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Aline Rabello
Este livro é dedicado especialmente a Nathalia Nunes e Pedro montuani. Meus
Betas e confidentes desta história, que por anos aguentaram muitos "lê essa cena e
me diz o que achou!". Sou eternamente grata a vocês! A Tati Sparrow, por todos
nossos anos de amizade. E a você, leitor, que agora passa a fazer parte desse meu
mundo tão particular!
Índice
Página do título
Dedicatória
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta
Capítulo Trinta e Um
Capítulo Trinta e Dois
Capítulo Trinta e Três
Capítulo Trinta e Quatro
Capítulo Trinta e Cinco
Capítulo Trinta e Seis
Páginas Perdidas
Não é o tempo nem a oportunidade que determinam a intimidade, é só a
disposição. Sete anos seriam insuficientes para algumas pessoas se conhecerem e
sete dias são mais que suficientes para outras.
— Sim, mãe. Esta tudo bem sim. – digo, fechando a porta atrás
de mim. – Cheguei de viagem tem umas duas horas. Estou
terminando de trazer minhas coisas do carro e já vou começar a
arrumar tudo no lugar. Não quero começar a semana sabendo que
ainda estou enrolada aqui. – paro de falar, colocando a caixa no
chão, ao lado do sofá, prestando atenção às recomendações de
minha mãe. – Não sei. Vou ver se arrumo o telefone de alguma
pizzaria. Não se preocupe, farei minha própria comida. – adianto a
resposta antes que o sermão venha. – Também amo você, mãe.
Diga a todos que mandei um abraço e que amo todos vocês. Já
estou com saudades. – desligo o aparelho. – É, vai ser bem solitário
aqui. Mas vai valer e muito. – sento no chão ao lado da caixa,
verificando seu conteúdo.
No auge dos meus vinte e três anos e meio, nunca sai de São
Paulo, minha cidade natal, onde morei juntamente de meus pais e
dois irmãos: Camile, de dezessete anos e Thomas, de seis anos,
até ontem. Agora estou morando sozinha, no Rio de Janeiro, em
plena Copacabana.
Seu José diz algo que não compreendo exatamente, mas prefiro
não perguntar sobre o que se refere.
A campainha toca.
Sorrio ao ouvir suas palavras. Julie tem sido minha melhor amiga
há quase treze anos já e desde que nos conhecemos, não consigo
lembrar-me de uma época em que tenhamos passado mais do que
dois dias sem nos ver.
Imagino como será o dia de amanhã. Ter que levantar bem mais
cedo que o necessário, para não correr o risco de me perder e
chegar atrasada. Afinal, tenho que manter minha fama de pontual e
estar lá na hora certa.
E mais uma vez ali estão suas covinhas. Ele tem um sorriso um
pouco torto, um pouco sem graça, mas lindo. Seus olhos cinza
brilham quando ele sorri. Sinto meu rosto se aquecer quando me
olha, guardando as mãos no bolso da bermuda.
— Esta mentindo.
— Sim. – ri. – Menos sobre ser virgem e não saber como falar
com uma garota bonita. Não na época, pelo menos. E aqui estou eu,
caminhando com uma, que mal conheço, em um final de domingo,
como se fossemos amigos há anos.
Sim, por incrível que pareça, eu sinto o mesmo. É como se nos
conhecêssemos há muitos anos e apenas tivéssemos nos
reencontrado depois de algum tempo. Não sinto medo em sua
companhia, embora meu cérebro ainda me diga que ele é perigo.
Ele tenta uma breve investida, tocando meu lábio inferior com o
dele e sinto como se uma pequena corrente elétrica percorresse ali.
Sei que deveria me afastar, mas tudo o que consigo fazer diante do
desejo que sinto pelo perigo que este homem tem a me
proporcionar, é prender minhas mãos ao cós de sua bermuda,
permitindo que ele me beije com uma calma que chega a doer
dentro de mim. Meu corpo se aquece com seu toque quando me
puxa para perto e sinto o dele reagir ao meu toque, lá em baixo.
Corro minhas mãos pelo rosto deste homem, que agora mantêm
a mão firme em meu rosto, fazendo-me olhar em seus olhos
brilhantes. Seco uma gota de suor que escorre em sua face antes
que ela se perca entre os pelos da barba. Em resposta, ele me
levanta, começando seus próprios movimentos, provavelmente
suaves demais até mesmo para mim, mas o suficiente para me
fazer gozar.
Franzo o cenho, ignorando o rubor que sobe por meu rosto e ele
entrega o sutiã, que visto de imediato.
— Ainda acho que você fica melhor sem ele. – repete. – Sutiã
priva uma das melhores visões. – vejo um sorriso em seu rosto
quando passo a camisa pela cabeça.
Tenho que rir com seu comentário. Afinal, ele não faz ideia do
quão provável é isso.
— Não se culpe por nada. – diz, para que apenas eu possa ouvi-
lo. – Tenho tanta culpa quanto você nisto. Na verdade, sou o único
culpado. – ele da um passo para frente e apoio as mãos em seu
peito, sentindo os movimentos de sua respiração. – Você apenas
estava caminhando e eu fui atrás de você.
Não acho que ele seja o único culpado. Eu poderia ter recusado
sua companhia desde o início. Poderia ter dito para que
voltássemos desde o ponto em que ele avisou que havíamos
passado da área civilizada. Em momento algum ele me forçou ou
obrigou a fazer qualquer uma das coisas que tenhamos feito. Eu
quis, desejei, cada um de seus beijos, durante todas as vezes que
ele o fez.
Sinto meu rosto não se aquecer com seu comentário, mas sim
pegar fogo. Torço para que as luzes do poste não revelem a ele o
quanto estou vermelha com suas palavras.
Sorrio quando ele aponta o celular para mim, tirando uma foto.
— A. – diz. – E a sua?
Para minha total alegria, a viagem de trem foi bem mais rápida
do que eu havia imaginado. Junte isto e o fato de eu não ter me
perdido na linha, no caminho para cá.
— Um suco. Obrigada.
O único andar que não conheci foi o último que, segundo Pedro,
é onde fica a sala do Presidente e que, também segundo ele, estava
em reunião e não poderia me receber hoje. Eu me pergunto o tipo
de visão que ele tem do trigésimo andar.
— Por alguma razão que desconheço, achei que ele fosse, sei
lá, um senhor de mais idade. Provavelmente na casa dos quarenta e
todos ou cinquenta e poucos anos.
— Bem, Luara, já são quatro horas e não tenho mais nada para
te mostrar. – diz. – Alguma dúvida sobre o que terá que fazer?
Para ser mais sincera, minha vontade era a de ficar aqui até
mais tarde e adiantar esse trabalho, porque não gosto de deixar
trabalho de uma semana para outra assim. Mas Pedro deve passar
na minha sala dentro de aproximadamente dez minutos, para irmos
a um barzinho aqui perto. Segundo informações, o pessoal do TI vai
quase toda sexta depois do expediente para lá e, como sou a
“novata” da vez, serei a “amiga do bem”, como eles chamam aqui.
Assim como Bruno, Igor também vai para o outro lado e destravo
o carro para que eles entrem e levo a mão à porta do motorista para
fazer o mesmo quando sinto um calafrio percorrer minha espinha e
é como se alguém estivesse me observando.
— Bacana. – comento.
Assim que entro na discoteca, percebo o fascínio pelo lugar. É a
coisa mais incrível que já tive a oportunidade de ver até agora. O
chão todo com piso xadrez, o teto pintado coberto por centenas,
talvez até milhares de discos de vinil. Uma bicicleta antiga,
pendurada em uma das paredes e as pessoas que dançam ao som
de uma música saída de um Jukebox ao canto, que reconheço
sendo Girls Just Wanna Have Fun.
— É incrível! – exclamo.
— Anda. Tem uma mesa ali no canto. – Pedro diz, tocando
minhas costas, guiando-nos até lá.
— Como vocês acharam isso aqui? – pergunto.
— Algum tempo atrás, nós estávamos realmente bêbados e
queríamos algo novo. – Bruno começa a explicar. – E então vimos
umas luzes piscando e viemos ver o que tinha e boom! – o “Boom”
foi acompanhado da explosão com suas mãos, o que me fez rir.
Não posso dizer que o clima não ficou estranho pela maior parte
da noite, mas eu não permiti que isso interferisse na minha tarefa de
diverti-los mesmo estando sóbria. O que foi um grande sacrifício.
— Achei que eu não fosse poder beber esta noite. – digo quando
ela coloca o coquetel na minha frente.
— Não tem álcool. – Igor ri.
— Ah... Acho que posso sobreviver com isto. – respondo,
provando da bebida que mais se parece com um suco de morango
comum, com um morango e um guarda-chuvinha na borda. O sabor
é algo que não consigo descrever com exatidão. – Isso é
simplesmente maravilhoso! – exclamo.
— Coquetel Primavera. – Pedro diz. – Caju, maçã, abacaxi,
morango e leite condensado.
— Não posso nunca me esquecer destes ingredientes. –
comento mais para mim mesma, tomando mais um gole.
— Seu querido chefinho quem pagou para você. – Pedro
sussurra em meu ouvido. – “Algo especial para a bela dama”. Foram
exatamente essas as palavras que ele usou.
Depois que deixei Pedro na casa dele, Igor insistiu para que
fosse junto deixar Bruno no apartamento. Pelo que ele disse,
conhecia-o o suficiente para saber que bêbado, ele daria mais
trabalho do que dois dele. O que me fez ter que reajustar o GPS e ir
como se fosse para a BIT, seguindo por duas quadras de lá.
Quando Bruno toca meu pescoço com seus lábios, ergo a perna,
acertando meu joelho em cheio no meio de suas pernas, levando-o
ao chão quase que instantaneamente.
Ainda sentindo todo meu corpo tremer e uma raiva imensa, pulo
por cima de Bruno, que mantêm as mãos entre as pernas,
contorcendo-se de dor, e vou para perto de seu sofá, sentando.
Ele não responde mais nada, mas também não para com o
barulho. Ao contrário, já que só fez aumentar.
Sentindo minha cabeça doer pelo sono, junto meu edredom, indo
para a sala e bato a porta do quarto atrás de mim. Já é bem mais de
três da manhã e essa putaria.
“Eu costumo vir aqui sempre que algo está errado comigo. Ajuda
a me acalmar...” – suas palavras veem em minha cabeça ao som de
sua própria voz, que me pergunto se realmente pertence a ele ou se
é algo projetado por minha mente.
Sei que tudo isso parece besteira, que só estou aqui há uma
semana e que ainda tenho que me adaptar a todas essas
mudanças, porque elas são necessárias para que eu possa crescer
e amadurecer longe da proteção da minha família. Longe do
conforto que meus pais sempre me proporcionavam. Essa
mudança, a minha mudança, é o que sou agora. É onde deixo de
ser aquela garota que esperava que as coisas acontecessem para
me tornar a mulher que vai lá e faz.
Você tem que ser forte. – eu me repreendo. – Você tem que lutar
contra o desejo de voltar para casa a cada tombo que levar. Tem
que saber levantar quando cair e mostrar que apesar do tombo,
ainda pode lutar. Ou vai querer desistir assim, sem nem mesmo se
dar ao trabalho de lutar?
Corro o mais rápido que consigo, tentando não atolar meus pés
na areia que vai molhando conforme a chuva cai pesada.
Tenho sérias dúvidas se vir para cá foi uma boa ideia. Quer dizer,
ninguém vai aparecer aqui com esse tempo, além da louca aqui.
— Sei lá. Acho que isso é ser bem profissional. – digo. – Imagina
a situação dele: você namora a funcionária “X” por alguns dias, mas
então o relacionamento não dá certo e você termina com ela. Dias
depois, o empenho dela na empresa começa a cair. – faço uma
breve pausa em meus argumentos enquanto peço meu almoço na
lanchonete. – Ela começa a faltar sem justificativa, não apresenta
um atestado médico nem nada do tipo. Você pensa seriamente em
mandar embora, já que não esta te dando lucro. Mas, se fizer isto,
todos na certa vão pensar que você está sendo antiprofissional e
levando para o lado pessoal.
Já tem algum tempo desde a última vez que joguei bilhar, mas
ainda lembro exatamente como se faz e tenho certeza de que posso
vencê-los com uma das mãos nas costas.
— Não vá achando que pegarei leve com você só por ser uma
garota. – Bruno tenta me provocar.
Volto para o quarto e tomo um banho frio. O calor que faz ajuda
para que eu consiga isso e a dor começa a aliviar. Embora, por
experiência de anos, saiba que não vai segurar por muito tempo.
Ele ri.
--
A imagem em minha cabeça me faz rir. Isto é algo tão clichê, tão
frequente nos dias de hoje, que às vezes me fazem questionar
qualquer coisa sobre relacionamentos. Não que eu não acredite
neles mais. É só que... Não sei se serei capaz de amar alguém de
verdade um dia. Naquilo de me entregar de cabeça aos meus
sentimentos e tudo o mais.
--
— Você não tinha que trabalhar? – jogo contra ele, virando para
o lado. – Agora não me torra e me deixa dormir.
Olho pelo olho mágico, mas não vejo ninguém do outro lado.
Abro a porta e também não há ninguém no corredor deserto. O que
me surpreenderia mais se tivesse, já que no andar só há dois
apartamentos e ninguém sobe aqui.
Olho mais uma vez pelo corredor, para o lado da porta do outro
apartamento, mas não vejo ninguém. Apenas ouço o barulho da
porta do vizinho se fechar.
Pego a cestinha do chão, tirando o bilhete para ler.
Viro o bilhete em minha mão, procurando por mais algo. Mas não
há nenhuma assinatura. Nenhum nome. Nada além de uma
caligrafia perfeita em tinta preta em um papel branco, com um A.G.
grafado em dourado no canto.
Confiro minha roupa no espelho uma última vez, apenas para ter
certeza de que estou vestida adequadamente para ir ao cinema.
Jeans preto, All Star e uma blusa branca. Meu cabelo eu mantenho
preso em um rabo de cavalo para o alto, já que faz um calor
insuportável hoje.
Corro o olhar por seu corpo. Ele está de jeans e camisa preta de
uma banda que não reconheço. Nada exagerado também.
Sorrio ainda mais sem graça que antes, sentindo meu rosto se
aquecer.
Julie:
Ele não é tão gostoso quanto os boatos que espalharam?
