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Destinos Cruzados
Aline Rabello
Índice
Página do título
Prólogo
Segunda-feira, 14 de novembro de 2016
Terça-feira, 15 de novembro de 2016
Quarta-feira, 16 de Novembro de 2016
Quinta-feira, 17 de Novembro de 2016
Sexta-feira, 18 de Novembro de 2016
Sábado, 19 de Novembro de 2016
Bônus Casamento
Domingo, 20 de Novembro de 2016
Sexta-feira, 25 de Novembro de 2016
Sábado, 3 de Dezembro de 2016
Domingo, 11 de Dezembro de 2016
Terça-feira, 13 de dezembro de 2016
Quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
Sexta-feira, 16 de dezembro de 2016
Sábado, 17 de dezembro de 2016
Domingo, 18 de dezembro de 2016
Segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
Terça-feira, 20 de dezembro 2016
Bônus
Quarta-feira, 21 de dezembro de 2016
Quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
Sábado, 24 de dezembro de 2016
Domingo, 25 de dezembro de 2016
Sábado, 31 de dezembro de 2016
Ano Novo
CINCO ANOS MAIS TARDE
Fim.
Prólogo
Luara
á faz alguns dias desde que a BIT recebeu uma visita que não me agradou
J tanto, para algo que seria importante para os programadores e técnicos
que haviam participado do treinamento em Nova Iorque.
Foi ainda essa semana que Sarah apareceu aqui no Brasil para aplicar
aquela prova que de longe foi a pior que já fiz. Dizer que fui mal nela seria
até um eufemismo. Mas não porque eu estivesse enferrujada pelo tempo em
casa, cuidando dos meus filhos ou por não lembrar mais nada. Foi porque
pouco antes dela João me chamou para termos uma conversa que tirou minha
atenção de qualquer outra coisa para além daquilo que havíamos discutido.
Algo que tem me feito pensar, como há algum tempo nada era capaz de fazer.
Enquanto eu acompanhava a Srta. Loira de Farmácia até a sala onde
seria a prova, ele me chamou para conversarmos e me disse algo na qual
Andrew já sabia há algum tenho e isso de certa forma me deixou chateada.
Uma proposta ainda melhor do que a de Douglas, para trabalhar com a BMW
em Nova Iorque.
Com um suspiro, apoio-me contra a parede e permito meu corpo
deslizar até o chão, onde encaro a parede oposta à que estou.
A proposta que recebi de João foi para trabalhar com ele por algum
tempo, aprendendo tudo sobre a BIT, para que eu possa ficar em seu lugar
quando se aposentar. O que significa que eu seria a vice-presidente de
Andrew. Uma responsabilidade mais do que eu esperava ter e algo que nunca
se quer imaginei.
Abraço meus joelhos e escondo o rosto entre eles enquanto tento não
pensar em como as coisas têm acontecido na minha vida desde que tive meus
filhos.
Quer dizer, apenas três meses se passaram desde que Matthew e Alice
chegaram em minha vida e na de And e, em tão pouco tempo, tanto mudou.
Nossa maneira de pensar e agir como pais, nossa visão sobre várias coisas.
Tem algumas semanas também que eles me disseram que eu havia
herdado a casa que pertenceu a minha avó e ter esta casa não é algo que eu
queira, porque tenho lembranças aqui.
— Tudo bem, anjo? – A pergunta de Andrew chega até mim e ergo o
olhar apenas para vê-lo sentar-se ao meu lado e volto a esconder o rosto.
— Esta. – Respondo com voz abafada e sinto sua mão em minhas
costas.
— Decidiu o que vai fazer com a casa? – Pergunta agora acariciando
minha nuca e olho para a parede branca do outro lado e de volta para ele.
Depois de muito meus pais insistirem para que eu viesse ao menos ver
a casa, vim até aqui com Andrew e tenho tido várias lembranças da minha
infância com meus primos. Brincadeiras, noites em claro que passamos e até
mesmo uma tarde chuvosa, comendo bolinho e tomando chá que nossa avó
havia feito para nos tirar da chuva.
Com um suspiro, apoio a cabeça no ombro do meu lindo, lançando um
olhar para as escadas que levam ao andar de cima.
Meus avós sempre foram de certa forma, bem de vida. O que fez com
que deixassem algo especial para cada um dos netos. Meus pais também são
assim e isso me fez ver que, apesar de ter aquilo, preciso lutar e conquistar o
meu. E é por isso que estou relutante em aceitar tão fácil a proposta de João.
— Sim. – Respondo após algum tempo, tomando sua mão entre a
minha e as pouso em sua perna. – Vou deixar a casa para os meus irmãos. –
Digo antes que sua pergunta chegue. – Eu tenho um apartamento e uma casa
em Copacabana, que comprei com meu noivo e tenho um apartamento aqui
em São Paulo, que comprei quando Julie e eu tínhamos planos de sermos
vizinhas.
Sorrio ao lembrar-me daquela época. Os dois apartamentos foram
comprados no mesmo dia e em um condomínio onde meu pai estava
trabalhando com toda a equipe dele. Então que acabou sendo um excelente
negócio.
— Não acho que eu precise da casa também, por mais que goste daqui.
– Completo.
— Por um momento achei que fosse dizer que venderia. – Andrew diz e
olho para ele com o cenho franzido. – Mas não levei a sério isso, sabendo o
quanto amava sua avó.
— Eu não sei. Tommy ainda é novo e logo vai se esquecer dela e a
Cami está começando uma vida. Eles vão fazer melhor proveito. Sem contar
que minha vida não é mais aqui em São Paulo. – Digo, outra vez olhando
para And, que tem um sorriso lindo em seu rosto e, retribuindo com outro,
toco sua barba, pousando um beijo em seus lábios.
— E quanto a aquele outro assunto? – Pergunta e faço uma careta.
— Uma parte minha quer aceitar, mas a outra não acha certo.
— Por quê? – Ele pergunta e tudo o que faço é dar de ombros. – Eu
tenho uma sugestão para dar.
— E qual seria? – Pergunto curiosa e, em vez de responder, Andrew
envolve as mãos por meu quadril, puxando-me para sentar em seu colo e
envolvo seu pescoço em um abraço.
— Como daqui a pouco você volta da licença maternidade – Começa.
–, você poderia aproveitar os últimos dias até nosso casamento e fazer um
teste com João. Vê o que acha de tudo o que ele te mostrar. Participa de
algumas coisas e conheça um pouco.
Franzo o cenho atenta ao que ele diz. A ideia não é nem de longe ruim
e eu não havia pensado nisso.
— Esse não vai ser um cargo que vai tomar pose em curto prazo e você
vai poder se preparar até o dia chegar, se resolver aceitar. – Diz. – Como você
sabe, eu mesmo passei por isso com meu pai antes de assumir como
presidente. Eu só... Eu tinha a escolha, é claro. Mas Victor também sempre
deixou claro que me queria ali e... Eu gostaria que você estivesse ao meu
lado.
— Eu já estou ao seu lado, meu amor. – Sussurro, tomando seu rosto
em minhas mãos. – Apenas me dê um tempo para pensar melhor a respeito,
porque até pouco tempo atrás o maior sonho que eu tinha era ter um
escritório pequeno, onde eu pudesse comandar uma equipe e agora tenho
isso.
— E o que te impede agora? – Pergunta e franzo o cenho. – De realizar
seu sonho? Lembro que você disse que queria colocar isso em prática depois
que o Matt e a Li estivessem aqui. E eles estão nos seus pais nesse momento.
— E cuidar da BIT e de um escritório? – Rio. – Não sei se dou conta.
— Pois eu tenho certeza de que você dá conta disso. – Ele incentiva. –
Podemos ver um escritório no Rio mesmo e, quando encontrar um que seja
do seu agrado, nós compramos. Quero ser seu sócio nisso e estar com você lá.
— Sério? – Pergunto de repente animada com a ideia e ele confirma. –
Não consigo ver Andrew Giardoni como vice-presidente. – Decido provocar
e isso faz com que ele ria.
— Podemos fazer uma troca, linda. – Diz. – Podemos ver isso quando
voltarmos para casa. Peço para que vejam algum lugar e você estuda. Se
gostar, vamos ver. É assim que eu faço.
— Tudo bem. – Concordo e isso faz com que um brilho lindo percorra
pelos olhos cinza do meu noivo. Um brilho que tenho amado ver todos os
dias ao acordar e quando vou dormir.
— E quanto ao que você disse antes, sobre estar ao meu lado, espero
que esteja gostando desse lugar, porque quando se tornar oficialmente minha
esposa é onde vai ficar pelo resto da vida.
Faço biquinho com seu comentário e ele me dá um daqueles seus
sorrisos de lado que abala todas minhas estruturas.
— Na verdade eu já sinto como se você fosse meu marido. – Respondo
e o beijo, sentindo suas mãos explorando minhas costas.
— Acha que seus irmãos vão se importar se estrearmos alguns
cômodos da casa? – Pergunta com a boca colada na minha. – Essa conversa
toda deixou o pequeno And doidinho para ter você de novo.
— Acho que eles não precisam ficar sabendo de nada do que fizermos
aqui. – Respondo, puxando seu lábio inferior com os dentes e sinto suas mãos
em minha bunda quando levanta, levando a nós dois para um dos cômodos da
casa.
Segunda-feira, 14 de novembro de 2016
Luara
uando acordei hoje antes mesmo das seis horas da manhã, com o sol
Q querendo passar pelas frestas da cortina na janela do quarto ainda
escuro, eu virei o rosto para o lado e vi Andrew ainda dormindo
profundamente, como se fosse apenas uma pequena criança indefesa. A
expressão em seu rosto era calma, tranquila e despreocupada, como se nada
no mundo fosse capaz de mudar aquilo. Como se em um mundo paralelo ele
não fosse o presidente CEO de uma empresa agora internacional.
E eu o observei por um, dois, cinco ou trinta minutos e aquela
expressão não mudou. Não até que seu subconsciente acordou e sorrio para
mim. Então eu toquei seu rosto como um bom dia silencioso. O mesmo bom
dia que tenho recebido dele todos os dias, a cada semana, desde que
decidimos morar juntos. Mas este sorriso em particular foi mais especial. Foi
o sorriso que ganhei do homem que está a poucos dias de se tornar meu
marido. O sorriso que me fez perceber que assim que o final de semana
chegar, Andrew deixará de ser para mim meu namorado-noivo e passara a ser
meu marido. O dia em que seremos oficialmente: Nós.
Será no sábado, poucas horas após a noite cair, que deixarei de ser
apenas Luara May Brudosck, para me tornar a Sra. Luara May Brudosck-
Giardoni, esposa de Andrew Bôer Giardoni. E estou mais do que apenas
ansiosa para poder oficialmente usar o nome do meu marido.
Sorrindo de volta, percorro seu rosto, acariciando sua bochecha, onde
uma barba rala começa a se formar e sigo até seus lábios que se entreabrem
para mim. Seu rosto está iluminado por uma pequena fresta de luz que entra
pela janela, permitindo que eu veja seu olhar de menino com o cabelo todo
bagunçado, precisando ser cortado.
Toco seus lábios com os meus, oferecendo-lhe um beijo de bom dia e
sou correspondida com outro que me faz perder o fôlego logo pela manhã.
Andrew segura meu queixo, fazendo com que eu olhe em seus olhos e
apoia sua testa na minha.
— Bom dia, Anjo. – Diz com a voz rouca, colocando meu cabelo para
trás da orelha.
— Bom dia. – Digo em resposta, pousando outro beijo em seus lábios.
— Admirando a visão? – Pergunta em tom provocativo e confirmo com
a cabeça, fazendo-o sorrir. Sei que deveria dizer algo, mas tudo o que quero
nesse momento é observá-lo por um tempo indeterminado. – Sinto lhe dizer,
mas acho que seu tempo para admirar o seu deus grego aqui se esgotou. – Ele
fala bem quando um coro de resmungos vindo da babá eletrônica chega até
mim. – Pode deixar. – Diz e senta na cama, pegando no chão sua cueca para
poder vestir. – Apreciando a visão? – Pergunta novamente.
— Muito. – Respondo, observando-o.
Acordar e ver Andrew nu ao meu lado tem se tornado a coisa mais
comum do mundo desde que saímos da quarentena. E o mesmo digo a meu
respeito, já que pijamas saíram totalmente do meu guarda-roupa.
Levanto apenas para pegar uma camisa sua no closet para poder vestir e
volto para cama, onde deito e puxo o edredom até o pescoço. Meus olhos se
fecham e parecem abrir em poucos segundos quando sinto o peso de dois
bebês e um adulto afundarem o colchão ao meu lado.
— Dá bom dia para a mamãe. – Andrew diz e um sorriso automático se
estende por meu rosto assim que vejo Alice e Matthew engatinhando para
mais perto de mim, desistindo e se distraindo quando tromba um com o outro.
— Oi, meus amores. – Digo, trazendo-os para um beijo.
— Algo me diz que eles estão com fome. – Diz, voltando a deitar ao
meu lado e leva embora com ele a atenção de Alice, que sempre se diverte
com a barba do pai.
— Também acho. – Concordo assim que sinto Matt tentando puxar o
cobertor, rindo para mim.
Sento na cama e o tomo em meu colo para poder amamentá-lo antes
que a Li perceba que não será a primeira hoje.
Apesar de ainda não terem completado nem mesmo seis meses, estes
dois são os bebês mais espertos que já vi. E talvez isto seja algo que toda mãe
diga sobre seus filhos, mas para mim é isto que sinto sempre que os vejo
tentando algo novo. Quer dizer, nem Alice nem Matthew conseguem sentar
por muito tempo sem um apoio, mas lutam incansavelmente para conseguir
isto e parecem ter ainda mais vontade quando veem que o outro conseguiu,
mesmo que por alguns poucos instantes.
— And. – Chamo baixinho, deitando Matt ao meu lado na cama, agora
tomando Alice para mim. Em resposta, Andrew apenas me olha, passando a
mão pelas costas do filho. Uma mão que poderia tranquilamente esconder
quase metade de seu pequeno corpo. – Pode ficar com eles hoje? – Peço. –
Vou com a Nath fazer a última prova do meu vestido.
— Claro. – Responde com um sorriso de lado. – Estou doido para
poder ver como você vai ficar nele. Alice não vai desta vez?
— Não. O dela já está pronto. – Respondo. – Só torcer para que não
cresçam mais até o final de semana que vai continuar lindo.
Como se soubesse que estamos falando dela, Li me olha por cima e
toca meu seio com sua mão pequenina e sorri para mim, voltando a olhar
novamente para o que realmente lhe interessa. Há essas alturas Matt já está
absorto em sua brincadeira com o dedão do pai, quase adormecido.
— Os dois. – And completa.
Além do nosso casamento, sábado também será o batizado dos gêmeos.
Resolvemos fazer os dois de uma única vez para deixar o dia ainda mais
especial.
Alice estará com um vestido branco, que será uma réplica do meu e
bem mais simples, assim como Matthew também usara um terninho que será
igual ao do pai. E como não permiti que Andrew visse o vestido da filha
antes, para não saber como estarei, ele também não me deixou ver nosso
filho.
Passo a mão de leve pelos cabelos da minha filha, tirando um pouco de
seu rosto e outra vez ela me olha, ainda que não sorria, já que está perto de
adormecer.
— Que horas vocês vão? – And pergunta quase em um murmúrio.
— As dez. – respondo no mesmo tom, agora aconchegando Alice
também de bruços na cama, passando a mão por suas costas para ajudá-la a
pegar no sono.
— Certo. – Diz e levanta, indo até o banheiro.
— O que foi? – Pergunto curiosa e ele volta a aparecer na porta com a
escova pendurada na boca.
— Vai me dizer que se esqueceu de que estamos malhando juntos pela
manhã, anjo? – Pergunta com um sorriso de lado e arqueio as sobrancelhas,
tentando esconder o sorriso. – Mas antes, me acompanha no café?
Olho para o lado, para os gêmeos agora totalmente adormecidos e
arrumo nossos travesseiros no lugar de Andrew e o edredom no meu,
formando uma barreira para protegê-los.
— Claro que não me esqueci. – Respondo também indo ao banheiro e
vejo a expressão em seu rosto. A verdade é que, com tanta coisa na cabeça,
esqueci por completo disso.
*
Depois de uma hora malhando com And na academia que temos no
nosso apartamento, precisei tomar um banho gelado e comer algo antes de
começar a me arrumar para poder ir buscar a Nath. Depois deixei tudo
separado para o caso dele precisar de algo enquanto eu estiver fora e com isso
quero dizer basicamente sobre o leite, porque de resto Andrew se sai muito
melhor que a encomenda quando precisa cuidar deles.
Com muitas recomendações e pedindo inúmeras vezes para que me
ligasse imediatamente caso precisasse e depois de me dizer por várias vezes
que ficariam bem, sai para passar na casa da Nath e podermos ir ver meu
vestido, que estou a cada dia mais apaixonada por ele. Tanto pelo de noiva
quanto o de festa que usarei amanhã para a confraternização do trigésimo
aniversário da BIT.
Agora estamos aqui, esperando uma última noiva sair para podermos
finalmente ser atendidas.
— Você vai, né? – Pergunto virando para Natália, que me olha um
pouco confusa. – Na festa amanhã.
— Ah! – Exclama. – Claro. Quer dizer... – Ela faz uma pausa e olha ao
redor. – Até quero, mas não sei bem se devo ir e menos ainda tenho um
vestido para esse tipo de evento. – Completa, rindo um pouco nervosa.
— Vou ficar chateada com você se disser que não vai porque Felipe
estará lá. – Digo. – Porque ele vai ser padrinho do And sábado.
— Não é bem por ele. – Ela diz, correndo a mão pelo tecido de um
vestido no manequim ao seu lado. – Nós já nos encontramos por aí algumas
vezes desde que terminamos e não sinto mais nada por ele. Até suco já tomei
com Julie e aquilo foi estranho. – Diz com uma careta e isso me faz rir,
lembrando-me do dia em que a encontramos na praia perto de casa e a própria
Julie fez o convite.
— Se quer um vestido, veio ao lugar certo. – Ouço a voz de uma
senhora atrás de mim e me viro.
— Oi, Tereza. – Cumprimento-a.
— Oi. – Nath segue.
— Então? Como vai querer seu vestido? – Tereza pergunta, segurando
a mão da Natália para ajudá-la a se levantar e tira suas medidas. – Um
vermelho curto ou longo? Vermelho combina com você.
— Eu não... – Começa a dizer, olhando para mim como que pedisse por
socorro.
— Vamos lá, Na! – Exclamo também levantando. – Vai ser legal. Além
de que você também é minha amiga e sei que recebeu o convite, porque pedi
pessoalmente para que o encaminhassem.
— Esperem aqui. Eu tenho um que dará certinho em você. – Tereza diz
e sai, indo buscar algo na outra sala.
— Lu – Natália me chama em um sussurro. –, por mais que eu queira
ir, não tenho como bancar um vestido daqui. Você já viu os preços daqueles
na vitrine?!
— Vi e são lindos! – Exclamo. – Aceite como um presente meu. Por
favor.
— Isso não é certo.
— Ah, não? – Pergunto de volta e viro para ela, cruzando as pernas
quando sento. – Sabe quanto custa um book de casamento? E um de gravidez
como o que fez para mim? E nem vou citar o do batizado, já que vai ser junto
ao de casamento. Mas acho que sabe sim, já que você é fotógrafa e faz muitos
desses. – Franzo o cenho, fingindo estar brava com ela. – E esse é justamente
o presente que você está me dando.
— Eu tenho desconto. – Diz em resposta. – Além de que o casamento é
seu e presente se dá aos noivos. Não para os convidados.
Reviro os olhos para ela e vejo Tereza voltando com um vestido
vermelho curto que é lindo de morrer.
— Pode ao menos provar? – Peço.
Com um suspiro e um sorriso de quem segura a risada, Natália pega o
vestido que Tereza lhe oferece e sai, indo até o provador e tenho mais do que
certeza de que se renderá assim que o provar.
Logo que ficamos sozinhas, Tereza abre a cortina que esconde o meu
de os demais e um sorriso apaixonado cresce em meu rosto, assim como
aconteceram em todas as outras vezes antes desta. O brilho em meus olhos é
de pura felicidade, porque apenas eu sei o que esse vestido significará para
Andrew e eu em poucos dias.
— UAU! – Ouço a voz de Natália atrás de mim e viro para ela.
— Eu que digo uau. – Respondo e vou até ela, segurando sua mão para
cima. – Da uma volta. – Peço e ela faz. – Não precisa nem mesmo de ajustes.
– Observo.
— Ficou lindo mesmo. – Concorda, olhando-se no espelho.
Natália tem um tom de pele bem bronzeado pelo sol e um cabelo preto
que vai até o meio de suas costas. O que não preciso dizer o quanto este
vestido combinou com ela.
— É uma pena que você não vá à festa. – Digo, voltando para onde
estava antes apenas para causar mais efeito ao meu drama. – Tenho certeza de
que qualquer um ficaria caidinho por você com um desses.
Tereza sorri ao perceber o que estou fazendo, enquanto tenho quase
certeza de que a Nath está fazendo careta pelas minhas costas.
— Talvez eu possa ir. – Diz em resposta e olho de volta para ela, que
ainda se olha no espelho. – Mas que fique claro uma coisa: eu pago.
— Já é um grande progresso. – Rio e ela me mostra a língua pelo
espelho.
Quando finalmente consegui convencer a Nath a ir à festa da BIT, pude
finalmente provar meu vestido de noiva e, assim como das outras vezes,
fiquei com o coração pulsando forte na garganta. Ele é a coisa mais linda e
exagerada que já vi em toda minha vida. Algo que nunca no mundo eu
compraria para usar uma única noite. Mas, como Andrew insistiu em me dar
o melhor para nossa noite, acabei me rendendo e aceitando.
Já o da festa é um branco rodado e com flores pretas em renda do lado
esquerdo, curto e que estou simplesmente apaixonada e ansiosa para poder
finalmente usar. Tanto um quanto o outro.
— Luara, só vou precisar fazer alguns últimos ajustes em seu vestido. –
Tereza diz após algum tempo. – Provavelmente amanhã já estará tudo pronto.
Mas vou levá-lo na sexta-feira pela manhã. Tudo bem?
— Claro. – Respondo. – Até lá meus pais já estarão aqui. Então que
And não vai ter a menor chance de ver antes da hora.
*
— Como você está se sentindo? – Natália pergunta ao meu lado
enquanto dirijo sentido a Copacabana. Ela vai comigo até lá para pegar
algumas fotos e de lá para o trabalho, já que o estúdio fica não muito longe
do Golden.
— Sobre? – Pergunto sem desviar a atenção do trânsito.
— Tudo. – Diz. – Seu casamento com Andrew, seu vestido. A mega
festa que terão depois dele e por saber que o Grande Dia finalmente está
chegando e agora com o escritório que você vai ser a chefona.
— Sinto que posso surtar a qualquer instante. – Respondo e ela ri. – É
sério! Eu... Por mais que tenha me preparado para isso desde que marcamos a
data, quanto mais perto, mais louco e insano parece ser. Mas, por outro lado,
está é de longe a maior loucura que alguém já quis fazer comigo. E quanto ao
escritório, isso será para o ano que vem apenas.
— Fico feliz por vocês. – Diz e sorrio em resposta, virando em uma rua
que nos levará ao Golden Village. – Depois de tudo o que passaram vocês
merecem finalmente poder ficar juntos e serem felizes.
— Obrigada.
Seguimos em silêncio pelo restante do caminho, até que eu estacione
meu carro em minha vaga ao lado do carro de Andrew.
— Chegamos! – Anúncio assim que abro a porta do meu apartamento,
mas não tenho respostas. – Acho que não estão. – Digo, fechando a porta
assim que Nath entra. – Vou pegar o pendrive no quarto e já volto.
— Tudo bem.
No quarto, reviro algumas gavetas a procura do pen drive com as fotos
que Andrew e eu tiramos em Nova Iorque.
— Onde foi que deixei? – Pergunto a mim mesma, indo até o escritório
e abro a gaveta na mesa de And e o encontro.
— Lu, vem ver uma coisa. – Nath chama e saio de volta para a sala
onde a deixei e ela aponta para o sofá.
Ao contrário do que havia imaginado quando chegamos, Andrew não
saiu com os gêmeos. Muito pelo contrário, já que os três estão entregues ao
sono.
And está usando somente uma bermuda, todo largado e com Alice
dormindo apenas de fralda em seu peito, subindo e descendo, acompanhando
a respiração do pai, enquanto Matt está ao lado deles, entre o braço de
Andrew, também de fralda. Cada uma de suas mãos está em cima de um
deles, fazendo carinho.
— Ah meu Deus! – Exclamo, cobrindo a boca com as mãos.
— Isso é tão fofo. – Nath sussurra e apenas concordo com a cabeça,
tirando o celular do bolso para uma foto antes que acordem ou sei lá. – Eu
tiraria uma com minha câmera, mas ela ficou no carro.
— Sem problemas. – Respondo. – Essa daqui está linda. – Mostro para
ela, que concorda. – Vamos almoçar? Tem um restaurante aqui perto. Depois
levo você para o trabalho.
— Claro. Também estou com fome.
Antes que eu me esqueça, entrego o pendrive a Natália com as fotos e
mando para seu celular a que acabei de tirar. Ela está trabalhando não apenas
no meu book de casamento, como também pedi para que fizesse um com
algumas fotos que temos e que são lindas.
∞∞∞
Andrew
Estando a pouco menos de uma semana de me casar com Luara, nós
dois conversamos e decidimos tirar estes últimos dias apenas para nós e
nossos filhos. Ela em seus últimos dias de férias deste ano e eu com minhas
reuniões em casa e indo a BIT quando preciso resolver algo. O que me fará ir
até amanhã, já que tenho alguns últimos assuntos a tratar com João sobre a
comemoração dos trinta anos da nossa empresa e a expansão da BIT que
deverá inaugurar em Londres no início do próximo ano.
Sentados no tapete da sala e de frente para mim, Alice e Matthew se
divertem com vários ursinhos de pelúcias, chocalhos e alguns outros
brinquedos que fazem barulho. As cadeirinhas de balanço que eu os havia
colocado para brincar não foram suficientes. Bem longe disto.
Quando coloquei cada um em sua cadeirinha, que já é barulhenta por si
só, Matt descobriu uma nova função daquilo e começou a se jogar para frente
e para trás e gargalhar, porque aquilo era divertido. O que não levou muito
tempo para fazer com que sua irmã o imitasse e eu tivesse duas crianças que
pareciam dispostos a me fazer rir até minha barriga doer.
E eles pularam nelas até se cansarem e é apenas por isto que agora
estão no chão, rodeados por almofadas para mantê-los sentados.
— Estão com fome? – Pergunto quando Alice leva um brinquedo de
morder a boca e começa a sugá-lo. – Acho que a mamãe se esqueceu de
voltar para casa. – Digo, consultando para o relógio em meu pulso, vendo que
já são quase duas da tarde. Estranho.
Meu celular vibra no bolso e vejo na tela o nome de Ana.
— Pronto.
— Senhor, desculpe por ligar a estas horas. – Começa. – O Sr. Carreira
pediu para confirmar a reunião de amanhã.
— Veja com ele um almoço, Ana, por favor. – Peço. – Depois me passe
um e-mail com o que ele disser.
— Sim, senhor. – Diz em resposta e sei que está fazendo mais uma de
suas várias anotações. – Alguma preferência por restaurante?
Abro a boca para responder, mas sou distraído pelo som da fechadura
da porta sendo destrancada e olho para ela apenas para ver minha garota
entrando. O sorriso que ela me dá é lindo.
— Deixe que ele decida. – Falo. – E cuide para que tudo corra bem
amanhã.
— Tudo bem. Vou agora mesmo falar com ele e já dou um retorno
confirmando. – Informa. – Se precisar de algo é só me ligar.
— Aproveite a semana livre, Ana. Relaxe. – Digo e ela ri, assim como
fez quando disse estas mesmas palavras na sexta-feira. – Preciso desligar.
Espero pelo seu e-mail. – E desligo, colocando o telefone em cima do sofá e
Luara finalmente vem até onde estamos sentados. Até agora ela estava apenas
me observando com aquele seu sorriso.
— Oi, lindo. – Ela me cumprimenta com um beijo, sentando-se ao meu
lado.
— Oi, linda. – Respondo. – Achei que tivesse fugido.
— O que te fez pensar isto?
— Demorou mais hoje e não avisou nada.
— Em minha defesa, eu estive aqui há uma hora. Mas vocês três
estavam dormindo no sofá. Então a Nath e eu fomos almoçar aqui perto e
depois dei uma carona para ela.
Quando diz isto, Alice solta o ursinho que estava mordendo e estica os
braços para que a mãe o pegue no colo. Matt faz o mesmo.
— A mamãe também estava com saudades de vocês. – Lu diz, beijando
os dois filhos. – Tudo bem com a ligação?
— João pediu para confirmar nossa reunião de amanhã.
— Nem acredito que ele aceitou me dar esses dias de folga. – Diz. – Eu
estava a um passo de surtar com tanta coisa que tem me mostrado daquela
empresa.
Sorrio com o que Luara diz, sabendo que João não é uma pessoa fácil.
Principalmente quando ele está tão dedicado a ensinar tudo o que sabe a
alguém, como está fazendo com ela. Sua decisão em tornar meu anjo minha
vice-presidente após sua aposentadoria é algo admirável. Mas o que mais me
admira em tudo, é a forma com que ela tem se saído no trabalho,
supervisionando o TI e se dedicando tanto ao que João lhe ensina.
— Sabe que também estou querendo mamar? – Pergunto com um
sorriso de lado, puxando com o dedo o decote de sua blusa e vejo seus seios
escondidos por baixo do sutiã.
— Mesmo? – Pergunta também sorrindo e confirmo com a cabeça. –
Acho que posso cuidar disso. – Diz. – Só vamos precisar que eles estejam
dormindo antes.
— Pelo tanto que os dois já brincaram aqui, não acho que isso demore a
acontecer.
Por algum tempo Luara fica apenas me encarando em total silêncio,
assim como fez esta manhã quando acordamos e isto faz com que aquela
onda de calafrios percorra todo meu corpo, assim como também aconteceu
antes.
— O que foi? – Sua pergunta vem baixa e rouca até mim quando a
encaro de volta e, em vez de respondê-la, eu a puxo para mais perto de mim e
seguro a mão em sua nuca, juntando todo seu cabelo e puxo para trás um
pouco, deixando todo seu pescoço livre para mim.
— Estou louco para poder tomá-la como minha esposa logo. – Digo
em seu ouvido, passando a barba por seu pescoço sensível, apreciando o
calafrio que percorre todo seu corpo. – Toda minha e apenas minha. –
Completo, beijando sua boca com força suficiente para tirar meu próprio
fôlego e apenas afasto quando sinto uma pequena mão tocando meu rosto.
— E eu estou louca para poder tomá-lo como meu marido. – Lu diz em
resposta, acariciando meu rosto. Ela passa o polegar por meus lábios e mais
uma vez aquele calafrio percorre todo meu corpo de cima a baixo.
Terça-feira, 15 de novembro de 2016
Andrew
∞∞∞
Luara
Andrew chega ao enorme salão de festas que não fica muito longe da
BIT alguns minutos depois do que havíamos planejado. Mas como todos
sabem imprevistos podem acontecer e eu não podia deixar meu homem na
vontade. Ou a mim mesma, já que não me aguentei de vontade de ter meu
menino antes de sairmos.
Apesar do nosso pequeno atraso, os convidados ainda estão chegando.
O que faz com que tenha um grande fluxo de veículos entrando e manobristas
guardando carros no estacionamento.
— Boa noite, senhores. – um rapaz moreno e alto nos cumprimenta
assim que And baixa o vidro do carro para no identificarmos. – Sr. Giardoni.
Sra. Giardoni. – diz com um aceno. – A vaga do senhor esta reservada no
fundo, como pediu.
— Obrigado, Roberto. – diz e Roberto se afasta, permitindo nossa
entrada. – Nossa vaga esta reservada lá no fundo, perto do jardim. – ouço
Andrew dizer agora para mim e olho para ele.
— Esse lugar é tão lindo. – comento, sentindo sua mão livre repousar
em minha perna e a seguro. – Esse jardim é tão lindo! – exclamo admirada.
Meus olhos percorrem todo o jardim, admirada com tudo. É lindo de
uma maneira que não sou nem mesmo capaz de descrever. Quer dizer...
— Ali tem uma piscina linda. – And chama minha atenção para onde
tem alguns coqueiros e vejo uma luz verde que ilumina o espaço. – Quando
tivermos nossa casa, quero algo assim. Ou melhor. – diz e olho para ele, que
sorri para mim. – Chegamos. – ele informa quando abro a boca para
responder. – Espere aqui. – e sai do carro, dando a volta para abrir minha
porta. – Senhorita. – diz, oferecendo-me a mão e a seguro.
— São suas atitudes que me fazem entender o porquê de ser tão
apaixonada por você. – digo assim que saio e beijo seu rosto. And se barbeou
especialmente para esta noite, então que sua barba pinica um pouco.
— Já eu não consigo entender o porquê disto e muito menos de ter
aceitado casar comigo. – responde com um sorriso de lado.
— Eu posso te fazer uma lista bem extensa com os motivos. – digo
quando ele vai até o porta-malas para pegar os dois cangurus e a bolsa dos
bebês e visto o meu, pegando Alice. – Tem horas em que me pergunto se já
não estamos casados e apenas não nos esquecemos de trocar nossas alianças
de mão.
