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Sob nova perspectiva

Livro 2 da trilogia Destinos Cruzados

Aline Rabello
Aos meus leitores: meu eterno obrigada!
Índice
Página do título
Dedicatória
Prólogo
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Seis Meses Depois
Anjo,
Sei o quanto tenho errado com você e o quanto isso tem
machucado a nós dois. Principalmente nesses últimos dias.
Por algum motivo, achei que me afastando fosse ser melhor para
você. Que assim eu erraria menos. Eu... Quando entrei no seu
apartamento e vi vocês dois lá, eu não acreditei em nada do que ele
havia plantado. Percebi que algo estada errado quando recebi sua
mensagem incompleta e com algumas palavras estranhas. E eu
ligava e você não atendia. Aquilo apenas me deixava ainda mais
desesperado. Louco... Enquanto dirigia de volta, eu rezava para que
você estivesse bem. Mas não pensava que fosse ver aquilo.
E quando vi, foi minha perdição.
Senti que havia errado com você por não tê-la protegido como havia
prometido. Eu devia ter insistido mais para que fosse comigo
naquele jantar, ainda que para você fosse ter uma noite apenas
ouvindo conversas tediosas, porque é assim que eu sinto às vezes.
Você é minha companheira. Ou era...
Quando você esbarrou em mim na garagem, tudo o que eu mais
quis fazer foi te levar para o meu carro e ficar lá até que
resolvêssemos tudo isso. Ou até que você me matasse por tê-la
deixado quando precisou de mim. E quando você apareceu durante
aquela reunião, vi em seus olhos toda minha culpa e quis te abraçar
forte. Mas fui um completo covarde.
Seu evame não provou nada a mim, além do fato de eu ser um
grande idiota. Eu não o abri para saber algo sobre tudo aquilo,
porque para mim bastou sua palavra. Eu abri porque precisava
saber que você estava bem. Que você e nosso filho estavam bem. E
não qualquer que fosse o propósito de você ter me entregado
aqueles exames.
Por algum tempo eu apenas fiquei aqui olhando para este papel e
pensando no que deveria escrever. Fiz isso à noite toda já. À
questão é: quando aquela música começou a tocar no som da
minha sala, não consegui deixar de pensar naquela primeira noite
em Nova Iorque com você. Na maneira com que se entregou a mim
por completo e na maneira com que te recebi quando chegou a
minha cidade. Ou quando você me recebeu sete anos atrás. E eu
quis saber se você também a ouvia ou se aquelas palavras estavam
apenas na minha cabeça.
Eu me lembro de tudo daquela noite. Cada detalhe, por menor que
tenha sido, ficou gravado em minha pele por todos esses anos. E
por dias chamei por você, procurei por você...
Aquele dia na praia não foi diferente. Você havia novamente sido
gravada em mim, ainda que eu lutasse contra. Cada uma delas,
todas elas, dizia que eu chamava por você. Apenas: L.
E agora não é diferente. Por todas essas noites tenho chamado seu
nome. Sei disso porque isso me acorda do meu cochilo e não
consigo mais voltar a dormir.
À questão, linda, é que doeria bem mais te perder hoje do que foi
antes. E eu não quero isso. Quero que você seja minha, para
sempre, de corpo e alma. Por toda minha vida. Assim como sou
seu.
Quero que você aceite dividir sua vida comigo, para que juntos
criemos uma.
E eu sei que você está ai, arrumando suas coisas para voltar para
casa dos seus pais e esse é o motivo pela qual estou correndo
contra o tempo aqui. Não quero te perder outra vez. E se você tiver
dito que precisa de tempo, eu vou esperar e respeitar, porque não
quero estragar tudo outra vez. Mas jamais pense que desisti de
você.
Me afastar foi meu pior erro. Mas ter você foi meu maior acerto. E
eu quero ter uma vida de acertos com você.
Lembre-se: Nunca houve um "não".
Eu amo você. Sempre amarei.
Omnia causa fiunt.

Sempre seu eterno apaixonado,


And.
Prólogo
Sete anos antes

Após uma breve discussão com Victor, meu pai e Presidente CEO
da BIT Technologies, a maior empresa de tecnologia do país e uma
das maiores entre as américas, apenas peguei meu carro e sai do
hotel, sem rumo algum, dirigindo por São Paulo, seguindo para o
desconhecido que essa cidade sempre foi para mim.
E ok! Eu sei que todas as vezes que Victor diz que eu deveria
ouvir seus conselhos, que toda droga de crítica sua a meu respeito
e sobre o que estou fazendo de errado é para meu próprio bem e
que todas essas merdas que faço hoje podem acabar prejudicando
minha carreira como futuro Presidente da BIT, mas o que posso
fazer? Sou um homem de vinte anos e o único herdeiro de toda uma
indústria de tecnologia, que esta no segundo ano da faculdade de
engenharia de software e que passa a maior parte de todos os dias
trabalhando e estudando para ser o que esperam que eu seja.
Na única folga que tenho, é obvio que vou querer aproveitar.
Curtir minha vida sem pensar tanto nas responsabilidades que tenho
sendo um Giardoni. Sem ter que pensar se vou ou não arruinar o
nome da família, que meu pai tanto lutou para fazer com que ele
tenha extrema importância e que todos respeitassem.
Mas é claro que Victório nunca vai entender algo assim. Ele só é
o cara que basicamente não quer que o filho seja um perdido na
vida e que perca tudo o que ele lutou anos para conquistar. Só que
eu também não sou assim. Sei separar as coisas e agir como um
homem responsável.

Meu celular toca no banco do carona após não sei mais quanto
tempo dirigindo. Antes de atendê-lo, paro com o carro em uma rua
sem muita iluminação, para só então atender a ligação.
— Fala.
— Onde você esta? – reconheço a voz de Felipe do outro lado
da linha. – Estou aqui no seu quarto do hotel e seu pai disse que
você saiu. Achei que tivéssemos combinado de ir para aquele
barzinho para tirar seu atraso. – ele ri com a própria piada e, irritado
como estou, tenho que me conter para não manda-lo a merda.
— Estou em algum lugar. – respondo indiferente, olhando para o
lado, onde vejo uma casa do outro lado da rua e vários
adolescentes na faixa dos seus dezessete, dezoito anos. – Tem uma
festa aqui. Talvez eu fique para ver no que dá. Ligo para você
amanhã. – e encerro a chamada, guardando o celular no bolso da
calça e saio do carro.
Para minha sorte, quando sai do hotel estava terminando de me
arrumar para sair com Felipe. Então que estou pronto para esta
ocasião, ainda que não faça a menor ideia de onde esteja ou que
pessoas estão aqui. Apenas que algumas das garotas que
conversam frente ao portão são bem gostosas.
Conforme me aproximo da casa, ouço a música que parece
aumentar ainda mais e os rostos se tornam distintos, embora
irreconhecíveis para mim. Várias garotas lindas e com hormônios a
flor da pele, dispostas a dar qualquer coisa que eu queira e,
considerando que estou no auge dos meus vinte anos, sendo um
universitário, estou com uma boa vantagem na frente de todos
esses garotinhos aqui.
Uma garota sorri quando alcanço à calçada e, sem demora, ela
me oferece seu copo e apenas o seguro, dando a ela um sorriso em
agradecimento.
— Esta procurando por alguém? – pergunta com um sorriso
intencionado e tomo um gole de sua bebida, devolvendo a ela,
dando uma boa olhada de cima a baixo.
A garota tem um corpo magro, cabelos loiros e fartos seios que
quase saltam para fora de sua blusa extremamente decotada. Seus
lábios carnudos cobertos por um forte batom vermelho. Ela passa os
dedos lentamente pela borda do copo enquanto aguarda por minha
resposta.
— Estou. – minto. – Deve estar lá dentro.
— Quem é? – pergunta curiosa. – Talvez eu possa te ajudar a
encontrar. Conheço todos e por aqui.
Sorrio, sentindo bem o porquê de conhecer todos os convidados.
Ainda assim, dispenso sua companhia. Além do mais, não há uma
única pessoa que eu conheça para poder descrever a ela. Não que
seja isso que ela queira também.
— Não precisa. Obrigado. – digo, dando as costas para ela,
seguindo pelo quintal até o interior de uma enorme casa, onde a
caminho vejo vários outros rostos estranhos.
— Ah não, Julie! – a voz alterada de uma garota chega até mim,
apesar da música alta. – Este é nosso dia e esta é a nossa música.
Você tem que dançar comigo! – ela exclama.
— Desculpa amiga, mas você esta bêbada demais para isso. – a
garota chamada Julie diz em resposta. – Não estou nada afim de ter
você vomitando em cima de mim.
— Que bela amiga você é! – a primeira garota diz, mostrando a
língua para a amiga e sorrio ao vê-las interagindo.
— É por isso mesmo que sou sua melhor amiga. – Julie
responde. – Vai, senta aqui que vou buscar uma água gelada para
você.
E, colocando a garota sentada em um canto, ela sai sentido à
cozinha. Não leva mais do que poucos segundos para que a garota
levante, voltando a dançar sua música no meio da sala.
— Festa legal. – digo ao me aproximar dela.
— Oi! – ela grita. – Você não é da nossa turma!
— Adoraria ser. – digo com um sorriso sincero e ela para de
dançar. – Você deveria pular assim? – pergunto curioso. – Segundo
sua amiga, não.
Ela ri.
— Você estava ouvindo nossa conversa! – exclama entre uma
mistura de surpresa e indignação, embora ria. – Você é irmão de
alguém aqui? – pergunta. – Primo? Com toda certeza não é da
nossa escola. Você é velho demais para ainda estar na escola. Sem
ofensas.
— Tudo bem. – sorrio para ela.
— Quer ir lá para fora? Tem uma piscina lá do fundo e ninguém
pode ir lá e aqui está muito barulho. Não da para conversar direito.
— E você pode? – pergunto curioso, notando as covinhas em
seu rosto quando ela sorri toda orgulhosa e, agarrando minha mão,
guia-me por entre as pessoas, indo até a cozinha, seguindo até uma
porta nos fundos. Vejo sua amiga passar por nós com uma garrafa
d’água.
— O dono da casa é meu melhor amigo. – ela diz, parando para
tirar uma chave do bolso e destrancar a porta. – Como daria muita
bagunça e os pais dele não estão em casa hoje, a piscina é acesso
proibido para todo mundo. Mas depois que todos forem embora nós
viremos nadar aqui. – diz ainda mais orgulhosa, finalmente soltando
minha mão.
— Privilégios. – comento, segurando a porta para que ela possa
sair na frente e a fecho quando saio, esperando até que ela a
tranque outra vez.
Aqui no quintal dos fundos a música não chega de outra maneira
além de algo abafado e noto um jardim ao nosso redor, iluminado
por uma luz verde que contorna toda a piscina, alguns coqueiros em
um canto e cadeiras, também pouco afastadas. A piscina é grande e
esta cheia até a boca.
A garota senta na borda da piscina e tira sua sandália,
colocando-as de lado para jogar as pernas para dentro da água.
Por algum tempo eu apenas observo a maneira com que balança
as pernas e me permito observa-la melhor. Algo que não fiz bem
desde que a vi lá na sala.
De pé, ela não chega nem mesmo a bater no meu ombro, uma
vez que tenho 1,92 de altura. Ao contrário da garota que me
recebeu lá no portão, esta não tem seios fartos, mas sim um
pequeno e atraente par de seios, que estão devidamente colocados
para dentro de sua blusa, mostrando apenas um decote
naturalmente sexy. Seus cabelos são longos e ondulados, dando no
meio de suas costas, com as pontas pintadas de vermelho e uma
franja que insiste em cair sobre seus óculos, fazendo com que ela a
arrume atrás da orelha toda vez. Um gesto lindo do ângulo em que
estou, pois a luz esverdeada reflete por todo seu corpo, deixando
seu vestido preto com uma nova tonalidade.
E eu sei que minhas invenções não eram nem de longe boas
quando passei por aquele portão, mas não posso fazer isso. Não
com esta garota e menos ainda com qualquer outra aqui.
Eu a vejo olhar para mim e sorrir um sorriso lindo e tímido a me
ver encarando-a. Então prende sua franja para trás da orelha outra
vez e sinto vontade de fazer isso por ela.
— Vai ficar ai de pé ou sentar? – pergunta ainda sorrindo. – Não
acho que você vá crescer mais do que isto. – seu comentário me faz
rir.
— Droga! Você descobriu meu plano secreto. – digo e desta vez
quem ri é ela.
Sento-me ao seu lado, tirando meu próprio tênis e coloco as
pernas para dentro da água, sentindo a temperatura entre quente e
fria, assim como costumam ser as noites de primavera.
— Você não é daqui. – ela afirma, observando-me.
— Como sabe? – pergunto olhando para ela e a vejo com a
mesma expressão que usei sobre ela. Só que talvez menos bobona,
considerando que é bem mais bonita.
— Você tem sotaque. – afirma. – Então certamente não é daqui.
— Sou carioca. – respondo e ela solta um gritinho.
— Não acredito! – exclama sorrindo. – Diz “biscoito”, por favor. –
ela pede, fazendo-me rir.
— Eu não vou dizer isto.
— Por favor! – torna a pedir, juntando as mãos frente ao rosto e
me olha com um olhar quase que irresistível. Seus olhos brilhantes
com as estrelas e seu rosto um pouco corado, provavelmente
resultado da bebida.
— Eu não vou dizer biscoito só porque você esta fazendo essa
cara para mim. – digo sério, voltando o olhar para a piscina,
torcendo internamente para que não tenha percebido. Mas seu
segundo gritinho prova exatamente o contrário e sorrio.
— Mais uma vez. Por favor!
— É assim toda vez que você fica bêbada? – pergunto olhando
para ela novamente. – Arrasta um completo desconhecido para
onde não tem ninguém que possa protegê-la e fica pedindo coisas
peculiares? – rio ao ver a expressão em seu rosto e ela arqueia a
sobrancelha.
— Não sei. É a primeira vez que bebo. Isto é totalmente novo
para mim.
— Devia ter suspeitado que algo não estava certo quando
agarrou minha mão e me arrastou para cá sem nem mesmo
perguntar meu nome.
Ela me observa em silencio por alguns instantes e me pergunto
se fiz certo em dizer isto assim. Sua pergunta chega aos meus
ouvidos quase em um sussurro:
— Saber meu nome te faria ter uma impressão diferente da que
esta tendo?
Franzo o cenho. Se faria alguma diferença? Bem, eu teria um
nome para usar. Mas não sobre como ela é.
— Não sei. Talvez. – respondo por fim. – Mas não acho que isso
faria lá muita diferença exatamente.
— Sempre me perguntei isso. – ela diz, voltando a balançar as
pernas na água e fixo meu olhar para dentro da piscina, onde uma
boia flutua. – As pessoas gostariam mais de mim se eu não fosse
tão rotulada pelo meu nome? – pergunta. – Quer dizer, todos nós
temos um rótulo e uma marca. O rótulo é nosso nome e a marca, o
sobrenome. Por que não podemos apenas ser jugados pelo produto
que temos a oferecer ao invés de tudo isso?
Franzo o cenho com seu comentário, ainda encarando a boia do
outro lado.
Sei que ela não faz nem ideia de quem eu seja. Percebi isto
desde o primeiro momento em que me aproximei e que talvez seu
comentário seja para si. Mas também é algo que se encaixa
perfeitamente a mim, que sou um produto produzido no Rio de
Janeiro, no ano de 1989, rotulado como Andrew e a marca:
Giardoni. Não a pior. Bem longe disto. Mas sim uma que exige de
mim mais do que estou podendo oferecer neste momento. E talvez
um dia eu esteja pronto para dar a eles tanto quanto for possível ou
mais. Mas não agora.
— Se for para julgar seu produto, eu diria que é algo
extremamente filosófico e que aparenta ser de alta qualidade. –
comento. – Um pouco doida, mas que instiga a curiosidade do
comprador. – franzo o cenho. – Divertida e capaz de te fazer pensar
em várias coisas ao mesmo tempo. – concluo, finalmente olhando
para ela e sorrio. – Acho que eu compraria o seu produto, afinal.
Ela ri e vejo seu rosto corado.
— Obrigada, acho. – diz com um sorriso tímido. – Acho que eu
compraria seu produto mesmo sem saber qual é sua marca. Você
parece diferente de todos esses babacas que estão aqui e estudam
comigo.
— Já fui esse babaca. – admito. O que é bem a verdade. – Você
não precisa me dizer seu nome. Assim eu não posso, sei lá,
descobrir onde é sua casa e te perseguir. – digo e ela ri.
— Certo! – exclama. – Então vamos deixar o mistério dos nossos
nomes como um segredo. – ela finalmente volta a olhar para mim. –
Se amanhã ou depois nos encontrarmos, revelaremos isto ao outro.
Mas, até lá, para não ficar estranho, pode me chamar de Lu.
— Isto é uma pista que me levaria até seu verdadeiro nome? –
pergunto curioso, dando a ela um sorriso de lado.
— Talvez. – sorri de volta.
— Certo, Lu, chame-me de And, então.
— Isto é uma pista que me levara até seu verdadeiro nome? –
ela repete minha pergunta.
— Talvez. – repito também sua resposta e ela ri. – Gosta de
mistério e é engraçada. – digo como se estivesse com um gravador
ligado.
— Esta fazendo uma análise a meu respeito ou algo do tipo? –
Lu pergunta, tentando parecer brava.
— E é detetive. – concluo.
— Ei!
— Não. – respondo. – Apenas estou tentando gravar você na
memória. – sorrio e ela me empurra com o ombro, fazendo com que
sua franja caia sobre o olho.
Quando ela ergue a mão para coloca-la no lugar, sou mais
rápido e o faço de maneira lenta, tomando o cuidado para tocar a
lateral de seu rosto e sentir a suavidade de sua pele. Ela fecha os
olhos e sinto seu suave perfume que chega até mim.
Percebo que sua respiração fica mais pesada com meu toque e
termino de arrumar seu cabelo onde ela gosta, ainda mantendo
minha mão ali. A sua então vem de encontro com a minha e,
segurando-a, desce para o espaço vazio entre nós.
Sentindo minha própria respiração pesada, percebo seu olhar
em meus lábios e minha vontade correspondida em seus olhos
quando nossos olhares se cruzam.
Pressionando sua mão contra o chão, entrelaço nossos dedos,
vendo o rubor subir por seu rosto e eu sorrio, encostando minha
testa na sua, numa tentativa de deixa-la mais a vontade comigo.
Quero beija-la, sentir o sabor de seu beijo e a suavidade de seus
lábios quando tocarem os meus. E eu pouso um beijo demorado no
canto de sua boca, sentindo-a umedecer seus lábios e, como se
fosse um chamativo, eu a beijo de verdade e da maneira mais
profunda com que consigo fazer e é como se já tivéssemos feito
isso várias e várias vezes, porque sinto uma corrente elétrica que
passa dela para mim.
Com a mão livre, Lu segura minha camisa, enquanto com a
minha, eu a puxo para mais perto de mim, sem nos separar.
Ela segura minha camisa ainda mais firme e da um último beijo
no canto de minha boca, terminando da mesma maneira com que
começamos. E isto é o suficiente para me fazer sorrir.
— O que te trouxe a São Paulo? – pergunta em um sussurro
rouco e ergo a mão, colocando seu cabelo para trás outra vez.
— Vim tratar de negócios com meu pai. – dou de ombros, sem
muito interesse no assunto.
— Um homem de negócios. – ela diz, virando-se novamente
para a piscina e aperta nossas mãos. – Quando volta?
— Não sei. Segunda-feira de manhã ou à tarde. – respondo com
o cenho franzido.
— E hoje é sexta-feira. – observa.
— Por que este é seu dia? – pergunto curioso, lembrando-me de
sua conversa com a amiga.
— Você realmente estava ouvindo nossa conversa! – exclama
rindo.
— Bem, você meio que estava gritando lá dentro. Então...
— Seus argumentos defensivos são fracos, And. – ela me
interrompe e sorrio.
— Gosta de usar palavras complicadas em diálogos simples. –
acrescento uma nova nota.
— Recebi a notícia de que passei na faculdade no curso que
sempre quis e com bolsa total. – sorri orgulhosa.
— Sério?! Parabéns, anjo! – exclamo animado por ela, que sorri,
ficando mais vermelha. – E vai fazer o que?
Ela pigarreia antes de responder:
— Análise e Desenvolvimento de Sistemas. – diz. – Logo estarei
programando para as melhores empresas do mundo!
— E é uma futura programadora. – acrescento a nota. – Garota
nerd, amante de tecnologia. Grandes chances. – ela sorri. – Talvez
você devesse tentar entrar para a BIT. É a maior do Brasil e esta
entre as melhores entre as Américas.
— Grandes chances para que? – pergunta com o cenho
franzido.
— De talento e ser alguém com um futuro brilhante. De talvez
fazer a diferença no mundo tecnológico.
— Vou fingir que acredito e você finge que acreditou que eu
acreditei.
Sorrio.
— Certo.
— BIT fica no Rio de Janeiro e dizem ser difícil conseguir entrar
lá. – ela responde minha pergunta. – Não sei se um dia eu terei
tanto potencial para uma empresa como aquela pede.
— Ouvi dizer que vão abrir um escritório aqui em São Paulo. –
digo. O que é bem o assunto na qual vim tratar com meu pai aqui.
Tem esse escritório lá no centro que Victor esta querendo fechar
negócio para colocar nosso nome nele e expandir o mercado. –
Mais precisamente no centro. Talvez você consiga um estágio lá e
assim você fica a cada dia mais perto de conseguir fazer parte da
BIT
— Além de lindo, divertido e beijar bem, tem ótimas ideias e
excelentes conselhos sobre como conseguir um bom trabalho. Além
de uma ótima fonte de informações. – Lu tenta fazer a própria nota
mental, mas acaba rindo. – Vou tentar.
— Não tente. Faça. Eu tenho mais do que certeza de que você
tem potencial para entrar lá e o que eles precisam.
— Certo. – murmura um pouco tímida e sorri. – Obrigada. Vou
me lembrar disto quando começar a faculdade ano que vem e que
existe alguém por ai que acreditou em mim mesmo sem me
conhecer de verdade.
Sorrio em resposta, concordando.

Depois de ficarmos algum tempo sentados na beira da piscina,


apenas conversando, Lu levanta-se e estende a mão para mim e a
seguro, curioso para saber o que ela fará a seguir.
Talvez tenhamos ficado aqui por pouco mais de uma hora, talvez
menos, talvez bem mais de que isso. E eu a beijei algumas vezes e
outras ela me beijou. E isso tudo foi bom, porque ela não fazia ideia
de quem eu era. E apenas ver o sorriso que ela me dava quando eu
dizia algo, fez valer por qualquer noitada que eu pudesse ter com
Felipe em uma balada só para “tirar o atraso”, como ele sempre faz
questão de jogar na minha cara sobre eu ainda ser virgem.
Outra vez dentro da casa, Lu me leva por um corredor e subimos
as escadas, tentando passar despercebidos por todos os outros na
sala.
Seguimos por um corredor até chegar a um quarto masculino,
com uma cama de casal no meio e um forte cheiro de perfume no
ar. E eu tentei absolver tudo enquanto ela fechava a porta atrás de
mim antes de vir em minha direção e prender as mãos em minha
cintura. Eu a apertei contra mim, sentindo-me quente e até mesmo
desajeitado com tudo isso. E quando digo que me senti desajeitado,
quero dizer que quase cai com ela no chão quando eu a abracei um
pouco mais forte, tentando leva-la para sentar na cama.
Para minha sorte, Lu apenas riu, dando um beijo no canto da
minha e sentou comigo no chão mesmo, em meu colo. As pernas
abraçadas ao meu quadril até que me levantei com ela. Os braços
preços ao meu pescoço. E eu a deitei na cama, tomando todo o
cuidado que deveria ter para deixa-la bem. Para deixa-la
confortável.
E eu senti cada uma das coisas que tive com ela e tive a certeza
de que fui o primeiro homem dela. Que apenas foi mais um motivo
para querer gravar em sua pele qualquer coisa que eu pudesse
fazer. E eu o fiz através de meus beijos, sentindo todo seu corpo se
arrepiar sob meu toque.
Capítulo Um
Domingo
Andrew

— Lu! – exclamo, acordando de um pulo, sentindo todo meu corpo


suado, apesar do frio que faz e sento-me na cama para conferir a
hora no relógio. São duas da tarde. O que prova que dormi mais do
que planejava para um simples cochilo depois do almoço.
Sentado na cama, eu me lembro do sonho que tive com Luara
com o dia em que nos conhecemos, que foi também nossa primeira
vez juntos, como homem e mulher. E esse sonho foi tão real, que
sinto como se ela estivesse aqui deitada do meu lado, com o cabelo
todo espalhado sobre o travesseiro e sentindo-se um pouco
envergonhada pelo que fizemos juntos.
Mas ela não esta aqui e não esteve nas últimas quatro semanas
desde que vim para Londres visitar meus pais. E tudo esta tão...
Estranho e distante nesses últimos dias. Tão diferente do que havia
sido até começo do mês passado, antes de toda aquela merda que
aconteceu entre nós.
Com ela, eu nunca estava sozinho. Luara sempre estava ao meu
lado, ouvindo minhas histórias bobas de coisas que fiz quando mais
novo ou meus desabafos quando tudo o que eu mais queria era
largar a BIT na mão de João e dos outros sócios e sumir dali,
porque parecia que tudo estava desandando para mim e nada mais
tornaria a dar certo lá dentro. E ela todas às vezes conseguia me
fazer recuperar a sanidade.
— Vai ficar tudo bem, And. – suas palavras chegam suaves aos
meus ouvidos, como se as dissesse agora. – Você é o melhor em
fazer o que faz aqui. O melhor em cuidar desta empresa. Tudo o
que você faz por ela é com amor e nenhum deles seria capaz de
algo assim.
E ela tinha razão todas às vezes. Eu respirava fundo e a via
sorrindo para mim quando percebia que me acalmava.
Só que ela não esta aqui hoje e nem mesmo esteve ontem ou
vai estar amanhã, por mais que eu ainda a espere todos os dias,
como se ela fosse me ligar dizendo que esta chegando para ficar
comigo esses últimos dias. E eu preciso dela como nunca achei que
precisaria. Talvez pelo fato de ter ficado dependente de sua
companhia ou por querer estar ao seu lado, vendo sua barriga
crescer a cada dia que passa. Algo que não vou nunca me perdoar
por estar perdendo.
Ou quem sabe seja o amor que ainda sinto por aquela mulher,
que é maior do que jamais imaginei ser possível sentir por alguém
antes.
Pego na cômoda ao lado da cama a caixinha preta e felpuda,
tirando de dentro dela a pequena aliança que comprei para dar a
Luara no mesmo dia em que nos “separamos”. Eu a passo de dedo
em dedo, voltando a deitar na cama.
Desde que cheguei, não passei um único dia longe dela, que
esta sempre dentro da caixinha, muito bem guardada em meu bolso
para o caso dela chegar de surpresa. E meus pais sabem sobre
minhas intenções com ela e sobre nosso filho e ficaram felizes
quando contei.
— Qual foi à última vez que você falou com ela? – ouço a voz
suave de minha mãe vindo da porta, tirando-me completamente de
meus pensamentos, fazendo com que derrube a aliança em minha
barriga.
— Eu não sei. – respondo, tornando a segura-la. – Acho que no
Natal. – franzo o cenho. – Como ela não me atendeu no Ano Novo,
eu não liguei mais.
Na verdade, como depois do Natal não consegui mais conversar
com Luara em nenhuma das minhas tentativas, comecei a mandar
mensagens para Julie para poder ter notícias e saber como Luara
estava se sentindo. Já fazia isso antes, uma vez que Luara mais
estava sem sinal no celular lá na tia dela de que o contrário.
E, na noite da virada, eu liguei no celular da Julie, quase sem
voz, na esperança de poder ser a primeira pessoa com quem Luara
conversaria quando o ano começasse. Então teve aquela voz no
fundo da ligação e Julie desligou o telefone, recusando minha
segunda tentativa de conseguir falar com ela.
Mais tarde naquela mesma noite, Luara retornou minha ligação,
mas eu estava sem voz alguma e não consegui nada além de ouvir
o que ela tinha a me dizer. E eu ouvi cada uma de suas palavras.
Principalmente quando disse que quase havia ficado com seu ex-
namorado na festa na casa de um amigo dela e de Julie lá em São
Paulo. E aquilo meio que foi o suficiente para não querer falar com
ela desde então, ainda que tenha dito também que apenas havia
considerado fazer aquilo porque estava me vendo nele. Só que ela
também disse que apenas não o beijou, porque vomitou.
E eu devo me lembrar de agradecer ao nosso filho por ter feito
isso a ela.
Em silêncio, minha mãe se senta aos pés da cama, apoiando a
mão em minha perna e sorri para mim.
Modesta parte eu tive a quem puxar. Lilian é linda, mas puxei
mais para meu pai. Ela não é alta e provavelmente seja menor até
mesmo que Luara. Seus cabelos são lisos e ruivos, sempre
mantidos na altura dos ombros e seus olhos azuis brilham por trás
de seus óculos. Seu sorriso é sempre gentil e meigo, enquanto seu
olhar sempre tão sábio e observador.
— Você devia ligar para ela, querido. – diz. – Já passou pela sua
cabeça que talvez ela esteja esperando por isso? – pergunta e
franzo o cenho.
— Fiz muito isso desde que ela partiu e depois de um tempo foi
como se ela tivesse deixado de querer falar comigo ou até mesmo
responder minhas mensagens. – respondo, soltando um suspiro
cansado. – Tenho medo de que este “tempo” dure tempo demais,
mãe.
— Acho que ela apenas esta com medo de ouvir sua voz e não
aguentar, porque sabe que você esta longe dela. – diz. – Não que
ela tenha dúvida quanto ao que sente por você.
— Será?
— Você não tem recebido notícias pela amiga dela? – pergunta e
confirmo com a cabeça. – Está ai a prova do que digo.
— Julie disse que nos primeiros dias em que estavam na tia
dela, a Lu não parava de me xingar e mais algumas coisas. Só que
ela não entrou em detalhes sobre que “coisas” eram essas. – franzo
o cenho. – Se é assim, por que ela não usou a passagem que dei a
ela?
Minha mãe da de ombros.
— Medo, talvez. – sorri. – Apenas ligue para ela na primeira
oportunidade. Tenho certeza de que ela ira gostar de falar com você.
Principalmente depois do Ano Novo. – ela então levanta. – Agora,
coloque uma roupa mais apropriada.
— O que há de errado com meu moletom? – pergunto, ajeitando
a calça.
— Para ficar deitado em casa nada. – diz em resposta. – Mas
para sair acho que você poderia sentir muito frio.
— E aonde a senhora espera que eu vá?
— Visitar sua tia Lívia. – diz e sai do quarto, deixando-me outra
vez sozinho com meus pensamentos.
Tia Lívia. Sorrio, recordando-me do mesmo sonho que tenho tido
nas últimas três noites, na qual vejo Lura grávida de gêmeos. Quais
as chances disso ser verdade, considerando que minha mãe tem
uma irmã gêmea idêntica? Eu na certa adoraria ter duas pequenas
princesas. Ou dois meninos. Talvez ela fosse gostar mais se fosse
um casal.

Tia Lívia não mora tão longe de onde fica o apartamento dos
meus pais. Na verdade, fica apenas há quatro quarteirões de lá. O
que não necessita exatamente de uma viagem de carro, mas como
estou precisando aquecer o motor, preferi fazer o caminho de carro
ao invés de caminhar.
— Tem certeza de que ela esta em casa? – pergunto a minha
mãe, parando com o carro na entrada da casa.
— Claro que sim. – ela responde. – Avisei que viríamos. Ela
deve estar na cozinha preparando algo. Venha. – sem mais
perguntas, eu a acompanho para fora do carro, seguindo até a porta
da frente.
Tia Lívia vive em Londres acho que desde que eu tinha dez
anos. Isso pouco tempo depois de ter se casado com Brian, tendo-o
conhecido em Nova Iorque, em uma de suas viagens a trabalho. Na
verdade ela apenas voltou para seu país e cidade natal.
Lívia e Brian tem somente uma filha: Kate, que tem apenas
quatorze anos e que a última vez que a vi, foi também na virada do
ano. Passei a noite jogando videogame com ela até que desse o
horário para ligar para Luara. Nós dois não tivemos lá nossa melhor
virada, uma vez que os dois estavam sem voz.
— Chegamos! – minha mãe anuncia, abrindo a porta da casa e
entra.
— Estou aqui! – ouço como se fosse o eco da voz de minha
mãe, vindo provavelmente da cozinha.
— Eu disse que ela estaria lá. – minha mãe diz, seguindo para a
cozinha. – Trouxe Andrew comigo.
Como se fosse um chamado, minha tia aparece na porta da
cozinha, trazendo uma xícara em suas mãos.
— Achei que já não se importasse mais com sua tia. – ela diz,
tentando parecer chateada, mas com um enorme sorriso no rosto. O
mesmo que tenho visto todas as manhãs quando acordo e vejo
minha mãe.
— Sabe que isto nunca aconteceria. – digo abraçando-a forte,
fazendo questão de tira-la do chão.
— Já disse para você parar de fazer isso! – ela me repreende e
acabo rindo. – Por que você não veio em casa antes? Só pude ver
meu sobrinho nas festas e por cima.
— Estou trabalhando em alguns prédios para decidir onde será
instalado a nova BIT. – respondo.
— Na verdade ele fica na cama a maior parte do tempo deitado
na cama, girando uma coisa entre os dedos. – minha mãe diz,
lançando a mim seu famoso olhar “eu sei o que você faz naquele
lugar” e me pergunto o quanto ela sabe.
— Que “coisa” é essa? – Lívia pergunta.
— Ela esta apenas brincando. – sorrio um pouco sem graça. –
Deixa que levo para a senhora. – ofereço para levar a bandeja com
chá e biscoitos até a sala de estar. Hora do chá em Londres.
— Obrigada, querido.
Na sala, Lilian e Lívia sentam-se lado a lado no sofá e eu na
poltrona, de frente para elas.
Se eu fechar os olhos e elas se misturarem, não sou capaz de
diferencia-las a menos que digam algo, entregando a maneira com
que falam ou peça para que me deixem ver suas mãos, para que
possa diferencia-las pela marca que minha mãe tem, assim como
eu.
Enquanto as duas conversam, folheio um livro que peguei na
estante, sem dar muita atenção aos assuntos, que variam desde os
estudos de Kate até seus maridos, o tempo e...
— Andrew esta namorando. – minha mãe diz em um tom
divertido. Tia Lívia engasga com o chá ou o biscoito. Não sei.
— Como assim?! – exclama espantada. Apenas olho por cima
do livro e pego as duas me olhando. – Por que você não me contou
isso antes, Lily?
— Ela trabalha na BIT. – minha mãe diz, ignorando a pergunta
da irmã. – Foi à garota que ganhou o treinamento de Nova Iorque
este ano.
— AH! – minha tia exclama. – E vocês foram juntos e tudo
aconteceu lá? – pergunta para mim, mas quem responde não sou
eu.
— Quê? Não! A história dos dois começou bem antes disto. –
Lilian ri. – Como é mesmo o nome dela? Lara? Laura. Isso! Laura! –
vejo minha mãe sorrir e virar para a irmã. – Ah, Liv, você precisa ver
a maneira como ele fala dela. Os olhos dele chegam a brilhar!
— É Luara. – corrijo, virando a página do livro sem tirar os olhos
dele.
— Eu sabia que era algo nesse sentido. – minha mãe torna a rir.
– E não é só isso. – diz e ergo o olhar para ela. – Posso? –
pergunta.
— Vai em frente. Já começou mesmo.
— Deus do céu, Lilian! O que essa garota tem?! Fala logo,
mulher.
Olhando para mim, minha mãe sorri e torna a virar para a irmã,
para só então sussurrar as palavras como se tivesse medo de que
mais alguém pudesse escuta-la:
— Ela esta grávida. – sorri. Andrew e ela terão um filho juntos.
— Ai meu Deus! – Lívia exclama. – Isto é verdade? – pergunta
agora para mim e apenas concordo com a cabeça. – Deus do céu!
Por que você não me contou antes, Lily? Nós estivemos juntas
praticamente as últimas duas semanas e você nada.
— Na verdade eu queria que o And tivesse contado. Mas...
— Deus do céu! – minha tia a interrompe. – Como foi que isso
aconteceu? Quer dizer, não nesse sentido. Mas é que você
namorando e começando a construir uma família assim?
— Qual o problema? – pergunto mais ríspido do que realmente
gostaria e sinto como se uma bola de neve descesse por minha
garganta quando as palavras me escapam.
— Nenhum, querido. – responde, vindo sentar-se ao meu lado. –
É só algo que você sempre evitou. Mas fico orgulhosa por saber que
você vai ter algo assim. Filho é uma benção. – sorrio com suas
palavras, sentindo outra vez aquele vazio de sempre por não saber
como ela e nosso filho estão. – Me diz como ela é? – pede.
— É linda. – respondo com um sorriso de lado, lembrando-me de
seu jeito todo acanhado. – Acho que eu só não havia encontrado a
garota certa ainda.
Eu não me atrevo a dizer que não estamos mais juntos. Dizer
isto é como se trouxesse tudo àquilo de volta a tona e pusesse um
fim ao que tivemos. Prometemos continuar, mas precisamos
esquecer tudo isso.
— Mostre a ela, filho.
Quando minha mãe diz isto, sei imediatamente a que se refere.
Então pego o celular no bolso da calça, abrindo a foto que tirei dela
no dia em que nos conhecemos na praia. Sei que tenho várias
outras que são melhores, mas esta é minha favorita e a que esta
mais natural, com o cabelo todo bagunçado pelo vento e um sorriso
meigo no rosto.
— É a garota da revista. – tia Lívia exclama no momento em que
segura meu celular.
— Garota da revista? – pergunto com o cenho franzido e ela
concorda.
— Espere só um pouquinho. – pede e sai, seguindo até onde
lembro que fica seu quarto. Minha mãe tem uma expressão tão
confusa quanto eu ou até mais. – Aqui esta. Leia. – diz, entregando
a mim o iPad, com uma revista digital em aberto. A foto de Luara
esta na capa e sua imagem faz meu coração pular contra o peito.
— A misteriosa namorada de Andrew Giardoni. – leio. –
Criativos.
— Abra bem no meio. – Lívia pede e a obedeço. São duas
páginas inteiras sobre nós.
— Conhecida como Luara, ela foi vista pela primeira vez em
companhia do jovem empresário de apenas vinte e seis anos em
Nova Iorque, enquanto estava fazendo um treinamento patrocinado
pela empresa para a qual trabalha, a BIT Technologies. – faço uma
pausa, observando sua foto. – “Luara tem vinte e três anos...”, vinte
e quatro. – corrijo. – É paulistana nascida e criada na capital. Pouca
coisa se sabe a respeito da garota que parece ter conquistado o
coração do jovem empresário, Andrew Giardoni, além de que
tiveram ótimos momentos enquanto desfrutavam do calor de Nova
Iorque. Como será que anda o coração destes dois desde que
voltaram ao Brasil? Tudo o que sabemos até o momento é que
Andrew está em Londres com a família e a trabalho desde mês
passado, quando a BIT entrou de férias e que ela já voltou ao
trabalho na empresa. Como será que é estar a um oceano de
distância daquele que amamos? – termino a leitura. Meus olhos
fixos em uma foto nossa, na qual estamos nos beijando. Meu
coração parece disposto a querer sair pela garganta.
— Eles terminaram pouco antes dele vir para cá. – minha mãe
diz quase num sussurro. – Estou tentando convence-lo a ligar para
ela há dias já.
— Ela deve estar uma fera com isso aqui. – digo, tentando
desviar o assunto, rindo sem graça.
— Ligue para ela, And, queria. – minha tia diz, tocando meu
braço. – Por mais que eu odeie a maneira com que eles expõem as
pessoas, o que disseram ai é verdade. “Como será que é estar a um
oceano de distância daquele que amamos?” – ela repete a última
frase do artigo. – Eu sei que eu estaria morrendo de saudades de
Brian se ele estivesse tão longe de mim.
— É horrível e parecer querer te destruir. – digo em um sussurro
rouco e levanto para colocar o iPad sobre a mesinha de centro e
saio, indo para o quintal dos fundos. Preciso ficar sozinho um pouco
depois do que li. Mas também sei que não adianta continuar sendo
orgulhoso.
— Obrigada. – ouço o agradecimento de minha mãe.

Assim como em toda a rua, o quintal também esta coberto de


neve. O jardim normalmente verde de Lívia e o balanço que Kate
costumava brincar quando era pequena estão brancos e
congelados.
Disco o número há muito familiar e espero até que atenda. Nada.
— Alô? – sua voz chega rouca e totalmente embriagada de sono
quando estou prestes a desligar.
— Oi. – sussurro. – Sou eu.
— And? – pergunta. – Que horas são? – posso vê-la claramente
esfregando os olhos a procura de seus óculos.
Consulto o relógio em meu pulso antes de responder:
— Bem, para mim são quatro e trinta e seis. Ai deve ser uma e
trinta e seis.
— Caramba! Eu dormi demais! – exclama rindo.
— Liguei em uma hora ruim? – pergunto.
— Não. Nunca. É só que... – ela faz uma pausa, talvez pensando
em algo para dizer. – É só que eu não estava mais esperando sua
ligação. Não depois de sexta.
Com um suspiro, permito-me sentar no chão frio. Meu coração
ainda acelerado.
— Quis te ligar antes. – confesso. – Só não consegui fazer isso.
Estive meio que sem voz esses dias e não consegui falar com você
aquele dia. Mas ouvi tudo o que você falou.
— And, eu não...
— Esquece aquilo, anjo. – eu a interrompo. – Se você
considerou ficar com outro, tudo bem. Eu sei que nosso filho não te
deixaria ir tão longe com qualquer homem que fosse. – ela ri com
minhas palavras e junto um pouco de neve.
— Eu achei que você não fosse mais querer falar comigo depois
daquilo. – diz em um sussurro e fecho os olhos. – Mesmo que não
tivesse vomitado, porque obviamente foi coisa do nosso Pequeno,
eu não ia fazer aquilo.
— Você acha que o fato de eu ter escrito aquela carta para você
e ido conversar com você antes de viajar tinha ficado por aquilo? –
pergunto curioso.
— Sim... Digo, não! – ela diz toda confusa e isso me faz rir e ela
acaba me acompanhando. – Eu não sei. – diz por fim.
— Não estou passando frio no rosto para desistir da promessa
que te fiz.
— Você ainda...
— Sim. A cada dois dias, porque ela cresce rápido.
Faz-se um longo silêncio e presto atenção em sua respiração
lenta e pesada. Nervosa.
— Como você esta? – pergunto.
— Terrivelmente quente. – responde de imediato. – Com ênfase
na palavra “quente”, molhada com tanta chuva, dormindo em
qualquer lugar e mais enjoada que todo um exército de mulheres
grávidas. – ela então faz uma pausa.
— Esta tão ruim assim?
— Andrew, querido. Meu lindo... – sorrio ao ouvir a maneira com
que ela me chama. – Eu estou vomitando a cada garfada de comida
que coloco na boca, meu remédio já não funciona mais e meu
médico não tem nenhum que possa me ajudar. – ela faz outra pausa
e solta um suspiro cansado. – Eu estou dormindo por dois, meu
humor vai de cem a zero em um ponto dois segundos e há dias que
estou com uma vontade terrível de comer a sua comida e você esta
em Londres, aproveitando um inverno delicioso, com direito a neve
e tudo, enquanto estou arrancando cada peça de roupa do corpo em
um calor de quase quarenta graus. – outra pausa. – Eu não estou
mais aguentando, And. – sua voz de repente fica mais chorosa e
não sei exatamente o que dizer para acalma-la.
— Está com vontade de comer o que? – pergunto, tentando
faze-la pensar em outra coisa.
— Para começo, aquela macarronada deliciosa que você
preparou em Nova Iorque. – responde. – Depois, pizza.
— Nunca fiz pizza para você. – digo na defensiva e ela ri.
— Não. Mas estou com vontade.
— Mais o que?
— Você vai mesmo me fazer dizer tudo o que estou com desejo,
só para aumentar minha vontade e me deixar ainda pior? – ela
pergunta. – Por que se for essa sua intenção...
— Estou aqui anotando tudo para poder fazer quando voltar. –
eu a interrompo.
— E quando será? – novamente sua voz muda e apenas fico em
silêncio por algum tempo.
— Entre o começo e final da próxima semana. – respondo. A
verdade é que apenas estou aqui ainda por conta de meus pais,
porque pretendo leva-los comigo para passar um tempo no Brasil. –
Queria ter voltado já, mas tem alguns imprevistos e cá estou eu, no
frio, fazendo um boneco de neve miniatura enquanto converso com
minha ex-namorada.
— Não diz isso. – ela pede.
— Dizer o que?
— Ex-namorada. – sussurra e faz um barulho estranho do outro
lado. – Espera. Eu já volto.
Ouço seus passos apressados que se afastam e um barulho
distante, indicando um possível enjoo.
— Droga! – exclama logo que volta. – Eu não aguento mais isso.
Todos os dias, várias vezes ao dia. – ela tosse. – Sabe que estão
começando a desconfiar na BIT?
— Você não contou nada a ninguém? – pergunto.
— Não sou nem louca. Principalmente porque você não esta
aqui e não saberia como lidar com isso sozinha. Não falei nem
mesmo que estamos dando um tempo.
— Compreensível. – digo, tentando ignorar sua última frase. –
Por que não posso dizer “ex-namorada”? – pergunto, voltando ao
assunto anterior. Estou realmente curioso para saber o motivo de ter
me pedido isso.
— Porque faz parecer que não temos mais volta. – sussurra. –
Que será sempre você, nosso filho e eu. Nunca “nós”. E eu não
quero que seja assim, lindo.
Ao ouvir suas palavras, fico apenas em silêncio por algum
tempo. Eu não esperava ouvir isto quando liguei.
Observo em total silêncio enquanto o balanço de Kate tenta
acompanhar o vento que sopra forte. Com a mão livre, amasso o
boneco que estava fazendo e puxo o capuz da blusa para junto da
toca. Meu coração está acelerado e minha respiração tenta
acompanhar seu ritmo.
E eu sei que preciso dizer algo em resposta. Dizer que desejo
tanto quanto ela que sejamos nós. Mas simplesmente não encontro
as palavras certas para expressar o que estou sentindo. Ainda que
pareça fácil, é difícil para que eu consiga me expressar desta forma.
E, perto dela, eu apenas faria o que tenho em mente, mas não
posso. Não assim. Não longe dela e sem ter a certeza de que
estamos juntos. De que estamos bem.
— Sei que possivelmente vou me odiar mais tarde por dizer isto,
mas vou jogar toda a culpa nos meus hormônios alterados e
incontroláveis, mas... – sua voz soa distante em meus ouvidos, mas
é como se ela estivesse aqui ao meu lado. E quando volta a falar,
sinto o sopro de seu hálito mentolado e sua voz sussurrada: – Eu
sinto sua falta, And. Todas as vezes que acordo durante a noite,
abraço sua camisa dos Cowboys, que já não tem mais seu cheiro
como antes e desejo que você esteja ali, deitado ao meu lado.
Então você colocaria meu cabeço atrás da orelha e diria: “Está tudo
bem. Estou aqui com você, anjo.”. Só que você não esta ali. – sua
voz embarga e sinto o impulso de secar a lágrima que escorre por
seu rosto. – Você esta há um oceano de distância e isso faz com
que eu me sinta arrasada por dentro.
— Eu queria que você estivesse aqui comigo. – digo a primeira
coisa que me vem à cabeça e percebo que é tudo o que mais
desejo. – Tudo o que você diz sentir, sinto igual, porque sei que
você precisa de mim para evitar que seu cabelo acabe caindo no
vaso.
— Droga! Eu fico horrível nessas horas. – ela ri. – Quando você
volta?
— Vou tentar agilizar isso o quanto antes. – digo, na certeza de
que não me arrependerei. – Só preciso convencer meu pai a aceitar
voltar ao Brasil por algum tempo, pelo menos até meu aniversário.
Lembrando-me de meus últimos sonhos, sorrio, voltando a falar:
— Tenho sonhado com você nas últimas noites.
— Sonhado o que? – pergunta curiosa e sorrio.
— Que você esta grávida de gêmeos. – digo com o cenho
franzido e ela engasga do outro lado. – Esta tudo bem? – pergunto.
—Se eu já estou assim por um, eu não quero imaginar como
ficaria com dois. – diz em resposta.
— Tem certeza? – pergunto, sentindo-me um pouco
desapontado.
— Sinto muito.
— Tem certeza mesmo? – insisto e ela ri.
— Meu médico já fez alguns ultrassons. Só tem um mesmo. –
diz. – Sei o quanto você queria, mas não aconteceu. Sinto muito.
— Ok. – digo em resposta, sentindo-me realmente chateado com
a notícia. – Você ainda esta consultando com Marcus? – pergunto
para mudar de assunto.
— Não. Ele é muito caro. – responde. – Nem com o plano
consigo bancar uma consulta com ele.
— Volte com ele. – peço. – Ele é o melhor do estado. Quero ter a
certeza de que realmente só tem um bebê ai.
— Não tem. Eu juro. Eu vi lá no aparelho do ultrassom.
— Ainda assim quero que você volte com ele. – insisto. – Você
tinha gostado da maneira com que Marcus atende. Não se preocupe
com valores e deixe isso para mim.
— And, não.
— Vou ligar para ele assim que puder e pedir para agendar uma
consulta com você. – digo, ignorando-a.
— Deus, como você é teimoso! – exclama rindo. – Tá. Mas
apenas uma vez.
— Uma vez até eu voltar e poder ir com você. – acrescento. – Só
para ter certeza de que não tem nenhum bebê escondido atrás do
outro ai.
— Você queria mesmo gêmeos, né? – pergunta e percebo que
esta de certa forma chateada.
— Quando conhecer minha mãe e minha tia, certeza de que vai
entender. Mas tudo bem. Quem sabe no próximo? – pergunto com
ar divertido, esperando por sua reação.
— Próximo? – repete e sorrio.
— É bem solitário ser filho único, linda. – digo e ela ri.
Todo o tempo que passamos separados, conversando apenas
em poucas ocasiões. O motivo de termos brigado e causado esse
nosso afastamento, parecem simplesmente não existir mais depois
de uma simples conversa, ainda que tenha sentido o tom de voz de
Luara mudar em algumas vezes, quase brigando comigo,
possivelmente por causa de seus hormônios trabalhando, provando
que Julie disse a verdade. E todo aquele medo que eu sentia toda
vez que pegava o telefone para ligar, simplesmente deixou de fazer
sentido enquanto conversávamos.
Com exceção de sua passagem para cá, conversamos sobre
vários outros assuntos e não sei dizer exatamente se estamos bem,
se estamos dando um tempo ou se estamos juntos novamente. Nem
mesmo é certo dizer isto depois de apenas uma conversa como a
que tivemos. Mas isso também me deu mais coragem para voltar
para o Rio de Janeiro e conversarmos como realmente precisamos
e que irei saber no momento em que nos reencontrarmos. E eu vou
fazer de tudo para que este encontro seja o quanto antes, porque
sinto saudades dela e mais ainda do nosso filho.
Capítulo Dois
Quarta-feira
Luara

Sentada em cima do capô de um carro antigo, na beira da estrada


mais ou menos perto de casa.
À noite esta linda e com uma lua cheia e muitas estrelas que
iluminam o céu, sem uma única nuvem. E eu sinto a brisa gelada do
vento que bate em meu rosto, insistindo em bagunçar meu cabelo e,
teimosa como sou, insisto em tentar deixa-lo preso atrás da orelha.
Uma luta mais do que inútil, é claro.
— Talvez se você desistir, ele também desista de bagunçar seu
cabelo. – uma voz levemente rouca chega até mim e olho em sua
direção. And, o rapaz que conheci na festa do Hugo há pouco, está
sentado mais para cima de onde estou. Ele é lindo e tem um sorriso
tão lindo quanto. E isso sem mencionar seus olhos.
— Não dá! – exclamo, prendendo todo meu cabelo com as mãos
e minha franja me escapa, fazendo com que ele ria.
— Espera um pouco. – ele pede e desce, indo para dentro do
carro, tornando há voltar poucos instantes depois. – Acho que isso
deve te ajudar. – diz, entregando um elástico de dinheiro para mim e
sorrio.
— É melhor do que nada. – respondo já prendendo o cabelo e
minha franja escapa, apesar de já estar bem grandinha. – Eu
decididamente não devia ter cortado o cabelo assim.
— Não sei. Você fica legal assim. – And diz, deitando ao meu
lado e olha para o céu. – Não que eu possa dizer exatamente como
você fica com outro penteado, mas acredito que linda também.
Com seu comentário, sinto meu rosto corar e um sorriso tímido
se formar em meu rosto.
— O que foi? – ele me pergunta ao me flagrar olhando para ele.
Apenas dou de ombros.
— Não é nada. – digo e ele sorri, segurando minha mão e a leva
até sua boca.
— Você não faz mesmo ideia de quem eu seja, né? – ele
pergunta quando senta, pousando um beijo em minha bochecha. O
toque áspero de sua barba ainda rala me faz cócegas e corro minha
mão por ela.
— Por quê? Eu deveria saber? Você é algum ator ou cantor? –
pergunto com ar divertido, segurando seu rosto para vira-lo de um
lado a outro, tentando reconhece-lo de algum lugar. – Porque se for,
diz logo que é para eu poder contar aos meus amigos que fiquei
com alguém famoso. – completo e ele ri.
— Tenho cara de cantor? – pergunta curioso e resolvo brincar:
— Uhum. Cantor sertanejo.
— Nossa! – exclama. – Meio que me senti ofendido aqui.
Eu rio. Minha mão desce por seu peito e sinto seu coração bater
um pouco acelerado sobre o tecido da camisa que usa.
— Estou brincando, seu bobo. – sorrio. – Não tenho ideia de
quem você seja, mas gostaria de saber, porque parece que te
conheço.
— Talvez nos conheçamos, mas não temos ideia disso. – diz e
sinto sua mão em minha cintura, pouco antes de sentir seu beijo em
meus lábios.
— Acho melhor nós irmos, And. – digo ainda de olhos fechados,
sentindo sua respiração bem próxima a minha. – Já esta ficando
tarde. – ele concorda e desce, ajudando-me a descer também.

Enquanto And dirige, seguindo minhas instruções para chegar


até minha casa, eu o observo.
— Você volta quando para o Rio de Janeiro mesmo? – pergunto
e sinto sua mão tocar a minha, que repousa em minha perna.
— Segunda-feira. – responde sem desviar a atenção do trânsito.
– Ainda tenho mais dois dias aqui. – e, olhando para mim, ele sorri
talvez o sorriso mais lindo que já vi em toda minha vida.
— O que foi? – pergunto curiosa e ele nega.
— Nada. É só uma ideia que eu tive.
— Homem misterioso. – faço uma breve nota mental e ele ri. –
Você é todo misterioso, And.
— Não fui eu quem começou com a história dos rótulos. – diz e
faço biquinho para ele, fazendo com que torne a rir.

— Então é aqui que você mora. – And diz assim que saio do
carro e olho para ele, tentando alcançar seu olhar.
— Desde que consigo me lembrar. – respondo quando sinto sua
mão em minha camisa, fazendo com que eu me desequilibre um
pouco, mas o carro me apoia, assim como também sua mão em
mim.
— Cuidado. – ele sorri.
— Me diz seu nome. – peço, sentindo que não quero amanhã
acordar e descobrir que toda essa noite não passou de um sonho.
Que toda nossa conversa na piscina, o que aconteceu no quarto até
poucas horas atrás e essas últimas, enquanto olhávamos para o
céu. Eu não quero acordar e descobrir que nada disso foi mentira.
— Sem rótulos. Lembra? – diz e dou de ombros.
— Às vezes eu me odeio por dizer coisas que não deveriam. –
digo com um suspiro que é uma mistura de cansaço e decepção
comigo mesma.
— Posso te levar ao cinema amanhã à noite? – pergunta,
apoiando sua testa na minha e confirmo.
— Esteja aqui às sete horas em ponto. – digo em resposta,
abraçando-o. Não querendo deixa-lo ir. – Preciso entrar antes que
meu pai acorde e descubra que não estou na cama. Ou pior, que
estou no portão de casa com um homem que mal conheço e que
esse homem tirou minha inocência. – digo e ele ri.
— Filha única também? – pergunta ainda rindo e desta vez nego.
— Tenho uma irmã de dez anos.
— Chegarei às seis e meia. – diz em um sussurro e sinto seu
beijo, causando um calafrio por todo meu corpo. Um beijo como
nenhum outro homem com quem estive jamais foi capaz de me dar.
Não até que eu o reencontrei na praia.
◆◆◆

— And. – o nome me escapa em um sussurro e abro os olhos,


encarando o teto ainda escuro do meu quarto e toco o lugar vazio
ao meu lado, onde Andrew costumava dormir. – Quando é que você
vai voltar para mim ein, meu lindo? – pergunto, puxando o
travesseiro para perto e o abraço forte, afundando o rosto na fronha.
Ter esse sonho agora, quando estamos separados, não me
deixa lá muito confortável. Sinto falta de Andrew como nunca
imaginei que fosse sentir e isso aumentou ainda mais quando ele
me ligou no domingo e passamos aquele tempo conversando.
Ele prometeu que voltaria logo, mas até hoje ele não esta aqui e
isso dói. Muito.
Arrasto-me para fora da cama, tentando afastar de mim as
lembranças tão vivas desse sonho que tive sobre o dia em que
Andrew e eu nos conhecemos.
Quer dizer, eu não lembrava muito daquela noite e não fazia
ideia de que ele havia me chamado para irmos ao cinema no dia
seguinte. O que me deixa sem saber sobre o motivo pela qual ele
não apareceu e se isso foi por conta de não ter encontrado o
caminho, uma vez que eu não havia lhe passado o endereço por
nome além das indicações que lhe dei para me deixar em casa. Mas
também sei que ele tem toda essa coisa de ser bom em se localizar,
então que realmente não sei. Ou talvez ele apenas não tenha
querido realmente ir.
Fecho os olhos e deixo que a água morna caia por todo meu
corpo, tirando o que me resta de sono.
Ainda é cedo, mas pretendo começar a trabalhar um pouco
antes hoje e amanhã, que é para poder sair antes na sexta-feira,
uma vez que o Dr. Marcus me ligou ontem pedindo para que eu
fosse ao seu consultório, assim como And havia dito que faria. E
uma parte minha espera de coração que ele esteja aqui comigo
nesse dia, para que possamos ir juntos, porque quando fui à última
consulta com a Dra. Luciana, eu me senti ainda mais sozinha. E isso
me fez chorar.
Quando chego a BIT, não passa muito das sete horas da manhã.
E o fato de que a maioria aqui comece a trabalhar às nove horas me
deixa feliz, porque dispensa da ideia de ter que ser gentil com todos,
quando na verdade tudo o que mais quero é esganar cada um deles
com minhas próprias mãos. Mas claro que isso é apenas mais um
delicioso efeito de se estar grávida e com os hormônios ao máximo.
Além dos desejos que não param e o enjoo constante. O que é mais
um motivo para eu estar rezando para que o Dr. Marcus me receite
algum remédio que seja capaz de cortar isso de uma vez por todas.
— Finalmente um pouco de paz. – digo logo que entro em minha
sala e fecho a porta atrás de mim, indo me sentar para poder ligar o
computador. – Certo! Onde é que havíamos parado ontem? –
pergunto olhando para baixo e toco minha barriga.
Ok. Talvez se alguém me pegar falando assim sozinha vá achar
que estou louca. Mas a questão aqui é que eu não estou mais
sozinha. Não desde que admiti para mim mesma que nunca mais
estaria, porque tenho aqui comigo uma pequena e delicada criança
que não para de crescer dentro de mim, dia a dia. E eu sei que ele
ou ela, ouve tudo o que digo. E... Sei lá, talvez seja besteira até,
mas para mim é como se isso nos aproximasse ainda mais e,
apesar de nunca ter sentido seus movimentos, seu que está aqui,
atento a tudo o que faço ou deixo de fazer e não vejo a hora de
finalmente começar a sentir meu Pequeno. Sentir seus movimentos,
seus chutes. Tudo o que puder me causar, além do enjoo.
E tá! Eu também admito que não esteja sendo lá o melhor
exemplo de mãe. Principalmente por todas as vezes que xingo seu
pai de tudo quanto é nome e eu sei que preciso parar com isto logo,
porque... Bem, não é certo. Mas não sei... Por mais que me doa
admitir isto depois de tudo, eu sinto mais falta de Andrew do que
consigo descrever e o fato de que ele esta tão longe de mim no
momento em que mais preciso dele ao meu lado também não me
ajuda.
E eu o odeio imensamente por isto. Odeio por ele estar tão longe
e por ter levado tanto tempo para me ligar de volta. Odeio pelo
simples fato de não conseguir deixar de ama-lo de maneira tão
completa como eu o amo. É até como diria nossa grande amiga
Clarice Lispector: “Não procure alguém que te complete. Complete a
si mesmo e procure alguém que te transborde.” E Deus, eu me sinto
transbordar quando estou com aquele homem!
Mas tenho estado incompleta nas últimas semanas, porque não
estamos mais juntos e mesmo que tenhamos combinado que
continuaríamos, não sei se estamos assim. Não depois de todas
essas semanas e de como senti tudo estranho entre nós quando
conversamos domingo à tarde. E por ele não ter dito que também
sentia minha falta...
— AHHHHHHHHHHHHH! – exclamo o mais alto que consigo. –
SIMPLESMENTE NÃO DÁ! Minha cabeça insiste em não se
concentrar no trabalho, droga! – solto, afundando o rosto entre as
mãos. – Você esta com fome? – pergunto para minha barriga, na
esperança de sentir algo. Mas tudo o que acontece é o de sempre:
nada. – Vou considerar isso como um “sim”. – digo e levanto para
sair da sala e ir até a lanchonete.
Sem todas as pessoas para cumprimentar, o caminho até a
lanchonete é bem mais rápido do que costuma ser em qualquer
outro horário.
— Bom dia. – o rapaz do outro lado do balcão me cumprimenta
logo que me aproximo. – O que vai querer hoje?
— Me da um leite com chocolate duplo, um pacote de bolacha e
essa barra de chocolate branco.
Sorrindo, ele coloca o chocolate e o leite em cima do balcão.
— Onde esta a bolacha? – pergunto, notando a ausência dela.
— Não temos “bolacha”. – diz.
— Como não? – pergunto levemente irritada. – E o que é aquilo
ali? – pergunto e aponto para o pacote de bolacha logo atrás dele.
— Isto é biscoito. – diz com seu sotaque carioca, dando
destaque à última palavra.
— Ah, pelo amor de Deus! – exclamo alterada. – A bolacha é
minha e se eu quiser chamar de pão, vou chamar. Agora passa meu
pão de morango para cá.
— Você é maluca. – o rapaz resmunga, mas passa a bolacha.
Ou no caso: meu pão de morango.
— É. Agora me diz uma novidade. – digo, revirando os olhos
para ele.
Assim que pego o dinheiro dentro da bolsa para poder pagar,
sinto alguém atrás de mim. Uma forte presença que faz meu corpo
amolecer e meu coração acelerar. Um suspiro quente em minha
nuca, seguido de uma voz rouca, sussurrada em meu ouvido:
— Alerta de TPM. – diz e sinto o sorriso em sua voz.
Um sorriso cresce de lado a lado em meu rosto assim que
reconheço sua voz.
— And? – chamo, voltando-me para ele, mas não há ninguém
aqui. E isso de certa forma me destrói mais um pouco. Ele não
voltou.
Assim como veio, meu sorriso se esvai e com ele tudo o restante
vai embora também.
— Quer saber? – pergunto, voltando novamente para o rapaz. –
Me da essa outra barra de chocolate aqui. Estou necessitando disso
hoje bem mais do que havia imaginado.

◆◆◆

Andrew
Quando volto da minha corrida matinal para o apartamento dos
meus pais, faço uma rápida parada na cozinha para pegar algo para
comer antes de ir até meu quarto, onde terei uma entrevista com
Pedro, para confirmar sua promoção para Gerente de Produção. Se
bem que por mim sim, já que ele realmente merece a oportunidade
e deu duro para conseguir chegar a isso.
Uma vez no quarto, ligo o computador e deixo tudo já pronto
para não ter que interromper a entrevista. Apenas uma xícara de
chocolate quente e um prato de cookies de chocolates feito por tia
Lívia, água, meu bloco de anotações e uma caneta.
Assim que me conecto ao Skype ele toca com uma chamada de
Camile.
— O Que será que aconteceu? – pergunto a mim mesmo, de
repente ficando preocupado e atendo a chamada. Quem esta do
outro lado é Thomas. – Oi. – eu o cumprimento. – Tudo joia,
garotão?
— O que você fez com minha irmã? – ele pergunta de volta e
franzo o cenho.
— Como assim? – torno a perguntar ainda mais preocupado. O
que será que aconteceu com Luara?
— Ouvi a mamãe conversando com a Caca hoje. – começa. –
Ela disse que a Lu esta passando muito mal ultimamente e isso
aconteceu depois que vocês namoraram, porque ela sempre foi
saudável.
— AH! – exclamo realmente aliviado, finalmente entendendo ao
que ele se refere.
— Não minta para mim, André! – exclama ainda mais alterado. –
Eu quero saber o que você fez com a minha irmã!
— Certo... – digo com o cenho franzido. – Eu não vou mentir
para você, uma vez que já é crescido o bastante para saber da
verdade.
— Então fala logo!
— Bem, sua irmã e eu namoramos algumas vezes, durante um
tempo e... – começo a dizer, procurando as palavras certas para
dizer isso sem destruir sua inocência. É difícil fazer e realmente
agradeço por não ter irmãos mais novos. – Então isto acabou
resultando em algo. Uma... Hm... Mudança.
— MINHA IRMÃ VAI MORRER?! – Thomas grita do outro lado,
colocando-se de pé na cadeira.
— Não! – exclamo rapidamente. – Sua irmã não esta doente.
Muito pelo contrário.
— Diz isso porque você não esta com ele. – diz agora cruzando
os braços. Suas palavras me ofendem um pouco e me sinto
incomodado por elas.
— Não, Thomas. Sua irmã não esta doente e menos ainda vai
morrer. – digo agora sério. – O corpo da sua irmã esta apenas
sofrendo algumas mudanças. Se preparando para receber uma
pessoinha que esta sendo gerada dentro da barriga da sua irmã,
que foi algo que nós dois fizemos juntos.
Quando paro de falar, não consigo evitar o sorriso que surge em
meu rosto. Até agora eu não havia colocado as coisas desta forma
além da noite incrível que tivemos quando fizemos essa criança.
— Então você esta dizendo que a Tata vai ser possuída e
controlada por uma alienígena? – pergunta e acabo rindo.
— Não, eu não estou dizendo isto. – franzo o cenho. – O corpo
dela esta gerando essa criança que precisa dela para se
desenvolver completamente. É só um amiguinho ou uma amiguinha
para você brincar daqui a algum tempo.
— Ah! – Thomas exclama agora aliviado. – A Tata falou isso para
mim quando esteve aqui a última vez. Mas por que ele esta fazendo
mal para ela?
— Ele não esta fazendo mal, Thomas. – digo. – É só uma
mudança que acaba causando certo desconforto nos primeiros
meses.
— E quanto tempo isso leva? – pergunta agora curioso.
— Geralmente nove meses.
— O que você esta fazendo, Thomas? – ouço a voz de uma
garota do outro lado e logo ela toma forma na tela. – And?
— Oi. – dou um sorriso um pouco sem graça para Camile.
Depois do que aconteceu mês passado, nunca mais vi ou falai com
ninguém da família de Luara.
— O que ele estava falando?
— Eu só perguntei o que vocês não me contam! – Thomas se
defende. – Você e a mamãe só mentem e o papai anda todo irritado
por causa disso.
— Esta tão ruim assim? – pergunto preocupado, lembrando-me
de minha conversa com Luara, na qual ela comentou
completamente por cima sobre algo a respeito disto.
— Nosso pai não concorda com o fato de vocês estarem... –
começa a dizer, então para, talvez buscando as palavras certas. –
Ele não aceita que você não tenha vindo conversar com ele até
hoje.
— Ela te contou toda a verdade? – pergunto e Camile confirma.
— Mas nosso pai nem sonha com isso. Ele te mataria, para falar
o mínimo.
Olho para o relógio no canto do computador, vendo que faltam
apenas cinco minutos até que Pedro apareça.
— Camile, ouça. – digo, chamando sua atenção para mim e ela
se senta na cadeira onde Thomas estava e ele fica em seu colo. –
Eu nunca abandonaria sua irmã. Aconteceram algumas coisas que
complicaram para a gente. Nós nos afastamos para poder colocar
algumas “coisas” em ordem. Eu só estou aqui em Londres ainda
porque quero levar meus pais para o Brasil por um tempo. E,
quando voltar, quero conversar com Ricardo e sua mãe a respeito
disto e deixar claro que eu nunca vou fugir dos meus deveres como
o homem que sua irmã merece e menos ainda como pai do filho
dela. – faço uma pausa. – Assim que voltar vou chama-la para
conversarmos sério, como deveríamos ter feito antes. Só... Eu não
sou esse homem que foge de uma responsabilidade, Camile. Não
mais.
Ela então sorri e concorda.
— Eu acredito em você, And. Sempre acreditei.
— Obrigado. – agradeço com um sorriso sem graça. – É bom
saber que ao menos você acredita.
— Ei! – Thomas exclama.
— Preciso ir. Pedro acabou de me chamar aqui e tenho uma
entrevista com ele.
— Tudo bem. – Camile diz. – Desculpa pelo Tommy. Ele está
bem inquieto com isso. – faço que sim com a cabeça. – Nos traga
presentes! – pede.
— Para todos vocês. – concordo e ela desliga. Pedro chama
logo em seguida.
— Desculpa pelo atraso. – é a primeira coisa que diz. – Não
consigo me adaptar com o fuso horário.
— Vamos ao que interessa? – pergunto, tentando colocar de
lado minha conversa com Camile.
— Estou esperando por isto há dias já. – ele responde
visivelmente nervoso.
Começo questionando Pedro sobre várias coisas da qual julgo
importante para o cargo na qual ele se candidatou. Como o que ele
faria para melhorar ou agilizar a produção, quais seriam seus
métodos para conquistar novos clientes e várias outras coisas.
E devo confessar que todas suas ideias foram boas e que tem
grandes chances de dar certo. Mas, enquanto ele fala minha cabeça
apenas vaga por outro lugar. Mais precisamente para o que Camile
mencionou sobre seu pai não aceitar a gravidez de Luara e o mal-
estar dela. Tudo o que sempre evitei por achar antiprofissional, mas
que hoje não consigo simplesmente deixar de lado.
— Bem – começo assim que ele para de falar. –, suas ideias são
boas e seu currículo tem ótimas referências. – faço uma pausa,
olhando para o papel em minhas mãos. – Aqui diz que trabalhou
seis anos e meio como supervisor de TI.
— Era um bom cargo, mas preciso crescer um pouco.
— Faz bem. – concordo e puxo meu bloco de anotações com
tudo o que julgue importante.
Pedro será a única pessoa com quem irei conversar a respeito
deste cargo. Ele passou em todo o processo com os outros
candidatos e foi o único que realmente está qualificado para o que
precisávamos. Além do mais, o único motivo pela qual estou tendo
esta conversa com ele, sendo que já teve uma parecida com o RH,
é que gosto de saber pessoalmente se meus funcionários estão ou
não preparados para aqui.
— Sinto em lhe dizer, mas... – começo a dizer, então paro
apenas para ver Pedro ficar tenso do outro lado. – Infelizmente a
vaga é sua. – digo e ele sorri, dando um grito histérico. – Apenas
recomponha-se, por favor. – peço. – Ainda posso retirar o que
acabei de dizer.
— Desculpa.
— A partir de amanhã você começara como gerente,
continuando no mesmo horário. – falo. – Porém, com muito mais
responsabilidades de que tem atualmente e, assim que eu voltar eu
irei assinar seus documentos para oficializar sua promoção.
— Obrigado. – ele sorri em resposta. – Mas me diga: já tem
alguém em mente para ficar no meu lugar? – pergunta e passo a
mão pelo rosto.
— Não sei. – respondo a verdade. – Vou deixar isto para ver
depois que voltar. Tem alguns assuntos pessoais que preciso
resolver antes e que já deveriam ter sido acertados.
— Posso indicar alguém de minha confiança? – pergunta.
— Claro. Afinal, quem melhor de que você para isto? – dou a ele
um sorriso de lado. – Se encontrar e eu não conseguir voltara até o
final da semana, tome a iniciativa de coloca-lo em treinamento em
meio período com algum outro supervisor até que eu volte, apenas
para ir pegando o jeito.
— Tudo bem. Obrigado. – diz. – Só mais uma pergunta.
— Sim?
— Aconteceu algo? Você parece tenso e bem mais preocupado
de que o normal. Há tempos não te via assim.
— Está tão na cara assim? – pergunto de volta e ele ri.
— Menino, não é de hoje que te conheço.
Eu sei que não deveria fazer, mas conto a Pedro tudo o que mais
tem me agoniado. Desde minha briga com Luara até sua gravidez e
a maneira com que descobrimos. A aliança que comprei e ainda não
fui homem suficiente para fazer o pedido. Os pais dela e tudo.
E acho que no fundo eu precisava disso para poder aliviar um
pouco toda a pressão e culpa que tenho sentido.
— Mas que vadia! – Pedro exclama assim que termino. – Ela
não me contou nada!
— Tente se colocar no lugar dela. – defendo-a.
— Sim, sim. Eu sei. Tudo o que aconteceu. A separação de
vocês, a briga... Você deveria ter confiado nela, Andrew. Deveria ter
ido conversar com ela logo que aconteceu, e não esperar que uma
semana tivesse passado para fazer isso. Mesmo que você estivesse
com medo daquilo, porque todos nós sabemos que Bruno não
andava bem da cabeça e que estava perseguindo a menina desde
que chegou. – eu apenas ouço em silêncio tudo o que ele diz. Um
silêncio desconfortável, porque sei que nunca serei capaz de me
perdoar pelo que fiz e que talvez nunca tenha o perdão de Luara. –
Agora tudo faz sentido. – diz. – Ela tem agido bem estranha
ultimamente.
— Como ela esta hoje?
— Incrivelmente radiante e com uma pele brilhando de tão linda,
como sempre. – Pedro então faz uma pausa e franze o cenho. –
Embora Igor tenha me dito que ela brigou com o Diogo hoje pela
manhã, só porque ele foi corrigir ela.
— Como assim? – pergunto curioso e ele ri.
— Ele inventou de falar que não tinha bolacha na lanchonete e
que só vendia biscoito. – explica, segurando para não rir. – E ela
disse que o dinheiro era dela e que iria chamar de “Pão de
Morango”.
Quando Pedro termina de contar, não consigo conter a risada
que me escapa. Esse é bem o tipo de resposta que Luara daria a
alguém que tentou corrigir seus costumes.
— Eu vou cuidar dela pessoalmente até você voltar. – Pedro diz,
mudando de assunto outra vez. – Não se preocupe.
— Obrigado.
Tendo que voltar ao trabalho, Pedro logo desliga e por algum
tempo fico apenas encarando a imagem sorridente de Luara no
fundo da tela do computador, lembrando-me de quando estive em
uma cafeteria hoje mais cedo e a ouvi chamar meu nome. Apenas
“And”.

◆◆◆

Luara
Colocando meus fones de ouvido de lado, volto à realidade,
sentindo meu estômago roncar de fome, denunciando que já são
quase onze horas e que faltam apenas alguns poucos minutos para
o meu almoço.
Salvo todo o trabalho que fiz desde que cheguei e bloqueio à tela
do computador já para poder sair, mas sou impedida quando meu
celular toca, mostrando um número desconhecido na tela.
Internacional, na verdade. E isso é mais do que suficiente para fazer
meu coração saltar dentro do peito.
— Luara. – digo. Meus olhos se fecham, na esperança de ouvir a
voz rouca de Andrew do outro lado.
— Srta. Brudosck? – a outra pessoa diz e reabro os olhos,
sentindo-me decepcionada.
— Sim. Quem é?
— Aqui é Douglas Lewis. – apresenta-se. – Nos conhecemos
ano passado, durante sua apresentação final com a Nex Ae.
Lembra-se de mim?
No instante em que ele diz estas palavras, lembro-me
perfeitamente da pessoa que anunciou que eu havia conseguido ser
aceita pela rigorosa banca de engenheiros da BMW.
— Claro. Lembro sim. – respondo. – Como vai o senhor?
— Vou bem. Obrigado por perguntar. E a senhorita?
— Melhor impossível. – minto, ainda sentindo minha decepção
por não ser Andrew quem estava ligando.
— Bem, como eu havia lhe dito em nosso primeiro encontro: não
sou um homem de enrolação. Então irei direto ao motivo de meu
contato. – diz. – Primeiro quero dizer que sua parte finalmente foi
depositada em sua conta bancaria, tendo demorado apenas por
conta das férias que tivemos.
— Não tem problema. – sorrio um pouco nervosa.
— E o segundo motivo é que tenho uma proposta a fazer para a
senhorita.
Franzo o cenho. Que tipo de proposta ele pode ter para me
fazer?
— Nossos engenheiros passaram os últimos dias trabalhando
em cima de sua ideia, levando-o mais a fundo. – começa. – E o
resultado desse estudo foi mais do que satisfatório e grande parte
de nossa equipe quer a senhorita no nosso time, acompanhando
todo o trabalho.
No momento em que ouço suas palavras, deixo o lápis que
segurava cair para o chão.
Isso só pode ser brincadeira!
— O que o senhor quer dizer com isto? – pergunto, mordendo o
lábio inferior.
— Surgiu uma vaga na equipe que costuma ser preenchida
apenas por funcionários de outros países. – diz com toda calma
possível. Algo que não tenho nesse momento. – E nós queremos
você na equipe.
Abro a boca para falar, mas não consigo emitir palavra alguma.
Minha boca parece estar seca e sinto uma felicidade interna com
sua proposta. Ter isso... Trabalhar em Nova Iorque assim. Isso
nunca esteve nos meus planos, mas é algo que eu nunca serei
capaz de conseguir novamente.
— Eu não sei. – digo após algum tempo. – Largar minha família
em São Paulo e vir embora para o Rio de Janeiro é uma coisa.
Largar meu país e tudo o que amo já é outra. Eu não teria nada ai.
— A única coisa com que você teria que se preocupar aqui é
com sua alimentação. – Douglas insiste. – Você terá um
apartamento em ótima localização e próximo da empresa, não
precisara se preocupar com nenhuma despesa. Além de receber
pelo menos três vezes mais do que deve ganhar com o menino
Giardoni.
Mordo o lábio inferior, de repente sentindo meus olhos
lacrimejarem.
Há alguns meses eu não pensaria muito antes de aceitar essa
proposta. Mas agora, depois de tudo o que tive e tenho aqui, eu não
sei se seria realmente capaz de algo assim. Sem mencionar que
aceitar esse trabalho apenas significaria que Andrew e eu não
temos mais volta. Que está tudo acabado entre nós e... Depois da
nossa última conversa no domingo, depois de tudo, eu apenas
quero sentar com ele para que possamos conversar e resolver como
as coisas irão ficar entre nós. Se vamos ficar juntos, porque doeu de
verdade quando ele disse que estava conversando no telefone com
sua ex-namorada.
— Eu não sei. – digo após algum tempo. – Eu... Eu preciso de
um tempo para pensar melhor a respeito. Não posso simplesmente
abandonar tudo assim.
— Duas semanas esta bem para a senhorita?
— Acho que sim. – sussurro em resposta.
— Certo! Voltarei a ligar dentro de duas semanas. – diz. –
Espero que tome a decisão certa a respeito.
— Eu também. – digo e ele desliga. – Eu só não sei o que fazer.
Apenas isto. – murmuro para mim mesma, afundando o rosto em
minhas mãos.

Durante todo o almoço, tudo o que minha cabeça me permitiu


fazer foi pensar nessa proposta que Douglas me fez. E pensei mais
ainda em Andrew e no quanto preciso falar com ele, para que ele
me ajude a decidir isso. Talvez até para que me peça para ficar com
ele, por que... Droga! Eu não dou à mínima se com Douglas
ganharia tantas vezes mais do que com Andrew. Eu só... Só quero
que ele esteja comigo novamente. Quero abraçar Andrew e dizer o
quanto eu o amo, dizer o quanto senti sua falta por todos esses
dias. Mas ele não volta para casa. Ele ainda não voltou para mim e
tudo bem que ele tenha dito que quer trazer seus pais para cá,
mas...
E depois veio o Pedro dizendo que havia acabado de me indicar
para ficar em seu lugar como supervisor e que alguém do ADM iria
me procurar até amanhã para saber se eu aceitaria.
Segundo ele, Andrew o havia autorizado para que fizesse a
indicação de alguém de sua confiança e me contou também que
And tinha contado tudo o que aconteceu entre nós. E, diante de tudo
aquilo, eu só consegui chorar, porque tudo esta doendo aqui dentro
de mim hoje. Porque eu quero estar com alguém que esta tão longe
de mim. Porque ele colocou um oceano de distância entre nós,
apenas para não ter que ficar ao meu lado.
E eu sei também que deveria ter usado aquela passagem que
ele me deu junto da carta, que ele fez tudo para que eu fosse com
ele e que embarcou de São Paulo e não daqui, mas naquela época
tinha tantas coisas entre nós, que tudo o que fui capaz de fazer foi
sentir medo. Medo por tudo, na verdade. E eu fui uma grande idiota
por não ter ido até ele e dito tudo o que tenho sentido.

Já estou quase adormecendo entre um episódio e outro de How I


met your mother quando meu celular toca e o pego para ver o nome
e a imagem de Andrew na tela. Meu coração dispara no mesmo
instante em que seguro o aparelho em minha mão.
— Oi. – digo um pouco grogue por conta do remédio de enjoo.
— Oi. – diz em resposta. – Te acordei?
— Não exatamente. Estava apenas assistindo.
— Me sinto menos culpado então. – ele diz e sinto o sorriso em
sua voz. – Marcus ligou para falar com você?
— Sim. – respondo. – Ontem mesmo. Marquei a consulta para
sexta-feira, depois do expediente.
— Você não vai ficar desmarcando como da outra vez, né? –
pergunta e sinto meu rosto se aquecer no mesmo instante.
— Eu não faço mais isso, Andrew. – digo e ele ri. – And? – eu o
chamo, sentindo meu coração batendo acelerado dentro do peito.
— Sim?
Mordo o lábio inferior, dividida entre contar ou não sobre a
proposta de Douglas e a indicação de Pedro. Eu não queria que
tivéssemos essa conversa por telefone, mas sim pessoalmente.
— Sei que já te perguntei isso antes, mas... – solto um bocejo
cansado antes de completar a frase: – Quando você volta?
— Estou tentando de tudo para que seja o quanto antes. –
responde de imediato. – Por quê? Aconteceu algo? – percebo sua
preocupação no mesmo instante.
— Mais ou menos.
— Ouvi você me chamar mais cedo. – diz. – Apenas “And” e seu
sorriso veio a minha cabeça, como se estivesse aqui.
No momento em que ouço suas palavras, meu coração dispara
contra o peito. Quer dizer, seja lá o que tiver acontecido comigo,
também aconteceu com ele.
— Eu te chamei. – confesso após longos segundos de silêncio. –
Eu tinha sentido você atrás de mim e ouvido sua voz, como que se
me provocasse.
— E o que eu disse? – pergunta curioso.
— “Alerta de TPM”. – digo e ele ri. – Douglas Lewis me ligou hoje
mais cedo. – deixo escapar.
— Lewis? – repete. – O diretor da BMW?
— Sim.
— O que ele queria? – pergunta e sinto certa excitação em sua
voz.
— Disse que havia depositado minha parte da apresentação.
— Apenas isto?
— Para ser sincera, não. – respondo e Andrew resmunga algo,
da qual não entendo. – Desculpa?
— Não é nada. O que mais ele falou?
— Me ofereceu um cargo na empresa dele. – digo atenta a sua
reação. – Disse que não teria que me preocupar com nada. Uma
proposta bem tentadora, se você quer minha opinião sincera.
— Droga! – ele exclama do outro lado e sinto meu coração pular
contra o peito. – E o que você respondeu?
Franzo o cenho, notando que as perguntas de Andrew são feitas
como se para me analisar. Como se ele já soubesse que isso fosse
acontecer.
— Você já sabia. – sussurro. Ele fica quieto. – Andrew. – exijo.
— Douglas comentou algo comigo e pediu para não falar nada
com você, porque não era garantia.
— Você sabia e escondeu isto de mim! – exclamo mais alto do
que planejava, sentando-me na cama.
— Não escondi, não! – defende-se. – De que adiantaria te contar
se não fosse acontecer?
— Eu não sei. Talvez eu não fosse ser pega de surpresa em um
momento de vulnerabilidade!
— O que você respondeu? – Andrew pergunta em um sussurro
rouco.
— Nada. Apenas que precisava pensar e ele ficou de ligar daqui
duas semanas.
Fecho os olhos ao sentir minha voz embargar e minha visão
queimar com as lágrimas.
Do outro lado, And apenas fica em silêncio e apenas ouço sua
respiração.
— And, por favor.
— Eu não posso te pedir isso, Anjo. – ele diz. – Não posso te
pedir para ficar. Não do jeito que estamos e menos ainda sem saber
como estaremos daqui a duas semanas. Não é justo com você e
nem certo.
— Eu odeio você, Andrew. – as palavras me escapam.
— É. Eu já ouvi isso de você antes. – responde. – E eu amo
você de verdade e esse é o motivo pela qual não posso te pedir
para ficar comigo enquanto estiver longe de você. E é justamente
por te amar que não posso ser egoísta e pedir para abrir mão de
algo que será importante para o seu futuro.
— Já pensou que talvez meu futuro seja ao seu lado e não em
Nova Iorque?! – praticamente grito com ele. – Droga! Eu me sinto
uma idiota por dizer isso assim.
— Imagino isso o tempo todo, linda. – diz, ignorando meu último
comentário. – Eu nos imagino em algum lugar, juntos. Não
separados. Eu te amo o suficiente para não conseguir pedir para
você ficar comigo. Não estando longe. Seria errado.
— Não, não é! Será que você não percebe isso? – novamente o
silêncio paira entre nós e prossigo: – Sabe por que eu te odeio
tanto, Andrew? Porque não consigo apenas te odiar depois de tudo
o que passamos juntos. Por não conseguir te odiar sem te amar
com ainda mais forças que antes e por ter mudado minha vida em
tão pouco tempo com você! Por quê...
— Sinto muito por isso. – é tudo o que ele diz.
A esta altura eu já não me importo mais em não demonstrar que
estou chorando. Quero que ele saiba que estou chateada com tudo
o que aconteceu e por ele ter partido para tão longe. Quero que
saiba que preciso dele ao meu lado.
— Não pense que por não te pedir para recusar esse trabalho
não quero estar com você pelo resto da minha vida. – recomeça. –
Apenas quero que você entenda que não é certo fazer isso estando
longe de você. Mas que, quando voltar, é tudo o que mais quero
fazer. Pedir para que você passe sua vida comigo.
— Se não pode me pedir para ficar com você porque esta longe,
então volte para cá! – exclamo. – Que droga, Andrew! Será que
você não entende que você ai não esta ajudando em nada?
— Estarei de volta para vocês quando menos imaginar e vamos
descobrir isso junto. Só não tome nenhuma decisão até eu voltar.
Por favor. – quando ele volta a falar, percebo que sua voz fica mais
embargada. Rouca até.
— E quando vai ser isso, And? – pergunto em um sussurro
rouco. – Todas essas semanas... Nada disso tem ajudado a diminuir
o que estou sentindo.
— A mim também não. – confessa e sorrio, embora ainda sinta
tudo doer dentro de mim.
Por algum tempo a ligação fica em completo silêncio e estranho,
já que não ouço nem mesmo sua respiração do outro lado da linha.
Então olho para o aparelho em minhas mãos e o vejo desligado,
sem carga alguma.
Capítulo Três
Sexta-feira
Andrew

Já tem dois dias desde que conversei com Luara a última vez. Dois
dias depois dela praticamente ter desligado o telefone na minha
cara, só porque não fiz o que ela queria que fizesse, que era pedir
para que recusasse a proposta de Douglas. Mas será que ela não
pode ver que não é certo fazer isso enquanto estivermos
separados?
Quer dizer, se eu estivesse no lugar dela e ela no meu, é claro
que eu iria querer que ela me pedisse isso. Assim como ela também
não iria fazer isso se estivesse longe de mim. E com tudo isso que
esta acontecendo, tudo o que consigo pensar é em voltar para o
Brasil sozinho mesmo, apenas para que possamos conversar.
— Aonde você vai, querido? – ouço a voz de minha mãe vinda
da porta do quarto.
— Dar uma volta. – respondo enquanto passo a camisa pela
cabeça. – Preciso refrescar um pouco as coisas. Relaxar.
— Não acho que seja uma boa ideia. – ela diz, sentando-se em
minha cama. – Esta esfriando muito e você ainda não esta curado
por completo.
— Não se preocupe mãe. – falo. – Eu só preciso sair para esfriar
a cabeça um pouco. Esquecer tudo isso e tentar voltar para minha
vida normal.
Ainda que minha vida normal até alguns meses atrás, fosse
encontrar uma mulher qualquer para transar. Não ficar a
praticamente um mês sem sexo, criando um dos maiores casos de
saco roxo da minha vida. Estou me sentindo praticamente virgem
novamente.
— Terei cuidado. Não se preocupe. – digo, pousando um beijo
no alto da cabeça de minha mãe quando ela me olha com aquele
seu olhar de censura.
— Estive conversando com seu pai hoje mais cedo. – começa. –
E ele concordou com a ideia de passarmos algum tempo com seus
avós. Talvez, sei lá, você devesse comprar nossas passagens antes
que ele mude de ideia.
— Sério? – pergunto de repente ficando mais animado e ela
confirma. – Farei isso logo que acordar amanhã então. – sorrio para
ela. – Onde ele esta?
— Dormindo, é claro.
— Ele tem feito muito isso nesses últimos dias. – comento e ela
ri. – Não vou demorar a voltar. Não se preocupe.
— Só tenha cuidado. – é a última coisa que diz, pouco antes de
eu terminar de me vestir para sair.

Ao invés de sair de carro, opto por ir até um Pub não muito longe
de onde meus pais vivem. É um lugar pequeno e simples, na qual
costumava vir com certa frequência sempre que vinha visita-los. É
apenas um lugar pequeno, quente, aconchegante e com boa
música.
Assim que chega à porta fechada já posso ouvir o som abafado
da música que toca no interior. Eu a abro e sinto novamente aquele
cheiro de bebida cobrindo todo o ambiente.
— Andrew! – ouço uma voz familiar e sempre animada. – Há
quanto tempo, velho amigo!
— John. – digo ao ver o velho dono do pub do outro lado do
balcão, caminhando até ele.
— O que o trás aqui nesta fria noite de inverno?
— O que mais além de sua boa e velha cerveja de sempre? –
pergunto de volta e ele ri, já enchendo uma caneca com a cerveja,
tomando o cuidado de deixar uma fina camada de espuma, assim
como sempre pedi. – Era essa mesmo que estava falando.
— Com uma pitada extra do meu ingrediente especial. – ele diz,
deslizando a caneca pelo balcão até mim e me sento no banquinho
de frente para ele.
— O bom e velho ingrediente que ira com Johnny para o túmulo!
– faço um brinde a ele e tomo um gole. – Que isto demore muito a
acontecer ainda, claro.
Ele ri.
— Sim, sim. Tenho muita coisa para fazer por aqui ainda. – diz,
servindo uma bebida para outro rapaz, que segue para o outro lado
do pub. – Como estão seus pais? – pergunta. – Espero que bem.
— Estou tentando leva-los ao Brasil por algum tempo. –
respondo, voltando minha atenção para cada canto, que é
exatamente o tipo de lugar que Luara adoraria conhecer,
considerando o que ela costuma ir com os amigos lá no Rio.
Escurecido, luz fraca, um jukebox com rock antigo e as bandeiras de
todos os países na qual John já visitou estão penduradas por todo o
teto.
A porta da frente se abre, fazendo com que uma fria corrente de
ar entre e olho para ver quem chega.
São duas jovens e belas garotas. Uma loira e outra morena,
ambas magras e seios fartos. O tipo de garota com quem eu
facilmente levaria para um quarto de hotel e daria a ela uma noite
única.
No momento em que penso isto, a morena olha para mim e sorri
ao me flagrar olhando para elas e ergo minha caneca como se lhe
oferecesse.
— Eu já venho. – John diz atrás de mim. – Preciso pegar
algumas coisas lá dentro.
— Tá ok. – respondo ainda sem desviar a atenção das duas
garotas, que resolveram sentar em uma mesa bem ao canto e
parecem animadas com sua conversa.
A loira ficou bem de costas para mim, enquanto a morena não
para de me lançar olhares fervorosos.
— Quanto tempo mais você pretende ficar por aqui? – John
pergunta assim que retorna.
— Não sei. Dessa vez isso esta mais dependendo do meu pai de
que de mim, para ser sincero. – faço uma pausa para tomar da
minha cerveja, que não chega nem mesmo a esvaziar a caneca
antes de John torne a enchê-la. – Obrigado. – digo. – Pelo meu
gosto eu já teria voltado há algum tempo. Tenho... Hm... Algumas
coisas para resolver no Brasil.
— Há quanto tempo você esta aqui?
— Quase um mês. Não recordo exatamente.
— E só agora resolveu me visitar? – exclama, tentando parecer
chateado.
— Sinto muito, John. – respondo com sinceridade. – As vezes
que sai do apartamento foram, em sua maioria, para resolver algo
do trabalho.
Ele concorda, voltando-se para outro rapaz que se aproxima.
— O que vai querer beber, meu jovem? – pergunta.
— Me da o que você tem de melhor ai.
Observo enquanto John serve o rapaz, que logo se afasta,
sumindo de vista.
Sinto meu celular vibrar no bolso, notificando possivelmente uma
mensagem e o ignoro. Não há uma única pessoa na qual eu queira
conversar hoje. Exceto...
— Oi. – uma voz feminina chega aos meus ouvidos e olho para o
lado, notando a garota morena que chegou há algum tempo.
— Oi. – eu a cumprimento.
— Desculpa. É que... Eu estava ali conversando com minha
amiga e comentei sobre ter achado você atraente e ela meio que me
desafiou a vir falar com você e... – conforme a garota fala, não
consigo deixar de sorrir. Ela esta enrolada com suas próprias
palavras.
— E então que ela achou que seria divertido te ver constrangida
perto de alguém desconhecido? – pergunto e ela da de ombros. –
Sou Henry. – minto. – E você, é?
— Anne. – responde mais rápido do que eu esperava.
— Anne. – repito. – Bonito nome. – digo e ela sorri um pouco
constrangida. – Servida?
Anne olha para a caneca em minha mão e de volta para mim.
— Não posso. Não tenho idade suficiente para isso ainda. – diz e
sorrio.
— Bem que achei que tivesse um rostinho de menina para
alguém que pudesse beber em um bar.
— Esta me chamando de criança? – pergunta e apenas dou de
ombros, tentando não rir. – Não quer se juntar a nós? Adoraríamos
ter sua companhia esta noite. – ela completa, dando uma piscadinha
para mim e franzo o cenho. Ah, não.
Lançando um olhar para a mesa onde Anne estava sentada há
poucos minutos, vejo que o lugar já não está mais ocupado por
ninguém.
— Acho que você se esqueceu de avisar sua amiga que iria
arrumar companhia. – digo, apontando para porta com a cabeça,
onde a garota loira sai acompanhada de um rapaz.
— Mas que... – Anne bufa, batendo com o pé no chão. – Ela não
é lá muito responsável. – diz agora para mim e acabo rindo. –
Podemos ser apenas nós dois talvez? – ela arrisca e ergo um
sorriso de lado.
Desde que Luara e eu terminamos, em momento algum
consegui pensar em levar outra mulher para cama. Considerei a
ideia, porque assim seria bem mais fácil tirar cada uma das marcas
na qual ela deixou em meu corpo. Mas nunca quis levar isso a
fundo, porque nem sempre o fácil é o certo a ser feito. Então, não.
Não farei isso com Anne. Não seria legal usa-la desta forma.
E tem também esse rosto sorridente que insiste em aparecer na
minha cabeça todas as vezes que penso em fazer algo da qual eu
certamente me arrependeria quando acordasse. Só que dessa vez
ela esta deitada em um canto da cama, chateada e triste. Sua mão
colocando a mecha de seu cabelo para trás, que insiste em cair sob
seu rosto.
— Lamento. – respondo após o que me parecem longos
minutos. – Mas já sou comprometido.
— Ah... Hm... Desculpa. Eu não.
— Tudo bem. – sorrio de maneira educada e, resmungando
vários pedidos de desculpas, Anne some entre as várias pessoas.
— Não vai acompanha-la? – John pergunta atrás de mim e viro
toda minha cerveja de uma só vez antes de respondê-lo:
— Eu não faço mais isso. – dou de ombros. – Até porque, ela
esta bem melhor sem mim.
— Existe algo de novo em você, Andrew. – ele sorri, parecendo
contente por algo. – Come. – diz, empurrando para mim um prato
com o que reconheço serem os salgados especiais feitos por sua
esposa. – Este é por conta da casa esta noite.
— Obrigado.
— E, para acompanhar: água. Não quero ninguém bêbado aqui
hoje. – completa e acabo rindo. John bem sabe que suas cervejas
são as únicas capazes de me deixar alegre com pouco.

Passei as últimas duas horas conversando com John no pub,


enquanto via pessoas de todas as idades entrando e saindo. Vindo
até o balcão para pegar bebidas e petiscos. E, para minha sorte, o
efeito da cerveja de John não costuma durar muito em meu
organismo, porque assim pude ficar mais tranquilo quanto a fazer
algo de errado.
E quanto ele fechou exatamente à meia-noite, como sempre faz,
apenas me sentei aqui na calçada com minha segunda garrafa
d’água e fiquei juntando a neve com os pés.
— Drew? – alguém chama meu apelido mais antigo, na qual
ninguém o usa já há vários anos.
— Celiny. – digo quando finalmente reconheço a garota que se
aproximava. – Oi!
— O que faz aqui? – pergunta curiosa, sentando-se ao meu lado.
— Apenas sentado na calçada chutando um pouco de neve
depois de tomar umas cervejas. – respondo como se isso não fosse
nada. – E você?
— Fazendo companhia a um velho amigo. – sorri em resposta.
Celiny foi uma grande amiga do meu passado. Estudamos juntos
no meu intercâmbio aqui em Londres e tínhamos uma sincronia
perfeita, onde ela me ajudava a pegar várias garotas nas festas e eu
também a ajudava com os caras, mas nunca ficamos. Segundo ela,
não fazia seu tipo e eu tinha que concordar com ela, porque eu
também não fazia meu tipo.
— Você esta bem mais linda de que na época em que saiamos.
– comento com um sorriso sincero.
— Você também ficou melhor. – diz. – Parece que o tempo só
tem nos feito bem, ein? Esta malhando?
— Não no último mês. O frio me deixa preguiçoso. – respondo. –
Mas em casa sim. E você? Como tem passado desde a última vez
em que nos vimos?
— Sabe como é, né? Casei há alguns anos e agora tenho um
filho de quase dois anos. – diz calmamente e olho para ela com o
cenho franzido. Admirado, não surpreso. Nada mais me surpreende
depois do que tem acontecido entre Luara e eu e sobre o que tenho
considerado. Então que ver Celiny dizer que esta casada apenas
me deixa feliz. – E você?
— Ah, sabe como é, né? – repito e ela ri. – Vou ter um filho e
estou vivendo um verdadeiro filme de romance com a mãe dele. Só
que estamos naquela parte em que parece que eles nunca vão ficar
juntos, o que é bem chato, porque tem várias coisas atrapalhando.
Levanto um sorriso e olho para ela de lado, apenas esperando
por sua reação.
— Parabéns! – exclama, abraçando meu pescoço. – Fico feliz
por você finalmente ter se rendido ao romance. Mas preciso
perguntar: o que aconteceu com sua regra de não se relacionar
desprotegido? – pergunta e acabo rindo. – É até difícil imaginar você
vivendo um romance assim com alguém.
— Bem, quanto a essa regra, ela foi bem útil até pouco antes de
conhecer essa garota. – começo. – Mas chega uma hora em que
você quer mais do que apenas aquilo e... Bem, você esta casada
hoje. Acho que sabe o que quero dizer.
— Sim, eu sei. – ela sorri. – Mas quem é ela? Onde esta e
porque não esta aqui com você? – pergunta rápido demais e tenho
pouco tempo para processar todas as respostas.
Ao invés de resumir, conto a Celiny toda a verdade sobre minha
história com Luara enquanto faço um pequeno boneco de neve. Ela
entra na brincadeira e faz a parte de cima e logo temos um médio
boneco de neve, com um pequeno graveto no lugar da cenoura que
deveria ser seu nariz, duas pedrinhas como olhos e mais algumas
no lugar da boca. E bem, os braços também são gravetos secos.
— É uma pena não termos nada para simular um cachecol para
ele. Então ele vai passar frio esta noite. – sorrio com seu
comentário, observando enquanto grava nossas iniciais no chão:
A.G e L – C.L e D.L. – Não sei o que você esta fazendo aqui, Drew.
– diz logo após tirar uma foto do boneco e enviar para mim. – Quero
dizer, é ótimo ter você aqui depois de tantos anos. Mas... Por que
você esta fazendo um boneco de neve comigo ao invés de fazer um
boneco de areia com ela? – ela pergunta e franzo o cenho,
realmente confuso.
— Por que é mais fácil fazer um boneco de neve de que um de
areia? – pergunto um pouco confuso.
— Andrew, não te faz, garoto. – diz com seu bom e velho tom de
censura.
— Eu não sei. – digo. – Talvez eu não esteja pronto para isso.
Para estar em um relacionamento ou cuidar de uma criança.
As palavras saem da minha boca com um gosto amargo. Apenas
uma mentira para enganar ninguém além de mim, ainda que isto
não esteja funcionando.
— Então você prefere deixar a garota quebradora de regras, a
única que quebrou o gelo do seu coração, não uma, mas duas
vezes, livre para outro e colocar seu filho em risco, podendo ser
criado por outro homem? Provavelmente um não digno suficiente de
dar a ela apenas algo que você possa dar aos dois?
Franzo o cenho, sentindo-me realmente confuso.
— Dinheiro? Presentes caros? – pergunto de volta e ela revira os
olhos para mim.
— Amor, meu amigo. – diz. – Pela maneira com que você
descreveu, ela não quer de você nada, além disto.
Sentindo a cabeça um pouco zonza, eu concordo. Celiny esta
mais do que certa. Continuar aqui, fugindo de tudo isso quando
deveria ter ido conversar com Ricardo e Elizabeth não tem ajudado
em nada. E talvez essa seja uma das primeiras coisas na qual eu
deva resolver assim que voltar ao Brasil.
— O que você esta fazendo? – ela pergunta quando me vê
pegando o celular. – Não esta ligando para ela a essas horas, esta?
Porque ela já deve estar dormindo.
— Não se preocupe. Prometi a mim mesmo que não faria isso.
— Então...?
— Bem, minha mãe disse para comprar nossas passagens de
volta antes que meu pai acabasse mudando de ideia. Então é o que
estou fazendo.
— Isso! – exclama, agarrando-se ao meu pescoço outra vez. – E
eu vou querer ser madrinha do seu casamento, ein? – diz e acabo
rindo. – Ah! Estou tão orgulhosa de você, Drew! – exclama. – Meu
pequeno And esta crescendo e isso me deixa tão feliz!
Ao ouvir suas palavras, tudo o que consigo fazer é rir feito louco,
ainda tentando clicar para concluir a compra.
— O que foi? – pergunta curiosa.
— É melhor você não entender a piada. – respondo, finalmente
finalizando a compra. – O voo saíra daqui à uma da tarde. – digo,
sentindo algo estranho, como há semanas não sinto. Amanhã a
essas horas estarei mais perto de Luara do que estive todo esse
tempo e pretendo ficar ainda mais a cada dia que passar pelos
próximos anos. Só espero que ela queira isso comigo também.
Por instinto, toco a mão em meu bolso direito, sentindo o volume
da pequena caixinha com nossas alianças.
Estive tão próximo dela nesses dias que tenho medo de ficar
longe quando fizer o pedido. Mas também sei que se ela aceitar eu
serei o homem mais feliz entre várias galáxias.