Julie:
Eu não sei se isso é sorte ou se você realmente é azarada.
Quero dizer, você reencontrou o Gostosão da Praia, o que é
bom. Mas acabou descobrindo que é ele quem tira seu sono (e não
estou dizendo no bom sentido!). Mas tb tem a vantagem de ser a
única mulher dai que pode dizer com toda certeza o quão bom ele é.
Ai, amiga...
Ah, com toda certeza você tinha bem mais informações de que
eu.
Ele diz que me procurou, assim como havia dito que faria pouco
antes de nos despedirmos. Diz que foi a gruta onde eu estava
abrigada. Se ele foi, porque não entrou?
— Desculpa. – a palavra sai sem som algum, mas sei que ele
entendeu. Minha voz esta embargada e rouca demais para que
alguém consiga me ouvir.
Olho para Isabeli ao meu lado e ela parece tão surpresa quanto
eu. Mas, ao contrário de mim, ela sorri.
Com o silêncio que faz aqui, sinto meu corpo afundar na cadeira
em que estou. Quero levantar e sair correndo para bem longe, onde
ninguém possa me encontrar.
Olho para ele, na esperança de poder sinalizar um não. Mas ele
parece mais interessado em não querer olhar para mim, prestando
atenção a qualquer coisa que se mova.
— Ótimo. Considerarei isto como uma aprovação.
Mil coisas passam pela minha cabeça nesse instante. Minha avó
já é bem de idade, mas é forte. Mas isso...
Sinto meus olhos queimarem. Não aguento. Minha avó não, por
favor.
Dou alguns passos para trás, secando uma lágrima que escorre
por meu rosto, encarando o painel iluminado na minha frente.
Aperto minha bolsa contra o peito, sentindo uma forte dor dentro
de mim. É como se tudo isso, a cada dia...
Com um passo para trás, sinto algo macio atrás de mim, pouco
acima da minha bunda. Algo que não deveria estar aqui.
Olho novamente para ele, que agora esta com as mãos no bolso,
afastando a frente da calça.
— Não fique assim, Anjo. – sua voz suave chega até mim,
fazendo com que mais lágrimas desçam por meu rosto. Então sinto
seu toque em minha bochecha.
Andrew pede para carregar minha bolsa, assim como vez aquela
vez na praia. Desta vez, eu a entrego para ele, sentindo sua mão
em minhas costas enquanto caminhamos.
— Minha avó esta internada. – digo quando ele digita sua senha
da garagem no painel do seu lado.
Até onde ele sabia minha avó esta estável, mas de observação.
Além do infarto, ela teve mais algo que não conseguiu explicar
direito, mas os médicos estão fazendo tudo o possível para mantê-la
bem.
Quando desliguei com meu pai, liguei para Ju, para saber como
meus irmãos estavam e, como eu já esperava, quem mais esta
sentida é Cami, que sempre foi mais chegada a nossa avó. Tommy
não entende muito dessas coisas, mas fica triste por ver a irmã triste
e, consecutivamente, eu me sinto mais uma vez péssima por estar
tão longe deles quando mais precisam de mim.
Sigo para a cozinha e aponto o armário para ele, que vem atrás
de mim. Pego algumas laranjas lavadas e as corto para colocar na
máquina de suco.
Ouço o som vindo da TV, mas não presto atenção em uma única
coisa do que dizem no filme. Ou do que ele se trata. Estou distraída
demais para qualquer coisa além do que se passa nesse pequeno
espaço entre o rack, o sofá na qual Andrew está encostado e o
tapete felpudo que estamos sentados no chão.
Será que seria pedir demais para que ele ficasse aqui comigo,
até tudo isso passar?
— Como ela é? – sua voz chega aos meus ouvidos quando ele
para de mexer em meu braço.
— Por favor, não para. – peço, segurando sua mão,
recomeçando os mesmos movimentos que ele estava fazendo. –
Está tão bom.
Viro de barriga para cima, para poder olha-lo. Ele esta com o
cabelo todo bagunçado, de quem saiu do banho e só vestiu uma
roupa qualquer para poder se apresentar.
— Acho que ele relevaria isso. – diz. – Quer dizer, é sua família.
Eles precisam de você lá. Ele não pode ser tão cruel a esse ponto.
— Foi logo depois de ter achado que a vi. – diz. – Você, no caso.
Eu estava irritado com aquela “visão” e queria sair de lá, porque
pensei que estivesse vendo coisas. – ele franze o cenho. – Eu
poderia ter esperado você voltar do banheiro ao invés de sair com
outra. – Concordo!
Começo a rir.
— Sabe que eu não vou fazer isso com você, né? – ele
pergunta, apoiando com os cotovelos em cada lado meu. Não? Ele
me da um beijo na testa e outro em cada bochecha.
Franzo o cenho.
Eu ainda sinto seu beijo, suas mãos por todo meu corpo... Até a
menor lembrança de sua barba em mim já faz todo meu corpo
estremecer.
Meu pai me chama para que eu possa sair do quarto com ele e
minha mãe. Ela estava me dizendo algo importante. Meu pai chama
outra vez, mas só me levanto quando sinto duas mãos tocarem
meus ombros, dizendo algo em meu ouvido. Ju... Ela me chama
para ir comer algo, mas não estou com fome. Ainda assim eu
concordo, indo com ela para fora do quarto.
***
***
Quer dizer, todas as vezes que cochilei esta noite, eu via minha
avó em algum sonho. Ou eu tinha alguma lembrança do passado ou
alguma conversa que tivemos em algum momento. E isso me fazia
sorrir, mesmo que involuntariamente. Mas... O que me fez acordar e
não querer mais fechar os olhos para voltar a dormir, foi quando a vi
naquele caixão. Ela estava com as mãos cruzadas junto ao peito e
tinha um terço entrelaçado entre seus dedos. Um que lembro ter
ajudado minha mãe escolher para dar a ela. E seus pequenos olhos
azuis estavam fechados para sempre.
A última coisa que preciso agora é alguém como ele tendo pena
de mim.
— Oi. – a palavra chega aos meus ouvidos, assim como o
calafrio percorre todo meu corpo e olho para o lado apenas para ver
o par de duas cumpridas pernas, cobertas por uma calça caríssima
e sapatos tão caros quanto ou talvez até mais.
— Oi.
— Eu sinto muito. – ele diz e ergo o olhar por não mais do que
breves segundos.
— É. Eu também. – respondo, agarrando as correntes do
balanço, movendo-me lentamente neles. – Desculpa não ter ligado.
Eu tentei várias vezes. Mas não estava nada bem.
— Imaginei que não estivesse. – Andrew sussurra a resposta. –
E eu sinto muito mesmo por você ter que passar por isso logo
agora.
— Eu disse que você era alto. Tão alto que seria possível saber
que era você mesmo que estivesse em uma multidão.
— Não sou tão alto assim. – diz como se estivesse ofendido.
— Para mim, sim. – respondo, voltando a olhar para ele e não
consigo mais segurar as lágrimas que me rondam, porque tudo
dentro de mim esta doendo em uma proporção que nunca antes
experimentei.
— Por favor, não chore, Anjo. – ele pede. – Eu gosto de ver seus
castanhos no tom natural. Por favor, não prive isso de mim.
Com o calor que faz lá fora mesmo durante a noite, tudo o que
consegui pensar em vestir foi um vestido champanhe simples e uma
sapatilha de mesma cor. Segundo a mensagem que Andrew me
mandou hoje pela manhã, quando perguntou se ainda iriamos sair,
ele disse que eu não precisaria usar nada muito “exagerado”,
porque o lugar aonde iria me levar não era nada tão “extravagante”
a esse ponto. Claro que isso só atiçou ainda mais minha
curiosidade.
Passo um batom rosinha nos lábios, apenas para dar uma cor a
mais neles.
Quando torno a virar para Andrew, ele sorri, apoiando sua mão
em minhas costas, guiando-me para o elevador, não a tirando dali
nem mesmo quando paramos para esperar até que ele chegue.
Andrew me leva pela areia por alguns metros, sem dizer uma
única palavra, mas também sem soltar minha mão. Eu sinto seu
polegar roçar em meu dedo, fazendo-me sorrir feito uma boba.
Mais uma vez somos tomados pelo silencio, mas eu não o sinto
pesar entre nós. Muito pelo contrario. Eu sinto o vento balançando
as folhas das paineiras, as estrelas iluminando o céu, sem uma
única nuvem e sinto também o cheiro do mar. É tudo tão lindo e
natural.
— Sabe que não vai conseguir isso de mim hoje, né? – pergunto,
tentando controlar minha respiração e meus batimentos, passando
as mãos por seus cabelos, puxando-o quando morde meu pescoço
em um ponto que... UAU!
— Eu sei esperar. – sussurra em meu ouvido, pressionando sua
ereção contra minha barriga, puxando o lóbulo de minha orelha,
causando arrepio por todo meu corpo.
— Precisamos ir. – gemo, puxando seu cabelo para afasta-lo.
— Para onde? – pergunta, indo até meu decote. – Para cá? –
pergunta, olhando-me por cima e sorri de um jeito cretino.
— Você é um completo safado, Andrew Giardoni. – digo,
segurando seu rosto entre minhas mãos, para garantir de que não
fará nenhuma nova tentativa de me atacar. – Eu viajo cedo amanhã.
— Não sou o único safado por aqui. – ele sorri.
— Pelo amor de Deus! – exclamo. – Estou tentando ser a
pessoa sensata entre nós dois. Colabora!
Ele ri de mim. NA MINHA CARA!
— Eu sei que você esta sendo tão safada quanto eu nesse
joguinho de sedução. – ele provoca. – Mas tudo bem. Eu desisto.
Você ganhou. Por hora.
— Obrigada! – exclamo completamente desesperada. Afinal,
mais um pouco que ele insistisse nesse “joguinho de sedução”, não
sei se seria capaz de aguentar.
— Achei que tivesse dito que precisava dormir cedo. – ele diz.
— Você pode, por favor, calar a boca por alguns instantes? –
peço, puxando-o para fora do elevador.
— Calando a boca. – ele sorri, tornando a me beijar.
Andrew beija minha nuca, enquanto tento encontrar as chaves
do meu apartamento.
— Acho que perdi. – digo ao me dar conta de que não estou com
as chaves do meu apartamento.
— Eu tenho camisinha. – Andrew responde, beijando meu
pescoço.
— Estou falando das chaves do meu apartamento, idiota. –
respondo e ele ri.
— Você me deu isso quando saímos. – ele diz, balançando um
chaveiro familiar na minha frente.
— Obrigada. – digo, virando para abrir a porta.
— Essa previa está além dos meus limites. – sua voz é rouca.
— Dos meus também. – concordo quando ele cai em cima de
mim, puxando minha perna para cima de seu quadril e o enlaço,
apertando-o contra mim. Ele começa um movimento de sobe e
desce enquanto me beija. – Andrew. – seu nome me escapa em um
gemido desesperado.
— Você vai me fazer gozar, Anjo. – ele diz e, pela primeira vez,
esse apelido faz todo meu corpo estremecer. Desde que nos
reencontramos que ele me chama assim, ainda que provavelmente
sem perceber. – E eu não quero gozar na minha cueca nova. –
completa, tirando minha mão dele e, sentando no sofá, colocando
minhas pernas em seu colo, apoia a cabeça no encosto, tentando
controlar a respiração e me pego imitando seu gesto.
Uma parte minha quer pedir para que ele fique e passe a noite
aqui comigo. Mas... Em troca de que ele faria isso? Não posso dar o
que ele mais quer nesse momento. Seria apenas uma grande
tortura para os dois se ficássemos apenas nesses amassos. Se bem
que isso também não é uma má ideia.
— A propósito?
— Sim?
Faço sinal com a mão, pedindo para que ele se aproxime outra
vez e seguro sua nuca para poder falar em seu ouvido:
— Eu estava na gruta aquele dia durante a chuva. – sussurro,
beijando seu rosto e entro, trancando a porta atrás de mim.
Capítulo Treze
Sábado
— Por que você não dorme? – sinto sua mão em minha perna no
mesmo instante em que faz a pergunta.
— Não posso. – sorrio.
— Por quê? – torna a perguntar.
Exatamente uma semana desde que ouvi sua voz pela última
vez. O que também faz com que lembre de que hoje será sua missa
de sétimo dia...
Olho para Andrew, que devolve meu olhar e sorrio sem graça. Se
ele não tivesse vindo comigo, se eu estivesse aqui sozinha...
Mesmo sendo aniversário de Tommy na segunda, não sei se daria
conta de encarar tudo isso sozinha.
Ela é baixinha e tem apenas 1,57 de altura. Não vai mais dois
anos para que Tommy a ultrapassa. Tem uma aparência fofa, com
seu rosto redondo e cabelos sempre mantidos na altura dos ombros.
Sinto meu rosto esquentar mais do que brasa quente com essa
descoberta. Minha mãe viu Andrew e eu, nos beijando! Posso sentir
daqui a fumacinha subindo por minha cabeça, como se evaporasse
de tão quente que estou.
Grande parte das pessoas que nos vê juntas costuma dizer que
somos parecidas. Certo exagero, em minha opinião. Ainda mais
agora que Camile esta maior. Tá, nós parecemos um pouquinho.
Mas ela tem cabelos liso e castanho claro, com olhos verdes, assim
como nossa mãe. Sem mencionar o fato de que ela ainda esta no
auge dos dezessete anos.
A cada lado que olho nesta casa, eu vejo crianças correndo, aos
berros e sinto seus gritos ecoarem em meus ouvidos, fazendo com
que minha cabeça lateje.
Vejo presentes dispostos em uma mesa ao canto da sala, onde
Tommy passara horas sentado, abrindo cada um deles.
— Por que você e Andrew não vão dar uma volta por ai? – minha
mãe pergunta. – Convide-o para ir conhecer a Liberdade ou o
Ibirapuera. Ou qualquer outro lugar que ele ainda não conheça.
— Não sei como pude demorar tanto para começar a ler este. –
digo após algumas páginas. Minha dor de cabeça aliviou um pouco,
mas ainda a sinto.
— Tata? – ouço Camile me chamar da porta.
— Entra. – digo.
— Como estão indo as coisas lá? – ela pergunta, sentando-se ao
pé da cama.
— Está indo bem. Bem mais corrido de que aqui, para ser
sincera.
Sinto uma breve, mas não pequena vontade de bater nela com
Um Homem de Sorte. Mas me controlo, apenas respirando fundo.
