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Sinopse

Elaina Duval vivia uma vida perfeitamente feliz e normal com a sua mãe -
bom, pelo menos até o dia em que ela completou dezoito anos. No seu
aniversário, ela descobriu que foi prometida ao cruel e malvado
Valentino Acerbi, que em breve se tomaria chefe da máfia italiana. Sem
poder escolher ou dar a sua opinião sobre o assunto, ela é arrastada para
o mundo distorcido dele e é forçada a suportar coisas que nenhum ser
humano deveria ter que fazer, mas... e se ela começar a gostar?
Classificação etária: 18+ (Aviso de conteúdo: violência, abuso sexual,
estupro, tráfico de pessoas) Autor Original: Cassandra Rock
Livro sem Revisão
E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD
https://t.me/GalateaLivros

Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda


Livro Um – Mentes Perversas
Capítulo 1
ELAINA

Você está feliz?


Eu sei que essa é uma pergunta ridícula, mas realmente pense nisso só
por um segundo. Você está feliz?
Se estiver, segure esse sentimento o máximo que puder, porque eu
aprendi que, na verdade, nem todas as coisas felizes na vida duram para
sempre.
Nem mesmo eu, sendo uma garota normal de Ohio, poderia ser feliz
para sempre depois de viver o que eu pensava ser uma vida normal.
Apesar de eu não ter um pai, a minha mãe e eu sempre fomos bem
próximas.
Mas ser uma garota abandonada pelo pai não deveria condenar a
minha vida. Muitas pessoas têm apenas um dos pais na vida e acabam
bem. Eu também poderia acabar bem.
Durante toda a minha vida, fomos só eu e minha mãe, ela é uma a
mulher obstinada e estava focada em criar a sua única filha.
A minha mãe é dona de uma confeitaria chamada Duval's Cakes e,
logo depois de me formar no ensino médio, passei o verão lá dando uma
mão para ela.
Eu estava colocando o glacê ao redor de um bolo de formatura que
alguém encomendou e, quando estava prestes a dar os toques finais, as
luzes da confeitaria se apagaram.
— Mãe? — Eu perguntei, levantando a minha cabeça e tentando ter
uma visão clara, mas tudo estava escuro demais.
A porta da confeitaria se abriu e o rosto da minha mãe e da minha
melhor amiga Kira, foram iluminados pela luz de velas.
Eles começaram a cantar — Parabéns pra você — enquanto ela se
dirigia a mim, o que me fez rir e deixar a cobertura do bolo de lado.
— Faça um desejo, Elaina, — Kira disse para mim.
Hoje é meu aniversário de dezoito anos, o dia em que devo me tomar
adulta, e esse deve ser o dia mais feliz da minha vida.
Eu não tinha pensado muito nisso. Foquei em trabalhar na
confeitaria, mas ter a Kira e a minha mãe aqui me deu vontade de
comemorar.
Fechei os olhos e pensei em um desejo antes de apagar as velas. Eu
não desejei nada, porque naquele momento, eu não precisava de nada.
Eu já tinha tudo o que queria.
Eu havia construído a minha vida do jeito que queria que ela fosse, e
nenhum desejo mágico mudaria isso; só novas ações minhas poderiam
mudar a minha vida.
Quando abri os meus olhos, sorri para minha mãe e Kira. — Vamos
cortar o bolo?
Sentamos juntas em uma pequena mesa na confeitaria que ficava
perto da janela. Como estávamos fechados a essa hora, tínhamos todo o
lugar só para nós, e a privacidade era boa.
Enquanto saboreamos o bolo fresco que a minha mãe fez para mim,
ela e a Kira também me deram os seus presentes de aniversário.
A Kira me deu um bracelete com pingente de melhores amigas, e
minha mãe me deu uma edição limitada de O Grande Gatsby, que por
acaso era meu romance favorito.
— Também estou tentando conseguir ingressos para o show do
Pitbull, — explicou Kira, parecendo desapontada. — Eles estão
esgotados, mas talvez eu consiga alguns para o show em Nova York.
Meu queixo caiu de emoção. — Você está brincando? Kira!
Minha mãe simplesmente balançou a cabeça. — Não. Desculpe, mas
eu não deixo você sair de Ohio, Elaina.
— O quê? — Eu perguntei.
— É isso mesmo, você não vai sair de Ohio. Vá no show, mas apenas se
for aqui no nosso estado... — Ela pigarreou. — Eu, uh... não me sinto
confortável em te deixar ir para tão longe.
Parecia altamente injusto que ela sentisse que tinha esse tipo de
controle sobre a minha vida, especialmente agora que legalmente ela não
tinha mesmo.
— Mãe, eu tenho dezoito anos agora. Eu sou uma adulta, — eu
expliquei a ela o mais educadamente que pude. — Eu ficarei bem. A Kira
ainda nem tem certeza se vai conseguir os ingressos.
O olhar da minha mãe encontrou o de Kira. — Eu digo gentilmente a
Kira para não desperdiçar o dinheiro porque você não vai sair do estado.
Nunca.
Eu não tinha a intenção de ficar em Ohio para sempre. Eu planejava
estudar em outro lugar e fugir desta cidade.
Mas a maneira como a minha mãe disse isso me fez sentir presa, e eu
só poderia me perguntar sobre o significado por trás de suas palavras.
A falta de controle que ela tinha sobre mim agora que eu tinha dezoito
anos parecia assustá-la. Embora ela não admitisse, eu podia ver isso em
seus olhos.
Kira pigarreou, desconfortável. — Eu preciso ir para casa. Eu tenho
uma... coisa amanhã.
Ela estava fugindo - algo que eu gostaria de fazer, também. Eu não
sabia por que a minha mãe era tão inflexível sobre isso, mas eu sabia que
ela estava sendo mais do que super protetora comigo.
*
Sentei-me na cama no dia seguinte, ainda tentando entender o
raciocínio da minha mãe por trás de seu comportamento controlador
controle. Quando pensei melhor, percebi que ela sempre foi assim.
No primeiro ano do Ensino Médio, a minha turma fez uma viagem ao
Canadá para explorar as Cataratas do Niágara, mas eu não tive permissão
para ir.
No aniversário de dezesseis anos da Kira, os pais dela levaram suas
três amigas mais próximas ao Mardi Gras em Nova Orleans, mas a minha
mãe se recusou a me deixar ir.
Era um ciclo sem fim, e agora que eu tinha dezoito anos, ela não podia
mais me impedir de experimentar as coisas que eu queria aproveitar na
vida.
Meu telefone vibrou com uma mensagem de Kira.
Kira: Me diga que você vai à sua própria festa de aniversário.
Eu sorri para mim mesma. Ela estava dando uma festa de aniversário
para mim que, felizmente, era aqui em Ohio, então eu poderia
comparecer sem que a minha mãe ficasse furiosa e me proibisse de ir.
Claro que eu iria - a festa era para mim, não importa o quanto eu não
tivesse vontade de comemorar. A felicidade e empolgação simplesmente
não existiam agora que eu estava sentindo todo o estresse da minha mãe.
Ela ficou magoada com as minhas palavras ontem, embora eu tenha
ficado magoada por ela me impedir de fazer coisas que todos os
adolescentes da minha idade fazem - coisas que legalmente ela não tinha
o direito de me impedir.
Apesar de tudo, ela era a minha mãe e eu respeitava a sua opinião,
então não necessariamente eu iria desafiá-la.
Quando me levantei da cama, decidi ir até a minha mãe e dizer a ela
que iria à minha festa de aniversário esta noite.
A minha esperança era que pudéssemos simplesmente superar essa
negatividade hoje, no meu aniversário, e discutir todo o resto mais tarde.
Desci correndo os degraus que levavam ao saguão de nossa pequena
casa. — Mãe? Kira está dando uma festa de aniversário para mim. Eu vou
t...
Parei quando notei a minha mãe no corredor com três homens que eu
nunca tinha visto antes - pelo menos, não que eu me lembrasse. Ela não
parecia feliz em vê-los, e eles estavam vestidos de uma forma
extremamente formal.
Talvez se tratasse de um pedido de bolo, mas nós não estávamos na
loja, e as visitas domiciliares não eram assim, esquisitas.
— Mãe? — Eu perguntei enquanto dava o passo final, alcançando o
chão e olhando para as feições nervosas de minha mãe.
— Elaina, vá lá para cima, — minha mãe respondeu rapidamente
antes que um dos homens a interrompesse.
— Não, não. Isso não é necessário, Fiona. Deixe a Elaina ficar. Tenho
certeza que ela está muito curiosa. — O homem falava com um sotaque
forte que parecia europeu.
Enquanto os outros dois homens permaneceram em silêncio, o
homem que parecia estar comandando o show continuou, — Ah, doce
Elaina. Você não tem a menor ideia, não é?
Ele deu um passo mais perto em minha direção e eu hesitantemente
dei um passo para trás, olhando para a minha mãe, que rapidamente deu
um passo à frente para impedi-lo de se aproximar de mim.
— Vadim...
— Não me interrompa, Fiona. Não quando estou falando com a
minha filha. — O homem, esse tal de Vadim, sorriu sombriamente para
mim. — Isso mesmo, querida. Eu sou o seu pai.
Meu pai? Meus olhos mortificados encontraram os da minha mãe. Ela
parecia arrasada, mas não negou nada. Na verdade, ela parecia chocada
por eu ter descoberto dessa forma.
— Mãe! Ele está mentindo... — eu disse, e quando ela não disse nada,
eu levantei a voz novamente. — Mãe!
— Ah, que cara de pau. Você puxou isso de mim, — Vadim disse com
um tom divertido. — Vamos conversar, minha querida.
— Não vamos nada gritei com ele. — Saia da minha casa!
Virei-me para subir as escadas correndo, sem ter nem um simples
momento para entender tudo isso antes de sentir um braço agarrar meu
pulso com força e me puxar de volta.
— Não fale comigo dessa maneira, — Vadim repreendeu em um tom
extremamente severo, mas seus olhos gelados perfuraram os meus como
se ele tivesse algum tipo de autoridade sobre mim.
Eu apenas o encarei, a minha mãe ficou parada sem dizer uma palavra,
enquanto os outros dois homens permaneceram em silêncio enquanto
meu pai de repente apareceu do nada.
— Por que você está aqui? — Eu perguntei a ele baixinho. — Por que
agora?
Ele franziu a testa como se eu tivesse acabado de fazer a pergunta
mais ridícula do mundo. — A sua mãe sabia que eu estava vindo. Este
sempre foi o plano, Elaina. Você tem dezoito anos agora.
— O que ter dezoito anos tem a ver com isso? Ainda ontem, eu tinha
dezessete anos. Um dia não faz diferença. — Tentei argumentar, mas
parecia impossível.
— Sim, faz diferença sim.
— Vadim, por favor, deixe-me falar com ela primeiro, — minha mãe
implorou a ele, e eu a encarei confusa. Por que ela estava se curvando
para esse homem nojento? Ele parecia terrível.
Ele simplesmente levantou a mão para silenciá-la antes de continuar.
— Você teve dezoito anos para falar com ela, Fiona. Ela é minha agora.
— Sua? — Meus olhos se arregalaram antes de Vadim começar a falar
em um idioma que eu assumi ser russo. Ele parecia russo, com base no
sotaque, e tinha muitas características semelhantes.
Não sou de estereotipar, mas a linguagem foi difícil de entender.
Se ele é biologicamente meu pai, então tenho sangue russo.
Depois de seu discurso retórico em sua língua, um dos homens
caminhou na minha direção e me segurou com firmeza para que eu não
pudesse me mover enquanto o outro impedia a minha mãe de fazer
qualquer coisa.
Isso não pode ser real. Deve ser alguma piada.
— Olha, Elaina, a sua mãe sabia que ela só teria você por dezoito
anos... — Vadim explicou para mim.
— Eu tenho mantido vocês duas financeiramente com a condição de
que quando você fizer dezoito anos, você venha comigo.
Mas por que ele me queria agora e por que a minha mãe concordou
com isso? Por toda a minha vida, a minha mãe sabia que estava perdendo
tempo comigo, e ela não fez nenhuma tentativa de me contar.
Olhei para a minha mãe, que tinha lágrimas rolando pelo rosto
enquanto murmurava as palavras: — Me desculpe.
Me desculpe? Ela está falando sério. Quer se desculpar depois disso?
— Eu não quero ir. Então, eu gentilmente rejeito a sua oferta, — eu
disse a Vadim, lutando contra as garras do outro homem.
— Elaina, você precisa ouvi-lo, — a minha mãe me avisou, mas eu
estava cansada de ouvir a voz mentirosa dela.
Ela armou para mim. Eu poderia ter fugido ou tentado me esconder
desse homem que supostamente era meu pai, mas agora, eu estava presa
por Deus sabe lá quanto tempo.
Vadim ergueu o meu queixo e deu um sorriso de gelar os ossos. —
Querida, você não tem ideia de com quem está falando, não é?
— Meu pai é que não é, — eu respondi, desviando o olhar dele, para
logo em seguida ter o meu queixo puxado para trás rapidamente, o que
me pegou de surpresa.
Ele me encarou, o silêncio encheu a sala por um período mortal, o que
pode ter parecido até mais dramático para ele, mas para mim foi um
momento terrível em que eu não tinha ideia do que esperar.
— Eu sou Vadim Vasiliev, líder da Máfia Russa, minha querida. O que
faz de você a minha única filha, Elaina Vasiliev.
Escuridão. Foi isso - tudo ficou escuro. Mas não do jeito que você
pensa. Eu não desmaiei. Eu não fiquei tão chocada a ponto de cair no
chão em completo desânimo.
Quando a minha visão escureceu, senti uma picada na lateral do
corpo, uma sensação semelhante à que você tem quando faz exames de
sangue ou toma uma vacina.
Depois de ouvir que o homem à minha frente alegava ser da máfia
russa, eles injetaram em mim alguma coisa que imediatamente me fez
desmaiar, e foi isso.
Capítulo 2
ELAINA

— Depressa, querida. Precisamos sair. — Minha mãe estava me


apressando, mas eu não tinha ideia do porquê. Tudo estava bem quando fui
para a cama. Tudo estava sempre bem.
Eu assisti da minha cabeceira enquanto minha mãe colocava algumas das
minhas roupas em uma mala, e tudo que eu consegui dizer foi: — Estamos
indo embora, mamãe?
Ela olhou para mim e a sua expressão me assustou. Ela parecia
assustada. Se mamãe estava com medo, eu também deveria estar. Era ela
quem deveria me proteger.
— Vamos rapidinho.
— Mas, por quê? Eu não quero ir.
Eu rapidamente peguei o coelhinho de pelúcia da minha cama,
segurando-o com força em meus braços. Se eu fosse forçada a sair de casa,
sendo apenas uma criança de quatro anos, eu precisava do meu coelhinho de
pelúcia.
— Eu prometo que tudo fará sentido uma hora, — minha mãe disse para
mim antes de pegar na minha mão e me conduzir escada abaixo, eu ainda
estava usando o meu pijama.
Já havia uma mala esperando. Deve ser da mamãe. Embora ela tenha dito
que faria sentido um dia, agora tudo estava tão confuso.
— Vou levar as nossas malas para o carro. Você espera aqui, ok? — ela me
disse, e eu respondi com um simples aceno de cabeça.
Eu assisti enquanto a minha mãe pegava a sua mala e destrancava a
porta.
Logo que ela abriu a porta da frente percebemos que um homem alto
estava esperando. Sua presença a apavorava, fazendo-a gritar e dar um passo
para trás.
— O que eu disse, Fiona? Você não tem como fugir. Sempre estarei um
passo à frente, — o homem assustador riu antes de olhar para mim. — Volte
a dormir, Elaina. Você e a sua mãe não vão a lugar nenhum.
Eu abri meus olhos e vi um quarto desconhecido. Era grande e muito
espaçoso. Eu não precisava da metade desse espaço, mas essa era a última
das minhas preocupações.
Eu não estava em casa e não tinha ideia de onde estava.
Deslizando com cuidado para fora da cama, me levantei com cuidado
e caminhei até a porta. Alguém pode estar do outro lado. Vadim pode
estar do outro lado.
Mas a porta parecia a única saída neste momento.
Tentei abrir a porta, mas estava trancada por fora. Mesmo depois de
puxar e sacudir a maçaneta, ela não se mexeu, então comecei a bater na
porta, furiosamente.
Isso era uma loucura. A minha vida estava completamente de cabeça
para baixo por motivos que eu não entendia.
De repente, a porta foi aberta, fazendo-me cair no chão.
Eu olhei para cima e vi um dos homens que estava na minha casa
antes de eu desmaiar. Ele ainda estava vestido com um temo e não estava
sorrindo.
— Seu pai quer ver você.
— Ele não é meu pai, — respondi, sem realmente pensar nas
consequências.
Ele não respondeu, apenas acenando com a cabeça para que eu me
levantasse. — Lá em cima.
Você não tem que ouvi-lo é o que eu continuei a dizer a mim mesma,
mas isso ia contra o meu bom senso. Claro que eu tinha. Se essas fossem
as pessoas que Vadim disse que eram, eu poderia estar correndo perigo.
Eu não tinha ideia de como consegui me colocar nessa situação, assim
como não tinha ideia de como sairia.
Eu me levantei do chão e segui atrás do homem enquanto ele me
conduzia pelo corredor. O corredor era longo, ligeiramente escuro e nada
acolhedor, na minha opinião.
O chão era coberto com tapete vermelho, e eu sempre achei que
tapete vermelho era um tipo de decoração chique ou nobre. Mas esse é o
meu ponto de vista.
Havia várias portas ao longo do corredor, o que me fez pensar quantas
pessoas viviam aqui e onde exatamente aqui ficava. Parecia gigantesco.
Ninguém em Ohio tinha uma casa tão grande.
O homem parou em frente a uma porta bem maior do que as outras e
bateu. — Senhor, é o Viktor.
Eu ouvi Vadim responder: — Entre, Viktor. — Viktor abriu a porta e
Vadim estava sentado atrás de uma grande mesa avermelhada,
escrevendo coisas como se fosse um homem de negócios.
Mas o que fez meu coração congelar foi a arma que notei casualmente
em cima de sua mesa.
— Adorável, não é?
Eu olhei para cima depois de perceber que estava olhando para a
arma. — EU...
— Aposto que você está se perguntando: 'Ele matou pessoas com
aquela arma? ' ou, 'Ele estava realmente dizendo a verdade? '
— Bem, minha querida, a resposta para ambas as perguntas é sim, —
disse Vadim com um sorriso orgulhoso no rosto antes de pousar a caneta.
— Dê-nos um momento a sós, Viktor?
Viktor acenou com a cabeça e saiu da sala. Agora, éramos apenas
Vadim e eu, junto com aquela arma de prata aterrorizante que eu não
conseguia parar de olhar.
— Sente-se, Elaina. Temos muito o que conversar. — Ele apontou
para o assento à sua frente. Quando ele pegou a arma, eu imediatamente
recuei, o que fez com que uma risada escapasse de seus lábios diabólicos.
— Você não pode pensar seriamente que eu trouxe você até aqui para
te matar? Sente-se, Elaina. Não vou pedir de novo.
Até aqui? A que distância estávamos?
Eu lentamente me sentei em uma cadeira que estava posicionada na
frente de sua mesa, colocando as minhas mãos no meu colo. — Onde...
onde estamos?
— Enquanto você estava cochilando, eu te trouxe para casa em
Chicago, — ele respondeu, fazendo meus olhos se arregalarem.
Meu coração disparou quando a ficha caiu. Isso foi um sequestro. Eu
nem estava mais no mesmo estado.
— Onde está a minha mãe?
— Não se preocupe com ela. Ela está bem... por enquanto. Contanto
que você siga as instruções, a sua mãe não será prejudicada, — Vadim me
assegurou, mas eu não sabia quais instruções eu tinha que seguir, e isso
me preocupava.
— Que instruções?
Ele se levantou de sua mesa e deu a volta para chegar ao meu lado. —
O que importa em nossa empresa familiar é a confiança, Elaina. Isso e os
títulos.
— Precisamos ter relacionamentos próximos com o maior número
possível de pessoas, pessoas fortes para o nosso benefício.
Ele se referia a essas coisas da Máfia como se fosse um negócio de
família, algo de que se orgulhar. Era criminoso e ninguém os estava
impedindo.
Se eles são uma máfia, onde diabos está a polícia?
— Estamos criando laços com os italianos. É uma oportunidade
fantástica e uma grande mudança de poder, — ele continuou, mas eu não
tinha ideia de como isso me envolvia.
— O chefe da máfia italiana é Marco Acerbi. Você sabe o que Acerbi
significa, Elaina?
Eu simplesmente balancei minha cabeça.
— Significa severo. Eles são pessoas fortes - eles vivem de acordo com o
seu sobrenome. Precisamos da parceria deles. — Vadim ergueu o meu
queixo para me fazer olhar para ele antes de dizer casualmente: — Para
conseguir isso, as nossas famílias devem se unir.
— Você vai se casar com o filho de Marco, Valentino.
Surreal.
A minha boca se abriu, e eu olhei para ele com choque completo em
meus olhos antes de dizer em um tom inflexível, — Não.
Antes que eu pudesse perceber o quão estúpida eu fui por responder a
este estranho perigoso, as costas de sua mão encontraram meu rosto e eu
segurei o braço da cadeira para me apoiar.
Não fale comigo desse jeito. Você vai me respeitar, e quando os
Acerbis vierem esta noite, você vai respeitá-los também. — Ele estava
olhando para mim agora e falando por entre os dentes.
Meu rosto estava queimando e eu sabia que uma marca seria deixada
com base na dor que sentia. Nunca na minha vida eu tinha apanhado
antes. Nem da minha mãe, nem mesmo de uma criança na escola. Esta
foi a primeira vez.
Eles estavam vindo aqui. Os italianos. Eu estava presa em uma casa
cheia de mafiosos que me usavam como peão em seus negócios pessoais.
Vadim se referia a eles como pessoas rudes, o que não fazia com que
conhecê-los parecesse mais fácil.
Ele ia me forçar a casar com um estranho, um criminoso, tudo para
criar laços dentro de algum negócio ilegal.
A minha vida adulta não começou no dia em que fiz dezoito anos; a
minha vida inteira acabou.
*
Vadim enviou um vestido para o quarto em que acordei mais cedo no
mesmo dia para que eu pudesse me preparar para o jantar com os
Acerbis.
Ele estava praticamente me envolvendo como um presente e
colocando um laço em mim para eles. Parecia algum tipo de comércio
sexual.
Pensar que de alguma forma, neste mundo doentio e distorcido, ele
era biologicamente meu pai, me dava mais nojo.
Ele não tinha um único osso paterno em seu corpo. Era tudo sobre
poder, mas, novamente, isso é o que a Máfia deveria ser, pelo que eu sei.
Até agora, eu nem sabia que a Máfia ainda existia. Sempre pensei que
eles desapareceram nos anos setenta ou oitenta.
Eu parei na frente de um espelho que foi colocado no quarto, olhando
para o vestido e profundamente preocupada com o fato de ele me servir
perfeitamente. Não era muito pequeno, nem muito grande. Era do
tamanho perfeito.
O tecido preto abraçou meu corpo e caiu um pouco acima do meu
joelho, mostrando um ligeiro decote.
Preto não é exatamente a cor que eu teria escolhido para a ocasião.
Isso me fez sentir como se estivesse indo a um funeral - mas, na real,
poderia ser o meu funeral.
Ouvi uma batida na porta e eu olhei para ela nervosamente. — Sim?
Quando a porta se abriu ligeiramente, Viktor deu um passo para trás.
— Se apresse. Os Acerbis chegaram.
— Uh... aqui tem alguma maquiagem? — Era uma pergunta ridícula,
eu estava bem ciente, mas o grande hematoma no meu rosto do tapa que
Vadim tinha me dado era bem visível.
Se eu tivesse base para cobrir isso seria melhor.
Viktor revirou os olhos. — Olha, princesa, seu pai não trouxe você
aqui para mimá-la. Você tem dois minutos.
Eu já estava bem ciente disso: ele não era pai; ele era um empresário.
Eu não queria me casar, mas também queria que a minha mãe ficasse
segura.
Então, agora, eu tinha que descer e jantar com um grupo de maníacos
que tinham armas presas aos quadris.
Não haveria nenhum conforto naquela situação, mas era algo com que
fui forçada a conviver até que pudesse encontrar uma saída - e eu
encontraria uma saída.
Eu ajustei o meu longo cabelo castanho, mantendo-o básico e solto.
Não era como se eu tivesse algo com que trabalhar e não tivesse intenção
de impressionar ninguém. Isso era o melhor que dava pra fazer.
Quando abri a porta, Viktor estava esperando impacientemente por
mim e começou a me conduzir escada abaixo sem dizer uma palavra.
Ele era bastante intimidador, para dizer o mínimo. Ele nunca
demonstrou qualquer emoção e quase nunca falava. Parecia só seguir
ordens.
Eu não tinha tido a chance de olhar em volta ainda, embora não
tivesse certeza se tinha permissão para fazer isso. Eu fiquei trancada
naquele quarto o dia todo, tipo a Rapunzel, mas nesse caso o meu cabelo
não poderia me salvar dessa bagunça.
Chegamos ao andar de baixo e Viktor abriu as grandes portas que
davam para a área de jantar. Em frente a Vadim, dois homens estavam
sentados, vestindo temos que pareciam caros.
Eu poderia jurar que eles me ouviram engolir em seco, porque todos
pareciam olhar na minha direção quando eu cheguei.
— Lá está ela, — Vadim anunciou antes de apontar para o assento ao
lado dele. — Sente-se, Elaina.
Coloquei uma mecha do meu cabelo castanho atrás da orelha e
caminhei lentamente em direção à mesa. Eu podia sentir meu corpo
tremendo e sabia que isso era visível.
Eu estava apavorada. Eu não poderia simplesmente esconder isso.
Especialmente agora que havia várias pessoas conversando sobre a minha
vida e eu não tinha controle sobre isso.
Lentamente, eu relaxei na cadeira ao lado de Vadim, mas encarei o
prato vazio. Vazio como meu coração.
— Elaina, não seja rude. Permita-me apresentá-la, — Vadim me
repreendeu, o que me fez levantar a cabeça obedientemente. A última
coisa que eu queria era outro tapa na cara.
Ele apontou para o homem mais velho com cabelo preto, com alguns
fios prateados.
— Este é o Marco Acerbi.
— Olá, — falei baixinho, mas saiu como um guincho. Ele era
exatamente como Vadim descreveu. Ele tinha um olhar severo, quase
maligno, e não havia o menor sinal de boas-vindas em seu rosto.
Ele nem mesmo devolveu o meu olá.
Vadim então se virou para o homem mais jovem, um sorriso apareceu
em seu rosto, e eu já sabia exatamente quem era. — Este é o Valentino
Acerbi. Ele é o próximo na fila para se tomar capo dos italianos.
— Capo? — Eu questionei. Lembro-me de ter ouvido Vadim dizer isso
antes, mas não pensei muito nisso.
— Chefe, — Vadim me disse.
Eu olhei para Valentino. Seus olhos eram castanhos escuros e sem
emoção. Ele tinha um cabelo preto que não parecia nem um pouco fora
do lugar e uma boa barba por fazer no rosto.
Ele não era um adolescente, disso eu tinha certeza, e também puxou a
aparência severa do pai.
Seus lábios se pressionaram em uma linha fina, e ninguém se
importou em mencionar o fato de que havia um casamento sendo
forçado a nós.
— Estou impressionado, Vadim, — Marco finalmente falou. —
Dezoito anos mantendo a sua filha escondida por segurança. Muito bem.
— É um negócio perigoso, — ele respondeu secamente, — e espero
que Valentino leve esse trabalho tão a sério quando a Elaina se tomar
uma Acerbi.
Valentino não teve a chance de falar por si mesmo; seu pai falou por
ele. — Valorizamos muito a família.
— O nome Acerbi é importante, e assim que ela se tomar parte da
família, você pode considerá-la intocável.
Percebi que o sorriso malicioso no rosto de Vadim se alargou. —
Suponho que nós temos um casamento a planejar.
Nós. Na verdade eles tinham um casamento para planejar. Estou sendo
vendida para um homem que não consegue sorrir ou dizer olá. Pelo que
sei, vou morar na garagem enquanto ele vive uma vida separada na casa
real.
Eu queria muito recusar, mas da última vez que fiz isso, ele me deu
um tapa.
— Mais cedo ou mais tarde, — Marco respondeu secamente. —
Valentino já não é tão jovem e, como você sabe, Vadim, os sindicatos são
muito importantes.
— Claro.
Vadim estalou os dedos e, em segundos, as criadas entregaram-lhe três
charutos. Ele passou um para Marco, que gentilmente aceitou, e
estendeu outro para Valentino.
— Eu não gosto de charutos, — respondeu ele.
— É uma celebração, meu filho. A união de duas famílias poderosas. É
uma grande oportunidade, — insistiu Vadim, obrigando Valentino a
pegar o charuto.
Notei que os olhos de Valentino ficaram escuros enquanto ele
encarava Vadim. — No. Nom mi prova.
Tradução: Não me teste.
Eu olhei ao redor, desconfortável, sentindo a atmosfera mudar
completamente. Uma coisa era o Vadim me dar um tapa, mas se eu
estivesse certa, ele não poderia dar um tapa no Valentino.
— Calma, figlio, — Marco disse a Valentino antes de voltar a focar em
Vadim. — Onde está a comida, Vadim? Já estamos esperando há muito
tempo.
Tradução: Calma, filho.
A conversa mudou rapidamente e durante a maior parte da noite
permaneceu no idioma em que eu entendia, o que não fez a menor
diferença, porque eu não estava envolvida na conversa.
Os homens conversaram, principalmente Vadim e Marco, enquanto
eu fiquei sentada em silêncio durante todo o jantar. Eu era uma estátua,
com medo de respirar e de me mover.
Minha mãe poderia estar procurando por mim agora, e na primeira
oportunidade que eu tivesse, eu fugiria. Não havia a menor chance de eu
passar a minha vida envolvida nisso. É ridículo.
Capítulo 3
ELAINA

Semana que vem. O casamento que me foi imposto será na semana


que vem, e depois de chorar até dormir desde que cheguei aqui, não me
sinto nem um pouco melhor.
Estando aqui há apenas três dias, os planos para o casamento foram
totalmente apressados - não porque as pessoas estivessem ansiosas, mas
porque queriam que essa aliança fosse selada de uma vez por todas.
Eu não tinha escolhido nadinha. Toda garota sonha com o seu
casamento - o vestido, o local, a música e, o mais importante... a pessoa
com quem vai se casar.
Nada sobre este casamento tinha sido minha escolha, mas eu estava
seguindo ordens.
Vadim fez com que as empregadas que trabalhavam para ele
trouxessem vários vestidos para o meu quarto, e cada vestido que eu
experimentei, odiei.
Eles não eram horrorosos, mas me ver em um vestido de noiva fez
com que tudo isso parecesse mais real, e eu não estava pronta para
enfrentar essa realidade ainda.
— Eu preciso de um momento, — eu disse às mulheres, e elas
acenaram com a cabeça, me deixando sozinha com os vestidos.
Eu parei na frente do espelho usando um vestido sem alças que era
apertado em volta do torso, mas caiu lindamente no chão. Suspirei
suavemente. Era lindo. Mas eu não deveria estar usando.
As coisas não deveriam ser assim. Eu deveria me apaixonar e me casar
com o homem dos meus sonhos. Eu planejaria o casamento com a minha
mãe, e as coisas deveriam ser perfeitas.
Fechei meus olhos com força, balançando a cabeça. Ele pode estar
mentindo. Como posso saber se a minha mãe está bem?
Rapidamente, me levantei da cama e corri pelo corredor, sabendo
exatamente onde Vadim estaria.
Ele sempre parecia se refugiar em seu escritório de negócios, e talvez
isso fosse um assunto de negócios para ele.
Bati na porta furiosamente, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Eu
nem tinha percebido o quão emocional havia me tomado até que
funguei.
— BcTynaTb, — ouvi Vadim dizer, mas não tinha ideia do que isso
significava. Talvez ele estivesse com raiva por eu ter ido ao seu escritório.
Tradução: Entre.
Eu estava na porta, sem saber o que fazer neste momento, e alguns
segundos depois, a porta se abriu rapidamente. Vadim estava na minha
frente com a sua arma apontada diretamente para minha testa.
Eu pulei para trás, caindo contra a parede e cobrindo meu rosto. — Eu
sinto muito! Eu sinto muito!
— Você não me ouviu dizer para você entrar? — Ele levantou a voz
para mim antes de abaixar a arma.
Tradução: Jesus Cristo, minha querida.
— Eu não sei falar russo, — gaguejei antes de lentamente remover as
minhas mãos da cara e olhar para ele.
Ele parecia irritado, cruzando os braços sobre o peito enquanto erguia
uma sobrancelha. — O que você precisa, Elaina?
Além de ir para casa?
— Eu... — Fiz uma pausa momentânea antes de olhar para o chão. —
Eu quero que a minha mãe venha ao casamento.
Se eu estivesse sendo forçada a essa confusão, o mínimo que ele
poderia fazer era permitir que eu tivesse alguém que eu conhecia do meu
lado.
Senti que uma arma seria apontada às minhas costas, e ter a minha
mãe lá me proporcionaria uma sensação de conforto. Vadim soltou uma
risada baixa, balançando a cabeça em resposta. — Não é assim que
funciona, minha querida. Sua mãe tinha dezoito anos - uma tonta.
— Agora, eu não tenho intenção de deixar a Fiona interferir em meus
negócios.
— Apenas para o casamento, — eu implorei.
— Não sei por que você acha que tem uma palavra a dizer sobre isso.
Nosso tempo é limitado e meus funcionários estão esperando. Vá e me
deixe trabalhar, — ele me disse antes de fechar a porta do escritório na
minha cara.
Claro, eu não tinha uma palavra a dizer porque no dia em que fiz
dezoito anos, me tomei uma prisioneira. Este não era um casamento para
mim; era um casamento para russos e italianos se unirem.
Voltei para o quarto onde as criadas esperavam com mais vestidos e
consegui enxugar as lágrimas secas.
— Senhorita Vasiliev, che...
Eu a impedi de continuar, balançando a minha cabeça. — Meu
sobrenome é Duval. Elaina Duval.
Ela parecia confusa e insegura de como abordar a situação, mas
simplesmente acenou com a cabeça. — Oh... Uh, bem... Senhorita Elaina,
chegou um pacote para você.
A empregada nem me chamava pelo meu sobrenome real. Todos
estavam sob o feitiço de Vadim.
Todos menos eu, mas eventualmente, eu teria que cair, ou acabaria
em perigo. Todos ao seu redor, como essas mulheres, caminhavam com
muito medo nos olhos.
— Um pacote? — Eu perguntei.
Ela acenou com a cabeça. — Sim. Acredito que seja do Sr. Acerbi.
Sr. Acerbi, o Valentino. A empregada me passou uma pequena caixa e
tudo que pude fazer foi me perguntar o que havia dentro.
Eu não queria nada, seja lá o que fosse. Certamente era algo comprado
com dinheiro sujo.
— Bem... obrigada, — eu disse a ela, levando um segundo para abrir a
caixa e olhando para o anel elegante dentro. Parecia muito mais caro do
que qualquer coisa que eu poderia pagar.
— Nossa, que lindo anel de noivado, — a empregada comentou
enquanto olhava por cima do meu ombro.
Eu, no entanto, me senti mal do estômago. Tudo isso estava se
tomando muito real. Até três dias atrás, eu tinha muito pelo que ansiar -
ir para a universidade, me apaixonar - mas agora, eu não tinha ideia do
que estava por vir.
Eu não tinha nada a perder. Eu passaria o resto da minha vida com um
estranho que me prometeram.
Desci as escadas da grande casa. Pelo tamanho, parecia estar bastante
vazio. A casa só tinha criadas e Vadim, junto com alguns de seus homens.
Nos poucos dias em que estive aqui, já havia percebido que todos os
homens carregavam armas, mas não os tinha visto usá-las, ainda bem.
Eu só tinha ouvido falar desse tipo de coisa em livros ou filmes.
Meus olhos focaram na maçaneta. Não era como uma porta em uma
casa normal, e eu não podia sair. Para sair, era necessária uma chave para
destrancar por dentro.
Também descobri que todas as janelas estavam trancadas com alta
segurança.
— Já está procurando um jeito de fugir? — Eu ouvi uma risada leve
atrás de mim, mas era uma voz desconhecida, não russa.
Virei-me e vi Valentino parado com as mãos nos bolsos do temo,
olhando para mim com o mesmo olhar sombrio de três noites antes. Foi
intimidante, para dizer o mínimo.
Eu não tinha ideia de por que ele estava aqui, nem conhecia a
personalidade do homem com quem seria forçada a me casar em alguns
dias.
Seus olhos olharam para minha mão esquerda enquanto ele arqueava
uma sobrancelha espessa e escura. — Você recebeu o seu anel?
— Eu... Bem, sim. Eu recebi. — Eu balancei minha cabeça lentamente,
segurando meus dedos e olhando para qualquer lugar, menos para os
seus olhos. — Não cabia direito.
Isso era mentira. Não o coloquei porque não estava pronta para
colocar um anel de noivado dado por um estranho. Eu não estava pronta
para me comprometer com um homem do mundo do crime.
Assim que colocasse aquele anel no dedo, estaria aceitando tudo isso e
a verdade é que eu estava longe de aceitar.
— Você é tamanho seis, — disse ele, não como uma pergunta. Ele não
me perguntou ele declarou isso como um fato conhecido. Ele sabia o
tamanho do meu anel, e ele sabia que o anel que ele tinha me dado
serviria.
Ele sabia que eu estava mentindo para ele.
Quando ele deu um passo à frente, ele se aproximou de mim. — Eu
não gosto de mentiras, Elaina. E depois que você se tomar a minha
esposa, certamente não vou tolerar isso também.
Talvez você deva se acostumar a dizer a verdade agora, para não ter
que lidar com as repercussões mais tarde, certo?
Tudo o que pude fazer foi acenar com a cabeça. Ele era puro mal,
falando comigo como se eu fosse um cachorro obediente e não um ser
humano.
Quais seriam as repercussões se eu não obedecesse ao Valentino?
Embora estivesse curiosa, não queria descobrir.
— Quantos anos você tem? — Eu perguntei a ele de repente.
Ele parecia jovem, mas não jovem como uma criança. Ele era um
homem em todos os aspectos da palavra.
— Vinte e quatro, — ele me disse, mas não me perguntou de volta.
— Você não vai perguntar quantos anos eu tenho? — Eu questionei.
— Você tem dezoito anos, — respondeu ele.
— Você acabou de fazer dezoito anos alguns dias atrás. Não preciso
perguntar nada porque sei tudo sobre você, Elaina Vasiliev. Sua mãe é
Fiona Duval. Você cresceu em Ohio como Elaina Duval. Sua melhor
amiga é Kira Gures, e você trabalhou na Duval's Cakes.
— Seu dedo anelar é tamanho seis, os sapatos são tamanho trinta e
sete e o tipo sanguíneo é A positivo.
Eu estava com náuseas. Ele parecia saber tudo sobre mim, das coisas
mais bestas e inúteis, até coisas importantes como meu tipo sanguíneo.
Meu tipo sanguíneo porra!
Como ele sabe dessas coisas?
Eu não tinha liberdade ou espaço pessoal algum, e fazer parte deste
lugar, ser parente de Vadim Vasiliev, colocava em perigo todas as pessoas
que eu amava.
Valentino era alguém que parecia ter uma personalidade
extremamente sombria, e saber que ele era aquele com quem eu seria
forçada a casar me apavorou.
Eu duvidava que a vida com ele seria um conto de fadas.
Eu ouvi um toque e, enquanto Valentino olhava para o telefone, sua
testa franziu momentaneamente antes de colocar o telefone de volta no
bolso.
A sua atenção se voltou para mim, e sua voz permaneceu no mesmo
tom áspero de antes. — Da próxima vez que te vir, espero que o anel
esteja no seu dedo.
Valentino me deu as costas e saiu da sala. Presumi que ele estava aqui
para se encontrar com Vadim sobre algo.
Esperei que ele saísse antes de entrar na sala de estar vazia. Meus
olhos percorreram a área, na esperança de encontrar algo que me tirasse
daqui, mas não consegui ver nada.
Não havia telefones fixos. Todo mundo parecia usar só celulares aqui.
Eu estava completamente presa.
*
Na mesma noite, sentada na cama, olhei para o anel que Valentino
mandara e insistia que eu usasse.
Um anel para esse noivado forçado, para um tipo doentio de
casamento que eu não queria e nem tinha certeza se ele queria.
O anel era deslumbrante, mas representava todos os tipos de erros.
Sempre que olhava para o meu dedo, me lembrava da vida que agora eu
tinha sido forçada a viver e da vida que foi tirada de mim.
Tirei o anel da caixa e observei os diamantes deslumbrantes. A última
vez que olhei para o anel, nem me preocupei em tirá-lo da caixa.
Deslizando-o com cuidado no meu dedo anelar, fechei os olhos e
suspirei suavemente. Ele estava certo: o anel coube em mim como uma
luva.
Mas é claro que ele estava certo. O homem sabia tudo sobre mim e eu
não sabia nada sobre ele.
Abri meus olhos para ver o anel brilhando em meu dedo. Era o
começo do fim, e antes que eu percebesse, haveria uma aliança de
casamento nesse dedo também.
Capítulo 4
ELAINA

— Você está deslumbrante, Sra. Vasiliev, — a empregada me disse


enquanto eu estava na frente do espelho usando um vestido de noiva.
Não importa quantas vezes eu disse a ela, ela não parava de me
chamar de Sra. Vasiliev. Eu nunca tinha sido uma Vasiliev e, depois de
hoje, seria uma Acerbi.
Eu tinha sido arrastada a contragosto para que pudesse dizer os meus
votos e me entregar a um homem que eu nem conhecia.
A semana anterior tinha passado tão rápido que eu mal tive a chance
de lidar com a situação. Eu não tinha acesso a telefones ou Internet e
estava me perguntando o que a minha mãe havia contado a Kira.
Alguém precisava perceber que eu tinha sumido. De jeito nenhum a
garota que não tinha permissão para deixar Ohio de repente desapareceu
sem avisar.
Eu não via o Valentino desde o outro dia, na casa de Vadim. Fiquei
grata por isso. Eu não queria vê-lo, mas agora o veria todos os dias.
Depois do casamento, eu iria para casa com ele, o que poderia ser
significativamente pior do que morar com Vadim em Chicago.
O vestido que escolhi era longo e se arrastava no chão. Todo o vestido
era de renda. Enquanto a parte superior estava mais apertada ao meu
corpo, ela caía mais naturalmente na parte inferior.
Meu cabelo estava preso em um belo coque com alguns cachos caindo
de cada lado, e eu estava pronta, mas queria arranjar outra coisa para
fazer. Qualquer coisa para procrastinar.
A porta do quarto em que eu estava me arrumando se abriu e Viktor
ficou ali segurando o seu telefone celular. — A sua mãe está na linha.
Meus olhos se arregalaram e não hesitei em pegar o telefone dele e
colocá-lo no ouvido.
— Mãe?
— Elaina, querida, é tão bom ouvir sua voz... — Ouvi minha mãe do
outro lado da linha e de repente me senti em casa novamente.
Eu me senti como se tivesse sido tirada dessa realidade miserável e
estivesse de volta a Ohio.
Meus olhos se encheram de lágrimas instantaneamente, sentindo falta
da minha mãe e desejando que eu pudesse simplesmente voltar a como
as coisas eram antes disso.
— Ele está me fazendo casar, mãe. O que eu vou fazer? Você está
vindo me pegar, certo?
Me senti oprimida, enjoada e arrasada. Vulnerabilidade não era o meu
forte, mas era tudo o que eu tinha neste momento.
Eu não poderia me defender dessas pessoas. Era impossível.
O som do suspiro da minha mãe ecoou pela linha telefônica e eu a
ouvi falar. — Você tem que fazer isso, querida. Ele é perigoso e... você
precisa obedecer, ok? Se cuide.
Parecia que ela estava prestes a desligar e entrei em pânico. —
Quando você vem me buscar?
— Elaina, eu... eu não posso, — ela gaguejou, e eu podia ouvir a dor
em sua voz. — Sinto muito, querida...
Minha boca se abriu e eu senti o telefone ser arrancado da minha
mão. Quando olhei para cima, notei Viktor pairando acima de mim.
— A hora do bate-papo acabou. O casamento está prestes a começar e
você é a convidada de honra.
Viktor tinha uma personalidade extremamente maligna. Para ser
sincera, todos eles tinham. Mas Viktor mostrava a sua personalidade
ameaçadora com mais liberdade.
Seu sorriso era o de um assassino em série, alguém que se divertia
enquanto assistia outra pessoa sofrer e, atualmente, eu estava sofrendo
sob seu olhar.
Eu segui Viktor para fora da sala e ele me levou na direção de onde a
cerimônia aconteceria.
Este não era um casamento normal. Eu não tinha damas de honra. Eu
não estava sendo conduzida ao altar por um pai amoroso. Era um
casamento forçado dos dias modernos. Era como um filme de terror,
todos comemorando com sorrisos em seus rostos, e então eu - a garota
que eles usaram para tomar tudo isso possível.
A música do casamento começou e eu me esqueci por um momento,
esquecendo que havia uma festa de casamento acontecendo.
Eu estava tão perdida em meus próprios pensamentos perturbadores
que não estava focada no que estava realmente acontecendo ao meu
redor.
Senti algo pressionar as minhas costas e eu congelei, sabendo
exatamente o que era.
— Não me faça forçar você a caminhar, Elaina, — Viktor ameaçou,
com a sua arma pressionada contra a minha espinha, o que fez a minha
respiração engatar.
Engoli em seco, meu peito apertando, antes de balançar a cabeça
rapidamente e começar a dar alguns passos.
O altar apareceu, e todos os convidados eram claramente parte da
Máfia ou tinham algum tipo de relação com ela.
Todos pareciam tão severos ou fortes, e havia eu: a garotinha
assustada que, para eles, parecia um pedaço de carne.
Tudo parecia tão lento. Quanto mais eu caminhava em direção a
Valentino, mais longe me sentia, mas sabia que era devido à sensação de
tontura dentro de mim.
Cheguei ao final do altar, dando as mãos a Valentino, olhei para o
rosto dele. Sua expressão era séria e os olhos permaneciam ilegíveis
enquanto ouvia o juiz de paz.
Ele tinha uma mandíbula marcada, algo que não era difícil de notar.
Seus traços eram muito dominantes.
As mãos de Valentino eram quentes, o que parecia surpreendente para
alguém com uma alma tão fria. Notei que enquanto o juiz falava, o
polegar de Valentino moveu-se para o anel de noivado em meu dedo.
Da próxima vez que te vir, espero ver aquele anel em seu dedo.
Eu não iria testar o quão sério ele estava falando. Pareceu-me que a
Máfia gostava que suas mulheres fossem obedientes.
— Sim, — eu o ouvi dizer, e ergui os olhos, saindo do meu transe a
tempo de ouvir o juiz recitar os termos com os quais eu tinha que
concordar.
Assim que ele terminou, eu balancei a cabeça lentamente e falei em
um tom suave, — Eu aceito.
Valentino se virou para receber uma aliança de seu pai enquanto
Vadim me passava outra para selar esta união. Valentino foi o primeiro a
deslizar a aliança no meu dedo enquanto eu colocava a dele logo depois.
— Pelo poder investido em mim pelo estado de Illinois, eu agora os
declaro marido e mulher. Você pode beijar a noiva.
Valentino se inclinou, seus olhos escuros em mim até que finalmente
se fecharam para que nossos lábios se conectassem em um beijo
surpreendentemente gentil. Foi rápido, mas quando nossos lábios se
separaram, ele não se afastou - não completamente.
Seus lábios se moveram para o meu ouvido e ele sussurrou baixo para
apenas eu ouvir, Minha esposa.
Foi isso. Estava feito. Eu era dele agora, legalmente. Ele me
reivindicou como sua porque agora eu era isso: a sua esposa. Elaina
Acerbi.
*
Passei a noite inteira ao lado de Valentino, com seu braço me
segurando perto dele como se eu fosse um troféu a ser exibido.
Ele se misturou aos convidados, muito estava sendo dito em italiano,
e algumas palavras foram ditas enquanto ele olhava para mim, o que
colocou um leve toque no desconforto que eu estava sentindo.
— E pensar que você quase ficou com uma filha dos malditos
irlandeses, irmão, — disse um homem, um pouco mais baixo que
Valentino, ao se aproximar com uma bebida na mão.
— É por isso que mantemos os nossos olhos abertos, — ele respondeu
simplesmente.
O homem bonito olhou para mim e estendeu a mão. — Elaina, você é
mais impressionante pessoalmente.
Eu consegui dar um pequeno sorriso. Foi o contato mais genuíno que
senti em mais de uma semana. Ao apertar a sua mão, pude sentir meu
outro braço sendo agarrado e soltei a mão do homem.
— Este é o meu irmão mais novo Stefano, — explicou-me Valentino.
— Ele não é tão sensato quanto eu.
Antes que Stefano pudesse responder, uma garota de cabelo preto se
juntou a ele e segurou o seu braço. Não havia dúvida em minha mente de
que ela também era italiana, mas parecia feliz.
Talvez eu também possa ser feliz algum dia.
— Parabéns, Val. Nunca pensei que um monstro como você pudesse
encontrar o amor, — ela comentou.
Meu estômago embrulhou quando ela disse — monstro. — Ela
confirmou tudo o que eu temia.
— Como você sabe, Gianna, este foi um caso arranjado. — Seu olhar
frio encontrou o dela, e algo estava diferente. Estava claro que ele não
gostava dela, mas também estava claro que ela não recuou dele.
Mas por que ela seria louca o suficiente para desafiá-lo dessa forma?
Gianna olhou para mim, seu sorriso permanecendo em seus lábios. —
Onde vocês vão na lua de mel?
— Nada de lua-de-mel, — respondeu Valentino. — Tenho negócios a
tratar, assim como o seu namorado. Tente ficar fora do caminho desta
vez.
Ele me puxou em outra direção, xingando em italiano. A última coisa
que eu precisava era dele com raiva em nossa primeira noite como um
casal, especialmente quando eu não o conhecia.
Eu estava bem ciente do que ele era capaz.
— Esse é o seu único irmão? — Eu perguntei enquanto ele me
arrastava pelo chão, até a entrada principal, sem me responder.
Ele se virou para outro convidado que imediatamente o olhou com
toda a atenção. — Grazie! Minha esposa e eu vamos para casa à noite,
mas agradecemos a sua presença hoje.
Tradução: Obrigado!
Os convidados bateram palmas e Valentino me conduziu para fora do
local.
A partir daquele momento, eu não tinha ideia para onde estava indo.
Não sabia onde Valentino morava ou se ele residia em Chicago, como
Vadim.
Ele me levou a um SUV preto e o destrancou, abrindo a porta do
passageiro para mim. Eu entrei e olhei em volta, percebendo o quão
grande era. As janelas eram escuras, o que tomava tudo muito escuro.
Valentino encaminhou-se para o lado do motorista, entrando e
ligando o SUV sem dizer uma palavra.
O silêncio foi ensurdecedor.
Meus olhos focaram fora da janela, imaginando estar em qualquer
lugar, menos aqui. Todo mundo deveria ter um lugar feliz, mas depois
que minha mãe me deixou com essas pessoas, eu nem tinha mais isso.
— Precisamos repassar algumas regras básicas, — ouvi Valentino falar
enquanto dirigia e olhei para ele, vendo que seus olhos estavam focados
na estrada.
— OK...
— Você não toca em outro homem ou deixa outro homem tocar em
você. — Havia um toque de amargura em seu tom. — Aquele incidente lá
com meu irmão? Da próxima vez, você perderá um dedo.
— Eu estava sendo educada... — Eu tentei me defender.
De repente, fui agarrada pelo queixo com força. Seus olhos
penetrantes deixaram a estrada e encontraram os meus. — E você nunca
me responda. Você vai me respeitar, entendeu?
Meu peito estava arfando rapidamente quando eu balancei a cabeça
em concordância apenas para que ele me soltasse.
Ele soltou meu queixo, voltando seu foco para a estrada, e eu encarei
minhas mãos pelo resto da viagem. Foi uma viagem relativamente longa,
silenciosa e estranha.
Embora eu estivesse desconfortável com o silêncio, Val parecia
estranhamente contente. Ele foi, no entanto, a pessoa que causou o
desconforto.
Chegamos a um longo caminho de acesso cercado. O portão era alto e
tinha um — A — elegante no topo, o que indicava que havíamos chegado
ao meu próprio inferno pessoal.
Val parou o SUV perto do portão onde havia um sistema de segurança.
Ele começou a digitar um código e os portões se abriram.
Depois que ele dirigiu, os portões se fecharam instantaneamente atrás
do veículo.
— Eu vou poder sair? — Eu perguntei a ele.
Surpreendentemente, ele acenou com a cabeça. — Claro. Temos um
quintal muito grande. Tenho certeza de que você achará muito gostoso.
Isso não era exatamente o que eu quis dizer, e uma parte de mim sabia
que Val sabia disso também. — Eu quis dizer fora daquele portão...
— Não tão cedo, — ele respondeu com sinceridade.
Val estacionou seu SUV no jardim, e notei que alguém saiu da casa
para colocar o carro na garagem. Nós dois saímos do veículo e eu olhei
para a casa na minha frente.
— Casa — era um eufemismo.
As luzes estavam acesas, o que significava que havia gente dentro.
Obviamente, mais do que apenas Val vivia aqui e, com sorte, quem quer
que vivesse fosse do tipo acolhedor, mas eu não poderia contar muito
com isso.
— Seu pai me contou sobre o acordo com a sua mãe e que a sua
mudança para cá foi repentina, então algumas roupas estão chegando
para você amanhã, — ele explicou enquanto entrava em casa.
— Deixe-me mostrar o nosso quarto.
Tudo o que pude fazer foi acenar com a cabeça, e até mesmo esse
movimento foi difícil. Era possível vomitar de nervosismo? E se eu fizesse
isso, ele me daria um tapa?
A caminhada até a grande escadaria foi interminável, junto com a
caminhada pelo longo corredor. Este corredor não era tão assustador
quanto o de Vadim, mas eu não queria julgar tão rápido.
Essas pessoas eram todas iguais.
Valentino parou em uma porta e abriu para mim, esperando que eu
entrasse antes dele.
Não me sentia cem por cento segura com ele parado atrás de mim. Eu
nunca sabia o que ele iria fazer.
Dei um passo para dentro do quarto escuro, esperando Val acender a
luz, mas ele não o fez. Em vez disso, ouvi a porta se fechar atrás de mim e
suas mãos descansaram em meus quadris por trás.
Eu o senti se inclinar na minha nuca, plantando um beijo suave na
minha pele, e eu soube instantaneamente onde isso ia acabar.
Quando Val virou meu corpo para encará-lo, eu o observei enquanto
ele tirava a gravata e começava a desabotoar a sua camisa. Ele era uma
pessoa extremamente atraente—fisicamente.
Mas a atração física só pode ir até certo ponto. Mentalmente, ele era
agressivo e um psicopata.
Ele colocou a mão na minha bochecha, inclinando-se e forçando seus
lábios nos meus com força. Eu podia sentir a experiência que ele possuía
enquanto sua língua abria caminho contra meus lábios.
Suas mãos serpentearam ao redor do meu corpo, puxando o zíper do
meu vestido e fazendo-o cair em volta dos meus pés.
Eu estava vestindo apenas roupas íntimas e me sentia nua, até
desconfortável. Nunca estive tão exposta a um homem antes e não estava
nem de perto pronta para isso.
Eu me afastei no momento que tive a chance, meu coração disparado
com tudo acontecendo de repente. Eu olhei para Val, balançando a
minha cabeça lentamente. — Não... eu... eu não... eu não posso...
Seu dedo indicador cobriu meus lábios, o aviso em seus olhos
retomando enquanto ele olhava para mim. — Não diga não para mim.
Eu o senti me pegar em seus braços, e ele foi rápido em jogar meu
corpo de forma imprudente no colchão como se eu fosse um brinquedo,
não um ser humano.
Ele tirou a camisa dos ombros antes de abrir o zíper da calça e tirá-la.
Tudo estava acontecendo tão rápido, e eu não me sentia mais como uma
garota de dezoito anos.
Eu havia sido lançada em uma vida com tantas responsabilidades e
fardos que minha adolescência se foi dois anos antes.
— Lo Gesú, sei sexy, — ele gemeu enquanto seus olhos vagavam pelo
meu corpo, demorando-se em minhas áreas sagradas por mais tempo.
Tradução: Jesus, você ê sexy.
O colchão se moveu enquanto ele pairava sobre mim, enrolando os
dedos em volta do cós da minha calcinha e arrancando-a do meu corpo, o
que fez com que um grito escapasse dos meus lábios.
Sua boxer foi a próxima a ser removida antes que ele movesse seus
lábios ao longo da minha mandíbula novamente, fazendo-o ficar entre
meu decote e alcançando as minhas costas para soltar meu sutiã.
Enquanto ele puxava o tecido que segurava meus seios, seus lábios
atacaram minha pele, deixando sua língua deslizar ao redor do meu
mamilo.
Senti minhas pernas sendo retorcidas e nada poderia me preparar
para o que aconteceu a seguir. A minha primeira vez. Valentino entrou
agressivamente em meu corpo frágil e outrora inocente.
Ele meteu rápida e violentamente, fazendo com que a dor enchesse
meu corpo. Enquanto gemidos de prazer escapavam de seus lábios, eu
tive que lutar para não chorar.
Um momento que guardei para alguém especial foi levado por puro
egoísmo.
Palavrões em italiano saíram de sua boca e, embora eu não entendesse
o idioma, pude perceber que eram palavras de prazer.
Durante todo o tempo em que ele me penetrava, eu segurei os
cobertores com força na tentativa de suprimir um pouco da dor.
Até que, finalmente, meu hímen foi rompido e a dor foi substituída
por uma sensação um pouco mais satisfatória, mas isso não mudou a dor
que eu sentia emocionalmente.
Capítulo 5
ELAINA

Valentino acordou de madrugada.


Ainda parecia um pouco escuro lá fora quando senti a cama estava se
movendo, e eu estava com medo de me mexer. Achei que meu corpo iria
se quebrar ou que ele iria me tocar novamente.
Eu não tinha certeza de qual opção seria pior, mas a essa altura,
nenhuma das duas parecia boa. Nada estava bem.
Eu mantive meus olhos ligeiramente abertos, espiando através dos
meus cílios grossos enquanto ele se movia ao redor do quarto.
Ele ficou no banheiro por um bom tempo, e o som da água indicou
que ele estava tomando banho. Eu estava cansada, mas não conseguia
dormir sabendo que ele estava acordado.
Eu mal dormi na noite passada e meu corpo estava ficando exausto.
Como eu iria me acostumar com isso? O medo e o desconhecido já
pareciam ser demais para mim.
Continuei a espiar quando a porta do banheiro se abriu e Valentino
saiu usando a sua cueca boxer que mostrava tudo o que me invadiu na
noite passada.
Ele era um homem bonito com uma personalidade feia. Ele tinha um
sorriso encantador que escondia intenções cruéis e pensamentos ainda
mais perturbadores.
Não havia nada atraente sobre este homem além de seu rosto bonito e
corpo gostoso.
Ele vestiu as calças e apertou o cinto antes de caminhar até a sua
cômoda e tirar uma arma, colocando-a no coldre com segurança.
— Não pense que as armas são tão fáceis de encontrar, amore. Esta
não fica no mesmo lugar duas vezes, — ele falou de repente, e meus olhos
se arregalaram quando ele se virou para me encarar.
Tradução: Amor.
— Você não achou que eu realmente pensei que você estava
dormindo, não é?
Eu encarei quando seus olhos castanhos confiantes encontraram os
meus olhos azuis aterrorizados. — Eu...
— Sabe, sou treinado para saber quando as pessoas estão me
observando, — explicou ele. Mesmo em um tom calmo, sua voz nunca
soou nem um pouco suave nem agradável.
— Eu... sinto muito por ter encarado, — eu consegui dizer. — Eu
deveria ter dito algo. Eu só estou cansada.
— Tivemos uma noite agitada... Volte a dormir. Temos um longo dia
pela frente, — ele me explicou. — Vou me certificar de que a Anita deixe
roupas do lado de fora da porta do quarto para você.
Não me preocupei em perguntar quem era Anita - essa resposta viria
com o tempo - então simplesmente balancei a cabeça.
Ele não foi embora. Em vez disso, caminhou para o meu lado da cama
e se ajoelhou, seus olhos curiosos vagando pelo meu corpo como se ele
pudesse ver através dos cobertores que cobriam meu corpo pequeno.
— Essa é a minha garota. — Percebi um leve sorriso antes que seus
lábios colidissem com os meus momentaneamente. — Quando eu voltar,
vou mostrar a casa toda para você e te apresentar ao pessoal da casa...
— Não se meta em problemas enquanto eu estiver fora.
Valentino se levantou, tirando uma camisa do armário e mantendo os
olhos em mim enquanto a abotoava.
— Onde você está indo? — Eu perguntei. Foi uma pergunta estúpida.
— Vou cuidar dos negócios. No entanto, para fins futuros, eu não
respondo a você, amore. O nosso acordo não funciona dessa maneira.
O resto do tempo que Valentino estava se preparando, eu fiquei em
silêncio.
Eu não podia fazer uma pergunta porque não tinha o direito de saber
de nada e, além disso, conversar com ele era sempre uma situação
intimidante.
Ele saiu sem dizer mais nada, e eu fiquei enrolada no cobertor da
cama e em meus pensamentos.
Valentino ainda se referia ao casamento como um acordo e, embora
tecnicamente fosse, não tomava a situação mais fácil para mim.
*
Na próxima vez que abri meus olhos, o quarto estava iluminado pela
luz do sol, e eu não estava familiarizada com o fato de ter visto luz
brilhando.
Enquanto estava com Vadim, as janelas foram bloqueadas, e a luz do
sol não era algo que eu pudesse ver até ontem. Eu estava grata por ter
sido privada apenas por uma semana.
A única coisa que achei atraente nesta vida com Valentino até agora
foram as janelas descobertas. Eu podia olhar pelo vidro e ver o lado de
fora.
Eu não me sentia muito como uma prisioneira dessa forma.
Ao me levantar da cama grande, enrolei o lençol em volta do corpo e
caminhei em direção à porta, abrindo apenas uma fresta para ver se as
roupas foram entregues como Valentino disse que seriam.
Com certeza, havia uma pequena pilha cuidadosamente embalada na
frente da porta, e eu rapidamente a agarrei antes de fechar a porta do
quarto novamente.
Encontrei um vestido de verão branco junto com roupas íntimas
brancas.
Como esperado, elas eram do meu tamanho. Eu seria estúpida se
esperasse outra coisa.
Fui até o banheiro que estava conectado ao quarto, sentindo a área
dolorida entre minhas pernas, que era um claro lembrete dos eventos
que aconteceram na noite anterior.
Nenhuma vez eu o beijei. Nem uma vez eu realmente queria que ele
me tocasse ou penetrasse meu corpo do jeito que ele fez, mas ele fez isso
de qualquer maneira, sem meu consentimento.
Fiquei com nojo de mim mesma porque, embora soubesse que não
poderia impedi-lo do que ele fez comigo, ainda me sentia responsável de
alguma forma. Talvez eu pudesse ter feito mais.
Eu fiquei no chuveiro enquanto a água quente rolava pela minha pele.
Como uma garota de dezoito anos, sempre pensei que a minha primeira
vez seria diferente.
A dor era algo que eu esperava, não o arrependimento que se seguiu.
Só quando a pele dos meus dedos começou a enrugar que eu saí do
banho e decidi que era hora de enfrentar o dia que tinha pela frente.
Eu tinha permissão para sair do quarto? Pelo que sei, a porta pode
estar trancada.
Mas não estava.
Abri a porta e tudo parecia muito mais claro do que na noite anterior,
quando Valentino e eu chegamos depois do casamento.
— Eu estava ficando preocupada que ele matasse você, — uma voz
disse, me fazendo pular.
Quando me virei, notei a mesma garota do casamento na noite
passada: Gianna. Valentino não parecia gostar dela, o que me fez pensar
por que ela estava aqui.
Ela deve ter notado o olhar assustado no meu rosto porque ela foi
rápida em se desculpar. — Me desculpe... eu estava brincando. Eu sei que
ele é horrível, mas ele leva este sindicato muito a sério par... bem,
negócios.
— Quem é você? — foi tudo o que consegui dizer.
Gianna respondeu com a resposta mais óbvia possível. — Gianna. Nós
nos conhecemos ontem à noite.
— Eu sei... eu só... você mora aqui? — Minha voz estava gaguejando,
mas havia tanto para assimilar, tanto para me preocupar. Eu não tinha
ideia de com quem podia falar ou não.
Ela acenou com a cabeça e conduziu-me para fora da sala. — Sim. Esta
é a casa de Val, mas Stefano mora com ele junto com alguns dos outros
homens por segurança.
— Depois que Stefano e eu ficamos juntos, me tomei parte do
negócio, infelizmente para ele.
— Você e Stefano fazem...? — Percebi que estava querendo saber
demais. Eu parei abruptamente e balancei minha cabeça. — Sinto muito,
não importa.
— Se você quer dizer uma parte de um acordo sindical, então não. —
Gianna me deu um sorriso triste. — Stefano é mais jovem que Val, o que
significa que Val é será o nosso capo.
— São as conexões dele que importam, não tanto as de Stefano. Nós
nos conhecemos por conta própria.
Eu a segui lentamente enquanto ela descia as escadas. Se ela tivesse a
escolha de fazer parte desta vida, por que diabos ela estaria de boa
vontade aqui?
— É uma história para outra hora, — ela respondeu como se tivesse
lido a minha mente.
Era estranho - Gianna parecia normal, mas em um mundo como este,
não havia como alguém ser normal.
— Posso te fazer uma pergunta? — Eu perguntei a ela quando ela
parou de andar. — Quero dizer... outra pergunta além da que acabei de
fazer.
Ela se virou para olhar para mim, erguendo as sobrancelhas e
balançando a cabeça. — Pode.
— Ontem à noite... você disse que Valentino é um monstro, mas
Stefano não faz a mesma coisa? — O pensamento estava passando por
minha mente desde o momento em que ela disse isso.
Eu sabia que ele era um homem mau, mas vindo de alguém que ele
conhecia tomava tudo ainda mais real.
Gianna correu os dedos pelo cabelo preto, mordendo o lábio
hesitantemente. — Elaina, eu não queria arruinar a sua perspectiva sobre
Valentino.
— Achei que você saberia, já que sabe o que ele faz para viver.
— Essa não foi a minha pergunta...
— Stefano? Quero dizer, sim. Ele é perigoso também, mas Val é
diferente... — Ela encolheu os ombros. — Ele é o próximo na fila para ser
chefe, e ele mostra isso.
— Ele é muito mais cruel e malicioso do que a maioria. Eu realmente
não posso dizer mais nada.
Malicioso.
Eu odiei essa palavra. Foi assustador. A noite passada não foi nada
comparado com o que eu sabia que viria no futuro.
O som da porta da frente se abrindo chamou a minha atenção, e
Valentino entrou pela porta com Stefano e dois outros homens.
Seus olhos pousaram em mim instantaneamente, e Stefano caminhou
até Gianna, cumprimentando-a com um beijo.
— Elaina, você está linda, — disse Valentino para mim.
— Obrigada, — eu respondi suavemente.
— Eu vejo que o vestido serviu, — ele comentou enquanto se
aproximava de mim. — O resto da sua roupa chegou e está no caminhão
de entrega do lado de fora. Deixe-me trocar de roupa e começaremos o
nosso tour.
Tudo o que pude fazer foi acenar com a cabeça. Só me restava esperar
aqui na companhia da Gianna. Ela parecia ser a pessoa mais genuína com
quem eu poderia estar neste momento.
Ele desapareceu escada acima e os outros homens que eu não
conhecia também deixaram a sala.
Stefano ficou ao lado de Gianna, e em um mundo perfeito, eles
pareciam um casal ideal, além do fato de que ele era um assassino.
— Viu? Eu disse que você teria uma amiga aqui eventualmente, — ele
comentou para Gianna com um sorriso encantador.
Stefano parecia legal em comparação com o diabo com quem eu era
forçada a dormir todas as noites. Ele realmente parecia se importar com
Gianna, e isso era algo que eu nunca mais experimentaria na minha vida.
— Obrigada Senhor. Eu estava ficando cansada de todos os homens
aqui, — ela brincou antes de olhar para mim. — Nós vamos almoçar.
Você quer se juntar a nós?
Por melhor que parecesse, tinha que esperar pelo Valentino. Ele não
parecia nem um pouco paciente ou compreensivo. Eu balancei minha
cabeça e dei a ela um sorriso educado.
— Obrigada pela oferta, mas provavelmente irei almoçar com o
Valentino mais tarde.
Quando Gianna e Stefano se afastaram eu percebi como me sentia
sozinha aqui, mas eu tinha que endurecer e lidar com isso.
Eu olhei ao redor do salão. A casa parecia boa, para dizer o mínimo.
Pisos de madeira e parecia que as paredes foram pintadas
profissionalmente surpreendentemente sem marcas ou danos visíveis.
Eu esperava ver danos, mas estava errada. Fotos foram penduradas,
mas não de família; eram pinturas que tomavam a casa ainda mais
elegante.
Eu encarei uma pintura. Era impossível não se perder nisso. Uma
cabana, um lago próximo e um campo infinito. Era lindo.
A pintura me cativou e, em um lugar tão assustador da minha vida,
parecia relaxante.
— Curiosa, não é?
Eu pulei ao som da voz de Valentino e me virei para vê-lo parado atrás
de mim. Eu nem tinha ouvido ele se aproximar de mim, mas
simplesmente balancei a cabeça.
— As pinturas são lindas...
Ele colocou a mão nas minhas costas e me conduziu em direção a uma
porta. — Deixe-me mostrar a você... quero que conheça a equipe e os
limites.
— Limites? — Eu questionei.
— Onde você pode e não pode ir, — ele esclareceu quando entramos
na cozinha.
Era grande, mas impressionante. Parecia ter sido reformada
recentemente, ou talvez sempre parecesse em ótimas condições como o
resto da casa.
Uma mulher mais velha se virou da pia da cozinha e sorriu para
Valentino. — Valentino, tesouro. Hai fama? Posso farti un po 'di cibo.
Tradução: Valentino, querido. Está com fome? Posso fazer comida para
você.
Valentino começou a responder em italiano. Claro, eu não conseguia
entender uma única coisa que eles estavam dizendo um ao outro, o que
era extremamente desconfortável.
Um momento depois, eles começaram a falar em inglês e Valentino
fez um gesto em direção à mulher. — Elaina, esta é Anita. Ela é nossa
empregada, mas também membro desta família.
Ela trabalhou para meus pais antes de trabalhar para mim.
Eu sorri para Anita. — Prazer em conhecê-la.
— Você também, querida. — Ela retribuiu o sorriso, e parecia tão
genuíno quanto eu poderia esperar. — O vestido fica lindo em você.
— Obrigada. — Eu olhei para o vestido antes de voltar meu olhar para
ela. — E obrigada por trazê-lo para mim.
Valentino acenou com a cabeça. — Eu tenho que mostrar a Elaina o
resto da casa, mas vamos aceitar a oferta do almoço mais tarde.
Eu odiava ser afastada do contato humano. Para mim, Valentino não
era humano.
Ele me mostrou a casa, me dizendo que o porão e seu escritório
estavam proibidos, a menos que fosse dito o contrário.
Não questionei, embora estivesse curiosa - principalmente sobre seu
escritório. Eu nunca fui ã de porões, para ser sincera.
Ele me apresentou brevemente ao seu braço direito, Gustavo, que
parecia ser muito próximo a ele. Achei que ele seria o seu melhor amigo,
se pessoas como Val tivessem melhores amigos.
Ele também me apresentou a Raffaele e Diego, mas não houve
conversa entre eles, pois Val afirmou que o tour pela casa era a
prioridade.
No final da lista estava o quintal de que Valentino tanto falava. Ele
abriu as portas dos fundos e, quando entramos no quintal, fiquei
impressionada.
O gramado estava extremamente verde e, surpreendentemente, havia
algumas roseiras. Embora ele não parecesse um tipo de homem que dá
rosas, elas eram lindas. Uma única árvore ficava no quintal e uma cerca
cercava o quintal, com dois metros e meio de altura.
— Uau... — Eu estava sem palavras. Eu queria ficar para sempre aqui,
mas nunca teria essa sorte. Tinha outras obrigações a cumprir, como
agradar ao Valentino.
Valentino caminhou à minha frente em direção a uma fonte que foi
colocada no centro do quintal. — Achei que você gostaria.
— Quais são os limites aqui? — Eu perguntei a ele, querendo que eles
ficassem claros antes que eu me apaixonasse por esta área.
Ele simplesmente balançou a cabeça. — Sem limites. Esta área é
segura. Você pode vir aqui quando quiser.
Ele se virou para mim e eu balancei a cabeça. — Obrigada.
Eu estava louca em pensar que isso era um progresso. Parecia que
talvez em algum lugar dentro daquele ser sem coração, Valentino estava
me mostrando algum tipo de comportamento gentil.
Eu estava errada. Não iria durar, mas eu estava tão desesperada para
ter qualquer tipo de esperança que me agarraria a qualquer coisa.
O momento que compartilhamos no quintal com ele, permitindo que
eu fosse lá sempre que eu quisesse, parecia um momento genuíno.
Mas eu iria perceber mais tarde que mesmo o menor gesto tinha um
preço e que nem uma única parte de Valentino era gentil.
Capítulo 6
ELAINA

Eu já estava morando na casa do Valentino há uma semana e a maior


parte dos meus dias consistia em ler ao ar livre.
Ele continuou a fazer sexo comigo todas as noites, embora insistisse
que eu o beijasse de volta, então eu tive que começar a fazer isso. Sempre
que ele me beijava, eu retribuía.
Era uma ordem, e eu não queria saber quais seriam as repercussões se
não obedecesse a ele.
Ele esteve em seu melhor comportamento até agora, e eu não tinha
visto um lado extremamente desagradável dele além da noite em que ele
tirou a minha virgindade sem o meu consentimento.
Ele fazia seu trabalho durante o dia e às vezes desaparecia em seu
escritório, mas pelo menos eu não estava trancada no quarto. Eu poderia
andar pela casa e até ir para o quintal.
Gianna não estava por perto hoje e eu não tinha certeza de onde ela
estava, mas continuei com a minha rotina habitual.
Peguei o livro que estava lendo no momento, Harry Potter e a Pedra
Filosofal, e comecei a me dirigir para a porta dos fundos para poder
aproveitar o bom tempo.
No momento em que passei pelo escritório de Valentino, ouvi
gemidos. Parecia doloroso e como se alguém estivesse passando por algo
horrível. Incapaz de simplesmente ignorar, parei abruptamente.
O gemido continuou e eu estava prestes a abrir a porta, mas me
contive. Eu não era permitida. Disseram-me especificamente para não
entrar lá.
Olhando em volta rapidamente, pude ver que não havia ninguém por
perto. Corri para a cozinha para ver se Anita estava lá, mas ela não estava
em lugar nenhum.
— Onde está todo mundo? — Eu murmurei para mim mesma.
Eu estava no modo de pânico. Nunca tinha ouvido tal som antes.
Parecia uma miséria completa - completamente horrível.
Voltei para a porta do escritório e bati suavemente, mas não houve
resposta. Nada estava dando certo para mim hoje - nada.
Não sou o tipo de pessoa que simplesmente vai embora depois de
ouvir sons de agonia.
— Gahh... — Os gemidos de dor voltaram e, sem pensar mais,
empurrei a porta para ficar cara a cara com os olhos escuros de Valentino
enquanto a lâmina de sua faca cortava profundamente o torso de um
jovem.
— O que você está fazendo! — Eu engasguei de horror com a visão
diante de mim. Havia tanto sangue que meus joelhos ficaram fracos e
minhas costas caíram contra a parede.
— Eu poderia te perguntar a mesma coisa, tesoro. — As palavras doces
em italiano saíram de sua língua tão facilmente.
Tradução: Querida.
O homem que estava de joelhos com as mãos amarradas nas costas e
fita adesiva na boca tinha os olhos arregalados enquanto observava
Valentino pegar a arma de cima de sua mesa.
Sem uma palavra ou mesmo um golpe de emoção, ele rapidamente
apontou a arma para a cabeça do homem e puxou o gatilho.
Um grito amargo escapou dos meus lábios quando seu corpo sem vida
caiu no chão e, antes que eu pudesse reagir, a palma da mão de Valentino
bateu com força no meu rosto.
— Eu não fui claro sobre não vir aqui? — ele me perguntou entre os
dentes, claramente zangado.
Estraguei a minha bochecha quando a dor de seu tapa começou a
arder em minha pele. — Eu sinto muito...
— Você interrompeu o meu negócio. Você percebe que eu tenho
tolerância zero para isso? NENHUMA! — Sua voz ficou mais alta, o que
até então eu não sabia que era possível.
Eu olhei para o homem que jazia em uma poça de seu próprio sangue,
meus olhos lacrimejando. A risada de Valentino ecoou em meus ouvidos.
— Acostume-se, amor. Esta é a sua vida agora.
Eu balancei a minha cabeça, enojada com essa visão diante de mim.
Eu nunca ficaria bem com um assassinato e como ele o fazia de forma tão
descuidada.
Independentemente do que essas pessoas fizeram para merecer, elas
ainda eram seres humanos. Matar era um pecado.
— Esta é a sua vida, não a minha, — eu disse a ele através do meu tom
trêmulo, evitando o lado da sala onde o corpo estava. — Eu nunca vou
aceitar isso como parte da minha vida. — Por muito tempo, Valentino
ficou em silêncio. Seus olhos escuros eram como lasers em minha pele
enquanto ele cerrou a mandíbula e me olhou como se eu tivesse acabado
de fazer algo horrível.
Ele estava louco em pensar que eu simplesmente aceitaria esse estilo
de vida. Absolutamente insano.
Então, finalmente, após alguns minutos sem dizer nada, ele
simplesmente sorriu. — Vá ler seu livro, tesoro. Tente não vomitar ao sair.
Eu o odeio. Nunca odiei ninguém tanto quanto odeio o homem com quem
compartilho o mesmo sobrenome. Ele é cheio de jogos mentais e isso me
apavora.
Nunca sei o que ele fará a seguir, mas só espero que isso não aconteça
mais.
Quem estou enganando?
*
Uma mão acenou na frente do meu rosto enquanto eu me sentei à
mesa na cozinha. Eu olhei para cima e vi Gianna, e ela riu baixinho
quando finalmente recebeu a minha atenção.
— Você estava em outro mundo, — ela brincou. — Você está bem?
Eu honestamente não sabia. Não parava de ver Valentino atirando
naquele homem e seu corpo caindo inerte no chão. Aquilo criou uma
cicatriz em mim. Não conseguia nem comer sem pensar nisso, muito
menos dormir.
— Uh... sim. Estou bem. — Forcei um pequeno sorriso.
De repente, Gianna virou meu rosto para o lado e ergueu a
sobrancelha antes de soltar um suspiro suave. — Ele bateu em você, hein?
Toquei a minha bochecha, imediatamente sentindo a área inchada
onde Valentino me deu um tapa antes. — Foi minha culpa... Entrei no
escritório dele para impedi-lo de matar alguém.
Gianna estendeu a mão e tocou suavemente a minha mão. Ela era
reconfortante, algo que eu precisava mais do que qualquer coisa no
mundo agora.
— Foi a sua primeira vez? Quer dizer, primeira vez que viu alguém
morrer?
Ela fez parecer que já tinha experimentado isso antes, e comecei a
sentir que talvez eu tivesse exagerado, mas ver alguém perder a vida sem
pensar duas vezes foi extremamente difícil de processar.
— Não consigo imaginar ver isso de novo, — admiti. — Foi terrível, e
eu simplesmente fiquei lá, incapaz de ajudar...
— Elaina, você não pode ajudar, e não tente, porque isso só vai piorar
as coisas, — Gianna me avisou. Ela apoiou os cotovelos na mesa e olhou
para mim.
— Val não gosta que as pessoas interfiram em seus negócios. Em
parte, é por isso que ele não gosta de mim. Eu me defendo e ele não pode
fazer nada a respeito porque estou com o irmão dele.
— Mas você é a sua esposa - ele pode fazer o que quiser para mostrar o
ponto de vista dele.
Eu já sabia que ele era contra qualquer interferência. Ninguém
poderia impedi-lo de colocar as mãos em mim, então era melhor eu ficar
fora disso.
Mas era tão difícil passar por aquela porta e saber o que ele estava
fazendo.
— Stefano mencionou que Valentino quase teve que se casar com uma
irlandesa, suponho que para formar uma união ou o que seja, — eu disse
de repente. — Sabe o que aconteceu?
Gianna parou por um momento, olhando ao redor da cozinha vazia
antes de caminhar ao redor da mesa e se sentar ao meu lado, começando
a falar.
— Ele deveria se casar com a filha do capitão da máfia irlandesa,
Coilin. O nome dela é Keela. O arranjo foi decidido anos atrás.
— Tudo parecia estar indo como planejado até que Marco descobriu
que Coilin estava tramando uma emboscada para a cerimônia de
casamento.
Meus olhos se arregalaram com a informação que Gianna acabava de
me contar. Parecia uma jogada estúpida ir contra Valentino e sua família,
mas os irlandeses aparentemente haviam planejado isso.
— Oh meu Deus... O que aconteceu? — Presumi que Valentino os
tivesse matado. Ele deve tê-los matado - ele não toleraria isso, e
certamente seu pai tinha a mesma perspectiva.
Gianna respirou fundo e continuou falando em um tom baixo. — Foi
cerca de dois meses antes do casamento quando Marco descobriu e,
claro, eles planejaram pegar os irlandeses primeiro.
— Mas eles são inteligentes e viram o que estava por vir. Não sabemos
quando, mas eventualmente, vai estourar uma guerra total entre os
irlandeses e os italianos.
— E a aliança que criamos entre italianos e russos vai ajudar... —
acrescentei.
Gianna acenou com a cabeça lentamente. — Exatamente.
Tentei absorver tudo, mas parecia insano, como um filme de ação do
qual eu não queria fazer parte. Eu não queria me envolver em tiroteios
ou assassinato em massa.
Eu poderia lidar com a visão de sangue. Mas eu não conseguia
suportar o som de pessoas gritando de dor e agonia.
Isso é um pesadelo, uma maldição que me foi dada no meu
aniversário.
De certa forma, foi um filme da Disney com uma reviravolta. Como a
Bela Adormecida, mas eu estava acordada e observando o horror se
desenrolando ao meu redor.
Passos surgiram no corredor e, quando olhei para a porta, Valentino
estava entrando na cozinha. Ele sempre sabia onde eu estava e isso me
apavora. Eu nunca poderia ficar longe dele.
— Vejo que vocês estão ficando bem à vontade. — Ele acenou para
Gianna e eu.
Eu balancei minha cabeça lentamente. — É bom ter uma amiga.
Percebi Gianna sorrindo com o canto do meu olho. — Devíamos ir no
The Underground algum dia, Elaina. Seria divertido.
— The Under...
— Absolutamente não, — Valentino respondeu por mim antes que eu
pudesse responder. O olhar que ele deu a Gianna enviou arrepios na
minha espinha, mas Gianna não parecia nem um pouco afetada pela sua
tática de intimidação.
— Quanto tempo você vai trancá-la aqui, Val? — Gianna atirou de
volta, franzindo a testa.
Eu podia sentir a tensão aumentar instantaneamente, então a voz de
Valentino ficou alta quando ele bateu com a mão na mesa. — Devi
rimanere il cazzo fuori delia mia attività!
Tradução: Você precisa ficar fora dos meus negócios!
— Calma, Val. Forse se non fossi cosí ombroso, non mi sentiresti
minacciato da me parlando a Elaina! — Argumentou Gianna num tom
quase tão forte como Valentino, mas menos eloquente.
Ninguém poderia ser tão intimidante como ele.
Tradução: Calma, Val. Talvez se você não fosse tão obscuro, você não se
sentiria tão ameaçado por eu falar com Elaina!
Eu ouvi meu nome, mas fui inteligente o suficiente para saber que eles
estavam falando em italiano, então não entendi o que estavam falando.
Seu ódio por Gianna era claro, assim como o ódio dela por Valentino,
mas eu fiquei boiando, como ficava com a maioria dos assuntos por aqui.
De repente, Valentino agarrou meu braço com força. — Venha
comigo.
Minha boca se abriu ligeiramente, mas eu balancei a cabeça enquanto
deslizava da cadeira e o seguia enquanto ele saía da sala, olhando para o
rosto irritado de Gianna quando saímos.
— Se non fosse com mio fratello, avrei tagliato la gola, — murmurou
baixinho ao começar a me arrastar escada acima.
Tradução: Se ela não estivesse com meu irmão, eu cortaria a sua
garganta.
O italiano soava uma língua tão bonita, mas eu tinha quase certeza de
que nenhuma palavra bonita saía da boca dele, não importava o quão
charmosa ela soasse.
Eu só podia imaginar as palavras maldosas que ele disse sobre Gianna
agora.
— Você é muito melhor do que ela, — disse Valentino para mim. Ele
não só falava em inglês, mas também me elogiava. Certamente, isso teria
um preço.
Eu apenas o encarei. Por que ele diria isso? Eu não fiz nada.
Valentino abriu a porta do nosso quarto e esperou que eu entrasse
antes de seguir atrás de mim. Eu ouvi o som da porta fechando atrás de
nós, seguido pelo clique da fechadura.
— Diga meu nome, — ele me disse de repente.
Eu me virei para olhar para ele com a testa franzida. — Huh? Eu...
— Nunca ouço você dizer meu nome, — ressaltou. — Diga.
Foi um pedido simples. — Valentino.
— Mmm... — Um sorriso afetou seus lábios enquanto ele movia sua
mão para minha bochecha. — Esse é o nome da minha empresa, tesoro.
Em nossa casa, você me chama de Val, va bene?
Tradução: Ok?
Eu balancei minha cabeça lentamente. — Oh, tudo bem.
De repente, ele pegou minha mão. Val pegou minha mão e colocou
em seu peito enquanto olhava para mim. — Eu quero que você desabotoe
a minha camisa...
— Valen... quero dizer, Val... eu... eu...
— Ah, ah. — Ele me parou instantaneamente. — Esta não é uma rua
de mão única, amor. Quero que a minha esposa demonstre afeto e,
depois de um longo dia, preciso que ela se esforce em nossos momentos
íntimos.
Eu podia sentir meu coração disparado. Isso foi diferente dos nossos
momentos anteriores. Quando ele fazia sexo comigo, era simplesmente
isso: ele fazendo o trabalho e eu dando meu corpo a ele.
Nunca movi as minhas mãos sobre ele ou fiz qualquer esforço para
agradá-lo, embora ele parecesse estar satisfeito de qualquer maneira.
— Desabotoe a camisa, Elaina, — ele exigiu.
Minhas mãos tremiam quando alcancei o primeiro botão de sua
camisa. Senti meu rosto enrubescer e o primeiro botão se soltou.
Tentei me concentrar em desabotoar a camisa, mas os lábios de Val
capturaram os meus e meu corpo caiu mole. Suas mãos na minha bunda
me mantiveram estável.
Meus joelhos fracos não eram de emoção, mas de nervoso. Eu estava
com medo do que ele poderia fazer comigo.
— Continue, — ele murmurou contra meus lábios antes de mover os
seus lábios pelo meu queixo.
De certa forma, eu senti que agora estava dando permissão a ele para
fazer sexo comigo; como se eu estivesse dizendo a ele que queria, mas
não era verdade.
Eu poderia não dar ouvidos a ele, o que me levaria a levar um tapa e
ele faria sexo comigo de qualquer maneira, ou eu obedecia. Eu escolhi
obedecer agora que eu o conhecia melhor.
Eu não poderia lutar para sempre.
Terminei de abrir os botões de sua camisa e Val me virou
rapidamente, levantando-me ligeiramente enquanto me jogava na cama.
Eu caí de barriga, gemendo levemente com a interação repentina.
Instintivamente, tentei me apoiar nos cotovelos, mas caí de volta
quando Val empurrou minha cabeça contra o travesseiro.
Olhando para o lado, pude vê-lo puxar algo do bolso, e não foi até que
ele ejetou a lâmina que percebi que era um canivete.
— Oh meu Deus. Não! Por Favor, nã...
— Shhh... — Ele moveu a lâmina sob a minha camisa, e antes que eu
percebesse, ele cortou o tecido totalmente.
Eu estava esperando que ele fizesse algo com aquela faca que tiraria
sangue do meu corpo, mas isso nunca aconteceu. Ele só usou para tirar
minhas roupas de maneira rápida e agressiva.
Ele me rolou de costas para que ele estivesse pairando sobre mim, e
seus olhos vagaram pelo meu peito. — É uma pena que você não possa
seguir as regras. Eu realmente gostaria que você seguisse, porque então
eu não seria forçado a puni-la. H
— P - punir? — Eu gaguejei, ficando mais desconfortável sob o seu
olhar.
Ele continuou a me olhar com calma. — Você não pode esperar que eu
te liberte com esse comportamento de hoje, não é?
Ele tem uma faca. Aquela lâmina era tudo que eu conseguia pensar, e
me apavorou. — Eu sinto muito... desculpe. Eu não deveria ter...
Sua mão cobriu a minha boca para me impedir de falar, e ele se
inclinou para sussurrar em meu ouvido: — Não se preocupe, eu não vou
te castigar agora. Mas isso vai acontecer. Eventualmente.
Isso era uma tortura. Ele ia fazer algo comigo quando eu menos
esperava. Eu não tive nenhum aviso concreto apesar de saber que algo
estava por vir. Eventualmente, pode ser a qualquer momento.
Eu não sabia o que ele faria comigo - se ele iria me bater ou me
amarrar. Ele era impossível de ler e gostava de ser assim.
Por que ele esperou tanto para me dizer, eu não tinha ideia. Agora, eu
tinha que esperar o momento temido em que ele iria me castigar.
Capítulo 7
ELAINA

Você nunca sabe como será o seu dia ao acordar pela manhã. Quer
dizer, você pode esperar o melhor, mas pode ser o pior dia da sua vida ou
até mesmo o último.
No momento em que seus olhos se abrem, você não tem ideia do que
o dia reserva para você.
Eu não tinha ideia quando acordei esta manhã o que estaria
esperando por mim ou como o meu dia seria.
Depois que os últimos dias pareceram correr tão bem, meus sonhos
tinham tirado o melhor de mim e eu estava presa em minhas próprias
esperanças de que talvez a vida dentro desta prisão não fosse assim tão
ruim.
Era tudo falso. A vida era terrível e sempre seria. Hoje, eu me lembrei
disso.
Gianna tinha ido embora. Ela não estava proibida de sair de casa como
eu. Stefano a apreciava e a respeitava, embora fizesse coisas nojentas
exatamente como Val fazia.
Ele se importava com a sua mulher, mas não foi forçado a se casar
com ela como Val foi forçado a se casar comigo.
Eu não percebi o quanto a companhia de Gianna significava para mim
até que ela não estava lá. Anita era muito gentil, mas também
extremamente focada no trabalho. Com base em sua idade, parecia que o
trabalho era tudo para ela.
— Então, você também trabalhou para os pais de Val? — Perguntei a
Anita enquanto ela preparava uma torta de maçã.
Ela acenou com a cabeça, sorrindo com a memória. — Aí sim. O
Valentino nem era nascido quando eu comecei a trabalhar para os pais
dele. Eu o vi crescer.
Deve ter sido desanimador para ela vê-lo assim.
Anita era mais velha do que o resto das pessoas na casa. Calculei cerca
de sessenta anos, não mais que isso. Sua personalidade amigável me fez
pensar por que ela havia se envolvido com essas pessoas para começar.
— E a sua família? Onde ela está? — Eu perguntei a ela, dando uma
mordida no sanduíche que ela tinha feito para mim.
Ela simplesmente balançou a cabeça. — Eu não tenho uma, querida.
Eu não podia me dar ao luxo de cuidar de uma criança, então certamente
não iria trazer uma ao mundo.
— Eu engravidei muito jovem, mas a bebê foi enviado para ser criado
em outro lugar, em algum lugar onde ela pudesse ter uma vida boa.
Era tão triste que ela nunca tivesse experimentado as aventuras da
maternidade. Meu coração se partiu por ela, mas a sua lógica era
compreensível. Ela era tão doce e gentil com tudo o que fazia.
Meus olhos vagaram pela cozinha. Qualquer pessoa que entrasse aqui
presumiria que essa era uma casa normal. — Você foi forçada a trabalhar
para o Sr. Acerbi? Uh... Marco?
Anita levantou a cabeça e olhou para mim, franzindo a testa
ligeiramente. Ela parecia diferente agora. — Elaina, fazer muitas
perguntas nunca é uma coisa boa.
Eu balancei a minha cabeça lentamente.
Mesmo Anita não queria que eu perguntasse, mas havia tantas coisas
que eu ainda precisava descobrir.
Passos soaram no corredor e Raffaele, a quem aparentemente
chamávamos de Rafe, surgiu. — Elaina, desculpe-me por interromper,
mas o Valentino está procurando por você.
— Ok, — eu respondi e me levantei, dando um sorriso para Anita. —
Foi bom conversar com você, Anita.
Ao sair da cozinha com Rafe, percebi que algo parecia estranho.
O próprio Val havia dito que Valentino era seu nome comercial-.
Todos o chamam de Val, a menos que estejam fazendo negócios.
Não sou conivente e calculada como eles, mas ouvi seus homens
falarem com ele, e sempre usaram o apelido Val.
— Então, você sabe o que ele precisa? — Perguntei a Rafe
nervosamente, mas tentando ser casual.
Ele balançou a cabeça e manteve o olhar para frente. — Não.
Valentino acabou de pedir que eu a acompanhe até o porão.
Eu parei no meio do caminho. — O porão? Sem chance. Eu não tenho
permissão para descer lá.
Rafe imediatamente se virou para mim, suspirando pesadamente com
a minha objeção. — Elaina, ele ordenou que eu levasse você lá. Foi uma
ordem, então não vamos fazer isso da maneira mais difícil.
Eu não vou te castigar agora. Mas isso vai acontecer eventualmente.
As palavras de Val permaneceram na minha cabeça. Fazia dias que ele
ameaçava me punir por interferir em seus negócios, e presumi que ele
tivesse desistido, mas era exatamente o que ele queria.
Ele queria que eu baixasse a guarda para que isso fosse fácil para ele.
— Foda-se! — Eu berrei antes de me virar e correr em direção às
escadas o mais rápido que pude.
O porão era um lugar que eu não queria ir. Só Deus sabe o que está
acontecendo lá embaixo, e com certeza eu pagaria por isso mais tarde,
mas no momento tudo que eu podia fazer era fugir.
Ouvi Rafe gritar algo em italiano enquanto subia as escadas correndo,
mas eu não conseguia parar para pensar nas consequências.
Tudo que eu conseguia pensar era em me proteger do que quer que
Val tivesse planejado neste momento.
Quando Cheguei ao corredor no andar superior da casa, corri para a
última porta, sem saber o que estava atrás dela. Estava levemente aberta,
então aproveitei a oportunidade para entrar correndo e tentar me
esconder.
Ele me encontraria, mas talvez eu tivesse um pouco de sorte e
escapasse pela janela. Todos estariam tão concentrados em passar pela
porta que ninguém poderia estar se concentrando no gramado da frente.
A casa de Val não tinha grades na janela como a de Vadim, então tudo
que eu teria que fazer era quebrá-la.
Quando fechei a porta atrás de mim, olhei em volta e vi um cômodo
que parecia ser um quarto de hóspedes. Era grande, mas não tão grande
quanto o meu e o de Val.
Fui até a janela, vendo o gramado da frente e querendo
desesperadamente sair correndo daquele lugar.
Eu posso fazer isso. Se eu não tentar agora, nunca tentarei.
Tentei puxar a janela, mas ela não se mexeu. — Puta que pariu!
Meus olhos pousaram em uma mesa no canto da sala. A cadeira à sua
frente era relativamente pequena e eu poderia facilmente pegá-la. Então
eu peguei.
Peguei a cadeira e joguei na janela. Não foi o melhor lance, mas
deveria ter sido o suficiente para quebrar a janela. Mas nem mesmo fez
uma rachadura.
Meu peito estava ofegante. Ouvi passos no corredor e sabia que ele
estava vindo atrás de mim. Bati meus punhos na janela, desesperada para
que o vidro quebrasse, e nada aconteceu.
— Eu sou tão estúpida... — eu sussurrei para mim mesma.
Eu tinha duas opções. Eu poderia descer e permitir que ele me
machucasse de uma maneira que eu só poderia imaginar, ou poderia
tentar correr e me defender. Eu escolhi a segunda opção e
potencialmente piorei a situação.
O som de uma chave destrancando a porta fez meu estômago revirar.
Quando a porta se abriu, Val ficou ali sozinho, com a arma na mão.
Ele entrou na sala silenciosamente e fechou a porta atrás de si,
encostando-se na parede sem dizer uma única palavra.
O silêncio dele me apavorou mais. Seu exterior calmo era algo que eu
nunca iria me acostumar quando eu estava com o estômago embrulhado.
— Qual era o seu plano, Elaina? — ele perguntou-me.
Eu o encarei em silêncio. Eu não tinha uma resposta porque não tinha
um plano.
— Deixe-me ver... Você pensou que poderia quebrar uma janela e
pular para a sua liberdade?
Eu olhei para os meus pés, sentindo meus olhos queimando quando
um caroço subiu à minha garganta. — Por que você se importa?
Val riu de mim. — Eu não me importo. Eu simplesmente acho
divertido, amor.
Ele ergueu a arma e, antes que eu tivesse a chance de reagir ou
implorar para que ele não atirasse, ele puxou o gatilho.
Meus ouvidos zumbiam.
Foi o barulho mais alto que eu já ouvi em toda a minha vida, e eu caí
no chão, segurando meus ouvidos e pela fraqueza que meu corpo sentia
por toda essa situação.
Ele tinha mirado na janela e ela não se estilhaçou; o som permaneceu
na sala e o vidro não se mexeu.
— À prova de balas, amor, — ele apontou. — Você realmente acha que
eu seria tão estúpido?
Não, mas eu adoraria que fosse.
Val se ajoelhou perto de mim e ergueu meu queixo para que eu
olhasse para ele. — Vou te fazer uma pergunta, e desta vez espero uma
resposta.
Tenho sido paciente e permiti que você evitasse perguntas, mas esta,
você vai responder.
Eu balancei a cabeça relutantemente, sem saber o que eu esperava sair
de sua boca em seguida.
Ele se aproximou de mim até que, finalmente, suas palavras não
passavam de um sussurro. — Você acha que eu queria me casar com você?
A pergunta me pegou de surpresa. Todo esse tempo, ele parecia tão
focado nesta união e em nós dois que esse pensamento não tinha
passado pela minha cabeça até agora.
Ele estava esperando uma resposta, mas eu não tinha certeza de que
resposta dar.
Abri minha boca para falar. — Não...
Val ergueu as sobrancelhas e sorriu para mim. — Você tem esse
direito. Mas aqui estamos nós, então sugiro que você engula seu orgulho
e sirva como minha esposa da maneira adequada.
Eu prefiro não ter você me envergonhando constantemente e me
forçando a puni-la por seu comportamento ultrajante.
— Você é responsável pelas suas próprias ações. Você não tem que me
punir se você não...
— Cale a boca. — Seu tom era afiado e eu parei de falar
instantaneamente.
— Depois do que você acabou de fazer, subiu correndo aqui e se
trancou no quarto enquanto jogava cadeiras na janela, eu já deveria ter
colocado você no seu lugar.
Uma coisa que eu não vou tolerar é você me respondendo.
Eu não tinha certeza de como poderíamos ter uma conversa sem eu
responder, ou exatamente o que ele considerava como — responder. —
Val era impossível de lidar.
— Meus pais chegarão em breve. Você ainda não conheceu a minha
mãe, então vista-se bem. — Sua mandíbula estava cerrada quando ele se
levantou e ajeitou a jaqueta. Ele me surpreendeu porque saiu da sala e eu
não encostou um dedo em mim. Não houve espancamento, nem luta ou
cabelos arrancados.
Ele ergueu a voz, mas além das palavras de controle e do abuso verbal,
saí ilesa.
O que estava esperando por mim naquele porão? Eu não tinha certeza,
mas aprendi que cada momento acaba virando um efeito de bola de neve.
A bola continua rolando até ficar maior, e eu sabia que esse não seria o
fim.
Talvez eu tivesse escapado de sua ira por enquanto, mas eu
enfrentaria isso mais cedo ou mais tarde, e seria potencialmente pior
depois de como eu reagi hoje.
*
Eu não conheci a mãe de Val no casamento. Ela não compareceu por
algum motivo, o que era estranho, considerando que seu filho havia se
casado, mas Val disse que ela não estava bem na época.
Talvez fosse mentira, mas eu não estava em posição de questioná-lo.
Seu pai era alguém que eu já conhecia e não estava muito feliz em ver
novamente. O homem me apavorou. Estava claro que ele tinha criado Val
para ele ser do jeito que era.
Sentei-me na beira da fonte no quintal, tentando perder o máximo de
tempo possível e esperando que os Acerbis não quisessem me ver.
Mas como eu era a esposa do filho deles, sabia que isso era uma ilusão.
A maioria dos recém-casados gostava das pequenas coisas, enquanto eu
temia cada momento, até mesmo acordar todas as manhãs.
— Elaina, — ouvi Val dizer quando as portas traseiras se abriram, e
olhei em direção à casa para vê-lo saindo com seu pai.
Uma linda mulher seguia atrás deles, e eu sabia que era a sua mãe. Ela
tinha cabelos pretos e uma postura mais acolhedora do que o marido ou
filho.
Quando chegaram à fonte, levantei-me e Val imediatamente me
apresentou à sua mãe.
— Elaina, esta é a minha mãe, Paloma Acerbi. Mamãe, esta é a minha
esposa, Elaina.
— É muito bom conhecê-la, Sra. Acerbi. Gostaríamos que você
pudesse ter participado do casamento. — Eu sorri para ela, estendendo a
minha mão para frente.
Paloma apertou minha mão gentilmente e retribuiu o sorriso. —
Elaina, minha querida. Você é tão linda.
Sua expressão mudou de repente, e Val olhou para ela com uma
sobrancelha franzida.
— Mamãe, stai bene?
Tradução: Mamãe, você está bem?
Paloma olhou para Val e balançou a cabeça, parecendo subitamente
angustiada, e fiquei preocupada por ter feito algo para aborrecê-la. —
Perché c'è un lívido sul viso?
Tradução: Por que há um hematoma em seu rosto?
Val olhou para mim e tive medo de que minhas preocupações
tivessem sido confirmadas. Achei que as coisas estavam indo muito bem,
mas tudo sempre acabava bagunçado quando se tratava de Val e de sua
família.
— Mamãe...
— Paloma, meu amor. Cio avvenne mentre era con i Vadim, — Marco
assumiu, apoiando as mãos nos ombros de Paloma.
Tradução: Isso ocorreu enquanto ela estava com Vadim.
Era estranho ver Marco, o pai de Val, sendo gentil e compassivo com
outro ser humano enquanto Val era completamente incapaz de fazer
isso.
Embora eu não tivesse ideia de que conversa havia se desenrolado
antes de mim, eu sabia que Vadim foi mencionado.
Marco foi paciente e não estava zangado por Paloma ter falado o que
pensava, seja o que for que ela tenha dito.
Val limpou a garganta e segurou seu braço em volta da minha cintura,
fazendo-me estremecer ligeiramente. — Ela está segura aqui, mamãe. Eu
te garanto.
Eu olhei para Val, que estava mentindo na cara dura. Eu não estou
segura aqui - longe disso. Eu me perguntei o que sua mãe estava
perguntando para fazê-lo dizer isso.
Paloma olhou para mim e colocou a mão na minha bochecha. —
Quantos anos você tem, querida?
— Dezoito, — respondi.
Ela parecia arrasada e eu não sabia por quê. Quando a sua mão caiu
para o lado, ela olhou para Marco e forçou um sorriso. — Vamos comer?
Adoraria conhecer melhor a minha nova nora.
— Claro, querida. — Marco entrou na casa com Paloma e, antes que
eu pudesse segui-los, Val me parou. Sua mão me agarrou, puxando-me
contra ele enquanto seus lábios se moviam para o meu ouvido.
— Esteja no seu melhor comportamento.
— Eu sei, — eu disse a ele, balançando a cabeça. — Sua mãe parece
tensa.
— Ela está bem, — ele retrucou para mim. — Coloque-se no seu lugar,
Elaina. A minha mãe é muito importante para mim. Eu não a quero
envolvida em nada dessa bagunça.
Eu franzi a minha sobrancelha. Este casamento certamente foi uma
bagunça, e eu não gostaria de arrastar mais ninguém para dentro disso.
Marco orquestrou isso com Vadim. Talvez Paloma não concordasse
com isso ou não tivesse a menor ideia. Muitos pensamentos passaram
pela minha cabeça, mas eu nunca teria certeza de qual era exatamente a
verdade.
Eu agora teria que sentar no jantar com os pais de Val e observar cada
palavra que eu dissesse, esperando não falar nada errado.
Capítulo 8
ELAINA

A mesa estava relativamente quieta, exceto por algumas palavras que


foram ditas entre Val e seu pai.
Notei que Paloma olhou para mim algumas vezes e, quando Anita
entregou a comida, ela parou para falar com ela momentaneamente.
Fora isso, tentei dizer o mínimo possível, com medo de dizer algo
errado.
Embora a mesa fosse enorme, nós quatro nos sentamos em uma das
pontas. Sentei-me de um lado, junto de Val, enquanto seus pais se
sentaram juntos no lado oposto.
— Elaina, querida. — Eu levantei a minha cabeça para ver o olhar de
Paloma em mim. — Você já tem fotos do casamento?
Eu balancei a cabeça. Eu não tinha mais um telefone, e Val era quem
tinha comunicação com o fotógrafo, presumi. — Não tenho certeza...
— Na verdade sim. Elas chegaram ontem. — Val acenou com a cabeça
em direção a sua mãe. — O fotógrafo que você sugeriu foi incrível, mãe.
Paloma apenas acenou com a cabeça para Val, e ele se levantou, saindo
da sala para pegar as fotos, que eu ainda não tinha visto. Marco não
parecia satisfeito quando se virou para a esposa e falou baixo.
Seus olhos se moviam para mim ocasionalmente, o que não me
deixava mais confortável.
— Paloma, meu amor. Talvez você possa ir com o nosso filho e ajudá-
lo? — Marco sugeriu.
Paloma olhou para ele, sua sobrancelha escura arqueada com um
olhar desinteressado. — São só fotos, Marco. Tenho certeza que ele
consegue sozinho.
— Paloma. — Sua voz era mais exigente desta vez. — Vá ajudar o
Valentino. Não estou pedindo.
Houve um momento de silêncio antes que Paloma empurrasse sua
cadeira e se levantasse. Ela não parecia querer obedecer ao pedido de
Marco, mas ela não parecia ter muita escolha.
Era assim que as coisas funcionavam por aqui: os homens davam
ordens e as mulheres obedeciam.
Quando Paloma saiu da sala, comecei a me levantar. — Vou ver se a
Anita precisa de ajuda na cozinha.
— Sente-se, Elaina, — Marco me disse, com um tom frio e áspero. —
Não tivemos muito tempo para nos conhecermos.
Afundei em minha cadeira e olhei para Marco com uma expressão
vazia. Eu sabia que ele tinha feito Paloma partir para que pudesse ficar
sozinho e me repreender por Deus sabe quais motivos, mas mesmo
assim...
Este homem era assustador só de olhar.
— Meu filho - ele pode ser difícil de lidar. Estou ciente de seus...
problemas de temperamento, vamos chamar assim. — Ele acenou com a
cabeça.
— Talvez você se lembre da noite em que o acordo foi discutido com
seu pai.
— Ele não é meu pai, — respondi a Marco. — E com todo o respeito,
senhor Acerbi, não diria que o Valentino tem problemas de
temperamento. É mais como uma personalidade dividida.
Ao contrário de Val, que riria sombriamente do meu comentário,
Marco respondeu com uma abordagem mais ameaçadora.
Ele pegou uma faca que estava ao lado dele e apontou diretamente
para mim. — Tenha algum respeito!
— Vadim pediu especificamente para mantê-la segura, e se você
prestasse atenção, você se lembraria do que eu disse naquela noite.
Eu me lembrei do que ele disse porque mesmo durante o período mais
assustador da minha vida, isso me deu conforto.
— Você disse que eu seria uma Acerbi e que os Acerbis valorizam a
família acima de tudo, — respondi baixinho.
Marco sorriu. Não era um sorriso bonito; longe disso. Ele sorriu um
sorriso tortuoso e ameaçador que me fez querer desaparecer.
— Exatamente, tesoro. No entanto, se você nos causar muitos
problemas, não hesitarei em matá-la e garantir que seu corpo nunca seja
encontrado.
Eu poderia vomitar, e faria isso se abrisse a boca para falar. Era óbvio
de onde Val tirava a sua natureza intimidadora.
Tudo que pude fazer foi acenar com a cabeça, mas porque ele me
ameaçou, isso não me impediria de tentar obter a minha liberdade de
volta. Eu não poderia ficar aqui para sempre. Esta não era a minha vida.
— Elaina. — Essa era a voz de Val. Ele estava na porta com a sua mãe.
Os dois seguravam uma foto profissional de nosso casamento.
Foi a primeira vez que as vi e pude ver como estava realmente infeliz.
Embora eu estivesse sorrindo, era apenas porque me disseram para fazê-
lo.
Val escolheu uma foto onde dava para me ver com as costas
pressionadas contra seu peito e as mãos dele estavam na minha cintura
enquanto eu olhava para ele e ele olhava para a câmera com um olhar
sombrio. Era de arrepiar.
Claro, a sua mãe escolheu o melhor. Nós dois estávamos de frente um
para o outro, e eu estava fingindo meu melhor sorriso.
— Vou colocar uma maior acima da lareira. Qual você prefere? — ele
perguntou-me. Ele obviamente amava a foto menos acolhedora, que
representava nosso casamento perfeitamente.
Apontei para a que ele estava segurando. Nós dois parecíamos tão sem
emoção na foto. — Aquela.
Val sorriu em resposta. — Exatamente o que eu estava pensando. É a
minha favorita, na verdade.
Comi algumas de minhas batatas em silêncio enquanto Val colocava
as fotos de lado e todos voltavam para seus lugares. Enquanto Marco
cortava seu bife, não pude deixar de me lembrar de sua ameaça descarada
para mim.
Eu não deveria estar surpresa - eu tinha certeza de que Val se sentia da
mesma maneira. Eles poderiam me matar em um instante, e eu sabia
disso.
— É muito cedo para falar sobre netos? — Paloma perguntou, me
surpreendendo com a pergunta.
Eu estava engolindo em seco quando ela perguntou, e comecei a
engasgar com a minha batata. A última coisa que eu queria era ter filhos
com este monstro.
A mão de Val estava nas minhas costas, batendo levemente. Quando
peguei meu copo d'água, rapidamente comecei a engolir o líquido,
sentindo a minha garganta limpar.
— Eu sinto muito, Sra. Acerbi. Você realmente me pegou
desprevenida...
— Oh querida. Sou eu que devo me desculpar. Talvez eu não deva
bisbilhotar, — ela sugeriu, e eu queria concordar, mas sabia que não
podia.
— Bobagem, mãe, — Val respondeu. — Nunca é cedo demais para
falar sobre crianças. Precisamos manter a linhagem do nome Acerbi.
— Esse é o meu garoto. — Marco ergueu seu copo com orgulho.
Como diabos eu teria filhos com ele? Nunca meus filhos teriam seu
sangue correndo em suas veias. Eu nunca os puniria assim.
Val e eu fizemos sexo sem proteção todas as vezes. Eu não tomava
anticoncepcionais e sabia que ele nunca usava preservativo.
Uma coisa era certa: eu precisava fazer o que pudesse para evitar uma
gravidez.
*
Marco e Paloma partiram logo após o jantar. Pensei em abordar Val
sobre a situação do sexo desprotegido, mas não tinha certeza de como
fazer isso.
Se ele quisesse fazer sexo com proteção, eu tinha certeza que ele faria.
Talvez uma simples conversa ou algo assim bastasse, mas Val não era
nada simples e falar com ele me assustava. Meu próprio marido me
assusta.
— Elaina, temos algumas coisas para conversar, — Val disse enquanto
passava pela sala de estar e parava na porta. — Junte-se a mim em meu
escritório. Vou pedir à Anita que nos faça café.
Levantei os olhos do livro que estava lendo. Talvez ele quisesse falar
sobre a insinuação maluca de sua mãe. Eu coloquei o livro de lado e me
levantei do sofá, seguindo Val para o corredor.
— Sua mãe parece adorável, — eu comentei genuinamente. Eu
realmente gostei de Paloma. Ao contrário de todos por aqui, ela parecia
gentil, e era quase como uma lufada de ar fresco.
Val acenou com a cabeça, mantendo sua expressão em branco. — Ela é
muito especial.
Parecia que ele queria dizer o que disse, mas quando falava sem
emoção, era difícil acreditar em suas palavras. Como alguém pode
acreditar em algo que ele disse quando mostra pouca ou nenhuma
emoção?
As únicas emoções que eu já vi nele foram seu sorriso quando ele ficou
impressionado, mas não foi nada mais do que uma resposta tortuosa.
Sua mão pressionou suavemente a parte inferior das minhas costas
enquanto ele me guiava para seu escritório, abrindo a porta.
A luz estava apagada e, por incrível que pareça, sempre que ele me
permitia entrar nas áreas proibidas da casa, além do porão, eu me sentia
realizada.
— Na verdade, eu também queria falar com você, — falei baixinho
quando entramos em seu escritório assim que Val acendeu a luz.
Eu engasguei com a visão diante de mim: três pessoas ajoelhadas com
sacolas na cabeça e as mãos amarradas nas costas.
Eles começaram a se contorcer quando a luz acendeu, e eu
rapidamente caí de costas contra o peito de Val.
Seus braços agarraram meus quadris e eu o ouvi rir contra meu
cabelo. — Já que meus homens não podem lidar com você, eu decidi lidar
com você sozinho. É hora da sua punição, Elaina.
— Eu pensei que tínhamos superado disso? — Eu olhei diretamente
para ele, sentindo as minhas pernas tremerem enquanto tentava me
livrar de suas garras. O que ele vai fazer comigo?
— Tão ingênua..., — ele murmurou baixinho enquanto chutava a
porta de seu escritório para fechá-la e, finalmente, me soltou.
— Querida, por que eu iria deixar você ir embora com esse seu mau
comportamento? Só daria a impressão de que você poderia fazer de novo.
Ele enfatizou a palavra — querida — e comecei a sacudir a cabeça
vigorosamente. — Eu não vou. Eu juro... eu sinto muito.
— Você ficará, — ele disse simplesmente enquanto caminhava até sua
mesa e abria a gaveta. Ele parecia focado enquanto tirava uma arma
prateada.
Eu não sabia que tipo de arma era, mas sabia o que era e que era prata.
— Você já atirou com uma arma antes?
Os olhos de Val encontraram os meus enquanto eu balancei minha
cabeça em resposta. Ele devia estar louco para pensar que eu alguma vez
usei uma arma. Eu deixei claro como me sentia sobre seu estilo de vida.
— Qualquer hora eu quero te ensinar — ele me disse, — para
proteção. Iremos para o campo de tiro e mostrarei o básico.
Mas, por agora, vou apresentá-la a esses três idiotas ajoelhados diante
de mim.
Mordi meu lábio inferior com força, querendo que ele me dispensasse
e dissesse que eu estava livre para ir, mas em vez disso, ele tirou a
primeira bolsa.
— Não vou lhe dizer nomes porque sei que você é sensível e, acredite
ou não, eu tenho um certo coração. — O sorriso que Val me deu enviou
calafrios na minha espinha.
Ele é feito de puro mal e sabe disso. Ele não tem coração.
A primeira bolsa revelou um homem de meia-idade. Ele estava
amordaçado e suando, parecendo apavorado. Cobri a minha boca com a
mão e fechei os olhos com força, mas Val estava atrás de mim.
— Ah, ah. Olhos abertos. Você precisa prestar atenção.
O homem me encarou com olhos marejados, como se implorasse por
ajuda, mas até eu sabia que não havia nada que eu pudesse fazer para
ajudá-lo. Se eu dissesse alguma coisa, só pioraria as coisas.
— Vamos ser menos pessoais. Não vou falar os nomes porque a minha
esposa aqui fica sempre se conecta... a todos menos a mim, é claro.
A revirada de olhos de Val ficou clara e ele se afastou de mim, ficando
atrás do homem mortificado. — Vamos falar sobre a família dele. Ele é
casado... há quanto tempo? Oito anos?
O homem ajoelhado lentamente acenou com a cabeça e notei uma
lágrima rolar por sua bochecha.
— Ele não apenas tem uma bela esposa, mas também tem dois filhos.
Rapazes. Cinco anos e um aninho.
Val parecia saber muito sobre o homem, mas antes que qualquer outra
coisa fosse dita, ele puxou a bolsa da cabeça do segundo homem.
— Número dois. Este cavalheiro não tão bom tem vinte e três anos e
se casou há apenas quatro meses, sem filhos ainda.
Qual era o objetivo de tudo isso? Ele não me disse os nomes, mas
estava me torturando com fatos sobre a vida desses homens. Era terrível.
O segundo homem parecia tão assustado quanto o primeiro, só que
era mais jovem. E então veio o terceiro...
— Aposto que você está se perguntando sobre ele... — Val sorriu para
mim.
— Val, por favor...
— Não me interrompa, Elaina. — Seu tom tomou-se áspero e, quando
fechei a boca, ele continuou, apresentando o terceiro e último homem.
— Este homem não tem ninguém além de seu avô e sua avó
moribunda que o adore. Ele daria a eles qualquer coisa, o que parece
bastante nobre, não é?
Mas há um problema sobre cada um desses homens. Todos eles têm
uma coisa em comum.
Eu dei outra olhada em cada um deles. Presumi que todas as idades
estavam entre 23 e 35 anos, então talvez a juventude deles fosse algo que
eles tivessem em comum.
— Estou feliz que você perguntou isso. — Ele começou a caminhar de
volta para mim e colocou sua mão firme no meu ombro. — Todos eles
me foderam, e você sabe o que, Elaina? Eu não gosto quando as pessoas
me fodem.
Oh Deus, não. Isso não ia acabar bem.
Eu poderia dizer pelo seu tom que algo ruim estava para acontecer,
mas eu não tinha certeza por que ele estava chamando isso de minha
punição quando ele estava atacando aqueles homens.
Possivelmente porque ele sabia que me machucaria ver a dor que ele
infligia a eles.
— Adivinha o quê, bebê? Você tem uma grande decisão a tomar... —
Val moveu seus lábios no meu ouvido e sussurrou baixo.
— Apenas um deles não vai sair daqui vivo, e você pode escolher quem
será.
Meus olhos se arregalaram com as suas palavras, enojada e chocada
por ele estar colocando essa decisão sobre mim. Eu não podia e não
escolheria tirar uma vida.
Comecei a sacudir a minha cabeça vigorosamente. — Não! Não... eu
não... eu não posso fazer isso...
De repente, meu rosto estava voltado para olhar para ele, e ele estava
olhando para mim com um olhar severo em seu rosto. — Eu acho que
você entendeu mal. Eu não perguntei a sua opinião. Não é uma escolha.
Meu lábio tremeu quando meus olhos começaram a se encher de
lágrimas. Eu não poderia escolher matar alguém. Seria como se eu
mesma os estivesse matando. — Val...
— Não me faça trazer seus entes queridos para cá...
Ele me surpreendeu com a sua resposta. Ele sabia sobre Kira e
conhecia a minha mãe.
Eu não queria que elas se machucassem por minha causa.
— Quem será - o homem com dois filhos pequenos e uma esposa, o
recém-casado ou o homem que é adorado por sua avó moribunda?
Casualmente, Val girou a arma em tomo de seu dedo
impacientemente antes de parar e olhar para mim com um sorriso
divertido. Quando ele estendeu a arma para mim, franzi a testa.
— O quê? Não... Eu - eu não quero tocar nisso...
Presumi que ele tinha matado muitas pessoas com aquela mesma
arma, e eu não queria minhas mãos perto dela, mas o estrondo baixo que
soou da garganta de Val indicava que ele não estava brincando.
— Mas é você quem vai puxar o gatilho.
Não posso acreditar no que o ouvi dizer. Ele ia me fazer matar alguém.
Capítulo 9
ELAINA