Já é madrugada de sábado e estou de volta no apartamento,


tendo sido escoltado por Celiny, que precisava se garantir de que eu
fosse chegar inteiro e vivo, sem nenhum arranhão.
Foi duro me despedir dela mais uma vez, mas prometemos não
perder contato um com o outro novamente e ela disse que iria ao
Brasil nas férias, para comemorar seu aniversário de três anos de
casamento e levaria seu filho Mike para que sua família possa
conhecer.
E, embora ela já não aparente mais tanto, ela é gaúcha. Uma
parte daquela tradição toda ainda esta nela e assim ficara para
sempre.
— O que mais falta levar? – pergunto, olhando para minha cama
bagunçada, onde tenho duas malas cheias. Uma com minhas
roupas e outra com os presentes que havia comprado para Camile e
Thomas e alguns outros para Luara, para decorar seu apartamento,
que são basicamente pequenos monumentos de Londres.
Jogo várias peças de roupas sobre a cama, da qual certamente
não irei levar, já que não faria o menor sentido ter qualquer uma
delas em uma cidade que só faz calor. E, olhando mais
detalhadamente, nada mais precisa estar na mala.
— Hora de dormir. – digo, jogando-me na cama agora livre e
puxo todos os edredons para cima de mim. O que sem dúvidas será
a coisa que mais irei sentir falta. Afinal, Rio de Janeiro esta bem
longe de precisar de um desses que seja. Quem dirá três então.
Pego meu celular no bolso do moletom e digito uma mensagem
destinada a Luara:

Estarei voltando hoje logo no início da tarde.


Domingo pela manhã estaremos ai.
Ps: amo você.

Clico em enviar e não consigo mais me lembrar de nada.


Capítulo Quatro
Sábado
Luara

Ainda que hoje seja sábado e tecnicamente seja minha folga, eu


vim para a BIT por dois belos motivos.
Primeiro: ontem praticamente não consegui trabalhar, uma vez
que todo o sistema operacional da empresa havia caído e não tinha
santo que conseguisse colocar o servidor em funcionamento, ainda
que os meninos estivessem todos trabalhando para conseguir isso.
E como eu já estava com hora marcada no médico e havia feito o
tempo extra durante a semana para poder sair mais cedo, não pude
ficar até mais do que até às quatro horas e ajudar eles a arrumarem
tudo. O que, acrescente aqui, eu estou torcendo para que tenham
conseguido resolver o problema também. Do contrário não sou
capaz de dizer se irei embora hoje antes de deixar isso em ordem.
E em segundo, mas o principal motivo de estar aqui tão cedo, é
que o Dr. Marcus me deu uma notícia ontem que de certa forma me
abalou. Não que tenha algo de errado com meu Pequeno. Muito
pelo contrário, uma vez que ele esta grande e saudável, se
desenvolvendo super bem, assim como se espera que aconteça.
Mas sim por ser algo que não aparentava estar lá na última consulta
com a Dra. Luciana e que também não parecia estar na primeira vez
em que me consultei com ele quando fui com Andrew. E que para
mim não estaria em momento algum, por que...
Tudo o que sei é que eu já chorei com isso. Não consegui nem
mesmo chegar ao meu apartamento antes de me entregar àquilo
que estava sentindo, por que... Porque eu estou assustada. Muito
assustada e em uma proporção sem limites. Assustada de maneira
em que eu só conseguia pensar e desejar que Andrew estivesse
comigo ali, porque ele iria me abraçar e me dizer que estava feliz.
Ou qualquer outra coisa. Mas eu estava sozinha e saber que ele
não estava comigo só fez tudo aquilo doer ainda mais.
E eu tenho uma nova consulta já marcada com o Dr. Marcus
para a próxima quinta-feira, para que ele faça o ultrassom em 3D e
tire toda e qualquer suspeita que tenha ficado, já que ele não estava
com a máquina no consultório para poder fazer ontem. E isso me
chateia, porque mais uma vez eu irei e Andrew não vai estar comigo
de novo. E ninguém além dele seria capaz de me confortar quando
Marcus confirmasse que estou gravida de gêmeos. Que não vou ter
apenas um filho dele, que já era mais do que o suficiente para me
deixar com medo, mas sim dois bebês de uma só vez.
E eu me sinto perdida, porque não tenho ideia de como vou fazer
para cuidar nem mesmo de um direito. E... Droga! Com Andrew ao
meu lado isso seria bem mais fácil, porque sei que ter gêmeos era o
que ele mais queria. Tanto que me perguntou no domingo passado e
disse que estava sonhando comigo sobre isso e agora esse sonho
se tornou realidade e eu só consigo surtar. Literalmente falando.

— Segura para mim! – ouço alguém dizer, correndo direção ao


elevador e seguro a porta para que o senhor alto possa entrar. É
João, o Vice-presidente. – Obrigado. – ele agradece assim que
alcança.
— Por nada. – sorrio de maneira educada e ele entra,
colocando-se ao meu lado logo após apertar o botão do seu andar.
— O que a senhorita faz por aqui há essas horas? – pergunta
curioso.
— Não consegui trabalhar nada ontem com toda aquela
confusão que estava com o servidor, então eu vim ver se já está
resolvido para poder terminar um aplicativo que tenho para entregar
no começo da semana. – respondo. – Só espero que Igor e os
outros rapazes tenham conseguido resolver isso. – esta última parte
digo mais para mim mesma de que para ele.
Concordando, João diz:
— A direção também estava perdida com isso. E parece que
mais no final do dia deu uma estabilizada. Mas não sei.
— Esperamos que tenha resolvido. – concordo. – Não que um
servidor possa se auto reparar sozinho da noite para o dia. – digo e
ele ri.
— A senhorita tem algum conhecimento sobre isso? – pergunta
curioso.
— Não é minha área de qualificação exatamente. – respondo. –
Mas sim, tenho um bom conhecimento. Eu ajudava o Anderson na
manutenção todas as semanas lá em São Paulo e ele me ensinou
bastante a respeito de tudo isso. O que me levou a fazer um curso
mais especializado para quando precisasse também.
— Então a senhorita tem um bom conhecimento sobre isso. –
João sorri para mim pelo espelho do elevador. – Pelo que sei, a
manutenção semanal de Anderson é bem completa.
— Sim. – murmuro em resposta, sentindo meu rosto se aquecer.
Fixo meu olhar no painel dos andares, contando quantos faltam
até que eu chegue ao meu e eu possa sair daqui. Vejo também que
João saíra apenas dois andares acima do meu. E enquanto encaro
o painel de números que sobem talvez bem mais de vagar do que
eu desejaria para alguém que esta em um espaço tão pequeno e
abafado, me lembro de algo em que estive pensando durante a
noite.
— Sr. Carreira. – eu o chamo antes que perca a coragem.
— Apenas João, por favor. – pede, voltando a olhar para mim. –
Em que posso ajudar à senhorita?
— Bem, eu não sei se pode. – começo. – Espero que sim. – digo
e ele me olha talvez curioso. – É sobre o apartamento que o senhor
disponibilizou para mim no Golden Village.
— Algo de errado com ele?
— Não é bem algo de errado com ele. É só que... – quando abro
a boca para falar, o elevador para no meu andar.
— Podemos conversar na minha sala? – pergunta e aceno em
positivo. – Ótimo.
A subida até o vigésimo oitavo andar não é mais tão longa
quando se tem que subir apenas um andar. Só que ainda assim eu
sinto como se fosse uma eternidade.
— Entre e sente-se. – João diz logo que abre a porta de sua sala
e me acomodo em uma cadeira de frente à sua mesa.
Esta sala, o andar... Tudo aqui é tão diferente do que é na sala
de Andrew.
— O que houve com o apartamento da senhorita? – João
pergunta assim que ocupa a cadeira do outro lado da mesa.
— Não há problema algum com ele. – adianto. – Aquele
condomínio todo é perfeito e eu adoro tudo lá. Mas... Acho que o
problema esta mais entre o Sr. Andrew e eu. – digo sem querer
enrolar o assunto.
— Aconteceu algo entre vocês?
— Na verdade, sim. – falo. – No final do ano nós nos
desentendemos por conta de algumas coisas que aconteceram e eu
não sei se estamos apenas dando um tempo ou se terminamos.
Como o senhor sabe, ele viajou logo no início das férias para ficar
com os pais em Londres e eu não o vi desde então.
Solto as palavras meio que no automático e sinto-me de certa
forma incomodada por dizer tudo isso assim. Mas preciso. Se
Andrew e eu não tivermos mais volta, não sei se serei capaz de
aguentar ver ele com outra mulher lá. E também não sei se consigo
simplesmente recusar essa proposta que recebi de Douglas ou se
consigo aceitar, porque tudo esta confuso para mim e depois de
ontem ainda mais.
— Isso não tem relação alguma ao que quero dizer. – digo em
um suspiro, sentindo-me realmente nervosa. Sinto minhas mãos
suarem frio. – O que quero dizer é que, como sei que foi o senhor
quem liberou o apartamento para que eu pudesse me mudar para
cá, se o senhor não poderia rescindir o contrato no Golden para que
eu possa arrumar algo aqui no centro, perto da BIT. Assim ele
poderia continuar com tudo o que ele já fazia antes de nós termos
namorado e eu não vou ouvir nada.
— A divisa não forte o suficiente? – João pergunta com um quê
de diversão.
— Como assim?
— Seu apartamento e o de Andrew eram o mesmo apartamento.
Ele o dividiu logo que se mudou, dizendo que era muito grande para
ele e sempre deixou claro que não queria ninguém morando na
outra parte.
Franzo o cenho, sentindo-me completamente perdida. Quer
dizer, isso faz muito sentido, considerando que se ficar em silêncio
eu consigo até mesmo ouvir a respiração dele do outro lado. Mas...
O apartamento dele ainda é grande. Enorme, na verdade.
— É por isso que ele não voltou ainda? Por que vocês não estão
juntos atualmente? – João pergunta, mudando de assunto.
— Eu não sei. – respondo a verdade. – Ele disse que estava
tentando trazer os pais para ficar um tempo aqui no Brasil com ele,
porque as viagens para visita-los são cansativas. Então eu não sei.
Acredito que seja por causa disso e não por mim.
Puxando sua agenda e uma caneta, João concorda.
— Eu posso ajudar a senhorita com isso. – começa. – Mas não
sei se consigo te arrumar um apartamento no mesmo nível que o
atual por tão pouco no valor do aluguel. – franzo o cenho com suas
palavras, então ele prossegue: – Ainda que tenha sido contra minha
escolha desde o início, foi Andrew quem liberou a locação do
apartamento, tendo deixado um valor mínimo no aluguel por não
querer seu dinheiro.
Com estas palavras, sinto-me ainda mais confusa.
— Como assim?
— Ele nunca te contou? – pergunta de volta e desta vez eu
nego. – Andrew é o dono do Golden Village. – diz. Meu queixo cai.
Agora tudo faz sentido. “Ele é praticamente dono disso aqui.”, estas
foram às palavras do sindico quando fui reclamar de Andrew e o
barulho com as Vadias Aleatórias. Mas na verdade ele é o dono da
porra toda!
— Eu não fazia ideia disso. – digo, sentindo-me um pouco
atordoada, um pouco perdida.
— Bem, na verdade isso não é algo na qual ele conte a todos. –
João diz rapidamente. – São poucas as pessoas que tem
conhecimento sobre os investimentos imobiliários dele e este foi um
negócio a parte, diferente de tudo o que ele tem. Não acho que ele
se orgulhe tanto assim também.
Sorrio, concordando. Todo esse tempo, desde que eu me mudei
para cá, eu sempre estive pagando o aluguel do apartamento para
Andrew, que por três meses foi meu namorado e ele nunca nem
mesmo considerou me contar sobre isso.
— A senhorita tem mesmo certeza de que é isto o que deseja?
Se mudar sem antes conversar com ele?
— É o mais fácil. – digo de pronto.
— Nem sempre o fácil é o certo, Luara. – responde. – Vocês
tiveram algo. Uma história. E, queira vocês aceitar isso ou não, foi
algo que fez bem aos dois. Mas, se esta certa de que é realmente
isto o que deseja, irei ajuda-la a encontrar um bom apartamento
aqui por perto. Só me de alguns dias para isso.
— Claro. Tudo bem. Obrigada. Eu só...
Paro de falar, sentindo meus olhos queimarem por lágrimas que
não posso nem sonhar em deixar que escapem. Agora mais do que
nunca quero sair de lá, me colocar bem longe de Andrew e da sua
Fortaleza da Solidão. Acho que no fim aquele lugar sempre foi isso
para ele e em momento algum ele deve ter tido a intenção de me
deixar entrar de verdade.
— Eu vou deixar o senhor trabalhar. Já tomei muito do seu
tempo. – digo já levantando, ainda sentindo meu corpo tremer. –
Vou conferir se o servidor esta funcionando e se precisar coloco ele
para trabalhar mesmo que tenha que ser na parte da violência. –
falo as palavras como se fosse de brincadeira, o que faz João rir.
Mas na verdade tudo o que mais sinto nesse instante é vontade de
bater em Andrew até minhas mãos doerem.
— Esperamos que não precise chegar a tanto.
— É certo que não. – sorrio em resposta. – E obrigada mais uma
vez.
— Disponha.
Quando passo pela porta da sala de João e a fecho atrás de
mim, só há uma coisa que ronda minha cabeça:
ANDREW É DONO DA PORRA TODA!
E isso me deixa realmente chateada com ele.

◆◆◆

Andrew
Estou feliz por finalmente voltar para casa e para o calor da
minha segunda cidade natal e toda aquela correria e estresse que é
gerencia uma empresa no porte da BIT. Mas devo admitir também
que toda essa calma aqui estava me irritando, ainda que por
algumas vezes eu tenha tido um dia lotado, resolvendo sobre a nova
sede que pretendo abrir em Londres. Senti falta de toda aquela
papelada para assinar, na qual sei que terei bastante disso para
fazer. Sinto falta dos vários assuntos a serem resolvidos e das
intrigas dos funcionários. E até mesmo das reuniões que sou
obrigado a participar.
Mas, no fim de tudo, estou feliz por finalmente conseguir trazer
meus pais para passar algum tempo comigo no Brasil. E saber que
finalmente poderei apresenta-los a Luara me deixa ainda mais feliz,
porque não há nada no mundo na qual eu mais queira, além disso.
Talvez não tanto quanto ouvir um sim dela quando pedi-la em
casamento.
Sorrio, recostando-me em meu lugar e olho pela janela do avião.
Antes de decolarmos, prometi que na próxima vez que voltasse para
cá seria com Luara. E com nosso filho, é claro. Eu nunca vou deixa-
los para trás outra vez.
— Andrew. – meu pai chama, trazendo minha atenção de volta
para dentro do avião.
Embora anos mais novo, sou a cara do meu pai. Ele é alto e tem
um porte forte mesmo para sua idade. Seus olhos são iguais aos
meus: cinza. E seus cabelos levemente grisalhos em alguns pontos,
tentam esconder seu loiro escuro, que talvez seja nossa maior
diferença, uma vez que meus cabelos são castanho claro. Assim
como eu, ele mantem sua barba.
— Senhor? – pergunto, olhando em sua direção.
— Quando chegarmos – começa. –, quero que você me mostre
todos os resultados do que sua gestão tem causado a minha
empresa.
— Tudo bem. – digo, ciente de que os resultados que tivemos
desde que assumi a presidência foram todos satisfatórios.
— Terça-feira. – diz quando minha mãe se mexe, deitada sob
seu ombro, entregue ao sono.
— Terça-feira. – repito. – Estaremos todos no aguardo pela visita
do verdadeiro Presidente CEO.
Neste momento, ainda que demonstre firmeza por fora, sinto-me
um pouco nervoso. Quer dizer, sei que os resultados são todos
ótimos, mas terei vários documentos para colocar em dia em menos
de vinte e quatro horas e terei tanto tempo quanto para me atualizar
de tudo o que aconteceu nesse tempo em que eu estive fora.
Eu espero de verdade que Pedro já tenha aquela tal pessoa com
tanta capacidade para ficar no seu lugar, porque do contrário ele
mesmo terá que me ajudar com isso.
Fecho os olhos com uma ideia que passa por minha cabeça.
E espero também que ele aceite me auxiliar, uma vez que o que
Pedro fazia para mim não era nem de longe parte do cargo como
supervisor de TI.

◆◆◆

Luara
Quando cheguei de volta ao Golden, já passava um pouco das
oito da noite. Não que eu tenha ficado trabalhando até tão tarde,
ainda que tenha saído às quatro horas, já que tive uma boa
trabalheira até conseguir deixar todo o servidor em pleno
funcionamento para poder terminar meu aplicativo e entregar logo
na segunda-feira. Cheguei tarde mesmo foi porque passei do
shopping para comprar algumas coisas (livros novos) e aproveitei
para comer um lanche como janta e acabei ficando com um milk-
shake de sobremesa também. E aquilo pareceu ser a melhor coisa
do mundo todo, porque eu estava morrendo de vontade.
E eu decididamente não estou em condições de passar vontade!
Ter esse dia abarrotado de coisas para fazer no trabalho e
depois ter passado no shopping me ajudou a esquecer de algumas
coisas que estavam me incomodando. Como, por exemplo, o fato de
que Andrew nunca mencionou que era dono do Golden Village e
que aquilo deveria ser para ele algo como um hobbie, assim como
também tenho vários.
Quer dizer, não acho que tenhamos nos dado tanto tempo assim
para que nos conhecêssemos tão detalhadamente. Existem várias e
várias coisas a meu respeito que eu nunca nem mesmo cheguei
perto de contar a ele e não foi por não confiar, mas sim por não ter
surgido a oportunidade de entrar naquele assunto e talvez este seja
o motivo de que também não me contou sobre isso. Ou que talvez
ele seja sócio de algum Clube dos Jovens mais Ricos do Rio de
Janeiro ou qualquer outra coisa.
E quanto mais eu tentava me lembrar das coisas que
compartilhamos nesse pouco tempo que tivemos, mais eu me dava
conta de que Andrew me conheceu bem mais do que qualquer outro
homem com quem eu tenha estado antes dele e percebi que em
várias ocasiões me fechei para ele porque tive medo. Um medo
bobo.
E foi pensando em todas essas coisas que percebi que quero
poder conhecê-lo mais do que apenas desta maneira tão limitada
que nos conhecemos e poder arrumar uma maneira de contar a ele
que teremos gêmeos. E ok! Isso ainda esta me assustando
muitooooooo!!! Mas são dois e... Serão meus. Nossos filhos. Meu e
de And e... Meu Deus, não há outro homem no mundo com quem eu
pensaria ou teria coragem de ter algo assim.
— Só é uma pena que você não esteja aqui conosco, meu lindo.
– murmuro, tocando minha barriga com a mão, desejando
internamente que eu pudesse sentir algum movimento dos meus
pequenos. Ou até mesmo que And me ligasse, porque ele não fez
mais isso desde nossa última conversa na quarta-feira e tenho
medo que isso signifique algo não tão legal para nós.
Capítulo Cinco
Segunda-feira
Andrew

Quando chegamos de viagem domingo de madrugada, fui direto


para a mansão com meus pais, onde fiquei até esta manhã, quando
sai para vir ao trabalho.
Fora meus avós, Felipe e Luara, que não parece ter dado a
mínima com a mensagem que mandei a ela logo que terminei de
arrumar minhas coisas, ninguém mais sabe que estou de volta. O
que será uma grande surpresa para todos aqui na BIT hoje, porque
as noticias para alguns deles pode não ser lá das melhores.
Estaciono o Audi em minha vaga presidencial e saio, seguindo a
passos rápidos para dentro do prédio, avistando Daiane posicionada
em seu lugar de costume.
— Senhor Giardoni! – ela diz espantada por me ver aqui. – Que
surpresa ver o senhor de volta.
Ignorando-a, apenas passo a ordem:
— Convoque uma reunião com todos os diretores paras às onze
horas e peça para que Ana separe todos os documentos que estão
em atraso para que eu possa assina-los. – faço uma pausa,
lembrando-me de tudo o que tinha em mente. – Peça para que
alguém leve meu café em minha sala e diga para ao Pedro que é
bom que ele já tenha alguém em mente para ficar em seu lugar,
porque vou precisar dele para me ajudar com algumas coisas hoje e
que é para ambos estarem na reunião sem falta!
— Sim, senhor. – responde, anotando tudo em sua agenda.
— Ótimo. – digo, retomando minha caminhada até o elevador e o
programo para que suba direto até minha sala.
Saber que amanhã ha essas horas meu pai estará aqui apenas
para ver como esta à produção da empresa apenas me deixa mais
irritado do que eu deveria estar. E o fato de ele saber que estou com
muita coisa em atraso não em atraso por conta desses dias que
passei fora não me ajudam a ficar mais calmo. Ou por não saber
quando conseguirei conversar com Luara.

— Bom dia. – cumprimento a senhora sentada em uma mesa


solitária assim que saio do elevador, agora em meu andar.
— Bom di... – Ana começa a dizer e ergue o olhar para mim. A
expressão em seu rosto demonstra apenas surpresa por me ver. –
Não sabia que o senhor já havia voltado. – diz.
— Ninguém sabia, na verdade. – digo em resposta e ela sorri.
— É bom ver o senhor de volta. – diz em resposta, tomando em
seus braços um bolo de papeis. – Daiane avisou que o senhor havia
pedido os últimos documentos que faltavam assinar – começa a
dizer enquanto abro a porta de minha sala. –, como já estava
mantendo todos separados para quando o senhor chegasse, aqui
estão.
— Obrigado. – digo em resposta, ajudando-a a colocar tudo em
cima de minha mesa. Olhando assim, diria que tem cerca de
duzentos ou mais. Isto entre contratos com clientes novos e antigos,
venda de produtos e a promoção de Pedro, é claro. E isso de certa
forma de faz sentir arrependimento por já ter aprovado sua
promoção.
— Tratei seu café dentro de instantes. Com licença.
Assim que Ana sai, abro algumas das janelas atrás de mim para
deixar um pouco de ar fresco entrar e sento-me para separar cada
um dos documentos por categoria, deixando em bolos dispostos sob
a mesa, que chega a parecer realmente pequena.
Ana voltou em poucos minutos, trazendo suco e um misto-
quente. E isso me ajudou muito, já que não comi nada quando sai
da mansão.
— Juro que pago o dobro de hora extra ao novo supervisor se
ele aceitar a me ajudar a colocar tudo isso no sistema ainda hoje. –
digo após algum tempo. Chutar apenas duzentos contratos foi
pouco.
O telefone em minha mesa toca, mas não atendo de imediato.
Antes de fazer, termino de assinar mais um contrato de uma
pequena empresa que solicitou um aplicativo para divulgação de
seus produtos.
— Pronto? – digo ao telefone.
— Senhor, desculpe por interromper. Mas tenho más notícias.
— O que aconteceu, Ana? – pergunto, notando a preocupação
em sua voz.
— Todo o sistema da empresa caiu de vez. – diz. – O pessoal do
TI esta todo trabalhando para repara-lo desde cedo, mas o trabalho
de todos está atrasando por isso.
— Como assim “caiu de vez”? – pergunto exaltado. – Que merda
aconteceu, Ana?! – exijo.
— Bem... Ele vinha falhando desde sexta-feira. Achamos que
teria normalizado hoje, mas quando chegamos já estava tudo
travado. Lerdo.
— Pelo amor de Deus, Ana! – exclamo. – Peça para que
resolvam isso de uma vez por todas e logo! Eu não pago toda uma
equipe especializada nisso para ter que resolver um problema como
este eu mesmo! – conforme falo, sinto minha voz querer se alterar
com ela, então respiro fundo antes de voltar a falar: – Quem foi o
cérebro genial que teve a brilhante ideia de deixar todo o sistema
falho o final de semana inteiro, achando que o problema se
resolveria sozinho?
Por algum tempo eu aguardo sua resposta. Mas ela não vem.
— Ana. – exijo.
— Igor.
— Eu não acredito nisso. – digo, soltando minha caneta sobre a
mesa e levo a mão ao rosto. – Isso não pode esta acontecendo. –
suspiro, realmente cansado.
Desde que voltei de viagem não dormi ou descansei como
gostaria de ter feito. O que faz com que meu humor esteja bem
abaixo do que queria que estivesse nesse momento.
Subo a mão para o cabelo, bagunçando o que já não havia
arrumado. Se todo o sistema para, toda a produção para e ficamos
com trabalho atrasado. Inclusive tudo isso que tenho aqui na minha
frente. O que não pode acontecer.
— Ana, minha linda, por favor, tire Igor do suporte. Ele não é
dessa área.
— Sim, senhor.
— Sei que posso confiar essa missão a você – começo. –, então,
por gentileza, me arrume alguém capaz de colocar essa empresa
em pleno funcionamento antes do expediente terminar. Antes do
almoço, se possível.
— Sim, senhor.
— Não podemos parar tudo logo hoje. – digo mais para mim
mesmo de que para ela. – Não avise nada, mas se essa pessoa, ele
ou ela, conseguir isso para mim, eu dobrarei seu salário esse mês.
Ou eles. Não me importa. Só preciso que tudo esteja funcionando
como deveria.
Ana diz algo do outro lado na qual não entendo e prefiro não
perguntar a respeito.
— Farei o possível para que isto aconteça. – diz. – Até porque,
também estou com meu trabalho parado aqui. – solto uma risada
nervosa, colocando o fone de volta no lugar, retomando minha
caneta para voltar a “sessão de autógrafos”.

◆◆◆

Luara

— Eu ainda não estou acreditando que você disse para deixar


tudo assim, Igor. – digo um pouco indignada, trabalhando no
servidor para poder repara-lo.
Quando cheguei hoje a algumas horas, esperava que as coisas
estivessem em seus devidos lugares para apenas poder começar
um site novo. Mas não foi bem assim que aconteceu e a Ana veio
pessoalmente me pedir para fazer o reparo do servidor. Então cá
estou eu, juntamente de Cláudio, trabalhando para que todos os
outros possam voltar a trabalhar também.
— Eu não disse exatamente isso. – Igor defende-se. Olho para
ele. A sobrancelha arqueada.
— Então quais foram suas palavras exatamente? – Cláudio
pergunta.
— Bem, eu só... – começa, mas para. – Eu vou voltar para a
minha área que ganho mais. Vocês estão muito convencidos hoje.
Principalmente você, Luara.
— EU?! – exclamo sem entender. – O que foi que eu fiz?
— Fez graça aqui sábado para arrumar e agora a secretária do
seu namorado veio te pedir para resolver isso.
— Não me culpe se você não tem a capacidade de fazer a
manutenção de um servidor. – respondo, correndo com a cadeira
para outro monitor e fico de costas para ele. Não quero brigar com
ninguém mais.
— Vocês dois, parem. – Cláudio interfere. – Igor, vá ver como
estão às coisas nos outros andares e diga que já estamos
trabalhando para restabelecer tudo.
— Que seja. – diz e sai. Olho para ele por cima dos ombros a
tempo de vê-lo fechar a porta.
— A que horas é a reunião? – Cláudio pergunta agora para mim.
— As onze. – respondo, consultando o relógio no canto do
monitor. Faltam ainda dez minutos. Mas se eu parar isso aqui...
— Acho melhor você ir. – diz. – Não vai querer se atrasar para
sua primeira reunião como supervisora. – ele sorri para mim e sinto
meu rosto se aquecer com seu comentário.
— Eu vou. Só preciso terminar de atualizar isto aqui e...
— O que você fez? – ouço a pergunta atrás de mim e volto-me
para Cláudio, que tem uma expressão alegre no rosto. – Da uma
olhada nisso, garota!
Com o cenho franzido, deslizo minha cadeira até onde ele esta e
vejo no monitor que o sistema esta outra vez a todo vapor.
— Acho que no fim ele só precisava de uma atualização e vocês
ficaram se matando sexta-feira para descobrir o problema. – digo
como se não fosse nada. – Sábado eu fiz algo parecido, só que uma
mais simples.
— Garota, você é simplesmente incrível! – exclama e beija meu
rosto. – De verdade!
— Na verdade eu sou mais lógica. – dou de ombros e ele ri.
— Modesta parte, sim. – responde. – E é bem compreensível
que Andrew tenha tomado você só para ele.
Sorrio com seu comentário, sentindo meu rosto realmente corar
com seu comentário. Vindo de Cláudio, que é um dos funcionários
mais antigos aqui, isso é um elogio enorme.
— É melhor eu subir ou não vão me deixar mais participar da
reunião. – respondo, não querendo pensar em Andrew agora. Não
quando poderei finalmente começar a desenvolver um site. Isso
depois da reunião e do meu almoço, claro.

◆◆◆

Andrew
Felipe me ligou por volta das dez e meia, perguntando quando
que eu iria voltar para o meu apartamento e acho que apenas não o
mandei para um lugar bem pequeno e apertado por pouco. Nem
mesmo eu sei quando voltarei para lá. Talvez hoje ou amanhã. Mas
nesse momento não tenho nem mesmo ideia e não estou com
cabeça para pensar. Acabei apenas dizendo que não sabia ainda e
ele disse que precisávamos sair para tomar algo.
Neste momento estou sentado na cabeceira da mesa de
reuniões, junto de mais alguns diretores e sócios, aguardando a
chegada dos que faltam. E com isso quero dizer Pedro, o novo
supervisor e mais um. E enquanto espero, continuo assinando
alguns dos contratos que trouxe para cá, na esperança de adiantar
o máximo que conseguir para, quem sabe, poder tirar minha hora de
almoço.
— Bom dia. – reconheço a voz de Pedro vinda da porta e ergo o
olha para ele, que vem até mim.
— Achei que já tivesse colocado o novo supervisor no seu lugar.
– digo para que apenas ele possa me ouvir.
— Arrumei! – exclama. – Começou hoje o treinamento, porque
não sabia que você já havia voltado. Acontece que está tudo parado
e...
— Estou sabendo. – eu o interrompo. – Ana já me contou sobre
o deslize de Igor quanto a isso. – puxo um contrato que estava
separado e o assino, estendendo para Pedro. – É bom que seu
prometido seja realmente tudo aquilo que falou. Ou revogarei todo
seu direito como gerente pelas próximas vinte e quatro horas.
— Será até mais. – ele sorri todo orgulhoso quando segura o
documento em suas mãos, olhando para a porta logo em seguida. –
Só peço para que tenha um pouco de paciência, porque o TI esta
trabalhando para valer na manutenção do servidor.
— Ana conversou com vocês?
— Sim, sim. – responde rapidamente. – E é justamente por isso
o atraso.
Franzo o cenho com seu comentário, realmente curioso para
saber quem foi à pessoa recomendada para ficar em seu lugar. Até
agora não ouvi um único nome ou qualquer coisa que pudesse
entregar a identidade da pessoa.
— Bem, podemos dar início a nossa reunião? – pergunto,
notando que apenas um lugar está vago. Como ninguém se
manifesta, prossigo: – Como estou com muita coisa atrasada aqui,
irei direto ao assunto: amanhã receberemos uma visita importante
em nossa empresa e não irei tolerar um nada fora do lugar. Não
quero ver um único funcionário chegando meio segundo atrasado e
menos ainda quero essa algazarra com nosso sistema fora do ar. –
dou as costas para todos, encarando o alto do Rio de Janeiro pela
enorme parede de vidro.
Construir estas salas assim, sem dúvida alguma foi uma das
melhores ideias que meu pai teve e isso sempre me faz pensar no
que ele sentia quando observava as coisas daqui. Ou lá de cima.
— Quem foi à alma sábia que concordou em permitir que
deixassem o sistema falho durante esses dias? – pergunto,
tornando a virar para eles. Ninguém abre a boca para me responder.
– Algum de vocês tem ideia do tamanho do prejuízo que estamos
tendo por causa disso agora? Ninguém mesmo? – arqueio a
sobrancelha. – Ora, não me digam que nenhum de vocês esteve
aqui no sábado e não tenha reparado no tamanho desse erro.
Vamos lá! – tento um incentivo. – Não façam isso com vocês!
No momento em que digo isto, Jorge chama minha atenção,
pedindo a palavra.
— Sábado passei daqui para terminar um trabalho pendente. –
começa. – Estava funcionando tudo normal, como deveria estar.
Aquela garota nova... – ele leva uma das mãos à têmpora, tentando
se lembrar. – Aquela que veio transferida do escritório de São Paulo.
— Luara? – Pedro o ajuda.
— Isto! – exclama. – Quando cheguei, ela esta aqui também
para terminar um trabalho. Ela tinha conseguido resolver o problema
e estávamos todos trabalhando normalmente. Ela, João e eu. Tanto
que terminamos o que havíamos vindo fazer.
Arqueio as sobrancelhas um tanto surpreso. Afinal, não fazia
ideia de que Luara entendia tão bem desta área.
— Me surpreende ver que entre tantos homens na área, a única
pessoa que se dispôs a tentar resolver tenha sido uma mulher. –
digo, tornando a me sentar. Um sorriso divertido e orgulhoso em
meu rosto.
— Ora, era óbvio que ela tentaria agradar o namorado, não? –
um dos sócios diz com tom de gozação. Ele esta sentado bem de
frente com Pedro.
— Desculpa? – pergunto, olhando em sua direção.
— Ela sabia que você estava voltando e quis fazer uma graça e
mostrar serviço. – explica. – Só não esperava que as coisas
tivessem que funcionar por mais que um dia.
Quando o jovem rapaz de terno termina de falar, todos ficam em
silêncio, olhando de mim para ele e de volta para mim. Enquanto eu,
apenas mantenho a atenção no rapaz, que me parece um completo
estranho aqui entre todos e me pergunto quando foi que ele
assumiu algo.
— Não acho que isto tenha alguma relação. – Jorge é o primeiro
a falar.
— Muito ao contrário, uma vez que em manutenções anteriores
ela ajudou e não houve problema algum em nada do que ela mexeu.
– desta vez é uma mulher quem diz, mas não recordo seu nome.
— Como você se chama mesmo? – pergunto após alguns
instantes.
— Erick Araújo. – apresenta-se rapidamente.
— Erick Araújo. – repito. – Para começo: ninguém, nem mesmo
a senhorita Luara, sabia que eu estava de volta. – começo. A
verdade é que, depois de muito pensar, acabei me convencendo de
que Luara não recebeu minha mensagem. Nenhum outro motivo
justificaria seu silêncio por tanto tempo, a menos, talvez, que ela
esteja com raiva de mim. – Em segundo: suponho que você tenha
se disponibilizado à ao menos tentar resolver esse problema interno.
Estou certo?
— N-não, senhor. – gagueja. – Esta não é minha área.
— Esta não é sua área. – repito mais uma vez. Quero rir com
estas palavras, mas me contenho. – Claro. Você esta correto! Então
ao menos pediu para que alguém ficasse a mais e resolvesse isso?
– torno a perguntar e desta vez ele apenas me encara. – Quem cala
consente. – digo e alguns riem. – Que fique claro uma coisa para
todos aqui: o fato da senhorita Brudosck e eu termos ou não um
relacionamento nunca ire interferir em nosso meio profissional. Aqui
não temos absolutamente nada um com o outro. Apenas fora destes
portões. Entenderam? Se alguém tiver algum questionamento a
respeito deste assunto, peço para que me procure lá fora, porque
aqui dentro não quero ouvir nada sobre o que temos ou não. Assim
como também não quero saber sobre com que mulher de qual setor
você anda saindo, Erick. – digo, dando fim ao assunto.
Tomo um pouco da água em meu copo, puxando mais um
contrato para poder assinar.
— Que visita tão importante teremos amanhã? – ouço a
pergunta de Pedro no momento em que alguém bate na porta e só
consigo imaginar que seja o Misterioso Novo Supervisor de Pedro. –
Achei que você não vinha mais! – ele exclama e balanço a cabeça,
ainda sem desviar a atenção do papel na minha frente.
— Desculpem-me pelo atraso. – uma voz suave chega aos meus
ouvidos e sinto meu coração disparar contra o peito no mesmo
instante. Essa voz...

◆◆◆

Luara
Chego à sala de reuniões com exatos dez minutos de um atraso
causado pela quantidade abusiva de pessoas subindo e descendo
no elevador e mais uma vez me arrependi por não ter usado as
escadas. Minha primeira reunião com sócios e diretores e isso me
acontece!
Ainda um pouco ofegante, eu passo a mão pelo rosto e bato na
porta, abrindo-a de vagar para poder me apresentar.
— Achei que não você vinha mais! – a voz de Pedro é a primeira
coisa que chega até mim, seguido de sua imagem.
— Desculpem-me pelo atraso. – começo a dizer, notando que
toda a sala esta ocupada, com apenas um lugar vago à mesa. O
que é mais do que suficiente para me deixar nervosa. – Estávamos
correndo para colocar o sistema em funcionamento desde cedo.
Mas agora já está tudo certo e... – paro de falar quando o homem na
outra ponta olha para mim. Aqueles olhos cinza. Aqueles cabelos
bagunçados como se ele tivesse acabado de transar. Seu rosto com
a barba não feita esta manhã...
Andrew tem no rosto nada além de uma expressão de surpresa,
mas sorri discretamente para mim e esse sorriso fode com todas
minhas estruturas de maneira que ele não tem noção, assim como
sempre foi. E é esse mesmo sorriso que me faz querer me
aproximar dele e atirar os braços ao redor de seu pescoço e abraça-
lo forte, assim como quis fazer todo esse tempo. Meu coração está
acelerado contra o peito. Quero beijar Andrew, quero fazer tantas
coisas com ele, mas, em primeiro lugar, quero perguntar quando ele
voltou e porque não me contou nada sobre isso!
— O que faz aqui? – sua voz rouca chega aos meus ouvidos e
isso é mais do que suficiente para terminar de me deixar mole.
— Pedro avisou sobre a reunião e disse que eu teria que
participar. – respondo e olho para Pedro, sentindo-me realmente
confusa. Será que não era essa reunião da qual ele se referiu?
— Oh! – ele exclama. – Eu não havia lhe dito quem seria a nova
supervisora? – pergunta a And, que arqueia a sobrancelha. – Achei
que tivesse mencionado. – diz agora rindo e vira para mim. – Venha.
Sente-se aqui ao meu lado.
Concordando com a cabeça, puxo a única cadeira vaga para
sentar. É uma cadeira bem de frente com a de Andrew, ainda que
ele esteja há dez lugares de distância de mim. Mas isto já é pouco
perto do oceano que existia até bem pouco.
— E então... – um senhor moreno chama a atenção dele.
— Bem! – Andrew exclama, assinando um papel que coloca ao
seu lado, junto de vários outros. – A visita que teremos amanhã é de
ninguém mais, ninguém menos de que o Dr. Victório Giardoni. – diz
e todos começam a falar ao mesmo tempo, enquanto permaneço
em silêncio, sem saber qual assunto eles estão tratando. Ainda que
o nome me soe familiar.
— Foi por isso que o senhor demorou a voltar? – uma mulher
loira pergunta a ele, que concorda.
— Não da para ficar sempre viajando para ver meus pais. Então
que, depois de muito tentar, convenci os dois a vir passar algum
tempo no Brasil. – Andrew responde a pergunta da mulher, mas sua
atenção esta em mim. Ele conseguiu! Victório é seu pai, é claro. O
Sr. Giardoni Segundo. Queria que ele tivesse me dito isso em outra
situação para que pudesse demonstrar algo por ele. Mas ainda
assim eu sorrio, tendo outro sorriso seu em resposta. – Então ele
resolveu ver pessoalmente como a empresa esta. Cada andar, cada
setor. Tudo.
— E então ele resolve mostrar trabalho para o papai, só que
como não vai dar conta pede ajuda de todos. – um rapaz diz,
chamando a atenção de todos para ele.
— Pelo amor de Deus! – Andrew exclama irritado e vejo sua
caneta voar pela mesa. – Alguém me diz quem é esse cara e o que
ele esta fazendo aqui?!
Arregalo os olhos ao ver a maneira com que ele fala. Já o rapaz
apenas ri. Na certa ele já deve estar falando coisa errada há algum
tempo.
— Ele é filho do senhor Antônio. – o mesmo homem moreno de
antes responde. – Ele quer colocar o garoto em seu lugar na
empresa. Mas parece que ele não leva nada a sério aqui dentro.
Vejo Andrew passar a mão pelo cabelo e percebo no mesmo
instante que ele esta irritado. Sua expressão esta cansada e posso
apostar que ele não dorme direito talvez desde que voltou. O que
mais uma vez faz com que me pergunte quando foi isso.
— Erick – ele diz e o rapaz pula em seu lugar. –, o que você faz?
— Segundo ano de Administração. – responde.
— Administração? – pergunta de volta, mas não espera por
resposta alguma. – Legal! Precisamos bastante de pessoas desta
área. Mas já vi que você realmente não se adapta a este lugar. –
diz. – Seu pai é uma excelente pessoa e ótimo funcionário, mas
você esta no lugar errado. Você não quer estar aqui.
Andrew diz cada uma dessas coisas provavelmente tentando
manter a paciência que já deve estar bem em seu limite. Ele passa
a mão pela barba rala e só então é que me dou conta de que ele
realmente manteve a promessa que me fez da última vez em que eu
o vi.
— Sabe pelo que passei para chegar onde estou hoje? –
pergunta por fim.
— Não faço a menor ideia. – Erick responde. – Mas acredito que
por nada, já que é filho do cara que criou tudo isso.
O-Ou! Péssimas palavras, Erick.
— Se me permite dizer – as palavras me escapam quando vejo o
olhar no rosto de Andrew. –, nem todos tem um pai tão bom quanto
o seu parece ser. Erick, não é? – pergunto e ele confirma. – Certo. –
sorrio para ele, tentando parecer gentil. – Pelas histórias que
sempre ouvi desde que cheguei aqui, o senhor Andrew, quando
começou a trabalhar na BIT, costumava ser auxiliar de faxineiro e foi
subindo conforme seu pai o julgava merecedor. Até estagiário ele
foi.
— Ela esta certa. – a mesma senhora loira de antes concorda,
rindo.
Olho para Andrew, que tem um sorriso de lado no rosto, ainda
que ainda esteja visivelmente irritado. E eu não sei o que deu na
minha cabeça para defendê-lo assim, mas fiz. E estou orgulhosa de
mim mesma por isso. Até porque não posso admitir uma mentira
como esta, quando a verdade sempre esteve ai.
— As intenções de Antônio com você são ótimas – ele começa a
dizer. –, mas antes de você chegar a qualquer cargo aqui em cima,
se quiser continuar nesta empresa, sugiro que passe no
almoxarifado e peça um uniforme de auxiliar de limpeza ao Seu
João. Se não quiser, compreenderei perfeitamente.
— Eu não vou fazer isto! – Erick exclama parecendo realmente
ofendido.
— Tudo bem. – Andrew diz com toda calma possível. – Então se
retire para que os adultos possam prosseguir com os assuntos de
adultos. Depois me resolvo com seu pai.
Erick empurra sua cadeira para trás de maneira que quase a
derruba e vai até a porta, batendo-a atrás de si ao passar com ela.
— Sem mais interrupções, tenho apenas mais uma coisa a pedir
a cada um de vocês. – And volta a falar, indiferente a tudo isso que
acabou de acontecer. – Quero que me entreguem um relatório com
todos os ocorridos desde que voltaram das férias até o final do dia.
– com uma pausa, ele toma um pouco de água. – Primeiro tirem a
próxima hora para o almoço e tente me entregar isto o quanto antes,
por favor. Se não conseguirem até o final do expediente, enviem
para meu e-mail. Peçam também para os supervisores de cada
setor faça o mesmo, por favor.
Certo! Relatório até o final do dia com tudo o que precisar. Acho
que posso fazer isso sem acabar me enrolando.

◆◆◆

Andrew
Não leva muito mais tempo até que eu encerre a reunião e logo
todos começam a se dirigir a saída. E eu observo cada um deles,
até que não sobre mais do que um pequeno grupo de três pessoas.
— Luara. – eu a chamo quando se direciona a porta. Preciso
falar com ela mesmo que apenas para saber se esta tudo bem.
— Sim? – pergunta, virando-se para mim.
— Posso falar com você?
— Sim, claro. – responde e Pedro sai, fechando a porta atrás de
si.
Sinto-me realmente nervoso sozinho aqui com ela. É uma
grande mistura de emoções. Euforia, medo, ansiedade, desejo...
Quero abraça-la. Puxa-la para mim e prende-la em meus braços.
Apenas juntar nossos lábios e preencher esse vazio que esta entre
nós. Quis fazer isto desde que passou por aquela porta, mas não
pude fazer isso. Assim como não posso fazer agora que estamos
sozinhos, porque nossa última conversa não terminou lá muito bem
e não quero deixar as coisas ainda mais estranhas do que já estão.
E também não posso tocar no assunto que diz respeito a nós dois,
porque aqui não é lugar para isso.
— O que houve? – pergunta, mordendo o lábio inferior e a vejo
esconder as mãos nos bolsos traseiros da calça. Seu gesto tem
uma reação direta em meu corpo e quero também morder seus
lábios. – And? – ela chama com um sorriso de lado.
— Desculpa. – peço. – Eu... Pedro comentou algo sobre o que
você vai precisar fazer como supervisora? – pergunto a primeira
coisa que me vem à cabeça.
— Para falar a verdade, não. – responde. – E para ser ainda
mais sincera, ele não disse nada sobre isso. Só que havia me
indicado para ficar no seu lugar e que alguém do RH iria me
procurar. – ela então faz uma pausa e arruma seu cabelo atrás da
orelha. Seu gesto me faz sorrir. – Mas sei que ele fazia relatório
semanal e entregava a você, nos supervisionava no TI para que
nada desandasse e acredito que tinha mais algo, mas desconheço
essa parte.
— Sim, fazia. – concordo. – Parece que não foi apenas de mim
que ele escondeu sobre essa indicação. – sorrio um pouco nervoso.
– Ele era um tipo de assistente meu.
— Como assim? – pergunta com o cenho franzido.
—Ele me ajudava em algumas coisas – falo. – Preencher
papeladas, documentos importantes. – passo a mão pela barba,
tentando recordar o que mais Pedro fazia. – Nada disso é realmente
parte do cargo, é claro. Pedro é alguém de minha confiança e fazia
coisas importantes para mim. E eu acho até que foi por isso que ele
quis indicar logo você...
— Eu vou matar o Pedro. – Luara me interrompe. – Eu realmente
vou matar aquele infeliz!
— É tão ruim assim? – pergunto, dando um passo a frente e ela
parece recuar.
— Eu não sei. – diz. – Ele ao menos podia ter me dito algo. Não
acha?
— Bem, ele também não me disse que era você quem estava
recomendando. Fiquei bem surpreso quando você entrou.
Um silêncio assustador toma conta de toda a sala. Está tudo tão
estranho entre nós. Mas claro que esta. Afinal, nós meio que
terminamos há um mês e essa é a primeira vez que nos vemos
desde então. E, mesmo com esse tempo, o que sinto por ela não
mudou em nada.
— Você estar aqui como supervisora por acaso significa que
recusou a proposta em Nova Iorque? – pergunto apreensivo,
sentindo uma gota de suor escorrer pela lateral do meu rosto.
— Quando me ofereceram a vaga, falei que não sabia. – explica.
– Então me disseram para ficar durante alguns dias e ver o que eu
achava e concordei com isso.
— Então você ainda não decidiu a respeito disto. – arrisco.
— Andrew – meu nome sai de sua boca com certa amargura e
percebo o quão estranho é ouvi-la me chamar desta forma. –, eu
não quero falar sobre isso aqui.
— Certo. Desculpa. Eu só... – passo a mão pelo rosto, sentindo-
me de repente perdido. – Eu preciso que você me ajude com esses
documentos. – digo, apontando com a cabeça para a pilha de
papeis em cima da mesa. – Como disse antes: isso não é parte do
cargo. Você não é obrigada a fazer nada disso se não quiser. Pedro
era alguém de minha confiança e eu o pagava mais por isso, mas
como gerente ele não pode continuar com a função. E... Eu confio
em você para qualquer uma dessas coisas.
Paro de falar, olhando para os lados. Meu coração está
acelerado dentro do peito e sinto minhas mãos suarem frio.
— E você realmente não precisa fazer isso se não se sentir
confortável. A decisão é sua, entenda. – volto a falar. – Mas eu
realmente gostaria que me ajudasse com isso. Principalmente hoje.
— Tá. Tudo bem. – diz. – O que eu preciso fazer por hora?
— Primeiro preciso que pegue com Pedro tudo o que ele tiver
sobre o seu setor. Relatórios, o que for. – começo. – Verifique se
tem algo incompleto e se sim, peço para que termine e o assine.
Não é complicado.
Luara franze o cenho e sorri.
— Tudo bem. Acho que posso fazer isso. – sorrio de volta para
ela. – Algo mais?
— Vou precisar que fique até mais tarde comigo para que
possamos colocar esses documentos em dia. – digo e aponto para a
mesa. – Tem mais um bom tanto na minha sala. – ela faz uma
careta com o que digo. – Preciso terminar de assinar todos e lançar
no sistema para evitar qualquer brecha e Victor cair matando em
cima de nós.
— Victor? – pergunta confusa.
— Victório. Meu pai. – corrijo rapidamente. – Minha mãe o
chama assim e não gosto muito de chama-lo de “pai” aqui dentro.
Acho informal.
— Ah, sim. – diz com o cenho franzido. – Fiquei feliz por saber
que você conseguiu trazê-los para ficar com você aqui. – sorri.
— Sim. Eu também. Essas viagens são cansativas e, ainda que
essa tenha de certa forma me rendido algo, também sinto que dei
um passo para trás com algo mais importante.
— And, eu... – começa a dizer, então para. Ela esta tão nervosa
quanto eu com isso aqui entre nós. – Posso já lançar no sistema já o
que você quiser. – diz e franzo o cenho. – Os contratos, digo.
— Claro. Iria adiantar muito. – sorrio e ela concorda. –
Conseguiram resolver o problema?
— Sim. – responde de imediato. – Não era algo tão complicado
de se fazer. Era bem óbvio, na verdade. Não sei como consegui
deixar passar aquilo no sábado.
— Ana que te pediu para fazer o serviço? – pergunto realmente
curioso.
— Sim. Por quê?
— Parece que em um só dia acabei aumentando sua hora extra
e dobrando seu salário do mês, sem nem mesmo fazer ideia. – digo
e ela me olha confusa. – Pedi para que Ana arrumasse alguém que
resolvesse o problema com o servidor e você arrumou. Disse a mim
mesmo que aumentaria a hora extra do novo supervisor caso ele ou
ela me ajudasse a colocar tudo em dia para amanhã e é você.
Luara nada diz a respeito do que falei. Apenas me encara,
perdida ou confusa, não sei.
— Senti sua falta. – sussurro, tentando uma nova aproximação e
desta vez ela permanece imóvel, apenas desviando o olhar para
outro lado e sua mecha teimosa cai sobre o rosto e a coloco no
lugar. Por favor, Anjo, olhe para mim.
— Quando você voltou? – pergunta, segurando minha mão junto
a lateral de seu rosto. Seus olhos estão brilhantes.
— Sábado à noite, já de madrugada. – franzo o cenho. –
Tecnicamente já era domingo, na verdade.
— Por que você não me avisou? – pergunta finalmente olhando
para mim. Sua mão ainda segurando a minha e a desço por seu
rosto. – Podia ter ligado, mandado uma mensagem dizendo que
estava voltando ou sei lá.
— Mas eu mandei. – defendo-me. – Mandei assim que terminei
de arrumar minhas coisas. Você que ignorou.
— Não, você não mandou.
Tiro o celular do bolso, mostrando a ela a mensagem.
— Ah, droga! – exclama, pegando seu celular do bolso.
— O que foi?
— Eu bloqueei você depois que a ligação caiu e me esqueci de
desbloquear de volta.
— A ligação não caiu. Você que desligou.
— Não. Meu celular descarregou. – diz e franzo o cenho.
— Por que você me bloqueou? – pergunto e ela apenas morde o
lábio. – Linda?
— Porque fiquei com medo que você me ligasse de volta e
dissesse que eu deveria aceitar a proposta de Douglas. – sussurra,
apertando os olhos e seguro seu queixo, chamando sua atenção
para mim.
— Falei que não seria certo me envolver na sua escolha dessa
maneira. – digo. – Não estando longe como estava.
— Mas agora você esta perto. – diz, mordendo o lábio outra vez
e sorrio, dando um passo mais à frente. – Muito perto.
Sua respiração parece pesada e posso sentir daqui o batimento
acelerado de seu coração. Assim como o meu.
— Ainda acho que estamos muito longe. – sorrio, tentando me
aproximar dela, que desvia o rosto para outro lado. Sua mão toca
meu peito, impedindo-me.
— Por favor, não. – pede. – Não aqui. Não assim.
Mesmo contra toda minha vontade, concordo com sua condição
e seguro sua mão tão pequena, levando-a até meu coração e dali
eu a trago até minha boca, pousando um beijo nela, finalmente
conquistando sua atenção.
— Foi você quem me falou de liberdade e acabou me
prendendo. – sussurro, dando a ela um sorriso de lado e vejo seus
olhos brilharem.
— Acho melhor começarmos nosso trabalho logo ou então não
iremos terminar a tempo e evitar que o Sr. Giardoni Segundo nos
esgane. – diz com a voz um pouco embargada, tentando puxar a
mão de volta.
— Segundo? – pergunto curioso.
— Sim. – responde com ar divertido, embora seus olhos ainda
digam o contrário. – Seu avô é o primeiro, seu pai segundo e você...
— Terceiro. – completo, rindo. – É. Faz sentido. Sou o mais
novo.
— Ou era. – diz, tocando as duas mãos em sua barriga, puxando
a camisa para junto do corpo e posso ver tão claramente seu
tamanho. Não está tão grande quanto eu imaginava, mas da para
ver.
— Quanto tempo? – pergunto sem desviar a atenção dali.
— Três recém-completos. – Luara responde e desta vez quem
morde os lábios sou eu.
— Posso? – pergunto.
— Claro. São nossos. – respondi com um sorriso de lado.
Sentindo-me um pouco nervoso, ajoelho-me de frente para ela
de maneira que fique na altura de sua barriga. Só então é que a
toco, sentindo que esta um pouco mais firme do que me lembrava. E
o sorriso bobo que surge em meu rosto é bem automático.
— Ei! – exclamo incapaz de tirar minhas mãos dali. – Oi, meu
Pequeno. Você esta um pouco maior do que eu me lembrava,
sabia? – sorrio e sinto quando Luara puxa sua camisa um pouco
para cima, deixando sua barriga a vista. – Você esta pequeno. –
digo com o cenho franzido, agora olhando melhor.
— O Dr. Marcus não concorda muito com isso. – Luara diz com
um sorriso na voz e acabo rindo, sentindo-me realmente nervoso. –
Ele diz que esta grande e se desenvolve... – ela então para de falar
quando pouso um beijo em sua barriga. Sinto uma única lágrima
escorrer pelo canto do olho.
— Não acredito que estou perdendo tudo isso. – murmuro contra
sua barriga e aperto forte os olhos antes de levantar, ficando agora
acima de Luara, que mantém os olhos fechados. Minhas mãos
ainda apoiadas em seu quadril.
— Eu te trago isso até o final do dia. – ouço sua voz um pouco
embargada e a vejo se afastar rápido de mim e ir até a mesa, onde
pega a pilha de contratos já assinados e vai até a porta já a abrindo.
– A propósito. – diz, virando de volta para mim. – Eu também senti
sua falta. Bem mais do que você se quer pode imaginar, lindo. –
sussurra com a voz embargada e então sai, deixando-me sozinho e
com o pensamento do por que de ter praticamente fugido de mim
desta maneira.

Já passava um pouco do horário normal de expediente quando


João entrou em minha sala, sem ser anunciado mesmo, e veio me
questionar a respeito do que eu havia feito a Luara.
A princípio fiquei bem confuso, sem entender exatamente o quê
ele queria que eu dissesse que aconteceu. Então foi ai que disse
que ela o havia procurado no sábado quando se encontraram no
elevador e pediu para que ele rescindisse o contrato de locação de
seu apartamento no Golden e a ajudasse a encontrar um no centro,
perto do trabalho.
E eu não consigo entender o motivo pela qual ela tenha pedido
isso assim, de repente. O que apenas me faz pensar se isso não
teve alguma relação com o fato de ter fugido de mim hoje mais
cedo, depois que beijei sua barriga na sala de reuniões. E isso me
fez pensar também se não agi errado por ter feito aquilo. Mas... Na
hora, depois de passar um mês sem muita notícia, eu apenas senti
que precisava demonstrar o quanto havia sentido falta do nosso
Pequeno. E foi o que eu fiz, mesmo que não pudesse ter
demonstrado um pouco mais sobre o quanto senti falta dela
também.
À questão é que minha conversa com João não terminou lá tão
agradável, uma vez que eu já estava mais do que irritado e não
podia contar a ele toda a história sobre o porquê de Luara e eu
termos nos separado esse tempo. O que o levou a me dar uma
semana para tentar me acertar com ela, porque não poderia força-la
a viver em um lugar onde não se sentia bem. O que mexeu muito
comigo.
E agora, quase oito horas da noite, ainda estou aqui, em minha
sala, olhando para as luzes da cidade, pensando nestas três coisas:
o motivo de Luara ter fugido de mim quando beijei sua barriga, o
motivo para ter pedido a João para que a ajudasse a encontrar outro
apartamento e, o principal de todos: como farei para reconquistá-la
em uma semana. Quer dizer, se ela não quer mais ser minha
vizinha, isso já meio que me diz também que não quer mais contato
algum comigo.
Só que isso também não faz o menor sentido. Tem que ter algo a
mais nisso tudo. Ela estava sentida por algo. Algo que ela não quer
me contar.
Ouço alguém bater na porta e tudo o que faço é apoiar o braço
contra o vidro da minha sala, ainda encarando a cidade.
— Com licença. – sua voz chega até mim e continuo na mesma
posição. – Eu... – começa a dizer, mas para quando me viro em sua
direção. Luara mantém a mão na maçaneta, um passo dentro e
outro fora de minha sala.
Guardando as mãos no bolso, eu a encaro sério.
— Eu já terminei de lançar todos os contratos no sistema como
me pediu. – volta a falar. – Já os separei por assuntos e deixei em
cada setor para armazenamento com o responsável.
Balanço a cabeça, concordando.
— Obrigado. – digo. – Pela ajuda e por hoje. Você pode ir para
casa. – e viro de volta para a cidade, não querendo segurar seu
olhar. Não quero demonstrar a ela nada do que estou sentindo com
tudo isso que tem rondado minha cabeça nas últimas horas ou tudo
o que está acontecendo entre nós. Que eu não sei se temos ou não
alguma chance de reatar.
Se ela pediu para ficar longe de você, então provavelmente não.
Aperto forte os olhos, não querendo mais pensar nisso.
— Está tudo bem? – sua voz chega até mim em um sussurro. –
And?
— Estou bem. – digo mais ríspido do que pretendia. – Não se
preocupe comigo. Apenas vá para casa.
— And. – insiste. – Eu sei que você está cansado e que teve um
dia longo, mas o que houve? Fala comigo.
— Você não tem com por que se preocupar comigo, Luara. – falo
ainda mais ríspido de que antes. – Apenas vá para casa. Quero ficar
sozinho aqui.
— Você está chateado comigo. – não é uma pergunta. – É por
que praticamente sai correndo cedo quando beijou minha barriga,
não é? – aperto as mãos ainda dentro dos bolsos quando torno a
ouvir as palavras de João dentro de minha cabeça.
Eu soube da proposta que ela recebeu para trabalhar em Nova
Iorque e sei também que ela espera algo de você. Do contrário, já
teria aceitado ir para lá (...). Você tem uma semana para se resolver
com ela. Se não, não poderei mais fazer nada para mantê-la no
Golden.
Quando ele disse isso, falei que se eu não a reconquistasse, eu
mesmo arrumaria o apartamento para que ela vivesse onde deseja.
Mas... Não é isso o que eu quero. Não é apenas por ela ter pedido
para morar longe de mim. Isso... Tem a ver com o fato de que eu
quero pedi-la em casamento. Mas, se ela não quer estar perto de
mim assim, como vai querer estar pelo resto da vida?
— Olhe para mim. – Luara pede e aperto a mão na caixinha
felpuda em meu bolso, finalmente virando para ela.
— Por que pediu para que João cancelasse seu contrato com o
Golden? – pergunto de uma só vez.
— Então é isso. – sussurra. – Eu não sei. Pareceu o certo na
hora. Você estava longe e não sabia quando ia voltar. Eu estava,
estou assustada com algo que o Dr. Marcus me falou na minha
última consulta e, diante de tudo, achei que seria o certo.
— Por quê?
Ela ri nervosa.
— Porque eu não vou aguentar acordar no meio da noite e ouvir
você no quarto com outra mulher, And. – responde. – Porque eu
estou assustada com essa gravidez e tenho medo que... – ela para
de falar e fecha os olhos. Medo de que?
— Acha mesmo que eu faria isso assim? Levar outra mulher
para lá depois do que tivemos?
— É o que você é.
— É o que eu era. – corrijo. – Do que você tem medo? De estar
comigo? De me ouvir dizer que não quero ver essa criança ou você?
— Não é isso. – sussurra. Sua voz levemente embargada.
— Então o que é, Luara? Eu preciso que você me diga o que
quer de mim. – digo, erguendo as mãos para o alto. – Estou aqui.
Sou todo ouvido. Mas preciso que você me diga o que quer de mim.
— Eu quero você, And. Mais nada.
— Então por que quer sair de lá? – pergunto. – Qual é o seu
segredo? Do que é que você tem tanto medo? Eu preciso que você
me diga o que quer para que eu possa saber o que fazer por nós.
Porque eu sei o que eu quero. E eu quero você. Quero criar nosso
filho ao seu lado. Quero que você recuse a merda dessa proposta
para trabalhar em Nova Iorque e fique comigo. Mas você não sabe o
que quer!
— Eu não posso te contar isso. Não ainda. Não até ter certeza.
— Por quê? – insisto mais uma vez. – O que foi que Marcus
disse nessa última consulta que você foi? O que há de errado com
nosso filho, droga?! – pergunto, sentindo meu estômago revirar com
a ideia de que algo possa estar errado com meu Pequeno. Isso
nunca...
Fecho os olhos para afastar o pensamento que de repente me
apavora.
— Não é nada de errado. – diz. – Se fosse isso, eu te contaria.
Eu juro. É só que... Eu quero ter a certeza de que é realmente isso.
De que realmente aconteceu assim e que você estava certo quando
me disse aquilo. E é por isso que estou tão assustada. Que estou
com medo.
— Então está tudo bem com nosso Pequeno? – pergunto,
colocando de lado toda a hostilidade. – Por favor, se tiver algo
errado, preciso que você me fale. Nesse momento ele é tudo o que
tenho para me amparar.
— Está tudo bem sim. – ela sorri, secando uma lágrima que
escorre por seu rosto. – Eles estão bem, pelo que pude ver no
ultrassom e...
— Você disse antes que tinha uma consulta marcada para essa
semana. – eu a interrompo. – Um retorno. Quero ir com você.
— NÃO! – Luara exclama alto e cobre a boca. – Digo... Essa
você não pode. Eu só vou para confirmar uma coisa. Mas na
próxima e em todas as outras eu quero você comigo, porque das
últimas vezes que fui, vi o quanto estou sozinha aqui e foi horrível.
— Mais um motivo para eu ir com você!
— Mas se você for vai estragar a surpresa. – diz, cruzando os
braços junto ao peito.
— É meu direito como pai! – exclamo, também cruzando os
braços. – Você não pode tirar isso de mim, droga! Já não basta ter
perdido um mês inteiro?
— Nós dois perdemos um mês, lindo. – Luara diz, agora dando
um passo à frente e torno a guardar as mãos no bolso, apertando
mais uma vez a caixinha felpuda. – Um tempo que poderíamos ter
gasto nos conhecendo melhor ao invés de nos tornar dois
estranhos.
— Você quer conversar sobre isso agora? – pergunto, sabendo
que não podemos continuar adiando este assunto. Ela nega.
— Você está cansado. Da para ver no seu rosto que não
descansa provavelmente desde que chegou. – diz e concordo. – E
amanhã seu pai vem para ver como as coisas estão e precisamos
descansar bastante depois desse dia que tivemos.
— Quero que você os conheça. – digo e ela sorri.
— E eu quero muito conhecer seus pais. Muito. Sei o quanto se
importa com eles, mas você também não faz ideia do quanto isso
significaria para mim.
— Provavelmente o mesmo quanto ter a benção dos seus pais
para o nosso relacionamento. – arqueio a sobrancelha e ela ri,
concordando.
— Um relacionamento bastante transtornado. – diz. – Podemos
conversar sobre isso amanhã ou depois. Só não agora. Eu estou
com fome e com mau humor. Você está cansado e com mau humor.
E eu achei que fosse se alterar comigo aqui e fossemos acabar
brigando.
A risada que deixo escapar é alta. A verdade por trás destas
palavras é maior do que ela imagina.
— Tenho algumas coisas que quero te contar – volta a falar. –,
mas não posso fazer isso agora. Antes preciso confirmar umas
suspeitas e sei que você quer respostas.
— Me diz por que você fugiu. – peço.
— Porque eu não queria chorar na sua frente por causa do seu
gesto.
— Por que você faria isso? – pergunto com o cenho franzido.
— Porque eu estou grávida e tudo me faz chorar. – da de
ombros. – E você, na primeira vez que nos vimos depois de tanto
tempo, teve aquela reação e para mim aquilo foi... Eu não sei
explicar. Só que teve um significado enorme para mim e nós não
estamos realmente bem. Não estamos realmente juntos e está tudo
estranho e, quando o sentimento não cabe mais dentro do peito ele
escapa.
Sem dizer mais qualquer coisa, caminho o espaço restante que
nos separa e apoio minha mão em sua cintura, sentindo a sua em
minha camisa. Tudo o que mais quero nesse instante é beija-la da
maneira mais quente que conseguir. Mas o beijo que pouso em seus
lábios é casto, terno e não demonstra muito além do carinho e
respeito que sinto por ela.
Deixo para beija-la da maneira que realmente quero quando
estivermos bem. Depois que tivermos ao menos conversado.
— É melhor eu ir para casa. – sussurra, apoiando a cabeça em
meu peito e pouso um beijo em seus cabelos.
— Já está tarde. – concordo e ela afasta.
— Você vai voltar para o Golden hoje? – pergunta e sinto algo
em sua voz, embora não seja capaz de dizer o quê.
— Amanhã. – respondo. – Tem algumas coisas que preciso
resolver antes de voltar para lá. Além de que minhas coisas estão
todas na mansão.
— Certo. – diz. – Eu... É melhor eu ir. – e afasta um pouco.
Eu a encaro, não querendo deixa-la ir. E uma parte minha quer
convida-la para jantar comigo e meus pais. Mas também não seria
certo enquanto não conversarmos.
Fecho os olhos ao sentir sua mão em meu rosto e minha
respiração acelera ainda mais quando sinto seus lábios junto ao
meu.
— Estou feliz que você esteja de volta, Anjo. – sussurra, dando
um último beijo no canto da minha boca e afasta, indo até a porta.
Fico plantado, encarando o nada. Sem saber nem mesmo o que
aconteceu aqui desde que ela entrou.
Assim como você não é capaz de dizer o que aconteceu desde
que deixou essa mulher entrar na sua vida.
— Eu não vou perder você, Anjo. Não vou mais te dar motivos
para querer sair de casa e menos ainda para continuar
considerando trabalhar com Douglas só para ficar longe de mim.
Capítulo Seis
Terça-feira
Luara

Hoje eu resolvi levantar mais cedo que o normal para poder deixar
meu carro na oficina que perto da BIT antes que ele termine de dar
problema ou acabe arrumando algo mais sério. Para o meu azar, ele
vai ficar pronto só amanhã à tarde. O que significa que hoje volto
para casa de metrô e amanhã também venho assim.
Ontem quando cheguei em casa já eram quase dez da noite,
porque fiz uma parada para comprar alguma coisa para poder
comer. E com isto quero dizer que mantive o original A La Andrew.
Não qualquer outra coisa que eu estivesse com vontade de comer
na hora.
E por falar em Andrew, eu realmente não esperava vê-lo de volta
ontem. Ou que ele fosse se ajoelhar na minha frente e tocar minha
barriga para sentir nosso filho. E menos ainda beija-la. Meu Deus!
Eu quase entrei em pânico quando ele fez aquilo. Eu só consegui
chorar depois que sai daquela sala.
E depois quando fui falar com ele para avisar que havia
terminado de lançar todos os contratos no sistema e que já os
deixara separados em cada setor e ele não queria olhar para mim.
Ou falar comigo. E com aquilo eu me senti horrível, porque tudo o
que eu mais queria era me aproximar dele e abraça-lo. Dizer o
quanto havia sentido sua falta e que estava feliz por vê-lo de volta.
Mas ele não me olhava. Não até que ele o fez e me perguntou o
porque de eu ter pedido para que João encerrasse meu contrato do
Golden, o que eu me arrependo amargamente de ter pedido.
— Bom dia. – cumprimento Daiane, seguindo direto para o
elevador.
— Bom dia. – responde. – Luara, espera!
Paro e viro de volta para ela.
— Oi?
— O senhor Giardoni pediu para que você o acompanhasse na
visita com seu pai hoje. – diz, consultando sua agenda de
anotações. – Eles devem chegar por volta das nove horas. – franzo
o cenho. Por que Andrew não me disse nada disso ontem? Ou ligou
diretamente para mim? – Pediu também para que adiantasse o
relatório de ontem para poder apresentar junto aos demais.
— Tudo bem. – falo. – Já estou com tudo pronto. Só preciso
imprimir e assinar. Obrigada.
— Claro. – ela sorri. – Esta tudo bem entre vocês dois? –
pergunta.
— Esta. – respondo com o cenho franzido. Mas que pergunta!
Isso não tem nada a ver com ela ou qualquer outra pessoa. – Por
quê?
— Bem, é que ele passou recado. E vocês moram no mesmo
prédio, não é?
Quero revirar os olhos para ela, mas me contenho e apenas
sorrio.
— Nós estamos ótimos. – sorrio. – Ele deve ter ligado aqui direto
porque sai correndo hoje cedo e não tive tempo de ligar para ele, já
que esta aproveitando os pais um pouco mais.
— Desculpa, é que...
— Não se preocupe. Perguntam muito isso só porque ele ficou
fora. – eu a interrompo. – Mas estamos bem.
— Vou avisa-lo que a senhorita concordou em acompanhar a
visita.
Apenas aceno com a cabeça, retomando minha caminhada até o
elevador.
— Por que é que elas têm sempre que ficar me enchendo com
isso? – pergunto quando o elevador chega e entro. – É tão chato e
parecem aqueles animais brigando por comida! – bufo.
— É para você tomar cuidado para não perder aquilo que todas
querem. – a voz atrás de mim quase me faz gritar.
— Pelo amor de Deus, não faz mais isso, Pedro! – exclamo,
levando a mão ao coração. – Quer que eu tenha meu filho antes da
hora ou o que?
— Não. Jamais! – exclama. – Você-Sabe-Quem me mataria.
— Voldemort? – pergunto. – Não sei se viu os filmes, mas Harry
o derrotou no último.
— Andrew é quem faria isso, sua bobinha.
— É bom mesmo ver você aqui. – digo e viro para ele, cruzando
os braços junto ao peito.
— Não me mate! – pede e ergue as mãos em sinal de rendição.
— “Não matar”? – repito. – Não matar, Pedro Henrique?! Por que
você não me avisou que eu seria como assistente dele?! – exijo.
— Em minha defesa, praticamente não significa que você vá ser
assistente dele. Apenas que terá compromissos diretos com ele. –
Pedro sorri maldosamente.
— É. Com ele e com o pai dele agora. – exclamo, batendo em
seu braço.
— Ai! Para! Isso é agressão física no ambiente de trabalho!
— Dane-se! – torno a bater. – Você poderia ao menos ter dito:
“Olha, eu estou te indicando para ficar no meu lugar como
supervisora. A propósito, você vai passar grande parte do seu dia
em companhia do amor da sua vida, tá? Seria muito legal se você
aceitasse.”.
— “Amor da sua vida”, é? – repete com um sorriso sínico no
rosto, na qual retribuo com um olhar irritado. – Tá. Eu sei que tinha
que ter contato essa parte. Mas também não falei nada para ele que
seria você quem eu indicaria e... Minhas intenções eram as
melhores possíveis.
— Eu sei que sim. – digo finalmente me rendendo ao que sinto. –
É só que está tudo muito confuso. Tão estranho.
— Eu sei que esta, querida. – diz, tocando meu ombro. O
elevador para e ele segura a porta. – Mas se você não cuidar, esses
abutres carniceiros vão querer cair matando em cima do seu homem
se perceber que vocês não estão tão bem quanto aparentam. Se
continuarem assim, se vocês não se acertarem logo todos vão
perceber isso.
Arqueio uma sobrancelha como se desafiasse quem quer que
seja.
— Que tentem. Eu mato.
Pedro ri.
— Não duvido nadinha disso. Seu tapa dói. – diz e passa a mão
pelo lugar onde bati.
— Desculpa. – murmuro o pedido, sentindo meu rosto corar.
— Aproveite que vai participar desse tour com ele hoje e de
algumas indiretas, incentive a algo. Tente se aproximar dele
novamente. – Pedro sorri para mim. – Quem sabe assim vocês
finalmente não conseguem conversar sobre tudo isso e se
resolvem? Estou cansado desse mesmo episódio. Quero algo
inédito!
Sorrio, concordando.
Quando And perguntou se eu queria conversar ontem e neguei,
falei que poderíamos fazer isso hoje ou amanhã. E não há nada no
mundo na qual eu queira mais do que ter essa conversa com ele
para colocar tudo em pratos limpos e quem sabe assim possamos
voltar de onde paramos, apagando de vez todo esse episódio.
— Aliás, amanhã quero você no barzinho com a gente para
comemorar minha promoção. – Pedro volta a falar. – Vou convidar
Andrew também. Então é bom que vocês já estejam ao menos
encaminhados, porque assim se acertam de uma vez por todas.
— Vou sim. Obrigada. – respondo e ele sai.

◆◆◆

Andrew
— Bom dia. – eu cumprimento todos sentados à mesa do café
da manhã, dando um beijo em minha avó e outro em minha mãe.
— Bom dia, querido. – minha mãe diz e me sento ao seu lado. –
Como você está?
— Cansado e precisando de uma noite inteira de sono. –
respondo. – Talvez deitar às sete da noite acordar só meio-dia.
— Nem parece que fez praticamente isso no último mês. – meu
pai entra na conversa, rindo. – Você vai comigo de carro? –
pergunta e franzo o cenho.
— Pensei em passar do meu apartamento para deixar algumas
coisas lá antes e pegar algo. – falo. – Assim não preciso levar um
monte de coisa no carro.
— Você podia me dar uma carona então. – Lilian diz, chamando
minha atenção de volta para ela. – Estou pensando em visitar uma
amiga que mora em Copacabana.
— Claro. Mas vou de moto. Já adianto para a senhora.
— Não tem problema. Adoro quando Victor e eu saímos assim lá
em Londres. – diz, olhando para meu pai e ele sorri.
— Se você vai atrasar, quero alguém me acompanhando até que
você chegue. – Victor diz. – Luara me parece pronta para isso, já
que ficou até tão tarde trabalhando com você ontem.
Olho para ele com o cenho franzido.
— Esqueça Luciana. – minha mãe diz. – Quero ir até a BIT
também. Já faz um bom tempo desde a última vez que eu estive lá.
Desta vez quem ri é meu avô, que durante toda a conversa
apenas se manteve ocupado com seu café e torradas.
— Eles estão ansiosos para conhecer sua namorada, Andrew. –
diz, levando a xícara até a boca. – Não sabem o que estão
perdendo. Ela é uma mulher incrível.
— Sim. Lu é incrível. – minha avó concorda. – A última vez que
ela esteve aqui me trouxe uma muda de rosas para plantar no
jardim e chocolates.
Franzo o cenho. Eu não me lembro disso.
— Quando foi isso? – pergunto curioso.
— Há duas ou três semanas. Não lembro bem.
— Duas semanas. – meu avô diz. – Ela veio almoçar conosco.
— Sim, sim. Passamos ótimas horas conversando. – Anna sorri.
– Ela estava bem enjoada. Mas esta linda!
— Eu não sabia disso. – sussurro.
— Não é porque você foi um idiota por deixá-la solta assim que
eu também precisava fazer isso, né? – ela diz, dando um cascudo
em mim. – Alguém precisava cuidar dela e achei que seria melhor
se seu avô e eu fizéssemos isso.
— Obrigado. – sorrio, dando um beijo em seu rosto.
— Bem, vou terminar de me arrumar e já saio. – meu pai diz já
se levantando. – Vou ligar para o escritório a caminho de lá e pedir
para que avise ela para que me acompanhe.
— Não quer que eu ligue e fale direto com ela? – pergunto,
imaginando o que Luara vai sentir ou pensar quando Daiane passar
o recado a ela.
— Não precisa. Assim ela não pensa que isso tem coisa sua no
meio.
Tenho que rir com o que ele diz. Luara certamente vai pensar
que foi em quem ligou quando Daiane disser que “o Sr. Giardoni
pediu para que o acompanhasse a visita hoje”. Mas tudo bem.
Quando chegar eu me acerto com ela.
Sobre isso e mais outro assunto que não pode mais ser adiado.
Essa conversa tem que ser hoje, de alguma forma.
— Saio em trinta minutos, Lilian. – digo, tomando um pouco do
meu suco. – Espero que a senhora esteja pronta. Do contrário irei
sozinho.
— Não banque seu pai e fique querendo me apressar. Isso é
irritante. – diz em resposta e rio. – Afinal, quando você vai trazer ela
para que eu possa conhecê-la?
— Só deixe que nos acertemos antes. – peço e é tudo o que
mais desejo.
Meus dias estão contados para impedir que João arrume outro
apartamento ou que ela mesma resolva isso sozinha. E é por isso
que pretendo usar desse tour com ela e meu pai para me aproximar.
Tentar uma reaproximação mais íntima, sem toda aquela
formalidade. Decidi que faria isso ontem depois que ela saiu e agora
esse pedido do meu pai vai me ajudar ainda mais, uma vez que até
então eu teria que fazer visitas a sua sala.

◆◆◆

Luara
O telefone em minha mesa toca menos de quinze minutos
depois de ter chegado aqui. Já estou com tudo pronto para poder
apenas entregar a Andrew e seu pai quando os encontrar.
— Luara. – atendo.
— Senhorita, ele chegou. – Daiane informa. – Esta subindo para
o seu andar.
—Já estou saindo. Obrigada. – respondo, já colocando o fone de
volta no lugar e pego a pasta com meu relatório antes de sair. –
Certo Luara. Sem pânico. Você só vai passar o dia em companhia
dos dois homens mais importantes desta empresa. – sussurro a
mim mesma enquanto fecho a porta de minha sala. – Além de
serem o pai e avô dos seus filhos. Ah, droga! Não tem como não
entrar em pânico com isso!
Tentando manter minha postura o mais firme possível, faço o
caminho até a ala principal do andar, aonde o elevador chega para
poder esperar pelos dois.
— Oi, Lu. – ouço uma voz familiar dizer assim que chego e me
viro.
— Oi, Isabeli! – eu a cumprimento de volta. – O que faz perdida
por aqui?
— Vim buscar algumas coisas que o Pedro me pediu. – ela
responde, mostrando a caixa em suas mãos. – E você? Não deveria
estar trabalhando na sua sala, não?
— Meu trabalho será ao ar livre hoje. – sorrio em resposta e o
elevador chega.
— Minha carona chegou. – Isabeli diz. – Precisamos marcar de
almoçar juntas novamente.
— Claro. Temos que mancar um dia para ir até algum
restaurante aqui perto. – ela concorda e nisso a porta do elevador
se abre, permitindo a saída de um senhor alto, com cabelo loiro
grisalho e olhos cinza que me são extremamente familiares, embora
eu esteja acostumada a vê-los em outra pessoa, anos mais jovem.
Sem falar que é impossível não ver And ao olhar para seu pai.
— Bom dia. – ele nos cumprimenta com um sotaque forte e
levemente rouco, assim como a voz do filho também é.
— Bom dia. – nós respondemos em uníssono.
— Qual das duas é Luara? – ele pergunta e Isabeli rapidamente
aponta em minha direção. Nesse momento eu gostaria de não ser a
Luara. – Prazer. Sou Victório Giardoni. – apresenta-se, dando a mão
para que o cumprimente e a seguro.
— Luara Brudosck. – apresento-me, embora há essas horas seja
desnecessário.
— Se me dão licença, tenho que levar isto aqui logo. – Isabeli diz
e logo a vejo sumir dentro do elevador.
— Ouvi muito falar da senhorita. – o Sr. Victório diz e sorrio um
pouco sem graça, sentindo meu rosto corar.
— Digo o mesmo a respeito do senhor.
— Espero que coisas boas. – ele sorri e coro ainda mais.
— Apenas o suficiente para me sentir mais do que curiosa para
conhecer a mente por trás de tudo isso aqui. – respondo e ele ri. –
Além do homem que é o pai de Andrew, é claro.
— Eu estava para dizer o mesmo a seu respeito. – diz. – Meu
filho vai se atrasar um pouco. Precisou passar em outro lugar com a
mãe dele antes de vir para cá. – ele explica a ausência de And. –
Então por hora seremos apenas nós dois.
Certo! Eu realmente não estava pronta para isso. Primeiro
Andrew passa recado pedindo para que os acompanhasse nessa
visita e agora ele simplesmente me abandona com seu pai, me
deixando totalmente a mercê da sorte.
Além de ainda querer matar Pedro, devo acrescentar Andrew a
minha lista e o farei assim que ele aparecer na minha frente outra
vez.
— Claro. Por onde o senhor quer começar?
— Por que não me mostra primeiro como estão às coisas aqui
no TI e depois até a sala de Andrew e você me apresenta os
relatórios com os lançamentos dos últimos meses? – Victório
sugere. – Então almoçamos e a tarde nós vamos até a produção
para ver como as coisas estão por lá. Com um pouco de sorte,
Andrew deve chegar durante uma dessas etapas.
— Tudo bem. – sorrio educada, embora me sinta realmente
nervosa. – Podemos ir?
— Primeiro as damas.
— Obrigada.

Para minha completa sorte, conheço este andar como a palma


de minhas mãos e cada uma das pessoas que trabalham aqui, que
são todos meus amigos e claro que o fato de não serem muitos me
ajuda bastante, porque do contrário eu passaria certa vergonha por
não lembrar o nome de alguns. Mas não tive esse problema e acho
até que estou me saindo bem até agora.
Depois de cumprimentar todos no TI e conversar com alguns que
já faziam parte da empresa quando se aposentou, subimos até a
sala da presidência para verificar todos aqueles mesmos
documentos que passei o dia e parte da noite de ontem trabalhando
com Andrew e alguns outros de novembro e dezembro do ano
passado, na qual Victório pediu para que Ana separasse. O que
talvez eu devesse colocar que ficaremos mais umas duas horas
aqui.
— O que é isto? – ele pergunta, entregando-me uma rescisão. É
o contrato de Daniela. A que armou junto de Bruno para boicotar
meu trabalho.
— Esta funcionária foi demitida por tentativa de sabotar um
projeto particular na qual eu deveria apresentar em meu treinamento
em Nova Iorque. – explico, torcendo para que ele não peça mais
detalhes a respeito disto.
— Sim, sim. Estou a par dessa história. – diz e devolvo a ele o
documento, que vai parar junto aos demais. – Isto e mais algumas
outras coisas.
— Sim. – é tudo o que digo sobre.
Mais três documentos e dez minutos mais tarde, Victório volta a
falar:
— O que tem acontecido por aqui nestes últimos meses? –
pergunta com o cenho franzido. – Tantas pessoas sendo demitidas
assim. Por quê?
— Uma delas era mentalmente perturbada e não tinha condições
de continuar trabalhando aqui. – ouço sua voz atrás de mim,
fazendo quase com que eu pulasse na cadeira. – Tive orgulho de
demitir esse.
Quando me viro, vejo Andrew colocar dois capacetes em cima
da mesa no canto e passar as mãos pelos cabelos, bagunçando-os
ainda mais.
Hoje ele esta com a barba feita e um visual jovem casual que
não diz absolutamente nada sobre ele ser um empresário.
— Bom dia, Anjo. – ele diz, dando um beijo em meu rosto e sinto
meu rosto corar.
— Bom dia. – sussurro, voltando a olhar para frente e ele senta
na cadeira ao meu lado, jogando uma perna sobre a outra.
— Sabe que não pode demitir as pessoas apenas por serem
assim. – Victório o repreende, ignorando o gesto do filho comigo.
— Se o senhor parar para ler todo o histórico dele verá ver que
chances foi o que mais teve.
— É aquele?
— Bruno? Sim. O próprio. – responde. – Um babaca
mentalmente perturbado, psicótico e mais uma lista um tanto quanto
extensa. – diz. – Se aparecer na minha frente de novo...
— Andrew, por favor. – peço e ele ri.
— Desculpa, linda. – pede, tocando a mão na minha, que
repousa em minha perna. – Mas e ai, como estão às coisas com
nossa empresa?
— Aparentam estar bem. – Victório responde, passando páginas
e mais páginas. – Você não esta de todo mal na presidência.
— Qual é, Victor?! – exclama indignado, embora o sorriso em
seu rosto diga o contrário. – Nós estamos super bem. Nossas
vendas só aumentaram esse ano e tendem a serem melhor ainda
mais até o final do semestre! E isso sem mencionar a expansão da
empresa.
— Disto não tenho como discordar. – Victório diz, colocando os
papéis de lado. – Estão com fome?
— Faminto. – And responde.
— Senhorita Luara?
— Bem, meu horário de almoço já passou. Então, sim. – digo
sem graça, sentindo o olhar de And em cima de mim, mas não me
atrevo a olhar para ele.
— Ótimo! Será minha convidada hoje. – diz já se levantando.
— Sabe que o senhor vai passar vergonha com ela, né? –
Andrew pergunta ao pai, batendo com o ombro no meu. – Ela come
por dois agora. – sorri e sinto uma vontade enorme de afundar a
cabeça debaixo da terra.
Ah, lindo. Se você soubesse que eu como por três...
— Esta tudo bem. – Victório me tranquiliza quando abro a boca e
torno a fecha-la. – Estou a par do romance de vocês dois e, embora
ache que vocês sejam duas cabeças de vento por não se
resolverem logo, tenho esperanças de que farão um bom trabalho
com meu neto.
Sorrio mais do que sem graça, sentindo meu rosto queimar de
vergonha.
Eu preferiria mil vezes arrumar todo o sistema operacional
sozinha a estar aqui, passando por isso.
— Tem um restaurante novo não muito longe daqui. – Andrew
diz. – Felipe disse que é bom.
— Então vamos ao novo restaurante do Felipe. – Victório acata a
sugestão e Andrew levanta, estendendo a mão para mim e a
seguro.
— Está tudo bem? – pergunta em um sussurro, colocando meu
cabelo para trás da orelha e concordo.
— Só estou um pouco nervosa. Mas tudo bem.
Ele sorri, entrelaçando nossas mãos e aperto forte a sua.
— Você esta se saindo bem com ele. – diz. – Eu podia até
mesmo ter ficado em casa dormindo que você daria conta do
recado, como sempre deu. – e com isso, ele pisca para mim com o
sorriso mais sínico que já vi.
Filho da...!
— Quanto a isto, tenho que ter uma séria conversa com você
depois.
— Eu espero que sim, linda. – responde, pousando um beijo em
minha mão. – Ana, vamos sair para almoçar. Só me repasse
ligações se for algo realmente importante. Mas eu realmente
agradeceria se não tivesse que fazer isso.
— Direi que esta em um almoço de negócios e não pode ser
interrompido. – ela diz em resposta e por um momento sinto seu
olhar em nós. Uma suspeita que é mais do que confirmada quando
ela sorri ao ver nossas mãos entrelaçadas.
— Obrigado.

◆◆◆
Andrew
— Mesa para três, por favor. – peço a um jovem garçom assim
que entramos no restaurante da qual Felipe me falou esta noite.
— O senhor tem preferência por lugar? – ele pergunta e olho
para Luara, que aperta minha mão. Eu sorrio para ela, lembrando-
me de sua escolha de sempre.
— Canto. – peço. – Se tiver algo com vista para a rua. Se não, o
mais reservado possível.
— Queiram me acompanhar, por favor.
Ele então nos leva até o final do salão, para uma mesa separada
de todas as outras, onde tem uma enorme janela com vista para a
rua e uma livraria logo do outro lado. Percebo o olhar de Luara para
lá.
— Senhorita. – digo, puxando a cadeira para que Luara possa
sentar e fico ao seu lado. Meu pai ocupa o lugar de frente para nós.
— obrigada. – ela sorri um pouco sem graça e tenho a sensação
de que esta sentindo algo com meus gestos. Não surpresa, uma vez
que sempre tentei agrada-la. Só não sei o que também.
— Aqui esta o cardápio dos senhores. – o garçom diz,
entregando um a cada um de nós. – Assim que escolherem basta
que me chamem.
— Obrigado. – agradeço e ele logo se retira. – Espero que este
lugar seja mesmo tudo o que Felipe falou. – comento logo que abro
meu cardápio.
— Isso explica bastante como você ficou sabendo desse lugar
tão rápido. – Luara comenta ao meu lado e olho para ela, que me
olha com um sorriso lindo.
— Esta de brincadeira, né? – meu pai pergunta a ela. – Os dois
passaram horas no telefone essa noite. Pareciam namorados. – diz
e ela ri.
— Não diga isso, Victório. O que Luara vai pensar a meu
respeito depois dessa? – pergunto, tentando parecer ofendido.
— Você sempre se recusou a ter relacionamentos. Então...
Olho para Luara, notando seu rosto levemente corado e sinto
vontade de pousar um beijo em seus lábios, assim como também
quis fazer quando cheguei a minha sala e ela me olhou de cima
abaixo.
— Brincadeiras a parte. – ela diz, mudando de assunto. – Acho
que vou ficar com o prato cinco, bife com fritas e...
— Suco de laranja. – arrisco, ainda olhando para ela, que sorri. –
Vejamos... – olho agora para o cardápio em minhas mãos. – Prato
cinco: lasanha com porção de arroz. É claro.
— Idiota. – ela resmunga ao meu lado, mas sorri.
— Acho que vou acompanha-la.
— Vocês dois não são nada saudáveis. – Victório diz. – Agora
entendo bem porque se dão tão bem. Eu vou ficar com esse
vegetariano. Parece ser uma boa.
Chamo o garçom e faço o pedido. Não demora muito tempo até
que ele retorne, primeiro com as bebidas e depois com o almoço.
— Diga-me, Luara. – meu pai chama sua atenção. – Posso
chamar a senhorita assim?
— Claro. – responde rapidamente.
— Certo... – ele sorri. – Então me diga: como é ser uma mulher
em uma área tão diferente do que a maioria costuma gostar? –
pergunta. – O que te fez querer seguir uma carreira tão diferente?
— Eu não sei. – ela da de ombros. – Talvez o fato de que
quando criança adorava desmontar todos os brinquedos com
parafuso dos meus primos apenas para descobrir como eles
funcionavam. – diz como se não fosse nada. – Claro que no começo
não conseguia monta-los da maneira certa e menos ainda
funcionando. O que gerava boas brigas com eles também.
Victório ri com sua resposta, enquanto eu apenas fico em
silêncio por algum tempo, apenas encarando-a.
— Você nunca me contou isso. – falo.
— Porque nunca me perguntou, bobinho. – diz, mostrando a
língua para mim e toca meu queixo.
Segurando sua mão, eu a desço lentamente até o pequeno
espaço entre nossas cadeiras e sussurro em seu ouvido:
— Se fizer isso de novo, vou morder essa sua língua.
— Então faça isso! – exclama e solta minha mão. Mas que...
— Acredito que com o tempo tenha aperfeiçoado isso. – meu pai
chama nossa atenção para ele e volto a olhar para a taça quase
vazia em minha frente.
— Ah, claro. – Luara ri ao meu lado. – Depois de algum tempo
eu aprendi a aperfeiçoa-los.
— Como assim?
— Aprendi o mecanismo todo dos carrinhos apenas para poder
programa-los para fazer algumas manobras diferentes e colocar
uma luz Led embaixo para dar efeito durante a noite.
— Andrew também era assim quando criança. – meu pai ri. – Era
um sério problema dar presentes a ele.
— Não precisa me entregar desta forma também. – falo. – Tenho
certeza de que minha avó já fez isso o bastante durante o almoço
das duas na semana passada e que minha mãe fará ainda mais
quando elas se conhecerem.
Quando digo isto, Luara olha para mim e arqueio a sobrancelha.
É, eu sei que você esteve lá, Anjo.
— É bom deixa-la preparada para o fato de que muito
provavelmente o filho de vocês dois acabe quebrando os brinquedos
que derem a eles. – diz e Luara olha para outro lado do enorme
salão, brincando com a colher em sua taça vazia.
— Sabe querida. – Victor chama sua atenção, colocando a mão
sobre a dela. – Fico feliz que seja você a mulher que vai me dar um
neto. – começa. – Sempre quis um, mas meu filho aqui não parecia
muito disposto a querer isso.
— Na verdade, acho que nenhum dos dois quis. Apenas
aconteceu. – ela responde totalmente no automático e suas
palavras me machucam de alguma forma. – Desculpa. Eu não quis
falar isso de verdade.
— Aconteceu, mas poderia ter acontecido com qualquer outra. –
digo em um sussurro. – Eu provavelmente não teria me animado ou
aceitado se fosse assim. Mas foi você quem deu.
— Meu Deus! – Victório exclama. – Eu apenas quis dizer que
estou feliz por saber que finalmente ganharei um neto com quem
poderei brincar durante horas!
— Isso significa muito para mim. – Luara sussurra, olhando para
mim.
— Vocês precisam conversar, sabiam? Como dois adultos de
verdade. – meu pai diz e levanta. – Agora, se me dão licença, vou
pagar a conta.
Sinto a mão de Luara na minha logo que ficamos sozinhos e a
aperto forte entre as minhas.
— Sabe que ele tem razão, né? – pergunto. – Nós precisamos
conversar.
— Claramente precisamos conversar. – concorda.

◆◆◆

Luara
Assim que voltamos do almoço, fizemos um pequeno e
demorado passeio pelo setor de produção, que fica em um barracão
atrás do prédio da BIT. É lá onde eles produzem todas as peças de
computador que vendemos para as empresas no exterior e o lugar
onde nunca nem mesmo passei perto, já que sempre vinha direto
para o interior do prédio.
Quando voltamos para a sala de Andrew, seu pai saiu para ir ao
banheiro.
— O que foi? – pergunto ao sentir sua mão em meu braço,
puxando-me para um canto da sala.
— Esta tudo bem? – pergunta em um tom baixo e franzo o
cenho, estranhando sua pergunta.
— Esta sim. Por quê?
— Porque te fiz passar o dia com meu pai assim e nem te
preparei antes. – ele responde, olhando para a porta. – Quando
avisei que passaria do Golden antes de vir para cá, ele pediu para
que você o acompanhasse. Parecia importante para ele isso.
Franzo o cenho, ainda me sentindo um pouco irritada com ele e
ainda mais chateada pela situação no restaurante.
— Você podia pelo menos ter ligado direto para mim ao invés de
passar recado. – falo.
— Em minha defesa, eu tentei. – responde. – Mas ele disse que
não precisava, que ligaria direto para o escritório.
— Então não...
— Daiane pensou que fosse eu? – pergunta rindo e concordo. –
Não, linda. Sai com minha mãe para levar ela na casa de uma
amiga. Ela foi comigo até o Golden e depois a deixei nessa amiga.
— Daiane fez parecer que tivesse sido você quem ligou. – digo.
– Até ficou me perguntando se estávamos bem, porque você tinha
ligado para lá e nós éramos vizinhos e blábláblá. – reviro os olhos,
lembrando-me de minha resposta.
— Desculpa. Eu não queria que vocês tivessem se conhecido
assim.
— Está tudo bem, lindo. – digo com um sorriso sincero. – Acho
que me sai bem com ele depois de uma hora e já nem estava mais
nervosa quando você chegou.
Ele sorri.
— Isso é bom.
— Sim. – concordo. – Mas passar todo esse tempo com ele só
teve uma coisa de ruim.
— E o que seria? – pergunta curioso e me aproximo, apoiando a
mão em seu rosto para sussurrar em seu ouvido:
— Vocês são muito parecidos. – e deslizo a mão por sua pele,
sentindo seu pós-barba. O mesmo que dei a ele de presente quando
estávamos em Nova Iorque ainda. – Ainda acho que você fica
melhor de barba.
— Eu já falei quais são minhas condições. – diz em resposta e
afasto.
— É. Eu sei. – digo. – E para ser sincera, quero isso tanto
quanto você.
— Mas tenho que te pedir para ficar. – Andrew diz e morde o
lábio inferior. – Eu não posso te pedir exatamente isso.
— É uma pena.
— Mas posso te pedir outra coisa e espero que você aceite. –
sussurra em meu ouvido, fazendo com que um calafrio percorresse
todo meu corpo.
— Posso te pedir uma coisa?
— Todos, minha linda. – responde.
— Me abraça? – peço e ele abre os braços, onde me escondo,
sentindo seu abraço apertado ao redor do meu corpo e o aperto de
volta, sentindo o quanto desejei poder fazer isso nas últimas
semanas e mais ainda desde que eu o vi ontem.
— Linda. – And diz em meu ouvido e o aperto ainda mais. – O
que houve? – pergunta e apenas balanço a cabeça em negativo,
escondendo o rosto entre o tecido de sua camisa.
— Só me deixa ficar aqui. – peço e tenho a sensação de que
ficamos assim por muito tempo, até que Andrew afasta, segurando a
mão em meu rosto e vejo seus olhos brilharem.
Seguro seu rosto entre minhas mãos, ficando na ponta dos pés
para alcança-lo. Suas mãos em minha cintura, apertando-me contra
si. Meu coração acelerado e todo meu corpo tremendo de cima a
baixo.
Fecho os olhos e o beijo, assim como quis fazer desde que
entrei naquela sala de reuniões ontem. Assim como quis fazer
quando conversamos aqui, neste mesmo lugar ontem. E eu sinto
toda minha saudade correspondida nesse pequeno gesto, assim
como também sinto o pequeno And começar a reagir e sua mão me
apertar contra seu quadril, querendo me tirar do chão. Meu coração
já bem mais do que apenas acelerado.
Ouço uma tossida atrás de nós e tento me afastar, mas And me
prende contra si, dando um beijo no canto de minha boca e outro no
rosto antes de finalmente permitir que me afaste dele apenas o
suficiente para ver seu pai atrás de nós.
— Desculpem-me por interromper este momento tão... Lindo e
cheio de saudades e carinhos, mas... – ele olha ao redor um tanto
sem graça e sinto meu corpo entrar em ebulição. – Preciso roubar
meu filho da senhorita por algum tempo e... Depois poderão voltar
ao que estavam fazendo.
Sinto a mão de Andrew apertar meu quadril e quero me colocar
longe dele apenas para poder me esconder em algum lugar e
esquecer a ideia de que seu pai acabou de nos pegar nos beijando
no trabalho.
— Obrigado pela companhia, Luara. Adorei conhece-la e mais
ainda saber que vocês estão caminhando para uma conversa.
Seu comentário me faz rir por puro nervoso.
— Foi um prazer conhece-lo, Dr. Giardoni. – digo com a voz um
pouco tremula.
— O prazer foi todo meu, querida. – ele sorri e aperta minha
mão. – Espero vê-la breve durante um almoço em nossa residência,
junto de toda a família. – diz. – Minha esposa esta ansiosa para
conhecê-la também. Tanto que queria vir até aqui comigo hoje e ela
não faz isto desde muito antes de eu ter me aposentado. – diz e
sorrio.
— Estou mais do que ansiosa para conhecer a Dra. Lilian
também. – respondo a verdade. – Dê um abraço nela em meu
nome.
Quando digo estas palavras, sinto a mão de Andrew em meu
quadril, apertando-me de leve.
— Darei sim. – ele sorri. – A senhorita deveria aproveitar e sair
um pouco mais cedo, já que ficou até mais tarde ontem.
— Obrigada. Até mais.
No momento em que digo estas últimas palavras, eu dou o
primeiro passo para me poder sair, mas sou impedida ainda pela
mão de And, que me puxa de volta para si e sinto seu beijo. Um
beijo forte, bem diferente do que trocamos há pouco.
— Vejo você depois, anjo. – sussurra, dando um beijo em minha
bochecha e concordo, afastando-me completamente tremula.

◆◆◆

Andrew
— Vocês precisam ser um pouco mais cuidadosos de que isso,
Andrew. – meu pai diz assim que Luara fecha a porta da minha sala,
deixando-me sozinho com ele.
— Não temos esse tipo de aproximação aqui, se é o que o
senhor esta pensando. – respondo. – Isto foi apenas um caso mais
a parte e, bem...
— Sim, ela estava bem preocupada mesmo. – ele me
interrompe. – Vi isso no abraço que trocaram. Mas apenas tomem
cuidado para que não os peguem com uma aproximação mais
intima ou pode ser que todos queiram ter o mesmo. O que não é
bem a política da empresa.
— Terei cuidado. Não se preocupe. – digo. – O que o senhor
queria falar comigo?
Antes de dizer qualquer coisa, Victor puxa uma das cadeiras que
ficam de frente com minha mesa e senta. Eu apenas cruzo os
braços junto ao peito, olhando para ele.
— Não é nada demais. – diz em tom firme. – Os negócios estão
praticamente decolando e notei uma boa melhora nos últimos
meses. Sua gestão esta bem melhor do que eu esperava que fosse
ficar quando lhe passei a empresa.
— Assim você me ofender, Victor! – exclamo, tentando soar
realmente ofensivo. – Alguma vez te dei motivos para duvidar de
mim?
— Muitas vezes. – responde de pronto e sinto minha perna
vacilar um pouco. Por essa não esperava. – Mas estou orgulhoso do
homem que se tornou. Tanto dentro quanto fora destas paredes.
— Obrigado. – digo um pouco confuso. Não são frequentes as
vezes que meu pai me faz algum elogio. O que me deixa ainda mais
cheio de mim.
— Bem! – exclama tornando a se levantar. – Acho que minha
visita aqui por hoje já deu. Tenho que passar para buscar sua mãe
ainda.
— Tiago já esta lá embaixo com o carro. – falo e ele concorda.
— Você deveria ir conversar com ela.
— Irei. Não posso mais deixar passar assim. – respondo e ele
concorda.
— Boa sorte, filho. – é a última coisa que meu pai diz antes de
tocar meu ombro e sair de minha sala, deixando-me sozinho com
meus pensamentos.