— Certo. – Eu é que não vou ficar aqui para ouvir isto. – digo a
mim mesma, pegando o celular no bolso do short, discando o
número de Julie. Ela atende no segundo toque. – Esta em casa? –
pergunto.
— Estou sim. Por quê?
— Estou indo ai.
— Então venha logo, porque estou doida para saber sobre essa
história do seu mais novo paquera estar na sua casa!
— Vou dar uma saída. – anúncio aos meus pais que estão na
sala assistindo filme. Nenhum deles pergunta nada.
Por que fiquei assim? – pergunto a mim mesma. – Por que estou
sentindo tanta raiva dele?
Sei que Cami não faria este tipo de coisa comigo ou com
qualquer outra pessoa, que na certa ela roubou alguma coisa do
meu quarto e estava mostrando para ele, assim como já fez várias
outras vezes. Mas isso que estou sentindo...
— Merda!
— Que bom que você esta bem, minha menina. – minha mãe
diz, envolvendo-me em um abraço forte e tudo o que consigo fazer é
correspondê-la.
Vejo Andrew parado pouco atrás de nós, com os braços
cruzados e um olhar sério.
— Me desculpe. – sussurro para ele.
— Lu, eu vou deixar você descansar. – Ju diz, dando um beijo
em meu rosto. – Amanhã eu passo de lá para te ver.
— Obrigada. – sorrio, realmente sem graça. Essa não era a
visita que eu esperava ter feito para ela.
Como não sou fã de sangue e sei que a coisa não esta nem de
longe bonita, eu evito me olhar no espelho e assim farei, até que
consiga.
Sei que fui infantil por ter saído daquela maneira, que quem
começou com isso de dizer que éramos amigos foi eu e que, mais
ainda, era só eu ter aberto a porta que veria exatamente o que
estavam fazendo. Que, mesmo sabendo como Andrew é, sei que
ele jamais desrespeitaria minha irmã. Principalmente depois das
últimas semanas, na qual ele se mostrou mais meu amigo e
realmente interessado em nós, ao invés de nas várias mulheres que
ele podia ter. Inclusive as que ele dispensou para estar aqui comigo.
Passo minha mão por sua barriga, sentindo sua ereção ainda
maior dentro da bermuda, pressionada contra mim. Paro com a mão
no botão, louca para abri-lo. Com a respiração acelerada, Andrew
fecha os olhos e, quando os abre outra vez, estão escurecidos como
a noite.
Ele então afasta para poder tirar meu short, tirando também sua
camisa e a coloca embaixo de mim, provavelmente para não sujar o
lençol. Como se isso fosse necessário.
Não há muito que possamos fazer aqui hoje. Mas deve segurar
as coisas até amanhã. Não podemos ter preliminares e muito menos
toques. Para mim, poder senti-lo latejando dentro de mim já é mais
do que suficiente. Por hora.
— Talvez seja por isso que esteja acontecendo. Veja – ela deita
de bruços, apoiando na cama com os braços. –, você se livrou de
um relacionamento que na maior parte do tempo só foi um peso
morto para você. Vocês só brigavam e ele te tratava como um lixo.
Além de que nunca se preocupou com você.
Sirvo também um copo de suco, indo para fora, onde todos estão
sentados à mesa. Na certa algum deles deve estar querendo
receber do banco e Tommy não quer deixar mexer, para evitar
“desvios de verba”.
— Alguém quer chocolate? – pergunto assim que volto. Arqueio
uma sobrancelha, olhando para Andrew.
— Achei que você estivesse de dieta, Tata. – Camile diz.
— Estava. – concordo, ainda olhando para ele, que segura meu
olhar. – Mas agora estou oficialmente saindo dela. – ele sorri para
mim, provavelmente percebendo a que eu me refiro.
— Eu aceito. – Andrew diz. – Afinal, esse chocolate era meu.
Sorrio em resposta, mas Tommy é mais rápido que eu:
— Não dá chocolate para o Babão, não! – exclama, subindo na
cadeira.
— Babão? – minha mãe pergunta.
— É! – exclama. – Ele e a Tata estavam se beijando ontem
depois que chegam do hospital. – diz, fazendo cara de nojo e me
sento ao lado de Andrew, tentando ignorar o que ele diz. – Eca!
— Você não é mais um bom irmãozinho, Thomas. – digo,
quebrando uma fileira de chocolate, levando para minha boca.
— Ele apenas é sincero. – Andrew diz, tirando o chocolate de
mim, comendo quase tudo de uma só vez e me devolve o último
quadradinho quando olho para ele, realmente chocada. O que ele
quis dizer com isso?
— Como senti falta deles. – sussurra tocando meu seio com uma
das mãos e o outro com a boca. Sua língua circulando...
— Ah! – gemo quando ele puxa meu mamilo com os dentes. –
And... – até mesmo seu nome me foge da cabeça com seu toque
em mim.
— Tão perfeitos. – ele diz, olhando para mim.
— Por favor... – puxo seus cabelos, sentindo sua boca. Sua mão
livre desce pela lateral do meu corpo, passando pela barriga até
entrar em meu short, em minha calcinha. Tortura! Tortura! Tortura –
AH! – grito ao sentir um de seus dedos deslizarem para dentro de
mim e puxo seu rosto para mim.
— O que você quer? – ele pergunta. Sua voz esta rouca e baixa.
Os olhos de um cinza escuro.
— Você. – digo, olhando dentro de seus olhos. – Dentro de mim.
Agora!
Ele então tira as mãos de mim e me empurra para trás, para que
me deite no sofá, arrancando de mim um gritinho, junto do meu
short e a calcinha, levando com eles minhas sapatilhas.
— Você tem ideia de como fica gostosa nua assim no meu sofá?
– pergunta, encarando-me.
— Você tem ideia de como fala? – jogo de volta, fazendo-o sorrir.
– Acho que já passou da hora de você calar a boca e fazer algo que
não seja falar.
Bingo!
Com estas palavras, em um único movimento, Andrew tira a
cueca e a calça, deixando seu amigo livre, completamente ereto e
tenho de me conter para não cair de boca nesse pau dele.
Antes que eu possa fazer algo que vá leva-lo ao delírio, ele veste
o preservativo.
— E que tal se você me fizesse calar? – pergunta, puxando
minhas pernas para ele, deixando-me com o quadril sobre o braço
do sofá.
Sorrio em resposta, vendo-o se ajoelhar diante de mim e, apenas
com esta visão, sou capaz de entrar em ebulição.
— AH! – gemo, sentindo sua língua circular meu clitóris, indo
para dentro de mim. – ANDREW! – seu nome me escapa em um
desespero e tento me levantar, mas sou impedida pelo seu braço,
que alcança meu seio e puxa meu mamilo. Tortura! Tortura!
— Achei que me quisesse de boca calada. – ele sussurra,
soprando em mim e, inutilmente, luto para escapar de seu aperto. –
Ou era isso que você queria? – pergunta, ficando de pé, entrando
em mim com uma força que eu não esperava, arrancando de mim
um gemido que vem do fundo da garganta e fecho os olhos,
apertando-os. Meu Deus! Ele é muito...
Meu Anjo,
Sai mais cedo para uma corrida na praia. Devo estar de volta lá
pelas sete e quarenta.
Eu gostaria de poder te levar para o trabalho, mas
provavelmente quando chegar você já terá saído e eu ainda não
posso fazer isso, o que é uma grande maldade. Ter que esconder
minha namorada de todos assim.
Quando acordei, passei algum tempo olhando você dormir e
parecia tão calma e serena para te acordar. Achei que seria errado
fazer isso depois da noite que tivemos.
Graças a você, agora eu tenho respostas para algumas coisas.
Mas não convém lhe dizer através de um papel. Afinal, cada coisa
ao seu tempo.
Quanto ao café, fui eu quem preparou. Espero que goste.
PS: Vejo você à noite?
Andrew.
Obrigada pelo café. Estava tudo uma delícia. Assim como a noite
com você.
Peguei uma camisa sua emprestada, porque alguém jogou toda
minha roupa para lavar, provavelmente pensando que eu sairia pelo
corredor, sem roupa alguma.
PS: se você cozinhar tão bem quanto faz sexo, acho que estou
mais do que feita com você.
Sobre o seu PS: Eu espero que sim.
Tenha um bom dia de trabalho.
Lu.
Ao invés disso, vou até meu quarto e pego meus óculos junto da
bolsa para sair, guardando o chaveiro de avião com a chave do
apartamento de Andrew no bolso da calça, ainda que somente a
noite vá poder devolver para ele, já que não o vejo no trabalho.
Franzo o cenho.
— Claro.
— Esses pontos ai... – começa a dizer, parecendo sem graça. –
O que houve?
— Ah! – exclamo. – Foi um pequeno acidente. Nada de mais. –
rio. – Um idiota me fechou no trânsito em São Paulo e acabei
batendo no volante. Por sorte foi apenas isso.
— São Paulo? – torna a perguntar e vejo um olhar intrigado em
seu rosto.
— Sim.
— Curioso. – ela sorri outra vez. – Bem! Preciso voltar ao
trabalho. – Ana bate uma mão na outra e sorri. – Como bem viu,
preciso revisar uma agenda ainda, que por acaso estava fora da
programação. Foi bom conhecê-la, Luara.
Seu comentário sobre a programação me faz rir.
— Digo o mesmo. – respondo, seguindo com ela para o
elevador.
— Sabe, Andrew bateu o carro dele em São Paulo esse final de
semana também. – Ana diz, apertando o botão para o último andar.
– Recebi uma ligação do seguro dele esta manhã. Graças a Deus
ele não se machucou. Porque esse menino sabe correr quando
quer.
— O trânsito é realmente uma completa loucura nos finais de
semana. – concordo, prendendo meu olhar no espelho do elevador,
sentindo meu rosto se aquecer para além de cem graus. Ana
cantarola algo para si mesma e o elevador para.
— Irei mandar um e-mail com uma lista de algumas coisas que
preciso para poder adiantar seu visto. – diz já saindo. – Até mais.
Tudo o que consigo fazer é sorrir até que o elevador feche por
completo.
Capítulo Dezessete
Sábado
Julie bem que poderia estar aqui. – penso. – Ela na certa iria
adorar esse baile. Sem mencionar que seria a oportunidade perfeita
para apresentar ela e Igor.
Já tem alguns dias desde a última vez que conversei com minha
amiga, mesmo que ligue quase diariamente para minha família. Mas
é que essa história de ter alguém dentro da BIT querendo acabar
com minha carreira lá antes mesmo de ter começado tem me
deixado bem nervosa. Ainda mais na ausência de Andrew. Isso e
além da suspeita de Bruno estar ou não sabotando alguns trabalhos
lá dentro... Pedro esta de olho nele já há dias. Coisa de antes de
And ter viajado.
Esta noite o salão esta ainda mais retro que o normal. O Jukebox
toca músicas ainda mais antigas e as pessoas dançam
animadamente. Os discos de vinil pendurados no teto refletem as
luzes emitidas pelo globo.
Igor saiu para dançar com Natália e Pedro foi aprontar algo com
Rodrigo já tem algum tempo, o que me faz ter a sensação de que
estão armando algo para cima de mim.
Embora diga para todos aqui, seu olhar não sai de mim em
momento algum. Ouvir suas palavras faz com que meu coração
bata mais acelerado dentro de mim.
— Só faltava você aqui. – Pedro diz em resposta, pulando para a
cadeira ao lado para que Andrew sente-se junto de Felipe.
— O que esta aprontando? – pergunta para ele.
— Ah, o de sempre. Apenas provocando a jovem ali. – responde,
apontando para mim com a cabeça, fazendo com que Andrew olhe
para mim outra vez, com uma das sobrancelhas arqueadas, como
se me pedisse uma explicação a respeito. – Você tinha razão. – diz
baixando a voz, mas ainda consigo escuta-los.
— Eu sei. – Andrew me da um sorriso de lado.
— Ai, droga! – exclamo. – Merda! Merda! Merda! – repito várias
e várias vezes, escondendo meu rosto entre as mãos.
— O que houve? – Natália pergunta preocupada.
— Hm... Nada. – respondo, olhando para Andrew rapidamente. –
Eu só... Preciso ir ao banheiro. Urgente. – e levanto, enfiando-me
entre as várias pessoas, direção as placas iluminadas que indicam
os banheiros Masculino e Feminino.
— Como eu pude ser tão idiota e considerar ficar logo com o
melhor amigo dele? – pergunto ao meu reflexo no espelho. – Eu
nunca me perdoaria se fizesse algo desse tipo.
Saio do banheiro e sigo para o bar, que agora está bem mais
vazio de que antes. Consulto meu celular, notando pela primeira vez
que já passa da meia noite. O que significa que passei mais de meia
hora escondida no banheiro.
Merda! Aquela cena que dei... Paro de dançar, fazendo com que
ele também pare. É melhor dizer a verdade a esconder isso dele.
— E foi por isso que me senti péssima pelo que diz. – confesso.
– Ou pensei em fazer.
— Você faria? – ele pergunta quando a música termina mais
uma vez.
— Você sabe que não fiz quando pude, And. – respondo. – É
claro que não.
Andrew sorri, puxando-me para perto dele pela primeira vez e
dançamos ao som de Yes, de Tim Moore.
Andrew vira para ver quem é, sem tirar suas mãos de mim. Já
estou sinto-me petrificada ao ver Pedro nos olhando. As mãos na
cabeça e um olhar de completo espanto no rosto.
— Mal sabe ele que pretendo usar isso como uma desculpa para
assumir nossa relação. – sussurra, pousando um beijo em meus
lábios e sorrio.
— Só me leva para casa. – peço. – Eu ainda estou tremendo
aqui. – ele sorri e concorda.
— Fica comigo essa noite. – diz em resposta. – Não posso te
garantir que conseguiremos fazer algo, porque estou realmente
cansado e não sei como vou fazer para voltar. Mas...
Ele para de falar e fecha os olhos, inspirando fundo.
— Quero passar a noite com você. Apenas isso.
Sorrio com suas palavras e ele abre os olhos outra vez. Quando
foi que chegamos a esse ponto?
Sinto meu rosto se aquecer com seu elogio, mas não digo ou
faço nada além de continuar com a massagem por mais algum
tempo, até que sinta seu corpo relaxar sob o peso do meu e pulo
para o seu lado, para poder apenas passar a mão por suas costas
até ter certeza de que ele esteja dormindo, o que não leva muito
tempo para acontecer.
