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Rainha dos Elementos

Livro Um
Livro Dois
Livro Três
O Próximo Reinado

Rainha dos Vampiros


Livro Um
Livro Dois
Livro Três
Livro Quatro

Outras séries sobre o universo Fae:


Rainha Fae do Inverno
CONTENTS

Introdução
Prólogo: Lark
1. Artica
2. Kalt
3. Artica
4. Lark
5. Artica
6. Artica
7. Kalt
8. Artica
9. Artica
10. Artica
11. Norden
12. Artica
13. Lark
14. Norden
15. Artica
16. Artica
17. Artica
18. Artica
19. Kalt
20. Norden
21. Artica
22. Kalt
23. Artica
24. Lark
25. Artica
26. Kalt
27. Artica
28. Lark
29. Kalt
30. Artica
31. Artica
32. Kalt
33. Artica
34. Norden
35. Artica
36. Lark
37. Norden
38. Artica
39. Artica
40. Artica
41. Artica
42. Lark
Epílogo: Norden
Epílogo bônus: Artica
Rainha dos Elementos: Livro Um
Rainha dos Vampiros: Livro Um
Ilha Carnage
Sobre a autora
Mais Livros de Lexi C. Foss
Sobre J.R. Thorn
Mais Livros de J.R. Thorn
Rainha Fae do Inverno
Lexi C. Foss e J. R. Thorn
Copyright de Winter Fae Queen 2021© Lexi C. Foss and J. R. Thorn.
Tradução: Andreia Barboza.
Revisão: Luizyana Poletto
Capa: Covers by Juan
Capa Photography: Wander Aguiar
Capa Models: David Miller, Autin, Phillipe Belanger, & Alana Baker

Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.


Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são
produtos da imaginação do autor ou foram usados de forma fictícia e não
devem ser interpretados como reais. Qualquer semelhança com pessoas, vivas
ou mortas, eventos reais, localidades ou organizações é inteiramente
coincidência.
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9610 de 19/02/1998. Exceto
para o uso de pequenos trechos em resenhas, é proibida a reprodução ou
utilização deste livro, no todo ou em parte, de qualquer forma, sem a
permissão prévia por escrito do detentor dos direitos autorais deste livro.
Published by: Ninja Newt Publishing, LLC
eBook ISBN: 978-1-68530-272-6
Print ISBN: 978-1-68530-273-3
Para os sonhadores desse mundo: este é para vocês.
O Fae Real da Água pelo qual estou apaixonada acabou de
me contratar para ser sua estagiária.
Ah. Meu. Fae.
Só me candidatei ao emprego por causa de um desafio, e agora
estou fazendo as malas para ir ao Polo Norte.

Não é nada demais. Posso ser profissional. Não o vejo desde a


Academia mesmo. Talvez ele tenha engordado com todos aqueles
doces Faes do Inverno?

Só que não. Kalt não mudou nada. Ele ainda tem o corpo
perfeitamente esculpido e está mais lindo que eu me lembrava. E o
pior? Ele tem dois amigos igualmente gostosos.

Um elfo real chamado Lark.


E um selkie absurdamente sexy chamado Norden.

Estou bem fodida. Literalmente, porque o elfo e o selkie parecem


pensar que sou a companheira deles. Mas Kalt discorda.
Ah, e não tenho só que lidar com esses três gatos, mas minha magia
da água também está em frangalhos. Provoquei uma guerra de
bolas de neve por acidente no meio da oficina do Papai Noel quando
enfeites de gelo começaram a sair dos meus dedos como confete.

É um problema.
Algo que não sei como resolver.
Então, sim, me desejem sorte! E enviem vibrações calorosas. Preciso
mesmo de ajuda para derreter toda essa neve...

Rainha Fae do Inverno é um romance paranormal peculiar,


apresentando uma Fae da Água do universo Fae Elemental e
os três potenciais companheiros em potencial.
Bem-vindos ao Reino Fae do Inverno. Ele está cheio de delícias
açucaradas, elfos alegres, selkies sensuais, lindos Faes Reais do
Inverno com abdomens tanquinho e energia mística suficiente para
inspirar a crença em todo o Reino Humano.
A história de Artica é doce e vai aquecer até o mais gelado dos
corações. É também um livro único com final feliz.
No entanto, uma aviso: os machos de Artica são quentes o
suficiente para derreter o gelo e frequentemente o fazem ao brincar
entre si no quarto. Afinal, a cultura Fae do Inverno requer uma
tríade de homens que acreditam e se estimam tanto quanto amam e
adoram sua companheira. É assim que os Faes do Inverno
prosperam.
Então pegue um floco de neve e segure firme.
Você está prestes a viajar para o Círculo Polar Ártico.
Onde você encontrará seres inspirados por crenças.
Que podem inspirar um pouco de alegria natalina...
C oroação .
Um momento alegre destinado a inspirar sorrisos, amor e alegria
natalina.
Claro, todo evento aqui tem esse impacto na vida no Polo Norte.
Mas não me sinto alegre. Na verdade, estou péssimo.
Por quê?
Porque só encontrei um dos meus companheiros.
Bem, tecnicamente dois. Mas o segundo continua a negar o que
nós dois sabemos. E isso não é um bom presságio para as
festividades que virão.
Então estou infundindo um pouco de magia do Fae do Inverno no
ar, na tentativa de atrair mais parceiros em potencial. É um misto de
crença e apelo sensual que deveria atrair almas compatíveis para o
Polo Norte.
Só espero que não seja tarde demais.
E que eles não me neguem da mesma forma que o Príncipe Fae
da Água.
O objetivo da minha existência é acreditar , então estou
escolhendo fazer isso agora. Acreditar que há companheiros por aí.
Que eles vão me amar. Se unir a mim. Formar uma união alegre na
aura da Fonte Fae do Inverno e me proporcionar um lindo final feliz.
Caso contrário, meu reino vai cair.
E o espírito das festas vai se corromper.
Não haverá mais alegria natalina. Nem celebrações. Nada mais
de crenças místicas.
Um fardo pesado para uma única pessoa carregar, mas nasci
para esse papel por um motivo, e não vou decepcionar os Faes do
Inverno.
Tudo o que preciso fazer é acreditar .
Então é o que vou fazer.
Bem-vindos ao meu mundo.
É frio por fora, mas quente por dentro. Tão cheio de amor e
alegria que um único coração não pode conter. É por isso que
preciso de três.
Três companheiros. Três amores. Três crédulos.
Para dar continuidade à tradição festiva.
Para ascender.
Para me tornar o ícone que o Reino Humano precisa: o Rei Fae
do Inverno.
1

ARTICA

— F locos de neve — xinguei , enfiando a blusa dentro da saia


enquanto corria pelo Esquadrão da Água na Academia Fae
Elemental.
Estou atrasada! Estou atrasada! Estou atrasada!
Por que tive que tirar uma soneca no meio do dia e quase dormir
durante as aulas da tarde? Ah, certo. Fiquei acordada a noite toda,
obcecada com o dia de hoje.
Que ironia.
— Crisântemo — sussurrei por entre dentes ao passar por um
grupo de Faes masculinos atraentes, com os cabelos cobertos de
gelo para comemorar a ocasião especial de hoje. Normalmente, eu
pararia para admirá-los, culpa do meu impulso sexual que era
excessivo até mesmo pelos padrões dos Faes, mas ultimamente eu
só tinha olhos para um deles em particular. Pena que agora ele
estava no Polo Norte como emissário.
Não importava. Eu nunca mais veria meu Fae dos sonhos se
perdesse as melhores atribuições porque passei a noite toda
pensando nele.
E em seu estágio.
Ah, Fae, e se Kalt realmente me escolher?
Só me inscrevi por causa de uma aposta estúpida, e agora nem
conseguia dormir sem ver seu rosto.
Ao virar uma esquina, avistei, tarde demais, um grupo de líderes
de torcida Fae da Água decorando. Os olhos azuis perfeitos delas se
arregalaram em sinal de alarme enquanto congelavam nas posições
em uma escada. Colidi com elas, fazendo-as desabar como um
baralho de cartas. Elas gritaram ao cair, soltando a corda que
segurava uma faixa.
O objeto flutuou sobre mim como um mau presságio, as letras do
arco-íris foram a última coisa que vi antes de ser encoberta.
Dia de Atribuição de Estágio!
Mais parecia o dia do juízo final, pois nesse ritmo eu seria
designada para um estágio no Reino Fae do Inferno.
Ou pior, no Reino dos Metamorfos.
Eu amava animais, mas aqueles cães precisavam aprender boas
maneiras. Meu professor me designaria para eles apenas para “me
dar uma lição”.
Só pensar nisso fez minha pele coçar. Já fui atacada por uma
alcateia uma vez, todos puxando minhas roupas enquanto
zombavam da minha incapacidade de me transformar.
Desde então, morria de medo deles.
Lobos metamorfos. Argh.
Sim, com certeza seria o meu destino.
Tudo porque dormi demais.
Derrubei uma equipe de líderes de torcida.
E me enrolei em uma faixa.
— Fofura! — gritei enquanto tentava me livrar do tecido
sufocante.
O sinal tocou, indicando o começo do fim para mim. Faes
Metamorfos, aqui vou eu , uma parte sombria da minha mente
pensou. Mas o lado mais leve se recusava a desistir.
Reuni as invisíveis gotículas de água do ar, moldando-as em uma
lâmina.
— Sem armas! — uma garota gritou, mas eu não dava a mínima
para as regras agora.
Minha lâmina improvisada cortou o tecido, rasgando-o com um
som distinto antes de cair, e eu corri em direção à sala de aula.
— Ei! — uma das garotas gritou. — Você vai pagar por isso!
Mostrei o dedo do meio para ela, entrei na sala e bati a porta,
me apoiando nela enquanto recuperava o fôlego.
Será que entrei antes que o sino parasse de tocar?
O Professor Elway suspirou e arrumou os óculos no nariz
perfeito.
— Não é um bom dia para se atrasar, Artica.
Eu deveria estar me desculpando humildemente, mas não
conseguia falar. Meus olhos estavam fixos no físico de Kalt, o
Emissário Fae Elemental do Reino Fae do Inverno.
Que deveria estar no Polo Norte agora.
Mas estava bem aqui, sentado na mesa do professor,
testemunhando como eu o despia com os olhos enquanto todas as
memórias indomáveis dos meus sonhos voltavam para me
assombrar.
Santo gelo.
Em vez de me repreender, ele parecia estar me avaliando
enquanto apoiava a perna em uma cadeira. Ele balançava algo entre
os dedos. Inclinei a cabeça para ver, imaginando que fosse um
pacote do Polo Norte, com base no papel vermelho e laço prateado.
Meu olhar traiçoeiro se desviou para o outro pacote , mais generoso,
fazendo meu peito apertar.
De repente, senti como se tivesse comido muitos biscoitos de
coldberry com especiarias.
Pare de encará-lo como se ele fosse um presente desembrulhado
no Fae Festivus.
Forcei o olhar para longe dos presentes de Kalt e encontrei seu
olhar fixo em mim.
Azul-gelo.
Tão bonito.
Mas a linha austera de sua mandíbula sugeria que ele não estava
tão satisfeito comigo. Provavelmente porque eu estava cobiçando
sua virilha.
Esperava que ele estivesse pensando em uma punição pelo meu
atraso, assim como no sonho que tive e que envolveu muito creme
gelado e guirlandas Festivus que terminava com nós dois nus,
ofegantes e...
O que há de errado comigo, pelo amor dos Faes?!
Engoli em seco enquanto tentava afastar os pensamentos
inadequados, mas caramba, Kalt estava me distraindo. Seu cabelo
branco como a neve caía uniformemente sobre os ombros,
emoldurando um rosto feito de mármore. Seu olhar gelado parecia
me perfurar, carregando uma ponta de gelo ártico que fazia seus
olhos brilharem como vidro.
Bem, aparentemente o tempo no Polo Norte melhorou seu apelo
sexual de “vem cá” para “Santas bolas do Festivus, quero lambê-lo”.
Ele se mexeu enquanto eu observava, os músculos rígidos
ondulando debaixo da camisa de seda com a gola desabotoada,
insinuando as linhas duras que eu queria percorrer com a língua.
— Artica! — O professor Elway estalou os dedos, e percebi que
ele estava falando comigo há algum tempo.
Me endireitei e fiz careta.
— S-sim?
Suas narinas se dilataram.
— Vá para o seu lugar.
Pisquei para ele algumas vezes.
— V-você ainda não distribuiu as atribuições, certo?
Ele me encarou com raiva.
— Não. Então, se quiser ser considerada, eu recomendaria não
me fazer repetir.
Louvada seja a Fonte!
Assenti, abaixei a cabeça e corri para meu lugar, esperando
desesperadamente que ninguém tivesse me visto babando pelo Fae
da Água por quem eu estava apaixonada há séculos.
Quando me sentei e arrisquei um olhar, encontrei Kalt me
observando e derreti por dentro, me transformando em uma poça de
gosma com a forma de Artica.
— Agora que estamos todos aqui — o professor Elway começou,
olhando de forma incisiva em minha direção. — A maioria de vocês
provavelmente se lembra do Príncipe Kalt. Ele se formou há pouco
tempo, e está oferecendo um dos estágios mais glamorosos para
esta temporada do Festivus.
Algumas mulheres na sala se remexeram.
Ou talvez só eu.
Mas sim, todos nós conhecíamos Kalt.
Perfeitamente esculpido, bonito, sexy Fae Real da Água com uma
queda por gelo.
Humm, sim, por favor.
— O Príncipe Kalt está aqui para acompanhar o sortudo Fae da
Água selecionado para o estágio Fae do Inverno ao Polo Norte.
Como tenho certeza de que a maioria de vocês já sabe, estão
precisando de um estagiário imediatamente devido aos esforços
bem-sucedidos Inter Reinos da Rainha Claire e ao trabalho árduo de
nosso emissário.
Inspirei rapidamente.
Se por algum milagre eu ganhasse o estágio, partiria hoje. Com
Kalt .
Professor Elway continuou:
— Agora, de acordo com a tradição do Dia do Estágio, as
seleções serão reveladas por meio de um projeto interativo. Mas há
um detalhe. — Ele mostrou uma variedade de enfeites congelados.
Me endireitei na cadeira.
— Esses enfeites foram congelados magicamente, com as
atribuições gravadas nos cristais dentro deles. No entanto, eles têm
interiores frágeis. Se vocês os danificarem, nunca vão saber qual era
sua atribuição, e a chance de conseguir o estágio será perdida. —
Ele olhou para cada um de nós com seriedade. — Vocês devem usar
com sucesso suas habilidades para ajustar o elemento da Água
dentro deles.
Kalt assentiu.
— Eu mesmo os congelei.
Ah, até mesmo sua voz me faz derreter. Com sotaque e profunda
e... suspirooooo.
— De fato — o professor Elway murmurou, sua voz não tão
indutora de suspiros. — E um dos enfeites contém o estágio.
Kalt assentiu novamente em confirmação.
— Recebi muitos candidatos qualificados. Usaremos gelo e água
para decidir o vencedor.
— Uma atribuição adequada — o professor Elway concordou. —
Então todos vocês escolherão um enfeite aleatoriamente para
descobrir sua atribuição de estágio. Apenas um está relacionado ao
Polo Norte. Todos os outros vão ler automaticamente a sua essência
e fornecerão o local de estágio de acordo. Supondo que vocês os
derretam de forma correta.
Seus olhos azuis cintilaram enquanto ele avaliava a turma.
— Bem, boa sorte. — O professor Elway colocou os enfeites em
uma cesta em sua mesa ao lado de Kalt. — Venham escolher um.
Vários Faes avançaram ao mesmo tempo, fazendo meu coração
falhar.
O estágio com Kalt dependia da sorte.
E eu não era exatamente uma Fae sortuda.
Prova disso, o incidente com a faixa.
Bem, talvez eu seja selecionada para outro estágio com a Rainha
Claire , pensei com esperança.
Me aproximei da mesa com Juniper, uma colega de classe com
quem compartilhei a maioria das aulas ao longo dos anos.
— Você está nervosa? — perguntei a ela baixinho enquanto
entrávamos na fila para escolher nosso enfeite congelado. — Porque
eu estou.
Ela balançou a cabeça. Juniper era uma linda Fae da Água, com
cabelos loiros e olhos verde-mar. Como sempre, havia ramos de
azevinho em seu cabelo. Ela se encaixaria perfeitamente no Polo
Norte.
— Sei exatamente para onde vou — ela disse. — E se, de alguma
forma, eu não conseguir o que quero, esse estágio vai ser um saco
de bolas de dragão.
Ri de sua determinação. Juniper não temia nada, nem ninguém.
Mas essa tarefa não tinha o mesmo significado para ela como
tinha para mim.
Se eu selecionasse o enfeite certo, trabalharia com Kalt .
O que significava que eu precisava pensar de forma positiva e
feliz. Como uma Fae do Inverno.
Juniper escolheu um enfeite com seus dedos longos e bem
cuidados.
Flocos de neve. Cupcakes. Biscoitos de açúcar. Elfos. Ah, meu
Fae ... repeti para mim mesma enquanto pegava um dos enfeites
com cuidado. Certo, Artica. Você consegue. Vamos lá, Fae do
Inverno.
Olhei para Kalt, ainda sentado na mesa do professor Elway e me
assustei quando o encontrei olhando diretamente para mim com
aqueles olhos azul-gelo.
Mereço esse olhar depois de como agi quando cheguei , pensei,
com minhas bochechas corando.
Desviando a atenção para o chão, passei apressada por ele e me
sentei para me concentrar em minha tarefa.
Tudo bem. Eu consigo fazer isso.
Eu era uma Fae da Água talentosa, com afinidade para o gelo.
Assim como Kalt.
Foi assim que eu o conheci: ele era o líder de sua turma nos
meus anos mais jovens, e me apaixonei por suas habilidades
impressionantes. Ele também possuía uma autenticidade que eu
apreciava.
E também era muito lindo.
Um risinho se formou na parte de trás da minha garganta, mas
eu o contive. Foco .
Juniper se sentou ao meu lado e imediatamente começou a
trabalhar.
Para onde ela queria ir mesmo? Não conseguia me lembrar. Mas
esperava que não fosse o Polo Norte. Mas todo mundo queria aquele
estágio.
Daí a declaração de Kalt sobre ter muitos candidatos.
Não era surpreendente.
Os Faes do Inverno eram conhecidos pela personalidade alegre e
todos pareciam felizes lá. Até mesmo o Reino Humano tinha lendas
sobre os habitantes do Polo Norte. Papai Noel, elfos, renas, alegria
do Festivus, ou do Natal, como alguns humanos chamavam, tudo
isso vinha dos Faes do Inverno. Só que o Papai Noel não era um
velho gordo, e nem todos os elfos tinham meio metro de altura.
Alguns eram Faes do Inverno Reais e, pelo que ouvi, muito
atraentes . Eu subiria na chaminé deles a qualquer momento.
Supervisionar a construção de brinquedos, a produção de doces
e bailes reais? Totalmente do meu agrado.
Cantarolei algumas melodias do Festivus em minha cabeça
enquanto trabalhava, determinada a infundir minha essência alegre
no enfeite. Então usei minha magia com cuidado para experimentar
a água ali dentro.
O elemento frágil era uma haste de gelo atravessando o centro.
Parecia haver algo escrito ao longo dela. Quebrar arruinaria a
inscrição.
Certo .
Eu só precisava mover a mistura para que o gelo ficasse atrás da
inscrição e a água, na frente. Dessa forma, eu realmente poderia lê-
la.
Mas o enfeite foi encantado para tornar as coisas um pouco mais
difíceis do que simplesmente separar líquidos de sólidos. Mordi o
lábio. Era como brincar com aqueles joguinhos bobos onde você
tenta usar água para encaixar anéis em pequenos espigões.
Meus sentidos se aguçaram, chamando minha atenção de volta
para Kalt.
Ele passou os dedos pelo cabelo branco enquanto me observava,
seu olhar gélido transmitindo um toque de calor. Ou seria interesse?
Talvez eu estivesse imaginando.
Mas não, aquele sorriso... aquele sorriso era real. Ele até mostrou
as covinhas.
Quase deixei a preciosa esfera congelada cair. Fae, ele era lindo.
E perturbador.
Muuuito perturbador.
Seu olhar não se desviou do meu, e se eu o encarasse por meio
segundo a mais, provavelmente entraria em combustão. Olhando
para o meu enfeite, ignorei o calor que subia pelo meu pescoço,
apenas para paralisar quando Juniper soltou um suspiro.
Ah, não...
Ela acabou de ganhar o estágio no Polo Norte, não é?
Com o coração afundando, olhei fixamente para o meu enfeite,
ainda trabalhando para limpar a inscrição e torná-la legível. Talvez
eu ganhasse algo pelo segundo lugar. Impressionar Kalt para que ele
precisasse de dois estagiários ou algo assim.
Pouco provável.
Mas eu me recusava a desistir. Quem sabia o que a inscrição de
Juniper dizia? Podia ser o estágio que ela realmente queria.
Concentre-se, Artica.
Eu consigo fazer isso. Eu consigo fazer isso. Eu consigo fazer
isso.
Os fragmentos de gelo atrás da haste se moveram com minha
magia, revelando muito lentamente a inscrição por baixo.
Polo Norte . Meu queixo caiu. Não acredito...
Meus olhos se ergueram para Kalt. Ele sorriu, provocando um frio
na minha barriga.
Juniper se inclinou em direção à minha mesa, semicerrando os
olhos enquanto lia meu enfeite.
— Santo Fae. Polo Norte? É isso que você queria?
— Sim! — Foi um esforço não gritar de empolgação. — O que
você tirou?
Juniper inclinou seu enfeite para que eu pudesse ver. Academia
Fae Fortuna .
— Essa seria minha segunda escolha — eu disse honestamente.
— Todos aqueles Alfas gostosos!
Juniper sorriu, mas percebi o brilho de ciúme em seus olhos
quando eles se voltaram para Kalt.
Se afaste. Ele é meu.
Não que eu tivesse algum direito a reivindicá-lo. Mas me sentia
protetora em relação a ele agora que era oficialmente sua estagiária.
O professor Elway passou entre nossas mesas, olhando para
nossos enfeites.
— Parabéns para vocês duas — ele disse, com entusiasmo na
voz. — Juniper, você vai adorar os Faes Fortuna. É sempre uma
experiência de aprendizado ver como os ômegas deles enxergam o
futuro.
— Certo — Juniper falou devagar, desviando o olhar da minha
esfera de cristal para a sua. — Parece... fascinante.
— É! — o professor Elway se entusiasmou. — Eles têm círculos
de acasalamento únicos, compostos por alfas, ômegas e betas. Deve
ser uma sociedade incrivelmente sedutora. — Seu tom ficou sério. —
É por isso que mais estagiários do que eu gostaria de admitir
rejeitaram a Fonte da Água para se tornarem Faes Fortuna.
Isso chamou a atenção de Juniper.
— Sério?
Ele assentiu.
— Se eu tivesse que adivinhar, uma vez que alguém testemunha
uma dinâmica de acasalamento como essa, fica muito tentado a
experimentá-la. As fêmeas geralmente se tornam betas ou normas,
mas você ainda poderá enxergar o futuro. Pode ser viciante, pelo
que ouvi dizer. — Ele balançou a cabeça. — Mas nós temos destinos
e papéis a desempenhar. Não há como mudar isso.
Juniper assentiu, seus olhos brilhando com interesse.
Pensei nos poucos Faes Fortuna que conheci e em como a
sociedade deles era romantizada. O professor tinha razão. Não
ajudava que todos ali fossem sedutores de várias maneiras...
Meus olhos se voltaram para Kalt, que ainda me encarava.
Não pense demais nisso, Artica. É porque escolhi o enfeite dele .
O que soava totalmente obsceno na minha cabeça.
Com certeza eu brinquei com seu enfeite mais de uma vez em
meus sonhos.
— Além disso, você não ia gostar de se acasalar com um Alfa Fae
Fortuna — o professor continuou, limpando a garganta. — Ouvi dizer
que eles fazem algo chamado “dar o nó”. Não vou entrar em
detalhes na sala de aula. Mas eles são agressivos e poderosos, então
vou deixar por isso mesmo.
Qualquer traço de desapontamento desapareceu da expressão de
Juniper enquanto ela tocava os lábios. O professor Elway riu antes
de sair, aparentemente satisfeito com seu trabalho.
Juniper se inclinou para mim.
— O que você acha que significa “dar o nó”?
Segurei a risada.
— Hum... Acho que é melhor você não saber.
— É um ato sexual, não é?
Minhas bochechas esquentaram. Havia pouco que eu não sabia
quando se tratava de atos sexuais nos reinos Faes, dada a minha
extrema curiosidade que frequentemente me metia em encrencas.
Embora esse ato em particular tenha sido algo que aprendi
durante meu estágio com a Rainha Claire. Uma de suas amigas
tinha... falado sobre sua recente experiência de cio. E eu ouvi tudo
através da porta do escritório da Rainha Claire, que era muito fina.
Prontamente li sobre as atividades e como “dar o nó” poderia ser
perigoso para uma Fae Fortuna não-ômega.
Mas se Juniper realmente quisesse testemunhar isso...
— Você provavelmente poderia pedir uma demonstração. Sabe,
para fins educacionais da biologia dos Faes Fortuna. — Li sobre os
pátios de acasalamento que os Faes Fortuna costumavam usar, o
que seria perfeito para uma apresentação.
Seu rosto corou enquanto ela ria.
— Sério? Isso parece incrível.
— Merda! — alguém no fundo da sala gritou.
Juniper e eu nos viramos. Um Fae da Água encarava seu enfeite
congelado, que havia rachado ao meio, com tristeza.
— Nem todos podem ser bem-sucedidos — Juniper falou. Ela me
deu um sorriso caloroso. — Parabéns pelo Polo Norte, Artica.
Um tremor de excitação percorreu minha coluna.
— Obrigada. Vou tentar não congelar minha bunda.
— Insatisfeita com sua escolha? — uma voz profunda ecoou ao
meu lado.
Me virei, encarando a escultura impecável que era o rosto de
Kalt.
Meu cérebro entrou em curto-circuito.
Porque, uau, ele era tão, tão bonito. Ainda melhor do que nos
meus sonhos. Como a perfeição personificada. E...
Ele arqueou uma sobrancelha pálida, parte daquela perfeição se
derretendo em uma expressão de impaciência.
Porque ele me fez uma pergunta.
Insatisfeita com sua escolha?
Fofura.
— Não! — exclamei. — Quero dizer, sim. Tipo...
Ele inclinou a cabeça, me prendendo com seu olhar gelado.
Esse homem seria a minha ruína.
Respirei fundo.
— Você não pode nem imaginar o quanto estou extasiada.
Ele sorriu. Seu braço roçou meu ombro enquanto pegava meu
enfeite e o tirava da mesa. Examinando-o, ele assentiu.
— Eu pensei que você nem queria a vaga... considerando que era
uma aposta e tudo mais. — Ele ergueu o enfeite. — Bom trabalho.
Você será perfeita para o Polo Norte.
Gelo brilhante subiu por seus dedos e nas laterais da esfera,
cobrindo-a completamente até que brilhasse como um diamante e
explodisse em neve cintilante.
Abri a boca, observando os flocos girarem e desaparecerem.
Mas espere... como ele sabia sobre a aposta?
A palma da mão de Kalt apareceu diante de mim.
— Vamos pegar suas coisas? — ele perguntou, me distraindo. —
Temos uma tarde e uma noite longas pela frente, já que preciso
colocá-la a par de tudo imediatamente.
Ou seja, congelando minha capacidade de pensar em qualquer
outra coisa além do fato de que Kalt tinha acabado de me oferecer a
mão.
Como em um encontro.
Mas não era um encontro.
Era um estágio.
Mas a mão dele...
Toquei a pele macia, permitindo que seu calor se infiltrasse na
minha pele enquanto ele me puxava da cadeira. Vou para o Reino
dos Faes do Inverno.
Trabalhar para o Príncipe Kalt.
Ah. Meu. Fae.
Eu não precisava ser uma Fae Fortuna para saber que tudo na
minha vida estava prestes a mudar.
2

KALT

A A cademia F ae E lemental trouxe de volta muitas memórias


agradáveis.
Brincar de jogar água do lado de fora.
Desfrutar de um bom jogo de pistolas de gelo com os Faes do
Fogo.
Estudar para as aulas de política dos Faes, o que agora percebo
que era uma piada. Claro, entender a história era útil em certas
situações, mas meu trabalho como Emissário Fae Elemental do
Inverno tinha mais a ver com bajulação e relacionamento.
Principalmente quando Faes de outros reinos apareciam, o que
acontecia com frequência agora que o acordo Inter Reinos foi
assinado.
Os Faes do Inverno possuíam uma grande quantidade de magia
de ocultação, tornando-os uma parada necessária para certos Faes
que desejavam visitar o Reino Humano. Nem todos precisavam, é
claro. Os Faes da Meia-Noite e os Faes Fortuna muitas vezes
caminhavam entre os mortais sem serem notados. Mas certos Faes
Metamorfos precisavam de ajuda para disfarçar chifres e cascos.
E havia os Faes do Inferno. Muitos tinham forma humana.
Alguns... não.
Independentemente disso, embora os costumes variassem, todos
apreciavam o mesmo tipo de tratamento bajulador, uma metodologia
que não foi ensinada em nenhuma das aulas aqui na Academia Fae
Elemental.
Artica ficaria bem.
Desde que ela conseguisse se concentrar o suficiente para se
lembrar de suas boas maneiras.
Ela ficou adoravelmente nervosa ao entrar na sala, seus belos
olhos azuis me examinaram com evidente interesse. Assim como
sempre fazia quando eu entrava em uma sala.
Uma paixonite de infância que parecia nunca morrer.
Algo que eu apreciava bastante agora.
Porque Artica cresceu e se tornou uma bela Fae da Água, com
curvas que tentavam minha magia do gelo a brincar. Eu acariciaria
sua pele com suaves flocos de neve, e acalmaria o gelo com a língua
no instante seguinte.
Só que não, eu não faria isso. Porque ela estava oficialmente fora
dos limites como minha estagiária.
Sinceramente, era uma coisa boa, pois Lance colocaria fogo em
mim se eu a tocasse. Eles eram amigos, e Lance era praticamente
parte da família para mim, já que seu irmão, Titus, e meu primo,
Cyrus, eram companheiros da Rainha Claire.
— Aqui é o meu alojamento — Artica anunciou quando chegamos
a uma das residências do Esquadrão da Água. — Hum, você quer
ficar aqui ou...?
Suas bochechas ficaram lindamente coradas, o que me fez sorrir.
— Vou te acompanhar. — Principalmente porque eu gostava
bastante do seu estado agitado.
Embora ela possa ter se inscrito para meu estágio por causa de
uma aposta, na verdade, ela era uma das minhas principais
candidatas. Não por causa da nossa conexão através de Lance, mas
por suas altas pontuações e energia alegre. Ela se encaixaria
perfeitamente no Polo Norte, algo que a magia nos enfeites tinha
provado.
O Príncipe Lark, futuro Rei dos Fae do Inverno, os enfeitiçou para
mim, dizendo que a melhor candidata escolheria o enfeite certo.
Senti a verdade de sua afirmação quando Artica escolheu sua
esfera de cristal. Minha magia da água, combinada com a energia
familiar de Lark, ganhou vida sob as pontas dos dedos dela, me
dizendo imediatamente que ela estava com o enfeite vencedor.
Tudo o que ela precisava fazer era dominar o encantamento do
gelo em seu interior para revelar seu destino.
E apenas o candidato destinado poderia fazer isso.
Havia outro teste no meu bolso, apenas para ter certeza, pois eu
não queria levar o Fae da Água errado. Mas quase não precisei disso
para ter certeza da adequação de Artica para o papel.
Um fato que se provou ainda mais verdadeiro quando nos
aproximamos de uma porta de dormitório decorada com flocos de
neve reais e flores vermelhas que floresciam com magia da Terra.
Arqueei uma sobrancelha.
— Um pouco cedo para as decorações do Festivus, não?
Cerca de seis meses antes, para ser exato, já que tecnicamente
era verão aqui no Reino Fae Elemental. O mesmo acontecia com o
Reino Fae do Inverno. Não que isso impedisse os elfos de manter o
clima alegre o ano todo.
— Nunca é cedo demais para decorações — ela respondeu, com
o sorriso impressionantemente belo. — Mas se isso te incomoda, não
recomendo entrar no meu quarto.
Ah, com certeza vou entrar no seu quarto , pensei, curioso
demais para ficar no corredor como um cavalheiro.
— Se me incomodasse, eu não conseguiria morar entre os Fae do
Inverno — disse a ela. Em seguida, acenei para a porta. — Vamos
ver o que você fez aí dentro.
Ela mordeu o lábio, deu de ombros e usou seu Elemento da Água
para criar uma chave de gelo para abrir a porta.
Arqueei as duas sobrancelhas diante da maravilha invernal que vi
lá dentro.
Gelo decorava todos os móveis e havia uma árvore de Natal em
um vaso no canto. Pingentes de gelo e flocos de neve adornavam as
pontas verdes, mas pendiam delas o suficiente para não congelar as
folhas, e a terra parecia estar molhada.
— A Rainha Claire adora as árvores de Natal do Reino Humano,
então... fiz uma. — Artica deu de ombros e foi até o armário para
começar a fazer as malas enquanto eu observava as outras
decorações do quarto.
Parecia um sonho do Príncipe Lark que se tornou realidade.
Se ele entrasse neste quarto, transaria com Artica naquela cama
e nunca a deixaria ir embora.
Uma imagem que não deveria me atrair de forma alguma.
Porque eu não estava na tríade dele, não importava quantas vezes
ele dissesse que sim.
E eu não deveria fantasiar com outro Fae transando com a minha
estagiária.
Pensar em mim mesmo com ela era uma coisa, mas imaginar
Lark fazendo isso? Enquanto eu assistia? Era completamente
diferente.
Ele era um amigo. Uma vantagem política. Um colega de trabalho
. Futuro rei.
Não era meu... o que quer que fosse...
— Kalt? — Artica chamou com uma nota de hesitação na voz.
Percebi que minhas mãos estavam cerradas e paralisei debaixo
de uma espécie de folha pendurada no teto. Ao me virar lentamente,
encontrei Artica bem ao meu lado com os olhos arregalados.
— Desculpe — disse, procurando uma desculpa para justificar
meu comportamento estranho. — Seu quarto me fez lembrar que
preciso decorar o meu no palácio. O Príncipe Lark é fã das... festas.
— Príncipe Lark — ela repetiu. — O Fae Real do Inverno?
— Aham — confirmei com um murmúrio. A inscrição confirmou
seu interesse em política Fae, já que ela havia cursado várias
disciplinas iguais às minhas.
— Ah, isso é emocionante — Artica disse, batendo palmas. Ela
voltou a fazer as malas, mas de repente parou e olhou para mim. —
Eu estava tentando te dizer que você está debaixo do visco.
Pisquei.
— O quê?
Ela apontou para a planta sobre minha cabeça.
— Isso é um visco.
Observei as folhas e o pequeno sino.
— Como a tradição humana? — Eu me familiarizei bem com os
feriados mortais durante o meu tempo com os Faes do Inverno. Eles
eram os responsáveis por espalhar alegria e magia natalina para as
crianças do mundo humano, o que tornava importante entender
suas tradições.
Os Faes Elementais residiam em um reino distante dos humanos.
Assim como muitos outros Faes.
Os Faes do Inverno eram diferentes, pois sua subsistência
dependia literalmente da alegria dos mortais durante a temporada
festiva.
Por isso, precisei aprimorar rapidamente minha compreensão
com relação a eles, algo que a Rainha Claire me ajudou, já que ela
era uma Halfling : parte Fae, parte humana.
— Por que você tem um visco no seu quarto? — perguntei, sem
dar a Artica a chance de confirmar que isso era uma tradição
humana, porque eu já sabia que era.
— No caso de um Fae bonito vir nos visitar — ela respondeu,
sonhadora. Em seguida, paralisou e arregalou os olhos. — Ah, mas
eu não quis dizer... eu... bem... é... — Suas bochechas ficaram
naquela deliciosa tonalidade de rosa novamente, me lembrando
morangos, uma fruta humana que eu apreciava muito.
— Porque ficar embaixo dele significa que eu te devo um beijo —
falei, lutando contra um sorriso enquanto seu rosto ficava com uma
tonalidade mais escura, mais próxima do vermelho. — Certo?
Ela parecia prestes a desmaiar.
Meus lábios se curvaram.
— Venha aqui, Artica. — Eu estava gostando muito mais disso
que deveria, mas tecnicamente, ela ainda não era minha estagiária.
Além do mais, ela meio que se qualificava como amiga antiga por
meio de seu relacionamento com Lance.
— É... é só uma tradição boba — ela murmurou.
— Uma tradição que o Príncipe Lark leva muito a sério — eu
disse a ela, com sinceridade. — Ele ficaria muito descontente se
soubesse que seu Emissário Fae Elemental ignorou uma crença
mortal. Agora venha aqui.
Ela curvou os lábios para o lado, mas parecia perceber a
veracidade de minha declaração. O que significava que entendia a
importância das tradições humanas para os Faes do Inverno.
Nós podíamos estar no Reino Fae Elemental, mas isso não
importava muito agora que estávamos politicamente ligados ao
Reino Fae do Inverno.
É melhor acostumá-la a isso , pensei enquanto ela dava um
passo em minha direção.
— Feche os olhos — sussurrei. Isso era muito inapropriado, mas
ela era a dona do visco, não eu.
E ela não era oficialmente minha estagiária. Não até que eu a
testasse com o presente no meu bolso.
Esse seria o símbolo final de sua contratação.
Até que eu o entregasse, ela não estava trabalhando para mim.
Sim, essa lógica funcionava.
Mas uma parte honrada de mim argumentava que eu estava
inventando regras, então, em vez de pressionar meus lábios contra
os dela, rocei um beijo casto em sua bochecha quente.
Isso cumpria a superstição mortal e tornava nosso abraço
amigável em vez de íntimo.
Seus longos cílios loiros tremularam quando ela abriu os olhos,
um toque de admiração misturado com decepção.
Ela queria que eu a beijasse de verdade.
Por causa daquela paixão , pensei. Como primo em primeiro grau
do Rei Fae da Água, frequentemente apareciam admiradoras. Mas
Artica sempre foi um pouco diferente, seu fascínio por mim era mais
inocente e infantil.
Isso me fazia não querer arriscar magoá-la.
Ao contrário de tantas outras, ela não se atirava em cima de
mim. Apenas me adorava com os olhos.
E havia algo extraordinariamente belo nisso.
— Termine de arrumar suas coisas — eu disse baixinho. — Não
quero perder o jantar de hoje com os Fae do Inverno.
Ela engoliu em seco.
— Certo. Sim. — Ela continuou juntando seus pertences
enquanto saí de debaixo do visco. Não cairia nessa de novo.
No entanto, senti um formigamento na pele, o que me instigou a
passar debaixo dele mais uma vez, como se o próprio Príncipe Lark
desejasse mais magia.
Uma noção impossível.
Algo que com certeza estava na minha cabeça.
Porque o Príncipe Fae do Inverno não parava de dizer que eu
fazia parte de sua tríade.
Os Faes do Inverno normalmente formavam uma tríade de
machos que procuravam a quarta parceira juntos.
Uma vez que o círculo estivesse completo, os membros dele
efetivamente se tornariam Faes do Inverno. O que significava que a
maioria dos Faes não nasciam originalmente com magia do inverno,
apenas se casaram com ela. Assim, não eram considerados
abominações aos olhos dos outros. Da mesma forma que os Faes
Fortuna, que eram Faes que rejeitaram a Fonte para se tornarem
videntes.
No entanto, o Príncipe Lark era um verdadeiro Fae Real do
Inverno porque ele foi criado por um círculo de Faes do Inverno, o
que significava que ele nasceu como um. Ele tinha a pura magia
natalina, e não apenas isso, mas seu pai era o monarca reinante.
Portanto, em breve ele assumiria o trono.
E ele estava convencido de que eu pertencia à sua tríade com ele
e Norden, um selkie sensual que adorava a ideia de eu me juntar
aos dois.
Concordar com isso significava abrir mão de minha identidade
como Fae da Água Real, e eu nem sequer a dominei adequadamente
ainda. Então, como eu poderia me tornar um Fae do Inverno?
Quanto mais me juntar à tríade do futuro Rei dos Fae do Inverno?
Balançando a cabeça, me concentrei na tarefa atual de preparar
Artica para seu estágio. O que incluía entregar a ela o pacote que
estava no meu bolso.
Mais um teste.
Diferente dos enfeites.
Este... era um teste do próprio Príncipe Lark.
Peguei o pequeno pacote quando Artica perguntou:
— Como você soube da aposta? — Sua atenção estava na mala,
mas sua mente claramente continuava focada em mim.
— Lance — admiti, achando graça.
— Ah. — Ela limpou a garganta. — O que ele disse, hum,
exatamente?
— Que ele te desafiou a se candidatar por causa da sua afinidade
com o gelo. Ele também disse que você seria a candidata ideal para
o Reino Fae do Inverno e que eu me arrependeria se não te
contratasse. — Lance sabia sobre a paixão dela por mim, mas ainda
assim insistiu que ela era a Fae certa para o trabalho.
Um olhar em seu currículo confirmou isso.
Assim como sua rapidez com o enfeite.
E o quarto festivo.
— Todo mundo queria o estágio — ela disse, olhando para mim
antes de voltar sua atenção para a mala. — Essa foi a única razão
pela qual não me candidatei de imediato.
Mentira.
Ela demorou por causa da paixão por mim.
O que era bom.
— Fico feliz que ele tenha te desafiado a fazer isso — eu disse. —
Concordo que você é a candidata ideal.
Ela endireitou as costas, e seus olhos azuis encontraram os meus
novamente.
— Mesmo?
— É claro. — Eu me inclinei um pouco para a frente. — Você não
achou mesmo que o enfeite era um teste, achou?
Era um segredo que eu não deveria revelar, mas não podia me
dar ao luxo de ter uma estagiária insegura ao meu lado. Não com
tudo o que estava acontecendo com a Coroação Fae do Inverno e as
atividades Inter Reinos da Rainha Claire.
— Aqueles enfeites foram enfeitiçados pela magia Fae do
Inverno. Apenas o Fae mais adequado para o trabalho poderia
escolher o correto. E eu já sabia que era você pelo grupo de
candidatos. — Balancei as sobrancelhas para ela. — Sorte sua que
você chegou na aula a tempo.
Ela entreabriu os lábios, a forma carnuda chamou minha atenção
automaticamente e me presenteou com visões do que ela poderia
fazer com a boca.
Algo que eu não deveria estar pensando.
Mas preferia isso à imagem do Príncipe Lark transando com ela.
É claro, agora eu estava imaginando a boca de Artica no p...
Sinos Faes, estou perdendo a sanidade para as fadas , pensei,
soltando um suspiro e balançando a cabeça novamente.
— Devemos ir. — Porque eu realmente precisava tirar uma
soneca ou algo do tipo.
Não, espere.
É o presente , percebi, enfiando a mão no bolso e ignorando o
quanto minha calça ficou apertada enquanto eu estava aqui parado.
O olhar de Artica se desviou para a minha cintura e seus olhos se
arregalaram.
Provavelmente porque ela podia ver o que estava acontecendo
ali.
Mas eu a distraí com o pacote, erguendo-o entre nós.
Ela seguiu o movimento com os olhos e franziu a testa.
— O Lance me disse para ficar de olho porque você é
encrenqueira — provoquei, contando parcialmente a verdade. Ele
afirmou que Artica podia ser um pouco desajeitada, mas a falha só a
tornava mais cativante. — Então trouxe um presente de boas-vindas.
— Na verdade, o Príncipe Lark me obrigou a trazê-lo. Mas isso não
vinha ao caso.
— É uma coleira? — ela brincou. — Ou talvez um colar de
choque?
Eu ri.
— Não exatamente, mas é para usar no pescoço. — Entreguei a
ela. — Abra.
Um leve toque de magia da água pairou no ar enquanto Artica
acalmava o rubor em suas bochechas, fazendo meus lábios se
curvarem. Ela realmente corava muito, então supus que era um
truque inteligente para ajudar a acalmar sua temperatura corporal.
Ela puxou o laço, desembrulhou o papel vermelho com cuidado e
encontrou a caixa dentro. Seus dedos ágeis abriram a tampa,
revelando o cristal brilhante no interior.
Ela arregalou os olhos.
— Um colar de floco de neve?
— Não é qualquer floco de neve — murmurei, pegando a
corrente da caixa para envolvê-la no pescoço dela. Aquele adorável
rubor apareceu novamente, aquecendo a ponta dos meus dedos
enquanto eu prendia as pontas em sua nuca.
Felizmente, não estávamos debaixo do visco ou eu estaria
tentado a beijá-la de verdade.
Um impulso que eu precisava ignorar.
Assim como uma dúzia de outras ideias flutuando na minha
cabeça.
O Príncipe Lark provavelmente encantou o pacote para me
seduzir também. O que explicaria todas essas inclinações
inadequadas.
Engolindo em seco, me concentrei no pingente no pescoço de
Artica, precisando explicar o encantamento do presente.
— O floco de neve nunca vai derreter, porque está infundido com
a minha magia — algo que o Príncipe Lark insistiu, dizendo que
precisava da minha afinidade com o gelo para congelá-lo —, bem
como a magia do Polo Norte.
Ela levantou um dedo para acariciar as bordas brilhantes do
floco.
— É lindo.
— Sim. — Concentre-se no colar, não em Artica , disse a mim
mesmo, limpando a garganta. — Então, como eu disse, é um
presente apropriado para uma encrenqueira, pois é um amuleto de
desejos.
Seus olhos encontraram os meus.
— Um amuleto de desejos?
Assenti.
— Se você se encontrar em apuros, basta tocá-lo e fazer um
pedido. O floco de neve deve te ajudar.
Ela acariciou o pingente novamente, com a expressão nostálgica.
— Quantos desejos ele tem?
Eu sorri.
— Quantos você quiser, desde que estejam dentro da capacidade
do amuleto. Ele pode conceder desejos menores, mas há um
período de recarga, e só pode recarregar quando você estiver no
Polo Norte, já que precisa se alimentar da magia Fae do Inverno
para funcionar adequadamente. — Ele também tinha outra
característica, mas abordaríamos isso mais tarde.
— Uau — ela suspirou. — O-obrigada, Príncipe Kalt. Ou, hum,
Emissário Kalt?
Eu ri dos títulos.
— Não há necessidade de formalidades, Artica. Apenas Kalt está
bom.
— Certo. — Ela não parecia muito bem. Estava sem fôlego, como
se estivesse prestes a desmaiar.
— Tudo pronto? — perguntei, tentando distraí-la de qualquer
pensamento fantasioso que tivesse dado a ela aquela expressão
sonhadora.
— Hum, sim?
— Você não parece ter certeza.
— Eu... eu não sei do que preciso — ela disse devagar. — Está
muito frio lá?
— Muito — admiti. — Mas há encantamentos, e você terá itens
adicionais em seu guarda-roupa para te ajudar a se adaptar.
— Me adaptar? — ela repetiu.
— Você vai entender o que quero dizer — prometi. — Então, está
pronta?
Ela olhou para as malas e assentiu.
— Hum... acho que sim.
— Bom, porque eles vão oferecer o jantar em breve e, acredite
em mim, você não vai querer perder. — Eu a observei por um
momento. — Névoa ou sala do portal? — Já tinha me
desmaterializado aqui, um talento que poucos Faes da Água
possuíam. Mas como herdeiro real, eu tinha o dom no sangue.
A expressão de Artica me disse sua escolha antes mesmo que ela
a expressasse. Porque pura alegria e empolgação irradiavam dela.
— Ah, névoa, por favor.
Curvei os lábios.
— Bom. Prefiro isso a portais. — Estendi a mão. — Pronto
quando você estiver, Artica.
3

ARTICA

S antas bolas congeladas , que frio .