Eu fiquei parada, meus pés congelados no lugar enquanto evitava o


contato visual com os três homens ajoelhados na minha frente. Lágrimas
brotaram dos meus olhos e o inimaginável correu pela minha cabeça.
Não sou uma assassina - mas Val estava tentando me tomar uma.
Ele planejou me quebrar até que cada pedaço de minha identidade se
fosse e eu estivesse tão danificada quanto ele.
Ele queria que eu fosse tão cruel e fria quanto ele, mas no momento
em que puxasse o gatilho e tirasse a vida de alguém, não sei se seria capaz
de passar outro dia vivendo comigo mesma.
Val estava ao meu lado, o mesmo sorriso malicioso plantado em seus
lábios enquanto ele admirava sua arma. — Os iniciantes nem sempre são
bons atiradores.
Fechei meus olhos com força, uma lágrima quente deslizando pela
minha bochecha com o que ele tinha reservado para mim.
Eu sabia que não podia dizer não a ele. Eu estava vivendo em um
mundo onde tudo estava sempre por um fio. Assassinato não era algo
que eu esperava, nem queria.
— Elaina, olhe... — Sua voz enviou um arrepio pela minha espinha, e
quando abri meus olhos novamente, ele se moveu para trás de mim e
colocou a arma em minhas mãos. — Eu vou direcionar você, querida.
Não se preocupe...
Seus lábios nojentos deram um beijo na minha bochecha enquanto eu
segurava frouxamente a arma, tentando não chorar. — Val, por favor...
— Shh... — Ele me parou e pressionou seu dedo indicador contra
meus lábios, movendo-o lentamente para o meu pescoço. — Você só
implora quando estamos no quarto, ok?
Sua voz era baixa o suficiente para que apenas eu pudesse ouvir suas
palavras, mas ele não conseguia me ouvir gritando por socorro por
dentro.
Ele não entendia as lágrimas ou o que significavam e certamente não
se importava.
As mãos de Val se moveram para as minhas, firmando a arma e
erguendo-a. Meu corpo estava tremendo e respirei fundo, sentindo um
nó subindo na minha garganta.
— Hora de escolher, querida.
Não. Não, eu não posso fazer isso. Eu lutei com meu eu interior, com
vontade de vomitar e chorar. Ao mesmo tempo, eu podia sentir meus
joelhos ficando fracos, mas Val de alguma forma manteve meu corpo
firme para que eu não caísse.
Três homens se ajoelhavam na nossa frente e ele exigiu que eu
escolhesse qual deles morreria e eu seria a único a matá-lo.
Há quanto tempo estive casada com Val e ele já me fez desejar estar
morta? Qualquer coisa poderia ser melhor do que isso. Qualquer coisa.
— Se você não pode escolher, às vezes eu jogo minha mãe mandou eu
escolher esse daqui... A decisão é toda sua. — Ele disse isso como se fosse
algum tipo de honra. — Ponha o dedo no gatilho...
Eu podia sentir meu peito apertar enquanto obedecia às palavras de
Val, colocando meu dedo indicador no gatilho e olhando para os homens.
O homem casado com dois filhos pequenos, o recém-casado sem
filhos e o homem com a avó moribunda que o adorava.
Em uma última tentativa, olhei por cima do ombro para Val, meus
lábios tremendo enquanto eu falava. — Eu farei qualquer coisa... Só por
favor não me faça matar alguém.
— Não me faça matar todos eles, Elaina. — Ele baixou o tom
ameaçadoramente. — Puxe o gatilho.
Meus olhos dispararam de cada um dos homens - do primeiro para o
segundo, depois para o terceiro. Eu fui para frente e para trás,
contemplando enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto, incapaz
de decidir.
Foi uma decisão impossível de tomar.
— Elaina... — O tom de Val era um aviso, mas não importa o quanto
eu olhasse para cada um dos homens, eu não conseguia decidir de quem
era a vida que iria roubar. Era injusto e desumano. — Puxe o gatilho,
Elaina.
Sua voz ecoou em meus ouvidos e tentei envolver meu cérebro em
tomo dos detalhes que ele havia me dado antes. Crianças. Sem filhos. Avó
morrendo. Esposa. Recém-casado. Mas nada disso importava. Eles eram
todos humanos, independentemente.
— Agora! — Val ergueu a voz com impaciência e eu reagi com o medo.
Apontei a arma para o homem que só tinha seus avós e fechei os olhos
com força, puxando o gatilho.
Eu gritei alto, e meu grito mudou para um choro quando caí no chão
em desespero. Não houve nenhum estrondo da arma, apenas o som dela
batendo no chão quando eu a deixei cair de minhas mãos.
Mas definitivamente nenhum tiro foi disparado.
Chorei incontrolavelmente, ofegando por ar com o pensamento do
que tinha feito, e quando abri meus olhos para ver os três homens
ajoelhados e vivos, isso não mudou o fato de que eu estava prestes a
matar alguém.
A dor que senti por dentro era insuportável. O jogo que Val estava
jogando era um jogo mental e ele estava me destruindo.
Ele se abaixou para pegar a arma e riu sozinho. — Bem, é uma coisa
boa que esta arma não esteja carregada, ou minha esposa teria matado
você.
Ele disse isso para o homem que eu tinha escolhido, e a culpa
percorreu meu corpo. Se aquela arma estivesse carregada, eu seria uma
assassino agora.
— Sinto muito... sinto muito. — Eu encarei o homem, mas meus
olhos rapidamente se desviaram para Val, que havia contornado sua mesa
e aberto a gaveta. Ele parecia muito mais sério agora.
Eu queria perguntar a ele se poderia ir embora. Queria chorar em
particular, mas ao mesmo tempo nunca mais queria falar com ele.
Quando Val se endireitou novamente, ele tinha uma nova arma na
mão.
— Acontece que a minha esposa não tem treinamento com armas de
fogo... Ainda não estou pronto para recebê-la no negócio da família, —
disse ele aos homens, contornando a mesa pela segunda vez.
— E aquele pequeno show foi só para diversão. Quero dizer, vamos lá,
homens, deixar dois de vocês irem livres? Isso não vai acontecer... Se
alguém me foder, é o fim da linha.
O que ele quis dizer? Ele disse que apenas uma pessoa tinha que
morrer... Antes que eu pudesse reagir ou pensar, um tiro foi disparado e
um dos homens caiu inerte e sem vida no chão.
— Não! — Eu cobri meus ouvidos quando os dois homens finais
começaram a choramingar. Fechei meus olhos novamente, mas ainda
podia ouvir os dois últimos golpes da arma de Val.
E foi a partir desse dia que tive pesadelos regularmente por semanas a
fio. O pior dia da minha vida...
Até aqui.
*
Deitei na cama olhando para o teto. Eram cerca de 4h30 e duas
semanas desde o dia no escritório de Val.
Todos os dias nos últimos quatorze dias, eu tinha acordado no meio
da noite com o som de um tiro, apenas para descobrir que era a minha
mente me trazendo de volta ao dia horrível.
Enquanto Val dormia profundamente ao meu lado, eu dormia
inquieta e tinha o mesmo pesadelo todas as noites. Embora esta noite
fosse especificamente diferente.
O braço de Val estava em volta da minha cintura, segurando-me
contra seu peito nu. Depois de ter o mesmo pesadelo, eu sacudi, mas em
vez de pular, foram os braços de Val que me mantiveram deitada na
cama.
— Onde você está indo? — ele perguntou-me. Sua voz era clara e não
havia nenhum indício de sono nela.
Eu balancei minha cabeça lentamente. — Lugar nenhum.
— Não minta para mim, — Val continuou. — Eu não quero dizer
fisicamente; eu quero dizer mentalmente. Sua cabeça está em outro
lugar.
Eu franzi minha sobrancelha. — Eu... não entendi a pergunta.
— Você tem pulado no meio da noite há duas semanas, — ele afirmou,
me surpreendendo que ele tinha notado quando eu pensei que ele estava
dormindo todas aquelas noites.
Ele me ouviu chorar?
Eu não ousei me mover. Seu braço ainda estava em volta da minha
cintura, e não foi até que ele se sentou que fui forçada a me virar para
olhar para ele.
As cicatrizes que cobriam suas costas não eram tão claras na sala
escura, mas eu podia ver os músculos de suas costas.
Não havia dúvida de que ele era um homem forte, o que era apenas
mais uma coisa a acrescentar à minha longa lista de medos.
— Eu... tenho pesadelos, — admiti para ele, mas não tinha intenção de
dizer a ele sobre o que eram meus pesadelos. Colocar a culpa nele só
pioraria as coisas.
Seus olhos encontraram os meus e ele ergueu uma sobrancelha
escura, permanecendo em silêncio. Sem dizer uma palavra, Val se
inclinou para pegar seu telefone na mesa lateral e começou a pesquisar
na web.
Ele permaneceu em silêncio por alguns minutos antes de falar
novamente. — Talvez possamos marcar uma consulta para você em uma
clínica do sono.
Eu balancei minha cabeça vigorosamente. — Oh Deus, não. Isso vai
parar sozinho... Eu não quero me tomar um tipo de experimento.
Ele estava hesitante, batendo os dedos na tela agora preta de seu
telefone. Sua mandíbula estava cerrada com força, o que mostrava
perfeitamente a estrutura de sua mandíbula, mas seu corpo estava tenso.
— Se continuar assim, não vou deixar a escolha ser sua, Elaina. Vou
marcar a consulta de qualquer maneira, — ele me disse.
Eu balancei a cabeça lentamente, sem saber como poderia evitar ter
pesadelos. Ele saberia, desde que estivesse dormindo ao meu lado todas
as noites.
Val deitou-se no colchão e olhou para mim antes de decidir falar
novamente. — Vou ficar um tempo fora a negócios. Possivelmente alguns
dias. Pode demorar uma semana ou mais - nunca é certo.
— Raffaele cuidará de você. Eu quero que você o ouça. Não seja
teimosa como você sempre é.
— Quando você vai embora? — Parecia uma bênção ter um tempo
longe de Val. Eu esperava que a sua viagem de negócios se estendesse o
máximo possível, de verdade.
— Amanhã à tarde, — respondeu ele. — Não haverá nenhum contato,
então, quando eu chegar em casa, espero ouvir que você está se
comportando da melhor maneira.
Porque obviamente eu desobedeceria às regras dele depois do que
aconteceu da última vez, certo? Abstive-me de revirar os olhos para ele,
mas respondi simplesmente: — Quem vai com você?
— Stefano, Gustavo e Diego. — Ele passou a mão pelo rosto e gemeu,
de repente me puxando para perto dele. — Esta é nossa última noite
juntos por um tempo, tesoro. — Eu sabia o que viria a seguir. Não precisei
perguntar, nem fiquei surpresa quando ele puxou meu corpo para cima
dele.
Minhas pernas montaram nele. Suas mãos imundas subiram
lentamente pelas minhas pernas e pararam abaixo do short do meu
pijama. Eu podia ver sua língua deslizando em seus lábios enquanto seus
olhos me despiam.
Estar sob seu olhar me fez sentir suja, como se eu fosse uma prostituta
não remunerada. Claro, eu não queria ser paga por sexo. Eu não queria
fazer sexo com ele de jeito nenhum.
Ele me atacou como o animal com tesão que é.
Nojento.
— Eu vou sentir falta de te foder, — ele murmurou enquanto suas
mãos deslizaram sob a minha blusa. — Você está ficando muito melhor,
sabe...
Que elogio. O cara rouba a minha virgindade, então tem a coragem de me
dizer que estou melhorando com ele constantemente me forçando a fazer
sexo com ele.
— Uh... obrigada, — foi tudo que consegui reunir.
Surpreendentemente, um sorriso afetou seus lábios. — Sua inocência
me surpreende, Elaina. Diferente de qualquer pessoa que já tive o prazer
de conhecer, além da minha mãe.
Todo mundo é tão conivente e calculado, mas você é um tipo de
mulher totalmente diferente...
Eu não tinha certeza se isso era um elogio, mas quando Val começou a
tirar a minha blusa, ficou claro que ele tinha uma coisa em mente. Ele
sempre teve uma coisa em mente.
Ele se inclinou e deu beijos famintos ao longo do meu peito.
Eu podia sentir sua ereção crescendo contra mim, e quando ele rolou
em cima de mim, ele se inclinou e empurrou nossos lábios com força.
Seus lábios sempre tinham gosto de fresco, não como tabaco, como
qualquer um esperaria ao olhar para um homem de sua espécie.
Val não fumava e raramente bebia álcool. Eu perguntei a ele por que
uma vez, e ele respondeu, — Eu gosto de estar no controle do meu corpo o
tempo todo. O álcool te tira do controle.
Ele era inteligente à sua maneira. Ele sabia exatamente o que fazer
para manter seu — negócio — funcionando sem problemas e para se
manter seguro. Essa era uma das muitas coisas em que Val era bom.
Um homem de muitos talentos, embora a única coisa em que falhou
terrivelmente foi o casamento.
Eu aprendi a beijá-lo de volta, só porque eu sabia que tinha que fazer
isso. Nossa intimidade nunca foi uma faca de dois gumes e nunca fui
procurá-lo em busca de favores sexuais.
Mas quando ele veio até mim, não consegui negar — o que era dele.
Ele disse que eu estava aprendendo a entender as regras, mas há uma
diferença entre entender e não ter escolha a não ser obedecer.
Amanhã seria diferente. Amanhã, Val partiria e eu estaria livre dele
por alguns dias, felizmente.
Eu aproveitaria cada segundo que tivesse longe dele. Qualquer minuto
valeria a pena.
Uma casa sem Val seria praticamente o paraíso, e eu não podia esperar
até amanhã à tarde para ter uma folga desse pesadelo.
Capítulo 10
ELAINA

Liberdade.
Não a liberdade completa, mas o máximo que eu poderia esperar
nesta vida agora. Val se foi, e eu poderia andar pela casa sem medo de que
ele me seguisse.
Ele deixou as instruções de que Raffaele estava no comando. Embora
eu não conheça Raffaele muito bem, minhas intenções eram ficar fora do
caminho dele e, com sorte, ele ficaria longe do meu.
Talvez Gianna estivesse por perto e pudéssemos aproveitar este
momento para nos unirmos mais. Eu precisava socializar um pouco.
Eu estava começando a me sentir cada vez mais distante do mundo
normal, ficando desesperada por qualquer tipo de interação humana
normal.
A casa estava muito mais silenciosa do que o normal. Foi relaxante e
me fez desejar que Val se perdesse no caminho para casa. Era uma ilusão,
mas eu não conseguia parar de olhar para a porta. Tudo que eu tive que
fazer era destrancá-la, certo? Mas o que aconteceria depois disso?
Eu deveria fugir e me esconder pelo resto da minha vida?
Absolutamente não. Val me encontraria e a situação ficaria
significativamente pior quando eu voltasse.
Então, mesmo quando havia uma saída, eu nunca poderia sair.
— Você sabe a senha? — uma voz disse atrás de mim.
Eu olhei para ver Raffaele parado a alguns metros de distância,
vestindo um temo escuro como todos os homens usavam nesta casa. Era
como se eles tivessem um uniforme.
— Senha? Para...? — Eu levantei uma sobrancelha para ele. Esta foi a
primeira vez que eu o vi desde que Val partiu, e eu esperava não ter que
vê-lo de jeito nenhum. Raffaele apontou com a cabeça em direção à
porta. — Val tem uma senha eletrônica do lado interno, daí o teclado do
lado direito.
Meus olhos se estreitaram para o teclado que eu não tinha prestado
atenção até agora. Inacreditável, porra. Uma senha para sair de casa?
Meu plano de destrancar a porta foi por água abaixo, o teclado tinha
números.
— Vou interpretar isso como um não, — comentou Raffaele.
— Ok, Raffaele. Obviamente, não sei e não pretendo ir embora de
qualquer maneira. — Encolhi os ombros casualmente. — Eu vou ficar
fora do seu caminho, e você fica fora do meu.
— Rafe.
Eu franzi minha sobrancelha. — Como é?
— Me chame de Rafe... Eu nunca gostei muito de Raffaele, — ele
admitiu.
Deve ser por causa das Tartarugas Ninja, pensei comigo mesmo, porque
foi nisso que pensei quando ouvi o nome dele.
Eu balancei a minha cabeça lentamente. — Ok, Rafe. Com licença, por
favor. Vou procurar a Gianna.
Enquanto eu passava por ele, ele continuou a falar comigo. — Val me
disse que você está tendo problemas para dormir. Se você precisar que o
médico venha prescrever pílulas para dormir, tudo bem.
Eu respirei fundo, ligeiramente aborrecida por Val trazer meus
assuntos pessoais para seus homens como se fossem da conta deles
também. Eu só estava tendo problemas para dormir por causa dele.
Os pesadelos eram por causa da experiência mortificante que ele me
fez passar.
Começando a subir as escadas, pensei muito sobre as palavras de Rafe.
Ele estava disposto a trazer um médico para que eu pudesse conseguir
pílulas para dormir se necessário, mas não era isso que eu queria. O que
eu queria eram-anticoncepcionais, e se eu pudesse fazer com que o
médico da casa falasse comigo em particular, seria a oportunidade
perfeita para obter os comprimidos sem que Val descobrisse.
Eu passei semanas tentando pensar em maneiras de me impedir de
engravidar, e essa era a única maneira.
Uma vez que Val voltasse e continuássemos a fazer sexo, eu poderia
acabar grávida, se já não estivesse. Então eu estaria ligada a ele para
sempre.
Era muito cedo. Eu não queria uma família com ele. Ele não seria um
bom pai, e meus filhos mereciam coisa melhor.
*
Quando Cheguei ao andar de cima, procurei o quarto de Gianna,
ouvindo o som de uma leve música clássica que me guiou na direção
certa.
Cheguei à porta de seu quarto e bati suavemente. — Gianna?
Um momento depois, a música parou e ela respondeu: — Entre.
Quando abri a porta do quarto, notei Gianna sentada em uma cama
grande no centro do quarto.
O quarto dela era menor que o meu, mas mais claro, mas, claro, era o
quarto de Val onde eu dormia e ele escolheu o esquema de cores escuras.
Nossa colcha era de um cinza escuro, enquanto as paredes eram de um
cinza mais claro.
Ele sempre mantinha as cortinas fechadas, mas o resto da casa era
clara e acolhedora. Eu não tinha certeza de por que ele queria que nosso
quarto, dentre todos os lugares, fosse escuro, mas era, e eu odiava isso.
— Eu não sabia que você gostava de música clássica, — comentei
enquanto entrava em seu quarto.
Gianna estava sorrindo, com as pernas cruzadas enquanto erguia a
sobrancelha para mim. — Há muita coisa que você não sabe sobre mim.
— Como o quê? — Eu perguntei, sentando na beira da cama dela.
— Como eu realmente odeio música clássica. Eu só escuto porque
Stefano pediu. — Ela revirou os olhos de brincadeira, e quando eu dei a
ela um olhar confuso, ela riu baixinho.
— Oh, por favor. Ele não é assim... Recentemente, descobrimos que
estou grávida e ele ouviu que a música clássica melhora o
desenvolvimento do cérebro do bebê.
Um sorriso se formou em meus lábios quando ela me contou sobre
sua gravidez, e eu não pude deixar de me sentir muito animada por ela.
— Gianna... Parabéns. Eu estou tão feliz por você.
Gianna colocou a mão em sua barriga lisinha e sorriu de volta para
mim. — Obrigada... Stefano não disse nada ainda, mas estamos pensando
em sair desta casa.
— Claro, ele ainda faria parte do negócio, mas não quero criar um
bebê em tomo dessa negatividade.
Eu não poderia culpá-la por se sentir assim. Para ser honesta, era um
ambiente extremamente negativo e, se eu pudesse escolher, também não
permitiria que a minha família se envolvesse - mas eu não tive opção.
— De quanto tempo você está?
— Cerca de seis semanas, — Gianna me disse. Ela parecia
genuinamente feliz. Ela e Stefano estavam realmente apaixonados, ao
contrário de Val e eu.
Inclinei a minha cabeça ligeiramente para o lado e mordi meu lábio
suavemente. — Somos íntimas o suficiente agora para você me dizer
como você e o Stefano se conheceram?
Eu queria ouvir uma história de amor feliz, não uma história trágica
como a que eu estava vivendo. Havia algo melhor. Houve sempre algo
melhor.
Gianna deitou-se de costas e olhou para mim quando começou a
sorrir como uma garotinha falando sobre sua paixão. — Não é tão
romântico quanto você espera, Elaina.
Duvido. Ela corou apenas com a menção do nome de Stefano, e eu só
queria sentir algo assim.
— Oh, pare. Tenho certeza que é incrível, — eu assegurei a ela.
Ela fungou e deu uma risada. — Bem, os Acerbis e minha família são
rivais. Então Stefano deveria me matar... Como você pode ver, ele não
matou.
Meu sorriso desapareceu lentamente com as suas palavras. Ela estava
falando sério? Como no mundo ela se sentia confortável com alguém que
deveria matá-la?
— Você está brincando...
— Como se eu fosse brincar com algo assim. Por que você acha que
Val me odeia tanto? Até nossas famílias fizeram as pazes, mas o seu
marido é um idiota completo. — Ela revirou os olhos.
— Pouco antes de Val puxar o gatilho da arma que pressionou contra a
minha cabeça, Stefano disse a ele para não fazer isso... — Esta não era a
história de amor que eu esperava de Gianna, mas à sua maneira
distorcida, era romântica. Stefano a salvou da morte e agora eles iriam
começar uma família juntos.
Foi estranho como as coisas aconteceram, mas ela parecia feliz e não é
como se ela o temesse. Ela realmente amava Stefano. E ele a amava.
— Não sei por que o Val é tão amargo, — comentei. — Não é como se
ele tivesse deixado de ser totalmente um assassino.
Gianna soltou um suspiro suave, olhando para o teto enquanto
franzia os lábios. — Houve baixas na rivalidade de nossas famílias...
— Aparentemente, meu pai matou seu primo, alguém de quem Val era
muito próximo. O Stefano sabe perdoar... mas o Val, não.
— Lamento que você tenha passado por tudo isso... — Olhei para as
minhas mãos, sem entender como fui arrastada para uma situação tão
terrível, mas grata por meus primeiros dezoito anos terem sido pelo
menos normais.
Gianna não teve essa oportunidade, então eu tive a sorte de escapar
desse estilo de vida por tanto tempo. Agora, eu estava de frente com isso
e não havia como sair.
Levantei-me da cama de Gianna, decidindo dar a ela algum espaço
depois da bomba que ela acabou de lançar sobre mim. — Te vejo mais
tarde, ok? Se precisar de alguma coisa, você sabe onde me encontrar.
Eu senti muito por ela. Ela sempre parecia tão confiante e alegre até
falar sobre a sua família. Estava claro que eles a prejudicaram e
possivelmente afetaram seu relacionamento com Stefano.
Eu me perguntei se a postura dura que ela mostrou a Val era
simplesmente isso: uma postura.
Decidi falar com Raffaele depois de sair do quarto de Gianna.
Depois de pensar sobre minhas opções anteriores em relação a ter um
médico em casa, achei que essa era a minha melhor opção e seria
estúpido se deixasse passar.
Embora o nervosismo ainda corresse pelo meu corpo, eu não vi
nenhuma outra opção neste momento.
Encontrei-o na cozinha, onde parecia encontrar todas as pessoas da
casa.
Ele estava focado em seu telefone e parecia estar vestindo um
conjunto confortável de roupas que consistia em uma camiseta azul
marinho e calças de moletom.
Os olhos de Rafe se ergueram da tela do telefone quando ele ouviu
meus passos. — Elaina Acerbi, a que devo o prazer?
Devo agir genuinamente preocupada com meus pesadelos ou mais
casual?
Eu não queria exagerar na situação, mas subestimá-la poderia arruinar
as minhas chances.
— Eu, uh... estava me perguntando se poderia fazer algumas
perguntas sobre o que você mencionou antes, sobre um médico que vem
prescrever pílulas para dormir..., — mencionei sutilmente.
Rafe largou o telefone, repentinamente interessado na conversa. —
Você quer os remédios para dormir agora?
— Talvez... eu não tenho certeza... — Encolhi os ombros. — Acho que
seria bom pesar minhas opções. Só fico nervosa com médicos e remédios,
sabe?
Ele olhou para o relógio que estava pendurado na parede da cozinha.
— Bem, é tarde demais para ele vir agora, mas posso fazer uma ligação e
tentar fazer com que ele veja você amanhã.
— Você acha que consegue aguentar mais uma noite?
— Consigo sim... Obrigada, Rafe.
Seria melhor fazer isso enquanto Val estivesse fora da cidade. Se ele
estivesse aqui, sei que não me deixaria sozinha no quarto, o que
significava que não poderia perguntar sobre medicamentos
anticoncepcionais.
Rafe, por outro lado, estaria em outra sala enquanto eu teria
privacidade para falar com o médico a sós, que era o que eu precisava.
Falar com Val sobre isso não era uma opção.
Se ele não tivesse a intenção de me engravidar, ele estaria usando
proteção até agora, mas não o fez, o que me levou a acreditar que ele
queria me engravidar.
Enquanto subia as escadas e ia para o quarto, tive uma sensação de
alívio. Pela primeira vez em mais de um mês, estaria dormindo sozinha e
sem as mãos curiosas de Val em meu corpo.
Eu poderia dormir em paz até acordar do pesadelo de sempre, mas
seria melhor do que eu vinha tolerando nas últimas semanas. Eu estava
sozinha e isso era tudo o que queria.
Eu não acordaria com Val ao meu lado e, pela primeira vez, não
precisava temer o amanhã.
Capítulo 11
ELAINA

— Então, você está tendo problemas para dormir? — o médico me


perguntou.
O Dr. Franklin veio até a minha casa esta tarde, e estávamos sentados
em uma sala que eu não estava familiarizada.
Presumi que fosse a sala em que a maioria dos exames médicos eram
feitos na casa. Estava bastante vazia.
Sentei-me em uma cadeira e balancei a cabeça ligeiramente,
brincando com meus dedos. — Sim...
— Quando isso começou? — Ele veio em minha direção com uma
pequena lanterna, verificando as minhas pupilas - primeiro meu olho
esquerdo e depois meu direito.
— Na verdade, é devido a pesadelos... eu, uh, eu tive uma experiência
traumática. — Eu balancei a cabeça lentamente, recostando-me na
cadeira enquanto ele se afastava.
Dr. Franklin colocou a luz de volta em sua bolsa, tirando um
receituário. — Vamos tentar o Temazepam.
— Existem vários medicamentos para dormir, no entanto, este ajuda a
adormecer e permanecer adormecido. Nosso objetivo é ajudá-la a ter uma
noite de sono plena e ininterrupta.
Ele começou a rabiscar a receita no bloco de receitas e eu balancei a
cabeça lentamente. — Ok... Obrigada.
— De nada, Sra. Acerbi, — Dr. Franklin me disse, destacando o papel e
passando para mim.
Quando o médico se levantou, aproveitei para impedi-lo. — Mais uma
coisa.
Ele olhou para mim com a testa franzida. — Sobre a medicação para
dormir?
— Na verdade, sobre outra coisa... Eu estava esperando que você
pudesse me dar algo para controle de natalidade, — eu falei mais
baixinho, não querendo que ninguém escutasse a última parte.
Esta parte era privada, e isso era o que eu precisava desesperadamente.
— Existe a possibilidade de você já estar grávida? — ele me perguntou,
e sinceramente, o pensamento não havia cruzado totalmente minha
mente até agora.
Rezei para que já não fosse tarde demais para evitar trazer uma
criança para um casamento perigoso e sem amor e entregá-la a um pai
que só iria criá-la para ser odiosa.
— Não tenho certeza...
Dr. Franklin acenou com a cabeça.
— Tudo bem, preciso analisar seu histórico médico para ter certeza de
que prescrevo o medicamento certo para tomar junto com o Temazepam,
para serem entregues ainda hoje.
— Nesse ínterim, vou pedir-lhe para fazer um teste de urina para que
possamos descartar a gravidez.
— Ótimo, muito obrigado. — Eu sorri gentilmente para o médico e o
observei sair da pequena sala.
Ao me levantar da cadeira, tive uma sensação de alívio por saber que
havia discutido isso com ele. Val não estava aqui e eu tive privacidade
para pedir pelos meus anticoncepcionais.
Pela primeira vez, me senti no controle de meu próprio destino, que
era algo de que precisava mais do que eu imaginava. Desde que o exame
de urina voltasse sem sinais de gravidez, tudo ficaria bem e poderíamos
prosseguir conforme o planejado.
*
— Como estava o Dr. Franklin? — Rafe me perguntou quando entrei
na sala de estar.
Eu me perguntei qual era o objetivo de Rafe em estar aqui se ele
realmente não fizesse negócios com a — Máfia. — Cuidar de mim não era
um trabalho realmente sinistro, mas independentemente do que o chefe
disse, ele deve obedecer.
— Ele parece legal, — eu disse honestamente. — Ele vai mandar a
minha receita mais tarde hoje.
Rafe simplesmente acenou com a cabeça e olhou de volta para a
televisão. Voltei minha atenção para a TV também e percebi que ele
estava assistindo Breaking Bad.
Ele parecia o tipo de pessoa que assistia a algo assim - você sabe,
programas sobre negócios ilegais.
— Então, a sua família fica de boa sobre o seu estilo de vida? — Eu
perguntei a ele antes de realmente pensar em como isso pode ter soado.
Rafe manteve os olhos na televisão, mas respondeu à minha pergunta.
— Você quer dizer todo o assassinato e desmembramento de pessoas?
Não importa porque eu não tenho família.
Seu tom era direto e ele não parecia afetado pela discussão. Todo
mundo tinha família em algum lugar. Seus pais tinham que se preocupar.
— E seus pais? Ou... — Eu o observei de perto. — Você não tem
namorada ou...
— Eu tive uma esposa, e isso durou cerca de vinte minutos. — Os
olhos de Rafe se moveram para os meus. — Ela levou um tiro no pescoço
a caminho da recepção e a bala a atingiu em uma artéria.
— Ela sangrou em meus braços, então não, eu não tenho uma esposa,
e mal tinha. — Por que é que eu foi falar? Noventa por cento das vezes
em que abro a boca, eu meto os pés pelas mãos. Eu havia reaberto uma
ferida para Rafe, tenho certeza de que ele não queria reviver.
— Sinto muito... não consigo imaginar o quão difícil isso foi para você,
— falei baixinho, olhando para baixo para evitar seu olhar.
— Eu não deveria ter tocado no assunto. Eu simplesmente não
entendo...
— Você parece diferente de Val, então eu só tenho problemas para
entender por que você está aqui.
Rafe me surpreendeu rindo. — Diferente de Val? Todo mundo é
diferente de Val. O único que você verá nesta casa com problemas de
raiva como ele é o seu pai quando ele vem visitá-lo.
— Não estou dizendo que todo mundo é gentil e tolerante, Elaina.
Todo mundo tem um temperamento, mas o sangue Acerbi é uma
história completamente diferente.
— Stefano e Gianna estão felizes, — eu disse a ele, sentindo-me
confiante com o andamento do relacionamento deles. — As pessoas
podem ser felizes, Rafe. Não é impossível.
— Sim, mas a história deles ainda não acabou, não é? — Ele falou em
um tom astuto, como se algo estivesse fadado a dar errado, e esse
pensamento me apavorou.
Algo sempre dava errado e eu não queria estar por perto quando isso
acontecesse.
Quem era eu para acreditar em finais felizes?
Principalmente agora, de todos os tempos, eu deveria ser pessimista,
mas ainda tinha a menor parte do destino que certamente desmoronaria
na minha frente.
Eu levantei o meu queixo, tentando manter a minha confiança,
embora estivesse caindo gradualmente. — Você verá isso um dia. Não
podemos estar aqui para sofrer.
Rafe hesitou. Com um olhar vazio, o silêncio encheu a sala por alguns
segundos enquanto seus olhos procuravam meu rosto como se ele
estivesse procurando por algo - mas o quê? Eu não fazia ideia.
— Você é boa demais para este lugar, — foi tudo o que ele disse antes
de se levantar e sair da sala.
Boa demais? Eu queria impedi-lo, mas não o fiz. Não fazia sentido. Era
seu trabalho me observar e me seguir, não o contrário.
Mas suas palavras me deixaram pensando. Como ele me viu de forma
tão diferente de Val todo esse tempo?
*
Pulei do sofá onde havia adormecido quando uma porta bateu. Eu
estava na biblioteca, minhas pernas dobradas sob a minha bunda, com
um cobertor sobre mim.
Percebi que o livro havia caído no chão quando adormeci e me abaixei
para pegá-lo. Já era tarde e eu não tinha intenção de adormecer.
O dia foi basicamente perdido dormindo. Minha mente voltou para a
razão pela qual acordei para começar: a batida de uma porta. Oh não.
— Bem-vindo ao lar, Valentino! — Ouvi Anita piar ansiosamente à
distância e me senti nauseada instantaneamente.
Por que ele já estava aqui? Fazia apenas dois dias! Nem isso.
Eu estava contando com uma semana ou mesmo algumas. Eu não
tinha percebido o quanto meu coração estava batendo forte até que meus
dedos tocaram a pulsação em meu pescoço.
Ele estava de volta e depois de apenas dois curtos dias. Eu voltaria
para a miséria. A conversa foi abafada e fechei os olhos com força. Talvez,
de alguma forma, eu pudesse cair no sono novamente para não ter que
enfrentá-lo imediatamente.
Assim que fechei os olhos, a porta da biblioteca se abriu e ouvi passos
se aproximando do sofá onde estava deitada. — E aqui eu pensei que
você sentiria minha falta.
Sua voz me fez reagir abrindo os olhos, lembrando-me que ele sabia
sempre que eu estava fingindo dormir. — Certamente você está
enganado.
— Cuidado com essa sua boquinha linda, amor, — Val disse com uma
cara séria, e ele alcançou o sofá e se sentou ao meu lado. — Como estava
Rafe? Ele te tratou bem?
Ha! Que audácia. Como se ele tivesse o direito de perguntar isso sobre
qualquer pessoa.
Eu simplesmente balancei a cabeça. — Extremamente bem. Não estou
acostumada a ser tão respeitada.
A mandíbula de Val cerrou visivelmente e, quando olhei para sua mão,
ela estava enrolada com força em um punho, mas, surpreendentemente,
ele não se moveu.
— Você é uma garota complicada. Estou sendo paciente com você e
você está pedindo uma punição.
— Pedindo? Estou pedindo uma punição? Estou afirmando um fato.
Eu não deveria estar apavorada no momento em que você chegar em
casa, — eu disse, sentando-me ereta e me afastando para uma distância
segura.
Ele manteve seus olhos escuros em mim. — Você tem uma maneira
ridícula de mostrar medo, Elaina. — Talvez eu tenha tido uma explosão
de destemor que se apoderou de mim e não percebi o que eu estava
dizendo, mas Val estava certo. Fui estúpida em falar com ele como antes.
Fiquei surpresa por ele ainda não ter me dado um tapa.
— Por que você não está com raiva? — Eu perguntei a ele. — Eu
concordo, eu foi estúpida em pensar que falar com você desse jeito era
uma boa ideia, mas de alguma forma, você não me machucou.
— Eu passei raiva o suficiente nos últimos dois dias, já extravasei
violência suficiente para deixar você desabafar, — ele me disse,
mantendo seu olhar através da sala.
— Mas isso é tudo. Não espere mais passes livres. Eu não dou passes
livres, Elaina.
Quanta sorte eu tenho? Tudo o que pude fazer foi simplesmente acenar
com a cabeça e continuar o meu dia. Assim era a vida com o Valentino.
Sua casa, suas regras, certo?
Eu lentamente me levantei do sofá, mantendo o cobertor enrolado em
volta de mim. — Acho que vou encerrar a noite... Estou obviamente
muito cansada. Podemos conversar amanhã.
— Claro. — Val acenou com a cabeça e comecei a caminhar até a
porta, mas o som de sua voz me parou. — Elaina, uma última coisa.
Eu parei no meu caminho e me virei para encará-lo. — Sim?
— Como foi o seu encontro com o Dr. Franklin?
Sua pergunta me fez congelar no local. Abri a boca para falar, mas não
consegui encontrar as palavras certas. Seria possível que ele soubesse que
eu tinha falado sobre mais do que apenas os remédios para dormir?
— Uh... Dr. Franklin? — foi tudo o que consegui dizer.
Val acenou com a cabeça. — Sim. Raffaele me contou que você falou
com ele sobre as pílulas para dormir. Presumo que tudo foi resolvido?
— Oh, sim... Ele disse que os entregará mais tarde hoje. Eu acho que
ele quis dizer à noite. — Consegui sorrir, me sentindo mais nervosa a
cada segundo que falava sobre isso.
Ele sabe de alguma coisa. Ele tem que saber.
Esperei que ele dissesse algo. Qualquer coisa. Mas ele não o fez. Em vez
disso, ele apenas acenou com a cabeça.
— Ok, estou feliz que as coisas deram certo. Descanse um pouco. Nós
vamos sair amanhã.
— Para o quintal? — Eu perguntei instantaneamente, não presumindo
que ele me levaria a qualquer outro lugar.
A risada que se seguiu parecia genuína. — Não, não pro quintal.
Tenho classe quando quero, querida. Um grande jantar será realizado.
Minha esposa estará do meu lado esta noite.
— É um lugar extremamente chique, então você precisará se vestir
para a ocasião. Suas calças de moletom usuais não vão servir, por mais
lisonjeiras que sejam.
Eu não tinha ouvido uma palavra que Val disse depois que ele
anunciou que estava me levando para fora de casa. Na verdade, íamos a
algum lugar fora da propriedade e interagiríamos com as pessoas.
Independentemente de como a situação não era ideal, se as coisas
tivessem um tom melhor - era assim.
Depois de semanas de cativeiro, eu estava começando a abrir meu
caminho para algum tipo de liberdade, embora Val ainda estivesse ao
meu lado.
— Isso parece divertido, — eu admiti honestamente. Qualquer coisa
era melhor do que ficar sentada aqui o dia todo.
— Se você acha esse tipo de coisa divertido, então com certeza. — Ele
não parecia tão interessado quanto eu, mas também não precisava lutar
pela liberdade como eu.
— Descanse um pouco. Anita trará o laptop para que você verifique se
há um vestido legal online. Vou mandar Henrik pegá-lo.
— OK, boa noite. — Eu estava prestes a me afastar dele, mas sua mão
agarrou meu pulso e me puxou de volta.
Os olhos de Val fixaram-se nos meus, e assim que estivemos perto o
suficiente, ele me beijou.
Eu estava tão perto de escapar sem que a sua saliva estivesse em mim,
mas é claro, ele tinha que marcar seu território.
Nossos lábios se moveram juntos lentamente enquanto eu contava os
segundos para ele se afastar. Quando ele finalmente o fez, suas palavras
me chocaram.
— Não tente esconder as coisas de mim nunca mais, ok? Porque eu
sempre descubro... Seu pequeno esquema para obter anticoncepcionais?
Você não achou que eu iria descobrir, não é?
— Val, eu...
— Eu não gosto de você agindo pelas minhas costas, especialmente
quando não estou por perto para ficar de olho nas coisas. O fato de você
achar que sou idiota o suficiente para não descobrir é bastante divertido.
— Eu desviei o olhar de Val. Ele era frio. De forma bastante chocante,
senti que ele me lia como um livro; ele me conhecia melhor do que eu
queria admitir, e eu odiava isso.
— Talvez tenha sido minha mãe que te assustou e fez pensar que as
crianças estavam em um futuro próximo, mas eu quero que você saiba
que eu não tenho nenhuma intenção de procriar ainda... — Seu dedo
indicador levantou meu queixo, me forçando a olhar para ele. —
Desculpe-me por ser antiquado, mas acredito que tanto o marido quanto
a esposa deveriam ter uma palavra a dizer sobre isso.
Como era possível para alguém tão cruel e sem coração me fazer soar
como o bandido nesta situação? Fiquei em silêncio e esperei que ele
falasse novamente.
— Vá para a cama, Elaina. Ambos os seus medicamentos estão ao lado
da cama esperando por você.
Filho da puta. O tempo todo ele tinha o controle da medicação,
sabendo que estava no quarto, e estava me testando para ver se eu
confessaria para ele.
Eu fui estúpida em pensar que poderia me safar tendo uma conversa
particular. Claro que o Dr. Franklin contaria a Valentino o que
discutimos. Certamente ele teria que passar por ele primeiro.
Quando saí da biblioteca, foi até o quarto e abri a porta.
Quando acendi o interruptor de luz, meus olhos pousaram na mesa
de cabeceira e, com certeza, os dois medicamentos estavam lado a lado,
esperando por mim.
Capítulo 12
ELAINA

Eu não tinha certeza de onde Val pretendia me levar, mas, ao mesmo


tempo, não me importava. Eu estava saindo desta casa sufocante e
esperava aproveitar ao máximo.
Anita tinha me mostrado sites de vestidos esta manhã, e depois de
escolher um que aparentemente era apropriado para a ocasião, foi
comprado.
Val fez uma ligação para que ele estivesse pronto à noite - o que no
mundo de qualquer outra pessoa era um pedido impossível. Mas este era
o mundo de Val, e ele tomou o impossível possível.
Decidi por um lindo vestido rosa. Era muito mais elegante do que
qualquer coisa que eu já usei antes, e o valor não estava nem perto da
minha faixa de preço habitual.
Mas Val disse que eu tinha que escolher algo em um dos três sites que
Anita me mostrou, e o vestido tinha que ser elegante, um vestido que não
fosse de coquetel.
O decote era aberto, mas sustentava bem meus seios, então não ficaria
vulgar.
Nunca foi de ostentar e nunca gostei de usar roupas que mostrassem
muito o meu corpo. As roupas de verão não contavam. Eu não deveria ter
que morrer sufocada por causa do machismo.
Meu estilo sempre foi modesto e respeitoso. Este vestido caiu como
uma luva.
Agora que estava esperando Val ficar pronto, comecei a me perguntar
se havia tomado a decisão certa sobre tudo. E se esses saltos começassem
a matar os meus pés depois?
Meu cabelo estava penteado de um jeito adorável com alguns cachos
caindo sobre meus ombros.
Meus pensamentos estavam confusos e não havia dúvida de que era
porque eu estava muito ansiosa para sair de casa e ver o mundo lá fora
novamente.
Eu sabia que não era hora para fazer turismo, mas eu nunca tinha
estado em Chicago. Agora, eu seria capaz de ver a cidade - e à noite!
— Mio, ti sembra assolutamente stupefacente, il mio amore, — A voz de
Val falou atrás de mim, o que me fez virar rapidamente para encará-lo.
Tradução: Nossa, você está absolutamente deslumbrante, meu amor.
Seus olhos vagaram pelo meu corpo enquanto as pontas dos dedos
tocavam a sua barba por fazer, de maneira pensativa. Eu não tinha
certeza se ele tinha esquecido que eu não sabia espanhol ou italiano ou
qualquer que seja a língua que ele estava falando, mas seja o que for que
ele acabou de dizer, eu não entendi.
— Uh... você também? — Eu respondi, insegura.
Val apenas riu antes de enfiar a mão no bolso da calça e tirar uma
caixa. — Eu tenho uma coisinha para você. Eu gostaria que você o usasse
esta noite. — Quando ele se aproximou, olhei para a caixa e reconheci a
joalheria. Val estendeu o braço para que eu pegasse a caixa, e eu fiz isso,
acenando um pouco com a cabeça.
— Obrigada...
— Abra.
Evitei revirar os olhos com seu comportamento naturalmente
exigente e tirei a fita, depois a tampa da caixinha. Um colar de diamantes
deslumbrante estava dentro, e era diferente de tudo que eu já tinha visto.
O colar mais lindo que se possa imaginar.
— Oh meu Deus... — Eu olhei para Val. — Isso é lindo. Tão...
— Exótico? — ele continuou por mim. — Deixe-me colocá-lo para
você - ficará bem com o seu vestido.
Eu consegui dar um pequeno sorriso quando ele pegou o colar e
caminhou atrás de mim.
Mudei os poucos cachos que haviam caído em meu ombro e os
segurei enquanto Val movia o colar em volta do meu pescoço,
prendendo-o nas costas.
Ele beijou minha nuca suavemente. — Um lindo colar para uma
mulher ainda mais bonita.
Foi um elogio, então sorri. Meu sorriso não era real, mas desta vez,
não foi culpa de Val. Não foi algo que ele disse ou fez - foi o universo.
Mulher? Eu mal me sentia como uma mulher.
Eu tinha apenas dezoito anos e ser mulher significava ser adulta, o que
aconteceu comigo de repente. Eu não era uma menina, não era mais uma
adolescente.
Eu era uma mulher agora. Eu não tinha mais a vida livre de uma
adolescente.
Eu agora tinha todas as responsabilidades de uma mulher casada, e ser
chamada assim fez tudo parecer mais claro e real para mim.
Coloquei a minha mão sobre o colar, sentindo o diamante contra a
ponta dos meus dedos. — Então, você pode me dizer para onde estamos
indo agora?
Quando Val circulou ao meu redor, ele tirou o paletó do armário e o
vestiu. — Apenas um evento social. E bom para os negócios e para formar
conexões.
Negócios?
Val estava basicamente me levando a um evento com outros membros
da máfia - um evento com Deus sabe quantos assassinos e Psicopatas.
Como isso parecia normal para ele?
— É hora de todos conhecerem a minha esposa, — acrescentou ele, e
eu olhei para ele com um olhar questionador antes de continuar.
— Eu não tive a chance de te dizer porque você tem sido uma pirralha,
mas ser casada comigo te dá muito poder, Elaina.
— Um dia serei o capo da máfia e você será a esposa do chefe italiano.
As pessoas me temem; eles temem você. Nós.
Mas eu não quero que as pessoas tenham medo de mim. Eu não dei a
ninguém nenhum motivo para ter medo de mim.
As pessoas me viam ou ouviam meu nome, Elaina Acerbi, e
imediatamente temiam-me por causa da pessoa com quem eu era casada.
Por causa do nome que recebi no dia em que me casei com Valentino,
o homem que ele era me afetou muito mais do que apenas minha vida
dentro de casa.
*
A mão de Val ficou na minha cintura o tempo todo, exceto quando ele
nos pegava bebidas em uma bandeja que passava ou apertava a mão de
alguns homens.
O evento ao qual ele me levou foi realizado em um grande prédio que
me pareceu muito luxuoso. É incrível como criminosos podem agendar
eventos como esse sem serem pegos pelas autoridades.
Todos estavam bem vestidos, mas pareciam de alta autoridade. Foi
extremamente intimidante.
Presumi que todos estavam armados. Eu sabia que Val estava porque
eu vi quando ele colocou a arma no coldre antes de sairmos.
— Ah, Valentino. Esta deve ser a sua adorável esposa, — uma voz
masculina disse, e eu notei um homem alto e mais velho se aproximando
de nós. — Sra. Acerbi, devo te chamar assim?
— Pode ser só Elaina, — respondi.
— E bom ver você, Giovanni. — O tom de Val estava calmo - não
estava feliz, na verdade parecia que não era nada bom ver este homem -
mas, na real, o Val algum dia já ficou feliz em ver alguém?
Os olhos de Giovanni se voltaram para mim. — Ela é linda, Valentino.
Jovem. E tem esses olhos azuis... Cativantes. — De repente, eu queria
arrancar meus olhos de suas órbitas. Este homem não apenas olhou para
mim, mas ele olhou para a minha alma. Foi assustador.
— Não deixe seus olhos vagarem pela mulher de outro homem,
Giovanni, — Val disse a ele em um tom ameaçador enquanto sua mão
apertava minha cintura de forma possessiva.
Giovanni riu e tomou um gole do uísque que estava em sua mão. —
Não há nada de errado em olhar, Valentino.
— Há sim, quando você está olhando para a minha esposa. — Os olhos
de Val nunca deixaram Giovanni, continuando a fulminá-lo com o olhar.
— E eu acredito que você também é casado.
Giovanni encolheu os ombros com indiferença e olhou ao redor da
sala ocupada. — Minha esposa é apenas uma mulher.
— Pai! — Eu ouvi uma voz familiar dizer de uma curta distância, e
Gianna apareceu, dando um abraço em Giovanni.
— Ah, minha garota. Você está adorável. — Giovanni beijou sua
cabeça e olhou em volta. — Onde está Stefano esta noite? Ele geralmente
fica sempre bem atrás de você.
— Ele está conversando com uns amigos perto da entrada. — Gianna
olhou para mim e sorriu. — Então, você já conheceu a Elaina.
— Na verdade, estamos prestes a ir para outro lugar, — comentou Val
antes de acenar com a cabeça em direção a Giovanni. — Tenho certeza de
que vamos te encontrar novamente.
— Foi um prazer te conhecer, — eu disse suavemente antes de ir
embora com Val.
Val estava caminhando rapidamente, murmurando baixinho. —
Aquele homem... eu não o suporto.
Corri para acompanhá-lo, ficando ao seu lado. — Bem, você fez um
trabalho muito bom em mostrar o contrário.
Seus olhos se estreitaram em minha direção, e ele não abriu um
sorriso, não parecia nem um pouco aliviado. — Essa família é má,
nefasta, incluindo a Gianna.
— Stefano pode estar cego de amor por ela, mas ela é como o pai -
conivente e manipuladora.
Isso era algo de que duvidava. Val certamente foi criado para ser
desconfiado de todos, dada a sua situação. A confiança não era um ponto
forte para ele simplesmente porque era perigoso para ele confiar em
alguém.
— O pai dela é... intimidante, — eu comentei um momento depois,
decidindo usar uma palavra que não voltaria contra mim. Era verdade.
Certamente Gianna iria admitir isso também.
Os olhos de Val estavam em outros lugares, como se ele estivesse
examinando a sala, mas quando olhei, percebi que ele ainda observava
cada movimento de Giovanni.
— Você não precisa se preocupar com ele. Você é uma Acerbi. Você
está protegida.
Se isso era para me dar alguma sensação de conforto, não rolou.
Talvez eu não tenha entendido a importância de tudo neste universo ou
o nome Acerbi...
Mas nesta sala cheia de quinhentos mafiosos, com certeza eles seriam
capazes de matar duas pessoas, não importa o sobrenome, certo?
E uma questão de lógica.
— Eu me pergunto se a Gianna sabe que o pai dela tem um olho
errante... — eu disse a mim mesma.
Não tinha percebido que Val estava ouvindo até que ele respondeu: —
Não pense em dizer nada. Isso só vai causar problemas.
Eu balancei a cabeça lentamente. — Claro que não.
Senti um toque em meu ombro e vi a Gianna parada atrás de mim. —
Deixe-me apresentá-la a alguns amigos. Seria bom para você conhecer
algumas pessoas.
— Sim, ok... — Eu me parei e olhei de volta para Val, hesitando. —
Posso?
Seu olhar se demorou em Gianna, não parecendo entusiasmado com a
ideia. — Seus amigos não são as pessoas mais influentes, Gianna.
Ela cruzou os braços sobre o peito e ergueu uma sobrancelha para Val.
— Eu não acho que eles poderiam ser muito piores do que você, Val.
Val olhou para mim e falou baixo para que só eu pudesse ouvir. —
Cinco minutos. Eu não quero você longe.
— Tudo bem... — Eu concordei antes de me virar para Gianna e ir
embora com ela.
Quando chegamos a uma distância segura, ela zombou. — Que
maníaco por controle... — Surpreendentemente, Val não foi horrível esta
noite.
Ele parecia quase humano e, embora tivesse sido horrível nas últimas
semanas, senti como se reclamar hoje à noite fosse de alguma forma
azarar o bom comportamento que recebi dele.
— Seu pai parece legal, — eu comentei, tentando mudar a conversa,
embora meu comentário fosse mais uma mentira.
Gianna simplesmente sorriu e alcançamos uma jovem. — Brenda, esta
é Elaina, esposa do Valentino.
A garota, Brenda, parecia maravilhada enquanto sorria para mim. —
Esposa do Valentino? Uau... Prazer em conhecê-la.
Você é muito bonita.
— Obrigada. Você que é.
Ela tomou um gole de seu vinho e pousou a mão livre no quadril. —
Não vou mentir, nunca pensei que o Valentino fosse sossegar. Ele
simplesmente não é do tipo que se acomoda.
Claro, ninguém sabia que se tratava de uma aliança de negócios,
exceto a família. Fora isso, todos pensavam que estávamos loucamente
apaixonados.
— Suponho que algumas pessoas só precisam da pessoa certa para
sossegar, — respondi, dando-lhe o melhor sorriso que pude reunir.
Brenda parecia ser mais do tipo fofoqueira, disposta a causar
problemas. Eu aprendi rapidamente que ela era uma tagarela, e não sobre
a sua vida, mas sobre a vida de todas as outras pessoas.
— Aquele homem, ele é outra coisa. Estou surpresa que você alcançou
as expectativas dele ou não fugiu ainda, — ela continuou antes que
Gianna a cutucasse para parar.
Gianna lançou um olhar furioso para Brenda e, pela primeira vez,
percebi que a bondade deixou os olhos de Gianna. — Pare com isso.
— Ela não é apenas a esposa de Val, ela também é filha de Vadim
Vasiliev, então, a menos que você queira morrer, sugiro que a trate com
respeito.
Fiquei em silêncio, sem saber o que dizer em um momento como
aquele. Gianna parecia quase como o Val.
Ela apontou minha conexão com as pessoas poderosas para que as
pessoas não me ofendessem, e eu não pude deixar de questionar a sua
bondade para comigo agora. Ela era legal pelas razões certas?
— Vadim Vasiliev? Bem, você é bastante sortuda, hein? — Brenda deu
uma risadinha, parecendo sarcástica.
Eu senti como se estivesse sendo insultada intencionalmente, mas
também estava em alerta máximo, então talvez eu estivesse exagerando.
— Seu marido logo será o capo italiano, e seu pai é o capo da máfia
russa. Você tem bastante poder, não é? — Eu balancei minha cabeça, sem
palavras. Essa garota não entendia que eu não pedia nada disso, que por
dezoito anos foi criada longe disso e, de repente, forçada a esse estilo de
vida.
— Não... eu não diria isso...
— Honestamente, Brenda? Você não consegue ficar de boca fechada?
— Gianna revirou os olhos e segurou meu braço. — Vamos comer alguns
aperitivos. — Ela começou a me arrastar para longe de onde Brenda
estava, tirando-me dessa situação, mas eu não conseguia esquecer tudo o
que foi dito; era quase impossível.
— Ignore ela, ok? Ela sempre teve uma quedinha por Val, — Gianna
me disse enquanto começava a caminhar comigo para onde os aperitivos
estavam.
Parei e procurei pelo Val. Pela primeira vez, eu realmente queria vê-lo.
E então eu vi.
Em pé junto à parede com uma mulher.
Ela tinha cabelos loiros e usava um vestido vermelho justo. Não foi
isso que me confundiu - foram as mãos dela e onde elas foram colocadas.
Suas palmas estavam em seu peito e brincando com sua gravata
enquanto ela sorria docemente para ele.
Val ergueu as sobrancelhas para ela, e seu cabelo caiu sobre seus
ombros quando ela inclinou a cabeça sedutoramente.
Ela era bonita.
Quem quer que ela fosse.
Capítulo 13
ELAINA

— Catherine Morsta, — Gianna me disse enquanto eu olhava para a


mulher do outro lado da sala acariciando o peito de Val, e ele permitindo.
Quem era essa tal de Catherine, e por que ela era tão ousada a ponto
de colocar as mãos em Val?
Ele nunca pareceu ser o tipo de homem que tolera algo que não quer,
então ele deve estar gostando dessa mulher o apalpando.
— Quem é ela? — Eu perguntei a Gianna. Em outras palavras, eu
estava sutilmente perguntando com quem ela era associada, em um
sentido criminoso. Será que eu preciso me preocupar com a minha vida?
Gianna encolheu os ombros ligeiramente e olhou para mim. —
Ninguém importante. Ela costumava ficar muito tempo em casa. Vamos
apenas dizer que quando eu a vejo, ela geralmente não está com tanta
roupa. — — Você quer dizer... ela e o Val...? — Eu perguntei a Gianna.
Ela pareceu hesitar, olhando para mim por um momento. — Eu não a
vejo desde que você e Val se casaram, pelo menos não até agora. Mas
antes? Sim... Ela era o que alguns chamam de garota de programa.
— Eles estavam juntos a sério? — Eu persisti com as perguntas,
ficando mais curiosa sobre essa Catherine.
Ela era uma mulher feita, ao contrário de mim.
Desta vez, Gianna riu e respondeu rapidamente: — Claro que não. Val
não se comprometeu antes nunca, até casar com você - antes era tudo só
sexo. Como você pode ver, ela obviamente perdeu o que Val estava dando
a ela.
— Ele é realmente tão bom de cama?
— Como é que é? — A minha boca se abriu e eu não consegui
encontrar as palavras para responder. Fiquei surpresa que alguém fizesse
essa pergunta. Isso não é privado?
No entanto, Gianna não tinha filtro.
Ela parecia emocionada com o quão desconfortável eu fiquei, rindo da
minha gagueira.
— Oh, vamos, Elaina. Eu não suporto esse cara, mas me diga... Ele é
realmente bom de cama ou a Catherine está apenas desesperada?
— Não sei... quero dizer, eu só transei com ele. Eu não tenho outro
parâmetro para compará-lo.
Eu me senti extremamente desconfortável. A minha vida íntima com
Val não era nem mesmo consensual. Foi tudo forçado e sem amor.
Olhei para trás, para onde Val estivera com Catherine, mas eles não
estavam mais lá.
Meus olhos percorreram a sala e, embora houvesse pessoas em todos
os lugares, nenhuma delas era Val ou a mulher sedutora de vermelho.
Claro, a minha mente imediatamente se referiu ao que Gianna me
disse e pensou sobre a possibilidade deles terem escapado para uma área
privada para desfrutar da companhia um do outro.
A mulher era o oposto de mim - loira, alta, confiante e seus olhos
eram de um tom verde penetrante. Mesmo que ela não estivesse visível
para mim agora, eu me lembrava de tudo claramente.
O vestido que ela usava fazia ela parecer uma garota em uma missão
sexy. Curto e sedutor.
A mulher era o oposto de mim - loira, alta, confiante e seus olhos
eram de um tom verde penetrante. Mesmo que ela não estivesse visível
para mim agora, eu me lembrava de tudo claramente.
O vestido que ela usava fazia ela parecer uma garota em uma missão
sexy. Curto e sedutor.
Minha cintura sendo agarrada me fez pular um pouco, e meus
pensamentos me deixaram instantaneamente. Val estava de repente na
minha frente e Gianna não estava em lugar nenhum.
— Você está distraída, — ele comentou. — Eu suponho que você
conheceu a Brenda.
Ugh, Brenda. Aquela garota era zuada. Claramente, o Val estava ciente
de sua obsessão por ele.
— Uh... sim. Eu estava procurando por você, — eu admiti, respirando
fundo. — Todo mundo é estranho pra mim aqui.
— Eu estava conversando com uma amiga, — Val me disse
simplesmente. Ele levou um copo aos lábios, mas o líquido era claro. Na
hora, eu soube que era água. Esse cara nem podia se divertir.
Considerando que já estava no meio da noite e Val,
surpreendentemente, não tinha me dado nenhuma restrição quanto às
bebidas, eu já estava na minha quinta taça de vinho.
A beleza das bebidas em reuniões sociais era ter algo para fazer
quando você não tinha nada a dizer. Tudo era estranho perto dessas
pessoas, então eu bebia constantemente para parecer ocupada. Não
funcionou a meu favor, no entanto. Eu estava começando a sentir os
efeitos do álcool e, embora fosse bom, a última coisa que eu queria era
alguma repercussão negativa.
— Todas as suas amigas são tão bonitas? — Eu desafiei Val, levantando
meu copo de volta aos lábios lentamente quando percebi o quão áspero
as minhas palavras tinham soado.
Recusei-me a olhar para Val, mas pelo canto do olho notei seu corpo
enrijecer, o que geralmente indicava que ele não estava impressionado.
Agora que eu sabia que aquela reação era por minha causa, senti que
era melhor ainda conversar com a Brenda.
— Então, você viu onde eu estava. — Ele deu um suspiro exasperado.
Quando eu finalmente olhei para ele, seus olhos se estreitaram para
mim. — Eu não achei que você era do tipo ciumenta, Elaina.
Ciumenta? Ele deve ter perdido a cabeça se ele pensa que eu estava
com ciúmes.
— Absolutamente não. Na verdade, se qualquer outra mulher vai
manter as tuas mãos longe de mim, então pode aproveitar, — eu deixei
escapar.
Sinceramente, era algo por que eu estava orando desde o momento
em que dissemos — eu aceito. — Eu era provavelmente a única esposa no
mundo que queria que o marido a traísse.
Val poderia dormir com quantas mulheres quisesse, contanto que
deixasse o meu corpo intocado.
Eu nunca soube se isso era algo que ele fazia, mas dado seu estilo de
vida, presumi que a infidelidade fazia parte da rotina dele.
Meus olhos estavam em alerta enquanto a mão de Val se movia para o
meu rosto, traçando o contorno dos meus lábios com o polegar. — Eu
quero que você saiba algo sobre mim.
Apesar do que você possa pensar ou do que você queira, não tenho
intenção de cometer adultério. Eu levo o casamento a sério, como espero
que você também faça.
— O quê?
— Não aja sem noção, querida. Você acha que vou dormir com várias
mulheres e, eventualmente, mostrar uma falta de interesse em você?
Você deveria se sentir lisonjeada por achar você atraente o suficiente
para te comer e eu falo isso sem estar bêbado.
Seus lábios se torceram em um sorriso malicioso, e eu senti que
deveria haver uma razão para ele ser tão insistente. Não estávamos
apaixonados; nós dois sabíamos que tudo tinha sido arranjado. Então,
por que ele estava forçando a barra?
— Lamento se fiz você se sentir assim, — comecei, sem saber de mais
nada que pudesse fazer além de me desculpar. Val era inteligente. Eu não
conseguia fazer nada passar despercebido por ele.
Seus olhos se desviaram de mim e ele baixou a mão. — Seu pai estava
procurando por você. Falei com ele antes. Vá dizer oi agora porque
iremos embora em breve.
— Eu não preciso - podemos apenas sair agora.
Eu não queria ver Vadim. Ele estava longe de ser um pai para mim. Eu
não iria me aproximar dele de propósito. Na verdade, eu queria evitá-lo.
— Vá ver seu pai, Elaina. E uma cortesia, — Val me disse em um tom
mais exigente. — Vou com o Gustavo falar com um parceiro de negócios.
Demoraremos alguns minutos.
Revirei os olhos instintivamente. Essa foi uma jogada ruim. Uma regra
que eu não tinha aprendido até agora.
De repente, meu pulso foi agarrado com força e os olhos penetrantes
de Val estavam fixos nos meus. — Nunca role os olhos para mim. Estamos
entendidos?
Tentei puxar a minha mão de seu aperto, mas ele estava me segurando
com força demais. — Val... por favor, me solte.
— Você é impossível. Eu levo você para sair e você ainda age como
uma vadia. — Ele largou a minha mão bruscamente. — Aproveite seu
tempo aqui fora, Elaina. Não vai acontecer novamente tão cedo.
Ele foi embora com passos rápidos antes que eu pudesse protestar, e
fiquei segurando meu pulso.
Ou ele ficou com raiva com muita facilidade ou ele realmente tentou
ser legal e eu estraguei tudo. Era impossível que alguma coisa com ele
desse certo.
Aproveitei o momento livre para ir ao banheiro feminino, esperando
não esbarrar em Vadim ao longo do caminho. Eu precisava de um
momento sozinha para arrumar a minha maquiagem e respirar. A
elegância se estendeu até mesmo os banheiros. Cada cabine era muito
maior do que o normal. Quando parei na frente do espelho, olhei para
mim mesma e suspirei suavemente.
Eu desistiria de todas essas coisas luxuosas apenas para ter a minha
antiga vida de volta. Eram os mesmos sentimentos e emoções que eu
sentia todos os dias. Meu cabelo estava lindamente penteado, o vestido
era deslumbrante e o colar que Val me deu era de tirar o fôlego. Mas vale
a pena perder tudo o que eu tinha antes?
Por outro lado, eu não tive escolha.
— Téigh ar anois, beidh duine a eiceann tú! Um forte sotaque
masculino desconhecido se aproximou da porta do banheiro.
Tradução: Vá em frente, alguém vai ver você.
Algo soou correndo do lado de fora da porta. O bater de pés e duas
pessoas discutindo entre si. Foi surpreendente, e as suas vozes eram
intimidantes.
Entrei em pânico e abri um box do banheiro, fechando-o e trancando-
o rapidamente.
— Calma síos, athair. A ligean ar labhairt i anseo, — falou a mulher. Seu
sotaque era tão forte quanto o do homem e, de repente, a porta do
banheiro foi aberta, o que me deixou grata por ter me escondido.
Tradução: Calma, pai. Vamos conversar aqui.
Eles começaram a falar em inglês assim que a porta do banheiro foi
fechada, e o homem falou primeiro. — Keela, não desista de mim agora.
Você sabe como isso é importante.
— Eu nunca disse que estava desistindo de você, Pai. — A garota
parecia agressiva. Ela gritou com o homem que era seu pai tão alto que
fiquei surpresa.
Keela. Por que esse nome soa tão familiar? Minha mente ficou em
branco e, quando o homem falou novamente, fiquei distraída.
— Os Acerbis têm vários seguranças em todos os lugares, mas
circulam rumores de que Marco e Valentino sairão da cidade para cobrar
algumas dívidas não pagas.
— Sempre parece haver falta de segurança quando eles viajam. — Eu
podia ouvir a garota bufar como se ela achasse a coisa toda ridícula. — E
qual é o seu plano? Atirar neles? Sequestrá-los?
— A sua fonte é realmente confiável, pai? Eles podem estar armando
para você.
— É confiável o suficiente! — Sua voz se elevou. — Você acha que eu
sou um idiota? Tenho muito mais experiência do que você jamais terá.
Eu sei o que estou fazendo. Estou certificando-me antes de confiar neles.
Prendi a minha respiração. Isso tudo era muita informação. Eu estava
ouvindo tantas informações perigosas que não deveria ouvir e um único
movimento errado poderia me matar.
Minha respiração parecia estar muito alta, e eu temia a possibilidade
de espirrar.
A coisa toda me deixou nauseada. Essas pessoas tinham um plano
para atacar, possivelmente matar, Val e seu pai.
O pior é que aparentemente alguém de dentro da família estava
passando informação.
Val sempre falou sobre confiança e como era difícil confiar em
alguém. Este era um exemplo perfeito de porque ele se recusou a se abrir
para alguém. Isso poderia literalmente matá-lo.
— Quando essa pessoa misteriosa planeja se revelar? — Keela
perguntou a seu pai.
— Em breve, — ele respondeu antes de ser interrompido pelo som de
um espirro - mas não era meu.
Cobri minha boca enquanto meus olhos se arregalaram. Oh meu Deus,
não. Isso não pode estar acontecendo.
— Que pena, — foi tudo o que ele disse antes de rir e dar alguns
passos em direção ao banheiro. Eu podia ouvir seus passos se
aproximando antes que uma jovem voz feminina se rendesse.
— Me desculpe... eu vou sair. Mas, por favor, não me machuque.
— Bem, venha para fora. Certamente me pouparia o tempo de
quebrar a porta...
Não consegui ver nada. Eu simplesmente não faria nenhum som e
rezaria para que meus pés não quebrassem.
Um rangido do boxe do banheiro ao lado da minha soou, e eu pude
ouvir uma arma sendo preparada.
Parecia tão familiar, assim como quando Val atirou naqueles homens
na minha frente. Lembrei-me do som vividamente. Ele estava
frequentemente em meus pesadelos.
— Oh meu Deus... por favor, não! — Eu ouvi a garota implorando. Ela
parecia apavorada e sua voz estava trêmula.
O homem respondeu a ela em um tom frio. — Você ouviu coisas que
não deveria ouvir. Não há nenhuma maneira de eu deixar você sair daqui
viva.
— Eu não vou dizer nada, eu ju...
Bang.
Eu lutei contra a vontade de chorar quando ouvi o corpo da garota
caindo no chão. Demorou apenas alguns segundos antes que seu sangue
começasse a entrar sob o box do banheiro.
— Puta idiota... Qualquer outra pessoa poderia estar ouvindo, Keela!
— A voz do homem me tirou dos meus pensamentos e suas próximas
palavras me fizeram congelar. — Verifique as cabines!
Capítulo 14
ELAINA

Eu ouvi o barulho de salto alto no chão e imaginei que a garota estava


checando embaixo das cabines agora. Era isso - ela iria olhar e ver os
meus pés.
Eu não conseguia nem tentar ficar de pé no banheiro porque eles
iriam me ouvir. Era impossível sair dessa situação.
Uma comoção surgiu do lado de fora depois que o tiro foi disparado,
mas ninguém estava entrando no banheiro. Olhei ao redor, em busca de
algo que pudesse usar para me defender, mas não havia nada.
Nada me salvaria de uma arma.
— Empurre-a para fora do caminho para que eu possa ver sob essa
cabine, — disse Keela a seu pai.
A garota em que eles atiraram estava deitada com meio corpo na
cabine em que eu estava me escondendo, e de repente seu corpo foi
puxado para longe assim que as luzes se apagaram.
— Que porra está acontecendo? — o homem rugiu com raiva. Estava
escuro como breu e eu não conseguia ver nada.
Normalmente, eu tinha medo do escuro, mas nunca tinha sido tão
grata à escuridão antes. Eu esperava que fosse mais do que apenas um
piscar das luzes e isso foi deliberado para que eu pudesse sair de lá.
Houve sons de tiros à distância, vindos da área da festa, junto com
gritos e, em seguida, a porta do banheiro se abrindo.
— Coilin, senhor... Todo mundo está atirando lá fora. Você precisa sair
daqui, — uma nova voz surgiu, parecendo estar com pressa. — Todo
mundo ouviu o tiro daqui e ficou maluco.
— Ngealt diabhal Dia! — Gemeu o homem original.
Tradução: Malditos lunáticos!
Eu ouvi passos correndo para fora do banheiro, muitos deles juntos.
Eles tinham que ter ido embora, mas e se ainda tivesse alguém ali?
Eles poderiam facilmente estar esperando para ter certeza de que
ninguém foi deixado nas cabines dos banheiros. Se eu fugisse agora,
poderia haver alguém esperando com uma arma apontada para minha
cabeça.
O silêncio no banheiro era ensurdecedor. A única coisa que consegui
ouvir foram gritos e tiros vindos da sala principal.
Eu estava com muito medo de me mover, com muito medo de tomar
uma decisão porque poderia ser a decisão errada. Senti uma lágrima rolar
pela minha bochecha, mas foi inteligente o suficiente para não fazer
nenhum som.
Eu sabia que um movimento errado poderia literalmente ser a minha
morte, e esse era um pensamento assustador.
Eu estava pisando em uma poça de sangue de alguém depois de ouvi-
la ser morta a tiros; agora eu me sentia forçada a ficar aqui até que me
sentisse segura o suficiente para ir embora. Quando seria isso, mesmo?
Parecia que isso nunca aconteceria.
— Elaina! — A porta do banheiro se abriu rapidamente e a voz de Val
ecoou na área confinada.
Uma sensação de alívio encheu meu corpo e, embora Val tivesse
apavorado mais do que eu gostaria de admitir, me senti mais segura
tendo ele aqui do que estar sozinha.
Eu rapidamente destranquei o box do banheiro e, através da escuridão
do banheiro, consegui ver sua silhueta alta perto das pias.
Minhas pernas ficaram fracas, finalmente reagindo ao medo que senti
todo esse tempo, e um pouco antes de eu cair, ele estava lá para me
pegar.
— Bambino... Shh... — ele sussurrou e seus braços fortes me
sustentaram com segurança, me mantendo estável. — Você está bem?
Tradução: Baby.
Eu balancei minha cabeça vigorosamente. Eu estava bem. A princípio,
eu estava apenas abalada, mas não estava fisicamente ferida. Eu já passei
por coisas piores; eu poderia lidar com ser traumatizada.
— S-sim... eu não sabia o que fazer... eu só...
Os lábios de Val pressionaram contra a minha cabeça, me puxando
para perto dele. — Nós precisamos ir. Agora mesmo. — Antes que eu
pudesse responder, ele estava me puxando para fora do banheiro em um
movimento rápido. Percebi que ele estava com a arma na mão livre,
pronta para o caso de precisar usá-la.
Ele a segurou com tanta facilidade e sem nenhuma preocupação no
mundo. Mas, na verdade, ele tinha feito isso a vida toda, então o Val sabia
como lidar bem com uma arma.
— Stefano! — Ele levantou a voz de repente, e notei Stefano com
Gianna do outro lado do corredor. Val começou a divagar em italiano
quando eles se aproximaram.
— C'è una figlia morta nel bagno. Ho trovato Elaina, andiamo.
Tradução: Há uma garota morta no banheiro. Eu encontrei Elaina,
vamos.
Stefano acenou com a cabeça e eu o observei colocar a arma no coldre.
— Tutti stanno andando, non so cosa sia successo, ma sono abbastanza
sicuro che chiunque abbia causato questo scontro sia andato via.
Tradução: Todo mundo está indo embora. Eu não sei o que aconteceu,
mas tenho certeza de que quem causou esse tumulto já foi embora.
Eu não gostava de não saber o que diziam. Até Gianna entendeu
porque ela também era italiana. Só eu não sabia esse idioma. A garota
inglesa com sangue russo casada com o italiano que decidia quando
realmente falaria a minha língua perto de mim.
Foi frustrante e me fez sentir como se eles não quisessem que eu
ouvisse o que estavam dizendo.
Val pegou a minha mão e me guiou pela escuridão do prédio. Parecia
que todos haviam saído - estava ficando surpreendentemente silencioso
com o passar dos segundos.
— O que aconteceu com as luz-?
Instantaneamente, a mão de Val foi à minha boca para me impedir de
falar e ele pressionou seus lábios no meu ouvido. — Shh... Isso pode ser
um ataque, Elaina. Você precisa ficar quieta.
Eu apenas balancei a cabeça, de repente não me sentindo nem um
pouco confortável.
As pessoas no banheiro pareciam ter um alvo na cabeça do Val, e
quem quer que fosse poderia ter planejado uma grande emboscada para
essa noite.
Pelo que sabíamos, as pessoas do banheiro ainda podiam estar aqui.
O medo me invadiu. Agarrei-me ao braço de Val para sentir que estava
mais ou menos protegida.
Foi o Marco quem disse como a família era importante na primeira
noite em que Conheci Val. Eles valorizaram a sua família e o nome que
veio com ela. Ele também disse que eu estaria protegida.
Eu não tinha ideia do quanto isso significavam, mas agora eu esperava
que fosse verdade.
Assim que vi a porta da frente do prédio, o alívio tomou conta de
mim, e nunca me senti tão grata por ter o Val ao meu lado até este
momento. Se não fosse por ele, eu ainda estaria escondida no banheiro,
apavorada.
Embora a sensação fosse embora amanhã - eu tinha quase certeza que
iria - eu estava grata por ele agora por me ajudar a sair daqui viva e pela
primeira vez, me segurando de uma forma protetora.
*
Eu estava sentada na beira da cama por quase uma hora, olhando para
a barra do meu vestido que estava encharcada com o sangue da garota
que foi baleada no banheiro.
O som de sua súplica ecoou na minha cabeça, e eu só queria que
parasse.
Por que eu tive que estar lá? De todas as horas que eu poderia ter ido
ao banheiro, por que tive que ir naquele exato momento? — Você deveria
se trocar, querida. — Val me tirou de meus pensamentos e eu olhei para
ele.
Eu estava tendo dificuldade para me mover. Quando chegamos em
casa, todos os outros simplesmente sumiram.
Stefano e Gianna foram para a cama, Marco e Paloma foram para a
casa deles, todos os outros saíram de casa também.
Val tinha me seguido até o nosso quarto e, assim que me sentei na
beira da cama, não consegui me levantar de novo.
Esta foi a primeira vez que vivi uma coisa dessas e estava sendo muito
difícil. Eu me lembrei que estava bem, mas no fundo da minha cabeça eu
dizia a mim mesma que estava muito perto do perigo.
O pensamento por si só era surpreendente. — Elaina... — Val repetiu.
— Tire o vestido. O sangue está fazendo você pensar demais...
— Eu não consigo tirar os gritos dela da minha cabeça, — eu disse a
ele em um tom baixo, alcançando minhas costas enquanto me levantava.
Soltei o colar que estava usando.
— Seja grata por não ter sido você. — O tom de Val era frio. Sua
resposta foi a prova de que ele não se importava nem um pouco, nem
sentia remorso pela garota que estava no meio disso.
Ela simplesmente estava no lugar errado na hora errada.
— Poderia ter sido eu...
Não pude deixar de notar Val tirando a sua gravata. Ele puxou-a
completamente e começou a desabotoar a camisa enquanto estava bem
na minha frente.
Oh não. Agora não. De todos os momentos, eu não posso lidar com ele me
abusando agora...
Fechei os olhos com força, imaginando-me em qualquer lugar, menos
aqui. Eu tinha experimentado algo horrível e tudo que eu queria fazer era
sentar e chorar, mas eu tinha que lidar com aquele homem.
Ouvi sua calça cair no chão e, quando abri os olhos, Val segurou meu
rosto com as mãos.
— Precisamos conversar... eu preciso que você esteja confortável e à
vontade, ok? Tire o vestido, se troque e vamos sentar e conversar sobre
isso.
Meus olhos se moveram para baixo em seu corpo. Ele estava em sua
cueca boxer preta, seu torso nu, o que me deu uma bela visão dos
músculos que ele tinha - músculos que eu não tinha prestado atenção
antes.
No entanto, ele queria conversar. Essa era a última coisa que eu
esperava dele.
Eu balancei a minha cabeça lentamente e virei s minhas costas para
ele. — Você pode abrir o zíper, por favor?
— Mm-hmm, — eu o ouvi responder antes de sentir suas mãos no
meu vestido e o zíper se mover pelas minhas costas.
Assim que o zíper do meu vestido foi aberto, ele se amontoou em
volta dos meus pés e, sem perceber, eu parei de me mover. Meu corpo
congelou.
Eu não tinha certeza de quanto tempo fiquei parada lá antes de sentir
um tecido fino se envolver em mim.
Eu olhei por cima do ombro para ver que Val estava colocando a sua
camisa em mim, e eu lentamente coloquei a minhas mãos nos buracos
dos braços. — Obrigada.
Sua camisa caiu logo abaixo da minha bunda. Abotoei alguns botões
na parte inferior, deixando alguns abertos na parte superior para não me
sentir claustrofóbica. Recentemente, eu me sentia sobrecarregada com
tanta facilidade.
A mão de Val descansou na parte inferior das minhas costas e ele me
levou para a cama, puxando os cobertores para que eu pudesse sentar
com as pernas embaixo dos cobertores.
Quando me sentei, senti o colchão afundar, indicando que ele
também se sentou. — Você se lembra bem do que aconteceu lá? — Eu
olhei para Val, lembrando-me de tudo claramente. — Havia um homem e
uma mulher... Eu... eu não sei se eles estavam no seu negócio, mas...
— Você ouviu algum nome? — ele imediatamente me questionou
novamente. Eu inclinei minha cabeça para trás, tentando
desesperadamente lembrar os nomes que foram ditos no banheiro. —
Eu... a garota, ela chamava Keela... mas eu não consigo lembrar o nome
daquele homem.
Val desviou o olhar e esfregou a mão no rosto, gemendo de frustração,
— Maldito irlandês!
Irlandês?
Oh meu Deus... Era por isso que o nome parecia familiar. Gianna me
contou sobre ela. Keela era aquela com quem Val deveria se casar antes
de mim. Não tinha acontecido, mas era ela.
— Val... tem mais. — Pensei no que foi dito no banheiro, tentando
decidir por onde começar. Havia tanta informação, mas agora que eu
estava cara a cara com Val, parecia tão difícil.
— Eles estão vindo atrás de você...
— Claro que estão, — ele respondeu com conhecimento de causa. —
Eles deixaram isso bem claro, Elaina. Felizmente para nós, isso não é
nenhum segredo.
Eu estava com medo do que ia contar a seguir. Se a informação que
eles estavam dizendo fosse falsa e eu a repetisse para Val, isso poderia
causar o inferno na Terra.
Mas se eu não o avisasse e ele descobrisse, eu estaria praticamente
morta.
— Tem mais..., — comecei, brincando com os dedos no colo.
Repassei tudo na minha cabeça e não havia absolutamente nenhuma
maneira de estar confundida sobre o que ouvi. Não havia como eu ter
entendido mal.
— Eles disseram que há alguém de dentro dando informações sobre
você. — Isso chamou a atenção de Val. Pela primeira vez desde que o
Conheci, sua atenção foi atraída pelo que eu disse e a atenção que ele
estava me dando sumiu em um flash.
Seus olhos se voltaram a ser os mesmos olhos escuros que ele
normalmente usava quando estava focado e em seu modo de negócios.
Isso era sério para ele, e saber que alguém em sua própria família
metafórica poderia estar o traindo o enfureceu antes mesmo que pudesse
descobrir a verdade.
— Eles disseram um nome? — Ele falou por entre os dentes, a raiva
irradiando dele neste momento.
Eu balancei minha cabeça rapidamente. — Não... Sem nomes. Eu não
faço ideia.
— Podemos ter apenas um rato aqui, querida. Mas ninguém fode
comigo e sai impune.
E era verdade. Aprendi isso quando o Val assassinou os três homens à
minha frente. Isso agora era uma caça ao traidor, e Val estava em busca
de sangue.
Ele não se importava - ele iria descobrir quem estava contatando os
irlandeses e iria matá-lo.
Capítulo 15
ELAINA

Fechei um olho enquanto apertava o outro, tentando obter uma visão


melhor do meu alvo.
Com a cabeça inclinada e o braço estendido para frente em uma
posição extremamente estranha, eu me senti mais como um zumbi de
The Walking Dead do que alguém aprendendo a atirar com uma arma.
BANG!
Eu puxei o gatilho, mas não acertei o alvo. Soltando a mão para o lado,
eu me endireitei e franzi a sobrancelha em confusão.
— Que raio foi aquilo? — Val me perguntou, com um tom claramente
frustrado. — Por que você estava assim? Você parecia ridícula!
Eu me virei para olhar para ele. Ele estava vestindo seu temo Armani
de costume. — Eu pareço ridícula? Quem usa temo em um campo de
tiro?
Eu poderia dizer que ele ficou instantaneamente furioso comigo. Ele
tinha um gênio forte, mas não me atingiu desta vez. Em vez disso, ele
apontou o dedo direto para o meu rosto e ergueu a voz.
— Você precisa parar de agir como uma porra de uma criança! Estou
farto do seu comportamento.
— Val, eu tentei, ok? Eu realmente tentei... Eu só fico muito trêmula e
nervosa, — expliquei a ele. Seus gritos estavam se tomando mais
regulares, então não me afetei por ele levantar a voz novamente.
— Foi a primeira vez que disparei com uma arma. Você poderia, por
favor, me dar uma mãozinha?
Sua risada me fez estremecer. Eu odiava quando ele fazia isso. Isso me
fez sentir como se ele estivesse rindo da minha estupidez.
— E isso que você vai dizer quando alguém está tentando matar você?
'Eu sou nova nisso, por favor, me dê uma mãozinha? ' Posso garantir-lhe que
eles não se importam.
Suspirei suavemente. Ele era tão intenso. Esta manhã, por volta das
5h30, ele me acordou para me preparar para que pudéssemos ir a este
campo e ele me treinar como atirar.
Ele passou a primeira hora repassando detalhes finos, como as peças
de uma arma e como segurá-la, mas assim que a arma foi parar na minha
mão, falhei miseravelmente. Ele tinha vários alvos configurados ao redor
do campo, cada um com um design tipo alvo de dardos. Eu não tinha
ideia de para onde a bala foi quando disparei a arma, mas não acertei
nem perto do alvo.
— Eu só queria que você me entendesse, — eu disse baixinho,
começando a apontar a arma para outra tentativa.
Rapidamente, Val agarrou a arma de minhas mãos e olhou para mim
com um olhar severo em seu rosto. — Eu não estou aqui para entender
você. Este não é um conto de fadas, amor. Você precisa se esforçar mais.
H
— Estou tentando...
Ele me passou a arma novamente e pousou as mãos nos meus ombros,
virando-me para enfrentar um dos alvos. — Concentre-se, Elaina. O que
quer que você esteja fazendo não é bom o suficiente.
Val ficou atrás de mim ajustando a arma em minhas mãos. — Segure
assim. Não hesite, porque se você fizer isso, você não vai pensar que é boa
o suficiente para acertar qualquer coisa e você não vai acertar, mesmo.
— Eu não quero machucar ninguém..., — eu disse a ele, imaginando a
vida de alguém em minhas mãos. Seria o peso do mundo, e eu não
poderia imaginar.
— Eu sei, mas se alguém tentar te machucar, você não terá outra
escolha, — ele me explicou.
Eu sabia que ele estava certo, mas isso não tomava as coisas mais
fáceis para mim. Ter alguém como Val me ensinando era intimidante; ele
não tinha paciência comigo e esperava grandeza instantaneamente.
As expectativas que ele tinha de mim eram impossíveis.
— Você precisa ser capaz de olhar rapidamente. Se alguém se
aproximar de repente, você precisa ser capaz de acertá-lo. Se você errar,
isso pode mudar tudo.
Antes que eu pudesse entender o que ele disse, ele rapidamente virou
meu corpo para encarar outro alvo, tirando sua arma do coldre e
mirando no novo alvo.
Quando ele atirou, um buraco de bala ficou visível bem no centro e
minha boca se abriu ligeiramente. — Como... como você fez isso tão
rapidamente? — Eu perguntei a ele, atordoada.
— Eu fui criado assim, Elaina. As pessoas não aprendem isso da noite
para o dia, — ele me disse, colocando a arma de volta no coldre e tirando
o paletó, colocando-o no chão.
Notei que ele arregaçou as mangas e continuei a falar. — Quando você
começou a aprender?
Ele não hesitou em me responder. — Quando eu tinha cinco anos,
comecei o básico. Meu pai me mostrava armas e me contava sobre elas,
me deixava segurar.
— Ele me disse a importância do nome de nossa família e que eu
precisava ser forte para carregá-lo.
— Quando você começou...? — Eu olhei para os meus pés, absorvendo
tudo. Ele era tão jovem e ele foi jogado neste estilo de vida sem escolha,
apenas porque estava em seu sangue.
Não admira que ele fosse tão frio.
— Quando você começou a matar?
— Curiosa, não é? — Ele sorriu para mim, colocando as mãos nos
bolsos, e eu pude ver a expressão em seu rosto enquanto ele refletia sobre
a memória.
— Minha primeira morte foi aos oito anos. Mas meu pai me fez
assistir aos seus assassinatos desde que eu tinha sete anos...
— Oito! — Fui pega de surpresa e por isso levantei a voz sem querer.
Eu me sentia mal só de imaginar uma criança de oito anos assassinando
alguém. — Val, sinto muito por você ter passado por isso.
Val apenas riu. — Não se desculpe, amor. Tomei-me praticamente
invencível por causa de como meu pai me criou. E o nosso menino criado
do mesmo jeito.
— Nosso... garoto? — Eu sabia exatamente o que ele queria dizer. Ele
tinha intenções de criar seus filhos da mesma forma que foi criado, só
porque isso era tudo que ele conhecia.
Mas os filhos de Val seriam meus filhos também, e de jeito nenhum eu
deixaria meu filho se transformar em um monstro.
— Eu posso ver nos seus olhos, você já está pirando, mas tenho
certeza que ele ainda vai gostar de você... Eu adoro muito a minha mãe.
— Isso fez tudo, menos me deixar tranquila.
Eu olhei para Val, balançando a cabeça. — Não... não quero que meus
filhos se envolvam nisso.
— Você não tem escolha. — Seu tom era frio - ele não estava nem um
pouco abalado, e eu o observei colocar novas balas na arma.
— Você não acha que a minha mãe tentou manter o Stefano e eu
longe disso? Quando você nasce na Máfia, você não foge dela. — Val
falou sobre isso tão casualmente enquanto eu estava no campo, com a
minha cabeça girando. Não apenas a minha vida estava sendo arruinada,
mas também a vida de qualquer criança que eu parisse.
Era injusto levar as crianças a um estilo de vida tão perigoso e mortal
como este.
Meus olhos não deixaram o rosto de Val, observando-o
cuidadosamente e rezando por qualquer indício de emoção, o que ele
falhou em mostrar. — Mas e se tivermos meninas?
— Então você vai continuar abrindo as suas pernas para mim até que
tenhamos um menino. — Ele olhou para mim, me lançando um olhar
desafiador, como se estivesse me desafiando a dizer mais.
Mas eu não falei. Meu cérebro não reagiu rápido o suficiente com
palavras, mas reagiu muito rápido com movimento e eu dei um tapa em
seu rosto.
Ele poderia ter pegado minha mão - eu sei que ele teria conseguido -
mas ele levou o tapa, o que só me preocupou mais pelo que estava por vir.
— Vadiazinha... Você simplesmente não aprende, não é? — Ele
finalmente olhou para mim novamente e ergueu o braço para que sua
arma estivesse apontando para mim.
— Eu tenho sido tão tolerante com você, Elaina, mas você precisa de
um castigo há muito tempo.
Eu recuei devagar. Meus olhos se arregalaram e, ao pisar, tropecei em
uma pedra. Ele realmente iria atirar em mim porque eu dei um tapa nele?
— Val...
— Não. — Ele me parou. — Fique de pé. Vamos para o carro.
Ele pegou a sua jaqueta do chão, mantendo seus olhos e sua arma nos
meus o tempo todo.
Enquanto caminhávamos em direção ao carro, eu continuei olhando
por cima do ombro para ver que a arma ainda estava apontada para mim.
Chegamos ao carro e ele abriu a porta do passageiro para mim. —
Senta. Não se mexe. Eu volto já.
Eu simplesmente balancei a cabeça. Ele não tinha ideia de que eu
estava com muito medo de me mover.
Assim que eu estava começando a me sentir um pouco mais
confortável perto dele, ele conseguiu me lembrar por que eu tinha com
medo dele, em primeiro lugar.
Eu não tinha certeza para onde ele foi, mas ouvi a porta traseira do
carro abrir e ele movendo as coisas lá dentro.
Eu mantive meus olhos no campo à nossa frente, tentando manter a
minha mente positiva, mas era impossível. Esta era uma oportunidade
perfeita para ele me matar.
Ele poderia facilmente me enterrar naquele campo. Não era como se a
minha mãe estivesse procurando por mim - ela me entregou a este
monstro.
Eu ouvi certo movimento e olhei esperando ver o Val ali no assento de
trás, mas ele não estava mais lá.
— Val?
Assim que essas palavras escaparam de meus lábios, um pano cobriu a
minha boca junto com uma mão masculina, segurando-o ali. Meus olhos
se arregalaram e coloquei as minhas mãos sobre ela.
Quando comecei a lutar, olhei para cima para ver que não era outra
pessoa, senão o próprio Val quem estava me segurando contra ele e me
sufocando com este pano.
Murmurei fracamente contra sua mão e ele deu um beijo na minha
cabeça. — Shh... E apenas clorofórmio, querida. Você vai acordar antes
que perceba.
Clorofórmio. Ele estava usando clorofórmio em mim para que eu
desmaiasse.
Cravei as minhas unhas em sua mão, não querendo que ele ganhasse,
mas enquanto continuava a lutar pelo curto momento que deu, senti
meu corpo ficar fraco rapidamente.
As minhas pálpebras começaram a tremer, e a última coisa que vi
antes de desmaiar foi o sorriso malicioso no rosto de Val.
Capítulo 16
ELAINA

A minha cabeça doía enquanto eu comecei a recuperar a consciência


novamente.
Onde quer que eu estivesse, não me sentia confortável, mas não
conseguia encontrar forças para abrir os olhos ainda - eles pareciam
muito pesados e era exaustivo.
Tudo o que pude fazer foi gemer com a sensação de dor que estava em
todo o meu corpo.
Tive medo de descobrir onde eu estava. Eu estava deitada e, pelo que
pude perceber, o colchão da cama era fino.
Era extremamente desconfortável embaixo do meu corpo e eu sabia
que não estava no meu quarto.
Quando finalmente consegui abrir as minhas pálpebras pesadas,
estava olhando para um teto desconhecido. Não era como a nossa casa -
não era elegante e bem cuidada.
Virei o pescoço para o lado e notei paredes de concreto, o que
explicava por que estava muito mais frio.
Meus olhos vagaram lentamente ao redor da área até que se
concentraram na parte inferior da cama e percebi o próprio diabo
sentado em uma cadeira, recostando-se com uma postura confiante e
sem esforço.
Me observando.
Val estava bem ali, sua camisa desabotoada na parte de cima. Seu olhar
estava escuro como de costume e ele apenas me olhou como se estivesse
esperando que eu fizesse algo.
Comecei a me sentar e, assim que vi toda a área ao meu redor, senti
como se tivesse caído em uma masmorra. Haviam correntes penduradas
nas paredes, mas fui deixada livremente na cama.
Eu olhei para o meu corpo e percebi que não estava mais usando as
roupas que usava antes. Eu estava de cueca e com uma camiseta branca
excessivamente grande.
Meus olhos desviaram para Val finalmente, e falei baixinho. — Onde
estão as minhas roupas?
Um sorriso malicioso brincou em seus lábios enquanto ele cruzava os
braços sobre o peito. — Essas são as suas roupas. Por enquanto.
— Chegou ao meu conhecimento que você tem sido muito mimada,
então você precisa ser tratada como a pequena vadia que você escolheu
ser.
Eu desviei o olhar dele. Ele decidiu limitar as minhas roupas a roupas
íntimas e uma camiseta grande como punição? Que degradante.
Eu tinha que andar pela casa assim, mas nunca daria o braço a torcer.
Ele me colocou em uma posição terrível para fazer isso.
— É engraçado, Elaina. Você veio aqui, e eu te ofereci muito,
basicamente eu te daria o mundo se eu pudesse, e tudo o que você me
deu de volta foi um desrespeito constante.
Sua mandíbula visivelmente cerrou antes de falar novamente. — Isso
realmente me irrita.
— Val, sinto muito se eu te desrespeitei, mas sinto que talvez apenas
tenhamos opiniões diferentes sobre as coisas. É como uma perspectiva
cultural, — tentei explicar a ele.
— Você não pode usar isso como desculpa.
Ele se recostou na cadeira, olhando para mim sem nenhum traço de
emoção no rosto. Ele era quase impossível de ler. — O problema é que
você mora na minha casa. Você é a minha esposa, então você segue as
minhas regras. Já disse isso várias vezes, mas você não me leva a sério.
Val se levantou da cadeira, chutando-a atrás de si, o que a fez cair no
chão de concreto.
Eu pulei ligeiramente quando ele puxou a sua arma e atirou sem rumo
em minha direção, sem acertar em mim, o que eu sabia que ele pretendia.
Cobri meus ouvidos e comecei a gritar.
Era medo - eu estava com medo do que ele pretendia realmente fazer.
— PARE! POR FAVOR, PARE! — Eu implorei, sentindo as lágrimas
começarem a queimar meu rosto.
O som do tiroteio foi tão alto, junto com o som do impacto que as
balas fizeram ao atingir a parede de concreto atrás de mim. Quando o
tiroteio parou, tudo que eu podia ouvir era o som do meu choro. Só
quando Val ergueu rudemente meu queixo que percebi que ele estava
bem ao meu lado.
— Este é apenas o começo, tesoro. Você acha que tiros que não te
acertam vão ser a sua punição? Pense de novo. — Ele pegou um punhado
do meu cabelo e me empurrou.
Eu gemi e tentei agarrar as suas mãos, mas não consegui. — Val...
— Gustavo! — ele gritou e, instantaneamente, a porta da sala se abriu.
Gustavo entrou e meu coração disparou. Isso estava prestes a piorar,
mas eu não tinha certeza se conseguiria lidar com o pior.
Minha atenção foi atraída por uma pequena vela que Gustavo
trouxera para o quarto, mas não estava acesa quando ele entrou. Eu
levantei a minha mão e dei um tapa no rosto de Val, cravando minhas
unhas em sua pele. Inicialmente, planejei dar uma joelhada na virilha
dele, mas ele reagiu tão rapidamente que era impossível atingi-lo.
— Droga! — Ele ergueu a voz para mim antes de estender a mão para
Gustavo. — Mani i polsini.
Tradução: Me passe as algemas.
Meus olhos se arregalaram e tentei ver tudo o que estava
acontecendo.
Gustavo atravessou a sala e pegou algo, mas eu não pude ver o que era
até que ele colocou na mão livre de Val.
Um conjunto de algemas brilhantes, e eu sabia que com elas eu ficaria
mais vulnerável do que nunca.
Eu balancei a minha cabeça vigorosamente, encolhendo os ombros
sob o aperto da mão de Val. — Por favor... Você está realmente me
assustando. Val. Eu... eu não quero isso...
Mas meus apelos foram ignorados.
Ele ergueu minha mão e a segurou contra as barras da velha cama.
Minha energia e vontade de lutar desapareceram completamente no ar. A
esperança estava perdida.
Não havia razão para tentar lutar porque ele apenas se tomaria mais
agressivo.
Senti o metal apertar em volta do meu pulso, e Val ergueu meu outro
braço, algemando-o também na barra da cama.
As mãos de Val moveram-se para a bainha da minha camiseta branca e
ele a ergueu lentamente, expondo meu estômago. Eu estremeci um
pouco, me sentindo exposta demais na frente de Gustavo.
— Está tudo bem, amor. Gustavo não pode tocar em você... Você é
minha. — Ele sorriu de um jeito que a maioria das garotas acharia
charmoso, mas eu achei repugnante.
Eu balancei a cabeça e sussurrei suavemente, — Eu... me sinto
desconfortável. Você pode pelo menos fazer isso sozinho?
E humilhante.
Val ficou em silêncio e me concentrei em sua mandíbula que estava
visivelmente cerrada. Sem tirar os olhos dos meus, ele falou com
Gustavo. — Espere na porta, Gustavo. Eu posso cuidar disso aqui.
Gustavo simplesmente acenou com a cabeça. — Eu estarei fora se você
precisar de alguma coisa. — Enquanto Gustavo saía da sala, fechando a
porta atrás de si, Val foi até a mesinha onde estava a vela. Eu sabia o que
estava por vir, mas estava com medo de sentir isso.
Ele acabou com a dor emocional; ele estava prestes a infligir dor física
e isso me assustou.
Minha camisa foi levantada logo abaixo do meu sutiã e comecei a
respirar pesadamente. — Val doer?
Que pergunta estúpida. Claro que sim.
— Essa é a ideia, não é? — ele respondeu quando tocou. — Tente não
se mover muito, ou só vai doer mais. Você não quer que a cera se espalhe.
— Você não tem que fazer isso... — Eu tentei uma última vez.
Ele simplesmente balançou a cabeça e respondeu: — As lições
precisam ser aprendidas, Elaina. — Val pegou um pano e enfiou na
minha boca. A próxima coisa que senti foi uma dor excruciante da cera
quente rolando pelo meu estômago.
Eu gemi contra o pano, fechando meus olhos com força e cerrando os
punhos com força.
Ele parou de derramar e deu um beijo na minha cabeça. — Mi dispiace
che dovevi imparare il modo duro, il mio amore. — Tradução: Sinto muito
que você tenha aprendido da maneira mais difícil, meu amor.
Meu estômago começou a queimar novamente e eu levantei meu
corpo, me contorcendo lentamente. Chorei baixinho, mas meus gritos
foram apenas abafados pelo pano.
— Isso vai doer pra caralho quando secar, — Val zombou, soprando na
cera.
Embora ele tivesse parado de derramar a cera, minha pele frágil ainda
estava queimando com a cera que a agarrava, e eu temia o momento em
que teria que tirá-la. Isso só traria mais dor.
Eu lentamente abri meus olhos para ver Val colocando a vela de volta
na mesa. — Você fez bem, querida. Menos lágrimas do que eu esperava.
Que tipo de elogio doentio era esse? Ele queria mais lágrimas de mim?
Claro que sim. Ele estava distorcido - ele queria me ver machucada.
— Voltarei para te ver amanhã, — ele falou novamente enquanto
puxava o pano da minha boca, jogando-o de lado.
Eu franzi a minha sobrancelha. — O quê? Mas... Val, não... não me
deixe aqui. Por favor, não me deixe aqui. — Val apenas sorriu em resposta
e balançou a cabeça. — Isso vai te mostrar o que é bom pra tosse.
Aproveite seu tempo aqui, Elaina. Você vai ficar aqui por um bom tempo,
sem meios extravagantes ou chuveiros.
— Há um banheiro no canto, mas esse é o seu único luxo por
enquanto.
— Eu não mereço isso. — Eu olhei para frente, incapaz de acreditar
que isso estava realmente acontecendo. Bem quando eu pensei que as
coisas poderiam piorar, elas pioraram.
Não só eu era uma prisioneira de verdade agora, mas também estava
sendo tratada como tal.
— Você não merece isso? Você não merece isso, porra? — De repente,
a raiva veio da voz de Val e ele derrubou a pequena mesa, voltando-se
para mim e apontando.
— Eu poderia fazer muito pior para você, então sugiro que cale essa
boquinha bonita.
Eu abri a minha boca para dizer algo, mas parei abruptamente. O quão
estúpida eu seria se falasse de novo, depois da ameaça que ele acabou de
fazer?
Mesmo que a dor da cera quente fosse horrível, Val estava certo:
muito pior poderia ser feito, e eu sabia disso. Mesmo em uma situação
como essa, tive que olhar para o lado positivo.
Val deu alguns passos até que ele estava ao meu lado novamente, e ele
lentamente moveu a camisa para baixo para cobrir meu corpo.
— Meus homens terão que entrar aqui de vez em quando, e eu sei que
você fica envergonhada... Você não aprecia a minha gentileza?
Desviei o olhar dele e falei baixinho: — Você vai tirar as algemas de
mim antes de ir?
— Não, — ele respondeu. — Alguém descerá em algumas horas para
fazer isso. Por enquanto, você pode lidar com essa posição extremamente
desconfortável em que está. — Meus olhos encontraram os dele e eu o
encarei ligeiramente. — Eu odeio você.
Val riu levemente, inclinando a cabeça para trás e colocando as mãos
nos bolsos. — Eu sinto muito amor. O que é que foi?
— Eu disse, eu odeio você!
BZZZZZ.
— Aghhhh! — Eu choraminguei de dor e puxei as algemas enquanto
meu corpo tremia ligeiramente.
Val tirou uma arma de choque do bolso e a usou no meu torso. Tomou
todo o controle que eu tinha sobre meu corpo e me deixou
completamente mole.
Quando ele parou de me dar o choque, ele recuou e colocou a arma de
volta no bolso. — Durma bem, Elaina. Se você precisar de qualquer
coisa...
Bem, pense em como era fácil antes, porque você não vai ganhar nada
aqui. — Val caminhou até a porta, abrindo-a e fechando-a atrás de si.
Eu ouvi o som da porta sendo trancada e, um momento depois, as
luzes se apagaram, deixando-me completamente no escuro.
Desde que eu era jovem, eu tinha medo do escuro. Por mais bobo que
possa parecer, eu não gostava de não poder ver nada. Era o medo do
desconhecido, e agora foi forçada a enfrentá-lo.
Deitada neste colchão desconfortável, com minhas mãos algemadas
na cabeceira da cama acima de mim, eu estava presa e sozinha.
Capítulo 17
ELAINA

Meus olhos estavam doloridos e pesados devido à falta de sono.