Andrew sorri.
— Tinha certeza que não iria fazer isso comigo. – diz, puxando-
me para um beijo lento.
— Precisei lutar contra todas minhas vontades para te fazer
dormir ao invés de fazermos sexo. – sorrio quando se afasta,
apoiando a testa na minha. – Você não é o único que tem desejos.
— E qual é o seu desejo nesse instante? – pergunta. Sua voz
bem mais rouca.
— Ter você agora. – respondo.
— Seu desejo é uma ordem, minha linda. – diz, colocando-se
acima de mim e prendo seu rosto com as mãos para beija-lo,
sentindo as suas em cada parte do meu corpo, causando-me
calafrios. – Como eu senti falta disso aqui. – sussurra para si
mesmo, descendo a boca entre meus seios.
Nem consigo acreditar que semana que vem já vai fazer dois
meses desde que me mudei aqui para o Rio de Janeiro. Apenas
dois meses e tanta coisa já mudou na minha vida em tão pouco
tempo. Às vezes eu meio que sinto que fui forçada a mudar para
poder acompanhar tudo isso que vem acontecendo na minha vida e
agora tem essa viagem para o exterior também, que decididamente
não estava nos meus planos para tão já. Com ela vem à chance de
uma grande proposta para subir de cargo e ser mais do que o que
sou atualmente.
Uma parte minha quer ficar plantada aqui, até que alguém saia lá
de dentro, provando minhas suspeitas. Já a outra quer escancarar a
porta e pegar o filho da mãe no flagrante. E é exatamente essa
parte de mim que dou ouvidos, porque ela esta na TPM e ficando
muito “puta”.
— Se sabe, então por que todo o teatro para saber quem havia
me dado?
Bingo! A piranha mordeu a isca.
— Para mim já basta. – Andrew diz ao meu lado. – Seus
serviços não são mais necessários para esta empresa. Pedirei para
que o RH entre em contato com a senhorita.
— Espero que pague todos meus direitos. – Daniela diz,
dirigindo-se para a porta. – Babaca. – murmura para si mesma
antes de bater a porta atrás de si.
— E ESPERE PELO PROCESSO NA SUA CASA, SUA VADIA
HOMOFÓBICA! – Pedro dispara contra a porta, completamente
vermelho.
Estou bem mais calma de que quando cheguei, mas ainda estou
chateada por tudo o que aconteceu. Quando instalei aquelas
câmeras eu não esperava que de fato houvesse alguém tentando
interferir no meu trabalho. Menos ainda que fosse descobrir tão
rápido que era verdade. O que me faz pensar se alguém já não
havia feito isso antes. Principalmente por saber qual programa
estava trabalhando e onde deveria mexer.
Foi pensando nisso que decidi que vou refazer ele todo amanhã,
apenas para não correr riscos.
Ouço a campainha tocar, mas a ignoro. Só tem uma pessoa que
viria aqui há essas horas e não estou disposta a conversar. Andrew
já me ligou um total de quatro vezes desde que o deixei na BIT com
Pedro. As outras ligações foram de Julie e de casa, que também
não atendi.
— Eu sei que você esta ai. – Andrew diz do outro lado. – Abre.
Por favor.
— E o que você quer? – pergunto.
— Me desculpar com você.
Por algum tempo ele fica apenas me encarando, sem dizer uma
única palavra e sinto meus olhos queimarem, se enchendo de
lágrimas outra vez.
Andrew aproxima um pouco, tomando meu braço em seu colo,
passando os dedos pela marca nele.
***
Estou cansada do dia que eu tive hoje. Ainda que eu não tenha
feito muita coisa produtiva, sinto meu corpo realmente exausto.
Cedo sai para correr na praia e foi a melhor escolha para uma
manhã de sábado. Depois liguei para casa e para Julie, tendo que
explicar o motivo de não ter atendido suas ligações ontem. O que foi
bem chato, porque ela fez perguntas sobre como estávamos e o
porquê de eu ter pedido um tempo de Andrew, se eu estava feliz
com ele.
[...]
Observei a forma como eles se olharam. Qualquer idiota veria
que estavam apaixonados, mesmo sendo dois idiotas que não
conseguiam se apaixonar.
Meu peito doeu e pensei em Ethan.
Assim como ele, não consigo dizer o que sinto. Talvez eu seja
até pior, já que ele conseguiu me perguntar se gostava dele e eu
nem mesmo tive coragem de perguntar isso ontem, mesmo que ele
estivesse tentando me dizer.
Durma bem.
Por que devolvi sua chave? Bem, ele não aceitou a minha
também. Não era certo.
Você também não aceitou a minha, então não fazia sentido ficar
com ela.
Até porque, nunca a usei. Só queria o chaveiro para mim...
Posso saber aonde iremos? Ou o senhor vai continuar fazendo
mistério e me torturar?
Espero por sua resposta, mas ela chega apenas dez minutos
depois:
Estou aqui sofrendo para saber onde você quer me levar e tudo
o que diz é isso?!
Ouço sua risada do outro lado e sorrio. Não era bem isso que eu
esperava ter de volta.
Senti sua falta hoje. Você não me ligou e eu não sabia se podia
fazer isso.
Mordo o lábio inferior, sem saber se realmente fiz bem em dizer
isso. Não era exatamente isso que eu pretendia dizer.
Com os anjos.
Sorrio com sua cara de pau ao pedir para que sonhe com ele.
Decido provoca-lo.
— “... Se você cozinhar tão bem quanto faz amor, acho que
estou mais do que feita com você. Amo você.”.
— Repete. – peço.
— Que eu queria ir de moto? – pergunta de volta. O cenho
franzido.
— O que você disse depois disso e de sair à maquiagem.
— Que vamos com essa belezinha aqui? – ele pergunta
parecendo realmente confuso.
— Esquece. Devo ter escutado errado. – suspiro. – Tenho
apenas duas coisas para te dizer, Andrew Giardoni.
— E quais seriam? – pergunta e me viro para ele.
— Primeiramente: Você já me viu sem maquiagem uma centena
de vezes e sabe muito bem que não sou isso que você insinuou. –
fecho a cara para ele. – Inclusive estou sem neste instante.
— Certo. Isto é verdade. Você é natural e é linda por isso. – sorri.
– E qual seria a segunda coisa? – pergunta, dando um passo para à
frente.
— A segunda é que não vai chover hoje. – ele ri com minha
afirmação.
— Quer apostar quanto que vai? – desafia.
— O que você quiser apostar. – digo em resposta, cruzando os
braços diante dele.
Meu queixo vai parar lá nos pés com sua resposta. Arregalo os
olhos, tentando descobrir se ouvi direito ou se esqueci de lavar os
ouvidos quando tomei banho. Abro a boca para falar, mas torno a
fechar por não encontrar palavras. Abro e fecho por pelo menos
mais duas vezes, para só então conseguir emitir algum som.
A maneira com que ele diz isto quase me faz acreditar que esta
falando sério. O que me faz rir, porque uma parte minha quer que
ele faça isso.
— Pode usar este aqui para se aprontar. – And diz, abrindo uma
das portas, mostrando um quarto que muito provavelmente da
metade de todo meu apartamento. – Não se esqueça de calçar uma
bota. Não sabemos como vai estar lá fora.
— Entre. – digo.
— Com licença. – diz e vejo uma senhora de cabelos grisalhos
entrar. – Desculpe invadir seu quarto assim.
— Imagina. – sorrio em resposta. – A senhora que é a Maria? –
pergunto e ela assente. Imediatamente eu me levanto, indo até ela e
seguro suas mãos. – A senhora é simplesmente uma das melhores
cozinheiras que já conheci.
— Obrigada. – diz totalmente sem jeito. – Quando Ma disse que
Andrew havia trazido uma garota para cá, eu não acreditei muito.
Precisava ver com meus próprios olhos e vejo que ele não mentiu
quando disse que era tão gentil.
— Mas ele já trouxe a namorada aqui. – digo com o cenho
franzido.
— Estou nessas terras desde muito antes daquele menino
nascer e posso te garantir que nunca o vi com uma mulher. – diz. –
Menos ainda uma namorada.
— Agora sim você esta linda. – diz e sinto seus lábios tocarem
os meus.
Abro os olhos novamente, levando as mãos à cabeça, notando o
chapéu bege.
— Vamos. – diz, tomando minha mão. – Cisne Branco e Pluma
já estão prontos, apenas nos aguardando.
Sorrio, reconhecendo o nome do cavalo de Nárnia.
— Quantos cavalos! – exclamo ao ver um estabulo lotado. Talvez
quinze ou vinte. Não consigo contar direito.
— Nem todos são treinados ainda. Os nossos estão lá do outro
lado. – Andrew diz, continuando a caminhada, levando-nos para um
pouco mais a frente, onde dois cavalos estão. – Você vai com essa
daqui. – diz, acariciando uma égua toda branca. – Consegue subir?
— Tem um rio que corre por ali. – Andrew aponta para um lado,
parando. Presto atenção para ver se consigo ouvir o som da água
correndo.
— É tão lindo aqui.
— Sim. – ele sorri.
Caminhamos por mais algum tempo, indo de volta para o campo
aberto. Não sei se são as mesmas, mas tem mais umas cinquenta
vacas pastando aqui também.
— And. – chamo.
— Sim?
— Vamos parar um pouco.
— Claro.
Encostamos perto de algumas árvores e ele desce, prendendo
Pluma em uma.
— Quer ajuda? – pergunta.
— Posso fazer isso sozinha. – digo em resposta, mas meu pé
enrosca.
— Você não precisa ser sempre tão teimosa. – ele ri. – Cuidado.
Põe o pé aqui. Isso. Assim. – instrui, segurando meu quadril e desço
para o chão. Nossos corpos se encostam e sinto seu pequeno
amigo roçar em mim. – É ruim ser pequena? – pergunta próximo ao
meu ouvido. Sua respiração pesada e quente, enquanto suas mãos
ainda me prendem.
— Não sou baixinha. – viro para ele, que não me solta. – Tenho
o tamanho normal que qualquer pessoa normal tem. Nem todo
mundo é um Nefilin como você. – dou de língua para ele, que tenta
segurar. O que nos levaria a um beijo, mas desvio de sua investida,
fugindo por baixo de seus braços.
Mas ele não o faz até que chegue perto dos cavalos, onde senta
sobre a sombra de outra árvore.
Não sei se foi pela caminhada ou pelo fato de ter acordado tão
cedo, mas peguei no sono em poucos minutos depois que deitamos
para assistir. Mas, sobre não conseguir acordar, tenho quase
certeza que o motivo seja por estar deitada com a cabeça no braço
desse homem que insiste em mexer no meu cabelo, deixando-me
ainda mais sonolenta.
— É assim que sinto toda vez que venho para cá. – responde. –
O que acontece desde que eu consigo me lembrar.
E eu tentei fazer o mesmo com ele, só que não tive tanta sorte,
já que é bem mais forte que eu. Com exceção da parte dos beijos,
porque isso ele deixava.
Na verdade, eu meio que sonhei com isso essa noite, já que ele
não passou a noite comigo para que eu pudesse conversar com
Julie e matar as saudades dela. E depois que ele saiu, nós ficamos
até tarde conversando sobre vários assuntos. Tipo que consegui
convencer ela a fazermos algo na sexta-feira para que eu pudesse
apresentar Igor para ela.
E nada disso foi suficiente para me fazer esquecer o And me
pressionando contra o espelho...
Olho para Julie na cama, mas tudo o que ela faz é virar para o
outro lado e continuar dormindo.
— FILHA DA...
— Bom dia. – sorrio, fingindo não saber o que aconteceu.
— Bom dia, né? – pergunta irritada e cobre a cabeça, virando
para a parede outra vez.
— Se você dormir de novo juro que jogo um balde.
Julie senta no mesmo instante.
— Já acordei!
Conto cada coisa que consigo me lembrar, mas não que fizemos
sem proteção no domingo e muito menos ontem. Acho que ela me
mataria. O que também me lembra de que preciso passar de uma
farmácia, mesmo que tome pílula.
Hoje acho que seria melhor. E é bem mais garantido que Pedro
me libere.
Não demora muito até que Daiane volte a falar, desta vez com
Pedro:
Ele entra outra vez, indo conversar com And e volta menos de
um minuto depois.
— Pode diz. – diz. – Pegue uma declaração com ela e não terá
que compensar o tempo fora. Eles já são acostumados a fazer isto
para nós.
— Obrigada. Prometo compensar isso amanhã sem falta.
— Tá, tá. Preciso voltar.
Não chego a gastar nem mesmo uma hora para chegar ao DPF,
apesar do congestionamento monstruoso que costuma fazer essas
horas.
Deixo meu carro no estacionamento e entro no prédio, onde
várias outras pessoas já aguardam na frente.
Estou entediada!
Sem dúvidas! Seu amigo tb vai?
Ou seremos apenas nós duas?
Sigo até onde uma mulher bastante atraente esta parada à porta
com uma prancheta em mãos.
— Aqui esta você. – diz, colocando uma pasta com meu nome
sob a mesa. – Quando me disseram que a pessoa que havia
ganhado a viagem para Nova Iorque este ano era uma garota e que
iria viajar com Andrew, eu não acreditei. – começa a dizer enquanto
pega uma caneta junto das outras. – Precisava ver com meus
próprios olhos para ter certeza.
Ai. Que ótimo. Agora só falta ela me dizer que dormiu com ele,
que isso e aquilo. Reviro os olhos com a ideia. O que não duvido
nada que tenha acontecido.
— Por que tão tensa? – Solange ri. – Não acha que realmente
seja uma pena você trabalhar com ele? Imagine vocês dois
sozinhos naquela cidade por um mês...
Já tomei bem mais do que apenas três doses e sei que não sou
tão fraca a este ponto. O que diz que muito provavelmente o que
mexeu comigo foi à comida.
Lavo o rosto com água gelada e enxaguo a boca com o
enxaguante bucal.
— Você esta com uma cara péssima. – Andrew diz assim que
apareço na porta, debruçando-me nela.
— Eu me sinto péssima. – murmuro em resposta, aceitando seu
abraço.
Andrew me leva até seu quarto e me deita na cama.
— Vou pegar um remédio para dor de estômago e enjoo. – ele
informa, pousando um beijo em minha cabeça antes de sair,
voltando instantes depois. – Toma.
