado e, de repente, alguém tirou o saco da
minha cabeça. A relativa claridade me atingiu como um caminhão e
piorou a enxaqueca. Senti como se um parafuso girasse no meu
cérebro.
Pisquei e meus olhos começaram a focar.
Eu estava sentada em uma cadeira em um armazém vazio.
Cheirava a ferrugem e mofo. Três homens estavam parados na
minha frente. Eles usavam um uniforme camuflado, como se
estivessem prestes a ir caçar. Com a exceção de que eles também
usavam máscaras de ski para cobrir seus rostos: uma verde, uma
azul e outra rosa. E, ao invés de rifles de caça nas costas, cada um
deles tinha uma pistola na cintura.
Minha última memória me atingiu com uma certeza mórbida.
Eu tinha sigo sequestrada por esses três homens na saída da aula.
A parte do meu cérebro responsável pelo pânico se acendeu e
despejou uma grande dose de adrenalina no meu corpo. Todo
mundo reage lutando ou fugindo. E diferente da última vez, a fuga
estava vencendo.
Gritei e fiquei de pé. A cadeira em que eu estava sentada veio
comigo, porque aparentemente eu estava algemada a ela, mas eu
não me importava muito naquele momento. Escolhi uma direção e
corri o mais rápido que podia naquelas condições.
“SOCORRO!”, gritei, minha voz ecoou pelo armazém.
“ALGUÉM ME AJUDE!”
Consegui percorrer uns seis metros antes de alguém me
segurar. Tentei lutar, chutar, mas a resistência de uma mulher
algemada era ridícula. Um dos homens – o de máscara rosa –
enfiou uma bola de pano na minha boca.
“Achei que ela ia estar mais grogue”, disse o Sr. Rosa. Ele
pronunciou grogue com um sotaque estranho. Aquilo me era
familiar, mas eu estava muito ocupada para conseguir pensar
naquilo.
“O efeito não deveria ter passado tão rápido”, o homem de
máscara azul – Sr. Azul – disse.
Eles me arrastaram de volta para o lugar original, no canto do
armazém, perto de uma maleta de metal preta. O Sr. Rosa usou
dois lacres para prender meus tornozelos nos pés da cadeira.
Isso não está acontecendo. Isso não pode estar acontecendo.
Sr. Verde ficou de pé na minha frente. O buraco na máscara de
ski onde sua boca estava se abriu e uma voz profunda disse,
“Queremos te fazer algumas perguntas. Vai ser mais rápido, e mais
fácil, se você cooperar.”
Sr. Green removeu o pano da minha boca. Assim que me livrei
dele, respirei profundamente e gritei a plenos pulmões: “VÃO À
MERDA, SEU BANDO DE FILHOS DA PUTA.”
A bola de pano voltou imediatamente para minha boca.
O Sr. Rosa, riu do meu lado direito. “Não me ameace assim,
queridinha”, com a pronúncia estranha de queridinha. Então ele
olhou para o Sr. Verde e completou, “Eu te disse que ela era
agressiva.”
O Sr. Verde suspirou. “Não queremos te machucar. A verdade
é essa. Só queremos fazer umas perguntas. Você pode se
comportar?”
Com o peito pesado, acenei devagar. Sr. Green removeu o
tecido da minha boca de novo.
“COMAM MERDA, SEUS BOQUETEIROS DE UMA FIGA.”
Sr. Verde enfiou a bola na minha boca de novo.
“Boqueteiros”, Sr. Rosa repetiu rindo. “Tenho que me lembrar
dessa. Foi muito boa.”
Sr. Verde olhou para ele e colocou um dedo nos lábios.
“Vai ser mais fácil se nós a matarmos”, disse o Sr. Azul,
silenciosamente.
Minha espinha gelou. Eu sabia que estava em perigo –
obviamente – mas ouvir aquelas palavras em voz alta, tão
casualmente, como se ele estivesse sugerindo um restaurante para
o jantar…
Sr. Verde se agachou na minha frente. Seus olhos eram como
piscinas escuras atrás da máscara. “Gritar não vai ajudar, não tem
ninguém a quilômetros daqui. Você só vai ficar rouca. Então esta é
sua última chance.”
Respirar pelo nariz era difícil, porque meu corpo estava
hiperventilando, então assenti. Sr. Verde removeu o tecido. Todo
mundo pausou esperando para ver se eu ia fazer uma cena.
Quando eu não fiz nada, o Sr. Azul entregou alguma coisa para
o Sr. Verde. Uma garrafa d’água. O plástico fez um barulho quando
ele removeu a tampa e a esticou para mim.
Meu instinto me disse para morder seu dedo. Meu pai tinha me
ensinado que arrancar um dedo humano na mordida requeria a
mesma força de morder uma cenoura, e eu queria testar sua teoria
naquele momento. Mas minha garganta estava tão seca que
queimava quando eu respirava. Eu não tinha me dado conta da
sede até aquele momento.
Ele derramou água na minha boca e eu bebi avidamente,
engolindo cada gota até escorrer pelo meu queixo. O homem era
estranhamente gentil comigo e a colônia dele era cheirosa. Me
lembrou alguma coisa quando ele segurou meu queixo e me deu o
resto da água. Apesar daquela situação, senti alguma coisa com
aquele cheiro.
Cale a boca, vagina. Tô meio ocupada agora.
Sr. Verde atirou a garrafa vazia para o lado. Minha mente
estava voltando a se sentir menos nebulosa.
Ok, então eu fui sequestrada. Mas por quê? Eu era só uma
aspirante a atriz. Eu servia mesas. Minha família não tinha dinheiro
– meu pai era um fuzileiro aposentado vivendo de pensão. Me
sequestrar não fazia o menor sentido. Não é como se eu fosse
famosa feito…
Amirah Pratt.
Já tinham me confundido com ela na noite anterior. Aqueles
caras devem ter achado que eu era ela. Era a única explicação
possível.
“Vocês estão cometendo um erro!”, eu disse, falando com mais
facilidade após beber água. “Eu não sou Amirah Pratt. Só me
pareço com ela.”
Assim que eu disse isso, me arrependi. Se eles achavam que
eu era Amirah Pratt, eles iam provavelmente pedir resgate. Assim
que souberem que eu era uma zé ninguém, iam me matar – como o
Sr. Azul tinha sugerido.
Mas os três homens olharam uns para os outros e riram.
“Nós sabemos quem você é, Heather”, disse o Sr. Verde.
“Apesar de você ser um pouco parecida com ela”, adicionou Sr.
Rosa secamente.
Ok, teoria refutada.
Sr. Verde olhou para mim. “Você é Heather Hart, originalmente
de Tyler, Texas. Mora em Los Angeles faz três anos. Sabemos tudo
sobre o seu passado. O que não sabemos é para quem você
trabalha. Conte e te deixamos ir.”
Pisquei, confusa. “É isso?”
“É isso.”
“Eu trabalho no Outback”, disse calmamente. “Aquele no
Boulevard South Harbor, perto da Disney.”
Sr. Rosa chacoalhou a cabeça e olhou para o outro lado. Eu
não podia saber por causa da máscara, mas parecia que o Sr. Verde
estava de cara feia.
“Sabemos que é só um disfarce. Para quem você trabalha de
verdade?”
“O que você quer dizer? É o único emprego que tenho.”
“Não se faça de burra”, disse o Sr. Verde.
“Então não faça perguntas burras!”, gritei de volta. “Eu não sei
o que mais vocês querem saber. Eu trabalho no Outback.”
“Você só trabalha lá três ou quatro noites por semana”, disse
Sr. Verde.
“Porque eles mantem os contratos inferiores a trinta horas por
semana”, respondi acidamente. “Assim eles não precisam pagar
benefícios. E eu não consigo arrumar um segundo emprego porque
minha escala varia toda semana. É uma merda.”
“Isso é uma merda mesmo”, concordou Sr. Rosa. Sr. Verde
lançou um olhar furioso para ele.
"Pronto, respondi sua pergunta", eu disse. "Posso ir agora?”
O punho do Sr. Verde se fechou. “Você pode ir quando me
contar para quem realmente trabalha.”
Respondi calmamente, enunciando cada palavra como se
estivesse falando com alguém com perda auditiva. “Out-back. A-
néis-de-ce-bo-la. Você fala inglês?”
Sr. Verde suspirou e tocou no nariz através da máscara de ski.
“Eu gostava mais de você quando estava xingando.”
“Eu posso voltar a xingar, boqueteiro.”
Ele segurou a bola de tecido. “E eu posso voltar a fazer isso.”
Calei a boca rapidamente.
“Pra quem você trabalha?”, ele perguntou, com menos
paciência dessa vez. “Pegasus ou Heimdall?”
“Cara, eu realmente não tenho a menor ideia do que você está
falando.”
“São empresas. Você trabalha para eles?”
“Não”, eu disse num gemido. “Eu não trabalho na churrascaria
Pegasus ou churrascaria Heimdall.”
“Não são… ah, você está dificultando as coisas.”
“Viu?”, disse o Sr. Rosa “Ela não sabe de porra nenhuma.
Devíamos jogá-la de volta no carro e devolvê-la.”
“Falei para você parar de falar”, sibilou Sr. Verde.
Alguma coisa no jeito de falar do Sr. Rosa me acende uma
memória. Já tinha sentido aquilo antes e naquele momento de novo.
Ele pronunciava de forma diferente.
Boston. Ele era de Boston.
Reuni várias memórias e rapidamente elas aumentaram na
minha cabeça, como uma bola de neve descendo uma colina.
“Oh, merda!”, deixei escapar. “Vocês são os caras de ontem!
Os donos da tribuna de honra que invadimos!”, olhei para o Sr.
Verde. Você é Rogan Holt!”
7

Rogan

Assim que as palavras saíram da boca dela, eu xinguei.


“É por isso que eu não queria que você falasse”, disse ao
Brady usando a máscara rosa.
Atrás de Heather, Asher tombou a cabeça e suspirou. Ele
removeu a máscara e colocou os óculos que estavam dentro do seu
bolso no rosto.
“Rogan Holt”, disse Heather, acenando com a cabeça. “Eu
definitivamente me lembro da sua voz. HLM Segurança.
“HLS”, Brady corrigiu.
Deixei sair um som irritado e o encarei.
“O quê? Não faz mais diferença. Ela sabe quem nós somos”,
Brady removeu a máscara também.
“Isso é muito foda”, disse Heather. “Vocês me sequestraram no
meio do dia. É tipo uma vingança por ontem? Bebi umas cervejas
suas e agora vocês vão me torturar?”
“Ninguém vai torturar ninguém”. Minha máscara estava quente
e abafada, então finalmente a tirei do rosto. Deixei sair um suspiro
de resignação. Eu estava cansado daquilo tudo. “Para quem você
trabalha, Heather?”
“Eu já falei!”, disse Heather. “Outback. Vocês são tipo
publicitários da concorrência ou algo assim? Eu nunca fiz parte da
máfia das franquias de restaurante antes.”
Ela era uma boa mentirosa. Boa o suficiente para ter nos
enganado na noite anterior e boa o suficiente para me fazer
suspeitar de que ela estava fazendo um teatrinho naquele momento.
Porém não poderíamos deixá-la ir sem a verdade. Havia muita coisa
em jogo.
“Isso é loucura!”, disse Heather, girando sua cabeça para nos
olhar. “Vocês me sequestraram. Eu sei quem vocês são. É isso”, ela
congelou, com os olhos arregalados. “A menos que vocês planejem
me matar…”
“Nós não vamos te matar”, suspirei. “Só queremos a verdade.”
“Estou falando a verdade! O que eu preciso fazer para
convencer vocês? Eu uso um detector de mentira se for preciso…”
Eu me animei quando ouvi aquilo. “Sério?”
Heather deu um suspiro. “Se isso for me liberar dessa situação
logo, por que não?”
Olhei para Asher. Ele se virou e pegou a mala de equipamento,
desabotoando as duas travas e abrindo-a. Ele começou a vasculhar
o conteúdo.
“Só para confirmar”, eu disse, “você está consentindo com a
técnica de detecção de mentiras?”
“Eu não consenti com nada dessa merda”, ela respondeu. “Mas
é claro. Vocês têm meu consentimento para o que for me tirar dessa
sala rápido.”
“Ela tem atitude”, disse Brady rindo. “Ela é perfeita.”
“Veremos”, murmurei.
“Perfeita pra quê?”, ela perguntou. Seus olhos grandes
oscilaram de Brady para mim. “Sou perfeita pra quê?”
“Vamos falar disso depois”, acenei para Asher, que limpou seu
braço com um pano com álcool. Heather parecia confusa por um
momento, e então Asher injetou algo com uma seringa no seu
braço.
“Que merda é essa?”, ela perguntou.
“Você consentiu com técnicas de detecção de mentiras”, eu
disse.
“Eu esperava que fosse uma máquina tipo um polígrafo!
Aquela merda com sensores e a agulha que parece um
eletrocardiograma. Isso é… ahhh”, os olhos dela começaram a
relaxar.
Asher retirou a seringa e perguntou, “Você não tem alergia a
barbitúricos, tem?”
Ela olhou para ele. “Por que você está me perguntando isso
depois de ter me injetado essa coisa?”
Ele sorriu e pressionou uma bola de algodão no local da
agulhada. “Só fazendo uma piadinha. Temos seu histórico médico,
obviamente.”
“Como vocês tem… hm, que sensação esquisita.”
Eu sabia pelo que Heather estava passando naquele momento
porque eu tinha passado pelo mesmo durante o treinamento de
fuzileiro. O stress estava se dissolvendo e sua consciência estava
se afastando do seu corpo. Era como se tudo aquilo estivesse
acontecendo com outra pessoa em outro lugar. Essa nova pessoa,
relaxada, estava confortável como um gatinho aninhando em um
cobertor.
“Quanto tempo?”, perguntei a Asher.
Meu colega loiro olhou no relógio. Ela pesa 62 quilos, então eu
dei a ela 80 miligramas. Ele atravessa a barreira do cérebro bem
rápido, então…”
“Não preciso do relatório médico”, respondi. “Perguntei quanto
tempo.”
Ele apertou os lábios e respondeu: “Um ou dois minutos”.
“Ei”, Heather disse. “É rude perguntar o peso de uma donzela.”
“Eu não perguntei seu peso”, Asher pontuou. “Eu afirmei.”
“Ainda assim, seu boqueteiro”, ela deu uma risadinha e então
começou a balbuciar: “Te chamei de boqueteiro mais cedo,
intencionalmente. Mas mudei de ideia agora. Você parece legal.
Posso retirar o que eu disse?”
“Sim, está retirado”, respondi. “Acho que ela está pronta,
Asher.”
“Aparentemente sim.”
Dei um passo na direção dela. “Você pode nos confirmar seu
nome?”
“Heather Hart”, ela disse sem hesitar. “Esse é meu nome
agora. Ontem meu nome era Amirah Pratt. Foi divertido até sermos
pegos. Aí ficou menos divertido.”
“Para quem você trabalha?”
Ela mexeu a cabeça para me olhar. “Opa, você tá falando
sério. Sei que que é sério porque você tá com sua cara de sério”,
ela franziu o rosto como se estivesse tentando se concentrar.
“Heather”, repeti calmamente, “pra quem você trabalha?”
“Eu trabalho para… ganhar dinheiro! Money, dinero. Mim gosta
ganhar dinheiro. Acho que isso é um rock antigo. Money também
uma música boa. Daquela banda do disco Dark Side of the Moon.
Esqueci o nome”, ela começou a cantarolar uma música do Pink
Floyd.
Olhei para Asher.
“Tiopental sódico tem efeitos colaterais”, ele disse. “Acaba a
inibição e o filtro. Todos os pensamentos saem direto pela boca.”
“Tipo o Brady”, eu disse.
Brady resmungou. “Ei!”
Ri e virei de volta para Asher. “Não me lembro de nenhum de
nós ficar nesse nível quando fomos testados. Você tem certeza de
que deu a ela a dose correta?”
Asher deu de ombros. “A substância afeta as pessoas de
formas diferentes. Dei a ela a dose mínima. Três miligramas por
cada quilo que ela pesa.”
“Seu grooosso!” Heather anunciou. “Para de falar sobre meu
peso!”
Me virei para Heather e repeti a questão. “Quem é seu
empregador?”
“Outback”, ela disse imediatamente. Todos os pensamentos
saindo direto pela boca, como Asher disse. “É uma merda. Tem
tantas outras churrascarias melhores. Outback nos manda aquecer
metade da comida no micro-ondas. Eu não devia contar isso a
ninguém. Posso me meter em problemas. Vocês podem guardar
segredo?”
Eu me agachei na frente de Heather e coloquei um braço no
seu joelho. “Concentre-se. Você é empregada de mais alguém? Um
trabalho temporário ou um contrato estável?”
Seu cabelo loiro balançou quando ela olhou para o meu braço
e depois olhou de volta para o meu rosto. “Eu gosto do jeito como
você me toca, garotão. Você pode fazer mais se quiser. Não seja
tímido”, ela agitou os braços atrás das suas costas. “Eu nunca
gostei dessa coisa de submissão, mas agora até que entendo o
fetiche. É divertido.”
Brady estava rindo histericamente atrás de mim.
“Eu passo”, disse com um sorriso irônico. “Você não tem noção
do que a palavra consentimento significa agora.”
Ela se inclinou para frente, com os olhos grandes focados em
mim. “Eu consinto. Viu? Eu disse em voz alta. Do mesmo jeito que
consenti com essa detecção de mentira idiota de vocês. Falando
nisso, vocês me enganaram. Essa coisa que vocês me injetaram
está me fazendo falar muito. Mas tudo bem. Meu ponto é, eu
consinto. Me desamarre e tire toda a minha roupa. Vamos à loucura,
garotão.”
Meu pau se mexeu involuntariamente. Era impossível não
sentir alguma coisa naquele momento. Heather era insanamente
gostosa e estava me olhando como quem diz me come. Mas meu
cérebro se descontrolou e eu revivi o beijo da noite anterior, naquele
banheiro. A forma como ela pressionou seu corpo contra o meu,
triturando minhas pernas enquanto movia sua língua na minha
boca…
Mas é claro, aquilo era confuso. Tínhamos levado Heather para
aquele lugar contra sua vontade. Ela estava amarrada e não podia
consentir nada porque estava sob efeito do soro da verdade. E nós
tínhamos um trabalho a fazer.
Mesmo assim demorou alguns segundos para que eu
conseguisse me recompor.
“Essa não!”, disse Heather, franzindo o rosto de novo. “A cara
de sério voltou.”
“Para quem você trabalha? Pegasus ou Heimdall?”
“Nunca ouvi falar de Pegasus”, ela disse sem hesitar. Mas eu
sei tudo da Heimdall.”
Eu fiquei de pé. “Você sabe?”
“Claro que sei!”, ela disse. “Heimdall é o cara dos filmes do
Thor. Quem faz o papel é o Idris Elba. Esse é um homem com quem
eu queria fazer de tudo. Ele é muito mais sexy que o tal do
Hemsworth. Sem dúvida! Loiros não fazem meu tipo”, ela se virou
para olhar para Asher. “Sem ofensas, Sr. Azul.”
Asher piscou por trás dos óculos. “Sr. Azul?”
“Criei apelidos antes de saber quem eram vocês. Sua máscara
era azul então você era o Sr. Azul. Ele era o Sr. Rosa”, ela olhou
para mim. “E ele era…”
“Sr. Verde. Nós conhecemos as cores”, eu disse.
“Há!”, exclamou Heather. “Eu ia dizer que você era o Sr.
Boqueteiro. Vocês são péssimos em interrogar pessoas.”
“Você está familiarizada com Heimdall Segurança?”, perguntei,
tentando levar a conversa de volta para o eixo.
“Receio que não”, ela se animou. “O CEO deles é um deus de
ébano alto com um sotaque elegante britânico? Se a resposta for
sim, eu preferia que eles me interrogassem.”
“Jimmy Cardannon é britânico”, mas ele é branco feito um
palmito. E perversamente feio. E um cuzão. Você não vai gostar
dele.”
“Voltando à pergunta”, eu disse pontualmente. “Por que você
invadiu nossa suíte ontem à noite?”
Heather se endireitou na cadeira. “Porque eu quero que vocês,
ricos, que se fodam. Foi por isso. Vocês tinham toda aquela comida
gostosa e aquelas bebidas caras na cabine. Não iriam dividir com
mais ninguém. Nossos assentos eram horríveis. Ai meu Deus, eles
eram tão no alto, uma merda. Meu amigo Maurice não estava
conseguindo ver LeBron. Ele tem um crush no Rei James. Ele o
chama de Bron. Ah, eu deveria ter mencionado que ele é gay. Meu
amigo, Maurice, não LeBron. Maurice ama pintos. Ele quer todos os
pintos na boca dele.”
Brady caiu na gargalhada atrás de mim. “Eu sabia! Peguei me
encarando ontem.”
“E você pode culpá-lo? Vocês são gostosos. Não agora com
esse uniforme camuflado de merda cobrindo seus músculos. Mas
ontem, usando terno? Vocês pareciam um bando de agentes
secretos da sensualidade. Uhum! Vem pra mamãe.”
Mais uma vez senti minha ereção despertar com o sorriso de
luxúria dela. Meus olhos deslizaram para seus jeans justos e para a
blusa que mostrava um pouco do decote. Ela estava inclinada para
a frente e eu podia ver a curva dos seus seios, os mesmos seios
que estavam comprimidos contra o meu peito na noite anterior…
Deixei o pensamento de lado e voltei a olhar para os olhos
grandes e redondos dela. “Bom saber, eu disse, simplesmente. “Por
que...”
“Maurice fala que eu não sou safada como ele”, Heather
continuou falando. “Mas eu posso ser quando quero. Ele nem
mesmo sabe. Eu só preciso do cara certo. Eu provavelmente
deixaria vocês três fazerem o que quisessem comigo. Dentro do
razoável, claro. Eu não faria nenhuma coisa estranha. Tipo fetiches
de pé. Quem diabos olha pra pés e pensa aaahh sim, quero gozar
nesses dedos? Longe de mim julgar a fantasia alheia, mas eu
simplesmente não entendo!”, ela lambeu os lábios e então
sussurrou, “eu deixaria Idris Elba gozar nos meus dedos, mas só
ele.”
Brady ria tanto que precisou se afastar. Até Asher estava se
esforçando para suprimir uma risada. Mas eu estava cansado
daquela brincadeira e queria terminar o interrogatório.
“Você beija bem!”, Heather deixou escapar, me olhando. Seus
olhos estavam brilhantes e me desafiavam. “Onde você aprendeu a
beijar tão bem? Eles ensinam isso na Escola de Seguranças
Musculosos?”
Brady parou de rir. “Espera aí. Vocês se beijaram?”
“Vamos nos concentrar na tribuna”, eu disse enfaticamente. “Eu
entendo você ter invadido uma delas porque os ricos que se fodam.
Mas por que vocês escolheram a nossa?”
“Nós vimos Jonah Weiman sair de lá. Maurice – meu amigo
que ama pintos, acho que já falei dele – Maurice tinha enviado
currículo pra a Agência Weiman várias vezes. Mas ele nunca teve
resposta. Pensamos que se entrássemos na cabine, poderíamos
falar com Jonah e convencê-lo a nos representar.”
Ela suspirou e encolheu os ombros. “Não temos agência.
Significa que ninguém nos representa. O que é uma merda. É mais
difícil conseguir trabalhos assim. Sr. Howard as vezes consegue
testes para nós, mas não é a mesma coisa do que ter um agente de
verdade. Já falei sobre o Sr. Howard? Ele era ator de novela nos
anos noventa”, ela pausou. “Eu não sei se ele gosta de pintos ou
não. Acho que ele foi casado.”
“Não precisamos de informações sobre Eugene Howard”, eu
disse.
“Ei!”, Heather exclamou. “Você sabe o primeiro nome dele!
Tenha cuidado, ele não gosta de ser chamado de Eugene. Não
posso culpá-lo. É um nome bobo. Mas é divertido dizer. Eugene. Iu-
gine. Ieeeu-giiin.”
“Viu?”, Brady disse. “Essa garota não sabe de nada. É tudo um
mal-entendido, como eu disse.”
Ele estava certo. Aquela garota era exatamente quem dizia ser:
uma aspirante a atriz trabalhando por um salário-mínimo que entrou
na nossa tribuna por uma coincidência. Ela não foi enviada por um
dos concorrentes para criar uma cena.
Mas uma coisa me incomodava, e eu queria ouvir o que ela
tinha a dizer já que ela estava com a língua solta. “Você insultou
nossa agência de segurança ontem. Na frente de vários clientes. Foi
uma das últimas coisas que você disse antes de ir embora. Por que
você fez aquilo?”
“Porque eu estava descontando em todo mundo e às vezes
isso tem efeito colateral”, ela respondeu. “E francamente, eu estava
certa. É vergonhoso como nós conseguimos invadir o lugar e nos
misturar por aquele tempo todo. Vocês protegem coisas para atletas
e celebridades, certo? E se Maurice e eu fossemos assassinos
enviados para matar Jonah Weiman?”, seus olhos se arregalaram.
“Oh! Esse é um roteiro tão bom! Garçom e garçonete do Outback de
dia e assassinos de aluguel de noite! A especialidade Maurice
seriam facas e eu mataria os alvos com veneno…”
“Eu assistiria”, disse Brady. “Você usaria um macacão
justíssimo?”
“Dã!”, Heather respondeu. “De que outra forma eu conseguiria
driblar os lasers de segurança?”
Me levantei e acenei para Asher. “Acho que terminamos nosso
trabalho aqui.”
Asher se inclinou sobre a mala de suprimentos e preparou
outra seringa. Heather virou a cabeça para olhar para ele e então
começou a chacoalhar a cabeça vagarosamente.
“Não, não, não! Por favor, não me matem. Me deixem viver, por
favor! Eu sei que vi os rostos de vocês, o que não é muito bom, mas
prometo não contar pra ninguém!”
“Relaxa”, disse Asher enquanto limpava outro lugar no braço
dela. “Isso é um neutralizador para o barbitúrico. Vai cancelar os
efeitos do tiopental sódico. Não vamos matar você.”
Ela se afastou da seringa. “Mais cedo você disse que queria
me matar.”
“Ah”, Asher torceu os lábios. “Eu estava tentando fazer uma
piada. Acho que você não entendeu minhas intenções. Agora,
relaxa. Você vai se sentir melhor em alguns minutos.”
Ela deixou a agulha entrar na sua pele. “Melhor? Sr. Azul, eu
me sinto ótima. Aposto que você se sente ótimo também. Tire essas
algemas pra eu tocar você!” Ela se virou na cadeira e tentou agarrá-
lo com as mãos atadas, seus dedos espremendo o ar.
Me afastei rindo sozinho. Brady estava certo: a garota era
agressiva. Ela era perfeita para o que queríamos, agora que
sabíamos que ela não era uma espiã das agências rivais.
Mas eu não podia evitar pensar que talvez estivéssemos sendo
muito ambiciosos.
8

Heather

O Sr. Azul – acho que o nome dele era Asher – tinha um belo
sorriso. Que o fazia ficar muito sexy.
“Você tem um belo sorriso”, eu disse para ele. “Que te deixa
muito sexy.”
As palavras continuavam saindo da minha boca
automaticamente. Como se alguém tivesse deixado um portão
aberto e todos os cachorros continuassem fugindo. Eu sabia que
devia ter sido mais cuidadosa com o que disse, mas não conseguia
parar.
Asher colocou um band-aid no meu braço. “Achei que você não
gostasse de loiros.”
“Não são meus favoritos, de fato”, admiti. “Gosto de homens
tipo James Bond para mim: altos, sarados e cheios de álcool. Mas
mesmo que eu prefira bife a frango, minha boca ainda saliva quando
vejo uma bela coxa assada.
“Não sou fã de frangos”, Asher disse distraidamente. “Muitos
conservantes.”
“É uma metáfora. Ainda estou falando de pintos, Sr. Azul”, eu
disse, rindo. O comentário soou estranho quando saiu da minha
boca. Como se tivesse sido feito por outra pessoa.
“Você devia parar de falar”, ele me disse com um sorriso sexy.
Ele não fazia de propósito – era naturalmente sexy. “Você vai voltar
ao normal rapidamente.”
“Eu te disse: não quero voltar ao normal. Quero aproveitar para
abusar de você. Venha aqui, me deixe apertar.”
Ele riu e caminhou para o outro lado do armazém, onde o Sr.
Rosa e o Sr. Verde – Brady e Rogan – estavam conversando em
voz baixa. Observei-o ir e mudei de ideia sobre as roupas
camufladas que eles estavam usando. Daquele ângulo, a bunda de
Asher parecia fabulosa naquelas calças.
Abri minha boca para dizer isso em voz alta, mas algo me
impediu. Era como se um lençol fino estivesse se esticando pelo
meu cérebro. E ele me impedia de simplesmente vomitar o que me
viesse à cabeça.
“Isso foi estranho”, sussurrei par mim mesma. Era um
comentário normal, diferente do que todas as coisas que eu estava
dizendo automaticamente antes.
Todas as coisas que eu havia dito.
De repente, me lembrei de tudo. Cada palavra que tinha saído
da minha boca. Revivi os últimos cinco minutos na minha cabeça
como quem revive um encontro horrível, agonizando ao pensar em
cada coisa idiota que eu tinha dito.
Quando os rapazes terminaram a conversa e voltaram para
mim, minhas bochechas estavam vermelhas.
“Mudei de ideia”, eu disse quietamente. “Vocês podem me
matar agora. Na verdade, solicito que me matem. Por favor, acabem
com a minha miséria.”
Brady deu um sorriso largo. “Se lembrando de tudo o que
disse? Sobre pintos na boca de Maurice e fetiche de pé?”
Eu não quis dizer nada com medo da minha boca traidora me
meter em confusão de novo. Então só acenei.
“Não se preocupe, doçura. Pés não são a minha fantasia.
Prefiro bundas”, ele pontuou com uma piscadela.
Eu queria ter sorrido, mas sabe, a vergonha ainda tomava
conta de mim.
Rogan ficou de pé na minha frente e limpou a garganta.
“Gostaria de pedir desculpas por tudo. Pensamos que você fosse
outra pessoa.”
“Sim, vocês pensaram que eu fosse Amirah Pratt”, eu respondi.
“Eu estava lá. Me lembro.”
“Não”, Rogan respondeu. “Pensamos que você trabalhasse
para uma das agências concorrentes. Pegasus ou Heimdall
Segurança.”
O nome me lembrou de Heimdall, o personagem dos filmes do
Thor, e então me lembrei do que eu tinha falado sobre Idris Elba e
isso fez minhas bochechas ficarem ainda mais vermelhas.
“Por que eu trabalharia para eles?”, perguntei.
Rogan deu um sorrisinho. “Você entrou de penetra na nossa
cabine e fingiu ser outra pessoa. Então você se revelou uma
impostora e insultou nossas habilidades de proteção. Você pode não
trabalhar para a concorrência, mas certamente você os ajudou na
noite passada.”
“Não foi tão ruim”, disse Brady. “Acho que Amirah Pratt ainda
pode querer nos contratar.
“Duvido muito”, Asher respondeu.
“Ok”, eu disse, tentando colocar todas as peças juntas. “Vocês
pensaram que eu era uma agente e agora vocês sabem que eu não
sou. O que vocês vão fazer comigo então? Me deixar ir?”
Rogan se debruçou sobre a minha cadeira e me desamarrou.
“Exatamente."
Esfreguei meus punhos, mas permaneci sentada na cadeira. O
cheiro pungente de Rogan, picante e masculino, encheu minhas
narinas de novo. Tentei ignorar. “Então o que vai me impedir de ir
até a polícia? Vocês me raptaram e me drogaram contra a minha
vontade.”
Rogan ficou de pé e seu cheiro intoxicante o acompanhou.
“Este último ponto é questionável. Você consentiu a injeção. E sobre
o primeiro ponto… esperamos que você não acione a polícia.”
Eu pisquei. “Vocês esperam que eu simplesmente… o quê?
Esqueça que isso tudo aconteceu?”
“Exatamente”, disse Brady.
Deixei uma risada de nervoso escapar. “E como isso vai
funcionar? Vocês vão me ameaçar?”
“Não”, disse Rogan sorrindo. “Vamos te oferecer um trabalho.”
Olhei para ele, incrédula.
“Um trabalho.”
Brady arrastou a mala de equipamento de Asher para perto
para se sentar sobre ela, o que provocou uma cara feia no colega.
“Você costumava ser babá profissional.”
“Como diabos vocês sabem disso?”, perguntei.
Rogan sorriu. “Da mesma forma que conhecemos seu histórico
médico, seus registros de trabalho e sua relação com Eugene
Howard. Nós temos uma agência de segurança pessoal. Nosso
acesso à informação é basicamente ilimitado.”
“Ah.”
“Você era uma babá exemplar”, Rogan continuou. “Você
trabalhou para duas famílias por três anos, os Smiths e os Jennings,
ambas em Dallas. Eles te deram recomendações excelentes. Você
era uma das babás mais procuradas no norte do estado, havia
quinze famílias na sua lista de espera.”
“Vamos direto ao ponto”, disse Brady com impaciência.
“Nossos filhos são um pesadelo do caralho.”
“Seus filhos são pesadelos”, Asher respondeu suavemente.
“Cora é bem-comportada.”
“Você não pode saber”, disse Brady. “Aposto que ela é a líder
secreta de todo o caos.”
Eu olhei para cada um deles. “Esperem um minuto. Vocês têm
filhos?”
Brady recuou. “O que diabos você quer dizer? Você acha que
não podemos ser bons pais?”
“Sequestrar pessoas não te fazem exatamente o pai do ano.”
“Nós temos um filho cada, sim”, disse Rogan. “Micah é meu
filho. Dustin é o garoto de Brady e Cora é a filha de Asher. Eles
todos tem seis anos. Nossa babá atual é… vamos apenas dizer que
ela não está apta a lidar com eles.”
“Lidar com Micah e Dustin”, insistiu Asher. “Cora é
comportada.”
“Sim, ok, entendemos”, Brady virou os olhos. “Sua garotinha é
um anjo perfeito.”
Asher consentiu, mesmo que Brady estivesse sendo
sarcástico.
“Precisamos de alguém cinco dias na semana”, disse Rogan.
“Você vai ter acesso a um carro e benefícios. Vamos contribuir para
a sua previdência e pagar seu plano de saúde. Acho que você não
tem um no momento.”
Meu plano de saúde no momento era simples: eu planejava
não ficar doente, porque não podia pagar por tratamento médico.
Mas eu não ia contar a eles.
“Me mudei para Los Angeles para me tornar atriz”, eu disse.
“Por que eu desistiria do meu sonho para ser babá de novo? Eu
ficaria no Texas se fosse assim.”
“Porque a sua carreira de atriz é um fracasso”, disse Brady
diretamente.
“Como você pode saber disso?”, sussurrei.
“O que meu sócio deselegante está tentando dizer é que nós
conhecemos pessoas”, respondeu Rogan. “Você viu quem estava
naquela cabine ontem. Jonah Weiman, Amirah Pratt, Boras
Scottsdale. Eles são todos grandes nomes no meio. Se você for
nossa babá, podemos te ajudar. Te colocar em contato com pessoas
que podem impulsionar sua carreira. Se você for nossa babá por
pelo menos seis meses, podemos fazer isso por você.”
“Ok”, eu disse, pensando em voz alta. “Digamos que eu
concorde com isso por seis meses. Por que vocês me ajudariam a
impulsionar minha carreira de atriz? Vocês não têm nenhum
interesse nisso, porque vão acabar ficando sem babá.”
“Precisamos de ajuda agora”, disse Asher. “Nossos filhos – os
filhos deles, devo ressaltar – são terríveis. Precisamos de alguém
que possa começar imediatamente e mantê-los sob controle. Vai ser
um desafio tremendo. E em seis meses eles estarão no jardim de
infância. Então não vamos mais precisar de uma babá em tempo
integral.
Rogan acenou. “Nossa babá atual, a irmã de Brady, estava
ficando louca com esses garotos. E quando fizemos uma verificação
do passado da mulher que invadiu nossa cabine, vi que ela tem uma
experiência sólida como babá. Você meio que caiu do céu, Heather.”
“Isso é muito tentador”, eu disse, “mas não posso deixar minha
carreira de lado para ser babá dos seus filhos horríveis.”
“Os filhos horríveis deles”, insistiu Asher.
“A questão é, eu ainda quero frequentar as aulas. Elas
acontecem duas vezes por semana na hora do almoço.”
“Podemos chegar num acordo”, Rogan respondeu
suavemente.
“E testes. Se eu conseguir algum teste ou convite para um
papel, preciso de flexibilidade de horário.”
“Podemos usar minha irmã Patty como plano B”, disse Brady.
“Se você precisar se ausentar pelo motivo que for. Ela não vai se
importar de nos ajudar por uma hora ou duas.”
“Sua acomodação será garantida, é claro”, Rogan cruzou os
braços musculosos sobre o peito. “Temos um quarto de hóspedes
que você pode ocupar quando quiser. Se não for aceitável, somos
amigos do concierge do Four Seasons de Los Angeles e podemos
conseguir um quarto para você rapidamente.”
Aquilo tudo era avassalador e não só porque eu ainda estava
me recuperando daquela droga que deixou minha língua solta.
Parecia quase bom demais para ser verdade. Depois de seis meses
como babá eles me colocariam em contato com seus contatos na
indústria. Um atalho que me levaria diretamente para a realização
do meu sonho de me tornar atriz. Então eu não precisaria perder
tempo em comerciais ridículos de TV.
Esfreguei meus punhos. Eles estavam doloridos porque
ficaram atados muito tempo.
“Só tem um problema”, eu disse, gesticulando. “Tudo o que
aconteceu hoje. Por que diabos eu trabalharia para três caras que
me sequestraram?”
“Boa pergunta!”, Rogan respondeu. Ele pegou um bloco de
notas e uma caneta, escreveu alguma coisa e arrancou a folha.
“Esta é sua compensação. Espero que ajude a fazê-la esquecer do
que aconteceu hoje.”
Peguei o pedaço de papel e fiz uma careta. “Este vai ser meu
pagamento pelos seis meses?”, era uma quantia considerável. Mais
do que eu ganharia no Outback, com certeza.
Rogan sacudiu a cabeça. “Este é seu pagamento mensal. Mais
os benefícios que mencionei antes.”
Todas as minhas inibições desapareceram. Agora realmente
parecia bom demais para ser verdade. Mas eu sabia que eles
estavam falando sério. Era uma oferta real, legítima.
Mal posso esperar para contar ao Maurice.
Pensar no meu amigo me lembrou da promessa que fiz. Ele
precisava do apartamento naquela noite porque tinha um encontro.
“Preciso de uma noite para pensar no assunto”, eu disse com
um sorriso digno de um Oscar. “Uma noite naquele hotel elegante
que vocês mencionaram.”
9

Asher

“Ela nunca vai dizer sim”, Brady argumentou.


“Você não pode ter tanta certeza”, respondeu Rogan.
Rogan estava dirigindo nosso Chevy Tahoe e Brady estava no
banco do passageiro. Eu estava no banco de trás, olhando pela
janela e pensando no que havia acabado de acontecer.
Pensando em Heather.
Nós tínhamos chamado um Uber para levá-la de volta ao
apartamento dela e então para o Four Seasons, como ela tinha
pedido. Nós três estávamos indo para casa para lidar com nossos
filhos. Tivemos que implorar que Patty ficasse com eles e, no final,
ela acabou concordando em ficar lá por uma hora.
Mas demoramos quase duas para voltar. Eu não conseguia
não pensar no tipo de problema que Micah e Dustin poderiam
causar naquele período.
“Pensei que você tinha gostado dela para este trabalho”, disse
Rogan. “Você disse que ela era perfeita.”
Brady balançou sua cabeça. “Ela é perfeita. Dura na queda. Se
alguém é capaz de lidar com os meninos, esse alguém é ela. Mas
isso não significa que ela vai aceitar o trabalho. Nós a
sequestramos. Ela é o tipo de garota que leva isso para o lado
pessoal.
Que tipo de garota não levaria para o lado pessoal?, pensei
comigo mesmo.
“Tudo teria dado certo se você não tivesse aberto sua boca”,
Rogan argumentou. Ele imitou o jeito de falar de Brady e adicionou
“Ela é tipo esperta pra caralho pra não reparar.”
Pela primeira vez, Brady ficou sem resposta.
Rogan trocou de faixa e ativou o piloto automático. “A oferta é
boa. Vamos pagar bem. Ela não vai recusar.”
“Ela vai sim se pensar que pode nos processar e ganhar mais.”
Rogan sacudiu a cabeça. “Não acho que ela vá fazer isso, e se
ela fizer, negociamos. É para isso que temos seguro.”
A maioria das seguradoras não cobria o tipo de negócio que
tínhamos. Tivemos que usar uma empresa na Suíça que se
escondia debaixo de camadas de empresas de fachada. As apólices
eram caras, mas cobriam sequestro. Se precisássemos pagar uma
indenização por sequestro para Heather Hart, a seguradora o faria.
“Não me importo com nenhum acordo. Me importo com as
crianças. Quem vai cuidar deles se Heather recusar?”
“Ela não vai recusar a oferta”, eu disse.
Meus dois sócios se viraram, surpresos. Eles tinham o hábito
de esquecer que eu estava lá quando tinham essas discussões.
“Por que você acha?”, Brady perguntou.
“Porque Heather precisa de desafios”, eu disse.
O rosto de Brady se contorceu de ceticismo. “Como diabos
você sabe disso?”
“Porque além de falar, eu escuto.”
“Agora ele te pegou”, disse Rogan.
Brady deu uma gargalhada. “Bem, então escute aqui. Eu venho
de uma longa linhagem de faladores. Pra a minha família, é o
mesmo que respirar. Por que você acha que ela precisa de
desafio?”
Pensei em toda a pesquisa que tínhamos feito na noite
anterior. Depois que Heather e seu amigo se infiltraram na nossa
cabine, usei um software de reconhecimento facial das câmeras
para buscá-la em um banco de dados mundial de fotos de redes
sociais. Dali eu encontrei todas as suas contas em redes sociais,
seu endereço e o resto de sua história. Era o mesmo tipo de busca
que fazíamos quando alguém parecia uma ameaça para algum de
nossos clientes.
As aulas de atuação de Eugene Howard tinham sido gravadas
e estavam disponíveis em uma nuvem de armazenamento que era
muito fácil de invadir. Fácil para alguém como eu, pelo menos.
Então procurei os registros escolares de Heather, incluindo
anotações dos seus professores.
Desde a professora do jardim de infância, Senhorita Wall, até o
treinador de atuação, Eugene Howard, todos os mestres de Heather
concordavam em uma coisa: ela precisava ser desafiada. Do
contrário, ela ficava entediada do assunto. Mas se encontrasse um
obstáculo ou um quebra-cabeças difícil, ela não conseguia se
manter afastada.
E era exatamente o que Micah e Dustin eram: um desafio para
uma babá.
“Ela vai aceitar o trabalho porque ela quer desafios”, eu disse.
“Acreditem em mim.”
“Você quer apostar?”, perguntou Brady, com os lábios curvados
em um sorriso largo.
“Eu não aposto.”
“Então você não está confiante o suficiente na sua análise…”,
ele provocou.
Eu ri por dentro. Eu estava muito confiante.
“Falando sobre confiança”, eu disse, “sobre o que Heather
estava falando durante o interrogatório?”
“Qual parte?”, perguntou Rogan.
“A parte sobre ter te beijado na noite passada.”
Eu conhecia Rogan melhor do que conhecia minha própria
família. Caramba, ele era minha família. Os anos que passamos
juntos na ativa tinham formado uma conexão e nós tínhamos tido
problemas o suficiente e situações difíceis para toda uma vida.
Então, quando as juntas de Rogan seguraram o volante com
um pouco mais de firmeza e a lateral da sua bochecha se
endureceu porque ele travou o maxilar, eu já sabia a resposta.
“Ah, sim!”, Brady disse. “Me esqueci disso.”
“Ela só estava divagando”, disse Rogan.
“Não preciso injetar tiopental sódico em você para saber que é
mentira”, eu disse.
“Como vocês encontraram tempo pra pegação?”, perguntou
Brady.
“Não estávamos de pegação”, ele respondeu curtamente. “Eu
estava no banheiro dentro da cabine. Ela correu para dentro e
esbarrou em mim. Eu a segurei para que ela não caísse. Então ela
me beijou. Fim da história.”
“Uma ova que esse é o fim da história”, disse Brady. “Foi bom?
Você sentiu alguma coisa? Beijo de língua?”
“Não vou falar sobre isso agora.”
Brady continuou falando. “Porque, aquele vestido que ela
estava usando? Meu Deus. Se eu fosse diretor desses testes, dava
qualquer papel que ela quisesse.”
“Vai com calma, Harvey Weinstein”, disse Rogan.
Aquilo calou a boca de Brady muito rápido. “Não foi o que eu
quis dizer, credo.”
“O que aconteceu ontem não importa”, Rogan continuou. Ele
estava falando para nós dois. “A coisa mais importante é que
precisamos que ela seja nossa babá. Não podemos flertar com ela,
nem dar uns amassos ou qualquer outra coisa que possa prejudicar
essa relação. Nós precisamos de alguém que controle nossos
filhos.”
Seus filhos, eu pensei. Cora era fácil. Ela era uma leitora voraz
e ficava o dia todo sentada num canto com seus livros. Os meninos
é que estavam constantemente em apuros.
Mas o argumento de Rogan estava correto. Nós precisávamos
desesperadamente de alguém para cuidar das crianças para que
pudéssemos focar na nossa empresa de segurança.
Mas era muito difícil porque Heather Hart era linda.
Obviamente eu poderia manter meu zíper fechado, por assim dizer.
Eu não era um animal. Mas Brady era outro caso. Apesar de ser o
mais velho de nós, com trinta e um anos, ele tinha a força de
vontade de um filhotinho destreinado. Só abanar um filé na frente
dele e ele vai te seguir até cair em um penhasco. E uma mulher
deslumbrante e charmosa como Heather era ainda mais tentadora
do que filé.
Eu estava preocupado com Rogan também. O fato de ele a ter
beijado era realmente uma surpresa. Rogan era o Oficial
Comandante (um tenente-coronel) do nosso pelotão de fuzileiros e
tinha instinto para lidar com algumas situações. Ele sabia o que
fazer e o que não fazer. Heather nunca foi uma cliente em potencial
para nossa empresa porque ela não era Amirah Pratt de verdade,
mas Rogan pensou que ela fosse. E ele a beijou do mesmo jeito.
Criei uma nota mental para discutirmos mais tarde.
Estacionamos no armazém que convertemos em quartel
general e base de operações da nossa empresa de segurança. O
segundo piso, entretanto, era um apartamento tipo loft. Fomos para
o andar de cima e abrimos a porta da frente. Gritos e risadas de
empolgação imediatamente ecoaram pelo portal.
Patty, irmã de Brady, pulou do sofá imediatamente e agarrou
sua bolsa. Ela já estava calçada, como se estivesse nos esperando.
Seu cabelo preto estava uma bagunça, com restos de um giz de
cera derretido sobre sua orelha.
“Eles são problema de vocês agora”, ela resmungou, passando
rapidamente por nós.
“Obrigado, mana”, Brady falou enquanto ela corria do
apartamento para seu carro.
Rogan olhou em volta pela sala de estar e suspirou. Livros de
colorir estavam espalhados em todos os cantos, com páginas
arrancadas e amassadas. Parecia que os meninos tinham feito uma
guerra de bolas de papel.
E com base nos sons que vinham da porta ao lado a guerra
ainda não tinha terminado.
“Espero que Heather aceite o trabalho”, disse Rogan.
Brady acenou. “Que os anjos digam Amém”.
O telefone de Rogan tocou. Ele atendeu, falou algumas
palavras e desligou. Então piscou, surpreso.
“Era o agente de Amirah Pratt. Ela quer nos contratar.”
“Mesmo depois da vergonha que passamos no jogo?”,
perguntei.
Rogan assentiu. “Aparentemente ela recebeu outra ameaça de
morte. Ela quer uma equipe de segurança pra acompanhá-la em
todos os eventos públicos.”
“Viu só?”, disse Brady, dando um soquinho nas minhas costas
e na de Rogan. “Às vezes as coisas dão certo.”
10

Heather

Estar em uma suíte no Four Seasons me fez me sentir a Julia


Roberts em Uma linda mulher. Quer dizer, sem a parte da
prostituição.
Assim que o carregador me mostrou meu quarto e saiu, corri
pelo quarto e pulei na cama, aterrissando com a cara nos lençóis
macios feito nuvens. Depois daquilo, tomei um longo banho de
banheira. Maurice e eu não tínhamos banheira, só chuveiro. Eu não
tinha tomado um banho bom assim desde quando visitei minha
família no Texas.
Agora eu estava vestindo um robe luxuoso na sala de estar –
mencionei que minha suíte tinha uma sala de estar? – enquanto me
servia de bebidas do frigobar e comia um bife suculento que pedi no
restaurante do hotel.
Por que não? HLS Segurança estava pagando.
Já fazia algum tempo desde que eu tinha me dado aquele tipo
de luxo. No Natal anterior eu tinha esbanjado em um dia de spa.
Aquilo limpou minha conta bancária tão profundamente que eu tive
que comer sanduíche de manteiga de amendoim por duas semanas,
mas valeu a pena.
Ficar ali era ainda melhor porque era de graça.
Meu telefone tocou por volta de dez horas. Era Maurice. “Como
está indo seu encontro?”, perguntei.
“Melhor do que nunca. Estamos indo para casa tomar uns
drinks, mas a única coisa que eu quero colocar na minha boca é
ele.”
Eu ri.
“E obrigado por liberar o apartamento essa noite. Você vai
dormir no sofá da Ashley? Definitivamente te devo uma.”
“Na verdade, não estou na casa da Ashley. Estou no Four
Seasons.”
“O campo de golfe do Four Seasons? Você levou um saco de
dormir para dormir na grama? Cuidado, os aspersores ligam
automaticamente às quatro da manhã. Não me pergunte como eu
sei.”
“Na verdade, a janela do meu quarto dá para o campo de
golfe”, eu disse, indo para a janela. “Consigo ver o centro da cidade
no horizonte também.”
Maurice deu um gemido. “O que conversamos sobre estourar o
limite do cartão? A pior coisa que alguém da nossa idade pode fazer
é ficar endividado. É uma bola de neve e você nunca mais vai
conseguir pagar. Tire sua bundinha daí antes que eles cobrem pelo
quarto!”
“Relaxa, não usei meu cartão de crédito. Foi pago por outras
pessoas, na verdade.”
“O que está acontecendo?”, Maurice perguntou. “Você está
trabalhando? O que você acabou de dizer são falas de um script no
qual você faz o papel de alguém que não tá mais dura do que pinto
de tarado?”
“Eu tive um dia longo, é uma longa história. Mas uma das boas.
Te conto quando nos encontrarmos.”
Alguém bateu na minha porta.
“Oh, chegou o buffet de sorvete que eu pedi.”
“Buffet de sorvete? Você tá pedindo serviço de quarto? Garota,
a gente devia trocar de lugar. Me deixa ir para o hotel com o bofe e
você fica no nosso apartamento.”
“Não!”, eu disse alegremente. “Acredite, depois do que eu
passei hoje, mereci esse quarto. Espere um segundo.”
O robe que eu estava usando não tinha bolsos, então coloquei
meu telefone sobre a mesa e fui até a porta. Mas não era o meu
buffet de sorvete.
Era Rogan Holt. Ele estava parado do lado de fora com as
mãos enfiadas nos bolsos da calça jeans.
“Você não é meu sorvete”, eu disse.
Um sorriso educado apareceu no seu rosto bem desenhado.
“Você se importa se eu entrar?”
Acenei e voltei para dentro do quarto e Rogan me seguiu.
Peguei meu telefone sobre a mesa e disse, “Maurice, tenho que ir.
Aproveite o resto do seu encontro.”
Depois que desliguei, Rogan perguntou, “Era Maurice, o amigo
que gosta de todos os pintos?”
Resmunguei: “Isso não é justo. Vocês me drogaram, foi por
isso que eu disse todas aquelas coisas. Você não pode jogar na
minha cara assim!”
“Só estou te provocando”, Rogan se recostou contra a parede
e cruzou os braços sobre o peito. “O que aconteceu foi uma merda,
eu admito”, ele gesticulou. “Espero que isso compense de alguma
maneira. Mesmo que você acabe não virando nossa babá, vamos
pagar sua estadia aqui por uma semana. Qualquer coisa pra tentar
consertar.”
Eu só esperava ficar lá por uma noite. Pensar em ficar uma
semana inteira me deixou mais leve que o ar. De repente eu nem
me importava mais com o fato de ter sido abduzida no meio do dia e
interrogada.
Sim, eu sei, sou fútil, me processe.
Alguém bateu na porta de novo. “Meu buffet de sorvete!”, corri
para a porta e a abri.
“Oi Senhorita Hart!”, o entregador disse quando entrou no meu
quarto empurrando um carrinho de serviço. No carrinho, três
recipientes metálicos com sabores diferentes de sorvete, e outra
dúzia de tigelas cheias de vários confeitos: granulado, castanhas,
gotas de chocolate, lascas de amendoim, calda de chocolate, de
caramelo, chantili…
Rogan franziu a testa quando o carrinho passou por ele.
“Quando você disse buffet de sorvete, eu pensei em algo já pronto.”
“Sem julgamentos. Tive um dia difícil e isso abriu meu apetite.
Este é o Timmy, falando nisso. Ele é o responsável por trazer todas
as guloseimas que eu peço. Ficamos bons amigos nas últimas
horas.”
Timmy sorriu. “A Senhorita Hart é muito legal. E eu não estou
dizendo isso só pelas boas gorjetas que ela me dá.”
Uma das sobrancelhas castanhas de Rogan se arqueou. “Ela
dá?”
“Dou sim!”, eu disse, aceitando o recibo do serviço de quarto.
“Vamos ver. O buffet de sorvete foi quarenta e dois dólares. Acho
que merece uma gorjeta de cinquenta dólares.”
“Me parece excessivo”, respondeu Rogan, impassível.
“Excessivo? Não acho o suficiente. O carrinho é realmente
pesado. Vamos subir para sessenta dólares”, escrevi o número no
recibo e o entreguei ao garoto. “Você merece, Timmy.”
Ele sorriu de orelha a orelha, me agradeceu e saiu do quarto.
“Estou feliz de ver que você está fazendo seu dinheiro valer a
pena”, Rogan disse. “Pensando bem, não tenho certeza se
conseguimos pagar por sua estadia aqui a semana toda.”
Levantei a tampa de um dos sabores de sorvete. “Tenho
certeza de que vai ser mais barato do que se eu processar vocês
por detenção ilegal.”
Rogan riu. “Errada você não está.”
O sorvete ainda estava muito duro para eu conseguir servir,
então fui até o frigobar e peguei uma garrafa de vinho branco. “Quer
um drink?”
“Por que não?”, Rogan refletiu. “Estou pagando por ele.”
Enchi minha taça e servi uma para Rogan. Ele se sentou no
sofá da sala de estar. Escolhi a cadeira de frente para ele, cruzando
uma perna sobre a outra para me certificar de que o robe ficaria
fechado.
“Não sou só uma garota pobre que nunca experimentou o luxo
antes”, eu disse. O álcool estava me fazendo divagar, mas eu pouco
me importava. “Minha família era de sólida classe média no Texas.
Confortável. Mas me mudar para Los Angeles foi difícil. Eles sempre
te mostram o estilo de vida glamuroso. Festas luxuosas e
champanhes caros e vestidos que custam mais que um carro novo.
Eles nunca te mostrar como é difícil chegar lá. Ser uma aspirante a
atriz é duro, vou te dizer. Maurice e eu dividimos uma quitinete.
Os lábios de Rogan se torceram num sorriso. “Maurice, aquele
que gosta de todos os pintos? Aquele Maurice?”
Ri para ele. “Fale sobre isso de novo e eu vou derrubar todas
as bebidas do frigobar na pia só para você precisar pagar por elas.”
Rogan levantou as mãos como quem se rende. “Dividir uma
quitinete é difícil.”
“É sim! O espaço tem menos de quarenta metros quadrados.
Só temos uma janela, que não abre. Nosso prédio costumava ter
ratos. Agora tem ratazanas. Elas comeram todos os ratos. Ah, e nós
temos cerca de seis segundos de água quente no chuveiro. Eu sei
que você é um homem, então provavelmente não tem a menor ideia
de quanto tempo demora para uma mulher lavar o cabelo.”
Rogan tomou um gole do seu vinho. “Não posso dizer que
tenho.”
“Dividimos esse estúdio por três anos. Trabalhando meio
período, guardando o máximo de dinheiro que podemos para
investir na nossa carreira de atores. Nunca nos damos ao luxo de
fazer nada”, eu deslizei o braço apontando o quarto. “É bom
finalmente relaxar e não me preocupar com dinheiro. Foi por isso
que nós entramos de penetra na sua tribuna durante o jogo dos
Lakers.”
Rogan pousou um braço ao longo do encosto do sofá, o que
fez seu bíceps pulsar debaixo da sua camiseta. “Achei que você
tinha invadido a tribuna porque, abre aspas, os ricos que se fodam,
fecha aspas.”
“Isso também”, admiti. “Mas principalmente porque queríamos
experimentar como seria nossa vida quando finalmente
conseguíssemos chegar lá. Depois de três anos, eu precisava de
um lembrete. Estou tão exausta.”
Rogan assentiu. “Eu entendo. Pode ser muito difícil todo esse
aperto, passar perrengue segurando a onda e tendo esperança de
que tudo vai melhorar.”
“E quando foi que você passou perrengue?”, resmunguei.
“Afeganistão.”
Pisquei, “Ah!”
“Fomos fuzileiros por seis anos”, ele começou. “O treinamento
era horrível e as missões eram ainda piores. Uma vez, nossa área
de evacuação estava infestada de inimigos e tivemos que caminhar
por cento e vinte quilômetros até a fronteira com o Paquistão. Foi
uma longa semana.”
“O Afeganistão tem litoral? Como os fuzileiros navais chegaram
lá?”
Rogan me encarou placidamente. “Não é assim que funciona.”
Algo no seu tom e nos seus olhos me diziam para não o
desafiar. Ele estava falando a verdade e nunca mentiria sobre
aquele tipo de coisa. Mantive a boca fechada.
“Não importa o quão duro seja dividir uma quitinete, é muito
melhor do que dormir no deserto com centenas de inimigos te
procurando.”
“Pelo menos não há ratazanas no deserto”, eu disse sorrindo.
“Certo?”
Ele sorriu de volta. “Ao invés disso, tínhamos escorpiões. E
aranhas-camelo. Não procure fotos delas no Google. Você vai ter
pesadelos!”, ele estremeceu.
Eu não tinha medo de aranhas, mas eu não queria estar em
lugar nenhum que fazia um homem feito Rogan estremecer. Me
levantei e fui verificar o sorvete. Estava bom e macio.
“Ok, você ganhou”, eu disse, servindo uma tigela de sorvete, “ir
para missões no Afeganistão é pior do que viver em um estúdio
pequenino.
“As missões não eram a pior parte”, ele disse. “Estar em casa
era tão ruim quanto. Talvez pior!”
Eu fiz uma careta, “Como?”
Ele bebeu o resto do seu vinho e então pegou a garrafa.
“Antecipação. Sabe, as missões não eram como as missões
regulares dos militares. As nossas eram todas surpresas. Sem aviso
prévio. Uma ligação nos informava que tínhamos que arrumar a
mochila e ir para a base o mais rápido possível. Fui convocado para
a minha última missão durante um jogo dos Dodgers, depois de seis
cervejas. Tive que correr para a casa no meio do quinto tempo.
Fiquei sóbrio muito rápido.”
Rogan chacoalhou a cabeça. “Esse tipo de coisa te esgota. Eu
nunca relaxava porque poderia receber um telefonema a qualquer
momento”, ele encarou o nada. “Era como esperar uma arma
disparar. Seu corpo inteiro está tenso porque você sabe que o tiro
está vindo. Não tínhamos nada parecido com uma folga. Só o que
tínhamos era missão e a espera pela missão. Não me entenda mal:
eu amava. Eu era bom naquilo. Nunca me senti tão vivo quanto
quando eu estava numa missão. Mas é muita pressão.”
Ele piscou como se tivesse lembrado onde estava e com quem
estava conversando. “Não estou tentando sobrepor sua situação.
Não é uma competição idiota de quem se deu pior. Mas eu entendo
ter que passar por um inferno enquanto espera algo melhor. Foi um
alívio enorme quando finalmente fomos dispensados e fundamos a
HLS Segurança.”
“Porra, aposto que sim!”, eu disse.
Ele sorriu e gesticulou com a garrafa de vinho. “Você vai ter
que vigiar seu linguajar quando estiver cuidando das crianças.”
“Se eu estiver cuidando das crianças”, corrigi. “Não quando.
Ainda acho que a ideia de trabalhar para os três caras que me
sequestraram… estranha.”
Rogan suspirou. “Nós não agimos assim normalmente.
Estávamos desesperados. Segurança particular é um ramo
implacável aqui em Los Angeles. Nossos concorrentes têm nos
sabotado sempre que podem. Especialmente Jimmy Cardannon, da
Heimdall Segurança. Quando você apareceu na noite passada e
começou a atacar a empresa, eu tinha certeza de que você era uma
sabotadora. Ainda assim, foi errado o que fizemos. Sei que pedir
desculpas é inadequado, mas… me desculpe.”
Um pedido de desculpas era inadequado depois do que
aconteceu, mas significava muito vindo de Rogan. Pareceu sincero.
Eu queria aceitar o pedido de desculpas.
“Pense na sua carreira”, ele disse, voltando para o assunto.
“Você já mora aqui tem três anos e não fez nenhum progresso como
atriz. Você ainda não tem agência. Seja nossa babá por seis meses
e você pode mudar o cenário. Se eu fosse você, aceitaria.”
“Mas você não é”, murmurei, comendo o resto do meu sorvete.
“Ainda não entendo por que vocês me escolheram. Se vocês têm
todo esse dinheiro para gastar, poderiam contratar qualquer pessoa
em Los Angeles para fazer isso. Caramba, pelo que vocês estão se
dispondo a me pagar por mês, vocês poderiam clonar a Mary
Poppins.”
“Já tivemos várias babás”, Rogan respondeu simplesmente.
“Os garotos são difíceis. Precisamos de alguém que consiga colocá-
los nos seus lugares, na linha. Ontem, na cabine, você gritou com
todo mundo como se eles fossem os penetras. Eu soube naquele
momento que você poderia lidar com as nossas crianças.”
“Você fala como se eles fossem crias do satanás.”
“Eles poderiam muito bem ser demônios”, Rogan riu,
“especialmente Dustin, o filho de Brady.”
“Então foi por isso que você veio aqui?”, perguntei. “Para
esperar até que eu ficasse confortável e cheia de sorvete antes de
me convencer a aceitar o trabalho?”
“Não, eu…”, Rogan hesitou. Ele coçou o maxilar com seu
dedo, traçando as linhas marcantes do seu rosto. “Eu vim aqui para
te perguntar por que você me beijou.”
Pisquei, confusa com a mudança de assunto. Eu tinha
esquecido do beijo graças as outras maluquices que aconteceram
desde então, mas me lembrei imediatamente naquele momento.
Como era a sensação da sua boca contra a minha. Sua coxa entre
as minhas pernas. Seus dedos entrelaçando meu cabelo e
segurando possessivamente…
“Só te beijei porque estava prestes a ser descoberta”, eu disse
de repente. “Estava tentando te distrair para que você não notasse
que a verdadeira Amirah Pratt tinha chegado no local.”
Os olhos escuros de Rogan me encararam. “Não foi porque
você sentiu atração por mim?”
“Não”, respondi sem hesitar. “Nem um pouquinho.”
Um sorrisinho maroto surgiu na sua boca. “Não foi o que você
disse quando te interrogamos hoje.”
Coloquei meu sorvete de lado. “Não é justo!”
“Você disse que queria que eu te tocasse”, ele continuou.
“Você queria que eu te desatasse para que nós pudéssemos,
segundo você, ir à loucura.”
Cruzei meus braços. “Eu estava mentindo, sou imune àquela
merda de soro, na verdade. Tive que fazer uma cena para vocês
pensarem que estava funcionando.”
Rogan esfregou seu maxilar. “Se você estava mentindo sobre
isso, talvez você esteja mentindo sobre trabalhar pra concorrência.”
“Me pegou. Sou uma espiã enviada para me infiltrar na HLS
Segurança. Isso significa que você vai me colocar para fora do
hotel?”
Rogan ficou de pé devagar. Ele era um homem grande, uma
presença física que não precisava dizer uma palavra. Ele colocou
suas mãos nos apoios de braço da minha cadeira e se inclinou para
a frente. Mais uma vez aquele cheiro delicioso invadiu minhas
narinas, me lembrando daquele beijo no banheiro.
“Se você fosse uma espiã”, ele disse com a voz suave, mas
profunda, “então eu precisaria te interrogar mais uma vez. Mais duro
dessa vez.”
O flerte repentino e inesperado despertou uma faísca travessa
no meu corpo. Estávamos em um quarto de hotel, já tínhamos nos
beijado e ele sabia que eu estava mentindo, porque eu tinha
gostado de cada segundo do nosso beijo na noite anterior. Rogan
era insanamente atraente. Ele pode ter começado nas forças
armadas, mas tinha um rosto digno de Hollywood.
Eu o queria. Eu o queria desesperadamente. E o sorriso no seu
rosto me mostrava que ele sabia.
Mordi o lábio. “Se você precisa me torturar, vá em frente. Faça
o pior que puder. Eu aguento.”
O sorriso de Rogan aumentou.
11

Heather

Rogan pairou sobre mim, aquele sorriso estúpido – e ainda


assim, sexy – estampado no seu belo rosto. Pensei, durante alguns
segundos horríveis, que ele ia se virar e sair do hotel sem me tocar.
Aquilo sim seria tortura.
Mas eu sabia que ele me queria da mesma forma que eu o
queria. Ele segurou minha bochecha e abaixou os lábios contra os
meus em um beijo longo e profundo. Meu corpo se ergueu com
desejo enquanto reconstituíamos a cena no banheiro.
Ele gemeu na minha boca. A cadeira não era muito adequada
para um beijo sexy, então ele me puxou até a quina para poder se
debruçar sobre mim. Ele estava usando jeans ao invés de calça
social, mas o tamanho do seu volume era impossível de ignorar,
mesmo debaixo do tecido grosso. Ele se ajoelhou contra minha
boceta, fazendo meu robe se afastar cada vez mais a cada
movimento.
“Viu?”, ele disse, sorrindo enquanto me beijava. “Você sente
atração por mim.”
“Não sinto”, eu disse, sem fôlego. “Estou mentindo para manter
o disfarce.”
Ele se pressionou contra mim com mais força. “Você é uma
boa atriz.”
“Diga isso ao meu agente inexistente.”
As mãos de Rogan deslizaram pelas laterais das minhas
pernas e ele me levantou sem fazer o menor esforço. Ele parecia
forte, mas me manuseou como se eu não pesasse nada. Se ele
quisesse, podia fazer o que quisesse comigo e eu não seria capaz
de impedi-lo.
Aquele pensamento me excitou mais do que eu esperava.
Rogan me virou e me deitou na cama, com as pernas
penduradas na beirada. Ele chocou seus lábios contra os meus,
dessa vez com uma língua profunda. Enrolei minhas pernas em
volta do seu corpo duro e avidamente deixei minha língua se
encontrar com a dele.
“Esse é o motivo real pelo qual você veio aqui hoje”, eu disse,
“não é?”
Ele agarrou meu cabelo e fechou o punho. “Não tinha me
ocorrido.”
Gemi quando ele virou minha cabeça para trás, expondo meu
pescoço para poder beijá-lo. Os pelos da sua bochecha raspavam
minha pele enquanto ele roçava meus ombros. Seu quadril ainda
pressionado contra mim e o robe tinha se movido o suficiente para
eu sentir seus jeans na minha fenda molhada.
Não sei quem inventou a calça jeans, mas eu odiava a pessoa
naquele momento por ter criado o que separava seu pau das
minhas partes íntimas.
Rogan traçou uma trilha de beijos até meu peito, usando o
nariz para abrir o robe. Ele parou para olhar meus seios antes de
mergulhar em um deles, beijando a pele em volta antes de circular o
mamilo com a língua. Gemi e arqueei as costas, esticando a mão
para agarrar um punhado do seu cabelo. Assim que o fiz, Rogan
segurou meu punho com a mão e o levou na direção da cama,
segurando meu braço do lado do corpo. Quando tentei usar o outro
braço, ele fez a mesma coisa com a outra mão.
Derreti debaixo do sorriso dele, que dizia Estou no controle.
“Pra quem você trabalha, Senhorita Hart?”, ele perguntou com
luxúria.
“Dinheiro”, eu disse, repetindo o que havia respondido durante
o interrogatório. “Trabalho para o dinheiro.”
Ele mudou para meu outro seio, seu maxilar roçando a pele
antes da sua língua encontrar meu mamilo. Seus lábios se
endureceram em volta dele em uma mordidinha intensa que me fez
gemer mais alto e por mais tempo do que antes.
“Se você não me contar”, ele disse, brincando, “vou ter que
usar todas as minhas armas.”
“Nunca”, respondi, continuando a brincadeira, “faça o seu pior.”
Senti seu sorriso contra meu peito e então ele se levantou. Me
senti vazia e fria sem seu corpo sobre o meu, mas o show que ele
faria a seguir compensou. Ele tirou sua camiseta, me dando a
primeira visão do seu corpo.
“Meu Deus!”, eu disse.
Ele franziu a testa. “O que foi?”
Apontei na sua direção. “Foi isso. Todos estes músculos. Caras
normais geralmente não são assim.”
Sua mão acariciava minha coxa. “Não sou um cara normal.”
Esperei ele tirar o resto da roupa, mas ele manteve a calça e
ao invés disso, se inclinou na direção do carrinho de sorvete para
pegar a tigela de calda de chocolate. Ele usou a colher para
espalhar pela minha coxa, barriga e um dos peitos. A sensação era
quente onde a calda tocava.
“Você sabe que vai me deixar toda melada, certo?”, eu disse.
“E não de um jeito bom.”
Tentei me sentar, mas ele colocou uma mão forte acima dos
meus peitos e me empurrou de volta facilmente. “Você quer ser
torturada? É assim que começa.”
Rogan abaixou o rosto na minha coxa, estendendo sua língua
longa. Com cuidado, devagar, a ponta da sua língua tocou o início
da trilha morna de calda de chocolate.
Comida e sexo não eram minha praia. Pelo menos eu achava
que não, com base nas duas vezes que eu havia tentado. Mas o
jeito que Rogan estava me segurando para baixo e lambendo o
chocolate…
Tensionei meus músculos interiores e deixei sair um suspiro
suave. Se eu já não estivesse molhada antes, agora eu estaria
encharcada. Aquela brincadeira com comida estava fazendo algo
que eu nunca tinha experimentado antes.
“Seu gosto é bom”, ele disse, com a língua seguindo o rastro
através do osso da minha pélvis, perto do meu monte. Ele usou sua
mão livre para abrir minhas pernas, me expondo a ele, mas ele
estava totalmente focado no chocolate. “Muito bom.”
Me contorci quando sua língua continuou descendo para perto
do meu monte, seu queixo quase roçando meus grandes lábios
quando ele passou perto.
Não acredito que estou fazendo isso com o homem que estava
me interrogando seis horas atrás.
“Você venceu”, eu disse, com a voz dura de prazer. “Isso é
tortura.”
Senti que ele tremia com uma risada sobre minha barriga. “Não
pra mim. Estou me divertindo.”
Minha virilha estava em chamas de prazer, desesperada para
ser tocada. Estiquei o braço, mas a mão dele afastou meu punho
enquanto ele continuava chupando o chocolate morno.
“Me rendo”, eu disse. “Admito que senti atração por você
ontem. Foi um dos motivos pelos quais te beijei.”
“Eu já sabia disso”, ele disse, a língua curvada deslizando para
cima até meus peitos. “Mas é bom te ouvir admitir.”
Deixei escapar um gemido de prazer. “O que você quer de
mim?”
Rogan não respondeu. Continuou me segurando na cama e
lambendo o chocolate, deixando uma sensação fria onde passava a
língua.
Finalmente ele chegou no fim da trilha. Ele se levantou e me
beijou – tinha gosto de chocolate açucarado – e então ficou de pé
para tirar o cinto e a calça jeans.
Assisti a cena com os olhos abertos e famintos. Sua cueca
boxer cinza abraçava suas coxas e seu volume, deixando nada para
minha imaginação. Seu pau duro escapuliu por um lado, tão longo
que a cabeça quase ultrapassava a perna.
Fiquei tensa com antecipação, animada para ver o que ele faria
a seguir. Aquele homem, um deus musculoso de pele bronzeada,
ficou de frente para mim e respirou fundo três vezes. Seus olhos
encararam meu corpo e ele tirou o restou do robe para poder ver
melhor.
Então ele se inclinou, agarrou meus quadris e me virou.
Deixei escapulir um grito de surpresa. Então senti o chocolate
morno contra minha pele.
“Quero continuar te lambendo”, ele sussurrou. “Não me canso.”
Me virei para olhar para ele. “Se você acha que essa calda é
açucarada, espere até experimentar a minha calda.”
“Vou chega lá.”
Dei uma olhada para o volume na sua cueca. “Parece que
alguém aí também quer experimentar.”
Ele riu me provocando. “Ainda não, gosto de te fazer esperar.”
Tremi quando ele se deitou sobre minha de novo, começando
pela minha escápula e lambendo até embaixo. Sua cueca era macia
contra minha pele, seu pau duro pressionava minha nádega. O
volume empurrava minha coxa enquanto ele lambia o chocolate da
minha espinha.
Quando ele chegou na minha bunda, eu estava elétrica. Seguiu
a trilha de açúcar pela minha nádega esquerda, apertando a direita
com a mão. Seu dedão se enfiou na minha pele, a centímetros da
minha entrada proibida. Rogan apertou com mais força e sua
pegada mudou, o dedão chegando mais perto. Imaginei sua língua
dentro de mim, lambendo daquele jeito que ele estava, e seus lábios
navegaram cada vez mais para baixo até alcançarem o interior da
minha coxa.
Então ele deu beijo do lado do meu sexo.
Deixei escapar um suspiro de frustração. “Quero você.”
“Você é bonita quando sofre”, ele disse, profundamente.
“Sim, bom, você ficaria mais bonito se sua cara estivesse
enfiada na minha – aah.”
Como se ele tivesse lido meus pensamentos, Rogan colocou a
língua para fora e começou a chupar minha fenda. Eu podia sentir
sua respiração na minha pele, quente e úmida, enquanto ele
admirava a vista de trás.
“Eu amo seu gosto”, ele disse, apertando minha bunda com as
duas mãos e afastando minhas nádegas.
“É o chocolate”, suspirei, ansiosa para senti-lo de novo.
Ele chacoalhou a cabeça. “Não é só o chocolate. O gosto
residual é seu, e é uma delícia.”
Para ressaltar o ponto, ele mergulhou de volta no meu corpo
por trás. Tremi quando ele encravou sua língua profundamente na
minha boceta, e então mexeu para cima e para baixo. Meu corpo
inteiro derreteu enquanto ele me engolia, então circulou meu clitóris
com os lábios, me fazendo sentir novos relâmpagos de energia
elétrica pelo corpo.
Apertei minha boceta em volta da sua língua e ele enfiou cada
vez mais, seu rosto pressionando minha parte de trás. Seus braços
circularam minhas coxas e ele me puxou contra si, como se
quisesse se sufocar nas minhas partes íntimas. Era exatamente o
que eu queria e, na sequência, eu estava empinando a bunda no
seu rosto a cada lambida.
Eu estava indo em direção ao orgasmo em uma velocidade
imprudente, forçada por sua língua e seus braços e a maneira que
ele se agarrava na minha pele, como se sua vida dependesse
daquilo. Me perdi nas ondas tórridas de excitação, cada uma me
empurrando cada vez mais em direção ao êxtase.
“Sim”, implorei. “Sim, sim, não pare…”
Não sabia que tipo de paredes o Four Seasons tinha. Esperava
que elas fossem grossas e à prova de som, porque eu tinha me
perdido totalmente naqueles momentos enquanto a língua de Rogan
louvava minha boceta e meu clitóris. Fiz barulhos tão altos e
intensos que alguém do lado de fora poderia pensar que eu estava
de fato sendo torturada. Ainda bem que Timmy não tinha mais
nenhuma entrega nesse andar.
Meu corpo todo tremia nos lençóis depois dos choques de
prazer. Rogan segurou meu corpo com firmeza, o nariz enterrado na
minha fenda como se ele pertencesse àquele lugar.
Senti ele se afastar e ouvi o barulho metálico do seu cinto. Ele
estava pegando alguma coisa no bolso da calça. Eu queria olhar,
mas eu estava muito feliz naquela posição para me mover.
Escutei um barulho de rasgo e quando finalmente olhei para
trás, Rogan estava desenrolando uma camisinha no seu pau, que
agora, totalmente exposto, parecia maior do que quando estava
aprisionado por sua cueca.
“Nunca fez sexo antes, hein?”, cantarolei para ele.
Ele se deitou e virou minha cabeça para me beijar enquanto eu
ainda estava de bruços. “Você não é a única boa atriz aqui.”
Eu estava encharcada de desejo e praticamente em chamas
para sentir Rogan dentro de mim. Quando senti a cabeça do seu
pau deslizar entre minhas nádegas por trás, decidi que eu não ia
deixá-lo provocar. Eu o queria muito. Deslizei minhas palmas para
debaixo do corpo para me levantar e então enfiei a bunda nele.
Minha boceta envelopou cada centímetro do pau de Rogan, até
a base. Nós dois gememos juntos – eu, de satisfação, ele, de
surpresa. “Heather…”
Ronronei debaixo dele. “Gosto do jeito que você fala meu
nome”, eu mal podia falar porque aquilo era muito bom. Ele me
preencheu toda, alargando minhas paredes e as fazendo suas. As
tomando como… como…
Como um fuzileiro naval tomando a base inimiga, pensei com
uma risadinha.
Rogan beijou minha orelha. “O que é tão engraçado?”, ele
sussurrou.
“Seu pau.”
Senti que ele se tensionou. “O que é tão engraçado nele?”
“Te conto depois”, eu disse. “Não pare.”
Rogan cobriu meu corpo como um cobertor e começou a me
foder. Sentir seu peso sobre mim acentuava o sentimento de que ele
estava totalmente no controle, e que eu estava à mercê dele. Ele
tirava o pau e o enterrava novamente dentro de mim, atingindo
minha parede interna de uma forma tão intensa que normalmente
doeria, mas naquele momento era exatamente o que eu queria
depois daquela provocação.
Rogan rapidamente aumentou a velocidade, tirando e enfiando
o pau dentro de mim como se ele não pudesse mais parar. A cama
daquele hotel caro estremecia a medida em que ele me atingia com
força, deixando de lado todo o cuidado.
Fechei os olhos e gemi, me rendendo ao ritmo irracional dos
nossos corpos.
12

Rogan

Heather tinha uma bunda verdadeiramente magnífica.