Mesmo com o calor do corpo de Kalt, algo de que gostei muito
na experiência de névoa, congelei quase imediatamente ao chegar.
Tanto que perdi a apresentação da pessoa para quem Kalt entregou
minhas malas.
Foi uma experiência rápida de “oi” e “tchau” que mal ouvi em
meio aos meus cabelos congelados.
Porque blusa e saia não eram quentes o suficiente para esse
reino gelado.
Algo que Kalt poderia ter me avisado.
No entanto, ele parecia estar bem com calça social e camisa,
então talvez não tivesse passado pela cabeça dele.
Estremeci enquanto a neve estalava sob minhas botas, a única
parte adequada do meu traje, e Kalt me conduzia pela costa do
Ártico.
Seria romântico, se meus lábios não estivessem congelados.
Como uma Fae da Água pura com afinidade por gelo e frio, eu
acabaria me ajustando à temperatura extrema depois de algum
tempo. Provavelmente foi por isso Kalt não reagiu ao clima gelado.
Mas, por enquanto, criei uma barreira isolante que pairava logo
acima da minha pele, a não ser na parte em que ainda segurava a
mão de Kalt.
Eu não me importava se meus dedos congelassem.
Kalt estava me tocando .
E eu queria que isso durasse o máximo possível.
O que acabou sendo apenas meio segundo a mais, pois ele a
soltou e murmurou:
— Você deve terminar de se isolar. Vai levar alguns dias para se
acostumar com o frio.
Reprimindo uma careta, obedeci.
Para isso dar certo, eu precisava colocar a cabeça no lugar.
Ele era meu chefe agora, então eu tinha que parar de suspirar e
babar por ele, pelo menos quando estivéssemos a menos de um
metro de distância, como agora.
Levei os dedos ao meu novo colar.
A única pessoa que já me deu joias foi minha mãe. Até Kalt. E
esse não era um colar qualquer, mas um amuleto de desejos. Isso é
bem romântico, não é?
Suspirando com minha mente impossível, tentei apreciar o lugar,
o maravilhoso e encantador Polo Norte.
Céus azuis, águas tranquilas e icebergs repletos de pinguins
preenchiam a maior parte da minha visão. Por alguma razão, Kalt
não me levou diretamente ao palácio, optando por me deixar
congelar na chegada.
Talvez ele estivesse testando minha coragem contra o frio.
— Você disse que os enfeites não eram realmente um teste —
comentei, querendo saber mais sobre isso. — Que você já tinha me
escolhido para o estágio, ou sabia que seria eu. Mas como?
Falei enquanto modificava a brisa gélida ao nosso redor para
envolver meu corpo, deixando uma camada de ar parado sobre
minha pele. Era um truque que aprendi sozinha para me manter
aquecida quando não queria me incomodar com casacos pesados
durante viagens a reinos mais frios. Fazer as correntes de ar se
moverem ao redor do meu corpo era uma excelente forma de
isolamento que afastava o frio.
Kalt olhou para mim e sorriu.
— Por causa de truques como esse. Você nunca recebeu
instruções sobre como se isolar, mas sabe como fazer. Faes da Água
têm diferentes alcances de seus talentos, e alguns são mais
adequados para trabalhar com Faes do Inverno do que outros.
Ele criou uma pequena escultura de gelo na palma da mão para
demonstrar: um dragão.
Criei uma para mim: um Pégaso.
Ele sorriu com aprovação.
— Nossa afinidade com o gelo é ideal para o Polo Norte. As
relações Inter Reinos Faes da Rainha Claire são um desafio, algo que
não posso enfrentar sozinho. É por isso que você está aqui. Você é a
mais adequada para a tarefa que tenho em mente.
Me controlei para não sorrir como uma idiota com suas palavras.
— Os talentos dos Faes do Inverno são fundamentais para
promover relacionamentos entre os reinos por causa da magia de
ocultação. Eles ajudam outros Faes a se esconderem entre os
humanos, o que fortalece ainda mais a aliança que a Rainha Claire
está tentando construir entre os reinos. — Seu olhar se tornou
distante. — Quem sabe? Um dia, todos nós podemos precisar da
ajuda. Isso fornece motivação para todos, não é mesmo?
Fiz uma careta.
Porque a última parte parecia um pouco sombria.
Fiz uma nota mental para perguntar a Juniper sobre a mais
recente profecia multi-reinos dos Faes Fortunas. Ela costumava ser
incrivelmente enigmática e cheia de desgraça e tristeza, mas se
aquilo deixava Kalt preocupado, então chamava minha atenção.
— Acho que a bondade também é uma motivação — falei
baixinho. — Para nos darmos bem, quero dizer.
Ele assentiu.
— A bondade é um ingrediente crucial na cultura Fae do Inverno.
Outra razão pela qual você é adequada para esse trabalho.
Reduzimos a velocidade quando nos aproximamos de um grupo
de Faes, que eu supus serem Faes do Inverno ou algum tipo de
seres invernais que habitavam este reino, coletando o que pareciam
ser longos fragmentos de gelo pela costa.
— O que eles estão fazendo? — perguntei.
— Coletando cristais de crença. — Ele diminuiu a velocidade e
pegou um caco do chão congelado, virando-o em suas mãos.
Franzi a testa.
— Parece gelo comum.
Ele sorriu, o que fez aquelas covinhas deliciosas reaparecerem e
meu estômago deu cambalhotas.
— Me dê sua mão.
Senti as bochechas esquentarem enquanto obedecia, levantando
a mão com a palma para cima.
Os dedos quentes de Kalt se encaixaram por baixo dos meus
enquanto ele pressionava o cristal na minha pele. Uma pequena
onda de adrenalina percorreu meu corpo quando meus dedos se
fecharam. Algo naquele cristal me deixou animada. Até mesmo
eufórica.
O que está acontecendo?
— Você acredita no Polo Norte, Artica?
Apertei o cristal em minha mão.
— Claro que sim. Estou aqui, não estou?
Seu sorriso iluminou minha alma.
— Vire-se.
Me virei, arregalei os olhos e deixei um suspiro escapar.
Brilhando no topo de uma colina gelada havia um palácio gigante
e colorido que definitivamente não estava lá antes. Cúpulas em
forma do chocolate Kisses, da Hershey do Reino Humano, uma
deliciosa guloseima que a Rainha Claire me apresentou no ano
passado, coroavam as torres, cada uma listrada de vermelho e
branco. E também havia várias torres que se retorciam como
merengue fae congelado, apontando para o céu sem nuvens.
— Como...?
Kalt tirou o cristal da crença da minha mão.
— Você acabou de energizar o cristal com a sua crença. Ela é
valiosa aqui, Artica. Ela alimenta a Fonte dos Faes do Inverno.
— Ah. — Encarei o palácio Fae do Inverno, admirando sua
grandiosidade açucarada.
— Pode fechar a boca agora.
Minha mandíbula se fechou abruptamente.
— O Polo Norte tem um escudo de invisibilidade?
— Isso faz parte da magia de ocultação, não necessariamente
invisibilidade. Se você não acreditasse que o Reino Fae do Inverno
estivesse aqui, não seria capaz de interagir com ele ou vê-lo. Talvez
isso desafie as leis da física humana, mas a magia, especialmente a
da variedade Fae do Inverno, não gosta de seguir regras. Você
esperava algo diferente?
— Acho que não. — Kalt começou a andar novamente, e eu o
segui, me perguntando como ele conseguia distinguir os cristais de
crença dos comuns. — Os Faes do Inverno têm inimigos? — Achei
estranho que eles precisassem se esconder em um reino tão
inóspito. Eu duvidava que os humanos viessem aqui com frequência.
— Não muitos — Kalt admitiu. — Embora seja melhor ser
prudente quando se trata de humanos. Sua curiosidade muitas vezes
acaba em violência, e este não é o único lugar em seu mundo onde
os faes querem viver.
Assenti, ciente de que os Faes Fortuna e os Faes da Meia-Noite
frequentavam este mundo com frequência.
Os Faes Elementais, menos.
Porque não nos importávamos particularmente com o que os
mortais faziam com o ambiente ao seu redor.
— A Rainha Claire quer que os Faes do Inverno ajudem a criar
uma proteção semelhante para outras partes do Reino Humano —
Kalt continuou. — Para ocultar com sucesso as atividades faes,
quero dizer. Na verdade, tenho trabalhado em um acordo com o
Príncipe Lark para expandir as habilidades da Fonte Fae do Inverno
para outras regiões. É algo que espero que ele decrete quando
assumir o trono.
— Mesmo? — Isso parecia emocionante. — A Rainha Claire vai
adorar.
— Eu sei. — Ele me deu um sorriso arrogante que me lembrou
um pouco de seu primo Cyrus, o atual Rei Fae da Água.
Mas Kalt não era nem de longe tão intimidante quanto o primo.
O Rei Cyrus frequentemente visitava a Rainha Claire. E, bem, eu
geralmente me escondia ou fugia quando ele chegava.
Mas Kalt tinha uma amabilidade que o tornava um pouco mais
acessível. Ou ele seria, de qualquer maneira, se eu não estivesse tão
apaixonada.
No entanto, essa oportunidade poderia ser exatamente o que eu
precisava para fazê-lo me notar. Especialmente se eu o ajudasse a
alcançar seu desejo de expandir as habilidades da Fonte Fae do
Inverno.
Isso deixaria claro que eu mais que uma estudante
entusiasmada.
Era alguém em quem se podia confiar e respeitar.
Alguém digna de ser companheira de um poderoso emissário
como ele...
— Você vai me ajudar com o trabalho administrativo, garantindo
que as coisas funcionem bem — Kalt acrescentou, seu tom
apressado sugeria que eu tinha acabado de arregalar os olhos.
Sim, um começo fantástico, Artica , repreendi a mim mesma.
Então suas palavras foram registradas, me fazendo franzir a
testa.
— Trabalho administrativo? — repeti, meu entusiasmo diminuindo
enquanto eu recuava um pouco, tentando dar espaço a ele.
Ele segurou meu braço, me puxando para frente novamente,
quase me fazendo perder o equilíbrio e cair. Sua mão segurou meu
quadril, me mantendo de pé enquanto seu olhar ia para o chão
debaixo de mim.
Balancei a cabeça, precisando clarear os pensamentos, confusa e
desconcertada por me encontrar em seus braços.
Então notei a neve fofa ao redor dos meus tornozelos.
— O que... o que há de errado? — perguntei, incapaz de
esconder meu espanto. Humm, coco , pensei, inalando o doce
aroma. Sim, eu gostaria muito de provar, por favor .
Kalt acenou e um pedaço de neve se desfez, deixando um buraco
aberto no gelo.
— Armadilha de abominável homem das neves — ele disse com
um toque de diversão em seu tom. — Eles são inofensivos, mas
adoram pregar peças.
Pisquei e a confusão se dissipou enquanto eu olhava para o
buraco a poucos centímetros dos meus pés.
— Aonde isso leva?
— Provavelmente para uma caverna de gelo cheia de xarope de
bordo pegajoso. Nem mesmo um banho salvaria seu cabelo. — Seu
tom sugeriu grande desagrado.
Arqueei a sobrancelha, curiosa para saber como ele tinha todo
aquele conhecimento.
— Não que eu saiba por experiência própria — ele esclareceu,
limpando a garganta. — De qualquer forma, você vai precisar
prestar atenção onde pisa enquanto estiver aqui. Os Faes do Inverno
e as espécies nativas do Polo Norte podem ser, na melhor das
hipóteses, imprevisíveis. Embora geralmente só queiram se divertir,
eles têm uma poderosa magia à disposição que deve ser respeitada.
— Outra razão para o meu colar? — adivinhei.
Ele assentiu.
— Certamente será útil.
O que significava que ele sabia dos meus hábitos desajeitados.
Foi isso que ele quis dizer ao me chamar de encrenqueira. Lance
gostava de me provocar por minha habilidade de sempre me meter
em encrencas.
— Vou prestar atenção onde piso — disse, percebendo que ele
ainda não tinha soltado meu quadril. Na verdade, eu ainda estava
aconchegada em seus braços.
O ar se condensou diante de mim quando soltei um suspiro.
Eu poderia me acostumar com isso.
Uma foca magnífica subitamente se arrastou pela costa, e Kalt
me soltou como se eu o tivesse queimado. O que, normalmente,
teria sido uma decepção desapareceu rapidamente quando meus
olhos se fixaram na pelagem cor de chocolate do animal e meu
coração disparou ao ver seus bigodes.
— Ah, oi! — eu disse efusiva. — Você é a coisa mais fofa!
A foca inclinou a cabeça, me observando com os olhos escuros.
— Ah, sim, muito lindo mesmo — murmurei, querendo me
aproximar e acariciar sua pelagem bonita.
— Artica... — Kalt advertiu.
Sorri para ele, me virando para estudar sua expressão.
— O que foi? As focas também pregam peças? — provoquei em
voz alta antes de encarar a bela criatura novamente.
Mas ela não estava mais lá.
Em vez disso, havia um homem alto, tonificado e completamente
nu , jogando longos fios castanhos para trás, que pingavam com
água gelada.
— Você ouviu isso, Kalt? Ela acha que sou fofo — ele murmurou
com os olhos brilhando, e suas palavras, suaves como veludo,
tinham o sotaque mais sexy que já ouvi na vida.
Santas bolas do Festivus...
Minha voz ficou presa na garganta quando o homem sexy se
aproximou de nós, sem desviar os olhos sedutores.
— Artica, este é o Norden — Kalt disse exasperado enquanto
apertava a ponte do nariz. — E, sim, essa foca realmente prega
peças. Então, mantenha distância.
— Do tipo impertinentes, devo acrescentar — ele corrigiu com
uma piscada sedutora enquanto eu lutava para manter os olhos
acima de sua cintura. Eu realmente não me importava com o tipo de
brincadeira que ele fazia, desde que continuasse falando .
O homem com abdômen definido e pele levemente cintilante com
sal marinho não interrompeu seu avanço até estar bem perto de
mim, tão próximo que nossa respiração se misturou. Ele tinha o
cheiro do oceano de inverno e notas de noz-moscada.
Eu o inalei, com o olhar fixo em seus olhos cor de chocolate.
— Você trouxe uma candidata para a nossa tríade, Kalt? — ele
perguntou enquanto inclinava a cabeça, sua voz cheia de diversão.
— A afinidade dela com o gelo é... cativante . — Ele umedeceu o
lábio inferior. — Quase posso sentir sua compatibilidade. Me deixou
intrigado.
Não. Consigo. Respirar.
Como eu deveria realizar meu trabalho por aqui quando focas
podiam se transformar em homens sensuais com vozes que
incendiavam minhas veias?
Até que, finalmente, absorvi sua declaração.
Tríade ?
Faes do Inverno eram conhecidos pelos círculos de acasalamento
de três machos e uma fêmea.
Kalt se juntou a uma tríade enquanto trabalhava aqui?
E... e estavam procurando uma fêmea para eles?
Quase gritei. Eu me voluntario!
— Pela milésima vez, não estou na sua tríade, seu selkie
insistente — Kalt respondeu, derretendo todas as minhas esperanças
e sonhos em um suspiro.
Bem, pingentes de gelo.
Levei os dedos ao pescoço enquanto suspirava.
Um selkie? Nunca conheci um desses. Será que todos de sua
espécie têm esse sotaque maravilhoso? Ah, eu gostaria de poder
ouvi-lo dizer meu nome. Aposto que soaria muito sexy!
— Artica... — Norden disse, e eu fiquei rígida.
Flocos de neve . Kalt me deu um pingente que realiza desejos , e
acabei usando-o para fazer um selkie nu dizer meu nome.
Profiteroles , isso ...
— Artica — Norden repetiu, pronunciando cada consoante tão
lentamente que não pude evitar um arrepio de prazer.
Eu poderia ouvir sua voz repetir meu nome pelo resto da vida.
Kalt franziu a testa, desviando o olhar para meus dedos no
pingente, e eu abaixei a mão.
— Acho que o Príncipe Lark adoraria conhecê-la — Norden
continuou, suas palavras eram quase um ronronar.
— P-Príncipe Lark? — perguntei, me virando para Kalt, que
estava parado muito perto de mim.
Ficar encurralada entre esses dois seria a fonte de todas as
minhas fantasias esta noite.
— Sim — Kalt disse, colocando uma mão protetora no meu
ombro enquanto Norden umedecia os lábios novamente, seus olhos
percorrendo meu corpo de cima a baixo.
— Humm, e nosso príncipe está precisando de uma princesa —
Norden ronronou. — Você seria uma candidata deliciosa.
Kalt franziu a testa novamente.
— Você não deveria encontrar várias candidatas para o papel de
Princesa de Cristal?
Norden deu de ombros, seus lindos cabelos deslizando com o
movimento gracioso.
— Nosso príncipe pode ser exigente. Vou escolher apenas
candidatas que sejam compatíveis. — Ele sorriu para mim. — E
reconheço compatibilidade quando a vejo. Se você me permitir, eu
poderia apresentá-la ao príncipe.
O calor aflorou em minhas bochechas, não apenas por suas
palavras, mas por seu toque. Eu não fazia ideia do que era uma
Princesa de Cristal ou por que esse selkie sexy pensava que eu era
uma candidata, mas não queria recusá-lo.
Sim, por favor. Farei com prazer o que for necessário , eu queria
dizer. Mas minha garganta e boca não funcionavam. Provavelmente
porque me esqueci de como respirar.
Detalhes .
Norden riu.
— Beleza tímida, não é?
Kalt não comentou, seu rosto inexpressivo. Mas um toque de
gelo rodeava seus olhos, dando um brilho prateado às íris.
Ele está irritado?, me perguntei.
— Bem? — Norden incentivou. — Ela é sua candidata.
— Ela não é a minha candidata — Kalt respondeu entre os
dentes. — Mas não vou negar um encontro com o Príncipe Lark.
— Humm. — Os olhos do selkie brilharam de alegria. — Eu sabia
que você se sentiria assim, Frosty.
Frosty? , quase perguntei.
Então Norden roçou os lábios quentes e deliciosamente macios
em meus dedos novamente, me distraindo. Apesar do ar gélido, ele
parecia irradiar calor.
— Eu amo seus olhos — ele disse baixinho. — Me lembram de
cristais de gelo encontrados apenas nas profundezas do mar. E seu
cabelo... — Ele aproximou a mão de uma mecha que caía sobre meu
ombro.
Não ousei me mexer. Se esse ser maravilhoso queria me tocar, eu
não ia impedi-lo.
— Posso? — ele perguntou, me surpreendendo com o pedido
delicado. A maioria dos Faes da Água simplesmente tocaria meu
cabelo sem pensar duas vezes. Mas nossa espécie normalmente
demonstrava afeto através do toque.
— Norden... — Kalt advertiu antes que eu pudesse falar.
— Está tudo bem — consegui dizer, com a garganta ainda
apertada e os pulmões queimando com a necessidade de respirar
adequadamente. — Vá em frente. — E agora, minha voz estava
rouca.
Muito sexy, Artica , pensei comigo mesma. Você com certeza
sabe como conquistar um homem.
É claro, sua curiosidade podia ser inocente, pelo que eu sabia.
Menos o comentário da candidata que eu não entendo.
Norden passou os dedos sobre a mecha de cabelo e um arrepio
visível percorreu seu corpo. Não ousei olhar para baixo para ver se
outras partes dele estavam reagindo à nossa proximidade, mas com
base no gemido que ele soltou, percebi que talvez tivesse uma
espécie de... fetiche por cabelos.
Olhei para Kalt, que passou a mão pelo rosto.
Norden abriu a boca enquanto ele levantava a mão para
inspecionar os fios.
— São como os raios de sol quando olhamos por baixo das
ondas.
Kalt gemeu atrás de mim.
— Chega de lisonjas, selkie.
— O quê? Com medo de que ela aqueça seu coração congelado,
Frosty? — Norden provocou.
Fiz uma nota mental para perguntar a Kalt por que Norden o
chamava de Frosty .
— Seu cinismo é nauseante — Frosty disse com seriedade.
Mas não queria que ele estragasse o momento ou assustasse
esse homem encantador, porque eu gostava da adoração em seu
olhar. E o sotaque dele, humm, eu queria que ele falasse
novamente.
— O que é um selkie? — perguntei, dizendo a primeira coisa que
me veio à cabeça. Norden era um metamorfo de algum tipo, mas
muito mais educado que os que conheci, mesmo que tivesse um
fetiche estranho por cabelos.
— Um metamorfo de foca — Kalt explicou. — Alguém que é
compatível com a magia do Polo Norte, então ele pode fazer mais do
que se transformar. — Ele lançou um olhar carrancudo para o selkie.
— Ainda não vi sua magia ser usada para nada produtivo, mas o
Príncipe Lark tem um certo ponto fraco por seu charme.
Norden me deu um sorriso que fez minhas pernas tremerem.
Seu cabelo comprido secou rapidamente, e eu estendi a mão
para pegar uma mecha e ver se era tão macio quanto parecia.
Ele tocou meu cabelo. Parecia justo que eu pudesse tocar no
dele também, certo?
Dei um passo à frente, minha mão pairando perto de seus fios
sedosos, como ele havia feito com o meu.
— Posso?
Ele piscou e olhou para Kalt, que estava paralisado.
Estou começando a entender o apelido , pensei, esperando a
resposta de Norden.
Ele deu um pequeno aceno, curvando um pouco os lábios.
— Tudo o que você desejar, Artica .
Ah, havia muitas coisas que eu desejava nessa situação, mas me
limitaria a passar os dedos por suas mechas hipnotizantes.
Seus olhos cor de chocolate cintilaram de forma tentadora
enquanto eu entrelaçava os dedos em seus cabelos, os fios seguindo
até o meio das costas.
— Uau — suspirei, perdida na textura macia de sua bela
cabeleira. — Você deve usar muito condicionador para que fique tão
macio assim. — Eu estava hipnotizada pela textura, me deliciando
com a forma como ele escorria pelos meus dedos enquanto
penteava os longos fios.
Bem, talvez nós dois tivéssemos um fetiche por cabelos , pensei.
Norden riu, puro deleite adornando seus belos traços.
Olhei para Kalt.
— Sério. Já tocou no cabelo dele? É como se uma nuvem e uma
cachoeira se misturassem para criar seda celestial.
Kalt me encarou como se eu tivesse duas cabeças. Seu olhar
desceu para o lugar onde eu entrelaçava os dedos nos incríveis fios
de Norden.
— Não... — Kalt disse com calma. — Ele não permite que
ninguém toque em seu cabelo.
— Você pode ter permissão quando admitir que faz parte da
nossa tríade — Norden murmurou com uma piscada.
Kalt gemeu.
— Você não tem outro lugar para ir?
— Na verdade, não — Norden finalmente deu um passo para
longe de mim, e o ar ártico atingiu meu rosto. Me isolei novamente.
— O Lark me disse para dar um mergulho enquanto ele cuidava dos
detalhes da coroação. Parecia entediante, então obedeci. Mas agora
estou com fome.
Seu olhar se fixou no meu, fazendo meu coração falhar como se
tivesse perdido um degrau em um lance de escadas.
— Aqui existem regras, Norden — Kalt o repreendeu. — Flertar é
permitido. Mas nada de toques, a menos que você a esteja
cortejando oficialmente. Isso inclui o cabelo dela. — Ele semicerrou
os olhos. — Ela não conhece a sua espécie, selkie. Você poderia
muito bem ter colocado a mão entre suas pernas.
Minha mandíbula caiu diante da dureza no tom de Kalt.
Mas suas palavras apenas fizeram os cantos dos lábios de
Norden se curvarem e a alegria cintilar em seus olhos.
— Como quiser, Frosty. Mas lembre-se de que você aprovou o
encontro introdutório dela com o Príncipe Lark. Como candidata .
Ele se virou e mergulhou na água, me proporcionando uma visão
de sua bunda perfeitamente esculpida antes de desaparecer sob as
ondas.
Eu pisquei.
— O que... o que foi isso?
— Sua primeira lição de política — Kalt respondeu, alisando a
camisa como se estivesse removendo partículas de poeira invisíveis.
— Sugiro que você não toque no cabelo dele novamente.
Será que detectei um toque de ciúme?
— Então é só trabalho e nada de diversão? — perguntei.
Kalt me encarou com um olhar que o tornava cem por cento mais
atraente.
Ou mais frio, por assim dizer.
Mas ninguém fazia o olhar gélido brilhar como Kalt.
E isso fez meu coração disparar um pouco mais por ele.
— Confie em mim, o Polo Norte será mais divertido do que você
pode suportar — ele prometeu.
Tomei isso como um desafio pessoal.
Vamos ver o que essa estagiária pode aguentar, Príncipe Kalt .
Olhei para o local onde Norden desapareceu na água. Ele não era
apenas um metamorfo intrigante, mas também o companheiro do
Príncipe Fae do Inverno.
Se um selkie era tão atraente, isso me fazia pensar como seria o
companheiro dele.
E por que Kalt não quer se juntar a tríade deles?
Isso devia ser importante, considerando que o Príncipe Lark era o
futuro Rei Fae do Inverno.
Quase perguntei, mas Kalt já estava voltando pela neve atrás de
mim.
— Por aqui, pequena estagiária — ele gritou. — Você vai
alimentar o ego enorme do Norden se ficar olhando para ele por
muito tempo.
E isso é algo ruim? Quase perguntei. Segui atrás dele e disse:
— Ele me pareceu legal.
Kalt resmungou.
— Claro que é. Ele foi designado para farejar todas as Princesas
de Cristal elegíveis para o Príncipe Lark. — Ele me olhou de relance,
sua expressão não revelando nada. — E você é a primeira e única
mulher por quem o vi demonstrar interesse até agora.
Isso me fez erguer uma sobrancelha.
— Sério? — Eu não sabia se isso era algo bom ou ruim. — Ah, o
que é uma Princesa de Cristal?
Kalt sorriu.
— Provavelmente mais do que você esperava quando aceitou
esse estágio.
— Isso não responde minha pergunta.
— Não — ele admitiu, curvando os lábios. — A elegibilidade para
ser uma Princesa de Cristal é, bem, é complicada. Mas tem a ver
com a próxima coroação e a tríade do Príncipe Lark. É meio que um
cortejo.
Mordi o lábio inferior.
— E isso... isso complica as coisas, certo? — Já que ele
claramente não queria fazer parte da tríade, e vim para ser sua
estagiária, não a Princesa de Cristal.
Ele deu de ombros.
— Não exatamente. Quero construir relações fortes entre Faes
Elementais e Faes do Inverno. Sua concordância mostraria boa-fé
entre nossas raças.
Franzi a testa.
— Então você quer que eu aceite? — O que significava que ele
estava bem com o fato de eu ser cortejada por outros machos.
Porque ele não está interessado em mim , percebi, sentindo meu
coração formigar com gelo.
Não era como se eu já não soubesse.
Mas isso... isso prova sua total falta de interesse.
— Se você aceitar, teríamos mais reuniões com o Príncipe Lark —
ele murmurou. — O que poderia ajudar a estabelecer Fontes Faes do
Inverno por todo o reino.
Certo. Porque esse era o objetivo principal dele aqui.
Assim como deveria ser o meu.
— Eu estaria me comprometendo com algo? — perguntei. — Ao
concordar com o cortejo?
Seus ombros subiram e caíram novamente.
— Os laços de acasalamento dos Faes do Inverno funcionam de
maneira diferente dos nossos, mas os laços ainda funcionam nos
dois sentidos. Eles têm tentado me empurrar para a tríade há
meses, mas um vínculo permanente ainda não se formou, então
mesmo que eles tenham uma queda por Faes da Água, é seguro
dizer que você não estará se comprometendo com algo que não
queira.
Então você não está disposto a se juntar a tríade deles, mas está
bem em me colocar como candidata , pensei, franzindo a testa.
Entendo.
Bem.
Ao contrário dele, eu não me importaria com um pouco de
romance.
E se Kalt não me queria, por que eu negaria o selkie sedutor que
claramente estava interessado?
O que, espere, espere aí...
— Norden me chamou de sua candidata. — E ele não estava se
referindo ao estágio. — Você disse que fui escolhida como sua
estagiária por causa do meu talento para o gelo e da minha
capacidade de me sair bem no Polo Norte... — Parei, minha mente
processando as declarações sob uma nova perspectiva. — Você me
trouxe aqui porque sabia que eu seria uma potencial Cristal qualquer
coisa.
Os olhos vidrados de Kalt brilharam com malícia, claramente sem
perceber como isso era errado.
— Não posso dizer que me oponho ao interesse do Norden, mas
há muitas outras tarefas para você realizar como minha estagiária.
— Ele acenou em direção ao caminho nevado. — Começando com ir
jantar comigo.
Fiz uma careta. Tipo um encontro?
Não. Como trabalho.
Como uma potencial princesa cristal qualquer coisa para Sua
Alteza Real .
Semicerrei os olhos, incerta sobre como me sentia em relação a
esse desenvolvimento.
Parte de mim queria argumentar, repreender Kalt e confrontá-lo
por sua arrogância.
Mas uma onda do viciante aroma de noz-moscada de Norden me
envolveu, me acalmando um pouco.
Talvez eu estivesse imaginando.
Talvez, não.
No entanto, instantaneamente me senti mais leve. Mais animada.
Mais feliz.
Eu estava entrando no lugar mais feliz do Reino Humano.
Aceite , disse a mim mesma, suspirando. Aceite e deixe o estágio
Fae do Inverno começar.
4

LARK

S inos de trenó .
Dispensar Norden foi um erro colossal. Os preparativos para a
coroação serviam como um lembrete cruel do quanto eu estava
ferrado, e somente meu companheiro selkie parecia capaz de me
distrair do prazo iminente de vida .
Sem uma tríade estabelecida, a Fonte Fae do Inverno talvez não
me aceitasse. Minha própria morte não me preocupava. O destino
do meu povo era o que importava.
E Norden.
Deixá-lo iria... doer.
Ele foi meu melhor amigo por anos, tornando-se um candidato
óbvio para a tríade e minha cama. Nossa compatibilidade não tinha
precedentes.
Assim como a compatibilidade com um certo Fae Real da Água
que continuava a ignorar minhas convocações.
Contraí a mandíbula.
Tríades e círculos de companheiros tinham tudo a ver com crença
e amor , dois componentes vitais para os Faes do Inverno. Então, se
eu não pudesse completar essa tarefa monumental, como a Fonte
poderia confiar em mim para ser o rei da magia alimentada pela
crença?
Meu humor ficou mais sombrio enquanto um grupo de miniatura
de elfos alegres, nativos do Polo Norte tagarelava sobre as
decorações, que seriam inúteis se a Fonte me matasse no momento
em que eu aceitasse a coroa.
E depois? Meu povo estava contando comigo. Não havia outros
herdeiros adequados ao trono, e os Faes do Inverno poderiam ser
lançados ao caos. Um fato do qual meu pai adorava me lembrar,
mas mesmo assim insistiu em se aposentar.
Daí a coroação planejada para o meu trigésimo segundo
aniversário, em vinte e cinco de julho. Uma ascensão jovem, já que
meu pai tinha quarenta anos quando assumiu. Mas ele disse que
estava na hora.
Porque ele acreditava que eu estava pronto.
Só que eu não estava.
Eu nem tinha formado minha tríade ainda.
Caramelo .
Uma elfa esbelta chamada Holly tagarelava sobre fitas, glitter e
bastões de doces como recomendação para as peças centrais.
Claramente alheia ao meu humor. O que fazia sentido. Faes Reais do
Inverno nunca ficavam infelizes. Nós éramos feitos para liderar,
espalhar energia alegre, esperança e amor .
Lá estava essa palavra de novo.
— Bengalas doces azuis, não as de arco-íris — Holly esclareceu,
suavizando ligeiramente meu humor. Ela estava sentada no meio da
suíte, cercada por confetes e outras amostras de suprimentos de
coroação, todos combinando com meus gostos.
Os elfos que trabalhavam para a família real conheciam minhas
preferências e também sabiam o quanto eu levava a sério minha
responsabilidade com a coroa.
— Não tenho certeza sobre bebidas com glitter dourado ou
prateado, Alteza — ela continuou, pegando uma taça de
champanhe.
Levei uma taça de chocolate quente com um toque de álcool aos
lábios lentamente, um presente de Norden antes de dispensá-lo. Ele
adicionou um pouco de menta, o que fez meus lábios se curvarem.
Pelo menos um dos meus companheiros acredita em mim ,
pensei, suspirando.
— O que acha? — Holly insistiu, referindo-se às bebidas com
glitter.
— Humm, dourado — respondi, esfregando os dedos. Um fluxo
constante de líquido dourado com glitter encheu a taça, provocando
“ooohs” e “aaahs” dos elfos.
— Escolha excelente! É por isso que será uma coroação adorável.
Você pensou em cada detalhe — Holly falou.
Sim. Cada detalhe, menos aqueles que importavam, como um
círculo de companheiros digno da Fonte.
— E que tal ramos de visco pendurados na porta? — ela
ponderou. — Nós nos apegamos a essa tradição humana.
Inclinei a cabeça.
— Um pouco demais, não acha?
— Sim, sim — ela disse, riscando em seu bloco de notas.
— Acho essa ideia encantadora — uma voz com sotaque
pecaminosamente sexy falou.
Meus músculos imediatamente se contraíram.
Norden. Bem na hora.
Ele deve ter sentido minha tristeza através de nossa conexão.
— Não preciso de visco para te beijar — eu disse, sem me mexer
enquanto ele se aproximava por trás e colocava as mãos nos meus
ombros. Ele pressionou os polegares nas minhas costas,
massageando os músculos tensos com precisão.
— Humm, mas eu adoro a desculpa para te beijar quando você
não está no clima — ele sussurrou no meu ouvido.
Holly ergueu a caneta.
— Visco ao redor do trono, talvez?
Suspirei.
— Então os Faes podem fazer fila e me beijar logo depois que eu
for coroado? Acho que não.
Minha ascensão ao trono Fae do Inverno não ia ser ofuscada por
uma orgia de inverno no país das maravilhas.
Embora Norden ficaria muito feliz com isso.
— Você está levando essa coroação muito a sério — ele
ronronou.
Com certeza não estava. Além do cenário muito provável de que
eu falharia e morreria, uma razão muito boa para levar a coroação a
sério, havia o fato de que várias espécies e reinos estariam
presentes nesta cerimônia.
Eu tinha que agradecer à Rainha Fae Elemental por essa pressão
extra, e nossa pequena aliança Fae Inter Reinos.
— Holly, lembre ao Norden quem está na lista de convidados —
praticamente rosnei.
A pequena elfa virou outra página em seu bloco de notas.
— A corte dos Fae do Inverno e os círculos de companheiros
deles, é claro. Os selkies do Ártico. Os elfos chefes. Representantes
de todos os outros reinos Faes, incluindo, mas não se limitando aos
Faes Elementais, os Faes da Meia-Noite, os Faes Fortuna, vários clãs
de Fae Metamorfos, talvez os Faes do Inferno e... — Ela fez uma
pausa, seus olhos percorrendo as anotações. — Seu pai, mãe e a
tríade deles.
— Ah — Norden falou, movendo as mãos dos meus ombros para
meu pescoço, passando o polegar pela minha mandíbula. — Você
quer impressionar seus pais com sua ascensão.
— Quero sobreviver à minha ascensão e não ser a razão pela
qual o Polo Norte irá implodir — corrigi. — Tudo tem que correr bem
e isso significa nada de demonstração pública de afeto para me
distrair.
Norden afastou as mãos e veio para minha frente, sorrindo.
— Nem mesmo beijinhos rápidos?
— Você não tem esse tipo de controle. — Uma vez que Norden
se fixava em algo, ele não parava até ficar satisfeito... e era preciso
muito esforço para satisfazer um selkie.
Talvez, neste momento, sua forma de preliminares fosse a
distração de que eu precisava para acalmar minha agitação, mas no
dia da ascensão, eu precisaria estar completamente focado, algo que
ele precisava entender.
— Não seja um linguado congelado. — Norden se dirigiu para a
grande jacuzzi de gelo que eu mantinha no canto da suíte, aninhada
entre duas janelas grandes com vista para o mar. Como ele preferia
se transformar e andar nu, me permiti uma visão de sua bunda
firme antes que entrasse na água que eu mantinha em sua
temperatura preferida e ideal.
Abaixo de zero.
Ele suspirou e afundou na água cheia de gelo, admirando as
novas adições à minha suíte. Trabalhei no mural de uma cena
subaquática do oceano, uma que Norden havia descrito com
detalhes para mim.
Como eu não podia acompanhá-lo em suas aventuras, trazia o
mundo dele para cá.
Eu estava bastante orgulhoso da pintura. Os lábios de Norden se
curvaram em um sorriso quando ele avistou o novo naufrágio que
acrescentei com focas dançando nas sombras. Os humanos muitas
vezes colidiam com icebergs e perdiam a vida ao tentar conhecer
mais dessa paisagem impiedosa. Eu não os culpava, não quando o
meu mundo guardava mistérios sensuais como o selkie que foi o
primeiro a se juntar a minha tríade.
Ele me olhou com o canto do olho, enxergando diretamente
minha alma.
Me lembrando mais uma vez que conquistei ao menos um
coração que realmente acreditava em mim.
Só preciso de mais dois...
— Eu nunca mencionei um polvo. — Norden apontou a pequena
adição no canto.
— O mural é meu — eu disse enquanto Holly mexia em seu
caderno, virando a página e praguejando quando confete se
espalhou por toda parte.
Norden pensava que eu tinha adaptado minha suíte para ele,
mas sempre tive amor pela água e pelo mar.
Provavelmente foi isso que me atraiu para ele no início.
Meu companheiro Fae do Inverno só me lembravam das
responsabilidades geladas e das regras que sugavam toda a diversão
da magia real. Os elfos superiores e os trabalhadores se voltavam
mais para a alegria que dava poder à magia dos Faes do Inverno,
mas geralmente não eram compatíveis quando se tratava de
companheiros.
Norden, sim. Ele era um selkie, e a responsabilidade era um
conceito estranho para sua espécie. Ele vivia no aqui , no agora , e
seguia com a corrente em vez de contra ela.
Eu adorava essa característica. Uma criatura do mar que poderia
me tirar da pressão do trono. Foi por isso que o reivindiquei no
momento em que atingimos a idade apropriada.
Eu não jogaria o jogo dos meus antepassados. Não precisava
cortejar minha tríade ou minha futura rainha.
Eu simplesmente sabia .
Assim como sabia que Kalt, o Emissário dos Faes Elementais,
também estava destinado a ser meu.
Eu só precisava conquistá-lo, uma tarefa que estava se
mostrando muito mais difícil do que com Norden.
Meu amor pela água provavelmente era o motivo pelo qual Kalt
me atraía. O Fae Real da Água também complementaria nossa tríade
com sua habilidade política, e ajudaria a equilibrar a completa falta
de responsabilidade de Norden.
Quando eu assumisse a coroa, a distração que meu selkie
poderia oferecer teria seu lugar, mas eu também precisaria governar
um reino.
Infelizmente, Kalt ainda não estava disposto a aceitar seu lugar.
Algo que meu pai me garantiu que era típico.
Poucos Faes do Inverno realmente nasciam assim. E aqueles que
nasciam, eram sempre do sexo masculino.
Como eu.
Todos os outros Faes do Inverno eram mais ou menos
transformados por meio dos círculos de acasalamento, o que
permitia um grande influxo de poder em nosso reino.
Minha mãe era Fae da Meia-Noite. Mas meu pai era um
verdadeiro Fae do Inverno, daí minha linhagem. E os outros dois
membros de sua tríade eram Faes Metamorfos.
Minha mãe não queria acasalar com meu pai, dizendo que o sol
queimava seus olhos e aqui era insuportável durante os meses de
verão. Como agora, quando o sol brilhava literalmente o dia e a
noite toda.
Mas ele conquistou o coração dela e sua crença na magia dele, e
hoje os dois estão felizes e unidos em um círculo.
Eu queria isso. Minha tríade. Minha companheira. Meu círculo.
Se ao menos Kalt cooperasse.
Contraí a mandíbula com a insolência dele. Seu corpo respondia
ao meu. Senti sua compatibilidade no momento em que ele entrou
em meu domínio.
Eu até o senti quando ele retornou de seu reino hoje, e a
conexão parecia mais forte que nunca, amplificada.
Meu.
Norden brilhava com uma energia sexual particularmente
intensa, então suspeitei que ele também tivesse encontrado o
Emissário Fae Elemental. Porque ele também sentia a conexão.
Holly limpou a garganta e depois soltou um “aham” agudo.
Inclinei a cabeça para encorajá-la a continuar.
— Decidimos não ter o pudim de ameixa?
— Ah, vamos, Lark — Norden falou da jacuzzi. — Sem beijos ou
pudim de ameixa?
— Você nem gosta de pudim de ameixa.
— Gosto — ele sorriu. — Eu poderia lambê-lo de você depois da
coroação.
Tudo bem. Se eu sobrevivesse, poderíamos comemorar do jeito
que ele quisesse.
Suspirei, alcançando novamente o chocolate quente.
— Sim para o pudim de ameixa — falei com desdém. — Estamos
terminando?
Holly conferiu suas anotações.
— Acredito que temos tudo que precisamos para começar.
— Bom. — Me levantei, tirando a camisa. Toda essa conversa de
coroação estava mexendo com meus nervos, e com o retorno de
Norden, eu queria uma distração.
— Está dispensada, a menos que queira ver algo mais festivo.
Alguns dos elfos riram, enquanto outros gemeram.
— Lá vamos nós de novo — um deles resmungou.
— Silêncio! — Holly disse, acenando freneticamente para silenciar
os outros. — Aproveite suas... festividades, senhor.
Sorri enquanto ela conduzia o grupo para fora, fechando a porta
ao saírem.
Água espirrou enquanto Norden se levantava da jacuzzi.
— Um dia, eles vão querer ver o quanto podemos ser festivos —
ele provocou.
— Já terminou com a jacuzzi?
— Por enquanto. — Ele saiu dela e pegou uma toalha branca e
fofa, enrolando-a na cintura. Ela abraçava sedutoramente seus
quadris, mas não escondia sua ereção.
Norden caminhou até mim e notei o quanto seus olhos estavam
escuros. Isso significava apenas uma coisa.
Ele estava no clima para uma transa intensa. Algo havia
despertado seus instintos primitivos, e eu não achava que fui eu.
Humm ...
— O que te deixou tão excitado? — perguntei.
— Um certo Fae da Água. — Seus olhos brilhavam como
diamantes de chocolate. — Kalt retornou da seleção de estagiários.
Meu interesse foi despertado. Ajudei Kalt a encantar alguns
cristais de gelo com magia Fae do Inverno na esperança de atrair
uma potencial companheira do Reino Fae Elemental.
Se o Fae Real da Água não quisesse ser meu, talvez outra pessoa
quisesse. O que explicaria nossa conexão, pois talvez ele soubesse
quem era minha verdadeira companheira.
Havia vários candidatos importantes, mas apenas dois que ele
estava considerando seriamente.
As duas eram mulheres.
No entanto, meu feitiço teria atraído tanto um homem quanto
uma mulher, me deixando em suspense sobre quem ele realmente
havia trazido para meu reino.
— Homem ou mulher? — perguntei em voz alta, precisando
saber.
— Mulher.
Interessante . Normalmente, um Fae do Inverno não poderia
cortejar uma mulher até que sua tríade estivesse completa, mas isso
não era impossível.
Se Norden a tivesse encontrado e ela tivesse satisfeito seus
gostos, ele teria ficado excitado.
Embora qualquer coisa que se movesse provavelmente o
satisfaria.
— E ela é bonita? — perguntei, hesitante.
— Bonita é um insulto — Norden disse, se ajoelhando na minha
frente. — Ela é... perfeita. — Ele começou a desabotoar minha calça.
Mesmo que estivesse apenas tentando me aplacar, eu não ia
reclamar. — Temos que ficar com ela.
— Ficar com ela? — perguntei, levantando uma sobrancelha. —
Eu te encarreguei de encontrar candidatas para a Princesa de Cristal.
No plural . — O que significava que ele não poderia ficar com a
primeira que encontrasse.
As esferas de Kalt não foram os únicos itens que encantei com
magia Fae do Inverno nas últimas semanas.
Enviei enfeites para todos os reinos, tentando atrair
companheiros compatíveis.
E o propósito de trabalhar com a magia de Kalt era ver se havia
uma candidata ligada a mim através dele.
Norden sorriu, o prazer em seus olhos calorosos sugerindo que
eu tinha subestimado seu desejo de nos encontrar uma rainha. Não
candidatas. Mas uma única fêmea.
— Você sabe o quanto é difícil cortejar uma fêmea sem uma
tríade completa, Norden. — Eu preferia fazer isso da maneira certa,
mesmo que o tempo fosse essencial. Eu não podia me dar ao luxo
de cometer um erro.
E uma tríade tinha muito mais sucesso com uma base sólida
antes de escolher uma fêmea.
Era importante que todos os machos concordassem com a
companheira escolhida. Eu nunca forçaria um membro em minha
tríade que não pertencesse.
Algo que Kalt frequentemente apontava, é claro. Mas eu sabia
que ele me pertencia, mesmo que não estivesse pronto para admitir
ainda.
Meus instintos não poderiam estar errados aqui.
Ele era meu.
— Ela pode convencer o Kalt a se juntar a nós — Norden falou,
não exatamente lendo minha mente, mas me conhecendo o
suficiente para adivinhar meus pensamentos. Seus cabelos perfeitos
deslizaram sobre o ombro enquanto inclinava a cabeça para me
olhar. — Quer saber como eu sei?
O tom suave de sua voz arrepiou minha virilha, um fato que ele
percebeu enquanto tirava minha calça.
— Como você sabe? — perguntei, a voz mais rouca do que da
última vez que falei.
— Porque eu o deixei com ciúmes — Norden murmurou,
inclinando a cabeça para o outro lado.
Franzi a testa diante do movimento intencional e então notei uma
leve irregularidade em seu cabelo. Apenas uma mecha de fios
castanhos sedosos que não se alinhava com os outros. Algo que eu
sabia que nunca acontecia. O homem passava horas escovando o
cabelo, arrumando e aperfeiçoando constantemente cada camada.
Ele não suportava ter um único fio fora do lugar, por isso nunca
me deixava tocá-lo.
Mas... aquela mecha... aquela mecha era significativa.
— Você... você a deixou tocar em seu cabelo ? — perguntei,
incapaz de esconder o choque na voz.
Ele apenas sorriu e envolveu os dedos em meu pau, dando um
puxão forte.
Fae brilhante , respirei fundo, finalmente percebendo o que o
deixou tão excitado.
Não só ele havia encontrado uma fêmea compatível, mas
também a permitiu tocar em seu cabelo.
— Norden. — Seu nome escapou dos meus lábios em um gemido
quando ele tomou meu pau na boca, girando a língua na ponta.
Puta merda . Ele deixou uma fêmea tocar seu cabelo. E agora...
Fae congelado ... Eu não conseguia pensar quando ele fazia aquilo
com a boca, e ele sabia disso.
Ele me engoliu por inteiro, mostrando sua falta de reflexo de
engasgo antes de recuar, os olhos escuros cintilando com uma
mistura de orgulho e expectativa.
Ele claramente fez sua escolha.
Assim como fiz com ele e Kalt.
Uma decisão imediata impulsionada pelo instinto e talvez um
toque de necessidade.
— Você pediu um encontro?
Ele murmurou sua confirmação, a vibração incendiando meu
interior.
— E Kalt aprovou?
Norden confirmou com outra chupada profunda que foi direto
para minhas bolas.
— Que foda, Norden — grunhi, sua boca habilidosa me deixando
tão duro que quase gozei sem muita provocação.
Ele se afastou da minha virilha, as íris cintilando com uma
intenção sombria.
— Como desejar, meu príncipe. Me come com força. Depois,
iremos encontrar nossos companheiros.
Envolvi a mão na parte de trás do seu pescoço, tendo cuidado
para não desarrumar seu cabelo, e o puxei para se levantar. Ficamos
lado a lado, nossos paus se tocando enquanto eu o pressionava
contra mim.
— Eu já te disse que te amo?
— Hoje à tarde ainda não — ele respondeu, levando a mão até
meu pescoço. — Mas sinta-se à vontade para sussurrar isso na
minha garganta enquanto me come.
Esse macho.
Esse macho astuto e sacana.
— Na cama, selkie — exigi.
— É claro, meu príncipe — ele murmurou, sorrindo com os olhos.
— Seja selvagem. Estou com vontade de rosnar .
5

ARTICA

E u não conseguia parar de pensar em N orden . A paisagem gelada não


ajudava em nada. Fiquei esperando que ele aparecesse ou
deslizasse por um banco de neve para brincar aos meus pés.
Uma expectativa presunçosa.
Mas ele era tão único, bonito e suave .
E nu.
Muito, muito, muito nu .
Humm, eu só queria entrelaçar os dedos em seus cabelos
enquanto ele me beijava. Aposto que ele beijava muito bem.
O calor subiu pelo meu pescoço. Pare de pensar no selkie sexy .
Sim, porque me repreender sempre funcionava.
Curvei os lábios para o lado. Será que ele me encantou? De
forma literal? Ou de brincadeira, talvez?
— Selkies são sempre tão... hum, sensuais? — perguntei a Kalt,
esperando descobrir mais sobre os dons naturais e propensão deles
para travessuras. Isso poderia ser apenas um truque elaborado.
Ou relacionado à minha candidatura .
Meu humor despencou com esse pensamento.
Porque Kalt me trouxe aqui para ser candidata a uma tríade de
outro homem. Não havia maneira mais clara de dizer: não estou a
fim de você .
— Sim — ele respondeu, não para o meu pensamento. Embora,
de certa forma, parecesse assim pelo timing , mas ele não podia ler
minha mente, então foi uma resposta à pergunta sobre selkies e a
sensualidade deles. — Quando estão cortejando uma potencial
companheira, de qualquer forma — acrescentou enquanto me
guiava ao redor do muro do palácio.
Cortejando . Gostei dessa ideia. Mesmo que doesse um pouco
saber que Kalt tivesse armado isso para mim.
Embora, claramente, Norden não se importasse com isso.
Então, por que eu deveria me importar?
Eu deveria aceitar.
Aproveitar o momento. Viver neste reino feliz e me entregar ao
que pudesse acontecer.
Talvez isso deixasse Kalt com ciúmes.
Ha. Uma noção risível. Mas vale a pena considerar , decidi,
lembrando como ele reagiu ao toque do selkie em meu cabelo.
Humm ...
Minhas reflexões foram interrompidas quando entramos no lindo
pátio. Pinheiros balançavam ao vento, cobertos por gotas de gelo e
pingentes congelados. Globos de neve gigantes reluziam com
estátuas douradas, emoldurados por uma nevasca contínua que se
espalhava por todo o terreno.
Ah, e havia homenzinhos de biscoito de gengibre reais varrendo
as portinhas de suas casinhas.
— Uau — suspirei. — Este lugar é deslumbrante.
— É — Kalt concordou, tirando um momento para absorver tudo.
— Não vou ficar muito tempo depois da coroação, então vou tentar
aproveitar enquanto posso.
Levantei uma sobrancelha.
— Você vai embora?
Ele assentiu.
— Acho que sim.
— Mas o Norden também está te cortejando, não está? — Não
perguntei sobre isso antes, mas me sentia um pouco mais ousada
agora que fui rotulada como candidata. E quanto a Kalt? Ele também
não deveria estar concordando com encontros? — Quero dizer, o
príncipe Fae do Inverno quer que você complete a tríade, não é?
Isso não ajudaria as relações entre os Inter Reinos Fae?
Ele franziu testa e eu estremeci.
— Me desculpe, isso foi... não quis ultrapassar os limites. —
Embora tecnicamente ele tenha ultrapassado ao organizar essa coisa
de cortejo. Então por que eu tinha que passar por isso sozinha? Por
que ele não se juntava também?
Ou, melhor ainda, por que ele não se junta à tríade e me coloca
no meio de um sanduíche de Kalt e do selkie sexy?
Por favor.
Ele limpou a garganta.
— Não. Sim, você está certa. Ajudaria a aliar os Faes Elementais
e os Faes do Inverno se eu aceitasse a proposta deles. — Ele
colocou a mão na nuca, olhando para um dos homenzinhos de
biscoito de gengibre que varria uma varanda. — Mas é diferente
para a tríade masculina. Não há um verdadeiro cortejo. Se eu
concordasse, seria um vínculo permanente. E não há outros
candidatos que o Príncipe Lark esteja considerando para o papel.
— Isso é meio que um elogio, então, não é?
— Sim, mas é um elogio indesejado — ele respondeu.
Fiz uma careta.
— Os vínculos dos Faes do Inverno não funcionam como os
nossos? — Porque os vínculos dos Faes Elementais exigiam o
consentimento de ambas as partes nos quatro níveis. Os dois
primeiros nem eram permanentes, permitindo que o vínculo se
dissipasse.
Muito diferente dos vínculos dos Faes da Meia-Noite, que eram
ditados por mordidas masculinas e inquebráveis após a primeira.
Também ao contrário dos vínculos dos Faes Fortuna, que eram
baseados em consentimento duvidoso. Ou falta dele, na verdade.
Eu não conseguia ver os vínculos Faes do Inverno funcionando
dessa forma. Os faes aqui eram muito alegres para vínculos
forçados.
Kalt balançou a cabeça, fazendo com que os longos cabelos
brancos caíssem sobre os ombros largos.
— Os vínculos dos Faes do Inverno existem através da crença.
Isso significa que eu precisaria acreditar que sou digno da tríade do
Príncipe Lark. E eu também teria que escolher acreditar nele mais do
que minha herança como Fae da Água permitiria.
— Trocar de Fonte — traduzi.
— Mais ou menos — ele respondeu, com os lábios cerrados. —
Eu ainda manteria minha afinidade com a água, mas seria um Fae
do Inverno em vez de um Fae Real da Água.
— E você não quer abrir mão do seu status de realeza.
— Na verdade, eu estaria apenas trocando um pelo outro. A
tríade do Príncipe Lark seria considerada real. — Ele franziu a testa.
— Mas não estou interessado em me tornar um Fae do Inverno.
— Humm — murmurei, sem acreditar nele. Havia alguma coisa
que ele não estava me contando. Mas eu não podia pressioná-lo. —
Então a Fonte dos Faes do Inverno é alimentada pela crença, que se
estende para os vínculos de acasalamento.
— Sim — Kalt confirmou. — O que significa que se eu não
acreditasse de alguma forma, inclusive falhando em acreditar em
mim mesmo, a Fonte poderia rejeitar o Príncipe Lark na coroação, e
as consequências inevitavelmente causariam uma guerra entre
nossos reinos.
Estremeci.
Isso seria ruim.
— No entanto, você me preparou para ser uma candidata —
apontei.
Kalt me olhou nos olhos e depois para pingente que estava perto
do meu esterno.
— Não é tão arriscado para eles te cortejarem. A crença só
precisa estar do lado da tríade, e você pode escolher ficar ou ir
embora. Eu não teria a mesma escolha.
Entreabri os lábios, absorvendo sua declaração.
Eu não tinha considerado a ideia de que poderia... ficar . Quero
dizer, é claro, fiquei intrigada com a ideia de ser cortejada, mas não
ponderei sobre a possibilidade de se tornar realidade.
Apenas fantasiei sobre o selkie e Kalt me transformando em um
sanduíche.
Totalmente inocente em comparação a aceitar a realidade de um
vínculo de acasalamento com três homens e me tornar Fae do
Inverno.
Esse era exatamente o motivo pelo qual Kalt recusou a tríade: ele
teria que aceitar essa realidade.
Para mim, aceitar o cortejo era simples assim: eu concordaria
que alguns homens tentassem me seduzir.
Conceitos e responsabilidades muito diferentes.
— Quando um selkie se interessa por alguém, eles são
implacáveis — Kalt continuou, me conduzindo por um caminho feito
de balas de goma. — Eles também podem se tornar agressivos.
Então, tenha cuidado.
— Posso cuidar de mim mesma.
— Tenho certeza de que sim, mas esse rostinho bonito vai te
tornar um alvo por aqui.
Minha alma cantou com suas palavras.
Ele me acha bonita.
Decidi aproveitar a oportunidade.
— Só bonita, é?
Chegamos a um portão de ferro forjado em forma de bengalas
doces, e ele fez uma pausa, se virando para me observar. Uma de
suas mãos envolveu a minha.
— Linda — ele falou baixinho.
E assim, eu o perdoei por todo o esquema.
Sim, eu era fácil.
Mas o amor da minha vida acabou de me chamar de linda .
Suspiroooo .
Seria malvisto beijar o chefe no primeiro dia de trabalho, não é?
minha fae interior devassa sussurrou.
Sim , respondeu meu lado prático.
Exceto pela maneira como os flocos de neve caíam em seus
cabelos e cílios, como ele parecia angelical aqui no Ártico... Suspiro
duplo .
Ele soltou minha mão e abriu o portão, me conduzindo para um
pequeno pátio com esculturas de neve e gelo. Depois disso, havia
um ponto de entrada para o palácio.
— Você deve estar com fome — Kalt comentou, seguindo para
abrir o portão. — Vou te levar à cafeteria onde será servido o jantar.
Deixaremos o tour completo para amanhã.
— Está bem — concordei, ainda exausta por não ter dormido na
noite passada. Mas estar aqui sob o sol brilhante e cercada pela
neve era uma forma de me manter alerta e acordada.
Claro, a presença de Kalt também ajudava.
Porque agora eu não precisava mais sonhar com ele. Podia
simplesmente olhá-lo. Toda aquela glória Fae Real da Água. Maçãs
do rosto esculpidas. Maxilar definido. Sobrancelha branca arqueada.
Pare de encarar , eu disse a mim mesma. Mas acabei dizendo:
— Você também é bonito, a propósito.
Claramente, eu não tinha autocontrole nem razão perto desse
fae.
Suas covinhas apareceram, e o olhar gélido cintilou.
— Vamos nos concentrar na comida.
Não era exatamente a resposta que eu queria, mas tudo bem. Eu
poderia satisfazer a fome em meu estômago, já que não comi nada
o dia todo. E talvez ele me deixasse saboreá-lo como sobremesa.
Ele queria que eu fosse cortejada, não necessariamente
escolhida.
Isso significava que eu ainda tinha uma chance. Talvez.
Provavelmente não. Mas eu estava me agarrando ao milagre! Além
disso, este era o lugar certo para acreditar, não é?
Ele me acompanhou por um corredor longo e depois por grandes
portas duplas.
Onde parei de forma abrupta.
6

