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Aline Rabello
Aos meus leitores: meu eterno obrigada!
Índice
Página do título
Dedicatória
Prólogo
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Seis Meses Depois
Anjo,
Sei o quanto tenho errado com você e o quanto isso tem
machucado a nós dois. Principalmente nesses últimos dias.
Por algum motivo, achei que me afastando fosse ser melhor para
você. Que assim eu erraria menos. Eu... Quando entrei no seu
apartamento e vi vocês dois lá, eu não acreditei em nada do que ele
havia plantado. Percebi que algo estada errado quando recebi sua
mensagem incompleta e com algumas palavras estranhas. E eu
ligava e você não atendia. Aquilo apenas me deixava ainda mais
desesperado. Louco... Enquanto dirigia de volta, eu rezava para que
você estivesse bem. Mas não pensava que fosse ver aquilo.
E quando vi, foi minha perdição.
Senti que havia errado com você por não tê-la protegido como havia
prometido. Eu devia ter insistido mais para que fosse comigo
naquele jantar, ainda que para você fosse ter uma noite apenas
ouvindo conversas tediosas, porque é assim que eu sinto às vezes.
Você é minha companheira. Ou era...
Quando você esbarrou em mim na garagem, tudo o que eu mais
quis fazer foi te levar para o meu carro e ficar lá até que
resolvêssemos tudo isso. Ou até que você me matasse por tê-la
deixado quando precisou de mim. E quando você apareceu durante
aquela reunião, vi em seus olhos toda minha culpa e quis te abraçar
forte. Mas fui um completo covarde.
Seu evame não provou nada a mim, além do fato de eu ser um
grande idiota. Eu não o abri para saber algo sobre tudo aquilo,
porque para mim bastou sua palavra. Eu abri porque precisava
saber que você estava bem. Que você e nosso filho estavam bem. E
não qualquer que fosse o propósito de você ter me entregado
aqueles exames.
Por algum tempo eu apenas fiquei aqui olhando para este papel e
pensando no que deveria escrever. Fiz isso à noite toda já. À
questão é: quando aquela música começou a tocar no som da
minha sala, não consegui deixar de pensar naquela primeira noite
em Nova Iorque com você. Na maneira com que se entregou a mim
por completo e na maneira com que te recebi quando chegou a
minha cidade. Ou quando você me recebeu sete anos atrás. E eu
quis saber se você também a ouvia ou se aquelas palavras estavam
apenas na minha cabeça.
Eu me lembro de tudo daquela noite. Cada detalhe, por menor que
tenha sido, ficou gravado em minha pele por todos esses anos. E
por dias chamei por você, procurei por você...
Aquele dia na praia não foi diferente. Você havia novamente sido
gravada em mim, ainda que eu lutasse contra. Cada uma delas,
todas elas, dizia que eu chamava por você. Apenas: L.
E agora não é diferente. Por todas essas noites tenho chamado seu
nome. Sei disso porque isso me acorda do meu cochilo e não
consigo mais voltar a dormir.
À questão, linda, é que doeria bem mais te perder hoje do que foi
antes. E eu não quero isso. Quero que você seja minha, para
sempre, de corpo e alma. Por toda minha vida. Assim como sou
seu.
Quero que você aceite dividir sua vida comigo, para que juntos
criemos uma.
E eu sei que você está ai, arrumando suas coisas para voltar para
casa dos seus pais e esse é o motivo pela qual estou correndo
contra o tempo aqui. Não quero te perder outra vez. E se você tiver
dito que precisa de tempo, eu vou esperar e respeitar, porque não
quero estragar tudo outra vez. Mas jamais pense que desisti de
você.
Me afastar foi meu pior erro. Mas ter você foi meu maior acerto. E
eu quero ter uma vida de acertos com você.
Lembre-se: Nunca houve um "não".
Eu amo você. Sempre amarei.
Omnia causa fiunt.
Após uma breve discussão com Victor, meu pai e Presidente CEO
da BIT Technologies, a maior empresa de tecnologia do país e uma
das maiores entre as américas, apenas peguei meu carro e sai do
hotel, sem rumo algum, dirigindo por São Paulo, seguindo para o
desconhecido que essa cidade sempre foi para mim.
E ok! Eu sei que todas as vezes que Victor diz que eu deveria
ouvir seus conselhos, que toda droga de crítica sua a meu respeito
e sobre o que estou fazendo de errado é para meu próprio bem e
que todas essas merdas que faço hoje podem acabar prejudicando
minha carreira como futuro Presidente da BIT, mas o que posso
fazer? Sou um homem de vinte anos e o único herdeiro de toda uma
indústria de tecnologia, que esta no segundo ano da faculdade de
engenharia de software e que passa a maior parte de todos os dias
trabalhando e estudando para ser o que esperam que eu seja.
Na única folga que tenho, é obvio que vou querer aproveitar.
Curtir minha vida sem pensar tanto nas responsabilidades que tenho
sendo um Giardoni. Sem ter que pensar se vou ou não arruinar o
nome da família, que meu pai tanto lutou para fazer com que ele
tenha extrema importância e que todos respeitassem.
Mas é claro que Victório nunca vai entender algo assim. Ele só é
o cara que basicamente não quer que o filho seja um perdido na
vida e que perca tudo o que ele lutou anos para conquistar. Só que
eu também não sou assim. Sei separar as coisas e agir como um
homem responsável.
Meu celular toca no banco do carona após não sei mais quanto
tempo dirigindo. Antes de atendê-lo, paro com o carro em uma rua
sem muita iluminação, para só então atender a ligação.
— Fala.
— Onde você esta? – reconheço a voz de Felipe do outro lado
da linha. – Estou aqui no seu quarto do hotel e seu pai disse que
você saiu. Achei que tivéssemos combinado de ir para aquele
barzinho para tirar seu atraso. – ele ri com a própria piada e, irritado
como estou, tenho que me conter para não manda-lo a merda.
— Estou em algum lugar. – respondo indiferente, olhando para o
lado, onde vejo uma casa do outro lado da rua e vários
adolescentes na faixa dos seus dezessete, dezoito anos. – Tem uma
festa aqui. Talvez eu fique para ver no que dá. Ligo para você
amanhã. – e encerro a chamada, guardando o celular no bolso da
calça e saio do carro.
Para minha sorte, quando sai do hotel estava terminando de me
arrumar para sair com Felipe. Então que estou pronto para esta
ocasião, ainda que não faça a menor ideia de onde esteja ou que
pessoas estão aqui. Apenas que algumas das garotas que
conversam frente ao portão são bem gostosas.
Conforme me aproximo da casa, ouço a música que parece
aumentar ainda mais e os rostos se tornam distintos, embora
irreconhecíveis para mim. Várias garotas lindas e com hormônios a
flor da pele, dispostas a dar qualquer coisa que eu queira e,
considerando que estou no auge dos meus vinte anos, sendo um
universitário, estou com uma boa vantagem na frente de todos
esses garotinhos aqui.
Uma garota sorri quando alcanço à calçada e, sem demora, ela
me oferece seu copo e apenas o seguro, dando a ela um sorriso em
agradecimento.
— Esta procurando por alguém? – pergunta com um sorriso
intencionado e tomo um gole de sua bebida, devolvendo a ela,
dando uma boa olhada de cima a baixo.
A garota tem um corpo magro, cabelos loiros e fartos seios que
quase saltam para fora de sua blusa extremamente decotada. Seus
lábios carnudos cobertos por um forte batom vermelho. Ela passa os
dedos lentamente pela borda do copo enquanto aguarda por minha
resposta.
— Estou. – minto. – Deve estar lá dentro.
— Quem é? – pergunta curiosa. – Talvez eu possa te ajudar a
encontrar. Conheço todos e por aqui.
Sorrio, sentindo bem o porquê de conhecer todos os convidados.
Ainda assim, dispenso sua companhia. Além do mais, não há uma
única pessoa que eu conheça para poder descrever a ela. Não que
seja isso que ela queira também.
— Não precisa. Obrigado. – digo, dando as costas para ela,
seguindo pelo quintal até o interior de uma enorme casa, onde a
caminho vejo vários outros rostos estranhos.
— Ah não, Julie! – a voz alterada de uma garota chega até mim,
apesar da música alta. – Este é nosso dia e esta é a nossa música.
Você tem que dançar comigo! – ela exclama.
— Desculpa amiga, mas você esta bêbada demais para isso. – a
garota chamada Julie diz em resposta. – Não estou nada afim de ter
você vomitando em cima de mim.
— Que bela amiga você é! – a primeira garota diz, mostrando a
língua para a amiga e sorrio ao vê-las interagindo.
— É por isso mesmo que sou sua melhor amiga. – Julie
responde. – Vai, senta aqui que vou buscar uma água gelada para
você.
E, colocando a garota sentada em um canto, ela sai sentido à
cozinha. Não leva mais do que poucos segundos para que a garota
levante, voltando a dançar sua música no meio da sala.
— Festa legal. – digo ao me aproximar dela.
— Oi! – ela grita. – Você não é da nossa turma!
— Adoraria ser. – digo com um sorriso sincero e ela para de
dançar. – Você deveria pular assim? – pergunto curioso. – Segundo
sua amiga, não.
Ela ri.
— Você estava ouvindo nossa conversa! – exclama entre uma
mistura de surpresa e indignação, embora ria. – Você é irmão de
alguém aqui? – pergunta. – Primo? Com toda certeza não é da
nossa escola. Você é velho demais para ainda estar na escola. Sem
ofensas.
— Tudo bem. – sorrio para ela.
— Quer ir lá para fora? Tem uma piscina lá do fundo e ninguém
pode ir lá e aqui está muito barulho. Não da para conversar direito.
— E você pode? – pergunto curioso, notando as covinhas em
seu rosto quando ela sorri toda orgulhosa e, agarrando minha mão,
guia-me por entre as pessoas, indo até a cozinha, seguindo até uma
porta nos fundos. Vejo sua amiga passar por nós com uma garrafa
d’água.
— O dono da casa é meu melhor amigo. – ela diz, parando para
tirar uma chave do bolso e destrancar a porta. – Como daria muita
bagunça e os pais dele não estão em casa hoje, a piscina é acesso
proibido para todo mundo. Mas depois que todos forem embora nós
viremos nadar aqui. – diz ainda mais orgulhosa, finalmente soltando
minha mão.
— Privilégios. – comento, segurando a porta para que ela possa
sair na frente e a fecho quando saio, esperando até que ela a
tranque outra vez.
Aqui no quintal dos fundos a música não chega de outra maneira
além de algo abafado e noto um jardim ao nosso redor, iluminado
por uma luz verde que contorna toda a piscina, alguns coqueiros em
um canto e cadeiras, também pouco afastadas. A piscina é grande e
esta cheia até a boca.
A garota senta na borda da piscina e tira sua sandália,
colocando-as de lado para jogar as pernas para dentro da água.
Por algum tempo eu apenas observo a maneira com que balança
as pernas e me permito observa-la melhor. Algo que não fiz bem
desde que a vi lá na sala.
De pé, ela não chega nem mesmo a bater no meu ombro, uma
vez que tenho 1,92 de altura. Ao contrário da garota que me
recebeu lá no portão, esta não tem seios fartos, mas sim um
pequeno e atraente par de seios, que estão devidamente colocados
para dentro de sua blusa, mostrando apenas um decote
naturalmente sexy. Seus cabelos são longos e ondulados, dando no
meio de suas costas, com as pontas pintadas de vermelho e uma
franja que insiste em cair sobre seus óculos, fazendo com que ela a
arrume atrás da orelha toda vez. Um gesto lindo do ângulo em que
estou, pois a luz esverdeada reflete por todo seu corpo, deixando
seu vestido preto com uma nova tonalidade.
E eu sei que minhas invenções não eram nem de longe boas
quando passei por aquele portão, mas não posso fazer isso. Não
com esta garota e menos ainda com qualquer outra aqui.
Eu a vejo olhar para mim e sorrir um sorriso lindo e tímido a me
ver encarando-a. Então prende sua franja para trás da orelha outra
vez e sinto vontade de fazer isso por ela.
— Vai ficar ai de pé ou sentar? – pergunta ainda sorrindo. – Não
acho que você vá crescer mais do que isto. – seu comentário me faz
rir.
— Droga! Você descobriu meu plano secreto. – digo e desta vez
quem ri é ela.
Sento-me ao seu lado, tirando meu próprio tênis e coloco as
pernas para dentro da água, sentindo a temperatura entre quente e
fria, assim como costumam ser as noites de primavera.
— Você não é daqui. – ela afirma, observando-me.
— Como sabe? – pergunto olhando para ela e a vejo com a
mesma expressão que usei sobre ela. Só que talvez menos bobona,
considerando que é bem mais bonita.
— Você tem sotaque. – afirma. – Então certamente não é daqui.
— Sou carioca. – respondo e ela solta um gritinho.
— Não acredito! – exclama sorrindo. – Diz “biscoito”, por favor. –
ela pede, fazendo-me rir.
— Eu não vou dizer isto.
— Por favor! – torna a pedir, juntando as mãos frente ao rosto e
me olha com um olhar quase que irresistível. Seus olhos brilhantes
com as estrelas e seu rosto um pouco corado, provavelmente
resultado da bebida.
— Eu não vou dizer biscoito só porque você esta fazendo essa
cara para mim. – digo sério, voltando o olhar para a piscina,
torcendo internamente para que não tenha percebido. Mas seu
segundo gritinho prova exatamente o contrário e sorrio.
— Mais uma vez. Por favor!
— É assim toda vez que você fica bêbada? – pergunto olhando
para ela novamente. – Arrasta um completo desconhecido para
onde não tem ninguém que possa protegê-la e fica pedindo coisas
peculiares? – rio ao ver a expressão em seu rosto e ela arqueia a
sobrancelha.
— Não sei. É a primeira vez que bebo. Isto é totalmente novo
para mim.
— Devia ter suspeitado que algo não estava certo quando
agarrou minha mão e me arrastou para cá sem nem mesmo
perguntar meu nome.
Ela me observa em silencio por alguns instantes e me pergunto
se fiz certo em dizer isto assim. Sua pergunta chega aos meus
ouvidos quase em um sussurro:
— Saber meu nome te faria ter uma impressão diferente da que
esta tendo?
Franzo o cenho. Se faria alguma diferença? Bem, eu teria um
nome para usar. Mas não sobre como ela é.
— Não sei. Talvez. – respondo por fim. – Mas não acho que isso
faria lá muita diferença exatamente.
— Sempre me perguntei isso. – ela diz, voltando a balançar as
pernas na água e fixo meu olhar para dentro da piscina, onde uma
boia flutua. – As pessoas gostariam mais de mim se eu não fosse
tão rotulada pelo meu nome? – pergunta. – Quer dizer, todos nós
temos um rótulo e uma marca. O rótulo é nosso nome e a marca, o
sobrenome. Por que não podemos apenas ser jugados pelo produto
que temos a oferecer ao invés de tudo isso?
Franzo o cenho com seu comentário, ainda encarando a boia do
outro lado.
Sei que ela não faz nem ideia de quem eu seja. Percebi isto
desde o primeiro momento em que me aproximei e que talvez seu
comentário seja para si. Mas também é algo que se encaixa
perfeitamente a mim, que sou um produto produzido no Rio de
Janeiro, no ano de 1989, rotulado como Andrew e a marca:
Giardoni. Não a pior. Bem longe disto. Mas sim uma que exige de
mim mais do que estou podendo oferecer neste momento. E talvez
um dia eu esteja pronto para dar a eles tanto quanto for possível ou
mais. Mas não agora.
— Se for para julgar seu produto, eu diria que é algo
extremamente filosófico e que aparenta ser de alta qualidade. –
comento. – Um pouco doida, mas que instiga a curiosidade do
comprador. – franzo o cenho. – Divertida e capaz de te fazer pensar
em várias coisas ao mesmo tempo. – concluo, finalmente olhando
para ela e sorrio. – Acho que eu compraria o seu produto, afinal.
Ela ri e vejo seu rosto corado.
— Obrigada, acho. – diz com um sorriso tímido. – Acho que eu
compraria seu produto mesmo sem saber qual é sua marca. Você
parece diferente de todos esses babacas que estão aqui e estudam
comigo.
— Já fui esse babaca. – admito. O que é bem a verdade. – Você
não precisa me dizer seu nome. Assim eu não posso, sei lá,
descobrir onde é sua casa e te perseguir. – digo e ela ri.
— Certo! – exclama. – Então vamos deixar o mistério dos nossos
nomes como um segredo. – ela finalmente volta a olhar para mim. –
Se amanhã ou depois nos encontrarmos, revelaremos isto ao outro.
Mas, até lá, para não ficar estranho, pode me chamar de Lu.
— Isto é uma pista que me levaria até seu verdadeiro nome? –
pergunto curioso, dando a ela um sorriso de lado.
— Talvez. – sorri de volta.
— Certo, Lu, chame-me de And, então.
— Isto é uma pista que me levara até seu verdadeiro nome? –
ela repete minha pergunta.
— Talvez. – repito também sua resposta e ela ri. – Gosta de
mistério e é engraçada. – digo como se estivesse com um gravador
ligado.
— Esta fazendo uma análise a meu respeito ou algo do tipo? –
Lu pergunta, tentando parecer brava.
— E é detetive. – concluo.
— Ei!
— Não. – respondo. – Apenas estou tentando gravar você na
memória. – sorrio e ela me empurra com o ombro, fazendo com que
sua franja caia sobre o olho.
Quando ela ergue a mão para coloca-la no lugar, sou mais
rápido e o faço de maneira lenta, tomando o cuidado para tocar a
lateral de seu rosto e sentir a suavidade de sua pele. Ela fecha os
olhos e sinto seu suave perfume que chega até mim.
Percebo que sua respiração fica mais pesada com meu toque e
termino de arrumar seu cabelo onde ela gosta, ainda mantendo
minha mão ali. A sua então vem de encontro com a minha e,
segurando-a, desce para o espaço vazio entre nós.
Sentindo minha própria respiração pesada, percebo seu olhar
em meus lábios e minha vontade correspondida em seus olhos
quando nossos olhares se cruzam.
Pressionando sua mão contra o chão, entrelaço nossos dedos,
vendo o rubor subir por seu rosto e eu sorrio, encostando minha
testa na sua, numa tentativa de deixa-la mais a vontade comigo.
Quero beija-la, sentir o sabor de seu beijo e a suavidade de seus
lábios quando tocarem os meus. E eu pouso um beijo demorado no
canto de sua boca, sentindo-a umedecer seus lábios e, como se
fosse um chamativo, eu a beijo de verdade e da maneira mais
profunda com que consigo fazer e é como se já tivéssemos feito
isso várias e várias vezes, porque sinto uma corrente elétrica que
passa dela para mim.
Com a mão livre, Lu segura minha camisa, enquanto com a
minha, eu a puxo para mais perto de mim, sem nos separar.
Ela segura minha camisa ainda mais firme e da um último beijo
no canto de minha boca, terminando da mesma maneira com que
começamos. E isto é o suficiente para me fazer sorrir.
— O que te trouxe a São Paulo? – pergunta em um sussurro
rouco e ergo a mão, colocando seu cabelo para trás outra vez.
— Vim tratar de negócios com meu pai. – dou de ombros, sem
muito interesse no assunto.
— Um homem de negócios. – ela diz, virando-se novamente
para a piscina e aperta nossas mãos. – Quando volta?
— Não sei. Segunda-feira de manhã ou à tarde. – respondo com
o cenho franzido.
— E hoje é sexta-feira. – observa.
— Por que este é seu dia? – pergunto curioso, lembrando-me de
sua conversa com a amiga.
— Você realmente estava ouvindo nossa conversa! – exclama
rindo.
— Bem, você meio que estava gritando lá dentro. Então...
— Seus argumentos defensivos são fracos, And. – ela me
interrompe e sorrio.
— Gosta de usar palavras complicadas em diálogos simples. –
acrescento uma nova nota.
— Recebi a notícia de que passei na faculdade no curso que
sempre quis e com bolsa total. – sorri orgulhosa.
— Sério?! Parabéns, anjo! – exclamo animado por ela, que sorri,
ficando mais vermelha. – E vai fazer o que?
Ela pigarreia antes de responder:
— Análise e Desenvolvimento de Sistemas. – diz. – Logo estarei
programando para as melhores empresas do mundo!
— E é uma futura programadora. – acrescento a nota. – Garota
nerd, amante de tecnologia. Grandes chances. – ela sorri. – Talvez
você devesse tentar entrar para a BIT. É a maior do Brasil e esta
entre as melhores entre as Américas.
— Grandes chances para que? – pergunta com o cenho
franzido.
— De talento e ser alguém com um futuro brilhante. De talvez
fazer a diferença no mundo tecnológico.
— Vou fingir que acredito e você finge que acreditou que eu
acreditei.
Sorrio.
— Certo.
— BIT fica no Rio de Janeiro e dizem ser difícil conseguir entrar
lá. – ela responde minha pergunta. – Não sei se um dia eu terei
tanto potencial para uma empresa como aquela pede.
— Ouvi dizer que vão abrir um escritório aqui em São Paulo. –
digo. O que é bem o assunto na qual vim tratar com meu pai aqui.
Tem esse escritório lá no centro que Victor esta querendo fechar
negócio para colocar nosso nome nele e expandir o mercado. –
Mais precisamente no centro. Talvez você consiga um estágio lá e
assim você fica a cada dia mais perto de conseguir fazer parte da
BIT
— Além de lindo, divertido e beijar bem, tem ótimas ideias e
excelentes conselhos sobre como conseguir um bom trabalho. Além
de uma ótima fonte de informações. – Lu tenta fazer a própria nota
mental, mas acaba rindo. – Vou tentar.
— Não tente. Faça. Eu tenho mais do que certeza de que você
tem potencial para entrar lá e o que eles precisam.
— Certo. – murmura um pouco tímida e sorri. – Obrigada. Vou
me lembrar disto quando começar a faculdade ano que vem e que
existe alguém por ai que acreditou em mim mesmo sem me
conhecer de verdade.
Sorrio em resposta, concordando.
Tia Lívia não mora tão longe de onde fica o apartamento dos
meus pais. Na verdade, fica apenas há quatro quarteirões de lá. O
que não necessita exatamente de uma viagem de carro, mas como
estou precisando aquecer o motor, preferi fazer o caminho de carro
ao invés de caminhar.
— Tem certeza de que ela esta em casa? – pergunto a minha
mãe, parando com o carro na entrada da casa.
— Claro que sim. – ela responde. – Avisei que viríamos. Ela
deve estar na cozinha preparando algo. Venha. – sem mais
perguntas, eu a acompanho para fora do carro, seguindo até a porta
da frente.
Tia Lívia vive em Londres acho que desde que eu tinha dez
anos. Isso pouco tempo depois de ter se casado com Brian, tendo-o
conhecido em Nova Iorque, em uma de suas viagens a trabalho. Na
verdade ela apenas voltou para seu país e cidade natal.
Lívia e Brian tem somente uma filha: Kate, que tem apenas
quatorze anos e que a última vez que a vi, foi também na virada do
ano. Passei a noite jogando videogame com ela até que desse o
horário para ligar para Luara. Nós dois não tivemos lá nossa melhor
virada, uma vez que os dois estavam sem voz.
— Chegamos! – minha mãe anuncia, abrindo a porta da casa e
entra.
— Estou aqui! – ouço como se fosse o eco da voz de minha
mãe, vindo provavelmente da cozinha.
— Eu disse que ela estaria lá. – minha mãe diz, seguindo para a
cozinha. – Trouxe Andrew comigo.
Como se fosse um chamado, minha tia aparece na porta da
cozinha, trazendo uma xícara em suas mãos.
— Achei que já não se importasse mais com sua tia. – ela diz,
tentando parecer chateada, mas com um enorme sorriso no rosto. O
mesmo que tenho visto todas as manhãs quando acordo e vejo
minha mãe.
— Sabe que isto nunca aconteceria. – digo abraçando-a forte,
fazendo questão de tira-la do chão.
— Já disse para você parar de fazer isso! – ela me repreende e
acabo rindo. – Por que você não veio em casa antes? Só pude ver
meu sobrinho nas festas e por cima.
— Estou trabalhando em alguns prédios para decidir onde será
instalado a nova BIT. – respondo.
— Na verdade ele fica na cama a maior parte do tempo deitado
na cama, girando uma coisa entre os dedos. – minha mãe diz,
lançando a mim seu famoso olhar “eu sei o que você faz naquele
lugar” e me pergunto o quanto ela sabe.
— Que “coisa” é essa? – Lívia pergunta.
— Ela esta apenas brincando. – sorrio um pouco sem graça. –
Deixa que levo para a senhora. – ofereço para levar a bandeja com
chá e biscoitos até a sala de estar. Hora do chá em Londres.
— Obrigada, querido.
Na sala, Lilian e Lívia sentam-se lado a lado no sofá e eu na
poltrona, de frente para elas.
Se eu fechar os olhos e elas se misturarem, não sou capaz de
diferencia-las a menos que digam algo, entregando a maneira com
que falam ou peça para que me deixem ver suas mãos, para que
possa diferencia-las pela marca que minha mãe tem, assim como
eu.
Enquanto as duas conversam, folheio um livro que peguei na
estante, sem dar muita atenção aos assuntos, que variam desde os
estudos de Kate até seus maridos, o tempo e...
— Andrew esta namorando. – minha mãe diz em um tom
divertido. Tia Lívia engasga com o chá ou o biscoito. Não sei.
— Como assim?! – exclama espantada. Apenas olho por cima
do livro e pego as duas me olhando. – Por que você não me contou
isso antes, Lily?
— Ela trabalha na BIT. – minha mãe diz, ignorando a pergunta
da irmã. – Foi à garota que ganhou o treinamento de Nova Iorque
este ano.
— AH! – minha tia exclama. – E vocês foram juntos e tudo
aconteceu lá? – pergunta para mim, mas quem responde não sou
eu.
— Quê? Não! A história dos dois começou bem antes disto. –
Lilian ri. – Como é mesmo o nome dela? Lara? Laura. Isso! Laura! –
vejo minha mãe sorrir e virar para a irmã. – Ah, Liv, você precisa ver
a maneira como ele fala dela. Os olhos dele chegam a brilhar!
— É Luara. – corrijo, virando a página do livro sem tirar os olhos
dele.
— Eu sabia que era algo nesse sentido. – minha mãe torna a rir.
– E não é só isso. – diz e ergo o olhar para ela. – Posso? –
pergunta.
— Vai em frente. Já começou mesmo.
— Deus do céu, Lilian! O que essa garota tem?! Fala logo,
mulher.
Olhando para mim, minha mãe sorri e torna a virar para a irmã,
para só então sussurrar as palavras como se tivesse medo de que
mais alguém pudesse escuta-la:
— Ela esta grávida. – sorri. Andrew e ela terão um filho juntos.
— Ai meu Deus! – Lívia exclama. – Isto é verdade? – pergunta
agora para mim e apenas concordo com a cabeça. – Deus do céu!
Por que você não me contou antes, Lily? Nós estivemos juntas
praticamente as últimas duas semanas e você nada.
— Na verdade eu queria que o And tivesse contado. Mas...
— Deus do céu! – minha tia a interrompe. – Como foi que isso
aconteceu? Quer dizer, não nesse sentido. Mas é que você
namorando e começando a construir uma família assim?
— Qual o problema? – pergunto mais ríspido do que realmente
gostaria e sinto como se uma bola de neve descesse por minha
garganta quando as palavras me escapam.
— Nenhum, querido. – responde, vindo sentar-se ao meu lado. –
É só algo que você sempre evitou. Mas fico orgulhosa por saber que
você vai ter algo assim. Filho é uma benção. – sorrio com suas
palavras, sentindo outra vez aquele vazio de sempre por não saber
como ela e nosso filho estão. – Me diz como ela é? – pede.
— É linda. – respondo com um sorriso de lado, lembrando-me de
seu jeito todo acanhado. – Acho que eu só não havia encontrado a
garota certa ainda.
Eu não me atrevo a dizer que não estamos mais juntos. Dizer
isto é como se trouxesse tudo àquilo de volta a tona e pusesse um
fim ao que tivemos. Prometemos continuar, mas precisamos
esquecer tudo isso.
— Mostre a ela, filho.
Quando minha mãe diz isto, sei imediatamente a que se refere.
Então pego o celular no bolso da calça, abrindo a foto que tirei dela
no dia em que nos conhecemos na praia. Sei que tenho várias
outras que são melhores, mas esta é minha favorita e a que esta
mais natural, com o cabelo todo bagunçado pelo vento e um sorriso
meigo no rosto.
— É a garota da revista. – tia Lívia exclama no momento em que
segura meu celular.
— Garota da revista? – pergunto com o cenho franzido e ela
concorda.
— Espere só um pouquinho. – pede e sai, seguindo até onde
lembro que fica seu quarto. Minha mãe tem uma expressão tão
confusa quanto eu ou até mais. – Aqui esta. Leia. – diz, entregando
a mim o iPad, com uma revista digital em aberto. A foto de Luara
esta na capa e sua imagem faz meu coração pular contra o peito.
— A misteriosa namorada de Andrew Giardoni. – leio. –
Criativos.
— Abra bem no meio. – Lívia pede e a obedeço. São duas
páginas inteiras sobre nós.
— Conhecida como Luara, ela foi vista pela primeira vez em
companhia do jovem empresário de apenas vinte e seis anos em
Nova Iorque, enquanto estava fazendo um treinamento patrocinado
pela empresa para a qual trabalha, a BIT Technologies. – faço uma
pausa, observando sua foto. – “Luara tem vinte e três anos...”, vinte
e quatro. – corrijo. – É paulistana nascida e criada na capital. Pouca
coisa se sabe a respeito da garota que parece ter conquistado o
coração do jovem empresário, Andrew Giardoni, além de que
tiveram ótimos momentos enquanto desfrutavam do calor de Nova
Iorque. Como será que anda o coração destes dois desde que
voltaram ao Brasil? Tudo o que sabemos até o momento é que
Andrew está em Londres com a família e a trabalho desde mês
passado, quando a BIT entrou de férias e que ela já voltou ao
trabalho na empresa. Como será que é estar a um oceano de
distância daquele que amamos? – termino a leitura. Meus olhos
fixos em uma foto nossa, na qual estamos nos beijando. Meu
coração parece disposto a querer sair pela garganta.
— Eles terminaram pouco antes dele vir para cá. – minha mãe
diz quase num sussurro. – Estou tentando convence-lo a ligar para
ela há dias já.
— Ela deve estar uma fera com isso aqui. – digo, tentando
desviar o assunto, rindo sem graça.
— Ligue para ela, And, queria. – minha tia diz, tocando meu
braço. – Por mais que eu odeie a maneira com que eles expõem as
pessoas, o que disseram ai é verdade. “Como será que é estar a um
oceano de distância daquele que amamos?” – ela repete a última
frase do artigo. – Eu sei que eu estaria morrendo de saudades de
Brian se ele estivesse tão longe de mim.
— É horrível e parecer querer te destruir. – digo em um sussurro
rouco e levanto para colocar o iPad sobre a mesinha de centro e
saio, indo para o quintal dos fundos. Preciso ficar sozinho um pouco
depois do que li. Mas também sei que não adianta continuar sendo
orgulhoso.
— Obrigada. – ouço o agradecimento de minha mãe.
— Então é aqui que você mora. – And diz assim que saio do
carro e olho para ele, tentando alcançar seu olhar.
— Desde que consigo me lembrar. – respondo quando sinto sua
mão em minha camisa, fazendo com que eu me desequilibre um
pouco, mas o carro me apoia, assim como também sua mão em
mim.
— Cuidado. – ele sorri.
— Me diz seu nome. – peço, sentindo que não quero amanhã
acordar e descobrir que toda essa noite não passou de um sonho.
Que toda nossa conversa na piscina, o que aconteceu no quarto até
poucas horas atrás e essas últimas, enquanto olhávamos para o
céu. Eu não quero acordar e descobrir que nada disso foi mentira.
— Sem rótulos. Lembra? – diz e dou de ombros.
— Às vezes eu me odeio por dizer coisas que não deveriam. –
digo com um suspiro que é uma mistura de cansaço e decepção
comigo mesma.
— Posso te levar ao cinema amanhã à noite? – pergunta,
apoiando sua testa na minha e confirmo.
— Esteja aqui às sete horas em ponto. – digo em resposta,
abraçando-o. Não querendo deixa-lo ir. – Preciso entrar antes que
meu pai acorde e descubra que não estou na cama. Ou pior, que
estou no portão de casa com um homem que mal conheço e que
esse homem tirou minha inocência. – digo e ele ri.
— Filha única também? – pergunta ainda rindo e desta vez nego.
— Tenho uma irmã de dez anos.
— Chegarei às seis e meia. – diz em um sussurro e sinto seu
beijo, causando um calafrio por todo meu corpo. Um beijo como
nenhum outro homem com quem estive jamais foi capaz de me dar.
Não até que eu o reencontrei na praia.
◆◆◆
◆◆◆
Andrew
Quando volto da minha corrida matinal para o apartamento dos
meus pais, faço uma rápida parada na cozinha para pegar algo para
comer antes de ir até meu quarto, onde terei uma entrevista com
Pedro, para confirmar sua promoção para Gerente de Produção. Se
bem que por mim sim, já que ele realmente merece a oportunidade
e deu duro para conseguir chegar a isso.
Uma vez no quarto, ligo o computador e deixo tudo já pronto
para não ter que interromper a entrevista. Apenas uma xícara de
chocolate quente e um prato de cookies de chocolates feito por tia
Lívia, água, meu bloco de anotações e uma caneta.
Assim que me conecto ao Skype ele toca com uma chamada de
Camile.
— O Que será que aconteceu? – pergunto a mim mesmo, de
repente ficando preocupado e atendo a chamada. Quem esta do
outro lado é Thomas. – Oi. – eu o cumprimento. – Tudo joia,
garotão?
— O que você fez com minha irmã? – ele pergunta de volta e
franzo o cenho.
— Como assim? – torno a perguntar ainda mais preocupado. O
que será que aconteceu com Luara?
— Ouvi a mamãe conversando com a Caca hoje. – começa. –
Ela disse que a Lu esta passando muito mal ultimamente e isso
aconteceu depois que vocês namoraram, porque ela sempre foi
saudável.
— AH! – exclamo realmente aliviado, finalmente entendendo ao
que ele se refere.
— Não minta para mim, André! – exclama ainda mais alterado. –
Eu quero saber o que você fez com a minha irmã!
— Certo... – digo com o cenho franzido. – Eu não vou mentir
para você, uma vez que já é crescido o bastante para saber da
verdade.
— Então fala logo!
— Bem, sua irmã e eu namoramos algumas vezes, durante um
tempo e... – começo a dizer, procurando as palavras certas para
dizer isso sem destruir sua inocência. É difícil fazer e realmente
agradeço por não ter irmãos mais novos. – Então isto acabou
resultando em algo. Uma... Hm... Mudança.
— MINHA IRMÃ VAI MORRER?! – Thomas grita do outro lado,
colocando-se de pé na cadeira.
— Não! – exclamo rapidamente. – Sua irmã não esta doente.
Muito pelo contrário.
— Diz isso porque você não esta com ele. – diz agora cruzando
os braços. Suas palavras me ofendem um pouco e me sinto
incomodado por elas.
— Não, Thomas. Sua irmã não esta doente e menos ainda vai
morrer. – digo agora sério. – O corpo da sua irmã esta apenas
sofrendo algumas mudanças. Se preparando para receber uma
pessoinha que esta sendo gerada dentro da barriga da sua irmã,
que foi algo que nós dois fizemos juntos.
Quando paro de falar, não consigo evitar o sorriso que surge em
meu rosto. Até agora eu não havia colocado as coisas desta forma
além da noite incrível que tivemos quando fizemos essa criança.
— Então você esta dizendo que a Tata vai ser possuída e
controlada por uma alienígena? – pergunta e acabo rindo.
— Não, eu não estou dizendo isto. – franzo o cenho. – O corpo
dela esta gerando essa criança que precisa dela para se
desenvolver completamente. É só um amiguinho ou uma amiguinha
para você brincar daqui a algum tempo.
— Ah! – Thomas exclama agora aliviado. – A Tata falou isso para
mim quando esteve aqui a última vez. Mas por que ele esta fazendo
mal para ela?
— Ele não esta fazendo mal, Thomas. – digo. – É só uma
mudança que acaba causando certo desconforto nos primeiros
meses.
— E quanto tempo isso leva? – pergunta agora curioso.
— Geralmente nove meses.
— O que você esta fazendo, Thomas? – ouço a voz de uma
garota do outro lado e logo ela toma forma na tela. – And?
— Oi. – dou um sorriso um pouco sem graça para Camile.
Depois do que aconteceu mês passado, nunca mais vi ou falai com
ninguém da família de Luara.
— O que ele estava falando?
— Eu só perguntei o que vocês não me contam! – Thomas se
defende. – Você e a mamãe só mentem e o papai anda todo irritado
por causa disso.
— Esta tão ruim assim? – pergunto preocupado, lembrando-me
de minha conversa com Luara, na qual ela comentou
completamente por cima sobre algo a respeito disto.
— Nosso pai não concorda com o fato de vocês estarem... –
começa a dizer, então para, talvez buscando as palavras certas. –
Ele não aceita que você não tenha vindo conversar com ele até
hoje.
— Ela te contou toda a verdade? – pergunto e Camile confirma.
— Mas nosso pai nem sonha com isso. Ele te mataria, para falar
o mínimo.
Olho para o relógio no canto do computador, vendo que faltam
apenas cinco minutos até que Pedro apareça.
— Camile, ouça. – digo, chamando sua atenção para mim e ela
se senta na cadeira onde Thomas estava e ele fica em seu colo. –
Eu nunca abandonaria sua irmã. Aconteceram algumas coisas que
complicaram para a gente. Nós nos afastamos para poder colocar
algumas “coisas” em ordem. Eu só estou aqui em Londres ainda
porque quero levar meus pais para o Brasil por um tempo. E,
quando voltar, quero conversar com Ricardo e sua mãe a respeito
disto e deixar claro que eu nunca vou fugir dos meus deveres como
o homem que sua irmã merece e menos ainda como pai do filho
dela. – faço uma pausa. – Assim que voltar vou chama-la para
conversarmos sério, como deveríamos ter feito antes. Só... Eu não
sou esse homem que foge de uma responsabilidade, Camile. Não
mais.
Ela então sorri e concorda.
— Eu acredito em você, And. Sempre acreditei.
— Obrigado. – agradeço com um sorriso sem graça. – É bom
saber que ao menos você acredita.
— Ei! – Thomas exclama.
— Preciso ir. Pedro acabou de me chamar aqui e tenho uma
entrevista com ele.
— Tudo bem. – Camile diz. – Desculpa pelo Tommy. Ele está
bem inquieto com isso. – faço que sim com a cabeça. – Nos traga
presentes! – pede.
— Para todos vocês. – concordo e ela desliga. Pedro chama
logo em seguida.
— Desculpa pelo atraso. – é a primeira coisa que diz. – Não
consigo me adaptar com o fuso horário.
— Vamos ao que interessa? – pergunto, tentando colocar de
lado minha conversa com Camile.
— Estou esperando por isto há dias já. – ele responde
visivelmente nervoso.
Começo questionando Pedro sobre várias coisas da qual julgo
importante para o cargo na qual ele se candidatou. Como o que ele
faria para melhorar ou agilizar a produção, quais seriam seus
métodos para conquistar novos clientes e várias outras coisas.
E devo confessar que todas suas ideias foram boas e que tem
grandes chances de dar certo. Mas, enquanto ele fala minha cabeça
apenas vaga por outro lugar. Mais precisamente para o que Camile
mencionou sobre seu pai não aceitar a gravidez de Luara e o mal-
estar dela. Tudo o que sempre evitei por achar antiprofissional, mas
que hoje não consigo simplesmente deixar de lado.
— Bem – começo assim que ele para de falar. –, suas ideias são
boas e seu currículo tem ótimas referências. – faço uma pausa,
olhando para o papel em minhas mãos. – Aqui diz que trabalhou
seis anos e meio como supervisor de TI.
— Era um bom cargo, mas preciso crescer um pouco.
— Faz bem. – concordo e puxo meu bloco de anotações com
tudo o que julgue importante.
Pedro será a única pessoa com quem irei conversar a respeito
deste cargo. Ele passou em todo o processo com os outros
candidatos e foi o único que realmente está qualificado para o que
precisávamos. Além do mais, o único motivo pela qual estou tendo
esta conversa com ele, sendo que já teve uma parecida com o RH,
é que gosto de saber pessoalmente se meus funcionários estão ou
não preparados para aqui.
— Sinto em lhe dizer, mas... – começo a dizer, então paro
apenas para ver Pedro ficar tenso do outro lado. – Infelizmente a
vaga é sua. – digo e ele sorri, dando um grito histérico. – Apenas
recomponha-se, por favor. – peço. – Ainda posso retirar o que
acabei de dizer.
— Desculpa.
— A partir de amanhã você começara como gerente,
continuando no mesmo horário. – falo. – Porém, com muito mais
responsabilidades de que tem atualmente e, assim que eu voltar eu
irei assinar seus documentos para oficializar sua promoção.
— Obrigado. – ele sorri em resposta. – Mas me diga: já tem
alguém em mente para ficar no meu lugar? – pergunta e passo a
mão pelo rosto.
— Não sei. – respondo a verdade. – Vou deixar isto para ver
depois que voltar. Tem alguns assuntos pessoais que preciso
resolver antes e que já deveriam ter sido acertados.
— Posso indicar alguém de minha confiança? – pergunta.
— Claro. Afinal, quem melhor de que você para isto? – dou a ele
um sorriso de lado. – Se encontrar e eu não conseguir voltara até o
final da semana, tome a iniciativa de coloca-lo em treinamento em
meio período com algum outro supervisor até que eu volte, apenas
para ir pegando o jeito.
— Tudo bem. Obrigado. – diz. – Só mais uma pergunta.
— Sim?
— Aconteceu algo? Você parece tenso e bem mais preocupado
de que o normal. Há tempos não te via assim.
— Está tão na cara assim? – pergunto de volta e ele ri.
— Menino, não é de hoje que te conheço.
Eu sei que não deveria fazer, mas conto a Pedro tudo o que mais
tem me agoniado. Desde minha briga com Luara até sua gravidez e
a maneira com que descobrimos. A aliança que comprei e ainda não
fui homem suficiente para fazer o pedido. Os pais dela e tudo.
E acho que no fundo eu precisava disso para poder aliviar um
pouco toda a pressão e culpa que tenho sentido.
— Mas que vadia! – Pedro exclama assim que termino. – Ela
não me contou nada!
— Tente se colocar no lugar dela. – defendo-a.
— Sim, sim. Eu sei. Tudo o que aconteceu. A separação de
vocês, a briga... Você deveria ter confiado nela, Andrew. Deveria ter
ido conversar com ela logo que aconteceu, e não esperar que uma
semana tivesse passado para fazer isso. Mesmo que você estivesse
com medo daquilo, porque todos nós sabemos que Bruno não
andava bem da cabeça e que estava perseguindo a menina desde
que chegou. – eu apenas ouço em silêncio tudo o que ele diz. Um
silêncio desconfortável, porque sei que nunca serei capaz de me
perdoar pelo que fiz e que talvez nunca tenha o perdão de Luara. –
Agora tudo faz sentido. – diz. – Ela tem agido bem estranha
ultimamente.
— Como ela esta hoje?
— Incrivelmente radiante e com uma pele brilhando de tão linda,
como sempre. – Pedro então faz uma pausa e franze o cenho. –
Embora Igor tenha me dito que ela brigou com o Diogo hoje pela
manhã, só porque ele foi corrigir ela.
— Como assim? – pergunto curioso e ele ri.
— Ele inventou de falar que não tinha bolacha na lanchonete e
que só vendia biscoito. – explica, segurando para não rir. – E ela
disse que o dinheiro era dela e que iria chamar de “Pão de
Morango”.
Quando Pedro termina de contar, não consigo conter a risada
que me escapa. Esse é bem o tipo de resposta que Luara daria a
alguém que tentou corrigir seus costumes.
— Eu vou cuidar dela pessoalmente até você voltar. – Pedro diz,
mudando de assunto outra vez. – Não se preocupe.
— Obrigado.
Tendo que voltar ao trabalho, Pedro logo desliga e por algum
tempo fico apenas encarando a imagem sorridente de Luara no
fundo da tela do computador, lembrando-me de quando estive em
uma cafeteria hoje mais cedo e a ouvi chamar meu nome. Apenas
“And”.
◆◆◆
Luara
Colocando meus fones de ouvido de lado, volto à realidade,
sentindo meu estômago roncar de fome, denunciando que já são
quase onze horas e que faltam apenas alguns poucos minutos para
o meu almoço.
Salvo todo o trabalho que fiz desde que cheguei e bloqueio à tela
do computador já para poder sair, mas sou impedida quando meu
celular toca, mostrando um número desconhecido na tela.
Internacional, na verdade. E isso é mais do que suficiente para fazer
meu coração saltar dentro do peito.
— Luara. – digo. Meus olhos se fecham, na esperança de ouvir a
voz rouca de Andrew do outro lado.
— Srta. Brudosck? – a outra pessoa diz e reabro os olhos,
sentindo-me decepcionada.
— Sim. Quem é?
— Aqui é Douglas Lewis. – apresenta-se. – Nos conhecemos
ano passado, durante sua apresentação final com a Nex Ae.
Lembra-se de mim?
No instante em que ele diz estas palavras, lembro-me
perfeitamente da pessoa que anunciou que eu havia conseguido ser
aceita pela rigorosa banca de engenheiros da BMW.
— Claro. Lembro sim. – respondo. – Como vai o senhor?
— Vou bem. Obrigado por perguntar. E a senhorita?
— Melhor impossível. – minto, ainda sentindo minha decepção
por não ser Andrew quem estava ligando.
— Bem, como eu havia lhe dito em nosso primeiro encontro: não
sou um homem de enrolação. Então irei direto ao motivo de meu
contato. – diz. – Primeiro quero dizer que sua parte finalmente foi
depositada em sua conta bancaria, tendo demorado apenas por
conta das férias que tivemos.
— Não tem problema. – sorrio um pouco nervosa.
— E o segundo motivo é que tenho uma proposta a fazer para a
senhorita.
Franzo o cenho. Que tipo de proposta ele pode ter para me
fazer?
— Nossos engenheiros passaram os últimos dias trabalhando
em cima de sua ideia, levando-o mais a fundo. – começa. – E o
resultado desse estudo foi mais do que satisfatório e grande parte
de nossa equipe quer a senhorita no nosso time, acompanhando
todo o trabalho.
No momento em que ouço suas palavras, deixo o lápis que
segurava cair para o chão.
Isso só pode ser brincadeira!
— O que o senhor quer dizer com isto? – pergunto, mordendo o
lábio inferior.
— Surgiu uma vaga na equipe que costuma ser preenchida
apenas por funcionários de outros países. – diz com toda calma
possível. Algo que não tenho nesse momento. – E nós queremos
você na equipe.
Abro a boca para falar, mas não consigo emitir palavra alguma.
Minha boca parece estar seca e sinto uma felicidade interna com
sua proposta. Ter isso... Trabalhar em Nova Iorque assim. Isso
nunca esteve nos meus planos, mas é algo que eu nunca serei
capaz de conseguir novamente.
— Eu não sei. – digo após algum tempo. – Largar minha família
em São Paulo e vir embora para o Rio de Janeiro é uma coisa.
Largar meu país e tudo o que amo já é outra. Eu não teria nada ai.
— A única coisa com que você teria que se preocupar aqui é
com sua alimentação. – Douglas insiste. – Você terá um
apartamento em ótima localização e próximo da empresa, não
precisara se preocupar com nenhuma despesa. Além de receber
pelo menos três vezes mais do que deve ganhar com o menino
Giardoni.
Mordo o lábio inferior, de repente sentindo meus olhos
lacrimejarem.
Há alguns meses eu não pensaria muito antes de aceitar essa
proposta. Mas agora, depois de tudo o que tive e tenho aqui, eu não
sei se seria realmente capaz de algo assim. Sem mencionar que
aceitar esse trabalho apenas significaria que Andrew e eu não
temos mais volta. Que está tudo acabado entre nós e... Depois da
nossa última conversa no domingo, depois de tudo, eu apenas
quero sentar com ele para que possamos conversar e resolver como
as coisas irão ficar entre nós. Se vamos ficar juntos, porque doeu de
verdade quando ele disse que estava conversando no telefone com
sua ex-namorada.
— Eu não sei. – digo após algum tempo. – Eu... Eu preciso de
um tempo para pensar melhor a respeito. Não posso simplesmente
abandonar tudo assim.
— Duas semanas esta bem para a senhorita?
— Acho que sim. – sussurro em resposta.
— Certo! Voltarei a ligar dentro de duas semanas. – diz. –
Espero que tome a decisão certa a respeito.
— Eu também. – digo e ele desliga. – Eu só não sei o que fazer.
Apenas isto. – murmuro para mim mesma, afundando o rosto em
minhas mãos.
Já tem dois dias desde que conversei com Luara a última vez. Dois
dias depois dela praticamente ter desligado o telefone na minha
cara, só porque não fiz o que ela queria que fizesse, que era pedir
para que recusasse a proposta de Douglas. Mas será que ela não
pode ver que não é certo fazer isso enquanto estivermos
separados?
Quer dizer, se eu estivesse no lugar dela e ela no meu, é claro
que eu iria querer que ela me pedisse isso. Assim como ela também
não iria fazer isso se estivesse longe de mim. E com tudo isso que
esta acontecendo, tudo o que consigo pensar é em voltar para o
Brasil sozinho mesmo, apenas para que possamos conversar.
— Aonde você vai, querido? – ouço a voz de minha mãe vinda
da porta do quarto.
— Dar uma volta. – respondo enquanto passo a camisa pela
cabeça. – Preciso refrescar um pouco as coisas. Relaxar.
— Não acho que seja uma boa ideia. – ela diz, sentando-se em
minha cama. – Esta esfriando muito e você ainda não esta curado
por completo.
— Não se preocupe mãe. – falo. – Eu só preciso sair para esfriar
a cabeça um pouco. Esquecer tudo isso e tentar voltar para minha
vida normal.
Ainda que minha vida normal até alguns meses atrás, fosse
encontrar uma mulher qualquer para transar. Não ficar a
praticamente um mês sem sexo, criando um dos maiores casos de
saco roxo da minha vida. Estou me sentindo praticamente virgem
novamente.
— Terei cuidado. Não se preocupe. – digo, pousando um beijo
no alto da cabeça de minha mãe quando ela me olha com aquele
seu olhar de censura.
— Estive conversando com seu pai hoje mais cedo. – começa. –
E ele concordou com a ideia de passarmos algum tempo com seus
avós. Talvez, sei lá, você devesse comprar nossas passagens antes
que ele mude de ideia.
— Sério? – pergunto de repente ficando mais animado e ela
confirma. – Farei isso logo que acordar amanhã então. – sorrio para
ela. – Onde ele esta?
— Dormindo, é claro.
— Ele tem feito muito isso nesses últimos dias. – comento e ela
ri. – Não vou demorar a voltar. Não se preocupe.
— Só tenha cuidado. – é a última coisa que diz, pouco antes de
eu terminar de me vestir para sair.
Ao invés de sair de carro, opto por ir até um Pub não muito longe
de onde meus pais vivem. É um lugar pequeno e simples, na qual
costumava vir com certa frequência sempre que vinha visita-los. É
apenas um lugar pequeno, quente, aconchegante e com boa
música.
Assim que chega à porta fechada já posso ouvir o som abafado
da música que toca no interior. Eu a abro e sinto novamente aquele
cheiro de bebida cobrindo todo o ambiente.
— Andrew! – ouço uma voz familiar e sempre animada. – Há
quanto tempo, velho amigo!
— John. – digo ao ver o velho dono do pub do outro lado do
balcão, caminhando até ele.
— O que o trás aqui nesta fria noite de inverno?
— O que mais além de sua boa e velha cerveja de sempre? –
pergunto de volta e ele ri, já enchendo uma caneca com a cerveja,
tomando o cuidado de deixar uma fina camada de espuma, assim
como sempre pedi. – Era essa mesmo que estava falando.
— Com uma pitada extra do meu ingrediente especial. – ele diz,
deslizando a caneca pelo balcão até mim e me sento no banquinho
de frente para ele.
— O bom e velho ingrediente que ira com Johnny para o túmulo!
– faço um brinde a ele e tomo um gole. – Que isto demore muito a
acontecer ainda, claro.
Ele ri.
— Sim, sim. Tenho muita coisa para fazer por aqui ainda. – diz,
servindo uma bebida para outro rapaz, que segue para o outro lado
do pub. – Como estão seus pais? – pergunta. – Espero que bem.
— Estou tentando leva-los ao Brasil por algum tempo. –
respondo, voltando minha atenção para cada canto, que é
exatamente o tipo de lugar que Luara adoraria conhecer,
considerando o que ela costuma ir com os amigos lá no Rio.
Escurecido, luz fraca, um jukebox com rock antigo e as bandeiras de
todos os países na qual John já visitou estão penduradas por todo o
teto.
A porta da frente se abre, fazendo com que uma fria corrente de
ar entre e olho para ver quem chega.
São duas jovens e belas garotas. Uma loira e outra morena,
ambas magras e seios fartos. O tipo de garota com quem eu
facilmente levaria para um quarto de hotel e daria a ela uma noite
única.
No momento em que penso isto, a morena olha para mim e sorri
ao me flagrar olhando para elas e ergo minha caneca como se lhe
oferecesse.
— Eu já venho. – John diz atrás de mim. – Preciso pegar
algumas coisas lá dentro.
— Tá ok. – respondo ainda sem desviar a atenção das duas
garotas, que resolveram sentar em uma mesa bem ao canto e
parecem animadas com sua conversa.
A loira ficou bem de costas para mim, enquanto a morena não
para de me lançar olhares fervorosos.
— Quanto tempo mais você pretende ficar por aqui? – John
pergunta assim que retorna.
— Não sei. Dessa vez isso esta mais dependendo do meu pai de
que de mim, para ser sincero. – faço uma pausa para tomar da
minha cerveja, que não chega nem mesmo a esvaziar a caneca
antes de John torne a enchê-la. – Obrigado. – digo. – Pelo meu
gosto eu já teria voltado há algum tempo. Tenho... Hm... Algumas
coisas para resolver no Brasil.
— Há quanto tempo você esta aqui?
— Quase um mês. Não recordo exatamente.
— E só agora resolveu me visitar? – exclama, tentando parecer
chateado.
— Sinto muito, John. – respondo com sinceridade. – As vezes
que sai do apartamento foram, em sua maioria, para resolver algo
do trabalho.
Ele concorda, voltando-se para outro rapaz que se aproxima.
— O que vai querer beber, meu jovem? – pergunta.
— Me da o que você tem de melhor ai.
Observo enquanto John serve o rapaz, que logo se afasta,
sumindo de vista.
Sinto meu celular vibrar no bolso, notificando possivelmente uma
mensagem e o ignoro. Não há uma única pessoa na qual eu queira
conversar hoje. Exceto...
— Oi. – uma voz feminina chega aos meus ouvidos e olho para o
lado, notando a garota morena que chegou há algum tempo.
— Oi. – eu a cumprimento.
— Desculpa. É que... Eu estava ali conversando com minha
amiga e comentei sobre ter achado você atraente e ela meio que me
desafiou a vir falar com você e... – conforme a garota fala, não
consigo deixar de sorrir. Ela esta enrolada com suas próprias
palavras.
— E então que ela achou que seria divertido te ver constrangida
perto de alguém desconhecido? – pergunto e ela da de ombros. –
Sou Henry. – minto. – E você, é?
— Anne. – responde mais rápido do que eu esperava.
— Anne. – repito. – Bonito nome. – digo e ela sorri um pouco
constrangida. – Servida?
Anne olha para a caneca em minha mão e de volta para mim.
— Não posso. Não tenho idade suficiente para isso ainda. – diz e
sorrio.
— Bem que achei que tivesse um rostinho de menina para
alguém que pudesse beber em um bar.
— Esta me chamando de criança? – pergunta e apenas dou de
ombros, tentando não rir. – Não quer se juntar a nós? Adoraríamos
ter sua companhia esta noite. – ela completa, dando uma piscadinha
para mim e franzo o cenho. Ah, não.
Lançando um olhar para a mesa onde Anne estava sentada há
poucos minutos, vejo que o lugar já não está mais ocupado por
ninguém.
— Acho que você se esqueceu de avisar sua amiga que iria
arrumar companhia. – digo, apontando para porta com a cabeça,
onde a garota loira sai acompanhada de um rapaz.
— Mas que... – Anne bufa, batendo com o pé no chão. – Ela não
é lá muito responsável. – diz agora para mim e acabo rindo. –
Podemos ser apenas nós dois talvez? – ela arrisca e ergo um
sorriso de lado.
Desde que Luara e eu terminamos, em momento algum
consegui pensar em levar outra mulher para cama. Considerei a
ideia, porque assim seria bem mais fácil tirar cada uma das marcas
na qual ela deixou em meu corpo. Mas nunca quis levar isso a
fundo, porque nem sempre o fácil é o certo a ser feito. Então, não.
Não farei isso com Anne. Não seria legal usa-la desta forma.
E tem também esse rosto sorridente que insiste em aparecer na
minha cabeça todas as vezes que penso em fazer algo da qual eu
certamente me arrependeria quando acordasse. Só que dessa vez
ela esta deitada em um canto da cama, chateada e triste. Sua mão
colocando a mecha de seu cabelo para trás, que insiste em cair sob
seu rosto.
— Lamento. – respondo após o que me parecem longos
minutos. – Mas já sou comprometido.
— Ah... Hm... Desculpa. Eu não.
— Tudo bem. – sorrio de maneira educada e, resmungando
vários pedidos de desculpas, Anne some entre as várias pessoas.
— Não vai acompanha-la? – John pergunta atrás de mim e viro
toda minha cerveja de uma só vez antes de respondê-lo:
— Eu não faço mais isso. – dou de ombros. – Até porque, ela
esta bem melhor sem mim.
— Existe algo de novo em você, Andrew. – ele sorri, parecendo
contente por algo. – Come. – diz, empurrando para mim um prato
com o que reconheço serem os salgados especiais feitos por sua
esposa. – Este é por conta da casa esta noite.
— Obrigado.
— E, para acompanhar: água. Não quero ninguém bêbado aqui
hoje. – completa e acabo rindo. John bem sabe que suas cervejas
são as únicas capazes de me deixar alegre com pouco.
◆◆◆
Andrew
Estou feliz por finalmente voltar para casa e para o calor da
minha segunda cidade natal e toda aquela correria e estresse que é
gerencia uma empresa no porte da BIT. Mas devo admitir também
que toda essa calma aqui estava me irritando, ainda que por
algumas vezes eu tenha tido um dia lotado, resolvendo sobre a nova
sede que pretendo abrir em Londres. Senti falta de toda aquela
papelada para assinar, na qual sei que terei bastante disso para
fazer. Sinto falta dos vários assuntos a serem resolvidos e das
intrigas dos funcionários. E até mesmo das reuniões que sou
obrigado a participar.
Mas, no fim de tudo, estou feliz por finalmente conseguir trazer
meus pais para passar algum tempo comigo no Brasil. E saber que
finalmente poderei apresenta-los a Luara me deixa ainda mais feliz,
porque não há nada no mundo na qual eu mais queira, além disso.
Talvez não tanto quanto ouvir um sim dela quando pedi-la em
casamento.
Sorrio, recostando-me em meu lugar e olho pela janela do avião.
Antes de decolarmos, prometi que na próxima vez que voltasse para
cá seria com Luara. E com nosso filho, é claro. Eu nunca vou deixa-
los para trás outra vez.
— Andrew. – meu pai chama, trazendo minha atenção de volta
para dentro do avião.
Embora anos mais novo, sou a cara do meu pai. Ele é alto e tem
um porte forte mesmo para sua idade. Seus olhos são iguais aos
meus: cinza. E seus cabelos levemente grisalhos em alguns pontos,
tentam esconder seu loiro escuro, que talvez seja nossa maior
diferença, uma vez que meus cabelos são castanho claro. Assim
como eu, ele mantem sua barba.
— Senhor? – pergunto, olhando em sua direção.
— Quando chegarmos – começa. –, quero que você me mostre
todos os resultados do que sua gestão tem causado a minha
empresa.
— Tudo bem. – digo, ciente de que os resultados que tivemos
desde que assumi a presidência foram todos satisfatórios.
— Terça-feira. – diz quando minha mãe se mexe, deitada sob
seu ombro, entregue ao sono.
— Terça-feira. – repito. – Estaremos todos no aguardo pela visita
do verdadeiro Presidente CEO.
Neste momento, ainda que demonstre firmeza por fora, sinto-me
um pouco nervoso. Quer dizer, sei que os resultados são todos
ótimos, mas terei vários documentos para colocar em dia em menos
de vinte e quatro horas e terei tanto tempo quanto para me atualizar
de tudo o que aconteceu nesse tempo em que eu estive fora.
Eu espero de verdade que Pedro já tenha aquela tal pessoa com
tanta capacidade para ficar no seu lugar, porque do contrário ele
mesmo terá que me ajudar com isso.
Fecho os olhos com uma ideia que passa por minha cabeça.
E espero também que ele aceite me auxiliar, uma vez que o que
Pedro fazia para mim não era nem de longe parte do cargo como
supervisor de TI.
◆◆◆
Luara
Quando cheguei de volta ao Golden, já passava um pouco das
oito da noite. Não que eu tenha ficado trabalhando até tão tarde,
ainda que tenha saído às quatro horas, já que tive uma boa
trabalheira até conseguir deixar todo o servidor em pleno
funcionamento para poder terminar meu aplicativo e entregar logo
na segunda-feira. Cheguei tarde mesmo foi porque passei do
shopping para comprar algumas coisas (livros novos) e aproveitei
para comer um lanche como janta e acabei ficando com um milk-
shake de sobremesa também. E aquilo pareceu ser a melhor coisa
do mundo todo, porque eu estava morrendo de vontade.
E eu decididamente não estou em condições de passar vontade!
Ter esse dia abarrotado de coisas para fazer no trabalho e
depois ter passado no shopping me ajudou a esquecer de algumas
coisas que estavam me incomodando. Como, por exemplo, o fato de
que Andrew nunca mencionou que era dono do Golden Village e
que aquilo deveria ser para ele algo como um hobbie, assim como
também tenho vários.
Quer dizer, não acho que tenhamos nos dado tanto tempo assim
para que nos conhecêssemos tão detalhadamente. Existem várias e
várias coisas a meu respeito que eu nunca nem mesmo cheguei
perto de contar a ele e não foi por não confiar, mas sim por não ter
surgido a oportunidade de entrar naquele assunto e talvez este seja
o motivo de que também não me contou sobre isso. Ou que talvez
ele seja sócio de algum Clube dos Jovens mais Ricos do Rio de
Janeiro ou qualquer outra coisa.
E quanto mais eu tentava me lembrar das coisas que
compartilhamos nesse pouco tempo que tivemos, mais eu me dava
conta de que Andrew me conheceu bem mais do que qualquer outro
homem com quem eu tenha estado antes dele e percebi que em
várias ocasiões me fechei para ele porque tive medo. Um medo
bobo.
E foi pensando em todas essas coisas que percebi que quero
poder conhecê-lo mais do que apenas desta maneira tão limitada
que nos conhecemos e poder arrumar uma maneira de contar a ele
que teremos gêmeos. E ok! Isso ainda esta me assustando
muitooooooo!!! Mas são dois e... Serão meus. Nossos filhos. Meu e
de And e... Meu Deus, não há outro homem no mundo com quem eu
pensaria ou teria coragem de ter algo assim.
— Só é uma pena que você não esteja aqui conosco, meu lindo.