Diferente de Brady, eu não me considerava um grande fã de
bundas, mas eu também não era fã de peitos, eu só não tinha
preferências. Eu gostava de todas as partes do corpo feminino
igualmente. Mulheres eram lindas, não importava o ângulo.
Mas Heather? Cara, ela estava bonita no vestido azul que
usava no jogo dos Lakers, mas o que estava debaixo dele
dispensava embrulho. Duas esferas redondas, pequenas, mas
cheias, com a ondulação da sua boceta rosada enfiada no meio. Ela
tinha uma pele perfeita também, suave e macia onde quer que eu
tocasse. A única mácula era aquela abertura delicada de onde eu
tinha lambido o chocolate por trás, descendo de sua espinha até seu
rabo.
Eu pretendia provocar por mais um tempo, introduzir o spray
de chantili na brincadeira, mas eu não conseguiria aguentar tanto
tempo. Eu precisava sentir Heather por dentro.
Segurei meu pau e o deslizei por entre suas belas nádegas. A
cabeça sumiu lá no meio eu fui ao encontro de seus lábios,
molhados e esperando por mim nas profundezas daquelas nádegas.
Eu queria senti-la um pouquinho de cada vez, mas ela decidiu que
não era o suficiente.
Ela empurrou a bunda na minha direção, engolindo meu pau.
Todo. A pele macia da sua bunda estava espremida contra meu
osso pélvico e minhas bolas sentiam as cócegas causadas pelos
seus pelos pubianos.
Deixei escapar um som que seria embaraçoso em qualquer
outro contexto, mas ali estava tudo bem, porque Heather se juntou a
mim. Um dueto de luxúria crua e desejos animais.
Saboreei a forma como sua boceta se apertou em volta do meu
pau, sugando a minha vida. Havia uma inundação de emoções
naquele momento, emoções que tinham ficado adormecidas até
então. Eu estava aliviado porque ela me queria da mesma forma
que eu a queria. O beijo na noite anterior não tinha sido só uma
tática de distração. Foi real.
Tudo aquilo era real, pensei enquanto movia para o lado sua
cascata de cabelos loiros para poder beijar sua orelha. Isso é mais
real do que qualquer coisa que já senti.
Eu devia tê-la torturado e provocado antes, mas não havia
mais jeito. Eu não conseguiria me segurar nem se houvesse uma
arma apontada para a minha cabeça. Meu pau doía por ela, e estar
dentro de Heather era só o começo.
Enfiei minha cara no seu cabelo e comecei a fodê-la.
Constantemente no começo, mas rapidamente ganhando
velocidade e força. Ela gemeu com as minhas estocadas e arqueou
as costas, me deixando entrar mais profundamente.
A necessidade de beijá-la era tão grande quanto a de fodê-la,
então eu segurei um punhado do seu cabelo com uma mão e virei
seu rosto. Seus lábios encontraram os meus com avidez, gemidos
vibrando da garganta dela até minha boca. Empurrei o mais fundo
que podia, encontrando o fim dentro dela, e seu gemido subiu uma
oitava.
Me afastei e agarrei sua cintura com as duas mãos. Ela se
apoiou sobre os joelhos, abrindo as pernas enquanto ficava de
quatro. A segurei forte e comecei a golpeá-la por trás. Seu corpo se
animou debaixo dos meus dedos, como se sua pele estivesse
cantarolando com a eletricidade.
“Ahh, mais forte!”, ela gemeu, jogando o cabelo para trás. “Não
pare.”
Dei à mulher o que ela queria. Minhas mãos deslizaram para
os globos perfeitos da sua bunda e eu estoquei meu pau nela de
novo e de novo. Ela era apertada, tão apertada, que comprimia
minha vara na espessura de um dedo.
“Você gosta forte?”, perguntei rangendo os dentes.
O suor escorria pela sua têmpora quando ela sorriu de volta
para mim. “Não seja tão gentil.”
Ah, essa garota é perfeitamente violenta.
Agarrei um punhado do seu cabelo, segurei com força e puxei.
Não tão forte – o suficiente para arquear suas costas e lembrá-la de
quem estava no controle. Ela respondeu com uma arfada trêmula,
suas paredes internas vibravam de prazer em volta da minha
circunferência.
Sim, ela gostava. Tudo certo.
Mantive pressão o suficiente no seu cabelo enquanto a fodia
de quatro naquela cama de hotel. Eu estava indo o mais rápido que
podia, me aprofundando cada vez mais a cada estocada frenética.
Meu corpo estava no controle, a urgência do meu desejo primário
ocupando o espaço dos pensamentos conscientes. As únicas coisas
que existiam éramos nós dois, e meu pau na boceta de Heather.
“Eu…”, consegui dizer entre suspiros. Eu estava ofegante.
“Estou quase.”
Meus dedos apertaram suas nádegas mais forte, uma última
pegada antes que eu perdesse o controle. Mas Heather olhou por
cima dos ombros para mim com um brilho nos olhos.
“Goza em mim”, ela implorou. “Eu quero que você goze em
mim.”
Soltei o cabelo dela e ela caiu de volta na cama. Como se
fosse uma coreografia, nós dois nos movemos com urgência: ela se
virou ficando de barriga para cima debaixo de mim. Tirei a camisinha
e pulei sobre seu peito. Ela agarrou minha bunda com as duas
mãos, apertando da mesma forma que eu a estava apertando antes,
e me olhou com desejo.
Seus peitos arfavam com cada respiração quando segurei meu
pau, mas eu já estava no limite planando em direção ao abismo.
Estoquei meu pau duas vezes quando ele explodiu, e meu leite
cremoso jorrou da ponta e aterrissou por toda sua pele perfeita.
Rugi de prazer enquanto ela me olhava. Ela fez um barulho
que era uma mistura de suspiro com gemido enquanto eu
descarregava meu líquido no seu peito, jato atrás de jato, cobrindo
seus seios até minhas bolas doerem tanto que eu não podia dar a
ela mais nada.
Foi a vez de Heather agarrar meu cabelo. Ela me puxou e me
deu um beijo profundo que durou tanto tempo que eu já estava
quase sem ar quando ela se afastou, respirando ofegante.
“Me sinto um bolo de aniversário”, disse Heather. “Primeiro o
chocolate, agora a cobertura”, ela fez um movimento burlesco com o
peito.
Eu não pude evitar a risada enquanto pegava um guardanapo
do buffet de sorvete para limpar a bagunça que fiz. “Eu realmente
queria gozar nos seus pés. Mas você me fez sentir vergonha do
meu fetiche durante o interrogatório ontem, então eu sabia que
estava fora de questão. Além do mais, não sou Idris Elba.”
Ela se apoiou em um ombro e me deu meio sorriso sexy. “Eu
deixaria você fazer isso comigo.”
Joguei o guardanapo no lixo e me deitei na cama perto dela.
“Eu estava brincando! Mas gozarei com alegria no seu peito se esse
for seu desejo.”
Heather deu de ombros. “Camisinhas estouram, eu só queria
garantir a segurança.”
Levantei uma sobrancelha. “Você não toma pílula, então?”
“Sim, eu tomo”, ela disse com uma piscadela. “Mas ouvi
histórias sobre marinheiros que vão de porto em porto enfiando seus
pintos em todos os buracos que encontram. Por mais linda que sua
genitália seja, eu não tenho a menor ideia de onde você andou”, ela
pontuou com um tapinha na minha coroa.
Eu ri e a beijei de novo. Ela tinha lábios muito atraentes. “Eu
nunca vadiei no desembarque do jeito que vários caras fazem,
posso te garantir, estou limpo.”
Ela sorriu suavemente. “Eu não achei que você fosse esse tipo
de cara. Sei que você está limpo. Mas eu queria mesmo que você
gozasse no meu peito pra eu poder olhar nos seus olhos no
momento.”
Eu não conhecia Heather fazia muito, mas já sabia que ela era
o tipo de mulher que faz piadas com tudo. Era seu mecanismo de
defesa. Uma atuação para evitar que as pessoas chegassem perto.
Mas, por alguns segundos, ela havia deixado a atuação de lado.
Quando ela disse que queria me olhar nos olhos enquanto eu
gozava, era a Heather de verdade. Eu só consegui ver um pouco,
mas era ela.
E eu gostava do que via.
“Você já decidiu?”, perguntei.
“Se vou te deixar gozar nos meus pés?”, ela abanou a mão.
“Ainda não.”
Ri e respondi, “Sobre o emprego de babá.”
“Bem, até agora estou gostando dos benefícios adicionais. E
não, não estou falando só sobre o pau do fuzileiro naval”, ela esticou
o braço e pegou o spray de chantili. Depois de esguichar um tanto
bom direto na boca, ela sussurrou. “Posso me acostumar com isso.”
Resisti à vontade de fazer uma piada sobre esguichar creme
na boca. “Isso é um sim?”
Ela engoliu o creme. (Foi difícil conter a piada sexual de novo).
“Mas e isso?”, ela apontou para nós dois. “Isso não complica as
coisas?”
Dei de ombros. “Isso é só físico. Não afeta em nada as
crianças.”
Uma das sobrancelhas pontudas de Heather se arqueou. “Você
tem certeza de que podemos manter isso no plano físico? Você
parece o tipo de homem que se apaixona por todas as mulheres
com quem dorme.”
Me inclinei como se fosse beijá-la. Nossos lábios estavam a
milímetros de distância, eu podia sentir o cheiro de chantili no seu
hálito. Mas antes de beijá-la, parei. “Acho que posso resistir. Então
você aceita o emprego?”
Ela franziu o rosto pensando. “Sim. Mas com uma condição.”
“Qual?”
Heather espetou meu peito com o dedo. “Nunca mais me
sequestre no meio do dia. Nem mesmo em encenações fetichistas
sexuais.”
Eu dei uma risada. “Combinado!”, e rolei para alcançar meus
jeans.
“Vai pegar outra camisinha?”, ela perguntou. “Trazer uma é
estar preparado, mas trazer duas é ser convencido.”
Peguei meu celular e toquei na tela. “Aqui está o contrato. Se
você estiver mesmo pronta para assinar.”
Ela pegou meu telefone e correu o olho pela página. “Não vejo
nada sobre minha carreira de atriz aqui.”
“Isso é difícil de ser transcrito num contrato”, respondi. “Você
vai ter que aceitar nossa palavra como garantia. Seja nossa babá
por seis meses e eu entro em contato com todos que me devem
favores para ajudá-la com sua carreira.”
Heather acenou e rabiscou uma assinatura com o dedo. Ela
me entregou o telefone de volta, mas hesitou.
“Espera! Tenho mais uma condição.”
“Duas? Você disse que só tinha uma.”
“Vocês precisam ajudar meu amigo Maurice também”, ela
insistiu. “Ajudar minha carreira e a dele.”
Sua expressão era tão séria que não pude fazer uma piada
sobre o que Maurice gostava de colocar na boca. Ao invés disse,
acariciei a bochecha de Heather e acenei.
“Ajudarei os dois. Prometo.”
Ela relaxou visivelmente, então esfregou seus lábios contra os
meus. “Bom, então estamos acertados”. Ela mordeu o lábio. “Quer
selar o acordo?”
“Já assinamos os documentos”, eu disse, estendendo a mão.
“Mas podemos trocar um aperto de mãos.”
Ela me deu o sorriso mais fofo. “Eu não quis dizer exatamente
as mãos.”
Sim. Aquela garota era uma campeã. E a partir do dia seguinte,
ela estaria na nossa casa cinco dias por semana.
Serão seis meses divertidos.
“Infelizmente, não sou convencido o suficiente para trazer duas
camisinhas”, rolei para o lado da cama e comecei a me vestir. “Mas
podemos trocar apertos outro dia.”
Heather se sentou na cama e cobriu o peito com um
travesseiro. O que era tolo, considerando que eu ainda podia ver
seus pelos pubianos.
“Então foi por isso que você veio”, ela disse, com os olhos
brilhando de humor. “Para me comer e me deixar submissa o
suficiente para assinar o contrato.”
Eu vesti a camiseta e então calcei os dois sapatos. “Você não é
a única que entra de penetra. E cuidado com o que fala, a partir de
amanhã você estará perto dos nossos filhos o dia todo.”
Dei outro longo beijo nela, resistindo à urgência de fazer mais,
e saí do quarto. Sua risada me seguiu até a porta e pelo corredor.
13

Heather

Esse homem.
Esse inferno de homem.
Ele se achava muito esperto. Vestindo suas roupas e indo
embora. Geralmente era eu quem dava a última palavra. Mas ele
tinha me dado um beijo de tchau e ido embora, me deixando
sentada ali na cama de boca aberta.
Eu não me importava, na verdade. Não depois de toda a
diversão. Me deitei de volta nos lençóis macios e suspirei com
alegria, abraçando o travesseiro contra meu peito e inalando o que
restava do cheiro de Rogan.
Minha vida sexual era boa. Apenas boa. Los Angeles encheu
minha vida com caras lindos, mais do que qualquer outra cidade no
planeta. Mas tinha uma coisa com os caras que eram sensuais e
sabiam: eles geralmente eram ruins de cama. Eles viviam a vida se
apoiando na aparência e no charme ostensivo, sem nunca precisar
se esforçar para levar uma mulher para a cama. Eu já tinha estado
com esse tipo de cara o suficiente para saber como era entediante.
Era mais emocionante roçar em um totem de papelão do Ryan
Gosling.
Mas Rogan? Meu Deus, Rogan não era nada como eles. Ele
era sexy, com certeza, cada pedaço seu era tão lindo quanto dos
atores e modelos com os quais eu já tinha dormido. Mas seu
charme era real. Sua intensidade era palpável. A forma como ele me
segurou na cama, lambendo o chocolate do meu corpo e me
fodendo de um jeito que parecia que ele queria literalmente quebrar
seu pau dentro de mim…
Me arrepiei só com a memória, ainda fresca e real na minha
cabeça.
A única parte ruim do nosso ato era que eu ainda tinha restos
de chocolate espalhado pela minha pele. A língua de Rogan era
boa, mas nada substituía um bom banho. Tomei um rapidamente
para ficar limpa e voltei para a cama.
“Merda, agora não estou mais com o cheiro dele”, eu disse em
voz alta. Abracei o travesseiro mais perto e respirei profundamente,
como uma viciada tentando aproveitar o último trago de um cigarro.
Assim que me preparei para dormir, me dei conta de que tinha
um punhado de motivos para aceitar o trabalho de babá. O primeiro
era o dinheiro. Para ser bem direta: mais dinheiro era melhor do que
menos dinheiro. E a quantia que eles me ofereceram parecia erro de
digitação. Sim, era tanto assim. Eu faria coisas sujas, depravadas
por aquela quantia. Ser babá era relativamente fácil.
A segunda razão, obviamente, era para ajudar na minha
carreira. A empresa de Rogan andava ao lado de grandes nomes de
Hollywood. Em várias indústrias, é mais sobre quem você conhece.
E Hollywood era definitivamente este tipo de indústria. Havia muitos
atores talentosos e jovens naquela cidade: os que chegavam longe
geralmente tiveram ajuda.
Ah, e ajudar a carreira de Maurice. Seria rude não dar a ele
uma passagem para este trem bala em direção ao estrelato.
Mas agora eu tinha um terceiro motivo, mais primitivo que os
outros: Rogan. Especificamente o pau enorme de Rogan e seu
corpo bem desenhado e musculoso que vinha de brinde. Talvez
fosse a endorfina do sexo falando, mas eu estava mais animada em
vê-lo novamente do que com os outros benefícios.
Ok, talvez o dinheiro ainda fosse o primeiro fator. Rogan era o
segundo, bem de perto.
Dormi como um bebê na cama enorme do hotel. O fato de não
ter um colega de quarto roncando a alguns metros de mim me
ajudou. Pedi café da manhã no quarto, mas não foi Timmy quem
levou. Foi um homem de meia-idade e cara amarrada. Ainda assim
dei a ele uma boa gorjeta. Eu sabia o quanto servir pessoas era
uma merda.
Pelo menos, eu costumava saber. Meus dias de garçonete
acabaram, agora era uma babá!
Eu precisava de uma muda de roupas, então peguei um Uber e
fui para o meu apartamento. Me senti como a Cinderela saindo do
baile e voltando para o quarto de empregada na casa da madrasta.
Subi as escadas até o terceiro andar e franzi o nariz. Nosso prédio
sempre teve aquele cheiro?
“Uma noite no luxo e eu me tornei burguesa demais para
minha própria casa”, sussurrei.
Maurice estava roncando suavemente quando entrei na
quitinete. Havia uma figura grande abraçada nele debaixo das
cobertas. Sorri. O encontro tinha dado certo.
Peguei uma muda de roupas, entrei no banheiro para me vestir
e coloquei, em silêncio, minhas roupas sujas no cesto. Assim que
fechei a gaveta da cômoda, Maurice se sentou na cama.
“O quê, quem… ah, é você!”, perto de Maurice, seu
acompanhante rolou na cama.
“Você consegue dormir com o barulho de motosserra do seu
próprio ronco”, eu disse, “mas uma gaveta se fechando te acorda
instantaneamente?”
Maurice esfregou um olho com o punho. “O gerente está puto
porque você não apareceu pra trabalhar ontem à noite. O que
aconteceu?”
“Ele que se acostume. Me demito. Mas não até eu deixá-lo na
mão algumas outras vezes. Ele merece depois de foder com a
minha escala no mês passado.”
Maurice ficou boquiaberto. “Você vai sair? E fazer o quê?”
“Vou ser babá.”
“O quê? Vão refilmar O clube das babás e eu não estou
sabendo?”
“Não é atuação. Vou ser babá. De crianças. Dos filhos dos
caras que me sequestraram.”
“Sequestro… garota, nada do que você está falando faz
sentido nessa ordem. Isso tem a ver com a noite no hotel? Você
encontrou um sugar daddy?”
Olhei no relógio. “É muita coisa para explicar agora. Vai dormir.
Seu urso parece estar com frio.”
Maurice olhou para o cocuruto perto dele na cama. Por um
momento ele pareceu se preocupar mais com fofoca do que com
afeto físico. Mas no final, bem no final, o amor venceu e ele se
enroscou no homem.
“Não faça nada que Alicia Silverstone não faria!”, ele disse
enquanto eu saia pela porta.
Normalmente eu me recusaria a chamar dois carros no mesmo
dia, mas eu não precisava mais me preocupar com dinheiro. Era
prazeroso. Digitei o endereço que Rogan me deu no aplicativo,
chamei o Uber e atravessei a cidade. Era perto do Four Seasons,
em um parque comercial com prédios empresariais modernos que
tinham entre dois e três andares. O motorista parou em frente a um
dos prédios e estacionou.
“Esse é o lugar certo?”, perguntei a ele.
Ele deu de ombros. “É o endereço que você colocou.”
Parei de me preocupar quando vi Rogan sair pela porta da
frente. Ele me deu um pequeno aceno. Desci do carro e me
aproximei. Ele me deu um beijo educado na bochecha e me deixou
querendo mais.
“Bem-vinda à HLS Segurança!”, ele disse. “Nossos escritórios
são no primeiro andar e a casa é no andar de cima.”
Ele me guiou pela porta da frente, que tinha a logo da HLS
Segurança impressa no vidro: um escudo desenhado por uma única
linha que formava um labirinto no centro. A porta se abriu em duas
automaticamente, havia outro vidro fosco que dava nos escritórios e
havia uma escada próxima a ele para o segundo andar.
“Preciso te alertar!”, disse Rogan enquanto subíamos as
escadas, “As crianças estão mais selvagens do que o normal
agora.”
“Já lidei com diabinhos antes”, respondi, encarando a bunda de
Rogan. “Vou ficar bem.”
Assim como sua bunda, pensei.
Rogan abriu a porta da frente da casa que dava para uma sala
de estar ampla e aberta. Havia dois sofás grandes e três poltronas
de couro em um dos cantos de frente para uma enorme tela de TV.
Uma mesa de jantar ocupava o lado esquerdo, e a cozinha era um
pouco além. O teto era alto, estilo loft, e o piso era feito de madeira
de lei laminada ou algo semelhante.
Mas era difícil enxergar o piso porque o lugar estava uma zona!
Brinquedos de todos os formatos e tamanhos se espalhavam pelo
cômodo: Legos, bonecos de heróis, bonecas, velocípedes. Até
pedaços de massinha de modelar e manchas que pareciam tinta
guache.
Um rugido animalesco anunciou os dois garotos. Um tinha a
cabeça coberta por cachos pretos e o outro tinha cabelo cor de
cenoura. O ruivo estava correndo atrás do outro, ambos gritando
feito malucos. O ruivo arremessou um pequeno cubo de plástico no
outro garoto e espalhou um trilho de lama marrom pelo chão. Me dei
conta de que era um potinho de Danete.
“Ok”, eu disse. “Você não estava brincando.”
“Eles são demônios!”, Rogan apontou para o ruivo. “Aquele é
Micah, meu filho. O de cabelo preto é Dustin, filho de Brady.”
“Achei que eram três.”
“Cora, filha de Asher, está lendo no quarto”, Rogan levantou a
voz. “Garotos! Venham aqui. Quero que vocês conheçam a nova
babá. O nome dela é Senhorita Hart.”
“Me chamem de Heather”, eu disse.
Os meninos gritaram e agitaram as mãos no que parecia ter
sido um aceno, mas eles ainda estavam muito ocupados se
perseguindo para se preocupar. Um deles – Micah, o ruivo – pegou
o pote de Danete e levou o braço para trás para arremessá-lo.
Segurei seu punho antes dele jogar. “O que você acha que
está fazendo, carinha?”, perguntei com a voz séria.
Ele arregalou os olhos e ficou boquiaberto. Claramente ele
nunca tinha sido repreendido antes. Aqueles meninos iam precisar
de muita disciplina.
“Isso é comida!”, eu disse, pegando o pote da sua mão. “Na
minha casa, comida é pra comer, não pra jogar.”
O choque no seu rosto sardento se transformou em desafio.
“Essa não é sua casa!”
“Com certeza é. Eu sou a nova babá! Agora, se você não
colocar esse pote imediatamente no lixo eu vou colocar você de
castigo.”
Ele pegou o pote da minha mão, envergonhado. Soltei seu
punho e acenei. Ele ia obedecer, o que me fazia parecer boa na
frente do Rogan.
Mas então Micah lançou o pote contra meu peito à queima-
roupa. A gosma de chocolate se espalhou por toda a minha camisa.
Micah rugiu gargalhando e saiu correndo.
“Eles, hm, não entendem o conceito de castigo” disse Rogan,
apologeticamente.
Olhei para a minha camisa. “Filho da puta!”
“Vamos acrescentar subsídio pra roupas”, Rogan me deu um
tapinha nas costas. “E cuidado com o palavreado perto das
crianças.”
Travei meu maxilar enquanto observei os dois garotos
correrem pela sala. Eu definitivamente ia cortar um dobrado.
14

Heather

Rogan me mostrou a residência rapidamente. Era enorme.


Ocupava todo o segundo andar do prédio. Além dos oito quartos,
havia a sala de estar, a cozinha, um escritório e uma sala de lazer
para os adultos. Os dois últimos cômodos tinham senhas na
fechadura para impedir que as crianças entrassem.
“Onde estão os outros?”, perguntei.
“Brady e Asher já estão trabalhando no andar de baixo. E Cora
está aqui”, ele entrou em um dos quartos que tinha as paredes
salmão e quatro prateleiras cheias de livro. “Toc-toc. Podemos
entrar, Cora?”
Cora estava lendo quieta no chão. Ela era adorável, com
cabelos loiros trançados para trás. Ela marcou a página que estava
lendo e calmamente fechou o livro e olhou para nós.
“Oi, papai!”
“Quero que você conheça alguém especial. Esta é a Senhorita
Heather, a nova babá.”
Cora ficou de pé e se aproximou de mim. Ela estava usando
uma saia cheia de narcisos amarelos, que ela abriu nas laterais e
fez uma mesura perfeita.
“Encantada em conhecê-la”, ela disse.
“Que anjinho você é!” eu disse.
“Pode voltar a ler” Rogan disse.
Cora acenou para mim, então cruzou as pernas e se sentou no
chão, retomando sua leitura.
“Ela é definitivamente fácil”, eu disse quando voltamos para o
corredor.
Rogan fez uma careta. “Um fato que Asher se certifica de
pontuar sempre.”
Espere até ela entrar na adolescência, pensei.
Franzi o cenho. “Ela te chamou de papai. Mas ela é filha do
Asher?”
“A gente meio que cria os três comunitariamente”, Rogan
explicou. “Mais alguma pergunta?”
“Qual é a rotina deles?”
“Rotina?”
Pisquei. “Você sabe. As atividades diárias. Horário pra assistir
TV, horário pra comer, pra tirar um cochilo…”
Rogan coçou a nuca estranhamente. “Patty não tinha horário
para nada. Ela os colocava para dormir quando eles ficavam
cansados. Acho que eles comem ao meio-dia.”
“Sem rotina?”, me segurei para não rir na cara dele. Aquilo era
loucura. “Ok, então essa vai ser a primeira coisa a ser estabelecida.”
“Perfeito. Me parece bom. O que você achar melhor.” Rogan
olhou no relógio. “Preciso ir para o escritório. Vamos nos encontrar
com um cliente novo.”
“Alguém famoso?”, perguntei.
“Na verdade, alguém que você conhece. Amirah Pratt. A
verdadeira, quero dizer. “Ela nos contratou.”
“Oh, uau! Ela precisa de segurança?”
Rogan fez uma careta. “Ela tem recebido ameaças de morte
nas redes sociais. Desde que sua série estreou na Netflix, as
ameaças têm piorado.”
“Queria ser famosa o suficiente para receber ameaças de
morte”, sussurrei.
“Acredite: você não quer esse tipo de atenção. Ok, você tem
meu número. Me ligue se precisar de alguma coisa.”
Eu queria dar um beijo de tchau em Rogan – um beijo de
verdade, não o beijo sem graça que ele me deu na bochecha
quando cheguei – mas ele já estava caminhando de volta para a
sala de estar. Ele deu tchau para os meninos, que pararam sua
brincadeira de perseguição apenas para acenar, mas nenhum
segundo a mais.
“Com licença?”, eu disse. Eles não responderam, então dei um
passo para a frente e bloqueei o caminho deles ao redor do sofá.
“Oi. Vamos parar e conversar rapidamente.”
Os dois meninos derraparam até parar na minha frente. Dustin,
o de cabelos cacheados, fez uma careta. “Quem é você?”
“Sou a Senhorita Heather, você me conheceu faz alguns
minutos”, apontei para Micah. “Você jogou um pote de Danete em
mim.”
“Sim, eu estava jogando!”, ele disse, como se eu fosse a idiota.
Eu ri com doçura. “Vou ignorar o que você fez porque sou uma
moça gentil. Mas só vou permanecer gentil se estabelecermos
algumas regras.”
Estrutura era importante para qualquer pessoa, mas
especialmente crucial para crianças. Era o marco para controlar o
comportamento e estabelecer limites. Então era a primeira coisa que
eu precisava fazer.
Olhei no relógio, eram 8:15. “Vocês tomaram café da manhã?”
Micah revirou os olhos. “Dã, Danete.”
“Comi torrada roxa!”, Dustin disse orgulhosamente.
Comecei. “Torrada roxa? Quer saber, deixa para lá. Meu
desenho favorito quando eu tinha a sua idade era Os Anjinhos. Qual
é o de vocês?”
Os dois responderam em uníssono: “Caçadores de Trolls!”
Suspirei aliviada. Eu conhecia. Isso facilitaria as coisas.
“Caçadores de Trolls é um dos meus favoritos também. Adoro Jim
Lake Jr.”
A boca de Micah ficou frouxa. “Você conhece o Jim?”
“Claro que sim! E o que Jim fez depois de encontrar o Amuleto
da Luz do Dia?”
Eu tinha a atenção completa e indivisível deles. “Ele fez um
plano!”, Dustin respondeu.
Estalei meus dedos. “Certo! Ele tinha um plano. Então nós
vamos fazer o mesmo.”
Micah chacoalhou a cabeça. “Jim tinha um plano porque ele ia
para uma aventura. Nós não vamos para nenhuma aventura,
vamos?”
“Talvez!”, respondi com alegria. “E é bom ter um plano todo
santo dia. Assim, se uma aventura aparecer, estaremos preparados!
Agora, qual de vocês pode me trazer papel e lápis?”
Os dois começaram a gritar e a correr pelo corredor até seus
quartos. Micah voltou primeiro com uma mão cheia de lápis e um
caderno. As primeiras sete páginas estavam cobertas com rabiscos,
mas as outras estavam em branco.
“Vamos fazer um plano!”, eu disse. “Ninguém mais vai saber,
só a gente.”
“Ninguém?”, Micah perguntou.
“Cora também vai saber, mas só a gente”, respondi.
Dustin me olhou. “Nem nossos pais vão saber?”
Abaixei minha voz como quem faz uma conspiração. “Nem
eles. Só a gente!”
Os dois se animaram com aquilo. Crianças amam segredos,
mesmo os mais inocentes.
O comentário sobre pais, no plural, me fez pensar em uma
coisa. “Vocês têm três pais. Mas e suas mães?”
Eu desejei ter perguntado para Rogan sobre isso na noite
anterior. Mas estava muito ocupada deixando-o lamber chocolate da
minha bunda para pensar sobre isso. Ele não usava aliança, mas
isso não significa que não havia uma mãe na história.
Micah chacoalhou a cabeça. “Não temos mães. Não
precisamos delas!”
“Temos a tia Patty”, Dustin explicou. “Mas ela é uma tia, não
uma mãe.”
Interessante. Sem mães. Algo que eu precisava perguntar a
eles depois.
“Seus pais têm namoradas?”, perguntei.
Os dois se entreolharam e fizeram uma careta. “Eca! Que
nojo!”, Dustin gritou.
“Garotas são nojentas!”, Micah completou.
“Cora é uma garota!”, pontuei.
Dustin chacoalhou a cabeça. “Cora não é uma garota. Ela é
nossa irmã.”
“Eu sou uma garota!”
Micah torceu o rosto pensativo. Por alguns segundos, as
engrenagens do seu pequeno cérebro se embrenharam.
“Você não conta!”, ele finalmente decidiu. “Você é nossa babá,
não uma garota.”
“Ah, ok!”, eu disse. “Vamos trabalhar no plano. Isso é sério,
então precisamos nos sentar na mesa.”
Eu estava tentando estabelecer comportamentos básicos para
as atividades. Quando brincávamos com lápis de cor e papel,
deveríamos nos sentar na mesa. Era uma coisa pequena, mas se
você agrupa uma série de coisas pequenas, você acaba criando
crianças bem-comportadas.
Desenhei uma grade no papel. “Vocês tomaram café da manhã
antes de eu chegar aqui?”
“Sim!”, Dustin gritou. “Torrada roxa!”
“Certo”, escrevi 8:00 na coluna da esquerda e café da manhã
na coluna da esquerda.
“O que vocês gostam de fazer depois disso?”, perguntei.
Micah deu de ombros. “O que nos der vontade.”
“Precisamos bolar um plano!”, lembrei-os. “Quais atividades
vocês querem fazer a seguir?”
“Caçadores de Troll?”, Dustin perguntou.
Assenti. “Então, depois do café, assistir TV.”
“Não quero assistir TV”, Dustin reclamou. “Quero assistir
Caçadores de Trolls.”
“Ok, tudo bem!”, preenchi a grade: de 9:00 às 10:00, assistir
desenho. Eu não tinha ideia da quantidade de TV que eles assistiam
normalmente, mas com base no comportamento deles, muita TV. Eu
teria que discutir isso com os pais, mas naquele momento era um
bom ponto de partida.
“E jogos?”, Dustin perguntou. “Temos tablets com muitos jogos.
Você quer ver?”
“Você pode me mostrar depois. Que tal jogarmos no tablet à
tarde?”
“Ok!”
Olhei em volta, havia muitos lápis de cor e gizes de cera
espalhados pelos sofás e pelas poltronas. “E que tal desenhar ou
pintar?”
“Eu amo colorir!”, disse Micah. “Dustin é uma desgraça.”
“Não sou!”, Dustin gritou de volta. Deixei a palavra desgraça
passar despercebida. Iriamos trabalhar o linguajar depois que eu
conseguisse construir uma rotina para eles. Passos de formiga.
“Vamos pintar e desenhar às onze!”, eu disse, preenchendo a
programação. “E depois disso, almoço.”
Os dois garotos acharam uma boa ideia.
Programei um tempo para leitura em silêncio depois daquilo.
Eu não tinha certeza de que aqueles dois conseguiriam ficar
sentados em silêncio por meia hora, mas era um bom gancho para a
soneca da tarde, que eu anotei na sequência.
“Vocês brincam lá fora?”, perguntei. Lembrei de ter visto uma
área de jardim no andar de baixo, atrás dos escritórios.
“Eu jogo beisebol”, disse Dustin. “Micah joga basquete.”
“Eu jogo os dois”, Micah argumentou.
“Depois da soneca, vamos praticar esportes lá fora”, eu disse,
rabiscando a página. “E então, hora de jogar nos tablets.”
Os meninos ficaram animados com a programação quando ela
ficou pronta. Eles até insistiram em ler em voz alta. Dustin era um
bom leitor, e leu tudo sem problemas. Micah era mais lento e teve
que soletrar as letras antes de entender a palavra. As duas
situações eram normais para a idade deles.
Coloquei a programação na porta da geladeira, presa com
imãs. “Nosso plano está aqui na geladeira.”
“Não!”, Dustin guinchou. “Nossos pais vão ver! Não é para ser
segredo?”
“Ah, certo!”, eu disse. Então, dramaticamente mexi minhas
mãos sobre o papel. Fiz um movimento com os dedos e então deixei
as mãos repousarem dos meus dois lados. “Bom, está feito.”
“O que é isso?”, Dustin perguntou.
“Eu coloquei um feitiço no plano. Ninguém vai conseguir ler, só
nós e Cora.”
Micah se engasgou. “Igual ao Jim!”
“Igual ao Jim.”
O segredo de ser uma boa babá é atuar. Você finge que está
interessada em tudo o que as crianças fazem. Quando é necessário,
finja ser uma amiga divertida. Quando eles fazem algo errado, aja
de forma disciplinadora – mesmo quando a coisa errada for muito
engraçada.
Assim, entrei em um ritmo com os meninos enquanto o dia
passava. Eles estavam calmos durante o tempo de TV, apesar de
terem ficado agitados no final. Eles queriam fazer outras coisas e eu
reiterei o tempo todo que tínhamos um plano.
“Você pode desenhar depois de ver TV. Temos que seguir o
plano!”
Fui checar Cora durante uma cena particularmente empolgante
de Caçadores de Troll. Ela ainda estava sentada no chão onde eu a
havia visto pela última vez, lendo seu livro. Naquele momento eu
isentei Cora do plano porque era mais fácil lidar com os dois
meninos sem acrescentar outra distração. Se ela estava feliz lendo
no seu canto, eu ficava feliz em deixá-la.
“Gostei muito das suas tranças”, eu disse.
Ela calmamente marcou o livro antes de olhar para cima.
“Muito obrigava. Foi papai quem fez.”
Imaginei Asher com aquela cara séria e os óculos grossos
trançando o cabelo daquela garotinha. Isso me fez sorrir.
“Você precisa que eu faça alguma coisa?”, Cora perguntou.
Se aquela pergunta fosse feita por uma adolescente, seria
cinismo. Mas vindo daquela garotinha adorável, soava como
educação. “Não, só vim ver se você está bem.”
Um grito vindo do outro cômodo perturbou a calma. Me
despedi e corri para a sala, onde encontrei Dustin em cima de
Micah, tentando enfiar um giz de cera na boca do irmão.
Xinguei – internamente, não em voz alta – e corri para
separá-los.
15

Heather

Os pais – comecei a pensar neles no coletivo, os pais –


subiram por volta das cinco horas. As crianças gritaram empolgadas
e correram até a porta para saudá-los com abraços e beijos. Mesmo
a Cora se animou e pulou nos braços de Asher.
“Como foi?”, Rogan me perguntou.
Micah respondeu. “A Senhorita Heather foi bem. Acho que ela
pode ficar.”
“Siiim! Senhorita Heather!”, Dustin concordou.
Rogan gargalhou. Então os meninos correram de volta para a
mesa e voltaram a brincar com seus tablets.
“Eles foram bem!”, eu disse quando eles não podiam mais nos
ouvir. “O almoço foi um desastre. Eu juro que a comida atingiu mais
o chão do que as bocas deles.”
“Por que você não me ligou?”, Rogan perguntou.
“Eu não queria te incomodar. Mas eles viram animais
selvagens quando veem comida. Vocês nunca os ensinaram boas
maneiras na mesa?”
“Maneiras?”, Brady perguntou. “Eles são meninos, não sabem
o que é isso.”
“Não é assim que a paternidade funciona”, eu disse
secamente.
Asher limpou a garganta. Ele estava usando um terno de três
peças com uma gravata azul-violácea. “E como Cora se comportou
no almoço?”
“Perfeita. Nenhum problema.”
Brady reclamou. “Não dê munição a ele.”
Asher sorriu suavemente e acenou para si mesmo.
“O que é isso?”, Rogan apontou para a geladeira. “Parece uma
programação…”
Limpei a garganta. “Vocês não conseguem ler isso! Coloquei
um feitiço nas palavras”, dei uma olhada para ele. As três crianças
estavam olhando da mesa.
Rogan entendeu o sinal em meio segundo. “Ah, certo. Eu
realmente não consigo ler. Só vejo rabiscos.”
Os meninos riram um para o outro.
“Além da hora do almoço, como foi o resto do dia?”, Brady
perguntou.
“Alguns momentos foram fáceis, outros não.”
Brady coçou o maxilar. “Sim, bom, você ainda não está
frustrada. Devo admitir que é um bom sinal.”
“Eles não são ruins o suficiente pra me fazer querer me matar”,
eu disse. “Mas eles precisam ter suas vidas estruturadas”, abaixei a
voz. “Por isso criei a programação. Mas não chamem de
programação. É um plano de aventuras.”
“Não sei”, disse Brady. “Eu não tinha estrutura nenhuma
quando era um garoto.”
“E olha só o que você se tornou”, disse Asher quietamente.
Brady começou a levantar o dedo do meio, mas parou porque
percebeu que as crianças estavam olhando. “O gesto que eu ia
fazer? Faça de conta que eu fiz.”
Me aproximei da mesa da sala de jantar. “Ok, são cinco horas,
significa que a hora do tablet acabou.”
“Só mais uma fase!”, Dustin insistiu, ele estava jogando um tipo
de simulador de direção.
“Não. Temos um plano, e o plano diz que devemos parar
agora. Assim que você terminar essa volta.”
Ele terminou, resmungou, mas me entregou o tablet. Ele não
parecia feliz com aquilo.
“Agora”, eu disse, “vocês podem mostrar aos pais de vocês o
que aprenderam hoje?”
Os três pularam das cadeiras e se arrumaram na frente dos
pais. Dustin e Micah ficaram de pé orgulhosamente, mas Cora
estava um pouco mais atrás, tímida.
Fiz uma contagem regressiva com os dedos: três, dois, um,
agora. Então os três falaram em uníssono:
“Como foi seu dia, papai?”
Foi adorável. Simples. Mas as coisas simples é que fariam com
que eles entendessem que eu estava no comando, e que eles
deveriam fazer o que eu dissesse.
Rogan sorriu para eles. “O dia foi ótimo, mas sentimos
saudade. Agora que estamos em casa, nós…”
De repente, os garotos enfiaram as mãos nos bolsos e
começaram a jogar massinha de modelar em Rogan. Bolinhas
azuis, verdes e roxas atingiam seu peito e caiam no chão.
Cora não participou, mas assistiu a cena rindo.
“Não foi isso que ensaiamos!”, repreendi. “O que aprendemos
sobre fazer bagunça?”
Os meninos devem ter chegado no limite para aquele dia,
porque ao invés de me responder, correram pelo corredor até seus
quartos. Ouvi gritos e barulho de mola quando eles começaram a
pular em uma das camas.
Cerrei os dentes. “Amanhã vai ser melhor.”
“Não fique preocupada com isso!”, Brady disse tentando me
animar. “Não esperávamos que eles fossem se tornar anjos
perfeitos depois de um dia.”
Asher olhou em volta. “A casa parece bem.”
Bufei. “Você está sendo sarcástico? Há lápis de cor pela casa
toda, massinha de modelar no sofá e eu não consegui limpar a
bagunça depois da guerra de bolinhas de papel…”
“Acho que está mais organizada do que normalmente
encontramos”, Asher disse. “É uma melhoria no comportamento
padrão deles, te garanto.”
“Temos uma faxineira que vem duas vezes na semana, de
manhã”, disse Rogan. “Não se preocupe com isso.”
Os guiei até a geladeira. “A grande coisa que estou
estabelecendo uma programação diária. É crucial que eles tenham
uma rotina a ser seguida todo dia. Preciso da ajuda de vocês para
consolidar essa rotina quando eu não estiver aqui. Vai ser difícil no
começo, mas vocês precisam seguir o plano. Eles vão se acostumar
em algum momento.”
Brady deu uma cotovelada em Asher e suspirou. “Não sabia
que a babá nos daria dever de casa.”
Olhei para ele. “Não achei que ia ter que dizer isso em voz alta,
mas criar filhos é uma responsabilidade enorme. Você precisa
estabelecer bons hábitos. Se vocês não consertarem este
comportamento agora, vai ser mais difícil no futuro.”
“Nós sabemos”, disse Rogan gentilmente. “Não tem sido fácil
criá-los e trabalhar ao mesmo tempo.”
“Eles têm mães?”, perguntei.
“Somos só nós”, Rogan disse simplesmente. Esperei que ele
me explicasse melhor, mas ele só me encarou.
“O contrato estipula que eu só trabalho até vocês chegarem em
casa”, eu disse. “Mas fico feliz em ficar por mais tempo pra ajudar
vocês a reforçar essas novas rotinas.”
Rogan chacoalhou a cabeça. “Parece que você teve um longo
primeiro dia. Assumimos daqui.”
Eu tinha esperança de que eles fossem me convidar para
jantar, mas, ao mesmo tempo, eu estava exausta de bancar a
durona com os meninos o dia todo.
“Ok, então. Nos vemos amanhã às oito.”
“Quer uma carona pro hotel?”, Rogan perguntou.
A oferta parecia inocente para quem ouvia. Mas estava cheia
de subtextos.
“Não vou direto pro hotel”, eu disse. Preciso ir até meu
apartamento pegar algumas roupas.”
“Não me importo em levá-la lá primeiro”, Rogan disse.
“Encontrar um Uber vai ser difícil essa hora. Conheço vias
alternativas.”
“Claro”, eu disse. “Ok.”
Mas na minha cabeça, eu estava pensando: quem vai conduzir
hoje sou eu.
16

Heather

Me despedi das crianças – Cora me deu um abraço que fez


meu coração derreter – e então segui Rogan até o carro. Assim que
entramos, ele se inclinou sobre mim, segurou minha bochecha e me
deu um beijo profundo.
“Esperei por isso o dia todo”, ele disse depois.
“Eu também”, lambi os lábios. “Provavelmente estou com gosto
de giz de cera e tinta guache.”
“Seu gosto é maravilhoso”, ele provou, me dando mais um
beijo rápido. “Qual é o endereço do seu apartamento?”
Antes que eu pudesse dar a ele o endereço, seu telefone
tocou. “HLS Segurança, Rogan Holt falando.”
Ele acenou, disse algumas palavras e desligou. “Emergência
de trabalho, eu já volto.”
Rogan saiu do carro e voltou correndo para dentro. Alguns
minutos depois, Brady apareceu e pulou no banco do motorista. Ele
tinha se trocado e usava calça jeans, uma camiseta e uma jaqueta
de couro por cima.
Ele me deu um sorrisão. “Rogan disse que você precisa de
carona.”
“Ah, você não precisa fazer isso…”
“Não é nada, não vou nem suar”. Ele colocou a mão no
encosto do meu banco e se virou para olhar enquanto dava ré.
“Conheço mais atalhos do que Rogan. Me diga aonde estamos indo
que te levo lá mais rápido do que Nomar Garciaparra.”
Eu não fazia ideia de quem era esse tal Nomar Garciaparra.
Especialmente porque ele pronunciou de uma forma inteligível. Mas
eu sabia que estava desapontada porque Rogan não ia mais me
levar.
Ansiei por momentos ousados naquele hotel, pensei.
Certamente o trânsito estava horrível àquela hora do dia,
especialmente até meu apartamento. Mas Brady evitou as rodovias
principais e pegou alguns atalhos, evitando a maioria dos
semáforos. Ele também dirigia feito um maníaco, mas havia uma
organização no caos. Ele estava sempre no controle.
Foi o que repeti para mim mesma o trajeto todo.
“Como foi seu dia?”, perguntei.
Ele me olhou de lado. “A última pessoa que me perguntou isso
completou a pergunta com uma guerra de massinha de modelar.”
Gemi. “Desculpa por aquilo. Pelo menos eles se lembraram da
parte que ensaiamos. Demorou mais de uma hora, acredite ou não.”
“Ah, eu acredito. Meu Dustin é teimoso como só ele. Deve ser
mal do nome, assim como Dustin Pedroia.”
“Dustin quem?”
“Dustin Pedroia!”, ele me olhou como se eu estivesse
blasfemando. “O melhor segunda-base que já vestiu o uniforme dos
Sox. Ele era um grande teimoso, parece que meu Dustin também é.”
“Ah, entendi. Então seu dia foi bom?”
“Meu dia foi bom, a maior parte”, Brady explicou. Ele segurava
o volante com uma mão, o que fazia seu bíceps se comprimir pela
camisa. “Assinamos todos os documentos com Amirah Pratt. Ela é a
moça que você fingiu ser na outra noite. Andei atrás dela a tarde
toda para dar uma amostra do que é ter um segurança. Um dos
nossos homens vai ficar com ela essa noite. Vamos estabelecer
uma escala depois disso. Então sim, foi bom, no geral.”
“Você foi o guarda-costas dela?”, perguntei. “Vocês sempre
dão tratamento pessoal assim para os clientes?”
Brady deu uma risadinha. “Não vou mentir. Ela é gostosa para
caralho. Ela é uma boa atriz, não me entenda mal, mas sua
aparência é a razão real pela qual ela conseguiu o papel na Netflix.”
Brady trocou de pistas e fez uma curva acentuada à esquerda
para pegar uma rua paralela, então continuou. “Mas não. Estamos
oferecendo este tratamento especial a ela por alguns motivos. Um,
ela é uma cliente nova da Agência Weiman. Queremos impressioná-
la para conquistar mais gente de lá, ao invés da Heimdall roubá-los
de nós. E dois, eu estava a acompanhando pessoalmente por causa
da natureza das ameaças que ela vem recebendo.”
“Tão ruim assim?”
Ele acenou. “Bom, eu não sou uma mulher. Obviamente. Mas
já trabalho nisso faz muito tempo e aprendi que as redes sociais são
implacáveis com mulheres como ela. A média de ameaças de morte
ou estupro que uma celebridade recebe por dia é de dezessete. Por
dia. Você acredita? E algumas dessas ameaças não são normais.
Algumas são… pessoais. Não vou detalhar.”
“Acho que vou repensar minha escolha de carreira”, eu disse.
“Talvez limpar massinha de modelar do sofá não seja má ideia.”
“Amirah vai ficar bem”, disse Brady. “Pelo menos agora sim,
porque nos contratou.”, ele bateu no peito com orgulho.
“Você é terrivelmente convencido quanto a isso.”
“Convencido não. Confiante. Somos bons no que fazemos, vou
te dizer.”
“Por quê? Só porque vocês foram fuzileiros?”, perguntei.
Brady acenou. “É o mesmo conjunto de habilidades.”
“Pois me parece exatamente o oposto”, argumentei. “Como
fuzileiro, vocês provavelmente invadiam lugares e atacavam
pessoas. Um guarda-costas protege pessoas.”
Ele sorriu para mim. “Tem muitas outras camadas que você
não faz ideia.”
Rolei os olhos. “Então você está dizendo que correr por aí
limpando os cômodos antes dela entrar se parece com missões
secretas?”
“Não tão dramático, mas ser fuzileiro significa estar sempre
alerta às ameaças em potencial.”
A discussão acabou quando chegamos no meu apartamento.
“Me dê cinco minutos, já volto.”
Mas ele saiu do carro e foi até a porta. Ele colocou seu dedo
dramaticamente no ouvido como se estivesse usando um
radiotransmissor. “Não, madame. Tenho ordens estritas para
protegê-la de toda e qualquer ameaça neste prédio.”
Sufoquei uma risadinha. “Você é um péssimo ator.”
Ele correu até o primeiro andar, rapidamente olhou para os
dois lados. “Limpo!”, gritou, alto o suficiente para espantar um bando
de passarinhos que estavam no parapeito.
Gargalhei e o segui. Foi quando notei a arma no coldre que ele
carregava na cintura, debaixo da jaqueta de couro.
“Não sabia que na Califórnia era permitido carregar uma
dessas.”
Brady olhou para a arma como se tivesse se esquecido que ela
estava ali. “Você precisa de uma permissão especial. Qual sua
unidade, madame?”
“Sabe, é engraçado ser chamada de madame. Apesar de eu
ser alguns bons anos mais jovem do que você.”
“Madame, por favor!”, Brady insistiu, como se fosse uma
questão de vida e morte. “A unidade!”
“Terceiro andar, unidade B.”
Brady correu de forma caricata, a jaqueta de couro rodopiando
à medida em que ele se movia. Ele parou em uma interseção para
olhar para os dois lados antes de continuar. Quando cheguei ao
terceiro andar ele estava esperando na porta.
“Vai ser uma varredura rápida. É uma quitinete.”
Ele tomou as chaves de mim, destrancou a porta e correu para
dentro.
“Você é realmente um péssimo ator!”, disse, o seguindo.
Ele saiu do personagem e começou a rir logo que entramos.
Então olhou em volta.
“Você não estava brincando. Esse lugar é minúsculo. Não me
admira que você estivesse se jogando no luxo do hotel ontem à
noite.”
“Como você sabe disso?”
“Rogan me disse”, ele respondeu. “Ele disse que foi por isso
que demorou tanto a te convencer a aceitar o trabalho. Porque você
ficou pedindo serviço de quarto.”
Meu rosto de blefe assumiu sua forma. “Sim, definitivamente
demorou muito por causa disso.”
“Você divide o espaço com mais alguém?”, Brady perguntou.
“Espere. Eu lembro. Maurice, o que gosta de…”
“Não diga isso”, alertei. “Passei a maior parte do dia tentando
esquecer tudo o que eu falei depois que vocês me drogaram.”
“Consensualmente”, Brady pontuou. “Você concordou com
isso. Todos ouvimos”, ele estremeceu. “Mas sim, foi uma merda.
Desculpa. Não é nossa forma de trabalho.”
“Tudo bem.”
“Você precisa analisar do nosso ponto de vista”, disse Brady. “A
questão é que você não tem muitos registros aqui. Você mora em
Hollywood há três anos e fez o quê? Sete audições? Muito suspeito,
se você me perguntar.”
Peguei minha mala no guarda-roupa e a abri sobre a cama.
“Não é fácil ter sucesso nessa cidade.”
“Garota, eu entendo, mas sete? Em três anos? Conhecemos
pessoas nessa cidade. Até os piores atores conseguem pelo menos
um teste por semana. Como assim?”
Comecei a dobrar as roupas dentro da mala. “Só estou
esperando o papel certo, eu acho.”
Brady chacoalhou a cabeça. “Você precisa chegar lá primeiro.
Cavar muita terra até chegar no ouro.”
“Você parece meu treinador de dramaturgia falando”, dei de
ombros. “Eu não sei. Todas os papéis aos quais eu concorri
pareciam abaixo do meu patamar. Talvez eu só precise ser
desafiada.”
Brady riu. “Você parece o Asher falando. Ele disse a mesma
coisa”, ele se sentou na borda da cama de Maurice e fez um aceno
desdenhoso. “Esquece minha pergunta. Só estava tentando me
desculpar pelo sequestro. Nós geralmente não fazemos isso.”
“Rogan disse que vocês estão em um tipo de competição?
Com as outras empresas de segurança?”
“Você pode dizer isso de novo. Demorou anos para chegarmos
onde estamos no ramo da segurança pessoal. Sangue, suor,
lágrimas – todos esses clichês que as pessoas falam. Heimdall
Segurança não gostou nada disso. Estão tentando nos sabotar o
tempo todo.”
Peguei um punhado de calcinhas da gaveta e as coloquei
rapidamente na mala antes que Brady pudesse ver. “E eles
realmente seriam capazes de enviar um espião pra cabine de vocês
como sabotagem?”
“Se tem uma coisa que aprendi”, Brady disse enfaticamente, “é
que as pessoas fazem qualquer coisa quando tem dinheiro
envolvido. E segurança pessoal é uma indústria grande nessa
cidade.”
Fechei o zíper da mala. “Obrigada pela carona. Felizmente o
trânsito vai estar melhor no caminho para o hotel.”
“Sem problemas”, Brady disse, pegando minha mala e
carregando-a até a porta. “Prefiro conduzir Miss Heather do que
lidar com as crianças.”
Virei os olhos e tranquei o apartamento quando saímos.
“Crianças são uma grande responsabilidade. Não é o mesmo que
adotar um gato.”
“Sim, eu sei”, ele disse num tom suave. “A forma como tudo
aconteceu… é complicado. Criá-los não tem sido fácil. Eles
enlouqueceram minha irmã Patty. E ela é durona.”
Ele parou na escada e se virou para colocar uma mão no meu
ombro. Seu toque era estranhamente gentil para um homem
daquele tamanho. “Acho que o que estou tentando dizer é que
estamos felizes em ter você conosco. Pra colocá-los no eixo.”
Brady era tão sexy quanto Rogan, me dei conta. Meio pateta,
mas de uma forma charmosa, fácil de lidar. Me peguei pensando
que gostava dele.
Sorri. “E eu estou feliz por vocês estarem me pagando essa
quantia insana pra fazer isso.”
“Dinheiro?”, Brady se engasgou. “Quer dizer que você não está
fazendo isso porque tem um bom coração?”
“Nem um pouco!”
Nós rimos, mas ao chegarmos no andar de baixo, pensei,
estou fazendo isso para ficar perto de Rogan.
Então saímos do prédio e Maurice estava caminhando na
nossa direção. Seu rosto se contorceu em diferentes emoções:
Primeiro, ficou feliz em me ver.
Depois, ficou empolgado em me ver com um homem.
Então, ficou com inveja em me ver com um homem grande e
musculoso.
Finalmente, ficou chocado em me ver com um homem grande
e musculoso da cabine que invadimos no jogo dos Lakers.
“Você…”, Maurice disse, congelado.
“Ei!”, disse Brady, apontando para ele e rindo. “Você é o cara
dos pintos! Quer dizer…”, ele olhou para mim. “Merda. Eu não devia
ter falado isso. Escapuliu.”
Maurice estava muito concentrado na mala que Brady
carregava para se dar conta. “Heather? Querida? Vou fazer uma
pergunta que nenhum homem negro jamais perguntou em Los
Angeles antes: devo chamar a polícia?”
Brady caiu na risada. “Não, cara. Está tudo bem. Certo,
Heather? Conte a ele. Somos todos amigos.”
“Está tudo bem”, eu disse a Maurice. “Brady está me ajudando
com minhas coisas.”
Maurice manteve seus olhos no ex-fuzileiro e se aproximou de
mim. “Essa é uma situação de Síndrome de Estocolmo? Se você
está em perigo, pisque os olhos em código Morse. Espera, esquece
isso. Eu não entendo código Morse”, ele se virou para Brady e
cruzou os braços. “Que tipo de negócios você tem com a minha
amiga? Por que se você encostar um dedo nela, vamos ter
problemas.”
A cena era cômica. Brady era um homem enorme, cujos
músculos ameaçavam rasgar sua camiseta a qualquer momento.
Maurice era uma criança franzina que parecia mal aguentar uma
sacola de compras. Era como se um Chihuahua estivesse
desafiando um Pastor alemão.
“Está tudo bem, prometo!”, eu disse, colocando uma mão no
braço de Maurice. “Mas obrigada por me defender.”
“Estou feliz por não precisar partir pra violência”, Maurice disse
a Brady. Então se aproximou e adicionou num sussurro, “porque eu
não acho que conseguiria bater nele.”
“Heather está trabalhando para nós”, Brady disse, para
apaziguar a situação. “Ela é nossa babá.”
“Te contei de manhã”, eu disse. “Lembra?”
Maurice olhou para mim e então para Brady e de volta para
mim. “Pensei que tinha sonhado com isso. Você disse um monte de
baboseiras que não fizeram sentido nenhum. Como assim você vai
trabalhar de babá pros caras que te sequestraram?”
Brady riu. “Ah, sim. Isso foi errado. Nós fizemos isso. Também
a drogamos, apesar de Rogan ter pedido permissão oral antes. Mas
sim, sentimos muito por isso. Está tudo bem agora. Prometo”, ele
estendeu a mão para Maurice.
Maurice ignorou, se inclinou para perto novamente e sibilou,
“Agora é o momento em que você me manda uma mensagem
codificada piscando os olhos!”
Eu dei um abraço apertado nele e disse, “Prometo que vai
fazer sentido mais tarde.”
“Esquece o mais tarde. Eu quero saber agora. Terminei meu
turno do Outback agora. Vamos tomar um drinque.”
Olhei para Brady. “Sim, vamos tomar um drinque. Eu conheço
o lugar perfeito.”
17

Heather

“A maioria das garotas que são sequestradas acabam mortas


em uma fossa”, Maurice disse. “Você acabou no Four Seasons.
Minha filha, você ganhou na loteria dos sequestrados.”
Nós estávamos rindo deitados nas camas de massagens que
tinham sido trazidas para o meu quarto no hotel. Os massagistas
estavam removendo pedras quentes de lugares estratégicos nas
minhas costas e usando seus dedos ternamente para massagear
alguns nós.
“E o grande aprendizado é que você é tão boa atriz que eles
acharam que você era uma espiã!”, Maurice bufou. “Você devia
colocar isso no seu currículo. Enganei três fuzileiros navais
treinados.”
“Me pergunto o que o Sr. Howard acharia disso…”, murmurei
da cama de massagem. “Ele provavelmente insistiria que eu preciso
de um desafio.”
Eu ainda estava pensando no que Brady tinha dito mais cedo.
Apontando que só participei de algumas audições desde que mudei
para a cidade. Me fez pensar que eu não estava tentando o
suficiente.
“Isso conclui a massagem de lua de mel para casais”, um dos
massagistas disse. “Vocês gostariam de água com limão?”
Maurice se levantou e fechou seu robe. “Vamos tomar vinho. É
melhor que água com limão”, o massagista era jovem e sexy e
Maurice olhou para ele de cima a baixo. “Não estamos em lua de
mel, por falar nisso. Somos ambos solteiros. Sou Maurice.”
Assinei a fatura e limpei a garganta. “Deixei uma gorjeta para
vocês. Muito obrigada!”
Maurice parecia infeliz quando eles dobraram as camas de
massagem e saíram do quarto.
“Eu deixaria aqueles fuzileiros me sequestrarem e torturarem”,
Maurice sussurrou. “Em troca desse tratamento, é claro. Vale
totalmente a pena. Aquele que nos trouxe aqui é especialmente
delicioso.”
Eu ri. “Brady?”
Maurice sussurrou e tomou um gole do seu vinho. “Brady. Eu
me apaixonaria por um Brady. Desde que ele ficasse quieto. Aquele
sotaque de Boston não é agradável.”
“Ah, eu acho fofo”, eu disse.
“Você deveria”, Maurice abriu o cardápio do serviço de quarto.
“Vamos pedir seis filés? Só vou pedir um, mas quero me sentir como
um rei Núbio que tem muito mais comida do que precisa.”
Ouvimos um barulho na porta seguido de um cartão entrando e
saindo. A porta se abriu. Comecei a me levantar para dizer a quem
quer que fosse que aquele quarto estava ocupado e que não
precisávamos de limpeza, mas então Rogan entrou no quarto.
“Sem bater?”, Maurice perguntou. “Terrivelmente presunçoso
da sua parte.”
Rogan levantou o cartão de acesso. “Eu paguei por esse
quarto e acabei de ver os massagistas saírem. Quanto conforto,
hein?”
Levantei minha taça de vinho fazendo um brinde. “Tive um
longo dia cuidando de dois pequenos diabos. Eu precisava relaxar.”
“E eu precisava ajudá-la”, Maurice anunciou.
“Como estão os meninos?”, perguntei. “Vocês estão
trabalhando na rotina com eles?”
Rogan se recostou na parede e cruzou os braços. “Estamos
trabalhando nisso. Não é fácil.”
“Vai ficar mais fácil a cada dia desde que vocês sejam
consistentes. Jantar, banho e cama”, eu inclinei minha cabeça.
“Então, o que te traz ao meu quarto a essa hora da noite?”
Rogan olhou para Maurice. “Eu, hm, pensei que Heather
estivesse sozinha.”
Maurice se engasgou. “Garota, você tem um sugar daddy!”, ele
olhou para Rogan de forma desafiadora. “Nós estávamos prestes a
pedir comida antes de você invadir o quarto.”
“Maurice, tenho certeza de que você vai achar muita coisa para
fazer no hotel”, eu disse.
“Tem um spa completo no andar de baixo”, Rogan adicionou.
“Eles também têm um bar com petiscos.”
Maurice engoliu o resto do vinho e ficou de pé de supetão.
“Acho que eu vou encontrar alguma coisa jovem que é paga pra
colocar as mãos em mim. Quero no rosto agora”, ele piscou para
mim. “E depois do rosto, vou visitar o spa!”
Rogan latiu uma risada.
Maurice deu a volta nele. “Não! Você não tem o direito de rir,
Sr. Sequestrador sexy!”
O sorriso de Rogan desapareceu. “Você ouviu a história, hm?”
“Ele é meu melhor amigo”, expliquei. “Conto tudo pra ele.”
“Hmm hmm”, Maurice concordou. “Sei de tudo que você e seu
companheiro sexy de Boston fizeram.”
O presidente da HLS Segurança franziu o cenho para mim.
“Ele conheceu Brady?”
“Quem você acha que foi nosso chauffeur até aqui?”, Maurice
perguntou. “Eu não pegaria um ônibus para vir pro Four Seasons.”
“Que tal você, hm, ir para o spa e me deixar tratar de negócios
com a Heather?”
“Sim, eu sei muito bem de que tipo de negócios vocês vão
tratar”, Maurice me jogou um beijo, calçou seus chinelos do Four
Seasons e desapareceu no corredor.
“Tem algum negócio que precisamos discutir?”, perguntei.
Rogan sorriu. “Foi só uma desculpa para ficar a sós com você.”
Imitei um som de surpresa. “Não! Não me diga!”
Rogan pressionou seus lábios contra os meus, me puxando
para trás até eu cair na cama. Me movi suavemente e ele seguiu,
levantando as mangas da sua camisa e se inclinando para baixo
para me beijar mais.
“Maurice está certo”, eu disse entre beijos. “Esse tipo de coisa
me faz pensar que você é meu sugar daddy.”
“Sou seu empregador”, ele disse, se movendo para baixo no
meu pescoço. “A diferença é crucial.”
Suspirei quando ele deslizou uma mão para dentro do meu
robe e pegou meu seio. “Nunca dormi com um uma empregada
antes.”
“Você estava perdendo tempo.”
Fechei os olhos enquanto ele me beijou em trilha pelo peito,
respirando no centro. Mas antes que ele pudesse enfiar a cara no
meio das minhas pernas, eu agarrei seu cabelo e o puxei para cima.
“Se você é meu empregador”, eu disse, puxando-o, “então eu
deveria fazer o que sou paga para fazer.”
Pulei sobre Rogan e desabotoei sua calça. Eu podia sentir o
calor radiando do seu volume quando coloquei a mão. Ele já estava
duro feito pedra, e eu o senti pulsar quando o apertei com os dedos.
Escorreguei pelas suas pernas até meu rosto estar sobre seu
pau, fiz alguns movimentos provocativos enquanto o encarava. Ele
sorria de forma sexy enquanto me assistia, os olhos escuros
esperando para ver o que eu ia fazer.
Minha língua tremulou devagar, mal tocando sua abertura. Seu
corpo todo se tensionou, os músculos enormes se flexionando
involuntariamente de prazer e o barulho que ele fez no fundo da
garganta era puro êxtase.
Pensei em provocá-lo um pouco mais, da mesma forma que
ele tinha feito comigo e com a calda de chocolate, mas eu estava
ansiosa para satisfazê-lo também. Sem tirar meus olhos dos dele,
segurei seu pau e enrolei meus lábios em volta da cabeça. Seu
corpo se relaxou quando enfiei mais fundo, envolvendo-o com a
minha boca.
“Por Deus, Heather”, ele gemeu, esticando a cabeça de volta
na cama.
Murmurei um gemido na sua carne enquanto o chupava de
cima a baixo. Rogan grunhia mais alto a cada movimento da minha
cabeça chacoalhando e seu pau ficou impossivelmente mais duro
na minha boca. Era tão grande que meus lábios só chegavam até a
metade da sua haste.
Gosto de quem eu sou quando estou com Rogan, me dei conta
enquanto trabalhava. Eu quero ser devassa com ele, do jeito que ele
foi comigo na noite passada.
“Sabe o que eu quero?”, perguntei enquanto rodopiava minha
língua na sua cabeça.
“O quê?”, ele perguntou.
“Quero que você goze na minha boca. E eu vou engolir. Cada.
Gota.”
Um gemido escapou da sua garganta quando ele olhou para
baixo, para mim. Voltei a trabalhar rapidamente, chupando-o mais
rápido do que antes enquanto o masturbava com a mão. Eu não me
considerava uma especialista em boquete, mas sabia o que estava
fazendo.
E com base nos sons que ele emitia, acho que ele ia me dar
uma avaliação de cinco estrelas.
Seus dedos se entrelaçaram no meu cabelo e ele moveu
minha cabeça para cima e para baixo. Parei de me mover e deixei-o
me guiar. Eu podia sentir sua luxúria incontida na forma como ele
me controlava, me movendo para cima e para baixo no seu pau.
Suas coxas poderosas se flexionavam debaixo dos meus braços
enquanto se aproximava do clímax.
De repente, ele parou e puxou minha cabeça para longe do
seu membro duro. “O que foi?”, perguntei. “Você não está
gostando?”
Seu peito se movia com as respirações rápidas. “Está
maravilhoso. Mas não é o que eu quero. Eu quero você, Heather.”
Rogan me puxou para cima e me beijou com força. Sua língua
circulava pela minha boca da mesma forma que a minha tinha
circulado em torno da cabeça do seu pau minutos antes. Aquilo e a
forma mandona que ele disse que precisava de mim me fez ficar
ensopada em segundos.
Deixei o robe cair atrás de mim. Rogan enfiou a mão no seu
bolso, procurando algo…”
Ele congelou. “Merda.”
“Cuidado com o linguajar perto das crianças”, provoquei.
Ele chacoalhou a cabeça. “Esqueci a camisinha.”
“Sério?”, perguntei. “Você veio até o meu hotel e não trouxe
camisinha?”
“A emergência de trabalho me distraiu”, ele suspirou e se
deitou de volta nos lençóis. “Vou me vestir e ir até a loja de
conveniência na esquina.”
Ele tentou se sentar, mas eu o segurei com as duas coxas nas
laterais do seu torso. “Ainda podemos nos divertir sem.”
“Eu não estava brincando quando disse que estava
maravilhoso. Mas eu quero estar dentro de você.”
Estiquei a mão por entre minhas pernas e segurei seu pau
duro. “Você estava brincando quando disse que está limpo?”
Seu pau deu um pulo quando ele se deu conta do que eu
pretendia. “Eu estava falando sério.”
“Nunca transei sem camisinha antes”, eu disse enquanto
esfregava a cabeça do seu pau na minha boceta molhada. “E tomo
pílula.”
Ele abriu a boca para responder, mas eu movi os quadris para
baixo antes que ele pudesse. Me empalei com seu pau, deixando-o
me preencher completamente em um único movimento.
Nós dois gememos juntos saboreando aquela nova e excitante
sensação.
“Heather”, Rogan suspirou. “Caralho…”
Coloquei as mãos por dentro da sua camisa, sentindo seus
músculos. “É tão melhor sem.”
Ele se sentou e me colocou no seu colo. “Você não tem ideia.”
Ele dobrou seus braços ao meu redor e me beijou com mais
força do que antes. Eu me girava, indo e voltando, saboreando a
maravilha da dor da sua espessura contra minhas paredes
interiores.
Rogan segurou minha bunda e começou a enfiar mais forte em
mim. Eu me empurrava contra ele, pulsos de prazer disparavam
pelo meu corpo com cada movimento. O sangue corria nos meus
ouvidos e nos rendemos às ondas tórridas de êxtase.
Gritei, tremendo nos seus braços. Suas estocadas ficaram
rápidas e duras – eu podia sentir o quão ávido ele estava por mim.
Sua respiração se acelerou me fazendo lembrar da noite anterior,
seus dedos contra minha bunda com desejo. Abaixei meu quadril na
direção dele, nossas peles se encostando até ele estar quase no
limite.
“Heather!”, ele rugiu.
Quando ele estava prestes a gozar, saí de cima dele o
suficiente para o seu pau sair de mim. Seu membro encostou na sua
barriga e eu esfreguei meus lábios encharcados na sua haste,
roçando contra ele quando ele explodiu. Gemi com júbilo quando
seu pau pulsou embaixo de mim, cobrindo a pele bronzeada do seu
abdômen com sêmen branco feito leite.
Rogan arrancou a camisa para se assegurar de que nada
tocasse o tecido, os olhos penetravam os meus com luxúria.
Me deitei para encostar meus lábios nos dele, então fui até o
banheiro buscar uma toalha. Voltei e limpei a bagunça na barriga de
Rogan cuidadosamente. Senti seu abdômen duro feito pedra
debaixo da toalha enquanto o limpava.
“Espero que isso não te emascule”, provoquei. “Da última vez
você me limpou e agora eu estou fazendo isso com você.”
Ele colocou um braço atrás da cabeça e sorriu. “Você pode me
deixar emasculado sempre que quiser”, então agarrou meu braço e
me puxou contra ele, me beijando enquanto eu me deitava no seu
peito.
“Desculpe não ter podido te trazer aqui”, Rogan suspirou
profundamente.
“Não se desculpe. Foi divertido com o Brady.”
“Ele é um cara divertido”, Rogan disse. “Sempre nos mantinha
bem-humorados durante as missões. Não importa a dificuldade, ele
sempre achava uma forma de nos fazer rir.”
“Você não quer que eles saibam, certo?”, perguntei. “Sobre
nós.”
Seu lindo rosto virou uma careta. “Ainda não.”
“Por que não?”
“Pode complicar as coisas.”
Me apoiei em um cotovelo e olhei para ele. “É o fato deles
saberem que complica as coisas ou a nossa relação?”
“Ambos”, ele suspirou. “Precisamos de uma boa babá para as
crianças. Você e eu nos aproximando fisicamente pode prejudicar o
trabalho.”
“Então por que você dormiu comigo?”, corri meus dedos pela
sua mandíbula, sentindo sua barba que já estava crescendo desde
a raspagem matinal. “Você é quem veio até o hotel. Ontem e hoje.”
“Porque não consegui me controlar. Você é muito bonita.”
Ri e me deitei no seu peito. “Continue falando, por favor.”
“Você é sexy”, seus dedos acariciavam minhas costas nuas.
“Você é divertida. Tem um espírito forte. Como eu poderia não vir
aqui? Mas…”, ele hesitou. “Eu não estou exatamente preparado pra
algo sério. Especialmente porque agora você é a babá. Esse
trabalho está por cima de tudo.”
“Eu também fiquei por cima essa noite”, eu disse, rindo. “Mas
não se preocupe. Estou bem com esse combinado. Honestamente,
eu estava precisando de sexo sem compromisso. Vou continuar
cuidando das crianças independente do que nós fizermos.”
“Você confia em mim?”, Rogan perguntou.
Eu me virei para olhar para ele. “Confio no contrato que
assinei. Mesmo se eu te odiar mais do que qualquer outra pessoa
no mundo, ficarei feliz em continuar recebendo aquele salário gordo
pra ser a babá.”
Rogan chacoalhou a cabeça. “Não, eu quero dizer, você confia
em mim o suficiente para fazer o que acabamos de fazer? Sexo sem
camisinha?”
A Heather normal faria uma piada. Mas ali, deitada no seu
corpo firme, com a endorfina correndo pelo meu corpo, respondi
imediatamente, “Claro que confio em você.”
“Mas você ainda assim me fez parar antes.”
“Melhor prevenir do que remediar”, eu disse. “Eles não te
ensinaram isso na escola de fuzileiros?”
“Não com tantas palavras.”
“Bom, eles deveriam. Vou ligar para o seu Sargento do
treinamento básico e ensinar a ele.”
Ele riu. “Treinamento básico é pro Exército. Os fuzileiros vão
pro Acampamento.”
“Tenho certeza de que essa diferença é muito importante pra
vocês da Marinha”, eu o beijei novamente e me afastei. “Ok, melhor
você ir.”
Rogan se sentou. “Por que Brady e Asher vão desconfiar de ter
demorado tanto pra comprar leite?”
“Não”, eu disse, rindo. “Porque Maurice vai bater na porta a
qualquer momento reclamando que quer entrar. Ele fica rabugento
quando não come e estávamos prestes a pedir jantar quando você
chegou!”
18

Heather

Os dias seguintes com as crianças foram difíceis.