— Não, isto ainda não aconteceu. – And responde logo após arrumar
Matt no canguru em seu peito e passa o braço por minha cintura para
podermos entrar. – Você vai entender bem a diferença e tenho certeza de que
jamais se esquecera dessa noite.
— E novamente ele vai me deixar na curiosidade. – solto um suspiro,
vendo a Li segurar a pequena mão do Matt, como já fizeram algumas vezes.
— Senhor e senhora Giardoni. – um rapaz de terno nos cumprimenta
assim que chegamos ao topo da escadaria. – Seus lugares estão reservados na
frente.
— Obrigado. – And responde, levando-me para dentro do salão.
— Quem era? – pergunto, olhando por cima do ombro.
— Um dos organizadores. – responde e volto a olhar para frente ao
ouvir a música alta.
— UAU! – exclamo baixinho ao ver o telão onde exibem o logo da BIT
com efeito de luzes vermelhas. – Isso ficou simplesmente sensacional!
— É uma boa equipe de produção.
— Você é tão indiferente a tudo isso. – digo, olhando em sua direção.
— Não sou indiferente. Apenas já vi tudo isso.
— Desculpa se não pude te acompanhar em suas visitas, porque quando
não estava cuidando dos nossos filhos, estava trancada com seu vice-
presidente em uma sala de reunião, aprendendo tudo sobre sua empresa. –
solto as palavras no automático e sinto meu rosto se aquecer ao ver João se
aproximando de nós. – Boa noite. – eu o cumprimento um pouco sem graça e,
mesmo sem olhar para ele, sei que Andrew está sorrindo.
— Luara. – João me cumprimenta com um aperto de mão.
— Como vai? – And pergunta também o cumprimentando.
— Bem. – responde. – Victório virá?
— Espero que essas horas já tenham chegado de viagem. – responde. –
O voo acabou atrasando em Londres.
— Detesto quando isso acontece. – diz. – E as crianças, como estão? –
pergunta agora para os gêmeos, segurando a mão de cada um deles, que
sorriem como sempre fazem quando veem João.
— Achei que tivesse dito que Julie não iria vir. – And chama minha
atenção e olho para ele sem entender. – Ali. – diz, apontando para o outro
lado e vejo minha amiga em um vestido azul-marinho lindo, agarrada ao
braço de Felipe.
— Se me dão licença, preciso ir cumprimentar outros. – João diz já
saindo.
— Até quando falei com ela a última vez não vinha. – respondo um
pouco confusa. – O que faz aqui? – pergunto quando se aproxima de nós.
— “Oi, Julie! Há quanto tempo não nos vemos. Como foi de viagem?”
– Ju ironiza suas palavras e reviro os olhos para ela. – Fe apareceu em São
Paulo disposto a me trazer com ele. Então que acabei sendo convencida,
porque não consigo dizer não ao meu lindo namorado.
— Espero que você continue com esse pensamento em mente. – Felipe
responde e olho para ele um pouco curiosa e quero perguntar a respeito disso,
mas acabo decidindo não fazer isso aqui e nem agora.
— E seu trabalho? – And pergunta.
— Eu só vim para esta noite. – responde decepcionada. – Volto para
São Paulo amanhã cedinho e entro no trabalho um pouco mais tarde e volto
para cá na quinta-feira no final do dia para o jantar de noivado dos dois e fico
para o casamento.
Conforme Ju explica como serão seus próximos dias, noto o cansaço
em sua voz e a mão de Felipe apoiada em suas costas. A expressão no rosto
dele é a de alguém que esta feliz por estar ao lado de quem ama. Sei por que é
assim que me sinto com And.
— Ao menos terei você aqui comigo essa noite. – ele diz, dando um
beijo no rosto da Ju e ela sorri.
— Eu só não aguento mais essa vida de ficar indo e voltando, indo e
voltando. – volta a falar. – Por que eles não podiam simplesmente me dar
alguns dias de folga? Afinal, eu não precisaria passar por isso se não tivessem
me obrigado a tirar férias quando não queria!
— Vai com calma. – And diz e ela ri.
— Mas como estão meus amorzinhos? – pergunta, beijando os dois
afilhados e a expressão cansada em seu rosto parece desaparecer assim que
ganha um par de sorrisos dos meus pequenos. – Posso pegá-lo? – pergunta ao
And.
— Claro. – ele responde e tira Matt do canguru, entregando o filho para
Ju e o canguru e a bolsa para Felipe. – Preciso ver algumas coisas. – diz
agora para mim. – Cumprimentar alguns convidados. Eu já volto.
— Estaremos na nossa mesa. – informo e ele me beija antes de se
colocar entre as várias mesas.
— E como estão as coisas com a proximidade do casamento? – Ju
pergunta enquanto caminhamos até uma grande mesa colocada em um espaço
mais reservado. Em cima dela vejo uma pequena placa com os sobrenomes
Giardoni e Mazzon, reservando nossos lugares.
— A cada dia estou mais ansiosa por tudo. – respondo e um garçom
vem nos servir com vinho e champanhe.
∞∞∞
Andrew
Caminho até onde o grupo da Nex Ae está acomodado, mas não sem
ser abordado por alguns dos nossos clientes mais antigos e empresários. O
que me fez gastar trinta minutos para chegar a um lugar onde deveria levar
trinta segundos.
— Boa noite, senhores. – eu os cumprimento assim que me aproximo.
— É uma bela festa essa que preparou aqui, Andrew. – o português
enrolado de John chama minha atenção para ele.
— Fico feliz que estejam gostando. – digo em resposta. – Ainda que o
melhor ainda esteja por começar. – acrescento com um sorriso de lado. –
Sintam-se à vontade para aproveitar dos aperitivos e a boa música enquanto
isso.
— Achei que vocês brasileiros só ouvissem aquela coisa... – Sarah
começa a dizer e todos olham para ela. – Como vocês chamam mesmo?
— Funk? Pagode? – ajudo.
— É!
— Sinto em decepcioná-la, mas esta noite teremos um pouco de cada. –
respondo e ela se encolhe um pouco em seu lugar. – Nosso DJ ira agradar a
todos esta noite.
E quando digo isto, Beyonce começa a tocar.
— E como foram de viagem?
— Chegamos de viagem pela manhã. – um dos homens diz. – Foi
corrido, mas deu para descansar um pouco.
— Espero que aproveitem bem a estadia enquanto estiverem aqui no
Rio. – sorrio. – Temos praias excelentes e estamos na melhor época do ano
para conhecer cada uma. Não quereriam perder.
— E onde sua noiva esta? – John pergunta. – Esperava vê-la por aqui
esta noite.
— Luara esá em nossa mesa com nossos filhos e amigos. – respondo,
lançando um olhar para onde meu anjo está sentado junto de Julie e Felipe,
brincando com nossos filhos. E assim que sente meu olhar, ela me olha de
volta e sorri para mim, fazendo-me sorrir de volta. – Agora, se me dão
licença, preciso ir cumprimentar outros. – digo e afasto, seguindo para outro
grupo e sou abordado por várias pessoas.
Assim que consegui domar a fera sexual dentro de mim e meu cabelo e
And conseguiu tirar o batom borrado da boca e do pescoço, voltamos para
dentro do salão, onde já começavam a servir o jantar.
— Olhem eles ai. – Felipe diz assim que nos aproximamos da mesa
onde esta com Julie e toda a família.
— Aconteceu algo? – Lilian pergunta logo que o filho puxa a cadeira
para mim, sentando ao meu lado.
— And estava com dor de cabeça e me pediu um remédio. – dou a
mesma resposta que combinamos ainda no carro. Ju e Felipe se entreolham e
tenho sérias dúvidas se acreditam ou não no que digo. Mas não to nem ai para
eles.
— Está melhor, querido? – pergunta ao filho.
—Um pouco. – And responde e aperto sua mão por baixo da mesa. –
Tomei uma dipirona que tinha no carro e está aliviando um pouco. Não dormi
muito essa noite.
— E com “tomei uma dipirona” ele quer dizer que tomou o remédio
dos gêmeos que sempre carrego. – acrescento apenas para tirar a tensão.
— Bebeu todas, foi primo? – uma garota sentada ao lado de Lilian diz e
só então é que noto sua presença. Ela me faz lembrar um pouco Lili. Mas não
tenho ideia de quem seja. Ela está com Alice em seu colo, enquanto Matthew
com Anna.
— Não enche pentelha. – And provoca.
— Os filhos de vocês são lindos. – a garota diz. – Estão de parabéns.
— Obrigado. – And diz e passo a mão por seu cabelo, tentando baixá-lo
um pouco. Mas, assim como sempre acontece, ele volta a sua posição original
de rebelde e de quem acabou de transar. O que é verdade.
— Você esta todo descabelado. – sussurro para ele. – Precisa cortar.
— Eu sei. – responde, dando-me um dos seus sorrisos mais lindos e que
faz meu coração palpitar contra o peito. – Vou fazer isso na sexta-feira.
Abro à boca para dizer que ele precisa fazer isso antes, porque sexta
seria em cima. Só que sou interrompida pela risada de Julie e olho para ela de
cara feia, sabendo que está falando de mim. O que faz com que ela se cale no
mesmo instante.
— O jantar dos senhores. – um rapaz anuncia, servindo vários pratos à
frente de cada um. – O que os senhores gostariam de beber? – ele pergunta a
And e a mim.
— Um suco de laranja, por favor. – ele responde. – E você? – pergunta
agora para mim e digo que o mesmo. – Dois. – pede.
— Volto em instantes.
∞∞∞
Andrew
∞∞∞
Andrew
∞∞∞
Luara
∞∞∞
Andrew
Após passar duas horas trancado em uma sala com a equipe
responsável pelos eventos, marketing e mídia da BIT e mais uma hora em
reunião com os supervisores de cada setor, posso finalmente ir para casa. Mas
antes disso acontecer, subo até minha sala para pegar alguns papéis sobre a
nova BIT que lerei nos próximos dias e meu terno.
—Ana, o que faz aqui ainda? – pergunto ao vê-la sentada em sua mesa
assim que saio do elevador. – Não deveria tirar seu almoço?
— Sim, senhor. – responde, desviando o olhar do computador para
mim. – Só estava terminando alguns últimos detalhes sobre sua viagem de lua
de mel. – diz com um sorriso e me pego retribuindo.
— Tudo certo, eu espero.
—Sim. Tudo em ordem. – diz prontamente. – Como o senhor pediu
para reservar os melhores lugares para que pudessem se hospedar, vi que uma
casa de campo em Florença ficou livre para a época em que estarão lá. Então
fiz uma pequena mudança do hotel para ela.
— Ana, querida. – digo com um sorriso enorme no rosto, sabendo
exatamente qual casa se refere. – Eu já disse que você merece um aumento? –
pergunto, fazendo-a rir sem graça. – Não existe secretaria melhor de que
você.
— Obrigada. – ela responde um pouco tímida.
— E quanto a minha noite de núpcias? – pergunto ainda mais ansioso.
— Tudo pronto e reservado. Assim como me pediu.
Com um sorriso ainda maior, debruço-me por cima da mesa para dar
um beijo em seu rosto, deixando-a mais vermelha de que o batom em seus
lábios.
— Espero ver você e seu marido no meu casamento. – digo assim que
afasto, vendo que ela realmente ficou envergonhada. – Luara esta ansiosa
para conhecê-lo.
— Estaremos sim.
—Ótimo! – exclamo. – Só vou pegar minhas coisas e já vou para casa.
– digo. – Tire o resto do dia e da semana de folga.
Antes que Ana possa responder que não pode tirar folga, que precisa
resolver alguns últimos assuntos sobre minha agenda e sei lá eu mais qual
desculpa ela pode ser capaz de arrumar de improviso, dou as costas, indo até
minha sala e pego tudo o que preciso, tornando a sair.
— A propósito.
— Senhor? – Ana pergunta, olhando-me por trás de seus óculos.
— Já deixei avisado no RH que você terá férias bônus este ano. – digo.
– Como não estarei no país a partir de segunda, você já sai de férias. – Ana
abre a boca para dizer algo, mas torna a fechar. – Aproveite que esta com a
página aberta e escolha o destino para onde você e Alberto irão. Aproveitem
ao máximo e me mandem a conta depois.
— Senhor, eu não... – Ana começa a dizer, então para quando arqueio a
sobrancelha como se a desafiasse a me contradizer. – Obrigada. – sussurra e
sorrio para ela.
— Espero não ter que pedir para que a noiva te ligue no dia do
casamento para insistir que vá à cerimônia. – digo e Ana ri ainda mais sem
graça.
∞∞∞
Luara
A. Giardoni
20/05/2009
Paro nesta página, lendo e relendo o mesmo trecho por várias vezes.
As palavras são lindas e verdadeiras, mas totalmente o oposto do que
eu esperava de Andrew naquela época. Ainda que eu me lembre dele ter dito
que antes daquela garota, a namoradinha, ele não era assim. Não de ter
“números vazios”, como descreveu no trecho.
E parece que até mesmo nisso Andrew foi verdadeiro comigo.
Sento mais para cima na cama, correndo algumas páginas e paro em um
trecho que tem uma data que realmente chama minha atenção. A data:
dezenove de novembro de dois mil e nove. Apenas um mês depois do que me
lembro de ter encontrado And aquela vez em São Paulo. Sua caligrafia aqui já
esta mais simples, diferente da que costuma usar quando me escreve algo.
— “... Parti então, deixando com ela meu coração. Mesmo que não
saiba.”. – uma voz completa o verso atrás de mim, fazendo com que eu pule
assustada e fecho o caderno às presas ao ver Andrew atrás de mim. – Sabia
que é feio mexer nas coisas dos outros? – pergunta, sentando ao meu lado.
— Desculpa. – peço, devolvendo o caderno a ele, que segura entre suas
mãos e o encara por algum tempo e me pego observando-o.
Existem tantas coisas que quero dizer a And depois de ler isso, que não
consigo formular uma única palavra que seja.
Ele não faz ideia disso, mas eu esperava por ele todos os dias, por
várias semanas e por meses. Aquele rapaz que ele viu sentado comigo foi
apenas alguém por quem eu não tinha sentimentos. Meu coração pertencia a
ele, apesar de não saber quem era. Mas eu sabia que queria conhecê-lo além
de apenas aquilo. Saber quem aquele estranho era.
E agora eu sei e ele é meu. E logo será meu marido.
— Eu teria trocado todos esses anos com Felipe apenas para ficar com
você, se soubesse que era você ali naquele carro. – digo após algum tempo. –
Eu queria que tivesse decido ou ao menos baixado o vidro para que eu
pudesse te ver.
Toco a mão de Andrew que repousa na cama, chamando sua atenção
para mim. Ele me dá um sorriso fraco e sem graça.
—Parece que você finalmente descobriu meu passado. – diz. – Fica
para você de presente. Não que tenha algo que preste ai.
— Os que li achei lindo. – respondo com uma careta. – Por que nunca
contou?
— Que vi você e seu verdadeiro amor juntos naquela época? – pergunta
com o cenho franzido. – Você provavelmente pensaria que eu era um
perseguidor. – diz e reviro os olhos, decidida a ignorar seu comentário.
Afinal, acabei de dizer que queria que ele tivesse se mostrado para mim ali.
— Que você escrevia. – respondo. – Que tem algo assim.
— Não sei. É algo meu. Ninguém sabe, na verdade. – ele da de ombros
como se não fosse nada e isso me da ainda mais vontade de enchê-lo de
perguntas.
— Ainda faz?
— Às vezes. – diz. – Depois de algum tempo ficou difícil conciliar
essas coisas com as responsabilidades. Quando te escrevi aquela carta foi
quando voltei a fazer, na verdade. – explica, olhando para mim novamente. –
E então? O que achou do quarto?
— Existem outros como estes que dizem respeito a mim? – pergunto
ainda mais curiosa.
— Talvez. – sorri. – Então?
Faço uma careta, sentindo-me tentada a folhear página por página deste
caderno para ver o que mais ele escreveu sobre mim e saber o que mais se
passava por sua cabeça. Mas contenho o impulso e apenas olho para o quarto
e de volta para ele.
— Bem diferente do que eu esperava. – respondo. – Achei que fosse
encontrar as paredes cheias de pôsteres de mulher pelada. – completo fazendo
cara de nojo e ele ri.
— Isso foi na adolescência. Depois de um tempo passei a trazê-las para
poder ver pessoalmente. – diz e sinto sua mão subindo minha blusa.
— Mentiroso.
— Não é mentira que estou no meu antigo quarto com uma mulher
linda e louco para vê-la nua na minha antiga cama. – ele sorri e sobe a mão
mais um pouco.
— And. – seu nome me escapa quando aproxima o rosto do meu. – Está
todo mundo ai. Eles sabem onde estamos.
— E também pensam que você esta dormindo. – sussurra e sinto sua
barba em meu pescoço, beijando-me lentamente. – E você sabe, temos um
item na nossa lista de lugares e já fizemos no seu. Não seria justo.
Quando diz isto, sinto a mão de Andrew tocar meu seio por baixo da
blusa ao mesmo tempo em que me beija de vagar no início e vai aumentando
até que estejamos deitados em sua cama, nus e com nossos corpos
entrelaçados e suados. Ofegantes.
— Isso foi melhor do que eu esperava que fosse ser. – sua voz chega
rouca aos meus ouvidos ao mesmo tempo em que sinto seu beijo em meus
cabelos mais do que bagunçados.
— Uhum. – é tudo o que consigo dizer.
— Anjo, seu celular. – And diz, entregando-me o aparelho.
— Atende pra mim. – digo com a voz abafada, afundando o rosto em
seu pescoço, sentindo sua deliciosa fragrância pós-sexo. E devo admitir: eu
amo sentir este cheiro no meu homem.
— Celular da Luara, o Gostosão falando. – ele atende e sorrio,
imaginando a reação da pessoa do outro lado. – Ah... Oi, Elizabeth. – diz de
repente e ergo o rosto a tempo de vê-lo ficar vermelho. O que me faz rir. –
Esta aqui sim. Vou passar pra ela.
Pego o aparelho e cubro o bocal apenas para poder provocá-lo:
— Ficou vermelho por que, Gostosão? – torno a rir. – Oi, mãe! – eu a
cumprimento. – Como foram de viagem?
— Foi tudo ótimo, querida. – ela responde. – Já estamos aqui no
condomínio.
— Que bom. – digo em resposta e sorrio ao sentir os lábios de Andrew
outra vez em meu pescoço e sua mão lá embaixo em uma tortura deliciosa. –
Logo iremos embora. Mais ou menos uma hora e estamos ai.
Fecho os olhos ao sentir dois dedos de And entrando em mim e como
seu polegar acaricia meu clitóris, forçando-me a reprimir um gemido.
— Seu pai se esqueceu de trazer a escova de dente dele. – ouço minha
mãe do outro lado. – Pode passar de algum lugar e comprar, por favor?
— Claro! – exclamo talvez um pouco mais alto do que deveria. –
Preciso mesmo passar da farmácia para comprar algumas coisas.
— Anjo. – Andrew chama com a voz pesada, tascando um beijo em
meus lábios.
— Obrigada. Vejo vocês mais tarde. – minha mãe diz. – E diz para o
Gostosão que estou com saudades dele também. – ela ri e acabo
acompanhando, ainda que minha risada acabe saindo como um som estranho
e ininteligível, uma vez eu estou com And em cima de mim e o pequeno And
louco por mim.
— Mãe, eu preciso desligar. Até daqui a pouco! – desligo antes mesmo
de ouvir sua resposta e rápido puxo Andrew pelo pescoço, trazendo-o para
perto de mim para um beijo, enquanto movo meu quadril direção ao seu,
instigando para que me penetre. O que ele faz sem demora. – Você adora me
torturar nas piores horas.
— Não, Anjo. Eu apenas amo sexo com você nas melhores horas. E
tirar você desse telefone era meu objetivo. – diz, movendo-se lentamente
dentro de mim e cravo as unhas em suas costas, acompanhando seus
movimentos.
∞∞∞
Andrew
∞∞∞
Luara
Como acabei descobrindo que meu celular ficou sem bateria, peguei
uma escova para cada um deles e mais uma de cabelo, para o caso da minha
mãe não ter realmente me pedido escova de dente.
Já vai ser mais do que estranho eu chegar lá com tantas escovas se ela
tiver pedido só uma.
— Você tem anticoncepcional para lactantes? – peço a atendente.
— Qual você toma? – pergunta de volta e franzo o cenho, tentando
lembrar qual foi que o Dr. Marcus me prescreveu. Notando minha confusão,
ela começa a citar alguns dos que tem.
— É esse último. – reconheço o nome e ela vai para trás do balcão,
voltando logo depois com a caixinha que reconheço de imediato. –
Realmente é esse. – sorrio sem graça. – Vou levar.
— Achei que fosse comprar escova de dente. – ouço a voz rouca de
Andrew atrás de mim e isso faz com que um calafrio percorra meu corpo, de
repente lembrando-me de como me tocou poucos minutos atrás.
— É melhor prevenir. – dou de ombros. – Obrigada. – agradeço a
balconista.
And anda com o carrinho pela loja, enquanto procuro por mais algo que
precise, mas tudo o que peguei mais foi remédio para enjoo e febre, caso
Alice ou Matthew precisem.
— Amor, vem cá. – ele chama e vou até onde esta.
— O que foi?
— Acha que da para hoje? – Andrew pergunta sério e olho em suas
mãos, onde tem um total de dez pacotes de camisinhas de vários tipos,
espessuras, sabores e sabe-se lá mais o que. – Ou pego mais? – pergunta e
olho para ele, revirando os olhos.
— Você só pode estar de brincadeira. – digo em resposta e vou até o
caixa, tentando evitar rir.
— O que?! – exclama atrás de mim. – É melhor prevenir, mulher!
— Boa tarde. – a moça do caixa me cumprimenta.
— Peguei mais alguns por precaução. – Andrew diz, colocando ao todo
um total de quinze embalagens de camisinha sobre o balcão, junto de um
frasco de lubrificante que, segundo a embalagem, esquenta e gela e ok, isso
me deixa curiosa para experimentar.
Olho para And, que está totalmente sério e de volta para os produtos
que comprei. A moça passa nossas coisas, evitando nos olhar diretamente.
Ela claramente está segurando para não rir. Percebo isso mais claramente
quando começa a passar pacote por pacote, porque todos são diferentes. Ah!
Parece que o safado pegou três XL.
Bem, quanto a isso tenho que concordar.
— Noventa e dois e oitenta. – ela diz assim que termina de passar tudo.
— Débito. – Andrew entrega o cartão a ela, passando o braço por
minha cintura e beija meus cabelos antes de digitar a senha. – Obrigado. – diz
com um sorriso que sei muito bem que não é de educação.
Tomo para mim o carrinho com dois gêmeos totalmente adormecidos,
deixando para que ele pegue as sacolas.
— Eu vou matar você. – digo assim que passamos pela porta e ele
começa a rir.
— Só se for de tanto sexo.
— Tenho certeza de que estão rindo de mim nesse exato instante.
— Ou achando que fazemos muito sexo. – diz. – O que explica termos
dois filhos pequenos.
Viro para ele e abro a boca para responder, mas não consigo deixar de
rir com toda essa situação.
— Não que estejamos usando isso ultimamente. – digo e olho para o
lado, vendo o sorriso travesso no rosto de Andrew.
— Se preferir nós podemos...
— Não. De forma alguma. – eu interrompo. – Ninguém vai me deixar
sem o meu pequeno And de novo.
Com um sorriso safado, Andrew apoia a mão livre no meu quadril,
guiando-me para fora do shopping.
— Nem mesmo as que eu comprei para experimentarmos? – pergunta
de repente voltando ao assunto. – Tem algumas que pareceram bem
interessantes.
— Talvez se você merecer. – respondo, fazendo com que ele ria.
— Prometo fazer valer a pena. – responde de volta e pisca para mim.
∞∞∞
Andrew
*
Felipe.
Seu nome vem solto em minha mente, lembrando-me do motivo de
tanta familiaridade. Eu não o conheço de fato, mas conheço bem seu passado
com Luara e toda merda que fez para ela enquanto estiveram juntos.
— Nunca nos conhecemos de verdade. – Luara responde e a vejo
revirar os olhos para ele, enquanto eu a encaro, começando a me irritar.
“Eu vou quebrar a cara desse desgraçado quando encontrá-lo na
minha frente!”
Minhas palavras daquela noite dominam meus pensamentos e cerro as
mãos em punhos, tentando me controlar.
— Bem, nós precisamos ir andando. – Luara diz após o que me parece
uma eternidade. – Aproveite sua estadia, Felipe.
— Adorei revê-la. – ele responde antes de se afastar.
— Cara bacana. – digo com ironia, voltando a andar e a deixo para trás.
— And? – eu a ouço chamar, vindo atrás de mim. – Caramba, Andrew!
– exclama e sinto quando segura meu braço, forçando-me a parar.
Viro para Luara, mas é para nossos filhos no carrinho que olho. Matt se
mexe um pouco, mas apenas vira para o lado da irmã.
— Qual o seu problema agora?!
— Eu é que te pergunto que merda foi essa que acabou de acontecer
aqui. – digo um pouco alterado, sentindo-me irritado de verdade. Aquela
sensação estranha querendo tomar conta de mim novamente e isso me
incomoda em uma proporção sem limites. – Que ceninha foi essa?
— Que? O QUÊ?! – pergunta de volta e ri um pouco nervosa. –
Andrew, pelo amor de Deus. Foi só um “oi”. Também não me agradou tê-lo
encontrado aqui. Se soubesse que iriamos dar de cara com Felipe teria pedido
para passarmos em outro shopping ou qualquer outro lugar.
— Claro. – digo apenas.– Agora que o flerte com seu ex-namorado
acabou, podemos ir para casa? Não acho que este seja um bom ambiente para
dois bebês dormirem.
Luara abre a boca para me responde com qualquer coisa que vá nos
fazer ter uma briga. Mas não quero isso de novo. Não aqui ou em qualquer
outro lugar. Essa sensação dentro do meu peito é desconfortável e me deixa
incomodado. É algo que só ela é capaz de me fazer sentir e isso me irrita.
— And, por favor. – diz quando pego o carrinho e saio na frente com
nossos filhos, deixando-a para trás.
∞∞∞
Luara
∞∞∞
Andrew
Já tem algumas horas desde que Luara saiu com nossos filhos, dizendo
que iria entregar as coisas que sua mãe lhe pediu para comprar, dando-me
também o tempo sozinho que lhe pedi. E neste tempo eu já quis sair daqui
por várias vezes e ir até ela apenas para lhe pedir desculpas. Mas, covarde
como sou, eu não fiz.
São quase três horas que estou aqui sozinho neste apartamento e pela
primeira vez desde que moro aqui, consigo notar a imensidão deste lugar.
Esta cobertura sempre foi como minha Fortaleza da Solidão. O lugar onde eu
poderia observar a todos sem me envolver com ninguém. O lugar que deixou
de ser tão solitário desde que aquela garota meiga entrou na minha vida.
Ainda molhado do banho e enrolado na toalha, sento em nossa cama e
pego o celular, vendo a foto que Luara colocou de fundo. Foi uma que
tiramos em um dos ensaios fotográficos para nosso casamento.
— Será que o papai ainda quer ficar sozinho, meu amor? – uma voz
eletrônica chega até mim, tirando-me de meus pensamentos. Olho para o
lado, para a babá eletrônica. Anjo. – Estou com medo do que ele quis dizer
cedo.
Franzo o cenho ao ouvir suas palavras. Do que ela pode estar com
medo?
— E se ele realmente quiser ficar sozinho?
Estico o braço para pegar a pequena caixinha branca de onde sai à voz
de Luara, na esperança de que ela diga algo mais e que vá me ajudar a
entender tudo o que ela está dizendo. E ela diz.
— E se depois de pensar ele tiver decidido que não é isso o que quer?
Casar?
Um calafrio percorre todo meu corpo ao ouvir suas palavras. Ela pensa
que não quero mais me casar com ela! Meu Deus, eu não...
— Seja como for, nós amamos vocês dois, entenderam? Nada é mais
importante para nós que vocês dois.
Espero por mais algum tempo, mas Luara não diz mais nada. Assim,
coloco a caixinha de volta no lugar e levanto para pegar uma cueca e
bermuda no closet para poder sair daqui e ir conversar com ela.
Por que ela estaria pensando isso?
— Anjo? – chamo assim que saio do quarto, indo até o quarto ao lado,
mas não a encontro. Nele estão apenas Alice e Matthew, dormindo. Olho para
o relógio de parede e vejo que já passa das oito da noite. – Lu? – tento uma
segunda vez, de repente notando a luz que passa por baixo da porta do quarto
mais distante e resolvo ir até lá. – Amor? – eu a chamo, abrindo a porta de
vagar. Luara esta sentada na cama com a cabeça baixa. O que houve? –
Amor, me desculpe. – peço com sinceridade, sentando ao seu lado. – Eu não
quis dizer nada daquilo. Menos ainda sobre você ter flertado com outro na
minha frente.
— Você pensa em romper nosso noivado e acabar com o casamento? –
sua pergunta me pega desprevenido e me sinto atordoado por ela. NÃO!
NUNCA! – Tenho pensado nisso depois do que você disse. Sobre não saber o
que sente por mim.
Você sente ciúmes dela. Diga isso. Admita para si mesmo!
— Eu nunca romperia com você, querida. – respondo, tocando seu
rosto e ela me olha. Seus olhos estão vermelhos e inchados. Ela esteve
chorando e isso me deixa mal. – Você é minha vida. Meu amor e meu anjo. E
eu amo você. Nunca faria isso.
—Então o que são esses sentimentos estranhos? – pede.
— Além de me ensinar a amar, você também me ensinou a sentir
ciúmes. – confesso. – E eu não sei como reagir quando sinto isso. Às vezes
eu quero... Trancar você aqui em cima e não te deixar sair mais, porque talvez
assim eu não sinta mais isso.
Passo o polegar por seu rosto, secando uma lágrima que escorre.
— Antes de você este lugar era minha Fortaleza da Solidão, Anjo. –
admito a ela. – Você caiu no apartamento ao lado do meu para me tirar dela e
tudo mudou desde então.
— Eu me senti perdida quando você pediu para te deixar sozinho. –
sussurra e sento mais perto da minha garota, percebendo o quanto a deixei
confusa.
— Eu amei quando disse para aquele babaca que eu era seu marido.
Foi à coisa que mais gostei naquele encontro.
Luara sorri um pouco sem graça e desce nossas mãos para o pequeno
vão na cama, apertando forte a minha.
— Eu digo isso às pessoas. Meu marido.
— Fico feliz por saber que não sou precipitado por te chamar todo esse
tempo de minha esposa. – digo em resposta e ela ri. – Só... Desculpa. Eu não
queria te fazer chorar de novo.
∞∞∞
Luara
∞∞∞
Luara
∞∞∞
Andrew
∞∞∞
Andrew
— Onde Luara esta? – pergunto minutos mais tarde ao retornar à nossa
mesa. Vejo que meus pais já foram embora.
— Achei que estivessem juntos. – Elizabeth responde.
— Terminei a ligação e fui usar o banheiro. – faço-me de desentendido.
– Achei que ela já tivesse voltado.
— É aquela ali? – Felipe pergunta com aquele ar cínico, apontando para
o lado oposto ao que vim. Luara vem voltando com duas bebidas e coloca
uma para Julie logo que senta ao seu lado.
— Para mim?! – pergunta espantada e arqueio a sobrancelha. –
Obrigada!
— Nós merecemos. – Lu responde, levantando seu copo para um
brinde.
— Oh, sim! – Julie exclama com um sorriso cumprisse. – Pelos bons e
velhos tempos de uma longa e duradoura amizade que se entende tão
perfeitamente bem, obrigada.
Felipe ri como se tivesse acabado de ouvir a melhor piada do mundo.
Os pais de Luara logo se despedem e vejo os dois conversando com ela,
que parece bem mais compreensiva quanto ao segredo deles e não leva muito
mais tempo para que estejamos a caminho da mansão para pegar nossos
pequenos com meus avós, para finalmente irmos para casa descansar.
— Eles estão agitados demais. – Luara diz, sentada no banco de trás do
carro, enquanto dirijo a caminho do Golden. – Não vão dormir fácil assim.
— Até chegarmos eles já dormiram. – respondo.
— Espero que esteja certo.
Parado no semáforo, eu a vejo passar a mão pelo cabelo dos dois ao
mesmo tempo, tentando fazê-los dormir antes de deixá-los com seus pais para
passarem a noite a pedido deles, que raramente podem ficar com os netos.
— Você estava certo, And. – Lu sussurra enquanto subimos até o andar
que sua família está. – Esses dois não acordam já.
Sorrio, concordando.
— Eu disse. – respondo, ninando Alice em meu ombro. Ela mantém
sua mãozinha em minha barba desde que a peguei no colo quando chegamos.
Devo admitir, é uma sensação maravilhosa essa de sentir minha filha
mexendo assim em meu rosto. Estranho também, mas... Essa pequena
princesinha aqui em meus braços é uma das melhores coisas que já aconteceu
em minha vida. Ela e o príncipe adormecido dos braços da minha mulher
lideram o primeiro lugar.
Luara segue um pouco mais na frente para tocar a campainha do
apartamento.
— Achei que tivessem mudado de ideia. – Elizabeth diz assim que abre
a porta.
— Ficamos conversando mais um pouco. – Lu responde e entra. –
Onde eles vão ficar?