– murmuro, tocando minha barriga com a mão, desejando
internamente que eu pudesse sentir algum movimento dos meus
pequenos. Ou até mesmo que And me ligasse, porque ele não fez
mais isso desde nossa última conversa na quarta-feira e tenho
medo que isso signifique algo não tão legal para nós.
Capítulo Cinco
Segunda-feira
Andrew
◆◆◆
Luara
◆◆◆
Andrew
Felipe me ligou por volta das dez e meia, perguntando quando
que eu iria voltar para o meu apartamento e acho que apenas não o
mandei para um lugar bem pequeno e apertado por pouco. Nem
mesmo eu sei quando voltarei para lá. Talvez hoje ou amanhã. Mas
nesse momento não tenho nem mesmo ideia e não estou com
cabeça para pensar. Acabei apenas dizendo que não sabia ainda e
ele disse que precisávamos sair para tomar algo.
Neste momento estou sentado na cabeceira da mesa de
reuniões, junto de mais alguns diretores e sócios, aguardando a
chegada dos que faltam. E com isso quero dizer Pedro, o novo
supervisor e mais um. E enquanto espero, continuo assinando
alguns dos contratos que trouxe para cá, na esperança de adiantar
o máximo que conseguir para, quem sabe, poder tirar minha hora de
almoço.
— Bom dia. – reconheço a voz de Pedro vinda da porta e ergo o
olha para ele, que vem até mim.
— Achei que já tivesse colocado o novo supervisor no seu lugar.
– digo para que apenas ele possa me ouvir.
— Arrumei! – exclama. – Começou hoje o treinamento, porque
não sabia que você já havia voltado. Acontece que está tudo parado
e...
— Estou sabendo. – eu o interrompo. – Ana já me contou sobre
o deslize de Igor quanto a isso. – puxo um contrato que estava
separado e o assino, estendendo para Pedro. – É bom que seu
prometido seja realmente tudo aquilo que falou. Ou revogarei todo
seu direito como gerente pelas próximas vinte e quatro horas.
— Será até mais. – ele sorri todo orgulhoso quando segura o
documento em suas mãos, olhando para a porta logo em seguida. –
Só peço para que tenha um pouco de paciência, porque o TI esta
trabalhando para valer na manutenção do servidor.
— Ana conversou com vocês?
— Sim, sim. – responde rapidamente. – E é justamente por isso
o atraso.
Franzo o cenho com seu comentário, realmente curioso para
saber quem foi à pessoa recomendada para ficar em seu lugar. Até
agora não ouvi um único nome ou qualquer coisa que pudesse
entregar a identidade da pessoa.
— Bem, podemos dar início a nossa reunião? – pergunto,
notando que apenas um lugar está vago. Como ninguém se
manifesta, prossigo: – Como estou com muita coisa atrasada aqui,
irei direto ao assunto: amanhã receberemos uma visita importante
em nossa empresa e não irei tolerar um nada fora do lugar. Não
quero ver um único funcionário chegando meio segundo atrasado e
menos ainda quero essa algazarra com nosso sistema fora do ar. –
dou as costas para todos, encarando o alto do Rio de Janeiro pela
enorme parede de vidro.
Construir estas salas assim, sem dúvida alguma foi uma das
melhores ideias que meu pai teve e isso sempre me faz pensar no
que ele sentia quando observava as coisas daqui. Ou lá de cima.
— Quem foi à alma sábia que concordou em permitir que
deixassem o sistema falho durante esses dias? – pergunto,
tornando a virar para eles. Ninguém abre a boca para me responder.
– Algum de vocês tem ideia do tamanho do prejuízo que estamos
tendo por causa disso agora? Ninguém mesmo? – arqueio a
sobrancelha. – Ora, não me digam que nenhum de vocês esteve
aqui no sábado e não tenha reparado no tamanho desse erro.
Vamos lá! – tento um incentivo. – Não façam isso com vocês!
No momento em que digo isto, Jorge chama minha atenção,
pedindo a palavra.
— Sábado passei daqui para terminar um trabalho pendente. –
começa. – Estava funcionando tudo normal, como deveria estar.
Aquela garota nova... – ele leva uma das mãos à têmpora, tentando
se lembrar. – Aquela que veio transferida do escritório de São Paulo.
— Luara? – Pedro o ajuda.
— Isto! – exclama. – Quando cheguei, ela esta aqui também
para terminar um trabalho. Ela tinha conseguido resolver o problema
e estávamos todos trabalhando normalmente. Ela, João e eu. Tanto
que terminamos o que havíamos vindo fazer.
Arqueio as sobrancelhas um tanto surpreso. Afinal, não fazia
ideia de que Luara entendia tão bem desta área.
— Me surpreende ver que entre tantos homens na área, a única
pessoa que se dispôs a tentar resolver tenha sido uma mulher. –
digo, tornando a me sentar. Um sorriso divertido e orgulhoso em
meu rosto.
— Ora, era óbvio que ela tentaria agradar o namorado, não? –
um dos sócios diz com tom de gozação. Ele esta sentado bem de
frente com Pedro.
— Desculpa? – pergunto, olhando em sua direção.
— Ela sabia que você estava voltando e quis fazer uma graça e
mostrar serviço. – explica. – Só não esperava que as coisas
tivessem que funcionar por mais que um dia.
Quando o jovem rapaz de terno termina de falar, todos ficam em
silêncio, olhando de mim para ele e de volta para mim. Enquanto eu,
apenas mantenho a atenção no rapaz, que me parece um completo
estranho aqui entre todos e me pergunto quando foi que ele
assumiu algo.
— Não acho que isto tenha alguma relação. – Jorge é o primeiro
a falar.
— Muito ao contrário, uma vez que em manutenções anteriores
ela ajudou e não houve problema algum em nada do que ela mexeu.
– desta vez é uma mulher quem diz, mas não recordo seu nome.
— Como você se chama mesmo? – pergunto após alguns
instantes.
— Erick Araújo. – apresenta-se rapidamente.
— Erick Araújo. – repito. – Para começo: ninguém, nem mesmo
a senhorita Luara, sabia que eu estava de volta. – começo. A
verdade é que, depois de muito pensar, acabei me convencendo de
que Luara não recebeu minha mensagem. Nenhum outro motivo
justificaria seu silêncio por tanto tempo, a menos, talvez, que ela
esteja com raiva de mim. – Em segundo: suponho que você tenha
se disponibilizado à ao menos tentar resolver esse problema interno.
Estou certo?
— N-não, senhor. – gagueja. – Esta não é minha área.
— Esta não é sua área. – repito mais uma vez. Quero rir com
estas palavras, mas me contenho. – Claro. Você esta correto! Então
ao menos pediu para que alguém ficasse a mais e resolvesse isso?
– torno a perguntar e desta vez ele apenas me encara. – Quem cala
consente. – digo e alguns riem. – Que fique claro uma coisa para
todos aqui: o fato da senhorita Brudosck e eu termos ou não um
relacionamento nunca ire interferir em nosso meio profissional. Aqui
não temos absolutamente nada um com o outro. Apenas fora destes
portões. Entenderam? Se alguém tiver algum questionamento a
respeito deste assunto, peço para que me procure lá fora, porque
aqui dentro não quero ouvir nada sobre o que temos ou não. Assim
como também não quero saber sobre com que mulher de qual setor
você anda saindo, Erick. – digo, dando fim ao assunto.
Tomo um pouco da água em meu copo, puxando mais um
contrato para poder assinar.
— Que visita tão importante teremos amanhã? – ouço a
pergunta de Pedro no momento em que alguém bate na porta e só
consigo imaginar que seja o Misterioso Novo Supervisor de Pedro. –
Achei que você não vinha mais! – ele exclama e balanço a cabeça,
ainda sem desviar a atenção do papel na minha frente.
— Desculpem-me pelo atraso. – uma voz suave chega aos meus
ouvidos e sinto meu coração disparar contra o peito no mesmo
instante. Essa voz...
◆◆◆
Luara
Chego à sala de reuniões com exatos dez minutos de um atraso
causado pela quantidade abusiva de pessoas subindo e descendo
no elevador e mais uma vez me arrependi por não ter usado as
escadas. Minha primeira reunião com sócios e diretores e isso me
acontece!
Ainda um pouco ofegante, eu passo a mão pelo rosto e bato na
porta, abrindo-a de vagar para poder me apresentar.
— Achei que não você vinha mais! – a voz de Pedro é a primeira
coisa que chega até mim, seguido de sua imagem.
— Desculpem-me pelo atraso. – começo a dizer, notando que
toda a sala esta ocupada, com apenas um lugar vago à mesa. O
que é mais do que suficiente para me deixar nervosa. – Estávamos
correndo para colocar o sistema em funcionamento desde cedo.
Mas agora já está tudo certo e... – paro de falar quando o homem na
outra ponta olha para mim. Aqueles olhos cinza. Aqueles cabelos
bagunçados como se ele tivesse acabado de transar. Seu rosto com
a barba não feita esta manhã...
Andrew tem no rosto nada além de uma expressão de surpresa,
mas sorri discretamente para mim e esse sorriso fode com todas
minhas estruturas de maneira que ele não tem noção, assim como
sempre foi. E é esse mesmo sorriso que me faz querer me
aproximar dele e atirar os braços ao redor de seu pescoço e abraça-
lo forte, assim como quis fazer todo esse tempo. Meu coração está
acelerado contra o peito. Quero beijar Andrew, quero fazer tantas
coisas com ele, mas, em primeiro lugar, quero perguntar quando ele
voltou e porque não me contou nada sobre isso!
— O que faz aqui? – sua voz rouca chega aos meus ouvidos e
isso é mais do que suficiente para terminar de me deixar mole.
— Pedro avisou sobre a reunião e disse que eu teria que
participar. – respondo e olho para Pedro, sentindo-me realmente
confusa. Será que não era essa reunião da qual ele se referiu?
— Oh! – ele exclama. – Eu não havia lhe dito quem seria a nova
supervisora? – pergunta a And, que arqueia a sobrancelha. – Achei
que tivesse mencionado. – diz agora rindo e vira para mim. – Venha.
Sente-se aqui ao meu lado.
Concordando com a cabeça, puxo a única cadeira vaga para
sentar. É uma cadeira bem de frente com a de Andrew, ainda que
ele esteja há dez lugares de distância de mim. Mas isto já é pouco
perto do oceano que existia até bem pouco.
— E então... – um senhor moreno chama a atenção dele.
— Bem! – Andrew exclama, assinando um papel que coloca ao
seu lado, junto de vários outros. – A visita que teremos amanhã é de
ninguém mais, ninguém menos de que o Dr. Victório Giardoni. – diz
e todos começam a falar ao mesmo tempo, enquanto permaneço
em silêncio, sem saber qual assunto eles estão tratando. Ainda que
o nome me soe familiar.
— Foi por isso que o senhor demorou a voltar? – uma mulher
loira pergunta a ele, que concorda.
— Não da para ficar sempre viajando para ver meus pais. Então
que, depois de muito tentar, convenci os dois a vir passar algum
tempo no Brasil. – Andrew responde a pergunta da mulher, mas sua
atenção esta em mim. Ele conseguiu! Victório é seu pai, é claro. O
Sr. Giardoni Segundo. Queria que ele tivesse me dito isso em outra
situação para que pudesse demonstrar algo por ele. Mas ainda
assim eu sorrio, tendo outro sorriso seu em resposta. – Então ele
resolveu ver pessoalmente como a empresa esta. Cada andar, cada
setor. Tudo.
— E então ele resolve mostrar trabalho para o papai, só que
como não vai dar conta pede ajuda de todos. – um rapaz diz,
chamando a atenção de todos para ele.
— Pelo amor de Deus! – Andrew exclama irritado e vejo sua
caneta voar pela mesa. – Alguém me diz quem é esse cara e o que
ele esta fazendo aqui?!
Arregalo os olhos ao ver a maneira com que ele fala. Já o rapaz
apenas ri. Na certa ele já deve estar falando coisa errada há algum
tempo.
— Ele é filho do senhor Antônio. – o mesmo homem moreno de
antes responde. – Ele quer colocar o garoto em seu lugar na
empresa. Mas parece que ele não leva nada a sério aqui dentro.
Vejo Andrew passar a mão pelo cabelo e percebo no mesmo
instante que ele esta irritado. Sua expressão esta cansada e posso
apostar que ele não dorme direito talvez desde que voltou. O que
mais uma vez faz com que me pergunte quando foi isso.
— Erick – ele diz e o rapaz pula em seu lugar. –, o que você faz?
— Segundo ano de Administração. – responde.
— Administração? – pergunta de volta, mas não espera por
resposta alguma. – Legal! Precisamos bastante de pessoas desta
área. Mas já vi que você realmente não se adapta a este lugar. –
diz. – Seu pai é uma excelente pessoa e ótimo funcionário, mas
você esta no lugar errado. Você não quer estar aqui.
Andrew diz cada uma dessas coisas provavelmente tentando
manter a paciência que já deve estar bem em seu limite. Ele passa
a mão pela barba rala e só então é que me dou conta de que ele
realmente manteve a promessa que me fez da última vez em que eu
o vi.
— Sabe pelo que passei para chegar onde estou hoje? –
pergunta por fim.
— Não faço a menor ideia. – Erick responde. – Mas acredito que
por nada, já que é filho do cara que criou tudo isso.
O-Ou! Péssimas palavras, Erick.
— Se me permite dizer – as palavras me escapam quando vejo o
olhar no rosto de Andrew. –, nem todos tem um pai tão bom quanto
o seu parece ser. Erick, não é? – pergunto e ele confirma. – Certo. –
sorrio para ele, tentando parecer gentil. – Pelas histórias que
sempre ouvi desde que cheguei aqui, o senhor Andrew, quando
começou a trabalhar na BIT, costumava ser auxiliar de faxineiro e foi
subindo conforme seu pai o julgava merecedor. Até estagiário ele
foi.
— Ela esta certa. – a mesma senhora loira de antes concorda,
rindo.
Olho para Andrew, que tem um sorriso de lado no rosto, ainda
que ainda esteja visivelmente irritado. E eu não sei o que deu na
minha cabeça para defendê-lo assim, mas fiz. E estou orgulhosa de
mim mesma por isso. Até porque não posso admitir uma mentira
como esta, quando a verdade sempre esteve ai.
— As intenções de Antônio com você são ótimas – ele começa a
dizer. –, mas antes de você chegar a qualquer cargo aqui em cima,
se quiser continuar nesta empresa, sugiro que passe no
almoxarifado e peça um uniforme de auxiliar de limpeza ao Seu
João. Se não quiser, compreenderei perfeitamente.
— Eu não vou fazer isto! – Erick exclama parecendo realmente
ofendido.
— Tudo bem. – Andrew diz com toda calma possível. – Então se
retire para que os adultos possam prosseguir com os assuntos de
adultos. Depois me resolvo com seu pai.
Erick empurra sua cadeira para trás de maneira que quase a
derruba e vai até a porta, batendo-a atrás de si ao passar com ela.
— Sem mais interrupções, tenho apenas mais uma coisa a pedir
a cada um de vocês. – And volta a falar, indiferente a tudo isso que
acabou de acontecer. – Quero que me entreguem um relatório com
todos os ocorridos desde que voltaram das férias até o final do dia.
– com uma pausa, ele toma um pouco de água. – Primeiro tirem a
próxima hora para o almoço e tente me entregar isto o quanto antes,
por favor. Se não conseguirem até o final do expediente, enviem
para meu e-mail. Peçam também para os supervisores de cada
setor faça o mesmo, por favor.
Certo! Relatório até o final do dia com tudo o que precisar. Acho
que posso fazer isso sem acabar me enrolando.
◆◆◆
Andrew
Não leva muito mais tempo até que eu encerre a reunião e logo
todos começam a se dirigir a saída. E eu observo cada um deles,
até que não sobre mais do que um pequeno grupo de três pessoas.
— Luara. – eu a chamo quando se direciona a porta. Preciso
falar com ela mesmo que apenas para saber se esta tudo bem.
— Sim? – pergunta, virando-se para mim.
— Posso falar com você?
— Sim, claro. – responde e Pedro sai, fechando a porta atrás de
si.
Sinto-me realmente nervoso sozinho aqui com ela. É uma
grande mistura de emoções. Euforia, medo, ansiedade, desejo...
Quero abraça-la. Puxa-la para mim e prende-la em meus braços.
Apenas juntar nossos lábios e preencher esse vazio que esta entre
nós. Quis fazer isto desde que passou por aquela porta, mas não
pude fazer isso. Assim como não posso fazer agora que estamos
sozinhos, porque nossa última conversa não terminou lá muito bem
e não quero deixar as coisas ainda mais estranhas do que já estão.
E também não posso tocar no assunto que diz respeito a nós dois,
porque aqui não é lugar para isso.
— O que houve? – pergunta, mordendo o lábio inferior e a vejo
esconder as mãos nos bolsos traseiros da calça. Seu gesto tem
uma reação direta em meu corpo e quero também morder seus
lábios. – And? – ela chama com um sorriso de lado.
— Desculpa. – peço. – Eu... Pedro comentou algo sobre o que
você vai precisar fazer como supervisora? – pergunto a primeira
coisa que me vem à cabeça.
— Para falar a verdade, não. – responde. – E para ser ainda
mais sincera, ele não disse nada sobre isso. Só que havia me
indicado para ficar no seu lugar e que alguém do RH iria me
procurar. – ela então faz uma pausa e arruma seu cabelo atrás da
orelha. Seu gesto me faz sorrir. – Mas sei que ele fazia relatório
semanal e entregava a você, nos supervisionava no TI para que
nada desandasse e acredito que tinha mais algo, mas desconheço
essa parte.
— Sim, fazia. – concordo. – Parece que não foi apenas de mim
que ele escondeu sobre essa indicação. – sorrio um pouco nervoso.
– Ele era um tipo de assistente meu.
— Como assim? – pergunta com o cenho franzido.
—Ele me ajudava em algumas coisas – falo. – Preencher
papeladas, documentos importantes. – passo a mão pela barba,
tentando recordar o que mais Pedro fazia. – Nada disso é realmente
parte do cargo, é claro. Pedro é alguém de minha confiança e fazia
coisas importantes para mim. E eu acho até que foi por isso que ele
quis indicar logo você...
— Eu vou matar o Pedro. – Luara me interrompe. – Eu realmente
vou matar aquele infeliz!
— É tão ruim assim? – pergunto, dando um passo a frente e ela
parece recuar.
— Eu não sei. – diz. – Ele ao menos podia ter me dito algo. Não
acha?
— Bem, ele também não me disse que era você quem estava
recomendando. Fiquei bem surpreso quando você entrou.
Um silêncio assustador toma conta de toda a sala. Está tudo tão
estranho entre nós. Mas claro que esta. Afinal, nós meio que
terminamos há um mês e essa é a primeira vez que nos vemos
desde então. E, mesmo com esse tempo, o que sinto por ela não
mudou em nada.
— Você estar aqui como supervisora por acaso significa que
recusou a proposta em Nova Iorque? – pergunto apreensivo,
sentindo uma gota de suor escorrer pela lateral do meu rosto.
— Quando me ofereceram a vaga, falei que não sabia. – explica.
– Então me disseram para ficar durante alguns dias e ver o que eu
achava e concordei com isso.
— Então você ainda não decidiu a respeito disto. – arrisco.
— Andrew – meu nome sai de sua boca com certa amargura e
percebo o quão estranho é ouvi-la me chamar desta forma. –, eu
não quero falar sobre isso aqui.
— Certo. Desculpa. Eu só... – passo a mão pelo rosto, sentindo-
me de repente perdido. – Eu preciso que você me ajude com esses
documentos. – digo, apontando com a cabeça para a pilha de
papeis em cima da mesa. – Como disse antes: isso não é parte do
cargo. Você não é obrigada a fazer nada disso se não quiser. Pedro
era alguém de minha confiança e eu o pagava mais por isso, mas
como gerente ele não pode continuar com a função. E... Eu confio
em você para qualquer uma dessas coisas.
Paro de falar, olhando para os lados. Meu coração está
acelerado dentro do peito e sinto minhas mãos suarem frio.
— E você realmente não precisa fazer isso se não se sentir
confortável. A decisão é sua, entenda. – volto a falar. – Mas eu
realmente gostaria que me ajudasse com isso. Principalmente hoje.
— Tá. Tudo bem. – diz. – O que eu preciso fazer por hora?
— Primeiro preciso que pegue com Pedro tudo o que ele tiver
sobre o seu setor. Relatórios, o que for. – começo. – Verifique se
tem algo incompleto e se sim, peço para que termine e o assine.
Não é complicado.
Luara franze o cenho e sorri.
— Tudo bem. Acho que posso fazer isso. – sorrio de volta para
ela. – Algo mais?
— Vou precisar que fique até mais tarde comigo para que
possamos colocar esses documentos em dia. – digo e aponto para a
mesa. – Tem mais um bom tanto na minha sala. – ela faz uma
careta com o que digo. – Preciso terminar de assinar todos e lançar
no sistema para evitar qualquer brecha e Victor cair matando em
cima de nós.
— Victor? – pergunta confusa.
— Victório. Meu pai. – corrijo rapidamente. – Minha mãe o
chama assim e não gosto muito de chama-lo de “pai” aqui dentro.
Acho informal.
— Ah, sim. – diz com o cenho franzido. – Fiquei feliz por saber
que você conseguiu trazê-los para ficar com você aqui. – sorri.
— Sim. Eu também. Essas viagens são cansativas e, ainda que
essa tenha de certa forma me rendido algo, também sinto que dei
um passo para trás com algo mais importante.
— And, eu... – começa a dizer, então para. Ela esta tão nervosa
quanto eu com isso aqui entre nós. – Posso já lançar no sistema já o
que você quiser. – diz e franzo o cenho. – Os contratos, digo.
— Claro. Iria adiantar muito. – sorrio e ela concorda. –
Conseguiram resolver o problema?
— Sim. – responde de imediato. – Não era algo tão complicado
de se fazer. Era bem óbvio, na verdade. Não sei como consegui
deixar passar aquilo no sábado.
— Ana que te pediu para fazer o serviço? – pergunto realmente
curioso.
— Sim. Por quê?
— Parece que em um só dia acabei aumentando sua hora extra
e dobrando seu salário do mês, sem nem mesmo fazer ideia. – digo
e ela me olha confusa. – Pedi para que Ana arrumasse alguém que
resolvesse o problema com o servidor e você arrumou. Disse a mim
mesmo que aumentaria a hora extra do novo supervisor caso ele ou
ela me ajudasse a colocar tudo em dia para amanhã e é você.
Luara nada diz a respeito do que falei. Apenas me encara,
perdida ou confusa, não sei.
— Senti sua falta. – sussurro, tentando uma nova aproximação e
desta vez ela permanece imóvel, apenas desviando o olhar para
outro lado e sua mecha teimosa cai sobre o rosto e a coloco no
lugar. Por favor, Anjo, olhe para mim.
— Quando você voltou? – pergunta, segurando minha mão junto
a lateral de seu rosto. Seus olhos estão brilhantes.
— Sábado à noite, já de madrugada. – franzo o cenho. –
Tecnicamente já era domingo, na verdade.
— Por que você não me avisou? – pergunta finalmente olhando
para mim. Sua mão ainda segurando a minha e a desço por seu
rosto. – Podia ter ligado, mandado uma mensagem dizendo que
estava voltando ou sei lá.
— Mas eu mandei. – defendo-me. – Mandei assim que terminei
de arrumar minhas coisas. Você que ignorou.
— Não, você não mandou.
Tiro o celular do bolso, mostrando a ela a mensagem.
— Ah, droga! – exclama, pegando seu celular do bolso.
— O que foi?
— Eu bloqueei você depois que a ligação caiu e me esqueci de
desbloquear de volta.
— A ligação não caiu. Você que desligou.
— Não. Meu celular descarregou. – diz e franzo o cenho.
— Por que você me bloqueou? – pergunto e ela apenas morde o
lábio. – Linda?
— Porque fiquei com medo que você me ligasse de volta e
dissesse que eu deveria aceitar a proposta de Douglas. – sussurra,
apertando os olhos e seguro seu queixo, chamando sua atenção
para mim.
— Falei que não seria certo me envolver na sua escolha dessa
maneira. – digo. – Não estando longe como estava.
— Mas agora você esta perto. – diz, mordendo o lábio outra vez
e sorrio, dando um passo mais à frente. – Muito perto.
Sua respiração parece pesada e posso sentir daqui o batimento
acelerado de seu coração. Assim como o meu.
— Ainda acho que estamos muito longe. – sorrio, tentando me
aproximar dela, que desvia o rosto para outro lado. Sua mão toca
meu peito, impedindo-me.
— Por favor, não. – pede. – Não aqui. Não assim.
Mesmo contra toda minha vontade, concordo com sua condição
e seguro sua mão tão pequena, levando-a até meu coração e dali
eu a trago até minha boca, pousando um beijo nela, finalmente
conquistando sua atenção.
— Foi você quem me falou de liberdade e acabou me
prendendo. – sussurro, dando a ela um sorriso de lado e vejo seus
olhos brilharem.
— Acho melhor começarmos nosso trabalho logo ou então não
iremos terminar a tempo e evitar que o Sr. Giardoni Segundo nos
esgane. – diz com a voz um pouco embargada, tentando puxar a
mão de volta.
— Segundo? – pergunto curioso.
— Sim. – responde com ar divertido, embora seus olhos ainda
digam o contrário. – Seu avô é o primeiro, seu pai segundo e você...
— Terceiro. – completo, rindo. – É. Faz sentido. Sou o mais
novo.
— Ou era. – diz, tocando as duas mãos em sua barriga, puxando
a camisa para junto do corpo e posso ver tão claramente seu
tamanho. Não está tão grande quanto eu imaginava, mas da para
ver.
— Quanto tempo? – pergunto sem desviar a atenção dali.
— Três recém-completos. – Luara responde e desta vez quem
morde os lábios sou eu.
— Posso? – pergunto.
— Claro. São nossos. – respondi com um sorriso de lado.
Sentindo-me um pouco nervoso, ajoelho-me de frente para ela
de maneira que fique na altura de sua barriga. Só então é que a
toco, sentindo que esta um pouco mais firme do que me lembrava. E
o sorriso bobo que surge em meu rosto é bem automático.
— Ei! – exclamo incapaz de tirar minhas mãos dali. – Oi, meu
Pequeno. Você esta um pouco maior do que eu me lembrava,
sabia? – sorrio e sinto quando Luara puxa sua camisa um pouco
para cima, deixando sua barriga a vista. – Você esta pequeno. –
digo com o cenho franzido, agora olhando melhor.
— O Dr. Marcus não concorda muito com isso. – Luara diz com
um sorriso na voz e acabo rindo, sentindo-me realmente nervoso. –
Ele diz que esta grande e se desenvolve... – ela então para de falar
quando pouso um beijo em sua barriga. Sinto uma única lágrima
escorrer pelo canto do olho.
— Não acredito que estou perdendo tudo isso. – murmuro contra
sua barriga e aperto forte os olhos antes de levantar, ficando agora
acima de Luara, que mantém os olhos fechados. Minhas mãos
ainda apoiadas em seu quadril.
— Eu te trago isso até o final do dia. – ouço sua voz um pouco
embargada e a vejo se afastar rápido de mim e ir até a mesa, onde
pega a pilha de contratos já assinados e vai até a porta já a abrindo.
– A propósito. – diz, virando de volta para mim. – Eu também senti
sua falta. Bem mais do que você se quer pode imaginar, lindo. –
sussurra com a voz embargada e então sai, deixando-me sozinho e
com o pensamento do por que de ter praticamente fugido de mim
desta maneira.
Hoje eu resolvi levantar mais cedo que o normal para poder deixar
meu carro na oficina que perto da BIT antes que ele termine de dar
problema ou acabe arrumando algo mais sério. Para o meu azar, ele
vai ficar pronto só amanhã à tarde. O que significa que hoje volto
para casa de metrô e amanhã também venho assim.
Ontem quando cheguei em casa já eram quase dez da noite,
porque fiz uma parada para comprar alguma coisa para poder
comer. E com isto quero dizer que mantive o original A La Andrew.
Não qualquer outra coisa que eu estivesse com vontade de comer
na hora.
E por falar em Andrew, eu realmente não esperava vê-lo de volta
ontem. Ou que ele fosse se ajoelhar na minha frente e tocar minha
barriga para sentir nosso filho. E menos ainda beija-la. Meu Deus!
Eu quase entrei em pânico quando ele fez aquilo. Eu só consegui
chorar depois que sai daquela sala.
E depois quando fui falar com ele para avisar que havia
terminado de lançar todos os contratos no sistema e que já os
deixara separados em cada setor e ele não queria olhar para mim.
Ou falar comigo. E com aquilo eu me senti horrível, porque tudo o
que eu mais queria era me aproximar dele e abraça-lo. Dizer o
quanto havia sentido sua falta e que estava feliz por vê-lo de volta.
Mas ele não me olhava. Não até que ele o fez e me perguntou o
porque de eu ter pedido para que João encerrasse meu contrato do
Golden, o que eu me arrependo amargamente de ter pedido.
— Bom dia. – cumprimento Daiane, seguindo direto para o
elevador.
— Bom dia. – responde. – Luara, espera!
Paro e viro de volta para ela.
— Oi?
— O senhor Giardoni pediu para que você o acompanhasse na
visita com seu pai hoje. – diz, consultando sua agenda de
anotações. – Eles devem chegar por volta das nove horas. – franzo
o cenho. Por que Andrew não me disse nada disso ontem? Ou ligou
diretamente para mim? – Pediu também para que adiantasse o
relatório de ontem para poder apresentar junto aos demais.
— Tudo bem. – falo. – Já estou com tudo pronto. Só preciso
imprimir e assinar. Obrigada.
— Claro. – ela sorri. – Esta tudo bem entre vocês dois? –
pergunta.
— Esta. – respondo com o cenho franzido. Mas que pergunta!
Isso não tem nada a ver com ela ou qualquer outra pessoa. – Por
quê?
— Bem, é que ele passou recado. E vocês moram no mesmo
prédio, não é?
Quero revirar os olhos para ela, mas me contenho e apenas
sorrio.
— Nós estamos ótimos. – sorrio. – Ele deve ter ligado aqui direto
porque sai correndo hoje cedo e não tive tempo de ligar para ele, já
que esta aproveitando os pais um pouco mais.
— Desculpa, é que...
— Não se preocupe. Perguntam muito isso só porque ele ficou
fora. – eu a interrompo. – Mas estamos bem.
— Vou avisa-lo que a senhorita concordou em acompanhar a
visita.
Apenas aceno com a cabeça, retomando minha caminhada até o
elevador.
— Por que é que elas têm sempre que ficar me enchendo com
isso? – pergunto quando o elevador chega e entro. – É tão chato e
parecem aqueles animais brigando por comida! – bufo.
— É para você tomar cuidado para não perder aquilo que todas
querem. – a voz atrás de mim quase me faz gritar.
— Pelo amor de Deus, não faz mais isso, Pedro! – exclamo,
levando a mão ao coração. – Quer que eu tenha meu filho antes da
hora ou o que?
— Não. Jamais! – exclama. – Você-Sabe-Quem me mataria.
— Voldemort? – pergunto. – Não sei se viu os filmes, mas Harry
o derrotou no último.
— Andrew é quem faria isso, sua bobinha.
— É bom mesmo ver você aqui. – digo e viro para ele, cruzando
os braços junto ao peito.
— Não me mate! – pede e ergue as mãos em sinal de rendição.
— “Não matar”? – repito. – Não matar, Pedro Henrique?! Por que
você não me avisou que eu seria como assistente dele?! – exijo.
— Em minha defesa, praticamente não significa que você vá ser
assistente dele. Apenas que terá compromissos diretos com ele. –
Pedro sorri maldosamente.
— É. Com ele e com o pai dele agora. – exclamo, batendo em
seu braço.
— Ai! Para! Isso é agressão física no ambiente de trabalho!
— Dane-se! – torno a bater. – Você poderia ao menos ter dito:
“Olha, eu estou te indicando para ficar no meu lugar como
supervisora. A propósito, você vai passar grande parte do seu dia
em companhia do amor da sua vida, tá? Seria muito legal se você
aceitasse.”.
— “Amor da sua vida”, é? – repete com um sorriso sínico no
rosto, na qual retribuo com um olhar irritado. – Tá. Eu sei que tinha
que ter contato essa parte. Mas também não falei nada para ele que
seria você quem eu indicaria e... Minhas intenções eram as
melhores possíveis.
— Eu sei que sim. – digo finalmente me rendendo ao que sinto. –
É só que está tudo muito confuso. Tão estranho.
— Eu sei que esta, querida. – diz, tocando meu ombro. O
elevador para e ele segura a porta. – Mas se você não cuidar, esses
abutres carniceiros vão querer cair matando em cima do seu homem
se perceber que vocês não estão tão bem quanto aparentam. Se
continuarem assim, se vocês não se acertarem logo todos vão
perceber isso.
Arqueio uma sobrancelha como se desafiasse quem quer que
seja.
— Que tentem. Eu mato.
Pedro ri.
— Não duvido nadinha disso. Seu tapa dói. – diz e passa a mão
pelo lugar onde bati.
— Desculpa. – murmuro o pedido, sentindo meu rosto corar.
— Aproveite que vai participar desse tour com ele hoje e de
algumas indiretas, incentive a algo. Tente se aproximar dele
novamente. – Pedro sorri para mim. – Quem sabe assim vocês
finalmente não conseguem conversar sobre tudo isso e se
resolvem? Estou cansado desse mesmo episódio. Quero algo
inédito!
Sorrio, concordando.
Quando And perguntou se eu queria conversar ontem e neguei,
falei que poderíamos fazer isso hoje ou amanhã. E não há nada no
mundo na qual eu queira mais do que ter essa conversa com ele
para colocar tudo em pratos limpos e quem sabe assim possamos
voltar de onde paramos, apagando de vez todo esse episódio.
— Aliás, amanhã quero você no barzinho com a gente para
comemorar minha promoção. – Pedro volta a falar. – Vou convidar
Andrew também. Então é bom que vocês já estejam ao menos
encaminhados, porque assim se acertam de uma vez por todas.
— Vou sim. Obrigada. – respondo e ele sai.
◆◆◆
Andrew
— Bom dia. – eu cumprimento todos sentados à mesa do café
da manhã, dando um beijo em minha avó e outro em minha mãe.
— Bom dia, querido. – minha mãe diz e me sento ao seu lado. –
Como você está?
— Cansado e precisando de uma noite inteira de sono. –
respondo. – Talvez deitar às sete da noite acordar só meio-dia.
— Nem parece que fez praticamente isso no último mês. – meu
pai entra na conversa, rindo. – Você vai comigo de carro? –
pergunta e franzo o cenho.
— Pensei em passar do meu apartamento para deixar algumas
coisas lá antes e pegar algo. – falo. – Assim não preciso levar um
monte de coisa no carro.
— Você podia me dar uma carona então. – Lilian diz, chamando
minha atenção de volta para ela. – Estou pensando em visitar uma
amiga que mora em Copacabana.
— Claro. Mas vou de moto. Já adianto para a senhora.
— Não tem problema. Adoro quando Victor e eu saímos assim lá
em Londres. – diz, olhando para meu pai e ele sorri.
— Se você vai atrasar, quero alguém me acompanhando até que
você chegue. – Victor diz. – Luara me parece pronta para isso, já
que ficou até tão tarde trabalhando com você ontem.
Olho para ele com o cenho franzido.
— Esqueça Luciana. – minha mãe diz. – Quero ir até a BIT
também. Já faz um bom tempo desde a última vez que eu estive lá.
Desta vez quem ri é meu avô, que durante toda a conversa
apenas se manteve ocupado com seu café e torradas.
— Eles estão ansiosos para conhecer sua namorada, Andrew. –
diz, levando a xícara até a boca. – Não sabem o que estão
perdendo. Ela é uma mulher incrível.
— Sim. Lu é incrível. – minha avó concorda. – A última vez que
ela esteve aqui me trouxe uma muda de rosas para plantar no
jardim e chocolates.
Franzo o cenho. Eu não me lembro disso.
— Quando foi isso? – pergunto curioso.
— Há duas ou três semanas. Não lembro bem.
— Duas semanas. – meu avô diz. – Ela veio almoçar conosco.
— Sim, sim. Passamos ótimas horas conversando. – Anna sorri.
– Ela estava bem enjoada. Mas esta linda!
— Eu não sabia disso. – sussurro.
— Não é porque você foi um idiota por deixá-la solta assim que
eu também precisava fazer isso, né? – ela diz, dando um cascudo
em mim. – Alguém precisava cuidar dela e achei que seria melhor
se seu avô e eu fizéssemos isso.
— Obrigado. – sorrio, dando um beijo em seu rosto.
— Bem, vou terminar de me arrumar e já saio. – meu pai diz já
se levantando. – Vou ligar para o escritório a caminho de lá e pedir
para que avise ela para que me acompanhe.
— Não quer que eu ligue e fale direto com ela? – pergunto,
imaginando o que Luara vai sentir ou pensar quando Daiane passar
o recado a ela.
— Não precisa. Assim ela não pensa que isso tem coisa sua no
meio.
Tenho que rir com o que ele diz. Luara certamente vai pensar
que foi em quem ligou quando Daiane disser que “o Sr. Giardoni
pediu para que o acompanhasse a visita hoje”. Mas tudo bem.
Quando chegar eu me acerto com ela.
Sobre isso e mais outro assunto que não pode mais ser adiado.
Essa conversa tem que ser hoje, de alguma forma.
— Saio em trinta minutos, Lilian. – digo, tomando um pouco do
meu suco. – Espero que a senhora esteja pronta. Do contrário irei
sozinho.
— Não banque seu pai e fique querendo me apressar. Isso é
irritante. – diz em resposta e rio. – Afinal, quando você vai trazer ela
para que eu possa conhecê-la?
— Só deixe que nos acertemos antes. – peço e é tudo o que
mais desejo.
Meus dias estão contados para impedir que João arrume outro
apartamento ou que ela mesma resolva isso sozinha. E é por isso
que pretendo usar desse tour com ela e meu pai para me aproximar.
Tentar uma reaproximação mais íntima, sem toda aquela
formalidade. Decidi que faria isso ontem depois que ela saiu e agora
esse pedido do meu pai vai me ajudar ainda mais, uma vez que até
então eu teria que fazer visitas a sua sala.
◆◆◆
Luara
O telefone em minha mesa toca menos de quinze minutos
depois de ter chegado aqui. Já estou com tudo pronto para poder
apenas entregar a Andrew e seu pai quando os encontrar.
— Luara. – atendo.
— Senhorita, ele chegou. – Daiane informa. – Esta subindo para
o seu andar.
—Já estou saindo. Obrigada. – respondo, já colocando o fone de
volta no lugar e pego a pasta com meu relatório antes de sair. –
Certo Luara. Sem pânico. Você só vai passar o dia em companhia
dos dois homens mais importantes desta empresa. – sussurro a
mim mesma enquanto fecho a porta de minha sala. – Além de
serem o pai e avô dos seus filhos. Ah, droga! Não tem como não
entrar em pânico com isso!
Tentando manter minha postura o mais firme possível, faço o
caminho até a ala principal do andar, aonde o elevador chega para
poder esperar pelos dois.
— Oi, Lu. – ouço uma voz familiar dizer assim que chego e me
viro.
— Oi, Isabeli! – eu a cumprimento de volta. – O que faz perdida
por aqui?
— Vim buscar algumas coisas que o Pedro me pediu. – ela
responde, mostrando a caixa em suas mãos. – E você? Não deveria
estar trabalhando na sua sala, não?
— Meu trabalho será ao ar livre hoje. – sorrio em resposta e o
elevador chega.
— Minha carona chegou. – Isabeli diz. – Precisamos marcar de
almoçar juntas novamente.
— Claro. Temos que mancar um dia para ir até algum
restaurante aqui perto. – ela concorda e nisso a porta do elevador
se abre, permitindo a saída de um senhor alto, com cabelo loiro
grisalho e olhos cinza que me são extremamente familiares, embora
eu esteja acostumada a vê-los em outra pessoa, anos mais jovem.
Sem falar que é impossível não ver And ao olhar para seu pai.
— Bom dia. – ele nos cumprimenta com um sotaque forte e
levemente rouco, assim como a voz do filho também é.
— Bom dia. – nós respondemos em uníssono.
— Qual das duas é Luara? – ele pergunta e Isabeli rapidamente
aponta em minha direção. Nesse momento eu gostaria de não ser a
Luara. – Prazer. Sou Victório Giardoni. – apresenta-se, dando a mão
para que o cumprimente e a seguro.
— Luara Brudosck. – apresento-me, embora há essas horas seja
desnecessário.
— Se me dão licença, tenho que levar isto aqui logo. – Isabeli diz
e logo a vejo sumir dentro do elevador.
— Ouvi muito falar da senhorita. – o Sr. Victório diz e sorrio um
pouco sem graça, sentindo meu rosto corar.
— Digo o mesmo a respeito do senhor.
— Espero que coisas boas. – ele sorri e coro ainda mais.
— Apenas o suficiente para me sentir mais do que curiosa para
conhecer a mente por trás de tudo isso aqui. – respondo e ele ri. –
Além do homem que é o pai de Andrew, é claro.
— Eu estava para dizer o mesmo a seu respeito. – diz. – Meu
filho vai se atrasar um pouco. Precisou passar em outro lugar com a
mãe dele antes de vir para cá. – ele explica a ausência de And. –
Então por hora seremos apenas nós dois.
Certo! Eu realmente não estava pronta para isso. Primeiro
Andrew passa recado pedindo para que os acompanhasse nessa
visita e agora ele simplesmente me abandona com seu pai, me
deixando totalmente a mercê da sorte.
Além de ainda querer matar Pedro, devo acrescentar Andrew a
minha lista e o farei assim que ele aparecer na minha frente outra
vez.
— Claro. Por onde o senhor quer começar?
— Por que não me mostra primeiro como estão às coisas aqui
no TI e depois até a sala de Andrew e você me apresenta os
relatórios com os lançamentos dos últimos meses? – Victório
sugere. – Então almoçamos e a tarde nós vamos até a produção
para ver como as coisas estão por lá. Com um pouco de sorte,
Andrew deve chegar durante uma dessas etapas.
— Tudo bem. – sorrio educada, embora me sinta realmente
nervosa. – Podemos ir?
— Primeiro as damas.
— Obrigada.
◆◆◆
Andrew
— Mesa para três, por favor. – peço a um jovem garçom assim
que entramos no restaurante da qual Felipe me falou esta noite.
— O senhor tem preferência por lugar? – ele pergunta e olho
para Luara, que aperta minha mão. Eu sorrio para ela, lembrando-
me de sua escolha de sempre.
— Canto. – peço. – Se tiver algo com vista para a rua. Se não, o
mais reservado possível.
— Queiram me acompanhar, por favor.
Ele então nos leva até o final do salão, para uma mesa separada
de todas as outras, onde tem uma enorme janela com vista para a
rua e uma livraria logo do outro lado. Percebo o olhar de Luara para
lá.
— Senhorita. – digo, puxando a cadeira para que Luara possa
sentar e fico ao seu lado. Meu pai ocupa o lugar de frente para nós.
— obrigada. – ela sorri um pouco sem graça e tenho a sensação
de que esta sentindo algo com meus gestos. Não surpresa, uma vez
que sempre tentei agrada-la. Só não sei o que também.
— Aqui esta o cardápio dos senhores. – o garçom diz,
entregando um a cada um de nós. – Assim que escolherem basta
que me chamem.
— Obrigado. – agradeço e ele logo se retira. – Espero que este
lugar seja mesmo tudo o que Felipe falou. – comento logo que abro
meu cardápio.
— Isso explica bastante como você ficou sabendo desse lugar
tão rápido. – Luara comenta ao meu lado e olho para ela, que me
olha com um sorriso lindo.
— Esta de brincadeira, né? – meu pai pergunta a ela. – Os dois
passaram horas no telefone essa noite. Pareciam namorados. – diz
e ela ri.
— Não diga isso, Victório. O que Luara vai pensar a meu
respeito depois dessa? – pergunto, tentando parecer ofendido.
— Você sempre se recusou a ter relacionamentos. Então...
Olho para Luara, notando seu rosto levemente corado e sinto
vontade de pousar um beijo em seus lábios, assim como também
quis fazer quando cheguei a minha sala e ela me olhou de cima
abaixo.
— Brincadeiras a parte. – ela diz, mudando de assunto. – Acho
que vou ficar com o prato cinco, bife com fritas e...
— Suco de laranja. – arrisco, ainda olhando para ela, que sorri. –
Vejamos... – olho agora para o cardápio em minhas mãos. – Prato
cinco: lasanha com porção de arroz. É claro.
— Idiota. – ela resmunga ao meu lado, mas sorri.
— Acho que vou acompanha-la.
— Vocês dois não são nada saudáveis. – Victório diz. – Agora
entendo bem porque se dão tão bem. Eu vou ficar com esse
vegetariano. Parece ser uma boa.
Chamo o garçom e faço o pedido. Não demora muito tempo até
que ele retorne, primeiro com as bebidas e depois com o almoço.
— Diga-me, Luara. – meu pai chama sua atenção. – Posso
chamar a senhorita assim?
— Claro. – responde rapidamente.
— Certo... – ele sorri. – Então me diga: como é ser uma mulher
em uma área tão diferente do que a maioria costuma gostar? –
pergunta. – O que te fez querer seguir uma carreira tão diferente?
— Eu não sei. – ela da de ombros. – Talvez o fato de que
quando criança adorava desmontar todos os brinquedos com
parafuso dos meus primos apenas para descobrir como eles
funcionavam. – diz como se não fosse nada. – Claro que no começo
não conseguia monta-los da maneira certa e menos ainda
funcionando. O que gerava boas brigas com eles também.
Victório ri com sua resposta, enquanto eu apenas fico em
silêncio por algum tempo, apenas encarando-a.
— Você nunca me contou isso. – falo.
— Porque nunca me perguntou, bobinho. – diz, mostrando a
língua para mim e toca meu queixo.
Segurando sua mão, eu a desço lentamente até o pequeno
espaço entre nossas cadeiras e sussurro em seu ouvido:
— Se fizer isso de novo, vou morder essa sua língua.
— Então faça isso! – exclama e solta minha mão. Mas que...
— Acredito que com o tempo tenha aperfeiçoado isso. – meu pai
chama nossa atenção para ele e volto a olhar para a taça quase
vazia em minha frente.
— Ah, claro. – Luara ri ao meu lado. – Depois de algum tempo
eu aprendi a aperfeiçoa-los.
— Como assim?
— Aprendi o mecanismo todo dos carrinhos apenas para poder
programa-los para fazer algumas manobras diferentes e colocar
uma luz Led embaixo para dar efeito durante a noite.
— Andrew também era assim quando criança. – meu pai ri. – Era
um sério problema dar presentes a ele.
— Não precisa me entregar desta forma também. – falo. – Tenho
certeza de que minha avó já fez isso o bastante durante o almoço
das duas na semana passada e que minha mãe fará ainda mais
quando elas se conhecerem.
Quando digo isto, Luara olha para mim e arqueio a sobrancelha.
É, eu sei que você esteve lá, Anjo.
— É bom deixa-la preparada para o fato de que muito
provavelmente o filho de vocês dois acabe quebrando os brinquedos
que derem a eles. – diz e Luara olha para outro lado do enorme
salão, brincando com a colher em sua taça vazia.
— Sabe querida. – Victor chama sua atenção, colocando a mão
sobre a dela. – Fico feliz que seja você a mulher que vai me dar um
neto. – começa. – Sempre quis um, mas meu filho aqui não parecia
muito disposto a querer isso.
— Na verdade, acho que nenhum dos dois quis. Apenas
aconteceu. – ela responde totalmente no automático e suas
palavras me machucam de alguma forma. – Desculpa. Eu não quis
falar isso de verdade.
— Aconteceu, mas poderia ter acontecido com qualquer outra. –
digo em um sussurro. – Eu provavelmente não teria me animado ou
aceitado se fosse assim. Mas foi você quem deu.
— Meu Deus! – Victório exclama. – Eu apenas quis dizer que
estou feliz por saber que finalmente ganharei um neto com quem
poderei brincar durante horas!
— Isso significa muito para mim. – Luara sussurra, olhando para
mim.
— Vocês precisam conversar, sabiam? Como dois adultos de
verdade. – meu pai diz e levanta. – Agora, se me dão licença, vou
pagar a conta.
Sinto a mão de Luara na minha logo que ficamos sozinhos e a
aperto forte entre as minhas.
— Sabe que ele tem razão, né? – pergunto. – Nós precisamos
conversar.
— Claramente precisamos conversar. – concorda.
◆◆◆
Luara
Assim que voltamos do almoço, fizemos um pequeno e
demorado passeio pelo setor de produção, que fica em um barracão
atrás do prédio da BIT. É lá onde eles produzem todas as peças de
computador que vendemos para as empresas no exterior e o lugar
onde nunca nem mesmo passei perto, já que sempre vinha direto
para o interior do prédio.
Quando voltamos para a sala de Andrew, seu pai saiu para ir ao
banheiro.
— O que foi? – pergunto ao sentir sua mão em meu braço,
puxando-me para um canto da sala.
— Esta tudo bem? – pergunta em um tom baixo e franzo o
cenho, estranhando sua pergunta.
— Esta sim. Por quê?
— Porque te fiz passar o dia com meu pai assim e nem te
preparei antes. – ele responde, olhando para a porta. – Quando
avisei que passaria do Golden antes de vir para cá, ele pediu para
que você o acompanhasse. Parecia importante para ele isso.
Franzo o cenho, ainda me sentindo um pouco irritada com ele e
ainda mais chateada pela situação no restaurante.
— Você podia pelo menos ter ligado direto para mim ao invés de
passar recado. – falo.
— Em minha defesa, eu tentei. – responde. – Mas ele disse que
não precisava, que ligaria direto para o escritório.
— Então não...
— Daiane pensou que fosse eu? – pergunta rindo e concordo. –
Não, linda. Sai com minha mãe para levar ela na casa de uma
amiga. Ela foi comigo até o Golden e depois a deixei nessa amiga.
— Daiane fez parecer que tivesse sido você quem ligou. – digo.
– Até ficou me perguntando se estávamos bem, porque você tinha
ligado para lá e nós éramos vizinhos e blábláblá. – reviro os olhos,
lembrando-me de minha resposta.
— Desculpa. Eu não queria que vocês tivessem se conhecido
assim.
— Está tudo bem, lindo. – digo com um sorriso sincero. – Acho
que me sai bem com ele depois de uma hora e já nem estava mais
nervosa quando você chegou.
Ele sorri.
— Isso é bom.
— Sim. – concordo. – Mas passar todo esse tempo com ele só
teve uma coisa de ruim.
— E o que seria? – pergunta curioso e me aproximo, apoiando a
mão em seu rosto para sussurrar em seu ouvido:
— Vocês são muito parecidos. – e deslizo a mão por sua pele,
sentindo seu pós-barba. O mesmo que dei a ele de presente quando
estávamos em Nova Iorque ainda. – Ainda acho que você fica
melhor de barba.
— Eu já falei quais são minhas condições. – diz em resposta e
afasto.
— É. Eu sei. – digo. – E para ser sincera, quero isso tanto
quanto você.
— Mas tenho que te pedir para ficar. – Andrew diz e morde o
lábio inferior. – Eu não posso te pedir exatamente isso.
— É uma pena.
— Mas posso te pedir outra coisa e espero que você aceite. –
sussurra em meu ouvido, fazendo com que um calafrio percorresse
todo meu corpo.
— Posso te pedir uma coisa?
— Todos, minha linda. – responde.
— Me abraça? – peço e ele abre os braços, onde me escondo,
sentindo seu abraço apertado ao redor do meu corpo e o aperto de
volta, sentindo o quanto desejei poder fazer isso nas últimas
semanas e mais ainda desde que eu o vi ontem.
— Linda. – And diz em meu ouvido e o aperto ainda mais. – O
que houve? – pergunta e apenas balanço a cabeça em negativo,
escondendo o rosto entre o tecido de sua camisa.
— Só me deixa ficar aqui. – peço e tenho a sensação de que
ficamos assim por muito tempo, até que Andrew afasta, segurando a
mão em meu rosto e vejo seus olhos brilharem.
Seguro seu rosto entre minhas mãos, ficando na ponta dos pés
para alcança-lo. Suas mãos em minha cintura, apertando-me contra
si. Meu coração acelerado e todo meu corpo tremendo de cima a
baixo.
Fecho os olhos e o beijo, assim como quis fazer desde que
entrei naquela sala de reuniões ontem. Assim como quis fazer
quando conversamos aqui, neste mesmo lugar ontem. E eu sinto
toda minha saudade correspondida nesse pequeno gesto, assim
como também sinto o pequeno And começar a reagir e sua mão me
apertar contra seu quadril, querendo me tirar do chão. Meu coração
já bem mais do que apenas acelerado.
Ouço uma tossida atrás de nós e tento me afastar, mas And me
prende contra si, dando um beijo no canto de minha boca e outro no
rosto antes de finalmente permitir que me afaste dele apenas o
suficiente para ver seu pai atrás de nós.
— Desculpem-me por interromper este momento tão... Lindo e
cheio de saudades e carinhos, mas... – ele olha ao redor um tanto
sem graça e sinto meu corpo entrar em ebulição. – Preciso roubar
meu filho da senhorita por algum tempo e... Depois poderão voltar
ao que estavam fazendo.
Sinto a mão de Andrew apertar meu quadril e quero me colocar
longe dele apenas para poder me esconder em algum lugar e
esquecer a ideia de que seu pai acabou de nos pegar nos beijando
no trabalho.
— Obrigado pela companhia, Luara. Adorei conhece-la e mais
ainda saber que vocês estão caminhando para uma conversa.
Seu comentário me faz rir por puro nervoso.
— Foi um prazer conhece-lo, Dr. Giardoni. – digo com a voz um
pouco tremula.
— O prazer foi todo meu, querida. – ele sorri e aperta minha
mão. – Espero vê-la breve durante um almoço em nossa residência,
junto de toda a família. – diz. – Minha esposa esta ansiosa para
conhecê-la também. Tanto que queria vir até aqui comigo hoje e ela
não faz isto desde muito antes de eu ter me aposentado. – diz e
sorrio.
— Estou mais do que ansiosa para conhecer a Dra. Lilian
também. – respondo a verdade. – Dê um abraço nela em meu
nome.
Quando digo estas palavras, sinto a mão de Andrew em meu
quadril, apertando-me de leve.
— Darei sim. – ele sorri. – A senhorita deveria aproveitar e sair
um pouco mais cedo, já que ficou até mais tarde ontem.
— Obrigada. Até mais.
No momento em que digo estas últimas palavras, eu dou o
primeiro passo para me poder sair, mas sou impedida ainda pela
mão de And, que me puxa de volta para si e sinto seu beijo. Um
beijo forte, bem diferente do que trocamos há pouco.
— Vejo você depois, anjo. – sussurra, dando um beijo em minha
bochecha e concordo, afastando-me completamente tremula.
◆◆◆
Andrew
— Vocês precisam ser um pouco mais cuidadosos de que isso,
Andrew. – meu pai diz assim que Luara fecha a porta da minha sala,
deixando-me sozinho com ele.
— Não temos esse tipo de aproximação aqui, se é o que o
senhor esta pensando. – respondo. – Isto foi apenas um caso mais
a parte e, bem...
— Sim, ela estava bem preocupada mesmo. – ele me
interrompe. – Vi isso no abraço que trocaram. Mas apenas tomem
cuidado para que não os peguem com uma aproximação mais
intima ou pode ser que todos queiram ter o mesmo. O que não é
bem a política da empresa.
— Terei cuidado. Não se preocupe. – digo. – O que o senhor
queria falar comigo?
Antes de dizer qualquer coisa, Victor puxa uma das cadeiras que
ficam de frente com minha mesa e senta. Eu apenas cruzo os
braços junto ao peito, olhando para ele.
— Não é nada demais. – diz em tom firme. – Os negócios estão
praticamente decolando e notei uma boa melhora nos últimos
meses. Sua gestão esta bem melhor do que eu esperava que fosse
ficar quando lhe passei a empresa.
— Assim você me ofender, Victor! – exclamo, tentando soar
realmente ofensivo. – Alguma vez te dei motivos para duvidar de
mim?
— Muitas vezes. – responde de pronto e sinto minha perna
vacilar um pouco. Por essa não esperava. – Mas estou orgulhoso do
homem que se tornou. Tanto dentro quanto fora destas paredes.
— Obrigado. – digo um pouco confuso. Não são frequentes as
vezes que meu pai me faz algum elogio. O que me deixa ainda mais
cheio de mim.
— Bem! – exclama tornando a se levantar. – Acho que minha
visita aqui por hoje já deu. Tenho que passar para buscar sua mãe
ainda.
— Tiago já esta lá embaixo com o carro. – falo e ele concorda.
— Você deveria ir conversar com ela.
— Irei. Não posso mais deixar passar assim. – respondo e ele
concorda.
— Boa sorte, filho. – é a última coisa que meu pai diz antes de
tocar meu ombro e sair de minha sala, deixando-me sozinho com
meus pensamentos.
◆◆◆
Luara
Irritada com o que Andrew me disse, eu me afasto. Não quero
vê-lo nunca mais na minha vida! Nem pintado de ouro ou mesmo
que seja o último homem na face da Terra e toda a humanidade
dependa de nós dois para não acabar. Para mim, ela pode ser
extinta!
Fecho minha mão, sentindo-a latejar com o tapa que dei em
Andrew. Meus dedos queimam e sei que o que ele esta sentindo é
muito mais do que apenas isto. Mas acho que o que fiz foi pouco,
porque ele não tinha o menor direito de dizer nada daquilo.
Sinto uma mão agarrar meu braço, forçando-me a parar. É
Andrew, claro. Ele segura meu braço e me puxa com força, fazendo
com que eu bata contra seu corpo. Minha respiração já bem mais do
que acelerada por toda essa raiva que estou sentindo.
— Me deixa! – exclamo, tentando soltar sua mão de mim.
— Não vou mais te deixar partir, anjo. – sussurra. – Não
enquanto eu tiver forças para te segurar em meus braços.
Abro a boca para protestar, mas acabo perdendo o dom da fala
quando sinto seus lábios tocarem os meus e solto meus tênis no
chão, prendendo as mãos em sua camisa, sentindo que posso cair
se não me agarrar a algo.
Sentir mais uma vez o beijo de Andrew era tudo o que eu mais
queria. Seu sabor suave, seu perfume... Passo a mão por seu rosto
no lugar onde bati e sinto a marca de minha mão, o que faz com que
uma lágrima escorra por meu rosto, seguida várias outras.
Antes de me afastar, pouso um beijo no canto de sua boca,
mantendo minha outra mão em seu peito, enquanto ele segura
minha cintura. E eu fecho os olhos, não querendo mais sentir nada
disso. Desejando que eu pudesse simplesmente deixar de sentir
qualquer coisa, porque tudo esta doendo muito.
— Anjo. – ele chama quando me afasto para poder pegar meus
sapatos no chão outra vez. – Por favor.
— Eu não quero mais conversar, And. – digo, pegando também
minha bolsa, que estava esquecendo. – Não aqui. Não com tantas
pessoas ao redor.
— Então vamos para casa. – sugere. – Sem brigas, sem
machucarmos um ao outro, porque está mais do que óbvio que não
é isso o que queremos.
— Eu só quero ficar sozinha. – murmuro.
— Por favor.
— Tá. Pode ser. – acabo me rendendo e o vejo caminhar até
onde os capacetes estão e voltamos em completo silêncio até onde
sua moto esta. Ele estende a mão para me ajudar a subir, mas não
aceito. Assim como também não torno a me segurar em seu quadril
enquanto dirige.
— Lar doce lar. – Andrew diz assim que estaciona sua moto ao
lado de seu carro minutos mais tarde.
Desço da garupa e vou em silêncio até o elevador para chama-
lo.
Uma parte minha apenas quer entrar no meu apartamento, jogar
minha bolsa em um canto da sala e os sapatos no outro, deixando
para trás de mim uma trilha de roupas que leva até o banheiro, onde
eu tomaria um longo e demorado banho morno, apenas para poder
esquecer toda essa droga que acabou de acontecer. O que,
considerando que Andrew esta ao meu lado e que ultimamente
tenho pensado mais no pequeno And e nos momentos que tivemos
de que no próprio And, não seria uma tarefa muito fácil.
É estranho e sei até que acabei de dizer que não queria vê-lo
mesmo que fosse o último homem, mas também não é exatamente
isso o que sinto. Muito pelo contrario.
Já a outra parte, a que ainda tem um pouco de juízo, sabe que
precisamos resolver isso de uma vez por todas e é ela a quem
resolvo ouvir, mesmo que essa possa ser nossa última chance.
— Na sua casa ou na minha? – Andrew pergunta.
— Pode ser na minha? – pergunto de volta.
— Claro. – diz, dando licença para que eu saia e vá abrir meu
apartamento. E quando eu o faço, faço também metade das coisas
que tinha em mente, exceto sobre a parte de tirar toda a roupa e
apenas sento no sofá.
— Espero que isso saia até amanhã. – ouço Andrew dizer para
si mesmo enquanto se olha no espelho no canto da sala.
— Desculpa. – sussurro. – Não era para ficar assim. Nunca fica,
na verdade.
— Tanto faz. – responde e senta ao meu lado. – Eu mereci. Falei
o que não devia e isso te irritou. Você avisou que estava no horário
em que me odeia. – sorrio um pouco sem graça, então ele muda de
assunto: – O que houve entre você e seu pai? – pergunta.
— Antes de você viajar, como já sabe, contei para eles sobre
estar grávida. E é óbvio que ele não ficou feliz por saber, então nós
discutimos e eu passei mal.
— O que aconteceu? – pergunta de repente preocupado.
— Minha mãe disse que minha pressão pode ter caído e que
desmaiei. – dou de ombros. – Mas não me lembro de nada. Só de
acordar com ela me chamando e de ver meu pai sentado, me
olhando.
— Por que você não me disse? Por que não me deixou ir
conversar com eles?
— Isso não tinha nada a ver com você.
— Tinha sim! – exclama. – Essa criança tem tudo a ver comigo,
Luara. Com nós dois. É nosso filho.
— Eu só não queria mais te preocupar com nada que dissesse
respeito a mim. – confesso. – Nós meio que havíamos acabado de
terminar nosso namoro.
— Achei que tivéssemos combinado de continuar. – ele diz e
acabo rindo.
— Demos um tempo. – falo. – Um tempo longo e como estamos
hoje?
— Sentados conversando, tentando decidir nosso futuro. –
responde de imediato. – Quero conversar com seu pai. – diz e cruza
os braços.
—Você não pode. – respondo, também cruzando os meus.
— Me dê apenas um bom motivo para não conversar com ele. –
pede e abro a boca para responder, mas antes de fazer, olho para o
outro lado.
— Não estamos mais juntos. – eu sussurro e ele ri.
— Sério? – pergunta, segurando meu rosto para ele, obrigando-
me a olha-lo nos olhos cinza. – Esse é seu melhor motivo para não
querer que tenhamos essa conversa? – torna a perguntar e tudo o
que faço é ficar em silêncio, encarando o brilho de seus olhos.
Não, esse não é o motivo para não querer que eles conversem.
Na verdade, eu não tenho um. Apenas não quero e não acho que
seja necessário, já que independente do meu pai aceitar ou não,
isso depende apenas de Andrew e eu. Mais ninguém deve tomar
frente nas escolhas com essa criança além de nós dois. Ou essas
crianças.
E mesmo que eu tenha conversado com meu pai na noite de
Natal e pensado que fossemos ficar bem, o fato de Andrew não
voltar nunca para cá não me ajudava.
— Se esse é seu maior motivo, eu tenho a solução.
— Certo. – digo, cruzando as pernas. – E qual seria? – pergunto
e arqueio a sobrancelha, realmente interessada em sua ideia
revolucionária.