Eles ficavam selvagens de manhã, logo que os pais saíam
para trabalhar. As últimas crianças que eu tinha tomado conta, no
Texas, eram quietas e sonolentas de manhã. Mas Micah e Dustin?
Era como se alguém tivesse injetado açúcar puro em suas veias e
os soltado num campo.
Pouco a pouco eu tentava estabelecer disciplina. Usando
nosso plano de aventuras na geladeira, todos os dias eu conseguia
fazê-los relaxar e sentar quietos para qualquer atividade que
planejamos. Devagar e sempre. Era como funcionava. Disciplina
constante, firme e justa, até eles aprenderem a se comportar.
Numa manhã, cheguei à casa e encontrei o plano de aventuras
coberto com manchas de ketchup. Mal dava para ler.
“Senhorita Heather! Senhorita Heather! Micah queria ler o
plano na cama!”, Dustin fofocou quando perguntei o que tinha
acontecido. “Por isso virou essa bagunça!”
“Por que você estava comendo ketchup na cama?”, perguntei.
“Porque sachês de ketchup são meu lanche secreto”, Micah
disse timidamente. “Me ajuda a dormir.”
Resmunguei para mim mesma. Era um hábito que tínhamos
que quebrar. Ketchup tinha muito açúcar. E comer na cama
subvertia todo o conceito do horário das refeições.
Enquanto as crianças estavam no sofá assistindo Caçadores
de Trolls, cruzei o corredor até o escritório, digitei o código na
fechadura e entrei. O escritório estava cheio de equipamentos: um
computador de mesa com dois monitores, uma impressora, um
aparelho de fax, scanner, copiadora e uma máquina plastificadora.
Havia um distintivo na plastificadora, parecia que eles mesmos
imprimiam seus próprios distintivos de seguranças.
Fiz login no computador e criei um novo plano de aventuras no
Paint. Dessa vez, acrescentei uma coluna extra para cada criança:
Cora, Dustin e Micah. Imprimi e coloquei para plastificar. Enquanto a
máquina trabalhava, entrei no site da Amazon e comprei um pacote
de adesivos dourados com entrega para o mesmo dia. Comprei
algumas outras coisas também.
O plano de aventuras tinha criado uma estrutura para eles,
mas eles só tinham seis anos. Precisavam de mais incentivo para se
comportar durante cada atividade.
“Aqui está o novo sistema”, expliquei a eles naquela tarde. “Se
vocês forem bem durante uma atividade, ganham uma estrelinha
dourada!”, demonstrei colando uma estrela dourada no quadro, na
interseção de Cora e Cochilo. “Se vocês não forem bem, não
ganham estrela.”
“Por que Cora ganhou uma estrela pelo cochilo?”, Dustin
perguntou.
“Porque ela estava quieta e ficou na cama o tempo todo”, eu
expliquei calmamente. “Você e Micah ficaram se levantando e indo
um para o quarto do outro. Mas está bem. Vocês têm a chance de
ganhar uma estrela dourada durante a brincadeira lá fora!”
Havia um pequeno jardim no térreo, atrás dos escritórios,
cercado e protegido dos lotes comerciais vizinhos por árvores altas
com copas largas. Cora pulou corda e brincou com seu bambolê
enquanto os meninos jogavam uma bola de beisebol um para o
outro. Quando Dustin jogou a bola tão forte que quase machucou
Micah, intervi o repreendi.
“Dustin! Você poderia ter machucado o Micah.”
“Eu estava tentando machucar o Micah!”, disse Dustin,
contraindo o maxilar teimosamente. “Mas não consegui.”
“Machucar seu irmão não é legal. E se você não for legal, não
ganha estrela dourada. Agora peça desculpas pelo que você fez.”
Aquilo o atingiu. Ele acenou sombriamente e murmurou um
pedido de desculpas. Então os dois foram buscar a bola do outro
lado do jardim.
Obviamente seria melhor se as crianças intuitivamente
soubessem que não podiam se machucar mutuamente. Mas às
vezes uma ajuda é necessária.
Adjacente ao jardim havia uma parede de vidro da sala de
descanso do escritório dos rapazes. Asher e Rogan estavam
servindo café e assistindo. Sorri e acenei para eles. Rogan acenou
de volta, mas Asher parecia pensativo enquanto olhava a cena.
No fim do dia, logo antes dos pais chegarem em casa, levei as
três crianças para a cozinha. “Agora é a melhor parte do dia! Vocês
vão receber recompensas de acordo com as estrelas que
ganharam.”
Micah se engasgou. “Você quer dizer que vamos ganhar mais
coisas, não só esses adesivos?”
“Sim. Os adesivos nos levam a prêmios”, segurei dois baldes
de doces que eu tinha comprado no site da Amazon. “Se vocês
tiverem três estrelas podem escolher um doce desse balde. Se
vocês tiverem cinco estrela, podem escolher um doce desse balde.”
Abaixei os baldes para as crianças poderem ver o interior. O
rosto sardento de Micah parecia em choque. “Os doces são maiores
neste balde!”
“Exatamente. Quanto mais vocês se comportarem durante o
dia, maior será o doce no fim do dia! Cora foi muito bem hoje, então
ganha um doce do balde grande.”
Cora piscou por trás dos óculos e então avidamente pegou
uma barra de Twix.
“Micah, você só tem três estrelas e Dustin só quatro. Então
significa que vocês escolhem um doce do balde menor.”
Os dois olharam desamparados para o doce de Cora. “Mas
estes são menores”, Dustin reclamou.
“Então vocês precisam ser legais amanhã, pra ganharem um
dos grandes!”
Eu já tinha usado este plano antes. Sempre funcionava bem e
ensinava as crianças a terem paciência e sobre recompensas a
longo prazo. Ações que eram típicas dessa idade – empurrões,
choro, lançar coisas – eram impulsos que vinham sem pensamento.
O sistema de estrelas os forçava a pensar sobre as consequências
de seus atos.
Quando os pais chegaram em casa, mostrei a eles o plano
plastificado na geladeira e expliquei o sistema.
“Fiquei curioso para saber o que você disse a eles quando eles
estavam jogando bola”, Asher remarcou. “Os dois responderam bem
rápido.”
Brady olhou para a geladeira e apertou os olhos. “E esse
sistema funciona? De verdade?”
“Certamente sim. Desde que seja consistente e eles entendam
que perdem estrelas se fizerem coisas erradas. Só funciona se eles
aprenderem quais ações são boas e quais são ruins.”
“Não vai ser um problema”, Rogan disse. “Cumpriremos nossa
parte.”
No dia seguinte, Patty me cobriu de manhã para que eu
pudesse ir numa audição de um comercial antitabagismo. Eu não
tinha ensaiado muito – estava ocupada com Rogan no meu quarto
de hotel à noite.
E foi aparente. Fui descuidada. Errei a entonação em uma das
falas e a diretora me fez reler. Ela não ficou impressionada após a
segunda leitura e disse que eles entrariam em contato se eu fosse
selecionada.
Falhar em um teste causava um sentimento ruim. Era como ir
mal numa prova com uma plateia assistindo tudo e julgando.
Mas eu disse a mim mesma que não era grande coisa, porque
era apenas temporário. Dali a seis meses, Rogan me colocaria em
contato com pessoas do meio, eu teria um agente de verdade e não
precisaria mais fazer testes para comerciais estúpidos.
Eu teria minha própria série na Netflix, ameaças de morte e
tudo mais.
“Isso não significa que você não possa ir melhorando o
currículo enquanto isso”, Rogan me disse naquela noite no hotel.
“Cada pequeno papel ajuda.”
Estávamos enfiados na banheira juntos. Continuamos fazendo
sexo sem camisinha, mas eu sempre o fazia gozar fora. Eu meio
que gostava de vê-lo gozar no meu peito. Era evidência do quanto
ele gostava do que estávamos fazendo. Ele tinha gozado muito
naquela noite. Deve ter gostado muito da posição de cowgirl
invertida que tínhamos tentado.
“Comerciais são sem sentido”, eu disse. Esticando meu pé
para esfregar seu peito do outro lado da banheira enorme. “Ninguém
vê um comercial da Nike e pensa quero aquela garota na minha
série de TV.”
Rogan deu de ombros e pegou meu pé. Ele começou a
esfregar os dedos no arco, uma massagem profunda que me fez
fechar os olhos e gemer tão alto quanto eu havia gemido durante o
sexo.
Ok, talvez não tão alto. Mas ainda assim, alto.
“Sei porque você gosta de vir aqui”, ronronei para ele.
Uma das sobrancelhas pretas de Rogan se ergueu. “Por que
gosto de vir aqui?”
“Porque você tem fetiche com babás. Você quer foder a mulher
que cuida dos seus filhos o dia todo.”
“Eu tenho fetiche com Heather Hart”, ele respondeu
suavemente. “Você é a única forma de fazer meu pau ficar duro.”
Joguei água nele. “Duvido que seja verdade, mas agradeço a
mentira. Falando em mentira, o que você falou pros outros dois
pais?”
Rogan levantou uma sobrancelha. “Outros dois pais?”
“É como eu chamo vocês na minha cabeça. Os pais. Tentando
acompanhar. Onde eles acham que você está agora?”
“Não falei nada”, ele respondeu. “Apenas disse que ia sair.
Asher estava ocupado vigiando as crianças e Brady estava de olho
em um dos caras que tem perseguido Amirah Pratt. Nenhum deles
está pensando em mim agora.”
“Bom”, eu disse. “Então você pode ficar um pouco mais e
continuar a massagem no meu pé.”
Ele riu e apertou meu pé com mais força. Suspirei e relaxei na
banheira.
Só físico, pensei. Isso tem que ficar só no plano físico.
19

Brady

Eu estava no banco de trás do carro, escondido esperando


pelo meu alvo.
As pessoas pensavam muitas coisas sobre os fuzileiros. Havia
livros, séries de TV e até filmes sobre isso. Muitas informações eram
bobagem. Às vezes exageravam, às vezes diminuíam. Ninguém
sabia ao certo como era, a não ser aqueles que realmente viviam
aquela vida. Quem fazia todo o trabalho.
Mas éramos bons no que fazíamos. Isso era verdade. Nossas
missões tipicamente requeriam discrição e precisão. Outros tipos de
combatentes agiam como facões, cortando os inimigos no meio. Os
fuzileiros escalpelavam-nos com a precisão de um cirurgião. Éramos
limpos, rápidos e efetivos.
O que eu estava fazendo ali, me escondendo no banco de trás
de um carro era mais parecido com trabalho de espião. Eu não
carregava uma arma. Bom, aquilo não era inteiramente verdade. Eu
não carregava uma arma típica, como a que geralmente ficava no
meu coldre. Mas tinha uma faca no meu bolso. Só isso. Eu estava
ali para coletar informações.
Aquele era trabalho para o Asher geralmente. Ele gostava
daquele tipo de coisa. Eu? Eu era impaciente. Para mim, cinco
minutos sentado esperando pareciam cinquenta.
Enquanto eu esperava, pensei nas crianças. Especialmente os
meninos. Só tinham passado alguns dias, mas o comportamento
deles estava melhorando. Não me leve a mal – Dustin e Micah
estavam longe de serem anjos. Ainda eram dois capetinhas. Mas já
eram capetinhas ligeiramente melhorados. Tipo capetinhas oriundos
dos círculos mais altos do inferno.
Heather era perfeita para aquele trabalho, definitivamente.
Rogan, Asher e eu fomos dispensados do serviço antes de
mulheres serem admitidas como fuzileiras. Mas conheci uma uns
anos antes que tinha acabado de se graduar na Escola Naval. A
mulher era uma fodona de primeira classe. Ela era capaz de passar
pelo mesmo treinamento que nós homens passávamos. O que não
era fácil porque ela pesava vinte quilos a menos que eu. E pelo que
ouvi dos seus companheiros de pelotão, ela não tolerava nenhum
tipo de desaforo de nenhum homem e criticava até os melhores
soldados.
Heather me lembrava um pouco essa garota. Ela era violenta,
cheia de bagagem. O tipo de mulher que olhava para todo mundo
com uma cara de não ouse me subestimar.
Eu sabia que nossos filhos estavam em boas mãos. Ela seria
capaz de consertar o trabalho terrível que havíamos feito como pais
até o momento.
De repente, vi meu alvo caminhando. Ele estava saindo do
prédio por uma das escadas laterais ao invés de pela entrada
principal. Maldito sorrateiro.
Me abaixei mais atrás do banco. Aquela parte do
estacionamento não tinha muita luz e eu estava totalmente no
escuro. Comecei a calcular a distância na minha cabeça: demorou
vinte e nove segundos para ele chegar da saída até o carro. Mais ou
menos dois segundos dependendo da velocidade. Tirei a faca do
bolso e a segurei do lado do corpo.
Quatro, três, dois, um…
A porta do motorista se abriu imediatamente. A SUV se mexeu
quando o homem entrou dentro do veículo. Esperei ele fechar a
porta antes de me levantar, passando a faca pelo encosto de
cabeça dele até seu pescoço.
“Um movimento e você é um homem morto”, alertei.
O homem congelou e então virou a cabeça. “Que merda é essa
no meu pescoço?”, Rogan perguntou. “Está quente.”
Me encostei no banco da frente para poder olhar para ele,
então segurei a faca na frente do meu companheiro. “É uma faca de
borracha. Um dos brinquedos de Dustin.”
Os olhos de Rogan brilharam de raiva. “Por que você não está
vigiando o assediador da Amirah?”
“Já acabei. O cara é inofensivo. Dei uns sopapos nele e ele
chorou igual criança”, rodopiei a faca de borracha por entre meus
dedos, então a espetei em Rogan. “O que diabos você estava
fazendo no Four Seasons?”
Ainda estava escuro dentro da SUV e a única luz vinha do
painel aceso. Mas eu conhecia Rogan fazia muito tempo e sabia
que ele estava prestes a mentir, pela maneira como ele apertou o
maxilar.
“Dei uma carona para a Heather”, ele disse.
“Sim, uma hora atrás”, respondi. “Mas você estava lá dentro
até agora.”
“Estávamos tomando um drinque.”
“O drinque foi servido na calcinha dela?”, provoquei. “Sinto
cheiro de sexo.”
Rogan soltou o maxilar e se afundou no banco. “Estou
surpreso que você ainda sinta o cheiro, porque tomamos um banho
depois.”
Fiz um som de tsc. “Sexo não tem só cheiro de boceta e porra.
Sexo tem cheiro de satisfação. E cara, você tá com um estranho
cheiro de satisfeito. Que merda você tá pensando?”
“Não conte ao Asher.”
“Ela é nossa babá”, repreendi.
“Eu sei.”
Apertei a faca de borracha no seu braço. “Você disse que
qualquer coisa que prejudicasse o trabalho dela…”
“Eu sei!”, ele gritou, perdendo o controle por um momento. Ele
se virou para me olhar diretamente. “Eu sei o que eu disse. E eu
falei sério. Mas eu não posso evitar.”
Me recostei no meu banco. “Faça o que eu digo, mas não faça
o que eu faço. Você nunca toleraria essa merda quando éramos
fuzileiros.”
“Não somos mais fuzileiros”, ele disse. “E o que eu e Heather
temos é apenas físico.”
Ele estava mentindo de novo. Eu sabia daquilo do mesmo jeito
que sabia que a porra do Teddy Williams era o melhor jogador de
basquete de todos os tempos. Mas eu não ia repreendê-lo por fazer
aquilo. Rogan não gostava de ser encurralado e eu já estava
fazendo isso.
“Você deveria estar vigiando o perseguidor da Amirah.”
“Já falei que cuidei disso. Ele é um incel virjão vivendo no
porão da mãe. Fez o mesmo tipo de ameaça para uma dúzia de
outras atrizes. Quando cheguei em casa e você não estava decidi
checar se você estava aqui. E olha só: aqui está você.”
“Era só ter me perguntado”, Rogan disse quietamente.
“Você mentiria. Prefiro minha forma de fazer as coisas”, virei a
faca nas mãos. “Além disso, gosto de fingir que sou o James Bond.
Irado, não?”
Rogan fechou os olhos. “Não conte ao Asher.”
“Eu jamais faria isso, amigão.”
“Você sabe como ele é. Se ele descobrir…”
“Você precisa contar”, insisti. Rogan e eu tínhamos a mesma
patente quando éramos fuzileiros e era ele quem geralmente ditava
as regras na HLS, mas eu falei cada uma das palavras como se
fosse um Almirante mandão. “Somos uma família. Temos três filhos
juntos. Não podemos manter segredos – nem grandes nem
pequenos. E cara, isso é um grande segredo”, disse apontando para
o Four Seasons com a faca. “Você quer continuar fazendo coisa
errada? Então assuma suas merdas como um homem adulto.”
Minhas palavras pareceram tê-lo atingido. Às vezes, tudo o que
precisávamos era de um pouco de amor mais áspero. Ele acenou
uma vez e disse. “Você está certo. Vou contar pra ele.”
“Bom garoto!”, eu disse, esticando meu pé sobre o freio de
mão. “Agora me leve até a sorveteria. Preciso de uma casquinha.
Depressinha, senhor motorista”, bati as mãos duas vezes.
Rogan me encarou friamente.
“Ok, nossa, Jesus. Eu não devia ter abusado da sorte.”
Foi só quando pulei para o banco do carona que Rogan ligou o
motor e conduziu para fora do estacionamento.
“Então?”, perguntei. “Como ela é na cama? Ouvi dizer que
atrizes são insanas.”
“Você está abusando da sorte de novo.”
“Se você não me contar”, expliquei. “Vou usar a imaginação.”
Ele parou no sinal vermelho e se virou devagar para me
encarar.
“Ok, seja assim então”, eu disse, olhando para fora, “totalmente
sem graça.”
20

Heather

As coisas não estavam indo tão bem quanto eu esperava com


as crianças.
Durante o dia, eu sentia que estava fazendo progresso. Micah
e Dustin estavam me obedecendo. Eu pedia a eles que colocassem
os pratos na lava-louça e eles iam sem reclamar muito. No primeiro
dia, eles não fizeram de jeito nenhum. As estrelas douradas que
coloquei no horário deles era um ótimo sistema de barganha para
construir bons hábitos. Eles me ouviam.
Mas, no dia seguinte, quando eu voltava para trabalhar, parecia
que todo o meu trabalho tinha sido destruído durante a noite.
Naquele dia, os meninos estavam correndo pela sala de estar
com tinta guache na mão. Me ignoraram completamente, mesmo
após meu aviso de que eles estavam prestes a perder a primeira
estrela do dia. Quando chegou a hora de assistir Caçadores de
Troll, eles quiseram continuar pintando e desenhando.
“Mas isso não está no plano!”, os lembrei. “Precisamos olhar
nosso plano de aventuras?”
“Eu tenho meu próprio plano!”, disse Dustin, agarrando uma
almofada do sofá e jogando em Cora, que estava quieta no canto,
lendo. Ela deixou o livro de lado e começou a chorar. Seus lamentos
se intensificaram quando Dustin pegou seu livro e atravessou o
corredor correndo com ele em mãos.
Geralmente eu era capaz de controlá-los à medida em que o
dia avançava. Quanto mais perto a hora de receberem o doce
chegava, mais comportados eles ficavam. Mas era sempre a mesma
coisa na manhã seguinte. Parecia que tinham reiniciado as crianças.
“Pode ser que o sistema de recompensas seja falho…”, admiti
aos três pais naquela noite quando eles chegaram do escritório.
“Talvez eu precise de algo que os incentive bem cedo.”
“Acho que sei o motivo pelo qual eles estão assim”, Asher
disse abrindo uma cerveja. Ele fez um gesto segurando a garrava.
“É porque Brady deu doce a eles ontem à noite.”
Me virei para Brady. “Você deu a eles mais doces?”
Brady deu um passo para longe de mim. “O quê? Eles estavam
comportados, queria dar uma recompensa. Não é essa a ideia?”
Brady continuou se afastando como se eu fosse um gato
raivoso. “Achei que eles mereciam. Eles tinham vários adesivos
cada um.”
Continuei me aproximando, colocando-o contra a parede,
então encostei meu dedo no seu peito. “Eles já tinham sigo
recompensado pelos adesivos. Eles escolheram seus doces. Se
você der mais doces, vai minar todo o meu sistema!”, afundei meu
dedo no seu peito. “Pare. De. Dar. Doces. A. Eles. Entendeu?”
“Ok, ok, meu Deus”, Brady esfregou o lugar onde eu tinha
fincado o dedo.
Voltei e olhei para Asher.
“O que eu fiz?”, ele perguntou.
“Você foi complacente. Você viu acontecer e não fez nada para
evitar.”
Asher encarou Brady. “Não posso ficar vigiando Brady o tempo
todo. Ele deu doces para o Dustin escondido.”
“E para o Micah”, Brady disse. “Não gosto de favoritismo,
mesmo que Dustin seja meu. Micah também se comportou ontem.”
“Sem mais doces”, avisei. “Se isso acontecer de novo, eu vou
enfiar chocolate pela sua goela até você vomitar. Entendido?”
“Entendido. Desculpa!”, Brady inclinou a cabeça e me
examinou. “Você já considerou a ideia de se tornar fuzileira?”
“Não, por quê?”
“Por nada”, Brady respondeu. “Você me lembra alguém que
conheci.”
Ficar longe das crianças a noite era o primeiro problema. O
outro, é que eu já estava cansada do Four Seasons.
Sei que parece estúpido. Serviço de quarto, massagens e
banhos de banheira todas as noites… como alguém se cansaria
daquela rotina?
Mas ainda era um hotel! No fim do dia não parecia que eu
estava em casa. E em algum momento a pessoa enjoa de comer
filé. Às vezes, tudo o que uma garota quer é um hambúrguer da
esquina.
Enquanto as crianças tiravam o cochilo da tarde, enviei uma
mensagem perguntando se Rogan podia me encontrar para
conversar.
“Tenho uma pergunta pra você”, eu disse quando ele chegou
no andar de cima. “Se você tiver tempo.”
“Isso é um convite sexual?”, ele olhou no relógio. “Tenho uma
chamada em dez minutos.”
Sorri. “E o que faríamos durante os outros nove minutos e
quarenta segundos?”
Ele riu. “Você sabe que eu duro mais do que isso!”
“Certamente sim”, eu dei um beijo na bochecha dele. “Não te
chamei aqui para transar. Tenho uma pergunta. Quando você me
ofereceu o trabalho pela primeira vez, você disse que eu poderia
ficar no Four Seasons ou que eu podia ficar aqui?”
Uma sobrancelha escura se arqueou na testa de Rogan. “Se
cansando da mordomia?”
“O mais importante é que preciso ficar aqui mais tempo”,
respondi. “Pelo menos pelas primeiras semanas, com as crianças.
Pra me certificar de que eles estão tendo consistência.”
Rogan se sentou no encosto do sofá e cruzou os braços. “Você
acha que não estamos fazendo um bom trabalho.”
“Brady não está fazendo um bom trabalho”, esclareci. “Ele está
contrabandeando doces pros meninos à noite. Minando todo o meu
sistema de adesivos e recompensas!”
Rogan fez uma careta. “Achei que Micah estava com bafo de
chocolate quando o coloquei na cama ontem”, ele acenou pensativo.
“O quarto de hóspedes no fim do corredor é seu se você quiser.”
“Acho que é a melhor escolha”, suspirei. “Maurice vai ficar triste
de não poder mais me visitar no hotel.”
“Em compensação, o setor financeiro vai ficar feliz”, Rogan
murmurou.
“A única desvantagem é que nós não vamos mais poder nos
divertir”, pressionei meu corpo contra o dele. “A não ser que você se
esgueire até meu quarto à noite. Mas teremos que ser silenciosos.”
Rogan não reagiu da forma como eu esperava, com um sorriso
um beijo sexy. Ele fez uma careta e disse, “Brady já sabe.”
Me afastei. “Como isso aconteceu?”
“Ele se deu conta ontem à noite. E me deu uma bronca.”
“Isso significa que…”, parei, não queria completar a frase.
“Vamos ver. Preciso conversar com Asher sobre isso. Prometi a
Brady que contaria a ele”, ele mexeu as mãos. “Essa é uma
péssima desculpa. Eu devo contar a Asher. Somos uma família. Não
podemos manter segredos.”
O medo tomou conta de mim, bem no fundo. Medo de que
nossa diversão tivesse que acabar. Eu não queria aceitar isso.
Como alguém que se afoga, minha cabeça tentou encontrar algo
para se segurar.
“E se Asher for contra? Vamos apenas parar?”
“Eu não sei, Heather…”
“Você o deixa controlar sua vida assim? Não é da conta dele o
que fazemos no nosso tempo livre.”
Rogan se aproximou de mim, mas me afastei. “Não é tão
simples assim. Somos uma família – Asher, Brady e eu. E você
trabalha para nós todos, cuidando dos nossos três filhos. Ele precisa
saber que estou dormindo com a mulher que cuida da Cora.”
“Ainda estou confusa com isso tudo”, argumentei. “Vocês têm
um filho cada. Eles têm a mesma idade. Não há mães na história. E
vocês tem um acordo comunal. O que exatamente é isso? Por que
suas vidas são interligadas assim?”
Rogan olhou no relógio. “É uma longa história e estou atrasado
pra reunião. Mas tenho que contar ao Asher. Depois disso podemos
analisar a situação. Espero que você entenda, Heather.”
Eu não entendia na verdade. Eles eram homens crescidos. O
que Rogan e eu fazíamos não era da conta do Asher, desde que eu
continuasse sendo uma boa babá para sua filha.
Mas eu acenei e respondi. “Acho que entendo.”
Rogan me tomou em seus braços e me beijou. “Te levo ao
hotel hoje para pegar suas coisas. Talvez possamos ter uma última
noite de diversão antes de voltar para casa.”
“Se Asher assinar sua permissão primeiro”, murmurei.
Ele segurou meu queixo e levantou meu rosto. “Não terminei
com você ainda, Heather Hart. Prometo.”
Aquilo me fez me sentir um pouco melhor. Sorri quando ele
saiu pela porta e desceu as escadas.
“Senhorita Heather?”
Me virei e vi Micah parado no corredor. Arrastando seu
cobertor atrás dele como se fosse uma capa. Seus olhos estavam
marejados.
“Micah… você, hm, viu alguma coisa?”, perguntei.
Micah só me encarou. “Senhorita Heather, tive um acidente.”
Me dei conta que a parte da frente da sua calça estava
molhada. “Ah, querido…”
“Isso significa que perdi a estrela do cochilo?”, ele perguntou.
“Eu não queria…”
Me abaixei e o abracei. “Acidentes não contam. Você ainda vai
ganhar sua estrela. Venha, vamos limpar isso.”
21

Asher

“Como estamos hoje?”, Rogan me perguntou.


Meus dedos voavam no teclado, quatro telas estavam
dispostas sobre minha mesa, formando uma trama de diferentes
dados de redes sociais dos nossos setenta e quatro clientes. Depois
de alguns toques no teclado e cliques, eu tinha filtrado tudo, exceto
os dados de Amirah Pratt.
Todas as celebridades recebiam ameaças diárias de fãs. Havia
um histórico barulhento nas redes que sociais que era normal para
todas as intenções e propósito. Era um caso específico das
mulheres famosas, a realidade era desafortunada: elas eram
constantemente bombardeadas no Facebook, Instagram, Twitter e
por e-mail.
Eu havia focado em algumas ameaças específicas.
“Está piorando”, respondi.
Rogan exalou. “Piorando?”
“As ameaças do homem que Brady visitou ontem pararam,
mas seis outras surgiram no lugar.”
“Devemos nos preocupar com algo em específico?”
Filtrei mais os resultados. Meu computador tinha acesso à
todas as contas de Amirah Pratt. Mensagens instantâneas, diretas,
e-mails – para citar algumas. Tudo estava disponível no meu
computador para podermos identificar as ameaças reais.
“Esse aqui”, eu disse, maximizando um e-mail que havia
chegado nas primeiras horas da manhã. Li em voz alta com a voz
impassível. “Amirah, não posso mais esperar. Vou escalar a
trepadeira da sua parede e entrar no seu quarto. Vou te observar
dormindo. Durma, pacificamente, como um anjo. Quando você
finalmente acordar, vou te fazer dormir para sempre. Então você
será um anjo de verdade. Meu anjo.”
“Jesus Cristo!”, disse Rogan.
Me virei na minha cadeira para olhar para ele. “Alguma coisa
nessa frase chama sua atenção?”
“A trepadeira.”
Acenei. “A casa de Amirah tem um muro de proteção em volta.
A trepadeira não é visível, a menos que você esteja dentro do muro.
E não, não dá para ver pelo Google Maps.”
“O perseguidor subiu no muro.”
“Pelo menos uma vez.”
Rogan apertou a ponte do seu nariz. Eu não invejava sua
posição. Eu era feliz trabalhando com a parte de tecnologia e
informação da empresa, mas Rogan era quem tomava a maioria das
decisões. Se ele tomasse uma decisão incorreta, poderíamos
acabar mortos.
“Tenho um mau pressentimento sobre esse cara…”, Rogan
disse finalmente. Cooper está com ela agora, mas ele ainda é
imaturo. E ele fica mais mole à noite. Quero um par de olhos extra
na casa da Amirah essa semana.”
“Ficaria feliz em fazer isso”, eu disse. “Não faço vigilância há
mais de um ano. Não seria nada mal ficar em forma.”
Fiz a proposta sabendo que Rogan não aceitaria. Obviamente
ele chacoalhou a cabeça.
“Cuido desse caso pessoalmente. Não consigo me livrar desse
mau pressentimento.”
“Parte da função de administração é saber delegar”, eu disse
gentilmente. “Você não precisa ficar no controle de todos os clientes
o tempo todo.”
“É difícil perder velhos hábitos”, ele acenou e então se
aproximou da minha mesa. “Falando sobre velhos hábitos, preciso
te falar uma coisa.”
“É sobre você estar dormindo com a Heather?”
Eu nunca tinha o prazer de pegar meus companheiros no pulo,
então era saboroso quando eu o fazia. Rogan se assustou e disse,
“Como você sabe?”
“Eu sou responsável pela informação”, respondi. “Sou um
homem de percepção. E você é descuidado. Chegou em casa
várias vezes com o cheiro dela.”
Rogan inclinou a cabeça. “E você sabe qual é o cheiro dela?”
Pensei na primeira noite que vi Heather, naquela cabine do
jogo dos Laker, quando ela fingiu ser Amirah Pratt. O cheiro dela
invadiu o local no momento que ela chegou e continuou pairando
mesmo depois que ela partiu. Eu não me esqueceria daquele cheiro
mesmo se nunca mais a visse de enovo. Mas agora que ela
trabalhava na nossa casa, o perfume dela permanecia ali todas as
noites quando chegávamos do escritório. Era pungente e
intoxicante.
Eu não conseguia esquecer aquele cheiro não importa o
quanto tentasse.
“Quando você ia nos contar?”, perguntei.
“Estou contando agora”, Rogan disse.
Chacoalhei a cabeça. “Eu quis dizer, quando você teria nos
contado se Brady não tivesse pegado você no flagra ontem?”
Pela segunda vez no mesmo dia eu o peguei desprevenido.
“Como você sabe…”
“Brady é péssimo em blefar. Eu sabia que ele tinha descoberto
no momento que vocês pisaram em casa ontem à noite. Quando
você pretendia me contar?”
Rogan afundou na cadeira ao meu lado. “Eu não tinha pensado
nisso ainda…”
“Você nos disse que não ia fazer nada”, eu o lembrei. “Você
disse que alguém para cuidar das crianças era o mais importante
para nós e que não poderíamos comprometer isso.”
“Você parece o Brady falando.”
Sorri. “Normalmente isso seria um insulto, mas nesse caso, ele
está certo. É só físico ou tem algo mais?”
Rogan respirou profundamente e expirou devagar. “Eu não
sei…”
Ele estava falando a verdade. Brady poderia ser enganado,
mas Rogan sabia que não podia mentir para mim.
“Vá em frente”, Rogan insistiu. “Manda ver! Eu mereço.”
Mastiguei a boca. “Você nos disse que Heather estava fora da
jogada e quebrou sua própria regra. Parece que você colocou seus
próprios desejos acima dos interesses do grupo.”
“Eu sei”, ele apertou a ponte do nariz, “Não consegui evitar.”
“Brady também quis flertar com ela, mas se segurou”, eu disse.
“Brady ou você?” Rogan disse, após me examinar por um
momento.
“Nós dois”, eu disse, me desviando da acusação.
“Flerte com ela se quiser”, Rogan disse. “Ela é dona de si, não
é minha propriedade.”
“Você não vai ficar com ciúme?”
“Não sei. Talvez. Mas é justo”, Rogan correu a mão pelos
cabelos. “E falando nisso, ela se muda para cá esta noite.”
Assenti. “Suspeitei que ela faria isso. É a única forma de evitar
que Brady arruíne o plano com os garotos.”
Rogan me encarou atentamente. “Fazer isso no hotel é uma
coisa, aqui é outra. Se você não quer que a gente dê uns amassos
em casa, eu entendo. É só falar.”
“Você não precisa da minha aprovação”, eu disse. “Você é
adulto e ela também. Não me importo com o que vocês fazem.” Me
virei de volta para as telas.
“Você tem certeza?” disse Rogan.
“Desde que isso não exploda na sua cara e afete as crianças.
Se a gente precisar encontrar outra babá mês que vem porque você
partiu o coração dela, eu vou ficar chateado.”
Rogan riu. “Não acho que você deve se preocupar com o
coração dela ser partido. Heather é uma mulher forte.”
Ela é, pensei enquanto voltava para meu trabalho.

Naquela noite, Rogan levou Heather de volta ao hotel para ela


buscar suas coisas. Esperei que eles fossem ficar fora por um
tempo – aproveitando uma última noite – mas eles voltaram tão
rápido que eu ainda estava na cozinha fazendo jantar. Eles não
devem ter feito nada.
“Estou indo para a casa de Amirah”, Rogan me disse depois de
levar as malas de Heather para o quarto. “Me manda uma
mensagem se precisar de alguma coisa.”
Que bom que ele estava priorizando o trabalho.
“Encaminhei as informações das redes sociais dela para o seu
telefone”, disse a ele, mexendo o molho na panela. “Fique de olho
em tudo que for de código laranja para cima.”
Rogan deu um abraço de tchau em Heather – só um abraço,
reparei – e depois partiu.
“Código laranja”, Heather perguntou.
“Níveis de segurança de diferentes ameaças nas redes sociais.
Nós filtramos as ameaças de acordo com a possibilidade de
acontecerem.”
Heather se aproximou por trás e olhou a panela de molho. Seu
perfume cortou o cheiro do tempero e do alho, ativando uma parte
do meu cérebro.
“Esse cheiro é muito bom”, ela disse.
“Sim”, concordei. “É mesmo.”
O jantar era mais agradável com a Heather na mesa. Ela era
uma força persistente que afetava os meninos, fazendo-os prestar
atenção nas suas maneiras um pouco mais do que de costume.
“Eu gosto quando a Senhorita Heather está aqui!”, Cora
cantarolou enquanto limpávamos a mesa. “Espero que ela fique aqui
mais vezes.”
“Acho que ela vai ficar, abelhinha”, respondi. Cora sorriu.
A hora do banho também era mais fácil. Geralmente dávamos
banho nos meninos primeiro, depois na Cora. Não era uma
separação por gênero, mas três era demais para nossa banheira e
os meninos gostavam de brincar. Mas com a Heather conseguimos
fazer tudo ao mesmo tempo. Ela cuidou de Dustin e Micah enquanto
eu cuidei de Cora.
Então ela leu uma história para os três antes deles dormirem.
Geralmente os meninos ficavam inquietos e começavam a se chutar
naquele momento, mas Heather atraiu totalmente a atenção deles.
Eu me considerava um homem moderno que queria uma
mulher completa: esperta, com uma carreira e satisfeita em todos os
aspectos da vida. Eu não queria só uma mãe para cuidar dos filhos.
Mas quando Heather colocou Cora na cama e deu um beijo na
sua testa, algo relaxou dentro do meu coração. A parte primitiva do
meu cérebro estava profundamente atraída por ela enquanto ela
cuidava da minha filha.
Instinto maternal era sexy. Especialmente quando ele
ultrapassava a superfície de uma mulher tão independente e
geniosa como Heather Hart.
“Cerveja?”, Brady perguntou quando voltamos todos para a
cozinha. Ele abriu a geladeira e pegou uma latinha.
Eu ia recusar, mas Heather disse, “Com certeza. Me dá uma.”
Brady jogou a lata na direção dela e ela a pegou com uma
mão. Também quero uma”, eu disse.
Depois de aceitarmos as cervejas, me sentei no sofá. Brady
escolheu uma das poltronas e Heather se sentou do meu lado.
Uma coisa sobre mim: eu sou analítico, perceptivo e percebo
as coisas. Coleto odos os dados da cena e os analiso.
Era uma grande vantagem quando eu estava protegendo
clientes de perseguidores, mas uma desvantagem quando se
tratava de mulheres.
Heather tinha todo o sofá livre do seu lado esquerdo. Duas
almofadas enormes e ainda assim escolheu se sentar perto de mim.
Sua perna descoberta a alguns centímetros da minha calça. Sua
saia subiu alguns milímetros na coxa quando ela colocou o pé na
mesa de centro.
“Os garotos se saíram muito bem essa noite”, disse Brady.
“Porque eu estava aqui para manter certas pessoas longe
deles e dos doces”, ela respondeu.
Brady revirou os olhos e tomou metade da sua cerveja em um
gole. “Sim, sim, dona Mary Poppins.”
“Sem a bolsa mágica”, eu disse. Eu não era muito bom com
piadas, mas aquela me pareceu boa.
Heather também achou, porque riu. “Quem disse que eu não
tenho uma bolsa mágica? Vocês não sabem o que sou capaz de
carregar aqui.”
Ela apontou para o bolso da saia e o movimento atraiu meus
olhos. Encarei suas pernas longas e macias. Me perguntei qual
seria a sensação e tocá-las.
“Bom, você é a babá mágica mais bonita que eu já vi”, Brady
disse.
Heather levantou sua cerveja. “É um elogio estranho, mas
obrigada. Vocês também não são mal apessoados, apesar de eu ter
quase certeza de que não cabe muito poder mágico debaixo dessas
roupas. Os braços de Asher estão basicamente rasgando a camisa.”
Senti minhas bochechas queimarem. “Não tenho o físico
musculoso de Brady. Ou Rogan.”
Ela se virou de lado e me deu uma longa olhada, examinando.
“A comparação rouba a alegria da vida, sabe?”
“Como disse o Presidente Roosevelt”, remarquei.
“Ele disse?”, Heather deu de ombros. “É verdade, quem quer
que tenha dito. Você é rasgado, cara. É estranho olhar para vocês
três. Nunca tive chefes atraentes antes.”
“Também nunca tivemos uma babá atraente”, Brady respondeu
suavemente.
“Não sei”, eu disse, piscando para Heather. “Nossa última babá
era sexy. Você tinha que ver as camisetas que ela usava…”
Brady abaixou a cerveja e apontou para mim. “É melhor você
retirar o que disse. Você está falando da minha irmã, porra.”
“Ah sim?”, eu disse, sorrindo. “Ela tem uma bunda muito mais
bonita que a sua.”
Brady fingiu que ia jogar a lata de cerveja em mim. Heather
rolou de lado no sofá numa crise de riso.
“Não dê ouvidos a esse pervertido!”, Brady disse. “Você é
muito mais sexy do que a Patty.”
“Cuidado, garotos”, disse Heather. “Vocês vão me fazer ficar
envergonhada.”
Heather estava flertando conosco. E Brady estava flertando de
volta. Eu tinha quase certeza de que ele tinha um crush nela. Eu
não podia culpá-lo. O cheiro de Heather estava ao meu redor, me
entorpecendo mais do que a própria cerveja era capaz.
Nós três. Uma única babá. Não era preciso ser muito analítico
para entender que a conta não fechava.
E agora ela estava morando conosco.
As coisas estavam prestes a ficar mais complicadas.
22

Heather

Eu gostava de flertar. Me processem.


E estava me divertindo com os rapazes. Eles eram fáceis de
lidar. Por mais que eu gostasse de Rogan, havia algo de muito sério
nele que nunca desaparecia – mesmo quando estávamos juntos.
Devia ser alguma coisa relacionada a autoridade. O peso de
carregar a liderança nas costas.
Mas Brady era um pateta. E apesar do exterior calmo, eu
estava começando a ver que Asher tinha um lado divertido também.
Ele não fazia muitas piadas e, por isso, quando as fazia, elas eram
muito mais engraçadas do que se fossem feitas por outra pessoa.
Eles também eram ambos extremamente lindos. Aquilo
também era um fator de peso. Acontece que eu pensava que a
personalidade de um cara era a qualidade mais importante… mas
ser bonito e sexy também tinha seu valor.
Quando que terminei minha segunda cerveja e fui buscar outra,
eu sabia que ia me divertir vivendo com eles. Mesmo com todo o
luxo, era muito solitário viver no Four Seasons. Maurice geralmente
trabalhava a noite e não podia sair comigo. Meu único amigo era
Timmy, o funcionário do serviço de quarto. E eu sentia que ele só
gostava de mim por causa da gorjeta de cinquenta mangos que dei
após ele fazer uma entrega de vinte dólares. Estar rodeada pelos
rapazes era uma boa mudança.
Mas ainda havia uma grande questão que eu não entendia. E
já que Rogan não respondeu, eu esperava que os outros dois o
fizessem.
“Ok, eu preciso entender a história completa”, eu disse. “Das
crianças.”
Depois de tomar algumas cervejas com eles, eu tinha
aprendido que Asher tinha uma maneira de passar os dedos pelo
curto cabelo loiro enquanto estava pensando. Ele estava fazendo
aquilo. “O que você quer dizer?”
“Cada um de vocês três tem um filho de seis anos”, eu disse.
“Não há nenhuma mãe na história. Vocês os criam juntos e Cora
chama os meninos de irmãos. Por que vocês acabaram vivendo
assim? Qual é a história? E não tentem me engambelar como
Rogan tentou todas as vezes. Eu sei que é pessoal, mas eu estou
cuidando deles o dia todo. Gostaria de entender a dinâmica
completa.”
Asher e Brady se entreolharam. “Não é tão pessoal”, disse
Asher.
Brady acenou. “Nós apenas não falamos muito sobre isso. Não
fazemos grande questão. É estranho, não é?”
“Sim, um pouco”, concordei.
Asher se virou no sofá para me olhar. Seu joelho roçou minha
perna, o que o fez ficar tenso momentaneamente. Ele tirou seus
óculos – outro gesto que eu tinha aprendido. Ele estava ganhando
tempo para pensar – e os colocou de novo lentamente.
“Quando éramos fuzileiros”, ele explicou, “tivemos alguns…
momentos difíceis. Estivermos muito perto da morte. As missões
estavam ficando cada vez mais arriscadas, até que perdermos um
colega de pelotão.”
“Mark Hopkins”, disse Brady com um sorriso carinhoso. “O
chamávamos de Hoppy… ele odiava essa porra de apelido”, ele
levantou a cerveja. “Ao Hoppy!”.
“Ao Hoppy!”, Asher concordou.
Brindei com eles e disse, “Sinto muito. Não consigo imaginar
como é perder alguém assim.”
“Foi difícil”, disse Asher diplomaticamente. “Isso nos fez
encarar nossa própria mortalidade. O que não foi fácil. Fuzileiros
são, de forma geral, bem convencidos.”
“Fale por você”, disse Brady. “Sou tão modesto quanto Madre
Teresa.”
Asher o ignorou. “Não demorou muito para recebermos novas
ordens depois da morte de Hoppy. O comando nos deu um mês de
luto e já fomos enviados para outra missão em seguida. Isso foi
quando o Estado Islâmico estava se espalhando e ninguém
conseguia dar conta. Vários rumores surgiram. Todo mundo
concordava que ia ser mais perigoso do que antes.”
“Uma merda, entretanto”, Brady disse, francamente. “Perder
um companheiro e depois ser enviado de volta. Tenho que admitir:
eu tinha medo de morrer.”
Asher concordou. “Todos tínhamos. Nenhum de nós tinha
família. Éramos solteiros. Se morrêssemos, não deixaríamos
nenhum legado”, ele deu uma golada na cerveja. “Então decidimos
deixar algo para trás.”
“Então vocês três foram para um bar e pegaram a primeira
mulher que encontraram?”, perguntei.
Brady latiu uma risada. “Essa era minha ideia. Esse cara tirou
isso da minha cabeça.”
“Decidimos tentar fertilização in vitro”, Asher explicou
pacientemente. “Era difícil conseguir rapidamente, mas encontramos
uma barriga de aluguel que estava disposta a carregar nossos
embriões.”
“Sério?”, perguntei.
Asher assentiu. “Era bem caro – tanto o procedimento quanto
pagar pela barriga de aluguel. Eles implantaram dezoito óvulos. Seis
para cada um de nós.”
“Dezoito?”, perguntei, incrédula. “Vocês queriam produzir um
time de futebol com reservas no útero dela?”
Brady chacoalhou a cabeça. “Não, isso é normal na
inseminação artificial.”
“Mesmo com dezoito óvulos implantados, as chances de êxito
são baixas”, disse Asher. “Acho que estávamos um pouco acima de
50% de chance.”
“Todo aquele dinheiro pra fazer cara ou coroa”, Brady
sussurrou. “Parece loucura quando olhamos para trás. Mas você
tem que entender que estávamos desesperados.”
“Entendo”, eu disse, mesmo que não entendesse. Eu nunca
tinha estado naquela situação e que Deus permitisse que nunca
estivesse.
Asher tentou beber sua cerveja, mas a lata estava vazia, então
ele a depositou na mesa de centro. “Fizemos um pacto antes da
missão. Quem quer que sobrevivesse iria criar a criança. Já que
usamos dezoito ovos fertilizados pelos três, não saberíamos quem
seria o pai.
“Exame de sangue?”, sugeri.
“Não queríamos”, Asher deu de ombros. “Não importava. Tudo
o que importava era nossa fraternidade e a garantia de que um
pedaço de nós sobrevivesse independente do que acontecesse no
Afeganistão.”
Brady limpou a garganta. “Como você pode ver, nós três
voltamos vivos.”
“Ei, sem spoilers!”, eu disse.
“E fomos sortudos com o tratamento”, Brady continuou. “Só
precisávamos de um óvulo, mas três acabaram vingando. Voltamos
a tempo de ver os trigêmeos nascerem.”
“Foi uma situação difícil”, Asher explicou. “Passamos a missão
toda pensamos que morreríamos. Então, em algumas semanas já
tínhamos voltado pra casa e éramos pais de trigêmeos. Já
dividíamos uma casa, então os criamos juntos. Rapidamente ficou
claro qual criança era de quem. Nem precisamos de exame de
sangue.”
“Cora era exatamente a cara de Asher”, disse Brady. “Branca,
loira, de olhos azuis safira.”
“Você fala como se tivesse um crush nele.”
Brady riu. “Ele é um rapaz bonito, não posso negar.”
“Ele é”, concordei com um sorriso. As bochechas de Asher
ficaram vermelhas.
“Dustin era obviamente meu”, disse Brady, sorrindo com
orgulho. “Os mesmos cachos pretos, a mesma atitude. Além disso,
ele chorava toda vez que alguém tentava o pegar no colo. Eu era o
único que conseguia.”
Asher consentiu. “Micah foi o mais difícil. Não tínhamos certeza
até ele ficar mais velho. Mas agora não temos dúvidas. O cabelo
vermelho e as sardas são da mãe de aluguel, mas ele é exatamente
igual ao Rogan quando ele era criança.”
“E aqui estamos nós!”, Brady disse finalmente. “Seis anos
depois, ainda os criando juntos. Eles são trigêmeos, então não seria
justo separá-los, sabe?”
Fiz uma careta. “Deve ter sido difícil para vocês, sem ajuda.”
“Não estamos sozinhos”, Brady disse. “Temos uns aos outros.
Três é mais do que dois. Cinquenta por cento a mais do que pais
convencionais. É só matemática, certo Asher?”
Três é definitivamente cinquenta por cento mais do que dois”,
disse Asher secamente.
Brady acenou como se ele tivesse concordado genuinamente,
não sarcasticamente. “No geral é ótimo. O único problema é o tanto
que trabalhamos. Nos primeiros anos criamos a empresa do nada, e
depois a expandimos pra outras cidades, e agora administrando
tudo… o trabalho não fica mais fácil. E, bom, relaxamos muito na
coisa de ser pais. Isso explica o comportamento deles.”
“Explica o comportamento de Micah e Dustin”, Asher corrigiu.
Brady gemeu e revirou os olhos. “Não aja como se você fosse
o responsável pela personalidade quieta dela. Foi apenas sorte, só
isso.”
Digeri todas as informações. Era muito. Eu não conseguia
imaginar a ideia de que poderia morrer e, por isso, contratar alguém
para fazer minha linhagem continuar só por garantia…
“Acho que isso explica porque vocês estão todos solteiros”, eu
disse. “É provavelmente difícil sair com alguém enquanto vocês
criam três crianças e administram uma empresa.”
Asher e Brady se entreolharam.
“Parte disso é verdade”, Brady admitiu.
“Mas na verdade, ainda não encontramos a garota certa”,
Asher disse.
Brady zombou. “Encontrar como, se você nem procura, cara?”
Asher pareceu surpreso. “O que você quer dizer?”
“Vamos lá, quando foi a última vez que você saiu com alguém?
Ou ao menos abriu o Tinder?”
“Eu não gosto destes aplicativos de encontro. Muito
impessoais.”
Aproveitei a oportunidade para olhar para Asher. Ele era
ridiculamente bonito. Com seus óculos e sua modéstia e a forma
tímida que ele dava de ombros antes de olhar para o chão. Ele era
tipo um bibliotecário sexy. Eu queria que ele me lambesse como
quem lambe o dedo para passar a página de um livro.
“Além disso”, Asher adicionou. “É melhor ser seletivo do que
sair por aí comendo todo mundo.”
Brady colocou as mãos atrás da cabeça e sorriu. “E daí? Eu
gosto de explorar o campo. Ver todas as possibilidades. E relações
meramente físicas são mais fáceis de manter do que as que são
sérias.”
Isso é certamente verdade, pensei sobre o que eu e Rogan
estivemos fazendo. Simples, sexy e divertido. Muito mais fácil do
que um relacionamento real.
“Há uma diferença entre explorar o campo”, Asher apontou, “e
ser um putão.”
“Uou, golpe baixo!”, Brady respondeu. “Quem disse que eu sou
um putão?”
Asher o ignorou e se aproximou tanto de mim que eu pude
sentir sua respiração no meu braço. “Brady faz qualquer coisa na
cama. Ele é sortudo por ser um homem, porque se ele fosse uma
mulher, definitivamente seria julgado.”
“Ah, vamos lá!”, disse Brady. “Por que você tem que acabar
comigo assim na frente da nova babá?”
Eu estava feliz e meio bêbada, o que tornou mais fácil para
mim tocar no assunto. “Então você faz qualquer coisa, hein?”
Brady deu de ombros jovialmente. “Dentro do razoável.”
“Qual é a coisa mais selvagem que você já fez? Uma orgia?”,
perguntei.
“Há!”, Brady respondeu. “Não, nada tão louco assim.”
“Sexo a três?”
Aquilo chamou a atenção deles. Eu podia sentir a tensão de
Asher perto de mim. Brady tentou manter um rosto neutro, mas
deixou escapar uma risadinha de nervoso.
“Sim, sexo a três…”, Brady olhou para Asher, então de volta
para mim. “Nós já fizemos.”
Foi quando me dei conta que a pele clara de Asher tinha ficado
carmim. Olhei para ele.
“Vocês dois?”
“Faz muito tempo”, Asher disse, claramente envergonhado com
a história. “Não precisamos falar sobre isso.”
“Ah, nós definitivamente precisamos falar sobre isso!”, insisti.
“O que aconteceu? Como foi?”
“Foi há muito tempo”, Brady explicou. “Antes da barriga de
aluguel e dos trigêmeos. Iriamos deixar Norfolk no dia seguinte e
convenci Asher a ir comigo pra um bar. Eu queria transar e encontrei
uma garota que parecia disposta. Ela gostou do uniforme.”
“Você estava vestido de fuzileiro no bar?”
“Não a farda oficial”, Brady respondeu. “Só a farda de trabalho.
E sim, nós usávamos isso pra ir nos bares. Sempre funcionava! E
com aquela garota realmente funcionou. Ela era insaciável!”
“Não precisamos continuar a história daí”, Asher disse
curtamente.
Olhei de lado para ele. “Deve ter sido uma má experiência a
três então.”
Asher limpou a garganta. “Não, não foi tão ruim. Na verdade,
foi bom.”
“Muito bom”, Brady concordou. “Vou te poupar dos detalhes
suculentos para não evocar sentimentos ternos no meu amigo. Mas
é suficiente dizer que foi uma noite selvagem. Sempre digo que
devíamos fazer isso de novo.”
“Nós não somos mais jovens”, disse Asher, como se tivesse
cinquenta anos ao invés de trinta e dois. “Temos uma família agora!”
“Quem disse que pais solteiros não podem fazer sexo a três?
Use sua imaginação. Chegamos num bar…”
Enquanto eles discutiam me peguei imaginando aquilo. Eu não
podia evitar. Uma garota no colo de Brady, cavalgando
continuamente, Asher parado ao lado dela no seu uniforme de
fuzileiro, segurando sua cabeça enquanto ela se vira chupa seu pau
para fora das calças.
De repente eu era a garota sendo dividida por eles. Asher me
olhando com luxúria nos olhos enquanto eu enrolava meus lábios
em torno da cabeça do seu pau e as mãos de Brady apertavam
minha bunda e me moviam para cima e para baixo nele…
Afastei o pensamento de tão tentador que era.
Terminei minha cerveja e fiquei de pé. “Vou dormir. Vai ser um
longo dia com os trigêmeos amanhã. Obrigada por me explicarem a
situação.”
Ambos murmuraram boa noite e eu senti seus olhos me
acompanharem até eu chegar na porta do meu quarto.
23

Heather

O quarto de hóspedes não era tão bom quanto a suíte do hotel,


mas ainda assim era um bilhão de vezes mais luxuoso que a
quitinete que eu dividia com Maurice. O colchão parecia caro – era
tão macio que afundei nele e imediatamente relaxei.
Quando comecei a ficar sonolenta, pensei no que os rapazes
tinham me contado. A barriga de aluguel. O pacto de quem
sobrevivesse à missão cuidar da criança. Conceber trigêmeos, um
filho biológico de cada pai. Tentar cuidar deles juntos enquanto
fundavam uma empresa própria. Pensar sobre aquilo tudo me
deixou emotiva.
E a história do sexo a três…
Me arrepiei com o pensamento. Sexo a três era sexy, eu nunca
havia feito, mas sempre fantasiei. Especialmente com dois homens.
Ser dividida daquele jeito, adorada por dois lábios e sentir duas
varas duras…
Eu não podia imaginar Asher fazendo aqui. Brady sim. Ele
parecia o tipo de cara que só fazia sexo a três, e cumprimentava
todos os participantes com um high-five. Mas Asher era mais quieto.
Mais reservado. Não importava o quanto eu tentasse, não
conseguia conceber a ideia na cabeça.
O que, obviamente, me intrigava muitíssimo.
Todo aquele papo sobre sexo estava me deixando excitada.
Desejei que Rogan não tivesse precisado sair naquela noite. O que
aconteceria se ele estivesse em casa? Ele invadiria meu quarto
furtivamente durante a noite ou ele me convidaria para ir para o
seu?
Decidi mandar uma mensagem e dizer a ele que estava
pensando nele, mas antes que eu pudesse fazê-lo, caí no sono.
Acordei cedo porque sabia que as crianças já estariam de pé
por volta de sete horas e eu queria me certificar de fazer tudo o que
eu precisava antes. O quarto de hóspedes não tinha banheiro
privativo e precisei usar um dos banheiros no corredor. Tomei banho
e caminhei de volta para o quarto enrolada na toalha.
Passei pelo escritório no caminho. A porta estava aberta e
aquilo chamou minha atenção. Normalmente ficava fechada,
trancada por senha. Enfiei a cabeça pelo vão e encontrei Rogan
sentado na cadeira do computador com a cabeça tombada para
trás, adormecido.
Caminhei nas pontas dos pés até ele e o beijei devagar. Depois
de um momento, seus lábios se curvaram sobre os meus para
devolver o beijo e seus olhos se abriram.
“Essa é uma boa forma de ser acordado”, ele sussurrou.
Gentilmente acariciei seu queixo. Sua barba por fazer pinicava
meu polegar. “Não te ouvi chegar. Você ainda está de terno.”
Ele se esticou e se ajeitou na cadeira. “Cheguei por volta de
quatro da manhã e ainda tinha trabalho a fazer antes de dormir.
Acho que caí no sono aqui. Mas é hora de acordar…”
“Você chegou em casa às quatro?”, olhei no relógio. “Você
precisa dormir mais do que só duas horas.”
“Muito trabalho a fazer”, ele ficou de pé. “Milhas a percorrer
antes de dormir.”
“Então… Robert Frost? Você está tentando me impressionar
com poesia?”
Ele me puxou num abraço e beijou minha testa. “Estou
cansado demais pra tentar impressionar alguém. Preciso de café.”
Eu queria argumentar com ele e insistir que ele dormisse
adequadamente, mas sabia que seria em vão.
As crianças ficaram animadas em me ver logo que acordaram.
Eu definitivamente notei melhorias no comportamento delas depois
de ter passado a noite lá. Eu as mantinha na linha desde o momento
que acordavam porque sabia que Brady certamente as deixaria
fazer o que quisessem.
“Reiniciando o dia!”, eu disse alegremente na cozinha. Removi
os adesivos do plano. “Mais um dia, uma nova oportunidade de
ganhar doces. E eu tenho uma grande surpresa para vocês!”
Os olhos de Micah se arregalaram. “O que é?”
“Comprei doces diferentes pro balde grande”, sussurrei, como
se fosse um segredo.
“De que tipo? Me deixe ver!”, Dustin tentou alcançar a
prateleira mais alta da despensa. Ele era quase um metro mais
baixo.
“Vocês vão ter que se comportar hoje pra descobrir”, eu disse.
“Conquistem essas estrelas!”
Asher estava assistindo a cena enquanto bebericava seu café.
Ele já estava vestido. Seu terno cinza servia nele perfeitamente e a
gravata azul estava presa à camisa com um clipe prateado. “Você
vale cada centavo, sabia?”
“Isso é coisa básica de babá”, respondi. “Só é preciso
consistência e paciência.”
“E nós não temos nada disso”, disse Brady. Ele se esticou
sobre o sofá onde as crianças estavam sentadas. “Mas sabe o que
nós temos?”
“O quê?”, Cora perguntou.
“Muito amor!”, Brady pegou Cora do sofá e a levantou no ar.
Ela gritou de animação enquanto ele a rodopiava como um
helicóptero pela sala e os meninos o seguiam, pulando para tentar
pegá-la.
Asher balançou a cabeça e riu para mim. “Tenha um bom dia
com as crianças.”
Sexo a três, minha mente interferiu. Você fez sexo a três com
Brady e uma mulher aleatória. Vocês enfiaram o pau nela ao mesmo
tempo. Você disse que foi muito bom. O que fez ser tão bom?
“Obrigada”, eu disse quando me dei conta de que não tinha
respondido ainda. Tenha um bom dia no trabalho.”
Rogan tinha trocado de roupa, mas, fora o cabelo penteado,
ele ainda parecia exausto. Ele sorriu para mim, então os três
disseram tchau para as crianças e desceram para o escritório.
Seguimos a rotina normalmente de manhã. Os meninos
estavam super comportados para conseguirem acesso à novas
guloseimas do balde grande. Os três ganharam estrelas pelo
comportamento vendo TV, durante a hora de desenhar e finalmente
pela hora do almoço.
“Desse jeito meus adesivos vão acabar!”, eu disse, colando
adesivos na tabela plastificada.
“Então consiga mais!”, disse Micah.
Depois de colocá-los na cama para o cochilo, digitei o código
na porta do escritório e entrei para usar o computador. Abri o
navegador e cliquei na barra de endereço e meus dedos foram até o
teclado para digitar Amazon.com.
Mas eu parei quando meu dedo tocou a tecla A.
O histórico de navegação apareceu.
E uma das páginas acessadas recentemente era um site
pornô.
Eu ri sozinha. Três homens adultos moravam ali. É claro que
eles assistiam pornografia. Eu já tinha pegado Maurice com a mão
na massa sozinho no apartamento. E ele era só um. Era três vezes
mais fácil acontecer agora.
Esse é o motivo real pelo qual a porta é protegida por senha,
pensei, sorrindo.
Eu estava prestes a continuar minha navegação quando vi uma
palavra entre uma das URLs.
Babá.
Como se estivesse se movendo por vontade própria, meu dedo
selecionou o link. A página se abriu na tela, com propagandas e
pop-ups se abrindo devagar.
Dei uma olhada para a porta antes de voltar para a tela. O
título tinha acabado de carregar.

BATENDO NA BABÁ SAFADA

Pornografia não era novidade para mim. Eu não assistia com


frequência, mas às vezes precisava me aliviar e relaxar. Mas ver o
histórico de busca de pornô de outra pessoa era como bisbilhotar
sua alma. Era evidência dos seus desejos mais profundos. Ou pelo
menos o desejo mais recente.
A babá estava usando uma saia xadrez, tipo uniforme de
colegial. Avancei o vídeo e ela estava sem saia, e sem o resto das
roupas também. A garota – babá – estava inclinada sobre o sofá e
sendo fodida por trás. O homem estava virado de lado o suficiente
para a câmera captar o que ele estava fazendo. Suas mãos
estavam esticadas e ele batia na sua bunda enorme e arrebitada,
deixando marcas avermelhadas na sua pele de porcelana.
Pensei em Rogan adormecido na cadeira naquela manhã. Ele
tinha ficado acordado a noite toda, mas ainda assim teve tempo de
chegar em casa e fantasiar sobre sexo comigo.
Era até meio fofo, se eu pensasse bem.
Peguei meu telefone para enviar uma mensagem a ele.

Heather: Pensei que você tinha dito que não tinha fetiche com
babás.
Rogan: Não tenho. Mas estou aberto a brincar, se você tiver
esse tipo de vontade.
Rogan: Talvez não hoje, eu mal consigo manter os olhos
abertos.
Heather: Acho que você está mentindo! Você quer bater na
babá safada que eu sei.
Rogan: Agora que você falou, me parece divertido. Vou fazer
algumas ligações e ver se encontro uma babá safada pra dar uns
tapas hoje à noite.
Heather: (emoji bravo)
Heather: Não tem nada errado em admitir. Eu gosto que você
esteja pensando em mim.
Rogan: Como eu disse, eu tenho fetiche com Heather Hart.
Você escolhe se quer ser babá, aeromoça ou garçonete.
Heather: Eu já fui garçonete. No Outback.
Rogan: E nós dormimos juntos antes de você virar babá. Viu
só? Fetiche por Heather Hart, não por babás.