— Obrigada. – sorrio, aceitando o comprimido e a água.
— Acho que eu te devo uma resposta. – diz, deitando na cama
ao meu lado e apoio a cabeça em seu peito, abraçando-o.
— Deve. – concordo. – Mas agora eu só quero que você fique
aqui comigo. Isso pode ficar para outra hora.
— Você esta um pouco quente. – ele diz, encostando o rosto em
minha testa. – Tem certeza de que esta bem?
— Pode ter certeza de que aquele lugar perdeu uma cliente.
— Bem, de fato o que eu tinha a falar pode ficar para outra hora.
Agora a prioridade é cuidar de você. – diz. – Só me avisa se sentir
alguma coisa.
Capítulo Vinte e Um
Sexta-feira
Mas também consigo ficar a cada dia mais ansiosa por esse
momento. A parte ruim é que não conseguirei ir para São Paulo
antes de viajarmos e que, pela primeira vez na vida, vou passar meu
aniversário longe da minha família, já que será na quinta-feira e
estarei há milhas de distância.
Pela primeira vez eu viro para ele, sentindo meu rosto corar,
finalmente entendendo o que ele quis dizer com essa insinuação.
Igor levanta e vira o rosto de Julie para ele, beijando-a. And esta
do outro lado, distraído com sua bebida, muito provavelmente para
não ter que ver os dois se beijando na nossa frente. Ou o fato de
que não estamos próximos.
Até agora eu não tinha a menor ideia do que era um “Body Shot”.
Mas, qualquer escolha que eu faça, tenho que beber. Então...
Levanto-me, indo até a cozinha, onde pego um limão e o sal e
volto, sentando agora ao lado de And e ergo sua bermuda de futebol
para que fique na altura da perna de sua cueca e faço uma carreira
com o sal. Com a faca, corto uma fina rodela de limão e coloco na
boca dele, virando logo em seguida um pouco da bebida bem perto
de sua virilha.
Com a mão esquerda na perna dele, uso a direita para tirar seu
boné e colocar de lado em minha cabeça e seguro seus cabelos que
precisam ser cortados. Sua boca brinca com o limão, para cima e
para baixo, convidando-me. Aproximo-me lentamente. Meus olhos
fixos em sua boca, até que encontro seu olhar escurecido pouco
antes de tomar para mim o limão.
Seus lábios tocam minha mão e viro para ele, passando meu
braço por seu peito, fazendo-o sorrir.
Acordo ao sentir uma mão quente tocar meu rosto, tirando o cabelo
dele. Abro os olhos e enxergo Andrew, mesmo que embaçado,
deitado ao meu lado, apoiado em seu cotovelo. Ele sorri para mim
assim que me vê acordada.
Por outro lado, sinto uma alegria imensa por seu convite.
Conhecer os avós é quase como conhecer os pais. Principalmente
se ele é próximo deles, como sei que é.
E este é aquele momento onde meu filme com Andrew passa por
minha cabeça, fazendo com que me lembre de como nos
conhecemos, deixando de lado nem mesmo o menor detalhe.
Mas, entre todos, o que mais gostei foi quando mostrou para
mim as fotos de crianças dele e vi o quanto And foi um menino lindo
desde que nasceu e se tornou uma criança ainda mais linda, de
olhos cinza e cabelos castanhos claros, assim como o conheço.
— As senhoritas não vão almoçar? – Andrew pergunta parando
atrás de mim e sinto suas mãos em meus ombros, massageando-
os. – A senhora não fez isso. – ele diz, provavelmente
reconhecendo seu álbum em cima da mesa.
— Fiz o que? – Anna pergunta, dando uma piscadinha para mim.
— É. Fez o que? – pergunto, olhando para ele por cima.
— Não se façam de inocentes. – ele diz, apontando para os
álbuns, mas vai ajudar a avó a levantar.
— Não tem motivos para ter vergonha, And. Você foi à segunda
criança mais fofa e linda que já conheci.
— Fui né. – ele sorri para mim. – E quem era a primeira?
— Eu. É claro. – respondo, beijando seu rosto.
— Bom saber. – diz. – Vou pedir suas fotos da próxima vez que
formos à casa dos seus pais.
And, para minha total surpresa, também admitiu ter contado para
a mãe dele sobre nós e que ela estava feliz, o que me deixou ainda
mais ansiosa para conhecê-la.
Na verdade hoje é meu último dia com ela. Amanhã assim que
eu embarcar, ela também vai embora. E Andrew há essas horas já
esta em São Paulo, com todos meus antigos colegas de trabalho.
Ou esteve, se considerar que já são sete da noite.
Por falar em “sorte”, a minha foi que não tive que ir para o
trabalho hoje, já que fui dispensada para poder terminar de arrumar
minhas coisas com tudo o que precisava. O que usei para ir às
compras com Julie e aproveitei para comprar algumas
lembrancinhas para mandar para minha família para compensar
esse tempo que não poderei ir para lá e por já fazer um mês desde
minha última visita e que farão dois meses quando puder ir.
Uma das principais exigências que fiz para concordar com esta
saideira bem na véspera do meu Grande Dia foi que ninguém
poderia beber nada que tivesse álcool. Ou seja: tem que ser natural.
Avisto Pedro junto de Igor na entrada da discoteca, no exato
lugar onde havíamos combinado de nos encontrarmos. Junto deles
esta uma garota que reconheço de imediato e que se certa forma é
estranho vê-la aqui. Mas não sou eu quem vai dizer qualquer coisa,
principalmente se ela e Igor resolveram serem amigos, que também
é bem legal.
— “Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão especial e
importante.” – Ju recita em meu ouvido.
— Você vai me fazer chorar. – digo em resposta e ela me aperta.
– Alias, não tem “especial” na frase.
Ela afasta, mantendo as mãos em meus ombros.
— Você tem que ser mesmo chata, né? – dou de ombros, rindo e
ela me acompanha.
— Gente, eu não quero ser a chata, mas eu preciso dormir o
máximo que conseguir hoje, porque duvido que consiga fazer isso a
noite toda. – digo, consultando o relógio em meu celular.
— Saudades da época que passei em Nova Iorque. – Pedro diz.
– Você vai se sair bem lá. Você tem mais do que potencial para isso.
Do contrario Andrew não teria aceitado você quando propus.
— Acredite: não teria mesmo! – Igor concorda. – Não fui para lá
por isso. – franzo o cenho, encarando-o. – Fui para Porto Alegre na
época. – diz. – Foram duas semanas e meio incríveis.
***
Estou a apenas dez horas de embarcar naquele avião e não
consigo pegar no sono de maneira alguma. Ainda são três da
madrugada e tudo o que consegui dormir até agora deve ter sido
uma hora e isto desde as dez da noite, que foi quando cheguei com
Julie. Do restante apenas cochilei e não quero acordar Julie, porque
ela também estava cansada.
Acordado?
Sua resposta chega logo em seguida:
Existe um termo mais apropriado que “semi acordado”?
Estou entre dormir e acordar. Está estranho aqui.
Sortudos eles.
Por quê?
Por nada.
Vejo que já são nove horas, então vou para o quarto, onde deixo
algumas roupas separadas em cima da cama antes de ir tomar meu
banho. Sinto meu corpo todo dolorido por ter dormido toda encolhida
no sofá. Além de não ter dormido nada.
Ele então para de falar e por um instante parece que vai dizer
mais algo, então muda de ideia.
O quarto que estou não chega nem mesmo a ser metade do que
é a cobertura de Andrew, mas é tão lindo quanto. Ele é grande de
maneira normal, não exagerada. E também não tem aquela parede
de vidro que da para a cidade. O que é compreensível. Mas tem
uma sacada, assim como também tem lá em cima e eu consigo ver
muita coisa brilhante daqui. Na verdade, talvez eu queira ficar por
aqui mesmo depois desse mês de treinamento. De repente a Nex
Ae precise de um novo programador ou algo do tipo.
Andrew afasta, indo até suas roupas que estão jogadas no chão
ao lado da cama e as pega, vestindo a cueca.
— And... – chamo e ele olha para mim. – Ela, a Ana, ela... Bem...
— Se Ana sabe de nós? – completa meu pensamento e
confirmo. – Suspeito eu que sim. Quer dizer, ela fez algumas
reservas para mim que são para duas pessoas.
— Então ela sabe que nós temos algo. – digo baixinho,
desviando o olhar para frente.
— Ela gostou de saber que tínhamos “algo”. – Andrew diz,
pousando a mão em minha perna. – Não tem porque se preocupar
com ela.
— Não estou. – respondo, segurando sua mão. – Inclusive, acho
que ela sabe que fui eu quem bateu seu carro. – meu rosto se
aquece por alguns graus.
— Sabe, sim. – ele ri.
— Oh, céus! – exclamo.
— Fique tranquila, Anjo.
— Certo! Certo! – olho novamente para Andrew, ainda
segurando sua mão, para poder perguntar: – Então, esse Brunch?
Ao invés de responder, Andrew estaciona o carro em uma vaga
reservada e desce, contornando o veículo para poder abrir a porta
para mim.
— Madame. – diz, estendendo a mão para mim e a seguro.
Pouco atrás dele, leio a fachada: Blue Fin.
— Você pode ser quem você quiser ou ter quem você quiser. –
Andrew começa a dizer. – Ninguém vai realmente se importar com
suas decisões, suas atitudes ou qualquer outra coisa, até que elas
sejam erradas ou um erro. Ou que as incomode.
— Existem duas coisas da qual tenho plena certeza de ter
acertado nesses últimos meses. – digo, passando o polegar pelo
contorno de sua barba.
— E quais são?
— Uma delas é sobre ser exatamente quem eu sou.
And sorri para mim, concordando.
— E a outra?
— É aquele de quem quero ter por um bom tempo – sussurro,
passando os braços por sua cintura. – e espero que ele também
queira isso.
— Sei bem com quem eu quero estar e estou feliz por esta
escolha. – diz. – Não me importa se isso incomoda aos outros. Só
importa a nós dois.
E, por mais que ele tenha feito por merecer, não estou mais
pensando em vingança por ter me deixado na vontade.
And sorri para mim e fecho a cara para ele, mostrando a língua.
— Anda. Vista isso. – diz, jogando sua jaqueta em meus ombros.
— Não vai passar frio? – pergunto vestindo-a.
— Sou um homem experiente. Não vim apenas com uma.
— Eu poderia brigar com você, mas não consigo. – digo e ele ri,
passando os braços por meu ombro para me aquecer. – Bem
melhor assim.
Mais uma vez ele sorri, mas disfarça quando abre a porta do
carro para mim e vai até o lado do motorista.
Talvez minha irritação não passe de TPM, talvez ela seja fruto de
uma canseira pelas horas da viagem ontem ou pelo dia que tivemos
hoje. E eu sei que terei de dar um jeito de convencer And a
passarmos o final de semana trancados no quarto para que eu
possa descansar o máximo possível e me habituar ao clima e fuso-
horário aqui, ainda que não seja tão diferente do Brasil nesta época
do ano. Mas preciso estar cem por cento para a segunda-feira,
quando for para a Nex Ae.
Na verdade, estou mais nervosa de que com fome. Não sei bem
o porquê, mas estou. Já tem um bom tempo que não me sinto assim
em companhia de Andrew. Costumava acontecer antes de
começarmos a sair e mais ainda quando ele ficou comigo no meu
apartamento, quando minha avó estava internada e depois que ela
faleceu.
— Não tenho muito jeito com elas ditas. Existem algumas coisas
que eu nunca disse a ninguém e são coisas que eu gostaria de ter
coragem de dizer a você. Mas eu não sei como fazer isso.
Desço minhas mãos por suas costas até chegar a sua bunda e o
aperto contra mim apenas para poder sentir sua ereção.
— Eu sei bem o que você tem aqui. – diz, tocando meu seio
esquerdo do lado. – Orbis non sufficit.
Ele olha bem dentro dos meus olhos e faz a temperatura subir
mais alguns graus.
Suas mãos descem o zíper do meu vestido, jogando-o também
para o chão, tirando também meu sutiã.
Andrew segura meu quadril e nos levanta sem nem mesmo dar
pausa para respirarmos e me repousa na cama, puxando minha
calcinha para fora, deixando-me apenas com o salto. Então afasta
para tirar a calça, que vai parar junto de todo o restante.
Existem várias coisas que consegui sentir das outras noites. Mas
o que sinto nesta é diferente. Talvez seja pelo lugar, talvez sejam as
coisas ficando mais fortes e intensas entre nós. Eu não tenho noção
do que possa ser.
Ele afasta, virando-me de frente para si, penetrando-me outra
vez. Seguro seu quadril, apertando-o contra mim. Andrew me olha
bem dentro dos olhos e me sinto nua de maneira que vai bem além
de nossas roupas.
— Já faz algum tempo que estou louco para fazer isso com você.
– diz em meu ouvido e solto um gemido alto de dor. – Linda. – ele
geme meu segundo apelido predileto, dando estocadas fortes.
Dos meus pais ganhei uma jaqueta nova e o último livro do John
Green que faltava na minha biblioteca.
O quarto é uma caixinha com mais ou menos um palmo de
altura, que atiça minha curiosidade ainda mais. Abro-o sem demora
e vejo a imagem de um boneco à embalagem.
— Ai. Meu. Deus! – exclamo, sentando-me sobre minhas pernas.
– Isso só pode ser brincadeira.
Abro a embalagem, tentando não danifica-la. E sim, é um
boneco super fofo do Harry com vestes de Quadribol e sua linda
Firebolt em uma das mãos e o pomo de ouro na outra.
— Que coisa mais linda! – exclamo ainda mais alto, fazendo com
que Andrew acorde.
— O que aconteceu? – ele pergunta um pouco desnorteado. –
Está tudo bem?
— Desculpa. – peço. – Eu só... – mostro o boneco para ele.
— Bem que Camile disse que você iria surtar com isso dai. – diz,
coçando a cabeça enquanto senta ao meu lado.
Coloco o Harry ao lado do abajur para abrir o último embrulho.
Ele é bem fininho e menor que um livro.
— Tommy sempre me surpreende nos presentes. – comento,
olhando para a foto que tiramos no aniversário dele. Meus pais
estão de um lado meu e And do outro, com Tommy sentado em
seus ombros. Ju e Cami na nossa frente. Todos abraçados de
alguma forma.