— Nós nos casamos. – diz todo sério e engasgo. – Acha que
estou brincando, né?
— As coisas não funcionam assim, Andrew. Eu não quero me
casar com você. – digo e no mesmo instante percebo que seus
ombros encolhem e ele muda de postura. Meu coração congela no
mesmo instante ao perceber que ele estava realmente falando sério.
Puta merda! – Não assim. Não por obrigação e muito menos para
provar algo a alguém. – corrijo rapidamente.
— Acha que eu brincaria com algo assim?
— Nunca falei isso.
Ele concorda, tornando a mudar de postura, tentando não
demonstrar o que minha resposta inicial a sua proposta lhe causou.
— Se eu não estivesse pensando nisso desde que contou que
estava grávida, eu nunca iria sugeria isso assim. – diz. – Se tivesse
acontecido com qualquer outra, se não sentisse por você tudo o que
sinto, eu nunca iria sugerir casamento. É claro que assumiria,
porque é meu filho. Mas casar nunca. – ele ri. – Isso é algo que me
assusta mais do que qualquer outra coisa que você faça ideia. Mas
quero isso e quero com você, Anjo. E gostaria que você aceitasse
isso.
Mais uma vez fico em silêncio e desta vez não tenho a menor
ideia do que pensar ou como agi.
— Se nós estivermos juntos outra vez, você aceitaria?
— Casar com você? – pergunto de volta e ele confirma.
Sorrio, sentindo-me até mesmo um pouco boba com sua
pergunta. Se eu aceitaria me casar com Andrew Giardoni, o único
homem que já amei e talvez o único que vá amar de verdade em
toda minha vida? Sei que Andrew jamais brincaria com algo assim
ou agiria por impulso.
Sim.
— Eu não sei. Talvez. – respondo, tentando manter oculto o que
realmente sinto. Só não faça isso agora. Está tudo confuso dentro
de mim.
Uma forte luz invade todo meu apartamento pela fresta da
persiana e logo em seguida chega um trovão que me faz gritar e
Andrew rir.
Nunca tive medo de trovões ou chuva, mas nos últimos dias tem
sido difícil de viver.
— Talvez é quase uma resposta. – ele sorri. – Eu vou para casa
procurar alguma maneira de conseguir uma resposta inteira. – diz,
dando um beijo em meu rosto antes de levantar. – Qualquer coisa
que precisar estarei aqui do lado. – e segue para a porta.
— And. – chamo e ele para. – Você esta falando sério? –
pergunto, sentindo meu coração na garganta.
— Alguma vez eu brinquei com algo que fosse sério? – pergunta
quando vira para mim e nossos olhares se cruzam por breves
instantes. – Acho que não preciso dizer o que vocês significam para
mim, anjo. – diz e fecha a porta atrás de si, deixando-me sozinha
com sua pergunta.
Outro trovão quase me deixa surda e rapidamente corro para o
banheiro antes que comece a chover para valer e a energia acabe.
Capítulo Sete
Quarta-feira
Andrew
Luara
— Temos o desafiante da noite? – Pedro pergunta. – A mesa
esta desocupada. Podemos fazer duplas e ver quem é o melhor. A
dupla campeã leva o que quiser.
— Eu topo. – Diego é o primeiro a responder. – Desde que Luara
aceite ser minha parceira. – ele sorri para mim e, mesmo sem olhar,
sei que Andrew esta o encarando.
— Eu não... – começo a falar, mas para quando sinto o peso de
seu braço em meus ombros.
— Desculpa parceiro, mas a bela senhorita aqui já tem alguém
com quem formar dupla e não é com você. – diz, dando um beijo em
meu rosto e sinto sua barba não feita esta manhã me pinicar.
— Que ela escolha, então. – Diego diz em resposta, tentando
não se intimidar com And.
Mas. Que. Porra. Esta. Acontecendo. Aqui?!
— Eu não vou jogar. – respondo. – Vou ficar aqui com minhas
fritas e meu suco.
— É melhor nós irmos então. – Rodrigo diz e puxa Pedro pelo
braço. Os outros seguem atrás dele e impeço And de se afastar.
Não que ele tenha feito qualquer movimento para ficar longe de
mim.
— And... – começo a dizer, virando-me para ele.
— O que esse cara quer com você, Luara? – ele me interrompe.
– Não me diga que você esta interessada nele.
— Quê?! Não! – exclamo chocada. – De onde você tirou isso?!
— Ele esta afim de você, linda. – responde. – Vi a maneira com
que tocou seu braço e como te olhou. Ele quer algo com você que
não é apenas amizade.
— Não me interessa o que ele quer ou deixa de querer comigo.
Eu não quero isso com ninguém. – respondo, enfiando quatro
babatas na boca.
— Nem mesmo eu? – pergunta e sinto sua mão em meu queixo.
Engulo as babatas sentindo como se fosse uma bola de golfe.
— Isso não vem ao caso agora. – respondo.
— Vem sim. – diz. – Nós conversamos ontem e ainda assim as
coisas estão estranhas entre nós. Achei que depois que fizéssemos
isso tudo ficaria bem.
— Estão estranhas porque você me deixou sozinha! – exclamo.
– Porque você me... – paro de falar quando sua pergunta chega aos
meus ouvidos outra vez e tento afasta-la para longe. “Se nós
estivermos juntos outra vez, você aceitaria?”. Pensei nisto já o dia
todo. – Nós precisamos tirar essa barreira de gelo que esta entre
nós.
Quando And leva a mão ao rosto para passar em sua barba,
ergo minha própria e passo em sua bochecha, onde ainda esta um
leve vermelho do tapa que lhe dei.
— Ainda esta doendo? – pergunto.
— Não é isso o que me dói, anjo. – responde, levando minha
mão até sua boca e a beija. – O que esta me machucando não esta
visível aos olhos.
Em silêncio, eu concordo com a cabeça.
— Vem. Vamos jogar. – digo, puxando-o pela mão. – Não tem
um único ali que seja bom nesse jogo e estou louca para ganhar de
você.
And ri atrás de mim como se eu tivesse acabado de lhe contar
uma piada incrível.
— E eu estou louco para jogar sozinho com você na minha
mesa. – diz e paro, virando-me para ele. – No meu apartamento,
onde eu quero você. – sorri.
— Nunca me disse que você tinha uma mesa de bilhar. – falo e
tudo o que ele faz é dar de ombros.
— Não nos demos muito tempo para isso. Ou para te mostrar
todo meu apartamento.
— Aquele lugar é enorme. – digo e ele ri. – Vou te cobrar isso
depois, lindo. – completo, pousando um beijo em seu rosto e volto a
andar até onde o pessoal esta. – Mudei de ideia. Eu vou jogar! –
informo.
— Já estava na hora de você parar de comer, né? – Felipe diz
apenas para me provocar e faço uma careta para ele. – Vai, Andrew.
Escolhe seu taco e vem jogar. – diz agora para o amigo e olho para
ele. – Seremos nós dois contra eles ai. – e aponta para Diego e
Rodrigo. Percebo o clima ficar repentinamente tenso no mesmo
instante.
— Achei que eu fosse ruim. – And diz já escolhendo seu taco. –
Mas tudo bem. Posso ganhar de quem for e ainda vou escolher o
melhor dos prêmios para levar para casa. – e, quando diz isto, ele
pisca para mim, fazendo com que todo meu corpo entre em
ebulição.
— É o que esperamos. – pisco de volta para ele, que sorri.
— E ai? – ouço a voz da Nath em meu ouvido, fazendo com que
eu pule assustada no lugar. – Calma. – ela ri.
— Ele esta com ciúmes do Diego. – respondo. – Ele meio que
sabe que nós quase ficamos uma vez e disse que ele esta afim de
mim. – olho na direção do Diego, que sorri para mim antes de fazer
sua jogada. E isso faz com que dê bola branca.
— Isso esta na cara, né? Não precisava de ninguém para falar.
— Mas eu não quero. Só com o And que eu quero isso e não sei
se vou conseguir que fiquemos bem de outra maneira além do
ultrassom amanhã. – sussurro, desta vez olhando para And, que faz
sua jogada.
Ele parece bem ignorante enquanto joga com Rodrigo e Diego. E
com “ignorante” quero dizer que ele não da à mínima se os outros
jogam bem ou não. Ele apenas faz suas jogadas, matando as
últimas quatro bolas, colocando a oito na mesa. A outra dupla ainda
tem cinco bolas.
— Mas... E se não for? E se isso não tiver acontecido entre nós
desta forma e o Dr. Marcus apenas tiver se confundindo? –
pergunto, sentindo-me estranha. – E se for apenas um, Nath?
Segurando minhas mãos, ela me deixa bem de frente com And,
que tem o taco apoiado no chão e a atenção em nós. Sorrio para ele
um pouco sem graça.
— Se for apenas um – ela começa a dizer. –, não acho que isso
vá mudar em algo no que ele sente. É claro que ficaria
extremamente feliz, já que é o que ele mais queria pelo que você
conta. Mas ainda assim será o filho de vocês.
— Mas vai mudar para mim. – sussurro e o vejo caminhar até
onde estamos.
— Esta tudo bem? – And pergunta e confirmo.
— Só estamos conversando. – falo. – Você não deveria estar
jogando?
— Terminei minha partida. Vou pegar algo para comer. Você
quer?
— Agora não. Obrigada. – sorrio e ele concorda antes de afastar.
— Você deveria falar com ele, Lu.
— Eu sei. E eu quero fazer isso. Só não sei como.
◆◆◆
Andrew
Há muito parei de jogar com o pessoal aqui. Na verdade, ganhei
de todas as duplas que tenham passado por nossa mesa, menos de
Luara, que não chegou realmente a jogar, ainda que tenha dito que
faria isso. Ela e Natália apenas ficaram sentadas, conversando. E
eu ainda sinto a preocupação estampada em seu rosto.
— Andrew? – Pedro chama minha atenção para ele.
— Sim?
— Eu estava pensando hoje... – ele começa e faz uma pausa
para tomar de sua bebida. – Amanhã começa aquele congresso em
Goiânia e era minha vez de ir entre os supervisores.
Franzo o cenho, entendendo sua linha de pensamento.
— E você não é mais supervisor. – completo, virando-me para
Luara. – Linda? – chamo, tocando seu rosto e ela me olha com um
sorriso de lado que realmente mexe comigo.
— Oi?
— Este final de semana será o congresso tecnológico em
Goiânia. – começo. – Um encontro entre grandes empresas
nacionais e internacionais. Sobre lançamentos, ideias. Várias coisas
bastante interessantes e... Como você é a supervisora que ficou no
lugar do Pedro e esta era a vez dele ir...
— Você esta querendo me mandar para fora do estado por um
final de semana inteiro? – ela me interrompe com um ar provocativo.
– Que coisa feia, Andrew!
— Eu não... – franzo o cenho, sentindo-me confuso.
— Estou brincando, lindo. – ela sorri. – Quando começa?
— Amanhã à tarde. – respondo. – Mas as palestras e
apresentações começam apenas na sexta-feira mesmo.
— À tarde? – pergunta de volta e confirmo. – E isso não vai
interferir no meu trabalho?
— Você vai a trabalho, anjo.
— E você vai junto? – pergunta ainda mais curiosa e sorrio.
— Talvez.
Luara olha para Natália, que acena em positivo para que ela
aceite. Ao menos alguém aqui esta do meu lado nisso tudo.
— Se é a trabalho, então não vejo porque não posso ir. – ela diz,
virando-se para mim outra vez. – Só que eu tenho médico amanhã
cedo.
— Vou deixar Ana já avisada sobre sua ausência durante esses
dois dias e pedir para que deixe João avisado também.
— Tudo bem. – ela concorda. – Preciso comprar minha
passagem e fazer reserva em algum hotel específico? – pergunta e
franzo o cenho.
— Trabalho, Anjo. – respondo, colocando seu cabelo para trás
de sua orelha e mantenho minha mão ali por algum tempo. Meu
olhar fixo em sua boca entreaberta, sentindo sua respiração mais
acelerada e aproximo-me um pouco, ignorando o fato de não
estarmos sozinhos. É só que... Toda essa espera, estar aqui com
ela sem poder beija-la. Eu não consigo.
— Quer dançar? – sua pergunta chega até mim em um sussurro
rouco e vejo seus olhos brilharem com a luz do salão.
— Claro. Só vou mandar uma mensagem para Ana pedindo para
que reserve o quarto e a passagem. – digo já tirando o celular do
bolso e ela concorda, voltando sua atenção para Natália outra vez.
Virando minha cerveja de uma só vez, digito a mensagem:
Separados.
◆◆◆
Luara
— O que você esta fazendo? – And pergunta com a voz mais
rouca quando fico na ponta dos pés. Meu coração esta pulando forte
contra o peito e tudo o que eu mais desejo nesse instante é tê-lo
aqui, de qualquer forma que for.
— O que eu mais quis fazer desde que me deixou sozinha
ontem. – sussurro de volta e envolvo seu pescoço em meus braços,
trazendo-o para mais perto de mim. – Beijando você, lindo. – ele
sorri com minha resposta e prende as mãos em mim,
correspondendo com todo fervor ao beijo que lhe dou.
E esse toque, seu beijo... Suas mãos percorrendo todo meu
corpo. Meu Deus! Tudo o que esse homem faz comigo faz com que
meu corpo queira se derramar ao redor dele.
— And. – gemo contra sua boca e ele aperta minha bunda contra
seu corpo de maneira que eu sinta sua ereção dura contra minha
barriga. – Isso tudo é para mim? – pergunto em seu ouvido,
passando a mão por sua perna e ele geme com meu toque.
— Sempre foi, anjo. – responde e sinto seu beijo em meu
pescoço. – Ele é todo seu. Assim como também sou.
Sorrio, sentindo-me internamente feliz e completamente mole por
fora. O desejo que passa por minha cabeça nesse instante talvez
seja a maior loucura que já considerei em fazer, mas que também é
tudo o que mais quero nesse instante.
— Eu quero você. – sussurro em seu ouvido, sugando o lóbulo
de sua orelha com a boca e passo a mão pelo pequeno And,
sentindo-o pulsar contra o jeans. – Eu quis todos esses dias desde
que você voltou e mais ainda ontem. Mas você saiu antes que as
coisas se acertassem.
— Anjo. – ele geme em resposta. – É tudo o que mais quero.
Mas não vou aguentar chegar ao Golden com você me apertando
desse jeito. – diz e sorrio.
— Não precisa. – digo, afastando-me apenas para poder olha-lo
nos olhos. Os cinza habitualmente claro agora estão completamente
negros de excitação.
— O que quer dizer com isso? – pergunta curioso e sorrio,
puxando-o pelo pau para perto de mim. – Anjo. – ele rosna e sorrio.
— Quero dizer que o banheiro feminino esta em manutenção e
que ninguém vai nos interromper lá. – respondo, desta vez puxando-
o pela mão e o levo pelas poucas pessoas que dançam, lançando
um olhar para o lado de nossa mesa, onde apenas Natália e Felipe
estão sentados, aparentemente conversando. O que me lembra de
que ela disse que eles não estão muito bem.
— Eu quero fazer muito mais do que apenas aquilo com você,
minha linda. – ouço a voz rouca de Andrew em meu ouvido, assim
como também sinto sua mão apertar minha bunda e seu pau roçar
em mim.
— Aposto que tanto quanto eu quero. – respondo, beijando-o por
cima do ombro.
◆◆◆
Andrew
Deixo Luara me levar pelo caminho que ela já parece conhecer,
até que vejo uma placa de Interditado frente à porta do banheiro
feminino.
— As mulheres estão tendo que usar o de funcionários lá no
fundo. – explica.
— E não tem perigo de alguém, sei lá, entrar? – pergunto,
embora esse risco apenas me deixe ainda mais louco.
— Vai dizer que você não gosta disso? – pergunta de volta,
olhando para mim por cima do ombro e sorrio. – Tem chave lá
dentro, meu lindo. Teremos todo o espaço para fazermos o que
quiser.
— O que quiser? – pergunto realmente interessado, mas desta
vez não tenho resposta.
— Entra. – diz assim que abre a porta e me empurra para dentro
do banheiro, trancando-a atrás de mim. – Você tem que prometer
que vai me deixar fazer as coisas do jeito que eu quero. – diz,
cruzando os braços junto ao peito. – Tem algo que quero muito fazer
e você... Bem, você nunca me impediu de fazer o que eu queria, é
claro.
— Sou completamente seu, anjo. – falo. – De corpo e alma. Mais
de corpo neste momento. – sorrio e ela fica toda corada.
— Certo. – diz, aproximando de mim e sinto sua mão soltar meu
cinto e abrir o zíper da calça. – Você tem que ficar quieto.
Entendeu? Existe uma chance de alguém ter nos visto entrar juntos
aqui e não quero ser interrompida.
Eu apenas concordo com a cabeça e ela puxa meu pau para
fora.
— Sempre pronto. – sorri, empurrando-me contra a parede fria. –
Quero você inteiramente entregue a mim enquanto eu chupar você
todinho. – Luara diz com a voz rouca, ajoelhando-se na minha
frente. O olhar fixo ao meu. – Depois você vai me comer em cima da
pia. – diz, engolindo meu pau por inteiro, arrancando um gemido
que vem do fundo da minha garganta, fazendo com que meu quadril
se mova involuntariamente contra sua boca.
— Anjo. – gemo, segurando seus cabelos em uma tentativa de
me segurar.
Já faz muito tempo e eu não estava esperando por isso.
— Você vai gozar na minha boquinha? – ela pergunta e sinto sua
língua em minhas bolas.
— Antes eu vou comer você bem gostoso para que lembre
sempre que esse seu corpo é só meu. – digo em resposta e ela
volta a me chupar. – PORRA! – exclamo alto e ela sorri, engolindo-
me por inteiro.
— Goza para mim, lindo. – ela pede. – Eu sei que é isso o que
você quer. E eu quero sentir você de novo. Só isso que estamos
tendo aqui não vai ser suficiente para saciar minha sede de você.
Com os olhos apertados, eu me apoio contra a pia, gozando em
sua boca. Porra! Isso...
Luara afasta com um olhar vitorioso no rosto e seguro seus
ombros, puxando-a para cima.
— Você não pode resistir a mim, Andrew. – ela diz, correndo a
língua pelos lábios e a beijo com força, sentindo meu gozo. – Por
mais que você negue, o pequeno And me quer.
— Nunca neguei isso. – falo em um tom ríspido, descendo minha
mão para dentro de sua calcinha. – Assim como ela também é toda
minha. – digo em seu ouvido, penetrando um dedo nela. – Você
entendeu? – rosno.
— Então me chupa. – ordena e, sem demora, eu a puxo para o
meu colo, colocando-a sentada na pia e tiro sua calça, assim como
também faço com a calcinha.
◆◆◆
Luara
Sinto o beijo de Andrew em minha virilha e seu dedo em mim lá,
circulando, entrando e saindo de dentro de mim enquanto ele
continua com beijos suaves em minhas pernas, causando um tremor
terrível por todo meu corpo.
— And. – eu o chamo, puxando seus cabelos para fazê-lo olhar
para mim.
— O que foi? – pergunta, olhando-me por cima e sinto seu beijo
lá. – Não era isso o que você queria? Me ver aos seus pés, depois
de ter me feito perder a razão?
Eu o encaro com olhos semicerrados, totalmente fora de mim.
Não sei muito mais o que quero. Não além dele me penetrando bem
fundo.
— Eu quero você todo. – digo em resposta e ele parece não ligar
para o que falo. – Por favor.
— É seguro? – pergunta e abro os olhos que não havia me dado
conta de ter fechado.
— O que? – pergunto de volta, estranhando sua pergunta.
— O bebê? Isso... Sexo. – ele franze o cenho e fica de pé,
ajudando-me a sentar de maneira que fico na altura de seu rosto. –
Esta tudo bem se nós fizermos? Não vai machucar ou sei lá?
Sorrio para ele.
— É bom. – sussurro, dando um beijo no canto de sua boca. –
Saudável, ajuda e alivia no estresse. – a cada coisa que digo, dou
um beijo em sua boca.
— Se persistirem os sintomas, procure o Andrew mais perto de
você. – diz e me beija com uma força que me deixa mole.
— Você não existe. – digo quando ele me toma em seu colo,
deixando-me de costas com a parede.
— Se machucar você me avisa. – pede e concordo. – Por favor.
— Esta tudo bem. – sussurro e finalmente o sinto dentro de mim,
indo cada vez mais fundo e sinto uma dor leve, que faz com que um
gemido me escape. – Esta tudo bem. – repito quando ele para.
— Eu não quero te machucar, linda. Eu preciso que você me
diga se fizer isso.
Com seu pedido, sei que ele se refere a algo bem mais do que
apenas isto que estamos fazendo aqui.
— Eu também não quero mais te machucar, And. – sussurro
contra seu pescoço, sentindo quando ele começa a se mover,
pressionando-me contra a parede fria. – Nós dois somos melhores
juntos e... Isso... Meu Deus!
Perco totalmente a fala quando Andrew começa a se mover com
mais força e a beijar meu seio por cima da blusa, subindo para o
pescoço e boca logo em seguida. Eu tento acompanhar seus
movimentos, mas tudo o que consigo fazer é instiga-lo a ir mais e
mais fundo dentro de mim, apertando sua bunda com as pernas e
suas costas em um abraço forte, assim como o que trocamos em
sua sala ontem, ainda que menos íntimo do que aquele.
— Goza comigo, Anjo. – Andrew pede e sinto minha completa
perdição quando me entrego a ele, sentindo seu gozo quente
escorrer por minha perna. – Como senti falta disso. – diz, passando
a mão por meus cabelos e o sinto sair de dentro de mim. – Eu te
machuquei? – é a primeira coisa que pergunta quando me coloca no
chão de volta. Eu sinto minha perna fraquejar de maneira que
preciso me apoiar em seu braço.
— Só me deixou mole. – sorrio em resposta. – Isso foi bom.
— Fica essa noite comigo. – pede e por alguns instantes sinto
como se todo meu sangue tivesse sumido. – Você não foi à única
que se sentiu estranha depois daquela conversa que tivemos ontem.
Não acho que ela tenha resolvido algo entre nós ou vá resolver.
Precisamos derrubar isso que colocamos entre nós e voltar a ser o
que erramos antes. Sinto falta daquilo, linda. Mais do que você
imagina.
— Precisamos bem mais do que aquela hora que conversamos.
– concordo. – E talvez uma noite juntos seja o que precisemos. –
digo e ele sorri.
— Mesmo que apenas para dormir. – arrisca e desta vez quem
sorri sou eu.
— Pode apostar que você não vai dormir se eu ficar com você
essa noite, lindo. – falo. – Não depois de ter me deixado na seca
durante um mês inteiro.
— Que bom! – exclama rindo e me puxa para junto de si. –
Porque eu quero compensar tudo isso com você esse final de
semana. – diz e me beija.
◆◆◆
Andrew
— Já estávamos achando que vocês dois tinham fugido. – Felipe
diz logo que Luara e eu nos aproximamos da mesa onde
estávamos.
— Precisávamos conversar a sós. – ela responde, sentando-se
no mesmo lugar de antes e me acomodo ao seu lado.
— Esta tudo bem? – Diego pergunta a ela e sinto meu sangue
ferver no mesmo instante. – Você esta um pouco mais corada de
que quando saiu. – diz e não consigo deixar de sorrir.
— Estou ótima. – Luara responde e sinto sua mão em minha
perna, apertando o pequeno And um pouco mais brusco de que das
outras vezes. – Onde estão Pedro e Rodrigo?
— Já foram. – Natália responde. – E acho que nós já vamos
também. O Fe tem uma audiência cedo amanhã.
— E você uma consulta cedinho também, linda. – concordo,
pousando um beijo em seu ombro nu. – É melhor nós irmos
andando. Ou melhor... Você esta de carro? – pergunto, de repente
lembrando-me de que ela não veio sozinha.
— Vim com a Nath e o Felipe. – responde. – Eles passaram do
Golden para me buscar.
— Você é um filho da mãe, Felipe. – digo e ele ri. – Deveria
sentir vergonha por mentir dessa maneira para mim.
— Só estou tentando ajudar. – diz já levantando. – Vamos
andando que a viajem ainda é longa. Boa noite para vocês. Tchau,
Lu.
— Tchau. – ela o abraça, aceitando o beijo que Felipe da em sua
bochecha. – Juízo vocês dois!
— Não somos bem nós que estamos precisando disso, né? –
Natália sorri para ela. – Espero que você conte. – pede em voz
baixa, mas ainda assim consigo ouvir perfeitamente o que diz. –
Você vai conosco, Diego?
— Estou de carro. Obrigado. – responde. – Mas já estou indo
também. Já sobrei à noite toda aqui.
— Ao menos se deu conta disso. – eu digo pouco me lixando
para a cordialidade. Afinal, ele apenas quer o que é meu.
Diego abre a boca para falar algo, mas Luara é mais rápida.
— Posso falar com você por dois minutos? – ela pede a ele e
olho em sua direção. Diego concorda. – Eu já venho. – diz, dando
um beijo em meu rosto e os dois se afastam, indo para fora do meu
campo de audição.
Não estou feliz com essa conversa dos dois, não me importa
qual seja o assunto. Esse cara ficou em cima da minha garota
praticamente a noite toda e tenho mais do que certeza que ele teria
tentado beija-la se eu não estivesse em cima.
— Vamos? – a pergunta de Luara chega até mim, mas não a
vejo.
— Já se despediu do seu amigo? – pergunto um pouco irritado.
— And, por favor. – diz e me viro para encara-la. – Eu disse que
não queria nada com ele, esta bem? Eu disse isso quando cheguei
com a Nath mais cedo e o vi aqui. Nós poderíamos ser amigos, mas
sei que isso nunca foi o que ele quis comigo. E eu nunca quis com
ele o mesmo, porque já queria com outro. Então... Por favor, só
podemos ir para casa? Estou cansada e enjoada. Quero dormir.
— Desculpa. – peço. – Fiquei irritado com esse cara em cima de
você o tempo todo.
— Ao menos agora você sabe como me senti com a Sarah se
atirando para cima de você todos os dias. – diz com uma careta,
seguido por um bocejo. – Só me leva para casa e me deixa dormir
com você a noite toda. – pede e envolvo o braço ao redor de seu
quadril, pousando um beijo em seus cabelos.
— E o lance de fazermos amor toda à noite? – pergunto com um
sorriso de lado.
— Isso meio que saiu de vigor quando nosso filho disse que
estava caindo de sono e me lembrei de que tenho que fazer as
malas para uma viagem amanhã à tarde, logo depois de uma
consulta que está mais do que me deixando nervosa. – diz.
— Posso ao menos te acompanhar até o consultório? – peço,
sentindo um último fio de esperança quanto a isto. – Não precisa me
deixar entrar. Mas me deixa ao menos te levar.
Luara para e olha para mim.
— Tem algo que eu preciso te contar, And. – começa. – E por
mais que eu queira você lá comigo, também quero te fazer uma
surpresa.
— A resposta continua sendo não.
— Desculpa.
— Tudo bem. É uma escolha sua me querer lá ou não. – dou de
ombros, tentando não demonstrar o quanto isso me incomoda. Mas
a verdade é que me chateia e muito não saber o que ela esta
escondendo de mim.
— Ainda quer que eu passe a noite com você? – Luara pergunta
quando paramos ao lado do meu carro e abro a porta para ela
entrar.
— É o que você quer? – pergunto de volta bem quando meu
celular vibra no bolso, notificando uma mensagem.
— É claro que sim.
— Então, sim. Quero você comigo mesmo que para dormir. –
digo, dando um beijo em sua bochecha e ela entra para que eu
possa fechar a porta.
Antes de entrar no carro, pego o celular para ler a mensagem de
Ana.
Reserva e voos confirmados.
Façam uma boa viagem.
◆◆◆
Andrew
Estou sentado em uma cafeteria, acompanhado de um dos
diretores da BIT, tomando café da manhã e conversando sobre
alguns assuntos sobre a empresa.
Na verdade, Lucio é quem está falando. Eu mais concordo de
que presto realmente atenção, uma vez que ainda estou grilado com
o que Luara me disse mais cedo sobre eu ter falado dormindo e que
era a primeira vez que me via fazer isso.
O que me deixa mais curioso é que, quando perguntei a ela
sobre o que eu havia falado, ela apenas sussurrou “Sim” e eu não
entendi nada! Quer dizer, eu disse isso ou foi sua resposta para o
que quer que eu tenha dito enquanto dormia? Ela falou que não
havia sido eu.
Franzo o cenho, mais perdido ainda. Preciso ligar para ela assim
que me livrar de Lucio.
— Você vai para Goiânia no congresso tecnológico? – ele
pergunta, tomando um pouco de seu café.
— Sim. – respondo de imediato. – Quero saber pessoalmente o
que vai rolar por lá desta vez. Luara vai me acompanhar,
substituindo Pedro como supervisora.
— Uma oportunidade brilhante para ela que está começando
agora na área. – diz e sorrio.
— Sim. – concordo. – Tenho certeza de que ela irá absolver e
estudar muito sobre todos os assuntos, ao ponto de não querer
perder uma única palestra durante todo o dia. – digo e sorrio ainda
mais ao imaginar Luara me arrastando com ela para cada uma das
palestras.
— Aproveitem bem o final de semana então. – Lucio diz e dou
uma enorme mordida no meu Donuts. – Por que você não aproveita
para ir visitar a ARCANJOS? – ele pergunta e franzo o cenho,
considerando a ideia.
— É uma boa chance de fecharmos contrato com eles. –
concordo. – Pedirei para que Ana ligue para eles e marque um
horário para uma visita.
— Sim, sim. Faça isso. – diz. – Aproveite e leve sua namorada
para conhecer uma indústria de cosméticos.
Não consigo deixar de rir com seu comentário.
— Farei isso. – digo, vendo em meu relógio que já são nove e
meia. – É melhor eu ir andando. – falo. – Ainda preciso terminar de
arrumar as coisas para a viagem e acho que vou levar alguns
desses para Luara. – completo, referindo-me ao Donuts.
— Vou sair do seu caminho então. Preciso voltar ao trabalho
também.
— Me mantenha informado a respeito do que acontecer em
minha empresa enquanto eu estiver fora. – peço. – Não quero nada
fora do lugar na minha ausência.
— Pode ficar tranquilo. Vamos tomar conta de tudo.
Mais uma vez eu concordo e, levantando, seguimos até o
balcão, onde peço uma dúzia de Donuts para Luara, indo logo em
seguida para fora da cafeteria.
Lucio atravessa a rua para voltar a BIT, enquanto eu sigo para
meu carro, discando o número de Luara antes de entrar nele. A
ligação chama até cair na caixa postal. O que me deixa um pouco
preocupado, já que ela já deveria ter saído da consulta.
Talvez ela apenas esteja dirigindo e não possa atender agora.
Com este pensamento em mente, saio com meu próprio carro,
sabendo que a encontrarei em casa e que saberei que nosso
Pequeno esta bem. Assim como ela também está.
◆◆◆
Luara
Estamos a poucos minutos de pousar em Goiânia e eu não
tenho nem como mentir e dizer que não estou ansiosa por isso,
porque a verdade é que estou e muito. Principalmente porque já me
convenci a entregar o envelope com a foto, o DVD do ultrassom e a
carta que escrevi para And assim que chegarmos ao hotel. E ele
esta na minha mala, muito bem guardado. Então que pensei
também em dar um jeito de fazer com que ele precisasse abrir
minha mala por algum motivo para achar por “conta própria”.
— Tudo bem? – ouço sua pergunta, assim como também sinto o
toque de sua mão na minha, tirando-me por completo de meus
pensamentos.
—Só estou um pouco ansiosa. – sorrio em resposta. – E você? –
pergunto de volta.
— Acho que estou um pouco nervoso com algo. Mas tudo bem.
— Nervoso de irritado?
— Não. – responde com o cenho franzido, passando o polegar
por meus dedos. – Acho que um pouco ansioso.
— Ansioso? Pelo quê? – pergunto mais uma vez e ele da de
ombros.
— Algumas coisas que tenho pensado. – responde. – Se eu tiver
coragem, na hora certa você saberá. – e sorri para mim.
— Depois você reclama que estou cheia de segredos. – digo
como se estivesse chateada por ele não querer me contar, mas
acabo sorrindo, acabando com minha façanha totalmente.
— Você nunca conheceu outro estado até se mudar, não é? –
pergunta, obviamente mudando de assunto.
— Era para eu ter viajado para Porto Alegre há alguns anos,
para conhecer uma amiga que tinha lá. – respondo. – Seriam
minhas primeiras férias da faculdade e do trabalho. Mas acabou que
aconteceram algumas coisas e não pude ir.
— Espero que nada sério ou grave.
— Não. Nada demais. – concordo. – Já nem lembro mais o que
era.
— E vocês nunca se viram? – pergunta e confirmo. – Ainda se
falam?
— Às vezes. Não tanto quanto antes, mas sim. – franzo o cenho.
– Na verdade são raras às vezes.
— A gente costuma perder alguns amigos na transação
adolescência-adulto. – diz pensativo. – Mas, neste caso – começa a
dizer, fazendo uma pequena pausa para colocar meu cabelo atrás
da minha orelha. O gesto me faz sorrir e seguro sua mão ali por
algum tempo. –, no próximo feriado prolongado que tiver, irei leva-la
para conhecer as terras gaúchas e sua amiga, caso queira vê-la. –
diz e sorrio para ele. – Ainda que talvez precisemos de alguns dias a
mais para que eu possa te levar pelo menos para conhecer
Gramado.
— Já li bastante sobre lá e parece ser lindo. – falo. – Você já foi
para lá?
— Gramado? – pergunta de volta e confirmo. – Não. Quer dizer,
Gramado tem todo esse clima romântico e eu não sou exatamente o
cara que curte isso.
— Não é verdade. – digo. – Você sempre fez de tudo para me
agradar e acho que eu nunca fiz nem metade por você. Não como
eu gostaria. Mas pretendo fazer diferente agora.
Andrew sorri para mim e viro para ele, vendo seus olhos
brilharem. O que faz meu coração disparar contra o peito.
— And? – chamo baixinho.
— Sim?
— Por que eu sinto essa coisa estranha entre nós? – pergunto o
que tem me incomodado praticamente desde o início da semana.
Ele franze o cenho para mim. – Mesmo que nós tenhamos
conversado, mesmo que tenhamos feito... O que fizemos ontem lá
no bar e essa noite. Mesmo com tudo isso eu sinto que esta faltando
algo entre nós. Algo que é importante e que estava ali antes. Mas
agora não esta.
— Então não sou apenas eu. – sussurra consigo mesmo. – Não
definimos nossa relação. – diz como se já tivesse pensado nisso
antes. – Nós nunca tivemos essa coisa mais “aberta”. Sempre foi
namoro. E agora nós não colocamos como um namoro ou não. Esta
como se fosse “vamos nos pegar e fim. Não tem mais nada”. Só que
tem muito mais do que apenas isso e talvez seja o que esteja
deixando as coisas estranhas.
— O que significa que precisamos conversar outra vez. – digo,
concluindo sua linha de pensamento. Um sorriso divertido surge em
meu rosto. – Andrew? – chamo de repente e ele me olha mais uma
vez.
— Oi? – pergunta, devolvendo o sorriso que eu lhe ofereço.
— Você quer namorar comigo? – pergunto, sentindo meu rosto
se aquecer de repente. – Sem Vadias Aleatórias, sem caras que
não sabem colocar camisinha. Sem mais ninguém querendo
estragar nosso relacionamento. Apenas você, eu e nosso Pequeno.
— Mas assim, do nada? – pergunta de volta. – Moça, eu nem sei
seu nome. Nós só pegamos esse voo juntos e você ainda nem me
beijou.
Fecho a cara para ele, mas acabo rindo.
— Não seja por isso, Moço da Poltrona ao Lado. – sussurro,
segurando seu rosto para mim e o beijo, sentindo sua mão em
minha nuca enquanto me corresponde. E eu desço para seu
pescoço, onde o mordo, deixando uma leve marca vermelha ali.
— Então somos namorados de novo? – pergunta em um
sussurro rouco. Sua testa apoiada na minha.
— Se você aceitar, sim.
— Bem, é tudo o que eu mais quero meu Anjo. – diz, dando
outro beijo em mim.
— Acho que vou finalmente poder ver sua barba crescer outra
vez. – falo, acariciando seu rosto. Meu coração bem mais do que
apenas acelerado. – Você parece bem mais maduro quando deixa a
barba um pouco maior.
— Não sei. Estou pensando em deixar ela mais rala por algum
tempo. – ele sorri e aproxima o rosto do meu. – Até porque, eu sei
que quando ela espinha você fica mais excitada quando passo ela
no seu pescoço. Ou quando estou lá embaixo, cuidando de você.
E, com suas palavras, sinto como se eu fosse uma chaleira
fervendo. Posso até mesmo ouvir o som do vapor saindo.
— Carnaval. – digo, tentando mudar de assunto. – Seria uma
boa época para você me levar para o sul. Ainda que eu fosse
preferir mais no frio.
— É uma boa época. – And concorda com um sorriso maroto no
rosto.
— Não se você não gosta de carnaval e prefere trabalhar. Ou
ficar em casa. – digo com uma careta. – Nunca achei graça nesse
feriado. Mas acho que para você deve ter sido algo bastante
proveitoso todos esse anos.
— Sim, foi. – concorda e sinto meu estômago embrulhar. –
Sempre o aproveitei para descansar. – diz e olho para ele. – Ou
para viajar.
— Seus pais? – pergunto e ele confirma.
— Você vai ficar? – pergunta logo após me dar um beijo na
bochecha.
— Onde?
— No avião. Nós já pousamos. – ele diz e franzo o cenho,
olhando para fora da janela, onde vejo o aeroporto do outro lado em
um final de tarde que é lindo.
— Foi-se o tempo em que eu surtava para pousar ou decolar. –
comento e Andrew ri pouco antes de levantar e dar a mão para mim.
— Lembro bem daquele seu primeiro voo. – diz e sinto meu rosto
queimar outra vez. – E de várias outras vezes que fizemos em
lugares inapropriados. – sussurra em meu ouvido e fico atrás dele
para sairmos do avião.
— Se você se comportar, talvez possamos aproveitar Goiânia
para experimentarmos novos lugares. – sussurro de volta e aperto
sua bunda.
◆◆◆
Andrew
— And. – Luara me chama, parando ao meu lado.
— Oi, linda? – pergunto, virando para ela.
— Ela não esta aqui. – diz e franzo o cenho.
— Ela quem?
— Minha mala. A esteira já passou pelo menos três vezes e ela
não esta aqui.
Franzo o cenho e vou um pouco mais para frente, deixando o
carrinho com minha mala atrás de mim.
— Tem certeza? – pergunto e ela confirma.
— Mala pequena, preta e prata e um símbolo prateado no meio.
Não esta. Eu já olhei.
— Espera. – peço e observo cada uma das malas restantes na
esteira. Nenhuma parece ter a descrição da de Luara, que me é
bem mais do que familiar já. – Tem razão.
— É. Eu sei que tenho. – diz e olho para ela, que tem uma
expressão irritada no rosto.
— Por favor. – digo, chamando a atenção de um dos
funcionários do aeroporto.
— Pois não?
— A bagagem da minha namorada não esta aqui e esta é a
esteira indicada do nosso voo. – falo.
— Pode ser que algum outro passageiro tenha pegado por
engano. – ele diz. – Se esta é a esteira certa e de fato não a
encontrou, procure a empresa aérea de vocês e formalize a
reclamação para que eles encontrem.
— Obrigado. – agradeço e o rapaz volta para o seu posto. –
Vem, vamos lá.
— Isso não pode estar acontecendo. – Luara resmunga,
segurando minha mão e vou pegar o carinho com minha mala para
que possamos ir até o balcão da companhia aérea.
— O que você tem de importante lá? – pergunto.
— Roupas, sapatos, meu notebook, caderno, maquiagem,
algumas joias para o caso de você inventar de sair para algum lugar
mais importante. – franzo o cenho para ela. – Desculpa. – pede
rápido. – Na mochila eu deixei mais as coisas de higiene pessoal
mesmo, que era para não vazar e estragar algo lá.
— Vamos encontrar. – digo, parando no balcão. – Boa noite. –
cumprimento à moça do outro lado.
— Boa noite. – ela sorri para mim. – Em que posso ajudar o
senhor?
— Acabamos de chegar do Rio de Janeiro com o voo das quinze
horas e a bagagem da minha namorada foi extraviada.
— Ele quis dizer “roubada”. – Luara corrige visivelmente irritada.
– Porque ela não estava onde deveria estar para que eu pudesse
pega-la. Então, se outra pessoa a pegou e não é o dono, isso é
roubo de onde eu venho.
— Qual o voo dos senhores? – pergunta e tiro o cartão de
embarque da minha mochila, entregando para ela. – Só um
momento, por favor.
— Tudo bem. – respondo e me viro para Luara, que esta com os
braços cruzados junto ao peito. – Essa não era exatamente a
viagem que eu pretendia fazer com você esse final de semana. –
digo, puxando-a para perto de mim. – Desculpa.
— Isso não é culpa sua, And. – diz. – Pode ser até mesmo que
ela tenha ficado lá no Rio ao invés de vir para cá. Ou sabe Deus
para onde eles a mandaram! – e passa as mãos pelos cabelos,
levando-os para trás. – E eu tinha uma coisa lá dentro que é
importante.
— É claro que tinha. Você usa seu computador para trabalhar.
Ela ri e segura meus braços.
— Bem mais importante do que isso, lindo. – sorri.
— Nós vamos encontra-la. – falo, pousando um beijo em sua
testa.
— A mala da senhora veio no voo. – ouço a moça dizer atrás de
mim e me viro para ela. – Mas não esta aqui.
— É claro que não esta. – Luara diz. – Se estivesse, eu não
estaria mais no aeroporto e sim a caminho do hotel.
A moça olha para mim um pouco sem graça e abre a boca para
responder, mas torna a fechar.
— Peço desculpas a senhora por isso. – diz quando finalmente
recupera a fala. – Sinto muito pelo inconveniente. Já repassei o
caso para o meu responsável e ele já esta rastreando sua mala. Até
no máximo amanhã pela manhã ela já...
— AMANHÃ DE MANHÃ?! – Luara exclama alterada. – Minha
querida, você espera que eu vista o quê exatamente até amanhã?
Ou talvez você espere que eu passe o final de semana todo com a
mesma roupa? Porque é bem óbvio que vocês não vão encontra-la
dentro desse prazo.
— Senhora, preciso pedir para que a senhora mantenha a
calma. – ela pede e tenho que me segurar para não rir. – Nossa
companhia coloca rastreadores em todos os identificadores das
malas justamente para esses casos e o da senhora já foi passado
para poder ser localizado.
— Então quer dizer que isso costuma acontecer com bastante
frequência, não é? – pergunta praticamente rindo. – Olha, eu não
vim para cá a passeio. Vim a trabalho e sei que você esta fazendo o
seu aqui. Mas a questão é: o meu trabalho esta dentro daquela mala
que vocês perderam e eu preciso dela para ontem. Não para
amanhã.
— Senhora, eu...
— And, resolve isso para mim, por favor. – Luara pede e percebo
em seu rosto que esta quase chorando. – Eu não quero ofender
ninguém e você sabe.
— Fica calma, linda. Isso não faz bem para vocês. – sussurro
para ela, segurando sua mão. – Você tem um papel? – peço a moça
e ela me entrega um bloco de papel e caneta. – Vou anotar aqui o
telefone da minha namorada e o endereço do hotel que vamos ficar.
– digo, já anotando os dois. – Quando vocês encontrarem a mala,
eu quero que ligue para este celular para avisar e que entreguem no
hotel. Caso isso não aconteça até amanhã de manhã, assim como a
senhorita bem especificou que aconteceria, terei que pedir para que
o advogado da minha namorada entre no caso e acho que não é o
que vocês vão querer.
E com isto, devolvo para ela o bloco e a caneta.
— O senhor não quer deixar seu celular também? – ela pede e
Luara ri ao meu lado. – Para o caso de não conseguir falar no dela?
— Não. O erro de vocês foi com Luara. Então deverão resolver
diretamente com ela. – respondo de maneira ríspida. – O outro
telefone que posso te passar é o do escritório do nosso advogado.
— Não será necessário.
— Ótimo. – respondo de volta. – Estaremos no aguardo de sua
ligação para o quanto antes. – e antes de me virar para ir buscar o
carro que Ana alugou, acrescento: – E avise seu gerente que não
quero saber de passagem grátis para tentarem se redimir comigo.
Já não é a primeira vez que a empresa na qual você presta seus
serviços vem falhando com a minha e estou realmente cansado
disto.
— Peço desculpas por isso, Sr. Giardoni.
— E eu espero que esta mala esteja no meu hotel até às sete
horas da manhã de amanhã. – respondo de volta. – Tenha uma boa
noite. – digo, tomando a mão de Luara na minha e saio.
— As coisas para você parecem ser tão mais simples. – Luara
diz ao meu lado e rio.
— Só parecem. – falo. – Estou cansado das merdas que essa
companhia aérea tem feito comigo já. Comigo e vários outros dentro
da BIT. E eu já falei mais de uma vez para Ana não reservar mais
passagens com eles para mim.
Paro no balcão de aluguel de carros, entregando meu
documento para o rapaz do outro lado, que começa uma busca por
minha reserva.
— Sabia que quando fui para São Paulo, o motivo para ter me
atrasado foram eles? – pergunto, virando-me para Luara. – Eu podia
ter perdido o voo para Nova Iorque com você por causa de um
atraso deles, que tudo o que fizeram foi dar duas passagens de
primeira classe com destino de minha escolha.
— Isso deve ser mesmo muito chato. – ela diz para me provocar
e sorrio. – E o que você fez com elas?
— Dei para o Felipe e disse para levar a namorada dele para
algum lugar. – respondo e o rapaz volta até onde estamos e me
entrega um papel, junto da chave do carro.
— Aproveitem a viagem e tenham uma boa noite. – diz.
— Obrigado.
— Obrigada. E uma boa noite para o senhor também. – Luara
sorri para ele.
— Parece que pegamos um Civic. – comento quando voltamos a
andar.
— Ele é sua marca já.
— Gosto dos modelos dele. Esse é um Sedan branco.
— Certamente não é o seu perfil.
— Sou mais neutro. – respondo. – Só não gosto mesmo de
carros coloridos.
Fazemos o caminho restante até onde o carro esta, conversando
sobre qualquer coisa que não seja o inconveniente com a bagagem
de Luara. Percebi que tem algo de mais importante lá apenas pela
forma com que se irritou quando percebeu que ela não estava mais
na esteira e mais ainda enquanto conversava com a mulher no
balcão. E eu me sinto mais do que apenas responsável por ela ter
perdido, uma vez que ela apenas veio para cá por convite meu.
— Quer passar de alguma loja para comprar algumas roupas
para você? – pergunto, abrindo o porta-malas do Civic para guardar
nossas coisas. – Ao menos para sairmos para jantar e passar a
noite. E alguma lingerie, caso todas as suas estivessem na mala. –
sorrio de maneira sugestiva para ela.
— Não me diga que esta me sugerindo que façamos sexo no
provador da loja, Andrew. – ela diz, cruzando os braços e abro a
porta para que ela possa entrar.
— Na verdade eu só havia pensado naquela vez que você usou
aquela cinta e no quanto achei que ficou sexy. – digo um pouco na
defensiva. – Mas se você quiser...
— Bem, eu pensei. – diz e sorri para mim. O que faz com que o
pequeno And acorde um pouco. – Mas acho melhor nós irmos
primeiro para o hotel e fazer check-in. Isso é mais importante.
— Tudo bem. – concordo. – Ainda são seis horas. Então
podemos dar entrada nos nossos quartos e sair para fazer compras
e jantar em algum lugar.
— Vai mesmo manter os quartos? – pergunta e deixo para
responder quando me sento ao seu lado no carro.
— Você quer isso? – pergunto de volta, sentindo-me incomodado
com a ideia de passarmos à noite separados. Quero estar com ela o
tempo todo enquanto estivermos aqui. E isso inclui dormir ao seu
lado.
— Achei que isso estivesse meio óbvio quando te pedi em
namoro lá no avião há algum tempo. – responde com uma careta.
— Não respondeu minha pergunta. – digo e arqueio a
sobrancelha.
— Então vai ficar sem ela.
— Você fica uma gracinha quando esta brava. – rio.
— Idiota. – ela diz tentando parecer brava, mas acaba
fracassando.
◆◆◆
Luara
Andrew estaciona o carro frente a um hotel realmente bonito
cerca de trinta minutos depois de termos saído do aeroporto.
Ainda estou um pouco irritada com o que aconteceu com minha
bagagem e isso já me fez chorar a caminho daqui, porque, além de
que não poderei trabalhar hoje no site que estou desenvolvendo,
também não tenho mais como dar a foto do ultrassom para And,
para poder dar a notícia a ele de que teremos gêmeos.
Talvez eu devesse apenas falar. Ou talvez eu aproveite quando
formos sair para comprar as roupas para passar a noite, possa
aproveitar e comprar também dois pares de sapatinhos e dar a ele.
Sorrio com o pensamento que de repente surge em minha
cabeça. Talvez eu faça isso para ele.
— Espere aqui. – Andrew diz ao meu lado e desce para vir abrir
a porta para mim e aperto o crucifixo de seu colar. Preciso devolver
para ele. – Senhorita. – diz logo que abre a porta, oferecendo um
sorriso lindo para mim.
— Parece que andou chovendo bem por aqui. – comento,
notando a poça d’água pouco a frente logo que saio.
— Algumas amizades são iguais à chuva no começo do ano:
frequentes no início e de repente somem.
— Esta sem dúvidas é a melhor definição a respeito disso. – digo
e ele sorri quando seguro sua mão para que possamos entrar no
hotel.
No instante em que Andrew e eu damos o primeiro passo para
voltar à calçada, um carro vira a esquina bem mais rápido do que
deveria, jogando uma água fedida e suja em nós, que antes estava
na poça.
— DESGRAÇADO FILHO DA... – eu solto no momento em que a
água me atinge. – Era só o que faltava para terminar de estragar
meu dia. – bufo.
— Mas que porra! – Andrew exclama ao meu lado, passando a
mão pelo rosto para se limpar. – Vem. É melhor entrarmos antes
que mais algum maluco faça ao pior. – diz, entregando para mim um
lencinho que tira do bolso de sua jaqueta.
— And – eu o chamo. –, sei que suas intenções foram as
melhores possíveis, mas estou começando a me arrepender de ter
aceitado vir para cá com você.
— Eu sei. – responde. – Desculpa por isso. Não era nem de
longe o que eu tinha em mente para esse final de semana.
— Sei que não, lindo. Não é sua culpa. – sorrio e aperto sua mão
na minha.
— Boa noite. – um senhor nos cumprimenta assim que
passamos pela porta do hotel. – Meu Deus! O que houve com os
senhores?!
— Um maluco que devia estar perdendo o trem. – And responde
com óbvia ironia e ele balança a cabeça.
— Um dia vamos acabar vendo algum acidente aqui na frente. –
diz. – São malucos! Diogo, por favor, arrume duas toalhas para os
senhores. – ele pede a um rapaz, que logo some por uma porta.
— O Civic branco. – And diz, entregando a chave do carro para
ele junto de uma nota que não consigo ver o valor. – Nossas coisas
estão no porta-malas.
— Pedirei para que deixem tudo no quarto dos senhores assim
que estiverem acomodados.
— Obrigado. – diz. – Vamos, linda? – pergunta agora para mim.
— Adorei o sotaque dele. – comento assim que nos afastamos.
— Espero que tenha sido apenas isso que tenha gostado.
Fecho a cara para ele por alguns instantes.
— Estou satisfeita com o homem que arrumei para mim. –
respondo. – Ele me da mais do que trabalho já.
— Bom. – diz com um sorriso de lado.
Quando paramos no balcão da recepção, deixo de prestar
atenção em Andrew para observar o hall de entrada do hotel, que é
lindo, assim como lá fora também é. Todo o chão é de granito e tem
alguns quadros lindos e diferentes da maioria que já vi. E isso
considerando que eu ia bastante a museus lá em São Paulo.
— Senhora. – alguém chama e me viro. É o mesmo rapaz que
saiu para buscar as toalhas.
— Obrigada, Diogo.
— Precisando é só chamar. – ele diz com um sorriso gentil. –
Tenha uma boa noite. – e sai assim que me entrega as toalhas. Uma
eu uso para me limpar já, porque estou me sentindo incomodada.
— Como cancelado? – a voz levemente alterada de Andrew
chega até mim e me viro para ver o que esta acontecendo desta
vez.
— Houve um erro no nosso sistema essa tarde e ele cancelou
algumas reservas. – a moça do outro lado explica.
— Certo. – And diz calmo. – Eu só preciso de um quarto. O que
você tem?
— Bem... – ela começa, então para, como se buscasse as
palavras certas para dizer. – É que por conta do congresso
tecnológico que começou hoje, nós estamos lotados.
— Sim, eu sei a respeito do congresso. É justamente por isso
que estamos aqui. E tínhamos não uma, mas duas reservas e vocês
cancelaram as duas!
— Sinto muito pelo ocorrido, Sr. Giardoni. – pede. – A maioria
dos hospedes chegaram logo no início da tarde e os quartos dos
senhores acabaram indo para outros hospedes.
— And. – eu o chamo para entregar a segunda toalha para que
possa se limpar.
— Obrigado. – sussurra. – Você não tem nem mesmo um único
quarto sobrando? – pergunta realmente calmo e isso me
surpreende, porque se fosse eu não sei como estaria mais. –
Goiânia não tem sido muito receptiva conosco desde que chegamos
e isso foi há bem pouco tempo.
— Tem um quarto. – ela diz após uma rápida consulta no
computador. – Mas é a suíte presidencial. – conclui e não consigo
deixar de rir com tamanha ironia. O que faz Andrew sorrir.
— Como te disse: eu preciso de um quarto. – diz.
— Vou fazer o check-in dos senhores. – informa. – Só preciso do
documento da senhora também.
— Claro. – digo já tirando a carteira de dentro da mochila. Por
sorte não fiz a burrada de guardar ela na mala também.
◆◆◆
Luara
Quando Andrew e eu chegamos a ARCANJOS, ainda faltam alguns
minutos para o horário da nossa visita. E enquanto caminhamos
direção ao enorme edifício, sinto-me cada vez mais ansiosa para
conhecer tudo, porque, desde que eu consigo me lembrar (e com
isso quero dizer desde que comecei a me interessar por maquiagem
e essas coisas), uso os produtos deles. Só não o perfume, porque
gosto mais de outro. Isso tanto a Ju quanto eu.
E é por isso que ela me pediu para levar uma nova maleta de
maquiagem para ela.
— Ansiosa? – Andrew pergunta ao meu lado e aperto sua mão
na minha.
— Um pouco. – respondo. – Quero ver como é a construção por
dentro.
— Você já vai descobrir isso. – ele diz e paramos frente à porta
automática e logo posso ver o interior do prédio. Tudo parece ser
muito lindo e meio rústico.
— UAU! – exclamo realmente encantada com o que vejo.
— Você gosta mesmo de construções, decoração e derivados. –
And observa e olho para ele.
— Convivência com Julie, lindo. – digo e ele ri.
— Boa tarde, senhores. – uma moça com não mais do que vinte
anos nos cumprimenta. Ela é uma mulher realmente bonita.
— Boa tarde. – Andrew e eu respondemos no mesmo instante. –
Sou Andrew Giardoni. – ele diz. – Temos horário marcado com
Miguel dos Anjos para uma visita.
— Os senhores Miguel e Gabriel já estão descendo para
acompanha-los. – ela diz em resposta. – A Sra. Sara irá encontra-
los mais tarde.
— Tudo bem. Obrigado. – And sorri para ela, que retribui com
um sorriso exagerado demais para o meu gosto. Em resposta a ele,
passo meu braço ao redor do quadril de And, ficando o mais
próxima dele possível e pouso um beijo em seu braço. Ele é meu,
querida.
— Os senhores gostariam de beber algo? – ela pergunta um
pouco sem graça.
— Água, por favor. – Andrew pede com um sorriso de lado. – E
você, linda?
—O mesmo. – respondo com um sorriso de lado e sou retribuída
com um sínico vindo dele.
— Volto em instantes. – ela diz e sai, sumindo de vista por uma
porta do outro lado.
— Pude sentir uma faísca saindo de você quando ela sorriu para
mim. – Andrew diz e fecho a cara para ele.
— Agora que estamos assumidamente juntos, não tenho porque
ver essas mulheres flertando com meu noivo na minha cara e ficar
quieta. – digo e ele sorri. – Já não sei se gostei muito de saber que
teremos uma Sara nos acompanhando nessa visita.
— Repete. – And pede e franzo o cenho para ele.
— O que?
— O que você disse.
— Sobre Sara? – pergunto e franzo ainda mais o cenho.
— Não. Antes.
— Ah! – exclamo, sentindo meu rosto aquecer ao entender o que
ele esta pedindo. Mas sorrio, segurando seu rosto entre minhas
mãos e aproximo o meu dele. – Você é meu noivo, Andrew Bôer
Giardoni. – sussurro. – E meu tudo.
Quando Andrew sorri para mim, vejo seus olhos brilharem contra
a luz. Então eu o beijo, sentindo meu coração disparado, como se
fosse à primeira vez que fazemos isso.
— Boa tarde, senhores. – ouço uma voz grave e grossa atrás e
nós e rapidamente me afasto. – Boa tarde. – ele sorri. – Desculpem-
nos por interrompê-los.
— Há quanto tempo, Miguel. – Andrew diz, apertando a mão que
o homem lhe oferece.
— Senhora. – diz agora me cumprimentando. – Sou Miguel dos
Anjos. Presidente CEO da ARCANJOS. É um prazer conhece-la.
— Oi. – digo quase em um sussurro, sentindo meu rosto aquecer
um pouco. – Luara. – sorrio sem graça.
Miguel sorri para mim e aperta minha mão e me permito
observa-lo.
Ele é alto, forte e tem o cabelo castanho perfeitamente arrumado
e olhos azuis. Talvez na casa dos trinta e cinco, trinta e seis anos. A
definição de um homem lindo, assim como sempre achei e admirei
Andrew.
Já o rapaz ao seu lado parece ter não mais do que vinte e oito
anos a meu ver e é tão alto quanto Miguel, mas os dois ainda são
menores que And. Todos são. Seus cabelos são loiros e
bagunçados, como se nem tivesse se dado o trabalho de arruma-los
quando saiu da cama provavelmente de alguma mulher com quem
passou a noite transando. Seu físico é de quem certamente passa
horas na academia e tem uma pele levemente morena por causa do
sol que deve tomar em alguma praia.
Os dois, sem tirar nem por, são lindos ao ponto de deixar
qualquer mulher derretida por eles. Principalmente o loiro, que tem
os olhos fixos em mim e um sorriso torto que me deixa levemente
desconfortável.
— Este é meu irmão caçula Gabriel. – Miguel apresenta quando
ele se aproxima de mim. – Nossa irmã, Sara, irá se juntar a nós
dentro de uma hora. Ela esta em reunião.
— Miguel é sempre formal demais para o meu gosto. – Gabriel
diz. – É um prazer enorme conhece-la, Luara. – ele diz com a voz
levemente rouca e tão grave quanto a do irmão, dando um beijo em
minha bochecha e sinto meu rosto realmente se aquecer, assim
como também sinto o olhar de Andrew em cima de nós.
— O prazer é meu. – sorrio um pouco sem graça.
— Como vão as coisas, Andrew? – pergunta agora a ele,
cumprimentando-o.
— Melhorando a cada dia. – diz, envolvendo o braço ao redor do
meu quadril e sinto seu beijo em meu rosto. – E você?
— Digo o mesmo. – responde.
— Preciso de água. – digo a primeira coisa que me vem à
cabeça.
— Beatriz! – Gabriel chama e olho para o lado, notando a
mesma garota de antes.
— Desculpem-me a demora. – ela pede, entregando os dois
copos d’água.
— Obrigada. – sussurro, sentindo a boca seca. Gabriel me
encara com um sorriso de lado.
— Tudo bem? – And pergunta quando devolvo o copo para
Beatriz.
— Está. Só me senti um pouco zonza por causa do calor. Não é
nada. – respondo a verdade.
— Qualquer coisa você me avisa, por favor.
— Tudo bem. – sorrio para ele, segurando sua mão.
— Podemos começar então? – Miguel pergunta. – Temos muito
que ver e pouco tempo.
— Claro. Tem alguém aqui que estava bem ansiosa para
conhecer tudo por aqui. – Andrew diz e aperto sua mão, chamando
sua atenção para mim.
— Se quer conhecer a magia por trás da linha de cosméticos,
veio ao lugar certo. – Gabriel diz. – Por que não começamos pela
ala leste? – pergunta ao irmão, que concorda com a ideia.
◆◆◆
Andrew
—Será que você pode dirigir um pouco mais rápido? – Luara
pergunta ao meu lado e olho para ela.
— Por que a pressa? – pergunto de volta. – A menos que me
diga que quer fazer sexo dentro do carro, na garagem, eu não vou
correr.
— Então que tal isso: se você não for mais rápido, vai ter que
contentar com sua mão pelas próximas vinte e quatro horas.
— Caramba! – exclamo, arregalando os olhos para ela.
— É. E se perguntar mais algo eu aumento!
— Isso é chantagem, linda! – digo, olhando para ela outra vez. –
Por que esta tentando me chantagear sendo que não fiz nada?
— Eu não vou te contar o que preciso fazer, Andrew. – diz,
cruzando os braços junto ao peito e olha para fora da janela.
— Já estou andando no limite, Anjo. – falo. – Não posso correr
mais do que isso. Sem falar que o trânsito aqui no Rio esse horário
é horrível. E também que não quero que nada aconteça.
— EU PRECISO FAZER XIXI, ANDREW! – ela praticamente
grita comigo e não consigo segurar a risada. – E juro que vou bater
em você se continuar rindo!
— Desculpa. – peço. – Não quero ficar sem sexo nem hoje nem
tão cedo. Mas não posso correr mais de que isso.
— Só vai mais rápido, por favor! – Luara praticamente me
implora e, de certa forme, me sinto incomodado por ela. – Eu estou
praticamente desde que saímos de Goiânia sem usar o banheiro e
estou realmente apertada.
— Já estamos chegando. – digo logo que viro uma última
esquina, vendo o prédio do Golden logo à frente.
— Agora mais uma eternidade para você liberar o código da
garagem.
Ignorando seu comentário, eu apenas paro frente ao portão da
garagem e digito meu código para poder entrar e logo estou em
minha vaga. E, assim que paro, Luara desce, indo até o elevador do
meu apartamento e a vejo sumir dentro dele, sem nem mesmo
esperar por mim. O que, de certa forma, é estranho, porque ela
nunca foi nele sozinha ou esteve no meu apartamento sem mim
antes. Não ao ponto de chegar lá e eu não estar.
Saio do carro e vou até o porta-malas, onde tiro de dentro tanto
minha mala quanto a de Luara, junto da mochila e os dois kits que
ela ganhou da ARCANJOS, seguindo logo em seguida para o
elevador agora desocupado e subo até meu apartamento.
— Achei que não fosse mais subir. – as palavras chegam até
mim bem antes de eu poder localizar sua dona.
Luara esta sentada no braço do meu sofá, usando nada além de
um conjunto de calcinha e sutiã rendado, de cor vermelha.
Coloco as duas malas e a mochila no canto ao lado do elevador,
voltando a olhar para ela, que se levanta, vindo até mim.
— Achei que tivesse dito que precisava usar o banheiro. –
comento sem desviar os olhos de seus seios.
— Bem, eu precisava. – diz com um sorriso lindo no rosto. – Mas
isso foi há dez minutos.
— Então quer dizer que não vou mais ter que ficar um dia inteiro
sem ter você? – pergunto, sentindo minha voz bem mais pesada do
que costuma ser. Luara da um passo mais a frente, ficando quase
colada em mim.