Levantei meu telefone para tirar uma foto da tela do


computador. O homem a tinha virado e agora a estava chupando
por trás. Me lembrou do que Rogan fez na nossa primeira noite
juntos.
Antes que eu pudesse tirar a foto, ouvi um som que era
totalmente incomum naquela casa.
A campainha.
24

Heather

Abaixei meu telefone. O som era um toque de campainha


elegante, muito melhor do que a buzina do meu apartamento. Na
tela, a babá estava jogando o cabelo para trás e gemendo alto.
Fechei o site e saí do escritório. Pacotes eram sempre
entregues no escritório do andar de baixo, nada vinha direto para a
residência. Os pais eram paranoicos com tudo o que vinha pelo
correio, especialmente pacotes.
Então quem mais seria?
Olhei pelo olho mágico. O homem era alto e estava usando
terno. Ele parecia gentil e inofensivo, então abri a porta.
“Olá, posso te ajudar?”, perguntei.
Ele pode ter parecido um cara legal pelo olho mágico, que
distorce tudo, mas minha impressão desapareceu rapidamente. Ele
era careca, não por escolha, e tinha o rosto redondo e os olhos
também. Havia um vão entre seus dois dentes da frente, que ficou
mais pronunciado quando ele sorriu para mim.
“Os meninos decidiram contratar um deleite, não é mesmo?”,
ele perguntou com seu sotaque britânico. Não era exatamente um
inglês elegante, mas também não era muito londrino.
Olhei para ele e estiquei o braço para fechar a porta. “E assim
concluímos nossa breve discussão do dia. Seja lá quem você for,
pode voltar outra hora.”
Comecei a empurrar a porta, mas ele a deteve com o pé. Então
estendeu a mão e disse, “James Cardannon. Meus amigos me
chamam de Jimmy. Você pode me chamar de Jimmy, querida, se
prometer que seremos amigos.”
Seu sorriso era muito largo, o que não combinava com os
olhos ameaçadores. Ignorei sua mão esticada e disse, “Ouvi falar de
você. Você é o concorrente.”
Cardannon abaixou a mão e deu uma risadinha. “Heimdall
Segurança é a primeira empresa de segurança pessoal do
hemisfério oeste”, ele gesticulou. “Essa pequena empresa não é
nossa concorrente. Eles são só pequenos marsupiais numa savana
cheia de leões.”
“Eles também de disseram que você é um cuzão!”, eu disse. “É
uma competição desleal.”
“Você é maravilhosa!”, Cardannon riu e espiou dentro da casa.
“Não é a empregada, eu acho. Suponho que suas habilidades são
outras. Se você quiser vir trabalhar para mim…”
Ok, agora é oficial. Odeio este cara.
“Sou a babá dos filhos deles”, eu disse docemente. “Se algum
dia alguma pobre mulher deixar você enfiar seu pau murcho nela,
talvez você vá precisar dos meus serviços alguns meses depois.”
Para meu desalento, Cardannon não reagiu à provocação.
“Tenho seis filhos. São anjos perfeitos. Foram concebidos
naturalmente, é obvio. Não pequenos Frankensteins que vieram de
um tubo de ensaio.”
Levou um momento para que eu me desse conta de que ele
estava falando de Micah, Dustin e Cora.
Atravessei a sala e comecei a revirar minha bolsa. “Você está
procurando seu cartão?”, Cardannon perguntou. “Sinto dizer que
estava brincando sobre te contratar. Minha babá é muito
qualificada.”
Encontrei o que procurava dentro da bolsa e o levantei no ar.
“Estava procurando meu taser. Porque quando eu terminar com
você – só vou parar quando a bateria acabar – suas bolas vão
parecer uvas passas murchas e queimadas.”
Deixei escapar um rugido quando voltei para a porta, onde
Cardannon continuava sorrindo para mim. Ele não achou que eu
fosse capaz de fazer isso.
Errou rude.
Enfiei os dentes eletrônicos do taser na sua virilha e apertei o
gatilho. Seu sorriso desapareceu e foi substituído prontamente por
surpresa e na sequência, dor. Ele fez o barulho de um patinho de
borracha sendo mastigado por um Rottweiler e caiu contra a parede.
“Piranha maldita!”, ele me xingou, segurando a virilha. Um
rastro de fumaça plainou da marca de queimado na perna esquerda
da sua calça.
Sorri. “Acho que atingi sua coxa sem querer. É difícil atingir um
alvo tão pequeno. Mas estou disposta a tentar de novo”, levantei o
taser e puxei o gatilho, o que fez um arco de eletricidade entre os
dois dentes.
Uma porta bateu no andar debaixo. Rogan subiu correndo
seguido por Brady e Asher.
“Desculpa pelo barulho!”, eu disse. “Esse cara grita como a
Cora, só que mais agudo.”
“Nós vimos o alerta de segurança quando a campainha tocou”,
disse Rogan, se movendo para ficar entre Cardannon e eu.
Brady parou no topo da escada e riu. “Você precisa sair mais
de casa, Jimmy. Você parece mais pálido do que a bunda do
Gasparzinho.”
“Brady Lowe”, disse Cardannon, com a voz de volta à oitava
normal. “Encantador, como sempre.”
Brady fungou. “Alguma piranha apagou o cigarro na sua virilha
de novo? Você precisa encontrar fetiches mais seguros, cara. Quem
sou eu para julgar, mas seus gostos são estranhos.”
Asher viu o taser na minha mão e de repente parecia que havia
virado uma chave: ele agarrou o colarinho de Cardannon e o
empurrou contra a parede com força.
“Você encostou nela?”, ele urrou. “Se sim, que Deus me
ajude…”
“Está tudo bem!”, interrompi. “Ele não me encostou.”
“Sua babá psicopata me deu choque do nada.”
Cerrei os dentes. “N vou repetir o que ele disse, mas ele
insultou as crianças.”
Brady olhou para mim. “Você o eletrocutou por causa de algo
que ele disse?”
Senti a vergonha invadindo meu corpo. Se Brady achou que foi
demais…
“Mandou bem pra caralho!”, ele disse, levantando sua mão
para me cumprimentar. A palma de sua mão bateu na minha com
força. “Vamos te dar um aumento.”
Rogan olhou para ele, então afastou Asher de Cardannon.
“Você vai nos contar o porquê de ter vindo aqui?”
“Cansou de dar ordens aos comedores de cocô na Heimdall?”,
Brady acrescentou.
Cardannon ajeitou as calças. Sua virilha não estava mais
soltando fumaça, mas o tecido tinha sido danificado. Aquilo me fez
sorrir ainda mais.
“Ouvi dizer que vocês estavam paranoicos no jogo dos Lakers
semana passada. Então decidi vir tratar do assunto pessoalmente”,
ele tentou intimidar Rogan, mas era difícil com aquela calça
queimada. “Você honestamente acha que eu enviaria agentes de
segurança para assediá-los?
Rogan endureceu. “Como você ouviu dizer?”
O mesmo sorriso de escárnio que Cardannon tinha me dado
quando chegou surgiu no seu rosto. “O diretor de RP dos Lakers me
contou. Tivemos uma reunião essa manhã. Ele nos contratou por
dois anos. Não deve ter ficado impressionado com suas habilidades.
Acho que houve algum tipo de invasão à sua cabine?”
Fiz uma careta. Toda a satisfação que tive em dar um choque
naquele babaca desapareceu.
“Foi um pequeno mal-entendido”, disse Rogan. “Não foi nada.
Amirah Pratt estava lá e nos contratou no dia seguinte.”
“Estou ciente das circunstâncias únicas da Senhorita Pratt”.
Cardannon torceu seus lábios carcomidos. “Deixei claro a ela que
quando vocês falharem com ela – e vocês vão falhar –, ela pode me
ligar para receber um nível maior de proteção.”
“Que diabos você sabe sobre as circunstâncias dela?”, Brady
perguntou.
De repente ouvimos um barulho dentro da casa. Pela porta
entreaberta, vi Dustin e Micah correrem para fora de seus quartos.
Eles começaram a se perseguir pela sala de estar, gritando.
Corri para dentro para os acalmar, mas ouvi Cardannon rir e
falar, “Vocês não conseguem manter nem seus próprios filhos na
linha. Anotem o que estou dizendo: Heimdall vai tirar essa
palhaçada de vocês do ramo rapidamente. Vocês são uma pequena
pedra no meu sapato, mas eventualmente serão esfarelados pelo
meu pé. Não vai sobrar nem fumaça.”
“Eu não faria piadas com fumaça, cara”, disse Brady. “Parece
que você tem queimaduras de segundo grau aí embaixo.”
Quando consegui acalmar Micah e Dustin, Cardannon tinha
saído e os três pais estavam conversando na sala de estar. Cora
saiu do seu quarto com o cobertor em uma mão e um pinguim de
pelúcia na outra. Brady a pegou no colo e beijou sua testa.
“Ouvimos um barulho!”, Micah reclamou comigo. “Nos acordou,
por isso viemos aqui!”
“Por favor, não tire nossa estrela da soneca, Senhorita
Heather”, Dustin disse com a voz mais inocente que pode.
“Prometemos ser melhores na próxima vez.”
Suspirei. “Vocês têm razão! Não foi culpa de vocês, foi minha”,
eu olhei para Rogan. “Me desculpem por tudo.”
Rogan esfregou um olho. Ele parecia cansado. “Não é sua
culpa.”
“Bem, o incidente na cabine foi”, eu disse. “Se não fosse
aquilo…”
Brady se aproximou e riu. “Você já corrigiu o erro dando um
choque naquele escroto. É sério, Rogan, ela deveria receber um
aumento por isso. Ou um bônus.”
Era muito tarde para fazer as crianças dormirem de novo,
então os levei de volta para seus quartos para que eles se
trocassem e fossemos brincar do lado de fora.
Apesar das garantias que Rogan me deu, me senti culpada por
ter invadido a cabine deles pelo resto da tarde.
25

Rogan

“De novo?”, Asher me perguntou. “Rogan…”


Estávamos sentados na sala de conferência do andar de baixo,
revisando todas as ameaças recentes na segurança digital. Apesar
de estarmos empregados por setenta e quatro clientes, a maior
parte da reunião foi dedicada a Amirah Pratt.
Porque, entre todo mundo que nosso exército de guarda-
costas protegia, ela estava recebendo mais de cinquenta por cento
das ameaças online.
“De novo”, insisti. “E todas as noites até eu ter certeza de que
ela está segura.”
“Se estamos tão preocupados, então por que não colocamos
vários guarda-costas para vigiá-la?”, Asher perguntou. “Cooper é um
profissional. Ele não vai se chatear se atribuirmos outras pessoas à
missão.”
Chacoalhei a cabeça. “Não confio em mais ninguém. Pratt é
muito importante. Temos que fazer de tudo para protegê-la e mantê-
la nossa cliente.”
Asher removeu os óculos, os limpou na manga e os colocou de
volta no rosto. “Amirah Pratt é uma cliente de grande visibilidade.
Concordo com sua observação. Mas perdê-la não vai fazer nosso
negócio afundar. Estamos em um bom momento financeiramente.”
Toquei a ponta do meu nariz. Por que eles não estavam
entendendo? “Não estou falando sobre o agora. Estou pensando no
amanhã. Na semana que vem. No mês que vem. Você ouviu
Cardannon. Os Lakers o contrataram. É um grande feito. Se algo
acontecer à Amirah Pratt, não somente a perderemos como cliente.
Sofreremos humilhação pública. Isso vai chocar a indústria e
ninguém mais vai nos contratar.”
“Também é ruim pra própria Amirah se algum psicopata
conseguir entrar no seu quarto”, disse Brady, “Isso vai assustar a
pobre garota pro resto da vida.”
“É claro!”, eu disse. “Não precisa nem falar. Queremos proteger
nossos clientes porque é nosso trabalho, mas Amirah é importante
especialmente pro sucesso dessa empresa a longo prazo. Vou
voltar pra casa dela essa noite.”
“Então, merda, deixa que eu vou”, Brady sugeriu. “Você pode
confiar em mim mais do que em qualquer Joe Schmo que trabalha
pra nós. E você está com a aparência de quem precisa de uma boa
noite de sono. Sem ofensas.”
“Vou ficar bem”, eu disse. “Você pode entrar no rodízio e vigiá-
la amanhã à noite, se o nível de ameaças ainda estiver alto nas
redes sociais.”
Brady deu de ombros. Me virei para Asher. Depois de um
momento, ele acenou, relutante.
“Preciso de mais café”, eu disse, dando uma desculpa para sair
da sala de conferência.
Asher me alcançou no meio do corredor. “Não pude deixar de
notar, mas você não está muito afetuoso com a Heather desde que
ela se mudou.”
“Eu não estava aqui ontem, lembra?”, eu disse. “Nós
literalmente acabamos de ter uma reunião sobre isso.”
Asher me olhou pacientemente.
Parei na frente da máquina de café e suspirei. “Desculpa. Eu
fico de mau humor quando estou cansado.”
“Eu não disse fazer sexo”, Asher clarificou. “Eu disse estar
afetuoso. Você teve várias oportunidades de mostrar afeto e se
absteve.”
Enchi uma caneca de café e então coloquei muito creme
dentro. “Estou colocando os interesses do grupo acima dos meus
próprios. Como já havíamos discutido.”
“Não me incomoda”, disse Asher. “Vocês dois podem fazer o
que quiserem na casa. Eu estava falando sério.”
“E você pode fazer o que quiser com Heather”, eu disse. “Eu
também estava falando sério.”
Asher franziu a testa atrás dos óculos. “Eu tenho considerado
isso. Veremos.”
Bebi meu café e terminei o que tinha para fazer. Naquele
momento, com setenta e quatro empregadores sob nossa guarda, a
maioria do trabalho era administrativa. Monitorar orçamento, lidar
com pagamentos, lidar pessoalmente com clientes mais exigentes.
Eu tinha três dígitos de e-mails para responder.
Num piscar de olhos, já tinha passado das seis horas. Os
escritórios de Asher e Brady estavam escuros. Fechei meu laptop e
fui para cima.
Passei alguns minutos brincando com as crianças – aquilo
sempre melhorava meu humor, não importa o quão difícil meu dia
tivesse sido – e então troquei de roupa. Jeans, uma camiseta e uma
jaqueta leve porque a previsão era de chuva. Me lembrando do que
Asher disse, perguntei a Heather se ela tinha um minuto.
Ela me seguiu até o andar de baixo e nos encostamos no
carro. “O que houve? Algo errado?”
“Algo está muito errado”, dei um beijo profundo nela,
segurando seu corpo quente contra o meu por tanto tempo que
comecei a me arrepender de não ficar em casa naquela noite.
“Eu não faço aquilo com você já tem alguns dias”, eu disse.
“Isso está muito errado.”
Heather sorriu para mim. “Se todos os problemas do mundo
fossem tão fáceis de resolver.”
“Imagina.”
Ela ficou na ponta dos pés para me dar um último beijo. “Se
cuida essa noite. Me manda uma mensagem se ficar entediado.
Estarei acordada.”
Amirah Pratt morava a trinta quilômetros da cidade, no vale, o
que significava uma hora de carro, graças às rodovias
congestionadas de Los Angeles. Minha mente foi para longe
enquanto estava dirigindo. Só tinha ficado com as crianças por dez
minutos naquele dia. Quinze, se contasse a pequena viagem que fiz
ao andar de cima quando Cardannon estava lá.
Eu sabia que trabalhava muito. Nós todos. E nós amávamos
nossos filhos – o tipo de amor que era profundo, desesperado e
inabalável – e nós queríamos passar mais tempo com eles. Aqueles
primeiros anos eram especiais e nós estávamos perdendo.
“Mais um ano ou dois”, eu disse em voz alta como se isso
fosse tornar realidade. Dentro de um ou dois anos a empresa seria
tão grande que nós três poderíamos ter mais tempo de folga e os
outros gerentes tomariam conta de tudo. Nós ainda seriamos os
donos, mas não precisaríamos nos envolver tanto. Poderíamos
fazer o que quiséssemos.
Seria muito bom.
Mas ainda não tínhamos chegado lá. A companhia dava lucro –
bastante – mas aquilo podia mudar em um piscar de olhos. E
mesmo que nosso próprio fundo de aposentadoria privado estivesse
aumentando rapidamente, ainda não estávamos naquele ponto de
apenas parar de trabalhar e aproveitar. Precisávamos garantir que a
empresa continuaria sua trajetória ascendente.
Só um pouquinho mais. Senti que já fazia uma década que eu
falava aquilo. Só mais uma missão. Só mais um destacamento. Só
mais uma patente. Só mais um ano para nos certificarmos que a
HLS Segurança obteria sucesso. Quando aquilo ia acabar? Haveria
um pote de ouro no final daquele arco-íris ou eu estava fadado a
sempre querer coisas que estavam fora do alcance?
Cheguei na casa de Amirah e digitei meu código no portão. Ela
morava em um lote de dezesseis mil metros quadrados com uma
parede de estuque de dois metros e meio rodeando a propriedade.
Estacionei na garagem e então montei minha tocaia por perto. A
garagem me permitia ver a ala da casa onde ficava o quarto de
Amirah. Se alguém tentasse chegar lá vindo do lado de fora, eu
veria.
Peguei o comunicador e mudei a frequência. “Cooper, aqui é
Holt. Estou à postos.”
“Tudo em ordem por aqui, chefe”, Cooper respondeu depois de
apenas dois segundos de hesitação. “Ameixa Preta está no quarto
vendo TV. Me avise se avistar algo estranho.”
Ameixa Preta era nosso codinome para Amirah Pratt.
“Positivo. Me avise se ficar com fome. Comprei um saco de
cocô fresquinho para você.”
Uma risada brotou do rádio. “Vai a merda, Senhor.”
Cooper era marinheiro reformado. Eu tentava não fazer piada,
apesar de ocasionalmente insinuar que eles são burros, comem
cocô ou que só entraram na Marinha porque não conseguiram se
tornar fuzileiros.
Desliguei a luz do meu carro e bebi meu café. Eu meio que
gostava de estar ali, fazendo o trabalho de verdade. Não era o
mesmo nível de intensidade das missões como fuzileiro, nem de
longe. Mas era melhor do que ficar sentado atrás de uma mesa
puxando o saco de clientes em potencial.
Eu sentia que eu era bom no que fazia.
A lua vagarosamente apareceu no céu enquanto eu vigiava a
propriedade de Amirah. As nuvens rolavam na escuridão e o vento
começou a chacoalhar as árvores. Trovões eram raros em Los
Angeles, mas parecia que naquela noite eles apareceriam.
Esperançosamente, aquilo deteria qualquer um que estivesse
pensando em tentar fazer algo contra Amirah.
Acessei o painel de segurança do meu celular. Amirah tinha
recebido seis novas ameaças de seis contas diferentes no
Facebook. Todas elas mencionavam visitá-la durante a noite
enquanto ela dormia. Asher tinha feito uma pequena investigação e
descobriu que elas todas vinham de dispositivos roteados por VPN,
o que escondia os pontos de origem. Suspeitamos que todas
haviam sido enviadas pela mesma pessoa usando contas
diferentes.
No decorrer destes anos desde que fundamos a empresa, eu
já tinha visto todos os tipos de ameaças. A maioria delas era
bobagem. Atuação. Se um pervertido quisesse invadir a casa de
uma atriz e se masturbar em cima da sua gaveta de calcinhas, ele
não a alertaria antes. Ele apenas o faria.
Mas aquelas ameaças eram diferentes. Elas causavam um nó
no meu estômago que não conseguia ignorar, mesmo com Asher e
Brady pensando que eu estava exagerando.
Cheguei aonde cheguei confiando nos meus instintos, pensei
enquanto tomava café. Não vou parar agora.
Abri minhas mensagens de texto e enviei algo para a Heather.

Rogan: Seria mais divertido se você estivesse aqui.


Heather: Se eu estivesse aí, provavelmente te distrairia.
Rogan: Por isso que seria divertido.
Heather: Tô com saudade. Especificamente das coisas sujas
que você fez comigo no Four Seasons.
Heather: É estranho dizer isso? Tem só um dois dias desde
que demos uns amassos, mas parecem ANOS.
Rogan: Também tô com saudade das nossas aventuras
noturnas. Espero que possamos retomá-las logo.
Heather: Eu sou tipo uma gata. Preciso de mimos todos os
dias ou fico mau humorada.
Rogan: Prometo te fazer ronronar em breve. Com sorte,
amanhã.
Heather: Amanhã vai demorar muito. Quero você agora.
Rogan: Você pode querer o que quiser, isso não muda nada.
Heather: Nem se eu fizer um beicinho SEXY, como um bebê
que faz pirraça?
Heather: Esquece isso! Não acho que isso é sexy. Nunca
entendi por que algumas pessoas gostam dessas coisas.

Sorri ao ler a mensagem e me perguntei o que dizer a seguir.


Eu deveria sugerir o que tinha falado para o Asher? Eu não sabia
como Heather reagiria.
“Hora de descobrir”, eu disse em voz alta, escrevendo uma
mensagem. “Agora não dá mais pra voltar atrás.”
26

Rogan

Hesitei, mas enviei.

Rogan: Se você não puder esperar até amanhã, Asher ou


Brady podem te fazer companhia.
Heather: HAHAHA!
Rogan: É sério. Ambos gostam de você. Não sei se alguém já
te falou, mas você é ridiculamente gostosa. Eu não me importo se
eles tomarem conta de você até eu voltar.

Demorou um longo tempo para Heather responder. A


mensagem de texto dançou, desapareceu e depois dançou
novamente na minha tela de novo. Me perguntei se tinha ido longe
demais. Minha sugestão era realmente insana?

Heather: Ok, chega de brincadeira. Eu não sei mesmo se é


piada ou se você tá falando sério.
Rogan: Nós dois concordamos que isso é apenas físico.
Nenhum de nós quer um relacionamento sério. Se você quer dormir
com outras pessoas, eu entendo.
Heather: Tá, mas e aí? Eles são seus sócios.
Rogan: Mais uma razão pra confiar neles com você. Muito
melhor do que com algum estranho aleatório em uma noitada.
Heather: Ei, já faz muito tempo que eu não vou à caça na
noite. Eu tenho amor-próprio!
Rogan: Ficarei pensando no que quero fazer com você na
próxima vez que estivermos os dois em casa. Enquanto isso, divirta-
se com os rapazes. Se você quiser.
Heather: Cuidado! Eu posso levar isso a sério.
Rogan: Espero que sim. Desde que você não perca o
interesse em mim!
Heather: Não se preocupe. Não tem a menor chance disso
acontecer. ;-)

Devo admitir que eu senti um pouco de ciúme da possibilidade


de Asher ou Brady darem uns amassos em Heather naquela noite.
Mas não era o tipo de ciúme que resultava da posse. Era mais
inveja, porque eles estariam se divertindo em casa enquanto eu
estava ali preso dentro do carro, vigiando a casa de uma cliente no
meio da noite.
Mas realmente falei sério quando disse que preferia que
Heather dormisse com os dois homens a quem eu confiava minha
própria vida do que com um camarada aleatório de um bar qualquer.
Asher, Brady e eu tínhamos passado por poucas e boas juntos.
Tínhamos dividido barracas, sacos de dormir e até mesmo cavernas
em Kandahar. Dividir uma mulher não seria um problema.
De repente, vi movimento no perímetro do muro. Todos os
pensamentos sobre Heather desapareceram e a parte tática do meu
cérebro foi ativada. Fiquei imóvel dentro do carro calculando a
distância.
Um segundo se passou, depois dois. Será que eu tinha
imaginado? As árvores estavam balançando por causa do vendo e
as primeiras gotas de chuva começaram a bater no meu para-brisa.
Eu estava cansado, e nossa mente costuma nos pregar peças
quando não dormimos bem. Talvez eu devesse ter pedido a Brady –
Ali. Mais movimentos ao longo da parede, da direita para a
esquerda. Um vulto.
Segurei o comunicador perto da boca. “Cooper. Reporte sua
posição atual.”
“Não me movi, chefe. Mesa de jantar, para poder manter os
olhos na porta do quarto da Ameixa Preta.”
O vulto não era Cooper patrulhando o perímetro. Era outra
pessoa.
“Algo de errado, chefe?”
“Fique alerta, Cooper. Vou verificar.”
Saí do carro devagar e encostei a porta gentilmente para evitar
qualquer barulho. Puxei o colarinho da minha jaqueta para cima
para me proteger da chuva, que estava ficando mais forte.
Me agachei e segui a figura na direção da casa.
A chuva disfarçava o som dos meus passos, mas também não
me deixava ouvir o intruso. Me movi na diagonal para interceptá-lo,
observando o vulto através das árvores. Havia longos períodos em
que ele desaparecia por trás do tronco de uma delas e eu ficava por
alguns segundos sem poder vê-lo. Eu tinha que supor onde ele
estava.
Diminuí o ritmo quando ambos chegamos perto da casa. A
janela do quarto de Amirah estava a quinze metros, totalmente
escura. O intruso estava definitivamente indo naquela direção.
Verifiquei minha pistola para desarmar a trava de segurança,
mas a mantive no coldre. De acordo com as leis da Califórnia, eu
poderia usar força letal como autodefesa ou em defesa de outros,
desde que em casos de perigo iminente. Se o intruso fosse só um
voyeur com um binóculo, eu o conteria e chamaria a polícia. Mas se
ele estivesse armado…
Perdi o vulto de vista atrás de uma árvore, mas continuei
andando. A chuva batia na minha jaqueta e ensopava minhas
roupas, mas eu não me dei conta no momento. A única coisa que
me preocupava era o vulto do outro lado da árvore, que estaria
cinco metros na minha frente logo que eu contornasse o tronco.
Logo que o fiz, topei com um vulto que não deveria estar ali.
Ele gemeu de surpresa enquanto eu recuperava o equilibro. Uma
luz se acendeu e, por um momento breve, tudo parecia estável. A
figura com a qual eu topei era um homem usando um sobretudo e
segurando um longo rifle apontado para a casa.
Ele reagiu com a velocidade de um expert, movendo o rifle na
minha direção e desativando a trava de segurança de uma só vez.
Chutei a arma, na altura do gatilho. Senti seus dedos sendo
triturados pelo meu chute, e o homem gritou, soltando o rifle.
Estiquei o braço para pegar a arma, mas o intruso sacou sua
faca antes que eu pudesse fazê-lo. Dei um pulo para trás e ouvi a
lâmina cortar o ar onde meu pescoço estava segundos antes. Dois
novos golpes me forçaram para trás e o homem mirou na minha
barriga. Ele foi tão rápido que quase não consegui impedir que
minhas entranhas fossem parar nas flores amarelas de Amirah.
O homem era bom e eu estava cansado e lento. Mesmo com a
adrenalina pulsando pelo meu corpo, eu não conseguia tirar a
pistola do coldre. Tudo o que eu conseguia fazer era evitar os
golpes da sua faca.
Meu sapato ficou preso em uma raiz alta e eu tropecei. O
homem tentou aproveitar a oportunidade, mas logo que atingi o
chão, girei para o lado, antecipando o movimento. A faca cortou
minha jaqueta como se fosse papel e eu senti um calor no meu
braço.
Ignorei e cerrei os dentes. Eu não havia sobrevivido todos
aqueles anos no Afeganistão para ser morto por um lunático
perseguidor de celebridade.
O golpe seguinte errou meu rosto por milímetros, então decidi
que tinha que tentar a sorte. Saltei para a frente, diminuindo a
distância entre nós e agarrando o braço que segurava a faca. Nós
dois rolamos pelo chão, lutando para ficar por cima.
Ele podia ser mais rápido, mas eu era mais forte. Com um
rugido eu o virei de lado e segurei seu braço na lateral do seu corpo,
então dei-lhe uma cabeçada no rosto. A cartilagem do seu nariz
cedeu com a força da minha testa e o homem gritou.
Agarrei a faca e a joguei longe, então soquei o rosto do homem
duas vezes. Finalmente, alcancei minha pistola no coldre e a
pressionei contra seu peito. A chuva escorria pelo meu rosto e
atingia dele, que estava vermelho com o sangue.
“Quem diabos é você?”, urrei.
Ele cuspiu em mim.
“Resposta errada”, eu disse, pegando meu comunicador. Não
vi o que me atingiu por trás, só senti a visão escurecer. Então o solo
se aproximou e atingiu um dos lados do meu rosto. Tudo girava
como se eu estivesse bêbado.
“Peguei a arma”, um dos homens sussurrou. “Vamos.”
“Minha faca!”, o outro reclamou.
“Não temos tempo. Vamos!”
Não sei quanto tempo fiquei ali caído. Estava totalmente
ensopado quando consegui ficar de joelhos com as mãos no chão.
A terra estava escorregadia quando fiquei de pé e eu precisei usar
as mãos para manter o equilíbrio.
“Cooper”, eu disse no comunicador. “Dois suspeitos estão
fugindo da propriedade. Eles estão armados.”
“Qual é a rota deles?”
“Não consegui detectar”, disse firmemente, analisando o chão.
“Fique com a Ameixa Preta e chame a polícia.”
“Você está bem, chefe?”
“Estou vivo. Fui atingido na cabeça antes deles fugirem.”
“Merda”, Cooper xingou. “Não acredito que eles escaparam.”
O flash de um relâmpago cortou o céu, iluminando um pedaço
de metal no chão. Peguei a faca que eles tinham abandonado.
“Sim, é uma merda”, eu disse. “Mas eles esqueceram algo
importante.”
27

Heather

Eu reli a mensagem de Rogan aproximadamente cinquenta


zilhões de vezes. Ele estava realmente sugerindo que eu dormisse
com Asher ou Brady?
Claro, eles eram gostosos. Eu gostava dos dois e estava
pensando na história do sexo a três. Mas daí para Rogan
imediatamente sugerir que eu dormisse com eles era um passo
muito grande. Homens são ciumentos e possessivos. Especialmente
os ex-fuzileiros navais.
Rogan também disse que ambos gostavam de mim.
Obviamente já havia notado a forma como eles me olhavam. E, sem
falsa modéstia, eu era uma jovem muito atraente. Mas isso não
significava que eles gostavam de mim. Só que eles apreciavam
minha aparência física. Grande diferença. E ainda havia uma grande
diferença entre apreciar minha aparência física e querer dormir
comigo.
Foi quando lembrei do filme pornô que vi no computador.
“Não foi coisa do Rogan, afinal!”, falei.
“Cora se virou para me olhar. “O quê?”, eu estava trançando
seus cabelos antes dela ir para a cama.
“Ah, nada, Coralina!”, eu disse. Ela riu do apelido e se virou de
volta.
Não foi Rogan quem assistiu a pornografia no escritório. Brady
ou Asher tinham assistido, ido para a cama e então Rogan entrou no
escritório a seguir. Foi por isso que ele negou quando perguntei.
Brady ou Asher estão tendo fantasias sexuais comigo.
Era provavelmente Brady. Ele parecia o tipo de cara que faria
aquilo. Tomar umas cervejas comigo depois do jantar e então ir para
o escritório depois que eu fosse para a cama. Eu podia vê-lo na
cadeira, assistindo o filme pornô da babá e se tocando…
Devo admitir que aquilo me excitou. Eu gostava de ser
desejada. São pensamentos humanos, afinal de conta.
Terminei de trançar o cabelo de Cora e coloquei as crianças na
cama. Eles dormiram rápido naquela noite. O jogo de beisebol do
lado de fora os deixou exaustos. Eu estava começando a achar que
conseguiria manter os meninos sob controle, afinal.
“Aí está nossa babá favorita!”, Brady disse quando entrou na
área de lazer. Era próxima do escritório e tinha uma combinação
para destrancar a porta também, já que era onde ficava o bar. Brady
levantou uma coqueteleira. “Quer um Uísque sour?”
“Eu adoraria um”, respondi. E acrescentei. “Duplo.”
Brady soltou um assobio e disse, “Sim, madame. Em um
momento.”
Entrei na área. Um projetor que pendia do teto estava exibindo
um jogo dos Lakers em uma das paredes. Asher estava sentado no
sofá, com um coquetel na mão. Ele o ergueu na minha direção, me
cumprimentando.
Foi você? Me perguntei enquanto me sentava no sofá perto
dele. “Quem está ganhando?”
“Os Lakers estão seis pontos atrás”, ele disse. “Mas ainda
temos muito tempo.”
Brady apareceu atrás do sofá e me deu um copo cheio de
bebida. “Para a donzela.”
“Brady foi bartender em outra vida”, Asher explicou. “Ele não
tem muitas habilidades, mas misturar coquetéis é uma delas.”
“Cara, valeu, mano!”, Brady disse se sentando ao meu lado no
sofá. Ele brindou comigo. “Que merda. Oito pontos de diferença?”
“Parker perdeu uma oportunidade ótima!”, Asher respondeu.
Brady gemeu. “Preguiçoso filho da puta.”
Assistimos o jogo bebericando nossas bebidas por um tempo.
Eu gostava de estar entre eles no sofá, seus cheiros invadiam
minhas narinas. Asher tinha afrouxado a gravata, mas ainda usava
seu terno. Brady tinha se trocado e usava jeans e uma camiseta
velha dos Backstreet Boys.
“Sério?”, eu disse, apontando meu drink para sua camiseta.
“Backstreet Boys?”
Ele olhou para si mesmo. “Ah, sim. Não me dei conta que
estava usando isso.”
“Depois do acampamento, nosso comandante deu essa
camiseta pro Brady. Porque Brady era superinteligente.”
“Naturalmente”, eu acenei.
“Ele o fez usar a camiseta sempre que estávamos em terra.
Todo o resto do batalhão se vestia perfeitamente, querendo se dar
bem enquanto Brady entrava no bar usando jeans e sua camiseta
dos Backstreet Boys.”
Brady tomou um gole longo do seu drink. “Pior para eles. Eu
não tenho vergonha. Amo essa camiseta, porra.”
Ri e tomei um gole do meu próprio coquetel. Era forte como eu
havia pedido e eu me sentia muito bem naquele momento. Assim
como eles. E o filme pornô não saia da minha cabeça.
“Jimmy Cardannon é um grande cuzão, hein?”, eu disse.
“Agora você entende porque não gostamos dele”, Asher disse
com uma careta. “Não é só porque ele é nosso concorrente.”
“Uma coisa é ele insultar vocês”, eu disse, “mas outra é ele
insultar as crianças. Eu queria tê-lo fritado uma segunda vez.”
Brady latiu uma risada. “Uma vez está de bom tamanho. Vou te
dizer, Heather. Eu já gostava de você antes. Você é ótima com as
crianças! mas ver aquele inglês filho da puta agarrando o saco
enfumaçado? Foi ali que eu soube que você é especial.”
Ele esticou um braço pelo encosto da poltrona e tocou meu
ombro. Seus dedos permaneceram ali por um momento antes dele
os retirar. Era um gesto totalmente platônico, do mesmo tipo que ele
faria com um cara.
Mas eu não podia evitar pensar naquilo de forma diferente.
“É uma droga eles terem conseguido o contrato com os
Lakers”, eu disse.
Brady deu de ombros. “Não podemos fazer nada.”
“Não consigo parar de pensar que foi minha culpa. Porque
invadi a cabine naquela noite.”
“A decisão deles de contratar a Heimdall não teve nada a ver
com você”, Asher respondeu quietamente. “Cardannon estava só
tentando nos atingir. Não funcionou conosco, não deixe funcionar
com você.”
Sorri e disse, “Ainda sinto que devo compensá-los de alguma
forma.”
“Você está compensando cuidando dos trigêmeos”, Brady
disse. “Dustin foi dormir ontem sem pular na cama ou jogar
brinquedos pelo chão. Você merece cada centavo.”
Asher consentiu. “Concordo! Você não precisa fazer mais nada
para nos compensar.”
Eu tinha outra coisa em mente, pensei.
Bebi o resto do meu coquetel e então deixei escapar o tópico
que estava preso na minha cabeça a tarde toda.
“Então”, eu disse, casualmente, “qual de vocês estava
assistindo pornografia no escritório ontem?”
Brady quase cuspiu seu uísque pelo nariz. A boca de Asher se
abriu vagarosamente de surpresa.
“Eu gostaria de manter meus hábitos de pornografia privados,
muito obrigado.”, Brady disse. “Mas agradeço o interesse.”
Não faz sentido parar agora. É melhor eu continuar.
“Se você quer manter isso privado, devia apagar seu histórico
de navegação”, respondi. “Ou pelo menos usar uma janela anônima.
Deixar o histórico ali na noite passada? Vamos lá, cara. Erro de
iniciante.”
O belo rosto de Brady se contorceu, confuso. “Noite passada?
Não que seja da sua conta, mas eu não esvaziei a bolsa ontem.”
O encarei ceticamente. “Ah, sério? Você não assistiu um vídeo
em que uma babá safada levava uns tapas?”
Brady riu. “Não que eu me lembre!”, ele olhou por cima da
minha cabeça, para Asher. “E você? Você deu uma coça no
suspeito ontem à noite?”
Nunca suspeitei de Asher – não mesmo – até eu ver seu rosto
corar. Ele virou o resto da sua bebida em três longos goles, então
ficou de pé e foi até o bar.
Eu me engasguei. “Foi você!”
O homem loiro evitou meu olhar enquanto se servia de outra
bebida. Ele nem precisou da coqueteleira, encheu seu copo com
uísque puro. “Não sei sobre o que, hm, você está falando.”
Ele estava claramente envergonhado. Merda, eu não podia
culpá-lo. Ser pego quase literalmente com a mão na massa é muito
humilhante. Especialmente para um cara calado como Asher. Eu
devia ter ficado quieta.
Mas eu não conseguia parar de pensar no que Rogan tinha
sugerido. E eu não queria ir para a cama na vontade.
Me virei no sofá para olhar para ele. “Você estava tendo
fantasias comigo, tá tudo bem.”
Asher se virou. Toda a cor tinha sumido do seu rosto. Ele
segurava o copo de uísque perto dos lábios, como se fosse um
escudo contra minhas palavras.
“Está tudo bem, amigão!”, disse Brady. “Heather é gostosa para
caralho. Eu também fantasiaria.”
“Quer dizer que você ainda não pensou nisso?”, perguntei.
Brady levantou uma sobrancelha. “Ainda não. Mas se você
continuar me olhando assim, vou esvaziar minha agenda.”
Asher virou seu uísque e colocou o copo no balcão. “Acho que
vou pra cama.”
Merda. Eu o envergonhei.
Pulei do sofá e fui na direção dele. “Não! Me desculpe. Eu não
estava tentando enquadrá-lo. Por favor, fique!”, segurei seu braço.
Ele era mais forte do que Rogan.
“O jogo acabou”, disse Asher, acenando para a TV.
Eu me considerava ousada. Quando eu queria algo, eu ia atrás
sem hesitar. Merda, foi assim que cheguei naquela posição, para
começar, invadindo o camarote deles no jogo.
Mas parei para pensar naquele momento. O trabalho de babá
era bom. Além do dinheiro, eu impulsionaria minha carreira no fim
do contrato. Também morava naquela casa legal, ao invés daquele
apartamento apertado. Dois coelhos com uma cajadada só.
Dormir com Rogan era uma coisa, dormir com Asher, outra.
Coisas mais complexas levariam a problemas mais sérios. Fazer
isso poderia comprometer meu trabalho. Era uma péssima ideia.
Tudo aquilo passou pela minha cabeça, mas parei de pensar
imediatamente.
Eu queria aquilo desesperadamente. Ele também. E eu não iria
me privar de algo bom.
Coloquei a mão no peito de Asher. Seu coração batia forte
como um tambor.
Ele me encarou com seus olhos azul-cristal. “O que você está
fazendo?”
“Eu te disse, quero compensá-los pelo incidente no jogo. Se
você quiser que eu pare, é só dizer.”
Me levantei e pressionei meus lábios contra os dele. Eles
estavam quentes e molhados, com gosto de uísque. E famintos.
Asher me beijou de volta com o mesmo desejo que eu.
Os braços de Asher me envolveram, me abraçando mais de
perto enquanto ele se rendia ao que ambos queríamos.
“Então, ahm…”, Brady caminhou em direção à saída do
cômodo. “Acho que eu vou…”
Interrompi o beijo para olhar para ele por cima do ombro. “Você
não precisa ir.”
Ele piscou. “Não?”
“Você pode ficar. Mas com uma condição.”
Ele virou a cabeça esperando minha resposta. Segurei a
respiração antes de contar a ele o que eu queria. O que estava nas
minhas fantasias o dia todo. Algo que eles tinham feito juntos, mas
sem mim.
“Você pode ficar”, eu disse, com luxúria. “Mas não vai ficar só
olhando.”
28

Brady

Essa garota está falando sério?


Heather era um espetáculo de mulher. Um rosto feito para
Hollywood e um corpo tão delicioso que me causava dores
debilitantes. Perdi muitas partes do jogo dos Lakers porque estava
encarando suas longas e suaves pernas. Quanto mais uísque ela
bebia, mais o vestido subia pelas suas coxas.
Eu queria fazer coisas terrivelmente depravadas com aquela
garota.
Mas é claro, Rogan já a havia conquistado. Não havia nada
que eu pudesse fazer a respeito. Homens têm um código, e eu não
encostaria nela a menos que Rogan estivesse totalmente de acordo.
O que eu duvidava, já que os dois tinham acabado de começar o
lance deles.
Se controle, pelo bem das crianças, eu dizia para mim mesmo
desde que ela se mudou. Você pode olhar, mas sem tocar. Como se
fosse uma stripper.
Mas ela provocou Asher falando sobre um filme pornô e os
dois começaram a se beijar no bar. Não entendi o que estava
acontecendo, mas estava um pouco bêbado. E se eu não saísse
dali imediatamente, iria quebrar a regra da stripper.
E então ela disse.
Heather disse uma frase que estilhaçou meu coração e o
remendou na sequência, batendo tão forte que meu pau ficou duro
feito âncora de navio.
“Você pode ficar. Mas não vai ficar só olhando”, sexo a três.
Aquela mulher estupidamente sexy queria fazer sexo a três comigo
e Asher. Ali no nosso refúgio. Naquele momento.
“Ah”, eu disse. Por que minha boca tinha ficado seca de
repente? “Eu não tenho certeza…”, engoli antes de encontrar as
palavras que precisava. “Rogan. Você estava dormindo com ele e
eu não quero estragar nada que– ”
“Essa ideia foi dele”, Heather se afastou de Asher e caminhou
até a porta com suas pernas macias. Ela fechou a porta e se virou
de volta, com o cabelo loiro flutuando em volta do seu rosto.
“Foi?”, perguntei.
“Ele mencionou”, disse Asher. Seu rosto estava voltando a cor
normal, mas ele ainda respirava ofegante. “Ele estava falando
sério.”
“E ele não está aqui”, disse Heather, caminhando devagar de
volta na nossa direção. “O que significa que eu preciso de algo pra
me satisfazer. E eu não estou falando de pornografia.”
Eu me senti impotente quando ela se aproximou. Seu vestido
flutuava por suas curvas como água, dando uma ideia da forma que
estava por baixo. Seu olhar era intenso e demandador, mais do que
o usual para uma mulher tão pequena. Eu tinha a sensação de que
ele obteria o que queria naquela noite, não importa o que nós
pensássemos.
Felizmente, eu a queria muito. Mais do que qualquer outra
coisa que eu já havia querido na vida.
Heather fundiu seu corpo no meu, me deixando sentir o calor
dos seus seios através da minha camisa. Ela parou com seus lábios
a alguns centímetros dos meus, eu podia sentir o cheiro de uísque
do seu hálito e o perfume do seu xampu. Ela ficou ali, com os lábios
próximos dos meus, mas sem encostar por alguns segundos.
Esperando.
Quando eu não podia mais aguentar, enrolei meus braços em
volta dela e a beijei. Nossos lábios se moveram de forma
animalesca, guiados pelo puro desejo e não pela consciência. Ela
era uma mulher, eu era um homem e nós nos desejávamos.
Ela afastou os lábios dos meus, pegou minha mão e me guiou
até o sofá. Olhei para Asher como quem pergunta: Vamos realmente
fazer isso?
Ele me deu um aceno de cabeça que reconheci de muitas
missões: Eu topo se você topar.
E eu topei completamente.
Heather me sentou no sofá e tirou meu cinto. Eu estava duro
feito pedra naquele momento e sua mão escorregou por cima do
volume nas minhas calças como se ela não tivesse notado. Mas ela
não ignorou quando tirou minhas calças e revelou minha vara
pulsante.
Sua cabeça foi em direção do meu volume, sua respiração
ofegante contra meu pau. Devagar, ela levantou os olhos até
encontrar os meus e um sorriso se abriu no seu rosto.
Meu Deus do céu, eu praticamente explodi logo ali, naquele
instante, com o olhar que Heather me deu.
Suspirei quando seus dedos longos dançaram pelas minhas
coxas, rodeando minha base em uma manobra pelos flancos que
impressionaria qualquer tático militar. As duas mãos me envolveram,
uma após a outra. Ela não interrompeu o contato visual mesmo
quando abaixou seu rosto, abrindo a boca como se fosse soprar
velas de aniversário.
Não sei como não gozei ali naquele momento. Mistérios da
natureza humana.
“Como eu disse”, Heather suspirou em um tom erótico. “Eu
quero compensar o que aconteceu aquele dia no jogo. Vocês
querem que eu faça isso?”
Acenei com a cabeça concordando com tudo.
A língua de Heather apareceu devagar e tocou o lado de baixo
da minha coroa. Senti todos os músculos do meu corpo se
tensionarem quando ela lambeu minha abertura, e então em volta
da cabeça, fazendo um círculo. Seu cabelo loiro flutuava pelas
minhas coxas enquanto ela se movia. Eu queria agarrar um
punhado do seu cabelo e puxá-la para baixo, acabando com aquela
provocação. Mas estava gostando do que ela fazia e não queria
interromper.
Finalmente seus olhos deixaram os meus e buscaram Asher,
que ainda estava parado ao lado do bar. “Achei que tinha dito que
ninguém pode só olhar.”
E então, em um único movimento suave, ela enfiou meu pau
todo na boca.
Me recostei no sofá e gemi alto enquanto ela chupava minha
cabeça. Eu estava vagamente ciente de que Asher estava vindo na
nossa direção e se sentando no sofá com as calças se movendo
enquanto ele se despia, mas eu não dava a mínima para aquilo. Os
lábios de Heather estavam em volta do meu pau e aquilo requeria
minha atenção plena e indivisível.
Ela deu uma estocada no meu pau enquanto me chupava. Sua
boca era incrível. Coloquei seu cabelo para o lado e mais uma vez
resisti à necessidade de agarrá-lo. A forma como Heather me olhava
dizia que ela sabia o que eu estava pensando e que tinha tomado a
decisão correta.
Heather se afastou da cabeça do meu pau, enrolou sua língua
em volta e então escorregou para o lado para fazer a mesma coisa
com Asher. Vi que meu melhor amigo estava totalmente pelado – de
relance, não me interpretem mal – então tirei minha camiseta dos
Backstreet Boys e a lancei do outro lado da sala. Heather manteve
uma pegada constante na minha vara enquanto sua cabeça se
movia no pau de Asher. Caralho, seus dedos eram incríveis.
Normalmente eu ficava orgulhoso da minha estamina sexual, mas
se ela continuasse fazendo aquilo…
Essa garota é surreal, pensei. Estou prestes a explodir.
Escorreguei pelo sofá e beijei seu braço, então tirei seu vestido
pela cabeça. Sua calcinha era branca e tinha enfeites rosas nas
laterais.
Ela se virou e disse, “O que você acha que está fazendo?”
“Você disse que eu não podia assistir”, respondi. “Então estou
me tornando um participante ativo.”
Me deitei de costas no chão, agarrei as coxas de Heather e
escorreguei a cabeça para o meio das suas pernas. Havia um ponto
úmido no centro da sua calcinha, e ele se espalhava rápido. Eu
estava absolutamente faminto por ela naquele momento, então não
perdi tempo: puxei sua calcinha para o lado e olhei longamente para
os seus lábios rosados. Então passei meus braços em volta das
suas coxas e a puxei para baixo, direto para o meu rosto.
Seu corpo ganhou vida por cima de mim. Ela deixou escapar
um gemido longo, arqueando as costas e empurrando a boceta na
direção do meu rosto. Eu aceitei avidamente, movendo minha língua
para cima e para baixo pela sua abertura ensopada.
Os gritos de prazer de Heather mudaram de repente – eles
estavam sendo abafados, possivelmente pelo pau duro do meu
companheiro. Imaginei-a chupando-o da mesma forma que tinha
feito comigo, a língua se movendo e seus lábios pressionando a
pele da minha vara…
Parei de pensar. Eu tinha uma nova tarefa para me concentrar.
Eu me considero bom de cama. Sem tentar me gabar, são
apenas fatos. Minha língua é longa e eu sei como usá-la. Bem, a
forma como Heather reagiu reforçou essa crença. Ela se movia para
a frente e para trás no meu rosto, cavalgando gentilmente. Senti
seus músculos interiores se apertarem na minha língua. A seguir ela
estava se empinando contra mim, praticamente montando meu rosto
até os gritos de prazer aparecerem de novo, sem estarem abafados
por alguma coisa na sua boca.
Suas unhas se fincaram nos meus braços, que ainda estavam
em volta das suas coxas. Mantive meu rosto debaixo dela enquanto
movia minha língua em volta do seu clitóris, então ela tremeu e
relaxou nos meus braços, se libertando.
Foi só então que soltei minha pegada. Ela escorregou para o
meu lado e eu fiquei de joelhos, limpando a boca com as costas do
meu braço. Não pensei que ela fosse querer me beijar após ter sido
coberto com seus líquidos, mas ela agarrou meu rosto com as duas
mãos e me beijou mais profundamente do que eu jamais havia sido
beijado.
“Eu quero vocês”, ela suspirou. “Os dois.”
O rosto de Asher brilhava de paixão. “Deixe-me buscar
proteção no quar– ”
Estiquei o braço para pegar um pacote de três camisinhas no
bolso da minha calça. Asher e Heather me encararam como se eu
tivesse tirado um coelho da cartola.
“Você sempre carrega camisinhas no bolso?”, Asher
perguntou.
Eu o encarei. “Você não?”
Heather gargalhou de forma despreocupada e cheia de
empolgação, não de forma zombeteira.
Dei de ombros. “Sempre alerta. Aprendi com os escoteiros.”
“Bem, eu tinha vários amigos escoteiros”, respondi. “Me
pareceu uma boa filosofia de vida. Então…”, sacudi as camisinhas
no ar.
Heather beijou meu braço e disse, “Eu queria que não
precisássemos usar. Eu tomo pílula e estou limpa. A única vez que
transei sem camisinha foi com Rogan. Se vocês dois…”
Olhei para Asher. “Nunca transei sem camisinha na vida”, eu
disse.
Asher assentiu. “Tivemos que fazer exames de sangue para o
seguro de vida ano passado. Não tenho nada. E não, bem, não fiz
sexo depois disso.”
“Sim, mesma coisa comigo”, adicionei.
Asher fez uma careta. “Você não faz sexo faz mais de um ano?
Você?”
Sorri estranhamente para eles. “É possível que eu seja um
pouco exagerado sobre a quantidade de sexo que faço.”
Heather mordeu o lábio. “Eu quero vocês dois naturalmente.
Agora!”
Quando uma mulher pede algo assim, você deve dar a ela o
que quer.
Terminei de tirar seu vestido, o sutiã combinava com a
calcinha, branco com renda rosa. Eu a empurrei até o limite do sofá,
então tirei sua calcinha por baixo. Enquanto eu fazia isso, Asher
beijava Heather e tirava seu sutiã.
Trabalho em equipe, porra. Eu sei que isso sim eles ensinam
para os escoteiros.
Parei um momento para admirar a deusa deitada no sofá na
minha frente. O cabelo dela se espalhava pelo seu colo, como
vinhas carregadas de frutos. Ela mantinha seus joelhos juntos
modestamente, como se eu já não tivesse tratado sua boceta como
um bufê self-service. Era fofo. Ela era linda. E eu não podia mais
esperar.
Abri suas pernas e me enfiei no meio. Devagar pressionei
minha coroa contra sua entrada totalmente ensopada, tentando
manter a gentileza e ternura. Heather tinha outras ideias. Ela
agarrou minha bunda com as duas mãos, apertou e então me enfiou
nela.
Me engasguei e gemi enquanto a enchia com meu pau, da
cabeça até a base. Seu corpo inteiro se estirou como se ela
estivesse sendo inflada, as costas arqueadas e a boca engolindo
todo o ar da sala em um grunhido forte. Asher se inclinou sobre ela
e engoliu seus gritos em um beijo intenso, línguas se movendo
juntas apaixonadamente.
Eu estava falando a verdade antes: nunca havia transado sem
camisinha antes. Era uma das coisas que eles enfiavam na sua
cabeça no acampamento: use sempre um capacete. Se um
marinheiro pega uma DST e passa para outro, ele é repreendido.
Ninguém queria ser essa pessoa.
E sim, bebê, estava feliz por ter sido cuidadoso minha vida
toda, porque valeu a pena estar com a Heather sem proteção. Era
uma sensação muito diferente.
Ou talvez ela seja mesmo muito gostosa.
Agarrei sua pele e girei indo e voltando, ela movia seu corpo
comigo, para cima e para baixo, como se nós dois soubéssemos os
passos daquela dança erótica e carnal. Ela dobrou as pernas atrás
das minhas costas e me espremia contra ela, relaxando na volta,
repetidamente.
Eu nunca pensei que isso fosse tão bom, pensei, me rendendo
aos movimentos descontrolados dos nossos corpos.
29

Heather

Não posso acreditar que estou realmente fazendo isso, pensei.


Uma das vantagens de ser atriz era poder ser uma pessoa
diferente sempre que quisesse. Eu podia ser uma duquesa da era
vitoriana num dia e uma professora de inglês do Ensino Médio no
outro. Eu podia ser quem quisesse, mudando de papel o tempo
todo.
Embora não estivesse atuando naquela noite – era tudo real,
muito real – o papel desempenhado era diferente de tudo o que fiz
antes. O papel de uma mulher que faz sexo a três com dois
homens. Era mágico. Era travesso.
E era muito divertido.
Maurice vai enlouquecer quando descobrir.
Nenhum daqueles caras era bem-dotado como Rogan, mas
estavam acima da média ainda assim. A grossura de Brady me
esticou maravilhosamente, me fazendo sentir uma dor prazerosa e
tórrida. E mesmo que eu só conseguisse comportar metade do pau
do Asher na boca, eu o empurrei contra mim e o chupei com o maior
afinco que pude.
Ser dividida era incrível. Era muito mais delicioso do que uma
conexão apenas física de estar com dois homens ao mesmo tempo.
Tudo no nosso ato pecaminoso e faiscante enchia meu corpo de
prazer.
Estou fazendo sexo a três.
Brady segurou minhas pernas abertas e se enterrou em mim.
O suor escorria pelos seus músculos pulsantes e fazia seu cabelo
colar do lado da sua cabeça. Ele me deu um sorriso de luxúria.
Os gemidos de Asher continuavam preenchendo o quarto
enquanto eu o chupava. Seus dedos dançavam pelos meus
cabelos, me acariciando sem me guiar na direção dele.
Meu corpo rolava, ia e voltava enquanto eu saboreava o prazer
duplo de dois homens.
“Você tem que senti-la!”, Brady rangeu os dentes. “Você não
tem ideia do que é isso, tem que experimentar.”
Os dois trocaram de lugar. Brady se inclinou para enfiar a
língua na minha boca e me beijar profundamente enquanto Asher se
posicionava entre minhas pernas. Gemi enquanto beijava Brady e
Asher me penetrou, centímetro por centímetro, devagar, as mãos
agarrando minha cintura para me alavancar até ele me preencher
completamente.
Arqueei as costas e alcancei a vara de Brady, puxando-a para
perto até poder enrolar meus lábios em volta. Senti meu gosto na
sua pele, um lembrete sexy do que ele estava fazendo um momento
antes. Eu estava sendo revezada, indo de um lado para o outro.
Ainda não acredito que estou fazendo isso.
A natureza daquele ato eletrificava cada estocada e cada
toque. Fazer sexo com dois homens era multiplicação e não adição
simples; aquilo criava uma experiência muito mais poderosa e
intensa do que só a soma das partes.
“Você tinha razão”, Asher suspirou enquanto me fodia
continuamente. “Nunca fiz algo assim…”
“É como uma primeira vez”, Brady concordou, guiando minha
cabeça para cima e para baixo na sua vara.
Me perdi nos movimentos impensados no sofá. Uma mão
segurava meu peito e eu não sabia de quem era porque meus olhos
estavam fechados, apertados pelo prazer que se espalhava pelo
meu corpo. Outro dedo escorregou pelo meio das minhas pernas e
roçou meu clitóris, eletrificando minha espinha. Gemi mais alto, mas
o pau de Brady abafou o som.
A respiração deles se intensificou assim como seus
movimentos, mais rápidos e urgentes, até não ter mais como voltar
atrás.
“Vou gozar”, Asher guinchou, seu pau enfiado em mim com
desejo. “Você quer que eu tire…”
“Não!”, eu gritei. “Goza dentro. Por favor!”
Estive fazendo aquilo com Rogan, pedindo a ele que tirasse e
gozasse no meu peito ou na minha barriga, mas não queria fazer
aquilo naquele momento. Quando olhei para o rosto lindo de Asher,
seu rosto brilhava com intensidade e concentração. Eu queria
desesperadamente que ele gozasse dentro de mim. Eu queria senti-
lo.
Asher renovou seu ritmo, dedos agarrando meu corpo,
segurando cada parte. Corri a mão pelo seu peito, saboreando os
cumes do seu corpo musculoso, um corpo que estava totalmente
focado no ato de me dar prazer. Os dedos de Brady roçavam meu
clitóris provocando fogo e eu prendia Asher com meus músculos
internos.
Ele rugiu de prazer, olhos abertos em choque. No momento em
que senti seu pau pulsar dentro de mim, meu próprio orgasmo me
atingiu com um trem sem freio. Meu corpo se ergueu, cavalgando as
ondas infinitas de prazer enquanto o fuzileiro me enchia com seu
leite.
Eu masturbava Brady rapidamente enquanto aquilo acontecia,
meus dedos apertados em volta do seu pau. Assim que Asher
relaxou, Brady se moveu pelo sofá e praticamente o empurrou para
fora do caminho.
“Eu preciso dela”, ele rugiu, tentando guiar seu pau na direção
dos meus grandes lábios ensopados. “Vou gozar, porra, Heather!”
Sua primeira explosão atingiu meus pelos pubianos e então ele
enfiou a cabeça do seu pau na minha boceta. Ele tremeu dentro de
mim, terremotos atrás de terremotos, estendendo meu orgasmo com
o menor sinal do seu êxtase.
Os músculos de Brady se flexionaram enquanto ele se
agarrava à minha cintura como quem precisa salvar sua vida, seu
pau pulsava dentro de mim enquanto ele me dava cada gota do que
tinha.

“Então nenhum de vocês fez sexo ano passado?”, perguntei.


Os dois homens estavam sentados no sofá, eu me esticava em
seus colos. Asher e eu estávamos pelados, mas Brady insistiu em
colocar sua cueca boxer de volta.
“Foram três anos no total pra mim”, Asher disse, acariciando
minhas pernas. “Posso te garantir que valeu a pena esperar.”
Olhei para Brady que estava gentilmente massageando minha
cabeça com o polegar. “E você?”
Ele deu de ombros de forma estranha. “Não sei. Dois anos
talvez? Sim, dois anos dia 4 de julho. Transei com uma menina em
Anaheim.”
“Eu lembro”, disse Asher. “Apesar de ainda estar em choque
com o fato de você não ter feito nada depois disso, considerando a
frequência com que você sai. E como você se vangloria de suas
conquistas.”
“Eu, hm, exagero às vezes”, Brady disse. Ele encarou a
parede.
“E Verônica?”, Asher insistiu. “Você insistiu que ela era uma
tarada, palavras suas.”
“Ela era uma tarada… por karaokê”, Brady respondei. “Você
precisa vê-la cantando Uptown Funk. Mas não, nunca
ultrapassamos a segunda base.”
“Algum motivo especial?”, perguntei.
Brady deu de ombros de novo. “Não sei. Acho que estava
tentando não acelerar as coisas. Eu estava procurando algo mais
especial. Mas não deu certo.”
Beijei Brady com paixão. Ele estava se abrindo, mostrando
suas vulnerabilidades e isso me fez gostar mais dele. Antes, ele era
só um babaca arrogante, mas agora ele era um babaca arrogante
com sentimentos.
O que eu posso dizer? Gosto de homens complicados.
“Foi uma noite e tanto, então”, eu disse, “é a primeira vez que
vocês dois transam em alguns anos e meu primeiro sexo a três.”
“Ah, merda, nós tiramos sua virgindade a três?”, Brady
perguntou. “Boa”, ele levantou a mão para bater na de Asher.
E foi daquele jeito que tudo voltou ao normal.
“Sempre fantasiei com isso”, admiti. “Mas nunca pensei que
teria a oportunidade.”
“E as festas selvagens de Hollywood?”, Asher perguntou.
“Ouvimos várias coisas de clientes.”
“Ainda não faço parte de Hollywood”, respondi. “Sou apenas
uma aspirante a atriz. Talvez da próxima vez eu tenha esse tipo de
conversa com Brad Pitt e Michael Cera.”
Brady hesitou no sofá. “Michael Cera? Aquele magricela?”
“Ei, não me julgue”, eu disse. “Ele tem um ar de nerd fofo
esquisito. Tipo o Asher.”
Asher limpou a garganta. “Ah, eu não acho que tenho nada
disso.”
“Acredite, você tem”, dei uma palmada na sua coxa.
Brady riu e disse, “Então sua primeira vez a três atendeu suas
expectativas?”
“Não só atendeu, excedeu.”
“Maravilhoso”, Brady tentou cumprimentar Asher de novo e
dessa vez ele respondeu ao gesto.
Me sentei, beijei Brady e virei meus lábios para Asher. Ele me
deu um beijo mais intenso, do tipo que mexeu com algo lá no fundo
e me fez pensar se eu queria um segundo round.
Mas então ele se afastou, se levantou e começou a recolher
suas roupas.
“O sorvete na geladeira é meu”, eu disse, colocando meu
vestido.
“Ah”, Brady disse. Por um momento ele fez a mesma
expressão de culpa que Dustin fazia as vezes. “Eu meio que comi o
resto do sorvete.”
“Então vou ter que assaltar o balde grande de guloseimas”,
respondi.
Asher deu uma tossida de mentira. “A madame tem o número
de estrelas necessário?”
Eu o fitei.
“Heather eletrocutou Jimmy Cardannon mais cedo”, Brady se
intrometeu. “Acho que isso garante no mínimo dez estrelas. Todos
os dias. Por um mês.”
Fiz carinho na sua bochecha. “Gosto de como você pensa.”
Fui para a cozinha rebocada pelos dois homens. O balde
pequeno tinha doces de tamanhos decentes, mas o balde grande
tinha doces de tamanhos indecentes. Abri a embalagem de Snickers
de manteiga de amendoim e gemi quando a mistura salgada e
achocolatada se dissolveu na minha boca.
“Você não gemeu alto assim com a gente”, disse Brady.
Engoli o chocolate e sorri para ele. “Sexo é bom e tudo mais,
mas não podemos comparar com chocolate.”
Ouvimos um barulho na escada do lado de fora, então uma
chave destrancou a porta da frente. Rogan entrou devagar.
“Você chegou cedo”, disse Asher. “Tudo bem?”
Os olhos de Rogan viajou de mim para os dois companheiros e
então voltou para mim. “Precisamos conversar”, ele disse
sombriamente.
O chocolate virou pó na minha boca. Será que eu cometi um
grande erro?”
30

Heather

Minha mente se acelerou. Eu tinha acabado de transar com


Brady e Asher. Rogan tinha insistido que estava tudo bem – inferno,
ele tinha sugerido isso! – mas de repente, me enchi de dúvidas.
Talvez ele estivesse brincando. Talvez ele não tivesse falado sério.
Talvez fosse um teste de lealdade.
“Houve um ataque hoje”, disse Rogan, se apoiando no balcão
da cozinha. Foi quando me dei conta de que ele estava usando
roupas diferentes de antes debaixo da jaqueta.
“Ah, não”, Asher se engasgou.
“Um assassino pulou o muro da casa de Amirah”, Rogan
explicou. “Ele tinha um rifle. Chegou perto o suficiente pra atirar pela
janela do quarto, mas eu o impedi.”
“É claro que você o impediu!”, Brady celebrou com o punho
cerrado, então deu um tapa no ombro de Rogan. “Porque você é um
supersoldado, você sabe, não é? Você é a porra do Capitão
América! Você pegou o filho da puta?”
Rogan cambaleou com o tapa de Brady e teve que recuperar o
equilíbrio. “Ele fugiu.”
Brady desinflou. “Ah, merda.”
“Eu disse que essas ameaças não eram falsas”, disse Rogan.
“As coisas que Amirah tem recebido pelas redes sociais são sérias.
Elas são reais e ela está em perigo.”
Brady acenou. “Você estava certo. Devia ter ouvido.”
Rogan estranhou. “Espere aí, você está concordando comigo?”
“Claro que sim.”
“Algo errado?”, Rogan olhou para mim e Asher. “Você nunca
concorda comigo, mesmo quando é obvio que estou certo. O que
está acontecendo?”
“Bem, falamos sobre isso mais tarde”, disse Brady. “Como você
deixou o filho da puta fugir?”
Rogan fechou os olhos e suspirou. Ele parecia muito cansado.
“Eu estava em cima dele, prestes a chamar Cooper para me ajudar
a controlá-lo quando alguém atingiu minha cabeça por trás. Um
segundo assassino. Eles pegaram o rifle e fugiram. Quando me
recuperei, eles já tinham ido”, Rogan tocou a parte de trás da
cabeça e estremeceu.
Eu tinha sido uma mera observadora da conversa até o
momento. Mas logo que ouvi que ele estava machucado, meu
estômago se revirou. Atravessei a sala e joguei os braços em volta
dele, o apertando forte.
“Você está bem?”, gentilmente passei meus dedos pelo seu
cabelo castanho. “A pancada na cabeça explica porque você ficou
zonzo…”
“Já recebi atendimento médico”, disse Rogan sorrindo. “Passei
pelo protocolo de concussão. Mas ainda estou um pouco atordoado.
Também fui ferido aqui. Ele levantou o braço para mostrar a atadura
branca sobre sua pele.
Mesmo com ele nos assegurando que estava bem, continuei
agarrada nele como um crustáceo no casco de um navio.
Asher estava coçando seu queixo pensativo. “Havia dois
assassinos. Você conseguiu ver os rostos deles?”
“Vi um. O outro não. Um deles tinha um sotaque estranho.
Meio inglês. Eu acho. Foi tudo muito rápido”, Rogan se afastou do
meu abraço o suficiente para alcançar o bolso. “Mas recuperei isso.”
Ele segurava um saco de plástico contendo uma faca de 15
centímetros. O cabo era de madeira e a lâmina tinha dois gumes
simétricos.
Asher a pegou e examinou. “Fairbairn-Sykes?”
Rogan acenou. “Padrão SAE.”
Brady deu um passo à frente. “Você não acha que…”
“Acho”, Rogan respondeu.
“Ele não pode ter sido tão estúpido”, Asher insistiu.
“Estúpido não”, Rogan respondeu. “Arrogante.”
“Do que vocês estão falando?”, perguntei. “O que é SAE?”
“Serviço Aéreo Especial”, Asher explicou. “Forças armadas
especiais britânicas. A versão deles dos fuzileiros.”
Eles todos agiram como se aquilo explicasse alguma coisa.
“Acho que perdi alguma coisa”, eu disse.
“Jimmy”, Brady rosnou. Ficando mais nervoso a cada segundo.
“Jimmy Cardannon é ex-soldado do SAE. E ele tem vários
empregados que também são na Heimdall.”
Asher chacoalhou a cabeça. “Vamos todos desacelerar. Não
sabemos…”
“É claro que sabemos!”, Rogan respondeu. “Ele apareceu na
nossa casa e disse que ia nos tirar do negócio. Algumas horas
depois nossa cliente é atacada. Não é mera coincidência.”
“Aquela faca foi produzida em massa”, Asher argumentou. Os
outros estavam furiosos, mas ele estava calmo e frio. “É usada em
diversos países da Comunidade das Nações, não só pela Grã-
Bretanha. Certamente há centenas dessas sendo vendidas no
Ebay.”
“Eu estava lá!”, Rogan insistiu. “Acredite em mim. Esse cara
não é só um fã perseguidor maluco que mora no porão da mãe. Eu
mal pude contê-lo mesmo antes do outro cara aparecer. Ele é
professional.”
“Você realmente acha que Jimmy atacaria uma mulher
inocente? Só o vi uma vez e ele foi um cuzão, mas…”
“A indústria de segurança privada é grande nessa cidade”,
disse Brady. “Quando há milhões na linha, você precisa fazer
alguma coisa para aplacar a competição.”
“Certo”, disse Asher. “O que fazemos?”
“Analisamos a faca”, Rogan entregou o saco para ele. “Talvez
haja alguma coisa que nos ajude a distinguir e afunilar as
possibilidades. Verifique impressões digitais também, apesar de
duvidar que eles tenham sido tão descuidados a ponto de deixar
alguma.”
“E o que fazemos com a porra do Jimmy Cardannon?” Brady
perguntou.
Rogan chacoalhou a cabeça. “Nada. Uma única faca não é
evidência suficiente para confrontá-lo diretamente. Temos que
continuar protegendo Amirah e esperar que não tentem de novo.”
Asher inclinou a cabeça. “Como ela está lidando com isso?”
“Ela está bem. Feliz que contivemos o ataque. Não tenho
certeza se ela acha que isso é real. Mas se ela tivesse sido atingida
por aquele rifle…”
Um silêncio inconfortável invadiu o ambiente quando
pensamos naquilo.
“Vou vasculhar melhor as redes sociais”, Asher disse. “Talvez
eu consiga achar a origem das ameaças de outra forma.”
“Você quer que eu fique com Amirah hoje?”, Brady perguntou.
“Cooper está lá sozinho?”
“A Polícia de Los Angeles está lá, mas vão embora assim que
conseguirem as declarações de todos”, Rogan olhou no relógio.
“Você se importa em cobrir até de manhã?”
“Me dê dez minutos pra ficar sóbrio”, disse Brady. “Vou me
trocar.”
Rogan acenou. “Obrigado. Vou dormir um pouco”, ele
caminhou até o quarto, um pouco mais estável do que antes.
“Deve ter sido ruim”, disse Brady quietamente.
“Por que você diz isso?”
“Porque ele aceitou minha ajuda sem tentar voltar ele mesmo
para lá”, Brady chacoalhou a cabeça e caminhou para fora do
cômodo.
Asher me deu um beijo na bochecha. “Tenho que ir trabalhar.
Estou feliz que a diversão não foi interrompida.”
“Eu também. Me diverti muito.”
“Talvez a gente possa fazer isso de novo”, Asher me deu um
sorriso final e desceu as escadas.
Me arrumei para dormir e me despedi de Brady quando ele
saiu. Ao invés de ir para o meu quarto, bati na porta do quarto de
Rogan e entrei. Era maior do que o quarto de hóspedes, com uma
cama king-size adornada por lençóis verdes felpudos. Rogan estava
sentado na cama sem camisa. Sua mão estava pousada sobre algo
na mesa de cabeceira, mas ele relaxou quando me viu.
Sua arma, me dei conta.
“Relaxa, sou eu!”, eu disse enquanto entrava debaixo das
cobertas. “Vim te confortar.”
“Não me interprete mal, mas não estou no clima de sexo”, ele
disse.
Encostei no seu corpo quente debaixo das cobertas. Coloquei
uma perna sobre seu corpo e me aconcheguei nele. “Sem sexo. Vim
te confortar.”
Não me dei conta da tensão do seu corpo até ele começar a
relaxar. Era como se cada músculo estivesse finalmente se
desinchando depois de muitas horas de tensão.
Ele suspirou. “Obrigado, Heather.”
“Apenas relaxe. Você está em casa agora”, depois de um
momento, acrescentei. “Você está seguro.”
Rogan acariciou gentilmente minhas costas debaixo das
cobertas.
Eu estava totalmente desperta depois de ouvir sobre a noite de
Rogan. Me perguntei se deveria contar a ele o que Asher, Brady e
eu tínhamos feito enquanto ele estava fora, mas decidi que não era
hora. Eu podia contar a ele depois, quando as coisas se
acalmassem.
Mas eu queria contar a ele. Sem segredos.
“Cometi um erro”, ele disse gentilmente.
“O que foi?”
“Insisti em vigiar a casa de Amirah sozinho, mesmo exausto.
Foi por isso que perdi a luta. Se eu estivesse descansado, teria
contido o primeiro cara mais rápido e seu companheiro não
conseguiria me atingir. Se eu tivesse enviado Brady antes, como ele
sugeriu, ele poderia ter capturado os dois.”
“Ou talvez ele se distraísse com um jogo dos Lakers no rádio”,
eu disse, “e então o agressor poderia… você sabe, ter conseguido.”
Meus olhos estavam fechados, mas senti Rogan chacoalhar a
cabeça. “Preciso delegar mais as responsabilidades. Não posso
fazer tudo sozinho. Tenho me esforçado pra isso recentemente. Mas
preciso manter o controle. Não é fácil pra mim passar o controle a
outra pessoa.”
“Pelo menos você está reconhecendo isso”, eu disse. “E eu te
entendo.”
“Entende?” ele perguntou, duvidoso.
“É o motivo pelo qual sou tão extrovertida”, respondi. “Não
posso apenas relaxar e seguir o fluxo. Preciso conduzir minha vida
com rédeas curtas, liderar em qualquer situação. No jogo dos
Lakers semana passada, Maurice queria ficar nos nossos assentos.
Eu insisti para irmos atrás de assentos melhores, no anel inferior ou
nas cabines.”
Suspirei contra seu corpo duro. “Por isso que odeio testes para
comerciais. Quero algo maior, pra ter mais controle.”
Ele acariciou meu cabelo com ternura. “Receber ordens de
outras pessoas é grande parte na dramaturgia, você sabe. Você
precisa seguir um roteiro, diretores, produtores…”
“Eu sei, eu sei”, eu disse. “Preciso trabalhar nisso. É o que
Maurice sempre diz.”
Senti Rogan vibrar com risadinhas silenciosas. “Olhe para nós.
Um casal de personalidade do tipo A que segue fodendo as coisas.”
“Fico feliz que você esteja a salvo”, beijei seu peito. “É tudo o
que importa.”
“Não é tudo o que importa”, ele disse depois de um momento.
“Proteger nossos clientes também importa. Se algo acontecer a
Amirah Pratt…”
Ele não terminou a frase e caímos no sono juntos.
31