— No quarto que o Tommy está tem um berço.
— Onde fica? – pergunto, tomando Matt também em meu colo.
— Virando o corredor.
— Boa noite, meus pequeninos. – Lu diz, beijando os filhos. – Amanhã
cedinho a mamãe passa daqui para ver vocês. Tá bem?
— Vamos ficar bem, mamãe. – digo como quem falasse fossem eles e
ela sorri para mim.
Sigo pelo caminho que Elizabeth indicou e já vejo o quarto na qual se
referiu.
— Bem, é só uma noite, não é? – sussurro, colocando primeiro Matt,
seguido de Alice e os cubro, dando um beijo de boa noite em cada um. –
Durmam bem, anjos.
— André? – ouço a vozinha de Thomas atrás de mim e olho para ele. –
Eles tão dormindo?
— Estão sim. – respondo. – E você devia fazer o mesmo.
— Eu vou. – responde, voltando a deitar e vou até ele para cobri-lo. –
Boa noite. – diz entre um longo bocejo.
— Boa noite, garotão. – e saio, deixando a porta entreaberta.
De volta à sala, ouço com atenção enquanto uma mãe preocupada passa
várias recomendações sobre seus filhos, que estão prestes a passar a primeira
noite longe, para a avó, que terá sua primeira noite com os netos. Ela parece
bem preocupada por estar deixando os dois aqui e me pergunto se fiz bem em
ter concordado com isso, uma vez que eu mesmo não me sinto tão
confortável quanto esperava.
— Esta tudo bem? – pergunto a Luara logo que o elevador começa a
subir até nosso andar.
— Você quer mesmo ficar me fazendo lembrar isso ou aproveitar? –
pergunta de volta, virando para mim. Seus olhos fixam-se em minha boca por
algum tempo e, sem pensar, eu a prendo contra a parede, com os braços
acima da cabeça. Desço minha boca por seu pescoço, apreciando o calafrio
que percorre seu corpo. Como eu a quero aqui de novo... – O que foi isso? –
pergunta após ouvirmos um estrondo.
— Não sei.
Outro barulho e o elevador para, deixando tudo escuro.
— Não! – Luara solta um grito. – Por favor, isso não. – diz. – Onde
você esta?
— Bem aqui. – respondo, segurando seu braço e ela me puxa para
perto. – Parece que deu um apagão. – falo já pegando o celular no bolso para
acender o LED. Luara está com um olhar que expressa pânico.
— Não, não, não! – repete várias vezes. – Como um condomínio desse
porte pode não ter um gerador? – pergunta agarrada a minha camisa. –
Andrew, nós estamos presos dentro do elevador!
— É... Eu percebi isso.
— Percebeu, mas não entende.
Ao vê-la procurar por uma saída, percebo que esta ficando pálida.
— Você está bem? – pergunto ainda que a resposta seja obvia. Ela
escorrega para o chão, sentando-se nele.
— Pareço bem?
— Você tem medo de elevadores.
— Não é medo. – responde, inspirando fundo, soltando o ar de vagar. –
Não tem ar e é apertado. Coisas apertadas me sufocam. Eu não gosto de fazer
compras porque tenho que prová-las e provadores são apertados. Eles me
sufocam. – conforme ela fala, mais seu rosto empalidece. – E eles são abertos
por cima. – conclui, outra vez olhando para o teto e me coloco de joelhos na
sua frente, segurando suas mãos. – Elevadores são totalmente fechados e este
aqui está ficando ainda mais apertado.
— Estou aqui. – falo, beijando sua mão. – Vai ficar tudo bem.
Estico o braço para alcançar o painel e aperto o botão do interfone, que
é atendido pelo porteiro.
— Estamos presos no elevador. – falo. – Liga o gerador agora.
Não preciso me identificar para que ele me reconheça.
— Sim, senhor.
— E eu achando que isso seria uma chance para fazermos sexo no
elevador. – sussurro para Luara, tentando aliviar a tensão que se forma. –
Fica calma. – peço. – Tenta controlar sua respiração. – falo e mostro a ela
como deve fazer. Sua mão aperta a minha, enquanto enche os pulmões com
ar e solta de vagar. – Isso. – sorrio para incentivá-la.
— Esta ficando apertado aqui, And. – ela diz e seco uma gota de suor
que escorre pela lateral de seu rosto. – Eu odeio elevadores com todas minhas
forças.
— Por isso sempre fecha os olhos. – digo e ela confirma.
— Não sinto o chão debaixo dos meus pés. – explica. – Ando nisso
porque sou obrigada, mas odeio.
Para ser sincero, começo a concordar com o desconforto que é ficar
preso em um lugar como este, que não tem ventilação alguma. Se eu estou
assim, imagine ela.
— And, não eu estou bem. – diz, apertando minha mão ainda mais forte
e sopro seu rosto, jogando uma brisa nela, que fecha os olhos para receber o
ar.
Outro estrondo e as luzes do elevador voltam a acendem.
— And. – Lu chama quando levanto para apertar o botão do nosso
andar e logo voltamos a subir.
— Esta tudo bem. – digo, voltando até ela. – Assim que chegarmos
você troca essa roupa e pego uma água pra você. Tudo bem?
— Tá. – diz novamente agarrada a mim e saio com ela do elevador,
seguindo até nosso apartamento. – Vou me trocar.
Vou até a cozinha para pegar água e a caminho do quarto, passo para
pegar o ventilador que deixamos para os gêmeos nos dias extremamente
quentes. Independente de termos ar-condicionado, acho que tudo o que Luara
precisa agora é sentir o vento em seu rosto para fazê-la se sentir melhor.
— Olha quem veio fazer companhia. – digo, colocando o ventilador na
tomada e ligo no máximo. – E sua água.
— Obrigada.
Luara segura o copo entre suas mãos e fecha os olhos enquanto o vento
joga seus cabelos para trás. Aproveito para tirar minhas roupas antes de deitar
com ela, puxando o cobertor para nos cobrir.
— E esse foi o dia que você conheceu uma das minhas maiores
fraquezas.
— Como começou isso? – pergunto curioso e ela toma todo o conteúdo
do copo antes de me responder.
— Só estava lá desde que consigo lembrar. – diz. – Elevador, lugares
pequenos ou roupas apertadas. Lugares cheios de pessoas e sem nenhum
espaço entre elas. – da de ombros. – No metrô e ônibus eu pensava nas
janelas ou saídas de ar. Ajudava.
— Esquece isso. – peço, puxando-a para meus braços e beijo seus
cabelos.
— Só... Obrigada por me salvar, meu herói. – diz, apoiando a cabeça
em meu peito e sorrio com este novo título.
Ei! Eu gostei disso!
Dou um sorriso, beijando seus cabelos.
— Que dia cheio e bagunçado. – falo.
— Que semana turbulenta. – corrige e rimos.
Sexta-feira, 18 de Novembro de 2016
Luara
Como tem sido nas últimas semanas, um beijo mais caprichado sempre
acaba levando Luara e eu a terminarmos esparramados na cama, nus, suados
e com a respiração ofegante. Claro que com sua declaração repentina não
poderia ter sido diferente. Eu precisava mostrar a ela o quanto suas palavras
significavam para mim. O que acabou a nos levar a duas, três vezes, até que
fomos interrompidos pela campainha, quando o entregador veio trazer sua
cesta de café que pedi ontem para que Ana providenciasse. A cesta veio com
um cartão onde dizia a ela o quanto a amo. E ver o sorriso em seu rosto ao lê-
lo foi o que mais me significou.
Depois do café, tomamos banho e terminamos a quarta rodada antes de
nos despedirmos, uma vez que não nos veremos o dia todo.
— Qualquer coisa você me liga. – peço, despedindo-me da minha noiva
com um beijo assim que a porta do elevador se abre. Eu queria estar aqui para
quando descobrir a surpresa que espera por ela na garagem, mas ainda tenho
que buscar meu smoking para amanhã e o de Matthew.
— Digo o mesmo. – responde com um sorriso lindo e beija minha
bochecha. – Até mais tarde, amor. – diz e sai, seguindo pelo corredor. A porta
se fecha, deixando-me com meus pensamentos.
O dia de hoje será cheio como todos os outros desta semana. Primeiro ir
ao alfaiate e de lá para o barbeiro, porque não posso me casar do jeito que
estou. De lá para os meus pais, onde deixarei minha roupa e a de meu filho,
para evitar que a noiva descubra como estaremos. E por mais saudade que
esteja dos meus filhos, tenho horário a cumprir.
Enquanto espero meu pai descer para podermos ir almoçar juntos, meu
celular toca com uma ligação automática, na qual pedi para que
programassem para receber assim que Luara fosse sair e acionasse o alarme
do carro. Sorrindo, digito seu número e ela atende no segundo toque.
— Pelo visto esta saindo. – falo.
— Achei que fosse me deixar seu carro. – meu anjo diz em resposta e
isso me faz sorrir.
— O Civic esta ai, mas achei que fosse gostar de algo mais especial. –
respondo. – O que achou?
— É lindo. – responde e percebo o sorriso em sua voz. – Só não faz
muito seu tipo.
Rio com suas últimas palavras.
— Sei que não. É seu.
— Idiota. – diz e noto sua voz diferente. O que me faz rir. – Qual a
graça? – pergunta toda brava e de repente sinto por não estar ao seu lado.
— Presente de casamento, Anjo. – respondo. – Achei que merecesse
algo além do seu Crossfox e esse me chamou atenção. Faz seu estilo.
— Não posso aceitar esse carro. – diz. – Ele...
— Será que podemos só ir comer? – reconheço a voz de Julie no fundo.
– Depois vocês discutem sobre isso.
Aproveito a deixa para dizer:
— Faz um test-drive. – sugiro. – Se não gostar eu devolvo. Mas é meu
presente para você. O primeiro de muitos.
Sinto o estômago revirar enquanto aguardo por sua resposta que não
chega. Quero mais do que tudo no mundo que ela aceite, porque quero lhe-
dar tudo o que merece. Quero dar a ela o mundo, pois ela é o meu.
Vejo meu pai descer as escadas e antecipo:
— Eu te ligo depois. Estou indo almoçar com meu pai agora.
— Obrigada. – sua resposta chega baixa. – Amei o presente e amo
você mais ainda.
Sorrio em resposta.
— Anda logo que eu preciso andar nesse carro! – outra vez ouço Julie
e isso me faz rir.
∞∞∞
Luara
Enquanto dirijo o lindo Alfa Romeo sedã vermelho sangue vivo que
ganhei de Andrew, sinto uma sensação única e indescritível. O poder de se
estar em pose de um modelo de luxo que muito raramente se vê pela cidade.
O ronco do motor chega a me causar calafrios de tão maravilhoso que é.
Cada pedaço desse lindo carro é maravilhoso. O interior é todo preto
com estofado em couro. O painel impecável e com um cheiro de carro novo,
que muito provavelmente chegou o Golden dentro de um caminhão para não
perder a quilometragem zerada.
Como foi que não vi nada disso?
Olho para Julie, que esta com o braço para fora, sentindo o vento bater
em seus cabelos que são jogados para trás, assim como acontece com os
meus. Não estou correndo, mas quero muito fazer isso, porque é incrível.
— Algo me diz que você não quer nem sonhar em entrar com alimento
aqui. – minha amiga diz e olho para ela com um sorriso que vai de um lado a
outro.
— É a última coisa que quero.
— Meus instintos também me dizem que alguém terá um excelente
presente esta noite.
Não consigo conter a risada que me escapa.
— Eu não chamaria isso de presente, exatamente. – falo, rindo ainda
mais.
Há muito deixei de me questionar sobre coisas que Andrew poderia
querer me dar e passei a apenas aceitar, mesmo que me sinta incomodada,
dependendo do que for. O que é exatamente o caso desse carro lindo,
maravilhoso e simplesmente mais incrível de todo o mundo. Mas, se for
recusar, quero ao menos aproveitar a sensação que me trás e aproveitar esse
momento.
— SOMOS DUAS VADIAS RICAS EM UM CARRÃO FODA! –
exclamo contra o vento e Julie me olha com um ar divertido.
— É! NÓS SOMOS! – diz e rimos.
*
Estaciono meu novo possante frente a hamburgueria que fazia And
buscar meus lanches de madrugada, quando ainda estava grávida e descemos
para pegar nosso almoço. Dois combos completos e com batata extra, suco de
laranja e um de morango pra Ju e de sobremesa: Milk-shakes!
— Um brinde para a noiva mais sexy do mundo! – Ju ergue seu Milk-
shake para um brinde.
— E a melhor amiga do mundo! – acrescento e bato com meu copo no
seu.
— E a mais convencida também. – ri.
— Estou falando de você.
— Ah... – faz, desviando o olhar para outro lado e toma um pouco de
sua bebida.
— Embora você não esteja sendo uma boa amiga por guardar segredos
de mim como tem feito. – falo. – Você me ouviu quando precisei ontem.
Quero poder fazer o mesmo por você!
— A semana é sua, amor. – diz em resposta. – Amanhã é seu grande
dia e não quero pegar carona na sua vez. Depois conversamos a respeito.
Julie sorri, mas não consigo retribuir.
Eu daria qualquer coisa para descobrir o quê Julie esta escondendo de
mim a semana toda e mais ainda desde ontem. Isso desde que me dei conta de
que tinha algo por trás desses olhinhos maquiavélicos. Eu... Na verdade, eu
gostaria de poder passar mais tempo com minha irmã do que tenho
conseguido nesses últimos meses. Ela veio para cá na festa da BIT e não pude
ficar nada com ela, porque já tinha de voltar pra São Paulo para trabalhar no
dia seguinte. Agora que esta de “férias” e muito provavelmente vai passar um
bom tempo aqui no Rio, estarei fora do país em um roteiro traçado por toda
Europa com Andrew e não poderei estar com ela nem um minuto.
— Lu? – minha amiga chama, trazendo-me de volta a nossa mesa. –
Ainda esta na Terra?
— De corpo, sim. Mente? – franzo o cenho, pensando em tudo o que
tem acontecido. – Muito provavelmente não. – respondo. – Desculpa. É só
que estava pensando em algumas coisas.
— Na sua grande Lua de Mel? – pergunta com um sorriso de lado.
— Na verdade não. É mais algo que tem me chateado bastante. –
desvio o olhar do seu para tomar o que resta do meu milk-shake. – Estava
falando algo?
— Quero saber o que devemos preparar para sua despedida de solteira
hoje à noite. – diz. – O que esta te chateando? Pode me contar.
Dou um sorriso sem graça e balanço a cabeça em negativo. Não posso
dizer a ela que, às vésperas do meu casamento, estou preocupada com nossa
amizade e com o quanto nos afastamos no último mês.
— Eu troco essa despedida por uma última noite, apenas Andrew e eu,
sem termos que nos preocupar com os gêmeos. Como se ainda fossemos
apenas nós dois. Não os pais. – digo em resposta, mais uma vez fugindo do
assunto e Ju me encara por algum tempo. Ela sabe bem que não adianta
insistir, porque não direi nada a respeito do que esta me chateando.
∞∞∞
Andrew
∞∞∞
Luara
∞∞∞
Andrew
∞∞∞
Luara
30.12.2010
Oi, Amor.
Como vai você? Não muito nervoso, espero.
Se você Está lendo essa carta, significa que Hoje é nosso
casamento. O que faz com que eu me pergunte o quanto ela deve
estar ansiosa por esse momento. Gostaria de saber também se você
é alguém que já conheço. Se você foi um Daqueles que passaram
na minha vida em Algum momento e tive olhos apenas pro cada
errado. Acho que na minha atual situação, é bem provável. Tola
como sou, posso ter olhado para outro Lado quando passou e você
precisou voltar. Espero que não muitas vezes.
Como foi se encontrar com ela? Foi mágico ou ela estava
passando distraída? Deve ter se tornado mágico com o tempo.
Como ela está? Por favor, me diga que já não usa mais Aquela
franja no cabelo. Se sim, FUJA!
Não!Volta aqui. É brincadeira! Ela precisa de você com ela para
mantê-la na linha!
Ou será que você é alguém que ainda está no Futuro? Se for, como
você é? Alto, forte e bonitão? Daqueles que arrancam suspiros por
onde passa? Se a resposta for “sim”, mulher de sorte essa!
Na verdade, não importa exatamente como você seja. O que mais
chama atenção são seus olhos e seu sorriso. Ou pelo menos espero
que ainda aprecie isso ao invés de apenas um rostinho bonito.
Amor, eu quero te fazer um pedido: se um dia eu te disser para ir
Embora, por favor, fica. Não importa como, mas fica. Preciso de
você mais do que nunca.
Esta mulher pode ser imprevisível de várias maneiras. Como estar
sorrindo em um momento e, no outro, querendo matar. Ou
chorando. Ela te ama mais do que tudo. Prova disto é este papel
em suas mãos, na qual foi proibida de Entregar a qualquer um,
assim como também nosso primeiro “Eu te Amo”. Ela já te disse.
Sei que sim.
Sim. Você foi o primeiro e fico feliz por não tê-lo desperdiçado
com qualquer outro.
Mesmo com os “odeio você”, ela te ama muito. Acredite. Ela só diz
isso porque algo está doendo muito.
Ps: Quero filhos. Três. Espero que você goste de crianças.
Ps²: Ela te chama de “amor” ou vocês têm algo mais especial?
Tenho certeza de que são lindos juntos.
Desejo de Coração toda felicidade aos dois. E parabéns pelo dia.
Dê um beijo nela por mim.
Sua Esposa,
L. Brudosck.
∞∞∞
Luara
Já tem duas horas que Andrew saiu, levando com ele Matthew, para
que pudessem se arrumar. Duas horas que já não os vejo e três até nosso
casamento na igreja. Será no centro, com muitas pessoas prestando atenção
unicamente em nós, em uma enorme igreja que parece ter vindo direto do
século XIV de tão linda e robusta que é.
Tom, o amigo cabeleireiro de Andrew que fez meu penteado quando
estávamos em Nova Iorque, exigiu que fosse o responsável por meu penteado
e a maquiagem hoje. Ele já chegou colocando uma maleta sobre a mesa e
tocando And para fora de casa e tirou alguns sais de banho, dizendo que eu
deveria começar com uma hora na banheira para aliviar a tensão que estava
sentindo. E confesso que estava mesmo precisando daquilo.
Mesmo que Tom esteja trabalhando em mim com tanta dedicação, só
consigo sentir um grande nervosismo com tudo isso. E eu que achava que
depois do casamento no civil fosse me acalmar ou me sentir mais tranquila,
mas foi completamente o oposto do que aconteceu.
— Menina, para de se mexer assim! – Tom grita para mim, parando na
minha frente com uma mão na cintura.
— Não dá! – grito de volta. – Eu estou mais do que nervosa. Eu estou...
— É claro que esta, querida. Você é a noiva!
Fecho os olhos, cobrindo o rosto com as mãos e inspiro o mais fundo
que consigo. Ouço o som do trinco da porta abrir e fechar, indicando a
chegada de alguém.
— Ai, graças a Deus você chegou! – Tom exclama. – Pode, por favor,
fazer sua amiga se acalmar?
— Está mesmo pedindo para um furacão se acalmar ou você tá
brincando? – reconheço a voz de Julie. – Quer beber algo? – pergunta agora
para mim.
— Me traz um café. – peço a primeira coisa que me vem à cabeça. –
Esquece. Odeio isso. Trás logo um whisky.
— Vou te pegar uma água. – responde indo e vai até a cozinha.
— Posso ao menos ver como está ficando? – choramingo.
— Não, senhora. É claro que você não pode ver.
— Está horrível! – Ju grita da cozinha e Tom a fuzila com o olhar.
— Vai se ferrar! – grito de volta.
— Toma. Vai ajudar a se acalmar. – ela diz, agachando-se na minha
frente para entregar a água.
— Obrigada. – agradeço e viro metade de uma só vez. – Como ela esta?
– pergunto me referindo a minha pequenina princesa.
— Dormiu logo que terminou a mamadeira que você deixou.
— E o Matt?
— Lilian disse que também dormiu assim que mamou.
— Ótimo. – solto um suspiro somente um pouco mais tranquila e ela
segura minhas mãos, apertando-as forte.
— Fica tranquila, amiga. – diz com a voz mais calma possível e me
pergunto como ela consegue ficar assim em um momento como este. – Vai
dar tudo certo. Você esta ficando a noiva mais linda que já vi em toda minha
vida.
Franzo o cenho, curiosa.
— E quantos foram? – pergunto, embora já saiba a resposta. Julie não é
a maior fã de ir a casamentos.
— Considerando os finais de novela que já vi ao longo da minha vida,
posso dizer que muitas.
Rio com sua resposta e ela levanta para me dar um beijo no rosto.
— Obrigada. – sussurro e sorri para mim, indo até a cozinha para levar
o copo de volta.
— Estarei lá embaixo ajudando a tia. Qualquer coisa é só me chamar
que venho correndo. – diz já saindo.
— Você não vai voltar a ficar daquele jeito só porque sua amiga saiu.
Né? – Tom pergunta e rio por puro nervosismo.
— Prometo que vou tentar me acalmar. – respondo com a voz mais
baixa que consigo, levando a mão até minha aliança, como costumo fazer
quando estou nervosa. Para minha surpresa, ela não esta mais comigo. And a
levou pouco antes de sair.
Certo. Agora sim é que vou precisar me controlar mesmo.
∞∞∞
Andrew
— Estarei sempre com você, meu anjo. – sorrio e guardo mais este
presente comigo, pegando a caixinha preta e felpuda com nossas novas
alianças e as guardo no bolso direito. Lu certamente terá uma surpresa
quando se der conta de que não ira mais usar a aliança de noivado.
Fecho a porta do quarto quando saio, deixando dentro dele aquele
homem que fui um dia e levo para a igreja apenas aquele que me tornei.
Bônus Casamento
Noivos
∞∞∞
Luara
∞∞∞
Andrew
Uma hora já se passou desde que cheguei com Luara aqui na chácara.
Uma hora que estou tentando em vão arrastar essa mulher pra piscina ou
qualquer canto mais afastado, onde possamos ficar apenas nós dois por algum
tempo. Uma hora que estou recebendo o não mais divertido de todos, porque
em todos eles, acabou rindo das minhas investidas e cantadas baratas, como
fez questão de colocar. Mas é claro que ainda não desisti. Tenho esperanças
de que em algum momento se rendera ao meu charme e acabara cedendo isto
a nós dois. Ainda que para isso eu precise ficar enchendo sua taça com
champanhe sem que perceba.
— Eu não aguento mais esse vestido! – Lu exclama toda eufórica,
sentando ao meu lado e toma minha taça de espumante para ela, tomando um
gole. – Fora o calor que esta fazendo essa noite pra ficar com ele a festa toda.
— Pode beber. – falo, observando-a virar um bom tanto de uma vez. –
Está linda com ele, Anjo. – digo a verdade. – Conseguiu superar todas
minhas expectativas sobre como apareceria na igreja.
— Você também esta lindo. – diz com um sorriso lindo. – Ficou lindo
naquele terno todo preto. Mas esse tom azul-escuro no colete te deixou...
— Sexy? – eu a interrompo.
— Sim, também. – ri. – E lindo, gostoso e...
Posiciono minhas mãos sobre o acento de sua cabeira e a puxo para
mais perto de mim.
— Você sabe bem o que estou achando sobre toda essa roupa. – digo,
sentindo minha voz carregada de desejo. Os olhos fixos aos seus.
— Hmmm... – murmura brincalhona. – Para ser sincera, não sei, não. –
sorri. – Pode refrescar minha memória, senhor?
— Um grande desperdício de tempo e que estariam muito melhor se
estivessem espalhadas no chão de algum cômodo inacessível a todos, onde
apenas eu pudesse ter uma visão mais do que privilegiada desse seu corpo
lindo embaixo do meu...
Fecho os olhos ao sentir o efeito de minha provocação em meu próprio
corpo. Quando reabro, Lu me rouba um beijo e foge de mim quando tento
aprofunda-lo.
— É. Acho que lembrei. – a safada ri na minha cara. – Mas a festa
apenas começou. Não podemos deixar os convidados sozinhos por tanto
tempo.
— Danem-se os convidados. Eu quero você!
— Se for um bom marido, talvez eu possa pensar no seu caso dentro de
algumas horas.
— Prometo que serei rápido. – falo, passando a barba por seu pescoço.
— Hmmm... Aí não vejo muita vantagem. – ri e afasto.
— Uma hora. – sugiro, referindo-me ao tempo em que devemos nos
encontrar.
— Quatro horas.
— Uma hora e meia.
— Três horas e quarenta e cinco minutos.
— Duas horas, uma mão no peito e outra na bunda de adiantamento e é
melhor correr antes que eu mude de ideia.
— NÃO! – exclama alto quando passo os braços por sua cintura,
puxando-a para mim. – Andrew! – ela ri, mas a ignoro totalmente para apenas
beijar sua boquinha nervosa e atrevida.
— Você acha mesmo que vamos ficar aqui por tanto tempo? – pergunto
com a boca colada na sua e ela puxa meu lábio inferior.
— Eu espero que não.
Fecho os olhos, sentindo minha respiração acelerada. Sua mão passeia
pelos cabelos em minha nuca e sinto suas unhas em minha pele.
— Adorei o corte. – sorri.
— Ahn... Desculpem interrompê-los, mas... – alguém diz por trás de
mim e Luara me escapa, ficando toda corada e pula de volta para sua cadeira.
— Aconteceu algo?
Viro para trás, deparando-me com Camile e Alice.
— Oi, cunhada. – eu a cumprimento com ar divertido, notando seu
constrangimento quanto ao que acabou de presenciar.
— Oi. – ela sorri sem graça. – Não. É só que a vovó quer conversar
com vocês.
Volto a olhar para Luara, que bebe o restante do espumante em minha
taça e sinto pequenas mãos puxarem meus cabelos.
— Ei! – exclamo, olhando para cima e minha pequena ri, agarrando
meu cabelo ainda mais forte. – Vem com o papai. – chamo e ela praticamente
se joga para vir comigo.
— Onde o Matt esta? – Lu pergunta a irmã.
— Esta com a vovó. – responde. – Trouxe a Li porque ela estava um
tanto agitada, mas agora parece que o Matt também esta. – diz e sigo o olhar
das duas até a mesa onde sua família esta e vejo meu garotão bravo e
resmungando.
— Vamos dar uma passada lá e depois vou amamentar meus pequenos.
— Vocês vão indo lá. – Camile diz. – Eu vou lá fora com... – ela se
interrompe, de repente ficando toda vermelha. – Tomar um ar. – diz rápido e
franzo o cenho.
— Tudo bem. – Lu responde. COMO ASSIM “TUDO BEM”?! SERÁ
QUE ELA NÃO PERCEBE?!
— Estou de olho em você, Camile. – digo sério e a garota fica ainda
mais vermelha.
— Pode deixar, cunhado. – ela sorri em resposta e sai ainda mais sem
graça de que quando chegou.
— O que foi isso? – Luara pergunta.
— Isso o que?
— Você e Camile.
— Já que agora somos da mesma família, acho que é meu dever cuidar
dela também. – respondo, olhando em sua direção. – Tem muitos marmanjos
por ai e ela é bonita demais para eles.
Luara para e me encara com ar de riso.
— Esta com ciúmes da minha irmã? – pergunta e tenho que rir.
— Não conte piadas.
— Bem, se não esta, acabou de agir como um irmão mais velho. – diz.
– Mas fique tranquilo. Camile cresceu com Julie também. Ela não se deixa
levar com qualquer um e não vai fazer “coisas” em uma festa.
Tenho algumas coisas a dizer sobre este seu comentário, mas decido
por não fazer. Uma porque chegamos à mesa onde sua família esta e logo sou
tomado por um abraço apertado de sua avó.
— Como à senhora está, Dona Olga? – pergunto logo que afasta.
— Estou ótima. – responde. – E vocês? Tão lindos!
— Sou suspeito para dizer isto, mas Luara é a noiva mais linda que já
tive o prazer de ver e estou feliz por saber que ela era a minha noiva. – falo,
puxando uma cadeira para que possa sentar e ocupo o lugar ao seu lado.
— Também sou suspeita, mas vou dizer mesmo assim: meu noivo é um
gatão! – Lu diz e sua vó acaba concordando. – E como ele me interrompeu
com investidas sacanas antes e sei que não vai poder fazer isso agora,
completo aqui: você esta um tesão de tão gostoso.
Olho para Luara de lado e ela pisca para mim, sabendo que não posso
lhe dar a resposta que gostaria.
∞∞∞
Luara
∞∞∞
Luara
∞∞∞
Andrew
— Conheço um lugar. – digo, sem interesse algum de me afastar de
Luara. Quero tomá-la aqui e agora.
— Claro que conhece. – ela geme e ri um pouco alterada pelo álcool.
Lutando contra meus instintos mais primitivos, eu me afasto e dou à
partida para sair com o carro e do estacionamento.
— Isso é maldade, Anjo. – digo meio que em um gemido, sentindo sua
mão acariciando meu pau por cima da calça. – Não disse que era para parar. –
eu a repreendo quando afasta.
— Disse que era maldade.
— É mais uma tortura psicológica. – corrijo. – Ter que manter a
concentração no trânsito com você fazendo isso.
— E se eu fizer isso? – sussurra, soltando o cinto e abre o zíper da
calça, puxando meu pau para fora.
— Anjo. – seu apelido me escapa junto de um gemido quando sinto sua
boca me envolver. – Porra! – exclamo ao sentir o fundo de sua garganta. – De
vagar, linda. – peço, tocando a mão em seus cabelos. É preciso muito
controle para resistir a isso e ainda conseguir dirigir. – Chegamos. – digo,
parando com o carro em uma rua escura e afastada.
Luara afasta, correndo a língua pelos lábios e solta o cinto, pulando em
meu colo.
— Eu quero você e quero agora, Andrew Giardoni. – murmura
ofegante.
— Espera. – peço apenas para poder afastar meu banco e ter mais
espaço para receber minha gostosa. – Bem melhor. – digo e ela sorri,
envolvendo meu pau em sua mão e deslizando deliciosamente para dentro
dela.
— Ah! – geme baixinho e a beijo, sentindo seus movimentos em meu
colo.
∞∞∞
Luara
∞∞∞
Andrew
∞∞∞
Andrew
∞∞∞
Luara
— Anjo. – Andrew me chama, mas não dou ouvidos a ele. Preciso fazer
esse teste e mostrar a mim mesma que estou enganada e que isso nada mais é
do que paranoia da minha cabeça. Quer dizer... Eu não posso esta grávida de
novo, por que... Bem, eu mal estou dando conta dos gêmeos. Então que ter
mais um filho pequeno agora só complicaria algumas coisas e atrasaria os
planos de Andrew sobre morarmos por um tempo em Londres até que a nova
filial esteja encaminhada. O que eu aproveitaria para estudar no tempo livre e
fazer uma faculdade para poder assumir o lugar de João, como espera que eu
faça.
Entro no quarto e encosto a porta, correndo logo em seguida para o
banheiro, desta vez trancando a porta. Por mais que eu queira contar isso ao
And, preciso antes ter certeza. Então que ele entrando aqui agora não será
uma boa. Muito pelo contrário.
Faço o que preciso e sento no chão mesmo, esperando ansiosa, nervosa
e trêmula, pelos minutos necessários que logo me mostram a palavra que faz
meu coração pulsar forte, fazendo com que lágrimas escorram por meu rosto.
Não sei descrever exatamente o que sinto ao vê-la ali.
Positivo.
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Andrew
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Andrew
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Luara
Percorrendo suas mãos por meu corpo e beijando-me lentamente,
Andrew puxa a parte de cima do meu biquíni, deixando meus seios à mostra.
Suas mãos me massageiam, causando-me calafrios. É excitante sentir seu
toque em mim. Ele me beija. Um de cada vez. Seus lábios sugam e puxam
meu mamilo, enquanto minhas mãos se prendem aos seus cabelos, guiando-o
para que continue.
— Você está deliciosamente pronta. – sussurra, invadindo meu biquíni
e circulando meu clitóris com o polegar. E enquanto o faz, move-se por meu
corpo, permitindo-me sentir sua ereção colada ao meu corpo. – Gostosa. – diz
contra minha boca bem quando um gemido me escapa ao sentir seu dedo me
invadindo.
— Por favor!
— Você vai gozar para mim antes deu entrar em você, Anjo. – diz,
colocando mais um dedo em mim.
— Aaaaaaaaah! – grito alto, tentando agarrar-me a algo. A Andrew. –
And. – chamo seu nome várias vezes e, quando sinto que estou perto de
gozar, ele para. – Não. – choramingo.
— Agora eu estarei dentro de você. – diz com um beijo em meus
lábios, jogando longe a sunga. – Você decide como vai querer.
Fecho os olhos, começando a sentir Andrew dentro de mim. Uma
deliciosa sensação de estar inteiramente preenchida pelo meu homem.
— Deita. – peço, apertando seu quadril e ele me obedece. – Forte. –
digo um pouco rouca. – Fundo. E com força.
Olhos cinza encontram os meus castanhos quando começa a se mover
dentro de mim, da maneira com que pedi. E conforme ele se mexe, minhas
mãos exploram seu corpo, arranhando-o todo.
— And. – chamo por ele baixinho quando fecha seus olhos e torna a
abri-los assim que me ouve. Sorrio para ele e o beijo com força, assim como
é nosso sexo.