— Como se eu fosse aguentar ficar tanto tempo sem ter você
dentro de mim. – sussurra, envolvendo os braços ao redor do meu
pescoço e me beija com força, fazendo com que meu pau fique mais
rígido dentro da calça.
— Então vem cá que eu quero você e quero agora. – digo,
tomando-a em meu colo, levando a nós dois para o sofá e a deito
ali, permitindo que ela tire minha roupa, para só então começar a
brincadeira que, pelo meu gosto e desejo que estou sentindo nesse
instante, vai durar a noite toda, independente de eu ter ou não uma
reunião amanhã logo no primeiro horário.
Capítulo Dez
Sexta-feira
Luara
◆◆◆
Andrew
Sinto-me um pouco idiota por ter interrompido a conversa de
João com Luara, apenas por ter sentido medo que ele tivesse
arrumado o apartamento que ela pediu e que ela ainda quisesse
ficar longe de mim.
Mas a verdade é que quando liguei para a secretária dele,
pedindo para que passasse para João e ela disse que os dois
estavam conversando, tudo o que senti foi medo. Eu havia acabado
de assinar um contrato, passando o apartamento de Luara para seu
nome e ela estava perto de ter essa conversa.
E do que me adiantou ter feito aquilo? Ainda não tenho ideia se
ela aceitou ou não o apartamento dele.
Irritado, levanto da minha cadeira e vou até a bancada para
pegar um pouco de chá e biscoitos. Não tirei meu almoço até agora
e não sinto vontade de fazer isso.
Ouço o estralo que a porta faz ao abrir e fechar, travando, assim
como também sinto um par de pequenas mãos cobrirem meus
olhos.
— Advinha quem é. – sua voz vem baixinha em meu ouvido e
morde o pé de minha orelha. Meu corpo se excita todo com seu
toque.
— Anjo. – sussurro com a voz rouca, tirando suas mãos de mim
e viro de frente para ela. – Me desculpa. – é a primeira coisa que
digo.
— Eu aceito. – diz, ignorando-me totalmente. – Ainda quero te
pagar por cada centavo daquele apartamento, mas eu aceito. Sei
que de alguma forma isso é importante para você, mas se vamos
nos casar... Ainda que isso demore a acontecer...
— Por mim poderia ser agora. – digo e ela sorri, apoiando as
mãos em meu peito e apoio as minhas em sua cintura, trazendo-a
para perto de mim.
— Quando você disse que queria derrubar a parede dos nossos
quartos e transformar em um único apartamento– recomeça. –, eu
não soube como reagir. Mas de alguma forma eu quis aquilo
também, porque é um saco termos que escolher em qual dos dois
passar a noite.
— Eu quero fazer isso logo que tiver a benção dos seus pais
quanto a este casamento. – falo. – Na primeira oportunidade que eu
tiver, quero ir para São Paulo com você para que possamos
conversar. Não quero mais ver você chorando por sentir falta da sua
família.
— Eu só choro porque estou mais sensível. – diz, fazendo bico.
—Mas sei o quanto sente falta deles e o quanto são importantes
para você. E talvez possamos ir para lá amanhã.
— Amanhã? – pergunta e confirmo. – Bem, eu adoraria, mas é
que a Ju está vindo para cá. Então não sei se seria uma boa ideia
fazer isso esse final de semana.
— Julie vem para cá? – pergunto curioso. – Tipo, hoje?
Luara ri e concorda.
— Ela saiu mais cedo do trabalho e já esta a caminho. – explica.
– Disse que estava nervosa com algumas coisas que estão
acontecendo com ela e que precisava se afastar de São Paulo e do
trabalho para não pensar muito naquilo.
— Tudo bem com ela?
— Ela não contou exatamente o que era. Mas prometeu que vai
me dizer assim que puder. – diz. – Pensei em sairmos todos juntos.
Assim aproveitávamos para dar a notícia sobre os gêmeos aos que
faltam.
— E quem é? – pergunto.
— Felipe e Igor. – diz corando um pouco. – Liguei para a Lu logo
que sai da consulta com o Dr. Marcus e contei para ela. Eu
precisava desabafar aquilo com alguém.
— Por que não me ligou? – torno a perguntar e ela apenas da de
ombros.
— Porque você estava longe e aquilo apenas ia me machucar
mais.
— E quanto a Natália?
— Nós saímos um dia para ir ao cinema e ela percebeu que eu
não estava legal.
— Aparentemente, apenas eu te machucaria se me contasse. –
digo, sentindo-me incomodado com isso. Saber que fui o último a
ficar sabendo dos meus filhos não me agrada muito. – Legal. – falo
e solto a mão de sua cintura, passando pela barba. – Odeio ter que
interromper essa conversa, mas tenho uma reunião daqui a pouco.
– minto. Não quero continuar falando sobre isso.
— Mentiroso. – Luara diz. – Liguei perguntando para Ana se
você tinha almoçado e se tinha alguma reunião pela próxima hora e
ela disse que não. E como eu estava saindo para o almoço, pensei
em te convidar para almoçar comigo naquele restaurante que fomos
com seu pai e, se sobrar tempo, ir até aquele hotel novamente.
— Para quê? – pergunto, embora a resposta seja mais do que
óbvia.
— Para aproveitarmos algumas horas juntos. – responde. – Para
almoçarmos juntos, porque isso é raro de acontecer. Para...
— E você não tem medo de que eu te machuque? – pergunto,
cruzando os braços e ela os força a se soltarem, segurando minhas
mãos.
— Não mais. – sussurra. – Eu tive medo quando você estava
longe e quando começamos com tudo isso. De me apaixonar por
você e descobrir que tinha sido só mais uma para você. Mas não
agora. Desculpa por não ter ligado para você quando descobri, mas
não queria dar essa notícia enquanto estivesse longe e
estivéssemos separados. Você foi a primeira pessoa a quem eu quis
contar. Mas, por favor, acredite quando digo que você foi a primeira
quando tive a confirmação.
— Você surtou quando pensou que tivesse perdido aquele
envelope. – sorrio meio de lado e ela ri para mim.
— E eu já vi você vendo aquele ultrassom várias vezes, assim
como também vi ler a carta. – diz. – Tive razão por surtar.
— Pensei que tivesse vindo aqui para me convidar para almoçar.
– falo.
— Sim, principalmente. Mas não quero você brigado comigo,
porque estou com segundas e terceiras intenções para esse
almoço.
Quando ela diz isso, sinto meu corpo se aquecer no mesmo
instante.
— E quais são suas intenções nesse meio tempo? – pergunto
com olhos semicerrados, retribuindo o meio sorriso que me dá.
Ao invés de responder com palavras, Luara apenas sorri para
mim e coloca a mão em meu peito, empurrando-me contra o balcão
onde ficam os biscoitos e o chá. Sua boca procura a minha com
precisão e desejo, na qual correspondo com a mesma intensidade.
— A porta... – começo a dizer, mas não consigo formular a frase
toda.
— Eu tranquei. – ela sorri entre beijos e inverto nossas posições,
colocando-a sentada no balcão e os biscoitos e chá que havia me
servido vão ao chão, fazendo uma enorme bagunça.
— Eu não vou aguentar chegar ao hotel para poder ter você. –
digo em seu ouvido, puxando o lóbulo de sua orelha entre os
dentes. – Não quando meu prato preferido veio de tão bom grado
até mim.
E, com isto, eu a tomo em meu colo, erguendo seu vestido,
levando-nos até minha cadeira, onde puxo sua calcinha de lado
antes de sentar e tirar meu pau para fora. Luara sorri, puxando
minha gravata.
— Você fica ainda mais excitante quando usa isso. – diz em meu
ouvido e a penetro, permitindo que controle os movimentos. – And...
– ela geme meu nome e beijo seu pescoço, descendo até seus
seios. – Essa cadeira é bem melhor do que a da minha sala. – diz
de repente e rio.
— Privilégios de presidente, amor. – digo com a voz pesada,
puxando seu lábio inferior e ela se contorce em cima de mim
enquanto se movimenta mais rápido. – Merda. – a palavra me
escapa quando sinto que não serei capaz de aguentar até que ela
goze antes de mim. Percebendo isto, Luara para de se mover e
beija minha boca de vagar, começando a desabotoar minha camisa.
— Eu quero você, Andrew. – diz com a boca colada na minha. –
Quero sentir você dentro de mim, bem quente e gostoso. –
enquanto diz isto, apenas sinto minha respiração mais acelerada e
ela me desmonta quando termina de desabotoar minha camisa e
desce beijando todo meu peito, até ficar de joelhos na minha frente.
Porra!
— Goza para mim, meu lindo. – pede, tomando meu pau em
suas mãos, começando um movimento suave de sobe e desce. E
eu seguro firme nos braços da cadeira quando sinto uma de suas
mãos em minhas bolas, apertando de leve antes dela me tomar por
completo em sua boca.
— Anjo. – eu a chamo com a voz rouca, como se fosse um
grunhido e ela me olha por cima das lentes de seus óculos. O olhar
mais sexy que já vi em toda vida e o que me faz derramar em sua
boca. E ela não o tira da boca até que tenha terminado tudo. Só
então o tira, passando a mão pelo canto da boca, apoiando as mãos
em minhas coxas. O rosto vermelho.
— Isso só me deu ainda mais fome. – diz envolvo seu rosto entre
minhas mãos, puxando-a para mim.
— A mim também. – digo, beijando-a com força. –
Principalmente de sobremesa.
— Ou sobrecama. – diz e rio, ajudando-a a se levantar.
— Mesa, cama. Onde puder. – falo. – E eu quero te fazer gozar
bem gostoso na minha boca muitas vezes hoje.
— Então vamos andando! – exclama, agarrando minha mão para
podermos sair.
— Espera. – digo, puxando-a de volta. – Quer mesmo que eu
saia assim, com a camisa aberta e você com o batom todo borrado?
Ela ri.
— Eu vou ao banheiro me arrumar. – diz e concordo, já
abotoando minha camisa de volta.
◆◆◆
Luara
Já são sete e pouquinho da noite e ainda estou aqui, na frente
do espelho, tentando decidir se esse vestido preto que escolhi para
esta noite está bom ou se exagerei, considerando que apenas
iremos aquele barzinho que And e Felipe costumam se encontrar
para beber. Lá é tranquilo e tem uma área de jogos, na qual
pretendo puxar a Ju e a Nath para nos divertirmos sem os rapazes
um pouco.
Por falar na Ju, fiquei muito feliz quando ela me ligou hoje cedo,
dizendo que viria passar o final de semana comigo, porque
“precisava esquecer algumas coisas, ainda que vir para cá fosse
fazer com que se lembrasse de algo ainda maior”. O que me deixou
confusa, mas preferi não perguntar por telefone e fazer isso quando
ela chegasse. O que ela ainda não me contou nem um nem outro.
— Esta pronta, Lu? – Julie pergunta atrás de mim e olho para ela
pelo espelho.
— Acho que sim. – respondo, virando para ela. – Como estou?
— Hmmm... – ela faz e olho de volta para o espelho.
Meus cabelos estão presos apenas metade, deixando uma
mecha caída sobre meu ombro direito. Meu vestido vai até metade
da coxa e uso também uma sapatilha baixa.
— Vejo uma pequena barriguinha querendo aparecer ai. – Ju
sorri em resposta e olho para baixo, tocando minha barriga com as
mãos. – Você sente algo? – pergunta e nego.
— Talvez daqui algumas poucas semanas eu comece a sentir.
Mas nesse momento, tudo o que sinto é: sono, enjoo, fome, sono e
uma vontade imensa de chorar. – e quando digo isso, sinto meus
olhos lacrimejarem.
— Por que chorar? – pergunta com o cenho franzido e dou de
ombros.
— Apenas sinto. Não tem motivo. E isso me irrita.
— Tenho pena do And com toda essa sua instabilidade
emocional. – ela diz, fazendo-me rir.
— Será que ele já esta pronto? – pergunto, pegando minha
bolsinha e o celular, agarrando-a pela mão para irmos até a sala.
Quando Ju abre a boca para responder, a campainha toca.
— Parece que sim. – diz e sorrio, sentindo-me um pouco
nervosa.
— Esta aberta! – grito para ele, indo para a cozinha e a
campainha toca outra vez. – Mas que teimoso! – exclamo, mudando
o caminho para abrir a porta para ele. – Eu disse que estava... –
começo a dizer e paro ao ver Andrew parado na minha porta, com o
braço apoiado no batente.
Ele sorri para mim e sinto seu perfume. O mesmo que dei a ele
quando estávamos em Nova Iorque.
Andrew esta usando também uma camisa regata preta, que fica
terrivelmente colada ao corpo e jeans. Seu cabelo esta todo
bagunçado, com aquele ar de quem acabou de transar e eu até diria
que sim, mas espero que ele tenha tomado banho depois que
buscamos Ju na rodoviária há poucas horas. Sua barba esta bem
rala, mostrando que ele se barbeou.
— Oi. – eu o cumprimento, incapaz de desviar os olhos dele. Se
Julie não estivesse atrás de mim, eu o arrastaria para o meu quarto.
— Oi. – responde, dando-me um beijo rápido na boca.
— Já podemos ir? – Ju pergunta. – Oi, And. – ela o
cumprimenta. – Vamos?
— Claro. – Andrew responde sem tirar os olhos de mim. – Felipe
provavelmente já esta esperando por nós lá.
— A Nath não vai? – pergunto e ele da de ombros.
— Ele não falou nada sobre ela.
— Estranho. – digo. – Igor deu alguma notícia se vai ou não? –
pergunto agora para Ju.
— Estava atrasado no trabalho e ia ficar até mais tarde. – ela
responde.
— Bem, seremos apenas nós quatro então. – digo e vejo no
rosto de Julie algo diferente. Como se ela estivesse nervosa com
algo. Ela tem que me contar o que esta acontecendo. – Azar o
deles!
— Podemos ir? – Andrew pergunta.
— Só vou tomar água e já venho. – digo, indo para a cozinha.
— Ela tá bonitona, né? – ouço a pergunta de Julie para And. – E
não é só isso que esta crescendo não.
— É. Eu sei. – Andrew responde meio despercebido e sorrio,
fazendo Ju rir.
— VOCÊ NEM DISFARÇA! – ela exclama ainda rindo e tomo
minha água, voltando até eles.
— Já podemos ir. – falo. – O que houve? – pergunto, fazendo-
me de desentendida.
— Andrew estava te secando por trás. – Julie o entrega e sorrio,
arqueando a sobrancelha para ele.
— Estou acompanhado das duas mulheres mais gatas entre dois
estados. – defende-se. – Não me culpem.
— Mas você só pode ter uma delas. – digo, passando pela porta
e Ju vem atrás de mim e deixo que ele feche a porta, como sempre
faz.
— E não sou eu. – ela diz.
— Ainda são as mais gatas. – diz, abraçando a nós duas pela
cintura e caminhamos assim até o elevador. Quando paramos,
aperto o botão para chama-lo e sinto a mão de Andrew descer para
minha bunda, onde me aperta.
— Não acha que esse vestidinho está curto demais não? –
pergunta no meu ouvido, fazendo com que meu corpo se arrepie de
cima a baixo. – Estou louco para tirar ele de você no final da noite.
— E eu estou louca para que isso aconteça, meu lindo. – digo
em resposta e ele beija meu pescoço.
— Vocês dois – Ju chama nossa atenção. –, vamos!
◆◆◆
Andrew
Estaciono no The Bar exatamente quinze minutos antes do que
havia combinado com Felipe e desligo o carro quase que no mesmo
instante em que ouço a porta de trás abrir e fechar, indicando a fuga
estratégica de Julie.
— Parece que alguém esta com pressa hoje. – comento e Luara
ri ao meu lado.
— Ela esta um pouco tensa. – diz em resposta.
— Ela contou o que aconteceu no trabalho?
— Não e estou preocupada com o que pode ter sido.
Com um gesto de cabeça eu concordo e abro minha porta para
sair e Lu faz o mesmo, esperando por mim perto do carro e vejo
Julie se olhando pela câmera do celular, provavelmente conferindo
sua maquiagem. Se não for isso, não sei o que pode ser.
— Não acho que seja algo preocupante. – volto ao assunto e
coloco seu cabelo para trás da orelha. – Pela minha experiência eu
diria que Julie esta nervosa com alguma notícia que tenha recebido
no trabalho. Mas não algo ruim.
— Conhecendo minha amiga há tanto tempo, tenho certeza que
sim. – ela sorri em resposta.
— Oi, Julie. – reconheço a voz de Felipe pouco atrás de onde
estamos e viro o rosto na direção dos dois a tempo de vê-lo dar um
beijo no rosto da garota, talvez perto demais de sua boca e, ainda
que esteja de costas para mim, sei que ela fica toda corada.
— Que estranho. – Lu chama minha atenção agora para ela. – A
Nath também não veio.
Não acho mais que iremos ver os dois juntos, Anjo.
Abro a boca para dizer algo, mas quando o faço já é tarde, uma
vez que Luara já esta cumprimentando Felipe.
— Onde a Nath esta? – ela pergunta logo depois de trocarem um
abraço e eu o cumprimento com um aperto de mãos.
— Compromissos com os amigos dela. – Felipe responde,
lançando um olhar em minha direção e arqueio a sobrancelha para
sua resposta. Por que ele não conta a verdade de uma vez? – Algo
assim. Então seremos apenas nós quatro está noite.
— Azar o dela e do Igor. Já falei.
— Por quê? Seu namorado também te deixou? – ele pergunta a
Julie, que abre e fecha a boca algumas vezes, como quem busca as
palavras certas.
— Trabalho. – diz. – Mas não importa. O que importa é que
estou aqui para me divertir e beber.
— Tem minha companhia então. – Felipe concorda. – Podemos
entrar? Reservei uma mesa para nós.
— Eu já estava me perguntando se vocês iam mesmo querer
ficar aqui fora a noite toda ou se iriamos entrar – resolvo falar e isso
faz com que Felipe ria.
— Não. – ele responde. – Separei uma mesa na área Vip junto
de uma mesa de sinuca para ganharmos das garotas esta noite.
— Coitado. – Lu diz e sorrio.
◆◆◆
Luara
Tomo a frente para entrarmos no bar, deixando Julie e Felipe
para trás e sinto a mão de And em minhas costas, arrancando um
sorrisinho de mim.
— Felipe deve pensar que só porque não joguei com vocês da
última vez, não sei jogar bilhar. – comento, fazendo-o rir atrás de
mim.
— Muito provavelmente é isso, Anjo. – Andrew responde. –
Ainda que suas habilidades na sinuca ainda não tenham sido
apresentadas diretamente a mim, além de por boatos.
— Podemos mudar isso esta noite, lindo. – respondo, segurando
sua mão e com a outra ele indica a área Vip, onde ficaremos.
— Vocês vão querer beber o quê? – ouço a pergunta de Felipe
atrás de mim e olho para os dois que chegam por último, notando
minha amiga vermelha como pimentão.
— Eu qualquer coisa que não tenha álcool. – respondo. –
Andrew, na certa, uma Guinness e a Ju...
— Um drink forte. – ela completa antes que eu diga qualquer
coisa. O que no caso seria: eu não faço ideia! – Quero aproveitar a
noite da melhor forma. – diz e arqueio a sobrancelha para ela.
— Dou o que for apenas para te ver bêbada hoje. – Felipe diz e
sinto um déjà vu com suas palavras. – E eu aposto como você fica
bêbada facinho.
Você não faz ideia de como fica...
— Eu já vi isso antes. – deixo escapar, lembrando-me da noite
em que conheci Felipe.
— Trato feito então, bonitão. – Ju responde, passando por ele
para pode se sentar ao canto.
— Me ajuda com as bebidas? – pergunta agora a And, que
aceita e vejo os dois sumirem entre as várias pessoas que estão
aqui.
— Você sabe que não é muito boa na bebida, né? – pergunto,
ocupando o lugar ao lado da minha amiga e ela apenas da de
ombros.
— Não estou mais tão fraca como antes. – ela responde e tenho
vontade de rir, mas não faço. – Acho que da para segurar as contas
um pouco mais. – Ok! Sei que não queria rir, mas não consigo não
fazer isso. Julie fica mole com duas, três batidas. – Por que será
que sua amiga não veio hoje? – pergunta obviamente me ignorando.
— Eu não sei. – respondo a verdade. – Os dois vivem se
desentendendo porque ela dedica mais tempo ao trabalho de que
para o namoro. Talvez seja isso.
Ju apenas concorda com a cabeça e fica pensativa de repente.
Aproveitando a deixa, pergunto:
— E você? Vai ou não me contar o que te deixou tão nervosa a
ponto de fugir para cá hoje?
Brincando com os dedos na mesa e fazendo-me pensar que ira
desconversar o assunto outra vez, Ju responde:
— Alex me pediu um desenho para uma construção lá em
Campinas. – diz e arqueio as sobrancelhas, realmente surpresa com
isto. – Para mim e para o Fernando. – acrescenta. – E eles vão
escolher o arquiteto que vai ficar de responsável lá na segunda-
feira. Então, quem de nós for, vai passar a semana toda lá por tipo,
pelo menos dois meses.
— AH MEU DEUS! – exclamo talvez mais alto do que deveria e
dou graças a Deus por estarmos sozinhas aqui. – MEU DEUS, JU!
ISSO É...
— Por favor, não diz nada para eles. – ela pede e vejo os
rapazes voltando. – Eu não quero falar nada disso com ninguém até
que se torne algo certo. Foi por isso que vim para cá.
— Para evitar pensar. – digo, entendendo seu ponto e ela
confirma.
Estou tão feliz por minha amiga, que sinto vontade de fazer um
brinde por ela aqui e agora, mas como me pediu segredo, apenas
cruzo os dedos mentalmente e torço por ela assim.
— Estão conversando sobre o que? – And pergunta, colocando
um prato com amendoim e algumas outras coisas sobre a mesa,
ocupando o lugar ao meu lado, enquanto Felipe serve as bebidas,
sentando ao lado da Ju.
— Eu estava tentando descobrir porque a Ju fugiu de São Paulo
assim às pressas. – digo apenas esta parte.
— Esta tudo bem? – Felipe pergunta a ela com certa
preocupação.
— Esta sim. – responde. – Eu só precisava de um tempo para
pensar e esfriar a cabeça de algumas coisas.
Felipe diz mais algo a Julie, mas não consigo ouvir nada, apesar
de estarem ao meu lado. E ouço menos ainda a resposta dela e
quando ele ri, sinto minha curiosidade ser ativada.
— Espero que sua bebida seja forte o bastante para você. – ele
diz, entregando a Ju um copo com liquido amarelo dentro e um
guarda-chuvinha e vejo minha amiga tomar um pouco para provar,
fazendo uma careta.
— Manda outra então! – exclama.
— Vai com calma, Ju. – peço ao ver sua careta. – A noite ainda é
longa.
— Estou louco para ver Julie bêbada hoje. – Andrew diz ao meu
lado e olho para ele, imaginando o que ele faria comigo se não
estivesse grávida.
— Você deveria ficar do meu lado ao menos uma vez, cunhado.
– Ju diz, fazendo com que ele ria.
— Qual de vocês vai ser o primeiro a perder para mim hoje? –
pergunta. – Preciso me aquecer.
— Vou com você então. – Felipe diz. – Tenho a sensação de que
nossas garotas precisam conversar algo sem nossa presença.
— Iremos esperar por vocês lá, Anjo. – Andrew diz, dando um
beijinho em mim antes de levantar e concordo.
— Só vou comer alguns amendoins e já vou. – respondo,
observando enquanto eles vão até a mesa de bilhar não muito longe
de onde estamos. Assim, aproveito para fazer o que mais quis deste
que soube da maior notícia da noite: – Um brinde a maior arquiteta
de São Paulo! – digo e Ju bate com seu copo no meu, rindo e
realmente feliz.
UAU!
— Por mais que eu queira ter você aqui, acho melhor voltarmos
para a pista de dança. – diz baixinho e concordo, permitindo que se
afaste de mim. – Mas pode apostar que vamos continuar isso
quando chegarmos em casa. – completa.
Andrew olha para trás e de volta para mim, mas não parece
nenhum pouco surpreso.
◆◆◆
Andrew
A noite parece voar quando estamos com os amigos. Ou pelos
menos é isso o que sinto enquanto estamos aqui no The Bar,
apenas conversando, bebendo e jogando. E eu já ganhei de Luara e
Felipe no bilhar, de Julie no Pebolim e perdemos quando Felipe se
juntou a ela no time. Depois invertemos os times e as deixamos
ganharem de nós, apenas para dar mais emoção à coisa.
— Você já pensou em algo para fazer a ela? – Felipe pergunta
quando as meninas saem para ir ao banheiro.
— Eu não sei. – respondo, seguindo as duas até que saiam do
meu campo de visão. – Eu sei que lá vou conseguir fazer algo, mas
não sei o quê exatamente.
— Acho que se você conversar com Julie, ela pode te dar boas
dicas a respeito do que fazer. – ele diz e me lembro do que vi com
Luara há pouco tempo atrás.
— Ela viu vocês. – digo.
— O quê? – pergunta de volta, sem entender.
— Você e Julie, na pista de dança, se beijando. – falo. – Quer
mais detalhes sobre?
— Você falou algo sobre eu não estar mais com a Natália? –
pergunta e confirmo. – Obrigado.
— Julie não é para isso, Felipe. – eu digo enquanto passo o
dedo pela borda do meu copo de cerveja. – E eu não vou deixar
você tirar proveito dela assim. Luara gosta de você e não quero que
isso interfira na amizade que tem com ela.
— E você acha que eu só quero isso com ela? – pergunta mais
uma vez. – Por Deus, Andrew! Você melhor do que ninguém sabe
que eu nunca faria isso com ela!
— E o que você quer? – pergunto, voltando minha atenção toda
para ele. – Você acabou de sair de um relacionamento há pouco
mais de duas semanas. O que você quer?
— Eu sou louco pela Julie desde que a conheci. – responde de
pronto. – E em parte sei que o motivo de não ter dado certo com
Natália pode ter sido isso. Porque eu queria sentir por ela o que
sinto pela Julie, mas as duas são completamente diferentes.
Opostas em todos os sentidos. – enquanto diz tudo isso, Felipe
esconde o rosto entre as mãos, tornando a olhar para mim. – Natália
é água e Julie é fogo. Uma é calmaria e a outra é tempestade. E ao
mesmo tempo em que ela é isso, também é essa mulher incrível
que sempre se mostrou com Luara. Julie é apenas ela, sem forçar.
E talvez você me diga eu não sou o certo para ela, mas ela é a certa
para mim. Eu sei, mesmo que não tenhamos tido uma oportunidade
de passarmos mais tempo juntos. E, por tudo o que é mais sagrado,
pelo meu pai, eu quero sossegar, Andrew. E talvez ela seja a mulher
para isso.
Quando Felipe termina de falar, eu apenas consigo dar um
sorriso de lado e tocar seu braço.
— Se você machucar ela, eu vou quebrar a sua cara. – digo e
vejo Luara voltar com Julie e sentar ao meu lado.
— Tudo bem com vocês? – ela pergunta, envolvendo minha
cadeira com um braço e seguro sua outra mão, beijando-a.
— Apenas estávamos conversando. – respondo.
— Luara – Felipe chama a atenção dela para ele. –, me ajuda a
pegar um suco?
— Claro. – ela responde tornando a levantar. – Mas eu quero
pudim.
Ele franze o cenho.
— Tudo bem. – diz. – Acho que eles devem ter algo doce aqui. –
e, voltando-se para Julie, pergunta: – E você, Pequena?
— Sorvete.
— Voltamos já. – diz já saindo e Julie pega o celular, desviando a
atenção de mim.
— Julie. – eu a chamo.
— Ele te contou? – pergunta antes que eu possa dizer qualquer
coisa. – Escuta, Andrew. Eu não...
— Isso não tem nada a ver comigo, Julie. – eu a interrompo. –
Se vocês querem, se sentem algo um pelo outro, vai fundo. Os dois
estão solteiros e se gostam. Esta na cara. – digo e ela sorri sem
graça. – Você me ajudou com Luara e continua me ajudando até
hoje. Se for isso o que os dois decidirem, tem todo meu apoio e
acho que pode dar certo. Só... Conversem ao invés de apenas se
beijarem.
Com estas palavras, Julie ri.
— Eu quero falar com a Lu sobre isso, mas não sei como fazer. –
diz. – Eu sinto que ela já sabe e que preciso tirar essas suspeitas
dela. Só não sei como.
— Ora! – exclamo. – Vocês são melhores amigas há anos. É só
sentar e deixar rolar. Ela vai ficar feliz. Mas vocês dois também
precisam conversar antes.
— Sim. Eu sei. – ela concorda. – O Fê disse que quer conversar
comigo amanhã, que aqui não era o lugar certo.
— E ele tem razão. – sorrio. – Mas não era sobre isso que eu
queria falar com você.
— O que é então? – pergunta e faço um breve resumo sobre o
que conversei com Felipe, sobre irmos a fazenda amanhã para que
eu possa pedir Luara em casamento e não sei se fiquei surpreso
quando Julie contou que já estava sabendo sobre a ideia. – Ela
gosta de rosas. – diz assim que termino. – Você pode usar algo.
— Quando estávamos em Nova Iorque, no aniversário dela, eu
decorei todo o quarto com pétalas. Acho que ela gostou.
— Meu Deus, sim! – exclama. – Ela amou, Andrew! Ela me
mandou uma foto do chão todo forrado e contou que foi quando
você disse que a amava pela primeira vez e o quanto aquilo
significou para ela. Se você fizer isso de novo, para esse motivo...
Bem, você já tem o “sim” dela.
— Eu só não sei como vou fazer para comprar as pétalas. – digo
comigo mesmo. – Preciso ligar para o Manuel e ver se ele consegue
arrumar isso para mim lá na cidade.
— Se ele não se incomodar – Julie começa. –, e aceitar, claro,
eu posso ir atrás com Felipe. Vocês dois vão para a fazenda mais
cedo e eu arrumo alguma desculpa para ir mais tarde com ele.
— Ou será que essa já não é uma desculpa para você ficar para
trás e ir com ele? – pergunto, arqueando a sobrancelha.
— Eu... Não... Eu não...
Julie se enrola toda nas palavras e isso me faz rir para valer,
fazendo com que ela fique toda vermelha. Logo Luara volta com
Felipe, trazendo quatro taças de sorvete, na qual uma delas
consistia de sorvete de creme com pudim e calda de caramelo.
Aquilo pareceu estranho e gostoso ao mesmo tempo e, quando ela
me deu para provar, tive que admitir que a combinação era boa.
Assim ficamos os quatro, conversando sobre a viagem que
faríamos à Petrópolis amanhã e tomando sorvete até quase duas da
manhã, que foi quando Lu praticamente adormeceu no meu ombro.
E, é claro, Julie arrumou uma boa desculpa para poder ir com
Felipe, que foi: Eu preciso dormir!
Só não sei muito bem se Luara caiu nessa, é claro.
◆◆◆
Luara
Já devem ser umas quatro horas da manhã e ainda estou
acordada, tentando pegar no sono. Uma luta que vem sendo em vão
desde que chegamos, há quase uma hora.
Estou aqui deitada na minha cama, com Andrew, conversando
tão baixinho quanto possível, como se pudéssemos acordar alguém.
Como se pudéssemos acordar Julie.
Julie. Ela esta dormindo no quarto do outro lado do corredor e
não falou muito no caminho de volta. Apenas ficou olhando para fora
da janela (ou para o carro que vinha logo atrás de nós, que era do
Felipe). Ela não disse nada enquanto vínhamos para cá e não falou
qualquer coisa sobre ter ficado com Felipe lá no The Bar. Sei disso
porque eu vi os dois aos beijos e abraços enquanto dançava com
And.
Não que ela seja obrigada a me contar tudo o que faz com sua
vida particular. Mas, ao que me lembro, e lembro muito bem, quando
não contei sobre And, ela ficou sem falar comigo por quase uma
semana e isso foi apenas porque estávamos longe e não queria
falar dentro do supermercado. Mas ela esta aqui, droga! Do meu
lado!
— Esta tudo bem, Anjo? – Andrew pergunta quando me viro de
barriga para cima, sentindo-me incomodada. Sentindo uma vontade
tremenda de chorar. Ao invés de fazer isso, cubro o rosto com as
mãos, apertando os olhos com força.
— Está. – digo apenas. Não quero mais conversar sobre
qualquer assunto que seja.
— Tem certeza? – ele insiste e olho em sua direção, enxergando
nada além do contorno de seu corpo.
— Você quer mesmo conversar sobre o porquê de eu estar
irritada às quatro da manhã ou o porquê de eu ainda estar acordada
às quatro da manhã? – pergunto. – Porque eu posso muito bem te
responder que muito provavelmente é por causa desses dois aqui,
que devem estar confundindo o dia com a noite.
— Eles estão mexendo? – pergunta todo esperançoso e toca
minha barriga. Eu apenas balanço a cabeça, negando. – Bem, uma
hora eles vão ter que dar algum sinal. – diz e sorrio. – Você quer
algo? Leite, talvez? Minha mãe sempre disse que costumava tomar
bastante leite quando estava grávida de mim. Talvez ajude.
E como se fosse uma palavra mágica, à vontade está ai.
— Leite com Nesquik. – peço, sentindo a boca salivar.
— Eu já venho. – diz, dando um beijo em minha testa antes de
sair e viro para o outro lado, tentando não pensar mais no que vi
antes. Ou que Julie esta dormindo no meu quarto de hospedes,
enquanto Felipe esta no apartamento de Andrew.
Será que foi apenas isso? Um beijo? Franzo o cenho com a
ideia. Não. Não é só isso. Julie sempre demonstrou, discretamente,
interesse no Felipe e ele sempre a olhava de um jeito diferente,
mesmo que estivesse com Natália do seu lado.
— PUTA MERDA! – eu praticamente grito, pulando na cama. –
Como eu pude ser tão idiota a ponto de não me tocar disso antes?!
— Anjo? – Andrew me chama, aparecendo na porta com o leite
na mão. – Aconteceu algo? – ele pergunta e senta do meu lado,
entregando-me o copo.
— Minha amiga gostosa é a Ju. – digo, encarando o copo com o
líquido rosa. – Não era a Natália. Nunca foi ela a “amiga gostosa”
que o Felipe falou aquele dia. Era ela. Era a Ju.
— Sempre foi. – ele concorda. – Não fique se torturando com
isso, linda. – diz. – Dê um tempo para que Julie possa te contar
sobre o que aconteceu. Tenho certeza de que quando se sentir
confortável ela o fara.
— Eu sei. – concordo, tomando de uma só vez o leite e devolvo
o copo vazio para ele. – Obrigada.
— Eu já venho.
Deito em meu lugar novamente e ouço o toque do meu celular. É
uma mensagem da Ju.
Amanhã, baby.
Boa noite.
E se controlem ai, ein? Haha
◆◆◆
Luara
Depois da nossa chegada a fazenda e de já termos inaugurado o
quarto na qual passarei as próximas vinte e quatro horas com
Andrew, pude finalmente tomar o café da manhã que Maria havia
nos preparado e me sinto bem mais disposta.
Quer dizer, um pouco apenas. Acabei descobrindo da pior
maneira que esqueci meu remédio para enjoo, mas já mandei tanto
mensagem para Julie quanto para Felipe, pedindo para que me
trouxessem. Assim como pedi também que me comprassem Doritos
e chocolate, porque estou louca de vontade por comer os dois e
tomar refrigerante, mas este já tinha aqui.
— Anjo? – And me chama e olho em sua direção. – Esta
melhor? – pergunta e confirmo com a cabeça.
— O enjoo passou um pouco. Mas preciso do meu remédio. Não
quero passar o dia vomitando. Eca! – ele ri.
— Tenho certeza de que Julie o trará. – diz. – Do contrário, acho
que você faz o Felipe ir até a cidade apenas para buscar.
Desta vez quem ri sou eu. Principalmente porque vou fazer
mesmo que eles não trouxerem tudo o que pedi. E mais ainda
porque tenho quase certeza de que os dois andaram se pegando na
minha casa. Não que isso me deixe brava, é claro.
— And. – eu o chamo, sentando-me no sofá. – Aquilo que eu
disse quando chegamos. Sobre fazermos algo que nunca fiz com
mais ninguém, mas queria fazer com você...
— Eu sei esperar, linda. – diz, contornando o sofá para sentar ao
meu lado e vira de frente para mim. – Eu te pedi, sim, para que
tentássemos e você tem medo que eu a machuque, o que é a última
coisa que quero que aconteça, porque quero te dar prazer assim.
— Você já fez? – pergunto, mordendo o lábio inferior e ele
parece escolher as palavras. – É claro que já. – antecipo.
— Não, eu nunca fiz. – corrige. – Já tentei uma, duas vezes, com
alguma mulher, mas ela desistiu antes mesmo de tentarmos de
verdade, por que... Bem, você sabe. Mas... – sentando mais perto
de mim, Andrew segura minha mão. – Quando nós formos tentar,
quando você se sentir a vontade para tentar isso, eu vou estar
preparado para não machucar você. E nesse dia, você vai implorar
por mim.
Sem dizer nada, eu apenas pulo para seu colo, envolvendo seu
pescoço em um abraço e ficamos assim por algum tempo, apenas
olhando no olho do outro, em silêncio. Um silêncio que é quebrado
com uma mensagem em meu celular.
— Desse jeito nós vamos para o terceiro tempo aqui mesmo. –
Andrew ri e pego o celular no bolso apenas para ver a mensagem
de Julie. É uma foto no Whatsapp. – O que é isso? – pergunta ao
ver a foto.
— Minha encomenda. – respondo.
— Dois pacotes de Doritos, três barras de chocolate branco, ao
leite e amargo, e doces? – pergunta estranhando. – Anjo, nós só
vamos ficar aqui por um dia.
— E eu pedi um de cada. E os doces eu não pedi. Embora...
— Me deixa responder. – pede e entrego o celular a ele, lendo a
mensagem:
Nossa!
Eu não posso mais nem fazer um mimo
para minha melhor amiga que vira desconfiança.
Assim espero.
Chata!
◆◆◆
Andrew
Saio do banho, deixando Luara ainda na banheira para relaxar
da viagem um pouco e dos exercícios que fizemos desde que
chegamos. Na verdade, suspeito que ela tenha me pedido para
deixa-la lá um pouco porque quer dormir, então aproveito a deixa
para me vestir e ir até a casa de Marcelo, para conversar com Maria
e pedir que me arrume algumas rosas para fazer um buquê. Sei o
quanto tem estima por elas, mas sei que não me negara isso
quando lhe disser o motivo.
— O que é isso? – pergunto ao ver um brilho refletido pela luz e
me aproximo da cômoda para ver o que é e descubro ali à aliança
de Luara. Eu a seguro em minha mão, girando-a no dedo. Ela deve
ter tirado para não estragar. Sempre diz que tira e a coloca de volta
na caixinha para não perder, mas ela não a trouxe hoje, é claro.
— PAPAI E MAMÃE, CHEGAMOS! – reconheço a voz de Felipe
vindo de um dos cômodos. – ESPERO QUE O SR. BUNDA ESTEJA
VESTIDO. – ele diz e franzo o cenho. Quem caralhos é Sr. Bunda?
Tendo uma ideia, visto minha bermuda e guardo a aliança no
bolso, saindo do quarto para saber o que Felipe quer para fazer
tanto escândalo assim. Luara vai surtar, é óbvio.
— Quem é que morreu? – pergunto, aparecendo na sala e vejo
quando Felipe coloca duas sacolas sobre a mesa da sala de jantar.
– Oi, Julie. – eu a cumprimento, mas sou ignorado com sucesso. O
que faz Felipe rir. – Tudo bem. – digo, ignorando a reação
inesperada dela. Julie geralmente sempre me cumprimenta com um
grande sorriso e fez isso esta manhã. Então não consigo imaginar o
que posso ter feito. – Encontraram o que pedi?
— Está no lugar Você-Sabe-Qual, para que Você-Sabe-Quem
não encontre. – Felipe responde.
— Voldemort não vai mais te matar se você disser o nome dele.
– Julie diz, batendo com o ombro no dele. Sua resposta me faz
querer rir.
— Sei que ele não, querida. Mas se eu disser e Luara escutar,
acho que ele – diz, apontando com a cabeça para mim. –, na certa
vai.
Abro a boca para responder, mas sou imediatamente
interrompido pela voz de Luara, que chega por trás de mim e vai até
a amiga como um furacão.
— Julie, eu preciso de você! – diz, agarrando seu braço.
— O que aconteceu? – ela pergunta preocupada.
— Preciso falar com você. – diz e olha para mim. – Apenas nós
duas.
— O-Ou! – Felipe faz, chamando a atenção de Luara.
— Lu, eu não...
— Só vem comigo, por favor.
— Tá. Tudo bem.
Arqueio a sobrancelha, sem entender nada do que acabou de
acontecer e as duas saem de volta para o quarto e fico plantado.
— Ok. – Felipe diz. – Então?
— Estou indo no Marcelo para conversar com ele e Maria. –
informo.
— Vou com você então. Acho melhor que ficar aqui e acabar
sendo vítima das duas. – diz e rio.
◆◆◆
Luara
— Lu, antes de qualquer coisa... – Julie começa a dizer e a
empurro para dentro do quarto onde estou com Andrew e tranco à
porta para que ele não possa entrar e nos pegar de surpresa.
— Eu estou ferrada! – solto de uma só vez e minha amiga me
olha sem entender.
— O que aconteceu? – pergunta preocupada e passo as mãos
pelo rosto, sentindo um desespero enorme.
— Andrew vai me matar. – respondo. – Ou brigar comigo até a
minha próxima geração.
— Luara. – ela diz, colocando as mãos no quadril daquela forma
mandona.
— Perdi minha aliança. – digo as palavras e deixo meu corpo
cair sob a cama. – Estou ferrada.
— VOCÊ O QUÊ?! –Julie grita e escondo o rosto entre as mãos,
tentando não chorar. – Como você conseguiu perder uma aliança de
mais de seis mil reais, Luara?!
— Não precisa jogar na minha cara com valores que eu sou uma
tragédia, droga! – exclamo, sentindo minha voz embargar e meus
olhos queimarem. – Ele deveria ter me dado um anelzinho desses
que vem com doce, assim eu não sofreria tanto.
— Tá. Desculpa. – pede, sentando ao meu lado na cama e
passa o braço pelo meu ombro. – Onde foi que você a viu pela
última vez e por que não estava no seu dedo?
— Eu tirei para tomar banho e coloquei ali na cômoda, ao lado
do meu colar que ele também me deu. – respondo. – Eu geralmente
tiro para tomar banho e coloco na caixinha, mas não a trouxe
comigo hoje. E agora eu perdi. – digo as palavras, sentindo as
lágrimas rolarem por meu rosto. – E agora o And vai ficar chateado
comigo porque perdi a aliança que ele me deu. E talvez ele nem
queira mais casar comigo, por que...
— Nossa, Lu. Quanto drama.
— EU TÔ DESESPERADA, DROGA! – grito para ela. – EU NÃO
SEI MAIS O QUE FAZER! Já procurei em tudo quanto é canto e não
esta em lugar nenhum.
— Fica calma. – Julie pede, passando a mão em minhas costas.
– Tem certeza de que você colocou na cômoda? – pergunta e faço
que sim. – Vamos procurar com calma. De repente você só colocou
em outro lugar e esqueceu.
— E se eu tiver realmente perdido ela, Ju? – pergunto, sentindo
meu mundo desmoronar. Só de imaginar ter que contar ao And que
perdi aquela aliança linda e caríssima que ele me deu, sinto um
medo terrível.
— Primeiro nós procuramos. – diz. – Depois nos preocupamos
com isso.
— NÃO DÁ! – exclamo. – Eu não vou se quer conseguir olhar
para ele, droga!
— Então você vai ter que contar a verdade. – ela responde um
pouco alterada e sinto ainda mais vontade de chorar. – Não da para
perder uma coisa dessas e simplesmente fingir que nunca
aconteceu. Ele vai perceber uma hora ou outra.
— Eu vou me enfiar debaixo desse edredom e não sair nunca
mais. – digo, sentindo minha voz embargar e puxo o cobertor para
mim e algumas lágrimas me escapam.
— Ah, amor. – Ju diz e me abraça. – Não fica assim. Nós vamos
encontrar ele e o And não vai nem ficar sabendo, a menos que você
queira contar.
Sentindo que meu mundo pode desmoronar, eu abraço Julie com
força e deixo as lágrimas rolarem até que toda angustia que sinto
tenha ao menos acalmado. Em parte sei que isso não é só pela
aliança, embora seja principalmente por isso, já que Andrew vai ficar
bem chateado se descobrir que não estou mais com ela e que perdi
a coisa mais preciosa que ele já me deu até agora.
— Eu queria falar com você sobre uma coisa, mas com você
desse jeito não vai dar. – Ju diz e afasto apenas o suficiente para
olha-la.
— Tenho sido uma péssima amiga para você desde que chegou.
– falo. – Me sinto terrível por isso.
— Lu, eu nunca disse que viria para cá para passar vinte e
quatro horas no seu pé. – ela diz. – Eu venho para cá para que
possamos ter algum tempinho juntas e isso já me deixa bem.
— Mas você tem um monte de coisas para me contar e eu nunca
paro para ouvir. – choramingo. – Tipo que eu sei que você e o Felipe
estão de namorico e você não falou nada até agora sobre.
Pronto! Quando digo isso, o choro recomeça e é uma droga.
Nem nas minhas piores crises de TPM fiquei tão sensível assim.
— Eu vou ficar com você até amanhã à noite. – diz. – Então
ainda temos tempo para conversar sobre esse assunto. Agora, fica
aqui que vou te buscar uma coisa e já volto para ajudar na nossa
Caça ao Tesouro.
Julie da um beijo em meu rosto e sai do quarto, voltando apenas
três minutos depois, trazendo uma barra de chocolate e o Doritos
que pedi. O que me faz rir, mas não tenho como resistir, já que
meus dois pequenos passaram praticamente a manhã toda pedindo
por isso.
— Se eu encontrar, o que ganho em troca? – Julie pergunta e
sinto meu coração revirar com a ideia de que ela o tenha
encontrado.
— Prometo que vou pensar em algo digno de você. – respondo e
ela sorri, tirando cada coisinha do lugar para tentar encontrar minha
aliança.
E quanto mais o tempo passa, mais desesperada eu fico, porque
sei que a qualquer instante Andrew vai entrar por aquela porta e
perguntar o que estamos fazendo e não vou saber o que responder.
◆◆◆
Andrew
Mais ou menos no final da tarde, saio para um passeio com
Luara, tendo deixado Julie dormindo e Felipe, que foi para a cidade
com Marcelo e Maria para comprar algumas coisas para o churrasco
que faremos essa noite. Maria foi junto a meu pedido, para algumas
encomendas, é claro.
— Esta tudo bem? – pergunto ao ver Luara parar e levar uma
mão a barriga.
— Só estou com calor. – responde, passando a mão no rosto
para secar o suor.
— Vamos descansar aqui um pouco. Já andamos bastante. –
digo, segurando sua mão e terminamos de chegar até uma árvore
que fica não muito longe dos estábulos, onde sento. – Esta tudo
bem mesmo? – insisto.
— Estou sim, lindo. Só quero ficar aqui e aproveitar mesmo. –
responde, sentando em meu colo de lado e passa os braços por
meu pescoço e a abraço pela cintura.
— Aproveitar? – pergunto curioso e ela confirma.
— Jaja o Felipe volta e ele e a Ju precisam ficar sozinhos um
pouco. – diz e sorrio. – E também estou tentando não pensar em
uma coisa que me aconteceu mais cedo, por que... – então para de
dizer, desviando o olhar para outro lado.
— Tem algo preocupando você. – digo, embora tenha uma
suspeita do que seja e posso jogar com todas minhas fichas que é
por causa da aliança, que esta escondida em um lugar onde ela não
vai encontrar. Sei disso porque ouvi meio por cima enquanto
conversava com Julie.
— Não é nada com que se preocupar, meu lindo. – diz, dando
um beijo no canto da minha boca. – Só vamos ficar aqui um pouco a
sós também.
Sorrio, concordando.
— Adoro essa ideia de ficar cozinho com você. – digo e desço,
beijando seu pescoço bem quando meu celular começa a vibrar no
bolso.
— Animadinho nada, ein? – Luara ri e afasta um pouco. – Pode
atender. – diz e pego o celular, vendo a foto da minha mãe na tela.
— Minha mãe. – digo, mostrando para ela e atendo.
— Não disse que sua mãe era ruiva. – comenta boquiaberta e
dou de ombros.
— Longa história. – sorrio. – Oi, mãe!
— Andrew, querido! – Lilian diz toda animada. – Como você
esta?
— Tudo ótimo. E com a senhora?
— Estamos todos bem. – responde. – Vocês vêm nos visitar
hoje? Sua avó esta louca para te ver e eu louca para conhecer
minha nora e ver se consigo ver se meu netinho na barriga dela.
Quando minha mãe diz estas palavras, Luara aperta os braços
ao redor do meu pescoço e dou um beijo em seu ombro antes de
responder:
— Não vai dar. Vim com Luara, Felipe e Julie aqui para a
fazenda. Vamos ficar até amanhã no final da tarde.
— Ela esta ai? – pergunta, referindo-se a Luara.
— Esta aqui do lado. – respondo e Luara parece paralisar em
cima de mim. Os olhos arregalados. – Quer falar com ela? –
pergunto, vendo a cara de desespero da minha linda garota, que
rapidamente gesticula em negativo.
— Posso? – minha mãe pergunta.
— Claro. Espera. – e afasto o celular para colocar no viva-voz. –
Da um “oi”.
- Laura? – ela chama.
— É Luara. – corrijo, assim como fiz por muitas vezes enquanto
estávamos em Londres.
— Oi. – Luara apenas sorri um pouco tímida.
— Oi! – Lilian exclama. – Fico feliz em finalmente poder ao
menos conversar com você. Eu diria “conhecer”, mas meu filho
parece disposto a continuar atrasando nosso encontro.
— Que feio, And! – ela diz, como se o motivo das duas ainda
não terem se conhecido fosse unicamente porque não quero que
aconteça, quando na verdade o motivo disso é a correria do dia-a-
dia.
— Sou inocente, linda. Sabe disso. – defendo-me.
Então porque vocês não vêm jantar conosco amanhã? – Lilian
pergunta. – Vocês dois, Felipe e a Julie. É esse o nome dela?
— É sim. – Luara responde. – Se o And não estiver com planos
de ficar aqui até muito tarde, por mim esta ótimo.
— Amanhã, então. – diz e percebo o sorriso em sua voz. – Do
que você gosta de comer? – pergunta e tenho que rir. O que me
rende um tapa no peito.
— Não se preocupe com isso, Sra. Lilian. – Luara responde e
aperto a mão em seu quadril, fazendo-a dar um pulinho em meu
colo. O pequeno And já esta acordando com toda essa
movimentação em cima dele.
— Apenas Lili, por favor. – minha mãe pede. – Assim você faz eu
me sentir uma idosa.
— Desculpa.
— Pedirei para que Henriqueta prepare um jantar especial. – diz.
– Mas agora, como esta meu netinho ou netinha? Já consegue
sentir algo?
— Ainda não. – Luara responde. – Talvez daqui uma ou duas
semanas consiga sentir alguma coisa.
— É. Ainda esta um pouco cedo para isso. Mas vai ver como
depois passa voando!
— Sim! – Luara ri. – And contou a senhora a notícia? – pergunta
e sorrio, entendendo a que se refere.
— Não. – responde e sinto sua preocupação. – Andrew, o que
você esta escondendo de mim?
— A senhora esta sentada? – pergunto apenas para provoca-la.
— Apenas fale!
— Conta você ou eu? – pergunto a Luara, que sorri.
— Pode dizer.
— Então, Lilian... – começo e paro, dando uma longa pausa. – A
senhora não terá um netinho.
— Como assim? – ela pergunta ainda mais preocupada. – Luara,
querida, você não...
— Não! – ela a interrompe antes que complete a frase. – Esta
tudo bem com eles.
— Então o que aconteceu? – pergunta impaciente. – Pelo amor
de Deus, não façam isso comigo!
— É que não é um netinho. – sorrio para Luara, que tem um
brilho no olhar, assim como sempre acontece toda vez que conta a
alguém. Mas, igual está agora, só o vi quando contou a sua mãe no
início da semana e as duas acabaram chorando no telefone. E sei
que isso foi por causa de estar longe deles, o que faz com que eu
me sinta culpado por não tê-la levado a São Paulo para ver sua
família ainda e para conversar com seus pais. – Digamos apenas
que o ciclo continue a cada duas gerações. – concluo, sentindo
meus olhos lacrimejarem. Não tem como dizer que meu maior
sonho vai ser realizado sem me emocionar.
— Vocês... – Lilian começa e para, não conseguindo emitir
palavra alguma.
— Pelo amor de Deus, Andrew! – Luara exclama impaciente. –
Diz logo que são gêmeos!
— Ah meu Deus! – minha mãe diz em um sussurro e ouço um
barulho no fundo.
— Mãe? – eu chamo e Luara olha para mim, sentindo minha
preocupação. – Lilian?
— Vocês estão falando sério? – pergunta e respondo que sim. –
Da última vez, você havia dito que não era.
— Descobri na semana passada com o Dr. Marcus. – Luara
responde. – A médica que eu estava indo antes não tinha reparado,
então quando fui com ele, disse que havia visto dois e pedi um
ultrassom 3D, para que não ficassem dúvidas e pudesse dar a
notícia ao And.
— Oh, Deus. – torna a dizer, baixinho. – Quando Lívia contou
que teria apenas a Kate, achei que nunca mais fossemos ter
gêmeos na nossa família. Ainda mais considerando que a mulher
tem mais chances...
— Terão sim, Lili. – Lu sorri para mim, dando um beijo em meu
rosto. – E eu estou feliz por poder dar isso ao And e por ele ter me
presenteado com duas joias tão preciosas.
Luara e minha mãe conversar por algum tempo e levanto para ir
até o pomar de pêssegos, que fica aqui perto de onde estamos.
Quando volto, trazendo alguns frutos para dar a ela e outros para
levar lá para casa, Luara sorri para mim como se tivesse aprontado
algo. A expressão em seu rosto é totalmente diferente da que ela
tinha quando saímos para caminhar.
— Sua mãe parece muito gentil. – comenta, devolvendo meu
celular quando sento ao seu lado e ela deita em meu colo.
— Só parece. – decido brincar. – Ela é terrível.
— Mentira.
— É sério! – exclamo. – Primeiro ela agrada, mas se não for com
sua cara, ai já era.
Assim que digo isto, Luara vira de barriga para cima e me encara
com uma expressão estranha. Preocupada até.
— Por que acha que eu nunca namorei? – pergunto, tentando
continuar sério.
— Porque é bem mais fácil ter uma única noite do que manter
um relacionamento. – responde de pronto, o que me deixa surpreso.
– Mas sua mãe não é isso que esta dizendo.
— Experiência própria?
— O que?
— “É mais fácil ter uma única noite do que manter um
relacionamento”. – repito suas palavras, sentindo enorme
desconforto.
— Falando assim faz parecer que tive muitos antes de você, né?
– pergunta, levantando. – Bem diferente de você. – Nossa! Essa foi
extremamente direta! – Mas sim, foi mil vezes mais fácil ter aquela
noite, naquela festa, do que manter um namoro por anos. – e
levanta, caminhando as pressas direção a casa.
— Luara! – eu a chamo, levantando para ir atrás dela. – Quer
esperar?!
— Para quê?! – ela vira para mim, irritada, e percebo que esta
chorando. – Para você jogar mais algo na minha cara?
— O quê... Eu não... Eu estava brincando com você, linda.
— Ah, tenha paciência, Andrew! – exclama. – Você acabou de
insinuar ai que eu tinha experiência em ter casos, quando nós dois
sabemos que o expert nisso aqui é você.
— Para mim não foi fácil manter vários casos. – digo, passando
as mãos pelos cabelos. – Foi minha única rota de fuga para evitar
sentir.
— Parabéns para você, então. – diz, dando as costas para mim
e com um passo mais longo, estou ao seu lado.
— Eu não insinuei que você teve centenas de homens, droga! –
exclamo alterado, segurando sua mão. – O que eu quis dizer...
Pelas vezes que você me falou qualquer coisa sobre seu namoro
com o babaca do seu ex... Eu achei que, para você, tivesse sido
mais fácil àquelas duas noites que tivemos. Não que você fosse
uma mulher fácil, o que eu tenho mais do que certeza que não é,
porque você não quis nem mesmo sair para jantar comigo quando
nos reencontramos. – passo a mão pelo cabelo, sentindo-me
incomodado com esta situação. – Desculpa ter feito pensar que me
referi a outra coisa. Mas não é isso.
— Desculpa. – ela também pede, olhando para nossas mãos
juntas. – Não sei o que esta acontecendo comigo hoje. Eu já chorei
mais do que o normal hoje e agora quero brigar com qualquer um
que cruzar meu caminho. Ai você vai e diz aquilo da sua mãe e...
— Ela é um amor, linda. – digo, dando um passo a frente. –
Minha mãe adora você só pelo tanto que falei de você no tempo que
estive em Londres e, todas as vezes que fui vê-los esses dias,
sempre perguntou quando levaria você para conhecê-los.
— Você me assustou. – ela diz, afundando o rosto em meu peito
e a abraço, sem entender bem sua reação.
— Desculpa. – peço.
— Vamos voltar lá para dentro. – sugere e concordo.
— Só espera um pouco. Vou buscar as frutas que colhi e já
vamos.
Luara afasta e volto até onde estávamos para pegar os
pêssegos e ela me pede um.
— Está delicioso! – exclama, passando o dedo no canto da boca
para secar o caldo que escorre.
Por algum motivo, depois dessa discussão que acabamos de ter,
sinto ainda mais nervoso a respeito de pedi-la em casamento esta
noite, para oficializar o pedido que fiz em Goiânia. Não mudei de
ideia e jamais mudarei, mas estou nervoso.
Capítulo Doze
Domingo
Luara
◆◆◆
Andrew
Agora é oficial: Luara e estamos noivos. E ainda temos como
testemunhas nossos dois melhores amigos, que também
oficializaram seu namoro e isso me deixa feliz por eles, porque os
dois parecem que se dão muito bem. Embora eu os tenha visto
interagir diretamente um com o outro apenas ontem e hoje. Mas
percebo que existe entre eles essa coisa que tenho com minha
linda.
Para ser sincero, fiquei um pouco surpreso quando Felipe me
pediu ajuda com isso há algumas poucas horas. Mas a ideia de
seduzi-las como se fossemos dois gogoboys foi demais. Ver o olhar
de desejo no rosto da minha garota foi incrível. Nunca antes me
senti tão desejado por ninguém, como sou por ela.
— Obrigado. – Felipe diz ao meu lado, jogando um pouco de
água para abaixar o fogo da churrasqueira.
— Pelo que? – pergunto, voltando a colocar a grelha no lugar
quando conseguimos acalmar o fogo, mas algumas carnes não
tiveram salvação.
— Por me ajudar com a Julie. – responde. – Eu queria fazer
algo, mas não sabia como. Eu estava fazendo a pergunta através de
um cartão, mas a última parte deveria entregar só amanhã e isso já
estava me torturando.
— Você também me ajudou com Luara. – digo. – Irmãos fazem
isso.
— Certo. – ele diz e pega duas cervejas na caixa, entregando
uma para mim.
— Mas talvez você devesse ir falar com ela. Você a pegou de
surpresa e ela aceitou. Depois tudo pegou fogo. Literalmente
falando.
— Você tem razão. – concorda e o vejo olhar para as duas
garotas que ainda estão na piscina, no mesmo lugar de antes,
conversando em sussurros.
— O mais difícil já passou. Para nós dois. – falo. – Apenas
oficialize a relação de vocês.
Felipe me olha meio de canto e balança a cabeça com um
sorriso que prefiro não perguntar o significado. Então sai, levando
uma cerveja para Julie e senta na beira da piscina. Notando a deixa,
Luara sai de mansinho e vem para o meu lado.
— Com fome? – pergunto a ela, sentando com um prato com
carne na beirada, jogando as pernas para dentro da água.
— Você nem imagina o quanto. – ela sorri, apoiando as mãos em
minhas pernas. – Mas não só dessa carne que você tem ai no prato.
– completa e sorrio, sentindo suas mãos subirem até a sunga, onde
a segura. Tentando ignorar o efeito que tem em mim, coloco um
pedaço de carne em sua boca e ela puxa meus dois dedos para
dentro, chupando o tempero da carne. Seu gesto tem ligação direta
com o pequeno And.
— Hmmmmm... Está uma delicia! – exclama, passando a língua
pelos lábios. – Você não vai entrar? A água esta deliciosa depois do
showzinho que você e o Felipe deram aqui.
— Como assim? – pergunto curioso e ela sorri, fazendo sinal
para me aproximar e o faço, recebendo um beijo molhado na boca.
— Você, principalmente, deixou isso aqui pegando fogo, meu
lindo. – sussurra em meu ouvido, dando um beijo em meu pescoço
e debruça sobre minha ereção. O sorriso que da ao me sentir é
doce e travesso. – Estou louca para entrar no nosso quarto com
você e descobrir o que preparou para nós. – diz e sinto seu beijo
disfarçado em meu pau. Um pouco tenso, olho para o outro lado da
piscina, onde agora apenas Felipe esta e a sombra do que imagino
ser Julie, nadando direção a Luara.
— Anjo. – eu chamo e ela levanta o rosto bem quando Julie puxa
suas pernas.
— AH! – grita, dando um pulo. – Puxa a mãe, infeliz! – exclama,
batendo em Julie, que ri.
— Tinha que ter visto sua cara! – ela diz, abraçando a amiga.
Julie parece bem mais calma, relaxada e feliz agora que conversou
com Felipe, que a observa do outro lado. – Nossa, And. Agora eu
entendo porque você fica todo excitado quando olha a Lu. – diz com
os braços caídos sob os seios de Luara, que fica roxa de vergonha
e eu sem reação.
— É complicado isso. – digo em resposta e ela ri.
— Não estou culpando você, meu bom homem.
— Ok, então.
— Quem topa um jogo? – Felipe pergunta e o vejo entrar na
piscina com uma bola. – Meninos contra as gostosas.
— E o que você tem em mente? – Luara pergunta, ficando de
costas para mim e segura minhas pernas.
— Vôlei. Queimada. Bobinho. – ele da de ombros. – O que vocês
quiserem.
— Bobinho é meio que injusto. – Julie protesta e nós três rimos.
— Por que não jogamos por casais? – Luara sugere. – Aposto
que And e eu somos melhores que vocês dois. Além de que ficaria
um jogo mais justo, considerando a altura de vocês dois.
— Tá. Por mim está ótimo. – ele responde.
— Por mim também. – concordo. – Até porque, assim posso ficar
mais tempo atrás da minha garota. – digo e ela me olha por cima do
ombro e pisco para ela, vendo seu rosto corado.
— Vamos de vôlei então. – Felipe diz e sai da piscina para
marcar com o chinelo o que seria a rede. – Qual será o prêmio? –
pergunta, pulando de volta na piscina.
— A dupla que perder limpa a bagunça e faz o almoço amanhã.
– Julie sugere e pega a bola, que flutua na água.
— Por mim tudo bem. – Luara concorda, tomando a bola dela e
vem para o meu lado. – Vocês escolhem o campo.
— Fica do jeito que já esta. – ela responde, nadando para o lado
do Felipe, que sussurra algo em seu ouvido.
— Tudo bem, anjo? – pergunto quando ela fica do meu lado.
— Quero uma aposta particular. – diz em resposta e arqueio a
sobrancelha.
— O que sugere? – pergunto curioso e ela sorri para mim.