Senti que não conseguia dormir no silêncio total e completo, por isso
fiquei apavorada e passei a noite inteira com os meus olhos abertos - não
totalmente abertos, mas o suficiente para saber se a porta se abriria
novamente.
Isso não aconteceu.
A porta não abriu até a manhã seguinte. Não foi o Val quem entrou,
no entanto. Assim como ele prometeu, era um de seus homens, mas acho
que qualquer um era melhor do que ele.
Rafe fechou a porta atrás dele. Uma mão segurava uma pequena bolsa
e ele enfiou a outra mão no bolso.
Eu desviei o olhar, sem saber o que ele iria tirar. Outra arma de
choque? Uma faca? A lista era interminável.
— Você está sangrando, — disse ele ao se aproximar da cama, tocando
o meu pulso, onde feridas se formaram com o peso das algemas.
Eu balancei a cabeça ligeiramente. — Eu sei.
Senti uma liberação repentina quando ele abriu as algemas e
rapidamente eu trouxe meus pulsos ensanguentados ao meu peito,
sentindo uma sensação de conforto por ser capaz de me mover
novamente.
Rafe ficou em silêncio ao lado da cama e abriu a bolsa que trouxera. —
Devíamos tirar a cera...
Eu balancei a minha cabeça, tremendo só de pensar. Eu sabia que a
cera tinha que sair, mas estava com medo de sentir mais dor. — Eu não
quero... Ainda não. Ainda dói se eu me mover muito.
— Eu sei, mas... isso vai ajudar um pouco. — Ele tirou um pequeno
frasco de óleo de bebê e bolas de algodão. — O óleo ajuda a remover.
Quanto mais cedo tirarmos essa cera daí, mais cedo você poderá se curar.
Sentei-me um pouco e levantei a minha camisa. Minha barriga estava
vermelha e com bolhas. A cera ficou clara na minha pele e cobriu a maior
parte do meu torso. Rafe se sentou ao meu lado e olhou para mim. —
Vou colocar um pouco de óleo nisso, ok?
— OK...
Senti uma onda de frio no estômago quando ele derramou um pouco
de óleo em mim, e eu o notei pegando algumas bolas de algodão - a parte
que eu mais temia.
— Espere! — Eu agarrei seu braço antes de puxar a minha mão
rapidamente. — Sinto muito... eu... eu... só estou nervosa. — Rafe
estendeu a mão para mim e me passou as bolas de algodão. — Faça no
seu próprio ritmo, certo?
Eu olhei para ele, confusa. Deve haver algum tipo de problema aqui.
— Por que você está sendo legal comigo?
— Nem todo mundo aqui quer te machucar, Elaina.
Meus olhos mudaram para minha barriga atualmente lubrificada e eu
cuidadosamente esfreguei as bolas de algodão contra a cera,
estremecendo com o impacto.
Isso machuca. As bolhas eram impossíveis de evitar e, para fazer a cera
se mover, tive que aplicar uma leve pressão.
Senti a mão de Rafe em meu cabelo e pulei ligeiramente, lembrando-
me de Val agarrando meu cabelo e me empurrando contra a cama.
— Não me toque! — Eu implorei a ele, sentindo que tudo isso era uma
armadilha. Eu estava em guarda. Assim que Rafe me tocou, presumi o
pior.
Ele rapidamente ergueu as mãos em defesa, levantando-se da cama
lentamente. — Ei, desculpe... Eu só estava tentando confortar você, mas
vou recuar.
Cobri meu rosto com as mãos e fechei os olhos com força. Por que eu
estava me sentindo assim? Eu odiava me sentir assim - miserável e com
medo. Eu estava descontando a minha raiva em alguém que estava
realmente sendo gentil, mas eu não tinha ideia em quem poderia confiar.
Rafe era amigo de Val, um de seus homens valiosos. Ele não estava
aqui para me ajudar-. Ele estava aqui para espionar. — Por favor, vá
embora... — eu disse suavemente. — A menos que você planeje me deixar
sair daqui, é melhor que eu esteja sozinha.
Eu ouvi Rafe colocar algo no chão e se mover em direção à porta. —
Tem pomada na bolsa - você não quer pegar uma infecção. Alguém vai
trazer comida para você mais tarde.
Eu não respondi. Eu apenas olhei para a parede e esperei que ele saísse
antes de continuar a esfregar o algodão embebido no óleo sobre a cera
dura.
Demorou horas. A dor era tanta que eu tive que fazer intervalos para
aguentar.
Quando tirei o último pedaço de cera do estômago, certas áreas
sangravam ligeiramente, mas não estava tão feio quanto eu esperava.
Deitei de costas respirando fundo. Graças a Deus isso acabou. Parecia
que nunca teria fim e o processo de cura podia finalmente começar.
Minha cabeça se virou para o lado e vi a bolsa a uma curta distância.
Eu precisava daquela pomada, mas não conseguia encontrar forças para
me mover.
A minha mente me forçou a sentar. Eu sabia muito bem que se não
cuidasse dessa queimadura ela infeccionaria, e eu não queria isso de jeito
nenhum. Talvez o Val quisesse isso, mas não eu.
Levantei-me e manquei até a mesa, tirando a pomada da bolsa e
abrindo-a. Enquanto a esfregava suavemente nas minhas queimaduras
senti um alívio calmante.
A minha barriga estava vermelha, mas pelo menos a cera tinha sido
removida.
Eu ouvi passos e mantive as minhas costas para a porta, não querendo
ver o Rafe novamente. Ninguém me respeitou ou me levou a sério aqui,
mas eu não deveria esperar nada diferente do que a forma como estava
sendo tratada agora.
Sentada no chão, eu estava de frente para a cama e olhando para o
colchão quando a porta se abriu novamente. Por que ele voltou? Eu só
queria ficar sozinha.
— Você nem vai dizer olá? — A voz de Val me chocou e eu pulei
instantaneamente, virando-me para encará-lo e recuando, mas a parte de
trás das minhas pernas bateu na cama.
O canto de sua boca se contraiu para cima em um sorriso malicioso, e
ele ergueu um recipiente que estava em sua mão. — Eu me encarreguei
de trazer as suas refeições para o dia de hoje.
Enquanto ele caminhava para a mesinha, ele colocou o recipiente na
mesa e eu o observei de perto. Ele tinha arranhões no rosto de onde eu
lhe dei um tapa ontem. Lembrei-me de cavar minhas unhas o mais
profundamente que pude. Eu queria infligir dor a ele, mas alguns
arranhões nunca seriam suficientes.
— Como você dormiu? — ele perguntou quando olhou para mim
novamente.
Ele estava me perguntando isso seriamente? Maldito doente.
— Bem, — eu menti.
Ele manteve os olhos em mim e apontou para a minha barriga. —
Deixe-me ver. — Comecei a balançar a cabeça negativamente, mas
rapidamente me contive e lentamente levantei a bainha da minha camisa
para que Val pudesse ver o dano que ele tinha feito.
Ele fez um som crepitante. — Ah... Isso parece ruim. Rafe deu-lhe uma
pomada, presumo. Continue aplicando. — Val se dirigiu para a porta
novamente e parou para olhar para mim.
— Ninguém mais descerá para ver você. Enquanto você estiver aqui,
você ficará sozinha, como deseja.
Eu franzi a minha sobrancelha em confusão. Rafe contou a ele? Isso
foi muito rápido. — Mas... e a comida?
— A porção de hoje está aí. — Ele apontou para a mesa. — Todos os
dias alguém vai deixar a sua comida aí antes de você acordar de manhã.
— Como você vai saber se estou acordada ou não? — Eu o questionei.
Ele simplesmente apontou para o canto da sala antes de sair e fechou
a porta atrás de si.
Clique. A porta estava trancada.
Eu olhei para o canto da sala, e no canto do teto que eu não tinha
notado até agora, uma pequena câmera estava visível. Ele estava me
observando. Mesmo agora, ele estava sempre me observando.
Ele sabia que eu não dormi noite passada, ele sabia a dor que ele me
infligia, e ele sabia como era difícil para mim passar pela dor novamente
enquanto removia a cera.
Eu lentamente me levantei e caminhei até a mesa, olhando para o
contêiner. Parecia muito pequeno para ter comida suficiente para um dia
inteiro.
Ao abrir a tampa, deparei-me com uma única refeição, com apenas
um prato. Arroz branco.
Ao lado havia uma garrafa de água e eu senti como se estivesse em um
episódio de Survivor, mas mesmo aquelas pessoas tinham mais chance de
sobreviver do que eu.
Essa charada durou mais tempo do que eu esperava. O Val estava
certo.
Ele sabia quando eu estava dormindo e quando não estava porque
todas as manhãs eu acordava e havia um novo pote de arroz esperando
na mesa junto com uma garrafa de água fresca.
A minha queimadura ainda doía, mas os dias ajudaram a se tomar
mais suportável e a cicatrizar um pouco.
Todas as noites eu dormia na escuridão. Se não fosse pelo meu
relógio, eu nem saberia que horas são.
Aprendi que Val apagava as luzes às 22h todas as noites e eu temia esse
momento.
Eu contei os dias, sentindo-me cada vez mais distante da interação
social, que tenho certeza que era exatamente o que ele queria. Meus dias
eram passados sentada na cama ou simplesmente deitada lá.
Se eu não estava comendo o arroz insípido, não tinha mais nada a
fazer a não ser sentar e esperar o que estava por vir.
Isso durou quase duas semanas. Doze longos dias com base na
contagem que comecei. Foi só no décimo terceiro dia, quando a porta se
abriu, que tive permissão para sair.
Não foi Val ou Rafe que veio me buscar, mas o Stefano. Ele me levou
para fora da sala horrível em que passei as últimas duas semanas e por
um longo e frio corredor, sem falar uma única palavra.
Ele também me odiava?
Havia uma escada e Stefano subiu antes de mim, esperando por mim
no topo. Enquanto eu o seguia, entramos em uma pequena sala e Stefano
abriu a porta, quase me cegando pela luz do sol.
Ele me passou um par de óculos escuros. — Use isso por enquanto.
Eu rapidamente os coloquei e segui Stefano para fora da sala, ficando
em estado de choque quando percebi onde estávamos. No quintal.
Todo esse tempo, estive escondida sob o quintal, embora presumisse
que estava no porão.
Stefano se virou para mim. — Você deveria tomar um banho. Limpe-
se. O Val não está em casa, então você tem algum tempo sozinha até que
ele volte.
— Ele tem planos para mim? — Perguntei a Stefano, nervosa por ouvir
a sua resposta, mas depois do que ele acabou de dizer eu tive que
perguntar.
Ele balançou a sua cabeça. — Honestamente, Elaina? Não que eu
saiba. Mas tenho certeza de que você quer espaço antes que ele fique
pairando sobre você.
Eu balancei a minha cabeça lentamente. — Obrigada.
Olhei para a casa, respirando fundo e começando a andar em direção
à porta dos fundos. Ao deixar um pesadelo, volto para outro.
As últimas duas semanas foram as piores da minha vida, e eu sabia o
quanto Val era uma bomba-relógio.
Stefano estava certo - eu precisava tomar banho. Eu estava nojenta, e a
última pessoa que eu queria ver agora era o monstro que fui forçada a
chamar de meu marido.
Capítulo 18
ELAINA

A casa parecia vazia por algum motivo. Depois de doze dias sem ter
nada além de uma cama e arroz nojento, tomei um longo banho quente e
vesti uma calça de moletom e uma camiseta enorme.
Eu estava confortável, mas ainda no limite, sem saber quando o Val
chegaria em casa.
Ninguém mais parecia estar por perto. Rafe, Gianna, Anita - a casa
parecia literalmente vazia.
Depois que deixei o Stefano no quintal, não tinha certeza para onde
ele tinha ido, mas com o silêncio, estava me sentindo mais nervosa.
Desci as escadas assim que a porta da frente se abriu. Fiquei parada
enquanto Val entrava com alguns homens seguindo atrás dele. Rafe,
Gustavo e Diego.
Todos os quatro usavam os seus temos habituais e entraram em casa
como se não se importassem com nada. Sorte a deles. Eles não se
importavam com nada, mesmo.
Foi o Gustavo quem primeiro me notou. — Diego e eu cuidaremos da
limpeza. Rafe, certifique-se de que o porão está pronto. — Quando
Gustavo fez os pedidos, os olhos de Val olharam para mim, sabendo
instantaneamente que ele não teria feito esses pedidos se não houvesse
um motivo. Ninguém decide o que seria feito, exceto Val.
Os três homens deixaram a sala e Val ficou onde estava, enfiando as
mãos nos bolsos. — Vejo que você se limpou. — Eu apenas balancei a
cabeça, não respondendo verbalmente. Eu nem tinha certeza do que ele
esperava de mim.
— Eu quero falar com você sobre o que você passou nas últimas duas
semanas, — ele começou dando um passo em minha direção. — Posso
garantir que nada disso foi satisfatório para mim.
Não tenho prazer em machucar você.
— Pareceu que sim... — eu disse a ele.
É
— É isso, — ele disse em um tom severo, apontando o dedo para mim.
— Às vezes, seu comportamento está fora de controle e você faz parte de
uma família extremamente importante e poderosa.
— Você não pode sair agindo como uma garotinha mal criada. Você
precisa aprender as lições antes de matar alguém.
Eu desviei o olhar dele e franzi a testa ligeiramente. Mesmo que isso
fizesse um pouco de sentido, ele não precisava me machucar tanto para
me ensinar uma lição.
Eu tinha muito o que aprender sobre esse estilo de vida, mas o Val não
estava me ensinando da maneira certa.
Ele sabia que esse não era o estilo de vida a que eu estava acostumada
e estava me arrastando na lama, me torturando para me acostumar com
esta vida.
— Você me deixou com medo de você, como se eu não estivesse com
medo o suficiente antes de vir aqui..., — eu admiti para ele em um tom
suave. — Eu nunca me sinto segura, e...
— Você está segura. Eu vou te manter segura. Quantas vezes eu tenho
que te dizer isso, Elaina? — Seu tom era afiado, mas ele não parecia
zangado. Ele parecia mais autoritário do que qualquer coisa.
— Eu sou o Valentino Acerbi e você é a minha esposa. Se alguém olhar
para você, eu vou matá-lo. — Olhei para ele para falar e, quando minha
boca se abriu, lembrei-me da sensação de sua mão batendo em meu
rosto. Foi doloroso, tudo porque ele não gostava de ser questionado.
Fechei a minha boca, sabendo que era melhor não dizer nada para me
colocar em mais problemas.
Val foi rápido em entender. — O que você ia dizer?
— Nada...
— Não me faça pedir duas vezes. — Ele ergueu meu queixo e me
forçou a olhar para ele.
Seus olhos olharam para mim, sua testa franzida e uma expressão de
confusão em seu rosto, em vez da raiva usual.
Graças a Deus ele não está com raiva.
— Eu só... eu não sei como você espera que eu pense que você vai me
manter segura quando você me machuca do jeito que machucou.
Admitir isso era bom, mas eu vacilei um pouco, me preparando para
um tapa - que nunca veio.
— Estou te ensinando.
— E um abuso, — eu disse a ele. Ensino e abuso eram duas coisas
muito diferentes.
Ele realmente não via o que estava fazendo como uma coisa errada. —
Seu pai fez isso com a sua mãe?
— Nem portare mia madre in questo, — ele retrucou repentinamente.
Tradução: Não coloque a minha mãe nisso. O que ele disse mesmo?
Nunca o entendia quando falava italiano e era frustrante. Precisava
dedicar algum tempo sério e investi-lo no estudo do idioma.
— Eu não entendo...
— Esta conversa acabou, Elaina. O relacionamento dos meus pais não
é da sua conta, — disse-me ele. — Vou levar você para o The
Underground. Vista algo bonito. E uma boate - vista-se adequadamente.
— Ele sempre disse que eu não tinha permissão para ir para o The
Underground. Eu não tinha certeza de por que ele mudou de ideia
repentinamente, e agora que ele mudou, eu não queria ir.
A ideia de ir a um clube onde a máfia cuidava de seus negócios era
apavorante o suficiente para fazer qualquer um hesitar em ir.
— Ok, eu, uh... vou subir.
— Não tão rápido, amor. — Val estendeu a mão para mim e segurou
meu pulso, puxando-me contra ele.
— Entre em meu escritório por um momento. Meus homens estão
cuidando de alguns negócios e eu gostaria de conversar com a minha
esposa.
O escritório não. Eu odeio o escritório. Eu não tive outra escolha a não
ser segui-lo naquela sala horrível que guardava muitas lembranças ruins
para mim. Tiros. Sangue. Corpos. Era coisa demais.
Val fechou a porta atrás de nós, e eu encarei as pequenas paredes que
nos cercavam.
Ele passou por mim e tirou o paletó, colocando-o nas costas da grande
cadeira atrás de sua mesa.
Quando ele se sentou, ele olhou para mim e fez um gesto para que eu
me aproximasse. — Venha aqui.
Eu caminhei lentamente ao redor da mesa e parei na frente dele,
olhando para seus olhos enquanto eles me encaravam.
— Lamento que você discorde do meu método de... 'ensino'. Sei que
você acha que fui muito duro com você, mas foi assim que fui criado,
Elaina.
Ele colocou as mãos nos meus quadris e me puxou para o seu colo. —
Você precisa se sentir segura comigo. Confie que você está segura comigo
porque eu irei mantê-la segura.
Eu olhei para baixo e respirei fundo. Era muito mais fácil falar do que
fazer.
Isso vinha de um homem que mal confiava em uma única pessoa;
agora ele esperava que eu confiasse nele depois que ele queimou a minha
pele.
Val colocou a mão na minha bochecha e moveu seu rosto em direção
ao meu.
— Elaina... Este estilo de vida é difícil, mas eu garanto a você, se outra
pessoa colocasse as mãos em você, cera quente seria o menor dos seus
problemas.
Eu coloquei a mão na minha barriga e senti meus olhos lacrimejarem
quando me lembrei de como doía. Eu implorei para ele não fazer isso,
mas ele fez mesmo assim. — Doeu tanto... Eu pedi para você não fazer
isso, Val. Eu te implorei.
— Eu sei. Implorar não leva a lugar nenhum, querida. E meu trabalho
como futuro Capo mantê-la na linha.
Seus olhos estavam nos meus e seu polegar enxugou uma lágrima que
rolou pela minha bochecha. Quando Val se aproximou, seus lábios
pressionaram os meus e ele segurou meu rosto de forma possessiva.
Aprendi desde cedo a beijar de volta. Val não gostava da rejeição e eu
não ia passar mais duas semanas em cativeiro.
Nossos lábios se moveram juntos, e foi Val quem aprofundou o beijo,
tomando-o mais áspero. Ele me puxou para cima, me fazendo sentar em
sua mesa na frente dele.
Val moveu minhas pernas, afastando-as e eu congelei enquanto seus
É
dedos brincavam com o cordão da minha calça de moletom. — É incrível
como você pode parecer tão gostosa, mesmo de moletom. — Ele falou
comigo em um tom baixo. — Sem maquiagem nem nada. Você nem
mesmo faz um esforço, Elaina.
— Você não precisa porque você é simples. Você é linda sem essa
parafernália. — Ele estava falando sério? Eu nunca poderia ter certeza. Se
ele estivesse falando sério, eu não poderia deixar de ficar lisonjeada,
embora a razão de eu não estar arrumada seja porque ele havia tirado
qualquer coisa que eu tinha.
Eu não tinha nem energia para me mover por causa dele.
Minha respiração engatou um pouco quando ele levantou a minha
camisa, e ele pareceu notar a minha reação. Para minha surpresa. Val se
concentrou em meu estômago.
— Você tem razão. Talvez eu tenha sido muito duro com você...
— O quê?
— Eu só sei agir assim. Eu magoo as pessoas porque é assim que elas
aprendem a distinguir o certo do errado, — afirmou ele com clareza,
olhando para mim. — Mas eu preciso ter mais paciência com você, e eu
sei disso agora.
— Isso não significa que não vou ficar com raiva ou agressivo, mas
queimar você foi muito mais extremo do que eu pretendia. — Pisquei,
mas mantive meus olhos fechados e assimilei as suas palavras. Era tudo
sobre as palavras com ele, mas em um momento ele poderia mudar e me
deixar à sua mercê.
A cabeça de Val moveu-se para a minha nuca e ele deu beijos suaves na
minha pele. Suas mãos vagaram pela minha camisa e massagearam meus
seios através do meu sutiã.
— Vá se preparar para esta noite, querida. Vista algo sexy para mim. E
a minha noite para te exibir.
E de repente, eu estava de volta a ser um troféu. Mas agora eu tinha
marcas na minha pele e cicatrizes superficiais. Cicatrizes que ninguém
podia ver, mas que eu sentiria para sempre.
Enquanto Val se afastava, eu deslizei para fora da mesa e me levantei,
ajustando a minha camisa. — Vejo você mais tarde então...
— Dê-me um beijo antes de ir, — ele me disse, recostando-se na
cadeira, confortável e sorrindo para mim.
Val era diabolicamente bonito. Por mais cruel que fosse, ele podia
parecer encantador e doce, o que era extremamente enganador.
Ele era masculino mesmo quando eu não conseguia ver seus
músculos. Ele tinha as características de um homem forte e dominante.
Inclinei-me para dar a ele o que ele queria, com o objetivo de um
simples beijo nos lábios, mas com Val, nada era simples. Foi um beijo
completo de boca aberta com sua língua entrando em minha boca, e
enquanto eu estava me inclinando, senti sua mão em meu traseiro,
movendo-se lentamente entre minhas pernas.
Assim que ele esfregou entre minhas pernas, eu me levantei e quase
perdi o equilíbrio, ouvindo Val abafar uma risada.
— Tchau.
Saí correndo da sala, sentindo-me como se tivesse sido atacada o
suficiente por enquanto. Val e eu nunca tivemos intimidade mútua.
O Val queria uma intimidade comigo, e era meu dever como sua
esposa retribuir quaisquer beijos ou favores sexuais.
No começo foi difícil, já que eu nem estava acostumada a dormir com
alguém, muito menos fazer sexo, mas cada vez que estávamos juntos era
mais fácil.
De certa forma, eu odiava ter aquela conexão especial com alguém
que não me amava ou respeitava, mas estava me acostumando com a
ideia.
Quando fechei a porta de seu escritório, encostei-me na porta,
respirando fundo. A minha cabeça se virou em direção à sala de estar
quando ouvi vozes, e reconheci a de Gianna instantaneamente.
Ela parecia irritada, e quando a voz masculina respondeu, eu sabia que
era com Stefano que ela estava discutindo.
— Você não pode simplesmente me dizer onde posso e não posso ir,
Stefano! — Percebi que seu sotaque ficava mais forte quando ela estava
com raiva. O italiano a tomava ainda mais agressiva.
Gianna era uma mulher independente que podia se defender. Stefano
estava muito ocupado e eu respeitei o relacionamento deles.
Eles podiam falar um com o outro sem que Stefano fizesse exigências
ou regras.
— Gianna, eu não estou mandando. Estou pedindo que você faça a
coisa certa e...
— Sensível? Oh, bem, caramba. — Enquanto eu passava pela sala de
estar para ir para as escadas, pude ver Gianna agitando os braços em
frustração. — Eu sempre vou ao The Underground com você.
— Eu sei que há cadelas sedentas lá, Stefano. Eu seria idiota de deixar
você ir sozinho. — Cheguei ao topo da escada com bastante rapidez. A
última coisa que ouvi foi Stefano suspirando e respondendo a Gianna: —
Mas você está grávida agora. E mais seguro ficar aqui.
As suas palavras me fizeram pensar o quão perigosa era essa boate. Val
era o dono e fazia negócios lá, então presumi que ele teria o controle
sobre tudo.
No entanto, esse papo não me deixou com mais medo do que eu já
tinha todos os dias.
Com base na conversa de Gianna e Stefano, eu aprendi duas coisas
novas sobre o The Underground: não era muito seguro e havia — cadelas
sedentas.
Se eu tivesse escolha, nem mesmo iria. Mas eu nunca tive escolha em
nada e eu iria para o The Underground esta noite.
Capítulo 19
ELAINA

Chegamos no — The Underground. Fiquei confuso com onde Val


estacionou o carro. A rua estava silenciosa e todas as lojas pareciam estar
fechadas.
Se havia uma boate por perto, não parecia haver muita festa
acontecendo.
A rua também estava escura, o ar frio, o que me fez arrepender de usar
um vestido curto. Mas foi o pedido de Val vestir algo apropriado para o
clube.
Ele estava vestido como de costume. Seu temo preto estava abotoado
e sua gravata aparecendo. Isso me fez pensar se ele já tinha ido a uma
balada na vida real antes.
Eu nunca tinha estado em uma balada onde homens usassem temos.
— Henrik, você conhece o protocolo. Entre em contato comigo se
algo parecer errado, — ele disse ao chefe de segurança.
Ele colocou a mão em volta da minha cintura e me levou pela calçada.
Stefano e Gianna - que tinha conseguido o que queria - estavam nos
seguindo.
— E uma área muito tranquila para um clube, — eu admiti, olhando
ao redor por qualquer sinal de festeiros.
— E chamado de The Underground por um motivo, querida. — Seria
então, no subsolo? Olhei para o esgoto no centro da estrada e rezei
silenciosamente para não descermos lá como as Tartarugas Ninja.
Caminhamos em direção a um pequeno café que tinha uma placa —
FECHADO — na porta e, quando ele abriu a porta, havia uma mulher no
balcão.
Quando ela viu que era Val, ela apenas acenou com a cabeça e
começou a limpar o balcão.
Eu esperava que ela nos lembrasse que o café estava fechado, mas ela
não o fez. Em vez disso, ela agiu como se não estivéssemos lá, mesmo
quando Val nos levou além do balcão, para a cozinha.
— Podemos entrar aqui? — Eu perguntei. — Oh meu Deus... você está
roubando-a? — Sussurrei, mas meu coração estava disparado.
Ele era de fato alguém a temer, o que explicaria por que a garota não o
mandou embora. Talvez houvesse dinheiro ou algo aqui que ele
pretendia roubar.
— O que eu poderia querer roubar de um café? Donuts? — Ele revirou
os olhos com o meu comentário e foi até o freezer, abrindo-o e deixando
sair o ar frio.
Eu olhei para Gianna com o canto do olho. Ela parecia indiferente e
ela e Stefano seguiram enquanto Val me levava para o freezer.
Havia uma prateleira de bolos e tortas de sorvete contra a parede, que
Val puxou para o lado, as rodas tomando-o significativamente mais fácil.
Meus olhos se arregalaram com a visão de outra porta. Jesus Cristo,
quão perigoso era este lugar ficar escondido no freezer de uma cozinha
de um pequeno café fechado-?
Assim que Val abriu a segunda porta, escutei a música, e eu levantei
minha cabeça para olhar para ele.
Ele estava tão focado em sua chegada que não olhou para mim, mas
essa coisa toda parecia um pouco demais para entrar em uma boate.
Stefano fechou a porta e, quando descemos um longo lance de
escadas, tudo apareceu diante de nós - uma boate enorme, e enorme era
um eufemismo.
Nunca pensei que algo tão grande pudesse ser escondido sem que
ninguém soubesse. Havia vários postes, que homens seminus e até
algumas mulheres nuas dançavam sedutoramente enquanto homens de
temo sentavam-se ao redor, observando, falando uns com os outros.
Havia muito álcool, junto com cigarros e charutos.
— Estamos indo para a mesa de blackjack, — Stefano disse a Val. — Se
precisar de mim, você sabe como entrar em contato comigo. Val
simplesmente acenou com a cabeça enquanto Stefano e Gianna se
afastavam. Meus olhos permaneceram neles, querendo seguir.
— Há algum outro jogo que possamos jogar?
Val olhou para mim e estreitou os olhos. — Estou aqui para garantir
que os negócios estão sendo resolvidos.
E o blackjack não é um jogo aqui, amor. Você irrita a pessoa errada, e
ela tem uma arma apontada para você.
— Melhor evitar, então, — eu comentei.
— As pessoas apostam dinheiro, e são o tipo de pessoa que não gosta
de perder dinheiro, — explicou ele enquanto segurava minha mão, me
guiando pelo clube.
Acho que entendi por que alguém ficaria chateado por perder
dinheiro, mas por que dar um lance para começar?
Eu mantive meus olhos longe dos poles das stripper, mas uma garota
usando só lingerie decidiu se aproximar de Val, com um enorme sorriso
no rosto e inclinando a cabeça para o lado, flertando.
— Sr. Acerbi, que tal uma dança sensual? — Talvez ela não o tenha
visto segurando a mão de sua esposa, ou talvez ela simplesmente não
desse a mínima. De qualquer forma, a garota teve a cara de pau de
perguntar isso a ele.
Val simplesmente balançou a cabeça e ergueu a mão. — Isso não será
necessário esta noite, Nina.
A garota, Nina, parecia genuinamente desapontada. Coitada dela. Eu
tinha certeza que ela adoraria esfregar as suas partes íntimas em um
homem poderoso em troca de algumas moedas.
Mas enquanto ela se afastava para procurar outra vítima, as palavras
que Val disse me dominaram.
Isso não será necessário essa noite.
— Ela parecia terrivelmente chateada por não te dar uma dança
erótica. Parecia uma tradição. — Minha voz soou mais amarga do que eu
pretendia.
Eu não poderia me importar menos com o que Val fazia. A última
coisa que esperava do homem era respeito.
— Não seja uma criança, Elaina. A garota só quer uma boa gorjeta, —
ele respondeu em um tom casual.
— Era uma vez, eu vinha aqui e ela dançava no meu colo, mas como
você tem tantas inseguranças, posso garantir que a única garota pulando
no meu colo ultimamente é você.
Eu me senti enjoada de vergonha com as suas palavras. Seu rosto
manteve a emoção neutra de sempre. Ele não ficou nem um pouco
perturbado com essas palavras, falou de um jeito muito casual.
— Oh meu Deus... — Eu desviei o olhar, mas não vi nada melhor
quando olhei diretamente para uma stripper no auge de sua dança.
Val parou de andar em uma área de estar que era muito mais
silenciosa do que o resto das áreas e ele se sentou. Quando olhei para ele,
ele estava fazendo sinal para que eu me sentasse ao lado dele.
Lentamente, sentei-me ao lado dele e cruzei uma perna sobre a outra.
— Então, todo mundo tem que passar por aquele pequeno café para
entrar aqui?
— Claro que não. Há outra entrada para convidados. E mais acessível
para as grandes multidões.
Ele pegou uma garrafa de bebida que estava sobre a mesa e examinou-
a, certificando-se de que estava lacrada.
Ele realmente iria beber? Eu nunca o tinha visto beber. O pensamento
realmente me deixou nervosa, ao imaginá-lo cheio de álcool em seu
sistema.
Quando ele abriu a garrafa. Val serviu um pequeno copo e passou para
mim. — Tome uma bebida. Tenho alguns convidados chegando, e você
provavelmente ficará entediada.
— Você não vai tomar? — Eu perguntei a ele, o que me rendeu uma
risada em troca.
— A última coisa que preciso é estar embriagado. — Ele se recostou
no sofá, apoiando o braço nas costas do sofá atrás de mim.
— Você não é capaz de se defender se não está 100% lúcido. As pessoas
se aproveitam disso e, neste negócio, você pode morrer. — Eu olhei para
ele, segurando o copo de bebida alcoólica na minha mão. Ele levou tudo
em consideração - tudo fazia sentido - mas a sua vida era baseada na
análise de cada movimento que ele fazia.
— Então, você nunca ficou bêbado?
— Falso. — Sua resposta me surpreendeu. — No entanto, a última vez
que eu fiquei... — A voz de Val sumiu e ele falhou em continuar
perdendo-se em seus próprios pensamentos. Eu descansei minha mão na
dele e dei a ele um sorriso reconfortante. — Você não tem que falar sobre
coisas que te incomodam.
— Minha mãe sempre me disse para nunca me sentir pressionada a
discutir algo sobre o qual não me sentia confortável em falar. Não até que
eu estivesse pronta.
Ele ergueu uma sobrancelha para mim e o canto de seus lábios se
curvou para cima enquanto ele se inclinava levemente. — É claro que ela
diria isso - ela estava escondendo um mundo inteiro de segredos de você.
A memória doeu, era difícil pensar como a minha mãe sabia que o
nosso tempo juntos estava ficando curto, mesmo sem ela me dizer nada.
Ela sabia o que me esperava, mas ainda assim me jogou na situação,
cega e despreparada.
— Você não pode se importar com uma pessoa que voluntariamente
te dá assim para a máfia, não é, Elaina? A sua mãe - eu fiz minha pesquisa
- ela não é tão inocente quanto você pensa.
— Ela sabia exatamente no que você estava se envolvendo e não
parou. — A expressão de Val estava séria.
Ele não estava brincando comigo, ele estava apenas afirmando um
fato, mas eu não sabia o quanto a minha mãe sabia sobre isso antes da
noite em que Vadim apareceu na minha porta.
— O que você sabe sobre a minha mãe e o Vadim? — Eu perguntei a
Val, tentando não soar muito desesperada, mas eu estava completamente
fora de mim. Eu não sabia nada sobre a minha própria vida.
— Receio que seja uma discussão para outra hora, — respondeu ele.
— Mas...
— Outra hora. — Seus olhos encontraram os meus, me dando um
olhar de advertência assim que um pequeno grupo de pessoas entrou na
— Sala VIP, — vamos chamar assim.
Isso explicava por que Val repentinamente mudou de assunto e
insistiu em conversar depois.
— Valentino, é bom ver que você ainda está vindo aqui para verificar
os empreendimentos, — brincou um homem alto, mas Val não sorriu.
Mas a verdade é que ele raramente sorria.
Val permaneceu sentado. — Como você sabe, venho aqui muitas vezes
para verificar as coisas. Não quero nada acontecendo que eu não aprove.
No entanto, tenho homens aqui o tempo todo. Este é o meu negócio,
Andrei.
— Estou muito ciente, — respondeu Andrei.
— E assim mesmo? Porque me disseram que você tem subornado as
mulheres aqui por favores sexuais. — Val foi direto ao ponto e meus
olhos se arregalaram com as suas palavras.
Eu não queria fazer parte dessa conversa extremamente estranha. Eles
estavam discutindo favores sexuais como se fosse uma conversa normal
do dia a dia.
Andrei riu e se serviu de um copo de licor, sorrindo maliciosamente
para Val. — Não seja tolo, Valentino. Não há nenhum suborno
acontecendo.
— Eu simplesmente faço uma oferta, e é escolha delas se elas querem
fazer algo mais do que uma simples dança erótica. — Val se inclinou para
frente e olhou diretamente para Andrei, seus olhos não se moveram nem
por um segundo enquanto ele falava. — Tenho contratos com todas as
pessoas aqui.
— A menos que eu atualize esses contratos com a mulher sendo capaz
de fazer sexo com um homem pagante, isso apenas coloca mais um alvo
no meu negócio. — Fiquei imóvel enquanto Andrei apontava o polegar
para o pole dance de uma stripper. — Você tem garotas andando por aí
com os peitos para fora, pelo amor de Deus.
— Você tem centenas de homens vindo aqui todas as noites dispostos
a pagar. Eu sugiro que você reavalie esses contratos.
— Paciência. Tudo leva tempo, — Val respondeu em um tom
surpreendentemente calmo.
Esse tal de Andrei deve ser algum tipo de líder porque os outros dois
homens não estavam dizendo nenhuma palavra. Eram apenas Val e
Andrei falando, que repentinamente parou abruptamente.
Todos os homens olharam para o lado quando uma mulher alta se
aproximou. Quando olhei para cima, percebi que era a mesma mulher do
evento que Gianna disse ser Catherine Morsta.
Eu me lembrava dela muito claramente, apalpando Val e ele
segurando cada movimento dela.
O que havia em Catherine Morsta que fez até Valentino Acerbi olhar
para ela com um olhar tão cativado?
— Valentino, que bom te ver aqui. — Ela sorriu para ele quando
entrou na sala de estar, sentando-se do outro lado de Val.
Suas pernas eram enormes. Mesmo sem os saltos, ela parecia alta o
suficiente para ser uma modelo. Maravilhosa. Ela era absolutamente
linda. Não admira que todos os homens a olharam fixamente.
— Olá, Catherine. Você está adorável, — Val comentou, não
escondendo a maneira como seus olhos permaneceram em seu corpo.
Ela estava se achando, embora quando ela se inclinou para olhar para
mim, ela deu o sorriso mais falso que eu já vi. — Você deve ser a Elaina
Vasiliev.
— Elaina Acerbi, — eu a corrigi antes de estender a minha mão. —
Prazer em conhecê-la.
Ela tinha uma confiança da qual eu não gostava muito. Já percebi que
ela gostava de se apossar de coisas que não eram dela. Val já havia
deixado claro que ele era um homem supostamente fiel. Se isso fosse
verdade, eu não deixaria essa mulher agir como se eu fosse nada menos
do que a esposa dele.
Eu não fui respeitada neste assim chamado — casamento. — O
mínimo que ele podia fazer era fingir que me respeitava em público. —
Me desculpe. Não podemos esquecer o nome Acerbi - comentou
Catherine, fervendo de raiva enquanto se recostava e colocava a mão no
ombro de Val, olhando para Andrei.
— Causando confusão, Andrei?
Eu me desliguei da conversa. Val estava certo: eu estava ficando
entediada, e muito rapidamente. Eu realmente teria que sentar do lado
dele o tempo todo?
Finalmente tomando um gole da bebida, notei Val olhar para mim
com o canto do olho enquanto eu estremeci com o gosto. Licor nunca foi
a minha bebida preferida - era forte demais.
Fiz uma careta no segundo gole, mas no terceiro já estava me
acostumando com o gosto nojento. Depois de terminar o copo, me virei
para Val.
— Posso ir ao banheiro?
— Agora não, — ele respondeu instantaneamente. — Estou no meio
de uma conversa, tesoro.
— Eu não preciso de um acompanhante para fazer xixi.
Ele olhou para mim e suspirou pesadamente. Eu podia ver que ele
estava lutando com seus próprios pensamentos.
— Não fale com ninguém. Pergunte ao barman onde fica o banheiro.
Fale apenas com ele e deixe claro-quem você é. — Sim, senhor, eu disse
em minha mente, porque ninguém em sã consciência diria isso a Val
diretamente.
Levantei-me e Catherine olhou para mim, sorrindo maliciosamente.
— Foi ótimo conhecer você, Lena.
— Elaina. — Val foi quem a corrigiu, dando-lhe um olhar penetrante e
empurrando a mão de seu ombro antes de olhar para mim. — Seja
rápida.
Eu balancei a cabeça e deixei a sala, ansiosa para me afastar daquele
círculo de autoridade.
Meus olhos vasculharam a grande área em busca do bar e, quando o
encontrei, fui até o barman, sentado no banquinho e esperando para
chamar a sua atenção enquanto ele pegava bebidas para outras pessoas.
O barman veio até mim e acenou com a cabeça. — O que posso fazer
por você?
— Oi, só estou me perguntando onde fica o banheiro. — Eu sorri
genuinamente para ele, mas tudo que recebi em troca foi uma carranca.
— Este não é um centro de informações. Pare de desperdiçar meu
tempo.
Eu me senti envergonhada e balancei a cabeça lentamente. — Sinto
muito, eu... Meu marido me disse para vir aqui e perguntar.
Eu...
— Ah, é? — O barman revirou os olhos. — Você pode dizer ao seu
marido para chupar meu pau.
Um som familiar veio próximo a mim: uma arma sendo engatilhada.
De repente, uma arma foi apontada diretamente para a cabeça do
barman e quase pulei da cadeira, assustado com a ação repentina.
— O que é que foi isso? — Val perguntou ao barman, sua voz muito
mais áspera do que alguns segundos atrás.
O barman estava tremendo, os olhos arregalados de choque e medo.
— Sr. Acerbi... Essa garota, eu só - estou tentando atender os clientes.
— Essa garota é a minha esposa, — Val esclareceu. — Eu acredito que
você disse a ela para me dizer para chupar seu pau. Que porra de
desrespeito.
A irritação estava saindo de Val e eu podia ver em seus olhos. Este não
era apenas um show para ele; ele estava legitimamente zangado.
— Eu... eu não sabia que você era o marido dela, senhor.
— Peça desculpas, — Val exigiu.
O barman olhou para Val com a testa franzida. — O quê?
— Diga que sente muito para minha esposa. — Ele passou o braço
livre em volta da minha cintura e me puxou para perto dele. — Sra.
Acerbi.
Meu coração estava disparado. Eu não tinha certeza de quem estava
mais apavorado nesta situação, mas quando os olhos mortificados do
barman encontraram os meus, eu sabia que era ele.
Ele parecia temer por sua vida, e a essa altura, eu sabia que desculpas
não resolveriam o problema.
— Sinto muito, Sra. Acerbi, — ele se desculpou comigo, parecendo
verdadeiramente sincero. — Por favor, me perdoe.
Eu balancei minha a cabeça instantaneamente. — Está tudo bem, de
verdade. — Puxando o braço de Val, olhei para ele, ansiosa para ir. —
Vamos voltar para o salão. Por favor. — Seu braço não se moveu, ainda
apontando a arma para a cabeça do barman. Era quase como se as
minhas palavras entrassem por um ouvido e saíssem pelo outro.
Val me surpreendeu abaixando o braço e colocando a arma no coldre.
Isso foi completamente surpreendente para mim. Eu esperava que o
homem acabasse com uma bala na cabeça.
Capítulo 20
ELAINA

— Eu quero dançar, — eu disse em um tom arrastado e quase


inaudível, deixando claro que eu tinha bebido muito.
A garrafa de uísque que Val tinha pedido acabou, e eu não me
lembrava de ter visto mais ninguém se entregando à bebida além de mim,
então era justo dizer que eu estava no topo do mundo.
Val simplesmente balançou a cabeça, seu rosto perfeitamente
esculpido permanecendo em sua forma severa. — Não. Eu não danço.
— Mentiroso, mentiroso, não vem, não! — Eu ri e me inclinei contra
ele. — Você dançou comigo no nosso casamento. Lembra? Aquela
música...
— Every Breath You Take, — ele respondeu por mim.
Sim. Foi essa. Lembrei-me de como isso soava possessivo e assustador.
Se você já foi atrás da letra dessa música, era impossível negar que se
tratava literalmente de um perseguidor.
Desnecessário dizer que eles escolheram a melodia perfeita para nosso
casamento. — Viu! Você lembrou. — Eu sorri para ele, pegando a sua
mão e tentando puxar seu corpo musculoso do sofá, mas ele não se
mexeu, então resolvi fazer um beicinho.
— Dance comigo, Valentino. — Eu disse seu nome em uma tentativa
terrível de adicionar um sotaque italiano, o que rendeu um pequeno
sorriso dele.
— Absolutamente não. A nossa canção de casamento era lenta - essa-
ele apontou para o ar, enfatizando a música tocando - não é música
lenta.
Eu olhei para a pista de dança, vendo todos dançando. Parecia tão
divertido. Minha mãe nunca me deixou ir a boates. Principalmente
porque eu não era maior de idade, mas até as festas dos meus amigos a
minha mãe limitava.
Eu só tinha permissão para ir a festas de aniversário até os treze anos.
Quando as pessoas começaram a dar festas sem supervisão ou fora de
casa, minha mãe não me permitia mais ir.
— Bem, eu vou sozinha. — Levantei-me e logo fui puxada para trás
rapidamente e colidi com Val.
— Não, você não vai. — Ele me encarou, deixando claro que não havia
espaço para discussão.
— Aww. — Eu gemi e enrolei as minhas pernas, colocando minha mão
em seu peito e franzindo a testa para Val. — Por que não? Você é tão
chato, nunca quer que eu me divirta.
— Porque você está bêbada.
Ele manteve a sua curta e grossa, mas antes que eu percebesse o que
estava fazendo, já estava em seu colo. — E se eu dançar aqui mesmo?
— Gesü... — ele murmurou baixinho, colocando as mãos nos meus
quadris e me puxando contra ele.
Tradução: Jesus.
Eu segurei a sua gravata, inclinando-me para trás e jogando meu
cabelo. — Gostaria de uma dança erótica, Sr. Acerbi? — Eu zombei da
garota do início da noite, movendo meus quadris lentamente contra o
colo de Val.
Eu nunca tinha feito nada assim, mas estava alta como nunca, e antes
que a noite terminasse, planejava experimentar algum pole dance.
— Elaina. — Ele tentou soar severo, mas eu sabia que ele estava
sucumbindo aos meus encantos. Seus olhos dispararam para frente e
para trás, claramente certificando-se de que nosso momento privado
fosse apenas isso: privado.
— Vaaaaaal, — eu o imitei, inclinando-me e pressionando meus lábios
nos dele. Meus lábios se moveram rudemente contra os dele, sorrindo
enquanto nos beijávamos. — Dance comigo, Val.
Val não hesitou em retribuir o beijo, e estava claro que ele estava
tentando evitar ceder ao meu comportamento bêbado, mas não parecia
capaz de deixar de me beijar de volta.
— Que tal isso - quando chegarmos em casa, teremos nosso próprio
baile particular? — ele sugeriu.
Passei meus dedos pelo seu cabelo, sorrindo com a sua sugestão e
acenando com a cabeça. — Super!
— Val, eu peguei um pouco do seu uísque favorito. — Eu ouvi aquela
voz rouca irritante que pertencia a Catherine.
Eu possessivamente envolvi meus braços ao redor do pescoço de Val e
arqueei uma sobrancelha para ela. — Catherine, querida. Você pode, por
favor, dar o fora? Val e eu estamos aproveitando a companhia um do
outro.
O álcool me deixava ousada e eu estava grata por isso agora, mas Val
ainda insistia que eu fosse educada. Ele segurou meu pulso e estreitou os
olhos para mim.
— Não aja como uma pirralha. Vou ter que te levar para casa - isso é
ridículo pra caralho. Você não consegue lidar com o álcool de jeito
nenhum.
Suas palavras não me incomodaram. Eu apenas sorri e lambi sua
bochecha enquanto olhava diretamente para Catherine. — Você vai me
bater. Val? — Com isso, Val puxou seu telefone celular e começou a discar
um número. Quando ele colocou o telefone no ouvido, pude ouvi-lo
murmurando em italiano.
Ele disse o nome de Stefano, e eu sabia que ele estava falando com seu
irmão do outro lado da linha.
Quando ele deslizou o telefone de volta no bolso, ele me tirou de cima
dele e se levantou. — Estamos indo embora. Eu informei o Stefano. Ele e
Gianna vão ficar. I!
— Ah. Mas eu não quero ir. — Eu fiz uma careta de decepção antes de
sair correndo. Eu deixei a área VIP rapidamente e corri para a pista de
dança, empurrando os corpos suados de pessoas se esfregando. Tudo que
eu podia ouvir era Val gritar comigo enquanto eu corria.
— Jesus Cristo, Elaina!
Certamente ele iria me alcançar rapidamente, mas ele só iria estragar
a diversão. Ele nunca queria que eu me divertisse.
Eu roubei uma dose da mesa de uma pessoa aleatória e engoli
rapidamente antes de subir para um dos balcões onde havia um pole
dance.
Uma dança. Isso era tudo que eu queria, mas o homem não podia me
dar nem isso. Enganchei minha perna em tomo do poste e girei em tomo
dele, rindo enquanto meu cabelo ficava uma bagunça. A próxima coisa
que eu percebi foi que fui puxada do mastro e carregada sobre o ombro
de Val.
— Eu consigo ver o seu bumbuuuum! — Eu ri muito mais do que o
necessário, começando a tamborilar minhas mãos em sua bunda
perfeitamente firme.
Ele não se mexeu. Oh, merda. Ele deve estar muito bravo comigo.
— Val, o sangue está subindo à minha cabeça. Acho que tive uma
concussão! — Reclamei, olhando ao redor, percebendo que ele estava me
carregando para fora do The Underground por um caminho diferente do
que entramos.
Minhas mãos errantes ficaram impacientes e encontraram o coldre
em sua cintura, sentindo a sua arma. Um sorriso bobo se formou em meu
rosto.
— Essa é a sua arma ou você está apenas feliz em me ver?
Val continuou a me ignorar, permanecendo em silêncio o tempo todo.
Eu não pude deixar de acariciar casualmente seu braço e sentir seus
músculos fortes enquanto ele me carregava. Ugh, que homem forte.
Quando chegamos à rua, as minhas mãos estavam basicamente
apalpando-o.
Ele tentou me colocar no chão e eu tropecei em seus braços, perdendo
o equilíbrio. — Quer saber um segredo?
— Não, Elaina. Eu não me importo em ouvir sobre seus segredos de
bêbada. — Ele me ajudou a ficar estável e começou a me guiar em direção
ao carro, onde Henrik estava esperando.
Decidi contar a ele de qualquer maneira - não era como se eu pudesse
manter a minha boca fechada agora. — Você é tããããão sexy, e a
Catherine é uma vadia ciumenta porque você se casou comigo.
Comecei a rir ao pensar em Catherine. Ela estava com ciúme de mim.
Parecia hilário pensar que alguém como ela teria ciúme de mim, mas eu
tinha muito mais do que ela, eu tinha o Val.
— A Gianna me disse que você costumava fazer sexo com Catherine,
— eu deixei escapar, as consequências eram a menor das minhas
preocupações, no momento.
Enquanto Val abria a porta do passageiro do carro, pude ver a sua
mudança de expressão e ele olhou para mim, parecendo ligeiramente
irritado agora. — Por que ela te disse isso?
Eu solucei. — Desculpe... eu soluço quando fico bêbada.
— Elaina. — Ele tentou ser severo novamente, mas eu me sentia
invencível esta noite.
Não foi até Val fechar a porta e contornar o carro, entrando no lado do
motorista, que ele mencionou a Gianna novamente. — Diga-me por que
Gianna estava lhe contando sobre Catherine.
Eu dei a ele um olhar óbvio. — Porque eu perguntei a ela, bobo.
— Por quê?
— Porque ela é bonita... e você a deixou tocar em você, — eu
expliquei. Eu afastei o pensamento. Como ele ousa tentar acabar com a
minha noite. — Esqueça isso - este vestido é tão quente!
Alcancei atrás de mim, tentando abrir o zíper do vestido que eu estava
usando, mas Val me parou, agarrando minha mão. — Quer parar? Vou
ligar o ar-condicionado.
Recostando-me no assento, olhei para Val quando ele começou a
dirigir e bocejou, movendo-me para perto dele e descansando a minha
cabeça em seu ombro.
A viagem para casa foi tranquila. O rádio estava desligado e o único
som que se ouvia era a chuva que havia começado a caminho de casa. Foi
estranhamente relaxante e me deixou com sono.
Mesmo quando estacionamos na garagem, agarrei o braço de Val e
balancei a cabeça. — Vamos dormir aqui.
Ele me surpreendeu rindo. — Não é tão confortável quanto a nossa
cama amore.
— Amore. — Eu tentei o sotaque italiano mais uma vez, mas ainda não
soou tão sexy quanto Val. Toda vez que ele falava nessa noite, eu só
queria beijá-lo, mas estava muito ocupada babando.
— Você é tão fofo quando fala italiano e tal.
— Você está bêbada. — Ele apontou o óbvio mais uma vez. — Tenho
certeza de que você não me diria isso se estivesse sóbria.
Tirei meu cinto de segurança e sorri para ele. — Palavras bêbadas são
pensamentos sóbrios...
Quando abri a porta do passageiro, pulei da cadeira e corri para a
chuva, ficando encharcado quase que instantaneamente. Foi revigorante
e eu senti como se todos os meus medos estivessem sendo lavados de
mim. Sem responsabilidades porque eu não era a assustada e patética
Elaina esta noite. Em vez disso, eu me sentia despreocupada e divertida.
Embora eu soubesse que era por causa do álcool, eu ainda estava me
divertindo e fazia muito tempo que não sorria assim. Senti os braços
fortes de Val me envolverem por trás e meu corpo molhado pressionado
contra o dele. Olhei por cima do ombro para ele e olhei para cima para
ver seus olhos escuros olhando para mim.
O que houve com ele essa noite? Ele parecia tão misterioso e...
— Gostoso... — Eu falei em voz alta e rapidamente cobri minha boca,
rindo para mim mesma.
Ele franziu a testa, me levando para dentro para me impedir de
tropeçar. — Vamos pegar uma toalha antes que você pegue um resfriado.
Eu o observei tirar a jaqueta e colocá-la sobre o corrimão da escada.
Anita cuidaria disso quando ela notasse.
Antes que eu tivesse a chance de subir as escadas sozinha, Val me
pegou em seus braços e me carregou.
A escada era longa. A escada mais longa que eu já vi em toda a minha
vida, e ele me carregou por todo o caminho, mas mesmo quando
chegamos ao topo ele não me colocou no chão.
Ele me acompanhou em direção ao nosso quarto e abriu a porta antes
de me colocar no chão. — Vou pegar uma toalha para você no banheiro.
Fique aí, ok? Eu falo sério, Elaina.
— Sim, senhor, — eu o provoquei e mostrei minha língua,
observando-o se afastar.
Tínhamos um banheiro conectado ao nosso quarto - lembrei - então
Val não foi longe.
Senti meu vestido grudar em mim por causa da chuva e gemi de
aborrecimento com a textura grosseira, movendo minhas mãos para
agarrar o zíper.
— Você não consegue ficar parada quando bebe, né? — Eu ouvi Val
dizer enquanto ele se aproximava de mim com a toalha na mão.
Eu respondi com um simples aceno de cabeça e quando ele me passou
a toalha. Usei para tirar um pouco da água do meu cabelo úmido.
— Você pode abrir o zíper, por favor? — Ele não hesitou em ficar atrás
de mim, e eu senti seus dedos se moverem ao longo da minha bunda
antes de subir para o zíper do meu vestido e abaixá-lo lentamente.
Assim que meu vestido caiu no chão, eu imediatamente me virei para
encarar Val e olhei para ele com um sorriso inocente no rosto. — Ops!
Ele se inclinou para perto de mim e eu senti seu hálito quente contra
meu ouvido, me fazendo estremecer. — Você estava fora de controle essa
noite, Elaina.
Obrigada, álcool. Eu não o temia e não recuei nem por um segundo.
Em vez disso, aproveitei a oportunidade para brincar: — Eu estava? Achei
que era uma ótima companhia.
— Você definitivamente perdeu o controle, — ele me disse, movendo
o dedo indicador ao longo do meu queixo. — E você foi uma grande
distração para mim também.
— Você tem razão. Que vergonha... Você deveria me beijar.
Comecei a desabotoar sua camisa, mas antes que ele pudesse
responder ao meu comentário eu já estava na ponta dos pés com meus
lábios colidindo contra os dele, beijando-o com força.
Eu quis beijá-lo a noite toda. Ele parecia tão mal e perigoso.
Por alguma razão, aquele olhar me excitou essa noite e eu estava
desejando o gosto de seus lábios, mas só agora eu consegui.
Eu me senti tão tonta por dentro, meu estômago revirando e minha
mente me dizendo para ir para a cama e me render a ele.
Quando tirei a sua camisa, comecei a abri as suas calças, sentindo seus
lábios se movendo rapidamente para o meu pescoço enquanto suas mãos
seguravam a minha cintura.
Meu coração já estava acelerado, e eu o queria tanto. Eu estava maluca
para transar com ele.
Enquanto Val agarrava com força a minha bunda, ele me puxou para
cima e eu instintivamente envolvi minhas pernas em volta de sua cintura
enquanto ele nos levava para a cama, me deixando cair no colchão.
Eu olhei para ele enquanto ele tirava o cinto. Eu não pude deixar de
olhar para o seu corpo. Juro, se eu não tivesse visto dezenas de vezes
antes, teria presumido que estava imaginando coisas.
Ele tinha um abdominal duro como uma rocha. Sua linha V era bem
marcada, e eu precisei me segurar para não passar as mãos pelo seu corpo
e apenas tocá-lo todo.
— Como se diz 'gostoso' em italiano? — Eu perguntei a ele.
Enquanto ele subia na cama e pairava sobre mim, ele sussurrou em
meu ouvido, — Delizioso.
Eu não pude deixar de rir ao som de sua voz. — Você é delizioso. — Sua
risada retumbou contra minha pele, e ele começou a se mover mais para
baixo no meu corpo, mas eu o queria mais perto. Eu queria seu rosto no
meu e seus lábios nos meus.
O sentimento de tristeza foi embora quando ele começou a me beijar
por toda parte - e quero dizer, por toda parte.
Seus lábios fizeram uma trilha no meu peito, levando seu tempo em
meu decote enquanto suas mãos massageavam a parte interna das
minhas coxas. Ele estava me torturando — Val... — Falei seu nome sem
fôlego, colocando minhas mãos em seus ombros e inclinando a minha
cabeça para trás.
Ele começou a subir pelo meu corpo novamente de uma maneira
lenta e tortuosa, seus lábios e língua hipnotizando meu corpo inteiro e
me fazendo cair mole enquanto ele se movia entre minhas pernas.
Por que não o apreciei antes? Nós fizemos sexo muitas outras vezes,
mas eu nunca quis, e agora que eu deixei, ele estava demorando muito e
tudo estava acontecendo em câmera lenta.
Desta vez, eu estava dando permissão. Que se foda - eu ia fazer sexo
com ele, sexo realmente consensual e mútuo. E ia ser bom.
Mentes Perversas
Livro 1 - Capitulo 21
VAL
O homem diante de mim já parecia muito espancado. Hematomas
cobriram o seu rosto e havia sangue respingado nas suas roupas.
Ele estava mole e fraco, o que só me deixou mais ansioso para acabar
logo com sua vida - não rapidamente, mas de uma forma lenta e com um
movimento doloroso.
Ele sentiria tudo, e se desmaiasse de agonia, eu esperaria até que ele
acordasse novamente para começar a tortura.
ILIMITADO
Meus homens ouviram claramente quando eu disse a eles para
espancarem esse homem até deixá-lo em carne viva, para fazê-lo sofrer e
deixá-lo esperando por mim - e era assim que ele estava.
Com os braços travados em barras de metal penduradas na parede de
concreto do porão, ele mal parecia estar respirando depois de levar uma
surra aparentemente brutal.
O homem levantou lentamente a cabeça para olhar para mim e,
mesmo com a pouca energia que tinha, o medo era evidente em seus
olhos, como deveria ser. — Sr. Acerbi...
Eu o agarrei pela garganta e empurrei a sua cabeça contra a parede,
fazendo com que um grunhido escapasse de seus lábios.
Não fale. Você não tem o direito...
Simplesmente acene com a cabeça. Estamos entendidos?
Ele acenou com a cabeça.
— Presumo que você saiba por que está aqui?
Outro aceno de cabeça.
Um sorriso maníaco se formou em meus lábios enquanto eu estendia
a minha mão na direção de onde Gustavo estava parado. — Faca.
— Não... Senhor, sinto muito. Eu estou muito...
Enquanto Gustavo me passava a faca, eu a pressionei com força contra
a garganta do homem, apenas para raspar a pele, mas foi o suficiente para
assustá-lo. — Eu não acabei de dizer que você não deve falar nada?
Eu olhei para Gustavo e balancei a minha cabeça, em decepção. Ele era
um ótimo melhor amigo. Desde que éramos crianças, sempre fomos só
ele e eu. Ele era praticamente um irmão para mim.
Nós treinamos para entrar na Máfia juntos, e quando a sua família foi
assassinada, ele veio morar com a minha família.
Na época, ele tinha apenas nove anos, e até então ele era um cara
muito calmo, mas a morte de seus entes queridos o colocou em um
caminho extremamente sombrio. Isso o tomou ainda mais parecido
comigo.
Eu olhei de volta para o homem acorrentado à parede, baixando a
minha voz. — Você foi muito rude com a minha esposa na noite passada,
e isso realmente me irrita.
Irritava-me saber que um barman do meu próprio-clube trataria
Elaina da maneira que este homem tinha tratado. Eu não estava
aceitando isso. Esse homem não sairia daqui vivo.
Nenhum dos meus funcionários se safaria por tratar uma Acerbi com
tanto desrespeito.
— Isso realmente me deixa com raiva porra! — Eu levantei a voz,
firmando a faca e movendo-a para baixo em seu estômago em um
movimento rápido, apunhalando-a em sua pele com facilidade e ouvindo
o seu grito de dor.
Foi música para os meus ouvidos quando comecei a torcer a faca. Eu
podia sentir o sangue escorrendo em minha mão enquanto ele gritava,
mas eu não poderia me importar menos.
— Vamos jogar um jogo? — Eu sugeri, e o homem não pareceu nem
um pouco interessado. Eu olhei para Gustavo e ri. — Ele não quer jogar
comigo.
— Ele seria estúpido de recusar, — Gustavo entrou na conversa.
— E verdade, — acrescentei. — Se você ganhar o jogo, vou deixá-lo ir...
mas se você perder, acho que é o fim do seu caminho.
A respiração pesada do homem continuou e ele me encarou como se
esperasse que eu continuasse.
Gustavo e eu tínhamos jogado esse jogo várias vezes desde que éramos
adolescentes. Era algo que fazíamos para tomar as nossas matanças mais
divertidas.
Então, quando ele se aproximou de mim com uma tesoura na mão,
nós dois estávamos pensando a mesma coisa.
— Isso é o que vai acontecer... Eu vou cortar seu dedo - qualquer dedo
que eu escolher. Se você não fizer um único som, está livre para ir, — eu
disse a ele como se essa fosse a tarefa mais simples do mundo.
Mas, por experiência própria, ninguém jamais havia vencido.
Lágrimas cobriram o rosto do homem e Gustavo trocou de
ferramentas comigo. As vezes nos revezávamos, mas eu queria ter a
alegria de torturar aquele cara. Ele me fez mal.
— Agora, enquanto eu tiro esse seu dedo, Gustavo aqui vai ter a faca
encostada em sua garganta, pronto para cortá-la, caso você solte um
gemido.
Eu deixei as regras claras, pegando a mão relutante do homem.
Ele era forte para um homem comum, mas eu era o próximo capo da
máfia.
Tive anos e anos de treinamento, então, com facilidade e pouca
resistência, levantei a sua mão e escolhi o dedo médio, para dar mais
grande significado.
— Vaffanculo.
Tradução: Que se foda.
Segurei a tesoura com força, e o homem gritou mais alto do que
quando eu o esfaqueei anteriormente.
Sem hesitar, Gustavo cortou a garganta e o sangue respingou em mim
quando seu dedo caiu no chão.
Eu olhei para Gustavo, e ele devolveu um sorriso ameaçador. Éramos
uma boa equipe.
— Diego! Raffaele! — Eu gritei. Eles estavam parados atrás, como lhes
foi dito. Enquanto eles se aproximavam de mim, eu balancei a cabeça em
direção ao corpo agora morto que tinha sangue escorrendo de sua
garganta.
Eu olhei para os dois homens. — Lidem com o corpo. Remova todos
os dentes. Vocês conhecem as regras.
Eles acenaram com a cabeça.
Fizemos o que tínhamos que fazer para remover todas as evidências e
acessibilidade ao DNA do morto. Os dentes eram uma das principais
coisas que os policiais e o FBI procuravam em um cadáver.
Sem dentes, o trabalho deles ficava muito mais difícil.
— Gustavo. — Fiz um gesto em direção aos degraus para ele me seguir
e, quando subi as escadas, fui imediatamente para a cozinha onde Anita
estava. — Você pode fazer uma pausa.
Ela sabia que essa era a minha maneira de dizer a ela para ir embora, e
ela simplesmente fez isso para que eu pudesse lavar as minhas mãos na
grande pia da cozinha.
Limpei o sangue com o sabonete líquido perto da pia e olhei na
direção onde Gustavo estava.
Estava claro que ele tinha algo em mente que não estava me dizendo,
porque na maioria das ocasiões ele sabia que era melhor não falar
comigo.
Ele sabia que, eventualmente, eu seria seu chefe, e falar comigo seria
completamente estúpido.
— Fala logo, — eu o incitei, não dando a mínima para o que ele tinha
a dizer. Se meu amigo de tantos anos não conseguia falar comigo, quem
realmente conseguiria?
Eu estava de bom humor depois de executar essa morte, então ele
tinha um passe livre para falar o que pensava.
Gustavo encolheu os ombros casualmente. — Nada. Só estou me
perguntando o que aquele homem possivelmente fez com Elaina que te
deixou com raiva o suficiente para matá-lo.
— Nós matamos os nossos inimigos, — eu disse simplesmente.
— Inimigos, sim. Mas não matamos alguém apenas porque nos deixou
com raiva. Nós sempre estamos totalmente seguros sobre as nossas
matanças, Val, nunca fazemos as coisas de um jeito imprudente.
— Isso não foi imprudente, — eu retruquei para ele. — Ele mereceu,
Gustavo. Você de todas as pessoas sabe...
— Que você tem um gênio forte? — Ele sorriu para mim
provocativamente.
O meu gênio forte me levou bem longe. Uma vez eu levantei uma
arma para o Gustavo simplesmente porque ele havia me dado um soco
no rosto durante um treinamento.
Regra 1: Nunca desafie a família. r
— E importante deixar as pessoas saberem que não brincamos em
serviço, — eu disse a ele, fechando a torneira da pia e me virando para
ele. — Fim de discussão.
Gustavo ergueu as mãos defensivamente, levando as minhas palavras
a sério. Ele ficou quieto por um bom tempo antes de ter coragem de falar
novamente.
— Como foram as coisas com Elaina no The Underground?
A memória da noite anterior me fez revirar os olhos e sorrir ao mesmo
tempo. Essa menina pegou fogo - mais do que eu esperava.
Ela estava completamente fora de controle na noite passada e longe de
ser a garota calma com quem presumi que me casei.
— Ela deu um show e tanto, — eu disse a ele. O pensamento de Elaina
me esmagando na frente de Catherine não era um problema.
Lamber a minha bochecha para provar um ponto era um pouco
desnecessário - no entanto, correr por aí como uma criança que escapou
de sua coleira era demais.
— Talvez ela esteja retaliando porque você não a leva pra passear o
suficiente, — ele sugeriu brincando.
Eu estreitei meus olhos. Eu já tinha decidido que depois de ontem à
noite, a Elaina não ia sair por um tempo. Ela obviamente não era adulta o
suficiente para lidar com um clube privado.
— Ela perdeu qualquer chance de isso acontecer, — eu respondi, não
me importando em entrar em detalhes. Foi só quando continuei falando
que percebi que tinha mais a dizer.
— Eu entendo que ela estava feliz e de bom humor, mas ela não
percebe o quão perigoso é correr por aí como uma adolescente.
— Bem, se estamos sendo técnicos, ela é uma adolescente, — Gustavo
apontou, dando uma de espertinho.
Se eu não o conhecesse há tanto tempo, teria apontado uma arma
para ele novamente, mas em vez disso, fui forçado a xingá-lo. — Vá se
foder.
Ele me enviou aquele sorriso arrogante - o mesmo que ele sempre
dava, desde que éramos adolescentes.
Sempre que ele estava certo sobre alguma coisa e meu pai o elogiava e
me dizia que eu precisava tomar cuidado com os métodos de Gustavo, ele
sabia que isso me enfurecia.
Não me sentia mais zangado com o seu talento, e sim orgulhoso. Ele
era um grande aliado e alguém que eu sabia que poderia confiar a minha
vida porque ele sabia se defender tão bem quanto eu.
Eu olhei para o relógio na parede. Marcava 6h24. Eu tinha me
levantado cedo esta manhã enquanto Elaina dormia profundamente e,
com certeza, ela estaria se recuperando de uma bela ressaca esta manhã.
— Eu vou me trocar. — Fiz um gesto em direção às roupas
respingadas de sangue que estava vestindo no momento. — Certifique-se
de que o Diego e Raffaele não estão fazendo nenhuma cagada.
Foi à minha maneira de me livrar do Gustavo. Diego e Raffaele eram
bons no que faziam; eles não precisavam de um supervisor. Mas eu
também não precisava do Gustavo em cima de mim.
Subi para o meu quarto e vi Elaina, ela estava dormindo
profundamente, a cabeça enterrada no meu travesseiro, exatamente
como estava quando eu saí, uma hora e meia atrás.
O cobertor tinha sido empurrado para baixo de seus quadris e expôs
seu sutiã, o que me fez me amaldiçoar silenciosamente por não ter
transado com ela como ela havia me pedido tão desesperadamente na
noite passada.
Eu queria, mas não fiz. Ela estava altamente embriagada, e não seria a
primeira vez que eu fodia uma mulher embriagada, mas Elaina não
estava se jogando em mim como as outras mulheres com quem estive.
Não se tratava de luxúria ou desespero de apenas querer uma boa
noite de sexo; ela estava rindo e sorrindo como uma colegial o tempo
todo. Seus elogios se tomaram estranhos para mim.
Sim, recusei uma boa trepada porque uma mulher - a minha esposa -
me elogiou. Ela me chamou de sexy, o que não me incomodou nem um
pouco. Não foi a primeira vez que alguém disse isso.
Suas risadas ecoaram na grande sala enquanto eu beijava o ponto doce de
seu pescoço.
Depois de me forçar sobre ela tantas vezes, eu já tinha aprendido onde
estavam todos os seus pontos fracos, e sempre que beijava o ponto baixo de
seu pescoço, logo acima de sua clavícula, ela gemia.
Ela não me decepcionou dessa vez também. — Val... Pare de me provocar.
Eu puxei meu rosto para sorrir para ela e mordisquei seu lábio inferior
suavemente. — O que é sexo sem as preliminares, amora?
— Você devia ser sempre assim, — disse ela de repente, o que me fez franzir
a testa. Sua voz estava menos arrastada do que antes, mas ela ainda estava
claramente bêbada. — Eu gosto quando você é legal.
— Nós não somos pessoas legais, Elaina. Nunca, — eu a avisei,
certificando-me que ela estava ciente de que o mundo em que ela estava
agora nunca seria um lugar amigável como ela estava acostumada.
Ela balançou a cabeça e deu um sorriso bobo. — Nuh-uh. Acredito que
haja algo de bom em você... em algum lugar. Você está apenas escondendo
isso.
— Não há, — eu assegurei a ela. Fui criado para não ser bom; eu não
poderia amolecer ou ter sentimentos reais por que eu era muito perigoso. Ser
legal ou atencioso não era uma opção.
Mas a Elaina nunca entendeu isso. A menina não era apenas uma bêbada
safada, ela também ficava muito mais otimista quando tinha álcool em seu
sistema.
— Você não pode negar os fatos... Você foi tão legal comigo esta noite. Eu
tenho sido uma pirralha e você nem mesmo me bateu.
Normalmente, eu teria batido. No momento em que ela começou a se
comportar mal ou correu para a multidão depois que eu disse a ela para não
fazer isso, eu deveria ter dado um tapa na cara dela - mas não o fiz. Eu não
coloquei a mão nela.
Quando eu era mais jovem, além de aprender o funcionamento dos
negócios da família, meu pai dizia que a regra para um relacionamento é
nunca deixar a mulher passar por cima de você.
Mostre a ela onde é o seu lugar, e se ela desobedecer às regras, ela deve
enfrentar as consequências.
Mas esta noite, eu a deixei me desobedecer várias vezes, e aqui estava eu,
prestes a puni-la, mas fazendo sexo?
Isso estava longe de ser uma punição. Isso era mais um elogio do que
qualquer coisa.
Eu parei logo depois disso. Mesmo com ela bêbada, Elaina poderia me
deixar louco. Eu sabia ser paciente, mas havia algo sobre ela que me
deixava completamente louco.
Capítulo 22
ELAINA

Eu ouvi um movimento no quarto, e me mexi. Minha cabeça doía e eu


sabia muito bem que era por causa da quantidade de álcool que eu havia
consumido na noite anterior.
Eu coloquei a mão na minha cabeça enquanto gemia antes de abrir
meus olhos, e vi que Val estava desabotoando as suas calças.
Isso, no entanto, não foi o que me assustou. O sangue que cobria a sua
camisa era uma visão surpreendente.
Ele não parecia nem um pouco perturbado, mas estava claro que ele
acabara de voltar do assassinato de alguém.
— Bom dia, amor. Vejo que você está horrível. — Ele me lançou um
sorriso malicioso enquanto abaixava as calças.
Minha boca se abriu, muito focada em todo o sangue para ficar
ofendida por suas palavras. Eu já estava com náuseas o suficiente, mas
isso apenas me levou ao limite.
Val estalou os dedos para chamar a minha atenção. — Você está muda
agora? Talvez dizer bom dia fosse um bom começo.
— Uh... Bom dia, — eu consegui dizer, lentamente me sentando e
olhando para o relógio. Era muito cedo. Mais cedo do que eu esperava
que ele acordasse para matar pessoas.
Ele caminhou em minha direção, e assim que chegou ao lado da cama,
ele se inclinou perto de mim, mas eu imediatamente recuei, não
querendo deixar o sangue em suas roupas me tocar.
— Não seja assim. — Ele franziu a testa. — É só um pouco de sangue,
querida. Considere isso uma vitória. Isso foi tudo para você.
Tudo para mim? Eu franzi minha sobrancelha em confusão e balancei
minha cabeça para ele. — Eu não sei o que você quer dizer.
Ele descansou a palma da mão na minha bochecha e pressionou seus
lábios contra minha testa. — Ninguém vai desrespeitar você como aquele
barman fez e se safar. Você é minha esposa. Eu não vou permitir.
Meu corpo congelou, percebendo o que ele queria dizer, e eu apenas o
encarei enquanto ele se afastava. — Você disse... você disse que não iria
machucá-lo.
— Eu não disse isso. Eu o deixei em paz ontem à noite, mas quero que
saiba que ninguém se safa com uma merda dessas.
Eu olhei para baixo, sentindo-me enojada e parcialmente responsável
por isso. — Você é nojento.
— Você não estava dizendo isso ontem à noite, amor. Você estava
dizendo exatamente o contrário, — ele comentou, levantando-se e
tirando a camisa.
— Você realmente me cobriu com muitos elogios. Por que a repentina
mudança de atitude?
Eu me levantei da cama e me afastei de Val. Ele me perturbou mais do
que eu poderia explicar.
O fato de eu ser casada com esse monstro já era ruim o suficiente, mas
ter que ver sangue regularmente como se fosse normal, aí já era demais.
Peguei as minhas pílulas anticoncepcionais da cômoda, tirei uma da
embalagem e coloquei na boca. O único controle que eu tinha era não
engravidar dele.
— Como essas pílulas estão tratando você? — Val perguntou,
mantendo seus olhos em mim.
Eu olhei por cima do ombro para ele. — Funcionam.
— Isso é verdade. No entanto, deixe-me ser franco com você, Elaina.
— Ele se sentou na beira da cama e respirou fundo. — Essas pílulas não
vão impedir você de me dar filhos.
Rapidamente, peguei a caixa e li o nome claramente. Era
definitivamente anticoncepcional. Talvez Val estivesse apenas tentando
me assustar, mas não funcionou.
r
— E para isso que serve o anticoncepcional, Valentino.
— Sim, mas essas não são pílulas anticoncepcionais. — Ele encolheu
os ombros com indiferença, e seus lábios se curvaram em um sorriso
malicioso. — Você acha que eu permitiria que você me privasse de
continuar o meu legado?
— Querida, não. Você está tomando vitaminas que foram colocadas
no lugar do anticoncepcional. Pode até ser que você esteja grávida agora
mesmo.
Eu me senti fraca. Ele tinha que estar brincando comigo. Eu não tinha
nada a dizer, com o que eu tinha chegado a um acordo, mas meu corpo
era a única coisa sobre a qual eu sentia o mínimo controle, e ele tirou até
isso de mim.
Todo esse tempo eu presumi que estava protegida de dar filhos a ele e
trazê-los para um mundo terrível, mas fui enganada.
Não consegui evitar colocar a mão na barriga. Val estava certo: eu já
poderia estar grávida.
— Eu estava bebendo ontem à noite. Se eu estiver grávida, o álcool
pode prejudicar o bebê, mas, independentemente disso, você não tem o
direito de trocar as minhas pílulas sem o meu consentimento! — Eu
levantei a voz para ele, completamente enfurecida.
Seus olhos ficaram escuros quando ele deu um passo em minha
direção. — Eu tenho todo o direito de fazer o que diabos eu quiser com
você. Você não vai me dizer o contrário, está claro?
— Vou pedir ao médico para fazer alguns exames se você estiver
curiosa sobre a gravidez.
Eu desviei o olhar, sentindo vulnerabilidade e tristeza me
preenchendo enquanto eu pensava nas possibilidades. Eu nunca quis ter
um filho com Val. Nenhuma criança deve ser forçada a este estilo de vida.
Mas ele não me deu escolha.
A mão de Val pousou no meu rosto e ele enxugou uma lágrima que,
sem saber, caiu dos meus olhos. — Não fique tão triste. As crianças são
uma bênção, Elaina. Nosso filho será forte como o pai.
Não há nada de errado com a força, mas eu nunca quis que nenhum
filho meu fosse um assassino.
Val estava tão decidida a ter um filho. Aparentemente, Acerbis sempre
tinham meninos. Era muita pressão ter um filho. Já era difícil o suficiente
ser uma esposa para ele.
— Você disse que não estava com pressa de ter filhos. Eu... eu não
estou pronta para ter um bebê, Val. Eu tenho só...
É
— Dezoito anos. É, é. — Ele revirou os olhos. — Muitas mulheres têm
filhos na sua idade. Você não é uma exceção.
Eu desviei o olhar dele, enojada com a ideia de ele me usar apenas
para ter filhos para passar o nome de sua família adiante.
Ontem à noite, eu senti como se tivesse visto um lado melhor dele,
mas recentemente aprendi que, uma vez que senti um pouco de conexão
com Val, ele só pareceu piorar no dia seguinte.
Eu ficaria feliz em aceitar seu abuso verbal em vez do abuso físico, mas
ainda me machucava emocionalmente. Esse estilo de vida era difícil
demais.
— Estou ciente de que você se divertiu na noite passada, — disse ele
de repente enquanto caminhava para seu armário. — O que você gosta
de fazer, Elaina? Além de dançar.
Este homem era completamente bipolar. Ele mudou de humor, mas
nem parecia perceber como era estranho pular de um assunto para outro
em um segundo.
— Recentemente, gosto de ficar sozinha, — respondi, aproveitando a
oportunidade para informá-lo de que qualquer hora longe dele era uma
bênção.
— Bem, infelizmente para você, estou livre hoje e vamos fazer algo
juntos.
— Por quê?
— Não faça perguntas, apenas obedeça. Prepare-se - vamos jogar
golfe, — Val declarou enquanto pegava algo no closet, onde eu não podia
vê-lo.
Fui até a minha cômoda e tentei decidir o que vestir, não querendo ir
a lugar nenhum com ele. — Eu não quero jogar golfe. Por favor, deixe-me
ficar em casa.
— Elaina, me escute. — Eu ouvi passos emergindo antes que ele saísse
do closet e ficasse na minha vista novamente, vestindo as suas calças. Ele
estava sem camisa, mostrando seu peito e músculos rasgados.
— Precisamos de um tempo juntos como um casal. Você precisa
colocar fazer um esforço por nos.
Talvez essa fosse sua tentativa de fazer parecer que eu não estava
tentando, mas ele não conseguia acreditar que eu pudesse simplesmente
esquecer suas ações em relação a mim. O abuso, tanto físico quanto
verbal.
Agora que ele mentiu para mim sobre o anticoncepcional, nada do
que ele fazia era verdadeiro ou genuíno, então se ligar a Val ou conhecê-
lo era tudo falso.
Aprendi que tudo o que ele fazia tinha um motivo... Só não tinha
certeza qual era o motivo por trás disso.
— Só você e eu? — Eu perguntei a ele, querendo esclarecimentos
sobre onde eu estava me metendo.
Ele acenou com a cabeça uma vez. — Sim.
— Bem, já que estamos em Chicago, que tal passear? Nunca viajei
antes.
Foi a única coisa que pude pensar em um curto espaço de tempo,
considerando que Val parecia como se ele não planejasse recuar. Eu
também posso me divertir um pouco com isso.
— Passeio turístico? — Ele ergueu uma sobrancelha para mim. — Não
há muito para ver aqui.
— Tem aquele lugar bem famoso cidade. — Eu não tinha certeza do
nome, mas me lembrava de vê-lo em filmes como — Para Sempre. — —
Tem uma aparência muito legal.
— Você quer dizer o Cloud Gate? Garanto, amor, não é muito
interessante. E basicamente um espelho. Se eu soubesse que você era tão
fácil de satisfazer, poderia simplesmente comprar um espelho para você,
sabe, — ele ofereceu.
— Eu nunca tinha visitado outra cidade antes. Eu nunca tive
permissão para sair. Eu gostaria disso muito mais do que jogar golfe, —
eu disse a ele, esperando que eu pudesse balançar a sua mente.
Embora ele não parecesse interessado em passar o dia em Chicago, ele
apenas revirou os olhos e me indicou o banheiro. — Vá se preparar,
então.
Tomei um banho e coloquei roupas apropriadas para o clima, ansiosa
para fazer algo agradável. O tempo todo, eu estava esperando que Val
mudasse de ideia, mas ele não mudou.
Tinha que haver algum problema aqui. Ele não faria algo de bom sem
motivo. Não fazia sentido para mim. Val não era o tipo de cara —
bonzinho.
Henrik seria nosso motorista hoje porque, aparentemente, Val estava
levando esse momento juntos muito a sério.
Ele se sentou na parte de trás do carro comigo, sua mão na minha
coxa o tempo todo em que estávamos indo em direção ao nosso destino.
— Quando você teve essa ideia de criar um vínculo? — Eu perguntei a
ele. Ainda parecia uma decisão repentina da parte dele, e se eu pudesse
obter respostas, pelo menos tentaria.
— Hoje de manhã, — ele respondeu instantaneamente, — Está claro
que nós não nos conectamos corretamente. E importante que sejamos
fortes.
— Eu sei tudo sobre você, tirando alguns detalhes, mas o que você
sabe sobre mim além do óbvio?
Ele estava certo, é claro. Mas Val não me disse nada que ele não
quisesse que eu soubesse também. Era inteligente - uma manipulação, na
verdade.
— Suponho que você esteja certo, — respondi baixinho.
Sabendo que Val não seria tão simples quanto parecia, eu me
preocupava com o que iria aprender e o quão pior ele poderia ser.
Eu poderia potencialmente aprender coisas que não gostaria de saber
sobre ele.
Henrik parou o carro e Val saiu primeiro, pegando a minha mão e me
guiando para fora. Quando saí, me senti feliz por poder ver outras
pessoas andando por aí, e ainda à luz do dia.
Foi bonito. Chicago era uma bela cidade.
Val falou com Henrik antes de seguirmos caminhando, e seu braço
envolveu a minha cintura novamente antes de me guiar rua abaixo.
— Então, você nunca viajou. Suponho que seja porque a sua mãe não
queria você fora de sua vista?
Eu balancei a cabeça lentamente, mas não tinha certeza da resposta.
— Eu suponho. E algo que sempre quis fazer, no entanto.
— E o que você acha de Chicago?
— Esplêndido. — Eu sorri um pouco.
Ele apenas balançou a cabeça, mantendo-se em silêncio enquanto
atravessávamos a rua, mas falando novamente um momento depois. —
Você sabe muito sobre a cidade, Elaina?
Eu balancei minha cabeça. Eu só conhecia alguns lugares famosos,
mas nada sobre a história.
Eu estava ansiosa para conhecer a cidade porque qualquer coisa era
melhor do que ficar em casa ou jogar golfe, mas quando se tratava de
conhecimento geral, eu não sabia de nada.
— Bem, Chicago é uma cidade altamente popular para o crime, — ele
sussurrou em meu ouvido. — Desde 1900 até o presente, é claro.
Curiosamente, muitas pessoas pensam que as máfias desapareceram há
muito tempo.
— Exceto a polícia. Eles estão muito conscientes, mas não têm provas.
Eu olhei para ele, sentindo como se ele estivesse tentando me
intimidar. — Você viveu aqui toda a sua vida?
Val acenou com a cabeça. — Sim.
— Você já se encrencou com a polícia?
— Muitas vezes. — Ele sorriu para mim. — Os policiais sabem quem
eu sou, querida. Mas eles não podem fazer nada se não encontrarem
evidências.
Provas... O seu porão ou a sala de tortura em seu quintal não seriam
provas suficientes de que ele era um monstro? Eles ao menos tentaram
obter um mandado para a sua casa?
Minha mente parecia estar em outro, mas esta poderia ser uma
oportunidade.
Se eu pudesse ficar do lado de Val para conseguir evidências, então de
alguma forma levar as evidências para a polícia, eu poderia dar o fora
dessa vida.
A ideia era maluca e parecia impossível. Eu sou tão estúpida que
cheguei a pensar que não deveria fazer isso. Mas pelo menos agora eu
tinha tido uma ideia, apenas em caso de necessidade extrema.
Era tudo ou nada. Se eu fosse pega, ele me mataria.
Capítulo 23
— Não, obrigada, — eu disse, me afastando de Val enquanto ele
tentava me fazer entrar no elevador que levava ao topo do convés. —
Prefiro ficar longe das alturas.
— Então, você tem medo de altura, — afirmou ele, sem me
questionar, embora parecesse intrigado.
— Não. Eu apenas prefiro não ficar em uma área alta, — expliquei
mais adiante.
Eu não tinha outra escolha. Ele era implacável. Talvez se eu
mantivesse meus olhos fechados o tempo todo, não seria tão ruim.
Mantendo meus olhos fechados, eu cuidadosamente dei um passo à
frente e, direção ao chão de vidro. Imaginei algo mais agradável, como
estar caminhando pelo Central Park ou algo não acima de uma cidade.
— Isso é medo. Ter medo não é uma boa qualidade. — Val balançou a
cabeça e pegou a minha mão. — Precisamos consertar isso.
Eu rejeitei a sua mão e dei um passo para trás. — Você não pode
simplesmente consertar os medos das pessoas... ou preferências.
Uma risada baixa retumbou de sua garganta, e ele começou a
caminhar até mim, colocando as mãos em meus quadris e olhando para
mim com aqueles olhos escuros e cativantes.
— Você pode sim, na verdade. Você força isso em alguém até que ela
se acostume e não tenha mais medo de coisas triviais.
— Isso é assustado... — Eu olhei para a saída e limpei a minha
garganta. — Vamos ver a coisa do Bean.
Ele agarrou meu braço e me puxou em direção ao elevador,
pressionando o botão. — A vista da cidade é linda aqui em cima. Você vai
gostar.
Tentei sacudir a cabeça, mas Val não aceitava não como resposta,
como de costume. A porta do elevador se abriu e eu fui puxada para
dentro, contra a minha vontade.
Isso não era bom. Alturas nunca foram a minha praia, e eu não
conseguia lidar com uma superfície alta. Val poderia tentar ser forte e
poderoso, mas enfrentar medos não funcionava com todos.
Ele estava usando as suas táticas de treinamento comigo, e eu não foi
criada dessa maneira. Eu não tinha nada para treinar.
Quando as portas do elevador se fecharam, Val olhou para mim com
as mãos atrás das costas. — As coisas vão mudar, Elaina.
— Você precisa ser dura agora, então vamos tirar todos esses medos
do caminho, ok?
— Eu... não é tão simples, — tentei.
— Claro, mas uma atitude como essa não vai levar você a lugar
nenhum. — Ele ergueu as sobrancelhas para mim.
— Agora, me diga - se alguém está esperando do lado de fora por nós e
atirar na minha cabeça, estou morto, então você está instantaneamente
por conta própria. O que você faria?
Eu congelei, sem saber o que faria naquela situação. Eu não tinha
pensado nisso. Eu não tive nenhum treinamento de defesa pessoal, então
não havia nada que eu pudesse fazer.
— Eu não sei. Eu tentaria fugir, eu acho.
— Agora, isso é simplesmente estúpido. Eles têm uma arma, Elaina.
Eles atirariam em você. Você acha que pode correr tão rápido? — Ele
balançou a cabeça e riu em descrença. — Como eu disse, as coisas estão
mudando.
As portas se abriram e seguimos para o convés superior. De longe,
pude ver o quão alto estávamos e comecei a sentir náuseas.
— Eu não posso. — Eu balancei minha cabeça.
Val me puxou pelo pulso e passou pelo funcionário. — Prefiro que o
façamos da forma mais simples. Aqui tem chão e paredes, Elaina. É o
primeiro passo. Não seja criança.
Ouvi alguém limpar a garganta e olhei para cima para ver o segurança
se aproximando de nós. — Senhor, não permitimos que as pessoas
entrem forçadamente. Se a senhora não quiser entrar, sugiro que a solte.
Toda a postura de Val mudou, e pude vê-lo ficar menos paciente e
mais zangado instantaneamente. Ele estava com a arma dele. Ele sempre
estava com a arma dele.
A última coisa que eu queria era outro cadáver em minhas mãos.
— Está tudo bem, — assegurei ao homem com um sorriso falso. — Ele
está apenas me dando um discurso estimulante. Estou muito bem.
— Tem certeza?
Eu balancei minha cabeça. — Sim. Absolutamente.
O homem simplesmente acenou com a cabeça e prosseguimos em
direção ao convés. Val agora estava claramente aborrecido, o que só
pioraria esse dia horrível.
Assim que alcançamos o convés, Val ficou atrás de mim para que eu
não pudesse recuar. Seu hálito quente podia ser sentido no meu pescoço,
e fechei os olhos enquanto ele sussurrava: — Saia...
— Olhe para mim, — Val declarou em um tom áspero, mas assim que
me virei para encará-lo, meu plano foi oficialmente pra o lixo. — Abra
seus malditos olhos. Você quer ter uma experiência? Está bem na sua
frente.
Eu não queria que ele tomasse as coisas em suas próprias mãos
novamente, então abri meus olhos e quase caí no chão de vidro quando
minhas pernas ficaram fracas debaixo de mim.
A cidade podia ser vista ao meu redor e abaixo de mim. Eu não tinha
certeza de quão alto eu estava, mas sabia que era muito alto.
As mãos de Val seguraram meus quadris e me apoiaram, mantendo-
me de pé. Ele me levou até a parede de vidro mais distante e falou
comigo enquanto olhávamos para a cidade.
— Os inimigos se alimentam dos seus medos, Elaina. Eles descobrem
coisas sobre você e as usam contra você
Meu coração estava batendo forte no meu peito, eu estava certa de
que eu ia desmaiar antes que ele terminasse de explicar. Certamente
havia uma maneira melhor de fazer isso do que me forçar a essa situação.
— Se você fosse meu inimigo e eu descobrisse esse medo de altura, eu
a levaria a um depósito e a penduraria de cabeça para baixo pelos pés
cerca de trinta metros no ar, — disse ele em meu ouvido.
Seu tom era baixo e de gelar os ossos.
— Pelos pés? — Eu estremeci.
Ele acenou com a cabeça. — Sim... Então, o sangue subiria para a sua
cabeça e causaria pressão.
Meus olhos se arregalaram. Puta merda.
— Vamos, prefiro tirar você daqui antes que vomite nos meus sapatos,
— disse ele casualmente antes de me conduzir para fora do convés.
Era verdade. Eu estava quase vomitando, mas vomitei. Agora, eu
estava muito focada em ser pendurada de cabeça para baixo pelos meus
pés.
Os pensamentos que passavam por sua cabeça eram demais para uma
pessoa normal entender.
Eu estava hesitante em ir a qualquer lugar com ele pelo resto do dia,
mas nós caminhamos até o Cloud Gate, que era onde eu originalmente
queria ir, sem necessidade de encarra as alturas.
— É incrível. — Olhei para o Bean, vendo o reflexo dos prédios da
maneira mais linda que eu poderia imaginar. Foi indescritível.
Val estava completamente desinteressado, apenas encolhendo os
ombros. — Um pedaço de metal jogado no centro da cidade.
Eu olhei para ele e suspirei. — Quando foi a última vez que você
realmente se divertiu?
Ele respondeu instantaneamente. — Hoje de manhã.
— Fazendo coisas normais. — Eu reafirmei minha pergunta. — O que
você faz não é normal.
— É o meu normal e também é o que mantém você segura, então, em
vez de reclamar, sugiro que você aprecie, — ele retrucou para mim.
Eu virei a minha cabeça e olhei para o Cloud Gate.
As pessoas sorriam e tiravam fotos com seus entes queridos. Parecia
um lugar tão feliz de se estar, e eu estava aqui com a pessoa mais odiosa
que já conheci em minha vida.
A minha vida nunca mais seria como a das pessoas que atualmente me
cercam. Nenhuma risada ou alegria genuína; eu tinha que seguir um
cronograma e regras.
Quando meus olhos encontraram os de Val novamente, decidi que
estava pronta para ir. — Podemos ir para casa? Estou ficando cansada.
Suas sobrancelhas se ergueram. — Você não quer almoçar primeiro?
Eu balancei a minha cabeça. — Vou pegar algo na cozinha de casa.
— Como quiser, — Val respondeu antes de pegar a minha mão e me
guiar para longe da multidão. — Henrik está esperando a alguns
quarteirões de distância. Mandei uma mensagem para ele.
Eu apenas balancei a cabeça e o segui.
Os olhos de Val olharam ao redor enquanto caminhávamos, seu braço
me puxando para mais perto dele. Ele parecia mais sombrio do que
normalmente era, o que eu nem sabia que isso era possível.
— O que deu em você?
— Shh. — Ele me silenciou instantaneamente e continuou andando,
me mantendo contra ele. Ele falou baixo. — Não olhe - alguém está nos
seguindo. Precisamos chegar a Henrik.
Olhei por cima do ombro e os dedos de Val agarraram minha lateral.
— Ai!
— Eu disse para não olhar. Jesus.
— Desculpa... — Senti-me apressada enquanto Val caminhava
rapidamente pela calçada. Eu não tinha ideia se alguém apontaria uma
arma para nós ou nos atacaria. Val não disse muito a não ser que alguém
estava nos seguindo.
Parecia que estávamos indo muito mais longe do que apenas alguns
quarteirões de distância. Meus pés começaram a doer e, de repente, Val
virou em uma rua vazia que tinha um beco sem saída.
Henrik não estava esperando, mas Val parou e me soltou, tirando a
arma do coldre.
— Fique contra a parede, — ele me disse em um tom abafado. — Eu
juro por Deus, Elaina. Não se mova.
A minha boca se abriu, mas consegui acenar com a cabeça quando ele
virou para a esquina da rua com sua arma na mão, pronto para atirar em
quem quer que aparecesse na esquina atrás de nós.
— Abaixe a arma, Valentino, — uma voz familiar disse quando um
homem dobrou a esquina.
Reconheci a voz, mas não tinha visto o rosto até agora. Era o homem
do banheiro. O homem conspirando contra Val.
Val enrijeceu, claramente infeliz por ver o homem parado diante de
nós. — Coilin. Eu sugiro que você dê alguns passos para trás.
— Ah, tão temperamental, né? — Coilin sorriu, sem se deixar
perturbar por Val. Não havia muitas pessoas que Val não pudesse
assustar, o que me deixou ainda mais intimidada por este homem.
— Eu só queria conhecer a sua querida esposa. Elaina, não é?
Seus olhos encontraram os meus e eu pude ver a frieza que o encheu.
Olhei para Val, que agora estava cheio de ódio. Lembrei-me de Gianna
me contando sobre o passado de Val com os irlandeses.
Ele deveria se casar com a filha de Coilin, mas eles estavam
trabalhando contra os Acerbis.
— Ela é deslumbrante, Valentino. Se ao menos Vadim tivesse feito
uma proposta para mim, — Coilin suspirou, dando um passo em minha
direção, mas Val interveio pressionando a arma contra o peito de Coilin.
— Fique longe da minha esposa, — disse ele com uma voz
surpreendentemente calma.
Este homem parecia ser profissional em insultos. Ele apenas riu, e Val
não gostava de ouvir a risada das pessoas.
— Reivindicando o que é seu, eu vejo. Isso é justo. Se ela fosse a minha
cadelinha, eu também faria isso. — Eu podia ver seus olhos explorando o
meu corpo, sua língua movendo-se lentamente sobre seus lábios
imundos, e me senti tão desconfortável.
— A oferta ainda está de pé, se você enxergar além de nossas
diferenças, Valentino. — Coilin sorriu para Val antes de olhar para mim.
— Se você algum dia sentir vontade de desistir desta joia, terei o
prazer de fazer um acordo e te dar a mão de Keela em casamento.
— Isso é altamente improvável, — Val respondeu, — Agora, minha
esposa e eu vamos embora. Eu sugiro que você nos deixe em paz, sem
reclamações. Não há necessidade de ninguém se machucar.
Coilin simplesmente ergueu as mãos em defesa. — Nenhum dano
pretendido. No entanto, gostaria de ter uma reunião em algum momento
com você, sobre negócios.
— Você vai ter que falar com meu pai sobre isso.
— Eu gostaria de falar com o futuro capo, — Coilin respondeu.
Parecia que ele estava provocando Val, mas Val não se mexeu.
— Meu pai é o atual chefe. Até que esse papel seja dado a mim, todas
as decisões passam por ele.
Presumi que tudo o que Val disse já deveria ser conhecido por Coilin,
mas talvez outras máfias tivessem suas próprias regras, porque ele parecia
muito mais descuidado.
Val não demorou a me puxar com ele e para longe de Coilin quando
saímos da rua tranquila.
Estava claro que aquele homem poderia causar problemas, e saber que
alguém próximo a Val estava trabalhando com ele pelas costas de Val
tomava a situação muito mais assustadora para mim.
Coilin sabia coisas sobre nós que não deveria, e eu estava disposta a
apostar que ele só sabia onde estávamos naquele exato momento porque
alguém disse a ele.
Capítulo 24
ELAINA

Val ficou em silêncio durante todo o caminho para casa. Seu


comportamento era intimidante e decidi que era melhor não falar com
ele.
Parecia que Henrik estava dirigindo muito mais devagar, mas eu sabia
que era apenas a minha mente querendo desesperadamente sair deste
veículo.
A mão de Val estava em seu queixo, coçando a barba por fazer, mas
seus olhos estavam frios do que quer que estivesse acontecendo naquela
maldita mente.
O que quer que ele estivesse pensando, o deixava em um estado
mortal, e eu queria sair dali.
Assim que Henrik estacionou o carro, abri a porta e saí, mas de
alguma forma Val já estava parado na minha frente.
— Por que você está sempre com tanta pressa?
— Estou cansada, — menti.
— Bem, você vai precisar ficar acordada por mais um tempo. Temos
coisas para discutir, — afirmou, enquanto se dirigia para a porta que
ligava a garagem à casa.
Eu relutantemente o segui, sem saber o que diabos ele tinha para
discutir comigo. Eu não sabia nada sobre essa vida sem sentido, mas aqui
estava eu, sendo forçada a discutir coisas que não entendia.
Val manteve um ritmo rápido enquanto caminhava direto para seu
escritório, o que imediatamente me fez sentir mal, mas eu o segui e ele
apontou para a porta.
— Feche a porta, amore.
Quando fechei a porta, olhei para Val e ele estava parado de costas
para mim, olhando para uma foto na parede. Um jovem com um olhar
severo.
Era um retrato profissional que parecia assustador, algo que você veria
em um filme de terror. Devo falar ou apenas ficar lá enquanto ele
examinava a imagem?
— Alguém disse ao Coilin onde estávamos, — ele disse de repente, se
afastando da foto e olhando para mim.
— Alguém em quem sou estúpido o suficiente para confiar está
entrando em contato com ele e contando todos os meus movimentos. O
que significa que ele conhece meus planos...
— Seus planos? — Eu perguntei a ele.
— Para matá-lo, — ele respondeu casualmente. — Eu preciso acabar
com ele o quanto antes, mas há alguém de dentro contando tudo a ele.
— Veja, Elaina, houve meses de planejamento até o momento exato
em que fizemos um ataque, e eu seria estúpido se caminhasse para esse
tipo de perigo agora que ele tem informações privilegiadas.
Era verdade - ele e eu obviamente tínhamos o mesmo pensamento em
mente que alguém disse a Coilin sobre onde estávamos esta noite.
— Como você vai descobrir quem é? — Eu perguntei a ele.
A pergunta parecia estressá-lo, seus dedos agarrando seu cabelo preto
e espesso. — Eu não sei, porra. Mas você não deve falar com ninguém
sobre informações pessoais. Estamos entendidos?
Ele era ridículo em me dar instruções que não se aplicavam a mim. Eu
não sabia nada sobre seus planos de negócios, mas a única coisa que pude
fazer foi acenar para que ele soubesse que eu entendia seu ponto.
— Você pode sair agora. Tenho uma ligação importante a fazer, — ele
me disse, acenando para mim, e imediatamente, eu soube que ele estava
no modo de negócios.
Eu podia ouvir o início de seu telefonema enquanto saía de seu
escritório. — Ciao Padre.
Tradução: Olá, pai.
Fechei a porta do escritório e pude sentir a minha ansiedade
aumentando, sabendo que alguém na casa estava trabalhando contra Val.
Mesmo que eu não fosse a maior ã de Val, eu era a sua esposa, e isso
me tomava um alvo. Se eles estavam contra ele, estavam contra mim.
Isso me apavorou.
— Elaina! — Rafe sorriu ao sair da sala de estar. — Eu pensei ter
ouvido você e Val entrando. Ele está por aí?
— No escritório, — respondi secamente antes de caminhar em direção
às escadas, mas Rafe me parou novamente.
— Eu não tive a chance de me desculpar.
Suas palavras me surpreenderam. Parei no meio da escada e me virei
para olhar para ele com uma sobrancelha ligeiramente arqueada. — Se
desculpar?
Pude ver que Rafe estava olhando na direção do escritório de Val para
se certificar de que não estava por perto antes de seguir em frente para
que eu pudesse ouvi-lo.
— Quando ele trancou você por duas semanas... Lamento que você
tenha passado por isso. Embora eu saiba que você é uma boa pessoa,
espero que entenda quando digo que eu, uh...
Não pude fazer nada para mudar o resultado.
Eu consegui dar um sorriso triste com suas palavras. Ele era tão
genuíno e parecia tão magoado por não ser capaz de me ajudar, mas ele
não podia ir contra o seu chefe.
— Está tudo bem... eu entendo, Rafe.
Eu não tinha mais nada a dizer. Eu me virei e subi as escadas, indo
direto para o quarto. Este dia tinha sido exaustivo e tudo em que eu
conseguia pensar era em dormir.
Decidi que qualquer tipo de vínculo com Val sempre seria uma má
ideia. Ele sempre faria isso ser sobre os negócios, ou iria estragá-lo de
alguma forma.
Depois de passar o dia sozinha, percebi que não queria colocar os pés
fora de casa se isso significasse que ele estaria me forçando a situações
bizarras, como fez hoje.
Não existia isso de passar tempo agradável com o Val.
Eu mal consegui abrir os olhos na manhã seguinte e já sabia que seria
outro dia sério.
Val estava fora da cama quando acordei e, quando me preparei, desci
para o andar principal da casa, pude ouvir mais discussões italianas
ocorrendo na sala de jantar.
Não havia nenhum indício de inglês na discussão, então eu não tinha
ideia do que estava acontecendo, mas quando me aproximei da porta da
sala de jantar, algumas pessoas apareceram.
Marco, sentado ao lado de Stefano em um lado da mesa, enquanto Val
e Gustavo estavam de costas para mim.
— Forse è proprio il tuo problema proprio li, — Marco disse enquanto
acenava com a mão em minha direção na porta. Eu não tinha ideia do
que ele queria dizer, mas entendi o que significava um — problema.
Tradução: Talvez esse seja o seu problema.
Val se virou em sua cadeira para olhar para mim e suspirou
pesadamente antes de olhar para seu pai. — Non ho preoccupazioni per la
sua lealtà, padre.
Tradução: Não tenho preocupações com a lealdade dela, pai.
Ele olhou para trás em minha direção novamente antes de acenar para
eu entrar. — Venha aqui, Elaina. Na verdade, gostaria que você
participasse desta conversa.
De repente, me senti desconfortável, mas obedeci quando entrei na
sala de jantar e me sentei do outro lado de Val, sob o olhar humilhante de
Marco.
— Estávamos discutindo sobre o rato que temos na casa, — Val
começou a me explicar, passando o braço sobre as costas da minha
cadeira e em volta dos meus ombros.
— Você poderia explicar a todos o que ouviu naquela noite no
banheiro?
Ele me colocou na mira, mas eu entendi por quê. Até agora, eu era a
única que tinha ouvido o boato diretamente. Essa bagunça começou por
causa do que eu ouvi.
Claro que eu tinha que contar a Val. Não era algo que eu pudesse
guardar para mim mesma.
— Vamos? Fale, garota, — Marco disse impaciente.
— Eu, uh... — Engoli em seco, sentindo-me extremamente intimidada
por Marco. Eu não tinha percebido que era possível ficar mais assustada
com alguém que não fosse Val, mas seu pai definitivamente conseguia
isso.
Fiquei surpresa ao sentir um beijo suave na minha cabeça e as palavras
gentis de Val. — Está tudo bem, vá com calma.
O que diabos estava acontecendo? Ele parecia paciente e gentil. Era
tão difícil entender esse homem.
Eu mantive meus olhos na mesa enquanto falava. — Eu estava no
banheiro feminino quando duas pessoas entraram. Elas tinham um forte
sotaque irlandês.
— Então eles começaram a falar sobre como eles tinham alguém de
dentro dando-lhes informações sobre os Acerbis.
Stefano se inclinou ligeiramente para a frente, parecendo
genuinamente preocupado com essa informação. — Eles não viram você?
Eu balancei minha cabeça. — Não... eu estava em uma cabine e, antes
que abrissem, o tiroteio começou no corredor principal.
— Você conseguiu ouvir os nomes? — Gustavo questionou.
— O homem se referiu à garota como 'Keela'. Ela só o chamou de pai,
— respondi.
Val deu a seu pai um olhar astuto. — A vadia com quem você tentou
me casar. Alguém nesta maldita casa está falando com eles pelas nossas
costas e, assim que eu descobrir quem é, vou matá-los.
— Lentamente e dolorosamente, meu menino, — acrescentou Marco.
Eu olhei para Val. Seu peito arfava de raiva e percebi que sua mão
estava fechada em punho. Ele já estava pronto para matar alguém, mas
eu tinha certeza de que ele sabia que encontrar o rato não seria tão
simples.
— Você não pode viajar...
Sua testa franziu quando ele olhou para mim. — Do que você está
falando?
— Eles disseram algo sobre ter segurança limitada quando você viaja?
— Eu pedi a ele para confirmar. — Disseram que você e seu pai estão
saindo da cidade para cobrar dívidas não pagas em breve...
— No próximo mês..., — Val falou, sabendo exatamente quando eles
deveriam ir.
Seu pai parecia com a mesma raiva, levantando-se da cadeira e
chutando-a atrás de si enquanto ele saía furioso da sala de jantar.
— Como diabos vamos pagar as nossas dívidas se alguém está nos
fodendo? — Gustavo resmungou em tom agitado. — Há dezenas de
pessoas aqui. Não vamos descobrir quem é.
Gustavo tinha razão: havia pelo menos trinta homens na segurança
além dos homens próximos de Val - Stefano, Gustavo, Rafe e Diego.
Havia vários outros que eu nem sabia os nomes ou nem sequer
conhecia formalmente. Depois, havia os motoristas Henrik, junto com
cerca de quinze outros.
Parecia impossível encontrar um rato no meio de uma multidão tão
grande, como uma agulha em um palheiro.
— Eu garanto a você que a pessoa nesta casa que vai morrer não serei
eu, — Val respondeu casualmente antes de se levantar de sua cadeira e
pegar a minha mão. — Você vem comigo.
O que eu queria dizer era: — Oh Deus, eu preciso mesmo? — Mas o
que eu realmente disse foi: — Tudo bem.
Ele me levou para fora da sala de jantar, e pegamos um caminho
diferente do normal, indo em direção ao quintal. Foi revigorante tomar
um pouco de ar depois da conversa tensa lá dentro.
— Todos que estavam na sala - eles são os únicos em quem confio cem
por cento, — Val disse de repente antes de olhar para mim.
— Meu pai e meu irmão, somos de sangue. Isso é fato, e o Gustavo
poderia muito bem ser do meu sangue.
Eu não tinha certeza sobre o Gustavo; parecia que ele tinha um
dinamite enfiado na bunda que estava prestes a explodir a qualquer
minuto.
— E quanto a mim? — Eu não pude deixar de perguntar. Não era
segredo que só nos casamos por causa de um acordo que havia sido
fechado, então ele não tinha motivos para confiar em mim.
A sua resposta me surpreendeu. — Eu confio em você. Você não teria
me contado o que ouviu se estivesse escondendo algo, não é?
Eu balancei minha cabeça rapidamente. — Claro. Eu não deixaria você
entrar em perigo se eu pudesse evitar o pior.
— E por quê?
— O que você quer dizer?
— Eu fiz coisas terríveis. Eu não sou uma boa pessoa. — Ele ficou na
minha frente e segurou meu rosto com as mãos.
— Para você, especialmente, não sou um bom homem. No entanto,
você me avisou sobre algo que poderia ser uma grande virada de jogo.
Suas palavras me calaram quando ele terminou.
Não havia nada de errado no que ele me disse, mas embora eu tivesse
considerado armar para ele ontem, quando se tratava de assassinato, eu
não tive coragem de ser responsável pela morte de alguém.
Independentemente de ser de Val ou não.
Eu olhei para ele, sem saber como eu poderia responder. Até a verdade
parecia demais agora.
Não tínhamos um relacionamento real; era exatamente o tipo de
pessoa que eu era que me deu um motivo para contar a Val a verdade.
— Eu simplesmente não seria capaz de deixar de lhe contar uma
informação que poderia te matar, — eu finalmente disse a ele. — Isso me
tomaria parcialmente responsável.
Val riu, desviando o olhar enquanto ele ria. — Deus te livre de ser
responsável por saber sobre a morte de alguém...
— Você sabe que não sou como você, — respondi baixinho.
— Eu sei muito bem, amor, — ele me disse assim que olhou para mim.
— Eu admiro isso em você - a inocência, quero dizer.
— Claro, eu gostaria que você pudesse se segurar, mas gosto de sentir
essa doçura.
— Doçura? — Eu questionei, segurando uma risadinha.
— Eu já suportei muitas mulheres amargas na minha vida. Eu não
preciso mais disso, — Ele estava olhando para mim como se estivesse
bem à vontade - algo que eu nunca tinha visto nele, especialmente em
um momento como este.
Na verdade, agora era o momento em que ele deveria estar estressado.
Quando notei que ele estava se inclinando, eu sabia que ele estava
vindo para um beijo, e pela primeira vez desde que estávamos juntos e eu
estava sóbria, uma vez que seus lábios tocaram os meus, eu
voluntariamente o beijei de volta.
Algo dentro de mim parecia que precisava do carinho dele, mesmo
que fosse apenas um beijo e de alguém tão odioso quanto Val.
Eu precisava sentir afeto de alguma forma, então retribuir parecia
fácil. Até natural.
Assim que Val se afastou, ele olhou para mim e pude ver as
engrenagens girando em sua cabeça. Isso era algo que eu odiava.
Eu não queria saber o que ele estava pensando porque nunca soube o
que esperar dele. A última coisa que eu queria era que ele arruinasse um
momento aparentemente decente - uma ocorrência rara aqui.
Mas ele fez.
Ele colocou meu cabelo atrás da orelha. — Você vai nos ajudar a
descobrir quem é o rato.
— O quê? — Eu cuspi em um tom chocado. De jeito nenhum eu seria
capaz, considerando que mal falei com ninguém na casa.
— Não... eu não estou confortável com isso. Eles estão dentro da casa.
Eles saberão.
— Você não vai falar com o rato, amor. Você vai falar com os
irlandeses já que Coilin gosta tanto de você, — Val acrescentou, voltando
ao seu tom de negócios enquanto dava um passo para trás.
Todo sinal de afeto deixou seu corpo, o que me deu outra razão para
acreditar que ele era bipolar.
— Você está me usando como isca? — Eu perguntei a ele, chocada
com essa ideia, mas também apavorada com o que poderia ser o
resultado. Havia uma grande possibilidade de não ser nada bom.
Val simplesmente me dispensou. — Não seja ridícula. Isca é uma
palavra absurda de se usar. Eu vou estar de olho, então você não precisa
se preocupar.
Frustrada, corri meus dedos pelo meu cabelo enquanto Val se dirigia
para a casa. — Eu não tenho nenhuma palavra a dizer sobre isso?
— Você é a minha esposa, Elaina, — foi a sua resposta, como se essa
fosse a maneira de me dizer não.
Eu não tive uma palavra a dizer se eu queria ser a isca para obter
informações dos italianos. Eu estava longe de me sentir confortável com
isso, mas foi rapidamente forçada a isso.
Encontrar Coilin pela primeira vez cara a cara seria de longe uma das
experiências mais intimidantes da minha vida, e eu esperava que Val
tivesse sido mais protetor.
Mas eu não deveria ter me iludido.
Capítulo 25
ELAINA

O despertador marcava 2h32 da madrugada e eu ainda não tinha


adormecido. Eu estava deitada na cama pensando em todas as maneiras
possíveis pelas quais esse plano de Val poderia dar errado.
Parecia extremamente imprudente da parte dele e era diferente de
tudo que eu o tinha visto fazer antes. Ele sempre pareceu ser cauteloso, o
que me fez acreditar que não foi ideia dele me jogar no meio da fogueira.
Ele disse várias vezes antes que eu não estaria envolvida, mas agora, eu
seria uma grande parte da confusão.
Minha mente vagou para Marco, e não pude deixar de sentir que ele
era o responsável. Mesmo se ele sugerisse isso, eu não tinha certeza de
por que o Val cederia tão facilmente.
Fiquei inquieta ao pensar no que estava por vir. Enfrentar os
irlandeses sozinha, eu não estaria protegida - eles não tinham ideia do
tipo de perigo que estavam enfrentando.
— Você não está nem um pouco cansada? — Val murmurou, seus
olhos ainda fechados.
Sua voz me despertou e eu vacilei um pouco, sussurrando: — Você
está acordado?
— Não consigo dormir sabendo que você está acordada e
possivelmente pensando em maneiras de me matar enquanto durmo...
Então, sim. Estou acordado, — ele comentou, seu tom não estava
brincando nem um pouco.
Segurei os cobertores sobre meu corpo nu enquanto me virei para
encará-lo, olhando para ele e me perguntando se conversar com ele sobre
isso faria diferença. — Eu estou preocupada.
Depois de um momento, os olhos de Val se abriram e ele parecia
entediado. - Elaina, eu não a jogaria no fogo se não tivesse intenção de
protegê-la. Eu nem tenho um filho ainda.
Eu fiz uma careta, caindo de costas e me sentindo completamente
derrotada. — Isso é tudo para você? Me usar para ter filhos, e depois? Eu
sou descartável?
Ele apenas gemeu de frustração, e eu podia senti-lo se movendo na
cama. Quando percebi, ele estava pairando sobre mim.
— É muito mais do que apenas crianças. Claro, ter filhos é uma parte
importante desta família - você sabe disso - mas você também sabe como
levo o casamento a sério.
— Você é teimosa e difícil, mas você é a minha esposa e eu vou cuidar
de você.
— Só não tenho certeza de que tudo isso seja uma boa ideia, — admiti,
olhando diretamente para ele enquanto falava. — Não é do seu feitio ser
imprudente com uma decisão como essa, Val.
Notei que a sua mandíbula se contraiu e ele não respondeu
imediatamente, mas quando o fez, percebi que, mais uma vez, eu havia
ultrapassado os limites.
— Você não tem o direito de me questionar. Você ao menos entende
como isso é sério? A única opção que temos é conseguir alguém de
confiança do lado de dentro para descobrir quem está agindo pelas
nossas costas.
Eu abri a minha boca para falar, mas em vez disso virei minha cabeça
novamente para longe dele. Era impossível convencê-lo quando ele já
estava decidido.
— Vá dormir. Discutiremos mais planos pela manhã, — foi tudo o que
ele disse antes de sair de cima de mim e deitar de lado.
Eu podia ver apenas as sombras das cicatrizes em suas costas por
causa da escuridão que nos cercava, mas isso me lembrou da pessoa
cautelosa que ele era.
Ele sabia porque já tinha passado por tudo isso antes.
Em algum lugar dentro de mim, eu precisava encontrar confiança
nele, mas tudo isso era assustador. Eu não podia simplesmente
adormecer, não com todos os pensamentos passando pela minha cabeça.
Nada se acalmaria até que Val descobrisse quem era o rato da casa,
mas até então, tudo estava desordenado.
Sentei-me com Gianna no quintal. Depois de não ter dormido muito
na noite anterior, isso tinha causado danos físicos em mim e eu estava
exausta.
— Eu não acho que você deveria fazer isso, — Gianna comentou
depois que eu disse a ela quais eram as intenções de Val. Ela entendeu
por que eu estava desconfortável e, ao contrário de Val, ela estava do meu
lado, o que era bom.
— É perigoso ficar perto dessas pessoas, Elaina. Ele é um idiota por
sugerir isso.
Eu só pude encolher os ombros e olhar para baixo. — Eu não tenho
escolha. Eu sou a esposa dele.
— E essa a desculpa que ele está usando? — ela disse. — O que diabos
isso significa? Você é a esposa dele, então você deve se curvar e fazer tudo
o que ele disser?
Nada a ver. Os irlandeses são perigosos.
Estremeci só de lembrar do Coilin. — Tivemos um desentendimento
com Coilin e ele definitivamente me assustou.
— Espere até você conhecer a Keela. Eu juro que ela é como o boneco
assassino depois de usar drogas, — Gianna revirou os olhos e recostou-se
no banco.
— Vou falar com o Stefano. Eles precisam de um plano melhor. Isso é
demais para você.
— Não... Não faça isso. Val deixar o Val com tanta raiva, — eu disse a
ela rapidamente.
Eu dei a ela um sorriso gentil e soltei um suspiro de relaxamento.
— Não vamos falar sobre isso. É muito estressante e, para ser honesta,
já pensei o suficiente sobre isso na noite passada.
Gianna me deu um sorriso simpático antes de colocar a mão no meu
ombro e balançar a cabeça concordando em deixar a conversa morrer,
felizmente.
Tive a sorte de ter pelo menos uma amiga aqui com quem eu pudesse
conversar, e não apenas criminosos que só se importavam com sexo e
assassinato.
— Então, como está o bebê? — Eu perguntei, ansiosa para ouvir os
últimos avanços da gravidez de Gianna.
Ela riu suavemente e deu de ombros, levemente. — Com fome o
tempo todo. Stefano insiste em que seja um menino, mas ainda não
tenho certeza. Algo está me dizendo que temos uma garota vindo.
Eu me perguntei como Stefano se sentia por ter uma filha. Eu sabia
que Val era muito claro sobre querer um filho porque precisava de um
menino para passar o nome da família porque era o filho mais velho.
Stefano não tinha esse tipo de pressão, mas isso não significava
necessariamente que ele não queria um menino mais do que uma
menina ou vice-versa.
— Como Stefano se sente sobre ter uma garota? — Eu perguntei
abertamente.
— Ele está emocionado de qualquer maneira, — Gianna respondeu
com um grande sorriso no rosto. Eu não tinha certeza se já a tinha visto
tão feliz antes. Eu tinha certeza de que um bom relacionamento era
capaz de trazer essa felicidade.
Eu olhei para ele e inclinei a cabeça. Ele devia estar brincando se não
conseguia ver a diferença significativa entre ele e Gianna. — Bem,
primeiro, ela é boa para mim. Segundo...
Val ergueu a mão para me impedir de continuar, o que provou meu
primeiro ponto perfeitamente. — Eu não preciso de razões, Elaina.
Talvez o fato de vocês serem duas pirralhas mimadas explique isso.
— Isso não é uma coisa legal para se dizer sobre a mão da sua sobrinha
ou sobrinho, — Gianna provocou Val de propósito, colocando as mãos
em sua barriga atualmente lisa.
Pareceu funcionar porque ele rapidamente agarrou meu braço. —
Temos coisas para fazer.
Seu aperto em meu braço era forte enquanto ele me puxava de volta
para a casa, e eu sabia que estávamos indo para o seu escritório. Ele falava
sério.
Tentei puxar o meu braço várias vezes, mas ele simplesmente não o
soltou - não até que estivéssemos em seu escritório com a porta fechada.
Assim que ele me soltou, eu imediatamente trouxe meu pulso para o
meu peito e o esfreguei suavemente, percebendo as impressões digitais
que eram visíveis por seu aperto firme.
— O que há de errado com você? Eu estava vindo! Você não precisava
ser tão grosso...
— Eu não gosto do seu relacionamento com a Gianna, honestamente,
— ele começou, mas antes que eu pudesse responder, ele se virou para
mim e sua mandíbula se apertou.
— Eu já disse várias vezes sobre me respeitar. Isso não era respeito lá
fora.
Instantaneamente, minha mente foi para o castigo. Ele ia me
machucar de novo e eu não tinha forças para lidar com isso agora.
Eu já estava tão abalada que se ele me punisse de novo, eu não tinha
certeza do que faria.
Meus olhos se moveram para suas mãos, que estavam se fechando em
punhos, mas se soltando e continuando o mesmo movimento várias
vezes.
Foi quase como se ele estivesse contemplando seus próprios
pensamentos por um momento.
— O que você quer, Elaina? — ele me perguntou de repente.
— Como assim?
— Estou tentando aqui. O que eu quero fazer é prender você contra a
parede e gritar as regras na sua cara, mas, aparentemente, isso não
funciona com você, — ele declarou em um tom claro, mas áspero.
— Eu castiguei você por duas semanas, derramei cera quente em você,
dei um tapa em você e isso só fez você ficar com medo por alguns dias. O
que eu tenho que fazer para você me respeitar?
Respeito? Isso era sobre respeito? Ele realmente esperava que o abuso
o fizesse ganhar algum respeito de mim, mas ele estava bem longe de
conseguir.
Essa era a última coisa que faria eu ter respeito por ele. Isso e aquele
fato que ele tirou minha virgindade sem permissão, mas isso não era algo
que pudesse ser devolvido para mim.
Eu nem tinha certeza se algum dia eu poderia ter respeito por Val. Ele
fez tanto e foi tão longe com as coisas que eu não poderia imaginar ter
respeito por alguém como ele.
— Não é tão simples assim, — eu consegui dizer, mantendo meus
olhos em qualquer outro lugar, menos nele.
— Claro que é! — Sua voz ficou mais alta quando ele se aproximou de
mim e ergueu meu queixo, me forçando a olhar para ele. — Você não
gosta que eu mate pessoas, mas isso não vai mudar, amor.
— Eu sou um assassino, e isso mantém um teto sobre a sua cabeça e o
seu coração batendo. Existem outras coisas que posso fazer para te deixar
feliz, no entanto, você só precisa me dizer o que deseja.
Pisquei rapidamente para tentar evitar que meus olhos mostrassem
todo o nervosismo que estava sentindo, mas parecia impossível.
Meu coração estava disparado e eu estava preocupada que ele fosse
ouvir, porque de alguma forma, Val sabia de tudo.
— Eu só... eu quero minha vida antiga. Eu quero estar em casa e quero
companhia.
Não quero ficar com medo o tempo todo.
— Porque você está assustada? Eu disse que iria protegê-la. Você não
entende? — Ele ergueu o paletó para me mostrar a arma e eu senti a
minha respiração ficar presa na garganta.
— Eu não erro um tiro desde que eu tinha doze anos. Acredite em
mim quando eu te disser, eu te protegerei. Existem centenas de armas
nesta casa das quais você não tem ideia.
Embora ele estivesse tentando ser reconfortante, não ajudou. Ele não
percebeu que as armas e a violência eram um dos grandes problemas
aqui. Eles eram um grande problema para explicar por que eu estava com
medo.
— Não tenho certeza se foi assim que você foi criada, mas...
— Elaina, é hora de você perceber que o Vadim te fodeu. Ele não a
preparou para isso.
— Em vez disso, ele e sua mãe fizeram você a acreditar que a sua vida
era normal por dezoito anos, em vez de deixar você saber o que iria
acontecer.
Ele foi cruel e direto ao ponto com as suas palavras, mas era
exatamente o que eu precisava ouvir. A verdade.
— Esta vida esteve esperando por você o tempo todo, e agora olhe
para você. Você parece um cachorrinho assustado.
É
— É ridículo, e para ser honesto, eu não deveria ter que treinar você,
mas agora você é minha responsabilidade porque Vadim abandonou a
dele quando fodeu a sua mãe.
Fiquei paralisada até o momento em que ele começou a falar tão
terrivelmente sobre a minha mãe. Independentemente do que ela fez, ela
ainda era a minha mãe e me amava.
Minha vida inteira, foi ela quem me sustentou.
— Não fale sobre ela assim.
— Você não me diz o que eu posso ou não falar, — ele retrucou,
apontando o dedo para mim enquanto seus olhos se estreitaram. —
Outro problema que temos - aprender quando manter a boca fechada.
— Esse controle que você tem - isso não é normal! Você não pode
esperar que eu nunca fale com você. Casais discutem coisas, — tentei
falar com ele.
— Você não fala comigo. E assim mesmo.
Sentindo-me ousada, balancei minha cabeça e silenciosamente
respondi a ele: — Você não pode decidir isso.
Eu poderia dizer pelo olhar em seu rosto que ele não esperava a
resposta que recebeu de mim, embora ele lidasse com isso de uma
maneira muito típica de Val.
— Saia.
Eu dei a ele um olhar perplexo, sem saber se eu realmente o ouvi
corretamente. O que ouvi e o que esperava foram duas coisas muito
diferentes. — Espera, o quê?
— Dê o fora antes que eu faça algo de que vou me arrepender.
Eu tomei isso como um aviso, e ele não precisou me dizer novamente.
Eu apenas balancei a cabeça e me afastei dele, indo em direção à porta do
escritório.
Ao abrir a porta, saí para o corredor e a última coisa que esperava
aconteceu.
Um som alto de batida que resultou em uma dor terrível.
Foi quando percebi que ele havia atirado em mim.
Capítulo 26
ELAINA