ARTICA

C afeteria era uma palavra muito sem graça para descrever a grande
sala à minha frente.
Era como se eu tivesse sido jogada em um filme natalino do
Reino Humano.
Uma rede de luzes penduradas no teto, com esferas congeladas
flutuando entre os fios cintilantes, ampliava a iluminação geral do
grande salão. Bufês se estendiam ao longo das paredes dos fundos,
com as mesas abarrotadas de itens. E uma bancada ocupava o
espaço à minha esquerda, o piso, os bancos e as mesas eram
aparentemente esculpidos em gelo, e a maioria dos ocupantes eram
pequenos elfos.
Do outro lado, parecia estar acontecendo algum tipo de atividade
festiva. Passeio na Rena . O objetivo era um tipo de lição de
condução, mas o animal queria mesmo jogar os elfos para o chão.
Talvez fosse mais um exercício de treinamento que um jogo?
Mas a mesa ali perto era definitivamente para diversão. Havia
biscoitos e várias cores de glacê alinhados enquanto vários elfos
competiam em algum tipo de concurso de decoração.
E depois, comiam os resultados.
— Fae — suspirei. — É aqui que vocês comem ?
— Sim, ah, sei que é um pouco exagerado pelos nossos padrões
— Kalt falou enquanto passava os dedos pelo cabelo. — Mas é bem
normal neste reino.
— É incrível — falei, animada e tentando absorver tudo. Meu
estômago roncou quando o aroma tentador de canela, laranjas e
especiarias atingiu o meu nariz.
Fiz o que qualquer fae sensata faria: fui direto para o bufê.
E franzi a testa com o que encontrei.
Bolos, tortas, pudins, biscoitos, bengalas, chocolate, bombons e
mais guloseimas enfeitavam a mesa, mas em nenhum lugar havia
qualquer comida salgada.
Como bifes de dragão. Ou mouseberries . Sanduíches de
cogumelo. Nem mesmo hambúrgueres de salada.
Nada que eu consideraria uma refeição de verdade.
— Hum, será que perdemos o jantar? — perguntei quando Kalt
chegou ao meu lado. — Tudo isso é sobremesa.
— Não, não perdemos nada. Enquanto estiver no Polo Norte, é
isso que você vai encontrar em todas as refeições. Café da manhã,
almoço e jantar. Os Faes do Inverno amam doces. — Ele pegou um
pacote da área rotulada de caramelo de coco . — Sua boca está
aberta de novo.
Eu a fechei, sem ter certeza de quando ela se abriu pela primeira
vez. Mas provavelmente isso aconteceu várias vezes hoje,
começando quando o encontrei sentado na mesa do Professor
Elway.
— Mas não tem nada substancioso e quente? Nem sopa?
Eu realmente poderia comer um grande prato de ensopado de
orc agora. Misturado com coldberries e violetas verdes. Humm.
Não pilhas de açúcar e doces.
Kalt passou por mim, pegou uma caneca de cidra e me entregou.
— Isso provavelmente é a coisa mais quente e substanciosa que
você vai encontrar aqui.
— Não sei se consigo viver de sobremesa.
— Há um restaurante perto do véu, na Groenlândia, que serve
culinária internacional — ele murmurou. — Quando você estiver com
muita saudade de casa, podemos ir lá. Mas é importante tentar se
adaptar enquanto estivermos aqui, o que significa comer nas áreas
comuns com os seres deste mundo.
Considerei suas palavras por um momento, inclinando a cabeça
em um fraco aceno.
Seus lábios se contorceram em um sorriso irônico.
— Além disso, há um pouco de magia Fae do Inverno em cada
prato, o que vai restaurar sua energia. Isso faz com que o açúcar
seja praticamente secundário em relação à infusão de magia. — Ele
apontou para o bufê. — Vá em frente. Experimente. Você vai
entender o que quero dizer.
Inalando o aroma picante de maçã, levei a bebida quente até os
lábios com cuidado.
Um calor delicioso percorreu todo o meu corpo, descendo até os
dedos dos pés.
— Humm — murmurei, dando mais um gole. — Bem, talvez isso
não seja tão ruim.
Levei meu tempo para examinar as opções na mesa, e selecionei
uma torta de frutas e um pão doce trançado antes de me sentar em
uma das mesas espalhadas pela cafeteria .
Kalt se sentou em frente a mim com seu prato cheio de biscoitos
e caramelos. Levantei as sobrancelhas, e ele deu de ombros.
— O caramelo de coco é o meu favorito, e tem abóbora nos
biscoitos. Tenho que incluir legumes quando posso, e eles parecem
contrabalancear os efeitos do caramelo.
— Efeitos? — repeti, curiosa.
Ele deu de ombros.
— A magia Fae do Inverno pode ser contagiante. Embora a
comida seja nutritiva, pode haver alguns efeitos colaterais. É melhor
apenas aceitar. — Quando o encarei, ele sorriu. — Desde que eu não
arrisque uma guerra entre os reinos, sou capaz de me divertir um
pouco, Artica.
Eu sabia disso.
Eu o vi se divertir na Academia.
Mas era bom saber que o homem que observei ainda residia sob
a aparência formal do emissário.
Sorrindo, mordi a torta de frutas. Ah, perfeição amanteigada e
crocante, isso é bom , pensei, gemendo ao sentir a onda de magia
vibrando em minhas veias.
Sim, diversão parecia uma ótima ideia.
Kalt me entregou uma bengala doce com listras azuis.
— As que não são vermelhas são encantadas. Por que você não
vê o que essa faz?
Olhei para ela desconfiada.
— Passo.
— Vamos lá. — Ele arqueou as sobrancelhas para mim. — Uma
faz você voar por cerca de dez segundos.
Mordisquei o lábio inferior, considerando.
Voar certamente me agradava um pouco.
— Tudo bem. — Quebrei um pedaço e coloquei na boca.
Arregalei os olhos. Eu esperava um sabor de framboesa, mas
experimentei uma mistura tropical de abacaxi e coco. Chupei o doce
enquanto Kalt me observava com expectativa.
— E então? — ele incentivou.
Dei de ombros.
— Deve ser um bastão com defeiiiiito...
Mas na palavra defeito , minha voz subiu uma oitava e segurei a
vogal por muito mais tempo que o necessário, quase como se eu
estivesse...
Cantando.
— Ah, não — falei, e saiu como uma melodia distorcida. Coloquei
as duas mãos na boca.
Kalt caiu na gargalhada.
— Um encantamento de canto!
Flocos de neve. Não, não, não.
Se Kalt me ouvisse cantar, eu nunca o conquistaria. Ele
provavelmente contaria para Norden que eu era defeituosa demais
para ser uma candidata, e então me mandaria de volta para a
Academia.
Mas eu não podia evitar, e Kalt foi quem me fez comer aquilo.
Então, na verdade, era culpa dele que minhas fantasias nunca se
tornariam realidade.
Talvez eu devesse puni-lo.
Ele merecia.
— Me conte sobre o seu dia, Artica — Kalt murmurou, incapaz de
conter o sorriso.
Balancei a cabeça.
Ele se inclinou sobre prato de comida, a alegria brilhando em
seus olhos azul-cristal.
— Uma coisa que você vai aprender depressa aqui é que o
espírito festivo é rei. Você não pode lutar contra ele. É melhor
aceitar.
Claro, seja lá o que isso signifique.
— Eu deteeeeesto caaaantar — cantei.
— É melhor aprender a gostar — Kalt falou, aproveitando muito
da situação.
— Não, você não entende. Eu fui provocaaaada por isso. É
traumáááááááático. — O que quer que eu estivesse cantando, era
em tom mais baixo e não parecia tão terrível, apesar das minhas
lembranças da última vez que tentei.
É claro, foi há muitos anos. Eu era uma jovem fae com a afinação
subdesenvolvida, então talvez minha voz tivesse melhorado.
— Você tem uma voz linda, Artica. Não a esconda.
Olhei ao redor do bar de gelo. Vários elfos me encaravam, com
olhos brilhantes e sorrisos largos.
— Cante! — um deles gritou com uma voz aguda.
Um coro se iniciou.
— Cante, cante, cante, cante!
— Ah, meu Fae, tudo bem — cantei, minha voz mudando para
uma melodia muito mais alegre.
Uma comemoração começou, e Kalt se levantou depressa.
— O que você estáááááá fazendo? — Minha voz tinha um vibrato
impressionante quando ele me puxou da cadeira e me girou.
— Estou dançando — ele explicou.
O que quer que tivesse naquele caramelo deixou Kalt mais solto,
mas ele aceitou bem o fato, assim como havia me dito para fazer.
Agora estávamos no Polo Norte, um lugar de alegria, risos e
sobremesas sem fim.
Os elfos riram e se juntavam a nós, e uma pequena banda
começou a tocar jazz.
Ah, flocos de neve . Agora eu estava estrelando um musical
temático de Natal. Não era o que eu esperava fazer no primeiro dia.
— Vou perguntar de novo: me conte sobre o seu dia — Kalt
exigiu, me girando.
Quando retornei para seus braços, abri a boca e...
— Quase não fui para a aula,
Ia ficar sentada de bobeira
Por causa de um desafio
Foi isso que ganhei
O estágio mais mágico do...
Fiz uma pausa.
— D-do ano — gaguejei no que deveria ser minha nota final
triunfante. Limpei a garganta. — Bem. O encantamento acabou.
Kalt assentiu para os elfos dançarinos, a música alegre pairando
no ar.
— Eles não se importam. É disso que se trata o Polo Norte,
Artica. Bem-vinda ao seu primeiro gostinho de alegria festiva.
Percebi, de maneira avassaladora, como eu me encaixava
perfeitamente em seus braços.
Engolindo em seco, inclinei a cabeça para olhar em seus olhos.
— O Lance pode ter me desafiado a me inscrever, mas só porque
ele sabia que eu queria esse estágio. No entanto, admito que não é
como eu esperava.
— Isso é bom ou ruim?
Meus lábios se curvaram.
— Ainda estou decidindo.
Ele balançou a cabeça.
— Você é tão provocadora quanto o Norden — ele acusou, rindo
quando minhas bochechas coraram ao ouvir o nome do selkie. —
Quer beber alguma coisa? Prometo que não vai te fazer cantar de
novo.
Assenti, ansiosa. Ele me levou até o bar, onde os elfos estavam
servindo bebidas em canecas ao ritmo da música, cantarolando uma
melodia que eu não reconhecia. Podia ser uma música do Reino
Humano ou algo da cultura do Polo Norte.
— Por favor, me diga que têm álcool normal aqui — implorei
enquanto nos acomodávamos junto a uma mesa de gelo ali perto.
Os efeitos das sobremesas estavam começando a passar, me
deixando com um misto de constrangimento e sobriedade que só o
álcool poderia remediar.
— Você está com sorte. Embora eu vá te julgar se você não
permanecer no tema e pedir uma sidra ou gemada.
Mostrei a língua para ele, mas rapidamente retraí o movimento,
percebendo o quanto isso me fazia parecer infantil.
— Ah, isso foi... — Limpei a garganta. — Não sei de onde veio.
Kalt segurou meu queixo, me forçando a olhá-lo. Inspirei
rapidamente.
— É o espírito festivo, Artica. Está te afetando, assim como afeta
todos aqui. Normalmente, consigo me manter lúcido, mas é difícil.
Não há motivo para se desculpar pela magia Fae do Inverno nos
conquistar.
Um risinho se formou em meu peito, mas eu o reprimi.
A mão de Kalt acariciou minha mandíbula por um momento
enquanto seu olhar descia para meus lábios e depois retornava aos
meus olhos.
— Parte de ser um emissário é se misturar. Como minha
estagiária, você tem permissão para vivenciar a alegria festiva da
maneira que quiser.
Mesmo que isso signifique te beijar?
Porque eu queria muito beijá-lo.
— Dentro do razoável — ele acrescentou, como se lesse meus
pensamentos. Ele retirou a mão do meu rosto.
Concordei, tentando me recuperar do calor que queimava meu
corpo.
— Claro. — Mostrei a língua para ele mais uma vez, agora sem
me desculpar. — Bem, onde está a minha bebida?
Kalt pediu uma gemada e, em seguida, um martíni chamado
“fada das ameixas” com suco de cranberry e vodca. Enquanto isso,
ele saboreou duas rodadas de suco de coco com pedaços de
caramelo e rum.
Eu o observei.
— Você gosta mesmo de caramelo de coco, não é?
Ele não respondeu, apenas deu um gole longo.
Eu não tinha motivo para ficar tão excitada por um homem
bebendo seu rum com caramelo de coco.
Ficamos em silêncio por alguns momentos enquanto os elfos
cantavam e dançavam ao fundo, muitos em cima das mesas.
— Sobre a questão da tríade... — comecei, ainda presa em algo
sobre a situação. — Se o único problema é a sua, hum, crença, não
poderíamos resolver isso? — Se eu conseguisse convencer Kalt a
estabelecer uma aliança permanente entre os Faes do Inverno e
nosso povo na forma de um vínculo de companheiros, isso poderia
trazer benefícios reais para nosso reino.
E se eu acabasse entre um selkie e o fae dos meus sonhos por
acaso, não iria reclamar. Ainda não conheci o Príncipe Lark, mas se
ele fosse parecido com Norden ou Kalt, eu já estava convencida.
E se não desse certo, eu poderia desistir.
No entanto, com base na expressão de Kalt, podia perceber que
ele tinha a intenção de abandonar tudo isso. Mas o leve indício de
hesitação em seu olhar gelado sugeria que essa era a última coisa
que ele queria fazer.
Tentando manter as coisas o mais profissional possível, fiquei
com a expressão séria enquanto Kalt me olhava.
— Quero dizer, posso ser uma candidata — continuei. — Mas isso
não significa nada. Sou apenas uma entre muitas. Mas você não tem
concorrência, certo?
Ele apertou a mandíbula.
— Uma coisa é você não gostar deles — continuei, ciente de que
estava tocando em um ponto que provavelmente destruiria toda a
alegria que descobrimos hoje. Mas era uma discussão justa,
considerando que ele me trouxe aqui e aprovou minha qualificação
como candidata a companheira.
Então, discutiríamos sua candidatura também.
Quid pro quo , por assim dizer.
— Mas se você gosta deles — continuei —, seria uma aliança
positiva entre nossos reinos.
Um Fae Real da Água acasalado com um Príncipe Fae do
Inverno? Esse tipo de vínculo certamente fortaleceria as relações
Inter Reinos Faes da Rainha Claire e os Faes do Inverno.
Tanto que eu quase seria capaz de aceitar Kalt se envolver em
um círculo de companheiros que não me incluísse. Isso me
despedaçaria, mas se esse fosse o preço para garantir uma aliança
entre nossos reinos, eu aceitaria.
— Já expliquei o risco, Artica — Kalt disse, colocando a bebida de
lado. — A crença não é algo que pode ser fabricada. É imprevisível e
não confiável. Não estou dizendo que não acredito em mim mesmo,
mas a possibilidade existe. E eu nunca faria algo para destruir o
trabalho que realizamos até agora com os esforços Inter Reinos Fae.
Acenei com desdém.
— Sim, entendi, mas você está pensando demais nisso. Talvez
não seja sobre a crença em si , mas sobre o quanto os outros
membros da tríade acreditam em você. — Norden certamente
parecia confiante na conexão, o que deixava apenas o Príncipe Fae
do Inverno. — Inclinei a cabeça. — Como ele é? O príncipe?
Kalt franziu a testa.
— Ele é... é um idiota mal-humorado — Kalt finalmente falou. —
Mas leva suas responsabilidades tão a sério quanto eu. Cyrus o
adora. E, admito, nos aproximamos nos últimos meses. Somos
parecidos de várias maneiras, a ponto de eu vê-lo se tornando um
melhor amigo com o tempo.
Fiquei surpresa com sua admissão.
— Se vocês já são tão próximos, ou têm a capacidade de ficarem
próximos, qual é o problema em se juntar à tríade dele? O risco é
realmente tão grande?
— Muito curiosa, não é? — Ele levantou uma sobrancelha.
— Você me trouxe aqui para ser uma candidata. Tenho direito de
fazer perguntas.
— Eu não... — Ele se interrompeu, suspirando. — Eu sabia que
havia a possibilidade de você ser uma candidata por causa da magia
Fae do Inverno envolvida no processo de seleção. Mas escolhi sua
inscrição porque era boa, Artica. Não porque eu queria adicioná-la a
algum tipo de concurso de princesas. Bem, não apenas por isso, de
qualquer maneira. Mas talvez um pouco.
Ele estremeceu, a culpa evidente em seus traços.
Porque sim, com certeza, ele me trouxe aqui para ser candidata.
Estava tudo bem. Eu não tinha problema em ser cortejada por
um selkie sexy e um príncipe. Isso era, tipo, um sonho, certo?
— Tudo bem. Já superei essa parte — falei, mexendo os dedos e
demonstrando meu desprezo pela irritação anterior. — Mas quero
entender por que você não vai se juntar à tríade dele. Porque, na
remota chance de eu ser considerada mais do que uma candidata,
preciso saber no que estou me metendo.
Pronto. Me coloquei bem. E fui muito madura também.
Ele me estudou por um longo momento.
— O acasalamento é permanente.
— Sim, eu estou ciente.
— Não estou pronto para uma situação permanente.
Ergui as sobrancelhas.
— Você não tem problema em se comprometer com o seu
trabalho.
— Isso é totalmente diferente. — Ele cruzou os braços, o
burburinho do bar atrás de mim parecendo diminuir por tê-lo tão
perto. — Ainda não estou pronto para acasalar.
Meu coração apertou, as palavras causando uma dor que eu não
queria sentir.
— Não que seja da sua conta — ele acrescentou.
— Tecnicamente, você mexeu com minha capacidade de acasalar
ao me trazer aqui sabendo que eu poderia ser uma candidata —
apontei. — Algo que eu poderia argumentar que também não é da
sua conta. Ainda assim, aqui estamos. — Imitando sua posição, eu
perguntei: — Tudo para alinhar os assuntos faes, certo? Para
fortalecer nosso relacionamento com os Faes do Inverno?
Ele semicerrou os olhos em pontos gelados.
— Você está fazendo parecer que estou te usando.
— Até certo ponto, está — eu disse. — Mas estou bem com isso.
— Eu falava sério. Eu faria o que fosse necessário para ajudar a
garantir essa aliança para a Rainha Claire. E se eu acabasse na cama
de um selkie sexy enquanto fazia política, não reclamaria.
Porque claramente Kalt não tinha interesse em um
relacionamento comigo ou algo do tipo.
— Escute, não sou uma pessoa que se arrisca, não importa que
sejam pequenos, e não sou adequado para deveres reais, mesmo
que meu primo ou o Príncipe Lark tentem me convencer do
contrário. Há tempo e lugar para tudo, e agora não é o meu
momento.
Ele ficou em silêncio como se tivesse falado demais.
Percebi que Kalt fez questão de evitar o Reino das Águas.
Embora ele nunca fosse se tornar rei, havia muitos deveres reais que
ele poderia ter assumido como um Príncipe Fae da Água. Em vez
disso, ele aproveitou a chance de estabelecer relações Inter Reino
Faes quando a Rainha Claire fundou os esforços iniciais.
— Quero fazer uma diferença real, Artica — ele continuou, suas
palavras tão frias quanto o gelo. — Não posso fazer isso se estiver
preso a um círculo de companheiros ou se tomar decisões com base
em minhas emoções em vez da razão. Muita coisa tem acontecido.
Os portões para o Reino Fae do Inferno foram reabertos pela
primeira vez em... muito tempo.
Sim, eu ouvi falar disso. O Rei Fae do Inferno estava planejando
algo grande, mas ninguém sabia o que ainda. E ele não estava
compartilhando detalhes.
— E as Fontes têm se comportado mal — Kalt continuou. — As
profecias vindas dos Faes Fortuna estão cheias de mensagens
comuns de que algo está chegando, algo que vai impactar todos os
reinos, e os faes precisam estar preparados. Todos nós precisamos
estar do mesmo lado quando isso acontecer, seja lá o que for.
Tudo bem, essa parte eu ainda não tinha ouvido falar.
— Estou disposto a sacrificar muito pelos faes, mas não posso
fazer isso se estiver em um círculo de companheiros. Porque não
seria apenas eu que estaria me sacrificando, Artica. Seriam também
aqueles com quem me importo.
Ah, e aí está a verdadeira razão pela qual ele não vai se
comprometer , pensei, admirando sua dedicação à causa.
Ele não queria apenas ajudar a Rainha Claire em seus esforços.
Ele queria liderar o ataque.
E não poderia fazer isso se outras vidas estivessem ligadas à
dele.
Kalt pegou sua bebida e tomou o resto.
— Você está estragando o clima festivo. Deveria comer outra
bengala doce.
Estalei a língua.
— Que tal você comer a bengala doce desta vez? — perguntei,
permitindo a distração. Levando em consideração tudo o que acabou
de revelar, ele merecia. E eu tinha muito no que pensar agora.
Seus lábios se curvaram, mas as covinhas não apareceram.
— Está bem. Vá pegar uma para mim.
Semicerrei os olhos.
— Acho que vou fazer isso.
Terminando o martíni, me levantei e segui em direção à mesa de
bufê, aproveitando o leve efeito da bebida. Encontrei potes de balas
coloridas e hesitei, pairando a mão sobre elas. Verde ou amarelo?
Talvez laranja? Eu já sabia o que as azuis fariam.
Curvei os lábios com a ideia de ver sua reação ao que eu
escolhesse.
Talvez eu devesse pegar uma de cada para ver de qual ele tinha
mais medo.
Voltei para o bar com uma bengala rosa, amarela, laranja, verde
e roxa.
Ele as observou.
— Não vou comer todas.
— Não. Só uma. — Levantei a amarela, observando
cuidadosamente sua reação. — Essa, talvez?
Sua expressão não mudou. Nem um pouco. Ele estendeu a mão,
mas eu a puxei para longe.
— Humm. Talvez não.
— Artica, o que você está fazendo?
Respondi, segurando a bengala laranja.
— Essa.
Ele semicerrou os olhos.
— Me dê logo a porcaria da bengala.
— Qual você quer?
— Não importa. Verde.
Finalmente me permiti dar uma risadinha maligna. Coloquei a
verde bem, bem longe de seu alcance.
— Entendo — ele ronronou, se recostando e achando graça. —
Você está tentando me dar algo que não quero. Inteligente, mas não
vai funcionar.
— Nãããão.
— Sei o que todas fazem, e não tenho preferência.
Meu ânimo diminuiu um pouco.
— A azul era a menos favorita, não era?
Ele piscou.
Ele está arruinando toda a minha diversão.
— Me diga o que elas fazem — pedi.
— Acho que vou deixar você descobrir por conta própria.
Fiz beicinho.
— Você não é sem graça.
Seus olhos se tornaram sedutores enquanto sorria.
Considerei as bengalas de açúcar e depois peguei a roxa.
— Tomei minha decisão. Essa aqui.
Ele franziu a testa, mas a pegou e mordeu um pedaço,
mastigando. Esperei, ansiosa para que ele pulasse e fizesse uma
dança, ganhasse um par extra de braços ou algo assim.
Segundos torturantes se passaram.
Nada aconteceu.
Espere, não. Sua pele se arrepiou e os pelos se eriçaram.
— Então... o que ela fez? — perguntei.
— Embota minha magia por cerca de sessenta segundos. Ainda
tenho cerca de quarenta segundos sem magia antes de poder me
isolar novamente.
Cruzei os braços.
— Isso não é justo.
Ele riu.
— Ainda assim, eu odiaria ficar completamente impotente por um
minuto quando realmente precisasse. — Ele riu. — O Norden usou
essa em mim uma vez. Não serei pego de surpresa novamente.
— Humm. Imagino que isso abra algumas oportunidades... —
Girei uma mecha de seu cabelo branco como neve ao redor dos
meus dedos e usei minha magia para disparar gelo até a raiz.
Ele fez uma careta.
— Você vai se arrepender disso.
— Ah, é mesmo? — Estendi a mão para pegar meu martíni, mas
percebi que estava vazio. — Devo continuar aproveitando os últimos
vinte segundos?
Ele segurou minha mão antes que eu pudesse pegar outra
mecha de cabelo. Prendi a respiração enquanto ele me encarava
intensamente.
— Dez.
Usei a outra mão para enviar um beijo, lançando neve em pó em
seu rosto.
Os elfos no bar que estavam nos observando caíram na
gargalhada.
Ele suspirou, limpando a neve do nariz.
— Acho que mereço.
— Acho que sim — eu disse com um ar de superioridade.
Gelo rastejou da mão dele, que estava segurando a minha,
subindo pelo meu braço. Recuei, tremendo com o frio penetrante.
Ele sorriu, parecendo debochado.
— O tempo acabou.
— Sim, sim, entendi — eu disse, esfregando calor de volta ao
meu braço.
Um grupo de elfos se aproximou, cantando uma melodia
animada. Mãos pequenas puxaram minhas roupas, me tirando do
banquinho.
— O que está acontecendo? — perguntei, me virando para Kalt.
— Eles querem que você se junte a eles. É bom. Significa que
gostam de você.
Os elfos me arrastaram para o piso da cafeteria, e a magia aqui,
alegria festiva ou o que quer que fosse, tomou conta de mim, me
deixando ainda mais animada.
Dancei e cantei, balançando os quadris e girando até ficar tonta.
Enquanto isso, Kalt assistia do bar, com um sorriso distraído no
rosto.
Sim, eu realmente ia gostar daqui, mas precisaria fazer algo
sobre a situação de Kalt.
Ele não merecia ficar sozinho, especialmente quando não havia
listado um único motivo contra se juntar a tríade do príncipe além de
razões políticas.
O brilho em seus olhos dizia que ele estava contendo a felicidade
pelo bem dos reinos.
Mas faltava algo, e se eu me esforçasse o suficiente, o
convenceria a fazer o que era melhor para todos os reinos... e para
ele também.
Não, não se eu tentasse , me corrigi enquanto acariciava o
pingente de flocos de neve com os dedos.
Se eu acreditasse .
7

KALT

A rtica seria a minha ruína .


Pensei nela quando entrei em meu quarto e fui direto para o
chuveiro. Eu a mandei para o quarto de hóspedes no corredor, ainda
tonta e levemente embriagada pelas bebidas do Polo Norte.
Eu me diverti hoje, provavelmente mais do que em muito tempo.
Algo que se provaria um problema se eu não tivesse cuidado.
Abri a água o mais quente possível, me despi e me posicionei sob
o fluxo fumegante. Soltei um sopro, o calor escaldante atingindo
minha pele gelada e derretendo minha magia mais rapidamente do
que deveria.
Argh, eu precisava tirar aquela mulher da minha cabeça.
E Norden.
E o Príncipe Lark.
Geada .
Pensar nos três provocava uma série de arrepios em meus
braços, que rapidamente diminuíram na água quente.
De alguma forma, consegui envolver Artica no primeiro nível de
vínculo com um Fae da Água. No entanto, ela não pareceu notar, sua
mente muito embriagada para sentir a conexão.
Mas ela sentiria amanhã.
Um vínculo inicial de cortejo.
Tudo por causa daquela porcaria de visco em seu quarto, seguida
pelo beijo de neve no bar. Ou talvez tenha sido este último a causa.
Eu realmente não tinha certeza. No entanto, em algum momento,
minha alma expressou interesse pela dela, e ela respondeu
imediatamente com uma aceitação retumbante.
O que não me surpreendeu.
Eu sabia como ela se sentia.
Mas não deveria ter permitido que as coisas avançassem tanto.
Estávamos apenas nos divertindo.
Semelhante ao que aconteceu na minha primeira noite neste
reino contagiante.
O Príncipe Lark e Norden me encurralaram, me oferecendo uma
festa de boas-vindas que quase terminou em uma fantasia que eu
nunca mais me permitiria ter.
Porque eu sabia o risco. Sabia o que estava por vir, e não seria
um picador de gelo egoísta e correria o risco de começar uma guerra
ou coisa pior apenas porque não conseguia me controlar.
O que não me impedia de fantasiar.
Mas Artica se juntou à mistura, tornando as coisas tão difíceis
que não pude deixar de tocar meu pau.
Porque, geada , fazia muito tempo que eu não me entregava ao
prazer. E mesmo se eu saísse e encontrasse um selkie ou Fae do
Inverno dispostos a me satisfazer, não seria o suficiente.
Príncipe Lark e Norden consumiam meus pensamentos.
E Artica agora estava no centro deles, fazendo coisas maliciosas
em minha mente com as quais eu não deveria estar fantasiando.
Gemi, segurando meu pau com firmeza. Eu me odiei por permitir
que a fantasia acontecesse, porque isso era tudo o que seria. Era
tudo que eu deixaria ser.
Mas eu não conseguia parar, minhas veias queimavam com uma
necessidade que eu tinha que saciar. Mesmo que fosse apenas a
minha mão fazendo o trabalho.
Pensei em Norden e no Príncipe Lark mostrando a Artica todas as
possibilidades que os Faes do Inverno tinham a oferecer. Norden
lambendo o vão entre suas pernas enquanto o príncipe Lark tomava
sua boca.
Eu observava das sombras, desfrutando do tormento de não
participar.
Eu me juntaria a eles em breve.
Ignore o risco. Ignore o potencial de destruição.
Apenas divirta-se com o momento de calor e luxúria.
Norden e Lark trocaram de lugar, Artica gemia enquanto se
provava na língua de Norden.
Geada , eu queria beijá-los também, me deliciar com o sabor de
sua doce excitação. Ela provavelmente tinha gosto de frutas doces e
creme.
Ou talvez coco.
Apertei a mão e inclinei a cabeça para trás contra a parede.
Então me imaginei beijando Norden, permitindo que o selkie me
tratasse do jeito que seus olhos sempre prometeram que faria: com
sensualidade tingida com masculinidade áspera e a graciosidade de
sua espécie.
Artica tinha um gosto tão doce quanto eu esperava, seu sabor de
caramelo de coco era um vício que chamava minha alma.
Não era real.
Mas parecia .
Eu me acariciei com mais força quando senti seus lábios contra
meu abdômen, imaginei Lark penetrando-a e o selkie entrando por
trás.
Era um ataque de tantas posições e imagens que destruíam
minha capacidade de até mesmo considerar o quanto era errado
pensar nisso.
Era um cortejo digno de uma fae como Artica.
Ela era perfeita. Soube disso com certeza no momento em que
coloquei o pingente de floco de neve nela, mas também suspeitei
antes.
O pingente era uma forma de seguro, um artefato mágico que
mostrava sua compatibilidade com outros faes. Minha
compatibilidade com Lark e Norden sugeria que eles precisavam de
uma Fae da Água para seu círculo de companheiros. Então, optei por
tentar encontrar o caminho certo.
No entanto, me recusava a colocá-la, ou a qualquer outra
pessoa, na posição de candidata sem saber as verdadeiras conexões
com os machos que a cortejavam. Daí o colar. Servia como uma
forma de testar os vínculos para garantir que quem fosse
apresentada como candidata era a fae certa para a tarefa.
Meu coração acelerou quando senti sua potencial ligação com
Norden. Porque significava que eu estava certo, que eles eram
verdadeiramente compatíveis.
O único que restava para testar era Lark, e eu suspeitava
fortemente que meu coração bateria com a mesma força depois que
ele conhecesse Artica.
Uma parte egoísta de mim não queria entregá-la a eles.
Não, isso não era verdade. A parte egoísta de mim queria que
eles a tivessem... comigo ao lado deles .
Engoli em seco, pensando em como o pingente brilhava contra a
pele pálida. Teria ficado preto se Norden não fosse um par ideal.
Flocos de neve, ela até fez um desejo secreto para que o selkie
dissesse seu nome. Enquanto seus flertes me irritavam, Artica
adorava.
Atenuei minhas explicações para ela, dizendo que os avanços de
Norden eram apenas um cortejo.
Mas quando Norden voltava sua atenção para alguém, ele não
desistia. Eu sabia por experiência própria.
O que significava que ele provavelmente a conquistaria.
E se o príncipe fosse compatível com ela, o que eu suspeitava
que seria, então ele seria ainda mais insistente.
Foi por isso que a trouxe aqui. Falei a sério sobre sua candidatura
ser atraente para mim, mas foi mais profundo do que isso.
Eu sabia que ela seria perfeita para este reino. Sua alegria era
palpável toda vez que eu chegava perto dela. Fae, seu próprio
dormitório era decorado para o Festivus, apesar de estar a vários
meses de distância.
Sua persona festiva a tornava perfeita para o estágio.
E também a tornava a candidata perfeita para o círculo de
companheiros de Lark.
Ela mantinha uma convicção que eu não tinha. Um coração de
ouro. Uma obsessão por amor e romance. Lance me contou sobre
como ela o ajudou a conquistar sua humana, Candela. A dona da
loja de cupcakes tinha uma afinidade especial com a magia do Polo
Norte, e se Lance reconheceu o potencial de crença de Artica que
poderia torná-la uma princesa adequada dos Faes do Inverno, então
eu acreditava.
Nosso povo precisava dela. Ela forneceria a aliança que já havia
deduzido com tanta habilidade que ajudaria nossos reinos a se
unirem, provando que era a fae certa para a tarefa. Ela poderia
acasalar com o príncipe Lark e o selkie, e eles poderiam encontrar
outro fae para completar a tríade com segurança sem minha
interferência.
Era perfeito, desde que eu aprendesse a me desligar.
Mas ah... a imagem do que poderia ser ainda aparecia em minha
mente.
Com o sangue Fae Real da Água, eu poderia igualar o poder do
príncipe com o meu. Seríamos capazes de lhe dar tanto prazer que
ela nos imploraria para parar, e era aí que deixaríamos Norden
atormentá-la, com suas habilidades sensuais à altura de qualquer
fae.
Um tremor me atingiu enquanto eu me acariciava mais, fechando
os olhos enquanto me permitia apenas este pequeno momento de
fraqueza.
Eu imaginei tudo.
Artica como minha companheira.
Suas pernas se abrindo para mim.
Seus lábios dizendo meu nome.
Nós três a adorando até ela gozar.
Em seguida, a tomaríamos juntos. Lark entre as pernas. Norden
atrás dela. Eu em sua boca. Aqueles lábios deliciosos envolvendo
meu pau, sua garganta trabalhando enquanto ela me sugava como
uma daquelas bengalas doces.
Faeeee ... gemi, o calor crescia dentro de mim em uma onda de
intensidade que anulou meu poder por um breve segundo, me
fazendo gozar contra a parede.
Tão poderoso.
Tão apaixonado.
Tão certo .
A dor provocou meu clímax, ameaçando desmantelar minha
euforia. Mas eu ignorei, continuando a acreditar, apenas por mais
um breve momento, que Artica, Norden e Lark eram meus.
Meus companheiros.
Meu futuro.
Meu destino pretendido.
Um belo destino repleto de promessas, amor e calor ardente.
Um futuro que não pode ser meu , pensei, sentindo meus joelhos
vacilarem.
Bati a cabeça na parede, a derrota encurvando meus ombros
enquanto eu jurava desfazer o vínculo com Artica pela manhã. Eu
mostraria o palácio a ela, desfazendo lentamente a conexão ao
longo do dia, e lhe daria tantas tarefas que ela não teria tempo para
me ver até depois da coroação.
Eu observaria à distância.
Protegeria de longe.
Norden estava interessado, e ela também.
Eles apenas precisavam que o destino jogasse suas cartas e a
magia das festas tomasse conta.
Enquanto eu me escondia nas sombras.
Porque fazer parte do círculo deles era uma fantasia que eu
nunca poderia permitir que se concretizasse.
8

ARTICA

A luz do sol inundou meus sentidos , me tirando do casulo do sono .


Humm, esses cobertores estavam tão quentes.
E o colchão se assemelhava a uma nuvem fofa.
Me espreguicei e enterrei o rosto no travesseiro macio, os
vestígios de sonhos aconchegantes e alegres ainda à beira do meu
subconsciente, mas desvanecendo rapidamente.
Minha primeira noite no Polo Norte foi um sucesso.
Agora, estava na hora de sobreviver ao primeiro dia inteiro aqui.
Kalt queria me levar para um passeio pelo palácio.
Então, hum, que horas são? Com a luz solar constante, era difícil
adivinhar.
Sentei na cama, afastando o resto do sono, e verifiquei o relógio
pendurado acima de uma cômoda marrom.
Eu deveria encontrar Kalt na cafeteria em dez minutos.
Levantei, abri o guarda-roupa e notei minhas roupas já
desempacotadas misturadas com várias mais quentes, cortesia do
Reino Fae do Inverno.
Presentes dos elfos, talvez?
Uma explicação provável, já que encontrei um conjunto de
pijama de seda e pantufas fofas de rena me esperando em cima da
mesa de cabeceira na noite passada.
Então, que roupas fofas vou encontrar no armário? Me perguntei,
passando pelas peças. Eram todas macias, revestidas de pele falsa
ou feita de algodão. Tudo impregnado com uma camada de magia
do Reino Fae do Inverno que vibrava contra minha pele.
Não vejo problemas em provar , pensei, pegando uma blusa de
tricô azul-bebê que me fazia lembrar de nuvens. Era tão leve, mas a
magia entrelaçada no tecido parecia quente ao toque.
Tirei a blusa de seda e a substituí pela de tricô. Depois troquei a
parte de baixo por uma calça jeans skinny e me olhei no espelho. A
blusa vestiu perfeitamente, com um decote em V que revelava um
pouco do colo.
Sorri, passando a mão pelo cabelo loiro claro para desembaraçá-
los. Normalmente, eu gostava de trançar os fios, mas não teria
tempo. Assim como ontem.
Bem, teria que servir por enquanto.
Se eu ainda quisesse entreter os avanços de Norden, precisaria
melhorar meu penteado. Algo para considerar mais tarde.
Calcei um par de meias e botas forradas de pele e corri em
direção à porta, lançando um último olhar de anseio para o meu
quarto. Era do tamanho perfeito, com uma cama gigante encostada
em uma janela enorme com vista para o jardim de esculturas de
gelo.
Mesmo agora, eu podia ver duas raposas árticas brincando,
correndo uma atrás da outra ao redor das figuras esculpidas.
Se Kalt não me mantivesse ocupada demais, eu ia usar meu
tempo livre para explorar, talvez até fazer alguns amigos. Fofos e
peludos como as raposas, de preferência.
Saí do quarto, corri pelo corredor até as escadas, encontrei a
porta que me levaria às áreas comuns do palácio e segui em direção
à cafeteria do outro lado. Senti como se meus pés quisessem dançar
e pular, graças à melodia alegre no ar.
A cafeteria estava lotada de elfos, mas desta vez havia alguns
Faes do Inverno também. Eles eram óbvios pelas formas mais altas,
a maioria possuindo as características de seus Reinos Faes originais.
Mas alguns eram altos e parecido com elfos, com cabelos loiros
claríssimos e orelhas pontudas. Presumi que eram os Faes do
Inverno natos. A pele clara se assemelhava a neve tocada pelo sol, e
os olhos eram azuis prateados.
Elfos muito atraentes , decidi, sorrindo. Pelo que li ontem à noite,
porque sim, pesquisei toda a hierarquia no tablet de gelo no quarto
antes de dormir, os círculos de acasalamento só produziam herdeiros
masculinos. Portanto, não havia Faes Reais de Inverno femininas.
Apenas fêmeas sortudas o suficiente para serem escolhidas por um
círculo de acasalamento.
E a prova disso se apresentou diante de mim quando os poucos
machos loiros Fae do Inverno retornaram às mesas onde estavam
dois homens e uma mulher.
Círculos de acasalamento da vida real , pensei, sorrindo. Quero .
Mas talvez não aquele grande e imponente...
Parei de repente.
Hum. Então esses eram os abomináveis homens da neve.
Sua cabeça quase alcançava o teto e ele se assemelhava a uma
montanha de neve, com olhos brilhantes e dentes de gelo.
Com certeza, ele era a criatura menos amigável em aparência
que eu vi até agora no Polo Norte.
Nota para mim mesma: não cair em uma das armadilhas deles.
— Vejo que encontrou um boneco de neve — Kalt falou atrás de
mim.
Me virei e arregalei os olhos.
Fae, eu já tinha me esquecido do quanto ele era lindo. Seu olhar
se fixou no meu por um momento antes de se desviar.
Provavelmente, eu o estava deixando desconfortável de novo.
Mas havia uma sensação estranha entre nós. Uma eletricidade que
eu não entendia muito bem. Senti na noite passada, mas atribuí ao
excesso de bebidas. Mas ela persistia.
Interessante.
— Eles são, ah, maiores do que eu pensava — consegui
responder, tentando manter a conversa no rumo certo antes de
perguntar algo bobo como Você sente esse zumbido entre nós?
Talvez devêssemos nos beijar ou dançar novamente. Depois nos
beijar. Beijar com certeza.
Ele inclinou a cabeça, mantendo o olhar no boneco de neve.
— Eles parecem ameaçadores, mas são feitos de neve e magia
Fae do Inverno, então nada muito nefasto. — Ele olhou para mim
novamente. — Então, como você dormiu?
— Como um bebê — admiti com um suspiro. — Todos os quartos
aqui são tão aconchegantes?
Seus lábios se curvaram.
— São os efeitos da magia do Polo Norte. Deve parecer como
acordar na manhã de Natal. Todos os dias.
— Como nos sentimos no Festivus? — adivinhei, familiarizada
com as tradições de Natal, graças à Rainha Claire.
— Exatamente assim.
A noite passada, o canto, a dança, as bengalas doces, voltaram
para mim.
— Ah. Faz sentido então. A maioria das tradições Faes do Inverno
foi presenteada aos humanos.
— Daí os cristais da crença. Eles são alimentados pela crença na
magia das festas nas crianças. Cada vez que elas escrevem para o
Papai Noel ou fazem um pedido de Natal, um cristal é formado. —
Ele estendeu a mão para arrumar uma mecha solta de cabelo atrás
da minha orelha pontiaguda. O leve toque de seus dedos
desencadeou uma lembrança da noite passada, uma em que eu
soprava um beijo de neve em seu rosto.
Eu queria fazer mais.
Me aproximar e beijar sua boca com paixão avassaladora.
O que não era algo novo.
No entanto, a vontade de fazer isso agora, sem o estímulo do
álcool ou qualquer motivação real por trás, era um pouco estranha.
Até para mim.
Kalt e eu éramos compatíveis, algo que eu sempre soube. Mas a
conexão parecia mais intensa, mais tangível, como se de alguma
forma estivéssemos ligados.
Mas...
Franzi a testa.
É um vínculo de nível um que estou sentindo? Certamente isso
era só minha imaginação. Eu me lembraria se tivéssemos envolvidos
em um compromisso desse nível, certo?
Eles não eram permanentes. Mas alguns poderiam durar até um
mês antes que ambas as partes o encerrassem de forma mútua.
Ou o aprofundassem.
Quando...
— Vamos? — Kalt perguntou de repente, me tirando dos meus
pensamentos. — Estou morrendo de fome.
Certo. Comida.
— Claro — falei, levando os dedos novamente para o pingente de
flocos de neve.
Fae, ele também podia sentir, não podia? Então por que não dizia
nada?
A menos que tudo fosse coisa da minha cabeça. Uma
possibilidade provável, considerando minha obsessão por Kalt.
E se os efeitos de toda aquela alegria natalina da noite passada
tivessem enfraquecido as inibições de Kalt, permitindo assim que nos
vinculássemos?
Mordi o lábio. Isso significaria que eu o enganei para ter um
encontro comigo. Ou o encantei misticamente. Não que eu tivesse
feito de propósito, mas explicaria a falta de comentários dele.
Pingentes de gelo.
Senti as bochechas queimarem enquanto entrávamos na fila para
pegar o café da manhã.
Não era assim que eu queria começar o estágio: forçando meu
chefe a ter um vínculo comigo enquanto também me tornava uma
candidata para o Príncipe Fae do Inverno.
Espere...
Isso afetaria minha candidatura?
Quase deixei cair o rolinho de canela que peguei.
Ah, fofura.
Eu precisava de muito deles e uma montanha de chocolate
quente antes de continuar pensando nesse problema.
E talvez uma ou cinco orações à Fonte para garantir que eu não
tivesse me vinculado acidentalmente com nenhum outro Fae.
Sentada, enchi a boca com um pedaço generoso de rolinho de
açúcar e canela e fechei os olhos enquanto mastigava.
— A comida aqui é tão boa .
Kalt limpou a garganta, mas não comentou nada. Olhei em sua
direção enquanto ele começava a comer biscoitos de aveia com
molho de cranberry.
Eu o observei dar uma mordida.
— Sem coco?
Ele franziu a testa para mim.
— Não.
Frosty . O apelido de Norden estava começando a fazer mais
sentido agora.
É claro, ele poderia estar irritado porque eu o vinculei. Mas tinha
que ser mútuo, certo? O primeiro nível tem a ver com interesse
compartilhado. Então... isso significava que ele queria se vincular a
mim? Talvez só tenha sido necessário um pouco de álcool para
diminuir suas inibições.
Humm . Eu preferia muito mais essa explicação. Ele era meu
chefe e, portanto, não poderia estar interessado em outra fae.
E também todo o desejo dele de salvar o mundo. Ele não queria
estar preso a ninguém. Mas em algum lugar, lá no fundo, ele
gostava de mim o suficiente para estabelecer o primeiro vínculo.
Ah, sim, essa era uma perspectiva bem melhor.
Coloquei outro rolinho de canela na boca, apreciando ainda mais
o sabor. Bebi o chocolate quente, e meu interior se derreteu com a
rica e a deliciosa doçura.
Não era de se admirar que eles só comessem doces aqui. Era o
que faziam com excelência .
Depois do café da manhã silencioso, Kalt e eu saímos da
cafeteria e caminhamos em direção aos fundos do palácio, onde
atravessamos um portão para outro prédio. Esse não era tão
elaborado ou alto, mas ainda festivo. E aquela nota alegre de
felicidade pairava no ar.
Suspiro .
— Aqui é onde toda a mágica acontece — Kalt me informou
enquanto entrávamos no prédio de três andares. — Moramos no
palácio, assim como muitos outros, mas o trabalho é feito aqui. Até
o Rei Fae do Inverno e seus elfos gostam de ter um equilíbrio entre
trabalho e vida pessoal.
Era difícil imaginar Kalt tendo equilíbrio entre trabalho e vida
pessoal. Eu suspeitava que a noite passada foi uma exceção
baseada em me fazer sentir bem-vinda.
— O que você faz no seu tempo livre? — perguntei,
genuinamente curiosa, já que ele estava tão ansioso para ir embora
ontem à noite, mesmo que não fosse tão tarde. No entanto, isso me
deu tempo para estudar os costumes de acasalamento dos Faes do
Inverno, então não era uma reclamação.
— Meu tempo livre? — Ele olhou para mim. — Por que você está
perguntando?
— Terminamos a noite cedo ontem. — Quando ele me olhou com
expressão de terror, rapidamente acrescentei: — Quero dizer, não
fiquei entediada. Encontrei algumas coisas impertinentes para ler —
eu disse com um sorriso, esperando que ele gostasse da piada.
— Impertinentes... — Ele ficou pálido.
Ah, certo, isso não saiu da forma certa.
— Sabe a lista do Papai Noel com os nomes de quem foi levado
ou bonzinho? — Essa era a piada, certo? A Rainha Claire mencionou
uma vez. Mas será que eu estava enganada?
Passei a mão pelo rosto.
Sim, eu estava fazendo papel de boba.
— Desculpe a minha tentativa de piada de Natal humana. Acho
que ainda tenho muito a aprender. Na verdade, li sobre os círculos
de acasalamento dos Faes de Inverno no tablet de gelo do meu
quarto.
Seu rosto adquiriu um tom avermelhado, o que me fez franzir a
testa. Será que era a conversa sobre os círculos de acasalamento
que o estava deixando...
Oh.
Ooooooh.
Talvez ele tenha se envolvido em algo um pouco impertinente na
noite passada. Não que eu estivesse com ciúmes.
Mentira. Eu estava com muito ciúmes.
— O que você faz no seu tempo livre? — Ergui as sobrancelhas.
— Talvez você coma muitos caramelos de coco e vá brincar com
alguma selkie em particular?
— Não — ele respondeu com firmeza.
— Não? — repeti. — Humm. Então com um certo príncipe?
O tom mais intenso das bochechas de Kalt me disse que eu tinha
tocado em um ponto sensível. Um que o constrangia.
Porque ele fantasiava sobre isso? , pensei.
Não porque ele realmente tivesse seguido em frente. Caso
contrário, estaria acasalado com eles e não vinculado a mim no nível
um, certo?
— Não — ele afirmou novamente.
Sorri. Agora eu tinha uma nova missão na vida: fazer Kalt parar
de pensar com seu cérebro político e considerar o que ele queria
neste mundo. Talvez seguir seu coração, permitir que ele batesse e
desfrutar de sua existência.
Sim. Um plano sólido de verdade.
9