— Quem jogar melhor entre nós dois, terá uma noite mais
especial. – responde e tenho que rir. Afinal, ela já terá uma noite
especial, na qual me dedicarei inteiramente ao seu prazer.
— Sou mais alto que você, minha linda. – digo para provoca-la. –
Além de que fisicamente mais ágil também.
Ela sorri e aproxima de mim.
— E eu tenho uma carta nas mangas. – diz e sinto sua mão em
minha sunga. Seu toque me faz fechar os olhos.
— Não vai querer perder a partida apenas para ganhar, vai? –
pergunto ao reabrir os olhos. – Teremos que limpar a casa toda e
fazer o almoço se isso acontecer.
— De repente valha a pena. – ela da de ombros. – Mas confio
em você para ganharmos. – e pisca para mim, dando um beijo no
canto da minha boca.
◆◆◆
Luara
— Estão prontos? – pergunto, virando para o mais novo Casal
Vinte da noite, que conversa entre sussurros do outro lado,
provavelmente tramando algo.
— Prontíssimos. – Ju responde logo depois de receber um beijo
de Felipe, que parece todo atencioso com ela.
— Então se preparem! – exclamo, me preparando para sacar.
— Eu começo. – ouço Andrew dizer atrás de mim, tomando a
bola de minhas mãos. – Altura ajuda, minha linda. – diz e pisca para
mim. – Deixa que eu comece.
— Quanto maior a árvore, maior é a queda, lindo. – respondo,
dando as costas para ele.
And não sabe, mas eu jogava no time de vôlei da escola e era
muito boa nisso. Ainda que já não jogue desde que terminei o
colégio. Mas ainda sei muito bem como isso funciona e estou
disposta a ganhar não apenas de Felipe e Ju, mas também de
Andrew, apenas para fazê-lo para pelo sufoco que me fez passar,
pensando que tivesse perdido minha aliança, sento que estava com
ele.
— Ponto nosso! – ele exclama atrás de mim e Julie joga a bola
de volta. – Eu avisei que sou bom nisso, Anjo. – And sussurra em
meu ouvido, apertando a mão em minha bunda.
— E eu já disse que sou boa nesse seu joguinho de sedução,
And. – respondo.
◆◆◆
Andrew
Quando terminamos de tomar nosso banho, pego a toalha que
havia deixado separada especialmente para Luara e a enrolo em
seu corpo.
— Acho que posso ficar mal acostumada com isso. – ela sorri
para mim, enquanto enrolo a minha no quadril.
— Bem, dar banho e cuidar de você é só uma parte do que
pretendo. – respondo, dando um beijo casto em sua boca. – Vem. –
estendo a mão e ela a segura. – Você tem que ir primeiro.
— Ainda bem! – exclama. – Já não aguento mais toda essa
curiosidade para saber o que você aprontou no nosso quarto. –
sorrio e ela destranca a porta. – Nossa. – sussurra. – Isso não
estava aqui quando entramos. – dou de ombros, fingindo não saber
do que se trata. Mas o chão do corredor até nosso quarto está
coberta de pétalas de rosas, assim como pedi a Maria.
— Vai. – digo, tocando a mão em suas costas e ela anda de
vagar, o olhar brilhando. Com o controle que deixei na pia, ativo o
som, onde começa a tocar Marry me, do Jason Derulo.
— And. – diz, olhando para mim por cima do ombro e sorrio,
dando um beijo em seu ombro.
— Você é meu tudo, anjo. – eu falo, sentindo o nervosismo tomar
conta de mim.
— Você também é o meu. – ela sorri em resposta. – Mas quero
saber o que tem lá dentro. – e segura minha mão mais forte e assim
andamos até que ela pare na porta fechada. – O que vou encontrar
aqui? – pergunta curiosa, levando a mão à maçaneta.
— Abra. – sussurro em seu ouvido.
— Meu Deus! – Luara exclama, cobrindo a boca com as mãos e
me ajoelho atrás dela, segurando sua mão, chamando sua atenção
para mim. – And. – diz apenas e me sinto mais do que apenas
nervoso.
— Esse era o momento em que eu deveria devolver sua aliança.
– começo a dizer de improviso. – Mas eu não poderia negar ajuda a
um amigo que também me socorreu quando eu precisei. Mas, meu
Anjo, acredite em mim quando eu digo que quero que você seja
minha companheira pra toda vida. – enquanto falo, acaricio sua mão
com o polegar, enquanto com a outra, Luara cobre a boca. – Não
apenas marido e mulher, não apenas como amantes. Não apenas
namorados. Não somente o pai e a mãe de primeira viagem que
seremos para os nossos dois pequenos. Mais do que tudo, quero
ser seu melhor amigo, seu confidente para tudo. Quero ser seu
Porto Seguro, para que todos os dias você queira voltar para mim
no final do dia. Quero ser o herói que irá socorrer você quando
precisar. Quero ser o homem que vai te deixar acordada a noite,
fazendo tudo o que temos direito e ser também a pessoa para quem
você vai procurar colo.
Nervoso, passo a mão pelo rosto, procurando as palavras certas.
— Sei que sempre será a princesinha do papai, assim como sei
que nossa filha será a minha. – recomeço. – Mas, de agora em
diante, seja também minha rainha, meu Porto Seguro, minha esposa
e confidente, minha amante e melhor amiga. Seja o meu tudo,
Luara.
Nesse momento, eu já não sei nem mais o que falar. Apenas
encaro, mesmo sem piscar, Luara, que segura minha mão. Seus
olhos estão brilhantes com lágrimas e me pergunto se disse algo
errado.
— Você já é o meu tudo, And. – sussurra com a voz embargada
e torno a levantar, segurando seu rosto entre minhas mãos. – Você
se tornou meu tudo desde o momento em que entrou na minha vida
sete anos atrás. Só não se deu conta de que nossas vidas estavam
traçadas, porque fomos mais uma vez separados. Mas eu não quero
nunca mais que isso aconteça. Eu quero passar toda minha vida ao
seu lado, meu amor. – ela diz e me beija de uma forma diferente,
cheia de sofreguidão. A respiração ofegante. – Você foi a segunda
melhor coisa que aconteceu na minha vida, meu amor. – diz e
franzo o cenho
— Segunda? – pergunto, tentando parecer ofendido. – Eu abro
meu coração para você e ainda me diz que sou a segunda melhor
coisa na sua vida? – pergunto e ela ri.
— A primeira vai sempre ser meus filhos. – responde. – Os dois
filhos que você me deu.
Nossa! Estou sem chão. Eu esperava por qualquer resposta
espertinha dela, mas nunca algo assim.
Com o pé, fecho a porta e a tranco, não querendo desviar a
atenção dela.
— Acho que perdi uma aposta com você hoje e preciso pagar. –
digo, voltando até onde esta.
— Na verdade, ela meio que ficou empatada. – sorri.
— Não, anjo, hoje à noite é sua. – digo. Minha voz sai pesada,
cheia do mesmo desejo que tenho reprimido a noite toda. – Farei de
você minha mulher, dedicando tudo a você. – e solto o laço que
prende a toalha ao seu corpo, observando enquanto desliza por ele.
— E o que você pretende fazer? – pergunta com um sorriso de
lado, também soltando a toalha do meu corpo, dando liberdade ao
pequeno And, que salta para frente, ficando entre nós.
— Tudo o que eu fizer, meu amor, será para o seu bel prazer. –
sussurro, beijando-a de vagar, para que possa sentir um pouco do
meu desejo por ela. E tudo o que eu fizer essa noite será assim, de
vagar, para que sinta o mesmo que eu quando estou em sua
companhia.
◆◆◆
Luara
Acordo e sinto meu corpo todo dolorido pela noite muito bem não
dormida com Andrew e por algum tempo fico de olhos fechados,
com a sensação de que sua barba rala ainda está roçando em cada
parte do meu corpo. O que me faz estremecer.
E eu sinto sua respiração ofegante no meu pescoço, assim como
também sinto o beijo que ele me dá, fazendo com que todo meu
corpo se arrepie. É uma sensação maravilhosa essa que sinto.
Principalmente quando me lembro de como ele fez tudo bem de
vagar, querendo apenas me dar prazer, e não apenas chegar ao fim.
Lembro-me dos vários orgasmos que me causou, deixando-me mole
por um bom tempo. O que justifica meu corpo todo dolorido e
satisfeito e o fato de que ainda sinto o pequeno And dentro de mim,
tão gostoso.
Inspiro fundo e viro para o lado, onde sei que meu amor está.
— Bom dia, meu lindo. – digo, jogando a perna em cima de seu
quadril, segurando seu rosto para um beijo de bom dia. Ele se quer
se mexe ao meu lado, de tão pesado que esta dormindo. – Lindo? –
chamo, acariciando seu rosto e ele mexe um pouco. – Já são oito
horas. – digo, embora não tenha a menor ideia de que horas sejam.
— Então me deixa ficar aqui até às quatro da tarde. – resmunga
em resposta, enfiando a perna no meio das minhas e sinto o
pequeno And em mim, duro e pronto. Eu o toco para fazê-lo acordar.
– Nossa, linda. Você está me saindo uma mulher insaciável
também. – ele sorri e beijo sua boca, acariciando seu amigo,
arrancando do meu homem um gemido rouco. – Desse jeito nós
vamos passar a manhã toda aqui.
— Então vamos aproveitar, porque é tudo o que eu mais quero. –
sussurro próximo a sua boca e ele me beija com força. – Além do
mais, é até pecado deixar meu homem assim. – digo e sei que ele
sorri, porque sinto quando beija meu ombro, chupando minha pele.
— Também é pecado deixar minha noiva assim. – ele sussurra
em meu ouvido e sinto seus dedos em mim lá embaixo, circulando
meu clitóris e abafo um gemido contra seu pescoço. – É o que você
quer, Anjo? – pergunta com a voz pesada e faço que sim, não
conseguindo dizer em voz alta. – Eu te fiz uma pergunta. – ele rosna
em meu ouvido.
— SIM! – grito de maneira a reprimir o gemido quando sinto dois
de seus dedos dentro de mim em um entra e sai delicioso. – Por
favor. – gemo, movendo o quadril em sua direção. – Eu quero minha
dose de você, And. – praticamente imploro e ele me vira de barriga
para cima, colocando-se entre minhas pernas.
— Então eu vou dar o que você quer, minha linda. – diz com a
boca colada na minha e me tasca um beijo que me deixa sem fôlego
e mais mole do que já estou. Seus dedos nunca saem de dentro de
mim enquanto ele beija meu corpo, fazendo uma pausa maior em
meus seios, chupando tão gostoso que não sou capaz de segurar o
gemido que me escapa. – Isso, minha gostosa, geme gostoso pro
seu macho, geme. – diz, colando a boca novamente na minha, mas
não me beija. – Goza pra mim, goza. Me Deixa sentir seu melzinho
de café da manhã.
As palavras dele são minha perdição. Quando Andrew afasta e
desce beijando minha barriga até chegar à minha perseguida, que
ainda esta toda dolorida e me beija lá, passando e colocando sua
língua dentro de mim, não aguento e gozo, muito, sentindo todo
meu corpo se contorcer. Mas ele não para nunca com a tortura.
Apenas continua me chupando, até que me leva ao meu segundo
orgasmo do dia.
— Ah meu Deus! – exclamo bem ofegante, passando as mãos
pelo rosto.
— Está cansada já? – pergunta e faço que não.
— Ainda quero você aqui dentro. – provoco, rebolando para
alcançar seu pau e logo ele está dentro de mim, dando estocadas
fortes, que me fazem gemer alto.
— Olha para mim. – pede, segurando meu rosto em suas mãos
e o beijo, tomando para mim seus gemidos. – Anjo. – ele chama em
meu ouvido e sinto o calafrio percorrendo meu corpo.
— Eu amo tanto você, Andrew. – falo, olhando em seus olhos. –
Você não faz ideia do quanto eu te procurei todos esses anos, em
todos os lugares que eu ia. – enquanto me ouve, Andrew continua
com as estocadas, fazendo com que eu diga as palavras
entrecortadas. Mas não me importo. – Você foi meu sonho por anos,
mas agora é a minha realidade. E eu amo você.
Com minha última frase, Andrew explode dentro de mim em um
orgasmo que faz com que ele caia em cima de mim, exausto. E eu
passo as mãos por seus cabelos, secando o suor que escorre por
seu rosto.
— Eu amo você, meu Anjo. – ele diz, também olhando em meus
olhos, acariciando meu rosto e me beija de vagar, diferente da
maneira que fez há pouco.
Fecho os olhos mais uma vez e ele afunda o rosto em meu
pescoço e sai de cima de mim, puxando-me para ficarmos frente a
frente.
— Sabe que ainda não são quatro da manhã? – ele pergunta
com o rosto ainda em meu pescoço.
— Tem certeza? – pergunto e ele sorri.
— Frank ainda não cantou e está escuro. – responde. – Mas
adorei que tenha me acordado para isso. Podemos repetir todos os
dias. – diz e acabo rindo, sentindo o sono voltar com tudo. – Durma,
minha menina. O dia será longo amanhã. – sussurra e beija meus
cabelos e não vejo mais nada até que o sol esteja alto e meu celular
toque com o alarme das nove, que é para tomar minha vitamina que
o Dr. Marcus passou para cuidar melhor dos meus pequenos.
◆◆◆
Andrew
Tomo um banho e preparo o café da manhã para Luara, que
ainda dorme e acho que não irá acordar tão já depois da noite que
tivemos. Eu queria tomar café com ela, dar cada uma dessas coisas
em sua boca e cuidar dela, mas combinei com Marcelo que o
ajudaria a domar Tempestade, que tem se saído uma- égua muito
arisca. Por isso que mesmo contra tudo que há dentro de mim,
apenas coloco a bandeja com as coisas que preparei ao lado de
Luara na cama, com um bilhete e duas rosas brancas, que colhi
escondido no jardim. Dou um beijo de bom dia em seus lábios e saio
do quarto, indo até o estábulo, onde Marcelo já espera por mim.
— Bom dia, senhor.
— Bom dia, Marcelo. – respondo. – Como nossa menina está?
— Por enquanto calma. – diz e me aproximo da Tempestade
para poder acaricia-la.
— Oi, menina. – eu digo, acariciando sua crina. – O que
aconteceu com você?
— Ela ficou arisca depois que deu cria. – Marcelo informa e olho
para ele com o cenho franzido. Não fazia ideia de que ela havia
dado cria. – Não deixa ninguém chegar muito perto para nada.
Então pensei que como foi você quem a domou...
— Tudo bem se nós dermos um passeio, menina? – pergunto a
ela, que parece aceitar. – Tudo bem. Só vou colocar isso aqui em
você e já saímos.
— Vão andar pelo campo? – Marcelo pergunta preocupado.
— Não. Vamos ficar por aqui mesmo. – respondo. – Se ela esta
arisca, não vou levá-la longe. É melhor.
Termino de arrumar tudo e saio com ela para irmos até o
cercado, onde treinamos todos os nossos cavalos. Tudo o que faço
é para deixá-la confortável e para que confie em mim e que não
farei mal a ela. Eu nunca nem mesmo andei com chicote, que é para
não maltratar o animal.
Só depois de muita conversa é que digo que vou montá-la e ela
permite fácil que eu faça isso.
— Boa menina. – digo, acariciando sua crina e a coloco para
trotar um pouco. Marcelo está no meio, acompanhando tudo. – Bom
dia, linda! – eu a cumprimento ao passar por ela, que esta
debruçada no cercado com uma xícara de algo em mãos. Luara
apenas sorri e me joga um beijo. – Você quer ir um pouco mais
rápido? – pergunto a Tempestade, que sempre gostou mais de
correr.
Com sua “resposta”, começamos a ir um pouco mais de rápido,
mantendo sempre o mesmo ritmo. Então ela para e levanta às patas
da frente e tenho que me segurar com mais força a ela.
— Calma, menina. – digo para fazer com que desça outra vez. E
ela faz, embora torne a levantar novamente depois de três passos e
vejo uma cobra logo à frente.
— And, cuidado! – ouço a recomendação de Luara quando
Tempestade começa a andar para trás e tento acalma-la.
O que acontece é rápido demais. Só me lembro de Tempestade
estar indo para trás apenas, assustada e de ouvir o grito de pavor
da minha garota quando caio. A dor que sinto na parte de trás da
cabeça é tanta que tudo fica escuro diante de mim e não sinto mais
nada. Nem mesmo dor.
◆◆◆
Luara
— ANDREW! – eu grito ao vê-lo cair do cavalo e bater com a
cabeça no chão. Corro até a porteira para poder entrar, mas sou
impedida por Marcelo.
— Deixe-me acalma-la antes. – pede, tentando segurar os
arreios da égua que relincha. Eu só consigo pensar no And estirado
e inconsciente lá no chão.
— O que aconteceu? – ouço a pergunta de Julie atrás de mim e
vejo Felipe pular o cercado para ajudar Marcelo com a égua.
Aproveitando a deixa, abro a porteira e corro até onde Andrew está.
— Amor, acorda. – chamo, tocando seu rosto. – Fala comigo,
meu lindo.
— O que aconteceu? – Julie repete a mesma pergunta de antes,
parando atrás de mim. – Estávamos saindo da casa quando
ouvimos seu grito. Viemos correndo para cá.
— Ele estava na égua e estava tudo bem. – começo a dizer e
sinto meus olhos enxerem de lágrimas. – De repente ela ficou de pé
e ele tentando se segurar. Ele estava bem, Ju. – digo, olhando para
ela.
— Ele esta bem, Lu. – ela corrige e sinto as lágrimas escorrendo
por meu rosto. Porque não acordei junto a ele para segura-lo no
quarto por mais tempo? Nós deveríamos ter tomado café da manhã
juntos.
— Foi uma cobra. – Felipe informa e olho para ele e vejo o
animal enorme e peçonhento nas mãos de Marcelo. Meu estômago
revira ao ver o tamanho dela. – Tempestade deve ter visto e se
assustou.
— Anjo, por favor, acorda. – sussurro em seu ouvido enquanto
acaricio seus cabelos. – Por favor, meu lindo. Não faz isso comigo.
Sentindo uma dor horrível dentro de mim, apoio a cabeça em
seu peito, sentindo o ritmo calmo de seu coração e sua respiração
tão calma quanto. Ele está apenas desmaiado, o que é menos mal.
Mas não me deixa tranquila.
— Anjo, fala comigo. – insisto.
— Vamos levá-lo para dentro. – Felipe diz, aproximando de nós.
– Se for o caso, tem um médico em uma fazenda aqui próxima.
— And. – chamo mais uma vez, ignorando Felipe. Tudo o que
mais quero é que meu amor acorde. Que ele esteja bem.
— Ele está acordando. – Ju diz e ergo a cabeça a tempo de ver
Andrew se mexer, levando a mão ao rosto.
— Oh, meu amor! – exclamo, jogando os braços ao redor de seu
pescoço quando ele senta e o beijo, sentindo todo meu medo
escorrer por meu rosto em forma de lágrimas. – Eu fiquei tão
preocupada. – digo com a voz abafada contra seu pescoço e sinto
sua mão em minhas costas. Não de maneira a me acalmar, como
faz quando tenho algo. Um toque distante. – Lindo? Esta tudo bem?
– pergunto, notando a expressão confusa em seu rosto.
— Adorei o beijo. Mas... – começa a dizer com a voz um pouco
rouca e olha para Felipe e de volta para mim. – Quem é você? – ele
me pergunta e sinto como se tivesse acabado de levar um tapa na
cara e um soco no estômago ao mesmo tempo. A dor é tão terrível e
grande, que caio sentada para trás, sem saber o que dizer.
— Você não sabe quem nós somos? – Ju é a primeira a
perguntar.
— Eu sei quem ele é. – And responde, apontando para Felipe. –
Vocês duas eu nunca vi.
Pronto! Meu mundo desmoronou aqui e agora. Na frente de todo
mundo.
Sinto os olhares em mim, mas não consigo fazer nada além de
encarar minhas mãos em meu colo. Quero chorar, correr para longe
daqui. Mas se quer consigo me mexer para qualquer coisa.
— Por que eu estou no chão? – ele pergunta.
— Você caiu do cavalo e bateu com a cabeça no chão, meu
amigo. – Felipe responde. – Não está sentindo nada?
— Só que estou com esterco na bunda e minha cabeça doer. –
responde e olho para ele, que me encara. – Moça, eu adorei o beijo
que você me deu, mas não acho que seu noivo vá gostar de saber o
que você fez. – diz para mim e sorrio sem graça. Ele não tem a
menor ideia de quem eu seja e isso me machuca muito.
— Ajuda ele a levantar. – peço a Felipe, que apenas concorda.
Marcelo vem voltando depois de guardar a égua no estábulo e o
ajuda.
— Você está bem, Lu? – Julie pergunta quando os três se
afastam e vejo Andrew olhar para trás. Eu apenas nego, sentindo
por ele não fazer ideia de quem eu seja. – Ele vai se lembrar de
você logo, amor. – diz. – Isso é uma confusão mental. Já aconteceu
com meu primo quando meu tio chutou forte a bola e bateu na
cabeça dele, que rebateu na parede. Ele desmaiou e não se
lembrava da família.
— E se ele nunca lembrar? – pergunto com a voz embargada. –
E se tudo o que tivemos...
— Não fala assim, amor. – diz e me abraça forte. Tudo o que
faço é aperta-la forte, sentindo o medo de que And possa nunca se
lembrar de mim e eu não consiga ajuda-lo. – A cabeça pode
esquecer, mas o coração, não. Eu vi a forma com que olhou para
você. Ele sente, ainda que não saiba agora o porquê.
— Me deixa ficar aqui. – peço.
— Eu não vou sair daqui, Lu. Nunca. Você sabe. – ela responde
e a abraço forte. – Ele vai lembrar. Fica do lado dele. Precisa ficar
forte pra ajuda-lo.
— Eu amo ele, Ju. – falo com a voz abafada. – Eu nunca vou
desistir do meu amor. Mesmo que ele nunca se lembre do que
tivemos, eu nunca vou desistir do And.
E dizer isto, embora seja minha maior verdade, me causa uma
dor horrível. Eu quero que ele se lembre de nós. De mim e dos
nossos filhos.
◆◆◆
Andrew
Felipe apoia a mão em meu ombro, levando-me para dentro da
casa de fazenda. O que é uma das várias coisas que sinto que
estão incompletas. Quer dizer, o que estou fazendo aqui?
Olho por cima do ombro, para a garota sentada no chão que me
beijou quando acordei. Ela está chorando e sinto que é culpa minha.
Percebi isso quando disse que não a conhecia. Mas, embora minha
cabeça não ligue sua imagem, seu rosto, a nenhuma lembrança,
meu coração pulsa forte contra o peito quando olho para ela.
Aconteceu isso quando ela me beijou e agora mais ainda, enquanto
sou levado para dentro. Quero voltar lá e conhecer está garota.
Saber por que ela me deixa assim.
— Está tudo bem? – Felipe pergunta, também olhando para trás
e paro antes de subir os degraus da varanda.
— Quem é ela? – pergunto, sentindo a cabeça doer um pouco. –
A de óculos.
— Luara. – responde e a outra garota com ela olha para nós.
— Por que ela está chorando? – pergunto, sentindo-me perdido.
— Como você se sentiria se a pessoa que você mais ama, por
causa de um acidente, não lembrasse mais de você? – pergunta e
olho para ele. – Como você sentiria se todas as histórias que vocês
viveram juntos, de repente se tornasse um nada para a pessoa que
você ama? – franzo o cenho e volto a olhar para Luara, sentada,
puxando a grama com a mão. Com a luz do sol refletindo seu corpo,
para mim, ela parece um anjo.
— Arrasado. – respondo a verdade do que sinto. – Mas ela não...
– olho para Felipe e de volta para o anjo sentado. – Ela... A aliança
dela. O noivo. Sou eu? – pergunto confuso e Felipe ri. Minha cabeça
parece doer ainda mais.
— Sim, você é o noivo dessa garota.
Sentindo que estou perdendo algo ainda mais importante, levo a
mão à cabeça, como se tentasse obrigar meu cérebro a se lembrar
do menor dos detalhes. Mas não consigo isso, é claro.
— Você está bem? – Felipe pergunta.
— O que mais eu não sei? – pergunto um pouco irritado com a
sensação de não saber das coisas. – Estou com um vazio enorme
aqui dentro, merda!
— Qual é a última coisa que você lembra? – ele pergunta e
tenho vontade de rir.
— De ter acordado sem saber onde estou. – falo.
— Você trabalha com o que? – muda a pergunta. Isso eu sei
responder.
— Sei que sou estagiário na empresa do meu pai e que faço
faculdade de Engenharia de Software. Segundo ano.
— Meu Deus. – Felipe diz, espantado.
— O que eu faço? – pergunto.
— Você é presidente da BIT. – diz e me apoio no batente da
porta, sentindo-me tonto.
— Me diz o que eu preciso saber. – peço. – Como eu a conheci?
— É melhor nós entrarmos e você sentar.
— Felipe. – chamo. – Não me deixa nesse escuro. – peço e ele
diz que vai buscar água e que é para eu me sentar. O que faço e
logo ele retorna. – Então?
— Luara é sua noiva. – diz, sentando ao meu lado. – Você a
pediu em casamento na semana passada, enquanto estavam em
Goiânia. Mas ontem fez um novo pedido, devolvendo a aliança a
ela, fazendo uma coisa toda agradável e romântica para ela.
Enquanto Felipe me conta, tento ligar as lembranças a algum
ponto solto em minha cabeça, mas não consigo nada disso. O que
me deixa ainda mais incomodado. E enquanto fala sobre meu anjo,
eu sinto que fico mais nervoso ainda, louco para poder conversar
com ela.
— Ela está grávida? – pergunto, lembrando-me de barriguinha
escondida sob a camisa que ela usa.
— Sim. – Felipe responde e afundo o rosto entre minhas mãos.
— Um filho.
— Na verdade, são dois. – diz e olho para ele, mais perdido do
que barata tonta.
— Tá certo. – digo, levantando. – Para mim, chega.
— Aonde você vai?
— Pro quarto. – respondo, seguindo para o corredor. – Onde eu
estou?
— Suíte principal. – responde. – O médico vem para ver você
daqui a pouco.
— Eu não vou fugir. – respondo de má vontade e sigo pelo
corredor, até o quarto que ele falou.
Se de fato teremos dois filhos, isso significa que um deles está
por aqui, já que não estava com ela lá fora. E eu procuro em cada
cômodo da casa, não querendo perguntar nada a ninguém, para
não me sentir ainda mais inútil do que já estou sentindo. Mas eu não
encontro meu filho em lugar nenhum e isso me incomoda ainda
mais.
— Ele só podia estar tirando com a minha cara. – falo, jogando-
me na cama e cubro o rosto com um braço, levando o outro para
debaixo do travesseiro, onde encontro um papel com algumas
coisas anotadas, na qual eu devo ter escrito em algum momento.
Sento na cama e leio. São coisas que fiz para ela, faltando
apenas um último item.
◆◆◆
Luara
Sentada na varanda, observo o pasto e as vaquinhas que mais
parecem pontinhos brancos e pretos de tão longe estão de mim. O
que chega a ser irônico, porque é exatamente assim que me sinto
em relação a Andrew desde que ele acordou e disse que não me
conhecia.
Aquilo doeu, é claro. O homem que amo, que é meu noivo,
disse, olhando em meus olhos, que não me conhecia. Um tapa teria
doido bem menos do que aquelas palavras. E todas as vezes que
senti seu olhar em mim, doeu mais ainda, porque eu só conseguia
ver o vazio em sua cabeça. A confusão que ele está, por não se
lembrar das coisas e, pelo que Felipe me contou, ele pensa que
ainda é estagiário do pai e faz faculdade. Ou seja: na cabeça dele,
eu nem mesmo existo.
Abraço minhas pernas, escondendo o rosto entre os joelhos,
tentando não pensar em nada disso e não chorar, mas é inevitável
quando me lembro de tudo o que aconteceu nas últimas vinte e
quatro horas.
E é pensando nisso, no quanto me sinto machucada por meu
lindo não saber quem sou, que, pela primeira vez desde que o
conheço, me dou conta de que eu não teria aguentado um terço do
que aguentei desde que cheguei. O assédio do Bruno, minha avó
internada e depois morrendo na minha frente, deixando aquelas
palavras incompletas e eternizadas na minha cabeça. A viagem
para Nova Iorque, minha apresentação com a BMW e meus
trabalhos pra BIT e agora a promoção como supervisora... Até agora
eu não havia me dado conta da importância dele na minha vida
desde que cheguei ao Rio de Janeiro. Mas agora percebo que, se
ele não estivesse ali comigo, segurando minha mão, eu teria
desistido meses atrás.
Andrew não é apenas o amor da minha vida e pai dos meus
filhos. É meu amigo. Meu melhor amigo. E saber isso apenas torna
mais difícil saber que eu não existo na cabeça do meu anjo. Só que
talvez agora seja a minha vez de conquistar meu lindo. De fazer por
ele tudo o que ele fez por mim desde que nos conhecemos.
— Oi. – ouço uma voz rouca ao meu lado e não preciso olhar
para saber que é o responsável por fazer meu coração bater
acelerado.
— Oi. – respondo com a voz embargada, ainda abraçando
minhas pernas.
— Posso me sentar aqui com você? – pergunta e ergo o olhar
para ele e faço que sim. Andrew se acomoda bem próximo a mim e
seco as lágrimas com o punho, evitando seu olhar. – Oi, Lu. – ele
me cumprimenta e fecho os olhos. – Posso chamar você assim? –
pergunta e faço que sim mais uma vez. – Por que você está
chorando? – pergunta, confuso, e mais lágrimas rolam por meu
rosto. – Anjo, por favor, não chore. Deixa-me ver seu sorriso lindo.
Por favor.
Anjo. A palavra se destaca entre todas e olho para ele, com a
visão embaçada e os óculos molhado.
— Do que você me chamou? – pergunto.
— Desculpa. Eu não... – começa a dizer e olha para os lados,
perdido. – Foi uma coisa que pensei desde que vi você. – responde.
– Você estava lá sentada e o sol refletindo no seu corpo e só pensei
que você fosse um anjo. Eu não quis ofender. Desculpa.
Quero rir. Meu Deus!
— Você não me ofende, lindo. Nunca. – falo, mais uma vez
secando as lágrimas e ele tira meus óculos para limpar as lentes.
— Pronto. – diz, arrumando-o de volta no lugar.
— Obrigada. – sussurro, segurando sua mão em meu rosto e me
aproximo dele. – Você sabe quem eu sou? – pergunto, sentindo
uma pontinha de esperança.
— Felipe me disse que sou seu noivo e imagino que devo ser um
homem muito sortudo por conseguir uma mulher como você. –
responde, fazendo-me rir. – E disse também que teríamos dois
filhos. – diz e olha para mim, ainda mais perdido. – Um eu sei que
está ai dentro de você, mas procurei pelo outro e não encontrei.
Então acho que ele mentiu.
Quando And diz isto, sei que é errado e até maldade, mas acabo
rindo. O que faz ele sorrir confuso para mim.
— O que aconteceu, Anjo? – pergunta e seguro suas duas
mãos, virando de frente com ele.
— Você não encontrou, porque ele não está por ai. – falo,
sorrindo. – Os dois estão aqui. – sussurro, pousando suas duas
mãos em minha barriga e ele sorri, deixando bem óbvia sua
confusão e a surpresa.
— Ai dentro tem dois filhos nossos? – pergunta e faço que sim. –
Gêmeos? – concordo mais uma vez. – Meu e seu? – e sorri. Vejo
seus olhos marejados, da mesma forma que vi quando dei a notícia
de que teríamos gêmeos.
— Se não for de nós dois, então não sei de quem pode ser. –
digo e ele ri, sem graça.
— Meu Deus. – sussurra e senta um degrau abaixo de mim. –
Oi! – diz para minha barriga. Suas mãos ainda debaixo das minhas.
– Sou eu, o papai. Eu... Estou um pouco confuso aqui, porque
algumas coisas estão confusas na minha cabeça e acabei de
descobrir que vocês dois estão ai. – sorrio para ele quando ergue o
olhar para mim. – Mas, se tem uma coisa que não mudou, é o
quanto amo vocês. E vou amar mais ainda quando estiverem aqui e
eu puder brincar com vocês junto da mamãe. E eu estou louco para
que isso aconteça logo, ainda que saiba que vai levar algum
tempinho para acontecer.
Lágrimas atrás de lágrimas escorrem por meu rosto de maneira
que não consigo controlar. Por várias vezes And conversou com
eles. Mas...
— Não chore. – ele pede, tocando meu rosto. – Por favor.
— Por que você não se lembra de mim, meu lindo? – pergunto,
também tocando seu rosto e ele fecha os olhos. – Isso está me
matando.
— Tem algo. – diz, tornando a sentar do meu lado, ainda com a
mão em minha barriga. – Eu estive pensando nisso, mas pode ser
coisa da minha cabeça.
— O que é? – pergunto e ele entrelaça nossas mãos, colocando
as duas também em minha barriga.
— Eu estava olhando para você lá da porta e essa garota veio
na minha cabeça. – começa. – Uma franja e os cabelos iguais aos
seus, só que as pontas pintadas de loiro. Ou algo assim. E... Eu me
lembrei de uma conversa com ela. Primeiro foi em uma casa com
piscina. Depois foi em um lugar bem tranquilo, sentado no carro.
Ouço com atenção tudo o que ele me diz, lembrando
perfeitamente à noite em que nos conhecemos.
— Só que vocês duas são anos de diferença. – diz. – Eu não
entendo.
— Esse foi o dia que nos conhecemos. – explico. – Você
também não era tão lindo assim – resolvo brincar. –, mas foi e é o
meu primeiro amor. E sempre vai ser
Andrew sorri com minhas palavras.
— Você me deixa nervoso. – confessa e franzo o cenho. – Aqui.
– diz, guiando minha mão até seu coração e sinto o meu acelerado,
igualando ao ritmo do dele. – Aconteceu desde que você me beijou.
– sussurra e sinto sua mão em meu rosto, colocando uma mecha
para trás da orelha e sinto o beijo que me dá. Um beijo calmo, como
quem tenta descobrir por meio deste gesto algo que perdeu. E eu
torço para que ele encontre. – O que foi isso? – pergunta
espantado, afastando um pouco e olho para baixo, onde nossas
mãos ainda estão unidas em minha barriga.
— Provavelmente impressão minha. – respondo, mas acontece
de novo.
É só algo rápido e bem leve, como um formigamento, mas sei
que são nossos pequenos, reconhecendo o papai.
— Estão dizendo oi. – digo, sentindo-me a mamãe mais boba
por ter sentido os filhos mexerem pela primeira vez. – Eu amo você,
And. E eu vou reconquistar você, mesmo que tenha que fazer isso a
cada dia, assim como fez comigo. Eu nunca vou desistir de você,
meu anjo.
— Obrigado. – diz, dando um beijo em minha testa. – Eu não sei
como, mas você está aqui dentro. Só minha cabeça não consegue
ligar seu rosto a tudo o que provavelmente vivemos.
— Nossa! E como vivemos! – exclamo, não conseguindo conter
a risada. – Fizemos tantas loucuras que até hoje não sei de onde
veio à coragem pra metade delas. – quando digo isto, sinto meu
rosto se aquecer, lembrando-me de ontem na cozinha e da
sensação que tive de que alguém estivesse ali.
— Me ensina. – And pede e olho confusa para ele. – A amar
você de novo como sei que amo. – diz. – Me deixa conhecer você
de novo e a cada dia mais.
— Só se você me deixar te conhecer mais ainda. – sorrio e ele
concorda.
— Vou adorar isso. – fala. – Mas, primeiro, preciso me lembrar
de tudo. Isso está me deixando louco de pedra!
— Lu, And. – Julie nos chama e olhamos ao mesmo tempo para
a porta onde ela esta. – Odeio ser a estraga prazeres, mas o Dr.
Batista esta ai para ver o And.
— Então essa é a sua oportunidade de começar a colocar essa
cabecinha para funcionar. – brinco, notando a tensão não apenas
em seu olhar, mas em todo o corpo.
— Você vai ficar comigo? – pergunta, perdido e olho para Ju,
que parece sentir o mesmo que eu.
— Sempre, meu lindo. – sorrio, dando um beijo em seu rosto e
levantamos. – Onde ele esta, Ju? – pergunto.
— Lá no quarto. Vou levar vocês, porque aqui tem muitos.
— Ju. – And chama e ela o olha, estranhando a maneira com
que a chama. – Você e o Felipe são namorados? – pergunta e vejo
minha amiga não ficar vermelha, mas roxa. Ele joga assim, na lata!
E isso me faz querer rir.
— Desde ontem à noite, sim. – ela responde um pouco tímida e
Andrew sorri.
— Ele gosta muito de você. – diz. – E da pra ver que você
também. E... – ele faz uma pausa, olhando para mim. – Ele pode ser
meio cabeça dura, teimoso... Mas tenha paciência. Tenho certeza de
que vocês dois serão felizes juntos e eu estarei aqui torcendo para
ver isso.
— Obrigada. – Julie diz um pouco sem graça. – E eu espero que
você lembre logo, porque é estranho ouvir você me chamar de Ju. –
ela diz e And ri, abraçando minha cintura e faço o mesmo com ele,
torcendo para que em algum momento reconheça meu toque, como
reconhecia até pouco tempo atrás.
◆◆◆
Andrew
Enquanto Dr. Batista, médico dono de uma fazenda próxima e
antigo amigo do meu pai, faz os procedimentos básicos para chegar
à conclusão de que minha amnésia será temporária e que a dor é
decorrente a pancada que levei, eu observo meu anjo, que tem toda
sua atenção para o que o médico diz.
— Quanto tempo uma amnésia assim costuma durar? – ela
pergunta, apertando minha mão.
— Tudo depende do quadro clínico do paciente. – responde. –
Horas, dias ou até meses.
— Meu Deus. – Luara sussurra e olho para ela. – Isso... O
senhor acha que...
— Faça com que ele reviva as lembranças. – Dr. Batista diz o
que ela não consegue falar. – Mostre a ele todas as fotos que tiver e
conte as histórias. Force-o a exercitar as lembranças esquecidas.
— Eu gostaria de ver um Neurologista. – digo. – Só por
precaução.
— Íamos chegar ai agora. – Dr. Batista diz. – Caso não recorde
nas próximas horas, é o certo. Ou se estiver se sentindo
desconfortável com essa situação toda. – ele diz e rio.
— Isso é óbvio que estou. – digo com ironia. – Não sei quem
sou. Tenho uma noiva e ela esta grávida e teremos não um, mas
dois filhos e isso... Merda! – exclamo, passando as mãos pelos
cabelos, sentindo a irritação tomar conta de mim.
— And. – Luara chama e sinto seu toque em meu braço. – Vou
com você ao médico no momento em que me pedir, lindo. – diz.
— Obrigado. – sorrio sem jeito.
Alguns testes a mais e o médico me recomenda procurar um
especialista para o caso de não melhorar até amanhã cedo. O que
eu acho uma loucura se isso continuar, porque, pelo que eu soube,
sou presidente de uma empresa enorme e não faço ideia do que
tenho que fazer. Então é claro que eu concordo, já que ninguém
mais do que eu quer esse buraco preenchido.
— Deveríamos ligar para os seus pais e contar o que aconteceu
com você. – Luara sugere durante o almoço. Felipe concorda de
imediato.
— Não acho que seja necessário preocupar minha mãe com
algo assim. – digo. – Ela só ficara preocupada, sem poder fazer
nada lá de Londres. – completo, lembrando-me do que Felipe disse
sobre meus pais estarem morando lá há algum tempo.
— Eles estão no Rio, lindo. – Luara diz. – Você conseguiu trazê-
los com você depois de um mês lá.
Olho surpreso para ela. Mais uma das mil coisas que consegui
apagar da minha cabeça.
— Por que passei um mês inteiro em Londres?
— Festas de fim de ano. – ela responde, mexendo com o garfo
no prato. Tem algo mais ai. – Você sente falta deles.
— Disso não tenho dúvidas. – falo. – Você foi comigo? –
pergunto, querendo saber mais sobre o motivo de sua tensão.
— Não. – responde sem olhar para mim.
— Por quê? – insisto. Ela esta escondendo algo.
— Andrew. – Felipe chama e o ignoro.
— Eu não quero falar sobre isso agora. – ela diz. – Nem agora,
nem nunca!
UAU! Toquei em uma ferida que ainda esta aberta e sangrando
aqui!
Sinto o olhar de Julie em mim e o gesto discreto para que não
pergunte sobre isso e decido por não fazer, ainda que me sinta... Eu
não sei.
— Desculpa. – peço, tocando sua mão. – Sem minhas
lembranças e com tantos buracos, só tenho vontade de preencher
todas essas lacunas com o mínimo que conseguir. E vocês são tudo
o que eu tenho para ter ajuda.
— Sinto inveja por você poder esquecer isso, And. – ela diz,
olhando nossas mãos. – Algumas coisas são melhores que sejam
esquecidas para sempre.
Embora confuso, eu concordo. Se o motivo que nos afastou por
tanto tempo é tão grande assim, talvez seja melhor não saber
mesmo e apagar. Mas, do resto, quero muito me lembrar de tudo.
Cada mínimo detalhe
— Que horas vocês pretendem voltar? – Julie pergunta,
mudando de assunto.
— Por mim, logo depois do almoço. – Luara responde.
— Por mim, também. – concordo. – Tem algo que descobri, que
ainda preciso fazer pelo meu anjo e não esta aqui.
— É o que estou pensando? – Julie pergunta com um sorriso de
lado a lado.
— Provavelmente. – concordo e ela troca um olhar cumplice com
Felipe, atiçando a curiosidade do meu anjo.
— O que é? – ela pergunta toda curiosa.
— SURPRESA! – Julie exclama.
— Ótimo! Fiquem com suas surpresas, então! – exclama de volta
e levanta. – Alias, Andrew, você querendo ou não, irá ver seus pais
hoje, porque combinamos com Lilian de jantarmos com eles. – diz,
parecendo um pouco ferida.
— Eu ia sugerir ligar para ele quando chegássemos. – respondo.
– Mas um jantar parece melhor.
Com um olhar sério, Luara pega seu prato e sai, deixando-me
sem entender o que aconteceu.
— Fiz algo de errado? – pergunto bem confuso.
— A gravidez a deixou instável. – Julie responde. – Do ódio ao
amor em segundos. – diz e franzo o cenho, olhando para o caminho
que Luara fez até a cozinha.
— Com licença. – peço e saio atrás dela. – Anjo. – chamo em
um sussurro rouco e ela vira para mim, se jogando em meus braços,
mais uma vez chorando. Mas agora não peço para que não faça
isso, pois sinto que ela precisa colocar toda sua dor para fora, seja
ela qual for. Então eu a abraço forte, afagando seus cabelos até que
pare de chorar.
◆◆◆
Luara
Chegamos ao Golden no finalzinho da tarde, depois de fazermos
uma parada para tomarmos açaí, porque a mamãe babona que
sentiu os filhos mexendo pela primeira vez estava (está!) com
vontade disso. E nessa parada, And ligou para os pais para dizer
que não iriamos jantar com eles hoje e disse o motivo, explicando
que já havia visto um médico que o tranquilizou sobre o grau da
situação dele.
Lilian, sendo a mãe amorosa que imagino que é, não ficou tão
calma com a notícia, mas também achou melhor que ele
descansasse para, quem sabe, se lembrar do que perdeu. Ela
compreendeu os motivos de não podermos ir hoje, mas disse que
viria ver o filho amanhã e que jantariam conosco, dizendo também
que não ficaria longe do filho em uma situação assim e agora chego
até a entender seu lado, porque só consigo imaginar o desespero
que eu sentiria se acontecesse algo com meus pequenos. Mas eu
espero de verdade que até lá ele já esteja melhor. Vou até ligar no
trabalho amanhã e avisar que vou trabalhar de casa, para poder
acompanhar meu lindo ao médico.
—Está tudo bem? – pergunto a Andrew logo que saímos do
elevador. Preferi subir com ele pelo do prédio, para ver se
reconheceria algo.
— Conheço aqui. – responde, olhando para todos os lados. – Já
estive aqui antes.
— Quando? – pergunto, parte por curiosidade, parte para ver
qual o ponto de suas lembranças.
— Quando estava procurando um apartamento para morar. – ele
responde com o cenho franzido. – O corretor me fez todo um
marketing do lugar e gostei tanto, que acabei comprando o lugar
todo. – ri. – Não foi exagero, foi um investimento. Por favor, entenda.
— Não estou julgando, lindo. – sorrio para ele.
— Os apartamentos que estão desocupados, em sua maioria,
são meus. – volta a falar. – Dois ou três. E eu os mobiliei todos, para
o caso de precisar. – então faz uma pausa e olha para mim. – Você
mora onde? – pergunta.
— Ali naquele apartamento. – aponto para a porta do outro lado
e ele ri.
— Mas aquela porta ali faz parte do meu apartamento. – diz e
franze o cenho. – Nós moramos juntos?
— Não. – respondo. – Pelo que eu soube, você dividiu seu
apartamento em duas partes, dizendo que ele era muito grande e
fez uma pequena reforma na outra parte, que acabou sendo locado
para mim quando me mudei para o Rio a trabalho.
— Nossa. – diz. – Mas por que não moramos juntos? – insiste. –
Se você mora ali e eu aqui e tem uma parede entre nós e vamos
nos casar, seria melhor.
—Não conversamos sobre isso ainda. – respondo um pouco sem
graça.
— Desculpa. – pede. – Talvez quando eu estiver com a cabeça
no lugar possamos decidir sobre isso então. – ele sorri e segura
minha mão. Assim, seguimos até seu apartamento.
— Juízo, crianças. – reconheço a voz da minha amiga atrás de
mim e viro.
— Não vamos fazer nada. – respondo e abraço And. – Só se
meu lindo se lembrar de tudo. Ai óbvio que vamos aproveitar o
tempo perdido.
— Me senti meio que colocado de lado aqui. – ele diz. – É como
se não fosse eu. E, pra ser sincero, é assim que me sinto também.
— Mas nós vamos mudar isso. – cutuco seu quadril. – Há quanto
tempo que aconteceu isso que você acabou de me contar?
— Considerando a data no meu celular, cinco anos. – responde
e fico boquiaberta. – Acho. O que me faz ser presidente da BIT, no
lugar do meu pai. – ele franze o cenho e o abraço forte.
— Você esta lembrando, lindo! – exclamo, dando um beijo em
seu rosto. – Viu?
— É graças a vocês. Obrigado. – ele sorri sem jeito. – Quer
entrar, Ju? Quem sabe não me lembro de mais algo.
— Acho que vou aceitar. – ela responde. – Meu doutor não vai
subir mesmo. – diz um pouco desanimada. – Então mato a
curiosidade e conheço sua fortaleza.
— Por que o Felipe não vai subir? – pergunto curiosa quando
começamos a andar até o apartamento de Andrew.
— Uma mala sem alça ficou ligando para ele desde que
acordamos, dizendo que precisava falar com ele sobre algo sério. –
ela revira os olhos e sei de imediato a quem se refere. – Então ele
foi ver o que ela queria de tão importante agora e pedir para que
não ligasse mais.
— Nossa. – respondo. O que será que a Nath pode estar
querendo com ele? – Aqui, lindo. – digo, entregando as chaves do
apartamento para ele. – Ele vem antes de você voltar?
— Disse que só vai ver o que ela queria e já voltava. – responde.
– Então, espero que dê tempo de sairmos para fazer algo.
— Entrem. – Andrew diz, dando licença para que possamos
entrar.
— UAU! – Ju exclama assim que entramos. – Isso aqui é uma
mansão!
— Você conhece algo, And? – pergunto, notando a expressão
diferente em seu rosto. Um brilho familiar. Ele faz que sim.
— É minha casa. – responde. – Escolhi todos esses móveis
quando estava procurando um lugar para morar sozinho. Mas...
Ainda tem esse buraco aqui dentro e isso me incomoda muito. – diz,
levando as mãos aos cabelos. – Eu olho para tudo e sei que é meu,
mas não conheço nada do que essas paredes têm. Olho para vocês
duas e não sei nada!
— Você vai se lembrar, lindo. – falo, tirando suas mãos de sua
cabeça e apoio as minhas em seu peito. – Só tenha paciência. Seus
amigos estão aqui com você. Eu estou aqui e vou te ajudar, mesmo
que te contar uma história por dia. – sorrio para ele. – Mas tenho fé
de que isso não vai ir tão longe e que você vai se lembrar de tudo
antes que possa imaginar.
— Eu vou tomar um banho. – diz bem perdido e olho para Julie.
– É pra ter sorvete na geladeira ou algo assim. – franzo o cenho
com o que ele diz. – Eu já venho.
— Tudo bem. – respondo, aceitando o beijinho que me dá.
— Tudo bem, Lu? – Julie pergunta, percebendo minha
expressão confusa.
— Ele sabe que tem sorvete na geladeira e compramos na
quinta, porque eu pedi. – respondo.
— Vai ver ele apenas sentiu algo e nem percebeu. – ela sugere e
acabo concordando, embora tenha esperanças de que isso seja um
sinal de que as lacunas estão aos poucos sendo preenchidas. –
Vem cá! Tem uma coisa que quero te contar. – diz, agarrando
minhas mãos e me leva até o sofá.
— O que aconteceu, mulher? – pergunto curiosa. – Que bicho foi
que te mordeu? – e rio, imaginando o tipo de coisa que ela vai
contar, agora que sei que passou a noite com Felipe. – Ah! Já sei!
— Não, eu não vou falar nada sobre isso que você esta
pensando. – diz. – Não agora.
— Então o que é? – pergunto, fingindo estar brava. – Conta logo
que você sabe como sou curiosa!
— Alex me ligou. – diz e minha boca se abre automaticamente.
— E ai?
— Disse que é para eu estar no escritório amanhã cedinho,
porque vou para Campinas com ele e outro lá, para que me
expliquem tudo o que preciso saber para cuidar da obra.
— AH MEU DEUS! – exclamo. – JULIE, VOCÊ CONSEGUIU!
— SIM! – ela grita bem alto e me abraça forte.
— PARABÉNS! – digo, apertando-a de verdade. – Eu sabia que
você ia passar aquele bocó para trás!
— Estou tão ansiosa por isso, Lu! Você não tem noção.
— Quando que ele ligou? – pergunto ainda mais curiosa e ela
conta que foi quando saímos da sorveteria e ela ficou para trás com
Felipe, que ele ligou para prepara-la para o que iria enfrentar
amanhã. – Você contou para ele?
— Eu quase surtei quando desliguei o celular. – responde. – O
que você acha?
— Que ele deve ter ficado muito feliz por você. – digo e ela
concorda. – Vocês estão se dando bem. – sorrio, enquanto ela fica
vermelhinha.
— Ele foi incrível comigo essa noite. – sussurra bem baixinho,
agora ficando roxa. – Tão... Ah! – exclama, escondendo o rosto com
uma almofada.
— Você esta apaixonadinha por ele, Ju. – digo querendo rir e ela
joga a almofada em mim. – Estou feliz por ver vocês se dando uma
chance.
— Eu também estou. – sorri sem jeito e percebo que é a primeira
vez, em anos, que vejo minha amiga ficar assim.
— Anjo. – ouço uma voz chamar bem longe.
— Eu já vou! – digo em resposta e o celular da Ju toca.
— É ele. – ela diz, vendo o nome na tela.
— Vou deixar vocês a sós e ver o que meu lindo quer. – informo.
– Convide-o para fazer algo apenas vocês dois. A cidade é linda e
vocês vão passar algum tempo sem se ver enquanto você estiver
em Campinas. Aproveitem!
— Vou fazer isso. – ela diz e dou um beijo em seu rosto, indo até
o quarto, onde encontro meu lindo com a toalha enrolada no quadril
e o pequeno And acordado.
— Você estava tomando banho ou fazendo outra coisa? – eu o
provoco, incapaz de desviar o olhar da toalha. Seu corpo ainda esta
todo molhado.
Ele apenas ri, achando graça de mim e juro que tenho que ser
forte para não ataca-lo aqui e agora. Talvez isso possa ajuda-lo a
lembrar de alguma coisa.
— Eu estava tomando banho e vi duas coisas. – ele diz. – Uma é
essa tatuagem aqui. – diz, apontando para o quadril. – Conheço a
frase de anos. Mas essa, não faz sentido para mim. – e mostra a
pena em seu bíceps, que fica flexionado.
— Você fez em Londres. – explico. – Disse que queria algo que
eu fosse entender no momento em que colocasse os olhos nela.
— Anjo? – pergunta e confirmo.
— Você sempre me chamou assim. Desde que nos conhecemos.
— Por que eu queria chamar sua atenção com ela? – pergunta
ainda mais confuso. – Esse tempo em Londres, nós estávamos
separados? – sem conseguir dizer em palavras, eu apenas confirmo
com a cabeça. – Tenho a sensação de que o motivo para isso ter
acontecido foi algo grande, que do contrario não teria acontecido. –
diz. – E, depois da nossa conversa durante o almoço, não sei se
quero me lembrar disso.
— É algo que eu tento esquecer até hoje, lindo. – falo. – Eu sei
que é um direito seu saber o que nos separou, mas, acredite, foi
algo que me machucou muito.
— Acredito em você, meu anjo. – ele responde. – E se você esta
dizendo, não quero saber. Sei que isso vai vir com tudo quando
minhas lembranças voltarem. Então apenas me conte o que eu
preciso realmente saber.
Sorrindo, dou alguns passos para perto dele, de maneira a
deixar nossos corpos bem próximos e sorrio contra sua boca.
— Você é louco por sexo comigo, em vários lugares novos e eu
adoro cada uma das experiências que tivemos ao longo desses
meses. – sussurro contra sua boca e ele sorri. – E eu amo muito
você. – e o beijo, sentindo que todo seu corpo reage ao meu toque,
assim como sempre foi.
— Estou me sentindo tentado aqui. – diz e acabo rindo.
— Anda, se veste e vamos jogar Playstation 4 com a Ju.
— Eu tenho um Play 4? – pergunta curioso e faço que sim. –
Nossa! Eu já estou indo agora mesmo! – e faz menção de sair do
quarto do jeito que esta, então eu seguro sua mão, puxando
também a toalha do seu quadril, deixando meu melhor amigo todo
livre e pronto. Os vinte centímetros que mais me deixam louca.
— Acho melhor você vestir uma roupa, amor. – provoco,
segurando o pequeno And e ele sorri.
— E se eu tirar a sua? – pergunta com voz rouca, segurando
meus braços e nos leva até a cama, onde acabamos fazendo amor
bem gostoso, voltando para a sala somente meia hora depois e vejo
que Felipe já está ali sentado, jogando com Julie.
Capítulo Treze
Segunda-feira
Andrew
Esquecido, vazio.
Não saber direito quem sou, o que faço ou para onde vou, é uma
droga. Dei-me conta disto nas últimas vinte e quatro horas em que
tenho tentado lembrar-me de coisas que me foram tiradas a força.
Lembranças, momentos e histórias que vivi com pessoas que sei
que amo, porque sinto. Mas, na minha cabeça, tenho apenas um
grande vazio. Pontas soltas que tentam a todo custo se unir a sua
outra metade. E eu quero, mais do que tudo, lembrar. A cada
segundo que penso, imagino o que posso ter perdido.
Quando acordei ontem, não sabia que tinha uma namorada. Não
fazia ideia de que tinha uma noiva. Não tinha a menor noção de que
teria dois filhos, gêmeos. E eu tento traze-los de volta para mim,
porque sinto falta deles. De todos eles.
Não conheço as histórias que vivi com meus amigos e menos
ainda com meu melhor amigo. Não conheço as histórias que vivi
com a mulher que amo. E eu quero, preciso tê-los de volta. Porque
é uma tortura não saber.
Tem aquele poema do Paulo Leminski que diz:
◆◆◆
Luara
Aproveitando que Andrew esta descansando depois de termos
preparado todo o jantar, após dois dias e meio, eu vou até meu
apartamento para tomar um banho e descansar um pouco antes de
finalmente conhecer meus sogros.
Estou cansada por toda a correria que o dia foi para mim hoje,
mas feliz por ver meu lindo começando a se lembrar das coisas. E,
para minha sorte, ganhei um atestado de dois dias para poder ficar
em casa com ele, para não deixa-lo sozinho. Ainda que amanhã
Lucy venha para cuidar da casa, mas não quero deixar ele perdido
assim.
— Lar doce lar. – digo assim que entro no meu apartamento,
sentindo o cheirinho de limpeza que manteve praticamente desde
sexta de manhã.
Coloco meu notebook em cima da mesinha de centro e vou até a
lavanderia para deixar a roupa para lavar amanhã cedo, indo logo
em seguida ao meu quarto, onde vejo que algo está extremamente
errado assim que abro a porta.
— Ele não fez isso. – digo e acendo a luz. – Ah, ele fez, sim! –
rio, cobrindo a boca com as mãos. – Deus do céu, o que eu fiz para
merecer esse homem? – pergunto, olhando para o teto. A risada
que me escapa é algo que não sou nem mesmo capaz de descrever
o que sinto.
Minha cama, que é uma King Exagero Size, esta todinha coberta
por brinquedos. Carrinhos, hominhos, caminhões, jogos de tudo
quanto é tipo e muuuuuuuuitoooooosss bichinhos de pelúcia! São
ursinhos de tudo quanto é tamanho. São tantos, que só consigo me
perguntar em como Andrew conseguiu colocar tudo isso aqui sem
eu nem mesmo ter me dado conta.
Julie.
O nome da minha amiga vem solto na minha cabeça, matando a
charada e tenho certeza de que estou certa.
Emocionada, rindo feito uma boba e quase chorando, eu me jogo
na cama, pegando o primeiro que ele me deu. Meu ursinho favorito
desde que ganhei o B1 da minha avó, quando tinha três anos. Eu o
abraço forte e algumas lágrimas me escapam.
Está tudo tão cheirosinho, que não tenho nem vontade de sair
daqui mais.
Abraçada com o Sr. Ursinho, deito com a cabeça em um que é
bem grandão e pego o celular no bolso, tirando uma foto de mim
mesma, mandando para Ju, minha mãe e Cami e, é claro, And, que
coloco como legenda: Amo você.
Não leva nem mesmo um minuto para que Julie responda,
entregando que foi cumprisse de mais essa armação:
Meu Deeeeeeeeus!
Eu estava louca para ver sua cara quando descobrisse!
Cuidado para não se perder ai ou ser comida por algum urso,
amiga hahahaha’
◆◆◆
Andrew
— And? – ouço Luara me chamar assim que sento na cama,
ainda enrolado na toalha. – Esta tudo bem? – pergunta, sentando ao
meu lado.
— Estou. – respondo. – O banho me ajudou um pouco. As
coisas estão mais claras agora.
— Trouxe uma dipirona para você. – diz, entregando-me o
comprimido.
— Obrigado.
— Você se lembrou de tudo? – pergunta e confirmo.
— Eu já estava com alguns lapsos ao longo do dia. Mas agora,
cada lacuna, cada ponta, tudo esta fechado.
Vejo o sorriso em seu rosto, mas é sua pergunta que me faz
sorrir de volta.
— Onde nos encontramos a primeira vez?
— Em uma festa da sua turma em São Paulo, na qual entrei de
penetra. – respondo. – A segunda foi aqui no Rio. Eu te abordei na
praia por causa da sua camisa da Clarice e caminhamos juntos.
Depois, nosso reencontro, foi na reunião mensal. Você deu um grito
quando me viu na frente do elevador. – ela ri, ficando vermelha.
— Você se lembra! – exclama, dando-me um abraço apertado. –
Graças a Deus, meu amor! Eu sabia que não era nada sério.
— Você cuidou de mim. – digo, colocando seu cabelo atrás da
orelha e ela sorri. – É melhor eu me vestir ou mais alguém vem
atrás de nós e não quero ser pego por minha avó com a bunda de
fora outra vez, porque agora vou estar realmente fazendo algo que
vai fazer a velha enfartar.
— Andrew! – ela exclama com censura, embora ria. – Estou feliz
por ver que você esta bem.
— Eu também. – respondo, pousando um beijo em sua testa e
viro para poder me vestir. – Apreciando a visão? – pergunto,
vestindo a calça. Seu olhar fixo em mim.
— Muito. – sorri. – O pequeno And me parece tão solitário ai
dentro. – diz e sorrio em resposta. – Alô? – diz agora ao telefone. –
Ah! Oi, Douglas!
Douglas? Douglas Lewis? O que esse cara esta querendo com
minha garota agora?
— Não tem problemas. – ela sorri. – Tenho sim.
Seguro a camisa no meio do caminho, encarando-a. O medo
parece até estar estampado na minha cara, porque ela fica séria de
repente.
— Eu não posso aceitar. – diz sem rodeios. – Agradeço muito a
oportunidade que o senhor me ofereceu, mas... Deixar São Paulo e
minha família há poucas horas daqui parece pouco, mas para mim é
muito. E... Agora eu tenho mais do que isso. – ela sorri. – Eu vou me
casar.
Desta vez quem sorri sou eu. Ela escolheu a mim! Estou radiante
e me segurando para não ir agora até ela e beija-la.
— Obrigada. Direi sim. – sorri, ouvindo o que ele tem a dizer. –
Obrigada mais uma vez e desculpa ter feito o senhor esperar tanto
tempo só para ouvir isso.
Os dois conversam por mais poucos minutos, então desligam.
Termino de vestir a camisa e a alcanço em dois passos, abraçando-
a forte. Não consigo expressar em palavras o que estou sentindo
agora.
— Por que ele demorou tanto para ligar de volta? – pergunto,
voltando a me arrumar.
— Disse que estava fora do país e que por isso não conseguiu
me ligar antes. – responde.
— O importante é que agora ele desencana da minha garota e
posso esfregar na cara de todo mundo que estou noivo de uma
mulher tão linda e que me ama tanto. – digo, envolvendo seu quadril
em meus braços e a tiro do chão, arrancando dela um gritinho
divertido.
◆◆◆
Luara
— Estava tudo maravilhoso, Lu. – Lilian elogia o jantar, sentando
no braço da poltrona na qual o marido está. – Posso te chamar
assim?
— Claro. – sorrio em resposta. – Agradeça seu filho. Foi ele
quem teve a ideia e fez a maior parte do trabalho.
— Ela esta sendo modesta, mãe. – Andrew diz, passando o
braço por meu ombro. – Lu é uma excelente cozinheira e fez a
maior parte do trabalho pesado.
Olho para ele, que pisca para mim. Tudo o que fiz foi
acompanha-lo no mercado e na feira e ajudar com algumas coisas
mais simples. Acho que ainda vão duas ou três vezes para que eu
consiga realmente preparar um jantar mexicano sozinha, como ele
está insinuando.
— Na verdade, o melhor aqui é o churros. – Felipe interfere,
sentando no chão com seu... Já nem sei mais qual o número de
churros que ele comeu.
— Onde está sua nova namorada, Felipe? – Dona Anna
pergunta a ele, que olha para mim. – Achei que fossemos conhecê-
la hoje.
— Ela é sua irmã. Não é, Lu? – Lilian pergunta.
— Consideravelmente, sim. – respondo. – Nos conhecemos com
uns onze ou doze anos e não nos separamos desde então.
— Não enrola, Felipe! – And o provoca. – Onde está sua
namorada?
— Há essas horas em Campinas, provavelmente descansando
depois de um longo dia de trabalho em uma grande obra e se
tornando uma arquiteta renomada. – ele responde todo cheio de si e
de orgulho. – Irei a São Paulo visita-la na sexta-feira. – diz, levando
as duas mãos ao coração, fazendo cara de abandonado. O que
apenas nos faz rir, mas funciona com Dona Anna.
— Esses amores que vivem longe matam de saudade. – diz,
toda apaixonada. – Depois matam a saudade.
Quando ela diz isso, sinto a mão de Andrew apertando meu
ombro e a beijo disfarçadamente, segurando seus dedos.