Reconheço o contorno de um corpo mais do que familiar para


mim, parado na esquina da BIT, esperando o semáforo fechar para
poder atravessar para o outro lado da rua. Luara. Mas... Por que ela
ainda esta aqui?
Paro com a moto ao seu lado e ergo a viseira do capacete.
— O que esta fazendo aqui ainda, linda? – pergunto.
— Estou tentando atravessar. – diz, prendendo sua bolsa junto
ao corpo e sorrio. É claro que está, anjo.
— E seu carro?
— Deixei na oficina hoje pela manhã.
Arregalo os olhos com sua informação, um pouco surpreso e a
outra parte realmente esperançosa. Esta é mais do que apenas uma
oportunidade para conversamos.
Viro para trás, soltando o capacete da tela no banco.
— Sobe. Eu te levo.
— Andar de moto com você? – pergunta. – Não! Sem chances
disto acontecer!
— Qual o problema? – pergunto com o cenho franzido.
— Além de ser uma moto e você guiando? – pergunta de volta. –
Bem, eu nunca andei em uma. – confessar e sorrio.
— Existe uma primeira vez para tudo, anjo. – digo, oferecendo o
capacete para ela. – Prometo ter cuidado.
E eu espero, mas tudo o que Luara faz é apertar sua bolsa ainda
mais junto ao corpo. Então ergo meu próprio capacete e estendo a
mão para ela, que segura.
— Não colocaria vocês em risco. – digo, trazendo-a para perto
de mim. – Posso esperar para que decida por um bom tempo. Mas
gostaria que fizesse isso logo, porque estou com fome.
— Eu não sei. – diz. – Eu...
Coloco o capacete sobre o tanque da moto, virando outra vez
para ela:
— Você confia em mim? – eu a interrompo.
— Acho que já ouvi essa pergunta de você antes. – responde
rindo. – Cerca de sete anos atrás.
Sorrio com a lembrança que surge em minha mente outra vez.
— Sim. Devo ter dito muito isso nos últimos anos. – falo apenas
para provoca-la. – Estou brincando. Você foi à única mulher que tirei
a virgindade.
Luara revira os olhos com meu comentário
— Até parece.
— Você realmente não confia e nem acredita em mim, não é
mesmo?
— Claro que eu confio! – exclama. – É só que...
Solto sua mão, pegando o capacete outra vez e o posiciono em
sua cabeça, aguardando para que retire seus óculos e eu possa
terminar de ajusta-lo no lugar.
— Apenas suba e se segure firme.
— O fato de que eu confio em você não significa que eu esteja
certa quando a isso. – diz, mas sobe na garupa e dou a partida
outra vez, notando que ela preferiu se segurar no banco de que em
mim.
— Talvez você devesse segurar em mim. – digo com um sorriso
de lado.
— Por quê? – pergunta bem quando saio, fazendo questão de
fazer com que a moto de um soquinho para joga-la para cima de
mim. – Filho da mãe! – Luara grita contra o vento, agarrando-se a
mim.
Quero rir com esta situação, mas eu não o faço. Estar aqui com
Luara, agarrada ao meu quadril, sentindo sua barriga firme em
minhas costas apenas faz com que eu lembre o quanto sinto por ter
perdido essas últimas semanas. Do quanto quero estar com ela
outra vez.
— Até que isso é gostoso. – as palavras de Luara chegam aos
meus ouvidos e a sinto se agarrar mais forte em minha cintura.
— Eu disse que iria gostar. – respondo, tocando seu joelho
quando paro em um semáforo fechado.
Sinto seus dedos sob o tecido fino de minha camisa e sua
cabeça se apoiar em meu ombro, muito provavelmente para que ela
possa ver melhor o transito na frente.
O primeiro semáforo abre e paro logo no próximo, fazendo com
que ela escorregue mais para frente.
— Desculpa. – pede.
— Esta com fome? – pergunto de volta.
— Um pouco.
Saindo mais uma vez, pego um desvio que nos leve para a praia
de Copacabana, onde lembro que tem uma lanchonete e sorveteria
lá perto do calçadão e que serve várias coisas gostosas e que talvez
Luara possa gostar. Esse lugar fica bem no sentido da gruta, onde
nos conhecemos poucos meses atrás.
— Chegamos. – informo, encostando a moto.
— Tem certeza? – pergunta de volta. – Aqui não parece
exatamente com o lugar onde moramos. – sinto o sorriso em sua
voz quando diz isto.
— A ideia era justamente esta. – respondo e tiro o capacete,
ajudando-a a descer. – Sorvete?
— Esta provavelmente é a segunda melhor pedida e o que mais
estou desejando hoje. – responde também tirando seu capacete e
me devolve.
— Qual é a primeira? – pergunto realmente curioso, lembrando-
me das coisas na qual me listou que estava com vontade de comer.
— Sorvete. Certo? – Luara joga de volta para fugir do assunto.
Que estranho.
— Claro. – concordo, também saindo da moto e juntos,
atravessamos a rua apenas para comprar nossos sorvetes e voltar
para a praia, para uma caminhada ao por do sol, com a barra de
nossas calças erguidas até onde da e os sapatos em mãos. Ou
capacetes.
— É tão bom sentir isso. – comento, movendo meus dedos pela
areia.
— Isso? – Luara pergunta, estranhando meu comentário.
— A areia. – respondo, sentando-me no chão. – Londres é só
neve essa época do ano. Mas claro que não reclamo disso.
— Eu daria qualquer coisa por neve agora. – diz e arqueio a
sobrancelha e a encaro em silêncio até que termine de se acomodar
ao meu lado.
— Eu te dei uma passagem sem data para lá e você não a usou.
— É. Eu sei. E eu me sinto uma grande idiota por não tê-la
usado. – responde. – Ela ainda esta guardada.
— Te esperei lá até o último segundo em que estive naquele
lugar. – comento em um sussurro comigo mesmo, levando um
pouco do sorvete até a boca.
— E eu todos os dias pensava nisso. – Luara diz. – Mas sabe
que eu não podia. Que seria o mesmo que te perdoar mesmo ainda
estando com raiva de você por... Tudo.
— E ainda esta com raiva de mim? – pergunto curioso e ela ri.
— And, meu lindo. Meu amor. – sorrio com a maneira que ela me
chama. – Normalmente eu estou te odiando durante a maior parte
do dia e então, quando chega à noite ou amanhece o dia, tudo o
que mais quero no mundo é ter você ao meu lado.
Mantenho meu olhar fixo no mar durante algum tempo, tentando
alguma maneira de não permitir que meus pensamentos saiam de
maneira desorganizada. Quer dizer, estou realmente tentado a tirar
essa caixinha do meu bolso direito e dar a ela. Fazer o pedido aqui,
no mesmo lugar onde tudo começou. Mas tem uma parte minha
também me diz que Luara merece algo mais do que apenas isto e
que precisamos primeiro estar certos sobre o que queremos um
com o outro.
E, mesmo contra minha vontade, esta é o lado na qual dou
ouvidos.
— A gruta fica descendo naquela direção. – comento após o que
me parecem longos minutos.
—Eu sei. – comenta e olho espantado para ela. – Tenho vindo
bastante para cá nesses últimos dias. – completa rapidamente. –
Aquele lugar ajuda a me acalmar e a não surtar.
— Eu disse que lá era bom para isso. – sorrio e ela concorda.
Mais uma vez o silêncio toma conta de nós e assim ficamos por
mais um bom tempo, até que finalmente a noite cai e eu vejo a
primeira estrela surgir no céu. E, com ela, assim como fiz em
Londres, faço aqui. Eu junto areia com as mãos, tentando fazer um
Boneco de Neve de Areia. Mas é claro que não é tão fácil fazer isto
quanto eu imaginava.
— Talvez você devesse tentar com a de baixo. – Luara sugere e
a vejo cavar um pequeno buraco entre nós. – É mais úmida. – diz
com um sorriso meigo que me deixa realmente nervoso.
Ela então tira a areia e faz uma pequena bolinha. Seguindo seu
exemplo, faço uma um pouco maior para simular o corpo e logo
temos um razoável Boneco de Neve de Areia, que tem conchas
como olhos e botões de um casaco que certamente está louco para
tirar.
— Só espero que façamos filhos mais bonitos do que fizemos
isto. – seu comentário me faz rir.
— Acho que quanto a isso não teremos problema. – respondo,
encarando o boneco um tanto quanto deformado. – Sou
naturalmente lindo e sexy e você é...
— Ainda mais sexy que você e queixo qualquer marmanjo de
queixo caído quando passo. – da de ombros.
Franzo o cenho, ignorando seu comentário sobre os marmanjos.
Se eu ver algum cara dando em cima dela desta forma sou capaz
de...
Fecho os olhos, afastando o pensamento para longe. Sem isso
hoje, Andrew. Sem ciúmes. Vocês precisam conversar.
— Eu ia dizer que tinha um belo par de seios que estão um
pouco maiores do que lembro e estou acostumado. – respondo. –
Mas sim, você é bem sexy mesmo.
— Você estava olhando para os meus seios?! – exclama
chocada, cobrindo-os com os braços. – Seu depravado! – ela me
repreende, embora ria.
— Não me culpe se eles estão bem maiores de que antes! –
exclamo na defensiva e ela ri ainda mais.
— Eles estão. Não estão? – pergunta e a vejo olhar para eles
sobre o volume no decote de sua blusa. – E não são as únicas
coisas crescendo por aqui.
— Não acho que a barriga conte. – digo com o cenho franzido.
— Não me refiro a ela, seu bobo. – Luara sorri com malícia. – Vai
me dizer que não notou?
— Impossível não notar quando não consigo olhar para outra
coisa além dela toda vez de me da às costas. – digo a verdade e ela
ri. Suas bochechas ficam realmente coradas.
Viro-me de frente para Luara, segurando seus joelhos cruzados.
— Não me importa o quanto ele mude, você só fica mais linda. –
solto as palavras com toda a sinceridade pelo que sinto.
— Acho que isso era para ser uma conversa séria e estamos
falando sobre o que tem mudado no meu corpo.
— Você que me fez olhar para o seu seio. Não me culpe.
— Mentiroso! – exclama boquiaberta.
— Não podemos mais atrasar esse assunto, não é? – pergunto e
ela apenas fica em silêncio, encarando minhas mãos em suas
pernas.
— Por que você não pode me pedir para ficar com você? – é a
primeira coisa que pergunta. – Eu não entendo isso.
— Por que... – começo, mas então paro, sem saber exatamente
o que falar. Ajeito suas pernas para que fiquem como se estivesse
encolhida e Luara as abraça. – Não seria justo tirar seu direito de
escolha, linda. – completo. – Mesmo que eu tenha praticamente te
pedido isso ontem, para que ficasse comigo, eu não posso apenas
pedir para que largue algo assim para ficar comigo.
— Caramba, Andrew! – exclama. – Você não entende?
— Acha que não quero estar ao seu lado quando a segunda
pessoa mais importante da minha vida nascer? – pergunto com toda
calma possível. – Acha mesmo que não quero acordar ao seu lado
todas as manhãs e saber que fui o motivo da sua escolha para
ficar? – pergunto e vejo seus olhos brilharem por trás das lentes de
seus óculos e consigo ver a lua refletida neles. – Lembro que
quando nos conhecemos, você me disse que o maior motivo para
ter aceitado esse trabalho foi porque queria ter liberdade. – volto a
falar. – Ter seu direito à escolha. E não posso simplesmente tirar
isso de você.
— Tem certeza de que é apenas isso? – pergunta, voltando a
olhar para mim e franzo o cenho, sem entender nada do que ela
quer dizer.
— Como assim?
— Como assim? – Luara repete, tirando minhas mãos de suas
pernas e as coloco no chão ao meu lado. – Não sei! Talvez você
ainda tenha medo.
— Medo de que? Se é que me permite saber. – pergunto. – Isso
não faz o menor sentido, Luara!
— De se relacionar! – exclama. – De ter que assumir essas
crianças e saber que seus dias como o Gostosão da Praia que pega
todas acabou.
— Você só pode estar brincando. – falo. – Você realmente só
pode estar de brincadeira com a minha cara.
Olhando para o céu agora escuro, inspiro fundo e solto o ar
lentamente antes de voltar a falar.
— Se fosse por isso, não acha que seria muito mais fácil
simplesmente chegar em você e dizer para aceitar isso? Que nunca
vamos dar certo? Que Douglas esta te oferecendo uma
oportunidade única e que você precisa aceitar? – passo as mãos
pelos cabelos, tentando manter o pouco da paciência que me resta.
– Apenas estou tentando me manter neutro na sua escolha. Quero
ser o motivo dela, mas não a causa.
— Assim como também não pode me pedir para ficar com você
quando fui para São Paulo, não é? – pergunta.
— Eu te pedi isso, linda. Você sabe. – falo. – Pedi para que me
deixasse ir com você. Então não consigo entender o ponto que quer
chegar.
— Meu ponto, Andrew – começa a dizer enquanto levanta. –,
que da mesma forma que não conseguiu me pedir para ficar com
você naquele dia, mesmo tento ido atrás de mim, não consegue
fazer isso agora. Você não quer me pedir isso.
— Você só pode estar de brincadeira comigo. – falo, correndo as
duas mãos pelo rosto e me arrependo de fazer isso. – Tenho medo
sim, anjo. Mas não de te pedir para ficar comigo. Medo de não ser
suficiente para você. Medo de errar como pai e como homem. De
afastar você. E sabe – faço uma pausa para levantar. –, foi esse
mesmo medo que me fez te procurar aquele dia. Foi esse maldito
medo de errar que me trouxe aqui com você hoje, porque eu preciso
saber o que você sente em relação a tudo isso.
Jogo as mãos para o alto, sem saber mais o que falar. Luara
apenas se mantêm em silêncio e isso me incomoda de certa forma.
— Talvez a pessoa que tenha medo de se relacionar não seja
eu. Mas sim você. – digo, finalmente perdendo a paciência. – Não
sou eu quem esta buscando todos os motivos inexistentes para fugir
disso. Você tem medo que eu faça o mesmo que seu namorado da
faculdade fez, não é?
— Isso não tem nada a ver, And. – diz.
— Então o que é? – pergunto, guardando as mãos nos bolsos. –
Fale para mim. Conte a verdade para mim, droga! – fecho os olhos
e inspiro fundo. – Quero que você fique comigo, linda. Quero poder
acompanhar você ao médico durante todas as consultas e saber
que vocês dois estão bem. – digo e ela morde o lábio inferior. –
Apenas isso que eu quero. Não essa situação toda em que estamos
agora.
Tudo o que Luara faz enquanto digo isto é me encarar com
lágrimas nos olhos e minha maior vontade é me aproximar para
secar cada uma delas.
— Você não faz ideia do que passei durante esse tempo que
ficou fora, Andrew. – começa a dizer, secando suas lágrimas que
agora alcançam sua bochecha. – Enquanto você estava lá
transando com suas várias Vadias Aleatórias, eu estava aqui, tendo
que aguentar cada uma das crises do meu pai por conta dessa
criança e todo seu discurso extenso sobre “eu avisei”. – ela faz uma
pausa e seca as lágrimas outra vez. – Enquanto seus pais
facilmente aceitaram e brindaram por isso ter acontecido, eu
passava noites em claro, vomitando sozinha, sem nem mesmo
poder ir para a casa das pessoas que mais amo no mundo!
— Você não me contou toda a história sobre a conversa com seu
pai. – falo a primeira coisa que me vem à cabeça e ela ri.
— É claro que não. – diz. – Você estava longe, lembra? Indo
para longe e esperava que eu fosse atrás de você.
— Não, Luara. Eu estava perto de você, esperando para que me
pedisse para acompanha-la durante sua conversa com seus pais.
Mas não foi o que você fez e foi por orgulho!
— Quer saber? Eu vou para casa. – diz, caminhando em minha
direção e agacha para pegar seus sapatos ao meu lado. – Não
adianta de nada dizer todas essas coisas para você.
— Você age como se estivesse sozinha no mundo, Luara. – digo
ainda com as mãos no bolso. – Fuja mais uma vez das coisas que
te machucam e aja como se Julie ou Camile não estivessem ao seu
lado. Ou sua mãe e Thomas. Como se eu não estivesse aqui do seu
lado, pronto para enfrentar isso com você. Eu, que obviamente não
quero estar ao seu lado todos os dias da minha vida, onde eu não
precise de mais ninguém para ser feliz, já que sou crescido o
bastante para não chorar quando ouço um “não” de alguém.
A cada palavra que digo, mantenho o olhar fixo em Luara e vejo
seus olhos queimarem em raiva.
— É tão óbvio para você que não estive com nenhuma mulher
durante essas semanas, porque não tive alucinação alguma com
sua imagem na minha cabeça, me impedindo de fazer qualquer
merda que fosse, mesmo que para me arrepender depois!
As palavras saem de minha boca com um gosto amargo e que
machucam até mesmo a mim. E eu vejo Luara tornar a ficar de pé
com seus sapatos em uma das mãos e nada além de ódio nos
olhos, cega por um sentimento que não pertence a ela.
E eu poderia facilmente desviar ou segurar sua mão para impedi-
la de fazer isto, mas eu não faço. Não faço e ela sabe disso. Ao
invés, apenas fecho os olhos e ouço o estralo de sua mão contra
meu rosto, sentindo-o queimar com o tapa que ela me dá. O que é
apenas uma parte de tudo o que já a fiz sentir.
— Você é um grande idiota, Andrew. – ouço sua voz embargada
e ouvir meu nome desta forma mais uma vez me faz sentir algo
estranho.

◆◆◆

Luara
Irritada com o que Andrew me disse, eu me afasto. Não quero
vê-lo nunca mais na minha vida! Nem pintado de ouro ou mesmo
que seja o último homem na face da Terra e toda a humanidade
dependa de nós dois para não acabar. Para mim, ela pode ser
extinta!
Fecho minha mão, sentindo-a latejar com o tapa que dei em
Andrew. Meus dedos queimam e sei que o que ele esta sentindo é
muito mais do que apenas isto. Mas acho que o que fiz foi pouco,
porque ele não tinha o menor direito de dizer nada daquilo.
Sinto uma mão agarrar meu braço, forçando-me a parar. É
Andrew, claro. Ele segura meu braço e me puxa com força, fazendo
com que eu bata contra seu corpo. Minha respiração já bem mais do
que acelerada por toda essa raiva que estou sentindo.
— Me deixa! – exclamo, tentando soltar sua mão de mim.
— Não vou mais te deixar partir, anjo. – sussurra. – Não
enquanto eu tiver forças para te segurar em meus braços.
Abro a boca para protestar, mas acabo perdendo o dom da fala
quando sinto seus lábios tocarem os meus e solto meus tênis no
chão, prendendo as mãos em sua camisa, sentindo que posso cair
se não me agarrar a algo.
Sentir mais uma vez o beijo de Andrew era tudo o que eu mais
queria. Seu sabor suave, seu perfume... Passo a mão por seu rosto
no lugar onde bati e sinto a marca de minha mão, o que faz com que
uma lágrima escorra por meu rosto, seguida várias outras.
Antes de me afastar, pouso um beijo no canto de sua boca,
mantendo minha outra mão em seu peito, enquanto ele segura
minha cintura. E eu fecho os olhos, não querendo mais sentir nada
disso. Desejando que eu pudesse simplesmente deixar de sentir
qualquer coisa, porque tudo esta doendo muito.
— Anjo. – ele chama quando me afasto para poder pegar meus
sapatos no chão outra vez. – Por favor.
— Eu não quero mais conversar, And. – digo, pegando também
minha bolsa, que estava esquecendo. – Não aqui. Não com tantas
pessoas ao redor.
— Então vamos para casa. – sugere. – Sem brigas, sem
machucarmos um ao outro, porque está mais do que óbvio que não
é isso o que queremos.
— Eu só quero ficar sozinha. – murmuro.
— Por favor.
— Tá. Pode ser. – acabo me rendendo e o vejo caminhar até
onde os capacetes estão e voltamos em completo silêncio até onde
sua moto esta. Ele estende a mão para me ajudar a subir, mas não
aceito. Assim como também não torno a me segurar em seu quadril
enquanto dirige.

— Lar doce lar. – Andrew diz assim que estaciona sua moto ao
lado de seu carro minutos mais tarde.
Desço da garupa e vou em silêncio até o elevador para chama-
lo.
Uma parte minha apenas quer entrar no meu apartamento, jogar
minha bolsa em um canto da sala e os sapatos no outro, deixando
para trás de mim uma trilha de roupas que leva até o banheiro, onde
eu tomaria um longo e demorado banho morno, apenas para poder
esquecer toda essa droga que acabou de acontecer. O que,
considerando que Andrew esta ao meu lado e que ultimamente
tenho pensado mais no pequeno And e nos momentos que tivemos
de que no próprio And, não seria uma tarefa muito fácil.
É estranho e sei até que acabei de dizer que não queria vê-lo
mesmo que fosse o último homem, mas também não é exatamente
isso o que sinto. Muito pelo contrario.
Já a outra parte, a que ainda tem um pouco de juízo, sabe que
precisamos resolver isso de uma vez por todas e é ela a quem
resolvo ouvir, mesmo que essa possa ser nossa última chance.
— Na sua casa ou na minha? – Andrew pergunta.
— Pode ser na minha? – pergunto de volta.
— Claro. – diz, dando licença para que eu saia e vá abrir meu
apartamento. E quando eu o faço, faço também metade das coisas
que tinha em mente, exceto sobre a parte de tirar toda a roupa e
apenas sento no sofá.
— Espero que isso saia até amanhã. – ouço Andrew dizer para
si mesmo enquanto se olha no espelho no canto da sala.
— Desculpa. – sussurro. – Não era para ficar assim. Nunca fica,
na verdade.
— Tanto faz. – responde e senta ao meu lado. – Eu mereci. Falei
o que não devia e isso te irritou. Você avisou que estava no horário
em que me odeia. – sorrio um pouco sem graça, então ele muda de
assunto: – O que houve entre você e seu pai? – pergunta.
— Antes de você viajar, como já sabe, contei para eles sobre
estar grávida. E é óbvio que ele não ficou feliz por saber, então nós
discutimos e eu passei mal.
— O que aconteceu? – pergunta de repente preocupado.
— Minha mãe disse que minha pressão pode ter caído e que
desmaiei. – dou de ombros. – Mas não me lembro de nada. Só de
acordar com ela me chamando e de ver meu pai sentado, me
olhando.
— Por que você não me disse? Por que não me deixou ir
conversar com eles?
— Isso não tinha nada a ver com você.
— Tinha sim! – exclama. – Essa criança tem tudo a ver comigo,
Luara. Com nós dois. É nosso filho.
— Eu só não queria mais te preocupar com nada que dissesse
respeito a mim. – confesso. – Nós meio que havíamos acabado de
terminar nosso namoro.
— Achei que tivéssemos combinado de continuar. – ele diz e
acabo rindo.
— Demos um tempo. – falo. – Um tempo longo e como estamos
hoje?
— Sentados conversando, tentando decidir nosso futuro. –
responde de imediato. – Quero conversar com seu pai. – diz e cruza
os braços.
—Você não pode. – respondo, também cruzando os meus.
— Me dê apenas um bom motivo para não conversar com ele. –
pede e abro a boca para responder, mas antes de fazer, olho para o
outro lado.
— Não estamos mais juntos. – eu sussurro e ele ri.
— Sério? – pergunta, segurando meu rosto para ele, obrigando-
me a olha-lo nos olhos cinza. – Esse é seu melhor motivo para não
querer que tenhamos essa conversa? – torna a perguntar e tudo o
que faço é ficar em silêncio, encarando o brilho de seus olhos.
Não, esse não é o motivo para não querer que eles conversem.
Na verdade, eu não tenho um. Apenas não quero e não acho que
seja necessário, já que independente do meu pai aceitar ou não,
isso depende apenas de Andrew e eu. Mais ninguém deve tomar
frente nas escolhas com essa criança além de nós dois. Ou essas
crianças.
E mesmo que eu tenha conversado com meu pai na noite de
Natal e pensado que fossemos ficar bem, o fato de Andrew não
voltar nunca para cá não me ajudava.
— Se esse é seu maior motivo, eu tenho a solução.
— Certo. – digo, cruzando as pernas. – E qual seria? – pergunto
e arqueio a sobrancelha, realmente interessada em sua ideia
revolucionária.
— Nós nos casamos. – diz todo sério e engasgo. – Acha que
estou brincando, né?
— As coisas não funcionam assim, Andrew. Eu não quero me
casar com você. – digo e no mesmo instante percebo que seus
ombros encolhem e ele muda de postura. Meu coração congela no
mesmo instante ao perceber que ele estava realmente falando sério.
Puta merda! – Não assim. Não por obrigação e muito menos para
provar algo a alguém. – corrijo rapidamente.
— Acha que eu brincaria com algo assim?
— Nunca falei isso.
Ele concorda, tornando a mudar de postura, tentando não
demonstrar o que minha resposta inicial a sua proposta lhe causou.
— Se eu não estivesse pensando nisso desde que contou que
estava grávida, eu nunca iria sugeria isso assim. – diz. – Se tivesse
acontecido com qualquer outra, se não sentisse por você tudo o que
sinto, eu nunca iria sugerir casamento. É claro que assumiria,
porque é meu filho. Mas casar nunca. – ele ri. – Isso é algo que me
assusta mais do que qualquer outra coisa que você faça ideia. Mas
quero isso e quero com você, Anjo. E gostaria que você aceitasse
isso.
Mais uma vez fico em silêncio e desta vez não tenho a menor
ideia do que pensar ou como agi.
— Se nós estivermos juntos outra vez, você aceitaria?
— Casar com você? – pergunto de volta e ele confirma.
Sorrio, sentindo-me até mesmo um pouco boba com sua
pergunta. Se eu aceitaria me casar com Andrew Giardoni, o único
homem que já amei e talvez o único que vá amar de verdade em
toda minha vida? Sei que Andrew jamais brincaria com algo assim
ou agiria por impulso.
Sim.
— Eu não sei. Talvez. – respondo, tentando manter oculto o que
realmente sinto. Só não faça isso agora. Está tudo confuso dentro
de mim.
Uma forte luz invade todo meu apartamento pela fresta da
persiana e logo em seguida chega um trovão que me faz gritar e
Andrew rir.
Nunca tive medo de trovões ou chuva, mas nos últimos dias tem
sido difícil de viver.
— Talvez é quase uma resposta. – ele sorri. – Eu vou para casa
procurar alguma maneira de conseguir uma resposta inteira. – diz,
dando um beijo em meu rosto antes de levantar. – Qualquer coisa
que precisar estarei aqui do lado. – e segue para a porta.
— And. – chamo e ele para. – Você esta falando sério? –
pergunto, sentindo meu coração na garganta.
— Alguma vez eu brinquei com algo que fosse sério? – pergunta
quando vira para mim e nossos olhares se cruzam por breves
instantes. – Acho que não preciso dizer o que vocês significam para
mim, anjo. – diz e fecha a porta atrás de si, deixando-me sozinha
com sua pergunta.
Outro trovão quase me deixa surda e rapidamente corro para o
banheiro antes que comece a chover para valer e a energia acabe.
Capítulo Sete
Quarta-feira
Andrew

Tive um dia estressante e mais do que apenas cansativo hoje. E


por mais que ele tenha sido mais um daqueles dias lotados de
reuniões e alguns compromissos fora da empresa, sinto como se ele
tivesse se arrastado. Como se nunca fosse terminar.
E talvez eu tenha sentido isso por não ter tido uma única notícia
de Luara durante todo o dia, desde que a deixei em seu
apartamento pouco antes da chuva que dura até agora dar as caras.
Sei que ela esta bem, que se qualquer coisa tivesse acontecido a
ela eu saberia no mesmo instante, mas isso apenas me faz pensar
naquele talvez que me deu quando lhe perguntei se aceitaria casar
comigo se estivéssemos juntos novamente. Um talvez que me
encheu de esperanças para transforma-lo em um sim. Um sim para
quando eu realmente pedi-la em casamento e mais outro quando
estivermos juntos no altar, diante de todas as pessoas que
conhecemos.
E eu só preciso encontrar o momento certo para fazer isso.
— Só tente não pensar nisso agora, cara. – digo ao meu reflexo
no espelho e visto uma camisa agarrada ao corpo. – Não essa noite.
– e viro para poder passar meu perfume e pegar as chaves do carro
para poder sair.
Por mais que Pedro tenha me chamado para sair para beber
com ele e alguns de seus amigos apenas para comemorar sua
promoção, preferi não aceitar o convite. Mas isso não me impediu
de aceitar sair com Felipe quando praticamente me desafiou a uma
partida de bilhar, dizendo que estava melhor que eu. Então que
iremos há um barzinho não muito longe de Copacabana, onde
provavelmente estará praticamente vazio por ser meio de semana.

Estaciono o Audi em uma vaga reservada ao lado do carro de


Felipe, cerca de trinta minutos depois de sair do Golden. Aceitei vir
para cá com ele, mas não estou tão certo quanto a isto. Só que já
que vim, não tem porque não mostrar para ele quem é o melhor.
— Boa noite. – uma moça sorri para mim logo que me aproximo
do balcão do bar. – O que vai querer esta noite? – pergunta com um
sorriso que vai de lado a lado.
— Uma cerveja. – respondo de imediato e ela se vira para pegar
meu pedido.
Com uma rápida olhada pelo salão, identifico Felipe sentado em
uma mesa ao fundo, acompanhado de algumas outras pessoas.
Natália, Pedro, um rapaz que não reconheço, mas que não me é
estranho. Luara... Luara. Sinto uma sensação estranha ao vê-la ali,
sentada com um cara estranho ao seu lado e que nunca vi antes.
Ele está mais próximo dela do que eu gostaria. O que não me
agrada nenhum pouco.
— Eu vou matar aquele desgraçado. – resmungo, sem desviar
os olhos do grupo. Felipe será o segundo. Primeiro preciso saber
qual é a desse cara.
— Sua cerveja. – ouço a moça dizer atrás de mim e me viro de
volta para ela apenas para pegar a garrafa que me estende,
ignorando o copo.
— Obrigado. – digo, seguindo até a mesa ao fundo. – Boa noite.
– cumprimento o grupo, chamando a atenção de cada um deles
para mim. – Achei que fossem esperar até que eu chegasse antes
de começar a festa. – sorrio, sem desviar o olhar de Luara, notando
que o rapaz ao seu lado esta com a mão em seu braço.
— Você não deu certeza de que viria. – Pedro responde.
— Achei que fosse ser apenas uma partida mais particular. Não
com testemunhas. – digo, agora olhando para Felipe, que ri. – Boa
noite, Natália. – eu a cumprimento, dando um beijo em seu rosto.
— Olá! Quer beber algo? – pergunta, erguendo seu copo com
algo que não reconheço.
— Obrigado. – respondo, mostrando minha cerveja e ela sorri.
Dando a volta na mesa, vou até onde Luara esta.
— Oi, anjo. – eu a cumprimento, passando o braço por seu
ombro e pouso um beijo no canto de sua boca.
— Oi, lindo. – ela sussurra um pouco tímida e chega um pouco
para o lado para que eu possa me sentar. – Como esta?
— Não muito feliz ao ver seu novo amigo. – respondo,
encarando o rapaz que não para de me olhar com cara feia.
— Diego é amigo do Pedro e esta aqui por isso. – ela diz e
arqueio a sobrancelha, reconhecendo o nome de imediato.
— Diego? – pergunto. – O que você tentou usar para me
provocar ciúmes e não sabe como colocar uma camisinha? – com
seu silêncio, sei que estou certo. – Já vi que ele não desistiu de
você pelo visto.
— And, isso não tem nada a ver...
— E ai, cara? – eu o cumprimento, sentindo-me irritado com a
maneira com que me encara.
— Diego, por que você não troca de lugar comigo e me deixa
voltar a falar com minha amiga? – Natália pede. – Esse lugar ai já
era meu bem antes de você chegar.
— O outro lugar estava vago até agora. – ele responde.
— Não me interessa.
— E então, quem é que vai perder no bilhar? – o rapaz sentado
ao lado de Pedro pergunta, tirando minha atenção de Luara por
alguns instantes. – Soube que você não era tão bom assim, Andrew.
— Desculpa? – pergunto com um sorriso de lado, olhando
rapidamente para Luara, que agora conversa entre sussurros com
Natália.
— Desculpe-me pelo mau jeito. – pede. – Sou Rodrigo. –
apresenta-se, estendendo a mão para um aperto.
— Seja lá quem for que te contou isso, é mentira. – respondo. –
Aposto até que foi coisa do Felipe.
— O que posso fazer? – ele pergunta. – Foi à única maneira que
encontrei para te fazer vir até aqui hoje. Você precisava sentir seu
álter-ego ferido para mostrar que estou certo.
Suas palavras apenas me fazem rir.
— Veremos amigo. Veremos.
◆◆◆

Luara
— Temos o desafiante da noite? – Pedro pergunta. – A mesa
esta desocupada. Podemos fazer duplas e ver quem é o melhor. A
dupla campeã leva o que quiser.
— Eu topo. – Diego é o primeiro a responder. – Desde que Luara
aceite ser minha parceira. – ele sorri para mim e, mesmo sem olhar,
sei que Andrew esta o encarando.
— Eu não... – começo a falar, mas para quando sinto o peso de
seu braço em meus ombros.
— Desculpa parceiro, mas a bela senhorita aqui já tem alguém
com quem formar dupla e não é com você. – diz, dando um beijo em
meu rosto e sinto sua barba não feita esta manhã me pinicar.
— Que ela escolha, então. – Diego diz em resposta, tentando
não se intimidar com And.
Mas. Que. Porra. Esta. Acontecendo. Aqui?!
— Eu não vou jogar. – respondo. – Vou ficar aqui com minhas
fritas e meu suco.
— É melhor nós irmos então. – Rodrigo diz e puxa Pedro pelo
braço. Os outros seguem atrás dele e impeço And de se afastar.
Não que ele tenha feito qualquer movimento para ficar longe de
mim.
— And... – começo a dizer, virando-me para ele.
— O que esse cara quer com você, Luara? – ele me interrompe.
– Não me diga que você esta interessada nele.
— Quê?! Não! – exclamo chocada. – De onde você tirou isso?!
— Ele esta afim de você, linda. – responde. – Vi a maneira com
que tocou seu braço e como te olhou. Ele quer algo com você que
não é apenas amizade.
— Não me interessa o que ele quer ou deixa de querer comigo.
Eu não quero isso com ninguém. – respondo, enfiando quatro
babatas na boca.
— Nem mesmo eu? – pergunta e sinto sua mão em meu queixo.
Engulo as babatas sentindo como se fosse uma bola de golfe.
— Isso não vem ao caso agora. – respondo.
— Vem sim. – diz. – Nós conversamos ontem e ainda assim as
coisas estão estranhas entre nós. Achei que depois que fizéssemos
isso tudo ficaria bem.
— Estão estranhas porque você me deixou sozinha! – exclamo.
– Porque você me... – paro de falar quando sua pergunta chega aos
meus ouvidos outra vez e tento afasta-la para longe. “Se nós
estivermos juntos outra vez, você aceitaria?”. Pensei nisto já o dia
todo. – Nós precisamos tirar essa barreira de gelo que esta entre
nós.
Quando And leva a mão ao rosto para passar em sua barba,
ergo minha própria e passo em sua bochecha, onde ainda esta um
leve vermelho do tapa que lhe dei.
— Ainda esta doendo? – pergunto.
— Não é isso o que me dói, anjo. – responde, levando minha
mão até sua boca e a beija. – O que esta me machucando não esta
visível aos olhos.
Em silêncio, eu concordo com a cabeça.
— Vem. Vamos jogar. – digo, puxando-o pela mão. – Não tem
um único ali que seja bom nesse jogo e estou louca para ganhar de
você.
And ri atrás de mim como se eu tivesse acabado de lhe contar
uma piada incrível.
— E eu estou louco para jogar sozinho com você na minha
mesa. – diz e paro, virando-me para ele. – No meu apartamento,
onde eu quero você. – sorri.
— Nunca me disse que você tinha uma mesa de bilhar. – falo e
tudo o que ele faz é dar de ombros.
— Não nos demos muito tempo para isso. Ou para te mostrar
todo meu apartamento.
— Aquele lugar é enorme. – digo e ele ri. – Vou te cobrar isso
depois, lindo. – completo, pousando um beijo em seu rosto e volto a
andar até onde o pessoal esta. – Mudei de ideia. Eu vou jogar! –
informo.
— Já estava na hora de você parar de comer, né? – Felipe diz
apenas para me provocar e faço uma careta para ele. – Vai, Andrew.
Escolhe seu taco e vem jogar. – diz agora para o amigo e olho para
ele. – Seremos nós dois contra eles ai. – e aponta para Diego e
Rodrigo. Percebo o clima ficar repentinamente tenso no mesmo
instante.
— Achei que eu fosse ruim. – And diz já escolhendo seu taco. –
Mas tudo bem. Posso ganhar de quem for e ainda vou escolher o
melhor dos prêmios para levar para casa. – e, quando diz isto, ele
pisca para mim, fazendo com que todo meu corpo entre em
ebulição.
— É o que esperamos. – pisco de volta para ele, que sorri.
— E ai? – ouço a voz da Nath em meu ouvido, fazendo com que
eu pule assustada no lugar. – Calma. – ela ri.
— Ele esta com ciúmes do Diego. – respondo. – Ele meio que
sabe que nós quase ficamos uma vez e disse que ele esta afim de
mim. – olho na direção do Diego, que sorri para mim antes de fazer
sua jogada. E isso faz com que dê bola branca.
— Isso esta na cara, né? Não precisava de ninguém para falar.
— Mas eu não quero. Só com o And que eu quero isso e não sei
se vou conseguir que fiquemos bem de outra maneira além do
ultrassom amanhã. – sussurro, desta vez olhando para And, que faz
sua jogada.
Ele parece bem ignorante enquanto joga com Rodrigo e Diego. E
com “ignorante” quero dizer que ele não da à mínima se os outros
jogam bem ou não. Ele apenas faz suas jogadas, matando as
últimas quatro bolas, colocando a oito na mesa. A outra dupla ainda
tem cinco bolas.
— Mas... E se não for? E se isso não tiver acontecido entre nós
desta forma e o Dr. Marcus apenas tiver se confundindo? –
pergunto, sentindo-me estranha. – E se for apenas um, Nath?
Segurando minhas mãos, ela me deixa bem de frente com And,
que tem o taco apoiado no chão e a atenção em nós. Sorrio para ele
um pouco sem graça.
— Se for apenas um – ela começa a dizer. –, não acho que isso
vá mudar em algo no que ele sente. É claro que ficaria
extremamente feliz, já que é o que ele mais queria pelo que você
conta. Mas ainda assim será o filho de vocês.
— Mas vai mudar para mim. – sussurro e o vejo caminhar até
onde estamos.
— Esta tudo bem? – And pergunta e confirmo.
— Só estamos conversando. – falo. – Você não deveria estar
jogando?
— Terminei minha partida. Vou pegar algo para comer. Você
quer?
— Agora não. Obrigada. – sorrio e ele concorda antes de afastar.
— Você deveria falar com ele, Lu.
— Eu sei. E eu quero fazer isso. Só não sei como.

◆◆◆

Andrew
Há muito parei de jogar com o pessoal aqui. Na verdade, ganhei
de todas as duplas que tenham passado por nossa mesa, menos de
Luara, que não chegou realmente a jogar, ainda que tenha dito que
faria isso. Ela e Natália apenas ficaram sentadas, conversando. E
eu ainda sinto a preocupação estampada em seu rosto.
— Andrew? – Pedro chama minha atenção para ele.
— Sim?
— Eu estava pensando hoje... – ele começa e faz uma pausa
para tomar de sua bebida. – Amanhã começa aquele congresso em
Goiânia e era minha vez de ir entre os supervisores.
Franzo o cenho, entendendo sua linha de pensamento.
— E você não é mais supervisor. – completo, virando-me para
Luara. – Linda? – chamo, tocando seu rosto e ela me olha com um
sorriso de lado que realmente mexe comigo.
— Oi?
— Este final de semana será o congresso tecnológico em
Goiânia. – começo. – Um encontro entre grandes empresas
nacionais e internacionais. Sobre lançamentos, ideias. Várias coisas
bastante interessantes e... Como você é a supervisora que ficou no
lugar do Pedro e esta era a vez dele ir...
— Você esta querendo me mandar para fora do estado por um
final de semana inteiro? – ela me interrompe com um ar provocativo.
– Que coisa feia, Andrew!
— Eu não... – franzo o cenho, sentindo-me confuso.
— Estou brincando, lindo. – ela sorri. – Quando começa?
— Amanhã à tarde. – respondo. – Mas as palestras e
apresentações começam apenas na sexta-feira mesmo.
— À tarde? – pergunta de volta e confirmo. – E isso não vai
interferir no meu trabalho?
— Você vai a trabalho, anjo.
— E você vai junto? – pergunta ainda mais curiosa e sorrio.
— Talvez.
Luara olha para Natália, que acena em positivo para que ela
aceite. Ao menos alguém aqui esta do meu lado nisso tudo.
— Se é a trabalho, então não vejo porque não posso ir. – ela diz,
virando-se para mim outra vez. – Só que eu tenho médico amanhã
cedo.
— Vou deixar Ana já avisada sobre sua ausência durante esses
dois dias e pedir para que deixe João avisado também.
— Tudo bem. – ela concorda. – Preciso comprar minha
passagem e fazer reserva em algum hotel específico? – pergunta e
franzo o cenho.
— Trabalho, Anjo. – respondo, colocando seu cabelo para trás
de sua orelha e mantenho minha mão ali por algum tempo. Meu
olhar fixo em sua boca entreaberta, sentindo sua respiração mais
acelerada e aproximo-me um pouco, ignorando o fato de não
estarmos sozinhos. É só que... Toda essa espera, estar aqui com
ela sem poder beija-la. Eu não consigo.
— Quer dançar? – sua pergunta chega até mim em um sussurro
rouco e vejo seus olhos brilharem com a luz do salão.
— Claro. Só vou mandar uma mensagem para Ana pedindo para
que reserve o quarto e a passagem. – digo já tirando o celular do
bolso e ela concorda, voltando sua atenção para Natália outra vez.
Virando minha cerveja de uma só vez, digito a mensagem:

Ana, boa noite.


Preciso que você altere a reserva do hotel
em nome do Pedro para Luara, assim como o voo.
Faça um upgrade na dela para primeira classe.
Reserve um para mim, no mesmo voo.
Clico em enviar e sua resposta chega antes mesmo de guardar o
celular:

Faço a reserva em quartos separados?

Quartos separados? Franzo o cenho com sua pergunta e olho


para Luara. Talvez quartos separados seja melhor. Ela pode pensar
que a estou pressionando a ficar comigo e isso é a última coisa que
quero. Mas se eu conseguir...

Separados.

— Vamos? – pergunto, guardando o celular no bolso antes que a


resposta de Ana chegue.
— Achei que já tivesse desistido. – Luara sorri e levanto, dando
a mão para que ela segure. – Já faz algum tempo desde a última
vez que dançamos juntos.
— Nova Iorque. – concordo. – Sim. Um longo tempo. Mas talvez
possamos sair apenas nós dois para dançar este final de semana. –
arqueio a sobrancelha, esperançoso.
— Achei que fosse um congresso importante para o trabalho. –
diz de maneira provocativa.
— As noites serão livres para passeios, meu anjo. – respondo
quando paramos no meio do salão, apoiando minhas mãos em seu
quadril e ela apoia as suas em meu peito, fazendo com que meu
coração pulse mais acelerado.
— Tipo um jantar dançante? – pergunta curiosa e dou de
ombros, levando-nos ao som de uma música qualquer.
— Tenho certeza que podemos achar algo assim. – falo. – Se
não for os dois no mesmo lugar, jantamos e depois vamos para
alguma danceteria.
— Eu adoraria. – sussurra, aproximando-se de mim e a vejo ficar
na ponta dos pés.

◆◆◆

Luara
— O que você esta fazendo? – And pergunta com a voz mais
rouca quando fico na ponta dos pés. Meu coração esta pulando forte
contra o peito e tudo o que eu mais desejo nesse instante é tê-lo
aqui, de qualquer forma que for.
— O que eu mais quis fazer desde que me deixou sozinha
ontem. – sussurro de volta e envolvo seu pescoço em meus braços,
trazendo-o para mais perto de mim. – Beijando você, lindo. – ele
sorri com minha resposta e prende as mãos em mim,
correspondendo com todo fervor ao beijo que lhe dou.
E esse toque, seu beijo... Suas mãos percorrendo todo meu
corpo. Meu Deus! Tudo o que esse homem faz comigo faz com que
meu corpo queira se derramar ao redor dele.
— And. – gemo contra sua boca e ele aperta minha bunda contra
seu corpo de maneira que eu sinta sua ereção dura contra minha
barriga. – Isso tudo é para mim? – pergunto em seu ouvido,
passando a mão por sua perna e ele geme com meu toque.
— Sempre foi, anjo. – responde e sinto seu beijo em meu
pescoço. – Ele é todo seu. Assim como também sou.
Sorrio, sentindo-me internamente feliz e completamente mole por
fora. O desejo que passa por minha cabeça nesse instante talvez
seja a maior loucura que já considerei em fazer, mas que também é
tudo o que mais quero nesse instante.
— Eu quero você. – sussurro em seu ouvido, sugando o lóbulo
de sua orelha com a boca e passo a mão pelo pequeno And,
sentindo-o pulsar contra o jeans. – Eu quis todos esses dias desde
que você voltou e mais ainda ontem. Mas você saiu antes que as
coisas se acertassem.
— Anjo. – ele geme em resposta. – É tudo o que mais quero.
Mas não vou aguentar chegar ao Golden com você me apertando
desse jeito. – diz e sorrio.
— Não precisa. – digo, afastando-me apenas para poder olha-lo
nos olhos. Os cinza habitualmente claro agora estão completamente
negros de excitação.
— O que quer dizer com isso? – pergunta curioso e sorrio,
puxando-o pelo pau para perto de mim. – Anjo. – ele rosna e sorrio.
— Quero dizer que o banheiro feminino esta em manutenção e
que ninguém vai nos interromper lá. – respondo, desta vez puxando-
o pela mão e o levo pelas poucas pessoas que dançam, lançando
um olhar para o lado de nossa mesa, onde apenas Natália e Felipe
estão sentados, aparentemente conversando. O que me lembra de
que ela disse que eles não estão muito bem.
— Eu quero fazer muito mais do que apenas aquilo com você,
minha linda. – ouço a voz rouca de Andrew em meu ouvido, assim
como também sinto sua mão apertar minha bunda e seu pau roçar
em mim.
— Aposto que tanto quanto eu quero. – respondo, beijando-o por
cima do ombro.

◆◆◆

Andrew
Deixo Luara me levar pelo caminho que ela já parece conhecer,
até que vejo uma placa de Interditado frente à porta do banheiro
feminino.
— As mulheres estão tendo que usar o de funcionários lá no
fundo. – explica.
— E não tem perigo de alguém, sei lá, entrar? – pergunto,
embora esse risco apenas me deixe ainda mais louco.
— Vai dizer que você não gosta disso? – pergunta de volta,
olhando para mim por cima do ombro e sorrio. – Tem chave lá
dentro, meu lindo. Teremos todo o espaço para fazermos o que
quiser.
— O que quiser? – pergunto realmente interessado, mas desta
vez não tenho resposta.
— Entra. – diz assim que abre a porta e me empurra para dentro
do banheiro, trancando-a atrás de mim. – Você tem que prometer
que vai me deixar fazer as coisas do jeito que eu quero. – diz,
cruzando os braços junto ao peito. – Tem algo que quero muito fazer
e você... Bem, você nunca me impediu de fazer o que eu queria, é
claro.
— Sou completamente seu, anjo. – falo. – De corpo e alma. Mais
de corpo neste momento. – sorrio e ela fica toda corada.
— Certo. – diz, aproximando de mim e sinto sua mão soltar meu
cinto e abrir o zíper da calça. – Você tem que ficar quieto.
Entendeu? Existe uma chance de alguém ter nos visto entrar juntos
aqui e não quero ser interrompida.
Eu apenas concordo com a cabeça e ela puxa meu pau para
fora.
— Sempre pronto. – sorri, empurrando-me contra a parede fria. –
Quero você inteiramente entregue a mim enquanto eu chupar você
todinho. – Luara diz com a voz rouca, ajoelhando-se na minha
frente. O olhar fixo ao meu. – Depois você vai me comer em cima da
pia. – diz, engolindo meu pau por inteiro, arrancando um gemido
que vem do fundo da minha garganta, fazendo com que meu quadril
se mova involuntariamente contra sua boca.
— Anjo. – gemo, segurando seus cabelos em uma tentativa de
me segurar.
Já faz muito tempo e eu não estava esperando por isso.
— Você vai gozar na minha boquinha? – ela pergunta e sinto sua
língua em minhas bolas.
— Antes eu vou comer você bem gostoso para que lembre
sempre que esse seu corpo é só meu. – digo em resposta e ela
volta a me chupar. – PORRA! – exclamo alto e ela sorri, engolindo-
me por inteiro.
— Goza para mim, lindo. – ela pede. – Eu sei que é isso o que
você quer. E eu quero sentir você de novo. Só isso que estamos
tendo aqui não vai ser suficiente para saciar minha sede de você.
Com os olhos apertados, eu me apoio contra a pia, gozando em
sua boca. Porra! Isso...
Luara afasta com um olhar vitorioso no rosto e seguro seus
ombros, puxando-a para cima.
— Você não pode resistir a mim, Andrew. – ela diz, correndo a
língua pelos lábios e a beijo com força, sentindo meu gozo. – Por
mais que você negue, o pequeno And me quer.
— Nunca neguei isso. – falo em um tom ríspido, descendo minha
mão para dentro de sua calcinha. – Assim como ela também é toda
minha. – digo em seu ouvido, penetrando um dedo nela. – Você
entendeu? – rosno.
— Então me chupa. – ordena e, sem demora, eu a puxo para o
meu colo, colocando-a sentada na pia e tiro sua calça, assim como
também faço com a calcinha.

◆◆◆

Luara
Sinto o beijo de Andrew em minha virilha e seu dedo em mim lá,
circulando, entrando e saindo de dentro de mim enquanto ele
continua com beijos suaves em minhas pernas, causando um tremor
terrível por todo meu corpo.
— And. – eu o chamo, puxando seus cabelos para fazê-lo olhar
para mim.
— O que foi? – pergunta, olhando-me por cima e sinto seu beijo
lá. – Não era isso o que você queria? Me ver aos seus pés, depois
de ter me feito perder a razão?
Eu o encaro com olhos semicerrados, totalmente fora de mim.
Não sei muito mais o que quero. Não além dele me penetrando bem
fundo.
— Eu quero você todo. – digo em resposta e ele parece não ligar
para o que falo. – Por favor.
— É seguro? – pergunta e abro os olhos que não havia me dado
conta de ter fechado.
— O que? – pergunto de volta, estranhando sua pergunta.
— O bebê? Isso... Sexo. – ele franze o cenho e fica de pé,
ajudando-me a sentar de maneira que fico na altura de seu rosto. –
Esta tudo bem se nós fizermos? Não vai machucar ou sei lá?
Sorrio para ele.
— É bom. – sussurro, dando um beijo no canto de sua boca. –
Saudável, ajuda e alivia no estresse. – a cada coisa que digo, dou
um beijo em sua boca.
— Se persistirem os sintomas, procure o Andrew mais perto de
você. – diz e me beija com uma força que me deixa mole.
— Você não existe. – digo quando ele me toma em seu colo,
deixando-me de costas com a parede.
— Se machucar você me avisa. – pede e concordo. – Por favor.
— Esta tudo bem. – sussurro e finalmente o sinto dentro de mim,
indo cada vez mais fundo e sinto uma dor leve, que faz com que um
gemido me escape. – Esta tudo bem. – repito quando ele para.
— Eu não quero te machucar, linda. Eu preciso que você me
diga se fizer isso.
Com seu pedido, sei que ele se refere a algo bem mais do que
apenas isto que estamos fazendo aqui.
— Eu também não quero mais te machucar, And. – sussurro
contra seu pescoço, sentindo quando ele começa a se mover,
pressionando-me contra a parede fria. – Nós dois somos melhores
juntos e... Isso... Meu Deus!
Perco totalmente a fala quando Andrew começa a se mover com
mais força e a beijar meu seio por cima da blusa, subindo para o
pescoço e boca logo em seguida. Eu tento acompanhar seus
movimentos, mas tudo o que consigo fazer é instiga-lo a ir mais e
mais fundo dentro de mim, apertando sua bunda com as pernas e
suas costas em um abraço forte, assim como o que trocamos em
sua sala ontem, ainda que menos íntimo do que aquele.
— Goza comigo, Anjo. – Andrew pede e sinto minha completa
perdição quando me entrego a ele, sentindo seu gozo quente
escorrer por minha perna. – Como senti falta disso. – diz, passando
a mão por meus cabelos e o sinto sair de dentro de mim. – Eu te
machuquei? – é a primeira coisa que pergunta quando me coloca no
chão de volta. Eu sinto minha perna fraquejar de maneira que
preciso me apoiar em seu braço.
— Só me deixou mole. – sorrio em resposta. – Isso foi bom.
— Fica essa noite comigo. – pede e por alguns instantes sinto
como se todo meu sangue tivesse sumido. – Você não foi à única
que se sentiu estranha depois daquela conversa que tivemos ontem.
Não acho que ela tenha resolvido algo entre nós ou vá resolver.
Precisamos derrubar isso que colocamos entre nós e voltar a ser o
que erramos antes. Sinto falta daquilo, linda. Mais do que você
imagina.
— Precisamos bem mais do que aquela hora que conversamos.
– concordo. – E talvez uma noite juntos seja o que precisemos. –
digo e ele sorri.
— Mesmo que apenas para dormir. – arrisca e desta vez quem
sorri sou eu.
— Pode apostar que você não vai dormir se eu ficar com você
essa noite, lindo. – falo. – Não depois de ter me deixado na seca
durante um mês inteiro.
— Que bom! – exclama rindo e me puxa para junto de si. –
Porque eu quero compensar tudo isso com você esse final de
semana. – diz e me beija.

◆◆◆

Andrew
— Já estávamos achando que vocês dois tinham fugido. – Felipe
diz logo que Luara e eu nos aproximamos da mesa onde
estávamos.
— Precisávamos conversar a sós. – ela responde, sentando-se
no mesmo lugar de antes e me acomodo ao seu lado.
— Esta tudo bem? – Diego pergunta a ela e sinto meu sangue
ferver no mesmo instante. – Você esta um pouco mais corada de
que quando saiu. – diz e não consigo deixar de sorrir.
— Estou ótima. – Luara responde e sinto sua mão em minha
perna, apertando o pequeno And um pouco mais brusco de que das
outras vezes. – Onde estão Pedro e Rodrigo?
— Já foram. – Natália responde. – E acho que nós já vamos
também. O Fe tem uma audiência cedo amanhã.
— E você uma consulta cedinho também, linda. – concordo,
pousando um beijo em seu ombro nu. – É melhor nós irmos
andando. Ou melhor... Você esta de carro? – pergunto, de repente
lembrando-me de que ela não veio sozinha.
— Vim com a Nath e o Felipe. – responde. – Eles passaram do
Golden para me buscar.
— Você é um filho da mãe, Felipe. – digo e ele ri. – Deveria
sentir vergonha por mentir dessa maneira para mim.
— Só estou tentando ajudar. – diz já levantando. – Vamos
andando que a viajem ainda é longa. Boa noite para vocês. Tchau,
Lu.
— Tchau. – ela o abraça, aceitando o beijo que Felipe da em sua
bochecha. – Juízo vocês dois!
— Não somos bem nós que estamos precisando disso, né? –
Natália sorri para ela. – Espero que você conte. – pede em voz
baixa, mas ainda assim consigo ouvir perfeitamente o que diz. –
Você vai conosco, Diego?
— Estou de carro. Obrigado. – responde. – Mas já estou indo
também. Já sobrei à noite toda aqui.
— Ao menos se deu conta disso. – eu digo pouco me lixando
para a cordialidade. Afinal, ele apenas quer o que é meu.
Diego abre a boca para falar algo, mas Luara é mais rápida.
— Posso falar com você por dois minutos? – ela pede a ele e
olho em sua direção. Diego concorda. – Eu já venho. – diz, dando
um beijo em meu rosto e os dois se afastam, indo para fora do meu
campo de audição.
Não estou feliz com essa conversa dos dois, não me importa
qual seja o assunto. Esse cara ficou em cima da minha garota
praticamente a noite toda e tenho mais do que certeza que ele teria
tentado beija-la se eu não estivesse em cima.
— Vamos? – a pergunta de Luara chega até mim, mas não a
vejo.
— Já se despediu do seu amigo? – pergunto um pouco irritado.
— And, por favor. – diz e me viro para encara-la. – Eu disse que
não queria nada com ele, esta bem? Eu disse isso quando cheguei
com a Nath mais cedo e o vi aqui. Nós poderíamos ser amigos, mas
sei que isso nunca foi o que ele quis comigo. E eu nunca quis com
ele o mesmo, porque já queria com outro. Então... Por favor, só
podemos ir para casa? Estou cansada e enjoada. Quero dormir.
— Desculpa. – peço. – Fiquei irritado com esse cara em cima de
você o tempo todo.
— Ao menos agora você sabe como me senti com a Sarah se
atirando para cima de você todos os dias. – diz com uma careta,
seguido por um bocejo. – Só me leva para casa e me deixa dormir
com você a noite toda. – pede e envolvo o braço ao redor de seu
quadril, pousando um beijo em seus cabelos.
— E o lance de fazermos amor toda à noite? – pergunto com um
sorriso de lado.
— Isso meio que saiu de vigor quando nosso filho disse que
estava caindo de sono e me lembrei de que tenho que fazer as
malas para uma viagem amanhã à tarde, logo depois de uma
consulta que está mais do que me deixando nervosa. – diz.
— Posso ao menos te acompanhar até o consultório? – peço,
sentindo um último fio de esperança quanto a isto. – Não precisa me
deixar entrar. Mas me deixa ao menos te levar.
Luara para e olha para mim.
— Tem algo que eu preciso te contar, And. – começa. – E por
mais que eu queira você lá comigo, também quero te fazer uma
surpresa.
— A resposta continua sendo não.
— Desculpa.
— Tudo bem. É uma escolha sua me querer lá ou não. – dou de
ombros, tentando não demonstrar o quanto isso me incomoda. Mas
a verdade é que me chateia e muito não saber o que ela esta
escondendo de mim.
— Ainda quer que eu passe a noite com você? – Luara pergunta
quando paramos ao lado do meu carro e abro a porta para ela
entrar.
— É o que você quer? – pergunto de volta bem quando meu
celular vibra no bolso, notificando uma mensagem.
— É claro que sim.
— Então, sim. Quero você comigo mesmo que para dormir. –
digo, dando um beijo em sua bochecha e ela entra para que eu
possa fechar a porta.
Antes de entrar no carro, pego o celular para ler a mensagem de
Ana.
Reserva e voos confirmados.
Façam uma boa viagem.

Só vai ser boa se conseguir o que quero.


— Tudo bem? – Luara pergunta quando me sento ao seu lado e
olho para ela, estranhando a pergunta. – O telefone.
— Ah! Sim. Desculpa. – sorrio sem graça. – Era Ana
confirmando o voo.
— Você pediu para ela reservar quartos separados. – diz e
arqueio a sobrancelha, dando a partida para poder sair. – Vi na
mensagem. Desculpa.
— Pedi para reservar porque não quero que se sinta forçada a
ficar comigo. – respondo. – Posso cancelar um assim que
chegarmos se quiser. – completo com um sorriso de lado para ela,
que desvia o olhar para fora.
— Vamos com calma. – pede e concordo, finalmente saindo do
estacionamento para entrar no meio do trânsito.
Capítulo Oito
Quinta-feira
Luara

Não são nem mesmo seis da manhã quando acordo, sentindo um


calor enorme atrás de mim. O calor de um segundo corpo que me
abraça forte pelo quadril e me prende junto ao seu. O calor de um
corpo nu, forte e musculoso, que me deixou completamente mole
essa noite e ainda mais apaixonada do que já era antes.
Relutante, tento erguer seu braço para escapar e poder me vestir
para ir até meu apartamento para me arrumar e ir à consulta que
tenho com o Dr. Marcus dentro de duas horas. Mas o braço que me
prende é pesado.
— Anjo. – ouço a voz rouca de Andrew atrás de mim e o sinto
me apertar ainda mais junto ao seu corpo. – Fica comigo. – ele pede
e sinto sua barba em meu pescoço, causando um calafrio por todo
meu corpo.
— Eu preciso ir, lindo. – respondo, embora tenha dúvidas se And
está acordado ou não. – Eu tenho médico, lembra? – pergunto e me
viro de frente para ele, passando a mão por sua barba rala.
— Fica comigo, Anjo. – ele repete. – Não vá embora mais. Não
vá.
Franzo o cenho com seu pedido, notando que ele não fala
diretamente para mim. Mas sim com... O quê?
— Você não respondeu minha pergunta ainda. – sussurra e
apoio com o cotovelo na cama. Ele está sonhando.
— O que eu não respondi? – pergunto curiosa.
— Se nós estivermos juntos outra vez, você aceita... Casar
comigo? – ele sussurra as palavras que fazem meu corpo tremer
dos pés à cabeça em questão de segundos.
— Quando você estiver acordado conversaremos sobre isso. –
respondo, sentindo meu coração acelerado contra o peito. Meu
Deus! Ele estava mesmo falando sério!
— A caixinha. – torna a sussurrar quando me afasto para
levantar.
— Que caixinha? – pergunto de volta e ele apenas sorri.
— Aceite. – é tudo o que ele diz
Meu Deus! Claro que eu aceito! Mas... ASSIM?!
— Que caixinha? – insisto e ele apenas franze o cenho, virando
o rosto para o outro lado. Claro que ele não ia me entregar isso
assim. – And? – eu o chamo, tocando seu braço enquanto passo a
mão por seu rosto para acorda-lo. – Lindo?
— Hm? – resmunga, cobrindo o rosto com o travesseiro.
— Eu estou indo me arrumar para ir à consulta. – sussurro para
ele, que finalmente abre os olhos. – Devo estar de volta às dez
horas para poder arrumar minha mala para viajarmos.
— Tudo bem. – sussurra em resposta. – Vou passar do escritório
para resolver alguns assuntos e devo voltar por essas horas
também. – diz e sorrio para ele. – O que foi? – pergunta, sorrindo de
volta.
— Você estava falando enquanto dormia. – digo apenas para
provocá-lo.
— Não sabia que eu fazia isso.
— Eu também não. – respondo a verdade. – Foi à primeira vez
que te vi fazer isso.
— E o que eu disse? – pergunta curioso enquanto passa a mão
por minha coxa nua. Seu toque me causa um arrepio que parece ir
da cabeça aos pés.
Ao invés de responder sua pergunta, aproximo meu rosto do seu
de maneira que nossas testas fiquem coladas.
— Sim. – sussurro e o beijo na boca, fazendo com que ele sorria
ao me corresponder.
— Por que eu diria isso? – pergunta ainda mais curioso de que
antes. – Não entendo porque isso seria importante. Ou porque isso
atiçaria sua curiosidade. – fiz e franze o cenho. – Ou não ficou
curiosa?
— Eu não disse que foi o que você falou, amor. – sorrio e pouso
um beijo em sua bochecha antes de sair da cama para pegar uma
camisa sua em cima da cômoda para vestir.
— Você vai me torturar com mais isso? – pergunta enquanto me
observa abotoar a camisa.
— Na hora certa você vai saber.
— Você precisa começar a provar do seu próprio remédio para
ver como isso é bom. – diz todo sério. – Me avisa se estiver tudo
bem com nosso Pequeno. – pede e concordo, voltando até ele na
cama.
— Eu amo você. – sussurro, pousando um segundo beijo em
seus lábios e And tenta me puxar para ele, mas sou mais rápida e
me afasto antes que consiga me levar para a cama outra vez.
Se o Dr. Marcus estiver certo, se eu realmente estiver grávida de
gêmeos como ele suspeitou na semana passada, eu terei uma
notícia para dar a And e o único “presente” que eu sei que ele não
tem. E essa notícia muito provavelmente será a única coisa que
serei capaz de dar a um homem que já tem tudo.
E isso está me deixando nervosa ao ponto de querer voltar ao
quarto apenas para pedir que vá comigo. Mas preciso ser mais forte,
porque com esse pedido não teria mais como fazer surpresa e
quero pedir uma imagem dos nossos filhos para poder dar a Andrew
quando for lhe dar a notícia que vai mudar tudo entre nós e
finalmente colocar um ponto final nesse “tempo” que tivemos um do
outro.
— E talvez possamos finalmente começar a ser uma família. –
sussurro, tocando minha barriga enquanto abro a porta do meu
apartamento para poder entrar.

Estaciono meu carro no consultório do Dr. Marcus


aproximadamente uma hora depois de ter saído de casa.
Quando entrei no meu apartamento, a primeira coisa que fiz foi
procurar algo para comer, porque estava bem mais do que apenas
com fome depois da noite que tive com Andrew. E isso depois de
algum tempo começou a me deixar estranha, por que... Bem, nós
meio que tivemos uma noite de muito sexo sem estarmos juntos. Ou
talvez estejamos e eu não sei. Ainda estou confusa com tudo isso. E
essa noite foi incrível, porque tudo o que um queria, era agradar o
outro e... Por Merlin! Andrew é perfeito quando quer fazer isso. Em
todos os sentidos da coisa ainda.
No momento em que eu coloquei meus pés no apartamento dele
depois de tanto tempo, senti aquele aroma masculino impregnado
no ar e meio que minha perdição já começou bem ali. Eu queria
muito estar com ele de todas as maneiras possíveis e inimagináveis.
Então ele ligou o som e nossa música foi a primeira que começou a
tocar.
Tentando afastar as lembranças de uma noite maravilhosa, pego
minha bolsa no carona e abro a porta para poder sair e sinto uma
brisa fresca de verão bater no meu rosto. E com ela o nervoso por
estar aqui.
— Bom dia, Luara. – a recepcionista me cumprimenta assim que
entro no consultório.
— Bom dia, Dani. – eu a cumprimento de volta. – Como você
esta?
— Tudo ótimo. E você? Muito ansiosa?
Sorrio um tanto sem graça, sem saber exatamente o que
responder.
— Entrando em pânico. – digo a verdade. Ou parte dela.
— Fique tranquila. – Daniele diz, sorrindo para mim. – O Dr.
Marcus já esta lá dentro e logo vai atendê-la. Então vai ver como a
espera terá valido a pena.
— Eu devia é ter deixado o And vir comigo. – respondo. – Mas
não. Eu tenho que ser logo uma grávida teimosa.
— Luara? – ouço uma voz grave atrás de mim e me viro apenas
para ver o Dr. Marcus parado na porta de sua sala. – Bom dia. – ele
me cumprimenta, estendendo a mão para um cumprimento. –
Vamos lá?
— Claro. – digo um pouco nervosa e ouço o desejo de “boa
sorte” de Daniele atrás de mim.
— Está preparada para o que teremos hoje? – pergunta
realmente animado e isso faz meu estômago embrulhar um pouco.
Não sei se por nervoso ou se por enjoo.
— Nervosa. – é tudo o que digo.
Seguindo as orientações do Dr. Marcus, subo na cama e o
observo fazer todo aquele mesmo procedimento de passar o gel na
minha barriga e preparar o aparelho para começar o ultrassom. E o
ver fazer tudo isso apenas me deixa ainda mais nervosa.
— Andrew não quis acompanha-la? – ele pergunta enquanto faz
o que precisa.
— Imagina se não. – sorrio, lembrando-me da insistência dele
até mesmo durante a noite. Mas logo meu sorriso vai embora
quando me lembro de que ele não pediu hoje para me acompanhar.
Que apenas pediu para que lhe dissesse como nosso Pequeno
estava. E você queria o que? Que ele ficasse implorando por toda a
vida? – Eu é que pedi para vir sozinha porque queria fazer uma
surpresa para ele. – completo.
— E uma bela surpresa.
— Sim. – sussurro, de repente sentindo minhas mãos suarem
frio.
— Você esta bem? – Dr. Marcus pergunta, provavelmente
notando a maneira com que mexo as mãos.
— Só estou nervosa.
— Quer esperar? – torna a perguntar. – Posso pedir para que
Daniele traga um copo d’água para você.
— Não. Tudo bem. Atrasar só vai me deixar ainda mais nervosa.
Concordando, ele senta no banquinho ao meu lado, começando
o ultrassom. E logo eu o vejo ali na tela, pequeno e indefeso, como
se estivesse encolhido em uma pequena bola.
— Entrando na décima quarta semana, você muito
provavelmente vai se sentir bem mais disposta do que tem estado
nesse trimestre. – diz. – E com mais sorte, seu enjoo passara.
— Tomara que você esteja certo. – digo e ele ri.
— Veja. – Dr. Marcus chama minha atenção para algo em
específico, mas não consigo localizar o ponto. – Eles estão ali. – diz
e franzo o cenho quando aponta para a tela.
— São eles? – pergunto em um sussurro rouco. Meus olhos se
enchem de lágrimas no mesmo instante em que localizo as duas
pequenas crianças na tela. Tão pequenas e indefesas e
dependentes de mim. – Meus Pequenos. – sussurro, tocando minha
barriga com as duas mãos, na mais remota possibilidade de sentir
algo.
Tão pequenos. Tão... Um deles parece fazer uma careta,
enquanto o outro parece brincar com o cordão umbilical. E ver isto
me faz sorrir feito à boba que estou nesse momento.
— Aproximadamente nove centímetros. – ouço Dr. Marcus dizer,
mas não desvio a atenção do monitor. – O outro aparenta estar com
sete centímetros.
— Aposto como você é menino, não é? – sussurro para minha
barriga, como se conversasse com eles. – Da para ver o sexo já?
— Não na posição que eles estão. – responde. – Talvez na
próxima consulta tenhamos mais chances se eles estiverem de
outro jeito. – concordo com a cabeça, olhando para o monitor mais
uma vez. – Esta feliz? – pergunta e um sorriso cresce em meu rosto.
— Eu não sei o que estou sentindo. – respondo a verdade. –
Ainda estou nervosa, mas... São dois e... E Andrew sempre quis ter
gêmeos, então que vou poder dar isso a ele. E... Meu Deus! Isso
assusta muito! – rio, sentindo-me realmente nervosa.
— Sim, assusta. – ele concorda e sorri para mim. – Mas também
se pode dizer que é uma sensação única a ter não uma, mas duas
crianças crescendo dentro de você assim.
— Talvez eu tenha que voltar aqui um pouco antes do esperado,
caso o And queira ver pessoalmente os gêmeos. – brinco.
—Vou tirar uma cópia para que você dê para que ele possa se
aquietar até a próxima consulta. – Dr. Marcus ri. – Uma imagem,
como me pediu e também o vídeo.
Arregalo os olhos, realmente surpresa. Isso vai ser bem mais do
que eu esperava poder dar ao And quando fosse dar a notícia.
— Obrigada. – sorrio e ele afasta.
— Vou pedir para que você continue seguindo a dieta que
combinamos na sua primeira visita e continue também seguindo
com os mesmos cuidados.
— Dieta A La Andrew e cuidado redobrado. – concordo.
— Dieta A La Andrew? – repete curioso e sorrio um pouco sem
graça.
— And tem todo esse cuidado com alimentação. Então, depois
da primeira vez que viemos aqui e o senhor me passou aquela lista,
ele separou cada item e fez um cardápio para cada dia, com base
em tudo o que eu mais precisava. – explico. – Embora eu esteja
fugindo um dia ou outro quando sinto vontade de comer algo em
específico. – confesso.
— Tudo bem fugir um pouco. Apenas não abuse.
— Pode deixar. – sorrio um pouco sem graça.
— Bem, aqui esta. – diz e me entrega um envelope com uma
imagem que mostra meus dois pequenos perfeitamente e um
pequeno CD.
— Obrigada.
— Agora vou te pedir para que fale com Daniele e peça para que
já agende sua próxima consulta para daqui três semanas. – pede. –
Mas se precisar é só me procurar.
— Vou sim. Obrigada.
Dr. Marcus me acompanha até a porta outra vez e sinto meu
celular vibrar no bolso da calça logo que paro para conversar com
Daniele. Então que não atendo, decidindo que retornarei a chamada
assim que estiver em casa, depois de ter me acabado com uma
barra de chocolate, que é tudo o que mais desejo nesse instante.

◆◆◆

Andrew
Estou sentado em uma cafeteria, acompanhado de um dos
diretores da BIT, tomando café da manhã e conversando sobre
alguns assuntos sobre a empresa.
Na verdade, Lucio é quem está falando. Eu mais concordo de
que presto realmente atenção, uma vez que ainda estou grilado com
o que Luara me disse mais cedo sobre eu ter falado dormindo e que
era a primeira vez que me via fazer isso.
O que me deixa mais curioso é que, quando perguntei a ela
sobre o que eu havia falado, ela apenas sussurrou “Sim” e eu não
entendi nada! Quer dizer, eu disse isso ou foi sua resposta para o
que quer que eu tenha dito enquanto dormia? Ela falou que não
havia sido eu.
Franzo o cenho, mais perdido ainda. Preciso ligar para ela assim
que me livrar de Lucio.
— Você vai para Goiânia no congresso tecnológico? – ele
pergunta, tomando um pouco de seu café.
— Sim. – respondo de imediato. – Quero saber pessoalmente o
que vai rolar por lá desta vez. Luara vai me acompanhar,
substituindo Pedro como supervisora.
— Uma oportunidade brilhante para ela que está começando
agora na área. – diz e sorrio.
— Sim. – concordo. – Tenho certeza de que ela irá absolver e
estudar muito sobre todos os assuntos, ao ponto de não querer
perder uma única palestra durante todo o dia. – digo e sorrio ainda
mais ao imaginar Luara me arrastando com ela para cada uma das
palestras.
— Aproveitem bem o final de semana então. – Lucio diz e dou
uma enorme mordida no meu Donuts. – Por que você não aproveita
para ir visitar a ARCANJOS? – ele pergunta e franzo o cenho,
considerando a ideia.
— É uma boa chance de fecharmos contrato com eles. –
concordo. – Pedirei para que Ana ligue para eles e marque um
horário para uma visita.
— Sim, sim. Faça isso. – diz. – Aproveite e leve sua namorada
para conhecer uma indústria de cosméticos.
Não consigo deixar de rir com seu comentário.
— Farei isso. – digo, vendo em meu relógio que já são nove e
meia. – É melhor eu ir andando. – falo. – Ainda preciso terminar de
arrumar as coisas para a viagem e acho que vou levar alguns
desses para Luara. – completo, referindo-me ao Donuts.
— Vou sair do seu caminho então. Preciso voltar ao trabalho
também.
— Me mantenha informado a respeito do que acontecer em
minha empresa enquanto eu estiver fora. – peço. – Não quero nada
fora do lugar na minha ausência.
— Pode ficar tranquilo. Vamos tomar conta de tudo.
Mais uma vez eu concordo e, levantando, seguimos até o
balcão, onde peço uma dúzia de Donuts para Luara, indo logo em
seguida para fora da cafeteria.
Lucio atravessa a rua para voltar a BIT, enquanto eu sigo para
meu carro, discando o número de Luara antes de entrar nele. A
ligação chama até cair na caixa postal. O que me deixa um pouco
preocupado, já que ela já deveria ter saído da consulta.
Talvez ela apenas esteja dirigindo e não possa atender agora.
Com este pensamento em mente, saio com meu próprio carro,
sabendo que a encontrarei em casa e que saberei que nosso
Pequeno esta bem. Assim como ela também está.

Chego ao Golden mais tarde do que pretendia chegar devido a


um acidente que encontrei a caminho daqui. E assim que paro com
meu carro em minha vaga, vejo o de Luara ao lado, em seu lugar.
Assim como também a vejo lá dentro, abraçada ao volante e de
cabeça baixa.
— Que estranho. – digo a mim mesmo e saio, caminhando até
seu carro, onde bato de leve no vidro para anunciar minha
presença.
— Oi. – ela sussurra assim que me sento ao seu lado quando
destrava a porta.
— Oi. – sussurro de volta, observando quando passa a mão pelo
rosto para afastar lágrimas. Mas... Porque ela está chorando? –
Tudo bem? – pergunto e me viro em sua direção.
— Está. Estou. – corrige rápido e sorrio. – Só estou um pouco
emotiva.
— Tudo bem na consulta?
— Sim. Tudo ótimo. – sorri em resposta. – O Dr. Marcus me
disse que eles estão com sete, nove centímetros e bem
desenvolvidos, que daqui para frente só vão crescer. – franzo o
cenho com a maneira com que ela diz isto, mas prefiro não
questiona-la sobre. Não agora, pelo menos. – E que eu vou
começar a ficar mais disposta também.
— Isso é bom. – digo e ela sorri.
— Bem, por outro lado também devo ficar mais emotiva.
— Isso explica porque você estava chorando. – comento um
pouco mais sério e ela concorda.
— Sim. Estou me sentindo um poço de emotividade e isso está
acabando comigo! – exclama, cobrindo o rosto com as mãos. Eu
seguro uma delas, pousando-a em seu colo.
— Sabe que se precisar de algo você pode me falar, né? –
pergunto enquanto acaricio os nós de seus dedos.
— Eu sei. – sussurra em resposta. – Só me de um pouco de
tempo, porque fiquei realmente emotiva com a consulta hoje. Mas
pode ter certeza que eu vou querer te mostrar o que tenho aqui. –
diz, apontando para um envelope no painel do carro, da qual não
havia me atentado até agora.
— O que é? – pergunto de repente curioso e ela o segura.
— Está muito sedento por informações hoje, Sr. Giardoni. – diz
em tom provocativo e sorrio. – Vem. Vamos subir. Estou com fome.
— Comprei Donuts para você. – falo e ela me olha com um brilho
lindo nos olhos.
— Sabe que é por isso que eu te amo, né? – pergunta. – Por
esse e outros vários motivos.
— Eu sei. – sorrio, pousando um beijo em seus lábios e saio,
contornando o carro para abrir a porta para ela. – Também tenho
uma lista bem extensa sobre os motivos para te amar. – completo,
abraçando-a pela cintura.
Luara sorri com minha resposta e me dá um beijo no rosto.
— Você ainda não disse qual horário nós temos que ir para o
aeroporto. – comenta, abraçando-me de volta.
— O voo sai às três. Então temos tempo ainda.
— Para um almoço fora? – pergunta curiosa e confirmo.
— Se nossas malas estiverem prontas até meio-dia pelo menos,
então sim.
— Neste caso então terei que te deixar sozinho, porque não
posso permitir que você me distraía com suas investidas sedutoras.
— Investidas sedutoras? – pergunto curioso e ela ri,
concordando.
— Sim. Lembro bem que você não queria me deixar arrumar as
coisas para voltar de Nova Iorque.
— Lembro também que você não queria ter voltado. – comento.
— Talvez tivesse sido melhor se tivéssemos ficado por lá
mesmo. – murmura para si mesma e para um pouco mais a frente
para chamar o elevador do prédio. – Você não vem? – pergunta ao
perceber que não entrei logo atrás. Mas isto é por causa de seu
comentário, porque sei o motivo dele.
— Quando penso que você não pode melhorar, sua bunda vai lá
e me surpreende. – comento para evitar pensar no que Luara disse.
Ela sorri para mim bem quando paro ao seu lado, apertando o botão
do nosso andar no painel.
— Bem, o pequeno And também tem me surpreendido bastante
ultimamente.
— Percebi bem que sentiu falta dele depois dessa noite. – digo e
arqueio a sobrancelha. Um sorriso de lado surge em meu rosto ao
notar o dela todo vermelho.
— Passei um mês inteiro sem ele. – diz. – Sem você. Sem você!
– corrige rápido. – E as coisas meio que estão... Complicadas, por
falta de palavra melhor, para o meu lado.
— Complicadas?
— And.
— Me diz. – peço, sorrindo para ela.
— Mamãe precisa de açúcar, amor. – diz bem próxima ao meu
rosto, fazendo com que meu sorriso se estenda ainda mais.
— Sou seu açúcar?
— Talvez você seja o açúcar que eu precise. – sorri, passando a
mão por minha barba. – Vejo você para almoçarmos. Espero que
me surpreenda. – completa, dando um beijo em meu rosto e sai
rebolando do elevador. Eu apenas fico plantado, olhando para ela,
sentindo-me levemente incomodado.

◆◆◆

Luara
Estamos a poucos minutos de pousar em Goiânia e eu não
tenho nem como mentir e dizer que não estou ansiosa por isso,
porque a verdade é que estou e muito. Principalmente porque já me
convenci a entregar o envelope com a foto, o DVD do ultrassom e a
carta que escrevi para And assim que chegarmos ao hotel. E ele
esta na minha mala, muito bem guardado. Então que pensei
também em dar um jeito de fazer com que ele precisasse abrir
minha mala por algum motivo para achar por “conta própria”.
— Tudo bem? – ouço sua pergunta, assim como também sinto o
toque de sua mão na minha, tirando-me por completo de meus
pensamentos.
—Só estou um pouco ansiosa. – sorrio em resposta. – E você? –
pergunto de volta.
— Acho que estou um pouco nervoso com algo. Mas tudo bem.
— Nervoso de irritado?
— Não. – responde com o cenho franzido, passando o polegar
por meus dedos. – Acho que um pouco ansioso.
— Ansioso? Pelo quê? – pergunto mais uma vez e ele da de
ombros.
— Algumas coisas que tenho pensado. – responde. – Se eu tiver
coragem, na hora certa você saberá. – e sorri para mim.
— Depois você reclama que estou cheia de segredos. – digo
como se estivesse chateada por ele não querer me contar, mas
acabo sorrindo, acabando com minha façanha totalmente.
— Você nunca conheceu outro estado até se mudar, não é? –
pergunta, obviamente mudando de assunto.
— Era para eu ter viajado para Porto Alegre há alguns anos,
para conhecer uma amiga que tinha lá. – respondo. – Seriam
minhas primeiras férias da faculdade e do trabalho. Mas acabou que
aconteceram algumas coisas e não pude ir.
— Espero que nada sério ou grave.
— Não. Nada demais. – concordo. – Já nem lembro mais o que
era.
— E vocês nunca se viram? – pergunta e confirmo. – Ainda se
falam?
— Às vezes. Não tanto quanto antes, mas sim. – franzo o cenho.
– Na verdade são raras às vezes.
— A gente costuma perder alguns amigos na transação
adolescência-adulto. – diz pensativo. – Mas, neste caso – começa a
dizer, fazendo uma pequena pausa para colocar meu cabelo atrás
da minha orelha. O gesto me faz sorrir e seguro sua mão ali por
algum tempo. –, no próximo feriado prolongado que tiver, irei leva-la
para conhecer as terras gaúchas e sua amiga, caso queira vê-la. –
diz e sorrio para ele. – Ainda que talvez precisemos de alguns dias a
mais para que eu possa te levar pelo menos para conhecer
Gramado.
— Já li bastante sobre lá e parece ser lindo. – falo. – Você já foi
para lá?
— Gramado? – pergunta de volta e confirmo. – Não. Quer dizer,
Gramado tem todo esse clima romântico e eu não sou exatamente o
cara que curte isso.
— Não é verdade. – digo. – Você sempre fez de tudo para me
agradar e acho que eu nunca fiz nem metade por você. Não como
eu gostaria. Mas pretendo fazer diferente agora.
Andrew sorri para mim e viro para ele, vendo seus olhos
brilharem. O que faz meu coração disparar contra o peito.
— And? – chamo baixinho.
— Sim?
— Por que eu sinto essa coisa estranha entre nós? – pergunto o
que tem me incomodado praticamente desde o início da semana.
Ele franze o cenho para mim. – Mesmo que nós tenhamos
conversado, mesmo que tenhamos feito... O que fizemos ontem lá
no bar e essa noite. Mesmo com tudo isso eu sinto que esta faltando
algo entre nós. Algo que é importante e que estava ali antes. Mas
agora não esta.
— Então não sou apenas eu. – sussurra consigo mesmo. – Não
definimos nossa relação. – diz como se já tivesse pensado nisso
antes. – Nós nunca tivemos essa coisa mais “aberta”. Sempre foi
namoro. E agora nós não colocamos como um namoro ou não. Esta
como se fosse “vamos nos pegar e fim. Não tem mais nada”. Só que
tem muito mais do que apenas isso e talvez seja o que esteja
deixando as coisas estranhas.
— O que significa que precisamos conversar outra vez. – digo,
concluindo sua linha de pensamento. Um sorriso divertido surge em
meu rosto. – Andrew? – chamo de repente e ele me olha mais uma
vez.
— Oi? – pergunta, devolvendo o sorriso que eu lhe ofereço.
— Você quer namorar comigo? – pergunto, sentindo meu rosto
se aquecer de repente. – Sem Vadias Aleatórias, sem caras que
não sabem colocar camisinha. Sem mais ninguém querendo
estragar nosso relacionamento. Apenas você, eu e nosso Pequeno.
— Mas assim, do nada? – pergunta de volta. – Moça, eu nem sei
seu nome. Nós só pegamos esse voo juntos e você ainda nem me
beijou.
Fecho a cara para ele, mas acabo rindo.
— Não seja por isso, Moço da Poltrona ao Lado. – sussurro,
segurando seu rosto para mim e o beijo, sentindo sua mão em
minha nuca enquanto me corresponde. E eu desço para seu
pescoço, onde o mordo, deixando uma leve marca vermelha ali.
— Então somos namorados de novo? – pergunta em um
sussurro rouco. Sua testa apoiada na minha.
— Se você aceitar, sim.
— Bem, é tudo o que eu mais quero meu Anjo. – diz, dando
outro beijo em mim.
— Acho que vou finalmente poder ver sua barba crescer outra
vez. – falo, acariciando seu rosto. Meu coração bem mais do que
apenas acelerado. – Você parece bem mais maduro quando deixa a
barba um pouco maior.
— Não sei. Estou pensando em deixar ela mais rala por algum
tempo. – ele sorri e aproxima o rosto do meu. – Até porque, eu sei
que quando ela espinha você fica mais excitada quando passo ela
no seu pescoço. Ou quando estou lá embaixo, cuidando de você.
E, com suas palavras, sinto como se eu fosse uma chaleira
fervendo. Posso até mesmo ouvir o som do vapor saindo.
— Carnaval. – digo, tentando mudar de assunto. – Seria uma
boa época para você me levar para o sul. Ainda que eu fosse
preferir mais no frio.
— É uma boa época. – And concorda com um sorriso maroto no
rosto.
— Não se você não gosta de carnaval e prefere trabalhar. Ou
ficar em casa. – digo com uma careta. – Nunca achei graça nesse
feriado. Mas acho que para você deve ter sido algo bastante
proveitoso todos esse anos.
— Sim, foi. – concorda e sinto meu estômago embrulhar. –
Sempre o aproveitei para descansar. – diz e olho para ele. – Ou
para viajar.
— Seus pais? – pergunto e ele confirma.
— Você vai ficar? – pergunta logo após me dar um beijo na
bochecha.
— Onde?
— No avião. Nós já pousamos. – ele diz e franzo o cenho,
olhando para fora da janela, onde vejo o aeroporto do outro lado em
um final de tarde que é lindo.
— Foi-se o tempo em que eu surtava para pousar ou decolar. –
comento e Andrew ri pouco antes de levantar e dar a mão para mim.
— Lembro bem daquele seu primeiro voo. – diz e sinto meu rosto
queimar outra vez. – E de várias outras vezes que fizemos em
lugares inapropriados. – sussurra em meu ouvido e fico atrás dele
para sairmos do avião.
— Se você se comportar, talvez possamos aproveitar Goiânia
para experimentarmos novos lugares. – sussurro de volta e aperto
sua bunda.

◆◆◆

Andrew
— And. – Luara me chama, parando ao meu lado.
— Oi, linda? – pergunto, virando para ela.
— Ela não esta aqui. – diz e franzo o cenho.
— Ela quem?
— Minha mala. A esteira já passou pelo menos três vezes e ela
não esta aqui.
Franzo o cenho e vou um pouco mais para frente, deixando o
carrinho com minha mala atrás de mim.
— Tem certeza? – pergunto e ela confirma.
— Mala pequena, preta e prata e um símbolo prateado no meio.
Não esta. Eu já olhei.
— Espera. – peço e observo cada uma das malas restantes na
esteira. Nenhuma parece ter a descrição da de Luara, que me é
bem mais do que familiar já. – Tem razão.
— É. Eu sei que tenho. – diz e olho para ela, que tem uma
expressão irritada no rosto.
— Por favor. – digo, chamando a atenção de um dos
funcionários do aeroporto.
— Pois não?
— A bagagem da minha namorada não esta aqui e esta é a
esteira indicada do nosso voo. – falo.
— Pode ser que algum outro passageiro tenha pegado por
engano. – ele diz. – Se esta é a esteira certa e de fato não a
encontrou, procure a empresa aérea de vocês e formalize a
reclamação para que eles encontrem.
— Obrigado. – agradeço e o rapaz volta para o seu posto. –
Vem, vamos lá.
— Isso não pode estar acontecendo. – Luara resmunga,
segurando minha mão e vou pegar o carinho com minha mala para
que possamos ir até o balcão da companhia aérea.
— O que você tem de importante lá? – pergunto.
— Roupas, sapatos, meu notebook, caderno, maquiagem,
algumas joias para o caso de você inventar de sair para algum lugar
mais importante. – franzo o cenho para ela. – Desculpa. – pede
rápido. – Na mochila eu deixei mais as coisas de higiene pessoal
mesmo, que era para não vazar e estragar algo lá.
— Vamos encontrar. – digo, parando no balcão. – Boa noite. –
cumprimento à moça do outro lado.
— Boa noite. – ela sorri para mim. – Em que posso ajudar o
senhor?
— Acabamos de chegar do Rio de Janeiro com o voo das quinze
horas e a bagagem da minha namorada foi extraviada.
— Ele quis dizer “roubada”. – Luara corrige visivelmente irritada.
– Porque ela não estava onde deveria estar para que eu pudesse
pega-la. Então, se outra pessoa a pegou e não é o dono, isso é
roubo de onde eu venho.
— Qual o voo dos senhores? – pergunta e tiro o cartão de
embarque da minha mochila, entregando para ela. – Só um
momento, por favor.
— Tudo bem. – respondo e me viro para Luara, que esta com os
braços cruzados junto ao peito. – Essa não era exatamente a
viagem que eu pretendia fazer com você esse final de semana. –
digo, puxando-a para perto de mim. – Desculpa.
— Isso não é culpa sua, And. – diz. – Pode ser até mesmo que
ela tenha ficado lá no Rio ao invés de vir para cá. Ou sabe Deus
para onde eles a mandaram! – e passa as mãos pelos cabelos,
levando-os para trás. – E eu tinha uma coisa lá dentro que é
importante.
— É claro que tinha. Você usa seu computador para trabalhar.
Ela ri e segura meus braços.
— Bem mais importante do que isso, lindo. – sorri.
— Nós vamos encontra-la. – falo, pousando um beijo em sua
testa.
— A mala da senhora veio no voo. – ouço a moça dizer atrás de
mim e me viro para ela. – Mas não esta aqui.
— É claro que não esta. – Luara diz. – Se estivesse, eu não
estaria mais no aeroporto e sim a caminho do hotel.
A moça olha para mim um pouco sem graça e abre a boca para
responder, mas torna a fechar.
— Peço desculpas a senhora por isso. – diz quando finalmente
recupera a fala. – Sinto muito pelo inconveniente. Já repassei o
caso para o meu responsável e ele já esta rastreando sua mala. Até
no máximo amanhã pela manhã ela já...
— AMANHÃ DE MANHÃ?! – Luara exclama alterada. – Minha
querida, você espera que eu vista o quê exatamente até amanhã?
Ou talvez você espere que eu passe o final de semana todo com a
mesma roupa? Porque é bem óbvio que vocês não vão encontra-la
dentro desse prazo.
— Senhora, preciso pedir para que a senhora mantenha a
calma. – ela pede e tenho que me segurar para não rir. – Nossa
companhia coloca rastreadores em todos os identificadores das
malas justamente para esses casos e o da senhora já foi passado
para poder ser localizado.
— Então quer dizer que isso costuma acontecer com bastante
frequência, não é? – pergunta praticamente rindo. – Olha, eu não
vim para cá a passeio. Vim a trabalho e sei que você esta fazendo o
seu aqui. Mas a questão é: o meu trabalho esta dentro daquela mala
que vocês perderam e eu preciso dela para ontem. Não para
amanhã.
— Senhora, eu...
— And, resolve isso para mim, por favor. – Luara pede e percebo
em seu rosto que esta quase chorando. – Eu não quero ofender
ninguém e você sabe.
— Fica calma, linda. Isso não faz bem para vocês. – sussurro
para ela, segurando sua mão. – Você tem um papel? – peço a moça
e ela me entrega um bloco de papel e caneta. – Vou anotar aqui o
telefone da minha namorada e o endereço do hotel que vamos ficar.
– digo, já anotando os dois. – Quando vocês encontrarem a mala,
eu quero que ligue para este celular para avisar e que entreguem no
hotel. Caso isso não aconteça até amanhã de manhã, assim como a
senhorita bem especificou que aconteceria, terei que pedir para que
o advogado da minha namorada entre no caso e acho que não é o
que vocês vão querer.
E com isto, devolvo para ela o bloco e a caneta.
— O senhor não quer deixar seu celular também? – ela pede e
Luara ri ao meu lado. – Para o caso de não conseguir falar no dela?
— Não. O erro de vocês foi com Luara. Então deverão resolver
diretamente com ela. – respondo de maneira ríspida. – O outro
telefone que posso te passar é o do escritório do nosso advogado.
— Não será necessário.
— Ótimo. – respondo de volta. – Estaremos no aguardo de sua
ligação para o quanto antes. – e antes de me virar para ir buscar o
carro que Ana alugou, acrescento: – E avise seu gerente que não
quero saber de passagem grátis para tentarem se redimir comigo.
Já não é a primeira vez que a empresa na qual você presta seus
serviços vem falhando com a minha e estou realmente cansado
disto.
— Peço desculpas por isso, Sr. Giardoni.
— E eu espero que esta mala esteja no meu hotel até às sete
horas da manhã de amanhã. – respondo de volta. – Tenha uma boa
noite. – digo, tomando a mão de Luara na minha e saio.
— As coisas para você parecem ser tão mais simples. – Luara
diz ao meu lado e rio.
— Só parecem. – falo. – Estou cansado das merdas que essa
companhia aérea tem feito comigo já. Comigo e vários outros dentro
da BIT. E eu já falei mais de uma vez para Ana não reservar mais
passagens com eles para mim.
Paro no balcão de aluguel de carros, entregando meu
documento para o rapaz do outro lado, que começa uma busca por
minha reserva.
— Sabia que quando fui para São Paulo, o motivo para ter me
atrasado foram eles? – pergunto, virando-me para Luara. – Eu podia
ter perdido o voo para Nova Iorque com você por causa de um
atraso deles, que tudo o que fizeram foi dar duas passagens de
primeira classe com destino de minha escolha.
— Isso deve ser mesmo muito chato. – ela diz para me provocar
e sorrio. – E o que você fez com elas?
— Dei para o Felipe e disse para levar a namorada dele para
algum lugar. – respondo e o rapaz volta até onde estamos e me
entrega um papel, junto da chave do carro.
— Aproveitem a viagem e tenham uma boa noite. – diz.
— Obrigado.
— Obrigada. E uma boa noite para o senhor também. – Luara
sorri para ele.
— Parece que pegamos um Civic. – comento quando voltamos a
andar.
— Ele é sua marca já.
— Gosto dos modelos dele. Esse é um Sedan branco.
— Certamente não é o seu perfil.
— Sou mais neutro. – respondo. – Só não gosto mesmo de
carros coloridos.
Fazemos o caminho restante até onde o carro esta, conversando
sobre qualquer coisa que não seja o inconveniente com a bagagem
de Luara. Percebi que tem algo de mais importante lá apenas pela
forma com que se irritou quando percebeu que ela não estava mais
na esteira e mais ainda enquanto conversava com a mulher no
balcão. E eu me sinto mais do que apenas responsável por ela ter
perdido, uma vez que ela apenas veio para cá por convite meu.
— Quer passar de alguma loja para comprar algumas roupas
para você? – pergunto, abrindo o porta-malas do Civic para guardar
nossas coisas. – Ao menos para sairmos para jantar e passar a
noite. E alguma lingerie, caso todas as suas estivessem na mala. –
sorrio de maneira sugestiva para ela.
— Não me diga que esta me sugerindo que façamos sexo no
provador da loja, Andrew. – ela diz, cruzando os braços e abro a
porta para que ela possa entrar.
— Na verdade eu só havia pensado naquela vez que você usou
aquela cinta e no quanto achei que ficou sexy. – digo um pouco na
defensiva. – Mas se você quiser...
— Bem, eu pensei. – diz e sorri para mim. O que faz com que o
pequeno And acorde um pouco. – Mas acho melhor nós irmos
primeiro para o hotel e fazer check-in. Isso é mais importante.
— Tudo bem. – concordo. – Ainda são seis horas. Então
podemos dar entrada nos nossos quartos e sair para fazer compras
e jantar em algum lugar.
— Vai mesmo manter os quartos? – pergunta e deixo para
responder quando me sento ao seu lado no carro.
— Você quer isso? – pergunto de volta, sentindo-me incomodado
com a ideia de passarmos à noite separados. Quero estar com ela o
tempo todo enquanto estivermos aqui. E isso inclui dormir ao seu
lado.
— Achei que isso estivesse meio óbvio quando te pedi em
namoro lá no avião há algum tempo. – responde com uma careta.
— Não respondeu minha pergunta. – digo e arqueio a
sobrancelha.
— Então vai ficar sem ela.
— Você fica uma gracinha quando esta brava. – rio.
— Idiota. – ela diz tentando parecer brava, mas acaba
fracassando.

◆◆◆

Luara
Andrew estaciona o carro frente a um hotel realmente bonito
cerca de trinta minutos depois de termos saído do aeroporto.
Ainda estou um pouco irritada com o que aconteceu com minha
bagagem e isso já me fez chorar a caminho daqui, porque, além de
que não poderei trabalhar hoje no site que estou desenvolvendo,
também não tenho mais como dar a foto do ultrassom para And,
para poder dar a notícia a ele de que teremos gêmeos.
Talvez eu devesse apenas falar. Ou talvez eu aproveite quando
formos sair para comprar as roupas para passar a noite, possa
aproveitar e comprar também dois pares de sapatinhos e dar a ele.
Sorrio com o pensamento que de repente surge em minha
cabeça. Talvez eu faça isso para ele.
— Espere aqui. – Andrew diz ao meu lado e desce para vir abrir
a porta para mim e aperto o crucifixo de seu colar. Preciso devolver
para ele. – Senhorita. – diz logo que abre a porta, oferecendo um
sorriso lindo para mim.
— Parece que andou chovendo bem por aqui. – comento,
notando a poça d’água pouco a frente logo que saio.
— Algumas amizades são iguais à chuva no começo do ano:
frequentes no início e de repente somem.
— Esta sem dúvidas é a melhor definição a respeito disso. – digo
e ele sorri quando seguro sua mão para que possamos entrar no
hotel.
No instante em que Andrew e eu damos o primeiro passo para
voltar à calçada, um carro vira a esquina bem mais rápido do que
deveria, jogando uma água fedida e suja em nós, que antes estava
na poça.
— DESGRAÇADO FILHO DA... – eu solto no momento em que a
água me atinge. – Era só o que faltava para terminar de estragar
meu dia. – bufo.
— Mas que porra! – Andrew exclama ao meu lado, passando a
mão pelo rosto para se limpar. – Vem. É melhor entrarmos antes
que mais algum maluco faça ao pior. – diz, entregando para mim um
lencinho que tira do bolso de sua jaqueta.
— And – eu o chamo. –, sei que suas intenções foram as
melhores possíveis, mas estou começando a me arrepender de ter
aceitado vir para cá com você.
— Eu sei. – responde. – Desculpa por isso. Não era nem de
longe o que eu tinha em mente para esse final de semana.
— Sei que não, lindo. Não é sua culpa. – sorrio e aperto sua mão
na minha.
— Boa noite. – um senhor nos cumprimenta assim que
passamos pela porta do hotel. – Meu Deus! O que houve com os
senhores?!
— Um maluco que devia estar perdendo o trem. – And responde
com óbvia ironia e ele balança a cabeça.
— Um dia vamos acabar vendo algum acidente aqui na frente. –
diz. – São malucos! Diogo, por favor, arrume duas toalhas para os
senhores. – ele pede a um rapaz, que logo some por uma porta.
— O Civic branco. – And diz, entregando a chave do carro para
ele junto de uma nota que não consigo ver o valor. – Nossas coisas
estão no porta-malas.
— Pedirei para que deixem tudo no quarto dos senhores assim
que estiverem acomodados.
— Obrigado. – diz. – Vamos, linda? – pergunta agora para mim.
— Adorei o sotaque dele. – comento assim que nos afastamos.
— Espero que tenha sido apenas isso que tenha gostado.
Fecho a cara para ele por alguns instantes.
— Estou satisfeita com o homem que arrumei para mim. –
respondo. – Ele me da mais do que trabalho já.
— Bom. – diz com um sorriso de lado.
Quando paramos no balcão da recepção, deixo de prestar
atenção em Andrew para observar o hall de entrada do hotel, que é
lindo, assim como lá fora também é. Todo o chão é de granito e tem
alguns quadros lindos e diferentes da maioria que já vi. E isso
considerando que eu ia bastante a museus lá em São Paulo.
— Senhora. – alguém chama e me viro. É o mesmo rapaz que
saiu para buscar as toalhas.
— Obrigada, Diogo.
— Precisando é só chamar. – ele diz com um sorriso gentil. –
Tenha uma boa noite. – e sai assim que me entrega as toalhas. Uma
eu uso para me limpar já, porque estou me sentindo incomodada.
— Como cancelado? – a voz levemente alterada de Andrew
chega até mim e me viro para ver o que esta acontecendo desta
vez.
— Houve um erro no nosso sistema essa tarde e ele cancelou
algumas reservas. – a moça do outro lado explica.
— Certo. – And diz calmo. – Eu só preciso de um quarto. O que
você tem?
— Bem... – ela começa, então para, como se buscasse as
palavras certas para dizer. – É que por conta do congresso
tecnológico que começou hoje, nós estamos lotados.
— Sim, eu sei a respeito do congresso. É justamente por isso
que estamos aqui. E tínhamos não uma, mas duas reservas e vocês
cancelaram as duas!
— Sinto muito pelo ocorrido, Sr. Giardoni. – pede. – A maioria
dos hospedes chegaram logo no início da tarde e os quartos dos
senhores acabaram indo para outros hospedes.
— And. – eu o chamo para entregar a segunda toalha para que
possa se limpar.
— Obrigado. – sussurra. – Você não tem nem mesmo um único
quarto sobrando? – pergunta realmente calmo e isso me
surpreende, porque se fosse eu não sei como estaria mais. –
Goiânia não tem sido muito receptiva conosco desde que chegamos
e isso foi há bem pouco tempo.
— Tem um quarto. – ela diz após uma rápida consulta no
computador. – Mas é a suíte presidencial. – conclui e não consigo
deixar de rir com tamanha ironia. O que faz Andrew sorrir.
— Como te disse: eu preciso de um quarto. – diz.
— Vou fazer o check-in dos senhores. – informa. – Só preciso do
documento da senhora também.
— Claro. – digo já tirando a carteira de dentro da mochila. Por
sorte não fiz a burrada de guardar ela na mala também.