— Mais alto, minha gostosa. – diz, mordendo meu lábio inferior
quando grito alto e mordo seu lábio superior. – Quer mais? – pergunta e
apenas confirmo, sentindo o pequeno And fundo dentro de mim.
— Siiiiiiiiim!!! – exclamo quando eu o sinto atingir meu ponto,
roubando de mim todo o fôlego que restava em meus pulmões. – Aaaah! Por
favor! Ah! Andreeeeew!
Sinto minhas unhas se cravarem nas costas de Andrew e ele urra de dor.
Ou sei lá o que. Sinto seu suor misturado ao meu e gozo, sentindo quando
derrama todo seu líquido quente e gostoso dentro de mim.
— Você tem um delicioso cheiro de sexo. – sussurra, afundando o rosto
em meus cabelos.
— Você também. – sussurro de volta, acariciando seus cabelos. – Como
você pode ser tão bom nisso? – pergunto um pouco ofegante e Andrew sorri
debochado.
— Tive uma ótima companhia quando iniciei. E embora fossemos os
dois inexperientes, foi um sexo excelente. – ele pisca para mim. – E agora
que me casei com uma mulher insaciável, nos tornamos dois insaciáveis
sendo saciados um pelo outro.
Sorrio e beijo seu rosto, afastando seu cabelo colado pelo suor.
— Eles estão muito quietos. – digo a primeira coisa que me vem à
cabeça, de repente estranhando o fato dos gêmeos estarem tão quietos.
— Eles estão cansados. E eu também, para ser sincero. – And diz,
passando os braços por meu pescoço e me beija. – Vai tomar um banho e
descansar que vou ver como eles estão.
Concordo e ele afasta para poder pegar uma toalha.
— Não me canso de apreciar sua bela abundancia. – provoco.
Acompanho Andrew com o olhar até onde deixamos nossas toalhas e
ele pega uma para enrolar na cintura, deixando-a levemente caído no quadril.
— Gostosão! – grito para ele, que apenas me da um sorriso de lado
antes de entrar.
Ah! Estou virando uma mulher insaciável! O que convenhamos, com
um homem desses é até impossível não ser. Como foi mesmo que ele disse
minutos atrás? Franzo o cenho, recordando-me de suas palavras.
“Somos insaciáveis sendo saciados um pelo outro”.
Apenas com as lembranças de sua frase já sinto meu corpo mais quente.
Levanto e corro até a piscina para um mergulho, afim de esfriar as
coisas um pouco e tentar arrumar um pouco dos meus cabelos mais do que
apenas desgrenhados.
∞∞∞
Andrew
— Bem, parece que tenho um jantar com o Dr. Mazzon esta noite. –
comento, guardando o celular de volta no bolso. – Acho melhor ir para casa
me arrumar. – acrescento esta última parte mais como uma desculpa mesmo,
pois quero estar junto da minha linda novamente e poder me perder ao seu
lado.
— Mande lembranças a ele por mim. – João diz. – Não vou mais te
segurar, se o que tínhamos mais para conversar era sobre os últimos
acontecimentos sobre sua empresa. Precisava te tranquilizar quanto a tudo o
que ocorreu enquanto esteve fora.
— Me agrada saber que tudo correu bem e que mais uma vez batemos
todas as metas estipuladas.
Acompanho João até seu carro e despeço-me logo após concordar em
marcarmos um jantar com ele também.
∞∞∞
Luara
Com a toalha enrolada em meu corpo, corro até o quarto para ver qual
foi a resposta de Andrew quanto as minhas mensagens. Sei que me
respondeu, pois estava indo para o banho quando vi seu nome aparecer na
tela e precisei me conter para olhar só depois.
Estou louca para poder passar um tempinho com a Ju e finalmente
descobrir o que aquela doidinha tem para me contar, que não podia ser em
outro lugar além de nesse jantar que ela e Felipe prepararão. E isso contando
que ela esteve aqui mais cedo para buscar meus pequenos, dizendo que como
madrinha tinha direitos e que estava com saudades deles. Claro que eu nem
mesmo considerei negar isso a ela quando ligou dizendo que viria busca-los e
menos ainda quando chegou, que meus amorzinhos se jogaram no colo da
dinda louca.
No quarto, pego o celular e leio a mensagem de And:
Já estou chegando em casa, gatona.
Quanto ao jantar, pode confirmar sim, viu? Hahaha
Espere por mim, enrolada naquela sua toalha.
Nua.
∞∞∞
Andrew
∞∞∞
Luara
— Eu sei que deveria esperar para que resolvessem contar, mas sou
curiosa demais e preciso saber. Então lá vai: qual é a notícia que vocês
tinham para nos dar? – pergunto curiosa que só e os noivos da vez se
entreolham. Percebo só pelo olhar no rosto da minha amiga que a notícia é
coisa boa. – Ju?
— Conta você ou conta eu? – ela pergunta a ele, que dá de ombros.
— Não vão me dizer que já marcaram a data do casamento. – Andrew
diz, abrindo sua cerveja. Felipe ri.
— Por mim eu já teria me casado com essa baixinha aqui desde que a
pedi em casamento, mas ela se recusa.
— Isso não é verdade! Eu só quero estar com meu escritório
inaugurado antes de fazer isso! – minha amiga defende-se.
— Vai dizer então que vou ser titia?! – um grande sorriso surge em
meu rosto só por imaginar isso acontecendo. Nossos filhos crescendo juntos e
muito provavelmente nascendo na mesma época...
— Não. – Ju diz um pouco seca demais. – Quer dizer, nós queremos,
sim, ter filhos. Mas isso se enquadra ao menos na parte do meu escritório
inaugurado.
— Julie finalmente aceitou morar comigo. – Felipe diz, poupando mais
especulações. – Ela enrolou para me dar uma resposta praticamente desde que
a pedi em casamento e ficou indo e voltando de São Paulo essas semanas
todas.
— Preciso ver meus pais, né amor? – defende-se. – Mas sim, esta era a
notícia. Pouco a pouco vou vir trazendo minhas coisas pra cá e semana
passada estive procurando um bom lugar para poder abrir meu escritório de
Arquitetura. Michele foi comigo e me ajudou a ver vários possíveis lugares
para compra.
— Estou tão feliz por vocês! – falo, abraçando meus dois amigos de
uma só vez. – E por favor, marquem o casamento logo! – digo e eles riem.
— Mulher, se quiser nós nos casamos de novo. – Andrew diz,
abraçando-me por trás e sinto sua leve excitação contra minha bunda. Para
provoca-lo, mexo meu quadril de encontro ao seu, acomodando-me junto a
ele. – Não faz isso, Anjo. – sussurra em meu ouvido e beija meu ombro.
— Onde estão nossos pequenos? – pergunto, tentando disfarçar o
momento.
Ao que pergunto, ouço o trinco da porta atrás de nós ser aberto e vejo
Michele acompanhada dos avós de Andrew e meus dois amorzinhos. E assim
que eles nos veem, jogam-se para vir com a mamãe e o papai antes de sermos
tomados por abraços cheios de saudades e que me fazem querer ir para São
Paulo visitar minha família logo.
Terça-feira, 13 de dezembro de 2016
Luara
assando pelo quartinho dos gêmeos na nossa casa, vejo que Andrew está
P sentado, olhando enquanto nossos pequenos dormem. E por algum
tempo fico apenas parada na porta, observando a cena que se passa.
Andrew está de costas para mim, encarando o berço. Ele tem um livro
em suas mãos, mas sei que sua atenção é de nossos filhos. E vê-lo ali em
silêncio me traz lembranças que não gosto de recordar. Momentos difíceis, de
um tempo que passamos há um ano.
— Está tudo bem? – pergunto após o que devem ser longos minutos.
Ao me ouvir, And olha assustado para mim.
— Oi! Esta sim.
— Tem certeza? – pergunto, aproximando-me dele e envolvo seu
pescoço em um abraço. – Você parecia concentrado.
— Apenas pensando. – responde, pousando um beijo em meu braço. –
E você? Tudo bem?
— Sim. Apenas querendo voltar pro Golden, onde não tenha mais
nenhuma Aragogue embaixo da nossa cama. – ele ri.
— Amanhã já poderemos voltar.
Concordo com um gesto, mesmo que ele não veja minha resposta. E
assim ficamos abraçados por algum tempo, apenas babando enquanto
Matthew e Alice descansam em seu soninho da tarde, que evita que fiquem
mau humorados pelo restante do dia.
— Vou tomar um banho. – informo. Andrew me olha com ar divertido.
— Está me convidando para acompanhá-la, Sra. Giardoni?
Sorrio, tentada a aceitar sua proposta que, embora seja tentadora, não é
tão apropriada para o momento. Sei que os pequenos logo vão acordar e isso
acabaria nos interrompendo. Além de que, é melhor que alguém tome conta
dos dois.
— Talvez mais tarde. – respondo, lutando contra todas minhas vontades
e desejos. – Eles já estão para acordar.
— Talvez eu os leve para ficar com minha avó depois que acordarem
então. – diz e acabo rindo. – Pode ir e tomar seu banho que fico aqui com eles
e tento não dormir.
Faço que sim com a cabeça e pouso um beijo em seus cabelos antes de
seguir para o nosso quarto, para um banho morno, porque é o que mais
preciso nesse instante.
No chuveiro e na temperatura perfeita, aproveito a água para afastar
toda canseira que sinto. Em minha mão, vejo o brilho do diamante refletido
nas duas alianças que uso e a ergo, admirando-as. O sorriso em meu rosto é
bobo, porque é assim que me sinto desde aquele Sim.
∞∞∞
Andrew
∞∞∞
Luara
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Andrew
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Julie
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Andrew
Uma forte chuva cai quando finalmente entro com a moto no quintal da
minha casa e a estaciono perto do portão, sentindo-me o homem mais
desgraçado desse planeta. Já passa das dez horas, mas não tenho vontade
alguma de entrar, então fico sentado na moto por algum tempo a mais,
tentando entender tudo o que aconteceu nas últimas horas.
Quem quereria fazer mal a um bebê?
A pergunta tem me perseguido há horas e foi por este motivo que
precisei sair. Precisei ir pessoalmente até a delegacia para saber se era
verdade sobre a fuga de Bruno e tudo foi confirmado. Aquele desgraçado...
— Porra!
Tiro o capacete e inspiro fundo, permitindo que a chuva caia em meu
rosto até que ouço o som da porta ao ser aberta. Vejo Julie parada e
preocupada, ainda que demonstre certo alívio por me ver bem. Por me ver
inteiro, na verdade.
Desço da moto, caminhando até a entrada da casa. Meu coração dói de
maneira que nunca achei ser possível e minha vontade é de continuar rodando
por essa cidade até encontrar meu filho.
— Onde ela está? – pergunto, parando diante de Julie.
— Lá dentro. – sussurra. – Ela precisa de você, Andrew.
Apenas concordo, passando direto por ela.
Na sala, vejo Luara sentada no sofá, entre Felipe e Michele, que
parecem conversar com ela, que apenas chora.
Dói ver meu anjo nessa situação. Dói vê-la mais do que apenas ferida,
com o curativo no braço. E ver seu braço enfaixado por conta do corte que
fizeram faz minhas pernas bambearem.
Eu podia tê-la perdido também.
Lu ergue o olhar, finalmente notando minha presença e mordo o lábio
inferior quando nossos olhares se cruzam. Ela se desvencilha das mãos que
seguram as suas e vem até mim, envolvendo-me em um abraço forte, na qual
correspondo da mesma maneira.
— Me desculpa. – sussurra. – Eu não consegui... – sua voz embarga,
então a aperto forte em meus braços, tomando o cuidado de não tocar seu
machucado e ferir minha menina ainda mais. – Ele chegou dizendo que eu
estava perdida, oferecendo ajuda. Eu devia ter gritado. Corrido para longe
dele...
— Nós vamos encontrá-lo, meu anjo. – digo, acariciando seus cabelos.
– Não me importa o que eu tenha que fazer para ter nosso filho de volta
conosco.
— Eu tentei, And. Eu devia ter corrido mais rápido. Ter ficado e
esperado para sairmos juntos. Qualquer coisa.
— Você fez o que qualquer mãe faria, meu amor. – sussurro e ela
afunda o rosto em meu peito, apertando-me forte. – Eles estavam armados e
podiam tê-lo machucado.
Luara soluça em meus braços até que não tenha mais lágrimas para
colocar para fora. Sei que sua dor não diminui e não gosto de vê-la assim.
Sinto-me fraco, inútil. Fui incapaz de proteger a ela e nosso filho. De mantê-
los em segurança e protegê-los, assim como havia lhe prometido.
— Nós estaremos juntos logo. – beijo o alto de sua cabeça. – Entendeu?
– ela assente.
Julie aparece atrás de Luara, com Alice em seus braços. E ver minha
filha faz com que minha raiva aumente.
— Estou molhando você toda. – falo, tentando afastar para longe meus
demônios.
— Está doendo muito, And. Eu preciso saber que nosso menino esta
bem. Preciso dele comigo e ele precisa de nós.
— E estará, Anjo. – envolvo-a em meus braços ainda mais forte,
sabendo que desta vez sou incapaz de conseguir amenizar sua dor. – Eu te fiz
uma promessa e não vou descansar até que nossa família esteja junta e em
segurança novamente. Até que nosso menino esteja conosco.
Cada palavra que digo é proferida mais para mim mesmo. Luara
concorda, mas afasta-se o suficiente para que possa vê-la melhor. Seu rosto
está inchado e seus olhos estão vermelhos. Olho para Alice, que não para de
chorar no colo da madrinha.
— Você precisa de um banho quente. Entendeu? Coloque uma roupa
seca e quente.
— Eu te ajudo. Vem. – Julie se oferece para ajudar a amiga, estendendo
a mão para segurar a de Luara e as duas saem juntas, sumindo pelo corredor.
Passo as mãos por meus cabelos molhados, tirando-o do rosto e me
permito escorregar para o chão. Felipe e sua mãe me encaram, sem saber o
que dizer.
— Eu quero o desgraçado que fez isso atrás das grades, Felipe. – digo
encarando-o. – E torça para que a polícia o encontre antes de mim, porque se
eu o fizer, vou matar o desgraçado.
— Eu vou te ajudar no que for preciso. – ele responde.
Afundo o rosto em minhas mãos, tentando não pensar em toda essa
merda que aconteceu. Devia ter ficado na Espanha com Luara ao invés de ter
voltado para essa merda de cidade.
— Eu consegui descobrir um nome. – Michele diz pela primeira vez
desde que cheguei. – Amanhã no primeiro horário vou atrás para saber de
quem se trata.
— Qual nome? – Felipe pergunta. – Posso ver no tribunal. A menor
pista que tivermos ira nos ajudar a começar de algum lugar.
— Batata. – ela responde e olho para eles, na esperança de que isso
signifique algo. – Tenho certeza de que Ramon poderá nos ajudar a descobrir
quem é. Nós vamos trabalhar para trazer seu filho de volta, Andrew.
Quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
Andrew
ogo que Felipe e sua mãe foram embora, segui minha própria
L recomendação e fui tomar um banho morno, para poder tirar a roupa
molhada do corpo e me aquecer um pouco. Quando passei pelo
quartinho dos meus pequenos, pude ver meu anjo sentado no Puff,
amamentando nossa princesa. Ela sussurrava algo para a filha, que não
consegui entender. Por algum tempo eu fiquei lá na porta apenas observando
as duas e nem sequer fui notado. E se percebeu, fez que não.
Depois disto devo ter passado algum tempo trancado no escritório,
vendo e revendo as imagens da câmera de segurança da casa, onde pude ver
perfeitamente toda a merda que aconteceu horas atrás. E claro que mandei
tudo para Michele, minha nova advogada, para que ela providencie tudo o
que for necessário. Porque... Eu só consigo pensar no meu filho e para onde e
quem o levou.
De banho tomado, visto uma bermuda e camisa que costumo usar para
dormir e saio atrás de Luara, mas sou interrompido quando meu celular toca,
mostrando o nome e o rosto da minha mãe no visor.
— Oi. – sussurro, apoiando-me a parede da cozinha.
— Filho, me diz que isto é mentira. Que o que está na internet não é
verdade. Por favor. – seu pedido é como uma súplica e faz com que meu
coração se aperte ainda mais. Não consigo dizer uma única palavra a respeito.
– Nosso menino está aí. Não está?
— Não, mãe.
— Oh, meu querido! – exclama e percebo que sua voz embarga no
mesmo instante. – Eu sinto tanto que isso tenha acontecido com vocês!
Um suspiro cansado me escapa e vejo que já passa da meia-noite.
— Nós vamos encontrá-lo logo, mãe. – falo. – Já estou com um
detetive trabalhando nisso e Michele também vai ajudar. Não me importa o
que tenha que fazer para encontrar meu filho e tê-lo de volta conosco.
Passo a mão pelo rosto, tentando aliviar a dor de cabeça que sinto e
acabo sendo distraído por um soluço que vem do quarto, tirando totalmente
minha atenção do que minha mãe diz.
— Preciso desligar, mãe. Tenho que ficar com a Lu. Ligo pra senhora
amanhã.
— Fique com ela, meu filho. Ela precisa muito de você agora. – ouço
minha mãe fungar e meu pai dizer algo ao fundo. – Vitor e eu iremos ao
Brasil amanhã mesmo. Seu pai conhece alguém que pode ajudar.
— Obrigado. – e desligo.
Preparo um chá, que coloco junto de alguns biscoitos para poder levar
para o meu anjo no quarto, na esperança de que isso possa ao menos ajudá-la
a dormir esta noite.
— Toc - toc. – anuncio minha presença. Luara nem mesmo se mexe. –
Anjo. – chamo, vendo que está deitada toda encolhida no seu canto, virada
para a porta do nosso Closet. O curativo em seu braço já não está mais ali. –
Trouxe chá e biscoitos para você. – tento, colocando a bandeja no criado-
mudo, sentando-me na cama ao seu lado.
Sem respostas.
— Você precisa comer, amor. – sussurro, tirando o cabelo de seu rosto.
– Precisa ser forte para quando o encontrarmos e para proteger nossa
menina.
Enquanto digo estas palavras, passo minha mão por seu cabelo
repetidas vezes, até que Luara a segura, levando até peito, onde a aperta forte
entre suas duas mãos, mostrando-me o quão frágil e vulnerável está diante
desta situação toda. Mais uma vez, sinto-me um completo inútil por não ter
conseguido proteger nosso filho e a ela, por não ter conseguido trazer nosso
menino para casa hoje mesmo e por não conseguir aliviar sua dor desta vez.
— Ao menos um biscoito, Anjo. – insisto. – Por favor.
Com a mão livre, passo por seu rosto, secando suas lágrimas.
— Não me faça ter que colocar em uma tigela com leite e te dar na
boca. – tento descontrair e isso me permite ouvir sua risada embargada pelas
lágrimas. – Ou será que você quer bolacha com leite? – tento a sua maneira.
— Estou sem fome alguma. – responde baixinho, apertando minha
mão contra seu peito, permitindo que eu sinta seu coração, que está igual ao
meu. Destruído. – Não consigo pensar em comida, sem saber como nosso
pequeno está. Nem onde. Não é certo, And. Ele tinha que estar aqui, com o
pai e a mãe dele. Com a irmã. Por que alguém faria isso com um bebê?
— Mas você precisa estar forte para quando ele voltar, querida. – passo
a mão por seu rosto e pareço finalmente ter conquistado sua atenção. – Ele
vai precisar de você forte e não vai demorar. Vou mover céus e terras para
que isso aconteça.
— Você quase nunca me chama assim. – diz com o cenho franzido.
— Como?
— Querida.
— É porque você é minha querida e eu quero você bem. – respondo. –
Por favor, ao menos um biscoito e um pouco do chá.
Com um suspiro cansado, Luara senta em nossa cama.
— Meu coração se parte em mil pedaços quando vejo você assim. –
comento, secando uma lágrima solitária em seu rosto quando pega a xícara
com chá.
— Desculpa.
Observo enquanto Luara toma do chá, deixando os biscoitos para trás.
E por mais que minha vontade seja fazê-la comer cada um deles, não consigo.
Eu mesmo não consegui nem mesmo passar perto de colocar qualquer coisa
na boca. Mas ela precisa. Tanto para ficar forte e poder amamentar Alice e
Matthew quando o encontrarmos, como também pelo nosso Caçulinha.
— Amanhã eu tento comer, mas hoje não da. É tudo recente e dói
muito. Muito mais do que quando nós terminamos ou qualquer outra coisa.
— Tudo bem. – Respondo e reabro os olhos que havia fechado. – Eu já
venho. – digo logo que termina o chá e vou levar as coisas de volta para a
cozinha.
Quando retorno, Luara está deitada e encolhida debaixo do edredom.
— Chega pra lá. – peço e ela me olha sem entender. – Se você vai
passar a noite chorando, quero que faça isso na minha frente, não de costas
para mim. – explico. – E já que seu braço está machucado, você dorme no
meu lado.
Um tanto relutante, Luara se afasta até meu lado da cama e tiro a
camisa, entrando debaixo do cobertor com ela e a puxo para mais perto,
repousando minha mão em seu quadril.
— Dói? – pergunto, referindo-me ao seu braço. Ela nega.
— Doeu mais quando senti cortando. – responde com os olhos
fechados. – Eu preferia que tivessem levado a mim ao invés dele. Assim eu
saberia que você cuidaria dos nossos pequenos.
— Eu morri um milhão de vezes quando vi o que aconteceu, Anjo. Eu
preferiria que nenhum de vocês três fossem tirados de perto de mim, de onde
posso protegê-los.
Lu fecha os olhos conforme mexo em seus cabelos e contorno seu
rosto. Ela parece sonolenta, embora lute contra isto.
— Queria ter conseguido provar que minha promessa de proteger nossa
família era de verdade. Mas fracassei.
Pouso um beijo em sua testa e ficamos assim por algum tempo. Meus
olhos queimam com lágrimas que não permito escapar, pois tenho que ser
forte por nós dois. Porque a culpa que sinto por isso ter acontecido é enorme.
— Isso aconteceu por culpa minha. Eu não tinha nada que ter saído
sem você.
— Nós vamos trazer ele de volta. – é tudo o que consigo dizer sobre
este assunto. Não acho que discutirmos quem teve mais culpa nisso vá trazer
nosso filho de volta. Mas sim agir.
Passo a mão por seu braço, parando próximo ao corte. Ele pegou bem
no meio de seu braço, de fora a fora. O desgraçado que fez isso com ela
estava realmente disposto a machucá-la e talvez eu deva agradecer a Deus por
não ter sido pior.
Fecho os olhos e uma respiração pesada me escapa.
— O que foi? – pergunta e reabro os olhos ao sentir sua mão em meu
rosto.
— Quantos pontos?
— Não lembro. – ela responde. – Vinte ou trinta. A Ju é quem sabe. Eu
estava grogue pela pancada na cabeça.
Ao ouvir suas palavras, mais raiva sinto.
— Cortou? – pergunto, tentando me acalmar. Ela nega.
— Só um galo dolorido.
— Durma. – sussurro quando fecha os olhos, beijando sua testa e a
aperto contra meu corpo.
Quando eu encontrar esse desgraçado, vou acabar com a raça dele.
Vou mostrar que dessa vez mexeu com a pessoa errada, porra!
*
Acordo por volta das três da manhã ao ouvir um resmungo que vem da
babá eletrônica e ouço a chuva batendo contra a janela bem mais forte do que
quando dormi.
Levanto e vou até o quarto ao lado apenas para ver que minha princesa
está dormindo agarrada ao ursinho do Matt. Talvez seja até isso que a esteja
ajudando.
— Eu vou trazer ele de volta para você, minha princesa. – sussurro,
tocando sua bochechinha e seus cabelinhos.
Ver o lugar de Matthew vazio faz com que toda aquela dor volta com
uma força enorme, assim como a raiva que sinto dentro de mim.
Meu corpo estremece com a ideia do que pode acontecer com meu filho
e preciso me sentar para evitar que minhas pernas me derrubem. Não posso
ficar com essas ideias ou acabo ficando louco sem notícias dele.
— Isso não vai acontecer.
Uma luz ilumina todo o quarto e conto apenas até três antes que o
trovão chegue aos meus ouvidos, seguido de um grito que me faz correr para
fora do quarto no mesmo instante.
Luara.
Corro até nosso quarto e a encontro sentada no meio da cama, abraçada
ao travesseiro e em completo pânico.
— Anjo? – chamo preocupado, sentando ao seu lado.
— Ah, And! – murmura, atirando-se ao meu pescoço, chorando. – Por
que alguém quer fazer mal a um bebezinho como ele? Por que tirar uma
criança dos pais assim?
— Nós vamos encontrá-lo. Seja lá quem estiver por trás disso, ele quer
dinheiro. Logo teremos contato desse infeliz.
— Eu acordei e você não estava aqui. Eu fiquei pensando nisso tudo.
— Eu estou aqui. – sussurro, acariciando seus cabelos. – Estava com a
Li.
— Você acha que foi mesmo ele? Bruno?
— Não acredito nesse tipo de coincidência. Ele fugir e logo em seguida
isso... Ele não está sozinho.
— Se for ele...
— Eu vou acabar com a raça daquele desgraçado.
∞∞∞
Luara
Com certo custo e insistência, Andrew conseguiu me fazer comer uma
fatia de pão, que praticamente desceu embolando na garganta. Fiz apenas
para que ele não ficasse no meu pé, porque não tenho fome alguma. Tudo o
que consigo é pensar onde meu filho esta e quem o levou.
O rosto daquele homem na praia me persegue para onde quer que eu vá.
Inclusive em meus sonhos, enquanto rondava minha cabeça junto de suas
palavras e eu revivia aquele pesadelo. E eu senti por várias vezes a lâmina
daquela faca cortar meu braço. Eu gritava para que o deixassem. Para que
levassem a mim ao invés do meu filho.
— Tudo bem? – And pergunta, trazendo-me de volta para o carro a
caminho do nosso apartamento.
— Eu não sei. – respondo a verdade. – Tudo isso dói muito e não sei
como agir. Se você estiver certo, se Bruno realmente estiver por trás disso...
Eu não entendo porque ele continua atrás de nós, nos perseguindo e nos
perturbando.
— Talvez você não goste, mas teremos companhia a partir de hoje. –
diz e franzo o cenho sem entender exatamente o que quer dizer.
— Como assim?
Andrew não responde até que pare em um semáforo fechado, já
próximo ao condomínio.
— Quero dizer que você não sai de casa sem um segurança. – diz,
segurando minha mão. – Eu vacilei e muito com a segurança de vocês,
porque estou acostumado a estar sozinho e “foda-se o que vão fazer comigo”,
porque sei me virar. Só que com vocês é diferente. Você é escorregadia e
escapa da minha visão muitas vezes. Eu preciso saber que você e Alice
estarão em segurança.
Por algum tempo, fico em silêncio, apenas pensando o que isso vai
significar para mim. Ter um guarda-costas me acompanhando onde quer que
eu vá. Isso é estranho. Mas... Muita dor e sofrimento poderia ter sido evitada.
— Já falei com Tiago mais cedo e ele vai ver para mim os melhores.
— Tudo bem. – digo um pouco confusa e Andrew me olha surpreso. –
Quer dizer, não estou acostumada a isso, mas não posso continuar colocando
nossos filhos em risco. Se algo acontecer a Alice por culpa minha também,
não sei o que acontece comigo.
— Achei que essa conversa fosse ser mais difícil.
— Por que? – pergunto curiosa e ele segura minha mão, beijando onde
minhas alianças estão.
— Porque você é independente.
— Andrew. – ele diz ao telefone logo que entramos em nosso
apartamento e saio na frente com Alice em meu colo.
— Estamos em casa, meu amor. – digo a Li, colocando sua bolsa sobre
a mesa. – E está tão silenciosa e estranha.
— Conseguiram prender? – olho para And, na esperança de que esta
sua pergunta signifique boas notícias. – Não. Sem problemas. Vou com você
até a delegacia. Obrigado. – e então desliga.
— E então? – pergunto, sentindo que meu coração está a um passo de
saltar para fora do peito.
— Conseguiram prender o Júlio. – diz e franzo o cenho, tentando ligar
o nome a algum rosto e não obtenho sucesso algum. – O desgraçado que te
abordou na praia e atacou você.
Meu queixo cai e preciso sentar, porque de repente estou tremula.
— Encontraram ele? – torno a perguntar e aperto minha filha em meus
braços. Meus olhos queimam com as lágrimas.
— Infelizmente não. – diz e sinto meu mundo ruir. – Estão pegando o
depoimento dele. Vou com Michele até a delegacia.
— E quanto aos telefones que encontraram?
— Pedro está trabalhando para rastrear e ver se encontra alguma
ligação que tenham feito que possa nos ajudar. – responde. – Estão todos
trabalhando para encontrar qualquer pista que nos leve a esse tal Batata.
Felipe ficou de ligar a qualquer notícia que tiver.
— Espero que seja boa desta vez. – sussurro.
— Sim. – And concorda, pousando um beijo em minha testa e outro na
filha. – Preciso me trocar. Julie vai vir ficar com você.
— Tudo bem.
Assim que Andrew sai, meu celular toca com uma mensagem e o pego
para ver, na esperança de que seja alguma notícia do meu filho. Julie.
Oi amor.
Como vc está?
Digito uma resposta curta:
Acho que nós duas sabemos.
Sua resposta é rápida.
∞∞∞
Andrew
Oi, amor.
Sei o quanto você os ama, então pensei que talvez queira coloca-los junto a
sua antiga coleção. Mas acho que você deve trazer aqueles para nossa casa.
Eu os amei, assim como amo você. Espero que goste.
Amo você.
Amo a cor dos seus olhos.
Amo seu sorriso.
Amo tudo em você.
Sempre sua,
L.
— Eu também amo você, Anjo. – sussurro a resposta com um sorriso de
lado.
Coloco seu cartão de volta no envelope e pego a caixa para ver o que
tem dentro, sentindo uma curiosidade enorme.
Dentro da caixa estão várias miniaturas de todos os carros que tenho na
mansão, o que usei com Luara enquanto estivemos em Nova Iorque, meu
Civic e até mesmo os dois que nos presenteei.
— Parece que você encontrou seu presente de casamento. – ouço sua
voz vinda da porta e olho para trás.
— Só você mesma para fazer isto. – digo e ela sorri, sentando ao meu
lado. – Como você encontrou estes?
Ela dá de ombros.
— Tenho alguns contatos.
— É lindo. Obrigado.
Pela primeira vez durante todo o dia, eu a vejo dar um sorriso de
verdade e meu coração bate acelerado. Apaixonado.
— Eu amo você, Luara. – sussurro. – O castanho de seus olhos, que as
vezes parecem orbes negras. Seu sorriso. Cada parte sua.
— Eu sei. – ela diz em resposta e me beija. Alice se coloca entre nós
dois e beijo sua testa.
Preciso trazer Matthew de volta para casa e logo. Sinto falta do nosso
filho aqui conosco.
Sexta-feira, 16 de dezembro de 2016
Andrew
staciono meu Bugatti em minha vaga na BIT e saio do carro. Tenho uma
E breve reunião com João hoje apenas para decidirmos alguns assuntos
que ficaram pendentes e que precisam ser resolvidos ainda este ano.
A caminho do prédio, observo os poucos carros que ainda estão aqui,
apenas encerrando o último dia de expediente do ano. Finalizando a última
demanda contratada.
— Andrew. – digo ao atender meu celular.
— Sr. Andrew, Detetive Ramon. – apresenta-se. – Trago notícias boas
e ruins ao senhor.
As palavras do detetive fazem com que um calafrio percorra toda minha
espinha e tento agarrar-me a esperança de sua boa notícia.
— E quais são?
— A boa é que recebemos uma ligação anônima de alguém próximo ao
bairro da Penha, dizendo que viram Júlio em uma farmácia.
— Júlio já está preso. – eu o lembro para que saiba que está informação
já não é tão atualizada quanto imagina.
Paro de frente ao prédio e por algum tempo fico apenas olhando para os
vários jornalistas que estão na portaria, tentando chamar minha atenção para
eles.
— Sim, senhor. – Detetive Ramon diz. – Mas antes não tínhamos um
ponto de partida ou qualquer pista que pudesse nos levar ao seu filho.
Infelizmente a ligação caiu, mas Rodrigo e Pedro já estão trabalhando nisso.
— Já é algo. – digo. – E qual seria a má notícia?
— Júlio se recusa a colaborar com qualquer coisa que possa nos
ajudar...
— Então agilize isso o quanto antes. – eu o interrompo, sentindo-me de
repente irritado. – Apenas me ligue quando tiver algo realmente relevante,
Detetive. Quero resultados, não pistas. Estou pagando o senhor para isto. A
menos que seja para me dizer que encontraram meu filho, trate deste assunto
com a Dra. Mazzon.
— Sim, senhor.
— Algo mais?
— Não, senhor.
— Ótimo. – e desligo, já entrando e ignorando as vozes que me
chamam ao longe, na portaria.
— Senhor Giardoni! – Daiane exclama um pouco surpresa ao me ver.
— Quero que tire todas estas pessoas da frente da minha empresa
imediatamente. – falo. – Chame os seguranças e mandem que os tirem de lá
agora.
— Sim, senhor.
— Quem é ela? – pergunto, notando a presença de uma garota ao seu
lado.
— Está é Silvia, a nova estagiária. – Daiane apresenta a garota. – Ela
vai ficar aqui comigo por algum tempo.
— Você tem cinco minutos para fazer o que mandei. Não quero ver
ninguém rondando este prédio atrás de fofocas.