— Ou matamos a saudade, ou a saudade nos mata. – sussurra
em meu ouvido e sorrio, concordando.
— “Ou matamos a saudade, ou a saudade nos mata”, Anna,
minha querida. – Seu Otto a corrige e ela mostra a língua para ele,
fazendo-me rir. – Você é uma ingrata.
— E você esta um velho chato hoje. – ela retruca e ele a aperta
no quadril, fazendo com que ela ria. Eles são tão fofos!
— Você falou com ela hoje? – pergunto ao Felipe, enquanto os
dois continuam com sua brincadeira.
— Sim. – responde. – Acho que umas três vezes. – arqueio as
sobrancelhas quando diz isto. – Duas delas, a Ju ligou errado,
segundo ela. – ele sorri. – Ela estava bem nervosa com o trabalho
novo.
— Ela fez isso comigo também. – concordo. – Estava tentando
ligar pro Alex e confundiu o número. Também segundo ela. – Felipe
ri com meu último comentário. – Ju pode parecer toda durona na
queda, mas é uma garotinha que agora está longe de todo mundo
que mais ama, em um lugar que foi pouquíssimas vezes.
— Percebi isso das vezes que liguei e pelo pouco que pude
notar durante esses dias que tivemos. – ele concorda. – Gosto que
ela seja assim. Julie é toda independente e forte, mas ao mesmo
tempo frágil. É uma guerreira lutando por algo, não a princesinha.
AH MEU DEUS DO CÉU! ELE ACABOU DE FALAR COMO UM
HOMEM APAIXONADO! AAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHH! Meu
Deus! Andrew e ele são duas peças raras nesse mundo e estão
bem comigo e com Julie!
Entro em uma conversa paralela com Felipe sobre a Ju,
arquitetura e vários outros assuntos, enquanto And conversa com os
pais e os avós, até que a sala fica em completo silêncio com o
comentário de Anna:
— Adorei sua aliança, Lu. – diz assim, de repente, e chego a
ouvir as formiguinhas andando no chão, lá no parquinho, de tão
constrangedor que é o momento. – A sua também, And.
Congelo no mesmo lugar e acho que nem respiro mais de tão
tensa que estou.
Sinto os olhares em nós dois e o ar de risada na cara do Felipe e
vontade de xingar ele.
— São lindas, né? – And pergunta, erguendo nossas mãos
entrelaçadas, olhando o par de alianças. – Fiz o pedido na semana
passada, enquanto estávamos em Goiânia, logo depois que a Lu me
contou que estava grávida de gêmeos.
PRONTO! Agora posso até ouvir o barulhinho da pressão saindo
dos meus ouvidos de tão envergonhada que estou.
O que rola a seguir é o seguinte:
Um coro de:
— AH MEU DEUS!
Seguido por:
— PARABÉNS!
Que segue pela risada que Felipe dá e murmuro um belo: “Um
dia vai ser você, seu cretino! E eu espero estar presente para rir da
sua cara!”, onde a resposta dele é: “Espero que você esteja certa.
Sou louco por isso”. O que me faz sorrir cheia de orgulho, sabendo
que minha irmã não vai se machucar com ele, por querem coisas
diferentes.
— Por que vocês não falaram nada a noite toda? – Lilian
pergunta, dando um abraço coletivo em And e em mim. – Estou tão
feliz por isso! Com o noivado e meus netinhos, é claro. – completa,
dando um beijo em nosso rosto e toca minha barriga, dando “Olá!”
aos meus pequenos, que continuam quietos desde domingo.
— O motivo do jantar era outro, mãe. – And a responde, também
beijando seu rosto.
Depois de Lilian, vem Dona Anna, Seu Otto, Victório e por último
Felipe, que mantém em segredo o pedido de sábado à noite.
— Cuida dela. – sussurro em seu ouvido quando me abraça.
— Pode apostar que eu vou e muito bem, cunhadinha. – diz,
fazendo-me rir. – Mas se me dão licença, preciso de outro churros,
porque isso tá muito bom!
— Trás pra mim! – peço e ele faz sinal de joia, indo até a
cozinha.
— Felipe parece gostar bastante da coisa grande que tem
recheio no meio e vaza pela ponta. – And sussurra em meu ouvido e
sinto um calafrio percorrer todo meu corpo. Apertando a mão em
sua coxa, respondo:
— Não tanto quanto eu, amor. – e o beijo, ignorando totalmente
o fato de que não estamos aqui sozinhos.
— Gosto assim. Sem vergonha mesmo. – diz baixinho, dando
um beijo em minha testa e sorrio. Sinto-me feliz e acolhida com sua
família. O que acaba me fazendo sentir ainda mais saudades da
minha.
◆◆◆
Andrew
Luara está deitada em meu colo, agarrada ao Sr. Ursinho (nome
carinhoso que deu ao ursinho que dei a ela.), já dormindo.
— Você devia levá-la para a cama, filho. – minha mãe diz
quando começo a passar a mão por seus cabelos.
— Eu vou. – sorrio em resposta.
— É melhor nós irmos andando também. – Victor diz. – Ou terei
que levar meus pais pra cama também.
— Estou acordado! – meu avô diz, virando para acordar minha
vó, que acabou cochilando em seu ombro enquanto
conversávamos.
Já faz um bom tempo que não tenho todos eles aqui assim,
reunidos. Tempo mais do que gosto de admitir e me pergunto o
porquê de ter permitido que isso acontecesse. Talvez tenha sido
meu temperamento irresponsável e a vida de futilidades que levava
até pouco tempo. Mas agora quero mudar isso e tantas outras
coisas em minha vida!
— Eu os acompanho até a porta. – falo quando todos se
levantam e pego um urso grandão para colocar no meu lugar e a Lu
o abraça, apertando o Sr. Ursinho.
— Ela parece gostar desse menor. – minha mãe observa e
sorrio.
— Eu o dei a ela quando me contou que estava grávida.
Acompanho todos até o elevador, despedindo-me com um
abraço em cada e com a promessa de ir com Luara até a mansão,
para passarmos o dia com eles. Depois vou conferir o apartamento
dela e acabo descobrindo que ele esteve aberto esse tempo todo e
sei que ela se esqueceu de voltar para trancar porque ficou
preocupada comigo. O que me deixa mal por tê-la assustado com o
grito que dei, chamando-a.
Entro e confiro se tudo esta no lugar, trancando cada uma das
fechaduras antes de voltar para o meu.
— Hora de ir dormir na cama, anjo. – digo, tomando-a em meu
colo e o ursinho vem junto.
— Eu já estou na minha caminha gostosinha. – ela resmunga
com a voz cheia de dengo, passando o braço por meu pescoço e
sinto quando sorri contra meu pescoço.
— Você está muito cansada. – falo. – Precisa dormir em uma
cama melhor de que essa para estar bem disposta amanhã e, quem
sabe, possamos compensar todo esse tempo perdido.
— Hmmmmm... – murmura quando a coloco na cama. – Não
quero ir para o trabalho amanhã. – resmunga, abraçando o ursinho
forte.
— Não vá. – respondo. – Você já entregou um atestado de dois
dias, para ficar cuidando de mim. – digo as palavras enquanto tiro
minha roupa, ficando apenas de cueca. Quando deito ao seu lado,
ela me abraça forte.
— Amo você, anjo. – diz em um sussurro rouco e sonolento.
— Também amo você, meu anjo. – respondo, pousando um beijo
em sua testa e outro em seus lábios, mas ela já adormeceu por
completo e não demoro a fazer o mesmo.
Para minha sorte, durmo a noite toda, sem nenhum sonho ruim
como o que tive antes. Mas também, agora estou com todas minhas
lembranças em seu devido lugar e com minha mulher ao meu lado,
onde pretendo que continue sempre. Só preciso leva-la a São Paulo
para conversarmos com seus pais e convencê-la a aceitar vir morar
comigo e derrubarmos essa parede que divide nossos
apartamentos.
Capítulo Quatorze
Sexta-feira
Luara
É tardezinha de sexta-feira e faz um calor terrível. Um calor tão
forte que é capaz de me deixar levemente indisposta, apesar do ar
condicionado aqui em minha sala. Minha sorte é que não tenho
nenhum tipo de reunião agora à tarde, o que me deixa livre para
apenas terminar meu relatório dessa semana e ir supervisionar os
meninos aqui do setor. O que logo termino e saio para ir pegar um
suco lá na lanchonete, onde camuflarei no meu lindo copo de café,
que nunca viu café na vida.
— Boa tarde, Lu. – Isabeli me cumprimenta logo que chego.
— Oi! – eu a cumprimento de volta. – Tempo de folga? –
pergunto e ela ri.
— Mais ou menos. Não to mais nem aguentando esse calor que
tá fazendo hoje. – responde. – Vim pegar um sorvete antes de me
enfiar naquela sala de novo. Nem o ar condicionado tá aguentando
mais.
— Tá cruel mesmo. – tenho que concordar. – Me vê um suco de
laranja, por favor. – peço à Cristina, que é a moça que esta
trabalhando agora de tarde e lhe entrego meu copo.
— Você esta com tempo agora? – Isa pergunta e confirmo. –
Quer descer comigo para pegar seu livro? Eu já terminei de ler.
— Claro! Só me deixa pegar meu suco, porque estou doida por
ele. – peço.
— Seu suco, Lu. – Cristina volta com meu copo e o sorvete de
Isabeli. – E os chocolates deixaram pago para você no almoço. – diz
e franzo o cenho.
— Quem foi? – pergunto curiosa, aceitando os cinco bombons
Serenata de Amor que ela me oferece.
— Ele disse para te entregar isso também. – diz em resposta e
me estende um pequeno papel dobrado, onde vejo a inicial de And
gravada em dourado.
— “Para o meu Anjo e meu amor. A” – leio em voz alta e sinto
meu coração acelerar dentro do peito. – Ah! – solto um gritinho. –
Que lindo! – sorrio, sentindo-me completamente boba. – Meu
namorado não é lindo?
— Acho que esta apaixonada, Lu. – Isa diz e Cristina ri.
— Eu sou apaixonada por ele. – corrijo. – Anda, vamos lá logo
que preciso agradecer pelos mimos que meu lindo me deu. – digo,
agarrando seu braço. – Obrigada, Cris!
— Por nada. – ela sorri em resposta e seguimos para o elevador,
onde descemos os lances necessários até o décimo quinto andar,
que é onde ela trabalha.
— Odeio elevador. – murmuro logo que saio e sinto uma tontura
enorme e minha visão escurece. – Isa. – chamo, agarrando seu
braço quando sinto que vou cair.
— Você esta bem? – ela pergunta preocupada e eu nego.
— Me deu tontura. – respondo, tentando olhar mais para longe e
vejo dois corpos indefinidos caminhando em nossa direção. – Tá
tudo girando. – digo e sinto suas duas mãos me agarrando bem
quando solto tudo o que seguro.
— Lu! – ela grita e não sinto mais nada.
◆◆◆
Andrew
— Ana, ligue para Marcia e diga que não haverá mais negócio
algum entre a BIT e o escritório dela. – digo irritado quando saímos
da sala de reuniões aqui no décimo quinto andar. – Com toda a
enrolação que tem sido nos últimos meses, não acho que será algo
bom para nós.
— Conversei com ela hoje mais cedo. – diz e olho em sua
direção, esperando para que prossiga. – Ela disse que se o senhor
não for para Porto Alegre hoje, ela é quem não ira mais querer
sociedade.
Ao ouvir suas palavras, tudo o que consigo fazer é rir. Depois de
meses, anos, de pura insistência para que ela permitisse que eu
tomasse o nome de seu escritório para salvar o que eles têm, agora
ela quer me pressionar? Tenha paciência também. Essa mulher não
sabe gerir negócio algum e me surpreende que ainda não tenham
ido à falência.
— Não vou depender de ninguém para expandir meus negócios.
– digo. – Pedirei para que alguém vá até lá e me encontre um lugar
que tenha mais responsabilidades. Alguém que queira realmente
crescer no mercado, não que passe a vida preso nos anos setenta.
— Sim, senhor.
Assim que chegamos ao final do corredor, vejo duas garotas
paradas bem na frente do elevador. Uma delas, Isabeli, trabalha
aqui no andar e esta apoiando a outra, que faz meu coração
disparar contra o peito. É Luara.
Meu anjo está pálido, então acelero os passos para chegar até
elas logo e vejo tudo ir ao chão, seguido de seu apelido:
— Lu! – Isabeli chama e corro até lá para ajudar, deixando Ana
para trás.
— Anjo! – exclamo, tomando-a para mim quando Isabeli
cambaleia contra a parede, não aguentando seu peso. – Ei! –
chamo baixinho e seguro sua cabeça.
— Obrigada. – Isabeli diz e olho para ela assim que sento no
chão com minha garota.
— O que aconteceu? – pergunto preocupado.
— Ela disse que estava com tontura e que tudo estava girando. –
explica e sinto o medo tomar pose de mim.
— Deve ser o calor. – ouço Ana dizer, abaixando para pegar tudo
do chão. – Está muito abafado e mais ainda no elevador.
— Sim. – Isabeli concorda. – A Lu falou algo sobre não gostar de
elevador logo que saímos.
Paro de prestar atenção nas duas, acariciando o rosto da minha
menina, que esta mole em meus braços.
— Anjo. – chamo. – Acorda minha linda. – tiro seu cabelo do
rosto e pouso um beijo em sua testa, mas ela não acorda. – O
médico esta na enfermaria? – pergunto as duas, que me olham
preocupadas.
— Sim, senhor. – respondem ao mesmo tempo e passo o braço
pela cintura de Luara e o outro por seu pescoço, tirando-a do chão.
— Peça para que alguém limpe isso antes que alguém se
machuque. – digo, virando-me para chamar o elevador. – O que for
dela, deixe na minha sala.
— Sim, senhor. – Ana responde e o elevador chega, então entro
com ela em meus braços.
Sinto o medo tomar pose de mim e faço uma oração silenciosa
para que seu mal-estar seja apenas resultado do calor que esta
muito forte hoje, não algo com ela ou nossos filhos. Eu não sei o
que fazer se for algo com eles.
O elevador para e saio com ela ainda desacordada em meus
braços, levando-a até a enfermaria, onde sou recebido pelo médico.
— O que aconteceu? – ele pergunta assim que entro.
— Espero que apenas um mal-estar pelo calor. – respondo e ele
me indica a pequena cama para que possa coloca-la. – Anjo, por
favor. – sussurro, passando a mão por seu rosto e ela se meche,
mas não parece disposta a acordar.
— Deixe-me examina-la. – Dr. Lucas pede e afasto para que ele
possa tirar sua pressão e alguns outros procedimentos básicos.
Enquanto espero, ando de um lado a outro, impaciente. Não faz
isso comigo, anjo. Por favor.
Passo as mãos pelos cabelos bem quando ouço as palavras do
médico chegarem até mim:
— Ela esta acordando. – fecho os olhos, um pouco aliviado.
Graças a Deus.
◆◆◆
Luara
Sinto pares de mãos em cima de mim e vozes, mas uma em
particular chama minha atenção quando abro os olhos.
— Anjo. – é tudo o que diz e sorrio ao reconhecer a voz do meu
lindo. – Que bom que você esta bem, linda. – ele diz, dando um
beijo em meu rosto e sorrio.
— Onde estou? – pergunto, olhando ao redor.
— Na enfermaria. Você desmaiou.
— Sua pressão estava nove por oito. – um homem diz atrás de
Andrew e franzo o cenho. Ele é um médico. Será que ele me trouxe
ao hospital e apaguei por tanto tempo assim? – O bebê esta bem,
mas terei de recomendar repouso pelo restante do dia e pedir para
que comece a se hidratar melhor. Tome bastante água.
Principalmente com o calor.
— Mais? – pergunto com o cenho franzido. Eu já tomo litros de
água todos os dias! Ele concorda. – Ok.
— O que ela teve? – And pergunta e percebo que está
preocupado.
— Foi só a pressão que caiu por conta do calor mesmo. – o
médico responde. – Mas, em uma gravidez, não é bom abusarmos
da sorte. – diz. – Leve-a para casa e descanse. Não há com que se
preocupar.
— Obrigado. – And diz e vira para mim. – Vamos, anjo? –
pergunta e faço que sim, permitindo que me ajude a sentar. –
Consegue andar?
— Estou bem, lindo. – sorrio e ele passa o braço por meu
quadril, ajudando a me levantar.
— Sobre a gravidez... – ele começa a dizer ao médico, mas ele o
interrompe.
— Fique tranquilo. Luara é uma paciente e isso diz respeito
apenas a vocês, não a mim.
— Vamos para casa, minha linda. – diz agora para mim, dando
um beijo em meu rosto. – Vou tirar esses dias para cuidar bastante
de vocês.
Sorrio para ele, apoiando a cabeça em seu ombro e caminhamos
até o elevador.
— Vamos descer direto e peço para que Ana traga suas coisas.
– diz e apenas concordo, também o abraçando. – Tudo bem? –
pergunta.
— Só estou cansada. – sussurro em resposta e ele beija meu
cabelo.
— Você me deu um susto e tanto, Anjo. – diz. – Estou com uma
ideia. Só vou precisar fazer uma ligação quando chegarmos em
casa para ver se consigo isso.
— O que é? – pergunto curiosa e tudo o que faz é piscar para
mim.
— Na hora certa você vai saber.
***
Andrew
— Linda, seu celular. – Luara diz assim que entramos em meu
apartamento e fecho a porta antes de pegar o celular no bolso para
ver quem é.
— Sua mãe. – digo com o cenho franzido e atendo. Eu ia ligar
para ela quando chegássemos, mas isso é novo para mim. –
Andrew. – digo.
— Andrew, oi! – Elizabeth diz do outro lado da linha. – Desculpa
te ligar a essas horas, mas é que estou tentando falar com minha
filha e ela não atende o celular.
— O celular. – sussurro para Luara e ela o pega em sua bolsa.
— Três chamadas da minha mãe. – sussurra de volta.
— Estava na bolsa dela. – informo.
— Ela esta bem, então? – pergunta preocupada. – Tive uma
sensação estranha e ela não atendia ao telefone. Fiquei
preocupada.
— Lu teve um pequeno mal-estar agora à tarde, mas esta tudo
bem sim. – respondo. – Fique tranquila.
— Ai, graças a Deus. – diz. – Ela esta por ai? Posso falar com
ela?
— Claro. – respondo. – Eu só... Eu ia ligar para a senhora assim
que chegássemos e a senhora antecipou isso.
— Menino, não faz isso comigo depois do susto que tomei pela
minha filha não me atender! – exclama e acabo rindo.
— Luara e os gêmeos estão bem. – reforço e estendo a mão
para Luara, trazendo-a para perto de mim e ela senta em meu colo,
no sofá. – Nós estávamos com planos de ir a São Paulo para
conversarmos sobre isso e outro assunto. – vou direto ao ponto. –
Mas como ela passou mal e o médico pediu repouso, pensei que
talvez a senhora, Ricardo, Camile e Thomas gostariam de vir passar
o final de semana aqui conosco. – digo e Luara me olha, surpresa
ou espantada. Não consigo decifrar.
— Eu estava mesmo conversando com o Rick essa semana
sobre isso. – diz. – Para conversarmos sobre a teimosia dele sobre
nossos netos e também porque é nossa filha. Ele não pode
simplesmente virar as costas para ela assim.
Quando Elizabeth diz isto, percebo que Luara morde os lábios e
desvia a atenção para outro lado. Ela ouviu, é claro. E isso a
incomoda. Percebo isso todas as noites, quando fica mais afastada
de mim e chora em silêncio. O que é mais um motivo para eu querer
resolver esse assunto de uma vez por todas, porque não aguento
mais vê-la sofrendo por isso. Essa deveria ter sido minha maior
prioridade desde que voltei de Londres, mas tantas coisas
aconteceram que acabou passando.
— E o que ele respondeu sobre? – pergunto, tocando o queixo
de Luara e ela olha para mim com um sorriso fraco.
— Que iria quando você ligasse. – diz e acabo rindo.
— Que bom! – exclamo. – Eu ia fazer justamente isso, mas
como disse: a senhora antecipou isso. Converse com ele e me
confirme isso. – peço. – Vou ligar para minha secretária e pedir para
que compre as passagens para que possam vir amanhã pela manhã
e ela manda no e-mail da Camile.
— Eu vou falar é por mim aqui. – Elizabeth diz séria. – Pode
fazer isso que, Ricardo querendo ou não, irei com meus filhos ver
minha filha. Se ele não quiser, azar.
— Não quero causar desentendimentos, por favor. – digo
— Não ira.
— Vou confirmar com ela então. – respondo. – Vou passar pra
Lu.
— Tá bem. Obrigada, Andrew.
— Obrigado eu. – digo em resposta, entregando o celular para
Luara e dou um beijo em seus lábios. – Vou usar o seu para ligar
pra Ana. – sussurro e concorda, sentando no sofá e levanto.
— Oi, mãe. – diz agora ao telefone e disco o número de Ana
enquanto elas conversam. Desse final de semana, essa conversa
não passa.
◆◆◆
Luara
Estou feliz como não estive em vários dias. Conversei com
minha mãe e ela me disse que meu pai esta finalmente caindo em si
a respeito dos meus pequenos e que aceitou vir para cá amanhã,
para passar o final de semana conosco. E eu me sinto nervosa e
feliz ao mesmo tempo.
Nervosa porque sei que muito provavelmente a conversa entre
meu pai e Andrew pode acabar em discussão e não quero que isso
aconteça entre os dois homens que mais amo e os que mais são
importantes na minha vida. Feliz porque vou poder passar um tempo
com minha família, na minha nova cidade, apresentando tudo a
eles, como quis fazer desde que me mudei. Estou tão feliz que
penso até mesmo em ligar pra Ju e convida-la a vir para cá também,
mas não faço porque sei que há essas horas já esta com Felipe e
que os dois precisam matar a saudade da semana e aproveitar ao
máximo.
— Você parece feliz. – And diz, deitando ao meu lado na cama e
sorrio para ele.
— Eu me sinto assim. – digo em resposta, deitando em seu
peito. – Obrigada por fazer isso por mim. – digo e beijo seu peito,
sorrindo para ele.
— Meu Anjo – diz. –, eu não fiz mais do que meu dever. Já não
aguentava mais ver você tristinha pelos cantos e tudo o que mais
quero é que você seja feliz comigo. Não quero nunca que se afaste
da sua família como tem feito. Muito pelo contrário. Quero que eles
estejam presentes no nosso casamento, no nosso jantar de noivado,
no batizado dos nossos filhos e em muitos outros momentos que
teremos.
Ele faz uma pausa e olho para ele por cima dos óculos, sorrindo.
— Além de que – volta a falar. –, quero a benção dos seus pais
quanto ao nosso noivado. E tem mais uma coisa que quero te pedir,
mas não vai ser agora.
— Andrew e sua mania de fazer mistério para tudo. – resmungo,
embora sorria. – Será que essa de repouso envolve sexo também?
– pergunto e ele arqueia a sobrancelha, sorrindo para mim. – Estou
com desejo.
— É? – pergunta e faço que sim. – E qual é esse desejo? –
pergunta agora curioso.
— Desejo do meu pequeno And. – respondo, tocando o volume
em sua bermuda, acariciando-o de vagar. – E eu sou uma mulher
grávida.
— E eu achando que teríamos essa noite para só assistirmos.
Mas você me vem pedindo sexo! – ele diz como se estivesse
indignado, mas vejo o desejo em seu rosto. – E eu não posso negar
isso para minha noiva, quando ela me pede de uma forma tão
gostosa. – sorrio com suas palavras e subo em seu colo, ficando em
cima do pequeno And.
— Só uma vez e prometo que poderemos terminar de assistir
essa temporada de How I Met Your Mother. – digo, correndo as
unhas por sua barriga e ele fecha os olhos.
— Até parece que vou querer voltar a assistir depois de uma vez.
– diz, abraçando meu quadril e me joga contra a cama, ficando em
cima de mim e me beija de vagar, tirando minha roupa e fazemos
amor, sem pressa alguma.
E, é claro, não voltamos a assistir seriado algum, porque a noite
era longe e tínhamos muito que aproveitar.
— Eu amo você, anjo. – sussurro quase adormecendo e And
aperta o braço em minhas costas, pousando um beijo em meu peito.
Em resposta eu o abraço, mantendo-o ali, entre meus seios, onde
sei que gosta de ficar um bom tempo.
— E eu a você, meu anjo. – sussurra de volta, tocando minha
barriga e penso sentir algo, mas acabo apagando, entregue a um
sono que toma conta de mim por todo o restante da noite.
Capítulo Quinze
Sábado
Andrew
◆◆◆
Luara
Estamos no aeroporto há quase vinte minutos, esperando até
que o voo que vem de São Paulo com minha família chegue. E eu
me sinto tão ansiosa por isso que não consigo nem mesmo ficar
sentada. E And percebeu isso já, porque está bem agarradinho em
mim, com o queixo apoiado ao meu ombro e as mãos em minha
barriga, provavelmente na esperança de conseguir sentir algo. E eu
repouso as minhas sob as dele.
— Você não vai mesmo me dizer o que comprou, Anjo? –
pergunta todo curioso, dando um beijo em meu pescoço.
— Se eu contar estrago a surpresa, amor. – sorrio para ele e o
vejo fazer biquinho.
— Você não quis nem vir no carro comigo só pra não me deixar
saber o que era. – diz com o cenho franzido. – Tudo bem que não
teria como voltar todo mundo no meu, mas... – ele para de falar e
sinto meu estômago embrulhar.
A verdade é que eu tenho pensado muito naquela conversa que
tivemos na fazenda, sobre termos um tipo de relação que ainda não
experimentamos. Algo novo, diga-se assim. Algo que eu estou
ansiosa para ter com ele e com uma pontinha de medo, ainda que
eu tenha mais do que certeza de que ele vai ser todo cuidadoso
comigo.
Fecho os olhos e inspiro fundo, sentindo quando Andrew afunda
o rosto em meu pescoço e beija meu ombro novamente. A verdade
é que comprei em uma lojinha, dizendo que iria a farmácia e saindo
quando ele estava distraído dentro do carro, alguns produtos. Um
gel, preservativo que a moça disse que daria uma sensação boa e
algumas coisinhas a mais. Tudo está muito bem escondido na
minha bolsa e só preciso tomar cuidado para que ele não veja.
— Vem cá. – And chama, segurando minha mão e me leva até
uma fileira de bancos, onde se senta. Eu fico de pé entre suas
pernas e ele coloca as mãos em minha cintura. – A mamãe está
ansiosa, meus amores. – ouço sua voz sussurrada para minha
barriga e olho para baixo. – Ela está nervosa para ver a vovó, o
vovô, a titia e titio. E acho que o papai também esta assim. – diz
ainda mais baixo e sorrio, enlaçando seu pescoço em um abraço.
— Estou mesmo. – admito. – Faz tanto tempo que não vejo
nenhum deles já. E eu nem sei como meu pai vai estar. Só... Tentem
não brigar. Por favor.
— Anjo. – ele chama, mas não diz nada. Ao invés disso, apenas
segura as mãos em minha barriga e a beija asso, do nada. E isso
me faz sorrir como a boba que tenho sido nos últimos dias.
Mesmo que eles não mexam, imagino que possam sentir o
mesmo que eu, porque é lindo.
— Lindo. – sussurro e Andrew ergue o olhar para mim com um
sorriso torto e lindo.
— Estou louco para poder brincar com nossos dois lindos logo. –
diz e seguro seu rosto em minhas mãos, pousando um beijo
apaixonado em sua boca e o faço com calma, sem importar á
mínima para o número de pessoas aqui.
— Eu também estou louca por isso. – sussurro contra sua boca.
— TATA! – ouço as duas vozes chamarem ao mesmo tempo e
And pousa um beijo no canto da minha boca antes de me permitir
afastar para ver as duas pessoas que tanto amo, correndo em
minha direção e os envolvo em um abraço apertado, vendo meus
pais logo atrás deles.
— Que saudades, Tata! – Tommy diz e beijo seu rosto, dando
outro em Cami.
— Muita. – concordo e aperto os dois. – Oi. – digo aos meus
pais, dando um abraço e um beijo em cada um. Meu pai parece um
pouco diferente do que estava na última vez que o vi.
— Como esta, querida? – minha mãe pergunta, envolvendo-me
em um abraço apertado. – Fiquei preocupada quando Andrew disse
que você passou mal ontem.
— Foi só o calor. Não foi nada.
— Graças a Deus não é nada com meus dois netinhos. – diz e
toca minha barriga, arrancando um sorriso bobo de mim.
— Tudo o que eles fazem é crescer a cada dia e fazer a Lu ou
ficar enjoada, ou um amorzinho ou querer matar todo mundo que
aparecer na frente dela. Mas até que essa semana ela estava mais
no modo “amorzinho” de que “assassina”. – Andrew diz e olho para
ele, que sorri para mim. – Ou pelo menos esteve assim comigo.
Faço uma careta para ele e todo mundo ri.
— Claro que vou ser assim com você, lindo. – digo. – Afinal, é
você quem tem que sair de noite para comprar as coisas para mim.
— Ela saiu exatamente a você, Lizi. – meu pai diz e nós duas
olhamos para ele boquiabertas. Minha mãe segurando para não
falar algo.
◆◆◆
Andrew
— O que vocês acham de irmos almoçar em algum restaurante
em Copacabana? – pergunto um pouco perdido, em parte porque
estou com fome, já que não tomamos café da manhã. – Tem um
bom não muito longe de onde moramos.
— Eu super aprovo a ideia. – Camile concorda de imediato e
acaba que todo mundo faz o mesmo.
Os três irmãos saem na frente, andando abraçados, enquanto
fico mais para trás, ajudando com as malas.
— Andrew. – Ricardo chama e sinto um calafrio percorrer a
espinha.
— Sim?
— Rick, aqui não. – Elizabeth pede ao marido e arqueio a
sobrancelha.
— Desculpa por ter feito que vocês pensassem que eu não
assumiria minha parte como pai. – antecipo. – Eu... Em algum
momento posso ter sentido medo quanto a ter um filho quando
Luara me contou que estava grávida, mas eu nunca considerei a
ideia de negar. A alegria que senti quando toquei sua barriga à
primeira vez, quando me contou que teríamos gêmeos e mais ainda
quando sentimos junto aquele pequeno movimento... Eu não sei
descrever.
— Apenas cuide da minha princesa. – Ricardo diz. – Luara é a
joia mais preciosa que tenho na minha vida e não quero, de maneira
alguma, vê-la infeliz.
— Isso é tudo o que não pretendo fazer por ela. – digo em
resposta e ele apenas concorda, dando fim ao assunto.
— Vocês! Vamos logo! – meu anjo nos chama, vindo até nós
novamente. – O que houve? – pergunta preocupada.
— Só estávamos falando sobre a viagem. – digo de improviso e
sei que ela não acredita, mas conversaremos sobre isso depois.
— O senhor ainda gosta de carro esporte, pai?
— Ahn... Sim. – responde com o cenho franzido. – Por quê?
— And tem um Audi R8 ai no estacionamento e disse que está
disposto a deixar o senhor dirigir ele. – olho em sua direção e ela
pisca para mim e consigo ler as palavras em seus lábios: “Você vai
me contar depois o que conversaram.”. Apenas concordo e sorrio.
— Não sei se alguém é tão louco a ponto de fazer algo assim. –
Ricardo diz. – Mas eu adoraria.
— Acho que posso fazer esse sacrifício. – digo bem quando nos
aproximamos da saída do aeroporto e vejo um homem conversando
com Camile. Quem é aquele cara?
— Camile, Thomas. – Luara os chama e os dois correm em
nossa direção. – Quem era? – pergunta e Camile sorri, baixando o
tom de voz para falar com a irmã, mas ainda posso ouvir o que diz.
— Ele me viu quando filmei vocês dois lá no banco e quando o
And beijou sua barriga e me deu o cartão dele, dizendo para ligar se
quisesse ganhar um dinheiro.
Nossa, que cara de pau!
Sem que seus pais percebam muito, aproximo das duas e passo
o braço pela cintura de Luara, como se fosse apenas falar algo com
ela, quando na verdade digo para Camile:
— Espere até de tarde.
— Por quê? – pergunta toda curiosa e dou de ombros, dando um
beijo na minha noiva.
— Talvez você possa tirar mais do que apenas isso. – e pisco
para as duas antes de me afastar. – Se quiser, o carro é seu até o
condomínio, Ricardo. – digo, estendendo a chave do Audi para ele,
que ri.
— Fica para a próxima. – diz. – Não vou arriscar uma criança
dessas sem conhecer o lugar.
— Quando quiser então. – respondo e ele concorda.
Como a cadeirinha que Thomas ainda é obrigado a usar esta no
carro de Luara, ele acabou indo com os pais lá e Camile veio
comigo e Luara, mas não perguntou nada sobre o que comentei há
poucos instantes e menos ainda Lu, que talvez tenha uma suspeita
sobre o que me refiro. Mas já que ela esta com surpresas hoje,
talvez eu possa fazer algo e deixar que Camile espalhe para a
mídia, a noticia sobre nosso noivado. Só preciso antes da benção
dos pais dela e vou conversar com eles logo que voltarmos do
restaurante.
◆◆◆
Luara
O elevador para no vigésimo andar do Golden e é como se eu
sentisse o ar preso dentro de meus pulmões. Não que o almoço
tenha sido tenso ou algo assim, muito pelo contrário, já que ele foi
cheio de conversa e risadas. Inclusive entre meu pai e Andrew.
E ele é o primeiro a falar, assim que a porta do elevador se abre
e a segura.
— Camile, Thomas. – diz, chamando a atenção dos meus irmãos
toda para ele. – Tenho um videogame lá no meu apartamento, que
talvez vocês ainda não tenham experimentado. Não querem subir
para estrear alguns jogos novos? – pergunta, oferecendo a chave
para eles.
— Mas eu tô com sono! – Tommy protesta e sei que é verdade.
— Não seja chato, maninho. – Cami ajuda, percebendo o
assunto que And quer tratar. – Vamos jogar um pouco. Você vai
ganhar de mim mesmo.
— Tá bom então! – exclama animado com a vitória já. – Mas
depois eu vou dormir.
— Obrigado. – leio a palavra nos lábios de And quando entrega
a chave para Camile e saio com ele e meus pais do elevador.
— Se vocês forem fuçar em algo lá em cima e acabarem
encontrando um quarto todo cheio de ursos de pelúcia e mais um
monte, não estranhem. – digo e sorrio para And, que me encara
com um sorriso de lado. – É só que o And se apegou demais aos
brinquedos e nunca conseguiu desfazer deles.
— Sabe que isso não é verdade, Anjo. – ele se defende. – Minha
mãe foi quem os guardou esse tempo todo e agora dei aos nossos
filhos.
Olho de volta para os meus irmãos e pisco para eles, permitindo
que a porta se feche e ouço as risadas dos dois. Quando viro para
Andrew, ele segura minha mão e percebo o quanto está nervoso.
— Podemos conversar? – pergunta aos meus pais, virando-se
para eles.
— Claro. – meu pai diz e seguimos em silêncio até o final do
corredor. Toda a tensão do elevador está aqui, nesta curta
caminhada e sinto meu coração perto de sair pela boca.
— Eu amo você. – ouço o sussurro de Andrew em meu ouvido e
apenas sorrio, apertando sua mão em resposta.
— Entrem. – minha mãe diz logo que abre a porta e nos permite
entrar no apartamento que And arrumou para que eles pudessem
passar o final de semana. Na verdade, ele apenas deu a chave de
um dos seus aqui e me pergunto por quê João insistiu tanto com
ele, para que eu pudesse ficar lá em cima ao invés de em um dos
vários que tem, aqui em baixo.
— E então? – pergunta meu pai, acomodando-se no sofá,
seguido de minha mãe e eu. And, depois de alguns segundos, senta
atrás de mim, que estou de lado para ver melhor meus pais e
seguro sua mão em uma tentativa de dividirmos tudo isso.
Ele está com a mão suando!
— Ricardo, Elizabeth. – diz em tom sério. – Eu quero pedir a
mão da filha de vocês em casamento.
O QUÊ?! ELE JOGOU ISSO ASSIM, NA LATA E DIRETO?! A
SECO! Meu Deus! Para o mundo que eu quero descer agora!
Olho para Andrew, sem reação alguma e de volta pros meus
pais, que apenas nos olham.
— Fiz o pedido a Lu há duas semanas, depois que me contou
que teríamos gêmeos. E ela aceitou. – volta a falar enquanto
acaricia minha mão. Minha mãe fica com a boca entreaberta, pega
de surpresa. Afinal, não contei a eles sobre o pedido e estarmos
noivos. Queria fazer isso pessoalmente, não por telefone. – Fui e
sou o homem mais feliz da Terra por ter o sim dela ao meu pedido,
mas serei ainda mais se tivermos a benção de vocês, que são pais.
Oh!
Sinto que estou congelada aqui. Não consigo me mexer nem
piscar. Se antes o ar já estava preso, agora ele simplesmente não
esta. E isso é de certa forma terrível.
— Você sabe que casamento não é o mesmo que brincar de
casinha? – meu pai pergunta um pouco rude demais pro meu gosto
e quero revirar os olhos para ele, mas não faço, porque isso é ainda
mais importante para mim. Não que vá me impedir de me casar com
o homem que amo. Mas...
— Tive os melhores exemplos sobre casamento minha vida toda
e admiro o relacionamento que vocês dois tem. – And responde de
pronto. – Luara foi à única mulher que realmente amei em toda
minha vida e a primeira por quem fui apaixonado, sete anos atrás.
— Vocês não... – minha mãe começa a dizer, mas para, não
conseguindo encontrar as palavras certas.
— And foi aquele rapaz que conheci na festa do Hugo. – explico.
– Descobrimos isso há alguns meses apenas.
— Eu havia prometido levar Luara ao cinema depois daquele dia
– And começa a contar. –, mas precisei voltar às pressas ao Rio de
Janeiro com meu pai e quando voltei a São Paulo, o caminho estava
muito vago na minha cabeça.
— É isso o que você quer, filha? – meu pai me pergunta e sinto o
exato momento em que meu coração chega a garganta e pula pro
chão. Posso até mesmo vê-lo batendo no tapete aos meus pés.
— Sim. – respondo. – Andrew me faz feliz e me dá coragem para
querer enfrentar tudo com ele, independente do que tivermos que
passar. Ele é meu amigo e meu amante. O homem que amo e quero
passar minha vida ao lado.
Mordo o lábio inferior quando termino de dizer isto e, mesmo que
não olhe para ele, sei que Andrew sorri todo orgulhoso.
—Se você se quer pensar em fazer minha filha infeliz...
— Cuidarei da sua princesa como minha rainha e assim a farei. –
And interrompe e meu pai sorri.
Ai!
Andrew ergue nossas mãos entrelaçadas e beija a aliança em
meu dedo e me vejo fazendo o mesmo, dando um beijo leve em
seus lábios, agora sob a benção dos meus pais. E isso me deixa
extremamente feliz.
— Me deixa ver. – minha mãe pede, sentando-se ao meu lado e
segura minha mão para poder ver a aliança.
— Eu amo você. – digo ao meu pai, com um sorriso que vai de
um lado a outro, não conseguindo esconder a alegria que nem
mesmo cabe dentro de mim. Sua resposta, embora silenciosa, faz
meu coração voltar a bater no momento em que sorri de volta.
Eu também amo você, minha princesa.
◆◆◆
Andrew
Sinto-me o homem mais feliz do mundo. Os pais de Luara nos
deram sua benção ao nosso noivado e ela, mais uma vez, disse sim
ao meu pedido. Que quer passar toda sua vida ao meu lado e isso
me faz querer levantar e toma-la em um abraço apertado. Mas vou
deixar isso quando estivermos sozinhos em nosso apartamento.
Ao invés disso, toco seu rosto e chamo baixinho:
— Anjo. – ela me olha com um sorriso lindo, como não vejo há
alguns dias.
— Oi, lindo?
Abro a boca e torno a fechar, sem saber bem o que falar. Seus
pais estão nos olhando, atentos ao que vou dizer.
— Se quiser podemos deixa-los a sós. – Elizabeth oferece,
olhando o marido, que concorda.
— Não, tudo bem. – respondo de imediato e seguro a mão do
meu anjo com a minha.
— And? – ela chama com um pequeno v entre suas
sobrancelhas.
— Aceite morar comigo. – digo de uma só vez e Luara franze
ainda mais o cenho.
— O QUÊ?! – exclama alterada, como que segurando para não
rir e tento ignorar a sensação de “fiz merda” que toma conta de mim.
—Desde que meu eu sem memória te fez aquela pergunta, se
morávamos juntos, tenho pensado nisso. – explico. – E ele, eu, só
falou aquilo porque é o que mais desejo. Morar de vez com você,
sem termos que ficar revezando entre nossos apartamentos ou
passando dias separados.
— Eu ouvi o que você disse, lindo. – Luara toma a palavra. – É
só que você me pegou de surpresa aqui e também tenho pensado
muito nisso desde aquela pergunta sua. – diz e sorrio.
— Compartilhe seus dias e suas noites comigo. – peço,
passando o polegar por sua mão e ela sorri um pouco nervosa. – Eu
queria ter pedido isso antes, mas quis fazer também com seus pais
como testemunhas, depois que tivéssemos a benção deles para o
nosso casamento, porque quero desde já cuidar de você e me
acostumar a todas suas manias do dia-a-dia.
Balançando a cabeça, ela aceita e sorrio ainda mais feliz.
— Sim. – diz com a voz emocionada e sinto meu coração
disparado dentro do peito.
— Acho que vou finalmente poder derrubar aquela parede que
separa nossos quartos. – digo.
— Acho que vou finalmente poder conhecer todo seu
apartamento. – Lu cobra e sorrio sem graça.
— Podemos subir para fazer isso agora mesmo se quiser. –
ofereço e ela pisca para mim.
— Mais tarde.
— Se o apartamento vai passar por uma reforma – Ricardo
começa. –, então onde vocês vão morar nesse tempo?
— Tenho pensado em comprar uma casa na praia, não muito
longe daqui. – respondo e Luara me olha. – É perto da gruta. –
acrescento e ela sorri.
— Quero comprar com você. – diz já decidida e sei que não
adianta teimar, porque vai bater o pé até conseguir. – Recebi um
bom dinheiro de um trabalho que fiz para uma empresa americana e
quero fazer alguns investimentos. Talvez isso seja um bom começo.
– sorrio, concordando e ela beija meu rosto.
— Não esqueça que a BIT é um ótimo investimento. – lembro.
— Estou pensando nisso ainda, lindo. – diz em resposta e
concordo – Quando iremos ver nossa casa? – pergunta, dando
destaque a palavra e só consigo sorrir com isso, já que agora
sempre será assim.
— Quando quiser.
— Segunda-feira. – diz decidida e concordo, então entramos em
uma conversa gostosa com seus pais, sobre quando decidiram
morar juntos antes de se casarem e o quanto Elizabeth estava
instável naqueles meses. O que só me faz pensar no quanto nos
conheceremos até a chegada dos gêmeos.
◆◆◆
Andrew
Caramba! Estou louco de tesão e a Luara simplesmente sai de
cima, dizendo que já voltava.
Quer dizer, o pequeno And está praticamente implorando para se
ver livre de toda essa roupa e para sentir ela e... Eu sei que ela está
aprontando algo, porque fez mistério o dia todo e isso me deixa
ainda mais na vontade.
— Anjo, vem logo! – chamo com a voz carregada do desejo que
sinto. Quero colocar minha noiva de bruços no braço dessa
poltrona, dar um belo tapa naquela bunda dela e chupar bem
gostoso aquela bucetinha que tem até gozar na minha boca. Depois,
o que eu fizer será para nós dois.
Fecho os olhos, apoiando com a cabeça no encosto da poltrona
e toco a mão no meu pau, que há essas horas já está duro como
uma pedra.
— Não acho que você vá precisar da sua mão para isso hoje,
meu gostoso. – sua voz chega baixa e rouca aos meus ouvidos.
Quando abro os olhos, meu queixo cai e meu pau pula dentro da
calça.
— Nossa. – a palavra me escapa enquanto a encaro.
Luara está usando nada além de uma cinta liga preta rendada,
um sutiã preto com detalhes em vermelho e sua calcinha fio dental
tão pequenininha, que posso ver tudo. Os cabelos soltos e
ondulados, caídos sobre seus seios. Nos pés, sapatos de salto fino.
— Nossa. – repito quando para próxima de mim e sorri.
— Precisa de ajuda com isso? – pergunta, apoiando com a mão
em seu quadril.
— Sim. – respondo, louco para saber qual será o próximo passo
que dará.
— Então me deixa cuidar desse menino levado que não para de
pular ai dentro. – sorri e se ajoelha na minha frente, soltando meu
cinto e desce o zíper, tirando meu pau para fora. – Hmmmmm. –
murmura, correndo a língua pelos lábios e sinto vontade de morder
eles. – Ele está tão duro e cheio de veias. Parece tão apetitoso.
— Então porque você não cuida desse pau como só você sabe
fazer, minha gostosa? – pergunto com a voz rouca e ela sorri,
passando a língua pela cabecinha.
— Assim? – pergunta de volta, fazendo minha respiração
acelerar. – Ou assim. – e passa a língua por toda extensão,
enquanto acaricia minhas bolas com a mão livre e o toma em sua
boca por completo.
— NOSSA! – exclamo quando sinto o fundo de sua garganta. –
Que delícia. – digo e sorri para mim, olhando-me por cima dos
óculos e seguro seus cabelos com cuidado, deliciando-me com a
sensação de ter sua boca me chupando tão gostoso assim. – Me
deixa cuidar de você também. – peço, sentindo que estou perto de
explodir, mas ela me ignora, continuando apenas a me chupar.
◆◆◆
Luara
— Anjo. – And praticamente rosna enquanto continuo chupando,
sentindo seu quadril vir de encontro comigo.
— Por que você na goza na minha boquinha? – peço, passando
a língua por toda sua extensão e ele cerra os olhos, apertando as
mãos na poltrona. – Faz isso para mim. – e o beijo, puxando suas
bolas para dentro da minha boca.
— E você toma tudo? – pergunta e faço que sim, voltando a
chupar meu noivo até que sinto seu líquido quente na minha boca
quando goza. – Anjo. – torna a chamar e limpo do seu gozo que
escorreu por minha boca, sorrindo para ele e afasto somente o
suficiente para ajudar a tirar sua calça.
— Você continua duro. – sorrio, apreciando a visão do pequeno
And repousando sob sua barriga.
— Por você. – sorri em resposta e fico de pé. – Me deixa cuidar
de você agora. – pede e faço uma careta, considerando a ideia.
— E o que ganho? – pergunto para provoca-lo e passo as unhas
pelo pequeno And, fazendo-o fechar os olhos.
— O que você quiser, linda. – responde com voz pesada
enquanto o acaricio. Ele estende a mão e a seguro, ficando entre
suas pernas. – Quero sentir você. – diz, passando um único dedo
por minha entrada, sem se dar ao trabalho de afastar a calcinha e
me sinto mole ao seu toque. – Quero beijar você e te colocar de
bruços aqui nessa poltrona.
— E depois? – pergunto pouco interessada, o que é mentira, e
ele me puxa para mais perto, pedindo para ficar na sua altura.
— Ai eu vou foder você bem gostoso, como sei que quer. –
sussurra em meu ouvido, fazendo um calafrio percorrer meu corpo
de cima a baixo várias e várias vezes. Então, me ignorando e ainda
segurando minha mão, Andrew levanta e me deita sobre o braço do
sofá, colocando minha calcinha de lado, passando o dedo por minha
entrada.
— And. – gemo quando me penetra com um dedo e me chupa,
como tenho desejado que fizesse desde cedo.
— O que você quer? – pergunta com a voz mais rouca possível
e enfia outro dedo em mim, fazendo movimentos rápidos.
— V-você! – gaguejo, movendo meu quadril de encontro aos
seus gestos. – Por favor! – exclamo com a respiração acelerada e
ele afasta, tirando a mão de mim e sinto um forte tapa em minha
bunda, seguido por seu pau dentro de mim com força e grito.
— É isso o que você quer, minha safada? – pergunta com
estocadas fortes e gostosas, que me fazem gemer.
—Sim! – gemo mais alto e Andrew deita sob meu corpo para
beijar meu ombro e meu rosto, onde viro para ele.
— Adorei toda sua produção. – sussurra em meu ouvido,
passando a mão por minha perna e a ergue para colocar no sofá. –
Se eu soubesse que era isso que teria em casa quando chegasse,
teria te arrastado para cá bem mais cedo. – diz e sorrio, mas não
consigo dizer qualquer coisa que seja.
◆◆◆
Andrew
Com um último beijo em seu ombro, eu me afasto, dando um
tapa na bunda da minha garota e ela solta um gritinho, rindo.
— Vem cá. – Luara pede e segura minha mão, colocando-me
sentado na poltrona outra vez.
— E agora? – pergunto ansioso pelo que vem. – Ainda não te fiz
gozar nenhuma vez.
— Agora você senta aqui e quem vai comandar sou eu. – diz em
resposta, passando o joelho por minha perna.
— Tudo bem, senhora. – sorrio para ela, que parece ficar
vermelha, apesar de toda a pose de dominadora. – O que minha
senhora quer que eu faça agora?
— Tira a minha calcinha. – diz, arrancando um enorme sorriso de
mim.
— Com prazer. – respondo, passando a língua pelos lábios e
flagro seu olhar pesado em mim.
— Não rasga! – exclama quando eu seguro o tecido fino e se
apoia em meus ombros para se segurar. – Você já me deu muito
prejuízo com isso.
— Te dou um armário inteiro de lingerie só para poder rasgar
cada uma quando for tirar de você. – pisco para ela e beijo sua
barriga, tirando a calcinha e a beijo, sentindo seu sabor em minha
boca. – Tão gostosa. – sussurro, penetrando dois dedos nela e
assim continuo até que sinto começar a se contorcer até que goza
na minha boca. – Agora sim. – digo, voltando a olhar para Luara,
que tem as mãos presas em meus cabelos e os olhos apertados. –
Vem aqui. – seguro suas mãos e a coloco em meu colo, sentindo
quando desliza tão gostoso por meu pau.
— And. – geme em meu ouvido, movendo-se lentamente e sinto
quando passa algo por minha cabeça. Sua calcinha.
Quero dizer algo a ela sobre o que significou para mim, ouvir
dizer aos seus pais que queria passar sua vida ao meu lado. Mas
não consigo.
— And. – volta a chamar e beijo seu pescoço instante antes de
segurar meu rosto e me beijar, ainda levando nossos movimentos
tão devagar e no seu ritmo. Assim, cheio de beijos e acaricias, eu
me derramo dentro dela, sentindo me apertar tão deliciosamente.
— Que delícia, anjo. – digo e beijo seu rosto, secando uma gota
de suor que escorre por ele.
— Lindo. – ela me chama um pouco preocupada. – Tem algo que
quero experimentar com você hoje. – diz e franzo o cenho. – Mas eu
estou com um pouco de medo.
— Não precisa fazer isso se te dá medo. – digo, embora não
faça ideia do que seja. – Ou se te assusta. – completo e ela nega.
— Eu quero. – diz. – Eu só... Não me machuque. Tudo bem? –
pede, deixando-me ainda mais preocupado.
— Eu nunca faria isso, anjo. – respondo e Luara sai de cima de
mim, estendendo-me a mão, levando-nos ao nosso quarto. – Parece
que finalmente vou descobrir o que você escondeu de mim o dia
todo. – digo quando paramos na porta e me olha por cima do ombro
com um sorriso tímido.
— Espera aqui. – pede e paro no mesmo lugar, enquanto entra
no quarto e pega algo no móvel ao lado da cama, voltando até mim.
◆◆◆
Luara
— Eu quero experimentar isso com você. – digo com a voz
trêmula, colocando o vidrinho de lubrificante na mão de And e ele
me encara com o cenho franzido.
— Você tem certeza? – pergunta e faço que sim. – Anjo.
— Eu preparei tudo. – digo e And sorri. – Eu quero tentar com
você.
— Prometo que vou cuidar de você. – sussurra para mim e
sorrio. – Mas antes, vamos tomar um banho. Não vamos ter pressa
para isso e quero que você se sinta bem se vamos realmente fazer
isso.
— Obrigada. – eu sussurro e Andrew coloca o pequeno frasco
ao lado da TV e segura minha mão, levando-me até o banheiro.
— Eu podia esperar qualquer coisa. – diz. – Menos por isso.
— Idiota. – retruco e ele ri, virando de frente para mim.
— Me deixa tirar isso de você. – pede, ficando de joelhos na
minha frente e tira meus saltos, seguido pela cinta e sobe para tirar
também o sutiã. A cada etapa eu ganho um beijo em uma parte
nova, até que ele está de frente para mim, onde posso beijar sua
boca. – Eu vou cuidar de você. – sussurra em meu ouvido e abre o
chuveiro, deixando uma água fria cair por nossos corpos, mas que
logo fica quente e envolvo meus braços por seu pescoço, impedindo
qualquer tentativa sua de nos separar.
Sinto o toque de Andrew em cada parte do meu corpo, como se
quisesse me gravar. Seus lábios, suas mãos me acariciando...
Fecho os olhos e me permito apenas sentir tudo o que causa em
mim, até que meu corpo se contorça ao seu toque como se uma
onda de tremores me percorresse.
— And. – seu nome me escapa em um gemido rouco, incapaz
de formular qualquer frase. Com um beijo em meu rosto, ele desce,
beijando cada parte minha e prende as mãos em meu quadril,
enquanto sua língua brinca tão perfeitamente em mim.
Seguro seus cabelos molhados em minhas mãos e os puxo para
trás, fazendo com que me olhe e vejo o sorriso cheio de malícia em
seu rosto.
— Eu quero você. – digo, puxando-o para cima, sentindo meu
coração disparado dentro do peito. – Por inteiro.
— Você já tem, meu anjo. – responde e me beija.
— Eu estou com medo, And. – confesso. – Eu nunca fiz isso.
E...
— Eu também não, linda. – diz e segura minha mão, colocando-
a sobre seu coração, que está tão disparado quanto o meu. – Mas
eu quero muito com você.
Inspiro fundo e solto o ar de vagar, tentando disfarçar o
nervosismo que sinto.
— E se... – começo a dizer, observando-o fechar o chuveiro e
pegar duas toalhas. Uma enrola em seu quadril e a outra segura,
voltando até mim.
— Se não for, a gente não esquenta com isso e esquece. – diz,
passando a segunda toalha por meus cabelos. – Só tenha certeza
de que realmente quer tentar isso agora.
— Eu quero, mas estou com medo. – torno a fechar os olhos e
sinto seus lábios junto aos meus.
— Uma segunda primeira vez. – sussurra e me beija. – Vou
cuidar de você igual fiz aquele dia. – diz e segura minha mão,
levando-nos para o quarto.
◆◆◆
Andrew
A cada passo que damos direção ao quarto, sinto meu coração
mais acelerado dentro do peito e o nervosismo tomando conta de
mim. Quer dizer, Luara me pediu para tentarmos isso e tenho uma
grande responsabilidade em minhas mãos e não quero, de maneira
alguma, machuca-la.
— Espera. – peço e solto sua mão, indo até minha cômoda,
onde pego um pacote de preservativo que não me lembro de ter
comprado. – Isso é novo. – comento comigo mesmo e ouço a risada
atrás de mim.
— Tanto tempo que não usamos isso. – Lu diz com um sorriso
nervoso e volto até ela, oferecendo-lhe o pacotinho.
— Eu não quero te machucar. – falo e ela apenas brinca com o
preservativo, passando de uma mão para outra. – Vamos lá! Você já
fez isso antes. – sorrio para ela, que fecha a cara para mim. – Só
faz tempo. – e beijo sua testa.
Com uma careta, Luara mostra a língua para mim e puxa o laço
que prende minha toalha ao quadril e ela logo vai parar no chão,
deixando o pequeno And entre nós dois e ela abre o preservativo
nos dentes, aproximando-se de mim e sorrio ansioso.
— Eu não esqueço as coisas fácil assim, amor. – diz e segura
meu pau, fazendo o movimento de sobe e desce que tanto me deixa
louco.
— Que bom. – sussurro, colando minha boca na sua e solto sua
toalha, que desliza por seu corpo. – Não pensa nisso, ok? – peço e
seguro suas mãos, levando-a para cama. – Vamos com calma.
Luara acena com a cabeça e coloca o preservativo em mim,
empurrando-me para sentar na cama.
— Dominadora. – digo quando senta em meu colo e morde meu
pescoço.
◆◆◆
Luara
Sem dizer uma única palavra, levanto um pouco e coloco o
pequeno And para dentro de mim, começando com movimentos
lentos, assim como fiz na sala.
De olhos fechados, And passa suas mãos por minhas costas,
acompanhando cada movimento meu. Seus dedos me acariciam lá
atrás de maneira suave e fecho os olhos para sentir isso.
— And. – chamo baixinho em seu ouvido quando me deita sobre
seu peito e me abraça, começando com seus movimentos agora
mais fortes e com força. – And. – repito e ele me da um tapa na
bunda e beija meus seios.
— Esta tudo bem? – pergunta com a voz rouca e aceno em
positivo, mordendo seu pescoço.
— Acho que estou pronta. – digo em um fio de coragem e ele
para, onde saio de cima dele, sentando-me ao seu lado. Meu
coração na garganta já.
— Certo. – diz com um longo e nervoso suspiro.
— Você esta nervoso. – sorrio.
— Se estou nervoso? – pergunta, rindo. – Muito! – exclama e
puxa um travesseiro, colocando-o no centro da cama. O que me faz
franzir o cenho, sem entender nada. – Só me avisa se doer, por
favor. – pede, colocando-me deitada sobre o travesseiro.
— Eu me sentiria mais a vontade se pudesse usar você para me
aliviar. – digo e ele aproxima seu rosto do meu.
— Já estou cheio de marcas pelos seus alívios. – sussurra em
meu ouvido e beija meu rosto e assim ele desce por todo meu
corpo, até chegar a minha bunda, onde me morde de leve.
— Ai! – deixo escapar o gemido, embora dor seja a última coisa
que tenha sentido com seu gesto.
— Você gosta disso? – pergunta, deitando em minhas costas e
passa seu dedo por meu buraquinho, colocando-o dentro de mim. –
É o que você quer, linda?
— Quero o pequeno And. – digo em resposta, rebolando contra
sua mão e ele afasta, arqueando meu quadril no travesseiro e logo
eu o sinto entrar deslizando em mim de vagar, provavelmente com
ajuda do lubrificante que comprei. – And. – eu o chamo e sinto sua
mão se entrelaçar a minha assim que o sinto de vez, parando lá
dentro por alguns instantes.
— Esta doendo? – pergunta preocupado e segura meu rosto
com a mão livre, fazendo-me olhar para ele. Ao invés de responder,
eu o beijo com força, como se pudesse transferir qualquer coisa que
sinto nesse momento. Como se tudo dependesse desse beijo. –
Você é tão gostosa. – sussurra em meu ouvido, começando a se
mover bem quando sinto seus dedos também dentro de mim, com
movimentos mais suaves, que me fazem querer gritar. Não por dor,
mas por prazer.
A respiração pesada, os suores misturados... Sinto os músculos
de Andrew pressionando meu corpo contra o colchão enquanto se
movimenta e sua mão em meu cabelo, arqueando minha cabeça
para trás de maneira que consigo beija-lo.
— And! – exclamo, levando sua mão de volta para minha
amiguinha que sente falta dele e percebo o sorriso em seu rosto
quando penetra três dedos em mim, arrancando um gemido alto que
me faz atingir um orgasmo que deixa mole.
— Lu? – ele me chama, saindo de dentro de mim com cuidado e
deita ao meu lado. – Você esta bem?
— Eu não sei. – digo a verdade. – Me sinto um pouco estranha.
– e viro para ele, vendo-o tirar o preservativo e o amarrar,
colocando-o no chão ao seu lado.
— Vem cá. – chama, puxando-me para deitar perto dele e o
abraço, afundando meu rosto em seu peito. Antes que possa dizer
qualquer coisa, eu o beijo, por quê... Bem, falar é a última coisa que
quero agora. – Esse é um dos melhores “cala a boca” que alguém
pode usar. – diz, fazendo-me rir sem graça.
— Só não fala nada. – peço e ele desgruda uma mecha de
cabelo do meu rosto, colocando-a atrás da orelha. Sua mão volta
para o meu rosto, fazendo-me olhar para ele o tempo todo e sinto
todo meu corpo esquentar de vergonha e é como se eu estivesse
nua diante dele de uma forma que vai bem além das roupas que
não estamos usando, mas isso de certa forma me deixa confortável.
– Eu amo você. – sussurro quando me da o sorriso mais lindo entre
todos.
◆◆◆
Luara
Assim que entramos no shopping, arrasto Andrew pela mão até
uma loja de bebês, onde tem absolutamente de tudo. Enxoval,
roupinhas, berço, carrinhos e tudo o mais. E sei que já viemos aqui
várias vezes, mas não me canso de voltar, porque é aqui onde
comprei a maioria das coisas para os nossos filhos e onde consigo
me imaginar mais próxima deles. Como se... Como se já tivesse
meus dois pequenos em meus braços.
— O que você acha desses dois? – ouço Andrew atrás de mim e
me viro para ele, que tem dois macacões brancos em suas mãos,
escritos: Ctrl + C e Ctrl + V. O que me faz sorrir como a mãe boba e
babona que tenho sido quanto a tudo o que diz respeito aos meus
bebês.
— Sua cara. – digo rindo e ele da de ombros.
— Vou sentar ali e esperar. Não sou bom com isso. – ele diz,
colocando os dois macacões de lado. – Não sou bom com roupas
nem para mim, quem dirá para crianças.
— Eu não disse que não tinha gostado. – falo, puxando sua mão
e vira para mim. – Só falei que é sua cara, porque é o tipo de coisa
que imagino você comprando sozinho para os nossos filhos, lindo. E
eu amei os dois.
— Sério? – pergunta com um sorriso lindo e confirmo, onde ele
torna a pegar os dois macacões. – Então vamos levar! – exclama,
fazendo-me rir.
— Não tem muito mais o que comprar para eles. – comento,
olhando para o carrinho com algumas poucas coisas. – A maioria ou
já compramos ou ganhamos.
— Fralda? – And arrisca. – Não sei nem de que lado se coloca
isso em um bebê. – diz com uma careta e preciso segurar para não
rir.
— Você vai aprender bem fácil quando o pequeno Matt te
molhar. – sorrio para ele.
— Você não esta fazendo isso, esta? – pergunta com o cenho
franzido.
— Fazendo o que? – pergunto de volta e ele olha para os lados,
como que querendo garantir que ninguém esteja prestando atenção
em nossa conversa.
— Pequeno And. – sussurra e dessa vez sou obrigada a rir.
— Não! Não sou tão louca assim, amor – respondo e And ri um
pouco sem graça. – Ele só é pequeno e vai precisar de você. Os
dois.
— Não custava perguntar. – diz, passando a mão pelos cabelos.
– Já estamos terminando aqui? Estou me sentindo claustrofóbico
aqui dentro.
— Claro. – respondo, notando seu desconforto. Tem sido assim
todas as vezes que saímos para fazer compras e descobri que se
sente mal em lojas em geral, quando demoramos. – Só vamos
pagar e depois comer.
◆◆◆
Andrew
No auge dos meus quase vinte e sete anos de vida, quando foi
que deixei de gastar dinheiro por diversão para comprar coisas
desse tipo? Para bebês? Quer dizer, estou a exatamente duas
semanas de fazer aniversário e cá estou eu, em plena sexta-feira à
noite, com minha noiva, comprando roupinhas para bebê, que
devem chegar dentro de aproximadamente um mês. É estranho
quando me lembro de quem fui há um ano.