— Você esta com uma manchinha aqui. – And diz, passando o


dedo por minha bochecha enquanto subimos até a cobertura.
Apenas seu toque é mais do que suficiente para fazer meus olhos
se encherem de lágrimas. – Tudo bem, Anjo? – pergunta e nego,
secando as lágrimas que começam a escorrer por meu rosto.
— Nada esta bem desde que chegamos, And. – solto. – E eu
quero brigar com todos eles por tudo isso e mais ainda com você,
porque foi você quem me trouxe para cá. Mas eu também sei que
não é sua culpa e que suas intenções com isso foram as melhores.
Que você me deu uma oportunidade para aprender mais sobre isso
de supervisão e para nos dar uma chance. Mas...
Paro de falar quando o elevador chega ao andar e aperto forte
os olhos, tentando não chorar mais.
— Vem. – And me chama baixinho e seguro sua mão. Em
silêncio nós entramos no quarto, que é uma suíte enorme e linda,
mas que nesse momento não consigo admira-la como gostaria,
porque sinto que preciso colocar tudo isso que estou sentindo para
fora antes que acabe me sufocando.
— Não é por terem extraviado minha mala e atrasar meu
trabalho. – volto a falar, mais uma vez apertando o crucifixo em
minhas mãos. – Não é por aquele infeliz que sujou a única roupa
que tenho aqui, tirando qualquer chance de sair desse hotel e
menos ainda por terem cancelado nossa reserva.
— O que você tinha na mala além do que me falou? – And
pergunta. – Achei que você não tivesse ficado assim só pela mala.
— O envelope. – respondo.
— Envelope? O do médico?
— Sim. – sussurro em resposta.
— Ele esta comigo. – diz e franzo o cenho.
— Eu coloquei na minha mala quando terminei de arrumar. –
falo.
— Não, Anjo. Você colocou na prateleira ao lado da porta da
sala. – corrige. – Eu vi lá quando fui trancar a porta para sairmos e
me lembrei do que você me falou cedo.
E com isto Andrew pega em sua mochila o envelope branco com
o logo da clínica do Dr. Marcus e estende para mim.
— Achei que fosse importante para você. Por isso peguei.
Com estas palavras, sinto meu coração na garganta. Será que
ele olhou o que tem aqui?
— Você viu? – pergunto e ele franze o cenho como se estivesse
ofendido.
— Sei desde que voltei que algo esta te incomodando e que
você esta me escondendo alguma coisa, Anjo. – ele diz sério. – E
por mais preocupado que eu esteja, quero que você descida me
contar o que é. – sacudindo o envelope na minha frente, And
completa: – Pega.
— Abre. – sussurro. – É para você.
— Tem certeza? – pergunta e confirmo com um gesto.
— Lê a carta primeiro. – peço.
— Parece que vou finalmente descobrir o seu segredo. – ele
sorri.
Observo atenta e tremula enquanto Andrew tira o adesivo que
lacra o envelope. Meu coração bem acelerado no peito.
— Uma carta. – diz, arqueando a sobrancelha, parecendo estar
realmente curioso.
— Lê em voz alta. – peço, fazendo com que ele sorria.
— Sim, sim, minha linda. – diz e sorrio sem graça, entrelaçando
as mãos frente à boca.
— And. – ele começa e para quando me afasto para poder
sentar. – Você vem cá. – diz, puxando-me pela mão para perto dele
e envolve o braço por meu ombro, enquanto eu o abraço,
escondendo o rosto em seu peito. – And – começa uma segunda
vez. –, nossos filhos estão crescendo bem e saudáveis. Um deles
está com sete centímetros e o outro com nove...
Afasto o rosto de seu peito para olhar para ele e vejo o pequeno
v em sua testa.
—... Sinto que pode ser um casal. Não pelo tamanho, é claro. Eu
apenas sinto isso mais forte do que quando penso em outras
combinações. – ele franze ainda mais o cenho e sinto o ritmo
acelerado de seu coração. – Sim, lindo, você estava certo. Teremos
gêmeos. – e então para, olhando para o papel em suas mãos por
algum tempo. – Meu Deus. – diz, parecendo realmente surpreso. –
Você me perguntou e eu disse que não, mas fiquei pensando...
Então pedi para o meu médico e hoje eu pude vê-los perfeitamente
dentro de mim. Tão pequeninos e indefesos...
Outra pausa e desta vez ele me olha por poucos segundos e
tenho a impressão de ver seus olhos brilharem. Não pela luz, mas
por... Lágrimas?
—... E foi estranho vê-los dentro de mim daquela forma.
Principalmente sem você comigo. Eu me senti sozinha ali e a culpa
foi minha. Mas eu precisava passar por isso se queria dar ao
homem que já tem tudo, a certeza (surpresa) de que agora de fato
ele terá tudo. – ele sorri e dessa vez vejo uma lágrima escorrer por
sua bochecha, assim como também percebo sua voz começar a
embargar. Passo a mão por seu rosto para secar uma segunda
lágrima. – E saber que fui eu a pessoa capaz de dar isso a você me
deixa mais do que apenas feliz.
Andrew ri e percebo o quanto ele esta nervoso. Só não sei se
tanto ou mais de que eu.
— Lindo, meu anjo. – ele sorri. – Eu amo você de todas as
formas possíveis e imagináveis. E quero que você saiba que não
será uma briga como a que tivemos que vai nos separar.
— Tá. Você já pode parar. – eu o interrompo, mas sou ignorada
completamente.
— Amo você. Amo seu sorriso. Amo a forma com que você me
olha e as covinhas que se formam no seu rosto quando sorri para
mim. Ps: Olha a foto. Sempre sua, Lu.
Por algum tempo, ele fica em silêncio, apenas olhando para o
papel em suas mãos e tenho a sensação de que esta lendo uma
segunda vez.
— Sabe que eu não tenho de fato tudo o que quero, né? – ele
pergunta curioso.
— Isso depende bastante do seu ponto de vista. – sorrio em
resposta. – Olha a foto. – sussurro, sentindo meus batimentos bem
acelerados. And abre o envelope uma segunda vez, tirando de
dentro dele um pequeno papel. E o sorriso que surge em seu rosto é
a coisa mais linda que eu já vi em todo o mundo.
— É sério mesmo? – pergunta com um sorriso que vai de um
lado a outro e confirmo, sentindo-me mais do que apenas nervosa. –
Linda. – diz e afasta, sentando-se na cama, provavelmente não
conseguindo continuar de pé. – Meu Deus. Isso... – e me olha,
sorrindo todo confuso.
— Você estava certo ao perguntar se eu tinha mesmo certeza se
havia apenas um. – falo. – Nós olhamos direitinho agora e vi que
tem dois.
Andrew sorri para mim e torna a levantar.
— Anjo. – sussurra, envolvendo-me em um abraço realmente
apertado e tudo o que consigo fazer é correspondê-lo com tanta
força quanto. Um abraço repleto de saudade, desejo e felicidade
que apenas ele é capaz de me fazer sentir, quando o medo está
tomando conta de mim. – Gêmeos? – pergunta no meu ouvido e
confirmo com a cabeça, sentindo quando me tira do chão, ainda me
abraçando. – Estou sem palavras. – diz e sorrio sem graça. – Só há
uma coisa capaz de me tornar o homem mais feliz do mundo e me
fazer ter realmente tudo o que mais desejo.
— E o que é? – pergunto curiosa, segurando seu rosto em
minhas mãos e ele sorri para mim.
— Case-se comigo. – diz, olhando em meus olhos. – Aceite ser
minha esposa, minha companheira para toda a vida.
Enquanto diz isto, ele me coloca de volta no chão, mas não solta
minhas mãos.
— Eu sei que não sou o homem mais fácil do mundo e nem você
é a mulher mais fácil de conviver em longo prazo. – volta a falar e
acabo rindo. – E você aceitar significa se envolver comigo para
sempre, porque não vou nunca desistir de nós e eu espero que você
também não desista.
And para de falar e sinto lágrimas atrás de lágrimas escorrendo
por meu rosto. Bendita sensibilidade!
Ele leva a mão ao bolso direito e tira dali uma pequena caixinha
preta e felpuda. Meu coração para de bater no instante em que o
vejo se ajoelhar na minha frente e abrir a caixinha, mostrando o par
de alianças.
Uma é toda cravada em diamantes pequenos, com uma pedra
solitária no meio e toda formada no símbolo do infinito. A dele já é
mais simples e tem três listras que circula ela toda.
— Meu Deus. – sussurro, cobrindo a boca com as mãos.
— Você não precisa me responder agora. – começa a falar e
percebo o quanto ele esta nervoso. – Pense com carinho e...
Quando me ajoelho na sua frente e seguro seu rosto em minhas
mãos, Andrew para de falar. E, assim como fiz está manhã, apoio
minha testa na dele antes de sussurrar junto aos seus lábios:
— Sim.
Ele sorri e me beija com força, embora um pouco nervoso. E eu
o sinto deslizar a aliança por meu dedo anelar na mão esquerda.
Em resposta, pego a sua e faço o mesmo, sorrindo para ele.
— Sim. – repito e o beijo. – Minha resposta vai ser sempre sim,
And. – digo. – Foi no início da semana, foi hoje cedo e continua
sendo a mesma agora e vai ser sempre.
— Eu te pedi em casamento enquanto dormia. – diz com o
cenho franzido e sorrio, confirmando. – Foi por isso que você me
disse aquilo quando me contou que falei dormindo.
— Esperei que você percebesse algo. – torno a sorrir e ele fecha
a cara para mim. – Mas você estava realmente dormindo.
— Ora, sua... – começa a dizer e levanta, jogando-me em seus
ombros.
— ANDREW! – grito. – ME COLOCA NO CHÃO AGORA! I
Ao invés de me obedecer, ele me joga na cama, prendendo-me
ali.
— Sabe que agora sim eu sou um homem que tem tudo, né? –
sussurra com o rosto próximo ao meu e passo minha mão por sua
barba por fazer.
— Eu também me sinto assim. – sussurro de volta e o beijo com
todo o amor que sinto por ele. E isso faz meu corpo estremecer de
cima a baixo, mostrando o quando eu o desejo.
Capítulo Nove
Sábado
Andrew

Acordo depois do almoço e continuo de olhos fechados, apenas


pensando em tudo o que aconteceu entre Luara e eu desde que
chegamos a Goiânia. Seu pedido de namoro no avião, o extravio da
mala dela, o maluco que nos molhou logo que chegamos ao hotel, o
cancelamento das nossas reservas e, mais do que tudo, quando ela
disse para eu abrir o envelope da clínica do Marcus, onde dentro
tinha uma carta, uma foto e um DVD.
Já li aquela carta que Luara me escreveu várias e várias vezes e
é como se eu ainda não acreditasse em nada do que ela diz ali.
Como se aquilo não passasse de uma brincadeira. Mas eu sei que
não é, porque a foto mostra nossos dois filhos em uma imagem 3D
e o DVD é o vídeo de seu ultrassom que, segundo ela, Marcus
mandou justamente para que eu não pensasse em leva-la até lá
antes da hora só para poder ver. Acho que isso ajudou um pouco,
mas não diminuiu minha vontade de acompanha-la na próxima
consulta apenas para poder ver os dois ali e tentar descobrir o sexo.
E, meu Deus! Eu me sinto totalmente bobo com a ideia de que
teremos gêmeos. Não por sempre ter sido o que mais desejei em
toda minha vida. Apenas por ser com a mulher que eu amo. Mesmo
que com apenas um eu já me sentia bobo, mas agora me sinto
realmente bobo.
Bobo no sentido de me sentir apaixonado por essas duas
crianças a ponto de desejar que o tempo passe logo apenas para
que eu possa estar com eles e segura-los em meus braços, ainda
que isso signifique colocar todo meu medo à prova. Porque serão os
nossos filhos. Meus e de Luara. Nossos dois Pequenos. E eu desejo
que ao menos um seja menina.
E o outro motivo que me deixa ainda mais apaixonado é saber
que em um momento de completa loucura pedi Luara em
casamento e ela, mais louca ainda, aceitou.
Quando eu disse aquelas palavras a ela, meio nervoso, meio
levado pelo momento de ter acabado de descobrir sobre nossos
filhos, não achei que ela fosse me dar uma resposta ali mesmo, mas
ela me deu. Ela já havia me dado uma resposta na manhã de
quinta-feira e eu não havia me dado conta daquilo.
Eu fecho os olhos e revivo o momento em que me ajoelhei de
frente para ela e lhe ofereci as alianças e ela aceitou. Lembro-me de
quando coloquei a dela em seu dedo e percebi que ela havia ficado
perfeita, assim imaginei que ficaria quando há comprei. E quando
ela colocou a minha em meu dedo... E tudo isso me deixa muito
nervoso e agora estou pensando em alguma maneira de oficializar
esse pedido com algo que seja mais a cara dela. Só que talvez eu
precise da ajuda de Julie com isso, porque não sei o que fazer.
— Eu sei que disse que iria, Ju. – ouço Luara ao telefone, ainda
deitada ao meu lado. – Mas foi bem de última hora mesmo que And
me convidou para esse congresso. Desculpa. – franzo o cenho e
jogo o braço por sua barriga, puxando-a para perto de mim e afundo
o rosto entre seu pescoço e o ombro. – Por que você não vem para
cá no próximo final de semana? Quer dizer, ir para o Rio. Ah! Você
entendeu. – e ri.
Deixo de prestar atenção na conversa das duas, para tentar
sentir algum movimento na barriga de Luara. Um menor movimento
que seja. Mas não sinto nada. Não senti na quinta, não senti ontem
e continuo não sentindo agora. Mas vou continuar tentando, porque
uma hora vou sentir.
— Sei lá. Nós vemos algo para fazer. – Luara diz e pouso um
beijo em seu ombro nu, passando minha barba por ele, beijando-o.
– Tenho certeza que o And conhece algum bom lugar para isso. –
diz, contorcendo-se sob meu toque. O que me faz sorrir. – Tem o
Los Tres Chicos também. Você gostou de lá. Ou aquele que fomos
na quarta ou qualquer outro lugar, porque o Rio de Janeiro é
simplesmente enorme.
Ainda beijando seu ombro, desço a mão por sua barriga,
passando por sua perna, onde acaricio pela parte de dentro antes
de ir para meu real objetivo.
— P-posso pedir para ele chamar o Fe para fazermos algo
também. – Luara gagueja um pouco e a viro de barriga para cima e,
com o polegar em seu delicioso grelinho e um dedo em sua entrada,
começo a chupar seu mamilo que agora está um pouco mais
escurecido do que costuma ser naturalmente. Quero chupa-la assim
até gozar em minhas mãos. – Eu não sei! – exclama um pouco
ofegante e enfio dois dedos dentro dela, fazendo com que se
contorça ao meu lado. – Por favor. – geme baixinho e sorrio,
puxando seu mamilo entre os dentes. – Vem sim. Vou gostar de ter
você aqui de novo. Estou com saudades de ficarmos conversando
até tarde. SIM! – exclama realmente alto e me pergunto se isso foi
para mim ou para Julie.
— Desliga isso logo, Anjo. – peço, soprando de leve em seu
mamilo e observo ele ficar mais rígido. Meu pau já duro em sua
perna, louco para estar dentro dela. – Eu quero fazer um amor bem
gostoso com você antes de sairmos.
— Ju, eu preciso desligar. – ela diz. – Vou com o And conhecer a
ARCANJOS agora à tarde e ainda tenho que me arrumar. Eu
compro para você sim. – diz rindo.
— Diz que outra hora eu ligo para ela. – falo. – Tem algo que
preciso falar com ela.
— Eu te ligo quando voltarmos! – exclama quando penetro mais
um dedo dentro dela, chupando seu mamilo com mais força. – Amo
você. Tchau!
No momento em que Luara desliga o celular e o coloca de lado,
eu a puxo para cima de mim sem nem mesmo tirar a boca dela.
— Você é um safado, Andrew. – ela diz, abraçando minha
cabeça e a sinto rebolar em meu colo, deixando meu pau ainda
mais duro do que já esta.
— Sim. – murmuro contra seu seio. – Um safado que está louco
para te foder todinha, porque isso é algo que só eu posso fazer com
minha noiva. E você é uma safada que esta louquinha para ter esse
pau dentro de você. – completo quando sinto sua mão no pequeno
And, me masturbando.
— Ah, pode ter certeza que eu quero ter você rebolando gostoso
dentro de mim com esse seu pau grosso e veiúdo. – ela ri e afasta
apenas o suficiente para que eu possa ver seus olhos negros e seu
rosto completamente excitado. – Eu quero e quero agora meu noivo
dentro de mim. – e, com um sorriso safado, ela levanta apenas o
suficiente para me deslizar para dentro dela e a sinto deliciosamente
molhada.
Com as mãos em meu peito, Luara começa a rebolar em meu
colo, levando-nos ao seu próprio ritmo. Ora calmo, ora mais rápido e
profundo. Eu apenas seguro seu quadril, incapaz de desviar a
atenção de seus seios que pulam conforme se movimenta.
— Pelo amor de Deus, o que esses seus peitos tem hoje? –
pergunto, puxando-a para perto de mim e os tomo em minha boca
outra vez, chupando, sugando, fazendo com que Luara gema
gostoso em meu ouvido.
— Goza para mim, minha linda. – sussurro em seu ouvido,
dando um tapa em sua bunda, arrancando um gritinho dela. – Goza
bem gostoso, goza. – sinto minha voz mais pesada quando digo
isso, então a levanto, dando início aos meus próprios movimentos.
— Fica por cima. – ela pede e rapidamente inverto nossas
posições, penetrando nela outra vez. – Ah! – geme alto e me abraça
com as pernas, prendendo também suas mãos ao redor do meu
pescoço e a beijo com força.
— Você me deixa louco, sabia? – rosno em seu ouvido e sinto
suas mãos deslizarem por minhas costas até estarem em minha
bunda, apertando-me contra ela.
— Eu vou gozar. – diz em meu ouvido e é como se estivesse
cantando para mim. Eu a sinto se derramar ao meu redor e gozo
dentro dela, ainda sentindo suas contrações em meu pau.
— Porra, Anjo! – exclamo, estocando uma última vez dentro dela
e então paro, soltando todo meu peso em cima de seu corpo,
sentindo-me mole.
— Pesado. – ela sussurra, passando uma mão por meus
cabelos. – Tão gostoso. – diz e me beija com calma, acariciando
meu rosto. E esse toque me deixa bem mais do que apenas
satisfeito. – Sabe que isso que você fez foi maldade, né? – pergunta
logo que me afasto e sorrio para ela.
— Vocês terão muito que conversar quando ela vier para cá. –
digo e saio de dentro dela, deitando-me ao seu lado. – E muito
tempo para isso também. – completo, dando um beijo em seu rosto.
– Por que não passou meu recado para ela? – pergunto e Luara ri.
— Talvez porque você estava me torturando e eu já não estava
nem conseguindo pensar direito? – pergunta de volta. – Não me
surpreenderia se a Ju tivesse desconfiado que você estivesse
fazendo algo.
— Bem, eu nem desci para chupar você aqui. – falo, passando a
mão por sua entrada, sentindo meu gozo que escorreu por suas
pernas. – Você teria perdido completamente a capacidade de falar
qualquer coisa que fizesse sentido. – digo e enfio dois de meus
dedos em sua boca para que ela possa sentir do gozo junto ao dela,
que me chupa com tanta força que faz com que meu pau fique duro
outra vez.
— Melhor nós nos arrumarmos para sair logo ou não vamos
mais a lugar algum hoje. – ela diz. – E se eu não for a ARCANJOS,
quero ir para a palestra que vai ter agora às duas horas, porque é
um tema bem interessante.
— Estaremos de volta para a palestra das quatro, Anjo. – digo e
coloco seu cabelo para trás da orelha. – Vai ser bem mais
interessante e produtiva de que essa.
Com o cenho franzido, Luara senta na cama, ficando sob as
pernas.
— Meu apelido tem alguma relação com essa empresa de
cosméticos? – pergunta. – Desde que nos conhecemos você me
chama de Anjo. Por quê? – pergunta e dou de ombros.
— Eu não sei. – digo a verdade. – Lembro-me de ter chamado
você assim na praia ou ao menos pensado e quando nos
conhecemos sete anos antes, na sua festa. Eu chamava aquela
garota de “Meu Anjo” e senti que você fosse um desde que te
conheci no Rio. Então quando nos encontramos na reunião, e mais
ainda com o que houve com sua avó, eu quis que você fosse meu
anjo. Sempre foi assim que te chamei.
— Você é meu anjo, And. – ela sussurra para mim.
— Me acompanha no banho? – pergunto, sentando na cama e
ela concorda.
— Mas sem sexo no chuveiro dessa vez. Não quero me atrasar
para essa visita.
Sorrio.
— Tudo bem. Só vamos tomar banho dessa vez. Podemos tomar
outro banho juntos quando voltarmos à noite. – digo e ela sorri. – Só
que se eu tiver que esperar você tomar banho para poder tomar
depois, eu vou dormir.
— Ei! Eu não demoro assim quando temos que sair! – exclama
ofendida e acabo rindo.
— Não é isso, linda. – sorrio. – Estou cansado de toda essa
correria. Andamos a manhã toda e viemos para o hotel ontem tarde
da noite.
— Sim. Também estou assim. – concorda e franze o cenho,
aproximando de mim. – Ainda não acredito que você fez uma
tatuagem sobre nós enquanto estávamos separados. – diz, tocando
o desenho em meu bíceps no braço direito. É o desenho de uma
pena de anjo. Fiz em Londres, logo nas primeiras semanas que
cheguei.
— Queria algo que você fosse conhecer o significado no
momento em que olhasse. – falo e levo a mão até seu queixo. –
Podemos ter dado um tempo um do outro fisicamente, mas o que
sinto por você não diminuiu em nada e menos ainda sobre o quanto
queria estar ao seu lado outra vez. E menos ainda resolveu nossos
problemas.
— Também não diminuiu nada o que sinto por você, And. – ela
diz. – E definitivamente não resolveu nada termos passado todo
esse tempo que ficamos separados, porque quanto mais os dias
passavam, mais eu sentia sua ausência me doer.
— Sinto muito por isso. – falo. – Mas agora não vou a lugar
algum sem que você esteja comigo. – digo e ergo sua mão
esquerda, onde os diamantes em sua aliança brilham contra a luz. –
E se eu for, teremos isso aqui nos ligando. – Luara sorri para mim
toda tímida.
— Espero não precisar ficar tempo assim longe de você. – diz e
concordo.
— Ainda não acredito que você passou uma noite inteira comigo
e não tinha percebido que eu tinha feito essa tatuagem.
— Sabe que sou desligada de alguns detalhes. E, bem, fiquei um
mês inteiro sem ver você e por mais que eu fosse reparar em algo
assim, naquele momento eu não consegui.
Aproximo-me de seu rosto antes de responder:
— Reparei em cada mínima mudança em seu corpo no instante
em que coloquei os olhos em você, porque eu já havia perdido um
mês inteiro e não queria perder mais nenhum segundo que fosse.
Luara sorri e me beija.
— Banho? – sussurra com a respiração um pouco ofegante e
sorrio.
— Banho.

◆◆◆

Luara
Quando Andrew e eu chegamos a ARCANJOS, ainda faltam alguns
minutos para o horário da nossa visita. E enquanto caminhamos
direção ao enorme edifício, sinto-me cada vez mais ansiosa para
conhecer tudo, porque, desde que eu consigo me lembrar (e com
isso quero dizer desde que comecei a me interessar por maquiagem
e essas coisas), uso os produtos deles. Só não o perfume, porque
gosto mais de outro. Isso tanto a Ju quanto eu.
E é por isso que ela me pediu para levar uma nova maleta de
maquiagem para ela.
— Ansiosa? – Andrew pergunta ao meu lado e aperto sua mão
na minha.
— Um pouco. – respondo. – Quero ver como é a construção por
dentro.
— Você já vai descobrir isso. – ele diz e paramos frente à porta
automática e logo posso ver o interior do prédio. Tudo parece ser
muito lindo e meio rústico.
— UAU! – exclamo realmente encantada com o que vejo.
— Você gosta mesmo de construções, decoração e derivados. –
And observa e olho para ele.
— Convivência com Julie, lindo. – digo e ele ri.
— Boa tarde, senhores. – uma moça com não mais do que vinte
anos nos cumprimenta. Ela é uma mulher realmente bonita.
— Boa tarde. – Andrew e eu respondemos no mesmo instante. –
Sou Andrew Giardoni. – ele diz. – Temos horário marcado com
Miguel dos Anjos para uma visita.
— Os senhores Miguel e Gabriel já estão descendo para
acompanha-los. – ela diz em resposta. – A Sra. Sara irá encontra-
los mais tarde.
— Tudo bem. Obrigado. – And sorri para ela, que retribui com
um sorriso exagerado demais para o meu gosto. Em resposta a ele,
passo meu braço ao redor do quadril de And, ficando o mais
próxima dele possível e pouso um beijo em seu braço. Ele é meu,
querida.
— Os senhores gostariam de beber algo? – ela pergunta um
pouco sem graça.
— Água, por favor. – Andrew pede com um sorriso de lado. – E
você, linda?
—O mesmo. – respondo com um sorriso de lado e sou retribuída
com um sínico vindo dele.
— Volto em instantes. – ela diz e sai, sumindo de vista por uma
porta do outro lado.
— Pude sentir uma faísca saindo de você quando ela sorriu para
mim. – Andrew diz e fecho a cara para ele.
— Agora que estamos assumidamente juntos, não tenho porque
ver essas mulheres flertando com meu noivo na minha cara e ficar
quieta. – digo e ele sorri. – Já não sei se gostei muito de saber que
teremos uma Sara nos acompanhando nessa visita.
— Repete. – And pede e franzo o cenho para ele.
— O que?
— O que você disse.
— Sobre Sara? – pergunto e franzo ainda mais o cenho.
— Não. Antes.
— Ah! – exclamo, sentindo meu rosto aquecer ao entender o que
ele esta pedindo. Mas sorrio, segurando seu rosto entre minhas
mãos e aproximo o meu dele. – Você é meu noivo, Andrew Bôer
Giardoni. – sussurro. – E meu tudo.
Quando Andrew sorri para mim, vejo seus olhos brilharem contra
a luz. Então eu o beijo, sentindo meu coração disparado, como se
fosse à primeira vez que fazemos isso.
— Boa tarde, senhores. – ouço uma voz grave e grossa atrás e
nós e rapidamente me afasto. – Boa tarde. – ele sorri. – Desculpem-
nos por interrompê-los.
— Há quanto tempo, Miguel. – Andrew diz, apertando a mão que
o homem lhe oferece.
— Senhora. – diz agora me cumprimentando. – Sou Miguel dos
Anjos. Presidente CEO da ARCANJOS. É um prazer conhece-la.
— Oi. – digo quase em um sussurro, sentindo meu rosto aquecer
um pouco. – Luara. – sorrio sem graça.
Miguel sorri para mim e aperta minha mão e me permito
observa-lo.
Ele é alto, forte e tem o cabelo castanho perfeitamente arrumado
e olhos azuis. Talvez na casa dos trinta e cinco, trinta e seis anos. A
definição de um homem lindo, assim como sempre achei e admirei
Andrew.
Já o rapaz ao seu lado parece ter não mais do que vinte e oito
anos a meu ver e é tão alto quanto Miguel, mas os dois ainda são
menores que And. Todos são. Seus cabelos são loiros e
bagunçados, como se nem tivesse se dado o trabalho de arruma-los
quando saiu da cama provavelmente de alguma mulher com quem
passou a noite transando. Seu físico é de quem certamente passa
horas na academia e tem uma pele levemente morena por causa do
sol que deve tomar em alguma praia.
Os dois, sem tirar nem por, são lindos ao ponto de deixar
qualquer mulher derretida por eles. Principalmente o loiro, que tem
os olhos fixos em mim e um sorriso torto que me deixa levemente
desconfortável.
— Este é meu irmão caçula Gabriel. – Miguel apresenta quando
ele se aproxima de mim. – Nossa irmã, Sara, irá se juntar a nós
dentro de uma hora. Ela esta em reunião.
— Miguel é sempre formal demais para o meu gosto. – Gabriel
diz. – É um prazer enorme conhece-la, Luara. – ele diz com a voz
levemente rouca e tão grave quanto a do irmão, dando um beijo em
minha bochecha e sinto meu rosto realmente se aquecer, assim
como também sinto o olhar de Andrew em cima de nós.
— O prazer é meu. – sorrio um pouco sem graça.
— Como vão as coisas, Andrew? – pergunta agora a ele,
cumprimentando-o.
— Melhorando a cada dia. – diz, envolvendo o braço ao redor do
meu quadril e sinto seu beijo em meu rosto. – E você?
— Digo o mesmo. – responde.
— Preciso de água. – digo a primeira coisa que me vem à
cabeça.
— Beatriz! – Gabriel chama e olho para o lado, notando a
mesma garota de antes.
— Desculpem-me a demora. – ela pede, entregando os dois
copos d’água.
— Obrigada. – sussurro, sentindo a boca seca. Gabriel me
encara com um sorriso de lado.
— Tudo bem? – And pergunta quando devolvo o copo para
Beatriz.
— Está. Só me senti um pouco zonza por causa do calor. Não é
nada. – respondo a verdade.
— Qualquer coisa você me avisa, por favor.
— Tudo bem. – sorrio para ele, segurando sua mão.
— Podemos começar então? – Miguel pergunta. – Temos muito
que ver e pouco tempo.
— Claro. Tem alguém aqui que estava bem ansiosa para
conhecer tudo por aqui. – Andrew diz e aperto sua mão, chamando
sua atenção para mim.
— Se quer conhecer a magia por trás da linha de cosméticos,
veio ao lugar certo. – Gabriel diz. – Por que não começamos pela
ala leste? – pergunta ao irmão, que concorda com a ideia.

Miguel explica sobre a produção de uma nova linha de perfumes


que estão criando e que deve entrar no mercado pelo próximo mês,
mas o que realmente tem me intrigado desde que comecei a pensar
no assunto, é o nome dos três irmãos.
— Alguma pergunta? – Miguel pergunta e sorrio meio sem graça.
— Tenho uma. Mas não acho que tenha muita relação com o que
você acabou de explicar, ainda que eu tenha achado tudo bastante
interessante. – digo e, mesmo sem olhar para ele, sei que Andrew
tem o olhar em cima de mim. Ele esta um pouco mais afastado,
conversando com Gabriel.
— E o que seria?
— Bem... Eu estava pensando, você e seus irmãos têm nomes
de anjos. – solto de uma só vez. – Anjos Arcanjos.
Miguel ri.
— Nossos pais são católicos devotos. – explica. – E com o
sobrenome, tiveram a brilhante ideia de batizar os quatro filhos com
nomes de anjos arcanjos.
— Quatro? – pergunto e ele confirma.
— Miguel, Gabriel, Rafael e Sara.
— Saraquiel.
— Sim. – ele sorri. – Na verdade Sara é a segunda filha e
Gabriel o caçula. Quem teve a ideia da linha de cosméticos foi Sara
e quem “batizou” foi Rafael, achando que a referencia entre nossos
nomes seria um marketing perfeito.
— Foi uma jogada bem curiosa. – digo. – Fiquei me perguntando
a respeito do nome de vocês e o da empresa e achei que não
poderia ser apenas coincidência.
— Apenas o sobrenome mesmo. – diz e concordo. – Quer
experimentar da nossa nova flagrância? – oferece e aceito de
imediato. – Aqui.
— Obrigada.
Passo um pouco da amostra em um pedacinho de papel que
Miguel me oferece e inalo o perfume.
— Bem suave. – falo. – E levemente...
— Levemente sexy e perfeito para usar a noite. – ouço a voz de
Andrew atrás de mim e sua mão em meu quadril, puxando-me
contra ele. – Quando estiver para venda, me avise. – pede e olho
para ele.
— Este saíra com a nova linha Sete Arcanjos, no mês que vem.
– Miguel explica e tenho que rir com mais uma referência, o que o
faz sorrir. – Tenho certeza que a senhora irá gostar.
— Mandaremos um kit de brinde para prova exclusiva. – Gabriel
diz. – Soube que é uma cliente fiel. – olho para Andrew pelo canto
do olho e ele pisca para mim.
— Finalmente encontrei vocês. – a voz de uma mulher chega até
nós e viro o rosto apenas para ver a mulher alta, loira e de cabelos
compridos que se aproxima de nós usando saia preta e uma blusa
branca. Assim como os outros dois, ela é linda.
— Já era tempo, Sara. – Gabriel diz.
— Houve um pequeno atraso com o Rafa e precisei ficar para
resolver um assunto com ele. – explica. – Mas estou aqui, maninho.
– diz, dando um beijo no rosto do irmão. Sou Sara. – apresenta-se,
dando um beijo em meu rosto e outro em And. – Você deve ser o
presidente da BIT. Mas você eu não conheço.
— Está é minha namorada Luara. – Andrew me apresenta e
percebo sua voz com um tom de pose.
— Você é linda, Luara. – Sara diz. – Já pensou em ser modelo
fotográfico? – pergunta e sinto meu rosto corar no mesmo instante.
– Sua imagem seria perfeita para promover um de nossos produtos.
— Obrigada. – sussurro um pouco sem graça quando And me
puxa contra si de maneira que eu possa sentir o pequeno And em
minha bunda.
— Já pensei em te fazer de minha modelo para fotos sensuais. –
ele diz baixinho em meu ouvido e arregalo os olhos. – Pense no
assunto com carinho. – e completa com um beijo em meu pescoço.
— Aqui esta o meu cartão. – Sara me entrega o pequeno cartão
e o seguro. – Se tiver interesse basta me ligar que agendaremos
uma sessão para você.
— Prometo considerar a proposta. – digo e ela sorri para mim.

— Você trabalha com o que? – ouço a pergunta de Gabriel


quando paro bem de frente com uma sala, olhando pela parte de
vidro para as várias pessoas que trabalham lá dentro provavelmente
testando algum novo produto.
— Sou programadora. – respondo sem olhar para ele. – Mas
atualmente trabalho como supervisora na BIT.
— Foi lá que se conheceram? – torna a perguntar e olho para
ele. Andrew, Miguel e Sara estão parados em outra sala,
conversando. – Você e Andrew?
— Mais ou menos. – respondo, desviando o olhar novamente
para a sala quando sinto Andrew me olhar. – Foi há alguns anos,
mas nos aproximamos mais depois que comecei a trabalhar lá.
— O tempo sempre é bom para conhecer as pessoas. – diz
consigo mesmo. – Vai considerar a proposta de Sara? – pergunta,
mudando totalmente de assunto. – Ela tem olho clinico para esse
tipo de coisa e eu preciso concordar com minha irmã: você é linda.
Sinto meu rosto realmente se aquecer com seu elogio e
mantenho a atenção para dentro da sala, onde um homem agora
passa alguma coisa de um vidro para outro.
— O que eles estão fazendo? – pergunto.
— Maquiagem. – responde com pouco interesse. – Não
respondeu minha pergunta. – diz e sinto o sorriso em sua voz.
— Tenho muito que pensar agora. – falo. – Acredito que Sara
seja boa com isso que ela faz, mas não acho que eu seja boa. –
digo e ele ri.
— Olha para mim. – Gabriel pede em um sussurro rouco e sinto
todo meu corpo se arrepiar com suas palavras.
Ignorando tudo, volto a andar para chegar até a sala seguinte,
onde uma placa diz PERFUMARIA.
— Eu gostei de você, Luara. – Gabriel diz, parando ao meu lado.
– E eu gostaria mais ainda se você não namorasse o babaca do
Andrew.
— O babaca na qual você se refere é o meu namorado. – digo
um pouco ríspida.
— Sim. Por isso mesmo que ele é babaca. Isso nos impede de
termos algo... – começa a dizer, então para quando me viro de
frente para ele e cruzo os braços junto ao peito. Andrew tem toda
sua atenção em nós dois ao invés de na conversa que esta tendo.
Isso não vai terminar bem.
— Gabriel – falo com calma. –, você é lindo e atraente.
— Eu sei. – diz com um sorriso convencido. O que me deixa um
pouco desconfortável.
— É claro que sabe. Homens como você sempre sabem disso. –
digo. – Mas a questão é que sou apaixonada por outro homem e...
Não me importa quem você seja ou o que ache dele, é ele quem eu
amo e com quem vou ficar. E não me importa o quão lindo você
seja.
— Um babaca de sorte. – Gabriel diz e arqueio a sobrancelha
para ele. – Tudo bem. Desculpa. – pede. – Admiro o trabalho de
Andrew e a capacidade dele de sempre pegar as mulheres mais
lindas do Rio.
— São todas suas. – eu digo.
— Gabriel. – Sara chama e ele se vira para ela. – Venha cá, por
favor.
— Já vou! – diz em resposta, virando para mim outra vez. – Me
desculpe por isto. Não foi muito legal. Ainda mais por eu saber que
vocês dois estão juntos.
— Vou fazer de conta que nunca aconteceu. – respondo,
virando-me para a sala.
— Obrigado. – é a última coisa que diz antes de se afastar.
Fecho os olhos, sentindo-me um pouco nervosa com isso que
acabou de acontecer aqui. Quer dizer, desde que chegamos que
senti Gabriel me olhando. Mas isso? Nunca!
Sinto uma mão tocar meu braço, fazendo-me pular no lugar.
— Que susto, And! – exclamo, levando as mãos ao coração.
— Estava esperando por outra pessoa? – ele pergunta e
percebo no mesmo instante que está irritado.
— Eu só estava distraída, prestando atenção ao que estão
fazendo lá dentro. – respondo e aponto para o casal dentro da sala
que preparam alguma essência.
— O que Gabriel falou com você? – And pergunta e aperto as
duas mãos. – Anjo.
— Acho que você já sabe. – digo. – E eu não quero falar sobre
isso e menos ainda que você fale qualquer coisa com ele a respeito.
— Não vou. Os irmãos dele já estão fazendo isso. – diz e olho
para os três conversando pouco mais afastados. – E não vou brigar
com você por isso, porque confio em você e sei que não aceitou o
que quer que ele tenha te proposto.
— Espero que isso não atrapalhe seus negócios. – falo, voltando
a olhar para ele, que tem as mãos nos bolsos da calça.
— Quem decide as coisas por aqui sobre o que preciso são
Miguel e Rafael. – ele diz. – Gabriel cuida de outros assuntos e ele
só veio dar em cima de você porque, anos atrás, sai com a
namorada dele.
Ao ouvir sua confissão, arregalo os olhos, realmente surpresa
com o que ele disse.
— Achei que você não se envolvesse com pessoas
comprometidas. – digo a única coisa que consigo e ele sorri sem
graça.
— Ela disse que não era. – conta. – Eles estavam no Rio de
Janeiro e acabaram indo para a mesma boate que eu. Como eu não
a conhecia...
— Vocês transaram? – pergunto.
— Não. Mas nos beijamos no meio de todo mundo e ele acabou
vendo. E isso meio que atrapalhou algumas coisas.
— Agora está explicado. – digo. – Podemos voltar para o hotel?
Não sei se estou me sentindo bem aqui. – peço. – Gostei de tudo,
mas meio que me senti usada agora.
— Sinto muito fazer você passar por isso. – Andrew diz, tocando
meu braço. – Eu devia ter te contado, mas foi há anos atrás. Não
esperava que ele fosse querer cobrar isso agora.
— Eu meio que achei que você fosse brigar comigo. – confesso
e And franze o cenho.
— Sei admitir meus erros, Anjo. – diz. – Vem. Vamos voltar lá
para nos despedirmos. – concordo, segurando sua mão e
caminhamos assim até os três irmãos.
— Andrew, Luara, quero me desculpar por minha atitude. –
Gabriel diz assim que nos aproximamos. – Agi errado por querer
trazer algo do passado de volta e mais ainda por tentar usar uma
garota tão incrível quanto você, Luara.
— Põe errado nisso. – Sara diz com um olhar de censura para o
irmão. – Baita marmanjo igual você. – ela diz e acabo rindo.
— Esta tudo bem. – digo, apertando a mão de And ainda mais. –
Eu só vou precisar que você me diga onde posso comprar uma
maleta de maquiagem da ARCANJOS, Sara. – peço. – Minha
melhor amiga vai me matar se eu voltar sem isso para ela.
— Você foi nossa convidada hoje, querida. – ela diz. – E todas
nossas convidadas ganham brindes exclusivos. E como você é a
noiva de alguém como ele – sussurra, apontando para And com a
cabeça. –, pedi para que preparassem algo mais especial. Então
vou pedir um segundo kit para sua amiga.
— Como você...
— Ele me contou. – responde minha pergunta não concluída. – E
também é meio que impossível não notar o diamante na aliança em
sua mão ou na aliança dele. – sorrio realmente sem graça. – Só
Gabriel é que não enxerga isso. Espero sermos convidados para o
casamento.
— Serão sim. – digo. – Os quatro. Quero muito conhecer Rafael
também.
— Ele é um amor. – diz. – Nem parece de pessoa.
— Vamos, Anjo? – And chama minha atenção, tocando a mão
em minhas costas e esse simples gesto faz com que todo meu
corpo se arrepie, mas desta vez com algo bem mais do que foi
quando Gabriel falou comigo, porque ele contou que erramos noivos
e isso meio que mexeu com algo em mim.
— Claro, lindo. – sorrio para ele.
Com uma ligação breve, Sara pede para que preparasse o
segundo kit para que eu possa levar para Ju e isso me deixa
ansiosa para poder vê-la logo.

No caminho de volta para o hotel, Andrew e eu conversamos


bem pouco. Acho que em parte porque dormi no carro e a outra
porque ainda consigo senti-lo irritado com o que aconteceu, embora
ele e Gabriel tenham conversado bastante enquanto descíamos até
a recepção.
— Você vai comigo na palestra que vai ter agora? – pergunto
quando entramos no quarto.
— Pensei em descermos ao bar para beber algo e depois
jantarmos aqui em cima. – ele responde. – Vi no calendário do
evento que vai ter essa mesma palestra amanhã no primeiro
horário.
— Então vamos amanhã. – digo. – Mas bar? – pergunto com o
cenho franzido e ele sorri.
— Tem um cardápio de coquetéis de fruta que são sem álcool e
sei que você adora isso.
— Você me pegou de jeito agora, And. – digo e ele sorri,
aproximando-se de mim.
— Peguei, é? – pergunta com a voz rouca e sinto suas mãos em
meu quadril, puxando-me para perto dele. – É porque você ainda
não viu a maneira com que eu quero pegar você à noite toda, linda.
– diz e sinto sua barba em meu pescoço, causando um calafrio por
todo meu corpo.
— Então por que você não me mostra um pouco do que quer
fazer comigo para me deixar ainda mais ansiosa pela noite? –
pergunto, puxando seu rosto para um beijo quente e ele me empurra
contra a cama, subindo nela comigo.

◆◆◆

Andrew
—Será que você pode dirigir um pouco mais rápido? – Luara
pergunta ao meu lado e olho para ela.
— Por que a pressa? – pergunto de volta. – A menos que me
diga que quer fazer sexo dentro do carro, na garagem, eu não vou
correr.
— Então que tal isso: se você não for mais rápido, vai ter que
contentar com sua mão pelas próximas vinte e quatro horas.
— Caramba! – exclamo, arregalando os olhos para ela.
— É. E se perguntar mais algo eu aumento!
— Isso é chantagem, linda! – digo, olhando para ela outra vez. –
Por que esta tentando me chantagear sendo que não fiz nada?
— Eu não vou te contar o que preciso fazer, Andrew. – diz,
cruzando os braços junto ao peito e olha para fora da janela.
— Já estou andando no limite, Anjo. – falo. – Não posso correr
mais do que isso. Sem falar que o trânsito aqui no Rio esse horário
é horrível. E também que não quero que nada aconteça.
— EU PRECISO FAZER XIXI, ANDREW! – ela praticamente
grita comigo e não consigo segurar a risada. – E juro que vou bater
em você se continuar rindo!
— Desculpa. – peço. – Não quero ficar sem sexo nem hoje nem
tão cedo. Mas não posso correr mais de que isso.
— Só vai mais rápido, por favor! – Luara praticamente me
implora e, de certa forme, me sinto incomodado por ela. – Eu estou
praticamente desde que saímos de Goiânia sem usar o banheiro e
estou realmente apertada.
— Já estamos chegando. – digo logo que viro uma última
esquina, vendo o prédio do Golden logo à frente.
— Agora mais uma eternidade para você liberar o código da
garagem.
Ignorando seu comentário, eu apenas paro frente ao portão da
garagem e digito meu código para poder entrar e logo estou em
minha vaga. E, assim que paro, Luara desce, indo até o elevador do
meu apartamento e a vejo sumir dentro dele, sem nem mesmo
esperar por mim. O que, de certa forma, é estranho, porque ela
nunca foi nele sozinha ou esteve no meu apartamento sem mim
antes. Não ao ponto de chegar lá e eu não estar.
Saio do carro e vou até o porta-malas, onde tiro de dentro tanto
minha mala quanto a de Luara, junto da mochila e os dois kits que
ela ganhou da ARCANJOS, seguindo logo em seguida para o
elevador agora desocupado e subo até meu apartamento.
— Achei que não fosse mais subir. – as palavras chegam até
mim bem antes de eu poder localizar sua dona.
Luara esta sentada no braço do meu sofá, usando nada além de
um conjunto de calcinha e sutiã rendado, de cor vermelha.
Coloco as duas malas e a mochila no canto ao lado do elevador,
voltando a olhar para ela, que se levanta, vindo até mim.
— Achei que tivesse dito que precisava usar o banheiro. –
comento sem desviar os olhos de seus seios.
— Bem, eu precisava. – diz com um sorriso lindo no rosto. – Mas
isso foi há dez minutos.
— Então quer dizer que não vou mais ter que ficar um dia inteiro
sem ter você? – pergunto, sentindo minha voz bem mais pesada do
que costuma ser. Luara da um passo mais a frente, ficando quase
colada em mim.
— Como se eu fosse aguentar ficar tanto tempo sem ter você
dentro de mim. – sussurra, envolvendo os braços ao redor do meu
pescoço e me beija com força, fazendo com que meu pau fique mais
rígido dentro da calça.
— Então vem cá que eu quero você e quero agora. – digo,
tomando-a em meu colo, levando a nós dois para o sofá e a deito
ali, permitindo que ela tire minha roupa, para só então começar a
brincadeira que, pelo meu gosto e desejo que estou sentindo nesse
instante, vai durar a noite toda, independente de eu ter ou não uma
reunião amanhã logo no primeiro horário.
Capítulo Dez
Sexta-feira
Luara

Estou finalizando o site que venho trabalhando desde semana


passada quando recebo uma mensagem no meu Skype da
secretária do Vice-Presidente, solicitando minha presença na sala
dele em dez minutos. E isso faz com que eu fique nervosa no
mesmo instante, porque sei sobre o que ele quer conversar. Ou pelo
menos tenho uma breve ideia do que possa ser.
Respondo a mensagem com apenas um “Estou subindo” e já
bloqueio meu computador, pegando nada além do meu celular antes
de sair e trancar minha sala atrás de mim, seguindo direto para o
elevador.

— Bom dia. – cumprimento Silvana assim que me aproximo de


sua mesa.
— Olá! – exclama, olhando para mim. – O Sr. Carreira esta no
aguardo. Pode entrar. – diz.
— Tudo bem. Obrigada. – sorrio um pouco sem graça, já
seguindo até a porta fechada do outro lado, onde bato de leve,
anunciando minha presença.
— Entre. – ouço a voz abafada de João do outro lado e abro a
porta poucos centímetros.
— Com licença. – peço.
— Luara! Entre, por favor.
Com isto, entro e fecho a porta atrás de mim.
— Por favor, sente-se. – diz, apontando para o lugar vago frente
a sua mesa e me cumprimenta com um forte aperto de mão quando
me acomodo ali. – Espero que Silvana não tenha assustado a
senhorita com meu pedido para que viesse até aqui. – ele diz e
sorrio.
— Na verdade tenho uma ideia do que pode se. – respondo.
— Sim. Seu pedido quanto ao apartamento aqui no centro. – ele
concorda. – Estive pesquisando alguns lugares e encontrei um bom,
não muito longe daqui. Fica a apenas duas quadras. Caso a
senhorita queira, pode ir conhecer o lugar.
— Eu... – começo a dizer, então paro quando alguém bate na
porta, abrindo-a sem nem mesmo esperar pela permissão para
entrar.
— Andrew. – João diz e me viro em sua direção.
Andrew entra e fecha a porta, vindo até onde estamos. Ele esta
usando um terno preto, que escolheu nesta manhã enquanto se
arrumava. Sei disso porque eu o observei enquanto fazia isso e até
tentei dar palpite quanto à gravata que deveria usar. E ele aceitou a
opinião. O que me deixou feliz.
— Você não vai arrumar nenhum outro apartamento para ela,
João. – ele diz todo sério. – Tínhamos um acordo e cumpri com
minha parte. – franzo o cenho com suas palavras. Acordo? Como
assim?
— O que quer dizer com isso? – pergunto, olhando de um para o
outro. – Que acordo você fez, Andrew? – exijo, sentindo-me de
repente irritada.
— Por favor, me deixe falar com ela a sós. – ele pede, ignorando
minha pergunta.
— Estão em minha sala. – João diz com um sorriso de lado, mas
levanta quando And olha para ele todo sério. – Vou tomar um café. –
completa e o observo sair.
— Que acordo, Andrew? – insisto.
— Linda. – diz, virando-se para mim e passa a mão pelo cabelo,
bagunçando-o. – João me contou sobre seu pedido para o
apartamento.
— Estou sabendo. – digo, cruzando as pernas, encarando-o. –
Você mesmo me contou a respeito.
— E eu lhe pedi uma semana para que nos acertássemos antes
dele ver esse apartamento para você aqui perto, porque eu não
queria que você ficasse longe de mim, por mais que de repente
fosse o que você desejasse.
Quero rir com o que ele diz. Será que ele não sabe que meu
pedido foi apenas porque estávamos separados? Se ele tivesse me
deixado ter essa conversa com João, sem nos interromper, eu
mesma iria me desculpar por tê-lo importunado com algo daquele
tipo e que iria ficar no Golden. Mas não! Ele não tem paciência!
— Pega. – diz, estendendo um documento para mim e franzo o
cenho.
— O que é isso? – pergunto, tomando-o para mim e vejo que é
um contrato. De compra e venda de imóveis. – Andrew. – digo séria,
olhando para ele.
— É seu.
— Você não fez isso.
— Você gosta daquele apartamento. – diz como se não fosse
nada. – E nós estamos bem. Então...
— E esse é o seu motivo para pirar e comprar um apartamento
para mim?! – exclamo realmente chocada.
— Na verdade ele já era meu. – diz com o cenho franzido e
fecho a cara para ele. – Parte do meu e...
— Claro que é. – eu o interrompo. – Eu havia me esquecido que
você é o dono do Golden Village, não é mesmo? – pergunto. – Eu
não quero. É simples.
— Anjo. Por favor.
— Eu não quero nada que seja seu, Andrew. – digo e me
levanto. – É algo simples de entender, mas que você parece ter
dificuldades.
— Eu entendo e muito bem isso, Luara. – diz também cruzando
os braços, encarando-me de volta. – E você é minha namorada.
Minha noiva. E mãe dos meus filhos e... – conforme ele fala, vejo o v
entre suas sobrancelhas aprofundar e um sorriso se formar em seu
rosto. – E se vamos nos casar, não tem porque você pagar aluguel
para mim. Ou para minha empresa.
— Eu. Não. Quero. Andrew! – digo pausadamente.
— Considere então como uma impossibilidade de poder colocar
no nome dos gêmeos até que nasçam. – sugere. – Só... Por favor. É
importante.
— Para quem? – exijo saber.
— Para mim. – responde de pronto e isso me surpreende. –
Porque eu quero derrubar aquela parede assim que eu fizer uma
coisa, para que não tenhamos mais que dividir nossas semanas
entre os dois apartamentos.
Com suas palavras, sinto-me desarmada. Não tem porque brigar
por isso.
— Deixe-me pagar por ele. – peço bem quando alguém bate na
porta e me viro a tempo de ver João por uma pequena fresta.
— Já conversaram? – ele pergunta e Andrew ri.
— Podemos conversar sobre isso à noite? – ele pede e
concordo. – Ótimo. – diz, dando um beijo em minha testa e afasta. –
Vou deixar vocês dois conversarem. – e, seguindo até a porta, ele
para de frente com João para dizer baixinho: – Não a afaste de mim
novamente.
E suas palavras fazem meu interior se revirar e aperto o contrato
entre minhas mãos. Eu não posso aceitar isso dele assim. É demais
para o que posso aceitar vindo dele.
— Senhorita? – João chama minha atenção e viro para ele.
— Desculpe-me por importuna-lo com meu pedido, Sr. João. –
peço. – Quando pedi aquilo ao senhor, tudo o que mais queria era
ficar longe do Andrew, porque ele estava longe de mim. Mas não era
o que eu realmente desejava e... É como ele disse: ele cumpriu com
a parte dele no acordo de vocês dois.
— Essa não é uma maneira muito boa para se colocar isso. – ele
diz e acabo rindo bastante nervosa.
— Não, não é. – concordo. – Mas também sei que bem antes
desse acordo ele vinha tentando alguma forma de nos
reconciliarmos. – digo, passando o dedo pela aliança em minha mão
esquerda. – Antes mesmo de tudo o que aconteceu entre nós. Mas
eu, por medo, impedia que ele fizesse qualquer coisa.
— Não vi apartamento algum, Luara. – João diz e franzo o cenho
sem entender muito bem. – Te chamei aqui para tentar colocar na
sua cabeça que, não é o lugar onde você mora que vai fazer com
que deixe de sentir. Você poderia estar em São Paulo ainda e ele
aqui.
— Distância não fez com que eu sentisse menos quando nos
conhecemos antes. – digo comigo mesma.
— Desculpa?
— Não é nada. – sorrio sem graça. – Apenas me desculpe por
trazer algo tão pessoal para cá.
— Esqueça isso. – diz. – Agora, tenho algo mais importante para
tratar com a senhorita. Não que saber que vocês dois estão bem
não seja importante, que fique claro. – acrescenta rápido e acabo
rindo. – Mas é sobre a oferta para que fique como supervisora no
lugar de Pedro ou não. Precisamos efetivar um funcionário no cargo
o quanto antes e, se a senhorita não for ficar, teremos que ver
alguém do setor.
Droga! Com tudo o que tem acontecido nos últimos dias eu
praticamente me esqueci disso. E Douglas também não retornou
como havia ficado de fazer.
Lançando um rápido olhar para porta, torcendo para que And
ainda estivesse aqui, respondo:
— Eu aceito o trabalho efetivo. Nova Iorque, BMW... Por mais
tentador que seja, não é o que eu desejo nesse momento. Não
sozinha. E tem muita coisa acontecendo nesses últimos meses.
— Pedirei para que alguém do ADM oficialize a promoção. – diz.
– Boa sorte. Sei que você dará o seu melhor, assim como já tem
feito. E, se continuar se empenhando, se motivar todo o setor, como
um bom supervisor deve fazer, o reconhecimento virá.
— Obrigada. – agradeço envergonhada. – Não vou decepcionar
nenhum de vocês.
João apenas concorda com a cabeça, então me acompanha até
a porta, dizendo que tem uma reunião dentro de poucos minutos.

◆◆◆

Andrew
Sinto-me um pouco idiota por ter interrompido a conversa de
João com Luara, apenas por ter sentido medo que ele tivesse
arrumado o apartamento que ela pediu e que ela ainda quisesse
ficar longe de mim.
Mas a verdade é que quando liguei para a secretária dele,
pedindo para que passasse para João e ela disse que os dois
estavam conversando, tudo o que senti foi medo. Eu havia acabado
de assinar um contrato, passando o apartamento de Luara para seu
nome e ela estava perto de ter essa conversa.
E do que me adiantou ter feito aquilo? Ainda não tenho ideia se
ela aceitou ou não o apartamento dele.
Irritado, levanto da minha cadeira e vou até a bancada para
pegar um pouco de chá e biscoitos. Não tirei meu almoço até agora
e não sinto vontade de fazer isso.
Ouço o estralo que a porta faz ao abrir e fechar, travando, assim
como também sinto um par de pequenas mãos cobrirem meus
olhos.
— Advinha quem é. – sua voz vem baixinha em meu ouvido e
morde o pé de minha orelha. Meu corpo se excita todo com seu
toque.
— Anjo. – sussurro com a voz rouca, tirando suas mãos de mim
e viro de frente para ela. – Me desculpa. – é a primeira coisa que
digo.
— Eu aceito. – diz, ignorando-me totalmente. – Ainda quero te
pagar por cada centavo daquele apartamento, mas eu aceito. Sei
que de alguma forma isso é importante para você, mas se vamos
nos casar... Ainda que isso demore a acontecer...
— Por mim poderia ser agora. – digo e ela sorri, apoiando as
mãos em meu peito e apoio as minhas em sua cintura, trazendo-a
para perto de mim.
— Quando você disse que queria derrubar a parede dos nossos
quartos e transformar em um único apartamento– recomeça. –, eu
não soube como reagir. Mas de alguma forma eu quis aquilo
também, porque é um saco termos que escolher em qual dos dois
passar a noite.
— Eu quero fazer isso logo que tiver a benção dos seus pais
quanto a este casamento. – falo. – Na primeira oportunidade que eu
tiver, quero ir para São Paulo com você para que possamos
conversar. Não quero mais ver você chorando por sentir falta da sua
família.
— Eu só choro porque estou mais sensível. – diz, fazendo bico.
—Mas sei o quanto sente falta deles e o quanto são importantes
para você. E talvez possamos ir para lá amanhã.
— Amanhã? – pergunta e confirmo. – Bem, eu adoraria, mas é
que a Ju está vindo para cá. Então não sei se seria uma boa ideia
fazer isso esse final de semana.
— Julie vem para cá? – pergunto curioso. – Tipo, hoje?
Luara ri e concorda.
— Ela saiu mais cedo do trabalho e já esta a caminho. – explica.
– Disse que estava nervosa com algumas coisas que estão
acontecendo com ela e que precisava se afastar de São Paulo e do
trabalho para não pensar muito naquilo.
— Tudo bem com ela?
— Ela não contou exatamente o que era. Mas prometeu que vai
me dizer assim que puder. – diz. – Pensei em sairmos todos juntos.
Assim aproveitávamos para dar a notícia sobre os gêmeos aos que
faltam.
— E quem é? – pergunto.
— Felipe e Igor. – diz corando um pouco. – Liguei para a Lu logo
que sai da consulta com o Dr. Marcus e contei para ela. Eu
precisava desabafar aquilo com alguém.
— Por que não me ligou? – torno a perguntar e ela apenas da de
ombros.
— Porque você estava longe e aquilo apenas ia me machucar
mais.
— E quanto a Natália?
— Nós saímos um dia para ir ao cinema e ela percebeu que eu
não estava legal.
— Aparentemente, apenas eu te machucaria se me contasse. –
digo, sentindo-me incomodado com isso. Saber que fui o último a
ficar sabendo dos meus filhos não me agrada muito. – Legal. – falo
e solto a mão de sua cintura, passando pela barba. – Odeio ter que
interromper essa conversa, mas tenho uma reunião daqui a pouco.
– minto. Não quero continuar falando sobre isso.
— Mentiroso. – Luara diz. – Liguei perguntando para Ana se
você tinha almoçado e se tinha alguma reunião pela próxima hora e
ela disse que não. E como eu estava saindo para o almoço, pensei
em te convidar para almoçar comigo naquele restaurante que fomos
com seu pai e, se sobrar tempo, ir até aquele hotel novamente.
— Para quê? – pergunto, embora a resposta seja mais do que
óbvia.
— Para aproveitarmos algumas horas juntos. – responde. – Para
almoçarmos juntos, porque isso é raro de acontecer. Para...
— E você não tem medo de que eu te machuque? – pergunto,
cruzando os braços e ela os força a se soltarem, segurando minhas
mãos.
— Não mais. – sussurra. – Eu tive medo quando você estava
longe e quando começamos com tudo isso. De me apaixonar por
você e descobrir que tinha sido só mais uma para você. Mas não
agora. Desculpa por não ter ligado para você quando descobri, mas
não queria dar essa notícia enquanto estivesse longe e
estivéssemos separados. Você foi a primeira pessoa a quem eu quis
contar. Mas, por favor, acredite quando digo que você foi a primeira
quando tive a confirmação.
— Você surtou quando pensou que tivesse perdido aquele
envelope. – sorrio meio de lado e ela ri para mim.
— E eu já vi você vendo aquele ultrassom várias vezes, assim
como também vi ler a carta. – diz. – Tive razão por surtar.
— Pensei que tivesse vindo aqui para me convidar para almoçar.
– falo.
— Sim, principalmente. Mas não quero você brigado comigo,
porque estou com segundas e terceiras intenções para esse
almoço.
Quando ela diz isso, sinto meu corpo se aquecer no mesmo
instante.
— E quais são suas intenções nesse meio tempo? – pergunto
com olhos semicerrados, retribuindo o meio sorriso que me dá.
Ao invés de responder com palavras, Luara apenas sorri para
mim e coloca a mão em meu peito, empurrando-me contra o balcão
onde ficam os biscoitos e o chá. Sua boca procura a minha com
precisão e desejo, na qual correspondo com a mesma intensidade.
— A porta... – começo a dizer, mas não consigo formular a frase
toda.
— Eu tranquei. – ela sorri entre beijos e inverto nossas posições,
colocando-a sentada no balcão e os biscoitos e chá que havia me
servido vão ao chão, fazendo uma enorme bagunça.
— Eu não vou aguentar chegar ao hotel para poder ter você. –
digo em seu ouvido, puxando o lóbulo de sua orelha entre os
dentes. – Não quando meu prato preferido veio de tão bom grado
até mim.
E, com isto, eu a tomo em meu colo, erguendo seu vestido,
levando-nos até minha cadeira, onde puxo sua calcinha de lado
antes de sentar e tirar meu pau para fora. Luara sorri, puxando
minha gravata.
— Você fica ainda mais excitante quando usa isso. – diz em meu
ouvido e a penetro, permitindo que controle os movimentos. – And...
– ela geme meu nome e beijo seu pescoço, descendo até seus
seios. – Essa cadeira é bem melhor do que a da minha sala. – diz
de repente e rio.
— Privilégios de presidente, amor. – digo com a voz pesada,
puxando seu lábio inferior e ela se contorce em cima de mim
enquanto se movimenta mais rápido. – Merda. – a palavra me
escapa quando sinto que não serei capaz de aguentar até que ela
goze antes de mim. Percebendo isto, Luara para de se mover e
beija minha boca de vagar, começando a desabotoar minha camisa.
— Eu quero você, Andrew. – diz com a boca colada na minha. –
Quero sentir você dentro de mim, bem quente e gostoso. –
enquanto diz isto, apenas sinto minha respiração mais acelerada e
ela me desmonta quando termina de desabotoar minha camisa e
desce beijando todo meu peito, até ficar de joelhos na minha frente.
Porra!
— Goza para mim, meu lindo. – pede, tomando meu pau em
suas mãos, começando um movimento suave de sobe e desce. E
eu seguro firme nos braços da cadeira quando sinto uma de suas
mãos em minhas bolas, apertando de leve antes dela me tomar por
completo em sua boca.
— Anjo. – eu a chamo com a voz rouca, como se fosse um
grunhido e ela me olha por cima das lentes de seus óculos. O olhar
mais sexy que já vi em toda vida e o que me faz derramar em sua
boca. E ela não o tira da boca até que tenha terminado tudo. Só
então o tira, passando a mão pelo canto da boca, apoiando as mãos
em minhas coxas. O rosto vermelho.
— Isso só me deu ainda mais fome. – diz envolvo seu rosto entre
minhas mãos, puxando-a para mim.
— A mim também. – digo, beijando-a com força. –
Principalmente de sobremesa.
— Ou sobrecama. – diz e rio, ajudando-a a se levantar.
— Mesa, cama. Onde puder. – falo. – E eu quero te fazer gozar
bem gostoso na minha boca muitas vezes hoje.
— Então vamos andando! – exclama, agarrando minha mão para
podermos sair.
— Espera. – digo, puxando-a de volta. – Quer mesmo que eu
saia assim, com a camisa aberta e você com o batom todo borrado?
Ela ri.
— Eu vou ao banheiro me arrumar. – diz e concordo, já
abotoando minha camisa de volta.

◆◆◆

Luara
Já são sete e pouquinho da noite e ainda estou aqui, na frente
do espelho, tentando decidir se esse vestido preto que escolhi para
esta noite está bom ou se exagerei, considerando que apenas
iremos aquele barzinho que And e Felipe costumam se encontrar
para beber. Lá é tranquilo e tem uma área de jogos, na qual
pretendo puxar a Ju e a Nath para nos divertirmos sem os rapazes
um pouco.
Por falar na Ju, fiquei muito feliz quando ela me ligou hoje cedo,
dizendo que viria passar o final de semana comigo, porque
“precisava esquecer algumas coisas, ainda que vir para cá fosse
fazer com que se lembrasse de algo ainda maior”. O que me deixou
confusa, mas preferi não perguntar por telefone e fazer isso quando
ela chegasse. O que ela ainda não me contou nem um nem outro.
— Esta pronta, Lu? – Julie pergunta atrás de mim e olho para ela
pelo espelho.
— Acho que sim. – respondo, virando para ela. – Como estou?
— Hmmm... – ela faz e olho de volta para o espelho.
Meus cabelos estão presos apenas metade, deixando uma
mecha caída sobre meu ombro direito. Meu vestido vai até metade
da coxa e uso também uma sapatilha baixa.
— Vejo uma pequena barriguinha querendo aparecer ai. – Ju
sorri em resposta e olho para baixo, tocando minha barriga com as
mãos. – Você sente algo? – pergunta e nego.
— Talvez daqui algumas poucas semanas eu comece a sentir.
Mas nesse momento, tudo o que sinto é: sono, enjoo, fome, sono e
uma vontade imensa de chorar. – e quando digo isso, sinto meus
olhos lacrimejarem.
— Por que chorar? – pergunta com o cenho franzido e dou de
ombros.
— Apenas sinto. Não tem motivo. E isso me irrita.
— Tenho pena do And com toda essa sua instabilidade
emocional. – ela diz, fazendo-me rir.
— Será que ele já esta pronto? – pergunto, pegando minha
bolsinha e o celular, agarrando-a pela mão para irmos até a sala.
Quando Ju abre a boca para responder, a campainha toca.
— Parece que sim. – diz e sorrio, sentindo-me um pouco
nervosa.
— Esta aberta! – grito para ele, indo para a cozinha e a
campainha toca outra vez. – Mas que teimoso! – exclamo, mudando
o caminho para abrir a porta para ele. – Eu disse que estava... –
começo a dizer e paro ao ver Andrew parado na minha porta, com o
braço apoiado no batente.
Ele sorri para mim e sinto seu perfume. O mesmo que dei a ele
quando estávamos em Nova Iorque.
Andrew esta usando também uma camisa regata preta, que fica
terrivelmente colada ao corpo e jeans. Seu cabelo esta todo
bagunçado, com aquele ar de quem acabou de transar e eu até diria
que sim, mas espero que ele tenha tomado banho depois que
buscamos Ju na rodoviária há poucas horas. Sua barba esta bem
rala, mostrando que ele se barbeou.
— Oi. – eu o cumprimento, incapaz de desviar os olhos dele. Se
Julie não estivesse atrás de mim, eu o arrastaria para o meu quarto.
— Oi. – responde, dando-me um beijo rápido na boca.
— Já podemos ir? – Ju pergunta. – Oi, And. – ela o
cumprimenta. – Vamos?
— Claro. – Andrew responde sem tirar os olhos de mim. – Felipe
provavelmente já esta esperando por nós lá.
— A Nath não vai? – pergunto e ele da de ombros.
— Ele não falou nada sobre ela.
— Estranho. – digo. – Igor deu alguma notícia se vai ou não? –
pergunto agora para Ju.
— Estava atrasado no trabalho e ia ficar até mais tarde. – ela
responde.
— Bem, seremos apenas nós quatro então. – digo e vejo no
rosto de Julie algo diferente. Como se ela estivesse nervosa com
algo. Ela tem que me contar o que esta acontecendo. – Azar o
deles!
— Podemos ir? – Andrew pergunta.
— Só vou tomar água e já venho. – digo, indo para a cozinha.
— Ela tá bonitona, né? – ouço a pergunta de Julie para And. – E
não é só isso que esta crescendo não.
— É. Eu sei. – Andrew responde meio despercebido e sorrio,
fazendo Ju rir.
— VOCÊ NEM DISFARÇA! – ela exclama ainda rindo e tomo
minha água, voltando até eles.
— Já podemos ir. – falo. – O que houve? – pergunto, fazendo-
me de desentendida.
— Andrew estava te secando por trás. – Julie o entrega e sorrio,
arqueando a sobrancelha para ele.
— Estou acompanhado das duas mulheres mais gatas entre dois
estados. – defende-se. – Não me culpem.
— Mas você só pode ter uma delas. – digo, passando pela porta
e Ju vem atrás de mim e deixo que ele feche a porta, como sempre
faz.
— E não sou eu. – ela diz.
— Ainda são as mais gatas. – diz, abraçando a nós duas pela
cintura e caminhamos assim até o elevador. Quando paramos,
aperto o botão para chama-lo e sinto a mão de Andrew descer para
minha bunda, onde me aperta.
— Não acha que esse vestidinho está curto demais não? –
pergunta no meu ouvido, fazendo com que meu corpo se arrepie de
cima a baixo. – Estou louco para tirar ele de você no final da noite.
— E eu estou louca para que isso aconteça, meu lindo. – digo
em resposta e ele beija meu pescoço.
— Vocês dois – Ju chama nossa atenção. –, vamos!

◆◆◆

Andrew
Estaciono no The Bar exatamente quinze minutos antes do que
havia combinado com Felipe e desligo o carro quase que no mesmo
instante em que ouço a porta de trás abrir e fechar, indicando a fuga
estratégica de Julie.
— Parece que alguém esta com pressa hoje. – comento e Luara
ri ao meu lado.
— Ela esta um pouco tensa. – diz em resposta.
— Ela contou o que aconteceu no trabalho?
— Não e estou preocupada com o que pode ter sido.
Com um gesto de cabeça eu concordo e abro minha porta para
sair e Lu faz o mesmo, esperando por mim perto do carro e vejo
Julie se olhando pela câmera do celular, provavelmente conferindo
sua maquiagem. Se não for isso, não sei o que pode ser.
— Não acho que seja algo preocupante. – volto ao assunto e
coloco seu cabelo para trás da orelha. – Pela minha experiência eu
diria que Julie esta nervosa com alguma notícia que tenha recebido
no trabalho. Mas não algo ruim.
— Conhecendo minha amiga há tanto tempo, tenho certeza que
sim. – ela sorri em resposta.
— Oi, Julie. – reconheço a voz de Felipe pouco atrás de onde
estamos e viro o rosto na direção dos dois a tempo de vê-lo dar um
beijo no rosto da garota, talvez perto demais de sua boca e, ainda
que esteja de costas para mim, sei que ela fica toda corada.
— Que estranho. – Lu chama minha atenção agora para ela. – A
Nath também não veio.
Não acho mais que iremos ver os dois juntos, Anjo.
Abro a boca para dizer algo, mas quando o faço já é tarde, uma
vez que Luara já esta cumprimentando Felipe.
— Onde a Nath esta? – ela pergunta logo depois de trocarem um
abraço e eu o cumprimento com um aperto de mãos.
— Compromissos com os amigos dela. – Felipe responde,
lançando um olhar em minha direção e arqueio a sobrancelha para
sua resposta. Por que ele não conta a verdade de uma vez? – Algo
assim. Então seremos apenas nós quatro está noite.
— Azar o dela e do Igor. Já falei.
— Por quê? Seu namorado também te deixou? – ele pergunta a
Julie, que abre e fecha a boca algumas vezes, como quem busca as
palavras certas.
— Trabalho. – diz. – Mas não importa. O que importa é que
estou aqui para me divertir e beber.
— Tem minha companhia então. – Felipe concorda. – Podemos
entrar? Reservei uma mesa para nós.
— Eu já estava me perguntando se vocês iam mesmo querer
ficar aqui fora a noite toda ou se iriamos entrar – resolvo falar e isso
faz com que Felipe ria.
— Não. – ele responde. – Separei uma mesa na área Vip junto
de uma mesa de sinuca para ganharmos das garotas esta noite.
— Coitado. – Lu diz e sorrio.

◆◆◆

Luara
Tomo a frente para entrarmos no bar, deixando Julie e Felipe
para trás e sinto a mão de And em minhas costas, arrancando um
sorrisinho de mim.
— Felipe deve pensar que só porque não joguei com vocês da
última vez, não sei jogar bilhar. – comento, fazendo-o rir atrás de
mim.
— Muito provavelmente é isso, Anjo. – Andrew responde. –
Ainda que suas habilidades na sinuca ainda não tenham sido
apresentadas diretamente a mim, além de por boatos.
— Podemos mudar isso esta noite, lindo. – respondo, segurando
sua mão e com a outra ele indica a área Vip, onde ficaremos.
— Vocês vão querer beber o quê? – ouço a pergunta de Felipe
atrás de mim e olho para os dois que chegam por último, notando
minha amiga vermelha como pimentão.
— Eu qualquer coisa que não tenha álcool. – respondo. –
Andrew, na certa, uma Guinness e a Ju...
— Um drink forte. – ela completa antes que eu diga qualquer
coisa. O que no caso seria: eu não faço ideia! – Quero aproveitar a
noite da melhor forma. – diz e arqueio a sobrancelha para ela.
— Dou o que for apenas para te ver bêbada hoje. – Felipe diz e
sinto um déjà vu com suas palavras. – E eu aposto como você fica
bêbada facinho.
Você não faz ideia de como fica...
— Eu já vi isso antes. – deixo escapar, lembrando-me da noite
em que conheci Felipe.
— Trato feito então, bonitão. – Ju responde, passando por ele
para pode se sentar ao canto.
— Me ajuda com as bebidas? – pergunta agora a And, que
aceita e vejo os dois sumirem entre as várias pessoas que estão
aqui.
— Você sabe que não é muito boa na bebida, né? – pergunto,
ocupando o lugar ao lado da minha amiga e ela apenas da de
ombros.
— Não estou mais tão fraca como antes. – ela responde e tenho
vontade de rir, mas não faço. – Acho que da para segurar as contas
um pouco mais. – Ok! Sei que não queria rir, mas não consigo não
fazer isso. Julie fica mole com duas, três batidas. – Por que será
que sua amiga não veio hoje? – pergunta obviamente me ignorando.
— Eu não sei. – respondo a verdade. – Os dois vivem se
desentendendo porque ela dedica mais tempo ao trabalho de que
para o namoro. Talvez seja isso.
Ju apenas concorda com a cabeça e fica pensativa de repente.
Aproveitando a deixa, pergunto:
— E você? Vai ou não me contar o que te deixou tão nervosa a
ponto de fugir para cá hoje?
Brincando com os dedos na mesa e fazendo-me pensar que ira
desconversar o assunto outra vez, Ju responde:
— Alex me pediu um desenho para uma construção lá em
Campinas. – diz e arqueio as sobrancelhas, realmente surpresa com
isto. – Para mim e para o Fernando. – acrescenta. – E eles vão
escolher o arquiteto que vai ficar de responsável lá na segunda-
feira. Então, quem de nós for, vai passar a semana toda lá por tipo,
pelo menos dois meses.
— AH MEU DEUS! – exclamo talvez mais alto do que deveria e
dou graças a Deus por estarmos sozinhas aqui. – MEU DEUS, JU!
ISSO É...
— Por favor, não diz nada para eles. – ela pede e vejo os
rapazes voltando. – Eu não quero falar nada disso com ninguém até
que se torne algo certo. Foi por isso que vim para cá.
— Para evitar pensar. – digo, entendendo seu ponto e ela
confirma.
Estou tão feliz por minha amiga, que sinto vontade de fazer um
brinde por ela aqui e agora, mas como me pediu segredo, apenas
cruzo os dedos mentalmente e torço por ela assim.
— Estão conversando sobre o que? – And pergunta, colocando
um prato com amendoim e algumas outras coisas sobre a mesa,
ocupando o lugar ao meu lado, enquanto Felipe serve as bebidas,
sentando ao lado da Ju.
— Eu estava tentando descobrir porque a Ju fugiu de São Paulo
assim às pressas. – digo apenas esta parte.
— Esta tudo bem? – Felipe pergunta a ela com certa
preocupação.
— Esta sim. – responde. – Eu só precisava de um tempo para
pensar e esfriar a cabeça de algumas coisas.
Felipe diz mais algo a Julie, mas não consigo ouvir nada, apesar
de estarem ao meu lado. E ouço menos ainda a resposta dela e
quando ele ri, sinto minha curiosidade ser ativada.
— Espero que sua bebida seja forte o bastante para você. – ele
diz, entregando a Ju um copo com liquido amarelo dentro e um
guarda-chuvinha e vejo minha amiga tomar um pouco para provar,
fazendo uma careta.
— Manda outra então! – exclama.
— Vai com calma, Ju. – peço ao ver sua careta. – A noite ainda é
longa.
— Estou louco para ver Julie bêbada hoje. – Andrew diz ao meu
lado e olho para ele, imaginando o que ele faria comigo se não
estivesse grávida.
— Você deveria ficar do meu lado ao menos uma vez, cunhado.
– Ju diz, fazendo com que ele ria.
— Qual de vocês vai ser o primeiro a perder para mim hoje? –
pergunta. – Preciso me aquecer.
— Vou com você então. – Felipe diz. – Tenho a sensação de que
nossas garotas precisam conversar algo sem nossa presença.
— Iremos esperar por vocês lá, Anjo. – Andrew diz, dando um
beijinho em mim antes de levantar e concordo.
— Só vou comer alguns amendoins e já vou. – respondo,
observando enquanto eles vão até a mesa de bilhar não muito longe
de onde estamos. Assim, aproveito para fazer o que mais quis deste
que soube da maior notícia da noite: – Um brinde a maior arquiteta
de São Paulo! – digo e Ju bate com seu copo no meu, rindo e
realmente feliz.

— Vamos dançar. – digo, agarrando a mão de Andrew logo


depois de perder uma partida de bilhar para ele.
— O quê?! – exclama surpreso com meu convite inesperado e
reviro os olhos.
— Tudo bem se te deixarmos sozinha por alguns minutinhos, Ju?
– pergunto a ela, que esta matando as bolas restantes.
— Sim. Vão lá. – responde olhando para nós dois. – Só terminar
aqui e vou ver se o Felipe já terminou o lanche dele para ver se joga
comigo. Não se preocupem.
— Sendo assim, você não tem desculpas, lindo. – digo já o
arrastando para a pista de dança, onde toca uma música alta.
Arrasto Andrew pela mão, passando por entre as pessoas que
dançam, mas não paro ali. Não estou realmente interessada em
dançar, mas sim de outra coisa.
— Achei que fossemos dançar. – ele diz atrás de mim e viro por
um pequeno corredor, onde da bem embaixo das escadas que leva
para o andar de cima, onde tem outro ambiente bem diferente do
que estamos. Aqui é escuro e com poucas pessoas que circulam.

— Não vamos dançar. – respondo, tocando a mão em seu peito


para empurra-lo para baixo das escadas, de modo que ninguém
possa nos ver.

— E o que você tem em mente? – pergunta e, embora não veja


nada além do contorno de seu rosto, sei que ali está aquele seu
sorriso torto e safado que me deixa com as pernas moles.

Sorrindo para ele, dou um passo à frente de modo que fiquemos


com o peito colado um no outro e sinto sua respiração acelerada,
assim como também sinto sua mão em meu quadril.

— Quero aproveitar a noite da melhor forma. – sussurro.

Com uma habilidade de tirar o fôlego, Andrew inverte nossas


posições, deixando-me de costas para a parede e cola seu corpo no
meu antes de me beijar. E quando o faz, sinto suas mãos
explorando cada parte do meu corpo, assim como também faço com
ele.

— A-And. – gaguejo seu nome ao sentir sua barba roçando por


meu pescoço e quando me morde ali, ao mesmo tempo em que
aperta minha bunda, colando sua ereção dura em minha barriga. –
Oh, lindo! – exclamo em um sussurro rouco e ofegante quando
começa a se esfregar em mim, me permitindo sentir o pequeno And
junto à minha amiguinha, deixando-me mole e ensopada.

— Vê o que faz comigo? – Andrew pergunta em meu ouvido ao


mesmo tempo em que acaricia meu seio por cima da blusa e
imploro silenciosamente para que me deixe sentir sua boca ali. –
Você me deixa louco, Luara. – diz, prendendo-me contra a parede e
aperto sua bunda para poder senti-lo melhor. – Eu quero tanto você
aqui. Agora. Que só consigo imaginar você com essa sua bundinha
empinadinha para mim, enquanto eu te pressiono contra essa
parede.

UAU!

Esse homem realmente sabe como me fazer ter um orgasmo só


com palavras.

— Então vem cá. – sussurro contra sua boca, enquanto minhas


mãos trabalham em sua calça, abrindo o zíper e toco o pequeno
And, sentindo que meu menino está quente e mais do que apenas
pronto para mim. E é bem quando eu o puxo para fora, que ouço
barulhos na escada, descendo. – O que... – começo a dizer, mas
sou interrompida pela mão do meu homem, cobrindo minha boca.
Para provocá-lo, raspo meus dentes em sua palma ao mesmo
tempo em que eu o acaricio.

— Acho melhor não agora, Anjo. – diz baixinho em meu ouvido e


tira minha mão dele.

As vozes e risadas se aproximam cada vez mais e, apesar do


escuro, vejo o contorno de alguns corpos que passam pouco atrás
de Andrew e ele da um passo à frente, praticamente grudando em
mim e sinto seu membro pulsando contra o jeans, louco para estar
aqui fora. Louco para estar dentro de mim.

Fecho os olhos para afastar o calafrio que percorre todo meu


corpo e apenas volto a abri-los quando sinto a mão de And em meu
queixo, chamando minha atenção para ele.

— Por mais que eu queira ter você aqui, acho melhor voltarmos
para a pista de dança. – diz baixinho e concordo, permitindo que se
afaste de mim. – Mas pode apostar que vamos continuar isso
quando chegarmos em casa. – completa.

— Por mim está ótimo. – sorrio, aceitando o beijinho que me dá.


— Vem. Vamos dançar.

E, segurando minha mão, Andrew me leva desta vez para a pista


de dança, onde uma música que não reconheço toca, ainda que me
seja familiar. Só que não chegamos realmente a dançar, uma vez
que o que vejo a não mais do que cinco metros de onde estamos
me deixa de queixo caído.

— Anjo? – And chama. – Está tudo bem? – pergunta e pisco


algumas vezes antes de olhar para ele e de volta para o lugar onde
o casal ainda se beija.

— Eu não sei. – respondo um pouco confusa. – Acho que estou


vendo Julie aos beijos com o Felipe. – franzo o cenho, sentindo-me
ainda mais confusa e até mesmo perdida. Quer dizer, Felipe namora
a Natália e isso... Julie sabe. E ela nunca faria algo assim, ainda que
não goste dela.

Andrew olha para trás e de volta para mim, mas não parece
nenhum pouco surpreso.

— Anjo. – chama, tocando meu queixo para me fazer olhar para


ele. – Felipe e a Natália não estão mais juntos desde o Natal.

Franzo o cenho sentindo-me ainda mais perdida. Não? E as


vezes que eles estiveram juntos nos últimos dias? E...

Só quando começo a pensar no assunto é que me dou conta de


que em nenhuma das vezes em que estive com os dois, eles se
beijaram. Ou se quer seguraram a mão um do outro. E... Agora
vendo isto. Sei que a Ju sempre gostou do Felipe e que foi até
mesmo por isso que não se deu uma chance com Igor. E agora ela
esta ali, com quem realmente gosta e isso me deixa feliz, ainda que
confusa.

— Acho melhor darmos um pouco de privacidade aos dois. –


digo após algum tempo. – Não vou ser a estraga prazeres e parece
que os dois estão realmente gostando disso.
Ao ouvir minhas palavras, Andrew ri.

— Vamos pegar algo para beber. – diz. – Estou com sede e de


pau duro ainda.

Desta vez quem ri sou eu.

— Então talvez devêssemos ir até o carro, lindo. – provoco com


uma piscadinha marota e que sugere muitas coisas.

◆◆◆

Andrew
A noite parece voar quando estamos com os amigos. Ou pelos
menos é isso o que sinto enquanto estamos aqui no The Bar,
apenas conversando, bebendo e jogando. E eu já ganhei de Luara e
Felipe no bilhar, de Julie no Pebolim e perdemos quando Felipe se
juntou a ela no time. Depois invertemos os times e as deixamos
ganharem de nós, apenas para dar mais emoção à coisa.
— Você já pensou em algo para fazer a ela? – Felipe pergunta
quando as meninas saem para ir ao banheiro.
— Eu não sei. – respondo, seguindo as duas até que saiam do
meu campo de visão. – Eu sei que lá vou conseguir fazer algo, mas
não sei o quê exatamente.
— Acho que se você conversar com Julie, ela pode te dar boas
dicas a respeito do que fazer. – ele diz e me lembro do que vi com
Luara há pouco tempo atrás.
— Ela viu vocês. – digo.
— O quê? – pergunta de volta, sem entender.
— Você e Julie, na pista de dança, se beijando. – falo. – Quer
mais detalhes sobre?
— Você falou algo sobre eu não estar mais com a Natália? –
pergunta e confirmo. – Obrigado.
— Julie não é para isso, Felipe. – eu digo enquanto passo o
dedo pela borda do meu copo de cerveja. – E eu não vou deixar
você tirar proveito dela assim. Luara gosta de você e não quero que
isso interfira na amizade que tem com ela.
— E você acha que eu só quero isso com ela? – pergunta mais
uma vez. – Por Deus, Andrew! Você melhor do que ninguém sabe
que eu nunca faria isso com ela!
— E o que você quer? – pergunto, voltando minha atenção toda
para ele. – Você acabou de sair de um relacionamento há pouco
mais de duas semanas. O que você quer?
— Eu sou louco pela Julie desde que a conheci. – responde de
pronto. – E em parte sei que o motivo de não ter dado certo com
Natália pode ter sido isso. Porque eu queria sentir por ela o que
sinto pela Julie, mas as duas são completamente diferentes.
Opostas em todos os sentidos. – enquanto diz tudo isso, Felipe
esconde o rosto entre as mãos, tornando a olhar para mim. – Natália
é água e Julie é fogo. Uma é calmaria e a outra é tempestade. E ao
mesmo tempo em que ela é isso, também é essa mulher incrível
que sempre se mostrou com Luara. Julie é apenas ela, sem forçar.
E talvez você me diga eu não sou o certo para ela, mas ela é a certa
para mim. Eu sei, mesmo que não tenhamos tido uma oportunidade
de passarmos mais tempo juntos. E, por tudo o que é mais sagrado,
pelo meu pai, eu quero sossegar, Andrew. E talvez ela seja a mulher
para isso.
Quando Felipe termina de falar, eu apenas consigo dar um
sorriso de lado e tocar seu braço.
— Se você machucar ela, eu vou quebrar a sua cara. – digo e
vejo Luara voltar com Julie e sentar ao meu lado.
— Tudo bem com vocês? – ela pergunta, envolvendo minha
cadeira com um braço e seguro sua outra mão, beijando-a.
— Apenas estávamos conversando. – respondo.
— Luara – Felipe chama a atenção dela para ele. –, me ajuda a
pegar um suco?
— Claro. – ela responde tornando a levantar. – Mas eu quero
pudim.
Ele franze o cenho.
— Tudo bem. – diz. – Acho que eles devem ter algo doce aqui. –
e, voltando-se para Julie, pergunta: – E você, Pequena?
— Sorvete.
— Voltamos já. – diz já saindo e Julie pega o celular, desviando a
atenção de mim.
— Julie. – eu a chamo.
— Ele te contou? – pergunta antes que eu possa dizer qualquer
coisa. – Escuta, Andrew. Eu não...
— Isso não tem nada a ver comigo, Julie. – eu a interrompo. –
Se vocês querem, se sentem algo um pelo outro, vai fundo. Os dois
estão solteiros e se gostam. Esta na cara. – digo e ela sorri sem
graça. – Você me ajudou com Luara e continua me ajudando até
hoje. Se for isso o que os dois decidirem, tem todo meu apoio e
acho que pode dar certo. Só... Conversem ao invés de apenas se
beijarem.
Com estas palavras, Julie ri.
— Eu quero falar com a Lu sobre isso, mas não sei como fazer. –
diz. – Eu sinto que ela já sabe e que preciso tirar essas suspeitas
dela. Só não sei como.
— Ora! – exclamo. – Vocês são melhores amigas há anos. É só
sentar e deixar rolar. Ela vai ficar feliz. Mas vocês dois também
precisam conversar antes.
— Sim. Eu sei. – ela concorda. – O Fê disse que quer conversar
comigo amanhã, que aqui não era o lugar certo.
— E ele tem razão. – sorrio. – Mas não era sobre isso que eu
queria falar com você.
— O que é então? – pergunta e faço um breve resumo sobre o
que conversei com Felipe, sobre irmos a fazenda amanhã para que
eu possa pedir Luara em casamento e não sei se fiquei surpreso
quando Julie contou que já estava sabendo sobre a ideia. – Ela
gosta de rosas. – diz assim que termino. – Você pode usar algo.
— Quando estávamos em Nova Iorque, no aniversário dela, eu
decorei todo o quarto com pétalas. Acho que ela gostou.
— Meu Deus, sim! – exclama. – Ela amou, Andrew! Ela me
mandou uma foto do chão todo forrado e contou que foi quando
você disse que a amava pela primeira vez e o quanto aquilo
significou para ela. Se você fizer isso de novo, para esse motivo...
Bem, você já tem o “sim” dela.
— Eu só não sei como vou fazer para comprar as pétalas. – digo
comigo mesmo. – Preciso ligar para o Manuel e ver se ele consegue
arrumar isso para mim lá na cidade.
— Se ele não se incomodar – Julie começa. –, e aceitar, claro,
eu posso ir atrás com Felipe. Vocês dois vão para a fazenda mais
cedo e eu arrumo alguma desculpa para ir mais tarde com ele.
— Ou será que essa já não é uma desculpa para você ficar para
trás e ir com ele? – pergunto, arqueando a sobrancelha.
— Eu... Não... Eu não...
Julie se enrola toda nas palavras e isso me faz rir para valer,
fazendo com que ela fique toda vermelha. Logo Luara volta com
Felipe, trazendo quatro taças de sorvete, na qual uma delas
consistia de sorvete de creme com pudim e calda de caramelo.
Aquilo pareceu estranho e gostoso ao mesmo tempo e, quando ela
me deu para provar, tive que admitir que a combinação era boa.
Assim ficamos os quatro, conversando sobre a viagem que
faríamos à Petrópolis amanhã e tomando sorvete até quase duas da
manhã, que foi quando Lu praticamente adormeceu no meu ombro.
E, é claro, Julie arrumou uma boa desculpa para poder ir com
Felipe, que foi: Eu preciso dormir!
Só não sei muito bem se Luara caiu nessa, é claro.

◆◆◆

Luara
Já devem ser umas quatro horas da manhã e ainda estou
acordada, tentando pegar no sono. Uma luta que vem sendo em vão
desde que chegamos, há quase uma hora.
Estou aqui deitada na minha cama, com Andrew, conversando
tão baixinho quanto possível, como se pudéssemos acordar alguém.
Como se pudéssemos acordar Julie.
Julie. Ela esta dormindo no quarto do outro lado do corredor e
não falou muito no caminho de volta. Apenas ficou olhando para fora
da janela (ou para o carro que vinha logo atrás de nós, que era do
Felipe). Ela não disse nada enquanto vínhamos para cá e não falou
qualquer coisa sobre ter ficado com Felipe lá no The Bar. Sei disso
porque eu vi os dois aos beijos e abraços enquanto dançava com
And.
Não que ela seja obrigada a me contar tudo o que faz com sua
vida particular. Mas, ao que me lembro, e lembro muito bem, quando
não contei sobre And, ela ficou sem falar comigo por quase uma
semana e isso foi apenas porque estávamos longe e não queria
falar dentro do supermercado. Mas ela esta aqui, droga! Do meu
lado!
— Esta tudo bem, Anjo? – Andrew pergunta quando me viro de
barriga para cima, sentindo-me incomodada. Sentindo uma vontade
tremenda de chorar. Ao invés de fazer isso, cubro o rosto com as
mãos, apertando os olhos com força.
— Está. – digo apenas. Não quero mais conversar sobre
qualquer assunto que seja.
— Tem certeza? – ele insiste e olho em sua direção, enxergando
nada além do contorno de seu corpo.
— Você quer mesmo conversar sobre o porquê de eu estar
irritada às quatro da manhã ou o porquê de eu ainda estar acordada
às quatro da manhã? – pergunto. – Porque eu posso muito bem te
responder que muito provavelmente é por causa desses dois aqui,
que devem estar confundindo o dia com a noite.
— Eles estão mexendo? – pergunta todo esperançoso e toca
minha barriga. Eu apenas balanço a cabeça, negando. – Bem, uma
hora eles vão ter que dar algum sinal. – diz e sorrio. – Você quer
algo? Leite, talvez? Minha mãe sempre disse que costumava tomar
bastante leite quando estava grávida de mim. Talvez ajude.
E como se fosse uma palavra mágica, à vontade está ai.
— Leite com Nesquik. – peço, sentindo a boca salivar.
— Eu já venho. – diz, dando um beijo em minha testa antes de
sair e viro para o outro lado, tentando não pensar mais no que vi
antes. Ou que Julie esta dormindo no meu quarto de hospedes,
enquanto Felipe esta no apartamento de Andrew.
Será que foi apenas isso? Um beijo? Franzo o cenho com a
ideia. Não. Não é só isso. Julie sempre demonstrou, discretamente,
interesse no Felipe e ele sempre a olhava de um jeito diferente,
mesmo que estivesse com Natália do seu lado.
— PUTA MERDA! – eu praticamente grito, pulando na cama. –
Como eu pude ser tão idiota a ponto de não me tocar disso antes?!
— Anjo? – Andrew me chama, aparecendo na porta com o leite
na mão. – Aconteceu algo? – ele pergunta e senta do meu lado,
entregando-me o copo.
— Minha amiga gostosa é a Ju. – digo, encarando o copo com o
líquido rosa. – Não era a Natália. Nunca foi ela a “amiga gostosa”
que o Felipe falou aquele dia. Era ela. Era a Ju.
— Sempre foi. – ele concorda. – Não fique se torturando com
isso, linda. – diz. – Dê um tempo para que Julie possa te contar
sobre o que aconteceu. Tenho certeza de que quando se sentir
confortável ela o fara.
— Eu sei. – concordo, tomando de uma só vez o leite e devolvo
o copo vazio para ele. – Obrigada.
— Eu já venho.
Deito em meu lugar novamente e ouço o toque do meu celular. É
uma mensagem da Ju.

Lu? Esta tudo bem?


Eu ouvi um grito vindo do seu quarto e o
And estava na cozinha.
Aconteceu algo?

Ah, sua safada filha da mãe!

Esta sim. Eu só constatei uma coisa


E me surpreendi com o tempo que levei para perceber.
Desculpa se acordei você.

Tudo bem. Eu já estava acordada.


Tem algo que preciso falar com vc.
Mas amanhã.
Ok.
Posso saber o assunto?

Amanhã, baby.
Boa noite.
E se controlem ai, ein? Haha

Doce tortura, Julie Kathleen.


Boa noite, Pequena.

Com esta última mensagem, Julie não responde mais nada.


Então torno a guardar o celular no criado-mudo, virando para o lado
da porta, onde vejo Andrew entrar e fecha-la, parando ao lado da
cama para tirar a bermuda e vejo o pequeno And sob o tecido da
cueca boxer vermelha, que da forma a todo seu corpo.
— Acho que de repente perdi tudo o que restava de sono. – eu
digo quando ele deita ao meu lado, já pulando em seu colo. – Que
tal se nós aproveitássemos essa insônia para algo que vá nos fazer
dormir até meio-dia amanhã?
— Acho que essa é uma excelente ideia. – ele sorri com malícia
e desço, beijando seu peito nu, indo para a barriga até encontrar
com o pequeno And, onde o beijo por cima da cueca mesmo,
puxando o elástico dela de vagar, apenas para fazê-lo apreciar mais
o momento.
Capítulo Onze
Sábado
Andrew

Luara acordou somente cerca de duas horas depois do que eu


tinha planejado para podermos pegar a pista sentido a Petrópolis,
onde iriamos para minha fazenda e não chegarmos muito tarde lá.
Eu a chamei, chamei e chamei várias e várias vezes assim que
terminei de me arrumar, às seis e meia, mas ela apenas virou para o
lado e continuou dormindo. E aquela visão dela dormindo nua
mexeu comigo. Ver sua pele branquinha e seus cabelos
esparramados pelo travesseiro... Aquilo foi... Fatal. E enquanto eu
dirijo, pude notar que ela já cochilou durante algumas vezes. O que
não tiro sua razão também, uma vez que fomos cochilar já era
quase cinco da manhã, depois das nossas “brincadeiras” sexuais. E
eu espero de verdade que Julie não tenha escutado nada do que
fizemos, considerando que seu quarto fica do outro lado do
apartamento.
— Será que eles estão bem? – ouço a pergunta de Luara,
tirando minha atenção do trânsito por breves segundos.
— Felipe conhece bem esses caminhos. – respondo. – Ele
sempre veio bastante comigo para cá. Então Julie esta segura com
ele. Não se preocupe.
Com minha resposta, tudo o que Luara faz é rir.
— Eu não estou preocupada com ela. – diz. – Na verdade,
espero que eles se acertem de alguma maneira. A Ju sempre
gostou dele e acho que eles merecem ter uma chance, assim como
nós tivemos. Eu só sinto pela Nath também.
Não querendo entrar em um assunto que não diz respeito a mim,
continuo em silêncio por alguns metros a mais. Não cabe a mim,
contar que Felipe também gosta da Julie e sim a ele dizer isso a ela.
— Está tudo bem? – pergunto ao sentir Luara apoiar a cabeça
em meu ombro.
— Só estou com sono. – responde baixinho e apoio a mão em
sua perna, onde ela a segura.
Mesmo com a atenção totalmente no trânsito e os óculos
escuros, sinto quando ela me olha com aquela cara de quem vai
aprontar alguma coisa. O que me deixa bem mais do que apenas
desconfiado.
— O que foi? – sorrio para ela.
— Nada. – responde, aproximando mais de mim. – Apenas
estava aqui pensando no quanto prefiro ver você com barba de que
sem. – diz e segura meu rosto, dando-me um beijo. – Muito mais
bonito e adulto. – olho para ela e a vejo franzir o cenho. – Não que
também não goste quando você tira toda. Mas é que saber o motivo
que te fez ficar sem dessa vez...
— Eu também prefiro assim. – concordo, passando a mão pelo
rosto e sinto minha barba recém-feita esta manhã. Precisei cortar
um pouco, porque já estava grande e com alguns pelos maiores que
outros. O que não me agrada. – Você não esta tentando me seduzir
enquanto dirijo, ou esta? – sorrio e a vejo corar.
— Por Merlin, Andrew! – exclama chocada, mas ri. – Eu aqui
tentando ignorar o fato de que você não esta usando nada além
dessa bermuda que esta mostrando sua cueca e você me pergunta
isso?!
— Está calor, linda. – respondo, fazendo-me de bobo. – Não
estou sem camisa para te provocar. – sorrio. – Mas já que tocou no
assunto, consegui? – pergunto e olho para ela, percebendo que seu
olhar desce, seguindo do meu peito ao quadril. O que me faz sorrir
ainda mais.
No lugar de uma resposta, sinto o braço de Luara envolver meu
ombro e a outra mão pousar em minha perna, bem próximo ao
pequeno And. E esse toque me deixa excitado.
— Você precisa de bem mais do que isso para me fazer
enlouquecer, amor. – ela sussurra em meu ouvido, causando um
calafrio por todo meu corpo e sinto seu beijo em meu pescoço,
assim como também sinto sua mão cobrir meu pau por cima da
bermuda, acariciando-o de leve.
— Anjo. – gemo, apertando as mãos no volante e inspiro fundo,
tentando resistir ao seu toque. – Isso já é golpe baixo. – falo e tiro
sua mão dali. – Realmente baixo. – ela ri.
— Tinha que ver sua cara!
— Você esta brincando com fogo, Luara. E vai se queimar.
— Estou louca por isso. – diz, dando mais um beijo em minha
bochecha e afasta, voltando para o seu lugar.
Parando em um cruzamento para esperar dois carros passarem,
aproximo de Luara para sussurrar em seu ouvido:
— Não me faça querer parar com o carro no canavial e te levar
para o banco de trás e foder você ali, Anjo. – eu rosno. – Você sabe
bem o efeito que tem em mim e também sei reconhecer quando
esta excitada. – digo, olhando para suas pernas, onde ela aperta
uma contra a outra. – E sei também o quão molhada você esta. –
digo, apoiando a mão em sua virilha e beijo seu pescoço com força.
– E você sabe o quão louco estou para ter essa sua boquinha
nervosa me chupando aqui mesmo, assim como fez na minha sala.
Volto a olhar para frente, saindo com o carro outra vez e olho
para ela de lado, notando seu rosto vermelho e que esta suada,
apertando ainda mais as pernas uma contra a outra.
— Esquece aquilo. – pede.
— Impossível esquecer. – respondo com ar divertido. – Você tem
uma boquinha incrível e realmente sabe fazer a coisa certa.
Passo a mão pelo rosto para secar algumas gotas de suor que
escorrem. Lembrar isso é tortura. Eu realmente quero toma-la aqui e
agora, mas não posso. Tenho que chegar à fazenda para poder
conversar com Maria a respeito do que pretendo fazer esse final de
semana.
— Eu faria tudo àquilo outra vez e mais um pouco. – Luara
sussurra em meu ouvido, passando a mão por minha barba. –
Coisas que nunca fizemos antes e que eu nunca fiz com mais
ninguém.
Ela não pode estar usando isso contra mim desta maneira! Ela
não... Eu...
Olho para Luara assim que estaciono com o carro frente à casa
da fazenda e ela sorri para mim. Safada filha da mãe! Como ela
pode usar isso assim contra mim?
— Já estava com saudades desse lugar. – diz, descendo do
carro e a acompanho com o olhar enquanto pega a mochila no
banco de trás, seguindo para a casa.
Um pouco irritado, abro a porta e saio atrás dela, que anda
rebolando bem mais do que costuma fazer. Eu a alcanço bem
quando começa a subir os degraus da varanda e a prendo contra o
pilar, colando meu pau contra sua bunda e beijo seu pescoço,
descendo a mão por seu short, fazendo-a se contorcer contra meu
corpo.
— Esse seu rabinho ainda vai ser meu, Anjo. – digo, passando a
barba em seu pescoço e ela se contorce ainda mais. – Você vai me
pedir para comer ele. – e dou um tapa forte em sua bunda,
arrancando um grito seu. – E vai ser logo que isso vai acontecer.
Ela ri, esfregando a bunda ainda mais contra meu pau.
— Por ele seria agora, não é? – pergunta com um sorriso safado
e a pressiono ainda mais contra o pilar. – É o que você quer?
— Você sabe que sim. – respondo, virando-a de frente para mim,
tornando a grudar nossos corpos. – Você sabe o quanto eu quero
isso e o quanto já pedi. Mas agora vai ser diferente, Anjo. Eu quero
ver você me pedindo para comer você assim. – digo a aperto sua
bunda. Em resposta, Luara envolve meu pescoço com os braços e
seguro seu quadril quando pula em mim. Assim, levo a nós dois
para dentro da casa, deixando sua mochila para trás e a porta do
carro aberta mesmo. Eu só quero tê-la aqui e agora. Mesmo que
saiba que não teremos anal ainda. Mas ela vai me implorar por isso.
Eu sei.

◆◆◆

Luara
Depois da nossa chegada a fazenda e de já termos inaugurado o
quarto na qual passarei as próximas vinte e quatro horas com
Andrew, pude finalmente tomar o café da manhã que Maria havia
nos preparado e me sinto bem mais disposta.
Quer dizer, um pouco apenas. Acabei descobrindo da pior
maneira que esqueci meu remédio para enjoo, mas já mandei tanto
mensagem para Julie quanto para Felipe, pedindo para que me
trouxessem. Assim como pedi também que me comprassem Doritos
e chocolate, porque estou louca de vontade por comer os dois e
tomar refrigerante, mas este já tinha aqui.
— Anjo? – And me chama e olho em sua direção. – Esta
melhor? – pergunta e confirmo com a cabeça.
— O enjoo passou um pouco. Mas preciso do meu remédio. Não
quero passar o dia vomitando. Eca! – ele ri.
— Tenho certeza de que Julie o trará. – diz. – Do contrário, acho
que você faz o Felipe ir até a cidade apenas para buscar.
Desta vez quem ri sou eu. Principalmente porque vou fazer
mesmo que eles não trouxerem tudo o que pedi. E mais ainda
porque tenho quase certeza de que os dois andaram se pegando na
minha casa. Não que isso me deixe brava, é claro.
— And. – eu o chamo, sentando-me no sofá. – Aquilo que eu
disse quando chegamos. Sobre fazermos algo que nunca fiz com
mais ninguém, mas queria fazer com você...
— Eu sei esperar, linda. – diz, contornando o sofá para sentar ao
meu lado e vira de frente para mim. – Eu te pedi, sim, para que
tentássemos e você tem medo que eu a machuque, o que é a última
coisa que quero que aconteça, porque quero te dar prazer assim.
— Você já fez? – pergunto, mordendo o lábio inferior e ele
parece escolher as palavras. – É claro que já. – antecipo.
— Não, eu nunca fiz. – corrige. – Já tentei uma, duas vezes, com
alguma mulher, mas ela desistiu antes mesmo de tentarmos de
verdade, por que... Bem, você sabe. Mas... – sentando mais perto
de mim, Andrew segura minha mão. – Quando nós formos tentar,
quando você se sentir a vontade para tentar isso, eu vou estar
preparado para não machucar você. E nesse dia, você vai implorar
por mim.
Sem dizer nada, eu apenas pulo para seu colo, envolvendo seu
pescoço em um abraço e ficamos assim por algum tempo, apenas
olhando no olho do outro, em silêncio. Um silêncio que é quebrado
com uma mensagem em meu celular.
— Desse jeito nós vamos para o terceiro tempo aqui mesmo. –
Andrew ri e pego o celular no bolso apenas para ver a mensagem
de Julie. É uma foto no Whatsapp. – O que é isso? – pergunta ao
ver a foto.
— Minha encomenda. – respondo.
— Dois pacotes de Doritos, três barras de chocolate branco, ao
leite e amargo, e doces? – pergunta estranhando. – Anjo, nós só
vamos ficar aqui por um dia.
— E eu pedi um de cada. E os doces eu não pedi. Embora...
— Me deixa responder. – pede e entrego o celular a ele, lendo a
mensagem:

O que foi que você aprontou, Julie?

— Bem direto. – digo quase rindo. A resposta de Julie chega


rápido.

Nossa!
Eu não posso mais nem fazer um mimo
para minha melhor amiga que vira desconfiança.

Assim espero.

Chata!

Fico boquiaberta, enquanto Andrew cai na gargalhada.