ARTICA

K alt suspirou .
— Certo. Chega disso. Preciso te mostrar o espaço de trabalho.
Ele deu um passo, mas depois fez uma pausa, suspirando
novamente.
— Devo avisar que Norden renomeou recentemente todos os
departamentos por aqui. Parte da ascensão do Príncipe Lark é tornar
o palácio dele, o que inclui delegar certas tarefas a seus
companheiros. Ou, neste caso, companheiro .
Tarefas como realizar relações entre os Inter Reinos Faes em
nome dos Fae Elementais e dos Faes do Inverno? Eu queria
perguntar. Mas me contive, assentindo.
— Tudo bem. Posso aprender alguns nomes de departamento.
Kalt olhou para mim, sua expressão indicando que ele não
acreditava. No entanto, ele se virou novamente sem dizer uma
palavra e me levou a uma área enorme, do tamanho de um
armazém, cheia de ecos de marteladas, zumbidos e conversas em
voz alta.
— Oh! — exclamei, olhando ao redor para todos os elfos
trabalhando com supervisores Faes do Inverno. — A sala dos
brinquedos!
— Esse é um nome apropriado — Kalt disse com uma careta. —
Mas agora é chamada de T&A.
Pisquei.
— T&A?
Ele me encarou.
Eu o encarei de volta.
— O quê?
Ele limpou a garganta e colocou a mão na nuca.
— Você já visitou o Reino Humano?
— Só em feriados com a família — admiti. — Ah, e visitei o Lance
recentemente em algum lugar cheio de nascentes. Springy Falls?
Spring Waters? Não me lembro o nome. Mas fora isso, a Rainha
Claire me atualizou sobre muitas coisas.
— Incluindo siglas ou gírias? — ele vacilou.
— Ah, não. — Franzi a testa. — Por quê? T&A é algo importante
para os humanos?
Um dos elfos que estavam ali perto riu.
E o rosto de Kalt ficou vermelho novamente.
— O que é? — repeti.
— Bem, selkies são uma forma de Faes Metamorfos, certo? Eles
viajam pelo Reino Humano através das águas geladas, mas muitas
vezes se encontram entre os humanos nos climas mais frios do
mundo. Então, eles estão bem familiarizados com a linguagem
mortal. T&A corresponde a tits and ass , que significa peitos e
bundas em inglês.
Arregalei os olhos e observei a loja de brinquedos antes de piscar
de volta para ele.
— Eu... eu...
— É uma piada grosseira, graças ao selkie obsceno no comando
— Kalt continuou. — Mas na verdade significa Brinquedos e Centro
Ártico, ou Toys and Artic Center , em inglês. É apenas uma
insinuação sensual por trás do acrônimo.
Eu o encarei de boca aberta.
Então uma risada escapou da minha garganta.
— Não consigo acreditar que você explicou tudo isso com uma
expressão séria. — Bem, e com um rubor adorável nas bochechas
esculpidas.
O que contava como a segunda vez que o fiz corar hoje. E algo
nisso fez meu coração bater um pouquinho mais forte.
Porque Kalt desconcertado era cativante.
— Acredite em mim, o humor desaparece depois da centésima
vez que você repete — ele explicou, fazendo uma careta. — A
menos que você seja selkie, então é infinitamente engraçado.
Ouvi uma risadinha na minha direita, e voltei minha atenção para
os elfos absortos no trabalho. Um grupo costurava ursos de pelúcia,
outros pintavam pequenos blocos de construir e outros...
Semicerrei os olhos. Aquilo é um vibrador?
Um elfo se atrapalhou com um instrumento fálico, seu rosto
quase tão vermelho quanto o de Kalt tinha ficado.
— Por que precisamos fazer essas coisas? — ele questionou
enquanto outro elfo revirava os olhos.
— Não é para as crianças, Dec. É para algum adulto humano que
ainda acredita em magia. Ou talvez um selkie. Ou um círculo de
companheiros. — Ele mexeu as sobrancelhas de forma sugestiva. —
Talvez até mesmo uma companheira elfa.
Os lábios de Dec se contorceram, parte do rubor deixando suas
bochechas.
— Humm.
Kalt e eu seguimos, mas as palavras do elfo persistiam em minha
mente.
— O que ele quis dizer com ainda acredita em magia ? —
perguntei.
— Sabe como você conseguiu ver o palácio depois de segurar o
cristal e preenchê-lo com sua crença?
Assenti, me lembrando do momento espetacular em que ele
apareceu no topo da colina.
— Algumas criaturas são mais propensas a acreditar na magia do
Natal do que outras — Kalt explicou. — Por exemplo, crianças
humanas. Elas podiam ver tudo aqui no Polo Norte, enquanto os
adultos só veriam uma tundra congelada. Porque eles deixaram de
acreditar nos encantamentos natalinos.
— E os selkies também conseguem ver — murmurei.
— A maioria das espécies fae consegue — ele murmurou. —
Porque todos nós sabemos que a magia existe. Mas os humanos
tendem a descartá-la como superstição ou fantasia. Eles não
conseguem ver os elementos Faes do Inverno porque não
acreditam.
— E a crença é o que alimenta os Faes do Inverno.
— Sim. — Kalt assentiu, me levando para a parte de trás da
oficina. — Eles coletam milhares de cristais de crença e os
armazenam aqui. — Ele abriu uma porta de metal e eu olhei para
dentro.
— Fae — suspirei.
A sala, revestida de titânio, estava cheia com cristais cintilantes
até o teto.
— O que fazem com todos eles?
— A crença alimenta os cristais, que restaura e alimenta a magia
dos Faes do Inverno. Esse é o objetivo de entregar brinquedos ao
redor do mundo. A crença das crianças humanas acende os cristais
como uma estrela. Eles se certificam de incluir um pouco de cristal
em cada brinquedo. Aqui, vou te mostrar.
Ele fechou a porta da sala de cristal e se voltou para a elfa mais
próxima, que estava inserindo cuidadosamente cabelos em uma
boneca.
— Você se importa se eu pegar isso emprestado? — ele
perguntou para a elfa.
Ela balançou a cabeça, entregando a cabeça da boneca.
Olhei para o objeto e me arrepiei.
— Assustador.
Kalt ignorou meu comentário.
— Veja os olhos. São feitos com um vidro especial que os elfos
criaram com os cristais. A boneca será entregue para a criança, a
crença no Papai Noel, o Rei dos Faes do Inverno, vai aumentar e o
cristal transferirá a magia para a Fonte dos Faes do Inverno. E é
assim que eles mantêm a magia por tanto tempo. — Ele devolveu a
cabeça da boneca. — Alguma pergunta?
Balancei a cabeça.
— É genial.
— Certamente é inteligente. Vamos continuar.
Saímos do T&A, que eu nunca mais seria capaz de dizer com
uma expressão séria agora que conhecia a definição mais picante do
acrônimo, e entramos em outra área de trabalho.
O cheiro doce e o brilho dos enfeites me atraíram.
— E este lugar é...?
O olho de Kalt tremeu.
— O Centro de Enfeites, Decorações, Doces e Magia ou The
Baubles, Decorations, Sweets, and Magic Center .
— Tem um cheiro delicioso — eu disse.
Mas Kalt me encarou novamente.
O que sugeria que eu estava deixando passar outra piada. Repeti
o nome em inglês na cabeça, franzindo a testa.
— TBDSMC? — Seria outro termo humano?
— Se você remover o T e o C...
— BDSM? — perguntei.
Ele deu um único aceno curto.
Arregalei os olhos quando repeti aquilo para mim mesma. Porque
eu conhecia esse termo de um dos livros que li sobre reprodução
humana e seus, ah, fetiches. Muitos outros faes também se
interessavam por atividades semelhantes, mas não necessariamente
se referiam a elas por esse acrônimo.
— Sabe de uma coisa? Estou começando a gostar do Norden —
concluí em voz alta. — Ele tem um senso de humor divertido.
Kalt resmungou.
— Como se já não gostasse desde que ele disse que seu cabelo
lembrava a luz do sol sob as ondas.
Sim, aquilo provavelmente foi a coisa mais romântica que já me
disseram, mas eu não ia dar a Kalt a satisfação de me ouvir
concordar.
Ignorei o deboche e avancei, observando as guirlandas, coroas,
enfeites, globos de neve e fileiras e mais fileiras de doces, que
ocupava uma parede inteira.
O elfo atrás do balcão de doces acenou para mim, e eu obedeci.
— Acabei de fazer uma nova fornada de chocolates de caramelo
salgado — ele me informou, o entusiasmo iluminando suas feições
coradas. — Gostaria de experimentar um?
— Sim, por favor — respondi imediatamente. Porque quem
poderia dizer não a algo tão deliciosamente fae como aquilo?
Um elfo robusto, que batia na minha cintura, estava por perto.
Quando peguei um pedaço delicioso de doce, a mão dele se esticou
para pegar primeiro.
O chocolatier deu um tapa na mão do elfo grandalhão.
— Nada para você, Jingle. Já comeu metade de uma panela esta
manhã!
Jingle resmungou e se afastou com uma expressão carrancuda.
Algo me dizia que ele voltaria em breve para tentar novamente.
E enquanto colocava o chocolate na boca, entendi perfeitamente
o motivo.
Ah, meu Fae. Eu gemi, um som que só tinha feito na intimidade.
Sozinha. E pensando em Kalt.
Mas aquilo era tão bom quanto sexo. Ou como eu imaginava que
seria. Com Kalt, de qualquer maneira. Não com os poucos faes com
quem eu tinha experimentado ao longo dos anos. Eles não tinham
me feito gemer assim.
— Uau — murmurei, fechando os olhos enquanto engolia. —
Uau, uau. — Eu não tinha outras palavras. Não havia maneira
melhor de descrever. Apenas elogios, deleite e faelicidade ! Abri os
olhos, ansiosa por mais, e encontrei o rosto do elfo iluminado de
orgulho.
— Tão bom assim? — ele perguntou.
— Melhor . — Estendi a mão para pegar outro, mas parei. —
Posso?
— Fique à vontade!
Peguei mais um chocolate e me afastei antes que meus instintos
animais tomassem conta e eu comesse a bandeja inteira.
Jingle sabia das coisas. Pisquei para ele enquanto passávamos, e
ele sorriu.
— Flertar com elfos é um passatempo perigoso — Kalt
resmungou.
— Comer chocolate é flertar? — perguntei, genuinamente
curiosa. Já que afagar o cabelo de um selkie era o equivalente a
explorar as partes íntimas um do outro.
— Não, mas gemer e piscar certamente são — ele respondeu.
— Você experimentou aqueles chocolates de caramelo salgado?
— perguntei.
— Sim. São os favoritos do Norden.
Parei de andar.
— Você comeu chocolates com o Norden?
— Não. Ele os envia para mim todos os dias.
— Aquilo era para você? — perguntei em voz alta, de repente me
sentindo um pouco culpada por ter interrompido qualquer jogo que
ele e Norden estivessem jogando.
— Aqueles vão para a sala do trono com todo o resto — Kalt
respondeu com frieza. — Os que Norden me dá são do seu estoque
pessoal.
Havia um toque de algo em sua voz, talvez arrogância ou prazer.
Mas com um pouco de tristeza e irritação. Uma mistura de emoções
que ele se recusava a liberar por causa das expectativas que tinha
para sua vida.
Eu teria que arrancar tudo dele.
Kalt não seria um bom soldado se se arrependesse de não seguir
seu coração. Ele se tornaria amargo e cruel, e isso não beneficiaria
ninguém, especialmente ele mesmo.
Além disso, como alguém poderia negar a alegria deste reino?
Isso tinha que parecer mais como uma punição do que uma
necessidade.
— Me conte mais sobre a coroação — pedi, decidindo que era um
assunto seguro para explorar. — Elas acontecem com frequência? —
Frequência sendo um termo relativo, é claro. Já que os faes tendiam
a viver por muito tempo, alguns até mesmo pela eternidade.
— Não exatamente. Os Faes Reais do Inverno tendem a se
reproduzir quando acreditam que é hora, assim como a coroação
também é cercada por crenças. O Rei Fae do Inverno é responsável
por determinar quando e como as coisas ocorrem. E ele decidiu que
o trigésimo segundo aniversário do Príncipe Lark era o dia certo para
a ascensão.
Franzi a testa.
— Seu tom indica que você não concorda.
— Se concordo ou não é irrelevante. É apenas mais jovem que a
maioria. Acho que o atual Rei Fae do Inverno tinha cerca de
quarenta anos quando ascendeu. Então alguns podem achar que
isso é um pouco jovem, especialmente porque Lark ainda não se
acasalou completamente.
— E isso coloca sua ascensão em risco — traduzi.
Kalt assentiu.
— A Fonte dos Faes do Inverno espera um equilíbrio, e se ele
não estiver pronto...
Engoli em seco.
— Isso seria ruim.
— Exatamente.
— No entanto, o pai acredita nele, então ele deve estar pronto —
pressionei, um toque de confiança flertando com meus sentidos. Eu
nem havia conhecido o Príncipe Fae do Inverno ainda, mas de
alguma forma sabia que ele estava destinado a isso. — Vai dar tudo
certo.
Kalt me encarou por um momento.
— Esse é exatamente o tipo de crença de que ele precisa.
— Bem, que bom que estou aqui — brinquei, sorrindo. —
Quantos anos tem o atual Rei Fae do Inverno? — Eu não tinha
certeza de quanto tempo os Faes do Inverno normalmente viviam;
teria que pesquisar isso mais tarde.
— Ele reina há vários séculos, então perto de quinhentos mais ou
menos. Não que ele pareça ter essa idade. — Kalt deu de ombros. —
Mas o Rei Fae do Inverno age como um condutor para a crença que
alimenta a magia. Na verdade, ele é o canal direto da Fonte. Então a
juventude é importante, assim como a força. Sem ela, todo o reino
estaria em perigo.
Olhei ao redor.
— Ele deve ser muito bom no que faz, porque tudo parece estar
indo bem.
— Sim — ele concordou. — E agora será responsabilidade do
Príncipe Lark garantir que tudo continue assim. — Kalt começou a
andar novamente, e eu o segui enquanto pensava na tarefa
monumental. Certamente parecia ser muita responsabilidade.
— Quando é a coroação? — perguntei.
— Daqui a pouco mais de uma semana — ele respondeu com os
olhos brilhando com uma empolgação que eu não entendia. — Você
será fundamental para garantir que tudo funcione como uma
máquina bem lubrificada. É por isso que eu precisava de você aqui
imediatamente. E também por isso que eu queria que você fosse
uma candidata.
Um nó de nervosismo se formou no fundo do meu estômago.
— Mas não sei nada sobre a coroação dos Fae do Inverno, nem o
que significa ser candidata. Além do mais, e se eu não quisesse ser
candidata?
Ele olhou para mim, seu olhar focando no pingente em meu peito
antes de encontrar meu olhar novamente.
— Você acabou de me dizer que o Príncipe Lark deve estar
pronto e que tudo ficará bem. Sua crença é forte mesmo sem
conhecê-lo. Você é exatamente o que este reino precisa agora.
Franzi a testa para ele.
— Isso não responde minha pergunta, Kalt.
Ele parou de andar para me encarar novamente.
— Você pode me dizer honestamente que a ideia de ser
candidata te incomoda, Artica?
— Não é essa a questão. Você tomou uma decisão por mim sem
nem mesmo falar comigo.
— E você me disse ontem à noite que tinha superado essa parte
do nosso acordo — ele retrucou.
— Bem, eu superei — eu disse lentamente. — Estou apenas...
— Ainda não superou de verdade? — ele sugeriu.
— Superei — repeti, me sentindo um pouco mais segura. — Mas
não entendo como você pôde tomar essa decisão sem me conhecer.
— Quem disse que não te conheço? — Ele se aproximou. — Você
é amiga do Lance, que é praticamente um irmão para mim. Eu sei
tudo sobre você, Artica.
10

ARTICA

E ntreabri os lábios e arregalei os olhos .


— Tudo sobre mim? — ofeguei. Tipo, tudo mesmo? Minhas
esperanças? Meus sonhos? Minha... paixão?
— Seu quarto estava decorado para o Festivus — ele respondeu.
— Que aconteceu há quase seis meses. Mas imagino que seu quarto
seja sempre assim.
— Sim. Eu gosto de decorações.
— E você tem uma afinidade com o gelo que rivaliza com a
minha.
Zombei.
— Ninguém tem uma afinidade tão boa quanto a sua, Kalt.
— E você já conquistou um exército de elfos com seu espírito
festivo — ele continuou, ignorando minha resposta.
— Por causa das bengalas doces encantadas — apontei. — Que
você me fez comer.
— Não te obriguei a nada, Artica — ele respondeu, sorrindo. —
Você se encaixa bem aqui, e eu sabia que se encaixaria. — Ele
inclinou a cabeça. — Por que você acha que o Lance te desafiou a se
candidatar?
— Porque ele sabia... — Parei, engolindo em seco, pois estava
prestes a dizer: porque ele sabia que eu estava apaixonada por você
. — Ele, ah, sabia que eu ia gostar — terminei de forma patética.
O olhar de Kalt brilhou.
— É mesmo? Foi isso que ele te disse? — Seus lábios se
curvaram. — Então vou deixar você continuar acreditando nisso.
Franzi a testa.
— Havia outro motivo?
— Pergunte a ele e descubra — ele sugeriu, se virando para me
guiar até outra área do prédio.
Ele estava dizendo isso porque sabia a verdade? Que Lance me
desafiou por causa da minha obsessão pelo Príncipe Kalt? Ou porque
havia algo que eu não sabia?
Refleti sobre as possibilidades até chegarmos à próxima área,
que Kalt me informou se chamar Centro Jingle Bell ou The Bell’s
Jingle Center.
Desta vez, eu sabia que deveria remover “The” e “Center” do
nome, o que resultava na sigla BJ .
Essa eu entendi. Uma referência a sexo oral em inglês.
— Você vai adorar esse lugar — Kalt anunciou com sarcasmo.
Minha mente imediatamente foi para outro lugar, pensando no
convite para explorar um BJ com ele.
Pelo menos, até ele acrescentar:
— É onde criamos novas músicas e revisamos outras um milhão
de vezes.
Ele abriu a porta e uma onda de música atingiu meus ouvidos.
— Só porque não gosto de cantar não significa que não goste de
música! — gritei.
Entramos na sala com um palco no centro e neve encantada
caindo do teto.
Uma apresentação encantadora estava acontecendo, com uma
fileira de elfos vestidos com trajes tradicionais decorados com sinos
e finalizados com meia-calça verdes. Eles levantavam os pés,
giravam uns aos outros e terminavam assumindo uma pose
diferente.
Aplaudi com entusiasmo. Esses caras sabiam entreter!
— Kalt! — um dos elfos, um homem de rosto vermelho e barba
branca, chamou. — Quem é essa beleza?
— Esta é a Artica, minha estagiária — Kalt falou enquanto nos
aproximávamos do palco. — Estou mostrando o lugar a ela.
— Encantadora! Você gosta de música natalina, minha querida?
Assenti, entusiasmada.
— Sim, e vocês se apresentam muito bem.
— Ah — ele respondeu, mexendo os pés e olhando para baixo
com timidez. — Sou o chefe do coral dos elfos há dois séculos. A
maioria das músicas que você já ouviu provavelmente foi escrita por
mim.
Entreabri os lábios.
— É uma honra conhecer um mestre em sua arte.
— Certo, certo — Kalt interrompeu. — Estamos todos muito
impressionados.
Parecia que eu estava flertando novamente. Pelo menos, de
acordo com os padrões dele.
Mas por que ele se importava? Por causa do nosso vínculo
parcial? Ou por outra razão?
— Qual é a sua favorita? — o elfo do coral perguntou, ignorando
Kalt completamente.
Meu chefe respondeu com uma carranca e se jogou em uma das
cadeiras macias.
— Hum... — A maioria das músicas que eu conhecia eram do
meu mundo, então provavelmente não seriam parte do repertório
dele, já que suspeitava que seus comentários sobre escrever
músicas se referiam mais às canções de Natal humanas do que às
dos vários reinos faes.
Mas ouvi algumas músicas do Reino Humano da Rainha Claire.
A maioria era doce e encantadora, mas uma sempre me fazia rir.
Então decidi escolher essa.
— I caught mommy kissing Santa Claus — eu disse, esperando
que fosse o título certo.
Kalt caiu na gargalhada atrás de mim.
— Acho que ela quer dizer I saw mommy kissing Santa Claus.
— Oh. — Franzi o nariz. — Sim, essa mesma. É divertida e
animada.
Uma afirmação que fez Kalt rir ainda mais. O que me dizia que
ele não estava rindo tanto do meu erro quanto de minha escolha.
Pelo menos, ele não estava zombando de mim.
O elfo do coral sorriu.
— Não é uma das que escrevi, mas é uma das favoritas! — ele
exclamou sem julgamentos.
Eu gostei desse elfo do coral.
— Vamos cantá-la para você — ele disse, animado.
— Ah, não, vocês não precisam...
— Ficaremos encantados — ele interrompeu.
Olhei para trás em busca da permissão de Kalt. Ele deu de
ombros.
— Por que não?
Me acomodei na cadeira ao lado dele enquanto os elfos no palco
se reorganizavam, com sorrisos estampados nos rostos.
Eles nunca se cansavam de sorrir? Provavelmente não. E era
bastante contagiante.
O elfo do coral levantou os braços, pronto para reger. Então, com
um aceno para a banda, eles começaram.
Um elfo correu para a frente do palco e gritou o diálogo de
abertura, o que me fez ter uma crise de risos.
Kalt ergueu as sobrancelhas, achando graça.
— Você sabe que o “Papai Noel” era apenas o “pai” fantasiado,
não é?
— Diga isso para a Rainha Claire — sussurrei, ansiosa por uma
performance pessoal. — Essa é uma das músicas favoritas dela .
Ele riu e se recostou na cadeira.
— Terei que dizer para o Cyrus se vestir de Papai Noel então.
— Pelas imagens que vi, o Sol pode ser mais apropriado, se você
der a ele um travesseiro para a barriga. — Porque o Fae da Terra era
robusto e alto, mas puro músculos.
Kalt sorriu.
— O Rei Fae do Inverno ficaria ofendido com essa representação.
— Foram os Faes do Inverno que espalharam essa imagem —
respondi. — Certo?
Ele assentiu.
— Para se manterem mais escondidos.
— Então ele não ficará nem um pouco ofendido — eu disse,
confiante.
Ficamos em silêncio enquanto os elfos aumentavam o ritmo,
cantando e dançando por todo o palco. Eles até se lançaram uns aos
outros como líderes de torcida, saltando e caindo de pé.
Era encantador de se ver.
Mágico também.
Quando o mesmo elfo que iniciou a apresentação correu para
declamar o diálogo final, caí na gargalhada. Era piegas, mas eu
adorava.
De pé, aplaudi até minhas mãos doerem. Os elfos se inclinaram e
sorriram, e Kalt agarrou meu braço, me puxando para longe.
— Obrigado pelo espetáculo! — ele falou. — Precisamos seguir
em frente.
— Mas não quero ir embora ainda.
Ele bateu no pulso.
— Temos outras coisas para fazer hoje, Artica.
Com um beicinho, me virei e acenei para os elfos, que acenaram
de volta e começaram outra música.
— Engraçado — Kalt disse enquanto a porta se fechava e a
música desaparecia. — Aquela música foi inspirada na mãe e no pai
do Lark.
Arregalei os olhos.
— Sério? É por isso que você achou a minha escolha tão
engraçada?
Ele assentiu, com um ar de diversão cintilando em sua
expressão.
— Isso deixa o Lark louco toda vez que ele ouve. Mal posso
esperar para contar a ele que é a sua favorita.
Eu ri.
— Você não faria isso!
Sua mão ainda estava em meu braço. Seu olhar encontrou o meu
enquanto ele sorria.
Então ele se inclinou e aproximou os lábios quentes da minha
bochecha.
Fiquei imóvel, olhando para ele com meu interior se
transformando em gelatina.
— Para que isso?
— Sorte. Você vai precisar. — Ele soltou meu braço e se afastou,
deixando meu coração acelerado.
Kalt. Acabou. De. Me. Beijar.
Tocando de leve o lugar onde seus lábios tocaram minha
bochecha, eu o segui, confusa.
O próximo item da agenda era o almoço.
Enquanto comíamos bolo de cenoura e tortinhas de limão, eu
repassava tudo o que havia aprendido até agora, tentando não
pensar na sensação eletrizante dos lábios de Kalt em minha pele.
Era muito para processar.
Mas, de alguma forma, era facilitado pelas convenções de
nomenclatura sensuais de Norden.
Eu ainda não o tinha visto hoje, o que era decepcionante, então
perguntei sobre ele.
Kalt deu uma mordida em uma tortinha de limão.
— Os selkies costumam frequentar as terras do Ártico, por isso
são consideradas aliadas dos Faes do Inverno. Mas o acasalamento
de Norden meio que o torna a ponte entre as espécies, solidificando
essa aliança.
— Parece familiar — eu disse.
Kalt me ignorou.
Mas se a aliança foi fortalecida entre as selkies e os Faes do
Inverno por meio do simples vínculo do acasalamento, não
poderíamos dizer o mesmo sobre os Faes do Inverno e os Faes
Elementais?
— Pode me falar sobre o Príncipe Lark? Ele é tão divertido
quanto o Norden?
Kalt riu, o som era alto e trouxe lágrimas aos seus olhos.
Franzi a testa, sem entender por que ele achava isso tão
engraçado.
— O Príncipe Lark é o oposto do Norden. Ele é um príncipe
taciturno que leva suas tarefas por aqui mais a sério do que
qualquer pessoa que já conheci.
— Mas ele deixou Norden nomear todos os departamentos com
conotações sexuais ocultas?
Kalt deu de ombros.
— O Norden tenta fazer o Lark relaxar. E o Lark permite até certo
ponto. Ele tem um fraco por aquele selkie.
Entendo por que , pensei. Norden era a definição de charme e
sedução.
Terminamos o almoço, e Kalt me acompanhou de volta ao meu
quarto.
— Por quê? — resmunguei. — Pensei que ainda tínhamos mais
coisas para fazer hoje.
— Ah, tem sim. — Ele abriu a porta do meu quarto e eu inspirei
fundo ao ver a escrivaninha no centro do cômodo carregada de
livros e documentos grossos. — Peço desculpas por não poder
colocar isso em seu tablet de gelo, mas alguns conhecimentos são
absorvidos melhor à moda antiga.
— Hum, sim — suspirei, boquiaberta, encarando a biblioteca que
ele deixou em minha mesa.
— Você precisa se familiarizar com a magia do Natal, os
costumes dos Faes do Inverno e os preparativos gerais para a
coroação. Isso é muito importante por aqui, então quanto mais
informações você tiver, melhor. — Ele riu com meu choque. — Feche
a boca, Artica.
Fiz o que ele pediu.
— Mas... mas tem tanta coisa. Você quer que eu leia tudo isso
hoje?
— Vá no seu ritmo. Você tem uma semana até eu voltar para a
coroação. — Ele pressionou de leve a palma da mão na parte inferior
das minhas costas para me empurrar para o quarto.
Uma semana... até ele voltar?
— Espere. Para onde você vai? — Por que ele estava me
deixando aqui sozinha? Eu não estava pronta para isso. E... e eu
pensei que faríamos isso... juntos.
— Preciso ir para a Groenlândia verificar a Academia Inter Reinos
Fae que a Rainha Claire encomendou — ele disse. — E também há
algumas outras relações com os Inter Reinos Faes que precisam da
minha atenção.
Mas um músculo em sua mandíbula se contraiu, como se algo o
estivesse incomodando. Quase perguntei o que era, mas ele ainda
não tinha terminado de falar.
— Normalmente, a coroação é assistida apenas pelos Faes do
Inverno e sobrenaturais do Ártico, mas a Rainha Claire achou que
esta poderia ser uma boa oportunidade para trazer outros faes como
um gesto de boa vontade para a integração dos Faes do Inverno.
— E você só os está convidando agora? — perguntei, chocada.
Ele balançou a cabeça.
— Não, só estou resolvendo algumas preocupações. Felizmente,
o Lark é totalmente a favor da diversidade em sua coroação, mas há
outros fae que estão, bem, hesitantes. — Ele apontou para a mesa.
— Você cuida do seu lado das coisas, e eu cuidarei do meu.
— Tudo bem — eu disse devagar. — Hum, e a reunião com o
Príncipe Lark?
— O Norden vai organizar.
— E... eu vou comparecer sozinha? — perguntei, meu coração
batendo forte no peito.
— Você já acredita nele — Kalt respondeu com um sorriso fraco.
— Vai ficar bem.
Pisquei para ele.
— Você confia em mim, a estagiária desajeitada e nova, para
encontrar o Príncipe Lark... sozinha ? — Não pude deixar de repetir
aquilo. Quer dizer, ele estava louco?
— Você vai ficar bem — ele disse novamente. — Confie em mim.
— Ele estendeu a mão em direção ao meu braço, apertando-o de
forma reconfortante enquanto seu olhar caía sobre o pingente de
flocos de neve que brilhava na minha pele. Ele o observou por um
momento, como se esperasse que mudasse. — Se precisar de mim,
é só desejar e eu estarei aqui para você.
Eu não tinha certeza do que pensar sobre isso, então assenti.
Aparentemente satisfeito, ele saiu do quarto e fechou a porta.
Encarando o espaço vazio que ele tinha acabado de ocupar,
esfreguei meu braço, já sentindo falta do seu toque.
Bem, se eu só tinha uma semana, provavelmente deveria
começar a ler. Porque havia muitos livros na mesa. E eu queria estar
preparada para essa coroação.
Me aproximei dos livros com cautela.
Flocos de neve . Eles eram grossos. Afinal, quando Kalt os
mandou entregar? Provavelmente por um elfo.
Suspirei e me resignei à minha tarefa, folheando os livros e
encontrando um presente embrulhado entre os itens. Um cristal de
açúcar brilhava como gelo dentro dele, o doce quase bonito demais
para comer.
Sorrindo, coloquei-o de lado.
Eu o admiraria por enquanto e apreciaria o doce mais tarde.
Obrigada, Kalt , pensei, sorrindo. Talvez eu possa te apreciar
também quando você voltar.
11

NORDEN

— C onseguiu desfazer seu vínculo de acasalamento ? — perguntei


quando Kalt passou pelos portões do palácio.
Segui ele e Artica durante toda a manhã, observando
casualmente o passeio deles e sentindo a magia dele percorrer todo
o corpo curvilíneo dela.
Aquele gemido que ela soltou ao saborear minha guloseima
favorita quase me fez sair das sombras. Eu queria sentir aquele som
no meu pau.
Mas eu poderia esperar.
Por enquanto.
Kalt paralisou, os pelos de seu pescoço se arrepiaram quando me
encontrou apoiado nos postes de gelo dos portões externos.
— Pensei ter sentido você mais cedo.
— Ah é? — Me afastei do poste. — Você sentiu minha presença,
não é?
— Não exatamente.
— Exatamente assim — corrigi. — Porque você faz parte da
nossa tríade.
— Pare, Norden. Não estou no clima.
— Meu doce e gelado querido, você nunca está no clima —
murmurei, me aproximando dele. — Isso é parte do problema. Você
se recusa a se envolver nas festividades deste lugar, incluindo a
alegria absoluta que o Príncipe Lark e eu poderíamos te mostrar
entre os lençóis.
Kalt suspirou, o som cheio de dor e anseio, chamando minha
alma selkie para acalmá-lo. Porque ele era meu. Para ser acalmado,
ser satisfeito. Para que eu o fizesse se sentir melhor.
No entanto, ele me negava a cada passo.
O Príncipe Lark também.
E eu estava cansado desse espetáculo de tormento auto infligido.
— Você está em conflito com suas crenças — eu disse. — É por
isso que não conseguiu quebrar o vínculo com ela. Parte de você
quer se sacrificar pelo bem maior, enquanto sua alma conhece o
verdadeiro desejo do seu coração. Você foi destinado a estar aqui,
Kalt. Conosco. Com ela.
Ele cerrou os dentes.
— Estou falando sério, Norden. Não estou com disposição para
isso hoje.
— Porque você falhou em quebrar um vínculo que sua alma
deseja mais do que o próprio ar — respondi, sem me importar com
o brilho gelado em seu olhar cativante.
Ele poderia me bater, me machucar, fazer o que precisasse. Eu
permitiria. Seria aquele que carregaria os machucados, se era o que
ele precisava para libertar seu coração e sua alma.
— Você não sabe nada sobre os vínculos dos Faes Elementais —
ele me disse. — Ou como pode ser difícil quebrar um vínculo de
acasalamento quando a outra parte se considera apaixonada. — Ele
parecia frustrado, o que só me fez sorrir.
— Então a nossa companheira é teimosa — eu disse, achando
graça. — Ótimo. O Príncipe Lark vai gostar disso.
— Ela não é a nossa companheira.
— Ainda não. Por enquanto, é só sua. Mas vamos compartilhar
em breve.
Ele murmurou algumas palavras pouco lisonjeiras, a maioria
delas de natureza humana.
— Não vou me juntar a sua tríade.
— Acho que você não entende que já faz parte dela — eu disse.
— Você só está lutando para acreditar no seu destino. O que é
normal. O Lark é paciente. Mas parece que nossa Artica não é, e
isso me encanta. Você acha que ela me convidaria para sua cama
agora? Mostraria o quanto essa teimosia vai longe?
Kalt deu um passo à frente, seu olhar irradiando violência.
— Dê um tempo a ela, Norden. Ela ainda está aprendendo.
— Se você está tão preocupado com o aprendizado dela, por que
está indo embora?
— Como você sabe que estou indo embora? — ele retrucou. — E
como você sabe sobre o vínculo?
— Estamos conectados através da magia — eu disse. — Posso
sentir tudo em você, especialmente quando se trata de energia
sensual. E sei que você está indo embora porque não sabe mais o
que fazer, já que nossa companheira está se mostrando teimosa ,
como você diz.
Ele apertou a ponte do nariz, soltando um suspiro que senti em
minha alma.
Eu poderia ser gentil com ele.
Poderia oferecer a ele a chance de fugir, de correr e se esconder
de seu coração, mas então não seria o companheiro certo. Ele
precisava de incentivo, do empurrão, da verdade nua e crua.
Lark lhe dava espaço para respirar.
Eu, não.
Porque Kalt precisava saber que eu acreditava nele, em nós,
nessa tríade e em nosso futuro. Havia crença mais do que suficiente
dentro de mim para transmitir a ele, para fortalecer nossa conexão,
se ele se abrisse para isso.
Dei um passo à frente e nossos peitos se tocaram enquanto eu
segurava sua nuca.
Ele não se moveu, nem mesmo respirou, seu olhar encontrando
e sustentando o meu em uma batalha secreta de vontades.
— Você pertence a esse lugar, Kalt. Conosco.
— Não.
— Pertence, sim — enfatizei, aumentando a intensidade do meu
toque. — E a Artica também.
Ele continuou a me encarar, sua alma implorando para que eu o
pressionasse um pouco mais, para que ele entendesse, para que
sentisse .
— Cuide dela por mim — ele sussurrou. — Proteja-a enquanto eu
estiver fora. Voltarei em uma semana.
Franzi a testa.
— Kalt...
Ele evaporou entre meus dedos, desaparecendo no ar através de
suas habilidades místicas de água.
Rosnei, irritado com seu movimento.
Tinha que haver correntes em algum lugar que pudessem
prender um Fae da Água. Eu teria que encontrá-las e usá-las nele.
Amarrá-lo a uma cama, chupá-lo até que ele finalmente cedesse ao
abraço sensual de nossa tríade.
Talvez eu pedisse a ajuda de Artica também.
Com certeza, ela se divertiria transformando sua versão de
tortura em algo mais prazeroso.
Suspirei e voltei para o palácio, indo em direção a Lark. Ele teria
sentido Kalt partir, mas talvez ainda não soubesse sobre o vínculo
entre ele e Artica. Então eu contaria e perguntaria quando ele
gostaria de conhecê-la. Esperava que em breve.
Depois, ficaria de olho em Artica por Kalt.
Uma tarefa que eu realmente aproveitaria.
Talvez eu a persuadisse a sonhar...
12

ARTICA

A cordei sobressaltada , com uma pontada de dor no pescoço devido à


posição desconfortável.
Em algum momento, eu adormeci enquanto lia na escrivaninha.
E então, sonhei com Kalt, o que não era surpreendente. Mas eu o
havia acorrentado a uma cama e o torturado com minha língua até o
selkie sedutor me dizer que não havia problema em deixá-lo gozar.
Engoli em seco com um gemido.
Só para despertar por essa agonia no pescoço.
— Ah — reclamei, me forçando a endireitar o corpo. Eu havia
pulado o jantar ontem à noite, envolvida demais em todas as
leituras. Mas a confeitaria açucarada teria sido bem-vinda.
E estava com fome agora.
Que horas são? , me perguntei, olhando automaticamente para
as janelas, apenas para perceber que ainda estava tão ensolarado
quanto quando caí na terra dos sonhos eróticos. No entanto, havia
um bilhete no parapeito da janela, algo que não estava lá antes.
Franzi a testa e me levantei para pegá-lo.
Meu nome estava gravado na parte externa em uma letra cursiva
perfeita. Mais palavras na mesma caligrafia me esperavam no
interior.
O PRÍNCIPE LARK quer encontrá-la após o café da manhã. Não se
atrase. N.

OLHEI para o relógio e xinguei baixinho. Certamente já havia


passado da hora do café da manhã, o que significava que eu estava
atrasada para meu encontro com o Príncipe Fae do Inverno.
Ainda bem que tomei banho na noite anterior.
— Nevasca — murmurei, passando os dedos pelos cabelos
ondulados, o que certamente não impressionaria o selkie. Peguei um
vestido azul de mangas compridas no armário e o combinei com um
par de botas felpudas que iam até os joelhos.
Olhei no espelho, decidindo que teria que servir e saí correndo
pelo corredor.
Apenas para fazer uma pausa ao perceber que eu não fazia ideia
de onde encontrar o príncipe.
É por isso que você não deveria ter me deixado sozinha aqui ,
pensei para Kalt. Eu já estou estragando tudo e nem conheci o
príncipe ainda!
— Cristais de gelo! — xinguei enquanto passava os dedos pelo
cabelo novamente e descia as escadas em direção às áreas comuns
do palácio.
Examinei os grandes salões, procurando por alguém que pudesse
me ajudar.
— Com licença! — gritei para um elfo minúsculo que corria com
uma pilha de brinquedos nas mãos. — Eu só... ah!
Ele tropeçou quando o assustei, e os brinquedos se espalharam
por todo o tapete ornamentado de ouro e prata. O pequeno gemeu
e começou a recolhê-los.
— Esses Faes sempre causam confusão — ele resmungou.
Estremeci e o ajudei a recolher as coisas, colocando um
brinquedo quebrado debaixo da pilha na esperança de que ele não
percebesse.
Ele me olhou com raiva.
— Eu, hum. Qual caminho devo seguir para ver o príncipe? O
Príncipe Lark, quero dizer. Eu, ah, devo encontrá-lo. — Muito
eloquente, Artica .
Mais uma vez xinguei Kalt por me deixar sozinha para encontrar
o futuro Rei Fae do Inverno.
O elfo minúsculo parecia querer cortar a minha garganta.
— Você poderia tentar a sala do trono do palácio.
Certo. Palácio.
— Claro... — Olhei de volta para os corredores que Kalt me
mostrou. Eu deveria ter prestado mais atenção. — Quero dizer, o
palácio, sim. Eu só... não estamos no palácio?
— Você é muito observadora — o elfo disse com ironia.
Pisquei para ele.
— Certo, bem, hum, onde fica a sala do trono?
— Tente o centro do palácio — ele sugeriu. — Procure pela
grande cadeira, também conhecida como trono. Você sabe o que é,
certo? — Ele olhou para uma cadeira perto da parede. — Assim,
como aquela, mas muito maior. Provavelmente com o Príncipe Lark
sentado nela.
Ri, nervosa, enquanto me afastava.
— Sim! Entendi, obrigada! — Centro do palácio. Legal.
Só que... ali era a cafeteria.
Mas isso deve ser algum tipo de ala de hóspedes.
Certo. Tudo bem.
Segui em direção à área de trabalho que Kalt me mostrou ontem,
depois subi e contornei, procurando o “centro” e finalmente
encontrei uma gigantesca cúpula de cristal brilhando com luz.
Aqui , pensei. Deve ser aqui .
Estava brilhando sob a luz do sol, me chamando.
Praticamente corri em direção a ela, e então paralisei ao ver um
par de sentinelas de biscoitos de gengibre surgirem em meu
caminho perto das portas da frente.
Não conseguia realmente dizer se eles estavam olhando para
mim ou não, porque seus olhos eram feitos de doce.
— Hum, estou aqui para ver o príncipe — falei com a voz
trêmula.
Um deles bateu o cajado no chão e a porta se abriu.
— Ele está esperando.
Assenti, murmurei um agradecimento e entrei apressada.
O interior da sala me tirou o fôlego, mas não tive tempo de
apreciar os lustres em forma de flocos de neve ou as paredes de
bengalas de doces com gotas de bala de goma. Atravessei
apressada os vários homens de biscoito de gengibre que guardavam
as portas até chegar ao centro, que na verdade parecia mais o fim,
pois era muuuuito longo.
Um homem de biscoito de gengibre abriu uma porta enorme e
entrei correndo.
Então paralisei ao ver o Fae do Inverno sentado no trono maciço.
Suas coxas atléticas estavam afastadas, e ele estava inclinado para a
frente com um braço apoiado no joelho enquanto falava com um
elfo ao seu lado.
Até que ele ergueu o olhar para mim.
E me esqueci de como respirar.
O príncipe usava um smoking prateado, o tecido praticamente
moldado em sua forma musculosa, e tinha cabelos loiros longos e
ondulados que se assemelhavam a ondas de ouro branco em seus
largos ombros.
E seu rosto.
Ah. Meu. Fae.
Seu rosto era a mais bela expressão de masculinidade e
elegância que eu já vi. E isso incluía Norden e Kalt.
Esse fae era como uma versão maior e mais poderosa de Kalt.
Alto e forte, com músculos predatórios escondidos sob o tecido de
seda, ele exigia atenção e obediência.
O poder que emanava dele fez com que eu engolisse o nó em
minha garganta.
As sentinelas me anunciaram, e Norden irrompeu na sala um
momento depois, sorrindo para mim.
— Ah, finalmente. Adoro uma entrada tardia elegante, você não,
meu príncipe?
O Príncipe Lark ignorou Norden enquanto continuava a me
encarar. Ele se inclinou um pouco mais para a frente e me pediu
para me aproximar.
— Me deixe dar uma boa olhada em você, Fae da Água. O
Norden me disse que você é uma... candidata .
Sem formalidades.
Sem cumprimentos.
Apenas um “quero te ver”.
Será que ele me pediria para tirar a roupa?
Eu diria não?
Porque eu duvidava que pudesse. Não com seus olhos verde-
menta me avaliando de uma maneira sensual que deixava minha
alma em chamas.
Tentei avançar, seguir seu comando, mas o brilho faminto no
olhar do Príncipe Lark me manteve cativa.
Norden parecia se divertir, mas o príncipe? Sim. Ele era tão
aterrorizante quanto sexy.
O selkie devia ter decidido me ajudar, pois ele se aproximou e
colocou a palma da mão na minha lombar, sem hesitar em enrolar
uma mecha do meu cabelo em seu dedo. Ele sorriu para mim.
— Não há nada com que se preocupar, Artica. Você está segura
conosco.
De alguma forma, eu duvidava que a definição de segurança dele
fosse igual à minha.
Ao me aproximar do trono, decidi que se eu ia jogar esse jogo,
deixaria minhas condições claras.
E como obviamente estávamos evitando formalidades, iria direto
ao ponto.
— Não tenho certeza de como vocês fazem as coisas no Polo
Norte — não era exatamente verdade, já que passei a maior parte
do dia de e da noite anterior lendo tudo sobre isso. No entanto, eles
não precisavam saber —, mas no meu reino, os vínculos entre
companheiros são decididos mutuamente após um período de
cortejo.
Olhei para Norden, sentindo minha pele aquecer com sua
proximidade. Seu cabelo úmido sugeria que ele tinha acabado de
nadar, as mechas brilhando com um chocolate salgado que caía em
ondas sobre seus ombros.
Eu queria tocá-lo novamente.
Mas... mas não até que eu me fizesse ouvir aqui.
Limpei a garganta.
— Portanto, não me oponho a explorar essa candidatura, mas só
quero deixar minhas intenções claras. Estou aqui como estagiária do
Kalt, e minha prioridade é a relação Inter Reinos Fae. No entanto,
eu... estou bem com isso.
Ótima maneira de terminar com uma nota confiante, Artica.
Muito bom.
Mas Norden apertou mais a mecha do meu cabelo, puxando-a de
leve, o que inspirou o calor a se acumular entre minhas pernas.
Eu estava um pouco distraída pelo desejo de permanecer de pé
em vez de acabar em uma poça de necessidade no chão.
Como um simples puxão podia evocar uma sensação tão intensa?
pensei, olhando para o selkie travesso.
Norden sorriu, e eu quase desmaiei com a visão.
Cometi o erro de mudar o foco para o príncipe, esperando que
sua presença aterrorizante me colocasse no rumo certo.
Mas, não.
Ele inclinou a cabeça, sorrindo de leve enquanto a diversão
cintilava em seu olhar.
Vou derreter em uma poça de gosma de Artica. É o meu destino.
Devo aceitar isso agora, me ajoelhar e deixar tudo acontecer. Sim.
— Humm — o Príncipe Lark murmurou, o timbre profundo de sua
voz reverberando em minha pele. — Posso ver por que os enfeites te
escolheram. Toda negócios, mas com um toque festivo que quase
posso provar na língua.
Norden se animou.
— Então é um sim, não é?
— Um sim para... o quê? — perguntei. — A candidatura?
— Não. — O Príncipe Lark se recostou no trono, me confundindo
bastante. — É um sim para te manter.
Ah, o quê?
— Hum, não — respondi sem hesitar, deixando a alegria de
Norden em estado de choque. — Concordo em ser cortejada, mas
você não pode simplesmente me manter . Eu não sou um enfeite de
uma árvore ou uma meia para a sua lareira. — Dois itens das festas
natalinas humanas sobre os quais a Rainha Claire me falou. — Meu
nome é Artica, sou uma fae com sentimentos e tomo minhas
próprias decisões, muito obrigada.
Pronto. Isso foi muito mais eloquente.
No entanto, o sorriso resultante do Príncipe Fae do Inverno
parecia mais indulgente que qualquer outra coisa.
— É adorável que vocês Faes da Água achem que têm escolha.
Afastei a mão de Norden, que ainda estava brincando com meu
cabelo, sentindo a raiva aumentar. Eu questionava a resistência de
Kalt em se juntar à tríade do príncipe, mas se ele era assim, estava
começando a entender sua hesitação.
— Nós temos uma escolha, seu... seu elfo crescido demais . —
Norden ofegou, e os olhos verde-menta de Lark piscaram com
interesse. — Os Faes Elementais têm quatro níveis de vínculo, todos
requerem consentimento mútuo . Talvez seja um termo novo para
você, por ser príncipe e tudo mais, mas deveria pesquisar. Porque eu
só concordo em ser cortejada, e até agora, você não está me
impressionando.
Suas sobrancelhas se ergueram.
— Eu sou o futuro rei.
— Isso deveria me influenciar? — questionei, cruzando os braços.
— Eu trabalhei para a Rainha Claire. Estive cercada pela realeza por
anos. Próximo atributo, por favor. Porque, até agora, tenho
arrogante, possessivo e rude. E esses não são pontos a seu favor.
Seus lábios se entreabriram.
— Você está me chamando de rude? No entanto, é você que está
na sala do trono me insultando. Como uma emissária visitante, devo
acrescentar.
— Como a candidata que você afirma querer manter — corrigi,
sem sentir qualquer alegria, nem estar impressionada com a
abordagem de Sua Majestade Real. — Não estou interessada na
posição.
Uma mentira completa. Meu lado romântico estava interessado.
Mas não se ele fosse me tratar como propriedade.
Ele semicerrou os olhos verdes.
— Não seja teimosa como o Kalt.
— Ele não está sendo teimoso. Provavelmente está só se
recusando a ser seu brinquedo — eu disse. — Assim como eu.
— Não quero fazer de você um brinquedo, linda. Quero fazer de
você minha rainha — ele respondeu. — E vou fazer.
— Continue se enganando — resmunguei, não querendo ser
conquistada por um título pomposo.
— Quanto mais você me fizer ter trabalho, mais eu vou te querer.
— Então esteja preparado para trabalhar muito duro — eu disse.
— Porque no momento, não estou interessada.
Seus lábios se curvaram.
— Você é absolutamente perfeita.
— O sentimento não é mútuo — eu disse, escolhendo minhas
palavras de propósito.
— Será — ele prometeu.
— Se você diz.
Norden suspirou.
— Vai ser uma semana longa.
Arqueei uma sobrancelha.
— Você acha que ele vai me convencer a gostar dele em uma
semana? — Ri, sem humor. — Isso não vai acontecer. — Olhei de
volta para Sua Alteza. — Agora, se me der licença, tenho muitas
leituras importantes para fazer.
Com isso, dei meia-volta e saí da sala.
Provavelmente eu era a pior estagiária Inter Reinos Fae que já
existiu, mas naquele momento, eu não me importava.
O Príncipe Lark poderia comer um bloco de gelo sujo.
Não importava que minha alma Elemental sentisse nossa
compatibilidade instantânea. Ele era um picador de gelo mal-
educado. E eu não queria acasalar com um floco de neve arrogante.
Essa devia ser a verdadeira razão pela qual Kalt os havia
recusado.
Ou talvez fosse a razão que tornou mais fácil para ele recusá-los.
De qualquer forma, agora eu entendia a situação. E não tinha
interesse em ser candidata. Então, me concentraria em meu estágio.
13