Heather

“Deixe-me entender isso direito”, Maurice suspirou. “Você tem


um exército de três gostosões. Enquanto eu não tenho nenhum.”
“Eles não foram do Exército, foram fuzileiros.”
Ele acenou, indiferente. “Mesma coisa, só muda o embrulho.”
Estávamos na aula do Sr. Howard. Ele nos tinha colocado em
pares para lermos as falas do filme Proposta Indecente, que nem eu
nem Maurice tínhamos visto. Ao invés de praticar, estávamos
fofocando sobre tudo o que tinha acontecido.
“Isso é a prova”, disse Maurice dramaticamente, “de que Deus
não existe. Jesus é uma fraude! Você tropeça e cai no colo de três
gostosos lindos enquanto Maurice Wittman cai de cara no chão.”
“E o pau do trabalho?”, perguntei.
“Ele é só um urso fofinho. Já estou entediado. Você ganhou
presentes bons de Natal e agora quero brincar com eles também!”
“Prometo perguntar se eles têm um amigo fuzileiro que goste
da sua fruta.”
Ele se inclinou para a frente e me deu um beijo na bochecha.
“É tudo o que eu quero, querida.”
Depois da aula, me encontrei com o Sr. Howard
individualmente. Ele imediatamente me cumprimentou com uma
pergunta. “Como foi o teste para o comercial?”
“Foi… ok”, eu disse. “Não tive resposta ainda.”
Ele olhou para mim dramaticamente desapontado. “Você é
minha estrela, Heather Hart. E está muito distraída. O que está
acontecendo?”
“Me desculpe, Sr. Howard”, eu disse. Eu me sentia mal em
desapontá-lo tanto. “Estou num emprego novo que está tomando
meu tempo.”
“Você precisa focar na sua carreira. O que é mais importante:
seu novo trabalho ou atuar?”
“Bem… meio que os dois”, admiti. “Sou babá na casa de uns
caras que tem uma empresa de segurança privada. Eles têm várias
conexões e me prometeram me colocar em contato com pessoas do
meio. Acho que vou conseguir pular a etapa dos comerciais e
conseguir papéis maiores.”
Ele me olhou ceticamente e rolou os olhos. “Vou te contar um
segredinho sobre Hollywood: muito se promete, pouco se cumpre.
Além disso, não existem atalhos nessa cidade. A indústria
raramente permite que alguém seja catapultada assim. A menos
que você seja a filha de algum diretor famoso”, ele tossiu
discretamente na sua mão e sussurrou. “Bryce Dallas Howard.”
Então ele se inclinou sobre a mesa. “Estou trabalhando para
encontrar outros papéis pra você. Enquanto isso, mantenha seus
dedos cruzados torcendo pelo último teste.”
Dei um sorriso falso quando deixei o escritório. Eu sabia que
tinha falhado no teste e que ninguém me ligaria de volta.
A irmã de Brady, Patty, estava cuidando das crianças enquanto
eu estava na aula. Subi as escadas e ouvi os garotos histéricos
dentro da casa. Abri a porta e encontrei Dustin e Micah se batendo
com travesseiros enquanto Patty gritava para eles pararem. Cora lia
quieta no canto.
Suspirei internamente com aquela cena. Saí por duas horas e
a casa virou um inferno.
“Senhorita Heather!”, Micah exclamou quando me viu. Os dois
meninos largaram os travesseiros e correram para abraçar minhas
pernas. “Estávamos com saudade!”
Estou surpresa em ouvir isso já que a tia Patty está permitindo
vocês tocarem o terror, pensei. Mas estava tentando ser legal
naquele dia, então sorri para Patty e agradeci, “Obrigada por me
cobrir durante a aula.”
Patty tinha os cabelos pretos curvados como Brady, o mesmo
sotaque de Boston e até a mesma risadinha. “Sem problemas. Não
foi difícil. Os garotos foram ótimos.”
Primeiro, achei que ela estava sendo sarcástica. Mas ela
estava mortalmente séria.
“Eles se comportaram muito melhor do que na semana
passada. Posso dizer que você já é uma ótima influência para eles!
Brady deveria tê-la contratado anos atrás.”
Afofei os cabelos de Dustin e Micah ao mesmo tempo.
“Também acho. Assim eu não teria que ter trabalhado no Outback.”
“O que é Outback?”, Dustin perguntou.
“Ao deque! O papai sempre fala quando brincamos de navio”,
explicou Micah “Homens, ao deque!”
“A comida do Outback é tão gordurosa. Aqueles anéis de
cebola têm tipo um bilhão de calorias!”, Patty chacoalhou a cabeça e
me perguntou. “O que eu falei sobre os garotos é sério. Eu estava
relutante em vir hoje, mas eles estão tão comportados! Qual é seu
segredo?”
“O planejamento e o sistema de estrelas tem ajudado muito”,
expliquei”, expliquei. “Tudo começa por aí.”
Patty fitou os garotos. “Tentei os subornar com doces muitas
vezes, mas nunca funcionou.”
Porque precisa ser um sistema consistente, pensei comigo
mesma. Não disse nada porque estava muito feliz por ela se
prontificar a me substituir quando eu estava fora.
“Acho que tenho um charme secreto”, eu disse
diplomaticamente.
“Gostei disso. Charme secreto”, ela pegou sua bolsa e apontou
para mim enquanto caminhava para fora. “Você devia tentar com
Brady. Aposto que você pode melhorar seu comportamento
rapidamente.”
“Aposto que sim”, eu disse com um sorriso de quem sabe das
coisas.
Brinquei com as crianças por dez minutos – um jogo que
consistia em colocar as almofadas do sofá de volta no lugar e então
recolher todos os lápis de cor do chão – e então os coloquei para
dormir.
Com a casa finalmente silenciosa, agarrei um pacote de tiras
de queijo na geladeira e devorei. Eu tinha estado muito ocupada
para almoçar, então peguei o balde grande de guloseimas. A voz do
Sr. Howard ecoou na minha cabeça: Cada quilo que você ganha é
um papel que você perde para uma atriz mais magra. Fiz uma
careta e devolvi o balde, pegando um pequeno chocolate do outro
balde no lugar.
Ser mulher é um saco às vezes.
Uma porta se abriu no corredor, me preparei para repreender
algum dos trigêmeos por interromper a soneca, mas era Brady que
caminhava pela cozinha esfregando os olhos.
“Ah, não tinha me dado conta de que você estava em casa”, eu
disse.
“Recuperando o sono perdido depois de vigiar Amirah a noite
toda”, ele respondeu. “Estava exausto.”
“Isso é duro. Espero que você tenha dormido bem, mesmo com
todo o barulho das crianças…”
“Posso dormir como um bebê em qualquer lugar, aprendi com
os fuzileiros”, ele riu para mim. “Tive uns sonhos bem criativos.
Asher e eu estávamos com essa mulher insanamente bonita,
fazendo coisas bem sujas.”
“Ela era bonita?”, perguntei sorrindo.
“Ah, sim. Cabelo longo e loiro, belos lábios”, ele esticou os
braços por trás de si mesmo e agarrou sua bunda com as duas
mãos. “Um popô bem volumoso, sabe?”
“Eeee você arruinou tudo.”
“Beijar você consertaria as coisas?”, Brady hesitou. “Espera.
Estou autorizado a beijar você? Não sei como isso funciona.”
“Também não sei”, respondi. “Mas aceitaria um beijo.”
Dei um gritinho quando Brady me inclinou para baixo, me
dando um beijo apaixonado e me segurando paralela ao chão.
Então, facilmente me colocou de volta de pé.
“A casa está estranhamente quieta”, disse Brady. “Se as
crianças estão dormindo, talvez a gente possa…”, ele levantou e
abaixou uma sobrancelha sugestivamente.
Dei uma cotoveladinha nele. “Talvez mais tarde. Quero falar
com o Rogan primeiro. Você se importa em ficar de orelha em pé
enquanto vou lá no escritório?”
Brady abriu a geladeira e olhou dentro. “Sem problemas. Mas
volte logo. Você está me dando ideias sujas, babá.”
Ri e fui para o andar de baixo. Não tinha voltado lá desde que
Rogan me mostrou o local no primeiro dia. Era grande o suficiente
para uma dúzia de funcionários, mas só os três pais ocupavam o
espaço. Cada um deles tinha um escritório aberto para o exterior, e
uma sala de conferências ficava no centro deles. O resto era um
espaço aberto que poderia ser dividido em cubículos.
No ramo da segurança, ninguém precisava ficar no escritório a
não ser os administradores. E mesmo assim, eles podiam fazer isso
de qualquer lugar.
Passei pelo escritório de Asher primeiro. Ele estava sentado de
frente para vários monitores.
“Toc-toc”, eu disse, ao invés de bater na porta.
Ele se virou na cadeira e sorriu para mim. “Heather, que
surpresa agradável.”
“Vim conversar com o Rogan”, apontei para os dados nas telas.
“O que é isso?”
“Informações sobre redes sociais. Endereços de IP,
informações de roteamento e detalhes dos dispositivos conectados.
Estou tentando rastrear as contas que estão ameaçando Amirah nas
redes sociais.”
“Tem tido sorte?”
Ele torceu os lábios, pensando. “Estou afunilando as
informações de localização das contas. Elas foram todas criadas no
Sul da Califórnia, mas o tráfego de dados foi roteado por VPN para
parecer que vieram de lugares diferentes. França, Turquia, Havaí…”
“Por que eles fariam isso?”, perguntei. “Se eles ameaçaram
Amirah diretamente, por que razão eles fingiriam não estar em Los
Angeles, o único lugar onde dá para consumar as ameaças. Por que
fingir que eles estão em lugares diferentes?”
“Ainda não sei, mas espero descobrir.”
“E a faca?”, perguntei, apontando para a arma sobre a mesa,
dentro de um saco plástico. “Alguma novidade?”
“Conseguimos duas digitais diferentes, mas não são
compatíveis com nenhum registro criminal. Submeti uma requisição
às bases de dados militares dos Estados Unidos e da Inglaterra,
mas duvido que eles respondam. Eles estão ocupados se
protegendo. Enviamos as informações para a polícia, no caso deles
conseguirem algo mais no futuro. Se não, é um beco sem saída”,
ele se esticou e olhou a hora. “Preciso comer alguma coisa. Não
almocei.”
“Também não.”
Ele sorriu para mim e então se sentiu envergonhado por sorrir.
“ Eu… hm, ontem à noite abriu meu apetite.”
Não pude deixar de rir da sua fofura juvenil. “O meu também.
As crianças estão dormindo agora, então tente não fazer barulho.”
“Nem um pio”, ele levou seu dedo aos lábios.
Ele parecia querer me beijar, e eu estava prestes a tomar a
iniciativa, mas ele virou o rosto e saiu do escritório.
Preciso te tirar do casulo, pensei. Um passo de cada vez.
Rogan estava no seu escritório, duas portas depois. Ele sorriu
quando me viu. “Não é sempre que te vejo por aqui.”
“Brady está vigiando as crianças enquanto eles tiram um
cochilo. Você tem um minuto?”
“Eu adoraria uma distração”, ele se levantou, me abraçou e
então se sentou na beirada de sua mesa de mármore branco, perto
de um vaso de narcisos laranja. “Passei o dia no telefone. A notícia
do ataque se espalhou e nossos outros clientes estão aborrecidos,
então estou controlando os danos.”
“Controlando danos? Mas você evitou o ataque”, eu disse.
“Eles não deveriam estar contentes?”
“Se o mundo funcionasse como deveria”, ele disse
amargurado. Todo mundo está alarmado com o fato de o homem
com a arma ter conseguido chegar tão perto da casa. Nossos
clientes nos pagam para descobrir e neutralizar ameaças antes de
chegar nesse ponto. Sim, eu parei o cara, mas em cima da hora.
Ainda é uma falha.”
“Que merda”, eu disse, batendo na mesa para enfatizar. “Você
salvou a vida de alguém ontem. Estou orgulhosa, mesmo que
ninguém mais esteja.”
“Obrigado”, ele beijou minha testa. “Amirah está grata também.
Ela quem enviou estas flores”, disse ele apontando para os
narcisos.
Um sinal de incômodo escalou meu estômago. “Ah.”
Rogan ergueu uma sobrancelha. “Estou detectando ciúme?”
“Não.”
“São apenas flores. E como você disse: eu salvei a vida dela.”
“Isso não significa que ela precisa ficar toda fofa”, murmurei.
“Não tenho interesse em Amirah, tenho interesse em outra
mulher.”
“Aham!”, eu disse, duvidando.
“A mulher que eu gosto é muito mais bonita”, ele murmurou
nos meus cabelos. “E ela fica absolutamente adorável quando está
com ciúme.”
“Não estou com ciúme!”, eu disse, resistindo à urgência de
acidentalmente derrubar o vaso de flores no chão. “Mas falando em
ciúme, vim aqui para te contar uma coisa.”
O tom da minha voz deve tê-lo alertado, porque ele se afastou
e cruzou os braços. “O que foi?”
“Ontem você me disse para fazer uma coisa. Então segui seu
conselho”, reuni minha coragem. Por que era tão difícil dizer aquilo
em voz alta? “Dormi com Brady e Asher na noite passada.”
Rogan piscou, suspreso. Então ficou em choque. Era a última
coisa que eu queria ver e meu estômago se revirou.
“Você dormiu com os dois?”
“A sugestão foi sua!”, respondi. “Foi sua ideia!”
“Eu sugeri um deles. Não sugeri sexo a três!”, ele riu para si
mesmo. “Mas não importa. Isso é divertido. Você sabia que eles já
tinham feito sexo a três com uma mulher no passado?”
“Eles… me contaram”, eu disse com cuidado. A atitude dele
estava diferente.
“Asher ainda sente vergonha quando alguém toca no assunto”,
Rogan disse amigavelmente. “Ele vai ficar vermelho em três tons
diferentes se eu tocar no assunto.”
“Ele acabou de subir para almoçar”, eu disse. “Você pode
provocá-lo mais tarde. Tudo bem por você o que aconteceu?”
“Claro que sim! Como você disse: eu sugeri”, ele me pegou em
seus braços de novo. “Não sou possessivo. Não com Asher e Brady,
pelo menos. Tá aí uma coisa sobre nossa pequena família: a gente
divide tudo. As crianças, refeições, o local de trabalho, férias”, ele
suspirou e encarou o nada. “Na verdade, não tiramos férias desde
que os trigêmeos nasceram. Não temos tempo e os negócios
precisam de muito cuidado. Cara, eu adoraria fazer uma pausa e ir
pra praia beber na beira do mar por uma semana, desestressar
enquanto…”
“Rogan”, eu disse firmemente. “Você está fugindo do assunto.
Sonhe com as suas férias em outro momento.”
“Desculpa, ainda não recuperei o sono perdido”, ele deu uma
golada no café, fez uma careta e continuou. “Como eu estava
dizendo, nós dividimos tudo. E já que eu estava te dando uns
amassos no hotel pelas costas deles, é justo que eles tenham a
chance de brincar.”
Eu o encarei. “Brincar? Eu não sou um brinquedo pra ser
dividida por vocês. Eu não pertenço a nenhum de vocês.”
Rogan levantou uma das sobrancelhas. “Então você está
dizendo que não se divertiu ontem?”
“Não”, circulei o tapete com o dedo do pé. “Eu me diverti
muito.”
“Que bom, porque eu me diverti muito te fazendo carinho”, ele
bocejou, “eu sei que não parece, mas eu dormi muito bem. E até
onde me consta, esse combinado está funcionando perfeitamente.
Desde que não afete seu trabalho com os trigêmeos.”
Chacoalhei minha cabeça. “São duas coisas totalmente
separadas.”
“Bom”, ele olhou por cima do meu ombro e disse, “Brady,
venha cá um segundo.”
Brady estava passando pela porta com um sanduíche na mão.
Ele se inclinou para dentro do portal, mordeu o sanduíche e
perguntou “E aí?”
Rogan apontou um dedo para ele. “Você comeu a Heather, não
foi?”
O queixo de Brady caiu tão rápido que um pedaço de alface
voou direto para o tapete. “O quê?”
“Você e Asher transaram com ela ontem, não transaram?”
“Asher disse que era de boa pra você!”, ele apontou para mim
com o sanduíche. “E ela confirmou!”
“De boa pra mim? Não é de boa”, Rogan se aproximou até ficar
na cara de Brady. Fiquei tensa, esperando a briga que eu tinha
certeza de que ia acontecer.
Mas então Rogan o abraçou, dando um tapinha nas suas
costas. “Estou feliz demais com isso! Vocês fizeram sexo a três! Foi
bom?”
Os olhos de Brady oscilaram como se fosse algum tipo de
armadilha. “Foi bom pra caralho.”
“Mal posso esperar pra perguntar a Asher e vê-lo corar.”
Finalmente Brady riu. “Você deveria tê-lo visto ontem quando
começamos. Parecia que ele tinha tomado sol.”
Rogan latiu uma risada. “Aposto que sim!”
Isso é estranho, pensei. Eles não só estão de boa com tudo,
mas estão falando sobre como se fosse uma atividade cotidiana.
“Você tem certeza de que passou pelo protocolo de
concussão?”, Brady perguntou.
Rogan acenou. “Eu tenho trabalhado muito pra tentar não ser
tão controlador ultimamente.”
Ele sorriu para mim e eu sorri de volta.
“Asher está de ouvido em pé enquanto almoça”, disse Brady.
“Ele me disse que ia ficar por lá até você voltar, Heather.”
“Melhor eu ir, então.”
Rogan olhou no relógio. “Quanto tempo temos até eles
acordarem da soneca?”
“Vinte minutos, talvez? É difícil prever, porque eles meio que
saíram da rotina hoje.”
Rogan olhou para Brady. “Muito tempo. Acho que estou
começando a ficar com ciúme das aventuras de ontem à noite.”
“Ah, sim?”, Brady perguntou sorrindo. “Foi excluído do sexo a
três?”
“Sim, sinto que fiquei de fora. Se ao menos pudéssemos
resolver isso nos próximos…”, ele olhou para o relógio rapidamente,
“Vinte minutos.”
Os dois ex-fuzileiros riram um para o outro e então se viraram
com os olhos famintos para mim.
32

Rogan

Eu tinha uma montanha de trabalho me esperando. Não só o


caso de Amirah Pratt – todas as decisões e o gerenciamento
rotineiros que estavam implícitos em administrar uma empresa
nacional de segurança. Eu tinha pelo menos doze ligações
telefônicas para fazer e setecentos e-mail esperando respostas. E
para completar, eu ainda estava exausto da noite anterior.
Mas naquele momento, tudo o que eu conseguia pensar era
nas coisas terríveis, maravilhosas e sujas que eu queria fazer com a
babá.
Heather era o tipo de mulher que eu não conseguia parar de
tocar. Seu corpo atraía meu olhar feito imã. Quando ela não estava
por perto, eu me pegava sonhando acordado com ela. Pensando no
que já tínhamos feito e no que faríamos na próxima vez que nos
víssemos. Ela estava ocupando uma parte grande do meu foco a
cada dia.
Eu sabia daquilo tudo enquanto estava ali no escritório, mas eu
não pude evitar tomá-la em meus braços e beijá-la.
Heather gemeu alto no meu abraço e eu a levantei do chão e a
coloquei na quina da minha mesa. Ela enrolou as pernas em volta
de mim, se encaixando e me deixando louco de desejo.
Devo admitir: era estranho beijá-la na frente de Brady. Eu
sentia que seus olhos estavam nos encarando, observando nossas
línguas se sacudirem juntas e molhadas. Mas era ao mesmo tempo
natural. Tínhamos passado os últimos dez anos dividindo tudo. Eu,
Brady e Asher. Comida, casa, crianças e até o perigo da profissão.
Comparado a aquilo tudo, dividir uma mulher era fácil.
Heather se afastou e me olhou nos olhos por um momento.
Tive a impressão de que ela estava se assegurando de que eu
estava de acordo com aquilo tudo. Então ela esticou o braço para
Brady, convidando-o para entrar no escritório e agarrando sua
camisa quando ele estava próximo o suficiente. Com as pernas
ainda ao meu redor, ela começou a beijá-lo profundamente. Suas
bocas abertas enquanto seus corpos se fundiam famintos.
Com Brady segurando seu rosto contra o dele, o pescoço de
Heather ficou exposto. Não pude evitar mergulhar e beijá-lo,
acariciando sua pele quente e macia. Ela reagiu com um gemido
diferente, mais primitivo dessa vez, enquanto nós dois a
venerávamos com as nossas bocas.
Heather se afastou de Brady com o peito pesado e a
respiração ofegante antes de me beijar de novo. Sua língua voou na
minha boca, num beijo mais profundo do que antes, e minha mão
alcançou seu peito por debaixo da blusa.
Sem querer ficar sem fazer nada, Brady se encostou do meu
lado e disse “Me dê espaço, cara, tenho trabalho a fazer”, pensei
que ele estava falando sobre trabalho no escritório, mas então ele
ficou de joelhos entre as pernas de Heather e enfiou a cara na sua
saia. Eu ainda estava beijando Heather e ela de repente se
enrijeceu com surpresa – e prazer.
“Ah”, ela gemeu, arqueando as costas momentaneamente
antes de mergulhar de volta no beijo.
“Você está molhada para caralho”, Brady murmurou lá de
baixo. Eu não podia ver sua cabeça debaixo da saia dela, mas
Heather se apertou como um arame antes de relaxar de novo. Brady
não fazia nada de qualquer jeito e eu tive certeza de que isso se
aplicava àquela situação. Como ex-fuzileiros, fazíamos o necessário
para completar uma missão.
As mãos de Heather exploravam meu corpo como se fosse
nossa primeira vez, correndo pelos meus braços e peito até a parte
da frente da minha calça. Seus dedos estavam desesperados e
frenéticos quando ela tirou meu cinto e puxou meu zíper para baixo
até finalmente agarrar meu pau pulsante com seu toque terno.
Gemi quando ela começou a me masturbar e aquilo reverberou
no seu próprio grito de prazer. Seu peito ficou pesado e sua
respiração se acelerou enquanto o grito ficava mais alto até ela
estar trêmula sob minha pegada, apertando as pernas em volta da
cabeça de Brady como se não quisesse que ele parasse nunca.
“Rápido”, ela implorou quando saiu do transe. Suas têmporas
estavam úmidas de suor, o que deixava seu cabelo loiro marrom
dourado. “Preciso de vocês dois!”
Brady se levantou do meio das suas pernas e limpou a boca.
“Não precisa pedir duas vezes. Rogan pode atestar: sou ótimo
seguindo ordens.”
Ele tirou a calça em um instante. Heather tirou sua própria
calcinha e me puxou para perto, me beijando profundamente mais
uma vez enquanto usava sua mão livre para me guiar até sua
entrada. Ela estava ensopada e eu escorreguei para dentro dela
com uma facilidade chocante.
Heather esticou o pescoço e suspirou, então enrolou as pernas
em volta do meu torso. “Não temos tempo pra gentilezas. Quero que
vocês dois me tomem, como se eu fosse o objetivo de uma missão.”
Eu sorri para ela. “Se é isso que você quer.”
Ela se engasgou quando eu dei uma estocada, alcançando-a
profundamente. Então coloquei uma mão no seu peito, primeiro para
apertá-lo e então para deitá-la sobre a mesa. Eu a segurei
grosseiramente, empurrando-a contra o tampo de madeira e
entrando e saindo mais rapidamente.
Heather mordeu o lábio e parecia orgulhosa enquanto eu a
olhava.
Como Brady tinha dito, ele era bom em seguir ordens. Se
Heather queria ser tomada, então ele a conquistaria sem hesitação.
Ele rodeou a mesa até ficar do lado dela. Ele enlaçou seu cabelo
com os dedos e puxou sua cabeça na direção do seu pau ansioso.
Mais uma vez pensei em como era estranho fazer sexo a três
com meu melhor amigo. Cada um de nós tomando um buraco. Mas
era absolutamente estimulante no auge da paixão. Assistir Brady
foder a boca de Heather intensificava meu próprio prazer de alguma
maneira.
Era bom. Era muito bom.
Heather abriu seus lábios ansiosos e aceitou o que ele deu
para ela. Ela tentou mover a cabeça para cima e para baixo, mas
Brady estava no comando. Ele usou a mão que segurava seu
cabelo para manter sua cabeça no lugar enquanto ele fodia seu
rosto, usando-a como seu brinquedo sexual particular. Heather
respondeu arqueando suas costas na mesa e gemendo em volta da
sua vara. Senti sua boceta se contraindo em volta de mim.
Entrei e saí dela incessantemente, o choque das minhas
estocadas faziam a mesa balançar contra a parede e seus peitos
chacoalharem hipnoticamente. Os dedos de Brady seguravam seu
maxilar enquanto ele enfiava seu pau cada vez mais fundo na boca
dela. Ela aguentou mais do que eu esperava, seus próprios dedos
apertando as coxas de Brady enquanto ele empurrava para mais
longe, quase fazendo-a se engasgar. Mas ela estava gemendo de
êxtase, empurrando-o para dentro dela quando ele tentava se
afastar, fazendo-o entender que ela queria mais, mais e mais.
O suor escorria pelo meu pescoço e se acumulava na gola da
minha camisa, mas eu não parei. Em seguida, seu corpo lindo se
esparramava sobre a mesa, sendo fodido em dois buracos, e foi
demais para mim. Segurei seu peito por baixo da blusa, apertando
faminto enquanto meu próprio clímax explosivo se aproximava.
Heather e eu tínhamos estado juntos vezes o suficiente para
conhecer os sinais – aceleração da respiração, a forma como
nossos dedos apertavam o corpo um do outro mais forte, o aumento
na intensidade dos gemidos. Dei uma estocada final com o intuito de
puxar para fora e gozar na sua barriga toda, como eu já tinha feito
antes.
Mas Heather embrulhou meu corpo com as pernas e me
apertou, me mantendo dentro dela. Tentei me afastar das pernas
dela quando soube que estava no limite do oceano do êxtase. Ela
não tinha percebido que eu estava prestes a gozar?
Ela se afastou do pau de Brady rapidamente para dizer, “Eu
quero dentro de mim! Me preencha!”
A permissão era mais do que eu poderia querer. Dei mais uma
bombada rápida, enfiando profundamente meu pau nela, e
rapidamente atingi o pico. Senti que tinha explodido dentro dela,
uma fonte jorrando meu amor que combinava com o prazer
formigante que eletrificava meu corpo, das coxas ao peito, e eu
deixei sair um rugido tão intenso que eu mesmo fiquei surpreso.
“Toma”, Brady disse, com os punhos puxando seu cabelo
enquanto ele se enfiava ainda mais fundo na sua garganta. “Toma
cada gota… caralho! Porra, Heather, vou gozar. Vou gozar na sua
boca…”
A mão de Heather escorregou para o meio das suas pernas e
ela se roçou ferozmente enquanto nós dois gozávamos dentro dela,
tremendo com o alívio ao preencher seus dois buracos, até ficarmos
completamente vazios.
Nossos corpos unidos foram se acalmando e ficando em
silêncio. O único som que ouvíamos era o de nossas próprias
respirações exaustas.
Heather finalmente soltou suas pernas e se sentou, dando um
beijo em uma esfera de suor no meu pescoço. “Isso foi bom.”
“Bom?”, Brady disse, com o peito ainda pesado. “Isso foi…
foi… caralho. Eu não tenho palavras para isso.”
Ela se virou e o beijou na boca. “Foi excelente.”
“Eu não ganho um beijo?”, provoquei.
Heather ergueu uma sobrancelha. “Você tem certeza de que
quer me beijar? Eu acabei de engolir aproximadamente dois baldes
do leite de Brady.”
“Ah”, eu disse. “Hm… tem razão. Não estou pronto pra isso
ainda.”
Ela me beijou no pescoço de novo. “Vamos trabalhar nisso.”
Enquanto nós três nos vestíamos, eu disse. “Tenho que admitir
que gozar dentro de você foi melhor do que tirar. Muito melhor. O
que te fez querer isso?”
Ela vestiu sua calça e respondeu, “Gostei de fazer isso ontem
então queria fazer hoje com você.”
Olhei para Brady. “Você, hm, deixou Brady gozar dentro de
você? Sem proteção?”
“Ei!”, Brady exclamou defensivamente. “Estou cem por cento
limpo. Não transo faz mais de um ano.”
Zombei. “Um ano? Mas e a Verônica?”
Heather riu como se já tivesse ouvido isso antes.
“Eu não dormi com a Verônica!”, Brady choramingou. “E não,
eu não quero falar sobre isso. Jesus, estou sendo interrogado antes
mesmo do meu pau amolecer…”
Heather me deu uma piscadinha. “Você e eu já estávamos
transando sem camisinha. Eu tomo pílula, não quero que você goze
fora, quero te sentir chegar até o fim.”
Me inclinei para baixo e a beijei com suavidade, não me
importando com o lugar em que sua boca estava segundos antes.
“Eu também quero.”
O telefone de Heather tocou. Ela olhou para ele. “É o Asher, as
crianças estão acordando.”
“Na hora certa!”, disse Brady.
Heather ia guardar o telefone, mas fez uma careta. “Tenho uma
chamada perdida. E uma mensagem de voz.”
“Deve ter tocado quando estávamos dando uns amassos”, eu
disse. “Desculpa ter te distraído.”
“Não precisa pedir desculpa”, ela disse segurando o telefone
no ouvido. “Esse é o tipo de distração que é sempre bem-vinda…”
Ela parou e seus olhos se arregalaram enquanto ela ouvia a
mensagem.
“Sem chance”, ela sussurrou. “Não acredito.”
“O que houve?”, perguntei. “Heather, você está bem?”
“O comercial antitabagismo para o qual eu fiz o teste?”, ela
abaixou o telefone. “Consegui o papel!”
33

Heather

“Isso é maravilhoso!”, Asher disse enquanto subíamos as


escadas. Eu tinha acabado de organizar as crianças em torno da
mesa da cozinha para o lanche da tarde.
“Acho que sim”, eu disse.
Asher me deu um olhar pensativo. “Você acha que sim? Não é
seu primeiro papel?”
“Eu gosto de cenoura!”, Dustin anunciou para ninguém em
particular. Ele mastigava com a boca aberta, revelando pedaços
laranjas dentro.
“Mastigue de boca fechada!”, me virei para Asher. “Eu não
esperava conseguir o papel. Só fiz o teste porque meu treinador
insistiu.”
“Você está chocada, é compreensível”, disse Asher,
acariciando meu braço confortavelmente. “É síndrome do impostor.
Vai passar quando você chegar lá e começar as gravações. Isso é
maravilhoso! Deveríamos celebrar!”
Os rapazes foram mais solidários do que eu esperava. Na
verdade, eles foram doces na medida certa. Rogan trouxe uma
garrafa de champanhe caro para celebrarmos a conquista e Brady
me trouxe flores.
“Eu sabia que você era um molenga bem no fundo”, eu disse a
Brady enquanto movia o buquê para um vaso.
Ele me beijou. “Eu não sabia como te agradecer direito. Então,
você sabe… flores são geralmente boa ideia.”
Fiz uma careta. “Me agradecer?”
“Sim, você sabe. Por todo o sexo que você tem me oferecido”,
ele me deu uma olhada intrigada. “O que mais você estava
pensando?”
Ok, talvez as flores não fossem um presente para comemorar o
meu papel no comercial. Mas Brady estava animado por mim
quando descobriu.
Mas mesmo depois que celebramos com champanhe e uma
boa refeição, relutei em me sentir bem com o papel. Eu não queria
fazer comerciais. Eu queria um atalho para o estrelato e a fama,
merda!
As semanas seguintes foram um turbilhão de atividade. O
roteiro do comercial foi entregue pelo correio. Tive que assinar,
como uma intimação. Chiquérrimo.
Eu só tinha algumas falas, mas o roteiro tinha três páginas,
cheias de orientações dos diretores. O humor da minha
personagem, sua história de vida, suas motivações. Tudo isso para
um comercial de trinta segundos. Achei um pouco demais.
Os rapazes fortaleceram a segurança de Amirah Pratt com um
segundo guarda-costas, mas eles ainda se revezavam vigiando sua
propriedade a noite. Até mesmo Asher entrou no rodízio.
Eu meio que gostava da situação. Não a parte sobre Amirah ter
um perseguidor que estava tentando matá-la, mas a parte em que
os rapazes se revezavam no turno da noite. Aquilo automaticamente
decidia com quem eu dormiria a cada noite.
Quando Brady ia trabalhar, eu e Rogan dormíamos juntos.
Quando Rogan ia trabalhar, Asher e eu nos acariciávamos no
sofá, assistindo documentários sobre a natureza. Às vezes
transávamos também, mas não era necessário.
E quando Asher ia trabalhar, eu ordenava a Brady que fizesse
tudo o que ele queria. Uma ordem que ele ficava muito feliz em
cumprir. Assim que as crianças pegavam no sono, Brady me
carregava para o seu quarto e me propiciava as experiências
sexuais que eu ansiava dos meus fuzileiros: ásperas, duras, sem
restrições. Ele tratava minhas partes íntimas como se fossem o saco
de pancadas particular do seu pau.
E Brady podia ser bem violento nas pancadas, se é que você
me entende.
Eu estava aproveitando muito com os pais. E eles também
pareciam estar amando cada segundo assim como eu. O ciúme
quase não existia, e quando existia era de forma divertida e suave.
“Ah, Brady fez isso ontem?”, Rogan comentava. “Bom, certamente
não vou dar essa vantagem a ele. Hora de invadir a fortaleza.”
Ok, ele nunca disse invadir a fortaleza, na verdade. Mas dá
para entender a ideia.
Tudo estava perfeito, com exceção da coisa mais importante.
As crianças.
As três primeiras semanas foram ótimas. Todos os dias eles
melhoravam um pouco mais. Devagar e constantemente, os
meninos estavam se tornando homenzinhos bem-comportados.
Chocolate era a melhor motivação.
“Vocês estão tão comportados quanto Cora!”, Brady disse aos
garotos certa noite. Cora rolou os olhos, mas os garotos sorriram.
Então, no início da minha quarta semana como babá, os
garotos começaram a piorar. Eu não entendia o porquê, no começo.
Havia altos e baixos com as crianças, e às vezes podia ser só um
mau dia. Sem problema.
Mas eles tiveram dois dias ruins na sequência. Então três. A
cada dia pioravam mais do que o anterior. Parecia que eles estavam
regredindo.
“Se vocês não se sentarem e se comportarem agora”, avisei
Micah durante um episódio de Caçadores de Trolls, “você vai perder
sua estrela!”
“Não me importo!”, Micah gritou de volta para mim. Ele me
encarava como se eu fosse sua pior inimiga. “Estrelas são
estúpidas!”
“As estrelas levam aos prêmios”, eu disse pacientemente.
“Lembra que você não ganhou nenhuma guloseima ontem? Se
continuar assim…”
Micah se levantou e correu pelo corredor, gritando sobre querer
brincar com seu caminhãozinho. Quando isso aconteceu, a última
corda de controle de Dustin se rompeu e ele saiu correndo pelo
corredor para seguir o irmão.
“Estou sendo boa, Senhorita Heather”, disse Cora com sua
vozinha aguda.
Dei um abraço nela. “Sim, você está.” Caminhei pelo corredor
tentando controlar os garotos.
Geralmente eu preferia reforço positivo ao invés de negativo.
Mas do jeito que eles estavam se comportando, tive que tomar
medidas drásticas. Pode até parecer óbvio quando se trata de
crianças. As estrelas estavam desempenhando um bom papel até o
momento, mas era hora do tão temido castigo.
Coloquei os meninos de castigo. Eles tiveram que se sentar no
canto, encarando a parede, por quinze minutos. Quinze minutos é
uma eternidade para alguém de seis anos de idade. E no final, eles
estavam soluçando e pedindo desculpas, prometendo que se
comportariam.
Foi o que eu pensei. Sorri para mim mesma.
Mas o castigo criou um padrão de comportamento. Micah e
Dustin desobedeciam o suficiente para perder uma estrela, mas
assim que eram ameaçados com castigo, eles paravam. Era
estranho.
“Micah só tem uma estrela!”, anunciei uma noite depois do
jantar. “Dustin tem duas. Não é o suficiente nem para o balde
pequeno.”
“Estou desapontado com vocês!”, Rogan falou com eles.
“Vocês são melhores que isso. Por que você não estão se
comportando?”
Os meninos deram de ombros tristemente.
“Cora, entretanto, fez um ótimo trabalho. Merece uma
guloseima do balde grande.”
Abaixei o balde para Cora olhar dentro, mexendo nos pacotes
procurando o que queria. Finalmente ela pegou um Twix grande. Os
garotos assistiam com os olhos arregalados enquanto a irmã
segurava o pacote.
“Vou guardar para depois”, Cora anunciou, com o tom
arrogante de uma rainha que anuncia a sentença de um prisioneiro.
“Nãão!”, disse Dustin. “Você tem que comer agora!”
“Cora pode fazer o que quiser com o chocolate”, eu disse.
“Desde que coma antes de escovar os dentes.”
As bocas dos garotos se encheram d’água enquanto eles
olhavam a irmã desaparecer dentro do quarto.
“Já tem três dias na sequência que ela ganha doce e vocês
não”, eu disse a eles.
“Nós sabemos!”, eles disseram em uníssonos. As bochechas
sardentas de Micah tombaram.
“Então por que vocês não se comportam melhor?”, Rogan
perguntou a eles.
Ambos deram de ombros.
“Eu nem quero isso!”, disse Micah, com uma cara tão atrevida
que quase me fez rir.
“Todos colocando o pijama”, eu disse a eles. “Que eu vou ler
uma história para vocês.”
“História!”, eles gritaram animados e correram pelo corredor,
apostando corrida.
Suspirei e olhei para Rogan. “Você e Brady eram terríveis
assim quando eram crianças?”
“Eu era bem-comportado!”, disse Rogan. “Eu não conhecia
Brady quando ele tinha seis anos, mas eu ousaria dizer que ele era
exatamente assim.”
“Sem problemas com Cora”, disse Asher tomando um copo
d’água. “Ela ganhou um grande chocolate hoje.”
“Não é uma competição”, Rogan disse secamente. Asher deu
de ombros e se afastou.
O mau comportamento continuou. Mais castigos foram
instituídos e comecei a pensar em novas formas de incentivá-los.
Novos itens foram adicionados aos baldes, como pequenos
brinquedos ou quebra-cabeças. Eu até considerei dar um doce para
eles ao final de cada atividade – literalmente encurtando o caminho
até o prêmio. Se a recompensa no fim do dia tinha ficado abstrata
demais, talvez se ela fosse dada de hora em hora estimulasse.
Mas eu odiava a ideia de dar doces para eles o dia todo. Isso
não corrigiria o problema principal, e só estimularia mais hábitos
ruins.
Meu comercial começou a ser filmado numa quinta-feira. A
irmã de Brady, Patty, chegou para ficar com as crianças às dez da
manhã.
“Eu não me importo!”, ela disse quando fui recebê-la na porta.
“Eles estavam tão diferentes da última vez que fiquei com eles o dia
todo. Principalmente se você os melhorou mais ainda nas últimas
semanas.”
Estremeci. “Bem, na verdade eles estão piorando um pouco. A
última semana foi… problemática, no mínimo. Os meninos não
estão mais motivados pelo sistema de recompensas. Eles não
ganharam nenhum doce essa semana.”
Patty latiu uma risada similar à de Brady. “Vou te dizer o que
aconteceu. Eles conseguiram alcançar os baldes de doces para
assaltá-los.”
“Pensei nisso, então comecei a contar quantos doces há
dentro”, respondi. “Havia dois faltando do balde grande ontem. Mas
acontece que Brady atacou o balde quando chegou em casa após
vigiar Amirah. Tirando isso, os doces têm sido contabilizados a
semana toda.”
“Ah!”, Patty deu de ombros como se não pudesse fazer nada.
“Darei o meu melhor. Não posso acreditar que você vai finalmente
atuar hoje. Muito legal! Quanto tempo você vai ficar fora?”
“É só um comercial. Então… algumas horas, talvez? Nunca fiz
um antes.”
Me despedi das crianças e desci as escadas. Os três caras
estavam me esperando – até Brady, que parecia mal conseguir ficar
de pé depois de uma noite longa vigiando Amirah.
“Algo errado?”, perguntei.
“Está errado porque não te desejamos sorte!”, disse Brady.
Seus olhos pareciam cansados, mas ternos e cheios de vida. “Bota
pra quebrar, ok?”, ele me deu um tapinha no ombro.
Asher me deu um abraço carinhoso e amoroso. “Relaxa, você
ensaiou, vai ser fácil!”
Eu estive estado muito ocupada para ensaiar, mas não queria
dizer a eles.
Rogan me pegou pelos ombros, como um técnico prestes a
fazer um discurso inspiracional. “Mesmo que seja só um comercial,
é um grande passo pra você. Vá lá e seja a Heather Hart que eu sei
que você pode ser!”
Por alguns momentos, suas palavras invadiram minha mente.
Se Rogan acreditava em mim, certamente eu também podia
acreditar em mim mesma. Eu era Heather Hart, caralho! Não existia
papel pequeno demais para mim.
Aqui vou eu, pensei entrando no Uber. Hora de botar para
quebrar.
34

Heather

Ensaiei minhas falas no caminho para a gravação. Não era tão


difícil. Eu só tinha três falas. Mas estaria lascada se não lesse as
falas mais cem vezes.
A gravação ia ser em um campo de futebol de uma escola.
Desci do Uber e atravessei o campo para onde todo mundo me
esperava. Mas encontrei um rosto conhecido no caminho
encostado em um tronco de árvore vendo vídeos no TikTok.
“Maurice! O que você está fazendo aqui?”
Ele rolou os olhos. “Você acha que eu ia perder o primeiro
papel da minha melhor amiga? Não, não, querida. Você está
redondamente equivocada. Preciso estar aqui e assistir cada
momento!”
Ele me abraçou e então caminhamos até o lugar juntos. “Como
você se sente?”
“Bem, não caiu minha ficha ainda.”
Maurice me olhou de lado. “Como diabos você conseguiu esse
papel? Você não tinha ido mal no teste?”
“Estou tão confusa quanto você. Talvez minha atitude meia
boca tenha soado como atitude de adolescente raivosa.”
“Sortuda!”, Maurice sussurrou. “Fiz cinco testes em um mês e
não recebi nenhuma ligação de volta. É melhor você arrasar nesse
papel, querida. Por nós dois. Assim eu posso desfrutar do seu lugar
ao sol também!”
Comecei a duvidar quando me aproximei do set. Outros atores
trabalhariam duro por um papel como esse e meio que caiu de
paraquedas no meu colo sem eu me esforçar muito. Duvidei se eu
era boa o bastante.
O set era uma área isolada em volta das arquibancadas do
campo. Havia um segurança verificando as identidades, então
apresentei Maurice como meu agente para que ele pudesse entrar
no set. Fui enfiada dentro de um trailer de maquiagem onde uma
figurinista ajeitou meu cabelo, colocou um piercing de argola falso
no meu nariz e me maquiou.
Fiquei impressionada com o trabalho dela. Eu realmente
parecia uma adolescente usando a maquiagem da mãe.
Uma produtora me levou para o set, onde conheci o diretor. Ele
parecia e falava como o irmão mais novo e mais choroso de Woody
Allen. Conheci os outros dois atores no camarim e então fomos para
as nossas marcações.
A cena era mais estereotipada do que qualquer um podia
imaginar. Eu era a Garota Má Número Um, que estava fumando
debaixo das arquibancadas com sua amiga. Eu estava usando até
uma jaqueta de couro para combinar com meu piercing no nariz, no
caso de não ter ficado óbvio o quão má eu era. A terceira garota –
GB no script, Garota Boa – andaria pelas arquibancadas. Dava para
notar que ela era boa porque ela carregava uma pilha de livros –
aparentemente no universo daquele comercial não existiam
mochilas. Minha personagem ofereceria a ela um cigarro. Então a
Garota Boa educadamente – mas firmemente – nos explicaria que
fumar causa câncer no pulmão. Eu riria dela e então minha grande
fala apareceria: “Cai fora, nerd!”
Sim. Minha carreira de atriz começaria com a prosa
shakespeariana: Cai fora, nerd. Tente conter seus aplausos.
Mas bem, o diretor estava levando o comercial muito a sério.
Ele nos deu orientações sobre a atuação individualmente antes de
iniciarmos a filmagem. A forma como ele falou comigo parecia que
estava transmitindo o sentido da vida para um discípulo ansioso.
Mas eu era uma atriz, então eu sorri e fingi que tudo o que ele dizia
era a verdade divina absoluta.
Só queria acabar com aquilo logo para voltar para o trabalho e
para minha diversão com os pais, é claro. Naquela noite, Brady e
Asher ficariam em casa e eu esperava por uma reencenação da
diversão que tivemos na sala de descanso algumas semanas atrás.
O diretor se sentou na sua cadeira, acenou para as pessoas e
então, assim como em filmes, gritou “Ação!”
A primeira tomada foi tranquila. As duas equipes de filmagem
nos circularam como abutres, capturando a cena de diferentes
ângulos. Eu não tinha praticado para naquilo, mas eu era capaz de
ignorá-los e focar no papel.
Não quero me gabar, mas mandei muito bem na primeira
tentativa. Claro, eram só algumas falas, mas eu arrasei. Por vinte e
seis longos segundos eu me tornei a Garota Má Número Um. A
raiva adolescente atingiu patamares fora dos limites.
Quando a cena terminou, o diretor acenou enfaticamente.
“Excelente, foi um ótimo ensaio! Agora vamos para a tomada real.”
Eu estranhei. “Ensaio?”
A outra garota fez uma careta e abaixou a voz. “Sempre
fazemos várias tomadas.”
“Quantas são muitas?”, perguntei. “Três? Quatro?”
Ela riu, então fez uma careta para mim. “Espere, você está
falando sério? É seu primeiro comercial?”
“Na verdade, sim. É.”
“Bem, eu já faço isso faz três anos”, a garota me contou. “Os
diretores desses comerciais levam isso tudo a sério. Vamos ficar
aqui por algum tempo.”
Resmunguei.
Fizemos outra tomada. Mais uma vez, eu brilhei. E mais uma
vez, o diretor ficou todo inquieto de novo. Ele criticou nosso cabelo,
então a maquiadora veio fazer ajustes. Depois da tomada seguinte,
ele nos pediu para usar óculos de sol. Depois de uma hora de
gravação – perdi a conta do número de tomadas –, ele reclamou
que não parecíamos jovens o suficiente.
Se você queria adolescentes, talvez pudesse ter contratado
colegiais, idiota.
Eu deveria estar extasiada por estar fazendo qualquer coisa
relacionada à atuação, mas eu não conseguia esboçar nenhuma
animação. O comercial não ia me ajudar a alavancar minha carreira.
As conexões de Rogan na indústria sim.
“Vamos começar de novo”, o diretor disse. Os outros atores e
eu rolamos os olhos.
Mas o diretor notou nossa falta de interesse e, na tomada
seguinte, ele pediu que fossemos mais entusiasmados.
Depois de quatro horas, o diretor fez uma pausa. “Acho que
está bom por hoje.”
Todos suspiramos aliviados.
“Vamos continuar gravando amanhã ao meio-dia!”, ele
adicionou, “Então estejam aqui às onze para a troca de roupa.”
Me assustei. “O quê?”
O diretor já estava saindo. Seu assistente, um jovem alegre de
cardigã, veio até nós e marcou na sua prancheta com um lápis.
“Vocês podem confirmar sua disponibilidade pra filmar amanhã?”
Os outros dois atores acenaram. “Acho que sim, mas eu não
esperava que durasse dois dias…”
“Perfeito, nos vemos às onze em ponto!”
Maurice estava pulando com excitação. “Você fez tantas
tomadas! Estou com inveja!”
“Você está com inveja porque precisei repetir as mesmas três
linhas um bilhão de vezes?”
“É prática!”, Maurice insistiu. “Prática de verdade, diferente do
que fazemos na aula do Sr. Howard.”
“Sim, prática”, murmurei quando ele saiu.
35

Heather

Entrei na casa com o pedido de desculpas na ponta da língua.


“Me desculpem pelo atraso. Não esperava que as filmagens fossem
durar o dia todo.”
As crianças correram até a porta para me atacar com abraços.
“Senhorita Heather! Sentimos sua falta!”, disse Dustin.
“Eu não senti falta dela!”, disse Micah. “Prefiro a Tia Patty.”
Patty estava parada na cozinha, com os braços sobre o balcão.
“Também te amo, coisinha.”
As crianças voltaram para a TV e eu me juntei à Patty na
cozinha. “Tudo certo?”, perguntei.
“Você estava certa!”, disse Patty. Ela parecia e soava exausta.
“Eles voltaram ao normal. Talvez estejam piores do que antes de
você chegar.”
Olhei para a tabela de recompensas na geladeira. “Uma estrela
pro Micah, nenhuma pro Dustin?”
“Cora ganhou um doce grande e foi isso. Os meninos não
parecem se importar mais. Como isso aconteceu em algumas
semanas?”
Suspirei e andei até a sala de estar. “Estou muito desapontada
com o comportamento de vocês. Nenhuma estrela, Dustin? Sério?”
Dustin teve o bom senso de fingir culpa. Micah nem me olhou.
Me virei para Patty e fiz uma careta. “Sei que é uma péssima hora
pra pedir. Será que você poderia ficar com eles amanhã?”
Patty fez um a careta. “Vou a São Diego a trabalho amanhã. Eu
cancelaria se pudesse, mas é tarde demais…”
“Não, tudo bem!”, eu disse. “É minha culpa. Eu dou um jeito.”
Patty foi legal o suficiente para cuidar das crianças enquanto
eu tomava banho. Quando troquei de roupa e voltei para a sala, os
pais estavam chegando do trabalho. Houve um caos quando as
crianças foram cumprimentá-los e em seguida Patty se despediu e
deixou a casa.
“Como foram as filmagens?”, Asher perguntou.
“Bom… foi meio que uma merda!”, contei sobre o diretor e as
milhões de tomadas inúteis que tivemos que fazer.
“Pelo menos acabou”, disse Rogan. “E agora você tem isso no
currículo.”
“Sim, falando nisso… vamos ter que voltar amanhã pra filmar
cenas adicionais. Preciso sair por volta de dez horas. Não tenho
ideia de que horas acaba. Vocês podem me cobrir?”
Os três estremeceram. “Nós podemos ficar com eles no início
da tarde”, Rogan disse, “mas temos que ir até o vale pra uma
reunião com a Agência Weiman. Eles querem discutir a situação de
Amirah Pratt.”
“Está tão ruim assim?”, perguntei.
Asher acenou. “Estamos lutando pra manter o contrato.
Precisamos estar lá os três pra mostrar que é nossa prioridade.”
Abaixei o tom para as crianças não ouvirem. “Merda, talvez eu
possa alterar o horário da filmagem…”
“Não faça isso!”, Rogan insistiu. “Vamos dar um jeito”, ele olhou
no relógio. “O turno de hoje é meu. Preciso ir pra casa de Amirah”,
ele me deu um beijo na bochecha e foi para o quarto se trocar.
Asher acenou para Brady. “Você pode colar as crianças na
cama?”
“Sem problemas”, Brady disse no mesmo instante em que eu
respondi, “Já cheguei em casa, posso fazer isso.”
Asher me pegou pela mão. “Tem algo que quero te mostrar.”
Ele me guiou para o seu quarto. Havia três prateleiras cheias
de todos os tipos de livros: manuais técnicos, discussões sobre a
história militar e biografias, como a de Winston Churchill e a de
Omar Bradley. Asher fechou a porta e correu os dedos pelos meus
braços.
“O que você queria me mostrar?”, perguntei.
Ele me deu um beijo terno. “Bom, eu menti. Você teve um
longo dia, então queria te fazer uma massagem.”
Levantei uma sobrancelha. “Que tipo de massagem?”
“Não do tipo safado. Tire a roupa e deite-se na cama.”
Eu não estava muito no clima para uma massagem, mas
estava cansada demais para reagir. Tirei meu sutiã e minha calcinha
e então me deitei debaixo das cobertas, de barriga para baixo.
Ainda vestido, Asher ficou de joelhos na cama e colocou as
mãos sobre as minhas escápulas. Seus dedos se moveram devagar
pressionando meus músculos, amassando-os em círculos
concêntricos.
Em segundos todos os meus protestos desapareceram. Deixei
um gemido suave sair enquanto ele usava os dedos para
massagear meu corpo todo, removendo meu stress. Asher achou
um nó na minha escápula e demorou um pouco desfazendo-o. Às
vezes doía, mas só um pouco. E eu sabia que era para o meu
próprio bem.
Você é muito. Muito. Bom. Nisso”, eu grunhi enquanto ele
massageava meus pés.
“Fim um curso, só de hobby.”
O tempo parou enquanto eu me rendia aos seus dedos
habilidosos. Depois de mais ou menos meia hora, eu era uma poça
de alívio e felicidade. Eu não tinha jantado, mas sentia que podia
dormir ali mesmo naquele momento.
Ele me virou e massageou o outro lado do meu corpo, focando
nas minhas coxas e então passando mais tempo tocando meus
braços e ombros. Quando chegou no meu pescoço, eu estava mais
relaxada que uma galinha em uma fazenda de vegetarianos.
Asher voltou para as minhas coxas, abrindo-as sutilmente para
fazer círculos no interior, no tendão. Meu estado de relaxamento
subiu mais um patamar.
Suas mãos escorregaram para dentro, me acariciando ao
mesmo tempo que me massageavam…
Gemi longamente quando seu dedão acariciou meu clitóris
gentilmente, primeiro só de passagem, e então mais
intencionalmente.
“Achei que era uma massagem inocente”, murmurei.
Mesmo de olhos fechados, eu sabia que Asher estava rindo
quando respondeu. “Mudei de ideia.”
Meu corpo se rendeu aos seus toques facilmente. Gemi com
suavidade enquanto ele esfregava os dedos para cima e para baixo
nos meus grandes lábios encharcados, da mesma forma cuidadosa
com a qual tinha massageado outras partes do meu corpo. Eu
confiava em Asher completamente e logo eu estava apertando meus
músculos internos em torno dos seus dedos enquanto ele os
espiralava dentro de mim.
No momento em que ele encostou a língua no meu clitóris, eu
estava na metade do clímax. Minha respiração se acelerou e eu
gentilmente arqueei minhas costas na cama, elevando meu sexo um
pouco mais na direção do rosto dele. Quanto mais ele se movia,
mais profundamente eu respirava até o ponto de agarrar um
punhado do seu cabelo loiro e o segurar contra mim enquanto eu
gritava e chacoalhava de alívio erótico.
Ele massageou minhas pernas gentilmente enquanto eu me
recuperava, então se deitou em um travesseiro do meu lado com um
sorriso no rosto.
“Eu é que deveria estar sorrindo assim”, sussurrei.
“Te dar prazer me faz feliz”, ele respondeu.
“Seus óculos estão embaçados.”
“Eu limpo mais tarde.”
Rolei de lado e me agarrei no seu corpo, desejando que ele
estivesse sem roupas. “O que eu fiz para merecer isso?”
“Você teve um dia ruim. Parecia estar precisando disso.”
“Não vou argumentar contra”, eu disse.
Ouvimos um barulho que vinha do quarto das crianças. Eu
sabia o que estava acontecendo sem ver: Brady tinha pegado Cora
e estava a carregando pelo cômodo, fingindo que ela era um avião
caçando Dustin e Micah. Cansando as crianças antes de colocá-las
na cama.
Pensar naquilo me fez me lembrar do problema do dia
seguinte. “Vocês têm alguma outra babá em mente pra olhar as
crianças amanhã?”
Asher fez uma careta encarando o teto. “Conhecíamos a Alice,
mas tenho certeza de que ela não vai voltar depois da última vez.
Marian foi boa por uma semana, até a gente descobrir que ela
estava deixando as crianças correrem soltas pela casa comendo
doces enquanto ela assistia reality show o dia todo.”
“Alguma agência de babás?”, perguntei.
“Sim, mas nós temos, hm, má reputação entre elas todas.
Ninguém quer cuidar dos meninos. Esse é um dos motivos pelos
quais a contratamos. Não tínhamos muitas outras opções.”
Gemi. “Vou cancelar a filmagem. Talvez eles possam
remarcar.”
“Não faça isso!”, Asher insistiu, mais vigorosamente do que eu
esperava. “É a sua carreira. Temos a reunião com a Agência
Weiman às duas. Tudo o que precisamos é de alguém que fique
com eles a partir dessa hora até você voltar. Não precisa ser uma
babá muito boa, desde que ela atue como quem sabe o que faz.”
A palavra atuar me deu uma ideia. Depois de alguns segundos,
eu sorri.
“Acho que conheço alguém.”
36

Heather

Assim que peguei um Uber para ir à filmagem na manhã


seguinte, pensei no que tinha acontecido na noite anterior. O que eu
estava fazendo com Rogan, Brady e Asher era para ser
supostamente apenas físico. Aproveitar a vida com base somente
na conveniência, sem amarras.
Mas na noite anterior foi diferente. Asher tinha cuidado de mim
da forma como um namorado cuidaria. Ele havia tido um longo dia e
ainda assim veio para o quarto e colocou minhas necessidades na
frente das dele. E depois que a massagem virou uma massagem
erótica, ele não esperou nada em troca.
Eu gostava de Asher. Ele era maduro, calmo, atencioso.
Pensando bem, eu gostava dos três de formas diferentes, mas
iguais. Eu estava criando expectativas ou só pensando demais?
Cheguei ao local de filmagens e fui direto para o camarim. A
maquiadora fez um rabo de cavalo de lado e ajeitou minha franja. As
outras duas atrizes fizeram cachos no cabelo. Parecia que
estávamos filmando um comercial dos anos oitenta.
“Meu contrato inclui extras”, uma das garotas disse. “Eles
podem demorar cinco dias pra filmar. Eu não me importo, desde que
me paguem por isso.”
Meu contrato era igual, mas eu não me importava com o
dinheiro, só queria acabar logo com aquilo. Recuei um pouco
quando percebi esse pensamento. Em algumas semanas
trabalhando para os rapazes, eu já estava tratando dinheiro de
forma leviana. Que diferença enorme um mês podia fazer.
O diretor se atrasou tanto que só as filmagens começaram uma
hora da tarde. Foi exatamente como o dia anterior, ele nos fez
refilmar a mesma cena várias vezes, fazendo ajustes pequenos aqui
e ali. Comecei a perder o foco por volta das seis. Era difícil ficar
“ligada” por todo aquele tempo, mesmo com os intervalos entre as
tomadas. Graças a Deus eu tinha me acostumado a ficar de pé o dia
todo trabalhando em bares e restaurantes. Do contrário, eu
provavelmente teria colapsado.
“Quero algumas tomadas noturnas”, o diretor anunciou às sete
da noite. “Alguém pode ligar as luzes desse campo? Os postes
altos? Bob, ligue pro zelador…”
Resmunguei e enviei uma mensagem para quem estava
cuidando das crianças. Sem resposta. Possivelmente as crianças
estavam dando trabalho.
Filmar de noite significava mais um round de maquiagem para
evitar que as luzes derretessem o que já estava na nossa pele.
Enquanto a pobre maquiadora trabalhava, vi um rosto familiar se
aproximando.
“Sr. Howard?”, chamei.
Meu técnico de atuação me deu um aceno polido, então
começou a falar com o diretor. Depois de alguns momentos, ele
ficou de pé num canto assistindo tudo.
“Ok, vamos começar!”, o diretor disse.
Nada mudou do dia para a noite, a não ser a temperatura. O
diretor ainda estava infeliz com tudo: a luz, as atuações, os
figurinos. O Sr. Howard, como espectador, me fez focar
completamente e fingir entusiasmo. Mas o diretor não se
impressionou.
Finalmente ele bateu na cadeira e resmungou. “Precisamos de
mais tomadas de dia! Não está funcionando. Ok, pessoal? Preciso
de todos aqui de manhã, às oito, pra trocar de roupa e…”
Todo mundo, dos atores aos operadores de câmera, reclamou
antes mesmo que ele pudesse terminar.
Sr. Howard se aproximou devagar. “Phil, não é um pouco
demais pra um comercial?”
O diretor o ignorou enquanto arrumava tudo. “Não existem
papeis pequenos, Eugene. Só pequenas atitudes. Vamos demorar o
tempo que for preciso.”
“E eu suponho que isso não tenha nada a ver com você querer
cobrar três dias de filmagem ao invés de um só por que você
guardou rancor do último trabalho?”
O diretor deixou sua prancheta cair de surpresa, mas a
recuperou rapidamente. “Não”.
“Vocês já estão filmando há dois dias. Já tem o que precisam.
Deixe esses pobres trabalhadores irem descansar. Se você fizer
isso, talvez eu faça uma ligação e você consiga assistir o piloto da
ABC que vai ser filmado amanhã. Todo mundo está dizendo que vai
ser o sucessor espiritual de Seinfeld.”
Aquilo chamou a atenção do diretor. Ele limpou a garganta e
então gritou, “Esqueçam o que eu disse sobre amanhã. Terminamos
hoje. Temos material o suficiente pro comercial. Obrigado a todos
pela ajuda.”
“Suspirei profundamente aliviada. “Obrigada, Sr. Howard. Eu
estava prestes a ter um colapso e chorar se tivesse que vir amanhã
de novo.”
Ele riu para mim enquanto a maquiadora limpava meu rosto.
“Phil sempre foi um fanático. Ele precisa tomar uma cotovelada às
vezes. Você foi ótima hoje, Heather!”
“Você acha?”
“Eu sei que sim! Você foi absolutamente professional apesar
das condições interessantes. Estou entusiasmado por você ter
levado esse trabalho a sério, embora seja só um comercial.”
Seu encorajamento me fez sorrir. “Eu também.”

*
Cheguei em casa depois das nove da noite. Ninguém tinha
respondido minhas mensagens, então eu esperava chegar em casa
e encontrar a residência destruída. Mas quando cheguei, estava
tudo quieto.
Será que quem estava cuidando das crianças tinha ido embora
mais cedo? Rogan me disse que eles ainda estavam fora no jantar
com a Agência Weiman, então seria péssimo se as crianças
tivessem sido deixadas sozinhas dormindo…
Escutei risadas no fim do corredor, fracas e abafadas. Segui o
ruído até a sala de descanso. A porta estava entreaberta, dei uma
olhada para dentro.
“Foi meu primeiro show!”, dizia Maurice empolgado. Suas
pernas estavam encolhidas no sofá e seus braços estavam
apoiados no encosto, seu torso virado na direção de Brady, que
preparava um coquetel no bar. “Eu tinha uma queda pelo Nick, faria
várias coisas deliciosas com ele se pudesse.”
No bar, Brady enchia uma coqueteleira. “Que azar o Lance ser
o cara gay do grupo.”
Maurice rolou os olhos. “Meu amor, Lance era do NSYNC.”
Brady se virou e entregou o coquetel para Maurice. Ele estava
usando sua camiseta dos Backstreet Boys. “Desculpa, estou
enferrujado. Confundindo as boybands dos anos noventa”, foi então
que ele me notou. Seu rosto se iluminou. “Ei! Aí está nossa garota!
Como foi a filmagem?”
Meu estômago deu uma pirueta quando ele disse nossa
garota, mesmo que sua intenção não tivesse sido aquela. “A
filmagem foi longa! Até o Sr. Howard aparecer e dar uma bronca no
diretor”, gesticulei. “Não esperava encontrar vocês dois de papo
aqui.”
Brady pegou sua caneca de café e se sentou ao lado de
Maurice. “Cheguei cedo da reunião com a Agência Weiman, porque
vou cobrir a casa de Amirah essa noite”, ele levantou a xícara. “Por
isso, café para mim. Quer beber alguma coisa?”
“Adoraria!”, eu disse.
“O garoto de Boston faz os melhores Manhattans”, Maurice se
emocionou. “É o suficiente pra me fazer ignorar esse sotaque
horroroso.”
“Uou, cara!”, disse Brady enquanto fazia outro coquetel. “Qual
é o problema com o meu sotaque?”
“Não vou nem me dar o trabalho de responder”, Maurice deu
uma golada na bebida e mudou de assunto, “Como é Amirah Pratt
de verdade? Uma grande vaca? Ela parece ser o tipo de garota que
deixa a fama subir à cabeça.”
“Ei!”, eu disse. “Você está falando da minha sósia!”
Maurice se virou para mim. “Prometo não dizer mais nada.”
Brady deu uma gargalhada. “De jeito nenhum. Amirah é uma
querida. Muito humilde. Ela cresceu em uma fazenda em Iowa, eu
acho. E é sempre muito agradável”, disse enquanto me entregava
um Manhattan.
“Obrigada”, dei uma golada longa e perguntei, “Como estão as
crianças?”
Maurice bufou. “Você se importa se eu for brutalmente
honesto?”
“Não te imagino agindo de outra forma”, respondi.
“Eles se comportaram como o legado de satanás!”, Maurice
respondeu imediatamente. “Foi como cuidar de três pequenos
Hitlers.”
Suspirei. “Estávamos progredindo até semana passada. Não
sei o que está acontecendo. Minha próxima medida é proibi-los de
fazer o que gostam toda vez que eles se comportarem mal, mas não
queria ter que fazer isso com os meninos…”
“Não só os meninos!”, disse Maurice. “Cora fez tanta bagunça
quanto eles.”
Fiquei em choque. “Não pode ser. Como?”
Brady acenou e apontou para Maurice. “Conte a ela. Conte a
ela o que você viu.”
Maurice se esticou na minha direção. “Eu sei por que os
garotos retrocederam. Foi Cora. Ela está causando isso.”
37

Heather

“Você só pode estar brincando”, eu disse. “Cora é um anjinho.”


“Ela pode te enganar, mas não a mim”, respondeu Maurice.
“Ela é a líder do caos. Ela tem convencido os garotos a se
comportarem mal e oferecido doce em troca.”
“Como você sabe?”
“Eu os escutei conversando no quarto”, Maurice respondeu. “E
os dois meninos saíram do quarto com as mãos lambuzadas. Ela
pegou uma barra de chocolate do balde grande e deu pra eles.”
“Ou eles roubaram dela”, argumentei.
“É o que eu disse”, Brady se intrometeu. “Continue a história.”
Maurice acenou. “Foi cuidadosamente orquestrado. Mas eu
sou um ator e notei imediatamente. Depois do jantar, assim que a
recompensa foi distribuída, Cora anunciou em alto e bom tom que
estava indo para o quarto ler. Dez segundos depois os garotos
seguiram-na. Quando eles saíram do quarto, tinham os dedos sujos
de chocolate e estavam mais malcomportados do que antes,
jogando travesseiros e chutando tudo o que viam pelo chão da
cozinha. E Cora? Saiu calmamente do quarto com um sorriso
maroto no rosto. Eu conheço aquela cara, Heather, é a mesma que
eu fazia quando aprontava.”
Tentei processar o que estava ouvindo. “Isso explica por que os
doces não são mais atrativos para os garotos. Eles ganham as
recompensas da irmã no fim do dia. Mas por quê?”
Brady deu de ombros. “Quem entende as motivações infantis.
Tudo o que eu sei é que vou pegar no pé do Asher intensamente
quando ele chegar em casa. Ele sempre se vangloria do
comportamento de Cora. Bom, vamos ver quem é o anjinho perfeito
agora!”
Maurice terminou sua bebida. “Chega de diversão pra mim por
hoje. Vou para casa.”
“Transfiro seu pagamento em breve”, Brady disse, engolindo o
café e ficando de pé. “Quer uma carona? Estou indo vigiar a Amirah
e sua casa é no caminho.”
“Que cavalheiro.”
Brady me deu um beijo de tchau. “Queria poder ficar em casa
com você. Nos divertiríamos muito.”
“Também queria”, respondi.
Ele me deu uma piscadinha e então acompanhou Maurice até
a porta. “Ok, então continuando sobre meu amigo Jason. Ele não se
assumiu até os vinte e oito anos, mas todo mundo no batalhão
sabia. Ele mora em Bakersfield, mas posso te dar o telefone dele.”
“Qual é o tipo dele?”, Maurice perguntou.
“Hm… gays?”
Maurice gargalhou. “Não, eu quero saber se ele é urso, POC,
Barbie, daddy…”
“Cara, não faço ideia do que você tá falando!”, Brady
respondeu.
“Tenho muito a te ensinar”, Maurice me jogou um beijo e
fechou a porta.
Eu estava esgotada de novo depois das filmagens, então fui
direto para cama. Nem ouvi os rapazes chegarem. Dustin acordou
uma vez e pediu ajuda para ir ao banheiro, mas além disso, as
crianças me deixaram dormir sem interrupções.
“Não acredito nisso”, disse Asher durante o café da manhã no
outro dia. Ele estava incrédulo com a história. “Cora não. Isso é
impossível!”
“Aceita que dói menos, cara”, disse Brady engolindo seu café.
Ele parecia mais cansado do que normalmente, mesmo que as
coisas tivessem estado sob controle na casa de Amirah na noite
anterior. “Ela é a maestra da orquestra do descontrole.”
“Mas ela é um anjinho!”
“Lúcifer também era um anjo”, Brady lembrou.
“Chega de se vangloriar”, Rogan cortou a conversa. “O que
devemos fazer? Confrontá-la?”
“Podemos fazer isso, mas não é o plano ideal. Pelo menos não
agora. Quero ver com meus próprios olhos. E se a pegarmos no
flagra, vai ser mais efetivo.”
Rogan rodou a língua dentro da bochecha, e então acenou. “O
que você achar melhor.”
O dia correu normalmente. Os meninos tocaram o terror e Cora
se comportou perfeitamente. Mas eu notei que ela observava os
irmãos toda sorridente. Algo definitivamente estava errado.
Rogan veio para o andar de cima enquanto as crianças
cochilavam. “Você quer almoçar?”, perguntei. “Acabei de fazer
salada de frango com maionese, mas…”
Sem mais nenhuma palavra, Rogan me pegou pelo braço e me
guiou até seu quarto. Então ele trancou a porta e me beijou com
intensidade do que nunca. Caímos na cama juntos e ele
rapidamente puxou meu vestido até a altura da cintura. Sua
necessidade urgente me deixou molhada e seu pau escorregou no
meio das minhas pernas com facilidade.
Ele me segurou com os braços fortes e me fodeu com força e
velocidade, praticamente se entalando dentro da minha boceta
como se não quisesse sair dali nunca mais. Me rendi ao seu desejo,
comprimindo meus grandes lábios em torno da sua vara a cada
estocada enquanto levantava meus quadris na direção dele. Nós
dois estávamos aliviando nossas frustrações individuais,
transformando o sexo numa distração e nos perdendo nos
movimentos impensados dos nossos corpos.
“A filmagem foi um lixo ontem”, eu disse, enquanto nos
acariciávamos depois do ato. A coisa boa de uma rapidinha era que
sobrava muito tempo para o carinho. “Dois dias inteiros filmando e
refilmando a mesma cena curta. Eu estava prestes a ter um ataque
e gritar!”
“Pelo menos terminou”, Rogan murmurou no meu cabelo.
“Sim, mas deixou um gosto amargo na minha garganta. Me
senti decepcionada com todo o processo. Se um comercial de trinta
segundos foi tão ruim assim, como vai ser um projeto maior? Vai
durar pra sempre! Não acho que consigo fazer isso dia após dia.”
Rogan ouvia enquanto gentilmente acariciava meu cabelo. Eu
sentia seu coração bater debaixo da minha bochecha, pancadas
estáveis de vida. Depois de alguns minutos ele falou:
“Minha primeira missão foi no Golfo do México. Durante uma
das primeiras crises na Venezuela. Nos pediram que nos
preparássemos pra uma variedade de missões em potencial:
reconhecimento de terreno, defesa interna, assistência de
segurança, recuperação de pessoal… tudo. Eu me lembro de
organizar meu equipamento pro destacamento, pensando que
finalmente ia fazer o que sempre quis. E sabe o que aconteceu?”
“O quê?”
“A equipe do nosso porta-aviões ancorou na costa e nós
ficamos lá por seis meses. Estávamos sempre de sobreaviso, então
tínhamos que estar mentalmente preparados o tempo todo, mas não
fizemos nada em seis meses. Podíamos ver a costa usando a porra
do binóculo, mas nossa equipe nunca foi enviada pra terra. E então,
depois de meio ano, voltamos para Norfolk.”
“Eu me lembro da primeira noite no porto, bebendo num bar”,
Rogan continuou. “Me senti tão decepcionado com tudo. Eu tinha
treinado minha vida toda pra fazer coisas e até então não as tinha
feito. Não virei fuzileiro pra ficar sentado vigiando a água como se
fosse um salva-vidas. Depois disso, nos enviaram em outra missão.
E sabe o que aconteceu?”
“Foi muito melhor do que a primeira?”
Rogan chacoalhou a cabeça. “Foi igual. Exatamente a mesma
merda! Nos sentamos na base NAMRU-6 por seis meses.”
“Onde?”, perguntei.
“NAMRU. Uma unidade médica naval no Peru. Era nossa base
de operações pro caso de precisarmos invadir a Colômbia, mas
advinha? Nunca o fizemos. Mais um punhado de meses sentados a
ver navios feito idiotas.”
“Mas no fim do destacamento finalmente tivemos nossa
chance. Eles tinham a localização do líder de um cartel no meio da
selva. Ele era o pior tipo de filho da puta. Matou crianças
publicamente como um aviso aos inimigos. Eu não acreditava no
mal encarnado até eu receber as instruções da missão. Nos
enviaram pra floresta e… vou te poupar dos detalhes, mas o
capturamos e com a ajuda da aplicação da lei local, a justiça foi
feita.”
Rogan rosnou profundamente. “Eu me senti invencível depois
daquela missão. Como se eu fosse o Batman. Um super-herói de
verdade. A missão me lembrou da minha principal motivação pra ser
fuzileiro. Só precisei esperar pacientemente.”
“Então, você está sugerindo que eu me junte aos fuzileiros?”,
perguntei. “Nadar é um pré-requisito? Porque sou péssima.”
“Estou dizendo que você não pode deixar uma experiência
ruim arruinar seu sonho de virar atriz”, ele disse. “Seja perseverante.
Aguente as partes que são ruins por pelo menos mais um ano ou
dois. Vai compensar no final, prometo. Nada valioso nesse mundo
vem fácil.”
Me senti melhor depois daquilo. Sim, o comercial foi péssimo,
mas tinha acabado e o próximo papel seria melhor. Não dá para
encarar uma maratona sem participar de várias corridas de rua
antes.
Ouvi as crianças despertando da soneca, então eu e Rogan
saímos da cama e nos ajeitamos. Desastrosamente saímos do
quarto bem a tempo de encontrar Micah no corredor.
Ele parou e perguntou. “O que vocês estavam fazendo no
quarto do papai?”
“Hm…” Rogan começou. “Estávamos, hm…”
“Seu pai estava cochilando também”, respondi rapidamente.
“Eu não queria que ele dormisse muito então o despertei.”
“Você despertou o gigante adormecido”, ele sussurrou. Dei
uma cotovelada nele.
Micah deu de ombros e aceitou a história. Nós dois suspiramos
aliviados.
Os garotos continuaram a se comportar mau o resto da tarde.
Fiquei cada vez mais frustrada, a ponto de quase perder a paciência
com eles. Me forcei a respirar fundo. Eram apenas crianças. Eu
precisava controlá-los. Era meu trabalho.
Mas antes, Cora. Ela era mesmo a líder do caos?
Nós sete jantamos juntos. Enquanto os pais lavavam a louça,
fui até a geladeira para anunciar os prêmios do dia. Micah e Dustin
não estavam interessados. Precisei arrastá-los até a geladeira.
Cora escolheu uma guloseima do balde grande mais uma vez.
Ela suspeitosamente pegou um Twix tamanho grande, facilmente
divisível em duas partes. Cora enfiou o doce no bolso e, em
seguida, fez um carinho em Brady na sala de estar enquanto ele
assistia ao jogo dos Lakers. Bocejou, esticou os bracinhos e disse,
“Posso ir ler no quarto?”
Ela parecia uma senhorinha educada. Seria fofo se não fosse a
natureza sombria do seu plano.
“É claro que você pode, Cora!”, Brady respondeu.
Ela caminhou até seu quarto. Dustin e Micah observaram-na,
enquanto brincavam com seus caminhões no chão. Demorou trinta
segundos antes deles ficarem de pé.
“Vou pegar outro brinquedo!”, disse Dustin.
“Te ajudo!”, Micah respondeu.
Foi tudo tão ensaiado que eu quase caí na gargalhada. Então
quando eles saíram do quarto, Brady sussurrou. “Filho da puta, eles
são perversamente culpados.”
Olhei pelo corredor. Os garotos entraram no quarto de Dustin,
mas correram para o quarto de Cora alguns segundos depois.
Caminhei na ponta dos pés até estar bem em frente à porta de
Cora. Estava aberta, o que me permitia escutar. Asher e Brady me
seguiram, comprimidos contra a parede como péssimos espiões.
Era difícil acreditar que eles haviam sido fuzileiros.
Ouvimos o som da embalagem sendo rasgada, então Cora
suspirou: “Um para você e um para você”.
Pulei para dentro do quarto e vi cada um dos meninos com um
pedaço de Twix na mão. Os três congelaram em choque quando me
viram. Pegos no flagra.
“O que está acontecendo aqui?”, perguntei.
38

Asher

Não acreditei até ver com meus próprios olhos.