Retomo minha caminhada, parando apenas ao chegar no elevador.
*
Assim como fez Daiane, Ana também fica surpresa ao me ver aqui.
— Bom dia, senhor. – cumprimenta-me.
— João já chegou?
— Ligou pedindo para avisar que chegara às dez em ponto. – responde
e vejo no relógio em meu pulso que ainda são nove horas. Estou bem
adiantado.
— Qualquer pessoa que ligar atrás de mim, diga que não estou. Nem
mesmo minha mãe.
— E quanto a Sra. Giardoni? – pergunta, aparentando preocupação.
— Ela me ligara diretamente.
— Tudo bem. – responde com um sorriso gentil. – Algo mais?
— Sim. Vá para casa. A empresa já encerrou o expediente e você
também. – digo, dando-lhe as costas e ouço sua risada nervosa atrás de mim.
Logo que entro em minha sala, sinto o vazio tomar conta de mim. A
sensação de que falta alguém aqui comigo, mesmo que eu sempre tenha
estado sozinho neste lugar.
Matthew.
O nome do meu filho vem solto em meus pensamentos e pego o celular,
ansioso para que tenha um e-mail que seja com qualquer notícia sua e vejo
uma mensagem de Luara.
— Com licença. – A voz de Ana tira minha atenção do celular. –
Trouxe água e suco para o senhor.
— Obrigado. – agradeço com um sorriso educado, observando-a servir
dois copos e colocá-los em minha mesa.
— Está tudo bem? – pergunta visivelmente preocupada.— Está tudo
uma merda e desmoronando. – respondo.
— Vocês vão encontrá-lo logo, Andrew. Tenha fé em Deus que isto
acontece antes que vocês imaginem. – diz. – Estou rezando para que isso
aconteça logo. Aquele menino é uma benção em nossas vidas.
— Obrigado. – digo um pouco sem jeito e ela sorri.
Outra vez sozinho, aproveito o tempo livre para checar meus e-mails do
trabalho, que em sua maioria não passa de mensagens de empresários
mandando forças, jornais pedindo por uma palavra minha e de Luara e mais
nada importante.
— O que é isso? – franzo o cenho ao notar um assunto que chama
minha atenção. Abro o e-mail que está com o nome completo do meu filho e
começo a ler.
Leio e releio o e-mail algumas vezes, para só então me dar conta do que
estas palavras significam.
Abro os dois arquivos em anexo, vendo um endereço na Penha e um
vídeo do meu filho.
Puta merda!
∞∞∞
Luara
∞∞∞
Andrew
— Aonde você vai? – Felipe pergunta quando quase esbarro com ele a
caminho do meu carro.
— Recebi um e-mail. – falo, chamando sua atenção para o que tenho a
dizer. – Um vídeo e um endereço.
— Você falou com alguém?
— Eu só preciso ter certeza de que quem quer que tenha me mandado
isso, realmente esteja falando sério sobre saber onde Matthew está.
— Tá. Eu vou com você. – diz. – A caminho de lá ligo pro detetive e
também peço para que Rodrigo tente rastrear o IP do e-mail.
Apenas concordo e terminamos de chegar até nossos carros em
silêncio.
Meu celular toca pela segunda vez assim que entro no carro e atendo
Luara pelo sistema do carro.
— And. – sua voz chega até mim como um sussurro e a sensação é de
que ela sabe exatamente para onde estou indo.
— Anjo. – digo assim que saio com meu carro. – Recebi um e-mail.
Não é muito, mas é uma pista. E é tudo o que tenho.
— Você está sozinho? – pergunta e olho pelo retrovisor, para Felipe
que segue logo atrás de mim.
— Felipe esta junto. – respondo para tranquilizá-la. – Eu vou levar
nosso filho de volta pra casa, meu Anjo. Eu prometo.
— Volta para mim são e salvo. – ela pede em um fio de voz. – Vocês
dois. Por favor.
— Nós iremos.
Por algum tempo, dirijo com Luara na linha comigo em silêncio e a
sensação que tenho é a de que está ao meu lado. A sensação é reconfortante e
afasta para longe o medo que sinto.
— Amo você. – sua voz suave chega até mim, tranquilizando-me.
∞∞∞
Luara
∞∞∞
Andrew
∞∞∞
Luara
∞∞∞
Andrew
∞∞∞
Luara
Já tem um bom tempo desde a última vez que tive notícias de Andrew.
Tempo demais para o meu gosto e depois de várias tentativas, seu celular
começou a ir direto para a caixa postal. Felipe também não atende e Tiago,
um dos nossos novos seguranças, também não consegue falar com eles.
Deus, não deixe que nada tenha acontecido a eles. Por favor.
Sento-me no sofá, mais uma vez fazendo uma oração silenciosa.
Julie está na cozinha, preparando chá para me acalmar, segundo ela. Eu
ainda não entendo porque eles insistem que isso me ajuda, porque não ajuda
em nada! Mas não digo nada disso a ninguém, é claro.
Isto não pode estar acontecendo. Por que ele não me liga dizendo que
está tudo bem? Que está vindo para casa?
Por algum tempo, apenas ouço o barulho do silêncio. Tudo dentro de
mim dói de maneira cruel e intensa. Principalmente meu coração.
— Eles estão bem, Tata. – ouço a voz suave da minha irmã ao meu
lado e sinto suas mãos em meus ombros, mas não me movo. – Vai ver apenas
acabou a bateria do celular dele.
— De todos eles. É o que você quer dizer, né? – pergunto ainda sem
olhar para minha irmã.
Por que isto? Por que logo nós?
Bufando, levanto e vejo em meu celular que já são quatro da tarde. Há
aproximadamente seis horas que não tenho notícias de Andrew e isto, está,
me matando!
— AAAAAAAAAAAAAAH!!! – exclamo o mais alto que consigo
quando a ligação cai direto na caixa postal em minha sei lá quantagéssima
tentativa. Julie entra correndo na sala, preocupada. – Por que ele não atende a
droga do celular?!
Ninguém me responde, é claro. Não há o que ser dito. Mas eu sinto.
Deus, como eu sinto! E sinto de maneira que é impossível de ser descrita. Ela
apenas é sentida, cruel e dolorosamente. Meu coração se parte ainda mais a
cada segundo que se passa e não tenho notícias do meu marido e do meu
filho.
Permito meu corpo escorregar para o chão, encostada a parede e afundo
o rosto entre minhas pernas e braços, em posição fetal. As lágrimas queimam
minha visão.
Onde ele está?
— Senhora Luara? – a voz grave de Tiago chega aos meus ouvidos e
levanto o olhar para ele e aguardo. – Consegui falar com o Dr. Felipe. Eles
estão a caminho. – informa. – Dentro de poucos minutos chegarão.
Concordo com a cabeça, voltando a me encolher. Isto já é algo.
— Eles o encontraram? – minha mãe pergunta em um fio de voz e
fecho os olhos, já sabendo qual será a resposta.
— Sinto muito.
Meu corpo estremece em um calafrio e me sinto desmoronar. Não
consigo mais continuar sendo forte sem saber onde meu menino está e se ele
está bem.
*
Esquerda. Direita. Esquerda. Direita. Esquerda.
Já contei cada mínimo item nesta sala e perdi as contas de quantas
vezes andei por aqui hoje. Começo até mesmo a sentir o piso afundar sobre
meus pés. Julie me olha enjoada, mas não diz nada. Minha mãe foi com
Camile para o quarto, ficar com Alice.
Por que eles estão demorando tanto?!
Como se respondessem minha pergunta, a porta do elevador se abre e
vejo Andrew coberto de sangue. Suas mãos, seu rosto. Sangue dele! Fico
imóvel no mesmo lugar. Seu olho esquerdo está roxo.
Os únicos no elevador são Andrew e Felipe. Ninguém mais. Sem meu
filho. Sem meu menino. Ainda sem saber para onde ele foi levado e sem
saber como meu pequeno príncipe está.
Meus olhos se enchem com as lágrimas que tenho evitado.
Andrew é o primeiro a sair. Ele anda aos tropeços e parece irritado.
Irritado consigo mesmo.
Sem pensar, como até ele, atirando-me em seu pescoço. Pela primeira
vez desde que o conheço, Andrew me envolve em seus braços não de
maneira protetora, mas sim como quem pede por proteção. Quem pede colo.
— Me desculpa. – ele pede, afundando o rosto em meu pescoço. – Eu
cheguei tarde demais. Eles já tinham o levado.
— Nós vamos encontrá-lo, And. – sussurro, afagando seus cabelos. –
Por favor, não foi culpa sua. Graças a Deus não foi uma armadilha e que
vocês estão bem.
— É minha culpa, sim. – diz e percebo sua voz embargar. Ah, meu
amor! Meu anjo protetor! Não fique assim. – Eu te fiz uma promessa e
fracassei miseravelmente. É minha culpa por você estar envolvida nessa
bagunça que é minha vida.
Eu me afasto poucos centímetros, envolvendo seu rosto em minhas
mãos, tomando todo cuidado para não o machucar ainda mais.
— Você não me envolveu em bagunça alguma, meu amor. – sussurro. –
Eu escolhi estar com você, querido. – Andrew fecha os olhos ao som de
minhas palavras, então acaricio sua bochecha, onde tem uma mancha de
sangue seco. – Deixe-me cuidar de você. Deixe-me cuidar dos seus
machucados.
Fecho os olhos, permitindo que uma lágrima solitária escorra por meu
rosto e eu o puxo de volta para mim, abraçando-o forte e ele geme de dor
quando toco seu corpo.
— Vou precisar chamar um médico para você? – pergunto baixinho
em seu ouvido e ele nega.
— Não vou dizer que estou bem, mas não quero ninguém além de você
comigo. – sua resposta é rouca e embargada. Seus olhos estão brilhantes e
vejo lágrimas neles.
Meu coração se estilhaça em mil pedaços ao ver meu Andrew
chorando.
∞∞∞
Andrew
∞∞∞
Andrew
Julie e Felipe foram embora perto das onze horas, depois te termos
conversado tudo o que precisávamos sobre o que aconteceu naquele barracão
e sobre a ligação de Elena, que finalmente deu seu valor para devolver meu
filho. E amanhã no primeiro horário ligarei para o meu gerente e
providenciarei a quantia que ela quer.
— Está com dor? – meu anjo pergunta assim que entra no quarto.
— Não. Não exatamente.
— Então o que é? – torna a perguntar, sentando-se sobre minhas
pernas.
— Quero saber como ele está. – respondo. – Saber que cheguei tarde...
Isso faz com que eu desanime de mim mesmo. Eu esperava ser um pai
melhor para eles. Você esperava que eu fosse um pai melhor. – digo as
palavras, cobrindo o rosto com o braço. Não sou capaz de olhá-la nos olhos
sem sentir que não passo de um grande merda. – Claro que eu seria um
fracassado como pai. O que fui a maior parte da minha vida?
Sinto as mãos de Luara forçando-me a tirar o braço do rosto e quando o
faço, vejo que me encara de cara fechada.
— Nunca mais diga isso, Andrew! – diz e percebo a irritação em sua
voz. – Sabe que isso não é verdade. Se não fosse por você ao meu lado, eu
teria desistido disso tudo por muitas vezes. Você sabe que essa não é a
verdade!
— Assim como eu também teria desistido se não fosse por você. –
sussurro em resposta. – Mas, tudo isso... Eu me sinto fraco e inútil. Deixei
que machucassem você e que levassem nosso filho para longe daqui.
— Matthew está sendo cuidado por alguém bem maior do que nós dois,
querido. – Luara responde, segurando minhas mãos.
— Você tem medo de mim? – pergunto, de repente lembrando o que
ouvi de sua conversa mais cedo. – Ouvi meio por cima, mas não entendi
direito.
— Não tenho medo de você. – responde. – Eu tenho medo de que você
faça algo errado quando seus olhos escurecem muito.
— Como assim? – pergunto sem entender.
— Eu te vi assim apenas duas vezes. – começa. – A primeira foi ano
passado, quando aconteceu tudo aquilo com Bruno. Seus olhos estavam
negros e tive medo que perdesse o controle de si mesmo.
— E qual foi a segunda?
— Quando discutiu com seu pai esta semana quando ele veio aqui. Eu
senti ainda mais medo. – responde. – E tenho certeza de que seus olhos
estavam assim hoje de novo.
Ao dizer estas últimas palavras, sinto sua voz estremecer e a vejo fechar
os olhos.
— Tenho medo do que você pode fazer se perder o controle de vez. –
sussurra.
— Então você não tem medo de mim? – pergunto, colocando seu
cabelo para trás de sua orelha e ela nega.
— Você é uma das pessoas que mais me passam segurança. – diz. – O
segundo passou a ser meu pai desde que conheci você.
Sorrio, feliz por saber que se sente assim a meu respeito. Por saber que
minha mulher ainda confia e acredita em mim.
— Fico feliz por saber isso.
Luara se acomoda melhor em meu colo e sento-me, puxando-a para
mais perto de mim.
— Gosto quando eles ficam nesse tom. – diz, tocando a mão em meu
rosto. – E gosto de você barbudão assim. – ela sorri.
— E como estão agora?
— Um cinza beeeeeem clarinho, com uma pequena tonalidade azul.
— Não sabia que meus olhos ficavam azuis. – digo e ela ri.
— Às vezes ficam. É raro, mas eu gosto. Você fica mais ainda lindo.
— É raro de você gostar? – pergunto, tentando descontrair.
— De acontecer, seu bobo. – responde, envolvendo suas mãos por meu
rosto e à seguro pelo quadril. Minha vontade é de beijá-la devagar e é o que
faço, porque seu beijo é a única coisa capaz de afastar meus demônios para
longe. – Está tudo bem? – pergunta quando apoio a testa na sua. – Não
precisa fazer isso se não quiser.
— Isso? – pergunto de volta, sem entender.
— Você sabe.
Franzo o cenho, confuso. Sexo?
— Eu quero. Só não esperava que você fosse me procurar.
— Se eu não procurar ao meu marido para fazermos amor, a quem vou
procurar? – pergunta e arqueio a sobrancelha.
— Espero de verdade que a ninguém. – respondo sério, fazendo-a rir.
— Eu só quero que você me faça esquecer por algum tempo toda essa
droga que está acontecendo conosco. – diz. – Só por alguns minutos, fazer de
conta que tudo está bem.
Por alguns instantes eu apenas encaro Luara, pensando no que acabou
de dizer. Mais uma vez ela segura meu rosto e me beija, tomando o cuidado
para não me machucar.
— Vamos trocar. – pede ao perceber meu desconforto quando me toca.
— Fica por cima você. – peço. – Acho que inverter vai ser pior.
— Amanhã você vai procurar um médico. – diz, descendo a mão por
meu peito e sobe de volta.
Sem presa e com todo cuidado, Lu me ajuda a tirar minha bermuda e
faço o mesmo com ela, tomando cuidado extremo ao passar a camisa por seu
braço machucado.
— Somos um casal fodido querendo se foder. – comento, jogando sua
blusa longe.
— Alguma coisa boa tem que acontecer entre nós. – ela ri e beija meu
pescoço, descendo pelo tórax e tomando todo cuidado para não me machucar.
— Como é bom sentir você de novo. – murmuro com a boca colada na
sua, beijando-a.
Luara apoia suas mãos em meu peito, movendo-se lentamente sobre
mim. E enquanto sinto minha garota assim, tão apertada e molhada apenas
para mim, tento ignorar a dor e o desconforto que sinto quando toca a lateral
do meu corpo onde me acertaram.
— And. – ela chama baixinho, deitando sobre meu peito e me beija. Eu
não a respondo, preferindo apenas sentir tudo o que temos a oferecer um ao
outro.
∞∞∞
Luara
Está foi de longe a primeira noite que consegui dormir direito em dias.
Que consegui não acordar a cada meia hora e nem ficar virando de um lado a
outro na cama. Por outro lado, sei que Andrew não dormiu nada. Notei isso
no rosto dele logo que acordei às seis da manhã para amamentar minha
pequena e o encontrei no quartinho dos nossos filhos, sentado e encarando o
berço. Suspeitei que ele já estivesse ali há boas horas.
E quando era por volta das sete horas, eu o ouvi ao telefone no
escritório, conversando com o gerente do banco, pedindo para que
disponibilizasse uma quantia exorbitante para que pudesse dar aquela megera
sequestradora de bebês indefesos. E quando escutei o valor, me senti com
raiva e com vontade de fazer algo a respeito disso. Não é justo que essa
sirigaita faça o que fez e ainda saia por cima de nós.
Eu não vou permitir que isso aconteça. Se eu conseguir acessar o e-
mail do And, consigo rastrear o IP no e-mail que mandaram para ele e ter
alguma pista.
O interfone toca e vou atender.
— Senhora Giardoni. – o porteiro diz e tento me recordar de quem este
é. Na certa um dos novos e que não recordo seu nome. – Seu marido pediu
para avisar que está aqui embaixo, aguardando a senhora.
Franzo o cenho.
Porque Andrew pediria para que interfonassem ao invés de subir? Ou
me ligar?
— Tudo bem. – digo. – Já estou descendo. – e desligo, pegando minha
bolsa para poder sair.
Ju passou daqui mais cedo com o Felipe para buscar a Li, para que ela
pudesse passar o dia com a vovó Lili e a tia Michele. Victório está com elas
também. O que me deixa com o coração tranquilo.
Assim que passo pela porta do Golden, a porta traseira de uma SUV
preta se abre e Andrew sai, vindo até mim.
— Carro novo? – pergunto, observando o carro atrás dele.
— Eu já tinha. – responde, dando-me um beijo leve na boca.
— Por que interfonou ao invés de me ligar? – pergunto intrigada com
isto. Ele apenas dá de ombros. – Tudo bem, então.
— Desculpa. – pede e o encaro por alguns instantes. – Pedi para que
Tiago avisasse que estávamos aqui embaixo. Você disse que queria ir junto
para conversar com o detetive.
Concordo com a cabeça, aceitando a mão que me oferece e entramos
juntos no carro e Tiago logo sai.
— Como foi no médico? – pergunto, apertando sua mão.
Depois de muito ter insistido, Andrew concordou em procurar um
médico para ver se não tinha fraturado nenhuma costela e nada mais
preocupante. E embora tenha concordado, não permitiu que eu o
acompanhasse. O que me deixou bastante chateada por não me permitir estar
ao seu lado quando mais precisava.
— Estou inteiro. Nenhum dano interno. – responde e reparo nos óculos
escuros que usa.
— A maquiagem saiu?
Sorrindo, ele ergue o Ray-ban para que possa ver seu rosto. Seus olhos
estão em um tom cinza claro, mas não mais com o tom azul, como estava
ontem à noite. Mas também não está escurecido e isso é um ótimo sinal. Seu
olho roxo também não tem mais aquela aparência horrível de cedo. A
maquiagem escondeu bem.
— Me pergunto como você é sem isso. – ele brinca.
— Como se já não soubesse. – respondo, olhando para fora do carro. –
Pode fazer uma parada para comprar algo? Estou faminta.
— Lanche?
— Não. Por favor, não. – digo, sentindo-me enjoada. – Só de pensar
meu estômago já embrulha. Já comi por toda uma vida.
— Pegue a próxima direita. – diz ao Tiago, que segue sua ordem.
*
Ouço com bastante atenção a conversa de Andrew com os dois
detetives, Felipe e Rodrigo, enquanto termino meu almoço.
Primeiro eles explicaram em detalhes tudo o que aconteceu quando
levaram meu menino. Depois partiram para o que descobriram até aqui.
Inclusive sobre os últimos detalhes de ontem. E dizer que reviver tudo isso
foi horrível chega a ser uma piada.
— O que o senhor nos sugere? – Andrew pergunta, lançando-me um
olhar e levanto para ir até a cozinha para lavar a louça que sujei.
— É uma situação bastante delicada a que colocaram vocês. – ouço a
resposta.
Volto para a sala e And puxa a cadeira ao seu lado para que eu possa
me sentar e reparo no detetive que veio de Londres justamente para cuidar
desse caso.
Detetive Johnson é jovem. Deve ter por volta dos seus trinta e poucos
anos e usa um cabelo baixo, estilo militar, usa óculos e tem olhos azuis. O
mais curioso nele é seu nome. John Johnson.
— Fora vocês, alguém mais sabe sobre os detetives? – Johnson
pergunta a Andrew.
— Nossa família e o segurança. – responde. – Ele está na família já há
um bom tempo.
— Você disse que tinham dois que o acompanhavam.
— Willian é novo. Eu o contratei depois do que aconteceu por
recomendações do Tiago. Mas não o quero envolvido neste assunto.
— Mantenha assim.
— E quanto a ligação? – pergunto em um fio de voz, chamando a
atenção de todos para mim. – A da mege... Elena?
— Eu estava esperando à deixa para poder dar a notícia. – Rodrigo
responde e And olha para ele com o cenho franzido. – Consegui rastrear a
ligação, mas infelizmente o telefone era descartável.
— Qual cidade? – a voz de And sai baixa e calma. Demais até mesmo
para mim. Vejo o brilho em seus olhos e sei que suspeita de algo. Algo da
qual não fui informada.
— Nova Iorque.
— Eu vou matar aquele desgraçado! – Andrew diz alterado, socando a
mesa.
Apoio a mão em seu ombro, tentando chamar sua atenção para mim,
numa tentativa de ajudá-lo a se manter calmo, mas meu coração pulsa forte
contra o peito com o pensamento de que tenham levado meu Matt para fora
do país.
— Eu preciso vomitar. – falo, correndo para o banheiro ao sentir as
contrações em meu estômago, forçando-me a colocar tudo para fora.
Isso não pode estar acontecendo.
Sento-me no chão gelado, sentindo minha cabeça girar. Só consigo
pensar no que Bruno pode querer fazer com meu filho. Pensar no que ele está
fazendo ao meu principezinho, agora que o tem em seu poder.
Apoio a cabeça entre as mãos, olhando para o azulejo na parede.
Andrew comprou um pequeno e discreto apartamento apenas para que
pudessem trabalhar longe da visão de todos. Aqui, Rodrigo tem tudo o que
precisa, sem precisar sair. Felipe e Andrew abastecem o lugar caso
necessário. A cada das buscas, da realidade cruel e terrível, sobre meu filho
ter sido arrancado dos meus braços por alguém mentalmente perturbado. Um
perseguidor descontrolado, que está com meu filho, fazendo sabe Deus o que.
— Não é possível que isso tudo seja porque não quis nada com ele. –
digo a mim mesma, sentindo minha cabeça girar. Por favor, não permita que
façam mal ao meu menino. Por favor.
Outra onda de enjoo me invade e enfio a cara para dentro do vaso outra
vez, colocando para fora tudo o que resta da minha dignidade.
— Anjo? Está tudo bem? – a voz de Andrew chega até mim. Logo sinto
também sua mão em minhas costas e outra em meu cabelo, segurando.
— Por que isso, And? – pergunto, sentando de volta onde estava. Um
dor de cabeça terrível me domina. – Por que fazer mal a um bebê?
— Quer que peça para comprar um remédio para você?
— Um Halls extra forte. Eca!
Andrew senta ao meu lado, envolvendo-me em seus braços.
— Eu não sei o porquê, anjo. – diz, beijando meus cabelos. – Também
não entendo o motivo dessa obsessão dele por você.
— Ele é maníaco e arrumou alguém tão louco quanto ele. – digo,
escondendo o rosto em seu peito, permitindo que as lágrimas corram por meu
rosto. – Mas leva-lo para Nova Iorque? Isso já é demais.
— Rodrigo conseguiu o endereço do lugar onde veio a ligação. – And
conta e olho para ele. – Felipe e Ramon irão para lá com o jato da empresa
amanhã. Está se sentindo melhor?
— Um pouco. – respondo. – Acho que não tenho mais o que vomitar. –
faço uma careta de nojo. – É seguro mandá-los para lá?
— Felipe sabe como deve trabalhar e Ramon também. Os celulares
deles ficarão aqui, caso alguém ligue. Rodrigo usará conversor de voz.
— Entendi.
— Vem. Não é saudável para uma mulher grávida ficar nesse chão
gelado. – diz, ajudando-me a levantar e sinto minha cabeça girar e tudo se
escurece. – Ei! – exclama, segurando-me antes que eu caia. – Você disse que
estava melhor!
— Vou te levar para casa. – diz. – E marcar uma consulta com Marcus
para você na segunda-feira para o primeiro horário livre que ele tiver.
Viro para o lavatório, lavando a boca com enxaguante bucal para tirar o
gosto horrível que sinto. Andrew não me solta em momento algum.
∞∞∞
Andrew
Abraçado a Luara, entro com ela em nosso apartamento e a ajudo a
acomodar no sofá, para ter certeza de que não terá outra vertigem. Ainda que
insista em dizer que está melhor, não quero arriscar. Já até mesmo mandei
uma mensagem para Marcus, pedindo para que me reserve um horário com
ela na segunda, para que possamos saber como nosso caçulinha está e... O
fato de ter esquecido isso por tanto tempo me deixa incomodado.
— Olha só quem chegou, Li. – vejo Julie aparecer pelo corredor,
trazendo minha princesa. – A mamãe e o papai.
Assim que nos vê, Alice se joga para vir comigo e a pego em meu colo,
beijando-a e pergunto se sua tia cuidou direitinho dela e também como foi o
passeio com a vovó e o vovô. Ela resmunga algo e gargalha, dando um beijo
bem melecado em minha bochecha.
— Também estava com saudades de você, minha pequena. – digo,
passando minha barba por seu queixo para fazê-la rir. – E a mamãe também.
Olha como ela está com ciúmes de nós.
Viro Alice para a mãe, que faz biquinho como se realmente estivesse
com ciúmes e nossa menina se joga para ir com ela.
— Achei que não fosse ganhar beijo também. – diz, pegando nossa
filha e a enche de beijos.
— Preciso fazer uma ligação. Eu já venho. – digo, dando um beijo em
Luara e outro em nossa filha. – Cuida delas, Julie.
— Pode deixar!
Entro em meu escritório e fecho a porta, já ligando o computador para
acessar meus e-mails e ver se recebi algo do tal S. Não pude fazer isso o dia
todo e estou com uma sensação de que posso ter recebido algo. E minha
suspeita é confirmada assim que acesso minha caixa de entrada, vendo outro
e-mail com o nome do meu filho.
Seu filho está em segurança, mas preste atenção em quem trabalha para você.
Nem toda indicação é boa. Nem todo mundo é o que aparenta ser.
S.
Franzo o cenho, tentando decifrar o que este e-mail significa.
O que ele pode estar querendo dizer?
Por algum tempo, apenas encaro a tela do computador.
Abro o arquivo em anexo, deparando-me com duas fotos do meu filho.
— Matt. – digo, passando a mão pela tela, pelo pequeno rosto do meu
garotão. Sinto falta do sorriso do meu filho.
Olho para a porta ainda fechada e decido imprimir as fotos para mostrar
para Luara junto do vídeo que recebi ontem. Com tudo o que aconteceu,
acabei esquecendo de contar a ela sobre ele.
∞∞∞
Luara
Por mais que conversar com Julie ajuda a me distrair, não consigo
deixar de pensar em... Tudo. E isso é terrível, pois sinto que tenho sido uma
péssima amiga para ela, que tem feito tanto por mim.
— Você também sente falta dele, não é? – pergunto a Li, que está com
a madrinha, mexendo em suas bochechas. Ela faz um biquinho em resposta e
sinto meus olhos se encherem de lágrimas. Meu corpo dói e sinto tudo sumir
diante de mim.
— Luara! – vozes chamam pelo meu nome.
— Anjo, acorda. – sinto sua voz me chamando ao longe e seu toque em
meu rosto. – Anjo.
— And. – digo um pouco confusa, abrindo e fechando os olhos para me
acostumar a claridade que me incomoda.
— Oi. – ele diz, acariciando minha bochecha.
— Oi. O que aconteceu? – pergunto confusa, olhando ao redor.
— Você desmaiou. – responde e franzo o cenho.
— Eu não... Eu não desmaiei. – falo, embora não tenha tanta certeza. –
Minha visão embaçou. Foi só isso.
Olho para Julie, pedindo para que confirme isto. Ela está de pé com
minha filha, tentando acalmá-la.
— Devo chamar seu médico? – pergunta e nego.
— Eu só estou com frio. Muito frio. – respondo, sentindo todo meu
corpo estremecer. Andrew me senta em seu colo, esfregando as mãos por
meus braços para me aquecer.
Pelo canto do olho, vejo Julie sair e voltar com a manta do Matt e
Andrew me cobre com ela. O cheirinho do meu menino faz com que lágrimas
me escapem.
— E se ele estiver em Nova Iorque também? – pergunto quase em um
sussurro. – E se aqueles malucos tiverem levado nosso menino para lá, And?
— Nós vamos encontrá-lo. – diz, pousando um beijo em meus cabelos
e me abraça ainda mais forte, aquecendo-me.
Domingo, 18 de dezembro de 2016
Andrew
Se demorar muito,
Deixo vc sem nada!
Até sem meus beijos
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Luara
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Andrew
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Luara
∞∞∞
Andrew
Por algum tempo fico imóvel, sem saber como agir diante de tudo o que
acabei de escutar e sem acreditar que Elena está tentando separar Luara e eu.
Sem saber o que fazer para ter nosso filho conosco sem precisarmos ir por
esse caminho, ainda que...
Fecho os olhos e silenciosamente peço por ajuda. Uma luz que possa
me dizer o que fazer.
— Anjo. – eu a chamo após o que me parecem horas. Ela encara
fixamente o armário de livros do meu pai do outro lado.
Com as mãos trêmulas, Luara coloca para rodar o vídeo que recebeu de
Elena e vejo tudo o que se passa.
— Matt. – ela murmura, tocando a imagem do nosso filho na tela. Vejo
lágrimas escorrendo por seu rosto.
— O que é, garoto? – uma voz masculina diz e sinto uma leve
familiaridade com ela. – Não quer dar um “oi” pra sua mãe? – ele ri, tocando
a perna do meu filho. Matthew começa a chorar com o gesto e percebo o
medo em seu choro. – Cué! Cué! – ele remeda. – Isso é irritante!
— Devia mesmo ficar fazendo isto? – outro homem pergunta, mas este
não reconheço. – Você é patético, Bruno.
Olho pro meu anjo ao ouvir o nome daquele cretino e a vejo cobrir a
boca com a mão e mais lágrimas escorrem por seu rosto.
— “Você é patético, Bruno”. – outra vez ele remeda. – Veja, Luara.
Não é lindo? Nosso filho. – ele ri e segura o braço do meu filho para abaixá-
lo. Sinto meu sangue ferver ao ouvir suas palavras. – É uma pena que você
não esteja aqui, que preferiu estar com aquele riquinho a estar comigo, que
sou seu verdadeiro amor. É o dinheiro, eu sei. Mas também sei que logo você
estará aqui comigo.
Uma mão aparece no meio da câmera e cobre tudo. A única coisa que
se ouve são chingos e o choro ainda mais alto do meu filho ao fundo.
— Anjo. – eu a chamo quando se levanta, indo direção a porta.
∞∞∞
Luara
∞∞∞
Andrew
∞∞∞
Luara
∞∞∞
Andrew
— Eu sinto muito. – Marcus diz e meu anjo cobre o rosto com as mãos.
Quero ir até ela, mas não consigo. Sei que deveria deixar nossa discussão
para trás e ficar ao seu lado agora que mais precisa de mim, mas
simplesmente não consigo. Não pelo que me disse, mas sim por também ter
perdido um filho que estava ansioso para ter e por mais uma vez ter
fracassado. Por não a ter trazido aqui antes, para que evitássemos tudo isso.
— Lu? – ouço Julie atrás de mim e sinto quando esbarra em meu braço,
como se eu nem mesmo estivesse aqui.
— Me diz que isso é mentira. – Luara pede e vejo seu olhar confuso.
Meu celular vibra no bolso e saiu da porta, indo para o corredor para
poder atender a ligação, esperando para que seja Elena.
— Aonde você pensa que vai? – Julie pergunta, vindo atrás de mim e
vejo na tela que é Rodrigo. – Você não está pretendendo deixar ela sozinha.
Está?
— Isso não tem nada a ver com você. – Respondo ríspido.
— Claro que não. – Ela ri. – Mas como minha amiga está
impossibilitada de te dizer algumas verdades, vou fazer isso por ela.
— E por que ao invés de querer cuidar da vida dela, não vai cuidar da
sua? – digo mais do que irritado, não querendo ouvir sermão de quem não
tem nada a ver comigo. – Você não sabe pelo que estamos passando, você
não sabe o que é ter um filho tirado de você e agora outro. Você não faz ideia
do que é não poder cumprir a porra de uma promessa que fez pra sua esposa
no dia do casamento de vocês e semanas depois ver tudo desmoronando!
— E você acha que as coisas vão se resolver fugindo? Por que aqui vai
uma coisa que talvez seja nova para você, Andrew: Nada se resolve quando a
gente foge!
Irritado, passo as mãos pelos cabelos, tentando não a mandar ao inferno
ou coisa pior.
— Mas talvez se resolvam se eu puder fazer algo ao invés de apenas
ficar aqui parado, de braços cruzados. – Respondo. – Se eu conseguir chegar
até eles... Porra! Você pensa que é fácil para mim ver minha esposa sofrendo
assim? Você acha mesmo que é fácil ver que ela quer terminar com tudo o
que construímos até aqui, terminar com nosso casamento, apenas por uma
chantagem de uma filha da puta e por não ver outra saída para ter o filho de
volta?