LARK

O cabelo de A rtica lembrava uma avalanche de neve caindo em cascata


sobre seus ombros até o meio das costas. Tão bonito e leve, o tipo
de textura que pedia para ser acariciada.
Agora eu entendia por que Norden não só a selecionou, mas
também se deliciou com a troca de carícias nos cabelos.
— Ela é encantadora — murmurei, meu coração acelerando com
uma empolgação que senti muita falta nas últimas semanas. —
Vamos convidá-la para jantar?
Norden me encarou.
— Tenho quase certeza de que ela preferiria atirar uma dúzia de
bolas de neve em você, Sua Alteza.
Franzi a testa. Ele só me chamava assim quando eu tocava em
um ponto sensível, o que era uma tarefa difícil de realizar com
Norden, já que ele normalmente não se importava com meu
comportamento mal-humorado.
— Por que você está descontente comigo?
— Porque você acabou de cometer com ela o mesmo erro que
cometeu com Kalt — ele rebateu, a raiva fora do comum para o meu
companheiro selkie.
Olhei ao redor da sala, observando as caretas vindas dos meus
elfos.
— Deixem-nos — ordenei.
Eles desapareceram rapidamente, como se estivessem aliviados
por estarem longe da minha presença.
O que significava que eu estava prestes a ouvir uma bronca do
meu companheiro.
— Os Faes Elementais valorizam o consentimento — Norden
falou quando a porta se fechou atrás do último elfo. — E você
acabou de dizer para a Artica que vamos ficar com ela.
— Porque ontem você me disse que queria isso — lembrei. — E
eu concordei.
— Sim, eu disse isso a você, não a ela .
— Não entendo a diferença. — Relacionamentos não eram
baseados na honestidade?
— Precisamos cortejá-la, Lark. Não podemos simplesmente exigir
que ela se junte a nós sem dar a ela um motivo para se curvar. —
Ele deu um passo em minha direção, as mãos nos bolsos da calça,
algo que ele raramente usava na minha presença, mas parecia ter
sentido necessidade de fazer hoje. Provavelmente porque estávamos
na sala do trono prestes a conhecer nossa futura rainha.
— Eu sou um rei. Isso deveria ser motivo suficiente para ela se
curvar — apontei. — Funcionou com você.
Ele sorriu.
— Porque eu te conheço desde a infância e sabia que estávamos
destinados a ficar juntos. A Artica acabou de te conhecer, e você mal
a cumprimentou adequadamente antes de afirmar que a manteria.
Não é assim que funciona com a espécie dela. Eles precisam de
romance. Precisam de sedução. Precisam saber que são amados .
Curvei os lábios em desgosto mais uma vez.
— Eu mal a conheço. Não posso amá-la ainda.
— E é exatamente por isso que ela acabou de te rejeitar, meu
príncipe. — Ele baixou a voz, a sensualidade acariciando cada
palavra. — Ela precisa de tempo para te aceitar, para nos aceitar,
assim como o Kalt.
— Mas eu pude sentir a crença emanar dela. A garota
praticamente irradia alegria e espírito festivo. Como ela poderia
negar nossa tríade?
— Bem, em primeiro lugar, a tríade ainda não está completa —
ele me lembrou com gentileza. — E pelo que vi, o coração dela
pertence muito a Kalt no momento. Isso a está segurando. Em
segundo lugar, ela não é do seu reino. Ela tem as próprias
expectativas quando se trata de acasalamento. Você terá que provar
que é digno dela.
— Para conquistar a crença em seu coração — traduzi,
suspirando. Algo que eu sabia na teoria, mas a realidade de
reivindicar uma companheira de um dos outros reinos faes estava se
mostrando mais desafiadora do que eu havia antecipado.
No entanto, dado a história entre meus pais, eu deveria pelo
menos esperar por isso.
A crença de Artica estava lá. Podia sentir.
No entanto, meu selkie tinha razão. Sua espécie era experiente
em sedução e cortejo. Duas coisas nas quais eu falhei
miseravelmente até agora.
— Exato — ele murmurou em resposta à minha afirmação.
Mas sua confirmação soou verdadeira com meus pensamentos
também.
Norden subiu as escadas até o topo, onde eu estava sentado, e
não parou até que suas pernas tocassem as minhas. Então ele se
inclinou para a frente, as palmas das mãos segurando os braços do
trono enquanto olhava diretamente para mim.
— Temos que seduzi-la, meu príncipe. Fazer com que ela se sinta
digna de ser uma rainha. Garantir que ela entenda o quanto iremos
adorá-la. Mostrar a ela o que significa ser uma Rainha Fae do
Inverno.
— Eu nem sei por onde começar — admiti. — Acabei de
conhecê-la.
O que tornava insano o fato de eu sentir essa necessidade de
reivindicá-la, mas minha alma sentiu a atração quase que
imediatamente.
Quer ela percebesse ou não, estive procurando por ela por dois
anos. Uma tríade completa tornava mais fácil localizar a fêmea, mas
atingi a idade adulta por volta do meu trigésimo aniversário. E desde
então, tenho procurado por todos os meus companheiros.
Norden foi fácil.
Kalt, nem tanto.
E parece que Artica será tão difícil quanto.
No entanto, ela estava destinada a ser minha. Nossa. Kalt provou
isso ao encontrá-la. E Norden confirmou quando a escolheu.
O que significava que minha tríade finalmente estava completa.
Agora eu só precisava encontrar uma maneira de convencê-los a
acreditarem em mim, a acreditarem no poder que nosso círculo de
companheiros poderia alcançar.
Mas aparentemente, estraguei minha apresentação para nossa
futura rainha.
— Deixe comigo — Norden murmurou. — Cortejar é o que os
selkies fazem de melhor.
— Quero estar envolvido — eu disse, segurando o pulso dele. —
Ela precisa saber que eu a quero também. E não como propriedade.
— As palavras tinham um gosto amargo em minha língua. — Não foi
isso que eu quis dizer. — Eram palavras suaves, vulneráveis. Palavras
que eu provavelmente sussurraria apenas para ele, meu confidente.
Um rei não deveria cometer erros.
No entanto, assumir esses erros era o que fazia de um monarca
um verdadeiro líder, algo que aprendi desde cedo em minha criação.
Não são os erros que você comete, mas como você os corrige ,
meu pai disse uma vez. E como você cresce com eles também .
— Sei que não foi, meu príncipe — Norden respondeu, seu tom
suave me envolveu em um abraço reconfortante. — Você estava
apenas empolgado em finalmente conhecer nosso futuro.
— Ela é perfeita — eu disse. Eu mal a conhecia e, ainda assim,
podia sentir a verdade dessa afirmação até a minha alma. Ela era
alegre, pelo menos até eu irritá-la. Mas então se tornou feroz, do
jeito que uma rainha deveria ser, e apaixonada por suas crenças.
Essa última parte foi o que selou o acordo.
Ela seria nossa rainha.
— Me diga o que fazer, Norden. Me diga como consertar as
coisas.
Ele sorriu.
— Vamos começar enviando mais doces selkies para ela...
14

NORDEN

D ei a A rtica dois dias de espaço enquanto a vigiava das sombras . U ma


tarefa fácil, considerando que ela raramente saía do quarto, exceto
para comer e dar um passeio do lado de fora.
Ela parecia determinada toda vez que eu a via. Mas mal sorria. E
eu não gostava disso. Sua alegria e felicidade foram o que me
atraíram de imediato.
Eu queria ver minha rainha sorrir.
Será que ela sentia falta de Kalt? Seria isso que deixava sua aura
alegre sombria?
Ou ela estava chateada com Lark?
Talvez até comigo?
Eu deveria ter me aproximado e dito algo no outro dia. Mas
fiquei chocado demais com sua recusa direta e declarações firmes.
Então Lark piorou a situação achando graça.
Ele não era um idiota. Pelo menos, não intencionalmente.
Após a reunião fracassada, ele enviou uma nota de desculpas
com uma caixa de doces selkies, exatamente como recomendei.
Artica não jogou fora nenhum dos itens, algo que consideramos um
bom sinal.
Então Lark enviou um buquê de lírios de gelo para o quarto dela
na manhã seguinte.
Uma olhada pela janela de Artica mostrou que estavam sobre a
mesa, ao lado de seus livros.
Outro bom sinal.
Ele enviou o jantar para ela naquela noite, um prato cheio de
nossas comidas favoritas e uma caneca de hidromel, algo que
sabíamos que Faes Elementais gostavam graças a Kalt.
Ela comeu tudo, incluindo o pedaço de doce selkie que adicionei
à bandeja.
Esta manhã, Lark enviou um vestido com um cartão dizendo que
o desenho de floco de neve o lembrava de sua afinidade com a
Água.
Ela o usou, junto com as botas que enviei com o vestido no café
da manhã.
Mas ela ainda não parecia tão alegre, comendo sua comida e
voltando imediatamente para o quarto para continuar lendo os livros
que Kalt deu a ela.
— Deveríamos convidá-la para sair esta noite — falei em voz alta,
depois de passar os últimos minutos andando de um lado para o
outro no quarto de Lark. — Levá-la para ver os pinguins, talvez?
O príncipe ergueu o olhar de seus papéis da coroação, franzindo
a testa.
— Você vai comer um?
Eu bufei.
— Selkies não comem pinguins.
— Então qual seria o propósito disso? Não vai provar nossa força
como tríade.
— Nem tudo na vida se trata de poder e força, meu príncipe —
eu o lembrei com gentileza. — Isso é sobre romance. E os pinguins
são monogâmicos. Que maneira melhor de demonstrar nossas
intenções que apresentá-la a essas pequenas criaturas que
entendem o destino à primeira vista?
Ele me considerou por um momento, depois assentiu.
— É uma boa ideia.
— É claro que é. Fui eu que pensei nisso. — Sorri. — Devemos
preparar uma cesta para um piquenique também.
— Devemos fazer chocolate quente para ela — Lark sugeriu. —
Da minha reserva pessoal.
Sua assistente pessoal, Holly, levantou a cabeça ao ouvi-lo,
arregalando os olhos.
Porque Lark concordar em compartilhar um pouco do chocolate
quente de sua reserva pessoal com alguém era inédito. Ele nem
sequer me deixava tocar no chocolate dele.
Bem, a menos que ele quisesse que eu o lambesse de sua pele.
Nesse caso, sim, ele me dava um pouco para provar. Seguido
pela sua própria versão de chantilly.
Limpei a garganta.
— Hum, sim, acho que a Artica adoraria isso.
Ele assentiu.
— E talvez possamos pedir algo do reino dela. Algum prato que
ela possa estar sentindo falta. Imagino que todos os doces sejam
demais para alguém de outro reino.
— Vou pedir conselhos ao Kalt. — Isso me daria uma desculpa
para verificar como ele estava.
Lark sorriu.
— Sim. Por favor, faça isso. Convide-o também.
— Vou convidar. — Não funcionaria, mas a persistência era a
chave. — Enviarei roupas apropriadas para Artica com um bilhete
solicitando sua presença esta noite. A menos que você queira
escrever.
— Por que não escrevemos um cada, para que ela saiba que nós
dois pretendemos estar lá. Deveria ser óbvio, mas gostaria de não
cometer o mesmo erro duas vezes e garantir que ela entenda nossa
intenção desta vez — ele disse, provando que um príncipe realmente
pode aprender a cortejar quando incentivado.
— Excelente ideia — murmurei.
Holly entregou caneta e papel a Lark, curvando seus lábios em
um sorriso doce.
— Diga a ela que sente saudades, meu príncipe. Ou que quer ter
a oportunidade de ver o sol cintilar em seu cabelo.
Ele sorriu.
— Vou pensar em minhas próprias palavras, mas obrigado, Holly.
Os olhos dela brilharam, a elfa claramente animada com a ideia
de nós cortejarmos nossa rainha.
Bem, era um sentimento que compartilhávamos.
Pois eu realmente queria impressionar Artica.
Só precisava encontrar as palavras certas, então ligaria para Kalt
para pedir conselhos para o jantar.
15

ARTICA

O lhei os dois bilhetes em cima da mesa , curvando os lábios para o


lado. Eu tinha exatamente cinco minutos para decidir o que queria
fazer.

QUERIDA ARTICA,
Você nos daria a honra de se juntar a nós em uma aventura ao
ar livre esta noite? Norden adora ver os pinguins brincarem, e ele
conhece o local perfeito para observá-los. Podemos mostrar a você o
habitat natural deles e discutir o seu cortejo.
Porque você estava certa.
Conduzi nossa apresentação de forma inadequada e gostaria de
ter uma chance de compensá-la. Se você permitir, por favor,
encontre-nos na entrada do palácio às seis horas.
Sinceramente,
Príncipe Lark

O SELO real dos Faes do Inverno estava abaixo dele, um par de


bengalas doces cruzadas sobre um floco de neve. E o outro bilhete
era muito mais curto e direto.
SUNSHINE,
Por favor, venha. Prometo alimentá-la de forma adequada.
Seu,
N.

ELE ENVIOU o bilhete com um brownie de caramelo salgado, uma


deliciosa variação do doce de chocolate, e uma caixa de roupas.
Roupas que eu já vesti.
Blusa de gola alta rosa e saia azul que se abria nos joelhos.
Meias azul marinho.
Ankle boots.
E um gorro com um pompom fofo no topo.
Era um conjunto adorável que me serviu perfeitamente. Assim
como o vestido desta manhã.
Mordi o lábio inferior.
O que poderia dar errado? Eu era a estagiária Inter Reinos Fae.
Não seria gentil da minha parte recusar.
Eles também pediram de forma educada.
Norden também prometeu me alimentar, e eu estava cansada de
comer sozinha.
Então...
Dei de ombros.
O príncipe Lark certamente pareceu um floco de neve arrogante,
mas seu pedido de desculpas no outro dia foi apreciado. Também
gostei dos doces que ele enviou junto com o bilhete. Assim como o
desta tarde.
E Norden, bem, eu não me importaria de vê-lo novamente. Ele
foi bastante gentil durante nosso primeiro encontro. Não queria
julgar sua escolha de parceiro.
Supondo que ele tivesse tido escolha na decisão.
Talvez o príncipe Lark também o tivesse “mantido”.
Teria que perguntar a ele sobre isso.
Com uma última olhada no espelho, saí do quarto, segui pelo
corredor até as escadas e saí pela porta lateral do palácio. Eu só
tinha passado pelos portões da frente uma vez, então seria mais
fácil encontrá-los do lado de fora.
Felizmente, não foi difícil.
Principalmente porque um belo príncipe Fae do Inverno e um
atraente selkie esperavam bem na frente.
Vários elfos estavam ao redor deles, tagarelando. Um deles era
particularmente barulhento, perguntando se o príncipe Lark poderia
fazer algo sobre as raposas do Ártico que estavam roubando suas
bengalas de cereja.
— Elas estão por toda parte, Alteza. Preciso de um encantamento
que as mantenha longe das minhas bengalas.
— Você estaria disposto a plantar dois jardins? — o príncipe Lark
perguntou, seus olhos verde-menta encontrando os meus
brevemente e sorrindo ao me ver. Mas, ao invés de me
cumprimentar, ele voltou sua atenção para o elfo robusto ao seu
lado.
— Dois jardins, Alteza? — ele repetiu.
O príncipe Lark assentiu.
— Sim, um que eu possa encantar para você e outro para
continuar alimentando as raposas.
O elfo franziu a testa.
— Se é isso que você deseja, então sim.
— Quero que todos sejam alimentados — o príncipe Lark
respondeu. — Então acho que seria uma oferta justa. Protegerei
suas bengalas desde que as raposas ainda tenham algumas para
comer também.
O elfo considerou por um momento, depois assentiu.
— Tudo bem, Alteza. Vou começar a trabalhar em um segundo
jardim amanhã.
— Estarei aqui para te ajudar a encantá-lo — ele prometeu.
— Obrigado, meu príncipe. — O elfo se curvou profundamente.
— De nada, Eski — ele respondeu.
Durante a troca, Norden se aproximou de mim, seus dedos
brincando com a ponta da minha trança, algo que decidi fazer hoje,
pois estava com saudades dos Faes da Água em casa. Tranças eram
muito comuns entre minha espécie de Fae Elemental. Sem motivo
específico, apenas gostávamos da textura ondulada depois de soltar
as longas mechas de cabelo.
Além disso, a trança também combinava com meu novo gorro.
— Isso está muito bonito — Norden murmurou, tocando a trança
onde ela se encontrava com minha coluna. — Assim como você,
Sunshine.
Meus lábios se curvaram.
— Obrigada.
— Não, não. Obrigado você por vir — ele sussurrou em meu
ouvido enquanto o príncipe Lark se desculpava com os outros elfos.
Todos me olharam com interesse aguçado antes de tagarelar entre si
e se afastarem com sorrisos encantadores.
— Olá, Artica — o príncipe Lark me cumprimentou, fazendo uma
pequena reverência. — É um prazer vê-la novamente.
Mesmo? quase perguntei. Mas decidi ser simpática. Afinal, eu era
uma estagiária Inter Reinos Fae. Ser rude confirmaria meu status
como a pior estagiária de todos os tempos.
Então sorri.
— Olá, príncipe Lark. — Fiz uma pequena reverência, algo que eu
teria feito no outro dia se ele não tivesse me tratado como um
objeto a ser reivindicado. — Foi muito gentil da sua parte pensar nas
raposas.
Ele piscou, franzindo a testa.
— Foi?
— Sim. Você garantiu que elas mantivessem sua fonte de
alimento.
— Bem, é claro. Esta era a terra delas. Temos que coexistir, não
fazê-las sumir — ele respondeu, suas palavras sábias e honradas
arrancando um sorriso genuíno dos meus lábios.
Porque eu gostei da maneira como ele falou.
— Os Faes Elementais têm um senso forte de igualdade —
informei a ele. — Tratamos todas as formas de vida com o mesmo
respeito.
Seus cabelos loiro-claros tocavam os ombros largos enquanto ele
assentia.
— Sim, pelo que entendi, sua espécie não é fã da culinária
humana porque é baseada em carne animal.
Franzi a testa.
— Não é a minha favorita. — Então eu esperava que isso não
estivesse no cardápio desta noite. Doces eu aguentaria. Mas
algumas das especialidades humanas? Não.
— Também não é a minha favorita — ele confessou em voz
baixa, sua expressão quase envergonhada. — Sou obrigado a comer
quando alguém traz como presente, mas prefiro muito mais a nossa
versão de doces, tortas e...
— Chocolate quente — Norden interrompeu, seu braço roçando o
meu quando finalmente soltou minha trança. — Que vai esfriar se
não aproveitarmos logo, meu príncipe.
— Sim, certo — Lark respondeu, sem demonstrar estar irritado
com a interrupção. Ele deu um sorriso agradecido ao seu
companheiro e se virou para pegar duas mochilas de caminhada na
neve. Norden se aproximou para pegar uma das mãos dele,
jogando-a sobre o ombro como se não pesasse nada.
Foi então que percebi que os dois estavam vestidos com roupas
casuais, com suéteres, jeans e botas. O de Lark era branco
prateado, combinando com seus cabelos, enquanto Norden usava
uma blusa de gola alta preta que realçava os tons bronzeados de
sua pele.
Gostei bastante do visual dos dois, o estilo de inverno sexy
realçava as musculaturas deles.
Claro, preferia Norden nu.
Mas isso provavelmente me distrairia demais nesse passeio,
então eu estava grata por sua escolha de roupas.
Ele piscou para mim, me fazendo pensar se ele conseguia ler
minha mente. Ou talvez estivesse com a boca aberta novamente.
De qualquer forma, engoli em seco e lhe dei um sorriso
hesitante.
— Então, hum, para onde estamos indo? — O bilhete de Lark
mencionava pinguins, um animal que eu ainda não tinha visto além
da minha janela.
Embora eu tivesse avistado alguns à distância enfeitando o gelo
quando cheguei. Eu estava curiosa para ver como eram de perto.
— Não muito longe — Norden prometeu. — Mas se você ficar
cansada, podemos te carregar.
Franzi a testa.
— Não me canso facilmente, e meu corpo é construído para esse
Elemento.
Seus lábios se curvaram.
— Isso soa como um convite explícito, Sunshine. Algo que vou
explorar com prazer depois de comermos.
Minhas bochechas esquentaram.
— Não é...
— Fica a cerca de um quilômetro ao longo da costa — Lark falou
baixinho, seus olhos verdes cintilando de diversão. — Os pinguins
tendem a se manter longe dos Fae e dos elfos.
— Mas não dos selkies — Norden comentou, olhando
significativamente para Lark. — Porque nós não os comemos.
Arfei.
— Os Faes do Inverno e os elfos comem pinguins?
Lark suspirou.
— Não. Nós não os comemos. Ele está me provocando por algo
que eu disse.
— Ele pensou que eu pretendia comer um para te impressionar
— Norden respondeu enquanto liderava o caminho.
— Isso não me impressionaria — informei a eles enquanto o
seguia. — Eu... eu...
— Gritaria? — Norden sugeriu.
— Entre outras coisas — resmunguei.
— O único lugar onde pretendo fazer você gritar é no quarto,
Sunshine. — Ele me deu um sorriso sensual. — E prometo que serão
apenas gritos de prazer.
Minha pele formigou de calor, sua provocação mais explícita que
qualquer coisa que eu já experimentei antes. Os Faes Elementais
podiam ser muito diretos, mas Norden jogava em um nível que
poucos poderiam alcançar. A sensualidade praticamente emanava
dele, me envolvendo e me instigando a convidá-lo ao meu quarto
para que pudesse cumprir sua promessa.
Mas felizmente meus pés ouviram a razão, me levando para
frente em vez de para trás.
Seus olhos castanhos se enrugaram nos cantos, o conhecimento
brilhando em suas profundezas cor de chocolate.
Ele conhecia suas habilidades.
E não tinha medo de usá-las.
Kalt estava certo, quando selkies cortejavam seus companheiros,
eles eram agressivos. Mas não tanto no sentido físico quanto no
sexual. E não forçando também.
Não, eles eram mestres da sedução.
— Não vi muitos selkies no palácio — eu disse, engolindo em
seco. — Eles são comuns aqui?
— Sim. Mas a maioria prefere viver perto da água, no gelo em
vez de na terra. É por isso que o Lark tem uma piscina para mim em
seu aposento, para que eu possa nadar sempre que quiser. — Ele
lançou um olhar amoroso ao príncipe.
Lark sorriu.
— Ele me agradece andando nu o dia todo. Não posso dizer que
lamento pelo presente.
Minha pele esquentou ao pensar nesses dois na cama.
Algo que claramente acontecia com frequência, pelos olhares que
eles trocavam.
Isso é erótico , pensei, com meu coração disparando. Esses dois
devem ser explosivos na cama.
E eles querem que eu me junte a eles.
Me arrepiei, a ideia cada vez mais atraente.
Exceto pela questão da posse.
Mas Lark estava mostrando um lado muito mais encantador hoje.
Sua arrogância parecia ter dado lugar ao lado carinhoso, algo que
ele demonstrou com o elfo e na maneira protetora que caminhava
ao meu lado agora.
Talvez o selkie tivesse conversado com ele, o que apenas
confirmava por que uma tríade era importante, e fazer parte dela
ajudaria o Príncipe Lark a crescer da maneira certa.
Eu me vi querendo ajudá-lo a crescer também. Talvez não da
mesma maneira.
Balançando a cabeça, tentei me livrar dos pensamentos sensuais
e, em vez disso, me concentrei no chão, já que o terreno estava
repleto de saliências de gelo.
O príncipe mantinha as mãos relaxadas ao lado do corpo, como
se estivesse pronto para me segurar a qualquer momento. Talvez
porque estivéssemos caminhando muito perto da beira da água.
— Sua pele se adapta naturalmente ao clima daqui? — perguntei,
curiosa para saber como ele se protegia do clima. Ainda não tinha
lido sobre essa parte da cultura dos Faes do Inverno.
— Minha magia me protege — ele respondeu com um tom suave,
mas de alguma forma autoritário. A voz de um rei. — Assim como a
sua está te protegendo.
— Você consegue perceber? — perguntei, surpresa.
— Seu dom Elemental me chama — ele disse, as íris cor de
menta encontraram as minhas antes de se fixarem novamente no
caminho à frente. — Assim como a de Kalt.
— Isso é normal? — perguntei. — Você sente os dons de todos
os Faes da Água?
Ele balançou a cabeça.
— Não. Encontrei o Rei Cyrus uma vez, e o dom dele não me
atraiu de forma alguma, mesmo supostamente ele sendo o Fae da
Água mais poderoso.
— Supostamente, não. Ele é o mais poderoso de minha espécie.
— Bem, ele não me chamou a atenção. Não como você e o Kalt.
— Ele deu de ombros. — Isso faz parte do nosso elo de
acasalamento e é por esse motivo que sei que nossos destinos estão
entrelaçados.
Isso parecia um pouco melhor que toda a conversa de você não
tem escolha; você é minha do outro dia. No entanto, as duas
afirmações tinham o mesmo significado. Uma apenas era muito mais
romântica que a outra.
Continuamos a caminhar em silêncio por um tempo, apenas
parando quando um par de focas emergiu para grunhir para Norden.
Ele acenou, sorrindo.
— Amigos seus? — perguntei.
— Irmãos — ele respondeu. — Eles estão me dando um sermão
por estar vestido.
Eu ri.
— Eles não gostam de roupas?
— Selkies preferem pele ou pelo de animais, nada mais — ele
confirmou. — Mas pensei que você se sentiria mais confortável se eu
vestisse algo apropriado para o nosso encontro.
— Ele está mentindo. Eu o fiz usar roupas — Lark disse.
Norden apenas sorriu para nós, sem se desculpar.
— Você também vai usar roupas na coroação — Lark
acrescentou.
O sorriso de Norden se transformou em desafio.
— Só se a Artica concordar em usar uma tiara.
— Uma tiara? — repeti, abrindo a boca. — Por que...
Um som de respingos interrompeu minha fala, chamando minha
atenção para um adorável pinguim de smoking.
Não um smoking literal.
Ele apenas parecia estar usando um com sua pelagem preta e
detalhes brancos.
— Ah, meu Fae, é lindo — eu disse, parando no meio do caminho
enquanto ele sacudia a água do seu casaco.
Norden sorriu.
— Esse aí é um conquistador. Eu deveria saber que ele seria o
primeiro a te cumprimentar. Eu o chamo de Tux — ele disse, se
referindo a tuxedo , a forma contrata em inglês para smoking.
— Bem, olá, Tux — eu disse, agachando para vê-lo. — Eu sou
Artica. É um prazer conhecê-lo.
O pinguim inclinou um pouco a cabeça e depois caminhou na
minha direção para me cutucar com o bico. Eu ri, encantada com
sua atenção.
— Eu não tinha ideia de que os pinguins eram tão amigáveis. —
Nunca vi um, então não sabia o que esperar. Mas as duas raposas
do Ártico que eu vi mais cedo não tinham demonstrado muito
interesse em deixar que eu as acariciasse.
— Eles geralmente não são — Lark respondeu, se agachando ao
meu lado. — Mas a água aqui é encantada. E é o único lugar na
Terra onde eles estão absolutamente a salvo dos humanos, porque
ninguém sabe que eles existem.
— É por isso que os selkies também ficam por aqui — Norden
acrescentou. — Os humanos podem ser cruéis com as criaturas
aquáticas.
— Eles também não são conhecidos por serem gentis com seus
Elementos — murmurei, sorrindo enquanto o pinguim me cutucava
novamente. Dei uma coçadinha em sua cabeça, e ele emitiu um som
suave. — Mas o que você quer dizer com a água estar encantada?
— O clima natural é muito frio para a formação de água — Lark
explicou, seu olhar se voltando para um segundo pinguim se
aproximando, um pouco mais rechonchudo e se movendo devagar.
— Então os humanos não têm ideia de que esses pinguins vivem
aqui em cima. Eles pensam que todos estão no Hemisfério Sul.
— Isso também se aplica a muitas focas — Norden respondeu
enquanto outro par de pinguins se aproximava dele. — Não, eu não
trouxe peixes para vocês hoje. Mas vou ajudá-los a pegar alguns
mais tarde.
Os pinguins emitiram um tipo estranho de som de chamado para
ele, algo que eu nunca ouvi. Mais ou menos como o grasnido de um
pássaro, mas misturado com um tom vibrante. Único e bonito. Eu
queria ouvi-lo novamente.
— Protegemos muitas espécies aqui — Lark disse enquanto
acariciava o pinguim mais rechonchudo. — Portanto, essa água é
derretida por magia e se estende por todo o Círculo Polar Ártico até
o Oceano Ártico. Mas ela é encantada, então tudo o que os humanos
veem é gelo.
— Os animais marinhos conseguem enxergar através do véu —
Norden acrescentou. — Foi assim que os selkies descobriram os Fase
do Inverno.
Lark assentiu.
— Isso aconteceu vários séculos atrás. Os selkies têm sido
nossos aliados desde então.
— Isso é incrível — sussurrei, maravilhada com todas essas
informações. Nada disso estava nos textos que Kalt me deu.
— Se você quer ver algo realmente incrível, deveria me seguir
até aquele monte de neve — Norden balançou as sobrancelhas e
continuou seguindo naquela direção.
A vista da bunda dele certamente era incrível.
Mas eu suspeitava que não era isso que ele tinha em mente.
Pelo menos, não completamente.
Então me despedi dos meus novos amigos pinguins e segui o
selkie.
E quando vi o que nos esperava do outro lado, minha boca se
abriu em espanto.
16

ARTICA

P inguins .
Por toda parte.
Todos com formas e tamanhos diferentes, sugerindo que uma
variedade de espécies vivia aqui. Alguns tinham apenas trinta
centímetros de altura. Outros, chegavam perto da altura do joelho.
Um grupo se aproximou de Norden, como se ele fosse um velho
amigo ou colega.
Ele se sentou no chão, com a mochila ao lado, e deixou as
criaturas menores subirem em seu colo. Lark se juntou a ele e os
dois machos sorriam enquanto os pinguins tagarelavam, fazendo
aqueles sons vibrantes que eu não conseguia definir muito bem.
Então eles olharam para mim e me chamaram.
Me juntei a eles, amando a forma como os animais se aninhavam
ao nosso lado e se aconchegavam como se fôssemos seus blocos de
gelo pessoais.
— Este provavelmente é um dos melhores momentos da minha
vida — admiti rindo enquanto um pinguim puxava minha trança. —
Essas criaturas são adoráveis! — E a espécie do Príncipe Lark as
protegia, dando a elas um lugar para escapar e prosperar.
Uau, eu o tinha julgado completamente errado.
Bem, talvez não completamente.
Mas havia muito para entender sobre os Faes do Inverno e como
eles interagiam com outras espécies. Não era de se admirar que a
Rainha Claire tivesse buscado uma aliança com eles. Esses Faes
tinham uma natureza cuidadosa e eram belos seres feéricos.
Me deitei na neve gelada, rindo enquanto um pinguim menor
subia no meu estômago para se sentar, me tratando como se eu
fosse uma espécie de banco de gelo. Flocos de neve se agitavam no
ar entre nós, criados pela minha magia, apenas para serem levados
em um redemoinho de vento que dançava ao redor da linda criatura.
Entreabri os lábios, surpreendida pela energia mística.
Então percebi que ela vinha do Príncipe Lark.
Ele sorriu para mim e, em seguida, usou seu dom para fazer os
flocos de neve dançarem ao redor de vários outros pinguins,
acariciando as bochechas e bicos deles.
O encantamento alcançou a água, onde meu floco de neve se
dissolveu para se juntar ao riacho encantado.
— Lindo — sussurrei.
— Sim — Lark concordou, com o olhar fixo em mim enquanto
dizia as palavras.
Norden o cutucou.
— Chocolate quente.
O príncipe se assustou e rapidamente pegou a mochila.
— Deve estar tudo bem ainda. Posso usar um pouco de energia
para reaquecê-lo, se necessário.
Norden ergueu as sobrancelhas para mim, cheio de expectativa.
Eu já experimentei o chocolate quente daqui e admitia que era
delicioso, mas a expressão de Norden sugeria que havia algo além
de chocolate derretido no leite.
O príncipe Lark pegou um grande pote, um saco de doces, um
tipo de bastão marrom, um punhado de nuvens brancas fofas e uma
lata prateada. Em seguida, revirou tudo antes de tirar três canecas.
— Ah — ele disse, pegando doces listrados de vermelho e branco. —
Caso queira hortelã-pimenta no seu.
Norden abriu a mochila para pegar um cobertor no qual Lark
colocou tudo e se sentou. Ele bateu a mão no espaço ao seu lado
para que eu me juntasse a ele.
Com relutância, me sentei novamente. Um pinguim me seguiu e
subiu no meu colo para assistir o príncipe trabalhar. Norden
permaneceu no gelo, algo que eu suspeitava ser sua preferência, já
que o cobertor poderia facilmente acomodar ele e mais alguém.
— Então, o truque é aquecer o leite primeiro. — Lark abriu o
pote. — Normalmente em uma fogueira, o que fiz antes de embalá-
lo. Mas podemos usar um pequeno impulso.
Ele colocou a palma da mão sobre a tampa, agitando outra onda
daquela deliciosa energia no ar. Após um momento, ele assentiu, me
mostrando o líquido fervendo.
— Em seguida, vem o chocolate, mas não é qualquer um. — Ele
começou a explicar os ingredientes que seus elfos usavam para o
lote especial, que incluía um toque de caramelo e doce de manteiga
escocesa misturados com flocos de cacau escuro e outros
elementos.
As nuvens fofas, que ele chamava de marshmallows , foram
adicionadas em seguida. Mas não todas. Apenas o suficiente para
derreter no líquido.
A lata prateada continha outro tipo de mistura de chocolate,
desta vez em forma de pó.
— Eu mesmo misturo as especiarias — ele me disse com orgulho.
Norden se esticou, deitado de lado, com o olhar caloroso na lata
enquanto o príncipe Lark começava a adicionar mais de seus
ingredientes especiais.
— Ele nunca me mostrou nada disso.
Franzi a testa.
— Não?
— Não, não mostrei — Lark admitiu. — É um dos meus hobbies
pessoais. Semelhante à forma como Norden se sente em relação ao
seu cabelo.
— Ele espera que isso me convença a deixá-lo me acariciar —
Norden disse, erguendo as sobrancelhas de forma sugestiva.
— Você não o deixa tocar no seu cabelo?
— Normalmente não — Norden respondeu enquanto um pinguim
começava a caminhar até sua perna longa para encontrar um lugar
para se aninhar perto do quadril. — Selkies são muito exigentes com
o cabelo.
— E os Faes do Inverno são discretos sobre as guloseimas
favoritas — Lark acrescentou, me mostrando o bastão marrom. —
Canela. Mas não é só para colocar, e sim mexer exatamente vinte
vezes antes de descartá-lo. Quer fazer as honras?
Entreabri os lábios.
— E-eu? — Ele acabou de me contar a importância dessa bebida,
e queria que eu ajudasse? E se eu estragasse tudo? Arruinasse sua
guloseima favorita ? Engoli em seco. — Hum...
— Eu te ajudo — ele ofereceu, estendendo a palma da mão em
minha direção. — Podemos contar juntos.
— T-tudo bem — gaguejei.
Ele queria segurar minha mão.
Sim, eu poderia... eu poderia permitir isso.
Me aproximei e coloquei a mão na dele. A eletricidade crepitava
entre nós enquanto nossa magia se misturava em nossa pele,
fazendo meu braço tremer.
Ele estava quente.
Confortável.
Como um cobertor aconchegante em um dia frio.
Queria me aconchegar nele, mas me concentrei na tarefa
enquanto ele deslizava o bastão de canela em minha mão. Ele
envolveu meus dedos, garantindo a aderência, e então envolveu a
mão na minha.
— Tudo bem, queremos entrar devagar — ele disse, com a voz
mais baixa do que antes e provocando um formigamento pela minha
espinha.
Porque essa frase poderia ter muitos significados diferentes.
Não agora, meu lado sedento por sexo . Preciso me concentrar.
Mas o grunhido de sua voz enquanto murmurava:
— Sim, assim mesmo — não ajudou a acalmar minha libido.
Engoli em seco, me forçando a me concentrar no chocolate
quente.
Lark começou a contar enquanto movia meus dedos no sentido
horário.
— Devagar e suave — ele disse enquanto completávamos a
segunda volta.
No número cinco, eu me esqueci o que os números significavam.
Tudo o que eu podia fazer era sentir a magia se infiltrar através
dos meus poros e acariciar minha alma com um fogo que nunca
experimentei antes.
E ele mal estava me tocando. Apenas minha mão e o ocasional
roçar de braços, já que estávamos sentados bem perto um do outro.
Estou em grande apuro.
Como Kalt negou esta tríade? A química estava absolutamente
presente. Sim, eu ainda não o conhecia. No entanto, minha alma
parecia compreendê-lo em um nível instintivo. Como se eu pudesse
confiar nele sem pensar ou provocar.
Esse macho nunca me machucaria.
Mesmo que ele tivesse ameaçado me manter .
Ele disse que queria que eu fosse sua rainha. O que isso
significava?
— Vinte — ele sussurrou, me tirando dos meus pensamentos. —
Muito bem, Artica. — Ele guiou minha mão para cima e pegou o
bastão com uma toalha em sua outra mão.
Eu não fazia ideia de onde a toalha tinha vindo.
Nem me importava.
Estava desapontada demais por ele ter acabado de soltar minha
mão.
— Agora, vamos despejar as bebidas e adicionar mais uma
camada de marshmallows por cima — Lark me informou. — A
menos que você também queira um pouco de hortelã-pimenta?
O aroma de notas sensuais atingiu meu nariz, me fazendo
balançar a cabeça.
— Gostaria de experimentar sem primeiro. — Porque o cheiro por
si só era delicioso.
— Boa escolha — Lark respondeu, despejando o conteúdo em
três canecas fumegantes com habilidade.
Ele as cobriu com mais daquelas nuvens fofas antes de soprar
em cada uma. A magia se agitou novamente no ar, sugerindo que
ele acabou de abençoá-las com algum tipo de encantamento Fae do
Inverno. Então ele me entregou a primeira caneca.
Seus olhos verde-menta tinham um tom intrigado, como se ele
estivesse me testando de alguma forma com esse chocolate quente.
Ou talvez estivesse se testando.
Independentemente disso, o cheiro fez minha boca salivar para
experimentar. Então dei um gole com cuidado.
Soltei um gemido e minhas papilas gustativas pareceram aplaudir
os sabores incríveis que explodiram em minha língua.
— Ah, meu Fae — suspirei, bebendo um pouco mais. — Isso é
tão bom!
Era muito melhor que o chocolate quente da cafeteria.
Era como... como felicidade em uma caneca.
A expressão de Lark se iluminou de alegria e um leve alívio em
seus olhos cintilou indicando que passei em qualquer teste que ele
estabeleceu. Norden se sentou e se juntou a nós na manta, suas íris
castanhas cintilando enquanto Lark lhe passava uma das canecas
restantes.
— Obrigado — Norden sussurrou em tom reverente para ele.
Lark acariciou sua bochecha por um momento, piscando e depois
pegou sua própria caneca.
Foi uma troca que não entendi completamente. Talvez Lark não
permitisse que Norden experimentasse seu chocolate quente com
frequência? Ele tinha dito que era um prazer particular. O que
significava que ele estava me presenteando com um pedaço de si
mesmo através dessa delícia líquida.
Dado o quanto era saboroso, eu entendia por que ele mantinha
isso só para si. Era a bebida mais deliciosa que já tive o prazer de
saborear.
Lark começou a beber por último, com uma expressão satisfeita
enquanto todos nós desfrutávamos do nosso chocolate quente em
um silêncio amigável.
Tantas palavras não ditas pareciam flutuar pelo ar.
Um pedido de desculpas de Lark. Um perdão tímido de minha
parte. Uma intriga sensual de Norden.
Se essa era a ideia de cortejo deles, eu aprovava. Porque essa
caneca de gostosura fae era divina.
Terminei-a muito rapidamente, com os marshmallows derretendo
em minha boca com o líquido fumegante.
— Isso foi incrível — eu disse. — Obrigada pela experiência.
Lark assentiu, com os olhos brilhando.
— Obrigado por permitir.
Norden sorriu, já tendo acabado seu chocolate quente também.
Ele permaneceu na manta, mas manteve uma mão apoiada no gelo,
como se precisasse desse toque frio para ficar firme.
— O jantar deve chegar em breve.
— Chegar? — repeti.
— Hum-hum — ele murmurou de forma não comprometedora. —
Você gostaria de patinar no gelo enquanto isso? Ou conhecer mais
pinguins?
Meu interesse foi imediatamente despertado.
— Patinar no gelo? — repeti. Essa era uma das minhas atividades
favoritas em casa antes da Academia. Tínhamos uma pista bem na
rua da minha casa, que nunca derretia, graças à magia da Água Fae.
— Acho que isso é um sim — Lark murmurou enquanto
começava a guardar todos os itens do chocolate quente em sua
bolsa.
— Há um lugar ali, atrás daquela pilha de neve. — Norden
apontou com um movimento de cabeça. — Uma superfície sólida e
lisa de gelo, perfeita para dar algumas voltas de patins. Quer
experimentar?
Fiquei animada.
— Sim, por favor! — Mas... franzi a testa. — Mas não tenho
patins. — E eu duvidava que ele tivesse trazido algum que me
servisse.
— Sorte sua ter um amuleto dos desejos — Norden murmurou,
olhando para o colar de flocos de neve pendurado em meu suéter.
Meus dedos tocaram as bordas.
— Ah, sim. Você sabe o que é isso?
— Sei exatamente o que é — Norden confirmou. — O que
significa que você pode pedir patins, para você e para nós também.
— Ele olhou para Lark. — Ele não queria colocar nada afiado nas
bolsas.
— Segurança em primeiro lugar — o príncipe respondeu, sem
remorso.
— Verdade. — Norden olhou para mim, sua sobrancelha cor de
chocolate se elevando até a linha do seu cabelo. — Então, Sunshine?
O que será?
Eu sorri. Nem precisava pensar muito sobre isso. Porque
obviamente iríamos patinar no gelo.
— Três pares de patins a caminho.
17

ARTICA

O P ríncipe L ark e N orden patinavam muito bem .


Não era surpreendente, dada a herança deles.
Mas os dois pareciam igualmente encantados com a minha
habilidade. Dei algumas piruetas e saltos, mostrando meus dons na
patinação artística, adicionando apenas um toque de magia da água
pelo caminho.
Minha afinidade com o gelo me tornava graciosa de uma forma
que não conseguia replicar em terreno normal. Eu dançava pelo
espaço congelado, ziguezagueando, pulando e seguindo minha
própria melodia.
Quando, de repente, uma presença fez minha nuca se arrepiar.
Um par de olhos que eu não esperava sentir.
Kalt.
Ele estava na borda do gelo, usando camisa azul de botões que
abraçava seu torso, o botão de cima aberto para revelar o pescoço.
Calça cinza enfeitava suas pernas. E seus pés usavam um par de
sapatos pretos com aparência cara.
Não exatamente apropriado para o inverno.
No entanto, ele mantinha uma camada isolante, assim como eu,
que protegia sua pele.
Quase tropecei com a visão inesperada.
Norden me segurou pelos quadris, me puxando para cima em um
movimento que parecia ensaiado, mas era completamente
coincidência.
— Eu te seguro — ele sussurrou em minha orelha, me girando
para encará-lo em vez de Kalt. Engoli em seco, sentindo um arrepio
que nada tinha a ver com o frio percorrendo minha coluna.
— Obrigada — murmurei, segurando seus antebraços enquanto
ele continuava a patinar.
— Ele trouxe o jantar — Norden explicou baixinho, me guiando
com delicadeza na direção onde o Príncipe Fae da Água estava.
Lark já tinha saído do gelo.
Uma visão que sugeria que Kalt estava ali por, pelo menos,
alguns minutos.
Eu não tinha certeza se isso me agradava ou não.
Ele cresceu vendo Faes da Água no gelo, o que tornava minha
habilidade nada especial. Embora eu tenha ganhado vários prêmios
pela minha graciosidade quando mais jovem. Então talvez eu
pudesse patinar melhor do que a maioria.
O que eu podia fazer no gelo, compensava em terra de tão
desajeitada que era.
Norden apertou meus quadris.
— Pronta para jantar, Sunshine?
O apelido aqueceu um pouco o meu coração, o fato de ele tê-lo
usado a noite toda era algo que eu poderia me acostumar.
— Sim, estou com fome — admiti, meu estômago se contraindo
em concordância.
Norden sorriu.
— Com fome de comida, ou...?
Pisquei, seu rosto bonito parecia me convidar a responder da
maneira que eu desejasse. Se eu dissesse que era por ele,
provavelmente me tomaria no gelo. Talvez até enquanto
patinávamos.
Kalt pigarreou, me dizendo que estávamos perto o suficiente para
que ele pudesse ouvir a conversa. Olhei para ele e quase
escorreguei novamente.
Ele trouxe o jantar .
Depois de dizer que ficaria fora por uma semana.
Mas ele está aqui.
Com comida.
Os lábios de Norden roçaram minha bochecha, me trazendo de
volta ao sexy selkie.
— Você patina lindamente, Sunshine — ele me disse baixinho. —
Como uma estrela dançando pelo céu iluminado pela lua.
Minha pele esquentou com o elogio.
— Obrigada.
— Ele tem razão. Sua afinidade com o gelo só a torna ainda mais
fascinante. — Lark estendeu a mão para mim, me convidando para a
neve. Pisei nela com sua ajuda, então Norden se ajoelhou ao meu
lado para começar a desamarrar os patins.
Eu quase disse a ele que poderia fazer isso sozinha, mas as mãos
de Lark foram para os meus quadris para me ajudar a ficar de pé e
meu cérebro se esqueceu de como fazer as palavras saírem.
Seus olhos verde menta me cativaram, me mantendo refém de
seu olhar sedutor.
Novamente, me ocorreu o quanto esse fae era bonito, com seus
traços elegantes adequados a um rei. Mas havia uma bondade nele
que eu não percebi na sala do trono.
— Gosto mais de você aqui fora — sussurrei, sem realmente
pensar no que estava dizendo. — Você... é mais legal.
Ele riu, mas o som quebrou um pouco o encanto e fez meus
lábios se separarem.
— Ah, quero dizer... Não quis dizer... Bem, quis dizer, mas eu...
ah, droga. — Eu tinha estragado tudo, e bem na frente do meu
chefe.
Sim. Eu era a pior estagiária de todas.
— A sala do trono me lembra da minha ascensão iminente —
Lark respondeu, seu toque queimando através da calça legging até a
magia acariciando minha pele.
Eu podia senti-lo provar meu encantamento com sua essência de
Fae do Inverno, tocando a magia do meu isolamento e se maravilhar
com sua mecânica.
Uma sensação bem estranha.
Mas bem-vinda.
— O que eu quero dizer é que a sala do trono me faz sentir...
impaciente — ele finalmente acrescentou. — E, infelizmente,
descontei essa impaciência em você.
Seu aperto se intensificou enquanto Norden libertava meu pé de
um dos patins.
— A maioria dos Príncipes Faes do Inverno nem mesmo tenta
uma ascensão sem sua tríade em vigor. No entanto, meu pai
acredita que é a minha hora, então não tenho escolha a não ser
tentar. E estou ficando ansioso para reivindicar o que minha alma
sabe que é meu.
— Como você sabe que é seu? — perguntei em voz alta. —
Todas as pesquisas que fiz dizem que os círculos de acasalamento
dos Faes do Inverno geralmente têm várias candidatas femininas.
— Verdade, mas não na minha linhagem familiar. Meu pai
reconheceu seus companheiros de imediato, assim como meu avô.
— Seu aperto se intensificou novamente enquanto Norden removia o
outro patim.
Minha postura vacilou por um breve instante, apenas para ser
corrigida pela firmeza de Lark. Percebi que ele nunca me deixaria
cair. Estava escrito claramente em seus traços.
Esse homem mal me conhecia, mas me considerava sua.
— Nossa família atua como um condutor para a Fonte dos Faes
do Inverno — ele continuou. — O que significa que estamos muito
sintonizados com as necessidades e desejos de nossas almas. E isso
facilita conhecermos nossos destinos.
— Ah — sussurrei, sem ter certeza do que dizer.
Felizmente, ele não tinha terminado.
— Sei quem são meus companheiros destinados. Mas uma parte
chave disso tudo é a crença. Só porque sei algo não significa que
você — ele piscou e olhou para Kalt — ou você — ele disse antes de
voltar seu olhar para mim — acreditam nisso.
Bem, essa certamente era uma explicação melhor do que a que
ele me deu na sala do trono. Ele basicamente ridicularizou os Faes
da Água por acharem que tinham escolha. O que, para ele, não
tínhamos, porque sua alma lhe dizia que pertencíamos a ele.
— Mas chega disso, vamos comer — ele falou, sorrindo. — Estou
ansioso para experimentar o que Kalt trouxe para nós.
Norden apareceu ao meu lado, já vestindo suas botas.
— Eu também — ele segurou os três pares de patins pelos
cadarços e liderou o caminho de volta para o cobertor.
Onde várias sacolas de papel nos aguardavam.
Sacolas que Kalt devia ter trazido de algum lugar com sua
capacidade de nebular.
Olhei para ele.
— Oi.
Ele sorriu e suas covinhas apareceram.
— Se divertindo?
— Eles têm pinguins — eu disse. — Então, sim. Me divertindo
muito.
Ele riu e balançou a cabeça.
— Você se impressiona fácil.
— Pinguins, Kalt — repeti. Isso não me tornava fácil de
impressionar. — Pinguins são impressionantes.
Vários deles cercaram nosso cobertor como que para provar meu
ponto. Eles não tentaram pegar nossa comida, só relaxaram e
seguiram as indicações de Norden. Claramente, ele tinha algum tipo
de vínculo com as criaturas.
— Quantas espécies existem? — perguntei, observando as
variações de cores e tamanhos.
— Várias — ele respondeu, dando de ombros enquanto se
esticava ao lado do cobertor novamente no gelo. — O Polo Norte
recebe todos os tipos de criaturas do Ártico. Mas alguns desses caras
vêm de muito longe. Eles migram de todo o mundo, a magia deste
lugar os chama.
Kalt começou a distribuir pratos e talheres enquanto Norden
começava a falar sobre os outros tipos de vida selvagem que
existiam por ali.
Os ursos polares eram os que mais me interessavam.
— Posso conhecer um?
Norden sorriu.
— Eles não são muito simpáticos.
— Ele diz isso porque um deles tentou comê-lo quando ele era
um filhote de foca — Lark acrescentou, com divertimento em seu
tom de voz.
— Viu? Eles não são muito simpáticos — Norden repetiu,
franzindo a testa.
Lark deu de ombros.
— Ele me respondeu muito bem.
— Porque você acenou seus dedos mágicos para ele.
Basicamente, todos se rendem quando você faz isso. — Norden
olhou para Kalt. — Bem, quase todos.
Kalt o ignorou.
Lark apenas sorriu.
— Alguns são mais fáceis de domar que outros.
Norden resmungou.
— Se você acha que estou domado, claramente não tem
prestado atenção.
— Eu nunca sonharia em te domar, Nor — Lark murmurou, o
apelido era algo que eu ainda não o tinha ouvido usar.
Nor era fofo.
E a forma como as bochechas de Norden ficaram coradas me
disse que ele também gostou.
Quase perguntei se deveria chamá-lo assim também, quando um
cheiro familiar fez meu nariz se contrair. Finalmente, foquei no que
Kalt retirou das sacolas, e meus lábios se entreabriram.
— Bife de dragão?
— Com bolinhos de salada e cogumelos como acompanhamento
— Kalt respondeu. — Ah, e hidromel. Porque não podemos nos
deliciar com a culinária dos Faes Elementais sem isso. — Ele pegou
duas jarras e quatro copos.
— Você trouxe comida dos Faes Elementais para mim? —
Lágrimas se formaram em meus olhos. — Achei que você tinha dito
que não deveríamos comê-la aqui.
— Foi ideia deles — Kalt falou, fazendo um gesto para Lark e
Norden. — Eles queriam experimentar algumas de nossas
especialidades. Pedi ajuda ao Vox. Os bifes de dragão são dele.
Sorri ao ouvi-lo mencionar o companheiro da Rainha Claire. Vox
era um Fae do Ar com talento para cozinhar.
— Ele também me falou algo sobre gordura de troll — Kalt
continuou, franzindo a testa. — Eu... não tenho certeza... se quero
experimentar.
— O que ele disse sobre gordura de troll? — perguntei.
— Que é como bacon? — Kalt parecia inseguro.
Lark engasgou.
Norden deu um resmungo.
— Você não é fã de gordura de troll? — Kalt arriscou.
— Não sou fã de carne de porco — Lark corrigiu.
— Porcos ? — repeti, horrorizada. — Vox gosta de comer porcos?
— Não, mas parece que a Rainha Claire adora bacon, então ele
faz gordura de troll para ela. — Kalt soava tão desgostoso quanto
eu.
— Não quero experimentar isso.
— Que bom. Porque eu também não quero — Kalt admitiu,
fazendo careta. Em seguida, ele colocou um bife de dragão no meu
prato, junto com uma boa porção de salada e cogumelos.
Quase me derreti diante da visão de alguns dos meus pratos
favoritos de casa.
O hidromel veio em seguida.
Um silêncio agradável se estabeleceu enquanto todos nós nos
deliciávamos com nossas refeições.
18