Digo, se o meu “eu” do presente voltasse no tempo e me
dissesse: “Andrew, dentro de um ano você estará comprometido
com a mulher que você ama e prestes a ter dois filhos com ela”, eu
apenas diria que estava ficando louco e que aquilo nunca iria
acontecer comigo. Aquele não sou eu. Quer dizer, esse não sou eu.
Não estou acostumado a nada disso e, quanto menos tempo falta
para a chegada dos dois, menos preparado me sinto. É como se a
cada dia a menos, mais incerteza eu sinta e menos eu desejo isso
tudo para mim. Mas, por outro lado, tudo o que mais quero é ter
esses dois filhos e ama-los e protege-los com tudo o que eu for
capaz.
— Vou ao banheiro. – Lu sussurra para mim, tirando-me
parcialmente de meus pensamentos. – Eu já venho. – diz, dando um
beijo em mim.
— Estarei bem aqui. – respondo, colocando algumas sacolas no
chão para esperar.
Duas semanas para o meu aniversário e não sinto a menor
vontade de comemorar isso, ainda que dessa vez eu tenha todos os
motivos para fazer.
Para ser sincero, Luara não tem nem ideia de que esse dia se
aproxima e assim pretendo que continue por mais algum tempo,
porque sei que vai querer fazer algo para mim assim que descobrir e
não sou o cara que é fã de aniversários e ficar mais velho.
— Está tudo bem, lindo? – eu a ouço dizer atrás de mim, mais
uma vez tirando-me de meus pensamentos e me viro para ela.
— Eu me sinto perdido. – sussurro em resposta, apoiando-me na
parede atrás de mim.
— Com o que? – pergunta e fecho os olhos, evitando seu olhar.
– And, por favor, fala comigo.
— Com tudo.
— Compartilhe comigo. – pede e sinto suas mãos em minha
camisa, fazendo-me olhar para ela. – Por favor.
— Vamos comprar algo para comermos e falamos sobre isso.
— Eu vou cobrar. – diz e segura minha mão e seguimos até a
praça de alimentação, onde acabamos ficando com dois lanches,
fritas e o milk-shake que havia sugerido inicialmente. – E então? –
pergunta assim que nos sentamos em uma mesa mais afastada de
todo mundo.
— Eu me sinto perdido porque não sei o que fazer com duas
crianças, Lu. – digo de uma só vez e ela me olha em completo
silêncio. – Você teve todo esse tempo para se acostumar com tudo
isso, para aceitar toda essa mudança na sua vida. Mas... Quanto
mais os dias passam, menos preparado eu me sinto e mais medo
tenho. De errar, de não ser suficiente para eles e para você. De
acabar querendo fugir e te deixar sozinha.
— Você pensa em fazer isso? – pergunta e percebo o medo em
sua voz.
— Não. – respondo o que realmente sinto. – Mas sinto muito
medo de não conseguir, por que... E se eu surtar?
— O fato de que eles estejam crescendo dentro de mim não
torna as coisas mais fáceis, And. – diz. – Tem dia que tudo o que
mais quero é tira-los de mim logo e voltar a ser o que eu era antes.
Mas sei que, no momento em que eles não estiverem mais aqui –
diz, tocando as duas mãos em sua barriga e olha para mim. –, terei
ainda mais medo. Que nada mais vai ser igual para nós. E eu
preciso de você ao meu lado, por que... Bem, sei tanto quanto você
provavelmente sabe sobre bebês.
— Você tem dois irmãos.
— Me recusei a chegar perto da Camila até que ela tivesse
quase um ano e Tommy alguns meses. – responde, cobrindo o rosto
com as mãos. – Bebês me assustam, Andrew! – exclama e seguro
sua mão, chamando sua atenção para mim. – A Ju pegou o Tommy
no colo bem primeiro que eu, mas eu não posso fazer isso com
nossos filhos.
— Que belos pais nós seremos. – digo, acariciando sua mão e
ela aperta a minha.
— A questão é que não posso recusar meus filhos e tenho medo
que isso aconteça.
— Parece que Lilian tinha razão ao dizer que só descobriremos
se seremos ou não bons pais quando estiverem aqui conosco – digo
em uma tentativa de acalma-la. – Só espero que não fujamos.
— Nós vamos aprender isso junto. – sussurra e confirmo,
fazendo-a sorrir para mim. – Sabe que não que quero pegar a
licença agora, porque não quero ficar sozinha com eles, né? –
pergunta. – Quanto mais os dois se mexem, mais assustada eu fico.
— Você precisa me contar essas coisas, anjo. – peço. – Mas... –
começo a dizer, tendo uma ideia. – E se eu tirar uma semana para
ficar com você? Precisa tirar sua licença logo. E assim eu também
fico mais tempo com você até que eles cheguem.
— Um mês. – Luara diz em contraproposta e sorrio.
— Quinze dias.
— Um mês e quinze dias.
— Uma semana e uma passada de mão na bunda. – aumento. –
Pegar ou largar. Pega e não larga.
— Tá falando de que? – pergunta com o cenho franzido e acabo
rindo.
— Estou tentando tirar vantagem disso e te levar ao banheiro
aqui do shopping. – digo, piscando para ela, que parece me ignorar.
— Quinze dias a contar da próxima consulta, quando
completarmos oito meses. – diz séria. – Eu não posso ficar sozinha
em casa. Você mesmo ouviu quando meu médico disse que eles
podem chegar a qualquer momento.
— Quinze dias. – concordo e ela sorri.
— Quer ver um filme? – pergunta, mudando totalmente o foco do
assunto.
— Claro. – respondo. – Você pega os ingressos e eu guardo isso
aqui no carro.
— Por que eu compro os ingressos?
— Se eu estivesse gravido, na certa iria querer tirar vantagem
disso e passar na frente de todo mundo. – respondo e Luara ri.
— Tudo bem. Só compra chocolate para mim quando voltar.
— mas você tem um monte em casa!
— Disse certo. Em casa, não aqui. – ela sorri e mostra a língua
para mim e, quando levantamos, eu a puxo para os meus braços.
— Prometa não guardar mais seus medos para você. – sussurro
em seu ouvido e me aperta forte.
— Me prometa também não guardar os seus. – sussurra de volta
e concordo.
Capítulo Dezoito
Segunda-feira
Luara
Quando acordei hoje pela manhã, senti que estava mais disposta
do que estive em vários dias no último mês e decidi aproveitar isso
para progredir com meu trabalho de alguma maneira. Então vim
mais cedo a BIT e deixei Andrew em casa, para que ele pudesse ir à
academia.
— Bom dia! – cumprimento Daiane assim que entro no prédio.
— Oi! – exclama em resposta. – Como estão as coisas com os
garotinhos?
— Agitados. – respondo, seguindo seu olhar para minha barriga
e a toco, sentindo alguns movimentos dos meus dois bebês. –
Parece até que vai explodir. – digo e ela ri.
— Bem, aproveite essas últimas semanas o máximo que puder.
– recomenda. – Depois que nascerem você não terá mais paz. É
assim com os meus lá em casa.
— Não sabia que você tinha filhos. – digo com o cenho franzido.
— Dois meninos. – responde. – Um de quatro e outro de nove
anos. Já nem sei mais qual é o pior.
— Meu irmãozinho esta nessa também. – sorrio em resposta. –
Tudo para ele é brincadeira. Tanto que todas as vezes que vamos a
São Paulo, ele arrasta o And para alguma bagunça e ficam horas lá
brincando.
Ao dizer isto, o sorriso que surge em meu rosto ao me lembrar
do dia em que And apresentou a “cabana de cobertores” ao Tommy
é inevitável.
— Eles se dão muito bem, então. – ela comenta e preciso
concordar, porque tudo tem sido tão mais tranquilo desde que
conversamos com meus pais sobre o noivado. Tão mais... Ah!
— Preciso subir. – digo, mudando de assunto. – Tenho que
adiantar meu trabalho o máximo que conseguir e Andrew está
convencido de que tenho que tirar a licença logo e não quero deixar
nada parado.
— E ele tem razão. Por mais lindo que eu esteja achando esse
seu barrigão, não é muito seguro continuar trabalhando com ele.
— Obrigada. – digo um pouco mais baixo, sentindo o rosto corar.
— Vou te deixar trabalhar e voltar ao meu também. – sorrio em
resposta e sigo para o elevador, onde preciso subir com alguns
outros colegas de trabalho de setores diferentes e cumprimento
cada um deles. O que me faz demorar a chegar ao meu andar, já
que o elevador vai parando sempre.
*
— Bom dia, meninos! – cumprimento o pessoal do TI que já
chegou assim que passo pelo corredor e sou recebida com sorrisos,
piadas sobre minha barriga e muito carinho que eles sempre
demonstram pelos meus filhos desde que souberam da existência
deles. – Gui. – chamo o programador que foi contratado para ficar
no lugar de Bruno e que esta aqui praticamente desde que voltamos
de Nova Iorque. Ele me faz lembrar Victor em vários aspectos, mas
nunca conversei com ele além do necessário.
— Sim? – pergunta, virando-se para mim.
— Quando todo o pessoal chegar, diga para que me esperem
todos na sala de reunião às dez horas, por favor. – peço. – Preciso
conversar com todo mundo sobre algo.
— Pode deixar. – ele diz aparentemente preocupado. – Esta tudo
bem?
—Esta sim. Não vou demitir ninguém não. Fique tranquilo. – digo
e ele ri. – Só quero ter uma conversinha com todo mundo, já que
não poderei continuar no trabalho muito mais tempo.
— Tá. Pode deixar.
— Obrigada. – sorrio para ele, terminando meu caminho até
minha sala, onde posso finalmente me sentar acompanhada de uma
garrafa d’água e trabalhar. Ou assim planejava, já que batem em
minha porta. – Esta aberta! – digo sem nem mesmo desviar a
atenção do computador.
— Olá, mamãe. – reconheço a voz de Pedro.
— Oi. – eu o cumprimento de volta, finalmente olhando para ele.
— Vim ver como os pequeninos estão.
— Me deixaram ter uma noite inteira de sono. – respondo. –
Então, apesar de estarem mega agitados aqui, eu não estou nem
ligando.
— É o que importa. – diz e concordo.
— Pedro. – chamo e ele ergue uma sobrancelha para mim. –
Estive conversando com Lilian esses dias, para fazermos uma festa
surpresa de aniversário ao And.
— Ele não te contou nada ainda? – pergunta e faço uma careta.
— Não! – exclamo, indignada. – Dá para acreditar que meu
noivo esta escondendo o próprio aniversário de mim?! Não tô
acreditando que só descobri por um descuido dele, por ter me
pedido para entregar um documento a Ana.
— Alguém vai ficar de castigo quando ficar sabendo que você
descobriu isso sozinha. – diz e acabo rindo.
— Pode apostar que sim. – respondo. – Mas quero fazer algo
especial para ele. Algo que ele nunca vá esquecer.
— Alguma ideia?
— Está tudo certo para ser na casa dos pais dele e vou precisar
arrumar uma boa desculpa para conseguir levar ele lá. – respondo.
– Mas isso até que é fácil. Então que não faço ideia do restante.
— Se quiser, conheço um DJ e sou fera com festas. Posso ver
isso para você.
— Sério? – pergunto, sentindo-me mais animada.
— Sim. Claro.
— Você fica encarregado disso então. – sorrio. – Tudo o que
precisar, é só me dizer que dou um jeito de arrumar. Os convidados
eu cuido. – franzo o cenho. – Não precisa ser nada muito grande.
Só algo que ele vá lembrar sempre. E depois tem algo que quero
fazer para ele, já que iremos pegar as chaves do nosso apartamento
no dia.
— Você com esse barrigão e não perde o fôlego ein, mulher. –
Pedro diz bem para me provocar e sorrio um pouco sem graça. Mal
sabe ele que Andrew e eu aproveitamos e muito ainda e assim
pretendo até que o Matt e a Li cheguem e eu precise entrar de
quarentena. – Quem diria que a noiva briguenta do presidente ainda
consegue ser uma boa pessoa.
— É melhor você ir trabalhar e me deixar fazer o meu. – digo
com uma careta e Pedro sai rindo de minha sala.
Por mais que eu odeie admitir, sei que tenho sido uma pessoa
impossível de se conviver e quem mais sobre com isso é Andrew, e
ele não faz absolutamente nada para que eu fique irritada. Na
verdade, só de sentir o cheiro dele já fico assim. O que chega até
ser irônico, já que todos os dias ele é tão carinhoso comigo. Sua
atenção, o carinho que me da e a forma com que ainda nos
amamos todas as noites...
Com um suspiro, pego meu celular e digito uma mensagem para
Julie, convidando-a para vir ao aniversário de Andrew e ela confirma
sua presença logo em seguida, dizendo que vai adorar.
◆◆◆
Andrew
— Ana. – chamo irritado assim que saio de minha sala e ela pula
no lugar.
— Senhor?
— Sabe onde Luara esta? – pergunto e ela rapidamente começa
a conferir a agenda em seu computador.
— Reunião no andar com o setor. – responde após poucos
minutos. – Ela tinha marcado para de manhã, mas como precisou
participar de outra, remarcou para agora.
— Obrigado. – digo, voltando para minha sala apenas para
pegar minhas coisas e saio outra vez, trancando a porta atrás de
mim. – Estou indo para casa. – falo. – Se alguém ligar perguntando
por mim, diga que estou em reunião fora da empresa e que não
quero ser incomodado.
— Sim, senhor.
Com isto, sigo até o elevador para descer até o andar de Luara
apenas para poder lhe dizer que estou indo para casa mais cedo,
antes que acabe xingando alguém ou até mesmo demitindo alguém.
O que não seria muito justo.
◆◆◆
Luara
— Você vai embora com seu carro? – Andrew pergunta assim
que volta até onde estou e faço que sim com a cabeça.
— Quero passar de um lugar antes de ir para casa. – respondo.
– Não precisa me esperar. – completo e ele franze o cenho. – Esta
tudo bem? Aconteceu algo?
— Dia estressante só. – responde, dando um beijo em meu
rosto. – Vou para casa mais cedo. Se quiser sair com eles para o tal
“trote” do Henrique, tudo bem.
— Você não esta legal, And. – falo. – Estou percebendo isso
pelo seu olhar.
— Preciso relaxar a cabeça só. Tudo estava conspirando para
ser uma grande porcaria hoje.
— Eu... – começo a dizer bem quando me da um beijo nos
lábios.
— Só me avise se for sair com eles. – pede, passando a mão por
meu rosto e concordo, pouco antes de se afastar de mim e sair.
Não tem a menor possibilidade de eu sair com os meninos
sabendo que algo esta incomodando meu And tanto a ponto dele
precisar tirar um tempo para relaxar! Assim que eles saírem, irei
direto para casa, para tentar conversar e descobrir o que aconteceu.
É o mínimo que posso fazer por ele.
◆◆◆
Andrew
— Há quanto tempo não venho aqui. – digo, finalmente parando
de correr e caminho até a gruta, onde há uma pedra frente a sua
porta.
Dou uma breve olhada dentro da gruta, vendo que tudo continua
exatamente como eu me lembrava. Altura suficiente para um
homem de dois metros e largura de três metros, com um pequeno
laguinho no meio, dividindo os dois lados e peixinhos nadando em
círculos, presos e aguardando a chegada da próxima maré, para
que possam voltar ao mar.
Sinto a água fria em meus pés quando caminho até a pedra na
ponta do mar para me sentar. Ela esta um pouco escorregadia,
mostrando que a maré baixou há bem pouco tempo.
Depois de conhecer Luara, não devo ter vindo até aqui mais do
que cinco vezes, tendo sido a primeira logo no primeiro domingo,
depois de conhecê-la. Mas naquele dia nem mesmo entrei, achando
absurda a ideia de que uma garota pudesse estar aqui durante toda
aquela chuva. Mas ela estava.
A segunda vez foi logo depois de voltarmos juntos de São Paulo,
quando eu tentava entender aquilo que começava a sentir por ela e
a terceira quando me pediu um tempo, depois de tê-la machucado.
Assim que sai de seu apartamento, precisava respirar e acalmar
minha mente de tudo o que estava acontecendo.
Passo a mão pelo rosto para secar o suor e tirar os fios de
cabelo que estão colados.
A quarta vez foi logo que voltamos de Nova Iorque. Eu estava
feliz com a notícia de que teríamos um filho juntos e por estarmos
tão bem. Era como se nada no mundo pudesse destruir aquilo que
tínhamos.
Ilusão.
Então veio a quinta vez, que foi depois de todo aquele teatro do
Bruno no final do ano, só para nos separar.
— E esta é a sexta vez. – sussurro, lembrando-me de cada uma
dessas coisas como se tivesse acabado de acontecer.
Conhecer Luara, meu anjo, fez minhas visitas a este lugar
diminuírem de maneira significativa. Em quase nove meses, fiz o
equivalente ao que fazia em um mês. Ou uma semana.
Ter alguém que realmente se importasse com o que eu tinha a
dizer, que não ligava a mínima para o nome que carrego e menos
ainda para os rótulos da minha vida, me mostrou que se for pela
pessoa certa, vale a pena ser alguém melhor. Ou no meu caso:
voltar a ser o que sempre fui. Aquele garoto romântico que gosta de
momentos simples e que enterrei dentro de mim durante anos
depois de tê-la conhecido a primeira vez.
Talvez agora eu seja uma versão 2.0, melhorada.
◆◆◆
Luara
Quando chego à gruta, vejo Andrew sentado sobre a pedra que
fica de frente para o mar, totalmente distraído. Aproveito isso para
me aproximar dele sem ser notada e toco suas costas, soprando em
sua nuca.
— Agradeço o convite, mas já sou comprometido. – diz e sorrio,
abraçando meu menino perdido e confuso e beijo suas costas.
— É bom saber que sentir uma coisa dura atrás de você não te
excita. – digo em resposta, tentando uma distração. Ele apenas vira
de frente para mim e segura minhas mãos.
— O que faz aqui? – pergunta.
— Caminho até a porta aberta e me apoio ao batente,
observando.
— Vi você sair para correr e percebi no trabalho que tinha algo
errado com você. – respondo, beijando seus lábios. – O que houve?
— Alguns dos sócios e diretores acham que meu pai agiu
precipitadamente ao me dar o cargo de presidente da BIT com
apenas vinte e dois anos. – diz de uma só vez e arqueio as
sobrancelhas. O que?! – Acham que não tinha maturidade suficiente
naquela época para gerir os negócios e tenho menos ainda agora
que engravidei uma garota que, segundo eles, mal conheço, já que
agi de maneira ainda mais precipitada por cogitar casar com ela.
Mordo o lábio ao ouvir sua sinceridade e não sei o que falar.
Sobre os dois pontos que me confessou. Mas, ainda assim eu tento.
— Se seu pai achou que você estava pronto para isso, tenho
certeza de que não agiu precipitado. – falo. – Victor, melhor de que
ninguém, conhece o filho que tem e do que ele é capaz. Não dê
ouvidos ao que eles dizem, só porque acham algo errado.
— Obrigado. – ele sorri para mim e sinto suas mãos em minha
barriga, puxando-me para perto dele. – Acho que entre todos os
erros que cometi ao longo da minha vida, principalmente como
presidente, te pedir em casamento foi meu maior acerto. – Ai meu
coração! – Não me importa que eles sejam sócios ou diretores. Da
mesma maneira com que nunca deixei meus problemas particulares
interferirem na minha vida profissional, não vou deixar que ninguém
do trabalho queira dar palpite nas minhas decisões pessoais.
— O que João acha disso? – pergunto, sabendo que ele é a
única pessoa de quem Andrew aceita opinião.
— Ele diz que fui sensato e que agi da maneira correta. –
responde. – Que não fui precipitado em ouvir meu coração e que
melhorei muito desde que começamos a sair, principalmente nas
decisões do trabalho.
— E isso importa para você? – torno a perguntar. – A opinião do
seu vice-presidente?
— Sim. Muito. – responde após algum tempo e sorrio,
abraçando-o.
— Tem mais algo que você quer me dizer. – digo, passando a
mão pelo v entre suas sobrancelhas e ele sorri.
— Não é nada. No momento certo você vai ficar sabendo. – diz
em resposta e sorrio, notando a lua cheia pouco atrás dele.
— Não se mexe. – peço, tirando o celular do bolso.
— Por quê? – pergunta bem quando tiro uma foto sua.
— Ficou linda! – exclamo, mostrando para ele.
— Não achei tanto. – responde, pegando o celular de mim e me
vira de costas para ele, tirando uma nossa. – Essa sim ficou linda. –
diz, dando um beijo em meu rosto.
— Ah! – o gritinho me escapa e viro de frente com ele outra vez.
– Diga “xis”. – peço e o beijo, tirando uma segunda foto nossa e ele
sorri. – Vem comigo. – sussurro contra sua boca.
— Para onde? – pergunta e seguro sua mão, ajudando-o a
descer.
— Para um lugar onde há muito não aproveitamos. – digo e ele
sorri, permitindo que o leve para dentro da gruta, onde fazemos
amor bem gostoso por duas vezes.
Capítulo Dezenove
Sábado
Andrew
Luara
Enquanto caminho com And perto do rio, tento manter a atenção
em um único lugar aqui neste rancho. Mas é praticamente
impossível, já que tudo é tão lindo e novo para mim.
Desde que chegamos nossos passeios tem sido curtos ou de
carro, já que a Li e o Matt não me deixam andar mais do que alguns
passos sem que eu me sinta extremamente cansada.
Minha barriga esta grande. GIGANTE! E eu olho para ela no
espelho depois do banho ou em qualquer outro momento e conto,
ansiosamente, os dias que faltam até que eu os tenha em meus
braços. E tudo o que eu sinto quando me vejo segurando os dois é
uma felicidade que apenas me deixa ainda mais nervosa do que já
estou. E... O que tem me distraído um pouco disso tudo é o fato de
que estou preparando essa festa surpresa para o And.
— Sabe onde eu gostaria de estar hoje? – pergunto quando
encontro uma árvore grande e com uma sombra deliciosa e And me
ajuda a sentar.
— Onde? – pergunta de volta, sentando ao meu lado e deita em
meu colo.
— Nova Iorque.
— Por quê?
Sorrio com sua pergunta.
— São tantos motivos que tenho para isso, meu lindo. –
respondo. – Tantas coisas boas aconteceram lá, que mudaram
minha vida de uma forma que nunca imaginei antes.
— E...
— E também porque deve estar um tempo tão delicioso lá, onde
eu poderia usar umas roupas fofas e felpudas. – respondo,
apoiando a cabeça no tronco da arvore e ele ri. – Eu não aguento
mais todo esse calor, And. – choramingo. – Eu não nasci para isso.
— Você iria adorar Londres. – diz, ignorando totalmente o que eu
digo. Ou parte dele. – Poderíamos passar nossa lua de mel lá. –
olho para ele, que retribui meu olhar com uma sobrancelha
arqueada e resolvo brincar:
— Então quer dizer que pretende atrasar nosso casamento?
— Estou louco para eliminar de vez toda a concorrência. –
responde. – O que te faz pensar que quero isso?
— Porque não tem como eu largar meus dois amorzinhos e
viajar sem eles. – digo. – E também não é lua de mel se estivermos
com eles o tempo todo.
— Londres. – Andrew diz com um sorriso de lado e ergue a mão
para colocar no lugar a mecha que sempre me escapa. – A cidade
onde meus pais vivem e não vão demorar muito mais a voltar. – e
faz uma pausa. – Minha mãe não se incomodaria nada de ficar com
eles. E eu menos ainda de viajar por toda Europa com as três
pessoas que mais amo.
— Europa? – pergunto interessada, ignorando a ideia de deixar
meus filhos com sua mãe. Não por não confiar nela. Muito pelo
contrário. Massss...
— Inglaterra, França, Itália, Portugal... – diz e fecha os olhos
quando passo a mão por sua barba por fazer. – Quero apresentar o
mundo a você, anjo.
— Você conhece todos esses lugares? – pergunto ainda mais
interessada e ele confirma. – Tem algum lugar onde você não tenha
ido?
— Tem um. – responde.
— E qual seria ele?
— Eu só vou te contar se você aceitar fazer tudo isso comigo. –
diz. – Apenas nós dois e nossos pequenos.
Por algum tempo eu o encaro, indignada com sua cara de pau
por tentar me chantagear dessa forma, mas ainda mais curiosa para
saber o que ele tem em mente. O que sei que ele é capaz de muitas
coisas lindas e surpreendentes.
— Acho que tudo bem se nós fizermos uma viajem em família ao
invés de termos uma lua de mel só nós dois. – respondo. – Vai ser
ainda melhor se eles estiverem conosco. Foi até por isso que
decidimos nos casar depois que eles nascessem e não antes.
— Ainda estou surpreso com sua ideia de fazer o batizado com o
casamento. – And ri e acabo o acompanhando.
Sim, essa ideia foi a melhor que tive. Essa e a da Li e o Matt
estarem com roupinhas que sejam modelos infantis do meu vestido
e do terno dele.
— Sabe o que não me surpreenderia em nada se acontecesse
esse final de semana? – ele pergunta, passando a mão por minha
barriga e sinto um forte chute, que me faz fazer uma careta.
— O que? – pergunto curiosa.
— Se eles resolvessem nascer logo enquanto estivermos aqui. –
diz e sinto o calafrio percorrer minha espinha.
— Não diz isso nem de brincadeira, Andrew! – exclamo. – Esta
muito cedo para isso e não sei se estou pronta.
— Nós estaremos no momento certo. Não foi o que você mesma
me disse esses dias? – sorrio, concordando.
◆◆◆
Andrew
— Lindo. – Luara me chama assim que entra no quarto, enrolada
na toalha.
— Sim?
— Você não vai mesmo me contar aonde iremos essa noite? –
pergunta curiosa e sorrio. Claro que ela ia perguntar o que tenho
planejado para esta noite. Curiosa como é.
— Pediu para que te surpreendesse. – sorrio em resposta e ela
me olha de cara feia.
— Você é mau, Andrew. – diz e me da às costas, começando a
se arrumar. – O que é seu está guardado.
Franzo o cenho para sua última frase, mas decido não
questiona-la sobre o porquê disso.
No momento em que disse esta manhã que eu não estava
romântico, decidi que a levaria para conhecer a cervejaria Bohemia
aqui na cidade. E isso me custou um pouco, já que fiz uma reserva
para esta noite.
— Tenho certeza de que você vai gostar, anjo. – falo, pegando a
carteira e a chave do carro para guarda-los no bolso.
— Acho que vamos a algum restaurante. – comenta, olhando-me
pelo espelho.
— Já que a ideia de sairmos era para te surpreender, acho que
não precisa mais, né. – digo, jogando-me na cama. – Posso ficar
aqui.
— Você foi muito obvio, amor. – ela sorri e sobe na cama
comigo. Mais precisamente em minhas costas, e vai subindo suas
mãos por baixo de minha camisa. – Mas posso fingir surpresa. –
sussurra em meu ouvido e sinto sua barriga dura tocando minha
pele, causando um calafrio por todo meu corpo.
— Lu. – chamo e viro o rosto para poder vê-la. Quando aproxima
o rosto de mim outra vez, eu a viro de costas para cama, colocando-
me em cima dela, que segura meus braços.
— Oi? – pergunta com um sorriso tímido e meigo, na qual me
vejo retribuindo.
— Eu não vou te entregar fácil assim aonde iremos. – dou um
beijo em seus lábios e ela abre a boca em um pequeno e perfeito “o”
de indignação. – Você me pediu romantismo e surpresa. Não seria
tão previsível assim.
— Aiiiii! Não faz isso, And! – exclama. – Me diz. Por favor!
— E o que ganho em troca se te disser? – pergunto, ainda que
não esteja interessado em contrapropostas.
— O que você quiser. – responde e beijo seu peito, puxando um
pouco a toalha para solta-la de seu corpo e desço beijando-a, até
que esteja na altura de sua barriga, que esta sempre tão linda para
mim. – Mas eu realmente gostaria que jantássemos antes disto. –
diz, juntando um pouco do meu cabelo em suas mãos. – Você
precisa cortar esse cabelo. – sussurra com a voz pesada quando
coloco minhas mãos dos dois lados de sua barriga, sentindo alguns
movimentos.
— Como você quer que eu o deixe? – pergunto, desta vez
interessado e ela faz uma careta, considerando minha pergunta.
— Vou pensar em algo que realmente seja seu perfil e te digo. –
responde e concordo.
—Que tal se você terminasse de se arrumar para irmos? O lugar
aonde iremos não vai demorar muito a fechar.
— Ah... – ela franze o cenho. – Por que ir a um lugar que já esta
para fechar?
— É onde entra a surpresa. – respondo com um último beijo em
sua barriga e outro mais demorado em seus lábios. – Acho melhor
eu ir me arrumar. – diz quando afasto e saio de cima para que possa
se arrumar.
Luara levanta e veste seu short junto de uma camisa branca, que
na verdade é minha, e que fica extremamente sexy nela, junto de
nada além de um par de chinelos. Os cabelos soltos, caídos sobre
os ombros.
— Pronta? – pergunto quando vira outra vez para mim e sento
na cama.
— Mais do que pronta. – responde. – Na verdade, estou até
pensando em te compensar se você realmente conseguir me
surpreender esta noite.
— Tem certeza? – sorrio de lado e ela confirma. – O que eu
quiser de você?
— Qualquer coisa que quiser, gatão.
— Independente do que eu quiser que faça?
— Independente de qual for sua fantasia sexual. – diz. – Não vou
deixar meu noivo de saco roxo. – e pisca para mim, fazendo-me
gargalhar.
— Isso você tem se certificado muito bem. – pisco de volta. –
Trato feito então, gatona.
Ela então estende a mão para mim e a seguro com um aperto
forte e um beijo nas costas de sua mão.
— Estarei ansioso por isso.
— Eu também.
◆◆◆
Luara
Andrew dirige pela noite, enquanto tenho minha atenção voltada
para cada canto desta linda cidade, na qual só consigo me
apaixonar a cada vez que venho aqui. Ainda que as outras viagens
antes desta tenham se resumido a ficar na fazenda na maior parte
do tempo.
À noite esta com um tempo fresco, típico de uma cidade que fica
na serra e tudo o que consigo, é imaginar o calor que faz no Rio
hoje. O que não me agrada muito.
— Aonde iremos? – pergunto quando ele para em um lugar
afastado.
— Espera aqui. – pede e desce do carro, vindo abrir a porta para
mim. – Consegue andar por duas ruas? – pergunta, ajudando-me a
descer.
— Se for só isso, sim. – respondo, aceitando o braço que me
oferece.
— Não é longe. – diz e começamos uma caminhada a passos
lentos pela calçada até o outro lado do quarteirão, onde vejo um
grande prédio com aparência antiga.
— Cervejaria Bohemia. – leio, olhando para ele, que sorri. – Por
essa eu realmente não esperava.
— Você nem sabia que tinha isso aqui, Anjo. – diz e tento
parecer ofendida com sua insinuação.
— Como ousa?! – pergunto. – Não sabia mesmo.
Ele ri e ergue minha mão até sua boca e a beija.
— Faz algum tempo que quero conhecer este lugar. – comenta.
– Então que decidi te surpreender.
— O mais engraçado é que você trouxe uma mulher grávida a
uma cervejaria, meu lindo. – digo e ele franze o cenho.
— Eu não disse que seria a única surpresa que teria essa noite.
– mais uma vez Andrew sorri, mas tudo o que consigo fazer é
apertar forte sua mão quando subimos outro lance de calçada,
sentindo uma dorzinha incomoda.
— Esta tudo bem? – ele pergunta preocupado e aperto os olhos.
— É só uma dorzinha de leve.
— Quer voltar? Posso pedir uma pizza e comemos no chalé.
— Estou bem, And. Já passou. – respondo e olho para ele, que
tem uma expressão de pura preocupação no rosto. – É sério! –
exclamo. – Eu te aviso se for algo mais que isso. Prometo.
Concordando com a cabeça, Andrew passa o braço por minha
cintura e continuamos com a caminhada até o prédio do outro lado
da rua, que agora parece até ser bem longe para mim.
— É por isso que você tem que tirar sua licença maternidade
logo. – Andrew diz assim que chegamos à porta da cervejaria.
— Eu só vou mais até quinta-feira. – reviro os olhos bem quando
ele vira para falar com um senhor alto e de aparência gentil, que nos
leva até nossa mesa, entregando um cardápio para cada, mas
acabamos ficando com a dica da noite, que eu não faço ideia do que
seja.
— Você esta bem mesmo, Anjo? – And pergunta preocupado
logo depois do garçom servir sua cerveja e meu suco.
— Estou sim, lindo. – digo, segurando sua mão por cima da
mesa. – Pretendo segurar esses dois aqui dentro por mais algumas
semanas ainda. – ele sorri para mim e vejo suas covinhas, apesar
da barba.
— Estou louco para conhecê-los, mas até mesmo eu sei que
ainda é cedo para isso.
— Prometo que se ficar mais forte eu te aviso. – falo, beijando
meus dois indicadores para selar minha promessa. – Até porque,
acho que você perceberia que algo não esta certo só pelo tanto que
eu gritaria com você.
Andrew sorri um pouco mais aliviado, mas ainda percebo a
preocupação em seu rosto, muito provavelmente se perguntando se
fizemos bem por vir aqui hoje ou até mesmo por termos vindo
passar o feriado na cidade. O que me faz sentir um pouco de culpa.
— Quantas vezes você já veio até aqui? – pergunto para mudar
de assunto.
— Algumas várias. – responde e franzo o cenho. – Nossa
fazenda fica a poucos quilômetros da cidade, então que costumava
vir bastante à cidade com meu pai ou Manoel.
— Faz sentido. – sorrio. – E nunca veio aqui?
— Tem vários lugares nesta cidade onde ainda não me permiti
conhecer. – responde. – Tudo é questão de oportunidade.
— Espero que me deixe ir com você a esses lugares.
— Neste momento estou pensando em ir com você até a igreja
aqui do centro para nos casarmos e irmos passar nossa lua de mel
no Castelo Imperial, Anjo. – diz e arqueio as sobrancelhas, deixando
de prestar atenção em todo o restante do que diz.
Abro a boca para dizer algo bem quando o garçom chega com
nossos pedidos e acabo me distraindo com meu peixe com fritas,
que não sei se está realmente bom ou se estava com fome.
◆◆◆
Andrew
— Você parece distante, Anjo. – comento ao vê-la distraída em
seus pensamentos logo depois de terminarmos nossa sobremesa.
— Eu tenho vagas lembranças daquela primeira noite. –
comenta e franzo o cenho, tentando entender a que se refere. –
Quando nos conhecemos. – diz. – São apenas algumas imagens
vazias e destorcidas, que com o tempo ficaram ainda mais
apagadas na minha mente. Quando estávamos separados, tive um
sonho com você naquela noite. Íamos ao cinema, mas você não
apareceu.
— Sinto muito por aquilo.
— Eu me lembro de estar sentada na beira da piscina, de rir com
alguém que tinha acabado de conhecer e mais uma coisa, mas não
pode ser verdade. Eu não teria feito aquilo.
Luara ri com seus pensamentos e vejo suas bochechas corarem
um pouco, o que me faz sorrir.
— Me lembro de tudo o que aconteceu aquela noite. – falo. –
Talvez eu possa tirar sua duvida.
— Qual de nós levou a coisa toda? – ela pergunta. – Quem foi
que puxou para o primeiro beijo e para tudo o que veio depois?
— Confesso que entrei naquela festa com segundas, terceiras e
até quartas intenções, mas depois de conversar com você por um
tempo, desisti de tudo, porque seria errado.
— Fui eu. – diz boquiaberta e apenas confirmo. – Meu Deus.
— É tão ruim assim? – pergunto.
Naquele dia, com tudo o que aconteceu entre nós em tão pouco
tempo, eu só consegui admirar sua coragem por ter tomado a frente
no nosso primeiro beijo.
— Por que você deixou? Por que não me impediu?
— Porque seu beijo é doce e fez eu me apaixonar por você
naquele primeiro. – respondo. – Me fez ter esperanças.
— Esperanças? – Luara pergunta curiosa e confirmo. – De que?
— De um dia encontrar você outra vez, porque quando voltei a
São Paulo meses depois, eu não sabia mais chegar a sua casa. –
respondo a verdade, ainda que oculte o dia em que a encontrei
sentada na calçada de sua casa com outro rapaz. Ela parecia feliz
com seu namorado e eu tinha sido apenas um cara sem nome.
— Teve uma vez que imaginei ter visto você. – comenta,
segurando minha mão por cima da mesa. – Na frente da minha
casa. Mas não era.
Fico quieto quanto ao seu comentário. Afinal, este foi apenas
mais um dos vários desencontros que tivemos nestes sete anos
separados.
— Acho que nos apaixonamos um pelo outro mais de uma vez. –
Luara comenta.
— Duas. Talvez três. – concordo. – Mas não vem ao caso agora.
O que importa é que estamos noivos.
Luara sorri e acaba soltando um gemido baixinho, quase
inaudível, mas que me deixa preocupado.
— Tudo bem?
— Um chute na costela. – ela ri.
— Talvez sejam eles dizendo que já esta tarde e que querem
dormir. – digo, consultando o relógio em meu pulso e não sei bem
se me surpreendo ao ver que já são quase dez horas. – Acho que é
um sinal para irmos. – e levanto, ajudando-a a fazer o mesmo.
— Esse não foi o jantar mais romântico que tivemos. – Luara diz
enquanto caminhamos de volta até o carro, logo depois de
pagarmos a conta. – Aquela noite no meu aniversário vai ficar
marcada para sempre. Mas você se supera a cada dia que passa.
— Obrigado. – digo com um sorriso sem graça. – Eu acho.
— Não! – exclama, rindo. – Quero dizer que você está mais
aberto comigo agora de que naquela época. – diz, ficando de frente
para mim e se apoia em meu peito.
— Antes você era meu namorado, mas hoje você é meu amante
e meu melhor amigo. Confiamos e amamos.
— Você também esta mais aberta comigo. – concordo e ela sorri,
dando um beijo em meu peito.
Com um sorriso tímido, Luara passa o braço por meu quadril e
terminamos de chegar ao carro em silêncio e por algum tempo
ficamos lá dentro sentados, apenas sentindo os movimentos de
Alice e Matthew em sua barriga.
Capítulo Vinte
Quinta-feira
Luara
◆◆◆
Andrew
O relógio em meu pulso já marca uma e quarenta e sete da tarde
e até agora nada de Marcus aparecer para nos atender. Geralmente
ele é bastante pontual com suas pacientes, mas aparentemente
hoje ele esqueceu o relógio em casa e está atrasado. O que deixa
Luara seriamente impaciente.
— Quer fazer o favor de parar com essa perna? – peço,
colocando a mão em seu joelho em uma falha tentativa de acalma-
la.
— Não da! – exclama um pouco alterada. – Eu estou irritada e
essa demora esta piorando a situação mais ainda.
— Você precisa dormir um pouco, anjo. – digo. – Mas o que esta
te deixando irritada?
— Além do sono? – pergunta de volta, rindo. – Tem alguns
assuntos que preciso resolver e não sei se vou conseguir descansar
quando sairmos daqui.
— Por quê?
— Porque você esta curioso demais, lindo. – responde e me
olha.
— Esta irritada por minha causa? – pergunto. – Por que estou
escondendo algo de você?
— Com você estou chateada, não irritada.
— Eu quero te contar. – falo. – Só não sei como fazer isso.
Luara vira para mim e segura minha mão.
— É difícil para você? Contar algo assim para mim?
— Eu não diria que é difícil. – respondo, olhando mais uma vez
para o relógio. – Só é como se eu estivesse a um dia de me
despedir desse Andrew, para receber outro amanhã. E isso me
incomoda de alguma forma.
— Então me conta, And. – Luara pede. – Por favor.
— Luara. – ouço Marcus chama-la assim que sua paciente sai. –
Vamos?
— Podemos conversar sobre isso de casa? – peço e ela
concorda, levantando. – Obrigado.
— Eu sei que seu aniversário é amanhã, Andrew. – diz e
arregalo as sobrancelhas, um pouco surpreso com isso. Não que eu
devesse realmente estar. – E não entendo o motivo de não ter me
contado isso.
— Desculpem o atraso. – Marcus pede assim que nos
aproximamos. Eu depois de Luara, já que ela acabou deixando sua
bolsa para trás. – Problemas sérios com a outra mamãe. Mas não
com esta aqui e os gêmeos. – ele sorri para Luara, que não retribui.
– Como estão?
— Irritados, com mau humor e com sono. – ela responde. –
Aparentemente nem Matthew e menos ainda Alice entendem que as
noites foram feitas para dormir.
Marcus ri com a maneira com que Luara descreve a situação.
Por sorte ela deixa de fora o fato de que lhe escondi meu
aniversário.
— Vamos com calma, mamãe. – ele pede. – Afinal, isso é
apenas o começo. Depois vêm os choros e as noites em claro. As
fraldas sujas e muito mais.
— O pai que cuide, porque eu vou é dormir. – responde
enquanto sobe na cama. – Já passei muitas noites em claro.
— Nada mais justo do que dividirmos. – digo em minha legitima
defesa.
Ainda rindo, Marcus começa com a tradição costumeira,
passando o gel na barriga de Luara para o ultrassom.
— Aqui esta o motivo de você estar sentindo tanta dor nos
últimos dias. – ele diz assim que a primeira imagem toma forma no
monitor ao seu lado e não consigo conter o sorriso que sempre
cresce em meu rosto ao ver meus dois filhos.
— E qual seria? – Luara pergunta curiosa e a sinto apertar minha
mão.
— Vê aqui? – pergunta, indicando o monitor. – Os dois estão
virados e prontos para a saída. E considerando todo o
acompanhamento que fizemos e já conversamos, você consegue ter
um parto normal sem problemas.
— O que é mais recomendável. – Lu diz com a voz sufocada. –
Agora sim estou começando a ficar realmente nervosa.
— Não há com que se preocupar agora. – Marcus diz. – Apenas
deixe-os escolher a hora certa.
— Gostaria que nascessem amanhã. – digo meio que para
ninguém além de mim mesmo e percebo o olhar de Luara em mim.
– Mas ainda é cedo, então melhor não.
— Eu gostaria disso também. – ela concorda e sorrio.
— E você ainda esta trabalhando?
— Último dia hoje. – Lu responde. – Fiz meio período só para
poder deixar tudo em ordem antes de sair.
Marcus concorda e diz mais algumas coisas sobre os gêmeos
antes de tirar o gel da barriga de Luara e ir sentar em sua cadeira
para fazer algumas anotações, como sempre faz.
— Com eles já virados e sendo gêmeos – começa. –, existe uma
chance bem grande de a bolsa estourar a qualquer momento.
Começar a sentir contrações, dores mais fortes... Todos os sinais
que indiquem que esta chegando a hora.
— Agora sim eu estou nervosa.
— Não há com que se preocupar, Luara. Eu que já fiz vários
partos, senti o mesmo medo que vocês dois estão sentindo quando
estava para ter meu filho. É diferente quando esta do outro lado,
mas quando vocês segurarem eles vão ver que tudo valeu a pena.
— Alguma recomendação em particular? – pergunto curioso.
— É importante que Luara não fique muito sozinha. – diz. – E
isso cabe já a você cuidar disso.
— Viu? Eu disse que você ia precisar ficar comigo quando eu
tirasse licença. – ela mostra a língua para mim e sorrio. – Tem
certeza de que esta tudo bem? – pergunta. – Quer dizer, acabei de
completar sete meses. E se de repente começar a sentir tudo isso
amanhã ou depois e...
— Eles estão grandes e saudáveis, mãe. – Marcus responde. –
Se este for o caso, faremos o que tem que ser feito, sem agilizar e
nem atrasar isto. Apenas procurem aproveitar esse tempo que resta
para passeios, relações sexuais. O que já costumam fazer.
— E é seguro continuarmos? – pergunto. – Não tem risco de
machucar?
— Ao contrário do que muitos pensam, ter relação até perto do
parto ajuda no nascimento. Se vocês mantem e se sentem seguros,
não tem problema. Mas também existem outras formas
— Acho que estou confiante quanto a isto então. – Luara diz,
piscando para mim e não sei se sinto desconforto ou o que por ela
deixar nossa intimidade tão exposta para seu médico. Ainda que ele
saiba mais do que eu gostaria.
◆◆◆
Luara
No meio da tarde, acordo com meu celular tocando e vejo na tela
que é Julie, o que me deixa tranquila quanto a atendê-la com
Andrew por perto. Principalmente por ele ainda estar dormindo.
— Oi, amor. – digo.
— Como vai a mamãe mais linda do mundo? – ela pergunta e
logo sei que quer algo.
— Acho que um pouco melhor. Consegui dormir um pouco
depois que cheguei do médico.
— E ai?
Com um bocejo longo, conto a ela toda a conversa com Dr.
Marcus, deixando de fora a história sexual, porque não tem
necessidade de dizer isso e Ju fica feliz quando digo que os gêmeos
já viraram e podem nascer a qualquer momento, de acordo com a
vontade deles.
— Mas acho que não foi bem por isso que você ligou. – chamo
sua atenção.
— Também foi por isso. – diz. – Está tudo certo sábado? –
pergunta e olho para And, que ainda dorme ao meu lado e me vejo
passando a mão por seus cabelos. Ele parece apenas um menino.
— Esta sim. – respondo. – Já marquei horário para nós duas no
salão e o Pedro esta vendo toda a parte “bruta” da coisa.
— Ele esta ai perto? – pergunta e murmuro em afirmativo,
fazendo-a rir.
— Vou só ligar para a mãe dele depois, para ver como as coisas
estão por lá e o mais difícil vai ser no sábado mesmo.
— Você pode, sei lá, pedir para que a mãe dele ligue convidando
vocês para jantar com eles sábado. – Ju sugere.
— Meu Deus, Julie! – exclamo, contendo a emoção. – É por isso
que eu amo tanto você!
Ela ri.
— Miga? – Ju chama daquele jeito de quando aprontou algo. –
Você conhece algum programa que apague por completo algo do
computador? Sem ter como você restaurar depois?
— Existem vários que são bem eficientes. – respondo.
— Graças a Deus! – ela murmura do outro lado. O que me deixa
curiosa.
— Por que da pergunta?
— Nada. É só que... Curiosidade.
— Julie.
— O Fe comentou sobre algo assim ontem, quando estávamos
em casa. – diz. – Fiquei curiosa.
— O que vocês dois aprontaram que não pode ser visto? –
pergunto agora desconfiada e ela ri, parecendo realmente nervosa.
— Não fizemos nada, oras! – exclama e percebo a mentira no ar.
– Preciso desligar. Vou sair com o Fe para conhecer mais um
pouquinho aqui de Porto Alegre.
— Que inveja de você. – digo com um suspiro, quase que
esquecendo que ela esta mentindo para mim.
— Vou te levar várias lembrancinhas. Principalmente para os
meus sobrinhos lindos. – Julie diz. – Amo vocês!
— Sua doida. – rio. – Você vai me contar sábado o que vocês
aprontaram na sua casa.
— Não vou, não. – ela ri e desliga.
Com um beijo no rosto de Andrew, saio de fininho da cama e vou
até a sala para poder ligar para sua mãe e combinar com ela os
últimos preparativos da festa. O que me levou há passar meia hora
no telefone, conversando sobre isso e também sobre minha
consulta.
Tudo esta no ponto para que esta festa saia como planejei e até
agora ele não desconfia de nada.
— Anjo? – ouço Andrew chamar do quarto e vou até ele. – Tudo
bem? – pergunta quando apareço na porta, vendo meu menino todo
descabelado, inocente e até mesmo um pouco confuso.
— Tudo perfeitamente bem. – respondo, subindo na cama com
ele.
E pretendo que ele continue sem saber de nada até a hora certa.
Capítulo Vinte e Um
Sexta-feira
Andrew
Uma música toca baixa e longe, trazendo-me de um lugar
distante para a realidade do que hoje. A melodia é calma e desperta
um sentimento familiar em mim. Algo que... Faz com que me lembre
da noite que tivemos em Goiânia, quando pedi meu anjo em
casamento e ela aceitou.
— Bom dia, gatão. – sua voz chega até mim, arrancando-me um
sorriso ainda sonolento.
— Bom dia. – respondo com a voz rouca, ainda de olhos
fechados. Sinto-me completamente cansado pela noite.
A cama sacode um pouco e logo sinto um corpo sentar em
minhas pernas e duas mãos que sobem por meu peito nu, parando
apenas nos ombros.
— Olhe para mim. – Luara sussurra bem quando Jason Derulo
embala ao ritmo de Mary Me. Uma música bem conveniente e que
coloquei para tocar apenas para nós dois aquela noite.
— Estou olhando. – sussurro com apenas um olho aberto, vendo
minha garota sentada em cima de mim. O sorriso de bom dia que
oferece apenas me mostra um dos motivos de ser tão perdidamente
apaixonado por ela.
— Com os dois olhos abertos, Sr. Giardoni! – exige e sorrio.
— Estou olhando! – respondo, querendo rir.
— Feliz aniversário, meu amor! – exclama, jogando os braços ao
redor do meu pescoço, dando-me uma sequência de vários beijos
por todo meu rosto, seguido de muitos outros em minha boca. – Eu
queria te dizer um monte de coisas fofas quanto a esse dia tão
especial para você, mas me faltam palavras para descrever tudo o
que significa para mim, estar aqui com você. Então...
Luara suspira e sorri aquele seu sorriso que vai de um lado a
outro e faz com que meu coração se contraia dentro do peito antes
de dizer:
— Eu amo estar aqui com você e tudo o que tem me dado até
hoje. Amo o quanto você me mudou em tão ao seu lado e a forma
com que foi capaz de tornar cada um dos meus sonhos uma
realidade ao seu lado e... – ela faz uma pausa e suspira outra vez,
deixando claro seu nervosismo. Para incentiva-la, passo o polegar
por seu braço. – E eu amo o fato de você ter me deixado entrar na
sua vida de uma forma tão completa, porque... – e outra pausa,
desta vez para colocar minhas mãos em sua barriga e sinto nossos
filhos ali. – Nós amamos você, papai. E eu amo você, meu amor. –
completa com um beijo em meus lábios e tudo o que consigo fazer é
correspondê-la.
— Essas são as melhores palavras que alguém poderia dizer a
mim. – sussurro, colocando seu cabelo para trás da orelha e ela
sorri toda tímida. – Você ensaiou isso? – provoco.
— Não! Eu... Improvisei tudo isso, seu bobo.
— Eu amei. – digo, tomando seu rosto entre minhas mãos e a
beijo. – E amo vocês três.
— Espero que esteja com fome, porque encomendei um café da
manhã especial de aniversário para você. – Lu diz e olha para o
lado da cama, fazendo com que pela primeira vez eu note o que
colocou ali.
É uma bandeja cheia de coisas deliciosas e tentadoras. Suco,
pão, bolo e biscoitos, achocolatado, frutas e cereais, chocolate e até
mesmo duas flores em um pequeno vaso para decorar.
— O que é isso? – pergunto curioso, notando a caneca entre
todas as coisas e a pego para ler a mensagem escrita. O que me
faz sorrir. – Para o melhor pai e marido do mundo.
Olho para Luara com o cenho franzido, contendo a vontade de
joga-la na cama e beija-la o máximo que conseguir.
— Eu amei, anjo. Obrigado.
— Você merece. – sorri em resposta. – Eu espero que sua
agenda esteja livre pelo dia todo, porque já a preenchi toda com
coisas apenas para nós dois. – diz e arqueio a sobrancelha, curioso.
– Deixei uma horinha livre para os seus pais, não para o trabalho.
— Desse jeito Ana terá que arrumar outro trabalho, já que minha
noiva faz questão de fazer o serviço completo. – pisco para ela. –
Espero que tudo esteja tão bom quanto aparenta, porque estou
faminto.
◆◆◆
Luara
Ao som de Into You, uma das várias músicas da playlist que criei
junto de Pedro especialmente para o dia de hoje e a festa de
amanhã, chegamos a Mansão Giardoni, onde ficaremos pela
próxima hora. O que, acrescente aqui, foi uma desculpa mais do
que justa que arrumei para poder acertar alguns últimos pontos que
Lilian.
Logo que saímos, pedi para que And passasse do Golden para
pegarmos com o Seu José a chave do nosso apartamento que
finalmente ficou pronto e, contra todas as minhas vontades, recusei-
me eternamente a subir com ele para vermos como tudo ficou
depois de pronto, dizendo que tínhamos hora para seguir e não
poderíamos nos atrasar de maneira alguma. Mas a verdade é que
pedi pessoalmente para que a decoradora preparasse algo para
mim, na qual usaremos somente à noite, como nossa última parada
do dia.
— Você parece pensativa, anjo. – Andrew chama minha atenção
para ele assim que desliga o carro.
— Estou feliz. – sorrio para ele, que me retribui.
— Eu também. – diz. – E mais ansioso ainda para saber o que
você aprontou por aqui e para todo o dia.
Ouvir suas palavras me faz rir.
— Não vou te contar nada, meu amor. – digo, passando a mão
por sua barba. – E nem adianta querer investigar com sua mãe,
porque ela não vai te contar nada.
— Não sabia que você era tão vingativa assim, linda. Ou que
vocês duas tivessem ficado tão amigas assim.
Com uma careta, And desce do carro e vem abrir a porta para
mim, como sempre costuma fazer.
— Isso porque não estamos contando sua avó, lindo. – comento,
enlaçando meu braço no seu e a expressão de surpresa em seu
rosto me faz querer rir, mas me seguro, porque pretendo torturar
meu lindo pelo dia todo e mais ainda amanhã, só por não ter me
contado do seu aniversário.
◆◆◆
Andrew
Ainda que Luara tenha sido clara ao dizer que eu deveria ficar
longe de trabalho por todo o dia de hoje, o fato de saber que dentro
de algumas horas será a celebração de inauguração do novo
escritório em Porto Alegre não me deixa mais calmo a ponto de não
querer saber como as coisas estão indo.
Desde que acordei, evitei atender qualquer chamada do trabalho
ou que pudesse ter relação a ele. O que já me levou a receber
algumas dezenas de mensagens e e-mails me parabenizando. Mas
a preocupação não me deixa relaxar, então ligo para a única pessoa
na qual Luara não irá se preocupar se me ouvir conversando com
ele.
— Fala, idoso. – Felipe diz logo que atende minha ligação.
— Vou ignorar isto. – falo. – Como estão indo as coisas por ai?
— Está tudo correndo perfeitamente bem. – responde e percebo
o sorriso em sua voz. – Estou mostrando a cidade pra Ju aqui e ela
disse que não quer mais voltar para São Paulo.
— Ei! – ouço Julie do outro lado, seguido da risada do meu
amigo. Só não entendo quando fala algo com ele.
— Mas quanto à inauguração – volta em linha comigo. –, já liguei
para os organizadores e está tudo indo como esperávamos. Ana
também me passou mais algumas pessoas que confirmaram
presença de última hora.
— Quantos? – pergunto curioso.
— Dez. – responde. – Todos aqui de cidades vizinhas e que
estão curiosos para saber como tudo irá funcionar.
— Tudo vai dar certo. – digo comigo mesmo e Felipe concorda.
— Falei com João também. Você não precisa se preocupar com
nada aqui.
— Confio em vocês para manter o nome da minha empresa. –
respondo e levo a mão aos cabelos bem quando sinto um par de
braços se envolverem em minha cintura.
— Não é sobre trabalho, é? – Luara pergunta baixinho e nego,
dizendo que estou em linha com Felipe e, mesmo sabendo que
envolve parte de trabalho, não diz nada.
— Julie está mandando parabéns para você aqui. – Felipe diz e
ouço a garota dizer algumas palavras do outro lado.
— Obrigado, Julie.
— And, lindão, espero que mesmo velho você continue dando
conta do recado com minha amiga, viu? – ela ri.
— Não se preocupe com isso. – respondo. – Luara está
acompanhada do homem mais viril que você já conheceu. – do
outro lado, Julie ri, enquanto Lu me encara com o cenho franzido e
preciso segurar a risada. – Você deveria se preocupar com seu
namorado, já que ele é dois anos mais velho de que eu.
— Um ano e meio! – Felipe exclama.
— Porque vocês dois não vão dar um passeio e aprontar mais
um pouco das artes de vocês? – Lu entra na conversa e os dois
riem. – É aniversário do meu lindo e o requisitei todinho só para mim
hoje. Amanhã vocês conversam.
— Não se preocupe, Luara. Ele é todo seu. – responde Felipe. –
Apenas estávamos conversando sobre dez novas confirmações
para esta noite e que ele não precisa se preocupar com nada.
— Obrigada e cuide de tudo por ai. – Lu diz em resposta. –
Tchau e me tragam presentes!
Quando ela diz isso, os dois riem do outro lado.
— Eles já estavam aprontando alguma coisa por lá. – comenta e
me viro de frente para ela, tomando-a em um abraço.
— Podemos ir para casa descansar um pouco? – peço. – Dormi
mal está noite e estou exausto.
— Vim justamente te chamar para irmos. – responde. – Também
estou cansada. – completa com um bocejo e me pego imitando-a.
— Só vamos nos despedir então. – sugiro e ela aceita,
enlaçando a mão na minha e saímos em busca de alguém que
ainda esteja acordado depois do almoço aqui nos meus pais. –
Mãe? – chamo e ela logo aparece na porta da cozinha, secando as
mãos em um guardanapo.
— Já vão? – pergunta.
— Lu precisa descansar um pouco e estou quebrado também. –
falo. – E acho que passamos mais tempo aqui do que ela havia
planejado.
— Mas adorei o almoço da senhora! – acrescenta rápido,
fazendo Lilian rir.
— Seu pai e eu estamos pensando em fazer um jantar amanhã.
– diz. – Só seus avós e vocês, se aceitarem.
Olho para Luara, que sorri para mim.
— Eu adoraria.
— Eu também. – concordo.
— Felipe e a namorada dele voltam amanhã, não? – pergunta e
confirmo. – Convide-os para jantar conosco. – pede. – Estou louca
para conhecer Julie.
— Vou mandar uma mensagem para ela assim que sairmos.
Tenho certeza de que ela vai adorar vir. – Lu informa e minha mãe
vira para mim.
— Michele está na cidade? Estou com saudades dela. Seria bom
se viesse também.
— Vou ver com o Felipe e peço para que a chame também.
— Ótimo! – Lilian exclama animada, batendo uma mão na outra.
– Estejam aqui às sete e meia, sem atraso.
— Nunca me atraso, Lilian. – digo e lhe dou um abraço para me
despedir e Luara faz o mesmo, trocando com ela algumas palavras
que não consigo ouvir. O que me deixa curioso, mas também não
pergunto nada, já que estou mais cansado de que qualquer coisa.
— Esta tudo bem, anjo? – pergunto ao notar a perna de Luara
balançando de maneira quase que impaciente, como sempre
acontece quando esta ansiosa por algo. – Parece nervosa.
— Percebeu, foi? – pergunta de volta, dando uma risadinha que
confirma seu nervosismo. – Vira nessa rua aqui. – diz e obedeço.
Seja lá o que tiver em mente agora, estou curioso para descobrir.
Até agora gostei de todas as coisas que fizemos esta tarde. Então
sei que vai me surpreender mais uma vez. – Não vamos para casa
hoje.
— Não? – pergunto com um sorriso de lado e ela confirma. – E
para onde iremos agora?
— Para o nosso lar. – diz e logo posso ver o enorme prédio do
Golden Village pouco a frente.
— Fico feliz por ver você chamar nosso apartamento de lar.
— É o que ele é, And. – sorri em resposta.
— Estou curioso para saber o que você tem planejado para
agora. Principalmente depois da nossa sessão quente no cinema. –
digo para provocar Luara e ela ri, ficando tão vermelha quanto
possível.
Como ela estava cansada ontem depois da consulta, decidimos
deixar o filme para hoje e fomos para pegar a primeira sessão desta
tarde. Mas Luara não parecia muito disposta a assistir a filme algum.
Muito pelo contrário, já que ficou a maior parte dele brincando com o
pequeno And e me torturando. E eu adorei, por que... A tortura, a
adrenalina de sermos pegos no meio da sala de cinema, enquanto
todos gritavam e aplaudiam. Tudo foi quente e excitante com sua
mão se movendo tão deliciosamente em mim.
— And? – ouço sua voz me chamar quando fecho os olhos para
esperar o portão abrir.
— Vou gostar da surpresa? – pergunto com a voz rouca e
carregada, pousando a mão em sua coxa macia.
Aguardo por sua resposta, mas ela só vem após estacionar em
minha vaga habitual, ao lado da sua, que agora tem o número
Quinhentos e dez pintado no chão e na parede de frente.
— Só vem comigo. – pede, abrindo sua porta para descer e vou
atrás dela. – Mantenha a calma, Lu. – sussurra consigo mesma e
franzo o cenho.
— Esta tudo bem mesmo, anjo? – pergunto, tomando sua mão
na minha.
— Estou ansiosa para saber como tudo ficou. – diz e concordo,
entrando atrás dela no elevador de acesso ao apartamento. – Você
vai primeiro. – Luara chama minha atenção para ela pouco antes do
elevador parar no nosso andar.
— Você é quem manda. – sorrio em resposta e a porta se abre e
aos poucos vejo uma fraca luz invadir o elevador e isso me deixa
curioso. – Uau. – sussurro assim que se abre por completo, sentindo
suas mãos agarrarem minha camisa por trás. – Fez tudo isso
sozinha?
— Na verdade, não. – Lu responde. – Seria o mesmo que vir
aqui sem você e não era justo. Então que pedi para que a
decoradora preparasse algo mais... Intimo. Para uma noite a dois e
pelo visto ela arrumou isso.
— Vem. – convido, outra vez segurando sua mão e assim
entramos na sala de estar, que não é mais nada do que eu estava
acostumado.
— Acho que teremos que seguir o caminho para descobrir o que
tem no final. – Lu diz e acompanho seu olhar, notando o caminho de
pétalas de rosas vermelhas espalhadas por todo o chão, que nos
leva ao nosso quarto.
— Tenho uma ideia melhor sobre como podemos seguir essa
trilha. – sussurro em resposta, puxando-a para perto de mim e puxo
sua blusa para fora do corpo, deixando-a apenas com seu sutiã de
renda preta.
— Adoro quando você tem essas ideias. – sorri e se apoia em
meus ombros, ficando na ponta dos pés para me beijar.
Envolvo minhas mãos na cintura de Luara e passo minha barba
por seu pescoço, dando beijo ao longo dele todo.
— Não lembro mais qual foi o nosso começo – recito em seu
ouvido, correndo os dedos por seu braço, fazendo com que se
arrepie ao meu toque. – Sei que não começamos pelo começo. –
beijo seu ombro, subindo para o pescoço. – Já amor antes de ser.
— Clarice Lispector. – Luara reconhece o verso e sorrio, sem
conseguir dizer qualquer coisa mais. No lugar das palavras, eu a
levo pelo corredor enquanto nos beijamos.
— Não faz ideia do efeito que tem sobre mim quando faz tudo
isso por mim. – digo, tocando seu pescoço em um beijo leve.
— Esse é o efeito que você causa em mim todas às vezes, meu
lindo. – diz em resposta quando chegamos ao nosso quarto que
também tem uma iluminação fraca. – Ficou do jeito que você
imaginou? – pergunta quando afasto para poder ver o resultado de
tudo.
Onde antes ficavam os dois quartos que dividíamos através de
uma parede fina bem no meio, agora tem apenas um quarto grande
e enorme, com uma cama extragrande, colocada ao meio, criando o
nosso quarto.
Todo o ambiente está com uma fraca iluminação por conta das
várias velas colocadas ao lado da cabeceira da cama e pelo chão
tem mais pétalas de rosas. Na cama, um lençol branco de seda e
um coração com mais rosas.
— Ficou melhor do que imaginei, anjo. – respondo após o que
me parecem longos minutos bem quando sinto as mãos de Luara
desabotoarem minha camisa e ela deslizar por meus braços, indo
ao chão.
— Também achei isso. – Lu sorri e a viro de costas para mim,
envolvendo meus braços por sua barriga, apertando-a contra mim.