Julie fica quieta, imóvel, ao ouvir minhas últimas palavras. Ela não
sabia disso, é claro. Luara está lá dentro e minha mãe não teria contado isso
assim.
— Senhores, por favor, preciso pedir para que falem baixo. – Uma
senhora diz. – Isto aqui é um hospital e temos pacientes em recuperação e que
precisam de descanso e silêncio.
— Desculpa. – Julie e eu pedimos ao mesmo tempo e ela logo se retira.
— É uma merda acordar todos os dias e não ver meu filho. Não ter
notícias dele. – é a última coisa que digo antes de dar as costas a Julie e sair.
∞∞∞
Luara
Encaro o teto branco do quarto, esperando até que Julie volte com
Lilian, para que elas possam me levar para casa. E enquanto espero, lembro-
me de cada uma das palavras que o Dr. Marcus me disse quanto ao aborto
que sofri, segundo ele, há três ou quatro dias e que por isso estava sentindo
tantas dores.
Foram basicamente recomendações sobre repouso e medicamentos que
devo tomar para que possa me recuperar logo. Ele falou sobre tantas coisas e
também que Andrew e eu deveríamos esperar no mínimo quinze dias para
retomarmos nossas relações.
Não que isso vá acontecer tão já, depois da forma com que ele agiu
quando esteve aqui. Ele simplesmente estava indiferente a tudo. Indiferente a
mim.
Bufo, sentindo-me frustrada comigo mesma.
E o que mais você esperava, depois de dizer que terminaria com ele,
assim como Elena mandou?
Na verdade, tudo o que eu mais quero agora é ir para casa e abraçar
minha filha. Poder abraçar minha menina o mais apertado que puder e
aconchega-la em meu colo, porque tudo isso está doendo e muito aqui dentro
de mim.
Estou sem Andrew, sem Matthew e agora sem nosso caçulinha.
E talvez nunca mais consiga mais engravidar.
Uma lágrima escorre por meu rosto e a seco quando chamam meu
nome.
Não quero mais que me vejam chorando. Não quero que ninguém fique
com peninha de mim ou me achem uma fraca.
∞∞∞
Felipe
∞∞∞
Andrew
∞∞∞
Andrew
∞∞∞
Luara
Enquanto esperava por Andrew, subi até o quarto onde deixei Alice
dormindo e estou hospedada, para ter certeza de que minha princesinha
estava bem. Depois, desci aqui pra sala para esperar por ele e tem alguns
minutos que Willian saiu, falando com alguém ao telefone. Ele parecia
irritado e me pergunto se era com a pessoa com quem falava ou com Andrew.
— Pronta? – sua voz chega por trás de mim e olho para ele por cima do
ombro.
— Pronta. – Respondo, levantando do sofá. – Você demorou.
— Passei do quarto para ver nossa pequena. Estava com saudades dela.
– Ele diz e não consigo deixar de me sentir mal por saber que estava a tanto
tempo sem ver a filha por minha causa. Por ter cedido tão fácil a chantagem
daquela infeliz.
— Ela também está.
Andrew sorri para mim, indicando para que eu saia na frente e o faço,
ansiando para que sua mão envolva a minha. Por ter seu toque e seu beijo.
Mas ele não vem. E seu distanciamento só faz com que eu me sinta pior.
— Você está bem? – pergunta preocupado, abrindo a porta do carro
para mim. Eu poderia mentir, mas não consigo.
— Não.
Na verdade, não sei o que está sendo pior para mim. Principalmente nas
últimas horas, depois que descobri que não teríamos mais nosso caçulinha
conosco.
∞∞∞
Andrew
∞∞∞
Luara
∞∞∞
Andrew
∞∞∞
Luara
Tento entender o que exatamente Andrew quis dizer com “caso você
aceite”, mas não consigo. Estou admirada demais para pensar em qualquer
coisa além desta não tão humilde mansão que ele está me apresentando. Tudo
aqui é tão lindo, que não consigo manter o olhar voltado para apenas uma
direção. Quero, preciso, ver e olhar para cada canto. Principalmente porque
este lugar consegue ser ainda mais lindo que a casa dos seus pais.
Retomamos nosso tour pela casa, onde conheço a sala de jantar, de
visitas e a de estar. No andar de baixo, contei pelo menos quatro quartos e a
mesma quantia de banheiros. Uma cozinha maravilhosa, onde qualquer
apaixonado por culinária adoraria passar um bom tempo.
Já no andar de cima, foram mais seis quartos, sem contar a suíte
principal, que era a que o And se referiu antes e que é bem maior que a que
temos em nosso apartamento. Isso sem contar o banheiro que tem lá. Foram
mais três banheiros e uma varanda, que sai do que seria um escritório, onde
Andrew me confessou querer transformar em uma biblioteca com todos
nossos livros e futuras aquisições nossas e de nossos filhos. A ideia dele
também é transformar um dos quartos lá embaixo em escritório para ele e
outro para mim, para que tenhamos a paz necessária quando precisarmos
trabalhar em casa.
— Tudo aqui é tão lindo. – Sussurro, admirada com a visão que tenho
aqui do quintal dos fundos. Ao longe, vejo várias árvores frutíferas que estão
carregadas com frutos da época e que fazem uma sombra deliciosa.
Enquanto conhecia o lugar e Andrew me contava o que já planejou para
o lugar, consegui nos imaginar morando aqui, junto de Matthew e Alice. E eu
os vi correndo e brincando, junto de uma terceira criança. Me vi sentada em
uma poltrona na sala, lendo algum livro e olhando meu marido brincando no
chão com nossos filhos.
Piegas pacas, eu sei. Mas... Este lugar me traz isso. Esta sensação de lar
e segurança, que é o que nós precisamos.
— Depois que tudo estiver pronto, quero trazer meus carros para cá. –
Andrew começa a dizer, virando para mim. – Até pensei em colocar a
coleção de miniaturas em uma parede do meu escritório, junto da que tenho
na mansão. – diz e sorrio em resposta.
Não conseguindo mais manter a distância entre nós, eu o envolvo em
um abraço apertado, que faz meu coração disparar contra o peito e assim
ficamos por algum tempo.
— Teve tanto tempo assim para pensar em tudo isso? – pergunto para
provoca-lo e tudo o que ele faz é dar de ombros.
— Não tanto quanto gostaria. – Responde, pousando um beijo em
minha testa. – Mas já visitei esta casa algumas vezes com meus pais. Meu pai
dizia que se um dia eu me casasse e tivesse uma família, ele me daria ela de
presente. E é uma casa em um dos melhores bairros da cidade, em um dos
condomínios mais seguro possível.
— Presente? – pergunto curiosa, ignorando seu comentário final.
— De casamento.
— A casa é dos seus pais? – pergunto ainda mais curiosa e ele
confirma. – É claro que é. – digo, fazendo-o rir.
— Se você aceitá-la, Julie terá muito o que fazer aqui por um bom
tempo.
— Duas perguntas. – Falo, fazendo-o arquear a sobrancelha. –
Primeiramente: Julie sabe da casa?
— Sabe de uma casa e que talvez eu tenha um trabalho para ela. Não a
trouxe aqui. Queria que você visse o lugar primeiro. – Responde de pronto. –
Próxima.
— Segundamente: Por que eu é que tenho que aceitar?
∞∞∞
Andrew
Por algum tempo, eu apenas encaro Luara, sem saber exatamente o que
dizer. Por que ela que tem que aceitar? Bem, eu já conheço o lugar e gosto
daqui. É um lugar gostoso para se criar filhos e receber visitas. É bem melhor
do que o apartamento.
— Lindo? – ela chama e sorrio, envolvendo os braços ao redor de seu
quadril.
— Talvez você não queira morar no campo, longe da cidade. – Dou de
ombros. – Não que aqui seja tão longe da cidade e menos ainda tão campo.
Com minha resposta, Luara sorri.
— Achei que depois da fazenda, já estivesse mais do que claro que
gosto da calma que o campo me traz. – Lu responde, pousando um beijo em
meu rosto.
— Isto é um “sim”? – pergunto animado e curioso. Tudo o que ela faz é
dar de ombros e sorris para mim.
— Vem comigo. – diz, puxando-me pela mão, levando-nos de volta
para dentro da casa e não consigo conter a curiosidade. Uma porque quero
saber o que vai fazer e outra porque quero sua resposta logo.
∞∞∞
Luara
∞∞∞
Luara
∞∞∞
Andrew
∞∞∞
Luara
∞∞∞
Julie
∞∞∞
Luara
Quero responder Julie e lhe dizer que desde o início quem deveria ter
sido levada era eu, não Matthew. Que eles levaram meu filho por uma grande
maldade ou sabe Deus o motivo. Mas, quando abro a boca para dizer isto, o
que sai é algo totalmente diferente e inesperado até mesmo para mim.
— Não quero mais perder ninguém que eu amo. E você é a única família
minha que ainda está aqui.
Ju sorri para mim, mas não consigo retribuir.
— Sei que tudo isso tem sido difícil para você, amor. – diz.
— As vezes nem mesma eu sei como me sinto. – Falo. – Tudo o que sei, é
que estou perdendo a confiança nas pessoas a cada dia e não tenho meu filho
comigo.
Com um passo a mais, Julie segura minha mão e aperto forte a sua.
— Se um dia você perder a confiança nas pessoas, quero que continue
confiando em mim.
Um riso embargado me escapa ao notar que inverteu a frase original.
— Não seria o contrário?
— O correto seria sim, mas como estou falando com você e sei como é
difícil você confiar em alguém de verdade, eu não quero nunca que perca a
confiança que tem em mim e que levei anos para conquistar.
— Obrigada. – Sussurro, abraçando forte minha amiga. – Estou com
medo, Ju. Não quero mais que meu menino continue longe de nós. E essa
parece a chance de trazer ele de volta pra casa. De volta pra Li.
— Me deixa ir com você. – Ela pede e aceito, finalmente cedendo a
isto. Afinal, não adianta querer fazer tudo sozinha.
∞∞∞
Felipe
∞∞∞
Andrew
∞∞∞
Luara
— Andrew! – exclamo assim que ele atende minha ligação. – Graças a
Deus você atendeu. Eu preciso te contar algo importante.
— Ligo para você depois, amor. – ele diz pouco antes da ligação cair.
— Urrrrgh! – exclamo alterada, virando para a parede atrás de mim. De
repente sinto uma raiva enorme crescendo dentro de mim e uma vontade
ainda maior de gritar, de bater em algo. Bater no Andrew, para ser mais
exata. – Que ódio daquele homem! – exclamo, socando a parede e sinto
minha mão formigar.
— Luara? – uma voz chama minha atenção. – Está tudo bem? –
pergunta e, olhando para o lado enquanto massageio minha mão, vejo
Victório parado, me encarando.
— Seu filho, Victório! Seu filho! – bufo. – Precisa mesmo que eu
explique mais algo?
— O que ele fez desta vez? – pergunta com calma, ignorando meu tom
elevado.
— O que ele não fez, é o que o senhor quer dizer, né? – pergunto de
volta. – Estou tentando falar com ele e quando me atende, tudo o que diz é:
“Eu te ligo depois, amor”. Porra! SERÁ QUE ELE NÃO PERCEBE QUE O
QUE EU TENHO A DIZER É IMPORTANTE?!
Irritada, passo as mãos pelo rosto, tentando em vão achar uma solução
para o meu problema, que não envolva Andrew, uma vez que ele aparenta
estar mais preocupado com o que quer que esteja fazendo.
Quero dizer, tem mais ou menos meia hora que eu recebi uma ligação.
Era Elena. Ela disse que estava com Bruno e meu filho. Que se eu quisesse
ele de volta, era para eu me encontrar com ela no mesmo lugar e horário que
Bruno havia combinado comigo. E... Pelo que And havia me pedido, para que
eu não fosse até lá sozinha, quando desliguei, precisava falar com ele. Contar
o que tinha acontecido. Mas...
Preciso fazer isso sozinha.
— Desculpa. Eu não quis dizer nada disso. – peço a Victor, oferecendo-
lhe um sorriso fraco e bem sem graça.
Para meu completo espanto, Victor começa a rir. Não sei se achando
graça do meu ataque de histeria ou o que.
— Eu preciso falar com a Ju. – Digo, de repente tendo uma ideia e
vendo isto como minha única saída. – Com licença.
∞∞∞
Andrew
Encaro os dois homens conversando na calçada, desejando poder estar
mais perto para ouvir o que dizem.
— Você conhece aquele cara? – pergunto a Igor.
— Nunca vi antes. – Responde.
— A Ju disse que um sujeito parou ela quando estava saindo do
condomínio hoje, pedindo para entregar um envelope pra Luara. – Felipe
conta. – Talvez seja ele.
Concordo com a cabeça, ainda que nenhum dos dois possa me ver.
Bruno abre a porta traseira da picape, colocando o pequeno embrulho
no banco de trás logo que seu colega entra no prédio, deixando-o sozinho.
— Andrew! – Felipe exclama quando abro a porta novamente, desta vez
saindo. Não posso deixar que esse filho da puta saia daqui com meu filho.
Não depois de ter chegado até aqui e estar tão perto dele.
— Precisa de ajuda? – pergunto com o máximo de calma que consigo
reunir, parando logo atrás de Bruno. Cruzo os braços junto ao peito,
percebendo que além dele e do meu filho, não há mais ninguém aqui.
— Está tudo bem. – Ele responde sem nem mesmo se virar, dedicando-
se totalmente ao bebê conforto dentro do veículo. – Só preciso terminar de
prender o cinto no meu filho.
Ao ouvir suas últimas palavras, sinto meu sangue ferver.
— Seu filho? – pergunto com a voz baixa e rouca, mandando ao inferno
a calma.
Como se estivesse rodando um filme em câmera lenta, Bruno vira de
frente para mim e vejo a cor em seu rosto sumir no instante em que coloca os
olhos em mim.
— E então? Seu filho? – repito a pergunta.
— D-desculpa. – Ele gagueja. – Eu te conheço?
Entrelaço as mãos atrás da cabeça bem quando uma risada alta me
escapa. Disfarçadamente, olho para o lado, vendo o detetive Ramon se
aproximando de nós, acompanhado de outros dois homens.
— É claro. – Respondo. – Por um acaso, eu sou o verdadeiro pai do
“seu” filho. – digo e minha voz muda alguns tons. Sinto meu corpo se
aquecer e preciso fechar as mãos em punho para tentar manter o controle.
— Algum problema? – Ramon pergunta, parando ao nosso lado,
mostrando seu distintivo.
— Este senhor está me incomodando. – Bruno responde, tentando soar
ofendido.
Dentro do carro, Matthew começa a chorar alto. O que é mais do que
suficiente para me fazer perder o pouco de paciência que ainda me resta.
— Para mim chega. – Digo, soltando um suspiro pesado.
Sem que eu possa processar direito o que estou fazendo, acerto o soco
no queixo de Bruno, arremessando-o contra a picape.
— Desgraçado, filho da...
— ANDREW! – Felipe chama meu nome, segurando-me.
— Tirem esse desgraçado daqui! – falo, soltando-me do aperto de
Felipe. – Antes que eu o mande para conhecer o inferno pessoalmente.
Ramon chama os dois rapazes que o acompanham, pedindo para que
ajudem Bruno a se levantar e não consigo deixar de notar que ele está bem
mais debilitado e fraco desde a última vez que nos encontramos, no ano
passado.
No carro, ouço o choro ainda mais alto do meu filho e chuto o corpo
nocauteado de Bruno para o lado, para poder me aproximar dele. Sinto que
meus batimentos estão mais acelerados dentro do peito quando o vejo ali,
completamente agitado e assustado, debatendo-se contra os cobertores que o
aquecem.
— Filho. – Sussurro, abaixando-me ao seu lado para tirar o cobertor de
cima dele e poder segurar sua mãozinha. No instante em que o faço, seu
choro cessa por completo. – Papai está aqui. Não vou mais deixar que nada
de ruim te aconteça.
A melhor resposta vem em forma de sorriso quando tomo meu filho em
meus braços, apertando-o de maneira protetora contra meu corpo. O brilho
em seus pequenos olhos cinza me enfraquece de alguma maneira. Ou talvez
seja o que me faz voltar a ser o homem que não fui desde que o levaram para
longe de nós.
— Tem duas pessoas que vão adorar saber que você está bem. –
Sussurro contra seu rosto, beijando-o.
— Na verdade, é bem mais de que isso. – Felipe diz ao meu lado,
também ganhando um sorriso do meu pequeno.
— Andrew? – Ramon chama e olho para ele. – Michael e George estão
com Bruno no nosso carro. Eles são amigos da polícia e me deviam um favor.
Irão interroga-lo no que for necessário.
Apenas concordo, não me importando mais com o que farão ou não
com Bruno, desde que esse infeliz fique longe dos meus filhos e minha
esposa.
— Vou levá-lo para casa. – Informo, voltando até o carro onde Igor
ainda espera por nós.
∞∞∞
Julie
∞∞∞
Luara
Depois de pedir para que Lilian cuidasse da Li, dizendo que ia com a Ju
até o apartamento do Felipe para buscarmos algumas coisas, peguei meu Alfa
Romeo na garagem para podermos sair. Ela apenas concordou, dizendo que
ia adorar ficar com a netinha dela.
— Vai dar tudo certo, Ju. – Digo enquanto seguimos pelo trânsito do
Rio de Janeiro.
— Você parece ansiosa. – Observa e sorrio sem graça, porque
ansiedade é uma das várias coisas que estou sentindo neste momento, mas
não quero dizer nada disso para não a assustar. Já pedi demais para que me
acompanhasse. Mas... Eu preciso de alguém para tirar meu filho de lá, caso as
coisas se compliquem. – Lu?
— Estou nervosa. – Concordo, dando o assunto por encerrado.
*
Enquanto Julie dirige, meu celular toca, notificando uma mensagem e o
pego para ver, esperando que seja Andrew.
— Eles mudaram o lugar. – Digo ao ler a mensagem. – Querem que nos
encontremos na BIT.
— Alguém ainda está trabalhando lá? – ela pergunta sem desviar a
atenção do trânsito.
— Talvez algumas últimas pessoas na produção, terminando o último
lote de peças para não ficar com material parado. – Respondo, correndo o
olhar pelos prédios que passam voando por nós.
— O mesmo horário? – pergunta e leio a mensagem uma segunda vez.
Não diz nada aqui a respeito disso.
— Espero que sim. – Sussurro.
Julie para com o carro no portão principal da BIT, identificando-se com
o porteiro da tarde.
— Não tem ninguém aqui. – diz logo que entramos no prédio. – Nem
tem carro lá fora além do seu.
— Então esperamos lá em cima. – Sugiro. – Da pra ver tudo na sala do
And.
— Sempre quis conhecer aquele lugar. – Ela sorri para mim quando
entramos no elevador e subimos todos os andares em silêncio. Meu medo
tomando conta de mim de várias formas.
— Chegamos. – Informo assim que chegamos ao último andar e a porta
se abre. Aqui em cima parece ser ainda mais vazio de que todo restante. Bem
mais do que costuma ser, sem Ana e Andrew por aqui.
— É de assustar. – Ju sussurra atrás de mim.
— Sim. – Concordo. – Vem. A sala dele fica ali.
Pego na bolsa o molho de chaves que Andrew me deu, destrancando a
porta e deixo minha amiga entrar na frente apenas para poder apreciar o
resultado do que essa primeira visita é capaz de causar nas pessoas.
— UAU! – ela exclama, indo até a parede de vidro do outro lado, onde
temos visão de todo o estacionamento e também de parte do centro da cidade.
– Isso aqui é lindo!
— Ah, sim. Lindo. Muito lindo. – Concordo, recordando-me de algo
que aconteceu contra esta parede, na semana do meu casamento.
— O que foi?
— Não é nada. Só lembrei de algo. – Respondo, sentindo meu rosto se
aquecer.
— Lu, tem alguém chegando. – Ela diz e vou até onde está.
Parando ao seu lado, forço a visão para tentar enxergar lá embaixo. Mas
com o sol e minha visão não tão boa, não consigo identificar nada além de
um carro preto.
— Espera. – Digo a mim mesma, conseguindo enxergar alguém que
desce do carro. – O que Willian faz aqui? – pergunto, de repente sentindo
tudo dentro de mim se revirar.
— Tem certeza de que é ele?
— Acho que reconheço o guarda-roupa que ficou andando atrás de
mim na última semana. – Respondo. – Por que?
— Porque tem mais alguém descendo do carro com ele.
— Onde? – pergunto, tentando em vão enxergar quem está lá embaixo.
O que não temos lá muita ajuda, considerando também o local onde
estacionaram. – Espera.
Corro até a mesa de Andrew, ligando seu computador que logo inicia
para que eu possa digitar a senha.
— Vice-presidente tem acesso a essas coisas? – Julie pergunta atrás de
mim quando puxo as câmeras de segurança da recepção e sorrio ao notar o
tom de surpresa em sua voz.
— Vice-presidentes, não. – Respondo sem desviar a atenção do
monitor. – Mas a esposa do presidente, que é a futura vice-presidente e sabe
mexer com isso, sim. Agora, onde eles estão?
— Ali. No Hall de entrada. – diz, apontando para a tela.
Aproximo a imagem, vendo quatro pessoas caminharem a passos
rápidos.
— Ah meu Deus.
— O que...
— É ele! Foi ele quem roubou meu filho de mim! – exclamo ao
reconhecer Fábio ao lado de Willian. Eles estão parados na frente do
elevador, esperando junto de uma mulher, na qual suponho ser Elena e outro
homem, que não conheço.
— Acha que sabem que estamos aqui? – Ju pergunta e olho para ela.
Seu olhar demonstra o mesmo que eu sinto. Medo.
— Não. Mas sabem que estamos aqui. – Respondo, pensando em algo.
– Devíamos ter parado o carro em outro lugar. Mas... – lanço um olhar para
Julie, tendo uma ideia. – Ligue para o Felipe e diga onde estamos. Não tire os
olhos da tela enquanto falar com ele.
Dito isto, corro até a porta.
— Lu, onde você... – a pergunta da minha amiga se perde quando eu a
tranco dentro da sala, correndo para as escadas de emergência. Eles podem
saber que estou aqui, mas não sabem que Julie está comigo e menos ainda
que estávamos na sala do Andrew. E eu não posso colocar minha amiga em
mais risco do que já coloquei ao trazê-la até aqui. Principalmente porque eles
não cumpriram com a parte deles do acordo de trazer meu filho.
— O que você está fazendo é loucura, Luara! – Repreendo-me,
descendo os degraus de dois em dois. Não espero enfrentá-los sozinha, mas
sim mantê-los o mais longe possível da minha amiga.
*
No segundo andar, abro a porta apenas o suficiente para me certificar
de que ninguém esteja por aqui. Então corro para o corredor que sei que dá
acesso à sala de produção, no fundo do prédio. É um caminho mais rápido de
que por fora.
Meu celular vibra no bolso traseiro e o pego para ver o nome de
Andrew no visor.
— Onde você está? – pergunto com a voz trêmula, parando em uma
esquina para ver que não tem ninguém por perto.
— Onde é que você está?! – joga de volta. – Julie está na linha com
Felipe. Que merda você tem na cabeça pra fazer isso?!
— Eu não sei! – exclamo nervosa, abrindo a porta dos fundos para
poder sair. Andrew ri, mas não sinto humor algum em sua risada.
— Quem tá aí? – pergunta.
— Willian. – Respondo ofegante, sem parar de correr. – Fábio também
está com ele e Elena. Tem outro homem, mas não sei quem é.
Andrew diz algo provavelmente para Felipe, mas não entendo.
— Para onde você está indo? – pergunta com calma e olho ao redor.
— Produção. – Respondo, forçando a porta para poder entrar. –
Tranquei a Ju na sua sala.
— Deus, Luara! – exclama. – Você não recebeu minha mensagem? Por
que não atendeu a merda do telefone, porra?! Eu pedi pra você não sair de
casa, que eu estava com o Matthew.
Congelo no mesmo lugar ao ouvir o que ele diz.
Ele está com o Matt? Com nosso menino?
Cubro a boca com a mão livre, sentindo lágrimas surgirem em meu
rosto.
— Não grita comigo. – Choramingo, sentindo-me uma grande idiota
por ter ignorado suas ligações. Se tivesse atendido quando me ligou, nada
disso aconteceria.
— Tá. Droga! Desculpa. Eu... – Do outro lado, Andrew solta um
suspiro irritado. – Julie disse que eles estão no TI, revirando tudo. – Bufa. –
Estamos há três quadras de vocês.
— Vem logo, And. – sussurro.
—VAI MAIS RÁPIDO COM ISSO, FELIPE! – ouço o grito alterado de
Andrew do outro lado, mas não a resposta de Felipe. – Fica na linha comigo,
amor. Já estamos chegando.
— O que aconteceu? – pergunto ao notar a preocupação em sua voz.
— Nada.
— Andrew.
— Fábio está indo para aí.
Olho ao meu redor, mas não vejo nada. Nem mesmo qualquer
funcionário.
— E a Ju? – pergunto, sentindo medo por minha amiga e por tê-la
colocado nisso.
— Eles desceram. Ela está bem.
— Graças a Deus. – Murmuro, colocando-me entre duas enormes
prateleiras que estão cheias de peças. O som de uma porta pesada se abrindo
me faz pular. – Ele está aqui.
— Sai daí.
— Que?
— Amor, eles estão revirando tudo lá em cima. – Andrew diz com
calma. – Você não está segura aí.
— E para onde vou? Eu nunca vim aqui antes
Corro o olhar por toda a sala mal iluminada, procurando por algum
lugar que aparente segurança para que possa me esconder ao menos até que
eles cheguem.
— Onde você tá? – pergunta. – Qual setor?
Olho para cima, para as placas colocadas entre cada corredor.
— E-7. – Respondo.
— Perfeito! – Andrew exclama do outro lado. – Segue pra sua esquerda
até encontrar uma porta que dá no estoque. Eu estou aqui fora já. A polícia
também. Eles vão subir e vou me encontrar com você.
Obedecendo Andrew, sigo às cegas pelo caminho que me recomendou.
Esse setor sempre me foi um grande labirinto e a única vez que vim
aqui, foi com Victor, no dia em que o conheci. E naquela vez eu estava tão
tensa por estar com ele, que não consegui guardar nada aqui direito.
— EU SEI QUE VOCÊ TÁ AQUI! – uma voz grave chega até mim,
vindo provavelmente de alguns corredores atrás. – APAREÇA!
— Ele está perto, And.
— Vai ver como a Julie está. Tira ela daqui. – Andrew diz do outro
lado. – Sobe com a polícia. Amor – ele chama, de volta na linha comigo. –,
nessa porta que te falei, descendo a escada, vai ter outra porta, que da para o
cargueiro. Abre ela pra mim.
Uma risada alta ecoa atrás de mim, fazendo com que os cabelos da
minha nuca se ericem.
— 1, 2, 3, Freddy vai pegar você! – Fábio cantarola, rindo logo em
seguida.
— Desgraçado. – Andrew resmunga, provavelmente ouvindo o
deboche na voz dele.
— Estou aqui. – Digo, abrindo a porta. – Aaaah!
O grito me escapa quando não sinto o chão sobre meus pés, fazendo-me
rolar escada abaixo.
— Luara! – ouço Andrew chamar distante. Minha cabeça dói pela
pancada que levei. – Luara!
∞∞∞
Andrew
Não sei se sinto mais raiva de mim mesmo por não ter trancado Luara
na mansão ou se dela, por não ter atendido minhas ligações logo que entrei
naquele maldito carro, depois de estar com Matthew comigo.
Quando minha mãe ligou dizendo que ela tinha saído com Julie, senti
um medo terrível de que algo pudesse acontecer a ela. Senti medo de perde-
la. E ouvir seu grito ao telefone não faz com que esse medo diminua. Muito
pelo contrário.
— Luara! – grito, forçando a porta para abrir. – Luara! – chamo, mas
não tenho resposta.
Guardo o celular no bolso, forçando a porta com o ombro até que a
fechadura vacila um pouco e tomo distância, desta vez chutando. O que faz
com que a porta abra.
— Anjo. – digo, correndo até onde esta caída, inconsciente. – Amor,
fala comigo. – chamo, abaixando-me ao seu lado. – Linda, por favor, não faz
isso comigo.
Toco seu rosto, seus cabelos e nada.
Pego o celular no bolso, iluminando o lugar. Vejo seu celular caído ao
pé da escada, pouco atrás de onde está.
— And. – ela resmunga quando toco seu rosto.
— Estou aqui. – Sussurro, apoiando a testa na sua. – Estou aqui, anjo.
— Está doendo muito.
— Senhor? – uma voz chama atrás de mim e viro o rosto a tempo de
ver três policiais.
— Lá em cima. – Falo. – Pelo menos um.
Dois deles sobem com armas em posição, enquanto um deles chama no
rádio pelo resgate, conferindo o estado do meu anjo.
— Vai ficar tudo bem, linda. A ambulância tá vindo e vamos levar você
pro hospital. Nosso filho está em casa já.
Ao ouvir minhas palavras, Lu me da um sorriso fraco e solta um
suspiro entrecortado.
— Está tudo bem. – Sussurro, beijando sua testa de leve. – Você vai
ficar bem. – Murmuro, incapaz de me afastar dela. – Eu estou aqui.
— Que cena mais comovente. – Uma voz feminina chega até mim,
vinda do topo da escada. – Estou atrapalhando os dois pombinhos?
O policial atrás de mim ergue uma lanterna até o topo da escada, onde
posso ver a mulher parada lá em cima. Ela é alta e tem um corpo magro, com
um tom de pele claro. Seus lábios estão com um tom de batom vermelho
vadia, assim como meu anjo costuma se referir a cor que está usando.
— Elena. – Digo em tom firme, sem desviar os olhos de suas mãos.
Não de suas unhas compridas e também pintadas de vermelho, mas sim algo
além disto. Eu olho para a arma apontada para mim. – Eu vou matar você. –
Digo entredentes e ela ri.
— Ou ela, ou eu, querido. – diz com um sotaque que me enoja. – Se
sair daí, poderei acertá-la mais facilmente.
— Largue a arma. – O policial diz, também apontando a arma.
— Tolo. – Elena ri, dando seu primeiro tiro. – E então?
Franzo o cenho, mantendo o olhar em Elena e meu corpo sobre o do
meu anjo.
— Não se mexa. – sussurro para ela ao sentir sua mão em minha
camisa. – Não sou homem de joguinhos, Elena. – Falo. – Não faço negócios
com bandidos como você.
Outra vez ela ri.
— Acha que sou uma simples bandida? – pergunta com deboche,
dando um passo a frente. A arma novamente apontada para mim.
— And. – a voz fraca de Luara chega até mim e sinto quando aperta a
mão em minha camisa ainda mais forte. Não vou deixar que ela te machuque,
Anjo.
— Bandido é um termo muito chulo. Não acha?
Dou de ombros.
— Se enquadra perfeitamente a você.
— Por que não se levanta? – ela pede, dando outro passo a frente e vejo
a luz de uma lanterna ao fundo por breves segundos e tornar a sumir. –
Apenas para que você possa morrer com mais dignidade.
— Você não vai mais fazer mal a ela. – Digo em resposta, erguendo o
corpo apenas o suficiente para poder avistar o sorriso em seu rosto.
— Há tempos, meu novo alvo passou a ser você: o causador de tudo
isso.
Vejo o clarão que ilumina a sala, seguida de uma dor que parece me
queimar por dentro. Outros dois estouros e o som de algo pesado, que parece
rolar escada abaixo.
— Andrew! – consigo distinguir a voz do meu amigo e o vejo no topo
da escada, juntamente de mais alguém.
— Amor! – Luara chama quando me entrego a dor cruciante que toma
conta de todo meu corpo, fazendo-me cair sobre o seu.
Quarta-feira, 21 de dezembro de 2016
Luara
— P orlogoqueatrás
ele não acorda? – pergunto a minha mãe, que esta parada
de mim. – Não era para ele ter acordado depois da
cirurgia?
— Talvez ele apenas esteja cansado, querida. – Responde em um fio de
voz, tocando meu ombro. Meus olhos se enchem de lágrimas no mesmo
instante em que sinto seu toque.
— Mas já tem um dia. – Sussurro, apertando a mão de Andrew entre as
minhas, depositando um beijo nela.
— Você precisa descansar, minha filha.
— Eu não vou sair do lado dele. – digo com a voz um pouco
embargada e as lágrimas escorrem por meu rosto. – Eu nunca mais vou sair
do seu lado, meu anjo. – Sussurro agora para And, apoiando a cabeça em sua
mão, acariciando-a. – Ninguém nunca mais vai fazer mal algum a nós.
Fecho os olhos pelo que me parecem horas e acabo revivendo tão
claramente o dia de ontem.
Lembro-me de minha queda na escada e quando And praticamente
derrubou a porta com o ombro para poder abri-la e me ajudar. Quando ele se
recusou a sair de cima de mim e permitir que Elena atirasse em mim... De
onde eu estava, debaixo do corpo debruçado do meu marido, eu não
conseguia vê-la. Mas isso não me impediu de ouvir o tiro que deu em meu
marido, sem nem mesmo sentir pena ou remorso. Uma bala que acertou seu
ombro em cheio, fazendo com que meu mundo se desmoronasse naquele
mesmo instante.
Aperto os olhos ao ver tão nitidamente quando seu corpo caiu
inconsciente sobre o meu e quando senti seu sangue em mim.