ARTICA

N orden e L ark me surpreenderam ao experimentarem tudo sem


julgamento, até comentando que o bife estava muito bom. No
entanto, Norden parecia bastante perplexo com a ideia de comer o
animal, já que era amigo de alguns Dragões Faes.
— Você conheceu um Dragão Fae? — perguntei, chocada. — Eles
não são raros?
— Muito — ele confirmou. — Mas conheci dois. Eles estavam
vagando no Reino Humano, procurando possíveis companheiros.
Arregalei os olhos.
— Companheiros humanos?
Ele deu de ombros.
— Não existem fêmeas Dragões Faes. Então, assim como os Faes
do Inverno, eles tendem a se relacionar com outras espécies. O
vínculo torna um humano imortal. Portanto, funciona para eles.
— Humm — murmurei, intrigada enquanto dava outra mordida.
— Na verdade, esses bifes não são feitos de dragões — Kalt
explicou enquanto eu mastigava. — É um tipo de planta em nosso
reino com uma textura parecida com carne. Assim como os
cogumelos.
— Mas os hambúrgueres de orc são de verdade — falei. — Eles
são uma espécie de besta que gostam de atacar os Faes Elementais.
Em vez de queimar os corpos, nós os comemos. Mas só matamos
aqueles que tentam nos ferir. — O que correspondia à maioria. Eles
eram criaturas vis e sem cérebro, que não pensavam além de uma
raiva assassina.
— Hambúrgueres de orc — Norden repetiu, franzindo a testa. —
Não tenho certeza se gostaria de experimentar.
— São bons quando defumados — Kalt explicou, dando de
ombros. — Mas os peixes que você pegou e assou para mim são
melhores.
O rosto de Norden se iluminou.
— Então você comeu meus presentes?
Kalt deu de ombros.
— Sou um Fae Elemental. Não desperdiçamos recursos.
— Humm, só isso? — Norden parecia completamente indiferente
à resposta descontraída de Kalt. — O Lark também gosta dos meus
peixes.
O príncipe concordou enquanto terminava o último pedaço do
prato. Em seguida, ele tomou um grande gole de hidromel. — Me
conte mais sobre a questão dos Faes do Inferno. — Ele se virou para
Kalt. — O que Typhos fez agora?
— Não é o que ele fez, é o que está planejando fazer — Kalt
respondeu, com a expressão sombria. — Ele está fazendo acordos
para conseguir fêmeas. E ninguém sabe quando ele pretende cobrar
esses acordos ou o que planeja fazer com elas.
— Entendo. — Lark coçou a linha suave de sua mandíbula. — Ele
ainda pretende comparecer à minha coroação?
— Ele me disse que o Príncipe Melek vem em seu lugar — Kalt
respondeu. — Mas, pela minha experiência, Typhos, que a maioria
conhece como Lúcifer , nunca deixa Melek ir longe demais. Ele é
muito protetor com seu companheiro.
Lark assentiu.
— Então devemos esperar pelos dois.
— Sim. E a Rainha dos Faes da Meia-Noite disse que estará
presente com todos os seus parceiros também — Kalt continuou, me
fazendo sorrir.
Eu gostava da Rainha Aflora. Eu a conheci quando ela visitou a
Rainha Claire na Academia dos Faes Elementais. Ela era muito fofa.
Seria bom vê-la novamente.
Kalt e Lark continuaram discutindo os vários convidados, com um
relatório completo sobre cada um, me fazendo perguntar se foi o
Príncipe Lark ou a Rainha Claire quem deu a Kalt a tarefa de
acompanhar todos os Faes Inter Reinos presentes.
Norden se aproximou de mim e pegou meu prato vazio para
colocar em cima do seu.
— Posso escovar seu cabelo? — ele perguntou baixinho, sem
querer interromper a discussão política que acontecia ao nosso lado.
— Quero ver como ele fica ondulado depois da trança.
Quase ri. Esse homem e seu fetiche por cabelos...
— Posso escovar o seu também?
Ele assentiu, animado.
— Sim. Eu adoraria isso. — E a maneira como ele respondeu me
disse que ele não estava mentindo.
Ele se virou em direção à sua mochila, mas Lark já lhe entregava
uma escova, tendo ouvido nossa conversa.
— Também quero escovar seu cabelo mais tarde — ele disse,
soltando o cabo em sua mão.
O selkie ficou paralisado por um momento, depois assentiu
lentamente.
— Certo.
— Certo — Lark repetiu antes de voltar à sua conversa com Kalt.
— Você não o deixa escovar seu cabelo? — perguntei em um
sussurro baixo.
— Normalmente não. Mas ele me deixou tomar o chocolate
quente hoje, o que foi um presente muito íntimo. Então vou retribuir
o favor hoje à noite. — Ele me entregou a escova. — Segure isso,
por favor. E não deixe tocar na neve. É um objeto de família. — Em
seguida, ele se acomodou atrás de mim, desta vez sem tocar no
gelo.
Estudei o cabo dourado e as cerdas finas enquanto ele começava
a soltar minha trança. Seus dedos trabalhavam rapidamente, mas
sem puxar ou beliscar, com o toque habilidoso sendo uma
experiência agradável em meu couro cabeludo.
Quando ele terminou, estendeu a mão para pegar a escova
novamente e começou a passá-la pelo meu cabelo. De forma muito
gentil e suave, começando pela ponta e subindo, a técnica de
cuidado claramente aperfeiçoada ao longo de sua vida.
— Todos os selkies valorizam os cabelos? — perguntei.
Ele murmurou em confirmação antes de acrescentar:
— Nosso cabelo contém a magia das peles de foca. Precisamos
cuidar de cada fio para garantir que nossa magia de transformação
permaneça.
— Então quando alguém toca seu cabelo...? — não terminei a
frase, incerta de como completá-la, mas estranhamente
compreendendo ao mesmo tempo.
— Nossa magia se mistura com a essência do outro ser — ele
concluiu por mim. — É por isso que só permitimos que nossos
companheiros ou potenciais companheiros toquem nosso cabelo. É
uma espécie de cortejo para minha espécie. Uma forma de testar
nossa compatibilidade mágica.
— Mas você não deixa o Lark escovar seu cabelo? — questionei,
confusa. — Ele é seu companheiro, certo?
— Faço parte de sua tríade — ele respondeu lentamente. — Eu
me preocupo com ele. Permito que ele toque meu cabelo com
moderação. Mas também desejo uma companheira fêmea. E é com
ela que quero me unir através da magia da minha pele. Assim como
o Príncipe Lark não compartilhou seu chocolate quente comigo até
compartilhá-lo com você.
Aquilo era... pesado .
Tipo, muita informação.
Detalhes que eu não estava certa se estava pronta para ouvir.
Porque esse selkie basicamente acabou de dizer que me permitiu
brincar com sua magia desde o primeiro encontro porque ele sabia
que eu era sua companheira fêmea.
— Os selkies têm parceiros destinados? — perguntei com a voz
um pouco rouca.
— Não, mas minha magia agora está ligada à magia dos Faes do
Inverno. Na verdade, é a magia dos Faes do Inverno mais poderosa
de todas, já que o Príncipe Lark é o futuro rei. Portanto, estou muito
consciente da minha alma, assim como ele, e foi como eu soube
quem você era no momento em que chegou a este reino.
Ele se inclinou para frente e deu um beijo em meu cabelo,
parando a escova perto da minha coluna.
— Não precisa ter medo — ele acrescentou em um sussurro
baixo, tocando os lábios em minha orelha. — Não vamos te
pressionar, Artica. Estou apenas tentando responder às suas
perguntas com honestidade, pois o Lark diz que essa é a chave para
um relacionamento positivo.
O príncipe bufou, me dizendo que ele e Kalt tinham ouvido cada
palavra. Mas eles continuaram sua discussão política, nos dando a
ilusão de privacidade mais uma vez.
— Vamos trocar de posição — eu disse, com um leve tremor na
voz. Porque aquilo foi uma insinuação, algo que os olhos de Norden
me disseram que ele ouviu quando mudou de posição para se sentar
na minha frente.
Mas, em vez de comentar, ele simplesmente me entregou a
escova e empurrou todo o seu cabelo castanho para trás, para que
eu pudesse pentear.
Comecei com os dedos, observando que a textura sedosa era
exatamente a mesma de antes, e suspirei pela qualidade cintilante
de cabelo.
Agora que eu sabia mais sobre sua espécie, podia sentir a sutil
vibração de energia formigando em meus dedos. Isso despertava
meus instintos de Faes da Água, me convidando para brincar. Mas eu
nunca congelaria seu belo cabelo. Talvez eu o acariciasse com um
pouco de água fresca ou criasse uma escova de cerdas de gelo para
penteá-los.
No entanto, usei o objeto em minha mão, passando-o ao longo
das mechas e suspirando diante da bela cascata de fios castanhos.
Deslumbrante.
Levei o meu tempo, assim como ele fez, aproveitando o
momento e permitindo que a magia fluísse em minhas veias.
Essa poderia ser a minha vida , percebi. Rodeada por esses três
homens, desfrutando de experiências encantadoras como essa, pelo
resto da minha existência .
Mas Kalt se recusava a aceitar esse destino.
Agora eu podia sentir sua resistência, o peso dela pairando no ar
enquanto ele mantinha tudo estritamente profissional com o Príncipe
Lark.
Uma pontada de decepção se seguiu, vinda Príncipe Fae do
Inverno. Porque ele precisava que Kalt acreditasse na tríade, que
acreditasse nele .
O que aconteceria se o Príncipe Lark não tivesse nossa confiança
até a coroação?
Faltava apenas uma semana.
O tempo diminuía a cada segundo perdido.
E Kalt estava se levantando para partir. Terminamos nossa
refeição e ele afirmou que precisava voltar para suas tarefas.
As expressões nos rostos de Norden e Lark me diziam que eles
sabiam que Kalt estava mentindo. Ou talvez eu tenha percebido isso
pela atmosfera desconfiada ao nosso redor.
Algo estava muito errado.
Por que Kalt não acreditava neles? Eu entendia que ele não
queria qualquer laço que o impedisse de alcançar seus sonhos, mas
talvez precisasse considerar um novo sonho.
Um sonho onde ele vivesse feliz como Príncipe Fae do Inverno,
unido ao Rei Fae do Inverno. Liderando a alegria e as festividades do
mundo.
Se entregando à paixão e à felicidade.
Sorrindo todos os dias.
Havia outras maneiras de ser um herói além de ser um fae
durão.
Às vezes, os faes mais fortes venciam suas batalhas ao colocar
um pouco de sentimento na situação. Mas seu olhar gélido me disse
que ele não estava considerando nada disso agora. Ele nem mesmo
me abraçou para se despedir.
Apenas disse:
— Espero que tenha gostado da refeição — e partiu com as
sacolas de papel nas mãos.
Suspirei, afundando de volta em Norden. Ele havia se
posicionado atrás de mim novamente, com seus dedos de volta aos
meus cabelos. Mas a escova foi cuidadosamente guardada em uma
das mochilas.
— Ele vai mudar de ideia — prometeu.
Balancei a cabeça.
— Não tenho tanta certeza. Ele está determinado a seguir um
caminho de solidão.
O Príncipe Lark encarou o espaço que Kalt acabou de ocupar,
apertando os lábios em uma linha sombria.
— Devemos voltar. Preciso me encontrar com Holly novamente
para discutir os arranjos de assentos, agora que mais faes são
esperados para a coroação.
Um tom mais sombrio invadiu sua voz, me lembrando do príncipe
que conheci outro dia. O arrogante picador de gelo que me tratou
como um objeto.
Em vez de comentar, me levantei, comunicando com meu corpo
que o obedeceria nesse momento, embora meu coração ansiasse
por mais alguns minutos, por mergulhar novamente na existência
feliz que havíamos criado aqui.
Dei um passo, tentando seguir em direção ao gelo, mas meu pé
ficou preso na manta. O mundo começou a girar, mas Lark segurou
minha cintura com um braço forte, me puxando para trás até que
minhas omoplatas encontrassem seu peito.
Fiquei imóvel enquanto o abraço enviava faíscas quentes através
das minhas veias para cada terminação nervosa. Era bom senti-lo
contra mim. Todas as linhas duras e masculinas. Força personificada.
Um alfa em seu auge.
— Está tudo bem? — ele perguntou perto do meu ouvido, aquele
tom sombrio desaparecendo sob a preocupação em sua voz.
Engoli em seco, assentindo.
— Sim. Sou muito mais graciosa no gelo que em outras
superfícies.
Ele riu.
— A maior parte dos faes é o oposto.
— A maior parte dos faes não têm afinidade com a água —
murmurei.
— Verdade — ele concordou, deslizando as mãos para os meus
quadris enquanto me erguia para me colocar no gelo.
Imediatamente me senti mais estável.
— Obrigada — sussurrei. — Obrigada pelo dia de hoje. Obrigada
pelos presentes. Obrigada por respeitar o cortejo.
Ele pareceu congelar atrás de mim e, então, bem devagar, me
virou para encará-lo.
— Eu nunca quis desrespeitar o cortejo — ele me disse com
seriedade. — Nunca colocaria algo tão especial em risco de
propósito, Artica. É meu dever proteger e honrar você como minha
rainha destinada. — Ele estendeu a mão para ajeitar uma mecha
solta do meu cabelo atrás da orelha. — Sinto muito por agir de
forma contrária. Não vou cometer esse erro novamente.
Ah, Fae, eu queria beijá-lo.
Ele parecia tão arrependido, tão triste .
Nenhum ser Fae do Inverno deveria ficar em tal situação de
conflito, machucado ou decepcionado consigo mesmo.
Talvez fosse em parte por causa da partida abrupta de Kalt. Ou
talvez o príncipe sentisse que estava falhando em todos os aspectos.
Mas eu não podia deixá-lo continuar assim. Ele precisava saber que
eu acreditava nele o suficiente para saber que resolveria isso, que
ele deu vários passos na direção certa esta noite.
Talvez eu não estivesse pronta para me tornar sua rainha ou sua
companheira ainda.
Mas eu sentia o potencial.
E acreditava que talvez fôssemos destinados um ao outro.
Então fiquei na ponta dos pés e dei um beijo em seus lábios
cheios.
Um gesto audacioso, algo que nunca fiz antes. No entanto, esse
príncipe precisava saber que ele tinha meu apoio. E se ele
continuasse nessa direção, eu talvez entregasse meu coração a ele
também.
Ele subiu a mão da base da minha coluna até minha nuca,
entrelaçando seus dedos em volta do meu pescoço enquanto
retribuía meu abraço. Seu calor era uma sensação bem-vinda que
derreteu todas as minhas inibições.
Deslizei a língua em sua boca, envolvendo-o em um beijo muito
mais profundo do que eu havia planejado inicialmente. Mas ele
parecia tão certo. Tão perfeito. Tão meu.
Uma noção surpreendente.
Uma centelha de esperança bonita.
Ele realmente é destinado a ser meu , sussurrou meu espírito Fae
da Água enquanto eu me envolvia facilmente com ele não apenas no
primeiro nível de vínculo, mas também no segundo.
Foi tão inesperado que roubou meu fôlego.
Meu pulso acelerou, minhas veias se iluminaram com um fogo
que eu parecia não conseguir controlar. Segurei seus ombros
musculosos, querendo mais, meus pés começando a arder por ficar
naquela posição por muito tempo.
Comecei a escorregar, mas seu braço me segurou com facilidade,
sua boca reivindicando a minha com uma ferocidade que eu sentia
até em minha alma.
Foi intenso, bonito, uma paixão avassaladora.
E exatamente o que eu sonhei durante a noite.
Talvez tenha sido o Lark que desejei o tempo todo.
Não, com certeza foi o Kalt.
Mas agora também era o Lark.
E o Norden.
Ah, Fae, eu estava em apuros.
O olhar do Príncipe Lark tinha um brilho de admiração e
adoração enquanto ele finalmente se afastava, com o rosto bonito
iluminado pelo desejo.
— Você se vinculou a mim.
— No segundo nível — sussurrei, minhas bochechas queimando.
— Eu... eu não quis...
— Não estou chateado com isso — ele respondeu, sorrindo.
— C-como funciona o vínculo para os Faes do Inverno? —
gaguejei, me culpando por não ter pesquisado o suficiente. Li tudo
sobre círculos de companheiros e como os faes eram de todos os
reinos, mas na verdade não encontrei informações sobre como o
processo de acasalamento funcionava, exceto que era baseado em
crença.
— Nós não temos níveis — ele murmurou, movendo a mão da
nuca para minha bochecha. — Nós apenas... acreditamos.
Eu franzi a testa.
— Então, o que acontece se alguém parar de acreditar?
Ele ponderou sobre isso por um momento e deu de ombros.
— Eu não sei. Nunca vi acontecer.
— Porque nunca aconteceria — Norden acrescentou, o calor do
seu corpo de repente se fazendo presente nas minhas costas
enquanto se juntava a nós. — Minha crença no nosso círculo é
inabalável. É por isso que Kalt me considera agressivo. Isso não é
uma característica selkie. Nós somos sensuais, sim. Seguimos nossos
corações. Mas é minha crença inabalável no que significamos um
para o outro que impulsiona minhas ações.
Ele deu um beijo em meu pulso, fazendo meu corpo estremecer.
— Mas acho que já tivemos cortejo suficiente por hoje — ele
continuou. — Você recebeu muitas informações. Então vamos
acompanhá-la de volta ao seu quarto e deixá-la com seus livros.
— A menos que queira voltar para o meu quarto... — Príncipe
Lark se interrompeu, seu olhar focado no selkie atrás de mim. —
Certo, você precisa estudar. Outra noite.
Olhei por cima do ombro, tentando captar qualquer expressão
que Norden deu a ele. Mas tudo que encontrei foi um sorriso
secreto.
Por mais que eu quisesse aceitar a potencial oferta do Príncipe
Lark, Norden provavelmente estava certo. Eu tinha muitos mais
livros para ler antes da próxima semana.
E eu precisava de um momento para pensar em tudo isso.
Apenas dois dias atrás, eu tinha sido inflexível de que o Príncipe
Lark teria que se humilhar por um ano antes que eu o perdoasse por
aquela cena na sala do trono.
No entanto, uma noite em sua presença e eu acasalei com ele no
segundo nível.
Kalt teria sentido, já que estávamos acasalados também.
Felizmente, os Faes Elementais podiam ter mais de um
companheiro, senão minha alma estaria em sérios apuros agora.
Limpando a garganta, assenti.
— Sim, eu deveria voltar para a minha leitura.
— Talvez um de nós possa encontrá-la para o café da manhã
amanhã? — Norden sugeriu. — Na cafeteria?
— Eu gostaria — admiti, meu coração se aquecendo com a ideia
de ter alguém com quem compartilhar uma refeição. — Só me avise
a que horas.
— Ou eu posso buscá-la — ele ofereceu. — Assim você não vai
dormir demais.
Curvei os lábios.
— Isso pode ser sensato.
— Sim, esse é o Norden. Muito sensato — o Príncipe Lark disse,
sorrindo. Ele me deu um beijo na bochecha antes de me soltar e
pegar uma das mochilas do chão.
Aparentemente, Norden esteve ocupado arrumando tudo
enquanto Lark e eu compartilhávamos nosso, ah , momento de
acasalamento.
O selkie pegou a segunda mochila, então se abaixou para se
despedir de seus amigos pinguins.
— Estarei de volta em uma hora para pescar — prometeu a eles.
— Eles te entendem? — perguntei.
— Não minhas palavras, apenas minhas intenções — ele
respondeu, se endireitando. — Você vai aprender que minhas ações
sempre falam mais alto do que minhas palavras.
Ele piscou e liderou o caminho novamente, me fazendo ponderar
seu comentário durante todo o caminho de volta para o meu quarto.
Suas ações realmente diziam muito sobre suas intenções.
Porque suas ações eram sublinhadas por uma clara crença.
Ele me permitiu pentear seu cabelo hoje à noite, um ato claro de
confiança, que confirmou que ele realmente esperava que eu me
tornasse sua companheira.
Assim como Lark.
E quanto a Kalt?
19

KALT

F ogo dos F aes , murmurei , andando de um lado para o outro nos


portões da Academia dos Faes Elementais.
Eu pretendia enevoar para a Casa do Chanceler que a Rainha
Claire construiu alguns anos atrás, mas acabei aqui porque meus
instintos estavam em tumulto, me instigando a voltar para o Reino
dos Faes do Inverno.
Eu tinha acabado de deixar Artica com Norden e Lark.
E embora confiasse muito neles, uma parte sincera de mim
ansiava voltar para eles, para ver onde a noite nos levaria.
Mas também não queria saber.
Mas podia sentir.
Artica acabou de iniciar outro vínculo de acasalamento.
Rangi os dentes de frustração, sentindo a alma dilacerada entre o
alívio e a agonia.
Ela é minha , continuava dizendo.
Não. Ela não é , era a resposta da minha mente.
Pelo amor de Fae, o que há de errado comigo?, me questionei,
andando de novo. Norden me deixou perturbado com seus avanços,
me fazendo lamentar ter que dizer não mais de uma vez.
Mas isso estava me dilacerando.
A ideia de Artica estar com Norden e Lark sem mim era... bem,
era péssimo. Era mais do que péssimo. Doía quase tanto quanto os
antigos campos da morte no Reino dos Espíritos.
Porque foi para lá que minha alma fugiu.
Se sentindo despedaçada e destruída.
Uma sensação que eu não esperava sentir. Sim, Artica e eu
éramos compatíveis em muitos aspectos. Eu a achava atraente e
inteligente, e sua alegria encantadora fazia meu coração doer só de
pensar nela.
Mas eu não a amava.
Não, eu não podia amá-la.
Pronto, assim era melhor. Eu não tinha permissão para me sentir
dessa maneira.
Claro, minha alma não concordava, já que continuava a me
arrastar, me fazendo caminhar o resto do caminho até a Casa do
Chanceler no topo da colina, porque minha capacidade de me
enevoar não estava mais funcionando.
Caramelos.
Isso tinha que se controlar logo ou eu teria que usar um portal.
A ideia me fez tremer. Porque, caramba, não poder enevoar me
fazia sentir fraco.
Mas a sensação de Artica acasalando com outro macho também
fazia com que eu me sentisse assim.
Quando cheguei à porta da Rainha Claire, estava provavelmente
no pior humor da minha vida.
Então, naturalmente, meu primo, Cyrus, foi quem me
cumprimentou.
— Bem, você não aprece estar bem.
— Obrigado, primo — murmurei, passando por ele com todas as
sacolas que Vox me deu. Comemos a comida toda, mas as louças
eram dele.
— É bom te ver também — Cyrus disse com desdém atrás de
mim. — Que picador de gelo te cortou?
— Uma certa beleza Fae da Água que não percebe que sua voz é
celestial — respondi sem hesitar.
Cyrus enevoou para a cozinha, bloqueando minha entrada.
— Artica?
Eu o encarei.
— Saia da frente.
— Só depois que você me contar o que congelou suas bolas. —
Ele se apoiou no batente da porta e cruzou os braços. Seu corpo era
aproximadamente do mesmo tamanho que o meu, tornando
impossível empurrá-lo para sair do meu caminho. — Fale. Esse
príncipe Fae do Inverno ainda está tentando te reivindicar?
Rangi os dentes.
— Você sabe que sim.
Ele assentiu.
— Futuros reis tendem a ir atrás do que querem. Não é mesmo,
pequena rainha?
— Pare de importunar seu primo, Cyrus — a Rainha Claire
respondeu atrás de mim. — Ele está tentando devolver as louças do
Vox.
— Ele pode se enevoar com elas para a cozinha então. — Cyrus
arqueou uma sobrancelha branca. — Certo?
Eu realmente queria socá-lo.
— Minhas habilidades de enevoar parecem ter falhado de tanto
usá-las hoje.
Ele resmungou.
— Essa é a desculpa para sua alma tumultuada?
— Você consegue sentir?
— Sou seu primo e seu rei. É claro que posso sentir — ele
retrucou, finalmente saindo do meu caminho. Mas não me deixou
sozinho.
Não. Ele me seguiu até a cozinha.
E continuou a me atormentar sobre minha alma fragmentada .
— Talvez, se você tentasse, não sei, abraçar a ideia de acasalar
com o Príncipe Lark e o Norden, você se sentiria mais completo —
ele ofereceu. — Ou você pode tentar se entregar ao vínculo de
primeiro nível que sinto entre você e a Artica.
— Eu realmente não aprecio sua visão sobre minha vida amorosa
— resmunguei.
— O Cyrus não é conhecido por cuidar da própria vida — Exos
disse ao entrar na sala com um copo vazio. — Claro, não preciso te
dizer isso, Kalt. Você está bem ciente das travessuras do meu irmão.
— Mais como hábitos irritantes — uma terceira voz disse quando
Titus se juntou a eles. O Fae do Fogo de cabelos avermelhados foi
direto para a geladeira, pegando algum tipo de suco vermelho que
ele bebeu direto da embalagem.
O que lhe rendeu um sibilo quando Vox apareceu na entrada da
cozinha.
— Titus! Use um copo!
Titus o ignorou, em vez disso, e se sentou à mesa segurando a
embalagem como se fosse seu primogênito.
E falando em crianças, Sol, o companheiro Fae da Terra de Claire,
entrou por último com uma criança sentada em seus largos ombros.
— Kalt — ele cumprimentou.
— Sol — respondi e elevei o olhar para o lindo garotinho em seu
ombro. — Olá, Ciro.
O menino murmurou algo ininteligível em resposta.
— Ele também está dizendo oi — Sol traduziu para mim.
Claire olhou para ambos com carinho antes de se encostar ao
lado do gigante Fae da Terra.
— Diga ao tio Kalt que ele deve voltar para o Reino dos Faes do
Inverno e deixar o Príncipe Lark reivindicá-lo — Cyrus arrulhou,
estendendo a mão para acariciar a bochecha do filho com o polegar.
— Tecnicamente, ele não é um tio — Vox apontou em tom
casual. — Mais como um primo de segundo grau, acho?
— Bom o suficiente para ser um tio — Cyrus murmurou. —
Porque ele é um Príncipe Fae da Água inteligente, assim como você,
Ciro. Acho que você seguiria o seu coração e alma, não é? Sim, você
seguiria.
Eu não sabia o que me preocupava mais: se era o fato de meu
primo estar falando sobre mim com voz de bebê ou o fato de ele
estar conversando com seu filho sobre minha vida amorosa como se
fosse uma espécie de plataforma para conselhos de
relacionamentos.
— Deixe o Kalt em paz, Cyrus — a Rainha Claire disse,
pressionando a palma da mão contra o abdômen dele e o
empurrando em direção ao balcão atrás de si.
— Tecnicamente, é meu dever não deixá-lo em paz. Tanto como
seu rei quanto como membro da família — Cyrus apontou. — Na
verdade, eu poderia exigir que ele se entregasse ao Príncipe Lark e
eliminasse todas as dúvidas de uma vez por todas.
— Mas você não vai fazer isso porque não quer irritar a sua
companheira — a Rainha Claire disse com firmeza.
Cyrus semicerrou o olhar.
— Você sabe como eu me sinto em relação a desafios, pequena
rainha.
— Você não vai querer me desafiar nessa — ela retrucou.
— Ei! — Titus disse de repente, chamando nossa atenção para a
mesa. — Eu estava bebendo.
— Não, você o estava contaminando — Vox respondeu enquanto
a embalagem de suco girava no topo da sala em uma onda de ar.
Chamas cintilaram nas pontas dos dedos de Titus quando ele se
levantou.
— Devolva-o, ou vou queimar sua bunda. E não do jeito que
você gosta.
— Certo, essa é a minha deixa para ir — falei, colocando tudo no
balcão ao lado de Cyrus. — Obrigado pelas louças, Vox. Eles
adoraram o bife de dragão.
Comecei a me esgueirar para sair da cozinha muito pequena, que
normalmente era bastante grande, mas encolheu devido aos cinco
companheiros de Claire terem se juntado a nós no espaço, mas
Cyrus me segurou pelo braço.
— Vou te acompanhar até lá fora — ele disse. Seu tom perdeu o
tom de brincadeira e adotou um de seriedade que me dizia que não
era um pedido, mas uma ordem.
Suspirando, assenti.
Porque o que mais eu poderia dizer?
Ele não falou até estarmos do lado de fora, tendo afastado a mão
de meu braço para me dar pelo menos alguns centímetros de
espaço. Mas a expressão séria em seu rosto sugeria que aquele era
o limite.
— Por que você não aceita a proposta do Príncipe Lark? — Cyrus
perguntou. — Posso sentir sua compatibilidade. Então sei que não é
por falta de interesse. É porque você a quer para si?
— O quê? Não. — Diante de seu olhar persistente, repeti: —
Não. Eu nunca exigiria isso dela, não quando ela é compatível com o
Príncipe Lark e com o Norden também. — Passei os dedos pelo
cabelo e soltei o ar. — É... é complicado.
Cyrus olhou para a casa, curvando os lábios para baixo.
— É a ideia de um círculo de companheiros que te preocupa?
— Sim. Não. — Balancei a cabeça. — Não do jeito que você
pensa.
— Então compartilhar não te incomoda?
— Isso te incomoda? — contra-argumentei, achando a pergunta
absurda. — Círculos de companheiros são a epítome do verdadeiro
amor. Lark e Norden se amam. Eles vão amar Artica tanto quanto,
assim que a conhecerem de verdade.
— Você está preocupado que eles não vão te amar também?
— Não, não estou preocupado com isso — murmurei de volta
para ele. — Não quero os laços obrigatórios de um relacionamento,
outras vidas para me preocupar além da minha.
— Mas você não vê que o propósito da vida é amar? — Cyrus
perguntou. — O amor é o que nos faz querer levantar pela manhã, o
que nos dá razão para existir. Sem ele, quem somos?
Eu o encarei.
— O amor é um fardo que vem com responsabilidade e potencial
de fracasso.
Ele resmungou.
— O fracasso faz parte do processo de relacionamento, primo. E,
acredite em mim quando digo, sexo de reconciliação? Sim, vale o
fracasso ou o erro que o precedeu.
— Não quando o fracasso pode levar à morte da pessoa amada
— retruquei.
Sua expressão ficou séria.
— Kalt...
— A ascensão do Príncipe Lark está ligada à crença, Cyrus. E se
eu não acreditar o suficiente? E se minhas preocupações sobre o
que poderia dar errado acabarem se tornando realidade? — Engoli
em seco, sentindo a garganta apertar com as palavras que eu não
queria dizer, mas sentia a necessidade de fazê-lo para que ele
entendesse. — Não acho que conseguiria viver comigo mesmo se
isso acontecesse.
Cyrus ficou em silêncio por um momento, algo raro para ele, o
que significava que ele estava processando minhas palavras.
— Por que você não acredita nele?
— Eu acredito — admiti. — Eu... só me preocupo que não seja o
suficiente.
— Você não saberá até tentar — ele respondeu após uma pausa.
— E se você desistir antes mesmo de tentar, então sua crença nunca
foi digna dele ou de seu círculo de companheiros.
Meu coração doeu com suas palavras e minha alma se revoltou
dentro de mim com o erro delas.
Porque aquilo não era verdade.
Minha crença era digna.
Eu só... estava com medo de aceitar.
— Nosso destino nem sempre é o que pensamos que deveria ser
— ele continuou. — Nunca previ a situação de compartilhar uma
companheira com meu meio-irmão. Claro, temos nossos problemas,
mas essa vida... é mais do que eu poderia ter pedido, melhor do que
um sonho. Não sei o que fiz para merecer, mas agradeço à Fonte
todos os dias por torná-la minha realidade.
Ele deu um passo à frente, batendo a mão no meu ombro.
— Sua alma entende seu destino melhor do que sua mente
jamais entenderá — ele acrescentou. — Não ignore seus instintos. E,
por favor, não despreze seu coração. É o condutor da nossa alma e o
que torna a vida digna de ser vivida.
Cyrus me abraçou, um abraço que retribuí porque não havia
percebido o quanto precisava de um até sentir sua força ao meu
redor.
— Vou te apoiar não importa o que você decida, Kalt. Espero que
saiba disso. — Ele me deu um beijo na cabeça antes de me soltar. —
Somos uma família. Não importa o que aconteça.
Assenti enquanto minha garganta se apertava e minha visão
embaçava de leve.
— Obrigado — consegui dizer com dificuldade.
Ele assentiu em resposta.
— Tem algum lugar onde gostaria que eu te enevoasse?
Considerei a ideia, mas balancei a cabeça.
— Não. Preciso enfrentar as consequências das minhas ações
agora.
Ele inclinou o queixo.
— Aí está o Fae Real que eu conheço. Me avise quando consertar
as coisas.
— Pode deixar — disse, engolindo em seco. — Até semana que
vem.
Ele sorriu.
— Mal posso esperar.
E assim, meu primo brincalhão substituiu o Rei Fae da Água.
A próxima semana seria um momento para apreciar e lembrar
por toda a vida...
Ou um completo e total desastre.
Rezei pelo primeiro e temi o segundo.
Enquanto caminhava lentamente em direção à Academia para
encontrar a temida sala do portal.
Geada, vai fazer frio . Porque algo me dizia que minha
capacidade de isolamento também estava prestes a falhar.
20

NORDEN

E u encontrava A rtica todas as manhãs para o café enquanto L ark


cuidava de seus deveres de coroação. Ele se juntou a nós em duas
noites, desfrutando de um passeio ao ar livre em uma ocasião e em
um piquenique com os pinguins na outra.
Mas ele sempre dava espaço para Artica, querendo que ela
tomasse a iniciativa novamente.
Era importante para a base de nossa tríade que ela seguisse seu
coração e escolhesse acreditar em nosso futuro.
Eu podia sentir essa crença se fortalecer a cada dia.
Mas a ausência de Kalt lançava uma sombra escura sobre todos
nós.
A coroação aconteceria em doze horas, e ele ainda não retornou.
Ele se comunicou com Lark algumas vezes sobre assuntos políticos.
Mas havia uma sensação geral de apreensão pulsando em nosso
círculo de companheiros.
E isso estava causando coisas estranhas em todos nós.
Como durante nosso passeio com os pinguins ontem à noite, a
técnica de isolamento de Artica falhou.
Ah, e outro dia, durante o café da manhã, ela acidentalmente
atirou um pingente de gelo pela cafeteria e acertou uma das tortas
de limão no buffet. Ela estava apenas apontando, mostrando onde
encontrou sua barra de limão, e... acabou lançando uma adaga de
gelo nela.
Vários elfos aplaudiram com entusiasmo enquanto ela olhava
chocada para a destruição com clara vergonha.
Contei a Lark sobre o incidente.
E ele testemunhou o ocorrido ontem à noite.
E, esta manhã, eu a encontrei em seu quarto, coberta por uma
pilha de neve.
Enquanto dormia profundamente.
Era por isso que eu estava de vigia em sua porta, para garantir
que isso não acontecesse novamente esta noite.
Porque algo estranho estava acontecendo, e eu suspeitava que
tinha a ver com o desaparecimento contínuo de Kalt.
Lark pediu para ele enevoar para uma reunião, mas o Fae da
Água insistiu em conduzi-la por meio de videochamada em seu
tablet de gelo.
— Ele pode estar se escondendo da intensidade que está se
formando entre todos nós — Lark comentou. — Mas suspeito que há
algo mais acontecendo. Algo parece errado, e não apenas por causa
de sua negação.
Assenti em concordância.
— Fique de olho na Artica — ele acrescentou. — Ela pode estar
sofrendo os efeitos colaterais da... crença minguante do Kalt.
Foi na manhã seguinte ao incidente do gelo, confirmando suas
suspeitas.
Mas a pilha de neve era o que realmente me preocupava.
— Você não vai fazer isso de novo, Sunshine — eu disse
enquanto relaxava na porta dela.
Considerei bater, mas não queria interromper seus estudos.
Então, me apoiei novamente...
— Pff — murmurei quando a madeira atrás de mim se moveu.
— Você planeja ficar no corredor ou vai entrar? — Artica
perguntou.
Ela estava usando um short de seda fofo e regata combinando.
Chinelos de rena cobriam seus pés delicados.
Relaxei, satisfeito em olhar para ela dessa posição. Aquele short
mal chegava ao meio de suas coxas. E também era folgado,
proporcionando uma visão tentadora da renda por baixo.
— Acho que vou ficar bem aqui, se você não se importar — eu
disse. — A vista é incrível.
Ela franziu a testa para mim, então percebeu o que eu quis dizer
e corou.
— Ah, seu selkie escorregadio!
— Escorregadio é algo que aprecio, sim — admiti, sorrindo
enquanto ela dava alguns passos para trás.
Eu virei de barriga para cima, em seguida me levantei do chão
com habilidade para segui-la.
— Devo demonstrar, Sunshine? — perguntei e fechei a porta
atrás de mim com o calcanhar da bota. — O que posso fazer com a
língua? — Olhei para a embalagem vazia em sua mesa. — Ou seus
sonhos forneceram uma demonstração suficiente?
— Sonhos? — ela pigarreou.
— Sim, sonhos. — Peguei a embalagem e a coloquei na lixeira,
em seguida, procurei outro doce selkie em sua mesa. Enviei
diariamente para ela, os pequenos cristais brancos deliciosos
cobertos de açúcar e pensamentos agradáveis que geralmente
levavam a alguns sonhos selvagens.
Ela semicerrou os olhos.
— O que há nesses doces?
— Me conte sobre seus sonhos, e eu te direi o que tem nos
doces selkies — retruquei.
— Você tem me drogado?
Eu ri.
— Não, Sunshine. Estou apenas te cortejando com doces.
— Doces que induzem sonhos eróticos?
— Doces que mostram o que você deseja — eu disse a ela, com
sinceridade. — Os doces selkies intensificam as sensações e
expectativas, mostrando o que você deseja e permitindo que você
experimente tudo em seus sonhos.
Foi assim que eu soube exatamente o impacto que os doces
teriam nela.
Mas isso não vinha ao caso.
A mente de Artica criava a fantasia. Eu apenas ajudei a incentivá-
la com alguns doces.
Seus lábios se abriram.
— D-Doces de sonho?
— Humm — murmurei. — Outro nome para isso, na verdade.
Alguns também os chamam de combustível para aspirações, mas
são feitos com um toque de magia selkie. Por isso, o termo
apropriado é realmente doces selkies.
— Magia do cabelo?
— Apenas a essência — expliquei. — Um selkie permite que um
fabricante de doces o acaricie enquanto os cria, por isso é um doce
raro. Não são muitos selkies concordam com o processo.
Ela franziu a testa.
— Então alguém te acariciou ao fazer esses doces?
— Ninguém, Sunshine. Você é a única autorizada a me acariciar
— garanti a ela. — Na verdade, não sei qual selkie ajudou nisso. Só
fiz o pedido e os enviei para você a semana toda.
Me joguei em sua cama, que era do tamanho perfeito para um
grupo de quatro pessoas. Também era longa, o que proporcionaria
alguns prazeres deliciosos.
Ela mordeu o lábio inferior.
— Então, os doces são o motivo de eu continuar sonhando com...
— Sexo? — sugeri, fazendo-a franzir a testa. — Eu te devorando?
Kalt te comendo até a exaustão? Lark te penetrando por trás? —
Virei de lado, apoiando a cabeça na mão. — Por favor, compartilhe,
Sunshine. Estou morrendo de curiosidade.
Suas bochechas vermelhas eram adoráveis.
— Não consigo decidir se te amo ou te odeio neste momento.
— Ah, com certeza é o primeiro — garanti a ela. — E você me
amaria ainda mais se me permitisse realizar alguns desses sonhos.
— Dado o quanto estive excitada durante toda a semana, você
quase me deve isso — ela murmurou entre dentes.
Me sentei, feliz em atender a esse pequeno resmungo.
— Me permita te compensar, minha linda. Vou te devorar assim
como você devorou aqueles doces.
Ela me lançou um olhar.
— Não deveria ter te convidado para o meu quarto.
— Mas convidou.
— Porque você estava sentado no corredor.
— Como você sabia disso, aliás? — perguntei, genuinamente
curioso. — Você me sentiu?
— Pude sentir o seu cheiro — ela respondeu.
Franzi a testa.
— Sentir meu cheiro? — Quase levantei o braço para verificar
meu odor.
Mas suas bochechas coraram naquela adorável tonalidade
vermelha novamente.
— Como sal marinho e noz-moscada. O beijo do oceano. Um
perfume que é muito a sua cara.
Ah, agora eu gostei disso.
— Me conte mais.
Ela suspirou.
— Você é incorrigível.
— Estou apaixonado — eu a corrigi. — Bem, estou a caminho
disso, de qualquer maneira. Você é meu coração, Sunshine. Seu
desejo é uma ordem para mim.
Ela me encarou boquiaberta.
— Agora você está me declarando amor?
— Você está tão surpresa assim?
— Nós nos conhecemos há uma semana!
— Quase dez dias, na verdade — eu a corrigi, pensando nos
nossos últimos cafés da manhã e no dia em que nos conhecemos. —
E minha alma sabe o que quer, algo que deixei claro desde o
momento em que te conheci.
Ela piscou.
— Bem, isso é verdade.
— Eu não minto. Não escondo. E não traio de jeito nenhum. —
Me sentei na cama e me acomodei contra a cabeceira. — Também
não vou te pressionar, Artica. Posso provocar, mas entendo
perfeitamente a palavra não .
— Eu não estou dizendo não — ela hesitou.
— Estou ciente disso, só quero ter certeza de que você sabe que
entendo e valorizo o consentimento. — Sorri. — E adoraria ouvir
mais sobre as suas fantasias. Quero dizer, sonhos.
Ela soltou um longo suspiro e então balançou a cabeça rindo.
— Só você, Norden. Só você.
Meus lábios se curvaram para baixo.
— Você só fantasia comigo? — Isso não podia estar certo. Ela se
vinculou a Kalt e Lark através de sua alma Fae Elemental. Também
devia estar pensando neles.
— Não, quero dizer que só você poderia me provocar a ponto de
eu querer admitir meus sonhos em voz alta — ela disse, se deitando
ao meu lado na cama. — Mas sabe o que acho que eu gostaria
mais?
Inclinei a cabeça, meu coração selkie batendo um pouco mais
forte no peito.
— Me diga e eu te satisfarei de qualquer maneira que você
desejar. A menos que você queira que eu vá embora. Aí posso ficar
um pouco desapontado.
Ela sorriu.
— Não quero que você vá embora, Norden. — Ela se aproximou
um pouco mais. — Eu... eu gostaria que você ficasse.
— Vou ficar o tempo que você quiser — prometi a ela. E depois,
durante a noite, no corredor, porque não vou te deixar sufocar em
um monte de neve .
Provavelmente estava relacionado ao pesadelo que tive na noite
passada. Eu estava nadando, como costumo fazer em meus sonhos,
quando senti uma presença perturbadora. Então eu a segui, e
encontrei uma mecha do cabelo iluminado pelo sol de Artica
flutuando de forma ameaçadora na água gelada.
Acordei assustado e corri para o quarto dela.
Para encontrá-la na neve.
Fingi que tinha vindo cedo para o café da manhã, mas o
pesadelo foi o que me fez chegar naquele momento.
E não conseguia me livrar daquela sensação sinistra que pairava
sobre nosso círculo de companheiros.
Artica devia ter sentido também, porque pareceu aliviada que
concordei em ficar. Ela se inclinou um pouco mais, o pingente de
floco de neve brilhando intensamente contra sua pele.
Kalt provavelmente achou que eu não sabia a importância do
colar, mas estudei os diversos reinos e suas magias por anos. Então
reconheci o encantamento que envolvia o pingente.
O pingente reluzente significava que sua alma era compatível
com a minha, e não apenas isso.
Ela me desejava .
O floco de neve revelava as intenções de uma companheira. Se
seu coração estivesse sombrio em relação ao meu, isso já teria se
manifestado.
O mesmo valia para Lark e Kalt.
Ela desejava a nós três, e seu coração era puro e verdadeiro.
Ela era nossa rainha destinada, disso eu não tinha dúvidas. E
provavelmente era por isso que Lark me confiou a segurança dela.
Ele sabia que eu entendia a importância dela e, além disso, também
acreditava no lugar de Artica ao nosso lado.
Kalt ainda era o nosso único problema.
Algo que eu pretendia resolver assim que ele voltasse.
Porque eu estava cansado desse jogo de perseguição.
Ele precisava aceitar nossa tríade, aceitar Artica e apoiar nosso
futuro rei.
A palma da mão de Artica encontrou minha bochecha, seu olhar
inquisidor.
— Você está pensando muito em alguma coisa. É sobre a
coroação de amanhã?
Assenti, já que tecnicamente estava relacionado a isso.
— Você precisa ficar com Lark?
— Não, ele está com o pai agora — disse a ela. — Revisando os
detalhes de última hora. Ele vai chamar se precisar de mim.
— Chamar? — ela repetiu.
Pressionei a palma da minha mão em seu coração.
— Sim, chamar .
— Ele pode fazer isso?
— É como um puxão de necessidade — respondi, sem afastar a
mão. — Posso sentir ele por dentro, assim como posso sentir você e
o Kalt. Se alguém estivesse com dor ou precisando de mim, eu
saberia. — Foi assim que soube que havia algo de muito errado com
Kalt.
E pela expressão de Artica, ela também sentia, ou pelo menos,
sentia algo ameaçador, assim como eu e Lark.
Porque ela estava mais próxima de se juntar à nossa tríade do
que poderia entender.
Não havia uma cerimônia ou união de almas como em sua
herança Fae Elemental.
Nossa conexão era baseada em compreensão e aceitação da
retidão entre nossos espíritos. Tudo impulsionado por aquela famosa
palavra por aqui: crença .
O olhar dela foi para a minha boca antes de lentamente voltar
para os meus olhos.
— Você está quente.
Eu sorri.
— Porque estou contente de estar com você.
— Também estou contente de estar com você — ela sussurrou.
— Contente o suficiente para me contar sobre seus sonhos? —
perguntei, arqueando as sobrancelhas.
Ela balançou a cabeça.
— Não. — Meu coração começou a afundar, mas ela se
aproximou um pouco mais, o que fez minha mão deslizar para o seu
seio. Ela não se afastou, em vez disso, se aproximou de mim até que
seus lábios quase tocaram os meus. — Mas estou contente o
suficiente para compartilhá-los com você. — Sua boca acariciou a
minha, sua respiração de hortelã era como um beijo sedutor que eu
ansiava provar. — Estou contente o suficiente para mostrá-los a você
também.
Eu gemi, seu convite era algo que eu nunca poderia negar.
— Me mostre — sussurrei. — Me diga o que fazer, Artica.
Porque eu faria qualquer coisa que ela pedisse.
Desde que ela nunca parasse de me tocar.
Ela se sentou em cima das minhas coxas, aproximando seu calor
delicioso do meu pau que agora pulsava.
— Me beije, Norden.
Quem era eu para dizer não a um pedido tão precioso da minha
Sunshine?
Minha Artica.
Minha futura rainha.
21

ARTICA

N orden tinha gosto de biscoitos de caramelo salgado .