Eu caí no chão instantaneamente, segurando a minha perna e


gritando de dor. Eu podia sentir o sangue nas pontas dos meus dedos
enquanto meu corpo inteiro queimava.
Quando consegui olhar por cima do ombro, percebi que Val estava
encostado casualmente em sua mesa e me olhando com os braços
cruzados sobre o peito.
— Você... você atirou em mim!
Ele revirou os olhos em resposta. — Você está exagerando de novo.
A arma estava em sua mão. Uma espingarda de prata simples. Que
tipo de arma era, eu não tinha ideia, mas era a que ele havia me mostrado
segundos antes em seu coldre.
Quando ele a guardou, ele começou a dar um passo em minha
direção, mas eu comecei a recuar contra a parede do corredor.
Passos foram ouvidos e Stefano saiu da outra sala. — O que diabos
aconteceu?
Quando ele notou Val, sua testa franziu, mas Val o silenciou
levantando sua mão. — Ela está bem, Stefano. Você pode sair.
— Val, que porra é essa? — Stefano parecia enfurecido ao se aproximar
do irmão. — Você fez isso?
— Não me faça pedir de novo, Stefano.
Saia.
Stefano olhou para mim antes de olhar de volta para Val mais uma
vez. — Você não é o nosso pai. Você não tem que ser como ele.
Suas palavras me surpreenderam por um segundo, e tentei entender
enquanto ele se afastava, mas quando Val se ajoelhou até a minha altura,
me distraí.
— Isso dói? — ele me perguntou, com um sorriso sinistro aparecendo
em seus lábios enquanto a sua mão segurava o meu pulso, começando a
puxar a minha mão para longe da ferida.
Eu balancei a cabeça instantaneamente. — Sim... eu preciso de um
médico. Por favor, Val.
— Você não precisa de nada. — Ele puxou a minha mão e eu
estremeci. — Eu tenho uma boa mira - este é apenas um ferimento
superficial. Nada interno.
Val acenou com a cabeça em direção à parede e, quando olhei na
direção que ele estava olhando, percebi um buraco de bala.
A bala tinha só roçado na minha pele, que era exatamente o que Val
pretendia.
Ele era louco. Qual foi o motivo disso? Ele atirou em mim, mas por
quê?
Eu levantei a minha mão para dar um tapa no rosto dele, mas ele
rapidamente pegou meu pulso e começou a rir.
— Você é muito fácil de ler... Me dar um tapa seria uma coisa
realmente estúpida de se fazer.
— Eu te odeio, — eu consegui dizer através de minhas respirações
profundas que prendiam qualquer emoção que eu estava sentindo. Eu
não poderia mostrar nenhuma emoção agora; isso só pioraria as coisas. A
fraqueza toma tudo pior.
— Eu não entendo você..., — eu disse a ele, movendo lentamente a
mão para ver o sangue cobrindo minha mão e pingando no chão.
— Por que você faria isso comigo? Você não atira em alguém para lhe
ensinar uma lição.
— Não foi uma lição, — ele respondeu com calma - calma demais para
o meu gosto. — Eu disse para você sair antes que eu fizesse algo que me
arrependesse, e você simplesmente não foi rápida o suficiente...
— No entanto, não me arrependo, então parece que estamos no
mesmo nível.
Ele estava bravo porque eu o questionei - algo que ele obviamente não
acreditava - então ele retaliou atirando em mim.
Foi uma reação que eu não esperava, mas não deveria deixar nenhuma
margem de manobra para o que eu esperava de Val. Neste ponto, eu
esperava qualquer coisa dele.
Ele precisava desesperadamente trabalhar o controle da raiva, mas era
algo que eu sabia que ele nunca faria porque era exatamente assim que
seu pai queria que ele fosse para manter o estilo familiar.
Ouvi uma porta se abrir e o som de passos se aproximou de nós. Era
mais de uma pessoa, e parecia que os passos vinham da direção da porta
da frente.
Mas quando a mãe e o pai de Val apareceram, fiquei muito
desapontada. No fundo, eu esperava que alguém pudesse me ajudar -
talvez a Gianna ou o Rafe.
— Valentino! — A mãe de Val ergueu a voz com horror enquanto ela
corria em nossa direção rapidamente e se ajoelhava na nossa altura atual,
— Não me diga que você fez isso.
— Mamãe... — Seu tom era suave agora.
Ele sempre foi tão gentil com sua mãe e falava com ela com um tipo
de afeto que eu gostaria que ele falasse comigo, mas eu sabia que nunca
receberia.
Paloma apenas apontou o dedo para ele. — Estou tão desapontada
com você. Você não é esse tipo de homem!
— Meu Deus, Paloma. Ele não é mais um menino, — comentou
Marco, mantendo as mãos nos bolsos e observando à distância. — Deixe
que ele e sua esposa resolvam isso sozinhos.
— Obviamente, ela passou dos limites e Valentino está endireitando
as coisas.
Paloma apenas balançou a cabeça. — Assim não.
Fiquei surpresa quando ela colocou o braço sob o meu e me ajudou a
levantar.
Minha perna ainda estava extremamente rígida e dolorida, mas a
pressão que vinha aplicando com a mão ajudou até que me movesse.
— Agh...
— Venha comigo, querida... — Ela cuidadosamente me levou para
longe de Val antes de olhar para ele mais uma vez. — Estou
envergonhada.
Pela primeira vez desde que tive o desagrado de conhecer Val - casar
com ele, na verdade - ele ficou lá e permitiu que alguém questionasse.
Uma mulher.
Ele deixou a sua mãe dizer a ele o que ele não deveria estar fazendo, e
ele permitiu que ela expressasse sua decepção sem dizer nada contra ela.
Eu não estava acostumada com este lado de Val, mas estava bem
ciente do respeito que ele tinha pela sua mãe. Era algo que eu não podia
comparar, mas admirava além de qualquer outra coisa.
Paloma era uma mulher forte e bonita que tinha mais poder sobre Val
do que eu jamais pensei ser possível.
A maneira como ela lidou com ele e sua raiva tão perfeitamente era
algo que eu não conseguia entender, mas queria poder fazer igual.
Ela era uma mulher gentil e inocente entre os homens sombrios e
perversos que cercavam a família.
Paloma me levou ao banheiro localizado no andar principal da casa.
Era grande e também a primeira vez que eu entrava neste banheiro.
A casa tem vários cômodos e banheiros, embora eu tenha ficado com
o que está conectado ao meu quarto para não ultrapassar os limites.
Ela me orientou a sentar no assento do vaso sanitário e obedeci
imediatamente, o que parecia ser algo que eu vinha fazendo muito
ultimamente.
Mas no caso de Paloma, ela não era tão intimidante quanto o filho.
Notei que ela vasculhou as prateleiras e, assim que encontrou o que
procurava, voltou para perto de mim e se ajoelhou com o kit de primeiros
socorros nas mãos.
— Ele é muito parecido com o pai, — ela disse em um tom baixo,
pegando um lenço com álcool e rasgando-o. — Eu nunca quis que ele
fosse assim. Eu tentei tanto impedir que ele se tomasse como Marco,
mas...
Paloma estremeceu, parecendo estressada com a ideia de Val ser como
Marco.
Ela era completamente diferente e tudo o que parecia querer era que a
sua bondade se tomasse parte de seus filhos. Mas isso só aconteceu para
um deles.
— O casamento de vocês foi arranjado? — Eu perguntei a ela de
repente, me sentindo muito confortável, mas instantaneamente me
arrependi de ter ido longe demais.
Assim que eu perguntei, Paloma colocou o algodão embebido em
álcool na minha ferida e quase pulei, mas ela me impediu. — Sinto
muito, mas garanto que isso vai ajudar...
Fechei os olhos, tentando ignorar a dor que sentia enquanto Paloma
limpava meu ferimento, e de repente fiquei grata por ser apenas um
ferimento superficial e não haver nenhuma bala dentro de mim.
— Não fomos arranjados como Val e você, — ela me respondeu de
repente, ainda olhando apenas para o meu ferimento e não para mim. —
Nossa família era amiga, embora Marco e eu concordássemos em nos
casar.
— Eu tinha algum controle, mas também havia muita pressão do meu
pai.
Parecia semelhante. Não idêntico à nossa situação, mas bastante
semelhante. Eu tinha tantas perguntas para Paloma, mas a última coisa
que queria era aborrecê-la ao perguntar da sua vida pessoal.
Ela tirou as bandagens do kit de primeiros socorros e começou a
envolvê-las cuidadosamente em volta da minha perna, perto da
panturrilha onde a bala havia atingido.
— Marco sempre foi extremamente possessivo e controlador. Ele
trabalhou muito para garantir que Valentino e Stefano o seguissem dessa
maneira...
— Embora eu tenha tentado convencê-los, era impossível, dado o
tempo que ele me permitia passar com eles.
— Permitia? — Eu a questionei. A maneira como ela disse isso me
assustou, como se Marco não deixasse Paloma ficar perto de seus filhos
tanto quanto ela deveria.
Ela olhou para mim e deu um pequeno sorriso. — Bem, ele passava
muito tempo treinando os meninos... Eu passava apenas os domingos
com eles.
— Mas não é como se eu não os visse nos dias de treinamento -
apenas não tanto.
Fiquei triste por ela. Ela era uma boa mãe que queria o melhor para
seus filhos, mas porque se casou com um cara da máfia, não conseguiu
intervir em suas vidas tanto quanto deveria.
Algum dia, seria eu. Eu teria filhos com o Val, e ele faria a mesma coisa
comigo. Eu não teria escolha em nada.
Eu mantive a minha cabeça baixa, incapaz de me impedir de ser
completamente honesta com ela. — Eu não quero essa vida...
Paloma ergueu a cabeça e olhou para mim. — Querida...
— Ele é horrível. — Senti minhas bochechas queimando e não poderia
me importar menos que estava desmoronando na frente da mãe de Val.
Ela tinha testemunhado o quão terrível seu filho era - eu não
precisava dizer isso para ela saber.
— Ele é simplesmente... terrível para mim. Ele me bate, e eu não estou
feliz.
Comecei a enxugar as lágrimas quentes que cobriam as minhas
bochechas agora encharcadas. Foi incrível a rapidez com que passei de
uma relativa calma para uma bagunça completa.
Pensar na vida que eu tinha que esperar com Val me deixou infeliz, e
saber o quanto ele era parecido com seu pai me deu uma dica do que eu
tinha reservado.
Senti as mãos de Paloma em meu rosto e pisquei para afastar minhas
lágrimas para vê-la com mais clareza. Ela me deu um sorriso simpático.
— Querida, eu sei que há esperança para ele em algum lugar. O pai
dele é... Sabe, o Marco me ama. Mas esse negócio os domina.
— Valentino é um novato nessa coisa de ter que amar ou sentir. Foi
Marco quem o fez assim, mas se o pai pode amar, garanto-lhe, ele
também pode.
Eu não acreditei. Val era incapaz de amar.
Consegui me recompor após meu colapso repentino, mas ainda não
acreditava nas palavras de Paloma.
Parte de mim se perguntou se ela tinha alguma ideia do que seu
marido e filho planejaram ao me enviar para o centro de seus conflitos
com os irlandeses, mas não ousei mencionar isso.
Marco apareceu na porta, com nenhuma emoção aparecendo em seu
rosto, e eu sabia que Paloma estava certa ao dizer que Val era como o pai
dele. — E hora de ir, Paloma.
— Acabamos de chegar.
— Estamos indo embora, — ele repetiu, — Nosso filho pode cuidar de
seus próprios negócios. Levante-se e vamos embora.
Paloma me lançou outro olhar. — Seja forte, querida.
Eu consegui dar um pequeno sorriso e balancei a cabeça. — Obrigada,
senhora.
Ela se levantou e foi até Marco. Ele foi rápido em colocar a mão em
sua cintura e guiá-la para fora do banheiro, desaparecendo de minha
vista.
Mudei meu peso do assento do vaso sanitário para o chão do
banheiro, e fiquei sentada lá por um período de tempo que eu não tinha
ideia.
Mas eu captei o silêncio e me lembrei do que Paloma estava me
dizendo.
Ser forte estava longe de ser fácil quando eu estava lidando com maus-
tratos físicos constantemente, mas não tinha outra escolha a não ser
tentar.
Eu inclinei a minha cabeça contra a parede do banheiro, olhando para
a minha perna enfaixada e não me preocupei em olhar para a porta
quando passos surgiram.
Eu sabia que era Val pela maneira como ele caminhava tão
pesadamente contra o chão.
De repente, ele se sentou no chão ao meu lado, e quando eu não olhei
para ele, ele começou a falar sozinho.
— Estou ciente de que tenho alguns problemas de temperamento,
Elaina. Não vou culpar a maneira como foi criado, mas é quem eu sou.
Acho que dar uma lição é a melhor maneira de colocar as coisas na
cabeça de alguém, mas não funciona com você como qualquer outra
pessoa.
Eu não tinha certeza do que ele queria dizer, mas não olhei para ele.
Ele era um idiota em pensar que falar de um jeito doce tomaria as coisas
melhores.
— Tudo que sei é como conseguir o que quero por meio da agressão e
infligindo dor, — explicou ele.
Quando olhei para ele, sua expressão era fria e sem emoção, mas
parecia que ele estava sofrendo uma batalha interna.
— Minha mãe odeia, mas ela não fez absolutamente nada sobre isso.
— Sobre o quê? — Eu perguntei a ele fracamente, sem saber por que
eu tinha falado com ele. Mas então ficou claro: minha curiosidade ia
acabar comigo.
Seus olhos se desviaram para mim quando ele respondeu. — Sobre o
abuso. Meu pai nunca foi gentil conosco. Ele me batia como se fosse um
hobby, era isso. Mas você quer saber de uma coisa, Elaina?
— Isso me fez forte. Olhe para mim agora e veja o que me tomei por
causa do quão cruel meu pai me fez.
— Ele não te tomou implacável, Val..., — eu comentei enquanto
cuidadosamente me ajudava a levantar do chão, gemendo de dor na
minha perna.
Enquanto eu ficava de pé na altura máxima, ainda baixa em
comparação com o alto e musculoso Val, olhei para ele ainda sentado no
chão. — Ele te deixou completamente sem Coração.
Ninguém em sã consciência faria metade das coisas que Val fazia
como táticas de intimidação. Ele achava que mostrava força, mas essa era
sua personalidade. Sua personalidade cruel e sem coração.
Ele era malvado. Pior do que malvado, ele era nefasto e danificado
além do reparo por causa de como Marco o fez crescer e ver as coisas.
Não havia um único ou emoção no corpo de sem coração nem porque
ele sabia que grama de sentimento de Val. Ser chamado parecia
incomodá-lo era verdade.
Capítulo 27
ELAINA

Semanas se passaram. Eu constantemente andava pela casa pisando


em ovos, com medo de respirar do jeito errado.
Nas últimas semanas, houve muita conversa sobre o plano de Val para
descobrir quem na casa estava dando aos irlandeses informações valiosas.
O fator chave neste plano insano era eu. Eu era o pião e simplesmente
uma parte de seu jogo de xadrez distorcido.
Quando chegou o dia em que tive de prosseguir com o plano, estava
me sentindo mais enjoada do que jamais me senti na vida.
Era uma sensação terrível, não estar no controle das minhas decisões.
Provavelmente nunca mais voltaria a estar.
Eu fiquei na frente de Val com nada além de meu sutiã e calcinha. Ele
estava conectando fios a mim, mas fazendo isso de uma forma demorada,
lenta e cautelosamente.
Ele ligou os fios sob o forro do meu sutiã, e as baterias foram
enganchadas bem onde o fecho do meu sutiã estava.
Val deu um passo para trás para examinar o seu trabalho, deixando-
me muito desconfortável com seus olhos em mim.
Algo sobre este homem me fazia sentir uma coisa que eu não
conseguia explicar; um ódio tão forte que me levou às lágrimas. Ele era
egoísta, vil e totalmente aterrorizante.
Ele sabia o efeito que tinha sobre mim, e pude ver em seus olhos que
ele gostava de me manter no escuro.
A qualquer momento, eu poderia levar um tapa na cara, e ele poderia
fazer isso sem motivo, porque Val nunca precisava de um motivo para
nada.
Mais recentemente, revisei as minhas opções. Parecia que cada vez
que eu discordava ou discutia com ele, acabava em uma situação ainda
pior. Quão difícil pode ser apenas ouvi-lo e não desobedecer?
Bem, agora eu estava parada na frente dele cheias de fios no meu
corpo.
Não havia limite.
— Mmm... eu acho que isso vai servir por enquanto, — ele murmurou.
Eu levantei uma sobrancelha, olhando para meu próprio corpo. — Por
enquanto? Val, se o Coilin...
— Você acha que eu sou estúpido? — ele perguntou-me.
— O quê? Não... eu só...
— Então Sta 'zitto.
Tradução: Cale a boca.
Sinceramente, eu estava com medo. Val estava arriscando a minha
vida descuidadamente e eu não podia fazer nada a respeito. Eu só tinha
que morder minha língua e ouvir. Ele pode muito bem colocar uma arma
na minha cabeça e atirar.
— Ponha o vestido que eu separei para você. Quero ter certeza de que
os fios não aparecem. — Ele apontou para a cama onde um vestido de
coquetel preto estava estendido.
— Você também vai usar um xale. É melhor estar coberta.
— Você escolheu o caminho mais seguro? — Comentei
sarcasticamente, mas parei quando percebi os limites que estava
cruzando. — Parece adorável.
Quando fui até a cama, ouvi a porta se fechar atrás de mim. Val havia
desaparecido do quarto, deixando-me para trocar de roupa em particular,
o que eu agradecia. Raramente conseguia qualquer tipo de privacidade,
ultimamente.
O vestido era justo, o que me preocupou. Se fosse muito levinho, os
fios apareceriam.
Mas este vestido era extremamente apertado, fazendo com que os fios
pressionassem minha pele tão profundamente que não havia um único
indício de fios no meu corpo.
Eu me sentia bem, mas eu sabia que depois de algumas horas,
certamente sentiria dor.
Val planejou a noite nos mínimos detalhes. Eu seria deixada no
cassino - famoso pelos membros da máfia que iam lá para fazer negócios
e fazer lances.
Val tinha recebido uma dica de que Coilin estaria lá esta noite, então
parecia que todo o plano foi apressado.
Val não estaria lá, entretanto. Em vez disso, ele estaria ouvindo tudo,
do conforto de seu escritório, em casa.
Gustavo ia me deixar do lado de fora do cassino e, daí, eu ficaria
sozinha. Pareceu extremamente imprudente, na minha opinião.
— Foi o que eu disse. Val apenas me disse para não o questionar, — eu
expliquei a ela. — Eu só quero a minha liberdade de volta, sabe? Quero
ser capaz de tomar decisões por mim mesma e ser normal.
— Você pode ter escolhido esta vida, mas eu não.
Gianna me deu um sorriso simpático. — Bem, eu também fiquei o
irmão bom, lembra?
Ela estava certa sobre isso. Stefano e Val eram opostos. Bem contra o
mal. Claro, Stefano não era perfeito, longe disso, mas o Val era outro
nível de maldade.
Val excedia cada palavra horrível que existe no dicionário.
Depois de falar com Gianna por alguns minutos, chegou a minha hora
de ir embora. O momento temido finalmente havia chegado.
Enquanto Gianna me abraçava, ouvi a sua voz dizer em um tom
reconfortante: — Você vai ficar bem..., mas tenha cuidado, por favor...
Conhecer a Gianna foi a única coisa boa saiu dessa vida horrível.
Mesmo em meus anos de normalidade, nunca tive uma amiga tão
dedicada e compassiva como ela.
Ela se importava muito e, na escuridão da minha vida, sua amizade era
a luz de que eu precisava.
— Aqui está um telefone protegido, — disse Gustavo enquanto
alcançava entre os bancos da frente do carro e o passava para mim.
— O código é 1306. Assim que você desbloquear o telefone, ele ativa
um alarme no telefone de Val que o avisará se você estiver em perigo.
— Lembre-se, mesmo se você desbloqueá-lo para parecer que está
ocupada, o alarme ainda tocará, então não use este telefone a menos que
seja uma emergência.
Eu encarei o telefone em minha mão.
Parecia um telefone normal. Não me preocupei em perguntar ao
Gustavo como esse alarme foi configurado; eu apenas balancei a cabeça.
Quanto mais cedo eu deixasse este veículo, mais cedo essa noite
terminaria e, se eu tivesse sorte, sobreviveria para ver o amanhecer.
— Tenha em mente que Val ouve tudo através dos microfones que
estão conectados. Fale com clareza, mas não faça com que pareça óbvio
demais, — acrescentou.
— Sim... entendi.
— Tudo bem, eu acho que está tudo certo. Agora, qual é o código? —
ele perguntou.
Eu respirei fundo. — 1306.
— Boa. — Gustavo foi curto, apontando para o cassino. — Vá em
frente. O Coilin já deve ter chegado.
Não me incomodei em dizer outra palavra enquanto saía do carro.
Esta foi a primeira vez em meses que estava sozinha em público.
Uma parte de mim queria correr, mas a parte mais inteligente de mim
sabia que eu não iria longe. Enquanto eu pesava minhas opções, me
conformei com a alternativa inteligente e fui direto para o cassino
lotado.
Fiquei surpresa por não terem pedido o meu documento, o que foi
bom porque eu não tinha a minha carteira de identidade comigo, de
qualquer maneira. De novo, aquele era um cassino ilegal, então eu tinha
certeza de que as identidades eram a menor de suas preocupações.
Essa era a minha primeira vez em um cassino, e a atmosfera era
extremamente intimidante. Todos tinham olhares sérios em seus rostos
enquanto jogavam com o destino, arremessando maços de dinheiro nas
mesas de blackjack.
Muitos dos homens tinham armas visíveis em seus coldres, e eu tentei
o meu melhor para evitar essas pessoas, mas sempre que me virava, havia
outra.
— Você parece perdida, — disse uma voz perto de mim. Um forte
sotaque foi ouvido, e arrepios percorreram meus braços.
Não era um sotaque italiano terrível, mas francês. O tipo de sotaque
que saiu lindamente da língua.
Olhei ao meu lado, vendo um homem bonito de temo, cabelos
castanhos e olhos castanhos.
— Diga-me que você não está aqui sozinha. Este não é o lugar para
uma bela jovem ficar sozinha.
Eu não sabia o que dizer. Eu estava perplexa e sabia que tinha um
papel a desempenhar, mas não tinha certeza de como. — Eu posso cuidar
de mim muito bem, obrigada.
Saiu mais atrevido do que eu pretendia, mas fiquei satisfeita com a
minha resposta rápida, e o homem também parecia intrigado.
— Finalmente, uma mulher que pode falar por si mesma. E um prazer
conhecê-la, querida. O meu nome é Andre.
— Prazer em conhecê-lo, Andre, — respondi, deixando por isso
mesmo.
— Vejo que você não está tão ansiosa para se apresentar? — ele
perguntou-me. — Então, novamente, suponho que você não precise de
apresentações, Sra. Acerbi.
Meu ar ficou preso na garganta quando ele disse o sobrenome de Val.
Claro que ele sabia - este lugar estava inundado pela máfia. Todos aqui
me conheciam por causa do meu marido monstruoso.
— Você pode apenas me chamar de Elaina.
— Elaina... O nome combina com você. — Andre balançou a cabeça
lentamente com um sorriso suave. — Elaina significa 'luz brilhante', e é
por isso que eu fui atraído por você.
— Eu soube desde o momento que você entrou por aquelas portas da
frente que você era diferente do resto das mulheres aqui.
Normalmente, quando alguém dizia algo estranho, eu ficava
preocupada e um pouco assustada, mas o Andre disse da maneira mais
suave possível, então eu não poderia interpretar nada além de que ele era
charmoso.
— Diferente?
Ele acenou com a cabeça e apontou para uma mulher com cabelo
preto como breu. — Ela matou o próprio pai para que pudesse herdar os
bilhões dele...
Andre então apontou para outra mulher.
Ela tinha um coldre de arma na perna e não precisava ser um gênio
para saber que ela era durona.
— E ela - bem... duvido que seja uma coincidência que todos os três
maridos dela morreram de mortes suspeitas.
Eu não tinha percebido que a minha boca estava escancarada. Essa
informação recém-descoberta era assustadora. Eu não precisava apenas
me preocupar com os homens aqui; eu também tinha que me preocupar
com as mulheres.
— Oh, Deus... Você deve vir muito aqui para saber tudo disso.
Andre balançou a cabeça e deu um longo gole em sua bebida alcoólica
antes de responder. — Todo mundo conhece todo mundo. Você já
deveria saber disso.
Ele estava certo. Todo mundo conhecia todo mundo, e isso não era
exceção.
Todos olhariam para mim e me reconheceriam como a esposa de uma
das pessoas mais perigosas e odiosas do mundo.
— Não tenha medo, amor. Qualquer um seria estúpido em mexer com
a esposa de Valentino Acerbi, — Andre me tranquilizou, mas ainda não
era muito reconfortante.
Eu inclinei a minha cabeça ligeiramente. — Quem é você?
— Eu sou o Andre.
— Eu sei disso... quero dizer, você é...? — Eu não tinha certeza de
como perguntar a alguém se fazia parte da máfia, mas tinha quase
certeza da resposta.
— Sim querida. Eu sou o que você chama de máfia, — ele respondeu
por mim.
— Quarteirões franceses.
— Capo?
— Não... Meu irmão se tomou capo depois que meu pai faleceu. —
Andre foi surpreendentemente aberto. Ficava ainda mais fácil falar com
ele. — Ele é o mais velho, então é o seu papel.
Assim como Val era mais velho que Stefano...
— Bem, sinto muito pelo seu pai, — respondi baixinho, sem saber o
que mais eu poderia dizer depois que ele foi honesto comigo.
— Não sinta. Ele era um filho da puta.
Eu não pude deixar de rir com a forma casual como Andre disse isso
sobre seu próprio pai, mas pelo menos ele não estava cego sobre a
própria família.
Mesmo as piores pessoas tinham alguém por perto, tudo por causa do
sangue que corria em suas veias.
Eu sabia que Val sempre apoiaria seu pai, não importando a infância
traumática que ele teve, assim como Stefano ficou ao lado de Val mesmo
através de sua natureza odiosa.
— Elaina... Bem, não é uma surpresa vê-la aqui? — a voz da única
pessoa que eu não queria ver esta noite, além de Val, soou.
Era Coilin, o que significava que meu trabalho estava prestes a
começar, mas quando me virei para olhar para ele, o medo que estava
percorrendo meu corpo se tomou muito mais forte.
Era tarde demais para voltar atrás agora. Coilin estava bem na minha
frente, e eu tinha microfones e fios emaranhados por todo o meu corpo.
Era isso: o começo da solução do mistério de Val ou o fim da minha
vida.
Capítulo 28
ELAINA

— É uma surpresa agradável ver que você está aqui sozinha, —


comentou Coilin.
Sentamos no canto do cassino, onde havia uma pequena área de estar.
Claro, eu me senti desconfortável, mas não tanto quanto eu esperava.
O sorriso no rosto de Coilin falou tudo. Ele estava emocionado por eu
estar aqui sozinha, e eu não tinha ideia do que estava em sua mente, além
de querer me manter perto, assim como Val queria.
— Às vezes, uma garota só precisa de um tempo para si mesma, —
respondi casualmente, tomando um gole da minha água.
Val me disse para não beber álcool porque eu precisava estar no
controle total de minhas ações. Ele também sabia que eu era uma bêbada
desleixada.
Eu entendi o ponto de Val, entretanto. E desta vez, obedeci sem a
menor objeção porque ele estava certo.
Era exatamente por isso que ele raramente bebia: havia muitas
pessoas atrás dele e ele nunca queria ser vulnerável.
Coilin simplesmente riu. — Isso soa como algo que a minha filha
diria. Ela é muito independente e não gosta de seguir ordens de
ninguém. Um pouco como você, devo acrescentar.
— Como eu? — Eu levantei uma sobrancelha.
— Sim querida. Gosto de você. Você não pode esperar que eu acredite
que o Valentino permitiu que você viesse aqui sozinha. A única
explicação é que você veio sem o consentimento dele.
Ele levou o copo de gim aos lábios e bebeu o restante do conteúdo
rapidamente.
— Também me surpreende que alguém como você esteja com o
Valentino, dada a sua natureza independente. Ele é do tipo controlador, e
não acho que você goste de ser controlada.
Foi estranho que ele disse isso. Ainda mais que, no fundo, era verdade.
Eu odiava ser controlada, mas todos sabiam que eu não tinha escolha a
não ser me casar com Val, já que estava praticamente vendida para o
homem.
— Muitas vezes na vida você não tem escolha, — respondi a ele. —
Infelizmente para mim, controle não é algo com o qual estou
familiarizada recentemente.
— Eu acredito que todos deveriam ter o controle de suas próprias
vidas, — Coilin me disse enquanto se inclinava levemente para frente, os
cotovelos sobre os joelhos.
— Incluindo você, Elaina. Não é preciso ser um gênio para ver o quão
infeliz você é;
Eu congelei. Isso foi o que Val disse que aconteceria. Coilin tentaria
me manipular, expressando a sua compreensão e brincando com as
minhas emoções. A sua arma secreta eram as palavras.
Ele era bom nisso, porque mesmo sabendo que era falso, eu estava me
sentindo compreendida pela primeira vez. Meus olhos caíram para o
chão e eu fiquei quieta, o que apenas fez Coilin continuar falando.
— Você ama o Val, Elaina? — ele perguntou.
— Não.
— Ele trata você como um homem deveria tratar a sua esposa? — Seus
olhos verdes me perscrutaram enquanto eu levantei a minha cabeça para
olhar para ele. Sua expressão era ilegível, mas temi que ele estivesse lendo
através de mim.
— Não, — respondi. — Ele não trata.
Ele me surpreendeu ao se levantar, seu segurança prestando atenção a
cada movimento seu. — Venha comigo, querida. Eu tenho uma proposta
para você.
— Co... você não pode me dizer aqui mesmo? — Eu perguntei a ele,
mas ele começou a andar, e o segurança me empurrou para segui-lo.
Passamos por todo o cassino, a multidão continuando seus negócios e
ninguém olhando para nós. Era como se fôssemos invisíveis para todos
os outros.
A caminhada pelo cassino parecia interminável, mas acabamos no
estacionamento de trás, onde três carros estavam estacionados. Foi nesse
momento que comecei a ficar preocupada.
Não tinha intenção de ir a lugar nenhum com ele, mas eu estava em
uma posição extremamente comprometedora. Pensei em pegar meu
telefone e digitar o código, mas sabia que ainda não era a hora.
Coilin estava bem ao meu lado e iria pegar o meu celular antes que eu
tivesse uma chance.
Quando ele parou de andar, Coilin se virou para mim e olhou para o
meu corpo. — Vou precisar que você desconecte esses fios.
Minha boca se abriu, mas nenhuma palavra saiu. Ele sabia. Ele sabia
que havia fios por todo o meu corpo e era isso. Este foi o fim.
— Elaina, querida, estou chocada por você pensar que sou tão
estúpido. — Ele balançou a cabeça ligeiramente.
— Por sorte, eu gosto de você. Não vou usar isso contra você porque
tenho certeza de que era outra coisa fora do seu controle - não é,
Valentino?
Quando ele disse o nome de Val, ele se aproximou muito,
praticamente falando através dos meus seios para Val através do alto-
falante do fio. Foi aterrorizante e pude sentir meu corpo tremer.
Eu sabia que isso poderia acontecer. Isso estava fadado a se
transformar em uma bagunça e Val tinha passado por isso de qualquer
maneira.
— Vou conversar com você mais tarde, Valentino. Eu só preciso despir
a sua esposa. — Ele riu antes de tirar um canivete.
Meus olhos se arregalaram e tentei dar um passo para trás, mas
minhas costas colidiram com o peito duro de seu segurança. — Não, não,
não... Não faça isso. Por favor, não...
— Relaxe, — Coilin falou suavemente enquanto movia a faca entre
meus seios. Eu podia sentir a extremidade traseira da lâmina deslizando
pela minha pele, e eu congelei de medo. Se eu me mexesse, estava morta.
Ele poderia me apunhalar no peito e acabar com a minha vida, então
eu fiquei parada, e ele puxou a faca rapidamente, rasgando os fios. —
Assim é melhor. Agora temos privacidade.
Eu apenas olhei para ele. Agora que eu não tinha Val escutando, não
me sentia segura. Eu estava sozinha, e era o controle que eu não queria
porque estava em uma posição desfavorável.
— Querida, eu te disse, eu não vou te machucar, — Coilin afirmou
pelo que parecia ser a milionésima vez. — Eu só preciso de sua ajuda...
— Com o quê? — Minha voz era um mero sussurro, e pisquei algumas
vezes para tentar acordar desse pesadelo, mas permaneci no mesmo
lugar.
— Com a eliminação de Valentino. — A voz de Coilin ficou áspera
quando ele mencionou se livrar de Val e ele continuou. — Ele é um
problema, mas não só para mim - para nós dois.
— Eu sei que você o quer morto tanto quanto eu, e não há pessoa
melhor para ajudar a fazer isso acontecer do que a sua amada esposa, que
tem um ódio imenso por ele.
Meus olhos vagaram pelo estacionamento vazio. Respirei fundo, mas
não falei.
Odiar Val e matá-lo eram duas coisas diferentes. Claro, eu o
desprezava, mas isso era demais.
Eu também nem sabia se Coilin estava falando sério ou qual era seu
plano. Isso poderia ser uma configuração completa e, mesmo que fosse
real, eu não tinha certeza se seria capaz de fazer o que ele queria.
— Não se preocupe, Elaina. Não vou sequestrar ou ameaçar você.
Estou simplesmente dando a você uma escolha: estou permitindo que
você tenha controle sobre a sua vida... — ele me disse, e eu o encarei.
Uma escolha. Não era algo que eu esperava ter novamente, e o
pensamento era bom, mas o assassinato era realmente uma parte disso?
Tinha que haver outra maneira.
— Coilin, eu...
— Estou dando a minha confiança a você, Elaina, — ele me
interrompeu. — Todos nós estamos. Sei que este mundo é novo para
você, mas quero mostrar que nem todos nós somos bandidos.
— É claro que não sou perfeito, de forma alguma, mas me esforço para
fazer a diferença.
Ele caminhou em minha direção até estar a apenas alguns centímetros
de distância, mas eu ainda não conseguia olhar para ele. Se eu dissesse
não, ele me mataria agora?
Se eu dissesse sim e Val descobrisse, seria o meu fim.
— Queremos proteger você. — Ele me surpreendeu com as suas
palavras.
Eu tinha apenas uma pergunta, e a fiz sem hesitação. — Nós?
Os olhos de Coilin se desviaram e ele olhou para o carro perto da
parte de trás do estacionamento. O segurança que estava perto do carro
olhou para Coilin, que simplesmente acenou com a cabeça.
Observei o segurança caminhar até a porta traseira do carro, abrindo-
o e dando um passo para o lado.
Meu coração disparou dentro do meu peito me perguntando quem
seria a pessoa a sair, e quando vi os saltos pretos na calçada, meu queixo
caiu.
Parecia que os ruídos ao meu redor silenciaram enquanto Gianna saía
do carro.
Era ela. Gianna era o rato.
Capítulo 29
ELAINA

Entrei em casa silenciosamente, minha mente cheia de pensamentos e


revendo o que tinha acontecido essa noite.
Eu tinha informações valiosas das quais não queria ser a responsável.
Vidas estavam em minhas mãos e, dependendo de como eu decidisse, ou
Val poderia morrer ou Gianna.
Eu não queria ficar com isso nas minhas costas. Eu não queria saber
que Gianna estava agindo pelas costas de todos, conspirando para
assassinar o Val.
Com essa informação, eu era forçada a contar a Val ou sofrer as
consequências quando ele descobrisse que eu estava escondendo algo
dele.
Gustavo estava atrás de mim, mas não prestei atenção. Esta noite foi
emocionalmente exaustiva e eu tinha informações demais para processar
agora.
Assim que entramos, Val estava na minha frente antes mesmo que eu
tivesse um segundo para respirar. Suas mãos estavam em meus ombros e
ele falava, mas eu não o ouvia.
Eu estava atordoada - e não conseguia me concentrar.
— Ela está assim desde que a encontrei no estacionamento do cassino,
— ouvi Gustavo dizer a Val, cuja expressão passou de frenética para
surpreendentemente simpática.
Val acenou com a cabeça para Gustavo sair, e ele fez exatamente isso
sem nenhuma pergunta.
Quando ficamos sozinhos, Val simplesmente pegou a minha mão e me
levou para seu escritório.
Pela primeira vez, eu não estava com medo de estar neste maldito
cômodo. Eu não tinha feito nada de errado, e talvez morrer fosse melhor
do que ser o motivo da morte de outra pessoa.
— Querida, — Val disse enquanto fechava a porta atrás dele, — você
está bem? Você precisa de um pouco de água?
Eu não sabia por que ele parecia tão preocupado. Possivelmente para
arrancar informações de mim. Mas recusei, sentando-me em frente a sua
mesa.
— O que ele fez com você? Juro por Deus, se ele...
— Nada, — eu falei. — Ele não me tocou ou me machucou... Ele
apenas falou.
Ele pareceu relaxar um pouco quando eu o tranquilizei, mas então seu
corpo enrijeceu um pouco. — Sobre o que ele falou com você?
Levantei minha cabeça quando ele se sentou na superfície da mesa ao
meu lado e, silenciosamente, respondi: — Você.
Val passou os dedos pelos cabelos e respirou fundo. — Eu preciso de
mais, Elaina. Fale.
— O que posso dizer? Você sabe que o homem te odeia, mas eu não sei
os seus planos, — eu respondi antes de levantar minhas pernas e segurá-
las contra meu peito. Minha mente estava lutando comigo.
Eu estava lutando para dizer a verdade a Val, mas sempre que pensava
em Gianna, pensava na vida inocente que ela carregava.
Ser responsável por seu assassinato era uma coisa, mas ser o motivo
da morte de um bebê inocente era demais.
— Você sabe, Elaina, eu não sou um homem fraco, — Val falou
novamente.
Eu realmente não estava com humor para uma de suas conversas
sobre o ego; todos nós sabíamos como o grande e poderoso Valentino
Acerbi era forte e destemido.
— Estou sempre confiante nas minhas decisões, mas esta noite... fiz
uma má escolha. No momento em que percebi que ele tinha você e
minha única comunicação com você foi interrompida, perdi toda a
sanidade que me restava.
— Eu tomei uma decisão ruim e mandar você lá foi um erro terrível.
Uma parte de mim queria dizer — eu avisei, — enquanto a outra parte
ficou surpresa com o pedido de desculpas aparentemente genuíno de Val.
A repentina mudança de opinião não fez sentido para mim, mas ouvi.
Era tudo o que meu corpo me permitia fazer.
— Me desculpe... Eu estraguei tudo, e no momento em que aqueles
fios foram cortados foi quando eu percebi. Foi naquele momento que
percebi que você poderia morrer por minha causa.
Val parecia frenético, olhando para o teto e respirando fundo. — Eu
preciso de você, Elaina. E difícil para mim admitir, mas percebi esta noite
que realmente preciso de você.
— Por quê? — Eu perguntei a ele rapidamente, incapaz de morder a
minha língua. — Você precisa de mim para espionar para você? Então
você tem um saco de pancadas e um brinquedo sexual? Simplesmente
não faz sentido, essa mudança repentina de personalidade.
— Você nunca me tratou como um ser humano, e é uma hora muito
complicada para começar.
Val olhou para mim, sua mandíbula apertando quanto mais eu falava.
Imaginei que a sua mente estava correndo para encontrar maneiras de
me punir, mas fiquei surpresa quando não recebi um tapa ou um aperto
de cabelo forte.
— Eu pensei que tinha perdido você. Essa é a única resposta que posso
dar. Quando algo assim acontece tão repentinamente, as coisas ficam
claras.
— É óbvio que não tenho sido um marido ideal. Provavelmente não
vou começar agora, mas me sinto responsável por você.
— Independentemente de como esse casamento tenha acontecido,
você é a minha esposa, e eu levo isso a sério.
Então era isso. Uma obrigação. Fazia muito mais sentido do que ele de
repente se tomar compassivo comigo.
No fundo, eu senti uma ponta de esperança quando ele confessou
esses sentimentos repentinos, mas eu também sabia que Val nunca fora
capaz de ter sentimentos reais e genuínos.
— Eu realmente preciso dormir. — Levantei-me da cadeira
abruptamente. — Esta noite foi um pesadelo, então, por favor, vamos
deixar isso de lado. A última coisa que quero fazer ' • • tf e reviver isso.
Val franziu os lábios antes de dar um leve aceno de cabeça. —
Descanse um pouco. Tenho um trabalho a fazer e estarei lá em cima em
algumas horas.
Eu nunca disse uma palavra. Em vez disso, saí do escritório e subi as
escadas diretamente até chegar ao quarto.
Não havia palavras que pudessem explicar como os eventos desta
noite me afetaram.
A única pessoa nesta casa de terror que eu tinha como amiga... Fiquei
arrasada ao saber que ela estava indo contra o meu marido.
De certa forma, me senti traída porque, gostasse ou não, a vida de Val
era a minha. Eu poderia facilmente ser um dano colateral nesta guerra.
Gianna tinha pensado nessa possibilidade?
Então havia o Stefano. A mulher que ele amava e a mãe de seu bebê o
estava traindo da pior maneira possível.
Mesmo que Val fosse uma pessoa terrível, ele ainda era irmão de
Stefano, e eu sabia que a família vinha antes de tudo aos olhos deles.
Ela estava arriscando sua vida e a do bebê. Quando Val descobrisse, ela
estaria morta assim que ele colocasse as mãos sobre ela.
Alguém bateu na porta e murmurei sem pensar: — Entre.
Quando a porta se abriu, Gianna entrou e o ar ficou preso no meu
peito. A última vez que a vi, ela estava me dizendo que isso era do
interesse de todos.
Ela não conseguiu falar muito devido à chegada prematura de
Gustavo, o que fez com que Coilin e seu povo saíssem abruptamente.
— Elaina, você está em casa. — Sua voz era uma encenação até o
segundo em que a porta se fechou, e então ela imediatamente começou a
trabalhar. — Olha, eu sei que esta noite te pegou de surpresa...
— Como você pôde? Gianna, e o Stefano? — Sussurrei alto. — Como
você pôde fazer isso com ele? Ele te ama.
— E eu o amo, — argumentou ela, caminhando em direção à cama
onde eu estava sentado. — Isso não mudou. Ele e o irmão são duas
histórias diferentes.
— Eles são irmãos. Você não pode separar o sangue tão facilmente.
Estou te dizendo, não vai dar certo.
— Stefano escolheria a nossa família em vez de Val sem pestanejar, —
Gianna me disse, com confiança em seu tom.
— Você parece tão certa disso, mas acho que está errada. — Odiei
dizer isso a ela, mas era a verdade. Eu tinha ouvido falar da Omertà - algo
sobre lealdade dentro da máfia ou algo assim.
Além disso, havia a Omertà não falado - aquele que você teve com sua
família assim que nasceu. Você permaneceu leal, não importa quais
obstáculos ocorreram.
Só porque não foi escrito no papel, não significa que não era uma
coisa real.
— Elaina, me escute. Você, mais do que ninguém, sabe como Val é
horrível. Ele vai destruir a máfia italiana. Este trabalho não é para ele.
Ela me encarou e, pela primeira vez desde que Conheci Gianna, ela
parecia assustadora de certa forma.
— Eu te disse porque me importo com você. Por que mais eu ficaria
bem na sua frente e contaria todos os segredos que tenho? Meu único
pedido a Coilin foi que você e Stefano não se machucassem.
Eu desviei o olhar dela, incapaz de manter meus pensamentos diretos.
Eu me odiava. Odiava querer proteger Val e odiava acreditar em cada
palavra que Gianna me dizia.
Eu acreditei nela quando ela me disse que queria me manter a salvo de
Val, e a ideia era emocionante, mas também parecia impossível. Mas
também era a ideia de ser feliz com Val.
— Se eu quisesse você morta, eu teria mantido você no escuro. — Ela
falou suavemente. — Você é minha melhor amiga, Elaina. O que vai
acontecer daqui em diante é sua decisão. Tudo.
— Se você quer viver uma vida sem Val planejando cada movimento
seu, cada respiração sua, então deixe-me fazer isso por você. Me ajude a
fazer isso. Os irlandeses têm um plano. Assim que passar, você estará
livre.
Sem custos.
O argumento de Gianna era bom. Ela sabia o que estava dizendo e
como parecia tentador, mas ela tinha que me conhecer melhor que isso.
Eu não poderia tomar uma decisão tão grande por capricho. Ela sabia
que eu vivia a vida segundo os meus princípios e isso tomava a
conspiração para um assassinato uma coisa bem complexa.
— Você é uma boa pessoa. Mas todas as pessoas boas têm um pouco
de escuridão dentro delas. E como você escolhe usá-la que define você.
Não tinha percebido que as lágrimas mancharam meu rosto pálido,
mas quando olhei para Gianna novamente, pude senti-las rolando pelo
meu rosto. — O que você precisa que eu faça?
— Eu preciso que você confie em mim. Tudo o que planejamos é
extremamente bem pensado e prometo que você estará do lado
vencedor, — garantiu Gianna.
Pude ver em seus olhos que ela acreditava em cada palavra que dizia.
— Val é um homem morto de qualquer maneira. Mas com a sua ajuda,
seu vínculo com ele, isso fará com que as coisas aconteçam de forma
mais rápida e tranquila.
Eu me senti tonta. Eu não tinha concordado com nada, mas ao
mesmo tempo me sentia como se estivesse. Por não contar a Val, eu
estava armando para ele ser assassinado e eu seria a responsável.
— Eu... vou vomitar. — O estresse tinha me afetado, e mal consegui
chegar ao banheiro antes que o vômito começasse a vir.
Palavras rodaram na minha mente. Assassina. Cúmplice. Assassina.
Morte.
Todas essas palavras estariam ligadas a mim, mas essas não eram as
palavras que me assombravam.
As palavras que tomavam esse pensamento insuportável eram duas
palavras simples que na época não significavam nada, mas agora
significavam mais do que eu jamais imaginei.
Eu aceito.
Capítulo 30
ELAINA

— Elaina, por favor, me acompanhe até o quintal.


Levantei os olhos do meu prato de jantar para Val, que me
surpreendeu ao usar a palavra — por favor. — Não era uma palavra que
eu já tinha ouvido ele usar, mas eu não iria sentar e esperar que ele
ficasse chateado.
Ele parecia estar de bom humor - outra coisa que raramente estava.
Embora eu não tivesse certeza de por que ele estava de tão bom
humor hoje, atendi ao seu pedido e me levantei da cadeira para segui-lo
para fora.
— Como você dormiu? — ele me perguntou enquanto caminhávamos
em direção à porta dos fundos.
Passaram-se seis dias desde meu encontro com Coilin e descobri que
Gianna estava se unindo a ele para se livrar de Val.
Desde então, todas as manhãs, Val me perguntava como eu dormia ou
se estava bem descansada. Curiosamente, ele parecia protetor, mas eu
sabia por trás de tudo, era só uma fachada.
— Dormi bem, — respondi. Sinceramente, eu estava inquieta. Não era
o pensamento de Coilin me mantendo acordado; foi o pensamento de
Gianna e seu pedido insano para eu ajudá-la.
Estar sob o mesmo teto com ela também não ajudava, e só porque eu
não tinha respondido a ela não tomava as coisas mais fáceis.
Quanto mais eu mantivesse esse segredo de Val, pior seria quando ele
descobrisse que eu sabia.
Val parou na porta dos fundos e olhou para mim, o canto de seu lábio
se contraindo em um pequeno sorriso.
— Bem, eu trouxe algo para você. Eu sei que você tem estado distante
e sozinha aqui, então espero que isso ajude.
Eu franzi minha sobrancelha, sem saber aonde ele queria chegar com
isso, mas no momento em que ele abriu a porta, eu sabia o que ele queria
dizer.
Havia um cachorro correndo. Eu reconheci a raça como um Cavalier
King Charles. A pelagem do cachorrinho era marrom claro e branco,
derretendo meu coração no momento em que o vi.
Eu não tinha certeza de por que Val tinha feito isso, mas também não
negaria o presente de afeto incondicional.
— É meu? — Eu perguntei a ele, não querendo me apegar se este era
apenas mais um jogo dele.
Ele acenou com a cabeça. — Sim. É seu.
Eu sorri, incapaz de evitar a emoção de irradiar de mim agora que eu
sabia que tinha meu próprio cachorrinho. Alguém para me fazer
companhia, indefinidamente.
Cautelosamente, fiz meu caminho para o quintal, não querendo
assustar o cachorrinho à primeira vista, mas ele correu em minha
direção.
Ajoelhando-me, peguei o cachorrinho nos braços e apreciei os beijos
de carinho que ele me deu. — Você é tão fofo, não é?
— Tem algum nome em mente? — Val me perguntou por trás.
Eu simplesmente balancei minha cabeça. — Ainda não. Eu preciso ter
uma ideia de sua personalidade primeiro.
Inclinei minha cabeça e examinei o cachorro correndo em círculos,
perseguindo seu rabo. — Como se diz 'amigo' em italiano?
— Amico, — ele me respondeu.
Eu sorri para mim mesma. — Amico...
O cachorrinho ergueu os olhos para mim com uma pequena
inclinação de cabeça, como se entendesse. Estava decidido então: seu
nome era Amico, que tinha um significado mais profundo do que
qualquer um poderia entender.
Eu tinha um amigo agora. Mesmo sendo um cachorro, ele era meu
amigo.
Passei a maior parte do dia com Amico, no quintal e jogando uma bola
continuamente. Ele acabou sendo um grande companheiro, então fiquei
grato por Val tê-lo dado para mim.
Eu não tinha certeza do que o fez decidir me presentear com o
cachorro, mas não tinha motivo para reclamar. Depois de tudo que ele
fez comigo, o mínimo que ele podia fazer era me permitir ter uma
companhia.
— Amico... Sente-se! — Tentei fazer
Amico ouvir as minhas palavras, mas o cachorrinho estava muito
emocionado e excitado para obedecer. — Não, não, não. Senta!
Eu ouvi uma risadinha atrás de mim e vi Val encostado na porta dos
fundos com os braços cruzados sobre o peito. — Como vai o
treinamento?
— Terrível. — Eu consegui dar um pequeno sorriso.
— Leva tempo, como muitas coisas, — ele respondeu, empurrando
seu corpo da parede e caminhando em direção aos degraus do pátio onde
eu estava sentada.
— Quando pensei na ideia de arranjar um cachorro para você,
comecei a me perguntar se você pelo menos gosta de animais.
Eu olhei para ele, meus olhos se estreitando um pouco como se
dissesse que ele era louco por sequer imaginar. — Claro que eu gosto.
— Não, o que quero dizer é... Como vou saber se você gosta de gatos
ou de cachorros? Eu sei tudo sobre você quando se trata do que está
escrito em documentos.
— Eu sei os detalhes do seu perfil, suas alergias ou histórico médico,
mas quando se trata das coisas que fazem de você quem você é, eu não
sei nada.
Era verdade, eu suponho. Nunca perdemos tempo para nos
conhecermos de uma maneira que nos ensinasse mais sobre os interesses
de cada um de nós.
Eu não sabia do que Val gostava e ele não sabia nada sobre mim.
Embora ele pudesse presumir que sabia tudo sobre mim, suas
informações só iam até certo ponto.
— Vou sair com você hoje à noite, — ele me disse, sem perguntar se eu
queria sair com ele. — Nada relacionado a negócios, só você e eu.
— Um encontro?
— Chame como quiser. — Ele encolheu os ombros com indiferença.
— Vista algo bonito. Vou fazer uma reserva. Quero aproveitar esta noite
para nos conhecermos melhor em um nível mais profundo.
Eu apenas balancei a cabeça, sem saber o que despertou esse interesse
nele.
Isso me deixou desconfortável porque, embora ele dissesse que não
era um negócio, eu sentia que sempre havia um motivo por trás de tudo
o que ele fazia.
Essa era uma época terrível para sair com Val.
Com o segredo sobre Gianna pairando sobre a minha cabeça, eu
achava até as coisas mais simples, como falar com Val, mais difíceis do
que o normal, então essa noite seria impossível.
Fiquei na frente do espelho comprido, observando cada detalhe do
vestido que usava. Era um lindo vestido vermelho justo que caiu no chão
lindamente, mas manteve todas as minhas curvas valorizadas O decote
era em forma de — V — e Anita foi gentil o suficiente para fechar o zíper
das costas para mim.
Eu coloquei saltos altos vermelhos combinando que me davam dez
centímetros extras de altura, mas mesmo assim, eu não alcançaria a
figura alta de Val.
Eu tinha que admitir, conseguir roupas aqui era bastante
emocionante. Quando precisei escolher o que queria, recebi um iPad
com aplicativos de loja de roupas e pedi o que quis.
Em uma hora, alguém que trabalhava para Val pegou meu pedido e o
trouxe de volta para mim.
Para a maioria das mulheres, isso seria um sonho tomado realidade.
Mas a situação não era simples.
Senti meu vestido puxando para baixo, e olhei para ver Amico
puxando-o com os dentes. — Ei, o que você pensa que está fazendo,
senhor?
Inclinei-me para pegá-lo e ele me sufocou de beijos. O amor
incondicional de um animal de estimação é a coisa mais linda do mundo.
Três batidas suaves vieram da porta e presumindo que fosse Val, eu
respondi, — Estou quase terminando. Você pode entrar.
No entanto, assim que a porta se abriu, fiquei surpresa ao ver Gianna
entrar. Ela parecia hesitante e eu não a culpei.
Ela teve muita coragem de chegar perto de mim neste momento, mas
mesmo assim, eu não diria a ela para ir embora.
— Você está linda, Elaina. — Ela falou baixinho, mas não me
incomodei em responder. Eu estava com raiva dela - furiosa até.
A situação em que ela me colocou era uma em que eu não tinha ideia
se o perdão seria uma opção.
— Olha, eu realmente acho que devemos conversar sobre tudo.
— Por favor, saia, — eu pedi, mantendo meus olhos no espelho para
que eu não tivesse que olhar para ela diretamente.
Claro que ela não se preocupou em ouvir. Em vez disso, ela fechou a
porta e deu um passo para perto de mim.
— Elaina, eu estou colocando meu pescoço em risco por você. Você
sabe muito bem, e isso é só porque eu confio em você, então, por favor,
não me foda aqui.
— Não foder você? — Eu levantei a voz, tendo raiva acumulada mais
do que suficiente para atacá-la. — Como você ousa. Eu não pedi por isso!
— Eu não queria saber o seu segredo sujo, mas agora eu sei, e não
importa como eu lidar com isso, estou ferrada!
— Você pode, por favor, ficar quieta? — Gianna tentou me silenciar. —
Você sabe o quão terrível Val é. Ele precisa ser eliminado, então, quando
Coilin veio até mim com a ideia...
— Você tá drogada? — Eu perguntei e balancei minha cabeça em
decepção. — Stefano vai odiar você.
— Stefano não vai saber.
— Você acha? Quão inteligente você pensa que é? Essas pessoas sabem
tudo, Gianna. Só estou aqui há alguns meses, mas não é preciso ser um
gênio para saber disso.
Gianna deu mais um passo para perto de mim e eu vi seus olhos
ficarem mais escuros, algo que eu nunca tinha visto nela até este
momento. — Não me faça me arrepender de ter contado a você.
Abri a boca para falar, mas a porta do quarto se abriu e Gianna e eu
olhamos para onde Val estava. — Oh mio... Sembri stupendo.
Tradução: Oh meu... Você está deslumbrante.
Meus olhos mudaram ligeiramente. Ele acabou de dizer algo sobre eu
ser estúpido?
— Uh... — Eu não tinha certeza de como responder porque não tinha
ideia do que estava respondendo.
— Stavamo parlando, — Gianna comentou, seus olhos diretamente em
Val.
Tradução: Estávamos conversando.
Eu me senti super desconfortável. Eu sabia de coisas que estavam
acontecendo nesta conversa que nem eles sabiam.
Val não tinha ideia de que ele estava na mesma sala que o rato, a
pessoa que tentava matá-lo, e não tinha ideia de que sua esposa estava
escondendo isso dele.
— Gesü Cristo, Gianna. Togliti di dosso, — Val murmurou baixinho
antes de apontar para a porta, sugerindo que Gianna fosse embora.
Tradução: Jesus Cristo, Gianna. Dê o fora.
A linguagem corporal disse mais do que qualquer número de palavras
jamais poderia.
Gianna odiava Val, e Val odiava Gianna. A única diferença era que Val
não havia tentado se livrar de Gianna porque Stefano a amava.
Isso me fez pensar quem era o verdadeiro monstro - o homem
deixando de lado seu ódio por alguém por causa de seu irmão, ou a
mulher tentando matar o irmão de seu amante.
A porta se fechou e, quando escapei de meus pensamentos, Gianna já
estava fora da sala. Eu olhei para Val, e seus olhos estavam em mim
descaradamente.
— Você está maravilhosa...
— Obrigada, — respondi. Val parecia o mesmo de sempre, temo e
gravata como qualquer empresário usaria, mas para seu tipo de negócio,
suas roupas geralmente ficavam bagunçadas.
— Nós poderíamos simplesmente pular o jantar e eu poderia te ajudar
a tirar esse vestido. — Ele sorriu e caminhou até onde eu estava,
descansando suas mãos fortes em meus quadris.
Eu olhei para baixo, sem saber como me sentia sobre seu
comportamento de flerte. — Estou com muita fome.
Um sentimento estava por todo o meu corpo, e eu não era estranho a
ele. Percebi que estava sentindo uma extrema culpa - tanta que era quase
insuportável.
Não conseguia olhar Val nos olhos com medo de vacilar e deixá-lo
saber de tudo. Mesmo agora, eu tinha guardado o segredo por muito
tempo.
— Então vamos jantar.
*
Val não brincou em serviço.
Não fomos a um restaurante qualquer em Illinois; em vez disso, ele
ordenou que o jato particular nos levasse à cidade de Nova York, onde
ficava seu restaurante favorito, o Ginacoli Steakhouse.
Eu já tinha aprendido esse pequeno fato sobre ele.
A viagem no jato foi rápida. Levamos apenas cerca de uma hora e
quinze minutos para chegar. Por alguma razão, Val parecia uma pessoa
diferente, mas de um jeito bom.
Eu poderia jurar que ele até sorriu algumas vezes. Era estranho que
seu sorriso me causasse sentimentos vertiginosos depois de tudo o que
ele fez para mim. Eu não pude deixar de ficar feliz quando ele sorriu.
Era o estrogênio dentro de mim. Val era um homem altamente
atraente e, mesmo por meio de seus atos odiosos, meu corpo era
involuntariamente atraído por ele.
Morder minha língua ou me beliscar não conseguia tirar minha mente
de como ele era lindo, então evitei me machucar sem propósito.
O restaurante era impressionante.
Havia luzes penduradas na sala escura, e os garçons e garçonetes
circulavam profissionalmente com toalhas chiques penduradas nos
antebraços.
— Vê alguma coisa que você gosta? — Val perguntou enquanto eu
folheava o menu.
Eu nunca tinha comido nada daquele menu. Tudo era chique e caro,
então eu não tinha ideia do que pedir.
— Sinceramente, não tenho ideia.
— O risoto é um aperitivo perfeito, — sugeriu.
Eu balancei minha cabeça. — Ok... vou pegar isso e um x-burguer.
— Você está na cidade e pode comer o que quiser e escolher um x-
burguer?, — ele perguntou.
Eu levantei minha cabeça para olhar por cima do menu. — Se eu
estivesse no corredor da morte e tivesse a opção de fazer uma última
refeição, escolheria um x-burguer.
Val riu, franzindo a testa em surpresa. — E sério? Você é estranha, não
é?
— Na minha cidade, havia um pequeno restaurante chamado Clay's.
Eles serviam o melhor x-burguer do mundo, — eu disse a ele, lembrando
de todas as vezes que foi jantar com Kira no Clay's.
De repente, comecei a me perguntar o que teria acontecido com todos
em casa. Minha família, meus amigos... Eles estavam procurando por
mim ou simplesmente desistiram e seguiram em frente?
Val se inclinou para frente com os cotovelos na mesa e seus olhos
permaneceram perfeitamente nos meus. — Não entendo por que você
está presa a pessoas que nem /v! f mesmo procuraram por você.
Fiquei em silêncio, magoado por suas palavras, mesmo que fossem
verdade. — Como você sabe que eles não me procuraram?
— Pelo amor de Deus, Elaina. Eu saberia - confie em mim. Sua mãe
sabia que isso iria acontecer o tempo todo e podia ter feito de tudo para
impedir. — Ele parecia estar irritado, mas esse deveria ser o meu lugar.
— Sua mãe está noiva daquele namorado viciado em drogas dela, e sua
melhor amiga está de férias em Cuba. Então, diga-me, como isso vai
ajudar a encontrar você?
Um pedaço do meu coração caiu do meu peito quando ele disse isso.
Ele obviamente estava mantendo o controle sobre elas, e se isso fosse
verdade, ninguém parecia se importar com a minha partida, mas não
fazia sentido.
Elas eram meu porto-seguro - aquelas que me amavam e sempre
estiveram lá para mim.
— Você não sabe nada. — Eu retaliei a minha raiva em relação a Val.
— Eu sei mais do que você.
Eu desviei o olhar dele, sabendo que se não o fizesse, ele veria em
meus olhos que eu estava arrasada.
A ideia de ninguém se importar me emocionou e me recusei a
permitir que ele tivesse esse poder sobre mim.
— Não chore por pessoas que não choram por você. — Suas palavras
me machucaram e, quando olhei para ele de novo, ele estava me olhando
satisfeito.
— Sua mãe sabia quando Vadim estava vindo atrás de você, assim
como a sua melhor amiga. Foi configurado para que ninguém estivesse
lá, exceto você.
— Você está mentindo. — Eu argumentei, mas ele não estava. Eu
podia ver a verdade em seus olhos, não importa o quão triste e patético
isso me deixasse.
— Kira sabia há muito tempo qual era a sua história. Sua mãe disse a
ela quando a confrontou sobre a proibição de sair do estado.
— Ela ficou quieta porque só um idiota iria foder com a máfia, amor.
— Pare! — Eu me levantei da cadeira, não me importando com os
olhares que estava recebendo ao meu redor. Eu não conseguia sentar e
ouvir isso por mais tempo - era muito cedo.
Sem uma palavra, corri para o banheiro feminino e me tranquei em
uma cabine.
Quando encostei minhas costas na porta de metal, finalmente cedi e
me permiti chorar. Eu não estava chorando porque Val estava sendo
cruel; eu estava chorando porque sabia que ele estava sendo honesto.
Na noite em que foi levada, Kira deveria me encontrar e passar a noite
assistindo filmes, mas ela cancelou no último minuto. Pode parecer
coincidência, mas Kira nunca cancelou.
Todo esse tempo, eu estive esperando e torcendo para que alguém
estivesse vindo atrás de mim, apenas para descobrir que aquelas que eu
amava eram parte do meu desaparecimento.
Capítulo 31
ELAINA

O jantar foi tranquilo. Val tentou falar, mas eu já estava deprimida


demais para me sentir bem com qualquer coisa ou para me divertir.
Não foi até que sentamos em um SUV que percebi que não iríamos
para casa esta noite - ficaríamos hospedados na cidade.
Val e eu dividimos o banco de trás enquanto um motorista manobrava
pelas ruas movimentadas de Nova York. Minha cabeça encostou na
janela e as luzes da cidade mantiveram o SUV mal iluminado.
Era realmente lindo, algo que eu sempre quis experimentar, e a última
pessoa que pensei que tomaria esse sonho realidade foi Val.
Não estava zangada com ele pela conversa que tivemos no jantar; eu
estava com raiva de mim mesma por amar as pessoas que armaram para
mim e sabiam mais sobre mim do que eu mesma.
Eu confiei neles mais do que deveria, e foi agora que percebi que só
podia confiar em mim mesma.
A mão de Val ficou na parte interna da minha coxa durante todo o
trajeto.
Assim que chegamos ao hotel, ele graciosamente abriu a porta e
segurou minha mão enquanto corríamos sob a chuva, indo para um lugar
quente e seco.
A única coisa que consegui ouvir enquanto esperava Val recuperar as
chaves do quarto foi: — Reserva sob Acerbi.
Assim que ele se virou para mim, ele ergueu a chave e fez um gesto em
direção ao elevador silenciosamente. Caminhamos juntos e em silêncio.
Era estranho não termos falado, mas era confortável.
Pela primeira vez, eu sabia que ele não estava com raiva de mim
porque seu rosto era muito mais fácil de ler do que ele deixava
transparecer.
As portas do elevador se fecharam e Val se encostou na parede me
observando enquanto eu olhava para os números iluminando.
Em questão de segundos, já estávamos passando o vigésimo andar,
continuando a subir.
— Estamos no último andar. — Foi como se Val tivesse respondido
aos meus pensamentos.
Eu balancei a cabeça e olhei para ele. — Por que tão alto?
Ele se afastou da parede e caminhou até onde eu estava. Com seus
olhos escuros olhando nos meus, ele colocou uma mecha do meu cabelo
molhado atrás da minha orelha.
— Você já viu a cidade de Nova York à noite?
Eu balancei minha cabeça negativamente. Eu nunca tinha visto a
cidade de Nova York, ponto final.
— A vista da cidade é uma coisa, mas à noite é indescritível. Só o
andar mais alto poderia fazer justiça a uma cidade como essa, —
explicou-me.
Eu o encarei, me perguntando o que diabos acabou de sair de sua
boca. Ele parecia doce da maneira mais estranha, porque eu não tinha
ideia de que Val tinha esse lado.
Havia mais camadas nele que eu não tinha visto. Com essas camadas
veio uma personalidade mais profunda do que parecia.
Ele não parecia um chefe psicótico da Máfia. Nesse momento, ele
parecia humano.
Eu ouvi um ding e, quando olhei, as portas do elevador se abriram.
Val não perdeu tempo em sair do elevador com o braço em volta da
minha cintura, e eu não pude fazer nada mais do que o seguir, já que não
sabia onde ficava nosso quarto.
Ele acabou ficando localizado no final do corredor. Usando um cartão
magnético, Val destrancou a porta e nós dois entramos.
Não precisamos acender as luzes para ver nada. O que eu queria ver
estava bem na minha frente, através da grande janela de vidro. A visão
que Val elogiou tanto.
Agora, eu entendi. A cidade inteira estava abaixo de nós, e nós
estávamos no topo de tudo. Encontrei-me caminhando até a janela,
minha boca ligeiramente aberta de admiração.
— Lindo, não é? — A voz de Val soou atrás de mim.
— Incrível, — respondi.
Val ficou ao meu lado, olhando pela janela com as mãos nos bolsos. —
Quando eu era mais jovem, minha mãe se esforçava muito para que
fôssemos normais.
— Mesmo com tudo isso, ela queria algum sentido de uma vida
normal para Stefano e eu. Um ano, ela perguntou ao pai se poderíamos
fazer uma viagem em família. — Claro, ele recusou, mas minha mãe não
quis saber... No meio da noite, ela saiu comigo e com Stefano para Nova
York, como pedimos, e ficamos neste mesmo quarto.
— Minha mãe disse que você precisa ver a cidade de cima para
apreciar todas as suas características.
Era raro que Val se abrisse sobre momentos de seu passado para mim.
Normalmente, ele se recusava, ou só respondia alguma informação
rápida, secamente.
Essa história acabou soando como uma bela memória que se escondia
bem no fundo do homem moreno que estava ao meu lado - uma
memória que realmente o fez sorrir.
— Como seu pai reagiu quando você voltou para casa? — Eu não pude
deixar de perguntar a ele. Eu teria ansiedade demais para continuar com
algo assim.
— Nós não chegamos em casa, — Val respondeu, seus olhos
permanecendo na vista da cidade.
— Quando voltamos para o hotel na primeira noite, meu pai estava
sentado naquela poltrona ao lado da cama, e seus homens tiraram minha
mãe do quarto enquanto ele levava Stefano e eu para o aeroporto.
— Até hoje, não tenho ideia para onde levaram a minha mãe, mas ela
se foi por duas semanas antes de voltar para casa.
— Sempre achei que ela foi levada para punição, e desde então estou
cheio de culpa.
— Por que você se sente culpado? Você não pôde evitar as ações de seu
pai.
— Porque fui eu que insisti na viagem, Elaina. Minha mãe não ia
desobedecer a meu pai quando ele recusou a viagem da família, mas eu
reclamei e implorei que ela nos levasse.
— Ela fez isso e sofreu as consequências. — Nenhuma história de Val
teve um final feliz. Eu era boba em esperar que terminasse de forma
diferente. Eu odiava que ele pudesse facilmente me fazer simpatizar com
ele.
Talvez fosse porque, ao contrário dele, eu realmente tinha um
coração. Mas para mim, era muito triste.
— Posso te fazer uma pergunta?
Eu fiz meu caminho até a cama e sentei no final enquanto Val se
virava para me encarar, tomando difícil ver seu rosto sem as luzes da
cidade brilhando nele.
— Depende da pergunta, Elaina.
Eu não deveria perguntar nada a ele, mas eu queria saber. Todo esse
tempo, estive no escuro e, pela primeira vez, só quero entender o que
está acontecendo ao meu redor.
— Por que você odeia a Gianna?
Seu corpo enrijeceu, e eu poderia dizer que ele não gostou da
pergunta. Em vez de responder imediatamente, ele caminhou em direção
à cama e parou na minha frente.
— Eu entendo que este era um plano para nos conhecermos melhor,
mas há algumas coisas que você não precisa saber.
Suas palavras me preocuparam e pareciam além de sombrias.
Eu sabia que não devia pressionar Val, mas ao mesmo tempo precisava
saber se a Gianna realmente estava tão mal quanto eu estava me sentindo
ultimamente ou se ela realmente estava apenas tentando me proteger.
— Val... eu só quero te entender melhor, — eu disse a ele. — E difícil
para mim entender por que você a despreza quando eu não sei por que
você a despreza.
— Eu não preciso da sua compreensão, — ele respondeu secamente
antes de apontar para a cama. — Vá dormir. Vamos sair de manhã cedo.
Soltei um suspiro suave, sem saber se deveria insistir no assunto.
Decidi não fazer isso enquanto me levantava da cama e caminhava até a
pequena bolsa que Val tinha feito para a noite.
Quando me inclinei e tirei meu pijama, pude ouvir passos leves
indicando que Val estava caminhando em minha direção.
— E o pai dela... — Ele falou baixinho, e eu não respondi, esperando
que ele continuasse. — Existem duas grandes famílias italianas, os
Acerbis e os Rossos. Gianna é uma Rosso.
— Nossas famílias sempre estiveram em guerra porque os Rossos são
a segunda família em linha a assumir o controle da Máfia italiana se um
Acerbi decidir abrir mão de seus direitos.
— O que nunca vai acontecer, devo acrescentar.
Eu me virei para olhar para Val, confusa com o que ele estava me
dizendo, mas tentei permanecer na mesma página. — Eu pensei que a
Máfia fosse um assunto de família?
— É... Mas se todos os Acerbi desaparecerem, o direito tem que ser
dado à próxima família com autoridade superior... — ele me disse, e
minha mente começou a enlouquecer.
— Veja, Elaina, estejamos todos mortos ou não, a Máfia sempre estará
por perto. Não vai a lugar nenhum.
— Mas...
— Escute, você pode gostar dessa garota, mas ela é pura maldade,
como o pai dela. Durante anos antes de nós, desde meu tataravô, eles
têm tentado nos destruir.
Os olhos de Val ficaram turvos, olhando para longe de mim e
respirando fundo. — Oito anos atrás, os Rossos invadiram um evento
familiar que estávamos realizando e fizeram uma chacina...
— Estava muito lotado, então não percebemos até que eles partiram
que havia tantas vítimas, incluindo a minha irmã, Alessia.
Irmã? Meus olhos se arregalaram. Não fazia ideia de que Val e Stefano
tinham uma irmã.
Eu podia sentir meu coração doendo por ele porque eu podia ver a dor
que isso causava a ele, o que explicava por que ele não gostava de falar
sobre ela.
— Val, eu... eu sinto muito.
— Maldito Stefano... Era parte do nosso plano levá-lo para perto dela
para que pudéssemos matá-la em troca, mas ele realmente se apaixonou
pela vadia.
— Como ele poderia perdoá-la depois do que sua família fez? — Eu
perguntei, ainda chocada com o que acabara de saber. Eu finalmente
entendi o ódio que Val tinha, junto com seu leve ressentimento por
Stefano.
— Eu tenho tentado descobrir isso, — Val gemeu, balançando a cabeça
em desgosto. O flash de traição em seus olhos me apavorou.
— E agora vamos ter um filho com o sangue deles em nossa família?
Estou te dizendo, Elaina. Isso não pode acontecer.
Minha testa franziu rapidamente quando me dei conta da ameaça que
acabava de deixar os lábios de Val. — 0 que você quer dizer? E filho de
Stefano também... Como você...?
— Mas é dela, — ele esclareceu. — E posso garantir que nenhum filho
de Rosso ficará em minha casa.
— Val, você-
Não consegui dizer uma palavra quando comecei a entrar em pânico,
sem ter ideia do que iria acontecer, mas mortificada com todas as
possibilidades. Val não pareceu se importar com meu pânico e
permaneceu perfeitamente calma.
— Ela é uma mulher morta, Elaina. Você não precisa saber como, mas
— Ela é o rato! — Eu soltei, incapaz de me impedir.
Val realmente não tinha ideia de quanto perigo ele corria. Sua
confiança o cegou, e ele assumiu que se livrar dela era fácil, mas ela tinha
uma Máfia inteira para apoiá-la também.
Ele precisava saber que isso era muito mais grave do que ele
imaginava.
— Ela? Gianna é o... — Ele fez uma pausa antes de seus olhos piscarem
em minha direção. — Há quanto tempo você sabe?
— Val, eu não sabia...
— Há quanto tempo! — Sua voz se elevou, fazendo-me pular de onde
estava. — Puta que pariu, Elaina. Há quanto tempo você sabe?
— Desde a noite em que você me mandou para o cassino, — eu
admiti, protegendo meu corpo de seus olhos raivosos.
Ele nunca disse uma palavra, mas seu rosto disse tudo quando ele
puxou o celular do bolso e começou a fazer uma chamada. — Gustavo,
cadê o Stefano?
Eu não tinha certeza do que mais estava sendo dito porque depois que
ele perguntou onde Stefano estava, toda a conversa continuou em
italiano.
Eu estraguei tudo. Eu sabia que tinha errado. Manter esse segredo por
semanas foi um erro. Mas eu estava com medo.
Isso não era desculpa, entretanto. Val ficou furioso e não o culpei nem
um pouco. Esconder isso dele havia colocado a sua vida e a de sua família
em risco.
Assim que encerrou a ligação com Gustavo, ele agarrou o telefone
com força. Cometi o erro de tentar explicar a ele, mas claro que não
adiantou.
— Ela disse que não machucaria Stefano. Ela o ama, Val.
— Você é ingênua. Esta mulher é uma vadia mentirosa que diria
qualquer coisa para conseguir o que quer, incluindo o fato de que ela
realmente ama meu irmão.
Ele apontou o dedo indicador para mim, apertando a mandíbula. —
Se alguma coisa acontecer ao meu irmão porque você não me disse isso,
você terá uma bala entre os olhos antes de que possa perceber.
Minha boca se abriu, um nó se formando na minha garganta. Não
tinha certeza se era culpa ou medo, mas senti a dor percorrendo meu
corpo, o pânico.
— Val, sinto muito... eu estava com medo.
— Você tem muito mais do que temer agora. — Ele fez outra ligação,
desta vez em inglês. — Prepare o jato - vamos partir o mais rápido
possível.
Cobri meu rosto com as mãos, repreendendo-me em minha mente
por não ter percebido isso antes.
Val fez parecer que Stefano estava com problemas, mas Gianna me
garantiu que não o machucaria. Eu acreditei nela. Ela amava o Stefano.
— Ela não vai machucá-lo.
— Então me explique por que eles saíram para jantar ontem à noite e
não foram vistos desde então. Stefano não está atendendo ao telefone e,
claro, Gianna também não.
Val deu um grande passo em minha direção. — Ela está com ele. Ela
abusou da confiança dele, e só Deus sabe onde ele está.
Eu fiquei em silêncio. Era tarde demais. Minha incapacidade de tomar
uma decisão fez com que Stefano corresse perigo. O irmão mais novo de
Val, a quem ele amava mais do que tudo no mundo.
Se alguma coisa acontecesse com Stefano, seria minha culpa e eu não
tinha certeza se conseguiria aguentar esse sentimento.
Capítulo 32
ELAINA

Val me deixou em Nova York até que um estranho, que por acaso era o
seu segurança, veio me buscar. Ele decidiu ir sozinho sem dizer uma
palavra, mas com certeza eu pagaria por isso mais tarde.
Ele estava com raiva e tinha todos os motivos para isso, mas mesmo
assim, esperava que ele entendesse meu ponto, embora soubesse que era
uma ilusão.
Eu estraguei tudo.
Cheguei em casa quase cinco horas depois que Val o fez em seu jato
particular. Eu sabia disso porque no momento em que entrei pela porta
pude ouvir gritos de dentro do escritório de Val.
Era ele, e eu tive pena da pessoa que estava recebendo a sua raiva
neste momento. Eu não tinha ideia do que estava sendo dito porque tudo
que eu sabia era que era em italiano e seu tom era zangado.
Não tive tempo para absorver a tensão na atmosfera antes que Amico
corresse para ficar de pé e eu o pegasse, embalando-o em meus braços
para meu próprio conforto.
Ele ficou claramente surpreso com os gritos intermináveis e me senti
responsável por fazê-lo se sentir melhor.
O som de uma porta sendo aberta chamou minha atenção, e no final
do corredor eu pude ver a luz vindo do escritório de Val. Respirando
fundo, observei quando ele saiu com um olhar de puro terror em seu
rosto. Ele estava furioso e eu ia ficar bem à vista dele.
— Val, eu—
Em vez de me notar, ele passou direto por mim e fez sinal para que
Rafe, que estava atrás dele, o seguisse. Eu me senti responsável por isso
porque eu era.
Mesmo depois de tudo, eu não queria causar dor a Val. Eu não queria
ser a razão pela qual ele ou sua família foram colocados em perigo.
Justo quando pensei que não poderia ser mais estúpido, provei que
estava errada seguindo Val para a sala de estar, depois de colocar Amico
no chão.
Continuei a seguir Val, insistindo que ele falasse comigo.
— Eu sei que estraguei tudo, mas você pode me ouvir?
Novamente, ele não fez nada mais do que me ignorar. Rafe nem se
incomodou em olhar para mim também, e estava claro que agora todos
estavam contra mim.
Eu sabia desde o início que isso só iria acabar mal para mim, e eu
estava certa.
— Val! — Falei mais alto quando agarrei seu braço, tentando detê-lo.
Tudo depois daquele momento aconteceu tão rápido.
Val reagiu terrivelmente a mim agarrando seu braço, e a próxima coisa
que eu sabia, eu estava presa contra a parede com seu antebraço contra
minha garganta, então eu não conseguia falar e mal conseguia respirar.
— Não me toque com essas mãos imundas e enganosas. — Ele falou
por entre os dentes, seu rosto a meros centímetros do meu enquanto
seus olhos escuros não pareciam piscar nem por um segundo.
— Eu vou te matar... Você tem sorte que eu ainda não matei.
Eu lutei para respirar, meu peito arfando enquanto colocava minhas
mãos sobre as de Val, tentando erguer seu braço longe da minha
garganta.
Meu ar estava sendo retirado do meu corpo e, mesmo neste
momento, eu me culpava. Apesar de tudo o que aconteceu, nunca quis
infligir dor a Val ou a seus entes queridos. Eu não queria ser a pessoa em
quem não se podia confiar ou a causa da morte de alguém.
— Cometi o erro de esperar demais de você. — Val olhou para mim.
Seus olhos estavam tão escuros que eu praticamente podia ver o buraco
escuro conhecido como sua alma.
— Eu não deveria ter esperado nada menos de uma Vasiliev.
Finalmente, ele tirou o braço da minha garganta e eu imediatamente
coloquei minhas mãos no pescoço, tremendo do recente encontro.
Eu senti que até este momento Val e eu estávamos fazendo progresso,
e agora eu podia sentir que tudo estava escapando rápido demais.
Val olhou para Rafe. — Peça ao Gustavo para trazê-la lá para cima. Ela
deve ser observada 24 horas por dia, sete dias por semana.
— Sim senhor. — Rafe acenou com a cabeça e se virou para mim. Eu
não lutei com ele enquanto ele me levava para fora da sala - era inútil
tentar.
Rafe sempre foi o sensato. Ele era a única pessoa aqui que não parecia
me olhar como um rejeitado da família ou como um emprego.
Eu entendi que seu trabalho era ouvir Val, mas em algum lugar dentro
dele, ele tinha que me ouvir. Pelo menos, eu esperava.
— Rafe... — Falei seu nome baixinho enquanto saíamos da sala de
estar. — Não consigo imaginar o que Val disse. E verdade, mas eu juro
por Deus, eu não estava tentando ajudá-la... Eu não tinha ideia do que...
— Eu não tenho certeza por que você sente que estou do seu lado ou
que gostaria de ouvir qualquer coisa que você diga, Elaina, — Rafe me
interrompeu, o que me pegou de surpresa.
— Preciso lembrar a você que minha lealdade está com Val - diferente
da sua, é claro.
— Eu sou leal, — argumentei, sem saber por que estava tão
desesperada para fazer aquelas pessoas acreditarem em mim. Eles não
tinham sido nada além de podres para mim.
Eu senti como se fosse por isso que eu estava tão desesperado para
que eles me ouvissem. Eu não era nada como eles e não seria vista dessa
forma.
— Elaina. Pare de falar.
Rafe me levou até o topo da escada do porão, abrindo a porta da
masmorra abaixo e chamando Gustavo. — Stavo, você vai trabalhar como
babá hoje.
Por mais que eu quisesse comentar sobre essa coisa de babá, não
comentei. Percebi como parecia uma inconveniência para esses monstros
e não pude lutar contra isso.
— Que porra é essa! — Gustavo respondeu do porão, seu tom irritado
ao ouvir passos. Só quando ele estava na metade da escada é que pude ver
sua silhueta e, finalmente, seu rosto.
Assim que chegou ao topo da escada, ele lançou um olhar furioso para
Rafe. — Eu não sou uma babá. Foda-se isso. Você pode dizer a Val para
encontrar um de seus asseclas para esse trabalho.
— Eu não, — Rafe respondeu. — Eu tenho que ir. Se você tiver um
problema sobre isso, converse com Val você mesmo.
Enquanto Rafe se afastava, pude ouvir Gustavo resmungando
baixinho. Assim que ele olhou para mim, percebi porque não gostava
desse cara.
Ele era aterrorizante e, ao contrário de Val, ele não tinha um motivo
para ser legal comigo - ou pelo menos tentar.
— Você realmente fez merda, não é? — Ele riu levemente - uma risada
que enviou arrepios na minha espinha. — Qual é a sensação de saber que
este é seu último dia na terra?
Eu franzi a minha sobrancelha com o seu comentário, sem saber o que
ele quis dizer. — Meu o quê?
— Oh desculpe. Acho que Val ainda não te disse... — Gustavo
murmurou, seus olhos descendo os degraus antes que ele conseguisse
olhar para mim.
Havia um sorriso malicioso brincando em seus lábios, e eu queria que
Rafe voltasse. Eu queria Val. Qualquer um, menos esse maníaco.
— Já que você está presa a mim, acho que você dará uma espiada no
que está reservado para você.
Eu balancei a minha cabeça, dando um passo para trás, e me preparei
para correr até que o braço de Gustavo serpenteasse em volta da minha
cintura.
— Não! Me solte!
— Não se contorça, querida. Isso só vai tomar as coisas mais difíceis.
— Eu podia ouvir o prazer em seu tom. Ele me deixou mortificada e
amou a ideia de eu ter medo dele.
— Val! — Gritei assim que Gustavo começou a me carregar em direção
à porta do porão. Tentei me agarrar às paredes ou grades - qualquer coisa
que pudesse me manter longe dele.
Mas a sua força era demais para aguentar, e minhas mãos
continuaram a se afastar de qualquer coisa que eu tentasse segurar.
Eu odiava o porão. Nada de bom aconteceu aqui, apenas coisas ruins.
Eu sabia que estar aqui embaixo não era uma coisa boa, e depois do
que o Gustavo falou, fiquei mais preocupada com o que iria acontecer.
Parecia que eu era uma pena nos braços de Gustavo, e só quando ele
me pôs de pé é que pude ver o que estava acontecendo. O que estava me
cercando.
Havia uma maca médica que parecia altamente desconfortável e ao
lado dela estava uma máquina alta que tinha líquido visível através do
vidro e um dispositivo intravenoso conectado a ela.
— O que é isso? — Eu perguntei a ele. Tive medo de ouvir a resposta.
— Você realmente irritou o Val, — Gustavo respondeu antes de
caminhar até a maca. — Ele não aceita bem traidores, Elaina. Você deve
saber o que acontece quando alguém o trai.
— Mas eu não...
— Você sim. E você precisa pagar. Stefano está desaparecido, e você é
parcialmente culpada. — Gustavo esfregou a informação na minha cara,
embora eu não tivesse ideia de que Stefano estava desaparecido.
— Você está morta para ele. E em algumas horas, você estará morta
para todo mundo.
Eu encarei Gustavo por um momento antes de olhar de volta para a
maca. Eles iam me matar.
— Nem fodendo que eu vou ficar aqui e deixar você me tocar! — Eu
praticamente gritei com ele, obtendo meu comportamento ousado do
medo que estava correndo por todo o meu corpo.
Gustavo abriu a boca para falar, mas não disse uma palavra. Em vez
disso, seus olhos focaram atrás de mim e ele ergueu as sobrancelhas. —
Você deve explicar melhor?
Rapidamente, me virei e quase caí nos braços de Val. Ele ficou parado
em cima de mim, olhando para mim como se eu fosse menor.
Eu nem tinha ouvido ele entrar, mas havia algo em seus olhos que me
deixou com mais perguntas.
— Não há necessidade, — Val disse simplesmente. — Não vamos
seguir em frente com isso.
Gustavo parecia genuinamente desapontado, agitando os braços
levemente. — Mesmo? A boceta dela é tão boa que você não quer desistir
ainda?
Senti meu coração afundar um pouco, odiando nada mais do que ser
tratada como se eu fosse um objeto, especialmente de uma maneira tão
sexual.
Val manteve os olhos em mim, mas falou com Gustavo. — Suba as
escadas. Elaina e eu precisamos conversar.
Fui eu quem estava tentando falar com ele quinze minutos atrás, e
agora, depois que seu melhor amigo me assustou pra caralho, foi quando
ele decidiu que era um bom momento para conversar.
— Você está fodido. Não deixe uma mulher embaçar sua visão.
Sempre tomamos decisões com base no que era a jogada inteligente, não
com base em emoções.
— Suba, porra, Stavo. Não vou pedir de novo! — Val finalmente olhou
para Gustavo, seus dentes cerrados enquanto seus olhos ardiam de fúria.
Se eu fosse o Gustavo, não mexeria com Val quando ele estivesse com
esse humor. Gustavo deve ter pensado a mesma coisa porque, mesmo em
meio à frustração, não se atreveu a discutir mais.
Em vez disso, ele subiu as escadas e bateu à porta no momento em
que alcançou o topo da escada.
Val e eu ficamos em um silêncio que parecia tenso. Claramente, Val
tinha algo a dizer e, sinceramente, eu também. Com base no que acabara
de ouvir, ele estava planejando me matar.
Mas por que a repentina mudança de atitude?
— É verdade? — Minha voz era suave, uma parte de mim estava
quebrada por dentro. Eu sabia que ele era um monstro, mas ele sempre
deixou claro que me matar não era uma opção. Sempre. — Você vai me
matar? — Val não pareceu nem um pouco perturbado com minha
pergunta. Ele me respondeu sem um pingo de compaixão em seu tom. —
Sim. Eu tinha toda a intenção de eliminar você da minha vida.
Eu desviei o olhar de Val, meus olhos queimando com sua resposta.
Até agora, me senti protegida por ele. Não importa o quanto eu o odiasse,
eu acreditava em seus valores e em seu juramento de me manter segura.
E agora ele queria que eu fosse embora também.
— Eu não confio facilmente, se é que confio. Cometi o erro de confiar
em você, como minha esposa, para ser leal a mim, e você escolheu ser leal
ao inimigo.
Sua resposta foi branda, mas mesmo nas poucas palavras que ele falou,
eu pude ouvir a dor em seu tom. Ele realmente confiava em mim e eu
tinha falhado com ele.
— Eu não era leal ao inimigo, Val. Eu estava tentando imaginar...
— Você não está me dizendo que está escolhendo-os! — Os olhos de
Val se arregalaram e, com o canto do olho, pude ver suas mãos se
fechando em punhos, mas ele não as moveu de lado.
— Se você fosse leal, teria me contado na noite em que descobriu. O
que me leva a acreditar que você estava pensando em mudar de lado.
A única coisa que consegui fazer foi balançar a cabeça e implorar para
que ele entendesse de alguma forma.
Mas isso não aconteceria, e o olhar nos olhos de Val deixou isso
extremamente claro para mim.
— Então por que você disse ao Gustavo que não ia continuar? Você
está deixando claro que quer que eu vá embora.
— Eu quero, — ele concordou. — Não posso confiar em você e
elimino aqueles em quem não posso confiar. No entanto, algumas coisas
chegaram ao meu conhecimento e não tenho outra escolha a não ser
mantê-la por perto.
Eu juntei as minhas sobrancelhas, não tendo ideia do que poderia ter
se desenvolvido desde a cidade de Nova York. Nada que eu estivesse
ciente, pelo menos.
Val parecia certo, entretanto. Ele parecia certo de que algo drástico
havia ocorrido e mudou sua mente, mas eu não fazia ideia do que podia
ser.
— Durante o voo para Nova York, tenho certeza de que você se lembra
de ter ficado cansada e adormecida, — acrescentou.
Eu me lembrava com bastante clareza. O voo foi curto, mas eu estava
exausta.
— Enquanto você dormia, tirei uma amostra do seu sangue. Veja,
Coilin tem o hábito de eliminar os seus inimigos silenciosamente.
— Durante anos, qualquer pessoa em seu caminho, em quem ele
pudesse colocar as mãos, morreu lenta e silenciosamente. Quando tem a
oportunidade, ele acrescenta um veneno chamado arsênico à bebida ou
comida.
— Geralmente é um pó, então não se decompõe tão rápido quanto a
maioria dos outros venenos.
— Não tem como você tirar uma amostra do meu sangue enquanto eu
estava dormindo. Eu teria sabido.
Foi meu melhor argumento, mas mesmo assim, Val não se incomodou
em explicar; ele apenas continuou.
— Eu descobri por um aliado que Coilin tinha esse método silencioso,
então, claramente, eu estava preocupado com você, como qualquer
marido estaria.
— Então, enviei sua amostra ao médico imediatamente, recebendo os
resultados de volta hoje.
Meu coração começou a bater forte dentro do meu peito quando a
realização me atingiu. Eu fui envenenada. Isso era o fim da linha - eu iria
morrer.
Oh... Oh meu Deus... Estou morrendo...
— Não, Elaina. Você não está morrendo porque não foi envenenada...
— Val acrescentou. — No entanto, altos níveis de HCG foram
encontrados em seu sangue.
— Eu não posso te matar Elaina. — Ele parecia angustiado, mas pela
primeira vez durante a conversa, um toque de compaixão foi visto em
seus olhos.
— Eu não posso te matar porque você está grávida do meu filho.
Capítulo 33
ELAINA

— Não pode ser.


Eu me peguei tentando tomar qualquer explicação possível depois que
Val alegou que eu estava grávida. Não fazia sentido, então não pude
deixar de sentir que esse era outro truque que ele tinha na manga.
Ele nunca faz nada sem motivo, e deve haver um motivo por trás das
palavras que saíram de sua boca.
Senti que era necessário lembrá-lo de que estava tomando
anticoncepcional - algo que tomei de propósito para me impedir de
engravidar.
— Não estava, não., — foi tudo o que ele disse em resposta, mas
quando pressionei o assunto, ele revelou todos os detalhes do que me
levou a este momento.
— Eu preciso de um herdeiro, Elaina. Essas pílulas que você estava
tomando não eram anticoncepcionais - eram estimuladores hormonais.
— Você me enganou para engravidar?
— Eu não diria de uma forma tão dura, mas se é assim que você quer
chamar, então com certeza.
— Val se foder, Val! — Eu levantei minha mão, batendo com força em
seu rosto. Isso era um pesadelo. Eu não queria isso.
A única coisa sobre a qual eu tinha controle era isso, e ele tirou de
mim também.
— Eu não sei por que você parece tão surpresa. Eu já te avisei desse
fato.
— Talvez você tenha avisado, mas por alguma razão insana, eu assumi
que você estava fazendo uma piada de mau gosto.
— Porque quem em sã consciência iria realmente substituir o
anticoncepcional de alguém? — Eu cuspi, enfurecida com esta
informação.
Cada vez que Val fazia sexo comigo, o pensamento cruzava a minha
mente, mas eu me sentia protegida. Eu deveria estar protegida.
Embora eu sempre tenha pensado sobre o meu futuro, sempre
querendo ter filhos, ser casada com Val mudou isso.
Eu não poderia ser responsável por trazer uma criança para esta vida
horrível com um homem como Val como seu pai.
— Acalme-se, amore. — Ele não pareceu perturbado pelo meu tapa,
mantendo a calma, o que só me fez querer bater nele de novo.
— Você não terá responsabilidades. Depois que esse bebê nascer, não
vou precisar mais de você.
As suas palavras me fizeram parar. De jeito nenhum ele pretendia me
manter longe do meu próprio filho.
— O que você quer dizer com isso?
— Quero dizer exatamente o que parece que quero dizer. Você dá à
luz e está fora. — Seus olhos me enviaram um brilho sombrio antes que
ele continuasse. — Eu estava preparado para matar você. Eu não preciso
de você, Elaina.
— Mas eu preciso do meu filho.
— Nem ferrando que você vai pegar o meu filho e se livrar de mim, —
eu gritei de volta para ele.
— Basta você espera... Você não tem nenhuma palavra a dizer sobre
esse assunto.
Foi nesse momento que minha boca continuou se movendo e eu não
percebi o que estava dizendo até que estava fora do meu controle. —
Deus, espero que eles matem você.
Val respondeu com uma risada, parecendo genuinamente divertido
com o meu comentário. — Eles não vão. E aí que você estragou tudo,
Elaina. Se você me quisesse morto, não teria me contado.
— Mesmo que você tenha esperado um pouco, você não esperou o
suficiente.
— Te odeio.
— Eu deveria me importar? — ele perguntou-me. — As coisas estão
mudando. Você está sendo transferida para outra sala - uma sala só sua.
Você não sairá de lá.
— As refeições serão entregues a você e, em nove meses, o Dr.
Franklin fará o parto.
— E então? — Eu perguntei.
— Então, levantarei meu herdeiro e você será colocada no programa
de licitação.
— Programa de licitação? — Eu não gostei disso. Me apavorou. Val
tinha essa nova vingança contra mim, e tudo o que ele pudesse fazer para
me machucar, ele faria.
— Para o tráfico, — respondeu ele. — Normalmente, isso não é minha
praia, mas eu só quero que você vá embora. Você irá para o licitante com
lance mais alto, então eles serão o seu problema. Depois nós finalizamos o
divórcio.
Divórcio. Eu queria ouvir essa palavra há meses, mas agora eu odiava.
Agora, isso significava que eu estava perdendo meu filho por nascer para
um monstro.
De antemão, isso significaria que eu tinha liberdade. Não só eu
perderia o meu bebê, mas seria vendida para alguns malucos sádicos.
— Por favor, não faça isso comigo..., — implorei, com medo das
possibilidades.
— Você é uma traidora, Elaina. Estou sendo indulgente em não
permitir que Gustavo te mate, — comentou como se estivesse me
fazendo um favor.
Ele não estava me fazendo tal coisa. Na verdade, ele estava apenas
escolhendo um método diferente para a minha tortura.
— Eu entendo que você está preocupado com Stefano, mas eu nunca
me juntei a eles! Eu só estava tentando proteger o bebê de Stefano... Eu
sabia que você mataria Gianna e o bebê não teria a menor chance.
Eu o encarei, e ele se recusou a olhar para mim. Sua mandíbula se
apertou. Aproveitei o momento que tive e continuei tentando explicar
meu lado da história.
— Eu sei como você fica quando está com raiva... Stefano nunca iria
perdoá-lo por matar seu bebê.
— Bem, agora ele provavelmente está morto, então é isso que você
queria? — Ele ergueu a voz, movendo-se extremamente perto de mim. —
Meu irmão mais novo está possivelmente morto porque você demorou
muito para me dar informações!
— Eu deveria protegê-lo, algo que falhei em fazer por minha irmã.
Agora, eu também falhei com ele.
— Ele é um cara forte, Val. Você precisa acreditar que ele pode cuidar
de si mesmo...
— Eu acreditava... até receber seu dedo decepado pelo correio. — Suas
palavras me fizeram engolir em seco e ele apenas me olhou sem emoção.
— O que você acha de ser otimista agora?
Meu estômago se revirou com suas palavras. Que tipo de aberração
doentia manda para alguém o dedo decepado do irmão? Então percebi
que o maluco era alguém que pensei ser meu amigo.
Mesmo depois de saber qual era o plano de Gianna, nunca esperei isso
dela.
— Eu sinto muito...
— Você deveria sentir, mesmo, — ele respondeu, agindo como se fosse
forte e intimidante, mas eu podia ver em seus olhos que ele estava
preocupado com Stefano.
Claro que ele estava - o Stefano era seu irmão mais novo, e até mesmo
pessoas sem coração tinham sentimentos. Foi uma reação humana; ele
não poderia lutar mesmo se tentasse.
— Venha comigo. Eu vou te mostrar o seu quarto.
Eu estava grata por hoje não ser meu último dia na terra como
Gustavo havia mencionado de forma tão charmosa. Todos os dias
contados em meus olhos, mas agora eu estava enfrentando terríveis
consequências por minhas ações.
Eu estava sendo mantido viva enquanto outro humano crescia dentro
de mim, e então, eu seria levada para fora como lixo.
Embora ser vendido fosse aterrorizante, eu estaria bem em ser expulsa
deste lugar, contanto que eu tivesse meu filho comigo, mas antes mesmo
de nascer, ele seria tirado de mim.
Eu estava sendo usada como portadora de bebês até que o bebê
pudesse viver fora do meu corpo. Eu não estava bem com meu filho
sendo tirado de mim e não tinha escolha.
Quando chegamos ao andar de cima, Val parou em uma porta que
ficava três portas abaixo de nosso quarto. Assim que ele abriu a porta,
observei o quarto.
Uma cama de solteiro e uma escrivaninha vazia com uma cadeirinha.
Havia um armário à esquerda do quarto e outra porta à direita que dava
para um pequeno banheiro pessoal.
O quarto era significativamente menor do que o quarto que Val e eu
dividíamos juntos. Estava claro que essa era a sua nova ideia de punição.
Eu estava bem em ter um quarto pequeno — isso não fez diferença
para mim. Era simples e claramente me deixava sem nada para fazer, mas
pelo menos eu teria Amico para me fazer companhia.
— Quando o Amico pode vir aqui? — Eu perguntei baixinho.
Val apenas riu. — Você não tem nenhum direito, Elaina. Você é
realmente tão estúpida? Você acha que eu permitiria a você a alegria de
ter um animal de estimação para lhe fazer companhia?
— Eu apenas pensei-
— Bem, você pensou errado, — ele retrucou para mim. — Amico será
realojado. Obviamente, dei muito a você pela sua falta de gratidão.
— Me deu muito? — Eu não pude evitar, mas retruquei para ele.
Ele estava delirando se pensasse em si mesmo como uma espécie de
Príncipe Encantado. Ele não era o Príncipe Eric; ele era mais parecido
com Jafar.
— Você é louco... Você acha que me deu uma vida incrível? Você é
maluco. Ser abusada e estuprada não é uma vida boa.
— Não tenho certeza de qual é a sua ideia de bondade, mas você é um
filho da puta doente.
Sua mandíbula estava cerrada e ele foi claramente pego de surpresa
pela minha explosão, mas eu não me arrependi nem um pouco.
Ele tinha que saber que tipo de monstro ele era, porque por alguma
razão maluca, ele pensava que era uma boa pessoa.
— Você é igualzinho ao seu pai, — continuei. — Você fala sobre ficar
assustado com as memórias de seu pai abusando de sua mãe e tratando-a
como lixo, quando na realidade, você é igual a ele.
— Você é o mesmo tipo de monstro distorcido que ele. E temo a vida
pela qual você fará nosso filho passar, porque você não foi feito para ser
pai.
Esse foi o limite. No momento em que deixei minhas palavras
obterem o melhor de mim o punho de Val voou pelo ar.
Eu vacilei, fechando meus olhos com força e ouvindo o impacto na
parede ao meu lado. Eu esperava um soco no rosto, mas tudo o que foi
danificado foi a parede ao meu lado.
Ele descontou sua raiva na parede, mas seus olhos estavam frios
quando olharam nos meus.
— Você está cruzando uma linha, Elaina. Uma linha muito fina. Eu
sugiro que você pare enquanto pode.
Ele falava por entre os dentes e, ao tirar a mão do buraco que causou
na parede, sacudiu os pedaços da parede de gesso.
— Minha família não é da sua conta. Contar a você sobre a minha vida
enquanto crescia foi um erro, então você vai parar de mencionar isso a
partir de agora. Estamos entendidos?
— Muito, — eu falei enquanto olhava para ele.
Com um único empurrão, ele me colocou no quarto e fechou a porta
atrás de mim.
Enquanto eu estava perfeitamente imóvel no centro do pequeno
quarto, pude ouvir um som arrastado que indicava que a porta estava
sendo trancada.
Eu olhei fixamente para o chão, me perguntando o que eu faria a
partir deste momento. Eu deveria esperar os próximos meses para dar à
luz para que eu pudesse ser vendida por dinheiro?
Parecia altamente irracional, mas, na verdade, preferia estar morta.
VAL

— Alguma pista? — Eu perguntei quando Rafael entrou em meu


escritório mais tarde naquela noite. Quando ele balançou a cabeça, bati
meu punho na mesa, com irritação fluindo pelo meu corpo.
— Então o que diabos você está fazendo aqui?
— Chefe, peço desculpas por não ter nenhuma informação nova...
Gustavo saiu há algumas horas para dar uma olhada no cassino. Bem, no
que está sob o cassino. — Rafe continuou falando, mas eu não me
importei com nenhuma palavra que saiu da boca dele.
Era pura procrastinação, e tê-lo parado aqui na minha frente era
apenas uma perda de tempo para encontrar Stefano em segurança.
— Você pode dar o fora? — Eu rosnei, minha raiva estava mais forte
do que o normal. Eu era uma pessoa naturalmente zangada, mas quando
estava vulnerável, minha raiva parecia escalar para um nível totalmente
diferente.
Minha mente foi para Elaina, a mulher com quem fui forçado a me
casar, mas por algum motivo fodido consegui acabar me aproximando.
Eu não era uma pessoa adorável. Eu não gostava de pessoas de jeito
nenhum. Mas ter uma esposa significava mais para mim do que parecia.
Ter Elaina era como ter a minha família — ela deveria ser uma pessoa
que seria eternamente leal até o fim.
Pelo menos foi o que eu pensei. Era assim que deveria ser na minha
família. Quer concordássemos ou não, sempre nos protegemos.
Além de Gustavo, lutei para confiar em qualquer pessoa ou acreditar
em sua lealdade e, por algum motivo, presumi que a Elaina seria leal.
Tudo por causa de um anel idiota em seu dedo que ela também foi
forçada a usar.
Uma vez que Rafe saiu da sala, eu abri as câmeras de segurança do
meu computador e selecionei uma que monitorava o pequeno quarto
onde Elaina estava presa.
Ela estava sentada na cama e olhando para o teto enquanto as
lágrimas rolavam pelo seu rosto.
Quase me mexi na cadeira para me levantar para poder ver melhor
como ela estava, mas me contive. Eu estava com raiva dela - eu tinha
todo o direito de estar com raiva dela - mas sentia a necessidade de
confortá-la.
— Pelo amor de Deus, — eu murmurei baixinho, odiando a sensação
que estava me consumindo. A sensação de querer estar lá para ela depois
de sua traição.
Desliguei a câmera rapidamente e recostei-me na cadeira, sabendo
que eu iria ceder se ficasse assistindo o sofrimento dela.
Nenhuma pessoa, muito menos uma mulher, teria esse tipo de
controle sobre mim. Recusei-me a ficar à mercê de qualquer pessoa,
especialmente alguém que não sentia compaixão por mim.
Em nove meses, ela estaria fora da minha vida. A minha única
preocupação era como eu seria capaz de me manter longe dela por nove
meses.
Capítulo 34
VAL

Parecia que eu passava a maior parte dos meus dias sentado na minha
mesa, esperando por uma ligação ou alguém para me dar qualquer tipo
de informação sobre o meu irmão.
Não saber onde ele estava me apavorava além das palavras, e eu odiava
essa sensação de vulnerabilidade.
Eu e o Stefano sempre estivemos juntos. Suportamos tudo juntos
enquanto crescíamos. Fosse o abuso do meu pai ou as intensas sessões de
treinamento de doze horas, éramos sempre ele e eu.
Crescendo, senti a necessidade de ser o guia e a figura masculina na
vida do Stefano. Eu seria o único a elogiá-lo por um dia bom. Fui eu
quem cuidou de seus hematomas.
Por anos, ele confiou em mim porque eu confiei em mim mesmo para
estar lá para ele sempre que ele precisasse. Ele significava muito mais
para mim do que só um irmão. Ele era meu melhor amigo e meu único
verdadeiro confidente.
A minha raiva por Elaina tinha sido facilmente ampliada devido ao
fato de meu irmão ter se tomado um dano colateral nesta situação.
Uma pequena parte de mim entendeu porque Elaina estava em
conflito. A mulher tinha um grande coração, mas o mundo era cruel
demais para lidar com o que havia de bom dentro dela. Eu também.
Nunca na minha vida eu fiz o bem - não voluntariamente e nem
pensando duas vezes, sempre agi de acordo com as decisões que tomei.
Eu estava ciente da pessoa terrível que era e eu poderia viver bem com
isso, mas a Elaina era o extremo oposto.
Ela era a pessoa boa em um mundo cheio de trevas, e mesmo nas
profundezas da minha alma, ela tentou encontrar a luz em mim.
Isso me deixou com raiva, alguém esperando o bem de mim quando
eu não tinha me incomodado em nem tentar ser bom nos últimos vinte e
oito anos da minha vida.
Quando as pessoas esperam o bem, elas estão apenas se preparando
para uma decepção, então nunca me permiti tentar. Estar na Máfia
italiana era mais importante do que qualquer coisa.
Meus olhos pousaram na aliança de casamento na minha mão
esquerda, e revirei os olhos com pensamentos sobre os quais não tinha
controle.
Sentar na minha mesa por horas olhando para a mulher frágil que por
acaso era minha esposa só me fez sentir simpatia e arrependimento -
sentimentos que eu não estava familiarizado e nunca me permitiria
sentir.
Ela estava deitada na pequena cama, dormindo profundamente, mas
mesmo com os olhos fechados, ela me intrigava tanto quanto fazia
quando estava acordada.
Meus olhos se desviaram da tela quando alguém passou pela porta. —
Quem quer que seja, entre aqui.
Um momento depois, Diego apareceu na porta, as sobrancelhas
erguidas e pronto para obedecer a tudo o que eu pedisse. — Sim, senhor?
— Leve um pouco de comida para Elaina.
Nada enlatado ou barato - peça a Anita para fazer algo fresco para ela,
talvez sopa ou macarrão, — eu instruí.
Meu plano já estava desmoronando, e ela só ficou trancada naquele
quarto por menos de vinte e quatro horas.
Inicialmente, ela deveria receber apenas uma refeição por dia, feijão
enlatado e uma garrafa de água, mas aqui estava eu, aleijado ao vê-la e
oferecendo-lhe tudo o de melhor que minha casa tinha a oferecer.
Diego saiu da minha vista e fechei meu laptop com força, com raiva de
mim mesmo por parecer tão fraco.
— Ei, gatinho. Nunca é bom descontar a sua raiva assim, — uma voz
feminina interrompeu meus pensamentos.
Olhando de volta para a porta, a bela Catherine Mortsa estava usando
um vestido vermelho justo que me deixou de pau duro, só de observar.
— E como você sugere que eu devo descontar a minha raiva?
Seus longos cabelos loiros caíram ao longo de seu peito e meus olhos a
seguiram descaradamente.
Quando ela entrou no meu escritório, ela fechou a porta atrás dela e
mordeu o lábio que estava pintado com batom vermelho brilhante. — Eu
tenho algumas ideias...
Porra. Eu podia me sentir latejando com aquela visão diante de mim.
Eu tinha ligado para ela uma hora antes, pedindo que ela viesse para
casa com a intenção de foder até esquecer.
Antes da Elaina, ela sempre vinha aqui algumas vezes por semana
apenas com o propósito de me dar a intimidade que eu queria. Agora que
não podia transar com a Elaina, decidi voltar à minha rotina com
Catherine.
Esta mulher poderia satisfazer cada uma das minhas necessidades
sexuais, e eu tinha certeza de que seu corpo era exatamente o que eu
precisava para relaxar e descontrair.
Quando ela se aproximou da minha mesa, ela olhou para mim com o
mesmo sorriso sedutor que me cativou muitas vezes antes. Quando ela se
inclinou para pressionar seus lábios nos meus, eu ansiava por nada mais
do que tê-la em cima de mim.
Os lábios de Catherine se moveram com os meus, beijando-me com
agressividade e uma sensação de controle que nenhuma outra mulher
poderia fazer por mim.
Minhas mãos deslizaram por suas pernas nuas e agarraram com força
sua bunda perfeitamente moldada.
— Mettiti em ginocchio, — sussurrei contra seus lábios, pegando um
punhado de sua mão e colocando-a de joelhos na minha frente.
Tradução: Fique de joelhos.
Quando Catherine se ajoelhou na minha frente, uma visão clara de
seu decote apareceu, e eu lambi meus lábios com atenção.
Suas pontas dos dedos encontraram o zíper da minha calça e o abriu
rapidamente, tomando a iniciativa e puxando meu pau para fora da
cueca.
Sem um segundo para hesitar, ela colocou a boca no meu pau e
começou a chupar com vontade.
— Oh, gesu, cazzo, — eu murmurei, sentindo necessidade de gemer.
Tradução: Oh, Jesus, caralho.
Sua mão segurou a base do meu pau, que não cabia em sua boca,
esfregando-a enquanto seus lábios trabalhavam no resto.
Ela puxou a cabeça para trás e rodou a língua de brincadeira, dando-
me uma sensação divina de prazer que era indescritível.
— Puta merda, Elaina. Chupa mais rápido... — Então tudo parou. A
sucção, a lambida, os gemidos que ela estava fazendo para me excitar.
Tudo parou instantaneamente e eu sabia por quê.
— Catherine, eu quis dizer Catherine, — eu me corrigi.
— Claro que sim, seu filho da puta, — Catherine murmurou enquanto
se levantava de sua posição na minha frente e limpava a boca com nojo.
Eu inclinei minha cabeça para trás e gemi de aborrecimento. — Para
com isso. Agora, volte aqui e termine o que começou.
Seu cabelo balançou quando ela se virou para me encarar, com fúria
em seus olhos, e eu sabia que tinha acabado de provocar a loucura na
mente de Catherine Mortsa.
— Que tal você mesmo terminar o trabalho? Ou talvez até mesmo
pedir a sua esposa prisioneira para fazer isso por você? — Eu não
respondi. Catherine poderia me irritar como ninguém, e eu não ousei dar
a ela qualquer informação que ela pudesse usar contra mim.
— Ou ela não chupa o seu pau? Pobre Valentino. — Ela fingiu fazer
beicinho, ajustando o cabelo enquanto caminhava até o espelho em meu
escritório para ver seu reflexo.
— Você me ligou porque disse que seu relacionamento com Elaina era
puramente contratual, nada íntimo. Mas os seus gemidos dizem o
contrário.
Levantei-me da cadeira, ajustando as minhas calças e fechando meu
zíper enquanto caminhava em direção a Catherine.
— Eu não preciso me explicar para você. Eu ajudei você muito mais do
que qualquer outra pessoa, e meu único pedido é que você não questione
a mim ou meu estilo de vida.
— Oh, querido. Não estou questionando nada. — Ela colocou a palma
da mão no meu peito, suas unhas vermelhas se tomando visíveis e um
sorriso malicioso apareceu em seu rosto.
— São fatos. Você e sua esposa estão tendo problemas no quarto,
então espera que eu apareça e ajude você a superar.
— Eu tenho uma notícia para você. Já passei por muitas coisas na
minha vida, mas não serei usada. Não por você.
A mulher falou por si mesma - algo que sempre me incomodava - mas
era a mesma coisa que Elaina sempre fazia.
Em vez de permitir que Elaina se afastasse, eu a punia com abusos -
emocionais e físicos.
Então ali estava a Catherine, uma mulher tão obstinada e
independente quanto Elaina, mas eu reagi de forma muito diferente. Eu
permitia que ela falasse por si mesma.
Mesmo quando isso me irritou, eu deixei para lá.
Por que me permiti respeitar qualquer outra mulher que não fosse a
minha esposa? Além de Elaina, eu nunca tinha batido em uma mulher.
Nunca tinha colocado a mão em uma mulher.
Mas com Elaina, parecia que eu fazia isso regularmente.
ELAINA