Essa foto foi tirada logo depois que tirei o curativo da testa, mas
os pontos não estão visíveis. Sorrio com a simples lembrança
daquele dia e meus olhos se enchem de lágrimas ao vê-los.
Durante toda a noite, eu não devo ter dormido mais do que poucos
minutos. Se eu gostasse de café, certamente eu tomaria umas duas
garrafas antes de sair só para poder ter certeza de que não entraria
em pânico. Mas eu odeio aquilo e não consigo entender como as
pessoas conseguem gostar de uma coisa tão amarga.
Ainda são seis horas da manhã. Tem mais uma hora antes de
sairmos, então desço até ao que deveria ser meu quarto para
buscar algumas coisas que espero precisar ao longo do dia, que
são: caderno para anotações, um estojo com canetas (uma nunca
basta para mim) e um pacote de Trident que comprei no aeroporto,
porque sempre é bom ter algo desse tipo por perto em caso de
emergência.
— Nada de ruim vai acontecer com você lá, linda. – diz, abrindo
os braços e me escondo entre eles, aceitando seu abraço. – Se
perceber que algo está saindo do seu controle, lembre-se de que eu
estarei lá. Você pode me chamar à hora que precisar.
— Como o Superman? – pergunto.
— Não sou muito fã do cara, mas pode colocar assim.
Sorrio, concordando.
— Mas você não vai estar em reunião o dia todo?
— Só a manhã. – responde. – À tarde estarei livre e você
provavelmente também. – franzo o cenho, mas não pergunto mais
nada.
And mantém nossos corpos colados por algum tempo e o aperto
forte junto a mim.
— Vai dar tudo certo. – ele sussurra, dando-me um verdadeiro
beijo de bom dia.
Sorrio ao deixar o duplo sentido em minha frase. Ela vai ter uma
grande decepção quando descobrir.
Olho para Sarah e a vejo distraída procurando por algo. Sei por
que posso ver no projetor atrás dela. Então digito a mensagem:
Acho que a melhor noticia do dia foi quando ela me disse que na
terceira semana de treinamento eu passaria com outra pessoa, que
era para elaborar o desenho do meu trabalho e que como essa
pessoa, na qual ela não me disse o nome, não estaria na empresa
até sexta-feira, eu teria que esperar para poder conhecê-la.
Pedalamos de vagar para que eu possa ver cada uma das lindas
coisas que este parque tem a oferecer. É tudo coisa na qual por
várias vezes pude ver na TV. São milhares de árvores, pessoas e
tantas outras coisas. Até mesmo um castelo.
Curvado de frente para mim, consigo ver por cima dos ombros
de Andrew.
Não muito longe de onde estamos tem um aglomerado de
pessoas depositando flores perto de uma estatua de alguém que
não me é estranho, embora não me lembre de quem ele se pareça.
Pouco mais a frente, as crianças brincam. E, ainda mais adiante,
vejo um homem com Sobretudo e chapéu pretos, escondido atrás
de uma árvore, com uma câmera em suas mãos.
Não digo mais uma única palavra. Ele tem razão. Se essas
possíveis fotos vazarem não terá adiantado de nada esconder
nosso namoro por quase dois meses.
Sento-me na sombra da árvore, observando Andrew ir direção
ao homem misterioso. Ele ainda esta lá no mesmo lugar, embora
agora disfarce fotografando outras coisas.
Passo cada uma das imagens, ficando cada vez mais surpresa
com o que vejo. São fotos nossas desde o aeroporto quando
desembarcamos. Nosso jantar no meu aniversário e imagens de
quando chegamos ao parque. O que faz com que um calafrio
percorra meu corpo, imaginando alguém que estivesse a nossa
espreita desde que saímos cedo.
— Não é isso o que quero dizer, lindo. – digo. – Sei que na hora
certa vou poder esfregar na cara daquela vadia do DP que não sou
“apenas uma funcionária qualquer” como ela insinuou que eu era. –
And ri com a maneira com que digo isso. – Horrível é imaginar que
alguém jovem como você tenha que lidar com essas coisas
provavelmente desde sempre e não poder agir da maneira como eu
agiria, porque não tenho paciência para nada disso.
— Não conhecia esse seu lado violente. – ele diz com um sorriso
de lado.
— Existem vários lados meus que você não conhece. Alguns até
vai preferir não conhecer.
Andrew aproxima o rosto de mim, tomando o meu em suas
mãos.
— Quero conhecer cada lado seu. Bom ou ruim. E quero que me
conheça por completo. – sussurra em meu ouvido. – Mas não agora,
porque estou com mais fome de que antes.
— Pode ser. Mas por hora, preciso dos meus óculos para poder
enxergar.
And vem em silêncio até a cama e deita ao meu lado, ainda sem
dizer uma única palavra. Por algum tempo nós apenas nos
encaramos, até que ele sorri para mim.
À noite esta mais fria hoje, mas nada forte o suficiente para nos
fazer adiar nosso jantar outra vez. O motivo dele agora é ainda
maior do que antes.
Visto minha calça jeans e minha jaqueta, calçando também
minhas botas. Os cabelos eu deixo soltos.
— Acho que nós dois aprendemos nossa lição, linda. – ele diz,
tocando minha mão. – E o que eu puder fazer para mostrar o quanto
amo você, vou fazer.
— Posso dizer que farei o mesmo, lindo. – sorrio um pouco sem
graça. – Mas não acho que o propósito de sairmos para jantar fora
seja isso.
Não sei dizer ao certo por quanto tempo ficamos aqui abraçados,
apenas olhando para as pessoas que passavam por nós. Perguntar
isso é o mesmo que pergunta a um relógio quanto tempo ele já
marcou desde sua criação: provavelmente impossível.
Com sua boca em meu pescoço e com certa dificuldade, And tira
minha blusa, soltando o sutiã logo em seguida e ajudo a tirar sua
camisa também, abrindo o único botão de sua calça e logo as
únicas peças de roupas em nossos corpos seja sua cueca branca,
deliciosamente marcada em seu corpo e minha calcinha vermelha.
Olho para ele por cima, tão indefeso e sobre meu controle.
— Exposto para que toda Nova Iorque possa ver sua bunda.
Andrew sorri, invertendo nossas posições. Sei que deveria me
sentir exposta nessa situação, mas tudo o que sinto é meu desejo
ainda maior.
— Ninguém pode ver aqui dentro, Anjo. – ele diz, brincando com
seu membro entre minhas pernas e as sinto amolecerem.
— Onde é que você pensa que está indo? – ouço a voz de Sarah
atrás de mim quando começo a guardar todas minhas coisas de
volta na mochila.
— Estou indo tirar minha hora de almoço. – respondo,
arrastando a cadeira para trás, ficando de frente com ela. Sem os
saltos, Sarah é uns cinco centímetros menor que eu. – Caso você
não tenha percebido, era para eu ter saído há uma hora.
— Não me recordo de ter liberado você para isso. – ela diz,
batendo com sua agenda na mesa.
— Primeiro: você não é meu chefe. Suas ameaças não
funcionam comigo. – fecho a mochila com força, voltando a olhar
para ela. – Segundo: se quiser que eu fique aqui com você até
passar mal, por mim tudo bem. – cruzo os braços junto ao peito,
olhando de cara fechada para ela.
— Esteja aqui às duas horas em ponto.
Não consigo conter a risada ao ouvir suas palavras.
— Coisa nenhuma. – respondo. – Eu tenho direito à uma hora de
descanso de você. Não vou te dar meu único descanso.
Jogo a mochila no ombro e passo por Sarah, indo para a porta.
— Eu adoraria descobrir o que Andrew acharia dessa sua falta
de comprometimento com a oportunidade que ele deu a você.
Inspiro fundo. Controle-se, Luara. Viro para ela.
— Eu também adoraria saber o que ele pensaria sobre alguém
como você impedindo uma pessoa de se alimentar no horário. – dou
a ela o sorriso mais cínico que consigo. Melhor do que ninguém
aqui, eu sei que Andrew, por educação de sua mãe, não gosta que
ninguém passe do horário de almoço.
And sabe de tudo o que tem acontecido entre nós, assim como
também sabe que não estou nos meus melhores dias de humor com
a proximidade da apresentação. O que o faz se questionar sobre o
como tenho conseguido manter a calma durante tanto tempo. Quer
dizer, eu sou paciente mais do que eu gostaria de ser às vezes. Mas
não hoje. Hoje apenas quero que Sarah exploda da pior maneira
possível e sou capaz de ajudar para que isso aconteça.
Ainda que não tenha ninguém aqui mais, não me atrevo a olhar
para trás enquanto sigo para o banheiro, trancando-me lá dentro.
Sei que o que vi não significa nada, que tudo o que aconteceu foi
Sarah tentando segurar Andrew por algum motivo e ele recusando
seu toque duas vezes. Mas não consigo conter o sentimento dentro
de mim. Raiva? Ciúmes? Para ser sincera, eu não sei dar um nome
exato.
— Está atrasada. – Sarah diz assim que abro a porta e olho para
o meu relógio imaginário em meu pulso.
— Aqui diz que estou na hora em que falei que voltaria. –
respondo, sentando no mesmo lugar de antes.
Ligo meu notebook e abro o caderno sobre a mesa. Não tenho
mexido no meu projeto aqui em momento algum. Mas tem um novo
que comecei para poder colocar em prática algumas coisas novas.
Enquanto Sarah faz seu discurso incansável e irritante que já sei
de cor e salteado, acrescento algumas coisas interessantes nesse
aplicativo que estou trabalhando e que mandarei para Pedro assim
que terminar.
A melhor parte das tardes é que ela costuma colocar algum
vídeo aula de aproximadamente quarenta e cinco minutos cada e
não preciso ouvir sua voz por todo esse tempo. Além de que elas
são bem mais proveitosas de que quando ela fala.
Não posso dizer que ele não foi criativo, mas ainda tenho
duvidas sobre passar frio ou não com a minha, que consta
basicamente de: um vestido preto bem decotado e colado ao corpo,
na qual a saia não chega nem mesmo ao meio de minhas coxas,
uma gravata na qual deixei levemente frouxa no pescoço, botas de
cano longo, um rádio para me comunicar com And, luvas de couro e
o quepe, que ainda não coloquei. Meu toque pessoal foi apenas
este: uma cinta liga preta.
And senta na cama ao meu lado e sinto seu perfume que faz
aquele gosto horrível subir pela garganta outra vez.
— And... – começo, mas não consigo dizer.
Cubro a boca, correndo para o banheiro, terminando de jogar
fora o que quer que reste.
— Você precisa de um banho. – murmuro ao vê-lo pelo canto do
olho. Ele esta encostado na porta com uma expressão preocupada.
Seu perfume que tanto adoro faz tudo se revirar dentro de mim.
Ela então sai, indo para trás do balcão e volta novamente até
onde estou com uma pequena caixinha em suas mãos.
— Temos este aqui. – diz. – Ele mostra até mesmo quanto tempo
esta se o resultado for positivo.
Mordo o lábio inferior, fixando o olhar no produto em sua mão e
de volta para ela. Um tremor percorre todo meu corpo.
— Será que eu posso usar seu banheiro? – peço.
— Claro.
A atendente me leva até o fundo, abrindo a porta que da para
seu estoque, mostrando-me a porta que leva ao banheiro.
— Obrigada. – sussurro ao passar por ela, indo até lá.
— É uma pena que agora seja tarde para manter o uso. – solto
um suspiro cansado pela noite não dormida.
— Faça um exame de sangue, procure seu médico e tire as
dúvidas com ele. – recomenda. – Assim você vai poder saber se a
data esta certa. Além de que precisa fazer um acompanhamento
mais adequado.
— Vou sim. Obrigada. – sorrio, entregando o dinheiro para pagar
os dois testes. – Não sei nem o que eu teria feito se eu estivesse
sozinha.
Aproveito para perguntar também a respeito do remédio para
enjoo que compramos durante a noite e Isabeli diz que é o próprio e
que posso manter o uso, mas que se não funcionar como deveria,
devo procurar meu médico.
— Muito obrigada, Isabeli. E desculpa por ter segurado você
tanto tempo assim.
— Estamos aqui justamente para isso. – ela sorri. – Boa sorte.
Com o pai e o baby.
— Acho que vou precisar.
— Queria saber qual magia você usa. – ouço sua voz atrás de
mim, assustando-me. – Calma.
— Como assim? – pergunto, sentindo minha voz tremida.
— Nunca falei a respeito disso com ninguém além de Felipe. –
explica. – E ainda foi em uma época antes de tudo, onde eu ainda
acreditava nessas coisas todas. – ele continua a escolher frutas,
uma por uma, procurando sempre a melhor. – E então você chega
como se caísse de paraquedas e começa a mudar tudo na minha
vida.
Ah, não.
— Desculpa. – sussurro, colocando no carrinho tudo o que
estava segurando.
— Na verdade não é uma desculpa. É um agradecimento. – diz.
– Meu. Sei lá... É estranho dizer. Ainda mais em um lugar como
esse. Mas até conhecer você melhor, eu achava que tivesse perdido
esse meu lado “responsável”. – dou um sorriso um pouco sem
graça, sem saber o que dizer. Talvez esse seja um sinal, sua boba
medrosa. Conte a ele a verdade logo!
— Acho que isso não era bem o tipo de texto que eu esperava
encontrar na biblioteca particular do Andrew. – digo, passando para
outra página.
— Eu ganhei esse livro da minha avó. – ouço sua voz atrás de
mim e me viro em sua direção. – Não o li ainda, mas foi bom ter me
lembrado dele. Vou leva-lo de volta para o Rio.
— Não sabia que gostava da Clarice.
— Ela é uma mulher incrível. – ele sorri em resposta. – Era. –
corrige.
Levanto e vou até a estante para colocar o livro de volta no lugar,
virando outra vez para Andrew quando um cheiro chega até mim.
Tê-lo tão perto de mim assim me faz ter medo do que pode
acontecer quando contar para ele. Do que será de nós quando eu
disser essa frase que tem me deixado acordada nas últimas noites.
E, ao mesmo tempo, sinto-me terrível por estar escondendo isso
dele.
— Eu amo você, Anjo. – ele sussurra, fazendo com que meu
coração pare de bater no mesmo instante e sinto minhas pernas
amolecerem. Talvez eu apenas não caia por ter suas mãos apoiadas
em mim.
— Eu amo você também. – sussurro de volta, sentindo as
lágrimas descerem por meu rosto insistente.