— Seu cretino. – digo e ele ri ainda mais.
— Estou com fome. – diz, ignorando totalmente meu comentário.
O celular vibra com mais uma mensagem. – Eles vão chegar dentro
de meia hora. – lê. – Temos tempo.
—Tempo para o que?
— Comer algo na cozinha. – responde com um sorriso sugestivo
e levanta comigo ainda em seu colo e a primeira coisa que faço é
prender minhas pernas ao redor de seu quadril e os braços ao
pescoço. E, enquanto ele anda, beijo-o ali, sentindo sua mão em
minha bunda.
— O que você quer comer na cozinha? – pergunto em seu
ouvido, puxando o lóbulo de sua orelha.
— Você. – diz, pousando-me sob o balcão e sinto todo meu
corpo se aquecer com a possibilidade.
— Onde? – sorrio.
— Na mesa. – da de ombros. – No balcão. Na pia. No chão. Não
importa.
— Hmmm... Ei! Aonde você vai? – pergunto quando ele afasta.
— Pegar algo na geladeira. – responde, dando as costas para
mim e vai até a geladeira para pegar algo.
— Mel? – pergunto quando volta gingando até onde estou e se
posiciona entre minhas pernas.
— Tira a blusa. – ele manda. Meu Deus! Andrew mandão. Isso
me excita. Mais rápido do que o Flash, tiro minha blusa e a jogo em
seu rosto.
— E agora? – pergunto como uma criança bem comportada,
balançando as pernas para frente e para trás, fazendo questão de
tocar o pequeno And.
— O sutiã. – rosna, sem desviar os olhos dos meus.
— Se está incomodado, por que não tira você mesmo? – eu o
desafio. Um sorriso safado cresce em seu rosto.
— Com prazer. – diz me dando um beijo e sinto suas mãos em
minhas costas, procurando pelo fecho do sutiã.
— O que você procura está aqui, lindo. – digo, colocando a mão
em sua cabeça e a desço até o vão entre meus seios.
— Com prazer. – ele repete a mesma frase de antes e me da um
sorriso ainda mais safado, abrindo o fecho com a boca mesmo.
MEU DEUS! Que boca divina esse homem tem! Só de vê-lo fazer
isso já fico molhada! E mais ainda porque sei muito bem o que essa
boca é capaz de fazer. – Você gosta? – pergunta, descendo o sutiã
por meus braços, roçando a mãos por minha pele e sinto um calafrio
me percorrer dos pés a cabeça.
— O que vai fazer agora, Sr. Giardoni? – pergunto, erguendo o
pé até sua ereção e o aperto entre os dedos.
— Deixar você mais gostosa do que já é. – sorri e rio.
— E isso é possível? – pergunto indiferente, embora sinta algo
se revirar dentro de mim.
— Pretenciosa nada você. – diz e rio, enlaçando seu quadril com
as pernas.
— Sei o que sou, Anjo. – respondo. – Agora, por que você não
faz logo o que tem em mente?
Com um olhar pesado em meus seios, sinto o beijo de Andrew
em um deles e fecho os olhos, mas o beijo dura pouco, pois ele se
afasta para pegar o vidro de mel e o destampa, virando um pouco
nos dois, melecando bastante meus mamilos e apenas por ver isso
já me contorço.
— Vou deixar eles bem docinhos para quando forem ser usado
por nossos Pequenos. – diz. O olhar fixo no meu.
— Eles ainda vão demorar algum tempo para poder mamar ai. –
respondo, sentindo sua respiração pesada. – Por que não faz você
isso? – sorrio, apertando o abraço com as pernas, trazendo-o para
perto de mim.
Com meu gesto, Andrew cai de boca em meus seios como se
fosse uma criança se lambuzando com o doce e, nesse instante, eu
realmente acredito que ele seja. Suas mãos me massageiam,
enquanto sua boca vai de um mamilo a outro, puxando e sugando
com força, me fazendo gemer alto e afundo a mão em seus cabelos,
como se tentasse me aliviar da tensão que sinto com seu toque. E
ele não para, em momento algum, de me chupar e sugar meus
mamilos no mesmo ritmo, sempre revezando de um a outro, me
levando a loucura até que gozo sem que ele nem mesmo tenha se
dado ao trabalho de me tocar.
— Você quer mais? – pergunta assim que afasta. Sua voz
pesada, rouca e terrivelmente sexy. Meu Deus! Eu quero mais!
Muito mais do que apenas isso!
— Sim. – sussurro baixinho e reabro os olhos, vendo seus olhos
de um tom cinza como se fosse o céu se fechando para a
tempestade. – Mas dessa vez quero você dentro de mim. Fundo.
Forte. E com força. – digo as palavras entre beijos e ele afasta
quando termino, descendo a bermuda até o meio de suas coxas e a
vejo escorregar até o chão, ficando ali apenas a cueca.
— Com força? – pergunta e confirmo com a cabeça, sentindo-o
dentro de mim da maneira que eu pedi. Com estocadas fortes e
rápidas. Seu peito colado ao meu. Nossas línguas dançando.
— And. – gemo baixinho em seu ouvido, apertando os pés em
sua bunda, prendendo-o dentro de mim.
— Fica quietinha. – ele diz, mordendo meu pescoço. Andrew
geme em meu ouvido, dizendo que vai gozar e me pede para gozar
com ele. Eu o aperto ainda mais, massageando seus cabelos,
beijando seu pescoço quase que de maneira incontrolável e penso
ouvir um barulho na cozinha, mas não ligo, já que pode ter sido o
pote de mel caindo no chão.
— Oh, meu lindo! – exclamo, sentindo quando ele goza dentro
de mim e me entrego a ele.
— Tudo bem? – ele pergunta quando escondo o rosto em seu
peito, sentindo os batimentos acelerados de seu coração, no mesmo
ritmo que o meu. Apenas confirmo.
— AH! – ouço, mas ignoro completamente e mais uma vez ouço
o mesmo barulho de antes.
— O que foi isso? – pergunto, olhando por cima de seu ombro e
penso ver uma fresta de luz.
— Não é nada, Anjo. – diz, mas não sei se acredito. Posso jurar
que vi e ouvi algo – É melhor nos vestirmos.
— Também acho. – concordo e ele me devolve o sutiã, mas visto
apenas minha blusa. – Vou tomar um banho. – informo, observando-
o vestir a bermuda de volta e me tirar do balcão. – Você me melecou
toda. – digo, arrumando a saia amarrotada e ele praticamente
gargalha, me deixando vermelha. – Idiota. – resmungo.
— Eu amo você. – sussurra em meu ouvido quando passo por
ele e sorrio.
— Eu também amo você. – sussurro de volta, dando um beijo
em seu rosto.
— Quer companhia no banho? – pergunta e, sem responder,
seguro sua mão, levando-o até nosso quarto, para um banho morno
e cheio de sexo, porque é o que mais quero fazer com ele esse final
de semana.

◆◆◆

Andrew
Saio do banho, deixando Luara ainda na banheira para relaxar
da viagem um pouco e dos exercícios que fizemos desde que
chegamos. Na verdade, suspeito que ela tenha me pedido para
deixa-la lá um pouco porque quer dormir, então aproveito a deixa
para me vestir e ir até a casa de Marcelo, para conversar com Maria
e pedir que me arrume algumas rosas para fazer um buquê. Sei o
quanto tem estima por elas, mas sei que não me negara isso
quando lhe disser o motivo.
— O que é isso? – pergunto ao ver um brilho refletido pela luz e
me aproximo da cômoda para ver o que é e descubro ali à aliança
de Luara. Eu a seguro em minha mão, girando-a no dedo. Ela deve
ter tirado para não estragar. Sempre diz que tira e a coloca de volta
na caixinha para não perder, mas ela não a trouxe hoje, é claro.
— PAPAI E MAMÃE, CHEGAMOS! – reconheço a voz de Felipe
vindo de um dos cômodos. – ESPERO QUE O SR. BUNDA ESTEJA
VESTIDO. – ele diz e franzo o cenho. Quem caralhos é Sr. Bunda?
Tendo uma ideia, visto minha bermuda e guardo a aliança no
bolso, saindo do quarto para saber o que Felipe quer para fazer
tanto escândalo assim. Luara vai surtar, é óbvio.
— Quem é que morreu? – pergunto, aparecendo na sala e vejo
quando Felipe coloca duas sacolas sobre a mesa da sala de jantar.
– Oi, Julie. – eu a cumprimento, mas sou ignorado com sucesso. O
que faz Felipe rir. – Tudo bem. – digo, ignorando a reação
inesperada dela. Julie geralmente sempre me cumprimenta com um
grande sorriso e fez isso esta manhã. Então não consigo imaginar o
que posso ter feito. – Encontraram o que pedi?
— Está no lugar Você-Sabe-Qual, para que Você-Sabe-Quem
não encontre. – Felipe responde.
— Voldemort não vai mais te matar se você disser o nome dele.
– Julie diz, batendo com o ombro no dele. Sua resposta me faz
querer rir.
— Sei que ele não, querida. Mas se eu disser e Luara escutar,
acho que ele – diz, apontando com a cabeça para mim. –, na certa
vai.
Abro a boca para responder, mas sou imediatamente
interrompido pela voz de Luara, que chega por trás de mim e vai até
a amiga como um furacão.
— Julie, eu preciso de você! – diz, agarrando seu braço.
— O que aconteceu? – ela pergunta preocupada.
— Preciso falar com você. – diz e olha para mim. – Apenas nós
duas.
— O-Ou! – Felipe faz, chamando a atenção de Luara.
— Lu, eu não...
— Só vem comigo, por favor.
— Tá. Tudo bem.
Arqueio a sobrancelha, sem entender nada do que acabou de
acontecer e as duas saem de volta para o quarto e fico plantado.
— Ok. – Felipe diz. – Então?
— Estou indo no Marcelo para conversar com ele e Maria. –
informo.
— Vou com você então. Acho melhor que ficar aqui e acabar
sendo vítima das duas. – diz e rio.

◆◆◆

Luara
— Lu, antes de qualquer coisa... – Julie começa a dizer e a
empurro para dentro do quarto onde estou com Andrew e tranco à
porta para que ele não possa entrar e nos pegar de surpresa.
— Eu estou ferrada! – solto de uma só vez e minha amiga me
olha sem entender.
— O que aconteceu? – pergunta preocupada e passo as mãos
pelo rosto, sentindo um desespero enorme.
— Andrew vai me matar. – respondo. – Ou brigar comigo até a
minha próxima geração.
— Luara. – ela diz, colocando as mãos no quadril daquela forma
mandona.
— Perdi minha aliança. – digo as palavras e deixo meu corpo
cair sob a cama. – Estou ferrada.
— VOCÊ O QUÊ?! –Julie grita e escondo o rosto entre as mãos,
tentando não chorar. – Como você conseguiu perder uma aliança de
mais de seis mil reais, Luara?!
— Não precisa jogar na minha cara com valores que eu sou uma
tragédia, droga! – exclamo, sentindo minha voz embargar e meus
olhos queimarem. – Ele deveria ter me dado um anelzinho desses
que vem com doce, assim eu não sofreria tanto.
— Tá. Desculpa. – pede, sentando ao meu lado na cama e
passa o braço pelo meu ombro. – Onde foi que você a viu pela
última vez e por que não estava no seu dedo?
— Eu tirei para tomar banho e coloquei ali na cômoda, ao lado
do meu colar que ele também me deu. – respondo. – Eu geralmente
tiro para tomar banho e coloco na caixinha, mas não a trouxe
comigo hoje. E agora eu perdi. – digo as palavras, sentindo as
lágrimas rolarem por meu rosto. – E agora o And vai ficar chateado
comigo porque perdi a aliança que ele me deu. E talvez ele nem
queira mais casar comigo, por que...
— Nossa, Lu. Quanto drama.
— EU TÔ DESESPERADA, DROGA! – grito para ela. – EU NÃO
SEI MAIS O QUE FAZER! Já procurei em tudo quanto é canto e não
esta em lugar nenhum.
— Fica calma. – Julie pede, passando a mão em minhas costas.
– Tem certeza de que você colocou na cômoda? – pergunta e faço
que sim. – Vamos procurar com calma. De repente você só colocou
em outro lugar e esqueceu.
— E se eu tiver realmente perdido ela, Ju? – pergunto, sentindo
meu mundo desmoronar. Só de imaginar ter que contar ao And que
perdi aquela aliança linda e caríssima que ele me deu, sinto um
medo terrível.
— Primeiro nós procuramos. – diz. – Depois nos preocupamos
com isso.
— NÃO DÁ! – exclamo. – Eu não vou se quer conseguir olhar
para ele, droga!
— Então você vai ter que contar a verdade. – ela responde um
pouco alterada e sinto ainda mais vontade de chorar. – Não da para
perder uma coisa dessas e simplesmente fingir que nunca
aconteceu. Ele vai perceber uma hora ou outra.
— Eu vou me enfiar debaixo desse edredom e não sair nunca
mais. – digo, sentindo minha voz embargar e puxo o cobertor para
mim e algumas lágrimas me escapam.
— Ah, amor. – Ju diz e me abraça. – Não fica assim. Nós vamos
encontrar ele e o And não vai nem ficar sabendo, a menos que você
queira contar.
Sentindo que meu mundo pode desmoronar, eu abraço Julie com
força e deixo as lágrimas rolarem até que toda angustia que sinto
tenha ao menos acalmado. Em parte sei que isso não é só pela
aliança, embora seja principalmente por isso, já que Andrew vai ficar
bem chateado se descobrir que não estou mais com ela e que perdi
a coisa mais preciosa que ele já me deu até agora.
— Eu queria falar com você sobre uma coisa, mas com você
desse jeito não vai dar. – Ju diz e afasto apenas o suficiente para
olha-la.
— Tenho sido uma péssima amiga para você desde que chegou.
– falo. – Me sinto terrível por isso.
— Lu, eu nunca disse que viria para cá para passar vinte e
quatro horas no seu pé. – ela diz. – Eu venho para cá para que
possamos ter algum tempinho juntas e isso já me deixa bem.
— Mas você tem um monte de coisas para me contar e eu nunca
paro para ouvir. – choramingo. – Tipo que eu sei que você e o Felipe
estão de namorico e você não falou nada até agora sobre.
Pronto! Quando digo isso, o choro recomeça e é uma droga.
Nem nas minhas piores crises de TPM fiquei tão sensível assim.
— Eu vou ficar com você até amanhã à noite. – diz. – Então
ainda temos tempo para conversar sobre esse assunto. Agora, fica
aqui que vou te buscar uma coisa e já volto para ajudar na nossa
Caça ao Tesouro.
Julie da um beijo em meu rosto e sai do quarto, voltando apenas
três minutos depois, trazendo uma barra de chocolate e o Doritos
que pedi. O que me faz rir, mas não tenho como resistir, já que
meus dois pequenos passaram praticamente a manhã toda pedindo
por isso.
— Se eu encontrar, o que ganho em troca? – Julie pergunta e
sinto meu coração revirar com a ideia de que ela o tenha
encontrado.
— Prometo que vou pensar em algo digno de você. – respondo e
ela sorri, tirando cada coisinha do lugar para tentar encontrar minha
aliança.
E quanto mais o tempo passa, mais desesperada eu fico, porque
sei que a qualquer instante Andrew vai entrar por aquela porta e
perguntar o que estamos fazendo e não vou saber o que responder.

◆◆◆

Andrew
Mais ou menos no final da tarde, saio para um passeio com
Luara, tendo deixado Julie dormindo e Felipe, que foi para a cidade
com Marcelo e Maria para comprar algumas coisas para o churrasco
que faremos essa noite. Maria foi junto a meu pedido, para algumas
encomendas, é claro.
— Esta tudo bem? – pergunto ao ver Luara parar e levar uma
mão a barriga.
— Só estou com calor. – responde, passando a mão no rosto
para secar o suor.
— Vamos descansar aqui um pouco. Já andamos bastante. –
digo, segurando sua mão e terminamos de chegar até uma árvore
que fica não muito longe dos estábulos, onde sento. – Esta tudo
bem mesmo? – insisto.
— Estou sim, lindo. Só quero ficar aqui e aproveitar mesmo. –
responde, sentando em meu colo de lado e passa os braços por
meu pescoço e a abraço pela cintura.
— Aproveitar? – pergunto curioso e ela confirma.
— Jaja o Felipe volta e ele e a Ju precisam ficar sozinhos um
pouco. – diz e sorrio. – E também estou tentando não pensar em
uma coisa que me aconteceu mais cedo, por que... – então para de
dizer, desviando o olhar para outro lado.
— Tem algo preocupando você. – digo, embora tenha uma
suspeita do que seja e posso jogar com todas minhas fichas que é
por causa da aliança, que esta escondida em um lugar onde ela não
vai encontrar. Sei disso porque ouvi meio por cima enquanto
conversava com Julie.
— Não é nada com que se preocupar, meu lindo. – diz, dando
um beijo no canto da minha boca. – Só vamos ficar aqui um pouco a
sós também.
Sorrio, concordando.
— Adoro essa ideia de ficar cozinho com você. – digo e desço,
beijando seu pescoço bem quando meu celular começa a vibrar no
bolso.
— Animadinho nada, ein? – Luara ri e afasta um pouco. – Pode
atender. – diz e pego o celular, vendo a foto da minha mãe na tela.
— Minha mãe. – digo, mostrando para ela e atendo.
— Não disse que sua mãe era ruiva. – comenta boquiaberta e
dou de ombros.
— Longa história. – sorrio. – Oi, mãe!
— Andrew, querido! – Lilian diz toda animada. – Como você
esta?
— Tudo ótimo. E com a senhora?
— Estamos todos bem. – responde. – Vocês vêm nos visitar
hoje? Sua avó esta louca para te ver e eu louca para conhecer
minha nora e ver se consigo ver se meu netinho na barriga dela.
Quando minha mãe diz estas palavras, Luara aperta os braços
ao redor do meu pescoço e dou um beijo em seu ombro antes de
responder:
— Não vai dar. Vim com Luara, Felipe e Julie aqui para a
fazenda. Vamos ficar até amanhã no final da tarde.
— Ela esta ai? – pergunta, referindo-se a Luara.
— Esta aqui do lado. – respondo e Luara parece paralisar em
cima de mim. Os olhos arregalados. – Quer falar com ela? –
pergunto, vendo a cara de desespero da minha linda garota, que
rapidamente gesticula em negativo.
— Posso? – minha mãe pergunta.
— Claro. Espera. – e afasto o celular para colocar no viva-voz. –
Da um “oi”.
- Laura? – ela chama.
— É Luara. – corrijo, assim como fiz por muitas vezes enquanto
estávamos em Londres.
— Oi. – Luara apenas sorri um pouco tímida.
— Oi! – Lilian exclama. – Fico feliz em finalmente poder ao
menos conversar com você. Eu diria “conhecer”, mas meu filho
parece disposto a continuar atrasando nosso encontro.
— Que feio, And! – ela diz, como se o motivo das duas ainda
não terem se conhecido fosse unicamente porque não quero que
aconteça, quando na verdade o motivo disso é a correria do dia-a-
dia.
— Sou inocente, linda. Sabe disso. – defendo-me.
Então porque vocês não vêm jantar conosco amanhã? – Lilian
pergunta. – Vocês dois, Felipe e a Julie. É esse o nome dela?
— É sim. – Luara responde. – Se o And não estiver com planos
de ficar aqui até muito tarde, por mim esta ótimo.
— Amanhã, então. – diz e percebo o sorriso em sua voz. – Do
que você gosta de comer? – pergunta e tenho que rir. O que me
rende um tapa no peito.
— Não se preocupe com isso, Sra. Lilian. – Luara responde e
aperto a mão em seu quadril, fazendo-a dar um pulinho em meu
colo. O pequeno And já esta acordando com toda essa
movimentação em cima dele.
— Apenas Lili, por favor. – minha mãe pede. – Assim você faz eu
me sentir uma idosa.
— Desculpa.
— Pedirei para que Henriqueta prepare um jantar especial. – diz.
– Mas agora, como esta meu netinho ou netinha? Já consegue
sentir algo?
— Ainda não. – Luara responde. – Talvez daqui uma ou duas
semanas consiga sentir alguma coisa.
— É. Ainda esta um pouco cedo para isso. Mas vai ver como
depois passa voando!
— Sim! – Luara ri. – And contou a senhora a notícia? – pergunta
e sorrio, entendendo a que se refere.
— Não. – responde e sinto sua preocupação. – Andrew, o que
você esta escondendo de mim?
— A senhora esta sentada? – pergunto apenas para provoca-la.
— Apenas fale!
— Conta você ou eu? – pergunto a Luara, que sorri.
— Pode dizer.
— Então, Lilian... – começo e paro, dando uma longa pausa. – A
senhora não terá um netinho.
— Como assim? – ela pergunta ainda mais preocupada. – Luara,
querida, você não...
— Não! – ela a interrompe antes que complete a frase. – Esta
tudo bem com eles.
— Então o que aconteceu? – pergunta impaciente. – Pelo amor
de Deus, não façam isso comigo!
— É que não é um netinho. – sorrio para Luara, que tem um
brilho no olhar, assim como sempre acontece toda vez que conta a
alguém. Mas, igual está agora, só o vi quando contou a sua mãe no
início da semana e as duas acabaram chorando no telefone. E sei
que isso foi por causa de estar longe deles, o que faz com que eu
me sinta culpado por não tê-la levado a São Paulo para ver sua
família ainda e para conversar com seus pais. – Digamos apenas
que o ciclo continue a cada duas gerações. – concluo, sentindo
meus olhos lacrimejarem. Não tem como dizer que meu maior
sonho vai ser realizado sem me emocionar.
— Vocês... – Lilian começa e para, não conseguindo emitir
palavra alguma.
— Pelo amor de Deus, Andrew! – Luara exclama impaciente. –
Diz logo que são gêmeos!
— Ah meu Deus! – minha mãe diz em um sussurro e ouço um
barulho no fundo.
— Mãe? – eu chamo e Luara olha para mim, sentindo minha
preocupação. – Lilian?
— Vocês estão falando sério? – pergunta e respondo que sim. –
Da última vez, você havia dito que não era.
— Descobri na semana passada com o Dr. Marcus. – Luara
responde. – A médica que eu estava indo antes não tinha reparado,
então quando fui com ele, disse que havia visto dois e pedi um
ultrassom 3D, para que não ficassem dúvidas e pudesse dar a
notícia ao And.
— Oh, Deus. – torna a dizer, baixinho. – Quando Lívia contou
que teria apenas a Kate, achei que nunca mais fossemos ter
gêmeos na nossa família. Ainda mais considerando que a mulher
tem mais chances...
— Terão sim, Lili. – Lu sorri para mim, dando um beijo em meu
rosto. – E eu estou feliz por poder dar isso ao And e por ele ter me
presenteado com duas joias tão preciosas.
Luara e minha mãe conversar por algum tempo e levanto para ir
até o pomar de pêssegos, que fica aqui perto de onde estamos.
Quando volto, trazendo alguns frutos para dar a ela e outros para
levar lá para casa, Luara sorri para mim como se tivesse aprontado
algo. A expressão em seu rosto é totalmente diferente da que ela
tinha quando saímos para caminhar.
— Sua mãe parece muito gentil. – comenta, devolvendo meu
celular quando sento ao seu lado e ela deita em meu colo.
— Só parece. – decido brincar. – Ela é terrível.
— Mentira.
— É sério! – exclamo. – Primeiro ela agrada, mas se não for com
sua cara, ai já era.
Assim que digo isto, Luara vira de barriga para cima e me encara
com uma expressão estranha. Preocupada até.
— Por que acha que eu nunca namorei? – pergunto, tentando
continuar sério.
— Porque é bem mais fácil ter uma única noite do que manter
um relacionamento. – responde de pronto, o que me deixa surpreso.
– Mas sua mãe não é isso que esta dizendo.
— Experiência própria?
— O que?
— “É mais fácil ter uma única noite do que manter um
relacionamento”. – repito suas palavras, sentindo enorme
desconforto.
— Falando assim faz parecer que tive muitos antes de você, né?
– pergunta, levantando. – Bem diferente de você. – Nossa! Essa foi
extremamente direta! – Mas sim, foi mil vezes mais fácil ter aquela
noite, naquela festa, do que manter um namoro por anos. – e
levanta, caminhando as pressas direção a casa.
— Luara! – eu a chamo, levantando para ir atrás dela. – Quer
esperar?!
— Para quê?! – ela vira para mim, irritada, e percebo que esta
chorando. – Para você jogar mais algo na minha cara?
— O quê... Eu não... Eu estava brincando com você, linda.
— Ah, tenha paciência, Andrew! – exclama. – Você acabou de
insinuar ai que eu tinha experiência em ter casos, quando nós dois
sabemos que o expert nisso aqui é você.
— Para mim não foi fácil manter vários casos. – digo, passando
as mãos pelos cabelos. – Foi minha única rota de fuga para evitar
sentir.
— Parabéns para você, então. – diz, dando as costas para mim
e com um passo mais longo, estou ao seu lado.
— Eu não insinuei que você teve centenas de homens, droga! –
exclamo alterado, segurando sua mão. – O que eu quis dizer...
Pelas vezes que você me falou qualquer coisa sobre seu namoro
com o babaca do seu ex... Eu achei que, para você, tivesse sido
mais fácil àquelas duas noites que tivemos. Não que você fosse
uma mulher fácil, o que eu tenho mais do que certeza que não é,
porque você não quis nem mesmo sair para jantar comigo quando
nos reencontramos. – passo a mão pelo cabelo, sentindo-me
incomodado com esta situação. – Desculpa ter feito pensar que me
referi a outra coisa. Mas não é isso.
— Desculpa. – ela também pede, olhando para nossas mãos
juntas. – Não sei o que esta acontecendo comigo hoje. Eu já chorei
mais do que o normal hoje e agora quero brigar com qualquer um
que cruzar meu caminho. Ai você vai e diz aquilo da sua mãe e...
— Ela é um amor, linda. – digo, dando um passo a frente. –
Minha mãe adora você só pelo tanto que falei de você no tempo que
estive em Londres e, todas as vezes que fui vê-los esses dias,
sempre perguntou quando levaria você para conhecê-los.
— Você me assustou. – ela diz, afundando o rosto em meu peito
e a abraço, sem entender bem sua reação.
— Desculpa. – peço.
— Vamos voltar lá para dentro. – sugere e concordo.
— Só espera um pouco. Vou buscar as frutas que colhi e já
vamos.
Luara afasta e volto até onde estávamos para pegar os
pêssegos e ela me pede um.
— Está delicioso! – exclama, passando o dedo no canto da boca
para secar o caldo que escorre.
Por algum motivo, depois dessa discussão que acabamos de ter,
sinto ainda mais nervoso a respeito de pedi-la em casamento esta
noite, para oficializar o pedido que fiz em Goiânia. Não mudei de
ideia e jamais mudarei, mas estou nervoso.
Capítulo Doze
Domingo
Luara

É noite de sábado e já estou dentro da piscina com a gata da


minha melhor amiga, tentando não pensar no fato de que já revirei a
casa de cima a baixo e ainda não encontrei minha aliança. Ou pior:
no fato de que terei de contar ao And que perdi aquela lindeza que
ele me deu, caso não a encontre amanhã por conta própria. E eu sei
que no momento em que ele souber, ficará mais do que apenas
chateado comigo. E sim, eu já pensei em comprar outra, mas nas
pesquisas que fiz por uma parecida, o valor era basicamente dois
meses de salário meu. O que apenas me fez pensar no quão
exagerado ele foi ao comprar nossa aliança de noivado. Mas
também pensei que, se estivesse no lugar dele, e amando-o da
maneira que o amo, não teria ligado para preço.
Mas, é claro, nada disso justifica o erro que cometi ao perder
algo tão valioso para nós dois. E menos ainda o fato de estar
escondendo isso dele.
— Nossa, eu não sabia que demorasse tanto para vestir uma
sunga. – Julie comenta ao meu lado e olho para direção a porta. –
Parecem duas noivas.
— Estou tão perdida aqui, que só consigo pensar em como sou
desastrada. – respondo, afundando na água um pouco.
— Lu! – Julie chama minha atenção e volto a subir. – Já que eles
não chegam logo para cuidar da churrasqueira, tem algo que quero
te contar. – diz e viro para ela.
— Hmmm... – murmuro. – E o que você aprontou? – arqueio a
sobrancelha e vejo seu rosto vermelho. Eu tenho uma ideia do que
ela quer falar, mas não vou dizer que já sei.
— Bem... – começa, lançando um olhar para a porta. – Você
sabe que eu sempre... Meio que fui atraída pelo Felipe. – e para,
olhando para mim e para a água, mexendo com as mãos.
— Eu lembro que você meio que se apaixonou por ele a primeira
vista também. – eu a provoco.
— Sim. – sussurra baixinho e afunda. – Não paixão. Não aquela
vez, pelo menos. Eu vi e ele era, é lindo e acho que até você achou
isso quando o conheceu.
— Sim. – concordo. – Ele e o And são dois verdadeiros pedaços
de mau caminho.
— A questão é que ele sempre mexeu comigo. Em todos os
sentidos. Quando eu fazia ou dizia algo, ele sorria para mim e eu me
sentia derreter por ele. E não estou me referindo apenas por ele ser
todo esse pedaço que você diz. – ela diz as palavras um pouco
confusa, como se nunca as tivesse dito em voz alta. E posso
apostar que não o fez. – Eu só podia olhar ele de longe, porque...
Você sabe. Ele namorava a sua amiga.
— Sei também que eles viviam brigando porque ela não dava
atenção ao relacionamento dos dois e que ele não via mais futuro
com ela. – digo, virando-me para Ju e seguro suas mãos. – E,
lembro também, que no dia que contei que estava grávida, ele
estava meio bêbado e disse que eu tinha uma amiga muito gostosa.
– sorrio quando Julie fecha a cara para mim. – Minha amiga
gostosona era você, Ju. Eu levei algum tempo para me dar conta
disso.
— Você acha que ele quer realmente algo comigo? – pergunta e
faço que sim.
— And disse que ele sempre quis algo mais sério. – respondo. –
Claro que eles tiveram um passado onde a única coisa que queriam
era uma noite de sexo, mas às vezes até nós queremos isso. – digo
e Julie ri, concordando. – Acho que você deveria dar uma chance a
vocês dois.
— Ele pediu para deixa-lo entrar. – sussurra e franzo o cenho,
sem entender. – Na minha vida. Dar uma chance a nós dois.
— Então tá esperando o que?!
— A coragem? – ela pergunta de volta e ri nervosa. – Eu não sei.
– diz. – Ele vai estar aqui e eu lá em São Paulo.
— E essa é sua desculpa para não deixar acontecer? –
pergunto. – Seu medo de se apaixonar e se entregar a alguém só
porque estarão em cidades diferentes? Ainda mais depois do que vi
vocês dois fazendo lá no bar ontem.
— Eu disse para ele entrar. – Julie responde. – Mas também
pedi para não me machucar mais.
— Felipe não é assim, Ju. – digo. – Se vocês se derem a chance
de que precisam, vai ver que ele é um homem incrível. Assim como
você também é uma mulher incrível. E talvez seja por isso que até
agora não tenham dado certo com mais ninguém. Da mesma forma
que Andrew e eu também não havíamos dado.
— Você e o And meio que tiveram os destinos traçados quando
nasceram. – diz e sorrio um pouco sem graça. – São perfeitos um
pro outro.
— Vai ver você e o Felipe também. – sorrio, batendo com o
ombro no seu e ela afunda na água, o que faço o mesmo, porque já
estou começando a ficar com frio aqui. – Vamos ver quem chega do
outro lado primeiro? – pergunto.
— Eu. É claro.
Sorrio e já afundo, saindo na frente e sei que ela esta
resmungando algo lá atrás.
— ISSO NÃO É JUSTO! – Julie praticamente grita quando
subimos de volta à superfície e passo as mãos no rosto para tirar a
água. – Lu. – chama e olho para ela, que indica algo do outro lado.
— Meu Deus. – murmuro completamente boquiaberta. – Acho
que estou apaixonada. – digo.
— Eu também. – Ju concorda.
Saindo da casa e vindo há passos lentos até a piscina, Andrew e
Felipe param no gramado e puxam a perna de suas sungas,
sorrindo para nós. Felipe está com uma sunga branca, bem
demarcada em seu corpo. Já And está com uma vermelha, que tem
duas listras brancas, que também marca seu corpo perfeito. O
tecido colado ao seu corpo me da uma visão mais do que apenas
maravilhosa do pequeno And. O que me deixa com água na boca.
Na verdade, sinto a água da piscina começar a entrar em ebulição.
Ainda sorrindo e com os olhos fixos em nós duas, eles andam
mais um pouco e param na beira da piscina para se alongar e o
fazem como se estivessem em câmera lenta e tento, ainda que em
vão, focar em apenas uma parte do corpo de Andrew, mas é
impossível. Seu peitoral está refletido sob a luz fraca aqui dos
fundos e vejo um brilho do hidratante que sempre usa. Quando os
dois esticam os braços para cima, o delicioso V do And fica ainda
mais visível e tenho vontade de cair de boca ali e ir descendo, até
tirar aquela sunga dele. Tudo o que eles fazem parece sincronizado.
Como se tivessem ensaiado ou fossem irmãos de verdade, porque
não erram um único movimento.
— DELÍCIA! – eu grito para And, que sorri para mim e sinto
minha perseguida queimar de desejo para ter ele.
— GOSTOSÃO! – Julie grita também e desta vez é Felipe quem
sorri.
Andrew e Felipe trocam olhares antes de dar o próximo passo e,
com o sorriso mais safado e pretensioso que já os vi dar,
mergulham, vindo em nossa direção, o que me faz querer ir de
encontro a eles, mas me mantenho firme quando sinto duas mãos
segurando minhas coxas e um beijo em minha virilha e outro mais
demorado na minha amiguinha. O que faz meu corpo estremecer de
cima a baixo e apoio as mãos em seus ombros. Então ele sobe um
pouco e beija minha barriga e, por último, os dois sobem e nos
abraçam pela cintura. Eu, seguida de Julie, abraço And pelo
pescoço e ela ao Felipe. Meu coração disparado, meu estômago
revirando e minhas pernas bambas, louca para ser tomada pelo
meu homem aqui e agora.
Com os olhos cinza e escuros, fixos aos meus, And me beija
com força, pressionando sua enorme ereção contra mim e me dou
conta de que ele já estava duro antes mesmo de entrar aqui. Que
aquele showzinho dos dois, enquanto olhavam para nós duas
apenas de biquíni, os deixaram tão duros quanto a nós molhadas.
Para provocá-lo, aperto o pequeno And, acariciando-o por baixo
d’água.
— Ele está louco para estar aqui dentro. – digo em seu ouvido,
guiando sua mão até minha companheira de todas as horas e ele
sorri, mas não diz nada além de beijar meu pescoço, enquanto
esfrega a mão por cima do meu biquíni. Em resposta, movo o
quadril de encontro à sua mão, como se implorando para que a
coloque em mim. Como não faz, abraço seu quadril com as pernas
para senti-lo melhor.
— Namora comigo. – ouço o pedido e olho, boquiaberta, na
direção da voz e vejo uma Julie agarra ao pescoço de Felipe, pela
primeira vez sem ter o que dizer. O olhar em seu rosto é de extrema
surpresa.
— Oi? – pergunta de volta e ri, visivelmente nervosa.
— Você me pediu para não machuca-la quando entrasse na sua
vida. – ele diz. – O cartão era isso: meu pedido. Mas não posso
esperar pela última parte dele.
— “Oi, pequena. Você quer...” – ela começa, então para. –
Você...
— Quer namorar comigo? – Felipe completa a frase e Julie olha
para mim, perdida. Quero rir por ela ter recebido um pedido de
namoro surpresa assim, mas não o faço em consideração aos
nossos anos de amizade. – Sou louco por você desde o primeiro
momento em que coloquei os olhos em você, Julie. – diz. – A última
coisa que quero na vida, é machucar uma mulher incrível e leal
como você, apenas por um capricho meu. E menos ainda quero ser
aquele babaca que você me descreveu ontem, que faz a mulher se
apaixonar sem ter a intenção de querer ficar.
— Sim. – minha amiga sussurra tão baixo que tenho duvidas se
realmente ouvi isso. Mas a confirmação vem bem quando os dois se
beijam de uma maneira apaixonada e única. Eu vibro pelos dois,
sentindo o beijo de And em meu pescoço e sua barba áspera roçar
nele.
— É sua vez, amigo. – Felipe diz, abraçando Julie pelo quadril e
olho desconfiada para Andrew, que parece nervoso.
— Nós já namoramos há alguns meses. – digo.
— Minha linda. – And chama minha atenção e solto as pernas
dele, ficando centímetros mais baixa. – Case-se comigo e me faça o
homem mais feliz do mundo.
— Eu já disse que sim na semana passada, meu lindo. –
respondo e aperto os braços em seu pescoço.
— No momento em que você entrar por aquela porta – diz,
apontando com cabeça para a porta na qual eles saíram. –, você
encontrará algo meu para você. E, quando fizer, seremos
oficialmente noivos.
— And, eu... – começo a dizer e paro, sentindo que meu coração
já está no fundo da piscina. – Eu perdi minha aliança. – sussurro,
envergonhada de mim mesma. Não posso continuar escondendo
isso dele.
— Não, Anjo, você não perdeu. – diz e olho para ele, que segura
minha mão. – Seja minha esposa, minha companheira, minha
eterna amada por todo o resto de nossas vidas e me faça o homem
mais feliz do mundo. – ele diz, colocando minha aliança em meu
dedo e sinto as lágrimas escorrerem por meu rosto.
— Estava com você. – digo e mais lágrimas rolam. – Eu entrei
em desespero achando que a tivesse perdido e estava com você.
Quero bater nele para que nunca mais faça algo desse tipo
comigo, mas não consigo. O alívio de ter minha aliança aqui é maior
do que a vontade de bater em Andrew por ter me dado esse susto.
Então que tudo o que consigo fazer é chorar, com o rosto escondido
em seu pescoço.
— Isso foi maldade, And. – Julie o repreende, mas sinto o tom
divertido em sua voz.
— Ei, anjo. – ele diz, colocando meu cabelo atrás da orelha. –
Olha para mim. – pede e, sem saber o motivo, obedeço. – Preciso
de uma resposta, linda.
Rio, sentindo todo o nervoso do mundo.
— Sim! – exclamo, agarrando seu pescoço e sinto quando o
fundo da piscina some dos meus pés quando ele me ergue. – Mas
talvez eu também mate você por ter feito isso comigo! – digo,
batendo em seu peito e And ri. – O que há lá dentro? – pergunto
desconfiada e curiosa ao mesmo tempo.
— Só descobrirá quando entrarmos no final da noite. – faço uma
careta, desaprovando a ideia.
— Lu. – Julie me chama e olho para ela, que faz gesto com a
cabeça direção ao Felipe e entendo o que ela quer dizer.
Juntas, nós sorrimos e os abraçamos, para só então beija-los,
dando uma resposta oficial a suas perguntas.
Não sei quanto a Julie, mas desço minhas mãos até a bunda de
And e o aperto contra mim, sentindo tanto o pequeno And duro e
rígido em minha barriga, doidinho para se livrar da sunga, como
também sua bunda macia em minhas mãos.
— Ele também está louco de tesão para estar aqui dentro. – meu
lindo diz em meu ouvido, descendo a mão para dentro do meu
biquíni e sinto seu dedo circulando meu clitóris. Eu movo meu
quadril direção a sua mão, pedindo em um silêncio gritante para que
me leve para dentro.
— Gente, eu odeio ser a estraga prazeres, mas acho que a
carne está queimando. – Ju diz e os dois afastam rapidinho e saem
da piscina para apagar o fogo alto que se forma na churrasqueira.
Apoio-me contra a parede, tentando recuperar a força nas
pernas e em todo o corpo.
— Meu Deus. – Ju sussurra ao meu lado e olho para ela. – O
que foi que acabou de acontecer aqui? – pergunta.
— Aparentemente você acabou de ser pedida em namoro pelo
homem que você é apaixonada e eu de ser pedida em casamento,
pelo homem que sou apaixonada. – respondo e rimos juntas.

◆◆◆

Andrew
Agora é oficial: Luara e estamos noivos. E ainda temos como
testemunhas nossos dois melhores amigos, que também
oficializaram seu namoro e isso me deixa feliz por eles, porque os
dois parecem que se dão muito bem. Embora eu os tenha visto
interagir diretamente um com o outro apenas ontem e hoje. Mas
percebo que existe entre eles essa coisa que tenho com minha
linda.
Para ser sincero, fiquei um pouco surpreso quando Felipe me
pediu ajuda com isso há algumas poucas horas. Mas a ideia de
seduzi-las como se fossemos dois gogoboys foi demais. Ver o olhar
de desejo no rosto da minha garota foi incrível. Nunca antes me
senti tão desejado por ninguém, como sou por ela.
— Obrigado. – Felipe diz ao meu lado, jogando um pouco de
água para abaixar o fogo da churrasqueira.
— Pelo que? – pergunto, voltando a colocar a grelha no lugar
quando conseguimos acalmar o fogo, mas algumas carnes não
tiveram salvação.
— Por me ajudar com a Julie. – responde. – Eu queria fazer
algo, mas não sabia como. Eu estava fazendo a pergunta através de
um cartão, mas a última parte deveria entregar só amanhã e isso já
estava me torturando.
— Você também me ajudou com Luara. – digo. – Irmãos fazem
isso.
— Certo. – ele diz e pega duas cervejas na caixa, entregando
uma para mim.
— Mas talvez você devesse ir falar com ela. Você a pegou de
surpresa e ela aceitou. Depois tudo pegou fogo. Literalmente
falando.
— Você tem razão. – concorda e o vejo olhar para as duas
garotas que ainda estão na piscina, no mesmo lugar de antes,
conversando em sussurros.
— O mais difícil já passou. Para nós dois. – falo. – Apenas
oficialize a relação de vocês.
Felipe me olha meio de canto e balança a cabeça com um
sorriso que prefiro não perguntar o significado. Então sai, levando
uma cerveja para Julie e senta na beira da piscina. Notando a deixa,
Luara sai de mansinho e vem para o meu lado.
— Com fome? – pergunto a ela, sentando com um prato com
carne na beirada, jogando as pernas para dentro da água.
— Você nem imagina o quanto. – ela sorri, apoiando as mãos em
minhas pernas. – Mas não só dessa carne que você tem ai no prato.
– completa e sorrio, sentindo suas mãos subirem até a sunga, onde
a segura. Tentando ignorar o efeito que tem em mim, coloco um
pedaço de carne em sua boca e ela puxa meus dois dedos para
dentro, chupando o tempero da carne. Seu gesto tem ligação direta
com o pequeno And.
— Hmmmmm... Está uma delicia! – exclama, passando a língua
pelos lábios. – Você não vai entrar? A água esta deliciosa depois do
showzinho que você e o Felipe deram aqui.
— Como assim? – pergunto curioso e ela sorri, fazendo sinal
para me aproximar e o faço, recebendo um beijo molhado na boca.
— Você, principalmente, deixou isso aqui pegando fogo, meu
lindo. – sussurra em meu ouvido, dando um beijo em meu pescoço
e debruça sobre minha ereção. O sorriso que da ao me sentir é
doce e travesso. – Estou louca para entrar no nosso quarto com
você e descobrir o que preparou para nós. – diz e sinto seu beijo
disfarçado em meu pau. Um pouco tenso, olho para o outro lado da
piscina, onde agora apenas Felipe esta e a sombra do que imagino
ser Julie, nadando direção a Luara.
— Anjo. – eu chamo e ela levanta o rosto bem quando Julie puxa
suas pernas.
— AH! – grita, dando um pulo. – Puxa a mãe, infeliz! – exclama,
batendo em Julie, que ri.
— Tinha que ter visto sua cara! – ela diz, abraçando a amiga.
Julie parece bem mais calma, relaxada e feliz agora que conversou
com Felipe, que a observa do outro lado. – Nossa, And. Agora eu
entendo porque você fica todo excitado quando olha a Lu. – diz com
os braços caídos sob os seios de Luara, que fica roxa de vergonha
e eu sem reação.
— É complicado isso. – digo em resposta e ela ri.
— Não estou culpando você, meu bom homem.
— Ok, então.
— Quem topa um jogo? – Felipe pergunta e o vejo entrar na
piscina com uma bola. – Meninos contra as gostosas.
— E o que você tem em mente? – Luara pergunta, ficando de
costas para mim e segura minhas pernas.
— Vôlei. Queimada. Bobinho. – ele da de ombros. – O que vocês
quiserem.
— Bobinho é meio que injusto. – Julie protesta e nós três rimos.
— Por que não jogamos por casais? – Luara sugere. – Aposto
que And e eu somos melhores que vocês dois. Além de que ficaria
um jogo mais justo, considerando a altura de vocês dois.
— Tá. Por mim está ótimo. – ele responde.
— Por mim também. – concordo. – Até porque, assim posso ficar
mais tempo atrás da minha garota. – digo e ela me olha por cima do
ombro e pisco para ela, vendo seu rosto corado.
— Vamos de vôlei então. – Felipe diz e sai da piscina para
marcar com o chinelo o que seria a rede. – Qual será o prêmio? –
pergunta, pulando de volta na piscina.
— A dupla que perder limpa a bagunça e faz o almoço amanhã.
– Julie sugere e pega a bola, que flutua na água.
— Por mim tudo bem. – Luara concorda, tomando a bola dela e
vem para o meu lado. – Vocês escolhem o campo.
— Fica do jeito que já esta. – ela responde, nadando para o lado
do Felipe, que sussurra algo em seu ouvido.
— Tudo bem, anjo? – pergunto quando ela fica do meu lado.
— Quero uma aposta particular. – diz em resposta e arqueio a
sobrancelha.
— O que sugere? – pergunto curioso e ela sorri para mim.
— Quem jogar melhor entre nós dois, terá uma noite mais
especial. – responde e tenho que rir. Afinal, ela já terá uma noite
especial, na qual me dedicarei inteiramente ao seu prazer.
— Sou mais alto que você, minha linda. – digo para provoca-la. –
Além de que fisicamente mais ágil também.
Ela sorri e aproxima de mim.
— E eu tenho uma carta nas mangas. – diz e sinto sua mão em
minha sunga. Seu toque me faz fechar os olhos.
— Não vai querer perder a partida apenas para ganhar, vai? –
pergunto ao reabrir os olhos. – Teremos que limpar a casa toda e
fazer o almoço se isso acontecer.
— De repente valha a pena. – ela da de ombros. – Mas confio
em você para ganharmos. – e pisca para mim, dando um beijo no
canto da minha boca.

◆◆◆

Luara
— Estão prontos? – pergunto, virando para o mais novo Casal
Vinte da noite, que conversa entre sussurros do outro lado,
provavelmente tramando algo.
— Prontíssimos. – Ju responde logo depois de receber um beijo
de Felipe, que parece todo atencioso com ela.
— Então se preparem! – exclamo, me preparando para sacar.
— Eu começo. – ouço Andrew dizer atrás de mim, tomando a
bola de minhas mãos. – Altura ajuda, minha linda. – diz e pisca para
mim. – Deixa que eu comece.
— Quanto maior a árvore, maior é a queda, lindo. – respondo,
dando as costas para ele.
And não sabe, mas eu jogava no time de vôlei da escola e era
muito boa nisso. Ainda que já não jogue desde que terminei o
colégio. Mas ainda sei muito bem como isso funciona e estou
disposta a ganhar não apenas de Felipe e Ju, mas também de
Andrew, apenas para fazê-lo para pelo sufoco que me fez passar,
pensando que tivesse perdido minha aliança, sento que estava com
ele.
— Ponto nosso! – ele exclama atrás de mim e Julie joga a bola
de volta. – Eu avisei que sou bom nisso, Anjo. – And sussurra em
meu ouvido, apertando a mão em minha bunda.
— E eu já disse que sou boa nesse seu joguinho de sedução,
And. – respondo.

Três sets a dois! Não acredito que ganhamos bem em cima do


último ponto, que poderia ter dado a vitória a Ju, que iria passar o
resto do ano me zoando por termos perdido para ela e Felipe. Mas
eu não faço isso, é claro. Sei que ela pega febre e todos jogaram
muito bem e que a partida foi mais do que apenas disputada.
— Vocês estão de parabéns. – Felipe diz, envolvendo os braços
pelos ombros de Julie e apoia com o queixo em seu ombro. Ela sorri
um pouco sem graça, mas segura as mãos dele. Tão fofos!
— Vocês também. – And responde. – Na verdade, não achei que
nossas garotas jogassem tão bem assim.
— Pois é. Fiquei bastante admirado com isso.
— Surpreso, Fe? – Ju pergunta, olhando para ele de lado.
— Muito.
— Nós jogávamos no time da escola. – confesso.
— Isso explica muita coisa. – And comenta e sinto seus braços
em minha cintura, abraçando-me por trás. O pequeno And, com
toda nossa brincadeira, está bem acordado ali. Para provoca-lo um
pouco mais, encosto nele o máximo possível. – Não faz isso
comigo, anjo. – pede em meu ouvido e sorrio.
— Bem, jogar não significa ganhar. – Ju diz. – Às vezes sim, às
vezes não.
— Pode apostar que na próxima partida, seremos nós os
vencedores aqui. – Felipe responde.
— Por mim podemos marcar. Mas não hoje, por favor. – falo. –
Estou exausta e não sei nem se consigo sair daqui para ir tomar
banho e dormir. – Andrew ri atrás de mim e olho para ele. – O que
foi? – pergunto e ele da de ombros.
— Posso te ajudar com isso. – diz.
— É? – pergunto e ele confirma. – Como?
— Te levo no colo. – responde e sinto seus braços em minha
cintura, tirando-me do chão.
— Nossa, será que vocês dois podem, por favor, ir para o
quarto? – Ju pede e a vejo fazer cara de desgosto, embora sorria.
— Toma banho comigo. – And sussurra em meu ouvido e faço
que sim com a cabeça. – É melhor entrarmos antes que venha
chuva. – comenta, olhando para o céu e vejo o tempo fechado.
Em linha e em ordem, os quatro saem da piscina, recolhendo
tudo o que é possível e levamos para a varanda, molhando tudo no
caminho.
— Lá vem trovão! – Felipe informa e me encolho toda, apenas
esperando pelo estouro que chega atrás de nós, me fazendo gritar.
— Nossa, Lu! – Julie exclama. – Você nunca foi assim.
— Eu não tenho culpa se comecei a ficar assustada com trovões
depois que engravidei. – choramingo. – É horrível de uma maneira
que vocês não têm noção.
— Ela já gritou em cima de mim. – And fala e olho para ele, não
acreditando no que contou isso. – Abri a porta do meu apartamento
e deu um trovão e ela gritou.
— Sei. – Ju ri. – Mas sério, eu vou tomar um banho também,
porque já vi que vou ter que acordar cedo para poder arrumar toda
essa bagunça aqui.
Damos boa noite a ela e a Felipe, deixando-os ainda na cozinha,
guardando algumas últimas coisas.
— Vamos tomar banho aqui no social. – And sugere e olho para
ele. – Tem algo no quarto. Talvez seja melhor.
— Hmmm... – murmuro, olhando para ele. – Tudo bem. Se você
quer fazer surpresa, não vou achar ruim.
— Obrigado. – agradece e entramos no banheiro, onde ele me
ajuda a me despir e faço o mesmo com ele, finalmente tirando sua
sunga que, apesar de deixa-lo sexy, passou a ser meu pior pesadelo
desde o início da noite. E, cheio de troca de caricias, tomamos
nosso banho com um sabão extremamente cheiroso, que parece ter
sido feito com pétalas de rosas.

◆◆◆

Andrew
Quando terminamos de tomar nosso banho, pego a toalha que
havia deixado separada especialmente para Luara e a enrolo em
seu corpo.
— Acho que posso ficar mal acostumada com isso. – ela sorri
para mim, enquanto enrolo a minha no quadril.
— Bem, dar banho e cuidar de você é só uma parte do que
pretendo. – respondo, dando um beijo casto em sua boca. – Vem. –
estendo a mão e ela a segura. – Você tem que ir primeiro.
— Ainda bem! – exclama. – Já não aguento mais toda essa
curiosidade para saber o que você aprontou no nosso quarto. –
sorrio e ela destranca a porta. – Nossa. – sussurra. – Isso não
estava aqui quando entramos. – dou de ombros, fingindo não saber
do que se trata. Mas o chão do corredor até nosso quarto está
coberta de pétalas de rosas, assim como pedi a Maria.
— Vai. – digo, tocando a mão em suas costas e ela anda de
vagar, o olhar brilhando. Com o controle que deixei na pia, ativo o
som, onde começa a tocar Marry me, do Jason Derulo.
— And. – diz, olhando para mim por cima do ombro e sorrio,
dando um beijo em seu ombro.
— Você é meu tudo, anjo. – eu falo, sentindo o nervosismo tomar
conta de mim.
— Você também é o meu. – ela sorri em resposta. – Mas quero
saber o que tem lá dentro. – e segura minha mão mais forte e assim
andamos até que ela pare na porta fechada. – O que vou encontrar
aqui? – pergunta curiosa, levando a mão à maçaneta.
— Abra. – sussurro em seu ouvido.
— Meu Deus! – Luara exclama, cobrindo a boca com as mãos e
me ajoelho atrás dela, segurando sua mão, chamando sua atenção
para mim. – And. – diz apenas e me sinto mais do que apenas
nervoso.
— Esse era o momento em que eu deveria devolver sua aliança.
– começo a dizer de improviso. – Mas eu não poderia negar ajuda a
um amigo que também me socorreu quando eu precisei. Mas, meu
Anjo, acredite em mim quando eu digo que quero que você seja
minha companheira pra toda vida. – enquanto falo, acaricio sua mão
com o polegar, enquanto com a outra, Luara cobre a boca. – Não
apenas marido e mulher, não apenas como amantes. Não apenas
namorados. Não somente o pai e a mãe de primeira viagem que
seremos para os nossos dois pequenos. Mais do que tudo, quero
ser seu melhor amigo, seu confidente para tudo. Quero ser seu
Porto Seguro, para que todos os dias você queira voltar para mim
no final do dia. Quero ser o herói que irá socorrer você quando
precisar. Quero ser o homem que vai te deixar acordada a noite,
fazendo tudo o que temos direito e ser também a pessoa para quem
você vai procurar colo.
Nervoso, passo a mão pelo rosto, procurando as palavras certas.
— Sei que sempre será a princesinha do papai, assim como sei
que nossa filha será a minha. – recomeço. – Mas, de agora em
diante, seja também minha rainha, meu Porto Seguro, minha esposa
e confidente, minha amante e melhor amiga. Seja o meu tudo,
Luara.
Nesse momento, eu já não sei nem mais o que falar. Apenas
encaro, mesmo sem piscar, Luara, que segura minha mão. Seus
olhos estão brilhantes com lágrimas e me pergunto se disse algo
errado.
— Você já é o meu tudo, And. – sussurra com a voz embargada
e torno a levantar, segurando seu rosto entre minhas mãos. – Você
se tornou meu tudo desde o momento em que entrou na minha vida
sete anos atrás. Só não se deu conta de que nossas vidas estavam
traçadas, porque fomos mais uma vez separados. Mas eu não quero
nunca mais que isso aconteça. Eu quero passar toda minha vida ao
seu lado, meu amor. – ela diz e me beija de uma forma diferente,
cheia de sofreguidão. A respiração ofegante. – Você foi a segunda
melhor coisa que aconteceu na minha vida, meu amor. – diz e
franzo o cenho
— Segunda? – pergunto, tentando parecer ofendido. – Eu abro
meu coração para você e ainda me diz que sou a segunda melhor
coisa na sua vida? – pergunto e ela ri.
— A primeira vai sempre ser meus filhos. – responde. – Os dois
filhos que você me deu.
Nossa! Estou sem chão. Eu esperava por qualquer resposta
espertinha dela, mas nunca algo assim.
Com o pé, fecho a porta e a tranco, não querendo desviar a
atenção dela.
— Acho que perdi uma aposta com você hoje e preciso pagar. –
digo, voltando até onde esta.
— Na verdade, ela meio que ficou empatada. – sorri.
— Não, anjo, hoje à noite é sua. – digo. Minha voz sai pesada,
cheia do mesmo desejo que tenho reprimido a noite toda. – Farei de
você minha mulher, dedicando tudo a você. – e solto o laço que
prende a toalha ao seu corpo, observando enquanto desliza por ele.
— E o que você pretende fazer? – pergunta com um sorriso de
lado, também soltando a toalha do meu corpo, dando liberdade ao
pequeno And, que salta para frente, ficando entre nós.
— Tudo o que eu fizer, meu amor, será para o seu bel prazer. –
sussurro, beijando-a de vagar, para que possa sentir um pouco do
meu desejo por ela. E tudo o que eu fizer essa noite será assim, de
vagar, para que sinta o mesmo que eu quando estou em sua
companhia.

◆◆◆
Luara
Acordo e sinto meu corpo todo dolorido pela noite muito bem não
dormida com Andrew e por algum tempo fico de olhos fechados,
com a sensação de que sua barba rala ainda está roçando em cada
parte do meu corpo. O que me faz estremecer.
E eu sinto sua respiração ofegante no meu pescoço, assim como
também sinto o beijo que ele me dá, fazendo com que todo meu
corpo se arrepie. É uma sensação maravilhosa essa que sinto.
Principalmente quando me lembro de como ele fez tudo bem de
vagar, querendo apenas me dar prazer, e não apenas chegar ao fim.
Lembro-me dos vários orgasmos que me causou, deixando-me mole
por um bom tempo. O que justifica meu corpo todo dolorido e
satisfeito e o fato de que ainda sinto o pequeno And dentro de mim,
tão gostoso.
Inspiro fundo e viro para o lado, onde sei que meu amor está.
— Bom dia, meu lindo. – digo, jogando a perna em cima de seu
quadril, segurando seu rosto para um beijo de bom dia. Ele se quer
se mexe ao meu lado, de tão pesado que esta dormindo. – Lindo? –
chamo, acariciando seu rosto e ele mexe um pouco. – Já são oito
horas. – digo, embora não tenha a menor ideia de que horas sejam.
— Então me deixa ficar aqui até às quatro da tarde. – resmunga
em resposta, enfiando a perna no meio das minhas e sinto o
pequeno And em mim, duro e pronto. Eu o toco para fazê-lo acordar.
– Nossa, linda. Você está me saindo uma mulher insaciável
também. – ele sorri e beijo sua boca, acariciando seu amigo,
arrancando do meu homem um gemido rouco. – Desse jeito nós
vamos passar a manhã toda aqui.
— Então vamos aproveitar, porque é tudo o que eu mais quero. –
sussurro próximo a sua boca e ele me beija com força. – Além do
mais, é até pecado deixar meu homem assim. – digo e sei que ele
sorri, porque sinto quando beija meu ombro, chupando minha pele.
— Também é pecado deixar minha noiva assim. – ele sussurra
em meu ouvido e sinto seus dedos em mim lá embaixo, circulando
meu clitóris e abafo um gemido contra seu pescoço. – É o que você
quer, Anjo? – pergunta com a voz pesada e faço que sim, não
conseguindo dizer em voz alta. – Eu te fiz uma pergunta. – ele rosna
em meu ouvido.
— SIM! – grito de maneira a reprimir o gemido quando sinto dois
de seus dedos dentro de mim em um entra e sai delicioso. – Por
favor. – gemo, movendo o quadril em sua direção. – Eu quero minha
dose de você, And. – praticamente imploro e ele me vira de barriga
para cima, colocando-se entre minhas pernas.
— Então eu vou dar o que você quer, minha linda. – diz com a
boca colada na minha e me tasca um beijo que me deixa sem fôlego
e mais mole do que já estou. Seus dedos nunca saem de dentro de
mim enquanto ele beija meu corpo, fazendo uma pausa maior em
meus seios, chupando tão gostoso que não sou capaz de segurar o
gemido que me escapa. – Isso, minha gostosa, geme gostoso pro
seu macho, geme. – diz, colando a boca novamente na minha, mas
não me beija. – Goza pra mim, goza. Me Deixa sentir seu melzinho
de café da manhã.
As palavras dele são minha perdição. Quando Andrew afasta e
desce beijando minha barriga até chegar à minha perseguida, que
ainda esta toda dolorida e me beija lá, passando e colocando sua
língua dentro de mim, não aguento e gozo, muito, sentindo todo
meu corpo se contorcer. Mas ele não para nunca com a tortura.
Apenas continua me chupando, até que me leva ao meu segundo
orgasmo do dia.
— Ah meu Deus! – exclamo bem ofegante, passando as mãos
pelo rosto.
— Está cansada já? – pergunta e faço que não.
— Ainda quero você aqui dentro. – provoco, rebolando para
alcançar seu pau e logo ele está dentro de mim, dando estocadas
fortes, que me fazem gemer alto.
— Olha para mim. – pede, segurando meu rosto em suas mãos
e o beijo, tomando para mim seus gemidos. – Anjo. – ele chama em
meu ouvido e sinto o calafrio percorrendo meu corpo.
— Eu amo tanto você, Andrew. – falo, olhando em seus olhos. –
Você não faz ideia do quanto eu te procurei todos esses anos, em
todos os lugares que eu ia. – enquanto me ouve, Andrew continua
com as estocadas, fazendo com que eu diga as palavras
entrecortadas. Mas não me importo. – Você foi meu sonho por anos,
mas agora é a minha realidade. E eu amo você.
Com minha última frase, Andrew explode dentro de mim em um
orgasmo que faz com que ele caia em cima de mim, exausto. E eu
passo as mãos por seus cabelos, secando o suor que escorre por
seu rosto.
— Eu amo você, meu Anjo. – ele diz, também olhando em meus
olhos, acariciando meu rosto e me beija de vagar, diferente da
maneira que fez há pouco.
Fecho os olhos mais uma vez e ele afunda o rosto em meu
pescoço e sai de cima de mim, puxando-me para ficarmos frente a
frente.
— Sabe que ainda não são quatro da manhã? – ele pergunta
com o rosto ainda em meu pescoço.
— Tem certeza? – pergunto e ele sorri.
— Frank ainda não cantou e está escuro. – responde. – Mas
adorei que tenha me acordado para isso. Podemos repetir todos os
dias. – diz e acabo rindo, sentindo o sono voltar com tudo. – Durma,
minha menina. O dia será longo amanhã. – sussurra e beija meus
cabelos e não vejo mais nada até que o sol esteja alto e meu celular
toque com o alarme das nove, que é para tomar minha vitamina que
o Dr. Marcus passou para cuidar melhor dos meus pequenos.

◆◆◆

Andrew
Tomo um banho e preparo o café da manhã para Luara, que
ainda dorme e acho que não irá acordar tão já depois da noite que
tivemos. Eu queria tomar café com ela, dar cada uma dessas coisas
em sua boca e cuidar dela, mas combinei com Marcelo que o
ajudaria a domar Tempestade, que tem se saído uma- égua muito
arisca. Por isso que mesmo contra tudo que há dentro de mim,
apenas coloco a bandeja com as coisas que preparei ao lado de
Luara na cama, com um bilhete e duas rosas brancas, que colhi
escondido no jardim. Dou um beijo de bom dia em seus lábios e saio
do quarto, indo até o estábulo, onde Marcelo já espera por mim.
— Bom dia, senhor.
— Bom dia, Marcelo. – respondo. – Como nossa menina está?
— Por enquanto calma. – diz e me aproximo da Tempestade
para poder acaricia-la.
— Oi, menina. – eu digo, acariciando sua crina. – O que
aconteceu com você?
— Ela ficou arisca depois que deu cria. – Marcelo informa e olho
para ele com o cenho franzido. Não fazia ideia de que ela havia
dado cria. – Não deixa ninguém chegar muito perto para nada.
Então pensei que como foi você quem a domou...
— Tudo bem se nós dermos um passeio, menina? – pergunto a
ela, que parece aceitar. – Tudo bem. Só vou colocar isso aqui em
você e já saímos.
— Vão andar pelo campo? – Marcelo pergunta preocupado.
— Não. Vamos ficar por aqui mesmo. – respondo. – Se ela esta
arisca, não vou levá-la longe. É melhor.
Termino de arrumar tudo e saio com ela para irmos até o
cercado, onde treinamos todos os nossos cavalos. Tudo o que faço
é para deixá-la confortável e para que confie em mim e que não
farei mal a ela. Eu nunca nem mesmo andei com chicote, que é para
não maltratar o animal.
Só depois de muita conversa é que digo que vou montá-la e ela
permite fácil que eu faça isso.
— Boa menina. – digo, acariciando sua crina e a coloco para
trotar um pouco. Marcelo está no meio, acompanhando tudo. – Bom
dia, linda! – eu a cumprimento ao passar por ela, que esta
debruçada no cercado com uma xícara de algo em mãos. Luara
apenas sorri e me joga um beijo. – Você quer ir um pouco mais
rápido? – pergunto a Tempestade, que sempre gostou mais de
correr.
Com sua “resposta”, começamos a ir um pouco mais de rápido,
mantendo sempre o mesmo ritmo. Então ela para e levanta às patas
da frente e tenho que me segurar com mais força a ela.
— Calma, menina. – digo para fazer com que desça outra vez. E
ela faz, embora torne a levantar novamente depois de três passos e
vejo uma cobra logo à frente.
— And, cuidado! – ouço a recomendação de Luara quando
Tempestade começa a andar para trás e tento acalma-la.
O que acontece é rápido demais. Só me lembro de Tempestade
estar indo para trás apenas, assustada e de ouvir o grito de pavor
da minha garota quando caio. A dor que sinto na parte de trás da
cabeça é tanta que tudo fica escuro diante de mim e não sinto mais
nada. Nem mesmo dor.

◆◆◆

Luara
— ANDREW! – eu grito ao vê-lo cair do cavalo e bater com a
cabeça no chão. Corro até a porteira para poder entrar, mas sou
impedida por Marcelo.
— Deixe-me acalma-la antes. – pede, tentando segurar os
arreios da égua que relincha. Eu só consigo pensar no And estirado
e inconsciente lá no chão.
— O que aconteceu? – ouço a pergunta de Julie atrás de mim e
vejo Felipe pular o cercado para ajudar Marcelo com a égua.
Aproveitando a deixa, abro a porteira e corro até onde Andrew está.
— Amor, acorda. – chamo, tocando seu rosto. – Fala comigo,
meu lindo.
— O que aconteceu? – Julie repete a mesma pergunta de antes,
parando atrás de mim. – Estávamos saindo da casa quando
ouvimos seu grito. Viemos correndo para cá.
— Ele estava na égua e estava tudo bem. – começo a dizer e
sinto meus olhos enxerem de lágrimas. – De repente ela ficou de pé
e ele tentando se segurar. Ele estava bem, Ju. – digo, olhando para
ela.
— Ele esta bem, Lu. – ela corrige e sinto as lágrimas escorrendo
por meu rosto. Porque não acordei junto a ele para segura-lo no
quarto por mais tempo? Nós deveríamos ter tomado café da manhã
juntos.
— Foi uma cobra. – Felipe informa e olho para ele e vejo o
animal enorme e peçonhento nas mãos de Marcelo. Meu estômago
revira ao ver o tamanho dela. – Tempestade deve ter visto e se
assustou.
— Anjo, por favor, acorda. – sussurro em seu ouvido enquanto
acaricio seus cabelos. – Por favor, meu lindo. Não faz isso comigo.
Sentindo uma dor horrível dentro de mim, apoio a cabeça em
seu peito, sentindo o ritmo calmo de seu coração e sua respiração
tão calma quanto. Ele está apenas desmaiado, o que é menos mal.
Mas não me deixa tranquila.
— Anjo, fala comigo. – insisto.
— Vamos levá-lo para dentro. – Felipe diz, aproximando de nós.
– Se for o caso, tem um médico em uma fazenda aqui próxima.
— And. – chamo mais uma vez, ignorando Felipe. Tudo o que
mais quero é que meu amor acorde. Que ele esteja bem.
— Ele está acordando. – Ju diz e ergo a cabeça a tempo de ver
Andrew se mexer, levando a mão ao rosto.
— Oh, meu amor! – exclamo, jogando os braços ao redor de seu
pescoço quando ele senta e o beijo, sentindo todo meu medo
escorrer por meu rosto em forma de lágrimas. – Eu fiquei tão
preocupada. – digo com a voz abafada contra seu pescoço e sinto
sua mão em minhas costas. Não de maneira a me acalmar, como
faz quando tenho algo. Um toque distante. – Lindo? Esta tudo bem?
– pergunto, notando a expressão confusa em seu rosto.
— Adorei o beijo. Mas... – começa a dizer com a voz um pouco
rouca e olha para Felipe e de volta para mim. – Quem é você? – ele
me pergunta e sinto como se tivesse acabado de levar um tapa na
cara e um soco no estômago ao mesmo tempo. A dor é tão terrível e
grande, que caio sentada para trás, sem saber o que dizer.
— Você não sabe quem nós somos? – Ju é a primeira a
perguntar.
— Eu sei quem ele é. – And responde, apontando para Felipe. –
Vocês duas eu nunca vi.
Pronto! Meu mundo desmoronou aqui e agora. Na frente de todo
mundo.
Sinto os olhares em mim, mas não consigo fazer nada além de
encarar minhas mãos em meu colo. Quero chorar, correr para longe
daqui. Mas se quer consigo me mexer para qualquer coisa.
— Por que eu estou no chão? – ele pergunta.
— Você caiu do cavalo e bateu com a cabeça no chão, meu
amigo. – Felipe responde. – Não está sentindo nada?
— Só que estou com esterco na bunda e minha cabeça doer. –
responde e olho para ele, que me encara. – Moça, eu adorei o beijo
que você me deu, mas não acho que seu noivo vá gostar de saber o
que você fez. – diz para mim e sorrio sem graça. Ele não tem a
menor ideia de quem eu seja e isso me machuca muito.
— Ajuda ele a levantar. – peço a Felipe, que apenas concorda.
Marcelo vem voltando depois de guardar a égua no estábulo e o
ajuda.
— Você está bem, Lu? – Julie pergunta quando os três se
afastam e vejo Andrew olhar para trás. Eu apenas nego, sentindo
por ele não fazer ideia de quem eu seja. – Ele vai se lembrar de
você logo, amor. – diz. – Isso é uma confusão mental. Já aconteceu
com meu primo quando meu tio chutou forte a bola e bateu na
cabeça dele, que rebateu na parede. Ele desmaiou e não se
lembrava da família.
— E se ele nunca lembrar? – pergunto com a voz embargada. –
E se tudo o que tivemos...
— Não fala assim, amor. – diz e me abraça forte. Tudo o que
faço é aperta-la forte, sentindo o medo de que And possa nunca se
lembrar de mim e eu não consiga ajuda-lo. – A cabeça pode
esquecer, mas o coração, não. Eu vi a forma com que olhou para
você. Ele sente, ainda que não saiba agora o porquê.
— Me deixa ficar aqui. – peço.
— Eu não vou sair daqui, Lu. Nunca. Você sabe. – ela responde
e a abraço forte. – Ele vai lembrar. Fica do lado dele. Precisa ficar
forte pra ajuda-lo.
— Eu amo ele, Ju. – falo com a voz abafada. – Eu nunca vou
desistir do meu amor. Mesmo que ele nunca se lembre do que
tivemos, eu nunca vou desistir do And.
E dizer isto, embora seja minha maior verdade, me causa uma
dor horrível. Eu quero que ele se lembre de nós. De mim e dos
nossos filhos.

◆◆◆

Andrew
Felipe apoia a mão em meu ombro, levando-me para dentro da
casa de fazenda. O que é uma das várias coisas que sinto que
estão incompletas. Quer dizer, o que estou fazendo aqui?
Olho por cima do ombro, para a garota sentada no chão que me
beijou quando acordei. Ela está chorando e sinto que é culpa minha.
Percebi isso quando disse que não a conhecia. Mas, embora minha
cabeça não ligue sua imagem, seu rosto, a nenhuma lembrança,
meu coração pulsa forte contra o peito quando olho para ela.
Aconteceu isso quando ela me beijou e agora mais ainda, enquanto
sou levado para dentro. Quero voltar lá e conhecer está garota.
Saber por que ela me deixa assim.
— Está tudo bem? – Felipe pergunta, também olhando para trás
e paro antes de subir os degraus da varanda.
— Quem é ela? – pergunto, sentindo a cabeça doer um pouco. –
A de óculos.
— Luara. – responde e a outra garota com ela olha para nós.
— Por que ela está chorando? – pergunto, sentindo-me perdido.
— Como você se sentiria se a pessoa que você mais ama, por
causa de um acidente, não lembrasse mais de você? – pergunta e
olho para ele. – Como você sentiria se todas as histórias que vocês
viveram juntos, de repente se tornasse um nada para a pessoa que
você ama? – franzo o cenho e volto a olhar para Luara, sentada,
puxando a grama com a mão. Com a luz do sol refletindo seu corpo,
para mim, ela parece um anjo.
— Arrasado. – respondo a verdade do que sinto. – Mas ela não...
– olho para Felipe e de volta para o anjo sentado. – Ela... A aliança
dela. O noivo. Sou eu? – pergunto confuso e Felipe ri. Minha cabeça
parece doer ainda mais.
— Sim, você é o noivo dessa garota.
Sentindo que estou perdendo algo ainda mais importante, levo a
mão à cabeça, como se tentasse obrigar meu cérebro a se lembrar
do menor dos detalhes. Mas não consigo isso, é claro.
— Você está bem? – Felipe pergunta.
— O que mais eu não sei? – pergunto um pouco irritado com a
sensação de não saber das coisas. – Estou com um vazio enorme
aqui dentro, merda!
— Qual é a última coisa que você lembra? – ele pergunta e
tenho vontade de rir.
— De ter acordado sem saber onde estou. – falo.
— Você trabalha com o que? – muda a pergunta. Isso eu sei
responder.
— Sei que sou estagiário na empresa do meu pai e que faço
faculdade de Engenharia de Software. Segundo ano.
— Meu Deus. – Felipe diz, espantado.
— O que eu faço? – pergunto.
— Você é presidente da BIT. – diz e me apoio no batente da
porta, sentindo-me tonto.
— Me diz o que eu preciso saber. – peço. – Como eu a conheci?
— É melhor nós entrarmos e você sentar.
— Felipe. – chamo. – Não me deixa nesse escuro. – peço e ele
diz que vai buscar água e que é para eu me sentar. O que faço e
logo ele retorna. – Então?
— Luara é sua noiva. – diz, sentando ao meu lado. – Você a
pediu em casamento na semana passada, enquanto estavam em
Goiânia. Mas ontem fez um novo pedido, devolvendo a aliança a
ela, fazendo uma coisa toda agradável e romântica para ela.
Enquanto Felipe me conta, tento ligar as lembranças a algum
ponto solto em minha cabeça, mas não consigo nada disso. O que
me deixa ainda mais incomodado. E enquanto fala sobre meu anjo,
eu sinto que fico mais nervoso ainda, louco para poder conversar
com ela.
— Ela está grávida? – pergunto, lembrando-me de barriguinha
escondida sob a camisa que ela usa.
— Sim. – Felipe responde e afundo o rosto entre minhas mãos.
— Um filho.
— Na verdade, são dois. – diz e olho para ele, mais perdido do
que barata tonta.
— Tá certo. – digo, levantando. – Para mim, chega.
— Aonde você vai?
— Pro quarto. – respondo, seguindo para o corredor. – Onde eu
estou?
— Suíte principal. – responde. – O médico vem para ver você
daqui a pouco.
— Eu não vou fugir. – respondo de má vontade e sigo pelo
corredor, até o quarto que ele falou.
Se de fato teremos dois filhos, isso significa que um deles está
por aqui, já que não estava com ela lá fora. E eu procuro em cada
cômodo da casa, não querendo perguntar nada a ninguém, para
não me sentir ainda mais inútil do que já estou sentindo. Mas eu não
encontro meu filho em lugar nenhum e isso me incomoda ainda
mais.
— Ele só podia estar tirando com a minha cara. – falo, jogando-
me na cama e cubro o rosto com um braço, levando o outro para
debaixo do travesseiro, onde encontro um papel com algumas
coisas anotadas, na qual eu devo ter escrito em algum momento.
Sento na cama e leio. São coisas que fiz para ela, faltando
apenas um último item.

◆◆◆

Luara
Sentada na varanda, observo o pasto e as vaquinhas que mais
parecem pontinhos brancos e pretos de tão longe estão de mim. O
que chega a ser irônico, porque é exatamente assim que me sinto
em relação a Andrew desde que ele acordou e disse que não me
conhecia.
Aquilo doeu, é claro. O homem que amo, que é meu noivo,
disse, olhando em meus olhos, que não me conhecia. Um tapa teria
doido bem menos do que aquelas palavras. E todas as vezes que
senti seu olhar em mim, doeu mais ainda, porque eu só conseguia
ver o vazio em sua cabeça. A confusão que ele está, por não se
lembrar das coisas e, pelo que Felipe me contou, ele pensa que
ainda é estagiário do pai e faz faculdade. Ou seja: na cabeça dele,
eu nem mesmo existo.
Abraço minhas pernas, escondendo o rosto entre os joelhos,
tentando não pensar em nada disso e não chorar, mas é inevitável
quando me lembro de tudo o que aconteceu nas últimas vinte e
quatro horas.
E é pensando nisso, no quanto me sinto machucada por meu
lindo não saber quem sou, que, pela primeira vez desde que o
conheço, me dou conta de que eu não teria aguentado um terço do
que aguentei desde que cheguei. O assédio do Bruno, minha avó
internada e depois morrendo na minha frente, deixando aquelas
palavras incompletas e eternizadas na minha cabeça. A viagem
para Nova Iorque, minha apresentação com a BMW e meus
trabalhos pra BIT e agora a promoção como supervisora... Até agora
eu não havia me dado conta da importância dele na minha vida
desde que cheguei ao Rio de Janeiro. Mas agora percebo que, se
ele não estivesse ali comigo, segurando minha mão, eu teria
desistido meses atrás.
Andrew não é apenas o amor da minha vida e pai dos meus
filhos. É meu amigo. Meu melhor amigo. E saber isso apenas torna
mais difícil saber que eu não existo na cabeça do meu anjo. Só que
talvez agora seja a minha vez de conquistar meu lindo. De fazer por
ele tudo o que ele fez por mim desde que nos conhecemos.
— Oi. – ouço uma voz rouca ao meu lado e não preciso olhar
para saber que é o responsável por fazer meu coração bater
acelerado.
— Oi. – respondo com a voz embargada, ainda abraçando
minhas pernas.
— Posso me sentar aqui com você? – pergunta e ergo o olhar
para ele e faço que sim. Andrew se acomoda bem próximo a mim e
seco as lágrimas com o punho, evitando seu olhar. – Oi, Lu. – ele
me cumprimenta e fecho os olhos. – Posso chamar você assim? –
pergunta e faço que sim mais uma vez. – Por que você está
chorando? – pergunta, confuso, e mais lágrimas rolam por meu
rosto. – Anjo, por favor, não chore. Deixa-me ver seu sorriso lindo.
Por favor.
Anjo. A palavra se destaca entre todas e olho para ele, com a
visão embaçada e os óculos molhado.
— Do que você me chamou? – pergunto.
— Desculpa. Eu não... – começa a dizer e olha para os lados,
perdido. – Foi uma coisa que pensei desde que vi você. – responde.
– Você estava lá sentada e o sol refletindo no seu corpo e só pensei
que você fosse um anjo. Eu não quis ofender. Desculpa.
Quero rir. Meu Deus!
— Você não me ofende, lindo. Nunca. – falo, mais uma vez
secando as lágrimas e ele tira meus óculos para limpar as lentes.
— Pronto. – diz, arrumando-o de volta no lugar.
— Obrigada. – sussurro, segurando sua mão em meu rosto e me
aproximo dele. – Você sabe quem eu sou? – pergunto, sentindo
uma pontinha de esperança.
— Felipe me disse que sou seu noivo e imagino que devo ser um
homem muito sortudo por conseguir uma mulher como você. –
responde, fazendo-me rir. – E disse também que teríamos dois
filhos. – diz e olha para mim, ainda mais perdido. – Um eu sei que
está ai dentro de você, mas procurei pelo outro e não encontrei.
Então acho que ele mentiu.
Quando And diz isto, sei que é errado e até maldade, mas acabo
rindo. O que faz ele sorrir confuso para mim.
— O que aconteceu, Anjo? – pergunta e seguro suas duas
mãos, virando de frente com ele.
— Você não encontrou, porque ele não está por ai. – falo,
sorrindo. – Os dois estão aqui. – sussurro, pousando suas duas
mãos em minha barriga e ele sorri, deixando bem óbvia sua
confusão e a surpresa.
— Ai dentro tem dois filhos nossos? – pergunta e faço que sim. –
Gêmeos? – concordo mais uma vez. – Meu e seu? – e sorri. Vejo
seus olhos marejados, da mesma forma que vi quando dei a notícia
de que teríamos gêmeos.
— Se não for de nós dois, então não sei de quem pode ser. –
digo e ele ri, sem graça.
— Meu Deus. – sussurra e senta um degrau abaixo de mim. –
Oi! – diz para minha barriga. Suas mãos ainda debaixo das minhas.
– Sou eu, o papai. Eu... Estou um pouco confuso aqui, porque
algumas coisas estão confusas na minha cabeça e acabei de
descobrir que vocês dois estão ai. – sorrio para ele quando ergue o
olhar para mim. – Mas, se tem uma coisa que não mudou, é o
quanto amo vocês. E vou amar mais ainda quando estiverem aqui e
eu puder brincar com vocês junto da mamãe. E eu estou louco para
que isso aconteça logo, ainda que saiba que vai levar algum
tempinho para acontecer.
Lágrimas atrás de lágrimas escorrem por meu rosto de maneira
que não consigo controlar. Por várias vezes And conversou com
eles. Mas...
— Não chore. – ele pede, tocando meu rosto. – Por favor.
— Por que você não se lembra de mim, meu lindo? – pergunto,
também tocando seu rosto e ele fecha os olhos. – Isso está me
matando.
— Tem algo. – diz, tornando a sentar do meu lado, ainda com a
mão em minha barriga. – Eu estive pensando nisso, mas pode ser
coisa da minha cabeça.
— O que é? – pergunto e ele entrelaça nossas mãos, colocando
as duas também em minha barriga.
— Eu estava olhando para você lá da porta e essa garota veio
na minha cabeça. – começa. – Uma franja e os cabelos iguais aos
seus, só que as pontas pintadas de loiro. Ou algo assim. E... Eu me
lembrei de uma conversa com ela. Primeiro foi em uma casa com
piscina. Depois foi em um lugar bem tranquilo, sentado no carro.
Ouço com atenção tudo o que ele me diz, lembrando
perfeitamente à noite em que nos conhecemos.
— Só que vocês duas são anos de diferença. – diz. – Eu não
entendo.
— Esse foi o dia que nos conhecemos. – explico. – Você
também não era tão lindo assim – resolvo brincar. –, mas foi e é o
meu primeiro amor. E sempre vai ser
Andrew sorri com minhas palavras.
— Você me deixa nervoso. – confessa e franzo o cenho. – Aqui.
– diz, guiando minha mão até seu coração e sinto o meu acelerado,
igualando ao ritmo do dele. – Aconteceu desde que você me beijou.
– sussurra e sinto sua mão em meu rosto, colocando uma mecha
para trás da orelha e sinto o beijo que me dá. Um beijo calmo, como
quem tenta descobrir por meio deste gesto algo que perdeu. E eu
torço para que ele encontre. – O que foi isso? – pergunta
espantado, afastando um pouco e olho para baixo, onde nossas
mãos ainda estão unidas em minha barriga.
— Provavelmente impressão minha. – respondo, mas acontece
de novo.
É só algo rápido e bem leve, como um formigamento, mas sei
que são nossos pequenos, reconhecendo o papai.
— Estão dizendo oi. – digo, sentindo-me a mamãe mais boba
por ter sentido os filhos mexerem pela primeira vez. – Eu amo você,
And. E eu vou reconquistar você, mesmo que tenha que fazer isso a
cada dia, assim como fez comigo. Eu nunca vou desistir de você,
meu anjo.
— Obrigado. – diz, dando um beijo em minha testa. – Eu não sei
como, mas você está aqui dentro. Só minha cabeça não consegue
ligar seu rosto a tudo o que provavelmente vivemos.
— Nossa! E como vivemos! – exclamo, não conseguindo conter
a risada. – Fizemos tantas loucuras que até hoje não sei de onde
veio à coragem pra metade delas. – quando digo isto, sinto meu
rosto se aquecer, lembrando-me de ontem na cozinha e da
sensação que tive de que alguém estivesse ali.
— Me ensina. – And pede e olho confusa para ele. – A amar
você de novo como sei que amo. – diz. – Me deixa conhecer você
de novo e a cada dia mais.
— Só se você me deixar te conhecer mais ainda. – sorrio e ele
concorda.
— Vou adorar isso. – fala. – Mas, primeiro, preciso me lembrar
de tudo. Isso está me deixando louco de pedra!
— Lu, And. – Julie nos chama e olhamos ao mesmo tempo para
a porta onde ela esta. – Odeio ser a estraga prazeres, mas o Dr.
Batista esta ai para ver o And.
— Então essa é a sua oportunidade de começar a colocar essa
cabecinha para funcionar. – brinco, notando a tensão não apenas
em seu olhar, mas em todo o corpo.
— Você vai ficar comigo? – pergunta, perdido e olho para Ju,
que parece sentir o mesmo que eu.
— Sempre, meu lindo. – sorrio, dando um beijo em seu rosto e
levantamos. – Onde ele esta, Ju? – pergunto.
— Lá no quarto. Vou levar vocês, porque aqui tem muitos.
— Ju. – And chama e ela o olha, estranhando a maneira com
que a chama. – Você e o Felipe são namorados? – pergunta e vejo
minha amiga não ficar vermelha, mas roxa. Ele joga assim, na lata!
E isso me faz querer rir.
— Desde ontem à noite, sim. – ela responde um pouco tímida e
Andrew sorri.
— Ele gosta muito de você. – diz. – E da pra ver que você
também. E... – ele faz uma pausa, olhando para mim. – Ele pode ser
meio cabeça dura, teimoso... Mas tenha paciência. Tenho certeza de
que vocês dois serão felizes juntos e eu estarei aqui torcendo para
ver isso.
— Obrigada. – Julie diz um pouco sem graça. – E eu espero que
você lembre logo, porque é estranho ouvir você me chamar de Ju. –
ela diz e And ri, abraçando minha cintura e faço o mesmo com ele,
torcendo para que em algum momento reconheça meu toque, como
reconhecia até pouco tempo atrás.

◆◆◆

Andrew
Enquanto Dr. Batista, médico dono de uma fazenda próxima e
antigo amigo do meu pai, faz os procedimentos básicos para chegar
à conclusão de que minha amnésia será temporária e que a dor é
decorrente a pancada que levei, eu observo meu anjo, que tem toda
sua atenção para o que o médico diz.
— Quanto tempo uma amnésia assim costuma durar? – ela
pergunta, apertando minha mão.
— Tudo depende do quadro clínico do paciente. – responde. –
Horas, dias ou até meses.
— Meu Deus. – Luara sussurra e olho para ela. – Isso... O
senhor acha que...
— Faça com que ele reviva as lembranças. – Dr. Batista diz o
que ela não consegue falar. – Mostre a ele todas as fotos que tiver e
conte as histórias. Force-o a exercitar as lembranças esquecidas.
— Eu gostaria de ver um Neurologista. – digo. – Só por
precaução.
— Íamos chegar ai agora. – Dr. Batista diz. – Caso não recorde
nas próximas horas, é o certo. Ou se estiver se sentindo
desconfortável com essa situação toda. – ele diz e rio.
— Isso é óbvio que estou. – digo com ironia. – Não sei quem
sou. Tenho uma noiva e ela esta grávida e teremos não um, mas
dois filhos e isso... Merda! – exclamo, passando as mãos pelos
cabelos, sentindo a irritação tomar conta de mim.
— And. – Luara chama e sinto seu toque em meu braço. – Vou
com você ao médico no momento em que me pedir, lindo. – diz.
— Obrigado. – sorrio sem jeito.
Alguns testes a mais e o médico me recomenda procurar um
especialista para o caso de não melhorar até amanhã cedo. O que
eu acho uma loucura se isso continuar, porque, pelo que eu soube,
sou presidente de uma empresa enorme e não faço ideia do que
tenho que fazer. Então é claro que eu concordo, já que ninguém
mais do que eu quer esse buraco preenchido.
— Deveríamos ligar para os seus pais e contar o que aconteceu
com você. – Luara sugere durante o almoço. Felipe concorda de
imediato.
— Não acho que seja necessário preocupar minha mãe com
algo assim. – digo. – Ela só ficara preocupada, sem poder fazer
nada lá de Londres. – completo, lembrando-me do que Felipe disse
sobre meus pais estarem morando lá há algum tempo.
— Eles estão no Rio, lindo. – Luara diz. – Você conseguiu trazê-
los com você depois de um mês lá.
Olho surpreso para ela. Mais uma das mil coisas que consegui
apagar da minha cabeça.
— Por que passei um mês inteiro em Londres?
— Festas de fim de ano. – ela responde, mexendo com o garfo
no prato. Tem algo mais ai. – Você sente falta deles.
— Disso não tenho dúvidas. – falo. – Você foi comigo? –
pergunto, querendo saber mais sobre o motivo de sua tensão.
— Não. – responde sem olhar para mim.
— Por quê? – insisto. Ela esta escondendo algo.
— Andrew. – Felipe chama e o ignoro.
— Eu não quero falar sobre isso agora. – ela diz. – Nem agora,
nem nunca!
UAU! Toquei em uma ferida que ainda esta aberta e sangrando
aqui!
Sinto o olhar de Julie em mim e o gesto discreto para que não
pergunte sobre isso e decido por não fazer, ainda que me sinta... Eu
não sei.
— Desculpa. – peço, tocando sua mão. – Sem minhas
lembranças e com tantos buracos, só tenho vontade de preencher
todas essas lacunas com o mínimo que conseguir. E vocês são tudo
o que eu tenho para ter ajuda.
— Sinto inveja por você poder esquecer isso, And. – ela diz,
olhando nossas mãos. – Algumas coisas são melhores que sejam
esquecidas para sempre.
Embora confuso, eu concordo. Se o motivo que nos afastou por
tanto tempo é tão grande assim, talvez seja melhor não saber
mesmo e apagar. Mas, do resto, quero muito me lembrar de tudo.
Cada mínimo detalhe
— Que horas vocês pretendem voltar? – Julie pergunta,
mudando de assunto.
— Por mim, logo depois do almoço. – Luara responde.
— Por mim, também. – concordo. – Tem algo que descobri, que
ainda preciso fazer pelo meu anjo e não esta aqui.
— É o que estou pensando? – Julie pergunta com um sorriso de
lado a lado.
— Provavelmente. – concordo e ela troca um olhar cumplice com
Felipe, atiçando a curiosidade do meu anjo.
— O que é? – ela pergunta toda curiosa.
— SURPRESA! – Julie exclama.
— Ótimo! Fiquem com suas surpresas, então! – exclama de volta
e levanta. – Alias, Andrew, você querendo ou não, irá ver seus pais
hoje, porque combinamos com Lilian de jantarmos com eles. – diz,
parecendo um pouco ferida.
— Eu ia sugerir ligar para ele quando chegássemos. – respondo.
– Mas um jantar parece melhor.
Com um olhar sério, Luara pega seu prato e sai, deixando-me
sem entender o que aconteceu.
— Fiz algo de errado? – pergunto bem confuso.
— A gravidez a deixou instável. – Julie responde. – Do ódio ao
amor em segundos. – diz e franzo o cenho, olhando para o caminho
que Luara fez até a cozinha.
— Com licença. – peço e saio atrás dela. – Anjo. – chamo em
um sussurro rouco e ela vira para mim, se jogando em meus braços,
mais uma vez chorando. Mas agora não peço para que não faça
isso, pois sinto que ela precisa colocar toda sua dor para fora, seja
ela qual for. Então eu a abraço forte, afagando seus cabelos até que
pare de chorar.

◆◆◆

Luara
Chegamos ao Golden no finalzinho da tarde, depois de fazermos
uma parada para tomarmos açaí, porque a mamãe babona que
sentiu os filhos mexendo pela primeira vez estava (está!) com
vontade disso. E nessa parada, And ligou para os pais para dizer
que não iriamos jantar com eles hoje e disse o motivo, explicando
que já havia visto um médico que o tranquilizou sobre o grau da
situação dele.
Lilian, sendo a mãe amorosa que imagino que é, não ficou tão
calma com a notícia, mas também achou melhor que ele
descansasse para, quem sabe, se lembrar do que perdeu. Ela
compreendeu os motivos de não podermos ir hoje, mas disse que
viria ver o filho amanhã e que jantariam conosco, dizendo também
que não ficaria longe do filho em uma situação assim e agora chego
até a entender seu lado, porque só consigo imaginar o desespero
que eu sentiria se acontecesse algo com meus pequenos. Mas eu
espero de verdade que até lá ele já esteja melhor. Vou até ligar no
trabalho amanhã e avisar que vou trabalhar de casa, para poder
acompanhar meu lindo ao médico.
—Está tudo bem? – pergunto a Andrew logo que saímos do
elevador. Preferi subir com ele pelo do prédio, para ver se
reconheceria algo.
— Conheço aqui. – responde, olhando para todos os lados. – Já
estive aqui antes.
— Quando? – pergunto, parte por curiosidade, parte para ver
qual o ponto de suas lembranças.
— Quando estava procurando um apartamento para morar. – ele
responde com o cenho franzido. – O corretor me fez todo um
marketing do lugar e gostei tanto, que acabei comprando o lugar
todo. – ri. – Não foi exagero, foi um investimento. Por favor, entenda.
— Não estou julgando, lindo. – sorrio para ele.
— Os apartamentos que estão desocupados, em sua maioria,
são meus. – volta a falar. – Dois ou três. E eu os mobiliei todos, para
o caso de precisar. – então faz uma pausa e olha para mim. – Você
mora onde? – pergunta.
— Ali naquele apartamento. – aponto para a porta do outro lado
e ele ri.
— Mas aquela porta ali faz parte do meu apartamento. – diz e
franze o cenho. – Nós moramos juntos?
— Não. – respondo. – Pelo que eu soube, você dividiu seu
apartamento em duas partes, dizendo que ele era muito grande e
fez uma pequena reforma na outra parte, que acabou sendo locado
para mim quando me mudei para o Rio a trabalho.
— Nossa. – diz. – Mas por que não moramos juntos? – insiste. –
Se você mora ali e eu aqui e tem uma parede entre nós e vamos
nos casar, seria melhor.
—Não conversamos sobre isso ainda. – respondo um pouco sem
graça.
— Desculpa. – pede. – Talvez quando eu estiver com a cabeça
no lugar possamos decidir sobre isso então. – ele sorri e segura
minha mão. Assim, seguimos até seu apartamento.
— Juízo, crianças. – reconheço a voz da minha amiga atrás de
mim e viro.
— Não vamos fazer nada. – respondo e abraço And. – Só se
meu lindo se lembrar de tudo. Ai óbvio que vamos aproveitar o
tempo perdido.
— Me senti meio que colocado de lado aqui. – ele diz. – É como
se não fosse eu. E, pra ser sincero, é assim que me sinto também.
— Mas nós vamos mudar isso. – cutuco seu quadril. – Há quanto
tempo que aconteceu isso que você acabou de me contar?
— Considerando a data no meu celular, cinco anos. – responde
e fico boquiaberta. – Acho. O que me faz ser presidente da BIT, no
lugar do meu pai. – ele franze o cenho e o abraço forte.
— Você esta lembrando, lindo! – exclamo, dando um beijo em
seu rosto. – Viu?
— É graças a vocês. Obrigado. – ele sorri sem jeito. – Quer
entrar, Ju? Quem sabe não me lembro de mais algo.
— Acho que vou aceitar. – ela responde. – Meu doutor não vai
subir mesmo. – diz um pouco desanimada. – Então mato a
curiosidade e conheço sua fortaleza.
— Por que o Felipe não vai subir? – pergunto curiosa quando
começamos a andar até o apartamento de Andrew.
— Uma mala sem alça ficou ligando para ele desde que
acordamos, dizendo que precisava falar com ele sobre algo sério. –
ela revira os olhos e sei de imediato a quem se refere. – Então ele
foi ver o que ela queria de tão importante agora e pedir para que
não ligasse mais.
— Nossa. – respondo. O que será que a Nath pode estar
querendo com ele? – Aqui, lindo. – digo, entregando as chaves do
apartamento para ele. – Ele vem antes de você voltar?
— Disse que só vai ver o que ela queria e já voltava. – responde.
– Então, espero que dê tempo de sairmos para fazer algo.
— Entrem. – Andrew diz, dando licença para que possamos
entrar.
— UAU! – Ju exclama assim que entramos. – Isso aqui é uma
mansão!
— Você conhece algo, And? – pergunto, notando a expressão
diferente em seu rosto. Um brilho familiar. Ele faz que sim.
— É minha casa. – responde. – Escolhi todos esses móveis
quando estava procurando um lugar para morar sozinho. Mas...
Ainda tem esse buraco aqui dentro e isso me incomoda muito. – diz,
levando as mãos aos cabelos. – Eu olho para tudo e sei que é meu,
mas não conheço nada do que essas paredes têm. Olho para vocês
duas e não sei nada!
— Você vai se lembrar, lindo. – falo, tirando suas mãos de sua
cabeça e apoio as minhas em seu peito. – Só tenha paciência. Seus
amigos estão aqui com você. Eu estou aqui e vou te ajudar, mesmo
que te contar uma história por dia. – sorrio para ele. – Mas tenho fé
de que isso não vai ir tão longe e que você vai se lembrar de tudo
antes que possa imaginar.
— Eu vou tomar um banho. – diz bem perdido e olho para Julie.
– É pra ter sorvete na geladeira ou algo assim. – franzo o cenho
com o que ele diz. – Eu já venho.
— Tudo bem. – respondo, aceitando o beijinho que me dá.
— Tudo bem, Lu? – Julie pergunta, percebendo minha
expressão confusa.
— Ele sabe que tem sorvete na geladeira e compramos na
quinta, porque eu pedi. – respondo.
— Vai ver ele apenas sentiu algo e nem percebeu. – ela sugere e
acabo concordando, embora tenha esperanças de que isso seja um
sinal de que as lacunas estão aos poucos sendo preenchidas. –
Vem cá! Tem uma coisa que quero te contar. – diz, agarrando
minhas mãos e me leva até o sofá.
— O que aconteceu, mulher? – pergunto curiosa. – Que bicho foi
que te mordeu? – e rio, imaginando o tipo de coisa que ela vai
contar, agora que sei que passou a noite com Felipe. – Ah! Já sei!
— Não, eu não vou falar nada sobre isso que você esta
pensando. – diz. – Não agora.
— Então o que é? – pergunto, fingindo estar brava. – Conta logo
que você sabe como sou curiosa!
— Alex me ligou. – diz e minha boca se abre automaticamente.
— E ai?
— Disse que é para eu estar no escritório amanhã cedinho,
porque vou para Campinas com ele e outro lá, para que me
expliquem tudo o que preciso saber para cuidar da obra.
— AH MEU DEUS! – exclamo. – JULIE, VOCÊ CONSEGUIU!
— SIM! – ela grita bem alto e me abraça forte.
— PARABÉNS! – digo, apertando-a de verdade. – Eu sabia que
você ia passar aquele bocó para trás!
— Estou tão ansiosa por isso, Lu! Você não tem noção.
— Quando que ele ligou? – pergunto ainda mais curiosa e ela
conta que foi quando saímos da sorveteria e ela ficou para trás com
Felipe, que ele ligou para prepara-la para o que iria enfrentar
amanhã. – Você contou para ele?
— Eu quase surtei quando desliguei o celular. – responde. – O
que você acha?
— Que ele deve ter ficado muito feliz por você. – digo e ela
concorda. – Vocês estão se dando bem. – sorrio, enquanto ela fica
vermelhinha.
— Ele foi incrível comigo essa noite. – sussurra bem baixinho,
agora ficando roxa. – Tão... Ah! – exclama, escondendo o rosto com
uma almofada.
— Você esta apaixonadinha por ele, Ju. – digo querendo rir e ela
joga a almofada em mim. – Estou feliz por ver vocês se dando uma
chance.
— Eu também estou. – sorri sem jeito e percebo que é a primeira
vez, em anos, que vejo minha amiga ficar assim.
— Anjo. – ouço uma voz chamar bem longe.
— Eu já vou! – digo em resposta e o celular da Ju toca.
— É ele. – ela diz, vendo o nome na tela.
— Vou deixar vocês a sós e ver o que meu lindo quer. – informo.
– Convide-o para fazer algo apenas vocês dois. A cidade é linda e
vocês vão passar algum tempo sem se ver enquanto você estiver
em Campinas. Aproveitem!
— Vou fazer isso. – ela diz e dou um beijo em seu rosto, indo até
o quarto, onde encontro meu lindo com a toalha enrolada no quadril
e o pequeno And acordado.
— Você estava tomando banho ou fazendo outra coisa? – eu o
provoco, incapaz de desviar o olhar da toalha. Seu corpo ainda esta
todo molhado.
Ele apenas ri, achando graça de mim e juro que tenho que ser
forte para não ataca-lo aqui e agora. Talvez isso possa ajuda-lo a
lembrar de alguma coisa.
— Eu estava tomando banho e vi duas coisas. – ele diz. – Uma é
essa tatuagem aqui. – diz, apontando para o quadril. – Conheço a
frase de anos. Mas essa, não faz sentido para mim. – e mostra a
pena em seu bíceps, que fica flexionado.
— Você fez em Londres. – explico. – Disse que queria algo que
eu fosse entender no momento em que colocasse os olhos nela.
— Anjo? – pergunta e confirmo.
— Você sempre me chamou assim. Desde que nos conhecemos.
— Por que eu queria chamar sua atenção com ela? – pergunta
ainda mais confuso. – Esse tempo em Londres, nós estávamos
separados? – sem conseguir dizer em palavras, eu apenas confirmo
com a cabeça. – Tenho a sensação de que o motivo para isso ter
acontecido foi algo grande, que do contrario não teria acontecido. –
diz. – E, depois da nossa conversa durante o almoço, não sei se
quero me lembrar disso.
— É algo que eu tento esquecer até hoje, lindo. – falo. – Eu sei
que é um direito seu saber o que nos separou, mas, acredite, foi
algo que me machucou muito.
— Acredito em você, meu anjo. – ele responde. – E se você esta
dizendo, não quero saber. Sei que isso vai vir com tudo quando
minhas lembranças voltarem. Então apenas me conte o que eu
preciso realmente saber.
Sorrindo, dou alguns passos para perto dele, de maneira a
deixar nossos corpos bem próximos e sorrio contra sua boca.
— Você é louco por sexo comigo, em vários lugares novos e eu
adoro cada uma das experiências que tivemos ao longo desses
meses. – sussurro contra sua boca e ele sorri. – E eu amo muito
você. – e o beijo, sentindo que todo seu corpo reage ao meu toque,
assim como sempre foi.
— Estou me sentindo tentado aqui. – diz e acabo rindo.
— Anda, se veste e vamos jogar Playstation 4 com a Ju.
— Eu tenho um Play 4? – pergunta curioso e faço que sim. –
Nossa! Eu já estou indo agora mesmo! – e faz menção de sair do
quarto do jeito que esta, então eu seguro sua mão, puxando
também a toalha do seu quadril, deixando meu melhor amigo todo
livre e pronto. Os vinte centímetros que mais me deixam louca.
— Acho melhor você vestir uma roupa, amor. – provoco,
segurando o pequeno And e ele sorri.
— E se eu tirar a sua? – pergunta com voz rouca, segurando
meus braços e nos leva até a cama, onde acabamos fazendo amor
bem gostoso, voltando para a sala somente meia hora depois e vejo
que Felipe já está ali sentado, jogando com Julie.
Capítulo Treze
Segunda-feira
Andrew

Esquecido, vazio.
Não saber direito quem sou, o que faço ou para onde vou, é uma
droga. Dei-me conta disto nas últimas vinte e quatro horas em que
tenho tentado lembrar-me de coisas que me foram tiradas a força.
Lembranças, momentos e histórias que vivi com pessoas que sei
que amo, porque sinto. Mas, na minha cabeça, tenho apenas um
grande vazio. Pontas soltas que tentam a todo custo se unir a sua
outra metade. E eu quero, mais do que tudo, lembrar. A cada
segundo que penso, imagino o que posso ter perdido.
Quando acordei ontem, não sabia que tinha uma namorada. Não
fazia ideia de que tinha uma noiva. Não tinha a menor noção de que
teria dois filhos, gêmeos. E eu tento traze-los de volta para mim,
porque sinto falta deles. De todos eles.
Não conheço as histórias que vivi com meus amigos e menos
ainda com meu melhor amigo. Não conheço as histórias que vivi
com a mulher que amo. E eu quero, preciso tê-los de volta. Porque
é uma tortura não saber.
Tem aquele poema do Paulo Leminski que diz:

Memória é coisa recente.


Até ontem, quem lembrava?
A coisa veio antes,
Ou, antes, foi à palavra?
Ao perder a lembrança.
Grande coisa não se perde.
Nuvens, são sempre brancas.
O mar? Continua verde.