Diego deixou um prato de macarrão na mesa antes de sair


abruptamente. Eu estava bem sem a interação humana, mas ao mesmo
tempo, estava completamente fora de mim.
Eu não tinha ideia do que estava acontecendo no resto da casa ou se
havia alguma notícia sobre Stefano.
Eu sabia que havia uma razão para eu estar trancada no quarto: o Val
estava com raiva, e a sua forma de punição desta vez foi me banir do
mundo exterior.
Eu tinha aceitado essa punição. Na verdade, tudo começou com as
mentiras da minha mãe.
Mas o único fator que estava em jogo agora era um bebê que eu nunca
pedi - um bebê que, apesar de ser enganada para ter, eu queria.
E um bebê que eu não conseguiria criar por causa do Val.
Eu nem conseguia me lembrar da época em que eu tinha controle
sobre a minha própria vida. Eu não conseguia me lembrar de ser capaz de
fazer planos ou assistir ao pôr do sol de um parque público.
Coisas pequenas eram as que eu mais sentia falta. Mas agora, eu tinha
recebido algo tão grande, tão incrível, e em nove meses, seria forçada a
desistir do meu bebê. Ele seria tirado de mim.
Quando ouvi o som da porta sendo destrancada, fiquei confusa, mas
presumi que fosse Diego voltando para pegar o prato que eu já havia
terminado. Mas não foi.
Val ficou na porta sem fazer nada mais do que me encarar.
Eu não conseguia interpretar as feições dele, e isso me apavorava, mas
outra parte de mim não se importava, porque eu poderia lidar com o que
quer que ele jogasse em mim agora, mesmo que fosse uma chuva de
socos.
— Eu quero começar de novo, — ele finalmente falou.
Eu franzi a minha sobrancelha, mas não disse uma palavra. Ele só
podia estar brincando. Não havia como esse maluco pensar que
poderíamos começar de novo depois de tudo o que tinha acontecido.
O homem estalou os dedos e presumiu que o mundo o seguiria em
uníssono.
— Quero um novo começo para este casamento, apesar dos erros que
nós... ou eu cometi. — Ele continuou falando como se estivesse validando
tudo o que havia feito desde que nos casamos.
— Eu me tomei meu pai da maneira mais doentia. Até me decepcionei
sabendo que fiz com você o que meu pai fez com a minha mãe.
— Então, a partir deste momento, quero começar de novo e tentar
funcionar mais como um casal forte e poderoso.
Para mim, chega. Não podia mais ficar sentada ali ouvindo seu pedido
absurdo. Era ridículo que ele até esperasse que eu concordasse com esse
absurdo.
Antes mesmo de perceber, eu estava rindo. Cobrindo a minha boca e
rindo contra minha mão, levantei uma sobrancelha para ele. —
Desculpa... você não pode estar falando sério.
— Como é que é?
— Eu disse, você não pode estar falando sério. — Eu falei mais devagar
dessa vez, certificando-me de que ele me ouviu em alto e bom som.
Eu estava cansada de ser atropelada. De jeito nenhum eu iria deixá-lo
pensar que a maneira como ele estava me tratando era justa.
— Você realmente espera que eu esqueça tudo o que você fez comigo?
As noites em que fiquei trancada ou os hematomas que você deixou no
meu corpo? Droga, Val, você me machucou!
— Você pegou tudo o que não estava contaminado dentro de mim e
destruiu. Você tirou a felicidade que eu tinha em mim. Até você, eu
sempre acordava grata por mais um dia, mas agora...
— Agora, eu temo acordar. Por sua causa.
— Você me faz odiar a ideia de viver. Você me faz odiar acordar de
manhã porque a única coisa que me prometem quando chega outro dia é
a dor.
Eu desabafei, a minha dor estava vindo à tona mais do que eu
esperava. Eu sabia que sentia muita raiva de Val, mas assim que comecei a
expressá-la, parecia impossível parar.
Este homem me destruiu para sempre.
— Isso é justo, — foi a resposta de Val. Ele estava estranhamente
relaxado depois que eu o ataquei. Com as mãos enfiadas nos bolsos da
calça, ele se aproximou de mim. — Mas você está aqui e está viva, não é.
Pode ser que essa não seja a vida dos seus sonhos, mas você está viva e,
enquanto estiver viva, estará comigo.
— Independentemente da sua disposição de me dar uma segunda ou
terceira chance, eu tenho a oportunidade de provar meu valor, porque
você não estará em nenhum outro lugar a não ser aqui.
— Não perca seu tempo tentando demais. Você pode estar tentando
se decidir, mas o meu coração já tem uma resposta, e é n — Eles o
encontraram! — Minha voz foi interrompida por Gustavo entrando na
sala sem fôlego.
A atenção de Val foi imediatamente tirada de mim, e ele olhou para
Gustavo com uma esperança desesperada em seus olhos. — Stefano?
— Sim. Há um armazém ao norte de Chicago, uma estrada secundária
na floresta.
— O celular dele acabou de dar sinal em uma torre de celular próxima,
pela primeira vez desde que ele desapareceu, — Gustavo começou a
explicar, ainda tentando recuperar o fôlego.
É
— É uma armadilha... A Gianna deve ter ligado o celular sabendo que
estávamos olhando. Ela está pronta para lutar, — Val comentou, olhando
para Gustavo com um olhar astuto em seus olhos.
Ele não parecia nem um pouco assustado, mas em vez disso, ele estava
confiante como sempre.
— Bem, nós também estamos prontos. E não somos estúpidos o
suficiente para cair em sua armadilha despreparada. Reúna todos os
homens, entre em contato com meu pai e partiremos em uma hora.
— Entendi, — respondeu Gustavo, desaparecendo na escuridão do
corredor e não deixando nada além do som de seus passos pesados.
— O que vai acontecer? — Eu perguntei a ele. — E se eles tiverem
mais pessoas para lutar?
— Na pior das hipóteses, perderemos alguns homens. No entanto,
estou confiante de que temos força suficiente para vencer tudo o que eles
têm à nossa espera. — Val saiu da sala, sem dizer mais nada.
Parecia um risco, como a maioria das coisas que Val assumia em sua
vida, mas ele permaneceu tão calmo e determinado a encontrar seu
irmão.
Às vezes, sua confiança o enganava, e eu não pude deixar de me
perguntar se eles realmente poderiam lidar com o que estava à espreita.
Capítulo 35
VAL

— Eu quero ir com você, — Elaina afirmou depois que tivemos a


reunião com o resto dos homens da casa.
Ela estava louca para cair em uma armadilha. Isso só me daria uma
distração, e enquanto tentava salvar meu irmão, eu não precisava de uma
distração.
— Não, — respondi rapidamente. — Você só vai atrapalhar.
Como assim?
— É a verdade. Não posso cuidar de você neste tipo de situação, —
expliquei a ela, tentando ficar o mais calmo possível, mas, na verdade, ela
estava apenas me fazendo perder tempo.
Elaina me seguiu até a porta, ainda tentando provar seu argumento.
— Talvez eu possa tentar colocar algum juízo na cabeça da Gianna. Ela
tem que se preocupar comigo até certo ponto se quiser me manter fora
disso. Talvez eu possa ajudar...
— Elaina, não, — eu disse a ela em um tom mais severo. — Você deve
ficar aqui com a Anita, e nem mesmo pense em sair desta casa.
— Esperamos que seja rápido, mas nada é garantido e pode se tomar
um processo demorado.
— Você não poderia evitar a situação mesmo se tentasse, então o
máximo que você pode fazer é ficar aqui para que eu não tenha uma
maldita dor de cabeça.
Eu esperava que isso a afetasse e, quando saí pela porta da frente, sem
ouvir nenhum passo atrás de mim, soube que tinha funcionado.
Meu foco principal neste momento era Stefano, e eu não poderia
ajudá-lo se estivesse distraído.
Quase trinta dos homens da minha família estavam na frente da
minha casa prontos para enfrentar Gianna e os malditos irlandeses.
Nossos homens eram fortes e eu tinha neles toda a fé do mundo, mas
isso não significava que confiaria minha própria vida a eles. Eu não
confiava a minha vida a ninguém.
— Quantos veículos nós temos? — Eu perguntei.
Gustavo foi o primeiro a responder. — Temos dez carros. Acho que
seria melhor se dirigirmos em grupos de quatro em vez de cinco.
— Isso dá mais espaço para munição e, se formos atacados, será mais
fácil de nos defendermos.
— Boa ideia, — concordei - uma ocorrência rara para mim, mas
Gustavo sabia o que estava fazendo, e eu tive que dar a ele um pouco de
crédito.
— Rafe, Antonio e Dante virão comigo, — ordenei, permitindo que
Gustavo pegasse um veículo para si.
Eu preferia colocar os meus melhores homens como chefes do veículo
devido ao seu extenso treinamento, e eu sabia em primeira mão o quanto
eles poderiam aguentar.
Assim que entramos na garagem, tivemos tempo para reunir todas as
armas de que precisaríamos, cada homem pegando uma arma para si.
Proteção era essencial, a localização era essencial e ter um plano era
essencial. Não demorou muito, mas a proteção e a localização já estavam
cem por cento definidas.
Embora eu tivesse que criar um plano do nada e saber que isso era
extremamente imprudente, não tive tempo para me preparar. Se eu
esperasse muito, seria tarde demais.
Eu dirigi até onde o celular havia dado sinal. Foi um pouco difícil, mas
o tempo que passamos dirigindo até lá nos deu muito mais oportunidade
para planejar.
Com as trinta pessoas que tínhamos, cada uma delas tinha uma
coordenada específica, vistas diferentes do centro e estavam espalhadas
no que eu esperava que fosse uma configuração perfeita.
Eu seria aquele a entrar no que quer que estivesse me esperando - só
eu. Não tinha medo da situação, contanto que eu conseguisse tirar o
Stefano de lá vivo.
— Nós temos um plano B? — Diego foi estúpido o suficiente para
perguntar.
— Você é tão estúpido assim? Mal tivemos tempo de bolar um plano
A, e você está esperando um plano B? — Eu ri em resposta à sua
estupidez.
— Se o plano A não funcionar, o plano B consiste em provavelmente
sermos mortos. Então, vamos esperar que não chegue a esse ponto.
— Bem, que se foda.
Meus dedos batiam impacientemente no volante, e eu podia ouvir
Rafe e Antonio conversando, mas a minha mente estava em outro lugar,
fazendo com que as palavras deles se tomarem nada além de murmúrios
distantes em minha cabeça.
— Ouvi dizer que Elaina queria se juntar a nós, — comentou Rafe, e
optei por ignorá-lo. — Talvez você devesse ter deixado.
— Por que isso, Rafaelle? — Eu perguntei a ele. — Para termos algo
para nos distrair? Jesus Cristo, por que todos vocês estão sendo idiotas
hoje?
— Não há razão para Elaina vir - a menos que você deseje morrer.
— Olha, chefe, peço desculpas por questionar a sua decisão, mas vi
como a Gianna se comportava com ela.
— Eu acho que, talvez, a Elaina teria sido uma boa distração para
Gianna, — acrescentou ele, aparentemente hesitante em falar, com
razão.
— Gianna não espera que a gente apareça com a Elaina. Quem sabe -
isso poderia ter mudado o plano dela.
Talvez ele tivesse razão, mas mesmo assim, teria sido um tiro no
escuro. Era melhor prevenir do que remediar, e com isso acontecendo
tão de repente, eu não queria correr nenhum risco desnecessário.
De alguma forma, eu queria ter certeza de que a Elaina estava segura.
Dessa forma, eu sabia que não importava o que acontecesse no armazém
esta noite, ela ficaria bem - e o nosso bebê também.
Era muito mais do que não querer que ela fosse uma distração.
Estacionei o carro fora do armazém. Tudo estava escuro e, com base
nas primeiras impressões, não havia outros veículos além do meu no
perímetro.
Eu não confiava nisso. Era óbvio que o armazém estava cheio de
homens - não apenas Stefano ou Gianna. Havia uma grande chance de
que eles estivessem nos observando agora.
— Eu quero todos posicionados, — eu disse enquanto saía do carro. —
Ninguém passa por essas portas da frente, exceto eu, está claro?
A maioria dos meus homens respondeu: — Sim, senhor — ou — E isso
aí, chefe.
Olhei para todos que estavam diante de mim e meus olhos se fixaram
em Gustavo. — Onde está o meu pai?
Gustavo respondeu encolhendo os ombros. — Não conseguimos falar
com ele.
Exatamente quando você mais precisava do homem, ele desaparece.
— Bem, acho que somos só nós. Eu vou ter uma palavrinha com meu
pai mais tarde, — eu murmurei baixinho, frustrado por ele ser o chefe,
mas ter me deixado com todo o trabalho.
Stefano era seu filho; ele deveria estar aqui lutando por ele.
Meu pai tinha toda a autoridade, ele tinha a força e a experiência para
lidar com essa situação adequadamente.
Com quase o dobro dos anos de experiência que eu, ele sabia a melhor
maneira de lidar com algo assim, mas deu um passo para trás na hora H.
Em poucos meses, eu seria nomeado capo, assim que meu pai
decidisse se aposentar definitivamente, mas até então, ele ainda era o
homem no comando.
Todos se espalharam conforme as instruções, mantendo todo o
perímetro cercado enquanto eu fazia meu caminho até a porta do
armazém.
Tínhamos visto na planta que havia uma escada nos fundos, que era o
Gustavo ia usar para chegar ao telhado.
Ele estava na segunda posição mais importante. Ele era o único a
proteger as minhas costas.
— Val, eu... — uma voz feminina falou em um tom abafado.
Instantaneamente, eu soube que era Elaina, e meu corpo se encheu de
raiva.
Como ela se atreveu a ir contra as minhas ordens e vir aqui sabendo o
quão perigoso era.
Eu deveria entrar neste prédio com a cabeça limpa, e não havia como
isso acontecer sabendo que minha a esposa estava aqui.
— Que porra! — Eu rugi, virando-me para ela e correndo em sua
direção, minha mão no ar e apontando meu dedo indicador para ela. —
Eu deixei claro que você ficaria em casa.
— Eu sei, mas realmente acho que deveria estar aqui..., — respondeu
ela. — Eu sei que você não pensa assim, mas eu realmente acredito que se
você me deixar falar com a Gianna-
— Você pode ser a razão pela qual todos nós morremos, — falei entre
os dentes, minha mandíbula cerrada. — Você precisa aprender a me
ouvir, e agora estamos perdidos.
— Um homem a mesmo?
— Eu preciso que um dos meus homens vá e cuide de você, pelo amor
de Deus, Elaina. Por que você não pode simplesmente me ouvir, para
variar? — Eu balancei minha cabeça em clara frustração antes de
assobiar, — Dante, venha aqui.
Dante era um dos meus homens que eu sabia que estava mais
próximo da entrada do armazém. Em dez segundos, ele dobrou a esquina
com uma sobrancelha arqueada e pronto para obedecer.
— Sim senhor?
— Leve minha esposa para o carro, certifique-se de que ela fique lá, e
se algo acontecer, eu quero que você a tire deste lugar. Dirija não importa
a situação, — eu o apressei.
Ele respondeu com um aceno de cabeça quando começou a levar
Elaina para o carro.
Eu dei uma olhada nela. — Discutiremos isso mais tarde.
Algo estava diferente desta vez, pois a Elaina não estava me
obedecendo.
Claro, eu estava com raiva - odiava ser desobedecido - mas, ao mesmo
tempo, estava mais preocupado com o bem-estar dela e do nosso filho.
Ela estava correndo perigo por vontade própria, na esperança de falar
com a Gianna, mas isso não aconteceria. Gianna, é claro, tentaria
corrompê-la - ou pior, Elaina poderia ser uma munição fácil contra mim.
Se eles a machucassem, eles sabiam o quão perturbado eu ficaria.
Independentemente do meu comportamento abusivo em relação a
ela, eu tinha me apegado, contra a minha vontade. Eu sabia que meu
dever como marido era protegê-la, e ficar com raiva dela não era tão
simples quanto antes.
Finalmente, as coisas ficaram mais claras, o que foi minha deixa para
entrar no armazém.
Eu assisti até que D ante e Elaina estivessem fora de vista antes de
abrir a porta, sendo saudado por nada além da escuridão diante de mim.
Estava escuro como breu, mas eu podia ouvir uma respiração pesada.
Respiração que indicava angústia.
Em poucos segundos, a grande área iluminou-se com as luzes sendo
acesas, mas ninguém estava à vista além de uma cadeira no centro da sala
com um homem ensanguentado e amarrado, com um saco na cabeça.
— Stefano..., — sussurrei para mim mesmo, não hesitando em me
aproximar do homem, mas rapidamente verificando os arredores para
ver se alguém poderia estar observando.
Assim que cheguei à cadeira, peguei a sacola e tirei-a da cabeça do
homem, recuando quando o rosto ficou exposto.
Não era Stefano, o que normalmente me aliviaria, mas o rosto que
estivera escondido sob aquela bolsa, ofegando freneticamente por ar,
pertencia a quem eu menos esperava.
— Pai? — Eu perguntei quando os olhos escuros do meu pai olharam
para mim, grandes e, pela primeira vez em toda a minha vida, eles
estavam vulneráveis.
Porém, meu pai não caiu em um poço de tristeza ou medo; ele ainda
parecia durão, independentemente de sua incapacidade de se defender.
Ele murmurou alto contra o pano que estava amarrado em sua cabeça,
cobrindo sua boca para que ele não pudesse se comunicar com clareza.
— Porra, o que é isso..., — falei antes de andar atrás dele para tirar a
mordaça de sua boca. Quando a mordaça caiu no chão, meus olhos
pousaram na mão do meu pai, surpreso com o que estava vendo.
Um dedo faltando. O toco do membro restante enfaixado com sangue
seco visível.
Meu pai estava com falta de ar, tentando respirar e falar ao mesmo
tempo. — S... Ssss... Ste...
— O que está acontecendo, pai? — Eu perguntei a ele, incapaz de
esconder a preocupação em minha voz.
Enquanto crescia, meu pai era a pessoa que eu mais admirava - a única
pessoa que fora invencível e me ensinou a arte das armas. Eu nunca tinha
visto o meu pai sofrendo. Eu nunca o tinha visto preocupado ou
machucado.
Isso era novo para mim e, de uma maneira estranha, eu me sentia
como o garotinho que fui quando meu pai estava me treinando, perdido
e lutando para descobrir meu próximo passo.
O que meu pai normalmente diria era: — Coloque sua cabeça no
lugar, Valentino. Não perca a porra do meu tempo! — Mas ele não estava
dizendo isso. Em vez disso, ele estava lutando para pronunciar uma única
palavra.
— Stefano! — ele finalmente disse, mas estava claro que ele estava
sem fôlego apenas por uma palavra - o nome do meu irmão.
— Eu sei, pai... eu sei. — Ajoelhei-me, começando a desamarrar a
cadeira o mais rápido que pude, mas as minhas mãos tremiam. Eu era
melhor do que isso. Nunca congelei durante uma missão.
— Vou encontrá-lo, juro por Deus, pai.
— N-não... — Ele começou a sacudir a cabeça freneticamente, mas
antes que pudesse falar mais, um tiro disparou, fazendo-me pular de
onde estava ajoelhado.
— Não tão rápido, Valentino. — A voz de Gianna, a voz que vinha me
assombrando há semanas, soou.
Quando olhei ao redor do armazém, ela estava parada na varanda do
andar de cima, com um sorriso malicioso no rosto, uma pistola M1911 na
mão. — Você sabe que não posso deixar você desamarrá-lo, certo?
Eu ri ao vê-la tentando ser superior com aquela arma estúpida em sua
mão.
Ela seria a última pessoa a me fazer tremer de medo, então a visão
dela não deixou o menor sinal de tensão em meu corpo.
— Sua vadia doente.
— Ah, ah, ah. Cuidado com essa sua boca suja. Você não gostaria que
eu atirasse, não é? — Ela insultuosamente mexeu sua arma para ilustrar o
seu ponto.
— Vou precisar que você se afaste do seu pai, Valentino.
— Você está louca ou só é estúpida? — Eu perguntei a ela, afastando-
me de meu pai, mas indo na direção onde ela estava. — Qual é o seu
plano? Você mata meu pai e a mim, ok.
— Mas você realmente acha que o Stefano aceitaria você depois de
tamanha indiscrição?
— Valentino— — Meu pai falou baixinho.
Eu me virei para olhar para o meu pai e, assim que o fiz, ouvi o som de
uma arma sendo engatilhada.
Fiquei cara a cara com meu irmão, que estava parado na extremidade
oposta do armazém, com uma arma apontada diretamente para mim.
— Você e suas suposições, Val. Você sabe, eu nunca entendi isso sobre
você - ou pelo menos, eu nunca respeitei isso. — Stefano continuou
caminhando em minha direção enquanto falava.
— Val está sempre certo. O que Val diz é a verdade absoluta. E
realmente irritante ter que responder a você o tempo todo.
Fiquei atordoado, congelado no local, enquanto meu irmão mais novo
apontava uma arma para mim. Isso tinha que ser algum tipo de delírio
dele. Ele não iria contra a Omertà, nem contra a nossa família.
— Stefano, o que você está fazendo?
Ele caiu na gargalhada repentina, e comecei a ver um lado dele que eu
nunca tinha visto antes - um lado ameaçador. — Você é cego, fratello? E
isso! Estou acabando com você.
Tradução: Irmão.
— Talvez eu entendesse se fizesse algum sentido, Stef. — Eu mantive
meus olhos fixos nele, mantendo a minha mandíbula cerrada. Quanto
mais real isso se tomava, mais furioso eu ficava.
Esta era uma traição como nenhuma outra - nem mesmo apenas
contra mim, mas também contra meu pai. Nosso pai.
— Faz todo o sentido, — Gianna respondeu por ele, descendo as
escadas em direção aonde Stefano e eu estávamos agora. Seus saltos
estalaram contra o chão duro, me fazendo estremecer.
— Stefano tem que ganhar o seu lugar na sua família. Ele precisa
ganhar o direito de se tomar o capo, e só há uma maneira de fazer isso.
Eu ri levemente. — Me eliminando?
— Você finalmente entendeu, — Stefano riu, seu dedo não se mexeu
no gatilho. — Eu mereço isso - está no meu sangue, também. Mas você é
o mais velho, então consegue tudo, certo? ERRADO. Não desta vez.
— Essa máfia é minha. Se você está morto e o papai está morto, a
responsabilidade é automaticamente minha.
— Você é um filho da puta fodido, — eu murmurei, com a minha
mente vagando para as formas possíveis de tirar a minha arma do coldre
rápido o suficiente.
— Este lugar está cercado. Temos dezenas de homens aqui prontos
para lutar.
Stefano se inclinou para mais perto de mim, com um sorriso
malicioso brincando em seus lábios. — Assim como nós. E melhor eles
estarem prontos para lutar, irmão, porque a maior parte deles vai morrer
essa noite.
Pude ver Gustavo na sacada, só à minha vista. Ele estava com a arma
em posição de mira e, em segundos, um tiro foi disparado. Foi como uma
mudança em toda a atmosfera. Assim que o tiro foi ouvido, o inferno
desabou e o armazém tomou-se um caos.
Cheio de italianos e irlandeses, o som de armas de fogo era tudo o que
podia ser ouvido enquanto todos lutavam para se defender.
Era isso: tudo ou nada.
Capítulo 36
ELAINA

O lugar onde o carro estava localizado ficava um pouco abaixo da


estrada do armazém em que Val havia entrado.
Estava silencioso e eu me sentei sem jeito com Dante no banco da
frente, mantendo um olho em seu telefone para receber mensagens de
alguém de dentro.
Eu poderia dizer que ele não estava satisfeito em ter que cuidar de
mim durante o confronto, mas também não pude controlar as decisões
que Val tomou.
Eu estava ciente de que a minha decisão de vir aqui era uma parte da
razão pela qual Dante estava preso me observando, mas eu precisava que
Val me ouvisse.
Era estúpido da minha parte, mas apesar de tudo, eu realmente senti
que talvez falar com Gianna pudesse fazer algum bem.
Val constantemente insistia que ela era pura maldade, mas eu tinha
visto um lado dela que ele não tinha. Eu sabia que ela estava
desempenhando um papel, mas havia algo dentro dela que se importava
com a amizade que tínhamos.
Era patético da minha parte pensar, mas meu maior defeito foi sempre
procurar o que há de bom nas pessoas, mesmo quando elas não
mereciam. Eu fazia a mesma coisa com o Val.
Ele não merecia meu perdão ou gestos gentis, mas eu os dei a ele de
qualquer maneira, porque mesmo depois de tudo, uma parte de mim
acreditava que havia algo de bom nele.
Dante ergueu os olhos do telefone, um olhar curioso apareceu em seu
rosto, o que deixou claro para mim que algo estava errado. Ele nunca
disse uma palavra, então eu me perguntei: — O que há de errado?
— Nada, vou verificar a área. Não se mexa, entendeu? — ele disse
enquanto abria a porta do lado do motorista.
Não era como se eu tivesse escolha. Eu fiz a minha jogada e agora
estava sofrendo as consequências de ficar sentada, esperando.
Eu assisti Dante sair do carro, e sem aviso, seu corpo caiu de volta no
banco da frente com um buraco de bala no centro de sua testa.
Meus olhos se arregalaram e eu cobri minha boca enquanto o corpo
sem vida de Dante me encarava, seus olhos congelados abertos.
Eu nem tinha ouvido um barulho. Não houve tiro, e eu soube
imediatamente que um silenciador havia sido usado. Alguém estava lá
fora e eu corria perigo.
Val estava certo: eu não deveria ter vindo aqui, porque se não tivesse
vindo, o Dante estaria lá dentro e não aqui morto, me olhando.
Meu corpo tremia de medo e eu deslizei para o chão do banco de trás,
tentando me esconder e conter os gemidos de horror que ameaçavam
escapar.
Eu estava presa e não havia saída.
VAL

Eu encostei as costas na parede, sem fôlego para correr das balas que
disparavam para todos os lados no armazém.
Meus homens estavam lutando, os homens de Gianna estavam
lutando e eu estava lutando contra mim mesmo internamente.
A área estava barulhenta e não pude ouvir um único som além de
gritos e tiros.
Eu não tinha ideia de quem foi atingido ou quem ainda estava vivo,
mas minha mente constantemente voltava para o meu irmão, que acabou
sendo a minha maior e mais perigosa distração.
Eu precisava da mente clara, e agora ela estava longe de estar clara.
Assim que a briga começou, ordenei a Rafe que matasse o meu pai. Ele
estava muito fraco do que quer que Gianna e Stefano tivessem feito para
ele para conseguir lutar nesta batalha.
Eu já tinha perdido meu irmão; Eu perderia meu pai também.
Olhei por trás da viga no momento em que uma bala atingiu a parede
ao meu lado. Levantando meu braço, apontei a minha arma para um
filho da puta ruivo que estava do outro lado da sala.
Eu nem tinha certeza se acertara o tiro, mas só me restava torcer.
Meus olhos pousaram em Gustavo que estava na varanda, atirando
com toda a sua glória, os olhos fixos no chão abaixo dele. Saindo de trás
da parede, andei diretamente na direção dos inimigos, atirando em quem
quer que estivesse à minha vista.
Eu estava caminhando com cuidado até os degraus que levariam à
varanda onde Gustavo estava, passando por cima de corpos - alguns dos
inimigos e alguns dos meus próprios homens.
Uma dor aguda e ardente penetrou meu braço esquerdo, e eu
conhecia bem essa sensação.
Eu havia levado um tiro e tive a sorte de não ser numa parte
importante do meu corpo, mas ainda doía pra caralho.
— Porra! — Gemi ao chegar aos degraus, mantendo a minha arma
apontada enquanto subia lentamente, demorando muito devido à
quantidade excessiva de pessoas ao meu redor.
Fui pego de surpresa pelo plano de Gianna. Ela tinha um grande
grupo de capangas, incluindo o meu irmão. Eu não esperava que ela fosse
capaz de criar um show tão grande e tão cheio de atiradores.
Era óbvio que ela vinha planejando isso há muito tempo.
Eu esperava isso dos irlandeses, visto que ela estava em uma aliança
com Coilin, mas o covarde nem apareceu esta noite, o que deixou o líder
desse esquema ainda mais claro.
Gianna havia orquestrado tudo isso e era o cérebro por trás.
— Seu maldito irmão! — Gustavo gritou por cima do tiroteio quando
o alcancei, mantendo nossos corpos no chão e fora de vista.
Eu não precisava de nenhum lembrete — eu já estava me lembrando
disso constantemente. — Essa é uma discussão para outra hora.
Precisamos sair daqui.
— Sair? Viemos aqui para nos livrar desses filhos da puta. Agora você
quer ir embora porque Stefano está aqui? — Gustavo riu sombriamente,
balançando a cabeça em objeção.
— Acho que não, cara. Eu vou matar aquele traidor e a cadela dele.
— Nós vamos mata-los! Mas não agora, — eu insisti. — Nós só nos
enfiamos nessa situação porque viemos salvar Stefano que claramente
não precisa ser salvo. Não estamos preparados para isso!
Percebi que Gustavo estava frustrado com as minhas ordens, mas não
teve outra escolha a não ser obedecer. Ele estava em uma posição inferior
à minha.
Ele olhou por cima da borda da a varanda antes de se inclinar
ligeiramente. — Estamos muito envolvidos nisso para escapar, Val.
Ele estava certo: nossos homens estavam lá embaixo e eu nos
precipitei nessa decisão. Era um problema que eu tinha que consertar.
— Não me diga que você estava planejando partir tão cedo. — A voz
de Gianna ecoou em meus ouvidos e, quando olhei para trás, ela estava
com uma arma apontada para mim.
— Estamos apenas começando. Não é uma festa a menos que a
atração principal esteja aqui... E a atração principal é você, Valentino.
Eu ri levemente e virei meu corpo para encará-la. — Você é uma
maluca.
— Obrigada, querido. Tento impressionar e acho que é justo dizer que
fiz um ótimo trabalho dessa vez.
Seus olhos olharam para o meu braço ferido, e um sorriso ameaçador
apareceu em seus lábios, — Agora, isso parece doloroso. Infelizmente,
vou precisar que vocês abaixem as armas.
— Você acha que somos tão estúpidos? — Gustavo murmurou
baixinho. — Como você espera que eu te mate sem a minha arma?
— Eu realmente nunca gostei de você, Stavo, — alguém comentou,
mas não foi a Gianna; desta vez, foi Stefano. Ele parecia estar saindo do
nada.
— Você sempre foi como um segundo Val. Ter um só já é ruim o
suficiente.
Não conseguia olhar para meu irmão sem me sentir enjoado e com
raiva. Eu teria ido até os confins da terra para protegê-lo, e ele não tinha
nenhum problema em ficar na minha frente, pronto para me matar.
Isso era muito mais drástico do que qualquer coisa para a qual meu
pai poderia ter me preparado. Esta era a minha família. Sempre fomos
treinados para ficar com a nossa família em tudo.
— Qual é o seu plano, Stefano? — Eu perguntei, mantendo meus
olhos nele e olhando duramente. — Matar a mim e ao nosso pai para
conseguir o título de capo? Jesus, cara.
— Você acha que alguém confiaria na sua cara traidora depois disso?
— Ninguém deveria saber, mas você apareceu aqui com toda a porra
da máfia. — Ele ergueu a voz, balançando a arma no ar. — Gianna e eu
fomos feitos para isso, você não consegue ver isso?
— Elaina não consegue nem lidar com a visão de sangue, muito
menos ser a esposa de um capo. Papai sempre escolheria você, mesmo
que você recusasse a posição.
— Ele não fazia parte do plano, mas ele descobriu, então eu precisava
demiti-lo.
— O que me lembra - onde está o seu pai? — Os olhos de Gianna
focaram nos meus. — Assim que explodirmos os seus miolos, nós o
encontraremos por conta própria. Não pode ser difícil devido aos
ferimentos que ele tem agora.
Eu apenas sorri com a confiança que ela tinha. Eu sabia que meus
homens haviam fugido junto com os dela, o que fazia parte do plano.
Se as coisas saíssem do controle, era preciso fugir, ou todos
acabaríamos sendo vítimas.
Meus homens nunca partiriam completamente - eles estavam
planejando um resgate, e eu tinha certeza disso.
— Então, você vai acabar com isso ou não? — Eu perguntei. — Estou
bem aqui, então exploda meus miolos.
— Acho que vamos mudar a rota, querido, — disse Gianna a Stefano,
me deixando perplexo.
— Tem certeza? — ele perguntou a ela, e quando ela respondeu com
um aceno de cabeça, Stefano simplesmente deu um passo para trás. —
Plano B então.
Observei de perto enquanto meu irmão saía de minha vista, curioso
para saber qual era o plano B deles.
Os olhos de Gianna não deixaram os nossos por um único segundo.
Ela estava focada em manter os olhos em nós para que não
escapássemos.
Quando Stefano voltou, ele segurava o tanque de gasolina em suas
mãos, e a ficha caiu para o Gustavo e para mim ao mesmo tempo. Eles
tinham toda a intenção de queimar este lugar conosco lá dentro.
Como diabos eu ficaria sentado e permitiria que isso acontecesse.
— Stefano, amor. — Gianna olhou para Stefano, usando a mão livre
para tirar um maço de fósforos do bolso.
Assim como ela, Gustavo aproveitou seu momento de ausência para
levantar a arma rapidamente, direcionando-a para ela e puxando o
gatilho.
Minha mente estava confusa e meus ouvidos zumbiam por estar tão
perto da arma, mas parecia que a visão do corpo de Gianna caindo no
chão se movia em câmera lenta.
Ela desmaiou, e os sons da respiração ofegante encheram o ar
enquanto suas mãos cobriam o peito agora ferido de onde o sangue
estava escorrendo excessivamente.
— Gianna! Não. Non sta succedendo.
Tradução: Isso não está acontecendo.
— Oh, está acontecendo, irmão. — Não consegui esconder a
satisfação que senti ao ver Gianna sangrando no chão na minha frente.
Ela tinha sido um problema desde o momento em que entrou em
nossas vidas, e vê-la morrer seria uma das coisas mais maravilhosas que
eu experimentei.
Stefano ajoelhou-se ao lado de Gianna, com as mãos no rosto e
movendo seu cabelo para o lado. — Ti amo. Per favore sii forte por mim,
per il nostro bambino.
Tradução: Por favor, aguente firme por mim. Pelo nosso bebê.
Sem ter tempo de processar o que estava acontecendo na minha
frente, Gustavo se levantou rapidamente com sua arma apontada para
Stefano.
Mas meu irmãozinho estava à frente, apontando a arma para Gustavo
e os dois puxaram o gatilho ao mesmo tempo.
Entrei em pânico ao agarrar Gustavo quando seu corpo foi empurrado
para a varanda com o impacto, mas mesmo tão rápido quanto me movi,
minhas mãos apenas roçaram os braços de Gustavo.
Não fui capaz de segurá-lo. Eu caí mole ao ver seu corpo cair no chão,
inconsciente. O único irmão que me restou e não pude ajudá-lo.
Meu mundo estava caindo ao meu redor, e nunca em minha vida me
senti tão fraco ou sem controle. A minha mente não teve tempo
suficiente para processar uma coisa antes que outra acontecesse.
No fundo, eu sentia que não tinha outra escolha a não ser desistir.
Meus homens desapareceram para Deus sabe onde, e meu irmão estava
pronto para me matar.
— Finalmente, ele calou a boca, — Stefano riu sem fôlego.
Assim que olhei para ele novamente, ele estava com a mão do lado
onde a bala do Gustavo o atingiu. Ele ainda conseguiu manter sua arma
apontada para mim.
Eu podia ver em seus olhos que ele não estava sentindo o menor sinal
de simpatia ou arrependimento por suas ações. Ele estava determinado
em sua decisão e seu objetivo de se livrar de mim.
— Você conseguiu. Parabéns, — foi tudo o que consegui dizer.
— Você acha que eu queria isso? — Stefano ergueu a voz, dando um
passo em minha direção. — Foi sempre você, Val.
— Você foi aquele em que papai se concentrou quando treinamos. Foi
você quem recebeu o direito de nascença de se tomar Capo.
— Eu entendo que você é o mais velho, mas é meu direito de nascença
também, e eu mereço a chance de me tomar o homem que dirige tudo.
Encolhi os ombros com indiferença, não me importando mais com
nenhuma palavra que ele disse. Era patético, e ele estava transformando
isso em uma morte por inveja.
— Eu não poderia me importar menos, Stef. Ser capo não é o meu
objetivo de vida, mas é minha responsabilidade. E tudo que eu já conheci
ou me designaram.
— Sim, bem, mudança de planos, irmão. É minha responsabilidade
agora. — Stefano engatilhou a arma e apontou bem para o centro da
minha testa.
Eu sabia que ele era um bom atirador - eu o ajudei a se tomar assim
quando crescemos juntos.
— Últimas palavras?
Eu não tinha nada a dizer. Nenhuma palavra final ou tentativa de
salvar a minha vida. Era o fim da linha para mim, e eu tinha facilmente
aceitado isso.
Eu sabia que havia uma chance de morrer ao entrar nessa situação,
mas esperava que a minha morte resultasse no resgate do meu irmão.
Não saiu do jeito que eu queria, mas não tive escolha a não ser me
encolher e deixar meu irmãozinho tirar a minha vida.
Não houve outros movimentos a partir deste ponto, e eu
simplesmente abaixei minha cabeça quando uma arma foi disparada.
Capítulo 37
VAL

Quando a arma disparou, houve um longo período de silêncio. Levei


um momento para perceber que eu não estava morto. Inferno, eu nem
fui baleado.
Eu abri meus olhos lentamente assim que Stefano caiu de joelhos,
com sangue escorrendo de sua boca.
Atrás dele estava Elaina com a arma apontada, e a expressão em seu
rosto era de puro horror sabendo que ela tinha acabado de disparar a
arma, resultando no ferimento de Stefano.
Eu olhei fixamente para ela, então meus olhos se moveram para meu
irmão que estava deitado no chão tremendo.
— Eu... eu... — Elaina gaguejou, ainda tentando processar o que tinha
feito.
Eu, pelo menos, fiquei de queixo caído com isso. Elaina nunca foi uma
pessoa violenta - ela não seguraria uma arma a menos que eu a forçasse
em sua mão.
A única razão pela qual ela sabia atirar era porque eu a havia levado
para um campo de tiro.
Rapidamente, me levantei do chão duro e corri até Elaina,
cuidadosamente tirando a arma de suas mãos e firmando-a. — Shh,
amore. Está tudo bem.
— Ele estava... ele ia te matar, — ela explicou, afirmando o óbvio, e me
ocorreu que Elaina, uma mulher que me odiava, salvou a minha vida de
livre e espontânea vontade, Sem dúvida, ela estava lá para me proteger do
meu próprio irmão.
Eu olhei para Stefano e concordei com a cabeça. — Ele tinha se
juntado a Gianna esse tempo todo. Ele estava planejando me matar para
se tomar capo.
— Oh meu Deus... — Elaina parecia atordoada. Eu não poderia nem
culpá-la. Eu ainda estava me recuperando de tudo o que tinha
acontecido.
Idealmente, eu preferiria sair dali já, mas o tiro que Elaina deu não foi
fatal, e meu irmão ainda estava deitado ali ofegando por um pouco de ar.
Eu sabia que era minha responsabilidade acabar com ele, e eu o faria.
Essa deve ser a coisa mais difícil que eu já tive que fazer, mas eu tenho
que me lembrar que Stefano causou isso a si mesmo.
Pegando a arma na minha mão e apontando para a cabeça do meu
irmão, ele conseguiu implorar com as poucas palavras que conseguiu
pronunciar. — Val... por favor. Não... eu sou seu... irmão.
— Você está certo pra caralho, e é por isso que isso é tão difícil. Mas
Stef, isso é culpa sua. Não é minha, nem da Elaina, mas sua.
— Você agiu pelas costas da nossa família, tentando matar o nosso pai,
tentando me matar e essas são as consequências de suas ações. Ninguém
em sã consciência confiaria em você depois de toda essa merda, — eu
expliquei.
Ele tossiu levemente, tentando rir de forma intimidante, mas não
conseguiu. — Você realmente... vai matar... o seu irmão? Patético.
— Talvez seja patético, mas pelo menos ainda estou vivo.
Eu não dei a ele a chance de responder novamente - eu puxei o gatilho
e observei a bala se alojar na cabeça do meu irmão, tirando a vida dele.
Era melhor assim. Além de nunca mais poder confiar nele depois do
que Stefano tinha feito, eu seria responsabilizado pela morte de Stefano,
não Elaina.
Ela com certeza se sentiria culpada pelo resto de sua vida, mas agora
ela não tinha nenhuma razão para se sentir mal porque eu tinha matado
o Stefano.
Quando olhei de volta para Elaina, ela estava olhando para o corpo
sem vida de Gianna. Por mais que eu odiasse a mulher, eu sabia que
Elaina a considerou uma amiga, o que tomava isso difícil para ela ver.
— Eu não tive outra escolha, Elaina, — expliquei a ela, não querendo
que ela pensasse que Gustavo e eu tínhamos matado voluntariamente
uma criança por nascer.
— Eu sei que você não viu, mas ela era completamente maluca. Era ela
ou nós, e...
— Nós? — ela me perguntou.
— 'Stavo... ele, uh... — Achei difícil pensar no que tinha acontecido
minutos antes e como Gustavo voou pela varanda.
Eu tinha que recuperar seu corpo para que ele pudesse ter um enterro
adequado, mas a dor era pior do que perder Stefano.
Elaina se encarregou de olhar para a saliência, ofegando de horror
com a visão diante dela. Deve ter sido ruim, e era com isso que eu estava
preocupado.
Fui até a grade e vi Gustavo deitado de costas, com os olhos fechados e
imóveis.
— Onde diabos estão os meus homens? — Fiquei com raiva por ver
meu melhor amigo naquela situação. Precisávamos tirá-lo daqui, e eu
não poderia fazer isso sozinho. Enquanto descia as escadas, tirei meu
telefone do bolso e liguei para Rafe. — Eu preciso de todos aqui agora.
Gustavo caiu e... só precisamos de gente para carregá-lo.
— Ele está bem? — Rafe perguntou.
— Obviamente não, Raffaele. Traga todos aqui agora.
Elaina se ajoelhou perto de Gustavo, dois dedos pressionados logo
abaixo da mandíbula de Gustavo. — Há um pulso... E fraco, mas está
batendo.
Enquanto eu caminhava até onde ela estava ajoelhada, minha testa
franziu em confusão. Não havia como ele sobreviver àquela queda - era
muito alto e perigoso.
— Tem certeza?
— Sim... Ele precisa de um médico. Ele provavelmente tem várias
fraturas e uma concussão.
— Se houver alguma hemorragia interna, pode ser fatal, — explicou
Elaina para mim, o que foi um rápido lembrete de sua aspiração de se
tomar enfermeira.
Lembrei-me de ler que em seu arquivo antes de conhecê-la. Ela havia
se inscrito para obter o diploma de bacharel e começar a construir sua
carreira em enfermagem.
— Não podemos ir ao médico, — eu disse. Era muito perigoso e
sairíamos do hospital algemados. Os policiais sempre suspeitaram da
Máfia, mas nunca tiveram provas sólidas de transgressão.
Se aparecêssemos assim no hospital, seria aberta uma investigação.
— Val, ele precisa de ajuda médica ou vai morrer.
Corri meus dedos pelo meu cabelo, gemendo. — Porra! Se eu for lá,
eles vão me interrogar!
Elaina parecia sem palavras. Eu sabia que ela só estava me olhando
assim por se recusar a pedir ajuda médica para Gustavo, mas era mais do
que isso.
A vida de todos os meus homens, a minha vida incluída, explodiria na
nossa cara.
Ela olhou para Gustavo com os lábios franzidos. — Mas as autoridades
não estão familiarizadas comigo. Eu posso ir com ele.
— E que história você vai usar? Você estava segurando uma arma e
acidentalmente atirou nele? Não. E estúpido e imprudente, — eu disse a
ela, sabendo que a minha única esperança era o Dr. Franklin, que nem
era cirurgião.
Afastei-me de Elaina para ligar para o Dr. Franklin. Talvez ele
conhecesse pessoas que poderiam ajudar, ou ele teria que tentar por
conta própria.
Eu paguei rios de dinheiro para esse homem ajudar os meus homens e
eu. Portanto, eu esperava que ele fizesse exatamente isso, agora.
ELAINA

Foi uma noite longa.


Val se foi a maior parte do tempo, certificando-se de que tudo estava
bem com Gustavo e seu pai, então eu me vi de volta em casa sozinha com
os homens que sobreviveram àquela noite.
Eu ainda não tinha recebido a minha bronca sobre desobedecer a Val e
aparecer no armazém. Eu sabia que isso viria eventualmente. Mas ainda
esperava que não fosse tão ruim assim.
Eu senti como se tivesse visto um lado mais humano de Val, dado o
jeito que ele estava tão preocupado com o seu pai e o Gustavo.
Qualquer pessoa normal ficaria preocupada, mas Val estava longe de
ser normal, então a sua reação me surpreendeu positivamente.
Pensei nas ocorrências de hoje enquanto estava sentada sozinha em
meu quarto vazio. Era uma luta que vinha crescendo e agora estava
acabada.
Eu não me importava se por acaso eu estivesse do lado vencedor das
coisas - foram as vidas perdidas que me deixaram perplexa.
Principalmente a de Stefano. Ninguém esperava que ele participasse da
destruição de sua própria família.
Quando entrei no armazém e o vi com uma arma apontada para Val,
mal pude compreender meus próprios pensamentos por tempo
suficiente para atirar nele primeiro.
Depois que Diego foi baleado, sentei-me na parte de trás do carro
silenciosamente no chão, rezando para não ser encontrada.
Pareceu que passou muito tempo antes que eu aproveitasse a chance
de sair e, quando o fiz, peguei a arma de Diego para me proteger.
Eu sempre odiei armas, mas considerando a batalha que estava
acontecendo, eu teria que engolir meu orgulho e fazer o que fosse
necessário.
Eu estava grata por Val ter me levado para o campo de tiro, ou eu não
teria ideia do que estava fazendo.
Durante as primeiras horas da noite, enquanto eu dormia não tão
profundamente, a porta do quarto se abriu e eu apertei meus olhos para
ver a silhueta de Val na porta. Ele parecia exausto e destruído, para ser
honesta. Seu cabelo estava um desastre e a parte de cima da camisa
estava desabotoada com as mangas arregaçadas.
— Eles estão bem? — Eu perguntei suavemente, lentamente sentando
na cama.
Os braços de Val estavam cruzados, mas ele conseguiu acenar com a
cabeça. — Meu pai só está com alguns hematomas e uma costela
quebrada... E, claro, o dedo que faltava não pôde ser salvo, mas poderia
ter sido pior.
Eu balancei a cabeça em concordância com ele. — E o Gustavo?
— Lesão na coluna junto com sangramento interno. O Dr. Franklin
tinha um amigo que estava familiarizado com cirurgia. Ele operou por
seis horas para reparar o dano, mas não se sabe se ele será capaz de andar
novamente.
Seu tom era sombrio e sem esperança. — Mas ele está vivo, então eu
suponho que não podemos reclamar.
— É horrível, mas ao mesmo tempo maravilhoso, — comentei. — O
Gustavo é um homem forte. Sua determinação o fará voltar a andar,
tenho certeza.
Val administrou uma risada suave. — É incrível como você ainda pode
ser otimista. Depois de tudo que você suportou e do que eu fiz a você,
você ainda estava lá para salvar a minha vida.
— Mas por que, Elaina? Essa poderia ter sido a sua saída desse
casamento, dessa vida, e você escolheu deixar isso escapar.
Ele estava certo. Se eu tivesse deixado Stefano matar Val naquele
momento, eu poderia estar voltando para a casa da minha mãe agora.
Além do fato de que minha família estava longe de ser quem eu
esperava, ela era tudo que eu conhecia até recentemente.
Mas eu não queria isso. Eu não queria enfrentar as pessoas que me
manipularam por anos a fio. Em vez disso, escolhi deixar Val viver, o que
acabou selando meu destino como esposa da Máfia.
— Honestamente? Eu não sei, — eu disse a ele, dando de ombros
levemente e inspirando profundamente.
— Você foi traído da pior maneira possível e, além da relação
complicada que temos, deixar você morrer não arrumaria todos os
problemas do mundo.
— Você é um monstro, a pessoa mais horrível que eu já conheci na
minha vida, mas salvar você me fez sentir bem. No momento, não havia
outra opção.
— E agora? Você mudaria de ideia?
Meus olhos encontraram os dele e eu respondi calmamente: — Não.
A cama afundou ligeiramente quando Val se sentou ao meu lado,
pegando minha mão e segurando-a contra a dele.
— Se alguém tivesse me perguntado se eu estava seguro com a minha
vida em suas mãos, eu teria dito não. Eu nunca teria esperado que você
me protegesse, muito menos puxando o gatilho para mim.
— Eu não sei o que há com você, Elaina, mas você sempre parece
exceder tudo e qualquer coisa que eu espero. Quando eu acho que você é
boa demais para se defender, você prova que estou errado.
— Não tenho certeza se isso é um elogio ou um insulto. — Meus
lábios se contraíram para formar um pequeno sorriso.
— Um elogio, eu te garanto, — Val respondeu rapidamente. — Estou
longe de ser bom em fazer discursos de admiração, então, por favor,
aceite.
— Devo minha vida a você, além do dano que causei e da dor que
infligi em você. Peço desculpas. Claro, um pedido de desculpas não pode
fazer nada. Não pode consertar o meu erro.
- Mas posso jurar que nunca mais vou bater em você. E eu cumpro as
minhas promessas.
Pareciam apenas promessas vazias.
Eu seria uma idiota em acreditar que um tigre pode mudar as suas
listras, mas eu queria tanto acreditar nele.
Eu não queria nada mais do que me sentir segura, criar meu filho em
um ambiente onde eu não tivesse que me preocupar com eles vendo seu
pai me bater.
— Eu sei que pode parecer uma promessa absurda, mas vou provar
para você, — Val insistiu.
— Não deveria ter que chegar ao ponto de você ter que salvar a minha
vida para eu ser um bom marido para você, mas depois de hoje, aprendi
que lealdade não é coisa de família. Não é uma obrigação, mas sim uma
escolha.
— Sua lealdade é clara e eu deveria ter acreditado nisso, mas não
acreditei, e não há desculpa.
Eu não podia prometer perdoar o Val. Eu não poderia dizer a ele que o
que ele fez estava bem e que eu agiria como se nada tivesse acontecido.
Eu estaria mentindo se dissesse que acreditei nele, porque não acreditei.
O máximo que eu podia fazer era tentar esperar que ele quisesse ser
sincero, mas certamente eu não colocaria a minha mão no fogo.
— Eu quero acreditar em você. É difícil pensar que você está sendo
sincero. — Eu olhei para nossas mãos enquanto falava, esperando que
minhas palavras não o perturbassem.
— Acho que o máximo que podemos fazer neste momento é viver um
dia de cada vez e ver como vai ser a partir daí.
Independentemente do que tivesse acontecido, Val era meu marido e
eu estava presa a esse estilo de vida. Minha única esperança era que
pudéssemos seguir em frente e ele se tomar um homem não abusivo.
Não apenas para mim, mas para a criança que vamos ter juntos.
Eu não amo o Val. Percebi isso no momento em que esse casamento
começou. Mas quando puxei o gatilho para Stefano, ficou claro para mim
que me importava profundamente com ele.
Embora possa não ser amor ainda, o futuro era imprevisível.
Val se levantou da cama e estendeu a mão para mim. — Volte para o
nosso quarto. Esta cama é praticamente uma pedra...
Aceitei a sua mão e caminhei com ele para o quarto que dividíamos
juntos - o quarto do qual eu havia sido temporariamente banida.
Quando me sentei na cama, fiquei grata por sair do outro quarto,
percebendo o quão doloroso era aquela cama.
— Eu tenho algo para você, — eu ouvi a voz de Val murmurar
enquanto ele abria a mesinha de cabeceira e tirava uma pequena caixa
com um laço em cima.
Eu não tinha ideia do que poderia ser, mas não havia nenhuma
quantidade de joias no mundo que pudesse comprar meu perdão. Ele
tinha que ser conquistado.
Embora eu não tivesse certeza do que Val estava puxando, estava
curioso sobre o que estava na caixa, então, quando ele a passou para
mim, agradeci e comecei a desamarrar o laço que a prendia.
— Você sabe que não sou materialista..., — eu disse a ele. — Você não
pode esperar que os presentes tomem tudo isso melhor.
— Eu sei, — respondeu ele. — Basta abri-lo.
Assim que o arco foi desfeito, tirei a tampa da caixa e franzi a testa em
confusão com a visão diante de mim. — Uma chave?
— Sim...
— Para quê? Um carro? — Eu perguntei, tentando não soar ingrata,
mas isso era tão ruim quanto me comprar com joias. — Val...
— Elaina, antes de tirar conclusões, talvez você deva ler o cartão, —
Val insistiu.
Olhei para o pequeno cartão que estava anexado, lendo a impressão:
Você deve amar de tal forma que a pessoa que você ama se sinta livre.
— Eu... — Fiquei chocado com o que li, não só porque não entendi
muito bem, mas por causa da palavra — livre. — — Não tenho certeza do
que isso significa.
Quando olhei para Val, ele estava sorrindo o que parecia ser um
sorriso genuíno. Ele tirou a chave da caixa e ergueu-a.
— Eu entendo que esta vida está além de difícil para você, Elaina. Ter
você presa aqui não ajuda em nada, então considere isso o seu presente
da liberdade... Uma chave da casa.
— Você pode ir e vir quando quiser, no entanto, gostaria de saber
onde você está, para que eu saiba se você está segura.
Liberdade?
Meu primeiro pensamento foi que isso era uma armadilha, mas no
fundo, eu sabia que não era. Este foi um presente muito mais especial do
que qualquer outra coisa.
Como eu havia lutado por tanto tempo por não ter a capacidade de
me mover sem homens ou câmeras me seguindo, não sendo capaz de ver
o sol a menos que fosse do quintal.
Essa era a chave para tudo - não apenas para a liberdade, mas para a
vida.
Eu não podia acreditar que tinha chegado a esse ponto, e não podia
acreditar que Val estava permitindo que eu fosse livre. Eu poderia
finalmente ser eu mesma, novamente.
Val segurou minha mão e colocou a chave na palma antes de fechar
meus dedos em tomo dela. — Esta é a minha primeira promessa para
você. Você nunca ficará presa novamente, não em sua própria casa.
Não tinha palavras que pudessem expressar o quão significativo era
esse gesto. Bem quando eu pensei que Val nunca poderia me compensar,
ele deu o primeiro passo, e foi um grande passo.
Eu só consegui dizer duas palavras. Mas essas duas palavras significam
mais do que qualquer outra coisa que eu já disse a Val.
— Muito brigada.
Meu coração batia forte de alegria e um sorriso verdadeiro e genuíno
apareceu em meus lábios.
Este era o primeiro passo em direção ao resto da minha vida e, pela
primeira vez em muito tempo, senti que não seria uma vida miserável e
havia esperança - para mim - afinal.
Capítulo 38
ELAINA

8 meses depois...
Eu me olhei no espelho, maravilhada com o que o meu corpo era
capaz de fazer nos últimos nove meses.
Na minha barriga, eu carregava dois pequenos humanos, e era
completamente insano até mesmo pensar neles. Meu corpo tinha criado
vidas humanas e era realmente incrível.
Três meses atrás, Val e eu soubemos que teríamos gêmeos, o que foi
um choque para nós dois, mas Val ficou emocionado em saber que assim,
as chances de eu lhe dar um filho dobraram.
Por muito tempo, tive medo de descobrir que estava grávida de
meninas, então, quando o Dr. Franklin me disse que o bebê A era uma
menina, meu medo pelo bebê B ficou ainda mais forte.
— E o bebê B é...
Val e eu olhamos para o Dr. Franklin com impaciência, esperando a
sua resposta.
— Um menino!
Soltei um profundo suspiro de alívio porque Val tinha conseguido o
que queria, um menino e alguém para deixar o seu legado viver, ao que
eu era profundamente contra. A data provável do parto já tinha passado e
foi decidido que fariam uma indução medicamentosa para iniciar o
trabalho de parto, considerando que os bebês não tinham muita vontade
de se mexer.
Talvez eles quisessem ficar em seu pequeno casulo seguro em vez de
entrar neste mundo fodido. Eu não os culpava.
— Meus filhos estão prontos para fazer a sua aparição? — Val
perguntou quando ele entrou na sala com um sorriso grande e diabólico
no rosto.
Em certo sentido, ter filhos deu a ele mais poder. Seria o início de seu
próprio império.
Coloquei as mãos na minha barriga. — Acho que eles realmente não
têm escolha, têm?
— Claro que não, — ele respondeu, caminhando até mim e se
ajoelhando na minha frente para esfregar minha barriga.
— Meu pequeno Luca, você será a força desta família e será criado
para ser o homem que espero que seja.
Luca foi o nome que Val decidiu. Ele insistiu em nomear o menino, e
eu não podia recusar se queria ou não.
Nós conversamos sobre como Luca queria dizer — Luz. — Nem é
preciso dizer que ele esperava que nosso filho tivesse esse nome forte -
um nome que representava tudo o que ele queria que se tomasse.
A luz na família que deu à máfia um sentimento de esperança para o
futuro.
Ele mostrou pouco interesse pela garota, não se importando como eu
decidi chamá-la ou mesmo falando com ela na minha barriga. Seu único
foco era o Luca, aquele que comandaria seu império, o bebê que ele
desejava.
— Decidi um nome para a nossa filha, — disse-lhe com um pequeno
sorriso.
— Isso é bom. — Ele se levantou e fez um gesto em direção à porta. —
Dr. Franklin está esperando por você. Devíamos descer e parir essas
crianças.
Pensei em nossa filha e em como ela precisaria constantemente ser
tranquilizada por mim, sabendo que Val não se importava nem um pouco
em ter uma filha, apenas um filho.
Ao mesmo tempo, tive pena de nosso filho, sabendo o que ele iria
passar pelo que Val passou. Eu silenciosamente jurei nunca o deixar
sentir que eram muito amados, mas eu sabia que Val lutaria comigo
nisso.
Havia regras a seguir, e eu não tinha ideia de quanto tempo eu tinha
com os bebês antes de Val assumir e começar a treiná-los para serem
fortes e invencíveis como os Acerbis deveriam ser.
Val me levou a uma sala no nível principal da casa conhecida como
sala de remédios.
Sempre que o Dr. Franklin era necessário, este era o quarto dele e,
assim que entrei, percebi que era como um pequeno quarto pessoal de
hospital.
Prateleiras de remédios na parede, uma cama de hospital no centro
com máquinas ao redor. Se eu tivesse sido trazida para cá sem saber, teria
pensado que estava em um hospital de verdade.
— Boa tarde, Elaina. Como estão os bebês? — Dr. Franklin me
perguntou.
Eu consegui dar um pequeno sorriso. — Eles são muito ativos.
— Notícia maravilhosa, — Dr. Franklin respondeu enquanto dava
tapinhas na cama. — Nós vamos induzir. Tenho certeza de que você está
familiarizada com o processo.
— Primeiro, vou dar-lhe anestesia peridural para aliviar a dor durante
o trabalho de parto.
Eu balancei a cabeça, sentando-me na cama, já tendo vestido a minha
bata de — hospital. — Eu temia o que estava reservado para essas
crianças inocentes.
Nos últimos meses, Val teve uma mudança completa de caráter. Ele
ainda era o homem bravo e exigente que sempre foi, mas ele não
encostou nenhum dedo em mim pra me bater.
Nós discutimos como qualquer outro casal, mas nunca nada ia além
do verbal. O progresso foi milagroso, de verdade.
Mesmo assim, eu estava preocupada se algo desse errado - era um
medo que eu precisaria superar.
Parecia que horas se passaram desde que vim aqui para dar à luz, mas
quando as contrações finalmente começaram, tudo começou a se mover
muito rapidamente.
— Você está com seis centímetros de dilatação, — o Dr. Franklin me
disse, informando que o tempo estaria se aproximando em breve.
Mas foi Val quem me surpreendeu. Quanto mais perto chegávamos,
mais ele andava; não com impaciência, mas de uma forma nervosa, o que
era muito diferente dele, mas bom de ver.
Ele usava seu temo de sempre, mas sem o paletó, com as mangas
arregaçadas até os cotovelos.
— Val? — Eu chamei a sua atenção.
Ele imediatamente olhou para mim, com total atenção. — Hmm?
Pensei em falar, mas ao mesmo tempo sabia que era necessário para a
minha própria sensação de conforto. — Você vai ter o seu filho... eu sei
que é o que você queria, mas a nossa filha.
— Elaina..., — ele começou, mas eu não permitiria que ele deixasse
isso de lado novamente. Eu estava tentando falar com ele sobre isso nos
últimos quatro meses.
— Eu só preciso saber que você vai cuidar dela. Ela também merece o
amor de um pai.
— Ela pode não ser a sua herdeira, mas é sua filha, e não quero que
cresça se perguntando por que seu pai ama seu irmão, mas não ela, —
expliquei da maneira mais gentil possível.
— Eu sei que você é capaz de amar, Val. Eu sei o quão profundamente
você ama algo quando quer, então, por favor, dê a ela esse carinho.
Val ficou em silêncio, o que pode ser bom ou ruim. Eu não tinha muita
certeza neste momento.
Ele não se preocupou em me responder imediatamente. Em vez disso,
ele foi até a cama onde eu estava sentada e sentou-se na parte inferior,
perto dos meus pés.
Seus olhos pareciam distantes, mas mesmo assim, eu podia ver a
contemplação.
Finalmente, ele falou. — Qual é o nome que você escolheu para ela?
Isso podia parecer pouco para qualquer outra pessoa, mas ele
perguntar isso mostrou que ele tinha interesse, que nunca havia surgido
durante a minha gravidez.
Ele finalmente mostrou algum cuidado e isso me deixou mais feliz do
que ele jamais saberia ou mesmo pretendia.
— Ariella, — eu disse a ele.
Algo dentro de mim simplesmente amou aquele nome desde o
momento em que o li em um livro para bebês.
Parecia inocente e forte ao mesmo tempo, e pude ver a minha filha
sendo chamada de Ariella - um nome lindo, mas corajoso.
— E lindo. — Val acenou com a cabeça e pegou minha mão enquanto
ele exalava.
— Sei que meu foco tem sido em Luca e entendo a sua preocupação
porque um menino é o que todo homem na família precisa ter para
manter seu legado, mas a nossa filha será especial para mim.
— Ela será minha força pessoal e razão de lutar muito por nossa
família. Eu a protegerei com a minha vida, e o irmão dela também.
Eu não pude fazer nada mais do que apertar a mão de Val, e uma vez
que ele se aproximou de mim, eu o abracei. Ele me deu toda a garantia de
que eu precisava, e eu sabia o quanto ele valorizava a família.
Por isso era tão importante para mim.
A pendurai havia funcionado bem. Durante o que acabou sendo um
trabalho de parto de dez horas, eu estava confortável na maior parte do
tempo e a dor era mínima.
Val ficou comigo o tempo todo, segurando a minha mão a cada grito e
a cada empurrão.
Depois do que pareceu uma vida inteira, fomos abençoados com dois
bebês pequenos que nasceram saudáveis.
A maior parte da experiência parecia um borrão, mas quando nossa
filha foi passada para mim e Val segurou nosso filho, acordei do
entorpecimento, olhando para meus filhos recém-nascidos e tentando
assimilar tudo de uma vez.
Os dois bebês tinham a cabeça cheia de cabelos escuros, pesando
pouco mais de três quilos cada um.
— Você foi maravilhosa, — Val comentou, e eu consegui sorrir. — Eu
nunca poderei lhe dar um presente tão lindo, mas vou mostrar a você
diariamente o quanto você e nossos filhos significam para mim.
Parecia diferente, mas ver o quão pequeno Luca era em seus braços
me deu uma sensação de fé. Vendo a maneira como Val o segurava tão
delicadamente como se ele fosse um pedaço de vidro frágil.
Eu sabia que isso não duraria para sempre. Quando nosso menino
pudesse falar, Val estaria ensinando a ele tudo o que seria necessário para
se tomar um monstro assassino como ele.
Estava no sangue de Luca, e Val garantiria que ele crescesse forte e
implacável o suficiente para liderar um dia e reagir sem pensar.
Quando nosso filho pudesse se levantar, ele estaria segurando uma
arma na mão.
— Quanto tempo ele tem? — Eu perguntei baixinho, e Val sabia
exatamente do que eu estava falando, mas ele agiu como se não soubesse.
— Para?
— Para ser normal, até que ele seja treinado e...
— Ele nunca será normal, Elaina. Ele está vivendo sob o teto da Máfia.
Ele e Ariella vão crescer vendo armas e sangue - vai ser normal para a
vida deles.
— Pode parecer confuso para você, mas isso é um pouco parecido com
a nossa religião, a maneira como somos criados e encaramos o mundo.
Eu segurei Ariella em meus braços e olhei para ela com os olhos
fechados. Certamente, ela não teria uma vida fácil, mas Luca seria
forçado a muito, muito mais.
Eu não tinha controle sobre a situação, tanto quanto queria protegê-
lo disso. Ir contra Val era como ir contra o presidente dos Estados
Unidos.
Ele sempre venceria porque tinha o poder.
Tudo o que eu podia esperar era um acordo e tentaria o meu melhor
para tomar as suas vidas o mais normal possível.
— Amamos de formas diferentes, — Val comentou. — Você ama com
o seu coração, e eu amo com a minha cabeça. Quero que meus filhos
cresçam e sejam fortes porque precisam ser - do contrário, eles podem
ser mortos.
— Você, entretanto... aquele seu coração continua nos colocando em
problemas. Se você deixar seu coração guiá-la, nossos filhos não serão
independentes e isso poderia custar-lhes a vida.
— Não quero dizer nada com isso. Eu só preciso que você entenda a
importância de nossos filhos serem capazes de se proteger.
Ele estava certo. Claro que ele estava. Ele estava sempre certo.
Ele lutou para fazer eu entender, e finalmente eu entendi. Nossos
filhos não iriam crescer em um ambiente normal.
Eles não passariam os fins de semana no parque; mas sim, fugindo de
nossos inimigos, lutando contra eles e matando.
Ter sangue Acerbi significava apenas que seu estilo de vida seria
diferente, e se eles não fossem informados ou educados adequadamente,
isso poderia matá-los.
Eu sabia que Val protegeria os nossos filhos com toda a alma. Eu
confiei nele para fazer isso.
Por mais difícil que fosse, eu teria que ficar de lado enquanto assistia
meus filhos se tomarem assassinos, incapaz de dizer qualquer coisa sobre
isso porque era para a sua própria segurança.
Estávamos longe de ser uma família normal; éramos uma família
temida por todos, e meus filhos teriam que conviver com isso.
Fim do Livro Um
Livro Dois – O Prodígio
Livro sem Revisão
E-book Produzido por: Galatea Livros, Meu Alfa me Odeia e SBD
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Capítulo 1
LUCA

— Luca Marchesi, — grita o guarda ao entrar. Levanto os olhos do


jornal que estava lendo e vejo um homem gordinho de quarenta e poucos
anos caminhando em minha direção, com uma prancheta na mão.
— A sua sentença foi reduzida e você está sendo libertado.
Inacreditável. Ele sabia que eu tinha uma sentença de quatro anos, né?
Por que esses idiotas me liberaram depois de apenas seis meses e meio?
Levantei da mesa e ergui uma sobrancelha quando o guarda se
aproximou de mim. — E isso mesmo?
— Infelizmente, — ele respondeu secamente. — Mas parece que você
teve sorte.
Uma risada baixa escapou dos meus lábios enquanto eu o encarei nos
olhos. — Sempre tenho sorte.
Na maior parte do tempo, era verdade. Sendo quem eu sou, um
Acerbi, estava acostumado a sair de situações complicadas a minha vida
inteira.
Mesmo tendo usado um nome diferente para me proteger de ser
identificado como um membro da Máfia, eu ainda gostava de todos os
benefícios que vinham com o nome d minha família.
Assim que o guarda me liberou, fui levado para preencher a papelada,
ainda sem saber o que os fez decidir que era hora de me liberar.
Faz apenas oito meses que eu estava em um bar lotado e esfaqueei
alguém na garganta com uma garrafa de cerveja quebrada.
Claro, ele sucumbiu aos ferimentos, mas geralmente é isso que você
quer que aconteça quando esfaqueia alguém.
Eu assino toda a papelada, sorrindo para os policiais que não estavam
nada impressionados na minha frente. — É um prazer fazer negócios
com vocês, rapazes. Tenho certeza que nos veremos novamente algum
dia.
Quando saí, tudo fica mais claro quando vi meu pai parado do lado de
fora de seu carro preto, e encostado nele. Claro, ele voou até a Espanha
para ver o que eu fiz no ano passado.
Eu tinha deixado Chicago onze meses atrás, indefinidamente, para
ficar longe das bobagens que surgiam só de estar perto da minha família.
O meu pai controlador, a minha irmã ingênua e, acima de tudo, a
minha noiva pegajosa que eu não escolhi.
A minha mãe é a menos chata do grupo, mas há coisas em que ela
pode melhorar.
— Marchesi, hein? Você não tem mais orgulho de ser um Acerbi? —
meu pai me perguntou quando eu me aproximei do carro.
Idiota presunçoso.
— Você é o capo. Presumo que você tenha coisas mais importantes a
fazer do que seguir seu filho ao redor do mundo. É assim que a sua vida
acaba quando você envelhece? — Eu rosnei para ele.
Estou irritado com a sua presença e tentativa de me dominar. Isso não
vai acontecer. Ninguém me domina, especialmente o meu pai.
Posso ver a raiva em seus olhos quando ele fala entre os dentes: —
Entre no carro, Luca. Estamos voltando para Chicago. Alessandro está
preocupado com a sua confiabilidade e eu não o culpo.
— A filha dele está sentada em casa, sem saber onde está o noivo e
você está na porra da Espanha em uma onda de assassinatos.
— Eu não chamaria uma única pessoa de onda, — digo, entrando no
carro e ajustando a minha camiseta branca. Infelizmente, para mim, eles
não têm gravatas na prisão, mas eu prefiro as roupas mais descontraídas,
então tudo bem.
Meu pai entra no carro e bate à porta antes de ligar o motor. — Eu
cansei dessa sua atitude.
— A Sofia tem dezessete anos; ano que vem, vai se comprometer com
ela e, se foder com tudo, vai acabar matando todos nós.
— Eu juro que você é surdo. Você não me ouviu dizer um milhão de
vezes que eu não vou me casar com aquela garota?
Eu bato meu punho no painel do carro do meu pai. — Eu não sou o
tipo de homem de uma garota só. Não gosto de ter laços com ninguém
ou de ter uma mulher como minha responsabilidade, especialmente a
Sofia Rom...
O antebraço do meu pai pressiona a minha garganta antes que eu tire
o nome de Sofia da boca, e ele fica vermelho de raiva.
— Você fala comigo com respeito ou você vai ser o mais novo idiota
com uma garrafa de cerveja quebrada na sua garganta.
Tento rir, mas as minhas vias aéreas estão bloqueadas, fazendo eu ficar
mais fraco a cada segundo, lentamente. Não estou com medo,
entretanto. O pior que meu pai pode fazer é me matar. Isso vai acontecer
uma hora, de qualquer maneira.
Assim que ele solta o braço, ele pisa no pedal do acelerador, fazendo o
veículo sacudir.
Esse homem é um personagem. Ele é divertido, para dizer o mínimo.
Ele praticamente me criou sem que a minha mãe tivesse uma palavra a
dizer, e agora ele não gosta do monstro que ele fez.
Bem, sinto muito por ele, mas essa é a real.
O jatinho nos levou de volta a Chicago com relativa rapidez e minha
primeira — sensação — matinal é uma espécie de nostalgia doentia.
Esse quarto tem memórias da minha infância, principalmente ruins.
Passei anos redecorando e fazendo parecer diferente, desde mudar as
paredes para bordô até conseguir móveis inteiramente novos.
Mas as memórias de meu pai me sufocando ou me dando um tapa no
rosto permanecem dentro da minha cabeça.
As paredes escuras tomam o quarto sombrio; minhas cortinas estão
abaixadas e o quarto está praticamente escuro como breu, do jeito que eu
gosto.
Uma batida na porta do meu quarto interrompe o meu conforto e a
porta se abre antes mesmo de eu responder. A voz da minha mãe invadiu
a minha mente. — Luca, querido. Posso entrar?
— Será que vale a pena perguntar agora?
Ela não disse nada, mas quando a porta se abriu totalmente, eu pude
ver a tristeza no rosto dela. — Sinto muito, eu estava muito animada para
te ver.
Eu suspiro suavemente, sentando na cama e forçando um pequeno
sorriso para a minha mãe. — Não, eu só estou cansado... Vem. Senta aqui.
Ela parece aliviada e quase animada que eu a convidei para entrar.
Assim que ela entrou, ela fechou a porta atrás de si e entrou, parando ao
lado da minha cama.
— Como foi a Espanha? Você teve uma boa pausa de tudo?
— Até meu querido pai aparecer, é claro.
Os olhos da minha mãe vão para o meu braço, onde há tinta fresca. Eu
tinha feito uma nova tatuagem há menos de uma semana. — Mais
tatuagens? Você é muito parecido com o seu pai, sabia disso?
— Gostaria de pensar que sou muito mais bonito do que ele, —
comento comicamente, mas realmente odeio quando a minha mãe me
compara a ele.
Ele não é nem metade do homem que eu sou. Ele se esconde atrás de
seus homens enquanto eu enfrento qualquer situação de frente.
— Você é muito bonito, Luca. Você não precisa da minha aprovação.
Mas vamos falar sobre a Espanha. Seu pai disse que você foi preso com
um nome diferente.
— Olha, mãe. Estou tentando ser legal aqui, ok? Mas eu não respondo
a você ou a qualquer outra pessoa, nem devo uma explicação a você.
Então, vamos encurtar essa conversa e cada um cuida da sua vida, ok?
Se tem uma pessoa no mundo com quem eu tenho paciência, é a
minha mãe, mas eu tenho tanta raiva dentro de mim que nem mesmo ela
consegue falar comigo às vezes.
Há algo dentro de mim que me faz perder qualquer tipo de emoção,
em relação a algumas pessoas mais do que a outras.
A dor no rosto da minha mãe é clara, mas eu não poderia me importar
menos. Não é pior do que as coisas que meu pai fez com ela.
Ela força um sorriso e dá um passo para trás em direção à porta do
meu quarto. — Vou comprar algumas coisas na cidade. Precisa de alguma
coisa?
Eu balanço a minha cabeça negativamente sem falar e a minha mãe
sai da sala. Me recuso a permitir que as pessoas me façam sentir culpado
porque estão metendo o nariz no meu negócio.
Quando eu saio da cama, encontro meus temos ainda no armário
onde os deixei, mas escolho um jeans preto e uma camiseta branca em
vez disso.
Como uma família da máfia, devemos parecer discretos, mas não há
nada de discreto em andar por aí de temo 24 horas por dia, sete dias por
semana. Na verdade, isso é apenas implorar por atenção.
Abro a porta e, do outro lado da sala, ouço o som das risadinhas
desagradáveis da minha irmã gêmea. Ela é tão imatura.
Parte de mim está se perguntando se ela sabe que estou de volta à
cidade. Tenho certeza que ela ficaria emocionada. A última vez que vi a
minha irmã, eu a prendi contra a parede com uma faca contra a sua
garganta.
Ela me irritou por muito tempo e, depois que começou a contar ao
meu pai tudo o que sabia sobre o meu relacionamento com a Sofia, tive
que amedrontá-la um pouco.
Se a minha querida mãe não tivesse interrompido, eu poderia ter
deixado um pequeno susto como um lembrete para ela, mas ela teve
sorte.
A Ariella é uma vadia nojenta. A pequena princesa da mamãe e do
papai que não pode fazer nada de errado. É humilhante o suficiente ser
seu irmão, pior ainda ser a sua porra de gêmeo. Ela e eu não somos nada
parecidos, disso eu tenho certeza.
Decidi não incomodá-la hoje, não agora. Então, desci a grande
escadaria, incapaz de esconder meu rolar de olhos quando vejo a Sofia
esperando no final.
Juro que isso está se tomando uma festa de boas-vindas indesejada.
Mas é claro que o meu pai iria anunciar o meu retomo para o Alessandro
e a Sofia.
- Luca - diz ela, sorrindo quando me aproximo do último degrau meu
pai disse que você estava de volta. Eu tinha que vir ver por mim mesma se
o meu noivo havia realmente retomado.
— Como foi a Espanha? Eu viajei para lá para te fazer uma surpresa há
alguns meses, mas você é impossível de rastrear.
— Você sabe, amor. Normalmente, quando alguém é impossível de
encontrar, eles não querem ser encontrados. — Eu fico olhando para ela,
irritado com a sua ingenuidade. — Se liga e coloca na porra da sua cabeça
que-
— Luca, — diz meu pai, me interrompendo enquanto sai de seu
escritório. Seus lábios estão em uma linha fina e seus olhos dizem que ele
não está impressionado.
Eu me importo? Claro que não.
Enquanto ele caminha em nossa direção, ele sorri para Sofia. - É bom
ver você, Sofia. Eu estava falando com o seu pai antes. Ele disse que você
passaria para ver o Luca.
— Prazer em te ver, Sr. Acerbi. Pois é, eu não encontrei o Luca na
Espanha então esperava encontrar ele na própria casa...
— Estou ocupado, — digo a ela antes que ela tenha muitas esperanças.
— Você vai arranjar tempo para a sua noiva, — meu pai me disse,
enfiando a mão no bolso da jaqueta e puxando um pedaço de papel.
— Vão para o novo restaurante no centro. O proprietário me deve um
favor. Digam que o Valentino Acerbi mandou e aproveitem a noite. O
Luca se foi há muito tempo, vocês dois têm coisas para discutir.
Esse homem me deixa com todos os nervos à flor da pele. Tentar ditar
a minha vida é uma coisa, mas ele nunca terá o poder de forçar uma
mulher a entrar na minha vida. Ele também não vai me empurrar para
ficar perto dela.
Um sorriso puxa meus lábios e me foco no meu pai. — Que tal você
cuidar da sua própria vida e trabalhar em seu relacionamento fodido?
Tenho certeza de que você precisa mais do que a Sofia e eu.
Se a Sofia não estivesse aqui, meu pai provavelmente teria colocado
uma arma na minha cabeça ou uma faca na minha garganta. O fogo em
seus olhos é uma indicação clara de que ele quer colocar as mãos em
mim.
Meu pai e eu temos muitas diferenças e eu tenho certeza de que isso
não acabaria tão cedo.
Tenho certeza de que, se eu não fosse o seu único filho, meu pai já
teria me matado.
Felizmente para mim, sou o legado e ele precisa de mim por perto,
goste ou não. A única diferença é que, quando eu assumir o lugar dele,
muitas coisas vão mudar.
Começando pelo papel dele nesse negócio.
Capítulo 2
LUCA

Tenho certeza de que meu pai está descontente por eu ter saído
depois de repreendê-lo sobre o seu relacionamento com a minha mãe,
mas ele compensou quando me deu um soco no rosto.
Eu fui ingênuo em acreditar que ele não faria nada com a Sofia por
perto. Nada impede um Acerbi de expressar as suas emoções fisicamente,
por meio da violência.
Eu, por outro lado, fiz muito bem em me conter. Em vez de socar meu
pai de volta, acabei de sair.
Foi um bom momento para interromper a conversa e agora tenho
motivos para ir embora sem que me digam que estou evitando a Sofia, o
que de fato estou.
Ela pode querer começar a me evitar também. Quanto mais perto ela
chega de fazer dezoito anos, mais perto chegamos de eu matá-la.
Ela deve saber disso, agora. Não guardei segredo de que não tenho
intenções de ficar com ela, então ela deve saber que, se eu não quiser
fazer algo, não farei.
Eu entro na garagem e passo pelo meu carro, pensando se devo sair de
casa. Toda a família dirige esses SUVs gigantes porque eles estão
equipados para qualquer situação repentina em que sejamos atacados ou
entremos em uma zona de guerra.
Outra coisa que chama a atenção, mas aparentemente ninguém vê os
sinais de pertencer à máfia. Talvez eu deva entrar com a minha arma na
mão e ver se alguém percebe.
Eu dirijo até uma lanchonete conhecida, vou caminhando até a mesa
do canto e me sento.
Este é um dos poucos lugares que a minha mãe poderia me levar
quando eu era criança, com o consentimento do meu pai. Todos os
domingos, após o treinamento, mamãe me trazia aqui para jantar; eu só
tinha uma hora para ser um menino normal.
Infelizmente, uma hora por semana não me tomava normal. Passei
mais tempo sendo um monstro do que uma criança.
Eu me inclino para trás com uma Carol séria, observando as pessoas
de perto. Algo que aprendi é que é importante ser observador. Você
nunca sabe quem está ao seu redor até que você tenha uma arma
apontada para sua cabeça.
— Posso pegar uma bebida para você? — Eu ouço uma voz dizer.
Eu olho e vejo uma garota alta com um coque bagunçado em pé, perto
de mim, com uma caneta e um bloco de notas, esperando meu pedido.
Meus olhos pousam em seu crachá.
— Josie.
— Mm, e você é?
— Não é da sua conta, — eu rosno, rindo levemente. Alguma coragem
de me perguntar quem eu sou, como se fosse problema dela. Eu
mantenho meu olhar sobre ela. — Café. Preto.
Ela parece desconfortável, escrevendo em seu bloquinho e correndo
para longe sem dizer mais nenhuma palavra. As pessoas são tão sensíveis.
Eu espero pelo meu café pelo que parecem anos e, quando ele é
entregue para mim, é uma garçonete diferente. Essa tem olhos castanhos
claros.
Quando ela coloca meu café na minha frente, eu dou meu melhor
sorriso. — Você não é a minha garçonete.
— Oh, uh... — Ela enfia o cabelo atrás da orelha e dá um pequeno
sorriso que é obviamente forçado.
— Ela teve que ajudar na cozinha, então vou servir você pelo resto da
noite.
Mentirosa.
— Você é uma péssima mentirosa. — Meu tom é baixo e intimidante,
de propósito.
Gosto de ser superior e deixar as pessoas nervosas. A luta nos olhos de
alguém quando pensam em como se aproximar de mim é muito
gratificante. Isso me dá uma sensação de poder como nenhuma outra.
A menina pequena não faz contato visual, olhando para seu bloco de
notas e falando novamente.
- Gostaria de mais alguma coisa, senhor? Caso contrário, vou atender
as outras mesas.
— Contato visual seria um bom começo, — eu digo a ela, inclinando a
minha cabeça e observando seu rosto ficar vermelho. — Você sabe que é
rude não olhar para alguém ao falar com eles, correto?
Quando ela olha para cima, seu lábio inferior está ligeiramente
contraído e posso dizer que ela está fazendo isso apenas para manter o
emprego, não porque queira tolerar as minhas merdas hoje. — Algo
mais?
Meus olhos vagam, percebendo seu peito subindo e descendo em um
ritmo incrível. Ela deve estar nervosa, ou muito chateada, mas seus olhos
não parecem com raiva, então presumo que seja nervosismo.
Eu olho para o crachá dela e levanto as duas sobrancelhas. —
Caroline. Nome bonito.
Não era necessariamente um elogio. Eu estava apenas alertando-a de
que sou observador e de que farei as coisas no meu tempo. Isso inclui
fazer o pedido, se eu decidir.
Ela me surpreende quando balança a cabeça e diz: — Carol, de
preferência. Caroline me faz parecer velha.
— Nomes antigos têm um senso de elegância, — digo a ela.
Então, novamente, venho de uma família com nomes importantes. Os
nomes italianos são geralmente muito pensados, ao contrário da maioria
dos americanos, onde a pessoa média só segue o que está na moda no
momento.
— Eu trabalho em uma lanchonete. Eu não consideraria isso elegante.
— Bem notado. — Estou impressionado com as suas respostas
rápidas.
Eu me inclino para trás, cruzando os braços sobre o peito e dando um
sorriso malicioso para a garota parada na minha frente. — Na verdade,
estou muito feliz pela Josie não estar mais disponível. Sua empresa é
muito mais agradável.
— Estou apenas fazendo meu trabalho, — a Carol respondeu, olhando
por cima do ombro para um homem mais velho que a está observando da
cozinha. — Falando nisso, eu preciso atender outros clientes, então se
não tiver mais nada...
Eu aceno para ela sair, sem me preocupar em pedir nada além do meu
café. — Vá em frente.
Ela consegue sorrir antes de sair, e eu a observo de perto quando ela
está de costas para mim. De repente, não estou mais com fome ou nem
mesmo interessado no café que estou tomando.
Eu decido ir embora; não é como se o serviço aqui fosse ótimo. Eu
tinha vindo para uma escapada daquela vida fodida e acabei perdendo
mais de trinta minutos em uma lanchonete degradada, para nada.
Caroline, no entanto, foi um deleite. Por causa dela, posso
simplesmente passar por aqui novamente.
*
Encontro Nico em nosso local sagrado habitual. Um clube de strip no
centro da cidade onde acontecem muitas coisas ilegais, drogas e
prostituição.
Dizer que não paguei a uma garota por sexo seria mentira. Mesmo as
mais modestas não podem dizer não para mim, eu tenho mais dinheiro
do que as pessoas na situação delas podem recusar, e é por isso que gosto
tanto desse lugar.
Meninas de várias formas e tamanhos corporais, eu gosto de
variedade. Eu não tenho um tipo fixo; sexo é sexo e as mulheres podem
me excitar sem ter uma aparência determinada.
— Luca, as bebidas são por sua conta hoje à noite, irmão, — Nico diz
para mim.
Eu não poderia me importar menos, encolhendo os ombros em
concordância sem discutir. A minha conta bancária não tem limites; nem
eu. Se eu quero algo, eu consigo. Dinheiro, mulheres, objetos materiais.
Meus olhos vagam pelo clube, observando as mulheres que estavam
dançando em mastros ou oferecendo danças eróticas.
É quarta-feira, minha noite favorita: noite de amadores. As mulheres
que participam das festividades dessa noite são novas e inexperientes,
mulheres que quando pego em minhas mãos posso controlar muito mais.
Há algo sobre o controle que eu gosto. Eu sou dominante em todos os
sentidos da palavra; só eu comando.
— Você viu alguma garota que deseja? — Eu ouço Nico me perguntar
e eu balanço a minha cabeça, sem saber que tipo de mulher estou
desejando essa noite.
As loiras não são interessantes para mim no momento, e todas as
garotas com cabelo preto e usando maquiagem me fazem sentir como se
eu estivesse transando com um vampiro. Isso não me interessa nem um
pouco.
Eu balanço a minha cabeça para expressar meu aborrecimento. — Eu
sinto que estou em uma porra de um show de drag. Onde estão as
mulheres de verdade ~'l Nico responde à minha pergunta retórica. —
Talvez você esteja se cansando do mesmo sabor. Essa tem sido sua vida
por anos e tudo fica entediante, uma hora. Incluindo as strippers.
Eu odeio admitir que ele pode realmente ter razão. Essa costumava ser
uma das atividades mais agradáveis para mim. Agora parece a mesma
coisa sem fim.
Eu preciso de algo diferente e o nome que vem na minha cabeça me
dá vontade de me matar na hora.
— Vou ligar para a Sofia, — digo a Nico enquanto me afasto do bar. —
Sexo com ódio não parece uma coisa tão ruim agora.
— Você vai foder a sua noiva? Você ficou maluco? — Ele brinca,
engolindo uma dose enquanto eu me afasto.
Não é tão simples assim. Ela é a minha noiva por causa das nossas
famílias, não porque eu desfruto da companhia dela. Embora eu não
tenha nenhuma intenção de me casar com ela, não me oponho a dormir
com ela enquanto isso.
A minha ligação para Sofia correu exatamente como eu esperava. Ela
está emocionada em ouvir falar de mim e vai me encontrar na casa do
meu pai.
Isso me lembra que preciso do meu próprio lugar. Eu estava na
Espanha há tanto tempo que abri mão do loft que eu tinha no centro da
cidade.
Mas ficar com os meus pais não é uma opção. Não posso viver o risco
de ver meu pai todos os dias. Quando chego em casa, Sofia já está lá,
conversando com a minha mãe e tomando chá. Eu realmente queria que
a minha mãe a odiasse tanto quanto eu.
Há apenas algumas décadas minha mãe foi forçada à mesma situação.
— Ei, querido, — minha mãe diz.
Eu rolo meus olhos. Não há nada de querido em mim, então não sei
por que ela acha necessário me chamar assim.
Não digo nada e Sofia fala a seguir. — Luca, a sua mãe estava apenas
contando-
— Por favor, não me faça fingir que me importo.
Vamos lá.
Minha mãe parece surpresa, mas como ela pode ficar surpresa quando
isso é quem eu sempre fui? As suas sobrancelhas levantam e ela franze a
testa para mim. — Luca... Mais respeito.
— Mãe. Cuide da sua própria vida, - eu rosno, olhando para Sofia mais
uma vez. — Você tem implorado pelo meu tempo, então estou dando um
tempinho a você. Eu sugiro que você venha comigo antes que eu mude
de ideia de novo.
Como esperado, as minhas palavras funcionam e Sofia se levanta
rapidamente, forçando um sorriso para a minha mãe. — Foi bom
conversar com você, Sra. Acerbi.
— Com você também, Sofia.
Eu subi as escadas sem hesitar, e eu posso ouvir a Sofia ansiosamente
seguindo atrás de mim. Não duvidei por um segundo que ela não estaria
muito atrás; a garota vive para mim.
Ela é uma vadia desesperada que anseia pela minha atenção e eu dou a
ela apenas quando quero.
Quando chegamos ao meu quarto, abro a porta e entro, puxando a
minha camiseta branca pela cabeça enquanto ouço Sofia fechando a
porta atrás de mim.
As minhas intenções são claras, minha relação com Sofia é sexo e nada
mais. Porém, tirar a sua virgindade aos dezesseis anos a deixou
extremamente apegada a mim.
Eu me viro e ela não está tirando a roupa. Eu ter que fazer tudo é
estúpido pra caralho. Ela está fazendo isso há quase dois anos e eu
esperava que ela melhorasse, eventualmente.
— Precisa de ajuda? — Eu levanto uma sobrancelha sarcasticamente.
Deus me livre a garota tirar a própria roupa.
— Na verdade, eu esperava que pudéssemos conversar sobre o nosso
casamento, — ela acrescenta, passando pela minha figura sem camisa e
se sentando na beira da minha cama.
— Você sabe que meu décimo oitavo aniversário está perto e eu
gostaria de me casar no verão seguinte.
— Não, — digo a ela, — não quero falar sobre o casamento. Não quero
fazer planos que não vou seguir, Sofia. Não vamos nos casar, então
coloque isso na sua cabeça e supere.
— Luca, eu entendo as suas frustrações, mas isso não é sua escolha e
nem minha. Nossas famílias-
— Podem ir se foder. Eu tomo as minhas próprias decisões, está me
ouvindo? E posso prometer que você estará em um saco para cadáveres
antes de ter um anel em seu dedo que declara você como a minha
esposa...
Eu agarro seu pulso, puxo-a para perto de mim e olho para ela de uma
forma intimidante. — Se você quiser correr e contar ao seu pai, fique à
vontade. Não tenho nenhum problema em matar ele, também.
Os olhos castanhos de Sofia me encaram. O medo está praticamente
gotejando dela e, pela primeira vez, sinto que posso realmente ter
passado dos limites com ela.
Ela pisca algumas vezes, rapidamente, antes de começar a gaguejar. —
Eu... eu não vou contar...
— E como você está planejando nos tirar dessa bagunça? — Eu
pergunto, aumentando meu aperto em seu pulso.
— E-eu não sei. — Ela se atrapalha com as suas palavras. Assim como
eu, Sofia não tem escolha nesse assunto, mas se eu precisar usá-la como a
minha cobaia, eu farei isso.
— Sente, querida. Deixa-me te dizer o que vai acontecer.
Capítulo 3
LUCA

Depois de falar com a Sofia, desci para falar com p meu pai. Eu tinha
dito a -Sofia o que aconteceria. Eu aproveitaria qualquer chance que eu
tivesse de sair desse matrimônio.
Eu disse a Sofia que iria contratar um médico particular. Daríamos
informações falsas aos nossos pais, alegando que Sofia não pode ter
filhos, o que anularia todo o propósito da união.
Os casamentos são arranjados para que duas famílias muito poderosas
possam se unir como uma só e consolidar a sua aliança com os filhos. Se
a Sofia não pode ter filhos, meu pai não vai mais querer saber desse
casamento.
Eu caminho até o escritório do meu pai, batendo na porta e esperando
uma resposta. Eu sei que ele está lá porque está sempre naquele maldito
escritório.
Enquanto tento abrir a porta, descubro que ela está trancada e reviro
os olhos, sabendo exatamente o que está acontecendo.
Eu bato na porta com mais força e dessa vez a porta se abre em poucos
segundos, ninguém menos que a Sra. Catherine Mortsa está parada
diante de mim, com o cabelo todo bagunçado.
Eu olho por cima do ombro e vejo meu pai se ajustando atrás da mesa
onde está sentado, e eu rolo os meus olhos.
— Por favor, não vista as suas roupas por minha causa, — digo a ela
sarcasticamente, apontando a minha cabeça em direção à porta da frente.
— Você pode sair.
Catherine olha para meu pai como se precisasse dele para confirmar
que posso dizer a ela o que fazer. Que mulher audaciosa. Essa é a casa da
minha família; ela não tem que opinar sobre o que eu digo a ela para
fazer.
— Eu falei grego? — Eu estalo para ela, agarrando-a pelo braço e
puxando-a para mim. — Dê o fora da minha casa antes que a minha mãe
venha aqui e perceba que meu pai é um pedaço de merda ainda maior do
que ela pensava.
— Luca! — Meu pai levanta a voz, tentando ter autoridade sobre mim
e controlar a situação, mas isso não ia acontecer. Ele e eu sabemos disso.
— Tire as mãos dela. Catherine, vá embora.
Catherine acena com a cabeça e dá um pequeno sorriso para meu pai.
— Tchau, Vai.
Eu rolo meus olhos para a sua voz desagradável e entro no escritório
do meu pai, batendo a porta atrás de mim. Eu ando em direção a meu
pai, queimando de raiva.
— Seu filho da puta doente. A mamãe está em casa agora e você está
aqui fodendo uma vadiazinha?
— Cuidado com o tom, — meu pai repreende. Seus olhos se
transformam em aço e ele dá um passo em direção a mim.
— Meu casamento não é da sua conta, caso você tenha se esquecido
disso; eu não respondo a você. Eu sou o pai; você é o filho. Estamos
entendidos?
— Da última vez que verifiquei, eu sou o resultado desse seu
casamento fodido, então consideraria um problema meu se você enfiar
outra faca nas costas da minha mãe, — rosno para ele.
A minha mãe nunca se defenderia, então eu precisaria fazer isso por
ela. Fora isso, a minha raiva pelo homem na minha frente só me deixou
mais furioso com a situação.
Meu pai se encosta na beirada da mesa, ajustando as algemas. —
Catherine e eu não fazemos sexo, Luca.
Uma risada escapa dos meus lábios, balançando a cabeça em
descrença. — Deixa pra lá. Faça o que quiser, mas pelo menos seja
homem e conte para a sua esposa. Olha, vou até me oferecer para fazer
isso por você.
A minha provocação não me leva muito longe e antes que eu possa me
mover, meu pai puxa sua arma e a aponta na minha direção. Seu olhar
ficou frio e sua expressão séria.
- Luca, meu filho... Você sempre foi um pirralho, mas, por favor, não
seja hipócrita aqui. Você tem uma noiva e estou bem ciente do que você
fez na Espanha nos últimos seis meses...
— Ou devo dizer, quem -você estava comendo?
— Eu não quero nada com a Sofia. — Eu encolho meus ombros
descuidadamente. — Eu não a amo, nem amarei. Mas, por algum motivo,
você diz que ama a mamãe. Isso é mentira?
— Não, — ele responde instantaneamente, — eu amo muito a sua
mãe. E você aprenderá a amar a Sofia também.
— Você é implacável.
Antes que meu pai pudesse responder, a minha irmã gêmea Ariella
entra no escritório com um sorriso despreocupado até que ela vê nosso
pai apontando a sua arma para mim. Seus olhos se arregalam e ela
congela em seu lugar. — Papai...
Instantaneamente, nosso pai coloca a sua arma sobre a mesa para
tranquilizar a minha irmã. — Não se preocupe, querida. Seu irmão só
precisa ser intimidado às vezes.
— Que se foda, — murmuro antes de olhar para a minha irmã. — Seis
meses, irmã. Eu tenho que dizer, você ainda parece uma merdinha. Você
parou com a cocaína?
— Eu nunca usei drogas, Luca. Fiz uma cirurgia a laser nos olhos, por
isso estava usando colírios. — Ariella levanta a voz, ligeiramente, em
aborrecimento.
Sei muito bem que a minha querida irmã não usa drogas, mas vê-la
zangada é como ver um cachorrinho enlouquecendo. É bem engraçado.
— Diga o que quiser. Agora, se você não se importa, tenho negócios a
tratar. Eu vou sair. — Eu viro meu olhar para meu pai, que está com as
sobrancelhas levantadas. — Conversaremos mais tarde.
Por mais que ele evite essa conversa, não tenho intenção de desistir.
Sou um homem de poucos sentimentos, mas se há alguém neste
mundo com quem eu me importo, mesmo que ligeiramente, é a minha
mãe.
Ela é covarde e ingênua, mas durante a minha infância fodida, ela
conseguiu me dar cinco minutos de normalidade a cada semana.
Além da minha falta de emoções, sinto que tenho a responsabilidade
de deixar a minha mãe saber sobre o meu pai e a Catherine.
Se ele estava transando com ela ou mesmo se ela viesse só para chupar
o seu pau, traição é traição, e a mamãe merece saber, então ela pode ser
poupada de amar esse bastardo.
Eu dirijo pela cidade sem nenhum lugar específico em mente até que
me lembro da morena quieta da lanchonete, a Caroline.
Havia algo sobre aquela garota que me intrigou desde o início, como
ela não estava usando maquiagem. Em vez disso, ela parecia bastante
desleixada, mas a boca compensava isso.
Ela não se sentiu intimidada por mim como aquela patética colega de
trabalho dela; me deixou curioso para vê-la novamente.
Quero ver o seu comportamento perto de mim porque, com base nos
poucos minutos que a vi, ela não parecia perturbada, o que é incomum.
Chego à rua onde a lanchonete fica escondida na esquina e, quando
me aproximo do estacionamento, vejo a Caroline fechando o zíper da
jaqueta e tirando as luvas do bolso. Claro, está um pouco frio hoje, mas
passei horas a fio no congelador; o inverno não é nada comparado a isso.
Quando me aproximo dela, pressiono o botão para que o vidro da
minha janela role para baixo. Eu olho para ela, um sorriso aparecendo no
meu rosto enquanto meus olhos examinam seu corpo rapidamente.
— Aí está a minha garçonete favorita. Me diz que você não está indo
embora? Eu só estava passando na esperança de te ver.
Caroline parece surpresa ao ouvir a minha voz, olhando para mim
com um olhar confuso no rosto. — Tem outros garçons trabalhando.
A resposta dela é abrupta e eu não aprecio a falta de comunicação.
Enquanto ela continua caminhando, mantenho meu carro em um ritmo
lento para acompanhá-la. — Tenho a sensação de que você não está
muito feliz em me ver.
— Você é um estranho, então emoção não é a primeira coisa que vem
à mente quando vejo um Carol qualquer me seguindo. — Ela olha para
mim, mas continua andando.
— Não sejamos estranhos então. Deixa-me te levar para casa em vez
de andar no frio. Eu tenho assentos aquecidos.
Pisco para ela, tentando fazer o negócio parecer mais doce, mas essa
garota é teimosa como o inferno, o que me faz implorar pela sua atenção
ainda mais.
De repente, a Caroline para em seu caminho e se vira para olhar para
mim, enquanto uma risada escapa daqueles lábios teimosos.
— Eu não confio nem nos caras do Uber. O que te faz pensar que eu
entraria no seu carro depois de dizer especificamente que você é um
estranho? Olha, senhor... estou saindo do meu turno...
— Luca.
— Quê?
— Meu nome é Luca, — repito, apontando as minhas mãos para que
ela continuasse o que estava dizendo.
— Ok, Luca ~ Se quiser passar por aqui enquanto estou trabalhando,
vou pegar um café ou o que você quiser, mas se formos sinceros, você é
meio assustador, — ela me diz e eu não me sinto incomodado nem por
um segundo.
É algo com o qual estou acostumado e gosto de dar às pessoas essa
sensação de desconforto.
— Se você está tentando conhecer alguém novo, seguir a pessoa até a
casa dela não é um bom começo.
— Só para constar, não estou querendo fazer amigos. Então, que tal
você passar outro dia e talvez nos veremos quando você no restaurante.
Eu ri. Uma garota bonita como ela pensa que pode ditar as regras, mas
claramente, ela não sabe com quem está falando. Felizmente para ela,
estou me sentindo paciente hoje, em vez de explodindo com a minha
agressão usual.
— Você é um foguete, Caroline. Eu não posso evitar, mas me pergunto
quem te fodeu assim para te deixar tão cautelosa. — Eu franzo meus
lábios em pensamento.
Eu iria descobrir; eu sempre descubro tudo. Mas primeiro, eu
precisaria de mais informações sobre ela.
— Carol, — ela me corrige.
— Ok, Carol, — eu zombo dela. — Desculpe por parecer rude, mas
garanto que sou um Carol sincero e gostaria muito de conhecer a garota
por trás dessa personalidade agressiva.
— Deixa eu começar de novo. Eu sou o Luca Marchesi. Prazer em te
conhecer, Carol...?
— Harding. — Ela sorri um pouco e vejo que ela tem reservas, mas
cedeu mesmo assim.
— Lindo nome, — digo a ela com um sorriso no rosto. Não porque o
nome dela seja lindo, mas porque agora sei qual é o nome dela. Ou seja,
agora eu posso descobrir mais sobre essa garota.
Ela não é mais a Caroline da lanchonete, mas a Carol Harding. O
primeiro passo para saber tudo sobre essa garota começa agora e ela não
tem nem ideia para quem acabou de dar as suas informações mais
importantes.
Para a máfia.
Capítulo 4
LUCA

Enquanto me sento no sofá da sala de estar, mantenho meus olhos no


meu telefone e mando uma mensagem para Nico sobre um possível
passeio essa noite.
Não passo a minha vida procurando pessoas para matar como meu pai
faz, mas não tenho nenhum problema em matar alguém se eles entrarem
no meu caminho.
Meu pai sempre tende a estar em reuniões, tramando algum tipo de
plano ou vingança. Prefiro ser espontâneo ao decidir acabar com a vida
de alguém. E muito mais divertido assim.
Ouço passos e vejo meu pai com o telefone no ouvido, murmurando
em italiano para a pessoa na outra linha.
— Sia chiaro, io faccio le regole e tu devi seguirle. Non voglio più
risentirti se non hai informazioni utili.
( — Vamos ser claros. Eu faço as regras e você deve seguir. Não quero
saber de você novamente, a menos que você tenha informações úteis. — )
Parece que ele está sendo um cuzão de novo.
Ele desliga o telefone e seus olhos pousam em mim. — Precisamos
conversar sobre isso antes.
— Olá pai. É bom ver você também. — Sento ereto, com um sorriso
presunçoso no rosto. — Estou feliz que você mencionou isso. Devemos
fazer com que a mamãe se junte a nós?
— Ascolta, figliolo. Non mettermi alia prova, (Ouça, filho. Não me
teste), diz ele com os dentes cerrados: — Eu não fiz sexo com outra
mulher.
— Embora eu não precise me explicar para você, parece que você vai
andar por aí falando sobre coisas que você não entende.
Eu franzo a minha sobrancelha, incapaz de acreditar que ele pensa
que eu sou tão estúpido. Não sou uma criança que vai acreditar em
qualquer coisa que sai da boca dele. Estou bem ciente do que eu
interrompi.
— Eu não preciso que você jogue as suas desculpas em mim. Se você
não fez nada de errado, não terá problemas em discutir o assunto com a
mamãe. Correto?
— Luca, só porque você é meu filho não significa que não farei com
você o que faria com qualquer outra pessoa que me ameaçasse.
A ameaça do meu pai é vazia e eu não poderia me importar menos. Eu
poderia facilmente derrubar o velho e se ele viesse para cima de mim, eu
não hesitaria.
Antes que eu possa falar, ouço a voz da minha mãe chamando o meu
pai. Ela logo nos encontra sentados na sala de estar e sabendo da minha
história com meu pai, ela parece confusa sobre nos ver juntos.
— O que vocês estão fazendo?
— Colocando a conversa em dia, — meu pai responde antes de
caminhar até a minha mãe e beijar sua bochecha. — Você está linda,
querida. Como foi o café da manhã com a minha mãe?
— Foi bom, — diz mamãe, sorrindo para ele. Uma vez por semana, ela
saía para tomar café com minha avó, a única pessoa com quem ela
provavelmente se sentia segura para ficar sozinha.
Minha avó é muito parecida com a minha mãe. Ambas foram
empurradas para um casamento arranjado com bastardos violentos, e
agora a pobre Sofia está sendo empurrada para a mesma coisa.
— Sua mãe não estava se sentindo bem, então terminamos mais cedo.
Eu estava pensando que podemos tomar um café juntos se você tiver
tempo?
Meu pai balança a cabeça negativamente. — Infelizmente, eu tenho
coisas demais acontecendo nesse momento, querida. Quando as coisas se
acalmarem...
— É uma pena que você não pode ter tempo para a sua esposa, — eu
interrompi, me levantando do sofá e empurrando meu telefone no bolso
de trás. — Foi você quem me disse para arranjar um tempo para a Sofia.
Não seja hipócrita.
Posso sentir o brilho da raiva do meu pai queimando sobre mim e ele
sabe muito bem que, se ele não obedecer, vou contar tudo o que sei para
a minha mãe. Ele não vai arriscar; eu sei muito bem disso.
Meu pai se vira para a minha mãe e força um pequeno sorriso. —
Pegue uma jaqueta, iremos para o cais no centro da cidade e
caminharemos.
— Vai, você não tem-
— Elaina. Jaqueta. — Minha mãe acena com a cabeça antes de subir
para pegar a sua jaqueta. Quando ela desaparece de nossa vista, meu pai
rapidamente se vira para mim com um olhar ameaçador.
— Não se atreva a me foder assim de novo. Não brinque de deus
comigo ou sofrerá as consequências.
— Eu não tenho medo de você. — Eu chego perto dele, mantendo
meu sorriso presunçoso e meus olhos frios. — Você, de todas as pessoas,
deveria saber que não temo ninguém. Você é quem me ensinou a ser
assim.
Ele não diz nada porque sabe que é verdade. Meu pai é quem me criou
para ser o que sou, e agora que me recuso a ficar em sua sombra, ele
pensa que pode me colocar no meu lugar.
Infelizmente para ele, uma das primeiras coisas que me ensinou
quando eu era menino foi a nunca ouvir as instruções de ninguém, mas
sim fazer as minhas.
Não há como voltar atrás. Eu me tomei meu próprio homem e não
respondo a ninguém. Suas ameaças vazias só podem ir até certo ponto,
até que ele realmente siga em frente.
Quando isso acontecer, apenas um de nós sairá vivo.
*
— Ah, Caroline, sua garota estúpida, — digo a mim mesmo ao receber
os documentos que solicitei.
Pedi a um investigador particular que conseguisse qualquer
informação que pudesse sobre a Caroline Harding em um curto espaço
de tempo e, para meu prazer, ele conseguiu obter um bocado.
Ela mora com a mãe e o pai, a apenas alguns quarteirões da
lanchonete em que trabalha. Ela tem dezenove anos, se formou no
ensino médio com louvor, mas recusou uma oportunidade de bolsa de
estudos na USC.
Por quê? Eu não faço ideia. Meu único palpite seria a distância, mas
até eu descobrir por mim mesmo, isso permanecerá sendo só uma
suposição.
Na pasta, vejo que meu investigador particular conseguiu obter fotos
arquivadas de Carol, despertando meu interesse, repentinamente.
Há uma foto dela segurando um cachorrinho, aparentemente com
cerca de treze ou quatorze anos, à primeira vista; e uma foto de família
mais ou menos na mesma época com seus pais e outra garota, que
presumo ser a sua irmã.
Eu chego a uma foto dela com um menino loiro. Eles estão face a face
e ele tem um piercing no lábio e o branco de seus olhos é vermelho.
— Caraça, — murmuro para mim mesmo antes de olhar para o meu
investigador. — Quem é?
— Ex-namorado, — ele me responde.
— Onde ele está agora? — Eu pergunto.
Em resposta, meu investigador balança a cabeça.
- Não fui capaz de descobrir isso em tão pouco tempo, senhor.
Definitivamente irei investigar e obter muito mais informações sobre a
Sra. Caroline para você.
— Assim que você encontrar alguma coisa, quero que entre em
contato comigo, — digo a ele antes de fechar a pasta e enxotá-lo. — Você
está dispensado. Obrigado pela informação.
Quando ele se afasta, abro meu laptop e procuro Caroline no
Facebook. Todos os jovens parecem postar as suas vidas nas redes sociais,
obviamente sem pensar nos perigos que isso pode causar.
Estou com sorte porque a Caroline tem uma página própria, assim
como qualquer outra garota normal. Infelizmente, ela definiu tudo como
privado, então não consigo ver nada além de sua foto atual.
— Acho que você não é completamente estúpida, — murmuro para
mim mesmo.
Depois de digitar seu nome sem selecionar um perfil, eu posso ver as
mensagens públicas em que ela foi marcada.
O mais recente foi há vinte e três minutos, por alguém chamado Flo
Smith: Track 8 hoje à noite com a minha garota Carol!! Vâmo com tudo,
putada.
Track 8? Procuro no Google e descubro que o Track 8 é um clube
barato no centro da cidade. Aparentemente, é o lugar mais descolado
atualmente.
Eu não vou em nenhum lugar além do clube de strip. Eu não gosto de
explorar lugares, mas hoje à noite, o Track 8 está me chamando.
Eu disco um número no meu telefone e quando meu amigo atende, eu
sorrio para mim mesmo.
— Nico, meu garoto. O que você acha da gente tentar uma coisa nova
hoje à noite?
Capítulo 5
LUCA

Mesmo em uma boate, ela se veste de um jeito conservador.