— O amor é tão mais fatal do que eu havia pensado... – recito
outro verso, pousando beijos ao longo de seu ombro. – O amor é
tão inerente quanto à própria carência, e nós somos garantidos por
uma necessidade que se renovará continuamente...
—... O amor já esta. – Lu vira de frente para mim outra vez e
prende os dedos ao cós de minha calça, arrancando um sorriso de
mim. – Está sempre. Falta apenas o golpe de graça – que se chama
paixão.
Olhando em seus olhos castanhos, eu os vejo brilharem,
refletindo as chamas de uma das velas atrás de nós. Seu rosto um
pouco sombreado e um pouco alaranjado por conta das chamas, o
que a deixa ainda mais linda para mim.
— Quero ser apenas sua, Andrew. – Luara diz, segurando meu
rosto entre suas mãos. – Para sempre, de corpo e alma e por
inteira.
— Eu já sou seu, anjo. – respondo, acariciando os nós de seus
dedos, pousando suas mãos em meu peito logo em seguida.
Beijando-a de vagar e sem pressa, onde minha linda e amada noiva
me convida entre beijos para sentar com ela na cama e a deixo em
meu colo, soltando seu sutiã para sentir seus seios contra meu
peito.
— Feliz aniversário, meu amor. – sussurra contra meus lábios. –
Eu amo você como nunca achei que fosse ser capaz de amar
alguém.
— Amo você também, meu amor. – sussurro a resposta,
deitando de lado na cama com ela, que sorri, pouco antes de passar
a mão por minha perna, pelo pequeno And.
Capítulo Vinte e Dois
Sábado
Luara
◆◆◆
Andrew
— Vem cá. – chamo, trazendo Luara para minha frente e a sento
em meu colo.
— O que foi? – pergunta, envolvendo os braços por meu
pescoço.
— Só me deixa ficar aqui por toda a vida. – sussurro, afundando
o rosto entre seus seios e a abraço.
— É claro que sim, meu anjo. – responde, apertando-me ainda
mais e assim ficamos por tempo suficiente para que eu possa
esquecer todo o medo que sinto com a proximidade da chegada dos
nossos filhos.
— Que cheiro delicioso é esse? – pergunto, sentindo um cheiro
de chocolate e coco invadindo o quarto e Luara afasta no mesmo
instante.
— Meu Deus! – exclama. – Eu quase me esqueci do bolo no
forno!
— Fez um bolo e não me falou nada? – pergunto, ajudando-a a
se levantar e ela admite. – De que?
— Prestígio. – sorri em resposta. – Do jeitinho que você gosta
quando faço.
Sorrio de volta para ela, também levantando.
— Não vejo como poderemos ser pais ruins. – falo. –
Principalmente por você saber qual é meu bolo favorito e como ele
tem que ser. Com os dois vai ser ainda melhor.
— Me ajuda no recheio? – Lu pergunta um pouco corada e
entrelaço nossas mãos, saindo com ela do quarto, sentido o
delicioso aroma de chocolate que parece querer dominar o
apartamento todo.
— Adorei o resultado do que fizemos aqui. – comento. – Vai ser
um bom lar para criarmos nossos filhos.
— Lar é onde seu coração está. – Lu diz baixinho, quase que
consigo mesma e aperto sua mão, concordando. Afinal, só consegui
realmente ter este apartamento como lar depois que ela entrou em
minha vida. É como se tudo tivesse mudado desde então.
◆◆◆
Luara
Não acredito que até agora tudo esta correndo tão bem! Quer
dizer, estamos há duas quadras da mansão Giardoni e meu lindo
nem suspeita de que tem uma festa surpresa esperando por ele. E,
se suspeita, ele é realmente bom nisso de disfarçar, porque não me
questionou sobre nada e eu já teria enchido ele de perguntas de
todo tipo se desconfiasse de algo assim para mim.
Pego meu celular na bolsa para mandar a mensagem codificada
que combinei com a Ju, para avisar quando estivéssemos chegando
e ela pudesse preparar todo mundo lá na casa.
— Você parece ansiosa, anjo. – Andrew chama minha atenção e
quase derrubo o celular aos meus pés com o susto que tomo. – E
assustada também. – acrescenta.
— Eu diria mais que distraída. – respondo bem quando a
resposta de Julie chega.
◆◆◆
Andrew
Luara parece toda misteriosa desde que chegamos aqui nos
meus pais e mais ainda enquanto subimos os degraus da varanda.
Ela lança olhares de relance para mim e sorri como quem aprontou
algo e começo a desconfiar que realmente tenha feito algo nesse
sentido quando saiu com Julie. O que é aceitável, considerando
todas as histórias que já ouvi das duas.
— Acha que devíamos ter trazido algo para o jantar? – ela
pergunta, tirando tudo da minha mente. – Poderia ter aproveitado
que fiz o bolo e feito... Sei lá. Qualquer coisa para sobremesa.
— Não se preocupe com nada, anjo. – respondo. – Minha mãe e
Karen sempre preparam tudo quando fazem esses eventos. – franzo
o cenho, recordando-me do último jantar que minha mãe fez aqui
nesta casa, antes mesmo de se mudar para Londres com meu pai. –
Já faz tempo desde o último. – comento e abro a porta, permitindo
que minha garota vá na frente.
— Talvez estejam lá em cima. – Lu sugere e olho ao redor, mas
não tem sinal de ninguém. – Ou na cozinha.
— Na certa minha mãe esta na cozinha cuidando dos últimos
preparativos. – concordo e seguimos pela sala de visitas até chegar
à cozinha também vazia. – Que estranho. Será que erramos a data?
— Não. – diz rápido demais. – Quer dizer, conversei com sua
mãe hoje mais cedo e ela me confirmou que seria esse sábado.
Então...
— Lilian? – chamo, enquanto Luara vai pegar um copo d’água
para tomar, voltando até mim. – Olá?
— Estamos aqui no fundo, filho! – minha mãe responde e olho
para Luara, oferecendo a mão a ela.
— Ao menos estão em casa. – comento e abro a porta para que
possamos sair e o que vejo aqui é a última coisa que esperava
encontrar.
— SURPRESA! – o coro de vozes exclama assim que coloco o
pé para fora e sinto quando Luara aperta minha mão, mas sou
incapaz de olhar para ela nesse instante. Fui pego. Toda minha
família e amigos estão aqui, com exceção de tia Lívia. Como?
Como se estivesse em câmera lenta, eu olho para o lado e vejo
Luara com o sorriso mais descarado do mundo.
◆◆◆
Luara
— Você. – Andrew sussurra para mim e tudo o que consigo fazer
é sorrir ainda mais.
— Surpresa! – exclamo.
— Como você... – ele começa, mas não consegue completar a
frase, já que é tomado por várias mãos e abraços que o
parabenizam. Grande parte das pessoas aqui eu nunca nem vi na
vida. Quem dirá então conhecer algum deles.
— Você conseguiu! – Lilian diz assim que chega até nós.
— O que é esconder uma festa surpresa dele, quando escondi
por dois meses que sabia do seu aniversário? – pergunto como se
isso não tivesse sido o menor sacrifício. Mas a verdade é que por
várias vezes quase deixei tudo escapar.
— Anjo? – ouço Andrew me chamar e olho para ele, que estende
a mão para que vá até onde esta.
— Com licença. – peço, indo até lá. – Oi, lindo.
— Quero te apresentar alguém. – ele diz e noto a moça loira
parada ao seu lado. Ela é linda, alta e toda corpulenta. Quem é essa
vadia?! – Anjo, esta é Celiny Lewis, uma velha amiga e
companheira no meu intercambio em Londres. – “Amiga” né, meu
querido? Reviro os olhos para ela um tanto quanto descontente.
Lilian poderia ter me poupado desta. – Celiny, esta é Luara, minha
amada noiva e mãe dos meus dois filhos.
— É um enorme prazer conhece-la, Luara. – Celiny diz,
cumprimentando-me com um beijo em cada bochecha. – Ouvi muito
falar de você nas poucas horas que tive com o Drew lá em Londres.
Olho para Andrew, sentindo-me ainda mais desgostosa com a
situação. Por que ele nunca me falou nada sobre ela e por que
agora quer nos apresentar? Será que eles... ARGH!
— Celiny é a amiga que me abriu os olhos quanto a ficar longe
de você, Lu. – ele diz, envolvendo os braços ao redor de minha
cintura. – A amiga que não via há anos.
— A do boneco de areia? – pergunto, lembrando-me da história
que me contou e ele concorda. – Ah! – exclamo. – Desculpa. Eu...
— Com um homem desse eu também me preocuparia. – ela ri. –
Daniel deve estar por ai, na certa correndo atrás do George.
Quando encontra-los, prometo que os apresento a vocês.
— Vai ser um prazer. – And responde e conversamos por mais
alguns minutos, sendo desviados para conversas rápidas com
vários outros amigos de Andrew. Homens jovens e da idade dele, da
época da faculdade.
Depois vieram João, Pedro, acompanhado de Rodrigo e tantos
outros empresários e até mesmo advogados. Desta parte reconheço
mais, já que são mais presentes.
— Por que dos seus amigos eu só conhecia Felipe? – pergunto
quando finalmente ficamos sozinhos e Andrew me serve um copo
de suco.
— Porque para mim ele é mais como um irmão e os outros são
colegas de saideira e que muito raramente vejo. – responde. –
Agora me conta: como conseguiu me fazer uma festa surpresa bem
debaixo do meu nariz e esconder tão bem?
—Porque sua mãe me desafiou e eu achei que você merecia
algo especial, ainda que não merecesse de fato, já que me
escondeu seu aniversário. – respondo. – Só fiquei chateada por sua
tia não ter conseguido vir. Estou doida para conhecê-la.
◆◆◆
Andrew
— Dessa vez você foi pego, Andrew. – Felipe diz, provocando-
me.
— Nunca foi segredo que Luara sempre conseguiu comigo o que
ninguém nunca antes foi capaz. – respondo, pousando um beijo nos
cabelos da Lu.
Estou sentado em uma mesa próxima à piscina junto de Luara,
Felipe e Julie, surpreso com o que minha garota e minha mãe
fizeram aqui para mim.
A música, a decoração... Tudo ficou em um nível bastante
profissional e soube que quem preparou a maior parte disso tudo foi
Pedro. Sempre ouvi que as festas que ele da em sua casa são boas
e, mesmo tendo sido convidado para várias delas, nunca me
interessei por ir. Principalmente por saber que vários funcionários
meus sempre estão lá e isso poderia não ser agradável, já que não
é todo mundo que consegue separar as coisas.
— Mas me diga, Felipe. – chamo sua atenção para mim. – Como
foram as coisas ontem?
— Posso responder essa? – Julie entra na conversa toda
animada. – Teve um senhor lá que disse que só fecharia negócios
com a BIT se eu fosse uma das responsáveis. – diz e arqueio a
sobrancelha, vendo meu amigo fechar a cara para ela. – Ele disse
que eu era muito...
— Tudo correu muito bem, obrigado. – Felipe a interrompe. – Na
segunda-feira, Ana ira passar um e-mail para você com o relatório
de tudo o que aconteceu por lá e Igor já ficou avisado sobre como
tudo deve correr em sua gestão. João mesmo conversou com ele a
respeito.
— E pelo visto não foi só com a BIT que as coisas correram tão
bem lá em Porto Alegre. – Lu comenta, chamando a atenção de
todos para ela, que tem o olhar preso na mão da amiga. – Achei
linda a aliança de vocês dois. – diz e Julie sorri um pouco sem
graça.
— Mais lindo foi o que o Fe fez antes de me dar ela. – responde
e olha para o namorado. – E eu a amei muito. – completa e vejo o
sorriso no rosto do meu amigo.
◆◆◆
Luara
— Vou pegar outra cerveja. – Andrew diz já se levantando.
— Trás uma água para mim, por favor. – Ju pede. Ela esta um
pouquinho mais animada do que deveria, mas ainda esta ciente de
tudo o que fez a noite toda.
— Eu pego para você. – Felipe se oferece e sai junto do amigo,
deixando nós duas finalmente sozinhas.
— Agora anda e desembucha de uma vez o que vocês dois
fizeram na sua casa. – peço, não conseguindo mais conter a
curiosidade. – Por que você queria saber do programa?
— Eu já falei o porquê, Lu! – exclama. – Nós estávamos em casa
conversando sobre vários assuntos e fazendo um lanche depois
de... Bem...
— Não vai me dizer que vocês dois ficaram vendo pornô. – tento
jogar verde para se consigo descobrir algo, mas tudo o que Julie faz
é rir e contar sobre o quão ansiosa esta para vir passar suas férias
aqui no Rio de Janeiro. O que nos levou a entrar em uma conversa
sobre casamento, batizado e maternidade.
◆◆◆
Andrew
— Felicidades, Andrew. – Guilherme, que trabalha sob a
supervisão de Luara me cumprimenta e aceito seu aperto de mão.
— Valeu. – respondo. – E ai? Esta se divertindo?
— Acho que estou um pouco perdido aqui. – diz e acabo rindo.
— Não fique. Pelo que vi, tem várias pessoas lá da BIT por aqui.
— E uma delas esta de olho em você. – Pedro entra em nossa
conversa. – Duas mulheres olhando para cada um de vocês. –
acrescenta e olho para o lado de Luara, que conversa com uma de
suas colegas do trabalho. Sorrio para ela ao ser pego encarando-a.
— Com todo respeito, Andrew. – Pedro chama minha atenção. –
Mas Luara esta um arraso esses últimos meses bem mais do que o
normal. Essa ração que você tem ai é boa mesmo, ein? – diz e ri,
fazendo com que eu me sinta levemente desconfortável.
— O que posso fazer? – pergunto com um sorriso de lado
quando Luara vem até nós.
— Estão falando sobre o que? – ela pergunta, oferecendo-me
seu copo e apoia-se em mim de maneira que eu sinta todo seu
corpo colado ao meu.
— Sobre aquela coisa que estávamos conversando há alguns
dias.
— Que coisa? – pergunta de volta e me olha por cima do ombro.
Para evitar que se afaste, entrelaço seu quadril em um braço.
— Se me dão licença, vou ali tentar a sorte. – Guilherme chama
nossa atenção.
— Aquele sobre os gêmeos.
— Ah! – exclama. – Pedro, queremos te fazer um convite.
— Se quero ser padrinho de casamento de vocês? – ele toma a
frente. – Não precisa nem perguntar!
— Na verdade não é isso. – digo e ele parece surpreso.
— Queremos que você seja padrinho de um dos bebês. – Lu vai
direto ao ponto e Pedro olha para mim, pedindo em silêncio para
que confirme o que ela diz.
— AAAAAAAAAAAAAAAAH! EU NÃO ACREDITO NISSO! –
exclama alterado e cobre a boca com as mãos. – Vocês estão
realmente falando sério sobre isso?
— Você é nosso amigo. – Luara diz.
— Qual dos dois lindos é que vai ser o lindo do dindo aqui? –
pergunta mais para a barriga de Luara de que para nós. O que me
faz rir. – Não importa. Eu vou ser titio do outro do mesmo jeito.
Posso? – pergunta.
— Claro. – Lu responde e ele toca sua barriga com as duas
mãos.
— Ah! Eu senti! Eu senti!
Luara olha para mim por cima do ombro e a abraço ainda mais
forte, preenchendo todo e qualquer espaço vazio entre nós.
— Não se atreva a sair da minha frente.
Ao longe, ouço Pedro dar a notícia para um grupo que será
padrinho de um dos nossos filhos e me sinto orgulhoso com a
escolha que fizemos com todos os quatro. Serão: Julie e Pedro,
Camile e Felipe. Ainda que a ordem não tenha sido definida ainda.
— Por que não me contou? – Lu pergunta, dando um beijo em
meu peito.
— Acho que eu só quis aproveitar para me despedir da minha
antiga vida – respondo e ela franze o cenho. – Sei que fui idiota e
egoísta por pensar assim. Era um direito seu que eu compartilhasse
isso. – adianto antes que diga qualquer coisa. – Só não estou
acostumado a dividir as coisas com ninguém.
— Quero participar da sua vida, And. – Luara diz em resposta,
guardando suas mãos nos bolsos traseiros da minha calça. – Mas
preciso que você divida suas coisas comigo também. Boas ou ruins.
Não me importa.
Franzo o cenho um pouco confuso e viro o restante da bebida
que me entregou.
— Estou falando sério sobre querer que compartilhe suas
alegrias e tristezas comigo, lindo. – ela volta ao assunto. – Nós dois
tivemos um passado estranho e turbulento, mas podemos corrigir
isso.
— Acho que posso ser mais aberto com você. – digo, pousando
um beijo em seus cabelos.
◆◆◆
Luara
— Lu, o que acha de já cortarmos o bolo? – Lilian pergunta já
por volta das onze horas e me sinto um pouco sonolenta aqui
sentada no gramado com And. Já tem algum tempo que fugimos
para cá.
— Antes que ela durma. – Andrew diz em resposta e me ajuda a
levantar, onde seguimos os três para junto de todos os convidados e
pego uma taça com um drink sem álcool para um brinde.
— Pessoal. – chamo o mais alto que consigo e Pedro baixa o
volume da música. – Obrigada. – agradeço, virando-me para And. –
Sei que todos ainda querem bolo ou pelo menos eu quero, porque
estou morrendo de vontade de comer.
Alguns riem com meu comentário, mas é a verdade.
— Sou péssima com as palavras ditas e sempre me embaralho
toda quando tento formular algo, mas... Ontem foi um dia especial
para alguém que amo muito. – Andrew cruza os braços, encarando-
me. – Há alguns meses, logo que me mudei aqui para o Rio, eu
conheci alguém. Era para ter sido apenas um passeio na praia para
relaxar do que o dia seguinte seria. Então ouvi alguém chamar entre
as músicas que estava ouvindo e parei. Era um homem estranho e
tinha aquele alarme dentro da minha cabeça, gritando para que eu
ficasse longe dele, porque era perigoso. Mas eu ignorei, porque ele
parecia legal, já que me abordou com um assunto que amo muito.
— Livros. – And me interrompe e acabo rindo por puro
nervosismo.
— Sim. – concordo. – Nós caminhamos juntos por algum tempo
e depois voltamos. Ele ia me acompanhar até em casa, porque já
estava ficando tarde e eu não conhecia nada aqui, mas seu melhor
amigo ligou dizendo que havia sofrido um acidente e ele precisou ir.
— Isso foi você, cara. – And diz agora para Felipe, que ri sem
graça. Ju o abraça, rindo junto.
— Foi mal.
— Por dias eu só tinha aquela foto no meu celular, que me
lembrava de que tudo aquilo tinha sido real e eu só o encontrei no
último lugar que podia imaginar. E... Quando mais precisei, ele
esteve ao meu lado, como um amigo. E de amigo ele passou a ser
alguém que eu odiava ter sentimentos e alguém que estava
começando a amar de verdade. – umedeço os lábios, sentindo todo
meu corpo tremer. – Aquele estranho virou meu melhor amigo e o
homem que eu amo. A pessoa que me deu as duas pessoinhas que
mais amo nesse mundo e que também me fez ser uma mulher
diferente do que eu era. – digo, apoiando as mãos em cada lado da
barriga e And da alguns passos a frente, ficando a pouca distancia
de mim. – Eu amo você, Andrew. Amo bem mais do que jamais
achei ser possível amar alguém e talvez até bem mais do que
gostaria. Mas é que mesmo com toda essa confusão aqui dentro de
mim, com todos meus problemas, você continua lutando por nós
para que tudo termine bem, independente de quantas vezes eu
brigue com você por nada e por cada noite que acordo à noite só
para te pedir para buscar algo.
Agora Andrew esta a apenas um passo de mim e sinto todas
minhas estruturas ruírem.
— Eu amo amar você, Andrew Giardoni. – digo com a voz
embargada e ele sorri para mim.
— PARA DE FALAR E SE BEIJEM LOGO! – alguém grita entre
os convidados, seguido por um coro de “beija! beija!”.
Meu coração esta disparado, quase impossível de sentido até e
Andrew apenas me encara todo sério e com as mãos nos bolsos.
Com apenas um passo, ele esta na minha frente, com o rosto
colado ao meu e a mão em minha cintura, enquanto com a outra
segura minha nuca e vejo o brilho das estrelas refletindo em seus
olhos cinza, instantes antes de me dar o beijo mais apaixonado que
já ganhei em todo tempo que estamos juntos e sinto como se
estivéssemos novamente em setembro, na cobertura do Golden
Village, apenas nós dois.
— Deus, como eu amo essa mulher! – And exclama alto logo
que afasta e preciso me apoiar em seu peito para não cair, porque
estou mole.
— Agora o bolo! – ouço a voz de Julie entre todas as outras e
vejo Felipe e Daniel, marido da Celiny, trazendo um grande bolo de
fraldas, que chega acompanhado do coro de “parabéns pra você”.
— Achei que fosse escapar desse momento esse ano. – ele diz
todo sem jeito e vejo seu rosto corado.
— Você esta com vergonha! – digo para que ninguém além dele
me ouça e ele nega. – Está sim, lindo.
— Acho melhor cortarmos o bolo. –Andrew muda de assunto,
mas seu rosto ainda diz o quanto ficou sem jeito com isso.
Assim que colocamos nossas facas para cortar o bolo, descubro
que ele é de leite condensado com pedaços de chocolate e cada
camada de massa é uma cor. Menina e menino.
— Achei que seria uma boa aproveitar para fazermos uma
surpresa dentro de outra surpresa. – Ju diz e sorrio para ela.
Andrew serve o primeiro pedaço em um pratinho e vira para mim
com um sorriso que diz que vai aprontar algo.
— Eu amo amar você, meu Anjo. – diz, dando-me nada além de
um selinho nos lábios e sorrio. – Te amei desde o primeiro instante,
sete anos atrás naquela festa.
Ele então me entrega o bolo e me abraça forte e de maneira
especial. O que me faz sentir nossos filhos mexendo.
Capítulo Vinte e Três
Sábado
Andrew
◆◆◆
Luara
Presto atenção às palavras de Andrew. Principalmente a que diz
respeito sobre Felipe logo se tornar um juiz. Quer dizer, por muitas
vezes Ju disse que ele havia prestado esse concurso, mas não
havia me dito nada sobre ele já ter recebido uma resposta sobre os
resultados.
— Então ele conseguiu? – pergunto curiosa e contente por
Felipe. Ele sempre se mostrou muito esforçado com seu trabalho e
qualquer coisa que diga respeito a ele.
— Primeiro lugar no estado. – And responde e meu queixo cai. –
Divulgaram os resultados ontem pela manhã.
— Meu Deus. – sussurro. Felipe não apenas é um bom
advogado, como também é um nerd de primeira!
— Tudo bem? – ele pergunta.
— Estou surpresa por você ter um nerd como melhor amigo. –
respondo com uma careta. O que faz Andrew rir. – Qual é a graça?
– pergunto, tentando parecer ofendida.
— Ficaria surpresa se descobrisse como eu era na escola. –
responde, passando o braço por meus ombros e beija minha
bochecha. – Vamos. Não acho que Julie vá gostar de esperar para
irem tomar sorvete.
E no que ele diz isto, minha amiga aparece na porta e cruza os
braços ao debruçar no batente, batendo o pé no chão um pouco
impaciente.
— Vocês podem namorar mais tarde. – diz.
◆◆◆
Andrew
Caminhando de vagar, Lu atravessa a rua apoiando-se na
amiga, enquanto conversam entre sussurros e cheias de risadinhas
para Felipe e eu. O que me deixa curioso.
— Esta tudo bem com vocês duas? – Felipe é o primeiro a
perguntar.
— Aconteceu algo que talvez devamos saber? – completo.
— Não. – elas respondem de uma só vez.
— Eu só estava admirando o lindo do meu namorado. – Julie diz,
cumprimentando Felipe com um beijo e, ainda assim, ele parece
desconfiado.
— E eu admirando o lindo do meu noivo. – Lu completa, também
me beijando.
Olho para Felipe um pouco desconfiado de que as duas possam
estar planejando aprontar algo, mas decido apenas ignorar, uma vez
que elas vivem fazendo isso e sempre que fazem é algo bom.
— Vocês querem voltar ou ficar por aqui mais um pouco? –
pergunto, envolvendo Luara pelo quadril, que se apoia em mim.
— Cara, eu não vim a uma sorveteria para ir embora sem tomar
nada. – Felipe responde. – Além de que podemos aproveitar e
contas a elas sobre a surpresa.
— Eu só quero sentar. – meu anjo diz e a vejo mexendo as mãos
de uma forma um pouco incomoda, como costuma fazer quando
esta se sentindo incomoda.
— Esta tudo bem? – pergunto, ficando de frente para ela. – Você
esta suando.
— Estou. – responde e fecha os olhos quando passo a mão por
seu rosto para seca-lo. – Só estou me sentindo um pãozinho e isto
esta me incomodando um pouco.
— Vamos nos sentar um pouco e pego uma água para você. –
digo. – Se não se sentir bem, por favor, me avise. – peço e ela
confirma.
Talvez meus instintos de proteger Luara estejam um pouco
exagerados, mas não quero que nada aconteça a ela ou aos nossos
filhos. Eu apenas quero que os três fiquem bem e seguros ao meu
lado e... Eu nunca me senti desta forma com ninguém antes. O que
é um pouco estranho.
— Então? Qual era a surpresa que vocês tinham para nós? –
Julie pergunta, sentando-se em uma cadeira a sombra de uma
árvore.
— Aceitam jantar conosco amanhã? – Felipe pergunta as duas,
que parecem surpresa. – Você disse que precisávamos comemorar
o fato de que sou o cara mais foda do estado. Então resolvi aceitar.
— E também o fato de que você é um tremendo convencido, né
amor? – ela ri, enquanto ele apenas da de ombros.
— Até parece o And falando. – Lu diz e arqueio a sobrancelha.
— Sei o que eu sou, anjo. – digo e pisco para ela, jogando-lhe
um beijo.
— Tirando a parte de que vocês são dois convencidos, eu aceito.
– Julie responde. – O que vocês têm em mente?
— Restaurante? – Felipe pergunta, olhando de um para o outro.
– Sabe que sou péssimo na cozinha.
Passando a mão pelo queixo, percebo a expressão pensativa no
rosto de Luara e o sorriso que sempre da quando tem alguma ideia
que pode acabar dando ou errado.
— Anjo. – chamo e ela sorri para mim.
— Vocês dois poderiam ser os cozinheiros. – diz. – Acho que
você consegue ser um bom ajudante, Felipe.
— A noite é minha e acabo virando um reles ajudante de
cozinha.
— Ei! – exclamo, tentando parecer ofendido. – Sou um excelente
cozinheiro. Inclusive minha noiva já disse por várias vezes que
estou no ramo errado.
— Mas ela também diz que se você fosse Chef de cozinha, teria
que ficar ainda mais em cima para evitar que esses abutres fiquem
se atirando para cima de você. – Luara diz, lançando-me um olhar
de fuzilamento e acabo rindo.
— Eu ia adorar isso. – digo com um sorriso de lado que sugere
várias coisas e acabo deixando-a toda vermelha.
— Me surpreende como vocês dois ainda conseguem pensar em
sexo tendo dois bebês entre vocês. – Julie diz, fazendo Luara e eu
rir.
— Você vai entender como isso tudo funciona quando chegar
sua vez, amiga. – Lu diz e imagino ver Julie ficar vermelha dos pés
a cabeça e até mesmo seus cabelos parecem vermelhos, apesar de
serem escuros.
— Amém. – Felipe diz. – Então, eu topo isso de ajudar no jantar.
Mas você vai ter que pegar leve.
— Vou te ensinar algumas táticas para fazer com que uma
mulher se apaixone de verdade por você, Felipe. – digo e ele ri. As
garotas, assim como eu imaginei que aconteceria, não entendem o
que quero dizer.
◆◆◆
Luara
Andrew e Felipe saíram para ir ao mercado fazer compras,
dizendo para que deixássemos os “homens da casa” cuidassem de
tudo e que não precisaríamos nos preocupar com nada. E é por isso
que agora estou levando a Ju para conhecer o quartinho dos bebês.
— Amei a corujinha. – ela diz pouco antes de eu abrir a porta,
permitindo que entre na frente. – MEU DEUS! – exclama assim que
acende a luz. – Isso aqui é de longe a coisa mais linda que eu já vi
em toda minha vida, Lu!
Sorrindo, entro no quarto atrás dela, que parece boba enquanto
olha para todos os cantos e sento na poltrona de amamentação no
canto, abraçando uma almofada bem quando sinto uma pequena
sequência de chutes que me obrigam a fazer uma careta.
— Esta tudo bem? – Ju pergunta de repente preocupada.
— Chutes. – respondo e ela senta no tapete a minha frente,
cruzando as pernas. – Tem ficado mais forte a cada dia que passa
e, desde o meio da semana que tenho sentido algumas leves
contrações.
— Daqui a pouco passa. – diz e sorri para mim. – E como você
esta? Digo, agora que você e Andrew moram oficialmente juntos?
— Parece tudo perfeito, Ju. – respondo um pouco boba. – And
tem sido perfeito comigo em tudo e sempre quer me agradar. Eu
tento ser melhor, mas não tenho conseguido muita coisa nas últimas
semanas. Sem falar que ele não me deixa fazer nada que exija
esforço. – paro de falar, sentindo mais alguns chutes. Matthew e
Alice devem pensar que estão em um ringue de luta livre. – Quando
você apenas namora é uma coisa. Mas quando vocês moram juntos
e dividem uma vida, pode ser maravilhoso. E tem sido assim com
ele, apesar das nossas diferenças. Apesar de todas as vezes que
tento arrumar motivo para briga só por não estar confortável com
algo.
Fico em silêncio por algum tempo, lembrando-me das várias
vezes que flagrei Andrew sentado nesta mesma poltrona que eu,
encarando os dois bercinhos. Em algumas vezes ele apenas olha,
provavelmente imaginando que nossos filhos estão ali. Mas outras,
e estas quando ele está mais calmo e relaxado, eu o vejo com
algum dos vários brinquedos dos nossos pequenos. E nesses
momentos é como se ele se preparasse para muita brincadeira.
— A cada dia que passa me sinto mais apaixonada por ele, Ju. –
volto a falar. – E... Eu amo como ele tem permitido que eu o
conhecesse tão a fundo e me permita ir onde ninguém nunca foi na
vida dele, porque é assim para mim.
— Saber aceitar as diferenças e os defeitos do outro é o que
torna o amor. – Ju diz. – Vocês dois deveriam estar vivendo como se
estivessem em lua de mel, já que agora moram juntos. Mas para
vocês tudo foi diferente. Desde o início.
— Acho que se conseguirmos sobreviver juntos até a hora dos
gêmeos nascerem e os primeiros meses, nós poderemos nos casar
sem o menor problema.
Ju sorri para mim daquela maneira cumprisse e que me arranca
um sorriso, mas logo meus olhos se enchem de lágrimas ao lembrar
que, prestes a ganhar meus dois bebês, não tenho minha família por
perto. E isso de alguma maneira tem me deixado péssima nos
últimos dias, porque já tem algum tempo desde que os vi. E sinto
saudades deles. De todos eles.
— Eu amo você, Ju. – digo com a voz um pouco embargada. –
Você tem sido uma verdadeira irmãzona. Não tem ideia do quanto
isso significa para mim.
— Irmãs são para isso, amor. – diz em resposta, mostrando a
língua para mim. – O que você tem para comer aqui? O Fe não quis
para pra comer nada no caminho e estou faminta!
Quando ela diz isto, meu estomago ronca, lembrando-me de que
já é perto do almoço.
◆◆◆
Andrew
Sei que ainda não são nem mesmo seis da manhã quando
acordo pleno domingo, mas ainda que esteja sem sono, não quero
sair daqui tão cedo, já que faz um tempo tão gostoso para se
continuar debaixo do edredom quentinho com sua noiva, que não
para de se mexer na cama.
— Aonde você vai? – pergunto a Luara quando ela joga o
cobertor para cima de mim e sai da cama.
— Banheiro. – responde. – Preciso... – ela então para de falar e
apenas vai até lá, andando o mais rápido que consegue e viro para
o lado do banheiro, vendo-a sumir pela porta. – And, é sério. Eu não
aguento mais isso. – diz. – É como se minha bexiga fosse exprimida
por esses dois aqui o dia todo.
— Você prefere isso ou os choros de vários tipos? – pergunto
quando reaparece na porta e vem caminhando de volta para a cama
e pula por cima de mim.
— Eu não sei. Não tem uma posição que fique exatamente
confortável para nós três. – diz e vira para mim de lado, apoiando a
mão sobre a barriga. – Sabe que passo a maior parte da noite
tentando encontrar uma posição e acaba que raramente entramos
em acordo. Sem falar que minhas melhores roupas já não me
servem mais.
— Acho que você fica linda com minhas roupas. – respondo,
colocando minha mão por cima da sua, que ainda repousa sobre a
barriga e lhe dou um beijo de bom dia.
Luara fecha os olhos e fica assim por alguns instantes, o que me
faz perceber que algo não esta como deveria estar.
— Anjo. – chamo com a voz baixa e ela afunda o rosto em seu
travesseiro.
— Às vezes sinto como se eu não fosse mais atraente para
você. – ela diz, pegando-me completamente de surpresa. Ela o
quê?! – Que a qualquer momento você pode se cansar de mim, de
não ter mais sexo porque estou grávida ou...
— Isso não é verdade. – eu a interrompo. – Meu Deus, Luara!
Como você pode pensar isso? Grávida ou não, você é a mulher
mais atraente para mim. É a minha mulher. A minha noiva e a
mulher que amo. A mãe dos meus filhos. E eu nunca, nem em mil
mundos, olharia para outra mulher além de você, droga!
— Então por que você não se deita mais comigo a noite? – ela
joga de volta, um pouco alterada. – Você pensa que isso não mexe
comigo, mas mexe sim!
Desta vez quem fica em silêncio sou eu e isso me deixa
realmente desconfortável. Não porque ela esta certa ao dizer que
não a acho atraente ou que iria atrás de outra só por não termos
sexo agora. Céus! Nós fizemos até muito pouco tempo atrás apesar
de todo o medo que sentíamos com isso. Mas...
Fecho os olhos e cubro o rosto com o braço antes de dizer às
palavras que mais tem me assustado nas últimas semanas:
— Tenho medo de que se eu dormir, você sinta algo e eu não
veja. Ou de sair do seu lado quando mais precisar de mim ali e algo
acontecer. – sussurro as palavras sem me importar se ela as ouve
ou não. Apenas preciso dizê-las da única forma que consigo. –
Quero estar ao seu lado, pronto e preparado, quando chegar a hora
dos nossos dois anjinhos se juntarem a nós, anjo.
— And. – Lu chama e olho em sua direção, vendo seus olhos
brilharem com lágrimas.
— Eu tenho medo de não conseguir ser o pai que você espera
que eu seja para eles, porque nunca nem mesmo peguei um bebê
no colo.
Ao ouvir minhas últimas palavras, Luara senta na cama e vira
para mim de maneira que possa segurar minhas mãos.
— Você é exatamente o que eu espero para eles, lindo. – diz. –
Você é meu melhor amigo e meu amor e não espero que seja nada
além do excelente pai que sei que será para eles, porque você é um
homem incrível. Porque eu já te peguei no quartinho deles várias
vezes e sei que com você não faltarão brincadeiras. – sorrio um
pouco sem graça e Lu aperta minha mão um pouco mais forte. –
Não espero que seja de cara o melhor pai do mundo, mas sim
aquele que vá estar ao meu lado para que possamos aprender
juntos como sermos bons pais.
Com isto, Luara se aproxima de mim e me da um beijo leve,
afastando logo em seguida e noto a expressão de dor em seu rosto.
— Tudo bem? – pergunto preocupado e ela confirma.
— Além dos chutes, leves contrações. – responde e franzo o
cenho, sentindo-me ainda mais preocupado. Já tem alguns dias que
ela tem sentido isso e não sei se me sinto seguro, ainda que seu
médico tenha dito das vezes que liguei que era normal e que eles
estão prontos para sair a qualquer momento.
— Só mais alguns dias, meu anjo. – sussurro, segurando seu
rosto entre minhas mãos e a beijo, sentindo-me nervoso.
Capítulo Vinte e Quatro
Domingo
Luara
◆◆◆
Andrew
Quando Luara me ligou avisando que haviam chegado do
shopping já eram quase cinco da tarde. Ela disse que iria tomar
banho no nosso apartamento e que depois viria com Julie para
nossa casa e até agora nada de aparecerem. E isso já tem quase
duas horas. O que me deixa um pouco preocupado, mas não tanto,
já que sei que Julie me ligaria no mesmo instante caso algo lhe
acontecesse.
Ouço baterem na porta e seco as mãos no guardanapo, indo
abrir a porta, onde vejo minha linda noiva usando um vestido que
seria todo branco se não fosse um pequeno detalhe em vermelho na
alça. O que me faz pensar no quanto ela ficara linda em seu vestido
de noiva.
— Estão atrasadas. – digo, aceitando o beijo que me oferece.
— Passamos da quitanda para comprar verduras. – Julie
responde, passando por mim como se eu nem mesmo estivesse
aqui.
— Ela está irritada com o Felipe. – Luara sussurra.
— Ele foi para casa tomar banho! – grito sobre o ombro para que
ela possa me ouvir e, no mesmo instante em que ouve minhas
palavras, sua mão livre se ergue, mostrando o dedo do meio para
mim. – Que grossa. – digo baixinho e Lu ri.
— Eles se desentenderam no telefone antes de sairmos do
Golden. – explica. – Não vai ficar assim no jantar, né? – pergunta,
olhando-me de cima a baixo e ajeito minha bermuda no lugar.
— O que há de errado? – pergunto de volta com um sorriso de
lado.
— Para a sobremesa, nada. – responde, passando o braço por
minha cintura e prende o dedo no interior da cueca de modo que
consigo sentir seu toque quente contra minha pele. – Mas para o
jantar temos companhia esta noite.
— E o que teremos para a sobremesa?
— Eu estive pensando em algumas coisas e pensei que talvez
pudéssemos fazer aquilo de novo. – diz, ficando vermelha igual a
um pimentão e franzo o cenho, sem entender muito bem.
— Aquilo? – pergunto de volta e ela confirma.
— Você sabe. – responde. – Aquilo que fizemos há um tempo,
só uma vez e... Eu quero muito você de novo.
— Anjo. – chamo e ergo a mão até seu rosto, correndo-a por sua
pele macia e coloco sua mecha de cabelo para trás de sua orelha. –
Eu adoraria cuidar de você outra vez. – sussurro, pousando um
beijo em seus lábios. – O que você acha de ser minha provadora?
Preciso de alguém para opinar sobre este último item do cardápio
que estou terminando.
— Vou adorar. – Lu sorri. – E ainda quero poder cozinhar com
você de novo, como fizemos da última vez, porque fomos uma dupla
excelente de cozinheiros.
— Vou adorar. – repito suas palavras, enlaçando seu quadril
para que possamos entrar.
— Que saudades eu estava desse lugar! – exclama, olhando ao
redor. – Só não desses três degrauzinhos que ainda me matam.
◆◆◆
Luara
Enquanto Andrew prepara o molho branco para a macarronada,
cuido da mini moranga que ele comprou para poder rechear com
camarão. A salada verde com morango já esta pronta e separada,
faltando apenas temperar com molho.
Ju, que estava se sentindo entediada e irritada, está na sala
jogando Xbox, provavelmente tentando não pensar na discussão
que teve com Felipe enquanto eu me arrumava para virmos para cá.
Ela não disse nada a respeito disso e menos ainda falou qualquer
coisa a respeito do ocorrido. Apenas sei por que eu ouvi alterada
com ele no telefone, mas espero de verdade que eles se resolvam
logo.
— Vinho branco ou tinto? – a pergunta de Andrew chega até
mim, tirando-me de meus pensamentos e olho para ele, vendo as
duas garrafas em suas mãos.
— Qual o melhor? – pergunto de volta e ele sorri.
— Os dois.
— Posso provar um pouquinho dos dois para saber qual me
agrada mais?
Andrew coloca as duas garrafas sobre o balcão e vai até o
armário, onde pega duas taças de cristal, voltando até mim.
— Estou pensando no tinto. – diz, servindo-me e provo deste,
sentindo o aroma e a fragrância, que são deliciosos.
— Hmmm... – faço e ele sorri. – Suave e delicioso.
— Agora este. – diz, servindo uma pequena dose do branco,
mas não consigo nem mesmo provar, uma vez que me sinto um
pouco enjoada apenas com o cheiro dele.
— Tinto. – falo rápido demais e sem nem mesmo pegar a taça
que ele me oferece.
— Tudo bem? – pergunta e confirmo.
— Só um pouco de enjoo. Mas já passou. – respondo e And
franze o cenho. – Estou bem. É sério!
— Certo. – diz e vira para guardar a segunda garrafa, voltando
em seguida para o fogão.
Minutos mais tarde, ouço o portão abrir e o barulho de um carro
entrando e sei que Felipe chegou.
— Cheguei e estou faminto! – ele diz da sala. – Ah... Oi, Ju. – ele
a cumprimenta.
— Oi. – Ju responde. – Eles estão na cozinha terminando de
arrumar tudo.
— Essa eu quero ver. – falo baixinho e And me da um sorriso
sem desviar a atenção do fogo.
— Legal. – Felipe diz. – Esta jogando o que?
— Need For Speed. – responde. – Só correndo sem sentido
algum pela cidade.
— Posso sentar?
— Acho que sim.
Silêncio total por longos segundos que são quebrados por
Andrew tirando o molho do fogo e mexendo na pia logo em seguida.
— Quer jogar? – Ju pergunta e olho para And.
— Acho que sim. – Felipe responde.
— Até agora tudo bem. – comento.
— Não acho que eles vão se matar. – Andrew diz e sorrio. – Nós
já brigamos várias vezes e só fica estranho até que um dos dois, no
caso eu, tente uma reaproximação.
— Já fiz isto várias vezes, Andrew. – digo e ele ri.
— Quer provar? – pergunta.
— Acho que sim. – respondo, permitindo que me de um pouco
do molho na boca. – Que delícia! – exclamo. – Como você faz
coisas tão deliciosas assim, lindo?
— Segredo do chefe, linda. – ele sorri, dando-me um beijo.
— Já disse que você esta no ramo errado? – pergunto, sabendo
exatamente qual será sua resposta.
— Acho que sim. – diz com o cenho franzido e até um pouco
pensativo. – Na verdade algumas vezes.
— Você precisa me ensinar esses seus segredos culinários um
dia desses. Sério.
— Segredo de família. Só compartilho com você quando isto –
diz e ergue sua mão direita, passando o polegar pela aliança. –,
estiver nesse outro dedinho aqui. – completa, erguendo agora a
mão esquerda e sorrio.
— Que não demore muito mais então. – sorrio para ele. – Estou
ansiosa por isso.
— Quatro meses. – diz. – Aproximadamente. Vou tomar um
banho.
— Vai indo lá. Vou terminar de cuidar aqui e já vou. – respondo e
ele assente.
— Só não demora, porque nossos convidados já estão
esperando. – diz, tocando minha cabeça quando passa por mim.
Acompanho com o olhar quando Andrew chega à porta e para,
provavelmente vendo algo que Felipe e Julie estejam fazendo na
sala e, prestando atenção posso ouvir suas conversas.
— Isso não valeu. – Felipe diz.
— Valeu sim. – Ju responde. – Você que esta roubando com
esse negócio que sai do seu carro.
— É nitro. Você não usa porque não quer.
— SAI! – Ju agora grita. – VOCÊ VAI ME FAZER BATER, FE!
— É só apertar esse botão aqui, amor, e... – e silêncio um total,
que é quebrado por sons de tapas, seguidos de risadas e
novamente silêncio.
— Vocês me enojam. – And diz, entregando sua presença e
passa para o quarto, fazendo-me rir.
◆◆◆
Andrew
Tomo um banho morno e demorado, aproveitando o clima fresco
e raro que está fazendo esta noite. Depois, aproveito os minutos
restantes para aparar minha barba, que está passando do limite
permitido por qualquer um e que deveria ter feito esta manhã.
Na verdade acho que estou tentando aproveitar o máximo
possível com ela, já que irei cortar totalmente depois que os gêmeos
nascerem. Ou pelo menos até ter certeza de que nenhum dos dois
tem alergia quando beijar com ela. É só uma precaução necessária
que estou querendo tomar. Não uma necessidade.
— And? – ouço a voz abafada de Luara chamar do outro lado. –
Você esta pronto? – pergunta e abro a porta para sair.
— Só falta me vestir. – respondo correndo o olhar por todo seu
corpo. Ela agora esta usando um vestido folgado de um rosa
clarinho e cabelos soltos, sem maquiagem alguma. – Uau. – digo,
fazendo-a sorrir.
— Gostou? – pergunta, dando uma voltinha em torno de si
mesma.
— Claro. – respondo com um sorriso de lado. – Mas ainda prefiro
você sem ele. – digo de maneira sugestiva, indo até a cama, onde
deixei uma calça jeans e camiseta separadas, começando a me
arrumar. Lu senta, observando-me.
— Você tinha que ter visto a cara do Felipe quando a Ju
apareceu toda produzida. – Lu diz. – Só faltou deixar o queixo cair.
— Tinha que ter visto aqueles dois jogando. – falo enquanto visto
a calça. – Chega dar nojo de tão “fofinhos” que agem.
— Eles são um casal de namorados e estão apaixonados. – diz.
– Assim como nós.
Sorrio para ela, que me olha com uma expressão encantada e
com olhos brilhantes. Ela ainda está usando seus óculos no lugar
das lentes e já até me acostumei com eles, porque a deixa linda.
Mais do que já é.
— Você parece um bobo me olhando assim, lindo. – Lu diz de
uma maneira provocativa e termino de vestir minha camisa antes de
me aproximar dela.
— É porque sou um bobo apaixonado por você, anjo. – sussurro
com a boca colada na sua, afastando quando tenta me beijar. –
Acho melhor irmos alimentar aqueles dois antes que comecem a
brigar. – falo, deixando-a com uma ruga na testa.
— Você é cruel, Andrew. – diz.
— E você ama esse jeito. – digo de volta, arqueando a
sobrancelha para ela, como que a desafiando a dizer o contrario,
mas ela não faz. – Vem. – chamo, estendendo a mão para que a
segure e vamos até a sala de jantar, onde, estranhamente, a mesa
já esta posta com tudo em seu devido lugar.
— Foi você? – pergunto.
— Acho que foram eles. – Lu responde e dou de ombros.
— Você dois fazem o mais fácil e deixam o difícil para as visitas.
– Felipe diz, trazendo quatro taças em suas mãos. – Nada gentil
Andrew e Luara.
Na mesa eles colocaram uma toalha branca e os pratos de
mesma cor junto aos talheres, devidamente posicionados. A
moranga está bem ao centro, entre duas pequenas garrafas azuis
com uma rosa vermelha cada. A travessa com a macarronada esta
de um lado e a salada do outro, com o vinho em um pequeno balde
cheio de gelo.
— Não sabíamos se você iria tomar vinho ou não. – Julie diz,
trazendo uma jarra que coloca no espaço vazio. – Então fiz suco.
— O que vocês dois aprontaram enquanto não estávamos? –
Luara pergunta um pouco desconfiada.
— Só quisemos ajudar. – ela responde. – Afinal, vocês
prepararam tudo. Nada mais do que justo.
— Onde está à sujeira, Julie?
— Me erra, Luara. Deixe de ser ingrata.
— Acho melhor não forçar ou vamos acabar descobrindo o que
não gostaríamos. – digo, puxando a cadeira para que Luara possa
se sentar e acomodo-me ao seu lado. Felipe e Julie sentam de
frente para nós, do outro lado.
— Ao chefe e a chefa, então. – ele diz, servindo a todos com
vinho.
◆◆◆
Luara
— Isso estava incrivilhoso! – Ju exclama assim que termina o
jantar.
— Incrivilhoso? – Felipe pergunta sem entender nada.
— É uma mistura de incrível com maravilhoso. – explico.
— Ah... Hmmm... Palavra legal. Acho.
— Quer dizer que é uma coisa muito, mas muito boa, amor. – ela
diz quando And levanta para tirar nossos pratos.
— Obrigada. – sussurro.
— Deixa que lavamos. – Felipe se oferece, já recolhendo tudo e
Ju o ajuda.
— Preciso deitar um pouco. Sinto como se meus pés fossem
dois pães de tão inchados que estão. – falo quando Andrew vem me
ajudar a levantar, acompanhando-me até a sala e deito no sofá. –
Agora é minha vez de ganhar de você um pouco. – digo quando liga
o videogame e levanto a cabeça para que ele possa se sentar,
ficando deitada em seu colo.
— Querem sobremesa? – Felipe pergunta minutos mais tarde,
aparecendo na porta com um pote de sorvete de creme e Ju vem
atrás com quatro taças e colheres.
— Começo a concordar com você sobre eles terem aprontado
algo. – And sussurra em meu ouvido, fazendo-me rir.
—Você acha que eles... Você sabe. Enquanto estávamos no
quarto? – pergunto e ele olha para o amigo, que coloca o pote de
sorvete na mesa de centro.
— Não. Ainda não. – responde e segura minha mão, dando um
beijo nela. – Onde esta sua aliança? – pergunta ao notar sua
ausência.
— Esta guardadinha em casa. – digo. – Como agora sou um
pãozinho, toda vez que a uso acabo sofrendo para tirar. Então achei
melhor ficar sem. – explico e ele franze o cenho, desviando o olhar
para a TV, onde o jogo esta pausado. – O que foi? – pergunto. –
Andrew.
— Nada. – diz com um tom seco. – É só que você se encontrou
com seu ex sem sua aliança.
Ao ouvir suas palavras eu me levanto e apoio com o braço no
sofá para poder olha-lo melhor.
— É para isso que você pensa que serve uma aliança, Andrew?
– pergunto um pouco irritada e ele abre a boca para responder bem
quando a Ju nos entrega duas taças de sorvete, dando fim à
discussão. – Eu tirei porque estava me incomodando, lindo. – falo. –
Ou tirava ou não a encontraria mais no meio de toda essa massa de
pão que parece não parar mais de crescer. Não fui ao shopping sem
ela. Foi quando voltamos que ela estava incomodando mais e achei
melhor ficar sem até dar uma diminuída.
— Desculpa. – ele pede, passando a mão por meu queixo e o
beijo de leve, aceitando seu pedido de desculpas.
— Receita fácil e prática de como se ter um bebê. – Felipe diz,
chamando a atenção de nós três para ele, que parece falar consigo
mesmo, já que olha para a TV. – Primeiro: coloque todos os
ingredientes em um recipiente que suporte todo o produto. Segundo:
mexe bem até transbordar. Terceiro: espere a massa crescer até
estar pronto e tire do forno ainda quente e perca noites de sono. –
ele da de ombros e olha para nós. – Receita infalível para vocês
dois. – diz, fazendo-nos rir.
Pelo canto do olho, percebo quando And abre a boca para dar
uma resposta pronta, mas parece mudar de ideia.
— Que tal um campeonato? – Ju diz para mudar de assunto. –
Vocês dois contra o Fe e eu. Os perdedores pagam o castigo que os
campeões escolherem.
Olho para And, que tem uma sobrancelha arqueada para mim e
sorrio.
— Achei que já tivesse ficado claro que somos melhores que
vocês dois. – falo. Mas acaba que na última rodada, do último jogo
que era a decisão para o desempate, nós perdemos aos quarenta e
cinco do segundo tempo.
Capítulo Vinte e Cinco
Sexta-feira
Andrew
◆◆◆
Luara
Acordo em um salto, sentindo uma dor muito forte. Algo que
nunca havia sentido antes. Não até agora.
— Andrew! – chamo por ele enquanto me sento na cama,
sentindo um enjoo muito forte e a cabeça girar. – Andrew! – torno a
chamar e nada de ter uma resposta. Mas onde ele se meteu, afinal?
Levanto da cama com certa dificuldade ao mesmo tempo em que
sinto algo estranho acontecer. E, quando olho para baixo, apenas
vejo um líquido estranho aos meus pés.
— ANDREW! – grito por ele outra vez, mas quem aparece na
porta é Julie e, não sei se são meus olhos, mas ela parece pálida e
em choque.
— AH MEU DEUS! – ela grita, correndo até mim.
— Cadê o And? – pergunto. Tudo o que quero é meu noivo
comigo.
— Estou ligando para ele agora mesmo.
◆◆◆
Andrew
Não consigo saber se foi só porque disse a Julie que chegaria
dentro de meia hora ou o que, mas consegui pegar um acidente
assim que virei a esquina da BIT, fazendo-me perder dez minutos de
um tempo mais do que valioso para mim.
Mas nada que um carro veloz não resolva.
Meu celular toca no banco carona, fazendo-me pular no lugar.
— Pronto. – atendo pelo alto-falante sem nem mesmo ver quem
é.
— Esta em casa? – Felipe pergunta do outro lado.
— Péssima hora para ligar, amigão.
— Indo para o hospital?
— Casa. – respondo. – Precisei ir a BIT assinar os contratos que
preparou.
Entre a conversa com Felipe, ouço um toque que indica que
alguém esta tentando falar comigo.
— Volto com você já. – falo. – Tem alguém na outra linha.
— Beleza. – ele diz e atendo a segunda chamada sem desliga-
lo.
— Onde você esta?! – ouço uma Julie apavorada do outro lado.
— Três quadras de casa. Aconteceu algo? – pergunto, sentindo
um calafrio percorrer por toda minha espinha e outro que vai dos
pés a cabeça.
— Vem logo que deu merda.
— Como assim, porra?! – exijo, ficando ainda mais preocupado
do que já estava.
— A bolsa estourou, droga! – ela exclama e ouço um urro ao
fundo que faz meu coração disparar forte contra o peito.
— Ai, merda! – é a primeira coisa que sai da minha boca.
— SE ESSE DESGRAÇADO E INFELIZ NÃO VIER LOGO, EU
VOU MATAR ELE! – Luara grita ao fundo e piso mais fundo no
acelerador.
— Vem logo, And. – Julie diz. – Eu estou desesperada e sem
saber o que fazer aqui. Por favor.
— Andrew, seu desgraçado infeliz e filho de uma Lilian! – Luara
diz alterada. – Se você não aparecer aqui em um minuto, você não
precisa nunca mais aparecer na minha frente, porque, eu juro, vou
matar você com minhas próprias mãos! – diz e ouço outro gemido
seu de dor.
— Julie, desce com ela pelo elevador e me espera na garagem.
– peço. – Trinta segundos e estou ai. – digo já desligando, voltando
com Felipe. – Liga para o Marcus e pede para que vá ao hospital
imediatamente.
— O que aconteceu? – ele pergunta preocupado.
— A bolsa da Lu estourou.
— Eita porra! – solta. – Já estou ligando. – diz e desliga.
Vejo as luzes do Golden Village a frente e de longe aciono o
portão para abrir, poupando-me de ter que digitar o código de
acesso e perder um tempo que não posso mais perder.
Eu não deveria ter ido ao trabalho logo hoje, porra! Não deveria.
Ela me pediu para ficar com ela em casa, merda!
◆◆◆
Andrew
— Obrigada por me presentear com dois filhos tão lindos e por
me deixar entrar na sua vida. – Lu sussurra, acariciando de leve
meu rosto e seguro sua mão no lugar. – Você fica tão diferente sem
barba. – diz e sorrio um pouco sem jeito.
— Tem alguém ai fora que esta louca para ver você. – falo,
lembrando-me que sua família esta apenas esperando pelo sinal
para que possam entrar.
— Acho que antes preciso jantar. – ela responde. – Fiquei mal
acostumada com esse negócio de comer por três.
Assim que diz isto, alguém bate na porta e a abre, sem nem
mesmo esperar pela permissão para entrar.
— Com licença, mamãe. – uma enfermeira diz, trazendo uma
bandeja de...
— Sopa?! – Luara pergunta indignada. – O que aconteceu com o
lanche e as batatas que pedi? Ou a lasanha?
— Sinto informar, mas seu médico não permitiu essa dieta pelos
próximos dias. – ela responde. – A senhora precisa se alimentar
bem para poder amamentar seus bebês.
— É. Eu sei. – responde irônica e passo a mão pelo queixo,
tentando não sorrir com esta situação. Luara esteve tão acostumada
aos desejos todo esse tempo e agora terá que priorizar outra
alimentação, pensando nos filhos. – Foi justamente por isso que
pedi algo que realmente fosse me sustentar. Não isso.
— Eu mesmo darei o jantar a ela. – interfiro. – Obrigado.
— Sabe quando vão trazer meus lindos? – Luara pergunta para
mudar de assunto. – Se possível deixa-los aqui comigo à noite toda.
— Assim que a senhora terminar de se alimentar. – responde. –
Só poderão ficar aqui pela manhã.
— Não estou gostando disso. – ela resmunga e a enfermeira sai,
deixando-nos outra vez a sós. – Você pode ao menos trazer algo
que você mesmo faz? – pede quando lhe ofereço uma colher de
sopa. – Não gosto de sopa.
— Se comer direitinho agora, eu te prometo que amanhã trarei
algo que você goste. – sugiro. – Não podemos abusar do que você
pode e o que não pode comer.
— Está bem. – diz, rendendo-se a fome e abre a boca.
***
Luara
Uma enfermeira apareceu no quarto trazendo meus pequetuchos
só bem depois que terminei o meu “jantar”, então And aproveitou
para ir ao banheiro e comer algo, porque só havia almoçado.
Assim que chegou, a enfermeira Josi me ensinou como deveria
fazer para amamentar os gêmeos, segura-los e mais algumas
coisas que eu não fazia ideia. E acho até que peguei o jeito rápido,
porque consegui amamentar Alice bem fácil até.
— Toc-Toc. – alguém diz da porta e olho para ver quem é e
posso dizer com todas as letras que é alguém que não esperava ver
aqui hoje.
— Mãe? – pergunto apenas para ter certeza de que não estou
delirando.
— Vim ver como minha menina e meus netinhos lindos estão. –
ela diz enquanto entra e vejo que atrás dela estão a Ju e a Cami.
— Oi! – Camile sussurra com um enorme sorriso em seu rosto.
— Oi. – digo em resposta, voltando à atenção para mais
algumas dicas que Josi me dá.
— Eles são tão lindos. – minha mãe diz baixinho, como se
pudesse assusta-los.
— Obrigada – sorrio em resposta. – Quer segurar?
— Eu posso? – pergunta a enfermeira e ela pega Alice no
bercinho, que já esta alimentada.
— Você é tão lindinha! – Camile diz babona que só e olho para o
Matt, que mama como se não houvesse amanhã. – Espera. – diz,
chamando a atenção de todas nós para ela. – Por que o Matt é
ruivo, Lu? Você...
— Olha na mãozinha dela. – peço e as três olham. – And tem
essa marca. Matt também. Os dois têm minha lua. – explico. –
Lilian, a mãe do And, é ruiva. Acho que ele puxou a ela nessa parte.
– passo a mão por seus cabelos, levando-os para trás. – E espero
que tenha puxado aos olhos lindos do papai também, não é, meu
amor?
— Com licença. – a voz de Andrew chega até mim e o vejo
parado na porta no mesmo instante em que Josi coloca meus
pequenos de volta no bercinho para leva-los embora. O que me
deixa com o coração apertado e na mão.
— Você precisa descansar, Luara. – ela diz. – Só um pode ficar
com você no quarto durante a noite.
— Fica você, Andrew. – minha mãe pede. – Vou ver com o Rick
para arrumarmos um hotel aqui perto.
— Não, senhora. – ele diz. – Já conversei com Ricardo e vocês
vão ficar no nosso apartamento hoje. Já deixei as chaves com ele e
o código da garagem. Depois, amanhã e até quando forem ficar por
aqui, vocês podem ficar no apartamento do andar de baixo.
— Acho melhor eu ir também. – Ju fala já se levantando. – O Fe
deve estar até agora lá fora esperando. E isso sem dizer que ele
veio direto do escritório.
Uma por uma elas se despedem, prometendo voltar pela manhã
assim que possível. A Ju para ficar comigo e o And poder ir para
casa tomar banho e dormir. O que eu não tenho lá muita certeza de
que ele vá fazer isso essa noite, já que só consigo vê-lo revezando
sua noite entre ficar aqui no quarto comigo e indo ver Alice e
Matthew no berçário. E, sendo sincera, eu faria o mesmo se
pudesse andar. Principalmente porque quero tê-los ao meu lado o
máximo possível e leva-los para casa o quanto antes, apenas para
que possam conhecer o cantinho especial que o papai e eu
preparamos para os dois.
Sonolenta, tiro os óculos e os entrego a Andrew, que coloca na
mesinha ao lado da cama.
Minha visão esta embaçada e minha cabeça tão distante e
cansada, que devo agradecer internamente por esta noite de folga.
— Durma, meu anjo. – And sussurra enquanto acaricia meus
cabelos.
◆◆◆
Andrew
Chegamos ao Golden Village por volta do meio-dia do domingo.
Há poucas horas apenas que Marcus deu alta à Luara, logo
depois de passar a nós dois uma pequena lista de recomendações e
cuidados com Matthew e Alice. E enquanto eu dirigia para casa, a
cada parada que precisava fazer para esperar o semáforo abrir,
sempre olhava pelo retrovisor ou direto para trás, para ver meus
dois filhos dormindo, enquanto a mãe deles os observava como uma
mãe coruja apaixonada pelos filhos.
Pelo retrovisor eu via seus olhos castanhos brilharem de uma
forma diferente. Várias vezes eu os vi assim. Como, por exemplo,
quando lhe pedi em casamento em Goiânia, logo depois de me
contar que estava grávida de gêmeos. Ou quando lhe disse que me
lembrava dela depois do meu acidente de cavalo. Ou nas vezes em
que eu arrumava alguma desculpa apenas para poder vê-la, quando
não queria nada comigo por ser seu chefe no trabalho. Mas desde
ontem pela manhã que esse brilho se tornou algo... Único.
— Amor, me deixa pegar as chaves. – Lu pede e viro-me para
que possa pegar suas chaves na bolsa que carrego pendurada ao
ombro, enquanto ela toma todo cuidado do mundo para evitar
acordar Alice, que dorme confortavelmente em seu colo. –
Obrigada. – diz e sorrio, observando enquanto abre o bolsinho de
fora para pegar as chaves. Eu poderia fazer isso por ela, mas como
atrás desta porta que estamos parados de frente tem uma surpresa,
é ela quem precisa abrir.
Olho para Matthew que também dorme em meu colo e sorrio.
Elizabeth arrumou dois conjuntinhos para que pudessem sair da
maternidade. O dele é todo branco, com a gola e os pés com listras
azuis e brancas, um bonezinho de mesma cor e, no peito, tem uma
coroa escrito Príncipe logo abaixo.
Já o de Alice tem algumas pequenas diferenças. Na gola e nos
pés ela tem pequenas flores e também uma coroa no peito, escrito
Princesa. Talvez você me chame de “papai babão e coruja” e vou
concordar e dizer que realmente sou tudo isso e talvez até mais,
mas meus filhos ficaram lindos nestas roupinhas. Ou em qualquer
outra que sua mãe possa pensar em coloca-los.
Sendo ainda mais sincero, meu pequeno príncipe e minha
pequena princesa são as duas crianças mais lindas que já vi em
toda vida e sinto-me realmente orgulhoso por saber que sou o pai
deles.
— Sua mãe tinha razão ao brigar comigo por dizer que não
deveria chama-los de “troféus”. – cochicho para Matthew, tirando
alguns fios de cabelo de sua testa. – Vocês são para mim bem mais
do que apenas isto.
Pelo canto do olho, vejo quando Luara olha para mim e sorri,
pouco antes de abrir a porta do nosso apartamento e dar de cara
com toda nossa família e amigos esperando por nós, apenas para
poder dar as “boas-vindas” aos nossos bebês.
Seis Meses Depois
Sábado
Luara