Mas eu, Andrew Bôer Giardoni, perdi mais do que somente


minhas lembranças. Sinto que perdi uma vida.
Passei a manhã dessa segunda em uma clínica, fazendo
exames. Certificando-me de que estou bem e o médico disse que
tudo deve voltar ao normal logo. Que não foi nada sério.
Não foi para ele, é claro. Ele levou meu dinheiro de qualquer
forma, independente do resultado dos exames. Já eu apenas ganhei
uma cartela de remédios para tomar para dor. E eu odeio tomar
remédios.
Quando cheguei ao meu apartamento, senti que precisava de
um banho para tentar colocar as coisas no lugar. Depois, fiquei no
meu quarto por algum tempo, olhando meu laptop, onde descobri
que tenho muitas fotos de uma viagem que fiz para Nova Iorque
com Luara, ano passado.
Foram muitas fotos nossas lá e descobri que ficamos por um
mês, enquanto ela fazia um treinamento com a Nex Ae.
Tinha fotos no Central Park, na Estatua da Liberdade, na praia e
em uma festa de Halloween, onde ela acrescentou que foi quando
descobriu que estava grávida, mas que só conseguiu me contar uns
dois dias depois, porque não sabia como eu reagiria. E quando ela
me disse isso, lembrei que a deixei sozinha por horas e sai. Dirigi
atoa pela cidade e depois voltei e lhe dei um ursinho e ela me
mostrou uma foto que tem dele no celular e foi bem como eu tinha
imaginado na minha cabeça.
Luara mostrou também uma revista do começo do ano, que tinha
uma matéria que falava sobre nós dois, enquanto eu estava em
Londres. Vi fotos nossas em Goiânia e tantas outras que estavam lá
também, que acho que comecei a me lembrar de algumas coisas.
Coisas simples, mas que já é alguma coisa.
— Quem é Ana? – pergunto a Luara quando o nome vem a
minha cabeça.
— Depende. – ela responde, sem desviar a atenção do seu
computador. Para não me deixar sozinho, ligou e avisou que
trabalharia de casa e aqui esta ela, cuidando de mim e trabalhando
no meu apartamento. Sei que nem mesmo foi ao dela desde que
chegamos ontem. – Tem sua avó e sua secretária.
— Acho que é minha secretária, então. – digo pensativo. – Ela
me mandou um e-mail, dizendo que havia desmarcado minhas
reuniões desta semana.
— Liguei para ela e expliquei o que havia acontecido. – Lu
explica e olho para ela. – Fiz mal? – pergunta um pouco sem jeito. –
Eu achei que por você estar assim... Desculpa. Não foi minha
intenção.
— Eu me pergunto como eu participaria dessas reuniões. – digo
rindo e ela ergue as sobrancelhas. – Obrigado.
— Você é estranho. – diz, voltando a atenção novamente para o
computador.
— O que você esta fazendo ai? – pergunto, indo até ela e vejo
na tela que esta com um programa em aberto, provavelmente
procurando por algum mínimo erro que o desenvolvedor possa ter
deixado passar.
— Corrigindo trabalho de casa. – responde quase rindo. – Me
sinto uma professora fazendo isso daqui.
— Por que não descansa um pouco? Você parece cansada.
— Não posso fazer isso, And. – ela responde e me olha por cima
dos óculos. Ela fica sexy com eles. – Seus pais vão chegar aqui
dentro de... – Luara consulta o relógio em seu pulso, fazendo as
contas. – Cinco horas e trinta e cinco minutos e preciso terminar de
conferir esse programa para poder deixar tudo organizado e
preparar o jantar. – ela faz uma pausa, levando as mãos aos
cabelos. – E eu ainda preciso ir ao mercado comprar as coisas e
nem sei o que fazer para eles!
— Você fica linda de óculos. – comento, fazendo uma massagem
em seus ombros e ela ri, erguendo a cabeça para me olhar. – Achei
que devesse saber.
— E você tem mãos mágicas para fazer massagem, meu lindo. –
sorrio com seu elogio e pouso um beijo em sua testa. Ela segura
meu queixo e me beija.
— Adoro seus beijos. – digo e ela sorri. – Falta muito para você
acabar ai?
— Acho que só mais quinze minutos e já termino. – responde. –
Por quê?
— Pensei em irmos juntos ao mercado e, se você quiser, posso
ajudar você com o jantar.
— Do que seus pais gostam? – pergunta.
— De muita coisa. – digo e ela ri. – Mas pensei em fazermos um
jantar mexicano.
— Como se eu soubesse fazer essas coisas. – diz e revira os
olhos.
— Eu sei. – falo e ela me olha, boquiaberta. – Mas faça o que
você preferir também. Eles vão adorar.
Luara vira a cadeira para mim e segura às mãos em minhas
pernas, olhando para mim, que estou bem mais alto que ela, que
esta sentada.
— Pode ter churros de sobremesa? – pergunta. Os olhos
brilhando de desejo.
— Claro. – respondo e ela sorri. – Podemos fazer ou
encomendar na barraquinha lá da praça.
— Hmmmmmmmm! – murmura, passando a língua pelos lábios.
– Já estou doidinha por esse jantar!
— Estoy empezando a quedarme también, mi linda. – digo e ela
me olha com o cenho franzido. – Te amo, ángel.
— Isso eu entendi! – ela sorri. – Y yo también te amo, ángel.
— Vou deixar você trabalhar. Assim podemos ir à feira para
comprar tudo o que precisamos.
— Não vai me deixar aqui sozinha sem ganhar nem mesmo um
beijinho. Ou vai? – pergunta fazendo biquinho e abaixo para beija-la.
– Agora sim vou ter mais motivação para terminar isso. – diz e vira
para voltar ao trabalho e dou um último beijo em seu rosto.
— Vou estar aqui no sofá, quietinho, lendo esse livro que você
me deu. – informo e sento no sofá, pegando O Inferno de Gabriel
para voltar a ler. Achei este na minha biblioteca esta manhã e me
senti curioso. Devo admitir que estou gostando bastante dele.
— Você lembra. – ouço a voz sussurrada da minha garota e olho
para ela.
— Sim. – respondo. – Você fez toda uma propaganda dele
quando leu e insistiu para que o lê-se também. Então estou fazendo
isso agora.
— Foi sim. – Luara me da um sorriso esperançoso, na qual não
entendo muito bem, mas retribuo. Não sei o que passa na cabeça
dessa garota. Só sei que gosto, seja lá o que for.

◆◆◆

Luara
Aproveitando que Andrew esta descansando depois de termos
preparado todo o jantar, após dois dias e meio, eu vou até meu
apartamento para tomar um banho e descansar um pouco antes de
finalmente conhecer meus sogros.
Estou cansada por toda a correria que o dia foi para mim hoje,
mas feliz por ver meu lindo começando a se lembrar das coisas. E,
para minha sorte, ganhei um atestado de dois dias para poder ficar
em casa com ele, para não deixa-lo sozinho. Ainda que amanhã
Lucy venha para cuidar da casa, mas não quero deixar ele perdido
assim.
— Lar doce lar. – digo assim que entro no meu apartamento,
sentindo o cheirinho de limpeza que manteve praticamente desde
sexta de manhã.
Coloco meu notebook em cima da mesinha de centro e vou até a
lavanderia para deixar a roupa para lavar amanhã cedo, indo logo
em seguida ao meu quarto, onde vejo que algo está extremamente
errado assim que abro a porta.
— Ele não fez isso. – digo e acendo a luz. – Ah, ele fez, sim! –
rio, cobrindo a boca com as mãos. – Deus do céu, o que eu fiz para
merecer esse homem? – pergunto, olhando para o teto. A risada
que me escapa é algo que não sou nem mesmo capaz de descrever
o que sinto.
Minha cama, que é uma King Exagero Size, esta todinha coberta
por brinquedos. Carrinhos, hominhos, caminhões, jogos de tudo
quanto é tipo e muuuuuuuuitoooooosss bichinhos de pelúcia! São
ursinhos de tudo quanto é tamanho. São tantos, que só consigo me
perguntar em como Andrew conseguiu colocar tudo isso aqui sem
eu nem mesmo ter me dado conta.
Julie.
O nome da minha amiga vem solto na minha cabeça, matando a
charada e tenho certeza de que estou certa.
Emocionada, rindo feito uma boba e quase chorando, eu me jogo
na cama, pegando o primeiro que ele me deu. Meu ursinho favorito
desde que ganhei o B1 da minha avó, quando tinha três anos. Eu o
abraço forte e algumas lágrimas me escapam.
Está tudo tão cheirosinho, que não tenho nem vontade de sair
daqui mais.
Abraçada com o Sr. Ursinho, deito com a cabeça em um que é
bem grandão e pego o celular no bolso, tirando uma foto de mim
mesma, mandando para Ju, minha mãe e Cami e, é claro, And, que
coloco como legenda: Amo você.
Não leva nem mesmo um minuto para que Julie responda,
entregando que foi cumprisse de mais essa armação:

Meu Deeeeeeeeus!
Eu estava louca para ver sua cara quando descobrisse!
Cuidado para não se perder ai ou ser comida por algum urso,
amiga hahahaha’

Rindo, digito a resposta:

Pode apostar que vou! ;)

O alarme que programei para me lembrar de que falta uma hora


e meia para meus sogros chegarem toca e corro para o banheiro,
ignorando a segunda mensagem que recebo.
Termino meu banho e corro pro quarto para me arrumar a tempo
de conseguir colocar em prática uma ideia que tive. Preciso me
arrumar em tempo recorde para poder executar ele e ainda torcendo
para que And continue dormindo.
Calça jeans, uma blusinha, sapatilha e cabelos metade
trançados e metade solto, do jeito que gosto. No rosto, nada além
de uma maquiagem básica para disfarçar a canseira e um
batonzinho rosa clarinho. Fim.
Pego meu celular e vejo a mensagem de Cami, que diz que vou
me perder no meio de tanto brinquedos e ursos de pelúcia e outra
da minha mãe, que diz que pareço a Cachinhos Dourados Sem
Cachinhos. E isso me fez rir. Respondo as duas, prometendo que
irei visitar todos eles logos e guardo o celular, pegando uma grande
braçada de ursinhos e saio às cegas do quarto e do apartamento,
dando graças a Deus por ter deixado o apartamento do And
destrancado, porque do contrario, não conseguiria abrir a porta com
tudo isso. O que já vai ser um grande sacrifício.

Com um ursinho pendurado no meu ombro não sei como e outro


preso entre meu queixo e o peito, abro a porta e a empurro com o
quadril, imaginando a cara do And quando sentir tantos bichinhos de
pelúcia caindo em cima dele.
— LUARA! – o grito de desespero do meu homem chega aos
meus ouvidos, causando um calafrio por todo meu corpo, então jogo
tudo para o chão, correndo até ele, que ainda está deitado na cama,
dormindo. – Anjo. – ele me chama com a voz fraca, se debatendo e
todo ensopado de suor.
— And. – eu o chamo, sentando ao seu lado e passo a mão por
sua testa. Ele esta queimando de febre! – Lindo, estou aqui. –
sussurro e ele segura minha mão.
— Meu anjo, me perdoa. – diz. – Por favor, me deixa ficar com
você. Me deixa ficar com nossos filhos e cuidar da nossa família.
— And. – tento outra vez e ele aperta forte sua mão na minha. –
Nós estamos aqui, meu lindo. – passo a mão por sua testa outra
vez, tirando o suor.
— NÃO! – grita e dou um pulo quando levanta e fica sentado,
olhando para mim com uma expressão estranha e confusa. Seu
peito esta em um sob e desce acelerado, como se tivesse acabado
de correr quilômetros e os olhos negros, como só vi uma vez na
vida. – O que foi? – ele pergunta, notando que o encaro.
— Você esta bem? – pergunto preocupada.
— Eu tive um sonho. – diz tornando a deitar e passa as mãos
pelo rosto, jogando os cabelos para trás. – Minha cabeça esta
doendo e sinto como se estivesse com sangue nas mãos.
— Você esta febril, And. – digo, levando a mão em sua testa
outra vez e ele a segura.
— Você foi embora e disse que não queria ficar com alguém
como eu. – sussurra. – Disse que eu nunca mais veria nossos filhos.
Percebo a dor em suas palavras e o quanto esse sonho o
incomodou.
— Eu nunca faria isso, meu amor. – respondo. – Nunca vou te
deixar e menos ainda tirar seu direito de estar com nossos
pequenos.
— Você fez. – diz sério. – Você foi embora pra São Paulo e me
deixou ir para Londres sozinho, mesmo sabendo da passagem que
te dei. Você não foi comigo. – ele fecha os olhos e vejo lágrimas
escorrendo por seus olhos. – Você não foi comigo por causa dele.
— Você se lembra? – pergunto e ele confirma.
— Olá? – uma voz chama e olho para a porta.
— Você não queria que eu lembrasse, mas esta aqui. Tudo.
— Alguém em casa? – uma mulher pergunta e um homem
responde, mas não entendo o que ele diz.
— O que meus pais estão fazendo aqui? – And pergunta,
confuso.
— Eles vieram jantar, And. – respondo, sentindo meu coração se
apertar com a menor ideia de que ele tenha tido uma recaída. –
Você se lembrou de tudo? – pergunto e ele confirma.
— Vocês dois na sua cama, a briga no seu quarto, na BIT. Cada
mínima coisinha. Tudo de uma só vez.
— Oi? – a voz agora familiar chama nossa atenção e viro para a
porta. É Felipe, com a preocupação estampada na cara. – Esta tudo
bem? – pergunta. – A porta estava aberta e tinha um monte de
bicho de pelúcia lá. – diz e sinto meu rosto queimar e o olhar de
Andrew em mim.
— Bicho de pelúcia na minha porta? – And pergunta para mim,
dando um sorriso de lado. – Nossa, Anjo. O que aconteceu?
— Por que você só não vai tomar um banho e eu te trago um
remédio para febre? – pergunto, ignorando seu comentário e ele
concorda. – Eu já venho.
— Espera. – pede, segurando minha mão.
— O que foi?
— Não me deixe nunca, por favor. O medo que senti quando
tudo aconteceu, quando os dias passavam e você não aparecia
nunca... Foi horrível, Lu. Tive medo de que não fosse nunca mais
querer nada comigo.
Dou um sorriso fraco e um beijo em seus lábios.
— Eu não vou nunca fazer isso, meu anjo. – sussurro em seu
ouvido. – Comigo você vai até o altar. – ele sorri e me beija.
— Vou esperar por vocês lá na sala com todo mundo. – Felipe
diz.
— Eu vou lá também. – informo. – Mas é para que seus pais não
pensem que estamos fazendo algo errado.
Relutante, And me deixa sair do quarto e vou até a sala, onde
esta o casal de senhores que já conheço há meses, Felipe e outro
casal. Um senhor alto e forte de cabelos loiro grisalhos e uma
senhora, baixinha e ruiva.
— Oi. – eu os cumprimento um pouco sem jeito, vendo Felipe
colocar um ursinho no sofá, junto de vários outros.
— Ela é linda! – a senhora ruiva diz, vindo até mim. – Olá,
querida. Eu sou Lilian. – apresenta-se, embora não haja
necessidade, uma vez que And tem o mesmo olhar que a mãe.
— Luara. – apresento-me também, aceitando os dois beijinhos
que da em cada uma de minhas bochechas. Cumprimento a todos,
recebendo deles um carinho que nunca imaginei receber. – O And
esta tomando banho e já vem. Ele estava descansando um pouco.
— Ele esta melhor? – Victório pergunta, preocupado com o filho.
— Acordou um pouco febril, mas parece que ao menos lembra. –
respondo. – Vou levar um remédio para febre pra ele e logo estará
melhor.
— Trouxe o pudim que ele tanto gosta. – Dona Anna diz. – Esta
na geladeira.
— Tenho certeza de que ele vai amar saber disso. – sorrio em
resposta.
— Qual a dos ursinhos na porta, Luara? – Felipe pergunta quase
rindo.
— É. Qual é a dos bichinhos de pelúcia segurando a porta? –
Seu Otto também pergunta e sinto meu corpo todo entrar em
ebulição.
— Era uma brincadeira que ia fazer com o And. Mas acabou que
ele me assustou com outra coisa e deixei cair tudo e fui ver o que
tinha acontecido. – respondo com uma meia verdade. – Só me
deem licença por dois minutinhos, que vou pegar o remédio e levar
para ele. – peço e já vou até a salinha onde Andrew guarda tudo o
que precisa.

◆◆◆

Andrew
— And? – ouço Luara me chamar assim que sento na cama,
ainda enrolado na toalha. – Esta tudo bem? – pergunta, sentando ao
meu lado.
— Estou. – respondo. – O banho me ajudou um pouco. As
coisas estão mais claras agora.
— Trouxe uma dipirona para você. – diz, entregando-me o
comprimido.
— Obrigado.
— Você se lembrou de tudo? – pergunta e confirmo.
— Eu já estava com alguns lapsos ao longo do dia. Mas agora,
cada lacuna, cada ponta, tudo esta fechado.
Vejo o sorriso em seu rosto, mas é sua pergunta que me faz
sorrir de volta.
— Onde nos encontramos a primeira vez?
— Em uma festa da sua turma em São Paulo, na qual entrei de
penetra. – respondo. – A segunda foi aqui no Rio. Eu te abordei na
praia por causa da sua camisa da Clarice e caminhamos juntos.
Depois, nosso reencontro, foi na reunião mensal. Você deu um grito
quando me viu na frente do elevador. – ela ri, ficando vermelha.
— Você se lembra! – exclama, dando-me um abraço apertado. –
Graças a Deus, meu amor! Eu sabia que não era nada sério.
— Você cuidou de mim. – digo, colocando seu cabelo atrás da
orelha e ela sorri. – É melhor eu me vestir ou mais alguém vem
atrás de nós e não quero ser pego por minha avó com a bunda de
fora outra vez, porque agora vou estar realmente fazendo algo que
vai fazer a velha enfartar.
— Andrew! – ela exclama com censura, embora ria. – Estou feliz
por ver que você esta bem.
— Eu também. – respondo, pousando um beijo em sua testa e
viro para poder me vestir. – Apreciando a visão? – pergunto,
vestindo a calça. Seu olhar fixo em mim.
— Muito. – sorri. – O pequeno And me parece tão solitário ai
dentro. – diz e sorrio em resposta. – Alô? – diz agora ao telefone. –
Ah! Oi, Douglas!
Douglas? Douglas Lewis? O que esse cara esta querendo com
minha garota agora?
— Não tem problemas. – ela sorri. – Tenho sim.
Seguro a camisa no meio do caminho, encarando-a. O medo
parece até estar estampado na minha cara, porque ela fica séria de
repente.
— Eu não posso aceitar. – diz sem rodeios. – Agradeço muito a
oportunidade que o senhor me ofereceu, mas... Deixar São Paulo e
minha família há poucas horas daqui parece pouco, mas para mim é
muito. E... Agora eu tenho mais do que isso. – ela sorri. – Eu vou me
casar.
Desta vez quem sorri sou eu. Ela escolheu a mim! Estou radiante
e me segurando para não ir agora até ela e beija-la.
— Obrigada. Direi sim. – sorri, ouvindo o que ele tem a dizer. –
Obrigada mais uma vez e desculpa ter feito o senhor esperar tanto
tempo só para ouvir isso.
Os dois conversam por mais poucos minutos, então desligam.
Termino de vestir a camisa e a alcanço em dois passos, abraçando-
a forte. Não consigo expressar em palavras o que estou sentindo
agora.
— Por que ele demorou tanto para ligar de volta? – pergunto,
voltando a me arrumar.
— Disse que estava fora do país e que por isso não conseguiu
me ligar antes. – responde.
— O importante é que agora ele desencana da minha garota e
posso esfregar na cara de todo mundo que estou noivo de uma
mulher tão linda e que me ama tanto. – digo, envolvendo seu quadril
em meus braços e a tiro do chão, arrancando dela um gritinho
divertido.

◆◆◆

Luara
— Estava tudo maravilhoso, Lu. – Lilian elogia o jantar, sentando
no braço da poltrona na qual o marido está. – Posso te chamar
assim?
— Claro. – sorrio em resposta. – Agradeça seu filho. Foi ele
quem teve a ideia e fez a maior parte do trabalho.
— Ela esta sendo modesta, mãe. – Andrew diz, passando o
braço por meu ombro. – Lu é uma excelente cozinheira e fez a
maior parte do trabalho pesado.
Olho para ele, que pisca para mim. Tudo o que fiz foi
acompanha-lo no mercado e na feira e ajudar com algumas coisas
mais simples. Acho que ainda vão duas ou três vezes para que eu
consiga realmente preparar um jantar mexicano sozinha, como ele
está insinuando.
— Na verdade, o melhor aqui é o churros. – Felipe interfere,
sentando no chão com seu... Já nem sei mais qual o número de
churros que ele comeu.
— Onde está sua nova namorada, Felipe? – Dona Anna
pergunta a ele, que olha para mim. – Achei que fossemos conhecê-
la hoje.
— Ela é sua irmã. Não é, Lu? – Lilian pergunta.
— Consideravelmente, sim. – respondo. – Nos conhecemos com
uns onze ou doze anos e não nos separamos desde então.
— Não enrola, Felipe! – And o provoca. – Onde está sua
namorada?
— Há essas horas em Campinas, provavelmente descansando
depois de um longo dia de trabalho em uma grande obra e se
tornando uma arquiteta renomada. – ele responde todo cheio de si e
de orgulho. – Irei a São Paulo visita-la na sexta-feira. – diz, levando
as duas mãos ao coração, fazendo cara de abandonado. O que
apenas nos faz rir, mas funciona com Dona Anna.
— Esses amores que vivem longe matam de saudade. – diz,
toda apaixonada. – Depois matam a saudade.
Quando ela diz isso, sinto a mão de Andrew apertando meu
ombro e a beijo disfarçadamente, segurando seus dedos.
— Ou matamos a saudade, ou a saudade nos mata. – sussurra
em meu ouvido e sorrio, concordando.
— “Ou matamos a saudade, ou a saudade nos mata”, Anna,
minha querida. – Seu Otto a corrige e ela mostra a língua para ele,
fazendo-me rir. – Você é uma ingrata.
— E você esta um velho chato hoje. – ela retruca e ele a aperta
no quadril, fazendo com que ela ria. Eles são tão fofos!
— Você falou com ela hoje? – pergunto ao Felipe, enquanto os
dois continuam com sua brincadeira.
— Sim. – responde. – Acho que umas três vezes. – arqueio as
sobrancelhas quando diz isto. – Duas delas, a Ju ligou errado,
segundo ela. – ele sorri. – Ela estava bem nervosa com o trabalho
novo.
— Ela fez isso comigo também. – concordo. – Estava tentando
ligar pro Alex e confundiu o número. Também segundo ela. – Felipe
ri com meu último comentário. – Ju pode parecer toda durona na
queda, mas é uma garotinha que agora está longe de todo mundo
que mais ama, em um lugar que foi pouquíssimas vezes.
— Percebi isso das vezes que liguei e pelo pouco que pude
notar durante esses dias que tivemos. – ele concorda. – Gosto que
ela seja assim. Julie é toda independente e forte, mas ao mesmo
tempo frágil. É uma guerreira lutando por algo, não a princesinha.
AH MEU DEUS DO CÉU! ELE ACABOU DE FALAR COMO UM
HOMEM APAIXONADO! AAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHH! Meu
Deus! Andrew e ele são duas peças raras nesse mundo e estão
bem comigo e com Julie!
Entro em uma conversa paralela com Felipe sobre a Ju,
arquitetura e vários outros assuntos, enquanto And conversa com os
pais e os avós, até que a sala fica em completo silêncio com o
comentário de Anna:
— Adorei sua aliança, Lu. – diz assim, de repente, e chego a
ouvir as formiguinhas andando no chão, lá no parquinho, de tão
constrangedor que é o momento. – A sua também, And.
Congelo no mesmo lugar e acho que nem respiro mais de tão
tensa que estou.
Sinto os olhares em nós dois e o ar de risada na cara do Felipe e
vontade de xingar ele.
— São lindas, né? – And pergunta, erguendo nossas mãos
entrelaçadas, olhando o par de alianças. – Fiz o pedido na semana
passada, enquanto estávamos em Goiânia, logo depois que a Lu me
contou que estava grávida de gêmeos.
PRONTO! Agora posso até ouvir o barulhinho da pressão saindo
dos meus ouvidos de tão envergonhada que estou.
O que rola a seguir é o seguinte:
Um coro de:
— AH MEU DEUS!
Seguido por:
— PARABÉNS!
Que segue pela risada que Felipe dá e murmuro um belo: “Um
dia vai ser você, seu cretino! E eu espero estar presente para rir da
sua cara!”, onde a resposta dele é: “Espero que você esteja certa.
Sou louco por isso”. O que me faz sorrir cheia de orgulho, sabendo
que minha irmã não vai se machucar com ele, por querem coisas
diferentes.
— Por que vocês não falaram nada a noite toda? – Lilian
pergunta, dando um abraço coletivo em And e em mim. – Estou tão
feliz por isso! Com o noivado e meus netinhos, é claro. – completa,
dando um beijo em nosso rosto e toca minha barriga, dando “Olá!”
aos meus pequenos, que continuam quietos desde domingo.
— O motivo do jantar era outro, mãe. – And a responde, também
beijando seu rosto.
Depois de Lilian, vem Dona Anna, Seu Otto, Victório e por último
Felipe, que mantém em segredo o pedido de sábado à noite.
— Cuida dela. – sussurro em seu ouvido quando me abraça.
— Pode apostar que eu vou e muito bem, cunhadinha. – diz,
fazendo-me rir. – Mas se me dão licença, preciso de outro churros,
porque isso tá muito bom!
— Trás pra mim! – peço e ele faz sinal de joia, indo até a
cozinha.
— Felipe parece gostar bastante da coisa grande que tem
recheio no meio e vaza pela ponta. – And sussurra em meu ouvido e
sinto um calafrio percorrer todo meu corpo. Apertando a mão em
sua coxa, respondo:
— Não tanto quanto eu, amor. – e o beijo, ignorando totalmente
o fato de que não estamos aqui sozinhos.
— Gosto assim. Sem vergonha mesmo. – diz baixinho, dando
um beijo em minha testa e sorrio. Sinto-me feliz e acolhida com sua
família. O que acaba me fazendo sentir ainda mais saudades da
minha.

◆◆◆

Andrew
Luara está deitada em meu colo, agarrada ao Sr. Ursinho (nome
carinhoso que deu ao ursinho que dei a ela.), já dormindo.
— Você devia levá-la para a cama, filho. – minha mãe diz
quando começo a passar a mão por seus cabelos.
— Eu vou. – sorrio em resposta.
— É melhor nós irmos andando também. – Victor diz. – Ou terei
que levar meus pais pra cama também.
— Estou acordado! – meu avô diz, virando para acordar minha
vó, que acabou cochilando em seu ombro enquanto
conversávamos.
Já faz um bom tempo que não tenho todos eles aqui assim,
reunidos. Tempo mais do que gosto de admitir e me pergunto o
porquê de ter permitido que isso acontecesse. Talvez tenha sido
meu temperamento irresponsável e a vida de futilidades que levava
até pouco tempo. Mas agora quero mudar isso e tantas outras
coisas em minha vida!
— Eu os acompanho até a porta. – falo quando todos se
levantam e pego um urso grandão para colocar no meu lugar e a Lu
o abraça, apertando o Sr. Ursinho.
— Ela parece gostar desse menor. – minha mãe observa e
sorrio.
— Eu o dei a ela quando me contou que estava grávida.
Acompanho todos até o elevador, despedindo-me com um
abraço em cada e com a promessa de ir com Luara até a mansão,
para passarmos o dia com eles. Depois vou conferir o apartamento
dela e acabo descobrindo que ele esteve aberto esse tempo todo e
sei que ela se esqueceu de voltar para trancar porque ficou
preocupada comigo. O que me deixa mal por tê-la assustado com o
grito que dei, chamando-a.
Entro e confiro se tudo esta no lugar, trancando cada uma das
fechaduras antes de voltar para o meu.
— Hora de ir dormir na cama, anjo. – digo, tomando-a em meu
colo e o ursinho vem junto.
— Eu já estou na minha caminha gostosinha. – ela resmunga
com a voz cheia de dengo, passando o braço por meu pescoço e
sinto quando sorri contra meu pescoço.
— Você está muito cansada. – falo. – Precisa dormir em uma
cama melhor de que essa para estar bem disposta amanhã e, quem
sabe, possamos compensar todo esse tempo perdido.
— Hmmmmm... – murmura quando a coloco na cama. – Não
quero ir para o trabalho amanhã. – resmunga, abraçando o ursinho
forte.
— Não vá. – respondo. – Você já entregou um atestado de dois
dias, para ficar cuidando de mim. – digo as palavras enquanto tiro
minha roupa, ficando apenas de cueca. Quando deito ao seu lado,
ela me abraça forte.
— Amo você, anjo. – diz em um sussurro rouco e sonolento.
— Também amo você, meu anjo. – respondo, pousando um beijo
em sua testa e outro em seus lábios, mas ela já adormeceu por
completo e não demoro a fazer o mesmo.
Para minha sorte, durmo a noite toda, sem nenhum sonho ruim
como o que tive antes. Mas também, agora estou com todas minhas
lembranças em seu devido lugar e com minha mulher ao meu lado,
onde pretendo que continue sempre. Só preciso leva-la a São Paulo
para conversarmos com seus pais e convencê-la a aceitar vir morar
comigo e derrubarmos essa parede que divide nossos
apartamentos.
Capítulo Quatorze
Sexta-feira
Luara
É tardezinha de sexta-feira e faz um calor terrível. Um calor tão
forte que é capaz de me deixar levemente indisposta, apesar do ar
condicionado aqui em minha sala. Minha sorte é que não tenho
nenhum tipo de reunião agora à tarde, o que me deixa livre para
apenas terminar meu relatório dessa semana e ir supervisionar os
meninos aqui do setor. O que logo termino e saio para ir pegar um
suco lá na lanchonete, onde camuflarei no meu lindo copo de café,
que nunca viu café na vida.
— Boa tarde, Lu. – Isabeli me cumprimenta logo que chego.
— Oi! – eu a cumprimento de volta. – Tempo de folga? –
pergunto e ela ri.
— Mais ou menos. Não to mais nem aguentando esse calor que
tá fazendo hoje. – responde. – Vim pegar um sorvete antes de me
enfiar naquela sala de novo. Nem o ar condicionado tá aguentando
mais.
— Tá cruel mesmo. – tenho que concordar. – Me vê um suco de
laranja, por favor. – peço à Cristina, que é a moça que esta
trabalhando agora de tarde e lhe entrego meu copo.
— Você esta com tempo agora? – Isa pergunta e confirmo. –
Quer descer comigo para pegar seu livro? Eu já terminei de ler.
— Claro! Só me deixa pegar meu suco, porque estou doida por
ele. – peço.
— Seu suco, Lu. – Cristina volta com meu copo e o sorvete de
Isabeli. – E os chocolates deixaram pago para você no almoço. – diz
e franzo o cenho.
— Quem foi? – pergunto curiosa, aceitando os cinco bombons
Serenata de Amor que ela me oferece.
— Ele disse para te entregar isso também. – diz em resposta e
me estende um pequeno papel dobrado, onde vejo a inicial de And
gravada em dourado.
— “Para o meu Anjo e meu amor. A” – leio em voz alta e sinto
meu coração acelerar dentro do peito. – Ah! – solto um gritinho. –
Que lindo! – sorrio, sentindo-me completamente boba. – Meu
namorado não é lindo?
— Acho que esta apaixonada, Lu. – Isa diz e Cristina ri.
— Eu sou apaixonada por ele. – corrijo. – Anda, vamos lá logo
que preciso agradecer pelos mimos que meu lindo me deu. – digo,
agarrando seu braço. – Obrigada, Cris!
— Por nada. – ela sorri em resposta e seguimos para o elevador,
onde descemos os lances necessários até o décimo quinto andar,
que é onde ela trabalha.
— Odeio elevador. – murmuro logo que saio e sinto uma tontura
enorme e minha visão escurece. – Isa. – chamo, agarrando seu
braço quando sinto que vou cair.
— Você esta bem? – ela pergunta preocupada e eu nego.
— Me deu tontura. – respondo, tentando olhar mais para longe e
vejo dois corpos indefinidos caminhando em nossa direção. – Tá
tudo girando. – digo e sinto suas duas mãos me agarrando bem
quando solto tudo o que seguro.
— Lu! – ela grita e não sinto mais nada.

◆◆◆

Andrew
— Ana, ligue para Marcia e diga que não haverá mais negócio
algum entre a BIT e o escritório dela. – digo irritado quando saímos
da sala de reuniões aqui no décimo quinto andar. – Com toda a
enrolação que tem sido nos últimos meses, não acho que será algo
bom para nós.
— Conversei com ela hoje mais cedo. – diz e olho em sua
direção, esperando para que prossiga. – Ela disse que se o senhor
não for para Porto Alegre hoje, ela é quem não ira mais querer
sociedade.
Ao ouvir suas palavras, tudo o que consigo fazer é rir. Depois de
meses, anos, de pura insistência para que ela permitisse que eu
tomasse o nome de seu escritório para salvar o que eles têm, agora
ela quer me pressionar? Tenha paciência também. Essa mulher não
sabe gerir negócio algum e me surpreende que ainda não tenham
ido à falência.
— Não vou depender de ninguém para expandir meus negócios.
– digo. – Pedirei para que alguém vá até lá e me encontre um lugar
que tenha mais responsabilidades. Alguém que queira realmente
crescer no mercado, não que passe a vida preso nos anos setenta.
— Sim, senhor.
Assim que chegamos ao final do corredor, vejo duas garotas
paradas bem na frente do elevador. Uma delas, Isabeli, trabalha
aqui no andar e esta apoiando a outra, que faz meu coração
disparar contra o peito. É Luara.
Meu anjo está pálido, então acelero os passos para chegar até
elas logo e vejo tudo ir ao chão, seguido de seu apelido:
— Lu! – Isabeli chama e corro até lá para ajudar, deixando Ana
para trás.
— Anjo! – exclamo, tomando-a para mim quando Isabeli
cambaleia contra a parede, não aguentando seu peso. – Ei! –
chamo baixinho e seguro sua cabeça.
— Obrigada. – Isabeli diz e olho para ela assim que sento no
chão com minha garota.
— O que aconteceu? – pergunto preocupado.
— Ela disse que estava com tontura e que tudo estava girando. –
explica e sinto o medo tomar pose de mim.
— Deve ser o calor. – ouço Ana dizer, abaixando para pegar tudo
do chão. – Está muito abafado e mais ainda no elevador.
— Sim. – Isabeli concorda. – A Lu falou algo sobre não gostar de
elevador logo que saímos.
Paro de prestar atenção nas duas, acariciando o rosto da minha
menina, que esta mole em meus braços.
— Anjo. – chamo. – Acorda minha linda. – tiro seu cabelo do
rosto e pouso um beijo em sua testa, mas ela não acorda. – O
médico esta na enfermaria? – pergunto as duas, que me olham
preocupadas.
— Sim, senhor. – respondem ao mesmo tempo e passo o braço
pela cintura de Luara e o outro por seu pescoço, tirando-a do chão.
— Peça para que alguém limpe isso antes que alguém se
machuque. – digo, virando-me para chamar o elevador. – O que for
dela, deixe na minha sala.
— Sim, senhor. – Ana responde e o elevador chega, então entro
com ela em meus braços.
Sinto o medo tomar pose de mim e faço uma oração silenciosa
para que seu mal-estar seja apenas resultado do calor que esta
muito forte hoje, não algo com ela ou nossos filhos. Eu não sei o
que fazer se for algo com eles.
O elevador para e saio com ela ainda desacordada em meus
braços, levando-a até a enfermaria, onde sou recebido pelo médico.
— O que aconteceu? – ele pergunta assim que entro.
— Espero que apenas um mal-estar pelo calor. – respondo e ele
me indica a pequena cama para que possa coloca-la. – Anjo, por
favor. – sussurro, passando a mão por seu rosto e ela se meche,
mas não parece disposta a acordar.
— Deixe-me examina-la. – Dr. Lucas pede e afasto para que ele
possa tirar sua pressão e alguns outros procedimentos básicos.
Enquanto espero, ando de um lado a outro, impaciente. Não faz
isso comigo, anjo. Por favor.
Passo as mãos pelos cabelos bem quando ouço as palavras do
médico chegarem até mim:
— Ela esta acordando. – fecho os olhos, um pouco aliviado.
Graças a Deus.

◆◆◆

Luara
Sinto pares de mãos em cima de mim e vozes, mas uma em
particular chama minha atenção quando abro os olhos.
— Anjo. – é tudo o que diz e sorrio ao reconhecer a voz do meu
lindo. – Que bom que você esta bem, linda. – ele diz, dando um
beijo em meu rosto e sorrio.
— Onde estou? – pergunto, olhando ao redor.
— Na enfermaria. Você desmaiou.
— Sua pressão estava nove por oito. – um homem diz atrás de
Andrew e franzo o cenho. Ele é um médico. Será que ele me trouxe
ao hospital e apaguei por tanto tempo assim? – O bebê esta bem,
mas terei de recomendar repouso pelo restante do dia e pedir para
que comece a se hidratar melhor. Tome bastante água.
Principalmente com o calor.
— Mais? – pergunto com o cenho franzido. Eu já tomo litros de
água todos os dias! Ele concorda. – Ok.
— O que ela teve? – And pergunta e percebo que está
preocupado.
— Foi só a pressão que caiu por conta do calor mesmo. – o
médico responde. – Mas, em uma gravidez, não é bom abusarmos
da sorte. – diz. – Leve-a para casa e descanse. Não há com que se
preocupar.
— Obrigado. – And diz e vira para mim. – Vamos, anjo? –
pergunta e faço que sim, permitindo que me ajude a sentar. –
Consegue andar?
— Estou bem, lindo. – sorrio e ele passa o braço por meu
quadril, ajudando a me levantar.
— Sobre a gravidez... – ele começa a dizer ao médico, mas ele o
interrompe.
— Fique tranquilo. Luara é uma paciente e isso diz respeito
apenas a vocês, não a mim.
— Vamos para casa, minha linda. – diz agora para mim, dando
um beijo em meu rosto. – Vou tirar esses dias para cuidar bastante
de vocês.
Sorrio para ele, apoiando a cabeça em seu ombro e caminhamos
até o elevador.
— Vamos descer direto e peço para que Ana traga suas coisas.
– diz e apenas concordo, também o abraçando. – Tudo bem? –
pergunta.
— Só estou cansada. – sussurro em resposta e ele beija meu
cabelo.
— Você me deu um susto e tanto, Anjo. – diz. – Estou com uma
ideia. Só vou precisar fazer uma ligação quando chegarmos em
casa para ver se consigo isso.
— O que é? – pergunto curiosa e tudo o que faz é piscar para
mim.
— Na hora certa você vai saber.

***

Andrew
— Linda, seu celular. – Luara diz assim que entramos em meu
apartamento e fecho a porta antes de pegar o celular no bolso para
ver quem é.
— Sua mãe. – digo com o cenho franzido e atendo. Eu ia ligar
para ela quando chegássemos, mas isso é novo para mim. –
Andrew. – digo.
— Andrew, oi! – Elizabeth diz do outro lado da linha. – Desculpa
te ligar a essas horas, mas é que estou tentando falar com minha
filha e ela não atende o celular.
— O celular. – sussurro para Luara e ela o pega em sua bolsa.
— Três chamadas da minha mãe. – sussurra de volta.
— Estava na bolsa dela. – informo.
— Ela esta bem, então? – pergunta preocupada. – Tive uma
sensação estranha e ela não atendia ao telefone. Fiquei
preocupada.
— Lu teve um pequeno mal-estar agora à tarde, mas esta tudo
bem sim. – respondo. – Fique tranquila.
— Ai, graças a Deus. – diz. – Ela esta por ai? Posso falar com
ela?
— Claro. – respondo. – Eu só... Eu ia ligar para a senhora assim
que chegássemos e a senhora antecipou isso.
— Menino, não faz isso comigo depois do susto que tomei pela
minha filha não me atender! – exclama e acabo rindo.
— Luara e os gêmeos estão bem. – reforço e estendo a mão
para Luara, trazendo-a para perto de mim e ela senta em meu colo,
no sofá. – Nós estávamos com planos de ir a São Paulo para
conversarmos sobre isso e outro assunto. – vou direto ao ponto. –
Mas como ela passou mal e o médico pediu repouso, pensei que
talvez a senhora, Ricardo, Camile e Thomas gostariam de vir passar
o final de semana aqui conosco. – digo e Luara me olha, surpresa
ou espantada. Não consigo decifrar.
— Eu estava mesmo conversando com o Rick essa semana
sobre isso. – diz. – Para conversarmos sobre a teimosia dele sobre
nossos netos e também porque é nossa filha. Ele não pode
simplesmente virar as costas para ela assim.
Quando Elizabeth diz isto, percebo que Luara morde os lábios e
desvia a atenção para outro lado. Ela ouviu, é claro. E isso a
incomoda. Percebo isso todas as noites, quando fica mais afastada
de mim e chora em silêncio. O que é mais um motivo para eu querer
resolver esse assunto de uma vez por todas, porque não aguento
mais vê-la sofrendo por isso. Essa deveria ter sido minha maior
prioridade desde que voltei de Londres, mas tantas coisas
aconteceram que acabou passando.
— E o que ele respondeu sobre? – pergunto, tocando o queixo
de Luara e ela olha para mim com um sorriso fraco.
— Que iria quando você ligasse. – diz e acabo rindo.
— Que bom! – exclamo. – Eu ia fazer justamente isso, mas
como disse: a senhora antecipou isso. Converse com ele e me
confirme isso. – peço. – Vou ligar para minha secretária e pedir para
que compre as passagens para que possam vir amanhã pela manhã
e ela manda no e-mail da Camile.
— Eu vou falar é por mim aqui. – Elizabeth diz séria. – Pode
fazer isso que, Ricardo querendo ou não, irei com meus filhos ver
minha filha. Se ele não quiser, azar.
— Não quero causar desentendimentos, por favor. – digo
— Não ira.
— Vou confirmar com ela então. – respondo. – Vou passar pra
Lu.
— Tá bem. Obrigada, Andrew.
— Obrigado eu. – digo em resposta, entregando o celular para
Luara e dou um beijo em seus lábios. – Vou usar o seu para ligar
pra Ana. – sussurro e concorda, sentando no sofá e levanto.
— Oi, mãe. – diz agora ao telefone e disco o número de Ana
enquanto elas conversam. Desse final de semana, essa conversa
não passa.
◆◆◆

Luara
Estou feliz como não estive em vários dias. Conversei com
minha mãe e ela me disse que meu pai esta finalmente caindo em si
a respeito dos meus pequenos e que aceitou vir para cá amanhã,
para passar o final de semana conosco. E eu me sinto nervosa e
feliz ao mesmo tempo.
Nervosa porque sei que muito provavelmente a conversa entre
meu pai e Andrew pode acabar em discussão e não quero que isso
aconteça entre os dois homens que mais amo e os que mais são
importantes na minha vida. Feliz porque vou poder passar um tempo
com minha família, na minha nova cidade, apresentando tudo a
eles, como quis fazer desde que me mudei. Estou tão feliz que
penso até mesmo em ligar pra Ju e convida-la a vir para cá também,
mas não faço porque sei que há essas horas já esta com Felipe e
que os dois precisam matar a saudade da semana e aproveitar ao
máximo.
— Você parece feliz. – And diz, deitando ao meu lado na cama e
sorrio para ele.
— Eu me sinto assim. – digo em resposta, deitando em seu
peito. – Obrigada por fazer isso por mim. – digo e beijo seu peito,
sorrindo para ele.
— Meu Anjo – diz. –, eu não fiz mais do que meu dever. Já não
aguentava mais ver você tristinha pelos cantos e tudo o que mais
quero é que você seja feliz comigo. Não quero nunca que se afaste
da sua família como tem feito. Muito pelo contrário. Quero que eles
estejam presentes no nosso casamento, no nosso jantar de noivado,
no batizado dos nossos filhos e em muitos outros momentos que
teremos.
Ele faz uma pausa e olho para ele por cima dos óculos, sorrindo.
— Além de que – volta a falar. –, quero a benção dos seus pais
quanto ao nosso noivado. E tem mais uma coisa que quero te pedir,
mas não vai ser agora.
— Andrew e sua mania de fazer mistério para tudo. – resmungo,
embora sorria. – Será que essa de repouso envolve sexo também?
– pergunto e ele arqueia a sobrancelha, sorrindo para mim. – Estou
com desejo.
— É? – pergunta e faço que sim. – E qual é esse desejo? –
pergunta agora curioso.
— Desejo do meu pequeno And. – respondo, tocando o volume
em sua bermuda, acariciando-o de vagar. – E eu sou uma mulher
grávida.
— E eu achando que teríamos essa noite para só assistirmos.
Mas você me vem pedindo sexo! – ele diz como se estivesse
indignado, mas vejo o desejo em seu rosto. – E eu não posso negar
isso para minha noiva, quando ela me pede de uma forma tão
gostosa. – sorrio com suas palavras e subo em seu colo, ficando em
cima do pequeno And.
— Só uma vez e prometo que poderemos terminar de assistir
essa temporada de How I Met Your Mother. – digo, correndo as
unhas por sua barriga e ele fecha os olhos.
— Até parece que vou querer voltar a assistir depois de uma vez.
– diz, abraçando meu quadril e me joga contra a cama, ficando em
cima de mim e me beija de vagar, tirando minha roupa e fazemos
amor, sem pressa alguma.
E, é claro, não voltamos a assistir seriado algum, porque a noite
era longe e tínhamos muito que aproveitar.
— Eu amo você, anjo. – sussurro quase adormecendo e And
aperta o braço em minhas costas, pousando um beijo em meu peito.
Em resposta eu o abraço, mantendo-o ali, entre meus seios, onde
sei que gosta de ficar um bom tempo.
— E eu a você, meu anjo. – sussurra de volta, tocando minha
barriga e penso sentir algo, mas acabo apagando, entregue a um
sono que toma conta de mim por todo o restante da noite.
Capítulo Quinze
Sábado
Andrew

— And. – ouço a voz que me chama baixinho. – And. – ela insiste,


tocando a mão em meu braço. – Andrew. – franzo o cenho e viro,
mas sem a menor vontade de abrir os olhos. Estou exausto pela
semana que tive e só quero descansar esse final de semana inteiro.
– Amor. – sussurra em meu ouvido e sorrio ao som da palavra. É tão
bom ouvi-la. E sentir seu beijo em meus lábios...
— Continua que mais um pouco e você me convence a acordar.
– sorrio, segurando sua nuca para mantê-la perto de mim e percebo
quando sorri. Em resposta, sinto sua mão no pequeno And, me
apertando de leve. – Nossa. – digo com a voz rouca e pesada,
sentindo seus movimentos.
— Te convenci? – ela pergunta com um quê de vitória e faço que
sim.
— Estou sendo requisitado pela minha mulher mesmo? –
pergunto.
— Não agora. – responde e abro os olhos, sentindo-me
decepcionado. – Seu celular está tocando e está irritando já. – diz,
entregando-me o aparelho que toca e só então é que me dou conta
do toque. – Ana parece realmente decidida a falar com você agora.
— Desculpa. – peço e atendo. – Fala. – digo um pouco irritado.
— Andrew, desculpe-me por ligar a essas horas. – é a primeira
coisa que me diz. – Estou ligando apenas para lembrar o senhor de
que os pais da senhorita Luara já embarcaram, mas não com as
passagens que o senhor mandou. – franzo o cenho ao ouvir essas
palavras. Claro que Ricardo não as aceitaria. – Mas no mesmo voo.
— Que horas eles devem chegar? – pergunto e Luara olha
curiosa em minha direção.
— No máximo às dez horas. – responde. – O senhor quer que os
busque?
— Um segundo. – peço e cubro o aparelho para falar com meu
anjo. – Você tem algum plano pelas próximas horas? – pergunto.
— Pensei em passar de um lugar para comprar algumas coisas
para mim. – diz. – Higiene pessoal. – completa e noto que seu rosto
fica vermelho como um pimentão. Estranho. Por que ela teria
vergonha com isso? – Por quê?
— Pensei em buscarmos seus pais juntos ou pedir para que
Tiago os pegue no aeroporto e traga para cá.
— Acha que conseguimos fazer os dois a tempo? – pergunta. –
Comprar o que preciso e pegar eles sem atrasar?
— Se sairmos logo e não demorarmos onde você precisa ir.
— Vamos nós, então. – ela sorri toda animada e pouso um beijo
em seu rosto.
— Ana. – chamo de volta a linha. – Lu e eu iremos buscá-los.
Aproveite sua folga.
— Sim, senhor. – diz rapidamente. – Desculpa mais uma vez por
ligar tão cedo.
— Tudo bem. – e desligo, colocando o aparelho no canto. –
Onde você pretende ir? – pergunto, subindo em seu corpo e beijo
seu pescoço, apreciando o calafrio que o percorre.
— É surpresa.
— Vou gostar? – pergunto realmente curioso, mas ela não
responde de imediato. Então desço beijando por seus seios e fico ali
algum tempo, chupando seu mamilo.
— E-espero que sim! – diz toda ofegante, apertando as mãos em
meus cabelos.
— E o que é? – tento mais uma vez e ela apenas ri. Para
provoca-la mais, passo o polegar por seu clitóris, enquanto chupo
seus seios. A única resposta que tenho a isso é seu gemido e seu
corpo se contorcendo, pedindo pelo meu. – Você é tão gostosa,
anjo. – sussurro, beijando sua barriga. – Você já acorda toda pronta
para mim e isso me deixa louco.
— E você acorda pronto para mim. – sussurra de volta e ergue o
quadril de encontro ao meu pau. – O pequeno And sempre está
prontinho para mim e tive que me segurar para não acordar já
chupando você com toda essa barraca armada.
Fecho os olhos, imaginando isso acontecendo. Eu iria adorar ser
acordado assim. E só por imaginar, o pequeno And já pulsa, ficando
ainda mais duro.
— Me deixa sentir você. – praticamente imploro. – Me deixa
sentir como você sempre me abraça tão apertadinha e tão molhada.
– digo e beijo seus seios, subindo até sua boca para beija-la. E
enquanto fazemos isso, sinto sua mão em mim, levando-me por sua
entrada e seu rebolado gostoso, tirando e colocando. – Por favor,
meu anjo. – imploro novamente e ela me coloca dentro de si,
arrancando um gemido rouco de mim. – Que delícia. – sussurro,
movendo bem de vagar. – Você é tão quentinha por dentro.
Paro de falar, sentindo que sou incapaz de formular qualquer
coisa que faça sentido e consiga provocar ela. Ao invés disso,
apenas me movo, fazendo seus seios pularem e os agarro para
mim, chupando um por um. Que delícia ter ela entregue assim.
— And. – Lu geme em meu ouvido e dou estocadas um pouco
mais fortes, enquanto a toco. Segurando minha mão, ela me guia
até sua bunda e passo o dedinho por seu rabinho, colocando
somente a ponta dele e nos viro ao fazer isso, deixando que ela
fique por cima. – And. – torna a gemer e coloco meu dedo um pouco
mais para dentro e ela aperta os olhos. Sinta isso, minha gostosa.
Sinta o quanto pode ser prazeroso pra você também se fizermos
assim. E o quanto vou cuidar de você quando fizermos.
Luara começa a se mover mais rápido em cima de mim e sinto
que começa a se contrair, atingindo seu orgasmo e gozo
deliciosamente dentro dela, chamando seu nome.
— Espero que isso sirva para acalmar meu menininho até o que
teremos de noite. – diz, rebolando comigo ainda dentro dela e sinto
meu pau começar a crescer novamente.
— E o que teremos? – pergunto agora mais curioso.
— É surpresa. – ela sorri e me beija.
— E vou ter que olhar pra sua bunda e não poder nem mesmo te
tocar? – pergunto, sentindo uma leve decepção.
— Talvez, se ninguém estiver olhando, eu te acaricie bem
gostoso e deixe você sentir minha bunda.
— Hmmmmm. – murmuro e sorrio para ela. – E se eu quiser
apertar ela contra meu pau? – pergunto e aperto sua bunda, dando
pressão contra nossos membros e ela fecha os olhos. – Apertar
assim bem gostoso e até mesmo comer você por trás, contra a
parede.
— Desde que ninguém nos pegue. – sussurra de volta. – Acho
que temos um pouco de tempo ainda. – diz e me desmonta,
beijando meu peito. – Mas preciso deixar você com fôlego para o
que tenho planejado para nós essa noite.
Quando ela diz isso, sinto sua mão tomar o pequeno And em
uma masturbação gostosa, enquanto o envolve com a boca.
— Pode apostar que com uma noiva tão gostosa, ele estaria
disposto para sexo vinte e quatro por sete. - digo e minha voz sai
rouca quando escorrega meu pau até o fundo da garganta. – Que
delícia, anjo. – eu gemo, segurando seus cabelos para poder ver
seu rosto melhor. – Eu nunca quis tanto que o dia acabasse logo,
como quero agora.

◆◆◆

Luara
Estamos no aeroporto há quase vinte minutos, esperando até
que o voo que vem de São Paulo com minha família chegue. E eu
me sinto tão ansiosa por isso que não consigo nem mesmo ficar
sentada. E And percebeu isso já, porque está bem agarradinho em
mim, com o queixo apoiado ao meu ombro e as mãos em minha
barriga, provavelmente na esperança de conseguir sentir algo. E eu
repouso as minhas sob as dele.
— Você não vai mesmo me dizer o que comprou, Anjo? –
pergunta todo curioso, dando um beijo em meu pescoço.
— Se eu contar estrago a surpresa, amor. – sorrio para ele e o
vejo fazer biquinho.
— Você não quis nem vir no carro comigo só pra não me deixar
saber o que era. – diz com o cenho franzido. – Tudo bem que não
teria como voltar todo mundo no meu, mas... – ele para de falar e
sinto meu estômago embrulhar.
A verdade é que eu tenho pensado muito naquela conversa que
tivemos na fazenda, sobre termos um tipo de relação que ainda não
experimentamos. Algo novo, diga-se assim. Algo que eu estou
ansiosa para ter com ele e com uma pontinha de medo, ainda que
eu tenha mais do que certeza de que ele vai ser todo cuidadoso
comigo.
Fecho os olhos e inspiro fundo, sentindo quando Andrew afunda
o rosto em meu pescoço e beija meu ombro novamente. A verdade
é que comprei em uma lojinha, dizendo que iria a farmácia e saindo
quando ele estava distraído dentro do carro, alguns produtos. Um
gel, preservativo que a moça disse que daria uma sensação boa e
algumas coisinhas a mais. Tudo está muito bem escondido na
minha bolsa e só preciso tomar cuidado para que ele não veja.
— Vem cá. – And chama, segurando minha mão e me leva até
uma fileira de bancos, onde se senta. Eu fico de pé entre suas
pernas e ele coloca as mãos em minha cintura. – A mamãe está
ansiosa, meus amores. – ouço sua voz sussurrada para minha
barriga e olho para baixo. – Ela está nervosa para ver a vovó, o
vovô, a titia e titio. E acho que o papai também esta assim. – diz
ainda mais baixo e sorrio, enlaçando seu pescoço em um abraço.
— Estou mesmo. – admito. – Faz tanto tempo que não vejo
nenhum deles já. E eu nem sei como meu pai vai estar. Só... Tentem
não brigar. Por favor.
— Anjo. – ele chama, mas não diz nada. Ao invés disso, apenas
segura as mãos em minha barriga e a beija asso, do nada. E isso
me faz sorrir como a boba que tenho sido nos últimos dias.
Mesmo que eles não mexam, imagino que possam sentir o
mesmo que eu, porque é lindo.
— Lindo. – sussurro e Andrew ergue o olhar para mim com um
sorriso torto e lindo.
— Estou louco para poder brincar com nossos dois lindos logo. –
diz e seguro seu rosto em minhas mãos, pousando um beijo
apaixonado em sua boca e o faço com calma, sem importar á
mínima para o número de pessoas aqui.
— Eu também estou louca por isso. – sussurro contra sua boca.
— TATA! – ouço as duas vozes chamarem ao mesmo tempo e
And pousa um beijo no canto da minha boca antes de me permitir
afastar para ver as duas pessoas que tanto amo, correndo em
minha direção e os envolvo em um abraço apertado, vendo meus
pais logo atrás deles.
— Que saudades, Tata! – Tommy diz e beijo seu rosto, dando
outro em Cami.
— Muita. – concordo e aperto os dois. – Oi. – digo aos meus
pais, dando um abraço e um beijo em cada um. Meu pai parece um
pouco diferente do que estava na última vez que o vi.
— Como esta, querida? – minha mãe pergunta, envolvendo-me
em um abraço apertado. – Fiquei preocupada quando Andrew disse
que você passou mal ontem.
— Foi só o calor. Não foi nada.
— Graças a Deus não é nada com meus dois netinhos. – diz e
toca minha barriga, arrancando um sorriso bobo de mim.
— Tudo o que eles fazem é crescer a cada dia e fazer a Lu ou
ficar enjoada, ou um amorzinho ou querer matar todo mundo que
aparecer na frente dela. Mas até que essa semana ela estava mais
no modo “amorzinho” de que “assassina”. – Andrew diz e olho para
ele, que sorri para mim. – Ou pelo menos esteve assim comigo.
Faço uma careta para ele e todo mundo ri.
— Claro que vou ser assim com você, lindo. – digo. – Afinal, é
você quem tem que sair de noite para comprar as coisas para mim.
— Ela saiu exatamente a você, Lizi. – meu pai diz e nós duas
olhamos para ele boquiabertas. Minha mãe segurando para não
falar algo.

◆◆◆

Andrew
— O que vocês acham de irmos almoçar em algum restaurante
em Copacabana? – pergunto um pouco perdido, em parte porque
estou com fome, já que não tomamos café da manhã. – Tem um
bom não muito longe de onde moramos.
— Eu super aprovo a ideia. – Camile concorda de imediato e
acaba que todo mundo faz o mesmo.
Os três irmãos saem na frente, andando abraçados, enquanto
fico mais para trás, ajudando com as malas.
— Andrew. – Ricardo chama e sinto um calafrio percorrer a
espinha.
— Sim?
— Rick, aqui não. – Elizabeth pede ao marido e arqueio a
sobrancelha.
— Desculpa por ter feito que vocês pensassem que eu não
assumiria minha parte como pai. – antecipo. – Eu... Em algum
momento posso ter sentido medo quanto a ter um filho quando
Luara me contou que estava grávida, mas eu nunca considerei a
ideia de negar. A alegria que senti quando toquei sua barriga à
primeira vez, quando me contou que teríamos gêmeos e mais ainda
quando sentimos junto aquele pequeno movimento... Eu não sei
descrever.
— Apenas cuide da minha princesa. – Ricardo diz. – Luara é a
joia mais preciosa que tenho na minha vida e não quero, de maneira
alguma, vê-la infeliz.
— Isso é tudo o que não pretendo fazer por ela. – digo em
resposta e ele apenas concorda, dando fim ao assunto.
— Vocês! Vamos logo! – meu anjo nos chama, vindo até nós
novamente. – O que houve? – pergunta preocupada.
— Só estávamos falando sobre a viagem. – digo de improviso e
sei que ela não acredita, mas conversaremos sobre isso depois.
— O senhor ainda gosta de carro esporte, pai?
— Ahn... Sim. – responde com o cenho franzido. – Por quê?
— And tem um Audi R8 ai no estacionamento e disse que está
disposto a deixar o senhor dirigir ele. – olho em sua direção e ela
pisca para mim e consigo ler as palavras em seus lábios: “Você vai
me contar depois o que conversaram.”. Apenas concordo e sorrio.
— Não sei se alguém é tão louco a ponto de fazer algo assim. –
Ricardo diz. – Mas eu adoraria.
— Acho que posso fazer esse sacrifício. – digo bem quando nos
aproximamos da saída do aeroporto e vejo um homem conversando
com Camile. Quem é aquele cara?
— Camile, Thomas. – Luara os chama e os dois correm em
nossa direção. – Quem era? – pergunta e Camile sorri, baixando o
tom de voz para falar com a irmã, mas ainda posso ouvir o que diz.
— Ele me viu quando filmei vocês dois lá no banco e quando o
And beijou sua barriga e me deu o cartão dele, dizendo para ligar se
quisesse ganhar um dinheiro.
Nossa, que cara de pau!
Sem que seus pais percebam muito, aproximo das duas e passo
o braço pela cintura de Luara, como se fosse apenas falar algo com
ela, quando na verdade digo para Camile:
— Espere até de tarde.
— Por quê? – pergunta toda curiosa e dou de ombros, dando um
beijo na minha noiva.
— Talvez você possa tirar mais do que apenas isso. – e pisco
para as duas antes de me afastar. – Se quiser, o carro é seu até o
condomínio, Ricardo. – digo, estendendo a chave do Audi para ele,
que ri.
— Fica para a próxima. – diz. – Não vou arriscar uma criança
dessas sem conhecer o lugar.
— Quando quiser então. – respondo e ele concorda.
Como a cadeirinha que Thomas ainda é obrigado a usar esta no
carro de Luara, ele acabou indo com os pais lá e Camile veio
comigo e Luara, mas não perguntou nada sobre o que comentei há
poucos instantes e menos ainda Lu, que talvez tenha uma suspeita
sobre o que me refiro. Mas já que ela esta com surpresas hoje,
talvez eu possa fazer algo e deixar que Camile espalhe para a
mídia, a noticia sobre nosso noivado. Só preciso antes da benção
dos pais dela e vou conversar com eles logo que voltarmos do
restaurante.

◆◆◆

Luara
O elevador para no vigésimo andar do Golden e é como se eu
sentisse o ar preso dentro de meus pulmões. Não que o almoço
tenha sido tenso ou algo assim, muito pelo contrário, já que ele foi
cheio de conversa e risadas. Inclusive entre meu pai e Andrew.
E ele é o primeiro a falar, assim que a porta do elevador se abre
e a segura.
— Camile, Thomas. – diz, chamando a atenção dos meus irmãos
toda para ele. – Tenho um videogame lá no meu apartamento, que
talvez vocês ainda não tenham experimentado. Não querem subir
para estrear alguns jogos novos? – pergunta, oferecendo a chave
para eles.
— Mas eu tô com sono! – Tommy protesta e sei que é verdade.
— Não seja chato, maninho. – Cami ajuda, percebendo o
assunto que And quer tratar. – Vamos jogar um pouco. Você vai
ganhar de mim mesmo.
— Tá bom então! – exclama animado com a vitória já. – Mas
depois eu vou dormir.
— Obrigado. – leio a palavra nos lábios de And quando entrega
a chave para Camile e saio com ele e meus pais do elevador.
— Se vocês forem fuçar em algo lá em cima e acabarem
encontrando um quarto todo cheio de ursos de pelúcia e mais um
monte, não estranhem. – digo e sorrio para And, que me encara
com um sorriso de lado. – É só que o And se apegou demais aos
brinquedos e nunca conseguiu desfazer deles.
— Sabe que isso não é verdade, Anjo. – ele se defende. – Minha
mãe foi quem os guardou esse tempo todo e agora dei aos nossos
filhos.
Olho de volta para os meus irmãos e pisco para eles, permitindo
que a porta se feche e ouço as risadas dos dois. Quando viro para
Andrew, ele segura minha mão e percebo o quanto está nervoso.
— Podemos conversar? – pergunta aos meus pais, virando-se
para eles.
— Claro. – meu pai diz e seguimos em silêncio até o final do
corredor. Toda a tensão do elevador está aqui, nesta curta
caminhada e sinto meu coração perto de sair pela boca.
— Eu amo você. – ouço o sussurro de Andrew em meu ouvido e
apenas sorrio, apertando sua mão em resposta.
— Entrem. – minha mãe diz logo que abre a porta e nos permite
entrar no apartamento que And arrumou para que eles pudessem
passar o final de semana. Na verdade, ele apenas deu a chave de
um dos seus aqui e me pergunto por quê João insistiu tanto com
ele, para que eu pudesse ficar lá em cima ao invés de em um dos
vários que tem, aqui em baixo.
— E então? – pergunta meu pai, acomodando-se no sofá,
seguido de minha mãe e eu. And, depois de alguns segundos, senta
atrás de mim, que estou de lado para ver melhor meus pais e
seguro sua mão em uma tentativa de dividirmos tudo isso.
Ele está com a mão suando!
— Ricardo, Elizabeth. – diz em tom sério. – Eu quero pedir a
mão da filha de vocês em casamento.
O QUÊ?! ELE JOGOU ISSO ASSIM, NA LATA E DIRETO?! A
SECO! Meu Deus! Para o mundo que eu quero descer agora!
Olho para Andrew, sem reação alguma e de volta pros meus
pais, que apenas nos olham.
— Fiz o pedido a Lu há duas semanas, depois que me contou
que teríamos gêmeos. E ela aceitou. – volta a falar enquanto
acaricia minha mão. Minha mãe fica com a boca entreaberta, pega
de surpresa. Afinal, não contei a eles sobre o pedido e estarmos
noivos. Queria fazer isso pessoalmente, não por telefone. – Fui e
sou o homem mais feliz da Terra por ter o sim dela ao meu pedido,
mas serei ainda mais se tivermos a benção de vocês, que são pais.
Oh!
Sinto que estou congelada aqui. Não consigo me mexer nem
piscar. Se antes o ar já estava preso, agora ele simplesmente não
esta. E isso é de certa forma terrível.
— Você sabe que casamento não é o mesmo que brincar de
casinha? – meu pai pergunta um pouco rude demais pro meu gosto
e quero revirar os olhos para ele, mas não faço, porque isso é ainda
mais importante para mim. Não que vá me impedir de me casar com
o homem que amo. Mas...
— Tive os melhores exemplos sobre casamento minha vida toda
e admiro o relacionamento que vocês dois tem. – And responde de
pronto. – Luara foi à única mulher que realmente amei em toda
minha vida e a primeira por quem fui apaixonado, sete anos atrás.
— Vocês não... – minha mãe começa a dizer, mas para, não
conseguindo encontrar as palavras certas.
— And foi aquele rapaz que conheci na festa do Hugo. – explico.
– Descobrimos isso há alguns meses apenas.
— Eu havia prometido levar Luara ao cinema depois daquele dia
– And começa a contar. –, mas precisei voltar às pressas ao Rio de
Janeiro com meu pai e quando voltei a São Paulo, o caminho estava
muito vago na minha cabeça.
— É isso o que você quer, filha? – meu pai me pergunta e sinto o
exato momento em que meu coração chega a garganta e pula pro
chão. Posso até mesmo vê-lo batendo no tapete aos meus pés.
— Sim. – respondo. – Andrew me faz feliz e me dá coragem para
querer enfrentar tudo com ele, independente do que tivermos que
passar. Ele é meu amigo e meu amante. O homem que amo e quero
passar minha vida ao lado.
Mordo o lábio inferior quando termino de dizer isto e, mesmo que
não olhe para ele, sei que Andrew sorri todo orgulhoso.
—Se você se quer pensar em fazer minha filha infeliz...
— Cuidarei da sua princesa como minha rainha e assim a farei. –
And interrompe e meu pai sorri.
Ai!
Andrew ergue nossas mãos entrelaçadas e beija a aliança em
meu dedo e me vejo fazendo o mesmo, dando um beijo leve em
seus lábios, agora sob a benção dos meus pais. E isso me deixa
extremamente feliz.
— Me deixa ver. – minha mãe pede, sentando-se ao meu lado e
segura minha mão para poder ver a aliança.
— Eu amo você. – digo ao meu pai, com um sorriso que vai de
um lado a outro, não conseguindo esconder a alegria que nem
mesmo cabe dentro de mim. Sua resposta, embora silenciosa, faz
meu coração voltar a bater no momento em que sorri de volta.
Eu também amo você, minha princesa.

◆◆◆

Andrew
Sinto-me o homem mais feliz do mundo. Os pais de Luara nos
deram sua benção ao nosso noivado e ela, mais uma vez, disse sim
ao meu pedido. Que quer passar toda sua vida ao meu lado e isso
me faz querer levantar e toma-la em um abraço apertado. Mas vou
deixar isso quando estivermos sozinhos em nosso apartamento.
Ao invés disso, toco seu rosto e chamo baixinho:
— Anjo. – ela me olha com um sorriso lindo, como não vejo há
alguns dias.
— Oi, lindo?
Abro a boca e torno a fechar, sem saber bem o que falar. Seus
pais estão nos olhando, atentos ao que vou dizer.
— Se quiser podemos deixa-los a sós. – Elizabeth oferece,
olhando o marido, que concorda.
— Não, tudo bem. – respondo de imediato e seguro a mão do
meu anjo com a minha.
— And? – ela chama com um pequeno v entre suas
sobrancelhas.
— Aceite morar comigo. – digo de uma só vez e Luara franze
ainda mais o cenho.
— O QUÊ?! – exclama alterada, como que segurando para não
rir e tento ignorar a sensação de “fiz merda” que toma conta de mim.
—Desde que meu eu sem memória te fez aquela pergunta, se
morávamos juntos, tenho pensado nisso. – explico. – E ele, eu, só
falou aquilo porque é o que mais desejo. Morar de vez com você,
sem termos que ficar revezando entre nossos apartamentos ou
passando dias separados.
— Eu ouvi o que você disse, lindo. – Luara toma a palavra. – É
só que você me pegou de surpresa aqui e também tenho pensado
muito nisso desde aquela pergunta sua. – diz e sorrio.
— Compartilhe seus dias e suas noites comigo. – peço,
passando o polegar por sua mão e ela sorri um pouco nervosa. – Eu
queria ter pedido isso antes, mas quis fazer também com seus pais
como testemunhas, depois que tivéssemos a benção deles para o
nosso casamento, porque quero desde já cuidar de você e me
acostumar a todas suas manias do dia-a-dia.
Balançando a cabeça, ela aceita e sorrio ainda mais feliz.
— Sim. – diz com a voz emocionada e sinto meu coração
disparado dentro do peito.
— Acho que vou finalmente poder derrubar aquela parede que
separa nossos quartos. – digo.
— Acho que vou finalmente poder conhecer todo seu
apartamento. – Lu cobra e sorrio sem graça.
— Podemos subir para fazer isso agora mesmo se quiser. –
ofereço e ela pisca para mim.
— Mais tarde.
— Se o apartamento vai passar por uma reforma – Ricardo
começa. –, então onde vocês vão morar nesse tempo?
— Tenho pensado em comprar uma casa na praia, não muito
longe daqui. – respondo e Luara me olha. – É perto da gruta. –
acrescento e ela sorri.
— Quero comprar com você. – diz já decidida e sei que não
adianta teimar, porque vai bater o pé até conseguir. – Recebi um
bom dinheiro de um trabalho que fiz para uma empresa americana e
quero fazer alguns investimentos. Talvez isso seja um bom começo.
– sorrio, concordando e ela beija meu rosto.
— Não esqueça que a BIT é um ótimo investimento. – lembro.
— Estou pensando nisso ainda, lindo. – diz em resposta e
concordo – Quando iremos ver nossa casa? – pergunta, dando
destaque a palavra e só consigo sorrir com isso, já que agora
sempre será assim.
— Quando quiser.
— Segunda-feira. – diz decidida e concordo, então entramos em
uma conversa gostosa com seus pais, sobre quando decidiram
morar juntos antes de se casarem e o quanto Elizabeth estava
instável naqueles meses. O que só me faz pensar no quanto nos
conheceremos até a chegada dos gêmeos.

No final da tarde, saio para levar Luara e Camile para tomar


sorvete. Na verdade isso é apenas um encontro com um fotógrafo,
para que Camile possa entregar algumas coisas para ele. Como o
vídeo que fez de nós dois juntos no aeroporto, uma foto nossa
brindando esta tarde e exibindo as alianças e sobre a gravidez. Não
quero mais esconder nada que diga respeito a nós dois.
— Camile. – chamo sua atenção para mim. – Fique na mesa lá
dentro, que ficaremos aqui fora.
— Qual delas? – pergunta, olhando ao redor.
— Ao lado da porta. Fique de costas para nós.
— Tudo bem. – ela concorda visivelmente nervosa.
— Eu não estou certa quanto a isto. – Luara diz e olho para ela
com um sorriso de lado.
— Estou aqui, Anjo. – digo e a abraço. – Acha que não vou
cuidar da minha cunhada?
Quando digo isto, Camile sorri, assim como a irmã e entra para
sentar-se no lugar que pedi e vou pegar o sorvete com Luara, que
se serve de uma boa quantia, dizendo que esta com desejos.
— Ele chegou. – Lu diz logo que nos acomodamos em nossa
mesa e olho para o rapaz que entra. – É aquele que estava nos
perseguindo em Nova Iorque.
— Por isso achei tão familiar. – digo com o cenho franzido. –
Parece que veio devolver o dinheiro que paguei pela câmera aquela
época. – Luara ri com meu comentário e por algum tempo presto
atenção nos dois dentro da sorveteria, tentando inutilmente ouvir o
que conversam, mas o barulho da rua não ajuda. – Ele colocou uma
mala sobre a mesa e a abriu para mostrar. – falo. Ele que não tente
qualquer coisa contra Camile. – Ela contou.
— Como sabe? – pergunta, tentando olhar por cima do ombro e
peço para que não faça isso, para que ele não desconfie de nada.
— Da para ver na expressão do rosto dele. Ele não acredita. –
franzo o cenho. – Agora acreditou. Provavelmente porque contou
que é sua irmã. – digo e ela sorri. – E agora entregou um cartão e
saiu logo depois que Camile deu o pen drive para ele.
Pego o celular no bolso da calça, digitando uma curta mensagem
assim que vejo o fotógrafo entrar no carro e dar a partida.

Espere dois minutos e venha para cá.

Melhor esperarmos, de que ele voltar e ver que ela esta


conosco.
— Estou tremendo dos pés a cabeça! – Camile exclama,
sentando ao lado da irmã. – Achei que ele não fosse acreditar em
mim ou querer me roubar. O que era bem provável nas duas
hipóteses.
— Já fiz negócios com ele. – digo quando pega a colher da irmã
para tomar do sorvete dela, que reclama, dizendo para buscar o
seu.
—Como você conseguiu convencer ele de que era verdade? –
Lu pergunta logo que Camile volta com seu sorvete.
— Dizendo a verdade. – ela da de ombros e arqueio a
sobrancelha, curioso. – Falei que era sua irmã. – sorrio e pisco para
Luara, que mostra a língua para mim. – Parece que vai sair na
revista de segunda-feira já. – diz. – Acho que vocês dois não terão
mais paz sobre isso.
— Qual a melhor maneira de assumir um noivado ao mundo,
além de entregar à notícia a mídia? – pergunto e pisco para as
duas, que sorriem. – Ao menos alguém vai ganhar uma boa
promoção por conseguir algo assim.
— Lu. – Camile chama a irmã, que olha para ela. – Tem algo que
quero te contar, então... Será que pode ser amanhã?
Arqueio a sobrancelha quando Luara olha para mim, sentindo
uma pontinha de curiosidade.
— Claro. – ela sorri para a irmã. – Apenas nós duas, amanhã
cedo, no meu apartamento. Tudo bem?
— Sim, sim, Tata. – Camile sorri quando a irmã beija seu rosto. –
E... Por favor, não contem nada ao nosso pai sobre isso. Acho que
ele me expulsa de casa se souber que vendi um segredo de vocês
para alguém assim.
Quando ela diz isto, tudo o que consigo fazer é rir. Muito.
— Não sou nem louca de fazer isso! – Lu exclama, dando um
beijo na irmã e acabo rindo ainda mais. – O que foi? – pergunta
abraçada a Camile.
— Estou imaginando o que todas aquelas mulheres vão começar
a falar no trabalho quando souberem do nosso noivado. – explico. –
E o quanto nossas famílias vão ficar com a notícia.
— Talvez você devesse ligar para a vovó antes que alguém
conte pra ela, Lu. – Camile diz e franzo o cenho.
— Tem alguém a quem quero contar. – diz e percebo o pesar em
sua voz. – Vou fazer isso logo.
— E eu vou ligar para minha tia e dar a notícia. – digo já
pegando o celular e disco o número dela. – Lívia! – exclamo assim
que atende.
Capítulo Dezesseis
Domingo
Luara

Passa um pouco da meia-noite quando o elevador finalmente para


no último andar do Golden e por alguns instantes apenas fico
encarando o painel luminoso, sentindo o nervosismo tomando conta
de mim.
— Anjo? – Andrew me chama enquanto segura a porta para mim
e olho para ele, sem dizer uma única palavra. – Está tudo bem? –
pergunta preocupado e sorrio, confirmando.
— Só estou um pouco nervosa. – respondo com a voz um pouco
trêmula e ele franze o cenho.
— Aconteceu algo? – pergunta agora mais preocupado e dou um
passo em sua direção, segurando com as duas mãos em sua
camisa.
— Ainda não. – sussurro, ficando na pontinha dos pés para
tentar alcançá-lo. – Mas vai acontecer. – e o beijo, ainda me
apoiando em seu corpo e sinto suas mãos em meu quadril, levando-
me para fora do elevador e pelo corredor. – Sua casa. – sussurro
quando beija meu pescoço e assim seguimos, totalmente às cegas,
pelo corredor.
— Vai querer conhecer meu apartamento inteiro agora é, minha
linda? – pergunta com um sorriso de lado quando paramos em sua
porta e pega a chave para poder abrir. Ao invés de responder, beijo
seu peito e o puxo para dentro, para tudo o que tenho preparado
para essa noite.
— Não agora. – digo com a voz trêmula e nervosa e o vejo
trancar a porta outra vez. Quando vira para mim, ficando bem na
minha frente, desabotoo toda sua camisa e a jogo para o chão.
— Minha vez de tirar isso de você agora. – And diz com a voz
rouca e um sorriso safado, colocando as mãos em minha blusa e as
seguro, impedindo que o faça.
— Não agora, lindo. – falo e ele abre a boca para dizer algo, mas
muda de ideia quando o levo até uma poltrona afastada na sala. –
Por enquanto, você apenas senta aqui que eu já venho.
— Tudo bem. – responde com o cenho franzido e dou um beijo
em seus lábios antes de me afastar e ir até o banheiro no quarto
para me trocar.
Preparei tudo para essa noite e apesar do nervosismo que sinto
tudo tem que correr bem. Cada mínimo detalhe do que tenho para
nós dois hoje.

◆◆◆

Andrew
Caramba! Estou louco de tesão e a Luara simplesmente sai de
cima, dizendo que já voltava.
Quer dizer, o pequeno And está praticamente implorando para se
ver livre de toda essa roupa e para sentir ela e... Eu sei que ela está
aprontando algo, porque fez mistério o dia todo e isso me deixa
ainda mais na vontade.
— Anjo, vem logo! – chamo com a voz carregada do desejo que
sinto. Quero colocar minha noiva de bruços no braço dessa
poltrona, dar um belo tapa naquela bunda dela e chupar bem
gostoso aquela bucetinha que tem até gozar na minha boca. Depois,
o que eu fizer será para nós dois.
Fecho os olhos, apoiando com a cabeça no encosto da poltrona
e toco a mão no meu pau, que há essas horas já está duro como
uma pedra.
— Não acho que você vá precisar da sua mão para isso hoje,
meu gostoso. – sua voz chega baixa e rouca aos meus ouvidos.
Quando abro os olhos, meu queixo cai e meu pau pula dentro da
calça.
— Nossa. – a palavra me escapa enquanto a encaro.
Luara está usando nada além de uma cinta liga preta rendada,
um sutiã preto com detalhes em vermelho e sua calcinha fio dental
tão pequenininha, que posso ver tudo. Os cabelos soltos e
ondulados, caídos sobre seus seios. Nos pés, sapatos de salto fino.
— Nossa. – repito quando para próxima de mim e sorri.
— Precisa de ajuda com isso? – pergunta, apoiando com a mão
em seu quadril.
— Sim. – respondo, louco para saber qual será o próximo passo
que dará.
— Então me deixa cuidar desse menino levado que não para de
pular ai dentro. – sorri e se ajoelha na minha frente, soltando meu
cinto e desce o zíper, tirando meu pau para fora. – Hmmmmm. –
murmura, correndo a língua pelos lábios e sinto vontade de morder
eles. – Ele está tão duro e cheio de veias. Parece tão apetitoso.
— Então porque você não cuida desse pau como só você sabe
fazer, minha gostosa? – pergunto com a voz rouca e ela sorri,
passando a língua pela cabecinha.
— Assim? – pergunta de volta, fazendo minha respiração
acelerar. – Ou assim. – e passa a língua por toda extensão,
enquanto acaricia minhas bolas com a mão livre e o toma em sua
boca por completo.
— NOSSA! – exclamo quando sinto o fundo de sua garganta. –
Que delícia. – digo e sorri para mim, olhando-me por cima dos
óculos e seguro seus cabelos com cuidado, deliciando-me com a
sensação de ter sua boca me chupando tão gostoso assim. – Me
deixa cuidar de você também. – peço, sentindo que estou perto de
explodir, mas ela me ignora, continuando apenas a me chupar.

◆◆◆

Luara
— Anjo. – And praticamente rosna enquanto continuo chupando,
sentindo seu quadril vir de encontro comigo.
— Por que você na goza na minha boquinha? – peço, passando
a língua por toda sua extensão e ele cerra os olhos, apertando as
mãos na poltrona. – Faz isso para mim. – e o beijo, puxando suas
bolas para dentro da minha boca.
— E você toma tudo? – pergunta e faço que sim, voltando a
chupar meu noivo até que sinto seu líquido quente na minha boca
quando goza. – Anjo. – torna a chamar e limpo do seu gozo que
escorreu por minha boca, sorrindo para ele e afasto somente o
suficiente para ajudar a tirar sua calça.
— Você continua duro. – sorrio, apreciando a visão do pequeno
And repousando sob sua barriga.
— Por você. – sorri em resposta e fico de pé. – Me deixa cuidar
de você agora. – pede e faço uma careta, considerando a ideia.
— E o que ganho? – pergunto para provoca-lo e passo as unhas
pelo pequeno And, fazendo-o fechar os olhos.
— O que você quiser, linda. – responde com voz pesada
enquanto o acaricio. Ele estende a mão e a seguro, ficando entre
suas pernas. – Quero sentir você. – diz, passando um único dedo
por minha entrada, sem se dar ao trabalho de afastar a calcinha e
me sinto mole ao seu toque. – Quero beijar você e te colocar de
bruços aqui nessa poltrona.
— E depois? – pergunto pouco interessada, o que é mentira, e
ele me puxa para mais perto, pedindo para ficar na sua altura.
— Ai eu vou foder você bem gostoso, como sei que quer. –
sussurra em meu ouvido, fazendo um calafrio percorrer meu corpo
de cima a baixo várias e várias vezes. Então, me ignorando e ainda
segurando minha mão, Andrew levanta e me deita sobre o braço do
sofá, colocando minha calcinha de lado, passando o dedo por minha
entrada.
— And. – gemo quando me penetra com um dedo e me chupa,
como tenho desejado que fizesse desde cedo.
— O que você quer? – pergunta com a voz mais rouca possível
e enfia outro dedo em mim, fazendo movimentos rápidos.
— V-você! – gaguejo, movendo meu quadril de encontro aos
seus gestos. – Por favor! – exclamo com a respiração acelerada e
ele afasta, tirando a mão de mim e sinto um forte tapa em minha
bunda, seguido por seu pau dentro de mim com força e grito.
— É isso o que você quer, minha safada? – pergunta com
estocadas fortes e gostosas, que me fazem gemer.
—Sim! – gemo mais alto e Andrew deita sob meu corpo para
beijar meu ombro e meu rosto, onde viro para ele.
— Adorei toda sua produção. – sussurra em meu ouvido,
passando a mão por minha perna e a ergue para colocar no sofá. –
Se eu soubesse que era isso que teria em casa quando chegasse,
teria te arrastado para cá bem mais cedo. – diz e sorrio, mas não
consigo dizer qualquer coisa que seja.

◆◆◆

Andrew
Com um último beijo em seu ombro, eu me afasto, dando um
tapa na bunda da minha garota e ela solta um gritinho, rindo.
— Vem cá. – Luara pede e segura minha mão, colocando-me
sentado na poltrona outra vez.
— E agora? – pergunto ansioso pelo que vem. – Ainda não te fiz
gozar nenhuma vez.
— Agora você senta aqui e quem vai comandar sou eu. – diz em
resposta, passando o joelho por minha perna.
— Tudo bem, senhora. – sorrio para ela, que parece ficar
vermelha, apesar de toda a pose de dominadora. – O que minha
senhora quer que eu faça agora?
— Tira a minha calcinha. – diz, arrancando um enorme sorriso de
mim.
— Com prazer. – respondo, passando a língua pelos lábios e
flagro seu olhar pesado em mim.
— Não rasga! – exclama quando eu seguro o tecido fino e se
apoia em meus ombros para se segurar. – Você já me deu muito
prejuízo com isso.
— Te dou um armário inteiro de lingerie só para poder rasgar
cada uma quando for tirar de você. – pisco para ela e beijo sua
barriga, tirando a calcinha e a beijo, sentindo seu sabor em minha
boca. – Tão gostosa. – sussurro, penetrando dois dedos nela e
assim continuo até que sinto começar a se contorcer até que goza
na minha boca. – Agora sim. – digo, voltando a olhar para Luara,
que tem as mãos presas em meus cabelos e os olhos apertados. –
Vem aqui. – seguro suas mãos e a coloco em meu colo, sentindo
quando desliza tão gostoso por meu pau.
— And. – geme em meu ouvido, movendo-se lentamente e sinto
quando passa algo por minha cabeça. Sua calcinha.
Quero dizer algo a ela sobre o que significou para mim, ouvir
dizer aos seus pais que queria passar sua vida ao meu lado. Mas
não consigo.
— And. – volta a chamar e beijo seu pescoço instante antes de
segurar meu rosto e me beijar, ainda levando nossos movimentos
tão devagar e no seu ritmo. Assim, cheio de beijos e acaricias, eu
me derramo dentro dela, sentindo me apertar tão deliciosamente.
— Que delícia, anjo. – digo e beijo seu rosto, secando uma gota
de suor que escorre por ele.
— Lindo. – ela me chama um pouco preocupada. – Tem algo que
quero experimentar com você hoje. – diz e franzo o cenho. – Mas eu
estou com um pouco de medo.
— Não precisa fazer isso se te dá medo. – digo, embora não
faça ideia do que seja. – Ou se te assusta. – completo e ela nega.
— Eu quero. – diz. – Eu só... Não me machuque. Tudo bem? –
pede, deixando-me ainda mais preocupado.
— Eu nunca faria isso, anjo. – respondo e Luara sai de cima de
mim, estendendo-me a mão, levando-nos ao nosso quarto. – Parece
que finalmente vou descobrir o que você escondeu de mim o dia
todo. – digo quando paramos na porta e me olha por cima do ombro
com um sorriso tímido.
— Espera aqui. – pede e paro no mesmo lugar, enquanto entra
no quarto e pega algo no móvel ao lado da cama, voltando até mim.

◆◆◆

Luara
— Eu quero experimentar isso com você. – digo com a voz
trêmula, colocando o vidrinho de lubrificante na mão de And e ele
me encara com o cenho franzido.
— Você tem certeza? – pergunta e faço que sim. – Anjo.
— Eu preparei tudo. – digo e And sorri. – Eu quero tentar com
você.
— Prometo que vou cuidar de você. – sussurra para mim e
sorrio. – Mas antes, vamos tomar um banho. Não vamos ter pressa
para isso e quero que você se sinta bem se vamos realmente fazer
isso.
— Obrigada. – eu sussurro e Andrew coloca o pequeno frasco
ao lado da TV e segura minha mão, levando-me até o banheiro.
— Eu podia esperar qualquer coisa. – diz. – Menos por isso.
— Idiota. – retruco e ele ri, virando de frente para mim.
— Me deixa tirar isso de você. – pede, ficando de joelhos na
minha frente e tira meus saltos, seguido pela cinta e sobe para tirar
também o sutiã. A cada etapa eu ganho um beijo em uma parte
nova, até que ele está de frente para mim, onde posso beijar sua
boca. – Eu vou cuidar de você. – sussurra em meu ouvido e abre o
chuveiro, deixando uma água fria cair por nossos corpos, mas que
logo fica quente e envolvo meus braços por seu pescoço, impedindo
qualquer tentativa sua de nos separar.
Sinto o toque de Andrew em cada parte do meu corpo, como se
quisesse me gravar. Seus lábios, suas mãos me acariciando...
Fecho os olhos e me permito apenas sentir tudo o que causa em
mim, até que meu corpo se contorça ao seu toque como se uma
onda de tremores me percorresse.
— And. – seu nome me escapa em um gemido rouco, incapaz
de formular qualquer frase. Com um beijo em meu rosto, ele desce,
beijando cada parte minha e prende as mãos em meu quadril,
enquanto sua língua brinca tão perfeitamente em mim.
Seguro seus cabelos molhados em minhas mãos e os puxo para
trás, fazendo com que me olhe e vejo o sorriso cheio de malícia em
seu rosto.
— Eu quero você. – digo, puxando-o para cima, sentindo meu
coração disparado dentro do peito. – Por inteiro.
— Você já tem, meu anjo. – responde e me beija.
— Eu estou com medo, And. – confesso. – Eu nunca fiz isso.
E...
— Eu também não, linda. – diz e segura minha mão, colocando-
a sobre seu coração, que está tão disparado quanto o meu. – Mas
eu quero muito com você.
Inspiro fundo e solto o ar de vagar, tentando disfarçar o
nervosismo que sinto.
— E se... – começo a dizer, observando-o fechar o chuveiro e
pegar duas toalhas. Uma enrola em seu quadril e a outra segura,
voltando até mim.
— Se não for, a gente não esquenta com isso e esquece. – diz,
passando a segunda toalha por meus cabelos. – Só tenha certeza
de que realmente quer tentar isso agora.
— Eu quero, mas estou com medo. – torno a fechar os olhos e
sinto seus lábios junto aos meus.
— Uma segunda primeira vez. – sussurra e me beija. – Vou
cuidar de você igual fiz aquele dia. – diz e segura minha mão,
levando-nos para o quarto.

◆◆◆

Andrew
A cada passo que damos direção ao quarto, sinto meu coração
mais acelerado dentro do peito e o nervosismo tomando conta de
mim. Quer dizer, Luara me pediu para tentarmos isso e tenho uma
grande responsabilidade em minhas mãos e não quero, de maneira
alguma, machuca-la.
— Espera. – peço e solto sua mão, indo até minha cômoda,
onde pego um pacote de preservativo que não me lembro de ter
comprado. – Isso é novo. – comento comigo mesmo e ouço a risada
atrás de mim.
— Tanto tempo que não usamos isso. – Lu diz com um sorriso
nervoso e volto até ela, oferecendo-lhe o pacotinho.
— Eu não quero te machucar. – falo e ela apenas brinca com o
preservativo, passando de uma mão para outra. – Vamos lá! Você já
fez isso antes. – sorrio para ela, que fecha a cara para mim. – Só
faz tempo. – e beijo sua testa.
Com uma careta, Luara mostra a língua para mim e puxa o laço
que prende minha toalha ao quadril e ela logo vai parar no chão,
deixando o pequeno And entre nós dois e ela abre o preservativo
nos dentes, aproximando-se de mim e sorrio ansioso.
— Eu não esqueço as coisas fácil assim, amor. – diz e segura
meu pau, fazendo o movimento de sobe e desce que tanto me deixa
louco.
— Que bom. – sussurro, colando minha boca na sua e solto sua
toalha, que desliza por seu corpo. – Não pensa nisso, ok? – peço e
seguro suas mãos, levando-a para cama. – Vamos com calma.
Luara acena com a cabeça e coloca o preservativo em mim,
empurrando-me para sentar na cama.
— Dominadora. – digo quando senta em meu colo e morde meu
pescoço.

◆◆◆

Luara
Sem dizer uma única palavra, levanto um pouco e coloco o
pequeno And para dentro de mim, começando com movimentos
lentos, assim como fiz na sala.
De olhos fechados, And passa suas mãos por minhas costas,
acompanhando cada movimento meu. Seus dedos me acariciam lá
atrás de maneira suave e fecho os olhos para sentir isso.
— And. – chamo baixinho em seu ouvido quando me deita sobre
seu peito e me abraça, começando com seus movimentos agora
mais fortes e com força. – And. – repito e ele me da um tapa na
bunda e beija meus seios.
— Esta tudo bem? – pergunta com a voz rouca e aceno em
positivo, mordendo seu pescoço.
— Acho que estou pronta. – digo em um fio de coragem e ele
para, onde saio de cima dele, sentando-me ao seu lado. Meu
coração na garganta já.
— Certo. – diz com um longo e nervoso suspiro.
— Você esta nervoso. – sorrio.
— Se estou nervoso? – pergunta, rindo. – Muito! – exclama e
puxa um travesseiro, colocando-o no centro da cama. O que me faz
franzir o cenho, sem entender nada. – Só me avisa se doer, por
favor. – pede, colocando-me deitada sobre o travesseiro.
— Eu me sentiria mais a vontade se pudesse usar você para me
aliviar. – digo e ele aproxima seu rosto do meu.
— Já estou cheio de marcas pelos seus alívios. – sussurra em
meu ouvido e beija meu rosto e assim ele desce por todo meu
corpo, até chegar a minha bunda, onde me morde de leve.
— Ai! – deixo escapar o gemido, embora dor seja a última coisa
que tenha sentido com seu gesto.
— Você gosta disso? – pergunta, deitando em minhas costas e
passa seu dedo por meu buraquinho, colocando-o dentro de mim. –
É o que você quer, linda?
— Quero o pequeno And. – digo em resposta, rebolando contra
sua mão e ele afasta, arqueando meu quadril no travesseiro e logo
eu o sinto entrar deslizando em mim de vagar, provavelmente com
ajuda do lubrificante que comprei. – And. – eu o chamo e sinto sua
mão se entrelaçar a minha assim que o sinto de vez, parando lá
dentro por alguns instantes.
— Esta doendo? – pergunta preocupado e segura meu rosto
com a mão livre, fazendo-me olhar para ele. Ao invés de responder,
eu o beijo com força, como se pudesse transferir qualquer coisa que
sinto nesse momento. Como se tudo dependesse desse beijo. –
Você é tão gostosa. – sussurra em meu ouvido, começando a se
mover bem quando sinto seus dedos também dentro de mim, com
movimentos mais suaves, que me fazem querer gritar. Não por dor,
mas por prazer.
A respiração pesada, os suores misturados... Sinto os músculos
de Andrew pressionando meu corpo contra o colchão enquanto se
movimenta e sua mão em meu cabelo, arqueando minha cabeça
para trás de maneira que consigo beija-lo.
— And! – exclamo, levando sua mão de volta para minha
amiguinha que sente falta dele e percebo o sorriso em seu rosto
quando penetra três dedos em mim, arrancando um gemido alto que
me faz atingir um orgasmo que deixa mole.
— Lu? – ele me chama, saindo de dentro de mim com cuidado e
deita ao meu lado. – Você esta bem?
— Eu não sei. – digo a verdade. – Me sinto um pouco estranha.
– e viro para ele, vendo-o tirar o preservativo e o amarrar,
colocando-o no chão ao seu lado.
— Vem cá. – chama, puxando-me para deitar perto dele e o
abraço, afundando meu rosto em seu peito. Antes que possa dizer
qualquer coisa, eu o beijo, por quê... Bem, falar é a última coisa que
quero agora. – Esse é um dos melhores “cala a boca” que alguém
pode usar. – diz, fazendo-me rir sem graça.
— Só não fala nada. – peço e ele desgruda uma mecha de
cabelo do meu rosto, colocando-a atrás da orelha. Sua mão volta
para o meu rosto, fazendo-me olhar para ele o tempo todo e sinto
todo meu corpo esquentar de vergonha e é como se eu estivesse
nua diante dele de uma forma que vai bem além das roupas que
não estamos usando, mas isso de certa forma me deixa confortável.
– Eu amo você. – sussurro quando me da o sorriso mais lindo entre
todos.

É domingo de manhã e já estou na rua, voltando para casa


acompanhada da minha irmã, um bolo com recheio de doce de leite,
Carolinas e mais algumas outras coisas para o café da manhã. Mas
o que me deixou realmente surpresa foi quando me contou que esta
namorando um menino que estudou com ela no colegial há quase
três meses e só me contou agora!
Tudo bem e lindo até ai, mas a questão da história é: ele vai
estudar em outra cidade e não volta mais para São Paulo, então
esta cobrando dela que ainda não tiveram sua primeira vez juntos e
isso me faz querer ter uma boa conversinha com esse chantagista
barato!
— Você esta pronta para isso? – pergunto quando Camile
termina de contar.
— Eu não sei. Sabe que não sou assim, Tata. – responde com
uma pausa para entrarmos no Golden e cumprimento o porteiro da
manhã. – Eu gosto dele, mas não é como você e o And. – volta a
falar quando entramos no elevador. – É só mais um.
Camile baixa o olhar para as sacolas em sua mão e a seguro,
chamando sua atenção para mim.
— Ele nem mesmo é como aquele rapaz com quem você teve
sua primeira vez!
— Sabe que foi com ele? Andrew? – pergunto e ela me olha com
o cenho franzido.
— Como assim?
Sorrio e conto brevemente o ocorrido e como descobrimos isso.
— Agora que tenho menos certeza ainda disso.
— Só tenha certeza de que realmente quer fazer isso com ele. –
digo após alguns andares. – Se ele já não pretende voltar, pode
apenas não estar querendo entrar virgem na faculdade. Querendo
ou não, você sofre. A diferença é que se não for com ele, você ainda
vai ter a chance de poder ter esse momento com alguém que
realmente importe para você. Conhecendo há tempos ou não.
— Sinto falta de quando eu tinha você comigo. – diz e beijo seu
rosto bem quando o elevador para no meu andar.
— Não deixei de ser sua irmã só porque me mudei, Cami. –
respondo. – Sabe que pode sempre me ligar e vir me visitar quando
quiser fugir de algo. Contar que esta namorando... Não precisa
esperar quase três meses por isso.
— Você estava com muitos problemas para te encher com isso.
– diz e olho para ela um pouco ofendida.
— Que irmã eu seria se não pudesse dispor um tempo para
você? – dou um sorriso de lado. – Eu nunca vou deixar de ser sua
irmã.
— Prometo contar na próxima vez que acontecer. – ela sorri. –
Principalmente sobre o que decidir disso.
— Minha irmãzinha esta virando adulta e estou perdendo isso! –
exclamo e ela toca a campainha no meu apartamento, onde And
logo abre a porta.
— Bom dia, senhoritas. – ele nos recebe com um sorriso,
ajudando com as sacolas do café da manhã que teremos aqui em
casa com toda minha família. – Compraram o mercado todo, linda?
– pergunta e dou um beijo em sua boca.
— Só o essencial para um belo café da manhã. – respondo,
tentando passar por ele, que me segura. – O que foi? – pergunto,
mas é para Camile que ele olha.
— Desculpa se ouvi parte da conversa de vocês. – ele diz. –
Mas, Camile... Sua irmã ter mudado para cá a trabalho não significa
que ela deixou de se importar com todos vocês. Principalmente você
e Thomas.
— Sei que não. Mas são coisas que... Eu não sei como dizer.
— Sei e entendo como se sente e... Ao invés de sentir que
perdeu uma irmã, pense que você ganhou um irmão que também
vai estar aqui para cuidar de vocês.
Olho para And boquiaberta, surpresa com que ele diz a minha
irmã.
— Obrigada. – Cami sussurra com um sorriso tímido. – E... Tata?
— Sim? – pergunto realmente feliz pelos dois se darem tão bem.
— Eu não vou fazer aquilo. – diz e noto o cenho franzido de And.
– Ele vai terminar comigo fazendo ou não. Então talvez eu diga que
conheci alguém e que não quero nada com ele.
— Espera! – Andrew chama nossa atenção, olhando de uma
para outra. – Vocês estavam falando sobre... – ele abre e fecha a
boca algumas vezes antes de finalmente concluir a frase: – Às
vezes vale a pena esperar pela pessoa certa, Camile. – diz e um
gritinho me escapa instantes antes de puxar os dois para um abraço
e, pelo canto do olho, vejo meus pais e Tommy aparecerem na
porta.
Capítulo Dezessete
Sexta-feira
Andrew

As últimas semanas parecem ter passado em um piscar de olhos.


Em alguns dias sinto até como se eu tivesse ido para Porto Alegre
para aprovar o escritório que abriríamos lá ontem, quando já faz
quase três meses que isso aconteceu.
Por indicações e várias recomendações, Igor foi para lá, para
ensinar os novos funcionários tudo o que precisam saber sobre a
BIT Technologies e tenho pensado em transferi-lo de vez como
responsável, uma vez que tem feito por merecer a promoção.
Só o que tem me chateado é que talvez eu não possa ir para a
festa de inauguração, já que Luara esta com um barrigão lindo, que
parece que vai explodir a qualquer momento. Mas claro que não
digo isso a ela e menos ainda que parece que um alien esta prestes
a sair de dentro dela. Ou no caso, dois. Ela mesma diz isso, só que
se eu disser, ela me mata e não me refiro ao sentido figurado da
palavra e sim literalmente. Então, por hora, quem esta para ir à
inauguração é Joao, que está bem animado com a ideia.
Luara. Minha namorada, minha noiva e futura esposa. Minha
amiga, amante e mãe dos meus dois filhos... Ela esta a poucos dias
de completar sete meses e não me canso de admirar sua barriga,
que por várias vezes ouvi comentários no trabalho sobre o quanto
ela estava linda. E todas essas vezes só consegui sorrir, orgulhoso,
porque é a verdade. A cada dia que passa ela esta mais linda aos
meus olhos e me sinto mais apaixonado diante de todo o cuidado
que tem com nossos dois pequenos.
Lu estava certa desde o início ao dizer que teríamos um casal e
me senti ainda mais feliz quando recebemos a notícia naquele
ultrassom, onde pude ver os dois de mãos dadas. A má notícia aqui
é que ainda não conseguimos entrar em um acordo amigável quanto
aos nomes e sinto que estamos correndo contra o tempo até que
eles estejam conosco. O que me deixa um pouco nervoso também
e... Eu tenho pensado bastante nessa coisa de instinto materno.
Isso é lindo e puro de se ver, mas realmente me assusta.
Todos os dias, depois que chegamos do trabalho, Luara entra na
piscina que temos no fundo da nossa casa e fica por pelo menos
trinta minutos, relaxando. Depois disso, vai para o banho e só então
é que nos preocupamos com o jantar. Às vezes fico lá com ela e
acabamos passando desse tempo por ficar conversando ou
namorando. Aproveitamos esse tempo que ainda temos apenas
para nós dois.
Depois do jantar, ela senta em uma poltrona que temos em um
quartinho e coloca fones de ouvido em sua barriga, alegando que os
dois precisam desde cedo aprender a ouvir música boa e a se
acostumar com o barulho. Talvez eu deva acrescentar que ela os
coloca para ouvir rock, o que é bem bacana. Mas também teve uma
vez em que ouvi música clássica saindo de lá e alguns outros
gêneros também. Só que nada disso me importa, já que também
aprecio esses momentos entre os três ou quando me junto a eles, o
que acontece com frequência e ficamos ali conversando por horas.
E bem, Marcus diz que meu anjo pode entrar em trabalho de
parto a qualquer momento quando completar oito meses, por eles já
estarem bem grandinhos, mas também disse que é normal para
gêmeos. O único problema nisso tudo é que, teimosa como é e tem
ficado mais ainda, Luara ainda esta trabalhando e brigando com
algumas pessoas do setor que supervisiona e outros, quando dizem
alguma besteira. Como quando Pedro quis questiona-la sobre algo e
depois pediu para que me entregasse um documento. Foi
engraçado e assustador de se ver.

— Estou faminta! – Luara diz ao meu lado enquanto dirijo e olho


para ela pelo canto do olho – Podemos passar do shopping para
comprar lanche? – pede e, assim que paro em um semáforo
fechado, olho para ela, que sorri para mim.
— Você acabou de comer um pacote de roscas que pegou na
BIT antes de sairmos, Anjo. – digo, segurando para não rir.
— Aquilo foi à meia hora, lindo. – diz e cruza os braços. – Estou
aqui, delirando por um lanche duplo e um milk-shake de Ovomaltine
tamanho grande. – suas mãos tocam meu rosto e sinto seu beijo em
mim. – Por favor. – pede e sorrio, não acreditando no que esta
dizendo.
— O que você quer comer? – pergunto, tornando a sair com o
carro e pego o desvio que nos levara ao shopping aqui em
Copacabana. – Podemos negociar e trocar esse lanche por um
jantar? – arrisco.
— Arroz, feijão, bife acebolado com fritas! – exclama em
resposta e olho para ela bem quanto passa a língua pelos lábios.
— O que... – começo, mas mudo de ideia quando diz algo que
chama minha atenção.
— O Matt esta praticamente implorando por isso aqui. – diz,
tocando a mão em sua barriga.
— Matt? – pergunto curioso e sorri. – Anjo.
— Eu estive pensando nesse nome o dia todo. – explica. –
Matthew. E parece que ele gostou.
— É lindo. – sorrio para ela.
— Combina com o seu.
— Ei! – exclamo, sentindo-me honrado com isso e lembro-me de
um nome de anos atrás, de uma menininha que conheci quando era
mais novo. – Acho que tenho um nome para nossa princesa
também. – digo assim que estaciono o carro em uma vaga do
shopping e desligo o motor, virando para Luara.
— Lá vem você com seus nomes. – diz com uma careta e fecho
a cara. Eu nem disse tantos nomes assim! – Qual é? – pergunta
curiosa e toco a mão em sua barriga, sentindo um pequeno
movimento.
— Alice. – sussurro e sinto vários movimentos.
— Parece que ela também gostou. – Lu sorri para mim. – Alice e
Matthew Brudosck-Giardoni. – pronuncia nossos nomes juntos. –
Nossa! Eles realmente gostaram destes! – exclama e acabo rindo.
— Parece que finalmente entramos em um acordo quanto a isto.
– digo e ela me beija.
— Porque só os deixamos escolher o que mais gostaram. – diz
em resposta, passando a mão por meu rosto e a seguro, dando um
beijo em sua aliança.
— E quanto ao nosso casamento? – pergunto.
— Quando eles estiverem aqui e puderem participar da
cerimonia.
— Quatro meses depois que nascerem. – sorrio, lembrando-me
de suas palavras na noite em que sua família voltou para São Paulo.
– Eu me casaria com você hoje mesmo, anjo. – sussurro.
— Eu também, meu amor. – sussurra de volta e me beija mais
uma vez. – E estou louca para essa noite.
— Estou louco por ela. – respondo e abro a porta para sair e vou
abrir a sua. – Quer aproveitar e comprar aquela coisinha inevitável
que precisaremos começar a usar dentro de alguns meses? –
pergunto, segurando sua mão.
— Camisinha? – pergunta de volta e franzo o cenho, não
conseguindo acreditar no que ouvi.
— Claro. – sorrio. – Camisinhas, roupinhas de bebês, fraldas e
aquele negócio que vamos precisar colocar no carro para sair com
nossos filhos da maternidade depois que nascerem. Mas,
principalmente camisinhas, por favor!
Dizer que Luara ficou roxa de vergonha é dizer pouco. Ela
apenas ri de maneira que nunca vi antes e isso me faz rir junto,
embora não tanto quanto ela.
— Jamais conte isso a alguém! – pede, ficando de frente para
mim e seguro as mãos em seu quadril. – Por favor.
— Dizer o que? – sorrio para ela, fazendo-me de desentendido.
– Sabe que nunca contei nada a ninguém sobre nós e, nesse
momento, estou louco para ir para casa com você e aproveitar
bastante nosso final de semana de folga.
— Antes vamos jantar e fazer compras. – diz, agarrando minha
mão e me arrasta atrás dela logo depois de beijar meu rosto. – E eu
insisto em dizer que você não vai tirar a barba depois que eles
chegarem a menos que realmente precise!
— Tudo bem, Futura Sra. Giardoni. – digo e ela me olha por cima
do ombro com um sorriso lindo.