A maioria das mulheres aqui usa vestidos que mal cobrem as suas
nádegas e seios, mas o vestido da Carol cai até os joelhos e tem alças para
mantê-la bem modesta.
Não são muitas as meninas que conseguem ficar bem com a cor verde,
mas por algum motivo, combina perfeitamente com a pele dela.
Eu tomo um gole da minha cerveja enquanto me sento no bar com
Carol à minha vista, mas longe o suficiente para que ela não possa me
notar. Eu sou bom em passar despercebido. Faz parte do meu trabalho
não ser visto quando quero manter a minha presença em segredo.
— Aquela garota é um deleite, — Nico diz, ao meu lado.
— Nem sonhe, — exijo, não permitindo que meu olhar se mova de
Carol. — Ela não está disponível para você.
— Mas ela está disponível para você? — ele ri, balançando a cabeça
antes de continuar. — Eu não acho que essa doce garota estaria
interessada em um Acerbi.
— O que os olhos não veem o coração não sente, — eu respondo,
colocando a minha cerveja na mesa quando percebo que Carol está indo
para fora. — Eu já volto.
— Sério, Luca? Você vai perseguir ela?
Eu ignoro as suas palavras, continuando a seguir uma distância segura
atrás de Carol. Quando chego à saída, desacelero e pego o meu telefone,
fingindo fazer uma ligação enquanto saio.
— Sinto muito, não consigo ouvir você... — digo no meu telefone,
vendo Carol à minha esquerda em minha visão periférica. — Olá?
Espero um segundo antes de fingir que a minha ligação foi cortada e
coloco meu telefone de volta no bolso, virando para voltar para dentro.
— Você tem que estar brincando comigo. — A voz de Carol me para e
quando eu olho para ela, seus braços estão cruzados sobre o peito
enquanto me olha divertida. — Você está em todos os lugares.
Eu franzo a minha sobrancelha. — Espere, você é a garota da
lanchonete, né?
— Uh, sim. — Ela acena com a cabeça. — E você é o idiota do carro.
— Sabe, não é educado sair por aí chamando alguém de idiota, — digo
a ela com um sorriso encantador no rosto. — Eu prefiro o termo
cavalheiro. Eu só te ofereci uma carona, nada assustador.
Carol revira os olhos. — Você obviamente nunca assistiu a nenhum
programa policial.
— Você não deve basear a sua opinião em programas de televisão.
— Não há nada de errado em estar ciente...
Ela é interrompida pelo som do seu telefone tocando e quando ela
olha para a tela, ela suspira pesadamente antes de ignorar a chamada e
colocar o telefone de volta no bolso.
Quem poderia ter ligado para ela e está claramente causando essa
angústia?
— Problemas com o namorado? — Eu pergunto casualmente,
sugerindo algum tipo de resposta dela. Ela parece muito reservada, no
entanto. Não acho que será fácil obter respostas dela.
Ela balança a cabeça. — Não, eu não tenho um... Você sabe, não é nada
demais. E só o meu pai. Eu vou ter que ir embora. Preciso encontrar a
minha amiga e dizer a ela que preciso ir para casa.
Embora eu não tenha certeza do que é essa urgência repentina,
aproveito a oportunidade para usar isso a meu favor. — Deixa eu levar
você. Envie uma mensagem para a sua amiga dizendo que você está
saindo e você economizará algum tempo.
— Vou pegar um táxi, — Carol responde, mais uma vez relutante em
aceitar a minha oferta. E como se ela visse através de mim e eu não goste
disso.
Não é algo com o qual estou acostumado, mas me deixa ainda mais
determinado a desvendar essa garota.
— Então, em vez de pegar uma carona com um estranho que não vai
cobrar de você, você vai pagar um estranho para te levar para casa? — Eu
digo. — Isso definitivamente faz sentido, Caroline. Vou deixar você
decidir.
Eu me afasto e abro a porta da frente do clube, mas como era
esperado, a Carol me impede. — Espere, eu entendo o que você está
dizendo. Faz sentido... Me dê um minuto para mandar uma mensagem
para a minha amiga, ok?
Pela primeira vez, eu poderia finalmente enganá-la para ficar no
controle da situação. Ela não é tão fácil quanto a maioria das pessoas,
mas com o tempo, ficará mais fácil de interpretá-la. Como acontece com
todo mundo.
Não tenho ideia de quais são as minhas intenções com ela nesse
momento - se eu quero transar com ela ou me divertir de outras
maneiras mais torturantes.
Mas agora, a sua relutância em me deixar entrar só me faz querer
fazê-la mudar de ideia.
Talvez eu faça exatamente isso, provar a ela por que não é bom
conversar com estranhos. Eu poderia facilmente me tomar o maior
arrependimento da sua vida.
Carol se vira para mim quando termina de enviar mensagens de texto
em seu telefone e consegue dar um pequeno sorriso. — Tudo bem... Se
você estiver pronto, eu moro a apenas alguns minutos de distância.
— Por aqui, — eu sorrio, andando na frente dela e permitindo que ela
me siga até o meu carro.
Felizmente, sempre tenho meu carro em forma apresentável. Por fazer
parte da maior máfia de Chicago, é importante ter qualquer arma ou
contrabando escondido em caso de mandados policiais repentinos.
Abro a porta para Carol enquanto ela caminha para o lado do
passageiro. Ela ainda parece hesitante e posso vê-la lutando contra seus
pensamentos antes de decidir entrar. Ela me agradece e eu sigo para o
lado do motorista.
Enquanto coloco o cinto de segurança, ouço a Carol dizer: — Você
não bebeu, não é?
— Você acha que seria inteligente da minha parte dirigir um veículo se
estou embriagado? — Eu pergunto a ela sarcasticamente. — Eu não sou
um homem burro, Carol. Eu não tenho bebido.
— Sinto muito, eu só... queria ter certeza.
Quando eu ligo o motor, eu olho para ela sem entender. — Para onde
vamos?
Claro, eu já sei o endereço dela, graças ao meu detetive, mas ela não
precisa saber disso. Já dirigi por essas estradas milhões de vezes, então
não preciso puxar o endereço no meu GPS.
— Estou surpreso por não ter visto você por aí antes. Nos últimos
dias, você literalmente apareceu em todos os lugares.
Ao sair do estacionamento, olho para Carol por um momento rápido.
— Estive fora do país recentemente. Espanha.
Seu interesse parece ter finalmente atingido o ápice, e ela se vira para
me encarar. — Espanha? Isso deve ter sido emocionante. Negócios ou
lazer?
— Por que apenas um dos dois? — Eu sorrio para mim mesmo,
encolhendo os ombros um momento depois. — Mais prazer, mas um
pouco de negócios também.
— Adoraria um emprego que me permitisse viajar, mas eu nunca saí
dos Estados Unidos, — diz ela, parecendo finalmente falar mais, agora
que encontramos um tema de conversa adequado. — Onde é que você
trabalha?
Oh, querida. Você não quer saber do meu trabalho.
Eu sorrio por razões que Carol nem percebe. Em vez de entrar em
detalhes, eu mantenho a minha resposta curta, mas é verdade: — Um
negócio de família. Nada especial.
Eu paro na rua onde a Carol mora. A casa dela deve estar bem
próxima, mas a voz de Carol me impede de continuar. — Você pode me
deixar aqui.
É óbvio que ela não quer ser deixada diretamente na sua casa, mas
considerando o quão difícil ela tem sido até agora, decido não insistir
mais no assunto.
Eu paro no acostamento, diminuindo a velocidade enquanto a Carol
tira o cinto de segurança.
— Obrigada por me trazer, — ela diz antes de abrir a porta do
passageiro. — Eu sei que você disse que não ia aceitar nenhum dinheiro,
mas posso pelo menos te dar o café da manhã na lanchonete amanhã?
Por conta da casa.
— Bem, eu não posso recusar um café da manhã de graça. — Eu rio e
aceno com a cabeça logo depois. — Eu estarei lá.
Ela apenas sorri e fecha a porta, começando a subir a calçada. Eu a
observo por um momento antes de passar por ela e dar a volta no
quarteirão.
Algo está errado. Por algum motivo, ela não queria que eu a deixasse
em casa e a minha curiosidade vai me matar.
Depois de dar a volta no quarteirão, a Carol não está mais à vista,
então presumo que ela já tenha entrado.
Lentamente, dirijo em direção à casa dela e vejo que as luzes estão
apagadas. Parece completamente normal, o que não significa que Carol
esteja tramando algo.
Eu decido deixar como está e deixar para lá. A Carol é um mistério,
mas ela ainda é uma mulher, e eu não perco meu tempo tentando
entender as pessoas, sem necessidade.
*
Depois de sair de lá, dirijo para o The Underground, o clube de elite e
extremamente ilegal do meu pai.
Negociações da máfia, drogas, e a minha parte favorita são as
mulheres que servem as bebidas. Eles andam de lingerie. Eu teria que ser
gay para dizer que não gosto de ver mulheres quase nuas andando por aí.
— Luca Acerbi? — uma voz feminina diz, chamando a minha atenção.
Eu me viro e vejo uma das garçonetes caminhando na minha direção;
cabelos escuros e seios grandes se destacam para mim. Ela age como se
me conhecesse, mas não me lembro de ter visto essa mulher antes.
— Você precisa de algo?
Ela ri e coloca a bandeja de bebidas em uma mesa próxima. —
Naomi... lembra?
— Naomi... Bom, você vai precisar ser mais específica.
— Nós... passamos uma noite juntos, antes de você partir para a
Espanha. Na cozinha... — Ela se atrapalha com as palavras. — Lembra,
você me pressionou contra o-
— Naomi, Naomi, eu tenho noites loucas com muitas mulheres. Estou
ciente de como sou bom na cama, mas antes que você se envergonhe,
você precisa saber que eu realmente não dou a mínima.
Dou um sorriso para ela antes de tirar a minha carteira do bolso de
trás e tirar uma nota de vinte dólares. Eu a passo para a garota, que agora
está estupefata. — Isto é pelo seu tempo. Vamos deixar assim, ok?
Naomi encara os vinte dólares em estado de choque. — Você está
brincando comigo?
Eu me afasto, procurando uma mesa livre.
Só quando vejo a Ariella é que começo a me perguntar por que ela está
aqui. Ela nunca vem para o The Underground. Não é a cena certa para
uma boa garota como ela.
Ao me aproximar da mesa, vejo que ela está falando com o Alexei
Petrov.
Eu o conheço pessoalmente e ele faz parte da família russa altamente
poderosa que mora em Las Vegas. Já tomamos cervejas juntos antes e o
Carol é bem interessante, para dizer o mínimo.
— Alexei Petrov, — eu digo antes de me sentar ao lado da minha irmã.
Eu levanto minhas sobrancelhas e me inclino para trás, para dar uma boa
olhada nele. — Quanto tempo, cara. E a minha irmã chata desperta o seu
interesse?
Alexei ri, balançando a cabeça para dizer olá.
Vejo com o canto do olho que Ariella está aborrecida comigo, mas ela
permite que o Alexei fale. — Apenas negócios, como de costume. Nossos
pais entraram em contato sobre Ari e eu passamos algum tempo juntos.
— Outra parceria, hein? Que delícia, — reviro os olhos para a minha
irmã, que está olhando para a mesa, sem nenhuma emoção. — Então,
papai está usando você como um peão também. Não é nem mesmo o
meu aniversário, mas aqui está você, miserável como sempre.
- Cale a boca, Luca. Por que você não vai encontrar algo melhor para
fazer com o seu tempo? Talvez volte para a Espanha e fique bem longe de
mim!
Percebo que ela levanta a voz, algo que ela não faz com frequência,
especialmente comigo. Ela sabe que não deve fazer isso.
Quando Ariella termina de falar, eu sou rápido para agarrar a sua
garganta, me levantando e a empurrando de volta no chão.
— Você não fala assim comigo, entendeu? Em uma fração de segundo,
posso quebrar o seu pescoço e prometo que não hesitarei em te matar.
Eu vejo a Ariella embaixo de mim, lutando por ar enquanto ela cava as
suas unhas em minhas mãos, tentando erguer os meus braços, mas nada
poderia me impedir se eu quisesse matá-la.
— Luca! — Eu ouço a voz do meu pai à distância, o que só me dá
vontade de apertar o pescoço de Ariella com mais força.
Ele chama de novo e de novo, mas assim que me alcança, ele é rápido
em me puxar para longe de sua filha preciosa.
O olhar em seu rosto diz tudo; ele está furioso. — O que diabos você
pensa que está fazendo?
— Só estou ensinando a minha irmã uma lição sobre respeito, — digo
a ele, ajustando meu cabelo casualmente enquanto Ariella tosse no chão.
Alexei a ajuda a se levantar e eu viro para o meu pai para dizer: — Eu
não interfiro com seus negócios, então espero o mesmo em troca.
— Não quando se trata da minha filha. Lembre-se que, eu ~sou o
capo. Você me escuta, não apenas como seu pai, mas como o seu chefe,
— diz meu pai entre os dentes.
Ele aponta para Ariella com raiva queimando em seu olhar. — Família
não se volta contra família! Você não é o Stefano.
Uma expressão estranha de dor aparece nos olhos de meu pai e eu
brinquei com isso. Quanto mais fraco ele estiver, melhor para mim,
então por que não chutar o homem enquanto ele está caído?
— O tio Stefano, você quer dizer? Seu irmão, que você matou, — eu o
lembro.
Eu fico olhando para meu pai quando um pequeno sorriso aparece
nos meus lábios. — Você matou o seu próprio irmão, então não me dê
um sermão sobre como eu trato a minha irmã. Pelo menos eu a deixo
ainda respirando.
Nesse raro momento, meu pai fica paralisado e não consegue falar.
Algo em meu tio Stefano sempre trouxe fraqueza ao meu pai, e é por isso
que eu uso isso contra ele sempre que posso.
Aproveitei o tempo para sair, sem saber por que tinha vindo aqui, para
começo de conversa. Enquanto me dirijo para a porta da frente, ouço a
voz irritante de Naomi chamando por mim.
Ela agarra meu braço e eu paro, ouvindo-a falar. — Você não pode
simplesmente me jogar vinte dólares como se eu fosse uma prostituta,
seu filho da puta. Eu sou uma mulher...
Eu me viro para encará-la, tiro a minha arma do coldre e rapidamente
coloco um silenciador. Assim que tiro a trava de segurança, aponto a
arma na direção da cabeça de Naomi e puxo o gatilho, depois vejo seu
corpo cair no chão.
— Finalmente, a vadia calou a boca.
Capítulo 6
LUCA

Ontem à noite, fiquei em um hotel. Eu não estava pronto para lidar


com o meu pai, então reservei um quarto online e decidi deixar por isso
mesmo.
Quando acordei às seis e meia, o sol estava brilhando através das
cortinas e em meu rosto. As minhas roupas manchadas de sangue
estavam espalhadas pelo chão e as memórias da noite anterior
finalmente vêm à mente.
Depois de meter uma bala na cabeça da Naomi, eu estava de mal
humor. Acabou sendo uma pena para os rapazes que encontrei no
estacionamento do hotel.
Dois jovens, com vinte e poucos anos, entupidos de álcool, me
abordaram pedindo drogas.
Embora eu pudesse tê-las fornecido facilmente, no momento em que
alguém colocou a mão em meu ombro para me impedir de entrar no
hotel eles assinaram a certidão de óbito.
Eu não tinha feito um trabalho tão limpo com essas mortes como fiz
com a Naomi.
Em vez de um simples tiro na cabeça, peguei meu canivete e tomei a
morte deles muito mais brutal do que o necessário. Depois, joguei os
corpos na caçamba de lixo.
Liguei a televisão e vi as notícias. Não há nada sobre corpos sendo
encontrados, então presumo que eles ainda estejam por aí sendo
comidos pelas moscas.
Meus olhos olham para as minhas roupas no chão e eu realmente não
estou com humor para limpá-las. Em vez disso, ligo para Juanita, a
empregada da casa de meu pai, para me trazer algumas roupas novas.
Quando a avó dela, Anita, faleceu, ela recebeu uma oferta para o
cargo. Obviamente, a sua avó falava muito bem da minha família, então
ela aceitou. Mas, ao contrário de Anita, essa garota era jovem e uma
bagunça.
Ela chegou ao meu quarto mais de uma hora depois e estou chateado
por ela ter demorado tanto para me trazer as roupas. Não era mais do
que uma viagem de vinte minutos.
Abro a porta enquanto limpo o resto do sangue de minhas mãos com
um guardanapo molhado. — Olha quem finalmente decidiu aparecer.
— Sinto muito, — Juanita se desculpa, tentando juntar as palavras. —
Seu pai estava me questionando e... foi difícil sair de casa.
Pego a minha bolsa de roupas e lanço um sorriso encantador. — Você
tem sorte de ser bonitinha, caso contrário, eu ficaria muito bravo agora.
Meus olhos examinam o corpo de Juanita, observando seu biótipo
pequeno. Ela é jovem, tem apenas dezesseis anos. Mas ela vai fazer
dezessete em algumas semanas.
Por que tem que ser ilegal transar com alguém da idade dela? Eu
poderia facilmente dar umazinha com essa garota.
— Isso é tudo o que você precisa, Sr. Acerbi, Luca, senhor?
— Por enquanto, — digo a ela. Tenho tantos pensamentos sujos
passando pela minha mente, mas não vou agir até que ela tenha
dezessete anos, pelo menos.
Eu curto flertar com o perigo, mas há uma diferença entre ser um
assassino e ser um pedófilo.
Outra coisa que me impede de perseguir a Juanita agora é o meu
planejamento para chegar ao restaurante para o café da manhã. A Carol
ofereceu e eu aceitei.
Também é bom estar perto de alguém que não sabe quem eu sou.
Sempre é algo que eu gosto, mas geralmente, quando descobrem quem
eu sou, eles fogem rapidamente; o que eu entendo, na verdade.
Não é sempre que eles fogem, no entanto. Sou rápido com a minha
arma e algumas reações ao saber que sou o filho do líder da máfia
realmente me irritam.
Depois de tomar banho, saio do hotel e vou em direção à lanchonete,
passando por alguns carros-patrulha no caminho. Talvez meus corpos
ocultos tenham sido encontrados? Já estava na hora.
Coloco um CD no meu aparelho e começo a ouvir — It's a Beautiful
Day, — de Michael Buble.
Chego à lanchonete em poucos minutos e enquanto estaciono meu
carro, vejo a Carol entrando na lanchonete para começar o turno. No
momento ideal.
O som de uma música antiga dos anos 60 está tocando quando entro
na lanchonete. Um sino toca para indicar que entrei e o gerente sorri
para mim. — Bom dia senhor. Já iremos te atender. — Eu apenas aceno
com a cabeça antes de ir para uma mesa e me sentar. Bato os dedos
impacientemente na mesa enquanto espero a Carol se aproximar ou sair
da cozinha. Essa garota é demorada.
Quando ela sai, meus olhos caem instantaneamente sobre o
hematoma em sua bochecha. É óbvio que ela tentou cobrir com
maquiagem, mas fui criado para notar pequenos detalhes.
Ela parece cansada, mas quando se aproximou de mim, ela fingiu um
sorriso, embora fosse uma péssima atriz. — Bom dia. — Enquanto ela
puxa seu bloco de notas, ela respira fundo. — Posso começar trazendo
café?
— O que aconteceu com o seu rosto?
— Ok, isso é rude, — diz ela com uma zombaria, se recusando a olhar
para mim.
Eu me levanto, segurando seu queixo entre meu polegar e indicador,
levantando a sua cabeça para o lado, para que eu possa examiná-la. Antes
que ela pudesse se afastar, eu esfrego meu polegar sobre a sua bochecha
para remover uma pequena quantidade de base, revelando um
hematoma mais escuro.
— Ai! — Ela dá um tapa na minha mão e me encara antes de cobrir a
bochecha com a mão. — Não me toque. Limites, Luca.
A minha mandíbula aperta, odiando que alguém tente me controlar e
dê um tapa na minha mão. Não funciona assim e a Caroline continua
tentando me desafiar.
Eu me forço a não agarrá-la agora, em vez disso, me concentro na
marca em seu rosto, dando a isso toda a minha atenção.
— Quem bateu em você? — Eu pergunto.
— Jesus, ninguém me bateu! — Ela levanta a voz, balançando a cabeça
para mim com clara irritação. — Não é da sua conta, mas muito obrigado
por apontar as minhas falhas.
Ela está tentando mudar de assunto e eu rio.
— Garota boba, você está encobrindo. Não apenas o hematoma, mas a
maneira como ele apareceu. Então, me diz, quem fez isso?
Seus olhos estão focados nos meus e ela não está nem um pouco
intimidada por mim. E bastante atraente, mas ao mesmo tempo
extremamente irritante.
Não aceito que falem comigo nesse tom, mas ela não saberia disso tão
cedo.
— Cuidado com a boca, querida. Isso não é jeito de falar comigo, — eu
digo. Uma ameaça - mas muito mais branda do que eu normalmente
faria.
Carol ri e enfia o bloco de notas no bolso do avental preto. — Oh? E
por quê?
Facilmente, eu poderia dizer que sou Luca Acerbi. e falar assim
comigo é uma coisa realmente estúpida de se fazer, mas em vez disso,
dou a ela um pequeno sorriso. — Sou um cliente pagante. Um pouco de
respeito seria bom.
— E o mesmo aconteceria com um pouco de privacidade, — ela
responde antes de começar a se afastar de mim.
Eu agarro seu pulso a viro para me encarar. Ela parece ter sido pega de
surpresa, mas eu não poderia me importar menos. — Onde você está
indo?
Os olhos de Carol fixam-se nos meus e estão confusos. — Prefiro não
ser a sua garçonete essa manhã. Você está cruzando os limites e eu não
gosto disso.
Essa garota realmente sabe como me irritar, mas eu consigo fingir um
sorriso melhor do que a maioria das pessoas.
Pretendo aprender mais sobre ela antes de mostrar o meu verdadeiro
eu, especialmente agora que sei que há coisas que ela está escondendo -
coisas que pretendo descobrir.
Ao soltar o seu pulso, franzo a testa e pego a minha carteira do bolso
de trás. — Bem, é melhor eu sair então porque mostrar preocupação por
alguém aparentemente é um crime por aqui.
Eu sei que a primeira coisa sobre ser um sociopata é fazer com que a
outra pessoa sinta que está exagerando ou que é o problema.
Fazer a Carol se sentir culpada não seria uma tarefa difícil, e poderia
ser a chave para fazê-la se abrir comigo.
Eu deixei uma nota de cinquenta dólares pelo tempo perdido, fazendo
o meu melhor para parecer um verdadeiro cavalheiro. Depois de colocar
a minha carteira no bolso, vou em direção à porta, e logo sou
interrompido pela voz de Carol.
— Luca, espere...
Lentamente, me viro para olhar para ela, com uma sobrancelha
arqueada.
Seus olhos agora estão suaves e ela parece se desculpar; como
esperado. Ela dá um passo em minha direção, começando o seu pedido
de desculpas.
— Me desculpe se eu pareci tão ingrata. É bom que você se importe,
mas há algumas coisas que prefiro não falar. Principalmente para um
estranho. Eu realmente espero que você possa entender isso.
— Caso contrário, gostaria de começar de novo e talvez conhecer você
sem ser uma vadia.
Caroline é diferente da maioria das mulheres, mas ainda é fácil
brincar com ela. As mulheres são criaturas complexas, mas eu as domino.
Depois que você entra na mente de uma mulher, não é difícil descobrir o
resto.
Eu sorrio para Caroline, satisfeita comigo mesmo por fazê-la se sentir
culpada em tão pouco tempo. Eu não esperava que alguém tão teimosa
quanto ela cedesse tão rapidamente.
— Me parece uma boa escolha. Que tal começarmos com um jantar?
Eu escolho o lugar.
— Luca, o jantar parece...
— Como um belo convite, — eu continuo por ela, o que a faz respirar
fundo.
Eu levanto seu queixo suavemente quando ela desvia o olhar e falo em
um tom mais suave. — Qual é o problema em jantar comigo? Se não for
agradável para você, pode ir embora antes da sobremesa.
Essa é uma oferta que ela não poderia recusar. Se ela quiser se livrar de
mim, estou lhe dando uma oportunidade em aberto, mas ela não se
livraria de mim, disso eu tenho certeza.
Eu estarei no meu melhor comportamento, o melhor comportamento
que posso ser como um Acerbi. Foi nesse momento que descobri o que
poderia fazer com a Carol.
Ela se tomaria o peão nesse jogo fodido que eu precisava jogar para
sair da união com a Sofia.
Capítulo 7
LUCA

Eu ando pelo corredor da mansão Romano com um guarda me


acompanhando até o escritório de Alessandro.
Mesmo com o acordo de casar com a sua filha, nenhum líder seria
estúpido o suficiente para permitir que outra pessoa nesse ramo de
trabalho andasse livremente pela sua casa.
Meu noivado com a Sofia é o motivo pelo qual eu vim aqui. A única
maneira de sair de um acordo com a Máfia é fazer outro acordo, e eu
tenho uma oferta para Alessandro que ele seria um idiota se recusasse.
— Senhores, — digo quando paramos em frente a uma grande porta
que eu sabia ser o escritório de Alessandro, — gentilmente, agradeço pelo
tour. No entanto, posso lidar com isso sozinho.
— Nós não respondemos a você, — diz um dos homens em um tom
que me dá vontade de enfiar uma faca na sua garganta ali mesmo. — Sr.
Romano, temos o Luca Acerbi aqui para vê-lo.
Pela porta, ouço Alessandro responder: — Mande-o entrar.
Dou um pequeno sorriso para o guarda antes de abrir a porta e entrar
na sala de enormes dimensões.
Alessandro está sentado atrás da mesa de madeira, em uma grande
cadeira de escritório preta. Ele não tira os olhos da planta que está
olhando e me pergunto no que ele está trabalhando no momento.
Assim como o meu pai, Alessandro tem o seu próprio negócio. Seu
negócio, no entanto, é muito diferente da boate do meu pai.
— Sr. Romano, gostei do que você fez com esse lugar. Definitivamente
tem uma vibração sombria e perigosa. — Eu sorrio para mim mesmo
enquanto caio em uma poltrona confortável em frente à mesa. Meus
olhos examinam a planta casualmente. — Construindo uma nova sede?
— Não exatamente, Luca. Apenas expandindo para Nova York e
Texas, — ele respondeu, sabendo muito bem que seu negócio não é um
segredo para mim ou para a minha família.
Alessandro Romano é um traficante sexual bem conhecido. Ele
começou com prostitutas sem-teto e chegou a estar envolvido em
esquemas de sequestro.
Por muitos anos, antes mesmo de eu ser trazido a este mundo,
Alessandro dirige uma rede de tráfico. Foi há cerca de oito anos que ele
chegou ao ponto de sequestrar.
Assim que tem mulheres suficientes, ele as leiloa online ou em um
leilão clandestino, vendendo pelo lance mais alto.
Geralmente, os licitantes são de alguma forma relacionados à Máfia.
Eles são homens perigosos e, embora a transação seja ilegal, as mulheres
nunca têm chance contra o gângster que as compra.
Nesse negócio, a tendência atual é uma garota inocente e pura.
Nenhum homem nesse estilo de vida iria querer uma mulher dominante,
então Alessandro está em busca de mulheres que são mais procuradas
pelos clientes.
— Pelo que sei, você está com poucas mulheres, — digo a ele,
recostando e cruzando os braços sobre o peito. — Claro, você sempre
pode pegar algumas prostitutas sujas, mas onde está o lucro nisso?
Finalmente, Alessandro me olha com a testa franzida. Ele está atrás de
mim e eu não poderia me importar menos. Eu sou um bom negociador e
ele vai querer me ouvir. — O que há com o interesse repentino no meu
negócio?
Conforme me inclino para frente, fico mais sério. E de negócios que
estamos falando; sem brincadeiras.
— O senhor sabe muito bem que não tenho intenções de me casar
com a sua filha, senhor Romano. Agora, podemos fazer isso da maneira
mais difícil ou ser adultos. Estou aqui para lhe oferecer um negócio
melhor para trocar por esse matrimônio.
— Em vez de me casar com Sofia, posso fornecer a você o tipo de
garota que poderia ser uma mina de ouro.
— Onde você tem esse tipo de poder, Luca? Seu pai não está envolvido
no negócio do tráfico.
— Não, e geralmente, nem eu. Mas eu quero sair desse casamento
forçado com a Sofia. Se você estiver interessado, tenho uma garota
perfeita para o seu próximo leilão.
Meu ego cresce a cada segundo. Estou impressionado com a minha
ideia genial, mas também ansioso para ver o que Alessandro diz.
— Ela é corajosa, mas cautelosa, e eu sei que os homens farão lances
por ela por causa de seu comportamento tímido. Acredite em mim
quando digo que ela não será difícil de dominar.
Ele fica em silêncio por um momento, e posso praticamente ver as
engrenagens girando. Ele está considerando seriamente a minha oferta,
mas sei que não será tão simples. Eu preciso conquistá-lo com a
proposta.
Finalmente, ele limpa a garganta e diz: — Eu gostaria de ver essa
garota de quem você fala antes mesmo de pensar nisso.
Minha testa franze em confusão. Este homem é estúpido? — Como
você planeja fazer isso? Se eu a sequestrar e você não gostar do que vê,
serei forçado a matar a garota ou ir para a prisão por sequestro.
— Seu idiota, — ele diz. — Parece que você tem tudo planejado, então
pense em algo para me apresentar a essa garota e teremos uma reunião
depois.
— Não faça nada ilegal até então. Prefiro não sujar mais minhas mãos
do que já estão.
Eu me levanto da cadeira abruptamente, dando a Alessandro um olhar
de advertência. — Não sou idiota, Alessandro. Entrarei em contato com
você em breve, então certifique-se de que a sua agenda não esteja muito
ocupada.
— Luca, — diz Alessandro quando estou prestes a me virar, — qual é o
nome dessa garota? Vou fazer uma verificação de antecedentes, enquanto
isso.
Eu sorrio para mim mesmo e permito que o nome saia da minha boca.
— Caroline Harding.
Capítulo 8
LUCA

Eu tenho um plano. É um plano exaustivo e demorado, mas se essa é


minha única maneira de sair desse casamento com a Sofia, então eu
levaria o tempo que fosse necessário.
Nesse caso, significa fazer a Caroline confiar em mim por tempo
suficiente para que o Alessandro a conheça.
A reunião não será nada particular ou especial. Ele irá comigo até a
lanchonete e a partir daí decidirá se a Caroline é digna do seu negócio.
Não duvido que ela supere as suas expectativas. Todas as garotas em
seu ringue são provocativas, enquanto a Caroline é muito mais
conservadora, o que a tomará mais valiosa.
Há algo sobre transar com uma boa garota que os homens
simplesmente gostam. Os mafiosos não são exceção.
Meus olhos pousam em Caroline enquanto ela sai da lanchonete após
o seu turno. Com a minha janela abaixada, eu ganho a sua atenção
chamando seu nome. — Carol! Olá estranha.
— Luca? — Ela se lembra do meu nome. É um bom começo.
Eu lanço um sorriso encantador em sua direção e quando ela se
aproxima de mim, sutilmente examino seu corpo com meus olhos. Sim,
ela valerá muito para o Alessandro.
— Seu gerente me disse que você terminaria às três horas, então
tomei a liberdade de vir te buscar, — digo a ela, afirmando em vez de
perguntar se ela aceitaria uma carona.
Não sou o tipo de homem que aceita um não como resposta,
especialmente quando se trata de uma garota como a Carol.
Ela parece hesitante, e eu me pergunto qual será a sua desculpa
esfarrapada dessa vez. Em vez de inventar algo, a sua resposta é diferente.
Enquanto ela enfia o cabelo atrás da orelha, ela olha para mim com
uma expressão suave no rosto. — Na verdade, eu não ia voltar para casa
logo depois do trabalho.
— O tempo está bom, então eu ia passar um tempo no Millennium
Park; aproveitar enquanto está quente.
— Ah, isso parece muito chato.
— Talvez para algumas pessoas seja, mas eu gosto de relaxar ao sol, —
ela me diz. — Claro, eu pediria que você se juntasse a mim, mas como é
chato, tenho certeza que você não gostaria.
— As suposições nunca são exatas, querida. — A minha voz está
confiante e estou satisfeito por ela ter dado aquele grande passo em
minha direção.
— Entre. Vou encontrar uma vaga de estacionamento nas
proximidades e você pode me mostrar o que é tão agradável em estar em
tomo de uma multidão de estranhos e caminhar em uma área pública
enquanto evita a merda dos pombos.
Pela primeira vez, ela riu. Não é uma risada simples, mas uma risada
alta e embaraçosa, mas, surpreendentemente, não é irritante. É muito
divertido e não sei por que ela está tão feliz de repente.
Talvez eu não seja tão bom em ler a linguagem corporal quanto
presumi.
— Então é isso que você tem contra estar ao ar livre. E aqui estava eu
pensando que você era um vampiro, — ela brinca.
Eu sorrio, mas não tenho certeza de como reagir.
Ela está zombando de mim e eu deveria matá-la por isso, ou pelo
menos colocá-la em seu lugar, mas há algo que me diz que ela não está
falando sério. Ou não parece que ela está.
Foda-se, pra quê entender as emoções humanas, de qualquer maneira?
Carol entra no meu carro, e quando ela fecha a porta, eu travo as
portas, dirigindo para fora do estacionamento e na direção do
Millennium Park.
Preciso saber mais sobre ela; coisas que vão intrigar o Alessandro e
fazer com que ele a deseje. Informação suculenta.
— Me fala de você, — peço francamente, não para mostrar interesse,
mas para iniciar uma conversa. — Não há muito o que saber, — ela diz
com um leve encolher de ombros. — Tenho dezenove anos, moro com os
meus pais e trabalho num emprego de salário mínimo. Não é muito
interessante.
Ela está certa. Ela parece longe de ser interessante, mas às vezes
menos é mais em termos de negócios. — Tem irmãos?
— Não.
Ela é muito abrupta ao falar da família e percebo que não se interessa
nem um pouco pelo assunto.
— Bem, já que tenho certeza de que você está se perguntando, eu
tenho uma irmã. Uma irmã gêmea, na verdade, embora ela seja uma
vadia chata. Eu preferiria ignorar o fato de que compartilhamos o mesmo
aniversário e os mesmos pais.
Caroline parece intrigada. Ela se senta ereta no banco do passageiro e
levanta uma sobrancelha para mim. — Você tem uma irmã gêmea? Eu
realmente não imaginei você como um Carol que teria uma irmã. Uma
irmã gêmea, aliás.
— E o que é que você imaginou? — Eu pergunto, desconfiado de sua
resposta.
Outra risada escapa de seus lábios. — Eu não sei. O menino mau
taciturno que usa a intimidação para conseguir o que quer. Você tenta
parecer assustador para as pessoas por motivos que só posso imaginar.
— Se eu fosse adivinhar, pensaria que você teria irmãos, talvez dois.
Seus pais são tensos e não passam muito tempo com você, o que
explicaria a distância que você tem da comunicação social.
— E a dificuldade de sorrir, também. E eu acho que você é do signo de
Touro.
As suas suposições são ridículas. Ela não consegue ler as pessoas e eu
realmente acho esse jogo muito divertido.
Eu faria suposições sobre ela, mas já sei tudo o que é importante,
devido às informações que meu investigador particular me deu.
Eu balancei a minha cabeça. — Câncer. 23 de junho.
— Ok, isso faz sentido. — Ela acena com a cabeça. — Câncer é o
caranguejo, o signo de água conhecido por ser emocional e intenso.
Posso ver a parte intensa, embora não tenha certeza sobre a parte
emocional.
— O fato de você saber dessas coisas é meio patético, — eu digo.
Não há nada remotamente divertido na astrologia. As pessoas
acreditam demais nisso e é tudo um jogo de azar. Não acredito que o dia
em que nasci tenha algo a ver com as minhas ações.
— Eu sou de Libra, — Caroline me diz. — Meu aniversário é seis de
outubro e meu horóscopo me diz que sou sensível e atenciosa.
Agora que a Caroline se abriu em termos de conversa, temo que ela
nunca mais se cale. Muito do que ela diz é chato ou sem sentido.
Mas, tenho que lembrar que ela é uma adolescente ainda na fase da
vida em que tudo é emocionante.
Eu aceno a minha cabeça, fingindo me importar. Essa informação não
vai me ajudar a convencer o Alessandro a persegui-la. — Suponho que
você não tem namorado, caso contrário você não estaria aqui no meu
carro, estaria?
Ela balança a cabeça, sua voz se tomando suave. — Não, eu não tenho.
— Você parece na dúvida.
— Eu prefiro não falar disso. — Há algo além do que ela está me
dizendo, mas eu sei que não devo insistir nesse momento. Preciso do
meu investigador particular para descobrir o que a Caroline está
escondendo.
Espero que seja uma coisa pequena, porque qualquer coisa muito
extrema seria uma bandeira vermelha.
Tenho certeza de que o Alessandro contratará a sua própria equipe de
investigadores para descobrir mais sobre a Caroline, portanto, preciso
vencê-lo.
Encontro uma vaga perto do parque e, ao tirar o cinto de segurança,
olho na direção de Caroline. — Uma mulher misteriosa. Mas tenho que
te avisar; normalmente sou muito bom em ler as pessoas.
— Bem, talvez haja certas coisas que você não deveria saber, Luca.
Portanto, cuidar da sua própria vida às vezes também é uma boa opção.
Caroline sai do veículo, batendo a porta atrás dela. A boca daquela
garota pode colocá-la em muitos problemas e eu preciso me esforçar
demais para não agarrar o seu pescoço.
Eu poderia facilmente colocá-la em seu lugar, mas ela poderia ser o
meu cartão de — Saia da Prisão, — a minha maneira de sair dessa união
nojenta que meu pai fez para mim.
Eu saio do carro e sigo atrás dela enquanto ela faz esforço para andar
mais rápido. Claramente, ela mudou de ideia sobre querer a minha
companhia. Muito ruim para ela, porque eu não vou embora. — Você é
uma garota e tanto, Caroline, — digo a ela enquanto a alcanço. — Vejo
que você tem o gênio forte e, para ser franco, isso me irrita.
— Eu sou um homem com um temperamento difícil, isso eu vou te
dizer, e é preciso mais força do que você imagina para não gritar com
você por ser uma pirralha tão desagradável.
— Como é que é? — Ela se vira e me olha com o rosto em choque. —
Eu não sou uma pirralha. E você não sabe nada sobre mim.
Na verdade, sei mais sobre você do que você sabe sobre si mesma.
— Exatamente, — minto, — e é por isso que achei que seria bom nos
conhecermos, mas em vez disso você prefere pegar uma carona grátis e
depois gritar comigo.
Caroline mantém os olhos em mim e puxa o cordão de seu suéter
enquanto responde.
— Você precisa entender os limites, ok? Não sou o tipo de pessoa que
grita com alguém, mas também não sou o tipo de pessoa que discute a
minha vida pessoal com um estranho.
Não tenho ideia de como devo agir perto dessa garota sem perder a
cabeça ou sem perder a paciência, mas me lembro dos custos.
Preciso colocá-la no mesmo ambiente que o Alessandro e se ela não
quiser ficar perto de mim, isso pode atrapalhar todo o meu plano.
— Eu não sabia que era um assunto delicado, vou evitar falar disso no
futuro. — Minha voz está monótona e posso vê-la sorrir um pouco.
Ela não diz mais nada enquanto caminha pela calçada, limpando a
garganta. Eu sigo ao lado dela, desinteressado e sinceramente esperando
que isso evolua.
Ter paciência não é a minha melhor qualidade, o que dificulta ainda
mais essa situação.
Vejo Caroline pular em direção a uma barraca de cachorro-quente,
com um sorriso no rosto enquanto fala com o garoto atrás dela. Ela pede
um cachorro-quente e, enquanto o menino o prepara, ela continua a
conversar com ele.
— Sem nada extra, por favor.
Eu fico atrás dela, olhando para o menu horrível e quase engasgando.
— Jesus, Caroline. Se você quiser comida, vou comprar comida de
verdade, em vez desse lixo.
Seus olhos se arregalam quando ela se vira para olhar para mim. —
Não seja tão rude.
— Claramente, você não é um verdadeiro garoto de Chicago, — o
garoto ri, o que me faz virar a cabeça em sua direção.
— Porque eu não quero o seu cachorro-quente barato? Isso nem é
uma razão. Estou apenas no lado de classe da cidade.
Meu olhar fica frio e eu sinto as minhas mãos se fechando em punhos.
Só assim, a minha pressão arterial já subiu. Não é preciso muito para me
irritar e às vezes isso pode ser uma fraqueza da minha parte.
Eu nunca tenho que me segurar. Normalmente, eu simplesmente
deixo escapar e começo a me sentir melhor, mas, infelizmente para mim,
estou sendo forçado a tentar fazer outras coisas pela primeira vez,
incluindo manter a calma quando estou pronto para matar.
Quando me afasto, dou passos largos sem perceber, ouvindo os
pequenos passos de Caroline atrás de mim. Ela me surpreende agarrando
o meu braço, e eu rapidamente tiro a sua mão de cima de mim.
Ser tocado não é algo que eu costumo levar numa boa. Na verdade,
isso se alimenta da minha dor interna.
— Por que você age assim com as pessoas? — A voz de Caroline é
suave, mas surpreendentemente, não é crítica. Ela parece genuinamente
curiosa e confusa com a minha personalidade dividida, até eu me sinto
assim às vezes.
Eu encolho meus ombros e evito contato com seus olhos. — Eu estava
simplesmente declarando um fato e oferecendo a você uma boa refeição.
Você se ofender não estava na minha lista de tarefas, Caroline.
— Sinto muito, só não estou acostumada com as pessoas reagindo tão
negativamente. Você é meio assustador às vezes, Luca.
— Já me falaram isso, — digo a ela descuidadamente, me permitindo
olhar para ela novamente. — É assim que eu fui criado, para me defender
e não ter emoções. Aparentemente, me tomei um profissional.
Algo mudou em seus olhos e ela me olha com pena, um olhar com o
qual não estou familiarizado e, francamente, não sou nada ã.
A minha educação me tomou forte e capaz de me defender. Não é algo
de que eu tenho vergonha.
— Quem é você, Luca? — Sua pergunta me surpreende, mas posso
dizer que ela está falando sério.
— Já ouvi falar de pessoas descuidadas ou zangadas, mas você é
diferente. Há algo sobre o seu olhar. E como se você estivesse aqui
fisicamente, mas em outro mundo, mentalmente. — As suas palavras me
fazem olhar para ela. Não tenho certeza do que ela está vendo em meus
olhos que defina a minha personalidade.
Como ela pode olhar para mim e ver a escuridão sem testemunhar em
primeira mão? Ainda assim, sou muito mais perigoso do que ela pode
imaginar.
Sou mais do que um homem com problemas de raiva. Eu sou um
assassino.
Capítulo 9
LUCA

Eu paro na garagem da casa da Caroline. Dessa vez, ela não me pede


para deixá-la na rua e percebo que não há nenhum carro na garagem.
O que é que a inocente Caroline pode estar escondendo atrás dessa
porta preta?
Eu mantenho os meus pensamentos para mim mesmo e olho para
Caroline, que eu sei que não tem certeza de como se sentir depois do
nosso tempo no parque hoje. Ela até me perguntou por que eu sou tão
intimidante, em determinado momento.
Era uma pergunta que eu não conseguia responder.
— É possível que você goste menos de mim depois dessa noite? — Eu
pergunto a ela, agindo como se eu me importasse. Sinceramente, não me
importo.
Meu único foco é mantê-la por perto até que o Alessandro decida
encontrar com ela. Ele quer conhecê-la pessoalmente para determinar se
ela é — elegível — para que ele a coloque no mercado.
Quando a Caroline olha para mim, ela me surpreende com um
pequeno sorriso. — Eu não gosto menos de você. Na verdade, eu gosto
mais de você. Eu sinto que estou entendendo você um pouco mais depois
de hoje.
Minha testa franze, estou interessado em saber como ela pensa que
entende quem eu sou, mas também confuso do porquê ela gostaria de
mim neste momento.
— Por favor, me esclareça e me diga o que você acha que entende
sobre mim.
— Você claramente não tem limites. Você não entende como se
comunicar com as pessoas de uma forma normal.
Caroline abre a porta e sai do carro. — O que me leva a acreditar que
há algo mais profundo. Talvez você tenha problemas de confiança ou
tenha se machucado. Ou talvez você apenas tente afastar as pessoas.
Eu não posso deixar de rir. — Isso é especulação demais para uma
garota que eu conheci há poucos dias.
Carol sorri para mim. — Você me conhecerá mais nos próximos dias.
Mas eu gosto de estar perto de você... Talvez se eu trabalhar duro o
suficiente, eu possa te ajudar a ver o mundo do jeito que eu vejo; não tão
negativamente.
— Parece que você quer me ver mais, — eu a desafio. Mais uma vez,
ela me surpreende com a sua resposta. — Eu quero. E eu sei que você
quer saber mais de mim, também.
Antes que eu possa dizer mais alguma coisa, ela fecha a porta e salta
em direção à porta da frente da sua casa. Não tenho certeza do que fiz
hoje, mas algo sobre mim parecia intrigá-la, o que só tomou o meu
trabalho mais fácil.
Ela está certa. Eu quero saber mais dela, mas não da maneira que ela
está pensando.
*
Volto para casa depois de deixar a Carol e são quase oito e meia da
noite.
No momento em que entro pela porta, posso ouvir gritos. Sei que uma
voz é do meu pai, mas tenho dificuldade em diferenciar a segunda voz,
pois a minha mãe e a minha irmã são muito parecidas.
Minha irmã sai furiosa da cozinha com lágrimas rolando pelo rosto,
meu pai não está muito atrás dela. — Você não tem nem uma palavra a
dizer sobre isso, pai!
— É aí que você está errada, querida. Eu tenho uma palavra a dizer e o
que eu digo é o que vale.
Antes que a minha irmã pudesse subir correndo as escadas, meu pai a
impediu com o braço. — Relacionamentos não funcionam nessa família
a menos que seja com outro nome poderoso. Você não pode trazer
pessoas aleatórias para o nosso mundo.
Ari olha para o nosso pai. seus olhos estão selvagens e quebrados. —
Tá bom, então. Eu quero sair. Eu não quero mais estar neste mundo.
Percebo meu pai olhar na minha direção. Ele olha para Ari e diz
suavemente, — Suba, Ariella. Falaremos sobre isso mais tarde.
— Eu não vou deixar você arruinar a minha vida, — ela cospe antes de
recuar escada acima, soluçando baixinho.
Eu levanto as minhas sobrancelhas em diversão. — Bem, ela não é
uma florzinha?
— Não comece, Luca. Eu estava conversando com o Alessandro, ouvi
sobre o seu plano de dar a ele uma garota para vender. — Meu pai agita
os braços e caminha em minha direção.
— O que diabos há de errado com você? Você é completamente
mórbido. Nós não -fazemos tráfico sexual.
— Eu sei, é por isso que estou dando ela para o Alessandro, para que
ele -possa fazer o tráfico.
— Você quer tanto sair desse casamento a ponto de vender uma
garota inocente para Deus sabe que tipo de monstro. — Meu pai balança
a cabeça. — Isso não pode acontecer.
— Ah, porque você tem uma moral elevada. Vamos, pai. Você bate na
mamãe, você a trai, você assassina um monte de gente, mas eu quero
oferecer uma garota a um Carol e de repente eu sou o mórbido?
Eu olho para o meu pai enquanto meus lábios formam um sorriso. —
Você é um hipócrita de merda.
Vejo a mandíbula do meu pai ficar tensa e ele responde com um tom
profundo e irresistível. — Há anos que não bato na sua mãe e eu não a
traí...
— O assassinato faz parte do trabalho, mas são pessoas que merecem.
Pessoas que estão colocando a minha família em perigo. Você vê a
diferença, Luca? A Minha vida tem um propósito; você nada mais é do que
um psicopata.
— Eu vi a Catherine no teu escritório! Não me diga que você não traiu
a mamãe, eu vi o cabelo bagunçado dela e você arrumando a calça. Seu
doente fil...
Eu sou interrompido pelo som da voz da minha mãe no topo da
escada. Ela desce a escada com um olhar magoado.
Quando seus olhos pousam no meu pai, ela para. — Catherine? Você
estava com a Catherine?
— Elaina, suba. O nosso filho não tem ideia do que está falando. Eu
não dormi com a Catherine. — Meu pai está surpreendentemente calmo
com a minha mãe; isso é algo que veio com o tempo. Com Ari e mamãe,
ele geralmente é bastante paciente, ao contrário de mim. Eu sei como
apertar o calo dele.
— Mentiroso do caralho, — murmuro.
Meu pai aponta o dedo para mim. — Cale a boca, Luca. Não alimente
mentiras para a sua mãe.
— Vai, — diz minha mãe, com a voz baixa enquanto caminha até o fim
da escada, — por que a Catherine estava no seu escritório?
Meu pai fecha os olhos em frustração. — Por favor, deixe eu terminar
a minha conversa com o Luca e conversarei com você em particular no
andar de cima.
Como na maioria das vezes, a minha mãe obedece e para em seus
passos. Ela olha para mim e posso ver que ela está se perguntando em
que tipo de confusão eu me meti desta vez. — Luca, você estará aqui
amanhã de manhã?
Eu encolho os ombros. — Pode ser.
— Eu te amo... espero que você fique aqui, — ela diz antes de voltar
para cima.
Quando a minha mãe desaparece da minha vista, eu olho para o meu
pai e reviro os olhos.
— Essa conversa terminou, pai. Eu estou vivendo minha vida e
fazendo as coisas. Se você não vai entender que não tenho intenções de
me casar com a Sofia, vou resolver o problema sozinho.
Quando passo pelo meu pai para chegar à cozinha, ele me para,
agarrando o meu braço. Quando eu paro de andar, ele olha por cima do
ombro para mim. — Eu tenho uma proposta para você.
— Agora estamos conversando. — Dou um passo para trás e levanto
uma sobrancelha para meu pai. — Então, qual é o jogo?
Percebo seus olhos vagando em direção às escadas, e ele espera um
momento antes de continuar.
— Sua irmã... eu pedi para um detetive particular a seguir porque tive
a sensação de que algo estava acontecendo. Acontece que ela está
namorando um garoto. Um garoto normal que não tem nenhuma
associação com a Máfia.
— Não podemos simplesmente permitir que pessoas normais entrem
em nosso mundo. Pode se tomar perigoso para a nossa família, uma vez
que ele abra a boca para a pessoa errada.
— Então, você quer que eu ameace a Ari para dar um fora no garoto?
— Não. Ela é teimosa. Muito parecida com a sua mãe. Ela não vai
ceder, posso ver em seus olhos. — Quando meu pai me olha de novo, ele
me diz exatamente o que quer de mim.
— Você vai precisar matá-lo. É a única maneira de ela ficar longe dele.
Você faz isso e esse casamento... Vou mexer alguns pauzinhos para você.
Para sair desse casamento, eu precisaria matar o jovem amor da
minha irmã? Eu estava pronto para um desafio, mas se meu pai queria
tomar isso tão simples, então que fosse.
— Considere isso feito.
Capítulo 10
LUCA

Depois da conversa com p meu pai, fui falar com a Ariella. Quanto
mais eu puder descobrir sem fazer uma investigação mais aprofundada,
melhor.
Duvido que consiga tirar muita coisa dela, mas vou tentar, de
qualquer maneira.
Meu pai vai para o quarto falar com a minha mãe e eu bato na porta
de Ariella. Ela responde com um — vá embora — apressado e eu
amaldiçoo o seu gênio teimoso.
Ari sempre foi um pé no saco e o seu jeito era uma coisa que me
deixava totalmente louco.
— Abra a porta, Ariella. Você sabe que não tenho paciência para as
suas reclamações.
Rompendo o silêncio, ouço o som de passos leves antes que a porta do
quarto se abra. Ela está de pé com os braços cruzados sobre o peito. — O
que você quer, Luca?
Eu sorrio para ela. — Ouvi dizer que a minha irmã tem um namorado.
Claro, eu preciso ser o irmão clichê e saber tudo; certificar que ele é bom
para você.
— Não aja como se você se importasse.
— Certo, tudo bem. Vamos ser francos um com o outro. — Eu me
encosto no batente da porta e mudo a conversa para um tom mais sério.
— Estou me divertindo muito com isso. Desde sempre você observou
dar a mínima enquanto a minha vida era ditada pelo nosso pai e agora
você está na mesma posição.
— Me desculpa por gostar disso, mas é realmente um espetáculo.
Seus olhos estão lacrimejantes e não posso dizer se ela está triste ou
apenas com raiva. — Você é um idiota. Não é como se alguém fosse te
amar de qualquer maneira, pelo menos o papai está arranjando alguém
para te aturar.
Eu rio, colocando a minha mão sobre o meu peito como se estivesse
com dor. — Aí. Você realmente quebrou o meu coração aí, Ari. Que bom
que eu não me importo.
— Meu problema é ser responsável pelas pessoas com as quais eu não
me importo. Me amarrar a uma mulher quando eu posso viver a minha
vida com uma nova mulher a cada noite. Qual é a graça de ter uma
pessoa só?
— As pessoas fazem isso por amor, Luca! Você nunca experimentou o
amor verdadeiro, mas eu sim. Eu amo o Jeremy e... nós vamos ficar
juntos, — ela me diz, fungando enquanto enxuga uma lágrima.
— Talvez o papai tenha você igual a um cachorrinho na coleira, mas
não eu.
Aprendi uma coisa: o nome do namorado da Ariella é Jeremy. Outra
coisa que aprendi é que matá-lo vai ser mais divertido do que eu pensava,
já que a minha querida irmã acha que já tem tudo projetado.
— Eu estou realmente muito animado para provar que você está
errada, — eu digo a ela, me aproximando para sussurrar em seu ouvido.
— Eu faço as regras. Quando eu quero algo, eu consigo.
Eu dou um passo para trás, vendo Ariella ficar preocupada.
Eu dou um sorriso e aceno com a cabeça de maneira amigável. —
Tenha uma boa noite, irmã. E tenha bons sonhos com o Jeremy.
Dei alguns passos pelo corredor antes de ouvir a porta finalmente se
fechar. Assim que chego mais perto do meu quarto, começo a ouvir a
discussão vinda do quarto dos meus pais.
— Isso é trapaça, Vai! — a minha mãe grita.
Eu ouço meu pai bufar antes de dar sua resposta típica. — Não é. Eu
não fiz sexo com ela. Não dormi com outra mulher desde que nos
casamos.
— Oh, então você acha que ter alguma vagabunda chupando o seu
pau não é traição? Isso só me faz pensar quantas vezes isso já aconteceu
antes.
Minha mãe está furiosa. Ela realmente evoluiu e aprendeu a se
defender contra o meu pai. — Você é um mentiroso. Você sempre foi.
— Jesus Cristo, Elaina. E daí se os lábios dela estavam no meu pau? Eu
nunca toquei nela e isso é o que importa.
— Seu filho da puta doente!
Eu ouço um tapa e fico tenso, dando alguns passos rápidos em direção
à porta dos meus pais. Juro por Deus, se ele bater na minha mãe...
A porta se abre na minha frente e estou Carol a Carol com a minha
mãe, que está chorando. Atrás dela, meu pai está segurando a sua
bochecha e está claro que foi ele quem foi atingido.
— Você está bem? — Eu pergunto a minha mãe, olhando para ela.
Seus olhos encontram os meus e sua resposta é diferente de tudo que
ela já me disse, me surpreendendo mais do que eu poderia imaginar. —
Luca, eu nunca vou ficar bem.
Meus olhos se voltam para o meu pai, e eu envio a ele um olhar
furioso. — Você adora foder com ela, não é? Vira homem, seu pedaço de
merda...
— Luca Stefano Acerbi! — Minha mãe agarra o meu braço para me
impedir. — Isso é entre o seu pai e eu. Significa muito para mim saber
que você me defende, mas, por favor, respeite o seu pai.
Eu olho para a minha mãe. — Você está preocupada que ele vá me
matar? Bem, eu já estou morto por dentro, então eu realmente não tenho
nada a perder. Ele não pode me machucar.
— Não tenha tanta certeza assim, — comenta meu pai friamente,
demonstrando pouca ou nenhuma emoção.
Não havia nada nesse mundo que meu pai pudesse usar contra mim,
disso eu tenho certeza. Mesmo que a minha vida não parecesse ter muito
valor, ele não podia me controlar e eu sei que isso o enfurece
infinitamente.
Eu me viro em direção ao meu quarto e vou para a cama, encerrando a
noite. Minha família usou da minha atenção demais por uma noite.
Quando fecho a porta do meu quarto, dou uma olhada no meu
telefone e vejo uma mensagem de Sofia, de quase uma hora atrás.
Sofia: Ei, querido. A minha família vai dar um jantar amanhã às sete horas. Sei que você
não curte essas coisas, mas o meu pai está insistindo para que você venha.

Estou aborrecido por dois motivos. A Sofia me chamando de querido,


e alguém insistindo na minha presença como se pudesse controlar as
minhas decisões.
Porém, agora é diferente. Tenho uma proposta de negócios com o
Alessandro e, se esse acordo com o meu pai não der certo, preciso manter
Alessandro e Caroline o mais próximos possível. Eu respondo a Sofia,
dizendo a ela que a verei amanhã às sete, então meu telefone apita ao
receber outra mensagem de texto.
Uau, estou super popular esta noite, né?
Fico surpreso ao ler o texto do remetente desconhecido.
Desconhecido: Oi Luca. É a Carol. Foi um toque muito agradável colocar o seu número
no recibo do restaurante. Achei que deveria, pelo menos, te dar uns biscoitos pelo seu
esforço muito clichê y, Desconhecido: Você já esteve no píer da marina durante o nascer
do sol? Se você quiser se juntar a mim, estarei lá às 6h30 da manhã.

Acontece que eu parecia intrigar essa garota mais do que tentei. É


muito divertido que ela me veja como o seu pequeno projeto pessoal,
mas ela não tem ideia de que é um peão no meu jogo de xadrez.
Capítulo 11
LUCA

— Olha, Alessandro. Não estou perdendo o meu tempo com uma


garota enquanto você pondera os seus pensamentos. Ou você a quer ou
não, — digo a ele por telefone.
Estou ficando irritado com o tempo que tenho que continuar essa
charada com a Caroline. Já se passaram dias.
Meu tempo está sendo jogado no lixo e eu não gosto de perder meu
tempo com pessoas que não me interessam.
Alessandro pigarreia.
— As coisas exigem paciência, Luca. Infelizmente, não posso acelerar
o processo de tirá-la das suas mãos devido a problemas de espaço, mas
para facilitar as coisas quando chegar a hora, gostaria de conhecê-la.
— Ah, com certeza. Como você gostaria que eu te apresentasse? Como
um comprador potencial? — Eu rolo meus olhos para mim mesmo. —
Ideia genial, Alessandro.
— Eu realmente não gosto dessa sua postura, então vou deixar por
isso mesmo; Ou você arma algo para eu conhecer essa garota, ou pode
simplesmente esquecer tudo isso e se casar com a Sofia. Problema
resolvido.
Esse homem me enfurece, agindo como se tivesse vantagem quando
sou eu quem está oferecendo algo a ele. Não digo nada e desligo a
ligação, porque eu não estou querendo falar mais com o Alessandro
agora.
É muito cedo de manhã e estou estacionado perto do píer da marina
para me encontrar com a Caroline; ela é a pedra no meu sapato, que está
me mantendo em contato com o Alessandro mais do que eu gostaria.
Depois de estacionar o meu veículo, caminho em direção ao cais,
Caroline aparece à distância conforme eu me aproximo. Ela está no final
do píer, sentada na beira e olhando para a água turva. O píer da marina
nunca esteve tão parado como nesse momento. Geralmente é
movimentado durante as horas de pico do dia, mas antes do nascer do
sol, não há ninguém por perto.
Quando fico perto o suficiente para ela ouvir meus passos, ela olha
por cima do ombro e posso ver um sorriso brincando nos seus lábios. —
Você veio.
— Você me pediu para vir, né?
— Bem, sim. Mas eu não ficaria surpresa se você não viesse. — Ela
encolhe os ombros e desvia o olhar novamente. — Eu não tinha certeza
se você era o tipo de Carol que curte um nascer do sol.
— Pra ser sincero, eu não curto, — murmuro antes de me sentar ao
lado dela.
Essa é a última coisa que quero fazer agora. Sentar em silêncio e me
conectar com as pessoas nunca foi a minha praia.
Eu prospero no caos, e a Carol é possivelmente a pessoa menos
caótica que já conheci, o que me leva a um tédio sem fim.
Eu posso ouvir a Carol inalar silenciosamente e com seu olhar ainda
fixo em frente. Ela diz suavemente: — Então, por que você veio? Você
poderia ter dito não.
— Acho que não tinha nada melhor para fazer. — Eu sorrio para ela e
quando ela olha para mim, ela revira os olhos.
Eu aponto em direção ao horizonte. — O que é isso que te
impressiona tanto? Água e edifícios? Não é muito interessante, na minha
opinião.
— Não são os edifícios e nem a água, — Carol responde rapidamente.
— É o que está por trás disso. Quando o sol primeiro ilumina a cidade. É
lindo e silencioso... Pacífico, até.
Tento não deixar que ela me veja revirar os olhos, mas essa garota é
ridícula. A resposta é cafona e chata, assim como ela. A essa altura, eu
preferiria estar preso em um quarto com a Sofia.
— Você está entediado, — ela afirma. Não é uma pergunta, mas uma
afirmação. Aparentemente, ela consegue me ler melhor do que eu
pensava. — Você não precisa ficar aqui. Apenas saia se estiver entediado,
Luca.
— Eu vim até aqui para ver você, e você está me dizendo para ir
embora? — Eu levanto uma sobrancelha e me levanto, estendendo a
minha mão para ela. — Veremos o nascer do sol, mas não daqui.
Ela parece desapontada e franze a testa, aceitando a minha mão e
puxando-se para cima. — O quê? Mas o objetivo é assistir do píer da
marina.
— Nós vamos. Só não daqui.
Caroline não me questionou mais, mas em vez disso me segue
enquanto a conduzo pelo píer até chegarmos à roda gigante.
Antes de chegarmos à entrada, Carol começa a me questionar
novamente. — Por que estamos aqui? Os trabalhadores só chegam daqui
a algumas horas.
— Por favor, pare de me contradizer. — Eu olho para ela e faço um
gesto para que ela caminhe até a plataforma da roda gigante. — Vou
tomar essa manhã mais emocionante. Espere aí.
— Luca... — Seus olhos estão arregalados, o choque inunda seu rosto e
eu sei que ela está hesitante, mas ela obedece mesmo assim.
Quando ela vai embora, eu pego um canivete do bolso e examino o
quadro de energia da porta do operador.
Procuro o ângulo certo onde está a fechadura e enfio o canivete na
abertura; eu o movo em uma tentativa de destrancar a porta.
Depois de alguns minutos tateando, ouço um barulho de estalo e,
quando verifico a maçaneta, a porta se abre para mim.
Eu olho para onde Carol está parada com os braços cruzados e aponto
para uma cabine. — Abra a porta e entre. Eu entrarei depois.
— Luca, não!
— Puta merda, — eu gemo baixinho para que ela não possa me ouvir.
Respiro fundo e forço um sorriso na direção dela. — Tenha um pouco de
fé em mim. OK?
— Isso é invasão de propriedade. Podemos ser presos. — Ela franze a
testa para mim.
— Carol, temos pelo menos duas horas antes que alguém chegue
aqui... Relaxa e divirta-se. Você quer que eu me divirta? Bem, estou
tentando mostrar como eu me divirto.
Eu estreito meus olhos para ela, esperando que ela me escute, mas
essa garota é mais teimosa do que eu posso suportar.
Ela murmura: — Não tenho certeza se confio na maneira como você
se diverte.
Em vez de protestar mais, a Carol usa a ponta dos dedos para abrir a
porta da cabine e, quando ela se senta no banco, pressiono o botão
giratório antes que ela possa recuar.
A roda começa a girar e ouço a Carol me chamando, mas não consigo
entender o que ela está dizendo.
Assim que ela chega ao topo, eu paro a rotação e esfrego as minhas
mãos. Está um pouco frio a essa hora da manhã, estar perto da água só
fez o frio ficar mais forte.
Antes de colocar meu telefone no bolso, mando uma mensagem para
o meu amigo, Nico, para vir ao píer depois do nascer do sol para que ele
possa nos tirar de lá de cima. Vou subir, mas prefiro evitar descer.
Conforme me aproximo da roda gigante, alcanço a primeira barra
para me puxar para cima. Essa roda gigante em particular tem quase
sessenta metros, mas isso não me incomoda.
Quando era jovem, fui treinado para não ter medo. Os medos mais
comuns seriam usados contra mim, então eu os superaria, mesmo que
não tivesse medo nenhum, para começar.
Eu me puxo para cima em cada parapeito, olhando para cima para ver
o quão perto estou do assento onde a Caroline está.
A coisa maravilhosa sobre os apoios nas rodas gigantes é que eles são
muito semelhantes às escadas, o que os toma fáceis de escalar.
O vento fica mais forte quando eu fico mais alto no ar, mas eu sou
forte e, assim que chego ao topo da roda, subo no alto da gôndola e saio
mais devagar, escorregando para dentro com a Carol.
— Você está louco? — ela grita comigo assim que me sento. — Você
escalou quase sessenta metros e podia ter morrido!
— Mas eu não morri. — Eu reviro meus olhos e me inclino para trás,
olhando para ela. — Eu não escalei todo esse caminho para ouvir gritos,
então cale a boca.
— Você é tão rude. — Ela parece surpresa, mas não deveria. Agora, ela
deve saber que não tenho filtro, nem me importo.
Eu a ignoro e faço um movimento em direção ao horizonte. — Agora
aprecie o nascer do sol dessa vista e você pode me agradecer mais tarde.
Quando ela olha na direção que estou apontando, ela fica maravilhada
e parece distraída pela minha personalidade azeda. — Ok, talvez você
esteja certo. A vista pode valer a pena infringir a lei.
— Eu conheço Chicago muito bem.
— Mas com toda a honestidade, como você subiu aqui sem ficar com
medo? Eu entendo que você é machista e tal, mas você é humano e todos
os humanos têm medos.
Balançando a cabeça, discordo dela. — De jeito nenhum. Meu pai não
permitiria que eu tivesse medos.
— Me desculpe, ele não permitiria? A única pessoa que pode controlar
os seus medos é você. — Carol parece perturbada com a minha confissão
e me encara, por tempo demais para o meu gosto.
— Isso é falso, na verdade. Quando você é forçado a enfrentar seus
medos várias vezes, eventualmente tudo se toma menos assustador.
Eu descanso meus braços nas costas do assento em que estou sentado
e encolho os ombros.
— Para vencer as alturas, meu pai me levava para a casa dos meus
avós, me levava para o último andar e me obrigava a ficar horas a fio no
peitoril da janela.
— Era uma casa grande, devia ter uns seis andares. — Meu avô é um
pouco exagerado. Meu pai até construiu uma pequena saliência do lado
de fora para eu sentar, amarrado, mas aos dez anos de idade, era
assustador como o inferno.
Carol está quieta pela primeira vez. E raro que ela realmente não
tenha nada a dizer, mas desta vez pareci tirar as palavras de sua boca.
Depois de refletir sobre os seus pensamentos por um momento, ela
finalmente disse: — Isso é horrível, Luca.
— Não, no momento, talvez, mas isso só me fez mais forte.
— Por que é tão importante se sentir forte? Nada disso importa se
você está morto, — Caroline diz, me lembrando da garota sarcástica que
ela é. Ela quase parece irritada com o que eu disse.
Eu me inclino para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos e
olhando para ela.
— E são coisas assim que te preparam para situações que podem te
matar. Se você se pendurasse nessa cadeira agora, o que faria?
Ela não responde. Em vez disso, ela permanece em silêncio.
— Aposto que você gritaria, provavelmente se soltaria em pânico...
— Eu, por outro lado, gostaria de pensar racionalmente e descer. —
Eu encolho meus ombros. — Espere até eu contar como ele me ajudou a
superar o medo de me afogar.
— Oh, não. Não quero ouvir mais as suas histórias perturbadoras.
— Sim, é melhor você saber o menos possível sobre mim.
Ela não tem ideia de como a minha vida é perturbadora. A Caroline
não tem ideia de que está sentada em frente a alguém que assassinou
dezenas de pessoas sem um pingo de remorso.
Ela não tem ideia de que tenho várias armas comigo nesse exato
momento, incluindo uma pistola em um coldre escondido por baixo da
calça.
Sou uma das pessoas mais perigosas que alguém poderia encontrar na
vida e a Caroline está sentada na minha frente, conversando com o filho
do líder da máfia italiana.
Capítulo 12
LUCA

Eu deslizo uma lâmina afiada contra a ponta do meu dedo, cortando a


minha pele com facilidade e observando enquanto ela fica tingida de
sangue.
Um sorriso de satisfação brinca em meus lábios e eu olho para o
homem que está na minha frente, ajoelhado com os pulsos pendurados
nas correntes conectadas à parede.
— Essa é a minha faca favorita. É afiada, como você pode ver. Ele corta
com facilidade; eu mal preciso tocar a pele.
Eu sorrio para o homem que pretendo matar. Era alguém que meu tio
Gustavo pegou entrando sorrateiramente no escritório do clube do meu
pai.
É claro que esse homem tinha algum tipo de motivo, possivelmente
até trabalhasse dentro da Máfia. É meu trabalho descobrir ou acabar com
a vida dessa ameaça.
Vou escolher a última opção.
— Eu tenho perguntas, — eu continuo.
O homem olha para mim e cospe na minha direção. — Você pode
muito bem me matar porque não vai obter respostas de mim.
Minha mão agarra o cabelo grosso do homem na minha frente e eu
puxo a sua cabeça com força para trás, forçando-o a olhar para mim. —
Você não começou bem.
— Escute, amigo, tenho certeza que você sabe como essas coisas
funcionam. Você sabe que vou te matar de qualquer maneira, então
vamos direto ao ponto, ok?
— Você pode me dar informações sobre as pessoas que escolheram te
usar como um sacrifício humano, ou você pode morrer e deixá-los viver
uma vida longa.
Esse idiota na minha frente não diz nada. Eu não sei quem seria
estúpido o suficiente para não responder a um Acerbi que tem várias
armas na ponta dos dedos, mas esse cara tinha acabado de me apresentar
a um novo tipo de estupidez.
Eu lanço a minha faca no ar, permitindo que ela faça uma pequena
rotação antes de pegar a alça perfeitamente.
Eu aprendi esse truque durante o treinamento enquanto crescia; era
tudo tão repetitivo e chato, então eu tinha que fazer algo para me manter
entretido.
Talvez eu não fosse nada mais do que um adolescente idiota, mas até
agora, eu gosto disso.
Assim que tenho um bom controle, enfio a faca em seu torso,
apertando a minha mandíbula quando ouço seu gemido de dor. — Que
vergonha. Você poderia ter ido para casa, para a sua esposa e filha, mas
você escolheu isso.
Antes que ele possa responder, eu giro a faca. Com base no meu
conhecimento da anatomia humana, estou dilacerando seu rim. O cara
só precisa de um, de qualquer maneira. Se ele decidir mudar de ideia, ele
pode se recuperar.
— Luca. — Meu pai levanta a voz quando começa a descer as escadas
para onde eu tinha acabado de começar a minha tortura. — Eu sou o
único a negociar! Você sabe disso. Saia daqui agora, não coloque outro
dedo nele.
— Vamos, pai. Você treinou o melhor—
Quando eu começo a sorrir maliciosamente, meu pai começa a dar
passos rápidos em minha direção, a raiva estava clara em seu rosto e eu
decido apenas irritá-lo mais.
Com grandes poderes vem grande responsabilidades, mas agora eu só
pareço ter responsabilidades. Quero poder, e eu vou buscá-lo.
Antes que meu pai possa me alcançar, começo a esfaquear o homem
várias vezes no peito, certificando-me de atingir as artérias principais
como se estivesse olhando um diagrama.
Para acabar com ele, eu corto a sua garganta, em seguida, jogo a faca
no chão quando o homem começa a sangrar.
— Terminei, — eu explico antes de passar pelo meu pai.
Meu pai é rápido em agarrar o meu braço e me puxar de volta,
olhando para mim enquanto fala por entre os dentes.
— Você, meu filho, está se tomando um problema. Continue assim e
eu farei você desaparecer. Se me livrar de você é o que eu preciso fazer
para manter a sua mãe e irmã bem, então é o que farei.
— E o que te faz tão certo de que eu não vou me livrar de você
primeiro? — Pergunto.
— Tenho sido conivente com você. Mas não pense nem por um
momento que você é mais forte do que eu. Tenho anos a mais, Luca. Eu
já vivi mais do que você pode imaginar.
— Vá em frente e subestime seu pai, mas você vai parecer um idiota
no final.
Quando estou prestes a responder, recebo uma mensagem do
Alessandro. Decido que não vale a pena falar com o meu pai quando já
tenho planos com o pai de Sofia.
Deixo o porão lendo a mensagem de Alessandro enquanto subo as
escadas:
Alessandro: Eu fiz algumas pesquisas sobre o passado de Caroline Harding. Com as
informações que descobri, eu teria que colocá-la na categoria C para venda.

Alessandro classifica as suas garotas em categorias com base na


probabilidade de elas serem compradas por alguém. Basicamente, é
categorizá-los por simpatia e quão desejáveis elas são.
Uma categoria C não é boa. É a penúltima opção. Se tudo isso falhar, a
Caroline seria considerada para o tráfico, mas, entretanto, ele teria
primeiro que mudar para a categoria B.
Isso significa que pode levar meses para que o Alessandro queira a
Caroline, se é que isso vai acontece. Ao dizer isso, ele a está recusando
por enquanto, o que significa que não tenho nada a ganhar sobre esse
relacionamento com a Sofia.
Eu respondo a ele, perguntando o que poderia ser tão grande que o
faria querer menos a Caroline e espero a sua resposta.
Eu acho que a Carol pode ser um bilhete de ouro para o Alessandro, o
que toma essa situação ainda mais confusa para mim.
Agora, não tenho outra escolha a não ser me livrar da pequena paixão
da minha irmã, na esperança de que o meu pai cumprisse sua palavra.
Abrindo a porta do porão, chamo meu pai, que tenho certeza que está
furioso comigo. — Me manda a informação sobre o namoradinho da
Ariella. Vou fazer o trabalho.
*
Estou esperando fora da lanchonete, dentro do meu carro. A mudança
de turno da Carol deveria ter acontecido há dez minutos e ela ainda tem
que sair.
Tomou-se um estranho hábito meu cavar mais fundo na mente dessa
garota, e agora que sei que a Caroline é considerada uma categoria C,
estou ainda mais curioso sobre ela.
O que a prejudicou o suficiente para ser considerada tão inútil?
Quando ela finalmente sai da lanchonete, seus olhos pousam no meu
carro e ela sorri. Seus sentimentos por mim mudaram bastante desde
quando ela me conheceu e me considerou um idiota sem emoções.
Embora eu ainda seja um idiota sem emoções, ela não parece me odiar
tanto.
— Luca Marchesi, — - Carol sorri quando chega ao meu lado,
apoiando os antebraços no parapeito da minha janela aberta - — que
bom te ver aqui, de novo.
— Você está atrasada, — eu respondo simplesmente.
— E você está obcecado. — Ela revira os olhos para mim.
Respiro fundo, irritado por ela não explicar por que está dez minutos
atrasada, em vez de responder em um tom tão malcriado. — Porque você
está atrasada?
Carol encolhe os ombros. — Nada demais. Mas eu preciso ir para casa,
então...
— Obviamente alguma coisa aconteceu, então pare de rodeios e
apenas me diga, — eu exijo, em um tom muito mais agradável do que
estou acostumado.
— Eu estava ocupada sendo despedida, ok? — Carol agita os braços. —
Eu realmente não quero falar sobre isso, então você pode aceitar essa
resposta, por enquanto?
Eu olho em direção à lanchonete, meus impulsos me dizendo para ir
lá e descobrir o que aconteceu, mas eu não poderia fazer isso com a Carol
aqui, então isso teria que esperar.
Em vez disso, eu aceno a minha cabeça. — Se você responder sim à
minha próxima pergunta.
— Meu Deus Luca. Você não pode realmente esperar que eu confie
tanto em você, — ela brinca, rindo por um momento antes de ficar mais
séria. — Qual é a pergunta?
Penso na mensagem de texto do meu pai, a informação sobre Jeremy,
o interesse amoroso da minha irmã.
Ele mora a uma hora de distância e planejo fazer uma viagem à sua
cidade hoje, usando o fim de semana para obter informações, e se as
coisas correrem como planejado, ele será eliminado antes de eu voltar
para casa.
— Faça uma pequena viagem comigo nesse fim de semana. Tenho
negócios fora da cidade e a sua companhia seria boa.
Carol parece surpresa, seus lábios se separando, mas permanecendo
em silêncio. Ela bagunça o cabelo antes de olhar para mim com a cabeça
inclinada.
— Eu simplesmente não posso me levantar e ir com você no fim de
semana. Ainda estamos nos conhecendo, e...
— E você não tem nenhum trabalho com o que se preocupar; mas eu
não tenho certeza de quanto tempo você precisa me conhecer antes de
aceitar que somos amigos.
Eu pisquei para ela, tentando me tomar mais brincalhão para romper
o gelo. Se eu parecer divertido, talvez ela goste mais da minha
companhia.
Eu vejo quando a Carol olha ao redor do estacionamento quase vazio,
um sorriso está em seu rosto, e eu sei que estou perto da vitória.
— Que se dane, deixa eu pegar algumas coisas em casa e vamos
juntos.
— Perfeito.
Capítulo 13
LUCA

Carol se senta no banco do passageiro do meu carro com as pernas


apoiadas no painel. É uma implicância minha; as pessoas tocando no
meu veículo como se fosse o sofá da família.
Não é. Esse é o meu espaço, e a Carol novamente prova para mim que
ela não é nada mais do que uma mulher sem classes e com limites zero.
Em um movimento rápido, eu empurro seus pés para fora do meu
painel sem desviar o olhar da estrada. — Você quer morrer?
— Com licença? — Ela pergunta, pega de surpresa pela minha
agressão repentina. — Sinto muito, mas você poderia apenas ter pedido
para eu tirar os pés.
— Você tem ideia do poder dos airbags? O que eles poderiam fazer
com os seus pés onde estavam? Seus joelhos podem quebrar seu crânio;
um nariz quebrado seria o de menos.
Sim, seus pés estavam me incomodando de qualquer maneira, mas eu
também não gostaria de lidar com a bagunça que seu rosto viraria se
tivéssemos um acidente.
Carol acena com a cabeça, parecendo entender o que estou dizendo —
Ah sim. Acho que isso aconteceu em um episódio de Grey's Anatomy,
agora que você mencionou.
— É uma coisa boa você confiar em um programa de televisão para
seus conhecimentos médicos. Uma pena que os médicos do programa
não são reais, — eu digo em um tom sarcástico.
Eu não assisto muita televisão. O que aprendo, aprendo com livros,
estudos ou conversas. É extremamente importante estar ciente do corpo
humano e de seus pontos fracos quando você está lutando contra
alguém. Também é útil se eu ficar ferido de alguma forma.
Eu conheço os lugares certos para esfaquear alguém, o ponto em sua
perna que faria com que ela ficasse paralisada, e eu sei o lugar certo para
cortar a sua garganta para tomá-la lenta e agonizante.
É
Todas essas coisas são importantes. É exatamente a informação que
uso para decidir como mato cada pessoa.
— Você é engraçado, — Carol responde em um tom sarcástico,
brincando com o seu telefone silenciosamente.
Sei que não sou a melhor companhia, mas quando pego o telefone de
Carol da mão dela e o coloco no porta-luvas, lanço um sorriso malicioso
na sua direção.
— Isso é uma viagem. A tecnologia tira toda a diversão. Assim,
teremos mais tempo para aprender mais uns sobre os outros.
Ela parece disposta a falar, mas eu aprendi que ela é limitada. Ela tem
apenas um número específico de assuntos sobre os quais falará.
— OK. Me conte sobre o seu trabalho? Deve ser muito bom poder
viajar para fazer uma reunião de negócios ou algo assim.
Eu encolho meus ombros. — E um negócio familiar. Sendo
transmitido por gerações e, eventualmente, será a minha
responsabilidade.
— Mas que tipo de negócio é?
Carol começa a me questionar e não é difícil para mim, para ser
honesto. É tudo uma questão de contexto e como você responde.
Eu paro em um sinal vermelho e olho na direção de Cara. —
Comunicação, majoritariamente; artigos de compra e venda;
investimentos em propriedades.
— Parece um pouco de tudo, — diz Cara. — Você gosta? Ou é mais
uma obrigação por ser uma empresa familiar?
Eu rio levemente, pressionando o acelerador quando o semáforo fica
verde. — Você faz muitas perguntas. Vamos aos poucos.
— Verdade, — diz ela antes de me dar um sorriso gentil. — Vá em
frente e pergunte, mas mantenha os limites em mente.
— Eu não conheço os limites. — Minha voz está baixa enquanto
mantenho meus olhos na estrada, não permitindo que a Carol coloque
limites em minhas perguntas quando sou muito mais honesto do que
preciso ser.
— Você pode me dizer por que foi demitida do emprego hoje.
— Inacreditável, — ela murmura.
— Não sei por que você é tão reservada.
— Porque é constrangedor, Luca. E você é esse cara taciturno e sem
emoção que não parece se importar com nada, então por que eu iria me
abrir com você?
Carol levanta a sobrancelha antes de cruzar os braços sobre o peito e
se recostar no assento. — O proprietário é amigo do meu ex-namorado.
Ele está procurando um motivo para me despedir há algum tempo.
Eu aceno com a cabeça, saindo da rodovia. — E que motivo ele usou?
— Nenhum. — Carol balança a cabeça, mas eu noto que ela está
começando a puxar os dedos desconfortavelmente. — A mão dele...
roçou na minha... minha bunda e eu perdi o controle, um pouco.
Eu mordo o interior do meu lábio, ouvindo Carol explicar, e me sinto
frustrado. Carol não parece o tipo de pessoa que perde o controle, o que
significa que ela está se culpando ou o seu chefe ultrapassou mesmo os
limites.
— Eu o acusei de me tocar de forma inadequada e-
— Mas ele fez isso, né?
— Tipo, sim.. Mas eu posso ter interpretado mal. — Ela gagueja
enquanto fala, começando a se culpar. — Sou muito cautelosa e poderia
jurar...
— Não deixe ninguém fazer você questionar o que você sabe. É a
primeira etapa da manipulação.
— Você manipula alguém para acreditar que seus pensamentos são
inválidos, a pessoa se culpa e, a seguir, você está na mesma posição mais
tarde. — Chego a um hotel em que fiz uma reserva e paro em uma vaga,
estacionando o carro. — Você pode ir à polícia por ele te despedir sem
justa causa.
Carol balança a cabeça e respira fundo.
— Não... eu acho que é o melhor. Nunca me senti segura lá desde que
o Brett... uh, o meu ex se chama Brett. Se ele decidir me encontrar, eu
sinto que seria um dos primeiros lugares que ele iria.
Minha testa franze em confusão. — Você está preocupada com ele?
Caroline abre a boca para falar, mas para, não permitindo que
nenhuma palavra saia. Em vez disso, ela olhou para o hotel e mudou de
É
assunto rapidamente. — É aqui que vamos ficar?
Surpreendentemente, resolvo não forçar a barra, depois que a Carol já
se abriu para mim. Eu aceno com a cabeça. — Sim. A minha família já
preparou um quarto para mim e eu vou reservar um para você na
recepção.
— Esse é um hotel cinco estrelas, Luca. Eu não posso me dar ao luxo
de usar nem o banheiro daqui, muito menos pagar por um quarto.
— Não se preocupe com isso, — eu digo, saindo do carro e trancando
as portas enquanto a Carol sai.
Esse hotel fica a apenas uma quadra do apartamento de Jeremy. Ele
também trabalha em uma fábrica na mesma rua, então estar aqui me
daria um ótimo acesso a ele nesse fim de semana.
Ariella não estará aqui porque ela e a minha mãe têm o brunch mensal
de mãe e filha amanhã, o que significa que o Jeremy está livre durante
todo o fim de semana.
Livre para eu fazer uma visita e ganhar a minha liberdade de volta.
No entanto, ainda tenho a Caroline por perto por algum motivo que
ainda não descobri.
Entro no hotel com a minha bolsa pendurada no ombro e olho para a
recepção. — Eu tenho um quarto reservado, sobrenome Acerbi.
A Carol ainda está atrás, então eu sei que ela não me ouviu dizer meu
sobrenome. Ela está muito envolvida em a sua própria vida para se
preocupar com a minha.
— Também gostaria de reservar um segundo quarto. Você pode
colocá-lo com o mesmo nome e cartão de crédito.
— Sim, senhor, — diz a mulher ao começar a digitar intensamente em
seu computador. — Eu tenho um quarto duplo disponível e um estúdio
premium queen.
Eu aceno com a cabeça. — Vou querer o estúdio premium. Quais os
números desse?
A recepcionista olha para o computador. — 1235. Vou pegar as chaves
para você.
— Passe para ela. — Eu aponto para Carol, pegando meu cartão
magnético da mesa. Meu quarto é 1027; dois andares abaixo de Carol.
Coloco o cartão magnético no bolso e caminho até onde a Carol está
parada.
— Eles têm um quarto pronto para você. Vou para o meu e tomo um
banho. Se quiser, podemos jantar depois? Eu começo a trabalhar logo de
manhã, então essa noite é o máximo de tempo que tenho. — Ela
finalmente levanta os olhos do telefone e acena com a cabeça, sorrindo
levemente para mim. — Sim, ok. Tenho que mandar uma mensagem
para você ou...?
— Não. Vou passar no seu quarto.
Carol acena com a cabeça. — OK.
Eu me viro e sigo em direção ao elevador, pressionando o botão para
subir e esperando o elevador chegar ao saguão.
Tenho coisas para organizar no meu quarto de hotel.
Além de tomar banho, tenho que descobrir um momento apropriado
para ir ao apartamento de Jeremy. Não preciso usar a porta da frente.
Posso entrar facilmente sozinho, mas não quero deixar rastros.
Deus me livre a Ariella descobrir que o irmão gêmeo vai matar o seu
amor. Embora eu não tenha medo dela, eu realmente temo a ideia de ela
reclamando pelo resto da minha vida.
O fato é que, se eu não sou capaz de viver a minha vida da maneira
que escolhi, então ela tampouco será - o que toma a decisão de matar
Jeremy muito mais fácil para mim.
Este é o meu passe livre para sair da união com a Sofia e liberar um
pouco da minha raiva ao mesmo tempo.
A Caroline, no entanto, está apenas acompanhando o passeio. Sem
saber de nada.
Capítulo 14
CAROL

Depois de tomar um bom banho quente, fico em pé enrolada na


toalha e começo a escovar os emaranhados do meu cabelo castanho.
Uma parte de mim ainda se sente uma idiota por aceitar a oferta de
Luca, mas ele me pegou quando eu estava vulnerável.
Depois de perder o meu emprego, eu queria fugir. Luca estava lá,
propondo uma fuga, então eu agarrei a chance.
Não é que Luca seja um cara mau, mas eu questiono por que ele é tão
estranho e sério. Ainda assim, ele nunca fez nada para me mostrar que é
perigoso.
Não estou acostumada com caras se aproximando de mim e não
tendo um motivo por trás disso.
Meu ex-namorado, o Brett, é o único namorado que já tive e o único
cara que já senti que amava; ele me deixou paranoica.
Agora tenho medo de confiar e penso logo no pior das pessoas, mas
não quero que o Brett me impeça de viver a minha vida. É por isso que
estou tão disposta a dar uma chance ao Luca.
Meu telefone toca e vejo que é meu pai ligando. Eu ignoro e fecho os
olhos. Eu realmente não preciso de um sermão do meu pai bêbado agora.
Além disso, já estou com medo de voltar para casa e ter que enfrentá-
lo depois de perder meu emprego e fugir com um estranho.
Quando ouço uma batida na porta do meu quarto de hotel, eu pulo,
sobressaltada com os meus pensamentos e chamo: — Um minuto!
Eu ouço um suspiro e a voz de Luca segue. — Você sabe que estou
impaciente.
— Isso é muito ruim para você, — eu estalo, levando meu tempo
colocando meu sutiã e calcinha, em seguida, puxando um suéter de lã
branca simples sobre meu torso.
Eu coloco a minha legging cinza antes de caminhar em direção à porta
e olhar pelo olho mágico.
Luca está ali, olhando para o telefone em uma camisa preta e calça
jeans preta. Ele é um homem muito bonito; muito misterioso e
taciturno, mas ainda assim atraente.
Ele me lembra um Damon Salvatore da vida real, mas em vez dos
olhos azuis penetrantes, os de Luca são castanhos escuros.
Quando seus olhos se desviam do telefone, ele diz: — Você sabe que
posso ver uma sombra pelo olho mágico, né? Quando você terminar de
olhar, gostaria de comer um pouco.
— Ah, merda! — Eu digo em voz alta, sem querer.
Que vergonha. Eu fecho meus olhos e dou um passo para trás,
respirando fundo e reunindo o que resta da minha dignidade, antes de
abrir a porta e ficar cara a cara com o Luca todo sorridente.
— Tá pronta? — ele pergunta.
Eu rolo meus olhos. — Eu não estava olhando, só queria ter certeza de
que era você antes de abrir a porta.
— Sim, claro.
Sua voz está cheia de sarcasmo, mas quando saio do quarto e fecho a
porta atrás de mim, também deixo a conversa morrer. Com sorte, posso
continuar essa noite sem me sentir humilhada.
— Para onde você quer ir? — Pergunto.
Luca começa a mover as mãos. — Há um restaurante no último andar
do hotel. Achei que poderíamos simplesmente comer lá.
Eu aceno a minha cabeça. — Por mim, tudo bem.
— O restaurante fica no décimo oitavo andar, com uma bela vista da
cidade, caso você tenha a sorte de conseguir uma mesa perto da janela. É
relativamente movimentado, então eu não espero conseguir um lugar
bom.
Luca se aproxima da anfitriã e eu o vejo conversando. Sua expressão é
séria, mas, na verdade, sempre é. Ele está estreitando os olhos quando a
mulher começa a procurar em seu bloco de notas, em pânico.
Por fim, ela levanta o dedo indicador e sai correndo.
Ele volta para onde estou e resmunga baixinho: — E impossível lidar
com alguns desses trabalhadores.
— O que você disse? Você não foi rude, foi? — Eu pergunto, temendo
a resposta de Luca.
Eu sei como ele reagiu a uma barraca de cachorro-quente, mas esse é
um restaurante realmente elegante e ele não pode sair tratando as
pessoas como lixo.
Luca balança a cabeça. — Não, claro que não. Solicitei uma mesa na
janela, só isso. Você pensa tão mal de mim.
Ele não parece nem um pouco perturbado, e eu apenas reviro os
olhos. Ele está se tomando muito fácil de ler neste momento. Eu não
diria que ele é um idiota completo.
A mesma anfitriã retoma e ela se endireita, dando um sorriso muito
forçado para Luca. — Senhor? Sim, uh... Temos uma mesa de janela
disponível. Me sigam.
Sem dizer uma palavra, Luca segue a anfitriã, e eu sigo o Luca. Não
tenho certeza de como conseguimos uma mesa na janela, mas estou
animada para jantar com uma vista deslumbrante.
Sento em frente a Luca e, uma vez que os menus são colocados à
nossa frente, meus olhos quase saltam da minha cabeça quando vejo os
preços.
— Deixe-me adivinhar, — disse Luca com indiferença, — você prefere
hambúrguer a um bife?
— Eu gosto de hambúrgueres, sim. Mas não, é só que o preço é
insano. Não podemos simplesmente ir ao McDonald's ou algo assim? —
Eu pergunto, pensando sobre a minha conta bancária destruída.
— Não, — ele responde rapidamente, — se eu quisesse ser obeso,
ficaria em casa o dia todo assistindo televisão.
— Bem, nem todo mundo pode pagar esses pratos caros, Luca.
Digo seu nome em um tom excessivamente amargo e tento não
revirar os olhos, mas quando Luca pega meu menu, sei que a minha
tentativa de não mostrar aborrecimento falhou.
Ele me olha com os olhos semicerrados. — Vou ser honesto com você,
Caroline. Seu humor certamente é um zumbido mortal.
— Deixa eu colocar desse jeito. Posso comprar coisas boas; portanto,
pretendo cuidar da minha saúde e me divertir.
— Você, no entanto, claramente não é tão afortunada quanto eu,
então, enquanto você está na minha presença, por que não tenta
desfrutar dos luxos que ofereço?
Minha boca se abre e eu afundo na cadeira e decido não responder. A
maneira como Luca afirma é tão rígida e certeira que não posso discutir
com alguém como ele.
Também não sou o tipo de garota que aceita esmolas, o que me coloca
em uma posição altamente comprometedora.
Quando a garçonete passa, ela sorri, o que me faz pensar se ela
conversou com a anfitriã sobre a personalidade irresistível de Luca.
— Eu sou a Jess. Eu serei a sua garçonete hoje.
Posso começar trazendo uma bebida?
— Uísque, — responde Luca. — Estou pronto para pedir a comida
também. Vou querer o prato de lagosta, com o molho separado.
— Sim, senhor, — Jess diz, sorrindo, antes de olhar em minha direção.
— E para você?
— Oh, eu ainda não decidi... — Eu folheio o menu.
— Uh... Um Martini e frango com parmesão.
A garçonete anota o meu pedido. — Posso ver um documento de
identidade?
Antes que eu possa dizer a ela que tenho dezenove, Luca interrompe.
— Eu tenho vinte e um, isso está na minha conta, então a identidade dela
não é necessária.
Jess olha a identidade de Luca quando ele coloca sobre a mesa e ela
sorri para ele. — Acabou de fazer vinte e um no mês passado? Feliz
aniversário atrasado.
— É, é. — Luca enxota ela para longe e ela se retira. A atenção de Luca
se volta para mim e ele sorri levemente. — Eu não pensei que você fosse
um tipo de garota que toma Martini.
Eu levanto uma sobrancelha. — Que tipo de garota você achava que
eu era?
Ele encolhe os ombros. — Que pede água e salada. Isso é o que as
garotas geralmente insistem em comer, independentemente de quão
honesto elas estejam sendo.
— Você pode apostar que não vou sentar aqui e comer uma salada
enquanto você se delicia com uma refeição de verdade. — Eu sorrio de
volta para ele e rio da minha própria piada.
É patético rir da própria piada, mas às vezes me acho muito
engraçada.
Luca solta uma risadinha, o que me surpreende. Não sei dizer se é real
ou se ele está apenas sendo educado, mas então percebo que Luca nunca
é educado.
Durante a maior parte do jantar, conversamos sobre coisas simples;
nada sério. Ser capaz de conversar era bom; pela primeira vez, Luca não
parecia tão tenso.
Talvez sejam os três copos de uísque que ele bebeu.
Eu, por outro lado, gostei dos Martins mais do que eu esperava.
Durante as duas horas que passamos no restaurante, pedi cinco.
Coisas assim são raras para mim; sair e desfrutar da companhia de
alguém.
Não me permito aproveitar as coisas porque geralmente isso tem um
custo. Eu já sei que, quando eu voltar para casa, meu pai vai me lembrar
as consequências dessa pequena viagem.
Mesmo assim, acho que devo aproveitar enquanto posso.
Luca parece não se incomodar com as suas três bebidas alcoólicas. É
claro que ele consegue lidar bem com o álcool. Por ser o tipo de garota
que raramente bebe, os Martins estão me deixando alta rapidamente.
O telefone de Luca toca e sua expressão muda quando ele olha para a
tela. Ele leva o telefone ao ouvido e atende em tom severo: — Pai.
Eu olho para o meu prato vazio, tentando encontrar algo para me
distrair de bisbilhotar a conversa, mas não tenho mais nada, exceto um
copo de Martini meio vazio.
— Sim, estou aqui, — Luca diz ao pai ao telefone. — Vou fazer as
coisas do meu jeito, e é simples assim. Sem restrições. Amanhã de
manhã, isso estará feito, então podemos fechar o nosso acordo.
— Uau. — Eu faço uma careta, surpresa ao ver Luca assumindo o
comando. Pelo que eu sei, isso é assunto do pai dele, mas não parece que
Luca seja ã de seguir regras.
Ele fala com o pai por um momento antes de terminar a chamada,
revirando os olhos. — Você está pronta para ir?
Eu aceno com a cabeça, tomando o último gole do meu Martini. —
Pergunta: você sempre o chama de pai ou está apenas com raiva dele?
Luca franze a testa e olha para o meu copo antes de olhar para mim.
— Eu não sou louco. Ele é meu pai, eu não tenho nenhuma intenção de
chamá-lo papai ~ Eu sou um homem crescido.
Enquanto me levanto da cadeira, levanto as minhas mãos em defesa.
— Ok, homem adulto. Vou para a cama porque acho que exagerei nos
Martins.
Dou um passo como uma criança aprendendo a andar pela primeira
vez, minhas pernas balançando enquanto meu corpo parece mais tonto
do que a minha mente. Meu tornozelo balança e se torce, me fazendo
tropeçar.
Encosto na mesa para me apoiar, mas, em vez disso, Luca coloca sua
mão na minha, começando a me firmar.
— Me lembra de não deixar você beber álcool de novo, — ele comenta
enquanto se levanta com a sua mão segurando a minha. — Vou te levar
para o seu quarto porque, a esse ritmo, você vai acabar em outro lugar.
— Estou bem, Luca. Mentalmente, pelo menos, — eu argumento
enquanto ele me acompanha para fora do restaurante. — Meu corpo, no
entanto, não está tão bem.
Ele não diz muito mais enquanto caminhamos em direção ao
elevador. Ele aperta o botão e espera em silêncio, ainda segurando a
minha mão como se eu fosse cair se ele a soltasse.
— Você não precisa segurar a minha mão, — digo a ele.
Os olhos de Luca se estreitam para mim e ele levanta uma
sobrancelha. — Eu não estou segurando a sua mão para te manter firme.
Quando te peguei, a sua mão estava praticamente gelada. Você deveria
verificar isso.
Então, ele está tentando me aquecer? Essa é nova.
Eu rolo meus olhos pelo que parece ser a milionésima vez essa noite.
— Não preciso ir ao médico por causa do frio. Isso é uma coisa realmente
estúpida.
As portas do elevador se abrem e Luca seleciona meu andar quando
entramos. Seus olhos ainda não encontram os meus, mas a sua voz me
permite dizer que ele está irritado.
— Calafrios aleatórios no corpo podem indicar uma série de
problemas, como hipotireoidismo. Nunca insinue que sou burro,
Caroline. Eu sou mais inteligente do que você pensa, e sugiro que você
não me provoque.
— Uh, — eu digo em um tom de provocação, — não te provocar? Sim,
senhor.
Eu rio para mim mesma, sem levar Luca a sério nem por um segundo.
Ele é um cara muito sensível quando se trata de pessoas que o
subestimam.
Eu me pergunto se é por causa do jeito que ele foi criado. Ele
mencionou algumas vezes que seu pai era duro demais com ele. Esse
pode ser o motivo pelo qual ele é do jeito que é.
As portas do elevador se abrem e saio correndo antes dele. Agora que a
minha mão está livre de seu aperto forte, começo a andar para trás e o
vejo me seguindo.
— Eu sigo daqui. Obrigada pelo jantar e pelo quarto de hotel... E por
garantir que cheguei ao meu andar com segurança.
Quando me viro rapidamente, bato em um carrinho de serviço de
quarto, fazendo com que os pratos sujos se espatifem no chão e quebrem.
Meus lábios se abrem em choque e eu suspiro, pulando um pouco.
— Tem certeza que está bem? Pode haver outro carrinho ali na
esquina.
Eu forço um sorriso. — Ha. Você é engraçado, mas tenho certeza. Boa
noite, Luca.
— Boa noite, Caroline.
— Carol, — eu o corrijo antes de me afastar dele e virar a esquina,
para fora de sua vista.
Havia algo tão intimidante em estar sob o seu olhar, então o
momento em que deixei a sua vista foi um momento de alívio.
Apesar da personalidade tensa de Luca, não posso deixar de gostar de
estar perto dele.
Ele é chato e intimidante, mas também tão diferente de qualquer
outra pessoa. Ele não esconde a sua personalidade desagradável e,
embora possa parecer um idiota completo, na verdade nunca me tratou
mal.
Meu instinto está me dizendo para fugir e não olhar para trás, mas a
minha mente está me dizendo para ficar e ver que tipo de pessoa o Luca
é, apesar de toda a negatividade.
Eu escolho seguir a minha mente; algo que raramente faço e algo que
deveria evitar.
Capítulo 15
LUCA

O apartamento de Jeremy não é nada de especial. Na verdade, é muito


pequeno e sem graça e poderia ser bem melhorado. Me surpreende saber
que minha irmã já passou um tempo nessa lixeira, mas a escolha é dela.
As paredes estão vazias, exceto por um pequeno relógio na sala de
estar.
A geladeira tem uma pequena tira de fotos tirada de uma cabine de
fotos dele e de Ariella. Ariella está usando franja nas fotos e tem um
grande sorriso no rosto enquanto ela e esse tal de Jeremy posam como
idiotas.
O que eu particularmente noto é o cabelo de Ari. A franja já se foi há
cerca de um ano, o que significa que ela e Jeremy estão se vendo há mais
tempo do que o meu pai sabe.
Não foi difícil entrar no apartamento, a falta de segurança e as
fechaduras de baixa qualidade ajudaram, mas também era benéfico saber
como arrombar uma fechadura com bastante rapidez.
Estou aqui desde as seis da manhã, passando a última hora
caminhando e esperando a minha presa acordar. Eu queria fazer isso
rápido para que eu pudesse voltar para o hotel antes que a Carol
acordasse.
Finalmente, eu ouvi a porta do quarto abrir e eu me sentei na poltrona
da sala. Eu tinha deixado a luz da cozinha acesa para chamar a sua
atenção. Quando ouço passos lentos, hesitantes, eu sei que meu plano
funcionou.
A sala de estar fica bem em frente à cozinha, a parte de trás da cabeça
de Jeremy aparece para mim quando ele espreita para dentro da cozinha.
Eu limpo minha garganta. — Por aqui.
Ele pula, quase se prendendo contra a geladeira com os olhos
arregalados, olhando para mim. — Quem...?
— Ah, merda. Desculpe meus maus modos, deixa eu me apresentar. —
Eu me levanto da cadeira e lanço um sorriso maníaco para Jeremy. — Eu
acredito que você está namorando a minha querida irmã.
Por algum motivo, ele parece aliviado, claramente sem saber sobre o
estilo de vida perigoso ou a família de Ariella. — Ei... Cara, você me
assustou pra caralho. A Ari não me disse...
— Não se precipite, Jeremy. A Ariella não sabe que estou aqui, — digo
a ele enquanto caminho em sua direção.
Eu paro e olho para a minha calça de moletom e camiseta velha. —
Peço desculpas por não me vestir com roupas mais chiques. Embora essa
seja a nossa primeira vez, não sou ã de sujar as minhas roupas bonitas de
sangue.
— Sangue?
Enquanto ele me questiona, a sua expressão muda e a ficha cai. O
Jeremy rapidamente se afasta de mim e começa a correr em direção ao
seu quarto. Rapidamente, pego a minha arma do coldre e miro em sua
perna, puxando o gatilho e vendo-o cair no chão.
Eu caminho pelo curto corredor para alcançá-lo e ele se vira para
olhar para mim, o medo em seus olhos, a emoção da qual me alimento.
— Por que você está fazendo isso? Eu amo a Ariella. Você não precisa
protegê-la de mim.
— Não, eu não estou fazendo isso pela Ariella.
Eu não faço as coisas a menos que elas me beneficiem, — asseguro, me
encostando na parede.
Eu olho para ele e digo: — Veja, eu tenho este acordo... Blá, blá, blá,
encurtando a história, preciso que você esteja morto para eu poder sair
dessa.
— Não! — ele grita. — Não faça isso. Me escute, cara. Vou largar a
Ariella, ok? Eu nunca vou vê-la novamente se esse for o problema.
— Esse não é o problema, — eu zombo, verificando meu relógio e
gemendo. — Eu realmente preciso levar isso adiante. Eu tenho outros
lugares para ir.
Quando aponto a arma para a cabeça de Jeremy, ele começa a se
afastar freneticamente até que as suas costas batam na parede. — Por
favor, não! Eu sou jovem, cara. EU-Meu dedo aperta o gatilho, sem me
preocupar em escutar o discurso. Minha mira mais uma vez me
impressiona, uma bala o acertou bem no meio da testa.
Nada do que ele disse poderia mudar a minha mente e mesmo que
meu pai ligasse e me dissesse para não matar o Jeremy, eu faria isso de
qualquer maneira.
Eu vim aqui para colocar um pouco de sangue nas minhas mãos; não
tinha a intenção de sair sem isso.
Eu verifico as minhas roupas e gemo quando vejo sangue na minha
camisa. — Puta merda.
Quando entro no banheiro, meu telefone toca e não me preocupo em
olhar para o identificador de chamadas. — O quê?
— Uau, que mal humorado, — Carol diz na outra linha com uma
risadinha. — Quer tomar café da manhã? Estou morrendo de fome.
Oh, é a Carol.
Eu me olho no espelho e penso em uma solução rápida para essa
bagunça.
Eu rio com a ideia de estar no apartamento de um estranho, vestindo
uma camisa manchada de sangue, e como fazer a bagunça é sempre mais
divertido do que limpar.
— Estou terminando alguns negócios. Eu volto em breve. — Eu coloco
meu telefone no balcão, colocando no viva-voz para que eu possa tirar
minha camisa.
Meus jeans parecem estar sem respingos de sangue, o que toma a
minha vida um pouco mais fácil.
Para a minha sorte, sei uma coisa ou duas sobre como remover
manchas de sangue. Jogar fora as minhas roupas perfeitamente boas não
é uma opção, e essa camisa é uma das minhas favoritas.
— Ok, — Carol responde e ela faz uma pausa antes de continuar. —
Desculpa te incomodar enquanto você está no trabalho. Colocaremos o
papo em dia quando você voltar.
— Tchau, Caroline.
Depois de desligar o telefone, reúno todos os produtos caseiros de que
preciso para remover o sangue das minhas roupas e pondero a melhor
coisa a fazer com o corpo de Jeremy.
Foi uma morte relativamente limpa; Rápida e fácil.
Não sou dessa parte da cidade, então poderia facilmente deixar o
corpo aí e permitir que a polícia procurasse implacavelmente, apenas
chegando a becos sem saída.
Eu poderia enterrar o seu corpo, mas isso consome muito tempo e dá
muito trabalho para não ser pego.
Decido deixar o corpo como está, não me preocupando em ser pego
porque, se isso acontecer, posso simplesmente matar para sair desse
problema também. E uma solução fácil.
*
Quando eu volto para o hotel, eu entro no meu quarto para colocar
roupas limpas e tomar banho para me livrar do sangue de Jeremy que
ainda está em mim.
A última coisa que preciso é ser forçado a matar a Caroline se ela
notar sangue em mim. Eu realmente não quero fazer isso.
Quando chego ao andar de Caroline, pego o cartão extra que pedi na
recepção na noite anterior.
Eu sou maníaco por controle. Eu preciso controlar as coisas, caso
contrário eu surto. As coisas não acabam bem quando eu atiro, e é por
isso que pedi o cartão magnético extra.
Afinal, o quarto está no meu nome. Eu trouxe a Carol aqui como
convidada, e se eu precisar entrar nesse quarto, é muito mais fácil com
um cartão extra.
Bato na porta do quarto do hotel, esperando a resposta de Carol, mas
não há nada. Eu bato novamente, esperando um pouco mais desta vez.
Um dos meus problemas favoritos é o atraso e a incapacidade das
pessoas de se apressar.
— Carol, — eu digo em uma voz mais profunda do que o normal para
mostrar a minha impaciência. Mais uma vez, ela não responde, então
começo a escrever uma mensagem de texto. A minha mensagem é
entregue instantaneamente, mas os minutos passam e Caroline não abre
a mensagem.
Este é o motivo exato do cartão extra. Eu o uso sem mais hesitações e,
no momento em que abro a porta, percebo por que ela não estava
respondendo.
O vapor enche a sala, as janelas começam a embaçar, e assim que a
porta se fecha atrás de mim, a água do banheiro é desligada.
Não tenho certeza do que é pior neste momento. Ter que dizer a
Caroline que tenho um cartão extra para o quarto dela, ou que estou
apenas a alguns metros dela enquanto ela está nua.
Eu imagino que o corpo de Carol está ensopado, com apenas uma
toalha fina enrolada em seu corpo. Seu cabelo molhado gruda na lateral
do rosto.
Porra. Faz um tempo que não faço sexo e minha mente está
divagando.
A porta do banheiro se abre e minhas visões se tomam realidade bem
na minha frente. A única diferença é que Carol não me vê imediatamente
e colide comigo.
— Luca? O que você está fazendo no meu quarto?
Ela dá um passo para trás e, naturalmente, eu respondo com a minha
postura indiferente de sempre. — Este quarto está no meu nome,
lembra? Não gosto de ficar esperando, então me convidei para entrar.
Ela revira os olhos. — Isso é invasão de privacidade. Você pode desviar
o olhar para que eu possa pegar as minhas roupas?
— Já vi quase tudo a essa altura. Parece um pouco ridículo agir como
se não tivesse visto. — Eu sorrio para ela, propositalmente permitindo
que meus olhos percorram o corpo de Caroline e o absorvam.
Sexo.
Eu preciso muito disso agora e se eu estivesse em casa, eu
simplesmente chamaria a Sofia para vir. Ela é a minha noiva; me dar
prazer é o trabalho dela.
A Sofia gosta de chamar a minha atenção de qualquer maneira e se
esforça para me impressionar sexualmente. Comparada com algumas
garotas com quem fiz sexo, Sofia é bem medíocre.
Estou esperando um tapa na cara, mas a Carol me surpreende mais
uma vez rindo e passando por mim. — Não seja espertinho, Luca. Eu
tenho amor próprio.
Eu a vejo pegar um conjunto de roupas de sua bolsa antes de ir para o
banheiro e me sento na beira da cama desarrumada e a chamo.
— Então, me lembre de não deixar você beber mais do que dois
Martinis na próxima vez.
Um momento depois, a cabeça de Carol sai do banheiro com um
sorriso no rosto. — Próxima vez? Tipo, você quer sair de novo? Estou
lisonjeada, Luca. De verdade.
Seu sorriso está me provocando e eu rolo meus olhos. — O que estou
dizendo é que você não é má companhia e se eu não tenho nada melhor
para fazer...
— Oh, cala a boca. — Ela começa a rir quando ela sai do banheiro.
Ela está vestida com um macacão casual e seu cabelo ainda está
embolado por causa da água, mas vou dar crédito; ela é muito atraente,
mesmo quando não está tentando.
É algo que admiro em uma mulher; algo que falta a Sofia devido ao
seu constante desespero para ter uma boa aparência ou me impressionar.
— Você está bonita, — eu digo baixinho. Esse é geralmente o primeiro
de uma longa sequência de comentários para colocar uma garota na
minha cama, mas desta vez, eu quis mesmo dizer isso.
A Carol olha para mim antes de dar um pequeno sorriso sem mostrar
nenhum de seus dentes quase perfeitos.
— Você está como sempre. Sombrio e taciturno, mas por mais que eu
não queira admitir, estou começando a gostar disso.
— A Caroline Harding gosta de mim? A mesma garota teimosa e
espertinha da lanchonete que insistiu que eu sou um idiota está
gostando de mim, hein?
— Ok, não se precipite. Eu disse que estou gostando da sua
personalidade mal-humorada, não de você.
Eu descuidadamente encolho meus ombros e mantenho meus olhos
em Carol enquanto as suas bochechas começam a ficar vermelhas pela
direção em que a conversa está indo. — O que você disser, querida.
Quando ela olha para mim, pela primeira vez, ela está com uma
expressão tímida nos olhos. Quase pisca. Seu sorriso não deixa seu rosto,
e eu tenho uma estranha sensação de prazer com isso.
Há algo doente dentro de mim ou estou gostando de vê-la ficar
nervosa por minha causa?
Este é um território desconhecido e não sei como me comportar em
tal situação. Só quando noto meus pensamentos é que percebo que estou
sorrindo para ela.
Há algo sobre essa garota que está me deixando louco.
Capítulo 16
LUCA

Ela está tentando tanto. Ela sempre se esforça demais. E um pouco


exagerado, mas felizmente para a Sofia, estou ansiando por alguma
intimidade sexual, então ela vai servir, independentemente do trabalho
que esteja fazendo.
Ela move seus quadris rapidamente contra os meus enquanto monta
em mim, na cama.
Não é que a Sofia seja ruim de cama. Eu sei que treinei a minha mente
para odiá-la por causa desse casamento de merda para o qual estamos
sendo empurrados e o fato de que ela quer tanto ser a minha esposa.
Eu não quero e não vou engolir essa merda. Ninguém pode me
controlar ou ditar a minha vida.
A Sofia nunca será minha esposa, mas enquanto isso, vou ficar com as
vantagens sexuais.
— L-Luca... — Sua respiração pesada e gemidos suaves tendem a ser
exagerados. Minhas mãos seguram seus quadris com força. Sei
exatamente onde agarrar para causar hematomas com a pressão das
pontas dos dedos.
Eu a puxo para baixo em mim com mais força e agarro com força seu
cabelo para que ela não possa se mover. Agora ela é a pessoa vulnerável,
do jeito que eu prefiro. Eu que mando.
Uma vez que viro a Sofia, estou em cima dela, não demora muito para
nós dois gozarmos. Afinal, sou um profissional em encontrar todos os
lugares certos das mulheres.
Sofia está deitada ao meu lado, rindo enquanto seu peito arfa. Ela vira
a cabeça para olhar para mim com um sorriso no rosto. — Isso... foi
realmente incrível.
Eu levanto as minhas sobrancelhas e jogo o cobertor longe, para tirar
a camisinha. Eu amarro a abertura e jogo no lixo. — Tudo correu bem.
Seu sorriso desaparece um pouco e ela se senta, cobrindo o peito com
o cobertor. — Eu te amo, Luca.
— Puta que pariu, — eu gemo.
— Mas eu amo, mesmo. Eu sei que nosso relacionamento é arranjado
e você não sente o mesmo por mim, mas eu realmente gostaria que você
tentasse... Poderíamos ser ótimos juntos.
Sofia pega as minhas mãos e eu me afasto, para evitar que ela me
toque. Ela suspira suavemente. — Luca...
— Me lembra de nunca mais comer você. — Eu rolo meus olhos antes
de sentar e encostar as minhas costas na cabeceira da cama.
Sofia fica desesperada para que eu a ouça. — Olhe para os seus pais,
Luca. Eles também não queriam o casamento e agora se amam.
— Meu pai não merece a minha mãe, então eles não são um bom
parâmetro. — Eu estreito meus olhos para a Sofia, irritado por ela trazer
meus pais na conversa.
— Cuidado com as palavras que você usa, amor. Não aceito bem as
pessoas pensando que entendem do meu negócio quando não entendem.
— Talvez a sua mãe mereça coisa melhor, mas isso não muda o fato de
que ela ama o seu pai. — Sua voz treme, sabendo que as suas palavras vão
me irritar.
— Não estou tentando trazer a família para a conversa, mas os dois
são a prova de que boas coisas podem resultar de um casamento
arranjado. Se não fosse por isso, você e a Ariella não estariam aqui.
Incapaz de me controlar, começo a rir. — Você está dizendo que sou
um bom resultado do casamento dos meus pais? Sofia, eu sabia que você
era ingênua, mas isso é simplesmente estúpido.
— Não há nada de bom em mim e também não sou uma pessoa
simples como meu pai. Em breve, esse casamento será cancelado e você
será prometida a outro sociopata patético.
A expressão no rosto de Sofia é claramente de decepção, e ela não
parece ter nada mais a dizer. Isso é bom porque não quero mais ouvir a
voz dela.
— Você tem sido uma foda decente, Sofia. Agora saia. — Eu aponto
em direção à porta do quarto, não querendo mais lidar com o chororó
dela.
Ela leva alguns minutos para reunir as suas roupas e se vestir. Eu me
concentro na tela do meu telefone, sem me preocupar em olhar para a
garota desesperada na minha frente.
Só quando Sofia para na porta é que ela chama a minha atenção com
as suas palavras. — Você tem outra?
— Que tipo de merda você está vomitando agora? — Eu pergunto,
ainda sem desviar o olhar da tela do meu telefone.
— Outra garota, Luca. Existe outra garota na sua vida?
Eu largo meu telefone na cama e lentamente olho na direção de Sofia.
— Não. Não existe outra garota.
— Aparentemente, não fui suficientemente claro quando disse que
não tenho interesse em ficar amarrado. Não vou abrir nenhuma exceção.
— Não leve para o lado pessoal; não é sobre você. E sobre todo
mundo.
É verdade. Eu cresci em um ambiente degradado e sempre que tinha a
chance de ficar sozinho, eu aproveitava. Era quando eu me sentia bem e
feliz.
Ficar sozinho se tomou a única coisa na minha vida que me dava
algum senso de propósito e não tenho intenção de abrir mão da minha
liberdade. Nem pela Sofia, nem por mais ninguém.
*
À medida que o fim da noite se aproxima, desço as escadas da casa da
minha família e ouço meus pais conversando na cozinha.
Não tenho certeza de como ele faz isso, mas meu pai mais uma vez
conseguiu colocar a minha mãe em seus braços, novamente. Ela está
rindo, e quando me aproximo da porta, posso ver que ela está sorrindo.
Meu pai me surpreende com um sorriso no rosto antes de roçar o
nariz contra o de minha mãe, antes de se inclinar para beijá-la.
Nojento pra caralho.
— Pai, um momentinho? — Eu digo, interrompendo o momento
especial deles, ou seja, lá o que for isso.
Os olhos do meu pai se fecham em aborrecimento e ele mantém as
mãos na cintura da minha mãe, enquanto olha para mim. — Mais tarde,
Luca. A sua mãe e eu estávamos prestes a subir as escadas.
Informações demais.
— Ah, a Catherine não está disponível hoje, então? — Eu franzo a
testa, revirando os olhos e causando o maior climão; essa era a minha
especialidade.
A mandíbula do meu pai aperta e seu punho bate na bancada no meio
da cozinha. - Luca Stefano, estou avisando, cuidado com essa boca. Não
vou tolerar mais essa postura.
Credo, mãe. Por que você é tão estúpida? Por que você iria querer um
homem que não é leal a você como você merece? Você é boa demais para
qualquer um, boa demais para ele.
- Bem, já que você claramente não tem tempo, vou apenas te avisar de
que matei o namoradinho da Ari. Só queria saber com quem da equipe
do Alessandro eu devo entrar em contato para cancelar o casamento.
Eu finjo um sorriso para ele, sabendo muito bem que a minha mãe
não sabia sobre a proposta e que ficará furiosa com o meu pai.
Como esperado, a minha mãe deu um passo para trás, olhando para
meu pai com descrença em seus olhos. — Do que ele está falando?
— Vamos, Elaina. Você não pode me dizer que não estava esperando
por isso, — meu pai diz, focando a sua atenção em minha mãe.
— A Ariella não tem escolha, amor. Tenho falado com o Mikhail
Petrov. Seu filho Alexei é um pretendente perfeito para a Ariella.
— Ai meu Deus, Vai. — Os olhos da minha mãe estão lacrimejando,
uma expressão que conheço desde criança. — A Ariella ficará com o
coração partido. Você não pode simplesmente prometê-la a alguém!
— Mas me prometer a alguém está certo? — Eu pergunto a minha
mãe antes de rir.
— Mãe, eu fiz um trato com o meu pai. Se eu me livrasse do Jeremy,
não teria mais que casar com a Sofia. Então, pelo menos um de seus
filhos pode finalmente ser feliz.
Enquanto meu pai desvia o olhar da minha mãe, ele revira os olhos
com o meu comentário. - Sempre pensei que você fosse mais inteligente,
Luca. Eu treinei você para ser mais inteligente do que isso.
— Você sujou as mãos e eu consegui o que queria. Você não pode
mesmo pensar que eu vou realmente perder uma união tão benéfica para
a nossa família?
Ele mentiu.
O filho da puta me fodeu, e eu deveria ter percebido. Mas, por alguma
razão, reagi fracamente ao confiar no meu pai; a única pessoa em quem
eu nunca deveria confiar.
— Vá se foder, pai.
— Ouça aqui, Luca. Eu não sou apenas o seu pai; Eu também sou o
seu capo, o que significa que não importa o quanto você tente, eu sempre
darei as ordens. Sempre. Quer seja alguma coisa pessoal ou profissional,
você responde a mim.
Sua voz é forte e sua postura é muito de macho alfa, mas a minha
também e meu pai não tem ideia de como eu posso acabar com ele. Ele
começou uma guerra.
Dou um passo para trás e olho para a minha mãe, que ainda parece
estar traumatizada com o que acabou de descobrir. — Eu não sei como
você pode amar alguém como ele.
— Luca... — minha mãe disse baixinho.
— O que aconteceu com a garota que você planejou dar ao
Alessandro? — Meu pai pergunta, mencionando a Caroline.
— Eu não a vi mais, — minto, balançando a cabeça. — Ele não estava
interessado nela.
Eu me afasto e saio da cozinha, não querendo falar nem mais uma
palavra com o meu pai nesse momento. Quando ele trouxe a Caroline
para a conversa, eu saí antes que ele pudesse ler as minhas reações.
Meu pai sempre busca um significado mais profundo nas coisas,
algum tipo de influência que ele possa ter. Mas ele não ia conseguir isso
de mim, não desta vez.
Capítulo 17
LUCA