Viciante. Uma mistura de doce e salgado. E deliciosamente
feérico.
Eu queria devorá-lo. Beijá-lo por toda a eternidade. Me perder
em seu abraço pelo resto dos meus dias.
Porque, uau, Norden sabia beijar.
Ele levou o seu tempo, sua língua provocando a minha,
aprendendo minhas preferências e intensificando as sensações ao
introduzir seus próprios métodos.
Curvei os dedos dos pés e contraí as pernas contra suas coxas
enquanto sua mão se enrolava no meu pescoço.
Ele usava jeans e suéter novamente, o traje parecia ser o seu
favorito quando não estava brincando na água gelada. Passei os
dedos pelo tecido de algodão escuro que cobria seu peito, adorando
a forma como seu calor natural transparecia através do tecido.
Um ronronar leve saiu dele, ou talvez fosse um rosnado sutil. Eu
não tinha certeza, mas isso me indicou que ele aprovava meus
carinhos .
Em seguida, passei os dedos pelo seu cabelo, tendo cuidado para
não emaranhar as mechas sedosas.
Depois, desci meu toque para seus ombros, de volta para seu
peitoral, e segui o músculo definido do seu torso até a barra perto
de seus quadris.
— Nos meus sonhos, você está sem camisa — sussurrei.
— Só sem camisa?
— No começo — esclareci, puxando o suéter para cima para
revelar seu abdômen definido.
Ele ergueu os braços, facilitando que eu o tirasse.
Me concentrei em arrumar seu cabelo, meus dedos
automaticamente penteando as mechas e garantindo que elas
emoldurassem seus ombros musculosos.
Norden sorriu, me dizendo que eu tinha feito a coisa certa.
Então, seu olhar pecaminoso me desafiou a fazer mais.
Eu o beijei novamente, desta vez liderando com a língua e
adorando como ele correspondeu a cada movimento. Ele estava me
dando o controle, permitindo que eu brincasse e fosse tão longe
quanto desejasse.
Ele tinha falado sério sobre consentimento.
E isso apenas aumentava ainda mais minha paixão por ele.
Nosso vínculo Fae Elemental se encaixou, nos colocando no
mesmo nível que eu e Lark. Mas eu mal sentia, consumida pelo calor
que pulsava em minhas veias.
Estive sonhando com Kalt, Lark e Norden a semana toda. E
embora esses doces selkies pudessem ser parcialmente culpados, eu
duvidava que eles fossem o único motivo.
Porque sonhei com Kalt por anos.
Norden e Lark eram novos, mas essa conexão com eles era
inegável.
Eu os sentia dentro de mim, indo mais fundo a cada dia.
Talvez fosse a alegria das festas. Ou essa atmosfera feliz. Talvez
fosse apenas minha alma finalmente encontrando homens dignos do
meu coração.
Independentemente disso, escolhi abraçá-los.
Porque foi quem eu escolhi ser. Uma crédula. Tomadora de risco.
Uma sonhadora.
Puxei a regata pela cabeça, precisando sentir a pele quente de
Norden contra a minha.
Ele era tão suave e macio, assim como seu cabelo. O que me fez
pensar se isso se aplicava a todas as partes de seu corpo.
Queria beijar cada centímetro dele. Explorá-lo com a língua.
Traçar cada detalhe muscular.
Meus lábios tocaram os dele a caminho de seu pescoço,
mordiscando e lambendo as veias masculinas até seu ombro largo.
Tão atlético e firme. Tão elegante e perfeito.
Ele não me agarrou, acariciou ou fez um único movimento, em
vez disso, permitiu que eu liderasse no meu próprio ritmo.
O selkie perfeito.
Meu lindo Norden.
Agradeci com os olhos, segurando seu olhar enquanto deslizava
de seu colo para continuar minha exploração.
Seus músculos se contraíram, demonstrando seu controle.
Eu podia ver a necessidade irradiar nas íris cor de chocolate.
— Parece que você está pronta para me comer, Sunshine — ele
murmurou. — E eu tenho que te dizer que estou muito bem com
isso.
Sorri contra seu abdômen.
— Você tem gosto de sal marinho e chocolate. — Eu não tinha
ideia de como isso era possível, mas isso não tornava menos
verdadeiro.
— É uma combinação do encantamento do mar com meu
sabonete em barra — ele respondeu, os nós dos dedos roçando
minha bochecha. — Os elfos fazem uma infinidade de produtos.
Tenho certeza de que já experimentou alguns no banho.
— Gosto do shampoo de cereja — admiti. — E o de coco. —
Porque me lembra Kalt.
— Hum, cerejas. Me pergunto se é esse o gosto entre as suas
coxas. — Os tons acentuados de Norden eram graves, vibrando pela
minha pele e de alguma forma conseguindo me acariciar no lugar
que ele acabou de mencionar.
Mordi o botão de sua calça jeans, apertando as pernas enquanto
eu lutava contra o desejo de deixá-lo fazer o que quisesse comigo.
— Qual é o seu gosto? — perguntei a ele, meus dedos se
juntando a minha boca para abrir a calça. Baixei o zíper com os
dentes, apenas para perceber que ele estava nu sob o tecido. Sem
cueca. Apenas cem por cento homem.
— Abra a boca e descubra — ele me desafiou.
Meus lábios se curvaram.
— Isso faz parte da fantasia.
Suas íris se fundiram em anéis de chocolate escuro, e sua
sensualidade engrossou o ar.
— Também faz parte da minha.
Arqueei uma sobrancelha.
— Você também tem comido doces selkie?
— Todas as noites desde que você chegou — ele respondeu, sua
voz com sotaque me acariciando profundamente, me incitando a
satisfazer nossos desejos ao mesmo tempo.
Mas primeiro, me concentrei em meu plano inicial, abrindo sua
calça com minha língua para traçar seu pau longo e grosso até a
cabeça. Uma gota de líquido pré-ejaculatório esperava por mim, me
dando uma introdução inebriante ao seu sabor doce e salgado.
— Como caramelo salgado — sussurrei.
Ele sorriu.
— Existem benefícios para alguns dos doces.
Eu inclinei minha cabeça.
— É por isso que você prefere biscoitos salgados de chocolate?
Ele deu um toque no meu nariz e balançou as sobrancelhas.
— Você está aprendendo.
— Humm, tenho comido muitos desses. — Segui minha admissão
com outra longa lambida.
— Perfeito — ele gemeu, entrelaçando os dedos em meu cabelo
para agarrar as mechas com gentileza. — Espero que esta fantasia
inclua você gozando na minha língua.
— Sim — prometi em um sussurro, com meus lábios perto da
ponta de seu pênis. — Mas só depois que você gozar na minha
garganta. — Envolvi a boca ao redor dele enquanto usava as mãos
para puxar sua calça para longe de seus quadris.
Ele gemeu, seu aperto aumentando apenas o suficiente para me
dizer que ele aprovava. Então ele rosnou quando o soltei para
terminar de tirar a calça jeans.
Em algum momento, ele tirou as botas. Talvez quando se deitou.
Eu não tinha certeza, nem me importava. Fiquei feliz em terminar o
trabalho tirando as meias e deixando-o nu na minha cama.
— Posso ver por que o Lark prefere você neste estado. — Algo
que conclui do comentário sobre o banho de gelo em sua suíte.
Norden sorriu.
— Você me lisonjeia, Sunshine. Obrigado.
— É uma bajulação bem-merecida — garanti a ele, rastejando de
volta para beijar sua ereção.
Mas desta vez ele segurou meu cabelo e me puxou para cima,
seu olhar queimando com paixão revelada.
— Eu deveria estar adorando você.
— Essa deveria ser a minha fantasia.
— E sua fantasia é explorar meu corpo para contentar seu
coração? — Ele parecia bastante satisfeito com isso. — Bem, minha
fantasia é exatamente o oposto, Sunshine. Envolve te comer com
minha língua até você desmaiar de tanto gritar.
Estremeci.
— O-oh. — Isso era definitivamente, hum... — Certo. Sim. Eu
acho. Quero dizer, sim, por favor. — Saiu um pouco apressado e
complicado, mas ninguém jamais falou comigo de forma tão crua e
direta antes.
Eu… eu até gostei.
Ele sorriu como se pudesse dizer que apreciei a honestidade.
Então ele me beijou com força, sua boca me dizendo que o que
ele me mostrou antes era apenas uma introdução suave.
Este era seu verdadeiro eu, o metamorfo sensual que sabia
exatamente como destruir uma mulher com algumas carícias de sua
língua. E seu sorriso disse que ele também iria gostar.
Ele me virou de costas, seus lábios deixando os meus para seguir
pelo meu pescoço até meus seios.
E, ah meu Fae, nenhum macho jamais foi tão completo em
lamber e mordiscar cada centímetro do meu peito.
Ele não foi direto para os mamilos como qualquer outro homem
que eu conhecia. Não, ele me beijou em todos os lugares, exceto no
pico rígido, garantindo que eu estava praticamente chorando e
implorando antes de finalmente tomar aquela minha parte dolorida
entre os lábios.
Gemi, passando os dedos em seu cabelo enquanto eu o segurava
contra mim, me certificando de que ele sugasse a área sensível até o
fim.
Então ele foi para o outro monte, repetindo tudo e capturando a
ponta sensível entre os dentes.
— Norden . — Quase gozei, sentindo as pernas tremerem com
uma necessidade que eu nunca experimentei fora dos meus sonhos.
O sexo puro e não adulterado aquecendo o ar entre nós quase
me sufocou, me deixando tremendo e implorando por muito mais.
Meu short desapareceu.
Seguido pela calcinha de renda, algo que ele removeu com os
dentes, arrastando-a centímetro por centímetro pelas minhas coxas
antes de colocá-la cuidadosamente no travesseiro ao meu lado. Ele
foi reverente sobre isso, como se não quisesse arriscar destruir o
tecido.
— Eu gosto dela — ele explicou, notando a pergunta em meus
olhos. — Vou comprar muitas para você, mas em cores diferentes.
Esta era de um azul escuro que combinava com meus olhos.
— Que cor você vai comprar primeiro?
— Rosa — ele respondeu imediatamente. — Para combinar com
sua carne bonita e molhada.
Ah, Fae ... Minha pele estava pegando fogo, suas palavras e
sotaque fazendo algo sensual comigo por dentro.
E aqueles olhos.
Doce geada , eram os olhos mais atraentes que eu já vi.
Redemoinhos castanho chocolate de luxúria e promessas
tortuosas. Ele se sentou de cócoras, me examinando, contemplando
seu próximo movimento, ou talvez apenas admirando a vista.
Me apoiei nos cotovelos, querendo retribuir, porque toda a pele
beijada bronzeada e os músculos vigorosos eram dignos da minha
profunda apreciação.
Ele era lindo.
Mais de um metro e oitenta de homem forte, mas com uma
suavidade subjacente de um ser que se importava com sua
aparência. Ele cuidava de sua pele e cabelo, e demonstrava.
— Tenho uma confissão a fazer — ele sussurrou, seu olhar ainda
acariciando minhas curvas. — Tive várias fantasias diferentes com
você, Artica. E não sei qual delas quero trazer à vida primeiro.
Curvei os lábios.
— Sei como é isso. Eu tive várias com você... e Kalt... e Lark.
— Sempre juntos? — ele perguntou, inclinando a cabeça um
pouco.
Engoli em seco.
— Às vezes um de cada vez. — Saiu em um sussurro. — Mas
geralmente acaba... com todos nós.
— Você quer que eu os convide agora? — Era uma pergunta
honesta, sua expressão cheia de curiosidade.
— O Kalt não virá — confessei, meu coração se apertando com a
admissão. — E, hum, eu gosto que seja só você. Por agora. — A
ideia dos três ao mesmo tempo me intimidou. Enquanto Norden...
ele era doce, suave e carinhoso.
E claramente sabia como agradar a uma Fae.
— Tem certeza? — ele perguntou, com as mãos nos meus
tornozelos enquanto gentilmente afastava minhas pernas para
revelar minha carne íntima ao seu olhar. — Lark se juntaria a nós de
bom grado, se você precisar de nós dois.
— Tudo que eu preciso e quero agora é você — afirmei com a
voz baixa e terminando em um gemido.
Porque o jeito que ele estava me olhando... me fez sentir muito
viva. Muito completa, Necessitado demais.
— Por favor, Norden — murmurei. — Quero sentir...
Me inclinei para fora da cama quando sua língua encontrou
minha umidade, seu toque e precisão absolutos. Ele não perdeu
tempo em me mostrar o que poderia fazer com a boca e as mãos,
deslizando as palmas das mãos pelas minhas coxas até meus
quadris.
Ele chupou, lambeu, mordiscou e penetrou ... ahhh ... eu gostei
muito de cada coisa, mas isso... isso foi...
— Mais — implorei. — Mais de... — Quase gritei quando ele
penetrou dois dedos em mim, acariciando um lugar tão profundo e
completo que me esqueci de como me mover.
Estrelas irromperam em meus olhos.
Eu nem estava gozando, mas estava muito perto.
Senti como se estivesse voando nas nuvens, o oxigênio rareando,
meu peito batendo em um ritmo caótico nascido do medo e da
euforia.
Ele beijou meu clitóris, em seguida, circulou-o com a língua antes
de sugá-lo profundamente.
— Norden... — Eu não ia aguentar, seu toque experiente estava
me desfazendo mais rápido do que eu poderia me dar prazer. — Oh,
oh Fae... Oh...
Cada parte de mim tremia, e senti meu estômago se apertar de
forma quase dolorosa.
Então seus dentes roçaram minha carne sensível gentilmente
enquanto ele enganchava os dedos para cima, me jogando para o
sol, onde explodi em mil pedaços.
Tipo, quebrei.
Totalmente estilhaçada.
Porque não havia como voltar disso.
Eu também não tinha qualquer intenção de ressurgir.
Este era o verdadeiro clímax, cheio de calor, felicidade e o prazer
mais incrível conhecido pela espécie fae.
Quando finalmente desci das nuvens, encontrei Norden olhando
para mim com uma expressão de orgulho masculino.
— Você goza lindamente, Sunshine. E tem um gosto divino.
Vamos começar de novo?
Segurei sua bochecha, puxando-o para baixo para beijá-lo,
querendo experimentar o sabor em seus lábios.
Chocolate com caramelo salgado , pensei, sorrindo contra sua
boca. Com um toque de coco e especiarias açucaradas.
Este lugar era realmente mágico.
No espírito de querer experimentar tudo da mesma forma,
sussurrei as palavras que precisava que ele ouvisse.
— Faça amor comigo, Norden.
Nós poderíamos esperar. Poderíamos ver se esse vínculo era
realmente destinado a ser. Poderíamos prolongar a corte e continuar
saindo.
Ou poderíamos desfrutar da química óbvia entre nós.
E florescer no calor que crescia em nossas almas.
Ele me beijou novamente, alinhando seus quadris com os meus
para penetrar a grossa ereção através do meu calor.
— Tem certeza? — ele sussurrou.
— Sim — garanti. A menos que ... — Precisamos de proteção? —
Não era algo que minha espécie precisava; nossos machos
controlavam a procriação.
Mas eu não sabia nada sobre selkies.
— Não poderei te engravidar — ele murmurou. — Não até que a
tríade esteja totalmente estabelecida e com a bênção do Príncipe
Lark.
— Ele tem que aprovar? — perguntei, envolvendo as pernas em
seus quadris enquanto ele se esfregava contra mim, garantindo que
minha umidade o cobrisse da cabeça à base.
— Ele tem que abençoar — ele confirmou. — E normalmente, em
sua posição, ele vai querer o primeiro herdeiro.
— Ah — sussurrei. Como ele era o futuro rei, isso fazia sentido.
— Então não precisamos de proteção. — Porque doenças não era
uma preocupação para um Fae.
— Não, não precisamos. — Ele recuou um pouco, a cabeça perto
da minha entrada.
— Mas nós... precisamos da permissão dele? — Era uma
pergunta estranha de se fazer, mas o príncipe Lark era o futuro rei. E
Norden era seu companheiro. Então…
— Para ficarmos juntos? — Norden perguntou, com um sorriso
na voz. — Não. Nunca precisaremos da permissão dele. Além disso,
ele sentirá cada parte disso por meio de nosso vínculo tríade.
Engoli.
— Todas as partes?
— Bem, as partes quentes — ele murmurou, seus lábios roçando
os meus. — Meu coração batendo pelo seu. Meu corpo se
entregando à excitação do momento. Meu prazer por ouvir você
gritar.
Uma sensação de formigamento cresceu dentro de mim com
cada declaração, e a noção do Príncipe Lark sentir nosso abraço era
uma reviravolta bastante erótica do destino.
— Oh — sussurrei.
Norden sorriu, roçando o nariz no meu.
— Me diga novamente que você tem certeza, Sunshine.
Apertei as pernas ao redor de sua cintura, e minhas mãos
encontraram suas bochechas. Olhei profundamente em seus olhos,
garantindo que ele entendesse como eu me sentia.
— Tenho certeza, Norden.
Porque eu queria senti-lo.
Queria abraçá-lo.
Abraçar isso .
Ele me beijou, sussurrando palavras de uma doce bênção contra
meus lábios, enquanto me penetrava lentamente, me preenchendo
com seu comprimento impressionante até o fim.
Ele não era tão largo quanto comprido, e ligeiramente inclinado
no final para acariciar perfeitamente meu ponto sensível por dentro.
Sua língua acariciou a minha, e sua mão foi para meu quadril
enquanto a outra segurava minha bochecha. E então ele começou a
se mover devagar, me fazendo lembrar de uma maré baixa
acariciando a costa.
Rítmico.
Experimental.
Indulgente.
Ele estava aprendendo de novo, descobrindo minhas preferências
e misturando-as com as dele.
Quando eu apertava ou gemia, ele fazia de novo.
Quando eu inalava bruscamente, ele diminuía a velocidade.
Quando eu passava as unhas por suas costas, ele sorriu e
avidamente me penetrava fundo de novo.
Em minutos, tínhamos nosso ritmo, seu corpo tomando o meu
com um conhecimento que superava vidas. Como se sempre
estivéssemos destinados a estar aqui, intimamente conectados e nos
entregando a uma paixão explosiva.
Nossas almas se alegraram.
Nossos corações batiam como um.
O terceiro nível do vínculo Fae Elemental se encaixou.
E eu sabia que ele seria meu para sempre.
Não havia como voltar atrás agora e, no momento, não
conseguia me importar. Eu só queria isso, ele, nosso momento,
nosso tempo ao sol juntos.
Eu podia senti-lo fluir pelas janelas, iluminando nossos corpos
enquanto acasalávamos. Nosso ritmo aumentou, transformando-se
em um frenesi de suspiros e respirações ofegantes, enquanto sua
boca sussurrava palavras de encorajamento contra a minha.
Ele não gozaria até que eu gozasse.
Ele não pararia até que eu gritasse seu nome.
Passei os braços em volta do seu pescoço, minhas pernas ainda
apertando seus quadris e levantando a parte inferior do meu corpo
no ritmo de seus impulsos.
— Mais forte.
— Mais.
— Mais rápido.
— Ah, Fae...
As palavras saíam da minha boca sem recurso, minha mente se
fragmentava enquanto ele me levava de volta àquele mundo de
sensações intensas, me fazendo cair de cabeça em um ápice que
apenas nossas almas jamais conheceriam juntas.
Eu o senti estremecer e seu prazer se derramar em mim em uma
onda quente que marcou meu interior, me reivindicando como sua
da mesma forma que minha alma já o havia reclamado.
Ligados para sempre.
Acasalados para sempre.
E quando adormeci em seus braços, percebi que não faria de
outra maneira. Este selkie podia ser novo para mim pessoalmente,
mas minha alma conhecia a sua.
Estávamos destinados a ficar juntos. Bem aqui. Agora mesmo.
Meu coração aqueceu, a crença e a esperança se misturando
dentro de minhas veias.
Amanhã vai ser um bom dia.
22

KALT

H oje vai ser um dia congelante .


Mal dormi na noite passada, com Artica se vinculando a Norden e
enviando estilhaços de gelo direto ao meu coração.
Não literalmente.
Mas poderia muito bem ter sido.
Eu tinha acabado de adormecer quando senti o vínculo deles se
formar. E então ele se aprofundou a um ponto que me disse o que
eles fizeram.
Porque só há uma maneira de alcançar um vínculo de terceiro
nível como um Fae Elemental.
Através do sexo.
Com sentimentos muito profundos.
A maioria dos Faes da minha espécie leva meses para alcançar
esse tipo de conforto e status uns com os outros. Mas Artica não era
uma Fae Elemental comum. Ela deixava seu coração guiar cada
decisão. Vivia o momento. Era um ser de alegria e encanto.
E, admito, Norden era bastante fácil de se amar.
O vínculo de acasalamento com ele deveria tornar mais fácil para
mim quebrar o vínculo de primeiro nível com Artica.
Mas ele parecia mais forte que nunca. Inquebrável até. Como se,
de alguma forma, a determinação de Artica tivesse crescido,
tornando ainda mais difícil para mim desfazer nosso elo.
Soltei um suspiro, sentindo meu interior agitado por uma mistura
de gelo e calor.
Artica e Norden estavam logo ali, no corredor.
Eles não tinham ideia de que voltei na noite passada, nem
sabiam que eu estava tentando dormir a poucas portas de distância
deles.
Não que isso importasse. Eu seria capaz de sentir as atividades
deles a reinos de distância. Os dois estavam dentro de mim,
enraizados em meu coração, e eu não fazia ideia de como consertar
isso.
Além do mais, a coroação aconteceria em poucas horas.
O que significa que eu precisava verificar Artica para garantir que
ela estivesse pronta para hoje. Eu deixaria a tarefa nas mãos de
Norden, mas é minha responsabilidade.
Assim como eu não deveria ter saído esta semana.
Bem, não, isso não era verdade. Eu tinha que ir. Mas deveria tê-
la levado comigo. Afinal, ela era minha estagiária. Era literalmente
meu trabalho ensiná-la e prepará-la para um papel nas relações
Inter Reinos Faes.
Algo que agora era ainda mais urgente, já que ela se vinculou ao
selkie na noite passada.
O Príncipe Lark seria o próximo.
E depois, quem quer que ele recrutasse como terceiro para a
tríade.
Meu estômago se embrulhou com a ideia. Eu poderia aceitar
facilmente que ela se vinculasse a Lark e Norden. Fae, passei a
semana toda imaginando isso enquanto brincava no chuveiro.
Mas Artica com outro homem? A simples ideia me revoltava, me
deixava enjoado.
Apoiei a cabeça nas mãos enquanto eu gemia. Foi exatamente
por isso que fui embora, para tentar me livrar desses instintos
possessivos, para dar a ela a chance de prosperar com Norden e
Lark sem minha interferência.
No entanto, senti cada experiência na noite passada.
E Lark me atualizou todas as vezes que conversamos.
Sem mencionar as mensagens indecentes de Norden a semana
toda. Ele descreveu vários cenários que pretendia realizar quando eu
voltasse.
O que geralmente me levava para o chuveiro.
Selkie geada.
Ele sabia o que estava fazendo. Ele claramente...
Uma batida soou na porta, a reverberação foi pesada e enviou
um calafrio pela minha coluna. Eu sabia exatamente por que ele
estava aqui e o que ele queria.
Mas minha resposta permanecia inalterada.
Engolindo em seco, me levantei da cama para atender a porta.
Príncipe Lark estava do outro lado com uma sacola de roupas e
uma caixa na mão.
— Bem-vindo de volta — ele me disse, entrando sem um convite.
— Seu terno está aqui dentro, assim como o vestido da Artica.
Quando terminar de se arrumar, se certifique de que ela receba o
vestido. E diga ao Norden que o smoking dele está na nossa suíte.
Ele se virou sem dizer mais uma palavra, saindo da mesma forma
como entrou.
— Só isso? — falei atrás dele, atordoado.
Ele parou na porta e se virou.
— Você estava esperando um discurso?
Franzi a testa e limpei a garganta.
— Mais ou menos. — resmunguei.
— Você gostaria de um?
— Não.
Ele deu de ombros.
— Então nos vemos daqui a algumas horas.
Fiquei boquiaberto e ele se foi. Corri pelo corredor atrás dele.
— Minha resposta ainda é não, Lark.
Ele parou e olhou para mim por cima do ombro.
— Quem disse que a oferta ainda está de pé, Fae da Água? —
Ele arqueou uma sobrancelha, me deixando sem palavras. —
Certifique-se de que a minha futura rainha esteja pronta. Depois de
hoje, ela não será mais sua preocupação.
E com isso, ele se foi.
Minha mandíbula quase caiu no chão. Ele acabou de... me
rejeitar? Depois de todos esses meses afirmando que eu era dele e
que era questão de tempo até que eu aceitasse meu lugar em sua
tríade?
Dei um passo vacilante para trás e entrei no quarto, sentindo
meu coração acelerar.
Quem disse que a oferta ainda está de pé, Fae da Água?
Mais alguma coisa aconteceu na noite passada? Ele percebeu
que eu não deveria estar com eles por causa do vínculo de Artica
com Norden?
Engoli em seco.
Isso era exatamente o que eu precisava que ele percebesse.
Então... por que dói? Por que parece errado?
Como se ele tivesse acabado de dar um soco bem no meu
coração, me deixando aqui para juntar os pedaços.
Sozinho.
Exatamente como desejei. Exatamente como eu disse que
queria.
O quanto doeria se eu tivesse me vinculado a eles, apenas para
perdê-los para a morte?
Meu pai passou por isso logo após meu nascimento. Não
testemunhei, mas vi o quanto ele ficou triste e solitário ao longo dos
anos.
Será que foi assim que ele se sentiu?
Não, isso deve ter sido pior. Porque eles estavam vinculados. Eu
não estava vinculado a nenhum deles, apenas parcialmente
conectado a Artica. E isso desapareceria, assim como essa dor no
meu coração.
Estou fazendo a coisa certa , disse a mim mesmo, ficando mais
ereto. É bom que o Príncipe Lark finalmente tenha aceitado minha
decisão.
Assentindo, fechei a porta e me concentrei na sacola de roupas e
na caixa.
Hoje, eu o apoiaria como um amigo, não como amante.
Quebraria esse vínculo inicial com Artica, deixando-a em mãos
competentes. E eu... eu falaria com Cyrus e a Rainha Claire sobre
meus próximos passos.
Porque ficar aqui e assistir Lark, Norden e Artica se vincularem a
outra pessoa... iria me destruir.
É claro, era o que eu merecia. Então, conhecendo Cyrus, ele me
faria ficar. Ou talvez me deixasse ir.
Ele tinha um coração enterrado em algum lugar naquele peito
gelado.
Eu apelaria e imploraria para que ele me libertasse desse
tormento.
Então viveria minha vida... sozinho .
Limpei a garganta e me concentrei na tarefa de me preparar para
o dia. Mais um dia no lugar mais feliz da Terra. Mais um dia
testemunhando a vida que eu nunca poderia ter.
Eu posso fazer isso , disse a mim mesmo. Eu tenho que fazer .
Afastando os detalhes, tomei banho, desta vez, sem fantasiar
sobre Artica ou seus companheiros.
Então vesti o terno que o príncipe Lark trouxe para mim. Era de
tecido azul marinho que se encaixava perfeitamente em mim, assim
como a camisa de botão azul claro por baixo. Não encontrei gravata,
então deixei o primeiro botão aberto e arrumei o cabelo sobre os
ombros.
Como emissário e Príncipe Fae da Água, eu deveria usar coroa,
mas o único item na caixa era uma tiara, que ele claramente tinha
feito para Artica.
Curvei os lábios enquanto passava os dedos sobre as bordas
finas.
Isso ia ser impressionante para ela.
Eu quase ansiava por entregá-la junto com o vestido.
Pelo menos até chegar à porta e perceber que Norden ainda
estava lá dentro.
Porque eu podia ouvi-lo gemer.
Engoli em seco e meu coração batia rápido demais no peito. Eu
não tinha ideia do que ela estava fazendo com ele, mas era óbvio
que ele estava gostando.
— Engula para mim, Sunshine — eu o ouvi dizer, tornando muito
óbvio o que estava acontecendo.
Uma imagem vívida de seus lábios envolvendo o pênis dele me
veio à mente, quase me forçando a ficar de joelhos em uma onda de
desejo tão feroz que eu não conseguia respirar.
E então a porta se abriu.
— Gostaria de se juntar a nós para o café da manhã, Frosty? —
Norden perguntou em tom casual, com seu cabelo cor de chocolate
úmido de um banho recente e calça de pijama de flanela azul baixa
em seus quadris. — A Artica estava saboreando seu primeiro
cupcake de frutas da manhã.
Semicerrei os olhos.
Aquele selkie escorregadio...
Seu olhar caiu para minha virilha.
— Humm — ele gemeu. — A menos que você esteja procurando
outro tipo de café da manhã.
Ele deu um passo para trás, permitindo que eu visse Artica
sentada na cama com os cabelos enrolados em uma toalha. Ela
estava usando roupão rosa que terminava em suas coxas, e tinha
um pouco de cobertura de morango no nariz. Seus olhos brilharam
ao me ver, sua felicidade contagiante.
— Kalt! — Ela colocou o cupcake de lado e correu na minha
direção, me abraçando pela cintura e tornando o problema nas
minhas calças ainda pior.
Porque era incrível tê-la contra mim.
Tão curvilínea e perfeita.
Tão feliz e cheia de alegria.
— Cuidado, Sunshine — Norden ronronou. — Vai sujar o terno
dele. — Seus olhos castanhos brilhavam com conhecimento antes
que ele passasse o dedo pelo nariz dela para roubar um pouco de
cobertura. — Quer um pouco? — ele perguntou, oferecendo para
mim primeiro.
Eu o fuzilei com os olhos.
Ele deu de ombros, impassível, e fez um show ao lamber o dedo.
Eu só podia imaginar o que mais ele lambeu esta manhã.
O que também piorou meu problema nas calças.
Porque, céus, eu estava excitado.
Eu deveria ter fantasiado no chuveiro. Aliviado essa sensação
interminável. Me masturbado até não conseguir mais pensar.
— Kalt? — Artica chamou, me soltando lentamente para
encontrar meu olhar. Um leve indício de preocupação cintilava em
seus olhos.
Porque eu tinha ficado rígido como uma escultura de gelo.
E não apenas na calça.
Também não correspondi ao abraço dela, mas tinha uma
desculpa, já que estava com uma sacola de roupas em uma mão e
uma caixa na outra.
— Eu, ah, trouxe seu vestido para hoje. — Eu o segurei sem
jeito.
— Ah — ela respondeu, franzindo a testa. — Certo. Obrigada. —
Ela pegou os itens e os colocou na cama, seus olhos não mais
encontrando os meus. Artica continuou desviando o olhar enquanto
esperava de forma desajeitada pelo que eu diria em seguida.
Geada , estraguei tudo.
O olhar furioso de Norden indicava que ele concordava.
Mas ao invés de me repreender, ele sorriu de forma radiante para
Artica.
— Vamos ver o que Lark finalmente decidiu.
— Finalmente decidiu? — Artica repetiu.
— Ele mandou fazer cinco vestidos e não conseguia descobrir
qual queria que você usasse.
Ela piscou.
— Cinco?
— Você é nossa Princesa de Cristal, Sunshine. Ele quer que você
brilhe.
— Mas é o dia da coroação dele. É ele que precisa brilhar — ela
destacou.
— Sim, com você desempenhando um papel fundamental em
tudo isso. — Ele roçou os nós dos dedos contra sua bochecha, o
gesto tão íntimo que meu coração doeu.
— Que papel estou desempenhando? — Ela parecia incerta.
Seu toque se moveu para a parte de trás do pescoço dela, onde
ele curvou a palma da mão ao redor de sua nuca de forma
protetora.
— Você vai colocar a coroa na cabeça dele no início das
cerimônias de hoje.
— O quê? — Ela o olhou boquiaberta, depois para mim, depois
de volta para ele. — Ahhhh, não. Não. Não. Não. Isso é um desastre
esperando para acontecer.
— É um belo momento de respeito cheio de crença — Norden a
corrigiu. — E é o papel único sempre assumido pela futura rainha de
nossa espécie.
— Mas ainda não estamos totalmente vinculados — ela o
lembrou. — Ainda não sou a rainha.
— Não, você é a futura rainha — ele disse com paciência. — Nem
todos os círculos de companheiros são formados antes da coroação.
Mas você colocar a coroa na cabeça dele é um gesto simbólico,
destinado a demonstrar sua fé nele como governante, o que é muito
importante para o futuro sucesso de nosso rei.
— Você não deveria fazer isso como seu companheiro de
verdade? — ela pressionou.
— Tenho meus próprios papéis a desempenhar. No plural, porque
o terceiro membro da tríade ainda não está estabelecido. — Ele me
lançou um olhar furioso antes de voltar para ela. — Então tenho que
atuar em dobro hoje. E você será a Princesa de Cristal nas
cerimônias de hoje. Sobre a qual eu sei que você leu, Artica.
Portanto, isso não pode ser novidade para você.
Ela estremeceu e arregalou os olhos.
— Eu... eu...
— Você vai ser perfeita — ele garantiu, flexionando seu
antebraço enquanto a apertava mais. — Tudo o que você precisa
fazer é pegar a coroa dos elfos no T&A e entregá-la ao príncipe Lark.
É uma caminhada cerimonial emoldurada por elfos pacientes e
bonecos de gengibre e considerada uma das partes mais bonitas da
coroação. Além do seu vestido elegante e — ele usou a mão livre
para apontar para a caixa que continha a tiara — isto.
— Norden...
— Shh — ele a silenciou, pressionando seus lábios nos dela. —
Vai dar tudo certo, Artica. Estaremos com você a cada passo do
caminho.
— Não, vocês não estarão — ela respondeu, apoiando as mãos
nos quadris. — Aquela coisa de andar como a Princesa de Cristal é
tudo por minha conta. Sozinha.
Ele sorriu.
— Bem, estarei observando você a cada passo do caminho. Te
despindo com os olhos, pensando no seu sabor e imaginando que
prazeres maliciosos teremos depois das cerimônias. Ou durante, se
preferir. Sou flexível.
Ela semicerrou os olhos para ele.
— Isso é sério, Norden.
— Quem disse que não estou falando sério? Com certeza vou te
comer no trono, se for esse o seu desejo — ele falou naquele tom
infame e sensual dele.
— Nos dê um minuto — interrompi, sabendo do que ela
precisava.
Norden arqueou uma sobrancelha para mim.
— O príncipe Lark mandou avisar que seu smoking está na suíte
dele. Por que você não vai se arrumar enquanto eu converso com a
Artica? — Sugeri, mas disse a ele com um olhar que não era um
pedido. Era uma ordem. Porque ela precisava do meu tipo de
confiança agora.
— Tudo bem — ele murmurou, beijando Artica na bochecha. —
Voltarei para acompanhá-la ao T&A daqui a pouco. — Seu olhar
vagou sobre ela. — Um acrônimo muito preciso, por sinal. Um que
mal posso esperar para ver ganhar vida naquele lindo vestido.
— Norden. — Não pude evitar a impaciência em meu tom. Seus
comentários sensuais não estavam ajudando.
Ele suspirou.
— Sempre tão gelado, Frosty. — Ele beijou Artica mais uma vez,
sussurrou algo em seu ouvido e depois piscou para mim ao sair.
Eu nem queria saber o que ele disse.
Em especial, porque deixou suas bochechas rosadas.
A porta se fechou atrás de mim, deixando Artica e eu sozinhos.
Ela ainda não me olhava, seu olhar estava na sacola de roupas
aberta. Exibia um deslumbrante vestido azul-gelo brilhando com
diamantes azuis. Um vestido digno de uma rainha. Feito só para ela.
— Artica — comecei.
— Não, está tudo bem. Estou bem. Eu vou... eu vou conseguir
fazer isso. — Ela me deu um sorriso fraco, minha joia glamorosa
parecendo um pouco menos brilhante. — Você não precisa me dar
um sermão sobre a importância de hoje, Príncipe Kalt. Eu já sei. E
farei o meu melhor para garantir que tudo esteja certo, para garantir
que não inicie uma guerra entre nossos reinos ou qualquer coisa
imprópria.
Fiz uma careta para ela.
— Não era isso que eu ia dizer.
— Mas é o que você está pensando — ela me disse, olhando
para mim com olhos duros de safira. — Esta é a posição que você
queria para mim, certo? Me tornar a rainha e ajudar a unir nossos
reinos?
— É uma posição que eu esperava, sim. Mas eu nunca...
— Bem, conseguiu seu desejo — ela disse, com uma risada sem
humor saindo de seus lábios quando ela tocou o amuleto em seu
pescoço. — Acho que não preciso mais disso. — Ela abriu o fecho do
colar, deixando-o cair na palma da mão. — Aqui. Você pode dar a
alguém que precise mais.
Ela o estendeu para mim, mas não me mexi.
— O que há de errado com você? — exigi. — Coloque isso de
volta. Foi um presente.
— Um presente? — ela repetiu. — Não, Príncipe Kalt. Não foi.
Nada disso foi um presente. Foi você brincando com o destino. O
que deu certo no final. — Desta vez, seu sorriso foi triste. — Eu não
te invejo. Este é o tipo de felizes para sempre com o qual a maioria
dos faes sonha. Não posso culpá-lo por tornar isso realidade.
— Então por que você está tão triste? — perguntei, sentindo meu
coração se partir ao ver as lágrimas se formarem em seus olhos. —
O Norden fez alguma coisa? Ele disse alguma coisa? — Me movi em
direção a ela, que deu um passo para trás, mantendo a distância
entre nós. — Ártica...
— O Norden disse todas as coisas certas — ela me disse. — Ele é
charmoso, bonito e faz parte de mim agora. O príncipe Lark também
fará em breve.
— É a cerimônia? Você está nervosa? — Queria entender sua luz
fraca, consertar o que quer que estivesse estilhaçado dentro dela.
— Claro que estou — ela rebateu, em um tom que nunca ouvi
dela. — Passei os últimos dez dias lendo tudo o que pude porque
meu mentor me abandonou. Felizmente, Norden e Lark
responderam algumas das minhas perguntas. Mas eu não fazia ideia
de que faria parte da cerimônia hoje. No entanto, suspeito que você
sabia.
— Eu sabia dos detalhes, sim. Mas não tinha certeza se você
estaria envolvida ou não. Pode haver várias candidatas a Princesa de
Cristal. E quando isso acontece, todas participam da cerimônia
juntas.
O que era reconhecidamente raro, já que a maioria dos círculos
de companheiros era formada antes da coroação. Mas eu não
esperava que tudo isso acontecesse tão rapidamente.
Claro, eu deveria saber que Artica seguiria seu coração. Ela
possuía uma alma tão inocente que nunca hesitaria em ouvir seus
instintos.
Diferente de mim.
Eu nunca poderia me decidir, nunca poderia escolher meus
desejos sobre o destino.
— Você vai ser incrível hoje — eu disse a ela, esperançoso de
que tudo o que ela precisava era de um pouco de confiança. — Você
é perfeita para esse papel, Artica. Você é doce. É jovial. Sabe como
seguir seu coração e abraçar o espírito natalino. E sua afinidade com
o gelo só te torna muito mais especial aqui.
— Perfeita para o papel de Rainha Fae do Inverno, mas nunca
boa o suficiente para você — ela disse com tristeza, contraindo os
lábios, mas não para sorrir. Seu olhar deixou o meu novamente, e
algo sobre isso parecia definitivo. Como se eu nunca mais tivesse
permissão para olhar para ela.
Foi quando senti a quebra, não nela, mas em minha própria
alma.
Quando ela me libertou de nosso vínculo de acasalamento.
Seu aperto firme, baseado na esperança, crença e amor puro
tinha acabado de... se dissolver.
— Artica — sussurrei, sentindo meu peito vazio de repente, como
se ela tivesse levado meu coração com ela.
— Está tudo bem, príncipe Kalt — ela disse, em um tom formal.
— Sei que você nunca quis acasalar comigo. Me conhecendo,
provavelmente só eu desejei isso.
Ela deixou o pingente de floco de neve cair no chão. O pingente
brilhante era o único sinal entre nós de que seu coração ainda
ansiava pelo meu. Mas ela estava me liberando.
Por amor , percebi, com meu interior se derretendo com a
compreensão de seu sacrifício. Ela estava me dando a liberdade às
custas de sua própria alegria. De sua própria felicidade. De seu
próprio coração .
— Preciso me preparar — ela continuou, endireitando os ombros.
— Então, se me der licença, devo estar pronta em cerca de vinte
minutos.
— Artica... — Eu não tinha certeza do que dizer, minha mente
parecia prestes a parar, uma sensação que piorou quando ela
finalmente olhou para mim sem um pingo de sentimento em seu
olhar.
— Não há mais nada para discutirmos — ela disse, em tom
neutro. — Conheço meu propósito e entendo meu dever. Não vou
decepcioná-lo, Príncipe Kalt.
Ela se afastou de mim quando terminou de falar, seu foco no
vestido e na tiara.
Olhei para ela por um longo momento, sentindo os dedos
formigarem com a necessidade de tocá-la.
Mas ela tomou sua decisão.
Ela... ela rejeitou nosso vínculo.
E com esse ato, ela acabou de partir meu coração.
23

ARTICA

O uvi a porta se fechar atrás de mim , confirmando a partida de K alt .


Olhei para o lindo vestido e a tiara, os dois itens que lembravam
meu futuro. Meu propósito na vida.
No entanto, nunca me senti tão em conflito.
Parte de mim se alegrou, minha conexão com Norden
prosperando dentro da minha alma.
E parte de mim chorou, a percepção de que Kalt nunca quis ser
meu foi como uma facada no coração.
Ele nem me abraçou. Com mais de uma semana de distância e
ele nem tentou me abraçar? Ele estava tão rígido. Tão inflexível.
Foi quando percebi que ele estava tentando se afastar.
Não física, mas espiritualmente.
Ele não me quer.
Nunca me quis.
Um fato que ele deixou mais do que claro quando me escolheu
para ser a candidata substituta para o círculo de companheiros Faes
do Inverno.
Nunca foi para ele se juntar e também acasalar comigo.
Era sobre dar ao Príncipe Lark outro Elemental do Gelo.
Olhei para o amuleto do desejo no chão.
Ele disse que era para me ajudar quando eu precisasse. Um
pingente de desejos para atender ao que eu quisesse. Dentro da
razão .
Isso nunca me daria o coração de Kalt.
Como fui tola por pensar que teria uma chance com ele.
Nós éramos compatíveis, mas faes precisavam de mais do que
isso para acasalar.
Ele escolheu seu destino solitário em vez de suas potenciais
conexões. Não havia mais nada que eu pudesse fazer além de
respeitar sua decisão.
E seguir em frente.
Sunshine? Norden sussurrou em minha mente, usando nosso
vínculo de acasalamento recém-estabelecido.
Às vezes, companheiros podiam começar a se ouvir no segundo
nível e a falar no terceiro, mas isso era garantido no quarto nível. O
fato de podermos falar livremente agora indicava nossa intensa
compatibilidade.
Você está bem? , ele perguntou em tom tímido.
Você sentiu, não é?, pensei de volta para ele.
Sim.
Engoli em seco. Ele não me quer, Norden. Ele não nos quer.
Eu sei, Sunshine. Eu sei.
Uma lágrima escapou do meu olho e eu a enxuguei. Preciso me
preparar.
Voltarei em breve para te abraçar.
Eu gostaria disso , admiti enquanto outra lágrima encontrava
minha bochecha. Eu a congelei com minha magia da água e a
sequei. Chega disso .
Chega de quê?
Desculpe, estava falando sozinha , murmurei.
Humm, vou gostar deste elo.
Você já gostou esta manhã , eu o lembrei, pensando em como
eu o acordei com meu sonho.
Que ele rapidamente transformou em realidade com a boca.
Estou ansioso por uma eternidade de manhãs com você,
Sunshine. Suas palavras tocaram meu coração, ajudando a derreter
algumas das arestas congeladas. O príncipe Lark disse que também
está.
Eu estava prestes a afrouxar o roupão e parei. Ele... ele não está
bravo, está? Norden fez parecer que poderíamos brincar livremente
ontem à noite, mas agora me perguntava se Lark estava com ciúmes
ou chateado por termos nos unido sem ele.
A risada de Norden fez cócegas em meus pensamentos. Ah, ele
não está bravo. Mas está excitado pra caramba.
Minhas bochechas esquentaram. Excitado?
Sim, ele está chateado por ter que ir se encontrar com o pai.
Caso contrário, ele estaria em cima de mim agora. Norden parecia
encantado. Eu não tinha certeza se era o tormento do príncipe Lark
ou o sexo em potencial que o divertia. Talvez as duas coisas.
Ele soltou outra risada, fazendo meus lábios se curvarem. Você
pode continuar falando comigo? perguntei, precisando ouvir seu tom
alegre.
Ah, sempre , ele respondeu. Agora que tenho esse vínculo, nunca
mais vou deixar você sozinha. Quero dizer, pense em todas as coisas
sacanas que posso sussurrar para, mesmo de longe.
Terminei de desamarrar o roupão. Bem, estou colocando a
calcinha rosa que você me fez desejar antes , eu disse a ele,
encontrando a calcinha rendada na cômoda. Ela é mesmo macia e
sedosa.
Humm, me conte mais . Eu quase podia imaginá-lo deitado em
uma cama, com a cabeça apoiada no cotovelo, a mão livre, ahhh,
não tão livre embaixo.
Estou nua e me inclinando para enfiar um pé, e agora o outro...
Ah, sim, é mais macia do que eu pensava, Norden. Estou deslizando-
a pelas minhas pernas até o meu centro de doces.
Ele riu. Centro de doces?
Você tem um termo melhor?
Boceta? Vagina? Doce refúgio? O lanche favorito de Norden?, ele
continuou enquanto eu ria, seu tipo de humor exatamente o que eu
precisava para me ajudar a encontrar o resto da minha alegria
interior. A futura casa da moeda de Lark. Ele gosta de intenso, a
propósito. Mas ele pode ser mais suave com você. Veremos. Ah,
também poderia ser chamado de deslizador de salsicha ou...
Deslizador de salsichas?, repeti, com o vestido em minhas mãos
agora. Você acha que isso é melhor do que centro de doces?
Humm, bom ponto , ele disse. Centro de bengala doce?
Dei outra risada. Seu pau é uma bengala doce agora?
Ahhhh, diga pau de novo, por favor. Gostei muito desse termo
específico em sua mente.
Talvez eu devesse lhe dar alguns apelidos , respondi. Pirulito.
Picolé. Ah, não, espere. Sacolé.
Você vai engolir todo o meu creme, Sunshine?
Minhas pernas se apertaram. Fae, você realmente pode deixar
qualquer coisa sacana, não pode?
Posso sim. É um talento natural meu.
Finalmente coloquei o vestido, mas as costas amarradas me
fizeram parar. Geada .
Acho que é muito cedo para fazer insinuações com isso , ele
respondeu em tom sério, me lembrando do apelido de Kalt.
Não, acabei de perceber que o vestido é amarrado nas costas.
Mordi o lábio e olhei para a porta. Vou ter que pedir ajuda ao
Príncipe Kalt .
Príncipe Kalt, é? Ele parecia um pouco triste com isso.
É o título dele. Eu deveria chamá-lo assim. Considerei a porta
novamente, mas tirei o vestido para me concentrar primeiro no
cabelo. Dessa forma, estaria completamente pronta, sem os sapatos,
quando tivesse que enfrentá-lo novamente.
Supondo que ele ainda estivesse lá.
Ele parecia ter uma queda por desaparecer.
Soltando um suspiro, tirei a toalha da cabeça e usei minha
habilidade de água para sugar a umidade dos cabelos. Não muito,
apenas o suficiente para criar uma textura seca. Então penteei e
adicionei um pouco mais de água de volta, congelando alguns
cachos em volta do meu rosto.
Pronto , pensei, indo até o estojo para pegar a tiara. Brilhava
como gelo, o vidro delicado e bonito.
O que aconteceu com minha descrição passo-a-passo? Norden
perguntou, parecendo fazer beicinho.
Estou arrumando o cabelo .
Então você deveria detalhar cada momento para mim , ele
respondeu.
Rindo, repassei o processo com ele em minha cabeça enquanto
centralizava a tiara e a congelava no lugar com um pouco de magia.
Nada de montes de neve, certo? Não é moda este ano , ele me
disse.
Bufei, o som nada feminino felizmente não atravessou
mentalmente nosso vínculo. Com a minha sorte, acabaria com
pingentes de gelo para os cachos. Minha magia tinha agido de um
jeito um pouco estranho durante toda a semana. Suspeitei que
tivesse algo a ver com Kalt, e agora que percebi que ele temia nosso
vínculo, pude entender o porquê.
Talvez esse fosse o único ponto positivo de deixá-lo ir, meus
poderes voltariam ao normal.
Suspirando, olhei para o vestido. Vou pedir ao príncipe Kalt para
me ajudar .
Sim, peça , ele encorajou.
Não vai resolver nada, Norden , avisei enquanto pegava o
vestido. O que está feito está feito. Uma vez que um vínculo feérico
é quebrado, ele não pode ser consertado.
Bem, tecnicamente, no primeiro nível, era possível.
No entanto, os dois Faes Elementais tinham que realmente
querer dar outra chance para o vínculo reacender.
Era o segundo estágio que seria irrevogavelmente quebrado se
rompido.
E se um Fae Elemental tentasse quebrar o terceiro nível? Bem,
isso seria ruim para todas as partes envolvidas. Era o equivalente a
um casamento com o quarto nível sendo a cerimônia de ligação da
alma.
Limpando a garganta, ignorei o suspiro de Norden em minha
cabeça e coloquei o vestido de volta. Então fui até a porta com a
cabeça erguida e a abri. Uma façanha incrível, considerando que eu
estava segurando meu vestido com uma mão.
Kalt estava do lado oposto, sua coluna se endireitou
instantaneamente ao me ver na porta.
— Ártica...
— Ainda não estou pronta — interrompi. — Mas preciso de
ajuda. As tiras nas costas são amarradas e, bem, não consigo fazer
isso sozinha. Então...
Ao invés de dizer qualquer outra coisa, apenas me virei para
mostrar minhas costas.
Ao que ele não respondeu ou se moveu.
Tensionei a mandíbula.
Isso era ridículo. Ele me queria nesta posição. Poderia, pelo
menos, me ajudar a me vestir adequadamente para isso.
Ah, mas ele não pôde me ajudar a semana toda com meus
estudos. Ele me deixou para fazer isso sozinha.
Então é claro que ele esperava que eu fizesse de novo agora.
Eu deveria saber melhor que...
A ponta de seu dedo roçou minha coluna, provocando um arrepio
por todo o meu corpo. Parecia errado. Parecia certo. Isso doía . Isso
fez meu coração cantar.
Fechei os olhos, sentindo a garganta engrossar de repente com
muitas emoções.
Ele não comentou ou disse uma palavra, apenas permitiu que
seu toque deslizasse até a base e voltasse para o espaço entre
minhas omoplatas, onde a linha inicial de renda encontrava minha
pele.
Kalt segurou as duas pontas, puxou-as com força e começou o
processo de enfiar a renda pelas argolas em minhas costas.
Era um espartilho que realçava minhas curvas, que deixava meu
colo em bonito. Era certo que o pingente de floco de neve ficaria
lindo lá. Mas eu me recusava a usá-lo.
O presente parecia contaminado. Cruel. Como se guardasse
algum tipo de segredo obscuro que eu nunca entenderia.
Assim como Kalt.
Eu também nunca o entenderia.
Ele trabalhou em silêncio, o ar tenso entre nós. Quando ele
finalmente chegou ao final, soltei meu aperto mortal na frente e abri
os olhos, apenas para suspirar com a beleza do tecido azul-gelo
contra a minha pele.
Me sinto como uma boneca de porcelana , pensei para Norden.
— Você parece uma rainha — meu selkie respondeu em voz alta,
me assustando.
Olhei para a minha esquerda e o encontrei esperando em um
smoking todo branco que se destacava lindamente em sua pele
bronzeada.
— Não sabia que você estava de volta. — Eu o senti por perto,
mas presumi que era apenas nosso vínculo prosperando com alegria.
Ele sorriu.
— Estava admirando a vista.
Kalt limpou a garganta e deu um passo para trás, seu trabalho
encerrado.
— Obrigado, Príncipe Kalt — falei, precisando dizer algo para
mostrar minha gratidão. Embora minha voz tenha saído um pouco
falhada aos meus ouvidos.
Ele não respondeu, tão silencioso quanto antes.
Mas o sorriso contagiante de Norden me distraiu do golpe de
gelo em meu coração.
— Você está deslumbrante, Artica — ele elogiou.
Eu o encarei e fiz uma reverência.
— Você está muito bem, selkie.
Ele riu.
— Estou incrível.
— E modesto também — provoquei.
— Sempre — ele respondeu. — Agora, onde estão seus sapatos?
— Ah! — Eu quase tinha me esquecido de que precisava deles.
Entre a avaliação de Norden e o silêncio taciturno de Kalt, fiquei um
pouco perdida em minha nuvem emocional.
Comecei a avançar, mas Norden segurou meu pulso.
— Ah, ah. Fique bem aqui. Eu vou buscá-los.
Franzi a testa atrás dele, então arrisquei um olhar para Kalt para
ver se ele entendeu.
O que foi um erro.
Porque ele estava olhando para mim com um olhar de admiração
no rosto, seu olhar cor de gelo estava cheio de tanta emoção que
fez meu coração doer.
Esse era o olhar que desejei ver nele por tantos anos, o olhar
que dizia que ele finalmente me viu. Mas agora era tarde demais. E
suspeitei que ele não queria dizer realmente isso. Ele só queria me
ajudar a me sentir mais confiante sobre minha tarefa, garantir que
eu não estragasse tudo.
Porque hoje não era importante apenas para nossas relações
com a espécie Fae do Inverno. Era uma demonstração para todos os
reinos visitantes.
Uma demonstração de unidade, graça e inclusão .
A mistura das raças, mesmo para algo tão inocente como uma
coroação, nunca teria sido permitida com a velha maneira de pensar.
Os Faes do Inverno eram melhores que todos os outros reinos
por muitas razões, principalmente por sua capacidade de aceitar
diferenças. Tipicamente, quando dois faes de diferentes reinos
acasalavam, uma abominação poderia ser criada, um ser de poder
que deveria ser temido.
Como a futura Rainha Fae do Inverno, eu inevitavelmente
abandonaria minha Fonte e abraçaria uma nova, que era a única
prática aceita de acasalamento fora de nossas próprias raças,
semelhante aos Faes Fortuna que abandonavam sua Fonte
completamente.
Isso não era necessariamente novo para os Faes do Inverno, mas
ter convidados de todos os diferentes reinos era uma grande
mudança.
Porque a coroação de hoje servia como o primeiro evento oficial
Inter Reinos Faes, desde a assinatura do Tratado Inter Reinos Faes,
um acordo que a Rainha Claire organizou por meio de uma série de
votos.
Haveria abominações presentes hoje, abominações que seriam
aceitas e autorizadas a se misturar.
E haveria a possibilidade de faes não acasalados encontrarem
potenciais companheiros durante indiscutivelmente a ocasião mais
feliz e romântica deste reino. Isso por si só era inédito entre os
feéricos, um desenvolvimento totalmente novo em nossas relações.
Porque os tempos estavam mudando.
A Rainha Claire, uma poderosa Halfling, salvou os Faes
Elementais da extinção.
Aflora, a Rainha Fae da Terra e agora Rainha Fae da Meia-Noite,
acasalou com as linhagens Fae da Meia-Noite, conseguindo
convencer a Fonte das Trevas e a Fonte da Terra a trabalharem
juntas.
As duas as rainhas eram consideradas abominações que
tornaram possíveis os esforços Inter Reinos Fae. E elas nem mesmo
nasceram de linhagens feéricas separadas, apenas se tornaram
extremamente poderosas por meio de seus círculos de
companheiros. Mas usaram seus poderes para o bem, não para o
mal, estabelecendo um novo precedente para todas as espécies
faes.
Até os reinados delas, abominações eram tão desaprovadas, que
os reinos os isolavam em um esforço para evitar criar qualquer elo
cruzado, o que os fazia perderem contato um com o outro.
Perdemos contato com nosso verdadeiro propósito na vida.
Viver.
Kalt limpou a garganta.
— Você está realmente deslumbrante, Artica.
Forcei um sorriso, suas palavras eram as que eu só ouvia em
meus sonhos. Como eu queria que fossem verdade agora. Sincera.
Preenchido com a emoção que eu ansiava. Mas eu sabia melhor
agora.
— Obrigada, Príncipe Kalt — eu disse, repetindo a declaração
anterior e voltando meu foco para Norden.
Suas íris marrons brilhavam de alegria quando ele se aproximou
de mim com um par de sapatos de salto prateados.
— Lark mandou os elfos enfeitiçá-los para não machucarem seus
pés — ele disse enquanto se ajoelhava na minha frente. — Posso
fazer as honras?
Assim como antes, sua energia contagiante me tirou do meu
estado de tristeza, me fazendo sorrir.
— Estou começando a achar que você tem um fetiche por pés
além do fetiche por cabelo.
— Tenho muitos fetiches, Sunshine — ele confidenciou, piscando
para mim.
Então ele segurou meu tornozelo e enfiou meu pé no sapato.
Seus dedos hábeis o encaixaram com facilidade.
— Use meu ombro para se equilibrar — ele murmurou enquanto
alcançava o outro tornozelo.
— Meu ombro faz mais sentido — Kalt interveio.
Fiz uma careta, mas concordei por causa da diferença de altura,
então apoiei a mão com cuidado em seu ombro para me equilibrar
enquanto Norden calçava meu outro pé. Assim que ele me soltou,
afastei a mão e mexi os dedos para dissipar o formigamento neles.
Norden se levantou e percebi que os sapatos deixaram meus
olhos na altura de sua boca. O que eu suspeitava que ele tivesse
feito de propósito.
Olhei em seus olhos para encontrá-lo sorrindo para mim.
— Você vai ser a rainha mais bonita que este reino já viu — ele
me disse. — Mal posso esperar para anunciá-la.
— Me anunciar? — repeti.
— Meu papel — ele me lembrou, me fazendo perceber que eu
tinha esquecido tudo sobre as atividades de coroação de hoje,
apesar de ter lido os rituais mais de uma dúzia de vezes.
— Certo. No T&A.
Ele riu.
— Quase tão divertido quanto ouvir sua boca pronunciar pau. —
Ele franziu a testa. — Na verdade, ainda não ouvi da sua boca.
Importa-se de me satisfazer?
Kalt limpou a garganta novamente, nos lembrando de sua
presença.
— Devemos ir.
— Estraga-prazeres — Norden o acusou.
Kalt apenas o olhou, então ele virou seu foco para mim.
— Vou acompanhá-la até a loja de brinquedos . Norden nos
encontrará lá dentro.
Norden suspirou.
— Duas vezes estraga-prazeres. — Com um aceno, ele deu um
beijo na minha bochecha. — Vejo você em breve, minha rainha.
Serei aquele de branco esperando por você no altar.
Entreabri os lábios, enquanto o resto da cerimônia se revelava de
repente dentro da minha mente.
— Ah, Fae... — Vou congelar totalmente .
24