“Cora!”, exclamei. “O que você está fazendo?”
Minha filha, a pessoinha que eu mais amava no mundo todo,
começou a chorar de repente. Ela se jogou na cama e enfiou a cara
no travesseiro, muito envergonhada para olhar para nós.
Brady arrancou os doces das mãos dos meninos. “Isso não é
para vocês, ok? Vamos lá, vocês precisam ficar de castigo.”
Eu e Heather nos entreolhamos e ela apontou para a cama,
para que que prosseguisse. Me sentei na borda da cama e
gentilmente acariciei as costas de Cora. Seus soluços se
intensificaram, pequenos lamentos que fizeram meu peito doer.
Quando o choro diminuiu, Heather disse, “Cora? Você pode se
explicar?”
Minha filha se virou devagar e se sentou na cama, mas não
olhou para nós. “Eu não sei.”
“Acho que você sabe!”, eu disse. “Você precisa nos contar.”
“Mas vocês vão ficar bravos”, ela soluçou sombriamente.
“Talvez”, disse Heather. “Mas estamos bravos agora. E não
vamos parar de ficar bravos até você nos contar tudo. Por que você
está dando doces pros seus irmãos?”
“Eles te pressionaram pra fazer isso?”, perguntei
esperançosamente.
Cora limpou seus olhos e chacoalhou a cabeça. Ela continuou
sem olhar para mim. “Eu só queria ser seu anjinho de novo.”
“Ah, querida”, eu disse. “Você é. Você nunca parou de ser meu
anjinho.”
“Não”, ela insistiu. “Eu era a boazinha, então Micah e Dustin
começaram a ser bonzinhos também. E todo mundo começou a
falar que eles eram bonzinhos. Todo mundo parou de falar que eu
era boazinha o tempo todo”, ela finalmente olhou para mim. “Dei
meus doces pra eles e falei para eles serem mauzinhos. Queria ser
a única boazinha de novo.”
Olhei para Heather. É claro. Cora sempre conquistou atenção
por seu bom comportamento, mas logo que seus irmãos ficaram
bem-comportados, ela parou de ganhar atenção especial por isso.
Então ela subornou os irmãos para se comportarem mal de novo.
Meu coração inchou com amor e dor. “Ah, querida, sinto muito
se demos muita atenção para os meninos!”
A envolvi em meus braços e a apertei forte. Às vezes me
chocava o tanto que eu amava aquele pacotinho. Faria qualquer
coisa por ela. Qualquer coisa! Tratá-la com amor e atenção extra era
uma solução fácil.
“Obrigada por ser honesta conosco!”, disse Heather. “Mas você
vai ter que ficar de castigo. Você entende o porquê?”
Cora acenou tristemente. “Porque eu menti. E por que dei
doces para os meus irmãos?”
“Exatamente. Sem doces por uma semana!”, Heather a beijou
no topo da cabeça. “Agora se arrume pra dormir.”
Passei pelas etapas a serem seguidas antes de dormir feito um
zumbi. Embora eu estivesse feliz com a solução simples, só
conseguia pensar no fato de que tudo o que eu pensava da minha
filha tinha virado de cabeça para baixo. Ela havia mentido para mim.
Nunca pensei que ela fosse capaz de mentir até aquele dia. Era
inocente da minha parte, mas era como eu me sentia. Aquilo me fez
me dar conta de que ela não era um anjo perfeito e que ela estava
crescendo.
Nenhuma das duas revelações me fez feliz.
Me revirei na cama naquela noite. Precisei de duas canecas de
café no dia seguinte. A noite seria intensa e eu precisava me
concentrar. Mas era difícil não pensar em Cora.
Foi uma única mentira, pensei. Não significa nada.
“Asher?”, ouvi Rogan de longe. “Você ainda está com a gente?”
“Sim, desculpa!”, respondi. “Só estava pensando nessa noite.”
Estávamos na sala de conferência. Um mapa do Los Angeles
Plaza era exibido na tela do centro da sala. Rogan acenou para mim
e continuou as instruções.
“A grande festa é hoje. O elenco todo do filme vai estar lá,
porque as filmagens começam em dois dias. Vai ter muita conversa
nas redes sociais. Ameaças à vida de Amirah estão se
intensificando, justamente como aconteceram antes do último
ataque. Se estão planejando algo, possivelmente vão agir durante
essa festa.”
Rogan apontou para o mapa. “A festa vai acontecer aqui, no
Hotel Warwick. O salão de festas é no terceiro andar, e tem uma
sacada gigantesca sobre o pátio. Cooper vai ficar com Amirah o
tempo todo, observando-a do lado de dentro e se preparando pra
dar cobertura no caso de algo acontecer. Só que a sacada é nosso
ponto cego. A plataforma cobre a visão do chão, mas é
completamente exposta aos quartos do andar de cima, que tem
suas próprias sacadas. Quem está nesse andar pode cuspir na
varanda do salão de festas.”
“Pena que não é com cuspidas que temos que nos preocupar”,
Brady murmurou.
Rogan apontou para o mapa. “Alugamos um quarto no hotel do
outro lado da rua. Vai nos proporcionar uma visão completa da
sacada, do andar de cima ao andar de baixo.”
Me inclinei e apertei os olhos. “E se a ameaça vier do nosso
hotel, já que dá pra ter uma visão perfeita da festa?”
“O hotel não tem quartos com sacadas”, Rogan explicou. E
todos os quartos têm vidros à prova de terremotos. São várias
camadas internas de plástico que reduzem o tremor. Se alguém
tentar atirar pelo vidro, vai alterar o curso da bala significativamente.
Acredite, falei com alguns especialistas: é impossível acertar alguém
com precisão do outro lado da rua por esse tipo de vidro.”
Brady levantou uma mão como se estivéssemos em uma sala
de aula. “Então como vamos atirar de volta se virmos um suspeito
na festa?”
“Não vamos”, Rogan respondeu com simplicidade. “Vamos
apenas vigiar. Se virmos uma ameaça, reportaremos a localização e
Cooper vai remover Amirah do local. A segurança do hotel Warwick
assume daí.”
“Faz sentido”, eu disse. Brady não gostava da ideia, entretanto.
“Vamos nos alternar a cada quatro horas pra nos certificarmos
de estarmos descansados o tempo todo”, Rogan continuou. “Asher
vai ficar das seis às dez, Brady das dez às duas e eu, das duas às
seis da manhã.”
Brady bufou. “Duas às seis? Todo mundo já vai estar dormindo
a essa hora.”
“É uma festa de Hollywood”, Rogan disse. “Honestamente acho
que vai ser o turno mais cheio, por isso vou me encarregar dele.”
Nos preparamos a tarde toda. Era uma boa distração das
preocupações sobre Cora. Fui para o andar de cima para vestir
roupas mais confortáveis e então contei a Heather o que estava
acontecendo.
“Emboscada!”, ela disse com animação. “Queria ir com vocês.
Nunca fiz algo tão legal assim.”
“Você quer ir?”, Rogan perguntou. “Eu tenho pensado em te
lembrar que você foi contratada pra cuidar das crianças cinco dias
na semana. Eu ia me oferecer pra cuidar delas essa noite até meu
horário no hotel. Se você quiser a noite de folga e acompanhar a
missão, fique à vontade.”
Heather encarou cada um de nós. “Sério? Vocês me deixariam
ir?”
“Só se você prometer que não vai nos distrair”, Rogan alertou.
“Estaremos lá pra trabalhar, isso é importante.”
Ela arrastou os dedos pelo peito, fazendo um X sobre o
coração. “Juro pela minha vida. Vou ajudar! Um par de olhos extra
buscando suspeitos.”
Normalmente eu teria repelido uma oferta como aquela.
Heather não era especialista nessas coisas, nós sim. Mas eu sentia
falta dela, então sorri e acenei.
“Vou cuidar das crianças até meu turno”, disse Rogan
enquanto nos preparávamos para sair. “Um de vocês precisa estar
de volta antes disso.”
“Eu volto”, Heather concordou.
Nós três entramos no carro e fomos para o hotel. Heather
estava basicamente dançando de empolgação.
“Emboscadas são muito chatas”, Brady avisou. “Nada
acontece, só ficamos sentados.”
“Não me importo!”, ela exclamou feliz. “Preciso mudar de ares.”
Chegamos no nosso hotel e encontramos Cooper no lobby,
perto do restaurante. Ele já havia feito nosso check-in. O cheiro de
sushi invadia o ar.
“O hotel é seguro”, ele reportou. “Os seguranças são rigorosos
e os quartos não têm varandas. Precisamos de cartões de acesso
pros elevadores e escadas. Ninguém consegue subir ou descer sem
ser hóspede.”
Acenei. “Já executamos a verificação de antecedentes de
todos os hóspedes dessa noite. Fizemos o mesmo com o hotel
Warwick, onde a festa vai acontecer. Não há suspeitos. Mas isso
não significa que Amirah esteja segura.”
Cooper franziu os lábios. Todos sabíamos que Jimmy
Cardannon estava por trás daquilo, ele podia facilmente ter
falsificado uma identidade para um de seus homens se hospedar no
hotel.
“Estarei dentro da festa”, disse Cooper, apertando minha mão.
“Me deem cobertura e me avisem se virem qualquer coisa suspeita.”
Brady deu um tapinha nas costas dele. “Deixa com a gente.
Fique alerta.”
Nós três pegamos o elevador para o quarto no sexto andar. Era
uma suíte, com um banheiro dentro do quarto e uma sala de estar
com sofás luxuosos e uma mesa de jantar. Instalei meu
equipamento de monitoramento na mesa enquanto Brady analisava
a festa com um binóculo.
“Que lugar estúpido pra fazer um evento”, ele sussurrou.
“Totalmente aberto.”
“É um lugar ótimo pra uma festa”, disse Heather. “Se você
desconsiderar as ameaças de morte, claro.”
Brady entregou o binóculo para ela. “Vou dormir um pouco. Me
acorde uns minutos antes do meu turno.”
Ele deu um longo beijo na Heather. Assisti do meu canto,
estranhamente, sem sentir nenhum ciúme. Nunca havia sido
ciumento, mas aquilo era diferente. Eu estava dividindo uma mulher
com meus sócios… acho que o fato de ser tão fácil me deixava
surpreso. Como se fossemos destinados àquele tipo de relação.
“As janelas são de vidro fumê. Eles não podem nos ver de jeito
nenhum”, eu disse, colocando duas cadeiras de frente para a janela.
Heather acenou enquanto olhava pelo binóculo. “Parece que a
festa vai começar. Meu Deus!”
“O quê?”
“É J. J. Sherman, o diretor! Cara, eu queria estar lá agora
falando com ele. Eu adoraria ser a estrela do seu próximo filme…”,
ela parou e me olhou. “Desculpa. Sem distrações.”
Toquei sua perna. “Não se preocupe.”
Heather pediu uma garrafa de café e sanduíches no
restaurante do hotel. Nos sentamos para assistir a festa do outro
lado da rua. Estávamos três andares acima dela, o que nos dava
uma visão perfeita da varanda onde figurões de Hollywood bebiam e
conversavam.
Amirah só chegaria uma hora mais tarde, então deixei minha
mente relaxar um pouco. É claro que voltei a pensar na minha filha e
seu esquema perverso.
Eu havia passado os últimos seis anos pensando que era o pai
perfeito. Mesmo que Brady, Rogan e eu tratássemos os trigêmeos
da mesma forma, nós favorecíamos ligeiramente nossos filhos
biológicos. Eu ficava imensamente orgulhoso do fato de Cora ser
quieta e bem-comportada enquanto Dustin e Micah eram dois
capetas.
Mas minha bolha impecável tinha estourado. Cora estava
mentindo para mim, subornando os irmãos para que eles agissem
mal e ela fosse a única bem-comportada. Ela estava fazendo aquilo
porque eu não estava dando atenção suficiente a ela. Era uma pílula
difícil de engolir.
“Você está bem?”, Heather perguntou.
Despertei do meu transe de pensamentos. “Sim, só pensando.”
“Em Cora?”
Sorri. “É óbvio assim?”
Heather deslizou sua cadeira para mais perto e acariciou
minhas costas com a ponta dos dedos. “Não é grave. Estou
parcialmente feliz por termos descoberto o que estava fazendo os
meninos agirem assim, porque agora podemos consertar.”
“Eu sei!”, respondi. “Mas ainda me culpo. Eu poderia ter… eu
não sei. Eu poderia ter cuidado melhor dela ao invés de supor seu
bom comportamento.”
“Talvez sim. Mas ainda me sinto…”, me esforcei para dizer as
palavras. “É como se, de repente, eu não tivesse noção de nada. Eu
achava que sabia como ser um bom pai, mas agora me dou conta
de que não tenho ideia do que estou fazendo.”
Heather parou de olhar pelos binóculos e me olhou. “Vou te
contar um segredo sobre educar crianças: ninguém sabe o que está
fazendo. Todo mundo se debate de um lado para o outro, tentando
entender. Qualquer pessoa que diz ser especialista está mentindo.
Acredite em mim: fui babá de várias famílias antes de me mudar
para cá. Ninguém tem a menor ideia.”
Uma das coisas que eu amava na Heather era sua
honestidade. Ela não adoçava as coisas e não fugia da dura
realidade. Se ela estava dizendo que ninguém sabia o que estava
fazendo, não era só para ser legal. Era a verdade.
Me inclinei sobre ela e dei um beijo na sua bochecha.
“Obrigado, Heather, eu precisava ouvir isso.”
“Eu sei que sim. Agora pare com isso. Cora ainda é uma das
meninas mais bem-comportadas que eu conheço. Você é
insanamente sortudo por ser pai dela! Não fique amuado só porque
ela se rebelou uma única vez.”
Dei uma risadinha enquanto olhava pelo binóculo. Eu não sou
sortudo só por ser pai de Cora, também tenho muita sorte por
Heather estar lá para cuidar dela.
39

Heather

Asher era um bom pai. Ele se importava genuinamente com a


Cora e os meninos. Era quase divertido vê-lo surtar porque sua filha
teve um momento de mentira.
A menina ficaria bem. Eu só precisava me assegurar em me
preocupar tanto com ela quanto eu me preocupava com os garotos.
Ela também precisava de atenção e de elogios.
Pensei nas crianças enquanto estávamos de tocaia.
Certamente Dustin e Micah eram duas bolinhas de energia rebelde,
mas era natural na idade deles. Os três pais estavam fazendo o
melhor que podiam, dadas as circunstâncias. Os últimos anos não
devem ter sido fáceis.
Não que homens não pudessem criar filhos sozinhos. Eu
conhecia diversos pais solteiros que tinham feito um trabalho
maravilhoso com seus filhos. Mas era mais difícil, especialmente em
situações em que cada um dos homens teve um filho, juntos
fundaram uma empresa e tentaram gerenciar tudo isso de uma vez.
Teria sido mais fácil se eles tivessem uma mãe para ajudá-los.
Ou uma esposa.
Eu não tinha ideia de como aquele pensamento tinha me
ocorrido. Mas já que ali estava, comecei a considerar. Eu realmente
gostava dos caras. De verdade. Cada um deles era maravilhoso e
único à sua maneira. E depois de cinco semanas juntos, eu sabia
que o que nós tínhamos não era meramente físico, não importava o
quanto eu tentasse fingir que era.
Eu me preocupava com Asher, Brady e Rogan e sabia que eles
também se preocupavam comigo. Sem contar o amor que eu sentia
pelas crianças. Nós tínhamos algo especial crescendo.
Não sei se consigo deixá-los depois de seis meses.
Asher e eu matamos tempo jogando. “Vejo vejo…”, eu disse
devagar, olhando pelo binóculo. “Uma coisa rosa.”
Asher respondeu imediatamente. “A mulher do lado esquerdo
da varanda segurando uma taça de vinho. A blusa dela é rosa.”
“Droga. Você é bom nesse jogo.”
“Estamos olhando pra mesma sacada”, ele pontuou. “Nossas
opções são limitadas.”
“Que tipos de ameaça Amirah está recebendo?”, perguntei.
Asher franziu os lábios enquanto olhava para a festa no hotel.
“A mais recente está no computador. É da mesma conta que a
ameaçou bem antes do primeiro ataque.”
Virei o laptop na minha direção para poder ler. Havia duas
mensagens diretas do Twitter enviadas com cinco minutos de
diferença:

Amirah, minha amada. Você ignorou todas as minhas


mensagens. Você não me ama de volta? Ninguém te amará como
eu te amo. Nunca. Eu juro. Existe alguém que a está mantendo
longe de mim? Você tem um assistente pessoal lendo minhas
mensagens e as eliminando? Quem está nos separando?

Não sei por que você decidiu ser uma GRANDE VACA. Essa
noite eu vou me certificar que ninguém nunca mais a ame
novamente. Se eu não posso, ninguém mais pode. Você vai morrer
essa noite, PIRANHA.

Fiz uma careta. “Isso saiu do controle muito rápido. A primeira


mensagem é uma súplica, a segunda é super hostil.”
“O perseguidor parece ser bipolar”, Asher concordou. “É claro,
se Heimdall estiver por trás disso, foi orquestrado para parecer…”
O rádio sobre a mesa emitiu um som. “Cooper aqui. Ameixa
Preta está se direcionando à sacada pra pegar uma bebida.”
Asher tocou seu transmissor e disse. “Positivo!”, então, para
mim: “Fique de olho na festa, vou vigiar as sacadas acima.”
Vi Amirah sair pelas portas abertas até a sacada. Ela usava um
vestido verde-musgo maravilhoso com um decote profundo. Havia
uma fenda que mostrava um pedaço das suas pernas nuas a cada
passo. Seu cabelo loiro formava caracóis que desciam pelos seus
ombros, balançando toda vez que ela falava com alguém.
Eu mataria para ter o mesmo consultor de estilo que ela,
pensei.
“Movimento alguns andares acima”, disse Asher. Ele estava
tocando seu comunicador com uma mão e segurando o binóculo
com outra. “Quinto andar. Terceiro balcão a esquerda.”
“Devo remover a Ameixa Preta?”
Asher hesitou alguns segundos. “Negativo. Parece ser só um
hóspede fumando. Vestindo um robe, não vejo nenhuma arma.”
“Positivo. Ameixa Preta já pegou a bebida e está voltando pra
dentro”, eu notava o alívio na voz de Cooper.
Os rapazes estavam certos: emboscadas eram um tédio.
Aquele alarme falso foi a única empolgação que tivemos durante o
turno de Asher. Acordei Brady faltando cinco minutos para as onze.
Ele se serviu de café da garrafa térmica.
“Quer que eu peça café fresco?”, perguntei.
“Não, quero frio”, Brady engoliu o conteúdo da caneca e serviu
mais na sequência.
Asher se alongou. “Vou pra casa. Você vem comigo ou fica?”
Eu estava tentada a ir, mas Brady me deu uma olhada
esperançosa. “Vou ficar e fazer companhia ao Brady”, eu disse. “Ou
ele vai acabar dormindo”, eu disse sorrindo.
Brady bufou. “Você acha que é brincadeira, mas eu tô cansado
pra caralho. Acho que preciso de outra garrafa de café, sim.”
Asher se despediu e nos deixou sozinhos. Contei ao Brady o
que tinha acontecido durante o primeiro turno.
“Me parece normal”, Brady enquanto bisbilhotava pelo
binóculo. “A maioria das tocaias é assim. Uma grande quantidade
de nada. E mesmo quando algo acontece de fato, precisamos
esperar muito tempo. Ainda dá tempo de você alcançar Asher e ir
pra casa.”
“Vou ficar”, eu disse. “Falei a verdade sobre te fazer
companhia. Além disso, estou adorando bancar a espiã. Me sinto
uma paparazzi observando todos esses atores famosos.”
Brady adicionou cinco pacotinhos de açúcar no café e tomou
um gole. Ele estalou os lábios de satisfação.
“Você quer um pouco de café no seu açúcar?”, provoquei.
“Ei, eu não julgo seus hábitos de café”, ele tomou mais um gole
e falou. “Falando em açúcar, ainda não acredito que Cora estava
chantageando os meninos com doces.”
“Sim, é loucura.”
“Pelo menos Asher vai parar de se vangloriar”, ele continuou.
“Eu nunca vou deixá-lo esquecer disso.”
“Ele está desolado, na verdade”, eu disse. “Dá pra ver o quão
difícil está sendo para ele.”
“Que bom! É bem-feito pra ele parar de ser um arrogante filho
da puta.”
“Estou falando sério”, eu disse mais vigorosamente. “Você
precisa pegar leve com ele. Vocês são um time. Meio estranhos na
paternidade, mas ainda assim um time. E vocês precisam ser uma
frente unida no que diz respeito às crianças. Se vocês começarem a
competir ou a tratar as crianças de forma diferente, isso vai acabar
mal. Crianças são perceptivas. Eles entendem o que está
acontecendo mesmo quando somos cuidadosos. Já vi todo o tipo de
coisa acontecer quando pais não estão com os pensamentos
alinhados.”
Brady olhou para o chão com vergonha. Era exatamente a
mesma cara que Dustin tinha feito quando o pegamos recebendo
doces de Cora.
“Bom, merda”, ele disse. “Não queria que fosse assim. Só
queria que fosse uma implicância de camaradas. Fazíamos muito
isso no nosso tempo de fuzileiros.”
“Vocês não estão mais no batalhão”, enfatizei. “Vocês agora
são pais. Juntos. E as crianças imitam o comportamento de vocês.”
“Sim, você tem razão”, ele disse.
Ele voltou a observar o Hotel Warwick. Eu podia notar que
aquilo o havia atingido. Talvez até demais, com base no quão quieto
e envergonhado ele ficou.
“Merda, Brady”, eu disse depois de um tempo. “Eu não queria
ferir seus sentimentos.”
“Estou bem”, ele disse quietamente.
“Normalmente você é falante e divertido. Parece que eu chutei
um cachorrinho.”
“Me sinto meio chutado mesmo”, ele disse. “Mas eu merecia.
Criar filhos não deve ser uma competição. Você está certa.”
Coloquei uma mão na sua coxa. “Vocês estão fazendo o
melhor que podem. Eu disse a mesma coisa ao Asher. Ser pai não é
fácil. Especialmente nessa situação estranha de vocês.”
Ele continuou olhando pelo binóculo. “É mais fácil agora que
temos você. Você faz nosso trabalho parecer moleza.”
Ele parou e sorriu para mim, e então voltou a vigiar o prédio.
Deixei minha mão escorregar um pouco mais pela sua coxa.
“Nem sempre. Tem algumas coisas que faço parecer dureza.”
Toquei seu volume encostado na coxa direita. Ele se
endureceu, expandindo o tecido.
“Você está tentando me distrair”, ele disse com um sorriso
sacana. “Você prometeu que não ia nos distrair, jurou e tudo.”
Eu o apertei pela calça jeans. “Só é uma distração se você
permitir. Continue focado assim que eu vou escalar você.”
Ele murmurou profundamente. “Seu corpo vai ficar no caminho
se você fizer isso. Seu corpo delicioso e sexy.”
“Bom, então”, eu cantarolei. “Vamos encontrar outra forma de
fazer isso sem que eu bloqueie sua visão.”
Meus dedos dançaram pela sua calça. O zíper fez clique
quando eu o abri e enfiei minha mão dentro da sua calça, puxando
seu pau para fora.
Ele gemeu quando me dobrei sobre ele, embrulhando sua vara
com meus lábios e engolindo o que podia. Ele cresceu na minha
boca e colocou uma mão na parte de trás da minha cabeça para me
movimentar com gentileza.
“Não não”, eu disse, pausando para olhar para ele. “Mantenha
as duas mãos no binóculo. Sem distrações.”
Saboreei seu gemido alto quando voltei para o boquete.
40

Brady

Para ser honesto, Heather meio que feriu meus sentimentos


quando falou sobre as crianças. Ela estava completamente correta.
Eu não deveria ressaltar o fato de que a filha de Asher tinha sido a
líder da explosão recente dos garotos. Eu tinha feito um papel
ridículo, mas eu também não queria ouvir aquilo.
Heather deu o seu melhor para me fazer sorrir depois da
conversa. E que sorriso! Seu cabelo loiro se ondulava no meu pau,
ela me engolia como se fosse seu trabalho fazer isso. A sucção dos
seus lábios era tão intensa que eu não consegui não contorcer
meus dedos dos pés.
Eu mantive os olhos no hotel do outro lado da janela, é claro.
Eu era um profissional, afinal de contas.
Normalmente eu tento durar mais, acho que todos os homens
fazem isso. Mas naquela noite eu me desarmei totalmente e
saboreei cada segundo do boquete de Heather. Não consegui durar
mais de um minuto, ela era muito boa naquilo.
Eu a avisei quando estava prestes a gozar, gemendo alto e
tocando a parte de trás da sua cabeça, mas ela era uma deusa na
forma de usar a língua. Ela manteve seus lábios enrolados com
força em volta da minha vara enquanto eu gozava, jorrando na boca
dela a cada contração, cada gota do meu leite até eu ficar mais seco
que a porra do Sahara.
Ela engoliu discretamente e então subiu para perto do meu
pescoço. “Você acha que isso foi muita distração?”
“Eu acho que eu te amo.”
As palavras saíram. Homens tem essa sensação estranha de
calma e revelação depois de aliviarem as bolas, e eu te amo foi a
revelação que eu senti naquele momento. Foi só quando ouvi o que
disse que me dei conta.
Oh, merda. Eu acabei de me declarar.
Meu pulso já estava acelerado por causa do boquete
maravilhoso, mas meu coração começou a bater nas têmporas.
Abaixei o binóculo e dei um sorriso embaraçoso para ela esperando
sua reação.
“Você só está falando isso porque eu engoli”, ela disse, rindo.
“Se eu tivesse cuspido, você teria dito que gosta de mim. Certo?”
Ela estava me dando uma chance de retirar o que eu disse, ou
de diminuir a intensidade com uma piadinha pós-coito. Teria sido
fácil fazer uma das duas coisas.
Mas eu nunca tinha dito aquelas palavras para uma garota
antes e, agora que eu já tinha dito, eu tinha certeza do que sentia.
Me virei para olhar para ela. “Tô falando sério, Heather. Sei que
é loucura, que isso não deveria significar nada. Só sexo casual por
seis meses até você se lançar no estrelato. Mas… eu não posso
evitar meus sentimentos, é o que eu estou sentindo. Tenho 100% de
certeza.”
Ela sorriu para mim. “É difícil te levar a sério com o pau
pendurado pra fora da calça assim.”
Falei um palavrão e rapidamente puxei meu instrumento para
dentro da calça. Ela ria enquanto eu fazia isso e eu acabei rindo
também. Essa era uma das coisas que eu amava na Heather: ela
me fazia rir.
“Acho que sinto o mesmo”, ela disse, depois que eu fechei o
zíper. “Isso é mais do que meramente físico. É como me sinto por
vocês três – Asher e Rogan também. Mas essa palavra… não sei
se estou pronta para usar o verbo com A ainda.”
Eu não esperava que ela fosse dizer o mesmo. Só fazia cinco
semanas e ela tinha outros dois homens dividindo sua atenção física
e emocional. Mas o que ela tinha dito foi bom o suficiente.
Escorreguei uma mão pela sua nuca e a beijei longa e ternamente.
“Possivelmente estou com gosto do seu leite na boca”, ela
disse quando paramos de nos beijar. Ela pegou uma bala de menta
do bolso.
Eu dei um sorrisão para ela. “Seu gosto está maravilhoso. E
mesmo que não estivesse, eu ainda quereria te beijar.”
“Que bom que um de nós pensa assim”, ela riu perversamente
e me entregou a bala de menta. “Porque você está com um super
gosto de café açucarado.”
Viu o que eu disse sobre o humor? Essa garota era perfeita
para mim.
POU.
Um estrondo abafado ecoou do lado de fora. Eu conhecia o
som, era tão familiar quanto a voz do meu filho.
“Tiro!”, eu disse levando o binóculo até os olhos para analisar.
Os convidados da festa se entreolhavam confusos. Parecia que
ninguém tinha se ferido.
“Alguém atirou?”, Cooper perguntou pelo transmissor.
“Afirmativo”, respondi, ainda de olho na festa. “Onde está
Ameixa Preta?”
“No salão. A três metros da porta que dá pro lado de fora.”
“As sacadas superiores parecem estar limpas”, murmurei,
olhando para o hotel. “Você vê alguma coisa?”
“Nada”, respondeu Heather. “O cara fumando ainda está no
quinto andar, mas parece confuso. Ele está apontando… para nós?”
Levantei o binóculo para ver o alvo. Com certeza, ele estava
apontando na direção do nosso hotel. Mas não para nós.
E sim para o andar de cima do nosso.
Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, um segundo tiro
ecoou no jardim da festa. Gritos ressoaram na varanda – um vaso
de flores tinha sido atingido pela bala. Um terceiro tiro foi disparado,
mas atingiu uma janela a uns dez metros do local onde os
convidados estavam. Naquele momento a festa virou um caos –
todo mundo estava se espremendo tentando voltar para dentro.
“O vidro à prova de terremotos”, eu disse, pulando de pé da
minha cadeira. “Está fazendo isso com as balas. Como o Rogan
disse.”
“Nono andar!”, Cooper gritou no transmissor. “Consigo ver os
buracos das balas. Estão vindo de um quarto no nono andar. Talvez
oitavo.”
Verifiquei a pistola no meu coldre e fui até a porta. “Saindo para
busca.”
“O que eu devo fazer?”, Heather perguntou.
“Chame a polícia! Diga que há uma pessoa armada no nono ou
oitavo andar!”
Saí do nosso quarto e corri em disparada. Os hóspedes
estavam abrindo as portas e bisbilhotando o corredor. Era quase
meia-noite e muitos deles pareciam ter sido acordados.
“Fiquem dentro do quarto!”, orientei. “E mantenham as portas
fechadas!”
Alcancei os dois elevadores, demorou vinte segundos. De
acordo com o letreiro sobre as portas, um elevador estava no
décimo andar e o outro no lobby. Chamei o que estava no lobby.
Quando a porta se abriu (e estava vazio), quebrei o vidro de
segurança, removi o machado de dentro e o encaixei na porta para
ela não fechar.
Chamei o segundo elevador, que veio do décimo andar. Perto
de onde os disparos tinham vindo, então apontei a arma para a
porta, desativando a trava de segurança. O elevador parou e a porta
se abriu.
Vazio. Suspirei aliviado, e então usei o extintor de incêndio
para prender a porta. Nenhum dos elevadores estava disponível.
O atirador ia ter que usar as escadas para descer.
Mantive minha arma na mão enquanto abri a porta para as
escadas. Num estalo – parei para ouvir se havia alguém no vão. Só
ouvi o silêncio.
Devagar, escorreguei para dentro e fechei a porta atrás de
mim, me certificando de não fazer nenhum barulho. Os degraus
eram emborrachados, o que amorteceu meus passos enquanto eu
subia até o sétimo, e então oitavo andar. Mantive a arma apontada,
esperando pelo menor sinal de movimento.
“Ameixa Preta está em segurança”, Cooper disse no
transmissor. “Brady, o que está acontecendo?”
Não ousei responder. Eu estava muito concentrado tentando
captar movimentos nos andares de cima.
O oitavo andar estava relativamente calmo. Espreitei pela
janela e vi pessoas andando e conversando sobre o tiro que
ouviram. Então um grito ecoou de algum lugar acima de mim.
O nono andar.
“Brady, vamos lá.”, Cooper perguntou. Ele era calmo e
profissional, mas eu conseguia ouvir seu tom urgente. “Confirme seu
status.”
Eu não respondi de novo. Subi os degraus, saltando de dois
em dois e alcancei a porta do nono andar. Devagar, enfiei minha
cabeça na frente do vidro e voltei. Naquela olhada rápida vi vários
hospedes do hotel no chão, com a mão atrás da cabeça. Só tinha
um homem de pé. Ele estava na metade do corredor e usava uma
máscara preta de ski sobre o rosto. Ele estava acelerado, mas virou
para gritar com alguém no chão enquanto eu espiava. Ele não me
viu.
A parte tática do meu cérebro acessou a situação calmamente.
Um terrorista e vários civis. Eles estavam todos no chão, mas
qualquer um podia aparecer em uma das portas dos quartos a
qualquer momento. Se eu o confrontasse, ele podia fazer reféns.
“Brady?”, a voz de Heather surgiu no comunicador. “Brady, por
favor, me diga que está bem!”
Ignorei o pedido e examinei a área. A porta para as escadas
abria para dentro e era pesada. Se eu a puxasse para abrir, mesmo
com a arma apontada, o atirador teria muito tempo para levantar a
sua arma na minha direção. Não era o ideal.
Mas foi por isso que eu desarmei os elevadores. A menos que
ele quisesse pular uma das janelas (estilo Hans Gruber), ele ia ter
que usar as escadas. E ele não fazia ideia de que eu estava ali. Eu
tinha uma vantagem técnica.
Corri mais um lance de escada e pousei a arma no corrimão.
Eu tinha uma visão perfeita da porta, e muita cobertura. O atirador
seria meu logo que passasse pela porta.
Fiz uma contagem regressiva na cabeça. Do mesmo jeito que
fiz quando segui Rogan no Four Seasons. Eu tinha contado a
distância do meu quarto até a escada por uma razão. Se o atirador
movesse tão rápido quanto eu, ele estaria ali em sete, seis, cinco…
Uma voz me chamou de um dos andares abaixo. “Brady?”
Meu coração parou. Heather.
“Brady?”, passos, abafados pela borracha nos degraus. “Brady!
Você está bem? Você não responde…”
“Heather! Dá o fora…”
Parei quando a porta do nono andar se abriu. Mas ao invés de
entrar no vão, o atirador ficou parado. Eu vi o tambor de uma arma
pela borda, mas nada mais.
Ele deve ter nos ouvido.
“Quem está aí?”, o atirador perguntou, com sotaque
americano. “Se apresente!”
Mantive minha arma apontada para a porta aberta. Tudo o que
eu precisava era que ele desse um passo para frente. Assim que eu
visse a máscara de ski, saberia que era ele e poderia atirar.
Mas então o atirador chamou de novo. “Ande na minha direção
devagar. Jogue qualquer coisa que você estiver carregando no
chão.”
Ouvi um estampido. Que ecoou pelo transmissor. Veio pelo
rádio.
Que diab…
Foi quando me dei conta do que estava acontecendo. De
dentro da porta, o atirador podia ver Heather. Ele apontou a arma
para ela. Ela tinha trazido o rádio, que foi o que ela jogou no chão.
Heather está em perigo.
“Continue caminhando!”, a voz ordenou.
Tudo aconteceu muito rápido. Saí do meu esconderijo e pulei
para o outro lance de escada. Quando cheguei no canto, estiquei
meu pé no corrimão e me arremessei contra a porta do nono andar.
Chutei para a frente enquanto estava no ar, atingindo a porta e a
fechando.
Ouvi um barulho de trituração e um grito quando a porta atingiu
o pulso do atirador.
A porta balançou para trás depois de atingir o atirador, batendo
no meu rosto enquanto eu aterrissava estranhamente. Levantei a
arma, mas, de alguma forma, o atirador estava pronto – ele a chutou
e levantou o pé para atingir meu nariz. Minha visão ficou branca e
eu dei um passo para trás, evitando o soco que ele desferiu.
“BRADY!”, Heather gritou atrás de mim.
Fiquei tonto por um único segundo, mas por tempo o suficiente
para o atirador se aproximar. Ele saltou o corrimão e despencou
pelo vão da escada. Olhei por cima da extremidade e o vi agarrando
o corrimão muitos andares abaixo. Ele se pendurava por um
momento, com as pernas balançando no ar a vinte e quatro metros
de altura, e então se erguia pelo corrimão.
Heather estava encolhida contra a parede, com os joelhos
encostando no queixo. Suprimi meu desejo de confortá-la. Ela era
minha garota, estava assustada e sozinha. Mas eu não podia ficar
com ela. Tinha que focar na missão.
“Fique aqui!”, ordenei.
Agarrei minha arma que estava no chão e girei pelas escadas
para seguir o atirador. “Suspeito está nas escadas”, eu disse,
tocando meu transmissor. Escutei minha própria voz sair do rádio
que Heather jogou no chão. “Jeans, camisa polo, máscara preta de
ski. Sexto andar. Quinto.”
“Câmbio”, Cooper respondeu. “Estou transmitindo para…”
De repente, uma sirene estridente invadiu meu ouvido. Luzes
brancas apareceram na escada. O alarme de incêndio tinha sido
disparado. Eu não conseguia ouvir o que Cooper estava dizendo
porque o alarme era muito alto.
Cheguei no quinto andar antes que as portas se abrissem. Os
hóspedes do hotel brotavam nas escadas, caminhando calmamente.
Em segundos, havia tantos que eu mal podia me mover, só podia ir
no mesmo ritmo que eles.
Deixei escapar um grito de frustração quando o atirador fugiu.
41

Heather

Nunca havia ficado em choque antes.


Num minuto eu estava parada nas escadas procurando
desesperadamente por Brady. No instante seguinte, um homem
mascarado estava a pontando uma arma para o meu rosto. Meu
cérebro se desligou instantaneamente. Era como o oposto de
acordar de um sonho. De repente, eu estava em estado de transe.
Parecia que eu estava assistindo os eventos acontecendo na TV de
alguém.
O homem me ordenou que andasse, então eu andei. Ordenou
que atirasse o rádio no chão, então eu o atirei. Minha concentração
tinha se direcionado para seus comandos, porque era mais fácil do
que lidar com a realidade de ter estado a segundos da minha morte.
Então uma figura pulou no ar, chutando a porta que se fechou
na mão do atirador. A arma caiu no chão, aterrissou perto do meu
pé. Eu poderia tê-la pegado e comandado ao atirador que parasse
de se mover.
Ao invés disso, caí no canto da escada, me dobrando em um
alvo bem pequeno. O atirador desapareceu e Brady me disse para
ficar lá.
Então eu fiquei.
Mesmo quando o alarme disparou, não me movi. Me agarrei no
canto da escada, me pressionando contra a parede como se
pudesse desaparecer.
Um casal legal – que me lembrou dos meus avós – gentilmente
me fez despertar, me ajudou a ficar de pé e me guiou para as
escadas.
Fui saindo do choque devagar.
Eu estava no lobby do hotel. Os policiais estavam por toda a
parte, entrevistando os hóspedes do hotel. Eu tinha acabado de
falar com um deles. Acho que contei o que tinha acontecido. Em
seguida, encarei o restaurante japonês do lado esquerdo da
recepção.
Asher apareceu pela entrada do hotel. Ele analisou o cômodo,
me encontrou e cruzou o lobby. Quando me alcançou, me abraçou
ferozmente.
“Nós ouvimos”, ele sussurrou em meus cabelos. “Você está
bem? Como se sente?”
“Me sinto bem”, eu disse, mesmo que não estivesse sentindo
absolutamente nada. Era como se minhas emoções tivessem sido
encobertas por uma camada de entorpecimento.
Asher segurou minha mão e me guiou para fora do hotel. Vi
Brady perto da recepção, discutindo alguma coisa com dois policiais
e um paramédico. Ele não me olhou.
Mal me lembro da viagem para casa. Me lembro de olhar o
relógio da cozinha quando chegamos em casa. Era quase duas.
Rogan veio do corredor com o telefone no ouvido. “Ela está
segura em casa agora. A polícia está com ela, além do nosso
próprio agente de segurança. Nós… te ligo de volta”, ele desligou e
me abraçou de forma feroz da mesma forma que Asher. “Graças a
Deus você está bem, Heather. O que aconteceu?”
“Ela não precisa nos contar agora”, disse Asher, mas eu o
interrompi.
“Está tudo bem, preciso desabafar, eu acho.”
“Você quer se sentar?”, Rogan perguntou.
“Estou bem de pé”, limpei a garganta. “Os disparos vieram do
nosso hotel. Brady saiu em busca do atirador. Mas ele parou de
responder no rádio. Cooper perguntou qual era seu status, e ele não
respondia. Então eu apenas… entrei em pânico. Achei que algo
tinha acontecido com ele e ouvi um grito no andar de cima. Então
subi alguns lances de escada e… e…”
A cena voltou com uma claridade nauseante. O atirador
apareceu e apontou sua arma para mim. Mas agora, a camada de
entorpecimento tinha dissipado. E todas as emoções que eu deveria
ter sentido no momento me atingiram como um gorila de cem quilos.
Eu quase morri. Tinha uma arma apontada para a minha cara!
Meu estomago se embrulhou como um oceano turbulento. Tirei
Asher do caminho e corri até a pia da cozinha para esvaziar meu
estômago dentro da cuba imaculada de aço inoxidável.
Uma mão esfregou minhas costas. “Tudo bem, isso é normal.”
“Nada disso é normal!”, consegui falar antes de vomitar de
novo.
Asher me deu um copo d’água enquanto Rogan segurou meu
cabelo para trás. Finalmente meu estômago se acalmou, mas a
culpa rapidamente me invadiu.
“Me desculpa!”, eu disse.
“Não é sua culpa!”, disse Rogan. “Você não fez nada de
errado.”
Suas palavras não me confortaram. Eu sabia a verdade.
Eu tinha arruinado tudo.

Não sei como consegui dormir, mas dormi. Acho que a


adrenalina acaba nos abatendo.
“Senhorita Heather?”, Dustin estava me perguntando. “Você
está bem?”
Abri os olhos e vi o garoto parado ao lado da cama. Ele trazia o
cobertor em uma das mãos e estava usando seu pijama dos Boston
Red Sox.
“Estou bem”, eu disse, me levantando. “Um pouco sonolenta.
Vamos. Vamos acordar seu irmão e sua irmã.”
As crianças trocaram de roupa e eu preparei o café da manhã
– panquecas com frutas frescas. Pensei mais uma vez na noite
anterior, parada na escada com a arma apontada para mim e uma
nova onda de náusea me invadiu. Quase não consegui me conter.
Para a minha surpresa, os meninos estavam se comportando
naquela manhã. Micah até perguntou se estava sendo bom o
suficiente para ganhar a estrela do café da manhã.
“Você com certeza está”, eu disse.
Ele riu para seus irmãos. “Vou escolher um doce do balde
grande hoje!”
“Não vai não, eu que vou!”, Dustin gritou de volta para ele.
“Vocês três podem escolher um doce do balde grande”, eu
disse. “Se forem bonzinhos!”
Micah se virou e sussurrou para Dustin, “Eu vou ser muito
bonzinho.”
“Eu vou ser o mais bonzinho”, Dustin sussurrou de volta.
Os pais já tinham saído. Estavam cuidando do desastre da
noite anterior, provavelmente. Assisti TV com as crianças e então
fomos fazer cartões para o Dia dos Pais, que se aproximava em
algumas semanas. Dustin e Micah se empenharam muito nos seus
cartões. E o resultado ficou muito bom.
Me certifiquei de dar atenção e elogiar Cora o bastante. Eu não
iria ignorar seu bom comportamento mais.
Brady veio para casa antes do almoço. As crianças se
levantaram e correram para beijá-lo. Eu queria fazer o mesmo e
abraçá-lo o mais forte que eu pudesse.
“Estou muito feliz por você estar bem”, sussurrei no seu ombro.
“A noite passada foi muito assustadora.”
Brady devolveu o abraço, mas não muito caloroso. “Você
também.”
Me afastei e fiz uma careta. “Você está bravo comigo, não
está? Você tem todo o direito de estar. Eu estraguei tudo.”
Eu esperava que ele fosse me dizer que estava tudo bem, que
eu não tinha estragado tudo, que foi inevitável. Mas o rosto de Brady
estava estoico quando ele respondeu “Não devíamos ter dado uns
amassos no trabalho. Se não estivéssemos distraídos, talvez eu
pudesse chegar ao atirador mais rápido. Pensei que tinha tudo sob
controle na escada, mas…”
Ele parou e desviou o olhar de mim.
“Eu estava preocupada com a sua vida”, eu disse. “Você não
estava respondendo no rádio…”
“Porque eu estava tentando fazer silêncio”, ele disse.
“…e eu temi pelo pior. Eu sabia que devia ficar no quarto, mas
eu precisava ver se você estava bem. Pensei que poderia te ajudar
se você estivesse ferido e…”
Eu parei. Não importava o que eu tinha sentido no momento,
porque era óbvio que eu tinha me enganado. Se eu não tivesse
saído do quarto, Brady provavelmente teria capturado o atirador.
“Não há nada que possamos fazer agora”, Brady disse,
passando por mim. “Eu vim me trocar. Temos uma reunião com o
agente de Amirah.”
“Eles vão demitir vocês?”, perguntei. “A empresa?”
“Vamos descobrir hoje”, Brady respondeu.
Ele não fechou a porta mais forte do que o normal, mas no
meu estado emocional de culpa, soou como uma batida.
42

Heather

O atentado na festa foi notícia em todos os veículos de mídia


nacionais. Havia muita especulação sobre quem era o alvo. Acho
que muitas pessoas não tinham consciência das ameaças
específicas que Amirah Pratt recebeu.
Mas, entre todas as pessoas que sabiam, especialmente em
Los Angeles, foi péssima publicidade para a HLS Segurança. Não
importava que Amirah estivesse ficado segura o tempo todo e que
nada tinha lhe acontecido. O fato de o atirador ter conseguido
disparar diversas vezes e ter conseguido escapar era ruim o
suficiente para a reputação deles.
Rogan veio para casa de noite e anunciou que eles tinham
perdido mais dois clientes do sul da Califórnia e um na Bay Area. As
notícias estavam se espalhando na indústria de segurança pessoal:
a empresa de Rogan, Brady e Asher estava falhando em manter os
clientes a salvo.
As únicas notícias boas eram relativas às crianças, que tinham
voltado a se comportar e estavam melhorando a cada dia. Patty não
se importava em ficar com eles de manhã para que eu pudesse ir
para as aulas de atuação com Maurice. Ainda que eu me esforçasse
para me concentrar durante os exercícios, tudo o que eu conseguia
pensar era sobre o que aconteceu no hotel e no homem que
apontou uma arma para mim a sangue frio, com aqueles olhos
amarelos. Eu me sentia extremamente culpada por ter arruinado a
chance de Brady pegá-lo.
No fim da aula, quando nos encontramos individualmente, Sr.
Howard elogiou minha atuação no comercial.
“Grande parte dessa indústria é aprender a trabalhar com
pessoas que são um saco”, ele me disse. “Aquele diretor queria
aumentar os dias de gravação pra conseguir o máximo de dinheiro
do cliente. Você fez um bom trabalho. É necessário compromisso
pra colocar tanto esforço na centésima tomada como se fosse a
primeira.”
“Você não viu a primeira”, pontuei. “Você apareceu no segundo
dia.”
O supervisor de set, Roberto, é um amigo antigo”, ele
respondeu. “Ele me contou que você foi bem, dadas as
circunstâncias. Estou orgulhoso de você, Heather.”
Sorri timidamente. “Obrigada, Sr. Howard.”
“Agora que você tem um bom trabalho no currículo, pode
começar a procurar agentes de verdade. Eu tenho uma lista de
opções para você, mas eu recomendaria muitíssimo os dois
primeiros nomes”, ele escorregou uma folha pela mesa na minha
direção.
Eu olhei, mas não peguei. “Tenho pensado em umas coisas.
Vou parar de procurar por um agente por um tempo. Vou terminar
esse contrato de babá em alguns meses e depois disso vou focar na
minha carreira.”
O Sr. Howard me deu um olhar fulminante. “O que foi que eu te
falei? Não existem atalhos nessa indústria. Você pode até conseguir
contatos com essas pessoas, mas você deveria buscar outros
trabalhos enquanto isso.”
Sem querer argumentar, peguei a folha e disse, “Você tem
razão. Vou ligar para esses agentes.”
Asher fez frango encrustado com amendoim e vagem, mas eu
mal toquei na comida. Uma onda de náusea pulsava no meu
estômago toda vez que imaginava a arma do atirador no meu rosto.
As crianças estavam cheias de energia e bom humor na hora da
comida, mas os pais estavam quietos e pensativos. Fiz o melhor
que pude para interagir com as crianças, mas acabei copiando o
humor melancólico dos adultos.
Depois do jantar, as crianças lavaram seus pratos e assistiram
desenhos na sala. Eu os observei da mesa enquanto os pais
discutiam os eventos mais recentes.
“As filmagens iriam começar na semana passada, mas eles
atrasaram porque estão preocupados com a segurança de Amirah”,
Rogan explicou. O estúdio está puto com o atraso. Há rumores de
que eles estão considerando substituir Amirah.”
Levei um susto. “Eles vão apenas dispensá-la?”
“Os outros atores estão preocupados com a própria
segurança”, Asher disse. “Especialmente depois dos tiros no hotel.
Ninguém quer ficar perto de alguém que é, para todos os efeitos, um
alvo humano ambulante.”
“E se Amirah for pega”, Brady terminou para ele, “ela e a
Agência Weiman vão nos dispensar e achar outra empresa de
segurança.”
“A Heimdall, por exemplo”, Rogan cerrou os dentes. “Eu só sei
que Jimmy Cardannon já está salivando com a oportunidade.”
“Temos alguma evidência de que a Heimdall está por trás do
ataque?”, perguntei.
Asher chacoalhou a cabeça. “A arma recolhida da cena não
tinha número de série. Nem impressões digitais. O quarto de hotel
não foi registrado no nome de ninguém. O atirador roubou um cartão
de acesso pra entrar.”
“E o filho da puta fugiu”, Brady xingou. “Ele abandonou sua
máscara de ski e se misturou com a multidão depois que o alarme
disparou. Fugiu do prédio.”
“Estou convencido”, Rogan disse, definitivamente. “De que a
culpa é da Heimdall.”
Asher piscou, surpreso. “Como você sabe?”
“No primeiro ataque, na casa da Amirah, havia dois homens.
No hotel, só um. Não faz sentido que dois fãs lunáticos estejam
trabalhando juntos. Mas faz sentido que eles estejam sendo
coordenados por alguém como Cardannon. Dois capangas
contratados pro primeiro trabalho e só um pro segundo.”
“Bobagem”, Brady disse. “Não sabemos se havia outra pessoa
lá. Podia ter um companheiro mais perto da festa. Ou em outro
andar.”
“Você realmente acredita nisso?”, Rogan respondeu.
Brady apontou um dedo na sua direção. “Só estou pontuando
uma dúvida razoável. Também acho que a Heimdall é a
responsável. Acho mesmo! Mas não temos nenhuma prova ainda.”
“Ah”, Asher se sentou ereto na cadeira e ajustou os óculos.
“Isso me lembra uma coisa. O hotel nos enviou as imagens das
câmeras de segurança daquela noite. Achei algo que incrimina a
Heimdall.”
“Porra”, Brady disse, se esticando na cadeira. “Por que você
não falou nada?”
Nós quatro fomos até o escritório e Asher fez login no
computador. Ele clicou em diversas pastas até achar o vídeo que
queria. Ele ampliou a cena na tela.
Eram imagens, possivelmente registradas por uma câmera de
segurança no teto, com base no ângulo. Mostrava a entrada do
restaurante japonês que ficava no lobby do hotel, perto da recepção.
Daquele ponto de vista, podíamos ver as primeiras cinco mesas.
Asher rodou o vídeo por um momento e então parou. Ele
apontou para um homem careca que entrava no restaurante. “Aqui.
Logo depois das sete. Vocês o reconhecem?”
“Meio que lembra o Jimmy Cardannon”, disse Rogan. “Mas não
dá para ter certeza. O rosto dele está virado.”
“Ah, sim. Um momento”, Asher acelerou o vídeo. O homem
entrou no restaurante e reapareceu do lado de dentro em uma das
mesas. Asher pausou novamente.
“Puta que pariu”, Brady sussurrou. “É o Cardannon, eu
reconheceria essa cara feia em qualquer lugar.”
“Eu sabia”, Rogan socou a mesa, balançando o teclado. “Não
pode ser coincidência ele ter estado lá naquela noite.”
“Com quem ele foi se encontrar?”, insisti. A máscara de ski
cobria o rosto do atirador, mas eu tinha certeza de que o
reconheceria pelas roupas e forma do corpo. Talvez eu pudesse
ajudar no fim das contas!
“Infelizmente ninguém”, Asher respondeu.
“Como assim, ninguém?”, Rogan avançou o vídeo e reproduziu
novamente. Nós assistimos à continuação quatro vezes mais rápido
e depois oito vezes. Cardannon recebeu um prato de comida,
engoliu rapidamente e tomou uma bebida antes de sair. Ele tinha
ficado ali por uma hora e meia no total.
“E as outras filmagens?”, Rogan insistiu. “Ele deve ter se
encontrado com o atirador. Se nós tivermos o vídeo dele entrando
no quarto no nono andar, ele está lascado.”
“Cardannon não subiu”, Asher respondeu calmamente. “Ele
não encontrou ninguém. Ele usou o estacionamento na frente do
hotel, comeu no restaurante e deixou o lugar imediatamente.”
Rogan deixou escapar um rugido nervoso. Eu nunca o tinha
visto tão frustrado antes. Me fez me sentir ainda mais culpada por
ter estragado tudo no hotel.
“Podemos levar isso até a polícia”, Rogan disse. “Contar a eles
tudo o que suspeitamos sobre Cardannon e a Heimdall.”
“Levar o que para a polícia?”, Asher perguntou. “Não é ilegal
comer em um restaurante de hotel.”
“Ele deve ter se encontrado com o atirador por perto, não
dentro do hotel”, Rogan respondeu.
Asher deu de ombros. “Suspeito que você esteja correto, mas
não temos evidências.”
“Que tal confrontá-lo?”, Brady sugeriu. “Vamos até a casa dele,
da mesma forma que ele apareceu aqui outro dia, e dizemos a ele
que sabemos de tudo.”
“Isso seria um erro”, disse Asher. Ele removeu seus óculos e
os limpou com um paninho. “Neste momento, temos uma vantagem
porque sabemos que ele estava lá naquela noite. Ele não sabe que
sabemos.”
“E o que fazemos com essa informação?”, Rogan perguntou.
Asher reposicionou os óculos sobre o nariz. “Não sei.”
Foi a vez de Brady grunhir de frustração. “Não acredito que o
perdemos. O hotel era nossa chance de foder o desgraçado e
provar que os capangas da Heimdall estavam lá. Não vamos
conseguir outra chance como essa.”
“Não sem colocar Amirah em risco de novo”, Rogan adicionou.
“E é a última coisa que queremos.”
“Vamos nos concentrar no que podemos controlar”, Asher disse
pacientemente. “As filmagens começam em dois dias. Olhei o
planejamento que o agente de Amirah nos deu. As primeiras duas
semanas de filmagem são em locações externas, no centro de Los
Angeles.”
“Perfeito. Apenas perfeito”, Rogan sussurrou. “Não tem a
menor chance de a mantermos cem por cento a salvo do lado de
fora. Não podemos isolar todo o centro de LA.”
Enquanto eles deliberavam, eu pensei em tudo o que Amirah
estava passando. Tentando avançar na carreira sabendo que
alguém estava tentando matá-la. Me imaginei num set, filmando
meu primeiro filme e me preocupando com a cena que faria – e, ao
mesmo tempo, me preocupando que a qualquer momento alguém
poderia atirar em mim. Eu não sabia se conseguiria lidar com aquilo.
Pobre Amirah, pensei. Ela só quer viver sua vida e as pessoas
estão tentando a derrubar. Pensando bem, eu era sortuda por eu e
Maurice termos invadido o camarote no jogo dos Lakers antes de
Amirah Pratt contratar a HLS Segurança. Se nós tentássemos algo
do tipo naquele momento, seriamos provavelmente pegos e presos,
já que a segurança dela estava mais reforçada. E eu definitivamente
não iria conseguir me passar por ela.
Pisquei para mim mesma. Espera um minuto.
A ideia começou a se formar na minha cabeça como uma
nuvem de chuva, rodopiando e ganhando forma. Era um plano
arrojado, mas que poderia ajudar os três homens com quem eu me
preocupava. Além de me absolver de toda a culpa de ter estragado
tudo no hotel.
Eu poderia consertar as coisas.
Rogan e Asher estavam argumentando sobre segurança extra
quando eu os interrompi. “Eu sei como podemos acabar com a festa
da Heimdall. Precisamos fazê-los atacar Amirah de novo. Vamos
colocá-la na ponta de uma vara e fazê-la isca.”
“Amirah nunca vai topar fazer isso”, disse Rogan.
“Não vai mesmo”, concordei. “E é por isso que eu vou me
passar por ela.”
43

Rogan

Não havia sentimento pior no mundo do que desespero. Saber


que algo ruim estava acontecendo e ia continuar a acontecer, e ser
totalmente incapaz de evitar. Eu não estava acostumado a me sentir
impotente. Odiei a sensação.
A Heimdall iria vencer. Eles convenceriam Amirah e a Agência
Weiman a nos demitir. O efeito dominó desse movimento não
permitiria que nossa empresa se recuperasse nunca. Eu estava
desesperado por qualquer plano que nos ajudasse a evitar isso, não
importa o quão louco fosse.
E então Heather ofereceu uma solução.
Uma surpreendentemente boa.
“O que você está dizendo?”, Brady questionou.
“Estou dizendo pra vocês me usarem como isca”, Heather
respondeu. “Vou fingir que sou Amirah em algum evento. Isso vai
provocar os atiradores de novo. Então vocês os capturam!”
Descartei o plano imediatamente. “Eu sei que você quer ajudar,
e nós agradecemos a proposta. Mas não vamos te colocar em
risco.”
“Não estarei em risco!”, ela insistiu. “Você mesmo disse: A
Heimdall não quer ferir Amirah de verdade. Eles só querem assustá-
la pra que ela contrate outra empresa de segurança. É por isso que
eles deram tiros aleatórios pelo vidro antiterremoto da janela. Eles
não se importaram com a precisão, desde que ela se assustasse.
Era puro espetáculo, sem risco nenhum.”
Brady deu uma gargalhada. “Isso é loucura! Não importa se
havia perigo real ou não. Não vamos te colocar nessa posição.
Certo, rapazes?”
“Na verdade”, eu disse. “Acho que vale a pena considerar.”
Brady me olhou boquiaberto. “Você tá de brincadeira, Rogan?”
“Ela tem razão!”, respondi. “A Heimdall quer roubar Amirah de
nós. Eles não vão arriscar machucá-la no processo. A Heather não
vai ficar em perigo fingindo ser Amirah. E nós sabemos que ela
pode fazer isso, ela enganou a gente, e quase todos, no camarote
do jogo dos Lakers, lembra?”
“Especialmente se eu estiver usando um chapéu e óculos
escuros”, eu disse.
“Amirah precisa ser alertada sobre o plano”, Asher disse
pensativamente. “Talvez até mesmo o estúdio.”
“Falei com Amirah ontem”, respondi. “Ela está com medo. A
essa altura ela vai tentar qualquer coisa”, me virei para Heather.
“Você tem certeza de que quer fazer isso?”
Ela deu de ombros. “Qualquer coisa que eu puder fazer para
ajudar vocês, eu farei. Especialmente depois de ter arruinado tudo
no hotel…”
“Você não fez nada de errado”, Asher insistiu, segurando sua
mão. Brady só contorceu os lábios.
É claro que ela estava culpada pelo que aconteceu no hotel e
nos ofereceu ajuda para compensar. Eu deveria saber que era uma
ideia ruim por causa disso. Ela não estava de fato concordando com
o plano em sã consciência. Ela estava desesperada de uma forma
diferente da nossa.
Mas eu estava sedento demais por uma possível solução para
pensar claramente.
“Se você está inclinada a fazer isso, então acho que é um
plano consistente”, eu disse.
Brady levantou as mãos, frustrado. “Eu sou o único que acha
que isso é loucura? Asher, me dá uma mãozinha aqui.”
Nosso sócio loiro tamborilava a mesa com os dedos pensativo.
“Considerando tudo, é um bom plano. E não temos muito tempo. Se
o estúdio dispensar Amirah, ela também no dispensará…”
“Não faça isso!”, Brady disse, segurando o braço de Heather.
“Por favor, não faça isso.”
“Eu preciso”, ela insistiu, puxando o braço para longe. “É a
única saída. A não ser que você tenha um plano melhor.”
Brady chacoalhou a cabeça e caminhou pela sala. “Isso é uma
péssima ideia. Queria deixar registrado aqui e agora, na frente de
vocês todos.”
“Registrado? Por quê? Não tem registro nenhum.”
Heather colocou uma mão nas costas dele. “Vou ficar bem,
prometo. Especialmente porque tenho vocês pra me proteger.”
“Isso me preocupa. Não estamos fazendo um bom trabalho,
falhando em proteger as pessoas”, Brady disse e saiu acelerado do
escritório.
Asher se virou para mim. “Tenho algumas preocupações
logísticas. Temos que encontrar o melhor lugar para fazer isso. E
então coordenar com os agentes de Amirah para divulgar isso, atrair
publicidade para que a Heimdall morda a isca.”
“Assim que o agente de Amirah autorizar, ligue para o estúdio”,
eu disse. “Eles devem ter informações com base na programação
das filmagens na próxima semana.”
“Fica comigo enquanto eu faço essa ligação?”, Asher pediu a
Heather. “Eles podem querer falar com a mulher que vai se passar
pela cliente deles.”
Dei um beijo na bochecha de Heather. “Obrigado por isso.”
“É claro!”, ela respondeu com um sorriso fraco. Apesar de ter
sido ideia dela, parecia que ela estava incomodada em ser uma
isca. Aquilo era quase o suficiente para me fazer reconsiderar.
Quase.
Havia muito trabalho para fazer. Se fossemos fazer aquilo
mesmo, eu queria ligar para todas as agências de segurança e pedir
ajuda. Iríamos além das nossas barreiras pela segurança de
Heather.
No caminho até a porta da frente, vi Brady sentado com as
pernas cruzadas no chão da sala de estar, brincando com os
carrinhos dos meninos distraidamente. Ele me olhou e fez uma
careta.
“Ela não devia fazer isso e você sabe.”
Cora ergueu o corpo na cadeira onde estava sentada. “Eu não
devia fazer o quê, papai?”
Brady pegou a garota da cadeira e lhe deu um abraço. “Não
você, docinho, estamos falando de outra pessoa.”
Ela deu gritinhos de felicidade no seu abraço até ele deixá-la ir.
“Não temos opções”, respondi. Não tinha interesse em reiniciar
a discussão que tínhamos acabado de ter. “Se você tiver um plano
melhor, desembucha.”
“Ela está se sentindo culpada pelo que aconteceu no hotel”,
Brady disse calmamente. “Ela… me distraiu. Algumas vezes”, ele
olhou para as crianças brincando em volta. “Se é que você me
entende. A única razão pra ela oferecer ajuda é porque tem culpa.”
“A decisão é dela”, eu disse, me virando para sair.
“Eu acho que a amo.”
Parei com a mão na maçaneta e então me virei. Brady estava
me encarando de forma desafiadora, como se eu fosse discordar
dele. Ele parecia Dustin naquele breve momento. O lábio inferior
virado para fora, ameaçando fazer beicinho.
“Quem você ama?”, Micah perguntou.
Brady ignorou o garoto e continuou me encarando.
“É verdade?”
“Sim, é. E eu não posso colocá-la em risco, não importa o quão
pequeno nós achamos que esse risco seja.”
Amor. A palavra era poderosa e chocante, especialmente vindo
de Brady. Parei para analisar minhas próprias emoções. Eu
realmente gostava de Heather, mas ir além? Eu não tinha certeza do
que sentia. Só fazia cinco ou seis semanas. Heather era incrível em
todos os sentidos e havia potencial para aquilo virar coisa séria, mas
amor…
“Me preocupo com ela profundamente”, eu disse a Brady.
“Também me preocupo com você e Asher e ainda assim os enviei
em missões perigosas antes.”
Brady levantou um dedo na minha direção. “Isso é diferente e
você sabe, porra!”
Os garotos levantaram suas cabeças na direção dele e Cora se
engasgou. Brady se encolheu.
“Oooo!”, Dustin cantarolou. “Você disse um super palavrão!”,
Micah começou a rir e olhou para mim para ver minha reação.
“Corra!”, Brady insistiu. “Eu disse corra. Como se fossemos
jogar beisebol. Vocês gostam de jogar beisebol?”
Aquilo podia ter funcionado quando eles tinham quatro anos,
mas eles eram espertos demais para cair no golpe. Brady era
normalmente bom em controlar o linguajar perto dos trigêmeos.
Deixar escapar daquele jeito com as crianças por perto…
“Heather não está em perigo”, eu disse. “A Heimdall quer
assustar Amirah, não a machucar.”
“E se você estiver errado? E se não for a Heimdall?”
Eu tinha certeza de que era a empresa rival. Cada evidência
que tínhamos apontava para eles: o número de criminosos diferente,
a faca da SAE, o aparecimento de Cardannon no hotel. Mas minha
certeza não era 100%. Era tipo 95%.
“Heather é adulta”, eu disse. “E ela também é a mulher mais
teimosa e cabeça dura que já conheci. Se contarmos a ela que o
plano é perigoso, ela vai provavelmente fazer as coisas do jeito dela
tentando ajudar.”
Brady deixou Micah pular nas suas costas como um
macaquinho, e então ficou de pé e me encarou. “Você pode dar as
desculpas que quiser. Mas você sabe que não é risco zero de
alguma coisa dar errado. Eu vou fazer o que puder pra protegê-la e
sei que você e Asher farão o mesmo. Mas se algo acontecer a ela,
vou dizer que foi sua responsabilidade.”
Se algo acontecer a ela, eu mesmo vou dizer que foi minha
responsabilidade, pensei enquanto abria a porta e descia as
escadas.
44

Heather

O plano ganhou forma nas semanas seguintes.


O estúdio topou todo o esquema. Graças a algumas
permissões para fechar as ruas, o primeiro dia de filmagem foi no
centro de Los Angeles, usando efeitos especiais que simulavam um
edifício desmoronando. As cenas não incluíam Amirah, então eles
me deixaram transitar pelo set fingindo ser ela sem atrapalhar a
agenda de filmagens.
Mas aquilo significava que tínhamos uma janela curta para
fazer com que a Heimdall saísse da tocaia e pudéssemos pegá-los.
Tínhamos que fazer valer a pena.
Por causa da natureza dos escombros, eles fecharam quatro
quarteirões no perímetro do set. Rogan e os pais gostaram daquilo
porque os espectadores eram mantidos mais afastados do que o
normal. A situação era controlável de forma que propiciava que eles
pegassem a Heimdall agindo da forma que agissem.
Amirah estava entusiasmada com todos os esforços para
pegar quem estava a ameaçando. A Agência Weiman também
estava ajudando, já que outra pessoa além da sua cliente estava
sendo exposta ao fogo cruzado metafórico.
Ok, o fogo cruzado podia não ser metafórico. Mas eu estava
tentando não pensar nisso.
Para adoçar a isca, o agente de Amirah colocou uma nota na
imprensa dizendo que ela estaria no set mesmo não tendo nenhuma
cena sendo filmada naquele dia. Eles até anunciaram que ela
distribuiria autógrafos para os fãs próximos do set.
“A sessão de autógrafos é o momento que planejamos pra
pegar a Heimdall”, Rogan me explicou na noite anterior. As crianças
estavam dormindo e os pais estavam tomando uma bebida na sala
de descanso para acalmar os nervos. Eu me abstive porque meu
estômago estava se revirando a semana toda, preferi não arriscar.
“Anunciamos que a sessão começa às duas horas. Ao meio-dia,
duas horas antes, a Amirah de verdade vai andar pela área e
distribuir autógrafos aleatórios. Vai ser rápido – menos de um
minuto. Os agressores não esperarão.”
“Por que isso?”, perguntei, confusa. “Não queremos evitar que
ela fique em perigo?”
“Ela não vai ficar em perigo porque os caras da Heimdall vão
agir às duas horas”, Brady explicou. Ele parecia infeliz com tudo
aquilo, mas ainda assim estava participando. “Enviá-la para falar
rapidamente com os fãs vai comprovar que Amirah está de fato no
set. As pessoas vão tirar fotos e postar, o que criará evidências.
Assim, quando você sair para distribuir autógrafos às duas, a
Heimdall vai estar ansiosa para fazer alguma coisa. E pensarão que
você é ela.”
“Vamos fazer propaganda enganosa”, disse Asher. “Você vai
usar a mesma roupa, os mesmos óculos escuros e o mesmo
chapéu, queremos que seja fácil que te reconheçam no set assim
que você assumir o lugar dela.”
No geral, eu não era uma pessoa nervosa. Fazia coisas sem
pensar em relacionamentos, no trabalho… assim como na tribuna
de honra que resolvi invadir no jogo dos Lakers.
Mas aquilo era diferente. Homens estariam me vigiando.
Homens maus. Eles não iriam me ferir exatamente, mas queriam me
assustar.
Eu me sentia como alguém que se preparava para pular de
paraquedas. Claro, diversas pessoas haviam feito aquilo antes, era
empolgante, mas muito mais perigoso do que simplesmente não
pular de paraquedas.
Escovei meus dentes e me arrumei para dormir. Asher estava
me esperando no corredor.
“Você tem certeza de que quer fazer isso?”, ele perguntou.
Dei de ombros. “A sugestão foi minha.”
Ele sorriu com suavidade. “Há uma grande diferença entre dar
uma sugestão e segui-la. Especialmente quando há perigo
envolvido. Se você quiser desistir, não é tarde demais. Ninguém vai
ficar chateado com você.”
Não era verdade. Era absolutamente tarde demais para
desistir. Os planos já haviam sido feitos, Amirah, seu agente e o
estúdio já estavam envolvidos. Se mudássemos de ideia, seria
horrível para a reputação da HLS Segurança.
“Tenho certeza!”, respondi. “Só quero que isso acabe logo e a
gente possa voltar à vida normal.”
Asher me deu um longo abraço e um beijo suave na bochecha.
“Tenta dormir um pouco.”
Deitei-me na cama e encarei o teto. Tentei pensar nos eventos
do dia seguinte que pairavam pela minha cabeça, mas era difícil.
Minha imaginação continuava me fazendo imaginar o pior. Eu
poderia me machucar. Ou talvez nós não conseguíssemos atrair a
Heimdall para a armadilha, e tudo teria sido perda de tempo.
Interessante… o último cenário me assustava mais do que o
primeiro.
Quero ajudá-los, pensei firmemente. Se pegarmos a Heimdall,
Rogan, Brady e Asher podem relaxar e voltar ao trabalho
normalmente. Podemos todos ser felizes juntos, sem ameaças
pairando sobre nós.
E pensando exclusivamente em mim, eu sabia que se a HLS
Segurança perdesse o contrato com Amirah e sua reputação fosse
arruinada, eles não poderiam me ajudar a alavancar minha carreira
conforme prometido. Mas essa era a menor das minhas
preocupações naquele momento.
Alguém bateu na porta, tão suave que eu quase não escutei. A
maçaneta se virou silenciosamente e a porta se abriu.
“Você está acordada?”, Brady perguntou.
Me sentei na cama e acenei. “Não consigo dormir.”
“Nem eu”, ele escorregou para dentro e fechou a porta atrás
dele. “É importante dormir bem antes dessas coisas, mas não
consigo parar de pensar no amanhã.”
Abri espaço para ele na cama. “Você está preocupado com o
que vai acontecer amanhã?”
Ele acenou. “Claro que sim, porra.”
“Mas você era fuzileiro”, eu disse. “Você provavelmente já teve
centenas de missões.”
“Não muitas. Mas o suficiente”, ele afagou meu cabelo sobre
uma das orelhas. “Há uma diferença entre me arriscar ou arriscar a
vida de uma pessoa com quem eu me preocupo.”
“Ora bolas”, eu disse. “Sou uma atriz, Brady. Eu sei o que estou
fazendo.”
“Não me preocupo com você”, ele respondeu. “Mas com o que
pode te acontecer.”
Eu o beijei. “Então é melhor você se certificar que estarei em
segurança.”
“Eu pretendo”, ele me beijou de volta, mais longamente dessa
vez enquanto escorregava para debaixo das cobertas comigo.
“Achei que você tinha dito que era importante dormir bem”,
murmurei nos seus lábios.
“E eu pretendo dormir bem, mas só depois de te distrair dos
seus problemas.”
Ele me deitou na cama me beijando, sua mão escorregou pela
lateral do meu pijama. Seus toques eram suaves e cuidadosos
enquanto ele me despia, me massageando no meio das pernas e
tirando as próprias roupas.
Suspiramos juntos quando ele me penetrou, preenchendo o
vazio que eu sentia por ele. Seus lábios nunca deixaram os meus,
num beijo sem fim de ternura e amor. Brady mal se moveu dentro de
mim, estocadas curtas e carinhosas enquanto nos beijávamos.
Minha necessidade aumentava e eu pressionava meu corpo contra
o corpo bem esculpido de Brady, saboreando o calor que vinha dele
para mim.
Me sentia segura em seus braços, como se nada pudesse me
ferir.
Mas, como em muitos pensamentos que nos ocorrem
enquanto fazemos amor, eu estava errada.
45

Heather

“Não consigo te agradecer o suficiente pela ajuda”, eu disse a


Maurice no dia seguinte. “Patty não podia ficar com as crianças e
como você fez um ótimo trabalho na última vez…”
“Tudo o que você quiser”, ele respondeu, estranhamente
altruísta. Talvez ele tivesse entendido a gravidade da situação.
Mas então ele arruinou tudo dizendo, “É claro que estou aqui
de verdade por causa do pagamento que os fuzileiros têm para
mim.”
“E não tem nada a ver com o fato de o Brady estar tentando te
juntar com um amigo?”, disparei de volta.
Maurice olhou para o outro lado estrategicamente. “É claro que
não.”
Meus três fuzileiros e eu entramos em dois carros com direção
ao centro de LA, onde o filme estava sendo filmado. O trânsito
estava horrível e demoramos quase duas horas para percorrer
quinze quilômetros. Aparentemente as ruas que foram isoladas para
as filmagens estavam causando vários desvios.
Alcançamos um dos bloqueios e mostramos nossas
credenciais para um dos policiais, que abriu a cancela e nos deixou
passar.
“Olha todos esses fãs”, disse Brady enquanto avançávamos. “É
muita gente por metro quadrado.”
Eles estavam de fato amontoados em volta das barragens,
com placas nas mãos e gritando como as fãs dos Beatles que
queriam receber a atenção do Paul. Vi uma mulher segurando uma
foto de Amirah Pratt e uma caneta. Os vidros do carro eram
escuros, então eles não conseguiam me ver. Me perguntei o que
eles fariam se eu abrisse a janela e acenasse.
Brady seguiu o veículo de Rogan, que rodou pelo set de
filmagem até alcançar os trailers que pertenciam aos atores. Brady
desceu do carro e abriu a porta para mim.
“Parece que a barra está limpa, mas mantenha a cabeça
abaixada.”
A ilusão de fingir ser Amirah seria arruinada se os homens de
Cardannon vissem duas Amirahs entrando no trailer, é claro.
Segurei as largas abas do meu chapéu perto do pescoço e subi
correndo os degraus do trailer.
Dei de cara com a Amirah Pratt de verdade imediatamente.
“Ah, olá!”, ela disse sorrindo timidamente. “Uau. Você
realmente se parece comigo, não é mesmo?”
Cooper, o guarda-costas designado para ela pela HLS
Segurança estava ao seu lado, junto com outro rosto familiar: Jonah
Weiman, o diretor da Agência Weiman. Em contraste com a
amistosidade de Amirah, ele espremeu os olhos para me olhar de
forma suspeita.
“Te conheço. Você é a desordeira que invadiu nosso camarote
no jogo dos Lakers.”
“Sr. Weiman”, disse Rogan. “Eu não esperava te ver aqui.”
“Minha cliente cinco estrelas está em perigo e eu quero ver
esse showzinho pessoalmente”, ele apontou para mim. “Por que
vocês escolheram essa mulher?”
“Quem seria melhor pra se passar pela Senhorita Pratt do que
a mulher que fez isso antes?”, Rogan explicou. “Acredite, Heather
Hart é uma especialista. Eu não confiaria esta tarefa a ninguém
mais.”
Jonah Weiman torceu os lábios em desagrado, mas eu sorri ao
ouvir o elogio de Rogan.
Amirah pegou minhas mãos. “Estou profundamente agradecida
pelo que você está fazendo. Arriscar sua própria vida para encontrar
as pessoas responsáveis por essas ameaças horríveis… não
consigo nem imaginar como você se sente. Você é muito corajosa.”
Fiquei totalmente chocada com o quão legal ela era. “Sim,
claro. Hm… fico feliz em ajudar.”
“Já é quase meio-dia”, disse Asher. “Você está pronta? Já sabe
o que precisa fazer?”
Ela consentiu. “Vou distribuir autógrafos perto da barricada.
Sorrir para as câmeras para que todos saibam que estou aqui. E
então, quando o meu guarda-costas disser que precisamos ir, vou
dizer à multidão que só tenho tempo para mais um ou dois
autógrafos.”
“Não mais do que trinta segundos”, Asher disse, olhando no
telefone. “Precisa ser bem rápido.”
Cooper colocou uma mão nas costas dela para tranquilizá-la.
“Vamos, senhorita?”
O trailer era bonito: havia um sofá de couro e uma TV de tela
plana em uma área, uma pequena cozinha e uma mesa com
espelho para fazer cabelo e maquiagem. Havia até algo que parecia
um pequeno lavabo do outro lado. Jonah Weiman ligou a TV que já
estava exibindo uma transmissão ao vivo de um fã que estava na
barricada no YouTube.
“Estamos a apenas quatro quarteirões do set!”, ele anunciou. A
câmera devia estar acoplada à sua cabeça, porque ficava se
movendo da esquerda para a direita. Era a barricada que tínhamos
cruzado para entrar, com a enorme concentração de fãs por metro
quadrado. “O que será que Pedro está fazendo neste momento?
Estamos tão perto dele, me sinto o fã número um nesse
momento…”
“Doidos”, Weiman sussurrou.
De repente, o barulho da multidão aumentou. O apresentador
avançou entre as pessoas até chegar na barricada, com uma visão
clara do set do lado de dentro.
“AIMEUDEUS, vocês não vão acreditar! Eu acho que é a
maravilhosa da Amirah Pratt!”
“Ela não tem nenhuma cena hoje!”, outro fã gritou. “Amirah!
AMIRAH!”
E então todo mundo estava gritando quando Amirah se
aproximou usando seu vestido verde-musgo, os enormes óculos de
sol e um chapéu floppy. Cooper caminhava ao lado dela, seus olhos
se moviam da direita para a esquerda, rastreando possíveis
ameaças.
“Oi, todo mundo!”, Amirah falou com a multidão e começou a
distribuir autógrafos. “Que bom ver vocês!”
O apresentador acenou para ela. “Amirah! Sou Brent Francis,
do canal Ao vivo com as Celebridades! Não sabíamos que você
estaria no set hoje!”
Ela sorriu discretamente para a câmera, seu rosto estava
perfeitamente no foco. “Não tenho nenhuma cena hoje, mas gosto
de visitar o set antes para conhecer todos e ensaiar um pouco. Além
de ver meus fãs maravilhosos, é claro!”
“Vinte segundos”, disse Asher no trailer.
Amirah se virou para o próximo fã, então seu rosto se
contorceu em choque, sua perna esse moveu e ela começou a cair.
Seu vestido verde e seu cabelo loiro balançavam enquanto ela caía
no meio da multidão.
“O que aconteceu?”, Rogan perguntou. “Alguém ouviu barulho
de tiro?”
“Tudo parece normal…”, disse Brady, olhando para fora pela
porta do trailer.
“Eu sabia que isso era um erro!”, Weiman rosnou. “Tirem-na de
lá!”
A câmera do apresentador afundou para a frente. Amirah tinha
caído da barreira, no colo dele. Ele a colocou de volta no lugar. Ela
jogou o cabelo para trás e riu nervosamente para a multidão.
“Sou muito desastrada!”, ela disse. “Essas porcarias de saltos.
Obrigada por me segurar… Brent?”
“Brent! Brent Francis!”, o apresentador respondeu.
“Obrigada, Brent Francis”, ela deu uma piscadela para a
câmera, e então Cooper sussurrou algo em seu ouvido. “Fui
orientada a voltar para o set, mas venho aqui distribuir mais
autógrafos às duas! Espero ver vocês de novo!”
Os gritos e aplausos da multidão aumentaram enquanto ela se
virou e caminhou em direção ao trailer. O apresentador virou a
câmera para o seu rosto. Ele estava radiante de felicidade.
“Senhoras e senhores, acabei de tocar na única e exclusiva
Amirah Pratt!”
“Você salvou a vida dela!”, outro fã gritou. “Ela teria, tipo,
quebrado o pescoço se não fosse você!”
O apresentador aproveitou aquela linha de raciocínio. “Salvei a
vida de Amirah Pratt! E sete mil fãs assistiram ao vivo!”
“Ele é mais dramático do que os atores”, Brady disse.
No momento em que Amirah entrou no trailer, ela foi
bombardeada com perguntas. Ela levantou a mão até todo mundo
se acalmar.
“Foi demais?”, ela perguntou. “Pensei que se tropeçasse e
deixasse a câmera me pegar iria atrair mais a atenção do
perseguidor…”
Brady riu alto. “Isso foi muito esperto!”
O tráfego de dados das redes sociais está aumentando”, Asher
confirmou, conferindo seu telefone. “Você viralizou. Está entre os
doze tópicos mais comentados do momento, acho que é o suficiente
para provocá-los a virem para cá às duas.”
“Você não pode fazer algo assim sem nos avisar”, Weiman deu
uma bronca nela.
Ela deu de ombros. “Eu não tinha pensado nisso até chegar lá.
Mas funcionou, certo?”
Rogan deu um tapinha nas costas dela. “Você foi ótima!
Assumimos daqui.”
“Ah”, Amirah disse. “Quase me esqueço.”, ela entrou no quarto
e voltou um momento depois usando um conjunto de moletom da
Universidade de Iowa. “Aqui, para você.”
Ela me entregou um chapéu floppy com o vestido verde
dobrado e os óculos de sol que ela tinha usado dentro.
“Fique com estes também”, Asher me entregou um par de
sapatos de salto pretos.
Entrei no lavabo do trailer e troquei de roupa. Era estranho
fazer aquilo pensando que cinco homens estavam logo ali depois da
porta, me esperando. Quando saí, todos me fitaram.
“Gostei muito desse vestido”, eu disse.
Amirah sorriu. “E tem bolsos!”
Enfiei minhas mãos nos bolsos e as girei um pouco.
“Você está perfeita”, Asher disse.
“Ela vai estar depois de fazer o cabelo e a maquiagem”,
Weiman murmurou.
Me sentei na cadeira e deixei a visagista mexer no meu cabelo
por meia hora. Vou admitir: fiquei com inveja. Eu adoraria ter aquela
mulher penteando meu cabelo todo dia. Ela aparou uns centímetros
para ficar idêntico ao de Amirah, mas eu não me importava. Já
estava na hora de cortar mesmo e eu economizei duzentos dólares.
Essa vai ser minha vida quando eu for uma grande atriz,
pensei quando me levantei da cadeira. Assim que eu ajudar os
rapazes a provar que Heimdall está por trás dos ataques.
“Caramba, Heather”, Brady exclamou enquanto me olhava de
cima a baixo. “Você tá gostosa pra caralho.”
Levantei uma sobrancelha. “Agora que estou a cara de Amirah
Pratt, você quer dizer?”
“Ah, merda, eu não quis dizer…”, ele chacoalhou a cabeça.
“Quer saber, não vou me desculpar. Você está linda e eu não vou
deixar você transformar isso em insulto.”
Fiquei na ponta dos pés e o beijei suavemente, o suficiente
para não remover meu batom recém aplicado. “Eu sei o que você
quer dizer. E obrigada.”
“Uma e meia”, disse Asher. “É melhor assumirmos nossas
posições.”
“Queremos fazer uma varredura no set”, Rogan explicou.
“Esperamos que a movimentação faça com que os agressores
cheguem antes de você começar a distribuir autógrafos, às duas.
Vamos arriscar.”
“Faz sentido. Estou pronta.”
Rogan se inclinou e apontou para os sapatos que eu estava
usando. O par de stilettos Stuart Weitzman de Amirah. “Colocamos
um chip com GPS no salto. Desde que você esteja usando os
sapatos, poderemos te rastrear.”
“Nunca pensei que fosse ficar tão feliz em ser ‘grampeada’”, eu
disse.
Abracei cada um deles pela última vez. “Tenha cuidado”, Brady
sussurrou. “Estaremos na central de segurança o tempo todo. Se
você se sentir desconfortável em algum momento, não hesite em
voltar para o trailer.”
Assenti, mas sabia que aquilo não podia acontecer. Eu não me
deixaria assustar, especialmente com tanta gente assistindo.
Incluindo Jonah Weiman.
Meus três fuzileiros saíram do trailer primeiro. Depois de um
minuto, Cooper me entregou o chapéu e os óculos escuros de
Amirah. Me olhei no espelho. Éramos tão parecidas que quase
acreditei que era Amirah Pratt.
O que significa que vamos enganar os agressores também,
uma voz ecoou na minha cabeça. Eu estaria em perigo assim que
saísse do trailer.
Respirei fundo e caminhei para fora.
Era um dia claro, mesmo que estivéssemos rodeados pelos
arranha-céus de Los Angeles, o sol brilhava sobre nós.
Cooper colocou uma mão nas minhas costas. “Este é o
caminho até o set, senhorita.”
Me deixei ser guiada para a área de filmagem. Em um
cruzamento, pude ver uma das barricadas a dois quarteirões de
distância. As pessoas devem ter me reconhecido mesmo à
distância, porque gritaram. Acenei amigavelmente, o que os fez
gritar ainda mais alto.
E eu não podia evitar. Qualquer pessoa no mesmo lugar faria a
mesma coisa. Era bom sentir o gostinho da fama, mesmo com um
alvo nas costas.
Tentei não olhar para os arranha-céus. Havia milhões de
lugares de onde um atirador poderia estar mirando. Eu sabia que as
pessoas nos prédios tinham sido verificadas, mas ainda assim não
me sentia confortável.
Ninguém quer ferir Amirah, pensei teimosamente. Eles só a
querem assustar.
A área de filmagem ficava a um quarteirão cheio de carros
capotados e escombros falsos. Parecia convincente até um
contrarregra pegar uma pedra enorme como se ela não pesasse
nada, revelando que era feita de isopor. Além dos seis contrarregras
organizando os escombros falsos, havia seis policiais, o diretor e
sua equipe, e um caminhão de tacos.
Sempre quis estar em um set de filmagem, pensei. É uma
maneira estranha de realizar um sonho.
Um dos policiais me olhou por vários segundos. Então um
operador de câmera fez o mesmo. Até o cara do caminhão de tacos
fez uma careta na minha direção. Eles sabiam que era armação ou
estavam só encarando uma celebridade?
Senti que ia entrar em pânico. O disfarce era muito óbvio, eu
não estava convencendo nenhum deles e não convenceria os
homens de Jimmy Cardannon. O plano falharia.
O diretor, J. J. Sherman, era um homem magricela de
bochechas ossudas. Ele pegou um taco de porco no caminhão e me
olhou fixamente. Ele chegou perto e sussurrou. “Você é a Amirah de
verdade ou a falsa?”
Senti esperança. “Então está funcionando? Você nota a
diferença?”
“A falsa, hm”, Sherman mordeu seu taco e rolou os olhos. “Não
acredito que concordei com essa loucura. Não me importo se
Amirah não está filmando hoje – ela distrai o resto de nós. Fique
fora do caminho, ok?”
Acenei. “Não se preocupe comigo. Sou uma aspirante a atriz e
espero que no futuro…”
Ele se afastou de mim e acenou para o ator principal. “PEDRO!
O que você está fazendo aqui? A próxima cena é depois do colapso,
você deveria estar sendo coberto de poeira pela equipe de
maquiagem agora…”
Ok. Meu disfarce enganou o diretor pelo menos. Era um bom
começo. Mas eu ainda sentia que todos me encaravam e aquilo me
fez duvidar da minha habilidade de atriz…
Uma mão tocou minhas costas. “Respire”, Cooper sussurrou.
“Certifique-se de sorrir para todos. A Amirah real faz isso o tempo
todo.”
“Obrigada”, eu disse, com um sorriso falso no rosto.
Cooper olhou no relógio. “Mais quinze minutos pelo set e então
vamos para a área dos autógrafos. Você está indo muito bem.”
Eu não sabia se era só educação, mas acreditei no elogio e
tentei relaxar.
Pela próxima meia hora serei Amirah Pratt.
46