Solto um assobio brincalhão quando entro na lanchonete, tarde da


noite. Fechou há quarenta e cinco minutos, mas o proprietário ainda está
aqui cuidando da papelada; algo que ele sempre faz nas noites de quinta-
feira.
Aprendi isso sobre ele, sobre os seus padrões. Não demora muito
tempo para controlar a rotina de alguém.
Depois que a Carol me contou sobre como esse bastardo a despediu
porque ela brigou com ele depois que ele tentou passar a mão dela, eu
não poderia simplesmente deixar isso passar em branco, é por isso que eu
estou aqui.
Não gosto de caras como o dono desse lugar, esse tal de Carlos. Ah,
Carlos. E ele nem é espanhol. Ele é branco como sorvete de baunilha e
tem um nome que parece latino.
— Carlos? Por favor, não seja um idiota. Venha cumprimentar o seu
cliente, — eu digo, andando até o balcão e sentando em uma banqueta.
Um momento depois, Carlos sai pelas portas da cozinha. — Estamos
fechados, senhor. Você terá que voltar durante o horário comercial.
Eu rio e olho em sua direção. — Não estou aqui para comer
sanduíches. Estou aqui para conversar, para nos conhecermos. E o mais
importante, tenho algumas perguntas sobre um funcionário antiga.
— Não tenho tempo para conversar, isso não é um centro de
conferências.
— Olha, sugiro que você responda a toda e qualquer pergunta que
tenho sobre a Caroline Harding. — Minha voz está calma, esperando que
esse cara ceda. — Eu quero saber sobre o ex-namorado dela. O Brett.
Carlos ri e faz um gesto em direção à porta. — Uau. Você é um cara
muito exigente. Eu sugiro que você saia antes que eu chame a polícia.
Ok, agora estou ficando com raiva.
Eu me levanto do banquinho e me inclino contra o balcão enquanto
faço contato visual com Carlos. — Isso não é jeito de falar com um
Acerbi.
Eu sei que isso vai funcionar porque os Acerbis são conhecidos pelo
que são, por que ninguém fazia nada a respeito? Porque é preciso provar
para derrubar alguém e a minha família é sábia demais para deixar
pegadas para trás.
Não somos conhecidos como Máfia, mas como uma família perigosa.
As pessoas simplesmente não sabem o quão perigosos somos.
— Acerbi? — Carlos pergunta. — Não me jogue essa carta.
— Não é uma carta, é mais um papel... com o meu nome nele, que a
maioria das pessoas chamam de certidão de nascimento. — Eu encolho
meus ombros.
— Meu pai. Valentino Acerbi, me ensinou que ninguém deve
desrespeitar a nossa família ou aqueles de quem gostamos.
— Por outro lado, eu não me importo com ninguém... E uma escolha
pessoal. Mas estou começando a gostar muito da Caroline e, com base no
que ouvi, você tem sido bastante babaca, como dizem os adolescentes.
Carlos fica pálido e o arrependimento em seu rosto é claro, mas é
tarde demais para se arrepender das coisas. Ele agiu como se fosse
superior a mim e isso foi extremamente desagradável.
— Vou ser tranquilo com você porque sou um cara legal, — digo a ele.
— Eu vou roubar você. Vai ser só uma pequena vingança, ok? Mas vou
precisar te trancar na sala de limpeza.
Carlos parece mais do que disposto a obedecer; tudo o que ele
realmente pensa é em salvar a sua vida e um pouco de dinheiro não vale a
sua vida. Né?
Abro a porta da sala de limpeza ele não hesita em entrar. Ele está
assumindo que está salvando a sua vida, quando, na verdade, estou
apenas tomando o meu trabalho muito mais fácil.
Assim que fecho a porta, pego uma cadeira da sala de jantar e a inclino
para trás para enganchar por baixo da maçaneta, para que Carlos não
possa abrir a porta.
Sem pressa, vou até a área da cozinha e examino o fogão para ver
como posso cobrir os meus rastros com esse cara.
Eu abro um abafador, pretendendo não parecer completamente óbvio,
e quando eu olho ao redor da cozinha, vejo o livro de finanças em que
Carlos estava trabalhando.
— Isso vai servir, — murmuro enquanto o pego e coloco no balcão ao
lado do fogão, abrindo-o de forma que metade do livro fique na chapa
quente. Isso vai causar um incêndio.
Volto para a sala de limpeza com um cutelo, removendo a cadeira e
usando o cutelo para bater a maçaneta, desfigurando-a em uma posição
que impediria a porta de abrir.
Se vou fazer isso parecer um acidente, não vou prendê-lo ali com uma
cadeira.
A história faz sentido. Carlos está trabalhando até tarde para pôr a
papelada em dia. Ele esquece que está com o fogão aceso e sai para
buscar alguma coisa na sala de limpeza, onde a maçaneta falha.
Considerando que o prédio é antigo, não será tão rebuscado e o resto
é bastante autoexplicativo.
Para ter certeza de que cobri tudo, volto para a cozinha e, como pensei
ter visto, uma cafeteira está na beira do balcão, ainda pela metade.
Eu o bato com o cotovelo para evitar impressões digitais e, conforme o
vidro se estilhaça no chão, minha história começa a fazer mais sentido.
Carlos derrubou café no chão e foi buscar um esfregão para limpar.
É enlouquecedor como isso é genial.
— Adiós, Carlos, — eu digo enquanto saio da lanchonete com um
sorriso no rosto. A Caroline ficará emocionada.
Capítulo 18
CAROL

— Oh, meu Deus... Como isso aconteceu? — Pergunto à minha amiga


e ex-colega de trabalho, Josie.
A lanchonete tinha virado nada mais do que cinzas na nossa frente
enquanto a polícia inspecionava os motivos. Eu vim para receber o meu
último pagamento; não era isso que eu esperava ver.
— Ouvi alguém mencionar que foi um acidente na cozinha, — Josie
explica para mim. — Quem vai saber, não importa se aquele idiota
morreu, é melhor eu receber o meu pagamento. Tenho contas a pagar.
— Sim, eu também, — eu admito.
Estou em completo choque sobre o Carlos e a lanchonete, mas não
posso ignorar o fato de que tenho muitos boletos. Sim, eu moro com
meus pais, mas preciso sair de lá.
Eu esperava que fosse logo, e o Carlos me despedindo colocou um
freio nas minhas economias.
— Seu pai ainda bate em você? — Josie pergunta, me pegando de
surpresa.
Abro a boca para falar, mas simplesmente encolho os ombros. — Às
vezes... Só quando eu atrapalho o dia dele.
Meu pai ou padrasto. Não tenho certeza de como chamá-lo. Depois de
me criar durante os primeiros oito anos de minha vida, ele descobriu que
a minha mãe tinha realmente com o seu irmão.
O resultado desse caso? Eu.
As coisas mudaram depois disso. Ele parou de ser o meu pai, parou de
querer ~ser o meu pai e começou a beber muito.
Ele se tomou uma pessoa completamente diferente. Nem uma vez ele
mencionou deixar minha mãe, mas ele não me queria mais por perto.
Desde que cheguei a uma idade em que poderia trabalhar, venho
tentando economizar para alugar o meu próprio apartamento, mas agora
estou em um beco sem saída.
— Atrapalhar o dia dele? — Josie revira os olhos. — Essa é a coisa mais
estúpida que eu já ouvi. Você sabe que se a minha irmã tivesse espaço
extra no apartamento, eu te convidaria para ficar conosco.
— Não, não. Está tudo bem, — eu digo a ela, dando um sorriso
genuíno. — Eu vou dar um jeito. Talvez eu possa pedir ao Luca para me
dar uma carona, para distribuir currículos por aí.
A sobrancelha de Josie se levanta. — Luca?
Você quer dizer o idiota que você conheceu na lanchonete?
— Ok, em primeiro lugar, ele não é um idiota. Se você quiser conhecê-
lo, na verdade ele é um cara muito decente, mas sim... é dele que estou
falando.
Eu rolo meus olhos e começo a andar com a Josie em direção à minha
casa. Não posso ficar parada perto da lanchonete e ter uma conversa
normal quando a polícia está investigando uma morte.
— Apesar de tudo, ele tem sido bom para mim e eu aprecio a
companhia dele. De uma forma estranha, ele está sempre lá quando eu
preciso.
— Então, ele é obsessivo, — acrescenta ela.
A Josie é impossível. Quando ela encasqueta com alguém, já era.
Demora um pouco para que ela mude de ideia, se é que isso acontece.
— Mudando de assunto, o clube está contratando e eu sei que você
disse que não estava interessada, mas como você precisa do dinheiro e
realmente compensa...
— Não. — Eu balancei a minha cabeça, sem deixar a Josie terminar e
eu olho para, traz para a lanchonete queimada, antes de desviar o olhar
rapidamente.
É muito difícil de olhar e independentemente de quão pervertido o
Carlos era, não posso acreditar que ele está morto. Nem posso deixar de
sofrer um pouco.
- Carol, - Josie lamenta, - você não tem ideia de como os clientes bons
pagam. Você poderia se mudar da casa de seus pais dentro de dois meses
trabalhando com a gente.
Josie e a sua irmã Khadijah tinham um emprego paralelo em um clube
de strip. Eu nunca fui lá, mas sei que a Josie e a Khadijah tiveram uma
vida difícil, com os pais viciados em drogas que acabaram abandonando-
as.
Quando Khad atingiu a maioridade, ela conseguiu um emprego em
um clube de strip. Josie se juntou a ela quando ela tinha idade suficiente,
trabalhando no clube de noite e na lanchonete de dia. Em pouco tempo,
elas eram duas das melhores dançarinas de lá.
A Josie ofereceu várias vezes para eu entrar, insistindo que isso me
ajudaria a me afastar do meu pai, mas mostrar meu corpo para estranhos
nunca pareceu uma opção para mim, nem mesmo agora.
Eu balanço a cabeça, parando na frente da minha garagem. — Eu não
posso. Não sou confiante o suficiente e não sou mesmo esse tipo de
garota. Funciona para você, Jos... Mas, para mim? Me sinto muito
estranha e desconfortável só de pensar nisso.
— Eu te amo, Carol, — ela diz antes de me dar um abraço apertado. —
Se você mudar de ideia, você pode ter alguma renda para mudar de vida.
Eu sei que não é ideal, mas é melhor que nada.
Quando ela se afasta de mim, eu lhe dou um pequeno sorriso. — Eu
agradeço, mas vou apenas esperar. Vai ficar tudo bem.
Nos despedimos e entro na minha casa. Está tudo tranquilo, o que é
bom e raro.
Quando a Josie sai de vista, fecho a porta e me viro em direção às
escadas, dando o primeiro passo antes de parar quando ouço soluços
suaves.
— Mãe? — Eu pergunto, parando por um momento e esperando, mas
quando eu não recebo uma resposta, eu ando em direção à cozinha e
encontro a minha mãe. — Você está bem?
Ela olha para mim e suspira suavemente. Em vez de responder, ela
passa por mim e sai da sala.
Desde que meu pai começou a agir mal depois de saber que eu era
filha do irmão dele, a minha mãe também ficou ressentida comigo.
Ela me olha como se eu fosse a coisa que arruinou a sua vida perfeita.
Se eu não tivesse nascido, o relacionamento dela ainda seria perfeito.
Eu fico parada ali, fechando meus olhos e respirando fundo. Na
verdade, não há nada pior do que questionar a sua própria existência e se
perguntar como você pode consertá-la.
Como alguém pode consertar um problema quando o problema é
estar vivo?
— Sim, a culpa é sua, garota, — a voz bêbada do meu pai diz da porta.
Quando eu olho para ele, ele está com a garrafa de cerveja nos lábios. —
Se seu pai, seu pai verdadeiro, pudesse simplesmente ter te mantido
dentro das bolas...
— O que está acontecendo? — Eu pergunto, franzindo a minha
sobrancelha. — Eu nem estive por aqui hoje.
— Esteja você aqui ou não, você está causando problemas. — Ele
revira os olhos. — A vagabunda da sua mãe está arrasada por eu estar
pensando em me divorciar. Deus me livre de tomar uma decisão que
deixe ela mal — Mas por outro lado, ela não teve nenhum problema em
abrir as pernas para a porra do meu irmão.
Isso não é novidade. Eu ouço esse discurso regularmente, e não
importa a frequência com que eu ouço, ainda dói. Nunca serei nada mais
do que um erro da minha mãe.
Eu engulo em seco. — Sinto muito... Talvez vocês dois fiquem melhor
separados, na verdade.
Fico surpresa quando meu pai vem em minha direção, jogando a sua
garrafa de cerveja vazia na parede. Quando o vidro se estilhaça, ele
aponta o dedo na minha cara e cerra os dentes.
— Não, não. Você me ouça bem. Estaríamos melhor sem você e aquela
nuvem negra espreitando acima de nós.
Não digo nada. Não há nada que eu possa dizer. Meu pai já sabe o que
ele sente por mim, então isso não vai mudar, e eu com certeza não posso
fazer nada.
— Você não é nada! ~
Eu ouço isso o tempo todo, mas o preço que isso está cobrando das
minhas emoções está se tomando demais para mim.
Eu preciso sair desse ambiente tóxico. Tive a sorte de evitar que a mão
do meu pai colidisse com a minha nuca recentemente, mas ainda estou
lutando para superar o trauma.
Brett, o meu ex, havia se tomado a única coisa consistente na minha
vida, e eu confiava nele totalmente.
Estávamos juntos há apenas três meses quando ele me bateu pela
primeira vez.
Parecia que não importava aonde eu fosse, eu me metia em uma
situação violenta. Não posso escapar de abusadores e isso me tomou
mais cautelosa com as pessoas.
O pensamento passa pela minha cabeça, eu quero sair daqui o mais
rápido humanamente possível.
Minhas emoções estão descontroladas devido ao ódio vomitado em
mim e agora me sinto desesperada para me afastar dos meus pais mais
rápido do que eu imagino. Eu não tenho emprego. Nem renda. Nem
esperança.
Exceto pela Josie e a sua oferta - essa é a minha única opção. Uma
opção que, pela primeira vez na vida, estou considerando.
Capítulo 19
LUCA

Bato na porta da casa de Caroline. Ela não sabe que estou aqui, mas
ela não estava atendendo o telefone e eu particularmente não gosto de
ser ignorado.
Não há mal nenhum em surpreender alguém com uma visita, de
qualquer maneira.
Só para amenizar o golpe, trouxe alguns bolinhos de chuva da Juanita.
Ela os fazia exatamente como a sua avó, e todos adoravam os doces da
Anita.
Assim que bato pela segunda vez, a porta se abre e um homem, um
pouco mais baixo do que eu, fica parado com extrema irritação no rosto.
— Quem diabos é você? — ele pergunta.
Eu? Quem ele pensa que é para falar assim comigo? Eu poderia
apunhalá-lo na jugular por me desrespeitar daquela maneira.
— Quem diabos é você? — Eu rebato, abaixando as minhas
sobrancelhas e estreitando os meus olhos para esse homem bêbado.
Ele aponta para o peito. — Esta é a minha casa. — Quando ele vira o
dedo e o enfia no meu peito, estou pronto para quebrar a sua mão. —
Você não pode fazer as perguntas.
Eu olho ao meu redor, tentando confirmar que bati na porta certa. —
Que porra é essa...?
— Luca? — Eu ouço a voz de Caroline e a vejo nos degraus. — O que
você está fazendo aqui?
— Eu estava mandando mensagem para você e você não respondeu,
então aqui estou. Mas esse imbecil decidiu que não há problema em falar
comigo como se eu fosse algum tipo de lixo. — Dou um passo para mais
perto do homem, pronto para bater nele até virar geleia, se ele disser
outra palavra torta para mim. Carol desce as escadas correndo e dá um
passo na frente do homem para me impedir.
— Luca, esse é o meu pai...
O pai dela? Bem, que merda. Como alguém tão puro veio de um
pedaço de merda desses? Eu olho para o homem, o pai de Carol.
— Não me toque de novo ou talvez eu precise quebrar esse seu dedo.
Eu posso ver os olhos de Carol se arregalando em choque - ou medo?
Não tenho muita certeza nesse momento, mas quando ela olha para o
pai, percebo que ela está preocupada com o que ele fará a seguir.
Se ao menos ela percebesse que não estou preocupado com ele.
— Caroline, diga ao seu namorado para ir embora.
— Ele não é meu-
— Vamos Caroline, eu trouxe doces. — Eu a pego pelo pulso e a guio
descendo os degraus da frente. — E melhor seu pai ter cuidado comigo.
Eu não devo ser contrariado.
Caroline parece frenética enquanto olha continuamente por cima do
ombro para a porta da frente. — Luca, não... Ele é um homem agressivo.
Ele vai te machucar.
— Me desculpe, eu pareço uma bichinha medrosa? Garanto que não
tenho medo do velho dentro daquela casa, — aponto. — Eu não gosto
dele.
Normalmente, eu mataria alguém no momento em que me desafiasse,
mas eu não poderia fazer isso na frente de Caroline.
Pode parecer drástico, mas eu cresci me livrando daqueles que
foderam comigo. Mesmo que fosse algo pequeno, eu acabaria com tudo.
— Eu também não gosto dele, — diz ela antes de me dar um pequeno
sorriso quando chegamos ao meu carro. — Você está livre para quebrar
todos os dedos que quiser.
Acho que ela está brincando; caso contrário, eu faria isso. Ainda
depende de como eu vou me sentir na próxima vez que o vir.
— Por que ele é assim?
— Assim como? Nervoso? — Carol me pergunta.
— Não, muito feliz. — Eu rolo meus olhos sarcasticamente. —
Nenhum ser humano normal sente raiva só de abrir a porta da frente.
Percebo um sorriso nos lábios de Cara. — Você está com raiva o
tempo todo.
— Correto. Mas eu não sou normal.
Caroline me ignora e se inclina contra meu carro, pegando o saco de
doces das minhas mãos e abrindo a tampa. — Você que fez isso?
Eu não posso deixar de rir. Claro, fui eu, sim. Quem ela acha que eu
sou?
— De jeito nenhum. — Eu balancei a minha cabeça.
— A empregada fez.
— Empregada? — Carol arqueia uma sobrancelha, parecendo
intrigada. — Luca Marchesi, você nunca deixa de me surpreender. Não
fazia ideia de que você tinha uma empregada doméstica.
Eu encolho meus ombros com indiferença, sem ligar para a sua reação
surpresa. — Ela não é minha empregada. E do meu pai.
Eu vejo quando Carol pega uma torta de limão e dá uma mordida.
Meus olhos pousam em seus lábios, observando-a fechar os olhos e
gemer quando o gosto da torta toca a sua língua.
Seu gemido é algo que poderia me divertir, mas apenas algumas vezes.
As mulheres ficam chatas e repetitivas depois de um tempo. Sem falar
que tenho essa coisa toda da Sofia já estar ligada a mim.
— Isso é tão bom, — ela diz antes de olhar para mim. — Você tem
sorte de ter alguém para fazer isso para você.
— Não. Não gosto do sabor do limão, — digo a ela. Eu gostava do
sabor quando era mais jovem, mas comecei a odiar. — E muito azedo.
— Você está de brincadeira? Você tem esse luxo e nem mesmo
aproveita? Isso deveria ser um crime. — Carol ri e segura outra torta, em
minha direção. — Dê uma chance.
Eu balancei a minha cabeça. — Não.
— Ah, vamos, Luca.
— Caroline, não me teste.
Ela começa a rir mais, sem me levar a sério. — Ooh, estou com medo.
De repente, Carol mergulha o dedo na torta e me atinge. Eu viro meu
rosto rapidamente e seu dedo, cheio de recheio de limão, se esfrega no
meu rosto.
Caroline salta para trás e cobre a boca, tentando suprimir o riso. — Eu
sinto muitíssimo.
Ela definitivamente não sente.
— Eu te avisei, — eu digo, meu tom sério, e posso ver que seu sorriso
desaparece, não achando mais o momento engraçado.
— Luca...
— Você quer que eu coma? — Eu pergunto a ela, levantando uma
sobrancelha e mergulhando meu dedo no recheio de limão.
Carol balança a cabeça e fala baixinho. — Não... eu não queria te
chatear.
Dou um passo em sua direção, me mantendo em silêncio enquanto
meus olhos permanecem focados nos dela de uma forma intimidante. Eu
movo meu dedo indicador para a sua boca e seus lábios se separam
lentamente.
Em vez de colocar o limão em sua boca, eu deslizo meu dedo pela sua
bochecha, pelo queixo e paro na nuca. Ainda assim, a Carol permanece
em silêncio. Eu coloco uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.
Antes que eu fique muito preso em olhar para ela, eu movo meus
lábios em seu pescoço e lentamente deslizo a minha língua contra sua
pele, levando o limão à minha boca.
É nojento. Eu odeio o gosto, mas tudo o que eu pudesse fazer para
colocar meus lábios no corpo de Caroline era meu único pensamento no
momento.
Uma vez que o recheio de limão desaparece da minha boca, eu beijo
seu pescoço suavemente antes de mover meu rosto para ela e notar seu
peito arfando em minha visão periférica.
— Ainda odeio, — sussurro, mantendo meus olhos nos dela, — mas
valeu a pena, eu acho.
Percebo que ela engole em seco e luta para encontrar as palavras. —
Eu uh... você... hum...
Sem perceber, eu dou um passo para trás e passo meus dedos pelo
meu cabelo escuro. — Eu tenho uma coisa de trabalho... Eu te ligo mais
tarde. OK?
— O-Oh... sim. Claro. Certo.
Ela está tão nervosa que não posso deixar de sorrir. Para a minha
alegria, dou um beijo rápido na bochecha dela antes de abrir a porta e
entrar no banco do passageiro.
Assim que giro a chave, abro a janela e olho para Carol. — E por sinal,
não me ignore de novo.
— Eu não vou te ignorar. — Carol balança a cabeça rapidamente.
Eu pisquei para ela. — Boa garota.
A minha garota. Eu tomei essa decisão. Quer ela saiba ou não, a
Caroline é minha.
Capítulo 20
LUCA

Eu entro na casa dos meus pais com a Caroline em mente, em mais de


uma maneira.
Não importa o quanto eu tente, não consigo tirar aquela garota da
minha cabeça, mas a parte mais confusa é que eu não me importo com
isso. Eu simplesmente gosto de pensar nela.
O canto dos pássaros na minha cabeça parece desaparecer assim que
entro em casa.
Ariella está gritando como de costume e, quando viro a esquina da
sala de estar, a vejo de joelhos, chorando na frente do nosso pai.
— Acalme-se, Ari. Toda a vizinhança vai te ouvir. — Eu rio antes de
me sentar no sofá. — O que poderia estar te incomodando tanto a ponto
de você chorar como uma vadia?
Quando ela olha para mim, o rímel manchando suas bochechas, eu sei
imediatamente que ela soube da morte do Jeremy. Demorou alguns dias,
mas a Ari mora em uma cidade completamente diferente da dele.
— Você..., — diz ela com a voz trêmula, — você fez isso!
Eu rolo meus olhos. — Por favor, cale a boca. Eu realmente não quero
lidar com a sua TPM hoje. Você vai ter que ser mais clara sobre o que está
me acusando.
— Você matou o Jeremy... — Quando ela diz isso, sua voz está trêmula
e ela começa a soluçar novamente. — Foi você, não foi?
— Assassinato é uma grande acusação, — digo em um tom sério e
monótono. — Sugiro que você se sente, pegue um pouco de água e talvez
possamos conversar sobre isso.
De repente, a Ariella se levanta e corre em minha direção com as
garras para fora, como se fosse a porra de um animal. Sua mão se levanta
e quando ela tenta me dar um tapa, eu agarro seu pulso e o torço,
fazendo-a gritar de dor.
— Luca, — diz meu pai em um tom severo, sentado na
espreguiçadeira. Enquanto ele toma um gole de seu café, ele estreita os
olhos para mim com calma. — Solte a sua irmã, ela já suportou muita dor
por hoje.
Eu ignoro meu pai, dobrando o pulso de Ariella para trás até que ouço
um estalo. Eu a soltei com um empurrão no chão. — Tente me bater de
novo e seu pulso será a menor de suas preocupações. — Meu pai esfrega
o rosto e geme enquanto Ariella chora no chão. Parece que ela está
perdendo o fôlego enquanto segura o pulso.
Eu olho para meu pai, apontando para Ariella. — Da próxima vez que
você me mandar fazer o seu trabalho sujo, tente manter a Ariella na
linha.
De repente, Ari levanta a cabeça e olha para meu pai, com os olhos
marejados, enquanto ela olha para ele em estado de choque. - Você
ordenou que Luca matasse o Jeremy? Papai... Você sabe que eu o amo...
— Sim, — admite o pai. Assim como eu, ele não deixa que as emoções
o afetem. — Eu te avisei, Ariella.
Eu te contei sobre o acordo com a família Petrov e você não estava
dando ouvidos às orientações.
— Eu não sou uma marionete! — Ela levanta a voz para o nosso pai,
levantando-se e segurando o pulso contra o peito enquanto caminha em
direção a ele.
— Não quero o Alexei Petrov e certamente não quero nada a ver com
essa família! O Jeremy era inocente. Não foi culpa dele!
Quando meu pai se levanta da cadeira, ele se eleva sobre Ariella, seus
olhos escuros estreitando-se para ela enquanto ele responde
descuidadamente.
— É por isso que não permitimos que pessoas normais entrem nas
nossas vidas. Eles morrem ou desejam estar mortos. Não há meio-termo.
Ele não estava errado. Em meus 21 anos de vida, eu tinha visto várias
pessoas em nossa família da Máfia tentando namorar pessoas normais.
Isso nunca funciona e muitas vezes se toma a sua fraqueza.
Ter uma fraqueza nesse ramo de trabalho nunca é uma coisa boa. No
mínimo, coloca um alvo nas suas costas.
*
— Sofia, eu vou ter que cancelar o jantar, — eu digo para o telefone
enquanto ando ao redor do meu quarto para pegar uma roupa adequada.
Eu ouço Sofia suspirar ao telefone. — Por quê?
— Vou para fora da cidade a negócios, — minto.
— Quer dizer, eu entendo, mas eu realmente esperava ver você. Você
nunca mais aparece, Luca. Não que você aparecesse muito antes, de
qualquer maneira.
Preciso me esforçar muito para não dizer a ela que eu não volto
porque não gosto dela.
Não deveria ser um choque, pois sempre fui extremamente honesto
com ela. Não há nada entre nós. Nada.
Ela continua a falar após um breve silêncio. — Meu aniversário é
daqui um mês, o que significa que o nosso casamento está próximo. Eu
estava pensando na semana após o meu aniversário, nós podemos...
Eu encerro a ligação com ela no meio da frase e reviro os olhos. Como
ela pode não entender? Não gosto que me digam como a minha vida vai
ser, nem gosto que me digam o que fazer.
Por alguma razão, cada vez que falo com a Sofia, ela acha que eu vou
mudar de ideia. Alerta de spoiler: eu nunca vou mudar de ideia.
Meu telefone toca e não posso evitar o sorriso que surge em meus
lábios quando vejo o nome de Carol.
— Caroline, olá, — eu digo enquanto respondo.
— Você me conhece há tempo suficiente para saber que não gosto de
ser chamada de Caroline, — ela argumenta.
Atrevida. Eu gosto disso.
Eu ri. — Gosto de chamar você de Caroline, então parece que temos
um problema aqui.
— Discutiremos sobre isso mais tarde. Agora, eu só quero falar sobre o
que aconteceu antes. — Sua voz fica mais suave e posso ouvir a incerteza.
Sei exatamente do que ela está falando, mas isso não significa que não
a farei dizer. — O quê?
Caroline fica irritada comigo. — Ah, vamos, Luca. Você lambeu o meu
pescoço!
Acenando para mim mesmo, concordo com ela e tento ignorar o quão
ridícula ela parece. — Sobre isso, o sabor de limão estava realmente
estranho. Estou longe de estar impressionado.
— Bem, você também beijou o meu pescoço, se quiser reconhecer. A
menos que esse seja só um jogo para você?
Sua atitude me intriga e, quando me sento na beira da cama, coço a
barba por fazer no queixo. — Nenhum jogo. Estou ofendido por você
pensar isso.
— Meu pescoço, Luca... Foi divertido, me pegou desprevenida e...
— Da próxima vez irei para os seus lábios. Sem brincadeiras, esse é o
problema? — Em parte estou brincando com ela, mas também estou
forjando uma maneira de levá-la onde a quero.
Assim que decidi que queria cada centímetro de Caroline, já era.
Passei as últimas horas pensando em como posso tê-la.
Ela está em silêncio ao telefone e eu sorrio, sabendo muito bem que a
deixei nervosa. Gosto de receber essa reação das mulheres, mas a Carol é
um caso especial porque ela não é fácil de impressionar.
— Tenha uma boa noite, Caroline. A gente conversa amanhã.
Capítulo 21
CAROL

Luca tinha algo sobre ele que me fazia pensar nele o tempo todo. Não
tenho certeza se isso é bom ou ruim.
De qualquer forma, sei que estou completamente cativada pelo Luca e
não tenho controle algum.
Foi ontem que ele aparentemente deu em cima de mim, mas não
tenho ideia se estou interpretando mal as coisas.
Estou nervosa sobre a próxima vez que o vir porque nunca sei o que
esperar dele. É emocionante e assustador.
Eu me pego verificando o meu telefone constantemente, esperando
que ele envie uma mensagem de texto ou ligue.
Depois de horas, percebo que estou sendo ridícula. Eu estava
planejando convidá-lo para ir ao shopping comigo para distribuir
currículos, mas talvez ele se arrependa de ter feito o que fez. Talvez ele
esteja preocupado que eu esteja pensando nele demais.
O que eu não estou, por falar nisso.
*
Já passa das oito quando decido visitar a Josie em seu segundo, mas
agora principal, trabalho.
Sei que ela mencionou me arranjar um emprego, mas, ao mesmo
tempo, não tenho certeza de como me sinto sobre dançar ou mesmo
mostrar o meu corpo para alguém de forma inadequada.
Mas preciso do dinheiro.
Só que também preciso da minha dignidade e amor próprio.
O que eu preciso mais? Eu não faço ideia. Tudo o que sei é que ser
uma stripper não tem nada a ver comigo. Fisicamente e visualmente, não
sou assim.
Decido ver o que o trabalho de Josie tem a oferecer. Talvez não seja
tão ruim quanto estou supondo. Ela me disse que havia muita liberdade e
uma escolha sobre o que fazer.
Assim que passo pelas portas do clube de strip, vejo a Khadijah. Ela
está tirando dinheiro de um cara aleatório e colocando em seu sutiã.
Que porra é essa...
Quando ela me nota ali, ela sorri e acena para mim. — Carol! Venha
conhecer o Glen. Ele é o dono.
OK. Então, talvez ela estivesse recebendo o seu salário. Só posso
especular.
Eu ando até a Khadijah e o Glen, dando a ele um pequeno sorriso. —
Prazer em te conhecer.
— Essa é a garota de quem a Josie estava falando? — ele pergunta a
Khadijah e ela concorda. De repente, seus olhos varrem o meu corpo e eu
me sinto violada. — Vejo potencial.
— Oh, eu não estou aqui para isso. Acabei de ver como tudo funciona.
Talvez você até tenha um emprego para alguém que não quer mostrar o
corpo, tipo uma garçonete?
— A menos que você vá tirar a roupa de garçonete na frente de todo
mundo, então não. — Glen ri e olha para Khadijah, esperando que ela ria
de sua piada, mas ela apenas sorri.
— Escute, garota. Acho que você poderia fazer coisas realmente boas
aqui. Vou te dar duzentos e cinquenta dólares para fazer um teste.
Apenas uma música. Tenho certeza de que você ganhará pelo menos o
dobro.
A minha sobrancelha levanta e eu gaguejo, — Isso é muita pressão.
— Você consegue, Carol! — Khadijah diz, em apoio. — Venha comigo
e nós vamos conseguir para você uma roupa bonita. A Jo está no palco
agora, mas ela vai ficar muito animada ao saber que você está tentando.
— Oh, mas eu... — Khadijah me puxa, e a próxima coisa que eu sei é
que estamos no vestiário dos fundos com cerca de vinte outras garotas.
Algumas estavam vestidas com esmero, outras permaneceram mais
básicas, mas todas eram mulheres deslumbrantes. Mulheres pelas quais
os homens pagariam só para olhar; mulheres com as quais eu nunca
poderia competir no departamento de beleza.
Khadijah vai até uma das garotas e sussurra alguma coisa, a garota me
olha e sorri. — Olá docinho. Eu sou a Felicia, vamos fazer alguma coisa
com esse seu cabelo.
Toco meu cabelo e olho para Khadijah em busca de ajuda. Ela apenas
sorri e me garante que a Felicia é maravilhosa. — Confie em mim. Você
está em boas mãos.
Eu realmente espero que sim. Eu também realmente espero não ter
cometido um grande erro por estar aqui.
Felicia leva cerca de dez minutos para arrumar o meu cabelo. Ela o
endireita como uma profissional e coloca uma extensão de cabelo que
combina surpreendentemente bem com meu cabelo castanho.
— Você é uma garota bem gostosinha, — comenta Felicia, o que me
faz ficar em silêncio. Ela ri. — Não sou lésbica, só acredito em mulheres
se elogiando, não se destruindo.
— Bem, obrigada, — digo.
Eu me olho no espelho, tentando descobrir como me sinto sobre mim
mesma. E esse tipo de pessoa que eu quero ser? E realmente tão ruim
quanto estou pensando?
— Não é nada demais, — diz Felicia, como se estivesse lendo meus
pensamentos. — Você vai lá fora vestindo o que quiser das prateleiras e
só faz o que achar confortável.
— Dê uma olhada nas roupas e encontre algo que combine com a sua
pele.
Minha mente continua me lembrando que isso me deixaria duzentos
e cinquenta dólares mais perto de me afastar do meu pai, do abuso e dos
laços que tenho com ele.
Isso é algo que eu preciso e talvez se não for tão ruim quanto eu
esperava, poderia me ajudar a chegar mais rápido ao meu objetivo.
Eu me contento com algo que cubra meu corpo tanto quanto possível;
um vestido verde brilhante que cai um pouco abaixo da minha bunda.
Por baixo, estou usando lingerie verde, algo que a Felicia sugeriu, caso
eu decida dar uma chance ao strip-tease. Eu duvido. Eu mal estou
confortável o suficiente com a ideia de dançar.
Ouço um aplauso lento e vejo Glen. Ele é um canalha, honestamente;
sempre espreitando nos cantos e flertando com garotas muito mais
novas que ele. Isso me irrita.
— Agora sim, isso é sexy. — Ele aponta para o que estou vestindo. —
Você tem potencial para ser uma das minhas melhores garotas.
— Suas garotas? — Eu pergunto. — Tenho certeza de que é mais
gratificante se as mulheres puderem ser elas mesmas. Todas estão
fazendo isso por si mesmas, pela independência financeira. Pelo menos é
o que estou tentando fazer.
Glen ri e caminha em minha direção. — Toda garota aqui sabe muito
bem que elas são minhas. Não que eu as possua, mas sou o chefe delas e
elas são as minhas garotas. Nada é sempre tão complexo quanto você
pensa, Carol.
Isso é verdade. Estou tão acostumada a ter que manter a minha
guarda alta e precisar me proteger.
— Eu sinto muito...
— Não se preocupe com isso. Você é a próxima, respire fundo e saia,
fazendo apenas o que você se sente confortável em fazer.
Eu aceno a minha cabeça e sorrio um pouco. — OK. Obrigada...
Agradeço a oportunidade.
Glen pisca para mim antes de sair da sala. As outras garotas estão
muito distraídas com seus cabelos e maquiagem para olharem na minha
direção, então vou para os bastidores sozinha.
Não tenho ideia para onde a Khadijah foi e ainda não vi a Josie, mas
estou totalmente preparada para fugir, se for necessário.
Quando estou ao pé da escada, ouço a música parar alguns instantes
antes de Glen pegar o microfone.
— Temos uma nova garota com muito potencial. Todos deem uma
salva de palmas e a convençam de que esse é um ótimo lugar para ganhar
algum dinheiro!
Eu ouço o público gritar e eu percebo quantas pessoas estão lá fora.
Muitas. No que eu me meti?
A música recomeça, desta vez é uma canção da Rihanna; uma música
antiga que provavelmente ninguém ouve mais.
O segurança me conduz escada acima. — Essa é a sua deixa. Boa sorte!
Eu fecho meus olhos por um breve momento para respirar fundo
antes de sair de trás da cortina. O público é afetuoso e aplaude, mas
provavelmente apenas porque o Glen disse para fazerem isso As luzes são
fortes a ponto de eu ter dificuldade em ver o público, o que
provavelmente é o melhor.
Não parece funcionar porque eu congelo. Eu não posso fazer isso, não
sou eu.
Não apenas porque tenho medo do palco, mas também porque não
estou bem com um bando de homens olhando para o meu corpo, esteja
eu vestindo roupas ou não.
Essa não sou eu.
— Que porra é essa?
Meus olhos se arregalam e eu aperto meus olhos na direção da voz.
Assim que a luz para de me cegar, vejo Luca de pé com um olhar irritado
e impressionado.
Ah, não.
Capítulo 22
LUCA

Como ela ousa? Como ousava Caroline ficar na frente de uma


multidão para mostrar seu corpo de maneiras que só eu deveria ver? E
uma vergonha e eu não vou tolerar isso. É nojento e não tem nada a ver
com dela.
Eu corro em direção ao palco e pulo em um movimento rápido.
Enquanto corro em direção a Caroline, tiro a minha jaqueta e a envolvo
em seu corpo rapidamente.
Murmurando baixinho, eu envolvo meus braços em tomo dela para
manter a jaqueta enquanto a conduzo para fora do palco.
Assim que alcançamos a parte de trás, eu a solto e olho para ela com
completa confusão e decepção. Ela é melhor do que isso, é por isso que
tenho tanto carinho por ela.
— Isso é... tão embaraçoso, Luca, — ela diz suavemente.
Eu bufo. — É mesmo. É humilhante e nojento da sua parte ficar de pé
ali como uma... vagabunda.
— Como é que é? — Ela parece surpresa com o meu comentário, mas
não tenho certeza de por que é tão difícil para ela ver que estava agindo
como uma vagabunda ao subir naquele palco.
Estou envergonhado por ela e por mim. Por algum motivo eu sinto
que é minha responsabilidade cuidar dela.
Eu não tinha ideia de como essa garota poderia ficar tão fora de
controle, mas sei que se eu me apegasse a ela, não ficaria bem se ela
fizesse essas coisas. Isso me irrita o suficiente, mas eu sei que ela não é
totalmente minha.
Tenho vontade de agarrá-la pelo pescoço e ameaçá-la para nunca mais
agir assim. Eu quero machucá-la pelo seu comportamento, mas a única
dor que uso são as das minhas palavras.
— Você está agindo como um animal selvagem, — murmuro baixinho.
— Você está louco? Eu nem fiz nada! Eu apenas fiquei lá parada, Luca.
Você não tem o direito de ficar envergonhado ou enojado por mim. E
você não pode me chamar de vagabunda porque eu não sou!
Ela levanta a voz para mim e eu sinto a minha pressão arterial
subindo. Eu seguro meu dedo para silenciá-la e estreito meus olhos.
— Eu tenho o direito de chamar você de vagabunda porque você é
claramente muito infantil para pensar por si mesma. Você não tem amor
próprio? Como você espera que qualquer homem a queira quando você
está se prostituindo?
— Eu não me importo se os homens me querem para começo de
conversa. Eu não vivo a minha vida para agradar a ninguém e isso inclui
você, Luca!
Sua raiva me emociona. Sempre soube que ela tinha um lado picante,
mas está se tomando emocionante vê-la com essa mentalidade.
— Eu tenho amor próprio. Muito, é por isso que estou usando um
vestido. Às vezes, você precisa escolher entre amor próprio e
sobrevivência.
— Sou eu tentando sobreviver, então vá se ferrar por me fazer sentir
menos humana por causa disso. — Posso sentir a pele sob meu olho
estremecendo. Essa mulher está me levando à beira da insanidade e estou
pronto para explodir.
Eu mantenho meus olhos sobre ela antes de apontar a minha cabeça
em direção ao vestiário. — Vai se vestir. Eu vou te levar para casa.
Carol ri e balança a cabeça. — Não, você não vai. Posso ir para casa
sozinha, obrigada. — Ela corre para o vestiário e eu rolo meus olhos para
mim mesmo.
Essa garota pode ser tão estúpida. Claro, não vou deixá-la aqui com
centenas de homens pervertidos. Quer ela goste ou não, vou levá-la para
casa. Mesmo se eu tiver que amarrá-la.
Espero cerca de vinte minutos antes da Carol sair da sala dos fundos e
passar por mim. Eu chego perto dela e agarro o seu pulso rapidamente.
— Acho que não.
— Luca. Solte, — ela me avisa.
Estou tremendo. Não temo nada, muito menos uma garota pequena
que parece mais fofa do que ameaçadora quando está com raiva.
Eu começo a puxá-la em direção à saída dos fundos, balançando a
cabeça enquanto empurro a porta.
— Por que você quer fazer isso? Você é melhor do que isso, Caroline.
Você é muito melhor do que ter velhos sebosos olhando para você. O que
diabos você quer dizer com precisar sobreviver?
— Você não entende, — ela responde, mais suave do que eu esperava,
considerando a discussão que estamos tendo, e fico surpresa quando ela
me permite puxá-la em direção ao meu carro.
— Não posso mais morar com o meu pai. É insuportável e agora que a
lanchonete pegou fogo... Não tenho nenhuma fonte de renda e estou
ferrada.
Meu aperto afrouxa. Estou ficando preocupado com a Caroline e para
onde essa conversa está indo.
Por que ela insiste tanto em se afastar daquele pai desgraçado dela? Eu
sei que ele é um pedaço de merda, mas o que ele fez para que a doce e
pequena Caroline quisesse escapar?
Não gosto que ela sinta a necessidade de fugir ou se proteger
ganhando dinheiro da maneira que tentou essa noite.
— Do que você está fugindo? — Eu pergunto a ela.
Ela apenas balança a cabeça. — Eu não quero falar sobre isso.
Eu decido não pressioná-la. Ela já parece perturbada o suficiente e
pressionar só vai piorar as coisas. Não é como se ela fosse realmente me
responder, de qualquer maneira.
Olho para ela aninhada em minha jaqueta, que é muito maior do que
ela, e gosto do fato de que, embora ela tenha trocado de roupa, ela
manteve a minha jaqueta.
Ela está com frio e a jaqueta está aquecendo-a.
Ela está me aquecendo de maneiras que eu nunca pensei ser possível,
mas eu me importo com essa garota. Algo sobre ela me atrai e eu gostava
de estar perto dela. De tocá-la.
Eu levanto a minha mão e descanso a palma em sua bochecha,
passando meu polegar levemente contra a sua pele. — O que você fez
comigo, Caroline Harding?
— Eu não sei, — ela sussurra, seus olhos fixos nos meus e, embora ela
estivesse com raiva de mim dois minutos atrás, ela está confortada por
mim agora.
Pairando sobre ela, eu olho para seus lábios e anseio por saboreá-los.
Ela tem um gosto tão bom quanto parece? Aposto que sim.
Meus pensamentos ganham de mim e Caroline me surpreende
quando ela decide fazer o movimento antes que eu tenha a chance. Ela
rapidamente se inclina na ponta dos pés, envolvendo os braços em volta
do meu pescoço para puxar a minha cabeça para mais perto dela
enquanto pressiona seus lábios contra os meus.
Uma garota com coragem de dar o primeiro passo. Isso é tesudo, eu
admito.
A Caroline está mais interessada em mim do que parecia. A menina,
apavorada demais para se abrir, decidiu se abrir comigo, e agora que eu a
provei, não tenho certeza se posso seguir sem estar perto dela.
Eu pressiono suas costas contra o carro, beijando-a de forma mais
agressiva, desejando-a mais e mais. Meus dedos se enroscam no cabelo de
sua nuca, mantendo-a imóvel enquanto nos beijamos.
Sua boca se abre ligeiramente, permitindo o acesso da minha língua, e
enquanto gemo contra seus lábios, sei que se não parar agora, vou comer
ela aqui nesse estacionamento.
Enquanto me afasto, descanso a minha testa contra a dela e a única
coisa que posso dar a ela é um aviso.
— Nunca pense em mostrar o seu corpo de novo, ok? Não gosto de
outros homens vendo o que é meu.
— Seu? — Ela quase engasga com a palavra.
Eu não respondo. Em vez disso, abro a porta do passageiro e faço um
gesto para ela entrar. — Passe a noite comigo.
— Luca...
— Acabei de dar a entrada em um apartamento novo. Seremos apenas
eu e você... Não faremos nada que você não queira fazer. Eu prometo.
Minha promessa nunca valeu nada e eu nunca as levei a sério, mas
dizer isso agora é minha maneira de dar a Caroline a garantia de que ela
precisa entrar no carro e passar a noite comigo.
— OK.
Capítulo 23
LUCA

Ela está deslumbrante.


É de manhã e a Caroline está no banheiro em frente ao meu novo
quarto, se refrescando.
A porta está ligeiramente aberta, o que me dá uma visão dela lavando
o rosto com água quente. Cada vez que ela espirra água no rosto, seu
nariz se enruga e seus olhos se fecham.
Seu cabelo castanho parece rebelde pela manhã, muito diferente da
maneira como ela se apresenta durante a tarde ou no trabalho. Gosto de
ver esse lado autêntico dela.
Ela revira o pescoço e posso ouvir um pequeno estalo; isso não é nada
saudável. Ela deveria saber disso.
Caroline de repente se vira e abre a porta do banheiro enquanto eu
olho para longe e pego uma camisa limpa no meu armário. Para a minha
sorte, a adorável Juanita teve a gentileza de começar a trazer as minhas
coisas para cá.
Eu estive esperando que a garota fizesse dezoito anos para que eu
pudesse fazer tudo do meu jeito com ela, mas agora que a Carol está na
história, posso apenas manter como está, por enquanto.
— Você morou com os seus pais até agora? — ela pergunta quando
entra no quarto.
Eu apenas aceno em resposta e coloco uma camisa vermelha sobre a
minha cabeça, tentando algo diferente, aparentemente. A Juanita sabe
que só uso branco ou o preto. Nunca uso cores.
— É um lugar legal, Luca. Boa escolha.
— Eu gostaria de pensar que tenho bom gosto, — digo a ela com um
sorriso no rosto.
Meus olhos examinam rapidamente o seu corpo e uma parte de mim
está com raiva de mim mesmo por não ter dado um passo a mais com ela
na noite passada, quando ela estava na minha cama.
Eu poderia tê-la agarrado com um estalar de dedos, mas
estupidamente decidi ser nobre e não insistir.
A Caroline dormiu na minha cama enquanto eu insisti em ficar no
sofá. Sem nenhuma pegação. Em vez disso, conversamos por quase uma
hora antes de encerrar a noite e ir dormir.
Agora, estou me perguntando se eu deveria ter comido ela logo para
que eu pudesse tirar de mim esse desejo.
Quanto mais tempo passo com ela, mais sinto a necessidade de
protegê-la, e isso não é uma coisa boa. Eu devia apenas me preocupar
comigo e com mais ninguém. Esse é um jogo perigoso de se jogar.
— Sobre a noite passada, — Carol começa, e posso ver o
constrangimento em seu rosto. Eu não a impedi; ela deveria perceber que
estava sendo imprudente.
— Eu não sou esse tipo de garota, ok? Eu só... estou sobrecarregada e
querendo sair da casa dos meus pais, eu fui estúpida. Tentei encontrar
uma saída rápida, mas isso ia custar a minha dignidade.
— Bem, pelo menos você sabe o quão estúpida você estava sendo, —
eu digo a ela antes de me inclinar contra a cômoda e cruzar os braços
sobre o peito. — Por que você quer sair da casa dois seus pais? — Ela
balança a cabeça e olha para baixo. — Eu já disse que não quero falar
sobre isso.
— Você pode me dizer ou eu posso descobrir por conta própria, Carol.
Sou um homem com muitas conexões. O dinheiro não é um problema.
Se eu quisesse, poderia facilmente contratar alguém para vasculhar a sua
vida.
Algo que já fiz, mas não tive a sorte de descobrir por que existe esse
problema entre ela e o seu pai, mas vou saber em breve.
Ela balança a cabeça e percebo que ela revira os olhos. Pirralha.
— Eu odeio isso em você, sentir que você merece saber tudo sobre
mim ou você apenas jogará dinheiro e descobrirá coisas que não são da
sua conta.
Eu encolho meus ombros com indiferença. — Eu te dei uma escolha.
Você mesma poderia me dizer.
— Por que você quer saber? — Sua voz atinge um tom mais alto e eu
sei que ela está chateada comigo, mas eu não me importo.
— Meu pai me bate, ok? E isso que você queria ouvir? Tenho medo de
ir para casa porque o homem que eu pensava ser o meu pai realmente
não é e agora ele me odeia.
Então, aí está, Luca. Não quero mais ser um saco de pancadas, por isso
eu quero ir embora.
Aquele filho da puta.
Eu fico olhando para Carol. A minha expressão pode parecer sem
emoção, mas na verdade eu só fui pego de surpresa por essa informação.
Como meu detetive particular não sabia disso? Como o seu pai
poderia bater nela e pensar que iria se safar? Ele não vai, vou me certificar
disso. Eu mesmo vou me livrar dele.
Ela está tremendo e eu noto que está segurando as lágrimas, porque
ela não quer chorar na minha frente.
Ela morde o lábio e desvia o olhar de mim antes de falar em um tom
trêmulo. — Eu estou indo embora.
Carol se vira e se dirige para a porta do meu quarto, mas eu a impeço,
agarrando seu pulso e puxando-a de volta para mim.
Seu peito colide com o meu e eu envolvo meus braços em volta de
suas costas, descansando meu queixo no topo de sua cabeça enquanto a
abraço. — Eu não vou deixar ele te machucar de novo.
— Você não pode evitar, — ela murmura contra o meu peito, sem
tentar se afastar de mim, mas em vez disso se aconchega mais.
Isso é estranho, estar aqui em um quarto quase vazio, apenas
abraçados. Parecemos Psicopatas, mas se é isso que a consola, é o que vai
acontecer.
Essa garota boba acha que eu não posso impedir o pai dela? Além de
tudo, eu tenho um casamento forçado vindo na minha direção e eu
preciso de um saco de pancadas para descontar a raiva. Seu pai será
apenas isso; meu saco de pancadas.
Eu sorrio para mim mesmo, olhando para longe enquanto penso em
colocar as minhas mãos no pai dela e assistir o último suspiro deixar o
seu corpo. — Não se precipite em me subestimar, Caroline.
É isso que ela está fazendo e, em breve, provarei a ela que ninguém me
fode.
Capítulo 24
LUCA

— Juanita, — eu digo enquanto observo a pequena garota na minha


frente, lavando os pratos na pia. — Onde está o meu pai?
Ela pula, assustada com o som da minha voz, e quando ela se vira para
olhar para mim, posso ver seu peito arfando. — Merda. Eu, uh... não,
Luca, senhor. Eu não sei, quero dizer.
Juanita sempre agia de um jeito desastroso, principalmente perto de
mim. Eu apenas sorrio; um sorriso forçado. Ela sabe; claro, que ela sabe.
Mas a sua lealdade está com o meu pai, o chefe dela. A lealdade de todos
está com o meu pai.
— Vamos, querida.
— Eu não sei, de verdade.
— Eu não acredito em você, — digo a ela, dando um passo mais perto
e notando que ela fica tensa. — Não fique toda nervosa. Só quero que
você me olhe nos olhos e diga que não sabe onde o meu pai está.
Eu me inclino até a altura dela, forçando-a a olhar para mim e seus
olhos lacrimejantes já me dão a minha resposta, mas, novamente, ela se
recusa. — Eu não posso... sinto muito, mas seu pai é o-
'Seu chefe, sim, sim. '
Eu dou um passo para trás, irritado. Se fosse qualquer outra pessoa, eu
ameaçaria matá-la, mas a Juanita tem uma história com a nossa família e
eu não a odeio, particularmente.
Meus olhos olham para ela enquanto ela arruma a blusa. — Você
ainda tem dezesseis anos?
Sua sobrancelha levanta e ela acena com a cabeça.
— Faço dezessete em dois dias.
Isso é mais perto da idade legal. Eu aceno a minha cabeça. —
Dezessete é uma idade divertida. Seu último ano sendo imprudente e
irresponsável pela maioria das suas ações.
— Estou ansiosa para ter dezoito anos, — ela me diz, algo que
despertou meu interesse, de repente. — Faculdade e... festas.
— Uau, eu não teria pensado que você fosse uma festeira, — provoco,
e ela ri.
Ela é tão jovem e inocente, mas tão atraente. Ela não parece ter a
idade que tem e isso me engana sempre que me sinto atraído por ela.
— Eu estou ansioso para quando você completar dezoito anos,
também. Então você será uma adulta capaz de tomar as suas próprias
decisões e eu não terei que me preocupar em ir para a cadeia por
colocaras minhas mãos nesse seu corpo.
Minhas palavras fazem com que as bochechas de Juanita fiquem
vermelhas e ela fique nervosa, olhando para o chão. — Só porque tenho
menos de dezoito anos, não significa que não posso tomar as minhas
próprias decisões adultas.
Eu levanto as minhas sobrancelhas em diversão, impressionado com a
sua resposta. Ela claramente sabia para onde eu estava indo, e agora está
insinuando que também queria.
— Tenho certeza que você tem um namorado... alguém que te toca em
lugares que você adora ser tocada.
Eu me aproximo dela, empurrando as suas costas contra a parede
enquanto ela olha para mim. — Não... eu não... quero dizer, eu não...
Eu sinto que isso vai ser uma vitória. É claro que a Juanita é virgem e
eu amo as virgens. Na verdade, não amo, mas eu amo transar com elas.
Por que ela tem que me provocar dessa forma? É frustrante ser
proibido de fazer algo.
Mas desde quando eu me preocupo?
Tenho vontade de comer a Caroline desde que ela começou... Não, a
Juanita; não a Caroline.
A Juanita está na minha frente. A Juanita de dezesseis, quase dezessete
anos. A maçã venenosa que não posso comer, por causa da sua idade.
Bem, foda-se.
Eu coloco a minha mão lentamente em seu lábio, observando-a se
remexer abaixo de mim. — Não me diga que você é virgem... Você é linda
demais.
— Eu sou.
Eu inclino a minha cabeça para baixo e passo minha língua
lentamente contra seu pescoço antes de mordiscar a sua nuca.
Ela fica tensa e eu sei que está nervosa, o que toma isso ainda mais
divertido para mim. — Você tem certeza que quer fazer isso agora,
comigo?
De jeito nenhum vou suportar uma vadia correndo por aí, dizendo
que a estuprei.
Ela acena com a cabeça, e uma vez que chupo seu pescoço, posso ouvir
um gemido que desperta todos os sentidos na minha virilha.
— Bem quando eu pensei que você não poderia ser mais sexy,
Caroline. — ’Juanita, — ela me corrige. Ouço meu pai pigarreando e,
quando me afasto de Juanita, vejo meu pai cruzando os braços sobre o
peito e olhando em minha direção. — Você sabe que a Juanita é menor de
idade?
— Sim, senhor, — eu digo com um sorriso. — Mas ela me deu
consentimento.
— Consentimento uma ova! — meu pai grita antes de apontar para a
porta.
— Juanita. Fora. Sua avó é uma amiga muito próxima da família e eu
odiaria pensar que isso o que ela deseja para você; esse meu filho de
merda.
Sinto meu sangue ferver e, enquanto a Juanita se afasta da parede,
percebo que ela está chorando.
— Sr. Acerbi, sinto muito... não tive a intenção de desrespeitar você.
— Você está desrespeitando a si mesma, querida. Não a mim, — ele
responde a ela. — Estabeleça padrões mais elevados. Vá limpar a sala de
estar. Eu gostaria de falar com o meu filho.
— Sim, senhor. — Ela acena com a cabeça e sai correndo da sala,
enxugando o rosto enquanto desaparece da minha vista.
Claro, o meu pai tem que ser o empata foda.
Eu rolo meus olhos e miro em sua direção. — Você não precisa ser
amargo porque eu ainda sou jovem. Acho que recebo muitos
comentários positivos das mulheres.
— Obviamente, elas não conhecem a sua personalidade, — responde
meu pai.
Como se ele tivesse moral para falar isso, já que a sua personalidade é
tão azeda quanto a porra de um suco de limão.
Eu ando até a geladeira e pego uma garrafa de água, abrindo a tampa e
bebendo um pouco rapidamente, antes de caminhar para onde meu pai
está. — Sim, bem, você também não é um homem honesto, pai.
Passo por ele e, ao sair da sala, ele pergunta: — Quem é Caroline?
— Hein? — Me viro e franzo a testa em confusão.
— Ninguém. Eu não conheço nenhuma Caroline.
— Engraçado, porque você chamou a Juanita de Caroline. Me parece
um ato falho, — comenta. A expressão em seu rosto me permite saber o
que ele está pensando.
Antes que ele possa pensar demais, eu o interrompo. — Eu fiz sexo
com uma garota chamada Caroline ontem. Pode ser isso. E difícil decorar
todos os nomes. '
— Ah sim. Deve ser isso.
Eu fico lá por um momento, em silêncio, antes que meus pés
realmente ouçam o meu cérebro e saiam da sala.
Ele não acredita em mim.
Capítulo 25
LUCA

Mencionar o nome de Caroline enquanto meu pai estava à distância


de escuta me deixou paranoico.
Tenho certeza de que ele não acreditou que fosse um deslize, o que
me fez perceber ainda mais que eu poderia potencialmente ter colocado
a Caroline em perigo.
Se meu pai tiver alguma coisa contra mim, ele vai usar. E agora, a
Caroline é a única coisa com a qual ele poderia me destruir.
Aonde quer que eu vá, fico paranoico, achando que ele mandou
alguém me seguir. Eu olho, mas não parece haver ninguém por perto.
Agora, espero que ela saia de sua casa onde vive o monstro; aquele
homem patético que ela chama de pai, aquele abusador.
Já sei o que vou fazer com ele; vou matá-lo lenta e dolorosamente. Ele
colocou as mãos em Caroline; Eu não estou de boa com isso.
Vejo a porta da frente aberta e Caroline caminha em direção ao meu
carro. Ela está vestindo uma legging preta justa e um grande moletom
branco. É simples, mas ela está linda.
— Bom dia. — Eu sorrio quando ela abre a porta do passageiro e se
senta, pegando o cinto de segurança. — Como foi a noite?
Ela me olha com uma expressão cansada. — Exaustiva. Meus pais
discutiram a noite toda e eu mal dormi. Então, me desculpe se eu estiver
insuportável hoje.
— Já estou irritado, — brinco antes de começar a dirigir novamente.
— Podemos ir para a minha casa e você dorme enquanto eu faço comida.
Carol me dá um sorriso sonolento e acena com a cabeça. — E uma boa
ideia.
Eu começo a dirigir na direção do meu prédio. A viagem é tranquila e
relaxante, até o meu telefone tocar. Ele se conecta ao meu Bluetooth no
carro, notificando que estou recebendo uma ligação da Ariella.
Eu rolo meus olhos e recuso a chamada, o que faz a Carol ficar
curiosa. — Ariella? Não é o nome da sua irmã?
— Sim, — eu digo, sem interesse em continuar a conversa.
Carol tem outros planos, continuando a me questionar, como sempre.
— Você não deve ignorar a sua irmã. Vocês são próximos?
— Deixa eu explicar, querida. Eu não ficaria nem chateado se
recebesse hoje a notícia que ela está morta. — Eu rolo meus olhos e
aceno a minha mão para enfatizar meu desinteresse nesta conversa.
— Não vamos mais falar sobre a minha irmã mimada. Se eu quisesse
falar sobre ela, teria atendido o telefone, né?
Carol revira os olhos, ela nunca tinha medo de expressar as suas
opiniões em relação a mim, seja algo bom ou ruim. — Você que sabe. Vá
em frente e seja todo esquivo, mesmo.
Eu não sou esquivo, estuou apenas sendo honesto. Por alguma razão,
essa garota me vê como um cara instável, quando a última coisa que faço
é ficar de mau humor por coisas que não me importam. A minha
personalidade é indiferente, até descuidada.
Assim que chego ao meu prédio, estaciono o carro na vaga e saio.
Tranco a porta assim que Carol sai e começo a andar em direção à porta,
ouvindo a Carol saltando atrás de mim.
Assim que ela me alcança, sua mão se estende e toca a minha. A
próxima coisa que sei é que ela está segurando a minha mão e eu reajo
rapidamente, puxando-a para longe.
'O que você está fazendo? — Eu pergunto a ela.
Ela parece confusa com a minha reação, mas foi ela quem tocou na
minha mão. - Eu... não sei, Luca. Eu só pensei que as coisas estavam indo
em uma direção diferente entre nós...
— Sim, mas por que você agarrou a minha mão?
— Para segurar a sua mão, oras, — ela responde.
Eu olho para a minha mão, franzindo a testa, antes de olhar para
Carol. — Por quê?
— Não sei, Luca. É bom segurar a mão de alguém, é reconfortante. —
Carol dá de ombros e se vira para se afastar de mim, mas eu a agarro pelo
pulso e a viro para olhar para mim novamente. — Com licença.
— Você está bem? Você precisa ser confortada?
Sua testa franze e ela parece completamente confusa.
- Não, Luca... você está bem? Você não entende nada. Eu gosto de
você, então queria segurar a sua mão. É simples, nada demais.
Eu não saio de onde estou, surpreso com as palavras de Carol, mas
também contente. Ainda não explica por que ela queria a minha mão,
mas tudo bem.
Meus olhos se estreitam em sua direção. — Então, você só quer
segurar a minha mão porque gosta de mim? Você é uma garota estranha,
Caroline Harding.
— Diz o cara que está confuso sobre dar as mãos, — ela diz de volta
para mim.
Nunca experimentei afeto por meio do toque, especialmente de mãos
dadas.
A última vez que segurei a mão de alguém por motivos de segurança
ou amor, foi quando minha mãe segurava a minha mão enquanto
atravessava a rua, quando eu era criança.
Com as mulheres na minha vida, segurar as mãos nunca foi uma coisa
comum. Parece estranho.
Eu sinto que o mundo é um lugar estranho para mim. Não conheço as
maneiras normais de reagir às coisas. Não entendo o que é e o que não é
considerado normal.
Mas tocar não é. Você não toca em alguém sem motivo. O toque só
acontece se você está fazendo sexo ou matando alguém.
Mas aqui está a Carol, parada na minha frente e tentando não rir,
sendo tão paciente. Ela sabe que sou um idiota que não entende as
coisas, mas por algum motivo, espera.
— Podemos entrar? — ela me pergunta. — Está ficando frio.
Ela junta as mãos e eu a alcanço, pegando suas mãos e levando-as aos
lábios. Eu sopro um pouco do meu hálito quente sobre elas antes de
beijar seus dedos suavemente e puxá-la para perto de mim.
— Você é uma mulher e tanto.
Ela levanta uma sobrancelha e ri. — O que você quer dizer?
— Você começou como uma garota me servindo o café da manhã em
uma lanchonete e agora... Eu não consigo ficar longe de você. Eu deveria,
no entanto. Não sou bom para você e só trarei coisas ruins para a sua
vida, Caroline.
Eu respiro fundo, sabendo que quanto mais eu fico perto dela, mais
vou machucá-la no final. — Eu sou uma péssima ideia.
— Cale a boca, — ela brinca. Ela ainda tem um sorriso no rosto, mas
ele desaparece quando ela vê que estou falando sério.
— Luca, você não tem ideia do tipo de coisa que já vivi aí. Você é
praticamente um anjo em comparação com o meu ex. Ele era horrível.
Ela acabou de me chamar de anjo? A ironia é risível, mas isso não é
assunto para risos.
— Você precisa de felicidade, você merece isso... Você realmente acha
que eu sou o tipo de cara-
— Uau, calma aí. Ninguém está dizendo nada sobre você me fazer
feliz. Por que temos que olhar tão longe? Por que não podemos
simplesmente viver o agora e nos preocupar com o futuro mais tarde?
Caroline parece estar levando a conversa muito a sério, mas não
entende que estou tentando protegê-la do meu mundo, do meu pai, de
tudo que me cerca.
Quanto mais tempo ela estiver perto de mim, pior será o resultado.
— Gosto de você. Não estou dizendo que vamos nos apaixonar nem
nada, mas gosto de você e, por enquanto, não deveria ser só isso o que
importa?
— Isso é o que importa. — Eu aceno com a cabeça, brincando com
seus dedos enquanto olho para as nossas mãos. O que essa garota está
fazendo comigo?
— Eu não quero machucar você, Caroline. Por muito tempo evitei
qualquer conexão emocional com mulheres, mas daí você entrou na
minha vida como uma bomba.
Caroline ri, gostando da metáfora. — Não vamos ficar presos a todas
as coisas futuras.
— Nesse momento, agora, com todo o resto fora de sua cabeça; O que
você quer fazer? Você quer ir embora e nunca mais falar comigo?
— O que eu quero fazer agora... — Eu ri levemente, balançando a
minha cabeça e observando suas feições. — Eu quero levar você lá para
cima, te jogar na cama e te foder até que você implore por mais e mais.
— Oh. — Eu posso ver seu rosto ficando vermelho com o meu
comentário. Ela está corando. Posso ser bastante charmoso quando
quero.
Eu coloco a minha mão em seu rosto, escovando meu polegar contra a
sua bochecha. — Vou me contentar com um beijo.
Caroline sorri para mim e acena com a cabeça, inclinando-se na ponta
dos pés e pressionando seus lábios contra os meus.
Eu descanso a minha mão em sua bunda, dando um aperto suave
enquanto movo meus lábios contra ela, de forma agressiva. Não posso ser
gentil com beijos, especialmente quando quero tanto a garota.
Ela parece gostar da agressividade do beijo. Quando ela começa a me
beijar de volta com a mesma força, acho mais difícil resistir a ela, me
afastando e descansando a minha testa contra a dela.
Como posso protegê-la agora que ela já está comigo há algum tempo?
Eu preciso mantê-la segura, mas conhecendo as pessoas que me cercam
sei que isso é quase impossível.
Capítulo 26
CAROL

Luca me avisou que ele não era um cara bom, mas quando estou perto
dele, não posso deixar de sentir que ele pode ser a melhor coisa que já me
aconteceu.
Ele me dá uma sensação de segurança que eu nunca tive antes e é bom
me sentir protegida, mesmo que seja por um idiota sem emoção.
Sinto que sei tudo o que preciso saber sobre o Luca Marchesi. Eu sei
que ele é um idiota, ele é impulsivo e rude, mas também sei que ele é
gentil com as pessoas de quem gosta.
Não com a sua irmã, claramente, mas comigo sim. Ele se preocupa
comigo e eu posso ver isso. Quando expresso a minha dor, ele mostra
preocupação genuína e percebo que não é um idiota completo.
Passei a noite na cama de Luca, com ele. Sem sexo. Não é o momento
certo, e Luca e eu somos apenas amigos por enquanto.
Eu só transei com namorados sérios e, mesmo que pareça clichê,
escolho ter intimidade apenas com pessoas que conheço bem o suficiente
para me entregar.
Só houve dois caras até agora na minha vida. Meu primeiro
namorado, do colégio; um relacionamento que terminou com ele se
mudando para a Austrália, para estudar.
E depois teve o Brett, meu namorado mais sério, que se transformou
em um relacionamento tóxico e terminou com uma ordem judicial de
afastamento e ele sendo preso por quase me matar.
Mas agora eu estou bem. Isso foi há mais de um ano, e eu jurei a mim
mesma que nunca mais teria outro relacionamento abusivo ou tóxico.
O Luca poderia ser o homem que me mostraria que nem todos os
homens são péssimos nos relacionamentos.
— Eu te disse que consegui um emprego? — Eu pergunto a ele
enquanto me sento na cama com os cobertores enrolados em minhas
pernas.
Luca fica deitado com as mãos atrás da cabeça e seus músculos
parecem estar brilhando. Ele balança a cabeça negativamente, mas
responde rapidamente: — Não. É melhor não ser um trabalho de strip-
tease, de novo.
— Não é um trabalho a menos que você seja paga. Eu não fui paga e
não tirei a roupa, — eu digo antes de rir.
É fofo que ele seja protetor comigo; sinto falta de me sentir
importante para alguém.
— Você me viu tirar alguma roupa? Não. Portanto, não se refira a mim
como uma stripper.
— Eu não fiz isso, mas eu não me importaria que você tirasse a roupa
para mim... — Ele sorri para mim e pega meu pulso, me puxando para
cima dele. Eu começo a rir quando ele se inclina e começa a me beijar.
Cada vez que ele me beija, é com força, mas com muita paixão. É
como se estivéssemos fazendo sexo sem realmente fazer sexo.
Embora não faça sentido, nunca fui beijada tão intensamente sem
estar no meio de um momento íntimo. A cada movimento, Luca é
íntimo, apaixonado e intenso.
Eu sinto as suas mãos na minha cintura enquanto seus lábios se
movem pelo meu pescoço, me fazendo rir quando ele beija um ponto que
faz cócegas. — Luca!
— Olha só..., — ele murmura contra a minha pele e move seu rosto
para o meu. — Eu estava esperando mais um gemido com o meu nome,
mas uma risada vai servir.
Eu saio de cima de Luca, revirando os olhos de brincadeira e
colocando meu cabelo atrás da orelha. — Preciso me preparar para o meu
primeiro dia no The Shop Stop.
— Espere, é uma mercearia? — Ele levanta uma sobrancelha. — Você
poderia conseguir coisa melhor do que isso.
— Não tenho nada mais do que um diploma do ensino médio e já
disse que estou tentando conseguir dinheiro para me mudar, — explico a
ele.
Eu preciso ficar longe do meu pai e quanto mais cedo eu conseguir o
dinheiro para fazer isso, mais cedo irei embora daquela casa.
Luca de repente se senta com os joelhos ligeiramente levantados,
apoiando os braços ali. — Fique aqui. Afaste-se daquele maldito homem
que você chama de pai.
Ele diz isso como se fosse uma coisa fácil, mas nós nem nos
conhecemos bem o suficiente para nos mudarmos para o mesmo lugar
juntos.
— Quase não nos conhecemos, Luca. Lembra que nós somos amigos
que começaram a se beijar bem recentemente...
— E mesmo se fôssemos algo mais que só amigos, morar junto é algo
que deveria levar tempo. Você não pode simplesmente pedir a alguém
para morar com você.
— Ok, então deixa eu alugar outro lugar para você, — diz Luca,
casualmente.
'Ai meu Deus, não! 1
— Isso não é uma coisa boa para oferecer? — Ele parece confuso,
pegando a minha mão e segurando-a. Algo que ele sentiu que era
estranho ontem, mas essa manhã ele já fez com muita facilidade.
— Como posso ajudar? Posso apenas passar o dinheiro para você
alugar um lugar?
Eu agito meus braços. — É a mesma coisa! Você não entende... Por
mais que eu me importe com você, não posso aceitar grandes ofertas
quando não sei nem em que pé estamos. E mesmo assim, essa amizade
ainda é tão recente.
— Então, você vai aceitar as minhas ofertas se eu te rotular como, o
quê? Minha namorada? — Luca levanta uma sobrancelha e ri levemente.
— Normalmente não gosto de rotular as coisas, nem acredito em me
entregar a uma só mulher, mas você me dá vontade de tentar.
— No entanto, existem algumas coisas que nos impediriam de ficar
juntos... Coisas que estão me impedindo de me abrir totalmente com
você.
Ele é um homem inteligente, mas às vezes diz as coisas mais idiotas. O
que ele quis dizer com isso?
Ele já me disse que ele é um mau partido para mim e eu ainda estou
aqui na frente dele, sem levar a sério suas palavras da noite passada.
Ele não é uma pessoa má; eu tenho um pressentimento sobre ele.
Uma boa sensação.
— Que coisas, Luca? Pare de ser enigmático e me diga por que você
não pode namorar comigo se quer tanto me beijar? — Estou confusa e
começando a me sentir um pouco magoada.
— Estou começando a pensar que sou apenas um brinquedo para
você. Você quer intimidade, mas nenhum relacionamento? Sinto muito,
não posso te dar isso porque no final vou acabar machucada e neste
ponto, sinto até que já estou machucada.
Quando me levanto da cama, ouço o barulho do colchão e vejo que
Luca está de pé. Por que ele tem que ficar sem camisa? Isso toma essa
conversa muito mais difícil.
— Por que você está se sentindo machucada? Eu não fiz nada com
você.
Ele está tão alheio.
— Porque... eu quero mais de você do que você está disposto a dar, —
digo a ele. Eu não fico com caras por aí. Não sou o tipo de garota que
nem mesmo beija um cara sem considerar que isso significa algo a mais.
Eu percebi que queria o Luca como mais do que um amigo, quem sabe
como um namorado. Sei que é contra tudo em que ele acredita, mas não
entendo por que ele seria tão doce comigo se não se importasse. O Luca
não diz nada. Em vez disso, ele fica lá com uma expressão muda em seu
rosto e permanece quieto.
E exatamente disso que eu temia, me apegar a alguém que não está
disposto a se apegar da mesma maneira que eu.
— Isso é o que eu pensei, — eu digo, tentando esconder a dor em
minha voz. Não posso mais ficar parada aqui como uma idiota. E claro o
que Luca sabe o que quer e o que não quer, mas o que eu faço é minha
escolha.
— Amigos não beijam, Luca... Então, devemos parar com isso.
Encontro meus sapatos quando corro para a sala de estar principal,
colocando-os em meus pés. Estou usando as mesmas roupas de ontem e
desesperada para tomar um banho.
Na noite passada, eu não tinha a intenção de ficar, mas Luca me
convenceu. Ele usa um tipo de feitiço para conseguir o que quer, e eu sou
idiota por cair.
— Caroline..., — diz ele, quando aparece do corredor.
— É Carol, — eu o corrijo.
— Não para mim, — ele responde. — Você é a minha Caroline.
— Eu não sou nada sua... Sou seu amigo e é isso, a menos que você
tenha algo mais que queira dizer?
Mais uma vez, pareço uma idiota enquanto Luca fica em silêncio e
olha para os pés. Que tipo de jogo ele está jogando aqui?
Não estou mais interessada em jogar, e por mais que eu deseje ter algo
a mais com o Luca, continuarei sendo sua amiga. Só amiga.
Capítulo 27
LUCA

Eu estou no corredor fora da sala de música da minha mãe. Quando


Ari e eu éramos jovens, ela tentou encontrar um hobby.
Tudo começou com tricô, no qual ela era péssima, e ela até tentou
fazer doces elegantes, o que foi outra falha de sua parte.
Ela era péssima quando tentava tocar música também. Mas, ao
contrário dos outros hobbies, ela gostou desse e continuou até conseguir.
Agora, meu pai tem um quarto específico para ela curtir a sua música.
Eu a ouço dedilhar uma balada familiar no violão e sorrio para mim
mesmo, a memória dela cantando para nós quando crianças voltando à
minha mente.
Sua voz sempre foi angelical e reconfortante; a única coisa que ela
nunca teve que praticar.
Eu bato na porta suavemente e o dedilhar para. A minha mãe olha
para mim. — Luca. Oi meu amorzinho.
Entre.
Eu entro em seu quarto, olhando em volta para o piano chique que
meu pai comprou para ela, provavelmente um presente que ele deu para
se redimir por ser um cuzão sem limites.
Assim que chego ao lado da minha mãe, sento no banco do piano. —
Essa sala está ficando realmente cheia...
— Sim, quando o seu pai começa, ele não para. — Mamãe ri baixinho.
De alguma forma, depois de tudo que ela passou, ela ainda é feliz.
Eu não tenho certeza do motivo por ela estar feliz, mas quando ela
sorri, eu começo a pensar, talvez haja algo em sua vida que a faça
continuar.
Meus olhos pousam no violoncelo do outro lado da sala e franzo a
testa. — Eu não sabia que você tocava violoncelo.
— Oh, eu não toco. Seu pai comprou isso no ano passado, enquanto
você estava na Espanha. Foi um presente de aniversário porque eu queria
aprender algo novo, mas foi uma luta e tanto, — ela me explica. — Quem
sabe um dia.
— Ah! — Eu aceno minha cabeça.
Minha mãe me encara e posso ver pelo olhar em seu rosto que ela está
tentando descobrir algo.
Ela está olhando para mim como se houvesse algo mais profundo, mas
ela não diz nada. As engrenagens estão girando em sua cabeça e depois
de alguns minutos olhando, ela finalmente tem a coragem de dizer: - O
que está acontecendo com você, Luca? Você parece diferente... menos
zangado.
Menos zangado? Eu sou raivoso desde que me conheço por gente, mas
agora essa emoção foi substituída pela confusão.
Não sei mais o que sentir porque a única emoção que eu conhecia
bem desapareceu e agora estou preso a um sentimento estranho que não
consigo controlar.
Eu rolo meus olhos e balanço a minha cabeça negativamente. — A
raiva ainda está aqui. Estou apenas... confuso. Acho que é esse o
sentimento. Quer dizer, não tenho certeza.
— O que está acontecendo? — Ela pega minhas mãos e penso em
Carol, a maneira como ela segurou as minhas mãos com afeto.
Minha mãe, sempre carinhosa comigo, e agora a Carol. Ela é tão pura
como a minha mãe sempre foi.
Eu permito que a minha mãe segure minhas mãos e começo a explicar
os sentimentos que tenho dentro de mim.
— Eu não... eu não quero casar com a Sofia. Mãe, isso não é mais sobre
mim. Não se trata de querer ficar sozinho e de ser egoísta, tem outra
coisa. Eu... — A expressão da minha mãe muda e ela fica preocupada. —
Você conheceu alguém?
— Huh?
— Luca, você sente algo por outra pessoa? — ela me pergunta.
Eu balancei a minha cabeça. — Não... Mas eu não tenho sentimentos
pela Sofia, e estou pensando que talvez, um dia, eu possa ter sentimentos
por alguém. Mas estar com a Sofia não vai me fazer amá-la.
— Seu pai se sentia da mesma maneira, — ela me diz. Eu já conheço
esse papo.
— E que bem saiu desse casamento forçado? Duas crianças fodidas da
cabeça! Você está dizendo que a Sofia ficará feliz se eu for infiel como o
meu pai é com você?
A dor é evidente no rosto da minha mãe, mas ela esconde bem, apenas
não o suficiente para que eu não perceba.
— Você não entende, Luca Stefano. Você pode julgar o quanto quiser,
mas há coisas em meu relacionamento com o seu pai que você não sabe.
Sempre que a minha mãe estava com raiva de mim, ela usava meu
nome do meio, o do querido tio Stefano. Claro, eles me dariam o nome
do meio do homem que traiu a nossa família. Isso já fala por si só.
— Você está de boa com ele te traindo? Mãe, não é preciso ser um
gênio para saber como isso é fodido, — grito para a minha mãe.
Estou chateado por ela estar falando comigo como se ela tivesse
controle sobre mim. Eu sempre odiei ser controlado.
— Não fale assim comigo. Posso ser seu filho, mas carrego a parte
mais importante da nossa família.
E então meu rosto estava queimando. Minha mãe inocente me deu
um tapa e por mais que doeu, eu estava orgulhoso dela por ter feito isso.
A mulher tem que se defender, eventualmente.
Sei que ela bate no meu pai de vez em quando, mas isso era novo. Eu
mereci.
— Isso é justo, — eu digo suavemente.
Eu posso ver que a minha mãe tem arrependimento em seus olhos,
mostrando a sua fraqueza interior mais uma vez. — Luca, sinto muito...
— Não sinta, — digo a ela. — Eu passei dos limites, e isso é minha
culpa. Eu admito. No entanto, o que não vou admitir é que estou errado
em acreditar que perdoar o papai é normal. — Eu ouço a minha mãe
suspirar pesadamente, olhando para as suas mãos enquanto ela começa a
me explicar.
— Eu sei sobre o passado do seu pai com a Catherine. Sei que ela foi o
primeiro amor dele e sei que, durante o início do nosso casamento, seu
pai se apoiou na Catherine de maneiras que não deveria.
— Seu pai admitiu tudo para mim anos atrás, quando você era jovem,
tinha uns dez anos, talvez? Não tenho muita certeza...
— Então, porque ele tinha sido sincero, isso o toma um cara íntegro?
Porra, eu preciso aprender os truques dele porque...
— Luca, eu ainda não terminei, — ela retruca.
Quando fico em silêncio, ela continua. — Seu pai me contou sobre a
Catherine e o passado deles. Eu estava obviamente muito chateada e
larguei o seu pai.
— Saí de casa quando você e a Ariella foram para a cama e me
encontrei com o meu amigo André.
Lembro de ouvir falar desse tal André. Já ouvi breves histórias e meu
pai nunca gostou muito dele. — André? O que foi morto?
Minha mãe balança a cabeça lentamente, a dor em seus olhos
perceptível quando ela fala sobre André. — Quando fui até o André,
fiquei com tanta raiva do seu pai... Comecei a beber e sou muito ruim
para lidar com álcool, Luca.
Isso não é novidade.
— Quando fiquei bêbada, fiz uma coisa idiota e beijei o André... — Ela
para de falar.
Isso era novidade para mim. Minha mãe beijar outro homem
certamente era novidade.
— Acontece que seu pai me seguiu... Quando eu beijei André, ele... ele
me beijou de volta, então seu pai entrou lá e...
— Mãe, não... Você não tem que explicar, — eu digo para a minha
mãe, não querendo fazê-la passar pela dor de reviver aquele momento
horrível de sua vida novamente.
Já ouvi a história brutal da morte de André. Eu sei o que aconteceu e
agora entendo por que a minha mãe se sente culpada. As coisas estão
começando a fazer sentido.
Minha mãe enxuga uma lágrima quando ela cai, se recuperando
rapidamente. — Seu pai ficou furioso comigo, mas depois, tivemos uma
conversa longa e estressante, foi quando seu pai prometeu lealdade a
mim.
— Até renovamos nossos votos enquanto eu estava grávida.
— Eu tirei conclusões precipitadas e presumi que ele tinha sido infiel
e reagi terrivelmente, fazendo com que alguém que eu amava muito
morresse.
— Ele te traiu antes, — eu a lembro.
— Estou ciente, mas escolhi dar a ele outra chance e ele se manteve
fiel a isso até os eventos recentes com a Catherine. — Ela morde o lábio e
olha para mim. Ela precisava de algo, mas não queria dizer.
Demora alguns instantes até que ela finalmente tenha coragem de
falar. - Sei que nunca pedi essas coisas, mas preciso que você mate a
Catherine.
— Ela precisa ficar de fora das nossas vidas, de uma vez por todas.
Capítulo 28
LUCA

— Não acredito que eu disse isso... Luca, sinto muito.


Eu não...
Eu cortei a minha mãe, balançando a cabeça com o seu pânico
repentino. — Você sabe que eu faria qualquer coisa por você, mas nós
dois sabemos que você não quer isso, por mais que a Catherine seja um
completo pé no saco.
Minha mãe acena com a cabeça em concordância e desvia o olhar de
mim, parecendo envergonhada por ela ter mencionado isso.
— Fico nervosa quando penso no quanto ela desconsidera todo o meu
relacionamento com o seu pai. Ela não tem nenhum respeito por isso,
mas eu não a quero morta.
— Não importa o quanto aquela mulher me enfurece, eu nunca
desejaria a morte de alguém. Estou envergonhada por ter dito isso.
— Eu sei. — Eu aceno a minha cabeça e dou a minha mãe um
pequeno sorriso. — Se você mudar de ideia, porém, eu quebraria o
pescoço dela em um piscar de olhos.
Pela primeira vez em toda a minha vida, minha mãe ri do meu humor
negro e balança a cabeça. — Se eu sugerir isso, não me escute. Eu nunca
seria capaz de me perdoar.
O que há de bom em minha mãe é puro demais para ela desejar a
morte de alguém. A dor que ela deve ter sentido para dizer isso naquele
momento deve ter sido algo terrível para ela.
Tudo por causa do meu pai e da sua incapacidade de manter o pau
dentro das calças. Ela o ama e de alguma forma acredita que ele a ama de
volta, mas não serei eu quem vai dar essa notícia a ela.
Depois de conversar com a minha mãe, ela desce as escadas para
procurar a Juanita, para falar sobre o jantar.
Dou alguns passos ao redor da sala de música para olhar os
instrumentos pelos quais minha mãe se apaixonou. De alguma forma,
apesar de toda a turbulência que enfrentou, ela ainda acredita na
felicidade e no amor.
Como pode alguém que passou pelas piores coisas possíveis na vida
ser tão otimista quanto a seguir em frente?
Quando me viro, fico cara a cara com a bagunça que eu chamo de
irmã gêmea. Ela parece uma merda, com o cabelo em um coque
bagunçado e rímel escorrendo pelo rosto.
— Que merda, Ari. Você está horrível. — Eu ri. — É uma coisa boa o
Jeremy não estar aqui para ver você com essa aparência tão repulsiva.
— Seu filho da puta doente! — ela grita, mas para a minha surpresa,
ela puxa uma arma de Deus sabe onde e aponta para mim.
Ariella não hesita em puxar o gatilho e a bala atravessa o piano da
nossa mãe, fazendo com que as teclas emitam sons quando a bala atinge.
— Puta que pariu, — murmuro baixinho, dando um passo em direção
à minha irmã. — Abaixe antes que você se machuque.
Ariella mantém a arma apontada para mim e seu lábio inferior está
tremendo. — Você arruinou a minha vida, Luca! Você o matou e eu vou
me vingar pela morte do Jeremy.
— Vamos, mana. Sem ressentimentos, foi apenas um pequeno pedido
do nosso querido pai, — digo a ela, pegando a arma e puxando-a de sua
mão antes de pressioná-la contra a sua mandíbula, de forma agressiva.
— Não se atreva a tentar atirar com essa merda em mim de novo. Você
me ouviu?
Ela não revida ou grita. Em vez disso, Ariella me encara com lágrimas
rolando pelo rosto.
As únicas palavras que saem de sua boca são — Vai. Basta puxar o
gatilho e me tirar desse inferno, Luca.
— Você é ingrata, — digo a ela, sabendo que ela está falando sobre
essa família ser um inferno.
Enquanto tiro a arma de sua mandíbula, digo: — Você é uma criança
mimada, Ariella. Nunca te forçaram a fazer nada, até agora, com a
promessa em casamento ao Alexei Petrov.
— Toda a sua vida tem sido livre, sem condições ou expectativas.
Como no mundo você seria capaz de sobreviver no meu lugar? Não
tenho nada a dizer sobre a minha vida. Nada!
— Você recebe uma pequena ordem e se transforma em um saco
ambulante de lágrimas. Supera!
Ariella me encara, seus lábios tremendo, mas a sua raiva está sumindo
um pouco, o que me surpreende.
— Eu sei que você teve a sua vida inteira planejada para você, mas
você não tinha que arruinar a minha só porque você é amargo!
— O Jeremy era inocente. Ele não tinha nenhuma conexão com nossa
família e agora ele está morto por minha causa — Você sabe como é
sentir alguém que você ama sofrer por sua causa?
Eu balancei a minha cabeça. — E por isso que eu não amo ninguém. E
fraqueza, Ari. Quando você ama alguém, isso é usado contra você. No seu
caso, era o Jeremy.
— Agora, você pode me odiar o quanto quiser. Eu realmente não me
importo. Mas se você vai conspirar contra mim, estou avisando que isso
só fará com que mais pessoas se machuquem. Eu vou saber e vou ganhar.
— Eu te odeio. E sempre vou odiar você, Luca. Eu não me importo se
ninguém mais se machucar porque a única pessoa que importava para
mim já está morta, por sua causa.
Seu tom mudou, tomando-se mais frio e sem coração; algo que não
estou acostumado a ver em Ariella, mas era apenas uma questão de
tempo antes que a nossa família a transformasse em um ser humano
entorpecido.
Para ser honesto, estou surpreso que ela tenha durado tanto tempo
sem ceder.
Abro a arma, colocando rapidamente as balas na minha mão, antes de
fechá-la novamente e passá-la de volta para a minha irmã. — Considere
isso um aviso.
Na próxima vez que você tentar me matar, vou acabar com você.
Não me preocupo em dizer mais nada. Em vez disso, saio da sala de
música da minha mãe e só posso esperar que a Ariella me leve a sério.
Eu realmente não quero machucar a minha irmã, mas se ela me
desafiar mim mais uma vez, eu terei que fazer isso.
*
O dia seguinte chega e não tenho mais notícias de Caroline. Ela deve
ter realmente falado sério quando disse que não poderia ser uma amiga
colorida, mas não a quero assim. Isso significa que ela se recusará a falar
comigo a menos que eu lhe dê um título especial de namorada?
Bem, isso é muito ruim para ela, porque eu não dou títulos,
especialmente românticos.
Eu disco o número dela e fico genuinamente surpreso quando ela
atende. — Ei, Luca. Agora não é uma boa hora.
— Eu te disse antes, Caroline. Não gosto quando as pessoas me
evitam, — respondo em um tom sério e inabalável.
— Eu não estou te ignorando, ok? Estou apenas ocupada... Vou para a
balada com a Josie mais tarde. Podemos conversar amanhã.
— Você é menor de idade, — eu a lembro, sugerindo que ela não
deveria ir a uma balada cheia de álcool.
Isso nunca acaba bem. Não preciso que a Caroline seja descuidada,
especialmente quando não estou lá para protegê-la. O álcool pode fazer
muita merda na vida de alguém.
— Uau, que bom que você me lembrou, Luca. Quase esqueci que não
tenho vinte e um anos, ainda.
Ela está sendo sarcástica, tenho certeza disso. Não sei de onde veio
essa atitude repentina, mas eu não gosto disso e quero que a Caroline
saiba que ela não pode falar comigo desse jeito.
Mas é um pouco difícil colocá-la em seu lugar quando ela se recusa a
me ver. Obviamente, alguma coisa aconteceu para ela ficar de mau
humor.
— Para qual balada vocês vão? — Eu pergunto, esperando que ela
apenas me diga, em vez de eu ter que investigar.
Claro, a Caroline nunca tomaria isso tão fácil para mim. — Isso não é
da sua conta.
— Você está indo para lá, então é da minha conta, — digo a ela,
lentamente reivindicando-a como minha.
Tanto faz se ela está gostando ou não, e eu preciso saber onde ela vai
para que ela não fique bêbada e faça coisas estúpidas. — Qual balada,
Caroline?
— A balada — isso não é da sua conta, — porra, — ela grita, quando
desliga, começo a pensar que talvez ela esteja com raiva de mim.
Talvez eu tenha feito algo que a aborreceu, mas não tenho certeza do
que poderia ser.
Capítulo 29
CAROL

— Estou tão cansada de Luca aparecer só quando é conveniente para


ele, — eu falo com a Josie enquanto nos sentamos no bar, tomando as
nossas bebidas alcoólicas.
Felizmente para nós, a Josie conhece um cara que faz identidades falsa
perfeitas.
— Sei que não falo sobre ele com frequência, mas é frustrante porque
sinto que estamos chegando a algum lugar, romanticamente, e daí ele
meio que recua.
Josie pousa a mão no meu ombro e dá um pequeno sorriso. — Em
primeiro lugar, você fala do Luca quase vinte e quatro horas por dia.
— Em segundo lugar, não te culpo por se sentir assim, mas eu vou te
dizer uma coisa... acho que você deveria seguir em frente com essa
paixão.
— O Luca é um problema e não consigo definir o que é, mas você
verá, eventualmente. Há algo estranho nele.
Eu rolo meus olhos sem querer. Fico incomodada quando a Josie é tão
negativa sobre o Luca.
Ela sabe o quanto eu gosto dele e ela fala mal dele sempre que tem a
chance. Ela sabe que eu odeio quando ela faz isso, mas ela insiste.
Liberdade de expressão é uma coisa, mas isso não significa que eu
precise aceitar.
Sinto compelida a defender o Luca, mas tenho tentado evitar, já que
ele está me fazendo sentir como se eu fosse um brinquedo. É errado
querer que ele apenas seja mais aberto sobre as coisas?
— Não há nada estranho no Luca, exceto que ele é como qualquer
outro cara que não consegue se decidir.
Eu olho para o barman e dou um sorriso. — Me traz uma cerveja por
favor? Qualquer uma.
Posso ouvir a Josie suspirar pesadamente de aborrecimento, e ela
inclina a cabeça para trás. — Você é tão ingênua, Carol. Ele está usando
você. Por quê? Não tenho ideia, mas não há outra explicação. Esse cara é
treta certa.
- Olha, Jos. Sei que você está cuidando de mim e realmente agradeço
isso, mas o meu problema com o Luca é a indecisão dele, nada mais.
Então, por favor, pare de fazê-lo parecer um cara mau. Ele não é.
Eu olho para a Josie, esperando que ela possa de alguma forma parar
de pensar o pior de Luca.
Além de sua incapacidade de ser franco comigo, não tenho outras
preocupações sobre ele, então ter a Josie implicando com ele só serve
para me irritar.
Josie levanta a sobrancelha. — Então, quando você estava no clube
prestes a dançar e ele te interrompeu, te puxando para fora do palco,
você não achou um pouco possessivo?
— Não foi possessivo. Ele estava sendo protetor. Eu já namorei um
possessivo antes. E o Luca não é assim.
Uma parte de mim gostaria apenas de ler a mente de Luca. Quero
saber o que ele está pensando quando está comigo e saber se realmente
estou louca. Ele é um quebra-cabeça e eu sou péssima em resolver
quebra-cabeças.
A essa altura, preciso me distanciar de Luca ou colocar na cabeça que
ele simplesmente não está interessado em mim da mesma forma que
estou interessada nele.
LUCA

Vejo a mensagem que acabei de receber do técnico que contratei para


procurar a Caroline. Eu tenho contatos quentes e pude descobrir que ela
estava em uma boate não muito longe da minha casa.
A maneira como ela falou comigo mais cedo me preocupou e estou
começando a pensar que tenho que fazer uma contenção de danos.
Caroline está com raiva de mim e preciso descobrir o porquê.
Também preciso ter certeza de que estou lá, caso ela precise de mim.
Pessoas bêbadas fazem coisas estúpidas e eu não acredito nem por um
minuto que ela não vai colocar os lábios em um copo de álcool essa noite.
Ela é teimosa e obstinada. Caroline fará o que ela quiser, não o que eu
quero que ela faça, e é a coisa mais irritante que eu poderia experimentar.
Tento ligar para o celular de Caroline uma última vez antes de cheguei
no meu limite com ela essa noite, e vou para a boate. Eu coloco uma
jaqueta de couro preta e sigo para o meu carro.
A boate fica a apenas cinco minutos de carro e, quando chego ao
estacionamento lotado, fica claro que o lugar está cheio. Felizmente, não
é muito -grande, então não acho que será difícil encontrá-la.
As roupas das mulheres aqui são nojentas e safadas, e fico irritado
com a ideia da Caroline se vestir assim. Nenhum homem deve ver os
seios de Caroline dependurados ou a bunda sob o vestido.
Meu sangue ferve quando percebo que ela poderia muito bem estar
vestida como as mulheres que vejo vagando na frente do clube.
Enquanto eu caminho pela porta, meus olhos examinam a área e não
demoro muito para ver a Caroline com seu cabelo escuro enrolado,
usando um vestido vermelho deslumbrante.
É um pouco apertado, mas seu corpo foi feito para isso. Não é muito
revelador, bem mais comportado do que a maioria das meninas aqui.
Ela está dançando com a Josie na pista de dança, rindo, e posso dizer
que ela consumiu uma quantidade decente de álcool.
Que caralho.
Eu corro em direção a ela e uma vez que estou a menos de um metro
de distância, os olhos de Caroline se arregalam ao me ver. — Luca?
— Caroline. Podemos conversar?
Josie entra e começa a rir; a coragem desta mulher.
— Você é um perseguidor de merda! Saia daqui, Luca. Ela disse que ia
se divertir comigo hoje. Deixa-a em paz.
— E você é uma vadia intrometida, então caia fora e deixa eu falar
com a Caroline, — eu digo a Josie, parecendo surpreendê-la e ofendê-la
ao mesmo tempo.
Eu ignoro o olhar que estou recebendo da amiga de Caroline e olho de
volta para a garota por quem vim aqui. — Podemos conversar em algum
lugar mais tranquilo?
Quando a boca de Caroline se abre, suas palavras não passam de
besteiras. — Eu... não acho que seja uma boa ideia. Acho que devo ficar
aqui mesmo.
— Caroline.
— É Carol, — ela me lembra, segurando o dedo indicador no ar. — Eu
preciso pegar uma bebida e vou pensar sobre isso.
— Chega de beber, está claro que você já bebeu o suficiente, — eu a
lembro e a pego pelo pulso, puxando-a para perto de mim e falando
sobre o som da música alta.
— Venha para fora comigo. Vou pegar um pouco de água para você
beber, para que possa clarear os pensamentos.
Mais uma vez, sua amiga intervém e tudo que eu quero fazer é enfiar
uma faca na boca grande dela. É muito difícil não fazer isso. — Cai fora,
Luca.
Minhas mãos fecham em punhos ao som do tom irritante de Josie e eu
me viro para ela, estalando em resposta às suas palavras.
— Que tal você calar a boca por dez segundos e permitir que a sua
amiga fale por si mesma? Estou te avisando, Josie. Cale a boca.
Felizmente, a Caroline não consegue ouvir o que estou dizendo a Josie
e, mesmo que pudesse, parece muito embriagada para entender até
mesmo frases básicas, muito menos as ameaças que estou fazendo.
— Preciso de ar... acho que vou vomitar.
Quando Caroline se solta do meu aperto, ela sai correndo do clube e
posso ver a porta se fechando atrás dela. Essa garota certamente vai me
levar ao fundo do poço.
Eu olho para Josie, que está pronta para seguir Carol.
— Você fica aqui.
— Okay, certo. — Ela passa por mim e eu a paro mais uma vez. —
Luca, estou avisando.
— Você está me avisando? — Eu rio e fico na frente dela, abrindo a
minha jaqueta e levantando a minha camisa um pouco para que ela possa
ver que tenho uma arma amarrada ao meu lado.
— Você vai dar o fora ou eu vou te mostrar o quanto você está me
irritando. Estamos entendidos? Não tenho medo de usar isso em você e
prometo que ninguém nunca vai te encontrar.
O rosto de Josie muda, o medo invade seus olhos e tenho uma
estranha sensação de satisfação. Ela fica em silêncio e dá um passo para
trás, se recusando a dar mais um passo em direção à porta, como eu
esperava.
— Boa menina, — é o que eu digo antes de puxar a minha camisa de
volta no lugar e sair pela mesma porta que a Caroline acabou de sair
correndo.
Quando saio, Caroline está sentada em um banco em frente à rua e
caminho em sua direção. — Você vomitou?
Ela balança a cabeça. — Não. Mas quase fui atropelada, então é isso.
Eu rio levemente e me sento ao lado dela, falando em voz baixa. —
Você tem me evitado, nem mesmo tente negar, Caroline.
— Você está certo, — diz ela com um suspiro pesado e continua a
olhar para a frente para não fazer contato visual comigo.
— Estou cansada de ficar perto de você, Luca. Você é um grande jogo
de adivinhação. No começo era fofo... Fica fofo em alguns dias. Mas estou
cansada disso. É um vai e vem, me fazendo sentir como... como uma
torrada queimada.
— Torrada queimada? — Eu a questiono.
'Ninguém gosta de torradas queimadas. Luca. '
Eu me inclino contra o banco e tento não rir do seu comportamento
desleixado e embriagado.
— Eu não quero ser a torrada queimada. Eu quero ser o hommus que
as pessoas gostam. Eu quero que você goste de mim e me sinto tão
estúpida por dizer isso a você.
— Em primeiro lugar, eu odeio hommus, — digo a ela, aproximando
dela e levantando seu queixo para olhar para mim. — Mas eu gosto de
você.
Carol levanta as sobrancelhas e sorri lentamente para mim. — Gosta?
Enquanto eu pego seu cabelo ondulado em meus dedos, coloco-o
atrás da orelha e aceno com a cabeça. — Se eu não gostasse de você, não
estaria perto de você o tempo todo.
Ela começa a rir e encosta a testa no meu ombro, envolvendo os
braços em volta do meu. — Seja o meu namorado.
Ela é ousada quando está bêbada.
— Carol... — - deixo escapar um suspiro suave - — por que você
precisa de um rótulo?
— Então, eu sei o que somos, — ela responde, apoiando o queixo no
meu ombro. — Eu quero saber se sou a única garota em que você está
interessado.
— Você é, confie em mim.
Claro, tem a minha noiva, Sofia, mas eu não estou interessado nela,
então isso não conta como uma mentira. Se dependesse de mim, eu não
estaria noivo para começo de conversa, mas estou.
Mas em minha alma, sou um homem livre. Um homem agora ligado à
Caroline Harding; a única garota que pode me fazer sentir alguma coisa.
Capítulo 30
LUCA

Durante todo o trajeto até o meu loft, tentei fazer a Carol beber água,
mas ela se recusou e continuou a rir das coisas mais idiotas possíveis.
Quando passei em um sinal vermelho, ela achou hilário.
Agora, estamos de volta à minha casa e Caroline está chapadíssima.
— Gosto daqui, — diz ela, pela milionésima vez, girando no lugar.
Eu a paro antes que ela caia.
— Senta, pelo amor de Deus. Você tá muito louca.
— Louca e gostosa? — Ela me pergunta, mordendo o lábio e me dando
um sorriso sedutor. De repente, ela agarra a minha camisa em suas mãos
e me puxa para mais perto dela. — Você acha que eu sou bonita?
Pobre menina, ela vai ser humilhada mais tarde.
Antes que eu possa responder, seu sorriso desaparece, ela afrouxa o
aperto em minha camisa e sussurra: — Diga que eu sou bonita.
— Caroline, você é linda, — eu a tranquilizo. Bonita simplesmente
não combina com essa garota. Eu pego as suas mãos nas minhas e as
puxo para longe. — Vou pegar uma camisa para você dormir.
Enquanto caminho em direção ao meu quarto, posso sentir a Caroline
seguindo atrás e a ouço tropeçar na parede, rindo.
Havia algo completamente broxante em mulheres bêbadas, mas com a
Caroline, eu só tenho o desejo de mantê-la perto de mim, para garantir
que ela está bem.
Abro meu armário e tiro uma camisa branca para ela. Não tenho
variedade de cores; branco e preto é só o que há.
Quando jogo a camisa para ela, ela a pega e mantém os olhos em mim
com um sorriso nos lábios. Quando ela chega perto de mim, ela abre o
zíper do vestido e eu o vejo cair no chão.
Porra. Ela está perdida.
— Vou tomar um banho, fique à vontade, — digo a ela antes de sair do
quarto e gemer.
Eu soco a parede e silenciosamente xingo a mim mesmo. Não posso
fazer isso com a Caroline enquanto a Sofia ainda está no jogo.
Ela não é apenas uma foda casual. Eu não quero machucá-la, mas eu a
desejo muito. Ela está praticamente se jogando em cima de mim agora, e
a moral que eu nunca soube que tinha está atrapalhando.
Eu tiro a minha camisa, seguida pelo meu cinto e calça jeans, jogando-
os no chão do banheiro.
Depois de ligar a água, entro no chuveiro e ajusto a temperatura,
deixando a água o mais quente possível, para tirar a minha mente da
linda garota no meu quarto.
Eu não sou assim. Eu não deveria me importar se ela estava bêbada. Se
ela quer foder, eu deveria apenas dar a ela o que nós dois queremos.
Eu fecho meus olhos e coloco a minha cabeça de volta na água. De
repente, ouço uma voz suave dizendo — toc, toc, — seguida de duas
batidas suaves na porta do chuveiro.
Meus olhos se abrem e vejo a silhueta de Caroline no lado oposto da
porta de vidro. Quando abro a porta, não me preocupo em esconder
nada. Sou muito orgulhoso da minha aparência.
— Caroline.
Seus olhos caem instantaneamente para o meu pau e suas
sobrancelhas levantam antes de olhar para mim novamente. — Quer
companhia?
— Você é... inacreditável, — eu falo baixinho, sentindo o meu pau ficar
duro com o pensamento dela parada aqui comigo, vestindo a minha
camisa branca.
— Isso é um sim?
Meus olhos examinam seu corpo e minha camisa branca cai logo
abaixo de sua bunda. Todas as minhas restrições vão pelo ralo. Em um
movimento rápido, coloco as minhas mãos na cintura de Caroline e a
puxo para o chuveiro comigo.
Ela não consegue dizer uma palavra antes de eu pressionar meus
lábios nos dela e começar a beijá-la com força. Eu pego seus pulsos,
prendendo-os contra a parede, acima de sua cabeça.
Os lábios de Carol se movem contra os meus rapidamente e posso
senti-la tentando se aproximar de mim, mas ela não consegue se livrar do
meu aperto.
— Luca..., — ela sussurra.
Eu pressiono meus lábios contra seu pescoço e sussurro contra sua
pele, — Shh...
Eu me inclino, liberando seus pulsos e segurando sua bunda em
minhas mãos, e beijo logo abaixo de seu umbigo. Suas pernas tremem e
quando eu olho para ela, vejo seus mamilos através da camisa.
Minha mão vagueia por baixo de sua calcinha, permitindo que meus
dedos deslizem pela sua vulva e dentro de sua vagina.
Um gemido alto e surpreso escapa de seus lábios e eu sinto muito
prazer em saber que a fiz emitir aquele som.
Para tocá-la, começo lentamente com um dedo e passo a inserir um
segundo dedo e depois um terceiro. Eu bombeio meus dedos dentro dela
de forma agressiva, segurando a sua perna para apoiá-la.
Finalmente, eu me levanto, não querendo que ela goze antes de eu
conseguir o que quero.
Sua respiração está pesada enquanto ela olha para mim, pedindo por
mais. Eu fico olhando para Caroline.
— Tenho vontade de te comer desde o dia em que te vi pela primeira
vez.
— O-Oh, — ela chia antes de sorrir para mim e colocar a mão na
minha bochecha. — O que você está esperando?
— Absolutamente porra nenhuma, — eu respondo, puxando a sua
calcinha para baixo para que caia no chão do chuveiro e levantando-a,
para que as suas pernas envolvam a minha cintura.
Eu a ajusto, segurando com um braço enquanto posiciono meu pau,
de repente empurrando cada centímetro de mim para dentro dela.
— Uh! — ela geme, pega de surpresa pelo meu impulso repentino.
Mas assim que começo a empurrar para dentro e para fora dela
rapidamente, ela reage melhor; seus gemidos mais consistentes e suaves.
Eu pressiono nossos corpos juntos e prendo sua cabeça contra a
parede, mas a beijo. Algo que desejo desde o primeiro dia, pegar a
Caroline e transar com ela sem pensar duas vezes.
Seus lábios gaguejam meu nome e suas unhas cravam nas minhas
costas. Tenho a sensação de que esta não será a única vez que
transaremos essa noite.
Eu quero uma segunda rodada, e talvez até uma terceira. Nesse
momento, eu nunca poderia me cansar de ouvir seus gemidos sem fôlego
ecoando pelas paredes do meu chuveiro.
Capítulo 31
CAROL

Minha cabeça dói e eu gemo, incapaz de obter energia para abrir os


olhos. Deito de lado e, quando finalmente abro os olhos, estou diante de
uma grande janela com vista para a cidade.
O quarto não é muito familiar, mas sei que já estive aqui antes: é o loft
de Luca.
Sento e rapidamente percebo que estou nua. Eu imediatamente puxo
o cobertor contra meu peito, e vejo Luca dormindo ao meu lado.
Oh meu Deus. Fizemos sexo.
Como uma cena de cinema, lembro de estar deitada de costas na cama
com Luca pairando sobre mim. Além daquele breve flash, não me lembro
de quase nada.
Não consigo parar de olhar para o Luca; para seu cabelo escuro
desgrenhado de sono e sua expressão, normalmente tão agitada, que
agora parece inocente e doce.
Então meus olhos vagam pelo seu torso nu até onde o cobertor cobre
um pouco acima de seus quadris. - Você está agindo como se fosse a
primeira vez que me vê pelado - murmura Luca com os olhos ainda
fechados e minha testa franzida. Como ele sabia que eu estava olhando
para seu corpo?
— Por favor, não faça isso, é assustador.
— Olha quem fala, a pessoa observando um cara nu dormindo. — Ele
sorri, finalmente abrindo os olhos e olhando para mim. — Bom dia.
— Bom dia. — Eu sorrio para ele, trazendo meus joelhos ao meu peito
e descansando meu queixo neles enquanto olho para Luca. — Então,
ontem à noite... rolou.
— Sim. — Ele acena com a cabeça e levanta três dedos. — Três vezes.
— Oh, uau.
— Você não está se arrependendo, está? — ele me pergunta e eu
rapidamente balanço a minha cabeça.
Não quero que ele pense que me arrependi de dormir com ele porque
não me arrependo. Estou apenas lembrando das minhas ações na noite
passada devido à minha incapacidade de lidar com o álcool ou de lembrar
de coisas enquanto estou embriagada.
— Sem arrependimentos, exceto que eu gostaria de não ter bebido
tanto, para que eu pudesse me lembrar como era... cada detalhe. — Eu
mordo meu lábio inferior suavemente e me sento em linha reta, ainda
segurando o cobertor no meu peito.
Luca se senta e começa a vir em minha direção. — Se serve de
consolo, você parecia se divertir na noite passada.
— Não duvido nada. — Decido assumir a liderança dessa vez, me
inclinando para alcançar Luca e pressionando meus lábios contra os dele
suavemente.
Quero algum tipo de memória de nossa noite juntos porque tenho a
sensação de que será a primeira de muitas.
Eu me pergunto se Luca tinha bebido também ou se ele estava apenas
esperando que eu não ficasse chateada com ele por fazer sexo comigo
enquanto eu estava embriagada.
Por outro lado, fui extremamente sincera quanto ao meu interesse por
Luca e sei que, independentemente do consumo de álcool, eu também
estava afim.
Luca me beija de volta, se tomando instantaneamente envolvido no
momento, e me empurra de costas na cama.
Eu o paro, puxando meus lábios dos dele e mordendo meu lábio. —
Eu tenho que trabalhar agora de manhã.
— Telefone dizendo que está doente, — é a resposta dele, como se
fosse tão simples assim. Já disse várias vezes que preciso do dinheiro para
ficar longe do meu pai.
— Eu não posso... eu preciso desse trabalho, — digo a ele antes de me
sentar e colocar as minhas mãos em ambos os lados de suas bochechas.
Eu fico olhando para o homem bonito na minha frente e mordo
suavemente meu lábio.
— Talvez possamos ficar juntos depois? Quem sabe no jantar? Quero
passar um tempo com você e talvez possamos conversar um pouco mais
sobre a noite passada?
Estou hesitante, esperando que Luca me rejeite ou dê algum tipo de
desculpa. Estou até esperando-o me dizer que a noite passada foi só
diversão, mas ele não diz.
Em vez disso, Luca me surpreende com um aceno de cabeça; ele até
sorri para mim. — Vou te buscar depois do trabalho. Que horas você
termina?
— Seis da tarde, — eu respondo, antes de me empurrar para fora da
cama de Luca e tentar esconder o sorriso que está lutando para aparecer.
Não quero que ele pense que sou uma esquisita por estar tão feliz com
isso, mas tenho um bom pressentimento sobre Luca.
Gosto muito dele e finalmente sinto que estou progredindo e que
talvez o Luca seja capaz de gostar de mim também.
*
A desvantagem de trabalhar em uma mercearia é, bem, muitas coisas.
Um deles é a demanda constante. Há também o fato de que, quando você
não está trabalhando, ou no intervalo, as pessoas ainda assim lhe fazem
perguntas.
Meu intervalo está se aproximando e temo que o cliente se aproxime
de mim e faça tantas perguntas que todo o meu intervalo seja
desperdiçado conversando com um estranho.
A velha senhora no caixa estala os dedos na frente do meu rosto. —
Moça, eu perguntei se você tem troco para cinquenta!
— Desculpe, sim, senhora. Nós temos, sim.
Pego os cinquenta dólares da mão dela e troco depois de subtrair o
custo de seus itens da conta. Ela enfia o troco na carteira e sorri para
mim. — Obrigada, querida.
— Tenha um bom dia, — digo a ela quando ela começa a se afastar.
A loja está bem morta essa tarde, então fico no caixa e espero o
próximo cliente chegar. Passam cerca de cinco minutos antes que o
próximo cliente, um homem alto e bonito, se aproxime de mim.
Ele sorri e há algo no sorriso que me parece familiar. — Como posso
ajudar, senhor?
O homem olha para o meu crachá antes de repetir meu nome em voz
alta: — Caroline.
— Sim, mas eu prefiro Carol, — digo a ele como digo a todos. Percebo
que ele não colocou nenhum item na esteira e levanto uma sobrancelha.
— Há algo que você está procurando?
— Sim, eu estava realmente procurando por você, — diz o homem, e
estou oficialmente confusa.
Seu sorriso me parece familiar, mas tenho certeza de que nunca o
conheci. Você não esquece um rosto bonito como aquele. — Eu acredito
que você está namorando o meu filho.
Meus lábios se separam e eu respondo com um tom suave. — O Luca?
— 'É esse mesmo. ' Tento evitar que meus olhos fiquem muito abertos,
mas estou em choque. Luca sempre disse coisas ruins sobre a sua família
e agora, parado a apenas meio metro de mim, está o seu pai.
Não fazia ideia de que o Luca tinha contado a sua família sobre mim,
mas seu pai sabe quem eu sou e onde trabalho; informações que Luca
deve ter contado a ele.
Agora, o pai do meu namorado - pelo menos, acho que ele é meu
namorado - está parado na minha frente e não tenho ideia do que dizer
ou por que ele está aqui.
Capítulo 32
CAROL

— Sr. Marchesi...
— Foi isso que ele te disse? — O pai de Luca ri e balança a cabeça
antes de me corrigir. — Me chame de Vai.
— Sim, senhor... quero dizer, Vai. — Eu sorrio, um pouco inquieta. O
pai de Luca é bastante intimidante, mas ele parece legal, até. — Eu sinto
muito. Eu apenas presumi que o Luca estaria aqui quando eu te
conhecesse.
— Bem, você não pode dizer a ele que estou aqui, — Vai diz para mim
e eu levanto uma sobrancelha, confusa por que ele iria querer manter
isso em segredo. — Suponho que você saiba que o aniversário de Luca
está se aproximando.
Eu não sabia. Achei que o aniversário de Luca tinha acabado de passar,
mas aceno com a cabeça e finjo que sabia.
Vai continua. — Luca é muito reservado sobre a sua vida, então ele
não gosta de deixar claro quando é seu aniversário. Ele também tem sido
muito discreto sobre você, mas posso dizer que você significa muito para
ele.
Minhas bochechas queimam e estou com vergonha de estar corando.
Não tenho certeza do que Luca disse a sua família sobre mim, mas fico
feliz em saber que ficou claro que ele também gosta de mim.
— Ele realmente não fala muito, — digo a Vai.
Ele ri em resposta, balançando a cabeça. — Isso soa como o meu
menino. Mas eu quero que ele seja capaz de te tratar bem...
— Ele não deveria ter que se preocupar em mantê-la só para ele.
Gostaria que você se juntasse a nós no jantar de aniversário dele, que é
uma surpresa, é claro.
Eu não posso deixar de sorrir. O pai de Luca parece legal e estou
começando a pensar que talvez o Luca tenha exagerado quando me
contou como a sua família é terrível.
Minha primeira impressão é bem diferente do que esperava.
Eu aceno a minha cabeça em concordância. — Eu adoraria fazer uma
surpresa para o Luca. Contanto que eu não esteja interrompendo os
planos da sua família para ele.
— Confie em mim, querida. Você é a surpresa, — garante.
Seu sotaque é muito mais forte do que o de Luca e posso ver que o
italiano corre em seu sangue.
Luca também é claramente italiano, mas não é cem por cento, e posso
dizer de onde vem isso, agora que conheci seu pai.
O pai de Luca é um homem muito bonito e posso ver de quem Luca
puxou a aparência. Ele poderia se passar por gêmeo de seu pai, se não
fosse pela diferença de idade.
— É muito gentil da sua parte me convidar, Sr.
Marchesi... Vai, senhor.
— Vou anotar as informações para você. Você tem um papel por aí? —
ele me pergunta.
Pego um rolo de recibo vazio, passo para ele, junto com uma caneta, e
ele anota as informações.
— Você se importaria se a minha filha viesse te buscar? Não quero
arriscar que o Luca veja o seu veículo na garagem.
— Oh, eu não dirijo. Posso simplesmente pegar o ônibus até lá, —
explico com um sorriso no rosto.
— Não quero parecer rude, mas o Luca tem sido muito reservado
sobre a sua vida familiar. Tem certeza de que isso não vai incomodá-lo?
Eu não quero cruzar nenhum limite.
— Eu conheço o meu filho, Caroline. Ele ficará emocionado em ver
você.
Eu realmente espero; caso contrário, isso pode acabar muito mal.
Nunca imaginei conhecer o pai de Luca dessa maneira. Em um mundo
perfeito, Luca me convidaria para um jantar em família e me apresentaria
a todos.
Em vez disso, o pai de Luca me encontrou e está preparando tudo
para surpreendê-lo.
Tenho certeza de que o Luca ficará surpreso ao me ver com a sua
família. Só espero que seja uma boa surpresa.
*
Eu termino meu turno algumas horas depois, dizendo adeus aos meus
colegas de trabalho enquanto saio pela porta da frente da loja.
Como um relógio, meu telefone toca quando eu saio e olho para a
tela, Josie está me ligando.
Mal coloco o telefone no ouvido antes de ouvir Josie falando alto.
'Cara, onde você está?
— Estou saindo do trabalho. O que foi, Jos? Você parece uma maluca.
Eu paro no meio do caminho e ouço Josie, me perguntando por que
ela parece estar em pânico. — Sobre a noite passada no clube. Quando o
Luca apareceu...
— Oh Deus, eu totalmente abandonei você. Sinto muito, sou a pior
amiga de todas. — Suspiro baixinho, me sentindo culpada por deixar a
Josie chapada sozinha, para ir transar com o Luca.
— Carol, apenas pare. O Luca me mostrou algo e você precisa saber
sobre isso imediatamente.
Eu franzo a minha sobrancelha e aceno. — Ok, o que ele te mostrou?
Há silêncio na outra linha e espero que a Josie responda. Não importa
quanto tempo eu espere ou repita seu nome, Josie não continua a
conversa e, eventualmente, desliga na minha cara.
— Huh...
Alguns momentos após o término da ligação, recebo uma mensagem
de Josie:
Josie: Eu odeio tonto aquele cara, Carol. Ele me mostrou passagens de aviso para vocês
dois e não acho inteligente você ir a lugar nenhum com ele. é isso.