Foi quando outros dois estouros ecoaram pela sala, que achei que
tivesse o perdido para sempre. Para mim, eu poderia morrer ali, com ele. Não
havia mais razão para continuar sem Andrew. Senti que estava perdendo meu
marido e... Eu ouvi o som de algo pesado rolando escada abaixo, parando a
poucos centímetros de onde estávamos. Foi nessa hora que eu senti o corpo
do meu amor cair sobre o meu.
Eu vi Felipe descer as escadas correndo, junto de dois policiais. Eu
soube ali que não havia sido Andrew quem recebera os outros dois tiros, mas
sim Elena. Ela estava caída e imóvel ao meu lado. Eles conseguiram pegar
Fábio e Willian, mas não antes de terem feito uma grande bagunça lá em
cima e eu tive que dar graças a Deus quando soube que a Ju estava bem e em
segurança
Os paramédicos chegaram pouco depois, colocando Andrew na maca e
eu em outra, mas não fomos com a mesma ambulância, ainda que eu tenha
insistido que estava bem e que havia apenas batido a cabeça. Eu queria ir com
Andrew e estar ao seu lado, mas não me deixaram fazer isso. Eu tinha seu
sangue em mim. O sangue do homem que havia me salvado. Da pessoa que
tomou um tiro que era para mim e... Mais do que antes, eu o amo com ainda
mais forças. E é por isso que não posso e não vou sair do seu lado. Mesmo
que o Dr. Marcus tenha passado daqui e dito que eu precisava de repouso.
— Filha?
Reabro os olhos, afastando a cabeça da mão de Andrew apenas poucos
centímetros.
— E se eu não puder mais, mãe? – sussurro a pergunta que mais tem
me incomodado desde que descobri o que havia acontecido.
— Não puder o que? – pergunta sem entender.
— Engravidar. – Respondo, pela primeira vez olhando para ela e logo
de volta para o meu amor. – E se eu não puder dar a ele outro filho?
— Lu, meu amor. Olhe para mim. – Minha mãe pede e viro-me de lado,
ainda sem soltar a mão de Andrew e ela se ajoelha na minha frente.
— Você sabe o que aconteceu comigo, minha vida. – diz baixinho. – E
veja seus dois irmãos. Já tem uma semana que isso aconteceu. Você ouviu
seu médico. Você precisa de repouso para se recuperar. Algumas semanas
para poder se curar por dentro. Mas, para poderem tentar ter outro filho,
alguns meses. – Minha mãe faz uma pausa e sorri para mim. – Mas vocês vão
sim conseguir ter outro filho. Assim como seu pai e eu tivemos Camile e
Thomas.
— Mas e se eu não conseguir? – torno a perguntar, incapaz de aceitar a
ideia.
— Se não conseguir, meu amor. Se, Deus me livre, o pior realmente
tiver acontecido. – Minha mãe então faz uma pausa, provavelmente buscando
pelas palavras certas. – Eu tenho certeza de que Andrew não vai te amar
menos por isso. Você mesma me contou o que conversaram. E vocês já tem
dois filhos lindos. Duas crianças maravilhosas e saudáveis, que são duas
provas do amor de vocês. Duas crianças que os amam incondicionalmente e
crescerão felizes, sabendo que os pais são capazes de tudo para mantê-los
seguros sempre.
Sinto as lágrimas escorrendo por meu rosto e aperto a mão de Andrew
outra vez, sem desviar os olhos dele.
— Se você não conseguir engravidar mais – Volta a falar. –, lembre-se
que, para Andrew, seria uma dor muito pior perder você ou um dos dois
filhos que tem. Às vezes, apenas talvez, não fosse para ser agora. Vocês ainda
têm tanto o que aprender, filha. – diz, passando a mão por meu rosto. – Mas
como mãe, eu sei que você vai conseguir. Vocês terão três... Quatro filhos, se
assim quiserem. Talvez até cindo. E isso considerando que nenhum deles
sejam gêmeos de novo. – Ela ri, fazendo com que eu a acompanho. – A
questão é que você vai sim conseguir. Acredite em si mesma.
Dou a ela um dos sorrisos mais sinceros que consigo, mesmo com toda
dor que sinto.
— Vou deixar vocês a sós um pouco. – diz ao se levantar, pousando um
beijo em minha cabeça.
Minha mãe sai, deixando-me sozinha com um Andrew adormecido e
meus pensamentos perturbados, que tornam a me redirecionar para o dia de
ontem e a pergunta na qual não consigo encontrar uma resposta: Por que eu
fui sair daquela sala ao invés de ficar com Julie e ligar para a segurança?
— Por favor, meu amor. Acorda. – Sussurro, apoiando a cabeça na mão
de Andrew, acariciando-a. – Eu preciso tanto de você, querido.
Sinto seus dedos mexerem nos meus e afasto, mas ele continua
desacordado.
∞∞∞
Andrew
Um toque suave e lento em minha mão me faz franzir o cenho. É um
toque quente e familiar, que se repete por várias vezes. Uma mão pequena e
macia, com um toque delicado e familiar, embora eu não consiga lembrar a
quem pertença esta mão. Movo a minha própria, acariciando o vão entre seu
polegar e o indicador, tentando recordar a quem pertence. Sei que a conheço,
que já segurei esta mão por várias vezes, mas... Está tudo muito confuso para
mim ainda.
A pessoa, seja ela quem for, levanta meu braço e entrelaça nossos
dedos. Um encaixe perfeito. Minha mão se fecha entre a sua quase que
automaticamente e a envolvo por completo. É como se a engolisse toda, de
tão pequena que é.
E eu gosto de sentir seu toque.
— Eu queria tanto que você acordasse, querido. – O som suave de uma
voz feminina chega aos meus ouvidos, fazendo com que meus batimentos
acelerem. Essa voz. – Você não imagina o quanto sinto falta de ouvir sua voz,
seu riso bobo e fácil e quando diz que me ama. Até mesmo quando briga
comigo, dizendo que sou teimosa.
Sua voz é calma e serena e me faz sorrir com suas palavras.
Ela, seja lá quem for, para de falar, tocando nossas mãos ainda unidas
em seu rosto, fazendo-me sentir o macio de seus lábios. Lábios quentes e
macios.
Novamente mexo meus dedos, sentindo algo em sua mão. Dois
pequenos objetos gelados, embora pareçam aquecidos por sua pele. Sinto
pequeninas ondas em um deles e é como se fossem. Alianças. São duas
alianças. Eu as reconheço. Mas, por quê?
— Por que você não acorda, meu amor? – ela volta a falar. – Nossos
filhos precisam do pai deles. Matthew, Alice... Eles estão bem. Estão aí fora
com sua mãe e a minha. Eles querem ver você e te dar um beijo.
Há uma longa pausa, seguida de um suspiro. Meu coração acelera ainda
mais ao reconhecer o nome dos meus filhos. E a sua voz... Sempre suave e
tão calma... Calma como a lua. Às vezes um pouco tortuosa como uma...
Uma tempestade. Lua... Lua...
Por que sinto isso assim?
Obrigo meus olhos a se abrirem e parece que desta vez eles me
obedecem, ainda que eu veja tudo embaçado. A claridade de um lugar
totalmente estranho para mim me incomoda, fazendo-me fechar os olhos
outra vez.
— Eu também sinto sua falta, meu amor. – Ela diz.
Viro o rosto em sua direção, vendo-a sentada ao meu lado. Nossas
mãos entrelaçadas e apoiadas sobre a cama. No instante em que coloco meus
olhos sobre ela, meu coração dispara contra o peito. Ela parece um anjo para
mim. Seus cabelos castanhos ondulados estão caídos sobre seus ombros,
dando-me ainda mais certeza disto.
— Lu... – tento dizer, mas minha voz falha. Pigarreio para poder
recuperar o tom. – Luara. – Tento outra vez, agora conseguindo.
Ela afasta ao ouvir minha voz e vejo seu rosto vermelho e um pouco
inchado. Seus olhos tão vermelhos quanto.
— And. – sussurra.
— Oi. – Sussurro de volta, oferecendo-lhe um sorriso de lado.
∞∞∞
Luara
Quando ouço sua voz rouca chamar meu nome baixinho, sinto que meu
coração vai parar no chão. Ele me dá aquele seu sorriso safado, que sempre
mexeu comigo.
— Não chore. – Andrew pede, secando uma lágrima que escorre por
meu rosto e outras várias me escapam, porque ele está aqui. Ele está acordado
e está bem.
— Ah! – exclamo, envolvendo meu marido em um abraço. – Você está
aqui! Você está aqui! – repito, beijando seu rosto várias vezes. Eu tive tanto
medo, meu amor.
Andrew solta um gemido baixinho quando o aperto talvez mais forte do
que deveria e me afasto para não o machucar mais.
— Não vá. – Pede com a voz fraca, seguido por um suspiro. – Você está
aqui, Anjo. – diz, colocando meu cabelo para trás da orelha. – Achei que
fosse perder você.
Levanto da cadeira para poder sentar ao seu lado na cama, tocando seu
rosto com a mão livre.
— Eu achei que fosse perder você, Andrew. – digo. – Você estava...
Você não acordava. Vou pedir para que chamem seu médico. Eu já volto.
∞∞∞
Andrew
Acompanho Luara com o olhar, sem entender muito sua última frase.
Afinal, porque eu precisaria de um médico?
Olhando ao meu redor, vejo alguns equipamentos na qual não sou nem
de longe familiarizado e noto que estou em uma cama pequena demais para
mim e também para o meu gosto. Vejo a poltrona onde Luara estava sentada
e outra cama, que está desocupada.
O que estou fazendo aqui?
— Pode nos deixar sozinhos por um instante? – uma voz masculina
chega até mim e vejo um homem baixinho, com entradas nos cabelos e
vestido todo de branco.
— Já disse que não vou deixá-lo. – Luara responde com aspereza na
voz, teimosa como sempre.
— A senhora ficou aqui todo esse tempo? – ele pergunta, mas não tem
resposta. – Dormiu na poltrona? – insiste.
— Na cama, doutor. – Lu responde.
Balançando a cabeça, o senhor de jaleco vira para mim.
— Boa tarde, Andrew. – diz. – Sou o Dr. José Claudio. – Apresenta-se.
– Preciso fazer alguns exames com o senhor. Mas antes farei algumas
perguntas. Tudo bem para você?
— Tudo bem. – Respondo, ainda que não entenda o motivo.
— Quer que ela saia? – pergunta, apontando para Luara com a cabeça.
Ela cruza os braços contra o peito e vejo que esta brava com sua insistência.
— Não. – Respondo. – Quero que ela fique. Comigo. – Luara sorri,
colocando-se do meu outro lado da cama e segura minha mão, na qual a
aperto.
— Certo. Podemos começar? – pergunta e movo a cabeça em positivo,
então ele coloca algo em meu braço para tirar a pressão e batimentos
cardíacos, que devem estar bem acelerados com a proximidade de Luara. –
Batimentos e pressão ok. – diz, fazendo uma anotação. – Qual seu nome?
Franzo o cenho com sua pergunta.
— Andrew Bôer Giardoni. – Respondo.
— Idade?
Mas que pergunta estranha!
— Vinte e sete.
— Quando você nasceu?
— Vinte e nove de abril de oitenta e nove.
— Quem é ela? – pergunta agora indicando Luara com a caneta e reviro
os olhos ao olhar para ela.
— Luara. Minha esposa. – Respondo um pouco impaciente. – Mas que
pergunta.
Ouço sua risadinha ao ouvir meu comentário e sorrio.
— Vocês têm filhos?
— Dois gêmeos. Matthew e Alice.
— E você sabe que dia é hoje?
— Essas perguntas são necessárias? – pergunto um pouco incomodado,
não vendo motivos para tanto interrogatório como se eu estivesse na pré-
escola.
— Que dia é hoje, Andrew? – ele insiste.
— Terça-feira. Dia vinte. – Respondo e os dois se entreolham. – Algo
errado?
— Hoje é quarta, querido. – Luara diz. – Vinte e um.
— Bem, errei por um dia. – Dou de ombros, sentindo uma dor
incomoda. – Olha, eu lembro tudo o que aconteceu. Lembro quando Julie
ligou pro Felipe contando que vocês estavam na BIT, de quando abri a porta
do cargueiro e que vi você caída, machucada. – Começo a contar. – Depois
ouvi um estouro e senti uma dor. Não sei o que aconteceu depois disso. –
Olho para Luara, vendo lágrimas em seu rosto. – Você está bem? Eles te
machucaram?
— Não lembra o que aconteceu? – O médico pergunta e nego com a
cabeça. – Você levou um tiro, Andrew. No ombro. – diz e pela primeira vez
baixo o olhar para meu peito, notando que não estou com camisa. Meu ombro
esquerdo está normal, enquanto o direito está com um curativo levemente
manchado de sangue.
— Isso explica porque senti dor quando você me abraçou e agora. –
Digo a Luara.
— Nós conseguimos remover a bala totalmente, mas você ficou
desacordado por um dia.
— Eu realmente precisava dormir então. – Rio.
— Isso não tem graça, Andrew. – Luara me censura.
— Desculpa.
— Você já estava com o ombro fraturado, provavelmente por conta da
porta.
— Eles o pegaram? – pergunto a Luara, não querendo ficar nesse
assunto. – Elena e os outros?
— Sim. Presos. – Responde. – Menos Elena. – diz e inclino a cabeça
para o lado, sem entender muito bem. – Ela não teve a mesma sorte que os
outros três.
— O que aconteceu? – pergunto, de repente recordando de ouvir Felipe
me chamando. – Ela morreu? – corrijo a pergunta. Luara assente. – Felipe?
— Ele não queria. Mas... Foi mais a queda. Ele atirou no pé dela. A
arma dela meio que fez o restante, pelo que entendi.
— Vou deixar vocês dois conversarem. – Dr. José diz, mostrando que
ainda está aqui. – Terão cinco minutos até que um enfermeiro venha buscá-lo
para os exames.
∞∞∞
Luara
∞∞∞
Andrew
cordo por volta das cinco e meia da manhã, vendo que Andrew
A continua dormindo na mesma posição que estava quando adormeceu: a
mão posta sobre as costas do nosso menino, protegendo-o e também
Alice, que está mais próxima de mim. E ver esta cena me faz sorrir.
Tentando ao máximo não me mexer muito, saio da cama, deixando uma
barreira com o edredom e meu travesseiro, para o caso dos meus pequenos
acordarem ou virar. Após isto, pego um short e camisa e vou para o banheiro.
— Acho que agora finalmente teremos um pouco de paz. – Digo a mim
mesma, tirando o condicionador do cabelo. – Paz e calma. E dentro de
algumas semanas, tudo vai poder voltar a ser o que era antes.
Inconscientemente, pouso minhas mãos sobre minha barriga, numa
falha tentativa de sentir algo. Ainda que eu saiba que não ficou mais nada
dentro de mim. Que o Dr. Marcus fez todos os exames necessários que
comprovam que eu realmente perdi meu Caçulinha na vez que Andrew me
levou ao hospital.
Talvez, se fosse menino, poderíamos chamá-lo de Jamie. – Penso
comigo mesma e um sorriso se forma em meu rosto. – Ou talvez a
chamássemos de Lara.
Infelizmente, meu sorriso dura pouco. Assim como o tempo em que eu
tive meu bebê aqui dentro de mim.
Fecho os olhos, permitindo que a água caia por meu corpo durante
algum tempo, para que me ajude a esquecer tudo o que ainda sinto com essa
perca, enquanto tento me apegar a esperança de que dentro de alguns meses
poderemos tentar ter outro filho e que ele ou ela será saudável, assim como
meus dois pequeninos.
É só depois de algum tempo que fecho o chuveiro e me enrolo na toalha
para poder sair do banho.
∞∞∞
Andrew
Luara. – Eu a chamo por várias vezes, mas não tenho respostas suas. E
seu silêncio apenas faz com que meu medo aumente, sem saber se está ou não
bem. Se está em segurança.
Do outro lado da porta, o som de tiro chega até mim. Um som alto,
como se não tivesse uma porta entre meu anjo e eu, nos separando.
E então não há mais porta entre nós.
LUARA! – Grito ao ver seu corpo estirado ao chão, correndo até ela. –
Anjo. – Chamo, tocando seu rosto.
Sinto meu coração no chão aos meus pés ao ver o sangue que sai de seu
peito. Ela está quente, mas não reage. Ela não me responde, não fala comigo
qualquer coisa.
Não me deixa, anjo.
Por favor, não me abandona. Eu preciso de você, linda.
Uma risada de mulher chega até mim e olho para o alto da escada,
vendo Elena. Ela atira, acertando meu ombro. Meu anjo me chama baixinho e
sinto meu ombro doer. Felipe chama e o vejo no lugar onde Elena estava há
pouco, enquanto ela agora está caída a pouca distância de Luara.
*
∞∞∞
Luara
∞∞∞
Andrew
∞∞∞
Luara
∞∞∞
Andrew
Luara
cordo talvez mais tarde do que deveria, tateando o lugar vazio ao meu
A lado, onde Andrew deveria estar deitado. Tudo o que encontro é um
bilhete seu, junto de uma pequena caixa de bombons.
Pego meus óculos no criado-mudo ao meu lado e acendo o abajur para
poder ler.
Anjo,
Sai para buscar nosso café da manhã.
Cada bombom representa um mês ao seu lado. Já a rosa, o nosso casamento.
Espero um dia ter a chance de te dar muitas iguais a esta.
Feliz um mês de casamento, mesmo que atrasado.
Amo você.
Sempre seu,
A.
∞∞∞
Andrew
Acompanho meu anjo com o olhar, até onde está sua roupa e a vejo se
vestir, privando-me da melhor visão do mundo, que é vê-la nua apenas para o
meu deleito.
Com nosso celibato conjugal, tudo o que consigo fazer é desejar poder
tomar minha mulher para mim outra vez e dar a ela todo o prazer que merece.
E... É claro que isso não tem nos impede de aproveitarmos nosso momento,
apenas os dois. Ao contrário.
— Já terminou? – pergunto quando termina de pentear seus cabelos.
— Está com presa?
— Pra ser sincero, sim. – Respondo apenas para provocá-la. Depois de
ver seu showzinho particular, presa é a única coisa que não tenho aqui. –
Quero te mostrar algo.
— Hmmmm... – murmura. – É nosso café da manhã especial de
aniversário? – Pergunta toda curiosa e tudo o que faço é sorrir, colocando-me
atrás dela.
— Você verá. – Sussurro em seu ouvido e beijo seu pescoço antes de
cobrir seus olhos com a mão, para que não veja nada.
∞∞∞
Luara
∞∞∞
Andrew
Leio e releio sua carta algumas vezes, parando em todas elas onde diz
que seremos “dois velhos safados” e sorrio feito bobo. Ela diz que não é boa
com palavras, mas sempre me surpreende.
— Fala alguma coisa. – Sua voz chega baixinho até mim, mas
continuo em silêncio
Ao invés de lhe responder, torno a dobrar a carta da maneira que estava
e a coloco sobre o criado-mudo, junto de nossos celulares. Luara me olha,
atenta a cada gesto meu, então torno a sentar ao seu lado, segurando sua mão
entre a minha e beijo cada um de seus dedos lentamente, demorando um
pouco mais em seu anelar. Em suas alianças.
— Obrigado por me aceitar em sua vida e aceitar ser minha esposa. –
Falo, sem saber exatamente o que dizer. – Você me deu um ano incrível ao
seu lado e agora a oportunidade de ter uma vida com você. Uma vida com a
primeira mulher da minha vida.
Vejo os olhos do meu anjo brilharem com minhas palavras e ela sorri,
sem desviar o olhar do meu. E eu nos deito na cama, colocando-me sobre seu
corpo e soltando o peso que por tantas vezes confessou gostar. Ver meu
desejo correspondido em seu corpo é mais do que satisfatório para mim. Seu
beijo, seu toque... Sua mão entrelaçada a minha, enquanto a outra se prende
ao meu cabelo e me beija com força. Nossos corpos se acendem em chama e
sou capaz de me sentir transbordar com essa mulher.
— Minha... Mulher. – Digo, afundando o rosto entre seu pescoço,
sentindo o cheiro do shampoo em seus cabelos.
Sábado, 31 de dezembro de 2016
Andrew
rritado. Puto!
I Estas sem dúvidas são as palavras que melhor definem meu começo
de dia e último desse ano. Ou, pelo menos, duas delas, já que Luara
conseguiu me tirar do sério antes mesmo de sair da cama esta manhã. Ou
melhor: ela fez isso antes mesmo de ter acordado por completo.
Eu estava deitado na nossa cama, no nosso quarto e em nosso
apartamento no Golden, apenas olhando para o teto às seis e dezessete da
manhã, enquanto Luara ainda dormia ao meu lado, entregue ao seu sono. Foi
quando do nada ouvi seu grito, dizendo bem clara e nitidamente: “Eu não
posso me mudar para Londres!”.
Eu mentiria se dissesse que não me assustei com aquilo e a princípio
achei que estivesse apenas sonhando com algo, mas qualquer suspeita foi
desfeita quando acordou e virou pro meu lado e disse com a voz suave, que
não poderia ir comigo para a Europa. E eu, antes de responder qualquer coisa
sobre aquilo, sentei na cama e respirei fundo, para só então perguntar o
porquê e ela simplesmente disse que “não podia deixar a família dela para
trás e ir embora para outro país”.
Naquele momento eu congelei e até mesmo quis rir. Pensei até que
tivesse entendido errado e que tivesse dito outra coisa. Então pedi para que
repetisse e ela o fez. Eu ouvi e tentei argumentar contra aquilo, dizer que já
estávamos com tudo pronto para apenas viajarmos na quarta-feira e que essa
mudança era importante para nós dois. Tentei ao máximo convencê-la do
contrário e que não acabássemos brigando. E até que consegui, mas... ELA
NÃO PODE SIMPLESMENTE DESISTIR DESSA MUDANÇA HÁ
QUATRO DIAS DELA!!!
Porra! Nós somos casados agora.
Ela sabe que eu preciso ir para lá para cuidar dos negócios e garantir
que tudo esteja indo como deveria e me garantir de que a equipe que
contratamos é realmente capacitada pro trabalho. Isso por, pelo menos, nos
seis primeiros meses. Depois podemos voltar pra cá e... Mesmo que eu tenha
planos de ficar um ano, se ela disser que não, voltamos logo no final do
primeiro semestre. Mas ela não quer tentar nem mesmo isso!
Depois da nossa conversa não tão amigável, eu simplesmente peguei o
carro e sai para resolver algumas coisas. Sai para evitarmos brigar, porque
estava considerando ir sem ela. Deixá-la com João cuidando da empresa aqui
e ficar por lá, sozinho. Sem minha esposa e nossos filhos. Sem a nossa
família, apenas para permitir que ela ficasse com a dela. Afinal, isso não faz
sentido algum! Eu sou a família dela agora!
Ainda no início da semana nós estávamos conversando sobre o curso
que se inscreveu para fazer em Londres. Sobre trabalhar apenas meio período
e minha mãe ficar com os gêmeos enquanto estivéssemos fora. Tudo certo e
combinado. Tudo. E agora isso: nada! Estou bem mais que puto ou irritado.
Estou uma verdadeira fera com essa mulher.
Como ela pode considerar não ir comigo, que sou seu marido?!
— Andrew. – Minha mãe chama depois que quebro uma de suas taças
de cristal na mão. – Se você continuar assim, terei que pedir para que me de
outro jogo de taças.
Bufo, realmente irritado, juntando os cacos em um canto da mesa.
— Eu dou quantas dessas a senhora quiser, caso convença aquela
mulher a mudar de ideia.
— Aquela mulher é sua esposa, Andrew. – Lilian diz toda calma. – E
mãe dos seus filhos.
— Bem, então diga isso a Luara, porque aparentemente sou o único que
está sabendo disso.
— Vocês já conversaram sobre o motivo dela ter mudado de ideia? –
Pergunta e olho para minha mãe com o cenho franzido.
Claro que conversamos. É sobre ela não querer ficar longe da família.
Algo na qual passo há anos já.
— Andrew. – Minha mãe insiste e olho para ela por breves instantes,
voltando a atenção para a parede do outro lado da sala.
Na verdade, talvez não tenhamos “conversado” sobre isso exatamente.
— Mais ou menos. – Admito. – Mas ela não quer deixar a família aqui
e ir. E agora ela deve estar considerando me deixar ir sozinho. Eu, que sou a
família que ela escolher. Mas que inferno!
— Controle essa boca!
— Ah, pelo amor de Deus! – Retruco, correndo as mãos pelo cabelo. –
Qual o problema daquela mulher, afinal? Ela recusou um trabalho em Nova
Iorque, porque não queria deixar o filho longe do pai. E nós nem mesmo
estávamos mais juntos! E agora ela está considerando me deixar, para não ir
morar em Londres comigo e deixar nossos dois filhos sem pai?!
Ao meu lado, Lilian solta um longo suspiro longo e impaciente antes de
me perguntar:
— Ela disse isso? Que iria te deixar?
— Bem, não. Mas...
— “Mas”, Andrew?! – Exclama. – Pelo amor de Deus digo eu! Vocês
precisam conversar. Já te passou pela cabeça que talvez ela apenas esteja
nervosa com essa mudança? Assustada, talvez? Que Luara precisa que você a
ajude a entender que vai dar tudo certo e que você não vai abandonar ela
quando estiverem lá?
— Eu nunca faria isso.
Sinto a mão de Lilian em meu ombro e a vejo puxar a cadeira ao meu
lado para poder se sentar.
— Você acabou de dizer que considerou ir para lá sem sua esposa,
filho. – Diz. – Tem certeza de que não deixou algo assim escapar, enquanto
tentava “não discutir”? – Pergunta e franzo o cenho. Sei que pensei, mas não
mencionei isso em voz alta. Tenho certeza. – Seus avós são casados há quase
sessenta anos e seu pai e eu há trinta e cinco. – Olho para minha mãe, sem
saber o que dizer. – O segredo para conseguir isso é saber abrir mão das
coisas as vezes e principalmente, o diálogo.
Ela então faz uma pausa quando desvio o olhar do seu e só volta a falar
quando olho para ela outra vez.
— Você não precisa realmente ir para Londres, filho. Seu pai estará lá e
poderá muito bem cuidar das coisas, assim como fazia aqui. Você ainda vai
estar por dentro de tudo, assim como deseja. Você quer estar lá com ela. É só
isso.
— E é pedir muito para que minha esposa passe um tempo comigo na
minha terra natal? – Pergunto. – Quer dizer...
Paro de falar quando meu celular vibra no bolso e ignoro, sabendo que
é Luara quem está ligando. Ela tem feito muito isso desde depois do almoço.
— Muito maduro, Andrew. – Lilian diz quando o telefone na outra sala
começa a tocar. – Eu não te criei para agir dessa maneira com sua esposa.
— Só estou tentando adiar o máximo possível essa briga. – Dou de
ombros e fecho os olhos.
— Sr. Andrew, é para o senhor. – Ouço Simone, a cozinheira, dizer e
olho em sua direção, vendo o telefone em sua mão.
— Diga que não estou.
— Você vai atender, sim! – Minha mãe diz em um pulo. – Não vou
ficar aqui te aguentando nem mais um minuto! – Ela então levanta e caminha
até onde Simone está, pegando o telefone dela e o joga para mim. Lilian
agarra o braço da cozinheira e as duas saem, deixando-me sozinho.
Olho para o aparelho em minha mão por alguns instantes, até que ouço
sua voz do outro lado, falando com alguém.
Fecho os olhos e inspiro fundo antes de sussurrar:
— Pronto.
— And. – Sua voz chega baixa e suave até mim. – Me desculpa. Eu não
quis dizer aquilo daquela maneira. Vem pra casa, por favor. Eu não quero
terminar e menos ainda começar meu ano brigada logo com a pessoa que
mais amo no mundo.
Por algum tempo, apenas ouvimos a respiração acelerada um do outro e
sinto que meu coração bate sincronizado ao dela.
— Sei que nós não brigamos e não quero que isso aconteça. – Volta a
falar. – É por isso que preciso te explicar o porquê de ter dito aquilo. E nós
tínhamos um acordo para hoje.
Sim, nosso acordo. Passarmos o dia entre escapadas nos intervalos
entre um compromisso e outro, para podermos fazer amor e tirar o atraso dos
últimos dias. E, no final da noite, antes da virada, fugir para algum lugar
apenas nosso, para começarmos o ano fazendo amor bem gostoso, sem
ninguém por perto.
— Esse acordo ainda está de pé? – Sussurro e ela solta um suspiro
aliviado.
— Sexo de reconciliação? Por favor! – Lura diz e a maneira com que
fala me faz rir, fazendo com que toda a irritação que sentia desde cedo
desapareça.
— Passo para te buscar para irmos ao mercado. – Falo. – Antes das três
estou em casa.
— Você me desculpa por ter dito aquilo?
— Acho que antes de qualquer coisa, nós precisamos conversar. –
Respondo. – Nós já estamos com tudo planejado há dias e seu “bom dia” hoje
me deixou irritado.
— Estou na TPM e o fato de termos uma festa com toda nossa família
marcada para hoje não está ajudando nada, querido. – Sorrio com sua
resposta e vejo minha avó passar pela porta.
— Eu amo você, linda. Lembre-se disso antes de decidir que não vai
embarcar nessa comigo.
Por algum tempo, eu espero por sua resposta, mas ela não vem.
— Certo. Nos vemos depois, então. Tchau.
— Tchau. – Sussurra e desliga.
Jogo o telefone no sofá e levanto, seguindo pelo caminho que vi minha
avó fazer.
∞∞∞
Luara
Já tem pouco mais de uma hora desde que consegui falar com Andrew
e sei que ele já está a caminho de casa, porque Lilian me ligou assim que
saiu, pedindo para que eu o lembrasse de pegar as bebidas quando fossemos
ao mercado. Neste meio tempo, eu já dei banho nos gêmeos, que saíram com
a titia Cami e a titia Ju. Elas levaram os dois para passear e de lá irão direto a
nossa casa no Leblon.
Termino meu banho e enrolo a toalha para ir me trocar no quarto bem
quando a campainha toca.
— Já vai. – Digo e a visita inesperada toca outra vez. – Já vai! –
Praticamente grito, indo até a porta para ver quem é e o apressadinho a toca
pelo menos mais três vezes antes que eu chegue. – EU DISSE QUE JÁ
ESTOU INDO! – Desta vez eu realmente grito, finalmente chegando à porta.
Pelo olho mágico, vejo o par de olhos cinza do outro lado e sei
imediatamente quem é o desesperado, que não pode esperar nem dois
minutos.
— Esqueceu a chave? – Pergunto assim que abro a porta, prendendo a
toalha ao corpo. Andrew se apoia contra o batente, observando-me de cima a
baixo e isso faz com que meu corpo se aqueça alguns graus.
— Atende todo mundo assim? – Ele pergunta sério e cruza os braços
junto ao peito.
— Eu vi você pelo olho mágico, querido. – Respondo, dando licença
para que possa entrar. – Esqueceu a chave? – Repito a pergunta.
— Deixei no carro. – Diz, seguido de um suspiro e coça o queixo,
encarando-me. – E se não fosse eu?
Reviro os olhos, impaciente com tanto interrogatório.
— Em primeiro lugar: se não fosse você, pode apostar que eu ia xingar
o infeliz por ficar tocando a campainha desse jeito. – Falo. – E em segundo:
Eu conheço seus olhos. Mesmo que você estivesse praticamente colado na
porta do outro lado, tentando dificultar essa tarefa pra mim.
Andrew sorri de maneira travessa para mim e fecho a cara, fingindo
estar brava.
— Mas respondendo sua pergunta: Eu teria mandado esperar mais um
pouco e iria me vestir.
— Certo.
Após mais uma demorada olhada por todo meu corpo e fazer com que
eu me aqueça mais alguns graus e me sentir desejada por ele, And finalmente
afasta do batente, mantendo os braços junto ao peito.
— Então... Você quer... Sei lá. Ter aquela conversa ou... – Ele diz as
palavras como se procurasse a coisa certa a dizer. E eu entendo o que não
consegue colocar pra fora no que diz respeito a esse assunto, porque me sinto
igual. Além de que, essa conversa ainda vai acabar por nos fazer brigar e eu
não estou afim de ter isso. Mas também não podemos jogar para mais tarde,
porque pode ser pior. – Ou...
Seu olhar cai por meu corpo novamente e ele faz um gesto entre nós.
Sorrio, finalmente entendendo qual a segunda coisa que está tentando dizer.
— Sexo? Por favor!
— Oh, graças a Deus! – Andrew exclama visivelmente aliviado,
fazendo-me rir. – Eu estava com medo de que você fosse querer conversar e...
– Puxo Andrew pela camisa, trazendo-o para dentro e ele chuta a porta atrás
de si, para poder fecha-la. – Essa sim é minha garota. – Sussurra, puxando-
me pelo quadril, colando nossos corpos. – Eu não quero brigar com você.
Nunca mais. Sério. Mesmo que você tenha me irritado tanto quando disse
aquilo.
— Você pode calar à boca e me beijar? Por favor! – Peço. – Você tá
estragando a coisa aqui.
Andrew ri com meu pedido e puxa a toalha do meu corpo, que
escorrega para o chão. Seus olhos brilham com admiração, enquanto observa
cada parte do meu corpo e sinto quando meu corpo aquece bem mais que o
normal.
Envolvo as mãos por sua nuca, puxando-o para um beijo mais do que
apenas demorado e molhado, enquanto ele nos guia às cegas até o sofá.