Brady

Tudo aquilo era uma estupidez e eu era o único que parecia ter
se dado conta.
Estávamos no trailer do set de filmagens. Três especialistas em
vídeo estavam sentados em frente a dezoito monitores de
computador na parede que mostravam o set de todos os ângulos.
Aquilo era para filmar umas cenas com muita pirotecnia, mas
também para nos permitir monitorar o que acontecia ao redor da
Heather.
“Todos os agentes disponíveis, confirmem a posição”, eu disse
no canal aberto.
“Cooper, no set com a Harpa Harmônica.”
“Lopez, na interseção noroeste.”
“Crowe, ao lado da Starbucks, atrás da barricada sul.”
“Matthews, na frente da barricada oeste.”
Quando eles terminaram, anotei as localizações no mapa.
Tínhamos dois agentes extras na missão daquele dia para manter
Heather o mais segura possível, para nos certificar de que iríamos
pegar os desgraçados que estavam fazendo aquilo. Além disso,
havia a própria segurança do estúdio. Sem contar o departamento
de polícia de LA, que havia colocado oficiais para vigiar as barreiras.
Havia uma lista curta de pessoas que estavam autorizadas a entrar
no set, uma lista que eu mesmo avaliei no dia anterior. O lugar
estava mais seguro do que o palácio de Buckingham. Eu não queria
arriscar.
Asher caminhou na minha direção e abaixou a voz. “Essa é a
terceira checagem que você faz em dez minutos.”
“Estou mantendo todos alertas”, respondi com teimosia. “Não
quero ninguém com preguiça.”
Asher deu um tapinha nas minhas costas para me tranquilizar.
“Vai ficar tudo bem.”
“Você não sabe.”
“Eu sei”, ele respondeu. “Porque estamos nos certificando de
que tudo fique bem.”
Fiz uma careta. “É isso que me preocupa, Asher. Se alguma
coisa acontecer com a Heather vai ser nossa culpa, e…”
Interrompi a fala quando a porta se abriu e a última pessoa que
eu queria ver na terra entrou no trailer. A porra do Jimmy
Cardannon.
Rogan se virou para ele. “O que você está fazendo aqui?”
Cardannon deu uma olhada no trailer e ajustou seu terno.
“Fomos contratados por Pedro Ortega, o ator principal. Ele não se
sente seguro pelo ambiente atual criado pela situação de Amirah
Pratt. Estou aqui para ficar de olho.”
Eu não podia acreditar que ele estava ali em carne e osso. Era
como se ele estivesse zoando com a nossa cara. Cerrei o punho e
me preparei para desferir um golpe.
Mas Rogan me conteve.
“Você acha que não sei o que está acontecendo?”, Rogan
cresceu para cima dele como um lutador de MMA. “Primeiro você
aparece no restaurante onde os tiros ocorreram e agora você está
aqui no set?”
O sorriso de comedor de merda do Cardannon se escancarou.
“Aquele restaurante tem o melhor sushi da cidade. Na verdade, eu
estava esperando encontrar alguns atores que iam para a festa e
convencê-los a contratar os serviços da Heimdall, mas a sua
empresazinha vulgar fracassou tanto que eu nem precisei. Devo
dizer que tenho que agradecê-los.”
Ele estendeu sua mão e Rogan a repeliu com um tapa. “Devo
dizer que tenho que te encher de porrada bem agora.”
Rogan desferiu um soco e eu o segurei antes que ele pudesse
acertar Cardannon. Asher o segurou pelo outro lado e afastamos
nosso amigo antes que ele fizesse algo que pudesse se arrepender.
“Não se preocupem – Tenho dois agentes da Heimdall
patrulhando as barricadas”, Cardannon disse. “Já que seu grupinho
ridículo não consegue proteger Amirah Pratt, faremos isso por
vocês. Ela pode dar o tanto de autógrafos que quiser sem uma ruga
de preocupação naquela carinha bonita.”
Rogan abriu a boca, mas hesitou. Eu estava pensando a
mesma coisa que ele: Cardannon sabia que Heather estava
substituindo Amirah? Se sim, nosso plano tinha fracassado desde o
começo. Estávamos fazendo papel de bobos.
Cardannon sorriu amplamente. “Vou patrulhar a área. Prefiro
estar entre a multidão ao invés de sentado com a bunda no ar-
condicionado. Quando a Agência Weiman demitir vocês e
finalmente nos contratar, eu pago uma rodada de cerveja para
compensar.”
“Você não vai conseguir continuar seu showzinho”, eu disse.
“Vamos te impedir.”
“Duvido”, ele deu uma risadinha. “O quê? Nenhuma piadinha
sobre minha palidez? Ninguém vai me mandar passar filtro solar na
cabeça? Vocês três devem estar realmente preocupados com o
serviço. Como deveriam”, ele continuou rindo quando saiu do trailer.
“Vocês acham que ele sabe?”, perguntei.
Rogan chacoalhou a cabeça. “Parece que não. Ele não teria
resistido em fazer piada com nosso plano.”
“Verificamos o histórico de todo mundo trabalhando no set
hoje”, Asher disse pensativo. “E ainda assim Cardannon está
aqui…”
Ele deve ter implantado alguém, pensei. O set não estava tão
seguro quanto pensamos.
“Você acha que ele tentaria algo mesmo sabendo que estamos
aqui para tentar impedi-lo?”, eu disse.
“Acho que ele é arrogante o suficiente pra pensar que pode se
dar bem”, Rogan respondeu. “Fazer isso bem debaixo dos nossos
narizes vai ser muito mais vergonhoso pra nós”
“Isso faria com que realmente perdêssemos o contrato com a
Weiman”, Asher concordou.
“Vamos ter que manter nossos olhos e ouvidos atentos”, Rogan
disse firmemente. “Heather vai distribuir autógrafos logo após a
cena de pirotecnia. Fiquem prontos.”
“Eu deveria tentar obter a localização dos agentes dele?”,
Asher perguntou.
“Não precisa”, respondi. “Aposto mil dólares que é uma
distração.”
Rogan assentiu. “Concordo com o Brady. Vamos continuar com
o nosso plano conforme combinamos.”
Achei a tela de computador que mostrava a localização do
diretor. Heather estava parada a alguns metros, mudando de um pé
para o outro no seu vestido verde. Apertei a mandíbula com tanta
força que doeu.
Vamos te proteger, Heather.
“Sala de controle pronta”, um dos produtores disse de trás da
mesa. Ele estava falando num comunicador. “Todas as câmeras
estão em posição.”
Eu nunca tinha acompanhado as filmagens em um set antes.
Era legal ver os caras coordenando a equipe de pirotecnia e os
operadores de câmera por todo o set. Uma pilha de pedras e vidro
de uns 60 metros era o foco da atenção de todo mundo, uma
estrutura feita para parecer o canto de um arranha-céu. Homens
usando capacetes de segurança desenrolavam arame farpado da
estrutura até atingir 160 metros, além de onde estavam o diretor,
Heather e o resto da equipe. Um som que parecia um alerta de
tornado tocou, avisando a todos que mantivessem distância.
Um dos caras no trailer falou no comunicador: “Preparar para
a demolição em quatro, três, dois…”
Não houve uma grande explosão, só um clarão em volta da
base da coluna de pedra. Senti a onda de choque sacudir meu pé e
então a estrutura toda colapsou. As telas no trailer mostravam a
cena de doze ângulos diferentes. Os produtores deram uma
enxurrada de comandos nos seus rádios.
“A demolição foi um sucesso, mas os destroços no ar são
maiores do que antecipamos.”
“Tomada completa – iniciar limpeza da nuvem de poeira.”
“O vento mudou pro Sudoeste. Sigam ao Norte para evitar o
pó.”
Eu via sobre o que eles falavam nas telas: a demolição criou
uma nuvem de poeira cinza enorme. Ela se espalhava em todas as
direções, mas principalmente para o sul e o oeste – na direção do
diretor e sua equipe.
“Não! Não! Não!”, o diretor gritava. “Você disse que o vento
estava na direção leste!”
A equipe se dispersou. O caminhão de tacos atrás de Heather
começou a fechar as janelas rapidamente, como se estivesse se
preparando para partir, espalhando jarras de condimentos e
guardanapos em todas as direções.
“Não gosto nada disso”, eu disse.
Rogan continuou encarando a tela, com os olhos arregalados e
intensos.
“Será que isso é um ataque?”, Asher perguntou. “Destroços na
nuvem de poeira?”
“Saiam já daí”, Rogan falou no seu rádio. “Repito: removam a
Harpa Harmônica do local imediatamente. Abortar missão.”
Na tela, Cooper colocava um braço em volta de Heather e a
guiava em outra direção, mas era tarde demais. A enorme nuvem de
poeira e detritos estava rolando em direção a eles como ondas
contra a costa, encobrindo todo mundo com uma névoa grossa e
cinza.
“Visibilidade prejudicada”, disse Cooper. “Removendo a Harpa
Harmônica pelo Sul até…”, ele foi interrompido por um ataque de
tosse.
Os caras dentro do trailer estavam rindo da cena. “Sherman vai
ficar puto!”
Em qualquer outro contexto teria sido engraçado: um bando de
atores de elite de Hollywood engolidos repentinamente por uma
nuvem de poeira, arruinando as roupas caríssimas que usavam. A
poeira não continha nada como fibra de vidro ou partículas
perigosas. Só ia causar um desconforto por um ou dois dias.
Mas Rogan, Asher e eu estávamos entrando em pânico.
“Perdi a Harpa Harmônica de vista!”, disse Asher. Ele tocou em
um dos controladores que estavam no trailer e disse. “Você pode
dar zoom na tela seis?”
“Claro, cara, mas não vai adiantar muito…”
Peguei meu telefone, e abri o aplicativo de rastreamento.
Heather ainda estava presa no meio da nuvem de poeira. Ela tinha
se movido alguns metros, mas não para muito longe.
“Cooper: volte pro trailer!”, Rogan gritou no rádio.
Um pensamento doentio me ocorreu. “Rogan, e se essa for a
estratégia? Fazê-la voltar ao trailer e emboscá-la?”
O terror invadiu seus olhos. “Lopez, venha pro trailer
imediatamente!”
“Afirmativo.”
A porta de repente se abriu e Jimmy Cardannon irrompeu
dentro do trailer. Ele segurava seu próprio comunicador e olhava
para as telas. “Não vejo Pedro Ortega em nenhuma das telas.”
“Ele estava no meio da nuvem, com o diretor e Amirah”, um
dos caras disse a ele.
Rogan rosnou para Cardannon. “É este seu plano? Usar a
demolição como distração?”
Cardannon ignorou o que ele disse enquanto ouvia seu
comunicador. Ele estava suando e nervosamente roçando seus
dedos. Ele era um cara arrogante, eu nunca o tinha visto nervoso
antes.
“Eu não me importo com as barricadas!”, Cardannon xingava
no rádio, “Andem logo e certifiquem-se da segurança de Pedro!”
Respirei aliviado por um tempo. Cardannon não tinha
orquestrado aquilo como uma distração. Não era parte de um plano
para machucar Amirah.
O que significava que, apesar da inalação de poeira, Heather
estava segura. Encarei o ponto no meu aplicativo de GPS e relaxei.
Bem naquele momento, a nuvem de poeira começou a
dissipar. Um dos membros da equipe tinha encontrado um ventilador
industrial que era usado para manter a temperatura e o virou na
direção da poeira. Um por um, o diretor e os outros ficaram visíveis
de novo, com os rostos cobertos e acenando freneticamente.
“Cooper, vamos lá!”, Rogan disse. “Perdemos vocês de vista.
Você está trazendo a Harpa Harmônica pro trailer?”
Nenhuma resposta.
Fiz uma careta olhando para o telefone. “Ainda vejo a Harpa
Harmônica no mesmo lugar que antes, perto do diretor…”, parei e
encarei a tela. “Ela deveria estar bem ali. Onde ela está?”
“Lopez?”, Rogan demandou.
“Estou no trailer”, Lopez respondeu. “Nem sinal de Cooper ou
Harpa Harmônica.”
Meu estômago deu uma reviravolta.
Rogan e Asher começaram a gritar pedindo para os caras
darem zoom na tela, mas eu sabia a verdade. Corri para fora do
trailer em direção ao set em super velocidade naquele dia
ensolarado.
Não, não, não, pensei, em pânico. Por favor, não.
Alcancei o diretor, que estava gritando com alguém, qualquer
pessoa, para que trouxessem água para ele. Heather e Cooper
tinham estado bem ao seu lado esquerdo, mas não estavam mais.
De acordo com o aplicativo, ela deveria estar bem ali.
“Brady?”, Asher perguntou no rádio. “Você os vê?”
Procurei em todas as direções. O pânico cresceu no meu peito
e me deixou sem respirar.
Então notei o par de sapatos pretos de salto caros, no qual
Asher havia inserido o rastreador GPS, em cima de um engradado
de garrafas de água.
“Negativo!”, eu disse com a voz trêmula. “Harpa Harmônica
desapareceu. Heather desapareceu.”
47

Heather

Cooper e eu estávamos perto o suficiente do diretor para ouvi-


lo falar com o chefe da equipe de pirotecnia. Ele avisou ao diretor
que poderia haver uma nuvem enorme de poeira como ele queria
para a filmagem, e que ela se afastaria da nossa localização.
Mas eu não estava prestando muita atenção. Eu estava
revisando o plano na minha cabeça. Assim que a cena de demolição
terminasse, seriam duas horas e eu iria para a barricada distribuir
mais autógrafos. Era supostamente quando o ataque aconteceria.
Eu estaria vulnerável e visível, rodeada por pessoas.
Me dei conta que não sabia como era a assinatura de Amirah
Pratt. Eu devia ter perguntado a ela enquanto estávamos no trailer.
Agora eu iria ter que inventar. Provavelmente começaria com um A
legível seguido por vários rabiscos. Ninguém se importava
realmente com o aspecto da assinatura, certo?
Mesmo que estivéssemos a alguns quarteirões de distância, a
explosão fez minhas pernas tremerem. A pedra colapsou e gerou
uma nuvem de poeira que me lembrava vagamente aqueles vídeos
assustadores do 11 de setembro que assisti nas aulas de história.
Eu não tinha me dado conta de que algo estava errado até o
diretor começar a gritar falando sobre a direção do vento.
Cooper falou no rádio. “Eu e Harpa Harmônica estamos à
espera de instruções.”
“Ah! Esse é meu codinome?”, perguntei. “Como Amirah Pratt é
Ameixa Preta? Que legal, sempre quis…”
Parei quando a nuvem de poeira nos atingiu. Não parecia
muito densa de longe, mas eu mal podia ver minha própria mão
quando estávamos no meio dela. Fechei meus olhos e protegi
minha boca com a manga do vestido.
“Visibilidade prejudicada”, disse Cooper. Ele segurava meu
braço firmemente. “Removendo a Harpa Harmônica pelo Sul até…”
Ele começou a tossir, mas me arrastou pela nuvem de poeira.
Abri um pouquinho meus olhos, esperando que meus óculos
escuros os protegessem da poeira, mas partículas de poeira
atingiram minha córnea rapidamente. Tropecei em alguma coisa –
acho que era um cabo de energia – e Cooper me soltou, mas senti
seus dedos me segurando de novo momentos depois. Usei a outra
mão para tatear a minha frente, tentando achar alguma coisa para
me segurar. Cooper estava me puxando cada vez mais rápido e eu
sabia que estávamos correndo para algum lugar.
“Degraus”, sua voz me informou, abafada e rouca pela poeira.
Um segundo depois senti um degrau, depois outro. Estávamos no
trailer.
A porta bateu. Respirei para testar e o ar estava relativamente
limpo. Também cheirava muito bem. Amirah Pratt – a real, não
aquela versão do Paraguai que eu fingia ser – devia ter pedido
comida.
Lágrimas correram dos meus olhos e ajudaram a limpar a
poeira. Rapidamente eu consegui ver formas ao meu redor. Os
óculos tinham me protegido um pouco.
Não era o trailer de Amirah. Havia uma grelha na minha frente
e um saco de tortilhas aberto ao lado. Mais objetos surgiram na
minha vista quando eu pisquei: tomates picados, queijo cheddar
desfiado, um tubo de guacamole.
O caminhão de tacos, me dei conta. Estamos no caminhão de
tacos.
“Cooper, isso não é…”
Paralisei quando me dei conta que o homem segurando meu
braço não era Cooper. Ele estava vestido como ele, mas tinha o
cabelo longo e seboso que parecia molhado, mas não estava. Ele
usava uma máscara com filtro sobre o rosto, que ele tirou, revelando
uma pele vermelha e olhos azuis.
Seu sorriso era maldoso e fez meu estômago revirar.
Abri a boca para gritar, mas ele foi mais rápido. Ele colocou a
mão sobre os meus lábios e meu grito virou um gemido abafado.
“Amirah”, ele respirou, sua voz era rouca como pedras rolando
ladeira abaixo. “Minha amada Amirah. Finalmente podemos estar
juntos.”
Gritei de novo e sua mão se apertou contra minha boca.
“Sou eu, Oscar!”, ele disse como se eu devesse conhecê-lo.
“Por favor, não lute. Vai ser muito mais fácil se você deixar
acontecer.”
Eu não deixaria acontecer. Gritei e tentei me desvencilhar dele,
chutando suas canelas, em vão.
Oscar me colocou numa cadeira perto da grelha e amarrou
minhas mãos para trás. Quando meu cérebro começou a
desatordoar, me lembrei porque a cor dos seus olhos era
importante. O atirador no hotel, que tinha apontado a arma para mim
na escada, tinha olhos amarelos rajados de castanho. Os olhos
deste homem eram totalmente diferentes. Aquilo significava que
havia múltiplos capangas trabalhando para Cardannon, como Rogan
havia especulado.
“Eu sei que você trabalha para a Heimdall!”, gritei no momento
que ele descobriu minha boca. “Todos sabem!”
Oscar fez uma careta. “Heimdall? O amigo do Thor?”
“Não se faça de idiota! Você trabalha para Jimmy Cardannon.
Rogan vai pegar você!”
Ele enfiou um pedaço de pano na minha boca, interrompendo
meu monólogo.
Não havia janelas no trailer, exceto pela janela dobrável que
servia como balcão quando estava aberta, mas não era
transparente.
De repente, a porta de trás se abriu e um homem entrou. Senti
uma pontada de esperança de que fosse um dos meus homens que
tinha ido me salvar, mas então eu vi alguém que não reconheci.
Diferente de Oscar, este homem não tinha um sorriso maldoso, mas
ódio nos olhos.
Olhos que eram amarelos rajados.
Era ele.
“O que você está usando?”, ele grunhiu com um sotaque
britânico. Não, não era britânico. Australiano, pensei.
“É o que ela estava usando antes”, Oscar disse. “Nós a vimos
na TV, Ernesto. Lembra?”
“Eu não me lembro desses sapatos. Olha só”, o homem de
olhos rajados tirou meus sapatos e os aproximou do meu rosto.
“Você é melhor do que isso. Não sei por que você quer parecer uma
meretriz igual às outras atrizes.”
Ele jogou um dos sapatos num canto do trailer e fechou a
porta. O caminhão todo tremeu quando ele correu para o banco do
motorista, ligou o motor e começou a conduzir.
Não, por favor, não. Pensei enquanto o caminhão virava uma
esquina. Eu estava muito aterrorizada para fazer qualquer coisa
além de ficar ali sentada enquanto o caminhão andava por alguns
minutos. O que era bom, porque eu não poderia fazer nada mesmo
que quisesse. Oscar estava parado do meu lado, me olhando como
se fosse um cachorro encarando uma máquina de frango assado.
O trailer finalmente diminuiu de velocidade, rodeou uma
esquina e então parou. O outro homem – Ernesto – marchou na
nossa direção.
“O que ela disse antes?”, ele perguntou com seu sotaque
definitivamente australiano.
“Ela acha que nós trabalhamos pra um tal Cardamomo”, Oscar
respondeu. “Ela diz que um tal de Rogan vai nos pegar.”
“Rogan?”, Ernesto riu amargamente, com os olhos escaneando
meu corpo. “Ela está piranhando por aí, como eu imaginava. Não
está, sua piranha?”
Eu não podia responder com o pano enfiado na boca.
“Ela não sabe o que está fazendo”, Oscar alegou. “Me deixe
passar um tempo com ela, Ernesto. Posso convencê-la.”
“Não, não pode”, Ernesto cuspiu.
Oscar chacoalhou a cabeça em pânico. “Duas horas! Me dê
duas horas com Amirah que eu a farei me amar. Ela vai ver que
ninguém a ama como eu!”
Eles argumentaram por um tempo e eu senti meu estômago
dar um nó.
Aqueles homens não trabalhavam para a Heimdall. Eles eram
perseguidores de verdade.
Era tudo verdade.
48

Heather

Oscar e Ernesto argumentaram por um minuto sobre o que


fazer. Oscar conseguiu o que queria – eles iam me deixar viver. Por
enquanto.
Ah, ótimo, pensei. Vou viver o suficiente para me cagar de
medo. Que sorte.
O caminhão andava mais rápido do que antes. Condimentos
de tacos, cebolas e tomates cortados escorregavam do balcão para
o chão do trailer.
“Estamos a duas horas do complexo”, Oscar disse a Ernesto.
Ele estava parado no corredor ao lado do banco do motorista,
balançando enquanto Ernesto cortava os carros na rodovia. “Então
nós podemos convencê-la a nos amar. Você vai ver!”
“Nós deveríamos nos livrar dela antes disso”, Ernesto disse
calmamente. Muito calmamente. “Tem muito deserto no nosso
caminho. Nunca encontrarão o corpo.”
“Nããão! Precisamos falar com ela! Você vai ver. Ela é perfeita,
tão perfeita, mesmo empoeirada…”
O corpo. Eles queriam se livrar do meu corpo. O que
significava que eles iam me transformar num corpo primeiro.
Ernesto queria me matar.
Ok, Oscar era o menos pior. Ele só queria que eu o amasse.
Ou melhor, que Amirah o amasse.
Desejei que o pano não estivesse na minha boca. Primeiro
porque tinha gosto de carne crua, o que estava me dando enjoo.
Segundo porque estava evitando que eu contasse a eles a verdade.
Eles queriam a Amirah Pratt real. Não eu. Eu era só uma ninguém
chamada Heather Hart! Ninguém estava interessado em me raptar.
Mas então eles obviamente me matariam. Minhas chances
eram maiores enquanto eles pensassem que eu era Amirah.
Pensando bem, que bom que o tecido evitou que eu revelasse
minha verdadeira identidade.
Oscar colocou seu rosto muito próximo do meu e gentilmente
acariciou minha bochecha com os nós dos dedos. “Minha amada
Amirah. Odeio o que eles fazem com você nessas filmagens. Muita
maquiagem. Você nem parece você mesma. Você não precisa
disso.”
Fechei meus olhos e pensei nos meus amantes fuzileiros. Eles
me salvariam? Eles tinham se dado conta que alguém me
sequestrou? Havia tanto caos depois da demolição e da nuvem de
poeira. Poderíamos estar a muitos quilômetros do set naquele
momento.
Por favor, me salvem. Pensei. Vocês são ex-fuzileiros. Vocês
têm que supostamente salvar quem está em perigo. Como eu.
Continuamos por um momento e então o caminhão tremeu e
parou. Ele andava um pouco e parava de novo. O homem ao
volante – Ernesto – xingou o trânsito de Los Angeles.
De repente ele se levantou e caminhou na nossa direção.
“Assuma. Engarrafamentos me fazem querer matar.”
Sim! Assuma o volante para ele não me matar.
“Você já verificou o telefone dela?”, Ernesto perguntou.
Oscar chacoalhou a cabeça enquanto caminhava para o
assento do motorista. “Não”.
Fiquei tensa enquanto Ernesto me revistava. Suas mãos
escorregaram por um pouco mais de tempo nos meus seios, mas,
além disso, ele estava focado em achar meu telefone. Quando ele o
achou, caminhou até o banco do motorista.
“Jogue pela janela pra que ninguém a rastreie”, houve uma
pausa. “Espere, ela recebeu uma mensagem…”
Ernesto voltou para perto de mim, enfiando o telefone na minha
cara. “Quem diabos é Brady?”, ele leu a mensagem em voz alta.
“‘Boa sorte hoje. Vamos pensar em você.’ Quem é ele? Me diga!”
Eu não podia responder com o pano enfiado na boca, então
chacoalhei a cabeça.
Ernesto rolou a tela do celular e leu as mensagens que eu e
Brady havíamos trocado. Ele zombou, mostrando seus dentes
amarelados.
“Você é uma puta!”, ele disse antes de cuspir em mim. “Como
eu já sabia”, e então se virou para o motorista e repetiu, “Como eu
te disse!”
“Deixe-me ver”, Oscar pediu.
Os dois perseguidores de Amirah juntaram as cabeças para ler
as mensagens. Um carro atrás de nós buzinou e o caminhão se
moveu um pouco antes de parar de novo.
“Quem é Rogan?”, Ernesto perguntou. “Você tem dois
homens? Inacreditável…”
Merda.
“Talvez não seja o que estamos pensando!”, Oscar disse
desesperado. Ele parecia amedrontado com o que seu comparsa
faria. “Talvez seja parte do filme! Certo?”
Acenei vigorosamente.
“Isso é uma merda do caralho!”, Ernesto jogou o telefone no
chão, o pegou e o jogou pela janela do caminhão. Então ele voltou
na minha direção e virou minha cabeça bruscamente para que eu o
visse. “Você é uma puta. Admita.”
Chacoalhei a cabeça implorando para ele não me matar, mas
minha voz estava presa pelo tecido.
“Ernesto…”, Oscar implorou. “Espere até nós chegarmos até o
complexo…”
Ernesto rugiu de frustração. Ele pegou a primeira coisa que
achou – um Tupperware cheio de guacamole – e jogou na minha
direção. Ele atingiu a parede do meu lado, espalhando a gosma
verde em todas as direções.
“Ela não é pura!”, Ernesto gritou. “Eu te disse que ela precisava
ser pura. Eu te disse.”
Ai meu Deus! O cara era completamente pirado. Eu
definitivamente ia morrer.
“Podemos purificá-la!”, Oscar insistiu enquanto dirigia. “Eu te
ajudo. Podemos fazer isso juntos.”
“Não. Eu vou fazer isso agora”, Ernesto tirou uma faca do
bolso. A lâmina refletia a luz quando ele apontou na minha direção
de forma ameaçadora. “Se não podemos ter sua pureza, ninguém
mais terá.”
Tentei gritar quando ele preparou a faca. Eu não podia olhar,
então fechei os olhos e esperei até sentir minha pele sendo
perfurada. Minha única esperança era que fosse rápido.
Não fui atingida.
Abri o olho e Ernesto estava me encarando. Ele parecia
confuso ao invés de bravo. Ele usou a faca para mover a parte do
meu vestido que cobria meu ombro. “O que é isso?”
Olhei para o lado, ele estava apontando para uma mancha de
nascença marrom pequena que eu tinha na clavícula.
“Amirah não tem isso!”, Ernesto disse. Ele gritou para o
companheiro. “Tem algo errado!”
“Apenas espere”, Oscar insistiu. “Vamos chegar no complexo e
olhar melhor.”
Ernesto arrancou meu chapéu e meus óculos. Ele me encarou,
seus olhos amarelos diminuíram de tamanho e depois se
arregalaram.
Ele percebeu, me dei conta.
Ernesto escarneceu com ódio. “Você não é Amirah! Você é
uma impostora!”
49

Rogan

O set de filmagem estava um caos.


Asher estava no trailer enquanto eu e Brady fazíamos uma
varredura no local. A maioria da poeira tinha se assentado, mas
ainda havia o suficiente no ar para fazer todo mundo tossir. Pessoas
andavam em círculos feito zumbis, cobertas de pó e comprimindo os
olhos. Em algum lugar atrás de mim, o diretor gritava com quem
pudesse ouvir.
Heather, eu pensei enquanto buscava na área onde a tinha
visto antes. Heather, por favor, onde está você, Heather…
Culpa e medo se espalhavam pelo meu peito a cada minuto.
Ela não estava lá. Ela não estava no seu trailer. Ninguém mais a
tinha visto. E Cooper não respondia no rádio.
Brady estava certo. Nunca devíamos tê-la colocado nessa
posição.
“Heather!”, gritei, colocando as mãos em volta do rosto para
amplificar “HEATHER!”
Ouvi um gemido do meu lado esquerdo e no meu comunicador.
Um fio de esperança me invadiu enquanto eu corri naquela direção,
circulando um palete de garrafas d’água.
Cooper estava no chão com uma mão pressionando o ouvido.
Uma das suas pernas se esticava e dobrava, como se ele não
soubesse o que estava fazendo.
“Encontrei Cooper”, eu disse no rádio enquanto me joguei
sobre o homem. “Cooper, você está bem? O que houve?”
Eu o ajudei a se sentar. Havia sangue na parte de trás da sua
cabeça. “Precisamos de atendimento médico!”, gritei.
Um policial e a enfermeira do set vieram correndo carregando
suprimentos. Eles cuidaram de Cooper que piscava, tentando voltar
ao normal.
“Eu estava a guiando para longe da poeira”, Cooper disse,
“quando algo me atingiu. Alguém me atingiu. É tudo o que me
lembro.”, seus olhos focaram em mim. “Rogan, me desculpa…”
“É nossa culpa, não sua”, dei um tapinha reconfortante nas
suas costas e voltei para o trailer de filmagem. Jimmy Cardannon
estava lá, gritando no seu próprio rádio.
“Pedro está a salvo? Bom. Não, isso não foi a porra de um
acidente!”, ele estava explicando para alguém. “Não é possível o
vento virar erroneamente na outra direção. Os ventiladores
industriais foram posicionados assim intencionalmente. Foi
planejado!”
“Estou verificando a gravação”, Asher disse, “mas a poeira
escureceu tudo.”
A porta se escancarou e Brady apontou um dedo para
Cardannon. “Seu filho da puta. Você fez isso!”
“Meu cliente estava em perigo também”, Cardannon gritou de
volta.
“Seu cliente está seguro. A nossa se foi. O que você fez com
ela?”
Coloquei uma mão na frente de Brady. “Não acho que ele
tenha algo a ver com isso.”
Brady me afastou rudemente. “É sua culpa, também. Eu te
disse que não deveríamos ter colocado a Heather nessa posição.
Eu te disse, Rogan. E você não me ouviu!”
Eu não tinha nada a dizer porque ele estava certo. Cada
palavra era como uma adaga enfiada no meu estômago.
“Vocês dois se acalmem!”, disse Asher. “Estou vasculhando a
filmagem e preciso de ajuda. Estou analisando todos os movimentos
nestas seis telas.”
Brady me deu uma encarada final antes de se virar para as
telas. Todo mundo assistia com cuidado enquanto os rádios da
equipe de filmagem faziam ruídos transmitindo outras conversas.
“O trailer de tacos”, Cardannon disse de repente, apontando.
“Estava exatamente aqui. Agora não está mais.”
“Foda-se!”, Brady ganiu. “Não precisamos das suas
distrações.”
“Ele está certo”, Asher se virou para me olhar. “O trailer de
tacos.”
“Eles estavam fechando as janelas quando a nuvem de pó
invadiu o local”, eu disse. Presumi que eles estivessem tentando
manter a sujeira fora do trailer, mas…”
“Olhem!”, Cardannon disse. “É o atendente do trailer. Eu me
lembro da barba.”
Um homem usando um avental branco caminhava pelo set
confuso.
Corri pela porta e atravessei o set. Quando me aproximei dele,
perguntei. “Onde está seu trailer?”
Ele me deu um sorriso engraçado. “Cara, também não sei. Eu
juro que não usei nada hoje porque sabia que ia estar rodeado de
policiais”, ele olhou em volta, nervoso.
Brady apareceu ao meu lado. “Qual é a última coisa da qual
você se lembra?”
O cara dos tacos respondeu. “Estava entregando comida para
o diretor chefe. Eu geralmente entrego pela janela do trailer, mas ele
é o todo poderoso, então fui levar para ele. A grande nuvem de
poeira apareceu e puff… meu trailer desapareceu.”
Brady verificou o bolso, procurando a chave do carro. “Vou
procurá-los.”
“Você não sabe pra que lado eles foram!”, eu disse.
“Vou seguir meu instinto. Me liguem quando souberem de
alguma coisa”, ele saiu em disparada do trailer.
Suspirei. Brady era um cara impulsivo e agia sem muito
objetivo claro com frequência. Naquele momento, ele não estava
fazendo nada de bom dirigindo por aí aleatoriamente, mas eu sabia
que ele não ia me ouvir se eu dissesse para ele ficar.
Dependendo do que acontecesse a Heather, ele nunca mais
me ouviria na vida.
Heather. Chacoalhei minha cabeça e corri até o policial mais
próximo. “Tudo indica que uma mulher foi sequestrada pelo trailer de
tacos que estava aqui. Você pode notificar as unidades ao redor?”
“O que te faz pensar que ela foi sequestrada?”, o policial
perguntou ceticamente. “Tudo ficou uma loucura por causa da
poeira. Ela provavelmente está no trailer dela.”
“Ela não está no trailer dela!”, rugi. “Precisamos saber a
localização do trailer, então, se você puder notificar a central e as
unidades ao redor, vai ajudar muito.”
“Cara, não precisa”, o cara dos tacos disse atrás de mim. “A
localização do trailer está no site.”
Me virei para ele. “No site?”
“Sim, cara. Tecnologia é uma delícia. Meu primo fez isso pra
mim. O site atualiza a localização do trailer automaticamente a cada
minuto. Ou trinta segundos. Pros clientes me acharem. Isso
economiza muito tempo. Antes, eu tinha que postar tudo no
Instagram e no Facebook toda hora que eu parava num lugar novo,
mas agora… ”
Enfiei meu celular na cara dele. “Digite o endereço do site.”
Ele me obedeceu e me entregou o celular de volta. Era
verdade, o site tinha rastreio GPS ao vivo.
“O trailer está indo pro Leste”, eu disse. “Eles estão levando a
Heather pro Leste!”
50

Rogan

Asher e eu corremos para o carro e saímos do set de


filmagem. Antes de chegar na barricada, buzinei para os policiais
removerem-na do caminho e não precisarmos desacelerar.
“Eles estão na 605”, Asher estava comunicando Brady pelo
rádio. “Parece que indo para o cruzamento dois-dez.”
“Ainda estou na 10”, Brady respondeu. “Pra onde você acha
que eles vão?”
“Eles passaram pelo cruzamento na direção leste. Ou estão
indo pra Vegas ou pras montanhas.”
“Estou indo pro norte. Acho que estou à frente deles.”
“Bom plano!”, disse Asher. “Estamos perseguindo alguém atrás
de nós.”
Ao invés de pegar a interestadual, dirigi por rodovias
alternativas no sentido noroeste. Eu buzinava e ultrapassava todos
os sinais vermelhos. Daria tudo para ter um carro da polícia.
“Onde eles estão agora?”, perguntei.
Asher fez uma careta para a tela. “Ainda na 210. Eles não se
moveram muito no último minuto. Acho que estão presos em um
engarrafamento.”
“Bom”, eu disse. “É a primeira vez que fico feliz com o trânsito
de LA.”
Asher fez mais algumas ligações enquanto eu dirigia. Cooper
estava sendo levado ao hospital, então Lopez e os outros agentes
estavam falando com a polícia.
“Por que eles não acreditam em você?”, Asher perguntou. “Isso
é ridículo!”
“O quê?”, perguntei.
Asher cobriu o alto-falante do telefone. “Os policiais do set não
estão cooperando. Lopez acha que eles estão putos porque não os
informamos sobre o plano de colocar Heather no lugar de Amirah.”
“Todo mundo tem que ser um complexado de merda!”, eu
disse, agarrando o volante com mais força. Não tínhamos contado
para os policiais do set porque não sabíamos em quem podíamos
confiar. Só algumas pessoas sabiam a verdade.
E agora eles estavam se vingando.
“Vamos ter que nos virar sozinhos”, eu disse.
Asher desligou o telefone e respirou fundo. “Hm, vai ser um
pouco mais difícil agora. O sinal do GPS sumiu. Eles devem ter
achado o botão pra desligar.”
“Merda!”, bati minha palma no centro do volante. “Você tem a
última localização?”
“Sim. 10 quilômetros à frente, ainda na mesma rodovia.”
“Diga a Brady!”, respondi. “Ainda bem que o trailer é fácil de
reconhecer. Vamos vê-lo mesmo de longe.”
“A menos que eles estejam trocando de veículos”, Asher
pontuou.
Apertei a mão contra o volante e tentei não pensar mais
naquilo.
Eu dirigia feito um doido quando nos aproximamos da última
localização do trailer. Eu estava em uma rodovia paralela à deles,
então fiz uma curva de acesso à 210. A interestadual parecia um
estacionamento: ninguém se movia. Cruzei as pistas até atingir a da
esquerda, então cortei todo mundo pelo acostamento. As pessoas
me xingavam e gesticulavam enquanto eu fazia a manobra, mas
desde que ficassem fora do caminho, eu não me importava.
Se alguma coisa acontecer a Heather, eu não me perdoarei.
“Me aproximando da última localização”, Asher disse.
“Fique de olhos atentos.”
Diminuí a velocidade para dirigir pelo acostamento. Um trailer
de tacos seria reconhecível naquele mar de carros, mas havia
muitos semirreboques bloqueando nossa vista. Asher esticou o
pescoço e se apoiou contra o vidro o máximo que pode para
examinar enquanto passávamos por cada um, caso o trailer
estivesse encoberto pela visão deles.
“Já deveríamos estar vendo o carro”, disse Asher. “Talvez eles
tenham feito uma conversão.”
“Ou trocado de veículo”, eu disse. “Caralho!”
O desespero invadiu meu estômago como um tornado. Senti o
gosto de bile na garganta, intenso e cobreado. Me dei conta naquele
momento que Heather Hart não era só a mulher que cuidava das
crianças. Ela não era meramente alguém com quem eu tinha uma
relação física, mesmo que fosse o que tentamos fingir desde o
começo. Ela era especial para mim.
Eu a amava.
A percepção foi ganhando força como fogos de artifício,
intensa e quente, até desaparecer. Não importava o quanto eu a
amava, porque eu nunca disse a ela. Eu a coloquei em perigo e
falhei em protegê-la.
E agora eu a tinha perdido.
“Brady”, Asher disse no rádio, “você vê alguma coisa da sua
posição?”
“Nada, mas é difícil ver por este ângulo. Estou a quarenta e
cinco por hora enquanto os outros carros me ultrapassam a cem
pela direita. Merda, você acha que eles…”
Ele parou de falar e de repente soltou um grito.
“A-há! Achei o trailer. Amarelo por fora, no quilômetro 46,
depois da Avenida Haven.”
Asher olhou para a placa perto de nós. “É a dois quilômetros
daqui!”
“Está na pista da direita”, Brady disse no rádio. “Estou
estacionando na da esquerda. É melhor nenhum filho da puta
falando no telefone bater no meu carro.”
“Tem um fosso entre as pistas da direita e da esquerda”, disse
Asher.
“Eu pulo.”
Toquei no microfone do meu rádio. “Espere até chegarmos aí.”
“Então venham rápido. Não vou esperar muito. Não enquanto
Heather está com aquele maníaco.”
Verifiquei a estrada a frente enquanto voava pelo acostamento.
Um caminhão cortava as pistas e então, de repente, vi o trailer
amarelo na pista mais à direita.
“Rogan!”, Asher gritou.
Havia um veículo estragado no acostamento bem a nossa
frente. Pisei no freio, derrapando um pouco até parar bem atrás
dele. O carro perto de mim, um Corvette vermelho, chegou para a
frente para eu não conseguir avançar mais.
“É isso o que acontece quando você dirige pelo acostamento,
cuzão!”, o motorista gritou para mim. “Estamos todos no mesmo
engarrafamento que você!”
Fomos bloqueados e o trailer estava a uns trinta metros de
nós. O tráfego estava se movendo vagarosamente.
“Foda-se”, eu disse. “Vou continuar a pé.”
Desci do carro e cruzei a parte da frente. O homem no Corvette
me mostrou os dois dedos do meio.
“Quer uma chupada, valentão? Vem aqui que eu te…”, ele
parou quando eu tirei minha pistola do coldre. Sem mais uma
palavra, o cara se sentou reto e fechou a janela.
Corri por entre os carros até o trailer. Asher apareceu ao meu
lado com algo nas mãos. Óculos térmicos.
“Acho que tem mais de duas pessoas dentro do trailer”, ele
disse.
Estiquei o braço e ele jogou os óculos para mim. Os segurei
contra o rosto enquanto continuava correndo. O mundo virou um
borrão verde e laranja. Objetos frios ficavam verdes enquanto
objetos quentes eram borrões em amarelo, laranja e vermelho.
Havia um vulto laranja no escapamento do trailer, algumas coisas
em verde nas extremidades e o interior era amarelo-alaranjado.
Então o trailer cruzou as faixas, o que fez com que ele se
virasse de lado, me dando uma visão da sua lateral. Havia um
borrão laranja dirigindo o veículo e duas outras figuras na traseira.
Uma mais alta e outra mais baixa.
“Uma pessoa no volante e duas na traseira”, eu disse no rádio.
“Heather está sentada, eu acho.”
Brady grunhiu em resposta. “Dois sequestradores?”
“Ou um segundo refém, junto com Heather”, Asher sugeriu.
Continuei correndo na direção do caminhão. “Negativo. Uma
das figuras está parada, a outra está se movendo. Dois inimigos.”
“Filho da puta!”, Brady disse.
Me senti igualmente em choque. Perseguidores eram
geralmente solitários. Raramente trabalhavam juntos. Graças a
presença de dois homens na casa de Amirah na noite em que fui
atacado, eu estava certo de que eram capangas contratados pela
Heimdall.
Eu estava muito, muito errado.
Não havia tempo para preocupações como aquela. Estávamos
a quinze metros do trailer. Tínhamos trabalhado juntos inúmeras
vezes antes e Asher instintivamente começou a se direcionar para o
lado direito e eu para o lado esquerdo.
Vi o carro de Brady parado no acostamento do outro lado. Um
momento depois o vi parado na margem da rodovia. “Nos cubra daí,
Brady”.
“Negativo!”, ele disse dando uns passos para trás. “Vou me
juntar a vocês.”
Olhei por cima da barreira de cimento. Havia um fosso de três
metros separando as duas rodovias, com pelo menos quinze metros
de profundidade.
“Você não vai conseguir”, insisti.
Eu já conhecia Brady fazia muito tempo e nada do que ele
fazia me surpreendia. Mas fiquei em choque quando ele correu na
direção da barreira, colocou um pé sobre ela e se lançou no ar. Ele
parecia superleve por um momento, as pernas correndo no nada e
os braços balançando. Ele não ia conseguir. Eu tinha certeza.
Mas ele esticou uma das pernas, aterrissou na barreira e
continuou correndo. “Espero que alguma câmera tenha registrado
isso! Vai estar no top 10 da ESPN amanhã.”
Brady estava um pouco à frente do trailer e os sequestradores
deviam ter visto sua acrobacia. Os pneus do veículo cantaram,
batendo nos carros estacionados e os tirando do caminho.
Asher e eu nos entreolhamos e corremos o mais rápido que
pudemos atrás do caminhão. Nós dois sabíamos o que estávamos
pensando. Não importava o que acontecesse, nossa prioridade era
resgatar Heather.
Mesmo que tivéssemos que nos sacrificar.
51

Heather

Os perseguidores de Amirah tinham descoberto que eu era


outra pessoa e Ernesto não estava aceitando aquilo bem.
“Merda! MERDA!”, ele gritava, socando as paredes e chutando
as panelas que estavam penduradas. “Você é uma mentirosa. Uma
puta. Uma impostora!”
Fechei os olhos rezando para ele não me retalhar com a faca
que ainda segurava.
“Você deve estar errado”, disse Oscar do banco do motorista.
“Ela tem que ser Amirah. A vimos na TV distribuindo autógrafos!”
“Aquele Youtuber a tocou”, Ernesto rosnou. “Ele tocou nossa
Amirah. Mas essa?”, ele apontou a faca. “Essa não é ela.”
Ele arrancou o pano da minha boca. Cada instinto meu insistia
em me fazer querer gritar a plenos pulmões, mas eu sabia que eles
me matariam se eu fizesse aquilo.
“Quem é você?”, Ernesto perguntou. Seus olhos amarelos
estavam mais loucos do que o normal, o que significava alguma
coisa.
Eu não sabia o que dizer, então contei a verdade. “Meu nome é
Heather Hart. Sou uma aspirante à atriz.”
Da frente, Oscar gritou, “Por que você está fingindo ser
Amirah?”
“Não… não estou”, escolhi as palavras com cuidado. Parecia
que eu estava andando em um campo minado e que cada passo
podia causar minha morte. “Este vestido é igual ao dela, eu acho.
Eu estava no set porque conheço o diretor…”
“MENTIROSA!”, Ernesto gritou, cortando o ar com a faca.
“Você está usando o mesmo vestido! E chapéu! E óculos escuros!”
“Por que eles fariam isso?”, Oscar disse lá da frente. Ele
parecia em pânico. “Eles sabiam? É uma armadilha? Caímos nela,
não caímos?”
“Temos que nos livrar dela!”, disse Ernesto.
“Sim!”, eu disse, compartilhando da ideia. “Se livrem de mim!
Me joguem aqui do lado da interestadual que eu caminho de volta.
Prometo que nunca contarei a ninguém o que eu vi.”
“Temos que matá-la!”, Oscar disse de repente. “Mate-a agora!”
Falei cedo demais que Oscar era o menos malvado.
Ernesto se virou para mim com a faca e eu entrei em
desespero.
“Por favor, não!”, implorei. “Não me mate! Vocês podem pedir
resgate ao invés disso. Eu valho muito dinheiro! Posso deixar vocês
ricos!”
Meu patrimônio era possivelmente mais baixo do que o preço
do vestido, dos sapatos e do chapéu de Amirah, mas eles não
sabiam. E pouco importava, na verdade.
Ernesto se inclinou o suficiente para que eu sentisse sua
respiração. Ele tinha hálito de menta, surpreendentemente, como se
tivesse acabado de escovar os dentes. “Não queremos dinheiro,
vadia estúpida. Queremos ela. A mulher que deveria estar aqui.
Você? É uma coitada.”
Ele segurou a faca no meu pescoço. A lâmina era fria. Eu me
lembro claramente. Provavelmente nunca me esquecerei até o fim
da vida.
Antes que a faca pudesse escorregar pela minha goela, Oscar
xingou. “Ah, não! Alguém acabou de pular da outra pista para cá.
Acho que é um policial. Me ajude!”
“Fico com ela”, disse Ernesto.
“Então me dê a arma!”
Ernesto pegou uma pistola e jogou na direção de Oscar. Então
Oscar acelerou o carro. Os pneus cantavam e o trailer balançava
enquanto ele dirigia por entre outros carros. Buzinas vinham de
todas as direções.
“Merda!”, Oscar disse, apontando a arma através da janela. Eu
não conseguia ver nada, mas tiros cortaram o ar.
Um som abafado veio de fora e eu ouvi uma voz conhecida: “…
encoste o carro e a deixe sair!”
Respirei o mais profundo que pude para gritar a plenos
pulmões, “BRADY! ESTOU AQUI!”
Ernesto balançou a mão, trazendo o cabo da faca até minha
têmpora. Tudo piscou e partículas brilhantes cruzaram minha visão.
O caminhão cambaleou de uma forma que me fez ficar enjoada.
Achei que ia vomitar.
Eu estava tonta e desorientada, o que fez com que meu
cérebro começasse a pensar em várias coisas. Pensei em como as
crianças estavam em casa com Maurice e desejei poder vê-los
novamente. Mesmo que fosse para me despedir. Não entendi por
que Ernesto não me matou. Provavelmente eu era uma refém
agora. Se eu ficasse viva, me usariam como moeda de troca.
Mas disparos vindos da frente do caminhão me tiraram do
transe. Alguém gritou e a claridade da frente do trailer se
intensificou. A porta do motorista tinha sido aberta.
“O que está acontecendo?”, Ernesto perguntou.
Houve uma certa luta na cabine do trailer, então a porta do
passageiro se abriu e outra pessoa entrou.
Asher!
Meu amante loiro deu dois socos em Oscar. O caminhão não
estava mais acelerado e por um momento ficou estático, porque
esbarrou num carro estacionado. Ernesto se moveu, mas recuperou
o equilíbrio e segurou a faca contra a minha garganta.
Asher deu um passo da cabine, segurando uma pistola.
“Jogue isso longe ou ela morre!”, Ernesto gritou. “Agora!”
Asher me olhou, ele estava analisando a situação
mentalmente. Ele conseguiria levantar a arma e atirar antes de
Ernesto dilacerar minha garganta? Seria arriscado demais?
Aparentemente sim, porque Asher suspirou e jogou a arma no
chão.
“Venha aqui”, Asher rosnou com a voz profunda, “para que eu
te mate com as minhas próprias mãos.”
Ernesto desdenhou e afastou a faca da minha garganta.
E atacou Asher.
“Não!”, gritei quando vi a lâmina cortar o ar. Ernesto podia ser
uma pessoa doida, mas era claramente bom em combate corpo a
corpo. Asher gemeu de dor e deu um passo para trás, saindo do
alcance do homem.
De repente, a porta do fundo do trailer se abriu. Rogan entrou
junto com a luz do sol e rapidamente me desamarrou da cadeira.
Ele me pegou no colo e saltou da porta aberta do trailer.
“Você está segura, Heather”, ele disse, correndo comigo nos
braços. Sua voz estava cheia de dor. “Nunca mais vou deixar nada
de ruim te acontecer.”
52

Heather

Eu estava em transe quando Rogan me carregou para fora do


trailer. Para longe do perigo. Para longe daqueles fãs da Amirah
Pratt completamente doidos e assassinos. Mas um único
pensamento se repetia incessantemente na minha cabeça.
Eles vieram me salvar. Meus heróis vieram me salvar.
Eu não fazia o tipo donzela em apuros. Isso já ficou claro.
Passei minha vida inteira cuidando de mim mesma, sem esperar
que ninguém viesse me resgatar. Mesmo quando eu estava vivendo
uma vida miserável em um apartamento medíocre de Los Angeles
com Maurice, me recusei a pedir ajuda aos meus pais. Eu era do
tipo que resolvia os próprios problemas.
Mas às vezes uma garota precisa de resgate. Me dei conta
naquele momento. Ser sequestrada por dois perseguidores malucos
era o momento perfeito para deixar alguém mais qualificado lidar
com o problema. E Rogan, Asher e Brady eram definitivamente mais
qualificados para aquele momento.
Pensar neles evocou uma memória enquanto Rogan me
colocava perto do carro. “Asher. Ele foi atacado…”
“Ele está bem”, disse Rogan.
“Você não sabe”, insisti. Eu ainda estava fraca da pancada na
cabeça, mas tentei me sentar. “Eu vi. Ernesto o atacou com uma
faca.”
“Está tudo bem, Heather”, Rogan me disse calmamente.
“Estamos no controle. Você está a salvo agora.”
Algo na voz dele me acalmou, então encostei minha cabeça no
carro. Ele estava estacionado no meio da interestadual e as
pessoas estavam buzinando, mas Rogan nem se importou.
“Heather”, ele disse, com os olhos fixos nos meus. “Eu estava
errado. Não devia ter deixado você correr esse risco. Nunca vou me
perdoar por isso”, ele respirou profunda e tremulamente. “E acho
que Brady também nunca vai me perdoar.”
“Mas eu perdoo você”, sussurrei. “Foi minha ideia, afinal de
contas.”
“Isso não significa que eu tinha que concordar com isso. Eu
deveria saber. É meu trabalho tomar a decisão certa”. Sirenes
soram na distância e Rogan grunhiu. “Ah, agora sim eles
aparecem.”
As sirenes ficaram mais altas a medida em que a polícia se
aproximava. Policiais de uniforme apareceram minutos mais tarde,
dando ordens aos espectadores e outras pessoas que eu não
conseguia ver.
“Achei que vocês precisavam de mais informações antes de
colocar um alerta em um caminhão”, Rogan disse com amargura.
O policial que tinha parado do nosso lado parecia surpreso.
“Do que você está falando? Alguém nos acionou.”
“Nós os acionamos”, Rogan respondeu. “E nos disseram que
não era uma prioridade até termos mais evidências de que se
tratava de um sequestro.”
“Não sei com quem você andou falando, cara. Alguém mexeu
muitos pauzinhos, porque nosso capitão mandou um exército inteiro
aqui.”
Um helicóptero sobrevoou a área, flutuando pela minha visão
enquanto circulava. Mais sirenes anunciavam outro pelotão da
polícia, na nossa via e do outro lado da rodovia.
Rogan parecia confuso. “Talvez tenha sido Amirah que usou
seu status para atrair a polícia para cá…”
Ele parou quando viu Brady e Asher se aproximando. Brady
estava super sorridente enquanto Asher estava fazendo uma careta.
“Você viu aquela merda?”, Brady perguntou depois de me
abraçar. “Eu realmente espero que alguém tenha feito um vídeo
quando cruzei a interestadual com um pulo. Aposto que foi
maneiro.”
“Você pulou sobre aquilo?”, perguntei. O fosso parecia muito
largo para ser pulado.
Ele enfiou os polegares atrás do cinto e se balançou para a
frente e para trás. “Me dê um uniforme e um escudo brilhante
porque eu sou basicamente o Capitão América.”
Virei para Asher e o abracei. Ele deixou escapar um gemido de
dor. “O que houve?”
Ele se virou e me mostrou seu antebraço. Havia um corte longo
na pele e sua camiseta estava vermelha por causa do sangue.
“Levei um golpe.”
“Asher!”, eu o abracei de novo, evitando seu braço. “Parece
que foi muito feio…”
“Vou sobreviver. Poderia ter sido pior. Você está bem, é a única
coisa que importa”, ele beijou minha testa e me apertou mais forte
com o outro braço.
Quando ele me soltou, pontos brilhantes invadiram minha
visão. Toquei a lateral da minha cabeça que estava começando a
doer terrivelmente.
“Heather?”, Brady perguntou. “Você está bem?”
“Ela está pálida”, disse Rogan.
Meus joelhos se dobraram contra a minha vontade. Felizmente,
seis braços – cinco, porque Asher estava ferido – estavam lá para
me pegar.
Então me virei de lado e vomitei no asfalto da interestadual.
“Choque de adrenalina”, disse Rogan.
“Olha esse machucado do lado da cabeça dela”, disse Brady,
“eu falei que não devíamos tê-la colocado nessa porra…”
“Ela deve ter tido uma concussão”, disse Asher. E então gritou:
“Aqui, precisamos de uma ambulância!”
O mundo girou e eu não conseguia mais focar a visão. Tudo
estava borrado e distante. Era como se eu estivesse muito bêbada.
Não consigo explicar.
Rogan me recolheu e me carregou até a ambulância, que
estava no outro acostamento. Os paramédicos mediram minha
pressão e iluminaram minhas pupilas com uma lanterna antes de
recomendar que eu fosse com eles para ser examinada melhor.
Algo como um hematoma subdural. Sou atriz, não médica, então só
assenti e deixei que me colocassem dentro da ambulância.
“Os sequestradores”, eu disse. “Eles não trabalham para
Cardannon. Eles são perseguidores de verdade.”
“Nós sabemos”, disse Rogan calmamente. “Você nos disse.
Agora só relaxe.”
“Vou com ela”, Brady disse e subiu na ambulância, apertando
minha mão. “Não vou sair do lado dela por uma semana. Ou duas.”
Um policial apareceu na porta antes que os paramédicos
pudessem fechar. “Algum de vocês é o dono do veículo estacionado
no acostamento no sentido oeste?”
“Eu tiro de lá depois”, Brady disse.
O policial colocou as mãos na cintura. “Você vai tirar agora ou
vou chamar o guincho e te dar uma multa.”
Brady se virou para ele. “Cara, você pode jogar dentro do mar
se quiser. Eu não dou a mínima. Não vou sair do lado dessa
mulher.”
Fechei os olhos e caí no sono enquanto eles discutiam.

A viagem até o hospital foi um borrão. Quando cheguei, eles


fizeram mais exames. Tiraram meu sangue, fizeram uma
ressonância, ou pelo menos achei que fosse o que aquele tubo
enorme fazia. Sou atriz, não médica, como já disse.
Finalmente me levaram para um quarto particular. Cooper
estava esperando por mim lá dentro. Sua cabeça estava enrolada
por bandagens.
“Heather”, ele disse, me dando um sorriso aflito. “Parece que
ambos nos demos mal hoje, hein?"
Toquei o curativo do lado da cabeça. “Parece que sim. Que dia,
hein?”
“Sim”, seu sorriso sumiu, “era meu trabalho te proteger e eu
falhei. Por isso e por tudo o que aconteceu depois, me desculpe…”
Apertei sua mão. “Não foi sua culpa. Você fez o melhor que
pode, dadas as circunstâncias. Você só poderia ter feito melhor se
tivesse o poder de enxergar por entre as nuvens de poeira.”
Meus três homens entraram no quarto. “Você não pode se
sentir culpado”, Rogan disse a Cooper. “Somos todos culpados. Por
tudo. Esse plano todo estava fadado ao fracasso desde o início.”
“Sim, estava”, disse Brady enfaticamente. “Fui contra o tempo
todo. As gravações estão aí pra provar.”
“Não existem gravações”, Rogan pontuou.
“Eu faço uma”, Brady insistiu. “Uma gravação para cada vez
que eu estava certo e você errado. E na fita de hoje, em grandes
letras vermelhas, vou escrever a data. Porque cara, você realmente
fodeu com tudo.”
“Podemos falar sobre isso depois?”, Asher insistiu.
“Pegamos os desgraçados com vida, falando nisso”, Rogan
disse. “Brady dominou o motorista e Asher conseguiu amarrar o
outro cara mesmo com um braço ruim.”
A pele branca de Asher ficou vermelha. “Depois de conseguir
chutar a faca da sua mão, ficou fácil.”
“Eles são silenciosos”, Rogan disse, chacoalhando a cabeça.
“Estavam planejando sequestrar Amirah já faz algum tempo. Eles
têm um complexo no caminho para Las Vegas, com um bunker
enterrado no deserto. Um esquadrão antibomba está lá agora,
fazendo uma varredura. Já encontraram seis minas.”
“Oscar era soldado do exército”, Brady se meteu. “O outro, o tal
do Ernest, estava no exército australiano. Isso explica as
habilidades deles.”
Alguém bateu na porta. Achei que era o médico, mas era
Amirah Pratt. Ela trazia um buquê de flores nas mãos.
“Heather! Você está bem! Ai meu Deus, fiquei tão assustada
quando você sumiu do set. Rezei por você o tempo todo. Me
desculpe, foi egoísmo da minha parte colocar alguém em perigo…”
Gemi. “Esse quarto parece a sede das Olimpíadas do sinto
muito.”
Amirah pareceu surpresa. “Hum?”
“Nada. Deixa pra lá. Não é sua culpa e, se você ainda acha
que sim, eu te perdoo”, me sentei na cama. “Perdoo todos vocês.
Então parem de se lamentar como um time de basquete que perdeu
o campeonato. Pegamos os perseguidores! Deveríamos estar todos
felizes por isso.”
Parei e deixei minhas palavras surtirem efeito, então me virei
para Amirah. “Perdi seu chapéu, óculos e sapatos. Agora eles são
evidência da polícia provavelmente e eu acho que um dos terroristas
quebrou os óculos.”
Ela sorriu. “Eu compro outros. Aliás, dois pares, um pra mim e
um pra você. Você fica bem melhor com eles do que eu. Suas
bochechas são mais bonitas.”
Eu sabia que ela só queria ser legal, mas senti meu rosto corar.
Eu não era elogiada por uma celebridade famosa todo dia.
“Cabe mais um nesse quarto?”, um sotaque britânico ecoou.
Alguns momentos depois, Jimmy Cardannon enfiou a cabeça pelo
portão. “Como ela está?”
“Ela está bem”, disse Brady secamente. “Você sabe Jimmy,
honestamente eu não acredito que você não estava envolvido nisso
de alguma forma.”
Jimmy parecia insultado. “Eu? Envolvido? Por que diabos você
suspeita de mim?”
“Por que não suspeitar?”, Rogan respondeu. “Primeiro você
apareceu na nossa casa sem ser anunciado e alegou que ia nos
tirar de cena. Na mesma noite, a casa de Amirah é atacada.”
“Eu estava provocando vocês”, Cardannon respondei. “Sendo
insolente. Tentando entrar na sua cabeça.”
“E não é só isso”, disse Brady. “Hoje, no trailer, eu disse que
sabia o que você estava tramando e você respondeu que não podia
fazer nada para evitar.”
Cardannon espalhou suas mãos. “Eu estava falando sobre
roubar a Agência Weiman de vocês. Eu esperava que vocês
fracassassem na frente de todo mundo. Eu não estava falando
sobre sequestrar uma atriz. Eu não sou um monstro!”
Asher chacoalhou a cabeça. “Você também estava no hotel.
Durante o segundo tiroteio.”
“Já falei: eu estava jantando. Eles têm o melhor sushi da
cidade.”
“É muita coincidência”, Rogan insistiu. “O que você estava
fazendo lá?”
Cardannon rolou os olhos. “Ok. Eu estava lá tentando aliciar
outros clientes. Convidei Pedro Ortega para se juntar a mim pra
discutirmos seu contrato de segurança. Infelizmente ele me deu um
bolo. Mas ele me ligou no dia seguinte ao tiroteio e contratou a
Heimdal”, ele olhou ao redor. “Você realmente acha que eu poderia
fazer isso? Eu?”
“Sem ofensas, mas você é meio filho da puta”, disse Brady.
“Fui eu quem notei que o trailer de tacos tinha sumido!”, ele
insistiu. “E quando a polícia de LA não levou vocês a sério, fiz
algumas ligações.”
Rogan gemeu como se tivesse apanhado. “Foi você que fez
aquilo? O policial com quem conversei me disse que alguém tinha
mexido muitos pauzinhos…”
“Sério?”, perguntei. “Você ajudou a me salvar?”
Cardannon deu de ombros. “Como eu disse, sou um
empreendedor perspicaz, mas não um monstro.”
“Nós notaríamos o sumiço do trailer em algum momento”,
Brady murmurou.
Eu o encarei.
“…mas teríamos perdido muito tempo”, acrescentou. Seu rosto
se contorceu como se ele fosse vomitar. “Obrig… obrig… não
consigo fazer isso. Não consigo dizer.”
“Obrigado, Jimmy”, Rogan disse, estendendo a mão. “Por
tudo.”
Eles trocaram um aperto de mãos.
“Há muitos visitantes neste quarto”, disse uma mulher de jaleco
branco. Ela pegou minha prancheta do pé da cama. “Sou a doutora
Calliope. Como você se sente, Senhorita Hart?”
“Ok”, respondi. “Minha dor de cabeça ainda persiste, mas
melhor do que antes.”
A médica virou uma página do meu prontuário. “Sim, bem, um
trauma contundente faz isso. Felizmente as radiografias não
apontaram nada. Sem sangramento interno. Seu exame de sangue
também está bom. Tudo o que precisamos fazer agora é um
ultrassom para ver se o bebê…”
“Me desculpe”, interrompi. “O quê?”
“O bebê”, a médica abaixou a prancheta e franziu a testa na
minha direção. “Senhorita Hart, você não sabe que está grávida?”
53