Eu suspiro pesadamente, completamente farta da Josie


constantemente criticando o Luca. Quanto mais o conheço, mais acabo
gostando dele. Ela devia respeitar isso.
Eu respondo rapidamente:
Carol: Não quero mais esse tipo de comentário, Jose. Eu realmente gosto do Luca,
então, por favor, não estrague tudo.
Quando silencio meu celular, coloco-o de volta no bolso e começo a
caminhar em direção à minha casa.
Sempre fui independente e, embora a Josie estivesse certa sobre o
Brett, isso não significa que o Luca seja a pessoa terrível que ela diz que
ele é.
Eu o conheço. Ele não é um cara bom. Eu sinto isso sempre que estou
perto dele; eu não tenho nenhum pressentimento ruim.
LUCA

— Por que você tinha que abrir a sua boca grande? — Eu pergunto a
Josie enquanto entro no banco do passageiro do meu carro.
Eu a tinha apagado com clorofórmio há um tempo atrás e ela
finalmente acordou. Felizmente, meu timing é perfeito e peguei a Josie
um pouco antes de ela contar a Caroline sobre a arma com a qual a
ameacei ontem à noite.
Armas não são ilegais, mas tenho certeza de que a Josie seria
dramática demais e iria surtar.
— O que você quer, Luca? — ela me pergunta.
Eu encolho meus ombros casualmente e começo a bater meus dedos
no volante.
— A última coisa que planejei era matar a amiga da Carol, mas o que
você espera que eu faça agora, Josie? É claro que você não hesita em usar
essa sua língua para fofocar.
— E por causa de sua necessidade de se meter onde não é chamada,
você potencialmente acabou de se matar.
Os olhos de Josie se arregalam e, em segundos, lágrimas rolam por seu
rosto enquanto ela começa a balançar a cabeça negativamente.
— Por favor, Luca. Eu só quero estar lá para a Carol. Não é nada
pessoal. Eu sou apenas protetora com ela!
— Por favor cale a boca. — Reviro os olhos e abro o porta-luvas do
meu carro, tirando uma arma e examinando-a em silêncio.
— Isso é absurdo. Estou tentando manter a Caroline segura e, ao fazer
isso, sou forçado a acabar com a vida da sua melhor miga. Por que você
teve que foder tudo? A Caroline ficará arrasada.
— Então não faça isso! — ela grita comigo, balançando a cabeça
enquanto as lágrimas escorrem em sua camisa. — Por favor. Eu não
quero morrer. Eu sou nova demais!
— Não existe limite de idade para a morte, querida, — eu a lembro.
Tento repassar em meu cérebro as minhas poucas opções. Não posso
deixar a Josie livre sem que ela corra para a Caroline, mas se eu matar a
melhor amiga dela e ela descobrir, isso seria facilmente o nosso fim.
Nenhuma das opções parece atraente, mas meu tempo para decidir é
limitado.
Capítulo 33
LUCA

— Você realmente é um pé no saco, Josie, — digo à garota amarrada


no banco de trás enquanto esfrego a ponta do meu nariz. — A minha
intenção nunca foi machucar você e agora sou forçado a calar a sua boca,
de alguma forma.
— Por quê? Para a Carol não descobrir sobre a sua personalidade
insana? — A Josie pergunta antes de rir. — Estou avisando ela há
semanas! Ela não acredita em mim, Luca.
— E se ela acreditasse, você acha que ela algum dia te perdoaria por
machucar a única amiga dela?
Eu rolo meus olhos. Sei muito bem que a Caroline não me perdoaria,
mas ela não precisa saber. Não tenho que contar para ela.
Josie complicou a situação mais do que eu gostaria e,
independentemente de quanto tempo eu sento e reflito sobre isso, sei
que não tenho outra escolha a não ser me livrar dela.
Não há nenhuma outra escolha a não ser manter o meu
relacionamento com Caroline seguro, e por isso, vamos na direção do
último suspiro de Josie.
CAROL

Ligo para o número de Luca, mas ele não atende. Não tento ligar para
ele de novo, porque a última coisa que quero é parecer pegajosa.
Minha mente vagueia para a forma como as coisas terminaram com a
Josie; nossa conversa foi abrupta e a maneira como terminou me
preocupou.
Tentei ligar para a Josie de novo, mas ela também não atendeu. Ela
está com raiva de mim, eu entendo, mas se ela pudesse entender o
quanto estou preocupado com ela.
— Vamos, Josie, — murmuro para mim mesma.
Josie ainda não atende a minha ligação, mas quando tento falar com o
Luca pela bilionésima vez, ele finalmente atende.
— Ei. — Seu tom é áspero e sua voz abrupta.
— Ei, — eu respondo baixinho, — você está ocupado? Sinto muito se
interrompi você. Eu posso ligar de volta.
Luca é rápido em me impedir. — Nunca estou ocupado para você. E
aí?
— Eu só... eu realmente preciso conversar. A Josie e eu brigamos.
Agora ela não está me respondendo. Temo que ela esteja com raiva de
mim e odeio me sentir tão sozinha, — digo, extravasando meus
sentimentos com Luca.
Ele sempre facilita muito falar porque ele sempre me escuta, e
costuma dar respostas genuínas.
Posso ouvi-lo estalando a língua antes de quebrar o silêncio. — Eu vou
te buscar. A menos que você esteja perto do meu prédio, daí podemos
nos encontrar lá.
— Vamos nos encontrar lá, — eu digo, mas antes que Luca possa
desligar, eu o paro. — Luca?
— Sim?
— Obrigada... por estar aqui para mim. Eu gosto de você.
O que eu faria sem ele? Há algum tempo, eu teria dito que o cliente da
lanchonete era arrogante e de forma alguma uma pessoa desagradável.
Mas agora, aqui está ele. A única pessoa com quem posso contar mais
do que qualquer um - até mesmo minha melhor amiga.
Chego ao prédio antes de Luca e espero na escada, sentada em um
degrau e olho para o meu telefone, para passar o tempo.
Pessoas passam, algumas estão visitando e outras saindo para a noite.
Minha atenção é capturada especificamente quando ouço uma jovem
falando com o balconista.
— Você seria capaz de me deixar entrar no apartamento E-Nove? —
ela pergunta. — Eu tentei abrir a porta e ninguém atendeu.
O motivo pelo qual ela chamou minha atenção é que o E-Nove é o
apartamento do Luca. Não tenho ideia do que ela estaria fazendo
tentando entrar no apartamento de Luca, mas de repente me tomei
extremamente insegura.
A menina é bonita. Ela poderia se passar por modelo e um corpo
assim é algo que eu nunca teria. Não tem como ela ter nem vinte anos;
ela parece tão jovem.
— Infelizmente, não posso, Sra. Romaro. Não estou autorizado a
permitir que ninguém entre nos apartamentos sem consentimento.
A menina não discute com o balconista. Ela é compreensiva e muito
quieta. Ela não faz nada mais do que sorrir para o homem atrás da mesa e
agradecê-lo.
Quem ela poderia ser? Vou perguntar ao Luca.
Dois minutos depois da garota sair, o Luca disparou para o saguão.
— Caroline. Me desculpe por ter demorado tanto. O trânsito está
péssimo.
— Tudo bem, — eu digo enquanto me levanto do meu lugar no
degrau.
O homem atrás do balcão nos interrompe. — Sr. Ac—
— O que você quer? — Luca rapidamente franze a testa para ele,
interrompendo-o. — Você não vê que estou ocupado?
— Eu me desculpo, Sr. -
— Vá em frente, — pede Luca.
— A senhorita Romaro acabou de passar aqui, te procurando.
Luca acena com a mão para o homem antes de pegar a minha mão e
me levar para o elevador. Seu apartamento ocupa todo o andar; é
provavelmente o maior nesse edifício.
Quando as portas do elevador se abrem, entramos e não hesito em
perguntar o que está em minha mente. — Quem é ela?
— Quem é quem?
— A senhorita Romaro... Ela é jovem, Luca. Por favor, não me faça
parecer uma idiota.
Meu peito dói quando penso na possibilidade óbvia. Luca está saindo
com essa garota e eu não sou nada para ele. Nada mesmo.
Deve ser esse o motivo. A garota era deslumbrante e eu não sou páreo
para o tipo de Luca... se é que Luca tem um tipo.
— Não seja absurda. — Luca revira os olhos. — A senhorita Romaro é
a minha faxineira. Você pode esconder o ciúme, amor. Não tenho olhos
para ninguém além de você. Prometo.
Tento ter uma recuperação rápida, não querendo parecer esse tipo de
garota. — Eu não estou com ciúmes, Luca. Eu não poderia me importar
menos.
As portas do elevador se abrem quando chegamos ao andar de Luca e
quando ele sai, ele se vira para olhar para mim novamente com um
sorriso brincalhão no rosto. — Jura? Então, se eu te dissesse um dia que
estou noivo da Senhorita Romaro, você não se importaria?
— Você é hilário. — Eu rolo meus olhos e o sigo para fora do elevador,
indo em direção a sua porta da frente. — Eu odiaria você para sempre se
você fizesse algo assim.
Para a minha sorte, sei que Luca está brincando. Não tem como ele
estar noivo. Ele está me provocando e estou feliz por podermos ter esse
tipo de relacionamento sem levar um ao outro muito a sério.
Capítulo 34
CAROL

Passei a noite no condomínio de Luca. Fizemos sexo e era como se


nada mais existisse no mundo; só nós.
Passei a noite olhando para o meu telefone na esperança de que a Josie
me escrevesse, mas ela nunca o fez. Então, quando chega a manhã,
mando uma mensagem para ela, novamente.
Sento na cama, vestindo apenas a minha calcinha e a camisa de Luca.
Eu coloco meu cabelo atrás da orelha enquanto olho para o meu
telefone. Só quando sinto o braço de Luca em volta da minha cintura é
que percebo que ele está acordado.
Quando viro a minha cabeça para olhar para ele, sorrio. — Bom dia.
— Bom dia, — ele retribui. — Tudo certo? Você parece distraída.
— Oh, uh... Bem, na verdade não. — Eu balanço minha cabeça e forço
um sorriso. — A Josie ainda não me respondeu, por isso estou um pouco
preocupada.
Luca parece ignorar as minhas preocupações. — Tenho certeza que ela
está bem. Venha aqui, querida. — Eu fico de mau humor nos braços de
Luca, deitando ao lado dele e permitindo que ele envolva seus braços em
volta de mim. Sinto-me à vontade e confortável em seu abraço.
— Não é típico dela. Estou começando a achar que ela está realmente
brava comigo. Sei que ela tem reservas sobre você, mas nunca
permitiríamos que uma opinião diferente se colocasse entre nós.
— Não é apenas uma diferença de opinião, Caroline. É ela tentando
controlar a sua vida. — Suas palavras me surpreendem e ele começa a
explicar.
— A Josie estava bem até você parar de ouvi-la, certo? Uma vez que
você não permitiu que ela mudasse a sua opinião sobre mim, ela
desapareceu? Você não precisa de uma amiga assim.
— Você não entende
— Eu entendo perfeitamente, — ele me interrompe. — Você nunca
deve permitir que as pessoas tenham poder sobre você, nunca. A única
pessoa que você pode permitir controlar seus pensamentos é você
mesma.
— Caso contrário, você se toma fraca e vulnerável a alguém que não
quer nada mais do que te destruir.
Seu discurso parece um pouco rebuscado e completamente sem
noção, mas eu aceno com a cabeça e finjo que entendo aonde ele quer
chegar com essa conversa.
— Você tem algo que gostaria de falar? Você parece um pouco
angustiado.
Luca geme, esfregando as têmporas enquanto se solta de mim e se
senta na cama.
— Estou bem. Talvez seja todo o drama da minha família que está me
estressando. Peço desculpas pelas minhas palavras insensíveis. Tenho
certeza de que a Josie ligará de volta.
A família dele. Conheci o pai dele e ele parecia ser um homem muito
bom, considerando que está até planejando uma festa de aniversário
surpresa para o Luca.
Talvez o Luca seja um pouco dramático quando se trata de família; a
maioria das pessoas é. Talvez eu pudesse ver mais do que Luca está
falando quando eu visitar a casa de seus pais para a festa.
— O que está estressando você? Fale comigo, Luca.
— Você não entenderia.
— Vamos tentar, — eu digo, desafiando-o. — E a sua irmã gêmea?
Talvez seu pai ou alguma coisa que rolou em casa? É o seu aniversário se
aproximando?
Luca franze a testa para mim, balançando a cabeça. — Não, Caroline.
Meu aniversário foi há quase quatro meses.
Ele se levanta da cama. Eu teria olhado para seu corpo perfeitamente
esculpido, mas estou muito distraída com as suas palavras. Seu
aniversário foi realmente há quatro meses, ou ele está tentando evitar
que eu saiba?
Estou tão confusa.
— Oh.
É
— Não soe tão desapontada, amor. É apenas o dia do aniversário.
— Bem, o que você fez no seu aniversário esse ano? — Eu pergunto,
tentando cavar em busca de alguma informação, mas não tenho certeza
de por que seu pai mentiria para mim.
Luca encolhe os ombros casualmente. — Eu estava na Espanha.
— Certo... — Eu franzo os lábios. Sento novamente, viro o corpo e
saio da cama. — Você tem alguma data importante chegando? Perto do
final do mês?
Ele parece hesitante, mas responde com um simples — Não.
Por que ele está mentindo para mim? O olhar em seu rosto diz tudo.
Ele está escondendo algo de mim e, seja seu aniversário ou não, é algo
que ele não quer que eu saiba.
LUCA

— Qual é o sentido de todas essas perguntas? — Pergunto a Caroline


enquanto ela me interroga sobre o que planejei para o final do mês.
Ela presumiu que meu aniversário estava se aproximando e não tenho
ideia do porquê. Meu aniversário já passou. No fim do mês, porém, é
quando muitas coisas vão mudar.
O aniversário de Sofia é daqui a duas semanas. Ela vai fazer dezoito
anos e é quando devo me casar com ela. Estou em uma situação difícil.
Não tenho nenhuma intenção de me casar com a Sofia, mas se eu a
matar, posso começar uma guerra.
Não temo uma guerra, mas temo pela minha mãe. Temo pela
Caroline. Elas seriam os primeiros alvos de uma retaliação em nome de
Sofia.
Eu não poderia me importar menos com o meu próprio bem-estar,
mas não com o delas.
— Nada, — Caroline mente descaradamente e eu tento não ficar com
raiva dela. Ela acha que sou idiota.
— Caroline, — eu digo em um tom calmo, — diga o que está
acontecendo. Estou com raiva que você pense que eu seria ingênuo o
suficiente para acreditar em sua terrível mentira.
'Eu não estou-' — Agora, — eu exijo.
Caroline revira os olhos e agita os braços em frustração. — Eu não
posso dizer nada. Isso vai estragar a surpresa e... eu não quero estragar a
surpresa.
Eles sabem.
Meu pai ou a Ariella? Alguém sabe sobre a Caroline e ela acha que eles
são inofensivos.
— Caroline! — Eu levanto a minha voz, fazendo-a pular de seu lugar
na cama, longe de mim. — Você precisa me dizer agora o que está
acontecendo. Você pode estar em sérios apuros.
— Não grite comigo. — Ela me encara, apontando o dedo em minha
direção. — Não vou permitir que você fale comigo como se eu fosse um
lixo, Luca.
Caroline se vira para mim e se dirige para a porta do meu quarto. Eu a
paro rapidamente agarrando seu pulso, puxando-a de volta para mim. —
Quem foi? Minha irmã? Foi meu pai? Com quem você falou?
Sua expressão está vazia e, finalmente, ela me diz as palavras temidas.
— Eu estava falando com seu pai... mas Luca, é uma surpresa, então, por
favor, não diga a ele que eu te contei. — Filho da puta. Ele foi atrás dela
quando eu não estava por perto; quando eu não podia protegê-la ou
avisá-la. Não sei qual é o plano dele, mas ele não vai conseguir.
— Caroline, preciso que você confie em mim. Nunca mais fale com
ele... nunca. Se você o vir, me ligue imediatamente, — eu digo a ela,
colocando seu rosto em minhas mãos. — Não há nenhuma surpresa. Ele
não é confiável.
Seus olhos encontram os meus e ela parece preocupada. — O que está
acontecendo, Luca? Por que você é tão contra a sua família?
Eu não posso dizer a ela porque meu pai é o chefe da Máfia. Então, eu
simplesmente balanço a cabeça. — Ele não é um cara bom, ok? O que
quer que ele tenha dito a você é mentira.
— Mas, seu aniversário...
— Foi há quatro meses, — eu a lembro. — Meu pai não é confiável. Ele
sempre tem um plano.
Eu protegeria a Caroline até os confins da Terra. Eu não deixaria meu
pai chegar perto dela e agora que sei que ele está ciente de Caroline,
preciso descobrir o que ele quer dela e o que posso fazer para mantê-lo
longe.
Capítulo 35
LUCA

— Qual era o seu plano? — Eu pergunto a meu pai enquanto bato na


porta de seu escritório atrás de mim.
Como de costume, ele está sentado atrás de sua mesa e olha da tela do
computador para mim com um sorriso malicioso no rosto. — O que você
quer dizer?
— Não vem com essa merda, pai. Eu sei que você estava falando com a
Caroline e sei que você a convidou para o meu aniversário inexistente,
então, que porra de plano é esse?
Eu rio e dou um passo em direção à mesa do meu pai. — Você quer
jogar comigo? Eu vou com tudo pra cima de você, meu velho.
Meu pai casualmente se levanta da cadeira e tira o paletó, colocando-o
nas costas da cadeira antes de contornar a mesa e parar na minha frente.
— Ok, filho. Você quer me desafiar? Vá em frente e dê um soco, pois
garanto que será a última coisa que você fará na vida.
— E mesmo? — Eu puxo meu braço para trás, pronto para socar meu
pai na mandíbula quando a porta se abre e a voz da minha mãe me para.
— Luca, abaixe esse punho agora, — diz ela para me repreender e
entra no escritório, parando quando me alcança. — O que você pensa
que está fazendo?
— Nosso filho aqui acha que pode me vencer no meu próprio jogo. —
Meu pai ri de novo, olhando para a minha mãe, que está com uma
expressão de decepção no rosto.
— Oh, vamos, querida. Você deve saber melhor do que ninguém que
as pessoas não conseguem o que querem de mim.
— Esse homem na sua frente não é qualquer um, Vai. É o nosso filho!
— Minha mãe levanta a voz para ele, parando na minha frente, e me
sinto patético por ter a minha pequena mãe parada na minha frente
como um escudo.
Meu pai olha para minha mãe e diz em voz baixa: — Elaina, você veio
para essa família sabendo como as coisas são.
— Você está ciente dos laços que fazemos ao unir famílias poderosas.
Você foi o resultado dos arranjos que somos forçados a fazer.
— Estou muito ciente da união que fomos obrigados a fazer,
Valentino. Obrigada pelo gentil lembrete, mas o nosso filho não precisa
seguir o nosso caminho! — Ela agita os braços e posso ver a raiva
crescendo nos olhos de meu pai.
Vivencio um flash de toda a minha infância. Cada vez que meu pai
ficava com raiva de minha irmã ou de mim, seus olhos ficavam do jeito
que estão neste momento e ele explodia.
Ele não tocaria na minha mãe, no entanto. Se ele fizesse isso, eu o
mataria.
Enquanto meu pai segura cuidadosamente o queixo de minha mãe
entre os dedos, ele diz, em um tom severo: — Não grite comigo. Isso está
fora de seu controle, Elaina.
Minha mãe se afasta dele. — Você não precisa ser igual o seu pai.
— Eu não sou. Eu sou melhor, — afirma, claramente mentindo para si
mesmo, porque até mesmo meu avô tem alguma humanidade nele.
— Podemos ter sido forçados a ficar juntos, meu amor, mas nos
tomamos mais fortes por causa disso. A mesma coisa vai acontecer com o
Luca e a Sofia.
— Porra, não. — Eu balanço a minha cabeça e levanto minhas mãos
em defesa enquanto dou um passo para trás. — Eu deixei isso bem claro.
Não vou casar com ninguém, não vou casar com ninguém,
principalmente com a Sofia, nunca.
'Luca, estou avisando. ' — Que se foda! — Grito com meu pai,
pegando uma cadeira que ficava ao lado da porta e jogando-a na estante
de meu pai. — Eu não vou deixar você e nem ninguém controlar a minha
vida. Nunca.
— Ouça bem, pai. Esta é a última vez que digo que não sou o seu
fantoche. Eu não me importo quais são as suas ameaças. Essa é a minha
vida, minha decisão.
Meus pais estão em silêncio e posso ver um sorrisinho nos lábios de
minha mãe.
Meu pai, por outro lado, não está satisfeito. Ele respira fundo,
olhando para o chão antes de caminhar lentamente em minha direção.
Quando ele para na minha frente, meu pai diz as palavras que eu
temia que ele dissesse: — Se você quiser manter a Caroline segura, você
vai acabar com as coisas agora e se casar com a Sofia. Ela ficará bem se
você me obedecer.
— Você a toca e será você quem sairá daqui em um saco de cadáveres,
— digo entre os dentes e antes que meu pai possa responder, saio de seu
escritório e bato a porta atrás de mim.
Estou encurralado em um canto. Meu pai, de alguma forma,
conseguiu descobrir o quão profundamente me importo com a Caroline
e agora ele a está usando como munição contra mim.
Farei o que for preciso para mantê-la segura, mas terminar o
relacionamento com ela não faz parte disso.
*
Depois de sair da casa dos meus pais, entro no meu carro e corro para
onde espero encontrar Caroline.
Embora a sua casa seja a sua prisão, ela não tem nenhum outro lugar
para onde correr e ou ela está em casa ou na mercearia onde trabalha.
Preciso saber que ela está segura e preciso mantê-la segura, mesmo
que isso signifique mantê-la comigo 24 horas por dia, sete dias por
semana, até descobrir uma maneira melhor de lidar com as coisas.
Eu paro do lado de fora de sua casa e estaciono meu veículo antes de
sair e pressionar o botão de bloqueio no chaveiro.
Enquanto subo os degraus da varanda, a porta da frente se abre e seu
pai bêbado sai com uma garrafa na mão.
Hoje é o pior dia para ele foder comigo.
'Sr. Harding, estou procurando pela Caroline. ' — Saia da minha
propriedade, seu bosta, — ele balbucia, levantando a sua garrafa e
acidentalmente deixando-a cair, fazendo-a se estilhaçar na varanda da
frente.
— Aquela vadiazinha está trabalhando. Você deveria saber. Ela é sua
prostituta, não é?
— Você realmente precisa falar sobre ela com mais respeito, —
murmuro baixinho, irritado com a maneira como ele fala sobre a
Caroline, como se ela fosse algum tipo de erro.
Sua mãe cometeu o erro, não ela. Mas agora a Caroline está sofrendo
as consequências. Ela não merece o tratamento que esse idiota dá a ela e
estou prestes a acabar com isso muito rápido.
Seu pai dá um passo em minha direção e pressiona seu dedo indicador
com força contra meu peito. — Eu vou falar sobre a minha filha como eu
quiser.
— Você acha que ela é uma santa porque abre as pernas para você? Ela
faria isso por qualquer pessoa que demonstrasse interesse por ela, assim
como a sua mãe. Não se sinta especial.
Chega. Eu o agarro pelo pescoço e o prendo contra a parede.
— Você precisa tomar cuidado com as palavras que usa comigo. Eu me
importo profundamente com a Caroline e me recuso a permitir que você
fale sobre ela de uma forma tão negativa. — Em um movimento rápido,
seu pai cospe no meu rosto e eu sou rápido em empurrá-lo para o chão,
limpando o cuspe da minha bochecha. Maluco de merda.
Pego a garrafa de cerveja quebrada antes de me inclinar sobre o pai de
Caroline e seguro a ponta quebrada em seu pescoço. — Você realmente
abusou da sorte comigo.
Meu humor já estava ruim para começar, e seu pai tinha algo sobre ele
que simplesmente me irritou.
Cuspir na minha cara também não ajudou a resolver o problema e,
sem hesitar, enfiei o copo em seu pescoço, onde atingi uma artéria
principal, fazendo com que o sangue jorrasse de seu corpo.
Eu me levanto e sorrio para a minha última vítima enquanto ele
engasga com seu próprio sangue. Isso não é apenas satisfatório, mas
tenho certeza de que a Caroline terá satisfação em saber que não terá que
lidar com esse homem novamente.
Eu considero isso uma vitória.
Capítulo 36
LUCA

— O que você fez?


A voz vem do canto do porão da casa da minha família. Josie. Essa
garota é um problema com o qual eu preciso lidar, e ainda não bolei um
plano.
Eu ando até a pia, fecho as torneiras e coloco as minhas mãos
ensanguentadas debaixo d'água. O sangue do pai de Carol escorre pelo
ralo e eu rolo meus olhos em resposta à pergunta de Josie.
— Com o que se parece?
— Você matou alguém? — ela pergunta novamente, sua voz trêmula
nesse momento.
Eu paro a água e pego uma toalha nas mãos para secar. — Não,
claramente eu estava pintando a dedo.
Josie não sabe parar. Ela continua a me questionar. — E quanto a
mim? Qual é o seu plano?
Eu olho na direção dela. Suas mãos estão acorrentadas à parede acima
de sua cabeça e seu cabelo está emaranhado. Ela estava aqui há dias; já
que a peguei tentando contar a Caroline sobre a minha família.
Ela está cansada e com uma aparência péssima, mas se ela apenas se
importasse com a sua própria vida, ela não estaria aqui.
— Honestamente, Josephine, não tenho ideia do que vou fazer com
você. Você realmente complicou as coisas, sabia?
Dou alguns passos em direção a ela, vendo-a tremer quando chego
mais perto. — Você se tomou uma grande dor de cabeça.
— Eu sinto muito. Luca, é sério. Como eu disse, deixa eu ir e eu não
vou...
Pego Josie pelo pescoço e aperto com força, ouvindo-a tossir por falta
de ar. — Por favor, cale a boca e pare de vomitar mentiras. Não sou idiota
e estou ofendido por você pensar que sou tão estúpido.
Josie pega minhas mãos, tentando arrancá-las de seu pescoço, quando
a porta do porão se abre. Um momento depois de a luz brilhar na escada,
ouço meu pai: — Luca, precisamos conversar. Suba aqui, agora.
— Estou ocupado no momento, pai. Talvez você possa agendar um
horário para conversar.
Ele não responde, obviamente não achando as minhas palavras tão
engraçadas quanto eu pensei que eram. A porta do porão se fecha e
passos ecoam na grande sala. Assim que meu pai aparece no final da
escada, seus olhos caem sobre a Josie. — Ela ainda está aqui?
— Sim.
Meu pai me permitiu usar seu espaço para o cativeiro de Josie. Ele me
disse para ser rápido e não incomodar ninguém na casa. Mas,
aparentemente, ele esperava que a Josie fosse eliminada agora.
— O que você está esperando? — ele pergunta, caminhando para
Josie. Ele a observa de perto. — É claro que ela tem informações sobre
nós que não são da conta de ninguém. A decisão é óbvia.
— Não é bem isso, — digo a ele, balançando a cabeça enquanto me
sento em uma das cadeiras dobráveis que coloquei em frente a Josie. —
Ela é... amiga de alguém.
— Da Caroline? — meu pai pergunta antes de rir. — É por isso que
você não se apega a ninguém, Luca. O amor interfere em tudo.
— Regra número um: sempre se livre das ameaças. Essa garota, bem
aqui, é uma ameaça! — 'Mas ela-' Em um movimento rápido, sem me dar
nem um segundo para absorver tudo, meu pai puxa a arma do coldre e a
aponta para Josie, puxa o gatilho e coloca uma bala bem no meio da
cabeça dela.
É isso. Ela está morta. Assim, em uma fração de segundo, sua vida foi
tirada.
Mas não fui eu quem fez isso. Meu problema desapareceu e não sou
responsável por matá-la. É uma sensação chocante, mas agradável, saber
que meu problema está resolvido, simples assim.
— Viu como foi fácil? Bem quando eu estava começando a achar que
você era mais durão do que eu pretendia, você me lembra que ainda é tão
fraco e ingênuo quanto uma criança.
Meu pai guarda a arma e começa a caminhar em direção à escada. Ele
para quando chega ao fundo e se vira para olhar para mim.
— Limpe essa bagunça e suba. Você e eu precisamos conversar sobre
isso antes. Dessa vez, sem a interferência da sua mãe.
Eu fico em silêncio e olho para o corpo sem vida de Josie.
Talvez meu pai estivesse certo e eu não seja tão forte quanto deveria.
Eu já fui cruel e descuidado com tudo que eu fazia, mas agora, uma
garota estava me fazendo arriscar tudo para mantê-la feliz.
Eu imprudentemente matei o chefe dela porque ele a assediou. Eu
ataquei o pai dela porque ele a tratava como uma merda.
E tem a Josie, a única pessoa que eu deveria ter matado, mas contra
quem lutei porque não aguentava o que isso poderia fazer com a
Caroline.
As coisas precisavam mudar. Eu precisava ser o alfa que fui criado para
ser; o herdeiro da máfia italiana.
A maneira como venho agindo ultimamente me torna um maricas,
como diriam alguns.
*
Quando chego lá em cima, paro na porta do escritório do meu pai e
abro sem bater. Meu pai olha para mim e estreita os olhos, com irritação.
— Aprenda a bater, filho.
— Eu sei bater, mas prefiro entrar direto, — digo a ele antes de ir
direto ao assunto. — O que você quer, pai? Prefiro não perder mais
tempo com você do que já perdi hoje.
Ele se levanta da cadeira com as mãos enfiadas no bolso. — Eu quero
falar sobre a nossa discussão mais cedo. Quero dar a você a chance de
cair em si, antes que as coisas vão longe demais.
— Minha mente já está decidida, — esclareço, balançando a cabeça
enquanto uma explosão de risadas escapa dos meus lábios. — Você
realmente odeia não me controlar, não é?
— Estou avisando, Luca, essa garota por quem você está tão apegado
vai se machucar se você não acabar com as coisas agora, — meu pai me
avisa.
Antes que ele possa dizer mais, eu cerro meu punho e levanto minha
voz para ele, a irritação enchendo meu corpo. Eu não tenho mais
paciência para isso.
— Se você tocar em um fio de cabelo dela, vou garantir que a
Catherine não veja a luz do dia novamente.
Estamos entendidos?
— Fode comigo e eu vou foder com você, pai. Não tenho medo, e foi
você quem me ensinou que ninguém faz regras para mim.
— Então, conheça o homem que você criou. Não estou recuando,
saiba que no momento em que você passar dos limites, lidará com as
repercussões.
Meu pai não faz nada além de rir de mim. Ele não me leva a sério nem
por um minuto, mas quando ele finalmente fala, ele confirma os meus
pensamentos.
— Você é engraçado, garoto. Quase risível, mas ao mesmo tempo isso
é embaraçoso. Você deve saber o quão poderoso é o capo. Você pode ser
meu filho, mas não pode me vencer.
— Se você não quer me levar a sério, então que seja. Mas eu te avisei.
Eu sugiro que você gaste o tempo que você tem com a sua preciosa
Caroline. Seria uma pena se algo acontecesse com ela.
— Não se atreva, — eu ameacei.
— Estou dizendo que vou machucar aquela garota se você não se
comprometer com a Sofia. Quando algo acontecer com ela, você saberá
que estou falando sério, mas já será tarde demais.
Ele tem razão. Ele está me avisando e estou ignorando. Mas eu não
deveria fazer isso. Preciso decidir o que é mais importante para mim,
meu orgulho ou a Caroline. Não terei a Caroline de forma alguma se
deixar meu ego ficar no caminho.
Não posso deixá-la se machucar e, por mais que eu odeie admitir, meu
pai está no controle. Ele tem muito mais conexões do que eu, e se ele
decidir machucar a Caroline, então ele o fará. Eu não posso deixar isso
acontecer.
Eu respiro fundo e passo os meus dedos pelo meu cabelo, segurando
os fios com força. — Não... Apenas me dê um tempo, ok?
— Tempo? Para que você precisa de tempo, Luca? Para contar a ela
que você já está noivo? Ou talvez que você tivesse intenções de conhecê-
la para poder vendê-la para o Alessandro Romaro?
Meu pai balança a cabeça. — Sim, eu sei disso. Eu sei de tudo.
Eu sei sobre o incêndio na lanchonete também. E não tenho certeza
do que a pobre garota vai pensar quando souber que você é a razão de o
pai dela estar na UTI. Você acha que ela vai te amar depois de tudo isso?
— UTI? — Eu pergunto, com a minha testa franzida. O pai dela não
morreu? Porra! Isso muda tudo. Se ele se recuperar, a primeira coisa que
fará é dizer à Carol que fui eu quem o atacou.
Minha mente muda rapidamente. — Você tem me seguido? Há
quanto tempo você sabe sobre a Caroline?
— Há um bom tempo, quando você dizia o nome dela, no entanto, era
divertido brincar com você.
Eu tenho pessoas observando você desde que você voltou da Espanha,
Luca. Não posso arriscar que você exponha a nossa família de forma
alguma. Você é uma bomba-relógio.
— Inacreditável, porra! — Eu me viro, batendo meu punho na parede.
Ele tem me observado o tempo todo. Desde que cheguei em casa,
desde que conheci a Caroline, ele tem estado lá nos bastidores, e eu não
tinha nem ideia.
Fui treinado para perceber essas coisas, mas não percebi porque fui
cegado pela Caroline; distraído pelo seu sorriso. Ela me deixou física e
emocionalmente fraca. Estou com nojo de mim mesmo.
Tenho decisões a tomar. Preciso descobrir se vou deixar meu pai
vencer e se vou deixar a Caroline ir, ou se vou lutar com ele e fazer o que
puder para vencer isso.
Meu pai provou várias vezes que sempre sai vitorioso, mas talvez eu
seja o único capaz de mudar isso.
Capítulo 37
LUCA

Eu fiquei longe do meu telefone durante o dia. Não costumo usá-lo


porque não preciso. Eu lido com coisas importantes, então a última coisa
em minha mente é verificar meu telefone toda hora.
Agora que meu pai matou a Josie e seu corpo foi eliminado, eu poderia
voltar para a Caroline sem a preocupação de que ela mencionasse a Josie.
Agora ela está enterrada, em algum lugar que só os homens do meu
pai conhecem, sem nenhum vínculo comigo.
Quando eu verifico meu telefone no final da noite, vejo ligações e
mensagens de texto de Cara.
Carol: Luca, me liguei!

Carol: Onde você está?

Carol: Eu preciso de você.

Carol: Atende o telefone!

Carol: Luca???

Eu ouço as suas mensagens de voz e ela parece frenética. — Luca, por


favor... Por favor, me ligue de volta. É meu pai... Algo aconteceu e... estou
muito preocupada.
Não entendo. Porque ela está chorando? A Carol é uma idiota
completa.
Rapidamente, eu mando uma mensagem de volta.
Luca: O que foi?

Demora menos de um minuto para ela responder.


Carol: Por favor, venha ao hospital. Eu te encontro no saguão.

Mandei uma mensagem de volta para que ela soubesse que estou a
caminho e, enquanto vou para o hospital, algumas coisas passam pela
minha cabeça.
Meu pai deixou claro que eu, infelizmente, não matei o pai da
Caroline, apenas o mandei para a UTI. Eu realmente esperava que ele
não fosse um problema para mim, mas aqui está ele, fodendo tudo.
Eu não tenho outra escolha a não ser estar lá para a Carol. Não posso
simplesmente ignorar o fato de que ela está sofrendo por causa desse
babaca. Ela precisa de mim para consolo e vou confortá-la pelo que fiz a
seu pai.
Não que ela vá saber.
*
A viagem para o hospital passou muito rápido, provavelmente porque
eu realmente não queria perder a minha noite aqui. Depois da conversa
que tive com meu pai sobre a necessidade de deixar a Carol, estou
pensando nas minhas opções.
Eu sou apenas um homem. Eu sozinho não posso mantê-la segura,
especialmente do meu pai. Ele tem um exército inteiro de homens ao seu
alcance. Eu só tenho a mim mesmo.
Sem incluir o Alessandro, que tenho certeza que iria atrás da mulher
que escolhi em vez de sua filha esquelética.
Quando entro no saguão, mando uma mensagem para Carol, para que
ela saiba que estou aqui. Dentro de três minutos, a porta do elevador
apita, e quando as portas se abrem, Carol sai, com lágrimas secas
manchando seu rosto.
Eu me aproximo dela rapidamente, e quando ela me vê, ela desaba,
envolvendo os braços em volta de mim e se permitindo chorar. — Luca...
eles dizem que as chances são ruins...
— O que aconteceu, querida? — Eu pergunto, beijando o topo de sua
cabeça e parecendo preocupado.
Ela mantém o rosto enterrado no meu peito e murmura uma resposta
suave. — Parece que alguém tentou arrombar... Ele deve ter reagido...
Luca, não tenho certeza se ele vai conseguir.
Eu me afasto um pouco, levantando seu queixo para inclinar a cabeça
para trás e olhar para mim. — Lamento que você tenha que passar por
isso, mas sejamos honestos, amor. Ele nunca foi um cara gentil com
você...
— Ele ainda é o meu pai, — ela responde.
Bem, que merda.
Eu aceno a minha cabeça lentamente e sussurro: — Eu sei.
Dando um beijo suave e lento nos seus lábios, eu a puxo para mais
perto de mim, descansando as minhas mãos em seus quadris e olhando
para ela.
Limpo uma lágrima com o polegar e beijo a sua testa novamente.
Tudo o que quero fazer é tocá-la, mesmo nesse momento de crise.
— Tudo o que você quiser, eu farei por você, — digo a ela.
Caroline consegue dar um sorriso pequeno e fraco. — Apenas fique lá
comigo. Quero ir vê-lo por mais alguns minutos antes que o horário de
visitas termine.
— Você quer que eu vá ver o seu pai com você? — Eu rio levemente,
pensando que ela está brincando. — Isso é uma coisa privada. Tenho
certeza que ele ou sua mãe não iriam querer seu namorado... não iriam
me querer por lá.
Porra. Por que eu pronunciei a palavra que começa com “n”? Antes de
decidir partir o coração de Caroline e terminar as coisas com ela, eu me
chamo de namorado dela. Muito bem, Luca.
Se ao menos houvesse uma maneira de me livrar de todas as minhas
responsabilidades e não ter que ser amarrado a outra.
Caroline balança a cabeça e aperta a minha mão. — Não é por ele... É
por mim. Eu preciso de você lá.
Eu aceno com a cabeça e concordo com ela enquanto entramos no
elevador do hospital.
O cara está na UTI. Não tenho certeza de seu estado atual, mas se ele
me vir, tenho certeza que a primeira coisa que fará é dizer à sua família
que fui eu que enfiei a garrafa de cerveja quebrada em seu pescoço.
— Meu pai esteve envolvido em um monte de coisas ruins, — Carol
fala suavemente enquanto se inclina contra a parede do elevador. —
Drogas e... dívidas. Dívidas com traficantes de drogas. Tenho certeza de
que foi um deles que fez isso com ele.
— Ele não pagou, então sofreu as consequências. Eu sempre dizia a ele
que ele precisava ter mais cuidado, mas ele nunca me ouvia. Nunca.
Precisei me segurar para não falar merda sobre esse idiota. Ele não
merece o amor dela. Ela deve odiar esse homem; ele não fez nada, além
de machucá-la.
As portas do elevador se abrem e eu saio de mãos dadas com a
Caroline. Seus dedos se entrelaçam com os meus. — Eu espero que você
não fique enjoado ao ver sangue. Ele está em péssimo estado.
Eu me seguro para não rir. Ah, se ela soubesse. Ficar enjoado com a
visão de sangue era ridículo. Me sentir poderoso, talvez. Mas nunca
enjoado.
Ela para em uma porta e respira fundo. Quando ela fecha os olhos,
levanto uma sobrancelha confusa. — Você está bem?
— Sim, eu só... eu não quero chorar na frente dele. '
Ah, ok.
Ela abre a porta, entra e eu sigo atrás dela.
Seu pai está sentado na cama com os olhos abertos. Ele tem uma
grande bandagem em volta do pescoço com manchas de sangue e uma
máscara de oxigênio sobre a boca.
Seus olhos estão cansados, caídos, enquanto olham ao redor da sala
até que finalmente pousam em mim.
Nem uma única reação. É quase como se seu rosto estivesse
completamente paralisado.
— Ele está acordado e pode ouvir, mas teve um ataque quando estava
na ambulância. Seu cérebro não reage, — Caroline diz, respondendo a
minha pergunta silenciosa. — Mas ele sabe que estamos aqui. Isso é tudo
que importa.
Bem, talvez eu não seja tão azarado, afinal.
Um espirro vem do canto da sala e a mãe de Carol grita diretamente
para o pai de Caroline, — Foi por causa de drogas, é?
Eu levanto as minhas sobrancelhas, surpreso de presenciar a sua raiva
por ele. Realmente escolhi um alvo perfeito. Esse cara tem tantos
problemas que ninguém ficaria surpreso se alguém quisesse matá-lo.
Mas eu fiz isso pela Caroline. E porque eu estava com raiva. Mas,
principalmente, pela Caroline.
Os olhos de seu pai estão focados apenas em mim e, mesmo em seu
estado atual, posso ver a raiva em seu olhar.
Eu sorrio para ele, lentamente colocando meu braço em volta da
cintura de Caroline e puxando-a para perto de mim. Algo que sempre
achei estranhamente satisfatório era provocar as minhas vítimas, e isso
era muito fácil nesse caso.
— Não se preocupe, senhor. A sua filha está em boas mãos.
Capítulo 38
LUCA

Mando uma mensagem de texto para Caroline, pedindo para que ela
me ligue. Tínhamos deixado o hospital cerca de duas horas atrás, quando
o horário de visitas terminou e eu a deixei em casa.
Eu tinha acabado de chegar na casa da minha mãe depois que meu pai
ligou e solicitou a minha presença. Já sabia o que ele queria, mas eu vou
ser civil e conversar com mesmo assim.
Quando entro na casa, chamo meu pai, mas ninguém responde.
— Pai? — Eu pergunto novamente, andando pelo corredor e quando
ouço várias vozes, eu paro no meio do caminho. Agora estou cara a cara
com meu pai, Alessandro e Sofia.
A Sofia está carrancuda e Alessandro fala em nome da filha. — Olá,
Luca. Desculpe a postura da minha filha, mas ela está um pouco
decepcionada de estar aqui.
— Chocante, ela geralmente fica tão emocionada em me ver. — Eu
reviro meus olhos e entro na sala de jantar. — A que devo o prazer?
— O Alessandro está aqui para cancelar a união entre você e a Sofia,
— meu pai cospe entre os dentes. — Aparentemente, ele tem prioridades
mais urgentes do que juntar as nossas famílias. — Alessandro acena com
a cabeça. — Isso é verdade. Meu negócio de tráfico desacelerou e pensei
muito sobre isso, mas aceitarei a sua oferta.
— A Caroline Harding, aquela garota que você ofereceu para mim de
presente. Eu aceito e gostaria que a levasse para a minha casa
imediatamente. Eu tenho muito a fazer para prepará-la para a vitrine de
vendas.
Meu sorriso desaparece e meus olhos se arregalam. Parece que foi há
uma década desde que ofereci Caroline em uma bandeja para ele. Não
sinto mais que ela é apenas um peão na minha vida. Ela se tomou muito
mais valiosa.
Agora estou diante de uma decisão difícil. Posso conseguir o que
quero, uma vida sem a Sofia. Mas, para isso, devo vender a Caroline. Isso
nem está em jogo. A Caroline não vai a lugar nenhum.
— Desculpe, Sr. Romaro. Mas a senhorita Harding não é mais uma
opção, — digo a ele, tentando manter a calma. — Talvez eu possa
encontrar outra mulher tão desejável quanto ela, para te oferecer.
— O que você quer dizer com ela não é mais uma opção? — Ele me
pergunta, revirando os olhos e acenando para mim com a mão. — Ela foi
oferecia a mim e é quem eu estou pedindo. Ela é uma opção, a menos
que eu diga o contrário. — Eu olho para meu pai, depois de volta para
Alessandro. — Não há nada que eu possa fazer por você. A Caroline está...
— Lá embaixo, — uma voz diz atrás de mim e o rosto sorridente de
Ariella dá um passo à frente.
— Achei que eu poderia ajudar meu querido irmão e preparar o seu
pacote para você. Devo admitir que ela está um pouco perturbada agora,
mas quando eu estava falando com ela antes, ela parecia adorável.
Meu sangue queima dentro do meu corpo e eu fico enjoado,
agarrando o braço de Ariella e puxando-a para olhar para mim. — Que
porra você pensa que está fazendo?
Ela sorri para mim e fala baixinho. — Retribuindo um favor.
— Maravilhoso, vamos vê-la, — diz Alessandro.
Enquanto ele caminha em direção à porta, eu fico na frente dele, me
levantando e sem vontade de recuar. — A minha irmã cometeu um erro.
Como eu disse antes, a Caroline não é uma opção.
— E como eu disse antes, serei eu quem decidirá as minhas opções. —
Alessandro passa por mim e pego a minha arma, mas meu pai agarra meu
braço para me impedir.
Ele sussurra baixo para apenas eu ouvir. — Espere. '
Esperar? Que porra estou esperando? Ele vai levar a minha garota. Eu
preciso protegê-la.
Eu vou matar a Ariella.
Quando eles abrem a porta do porão, eu corro passando por eles e
desço as escadas rapidamente, tentando chegar até Caroline antes de
qualquer outra pessoa.
Quando chego ao fim da escada, vejo Caroline. Ela está amordaçada e
amarrada a uma cadeira. Seus olhos pousam em mim e ela fica frenética.
Seus gritos se transformam em murmúrios e ela luta contra o aperto
da corda que a segura.
— Baby, baby, shh. — Eu corro para ela e me ajoelho ligeiramente para
tirar a mordaça dela. — Estou aqui.
Tá tudo bem...
— L-Luc... Eles vão me matar, — gagueja Caroline, com lágrimas
escorrendo pelo rosto. — Essa garota... Ela disse que era sua irmã...
— Que porra você pensa que está fazendo? — Alessandro diz atrás de
mim.
Ouço uma arma sendo engatilhada e eu lentamente levanto de onde
estou e seguro as minhas mãos para cima em defesa, voltando-me
lentamente para olhar para Alessandro. — Não toque nela.
— Afaste-se, Luca, — ele diz para mim, mas eu balanço a minha
cabeça.
— Deixe pra lá, Luca. Foi você mesmo quem enfiou a Caroline nessa
confusão, — Ariella me diz antes de olhar por cima do meu ombro para
Caroline. — Não se preocupe. Eu vou te contar tudo.
— Ariella! — Eu a advirto, mas ela não para. Na verdade, ela só parece
mais empolgada para estragar tudo.
Ariella me lança um olhar furioso e Sofia fala antes que alguém tenha
a chance. — O que está acontecendo aqui? Todo mundo parece saber,
menos eu.
— E eu, — acrescenta Caroline, parecendo cansada.
Eu rapidamente me viro para olhar para Caroline e me sinto mais
fraco e vulnerável do que nunca. — Eu Cometi alguns erros, ok? Mas
preciso que você confie que eu realmente me importo com você.
— O que você fez? — ela me pergunta, olhando para o meu pai, então
para a minha irmã. — Por favor, me soltem... Eu estou com medo. Eu
quero ir para casa e podemos conversar lá.
— Vou tentar o meu melhor... mas prometo te manter segura, — digo
a ela.
— A minha família... Nós somos diferentes... Algo em que você nunca
deveria ter se envolvido. Mas eu arrastei você para esse mundo, então
preciso te contar tudo.
— Oh, cale a boca, Luca, — Ariella diz, me interrompendo. — Você
teve muito tempo para contar a ela, então eu que vou começar, agora.
Afinal, fui eu quem a trouxe aqui.
Eu me viro rapidamente e agarro Ariella pelo pescoço, apertando com
força e falando entre os dentes, — Fique fora disso!
— Luca! — A voz de Caroline me distrai e eu solto o pescoço de Ariella
para olhar para ela. — Quem é você?
Ela sente que não me conhece mais. Porque a minha irmã não saberia
quando parar.
— Ele é meu filho, — diz meu pai, dando um passo à frente, — Luca
Stefano Acerbi.
Caroline franze a testa. — Acerbi? Mas... Não. Luca, você disse...
— Eu menti, — eu admito. — Eu sou um Acerbi por completo. Somos
uma conhecida família da máfia e...
— Não, não, não, não... — Caroline começa a sacudir a cabeça,
tomando-se frenética quando ela percebe que eu sou. Não sei dizer se ela
acha que estou brincando ou se realmente está tão surpresa.
— Você não... Luca, você é a pessoa mais doce que já conheci... Você
não pode fazer parte da Máfia.
Uma risada exagerada ecoa pelo porão, e eu estremeço com a voz de
Ariella.
— Querida, ele é tudo menos doce. Ele não entende como ser gentil
com ninguém. Sempre há um motivo por trás de tudo que ele faz.
— Cale a boca, Ari. Eu juro por Deus!
— Ele matou o meu namorado! — Ariella cospe, sem perder tempo
para contar a Caroline sobre o tipo de pessoa que eu realmente sou.
— Ele o assassinou e não deu a mínima para mim. Eu sou a irmã
dele~! Você acha que ele realmente se importaria com você? Eu
realmente espero que você não seja tão patética.
— Não fale assim com ela, — eu estalo, virando para Caroline e
descansando a minha mão em seu ombro.
'Eu posso explicar. '
Caroline tira a minha mão de seu ombro rapidamente e olha para
mim com medo em seus olhos. Ela tem medo de mim, isso fica claro. Eu
sempre fui muito bom com ela, e mesmo assim, ela está com medo de
mim.
— Não me toque! — ela grita, tentando se afastar de mim, mas as
cordas que a prendem estão muito apertadas. A cadeira em que ela está
sentada move-se ligeiramente, mas ela mal se afasta de mim.
— Apenas espere, querida. Tem mais, — Ariella diz com um sorriso
presunçoso em seu rosto enquanto olha para o meu pai em busca de
segurança. — Posso?
Meu pai balança a cabeça e mantém as mãos dentro dos bolsos
enquanto me lança um olhar severo. Ele não diz nada, mas fico me
perguntando se o meu pai e Ariella tinham combinado tudo isso antes.
E minha mãe? Onde ela está durante tudo isso?
Quando Ariella olha para Caroline, ela diz uma coisa que eu temia. —
Você já conheceu a Sofia? Ela é a noiva de Luca.
Capítulo 39
CAROL

Noiva? Ela só pode estar brincando. Luca e eu tínhamos nos tomado


próximos e temos o que achei serem sentimentos genuínos um pelo
outro. De jeito nenhum ele podia ter uma noiva esse tempo todo.
Ou talvez eu seja a idiota que a sua irmã está dizendo que eu sou.
A Ariella é uma vadia. Mas ela parece machucada, assim como eu.
Quando ela falou de seu namorado, seus olhos doeram.
Se não fosse por ela me sequestrar e me arrastar para esse porão
contra a minha vontade, eu teria sentido pena dela.
Mas meu foco principal é o fato de estar amarrada à máfia que me
cerca.
Como consegui me colocar nessa situação? Acabei de conhecer um
cara por quem me apaixonei e ele acabou sendo um cara muito mau. Um
cara terrível; possivelmente um serial killer.
— Caroline, eu não a amo, — diz Luca, interrompendo meus
pensamentos.
A garota atrás dele, Sofia, desvia o olhar, envergonhada.
— A minha família tem essa regra sobre fazer uniões e fortalecer os
laços com outras famílias poderosas. É só isso entre a Sofia e eu...
— E-eu não me importo, Luca! — Eu levanto a minha voz para ele,
meus olhos lacrimejando; uma mistura de tristeza e medo. — Eu não...
eu não quero você, de qualquer maneira... não depois disso.
— Esse não sou eu! Você me conhece melhor do que qualquer uma
dessas pessoas. Tudo foi real, Caroline. Eu juro.
Luca parece estar se tomando vulnerável bem na minha frente. Uma
coisa que sempre quis dele e agora que seus segredos foram revelados é
quando ele decide ser um ser humano decente. Mas é tarde demais.
É tarde demais para a vulnerabilidade e tarde demais para sermos algo
mais do que já fomos. De jeito nenhum eu ficaria com alguém da Máfia.
Se eu conseguir sair dessa com vida, nunca vou olhar para trás. Nunca.
Vai, o pai de Luca, fala. — Peço desculpas por isso interferir no seu dia,
Caroline.
Meu filho aqui, ele tem alguns problemas com compromisso e tem
feito o que pode para sair desse casamento; incluindo oferecer você para
os negócios do Sr. Romaro.
— O quê? — Franzo a testa em confusão e olho para quem presumo
que seja Alessandro. — Seus negócios?
— Eu vendo garotinhas bonitas como você. — Alessandro sorri para
mim. — O Luca, aqui, ele te encontrou e te ofereceu para mim em uma
bandeja de prata se eu permitisse que ele não se casasse com a minha
filha.
É por isso que estamos aqui, Sra. Harding. É hora do Luca pagar as
suas dívidas e me dar o que prometeu.
Ariella limpa a garganta e dá um passo na frente do Sr. Romaro,
balançando a cabeça. — Ela não está aqui para isso. Ela não vai ser só
uma boa venda.
— Eu trouxe a Caroline aqui para mostrar a ela exatamente quem é
meu irmão e por que ela deveria cair fora. Ninguém vai se machucar, ok?
— Ariella, — Vai diz enquanto puxa a sua filha de lado, — não
interfira. Luca fez uma escolha. Você e eu podemos não concordar com
os negócios do Alessandro, mas isso só diz respeito a ele e precisamos
respeitar.
— Acho que não, pai. — Ela puxa o braço. — Eu não trouxe aquela
pobre garota aqui para machucá-la! Não vou deixá-la ser vendida a algum
pervertido. Se ela for levada, a culpa vai ser minha e não está tudo bem.
— Arie...
Ariella puxa um canivete do bolso e rapidamente se ajoelha atrás da
minha cadeira, soltando a corda com muita rapidez.
Ao mesmo tempo, Luca saca uma arma e aponta para seu pai e
Alessandro, dando tempo a Ariella me soltar das cordas.
— Saia daqui, — Ariella sussurra em meu ouvido enquanto ela
rapidamente me levanta.
A próxima coisa que eu sei é que ela está puxando uma arma de
debaixo da perna da calça e, junto com Luca, ameaçando os dois homens
mais velhos na frente deles.
Eu não perdi tempo observando o que ia acontecer. Aproveitei a
oportunidade que me foi dada e corri para as escadas, desesperada para
sair dessa bagunça.
LUCA

Meus olhos se movem entre meu pai e a escada. Caroline correu pela
porta no topo da escada, mas essa casa é grande e um verdadeiro
labirinto; ela não encontrará o caminho para fora imediatamente. Além
disso, a porta da frente geralmente está trancada com um código
especial, e ela é aparafusada, de qualquer maneira.
Sem hesitar, eu subo as escadas correndo atrás dela em pânico para
encontrá-la antes que alguém chegue até ela primeiro.
— Caroline? — Eu grito, procurando freneticamente ao redor do
corredor. Verifico a sala de estar, o escritório do meu pai e até corro para
a porta da frente, que ainda está trancada. Ela está longe de ser
encontrada.
— Caroline? Sou eu. Eu vou te ajudar, diga onde você está!
Corro pelo corredor e encontro o caminho para a cozinha, onde vejo
Caroline olhando ao redor com medo, as lágrimas manchando seu rosto
perfeito.
Quando ela olha para mim, ela grita: — Sai de perto de mim!
— Carol... — Dou um passo em direção a ela, sem me preocupar em
levar as suas ameaças a sério. — Venha comigo, vou te mostrar como sair
daqui.
Eu agarro Caroline pelo pulso e, antes que eu perceba, ela pega um
garfo do balcão e o enfia na minha mão, gritando e chorando enquanto
faz isso. — Porra! — Eu grito, incapaz de conter a minha raiva, uma vez
que minha mão está latejando de dor e há sangue pingando no chão. —
Que porra é essa, Caroline?
— Nunca mais me toque! — ela grita no meu rosto antes de puxar o
braço para trás e me bater com força na bochecha, causando uma onda
de ódio que começa a percorrer meu rosto instantaneamente.
Não tenho tempo para dizer mais nada antes de Caroline sair da
cozinha e desaparecer ainda mais na casa, mas ela não vai conseguir sair
porque a porta da frente precisa de um código.
Rangendo os dentes agressivamente, agarro o garfo e o puxo da minha
mão rapidamente, a dor se tomando mais forte.
Enquanto seguro a minha mão contra o peito, saio da cozinha e vou
para o corredor.
Assim que chego à porta da frente, vejo Caroline lutando para abri-la.
— Vamos...
— O código numérico é zero-zero-três-sete-dois, — digo a ela
enquanto me aproximo por trás.
Em vez de digitar o código imediatamente, Caroline se vira para olhar
para mim. A dor em seus olhos é clara e me destrói saber que as coisas
tinham que terminar assim entre nós.
Mas não estou pronto para desistir dela, ainda. Ela me fez sentir mais
humano do que jamais me senti em minha vida.
— Eu te odeio, — ela diz.
Eu aceno minha cabeça. — Eu sei.
— Eu te odeio tanto.
— Você deveria me odiar, mesmo, — eu a tranquilizo, balançando a
cabeça novamente. — Zero-zero-três-sete-dois. Digite e saia daqui. Eu
não vou deixá-los seguirem você, eu prometo.
Ficamos em silêncio por um momento e parece que a Caroline queria
dizer algo mais, mas ela não disse.
Em vez disso, ela se volta para a porta e digita o código para destrancá-
la, abrindo a porta rapidamente.
Uma vez que a brisa de fora bate no meu rosto, a Caroline sai pela
porta e desaparece da minha vista tão rapidamente como ela entrou na
minha vida.
Mas isso não pode ser o nosso fim.
Eu não vou deixar.
Capítulo 40
LUCA

Já se passaram três dias desde que a Caroline fugiu da casa de meu pai.
Não a vi ou ouvi falar dela desde então.
Já tentei ligar e até ficar à espreita do lado de fora da casa dela, mas ela
não está em lugar nenhum e começo a me perguntar se ela se escondeu.
Se ela tiver feito isso, eu poderia facilmente encontrá-la com a ajuda
de um detetive particular. Mas não quero saber onde ela está agora. Ela
está mais segura sem eu saber.
A minha maior preocupação são todas as outras pessoas que possam
estar procurando por ela: meu pai e o Alessandro Romaro.
Decido que preciso ter uma conversa civilizada com o meu pai, de
homem para homem. Por mais que eu odeie admitir o poder dele, é útil
para sair de situações complicadas como essa.
Se eu precisar sugar meu pai e pedir a sua ajuda para manter a
Caroline segura, é o que eu farei.
Quando bato na porta do escritório do meu pai, espero que ele me dê
permissão para entrar.
Quando ele entra, eu abro a porta e entro, seu olhar penetrando em
mim.
Essa é a primeira vez que ficamos carola cara desde o incidente no
porão.
Ele está com raiva, dá para ver.
— Devo me preocupar por que você está aqui? — ele me pergunta.
Eu balanço a minha cabeça negativamente e fecho a porta atrás de
mim, caminhando em direção à mesa do meu pai.
— Preciso da sua ajuda. Não é algo que eu gosto de admitir, mas a
segurança da Caroline é a minha principal prioridade, e se você puder me
ajudar a mantê-la segura...
— Essa garota é problema seu, não meu.
— Ela não é um problema, — eu respondo, apertando a minha
mandíbula com força antes de respirar fundo. — Não posso manter
Alessandro longe dela agora que ele sabe sobre ela. Esse é o meu
problema e estou pedindo a você para me ajudar a consertar essa
bagunça.
Meu pai ri, olhando para as mãos cruzadas na mesa e balançando a
cabeça.
— Você fez isso consigo mesmo, filho. Você queria tanto sair daquele
casamento com a Sofia que se dispôs a oferecer a Caroline como um
pedaço de came.
Depois de colocar uma oferta na mesa, você não pode simplesmente
retirá-la. Não é assim que esse negócio funciona.
— Você acha que eu não sei disso? Eu sei que é minha culpa! Não é por
isso que estou aqui. Não estou falando com você como um membro da
sua família da máfia. Estou falando com você como seu filho. Estou
pedindo ajuda.
Sinto que estou ficando desesperado, algo que nunca senti e algo que
nunca quis me tomar, especialmente na frente do meu pai. — Pai, por
favor...
Meu pai me olha em silêncio e respira fundo. Não tenho ideia do que
ele pensa e temo a rejeição que está por vir.
Em vez de responder, ele pega o telefone do escritório e disca um
número, esperando alguns instantes antes de falar com a pessoa na outra
linha.
— Alessandro, desculpe incomodá-lo. Sim, eu sei... Eu tenho uma
proposta para você. Eu gostaria de oferecer o casamento imediato entre o
Luca e a Sofia. Sem discussões; o Luca vai colaborar.
— Em troca, pedimos a segurança da Caroline Harding.
Ouço as palavras do meu pai e ele olha para mim para ver se concordo
com os seus termos. Eu aceno a minha cabeça lentamente, sabendo que
isso é o que eu preciso fazer, se for a minha única opção.
Ele continua a falar com Alessandro, balançando a cabeça. — Sim eu
entendo. Ele tomará todas as medidas necessárias para reconquistar a
confiança da sua filha.
Nesse meio tempo, podemos fazer os preparativos para o próximo fim
de semana.
O próximo fim de semana? Tento não expressar a minha decepção,
mas tenho certeza de que falhei miseravelmente. Tive a sensação de que
acabaria me casando com a Sofia, mas em poucos dias era algo que nunca
imaginei.
A Sofia vai aproveitar a oportunidade enquanto eu enterro cada grama
de quem eu sou. A pessoa que eu fui estava sendo jogada fora junto com
alguém de quem eu gostava e me ajudou a me tomar uma versão melhor
de mim mesmo.
Meu medo agora é que, sem ela, essa versão de mim irá evaporar no
ar.
A conversa ao telefone termina e meu pai me olha com uma
sobrancelha levantada. — Você está preparado para se casar no sábado?
Preparado? Não. Mas vou me obrigar a aceitar a ideia porque não
tenho outra escolha.
'Sim, senhor. ' — Bom, agora vá levar flores para a sua futura esposa e
conserte a bagunça que você criou, ok?
Eu aceno a minha cabeça e sigo em direção à porta. Eu paro assim que
o alcanço e me viro para olhar para meu pai mais uma vez.
— Obrigado. Eu sei que não é algo que eu geralmente admito, mas eu
estava errado e eu agradeço por você me tirar dessa confusão.
Ele acena com a cabeça. — E algo que eu nunca admito é que,
independentemente de suas decisões terríveis na vida, você é o meu filho,
e farei o que puder para ter certeza de que você está bem.
Você pode ter se enfurecido e tem problemas de temperamento, mas
você não é o Stefano. Você nunca vai ser.
É raro que meu pai fale de seu irmão - o irmão que ele matou. Eu sei
muito pouco sobre ele; mas sei que existem algumas boas lembranças
que meu pai tem dele desde a infância.
Sei que tudo terminou mal quando tio Stefano tentou se voltar contra
a família e meu pai descobriu, optando por assassinar seu irmão em
retaliação.
Ha boatos que meu pai tem muito arrependimento e transtorno de
estresse pós traumático por acabar com a vida de seu irmão, mas também
sei que ele foi encurralado e não teve escolha.
Meu pai e eu sempre estivemos em lados opostos, mas algo que eu
nunca admitiria para ninguém é que só comecei a ser tão agressivo para
deixá-lo orgulhoso.
Tudo o que ele sempre quis foi um herdeiro forte para seu legado, e
esse era o meu trabalho.
De alguma forma, mesmo quando eu era um garoto tentando
impressionar o meu pai, nunca era o suficiente, e eu sempre parecia ser
um fracasso aos olhos dele.
É por isso que eu me tomei cada vez pior. A minha necessidade de
impressioná-lo se transformou em uma necessidade de ser melhor do
que ele - de vencê-lo.
Sei que nunca ganharia do meu pai, não enquanto ele ainda tentava
ativamente me colocar no meu lugar, mas isso se tomou uma coisa
normal e cotidiana.
Talvez se eu tivesse apenas focado em ser um bom filho, a minha
infância poderia ter sido melhor; meu relacionamento com meu pai
poderia ter sido melhor.
É tarde demais para pensar nisso. Muita coisa já foi acertada entre
meu pai e eu hoje, e ele se dispôs a me ajudar, independente do filho
terrível que eu fui.
Isso diz mais do que qualquer palavra jamais poderia dizer.
Em vez de me concentrar em como posso provar a minha lealdade,
meu foco agora tem que ser em Sofia por enquanto, porque ela é a única
pessoa nesse mundo que poderia estragar tudo.
E agora, ela é aquela a quem eu preciso provar a minha lealdade.
Capítulo 41
LUCA

Estou parado do lado de fora da porta do quarto de Sofia com uma


dúzia de rosas nas mãos. Eu as comprei no caminho para a casa dos
Romaro, como meu pai sugeriu. Espero que sejam o suficiente para
ganhar o perdão de Sofia.
Preciso do perdão dela agora mais do que nunca, não porque quero
que ela me queira, mas porque eu preciso disso para manter a Caroline
segura.
Caroline sempre será a única mulher para mim, independentemente
da situação. Esteja ela aqui ou não, a Caroline assumiu uma parte de mim
e eu nunca quero que vá embora.
Alessandro me deixou entrar, me dizendo que a Sofia precisa
concordar com essa união novamente antes de prosseguirmos com o
casamento no sábado.
Eu planejo meu discurso enquanto bato na porta do quarto de Sofia,
ouvindo-a relutar do outro lado da parede.
Normalmente eu não me importaria, nem pensaria que ganhar o
perdão de Sofia seria difícil, mas vi a expressão em seu rosto quando a
Ariella expôs tudo para Caroline. Era de pura devastação e dor.
A porta do quarto se abriu e Sofia olhou para mim, parecendo
desapontada ao ver que sou eu. — Por que você está aqui?
— Para pedir perdão, — eu digo a ela com um sorriso atrevido,
estendendo as rosas para ela.
Ela rejeita. Em vez disso, se vira e vai em direção à cama, onde se senta
e fica quieta por um momento. Posso dizer que ela está pensando no que
dizer.
Quando fecho a porta, ela fala: — Você me fez parecer uma idiota... Eu
sempre soube que você saía com outras mulheres, mas essa garota
Caroline, ela não era apenas mais um caso de uma noite só, né?
Eu balanço a cabeça negativamente e começo a andar em direção a
Sofia. — Não, ela não era. Mas ela se foi agora, ela não está em cena, e—
— E o quê? Eu deveria simplesmente esquecer que você se apaixonou por
outra pessoa quando eu passei a maior parte da minha juventude
tentando fazer você me amar? — Ela ri e balança a cabeça.
— Não, Luca. Não é assim que funciona. Sempre achei que você não
poderia me amar porque não existia amor dentro de você. Mas você tem,
só não para mim.
Ela continua falando de amor e eu acho que é um pouco presunçoso.
Tento impedi-la antes que ela possa continuar — Em primeiro lugar,
amor é uma palavra importante, querida. Admiração, talvez. Mas o
amor... não é para mim.
— Admiração, amor, como quer que você chame, você tem
sentimentos verdadeiros por ela, — Sofia me lembra.
— Sabe, sempre quis que você me amasse. Sempre tentei e perdoei as
traições óbvias, porque você é o único homem por quem eu já tive
sentimentos.
— Você é a única pessoa com quem estive intimamente e, embora
sexo não signifique nada para você, significa tudo para mim.
Eu tinha sido descuidado com a Sofia e seus sentimentos. Quando ela
tinha apenas dezesseis anos, eu a seduzi só com o propósito de transar
com ela.
Eu sabia que ela me queria e se entregaria a mim, então me aproveitei
dela. Peguei cada parte que eu podia, sem intenção de cuidar dela.
Ela era jovem, ainda é. Mas só agora está provando que não é tão
idiota quanto pensei que fosse durante todos esses anos.
— Sabe, hoje faz dois anos que..., — ela diz baixinho.
Eu aceno com a cabeça quando percebo. É a porra do aniversário dela
e eu não fazia nem ideia. — Sim, uh... feliz aniversário, me desculpe por
não ter dito, mas presumi que as flores falavam por si mesmas.
— E aqui eu pensei que as flores eram um pedido de desculpas. —
Sofia revira os olhos e pega o buquê de mim. — Escute, Luca...
Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, decido usar seu
aniversário em meu benefício para ganhar seu perdão. Ela acha que não
me importo com o aniversário dela, o que é verdade, mas vou fingir que
me lembrei.
— É seu aniversário de dezoito anos, Sofia. Isso significa que devemos
nos casar, não porque nossos pais querem, mas porque nós queremos.
Mas uma coisa que eu nunca dei a você e que você merece é um pedido
adequado.
Ela parece confusa, franzindo a testa quando me ajoelho. — Luca...
— Shh, apenas escute, — eu digo a ela ao pegar a mão dela na minha e
olhar para o anel de noivado ainda em seu dedo. Ela não pode estar com
tanta raiva se ainda o está usando.
— Posso ter sido um péssimo noivo, relutante em estar com você ou
em lhe dar o carinho que você merece, mas quero ser um marido melhor.
Quero começar nossas vidas juntos ganhando a sua confiança de
volta, e quero que isso comece hoje.
— Hoje? Você está...
'Sério? Sim eu estou. ' — Eu ia dizer louco, — ela me corrigiu antes de
balançar a cabeça. — Não sei, Luca. Sempre quis ouvir você dizer isso,
mas depois do que aconteceu na casa do seu pai outro dia...
Eu sei o meu valor. Você não me merece.
Eu evito gemer de aborrecimento, mas estou começando a ficar
frustrado com o quão difícil a Sofia está sendo. Ela geralmente é a pessoa
mais fácil do mundo de se conquistar, mas ela escolheu ser difícil hoje;
enquanto estou ajoelhado como um homem patético sem dignidade.
— Case comigo, Sofia Patrícia Romaro, — digo a ela. Ela gosta mais
quando sou exigente do que curioso.
Bem, ela terá o Luca exigente, então. — Case comigo hoje, tome-se a
minha esposa e siga em frente comigo. Passe a ser a Sra. Sofia Acerbi.
Ela se mantem silenciosa e eu odeio a espera. Eu nunca gostei
normalmente eu levantaria e mandaria ela se foder, mas há mais coisa
em jogo do que Sofia entende.
O pai dela ainda não contou sobre os planos de nos casarmos no
sábado. Ela não entende o acordo que fiz.
— Você está me matando, — digo a ela, com um sorriso forçado no
rosto.
De repente, do nada, os lábios de Sofia se curvam em um sorriso
enquanto ela acena com a cabeça. — Sim, eu vou casar com você!
— Hoje? — Eu pergunto.
Ela acena com a cabeça novamente. — Hoje. Eu já tenho o meu
vestido de noiva e...
— Pegue ele. Pegaremos um jato particular para Las Vegas e fugiremos
para a capela mais cafona que você possa imaginar. Talvez até nos
casemos com o Elvis.
Eu rio, me levantando e colocando o rosto de Sofia em minhas mãos
para olhar para ela. — Eu não posso esperar você ser a minha esposa.
Sofia sorri para mim, sua excitação brilhando nos olhos. — Eu não
posso esperar para me tomar a sua esposa. É tudo o que eu sempre quis,
Luca.
Quando a solto, ela corre para o armário e pega um grande saco que
tenho certeza de que contém seu vestido de noiva.
Tentei não deixar meu sorriso vacilar, mas estou morrendo por
dentro. Eu tinha lutado contra isso por tanto tempo e agora estava
cedendo.
Odeio o que a minha vida se tomou, mas, o que é mais importante,
odeio o que fiz com a Caroline. Tenho que consertar, e isso inclui me
casar com a Sofia Romaro.
Hoje.
Capítulo 42
LUCA

Antes de ir para o jato particular, parei na casa dos meus pais para
falar com a minha mãe. Não parecia certo a minha mãe não saber o que
estava acontecendo.
Não que isso pareça certo de qualquer maneira, mas preciso proteger
a Caroline o melhor que puder.
Minha mãe está em seu quarto arrumando o armário. Ela sorri ao me
ver, me dando toda a atenção. — Olá docinho. Eu sinto que já faz uma
década desde a última vez que eu vi você.
Ela estende os braços e eu me aproximo, me inclinando para abraçá-
la. — Eu sei, eu preciso ser mais presente.
— É mesmo, — ela concorda.
Eu me afasto do abraço e consigo um pequeno sorriso. — Vou fazer o
meu melhor. Eu prometo.
Minha mãe olha para mim e levanta uma sobrancelha, cruzando os
braços sobre o peito.
— Eu adoraria pensar que você está aqui apenas para me visitar, mas
eu sou mais esperta. Qual é a razão de você passar por aqui? Parece que
tem muita coisa acontecendo em sua cabeça agora.
— Bem, eu não posso dizer que você está errada, — eu respondo,
sentando na beira da cama e olhando através da sala para a minha mãe.
Eu começo a explicar tudo. — Queria passar aqui para lhe dizer que
estou indo para Las Vegas com a Sofia. Nós vamos nos casar e...
— Calma aí, — ela interrompe, colocando as roupas que ela tem em
sua mão para baixo e transformando completamente o seu olhar para
mim. — Em primeiro lugar, Las Vegas? Você está louco?
Eu sabia que se alguém pudesse me colocar no meu lugar, seria a
minha mãe, mas, dadas as circunstâncias, não posso permitir que ela me
faça mudar de ideia. — É o jeito, mãe.
— Oh, tá bom. Só não sei de onde veio essa mudança repentina de
opinião. A única coisa que faz algum sentido é que você está fazendo isso
pela Caroline.
— Seu pai me contou tudo sobre o que aconteceu no porão. Estou...
mortificada por aquela garota, — ela me diz com simpatia em seus olhos
quando menciona a Caroline.
— Não tem como ela não ter nem um pouco de estresse pós
traumático. Só posso esperar que ela possa ter uma boa noite de
descanso algum dia.
Se alguém entende o que é ser arrastada para essa vida, é a minha
mãe. Ela nunca pediu por isso, nem nunca quis. Mas ela aceitou, de
qualquer maneira.
Eu gostaria de pensar que em algum lugar ao longo do caminho ela foi
capaz de encontrar algum senso de conforto e segurança com o meu pai.
Embora eu duvide muito.
— Estou orgulhosa de você, no entanto. Fazendo de tudo para
protegê-la.
Mas isso é completamente injusto com a Sofia.
Usá-la para o seu próprio benefício, Luca, isso nunca é aceitável,
independentemente do motivo, — ela continua, expressando seu
desapontamento com a situação.
Mas não tenho intenção de levar a sério suas palavras. Eu não tenho
nenhuma margem de erro agora. Em vez disso, aceno com a cabeça em
concordância e respondo a minha mãe em um tom mais suave.
— Eu entendo o que você quer dizer, mas a Caroline é a minha
prioridade. Eu a arrastei para isso e sei que ela já vai ficar assustada, mas
o melhor que posso fazer agora é protegê-la.
— Essa é a única maneira de fazer isso, e se significa que eu preciso
usar a Sofia, então que seja. Lamento se isso te deixa desapontada
comigo, mas finalmente encontrei alguém que me faz querer cuidar.
Eu não posso deixá-la sofrer porque eu a arrastei para o nosso mundo.
Minha mãe permanece quieta por algum tempo. Ela está pensando
em um jeito de me fazer mudar de ideia, mas ela sabe que isso nunca vai
acontecer. Eu sempre fui teimoso e ela sabe disso melhor do que
ninguém.
Quando ela finalmente decide falar, suas palavras me surpreendem.
— A única coisa que peço a você é que seja bom para a Sofia. Você
pode não amá-la como deveria como marido, mas não a odeie. Isso
também não é culpa dela, Luca.
— Claro que eu vou odiá-la, mãe. Por que eu seria feliz com uma vida
que nunca quis? — Ela é louca em pensar que eu poderia ter outra coisa
senão ódio pela Sofia Romero.
— Quero dizer ódio físico, Luca. Não coloque as mãos sobre aquela
garota, nunca a force ou dê um tapa quando ela não te der o que você
quer. — A voz da minha mãe é suave, ficando mais tranquila a cada
segundo.
— Ela é humana. Ela tem sentimentos, e não quero que você seja
como o seu pai quando se tomar marido de alguém. Você pode ser
melhor do que ele. — Ela parece hipócrita. Ela ainda está com o meu pai,
idolatrando-o, mas espera que eu seja um homem melhor quando ainda
ama o seu agressor. Absurdo.
Tento evitar dizer isso em voz alta, mas não consigo. — Você parece
não ter mais ressentimentos em relação ao meu pai.
— Você sabe, Luca. É verdade o que as pessoas dizem. Se você diz a si
mesmo algo o suficiente na vida, você eventualmente começa a acreditar.
Ela consegue dar um pequeno sorriso, mas posso ver a dor em seus
olhos, que ela está tentando esconder de mim.
— Seu pai me machucou para sempre. O homem me estuprou e
abusou de mim todos os dias. Ele até atirou em mim uma vez. Como
alguém pode amar assim?
Então, a minha mãe não ama o meu pai? Eu levanto uma sobrancelha,
absorvendo suas palavras e tentando entender.
Antes que eu possa responder, ela continua. — Eu nunca tive escolha
para sair, Luca. Eu teria que deixar você e a Ariella aqui. Eu nunca seria
capaz de fazer isso.
— Se eu tivesse fugido, teriam me encontrado. E mesmo que o se pai
me desse a oportunidade, sempre haveria um vínculo com essa família.
Ele nunca seria quebrado e eles poderiam aparecer a qualquer hora. ' —
Então, você não ama o meu pai? — Eu pergunto a ela.
Ela faz uma pausa e olha para as próprias mãos. — Eu me preparei
para acreditar que sim, mas há dias em que imagino como a minha vida
seria bonita se ele nunca voltasse para casa um dia.
— Tantas vezes, enquanto você estava crescendo, esperei seu pai
voltar para casa de brigas com outra máfia, no fundo esperando que ele
fosse morto para que eu pudesse ter os meus bebês e viver livremente.
Não há muito que eu possa dizer, então comento brevemente: — Isso
é mórbido, mãe.
— Eu sei, mas seu pai me deixou cheia de cicatrizes, e
independentemente do quanto eu tente, as cicatrizes em meu corpo e
mente sempre vencem.
— No momento em que fecho meus olhos, estou de volta ao porão
por aquelas duas semanas, acorrentada a uma grade na escuridão... — Ela
fecha os olhos lentamente. — É assustador.
Eu me levanto da cama e caminho até a minha mãe, pegando as suas
mãos e olhando para ela. — Você me enganou, mãe. Eu realmente pensei
que você amava aquele bastardo.
Minha mãe olha para mim, as lágrimas enchendo seus olhos,
enquanto ela coloca a mão no meu torso. — Ele machucou o meu filho.
Foi nesse momento que soube que nunca poderia amá-lo como uma
esposa deve amar seu marido...
Eu vejo as cicatrizes que ele deixou em você, física e mentalmente. Eu
sei que você tem marcas dos espancamentos e do treinamento. Eu sinto
muito que eu não podia te ajudar. Eu sinto muito que eu não podia te
proteger dele.
Eu balancei a minha cabeça, puxando a minha mãe para um abraço
apertado. — Não... não diga isso, mãe. Você não poderia nem proteger a
si mesma, e muito menos a mim.
Meu peito dói de pena da minha mãe, um sentimento estranho que
comecei a sentir desde que conheci a Caroline.
Mas esse sentimento é mais forte. Essa é a minha mãe, e a sua dor me
atinge com mais força do que eu poderia imaginar.
Eu era apenas um menino vendo a minha mãe sendo agredida.
Felizmente, meu pai acabou se abstendo de bater nela à medida que
envelhecíamos, mas isso só porque ele tinha um novo saco de pancadas.
Eu.
Capítulo 43
LUCA

Estou olhando pela janela do jato particular com o pé apoiado no


joelho oposto e o polegar roçando no queixo.
Minha mente está na conversa que tive com a minha mãe antes. Ela
me surpreendeu ao confessar que seus sentimentos pelo meu pai nada
mais eram do que a mente se convencendo de que estava apaixonada.
Antes de ir embora, prometi à minha mãe que nunca agiria com a
Sofia como meu pai agia com ela. Não vou bater nela, mesmo quando
estiver com raiva. Não vou usar o corpo dela como saco de pancadas.
Serei melhor que o meu pai. Não serei o marido monstro que ele era.
— Está tudo bem? — Sofia me pergunta.
Eu olho para ela, balançando a cabeça lentamente. — Sim. Tudo está
bem.
— Tem certeza? — ela me pressiona, com as sobrancelhas levantadas
enquanto atravessa o jato para se sentar ao meu lado. — Desde que você
foi ver a sua mãe, você ficou extremamente quieto.
— Não foi nada, — eu insisto. — Você falou com o seu pai sobre fugir
para casar? — Eu pergunto a ela e ela acena com a cabeça. — Ele não se
importa em perder o casamento da sua única filha?
Sofia balança a cabeça. — Eu nunca fui mais do que um peão para ele.
Você deveria saber disso. Eu nasci para ser qualquer tipo de alavanca que
pudesse ser para os negócios do meu pai, e é aí que entra esse casamento.
Eu não sou burra, Luca. Sei que isso é forçado e, embora você tenha
deixado claro que não é isso que deseja, acredito que podemos fazer o
melhor e tentar ser felizes juntos.
Talvez, eventualmente, você seja capaz de ter algum tipo de
sentimento em relação a mim, além de raiva.
— Eu não tenho raiva de você. Sei que não é sua culpa, Sofia, — eu a
tranquilizo. — Eu estou mais aborrecido por você estar de boa com essa
união.
Eu não entendo por que você sempre esteve tão disposta a se casar
comigo. Por que você disse que me amava quando nem mesmo me
conhecia?
— Mas eu conheço você!
Eu balancei a minha cabeça. — Não, você não conhece. Você não sabe
nada sobre mim, Sofia.
— Você é o meu primeiro, Luca. Meu único. Pode me chamar de
antiquada, mas isso significa muito para mim, — ela me diz.
Pobre garota, tão ingênua.
— A noite em que me entreguei a você, lembra do que você disse?
Você disse que fazer amor nos uniria para sempre. Foi quando eu tive
certeza de que o nosso vínculo nunca seria quebrado.
Quero gritar com ela, dizer que ela está delirando e que não há
nenhum vínculo entre nós dois, mas a chance de arriscar que ela cancele
o casamento não vale o orgulho ferido.
Na noite em que tirei a virgindade de Sofia, falei um monte de coisas
pra conseguir comer ela, mas ela não foi difícil. Ela basicamente abriu as
pernas para mim antes mesmo de eu chegar lá.
Sofia sempre foi desesperada pelo meu carinho e isso é triste, quanto
mais eu penso mais vejo isso.
— Não vamos pensar no passado, — eu sugiro, preocupado que eu
acabe dizendo algo que me coloque em apuros. — Vamos conversar sobre
o futuro.
Depois de voltarmos para Chicago, vamos examinar o mercado
imobiliário, comprar uma casa grande e pedir que os seguranças façam
uma reconstrução completa para que seja segura.
'E muito espaço para as crianças, — acrescenta ela.
— Não vamos colocar o carro na frente dos bois, — sugiro. — As
crianças estão em um futuro distante; não vai ser agora. Tenho muita
coisa para me preocupar agora e crianças são nada mais do que uma
distração.
Claro, precisaremos ter um filho para assumir a linhagem Acerbi,
porque terei que substituir o meu pai um dia, mas temos muito tempo
para isso.
Sofia não parece concordar. Ela cruza os braços sobre o peito e se
inclina ligeiramente para trás no assento. — Do jeito que você ama se
meter em confusão, devemos pensar sobre os riscos de esperar.
— Por que eu posso morrer cedo? Bem, se isso acontecer, tenho
certeza de que você pode encontrar outro homem, — eu comento.
Eu realmente não me importo se a Sofia conhecer alguém assim que
eu morrer. Não é como se eu tivesse qualquer ligação emocionais com
ela, nem me importo com ela de uma forma romântica.
Ela franze a testa para mim e joga uma pergunta que eu realmente
não quero responder, bem na minha cara. — Você realmente quer se
casar comigo, ou é apenas a sua maneira de proteger a garota que a sua
irmã sequestrou?
— Caroline não significa nada para mim, — minto para ela, esperando
que ela realmente acredite em mim. — Eu quero casar com você, Sof. Eu
simplesmente tenho problemas para expressar emoções e o amor é uma
das mais difíceis.
Além da minha mãe, ninguém nunca causou esse tipo de emoção de
mim. Entenda isso, pelo menos,
Sofia acena com a cabeça. — Sim.
— Você vai dizer isso em breve, — eu a provoco, tentando tomar a
situação menos tensa, o que parece funcionar porque a Sofia ri, olhando
para o seu colo.
Preciso fazer esse ato parecer um pouco mais crível se quero que a
Sofia acredite que quero mesmo me casar com ela.
Pego a sua mão e, quando ela olha para mim, digo: — Obrigada por
ter ficado comigo todos esses anos. Eu sei que posso ser difícil de lidar,
mas eu agradeço por você me aceitar como eu sou.
Sofia leva uma das mãos ao meu rosto. — Eu sei que há um cara
diferente lá no fundo, que você não mostra para todo mundo. Eu
acredito em você, Luca. Eu acredito em nós. — 'Eu também, — minto
entre os dentes. Enquanto me inclino para mais perto de Sofia, mergulho
a minha cabeça e pressiono meus lábios contra os dela, tentando o meu
melhor para tranquilizá-la de que estou interessado nela.
Ela sempre acreditou em mim ao longo de todos esses anos. Duvido
que agora ela mude de ideia.
Eu coloco a minha mão em sua bochecha, me aproximando e
aprofundando o beijo enquanto Sofia se afasta. Eu levanto uma
sobrancelha para ela e ela diz: — Espere até hoje à noite... Vai ser mais
especial como marido e mulher.
Claro, seria especial para ela, mas para mim, seria apenas uma fuga do
pesadelo ao qual logo estarei me comprometendo.
O pesadelo de ser marido... especificamente marido da Sofia.
Capítulo 44
LUCA

Como eu cheguei aqui? Uma pergunta que tenho me feito com


frequência, ultimamente.
Eu fico no quarto do hotel, arrumando meu smoking e me olhando no
espelho. Tudo que eu lutei tanto para evitar estava a ponto de acontecer.
Mas é tudo por ela. Pela única garota que mudou tudo para mim.
Recebo uma mensagem de Sofia dizendo que ela estará indo para a
capela em vinte minutos; preciso chegar lá antes dela, mas algo dentro de
mim não está disposto a se mover.
Não quero ir e me prometer a uma mulher que não amo. Não que eu
ame alguém, mas a ideia de me casar é paralisante.
Depois de mandar uma mensagem de volta, recebo uma ligação do
meu detetive particular. Eu o tinha enviado para descobrir o que estava
acontecendo com a Caroline e disse a ele para não entrar em contato
comigo até que tivesse uma informação sobre ela.
Ansiosamente, atendo o telefone e o coloco no ouvido. — Você a
encontrou?
— Sim, senhor, — diz ele do outro lado da linha. — Ela foi flagrada
saindo do hospital para visitar o pai. Ela parecia muito cansada e
tentando se manter discreta, mas tenho fotos que posso enviar.
— Porra! — Grito. — Por que ela ainda está em Chicago? Ela devia
estar bem longe!
— Ela estava fora da cidade, mas quando o pai dela faleceu...
— Ele morreu? — Eu pergunto, sentindo um soco no estômago.
Nunca senti remorso por nenhum dos meus assassinatos antes, mas
sei o quanto esse está afetando a Caroline e sei que não posso estar ao
lado dela. Não é como se ela fosse me querer lá de qualquer maneira,
mas, ainda assim...
O detetive diz: — Sim. Ontem à noite ele foi para uma cirurgia de
emergência devido a uma hemorragia interna e o cirurgião não foi capaz
de estancar a hemorragia.
— Me manda as fotos, — digo a ele antes de desligar abruptamente.
Não tentei entrar em contato com Caroline desde então porque sei
que ela nunca me responderia, mas eu precisava que ela soubesse que
pelo menos eu estava pensando nela durante todo esse tempo. Ela não
tinha ninguém em quem se apoiar. Eu tenho certeza de que a mãe dela
está um caco, e ela nem sabe que a Josie está morta.
Eu mando uma mensagem para ela:
Luca: Caroline, eu gostaria de expressar as minhas mais profundas condolências pelo
seu pai.

Luca: Também quero me desculpar pelo que fiz você passar, mas aceite a minha oferta
quando digo que gostaria de lhe enviar algum dinheiro, para que você possa começar
do zero, em outro lugar.

Luca: Uma nova cidade, longe daqui. Eu preciso que você se mantenha segura e você
precisa de dinheiro para isso.

Meus olhos ficam fixos na tela por alguns momentos antes de


perceber que ela não vai me responder tão rapidamente. Eu tenho outra
pessoa com quem me casar. É aí que minha prioridade deve estar.
Dando à minha gravata um ajuste final, eu me viro para a porta do
quarto do hotel e sigo para o corredor. Esse hotel tem uma capela no
andar de baixo e é onde a Sofia e eu vamos nos casar.
Nossas famílias já sabem e estão emocionadas, mas decepcionadas por
não fazerem parte disso, porém eu não poderia me importar menos. É
tudo uma questão de salvar quem eu amo; trata-se de salvar a Caroline.
*
Estou no altar, as minhas mãos enfiadas em meu paletó e meus olhos
vagando pela capela na tentativa de me distrair do que estava prestes a
acontecer.
Eu olho para o padre, que, infelizmente, não está vestido de Elvis.
— Então, tudo isso é legal?
— Cem por cento, — ele responde com um sorriso.
Eu rolo meus olhos e olho em direção ao final do altar, imaginando
meu futuro e querendo me matar.
Meu telefone vibra no bolso e rapidamente o pego para ver uma
mensagem não fida de Caroline. Sem hesitar, abro a mensagem:
Carol: Já para o inferno.

Quatro palavras, todas cheias de angústia.


Eu nunca senti que palavras podiam doer tanto até ler essa mensagem
de Caroline, sabendo do seu ódio por mim, mas eu entendendo
completamente.
Luca: Desculpe.

Dessa vez, ela responde rapidamente:


Carol: Você é um monstro, Luca. Você arruinou a minha vida e eu sei o suficiente sobre a
sua família agora para saber que devo ficar longe de você.

Luca: Eu não sou como eles.

Carol: Pare de entrar em contato comigo. Vou comprar um telefone novo e não quero ter
nenhuma notícia sua.

Penso em enviar a ela uma última mensagem, mas o som do piano


tocando me tira da minha bolha com Caroline e me faz olhar para o final
do corredor onde as portas estão se abrindo.
Enfio meu telefone no bolso e respiro fundo, observando as portas se
abrirem completamente.
Sofia está no final com um vestido de noiva estilo vintage rendado, é
muito elegante.
Ela parece boa pra foder, na melhor das hipóteses, mas não serve para
ser uma esposa; não para mim. Aprecio uma mulher sexy quando vejo
uma, e não vai me incomodar transar com ela essa noite, mas nunca vou
vê-la como mais do que um brinquedo sexual.
Essa é a vida infeliz que ela tem pela frente, mas não posso me forçar a
ter sentimentos quando eles não existem.
Ela começa a andar pelo corredor, com um grande sorriso no rosto, e
eu simulo um em retomo para ela. Eu preciso que ela vá até o final, aqui.
Depois que isso estiver gravado na pedra, não preciso mais fingir. O
casamento é uma coisa sagrada em nosso mundo, assim como o divórcio
é desaprovado. Depois de pegá-la, não posso perdê-la, que é exatamente
o que preciso.
Quando ela me alcança, o padre sorri para cada um de nós. —
Comecemos. Estamos aqui reunidos para celebrar o santo matrimônio de
Luca Stefano Acerbi e Sofia Gisella Romaro.
Ele continua a falar, mas eu mal escuto. A minha mente está em
qualquer lugar, menos aqui, e sei que tudo que preciso dizer no final é 'eu
aceito'.
Sofia está absorvendo cada palavra e fico pensando na mensagem de
texto de Caroline para mim.
Ela não quer nada comigo, o que faz todo o sentido.
No entanto, preciso dar a ela algum dinheiro para garantir a sua
proteção. Assim que eu transferir um bom valor de cinquenta mil dólares
para a conta dela, será uma quantia decente para um novo começo e uma
passagem só de ida para fora da cidade.
Claro, eu manteria meus olhos nela para garantir a sua segurança,
mas, enquanto isso, preciso me manter discreto e observá-la de longe. Eu
preciso protegê-la, e é por isso que estou fazendo o que estou fazendo.
— Você, Sofia, aceita Luca para como seu marido...
Blá blá blá.
O que eu quero é dar o fora daqui e fazer com que meu detetive
obtenha as informações da conta bancária de Caroline. Claro, ela saberia
que o dinheiro é meu, mas ela não teria como devolver.
Um momento depois, o padre me pergunta se eu aceito Sofia como
minha esposa e todas aquelas outras bobagens.
O que eu quero dizer e que eu realmente digo são duas coisas
diferentes. — Eu aceito.
— Pelo poder investido em mim pelo estado de Nevada, eu agora os
declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva, Sr. Acerbi.
As bochechas de Sofia ficam vermelhas e eu levanto seu queixo com o
dedo indicador, inclinando-me e pressionando meus lábios nos dela - nos
lábios da minha esposa. Quando meus olhos se fecham, imagino que é
Caroline que estou beijando.
Não estou dizendo que quero me casar com a Caroline, mas prefiro
beijar ela do que a Sofia.
Nós nos afastamos e Sofia sorri para mim. — Você é meu marido,
agora.
— Eu sou. — Eu aceno a minha cabeça. — Tudo bem, Sra. Acerbi.
Vamos assinar os papéis e ir para o nosso quarto de hotel.
Capítulo 45
LUCA

Já passa da meia-noite e o corpo nu de Sofia está ao meu lado na cama.


Voltamos direto para o quarto do hotel depois de nos casarmos e
fechamos o acordo com sexo.
Mas é a primeira vez que faço sexo com outra pessoa desde que dormi
com a Caroline e sinto um... vazio.
Eu cuidadosamente deslizo para fora do cobertor, visto a minha cueca
boxer e caminho para o próximo cômodo na suíte, para ficar na frente da
janela e olhar para as luzes da cidade abaixo.
Eu faria qualquer coisa para ver a Caroline mais uma vez para que eu
pudesse me explicar pessoalmente, mas sei que isso não vai acontecer.
Eu verifico meu telefone e mando uma mensagem ao meu detetive
para que ele me envie quaisquer atualizações sobre a Caroline, assim que
ele souber de alguma coisa. Do contrário, não tenho outra escolha a não
ser esperar.
— Ei, você está acordado, — diz a voz de Sofia atrás de mim.
Eu me viro para olhar para ela, balançando a cabeça enquanto ela
afirma o óbvio. — Eu estou. Você também está.
'Não acredito que somos casados, — diz ela.
Acredite em mim, nem eu.
Consigo dar um sorriso forçado para ela, segurando a corda de seu
robe e puxando-a para perto de mim.
— Acredite, querida. Esse é só o começo. Não vou prometer que as
coisas vão ficar bem, mas as nossas famílias se tomaram mais fortes por
causa do nosso casamento, o que nos toma fortes como casal.
— Eu concordo. Sei que podemos realizar muita coisa juntos, Luca.
A conversa é aberta e não tenho mais nada a dizer. É difícil o
suficiente me forçar a dizer coisas que não quero, pior ainda repeti-las
toda hora.
Nesse ponto, a única coisa que posso fazer é tentar outra rodada na
cama e torcer para que o sentimento de vazio desapareça pela manhã.
*
Sofia e eu passamos o fim de semana em Las Vegas antes de voltar
para casa, em Illinois.
Nós vamos diretamente para a casa de seu pai, onde há uma festa para
celebrar o nosso casamento. Assim que a Sofia havia dito a seu pai sobre
os nossos planos de casar, ele começou a planejar a festa.
Nossas famílias estão lá quando chegamos, incluindo a vadia da
minha irmã. Ainda não falei com ela sobre a façanha que ela fez com a
Caroline e não tenho intenção de deixá-la escapar impune.
Ela mordeu mais do que podia mastigar e agora ela precisará pagar
por isso.
— Parabéns!
Forço um sorriso para o convidado e aceno com a cabeça enquanto
entramos no salão de festas. — Obrigado.
— Parabéns, filho, — diz meu pai ao se aproximar de Sofia e de mim.
Ele acena com a cabeça para Sofia. — Bem-vinda à família, Sra. Acerbi.
Estamos emocionados por ter você como nossa nora.
Minha mãe, que está ao lado de meu pai, sorri para Sofia; o mesmo
sorriso genuíno que ela sempre dá. — Bem-vinda à família, querida. Se
você precisar de alguma coisa, por favor, não hesite em pedir.
Sei que essa é a maneira de minha mãe avisar Sofia para falar com ela
se eu a maltratar. Minha mãe nunca vai aceitar isso, e ela deixou claro
quando tivemos a nossa discussão antes do casamento.
Na verdade, não tenho nenhuma intenção de maltratar a Sofia. Agora
sei como a minha mãe está lutando no dia a dia por causa do meu pai e
não quero deixar as mesmas cicatrizes em outra mulher.
Não quero que a Sofia diga aos nossos futuros filhos como eu fui um
marido horrível para ela.
Sinto que cresci muito desde que conheci a Caroline e, embora
continue a cometer erros, ao contrário de antes, na verdade agora eu
reconheço meus erros.
Enquanto Sofia fala com meus pais, eu me afasto e caminho até a
Ariella, que está bebendo uma taça de vinho. Ela sorri para mim quando
me vê; um sorriso tortuoso e conivente.
— Parabéns pelo casamento, irmão. Tenho certeza que você está
muito feliz.
— Ficarei mais feliz quando obtiver respostas suas.
Para começar, que diabos você estava pensando sobre sequestrar a
Caroline e trazê-la para a casa da nossa família — Digo por entre os
dentes.
Só quero me vingar dela pelo seu comportamento. — Ela poderia ter
morrido.
— Igual o Jeremy que foi morto por você? — ela me desafia, olhando
para a minha mão com um sorriso malicioso no rosto. — O que
aconteceu com a tua mão? A Caroline sabe lutar? — Eu olho para a
minha mão enfaixada onde a Caroline me apunhalou com o garfo e eu
rolo meus olhos.
— Ela é uma garota forte, felizmente. Mas você, eu pensei que você
fosse melhor do que isso, mas descobri que não sou o único como o
nosso pai.
Ariella balança a cabeça. — Se eu fosse como o nosso pai, teria matado
a Caroline. Eu matei? Não. Então, sugiro que você seja grato por como as
coisas acabaram, poderia ter sido muito pior.
Eu simplesmente disse à garota o que você estava escondendo dela.
Ela merecia saber no que estava se metendo e, sim, Luca, me vingar de
você me deu alegria.
— A única diferença é que a Caroline ainda está viva e saudável. O
Jeremy não, e por sua causa. Então vá embora com a sua nova esposa e
para de me encher.
Antes que eu possa dizer mais alguma coisa, nosso pai nos interrompe
pigarreando. — Temos algum problema aqui?
Eu olho para o nosso pai e balanço a minha cabeça. — Claro que não.
Ari estava apenas me parabenizando.
Ele acena com a cabeça e fica claro que ele não acredita em mim, mas
opta por ignorar. Quando ele olha para Ariella, faz um gesto em direção a
nossa mãe. — Sua mãe estava procurando por você. Vá falar com ela, por
favor. '
Ariella acena com a cabeça e se dirige para onde a nossa mãe está
parada. Quando ela sai, olho para meu pai com as sobrancelhas
levantadas. — Suponho que você queira bater um papo?
— Sim. Quero dizer que estou orgulhoso de você por fazer o que era
melhor para a família, independentemente de suas reservas.
Eu entendo que você só fez isso pela Caroline, mas ainda assim foi
uma decisão que tenho certeza que você não tomou levianamente. — A
voz do meu pai parece severa, como sempre.
Eu balancei a minha cabeça em resposta. — Foi uma decisão muito
fácil, na verdade.
— Bom para você, então. Eu queria falar com você sobre a sua irmã, —
ele acrescenta, olhando para onde Ariella e a nossa mãe estavam.
— Você precisa se afastar dela e concentrar a sua energia em outro
lugar. Ela está prestes a se casar com o Alexei Petrov e, como você pode
imaginar, está longe de estar contente com isso.
Eu preciso que você seja um irmão protetor e certifique-se de que as
intenções de Alexei sejam claras, que lealdade dele esteja conosco.
Eu ri. Esse homem é uma peça. Tudo é sempre sobre negócios e
especialmente agora, depois de ouvir sobre os verdadeiros sentimentos
de minha mãe, não posso deixar de me sentir magoado por ela ter que
tolerá-lo.
— Eu tenho que me concentrar na minha esposa.
A Ariella pode se controlar e se você tem algum problema com o
Alexei, por que não cuida disso sozinho?
Sem dizer uma palavra, me afasto de meu pai e começo a vasculhar a
multidão, procurando pela Sofia.
Eu estava sendo sincero ao dizer ao meu pai que precisava me
concentrar na Sofia. Ela quer ter um filho, mais cedo ou mais tarde; eu
preferiria que fosse mais tarde.
No entanto, preciso de um filho para continuar o meu legado. Sofia
será a única mulher em minha vida e não tenho escolha a não ser
permitir que ela seja a mãe dos meus filhos.
As coisas podiam ser piores, no entanto. A Sofia é tolerável e a verdade
é que a Caroline está bem. A única coisa que realmente importa.
Capítulo 46
LUCA

— Eu não me importo se for a mesma coisa da última vez. Consiga as


informações e me ligue de volta. Estou pagando a você, lembre-se disso.
Não o contrário. — Eu desligo e reviro meus olhos.
Por alguma razão, meu detetive acha que apenas novas informações
sobre a Caroline são importantes para mim. Não me importa se é novo,
velho ou nada importante. Quando peço a ele para me atualizar, quero
uma atualização.
Talvez eu precise procurar alguém que saiba como fazer melhor o seu
trabalho.
Quando desligo, ouço passos atrás de mim e vejo a Sofia me dando
um sorriso cansado.
Ela é minha esposa há seis meses e não é tão terrível quanto eu
esperava que fosse. A gente faz muito sexo, ela me trata como um rei, e
na verdade eu não a desprezo, o que já é um progresso.
— A corrida foi boa? — Eu pergunto a ela, lembrando que sua rotina
diária consiste em sair para correr e parar para tomar um café em uma
cafeteria próxima.
Sofia acena com a cabeça. — Sim, parei na loja e comprei algumas
coisas.
Eu simplesmente aceno, sentando no sofá.
Sofia e eu compramos a nossa casa logo após nos casarmos. É
surpreendentemente normal, não é uma mansão, mas uma casa de
família decente onde ninguém esperaria que a Máfia vivesse.
A única diferença da nossa casa para uma casa normal é que tenho um
sistema de segurança mais forte, incluindo seguranças 24 horas. Você não
pode vê-los; não até que seja tarde demais, pelo menos.
A cada três meses, eu verifico as informações sobre Caroline para ter
certeza de que ela está bem.
A última vez que meu detetive me atualizou, ela estava morando em
Toronto, construindo uma vida nova para si mesma. Ela queria tanto se
afastar de mim que deixou o país.
Toronto não fica longe, no entanto. Eu mesmo já estive lá muitas
vezes.
Cada vez que tento enviar dinheiro para a sua conta bancária, ela
recusa. Tentei transferir cinquenta mil dólares para ela três vezes, mas,
para a minha consternação, nunca foi aceito.
— Luca, preciso falar com você, — diz Sofia, interrompendo meus
pensamentos.
Eu suspiro suavemente. — Eu nunca entendo porque as pessoas
dizem isso. Em vez de me dizer que você precisa falar, de uma vez. É
simples assim.
— Eu sinto muito. — Ela olha para o chão. — Eu sei que decidimos...
Meu telefone toca e eu o pego do bolso, vendo o número do meu
detetive na tela.
Eu olho para Sofia e levanto meu dedo indicador. — Peço desculpas,
amor. Eu preciso atender. Mas vamos continuar essa conversa depois, ok?
Sofia acena com a cabeça e eu me levanto do sofá, caminho pelo
corredor e vou para o meu escritório pessoal antes de atender o telefone.
— Presumo que você tenha informações para mim? — Atendo o
telefone, ansioso para saber como está a minha doce Caroline.
Meu detetive limpa a garganta antes de confirmar meus pensamentos.
— Sim, senhor. Eu mantenho o que disse antes; não há nada de novo,
mas parece que a Caroline é muito sorrateira quando se trata de manter a
sua vida privada.
Ela não fez nada online, nenhum compromisso, nenhum passeio
noturno. Ela só sai do apartamento para trabalhar...
Eu soube há três meses que Caroline está trabalhando em um hotel no
centro de Toronto.
— E? — Eu pergunto.
— E... conseguimos algumas fotos dela saindo do trabalho hoje. As
fotos são muito reveladoras e...
— O que ela está fazendo nas fotos? — Pergunto com um tom
irritado. — Pare de rodeios e me diga o que você viu.
A voz na outra linha suspira e finalmente responde à minha pergunta.
— Parece que a Sra. Harding está grávida. Ela não foi em nenhuma
consulta com o ginecologista, mas com base nas fotos tiradas hoje...
Nosso profissional diz que ela está com cerca de sete meses.
Bom, isso é apenas uma suposição. Ela poderia facilmente estar com
outra pessoa ao mesmo tempo que...
— A Caroline está grávida? — Pergunto, já o tendo ouvido pela
primeira vez. — E você está dizendo que pode ser meu filho? — 'Sim,
senhor. ' Estou atordoado. Eu não tinha ideia de que a Caroline estava
carregando o meu filho esse tempo todo.
Nem fodendo que o meu filho vai nascer no Canadá. Fico furioso com
a Caroline, por ela ter escondido isso de mim e tentar esconder meu filho
para sempre.
Agora que eu sei, não vou descansar até que meu filho esteja sob os
meus cuidados.
— Isso é tudo?
— Sim, senhor.
Desligo o telefone e sento na cadeira do computador, recostando-me
e suspirando pesadamente. Eu sou pai. Eu terei um filho em breve e a
Caroline nem ia me contar.
Ouço uma batida na porta e sei que é a Sofia. Se meus homens
precisassem de mim, eles ligariam ou invadiriam, se fosse uma
emergência.
— Entre.
As portas se abrem e, como esperado, Sofia entra. Não percebi na
primeira vez que conversamos, mas posso ver que ela está tensa.
— Lamento ter que sair durante a nossa conversa. Por favor, o que
você queria dizer?
Sofia se senta em frente à minha mesa e franze a testa. — Está tudo
bem? Você parece estressado.
Não há como eu contar a ela sobre a gravidez de Caroline
imediatamente. Isso aconteceria com o tempo, mas primeiro preciso ver
a Caroline pessoalmente.
Eu balanço a minha cabeça e forço um sorriso. — Eu só estou cansado.
Não tem nada de errado.
— Ok... Bem, espero que continue assim quando eu disser o que
preciso dizer.
— Você está me deixando preocupado. — Eu rio, inclinando para
frente e descansando meus antebraços na mesa enquanto olho para
Sofia. — Desembucha.
Ela abre a boca e como se estivesse falando em câmera lenta, suas
palavras chegam aos meus ouvidos e fazem com que o mundo ao meu
redor fique mudo.
Duas palavras simples que abalam completamente a minha vida.
— Estou grávida.
Fim do Livro Dois
Continua no Livro 3…
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