◆◆◆

Luara
Assim que entramos no shopping, arrasto Andrew pela mão até
uma loja de bebês, onde tem absolutamente de tudo. Enxoval,
roupinhas, berço, carrinhos e tudo o mais. E sei que já viemos aqui
várias vezes, mas não me canso de voltar, porque é aqui onde
comprei a maioria das coisas para os nossos filhos e onde consigo
me imaginar mais próxima deles. Como se... Como se já tivesse
meus dois pequenos em meus braços.
— O que você acha desses dois? – ouço Andrew atrás de mim e
me viro para ele, que tem dois macacões brancos em suas mãos,
escritos: Ctrl + C e Ctrl + V. O que me faz sorrir como a mãe boba e
babona que tenho sido quanto a tudo o que diz respeito aos meus
bebês.
— Sua cara. – digo rindo e ele da de ombros.
— Vou sentar ali e esperar. Não sou bom com isso. – ele diz,
colocando os dois macacões de lado. – Não sou bom com roupas
nem para mim, quem dirá para crianças.
— Eu não disse que não tinha gostado. – falo, puxando sua mão
e vira para mim. – Só falei que é sua cara, porque é o tipo de coisa
que imagino você comprando sozinho para os nossos filhos, lindo. E
eu amei os dois.
— Sério? – pergunta com um sorriso lindo e confirmo, onde ele
torna a pegar os dois macacões. – Então vamos levar! – exclama,
fazendo-me rir.
— Não tem muito mais o que comprar para eles. – comento,
olhando para o carrinho com algumas poucas coisas. – A maioria ou
já compramos ou ganhamos.
— Fralda? – And arrisca. – Não sei nem de que lado se coloca
isso em um bebê. – diz com uma careta e preciso segurar para não
rir.
— Você vai aprender bem fácil quando o pequeno Matt te
molhar. – sorrio para ele.
— Você não esta fazendo isso, esta? – pergunta com o cenho
franzido.
— Fazendo o que? – pergunto de volta e ele olha para os lados,
como que querendo garantir que ninguém esteja prestando atenção
em nossa conversa.
— Pequeno And. – sussurra e dessa vez sou obrigada a rir.
— Não! Não sou tão louca assim, amor – respondo e And ri um
pouco sem graça. – Ele só é pequeno e vai precisar de você. Os
dois.
— Não custava perguntar. – diz, passando a mão pelos cabelos.
– Já estamos terminando aqui? Estou me sentindo claustrofóbico
aqui dentro.
— Claro. – respondo, notando seu desconforto. Tem sido assim
todas as vezes que saímos para fazer compras e descobri que se
sente mal em lojas em geral, quando demoramos. – Só vamos
pagar e depois comer.

◆◆◆

Andrew
No auge dos meus quase vinte e sete anos de vida, quando foi
que deixei de gastar dinheiro por diversão para comprar coisas
desse tipo? Para bebês? Quer dizer, estou a exatamente duas
semanas de fazer aniversário e cá estou eu, em plena sexta-feira à
noite, com minha noiva, comprando roupinhas para bebê, que
devem chegar dentro de aproximadamente um mês. É estranho
quando me lembro de quem fui há um ano.
Digo, se o meu “eu” do presente voltasse no tempo e me
dissesse: “Andrew, dentro de um ano você estará comprometido
com a mulher que você ama e prestes a ter dois filhos com ela”, eu
apenas diria que estava ficando louco e que aquilo nunca iria
acontecer comigo. Aquele não sou eu. Quer dizer, esse não sou eu.
Não estou acostumado a nada disso e, quanto menos tempo falta
para a chegada dos dois, menos preparado me sinto. É como se a
cada dia a menos, mais incerteza eu sinta e menos eu desejo isso
tudo para mim. Mas, por outro lado, tudo o que mais quero é ter
esses dois filhos e ama-los e protege-los com tudo o que eu for
capaz.
— Vou ao banheiro. – Lu sussurra para mim, tirando-me
parcialmente de meus pensamentos. – Eu já venho. – diz, dando um
beijo em mim.
— Estarei bem aqui. – respondo, colocando algumas sacolas no
chão para esperar.
Duas semanas para o meu aniversário e não sinto a menor
vontade de comemorar isso, ainda que dessa vez eu tenha todos os
motivos para fazer.
Para ser sincero, Luara não tem nem ideia de que esse dia se
aproxima e assim pretendo que continue por mais algum tempo,
porque sei que vai querer fazer algo para mim assim que descobrir e
não sou o cara que é fã de aniversários e ficar mais velho.
— Está tudo bem, lindo? – eu a ouço dizer atrás de mim, mais
uma vez tirando-me de meus pensamentos e me viro para ela.
— Eu me sinto perdido. – sussurro em resposta, apoiando-me na
parede atrás de mim.
— Com o que? – pergunta e fecho os olhos, evitando seu olhar.
– And, por favor, fala comigo.
— Com tudo.
— Compartilhe comigo. – pede e sinto suas mãos em minha
camisa, fazendo-me olhar para ela. – Por favor.
— Vamos comprar algo para comermos e falamos sobre isso.
— Eu vou cobrar. – diz e segura minha mão e seguimos até a
praça de alimentação, onde acabamos ficando com dois lanches,
fritas e o milk-shake que havia sugerido inicialmente. – E então? –
pergunta assim que nos sentamos em uma mesa mais afastada de
todo mundo.
— Eu me sinto perdido porque não sei o que fazer com duas
crianças, Lu. – digo de uma só vez e ela me olha em completo
silêncio. – Você teve todo esse tempo para se acostumar com tudo
isso, para aceitar toda essa mudança na sua vida. Mas... Quanto
mais os dias passam, menos preparado eu me sinto e mais medo
tenho. De errar, de não ser suficiente para eles e para você. De
acabar querendo fugir e te deixar sozinha.
— Você pensa em fazer isso? – pergunta e percebo o medo em
sua voz.
— Não. – respondo o que realmente sinto. – Mas sinto muito
medo de não conseguir, por que... E se eu surtar?
— O fato de que eles estejam crescendo dentro de mim não
torna as coisas mais fáceis, And. – diz. – Tem dia que tudo o que
mais quero é tira-los de mim logo e voltar a ser o que eu era antes.
Mas sei que, no momento em que eles não estiverem mais aqui –
diz, tocando as duas mãos em sua barriga e olha para mim. –, terei
ainda mais medo. Que nada mais vai ser igual para nós. E eu
preciso de você ao meu lado, por que... Bem, sei tanto quanto você
provavelmente sabe sobre bebês.
— Você tem dois irmãos.
— Me recusei a chegar perto da Camila até que ela tivesse
quase um ano e Tommy alguns meses. – responde, cobrindo o rosto
com as mãos. – Bebês me assustam, Andrew! – exclama e seguro
sua mão, chamando sua atenção para mim. – A Ju pegou o Tommy
no colo bem primeiro que eu, mas eu não posso fazer isso com
nossos filhos.
— Que belos pais nós seremos. – digo, acariciando sua mão e
ela aperta a minha.
— A questão é que não posso recusar meus filhos e tenho medo
que isso aconteça.
— Parece que Lilian tinha razão ao dizer que só descobriremos
se seremos ou não bons pais quando estiverem aqui conosco – digo
em uma tentativa de acalma-la. – Só espero que não fujamos.
— Nós vamos aprender isso junto. – sussurra e confirmo,
fazendo-a sorrir para mim. – Sabe que não que quero pegar a
licença agora, porque não quero ficar sozinha com eles, né? –
pergunta. – Quanto mais os dois se mexem, mais assustada eu fico.
— Você precisa me contar essas coisas, anjo. – peço. – Mas... –
começo a dizer, tendo uma ideia. – E se eu tirar uma semana para
ficar com você? Precisa tirar sua licença logo. E assim eu também
fico mais tempo com você até que eles cheguem.
— Um mês. – Luara diz em contraproposta e sorrio.
— Quinze dias.
— Um mês e quinze dias.
— Uma semana e uma passada de mão na bunda. – aumento. –
Pegar ou largar. Pega e não larga.
— Tá falando de que? – pergunta com o cenho franzido e acabo
rindo.
— Estou tentando tirar vantagem disso e te levar ao banheiro
aqui do shopping. – digo, piscando para ela, que parece me ignorar.
— Quinze dias a contar da próxima consulta, quando
completarmos oito meses. – diz séria. – Eu não posso ficar sozinha
em casa. Você mesmo ouviu quando meu médico disse que eles
podem chegar a qualquer momento.
— Quinze dias. – concordo e ela sorri.
— Quer ver um filme? – pergunta, mudando totalmente o foco do
assunto.
— Claro. – respondo. – Você pega os ingressos e eu guardo isso
aqui no carro.
— Por que eu compro os ingressos?
— Se eu estivesse gravido, na certa iria querer tirar vantagem
disso e passar na frente de todo mundo. – respondo e Luara ri.
— Tudo bem. Só compra chocolate para mim quando voltar.
— mas você tem um monte em casa!
— Disse certo. Em casa, não aqui. – ela sorri e mostra a língua
para mim e, quando levantamos, eu a puxo para os meus braços.
— Prometa não guardar mais seus medos para você. – sussurro
em seu ouvido e me aperta forte.
— Me prometa também não guardar os seus. – sussurra de volta
e concordo.
Capítulo Dezoito
Segunda-feira
Luara

Quando acordei hoje pela manhã, senti que estava mais disposta
do que estive em vários dias no último mês e decidi aproveitar isso
para progredir com meu trabalho de alguma maneira. Então vim
mais cedo a BIT e deixei Andrew em casa, para que ele pudesse ir à
academia.
— Bom dia! – cumprimento Daiane assim que entro no prédio.
— Oi! – exclama em resposta. – Como estão as coisas com os
garotinhos?
— Agitados. – respondo, seguindo seu olhar para minha barriga
e a toco, sentindo alguns movimentos dos meus dois bebês. –
Parece até que vai explodir. – digo e ela ri.
— Bem, aproveite essas últimas semanas o máximo que puder.
– recomenda. – Depois que nascerem você não terá mais paz. É
assim com os meus lá em casa.
— Não sabia que você tinha filhos. – digo com o cenho franzido.
— Dois meninos. – responde. – Um de quatro e outro de nove
anos. Já nem sei mais qual é o pior.
— Meu irmãozinho esta nessa também. – sorrio em resposta. –
Tudo para ele é brincadeira. Tanto que todas as vezes que vamos a
São Paulo, ele arrasta o And para alguma bagunça e ficam horas lá
brincando.
Ao dizer isto, o sorriso que surge em meu rosto ao me lembrar
do dia em que And apresentou a “cabana de cobertores” ao Tommy
é inevitável.
— Eles se dão muito bem, então. – ela comenta e preciso
concordar, porque tudo tem sido tão mais tranquilo desde que
conversamos com meus pais sobre o noivado. Tão mais... Ah!
— Preciso subir. – digo, mudando de assunto. – Tenho que
adiantar meu trabalho o máximo que conseguir e Andrew está
convencido de que tenho que tirar a licença logo e não quero deixar
nada parado.
— E ele tem razão. Por mais lindo que eu esteja achando esse
seu barrigão, não é muito seguro continuar trabalhando com ele.
— Obrigada. – digo um pouco mais baixo, sentindo o rosto corar.
— Vou te deixar trabalhar e voltar ao meu também. – sorrio em
resposta e sigo para o elevador, onde preciso subir com alguns
outros colegas de trabalho de setores diferentes e cumprimento
cada um deles. O que me faz demorar a chegar ao meu andar, já
que o elevador vai parando sempre.
*
— Bom dia, meninos! – cumprimento o pessoal do TI que já
chegou assim que passo pelo corredor e sou recebida com sorrisos,
piadas sobre minha barriga e muito carinho que eles sempre
demonstram pelos meus filhos desde que souberam da existência
deles. – Gui. – chamo o programador que foi contratado para ficar
no lugar de Bruno e que esta aqui praticamente desde que voltamos
de Nova Iorque. Ele me faz lembrar Victor em vários aspectos, mas
nunca conversei com ele além do necessário.
— Sim? – pergunta, virando-se para mim.
— Quando todo o pessoal chegar, diga para que me esperem
todos na sala de reunião às dez horas, por favor. – peço. – Preciso
conversar com todo mundo sobre algo.
— Pode deixar. – ele diz aparentemente preocupado. – Esta tudo
bem?
—Esta sim. Não vou demitir ninguém não. Fique tranquilo. – digo
e ele ri. – Só quero ter uma conversinha com todo mundo, já que
não poderei continuar no trabalho muito mais tempo.
— Tá. Pode deixar.
— Obrigada. – sorrio para ele, terminando meu caminho até
minha sala, onde posso finalmente me sentar acompanhada de uma
garrafa d’água e trabalhar. Ou assim planejava, já que batem em
minha porta. – Esta aberta! – digo sem nem mesmo desviar a
atenção do computador.
— Olá, mamãe. – reconheço a voz de Pedro.
— Oi. – eu o cumprimento de volta, finalmente olhando para ele.
— Vim ver como os pequeninos estão.
— Me deixaram ter uma noite inteira de sono. – respondo. –
Então, apesar de estarem mega agitados aqui, eu não estou nem
ligando.
— É o que importa. – diz e concordo.
— Pedro. – chamo e ele ergue uma sobrancelha para mim. –
Estive conversando com Lilian esses dias, para fazermos uma festa
surpresa de aniversário ao And.
— Ele não te contou nada ainda? – pergunta e faço uma careta.
— Não! – exclamo, indignada. – Dá para acreditar que meu
noivo esta escondendo o próprio aniversário de mim?! Não tô
acreditando que só descobri por um descuido dele, por ter me
pedido para entregar um documento a Ana.
— Alguém vai ficar de castigo quando ficar sabendo que você
descobriu isso sozinha. – diz e acabo rindo.
— Pode apostar que sim. – respondo. – Mas quero fazer algo
especial para ele. Algo que ele nunca vá esquecer.
— Alguma ideia?
— Está tudo certo para ser na casa dos pais dele e vou precisar
arrumar uma boa desculpa para conseguir levar ele lá. – respondo.
– Mas isso até que é fácil. Então que não faço ideia do restante.
— Se quiser, conheço um DJ e sou fera com festas. Posso ver
isso para você.
— Sério? – pergunto, sentindo-me mais animada.
— Sim. Claro.
— Você fica encarregado disso então. – sorrio. – Tudo o que
precisar, é só me dizer que dou um jeito de arrumar. Os convidados
eu cuido. – franzo o cenho. – Não precisa ser nada muito grande.
Só algo que ele vá lembrar sempre. E depois tem algo que quero
fazer para ele, já que iremos pegar as chaves do nosso apartamento
no dia.
— Você com esse barrigão e não perde o fôlego ein, mulher. –
Pedro diz bem para me provocar e sorrio um pouco sem graça. Mal
sabe ele que Andrew e eu aproveitamos e muito ainda e assim
pretendo até que o Matt e a Li cheguem e eu precise entrar de
quarentena. – Quem diria que a noiva briguenta do presidente ainda
consegue ser uma boa pessoa.
— É melhor você ir trabalhar e me deixar fazer o meu. – digo
com uma careta e Pedro sai rindo de minha sala.
Por mais que eu odeie admitir, sei que tenho sido uma pessoa
impossível de se conviver e quem mais sobre com isso é Andrew, e
ele não faz absolutamente nada para que eu fique irritada. Na
verdade, só de sentir o cheiro dele já fico assim. O que chega até
ser irônico, já que todos os dias ele é tão carinhoso comigo. Sua
atenção, o carinho que me da e a forma com que ainda nos
amamos todas as noites...
Com um suspiro, pego meu celular e digito uma mensagem para
Julie, convidando-a para vir ao aniversário de Andrew e ela confirma
sua presença logo em seguida, dizendo que vai adorar.

◆◆◆

Andrew
— Ana. – chamo irritado assim que saio de minha sala e ela pula
no lugar.
— Senhor?
— Sabe onde Luara esta? – pergunto e ela rapidamente começa
a conferir a agenda em seu computador.
— Reunião no andar com o setor. – responde após poucos
minutos. – Ela tinha marcado para de manhã, mas como precisou
participar de outra, remarcou para agora.
— Obrigado. – digo, voltando para minha sala apenas para
pegar minhas coisas e saio outra vez, trancando a porta atrás de
mim. – Estou indo para casa. – falo. – Se alguém ligar perguntando
por mim, diga que estou em reunião fora da empresa e que não
quero ser incomodado.
— Sim, senhor.
Com isto, sigo até o elevador para descer até o andar de Luara
apenas para poder lhe dizer que estou indo para casa mais cedo,
antes que acabe xingando alguém ou até mesmo demitindo alguém.
O que não seria muito justo.

— Se você não ficar quietinho ai, vou te desligar. – reconheço a


voz de Luara e franzo o cenho. Para quem foi isso?
— Agradeça por ser apenas isto. – outro rapaz diz. – Nós
corremos risco maior aqui.
Caminho até a porta aberta e me apoio ao batente, observando.
— Pelo amor de Deus! – Luara diz mais alterada. – Vocês estão
na escola e sou a professora? É isso?
— Por favor, gente. – o rapaz que contratei para ficar no lugar de
Bruno diz. – Se vocês não se comportarem, vou pessoalmente
retirar a ideia de sairmos mais cedo hoje para beber e vocês vão ter
que fazer hora extra sem receber ainda.
— Estamos só brincando! – Mateus, um antigo programador, diz.
— Nossa! Vocês todos são um bando de interesseiros. – Luara
diz. – Enfim. Chamei vocês aqui para poder apresentar o empenho
de todos nos últimos meses e para falar sobre minha licença
maternidade, que deve ser dentro dos próximos dias.
Passo a mão pela barba, prestando atenção em cada palavra do
que ela diz a cada um deles e a maneira com que cobra mais
dedicação daqueles que precisam. Que não quer ter que deixar
alguém tomando conta do setor enquanto estiver fora, porque já são
adultos para cuidar do próprio trabalho e que só quer que ensinem
ao menor aprendiz o que for preciso.
Ela esta se saindo bem até. Apesar das piadinhas no começo.
— Agora, Igor... – ela chama a atenção dele, que esta
participando da reunião por videoconferência.
— Lá vem bomba.
— Na verdade, não. – corrige. – Eu ia dizer que você tem
melhorado consideravelmente nos últimos meses e feito por
merecer estar ai.
— Obrigado. – diz sem jeito.
— Eu quero que todos vocês estejam com altos em tudo aqui. –
Lu volta a falar com eles. – Principalmente porque os gêmeos vão
querer presentes de cada um. Então tratem de mudar isso logo,
porque não vai muito mais para eles nascerem. – sorrio com seu
comentário e ela da continuidade, falando dos novos contratos e
alguns outros assuntos. – Alguém tem alguma dúvida? – pergunta
logo que termina.
— Eu tenho. – Igor é o primeiro a falar.
— Manda.
— Tem como separar alguns desses clientes mais simples para
eu dar para os meus garotos aqui? – pede. – Eles não têm muita
experiência, mas são bons no que fazem.
— Andrew já deixou separado para vocês todos os clientes ai da
região sul. – responde e confirmo com a cabeça. – Perto da
inauguração ele vai conversar com você sobre isso.
— Beleza.
— Gente, agora falando sério. – Luara começa outra vez, indo
mais para frente com sua cadeira. – Eu só vou continuar aqui com
vocês até o final do mês e depois só daqui alguns meses, porque
vou precisar ficar com a Alice e o Matthew o máximo que puder. –
diz, levando as mãos ao coração e sorrio com a encenação, embora
saiba que ela adora cada um deles aqui. – Mas vocês podem ir nos
visitar e levar presentes. Ok? – ela então faz uma pausa para tomar
água. – A questão é que não quero mesmo ter que colocar um de
vocês na frente dos outros no meu lugar, porque confio em todos.
Sabem que vão poder me ligar se precisar e até mesmo pedir ajuda
ao Pedro. Mas vou gostar mais se vocês se unirem e trabalharem
como a equipe que são e só ajudassem Henrique em tudo o que ele
precisar.
— Pode deixar com a gente, chefinha. – Mateus diz, bagunçando
o cabelo do garoto que é menor aprendiz. – Quando você voltar, ele
vai ser um homenzinho de verdade.
— Ei!
— Sem judiarem dele! – pede. – Mais alguma pergunta?
— Até quando você vai ficar? – Cláudio pergunta.
— Provavelmente última sexta-feira do mês. – diz em resposta e
arqueio a sobrancelha. Não sabia que ela já tinha decidido uma data
e que essa era meu aniversário. – Ou na quinta. O que seria melhor
para mim. Mas tudo vai depender das orientações do meu médico.
— Vamos organizar uma despedida para você. – diz. – Um chá
bar.
— Vou gostar disso. – Luara diz e percebo o sorriso em sua voz,
instante antes de empurrar sua cadeira para trás, vindo em minha
direção e a seguro antes de bater em mim.
Sem virar, ela segura minha mão e percebo quando fica tensa ao
tocar a aliança em meu dedo.
— Oi. – digo e ela ergue o olhar para mim.
— Oi. – responde. – Há quanto tempo está ai?
— Uma hora. Aproximadamente.
— Não está ai há tanto tempo.
— Na verdade ele chegou quando você ameaçou desligar o Igor.
– Henrique diz baixinho e os outros riem.
— Sério? – Lu pergunta e confirmo. – Ainda bem que não
estávamos falando mal de você. – ela ri, visivelmente nervosa. –
Bem, já terminamos por aqui. Então se quiserem ir arrumando as
coisas para o nosso café...
— Henrique, você arruma. – Cláudio diz. – Os outros ajudam
aqui.
— Bom, o papo estava bom, mas tenho que cuidar dos guris
aqui. – Igor diz. – Dar uma fiscalizada.
— Preciso falar com você depois. – falo antes que ele desligue.
— O que você precisa falar com ele? – Luara pergunta curiosa,
colocando sua cadeira no lugar e desliga o computador que usava.
— Sobre a inauguração do escritório e uma possível promoção.
– respondo e ela sorri, surpresa. – Comentei com você que
pretendia fazer isso com ele.
— Sim, eu sei! E estou feliz por ele. – diz e sorri mais ainda. –
Tem certeza de que não quer ir sem mim? – pergunta e faço que
não.
— Tenho outros planos para nós, Anjo. – digo.
— Que bom, porque não tinha a intensão de te deixar ir mesmo.
– diz, dando um beijo em mim. – Queria algo comigo? Ou com
algum deles?
— Só vim ver como estava se saindo. – respondo, observando a
movimentação de sua equipe. – Tirando o fato de que deixa eles te
zoarem a maior parte do tempo, você se saiu bem. Mas ainda
precisa melhorar bastante para um cargo maior.
— Cargo maior? – pergunta com o cenho franzido.
— Sim. Com o tempo e um pouco de conhecimento pela
empresa, você consegue subir para qualquer área. – falo,
lembrando-me da conversa que tive com João a pouco e quais são
as intenções dele. – Quando voltar da sua licença, podemos
conversar melhor sobre isso.
— Gosto do meu setor. – responde de pronto. – Gosto de estar
com esse pessoal e das brincadeiras deles. Principalmente do meu
trabalho.
— Mas existem várias outras áreas onde você pode trabalhar
menos e ganhar mais, fazendo praticamente a mesma coisa.
— Está preocupado com o fato de que sua futura esposa seja de
um cargo tão inferior ao seu? – pergunta em um sussurro para que
apenas eu possa ouvi-la e percebo que esta irritada. – Achei que já
tivéssemos conversado sobre isso, Andrew. – diz e solta à mão da
minha, mas torno a segura-la antes que se afaste. Mas que merda!
Eu só vim para conversarmos e isso vira uma discussão!
— Não me importo com isso, anjo. – digo. – Apenas quero te dar
a oportunidade de conhecer toda a empresa. Quero você do meu
lado, trabalhando comigo.
— Podemos conversar sobre isso outra hora? – pede e confirmo,
já que não quero brigar com ela. – Eu ainda estou nervosa com
essa reunião e a maneira com que ela saiu. Acho que foi melhor do
que esperava para uma primeira vez.
— Você se saiu bem. – sorrio.
— Alguém pode me ajudar aqui? – Henrique pede, tentando
passar pela porta com algumas caixas de salgados e vou ajuda-lo. –
Obrigado, senhor.
— Sem pressa, garotão.

◆◆◆

Luara
— Você vai embora com seu carro? – Andrew pergunta assim
que volta até onde estou e faço que sim com a cabeça.
— Quero passar de um lugar antes de ir para casa. – respondo.
– Não precisa me esperar. – completo e ele franze o cenho. – Esta
tudo bem? Aconteceu algo?
— Dia estressante só. – responde, dando um beijo em meu
rosto. – Vou para casa mais cedo. Se quiser sair com eles para o tal
“trote” do Henrique, tudo bem.
— Você não esta legal, And. – falo. – Estou percebendo isso
pelo seu olhar.
— Preciso relaxar a cabeça só. Tudo estava conspirando para
ser uma grande porcaria hoje.
— Eu... – começo a dizer bem quando me da um beijo nos
lábios.
— Só me avise se for sair com eles. – pede, passando a mão por
meu rosto e concordo, pouco antes de se afastar de mim e sair.
Não tem a menor possibilidade de eu sair com os meninos
sabendo que algo esta incomodando meu And tanto a ponto dele
precisar tirar um tempo para relaxar! Assim que eles saírem, irei
direto para casa, para tentar conversar e descobrir o que aconteceu.
É o mínimo que posso fazer por ele.

Chego a nossa casa de praia a tempo de ver Andrew deixar seu


chinelo em um canto e começar sua caminhada, acompanhada por
um alongamento e, por fim, uma corrida.
Guardo o carro na garagem e vou pegar seu chinelo, voltando
para casa. Na verdade é uma casa grande de dois andares, linda e
de frente para a praia, não muito longe da gruta onde nos
reencontramos meses atrás. Tenho adorado passar esse tempo aqui
com And e tenho certeza de para onde ele esta indo nesse exato
momento e é por isso que vou trocar de roupa, decidida a ir atrás
dele. Saber que algo o esta incomodando não me deixa feliz e
preciso saber o que é para tentar ajuda-lo de alguma forma.

◆◆◆

Andrew
— Há quanto tempo não venho aqui. – digo, finalmente parando
de correr e caminho até a gruta, onde há uma pedra frente a sua
porta.
Dou uma breve olhada dentro da gruta, vendo que tudo continua
exatamente como eu me lembrava. Altura suficiente para um
homem de dois metros e largura de três metros, com um pequeno
laguinho no meio, dividindo os dois lados e peixinhos nadando em
círculos, presos e aguardando a chegada da próxima maré, para
que possam voltar ao mar.
Sinto a água fria em meus pés quando caminho até a pedra na
ponta do mar para me sentar. Ela esta um pouco escorregadia,
mostrando que a maré baixou há bem pouco tempo.
Depois de conhecer Luara, não devo ter vindo até aqui mais do
que cinco vezes, tendo sido a primeira logo no primeiro domingo,
depois de conhecê-la. Mas naquele dia nem mesmo entrei, achando
absurda a ideia de que uma garota pudesse estar aqui durante toda
aquela chuva. Mas ela estava.
A segunda vez foi logo depois de voltarmos juntos de São Paulo,
quando eu tentava entender aquilo que começava a sentir por ela e
a terceira quando me pediu um tempo, depois de tê-la machucado.
Assim que sai de seu apartamento, precisava respirar e acalmar
minha mente de tudo o que estava acontecendo.
Passo a mão pelo rosto para secar o suor e tirar os fios de
cabelo que estão colados.
A quarta vez foi logo que voltamos de Nova Iorque. Eu estava
feliz com a notícia de que teríamos um filho juntos e por estarmos
tão bem. Era como se nada no mundo pudesse destruir aquilo que
tínhamos.
Ilusão.
Então veio a quinta vez, que foi depois de todo aquele teatro do
Bruno no final do ano, só para nos separar.
— E esta é a sexta vez. – sussurro, lembrando-me de cada uma
dessas coisas como se tivesse acabado de acontecer.
Conhecer Luara, meu anjo, fez minhas visitas a este lugar
diminuírem de maneira significativa. Em quase nove meses, fiz o
equivalente ao que fazia em um mês. Ou uma semana.
Ter alguém que realmente se importasse com o que eu tinha a
dizer, que não ligava a mínima para o nome que carrego e menos
ainda para os rótulos da minha vida, me mostrou que se for pela
pessoa certa, vale a pena ser alguém melhor. Ou no meu caso:
voltar a ser o que sempre fui. Aquele garoto romântico que gosta de
momentos simples e que enterrei dentro de mim durante anos
depois de tê-la conhecido a primeira vez.
Talvez agora eu seja uma versão 2.0, melhorada.

◆◆◆

Luara
Quando chego à gruta, vejo Andrew sentado sobre a pedra que
fica de frente para o mar, totalmente distraído. Aproveito isso para
me aproximar dele sem ser notada e toco suas costas, soprando em
sua nuca.
— Agradeço o convite, mas já sou comprometido. – diz e sorrio,
abraçando meu menino perdido e confuso e beijo suas costas.
— É bom saber que sentir uma coisa dura atrás de você não te
excita. – digo em resposta, tentando uma distração. Ele apenas vira
de frente para mim e segura minhas mãos.
— O que faz aqui? – pergunta.
— Caminho até a porta aberta e me apoio ao batente,
observando.
— Vi você sair para correr e percebi no trabalho que tinha algo
errado com você. – respondo, beijando seus lábios. – O que houve?
— Alguns dos sócios e diretores acham que meu pai agiu
precipitadamente ao me dar o cargo de presidente da BIT com
apenas vinte e dois anos. – diz de uma só vez e arqueio as
sobrancelhas. O que?! – Acham que não tinha maturidade suficiente
naquela época para gerir os negócios e tenho menos ainda agora
que engravidei uma garota que, segundo eles, mal conheço, já que
agi de maneira ainda mais precipitada por cogitar casar com ela.
Mordo o lábio ao ouvir sua sinceridade e não sei o que falar.
Sobre os dois pontos que me confessou. Mas, ainda assim eu tento.
— Se seu pai achou que você estava pronto para isso, tenho
certeza de que não agiu precipitado. – falo. – Victor, melhor de que
ninguém, conhece o filho que tem e do que ele é capaz. Não dê
ouvidos ao que eles dizem, só porque acham algo errado.
— Obrigado. – ele sorri para mim e sinto suas mãos em minha
barriga, puxando-me para perto dele. – Acho que entre todos os
erros que cometi ao longo da minha vida, principalmente como
presidente, te pedir em casamento foi meu maior acerto. – Ai meu
coração! – Não me importa que eles sejam sócios ou diretores. Da
mesma maneira com que nunca deixei meus problemas particulares
interferirem na minha vida profissional, não vou deixar que ninguém
do trabalho queira dar palpite nas minhas decisões pessoais.
— O que João acha disso? – pergunto, sabendo que ele é a
única pessoa de quem Andrew aceita opinião.
— Ele diz que fui sensato e que agi da maneira correta. –
responde. – Que não fui precipitado em ouvir meu coração e que
melhorei muito desde que começamos a sair, principalmente nas
decisões do trabalho.
— E isso importa para você? – torno a perguntar. – A opinião do
seu vice-presidente?
— Sim. Muito. – responde após algum tempo e sorrio,
abraçando-o.
— Tem mais algo que você quer me dizer. – digo, passando a
mão pelo v entre suas sobrancelhas e ele sorri.
— Não é nada. No momento certo você vai ficar sabendo. – diz
em resposta e sorrio, notando a lua cheia pouco atrás dele.
— Não se mexe. – peço, tirando o celular do bolso.
— Por quê? – pergunta bem quando tiro uma foto sua.
— Ficou linda! – exclamo, mostrando para ele.
— Não achei tanto. – responde, pegando o celular de mim e me
vira de costas para ele, tirando uma nossa. – Essa sim ficou linda. –
diz, dando um beijo em meu rosto.
— Ah! – o gritinho me escapa e viro de frente com ele outra vez.
– Diga “xis”. – peço e o beijo, tirando uma segunda foto nossa e ele
sorri. – Vem comigo. – sussurro contra sua boca.
— Para onde? – pergunta e seguro sua mão, ajudando-o a
descer.
— Para um lugar onde há muito não aproveitamos. – digo e ele
sorri, permitindo que o leve para dentro da gruta, onde fazemos
amor bem gostoso por duas vezes.
Capítulo Dezenove
Sábado
Andrew

Quando acordo às oito horas da manhã, Luara já não esta mais na


cama. Ela certamente levantou mais cedo e foi fazer sua caminhada
ao redor do chalé aqui em Petrópolis, assim como tem feito desde
que chegamos quarta-feira à noite. Decidimos prolongar nosso
feriado assim, bem em cima da hora e depois de um dia cansativo
de trabalho. Apenas os dois. Sem família ou amigos, sem BIT ou
secretária ligando ou quem quer que seja. Até mesmo sem telefone
celular, além da câmera para gravarmos esse momento.
Este foi o acordo que fizemos para que os dois se acalmassem
ao invés de ceder as brigas que batiam a nossa porta.
— Bom dia, dorminhoco. – ouço sua voz logo que saio do banho.
— Bom dia, anjo. – respondo com um beijo em sua testa. – Esta
tudo bem?
— Só nossos dois pequenos aqui que devem estar lutando Muay
Thai. – ela ri. – Devo estar com o útero todo roxo de tantos chutes e
socos que estão dando aqui dentro.
Sorrio com a maneira com que ela descreve a situação e sento-
me ao seu lado na cama, colocando a mão em sua barriga para
sentir.
— Vamos ter que prestar atenção quando eles nascerem, para
poder descobrir quem estava apanhando ai dentro. – comento e ela
ri. – Assim vamos castigar o certo.
— Não vou castigar nenhum deles a menos que façam algo
realmente errado ou sério. – sorri em resposta, colocando sua mão
sob a minha. – O que eu espero de verdade que isso leve, pelo
menos, cinco anos. Não sei se vou ser capaz de colocar meus
amores de castigo. Independente da arte que fizerem.
— É um tempo muito longo para que dois Brudosck-Giardoni
passem sem brigar. – digo, levantando outra vez. – Não sei se eles
resistem tanto tempo.
— Também acho. – concorda e sorrio. – Podemos ir tomar café?
Estou morta de fome.
— Achei que já tivesse comido. – digo, começando a me vestir.
— Fui só andar um pouco. – responde. Sua atenção toda em
mim. – Sabe, você não tem estado muito romântico ou atencioso
essa última semana. – muda de assunto de repente e passo a
camisa pela cabeça, segurando-a no meio do caminho.
— Não? – pergunto e ela balança a cabeça em negativo. – E
como posso te compensar por esse descuido meu?
Com os lábios vermelhos pelo batom que usa, Luara sorri para
mim e levanta, ficando bem na minha frente e termino de arrumar a
camisa no lugar, encarando-a.
Ela esta linda com seu vestido florido com cores quentes como o
sol e o cabelo preso em um rabo de cavalo bem para o alto. Seus
óculos posicionados sobre a ponte do nariz.
— O que você pode fazer para me compensar? – pergunta,
correndo as unhas por meu peito e sinto um calafrio percorrer meu
corpo de cima a baixo, até que passa as unhas também em meu
rosto, bem de leve e devagar. – Surpreenda-me, gatão. – sussurra e
me beija.
— Acho que vamos ter que deixar o café da manhã para um
pouco mais tarde, porque estou tentado a te levar para a cama
nesse instante. – digo com a voz pesada quando se afasta, ainda
segurando meu rosto.
— E se eu disser que por mim tudo bem? – pergunta com um
sorriso safado e cheio de malicia.
— Se disser isso, eu vou fazer.
— Então faz.
Sorrio com sua resposta curta e direta e a beijo, levando a nós
dois de volta para a cama.
◆◆◆

Luara
Enquanto caminho com And perto do rio, tento manter a atenção
em um único lugar aqui neste rancho. Mas é praticamente
impossível, já que tudo é tão lindo e novo para mim.
Desde que chegamos nossos passeios tem sido curtos ou de
carro, já que a Li e o Matt não me deixam andar mais do que alguns
passos sem que eu me sinta extremamente cansada.
Minha barriga esta grande. GIGANTE! E eu olho para ela no
espelho depois do banho ou em qualquer outro momento e conto,
ansiosamente, os dias que faltam até que eu os tenha em meus
braços. E tudo o que eu sinto quando me vejo segurando os dois é
uma felicidade que apenas me deixa ainda mais nervosa do que já
estou. E... O que tem me distraído um pouco disso tudo é o fato de
que estou preparando essa festa surpresa para o And.
— Sabe onde eu gostaria de estar hoje? – pergunto quando
encontro uma árvore grande e com uma sombra deliciosa e And me
ajuda a sentar.
— Onde? – pergunta de volta, sentando ao meu lado e deita em
meu colo.
— Nova Iorque.
— Por quê?
Sorrio com sua pergunta.
— São tantos motivos que tenho para isso, meu lindo. –
respondo. – Tantas coisas boas aconteceram lá, que mudaram
minha vida de uma forma que nunca imaginei antes.
— E...
— E também porque deve estar um tempo tão delicioso lá, onde
eu poderia usar umas roupas fofas e felpudas. – respondo,
apoiando a cabeça no tronco da arvore e ele ri. – Eu não aguento
mais todo esse calor, And. – choramingo. – Eu não nasci para isso.
— Você iria adorar Londres. – diz, ignorando totalmente o que eu
digo. Ou parte dele. – Poderíamos passar nossa lua de mel lá. –
olho para ele, que retribui meu olhar com uma sobrancelha
arqueada e resolvo brincar:
— Então quer dizer que pretende atrasar nosso casamento?
— Estou louco para eliminar de vez toda a concorrência. –
responde. – O que te faz pensar que quero isso?
— Porque não tem como eu largar meus dois amorzinhos e
viajar sem eles. – digo. – E também não é lua de mel se estivermos
com eles o tempo todo.
— Londres. – Andrew diz com um sorriso de lado e ergue a mão
para colocar no lugar a mecha que sempre me escapa. – A cidade
onde meus pais vivem e não vão demorar muito mais a voltar. – e
faz uma pausa. – Minha mãe não se incomodaria nada de ficar com
eles. E eu menos ainda de viajar por toda Europa com as três
pessoas que mais amo.
— Europa? – pergunto interessada, ignorando a ideia de deixar
meus filhos com sua mãe. Não por não confiar nela. Muito pelo
contrário. Massss...
— Inglaterra, França, Itália, Portugal... – diz e fecha os olhos
quando passo a mão por sua barba por fazer. – Quero apresentar o
mundo a você, anjo.
— Você conhece todos esses lugares? – pergunto ainda mais
interessada e ele confirma. – Tem algum lugar onde você não tenha
ido?
— Tem um. – responde.
— E qual seria ele?
— Eu só vou te contar se você aceitar fazer tudo isso comigo. –
diz. – Apenas nós dois e nossos pequenos.
Por algum tempo eu o encaro, indignada com sua cara de pau
por tentar me chantagear dessa forma, mas ainda mais curiosa para
saber o que ele tem em mente. O que sei que ele é capaz de muitas
coisas lindas e surpreendentes.
— Acho que tudo bem se nós fizermos uma viajem em família ao
invés de termos uma lua de mel só nós dois. – respondo. – Vai ser
ainda melhor se eles estiverem conosco. Foi até por isso que
decidimos nos casar depois que eles nascessem e não antes.
— Ainda estou surpreso com sua ideia de fazer o batizado com o
casamento. – And ri e acabo o acompanhando.
Sim, essa ideia foi a melhor que tive. Essa e a da Li e o Matt
estarem com roupinhas que sejam modelos infantis do meu vestido
e do terno dele.
— Sabe o que não me surpreenderia em nada se acontecesse
esse final de semana? – ele pergunta, passando a mão por minha
barriga e sinto um forte chute, que me faz fazer uma careta.
— O que? – pergunto curiosa.
— Se eles resolvessem nascer logo enquanto estivermos aqui. –
diz e sinto o calafrio percorrer minha espinha.
— Não diz isso nem de brincadeira, Andrew! – exclamo. – Esta
muito cedo para isso e não sei se estou pronta.
— Nós estaremos no momento certo. Não foi o que você mesma
me disse esses dias? – sorrio, concordando.

◆◆◆

Andrew
— Lindo. – Luara me chama assim que entra no quarto, enrolada
na toalha.
— Sim?
— Você não vai mesmo me contar aonde iremos essa noite? –
pergunta curiosa e sorrio. Claro que ela ia perguntar o que tenho
planejado para esta noite. Curiosa como é.
— Pediu para que te surpreendesse. – sorrio em resposta e ela
me olha de cara feia.
— Você é mau, Andrew. – diz e me da às costas, começando a
se arrumar. – O que é seu está guardado.
Franzo o cenho para sua última frase, mas decido não
questiona-la sobre o porquê disso.
No momento em que disse esta manhã que eu não estava
romântico, decidi que a levaria para conhecer a cervejaria Bohemia
aqui na cidade. E isso me custou um pouco, já que fiz uma reserva
para esta noite.
— Tenho certeza de que você vai gostar, anjo. – falo, pegando a
carteira e a chave do carro para guarda-los no bolso.
— Acho que vamos a algum restaurante. – comenta, olhando-me
pelo espelho.
— Já que a ideia de sairmos era para te surpreender, acho que
não precisa mais, né. – digo, jogando-me na cama. – Posso ficar
aqui.
— Você foi muito obvio, amor. – ela sorri e sobe na cama
comigo. Mais precisamente em minhas costas, e vai subindo suas
mãos por baixo de minha camisa. – Mas posso fingir surpresa. –
sussurra em meu ouvido e sinto sua barriga dura tocando minha
pele, causando um calafrio por todo meu corpo.
— Lu. – chamo e viro o rosto para poder vê-la. Quando aproxima
o rosto de mim outra vez, eu a viro de costas para cama, colocando-
me em cima dela, que segura meus braços.
— Oi? – pergunta com um sorriso tímido e meigo, na qual me
vejo retribuindo.
— Eu não vou te entregar fácil assim aonde iremos. – dou um
beijo em seus lábios e ela abre a boca em um pequeno e perfeito “o”
de indignação. – Você me pediu romantismo e surpresa. Não seria
tão previsível assim.
— Aiiiii! Não faz isso, And! – exclama. – Me diz. Por favor!
— E o que ganho em troca se te disser? – pergunto, ainda que
não esteja interessado em contrapropostas.
— O que você quiser. – responde e beijo seu peito, puxando um
pouco a toalha para solta-la de seu corpo e desço beijando-a, até
que esteja na altura de sua barriga, que esta sempre tão linda para
mim. – Mas eu realmente gostaria que jantássemos antes disto. –
diz, juntando um pouco do meu cabelo em suas mãos. – Você
precisa cortar esse cabelo. – sussurra com a voz pesada quando
coloco minhas mãos dos dois lados de sua barriga, sentindo alguns
movimentos.
— Como você quer que eu o deixe? – pergunto, desta vez
interessado e ela faz uma careta, considerando minha pergunta.
— Vou pensar em algo que realmente seja seu perfil e te digo. –
responde e concordo.
—Que tal se você terminasse de se arrumar para irmos? O lugar
aonde iremos não vai demorar muito a fechar.
— Ah... – ela franze o cenho. – Por que ir a um lugar que já esta
para fechar?
— É onde entra a surpresa. – respondo com um último beijo em
sua barriga e outro mais demorado em seus lábios. – Acho melhor
eu ir me arrumar. – diz quando afasto e saio de cima para que possa
se arrumar.
Luara levanta e veste seu short junto de uma camisa branca, que
na verdade é minha, e que fica extremamente sexy nela, junto de
nada além de um par de chinelos. Os cabelos soltos, caídos sobre
os ombros.
— Pronta? – pergunto quando vira outra vez para mim e sento
na cama.
— Mais do que pronta. – responde. – Na verdade, estou até
pensando em te compensar se você realmente conseguir me
surpreender esta noite.
— Tem certeza? – sorrio de lado e ela confirma. – O que eu
quiser de você?
— Qualquer coisa que quiser, gatão.
— Independente do que eu quiser que faça?
— Independente de qual for sua fantasia sexual. – diz. – Não vou
deixar meu noivo de saco roxo. – e pisca para mim, fazendo-me
gargalhar.
— Isso você tem se certificado muito bem. – pisco de volta. –
Trato feito então, gatona.
Ela então estende a mão para mim e a seguro com um aperto
forte e um beijo nas costas de sua mão.
— Estarei ansioso por isso.
— Eu também.

◆◆◆

Luara
Andrew dirige pela noite, enquanto tenho minha atenção voltada
para cada canto desta linda cidade, na qual só consigo me
apaixonar a cada vez que venho aqui. Ainda que as outras viagens
antes desta tenham se resumido a ficar na fazenda na maior parte
do tempo.
À noite esta com um tempo fresco, típico de uma cidade que fica
na serra e tudo o que consigo, é imaginar o calor que faz no Rio
hoje. O que não me agrada muito.
— Aonde iremos? – pergunto quando ele para em um lugar
afastado.
— Espera aqui. – pede e desce do carro, vindo abrir a porta para
mim. – Consegue andar por duas ruas? – pergunta, ajudando-me a
descer.
— Se for só isso, sim. – respondo, aceitando o braço que me
oferece.
— Não é longe. – diz e começamos uma caminhada a passos
lentos pela calçada até o outro lado do quarteirão, onde vejo um
grande prédio com aparência antiga.
— Cervejaria Bohemia. – leio, olhando para ele, que sorri. – Por
essa eu realmente não esperava.
— Você nem sabia que tinha isso aqui, Anjo. – diz e tento
parecer ofendida com sua insinuação.
— Como ousa?! – pergunto. – Não sabia mesmo.
Ele ri e ergue minha mão até sua boca e a beija.
— Faz algum tempo que quero conhecer este lugar. – comenta.
– Então que decidi te surpreender.
— O mais engraçado é que você trouxe uma mulher grávida a
uma cervejaria, meu lindo. – digo e ele franze o cenho.
— Eu não disse que seria a única surpresa que teria essa noite.
– mais uma vez Andrew sorri, mas tudo o que consigo fazer é
apertar forte sua mão quando subimos outro lance de calçada,
sentindo uma dorzinha incomoda.
— Esta tudo bem? – ele pergunta preocupado e aperto os olhos.
— É só uma dorzinha de leve.
— Quer voltar? Posso pedir uma pizza e comemos no chalé.
— Estou bem, And. Já passou. – respondo e olho para ele, que
tem uma expressão de pura preocupação no rosto. – É sério! –
exclamo. – Eu te aviso se for algo mais que isso. Prometo.
Concordando com a cabeça, Andrew passa o braço por minha
cintura e continuamos com a caminhada até o prédio do outro lado
da rua, que agora parece até ser bem longe para mim.
— É por isso que você tem que tirar sua licença maternidade
logo. – Andrew diz assim que chegamos à porta da cervejaria.
— Eu só vou mais até quinta-feira. – reviro os olhos bem quando
ele vira para falar com um senhor alto e de aparência gentil, que nos
leva até nossa mesa, entregando um cardápio para cada, mas
acabamos ficando com a dica da noite, que eu não faço ideia do que
seja.
— Você esta bem mesmo, Anjo? – And pergunta preocupado
logo depois do garçom servir sua cerveja e meu suco.
— Estou sim, lindo. – digo, segurando sua mão por cima da
mesa. – Pretendo segurar esses dois aqui dentro por mais algumas
semanas ainda. – ele sorri para mim e vejo suas covinhas, apesar
da barba.
— Estou louco para conhecê-los, mas até mesmo eu sei que
ainda é cedo para isso.
— Prometo que se ficar mais forte eu te aviso. – falo, beijando
meus dois indicadores para selar minha promessa. – Até porque,
acho que você perceberia que algo não esta certo só pelo tanto que
eu gritaria com você.
Andrew sorri um pouco mais aliviado, mas ainda percebo a
preocupação em seu rosto, muito provavelmente se perguntando se
fizemos bem por vir aqui hoje ou até mesmo por termos vindo
passar o feriado na cidade. O que me faz sentir um pouco de culpa.
— Quantas vezes você já veio até aqui? – pergunto para mudar
de assunto.
— Algumas várias. – responde e franzo o cenho. – Nossa
fazenda fica a poucos quilômetros da cidade, então que costumava
vir bastante à cidade com meu pai ou Manoel.
— Faz sentido. – sorrio. – E nunca veio aqui?
— Tem vários lugares nesta cidade onde ainda não me permiti
conhecer. – responde. – Tudo é questão de oportunidade.
— Espero que me deixe ir com você a esses lugares.
— Neste momento estou pensando em ir com você até a igreja
aqui do centro para nos casarmos e irmos passar nossa lua de mel
no Castelo Imperial, Anjo. – diz e arqueio as sobrancelhas, deixando
de prestar atenção em todo o restante do que diz.
Abro a boca para dizer algo bem quando o garçom chega com
nossos pedidos e acabo me distraindo com meu peixe com fritas,
que não sei se está realmente bom ou se estava com fome.

◆◆◆

Andrew
— Você parece distante, Anjo. – comento ao vê-la distraída em
seus pensamentos logo depois de terminarmos nossa sobremesa.
— Eu tenho vagas lembranças daquela primeira noite. –
comenta e franzo o cenho, tentando entender a que se refere. –
Quando nos conhecemos. – diz. – São apenas algumas imagens
vazias e destorcidas, que com o tempo ficaram ainda mais
apagadas na minha mente. Quando estávamos separados, tive um
sonho com você naquela noite. Íamos ao cinema, mas você não
apareceu.
— Sinto muito por aquilo.
— Eu me lembro de estar sentada na beira da piscina, de rir com
alguém que tinha acabado de conhecer e mais uma coisa, mas não
pode ser verdade. Eu não teria feito aquilo.
Luara ri com seus pensamentos e vejo suas bochechas corarem
um pouco, o que me faz sorrir.
— Me lembro de tudo o que aconteceu aquela noite. – falo. –
Talvez eu possa tirar sua duvida.
— Qual de nós levou a coisa toda? – ela pergunta. – Quem foi
que puxou para o primeiro beijo e para tudo o que veio depois?
— Confesso que entrei naquela festa com segundas, terceiras e
até quartas intenções, mas depois de conversar com você por um
tempo, desisti de tudo, porque seria errado.
— Fui eu. – diz boquiaberta e apenas confirmo. – Meu Deus.
— É tão ruim assim? – pergunto.
Naquele dia, com tudo o que aconteceu entre nós em tão pouco
tempo, eu só consegui admirar sua coragem por ter tomado a frente
no nosso primeiro beijo.
— Por que você deixou? Por que não me impediu?
— Porque seu beijo é doce e fez eu me apaixonar por você
naquele primeiro. – respondo. – Me fez ter esperanças.
— Esperanças? – Luara pergunta curiosa e confirmo. – De que?
— De um dia encontrar você outra vez, porque quando voltei a
São Paulo meses depois, eu não sabia mais chegar a sua casa. –
respondo a verdade, ainda que oculte o dia em que a encontrei
sentada na calçada de sua casa com outro rapaz. Ela parecia feliz
com seu namorado e eu tinha sido apenas um cara sem nome.
— Teve uma vez que imaginei ter visto você. – comenta,
segurando minha mão por cima da mesa. – Na frente da minha
casa. Mas não era.
Fico quieto quanto ao seu comentário. Afinal, este foi apenas
mais um dos vários desencontros que tivemos nestes sete anos
separados.
— Acho que nos apaixonamos um pelo outro mais de uma vez. –
Luara comenta.
— Duas. Talvez três. – concordo. – Mas não vem ao caso agora.
O que importa é que estamos noivos.
Luara sorri e acaba soltando um gemido baixinho, quase
inaudível, mas que me deixa preocupado.
— Tudo bem?
— Um chute na costela. – ela ri.
— Talvez sejam eles dizendo que já esta tarde e que querem
dormir. – digo, consultando o relógio em meu pulso e não sei bem
se me surpreendo ao ver que já são quase dez horas. – Acho que é
um sinal para irmos. – e levanto, ajudando-a a fazer o mesmo.
— Esse não foi o jantar mais romântico que tivemos. – Luara diz
enquanto caminhamos de volta até o carro, logo depois de
pagarmos a conta. – Aquela noite no meu aniversário vai ficar
marcada para sempre. Mas você se supera a cada dia que passa.
— Obrigado. – digo com um sorriso sem graça. – Eu acho.
— Não! – exclama, rindo. – Quero dizer que você está mais
aberto comigo agora de que naquela época. – diz, ficando de frente
para mim e se apoia em meu peito.
— Antes você era meu namorado, mas hoje você é meu amante
e meu melhor amigo. Confiamos e amamos.
— Você também esta mais aberta comigo. – concordo e ela sorri,
dando um beijo em meu peito.
Com um sorriso tímido, Luara passa o braço por meu quadril e
terminamos de chegar ao carro em silêncio e por algum tempo
ficamos lá dentro sentados, apenas sentindo os movimentos de
Alice e Matthew em sua barriga.
Capítulo Vinte
Quinta-feira
Luara

Praticamente tenho só mais um dia para poder organizar tudo para


a festa surpresa do Andrew e não tenho muito mais tempo, já que
esse dia é hoje e ainda iremos ao Dr. Marcos, como possivelmente
a última consulta antes dos meus bebês chegarem e estou aqui
presa no trabalho até o almoço. Mas com um pouco de sorte vou
conseguir fazer as ligações que preciso e pedir para que Lilian
resolva os pontos que preciso.
— E tudo vai correr perfeitamente bem, assim como planejamos.
– digo comigo mesma assim que saio do elevador no último andar
da BIT. Vim entregar meu último relatório ao And antes de sair de
licença. – Ana, oi! – eu a cumprimento.
— Oi, Lu! – diz em resposta, com seu sorriso sempre tão gentil.
– Como estão?
— Eu particularmente me sentindo um pão. – sorrio. – Eles
agitados e inquietos desde que acordei.
— Estou tão ansiosa para vê-los!
— A senhora não é a única. – digo e ela ri. – And está ocupado?
— Não. Ele acabou de voltar de uma reunião e não tem mais
nenhum compromisso pelo restante da manhã. – responde. – Quer
que avise que esta aqui?
— Acho que vou fazer uma surpresa para ele. Obrigada.
Faço o restante do caminho até a enorme sala de Andrew e bato
de leve, abrindo-a apenas o suficiente para que ele possa me ver.
— Toc-Toc. – faço, na intenção de chamar sua atenção para
mim, mas sem sucesso.
— Entra.
Abro o restante da porta e entro, tornando a fecha-la atrás de
mim. Andrew esta em seu lugar de costume, com a atenção toda
presa ao monitor.
— Trouxe um presente para você. – informo e ele me olha com o
cenho franzido e até mesmo desconfiado. – Relatório da semana, já
que não viremos amanhã.
— Ah! – exclama aliviado, mas percebo a culpa em seu rosto,
provavelmente por estar escondendo seu aniversário de mim até
agora. – Obrigado. – diz quando lhe entrego os papéis. – Como eles
estão?
— Agitados e eu com fome, obrigada por perguntar. – respondo
e ele ri.
— Desculpa. – pede e desta vez quem franze o cenho sou eu. –
Me referia a sua equipe. Estou todo perdido aqui no trabalho hoje.
— Vamos reformular sua pergunta então. – sugiro e ele sorri.
— Claro. – diz. – Então, como sua equipe esta no trabalho? Em
um geral? – pergunta interessado e penso um pouco em cada um
deles antes de responder.
— Melhoraram bastante desde a reunião passada e decidi que
vou deixar o Mateus como responsável pelo Henrique, para ajudar
ele no que precisar.
— Certo. – Andrew diz agora mais para si mesmo, fazendo uma
anotação em um bloco de papel. – Qual deles você indicaria para
ficar no lugar do Igor?
— Gustavo e Mateus. – respondo de pronto. – Eles estão bem
igualados em praticamente tudo o que fazem. Então não sei se
saberia escolher um dos dois para ficar no lugar dele.
— Vou tentar tirar uma hora na segunda-feira para dar uma
passada daqui e conversar com os dois. – diz. – Eu faria isso hoje,
mas já tenho compromissos com você.
— Eles vão ficar felizes com isso. – sorrio. – Independente de
qual você escolher.
— Vem cá. – ele me chama, oferecendo sua mão e dou a volta
na mesa, onde me coloca em seu colo. – Você esta pesada. – diz e
olho de cara feia para ele, que apenas ri de mim. – E como eles
estão? – pergunta agora tocando minha barriga e deixa sua mão ali
por algum tempo.
— Provavelmente doidos para sair desse aperto logo. –
respondo. – Você acha que o Marcus vai deixar alguma data mais
ou menos agendada? Para o parto? – pergunto, sentindo meu
estômago revirar. Ou será que são meus filhos brincando com ele?
— Eu não sei. – responde pensativo e passo o dedo pelo v entre
suas sobrancelhas. – Seria bom ter uma noção de quando eles vão
chegar. Talvez ele faça isso.
— Estou nervosa.
— Eu também estou, anjo. – ele diz e envolve os braços ao redor
do meu quadril e passo os meus por seu pescoço. – E como você
esta?
— Muito cansada e dormindo a cada passo que dou. Até tirei um
cochilo enquanto esperava um código compilar.
— Nossa. Você é corajosa, linda. – Andrew ri. – Confessar ao
seu chefe que dormiu no trabalho com essa cara de pau?
— São seus filhos me causando isso. – dou de língua para ele.
— Por você ter ficado praticamente a noite toda acordada, me
surpreende mais estar acordada agora.
— O que mais me surpreende é ainda ter paciência para algo. –
digo quase que rindo e escondo o rosto entre seu pescoço.
— Que horas a consulta?
— Uma e meia. – respondo e ele consulta a hora em seu relógio.
— Acho que temos tempo para almoçarmos em algum
restaurante antes de irmos, se formos agora.
Andrew passa o polegar pela alça do meu vestido, mantendo o v
entre as sobrancelhas e decido brincar com ele um pouco e torturar
sua consciência, para ver o quanto ela pode pesar em cima dele.
— And? – chamo sua atenção para mim. – Você sabe que dia é
hoje? – pergunto e sorrio.
— Segundo o calendário, quinta-feira.
— Dia do mês, bobinho.
Bingo! O cretino está mesmo preocupado que eu tenha
descoberto seu segredinho. Ah, seu...
— Vinte e oito de abril. – diz indiferente e isso me deixa um
pouco preocupada. Afinal, por que ele não quis me contar isto? Que
seu aniversário já é amanhã? Isso me chateia um pouco, na
verdade.
— E você sabe o que tem hoje? – pergunto e ele de repente
parece confuso.
— Hoje? – pergunta de volta e confirmo. – Só sei da sua
consulta. E amanhã...
Ele então para de falar, deixando a frase incompleta no ar. Ah, se
eu vou esganar ele amanhã!
— O que acha de irmos ao cinema para ver Guerra Civil? –
pergunto de uma vez, para evitar entregar que sei do aniversário
dele amanhã. – Hoje à noite.
— Era disso que você estava falando? – pergunta estranhando.
— E do que mais seria? – pergunto como se o desafiasse, mas
ele logo recua. POR QUE ELE NÃO CONTA, SENHOR?!
— Nada não. – diz. – Se eu bem me lembro, você surtou durante
o trailer quando o Capitão América apareceu na tela. – And diz com
a sobrancelha arqueada.
— Pode até ter sido, mas você é o único herói que realmente me
interessa. – digo com um beijo leve em seus lábios. – E eu sei que
você está preocupado e me escondendo alguma coisa e também sei
que não quer me contar sobre isso, o que me deixa chateada.
— Apenas entenda que isso tudo é novo para mim e é como se
eu estivesse me despedindo de algo. – ele responde e concordo.
— Espero que me conte. – peço, fazendo-o sorrir em
concordância. – E então? Nós vamos?
— A única escolha que tenho é: ir com você ou te perder para o
Capitão Gelado. Então, sim.
— É por essa e outras que eu te amo. – sorrio, dando um beijo
mais demorado nele, sentindo seu beijo mais refrescante, como
sempre é.
— E o que acha de sairmos para almoçar agora e levarmos a
sobremesa para casa depois da sua consulta? – sussurra em meu
ouvido e sinto o calafrio percorrer meu corpo de cima a baixo.
— Eu vou adorar isso. – sussurro de volta e levanto, esperando
que ele faça o mesmo.
— Me surpreende você ainda estar tão disposta por sexo às
vésperas de ter dois filhos. – Andrew ri quando levanta e pega os
relatórios agora assinados e segura minha mão.
— É porque vou te deixar em uma seca de vários meses, só
para você aprender a não me esconder mais nada. – respondo e ele
abre a boca algumas vezes para dizer algo, mas decide se calar. –
Eu sei que você esta me escondendo algo importante, Andrew.
— Eu sei. E sinto muito por isso.

◆◆◆

Andrew
O relógio em meu pulso já marca uma e quarenta e sete da tarde
e até agora nada de Marcus aparecer para nos atender. Geralmente
ele é bastante pontual com suas pacientes, mas aparentemente
hoje ele esqueceu o relógio em casa e está atrasado. O que deixa
Luara seriamente impaciente.
— Quer fazer o favor de parar com essa perna? – peço,
colocando a mão em seu joelho em uma falha tentativa de acalma-
la.
— Não da! – exclama um pouco alterada. – Eu estou irritada e
essa demora esta piorando a situação mais ainda.
— Você precisa dormir um pouco, anjo. – digo. – Mas o que esta
te deixando irritada?
— Além do sono? – pergunta de volta, rindo. – Tem alguns
assuntos que preciso resolver e não sei se vou conseguir descansar
quando sairmos daqui.
— Por quê?
— Porque você esta curioso demais, lindo. – responde e me
olha.
— Esta irritada por minha causa? – pergunto. – Por que estou
escondendo algo de você?
— Com você estou chateada, não irritada.
— Eu quero te contar. – falo. – Só não sei como fazer isso.
Luara vira para mim e segura minha mão.
— É difícil para você? Contar algo assim para mim?
— Eu não diria que é difícil. – respondo, olhando mais uma vez
para o relógio. – Só é como se eu estivesse a um dia de me
despedir desse Andrew, para receber outro amanhã. E isso me
incomoda de alguma forma.
— Então me conta, And. – Luara pede. – Por favor.
— Luara. – ouço Marcus chama-la assim que sua paciente sai. –
Vamos?
— Podemos conversar sobre isso de casa? – peço e ela
concorda, levantando. – Obrigado.
— Eu sei que seu aniversário é amanhã, Andrew. – diz e
arregalo as sobrancelhas, um pouco surpreso com isso. Não que eu
devesse realmente estar. – E não entendo o motivo de não ter me
contado isso.
— Desculpem o atraso. – Marcus pede assim que nos
aproximamos. Eu depois de Luara, já que ela acabou deixando sua
bolsa para trás. – Problemas sérios com a outra mamãe. Mas não
com esta aqui e os gêmeos. – ele sorri para Luara, que não retribui.
– Como estão?
— Irritados, com mau humor e com sono. – ela responde. –
Aparentemente nem Matthew e menos ainda Alice entendem que as
noites foram feitas para dormir.
Marcus ri com a maneira com que Luara descreve a situação.
Por sorte ela deixa de fora o fato de que lhe escondi meu
aniversário.
— Vamos com calma, mamãe. – ele pede. – Afinal, isso é
apenas o começo. Depois vêm os choros e as noites em claro. As
fraldas sujas e muito mais.
— O pai que cuide, porque eu vou é dormir. – responde
enquanto sobe na cama. – Já passei muitas noites em claro.
— Nada mais justo do que dividirmos. – digo em minha legitima
defesa.
Ainda rindo, Marcus começa com a tradição costumeira,
passando o gel na barriga de Luara para o ultrassom.
— Aqui esta o motivo de você estar sentindo tanta dor nos
últimos dias. – ele diz assim que a primeira imagem toma forma no
monitor ao seu lado e não consigo conter o sorriso que sempre
cresce em meu rosto ao ver meus dois filhos.
— E qual seria? – Luara pergunta curiosa e a sinto apertar minha
mão.
— Vê aqui? – pergunta, indicando o monitor. – Os dois estão
virados e prontos para a saída. E considerando todo o
acompanhamento que fizemos e já conversamos, você consegue ter
um parto normal sem problemas.
— O que é mais recomendável. – Lu diz com a voz sufocada. –
Agora sim estou começando a ficar realmente nervosa.
— Não há com que se preocupar agora. – Marcus diz. – Apenas
deixe-os escolher a hora certa.
— Gostaria que nascessem amanhã. – digo meio que para
ninguém além de mim mesmo e percebo o olhar de Luara em mim.
– Mas ainda é cedo, então melhor não.
— Eu gostaria disso também. – ela concorda e sorrio.
— E você ainda esta trabalhando?
— Último dia hoje. – Lu responde. – Fiz meio período só para
poder deixar tudo em ordem antes de sair.
Marcus concorda e diz mais algumas coisas sobre os gêmeos
antes de tirar o gel da barriga de Luara e ir sentar em sua cadeira
para fazer algumas anotações, como sempre faz.
— Com eles já virados e sendo gêmeos – começa. –, existe uma
chance bem grande de a bolsa estourar a qualquer momento.
Começar a sentir contrações, dores mais fortes... Todos os sinais
que indiquem que esta chegando a hora.
— Agora sim eu estou nervosa.
— Não há com que se preocupar, Luara. Eu que já fiz vários
partos, senti o mesmo medo que vocês dois estão sentindo quando
estava para ter meu filho. É diferente quando esta do outro lado,
mas quando vocês segurarem eles vão ver que tudo valeu a pena.
— Alguma recomendação em particular? – pergunto curioso.
— É importante que Luara não fique muito sozinha. – diz. – E
isso cabe já a você cuidar disso.
— Viu? Eu disse que você ia precisar ficar comigo quando eu
tirasse licença. – ela mostra a língua para mim e sorrio. – Tem
certeza de que esta tudo bem? – pergunta. – Quer dizer, acabei de
completar sete meses. E se de repente começar a sentir tudo isso
amanhã ou depois e...
— Eles estão grandes e saudáveis, mãe. – Marcus responde. –
Se este for o caso, faremos o que tem que ser feito, sem agilizar e
nem atrasar isto. Apenas procurem aproveitar esse tempo que resta
para passeios, relações sexuais. O que já costumam fazer.
— E é seguro continuarmos? – pergunto. – Não tem risco de
machucar?
— Ao contrário do que muitos pensam, ter relação até perto do
parto ajuda no nascimento. Se vocês mantem e se sentem seguros,
não tem problema. Mas também existem outras formas
— Acho que estou confiante quanto a isto então. – Luara diz,
piscando para mim e não sei se sinto desconforto ou o que por ela
deixar nossa intimidade tão exposta para seu médico. Ainda que ele
saiba mais do que eu gostaria.

◆◆◆

Luara
No meio da tarde, acordo com meu celular tocando e vejo na tela
que é Julie, o que me deixa tranquila quanto a atendê-la com
Andrew por perto. Principalmente por ele ainda estar dormindo.
— Oi, amor. – digo.
— Como vai a mamãe mais linda do mundo? – ela pergunta e
logo sei que quer algo.
— Acho que um pouco melhor. Consegui dormir um pouco
depois que cheguei do médico.
— E ai?
Com um bocejo longo, conto a ela toda a conversa com Dr.
Marcus, deixando de fora a história sexual, porque não tem
necessidade de dizer isso e Ju fica feliz quando digo que os gêmeos
já viraram e podem nascer a qualquer momento, de acordo com a
vontade deles.
— Mas acho que não foi bem por isso que você ligou. – chamo
sua atenção.
— Também foi por isso. – diz. – Está tudo certo sábado? –
pergunta e olho para And, que ainda dorme ao meu lado e me vejo
passando a mão por seus cabelos. Ele parece apenas um menino.
— Esta sim. – respondo. – Já marquei horário para nós duas no
salão e o Pedro esta vendo toda a parte “bruta” da coisa.
— Ele esta ai perto? – pergunta e murmuro em afirmativo,
fazendo-a rir.
— Vou só ligar para a mãe dele depois, para ver como as coisas
estão por lá e o mais difícil vai ser no sábado mesmo.
— Você pode, sei lá, pedir para que a mãe dele ligue convidando
vocês para jantar com eles sábado. – Ju sugere.
— Meu Deus, Julie! – exclamo, contendo a emoção. – É por isso
que eu amo tanto você!
Ela ri.
— Miga? – Ju chama daquele jeito de quando aprontou algo. –
Você conhece algum programa que apague por completo algo do
computador? Sem ter como você restaurar depois?
— Existem vários que são bem eficientes. – respondo.
— Graças a Deus! – ela murmura do outro lado. O que me deixa
curiosa.
— Por que da pergunta?
— Nada. É só que... Curiosidade.
— Julie.
— O Fe comentou sobre algo assim ontem, quando estávamos
em casa. – diz. – Fiquei curiosa.
— O que vocês dois aprontaram que não pode ser visto? –
pergunto agora desconfiada e ela ri, parecendo realmente nervosa.
— Não fizemos nada, oras! – exclama e percebo a mentira no ar.
– Preciso desligar. Vou sair com o Fe para conhecer mais um
pouquinho aqui de Porto Alegre.
— Que inveja de você. – digo com um suspiro, quase que
esquecendo que ela esta mentindo para mim.
— Vou te levar várias lembrancinhas. Principalmente para os
meus sobrinhos lindos. – Julie diz. – Amo vocês!
— Sua doida. – rio. – Você vai me contar sábado o que vocês
aprontaram na sua casa.
— Não vou, não. – ela ri e desliga.
Com um beijo no rosto de Andrew, saio de fininho da cama e vou
até a sala para poder ligar para sua mãe e combinar com ela os
últimos preparativos da festa. O que me levou há passar meia hora
no telefone, conversando sobre isso e também sobre minha
consulta.
Tudo esta no ponto para que esta festa saia como planejei e até
agora ele não desconfia de nada.
— Anjo? – ouço Andrew chamar do quarto e vou até ele. – Tudo
bem? – pergunta quando apareço na porta, vendo meu menino todo
descabelado, inocente e até mesmo um pouco confuso.
— Tudo perfeitamente bem. – respondo, subindo na cama com
ele.
E pretendo que ele continue sem saber de nada até a hora certa.
Capítulo Vinte e Um
Sexta-feira
Andrew
Uma música toca baixa e longe, trazendo-me de um lugar
distante para a realidade do que hoje. A melodia é calma e desperta
um sentimento familiar em mim. Algo que... Faz com que me lembre
da noite que tivemos em Goiânia, quando pedi meu anjo em
casamento e ela aceitou.
— Bom dia, gatão. – sua voz chega até mim, arrancando-me um
sorriso ainda sonolento.
— Bom dia. – respondo com a voz rouca, ainda de olhos
fechados. Sinto-me completamente cansado pela noite.
A cama sacode um pouco e logo sinto um corpo sentar em
minhas pernas e duas mãos que sobem por meu peito nu, parando
apenas nos ombros.
— Olhe para mim. – Luara sussurra bem quando Jason Derulo
embala ao ritmo de Mary Me. Uma música bem conveniente e que
coloquei para tocar apenas para nós dois aquela noite.
— Estou olhando. – sussurro com apenas um olho aberto, vendo
minha garota sentada em cima de mim. O sorriso de bom dia que
oferece apenas me mostra um dos motivos de ser tão perdidamente
apaixonado por ela.
— Com os dois olhos abertos, Sr. Giardoni! – exige e sorrio.
— Estou olhando! – respondo, querendo rir.
— Feliz aniversário, meu amor! – exclama, jogando os braços ao
redor do meu pescoço, dando-me uma sequência de vários beijos
por todo meu rosto, seguido de muitos outros em minha boca. – Eu
queria te dizer um monte de coisas fofas quanto a esse dia tão
especial para você, mas me faltam palavras para descrever tudo o
que significa para mim, estar aqui com você. Então...
Luara suspira e sorri aquele seu sorriso que vai de um lado a
outro e faz com que meu coração se contraia dentro do peito antes
de dizer:
— Eu amo estar aqui com você e tudo o que tem me dado até
hoje. Amo o quanto você me mudou em tão ao seu lado e a forma
com que foi capaz de tornar cada um dos meus sonhos uma
realidade ao seu lado e... – ela faz uma pausa e suspira outra vez,
deixando claro seu nervosismo. Para incentiva-la, passo o polegar
por seu braço. – E eu amo o fato de você ter me deixado entrar na
sua vida de uma forma tão completa, porque... – e outra pausa,
desta vez para colocar minhas mãos em sua barriga e sinto nossos
filhos ali. – Nós amamos você, papai. E eu amo você, meu amor. –
completa com um beijo em meus lábios e tudo o que consigo fazer é
correspondê-la.
— Essas são as melhores palavras que alguém poderia dizer a
mim. – sussurro, colocando seu cabelo para trás da orelha e ela
sorri toda tímida. – Você ensaiou isso? – provoco.
— Não! Eu... Improvisei tudo isso, seu bobo.
— Eu amei. – digo, tomando seu rosto entre minhas mãos e a
beijo. – E amo vocês três.
— Espero que esteja com fome, porque encomendei um café da
manhã especial de aniversário para você. – Lu diz e olha para o
lado da cama, fazendo com que pela primeira vez eu note o que
colocou ali.
É uma bandeja cheia de coisas deliciosas e tentadoras. Suco,
pão, bolo e biscoitos, achocolatado, frutas e cereais, chocolate e até
mesmo duas flores em um pequeno vaso para decorar.
— O que é isso? – pergunto curioso, notando a caneca entre
todas as coisas e a pego para ler a mensagem escrita. O que me
faz sorrir. – Para o melhor pai e marido do mundo.
Olho para Luara com o cenho franzido, contendo a vontade de
joga-la na cama e beija-la o máximo que conseguir.
— Eu amei, anjo. Obrigado.
— Você merece. – sorri em resposta. – Eu espero que sua
agenda esteja livre pelo dia todo, porque já a preenchi toda com
coisas apenas para nós dois. – diz e arqueio a sobrancelha, curioso.
– Deixei uma horinha livre para os seus pais, não para o trabalho.
— Desse jeito Ana terá que arrumar outro trabalho, já que minha
noiva faz questão de fazer o serviço completo. – pisco para ela. –
Espero que tudo esteja tão bom quanto aparenta, porque estou
faminto.

◆◆◆

Luara
Ao som de Into You, uma das várias músicas da playlist que criei
junto de Pedro especialmente para o dia de hoje e a festa de
amanhã, chegamos a Mansão Giardoni, onde ficaremos pela
próxima hora. O que, acrescente aqui, foi uma desculpa mais do
que justa que arrumei para poder acertar alguns últimos pontos que
Lilian.
Logo que saímos, pedi para que And passasse do Golden para
pegarmos com o Seu José a chave do nosso apartamento que
finalmente ficou pronto e, contra todas as minhas vontades, recusei-
me eternamente a subir com ele para vermos como tudo ficou
depois de pronto, dizendo que tínhamos hora para seguir e não
poderíamos nos atrasar de maneira alguma. Mas a verdade é que
pedi pessoalmente para que a decoradora preparasse algo para
mim, na qual usaremos somente à noite, como nossa última parada
do dia.
— Você parece pensativa, anjo. – Andrew chama minha atenção
para ele assim que desliga o carro.
— Estou feliz. – sorrio para ele, que me retribui.
— Eu também. – diz. – E mais ansioso ainda para saber o que
você aprontou por aqui e para todo o dia.
Ouvir suas palavras me faz rir.
— Não vou te contar nada, meu amor. – digo, passando a mão
por sua barba. – E nem adianta querer investigar com sua mãe,
porque ela não vai te contar nada.
— Não sabia que você era tão vingativa assim, linda. Ou que
vocês duas tivessem ficado tão amigas assim.
Com uma careta, And desce do carro e vem abrir a porta para
mim, como sempre costuma fazer.
— Isso porque não estamos contando sua avó, lindo. – comento,
enlaçando meu braço no seu e a expressão de surpresa em seu
rosto me faz querer rir, mas me seguro, porque pretendo torturar
meu lindo pelo dia todo e mais ainda amanhã, só por não ter me
contado do seu aniversário.

—Meu Deus, como você esta linda! – as palavras chegam até


mim antes mesmo de localizar a dona da voz e levo algum tempo
para encontrá-la, descendo as escadas.
— E é toda minha. – Andrew responde sua mãe, apertando o
braço ao meu redor. – São todos meus, na verdade. – corrige
rápido, dando um beijo em meu rosto.
— Sempre tão protetor, querido. – Lilian diz, terminando de
descer as escadas e para em nossa frente. – Achei que não fosse te
ver hoje. – diz e o abraça. – Feliz aniversário, querido. Desejo
sempre o melhor e principalmente que Deus ilumine sempre seu
caminho.
— Obrigado, mãe. – And agradece um pouco sem graça,
retribuindo ao abraço da mãe. – Onde estão todos?
— Seus avós saíram para comprar seu presente e só voltam
mais tarde e seu pai esta no escritório, lendo.
— Vou lá dar um “oi” para ele e já volto. – diz agora para mim.
— Tudo bem. – sorrio, vendo a oportunidade para conversar com
Lilian. – Só não demora, porque quero ver se você realmente ganha
da sua mãe no videogame como se gabou enquanto vínhamos para
cá. – eu provoco, fazendo com que ria de mim.
— Sabe que ganho de você fácil, linda. Minha mãe já é até
freguesa da casa. – e pisca para mim, fazendo-me rir. Eu não tenho
dúvidas disso. Afinal, nas vezes que ganhei dele foi porque deixou.
— Ele canta muita vitória. – Lilian diz.
— Veremos então. – é a última coisa que Andrew fala antes de
sumir por um corredor que nunca conheci.
— Achei que fosse ser mais difícil para conseguirmos ficar
sozinhas. – Lilian sussurra e agarra meu braço, levando-me para a
cozinha.
— Ele não faz ideia do que estamos aprontando! – exclamo.
— Se conseguir isso me lembre de te dar um prêmio, porque
nunca conseguimos.
— Então as coisas vão mudar mais um pouquinho para o meu
lindo. – respondo, aceitando o desafio.
— Mandei que preparassem um jantar com tudo o que ele gosta
e contratei um Bartender também.
— Nossa! É até uma pena que eu não possa beber.
— Não se preocupe. Pedi várias opções sem álcool
especialmente para você.
— Obrigada. – sorrio.
— Vem. Quero te mostrar tudo o que Pedro e eu andamos
aprontando aqui atrás.
— Vai ser um problema e tanto se And vier aqui e... Meu Deus! –
sussurro, esquecendo o que quer que fosse dizer antes.
— Gostou? – Lili pergunta e olho para ela admirada e incapaz de
conter o sorriso que toma conta de mim.

◆◆◆

Andrew
Ainda que Luara tenha sido clara ao dizer que eu deveria ficar
longe de trabalho por todo o dia de hoje, o fato de saber que dentro
de algumas horas será a celebração de inauguração do novo
escritório em Porto Alegre não me deixa mais calmo a ponto de não
querer saber como as coisas estão indo.
Desde que acordei, evitei atender qualquer chamada do trabalho
ou que pudesse ter relação a ele. O que já me levou a receber
algumas dezenas de mensagens e e-mails me parabenizando. Mas
a preocupação não me deixa relaxar, então ligo para a única pessoa
na qual Luara não irá se preocupar se me ouvir conversando com
ele.
— Fala, idoso. – Felipe diz logo que atende minha ligação.
— Vou ignorar isto. – falo. – Como estão indo as coisas por ai?
— Está tudo correndo perfeitamente bem. – responde e percebo
o sorriso em sua voz. – Estou mostrando a cidade pra Ju aqui e ela
disse que não quer mais voltar para São Paulo.
— Ei! – ouço Julie do outro lado, seguido da risada do meu
amigo. Só não entendo quando fala algo com ele.
— Mas quanto à inauguração – volta em linha comigo. –, já liguei
para os organizadores e está tudo indo como esperávamos. Ana
também me passou mais algumas pessoas que confirmaram
presença de última hora.
— Quantos? – pergunto curioso.
— Dez. – responde. – Todos aqui de cidades vizinhas e que
estão curiosos para saber como tudo irá funcionar.
— Tudo vai dar certo. – digo comigo mesmo e Felipe concorda.
— Falei com João também. Você não precisa se preocupar com
nada aqui.
— Confio em vocês para manter o nome da minha empresa. –
respondo e levo a mão aos cabelos bem quando sinto um par de
braços se envolverem em minha cintura.
— Não é sobre trabalho, é? – Luara pergunta baixinho e nego,
dizendo que estou em linha com Felipe e, mesmo sabendo que
envolve parte de trabalho, não diz nada.
— Julie está mandando parabéns para você aqui. – Felipe diz e
ouço a garota dizer algumas palavras do outro lado.
— Obrigado, Julie.
— And, lindão, espero que mesmo velho você continue dando
conta do recado com minha amiga, viu? – ela ri.
— Não se preocupe com isso. – respondo. – Luara está
acompanhada do homem mais viril que você já conheceu. – do
outro lado, Julie ri, enquanto Lu me encara com o cenho franzido e
preciso segurar a risada. – Você deveria se preocupar com seu
namorado, já que ele é dois anos mais velho de que eu.
— Um ano e meio! – Felipe exclama.
— Porque vocês dois não vão dar um passeio e aprontar mais
um pouco das artes de vocês? – Lu entra na conversa e os dois
riem. – É aniversário do meu lindo e o requisitei todinho só para mim
hoje. Amanhã vocês conversam.
— Não se preocupe, Luara. Ele é todo seu. – responde Felipe. –
Apenas estávamos conversando sobre dez novas confirmações
para esta noite e que ele não precisa se preocupar com nada.
— Obrigada e cuide de tudo por ai. – Lu diz em resposta. –
Tchau e me tragam presentes!
Quando ela diz isso, os dois riem do outro lado.
— Eles já estavam aprontando alguma coisa por lá. – comenta e
me viro de frente para ela, tomando-a em um abraço.
— Podemos ir para casa descansar um pouco? – peço. – Dormi
mal está noite e estou exausto.
— Vim justamente te chamar para irmos. – responde. – Também
estou cansada. – completa com um bocejo e me pego imitando-a.
— Só vamos nos despedir então. – sugiro e ela aceita,
enlaçando a mão na minha e saímos em busca de alguém que
ainda esteja acordado depois do almoço aqui nos meus pais. –
Mãe? – chamo e ela logo aparece na porta da cozinha, secando as
mãos em um guardanapo.
— Já vão? – pergunta.
— Lu precisa descansar um pouco e estou quebrado também. –
falo. – E acho que passamos mais tempo aqui do que ela havia
planejado.
— Mas adorei o almoço da senhora! – acrescenta rápido,
fazendo Lilian rir.
— Seu pai e eu estamos pensando em fazer um jantar amanhã.
– diz. – Só seus avós e vocês, se aceitarem.
Olho para Luara, que sorri para mim.
— Eu adoraria.
— Eu também. – concordo.
— Felipe e a namorada dele voltam amanhã, não? – pergunta e
confirmo. – Convide-os para jantar conosco. – pede. – Estou louca
para conhecer Julie.
— Vou mandar uma mensagem para ela assim que sairmos.
Tenho certeza de que ela vai adorar vir. – Lu informa e minha mãe
vira para mim.
— Michele está na cidade? Estou com saudades dela. Seria bom
se viesse também.
— Vou ver com o Felipe e peço para que a chame também.
— Ótimo! – Lilian exclama animada, batendo uma mão na outra.
– Estejam aqui às sete e meia, sem atraso.
— Nunca me atraso, Lilian. – digo e lhe dou um abraço para me
despedir e Luara faz o mesmo, trocando com ela algumas palavras
que não consigo ouvir. O que me deixa curioso, mas também não
pergunto nada, já que estou mais cansado de que qualquer coisa.
— Esta tudo bem, anjo? – pergunto ao notar a perna de Luara
balançando de maneira quase que impaciente, como sempre
acontece quando esta ansiosa por algo. – Parece nervosa.
— Percebeu, foi? – pergunta de volta, dando uma risadinha que
confirma seu nervosismo. – Vira nessa rua aqui. – diz e obedeço.
Seja lá o que tiver em mente agora, estou curioso para descobrir.
Até agora gostei de todas as coisas que fizemos esta tarde. Então
sei que vai me surpreender mais uma vez. – Não vamos para casa
hoje.
— Não? – pergunto com um sorriso de lado e ela confirma. – E
para onde iremos agora?
— Para o nosso lar. – diz e logo posso ver o enorme prédio do
Golden Village pouco a frente.
— Fico feliz por ver você chamar nosso apartamento de lar.
— É o que ele é, And. – sorri em resposta.
— Estou curioso para saber o que você tem planejado para
agora. Principalmente depois da nossa sessão quente no cinema. –
digo para provocar Luara e ela ri, ficando tão vermelha quanto
possível.
Como ela estava cansada ontem depois da consulta, decidimos
deixar o filme para hoje e fomos para pegar a primeira sessão desta
tarde. Mas Luara não parecia muito disposta a assistir a filme algum.
Muito pelo contrário, já que ficou a maior parte dele brincando com o
pequeno And e me torturando. E eu adorei, por que... A tortura, a
adrenalina de sermos pegos no meio da sala de cinema, enquanto
todos gritavam e aplaudiam. Tudo foi quente e excitante com sua
mão se movendo tão deliciosamente em mim.
— And? – ouço sua voz me chamar quando fecho os olhos para
esperar o portão abrir.
— Vou gostar da surpresa? – pergunto com a voz rouca e
carregada, pousando a mão em sua coxa macia.
Aguardo por sua resposta, mas ela só vem após estacionar em
minha vaga habitual, ao lado da sua, que agora tem o número
Quinhentos e dez pintado no chão e na parede de frente.
— Só vem comigo. – pede, abrindo sua porta para descer e vou
atrás dela. – Mantenha a calma, Lu. – sussurra consigo mesma e
franzo o cenho.
— Esta tudo bem mesmo, anjo? – pergunto, tomando sua mão
na minha.
— Estou ansiosa para saber como tudo ficou. – diz e concordo,
entrando atrás dela no elevador de acesso ao apartamento. – Você
vai primeiro. – Luara chama minha atenção para ela pouco antes do
elevador parar no nosso andar.
— Você é quem manda. – sorrio em resposta e a porta se abre e
aos poucos vejo uma fraca luz invadir o elevador e isso me deixa
curioso. – Uau. – sussurro assim que se abre por completo, sentindo
suas mãos agarrarem minha camisa por trás. – Fez tudo isso
sozinha?
— Na verdade, não. – Lu responde. – Seria o mesmo que vir
aqui sem você e não era justo. Então que pedi para que a
decoradora preparasse algo mais... Intimo. Para uma noite a dois e
pelo visto ela arrumou isso.
— Vem. – convido, outra vez segurando sua mão e assim
entramos na sala de estar, que não é mais nada do que eu estava
acostumado.
— Acho que teremos que seguir o caminho para descobrir o que
tem no final. – Lu diz e acompanho seu olhar, notando o caminho de
pétalas de rosas vermelhas espalhadas por todo o chão, que nos
leva ao nosso quarto.
— Tenho uma ideia melhor sobre como podemos seguir essa
trilha. – sussurro em resposta, puxando-a para perto de mim e puxo
sua blusa para fora do corpo, deixando-a apenas com seu sutiã de
renda preta.
— Adoro quando você tem essas ideias. – sorri e se apoia em
meus ombros, ficando na ponta dos pés para me beijar.
Envolvo minhas mãos na cintura de Luara e passo minha barba
por seu pescoço, dando beijo ao longo dele todo.
— Não lembro mais qual foi o nosso começo – recito em seu
ouvido, correndo os dedos por seu braço, fazendo com que se
arrepie ao meu toque. – Sei que não começamos pelo começo. –
beijo seu ombro, subindo para o pescoço. – Já amor antes de ser.
— Clarice Lispector. – Luara reconhece o verso e sorrio, sem
conseguir dizer qualquer coisa mais. No lugar das palavras, eu a
levo pelo corredor enquanto nos beijamos.
— Não faz ideia do efeito que tem sobre mim quando faz tudo
isso por mim. – digo, tocando seu pescoço em um beijo leve.
— Esse é o efeito que você causa em mim todas às vezes, meu
lindo. – diz em resposta quando chegamos ao nosso quarto que
também tem uma iluminação fraca. – Ficou do jeito que você
imaginou? – pergunta quando afasto para poder ver o resultado de
tudo.
Onde antes ficavam os dois quartos que dividíamos através de
uma parede fina bem no meio, agora tem apenas um quarto grande
e enorme, com uma cama extragrande, colocada ao meio, criando o
nosso quarto.
Todo o ambiente está com uma fraca iluminação por conta das
várias velas colocadas ao lado da cabeceira da cama e pelo chão
tem mais pétalas de rosas. Na cama, um lençol branco de seda e
um coração com mais rosas.
— Ficou melhor do que imaginei, anjo. – respondo após o que
me parecem longos minutos bem quando sinto as mãos de Luara
desabotoarem minha camisa e ela deslizar por meus braços, indo
ao chão.
— Também achei isso. – Lu sorri e a viro de costas para mim,
envolvendo meus braços por sua barriga, apertando-a contra mim.
— O amor é tão mais fatal do que eu havia pensado... – recito
outro verso, pousando beijos ao longo de seu ombro. – O amor é
tão inerente quanto à própria carência, e nós somos garantidos por
uma necessidade que se renovará continuamente...
—... O amor já esta. – Lu vira de frente para mim outra vez e
prende os dedos ao cós de minha calça, arrancando um sorriso de
mim. – Está sempre. Falta apenas o golpe de graça – que se chama
paixão.
Olhando em seus olhos castanhos, eu os vejo brilharem,
refletindo as chamas de uma das velas atrás de nós. Seu rosto um
pouco sombreado e um pouco alaranjado por conta das chamas, o
que a deixa ainda mais linda para mim.
— Quero ser apenas sua, Andrew. – Luara diz, segurando meu
rosto entre suas mãos. – Para sempre, de corpo e alma e por
inteira.
— Eu já sou seu, anjo. – respondo, acariciando os nós de seus
dedos, pousando suas mãos em meu peito logo em seguida.
Beijando-a de vagar e sem pressa, onde minha linda e amada noiva
me convida entre beijos para sentar com ela na cama e a deixo em
meu colo, soltando seu sutiã para sentir seus seios contra meu
peito.
— Feliz aniversário, meu amor. – sussurra contra meus lábios. –
Eu amo você como nunca achei que fosse ser capaz de amar
alguém.
— Amo você também, meu amor. – sussurro a resposta,
deitando de lado na cama com ela, que sorri, pouco antes de passar
a mão por minha perna, pelo pequeno And.
Capítulo Vinte e Dois
Sábado
Luara

Depois que almoçamos, decidi fazer um bolo de prestígio especial


para o And e agora estou apenas esperando ele terminar de assar
para poder rechear e fazer a cobertura de brigadeiro. Mas é como
se fosse uma eternidade enquanto espero. Ou talvez eu que esteja
impaciente, já que tenho esperado por tantos acontecimentos nos
últimos dias.
— And? – eu o chamo, saindo a sua procura por todo o
apartamento e não o encontro nos três lugares mais óbvios, que
são: sala, jogando videogame, escritório, trabalhando e biblioteca,
lendo. Este último foi um dos cômodos que mais amei ver esta
manhã, porque nele estão todos os meus livros e os de Andrew,
com alguns espaços já reservados para os novos que compramos e
os dos gêmeos, que estão a caminho também.
A sala nós decidimos por deixar na parte que era originalmente e
a que antes era a minha, virou uma linda sala de jantar, com uma
linda mesa. Escritório nós temos dois. Um para cada e entramos em
um acordo de não trazer trabalho para casa a menos que seja
realmente necessário. Acho que isso vai ser bom para ambos.
Afinal, também tenho costume de trazer trabalho para casa quando
algo não da certo na BIT.
— Lindo? – torno a chama-lo, agora seguindo pelo corredor dos
quartos e uma luz saindo do quarto ao lado do nosso chama minha
atenção. O que ele está fazendo ali? – a pergunta ronda minha
mente por várias e várias vezes enquanto caminho até lá, parando
na porta entreaberta, onde tem uma plaquinha com uma coruja
branca e uma carta em pergaminho no bico, escrito os nomes
Matthew e Alice, pedindo “Silêncio” logo abaixo.
Termino de abrir a porta e vejo Andrew sentado no Puff,
segurando o Sr. Ursinho em seus braços, como se fosse um
pequeno bebê. O olhar fixo nos dois berços logo a sua frente,
perdido em seus pensamentos.
Na ponta dos pés, entro e fico atrás dele, deslizando meus
braços por seus ombros.
— Está tudo bem, lindo? – pergunto em não mais do que um
sussurro baixo, talvez com medo de quebrar o silêncio deste
espaço.
— Estou pensando. – responde e segura minhas mãos, dando
um beijo em uma delas.
— Posso saber sobre o que seria? – torno a perguntar e ele
continua apenas a encarar os dois berços.
— Estou pensando em como as coisas serão quando nossos
dois pequenos estiverem aqui. – responde após algum tempo. –
Não sabemos nada sobre como sermos pais e teremos logo dois
filhos para nos ensinar isto e... Eu tenho medo de não conseguir. De
falhar com as duas pessoas que sei que mais vou amar em toda
minha vida e querer proteger.
Ao dizer estas palavras, Andrew aperta minhas mãos e fecho os
olhos, sentindo o mesmo medo que ele. Compartilhamos junto este
sentimento e sei exatamente o que ele quer dizer. Mas também sei
que com os dois filhos maravilhosos que teremos, será impossível
não sermos bons pais.
Quando abro os olhos outra vez, tudo o que consigo é admirar
tudo o que fizemos neste quarto para o Matt e a Li. Ele é bem
espaçoso e com vários brinquedos de bebê já espalhados pelos
cantos e os vários que And tinha quando criança. Os dois berços de
cor marfim estão no centro e cada um tem pendurado na parede a
mesma plaquinha da porta, com o nome de seu dono e, nos pés de
cada um deles e em suas gavetas tem uma parte de um castelo
trabalhado na madeira, formando a coisa mais linda de se ver. As
cortinas, claro, representam as quatro casas de Hogwarts.
Em uma das paredes, onde esta a cômoda com todas as
roupinhas e produtos básicos para bebês, fizemos um mural para
avisos e fotos e temos três que são minhas e de And. Talvez eu
deva acrescentar aqui também que a cômoda é personalizada e tem
um brasão nas quatro gavetas dela. Ao lado mais uma prateleira
para bichos de pelúcia. A última parede é a mais simples de todas e
tem apenas um pequeno guarda roupa de mesma cor que todos os
outros móveis.
—Muito provavelmente nós iremos errar no caminho, mas
aprenderemos juntos a eles como é ser pai e mãe e, vendo tudo o
que fizemos aqui apenas para os dois, eu tenho mais do que
certeza de que seremos ótimos pais depois que pegarmos o jeito na
coisa toda. – digo, admirada com tudo o que tenho diante de mim. O
medo que sinto é grande, mas o amor que tenho pelosnossos filhos
é maior do que qualquer coisa e sei que lá no fundo, nós nos
sairemos bem.

◆◆◆

Andrew
— Vem cá. – chamo, trazendo Luara para minha frente e a sento
em meu colo.
— O que foi? – pergunta, envolvendo os braços por meu
pescoço.
— Só me deixa ficar aqui por toda a vida. – sussurro, afundando
o rosto entre seus seios e a abraço.
— É claro que sim, meu anjo. – responde, apertando-me ainda
mais e assim ficamos por tempo suficiente para que eu possa
esquecer todo o medo que sinto com a proximidade da chegada dos
nossos filhos.
— Que cheiro delicioso é esse? – pergunto, sentindo um cheiro
de chocolate e coco invadindo o quarto e Luara afasta no mesmo
instante.
— Meu Deus! – exclama. – Eu quase me esqueci do bolo no
forno!
— Fez um bolo e não me falou nada? – pergunto, ajudando-a a
se levantar e ela admite. – De que?
— Prestígio. – sorri em resposta. – Do jeitinho que você gosta
quando faço.
Sorrio de volta para ela, também levantando.
— Não vejo como poderemos ser pais ruins. – falo. –
Principalmente por você saber qual é meu bolo favorito e como ele
tem que ser. Com os dois vai ser ainda melhor.
— Me ajuda no recheio? – Lu pergunta um pouco corada e
entrelaço nossas mãos, saindo com ela do quarto, sentido o
delicioso aroma de chocolate que parece querer dominar o
apartamento todo.
— Adorei o resultado do que fizemos aqui. – comento. – Vai ser
um bom lar para criarmos nossos filhos.
— Lar é onde seu coração está. – Lu diz baixinho, quase que
consigo mesma e aperto sua mão, concordando. Afinal, só consegui
realmente ter este apartamento como lar depois que ela entrou em
minha vida. É como se tudo tivesse mudado desde então.

Encaro meu reflexo pelo espelho do quarto enquanto termino de


me arrumar para ir jantar na casa dos meus pais. Por mim eu ficaria
aqui a noite toda, mas tanto minha mãe quanto Luara pareceram
bem empolgadas com este jantar enquanto conversavam esta tarde
e Lu ainda mais depois que Julie chegou para busca-la para irem ao
salão de beleza há algumas horas atrás e até agora não voltaram.
Desde que ela não se atrase tudo bem.
Termino de me arrumar, passando um pouco do perfume e da
colônia pós-barba que Luara me deu quando ainda estávamos em
Nova Iorque e pego o celular no bolso para ligar para ela. Já são
quase seis horas e até agora nada daquela mulher aparecer para
podermos sair.
— Oi, amor. – ela atende com voz cantada logo no segundo
toque e sorrio, reconhecendo a música que cantei para ela há
alguns dias.
— Já começou a se arrumar para o nosso casamento? –
pergunto e ela ri.
— Não, seu bobinho. – responde ainda rindo. – Só quis estar
apresentável para o jantar com minha sogrinha.
— E conseguiu? – sorrio, imaginando perfeitamente sua cara ao
ouvir minha pergunta.
— Sai do quarto e me diz você. – diz toda mandona e contenho
a vontade de rir. Ao invés disto, abro a porta e vou provavelmente
para o único lugar onde ela pode estar se tiver acabado de chegar.
Assim como imaginei, Luara esta ali, parada e linda na porta do
elevador, encarando-me de volta. Os cabelos soltos e ondulados,
caídos sobre o ombro e um vestido azul marinho que vai até o meio
de suas coxas e uma faixa branca amarrada logo abaixo dos seios.
Ela parece um presente que estou louco para desembrulhar.
— Podemos ir andando? – ela pergunta ao telefone. – Não quero
chegar atrasada no jantar dos meus sogros.
— Neste momento estou mais interessado em desembrulhar
você e te levar para cama. – respondo, guardando o celular no bolso
e ela ri, ficando toda corada.
— Se você se comportar esta noite, talvez eu o deixe fazer isso.
– diz e pisca para mim. – Vamos ou não?
— Julie não vai conosco? – pergunto.
— Não. O Felipe nos levou ao salão e depois me deixou aqui. –
explica. – Eles já foram na frente. Pelo que entendi, o Felipe queria
conversar com seu pai sobre algo.
— Tudo bem. Vamos, então. – respondo com o cenho franzido. –
Você precisa pegar algo? Esta sentindo alguma coisa?
— Estou bem. Mas preciso de algo. – Luara sorri em resposta,
chegando mais perto de mim. – Um beijo seu. – sussurra com a
boca colada na minha e, sem demora, dou o que ela quer. – Agora
sim podemos ir.
— Antes que eu mude de ideia quanto a te desembrulhar só na
volta.

◆◆◆

Luara
Não acredito que até agora tudo esta correndo tão bem! Quer
dizer, estamos há duas quadras da mansão Giardoni e meu lindo
nem suspeita de que tem uma festa surpresa esperando por ele. E,
se suspeita, ele é realmente bom nisso de disfarçar, porque não me
questionou sobre nada e eu já teria enchido ele de perguntas de
todo tipo se desconfiasse de algo assim para mim.
Pego meu celular na bolsa para mandar a mensagem codificada
que combinei com a Ju, para avisar quando estivéssemos chegando
e ela pudesse preparar todo mundo lá na casa.
— Você parece ansiosa, anjo. – Andrew chama minha atenção e
quase derrubo o celular aos meus pés com o susto que tomo. – E
assustada também. – acrescenta.
— Eu diria mais que distraída. – respondo bem quando a
resposta de Julie chega.

Comprei para você ;)

— Pediu chocolate para ela? – And pergunta, parando com o


carro na frente do portão, esperando para que os seguranças o
abram para que possamos entrar. Geralmente eles fazem quando
ainda estamos um pouco longe, mas hoje receberam ordens diretas
para que apenas o fizessem quando estivéssemos na frente. –
Preciso ter uma conversa séria com Tiago sobre a equipe dele. – diz
assim que entramos, seguindo pelo caminho calçado e estaciona ao
lado do carro de Felipe, em uma das vagas da frente. Os demais
carros estão todos no fundo, fora de vista.
— De um descanso para eles, amor. – peço, chamando sua
atenção para mim. – Hoje é sábado e fiquei sabendo que sua mãe
fez um pudim delicioso.
— Neste momento, estou pensando mais no bolo que você fez e
que deixei em casa. – responde com um sorriso torto e desce, vindo
abrir a porta para mim. – Qualquer coisa que sentir, por favor, me
avisa. Por mais mágico que fosse meus dois filhos nascerem um dia
depois do meu aniversário, até eu sei que ainda é muito cedo para
isso.
— Pode deixar que aviso sim. – respondo, enlaçando meu braço
no seu e seguimos a passos lentos demais para alguém que está
tão ansiosa quanto eu para passar por aquela porta no final dos
cinco degraus da frente.

◆◆◆

Andrew
Luara parece toda misteriosa desde que chegamos aqui nos
meus pais e mais ainda enquanto subimos os degraus da varanda.
Ela lança olhares de relance para mim e sorri como quem aprontou
algo e começo a desconfiar que realmente tenha feito algo nesse
sentido quando saiu com Julie. O que é aceitável, considerando
todas as histórias que já ouvi das duas.
— Acha que devíamos ter trazido algo para o jantar? – ela
pergunta, tirando tudo da minha mente. – Poderia ter aproveitado
que fiz o bolo e feito... Sei lá. Qualquer coisa para sobremesa.
— Não se preocupe com nada, anjo. – respondo. – Minha mãe e
Karen sempre preparam tudo quando fazem esses eventos. – franzo
o cenho, recordando-me do último jantar que minha mãe fez aqui
nesta casa, antes mesmo de se mudar para Londres com meu pai. –
Já faz tempo desde o último. – comento e abro a porta, permitindo
que minha garota vá na frente.
— Talvez estejam lá em cima. – Lu sugere e olho ao redor, mas
não tem sinal de ninguém. – Ou na cozinha.
— Na certa minha mãe esta na cozinha cuidando dos últimos
preparativos. – concordo e seguimos pela sala de visitas até chegar
à cozinha também vazia. – Que estranho. Será que erramos a data?
— Não. – diz rápido demais. – Quer dizer, conversei com sua
mãe hoje mais cedo e ela me confirmou que seria esse sábado.
Então...
— Lilian? – chamo, enquanto Luara vai pegar um copo d’água
para tomar, voltando até mim. – Olá?
— Estamos aqui no fundo, filho! – minha mãe responde e olho
para Luara, oferecendo a mão a ela.
— Ao menos estão em casa. – comento e abro a porta para que
possamos sair e o que vejo aqui é a última coisa que esperava
encontrar.
— SURPRESA! – o coro de vozes exclama assim que coloco o
pé para fora e sinto quando Luara aperta minha mão, mas sou
incapaz de olhar para ela nesse instante. Fui pego. Toda minha
família e amigos estão aqui, com exceção de tia Lívia. Como?
Como se estivesse em câmera lenta, eu olho para o lado e vejo
Luara com o sorriso mais descarado do mundo.