Asher

Eu mal ouvia o que a médica dizia. Estava ocupado sorrindo


para Heather, a mulher com quem eu me preocupava
profundamente. A segunda mulher mais importante da minha vida,
depois de Cora.
Nas últimas horas eu tinha me dado conta de uma coisa
surpreendente: eu amava Heather. O sentimento era novo e intenso,
mas certamente real. O relacionamento que nós estávamos
aproveitando nas últimas seis semanas não era só físico. Era muito
além do físico. Emocional. Intelectual. A preocupação dela com
nossos filhos atingia minha alma profundamente.
Eu queria que ela ficasse conosco. Eu queria que ela fosse a
mãe da Cora.
E nós a tínhamos usado de isca para os perseguidores. Aquilo
fez meu estômago se revolver.
Nunca mais a colocaremos em perigo, pensei, olhando para
ela.
Então a médica disse algo que tirou minha atenção de Heather.
“…Você não sabe que está grávida?”
O quarto estava cheio. Em volta da cama de Heather, além de
nós três, estavam nosso agente Cooper, Amirah Pratt e Jimmy
Cardannon. As seis cabeças se viraram para encarar a médica e
então de volta para Heather.
Grávida? Me perguntei. Não estávamos usando camisinha,
mas…
“Deve ser um erro”, disse Heather. “Não estou grávida. Eu
tomo pílula.”
A médica olhou para ela pacientemente. “Seu sangue testou
positivo para gonadotrofina coriônica humana. Pelos níveis que você
apresenta, ou você está grávida ou tem câncer nos testículos. Deixo
você decidir qual dos dois é mais provável. Quando foi sua última
menstruação?
“Sempre tive um ciclo muito leve. Às vezes nem noto o
sangramento. Eu…”, ela paralisou e olhou pela sala.
A médica limpou a garganta. “Vocês podem nos dar
privacidade, por favor?”
“Que bom que você está bem!”, Cardannon disse, acenando.
“Se quiser me agradecer pela ajuda hoje, envie novos clientes pra
Heimdall Segurança.”
Amirah e Cooper também saíram. “Eles podem ficar!”, Heather
disse quando nós tentamos sair. “Eles são… eles estão comigo.”
Estamos com ela, pensei. A frase me deu um calor interno.
“Você apresentou outros sintomas?”, a médica perguntou a
Heather.
“Não, eu… ah”, Heather piscou, “tive enjoos matinais na
semana passada. Pensei que era mal-estar depois do tiroteio no
hotel.”
Uma enfermeira entrou na sala empurrando um aparelho de
ultrassom. A médica o pegou e disse, “Esperamos que isso clareie
qualquer confusão.”
A enfermeira levantou a camisola de Heather e então passou
um gel na sua barriga. A médica pegou o sensor do ultrassom e
começou a esfregar na área.
“Já que não sabemos a data da sua última menstruação, pode
ser cedo demais para ver alguma coisa. Faz muito tempo desde que
usei essa máquina, talvez eu precise chamar um obstetra para… ah!
Aí está!”
A voz da médica mudou na última parte – ficou mais suave,
mais calma. Como uma mãe falando com seu bebê. O ultrassom era
um borrão preto e branco, mas de repente virou um círculo preto.
Dentro do círculo, perto da parede, havia uma forma oval. Como se
fosse um amendoim.
“Isso”, disse a médica, “é o seu bebê.”
Quando nós três descobrimos que a gravidez da nossa barriga
de aluguel tinha dado certo, sete anos antes, não estávamos lá
pessoalmente. Nossa unidade estava em São Diego para um
exercício de rotina, então ela nos contou pelo telefone. Me lembro
de ter me sentido aliviado e um pouco nervoso.
Ali era uma experiência totalmente diferente. Em um minuto
tudo estava normal, de repente um amendoim preto e branco
apareceu na tela. Algo mudou na minha cabeça. Heather não era só
uma mulher por quem eu estava apaixonado. Agora ela era a mãe
do meu filho.
Não me importei se era do Brady ou do Rogan. O sentimento
de carinho que senti, um desejo esmagador de protegê-la de tudo,
era o mesmo.
“Parece que tem cinco ou seis semanas”, disse a médica.
“Sinto muito que você descoberto assim. Parabéns!”
Os olhos de Heather estavam arregalados como os de uma
coruja. Ela parecia querer chorar, mas eu não sabia se era de
tristeza ou alegria.
Isso não estava nos planos dela, me dei conta. Ela estava
tomando pílula. Até onde sabemos, essa é a última coisa que ela
queria.
A médica removeu o aparelho e limpou a barriga de Heather, e
então suas próprias mãos. “Vou te dar um momento para processar
tudo, mas por enquanto parece que está tudo bem. Com você e com
o bebê.”
Ela e a enfermeira empurraram o aparelho para fora do quarto,
fechando a porta atrás delas. Por um longo momento, ficamos em
silêncio.
“Nunca te vi sem saber o que falar”, Rogan disse com
suavidade. “O que você está pensando?”
“Estou pensando… que eu não tenho ideia do que estou
pensando”, Heather respondeu.
Brady limpou a garganta. “Você, hm, quer seguir com a
gravidez? Apoio qualquer decisão que…”
“Nós todos apoiaremos”, me intrometi.
Heather sorriu para nós. “Honestamente, nunca pensei no que
fazer se me encontrasse nessa situação. Passei minha vida toda
tentando não engravidar”, ela deixou escapar uma risadinha de
nervoso. “Mas agora que estou aqui, vendo o que acabei de ver,
vocês três ao meu lado…”
Segurei minha respiração.
“Eu vou seguir…”, suas mãos escorregaram por sua barriga.
“Vou ter esse bebê.”
Sorri. “Mesmo se for uma cria horrenda do Brady?”
Rogan cobriu sua mão e se virou para que ninguém o visse
rindo.
Brady me encarou. “Ah, então agora você decide fazer uma
piadinha?”
“Foi boa!”, eu disse.
“Sim. Que comediante você é”, Brady se virou para Heather.
“Eu apoiaria qualquer decisão, como eu disse. Mas estou feliz de
você ter esse filho.”
Outra piada apareceu na minha cabeça e eu não pude resistir:
“Ele só está dizendo isso porque seu cabelo e maquiagem te fazem
parecer Amirah Pratt agora.”
Rogan explodiu numa risada. Heather também. Brady cruzou
os braços. “Cara, você tá arruinando um momento de ternura.”
“Você tá certo”, eu disse, afastando uma mecha do cabelo de
Heather. “Estou com você, não importa o que aconteça. Mas e sua
carreira?”
“Ah”, Heather torceu o lábio, pensando. “Posso deixar minha
carreira de lado até o bebê nascer, eu acho. Se vocês não se
importarem em esperar um pouco para me dar aquele
empurrãozinho.”
Olhei para Rogan, ele estremeceu.
“O quê?”, Heather perguntou. “O que houve?”
“Foi minha ideia”, eu disse, expirando. “Sabíamos que as
coisas estavam estremecidas na agência. Se algo acontecesse com
Amirah Pratt sob nossa proteção, perderíamos nossa habilidade de
impulsionar sua carreira. Uma empresa com o filme queimado não
pode pedir favores.”
Rogan continuou de onde parei. “Então agimos
preventivamente. Ligamos pra algumas agências e diretores no
meio. Assim, mesmo se as coisas dessem errado com Amirah, sua
carreira seria impulsionada como prometemos.”
“Sério?”, Heather perguntou. “É por isso que Jonah Weiman lá
aqui hoje? Pra me ver atuando?”
“Infelizmente não”, respondi. “Jonah Weiman estava lá para
monitorar a situação com sua cliente. Estamos pisando em ovos
com a sua agência, então não podíamos pedir nenhum favor a ele.”
“Mas um agente da William Morris está muito interessado”,
disse Rogan. “Eles falaram com alguém e eles te adicionaram
àquele comercial antitabagismo.”
“Então foi assim que consegui o papel”, disse Heather. “Fiquei
confusa porque fui péssima no teste.”
Rogan acenou. “Não era só a respeito da sua habilidade de
atuar. Eles sabiam que o diretor não… não era fácil. Eles queriam
ver como você se saía aguentando ordens de alguém tão difícil.”
“Mas você passou!”, disse Brady alegremente. “Você agiu
como uma especialista. A William Morris quer te agenciar. Acho que
eles vão entrar em contato ainda essa semana. Você está feliz?”
“Estou… impressionada”, disse Heather. “É muita informação
de uma só vez. Ser sequestrada pelos malucos perseguidores,
descobrir a gravidez e agora ouvir que a maior agência de talento de
Los Angeles quer me representar… preciso me sentar.”
“Você já está sentada”, Brady pontuou.
“Preciso me sentar mais”, Heather apertou o botão de reclinar
da cama. “Assim está melhor. Vocês acham que a William Morris vai
se importar em esperar o bebê nascer?”
Acenei. “Vou falar com o meu contato. Acho que não vai ser
um problema, absolutamente.”
Rogan se sentou perto da cama e pegou as duas mãos da
Heather entre as suas. “Preciso falar com você.”
“Se for outro pedido de desculpas, vou socar sua boca”, ela
avisou.
Rogan sorriu. “Não é isso. Heather… eu sei que concordamos
que era apenas físico. E naquela época, quando estávamos no seu
quarto no Four Seasons, talvez fosse. Mas estamos muito mais
além daquilo. Tenho mentido pra mim mesmo sobre isso, mas não
consigo mais. Heather Hart, eu te amo. Te amo com todo o meu
coração.”
Heather encarou Rogan. “Estou aliviada por você dizer isso,
porque eu tenho mentido também. É mais do que físico pra mim
também. Acho que eu já sabia quando começamos. Eu… eu amo
você também, Rogan.”
“Você me ama mesmo depois de ter te colocado em perigo?”,
Rogan perguntou com a voz suave e séria, mas vulnerável.
Heather rolou os olhos. “Sim! Sim, eu te amo! Eu te perdoo.
Todo mundo precisa parar de sentir culpa pelo que aconteceu!”
“Te colocar em perigo foi uma estupidez”, disse Brady. “Ele tem
que se sentir mal mesmo.”
Heather ameaçou apontar um dedo para Brady. “Não, nem
comece. Se eu perdoei Rogan, você também pode consegue.”
“Mas…”
“Não!”, ela gritou. “Supera isso. Sim, você estava certo e
Rogan estava errado. O que fizemos foi perigoso. Mas não faz
sentido ficar chorando. E funcionou no final: pegamos os
assediadores e salvamos a reputação da sua empresa. Podemos
seguir em frente, por favor?”
Aquilo intimidou os dois. “Sim, está bem”, eles sussurraram.
Por um momento, me lembraram de Micah e Dustin quando
causavam problemas.
Heather é definitivamente a mulher para o trabalho, pensei.
Para cuidar das crianças e manter esses dois na linha.
Com a confissão do Rogan fora do caminho, era minha vez de
me aproximar de Heather. Gentilmente beijei sua testa e reuni minha
coragem.
“Me parece meio anticlímax dizer isso depois de Rogan ter se
declarado. Mas eu também amo você. Amo como você cuida dos
nossos filhos. Amo sua dedicação todos os dias. Sua coragem.
Queria ser assim como você. E acima disso tudo, eu amaria que
você fosse a mãe dos meus filhos. Mesmo que eles não sejam
meus. Não importa de quem é o bebê que está dentro de você, vai
ser uma criança maravilhosa, eu tenho certeza.”
Ela se sentou e me beijou. “Você disse um monte de coisas,
mas eu te amo, Asher. Sou muito feliz em ter você na minha vida”,
seu rosto ficou sério. “Mesmo com o pornô de babá que você
assistiu após minha primeira noite na casa.”
Eu tinha me esquecido daquilo e meu cérebro demorou um
momento para registrar as palavras, e então minhas bochechas
coraram. Brady soltou uma risada.
“Ah, hm, eu não…”
“O que aconteceu?”, Rogan perguntou, “O que eu perdi?”
“Ah, merda, nunca te contamos?”, Brady respondei. “Asher
assistiu pornô de babá no escritório e Heather descobriu.”
“Ela te flagrou?”, Rogan perguntou. Um sorriso se espalhou no
seu rosto. “Você deixou a porta aberta ou algo assim?”
“Eu vi no histórico no dia seguinte”, disse Heather.
“Tão ruim quanto”, disse Brady. “Todo mundo sabe que tem
que usar a navegação privada pra assistir pornografia. Erro de
iniciante.”
Heather agarrou minha camisa e me deu outro beijo. “Me
desculpe por te provocar. Eu te amo, Asher Solak.”
As palavras engatilharam um fogo no meu peito que nunca
mais iria embora, enquanto eu estivesse vivo. “Também te amo,
Heather Hart.”
Fiquei de pé e olhei para Brady. Rogan limpou a garganta.
“Não me olhe assim”, disse Brady. “Eu já falei pra ela que a
amo tipo, semana passada, porra. Perdedores! É bom recuperarem
o tempo perdido.”
Heather assentiu. “Verdade, ele disse.”
Levantei uma sobrancelha. “Você falou isso durante o sexo?”
“…Não.”
“Você disse isso depois do sexo?”, Rogan tentou de novo.
“Hm… depende da sua definição de sexo.”
Rogan bateu uma palma. “Então o nosso conta como primeiro.”
“Uma ova!”
“É mais significativo nesse momento”, concordei.
“Isso é bobagem”, Brady olhou furtivamente para Heather.
“Diga a eles que é bobagem. Minha declaração foi tão válida quanto,
se não mais!”
Heather deu de ombros dramaticamente.
A discussão continuou e nós caímos na risada. Naquele
momento, eu não sabia o que o futuro guardava para nós. Mas eu
sabia uma coisa com certeza: eu queria que Heather estivesse nele.
54

Heather

Fiquei no hospital por mais uma hora até o resultado dos


exames de sangue e radiografias ficarem prontos. Tudo parecia bem
– não houve dano permanente causado pela batida do assediador.
Eu estava ansiosa para ir para casa, mas minha diversão
estava apenas começando. Um detetive de polícia e dois oficiais
estavam me esperando do lado de fora do hospital para ouvir meu
depoimento. Foram duas horas contando a eles todos os detalhes
do meu sequestro, desde o início.
“Estou destruída”, eu disse quando finalmente deixei o hospital.
“Só quero me deitar quando chegar em casa.”
“Bem, você está grávida”, Asher pontuou quando entramos no
carro. “E você teve um longo dia. Nós vamos cuidar das crianças
pra você relaxar.”
“E amanhã é meu dia de folga”, eu disse. “Vou me deitar no
sofá do refúgio e fazer absolutamente nada.”
“Você merece!”
Quando chegamos em casa, cada um de nós fez sua parte. Eu
esperava que a casa estivesse uma zona com brinquedos e lápis e
manchas de comida, mas não foi isso que encontramos. A casa
estava impecável.
“Parece que um faxineiro profissional veio aqui”, disse Rogan.
“Vocês agendaram algum?”
“Eu não”, disse Brady. Asher também chacoalhou a cabeça.
Maurice desceu as escadas. “Ah, vocês estão em casa.
Crianças! Anjinhos! Venham falar oi pros seus lindos pais.”
Cora, Dustin e Micah vieram marchando até a sala de estar
usando pijamas. Eles estavam calmos e ordenados e abraçaram
cada um dos pais.
“O que está…”, Asher murmurou.
“É como se eles tivessem acabado de voltar de um treinamento
militar”, disse Rogan.
Brady riu silenciosamente. “Você deu marijuana comestível a
eles? É única forma deles se comportarem assim.”
Maurice colocou uma mão na cintura e nos deu um olhar
atrevido. “Eles estão muito mais comportados do que antes. Agora
que eles estão controláveis, passei o dia ensinando boas maneiras.
Certo, pequenos?”
“Sim, tio Maurice!”, as três crianças disseram em uníssono.
“Vocês não têm algo pros papais?”, Maurice perguntou.
As crianças sorriram e calmamente caminharam para a mesa
de jantar onde havia uma pilha de desenhos. Cada criança pegou
uma folha de papel e entregou para seu respectivo pai.
“Pedi a eles que desenhassem o que seus pais estavam
fazendo”, Maurice explicou. “Eles são muito criativos!”
O desenho de Cora era cuidadoso, ela tinha usado lápis de cor,
e mostrava um Asher loiro sentado em um bunker, olhando por um
binóculo.
Micah tinha desenhado uma floresta exuberante verde e
marrom Rogan franziu a sobrancelha. “Onde eu estou?”
“Você está usando camuflagem”, Micah disse, como se fosse
óbvio. “É por isso que você está invisível.”
“Ah, muito bom, filho!”
Dustin segurava seu desenho. “Meu pai está lutando com um
monstro! E está ganhando! Vocês sabem que tipo de monstro é?”
Crianças pequenas não são muito boas com desenhos de
animais. É um fato. O monstro de Dustin parecia um Frankestein
com garras, rabos e pelo.
“É um… urso?”, perguntei.
“Olhe pro rabo!”, Brady apontou. “É obviamente um tigre.”
Dustin gemeu. É um gaturso. Metade gato, metade urso. Eles
são reais. A June falou na TV.”
“Ah, sim, claro. Um gaturso!”, disse Brady, piscando
secretamente para mim. “E um grande gaturso!”
“Na verdade, ele é pequeno”, disse Dustin, com cara de na
verdade. “Se ele fosse grande, você estaria perdendo.”
“Não sei, acho que poderia vencer um gaturso.”
“Acredite em mim, pai”, Dustin disse. “Ele chutaria sua bunda.”
Maurice me deu um abraço. “Ouvi sobre o sequestro. Gata,
você está bem?”
“Estou sim”, eu disse. “Eu, hm… tenho muito para te contar.”
“Nós assumimos daqui”, Asher disse, pegando Cora no colo.
“Vocês dois podem ir relaxar na sala de descanso. E Maurice, a
casa está maravilhosa. Obrigada por limpar tudo.”
“As crianças limparam a maioria”, Maurice explicou. “Eles
estavam muito comportados e fizemos uma brincadeira.”
“Não acredito que você conseguiu controlá-los sozinho”, eu
disse.
Uma expressão cruzou o rosto do Maurice. Eu conhecia bem.
Era a mesma cara que ele fazia quando não tinha contado toda a
verdade.
“Maurice…”
“Bom, eu não estava exatamente sozinho.”
Uma porta se abriu no corredor e outro homem surgiu na sala
de estar. Como meus três homens, este homem era absolutamente
gostoso. Ele usava uma regata cinza que mostrava os músculos nos
seus ombros e pescoço e um cabelo loiro perfeito.
“Você trouxe alguém para cá?”, sibilei, “pra cuidar das
crianças?”
“Jason!”, Brady deu um passo à frente e abraçou o homem.
“Eu disse a ele pra passar aqui se pudesse. Você e Maurice se
deram bem?”
Jason esfregou a nuca estranhamente. “Sim, nos divertimos
muito brincando de casinha. Seus filhos são o máximo.”
Sorri para Maurice. Sua pele escura definitivamente tinha uma
coloração avermelhada.
Asher bateu uma palma. “Já passou da hora de dormir. Vamos
pra a cama, vou contar uma história.”
“Pode ser a Senhorita Heather?”, Micah perguntou docemente.
“Sentimos saudade dela.”
Rogan olhou para mim. “Outro dia, amigão. Heather está muito
cansada…”
“Eu adoraria”, respondi. “Uma história não faz mal.”
Jason ficou na sala de estar enquanto o resto colocou as
crianças na cama. Li uma história rápida, então dei um beijo de boa
noite em cada um deles.
“Eu gosto do tio Maurice”, Dustin sussurrou quando eu estava
no seu quarto. “Mas gosto mais de você. Você vai ficar conosco
amanhã?”
Sorri para ele. “Amanhã é minha folga, mas estarei por aqui pra
brincarmos. Não vou a lugar algum.”
Ele sorriu e fechou os olhos.
Colocar as crianças na cama me enchia de alegria, mas
naquela noite o sentimento era diferente. Me fez pensar como meu
próprio filho seria, se era menino ou menina, se iria se comportar
como Cora ou como os outros. Me dei conta de que estava ansiosa
para descobrir.
Assim que saí do último quarto e fechei a porta, Brady
sussurrou para Maurice, “E então? O que você achou do Jason? Ele
é, seu tipo, ou algo assim?”
“Doçura, você fez um ótimo trabalho! Ele é definitivamente um
urso.”
“Isso é…”, Brady olhou para mim, e então para os outros. “É
uma coisa boa?”
“Ah, é muito boa.”
Brady e ele deram um soquinho no ar. “Boa! E vou te dizer: ele
tem um equipamento arrojado, se você me entende.”
Rogan rugiu. “Você tem anotações sobre os tamanhos dos
pintos de todo mundo na nossa unidade?”
“Não”, Brady disse defensivamente. “Mas não pude deixar de
notar quando tomávamos banho na base. Jason deveria ter uma
licença especial pra suas armas.”
Maurice sorriu. “Você me conquistou com equipamento.”
Todos andamos de volta para a sala de estar. “Obrigado por
ajudar com tudo”, Rogan disse a Jason.
Eles bateram as mãos e Jason disse, “Eu amo crianças. Tenho
sete sobrinhos e sobrinhas. Se eu pudesse, seria babá profissional.
Muito mais pacífico do que nosso trabalho como fuzileiros.”
“Não sei”, disse Brady. “Você deveria ver como Micah e Dustin
se comportavam um mês atrás. Você preferiria passar uma semana
no deserto do Al-Hajarah do que com eles.”
“Jason e eu vamos sair pra beber alguma coisa”, Maurice me
contou. “Depois do dia que você teve, tenho certeza de que você
precisa também. Junte-se a nós.”
“Heather não pode, porque…”, Asher começou a dizer.
“Porque estou exausta!”, respondi rapidamente. Olhei para
Asher. “Estou um caco. Vocês dois, se divirtam! Conversamos sobre
tudo amanhã.”
“Se arrume, Jason. Vou te levar pro New Jalisco.”
“É uma boate, certo?”, Jason perguntou. “Não sei dançar.”
“Não se preocupe, querido. Eu te ensino como mover esse
corpo maravilhoso”, Maurice se virou de costas e moveu os lábios,
“Obrigado”, na direção de Brady, e saiu com seu novo crush.
“Você não quer contar ao seu melhor amigo?”, Asher
perguntou.
Eu me afundei no sofá e suspirei. “Seria demais. Eu não quero
estragar a noite dele com Jason, que parece um cara legal, falando
nisso”, olhei de lado para Brady. “É realmente grande assim?”
“Ele deveria ter um CEP só pra ele”, Rogan disse secamente.
Brady apontou um dedo na direção do amigo. “Há! Você
também notou!”
“Eu realmente queria uma bebida”, eu disse. “Acho que transar
sem camisinha foi um erro, hein?”
Asher se sentou ao meu lado no sofá. “Só se você se
arrepender. Você se arrepende? Está tudo bem, você pode nos
contar.”
Deitei minhas mãos sobre minha barriga. Ela ainda não tinha
aumentado de tamanho, mas imaginei que conseguia sentir aquela
pessoinha pequenina dentro de mim. Eu deveria ter ficado
assustada, mas não fiquei.
Deitei minha cabeça no ombro de Asher. “Não me arrependo
de absolutamente nada.”
55

Heather

Eu me arrependia de tudo.
E para todas as mulheres que fingem que gravidez é linda,
natural e gloriosa: vocês são ridículas!
Os primeiros meses de gravidez não foram ruins. Eu tinha
enjoos matinais uma ou duas vezes por semana. Fiquei sensível a
alguns cheiros, como alcaçuz ou lavanda. Se eu cheirasse qualquer
nota disso, eu imediatamente ficava enjoada. A pior parte dos
primeiros meses era não poder consumir cafeína. Para ser sincera,
eu sentia falta de café mais do que de álcool.
Os rapazes nunca estiveram tão atraídos por mim. Eu achava
que estavam sendo carinhosos no meu primeiro mês como babá,
mas não se comparava à maneira como eles estavam me tratando
agora que eu carregava o filho deles. Eles diziam que eu era linda.
Alegavam que eu estava radiante. Não conseguiam tirar as mãos de
mim e insistiam em fazer amor a qualquer hora do dia. Os três se
alternavam me visitando enquanto as crianças estavam cochilando
para podermos aproveitar a tarde.
Mas eles me tratavam como se eu fosse feita de vidro. Era
como se eles estivessem com medo de realmente me dar sexo
radical e intenso. Brady estava especialmente mal com isso. Depois
de fazer sexo na posição da missionária três vezes em sequência,
finalmente parei de me conter e disse a ele para me tratar
normalmente.
“Você não precisa ser gentil”, insisti. “Estou bem. O bebê está
bem!”
“Eu gosto de fazer isso devagar. Estou amando isso”, ele
respondia, mas eu sabia que era só uma desculpa.
Felizmente, Asher me dava exatamente o que eu queria.
Depois de encorajá-lo, ele me dobrava sobre a cama do quarto de
hospedes, me golpeando como se eu fosse um daqueles postes que
você martela com a maior força que puder para ganhar o prêmio em
parques de diversão. E, ai meu Deus, Asher sabia como me
martelar. São sempre os mais calados que sabem o que estão
fazendo.
Às vezes uma garota só precisa ser fodida corretamente.
Então sim, os primeiros quatro meses não foram tão ruins. Mas
à medida que eu me aproximava do final do segundo trimestre, e
então do terceiro, a gravidez deixou de ser gatinhos e arco-íris.
Eu estava inchada o tempo todo. Não só minha barriga, mas
tudo! Tive que comprar sapatos novos, porque meus pés
aumentaram de tamanho três vezes. Meus dedos pareciam
salsichas em conserva e minhas mãos estavam só um pouco menos
inchadas.
O resto do meu guarda-roupas se tornou inútil. Ir às compras
era um saco naquela condição, então comprei cinco togas online e
as revezava.
Comecei a sentir os sintomas de menopausa. Ninguém fala
sobre isso, não é? Em um minuto eu sentia um calor insuportável e,
no momento seguinte, parecia que meu corpo estava mergulhado
no gelo. Eu tomava mais ou menos sete duchas por dia. Eu tinha
que trocar de roupa todas as vezes que ia ao banheiro, porque
suava feito uma louca.
Falando sobre banheiro, eu fazia xixi a cada duas horas. Não
importava se eu tinha tomado alguma coisa de manhã, meu corpo
ainda achava xixi para se livrar. Um inferno. Se eu pensasse em um
copo d’água, tinha que ir ao banheiro. O anjinho ocupando minha
barriga parecia ocupar a bexiga também. Obrigada, futuro filho.
Eu estava cheia de gases. Não vou elaborar muito nem
responder perguntas.
E ainda havia as mudanças emocionais. A menor
inconveniência me deixava completamente furiosa. No minuto
seguinte, eu via um filhote num comercial de TV e começava a
chorar. Um pouco mais tarde, eu ficava inebriada e ria de qualquer
idiotice nos desenhos animados das crianças. Era toda uma gama
de emoções.
Hormônios são estúpidos. Quer ganhar um bilhão de dólares?
Invente uma pílula que estabilize todos estes picos emocionais.
Eu tinha certeza de que o bebê seria jogador de futebol na
próxima geração da Seleção dos Estados Unidos. Porque ele ou ela
amava chutar. A primeira vez que senti foi um deleite: prova de que
meu bebê estava saudável e vivo! E ele era agressivo assim como a
mãe!
O deleite virou ódio rapidamente. O bebê devia estar
entediado, porque ele não fazia mais nada a não ser chutar as
paredes do meu útero. De manhã, de tarde e, obviamente, de noite.
E de madrugada, enquanto eu tentava dormir. Bebês não tem a
mesma agenda que suas mães antes de nascer.
“Eu te dou um milhão de dólares se você me deixar em paz”,
resmunguei uma noite.
“Combinado”, Brady murmurou ao meu lado. Ele estava quase
dormindo porque ele não tinha um aspirante a jogador de futebol
praticando dentro do seu saco. “Não vale retirar o que disse.”
E falando em dinheiro, finanças não eram mais um problema
para mim. Pelo menos não a curto prazo. Em seis meses como
babá eu tinha juntado uma reserva tão grande que poderia ficar à
toa por alguns anos se quisesse. E além disso, eu não tinha
despesas reais: não renovei meu contrato de aluguel no
apartamento com Maurice, continuei morando na residência dos
rapazes e eles pagavam por toda a comida e o resto. Eles até
encontraram uma forma de me inserir na folha de pagamento da
HLS Segurança para que eu pudesse ter acesso ao plano de saúde
da empresa. O que era excelente, porque estar grávida é muito
caro. Sério, se você não quer engravidar, compre camisinhas. Elas
são muito mais baratas do que as consultas médicas e sessões de
pré-natal. Além disso, o preço só aumenta depois que o bebê nasce.
Mas era bom saber que eu tinha dinheiro no banco naquele
momento. Eu não estava acostumada a me sentir daquele jeito.
Muito melhor do que estar quebrada o tempo todo, sobrevivendo de
restos do Outback toda noite.
Mas enfim, o terceiro trimestre é uma merda. Pode anotar. Vale
a pena lembrar as pessoas que não levam isso a sério. Escute sua
boa amiga Heather Hart.
A única parte boa eram os rapazes. Rogan, Brady e Asher
foram absolutamente perfeitos durante todo o processo. Cuidaram
de todas as minhas necessidades, mesmo quando eu tinha desejos
irracionais como sorvete de chocolate no meio da noite. Brady fazia
massagens nos meus pés todas as noites quando chegava do
trabalho, mesmo exausto.
Seu apoio era forte e inabalável. Eles me amavam de verdade,
nos bons e nos maus momentos. Foi uma experiência maravilhosa.
Eu me sentia segura.
Os três ainda fizeram amor comigo, mesmo comigo me
sentindo mais feia do que nunca. “Deve ser tipo transar com uma
almofada gorda”, eu disse numa noite.
Rogan gentilmente beijou minha bochecha. “Heather, nunca
estive tão atraído por você.”
“Você é um grande mentiroso”, respondi, “mas mente bem,
então tudo bem.”
Assim que superei o fato de me sentir um balão, o sexo ficou
ótimo. Surpreendentemente. Existe algo na liberação de hormônios
que me ajudava a aliviar as cólicas. Não importava como, eu estava
feliz por ter três homens satisfazendo todos as minhas
necessidades.
Apesar de Brady ainda me tocar como se eu fosse vidro fino
que ia se quebrar se ele empurrasse com muita força.
Todo o resto nas nossas vidas durante a gravidez também era
ótimo. Pegar os assediadores de Amirah Pratt fez com que a HLS
Segurança deslanchasse. Eles assinaram mais uma dúzia de
contratos com clientes da Agência Weiman e logo conseguiram
tantos clientes no Sul da Califórnia que tiveram que contratar mais
pessoal.
Rogan até contratou alguns gerentes para ajudá-lo na
administração, o que permitia que ele passasse menos tempo no
escritório e mais tempo com a família. Passamos um dia na Disney
e, apesar da multidão e da comida superfaturada, foi um ótimo dia.
Os trigêmeos estavam ótimos. Eles encararam com
tranquilidade o fato de que teriam um novo irmãozinho ou irmãzinha.
Dustin e Micah estavam especialmente doces, se oferecendo para
me trazer comida e bebidas. Depois de um acidente particularmente
confuso com suco de laranja, eu não os deixei fazer isso mais. Mas
o gesto foi doce e me encantou ainda mais.
Os três foram para a escola. Dustin e Micah se deram bem
naquele ambiente e amavam estar rodeados por outras crianças.
Cora foi quem mais demorou a se adaptar. Ela estava acostumada a
ficar quieta lendo seus livros o dia todo e, de repente, ela não podia
mais fazer isso numa sala de aula com muita matéria sendo dada.
Os dois primeiros meses foram duros: Cora inventava desculpas e
doenças falsas para não precisar ir à escola. Era uma batalha por
dia.
“Por que não posso ficar aqui com você?”, ela implorou um dia.
“Os meninos podem sair enquanto as meninas ficam em casa.”
Acariciei seu cabeço para trás e fiz um rabo de cavalo. “Não é
assim que funciona, querida. Eu também não gostava da escola
quando tinha sua idade, mas ainda bem que fui assim mesmo. Vai
ser bom para você, eu prometo.”
Finalmente ela aceitou que a escola era parte da sua vida e
parou de nos dar trabalho de manhã. Mais tarde descobri que era
porque ela tinha feito amizade com a bibliotecária da escola, que a
tinha recrutado para ajudar a arrumar os livros durante o recreio.
Logo Cora estava se vangloriando para todos que ela seria
bibliotecária quando crescesse.
“Bibliotecas são estúpidas!”, Micah disse.
“Você é estúpido!”, Cora gritou de volta. “Se você disser isso de
novo, vou te bater.”
Micah correu para o seu quarto. Mencionei que Cora foi a
primeira a ter o famoso estirão? Ela era uma cabeça maior que os
irmãos naquele momento e não tinha medo de usar isso contra eles.
A escola estava ajudando-a a sair da sua concha.
As aulas acabavam às duas todos os dias. Como eu estava no
terceiro semestre da gravidez, Maurice e Jason ficavam com as
crianças quase sempre. Maurice tinha jeito, mas era totalmente
natural para Jason. E as crianças o adoravam. Eles o chamavam de
Tio Jota e estavam sempre felizes em vê-lo quando chegavam em
casa.
“Ele vai ser um ótimo pai”, disse Maurice numa noite, enquanto
tomávamos coquetéis. Ele bebia uísque com Coca enquanto eu
bebia a versão não alcoólica (Coca Diet). “Quero ter vários filhos
com ele. Pelo menos três.”
“Fácil falar quando você não precisa carregá-los dentro da
barriga”, eu disse, apoiando a mão na minha barriga enorme.
“Alguém vai fazer todo o trabalho difícil por você.”
“Eu sei!”, ele disse, com alegria. “Não é ótimo?”
Joguei minha lata vazia de Coca Diet nele.
“Ei! Cuidado com meu rosto. Vou gravar amanhã!”
“Ah, é?”, eu disse. “O vídeo para a universidade?”
“Sim!”, ele respondeu. “Você está olhando para o estudante
negro número três.”
Maurice e eu estávamos sendo agenciados pela Agência
William Morris. Eu não queria filmar nada enquanto estava grávida,
embora houvesse muitos testes para grávidas acontecendo. Mas
Maurice estava percorrendo seu trajeto devagar.
“Você está animada pra voltar a trabalhar?”, ele perguntou.
“No momento só estou animada pra tirar essa criança de
dentro de mim.”
“Você está grávida, isso é um saco, eu sei”, ele disse
secamente, “mas chega disso. Vamos falar sobre bolo. O
casamento é em quatro semanas e ele precisa decidir.”
Não, não estávamos falando sobre o meu casamento. Maurice
pediu Jason em casamento há dois meses e o ex-fuzileiro disse sim
imediatamente. Ajudar Maurice com o planejamento era uma boa
distração do meu estado de espírito de balão exausto.
Eu era sua madrinha, mas ele me livrou da maioria das
responsabilidades. Ele disse que a despedida de solteiro podia ficar
para o ano seguinte, já que, depois do parto, eu poderia voltar a me
divertir.
“Queria que vocês tivessem marcado a data pra depois do
parto também, murmurei, olhando o catálogo de bolos.”
“A igreja de Jason teve um cancelamento”, Maurice disse
pacientemente. Não era a primeira vez que falávamos sobre aquilo.
“Não é minha culpa se você vai parir duas semanas depois do
casamento”, ele apontou para minha barriga, “diga a esse serzinho
que se apresse. Pisa no acelerador ou algo assim!”
“Não me provoque”, eu disse, “estou prestes a ligar para o
médico e pedir uma cesariana amanhã, pouco me importa se é um
mês antes da hora.”

Deixando de lado as queixas, consegui sobreviver às quatro


semanas anteriores ao casamento de Maurice. E mesmo que eu
quisesse me enfiar numa caverna e hibernar até o parto, me
espremi em uma túnica e caminhei para o altar da igreja. Naquele
momento eu me sentia uma bola de praia com pernas e minhas
costas doíam de ficar cinco minutos em pé. Na verdade, doíam o
tempo todo.
Como eu disse: gravidez é uma merda. Certamente ia ser a
primeira e última vez.
Mesmo que eu estivesse me sentindo horrorosa, todo mundo
achou fofo quando eu caminhei em direção ao altar enquanto a
orquestra tocava. O Sr. Howard estava sentado em uma das fileiras
e me fez um sinal de positivo enquanto eu caminhava.
Jason era o noivo mais lindo que eu já vi na vida,
resplandecente no seu traje. Ele usava o uniforme de gala branco
da Marinha, enquanto os padrinhos usavam o azul. Se você nunca
viu, procure no Google. Até o homem mais sem graça do mundo fica
sexy nesses uniformes e Jason era tudo menos sem graça.
Mas meus olhos foram atraídos pelos padrinhos ao seu lado.
Asher sorriu calorosamente, Rogan acenou e Brady me deu uma
piscadela, e então lambeu o lábio superior. Eu fiz uma careta para
ele, que só o fez rir mais ainda na frente de todo mundo. Tentei não
gargalhar ao tomar meu lugar entre as madrinhas de Maurice, suas
quatro irmãs.
A cerimônia foi comovente e bonita. Maurice usava um terno
branco com um colete salmão. Os votos foram doces. Chorei feito
um bebê. Como eu disse, a gravidez me colocou numa montanha-
russa de emoções guiadas por hormônios.
Durante a recepção, passei muito tempo sentada. E comendo.
É preciso se sentar para comer e eu gostava de fazer as duas
coisas graças ao meu estado. Mas fui finalmente arrastada para a
pista de dança por Brady.
“Eu sei que seus pés doem”, ele disse, “mas preciso dançar
com a mulher dos meus sonhos.”
Como eu poderia dizer não?
Brady e eu dançamos coladinhos, o que era difícil graças a
minha barriga enorme. Então Rogan interrompeu durante uma
música mais agitada, que envolvia uns movimentos estranhos da
minha parte, tentando dançar. Asher esperou a próxima música
lenta e me abraçou por trás, dançando com a mão na minha barriga.
Fechei os olhos e desfrutei da sensação de estar em seus braços.
“Ok”, disse Asher. “Agora sim você pode se sentar de novo.”
Sorri. “Tem mais um nome na minha lista de danças”.
Encontrei Maurice e Jason dançando na multidão. Maurice
estava sorrindo para seu marido de uma forma que eu nunca tinha
visto antes. Eu quase odiava precisar interrompê-los. Jason
educadamente acenou e se afastou, então Maurice pegou minha
mão.
“Que casamento mais lindo!”, eu disse. “Estou muito feliz por
vocês, Maurice.”
“Estou feliz também”, ele disse. “Achei que a vida ia ser difícil,
tentando sempre e nunca conseguindo. Nunca pensei que fosse me
sentir assim!”, ele me deu um beijinho na bochecha. “Obrigado por
tudo, Heather.”
Bufei. “Quase não ajudei com o planejamento. Você fez quase
tudo sozinho.”
Ele balançou a cabeça. “Não estava falando da cerimônia, mas
sim de como tudo começou.”
“Você quer dizer quando você foi cuidar das crianças enquanto
eu e os pais estávamos fora?”
“Antes disso. Roubar o anel de diamante dos adereços do Sr.
Howard, usá-lo para invadir o camarote do jogo dos Lakers… se
você não tivesse me arrastado pro plano, não teria conseguido o
trabalho, o que significa que eu não teria encontrado Jason.”
“A moral da história é que estou sempre certa e você deve
sempre fazer o que eu digo”, eu disse.
“Essa única coisinha não anula todas as confusões que você
criou”, ele olhou por cima do meu ombro. “Obrigado.”
Me virei e segui seu olhar que ia em direção ao Jason,
bebendo champanhe com Rogan, Brady e Asher. “Ele é tão lindo,
Maurice. Você é um homem de sorte.”
“Eu sou”, ele suspirou alegremente, “e você também. Sortuda
multiplicado por três, se minhas contas estiverem certas.”
Brady deve ter contado uma piada porque, de repente, todos
riram. Jason bateu no ombro de Brady e os dois se abraçaram.
“Sou sortuda”, sussurrei. “Ainda não acredito que isso tudo é
real.”
“Você acha que consegue manter isso com os três?”, Maurice
perguntou suavemente. “Achei que era só sexo no começo, mas
vejo a forma como eles te olham. O que vai acontecer depois que o
bebê nascer?”
“Não tenho ideia”, admiti. “Eles ficaram do meu lado durante
toda a gravidez. E não foi fácil conviver comigo.”
“Isso já não era antes mesmo da gravidez”, Maurice brincou.
Fiz uma careta para ele. “Se sobrevivemos aos últimos nove
anos, podemos sobreviver a qualquer coisa. Mal posso esperar para
ver onde o próximo estágio da minha vida vai me levar.”
“E você não sabe mesmo quem é o pai?”, ele perguntou. “É
meu casamento, vamos lá, me conte.”
“Não sei, de verdade. E não me importo. Não importa quem o é
o responsável biológico por este bebê, ele vai crescer com três pais
maravilhosos. E eu sou muito sortuda por isso.”
Estremeci e respirei fundo.
“Você está bem?”, Maurice perguntou.
“Só uma cólica”, eu disse. “Elas têm ficado muito ruins nas
últimas semanas. Especialmente quando fico de pé. Vou me sentar.”
“Obrigada pela dança”, Maurice beijou minha bochecha e
acenou para os rapazes. “Venha aqui, Brady Lowe. Eu exijo uma
dança com o homem que me apresentou ao meu marido!”
“Eu não sei dançar…”, Brady respondeu.
“Sem desculpas! Traga essa bundinha pra pista agora!”
Tentei ir para minha cadeira, então peguei minha bolsa e fui ao
banheiro. Consegui me aproximar de uma das tendas bem a tempo
do que aconteceu.
Gemi e peguei meu celular da bolsa. Rogan atendeu no
segundo toque.
“Heather? Por que você está me ligando?”
“Estou no banheiro e preciso de ajuda”, eu disse. “Minha bolsa
estourou.”
56

Heather

Para todas as mães que fingem que gravidez é fácil: vocês são
as mesmas mentirosas que falam que o parto é natural e fácil.
Advinha só: não é. Não é fácil, nem bonito, nem romântico, mas é
definitivamente natural, da mesma forma que um tigre comer uma
gazela é natural.
Também foi dolorido. Mais dolorido do que andar numa
bicicleta com o assento feito de lâminas. Então, para todas as mães:
obrigada por embelezarem as piores horas da minha vida.
A maioria dos detalhes será poupado, mas acredite no que eu
digo: parir é um inferno. Se houvesse uma próxima vez, eu
escolheria cesariana. Me corte, doutor.
Mas consegui. Meus três homens estavam ali, usando a
proteção do hospital por cima do uniforme azul de fuzileiros. Eles se
revezaram segurando minha mão enquanto eu empurrava e gritava
e chorava.
Uma das enfermeiras fez um comentário sobre qual dos três
era o pai. Não me lembro exatamente do que disse, mas não foi
legal.
Quando acabou, o médico segurou o bebê na nossa direção.
Brady imediatamente explodiu em lágrimas.
“É um menino! E que garotão!”
“Isso é o cordão umbilical”, o médico disse, fazendo um
pequeno corte. “Mas você tem razão, é um menino.”
Ele – era realmente um menino! – gritou a plenos pulmões
quando respirou pela primeira vez. Seus olhos estavam
comprimidos e fechados e ele estava coberto de gosma, mas era o
mais lindo pacotinho que eu tinha visto na vida.
O médico colocou o bebê no meu peito desnudo. Contato com
a pele da mãe é importante, fato que aprendi em um dos mil livros
sobre gravidez que havia lido no mês anterior. Assim que ele tocou
minha pele, parou imediatamente de chorar.
“Ai meu Deus…”, eu disse.
Era uma sensação difícil de explicar para alguém que nunca
passou por isso. Eu nunca tinha amado alguém tanto na vida. Era
como se eu tivesse um filhotinho agarrado no meu peito, só que o
bichinho tinha vindo de dentro de mim.
Na verdade, sei como descrever: como um sexto sentido. Eu já
era dotada de visão, audição, tato, paladar e olfato, o amor
incondicional por aquele bebê completava o time. Era um
sentimento especial, que mudou a forma como meu cérebro
funcionava. Eu conseguia entender por que as mulheres passam
por todos os horrores da gravidez e do parto para ter aquela
recompensa no final.
Olha só, meus hormônios estavam tomando conta e me
fazendo esquecer das partes ruins.
Adormeci com o bebê no meu peito. Acordei algumas horas
mais tarde num quarto diferente e os homens puderam pegá-lo.
Rogan deu um beijo na cabeça do bebê e sentiu seu cheirinho.
Asher não conseguia parar de sorrir.
Depois da vez de Brady, estiquei meus braços para pegá-lo de
volta. “Não. Não vou soltar esse rapazinho”, ele me disse. “Vá fazer
outro pra você.”
Sorri e o deixei segurar o bebê por mais tempo.
“Micah e Dustin vão ficar muito felizes com outro garoto”,
Rogan disse.
Asher assentiu. “Cora queria uma irmãzinha, mas acho que ela
vai adorar cuidar do irmãozinho.”
As coisas eram um borrão. Comi alguma coisa, então dormi.
Os enfermeiros me acordaram porque era a hora de amamentar,
então eu o alimentei. O bebê pegou meu peito facilmente e não
ficou agitado.
Maurice e Jason me visitaram no dia seguinte. “O que vocês
estão fazendo aqui?”, perguntei quando os vi entrar no quarto.
“Nosso voo para Honolulu é só no fim da tarde”, Maurice disse.
“Heather, querida, você está brilhando!”
“Você me falou isso ontem no casamento, enquanto eu ainda
era uma bola de praia”, respondi.
“Sim, mas hoje está ainda mais!”, ele me deu um abraço.
“Onde está meu pequeno sobrinho? Eu quero segurá-lo primeiro.
Jason, espere lá fora.”
“Um dia de casados e já sou coadjuvante”, Jason disse
sorrindo.
Maurice o beijou na bochecha. “Você sabe com quem se
casou. Rogan. Bebê. Agora.”
Rogan entregou o pacotinho para Maurice. Ele estava
embrulhado em um cobertor azul e dormia gentilmente. Maurice
olhou para ele por alguns minutos e então olhou em volta.
“Ele tem as bochechas de Asher”, ele apontou, “o cabelo
cacheado de Brady e os olhos pretos de Rogan.”
“Querido?”, Jason colocou uma mão no seu ombro. “Não sou
geneticista, mas não é assim que funciona.”
“Estou dizendo que é interessante que não dê para saber
quem é o pai”, Maurice respondeu. “Poderia ser qualquer um dos
três.”
“Ou um quarto homem secreto”, interrompi.
Os três me olharam alarmados.
“Ela já está toda piadista?”, Maurice perguntou. “O parto deve
ter sido fácil.”
“Não foi”, respondi. “Sinto muito ter perdido o final da sua festa
de casamento.”
“É melhor sentir. Eu pretendia jogar o buquê diretamente pra
você, mas não tive a oportunidade. Uma garotinha que eu nem
conheço pegou no seu lugar. Ai, se você não tem dezesseis anos
ainda, não deveria poder disputar o buquê.”
Sorri enquanto Maurice ninava o bebê. Fiquei feliz por não ser
óbvio saber quem era o pai naquele momento ainda. Queria que os
três o amassem igualmente. Não que eles tivessem favoritos entre
os outros três, mas… sabe como é.
“Toc-toc!”, Sr. Howard chamou do corredor. Ele trazia um urso
de pelúcia nas mãos. “Aqui está minha aluna favorita”.
“Sim, aqui estou eu”, disse Maurice. “Sua melhor aluna.”
Sr. Howard ignorou sua piada e se inclinou para beijar minha
mão. “Trouxe pra criança. O que é?”
“Não tem rabo, então acho que é humano”, disse Brady.
Sr. Howard olhou para ele pacientemente. “Um garoto,
suponho pelo cobertor azul?”
“Sim, é um menino.”
Maurice deu o bebê para Jason. Ele era tão pequeno naqueles
braços enormes, mas o fuzileiro era terno e gentil com ele. Maurice
imediatamente pegou o telefone e tirou uma foto do marido
segurando o bebê.
“Mal posso esperar pra ter nossos quatro”, ele disse.
Sr. Howard esticou a mão para apertar a bochecha do bebê. “E
qual vai ser o nome desse futuro ator, hein?”
Sorri para Rogan, Brady e Asher. Eu ainda não tinha contado
para eles e eles não tinham perguntado. “Seu nome é Mark. Mark
Eugene Hart.”
Sr. Howard mexeu a cabeça. “Eugene?”
“Acho que Eugene é um nome bonito!”, eu disse.
“Mark Eugene”, disse Asher, testando as palavras. “Gostei.”
“Suas iniciais são M-E-H. Mé”, disse Brady. “O bebê de
Heather é doce como o mé.”
Todo mundo riu. “Pare, você vai arruinar o nome!”, eu disse,
mas ria mais do que todos.
“Obrigado, minha querida”, Sr. Howard disse. Ele beijou as
costas da minha mão. “Tenho certeza de que ele vai crescer e se
tornar um ótimo homem. Ele parece o Adrian Grenier. E falando em
atuar, ouvi dizer que seu agente na William Morris está ansioso pra
enviar suas fotos à Netflix. Eles estão abrindo audições pra vários
episódios pilotos. Se você quiser, é claro.”
“Você quer?”, Brady perguntou.
“Não a pressione”, Rogan alertou. “Só faz um dia.”
“Eu andei pensando”, respondi. “E tenho algumas ideias sobre
esses pilotos da Netflix…”
Epílogo

Heather
Um ano depois

Acordei na nossa cama enorme, rodeada pelos meus três


namorados. Eu tinha dormido a noite toda, sem interrupções.
Espere um momento. Eu dormi a noite toda?
Me sentei na cama. Mark dormia profundamente no berço. Ele
não tinha acordado a noite toda. Eu não me lembro da última vez
que aquilo havia acontecido.
Rogan estava deitado de costas ao meu lado e levou o dedo
até o lábio suavemente. “Não estrague a paz!”, ele sussurrou.
Sorri e fiz carinho nele. “Talvez o pior tenha passado!”
Ele beijou meu cabelo. “Talvez.”
Os últimos meses haviam sido difíceis. Quando trouxemos
Mark para casa, ele dormia como um anjinho toda noite. Mesmo
quando acordava cedo, ele se virava no bercinho e ria para o móbile
pendurado. Raramente chorava.
Tudo mudou quando fez nove meses. Foi aí que ele começou a
dormir muito mal. Tentamos todos os truques possíveis, mas nada
tinha funcionado até então. A falta de sono estava começando a nos
esgotar. Eu tinha me oferecido a ir para o quarto de hóspedes com
ele para os homens poderem dormir, mas eles insistiram em ficar
comigo. Se um de nós ficaria acordado a noite toda, então todos
ficariam.
Eu achava que era um sacrifício idiota, mas era bom saber que
estávamos juntos nessa, para o melhor e o pior.
Mas ele tinha dormido profundamente na noite anterior! Sem
gritos à meia-noite! Eu me sentia renovada naquela manhã e tinha
acordado antes do meu alarme. Tínhamos vencido aquela etapa,
talvez.
Acariciei Rogan e aproveitei mais trinta minutos de sono feliz.
Quando meu alarme vibrou suavemente na mesa de cabeceira,
finalmente me estiquei e saí da cama. Mark estava começando a se
mexer no berço.
Brady se levantou e me beijou na nuca. “Vou arrumar as
crianças pra escola.”
“Obrigada, querido”, eu me virei para o berço. “Como vai meu
pequeno Mark?”, perguntei, levantando o bebê.
Ele fez um barulhinho e meu coração se inchou. Mesmo
quando ele interrompia nosso sono, eu amava aquele gorduchinho
com todo o meu coração. Ele era a coisa mais importante da minha
vida, de longe.
Não me lembro como as coisas eram antes dele, pensei,
enquanto o amamentava. Estávamos tentando acostumá-lo com a
papinha e felizmente ele estava aceitando bem. Naquele dia, dei a
ele purê de ervilhas com leite. Possivelmente, ele estaria comendo
só papinha em mais uma ou duas semanas.
Sua fralda estava molhada, então a troquei e o carreguei para
a cozinha. Brady estava comendo cereal com os trigêmeos, que
ainda estavam sonolentos. Somente Cora se levantou e me deu um
abraço.
“Bom dia, Heather!”, ela disse.
“Bom dia, querida!”, respondi. Rogan queria que as crianças
me chamassem de mãe, mas eu não achava que eles estavam
prontos ainda. Era um grande passo e nós ainda estávamos
tentando nos ajustar ao bebê.
Felizmente, as crianças estavam lidando com a mudança muito
bem. Dustin e Micah adoravam Mark e estavam constantemente
tentando me ajudar a cuidar dele. Assim que abri o pote de ervilhas
para Mark, Dustin enfiou na boca o resto do seu cereal até suas
bochechas ficarem como as de um esquilo. Ele conseguiu, não sei
como, mastigar e engolir tudo.
“Posso dar comida para o Mark?”, ele perguntou. “Por favor?”
“Só se você for cuidadoso e não fizer bagunça”, alertei. A
última vez que ele havia alimentado o irmão, tinha mais comida no
chão do que na sua boquinha.
Dustin correu ao longo da mesa e pegou uma colher. “Pronto
para voar, Marky?”
O bebê deu um gritinho feliz.
Dustin pegou uma colherada de papa verde do pote. “Olha o
aviãozinho, brrrrr.”
Brady piscou para mim. “Eu cuido deles, se quiser ir se
arrumar.”
Olhei no relógio. “Você se importa? Vai ser só um banho
rápido.”
Asher já estava no chuveiro quando entrei na nossa suíte. Ao
invés de ir para o outro banheiro, tirei o pijama e me juntei a ele.
“Ah”, ele exclamou quando me viu. “Olá, você. Não sabia que
você queria aprontar hoje.”
“Sim, vou me aprontar”, eu disse, amarrando o cabelo para não
molhar. “Com licença, preciso de água.”
Escorreguei para a frente dele, esfregando minha bunda contra
ele. Em segundos senti seu pau ficar duro.
“Talvez aprontar um pouquinho?”, ele perguntou.
O empurrei para mais longe. “Não. Nem um pouquinho.”
Asher enrolou uma mão em volta da minha cintura e colocou a
outra entre minhas pernas. Suspirei quando ele me esfregava em
círculos, curvando os dedos nos meus grandes lábios.
Estiquei o braço para trás e agarrei sua vara, guiando-a para
minha boceta ansiosa. Nós dois gememos suavemente, as vozes
ecoando no chuveiro enquanto nos movíamos um contra o outro,
cada vez mais rápido.
Asher colocou uma mão entre minhas escápulas e me inclinou
para a frente. Arqueei as costas para ele enfiar o mais
profundamente que pudesse, apertando meus músculos interiores
ao redor dele, ordenhando-o enquanto ele me fodia. Rapidamente
nós dois estávamos respirando ofegantes até ele finalmente enterrar
o pau o mais profundamente possível e explodir dentro de mim.
Fechei meus olhos e apreciei a sensação do seu membro grosso
me enchendo, tremendo e pulsando com cada jorrada.
Eu honestamente só queria me aprontar. Mas acabei
aprontando com ele. Planos mudam.
Falando em mudança de planos, mudei da pílula para o DIU.
Não que eu não amasse Mark, mas eu não estava pronta para outra
surpresa. Especialmente com uma carreira recém iniciada.
Depois de tomar banho e vestir roupas casuais, ajudei Rogan a
arrumar as crianças para a escola. Suas mochilas estavam limpas e
prontas para ir, mas ainda precisávamos vesti-los – porque se não
supervisionássemos, os meninos usariam suas camisetas favoritas
todos os dias – , pentear seus cabelos e nos certificar de que eles
tinham escovado os dentes.
“Vocês vão se atrasar para o ônibus!”, eu disse, pastoreando
as crianças pela porta da frente. Eu estava carregando Mark nos
braços. “Já estou vendo-o ali na rua. Corram!”
“Te amo, Heather!”, Micah disse, me abraçando. Dustin e Cora
rapidamente fizeram o mesmo e então os três correram pela nossa
cerca branca até o ponto de ônibus. Peguei a mãozinha de Mark e
acenei com ela para os irmãos.
Tínhamos nos mudado para uma casa grande no vale. Além
das peripécias matinais antes do ônibus, o resto era pacífico. E era
um bairro de verdade, diferente da residência em cima dos
escritórios.
Acenei para Georgette e Clay na casa ao lado, que entravam
no carro para irem trabalhar. Eles sorriram e acenaram de volta. No
geral, tínhamos ótimos vizinhos apesar de terem levantado uma
sobrancelha quando se deram conta de que três homens e uma
mulher viviam juntos. Ninguém tinha sido direto o suficiente para
perguntar ainda, mas eu sabia que era uma questão de tempo até
alguém do clube do livro perguntar. Ah, mencionei que eu era parte
do clube do livro do bairro? Eu estava sendo domesticada.
Quando – não se – a questão fosse colocada, eu diria a
verdade. Que eu estava num relacionamento poliamoroso com três
homens. Eu tinha a impressão de que os vizinhos aceitariam nosso
estilo de vida. Esse não seria o caso se vivêssemos no Sul, mas na
Califórnia? Sem problema nenhum. Pelo menos eu esperava que
não. Mas quem morre de véspera é peru.
Assim que os trigêmeos desapareceram de vista, um carro se
aproximou e parou na frente da casa. Maurice e Jason desceram e
caminharam pela nossa rampa.
“Como foi a noite passada?”, Jason perguntou. “Mais
problema?”
“Não – ele se comportou tão bem! Não acordou nenhuma vez!”
Jason sorriu. “Eu o esgotei com brincadeiras ontem”, ele pegou
o bebê dos meus braços. “Faremos isso de novo hoje, não faremos,
pequenino?”
Mark gargalhou e levantou uma mão. Jason devolveu o high-
five. Era algo que ele tinha ensinado ao bebê no mês anterior e
Mark adorava fazer com todo mundo.
Jason e Maurice estavam nos ajudando com as crianças – não
só os trigêmeos, Mark também. Jason tinha um talento natural com
crianças. Eu não esperava aquilo do enorme e musculoso ex-
fuzileiro, mas ele era amoroso e carinhoso como ninguém. Maurice
começou a chamá-lo de Mary Poppins, o que sempre fazia Jason
rolar os olhos.
“Você está pronta?”, Maurice me perguntou.
Acenei e disse a Jason, “Ele já comeu. Troquei a fralda quando
acordei, mas ultimamente ele tem precisado de mais uma troca no
meio da manhã.”
“Sem problemas. Diga adeus pra mamãe!”
Me inclinei e dei um beijo de tchau em Mark. Havia um raio de
luz especial nos olhos do bebê que só aparecia quando ele olhava
para mim. Ele era rodeado por homens amorosos, mas mãe é uma
só.
Sou uma mulher tão sortuda, pensei quando entrei no carro
com Maurice.
A Agência William Morris representava a nós dois.
Rapidamente após o parto, eles me ofereceram um papel recorrente
em uma série da Hulu. Eu teria que fazer o teste, mas por mera
formalidade. O papel seria meu se eu quisesse.
Rogan tinha cumprido com a palavra. Cuidei dos trigêmeos e
ele ajudou a alavancar minha carreira. Mas enquanto eu estava
grávida, não conseguia parar de pensar no que o Sr. Howard tinha
me ensinado: eu precisava andar com as próprias pernas ao invés
de receber um empurrãozinho de outra pessoa. Aquelas palavras
ficaram comigo. Eu queria merecer meu trajeto e saber que, se
conseguisse um papel, era por causa do meu talento.
Então recusei o papel na série e pedi ao meu agente que me
conseguisse papeis menores durante o primeiro ano. Maurice disse
que eu era louca, mas eu estava feliz com a escolha. Eu queria
construir meu currículo com experiências reais.
Não existem atalhos na vida ou em relacionamentos. É preciso
trabalhar, mas a recompensa é maravilhosa. Eu tinha me dado
conta disso.
Maurice e eu estávamos trabalhando juntos em um comercial
de roupas de atletismo. Era meu primeiro projeto desde antes da
gravidez e eu me sentia uma garotinha no primeiro dia na escola.
Chegamos no set e fomos enviados ao trailer-camarim para
colocarmos roupas de ginástica e tênis. Então fomos até a pista da
faculdade para começar as filmagens.
Havia várias tomadas que envolviam correr. Maurice e eu
corríamos pela pista e caminhávamos de volta ao ponto de partida.
Depois corríamos de novo. O diretor nos guiava durante as
tomadas, mas eram críticas razoáveis.
“Vamos terminar hoje definitivamente”, ele disse. “Continuem o
ótimo trabalho!”
“Estou fora de forma!”, Maurice reclamou comigo. Ele estava
agachado com as mãos no joelho, suando. “Não é justo que você
esteja mais em forma do que eu.”
Dei uma risada. “Tive que me matar fazendo exercício pra
perder os quilos da gravidez. Então não quero saber sua opinião
sobre as coisas não serem justas.”
“Vou pedir ao meu agente que encontre um comercial de
biscoitos pra mim”, ele disse ofegante. “Um que me faça sentar e
comer biscoitos o dia todo. Não me importaria em gravar múltiplas
vezes.”
Trabalhamos o dia todo e finalmente o diretor encerrou as
filmagens. Todo mundo se cumprimentou e agradeceu e eu e
Maurice fomos nos trocar.
“Você vai querer lavar isso”, Maurice disse para a figurinista.
“Está ensopado de suor. Quer saber? Eu deveria ficar com as
roupas.”
“Já me acostumei”, a garota respondeu.
Depois de nos trocarmos – e Maurice tomar um banho –
juntamos nossas coisas e saímos do trailer. Fomos imediatamente
recebidos com uma chuva de aplausos e gritos.
Levei um susto. Todo mundo estava do lado de fora do trailer:
Rogan, Brady, Asher, Cora, Micah e Dustin. Jason também aplaudia
enquanto Patty, irmã de Brady, dava o seu melhor tentando acenar e
segurar o bebê Mark no colo.
“O que vocês estão fazendo aqui?”, perguntei.
“Queríamos celebrar o início oficial da sua carreira”, Rogan
disse. Ele me abraçou apertado e adicionou. “Hoje é um grande
dia.”
“Já fiz um comercial antes”, o lembrei. “Aquele antitabagismo,
quando vocês estavam lidando com os assediadores da Amirah
Pratt.”
“Este é o seu novo começo”, Brady respondeu. “E naquela
época você era só a babá. Agora você é parte da família.”
“Você é parte da família!”, Dustin disse, imitando o pai.
Meu coração se encheu de alegria e eu abracei todos eles.
Atrás de mim, Maurice murmurou. “Já fiz quatro comerciais,
cadê minha celebração?”
“Fique quieto”, Jason disse a ele. “Não é sobre você.”
“Vamos jantar para comemorar”, Asher me disse. “Todos nós.
Para onde você quer ir?”
Olhei em volta para o grupo. “Deve ser difícil encontrar um
lugar que possa acomodar sete adultos e quatro crianças.”
“Conheço uma churrascaria em Anaheim”, disse Rogan. “É
ótimo pra famílias e tem menu infantil. Eles têm um ótimo aperitivo
de cebola em formato de flor…”
“Ei!”, eu disse. “Você está falando do Outback!”
Um sorriso invadiu os lábios de Rogan. “Ah? Você já foi lá?”
Dei um soquinho de brincadeira no seu braço. “É melhor você
estar brincando. Eu não vou comemorar no Outback.”
Brady enrolou um braço ao meu redor. “Qual é o problema do
Outback? A batata frita é ótima.”
“Eca!”, revirei os olhos.
“Ouvi dizer que o bife é excelente”, disse Asher.
“Ah, não, você também?”, eu disse. “Lembra do que te chamei
faz um tempão naquele armazém?”
Rogan me olhou de lado. “Não consigo me lembrar. O que era
mesmo?”
Com as crianças em volta eu não podia dizer exatamente o
que tinha dito, então disse: “Vou dar uma dica: rima com
mosqueteiro.”
“Não me lembro…”, Brady disse com um sorriso que me
mandava comer merda discretamente.
Os três riram e me provocaram enquanto íamos para o carro.
Para ser sincera, não era o que eu esperava da minha vida.
Ser dividida por três ex-fuzileiros? Criar seus trigêmeos? Ter meu
próprio filho maravilhoso? Se eu pudesse voltar para aquele dia do
jogo dos Lakers e dizer à Heather do passado que invadir aquela
tribuna resultaria nisso, ela não acreditaria de jeito nenhum.
Mas naquele momento eu tive certeza de que não mudaria
absolutamente nada.
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Juliana

“Meu nome é Juliana Ellersby”, eu disse do podium, “e vocês


todos provavelmente me conhecem melhor como os dedos
misteriosos em um teclado assustador.”
Houve uma explosão de gargalhadas profusas na sala.
Gargalhadas educadas. A plateia dessa sessão de intervalo da
convenção era maior do que eu esperava. Mais da metade das
cadeiras dobráveis foram organizadas em fileiras antes que
estivesse lotado. Nada mal para minha primeira apresentação na
Delfcon East, a segunda maior convenção de hackers do mundo.
Há uma esperança de não ter sido totalmente horrível.
“Não estou brincando”, eu disse com uma risada
autodepreciativa. “Sabem aquelas imagens de arquivo que eles
mostram no noticiário da manhã toda vez que falam sobre histórias
de crime virtual? Uma pessoa sem rosto digitando em um teclado
enquanto a narração sinistramente alerta sobre roubo de identidade
e proteção de dados? Aqueles dedos são meus. E pra ficar bem
claro, não é uma metáfora. Aqueles são literalmente meus dedos.”
“Eu era militar antes de migrar para o setor privado. Meu
primeiro trabalho real foi como estagiária no Grupo de Consultoria
de Segurança Virtual, o GCSV. Na minha primeira semana de
estágio, o jornal local veio entrevistar meu chefe sobre um grande
vazamento de dados em uma empresa local. Eu estava ocupada,
fazendo meu trabalho alegremente quando o operador câmera fazia
vídeos. Acontece que ele deu zoom nas minhas mãos enquanto eu
digitava e voilà!”, estalei meus dedos. “Fiquei famosa.”
A plateia riu mais genuinamente. O alívio se espalhou pelo
meu corpo como água apagando incêndio. “Eu não estava nem
fazendo coisas interessantes!”, continuei. “Só processamento de
dados estúpidos. Lembrem-se da próxima vez que virem alguma
história com aquela abertura: não é um hacker. É só uma estagiária
criando fórmulas no Excel!”
A audiência me surpreendeu com um pouco de aplausos.
Aplausos legítimos, não só por educação para agradar alguém que
está se esforçando. Meu chefe fez um grande sinal de positivo da
primeira fila.
“E essa é uma grande metáfora para segurança virtual em
geral”, continuei. “Metade do que o mundo vê é impreciso e nada do
que o mundo ouve está correto. Isso torna o trabalho de explicar os
meandros – e a importância! – da segurança das redes
incrivelmente difícil. E isso faz parte da minha especialidade no
Grupo de Consultoria de Segurança Virtual. Educar sobre
segurança virtual. Porque não podemos proteger os ambientes
corporativos se não convencermos os acionistas de que isso é
importante.
Iniciei minha apresentação formal na tela projetada. Falar para
uma plateia de estranhos ficou mais fácil depois que quebrei o gelo
fazendo piada. Meu chefe, Sr. Pendleton, estava certo sobre aquilo.
Eu me sentia mais calma, relaxada. Tinha cativado o público.
Eu trabalhava para o GCSV fazia quatro anos, mas naquela
época eu havia crescido rapidamente. O Sr. Pendleton não se
importava com meu histórico de trabalho fraco nem com minha
vergonhosa baixa do exército. E como eu era estagiária, me matava
de trabalhar com o intuito de ser contratada efetivamente como
Analista de Segurança de Rede. Meu chefe gostava de me chamar
da flecha mais afiada da aljava do GCSV e eu sabia que era só para
inflar meu ego.
Outras companhias nos contratavam para avaliar suas redes e
apontar todas as vulnerabilidades que permitiriam invasões. Nos
últimos 30 anos, a humanidade substituiu todos os dados físicos por
armazenamento em nuvem ou servidores locais. Assim,
espionagem corporativa era a maior ameaça que a maioria das
empresas podia encarar. Não apenas por parte da concorrência,
mas oriunda de países como a Rússia e a China. A tecnologia se
movia tão rápido que, de repente, a maiorias das empresas estava
num grande pique-pega com a segurança virtual.
Por causa disso, os negócios do GCSV estavam em alta. Tão
em alta que o Sr. Pendleton estava investindo dinheiro não só para
estar presente nessas convenções de hackers, mas também para
se apresentar nelas. Um preço baixo a se pagar por marketing
gratuito para nossa empresa de consultoria.
“Agora vou mostrar a vocês um truque que aprendi para
convencer o pessoal não-técnico de que eles estão vulneráveis”, eu
disse, tirando o celular do bolso. “Tenho um aplicativo de
transmissão de dispositivo de varredura de portas no meu telefone.
Desenvolvido de forma personalizada pelas mentes brilhantes do
GCSV. Ele coleta dados de todos as redes Wi-Fi e dos pontos de
acesso das redondezas, assim como quaisquer dispositivos com
Bluetooth desprotegidos. Claro, isso é uma convenção de hackers,
então alguns de vocês estão provavelmente transmitindo para atrair
curiosos para a conexão, mas o resto…”
Abri o aplicativo e naveguei até a seção de pareamento de
Bluetooth. Telefones com o Bluetooth ativado constantemente
enviavam o sinal de “rede aberta” para tentar se conectar a outros
dispositivos. Era razoavelmente seguro, eu não conseguia roubar o
sinal e executar comandos remotos no dispositivo. Mas havia outros
muitos dados interessantes que eu podia ver…
“O dono do dispositivo Telefone do Sam poderia ficar de pé,
por favor?”, disse, quando encontrei um bom candidato pelo
aplicativo. “Sam Driscoll, eu acho…”
Um homem careca usando um casaco esportivo se levantou na
terceira fila. “Eu sou o Sam!”, ele disse, levantando a mão
nervosamente.
“Você se importa se eu te usar na demonstração?”, perguntei.
“Prometo não usar nada muito constrangedor.”
Ele hesitou. Ninguém queria parecer vulnerável na frente dos
colegas, especialmente num evento como esse. Mas Sam também
não queria que pensassem que ele tinha algo a esconder, e seus
colegas de trabalho que estavam próximos dele estavam-no
estimulando a ir em frente, então ele disse, “Sim, claro, faça o pior
que puder.”
“Pelo simples sinal de Bluetooth que você está emitindo, eu sei
o nome associado ao seu ID Apple: Sam Driscoll. Posso ver os três
sinais de Wi-Fi aos quais você se conecta com mais frequência:
Casa-2G, Casa-5G e WellsFargoHQ. Oh-oh, você trabalha no Wells
Fargo?”
Eu esperava que ele dissesse que era um dos caras da TI, ou
um Engenheiro de Redes. Ele limpou a garganta e disse com a voz
baixa, “Eu sou CFO Adjunto.”
Algumas arfadas e risadinhas nervosas se espalharam na
audiência. Caramba, é melhor eu não revelar muito ou a Agência
Reguladora do Mercado vai bater na minha porta segunda-feira.
“Bom, Sam Driscoll, se eu fosse um hacker, eu saberia que
você trabalha para um dos maiores bancos do país. Você é um alvo
perfeito. Talvez eu cave mais fundo no seu telefone ou me concentre
no laptop que está conectado a ele. Eu não vou dar nenhuma
informação em voz alta, mas tenho o nome do computador, o
endereço do MAC e o número de série aqui comigo. Muita
informação para começar a verificar portas e tentar tirar proveito. Ou
talvez eu possa enviar campanhas fraudulentas para o e-mail
registrado no ID Apple. Eu tenho até os dados do seu cartão SIM,
algo que um hacker especialista em corporações pode usar para
rastrear onde você está se algum dos seus aplicativos de serviço de
localização estiver sendo usado.” Rolei a tela do meu aplicativo para
baixo. “Ah, aqui está uma informação que posso revelar. A última
música que você ouviu no carro foi Poker Face, da Lady Gaga. Bom
gosto!”
A plateia riu. Eu estava com medo de ter ido longe demais,
mas os colegas de Sam também estavam rindo e dando
empurrõezinhos nele como se essa fosse uma conversa que eles já
tinham tido muitas vezes antes.
“Uma salva de palmas para o nosso gracioso rato de
laboratório, senhoras e senhores”, eu disse. “E Sam: se você
precisar de ajuda para bloquear suas configurações de transmissão,
ligue para o GCSV e teremos o prazer em te oferecer uma
consultoria gratuita.”
Quando a plateia parou de bater palma, prossegui com meus
slides. Eu os tinha praticado por horas e horas então era fácil. E
mesmo que o final tenha sido um pouco estranho, fui aclamada com
palmas. Ainda não tinha acabado, porque um microfone estava
disponível na plateia e uma fila se formava para a seção de
perguntas e respostas.
Essa era a parte que eu mais temia.
“Hm… Olá!”, o primeiro cara começou, com a voz monótona.
“Tenho uma pergunta sobre encaminhamento de porta de firewall e
os aspectos do…”
Uma diversidade interessante de pessoas costumava
comparecer a estas convenções de hackers. Havia dois tipos
genéricos: profissionais da indústria que queriam tornar seu
ambiente mais seguro e entusiastas que podiam ou não ter más
intenções. Esses hackers eram coloquialmente organizados em dois
grupos: Hackers de Chapéu Branco e Hackers de Chapéu Preto.
Havia várias pessoas do primeiro grupo na Defcon East.
Pessoas que usavam suas habilidades para melhorar a segurança
para empresas ou agências do governo. Respondi logo de cara
perguntas sobre o que fazer quando o CEO se recusasse a alocar
um orçamento adequado para segurança em TI, a melhor maneira
de convencê-los e como proteger um ambiente com a menor
quantidade possível de dinheiro. Na sequência, o dono de uma
gráfica nos arredores de Boston, que não tinha a menor ideia de
como começar a proteger seus 15 computadores, perguntou como
saber se os Chineses tinham hackeado seu equipamento de
impressão para piratear seus livros para o exterior.
Os Hackers de Chapéu Preto, por sua vez, eram mais
perversos. Eles iam de crianças habilidosas o suficiente para copiar
e colar um Cavalo de Tróia ou outro vírus de alguém em uma rede
compartilhada até os hackers mais experientes que procuravam
pelas menores vulnerabilidades dos sistemas operacionais e então
vendiam as falhas para grupos maiores de hackers ou outros
países. O tipo de pessoa que, quando pega, recebia sentenças
maiores do que pedófilos.
Os Chapéus Pretos não eram mais muito comuns nessas
convenções como costumavam ser. Primeiro porque o preço tinha
se tornado limitante: o passe para um fim de semana antes custava
$100 agora custava $2.500, o que era difícil para alguém que tinha
como hobby invadir sistemas pagar. Segundo porque as pessoas
acreditavam que a Agência de Segurança Nacional – e outras
parecidas – ficavam de olho em quem frequentava essas
convenções e acrescentavam seus nomes nas listas de vigilância.
Eu não tinha certeza se acreditava ou não. Tampouco sabia ao certo
se queria acreditar naquilo.
Mas independentemente do tipo de hacker que frequentava as
convenções, era trivial distingui-os. Os Chapéus Brancos usavam
ternos e carregavam imaculados laptops debaixo dos braços, em
pastas de couro caríssimas. Os Chapéus Pretos eram mais o tipo
estereotipado de hacker adolescente que vive no porão dos pais.
Moletom preto, cabelo ensebado, acne e um laptop coberto por
adesivos de convenções ou festivais de música. A diferença entre
os dois grupos ficava gritante e óbvia quando eu ouvia suas
perguntas. Mas então alguém que eu não consegui classificar tomou
o microfone.
Ele era o homem mais musculoso que eu havia visto na vida.
Usava uma camisa polo azul enfiada dentro de seus jeans e,
mesmo que ela fosse XXG, os músculos ainda se apertavam ali
dentro. Ele tinha o cabelo loiro ondulado e um rosto de modelo. No
geral, ele não era nada parecido com os Chapéus Pretos ou
Brancos. Totalmente deslocado naquela convenção.
“Oi”, ele disse, com a voz profunda e imponente. “Eu tenho
uma pergunta…”
Militar, talvez? Ele parecia um oficial que estava ali para obter
informações, apesar dos técnicos militares insistirem em usar farda
nestes eventos para que todos soubessem quem eles eram.
“Que bom, porque essa é a premissa para que eu possa te dar
uma resposta!”, eu disse, me sentindo orgulhosa de mim mesma por
fazer uma piadinha. “Pergunte”.
“Como você entrou nesse ramo?”
Respirei profundamente. “Bom, existem mil maneiras de se
tornar um Analista de Segurança de Rede. A forma mais simples é
entrar na faculdade…”
“Me desculpe”, ele interrompeu com aquela voz profunda e
suave. “Eu não quis dizer no geral. Eu me referia especificamente a
você, Juliana Ellersby. Como você entrou neste ramo? O que te fez
se interessar em segurança de computadores?”
Dei uma gargalhada, “Bem, fui sortuda o suficiente para
conseguir um estágio no GCSV e então comecei a faculdade à noite
para ter um diploma.”
“Mas antes disso”, ele insistiu. Jesus, a maneira como ele
segurava o microfone… “Você deve ter se interessado por isso
quando era mais nova. Você fez coisas interessantes antes de virar
uma autoridade?”
Dei outra gargalhada porque não queria responder
honestamente. “Eu me interessava por computadores muito antes
do GCSV, claro, mas nada muito interessante.”
Uma das coordenadoras da convenção caminhou no palco e
acenou para mim. Ela ligou o próprio microfone e disse “Sinto dizer
que o tempo que tínhamos para a Senhorita Ellersby acabou. Por
favor, outra salva de palmas por sua apresentação! A seguir, na sala
181 teremos uma sessão sobre listas de permissões para portas de
firewall e boas práticas. Essa é uma sessão fechada, então todos
devem se retirar e entrar novamente apresentando os crachás
apropriados…”
Comecei a organizar meu laptop, desconectando-o do projetor
atrás do palco. Coloquei-o na minha bolsa e pendurei-a no ombro,
caminhando para a saída do palco e me sentindo muito bem comigo
mesma.
Dei um último passo para sair da plateia. O cara lindo da última
pergunta ainda estava lá, me olhando com um sorriso no rosto.

Tentação Tripla
Cassie Cole é uma escritora de Romances de Harém Reverso
que vive em Forth Worth, no Texas. Uma apaixonada piegas de
coração, acredita que romances são melhores com um enredo
picante!

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Uma Babá Colorida
Tentação Tripla
Uma babá para los Fuzileiros

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