— Por favor, não chore. – pede. – Isso vai acabar salgando o
molho do macarrão.
— Prometo não salgar seu almoço. – sorrio para ele. – Não vou
mais chorar. Prometo também.
— Que ótimo, porque preciso de ajuda com a salada.
— Tudo bem. Acho que posso cortar alguns tomates sem acabar
chorando.
— É cebola que faz chorar. – ele corrige.
— Bem, eu sei. Foi justamente por isso que eu disse que não iria
chorar pelo tomate.
Andrew ri, apertando minha cintura.
— Você fica linda com essa minha camisa. – diz, dando um beijo
em meu rosto.
Durante o almoço, And e eu entramos em um acordo de
passarmos a tarde assistindo algum filme e deixaríamos os jogos
para mais a noite. Então é por isso que estou aqui deitada em seu
peito terminando de assistir a uma comédia romântica.
— Quer ver outro? – pergunto, ainda que minha vontade seja
apenas abraça-lo forte até pegar no sono e só acordar quando
estiver no Rio de novo.
— Na verdade não. – ele responde. – Quero conversar com
você.
Meu coração para de bater no mesmo instante. Olho para
Andrew, que senta na cama, apoiando-se à cabeceira. Sento na
cama ao seu lado, puxando o travesseiro para meu colo.
— Sobre o que? – pergunto.
— Tenho sentido você realmente distante de mim nesses dias. –
diz. – Aconteceu algo?
— Não. – minto. – Esta tudo bem. – sorrio para ele, mexendo na
renda da fronha.
— É sua família? Ou Julie? – ele insiste. – Está tudo bem com
eles?
— Não falo com nenhum deles desde sábado à tarde. –
respondo. – Estou com saudades. Mas não é isso.
— Olha, eu quero que saiba que não importa o que seja que
tanto te incomoda, que eu estou aqui. – diz, segurando meu rosto
para ele. – Quero que saiba que sempre vai poder contar comigo
para o que quer que esteja te machucando e que vou te ouvir e ficar
ao seu lado sempre. E quero que você me diga se eu tiver te
magoado com alguma atitude.
Certo. Coragem.
Abro a boca para falar, mas o que sai é outra coisa.
— Eu sei. – sorrio. – Obrigada.
Covarde!
— Certo... Sobre o que mais podemos conversar? – pergunta
agora olhando ao nosso redor e tudo o que consigo é me sentir
péssima comigo mesma.
— Estou sem ideia alguma. – dou de ombros e ele sorri de
maneira maliciosa.
— Bem, então eu tenho uma.
Arqueio a sobrancelha, curiosa para saber qual é sua nova ideia,
mas ainda aliviada por ele não ter insistido em saber o que me
incomoda.
Andrew vira para mim e se aproxima, subindo em minhas
pernas, deitando-me na cama outra vez e sorrio ao perceber quais
são suas intenções. Ele vem subindo por minha barriga, fazendo
com que minha camisa suba e ele passa a barba por ela.
— And, para! – peço, sentindo cócegas.
— Eu não posso parar. – diz, começando uma tortuosa subida,
vindo até o pescoço, soltando o peso em mim. – Como eu sinto sua
falta, linda. – sussurra instante antes de me beijar e prendo minhas
mãos em suas costas, apertando-o contra mim. – Mas não vou
tentar usar disso para te deixar melhor. Embora eu ache que isso
possa resolver seus problemas.
Ele sorri e o empurro de volta para a cama, sentando em seu
colo.
— Sobre o que você quer conversar agora? – pergunto e ele me
da um sorriso malicioso.
— Quero saber como foi sua primeira vez. – suas palavras
fazem meu rosto corar no mesmo instante.
— NÃO! – exclamo. – Qualquer coisa, menos isso.
— Eu conto a minha. Uma troca justa.
— Isso é chantagem. Não troca. – faço uma careta para ele,
tentando parecer ofendida. Levanto de seu colo apenas para poder
me acomodar melhor em cima dele.
— Troca justa. – sussurra.
— Ok. Tudo bem. – digo, apoiando a mão em seu peito e desço
até o elástico de seu short.
Olho para o teto, tentando me lembrar daquela noite.
— Tenha um pouco de paciência. – peço. – Não lembro muito
bem como gostaria.
— Foi tão ruim assim? – ele pergunta e olho para ele outra vez.
— Foi o suficiente para me apaixonar por ele mesmo sabendo
que nunca mais o veria. – respondo. – Eu tinha dezessete anos e
estava no meu último ano da escola. Era perto da formatura e tinha
acabado de receber a notícia de que havia passado na faculdade
que eu queria e com bolsa integral. Era uma festa na casa de um
amigo nosso, como sempre fazíamos todos os meses, porque
muitos da turma não iriam mais se ver. – franzo o cenho. – Os pais
desse amigo tinham ido viajar. Então você já viu.
— Claro. – Andrew sorri, como se me incentivasse a continuar.
Olho para ele, incapaz de acreditar que minha primeira vez foi
justamente com ele, em uma época cheia de mudanças em minha
vida e que, sete anos depois eu o reencontrei em outro estado,
tornando a perdê-lo de vista uma segunda vez. Agora eu me lembro
de ter dito para que me chamasse de Lu, enquanto ele se
apresentou como And.
Se não tiver sido o destino, eu não sei mais o que poderia ter no
unido desta maneira.
Pela primeira vez, Andrew olha para mim e vejo uma expressão
confusa em seu rosto e seus olhos brilharem um pouco marejados.
And não faz mais pergunta alguma e menos ainda diz qualquer
outra coisa sobre isso. Seu silêncio é o que mais me machuca,
porque não tenho como saber como ele esta se sentindo com essa
notícia. Seu silêncio é apenas resultado da tortura emocional que
tenho enfrentado sozinha há dias e que terei que aguentar quando
for contar aos meus pais e mais ainda quando minha barriga
começar a crescer.
Fecho os olhos para não vê-lo sair do quarto, mas isso não me
impede de ouvir quando a porta da frente abre e fecha bem mais
suave do que eu esperava, mostrando que agora estou realmente
sozinha nesse lugar tão estranho, bem mais do que eu estive
nesses últimos dias, porque, até agora, eu tinha Andrew.
Ver Andrew aqui faz com que meu coração dispare contra o peito
no mesmo instante.
Ele para e por algum tempo apenas ouço a chuva agora mais
forte e sinto o espaço vazio do colchão afundar com seu peso e, não
conseguindo mais continuar assim, abro os olhos e tudo o que vejo
é sua imagem embaçada. Andrew me da um sorriso fraco, voltando
a falar:
Para ser sincera, ainda acho que isso teve coisa do Andrew e
mais alguém, porque foi muito repentino.
Sarah me ligou ontem para finalmente dizer que era com eles
que eu iria trabalhar hoje, mas que eu deveria manter o foco no que
havíamos trabalhado. Ela disse isso como se fosse piada até. Ao
menos foi o que pareceu para mim naquela hora.
Fora And, das pessoas que eu conheço e sei que estará lá,
apenas Sarah.
Para ser sincera, eu teria trocado tudo o que ele preparou por
uma enorme barra de chocolate. Ninguém aqui tem ideia do quanto
estou precisando de uma. Mas And e eu fizemos um acordo e ele
me prometeu chocolate depois da apresentação. O que foi bem
injusto, mas acabei aceitando sua chantagem.
— Boa tarde. – começo a dizer com meu inglês agora bem mais
praticado. – Quero finalmente compartilhar com todos aqui, meu
projeto final para este treinamento que tive o prazer de participar e
aprender bem mais do que antes. – minha voz sai calma e forte, de
uma maneira até que surpreendente, porque geralmente eu falo
com a voz baixa e calma apenas. – Eu não tenho um nome oficial
para ele ainda, mas isto será o de menos por hora. – faço uma
pausa para mudar o primeiro slide, onde um carro com teto solar
aparece. – A ideia inicial era apenas fazer algo diferente de todos os
outros, mas, conforme eu trabalhava nisso, descobri que temos
vários meios de combustíveis que ainda precisamos trabalhar. E foi
ai que eu pensei em um tipo de combustível eficiente e sustentável
que pudesse usar algo que está presente no nosso dia a dia.
Para minha sorte, Andrew fez esta mesma pergunta para mim
ontem enquanto treinávamos. Então que eu sei exatamente qual a
resposta que devo dar.
— Queira ocupar seu lugar, por favor. – ela diz e vou sentar-me
na mesma cadeira de antes. – Bem, Luara. – diz agora para mim. –
Todos aqui conversaram e chegaram a um acordo.
— And. – chamo, mas ele apenas sorri para mim, indo pegar sua
calça para poder vestir.
— Só vou pegar uma camisa e já saio. – informa, já indo para o
quarto.
— Qual seu nome? – Tom pergunta para mim.
— Luara.
— Nome diferente. – diz. – E bonito. Sou Thomas, mas todos me
chamam de Tom. – ele me da dois beijinhos em cada uma de
minhas bochechas e isso faz com que eu me sinta um pouco mais
confortável com sua presença. Mas não tanto, uma vez que estou
seminua na frente de alguém que nunca vi na vida. – Deixe-me ver
o que podemos fazer aqui.
Tom puxa uma cadeira para que eu possa me sentar e começa a
mexer em meu cabelo, erguendo uma mexa aqui e outra ali, indo de
um lado a outro.
— Minha primeira sugestão seria pintarmos com outra cor. –
começa a dizer, mas para no momento que Andrew reaparece agora
devidamente vestido.
— Duas horas, Tom? – pergunta e este confirma. – Até depois,
linda. – ele diz para mim, pousando um rápido beijo em meus lábios,
seguindo para a porta e me deixa sozinha com Tom outra vez.
— Voltando. – Tom diz. – Estou sabendo que você esta proibida
de usar química no cabelo por alguns meses, então já descantei
essa possibilidade e tenho algo ainda melhor. – franzo o cenho ao
ouvir seu comentário. – Sim, ele me contou e eu fiquei muito feliz
por saber da notícia. Vai ser uma criança linda, porque vocês dois
são muito lindos. Parabéns.
— Obrigada. – sussurro, sentindo meu rosto corar outra vez.
— Acho que não preciso dizer que você deve ser muito boa.
Porque para ter conquistado aquele homem não deve ter sido nada
fácil. – ele para de frente para mim. – Já sei o que iremos fazer com
você.
— E o que faremos? – pergunto.
Enquanto Tom cortava meu cabelo, descobri que ele e And são
amigos já há anos. Ele é brasileiro (o que explica muita coisa.
Como, por exemplo, ele falar português) e vive em Nova Iorque
desde os vinte e quatro anos, tendo passado dois anos em Londres,
fazendo um curso com um cabeleireiro renomado lá. Hoje, com
trinta anos, ele é casado com um rapaz que também é cabeleireiro e
juntos são sócios de um dos melhores salões de Manhattan e estão
tentando adotar uma criança, porque são loucos para ter um filho.
Durante a maior parte da noite, tudo o que tive que fazer foi
responder todo tipo de pergunta de várias pessoas. Inclusive de
Douglas, que achou engraçado quando contei que tive a ideia para
meu projeto enquanto participava de uma conversa sobre energia
com alguns amigos. Mas, em sua maioria, as perguntas eram
normais. Sobre os lugares que conheci e quais lugares Andrew não
havia me levado, se estou preparada para voltar ao Brasil ou algo
nesse sentido. Embora um deles tenha perguntado se eu era
solteira, o que arrancou um olhar um pouco irritado de And.
Aqui, nesta sala, sinto como se não houvesse chão. Mas isso
não me importa, pois estou segurando meu mundo e é tudo o que
preciso neste momento.
Andrew afasta, pousando um último beijo em meus lábios e sorri,
ainda segurando meu quadril para ele. Um sorriso bobo que vai de
um lado a outro e correspondo seu sorriso com outro igual.
— Mãe.
— Desculpa. Eu só... Estou feliz e um pouco confusa.
Alguém bate na porta e a abre. Vejo apenas parte do rosto de
Igor.
— Mãe, eu preciso desligar. – digo. – Estão me chamando aqui.
— Tudo bem, meu amor. Vai nessa consulta e depois me diz
como estão as coisas, por favor. E cuidado.
— Pode deixar. Obrigada.
Encerro a chamada e coloco o celular em cima da mesa,
enfiando o rosto entre as mãos enquanto sinto uma dor de cabeça
terrível começar a tomar conta de mim.
— O que você vai fazer na sexta, Brudosck? – Igor pergunta
abrindo o restante da porta.
— Provavelmente trabalhar até mais tarde para terminar esse
aplicativo e depois ir para casa para dormir cedo. – respondo sem
olhar para ele.
— Qual é? É o último dia de trabalho e depois férias! – ele
exclama. – Tire uma folga. Faz um bom tempo que você não sai
com a gente.
— Acho que a palavra “férias” já define bem o conceito de
“repouso”. – digo irritada.
— Nós precisamos de um amigo do bem. Vamos lá! – ele insiste.
— Sério? – pergunto de volta. – Se vocês precisam de alguém
para cuidar de vocês quando estiverem bêbados, chame a nova
secretária. Lembro que foi o que fizeram comigo quando comecei a
trabalhar aqui.
Depois que Daniela foi demitida, demorou um bom tempo para
que encontrassem alguém de confiança que pudesse substitui-la.
Depois foi mais algum tempo para que Andrew pudesse aprovar a
nova, já que estava fora e não queria fazer entrevista por vídeo
conferência. Ainda que ele tenha feito isso com o Guilherme.
— Não é a mesma coisa. – Igor diz e apoio o queixo na mão e o
cotovelo na mesa, encarando-o. – Você é a nossa Garota de
Programas. É uma de nós.
— Agradeço pela sinceridade, mas não vou poder ir.
— Preciso dizer para Julie que a amiga dela está bem mudada e
mal humorada ultimamente.
Pronto. Ele conseguiu acabar com o que me restava de
paciência.
— Faça isso. Mas, para o seu próprio bem, me deixa sozinha.
Tudo o que Igor faz é rir, deixando-me ainda mais irritada.
— Você só pode estar na TPM. – diz. – Tenho até pena do
Chefinho.
— Cala a boca.
— Ou isso ou então ele não esta dando conta do recado mais. –
lanço a ele um olhar de repreenda, mas parece não funcionar. –
Acho que peguei no ponto da ferida agora. – ri.