Bem devagar, desabotoo sua camisa, botão por botão, e o ajudo a tirar a
camisa, observando quando escorrega pelos músculos firmes de seus braços,
indo parar do outro lado da sala quando a joga para longe. Andrew sorri
contra minha boca e sinto minhas pernas baterem no braço do sofá, instantes
antes de eu cair sentada sobre ele, deixando meu marido centímetros acima
de mim.
— Eu esperei por isso o dia todo. – Sussurra contra minha boca. Sua
voz rouca e sexy faz com que meu corpo se arrepie todo.
— E eu esperei por isso há dias. – Sussurro de volta, abrindo o botão
de sua calça e baixo o zíper, descendo a calça junto da cueca e as duas peças
logo estão longe, junto da camisa.
Com as duas mãos envoltas em meu rosto e com a ereção colada em
minha barriga nua, Andrew me beija de uma maneira delicada e vai
aumentando a pressão contra nossos lábios a cada movimente. E eu toco seu
pau quente e grosso, sentindo meu desejo espelhado em seu corpo.
— Espera. – Ele pede e afasta, indo até nosso quarto e volta em
instantes com um pacote de camisinha na mão, na qual rasga com o dente. –
Eu passei a odiar isso desde que te conheci. – Sussurra, enquanto eu o
observo colocar o preservativo no pequeno And. Mordo o lábio inferior em
resposta e ele aproxima de mim mais uma vez, puxando minha perna. – Senti
tanta falta de fazer isso com você, anjo. – Diz e o sinto entrar em mim.
Andrew ergue minha perna e a apoia em seu ombro, beijando toda sua
extensão, enquanto se movimenta devagar, arrancando um gemido baixo de
mim conforme sinto sua barba áspera em minha pele.
— Você está apertada de novo. – Diz contra minha boca. – Preciso
resolver isso.
— Já te disse, amor: você que é um bruto de grosso.
Minha voz sai rouca, assim como a dele. E enquanto se move sobre
mim, sinto meu corpo se abrir mais e mais para poder recebê-lo por
completo, até que começa a aumentar seus movimentos, jogando a calmaria
de antes para bem longe, passando para algo bem mais bruto e forte, que faz
com que todo meu corpo se contorça, próximo ao clímax.
— Você não vai gozar, não. – Andrew diz, afastando-se. – Não depois
do que você me fez hoje.
Faço biquinho quando sai de dentro de mim e protesto, mas logo sou
tomada em seus braços e entrelaço as pernas em seu quadril, acariciando seus
cabelos.
— Quero foder você no tapete. – Diz, mordendo meu pescoço. – Quero
deixar nossa marca aqui.
Puxo o lóbulo de sua orelha para dentro da boca, puxando também seu
cabelo e ele geme em resposta aos meus gestos, colocando-se para dentro de
mim uma segunda vez. Então senta, deixando-me montada com ele.
Sinto sua barba em meu seio quando toma meu mamilo em sua boca,
puxando e sugando com força.
— Droga. – Murmura contra meu peito. – Eu vou gozar, Anjo.
Acelero meus movimentos e Andrew segura meu quadril, ajudando-me.
— Estou perto. – Murmuro baixinho, afundando o rosto em seu
pescoço. – Perto... – Minha voz se perde quando sinto sua mão em meu
clitóris. – Aaaah!
Meu corpo se contorce todo quando sinto Andrew explodir dentro de
mim no instante em que gemo seu nome ao atingir meu próprio orgasmo.
— Eu amo você. – Murmuro contra sua boca, correndo as mãos por
seus cabelos, movendo-me preguiçosamente em seu colo. – Eu não te disse
isso àquela hora porque queria falar diretamente pra você. Não quero que a
gente brigue por causa de um surto meu logo que acordo.
Andrew me segura em seu colo, mas não se retira de dentro de mim.
— Desculpa. – Diz, olhando diretamente em meus olhos. – Eu não
devia ter saído e te deixado daquela maneira. Nós tínhamos um acordo para
hoje: fazermos amor o máximo que conseguíssemos para a noite virarmos o
ano fazendo o que melhor sabemos fazer. – Aliso sua barba de maneira
preguiçosa e beijo o canto de sua boca.
— Então acho que teremos que compensar todas essas horas perdidas. –
Falo, beijando-o de maneira leve.
— Ah, sim. Com toda certeza nós temos. – Diz e beija meu seio. – Mas
antes, tenho que ligar pro Felipe e pedir para que vá ao mercado comprar o
que precisamos para noite. Ou o que estiver faltando, porque nem eu sei
mais.
Rio em resposta. Afinal, eu disse desde o início que não seria uma boa
deixar isso por nossa responsabilidade logo hoje.
— Tudo bem! Você estava certa e eu errado. – Andrew diz, como se
tivesse lido meus pensamentos. – Claro que não daria certo isso. Mas, eu
meio que esperava recarregar a energia a essas horas. Não começando a
gastar as primeiras calorias do dia.
Apenas dou de ombros.
— Então é melhor você fazer isso logo, porque estou pronta pra nossa
segunda rodada, gatão. – Digo, esfregando-me sobre ele e levanto para ir até
a cozinha para pegar algo pra comer.
— Argh!
∞∞∞
Andrew
Encerro a ligação com Felipe e vou até meu quarto para pegar mais
algumas camisinhas apenas por precaução.
Sei que Luara e eu ainda teremos aquela conversa para entrarmos em
acordo sobre nossa mudança para Londres, mas não quero estragar isso logo
agora. Talvez quando os dois estiverem calmos, possamos conversar. E para
ser sincero, depois de ouvir o que minha mãe tinha a dizer, tudo bem se meu
anjo não quiser ir. Afinal, posso fazer com a filial de lá, o mesmo que faria
com a daqui. E já passamos nossa lua de mel na Europa, então tudo bem.
Quando entro na cozinha, deparo-me com uma Luara nua na frente da
geladeira, pegando o pote de doce de leite. Ela enche a colher e a leva a boca.
Ah, eu posso me acostumar com isso de andarmos nus pela casa.
— Eu tenho uma boa ideia a respeito do que podemos fazer com esse
doce. – Sussurro em seu ouvido, entrelaçando sua cintura e a puxo para mim,
para que sinta minha ereção em sua bunda. – O que acha?
Luara vira de frente para mim e apoia sua mão sobre meu peito.
— Que eu vou adorar experimentar isso. – Responde com um sorriso
malicioso, chupando o doce.
Como se fosse uma corrente elétrica, ver seu gesto faz com que o
pequeno And fique ainda mais firme. Luara sorri, reconhecendo o efeito de
suas palavras em mim.
— Então você quer brincar? – Ela me provoca, colocando a colher em
minha boca e chupo todo restante do doce, imaginando que fosse ela em
minha boca e, assim como eu esperava, suas pupilas se dilatam, entregando-a.
– OK! – Exclama, tirando a colher da minha boca. – Já chega!
— Por quê? – Pergunto, pegando a colher de sua mão e a encho com
doce outra vez. – Eu estava apenas começando a brincadeira.
Com a colher cheia, lambuzo seus seios, sem desviar a atenção deles
em momento algum. Seus mamilos se enrijecem sob o toque frio do metal
quando toca sua pele.
— Você acabou de ficar ainda mais gostosa, linda. – Murmuro,
colocando a colher sobre o balcão atrás dela, descendo o rosto até seus seios,
onde chupo todo o doce, bem devagar... – Ah, sim. Esse bom. Tão gostosa. –
Digo contra sua pele.
Sinto as mãos de Luara em meus cabelos, puxando-o para trás, fazendo
com que eu a olhe nos olhos.
— Por favor, lindo. – Ela geme, abraçada a minha nuca. – Eu quero
mais do que isso.
Ignorando seu pedido, desço a mão por sua barriga, apreciando o
resultado em seu corpo quando se contorce com meu toque.
— And. – Luara geme e, com um único movimento, eu a coloco sobre o
balcão, colocando-me entre suas pernas. Sinto sua umidade quando a toco.
Sinto como está gostosa apenas para mim.
— Fica quietinha. – Digo, beijando sua boca com força e sou
correspondido com o mesmo fervor. – Bem quietinha... – Murmuro,
colocando-me para dentro de deu corpo, deslizando tão deliciosamente.
Tão quente...
Enrolo seus cabelos na mão e o puxo para trás, tendo acesso ao seu
lindo pescoço e o mordo, estocando mais e mais, até que sinto suas pernas
envoltas por meu quadril, prendendo-me contra ela e gozo quando seu corpo
todo se contrai e joga a cabeça para trás.
— Isso foi bom. – Lu diz, passando a mão por meu rosto e tira o suor
que escorre.
— Cada vez melhor. – Concordo e beijo seu queixo, enquanto meu anjo
segura meu rosto e me beija quando a tiro do balcão, indo sentar com ela no
chão.
— Nós vamos ter que batizar nosso apartamento em Londres. – Suas
palavras fazem meu corpo entrar em alerta. – Cômodo por cômodo...
— Não precisamos ir se não estiver segura, Anjo. – Digo em resposta,
beijando seu cabelo. – Minha mãe me fez entender que as vezes precisamos
abrir mão de uma coisa, quando queremos estar com outra mais ainda. – Falo.
– E eu prefiro estar com você. Não importa o lugar.
Luara ri ao ouvir minhas palavras e franzo o cenho, sem entender nada.
— Engraçado você dizer isso, porque... – Começa a dizer, enquanto
tenta arrumar meu cabelo para trás. – Minha mãe disse o mesmo para mim
e... Eu tive um sonho essa noite e eu estava com medo. – Franzo o cenho,
aguardando. – Medo por ter que estudar em outro país, sobre algo que não
sou acostumada. E... As coisas por lá não vão ser tão difíceis quanto parecem,
porque eu estarei com você cá. E eu sei que você estará do meu lado, assim
como estarei do seu.
— Eu sempre estarei do seu lado, minha linda. – Sussurro, beijando-a.
– Eu quero que você vá para lá comigo, porque não pude te apresentar tudo
da minha terra quando estivemos por lá.
— Adoro o fato de você ser britânico e mais ainda de ser casado
comigo. – Luara sorri. – Acho que podemos tentar isso.
— Sério? – Pergunto de volta, não conseguindo esconder a animação. –
Quer dizer, quando pensei nessa conversa, achei que fossemos brigar. Que
não conseguiríamos entrar em um acordo sem estragar o dia dos dois.
Mais uma vez, Luara passa as mãos por meus cabelos, tentando
arrumar no lugar e, assim como sempre acontece, ele volta para o mesmo
lugar.
— Acha que vai conseguir desfazer essa sua cara de quem acabou de
transar até de noite? – Pergunta com um ar divertido na voz e não consigo
conter a risada que me escapa.
— Provavelmente não. – Respondo e a beijo com força. –
Principalmente porque quero fazer isso pelo menos mais três vezes antes de
sairmos.
Envolvo seu quadril em meus braços, tomando impulso para nos
levantar do chão. Assim que o faço, Luara envolve meu quadril com suas
pernas e os braços em meu pescoço, enquanto nos levo até nosso quarto às
cegas, sem desviar a atenção de seu pescoço.
— Também tive medo dessa conversa. – Diz entre gemidos. – Não
queria que brigássemos... Logo hoje... Eu quero muito ir para Londres com
você outra vez. Morar lá por um tempo. Desculpa por dizer aquilo cedo.
Conforme fala, percebo que sua respiração acelera cada vez mais,
conforme roço minha barba por seu pescoço, marcando-a à minha maneira,
enquanto ela me marca a sua, passando as unhas por minhas costas, fazendo-
me gemer ao seu toque.
Quando eu nos deito na cama, meu Anjo envolve meu rosto em suas
mãos e segura a pouca distância do seu.
— Morar em Londres significa que vamos poder tentar ter um pequeno
britânico também. – Diz. – E eu vou adorar poder ter um filho seu lá.
—Já eu vou amar poder dar esse filho a você.
Ano Novo
Luara
∞∞∞
Andrew
Já tem quase duas horas desde que chegamos e desde que disse a Luara
que cumprimentaria meu pai, não consegui mais chegar perto do meu anjo e
menos ainda de onde está.
Tudo o que consegui foi ser puxado para uma conversa masculina e
cheia de testosterona com um monte de homens. Por sorte tenho minha
cerveja aqui comigo. Caso contrário, eu não aguentaria. Ainda mais depois de
ver como a Lu está sexy com aquele vestidinho branco.
Olho para o lado, para onde meu anjo está sentada em um banco alto,
no quiosque da churrasqueira, conversando com seu pai. Ela vira para o lado
e cruza as pernas, enrolando o cabelo no dedo e jogando-o sobre seu ombro.
Alguém pergunta algo para mim, chamando minha atenção de volta à
nossa mesa.
— Oi. Desculpa?
Volto a atenção para a mesa e Felipe ri.
— Perguntei quando vocês vão se mudar. – Repete a pergunta. –
Depois vocês dois podem voltar para o que estavam fazendo antes.
Ignoro seu comentário, considerando que não estamos sozinhos.
— Estamos com as passagens para a próxima quarta-feira. – Respondo,
mais uma vez olhando para onde Luara está e ela olha para mim, jogando-me
um beijo. Sorrio em resposta e pisco para ela. – Logo no início da tarde. –
Completo.
Como a inauguração da BIT será na segunda, pretendo estar descasado
para esse dia, que será também a apresentação oficial de Luara como vice-
presidente da BIT Technologies. O dia em que ela deixara de ser apenas
aquela garota do TI, para se tornar alguém de respeito dentro desta empresa.
A ideia de apresentá-la junto a inauguração foi de João, que concordou
em ficar como vice aqui no Brasil por mais algum tempo. E ter essa sua ajuda
enquanto nós estivermos fora, poderei ficar tranquilo, sabendo que minha
empresa estará em segurança e em boas mãos.
Entro em uma conversa com Felipe e Gabriel, sobre quais são meus
planos para a BIT no futuro e o que espero conseguir dentro deste primeiro
ano. Sobre o escritório que já estou negociando em Goiânia e Belo Horizonte.
— Sobre o que vocês estão conversando? – A voz suave de Luara
chega até mim e sinto seus braços se envolverem por meu pescoço. Beijo seu
braço, sentindo o perfume suave que dei a ela de Natal.
— Sobre como quero te levar para um passeio em Londres outra vez. –
Respondo e pisco para ela, tirando seu braço de mim e a coloco sentada em
meu colo.
— O And contou que eu surtei hoje cedo, Felipe? – Lu pergunta em um
tom sério.
— Contou também sobre como vocês fizeram as pazes. – Ele ri em
resposta e pigarreio, não querendo ir por esse caminho. Não com o namorado
da irmã caçula de Luara por perto.
— Vocês pretendem vir pro Brasil a passeios ou só depois desse ano? –
Gabriel pergunta, chamando a atenção de Luara para mim. O pequeno And
começa a sentir o peso de sua bunda sobre ele.
— Passeios, trabalho. – Respondo. – Não sei se conseguiremos fazer
uma viagem por mês. Principalmente com os pequenos, mas a cada dois, pelo
menos. – Explico. – Principalmente porque não posso abandonar a empresa
aqui por muito tempo. O que nos fará ficar pelo menos uma semana.
Lu se acomoda melhor no meu colo, ficando de lado e envolve meu
pescoço em um abraço.
— Você não tinha me dito isso.
— Você vai ser minha vice-presidente, amor. – Dou de ombros. – Vai
ter que se acostumar a comandar não uma, mas duas empresas de grande
porte.
— Eu posso lidar com isso. – Ela sorri. – Não pode ser tão pior do que
participar das centenas de reuniões que o João me fez participar com ele.
— E quando eu tiver que viajar a negócios e você precisar cuidar de
tudo sozinha?
— Bem, pode ter certeza que você não vai viajar sozinho. – Responde
prontamente. – Eu vou com você, é claro. Ainda mais depois da última vez
que você fez isso sozinho e sumiu por horas.
— Pensei que fosse por isso que me deu esse presente de casamento. –
Comento, erguendo o braço com o Apple watch em meu punho. É um relógio
bem prático e quase não preciso usar o celular com ele.
— Pode apostar que não foi pra você viajar e me deixar sozinha, amor.
— Parece que ela te pegou de jeito nessa, Andrew. – Felipe ri.
— Faz é tempo, meu amigo. – Respondo e aperto a mão na cintura de
Luara, fazendo com que ela pule em meu colo. – Não vejo a hora de poder
ficar sozinho com você mais tarde. – Sussurro no ouvido dela e beijo seu
pescoço, onde tem uma marca levemente vermelha. No decote do vestido
curto que usa, que sobe a cada vez que se mexe em meu colo, tem algumas
marquinhas das nossas brincadeiras de mais cedo.
Boas brincadeiras.
∞∞∞
Luara
Passa um pouco das onze horas e não tem uma única nuvem no céu,
que possa dar indícios de chuva. O que é bom, já que é ano novo.
Depois de tanto brincarem com o papai e o dindo na piscina, Alice e
Matthew dormiram sem nem mesmo precisarem mamar. Ainda mais com o
tanto que comeram com cada uma das pessoas que os pegava no colo.
Corro as mãos por meus cabelos, levando-os para trás e as mantenho ali
por algum tempo, apenas para poder sentir a brisa do vento.
— Está muito pensativa hoje, amor. – Sinto as mãos de Andrew em
meu quadril. – O que houve? – Pergunta, beijando meu rosto.
— Nada. – Respondo, apoiando a cabeça em seu peito. – Só estava
pensando que há um ano atrás, nós estávamos tão longe um do outro e o
quanto eu queria estar com você. Que naquela época, nossos filhos ainda
estavam aqui. – Guio suas mãos para minha barriga e as seguro ali. – E agora
eles estão grandes, brincando e rindo. Se divertindo com toda nossa família.
Tão saudáveis e lindos, assim como o pai. – Sorrio ao sentir os lábios de
Andrew em meu pescoço quando me beija, causando um calafrio por todo
meu corpo.
— Acho que nós fazemos filhos muito bem, obrigado. – Ele diz sem
afastar do meu pescoço e concordo.
— Tanta coisa aconteceu nesse ano e só tem uma que quero apagar pra
sempre.
Andrew desce a mão em minha perna, subindo a saia do vestido.
— O que você acha de anteciparmos nossa fuga e irmos pro quarto? –
Pergunta com a voz abafada e meu corpo se arrepia todo, entregando todo
meu desejo a ele. – Eu posso te fazer esquecer tudo o que quiser, minha
linda.
— Sabe o que eu acho? – Pergunto, virando-me de frente para ele e
olhando em seus olhos. – Acho que isso seria uma excelente ideia.
Sorrindo, eu o beijo de vagar, sentindo sua mão em minha perna,
subindo até alcançar a calcinha.
*
Andrew tranca a porta atrás de nós assim que entramos no quarto.
Ele não me deixa virar, não me deixa abrir os olhos e ver como nosso
quarto está. Mas eu sinto uma suave fragrância perfumar todo o ambiente e
suponho que sejam velas aromáticas.
Suas mãos juntam meu cabelo em um rabo de cavalo e sinto sua boca
em meu pescoço, beijando-me com força. Aquele mesmo calafrio de antes
percorre todo meu corpo e levo as mãos até seu cabelo, puxando-o para mim,
para um beijo doce e demorado, que tem uma pitada de vinho e uva. Um
sabor levemente alcoolizado, mas que faz meu coração pular contra o peito.
Sinto os batimentos do coração do meu amor contra o meu quando ele
cola nossos corpos e puxa meu lábio inferior pouco antes de se afastar,
deixando-me com uma terrível sensação de vazio.
— Abre. – And sussurra, colocando meu cabelo para trás da orelha.
Inspiro fundo e solto o ar de vagar antes de abrir os olhos.
— Oi. – Ele sorri.
— Oi. – Sorrio em resposta.
Assim como eu havia imaginado, o quarto está iluminado apenas por
luzes das velas e tem algumas pétalas de rosas vermelhas espalhadas pelo
chão do quarto e na cama, assim como já virou nossa marca.
— Acho que estou tão nervoso agora, como fiquei na nossa noite de
núpcias. – Andrew diz, fazendo-me sorrir.
— Eu também me sinto assim. – Confesso.
Correndo as costas de sua mão por meu rosto, Andrew me encara sério
e posso ver como suas pupilas se dilatam.
É lindo vê-lo assim, apenas para mim. Ele desce a mão por meu braço
até a altura do quadril, levando-a para trás, onde está o zíper do meu vestido e
o abre, fazendo com que as alças caiam por meus ombros nus e logo estou
apenas de calcinha.
— Tão linda. – Sussurra com seu olhar fixo em mim e sorrio em
resposta, tentando ignorar o calor em meu corpo.
Desabotoo sua camisa, botão por botão, sem pressa alguma. Andrew
sorri, observando minhas mãos trêmulas trabalhando no tecido e a deslizo por
seus ombros largos. Seu peito está em um ritmo acelerado.
— Tão lindo. – Sussurro assim que termino de tirar também sua calça e
por algum tempo eu o admiro em sua melhor forma.
Com um passo a frente, Andrew gruda nossos corpos um no outro e me
beija, levando-nos para a cama, sem nunca se afastar. Até que chegamos ali,
não há mais peça alguma em nossos corpos, que nos impeça de sentir o calor
do outro.
A música que tocava baixa e distante lá fora para e tudo o que ouço é o
som de nossa respiração pesada.
Ao longe, ouço alguém puxar uma contagem regressiva, na qual sou
incapaz de acompanhar. É como se aqui dentro, estivéssemos em outra
galáxia e este fosse um mundo apenas meu e de Andrew.
Ele se coloca entre minhas pernas e sinto quando desliza para dentro de
mim quando o primeiro rojão estoura lá fora, fazendo-me cravar as unhas em
suas costas, entrelaçando também minhas pernas em seu quadril, apertando o
salto em sua bunda.
Mais rojões estouram conforme se movimenta sobre mim, prendendo
minhas mãos acima da cabeça. Ele cria nosso próprio ritmo de um tango,
conduzindo-me para ele, até que o barulho lá fora deixa de existir por
completo.
— Eu amo você. – Andrew diz, sem parar de se mover e puxo seu
cabelo, beijando-o com toda minha paixão.
— Eu sei. – Digo contra sua boca, apertando-o contra meu corpo. – E
eu também amo você.
Ele sorri.
Lá fora, não há nada nem ninguém para mim neste momento. Somos
apenas Andrew e eu e assim seremos pelo resto de nossas vidas.
CINCO ANOS MAIS
TARDE
Andrew
∞∞∞
Luara
Quase vinte e quatro horas já se passaram desde que pousamos de volta
no Brasil. Nossa última viagem para cá e a que ficaremos por muitos e muitos
anos.
Por mais que eu tenha amado passar os últimos cinco anos morando na
Europa, eu já estava sentindo falta do calor da minha terra. Eu senti falta do
calor carioca e do cheiro do mar, que vem da praia de Copacabana para o
Golden... Finalmente poderei chamar de “minha casa”, nossa casa no Leblon.
É aqui onde verei meus quatro filhos crescerem e o lugar onde envelhecerei
ao lado do gostoso do meu marido. Do meu amor.
A casa, depois que a Ju trabalhou nela com sua equipe da JK Mazzon
Arquitetura, ficou ainda mais linda do que era quando And me trouxe aqui da
primeira vez e tudo ficou ainda mais lindo do que havíamos imaginado. E
como nós estávamos fora, Julie ficou responsável por tudo. A cada coisa
nova que faziam, ela nos mandava um detalhamento completo de tudo que
estava acontecendo. Etapa por etapa.
Por falar na Jujuba, ela e Felipe se casaram já tem três anos e meio.
Apenas um mês depois de termos descoberto que estávamos grávidas dos
nossos meninos. E ver minha amiga de noiva, o casamento... Foi a coisa mais
linda. And e eu fomos padrinhos deles e nossos pequenos já com dois
aninhos, entraram na igreja com ela, carregando as alianças e de daminha de
honra. Eles fizeram tudo tão certinho, que só consegui me sentir a mamãe
mais coruja de todas.
Na verdade, não foi apenas no casamento que me senti assim em
relação a eles, mas sim a cada momento.
Depois do casamento, foi a inauguração do escritório da minha amiga e
essa foi mais uma vez que voltamos ao Brasil.
Agora falando sério, você vai rir se eu disser que, assim como
aconteceu da última vez, Ju e eu vamos ter bebês de novo. A Mia deve chegar
junto do Jamie em fevereiro e foi uma grande surpresa quando contamos que
estávamos grávidas, na última vez que viemos pra cá. Foi no enterro do João.
João... Foi horrível vê-lo ali, depois de todos esses anos. Um homem
tão forte, amigo e leal quanto ele. Vê-lo daquela maneira depois de tudo o
que me ensinou foi uma das piores sensações que já passei em anos. Depois
daquele dia, tudo o que eu mais quis foi manter distância do Brasil pelo
máximo de tempo que conseguisse. Que foi basicamente até que eu
terminasse meu MBA e And e eu entramos em acordo sobre voltarmos para
cuidar da empresa nós mesmos.
Andrew... Meu Deus! Como eu amo esse homem. A cada dia, a cada
conversa ou discussão que temos sobre trabalho. A cada vez que ele se
mostra ainda mais meu amigo, eu só consigo amá-lo mais do que antes. Eu
mentiria se dissesse que na época em que o conheci, eu esperava que ele
fosse conseguir ficar ainda mais bonito, sexy, gostoso, irresistível e todo o
mais, eu mentiria. Mas foi exatamente tudo isso que aconteceu. Ele, aquele
homem safado, que não me deixa dormir se não fizermos amor antes, ele é
incrível. Ele é tudo pra mim e sei que sou o mesmo para ele.
Apenas pelo fato de eu ser casada com Andrew, é mais do que motivo
suficiente para ficar de olho em todas aquelas mulheres que não tiram o olho
do meu homem, na espreita de poder ter um momento com ele. Sempre que
possível, faço questão de dar um beijo mega apaixonado nele, na frente de
todo mundo. Seja em algum evento de negócios, reunião com um possível
cliente ou até mesmo no trabalho. Afinal, eu posso.
*
Sentada no jardim, sinto a brisa do vento soprar meus cabelos e tento
segurar uma mecha que escapa.
Alice e Matthew estão brincando em um canto próximo da piscina,
enquanto Andrew está com And na água, ensinando-o a nadar.
Até pouco tempo, eu também estava lá. Mas como a Ju ligou dizendo
que estavam chegando, preferi sair e descansar um pouco, já que estou
naquela fase da gravidez em que encosto em qualquer canto e já durmo. É
bom, pra ser sincera. Principalmente porque And sempre me ajuda com as
crianças a noite, quando estou realmente cansada por conta dos estudos e do
trabalho. Ele sempre me ajuda com isso.
— Olá, família! – A voz familiar da minha melhor amiga chega até
mim e olho por cima do ombro, vendo Julie toda sorridente.
Minha baixinha e mais uma vez gorduchinha, está com um barrigão tão
grande quanto o meu ou talvez um pouco menor. Não sei dizer ao certo. Ela
está com um vestido florido, com os cabelos presos em um rabo de cavalo.
Felipe vem logo atrás dela, trazendo um cesto em uma das mãos, que
parece balançar bem mais do que realmente deveria, enquanto o pequeno
Marco segura sua mão livre.
Marco é uma criança linda e descobri que parece muito com Felipe
quando tinha a idade dele. Ele e o And vivem juntos sempre que possível e
acho que agora vão passar ainda mais tempo, agora que voltamos a morar
aqui.
— Onde estão os três pequenos do tio? – Felipe pergunta, parando ao
meu lado. – Oi, Luara. – Cumprimenta-me.
— Olá! – Sorrio em resposta, Julie senta ao meu lado, dando-me um
abraço. – Você está linda.
— Você também.
— E cadê o beijo da dinda? – Digo quando Marco se aproxima de nós e
o envolvo em um abraço apertado, cheio de beijos. – Eu estava com saudades
de você, lindo.
— Eu também.
— E então? – Felipe tenta chamar a atenção dos meus pequenos mais
uma vez, agora conseguindo.
— TIO FE! – Matt e LI exclamam ao mesmo tempo, correndo até nós.
Andrey, percebendo que temos visita, deixa de prestar atenção no pai e o
arrasta até a borda da piscina para poder sair.
— Adivinhem o que o dindo trouxe pra vocês.
— And chega com nosso pequeno e senta do meu outro lado, dando-me
um beijo no rosto. Andrey e Marco rapidamente entram na brincadeira com
os outros dois, chutando coisas sobre a qual Felipe pode ou não ter escondido
dentro do cesto.
— Acho que eles nunca vão acertar, amor. – Ju diz, fazendo-o rir.
— Pelo amor de Deus! – Exclamo. – Até eu estou curiosa agora.
Felipe senta no chão com as quatro crianças, formando um círculo ao
seu redor e coloca o cesto no centro, cochichando algo com eles. Os quatro
olham para Andrew e eu e riem. O que me deixa ainda mais curiosa.
— O que tem aí, titio? – Matt pergunta, sentando sobre suas perninhas.
— Algo que vocês vão amar. – Diz, aumentando o mistério. – Podem
abrir.
— Juntos, Matthew, Alice, Andrey e Marco erguem a tampa e logo
vejo uma pequena bolinha de pelos brancos colocar sua cabecinha para fora,
assim como a língua. Um pequeno coro de “óóóóóóóhhh! Que lindo!” quebra
o silêncio.
— É de vocês, titio? – And pergunta.
— É de vocês, meu amor. – Ju responde, chamando a atenção dos meus
filhos.
— Nosso?! – Matt e Li perguntam ao mesmo tempo e ela concorda.
— Au-au. – Marco faz, sentando no chão ao lado do cesto.
— Au-au. – And repete, passando a mão no pequeno animal.
— Como ele chama? – Matt pergunta.
Felipe explica que eles podem escolher o nome do cachorrinho, mas
que precisa ser um que todos concordem e que o pequeno também goste. O
que causa uma pequena discussão sobre escolher Bob, Barney, Marley, Luke,
Macarrão (sugestão do And), Chantili (sugestão do Marco) e entre tantos
outros, que nem consigo lembrar mais.
Sinto Andrew passar os braços ao meu redor, abraçando minha barriga
e sinto sua barba em meu pescoço quando me beija. Viro o rosto para ele,
recebendo seu beijo.
— Shushi! – And exclama, ficando de pé. – Eu quelo Shushi!
— Você não pode chamar ele de Sushi, And. – Alice diz, paciente.
— Pu quê? – Ele pergunta, jogando as mãozinhas pra cima.
— Shushi é legal. – Marco concorda com ele.
— Porque alguém pode querer comer ele e nós vamos ficar sem. – Matt
explica.
Com esta resposta, And e Marco arregalam os olhos e suas boquinhas
se abrem em um pequeno o e, por alguns instantes, penso que vão chorar.
— Por que vocês não o chamam de Thor? – Andrew sugere. – Ele tem
cara de Thor.
— THOR! – Os quatro gritam em uníssono.
Alice é a primeira a tirar Thor do cesto para a sessão de carinho.
— Parece que ele gostou mesmo desse nome. – And sussurra em meu
ouvido, dando um beijo em meu rosto.
Ju diz algumas coisas sobre como devem fazer para cuidar do Thor e
que precisam dar muito amor e carinho pra ele, levá-lo sempre pra passear e
lembrar de dar comida e banho, para que o papai e a mamãe não se
arrependam de tê-los deixado ter um bichinho. O que é claro que faz com que
todos eles nos olhem, fazendo biquinho.
— Adorei aquela ideia de macarrão. – Falo, apertando o braço de And
em minha barriga e sinto um chute logo abaixo de onde sua mão está.
Andrew apoia o queixo em meu ombro e sinto seu sorriso, tentando
procurar o ponto onde Jamie mais chuta.
— Resolverei isso pra você no jantar, Anjo. – Ele diz com o mesmo
sorriso pela qual me apaixonei da primeira vez, anos atrás.
Fim.
Quando trabalhamos por um longo período em algo, é normal nos apegarmos
aquilo. Trabalhar com essa série não poderia ser diferente. Foram cinco anos,
imaginando como seria escrever sobre LuAnd e JuLipe.
"Destinos Cruzados" não apenas foi meu primeiro livro públicado, como
também meu primeiro projeto 100% concluído. Aprendi muito, muito
MESMO com essa série. Tanto como autora, como também pessoa.
Aprendi, acima de tudo, a correr atrás dos meus sonhos, mesmo quando todos
dizem "é impossível, você vai fracassar. Isso é um erro!".
E daí se for um erro?! Foi o meu erro! E eu corri atrás do meu sonho, mesmo
que no final tenha quebrado a cara.
Foi isso o que Luara me ensinou. A não desistir, a não abrir mão do que mais
desejo, mas saber abrir mão de algo, quando uma coisa ainda maior nos
espera.
Com Andrew, nosso "Gostosão da Praia", não poderia ter sido diferente.
Não me despeço deles aqui, pois ainda os verei pela frente, fazendo
participações no spin-off contado por Julie e Felipe, que espero em breve
lançar.
SIM! O nosso Advogato e a Arquiteta boca suja também estão ansiosos para
contar suas histórias e, principalmente, como foi sua tragetória até o "felizes
para sempre".
Nathy, Pedro, meu eterno obrigada a vocês dois, por todo apoio que me
deram enquanto escrevia essa obra.
Obrigada a cada um dos meus leitores por todo apoio ao longo do último ano.
Isso não é um adeus. nos vemos em breve.
Aline Rabello