◆◆◆

Luara
— Você. – Andrew sussurra para mim e tudo o que consigo fazer
é sorrir ainda mais.
— Surpresa! – exclamo.
— Como você... – ele começa, mas não consegue completar a
frase, já que é tomado por várias mãos e abraços que o
parabenizam. Grande parte das pessoas aqui eu nunca nem vi na
vida. Quem dirá então conhecer algum deles.
— Você conseguiu! – Lilian diz assim que chega até nós.
— O que é esconder uma festa surpresa dele, quando escondi
por dois meses que sabia do seu aniversário? – pergunto como se
isso não tivesse sido o menor sacrifício. Mas a verdade é que por
várias vezes quase deixei tudo escapar.
— Anjo? – ouço Andrew me chamar e olho para ele, que estende
a mão para que vá até onde esta.
— Com licença. – peço, indo até lá. – Oi, lindo.
— Quero te apresentar alguém. – ele diz e noto a moça loira
parada ao seu lado. Ela é linda, alta e toda corpulenta. Quem é essa
vadia?! – Anjo, esta é Celiny Lewis, uma velha amiga e
companheira no meu intercambio em Londres. – “Amiga” né, meu
querido? Reviro os olhos para ela um tanto quanto descontente.
Lilian poderia ter me poupado desta. – Celiny, esta é Luara, minha
amada noiva e mãe dos meus dois filhos.
— É um enorme prazer conhece-la, Luara. – Celiny diz,
cumprimentando-me com um beijo em cada bochecha. – Ouvi muito
falar de você nas poucas horas que tive com o Drew lá em Londres.
Olho para Andrew, sentindo-me ainda mais desgostosa com a
situação. Por que ele nunca me falou nada sobre ela e por que
agora quer nos apresentar? Será que eles... ARGH!
— Celiny é a amiga que me abriu os olhos quanto a ficar longe
de você, Lu. – ele diz, envolvendo os braços ao redor de minha
cintura. – A amiga que não via há anos.
— A do boneco de areia? – pergunto, lembrando-me da história
que me contou e ele concorda. – Ah! – exclamo. – Desculpa. Eu...
— Com um homem desse eu também me preocuparia. – ela ri. –
Daniel deve estar por ai, na certa correndo atrás do George.
Quando encontra-los, prometo que os apresento a vocês.
— Vai ser um prazer. – And responde e conversamos por mais
alguns minutos, sendo desviados para conversas rápidas com
vários outros amigos de Andrew. Homens jovens e da idade dele, da
época da faculdade.
Depois vieram João, Pedro, acompanhado de Rodrigo e tantos
outros empresários e até mesmo advogados. Desta parte reconheço
mais, já que são mais presentes.
— Por que dos seus amigos eu só conhecia Felipe? – pergunto
quando finalmente ficamos sozinhos e Andrew me serve um copo
de suco.
— Porque para mim ele é mais como um irmão e os outros são
colegas de saideira e que muito raramente vejo. – responde. –
Agora me conta: como conseguiu me fazer uma festa surpresa bem
debaixo do meu nariz e esconder tão bem?
—Porque sua mãe me desafiou e eu achei que você merecia
algo especial, ainda que não merecesse de fato, já que me
escondeu seu aniversário. – respondo. – Só fiquei chateada por sua
tia não ter conseguido vir. Estou doida para conhecê-la.

◆◆◆
Andrew
— Dessa vez você foi pego, Andrew. – Felipe diz, provocando-
me.
— Nunca foi segredo que Luara sempre conseguiu comigo o que
ninguém nunca antes foi capaz. – respondo, pousando um beijo nos
cabelos da Lu.
Estou sentado em uma mesa próxima à piscina junto de Luara,
Felipe e Julie, surpreso com o que minha garota e minha mãe
fizeram aqui para mim.
A música, a decoração... Tudo ficou em um nível bastante
profissional e soube que quem preparou a maior parte disso tudo foi
Pedro. Sempre ouvi que as festas que ele da em sua casa são boas
e, mesmo tendo sido convidado para várias delas, nunca me
interessei por ir. Principalmente por saber que vários funcionários
meus sempre estão lá e isso poderia não ser agradável, já que não
é todo mundo que consegue separar as coisas.
— Mas me diga, Felipe. – chamo sua atenção para mim. – Como
foram as coisas ontem?
— Posso responder essa? – Julie entra na conversa toda
animada. – Teve um senhor lá que disse que só fecharia negócios
com a BIT se eu fosse uma das responsáveis. – diz e arqueio a
sobrancelha, vendo meu amigo fechar a cara para ela. – Ele disse
que eu era muito...
— Tudo correu muito bem, obrigado. – Felipe a interrompe. – Na
segunda-feira, Ana ira passar um e-mail para você com o relatório
de tudo o que aconteceu por lá e Igor já ficou avisado sobre como
tudo deve correr em sua gestão. João mesmo conversou com ele a
respeito.
— E pelo visto não foi só com a BIT que as coisas correram tão
bem lá em Porto Alegre. – Lu comenta, chamando a atenção de
todos para ela, que tem o olhar preso na mão da amiga. – Achei
linda a aliança de vocês dois. – diz e Julie sorri um pouco sem
graça.
— Mais lindo foi o que o Fe fez antes de me dar ela. – responde
e olha para o namorado. – E eu a amei muito. – completa e vejo o
sorriso no rosto do meu amigo.
◆◆◆

Luara
— Vou pegar outra cerveja. – Andrew diz já se levantando.
— Trás uma água para mim, por favor. – Ju pede. Ela esta um
pouquinho mais animada do que deveria, mas ainda esta ciente de
tudo o que fez a noite toda.
— Eu pego para você. – Felipe se oferece e sai junto do amigo,
deixando nós duas finalmente sozinhas.
— Agora anda e desembucha de uma vez o que vocês dois
fizeram na sua casa. – peço, não conseguindo mais conter a
curiosidade. – Por que você queria saber do programa?
— Eu já falei o porquê, Lu! – exclama. – Nós estávamos em casa
conversando sobre vários assuntos e fazendo um lanche depois
de... Bem...
— Não vai me dizer que vocês dois ficaram vendo pornô. – tento
jogar verde para se consigo descobrir algo, mas tudo o que Julie faz
é rir e contar sobre o quão ansiosa esta para vir passar suas férias
aqui no Rio de Janeiro. O que nos levou a entrar em uma conversa
sobre casamento, batizado e maternidade.

◆◆◆

Andrew
— Felicidades, Andrew. – Guilherme, que trabalha sob a
supervisão de Luara me cumprimenta e aceito seu aperto de mão.
— Valeu. – respondo. – E ai? Esta se divertindo?
— Acho que estou um pouco perdido aqui. – diz e acabo rindo.
— Não fique. Pelo que vi, tem várias pessoas lá da BIT por aqui.
— E uma delas esta de olho em você. – Pedro entra em nossa
conversa. – Duas mulheres olhando para cada um de vocês. –
acrescenta e olho para o lado de Luara, que conversa com uma de
suas colegas do trabalho. Sorrio para ela ao ser pego encarando-a.
— Com todo respeito, Andrew. – Pedro chama minha atenção. –
Mas Luara esta um arraso esses últimos meses bem mais do que o
normal. Essa ração que você tem ai é boa mesmo, ein? – diz e ri,
fazendo com que eu me sinta levemente desconfortável.
— O que posso fazer? – pergunto com um sorriso de lado
quando Luara vem até nós.
— Estão falando sobre o que? – ela pergunta, oferecendo-me
seu copo e apoia-se em mim de maneira que eu sinta todo seu
corpo colado ao meu.
— Sobre aquela coisa que estávamos conversando há alguns
dias.
— Que coisa? – pergunta de volta e me olha por cima do ombro.
Para evitar que se afaste, entrelaço seu quadril em um braço.
— Se me dão licença, vou ali tentar a sorte. – Guilherme chama
nossa atenção.
— Aquele sobre os gêmeos.
— Ah! – exclama. – Pedro, queremos te fazer um convite.
— Se quero ser padrinho de casamento de vocês? – ele toma a
frente. – Não precisa nem perguntar!
— Na verdade não é isso. – digo e ele parece surpreso.
— Queremos que você seja padrinho de um dos bebês. – Lu vai
direto ao ponto e Pedro olha para mim, pedindo em silêncio para
que confirme o que ela diz.
— AAAAAAAAAAAAAAAAH! EU NÃO ACREDITO NISSO! –
exclama alterado e cobre a boca com as mãos. – Vocês estão
realmente falando sério sobre isso?
— Você é nosso amigo. – Luara diz.
— Qual dos dois lindos é que vai ser o lindo do dindo aqui? –
pergunta mais para a barriga de Luara de que para nós. O que me
faz rir. – Não importa. Eu vou ser titio do outro do mesmo jeito.
Posso? – pergunta.
— Claro. – Lu responde e ele toca sua barriga com as duas
mãos.
— Ah! Eu senti! Eu senti!
Luara olha para mim por cima do ombro e a abraço ainda mais
forte, preenchendo todo e qualquer espaço vazio entre nós.
— Não se atreva a sair da minha frente.
Ao longe, ouço Pedro dar a notícia para um grupo que será
padrinho de um dos nossos filhos e me sinto orgulhoso com a
escolha que fizemos com todos os quatro. Serão: Julie e Pedro,
Camile e Felipe. Ainda que a ordem não tenha sido definida ainda.
— Por que não me contou? – Lu pergunta, dando um beijo em
meu peito.
— Acho que eu só quis aproveitar para me despedir da minha
antiga vida – respondo e ela franze o cenho. – Sei que fui idiota e
egoísta por pensar assim. Era um direito seu que eu compartilhasse
isso. – adianto antes que diga qualquer coisa. – Só não estou
acostumado a dividir as coisas com ninguém.
— Quero participar da sua vida, And. – Luara diz em resposta,
guardando suas mãos nos bolsos traseiros da minha calça. – Mas
preciso que você divida suas coisas comigo também. Boas ou ruins.
Não me importa.
Franzo o cenho um pouco confuso e viro o restante da bebida
que me entregou.
— Estou falando sério sobre querer que compartilhe suas
alegrias e tristezas comigo, lindo. – ela volta ao assunto. – Nós dois
tivemos um passado estranho e turbulento, mas podemos corrigir
isso.
— Acho que posso ser mais aberto com você. – digo, pousando
um beijo em seus cabelos.

◆◆◆

Luara
— Lu, o que acha de já cortarmos o bolo? – Lilian pergunta já
por volta das onze horas e me sinto um pouco sonolenta aqui
sentada no gramado com And. Já tem algum tempo que fugimos
para cá.
— Antes que ela durma. – Andrew diz em resposta e me ajuda a
levantar, onde seguimos os três para junto de todos os convidados e
pego uma taça com um drink sem álcool para um brinde.
— Pessoal. – chamo o mais alto que consigo e Pedro baixa o
volume da música. – Obrigada. – agradeço, virando-me para And. –
Sei que todos ainda querem bolo ou pelo menos eu quero, porque
estou morrendo de vontade de comer.
Alguns riem com meu comentário, mas é a verdade.
— Sou péssima com as palavras ditas e sempre me embaralho
toda quando tento formular algo, mas... Ontem foi um dia especial
para alguém que amo muito. – Andrew cruza os braços, encarando-
me. – Há alguns meses, logo que me mudei aqui para o Rio, eu
conheci alguém. Era para ter sido apenas um passeio na praia para
relaxar do que o dia seguinte seria. Então ouvi alguém chamar entre
as músicas que estava ouvindo e parei. Era um homem estranho e
tinha aquele alarme dentro da minha cabeça, gritando para que eu
ficasse longe dele, porque era perigoso. Mas eu ignorei, porque ele
parecia legal, já que me abordou com um assunto que amo muito.
— Livros. – And me interrompe e acabo rindo por puro
nervosismo.
— Sim. – concordo. – Nós caminhamos juntos por algum tempo
e depois voltamos. Ele ia me acompanhar até em casa, porque já
estava ficando tarde e eu não conhecia nada aqui, mas seu melhor
amigo ligou dizendo que havia sofrido um acidente e ele precisou ir.
— Isso foi você, cara. – And diz agora para Felipe, que ri sem
graça. Ju o abraça, rindo junto.
— Foi mal.
— Por dias eu só tinha aquela foto no meu celular, que me
lembrava de que tudo aquilo tinha sido real e eu só o encontrei no
último lugar que podia imaginar. E... Quando mais precisei, ele
esteve ao meu lado, como um amigo. E de amigo ele passou a ser
alguém que eu odiava ter sentimentos e alguém que estava
começando a amar de verdade. – umedeço os lábios, sentindo todo
meu corpo tremer. – Aquele estranho virou meu melhor amigo e o
homem que eu amo. A pessoa que me deu as duas pessoinhas que
mais amo nesse mundo e que também me fez ser uma mulher
diferente do que eu era. – digo, apoiando as mãos em cada lado da
barriga e And da alguns passos a frente, ficando a pouca distancia
de mim. – Eu amo você, Andrew. Amo bem mais do que jamais
achei ser possível amar alguém e talvez até bem mais do que
gostaria. Mas é que mesmo com toda essa confusão aqui dentro de
mim, com todos meus problemas, você continua lutando por nós
para que tudo termine bem, independente de quantas vezes eu
brigue com você por nada e por cada noite que acordo à noite só
para te pedir para buscar algo.
Agora Andrew esta a apenas um passo de mim e sinto todas
minhas estruturas ruírem.
— Eu amo amar você, Andrew Giardoni. – digo com a voz
embargada e ele sorri para mim.
— PARA DE FALAR E SE BEIJEM LOGO! – alguém grita entre
os convidados, seguido por um coro de “beija! beija!”.
Meu coração esta disparado, quase impossível de sentido até e
Andrew apenas me encara todo sério e com as mãos nos bolsos.
Com apenas um passo, ele esta na minha frente, com o rosto
colado ao meu e a mão em minha cintura, enquanto com a outra
segura minha nuca e vejo o brilho das estrelas refletindo em seus
olhos cinza, instantes antes de me dar o beijo mais apaixonado que
já ganhei em todo tempo que estamos juntos e sinto como se
estivéssemos novamente em setembro, na cobertura do Golden
Village, apenas nós dois.
— Deus, como eu amo essa mulher! – And exclama alto logo
que afasta e preciso me apoiar em seu peito para não cair, porque
estou mole.
— Agora o bolo! – ouço a voz de Julie entre todas as outras e
vejo Felipe e Daniel, marido da Celiny, trazendo um grande bolo de
fraldas, que chega acompanhado do coro de “parabéns pra você”.
— Achei que fosse escapar desse momento esse ano. – ele diz
todo sem jeito e vejo seu rosto corado.
— Você esta com vergonha! – digo para que ninguém além dele
me ouça e ele nega. – Está sim, lindo.
— Acho melhor cortarmos o bolo. –Andrew muda de assunto,
mas seu rosto ainda diz o quanto ficou sem jeito com isso.
Assim que colocamos nossas facas para cortar o bolo, descubro
que ele é de leite condensado com pedaços de chocolate e cada
camada de massa é uma cor. Menina e menino.
— Achei que seria uma boa aproveitar para fazermos uma
surpresa dentro de outra surpresa. – Ju diz e sorrio para ela.
Andrew serve o primeiro pedaço em um pratinho e vira para mim
com um sorriso que diz que vai aprontar algo.
— Eu amo amar você, meu Anjo. – diz, dando-me nada além de
um selinho nos lábios e sorrio. – Te amei desde o primeiro instante,
sete anos atrás naquela festa.
Ele então me entrega o bolo e me abraça forte e de maneira
especial. O que me faz sentir nossos filhos mexendo.
Capítulo Vinte e Três
Sábado
Andrew

Debruçado na sacada do quarto, observo a cidade ao longe, sem


ter um ponto exato para olhar. Tudo o que tenho na minha cabeça
hoje é o pensamento do quão rápido essas últimas duas semanas
passaram e no quão rápido o tempo se faz quando se esta
esperando.
São apenas mais alguns dias até que meus filhos estejam aqui,
em meus braços. E quanto menos dias, menos preparado eu me
sinto.
E isso às vezes me deixa nervoso. Muito nervoso.
Nervoso como na semana passada, quando Luara me acordou
no meio da noite enquanto tentava encontrar uma posição que lhe
permitisse dormir e o único lugar que conseguiu isso foi em um
pequeno colchonete, na qual ela me fez colocar no chão da sala e
dormir com ela ali. Apesar da situação, foi algo divertido de se
presenciar.
Mas em sua maioria, o nervoso que sinto é aquela ansiedade
pelo que esta por vir. Por saber que em pouco tempo teremos duas
crianças tão pequenas em nossa casa e que irão depender tanto de
nós e... Eu me vejo brincando com os dois no tapete da sala,
fazendo uma bagunça enorme depois do almoço.
Sinto o vento bater em meu rosto ao mesmo tempo em que duas
mãos deslizam por meus braços.
— Lindo. – sua voz suave me chama, seguido por um beijo em
meu ombro. – O Fe já esta ai para falar com você. – ela diz e seguro
suas mãos, virando de frente para ela. – A Ju e eu vamos aproveitar
que vocês dois tem essa reunião importantíssima e vamos sair para
tomar sorvete.
Por alguns instantes eu apenas observo Luara em silêncio,
vendo seus olhos brilharem sobre a luz que entra pela sacada.
Observo também sua barriga e a vejo mexer daquela forma nada
discreta e o sorriso bobo em meu rosto é o que a faz sorrir.
— Esta tudo bem? – Lu pergunta, acariciando meus dedos.
— Só estava pensando no quanto estou louco para que nossos
pequenos estejam aqui logo. – respondo com um sorriso de lado,
tocando sua barriga, sentindo nossos filhos bastante animados.
— Sobre o que é essa reunião de vocês? – pergunta outra vez,
provavelmente notando a preocupação em meu rosto.
— Trabalho. – respondo. – Como logo Felipe assumira o cargo
como juiz, não poderá mais responder diretamente como meu
advogado pessoal.

◆◆◆

Luara
Presto atenção às palavras de Andrew. Principalmente a que diz
respeito sobre Felipe logo se tornar um juiz. Quer dizer, por muitas
vezes Ju disse que ele havia prestado esse concurso, mas não
havia me dito nada sobre ele já ter recebido uma resposta sobre os
resultados.
— Então ele conseguiu? – pergunto curiosa e contente por
Felipe. Ele sempre se mostrou muito esforçado com seu trabalho e
qualquer coisa que diga respeito a ele.
— Primeiro lugar no estado. – And responde e meu queixo cai. –
Divulgaram os resultados ontem pela manhã.
— Meu Deus. – sussurro. Felipe não apenas é um bom
advogado, como também é um nerd de primeira!
— Tudo bem? – ele pergunta.
— Estou surpresa por você ter um nerd como melhor amigo. –
respondo com uma careta. O que faz Andrew rir. – Qual é a graça?
– pergunto, tentando parecer ofendida.
— Ficaria surpresa se descobrisse como eu era na escola. –
responde, passando o braço por meus ombros e beija minha
bochecha. – Vamos. Não acho que Julie vá gostar de esperar para
irem tomar sorvete.
E no que ele diz isto, minha amiga aparece na porta e cruza os
braços ao debruçar no batente, batendo o pé no chão um pouco
impaciente.
— Vocês podem namorar mais tarde. – diz.

Quase uma hora mais tarde, estou caminhando pelo calçadão de


Copacabana com Julie, tomando o cuidado para não nos
afastarmos muito da sorveteria, uma vez que And já mandou
mensagem dizendo que ele e Felipe estão a caminho e que os dois
tem uma surpresa para nós.
— E o que você acha disso? – pergunto, tomando um pouco do
meu Milk-shake e vejo pelo canto do olho quando Ju franze o cenho.
Ela acabou de me contar tudo sobre essa nova promoção do Felipe
e tudo o que isso envolve.
— Desde que começamos a namorar, quando só nos víamos
nos finais de semana, lá no comecinho ainda, mesmo que só
tivéssemos aquele momento, o Fe sempre arrumava um tempinho
para estudar sobre alguma coisa. – ela responde. – Fosse depois do
almoço ou até mesmo antes de dormir. Qualquer intervalo era uma
página. E...
Ju para de andar, virando para a praia e percebo a expressão
orgulhosa em seu rosto. Ela esta feliz e parece ainda mais
apaixonada do que das outras vezes.
— Ele merece tudo isso, Lu. – diz, encarando o mar. – Felipe é
um homem dedicado e esforçado. E eu amo o fato de poder estar
ao lado dele, crescendo com ele. – ela faz uma pausa e me olha. –
Ainda que eu esteja alguns anos atrás dele na minha profissão.
— Tenta namorar o presidente de uma empresa multinacional
então. – respondo, fazendo com que um silêncio pese em cima de
Julie e de mim, até que as duas acabam caindo na risada. – Estive
conversando bastante com o And a respeito disso nesses últimos
dias. – começo. – E eu meio que acabei contando a ele que já não
pensava há um bom tempo.
— Sexo? – Ju pergunta, fazendo mais uma de suas piadinhas
sobre Andrew e eu não estarmos muito “ativos” nos últimos dias,
uma vez que as dores começaram e o tamanho da minha barriga
não tem favorecido muito. Não que ela saiba tudo em detalhes, é
claro.
Sorrio, lembrando-me de algo sobre a noite passada.
— Lembra-se de quando eu dizia que queria ter meu próprio
escritório? – pergunto, virando-me para ela, que confirma. – Depois
do casamento, quando os gêmeos estiverem um pouco maiores,
vou colocar essa ideia em prática.
— Linda! – ouço chamarem e viro para trás ao mesmo tempo em
que Julie. Nossos garotos chegaram e estão acenando para nós.
— Seremos donas dos nossos próprios negócios, que namoram
homens muito importantes, – Ju responde, enlaçando o braço no
meu para atravessarmos a rua de volta a sorveteria.

◆◆◆

Andrew
Caminhando de vagar, Lu atravessa a rua apoiando-se na
amiga, enquanto conversam entre sussurros e cheias de risadinhas
para Felipe e eu. O que me deixa curioso.
— Esta tudo bem com vocês duas? – Felipe é o primeiro a
perguntar.
— Aconteceu algo que talvez devamos saber? – completo.
— Não. – elas respondem de uma só vez.
— Eu só estava admirando o lindo do meu namorado. – Julie diz,
cumprimentando Felipe com um beijo e, ainda assim, ele parece
desconfiado.
— E eu admirando o lindo do meu noivo. – Lu completa, também
me beijando.
Olho para Felipe um pouco desconfiado de que as duas possam
estar planejando aprontar algo, mas decido apenas ignorar, uma vez
que elas vivem fazendo isso e sempre que fazem é algo bom.
— Vocês querem voltar ou ficar por aqui mais um pouco? –
pergunto, envolvendo Luara pelo quadril, que se apoia em mim.
— Cara, eu não vim a uma sorveteria para ir embora sem tomar
nada. – Felipe responde. – Além de que podemos aproveitar e
contas a elas sobre a surpresa.
— Eu só quero sentar. – meu anjo diz e a vejo mexendo as mãos
de uma forma um pouco incomoda, como costuma fazer quando
esta se sentindo incomoda.
— Esta tudo bem? – pergunto, ficando de frente para ela. – Você
esta suando.
— Estou. – responde e fecha os olhos quando passo a mão por
seu rosto para seca-lo. – Só estou me sentindo um pãozinho e isto
esta me incomodando um pouco.
— Vamos nos sentar um pouco e pego uma água para você. –
digo. – Se não se sentir bem, por favor, me avise. – peço e ela
confirma.
Talvez meus instintos de proteger Luara estejam um pouco
exagerados, mas não quero que nada aconteça a ela ou aos nossos
filhos. Eu apenas quero que os três fiquem bem e seguros ao meu
lado e... Eu nunca me senti desta forma com ninguém antes. O que
é um pouco estranho.
— Então? Qual era a surpresa que vocês tinham para nós? –
Julie pergunta, sentando-se em uma cadeira a sombra de uma
árvore.
— Aceitam jantar conosco amanhã? – Felipe pergunta as duas,
que parecem surpresa. – Você disse que precisávamos comemorar
o fato de que sou o cara mais foda do estado. Então resolvi aceitar.
— E também o fato de que você é um tremendo convencido, né
amor? – ela ri, enquanto ele apenas da de ombros.
— Até parece o And falando. – Lu diz e arqueio a sobrancelha.
— Sei o que eu sou, anjo. – digo e pisco para ela, jogando-lhe
um beijo.
— Tirando a parte de que vocês são dois convencidos, eu aceito.
– Julie responde. – O que vocês têm em mente?
— Restaurante? – Felipe pergunta, olhando de um para o outro.
– Sabe que sou péssimo na cozinha.
Passando a mão pelo queixo, percebo a expressão pensativa no
rosto de Luara e o sorriso que sempre da quando tem alguma ideia
que pode acabar dando ou errado.
— Anjo. – chamo e ela sorri para mim.
— Vocês dois poderiam ser os cozinheiros. – diz. – Acho que
você consegue ser um bom ajudante, Felipe.
— A noite é minha e acabo virando um reles ajudante de
cozinha.
— Ei! – exclamo, tentando parecer ofendido. – Sou um excelente
cozinheiro. Inclusive minha noiva já disse por várias vezes que
estou no ramo errado.
— Mas ela também diz que se você fosse Chef de cozinha, teria
que ficar ainda mais em cima para evitar que esses abutres fiquem
se atirando para cima de você. – Luara diz, lançando-me um olhar
de fuzilamento e acabo rindo.
— Eu ia adorar isso. – digo com um sorriso de lado que sugere
várias coisas e acabo deixando-a toda vermelha.
— Me surpreende como vocês dois ainda conseguem pensar em
sexo tendo dois bebês entre vocês. – Julie diz, fazendo Luara e eu
rir.
— Você vai entender como isso tudo funciona quando chegar
sua vez, amiga. – Lu diz e imagino ver Julie ficar vermelha dos pés
a cabeça e até mesmo seus cabelos parecem vermelhos, apesar de
serem escuros.
— Amém. – Felipe diz. – Então, eu topo isso de ajudar no jantar.
Mas você vai ter que pegar leve.
— Vou te ensinar algumas táticas para fazer com que uma
mulher se apaixone de verdade por você, Felipe. – digo e ele ri. As
garotas, assim como eu imaginei que aconteceria, não entendem o
que quero dizer.

◆◆◆

Luara
Andrew e Felipe saíram para ir ao mercado fazer compras,
dizendo para que deixássemos os “homens da casa” cuidassem de
tudo e que não precisaríamos nos preocupar com nada. E é por isso
que agora estou levando a Ju para conhecer o quartinho dos bebês.
— Amei a corujinha. – ela diz pouco antes de eu abrir a porta,
permitindo que entre na frente. – MEU DEUS! – exclama assim que
acende a luz. – Isso aqui é de longe a coisa mais linda que eu já vi
em toda minha vida, Lu!
Sorrindo, entro no quarto atrás dela, que parece boba enquanto
olha para todos os cantos e sento na poltrona de amamentação no
canto, abraçando uma almofada bem quando sinto uma pequena
sequência de chutes que me obrigam a fazer uma careta.
— Esta tudo bem? – Ju pergunta de repente preocupada.
— Chutes. – respondo e ela senta no tapete a minha frente,
cruzando as pernas. – Tem ficado mais forte a cada dia que passa
e, desde o meio da semana que tenho sentido algumas leves
contrações.
— Daqui a pouco passa. – diz e sorri para mim. – E como você
esta? Digo, agora que você e Andrew moram oficialmente juntos?
— Parece tudo perfeito, Ju. – respondo um pouco boba. – And
tem sido perfeito comigo em tudo e sempre quer me agradar. Eu
tento ser melhor, mas não tenho conseguido muita coisa nas últimas
semanas. Sem falar que ele não me deixa fazer nada que exija
esforço. – paro de falar, sentindo mais alguns chutes. Matthew e
Alice devem pensar que estão em um ringue de luta livre. – Quando
você apenas namora é uma coisa. Mas quando vocês moram juntos
e dividem uma vida, pode ser maravilhoso. E tem sido assim com
ele, apesar das nossas diferenças. Apesar de todas as vezes que
tento arrumar motivo para briga só por não estar confortável com
algo.
Fico em silêncio por algum tempo, lembrando-me das várias
vezes que flagrei Andrew sentado nesta mesma poltrona que eu,
encarando os dois bercinhos. Em algumas vezes ele apenas olha,
provavelmente imaginando que nossos filhos estão ali. Mas outras,
e estas quando ele está mais calmo e relaxado, eu o vejo com
algum dos vários brinquedos dos nossos pequenos. E nesses
momentos é como se ele se preparasse para muita brincadeira.
— A cada dia que passa me sinto mais apaixonada por ele, Ju. –
volto a falar. – E... Eu amo como ele tem permitido que eu o
conhecesse tão a fundo e me permita ir onde ninguém nunca foi na
vida dele, porque é assim para mim.
— Saber aceitar as diferenças e os defeitos do outro é o que
torna o amor. – Ju diz. – Vocês dois deveriam estar vivendo como se
estivessem em lua de mel, já que agora moram juntos. Mas para
vocês tudo foi diferente. Desde o início.
— Acho que se conseguirmos sobreviver juntos até a hora dos
gêmeos nascerem e os primeiros meses, nós poderemos nos casar
sem o menor problema.
Ju sorri para mim daquela maneira cumprisse e que me arranca
um sorriso, mas logo meus olhos se enchem de lágrimas ao lembrar
que, prestes a ganhar meus dois bebês, não tenho minha família por
perto. E isso de alguma maneira tem me deixado péssima nos
últimos dias, porque já tem algum tempo desde que os vi. E sinto
saudades deles. De todos eles.
— Eu amo você, Ju. – digo com a voz um pouco embargada. –
Você tem sido uma verdadeira irmãzona. Não tem ideia do quanto
isso significa para mim.
— Irmãs são para isso, amor. – diz em resposta, mostrando a
língua para mim. – O que você tem para comer aqui? O Fe não quis
para pra comer nada no caminho e estou faminta!
Quando ela diz isto, meu estomago ronca, lembrando-me de que
já é perto do almoço.

◆◆◆

Andrew
Sei que ainda não são nem mesmo seis da manhã quando
acordo pleno domingo, mas ainda que esteja sem sono, não quero
sair daqui tão cedo, já que faz um tempo tão gostoso para se
continuar debaixo do edredom quentinho com sua noiva, que não
para de se mexer na cama.
— Aonde você vai? – pergunto a Luara quando ela joga o
cobertor para cima de mim e sai da cama.
— Banheiro. – responde. – Preciso... – ela então para de falar e
apenas vai até lá, andando o mais rápido que consegue e viro para
o lado do banheiro, vendo-a sumir pela porta. – And, é sério. Eu não
aguento mais isso. – diz. – É como se minha bexiga fosse exprimida
por esses dois aqui o dia todo.
— Você prefere isso ou os choros de vários tipos? – pergunto
quando reaparece na porta e vem caminhando de volta para a cama
e pula por cima de mim.
— Eu não sei. Não tem uma posição que fique exatamente
confortável para nós três. – diz e vira para mim de lado, apoiando a
mão sobre a barriga. – Sabe que passo a maior parte da noite
tentando encontrar uma posição e acaba que raramente entramos
em acordo. Sem falar que minhas melhores roupas já não me
servem mais.
— Acho que você fica linda com minhas roupas. – respondo,
colocando minha mão por cima da sua, que ainda repousa sobre a
barriga e lhe dou um beijo de bom dia.
Luara fecha os olhos e fica assim por alguns instantes, o que me
faz perceber que algo não esta como deveria estar.
— Anjo. – chamo com a voz baixa e ela afunda o rosto em seu
travesseiro.
— Às vezes sinto como se eu não fosse mais atraente para
você. – ela diz, pegando-me completamente de surpresa. Ela o
quê?! – Que a qualquer momento você pode se cansar de mim, de
não ter mais sexo porque estou grávida ou...
— Isso não é verdade. – eu a interrompo. – Meu Deus, Luara!
Como você pode pensar isso? Grávida ou não, você é a mulher
mais atraente para mim. É a minha mulher. A minha noiva e a
mulher que amo. A mãe dos meus filhos. E eu nunca, nem em mil
mundos, olharia para outra mulher além de você, droga!
— Então por que você não se deita mais comigo a noite? – ela
joga de volta, um pouco alterada. – Você pensa que isso não mexe
comigo, mas mexe sim!
Desta vez quem fica em silêncio sou eu e isso me deixa
realmente desconfortável. Não porque ela esta certa ao dizer que
não a acho atraente ou que iria atrás de outra só por não termos
sexo agora. Céus! Nós fizemos até muito pouco tempo atrás apesar
de todo o medo que sentíamos com isso. Mas...
Fecho os olhos e cubro o rosto com o braço antes de dizer às
palavras que mais tem me assustado nas últimas semanas:
— Tenho medo de que se eu dormir, você sinta algo e eu não
veja. Ou de sair do seu lado quando mais precisar de mim ali e algo
acontecer. – sussurro as palavras sem me importar se ela as ouve
ou não. Apenas preciso dizê-las da única forma que consigo. –
Quero estar ao seu lado, pronto e preparado, quando chegar a hora
dos nossos dois anjinhos se juntarem a nós, anjo.
— And. – Lu chama e olho em sua direção, vendo seus olhos
brilharem com lágrimas.
— Eu tenho medo de não conseguir ser o pai que você espera
que eu seja para eles, porque nunca nem mesmo peguei um bebê
no colo.
Ao ouvir minhas últimas palavras, Luara senta na cama e vira
para mim de maneira que possa segurar minhas mãos.
— Você é exatamente o que eu espero para eles, lindo. – diz. –
Você é meu melhor amigo e meu amor e não espero que seja nada
além do excelente pai que sei que será para eles, porque você é um
homem incrível. Porque eu já te peguei no quartinho deles várias
vezes e sei que com você não faltarão brincadeiras. – sorrio um
pouco sem graça e Lu aperta minha mão um pouco mais forte. –
Não espero que seja de cara o melhor pai do mundo, mas sim
aquele que vá estar ao meu lado para que possamos aprender
juntos como sermos bons pais.
Com isto, Luara se aproxima de mim e me da um beijo leve,
afastando logo em seguida e noto a expressão de dor em seu rosto.
— Tudo bem? – pergunto preocupado e ela confirma.
— Além dos chutes, leves contrações. – responde e franzo o
cenho, sentindo-me ainda mais preocupado. Já tem alguns dias que
ela tem sentido isso e não sei se me sinto seguro, ainda que seu
médico tenha dito das vezes que liguei que era normal e que eles
estão prontos para sair a qualquer momento.
— Só mais alguns dias, meu anjo. – sussurro, segurando seu
rosto entre minhas mãos e a beijo, sentindo-me nervoso.
Capítulo Vinte e Quatro
Domingo
Luara

— Ainda não acredito que você me fez vir ao shopping pleno


domingo de manhã apenas para comprar um livro, Lu. – Julie
resmunga enquanto a arrasto pelo braço, levando a nós duas pelas
várias lojas que tem aqui.
— Não é qualquer livro, Ju. – respondo, olhando para ela por
cima do ombro. – Além de que já disse que te pagaria o almoço
apenas por ter me acompanhado. – digo e ela ri.
— Estou pensando em aumentar meu preço e pedir também um
livro.
— Tudo bem. – respondo ao mesmo tempo em que sinto alguém
esbarrar no meu ombro.
— Desculpa. – ele pede e sua voz me é estranhamente familiar,
ainda que eu não seja capaz de distingui-la com tanto barulho. –
Luara? – chama e viro em sua direção. – É você mesma?
Parado a pouca distância de mim depois de termos esbarrado,
está Victor, meu antigo colega de trabalho. E ele esta diferente da
última vez que nos vimos, meses atrás.
— Vini! – exclamo, usando seu antigo apelido do trabalho e o
abraço e ele me retribui com outro tão apertado quanto.
— UAU! Você esta...
— Linda? Sexy? – brinco. – É. Eu sei.
— Na verdade eu ia dizer “grande”, mas também serve isso. –
diz e sorri um pouco sem graça. – Oi, Julie.
— Oi. – Ju responde um pouco indiferente, indo totalmente no
oposto do que ela costuma ser com qualquer um.
— O que faz aqui? – pergunto curiosa para saber.
— Bem, eu... – ele começa e para. – Não querem se sentar? E
tomar algo, se não for atrapalhar os planos de vocês duas.
— Vai, sim. – Ju diz um pouco mais ríspida e olho para ela,
estranhando sua atitude.
— Não seja tão rude, Julie. – peço.
— O que? – ela pergunta de volta para mim. – “Nós temos mais
em comum do que você imagina”? – diz da mesma forma que
Andrew me contou sobre seu encontro com Victor no escritório em
São Paulo há alguns meses. – É sério isso?
— Então ele contou. – Vini diz sem graça. – Eu... Não quis
realmente dizer isto assim. Eu só... Desculpa.
— Está tudo bem. – respondo. – Vamos nos sentar e já
aproveitamos para almoçar, Ju. Assim podemos ir atrás do meu livro
com calma.
Com uma careta, Julie concorda e, em silêncio, caminhamos os
três até a praça de alimentação, onde Victor puxa uma cadeira para
que eu possa me sentar e tenta fazer o mesmo para Ju, que não
permite.
— Não vem com agrado que ainda não vou com tua cara. – diz e
senta ao meu lado. Tentando ser educado e agir naturalmente,
provavelmente até mesmo ignorando o ocorrido com And, Victor
ocupa o lugar de frente para nós duas.
— E então? O que faz perdido nas terras cariocas nessa época
do ano? Não deveria estar trabalhando? – pergunto.
— Fui forçado a tirar uma parte das minhas férias. – Victor
responde. – Já tem alguns dias que estou aqui e queria te ligar para
combinar algo, mas não tinha coragem.
— E esta gostando?
— Tudo é demais aqui. – diz e olha para os lados, como se
procurasse por alguém. – Bruna esta amando também. É ela quem
me faz sair da cama antes mesmo do sol nascer.
— Bruna? – Ju pergunta curiosa.
— É a garota com quem estou saindo há algum tempo. –
responde mais para mim de que para Julie e me sinto um pouco mal
por sua atitude. É como se ele sentisse algo pelo passado. Não sei.
— Fico feliz por vocês. – digo com um sorriso sincero, que logo é
substituído por uma careta.
— Tudo bem? – Julie pergunta.
— Chute. – respondo um pouco ofegante. – Acho que eles estão
brigando de novo.
Victor ri.
— Para quando é?
— Agosto.
— Agosto?! – os dois perguntam ao mesmo tempo e quero rir
com suas reações exageradas. Principalmente porque se eu tivesse
que aguentar Matthew e Alice presos aqui dentro por mais três
meses com esse barrigão não sei o que faria.
— Agosto de Deus e desses dois. – respondo, tocando minha
barriga.
— Idiota. – Ju diz e acabo rindo. – Vamos comer ou não? Estou
com fome.
— Eu só posso acompanhar vocês em alguma bebida. – Victor
responde. – Fiquei de almoçar com a Bru e as meninas em um
restaurante aqui perto e estou esperando elas voltarem das
compras.
— Ah... Sem problemas. – digo. – Acho que vou de um BK.
— Espera aqui que a gente busca. – Ju informa já se levantando
e os dois saem.
— Eu vou ficar tão mal acostumada com tudo isso. – digo
soltando um suspiro e sinto meu celular vibrando no bolso. Quando
o pego, vejo o nome de Andrew com sua foto na tela. – Oi, gatão. –
atendo.
— Oi, linda. – diz. – Esta tudo bem por ai?
— Alguns chutes, mas nada fora do normal.
— Qualquer coisa me liga, por favor.
— Pode deixar. – sorrio em resposta. – Ligou apenas por isso?
— Estou indo com Felipe comprar mais algumas coisas para o
nosso jantar. Queria saber se você quer algo.
— Como o que, por exemplo? – pergunto, deixando um “que” no
ar.
— Sorvete, chocolate, laranja, camisinhas... O que você quiser
minha linda. – diz e sinto a malícia em sua voz.
— Você não presta. – falo. – Surpreenda-me.
— Sabe que sou ótimo nisso, anjo.
— O melhor. – digo, soltando outro suspiro e repouso as mãos
sobre a barriga, sentindo-a mexer bem de leve.
— Esta tudo bem mesmo? – And pergunta um pouco mais sério
e resmungo um “Uhum”.
— Encontrei Victor aqui no shopping. – digo, pegando até a mim
mesma de surpresa. – Ele e a Ju saíram para pegar nosso almoço.
— Vai almoçar com seu ex? – ele pergunta e percebo certa
irritação em sua voz.
— Não. Vou almoçar com minha melhor amiga e trocar algumas
palavras com um antigo amigo do meu antigo trabalho, enquanto ele
espera pela namorada.
Do outro lado, Andrew resmunga algo que não entendo.
— Ele deu em cima de você ou insinuou algo?
— Você esta com ciúmes, Andrew Giardoni. – digo para provoca-
lo.
— Não disfarça Luara Brudosck.
— Não, And. Ele não fez qualquer coisa desse tipo e, mesmo
que fizesse, sei exatamente que meu lugar é ao seu lado, que é
meu noivo e pai dos meus pequenos.
— Certo.
— Você fica lindo com ciúmes, sabia? – pergunto apenas para
provoca-lo e sei que ele revirou os olhos para mim. – Nosso almoço
ficou pronto. – digo ao ver Ju e o Vini voltando com duas bandejas.
— Não tenho ciúmes de um garoto franzino e que tem metade
do meu tamanho. – diz irritado. – Felipe esta me enchendo aqui
para sairmos logo. Depois ligo para saber como você esta.
— Tudo bem. – respondo já pegando uma batata na bandeja que
é posta a minha frente. – E, And? – chamo baixinho.
— Oi?
— Eu amo você. – sussurro, sentindo o olhar de Victor em mim
por baixo das lentes de seus óculos.
— Eu sei. – And diz em resposta. – E eu também amo vocês,
meu amor.
— Só não se esquece de comprar minhas coisinhas, ein? Todas
elas.
— Todas mesmo? – ele pergunta de volta e sinto meu rosto corar
ao me lembrar da lista que ele havia citado.
— Sim. Mas agora vou almoçar, porque a Li e o Matt estão
gritando aqui “Queremos batata, mamãe! Batata, mamãe!”.
Andrew ri do outro lado e com custo nos despedimos.
— Um casal. – Victor diz assim que guardo o celular outra vez e
confirmo.
— Meus dois grandes amores. – sorrio.
— E meus dois lindos sobrinhos. – Ju completa.
— Acho demais como a amizade de vocês só se fortalece com o
passar do tempo. – ele comenta e bato com o ombro no de Julie.

Conversa vai, conversa vem, descobri que Victor começou o


mestrado como And havia recomendado que ele fizesse no dia em
que se encontraram e quando foi promovido no trabalho. Disse que
está indo bem, ainda que seja bem mais puxado do que o período
normal da faculdade. Contou também que agora é o responsável
pelo segundo andar que alugaram para expandir o escritório e por
grande parte dos projetos que pegam para trabalho. E nessa parte
eu me senti realmente feliz por ele.
Como não resisti à curiosidade, Bruna é uma garota que esta no
segundo ano de Estatística, dois anos mais nova que ele e uma
garota muito inteligente e esforçada. Ela mudou-se para São Paulo
para estudar e mora em uma república com algumas garotas, que
estão aqui junto deles.
— E onde ela está agora, que não apareceu ainda? – pergunto
ainda mais curiosa assim que termina de contar sobre o romântico
primeiro encontro deles.
— É justamente o que estou querendo saber também. –
responde.
— E tudo bem por ela você se encontrar com uma ex-paixonite?
– Ju pergunta ainda mais curiosa e olho para ela de cara feia, mas
sou ignorada com grande sucesso e tudo o que Victor faz é rir.
— A Bru sabe que Luara é noiva do dono da BIT e não
apresenta risco algum. – diz, baixando o tom de sua voz a cada
palavra.
— Achei pesado. – digo.
— Lu, o Fe mandou mensagem dizendo que ele e o And vão
para a casa na praia e pediu para encontrarmos com eles lá. – Ju
informa e confirmo com um gesto.
— Diz que já vamos para lá. – peço. – Só preciso achar meu
livro antes.
— Acho que já tomei muito tempo de vocês duas e pelo visto
têm planos pra mais tarde. – Victor diz. – E eu ainda tenho que
encontrar a Bru para voltarmos ao hotel.
— Foi bom rever você, Vini. – digo assim que nos levantamos. –
Manda um abraço para a Bruna e diga que adoraria conhece-la um
dia desses.
— Digo sim. – ele sorri um pouco sem graça. – Estou feliz pelo
seu noivado e pelos bebês. Espero que tudo corra bem e... Manda
uma foto quando nascerem. Vou adorar conhecer os dois.
— Pode deixar.

◆◆◆

Andrew
Quando Luara me ligou avisando que haviam chegado do
shopping já eram quase cinco da tarde. Ela disse que iria tomar
banho no nosso apartamento e que depois viria com Julie para
nossa casa e até agora nada de aparecerem. E isso já tem quase
duas horas. O que me deixa um pouco preocupado, mas não tanto,
já que sei que Julie me ligaria no mesmo instante caso algo lhe
acontecesse.
Ouço baterem na porta e seco as mãos no guardanapo, indo
abrir a porta, onde vejo minha linda noiva usando um vestido que
seria todo branco se não fosse um pequeno detalhe em vermelho na
alça. O que me faz pensar no quanto ela ficara linda em seu vestido
de noiva.
— Estão atrasadas. – digo, aceitando o beijo que me oferece.
— Passamos da quitanda para comprar verduras. – Julie
responde, passando por mim como se eu nem mesmo estivesse
aqui.
— Ela está irritada com o Felipe. – Luara sussurra.
— Ele foi para casa tomar banho! – grito sobre o ombro para que
ela possa me ouvir e, no mesmo instante em que ouve minhas
palavras, sua mão livre se ergue, mostrando o dedo do meio para
mim. – Que grossa. – digo baixinho e Lu ri.
— Eles se desentenderam no telefone antes de sairmos do
Golden. – explica. – Não vai ficar assim no jantar, né? – pergunta,
olhando-me de cima a baixo e ajeito minha bermuda no lugar.
— O que há de errado? – pergunto de volta com um sorriso de
lado.
— Para a sobremesa, nada. – responde, passando o braço por
minha cintura e prende o dedo no interior da cueca de modo que
consigo sentir seu toque quente contra minha pele. – Mas para o
jantar temos companhia esta noite.
— E o que teremos para a sobremesa?
— Eu estive pensando em algumas coisas e pensei que talvez
pudéssemos fazer aquilo de novo. – diz, ficando vermelha igual a
um pimentão e franzo o cenho, sem entender muito bem.
— Aquilo? – pergunto de volta e ela confirma.
— Você sabe. – responde. – Aquilo que fizemos há um tempo,
só uma vez e... Eu quero muito você de novo.
— Anjo. – chamo e ergo a mão até seu rosto, correndo-a por sua
pele macia e coloco sua mecha de cabelo para trás de sua orelha. –
Eu adoraria cuidar de você outra vez. – sussurro, pousando um
beijo em seus lábios. – O que você acha de ser minha provadora?
Preciso de alguém para opinar sobre este último item do cardápio
que estou terminando.
— Vou adorar. – Lu sorri. – E ainda quero poder cozinhar com
você de novo, como fizemos da última vez, porque fomos uma dupla
excelente de cozinheiros.
— Vou adorar. – repito suas palavras, enlaçando seu quadril
para que possamos entrar.
— Que saudades eu estava desse lugar! – exclama, olhando ao
redor. – Só não desses três degrauzinhos que ainda me matam.

◆◆◆

Luara
Enquanto Andrew prepara o molho branco para a macarronada,
cuido da mini moranga que ele comprou para poder rechear com
camarão. A salada verde com morango já esta pronta e separada,
faltando apenas temperar com molho.
Ju, que estava se sentindo entediada e irritada, está na sala
jogando Xbox, provavelmente tentando não pensar na discussão
que teve com Felipe enquanto eu me arrumava para virmos para cá.
Ela não disse nada a respeito disso e menos ainda falou qualquer
coisa a respeito do ocorrido. Apenas sei por que eu ouvi alterada
com ele no telefone, mas espero de verdade que eles se resolvam
logo.
— Vinho branco ou tinto? – a pergunta de Andrew chega até
mim, tirando-me de meus pensamentos e olho para ele, vendo as
duas garrafas em suas mãos.
— Qual o melhor? – pergunto de volta e ele sorri.
— Os dois.
— Posso provar um pouquinho dos dois para saber qual me
agrada mais?
Andrew coloca as duas garrafas sobre o balcão e vai até o
armário, onde pega duas taças de cristal, voltando até mim.
— Estou pensando no tinto. – diz, servindo-me e provo deste,
sentindo o aroma e a fragrância, que são deliciosos.
— Hmmm... – faço e ele sorri. – Suave e delicioso.
— Agora este. – diz, servindo uma pequena dose do branco,
mas não consigo nem mesmo provar, uma vez que me sinto um
pouco enjoada apenas com o cheiro dele.
— Tinto. – falo rápido demais e sem nem mesmo pegar a taça
que ele me oferece.
— Tudo bem? – pergunta e confirmo.
— Só um pouco de enjoo. Mas já passou. – respondo e And
franze o cenho. – Estou bem. É sério!
— Certo. – diz e vira para guardar a segunda garrafa, voltando
em seguida para o fogão.
Minutos mais tarde, ouço o portão abrir e o barulho de um carro
entrando e sei que Felipe chegou.
— Cheguei e estou faminto! – ele diz da sala. – Ah... Oi, Ju. – ele
a cumprimenta.
— Oi. – Ju responde. – Eles estão na cozinha terminando de
arrumar tudo.
— Essa eu quero ver. – falo baixinho e And me da um sorriso
sem desviar a atenção do fogo.
— Legal. – Felipe diz. – Esta jogando o que?
— Need For Speed. – responde. – Só correndo sem sentido
algum pela cidade.
— Posso sentar?
— Acho que sim.
Silêncio total por longos segundos que são quebrados por
Andrew tirando o molho do fogo e mexendo na pia logo em seguida.
— Quer jogar? – Ju pergunta e olho para And.
— Acho que sim. – Felipe responde.
— Até agora tudo bem. – comento.
— Não acho que eles vão se matar. – Andrew diz e sorrio. – Nós
já brigamos várias vezes e só fica estranho até que um dos dois, no
caso eu, tente uma reaproximação.
— Já fiz isto várias vezes, Andrew. – digo e ele ri.
— Quer provar? – pergunta.
— Acho que sim. – respondo, permitindo que me de um pouco
do molho na boca. – Que delícia! – exclamo. – Como você faz
coisas tão deliciosas assim, lindo?
— Segredo do chefe, linda. – ele sorri, dando-me um beijo.
— Já disse que você esta no ramo errado? – pergunto, sabendo
exatamente qual será sua resposta.
— Acho que sim. – diz com o cenho franzido e até um pouco
pensativo. – Na verdade algumas vezes.
— Você precisa me ensinar esses seus segredos culinários um
dia desses. Sério.
— Segredo de família. Só compartilho com você quando isto –
diz e ergue sua mão direita, passando o polegar pela aliança. –,
estiver nesse outro dedinho aqui. – completa, erguendo agora a
mão esquerda e sorrio.
— Que não demore muito mais então. – sorrio para ele. – Estou
ansiosa por isso.
— Quatro meses. – diz. – Aproximadamente. Vou tomar um
banho.
— Vai indo lá. Vou terminar de cuidar aqui e já vou. – respondo e
ele assente.
— Só não demora, porque nossos convidados já estão
esperando. – diz, tocando minha cabeça quando passa por mim.
Acompanho com o olhar quando Andrew chega à porta e para,
provavelmente vendo algo que Felipe e Julie estejam fazendo na
sala e, prestando atenção posso ouvir suas conversas.
— Isso não valeu. – Felipe diz.
— Valeu sim. – Ju responde. – Você que esta roubando com
esse negócio que sai do seu carro.
— É nitro. Você não usa porque não quer.
— SAI! – Ju agora grita. – VOCÊ VAI ME FAZER BATER, FE!
— É só apertar esse botão aqui, amor, e... – e silêncio um total,
que é quebrado por sons de tapas, seguidos de risadas e
novamente silêncio.
— Vocês me enojam. – And diz, entregando sua presença e
passa para o quarto, fazendo-me rir.

◆◆◆

Andrew
Tomo um banho morno e demorado, aproveitando o clima fresco
e raro que está fazendo esta noite. Depois, aproveito os minutos
restantes para aparar minha barba, que está passando do limite
permitido por qualquer um e que deveria ter feito esta manhã.
Na verdade acho que estou tentando aproveitar o máximo
possível com ela, já que irei cortar totalmente depois que os gêmeos
nascerem. Ou pelo menos até ter certeza de que nenhum dos dois
tem alergia quando beijar com ela. É só uma precaução necessária
que estou querendo tomar. Não uma necessidade.
— And? – ouço a voz abafada de Luara chamar do outro lado. –
Você esta pronto? – pergunta e abro a porta para sair.
— Só falta me vestir. – respondo correndo o olhar por todo seu
corpo. Ela agora esta usando um vestido folgado de um rosa
clarinho e cabelos soltos, sem maquiagem alguma. – Uau. – digo,
fazendo-a sorrir.
— Gostou? – pergunta, dando uma voltinha em torno de si
mesma.
— Claro. – respondo com um sorriso de lado. – Mas ainda prefiro
você sem ele. – digo de maneira sugestiva, indo até a cama, onde
deixei uma calça jeans e camiseta separadas, começando a me
arrumar. Lu senta, observando-me.
— Você tinha que ter visto a cara do Felipe quando a Ju
apareceu toda produzida. – Lu diz. – Só faltou deixar o queixo cair.
— Tinha que ter visto aqueles dois jogando. – falo enquanto visto
a calça. – Chega dar nojo de tão “fofinhos” que agem.
— Eles são um casal de namorados e estão apaixonados. – diz.
– Assim como nós.
Sorrio para ela, que me olha com uma expressão encantada e
com olhos brilhantes. Ela ainda está usando seus óculos no lugar
das lentes e já até me acostumei com eles, porque a deixa linda.
Mais do que já é.
— Você parece um bobo me olhando assim, lindo. – Lu diz de
uma maneira provocativa e termino de vestir minha camisa antes de
me aproximar dela.
— É porque sou um bobo apaixonado por você, anjo. – sussurro
com a boca colada na sua, afastando quando tenta me beijar. –
Acho melhor irmos alimentar aqueles dois antes que comecem a
brigar. – falo, deixando-a com uma ruga na testa.
— Você é cruel, Andrew. – diz.
— E você ama esse jeito. – digo de volta, arqueando a
sobrancelha para ela, como que a desafiando a dizer o contrario,
mas ela não faz. – Vem. – chamo, estendendo a mão para que a
segure e vamos até a sala de jantar, onde, estranhamente, a mesa
já esta posta com tudo em seu devido lugar.
— Foi você? – pergunto.
— Acho que foram eles. – Lu responde e dou de ombros.
— Você dois fazem o mais fácil e deixam o difícil para as visitas.
– Felipe diz, trazendo quatro taças em suas mãos. – Nada gentil
Andrew e Luara.
Na mesa eles colocaram uma toalha branca e os pratos de
mesma cor junto aos talheres, devidamente posicionados. A
moranga está bem ao centro, entre duas pequenas garrafas azuis
com uma rosa vermelha cada. A travessa com a macarronada esta
de um lado e a salada do outro, com o vinho em um pequeno balde
cheio de gelo.
— Não sabíamos se você iria tomar vinho ou não. – Julie diz,
trazendo uma jarra que coloca no espaço vazio. – Então fiz suco.
— O que vocês dois aprontaram enquanto não estávamos? –
Luara pergunta um pouco desconfiada.
— Só quisemos ajudar. – ela responde. – Afinal, vocês
prepararam tudo. Nada mais do que justo.
— Onde está à sujeira, Julie?
— Me erra, Luara. Deixe de ser ingrata.
— Acho melhor não forçar ou vamos acabar descobrindo o que
não gostaríamos. – digo, puxando a cadeira para que Luara possa
se sentar e acomodo-me ao seu lado. Felipe e Julie sentam de
frente para nós, do outro lado.
— Ao chefe e a chefa, então. – ele diz, servindo a todos com
vinho.

◆◆◆

Luara
— Isso estava incrivilhoso! – Ju exclama assim que termina o
jantar.
— Incrivilhoso? – Felipe pergunta sem entender nada.
— É uma mistura de incrível com maravilhoso. – explico.
— Ah... Hmmm... Palavra legal. Acho.
— Quer dizer que é uma coisa muito, mas muito boa, amor. – ela
diz quando And levanta para tirar nossos pratos.
— Obrigada. – sussurro.
— Deixa que lavamos. – Felipe se oferece, já recolhendo tudo e
Ju o ajuda.
— Preciso deitar um pouco. Sinto como se meus pés fossem
dois pães de tão inchados que estão. – falo quando Andrew vem me
ajudar a levantar, acompanhando-me até a sala e deito no sofá. –
Agora é minha vez de ganhar de você um pouco. – digo quando liga
o videogame e levanto a cabeça para que ele possa se sentar,
ficando deitada em seu colo.
— Querem sobremesa? – Felipe pergunta minutos mais tarde,
aparecendo na porta com um pote de sorvete de creme e Ju vem
atrás com quatro taças e colheres.
— Começo a concordar com você sobre eles terem aprontado
algo. – And sussurra em meu ouvido, fazendo-me rir.
—Você acha que eles... Você sabe. Enquanto estávamos no
quarto? – pergunto e ele olha para o amigo, que coloca o pote de
sorvete na mesa de centro.
— Não. Ainda não. – responde e segura minha mão, dando um
beijo nela. – Onde esta sua aliança? – pergunta ao notar sua
ausência.
— Esta guardadinha em casa. – digo. – Como agora sou um
pãozinho, toda vez que a uso acabo sofrendo para tirar. Então achei
melhor ficar sem. – explico e ele franze o cenho, desviando o olhar
para a TV, onde o jogo esta pausado. – O que foi? – pergunto. –
Andrew.
— Nada. – diz com um tom seco. – É só que você se encontrou
com seu ex sem sua aliança.
Ao ouvir suas palavras eu me levanto e apoio com o braço no
sofá para poder olha-lo melhor.
— É para isso que você pensa que serve uma aliança, Andrew?
– pergunto um pouco irritada e ele abre a boca para responder bem
quando a Ju nos entrega duas taças de sorvete, dando fim à
discussão. – Eu tirei porque estava me incomodando, lindo. – falo. –
Ou tirava ou não a encontraria mais no meio de toda essa massa de
pão que parece não parar mais de crescer. Não fui ao shopping sem
ela. Foi quando voltamos que ela estava incomodando mais e achei
melhor ficar sem até dar uma diminuída.
— Desculpa. – ele pede, passando a mão por meu queixo e o
beijo de leve, aceitando seu pedido de desculpas.
— Receita fácil e prática de como se ter um bebê. – Felipe diz,
chamando a atenção de nós três para ele, que parece falar consigo
mesmo, já que olha para a TV. – Primeiro: coloque todos os
ingredientes em um recipiente que suporte todo o produto. Segundo:
mexe bem até transbordar. Terceiro: espere a massa crescer até
estar pronto e tire do forno ainda quente e perca noites de sono. –
ele da de ombros e olha para nós. – Receita infalível para vocês
dois. – diz, fazendo-nos rir.
Pelo canto do olho, percebo quando And abre a boca para dar
uma resposta pronta, mas parece mudar de ideia.
— Que tal um campeonato? – Ju diz para mudar de assunto. –
Vocês dois contra o Fe e eu. Os perdedores pagam o castigo que os
campeões escolherem.
Olho para And, que tem uma sobrancelha arqueada para mim e
sorrio.
— Achei que já tivesse ficado claro que somos melhores que
vocês dois. – falo. Mas acaba que na última rodada, do último jogo
que era a decisão para o desempate, nós perdemos aos quarenta e
cinco do segundo tempo.
Capítulo Vinte e Cinco
Sexta-feira
Andrew

Mais uma semana se passou e nada dos gêmeos até agora. E


quanto mais os dias passam, mais ansioso fico para tê-los em nossa
casa. Ansioso, nervoso e inquieto com a espera.
Embora como um grande avanço, Luara tenha começado a
sentir dores bem mais fortes e intensas ontem à noite, enquanto
víamos um filme. Ela já estava sentindo isto desde o início da
semana, ainda que um pouco mais fracas do que a vi sentir ontem e
hoje pela manhã. E... Eu sinto que desta vez está realmente perto
desse momento e que logo nossos filhos estarão em casa conosco.
Acho que em toda minha vida, mesmo quando meus pais me
prometiam algo grandioso de presente, nunca me senti assim. E é
bom, porque desta vez será algo diferente tanto para Luara quanto
para mim. Algo que apenas ela foi capaz de me dar e me fazer
desejar com tanta intensidade e amor: nossa família.
— Andrew? – ouço João chamar, desviando minha atenção para
ele. – Está tudo bem?
— Apenas preocupado. – respondo, amontoando uma pilha de
contratos e assino o que preciso. – Estamos de acordo, então? –
pergunto, referindo-me aos projetos que temos para os próximos
meses.
Todos esses papéis que tenho aqui na minha frente e que acabei
de assinar são montanhas de peças para computadores e vários
aplicativos e softwares para as mais variadas empresas. Isto sem
falar sobre nossa própria produção de computadores, tablets e
alguns novos projetos que temos para serem lançados dentro de
poucos meses.
— Se estamos de acordo? – ele pergunta de volta e ri. – Meu
jovem, com todo esse trabalho que temos pela frente, você não
precisara trabalhar por um bom tempo.
— Sabe que não é o que quero. – falo. – Gosto do que faço aqui
e mais ainda de estar aqui, a par de tudo. Este é meu segundo lar.
— Fico feliz em ouvir você dizer isto. – João diz e franzo o cenho
para ele. – Há algum tempo atrás você dizia que isso aqui era tudo o
que mais importava na sua vida. Que nada lá fora interessava a
você. Mas hoje, depois que você e Luara assumiram tanto o noivado
quanto a gravidez, você não apenas ganhou mais credibilidade com
os grandes, como também mudou sua forma de pensar.
— Grandes decisões vêm junto de grandes responsabilidades. –
respondo um pouco sem graça. Principalmente porque tudo o que
ele acabou de dizer é verdade. Antes de Luara eu era um homem
egoísta e que não pensava em nada além do trabalho. Construir
uma família era a última coisa que queria e, casamento, Deus me
livre! – Eu só sinto pela Lu estar tão perto de ter nossos filhos agora.
– digo. – Tenho mais do que certeza que adoraria trabalhar nesses
aplicativos.
Franzo o cenho, repensando no que acabei de dizer.
— Mas também estou quase surtando para poder ter meus filhos
logo, porque tudo o que mais quero no mundo é poder segurar os
dois em meus braços! – digo, correndo as mãos pelos cabelos e
João ri.
— E para quando é? – pergunta e dou de ombros.
— Marcus disse que a qualquer instante. – respondo. – Ela esta
com algumas contrações e enjoos fortes. O que eu não imaginava
que pudesse voltar a acontecer. E... Eu só espero que tudo corra
bem com os três. – digo estas últimas palavras para mim mesmo e
aperto os olhos, sentindo meu próprio medo.
— Deus queira que sim. E Ele quer. Fique tranquilo.
— Obrigado. – agradeço, tirando o celular do bolso. – Preciso
ver como ela esta. – digo já levantando e João faz o mesmo.
— Vá para casa, Andrew. – ele diz. – Fique com sua mulher e
seus filhos. Não se preocupe com nada aqui.
Balanço a cabeça, aceitando sua sugestão. Afinal, mesmo que
Julie esteja o dia todo com Luara, minha cabeça esta sempre com
ela ao invés de no trabalho.
— Ela terá uma boa hora. Não se preocupe tanto. – conclui,
apertando minha mão e sai, levando todos os contratos com ele,
deixando-me à só.
Disco o número do celular de Luara.
— Ela está bem. – Julie diz assim que atende.
— Quão bem?
— De zero a dez, sete e meio. – ela responde. – Os enjoos
passaram e consegui fazer com que ela comece ao menos um
pouco. – explica. – Dai a Lu vomitou de novo, sentiu uma dorzinha
leve e então dormiu como não via há um bom tempo.
— Isso é bom. – digo sem saber exatamente o que fazer ou
dizer.
Nunca antes eu quis tanto que minha mãe ainda estivesse aqui
no Brasil como quero agora. Mas ela e meu pai voltaram na
segunda, precisando resolver alguns assuntos em Londres. Ainda
que tenha dito que voltariam logo, precisava dela comigo hoje. Ou
até mesmo os pais de Luara aqui para me ajudar.
— Estou indo para casa. – falo, fechando a porta da minha sala
atrás de mim e vou direto para o elevador. Ana deve ter ido a algum
lugar, uma vez que não esta em sua mesa. – Qualquer notícia você
me liga na mesma hora.
— Com toda certeza. – ela responde. – Só não demora. Por
favor.
— Trinta minutos e estou ai. – respondo já desligando.

◆◆◆

Luara
Acordo em um salto, sentindo uma dor muito forte. Algo que
nunca havia sentido antes. Não até agora.
— Andrew! – chamo por ele enquanto me sento na cama,
sentindo um enjoo muito forte e a cabeça girar. – Andrew! – torno a
chamar e nada de ter uma resposta. Mas onde ele se meteu, afinal?
Levanto da cama com certa dificuldade ao mesmo tempo em que
sinto algo estranho acontecer. E, quando olho para baixo, apenas
vejo um líquido estranho aos meus pés.
— ANDREW! – grito por ele outra vez, mas quem aparece na
porta é Julie e, não sei se são meus olhos, mas ela parece pálida e
em choque.
— AH MEU DEUS! – ela grita, correndo até mim.
— Cadê o And? – pergunto. Tudo o que quero é meu noivo
comigo.
— Estou ligando para ele agora mesmo.

◆◆◆

Andrew
Não consigo saber se foi só porque disse a Julie que chegaria
dentro de meia hora ou o que, mas consegui pegar um acidente
assim que virei a esquina da BIT, fazendo-me perder dez minutos de
um tempo mais do que valioso para mim.
Mas nada que um carro veloz não resolva.
Meu celular toca no banco carona, fazendo-me pular no lugar.
— Pronto. – atendo pelo alto-falante sem nem mesmo ver quem
é.
— Esta em casa? – Felipe pergunta do outro lado.
— Péssima hora para ligar, amigão.
— Indo para o hospital?
— Casa. – respondo. – Precisei ir a BIT assinar os contratos que
preparou.
Entre a conversa com Felipe, ouço um toque que indica que
alguém esta tentando falar comigo.
— Volto com você já. – falo. – Tem alguém na outra linha.
— Beleza. – ele diz e atendo a segunda chamada sem desliga-
lo.
— Onde você esta?! – ouço uma Julie apavorada do outro lado.
— Três quadras de casa. Aconteceu algo? – pergunto, sentindo
um calafrio percorrer por toda minha espinha e outro que vai dos
pés a cabeça.
— Vem logo que deu merda.
— Como assim, porra?! – exijo, ficando ainda mais preocupado
do que já estava.
— A bolsa estourou, droga! – ela exclama e ouço um urro ao
fundo que faz meu coração disparar forte contra o peito.
— Ai, merda! – é a primeira coisa que sai da minha boca.
— SE ESSE DESGRAÇADO E INFELIZ NÃO VIER LOGO, EU
VOU MATAR ELE! – Luara grita ao fundo e piso mais fundo no
acelerador.
— Vem logo, And. – Julie diz. – Eu estou desesperada e sem
saber o que fazer aqui. Por favor.
— Andrew, seu desgraçado infeliz e filho de uma Lilian! – Luara
diz alterada. – Se você não aparecer aqui em um minuto, você não
precisa nunca mais aparecer na minha frente, porque, eu juro, vou
matar você com minhas próprias mãos! – diz e ouço outro gemido
seu de dor.
— Julie, desce com ela pelo elevador e me espera na garagem.
– peço. – Trinta segundos e estou ai. – digo já desligando, voltando
com Felipe. – Liga para o Marcus e pede para que vá ao hospital
imediatamente.
— O que aconteceu? – ele pergunta preocupado.
— A bolsa da Lu estourou.
— Eita porra! – solta. – Já estou ligando. – diz e desliga.
Vejo as luzes do Golden Village a frente e de longe aciono o
portão para abrir, poupando-me de ter que digitar o código de
acesso e perder um tempo que não posso mais perder.
Eu não deveria ter ido ao trabalho logo hoje, porra! Não deveria.
Ela me pediu para ficar com ela em casa, merda!

Entro na garagem ao mesmo tempo em que vejo Julie e Luara


saírem juntas do elevador, onde paro com o carro e desço, indo até
elas.
— Quando aconteceu? – pergunto quando chego onde estão.
— Ela estava dormindo e escutei chamando você. – Julie
explica. – Quando cheguei ao quarto já tinha acontecido.
— Tá. Mas há quanto tempo isso?
— E ISSO LÁ TEM IMPORTÂNCIA, ANDREW?! – Luara explode
contra mim. – Só tira isso de mim logo, pelo amor de Deus! Tá
doendo muito. – ela diz e vejo lágrimas escorrendo por seu rosto e,
ajudando-a a se sentar no banco traseiro, seguro seu rosto entre
minhas mãos, secando cada uma de suas lágrimas.
— Nós já estamos indo. – digo baixinho, dando um beijo em
seus lábios. – Vai dar tudo certo, anjo. Logo nossos pequenos vão
estar aqui conosco e você vai me fazer o homem mais feliz do
mundo. – sorrio para ela, dando-lhe outro beijo. Por algum motivo
que não entendo, sinto-me nervoso e extremamente feliz ao mesmo
tempo. – Amo você, minha linda.
Luara sorri para mim ao mesmo tempo em que faz uma careta,
apoiando as duas mãos em sua barriga e fecho a porta, sentando-
me outra vez em meu lugar. Julie já esta ao seu lado, apavorada e
tentando anima-la de alguma forma. Dar coragem a ela e saio
cantando pneu.

Enquanto dirijo, ouço Julie conversando baixinho com Luara. Ela


parece bem mais calma do que quando as peguei, mas ainda a
pego olhando preocupada para mim quando olho pelo retrovisor.
— And. – ela chama. – Me da sua mão. – pede e levo a mão
para trás, entre os dois bancos. Sua mão esta quente e
extremamente suada.
— Já estamos chegando, meu anjo. – digo, acariciando cada um
de seus dedos. – Ali, oh. – falo e vejo seu olhar paras as luzes do
hospital, que tomam forma assim que viro uma última rua e continuo
em frente, parando apenas na porta, onde as ambulâncias param.
— Vou buscar uma cadeira de rodas. – Julie diz, correndo para
dentro do enorme prédio.
— Certo, Andrew. Mantenha a calma. – recomendo a mim
mesmo enquanto desço do carro para ir ajudar Luara. – Vem
comigo, minha linda. – peço, passando o braço por seu quadril,
trazendo-a para fora com cuidado. – Respira fundo. – recomendo.
— Fica comigo, And. – ela pede, fechando os olhos e sei no
mesmo instante que está sentindo outra contração. – Por favor.
— Sempre, meu anjo. – respondo e ela sorri um pouco fraco. –
Não vou sair do seu lado por nada nesse mundo. – digo, vendo
quando Julie e um enfermeiro correm em nossa direção.
— Vou leva-la para dentro enquanto o senhor da entrada na
recepção. – ele diz assim que acomodo Luara na cadeira.
— And...
— Não se preocupe meu anjo. – digo, ajoelhando-me na sua
frente. – Eu vou estar lá. Ninguém vai me tirar do seu lado. – dou
um beijo leve em seus lábios e os dois saem, deixando-me sozinho
com Julie.
— Ela vai ficar bem. Não vai? – pergunta enquanto acompanha o
enfermeiro com o olhar, até que se percam entre as pessoas dentro
do prédio.
— Eles vão. – respondo, pegando no carro a bolsa com todas as
coisas de Luara e atiro as chaves para Julie. – Deixe-o no
estacionamento. Estarei lá dentro com minha mulher.
— Certo. – responde, pegando as chaves no ar e entra no carro.

— Onde ela está? – pergunto ao ver Marcus logo depois de dar


entrada no nome de Luara na recepção.
— Estão preparando ela para leva-la a sala de parto. – responde
com toda calma possível enquanto veste sua roupa. – Está
preparado para assistir?
Franzo o cenho um pouco confuso. Não estava preparado para
isso.
— Posso? – pergunto entre uma mistura de medo e felicidade.
— É claro. Você é o pai.
— Beleza. – digo com um sorriso de lado e totalmente perdido.
— Assim que a trouxerem pedirei para que o chamem. – diz e
entra na sala e em instantes, vejo passarem com Luara em uma
maca.
— And. – ela chama um pouco grogue. – Não me deixa. – pede,
tentando segurar minha mão quando passam por mim.
— Estarei com você lá dentro o tempo todo, linda. – respondo e
eles entram.
Preocupado, sento-me no banco que tem bem de frente com a
sala de parto, enfiando o rosto entre as mãos, na espera que
permitam minha entrada logo. Tem apenas dois minutos que eles
estão lá, mas para mim já é mais do que uma eternidade.
— And. – ouço Julie chamar e olho em sua direção. Felipe está
parado ao seu lado, segurando sua mão. – Onde ela esta? –
pergunta preocupada com a amiga e aponto para a porta com a
cabeça.
— Estão preparando tudo. – respondo e levanto. Não consigo
ficar sentado e nem aqui fora. Preciso saber que tudo esta bem.
— Fica calmo, cara. – Felipe diz, tocando meu ombro e sinto
uma vontade de afasta-lo, mas me contenho. – Vai dar tudo certo.
Você vai ver.
— É. A Lu teve uma gestação saudável desde o início. – Julie
concorda. – Você cuidou dos três tão bem todo esse tempo todo e
sei que fará um excelente trabalho agora.
— Andrew Giardoni? – alguém chama e me viro no mesmo
instante. É uma enfermeira ou médica, parada na porta que esta
apenas um pouco aberta. – O doutor mandou chama-lo. – diz,
entregando-me uma roupa, na qual visto.
— Vai dar tudo certo. – Julie diz com um sorriso de lado a lado,
tentando esconder o medo que assim como eu também esta
sentindo.

Com o coração na mão, sigo cada uma das orientações que a


enfermeira me passa. Quer dizer, os ouvidos estão atentos a tudo
que ela diz, mas meus olhos procuram pelos de Luara e só se
tranquilizam quando os encontra.
— Vamos te dar uma injeção e você não vai mais sentir dor
alguma. Tudo bem? – Marcos diz a ela, que confirma com a cabeça.
– Vamos fazer cesárea assim como havíamos combinado na última
consulta. Tudo bem? – outra vez Luara apenas confirma com um
gesto e me estende a mão.
— Vai ficar tudo bem. – sussurra quando seguro sua pequenina
mão. – Quem você acha que será o mais velho? – pergunta e dou
um sorriso, não acreditando na maneira com que ela ainda brinca
com isto.
— Insisto em dizer que será o Matt – respondo, acariciando seus
dedos e ela ri.
— Aposto o que você quiser que a Li vai ser a mais velha.
— Fechado. – digo e sua mão aperta forte a minha, seguindo de
uma careta bem quando vejo lhe darem uma anestesia.
Pelo canto do olho, vejo Marcus conversando com seus
assistentes, mas não consigo entender uma única palavra do que
dizem. Aos meus ouvidos é como se eles falassem em outro idioma.
Mas não por termos médicos. Apenas estou tentando parecer calmo
por fora para poder dar coragem a esta futura mamãe, enquanto por
dentro estou surtando de todas as maneiras que nem mesmo
consigo imaginar.
— Conta uma história para mim. – Lu pede quase em um
sussurro. Sua visão parece pesada. Ela esta quase adormecendo.
Olho para Marcus, que assente em positivo para mim.
— O que quer ouvir?
— Eu não sei. – diz e fecha os olhos quando me abaixo ao seu
lado. – Por que você gosta de livros? – pergunta, olhando-me.
Por que gosto de livros?
Está é uma questão bem interessante, considerando que até
meus cinco anos eu os achava chatos e entediantes. Mas isto
mudou no dia em que fiquei trancado no escritório do meu pai por
uma tarde inteira, sem poder chamar qualquer pessoa que fosse
para abrir a porta, já que eu era proibido de chegar perto daquele
lugar. Eu meio que costumava destruir quase tudo o que tocava
naquela época. Mas, por algum motivo, quando vi a porta aberta e
que ninguém estava lá dentro, que resolvi dar uma espiada, meus
olhos se encantaram por tudo. Parecia até ser coisa de outro
mundo...
Conforme conto minha história a Luara, ela mantém sua mão
firma na minha, hora apertando forte, hora enfraquecendo... Não
tenho nem mesmo certeza de que esta prestando atenção ao que
digo, porque deve ser muito estranho ter a consciência de que
alguém esta mexendo dentro de você e não sentir nada do que
fazem.
Na verdade deve ser ainda pior sentir tudo o que fazem.
Fecho os olhos ao ter um rápido vislumbre do que estão fazendo
do outro lado e, quando torno a abri-los, Lu é quem esta de olhos
fechados. Ela parece tão calma e indiferente a tudo isso, que é
como se já estivesse pronta desde o início.
Dou um beijo nas costas de sua mão, fazendo com que abra os
olhos outra vez, oferecendo-me um dos sorrisos mais lindos que já
recebi, pouco antes de um choro fraco de criança chegar aos meus
ouvidos, seguido de um mais alto, que faz meu coração saltar pela
boca e sorrir feito um bobo. Quero levantar e ir conhecer meu filho,
mas não posso larga-la.
— Menina, trinta centímetros, três quilos e cem. – um rapaz
anuncia do outro lado e um sorriso enorme surge em meu rosto. –
Pontualmente as zero hora.
Há quanto tempo já estamos aqui dentro? Ainda pouco era sete
e meia e agora já viramos até mesmo o dia.
Outro resmungar chega aos meus ouvidos e um choro ainda
mais alto que o primeiro, fazendo-me arregalar os olhos por puro
espanto. O que faz Luara rir.
— Menino, trinta e cinco centímetros, três quilos e quinhentos. –
o mesmo rapaz de antes volta a falar. – Zero hora e cinco minutos.
Antes que minhas pernas me derrubem, obrigo-me a ficar de pé
bem quando duas enfermeiras trazem Alice e Matthew até nós em
seus braços e, pela primeira vez em horas, Luara solta minha mão,
estendendo os braços para pegar os filhos, que são colocados em
cada lado de seu peito.
Matthew esta usando um macacão azul e branco, dado por
Camile, enquanto Alice está com um rosa e branco, que Julie deu.
Ambos têm um desenho de coelho na perninha. Elas são as
respectivas madrinhas dos dois.
Matthew, para minha surpresa, é ruivo e bastante cabeludo. Já
Alice tem um tom mais clarinho. Talvez uma mistura entre castanho
claro e loiro. Eles se acalmaram no mesmo instante em que foram
postos sobre a mãe, que não para de sorrir.
— Quer segurar? – Luara pergunta para mim e,
involuntariamente, dou um passo para trás.
— Acho melhor não. – respondo. – Ainda estou tentando
recuperar a força nas pernas.
Por mais que eu queria, não confio em mim para segurar duas
pequenas e frágeis crianças como estas, ainda que sejam bem
maiores do que eu havia imaginado para quem nasceu quase um
mês e meio antes da hora.
Vários minutos se passam e eu apenas observo enquanto Luara
olha de um para o outro, como se tentasse marcar cada mínimo
detalhe que tem. Desde quantia de cabelos a tamanho, cheiro ou
qualquer pequena marca de nascença.
— Olha, amor. – ela chama, erguendo a mãozinha esquerda de
cada um. – Eles têm sua marca. – sorri e aproximo para poder ver
melhor.
Nas duas mãos tem uma pequena bolinha, que chega a parecer
um coração destorcido, assim como a marca que tenho em minha
própria mão. Só que um pouco mais forte de que as deles.
— Não precisamos de DNA para saber quem é o pai. – sussurro,
sorrindo para ela, que me retribui.
— Eles têm uma no ombro direito também. – uma das
enfermeiras diz, vindo até nós. – Parece com uma...
— Lua minguante? – pergunto curioso, arqueando a sobrancelha
para Luara.
— Isso mesmo.
— Também não precisamos de DNA para saber que são meus. –
Lu diz, beijando a cabecinha de cada um deles, instantes antes das
duas enfermeiras os pega-los para colocar no bercinho.
— O senhor não quer mesmo segurar? – pergunta para mim e
olho para Luara, não conseguindo controlar o medo desse pequeno
gesto.
— Acho que sim. – respondo com a voz tremula e ela me
entrega Alice, explicando a maneira com que devo segurar. – Você
é tão linda, minha filha. – sussurro para que apenas ela possa me
ouvir. – Você é o bem mais precioso e a melhor coisa que qualquer
pessoa poderia ter me dado. Mas não foi qualquer pessoa, foi sua
mãe. E hoje sou o homem mais feliz por ter você e seu irmão aqui
conosco. E, eu prometo, eu vou cuidar de vocês dois da melhor
maneira e protege-los sempre, assim como a mamãe tem feito até
agora. – completo, encostando minha testa na dela e sinto uma
lágrima escorrer por meu rosto. – Eu amo você, minha princesinha.
– digo e beijo o alto de sua cabeça, entregando-a de volta para a
enfermeira, permitindo que a segunda me entregue Matthew.
— Eai, garotão? – digo com a voz rouca. – Você e sua irmã são
muito lindos, sabia? – sorrio, passando a mão de leve por seus
cabelos lisos. – Estou feliz por vocês finalmente estarem aqui
conosco e mais ainda por saber que logo estarão em casa, onde
vamos brincar muito. Sua mãe e eu preparamos tudo para vocês e
vamos ama-los e protege-los sempre. Nunca ira faltar brincadeiras
na nossa casa e... – paro de falar, sentindo minha voz embargar. –
Eu amo tanto você, meu pequeno príncipe. – é tudo o que consigo
dizer antes de entregar Matt de volta a enfermeira, para que ela
possa coloca-lo junto da irmã. Agora que estão aqui, teremos toda
uma vida junto deles.
— Eles são lindos, anjo. – digo, pousando um beijo na testa de
Luara. – Assim como a mãe.
— Nós realmente fazemos isso muito bem. – responde de olhos
fechados. – Eu só quero ir para o meu quarto e descansar. Estou
exausta.
— Não sei, mas tem algumas pessoas ai fora que devem estar
bastante ansiosas para saber como tudo correu. E para conhecer
nossos filhos.
— Eles que esperem. – diz, voltando a abrir os olhos. – A
questão aqui agora é que eu acertei quem viria primeiro e preciso
pensar em algo para ter de você.
Não consigo conter a risada ao ouvir suas palavras. Neste
instante tudo o que mais quero é abraçar e beijar minha mulher e
agradecer a ela por ter me dado dois filhos tão lindos.

Seguindo ordens médicas e bem contra gosto, saio da sala de


parto, tirando a touca e a roupa do corpo e as coloco de lado,
procurando por um rosto familiar, mas o corredor parece vazio.
Então decido sentar e esperar até que me digam para qual quarto
Luara será levada e que me permitam ficar lá com ela.
— Andrew? – alguém chama e olho para o lado do corredor, de
onde uma senhora vem às pressas até onde estou.
— Elizabeth? – digo, finalmente reconhecendo a mãe de Luara.
Logo atrás dela vem Camile, acompanhada de Julie. – O que fazem
aqui?
— Onde ela esta? – Julie pergunta preocupada. – Ou como. Ai!
Eu já nem sei mais. Apenas fala de uma vez!
— Estão preparando a Lu para levar ao quarto e os gêmeos
foram para o berçário. – respondo com o cenho franzido. – Amanhã
pela manhã eles vão para o quarto com ela.
— E como eles são? – Camile pergunta, abraçando sua mãe.
Em resposta e sentindo-me a criatura mais boba em toda face da
Terra, ofereço um grande sorriso as três.
— Lindos. – respondo sem saber a palavra exata para descrever
Matthew e Alice.
— Ah! – Julie e Camile exclamam ao mesmo tempo.
— Parabéns, papai! – Julie diz e me abraça. – Fico tão feliz e
aliviada que tudo tenha corrido bem.
— Obrigado.
— Estou louca para conhecer meus sobrinhos lindos. – Camile
diz também me abraçando.
— Eu estava tão preocupada sem notícias aqui fora. – Elizabeth
diz, envolvendo-me em um abraço apertado. – Eu senti o dia todo
que minha menina viria para cá hoje. Foi por isso que insisti tanto
para que o Rick nos trouxesse hoje e não amanhã. Eu sabia...
Elizabeth para de falar e ouço os soluços de uma mãe em
prantos, que devia estar há horas sem notícias da filha que estava
em trabalho de parto.
— Nunca pensei que fosse viver para ver este dia chegar. –
Felipe diz e me abraça. – Parabéns, meu amigo.
— Estou louca para poder conhecer meus netinhos logo! –
Elizabeth diz, abraçada ao marido.
— Eu também, querida. – ele responde, dando um beijo em seu
rosto.
— Vou procurar um enfermeiro para descobrir para onde levaram
meu anjo. – falo. – Acho que vocês conseguem vê-los no berçário.
Fica no final do corredor, seguindo por ali.
— Vamos lá, mamãe! – Thomas praticamente grita. – Quero
conhecer a Li e o Matt!
Sorrio ao vê-lo se referir desta maneira aos sobrinhos. Neste
momento sinto que sou o homem mais feliz do mundo. Um pai
babão, como Felipe sempre diz e um namorado apaixonado pela
noiva incrível que tem.
Se no passado fiz algo de bom na vida minha recompensa veio
agora.
Capítulo Vinte e Seis
Sábado
Luara

Assim que me trouxeram para o quarto, uma enfermeira veio me


trazer alguns comprimidos para dor e informou que traria algo para
eu comer dentro de poucos minutos. E isso já tem quase meia hora
e nem ela, Julie e muito menos Andrew apareceram até agora. O
que eu acho um completo descaso com minha pessoa. Afinal,
acabei de dar não um, mas doooooooooois filhos lindos para aquele
infeliz e o que ele faz por mim?! SOME! Ele simplesmente saiu da
sala de parto e me deixou lá a ver navios com os médicos e
enfermeiros e não se deu nem ao trabalho de vir ver se estou bem
ou não. Se eu estou precisando de algo.
Nem mesmo para me trazer um x-tudo completo e cheio de
bacon com muitas fritas.
— EU ESTOU COM FOME! – grito para a porta, na esperança
de que alguém me ouça e atenda ao meu pedido. E parece que me
escutam, já que ouço baterem. – Que rápido.
— Oi. – Andrew me cumprimenta, parecendo um pouco tímido. –
Como vai? – pergunta e fecha a porta quando entra, sentando na
poltrona ao lado da minha cama.
— Como você acha que estou? – pergunto um pouco irônica.
— Parece mal. – diz com o cenho franzido. – Você está pálida.
Quero rir ao ouvir isto. Mas tenho medo de fazer e acabar
sentindo mais dores. Ou estourando algum dos pontos que me
deram.
— Isso porque acabei de te dar dois filhos de três quilos e pouco
cada um. – reviro os olhos para ele. – E estou morrendo de fome!
— Mas você parece bem mais pálida do que isso. – torna a
provocar e tento ignora-lo.
— Você tem algo ai? – pergunto. – Tipo um x-tudo com muitas
fritas?
— Por que eu teria isso comigo? – pergunta de volta.
— Porque dai você seria meu lindo noivo, fazendo algo pela sua
querida e amada noiva.
— Até pensei em pegar algo enquanto vinha para cá.
— E por que não trouxe? – pergunto mais uma vez, arqueando a
sobrancelha.
Andrew sorri para mim e segura minha mão, acariciando cada
um de meus dedos.
— Obrigado. – ele diz de repente. – Eu nunca te agradeci como
deveria, por ter entrado na minha vida como entrou e mudado tanto.
Também nunca disse como eu me sinto a respeito do que sinto por
você. Mas sei que meus sentimentos são grandes. Enormes. E... –
And passa a mão pelos cabelos e os vejo cair em sua testa outra
vez. O que me faz sorrir. Seus olhos cinza brilham para mim. – Eu
preciso que você acredite quando digo que, desde que entrou na
minha vida, meu mundo se tornou um lugar diferente. Um lugar
cheio de cor. E também que você me fez sorrir como eu nunca antes
havia sorrido. Você me fez ver o mundo por uma nova perspectiva.
E me fez amar como nunca antes achei que fosse ser possível.
Ele então para de falar e sinto que meu coração esta na
garganta. Meu corpo está trêmulo e fraco. Quero dizer algo, mas
minha boca esta tão seca que não consigo emitir som algum.
— Eu estive pensando e acho que quatro meses não será o
suficiente para preparar tudo o que você merece para o nosso
casamento. – Andrew diz, tirando algo do bolso e levanta apenas
para sentar na cama, próximo a mim.
— Esse é o colar que você me deu de aniversário? – pergunto
ao reconhecê-lo e ele ri visivelmente nervoso.
— Anjo. – diz como uma repreenda e cubro a boca com a mão
livre.
— Desculpa! – peço.
— Luara, meu amor e minha vida. Meu anjo. – ele pronuncia as
palavras de maneira suave e que fazem meu coração saltar contra o
peito. – Você quer se casar comigo daqui a exatos seis meses,
desta vez com data marcada? – pergunta, oferecendo a mim não
apenas meu colar, mas também minha aliança, que tem passado a
última semana guardada. Eles estão entrelaçados.
Ao ouvir seu pedido, sinto que todo meu corpo se aquece.
— Parece que encontrei uma forma de te deixar com uma
corzinha além daquele tom Gasparzinho. – diz, fazendo-me rir.
— Seu bobo. – sorrio sem graça e aperto sua mão. – Minha
resposta foi e sempre será a mesma que a primeira, lindo.
— Você ainda não disse. – ele diz fazendo biquinho e tenho
vontade de levantar apenas para beija-lo, mas não consigo.
— Vem cá. – peço e ele fica mais próximo. – Mais.
— Aqui? – pergunta com a voz rouca e sussurrada, com o rosto
quase colado ao meu e seguro sua nuca.
— Sim. – sussurro a resposta, sentindo meu coração na
garganta e o beijo. – É claro que aceito me casar com você, meu
amor. Eu faria isso mil vezes ou mais.
Quando afasta apenas um pouco, Andrew prende o colar ao meu
pescoço e seguro a aliança entre meus dedos. Sei que por mais
alguns dias não serei capaz de usa-la, mas isso não significa que
não possa estar com ela.

◆◆◆

Andrew
— Obrigada por me presentear com dois filhos tão lindos e por
me deixar entrar na sua vida. – Lu sussurra, acariciando de leve
meu rosto e seguro sua mão no lugar. – Você fica tão diferente sem
barba. – diz e sorrio um pouco sem jeito.
— Tem alguém ai fora que esta louca para ver você. – falo,
lembrando-me que sua família esta apenas esperando pelo sinal
para que possam entrar.
— Acho que antes preciso jantar. – ela responde. – Fiquei mal
acostumada com esse negócio de comer por três.
Assim que diz isto, alguém bate na porta e a abre, sem nem
mesmo esperar pela permissão para entrar.
— Com licença, mamãe. – uma enfermeira diz, trazendo uma
bandeja de...
— Sopa?! – Luara pergunta indignada. – O que aconteceu com o
lanche e as batatas que pedi? Ou a lasanha?
— Sinto informar, mas seu médico não permitiu essa dieta pelos
próximos dias. – ela responde. – A senhora precisa se alimentar
bem para poder amamentar seus bebês.
— É. Eu sei. – responde irônica e passo a mão pelo queixo,
tentando não sorrir com esta situação. Luara esteve tão acostumada
aos desejos todo esse tempo e agora terá que priorizar outra
alimentação, pensando nos filhos. – Foi justamente por isso que
pedi algo que realmente fosse me sustentar. Não isso.
— Eu mesmo darei o jantar a ela. – interfiro. – Obrigado.
— Sabe quando vão trazer meus lindos? – Luara pergunta para
mudar de assunto. – Se possível deixa-los aqui comigo à noite toda.
— Assim que a senhora terminar de se alimentar. – responde. –
Só poderão ficar aqui pela manhã.
— Não estou gostando disso. – ela resmunga e a enfermeira sai,
deixando-nos outra vez a sós. – Você pode ao menos trazer algo
que você mesmo faz? – pede quando lhe ofereço uma colher de
sopa. – Não gosto de sopa.
— Se comer direitinho agora, eu te prometo que amanhã trarei
algo que você goste. – sugiro. – Não podemos abusar do que você
pode e o que não pode comer.
— Está bem. – diz, rendendo-se a fome e abre a boca.

***

Luara
Uma enfermeira apareceu no quarto trazendo meus pequetuchos
só bem depois que terminei o meu “jantar”, então And aproveitou
para ir ao banheiro e comer algo, porque só havia almoçado.
Assim que chegou, a enfermeira Josi me ensinou como deveria
fazer para amamentar os gêmeos, segura-los e mais algumas
coisas que eu não fazia ideia. E acho até que peguei o jeito rápido,
porque consegui amamentar Alice bem fácil até.
— Toc-Toc. – alguém diz da porta e olho para ver quem é e
posso dizer com todas as letras que é alguém que não esperava ver
aqui hoje.
— Mãe? – pergunto apenas para ter certeza de que não estou
delirando.
— Vim ver como minha menina e meus netinhos lindos estão. –
ela diz enquanto entra e vejo que atrás dela estão a Ju e a Cami.
— Oi! – Camile sussurra com um enorme sorriso em seu rosto.
— Oi. – digo em resposta, voltando à atenção para mais
algumas dicas que Josi me dá.
— Eles são tão lindos. – minha mãe diz baixinho, como se
pudesse assusta-los.
— Obrigada – sorrio em resposta. – Quer segurar?
— Eu posso? – pergunta a enfermeira e ela pega Alice no
bercinho, que já esta alimentada.
— Você é tão lindinha! – Camile diz babona que só e olho para o
Matt, que mama como se não houvesse amanhã. – Espera. – diz,
chamando a atenção de todas nós para ela. – Por que o Matt é
ruivo, Lu? Você...
— Olha na mãozinha dela. – peço e as três olham. – And tem
essa marca. Matt também. Os dois têm minha lua. – explico. –
Lilian, a mãe do And, é ruiva. Acho que ele puxou a ela nessa parte.
– passo a mão por seus cabelos, levando-os para trás. – E espero
que tenha puxado aos olhos lindos do papai também, não é, meu
amor?
— Com licença. – a voz de Andrew chega até mim e o vejo
parado na porta no mesmo instante em que Josi coloca meus
pequenos de volta no bercinho para leva-los embora. O que me
deixa com o coração apertado e na mão.
— Você precisa descansar, Luara. – ela diz. – Só um pode ficar
com você no quarto durante a noite.
— Fica você, Andrew. – minha mãe pede. – Vou ver com o Rick
para arrumarmos um hotel aqui perto.
— Não, senhora. – ele diz. – Já conversei com Ricardo e vocês
vão ficar no nosso apartamento hoje. Já deixei as chaves com ele e
o código da garagem. Depois, amanhã e até quando forem ficar por
aqui, vocês podem ficar no apartamento do andar de baixo.
— Acho melhor eu ir também. – Ju fala já se levantando. – O Fe
deve estar até agora lá fora esperando. E isso sem dizer que ele
veio direto do escritório.
Uma por uma elas se despedem, prometendo voltar pela manhã
assim que possível. A Ju para ficar comigo e o And poder ir para
casa tomar banho e dormir. O que eu não tenho lá muita certeza de
que ele vá fazer isso essa noite, já que só consigo vê-lo revezando
sua noite entre ficar aqui no quarto comigo e indo ver Alice e
Matthew no berçário. E, sendo sincera, eu faria o mesmo se
pudesse andar. Principalmente porque quero tê-los ao meu lado o
máximo possível e leva-los para casa o quanto antes, apenas para
que possam conhecer o cantinho especial que o papai e eu
preparamos para os dois.
Sonolenta, tiro os óculos e os entrego a Andrew, que coloca na
mesinha ao lado da cama.
Minha visão esta embaçada e minha cabeça tão distante e
cansada, que devo agradecer internamente por esta noite de folga.
— Durma, meu anjo. – And sussurra enquanto acaricia meus
cabelos.

◆◆◆

Andrew
Chegamos ao Golden Village por volta do meio-dia do domingo.
Há poucas horas apenas que Marcus deu alta à Luara, logo
depois de passar a nós dois uma pequena lista de recomendações e
cuidados com Matthew e Alice. E enquanto eu dirigia para casa, a
cada parada que precisava fazer para esperar o semáforo abrir,
sempre olhava pelo retrovisor ou direto para trás, para ver meus
dois filhos dormindo, enquanto a mãe deles os observava como uma
mãe coruja apaixonada pelos filhos.
Pelo retrovisor eu via seus olhos castanhos brilharem de uma
forma diferente. Várias vezes eu os vi assim. Como, por exemplo,
quando lhe pedi em casamento em Goiânia, logo depois de me
contar que estava grávida de gêmeos. Ou quando lhe disse que me
lembrava dela depois do meu acidente de cavalo. Ou nas vezes em
que eu arrumava alguma desculpa apenas para poder vê-la, quando
não queria nada comigo por ser seu chefe no trabalho. Mas desde
ontem pela manhã que esse brilho se tornou algo... Único.
— Amor, me deixa pegar as chaves. – Lu pede e viro-me para
que possa pegar suas chaves na bolsa que carrego pendurada ao
ombro, enquanto ela toma todo cuidado do mundo para evitar
acordar Alice, que dorme confortavelmente em seu colo. –
Obrigada. – diz e sorrio, observando enquanto abre o bolsinho de
fora para pegar as chaves. Eu poderia fazer isso por ela, mas como
atrás desta porta que estamos parados de frente tem uma surpresa,
é ela quem precisa abrir.
Olho para Matthew que também dorme em meu colo e sorrio.
Elizabeth arrumou dois conjuntinhos para que pudessem sair da
maternidade. O dele é todo branco, com a gola e os pés com listras
azuis e brancas, um bonezinho de mesma cor e, no peito, tem uma
coroa escrito Príncipe logo abaixo.
Já o de Alice tem algumas pequenas diferenças. Na gola e nos
pés ela tem pequenas flores e também uma coroa no peito, escrito
Princesa. Talvez você me chame de “papai babão e coruja” e vou
concordar e dizer que realmente sou tudo isso e talvez até mais,
mas meus filhos ficaram lindos nestas roupinhas. Ou em qualquer
outra que sua mãe possa pensar em coloca-los.
Sendo ainda mais sincero, meu pequeno príncipe e minha
pequena princesa são as duas crianças mais lindas que já vi em
toda vida e sinto-me realmente orgulhoso por saber que sou o pai
deles.
— Sua mãe tinha razão ao brigar comigo por dizer que não
deveria chama-los de “troféus”. – cochicho para Matthew, tirando
alguns fios de cabelo de sua testa. – Vocês são para mim bem mais
do que apenas isto.
Pelo canto do olho, vejo quando Luara olha para mim e sorri,
pouco antes de abrir a porta do nosso apartamento e dar de cara
com toda nossa família e amigos esperando por nós, apenas para
poder dar as “boas-vindas” aos nossos bebês.
Seis Meses Depois
Sábado
Luara

Quase seis meses já se passaram desde aquele dia que se tornou


o mais importante da minha vida. Já são cinco meses e meio
aprendendo coisas que durante anos evitei e mais alguns anos
apenas imaginei que um dia fosse ter.
Foram meses de muitas noites em claro, preocupada porque
Matthew não queria dormir ou porque Alice não parava de chorar,
acordando seu irmão, que acabara de pegar no sono. Cinco meses
e meio de muitas fraldas sujas, muitas gorfadas no peito ou algo
assim.
Mas em contra partida também foram meses de extrema
felicidade, onde eu sempre ganhava um sorriso fácil, uma risada
gostosa e gargalhadas que sempre me faziam rir junto. Tudo isso
daqueles dois pequenos bebê tão lindos e incrivelmente delicados,
que precisam de tanta atenção e cuidado. Foram muitos abraços
apertados que sempre me oferecem ou que dou neles por me
deixarem dormir por algumas horas ininterruptas. Ou por apenas
estarem comigo, me fazendo feliz e me ensinando a amar e tantas
coisas mais.
Porque olhar Matthew com aqueles olhos cinza iguais aos do pai
e Alice com seu pequeno par de olhos azuis esverdeados iguais ao
da vovó, simplesmente não tem preço.
Tê-los comigo, me ensinando tanta coisa nova e que só pude
aprender com eles... Tudo isso compensa cada uma das noites que
passei em claro, mesmo que não tivesse motivos para isso, já que
dormiam a noite toda.
E eu também não posso mentir e dizer que fui forte todo esse
tempo, porque seria mentira. Principalmente no primeiro mês,
durante as primeiras semanas, mais especificamente. Aquele foi um
tempo que eu queria fugir de tudo isso, porque não estava pronta,
mesmo que tivesse pensado estar durante a gravidez. E várias e
várias vezes quis fugir e larga-los com And e ir embora para longe
de tudo isso. Fugir para um lugar onde nunca fossem me encontrar
e apenas esquecer. Apagar toda essa parte da minha vida. E eu não
me orgulho de dizer isto assim. Mas eu estava com medo e
assustada.
Tinha medo de falhar como mãe, medo de acabar fazendo algo
que não fosse o certo para eles e não conseguir dar todo o amor
que meus pais sempre deram a nós três ou o amor que os pais de
Andrew deram a ele. Era tudo tão novo e assustador para nós dois e
por isso tive tanto medo de, tão pequenos, ficarem resfriados e não
saber o que fazer para ajuda-los. E a cada vez que eles choravam,
eu chorava junto. E por vezes joguei a culpa disto nos hormônios
alterados, mas todas às vezes isso acontecia.
Já And... Meu Deus! Acho que foi ele quem manteve a linha
durante a maior parte desse tempo. Desde o início ele foi bem mais
forte de que eu nessa parte de ser pai. Por várias vezes pensei que
ele estivesse mais bem preparado para essa mudança de que eu.
Ou pelo menos era o que ele me fazia pensar. E, com o tempo,
percebi que ele realmente fazia isto apenas para que pudesse me
dar mais forças e me ajudar. Andrew me via desesperada tentando
acalmar Alice e vinha ao meu socorro e ninava o Matt até que
pegasse no sono e, quando finalmente adormeciam, acabávamos
os dois dormindo juntos no Puff, exausto.
Hoje é até engraçado lembrar tudo isso. De como nos
desesperávamos com tão pouco, sendo que tudo o que
precisávamos fazer era nos acalmar. E talvez o mais engraçado na
história toda, é que quando conheci Andrew lá na praia, quando eu
o reencontrei e descobri que aquele homem lindo e sério era meu
vizinho cafajeste e mulherengo, eu nunca havia sido capaz de
imaginar que ele fosse ser um pai tão lindo e dedicado aos filhos. E
hoje eu o tenho não apenas como meu namorado, mas também
como meu melhor amigo, companheiro, confidente e amante, noivo
e, agora mais do que nunca, futuro marido.
E por falar em “futuro marido”, estamos a exatamente sete dias
do meu casamento com And. Acabamos marcando a data um dia
depois que recebi alta do hospital e fomos registrar nossos filhos.
Marcamos para o dia dezenove de novembro. Dois dias antes da Li
e o Matt completarem seis meses.
Além de que será também o batizado dos dois e eu estou tão,
mas tão ansiosa por esse dia, que não sei nem mais o quê
exatamente sinto com sua proximidade. Só sei que minha cabeça
tem andado tão cheia com tudo, que precisei pedir ao Pedro para
que cuidasse dos preparativos, decoração da igreja e da festa,
enquanto eu me resolveria apenas e principalmente com meu
vestido.
Ai! Eu não quero nem imaginar como será esse dia, porque já
começo a surtar.
Quer dizer, tenho esperado por ele agora como nunca antes nem
havia imaginado. E quando lembro que o homem da minha vida e
meu amor estará no altar esperando com nosso filho em seus
braços por mim e pela nossa pequena, um sorriso enorme já cresce
em meu rosto.
— Vamos logo, Luara! – Andrew me chama bem quando termino
de abotoar a roupinha do Matt. – Até parece que a mamãe ainda
não aprendeu a trocar uma roupa, filha. – ele diz com a voz mais
calma e escuto a risada suave de Alice.
— Até parece que o papai também não aprendeu ainda a ter
paciência, filho. – digo, tomando Matt em meu colo e saio pelo
corredor que divide a sala e já os vejo na porta, apenas esperando.
Matthew e Alice parecem ter uma sincronia tão perfeita um com o
outro, que trocam risadas apenas por se olharem, como sempre. –
Senhor Apressado. – digo para provoca-lo bem quando paro ao seu
lado.
— Minha futura Sra. Giardoni. – ele diz em resposta e sorrio,
aceitando o beijo que me oferece.

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