— VAI SE FERRAR, IGOR! – explodo. – Some daqui e me deixa
trabalhar em paz, pelo amor de Deus!
— Eu só vim fazer um convite, sua estressadinha. – diz,
fechando a porta outra vez.
— O que está acontecendo aqui? – ouço uma voz do outro lado
da porta.
— A Srta. Estresse que não consegue mais ser pacifica.
Ouvir as palavras e a voz de Igor apenas me faz sentir uma
vontade enorme de enfiar a cabeça dele na privada e dar descarga.
A porta começa a se abrir outra vez e pego um enfeite que tenho
em cima da mesa, jogando contra ela.
— Eu já não disse para você me deixar em paz?! – exclamo e a
porta fecha antes que o enfeite chegue e o vejo se espatifar contra a
porta. – Eu não gostava disso mesmo.
Levanto e vou até lá para recolher os cacos.
— O que você tem? – And pergunta com a voz rouca, que faz
uma excitação crescer dentro de mim.
— Eu tenho uma coisa e quero outra. – dou um passo para mais
perto dele, fixando seu olhar tenso.
— E o que você tem? – pergunta.
— Você.
— E o que você quer? – seu sorriso corresponde o que surge em
meu rosto.
Passo a mão por sua nuca, trazendo-o para mais perto de mim.
— Você. – sussurro em seu ouvido e me beija, guiando-me para
algum canto atrás de mim.
And passa as mãos por todo meu corpo, fazendo com que meu
vestido suba.
— Sério? – ele pergunta contra minha boca, passando o polegar
no lugar onde deveria estar minha calcinha, na qual tirei antes
mesmo de minha mãe ligar, já com a intenção de aproveitarmos
antes da consulta.
Puxo seu rosto para mim e o beijo com força, sentindo meu
corpo começar a se contorcer junto ao dele quando gozamos.
— Você não faz ideia do quanto sou feliz por ter você comigo. –
And sussurra e tomo seu rosto entre minhas mãos, sentindo meu
coração acelerado.
— Eu ficaria com você aqui até amanhã de manhã. – respondo,
pousando um beijo em seus lábios.
— É uma pena que você tenha médico daqui a pouco. – diz e me
afasto rapidamente. Tinha fugido por completo isso.
— Que horas são? – pergunto e ele ergue o punho do terno para
consultar seu relógio.
— Cinco horas.
— Droga, And! Temos que correr.
Ele ri e me segura.
— Vai com calma, Anjo. – diz, erguendo-me de seu colo. – Acho
que com todo esse seu apetite, você não vai querer machucar o
Pequeno And.
— Essa sem dúvida alguma é a última coisa que quero no
mundo todo. – respondo e saio de seu colo, pegando minha bolsa
onde guardei a calcinha e a visto de volta. – Principalmente porque
pretendo continuar isso com você quando voltarmos para casa.
Sorrio para ele, observando-o arrumar sua calça.
Acho que consigo dar conta nessa primeira etapa. Tudo o que
preciso fazer é cuidar de mim mesma com mais atenção que estarei
cuidando dele.
— Está tudo bem com você? – And pergunta assim que abro a
porta do meu apartamento e jogo minha bolsa no sofá.
— Por que não estaria? – pergunto de volta, indo para o quarto.
Sinto que preciso tomar banho urgente.
— Porque você não falou comigo o caminho todo e agora esta
fugindo de mim. – ele diz, vindo atrás de mim. — O que esta
acontecendo?
— Não estou fugindo de você. – viro para ele, que está parado
no vão da porta.
— Está sim. Está nos seus olhos. Eles estão brilhantes. Você
esta quase chorando.
— Só estou cansada. – digo baixinho, secando os olhos com a
costa da mão, mas tudo o que consigo fazer é piorar.
— Linda. – ele insiste, dando um passo a mais em minha direção
e envolvo sua camisa, escondendo o rosto em seu peito.
— Eu estou assustada, And. – confesso por fim. – Eu estou feliz
por saber que esta tudo bem com o nosso Pequeno. Mas... – aperto
os olhos, sentindo as lágrimas escorrerem por meu rosto. – Eu falei
com minha mãe antes do Igor invadir minha sala e ela foi jogando
algumas indiretas e acabei contando para ela. Na verdade ela já
sabia, só queria ouvir de mim.
Não sei bem se foi ele quem propôs ou se fui eu, mas acabamos
entrando em um acordo mais do que amigável, que foi: passamos o
Natal com meus pais e logo no dia seguinte embarcamos para
Londres, para passar o ano novo com os pais dele. Tudo o que
lembro de pouco depois desse acordo, é de estarmos ambos nus no
tapete de sua sala e só consigo rir ao me lembrar de como tudo
aconteceu.
Hoje, por outro lado, não o terei comigo esta noite. Ainda que
tenha sido o último dia em que a BIT funcionou este ano, ele
precisou viajar para uma cidade aqui perto a negócios e só voltara
amanhã pela manhã. Ele queria que eu fosse com ele, mas não
podia deixar meu trabalho e simplesmente ir. Ainda mais agora que
algumas pessoas olham para mim com cara feia só porque sabem
que estou namorando o Presidente da empresa. Mas sim, eu queria
muito ter ido com ele para Cabo Frio, mas vai ter que ficar para
outro dia.
— Estou brava com você por não ter me contado antes, não com
o meu sobrinho. – ela responde. – Eu também não consegui
enxergar nada, mas sei que esta ali. – sorrio ao ouvir suas palavras.
– Lu, eu quero me desculpar com você pelo que disse quando você
me contou. Sei que não foi fácil quando descobriu e menos ainda
quando Andrew saiu e te deixou sozinha depois que contou para
ele. Eu não fui muito sua amiga. Deveria ter ficado do seu lado.
Meu celular vai parar no chão quando sinto algo tocar minha
barriga, abraçando-me por trás e um calafrio percorre meu corpo
quando sinto um hálito quente em minha nuca.
Viro para ver quem esta aqui e posso dizer com toda certeza do
mundo que não é quem eu gostaria que fosse.
— Seu namorado fez uma coisa muito feia comigo, Luara. – ele
começa a dizer enquanto passa as costas de sua mão por meu
rosto. – Precisei arrumar um bom advogado para me tirar da cadeia
e só consegui sair hoje. – ele sorri. – Não imagina o tamanho da
minha felicidade quando descobri que aquele babaca não estava na
cidade e que você estava aqui sozinha.
Sorrio para And, mas ele não retribui. Sua expressão é séria e
vejo seus olhos negros como a noite. Algo que eu nunca antes vi
nele. Não é como se fosse uma irritação, apenas não sei dizer o que
há de diferente.
— Era isso que você sempre quis fazer, não é? – Bruno ri. –
Deve estar se sentindo satisfeito agora.
O peito de Andrew sobe e desce rápido demais, provavelmente
tentando controlar sua raiva.
— Agora eu entendo porque você a quis apenas para você. –
Bruno provoca. – Ela é boa. Muito boa. Faz coisas incríveis com
essa boca. – ele ri.
— Ainda acho isso à coisa mais inútil a ser feita depois dessa
noite. – resmungo, indo para o elevador. Mas não sem olhar para a
porta de Andrew mais uma vez. Por que ele estaria me evitando
desse jeito, se tiveram tantas provas?
Com o Dr. Marcus, ele me garantiu de que meu filho estava bem,
mas que eu precisaria começar a tomar precaução para evitar
qualquer coisa. O que eu o ouvi dizer foi: “Tome cuidado ou você
pode acabar abortando”. Aquilo foi mais do que suficiente para
acabar comigo.
É até um pouco estranho, mas tem uma parte minha que não
quer ver Andrew. Ou falar com ele. Sinto como se ele não tivesse
acreditado em nada do que eu disse, mesmo que eu tenha pedido
para que fizesse isso. E eu o odeio por ter me deixado sozinha o dia
todo, sem dar nem mesmo um sinal que fosse. Sem ligar ou mandar
mensagem para perguntar como eu estava. A última ligação que tive
dele, foi antes da meia-noite, depois do meu celular ter enviado para
ele a mensagem que eu estava digitando antes do Bruno me atacar
na sala. Na verdade, havia dez ligações perdidas em poucos
minutos de diferença.
Por outro lado, quero estar com ele outra vez, ter a proteção que
só fui capaz de sentir enquanto estávamos juntos. Quero que tudo
volte a ser como era antes e que montemos outra vez a decoração
de Natal juntos e que acabemos nos distraindo com coisas mais
importantes. Na raiva, depois que cheguei, eu acabei tirando tudo,
porque tudo na minha sala me lembrava dele.
Pego meu celular para ver a hora quando acordo pela sei-lá-
quantagéssima-vez. Mas não por não estar conseguindo dormir,
ainda que, segundo meu celular, eu tenha conseguido apenas tirar
um cochilo de vinte minutos, já que ainda não é nem mesmo meia-
noite. Eu acordei com um barulho estranho, que pareceu estar vindo
do quarto de And.
Sento na cama, tentando prestar atenção ao som que atravessa
a parede.
Ouvir isso hoje apenas me fez ter a certeza de que acabou entre
nós. De que tudo o que existiu, se é que existiu para ele e não
apenas para mim. Por tudo o que ele me dizia, pelas vezes que
disse que me amava... Eu achei que se um dia nós largássemos,
um término que não fosse apenas um afastamento, isso acabaria
acontecendo. Eu só não esperava que fosse ser tão rápido.
Se ele acha que vou ir atrás dele para pedir ajuda para criar meu
filho, está muito enganado! Nunca precisei de homem algum para
me ajudar em nada e não vou fazer isso agora nem nunca. Seremos
apenas meu filho e eu.
— Eu não devia ter deixado Julie ir para São Paulo com meu
carro. – resmungo depois de fazer uma busca pelas chaves dele. –
Ou eu devia ter ido busca-lo logo que chegamos. Mas nããããão!
Para quê eu precisaria do meu carro, não é mesmo?!
Pego bolsa com tudo o que preciso e meu novo chaveiro e saio,
passando a tranca em cada uma das fechaduras que Andrew
mandou colocar. Não existe outra pessoa que possa ter sido tão
paranoica a esse ponto.
Ele estava transando com outra essa noite, você quer mesmo
continuar aqui?! Sinto o polegar de Andrew roçar meu braço e pulo
para trás, afastando-me dele e vou direto para o elevador.
Quando entro e aperto o botão para o térreo, ele ainda esta lá,
completamente imóvel, o braço ainda erguido e sua mão
provavelmente da mesma maneira que estava enquanto me
segurava.
— Agora você está livre para voltar a transar com suas vadias,
assim como já estava fazendo essa noite. – sussurro com a voz
embargada, secando uma lágrima que escorre por meu rosto e dou
as costas para ele, incapaz de continuar aqui sem demonstrar o
quanto estou sentida com toda essa droga que esta acontecendo
entre nós.
Capítulo Trinta e Seis
Sexta-feira
— Não, mãe. Eu não sei que horas vou chegar ai. – respondo
enquanto fecho o zíper da mala de presentes e a coloco em cima da
cama, que é para não me esquecer de levar isso. Do contrário,
Tommy é capaz de me fazer voltar aqui só para busca-la. – Eu vou
pegar o primeiro ônibus que estiver para passar. – solto um suspiro
cansado. – Sim, a Ju vai me buscar. Não se preocupe.
Permito que ela fale por algum tempo, enquanto decido se levo
ou não meu jeans novo para usar na noite de Natal. Ontem à noite
conversei com Julie e ela me convenceu a ir com ela para a casa da
tia no campo, para que eu pudesse “esquecer”. Não que isso vá ser
algo fácil.
Aperto os olhos com força, tentando afastar tudo isso para longe
de mim. Tentando não me lembrar de todos esses últimos dias e do
quanto eu queria entender o motivo dele não ter me procurado para
conversarmos. Tentando entender porque ele quis simplesmente se
afastar de mim e mais ainda entender o motivo dele ter levado outra
para cama em tão pouco tempo.
— Não esta nada bem! Nada esta bem nessa droga de vida! –
grito de volta e um soluço me escapa. – Só me faz um favor e
esquece que eu estou aqui. Esquece que eu existo, tá legal?
Distância! Não era isso o que ele queria? Então é o que vai ter
agora!
***
— Mas ao que parece você não entende isso muito bem, não é
mesmo? – pergunto, olhando para minha barriga e por instinto eu a
toco. Um pequeno sorriso bobo surge em meu rosto quando noto
que é a primeira vez que faço isso. – O que é isso? – pergunto
quando uma melodia estranhamente familiar começa a tocar e vai
aumentando o volume a cada nota. Franzo o cenho, tentando
descobrir o porquê de sentir isto.
— Anjo? – ele chama e seco uma lágrima que escorre por meu
rosto. – Anjo, por favor, olhe para mim.
— O que foi?! – pergunto irritada.
— Se você disser que não me ama mais... – começa a dizer,
mas eu o interrompo:
— Isso não tem nada a ver com amar ou não, And. Sei que indo
para São Paulo não tenho muito direito de cobrar algo de você.
Muito menos a respeito disso, porque eu nunca competiria com seus
pais. Ainda mais depois de não ter deixado você ir comigo conversar
com os meus.
— Apenas me responde. Por favor.
— Você sabe que não posso dizer isso, Andrew. – sinto minha
voz embargar ainda mais e ele sorri, como se minha resposta fosse
tudo o que precisava ouvir.
Andrew pega algo na porta do seu lado e sai, vindo para o meu
lado.
Assim que desço, ele toma meu rosto entre suas mãos,
puxando-me para perto de si e me beija da mesma maneira com
que fez naquele dia na praia. Um beijo suave.
Prendo minhas mãos em sua camisa e as lágrimas escorrem por
meu rosto enquanto correspondo ao seu beijo, seu toque... And me
puxa para mais perto, envolvendo todo meu corpo em um abraço.
— Me desculpa por ter te feito passar por isso. – sussurra em
meu ouvido e o aperto forte, sentindo um medo terrível do que suas
palavras possam significar.
— Não faz isso. – peço e ele afasta. – And.
— Não abre agora. – diz, entregando-me um envelope
totalmente vermelho com a palavra “Anjo” escrito no meio e um
adesivo de coração, lacrando-o.
Sinto sua mão tocar minha barriga e sigo seu olhar para onde ela
repousa em mim e eu a cobro com minha própria mão.
Outra vez ele me abraça, ainda que desta vez com força
suficiente para me tirar do chão e sinto meu mundo ruir.