LARK

— V ocê não vai conduzir a A rtica até o altar — falei em tom


categórico. — O Kalt fará isso.
— Não, ele não vai — Cyrus insistiu, o Rei Fae da Água tão
arrogante quanto eu me lembrava. — Artica quebrou o vínculo de
companheiro com ele. Eu senti. O que significa que ele não é o fae
certo para esta tarefa. Como seu primo e Rei Fae da Água, cuidarei
desta parte da cerimônia.
Uma cerimônia que Cyrus só conhecia porque fui tolo o suficiente
para informá-lo de como seria.
Pensei que era uma forma de amizade, uma forma de solidificar a
parceria entre o Reino Fae do Inverno e o Reino Fae Elemental. Eu
estava prestes a acasalar dois Faes da Água, depois de tudo. Melhor
manter seu rei ciente e envolvido.
Mas este não era o plano.
— Preciso que o Kalt faça isso — enfatizei. — Ele faz parte da
minha tríade, e é a única forma de incluí-lo nas festividades. Caso
contrário, ele será forçado a assistir.
— Mas é exatamente o que você deve fazer — Cyrus respondeu.
Cruzei os braços e considerei o Rei Fae da Água. Ele era mais ou
menos da minha altura, um pouco mais esguio, mas ainda
musculoso, com cabelo loiro curto e olhos que me lembravam os de
Kalt. Eu podia ver a semelhança entre eles. Sem mencionar o
interesse comum por política e estratégia.
— Me diga por quê — pedi, curioso para ouvir o que ele estava
pensando.
O Rei Fae da Água sorriu.
— Ele precisa ver a vida da qual está desistindo em troca de seu
caminho de solidão. Ele acha que evitar os laços de companheiro
garantirá que seu coração não se machuque, mas posso sentir a dor
dele através da Fonte da Água. A rejeição da Artica o deixou
nervoso.
— Então agora você quer que eu o machuque mais removendo-o
da cerimônia? — perguntei, não gostando nada dessa lógica. Não
era o jeito Fae do Inverno. Acreditávamos no amor e em abraçar a
vida. Isso soava como um castigo.
— Não, quero que você conceda seu desejo de solidão para que
ele perceba que não é o que ele realmente quer — Cyrus respondeu.
— Às vezes é preciso testemunhar os triunfos dos outros para
perceber a vida de verdade. Mostre a ele o que significa viver, faça-o
ansiar por isso e inspire-o a acreditar que é isso que ele merece
experimentar.
— Ao afastá-lo, estou dizendo que ele não nos merece —
apontei.
— Ao dar a ele a opção de renunciar, você está dizendo que
concorda com seus desejos, sejam eles quais forem.
Franzi o cenho.
— Você me disse que irá levá-la até o altar, sem dar a ele uma
opção.
— Porque eu levarei — ele respondeu, com exasperação em seu
tom. — Eu sei o que meu primo vai escolher se tiver a opção, e é
por isso que estou te dizendo que a levarei até o altar. Mas você está
perdendo o ponto: ao dar a ele o dom da escolha, você está dizendo
que respeita sua decisão. Então você irá demonstrar o que ele está
perdendo por meio das cerimônias de hoje, para que ele perceba o
erro de sua escolha.
— E se ele não perceber o erro? — pressionei. — Devo deixá-lo
ir?
A expressão de Cyrus ficou triste, e ele assentiu.
— Sim, deve.
— Não posso fazer isso.
— Pode — ele rebateu. — Porque se ele ainda não concordar em
se juntar à sua tríade depois da beleza de hoje? Então ele não é
digno de você ou da Artica.
Suas palavras enviaram cubos de gelo pela minha coluna, sua
postura real e tom condizentes com sua posição. Mas foi a sabedoria
dele que chamou o estrategista dentro de mim.
Porque ele estava certo.
Se Kalt nos rejeitasse depois de hoje, depois de tudo que
sentisse e experimentasse, ele realmente não era digno de nós.
Minha rainha merecia mais.
Norden merecia mais.
E se Kalt não estivesse disposto a dar o que eles mereciam?
Então ele não foi feito para a nossa tríade.
Minha alma doeu com o pensamento, a Fonte Fae do Inverno
vibrou com um cordão de crença que envolveu meu coração com
tanta força que ofeguei.
Não se tratava apenas de testar Kalt.
Era sobre acreditar que ele faria a escolha certa, que nos
escolheria, que estaria com sua tríade.
Mas eu não podia forçar sua escolha.
Eu tinha que acreditar que ele chegaria a um acordo com seu
destino e o aceitaria.
— Tudo bem — eu finalmente disse. — Dê a ele a opção.
Cyrus assentiu.
— Não se surpreenda quando ele me disser para levá-la até o
altar. E não perca a esperança. Ele precisa ver para crer, certo? —
Ele sorriu com seu jogo de palavras, a frase popular que os humanos
diziam com frequência.
— Você estudou mais do que admitiu — eu o acusei.
— Claro que sim — ele respondeu com uma risada. — Este é o
sonho da minha companheira, uma união entre os reinos. Li todos
os livros que pude encontrar sobre sua espécie.
— No entanto, você veio até mim e me pediu para explicar a
cerimônia.
Ele deu de ombros.
— Eu não disse que não estava familiarizado com ela.
— Mas por que perguntar?
— União Inter Reinos Fae — ele respondeu, batendo em meu
ombro. — Mais uma vez, tem a ver com fazer a minha companheira
feliz.
— E não tem nada a ver com a felicidade do seu primo?
Ele sorriu.
— Bem, o Kalt sendo feliz deixaria Claire feliz, então...
— Entendo. — Retribui o sorriso. — A vida gira ao redor da
Rainha Claire.
— E é realmente uma vida incrível — ele murmurou, desviando o
olhar para onde sua rainha estava do outro lado da sala do trono
com seus outros companheiros. — Kalt merece experimentar o amor,
mesmo que ele não acredite nisso.
— Vamos fazê-lo feliz — jurei.
— Eu sei, ou não estaria ajudando. — Cyrus voltou seu olhar
para o meu. — Mas ele está vulnerável agora. Ter um vínculo de
companheiro rompido, mesmo no primeiro nível, pode doer. E ele
está mais devastado do que imagina.
Assenti.
— Posso sentir a dor dele. Da Artica também. Foi preciso muito
controle para não ir até ela, mas Norden me prometeu que cuidaria
disso.
E pelo que pude sentir nos laços de formação do meu círculo de
companheiros, ele dava a ela algum equilíbrio. Mas ela ainda estava
sofrendo, uma sensação que eu realmente não queria que ela
sentisse nunca, e especialmente não hoje. Não quando ela estaria
experimentando a Fonte Fae do Inverno pela primeira vez.
No entanto, eu sabia que ela poderia lidar com isso.
Ela provou esta semana ser a fae perfeita para o nosso reino. Ela
estudou muito, mas encontrou momentos de diversão. Abraçou a
magia da minha espécie. Ela se entregou a todos os alimentos,
nunca negando uma única prova. Ela riu, sorriu e pulou pelos
corredores.
E acasalou com Norden na noite passada.
Isso confirmava tudo o que eu precisava saber.
O tempo era irrelevante.
Porque nossas almas sabiam onde pertencíamos.
Bem aqui. Juntos. Hoje.
Para esta Coroação Fae do Inverno.
25

ARTICA

S emicerrei os olhos .
— Você quer que eu vá com o Rei Cyrus até a loja de
brinquedos? — Eu não podia acreditar no que minhas orelhas
pontudas estavam ouvindo. — Depois de tudo que orquestrou aqui,
esse é o seu último gesto de despedida?
Eu passei da fase triste para a fase furiosa do luto.
Porque isso era inaceitável.
— Bem, seu pai seria uma boa escolha, mas ele não respondeu à
convocação de Cyrus.
Ergui as sobrancelhas.
— O Rei Cyrus entrou em contato com meus pais? — De alguma
forma, isso tornava tudo pior. A Academia devia ter enviado um
aviso a eles sobre o estágio, mas, com toda a loucura dos últimos
dez dias, eu não entrei em contato com eles nem uma vez.
É claro, eles estavam em férias de verão no momento.
Então não seriam facilmente localizáveis, de qualquer maneira.
— Ele tentou, mas com a falta de tecnologia de comunicação em
nosso reino, é difícil entrar em contato diretamente — Kalt
respondeu.
— Eles estão em férias de verão — murmurei. — Talvez nem
estejam no reino. — Eles costumavam viajar para outros reinos fae
ou para o Reino Humano nas férias. Então era difícil dizer. Eu estaria
com eles, mas quis um estágio Inter Reinos Fae em vez disso.
E olhe para onde isso me levou: bem no meio do Reino Fae do
Inverno, me preparando para caminhar pelo corredor com o Rei
Cyrus.
Estremeci. Apesar da animação de ontem à noite, preferiria
encontrar meus pais agora.
Ele suspirou.
— Artica, você sabe que é uma honra o Rei Fae da Água te
acompanhar, certo? Pense nas relações faes e no que simboliza. Isso
mostra que os Faes Elementais aprovam essa união. — Kalt parecia
prestes a desmoronar, mas não me importava. Queria atirar uma
bola de neve em seu rosto excessivamente bonito.
— Uma honra — eu disse em tom inexpressivo. — Maravilhoso.
Bem, foi bom trabalhar para você, Príncipe Kalt. Aproveite o resto do
seu dia. — Comecei a me afastar, depois parei e me virei para
encará-lo. — Sabe de uma coisa? Você deveria ir embora. Não é
como se você quisesse estar aqui mesmo. — Retomei minha marcha
em direção à oficina.
— Artica! — ele exclamou, provocando um arrepio pela minha
coluna.
Porque sim, eu provavelmente não deveria estar falando assim
com a realeza.
Engoli em seco e olhei para trás.
— Desculpe. Não deveria ter dito isso. Você trabalhou muito para
nos trazer até este ponto, e tenho certeza de que quer ver o
resultado de todo esse esforço. — Fiz uma reverência baixa e me
levantei. — Obrigada por seu serviço ao nosso reino, Príncipe Kalt.
Pronto. Isso foi muito mais profissional e doce.
Me virei novamente, mas ele segurou meu pulso.
— Pare — ele sibilou contra minha orelha. — Apenas. Pare .
Alguns dos elfos do lado de fora pararam para nos olhar. Eles
estavam começando a iluminar o caminho que eu faria em breve
como parte da cerimônia.
— Está tudo bem? — uma voz fria perguntou à minha esquerda.
Meu coração deu um salto ao ver o Rei Cyrus se aproximar de
nós, usando um terno muito semelhante ao de Kalt: todo azul-
marinho com camisa azul-claro por baixo. Sem gravata.
— Está tudo perfeito, meu rei — menti, tentando fazer uma
reverência, mas meu pulso ainda estava preso no aperto de Kalt.
— Humm — Rei Cyrus murmurou, olhou para o meu braço e
depois para o homem atrás de mim. — Kalt? Repensando algo?
— Não — ele respondeu, me soltando imediatamente.
— Que pena — o Rei Cyrus disse. — Bem, você deve querer
encontrar um lugar para assistir lá dentro. Está começando a encher.
— Ele se aproximou de mim. — Vou levá-la daqui.
Eu estava parcialmente grata pelo resgate e aterrorizada na
mesma medida por ficar sozinha com um dos Fae Elementais mais
poderosos que eu conhecia.
A presença intimidadora do Rei Cyrus me deixava com os joelhos
um pouco fraco. Mas pelo menos eu não teria que começar isso
sozinha.
— Claro — Kalt respondeu e fez reverência. — Você será incrível,
Artica.
Quase ri. Porque, nossa, que coisa gentil de se dizer.
Mas ele já estava se afastando, sem nem se importar com o que
eu tinha a dizer.
Comecei a curvar os ombros e a sentir meu coração afundar
ainda mais do que antes. Porque ele acabou de me deixar aqui para
ser acompanhada pelo Rei Cyrus.
Era uma honra, eu não podia negar.
No entanto, de alguma forma, parecia como uma rejeição ainda
maior que sua falta de abraço anterior.
— Vamos arrumar essa tiara — o Rei Cyrus disse de repente, se
colocando à minha frente para erguer meu queixo com os nós dos
dedos. Seus olhos cor de gelo franziram nos cantos ao me olhar. —
Pronto, está muito melhor.
Pisquei e percebi que ele estava endireitando minha postura, me
dizendo para manter a cabeça erguida.
— Desculpe, eu... — Não tinha certeza de como terminar aquilo.
Desculpe. Estou apaixonada pelo seu primo, mas ele não gosta de
mim, então me tornei uma princesa emburrada.
Franzi a testa.
Eu não sou assim , lembrei a mim mesma.
Então olhei para os elfos, notei seus ânimos alegres e o brilho
suave da neve no ar.
É assim que sou , pensei. Uma Fae da Água no meio de um
mundo invernal. Isso é um sonho se realizando. Preciso abraçar isso,
não ficar emburrada .
O Rei Cyrus sorriu como se pudesse ler meus pensamentos.
— Sim, muito melhor mesmo. — Ele soltou meu queixo, mas não
saiu do meu espaço pessoal. — O Príncipe Lark está pronto na sala
do trono, aguardando a coroa. Me disseram que você vai entregar
pessoalmente a ele.
Engoli em seco.
— Eu, ah, sim. Como a Princesa de Cristal da cerimônia de hoje.
— Como sua rainha pretendida — ele respondeu. — E eu não
poderia pensar em uma candidata melhor que você, Artica.
Eu o encarei.
— Não? — Nem mesmo Kalt? Seu próprio primo? Uma Fae da
Água que você realmente conhece?
— Minha pequena rainha me falou muito sobre seu espírito
festivo. Você a ajudou a decorar o escritório dela no ano passado e a
Casa do Chanceler.
Sorri.
— Foi divertido.
— Se você diz — ele respondeu, sorrindo também. — Sua alegria
contagiante é exatamente o que este reino precisa. Você será uma
ótima Rainha Fae do Inverno.
— Eu o ouviria — uma voz aguda falou. — Ele não é do tipo que
agrada ou conta mentiras.
— Não, não sou mesmo — ele respondeu, suavizando a
expressão quando encarou a Rainha Claire.
Fiz uma reverência, sentindo as bochechas se aquecerem por
estar em sua presença régia. Sim, estagiei com ela por pouco mais
de um ano. Mas eles eram dois dos elementais mais poderosos na
história dos Fae Elementais.
Eles até mesmo derrotaram a praga .
— Você está uma beleza — a Rainha Claire elogiou.
— Obrigado, minha pequena rainha — o Rei Cyrus respondeu,
alisando a lapela do terno com os nós dos dedos. — Minha
companheira escolheu para mim.
— Sim, o Vox tem um gosto incrível — ela disse com ironia. — E
eu estava falando com a Artica.
O Rei Cyrus colocou a mão no peito.
— Você me fere, meu amor.
A Rainha Claire revirou os olhos azuis.
— Duvido. — Ela olhou para mim, sua expressão se iluminando.
— Você me lembra um floco de neve, apenas muito mais bonita.
Eu sorri.
— Obrigada, minha rainha. — Observei seu vestido régio de ouro
e prata. — Você está incrível. — Notei a trança e a coroa em sua
cabeça, sorrindo. — E você aperfeiçoou seu cabelo.
— Ah, isso? — Ela fingiu arrumar a coroa. — Apenas um truque
antigo que aprendi com uma das minhas estagiárias favoritas.
— Favoritas, é? — repeti.
— Você sabe que é verdade — ela me disse. — É por isso que sei
que o Cyrus vai te tratar com muito cuidado enquanto te acompanha
até a sala de brinquedos.
— Eu nunca pensaria em fazer algo diferente — o Rei Cyrus
prometeu, se curvando para sua companheira. Em seguida, ele
segurou a mão dela e a levou aos lábios. — Você está mesmo
deslumbrante, minha pequena rainha. — As bochechas dela coraram
com o elogio.
— Ainda assim não vou te dar outro filho — ela suspirou.
Ele suspirou.
— Eu sei. Precisamos de jogos melhores.
— Não comece com isso de novo — a Rainha Claire o repreendeu
imediatamente.
O Rei Cyrus riu.
— Você gostou deles, minha pequena rainha.
Ela pigarreou, com as bochechas agora vermelhas.
— Divirta-se hoje, Artica. Você merece.
— Obrigada — eu disse, sorrindo enquanto ela voltava para o Rei
Fae dos Espíritos, que a aguardava alguns passos adiante. Ele lançou
um sorriso para o Rei Cyrus enquanto passava o braço ao redor da
Rainha Claire para acompanhá-la até onde pretendiam assistir as
festividades de hoje. Provavelmente a sala do trono, já que era lá
que a verdadeira magia aconteceria.
— Ela diz que não quer outro bebê ainda — o Rei Cyrus
comentou em tom casual. — Mas sabemos que ela tem sonhado
com um.
— Você está dando doces selkies a ela? — perguntei.
O Rei Cyrus franziu a testa.
— Doces selkies?
— Eles te inspiram a sonhar com suas fantasias — expliquei. —
Norden tem, ah, me dado alguns.
O Rei Fae da Água riu.
— Só conheci Norden brevemente, mas ousaria dizer que
precisamos nos tornar melhores amigos.
— Ele não abençoa os doces, ou melhor, não faz parte do
processo. Ele apenas os encomenda.
O Rei Cyrus me encarou.
— O quê?
— É assim que os doces selkies são feitos — expliquei, pensando
que era por isso que ele queria ser melhor amigo dele. Mas agora eu
entendia que ele quis dizer algo completamente diferente, que ele
gostava do estilo de sedução de Norden. Limpei a garganta. — Deixa
pra lá.
Sunshine? A voz preocupada de Norden surgiu na minha cabeça.
Está tudo bem aí?
Estou bem. Só fazendo papel de idiota na frente do Rei Fae da
Água.
Ah, sim, o Príncipe Lark mencionou que ele iria te acompanhar
até aqui dentro. Tenho certeza de que ele te adora.
Mais como ele te adora , respondi.
Todo mundo me adora , ele respondeu, sou muito adorável .
Sorri. Sim, você é .
— Artica? — O Rei Cyrus chamou, me trazendo de volta.
Porque ele ainda estava na minha frente.
E eu estava sorrindo como uma boba agora.
Caramba . Eu não poderia piorar as coisas.
— Desculpe, Norden está na minha cabeça — expliquei.
Ele sorriu então.
— Ah, novo vínculo de companheiros. — Ele se inclinou para
frente, com o olhar cor de gelo muito mais amigável do que eu já
tinha visto. — Posso te contar um segredo?
— Hum, claro? — Limpei a garganta. — Quero dizer, sim, por
favor.
— Ouvir a voz do seu companheiro em sua cabeça sempre vai te
fazer sorrir — ele me confidenciou em voz baixa. — A voz da Claire
sempre é o primeiro e último som que desejo ouvir em minha
mente. E suspeito que seus companheiros irão significar o mesmo
para você em breve.
Ele ofereceu o braço.
— Agora, acho que está na hora de começarmos.
Olhei ao redor para todos os elfos silenciosos, com olhares de
expectativa.
Então o som de um sino ecoou, trazendo enormes sorrisos aos
rostos alegres deles. Curvei meus lábios da mesma forma.
Isso parecia certo.
Na maior parte, de qualquer forma.
Mas enquanto olhava para o Rei Cyrus, percebi que não gostaria
que fosse de outra maneira.
Porque, pelo menos, ele acreditava . Eu podia sentir isso em sua
aura, uma espécie estranha de energia que eu nunca soube que
existia. No entanto, ela percorria sua presença, chamando minha
alma de uma maneira que eu não entendia completamente.
E eu confiava no processo.
Entrelacei meu braço ao dele.
— Estou pronta — anunciei. As palavras eram confiantes e
estavam fortalecidas de dentro de mim. A Fonte Fae do Inverno
estava chamando a todos, despertando eletricidade e alegria por
todo o reino.
— Ah — o Rei Cyrus murmurou, me soltando. — Quase me
esqueci. — Ele tirou uma caixa do bolso e a estendeu para mim. —
Isso é para você. Do Príncipe Lark.
Era um pacotinho vermelho semelhante ao que Kalt me deu
antes de me trazer aqui pela primeira vez.
Abri, hesitante, com medo do que encontraria dentro.
Havia uma carta me esperando abaixo do papel.

QUERIDA ARTICA,
Este colar pode ser do Kalt, mas parte da magia do floco de neve
é minha. E eu ficaria honrado se você continuasse a usá-lo.
Lembre-se, existimos aqui por causa de nossas crenças.
Tudo acontece por um motivo...
Seu,
Lark

FIQUEI OLHANDO para o pingente de floco de neve. O mesmo que


deixei em meu quarto. Norden deve tê-lo pegado quando foi
procurar meus sapatos.
Selkie sorrateiro , pensei para ele.
Quem, eu? ele questionou. Sedutor, com certeza. Sorrateiro,
apenas quando me beneficia.
O colar de floco de neve?, provoquei.
Um benefício, tenho certeza , ele respondeu.
Suspirei e neguei com a cabeça. Não quero usá-lo. Não gosto do
que ele representa .
O pingente brilha quando você está perto de seus companheiros
pretendidos, Sunshine. E brilha intensamente ao redor de Kalt, algo
que ele precisa ver mais uma vez.
O pingente brilha ao redor dos meus companheiros pretendidos?
perguntei, surpresa com aquela informação.
Kalt o enfeitiçou para garantir que você não fosse persuadida a
fazer algo que não fosse certo , Norden respondeu. Ele acha que
não sabemos, mas o Lark também adicionou sua própria magia ao
colar.
O que ele adicionou?
Você terá que perguntar a ele , Norden murmurou. Mas por favor,
use-o. Precisamos lembrar ao Kalt que ele pertence a nós.
Suspirei. Mas ele não nos quer .
Ele quer, só precisa acreditar , Norden sussurrou de volta para
mim.
Ponderei por um momento, passando os olhos automaticamente
por todos os elfos sorridentes e guardas de biscoito de gengibre.
Todos esses seres existiam por causa da crença neste reino.
O Príncipe Lark ainda acreditava em Kalt.
Norden também.
Que tipo de rainha eu seria se escolhesse não acreditar nele? O
tipo que quebra nosso vínculo de companheiros , pensei, fazendo
uma careta.
Mas só porque eu o quebrei não significava que não pudéssemos
recuperar.
No entanto, para isso, Kalt precisava acreditar.
Então eu lhe daria esse empurrão, já que Lark e Norden pediram.
Eu lhe mostraria que ainda tinha um brilho de esperança.
Mas dependia de ele aceitar e tomar a próxima atitude.
— Pronto — o Rei Cyrus disse, sorrindo enquanto eu recolocava o
colar. Ele pegou a caixa de volta e a guardou no bolso, estendendo
depois o braço. — Agora podemos começar.
26

KALT

O zumbido da magia no ar fez com que todos os pelos dos meus braços
se arrepiassem. Eu quase podia sentir o espírito natalino na língua, a
recente onda de canela e especiarias era uma essência tangível no
ambiente.
Quase como se alguém tivesse acendido vários incensos.
Norden estava parado à porta da oficina, com as costas eretas
enquanto de alguma forma conseguia manter uma expressão séria,
algo que eu nunca o vi fazer antes, enquanto todos os outros na
sala sorriam com expectativa.
A futura rainha estava chegando.
De braço dado com o Rei Fae da Água.
Meu estômago se retorcia e minha alma gritava comigo por ter
escolhido o caminho covarde. Mas quando Lark me ofereceu a
opção, disse a ele que Cyrus era o Fae da Água mais apropriado
para o trabalho.
Do ponto de vista das relações Inter Reinos Faes, isso fazia mais
sentido.
Porque eu não era companheiro de Lark.
Não realmente.
Embora a atração certamente estivesse presente, longe de mim
agir como um bom membro da tríade. Eu não merecia a honra de
ficar ao lado de Artica e levá-la pelo corredor para cumprimentar os
elfos.
Porque eu a afastei. Afastei todos eles. E por quê?
Eu só tinha a mim para culpar por tudo isso. Tinha sido fácil
aceitar esse destino quando sentia que era por uma boa causa.
Mas a expressão de Artica, a forma como parte de sua alegria
morreu quando ela cortou nosso vínculo, abriu meus olhos para um
novo mundo de dor.
Um mundo que eu causei.
Não apenas para mim, algo que eu poderia ter aceitado, mas
também para ela.
Quando ela continuou a me chamar de Príncipe Kalt e a agir
como se não fôssemos mais do que colegas, quase surtei. Porque
ela sabia muito bem que significava mais para mim do que isso.
Mas ela não sabia disso, porque fugi dela em vez de abraçar
nosso vínculo.
Um vínculo que ela cortou.
Porque ela não acreditava mais em mim.
Uma profecia autorrealizável , pensei entorpecido. Eu também
não acreditava em mim mesmo. Esse era todo o problema. Eu não
confiava que minha própria crença era boa o suficiente para a tríade,
para ela .
E provei isso por meio de todas as minhas ações, afastando-a ao
ponto em que ela me rejeitou.
No entanto, não foi apenas a mim que ela rejeitou, mas também
uma parte de seu próprio coração. Essa era a parte que eu não
previ, a parte que não considerei em nada disso: como minha
negação afetaria aqueles a quem eu estava destinado a amar.
Pensei que, ao afastá-los, estaria nos protegendo de futuras
dores. Mas não era esse o caso, eu estava só intensificando essa dor
e garantindo que ela se concretizasse.
As palavras do meu primo ecoaram em minha mente sobre o
amor ser a chave da vida, como seu círculo de companheiros lhe
dava propósito.
Sem esse propósito, quem eu sou? , me perguntei. Um emissário
esperando unir os reinos? Mas por qual causa? O que me impulsiona
a seguir esse destino?
Não o amor.
Não a minha tríade.
Não, foi o conceito de fugir de meus companheiros enquanto me
escondia atrás de um propósito falso. E tudo isso foi feito como uma
maneira de garantir que eu nunca experimentasse a dor que senti
esta manhã quando Artica rejeitou nosso vínculo.
O que significava que torturei a todos nós por nada.
E agora, talvez eles nunca me perdoassem.
Me arrepiei quando um pouco de gelo escorreu pela minha
espinha, a origem parecendo vir de fora. Provavelmente de Cyrus.
Semicerrei os olhos enquanto assumia o controle do elemento e o
derretia.
Mas outro cubo de gelo apareceu, tocando minha mão.
Olhei para ele, franzindo a testa. O que você está fazendo?
Pensei para meu primo, transformando rapidamente o elemento em
vapor.
— Ei! — um elfo gritou do outro lado da sala, me assustando. —
Quem jogou isso?
Pisquei. O que nos reinos congelados dos faes?
O elfo tinha uma monte de neve na bochecha, seus olhos negros
procurando pelo culpado.
— Silêncio — Norden disse a ele. — A coroação já começou. —
Algo que foi evidenciado pelo hino sendo cantado do lado de fora
das portas pelos elfos alinhados na rua. Isso significava que Artica
começou a caminhada em direção à oficina e em breve estaria lá
dentro.
Outro elfo gritou, fazendo com que eu o olhasse, confuso. Ele
também tinha um pouco de neve no queixo.
Outro cubo de gelo se formou contra a palma da minha mão.
Eu o derreti rapidamente e procurei pela causa da água
interrompendo a coroação. Cyrus poderia brincar comigo, mas não
arriscaria um desastre Inter Reinos Faes iniciando uma guerra de
bolas de neve na sala de brinquedos dos Faes do Inverno.
Mais elfos pularam quando neve os atingiu de forma inesperada,
a fonte vindo de fora.
Da Artica.
Curvei os lábios para baixo. Por quê...?
Um toque soou e o olhar de Norden encontrou o meu antes que
ele limpasse a garganta. Ele parecia bastante nervoso, dada a
perturbação na sala, mas, conforme todos se calaram, ele assentiu.
— Apresento-lhes Artica, a Fae Elemental do Reino das Águas, a
rainha pretendida do Príncipe Lark. — Ele se curvou, depois de fazer
discurso curto e doce, como estava destinado a ser, e abriu a porta
para permitir sua entrada.
Ela atravessou, parecendo uma deusa naquele vestido
deslumbrante.
Mas meus olhos foram imediatamente atraídos para seu pescoço
e o belo floco de neve de cristal pendurado na corrente perto de
seus seios.
Meu coração parou de bater.
Ela está usando meu amuleto .
Ela o tirou na minha frente, tentou devolvê-lo, e ainda o usava
agora durante esse momento incrivelmente importante.
Porque ela não desistiu da esperança .
Entreabri os lábios, sentindo meu coração acelerar no peito. Eu
deveria estar ao seu lado, acompanhando-a, ajudando-a nesta
cerimônia e garantindo que ela se sentisse segura.
Mas a deixei nas mãos de outro.
Do Rei Fae da Água, que se inclinou para sussurrar algo no
ouvido de Norden.
Algo que eu deveria estar sussurrando.
Era tudo parte da tradição, uma troca secreta de palavras que
ninguém jamais ouviria além dos dois homens perto da porta.
Os dois homens destinados a ser a segunda e terceira parte da
tríade do futuro rei.
Mas Cyrus não era o fae certo. Ele já tinha um círculo de
companheiros.
E ele só estava ali agora porque eu permiti. Foi minha escolha.
Flocos de neve, estraguei tudo , pensei, furioso comigo mesmo.
Mas fui distraído por mais uma chuva de gelo na minha mão. O
que nos reinos você está fazendo, Artica? Derreti o cristal mais uma
vez, mas dois elfos gritaram ao nos cantos da sala.
Artica e Cyrus paralisaram, assim como Norden.
Então, uma bola de neve gigante voou e acertou a parede bem
ao lado de Artica. Ela arregalou os olhos.
Isso não é bom. Nada bom.
— Que merda está acontecendo com você? — Norden
questionou, um pouco de sua dominância régia aparecendo. Ele
raramente a mostrava, optando por seguir o caminho amigável dos
selkies em vez do príncipe privilegiado.
No entanto, aquela bola de neve cair tão perto de sua
companheira claramente desencadeou seu lado mais autoritário.
Por ser companheiro de Lark, ele era considerado um Príncipe
Fae do Inverno.
O que lhe dava jurisdição para aplicar punições quando
necessário.
A sala ficou em silêncio mais uma vez, o selkie semicerrou os
olhos. Então ele olhou para Artica, que estava muito surpresa.
— Você está bem, Sunshine?
Cyrus olhou para mim na multidão, o conhecimento em seu olhar
me dizendo que ele também descobriu a causa da água espontânea
e não a entendia.
Artica assentiu.
— Estou. — Ela soou confiante, mas suspeitei que, por dentro,
ela não estava nada bem. Ela curvou os lábios em um sorriso
encantado para a sala, escondendo qualquer nervosismo que
pudesse estar sentindo. — Um pouco de neve não me assusta.
Alguns dos elfos riram.
Norden também sorriu.
— Bem, isso é bom, considerando que estamos cercados por
centenas de quilômetros dela. — Ele inclinou a cabeça, e um pouco
da sua energia compassiva retornou às suas feições. — Agora, onde
paramos?
— Você estava prestes a apresentar meu acompanhante — ela
disse, interpretando o papel lindamente.
— Ah, sim, Cyrus, o Rei Fae da Água do Reino Fae Elemental —
Norden declarou, alto o suficiente para que toda a sala ouvisse. — É
uma honra tê-lo e a sua rainha conosco hoje.
— Estamos honrados em estar aqui — Cyrus respondeu. — Não é
todo dia que uma Fae da Água se junta à Corte dos Faes do Inverno.
O olhar de Norden encontrou o meu brevemente antes de ele
dizer:
— Não, definitivamente não é todo dia.
Rangi os dentes. Sim, sim, entendi, selkie .
Mais gelo roçou meus nós dos dedos, me avisando que outra
bola de neve poderia aparecer. Mas um lampejo de poder vindo de
Cyrus cruzou meus sentidos primeiro, sugerindo que ele a
interceptou antes que pudesse se formar.
Seu olhar encontrou o meu novamente. Que merda está
acontecendo? Ele parecia perguntar.
Não faço a menor ideia , respondi com um olhar.
As formalidades continuaram quando Norden fez a Artica uma
série de perguntas festivas relacionadas, como sua guloseima
favorita, sua cor favorita de papel de embrulho, qual brinquedo ela
escolheria para um bebê selkie e, por último, como ela prometia
manter o espírito festivo deste reino.
— Acreditando — ela respondeu lindamente, e suas palavras
perfuraram meu coração e arrancando suspiros da multidão.
— Bem — Norden murmurou, olhando ao redor. — Acho que ela
é uma Princesa de Cristal perfeita para a tríade do Príncipe Lark. —
Seu olhar encontrou brevemente o meu, as palavras e você não
ditas entre nós. — É claro, estou sendo parcial como um de seus
companheiros. — Ele voltou sua atenção para os elfos. — São vocês
que têm que concordar. A Princesa Artica é digna de carregar a
coroa do futuro rei?
Uma camada adicional de gelo perfurou minha pele, me fazendo
pular.
O poder de Cyrus imediatamente apareceu, derretendo uma bola
de neve sobre a sala.
Abri os lábios quando mais três vieram, todas se dissipando
instantaneamente sob seu poder.
Mas algo estava seriamente errado.
E Artica parecia completamente inconsciente de que sua
afinidade Elemental estava provocando todas essas bolas de neve
aleatórias.
Um coro de aprovações ecoou ao nosso redor quando os elfos
concordaram que Artica era digna de carregar a coroa. Não que eu
duvidasse, mas se ela não parasse de tentar atacá-los com bolas de
neve, teríamos um problema sério.
Seus olhos sorriam enquanto ela observava os elfos, com os
lábios se curvando nas extremidades.
— Estou profundamente honrada e agradecida pela aceitação de
vocês — ela disse a todos, suas palavras adequadas a uma rainha.
Ela fez uma reverência baixa, mostrando aos elfos que os
respeitava tanto quanto à realeza, um costume neste reino de afeto
mútuo, e se levantou lentamente para dar seus passos finais em
direção ao fabricante de brinquedos responsável pela coroa.
Cyrus não a acompanhou nesta parte, sua responsabilidade
estava completa.
O que era muito bom, porque mais bolas de neve sugiram. Ele as
derreteu e uma gota de suor surgiu em sua testa. Estava exigindo
uma grande energia controlar a água antes que se formasse, e
apesar de ser o fae mais próximo da Fonte de Água, ele
eventualmente ia se exaurir.
O elfo entregou a Artica uma caixa contendo a coroa, explicando
que ela já havia sido abençoada com a crença de todos na sala. Ela
agradeceu com mais uma reverência, depois pegou a caixa
embrulhada em suas mãos.
— Vou me certificar de que todos na sala do trono também
abençoem esta coroa — ela prometeu, seu papel ainda mais
importante a partir deste ponto em diante.
Porque aquela coroa continha os poderes da ascensão.
E se alguém infundisse um leve sinal de descrença nela, a
coroação poderia dar terrivelmente errado.
Era exatamente por isso que eu ainda não a tinha tocado.
Porque não tinha certeza do que sentia.
Eu acreditava no Príncipe Lark. Acreditava em sua trajetória. Mas
não acreditava em seu tríade. Eu não acreditava em mim mesmo.
Mas ao assistir Artica, vendo Norden abraçá-la enquanto ele a
encontrava junto à porta, percebi o quanto eu estava errado.
Porque eu deveria estar lá em cima com eles.
Não Cyrus.
Ele olhou para mim pela última vez, seu olhar conhecedor
conforme ele saía da sala com Norden e Artica ao seu lado. Agora
ele completaria a escolta até a sala do trono.
As portas se fecharam com finalidade, mas meu coração deixou a
sala com Artica e Norden.
Comecei a me aproximar deles, desejando segui-los, mas fui
atingido na cabeça por uma bola de neve do tamanho do meu
punho.
Vários outros elfos gritaram em consternação enquanto a neve
começava a cair do teto em grandes bolas fofas.
Cyrus claramente liberou seu controle sobre a água,
provavelmente mantendo o foco na jornada de Artica até a sala do
trono.
Isso me deixou como o único com a habilidade de conter aquilo.
Mas era demais.
E a água não parecia certa.
Ela cintilou .
Olhei para uma gota perto dos meus pés, franzindo a testa
diante da textura colorida da neve.
Uma mistura de gelo e confetes.
Duas fontes se fundindo em uma.
Meu olhar disparou para a porta. Ah, Fae... Artica está em sérios
apuros .
Comecei a correr atrás dela, mas fui atingido com mais uma
esfera fofa.
— Guerra de bolas de neve! — um dos elfos gritou, claramente
empolgado com a ideia de brincar na neve.
Vários outros começaram a se juntar, as pequenas criaturas
enlouquecendo com o espírito festivo que se espalhava dentro da
sala de brinquedos fechada.
Espírito festivo em excesso , percebi.
Eles estavam ficando embriagados com isso.
Deixando-os aproveitar a alegria, escapei para o corredor e saí
atrás de Artica. Mas um par de homenzinhos de biscoito de gengibre
bloqueou o meu caminho.
— Nada de interrupções — disseram ao mesmo tempo, um eco
muito arrepiante que eu nunca mais queria ouvir.
Rangi os dentes.
— Sou o Emissário Fae Elemental. Sou necessário na sala do
trono.
— O Príncipe Lark disse que você não deve interromper — eles
repetiram juntos mais uma vez.
Arqueei as sobrancelhas.
— Bem, como membro de sua tríade, eu discordo — retruquei. —
Agora saiam.
Eles se olharam com aqueles olhinhos de doce.
É, fofurem-se com isso , pensei, me enevoando para o pátio fora
do palácio principal.
Então pisquei.
Aquela foi a primeira vez em mais de uma semana que consegui
enevoar.
Quase congelei diante da mistura de excitação confusa.
Seria porque comecei a aceitar o meu propósito? Ou porque já
havia aceitado?
Ah, não importava agora. Eu tinha que alcançar Artica ou
Norden, para contar a eles o que estava acontecendo na sala de
brinquedos.
Mas havia muitos elfos alinhados na passarela, as belas canções
adornando o ar enquanto suaves flocos de neve caíam.
Saltar no meio disso tudo causaria uma cena.
A sala do trono , decidi. Artica teria que levar aquele presente
para cada pessoa na sala.
Eu a encontraria lá e a avisaria.
Porque algo me dizia que aquela guerra de bolas de neve na sala
de brinquedos era apenas o começo.
27

ARTICA

E u estava me sentindo animada e leve , como se tivesse aproveitado um


pouco demais do hidromel.
Senti uma risadinha quase me escapar. Minha alegria em ter
tanta felicidade era contagiante.
Norden continuava ao meu lado enquanto caminhávamos, me
dizendo que, embora não fosse exatamente a tradição, ele sabia que
o Príncipe Lark não se importaria.
E os elfos pareciam adorar aquilo.
Ou talvez fosse o Rei Cyrus que os intrigasse.
Porque ele também veio junto.
Ah, era uma ótima demonstração das relações Inter Reinos Fae.
A Rainha Claire ficaria muito orgulhosa.
— Como você está se sentindo? — o Rei Cyrus perguntou quando
nos aproximamos do palácio.
— Humm? — murmurei, olhando para ele. — Ah, me sinto cheia
de vida! — Como se eu quisesse dançar, girar e suspirar, tudo ao
mesmo tempo.
O olhar do Rei Cyrus foi de mim para Norden.
— Isso é normal?
— Para a Artica? Ou para este reino? — Norden perguntou.
— Os dois — ele respondeu.
Norden deu de ombros.
— Ela é uma fae muito alegre. É por isso que ela é nossa rainha
destinada.
— Entendo — o Rei Cyrus não parecia muito certo, mas eu não
me preocupei com isso. Ele sempre foi bastante sério, daí a sua
intimidação. Mas era extremamente atraente, por sinal. Algo sobre o
qual todas as Faes da Água falavam. O que fazia da Rainha Claire
uma fae muito sortuda.
Mas eu também me sentia com sorte.
Porque eu tinha um selkie sexy.
E um Príncipe Fae do Inverno.
Eles me alimentariam com doces selkie, biscoitos de caramelo
salgado e chocolate quente, tanto quanto eu desejasse.
Tão faencantador e perfeito , quase suspirei.
— Artica — o Rei Cyrus sussurrou. — Talvez devêssemos fazer
uma pausa antes de entrar na sala do trono?
— Uma pausa? — repeti, rindo. — Ah, não, eu não preciso de
uma pausa. Isso é incríííível. — Sim, eu soava um pouco
embriagada, mas quem não estaria assim? Era a sensação mais viva
que já tive!
Norden me lançou um sorriso encantador que alcançou seus
olhos sedutores e me conduziu pelas portas principais do palácio.
Mais elfos aguardavam lá dentro, com suas canções ecoando
pelas paredes e me enchendo de tanta felicidade, que eu me sentia
embriagada de alegria.
Aromas de canela perfumavam o ar, o que me fez inspirar
avidamente.
Tamanha beleza.
Tamanho entusiasmo.
Tamanho êxtase harmonioso.
Uma parte de mim queria saltitar em direção às portas, mas me
contive. O pacote em minha mão era precioso e precisava ser
manuseado com cuidado.
Dois guardiões de biscoitos de gengibre nos encontraram na
porta. Eles bateram suas varinhas três vezes ao mesmo tempo antes
de declararem:
— Artica, a Futura Rainha do Reino Fae do Inverno, chegou!
Um rugido de excitação ecoou lá dentro, o que me fez curvar os
lábios.
Essa coisa de ser rainha era muito divertida.
Por que eu tinha ficado tão nervosa?
Quase soltei uma risadinha diante da minha inaptidão. Era óbvio
que eu estava destinada a isso.
Norden me lançou um beijo antes de levar o Rei Cyrus pelo braço
para afastá-lo. O Rei Fae da Água parecia em dúvida e expressou
uma reclamação que não consegui ouvir com clareza.
Então as portas se abriram e eu entrei.
Assim como da última vez, meus olhos foram imediatamente
atraídos pelo Fae sexy no trono.
E também, como da última vez, parei para apreciar sua beleza
impressionante.
Porque suspiro . O Príncipe Lark era mesmo digno de sonhos em
todos os sentidos.
Ele sorriu, o que fez seus olhos franzirem nos cantos ao me
chamar para frente, enquanto todos os outros observavam. Os
protocolos da cerimônia estipulavam que eu não poderia lhe dar o
presente ainda, mas poderia cumprimentá-lo.
Foi o que fiz. Caminhei com altivez até o trono, e fiz uma
reverência profunda enquanto segurava o presente.
Esta era a parte que me preocupava.
Mas minhas pernas funcionaram como no gelo, me permitindo
me apresentar com elegância ao ficar de pé mais uma vez.
Sim, eu não caí de bunda!
Norden riu em minha mente. Muito bem, Sunshine. Embora eu
não fosse me importar de ser o seu cavaleiro de armadura smoking.
Sorri. Talvez eu me curve para você mais tarde .
Ah, por favor, faça isso , ele sussurrou de volta para mim. E de
preferência, fique de joelhos.
Minhas bochechas coraram. Pare. Preciso me concentrar .
Posso sugerir que você olhe para o rosto de Lark, ao invés de
hum, o presente de Natal dele?
E não era o presente em minhas mãos que ele queria dizer.
Limpei a garganta e olhei para cima e encontrei divertimento no
olhar verde menta do Príncipe Lark.
Santa Fae, o que deu em mim? Me perguntei. Eu estava
realmente me sentindo embriagada. Talvez de magia?
— Olá, querida pretendida — o Príncipe Lark me perguntou. —
Esse presente é para mim?
— É, meu príncipe — respondi, me lembrando do roteiro. — Mas
você não pode recebê-lo ainda.
Ele fez um bico.
— Por quê?
— Ainda não foi abençoado com crença suficiente. — De onde
estão surgindo essas palavras? Ah, certo, diasss de leitura. — Mas
não se preocupe, há pessoas crédulas por todo este salão, dispostas
a abençoar esse presente. Não é mesmo? — Olhei para a multidão e
sorri enquanto todos comemoravam com alegria natalina. Até
mesmo os faes estrangeiras, visitantes de reinos distantes, sorriram
e se juntaram a eles.
A alegria festiva era mesmo contagiante.
— Posso cumprimentá-los, Sua Alteza? — perguntei, sentindo
que meus lábios pareciam se mover sem minha permissão. O que
provavelmente era melhor, porque eu me sentia um pouco
mentalmente confusa no momento.
— Sim, sim, claro — ele respondeu. — Mas só por um beijo.
Ahhh, Príncipe Lark safadinho. Isso não está no roteiro!
Melhor dar o que ele quer, Sunshine , Norden murmurou.
Eu sorri. Não precisa me dizer duas vezes . Porque o Príncipe
Lark estava simplesmente faelicioso naquele smoking todo branco,
assim como Norden. Mas o cabelo do Príncipe Lark me lembrava
neve prateada contra seus ombros, chamando minha alma de Fae da
Água.
Coloquei o pacote no chão com cuidado, não querendo correr o
risco de tocá-lo muito cedo, e senti uma vibração imediata de
energia percorrer meus braços enquanto me erguia.
Isso é estranho , pensei.
Mas o Príncipe Lark me chamou com seu olhar, e eu não ia
decepcioná-lo.
Caminhei até o trono e me inclinei para beijá-lo.
No entanto, não era isso que ele tinha em mente.
Ele segurou meus quadris, me puxou para seu colo e me deu um
beijo arrebatador.
Os Faes do Inverno na sala foram à loucura, aplaudindo alto
enquanto ele me presenteava com seu afeto. Até mesmo ouvi alguns
assobios, que pensei que poderiam ser dos faes visitantes.
Eles provavelmente estavam tendo o show de suas vidas aqui.
Eu ri e balancei a cabeça.
— Você é incorrigível — sussurrei, minhas palavras apenas para
ele.
— O Norden é incorrigível — ele me corrigiu. — Estou apenas
ordenando.
— Humm — murmurei, concordando com ele. — Posso abençoar
o seu pacote agora?
— Você percebe que essa frase tem um duplo sentido, não é? —
Seu olhar brilhou, e sua felicidade era um farol que chamava o meu
espírito.
— Vou abençoar esse pacote mais tarde — falei em seu ouvido.
— Desde que você mereça.
Seu pacote começou a endurecer debaixo de mim.
— Vá antes que eu cancele tudo e aproveite isso agora mesmo.
Eu ri e me contorci para sair de seu colo, me certificando de que
minhas curvas o atingissem da maneira certa.
Afinal, foi ele quem me colocou ali. Por que não torturá-lo um
pouco?
Sua megera , Norden me acusou. Acho que acabei de me
apaixonar por você .
Você não estava apaixonado antes? , provoquei, consciente de
que tínhamos nos conhecido há pouco tempo.
Ah, eu estava a caminho disso, Sunshine. Mas esse pequeno ato
solidificou tudo para mim. Sinta-se à vontade para levar meu
coração com você onde quer que vá.
Sorri para ele enquanto me curvava para pegar o pacote. Outro
zumbido percorreu meus braços, o que fez todos os pelos se
arrepiarem, e outra onda de euforia me envolveu. Isso é tão
divertido .
É disso que este reino se trata , Norden disse.
Suspirei, incapaz de me lembrar do que me deixou triste mais
cedo. O que quer que fosse, claramente empalidecia em comparação
a tudo que estava acontecendo aqui.
Um círculo se formou enquanto os faes se juntavam para ajudar
a abençoar o presente com sua crença. Nem todos participaram,
muitas dos faes visitantes estavam incertos sobre como tudo
funcionava. Assegurei a eles que estava tudo bem, que eu tinha
crença suficiente para todos nós.
E era verdade.
Toda essa experiência era como um sonho, um conto de fadas
que eu nem sabia que precisava.
Cheio de doces deliciosos, energia encantadora e tanta vida.
Ah, sim, quero ficar aqui para sempre , decidi enquanto
encontrava um rosto familiar. Dei um gritinho quando Juniper
arregalou os olhos ao meu lado, ao lado de um Fae Fortuna.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei, animada por ver
uma amiga Fae da Água.
— Meu mentor Fae Fortuna me convidou para participar, e pensei
que poderia te ver. — Seus olhos azul-esverdeados se arregalaram.
— Mas eu não esperava por isso .
Eu ri.
— Sim. Tem sido... uma experiência.
— Posso dizer. — Ela colocou a mão no presente, com os olhos
ainda arregalados. — Nossa, Artica. Isso é...
— Incrível? — sussurrei.
— Sim — ela murmurou. — É exatamente isso.
Outra descarga percorreu meu braço, me fazendo estremecer.
Juniper soltou o presente como se tivesse sentido o mesmo.
Essa crença mágica realmente não era brincadeira.
— Te encontro mais tarde — prometi a ela, continuando em
direção ao Fae Fortuna ao seu lado, que balançou a cabeça.
— É melhor eu não tocar nisso, Princesa — o homem disse,
sorrindo com seu olhar misterioso.
Um olho era prateado com rachaduras na íris, enquanto o outro
era verde brilhante, que me lembrava das árvores perenes.
Ele levantou as mãos.
— A menos que você deseje uma visão.
Humm, não , decidi. Meu futuro termina com um final feliz .
Humm, eu adoro final feliz, Sunshine , Norden acrescentou em
meus pensamentos. Na verdade, estou ansioso para te proporcionar
um esta noite.
Rindo, eu suspirei. Meus dois companheiros eram incorrigíveis.
O Fae Fortuna me lançou um olhar estranho, e percebi que
estava sorrindo como uma idiota novamente, graças a Norden em
minha mente.
O homem ao seu lado, com presas longas e perigosas, e íris
cortadas, ergueu os lábios com desgosto.
— Nada de visão, Rache. A última coisa que quero é ser
convocado ao Collegium para escrever uma profecia de dez páginas
envolvendo elfos e bonecos de gengibre.
Rache fez beicinho.
O homem ao lado dele parecia ser o fae mais entediado da sala.
Não, esqueça isso, o Fae da Meia-Noite ao lado dele era
definitivamente o mais entediado da sala. Seu olhar azul-prateado
parecia ver através de mim.
— Suas Fontes estão se misturando — ele disse em tom casual.
— Está me dando dor de cabeça.
Franzi a testa.
— O quê?
— Kai — uma voz doce interveio, chamando minha atenção para
a pequena Fae Real da Terra ao lado dele.
Entreabri os lábios.
— Aflora .
Ela sorriu, seu olhar azul-cerúleo girando com poder.
— Rainha Aflora — o homem ao lado dela corrigiu.
Ela o cutucou com o cotovelo.
— Aflora está bom — ela disse, olhando para ele antes de se
voltar para mim com uma expressão gentil. — Além disso, parece
que a Artica está prestes a se tornar uma rainha também.
— Se ela conseguir resolver o problema com a Fonte — o homem
resmungou.
Aflora suspirou.
— Não dê ouvidos a ele. Ele não gosta de ser amigável, e essa
atmosfera alegre está mexendo com os nervos dele.
Outro homem resmungou.
— Está mexendo com os nervos de todos nós. — Esse tinha
olhos verdes e a mesma altura do outro, mas sua voz era muito mais
profunda.
— Teremos que colocar a conversa em dia quando você terminar
— Aflora falou, ignorando o homem de cabelos escuros.
— Sim, não ligue para Zeph e Zakkai. Eles não têm nem de longe
o mesmo conhecimento em relações Inter Reinos Faes que nós —
um terceiro homem disse, esse com íris dourada e cabelos castanho-
avermelhados com bordas acinzentadas.
— Sim, nem todos nós nascemos como Príncipes Fae da Meia-
Noite — o de cabelos escuros zombou.
— Os dois, quietos — Aflora declarou, olhando de um lado para o
outro entre os homens que presumi serem seus companheiros.
Havia um quarto também, mas ele permanecia em silêncio, com a
expressão divertida, mas silenciosa. — Desculpe, Artica. Nos
encontraremos em breve.
— Sim, eu adoraria isso, Rainha Aflora — respondi, olhando de
forma significativa para o homem de cabelos brancos compridos.
Seus lábios se curvaram em gratidão, e senti uma espécie
estranha de vibração percorrer meu braço.
Estranho .
Nenhum deles tocou no presente, o que não me surpreendeu. A
herança como Faes da Meia-Noite os tornava bastante sombrios.
Seguindo em frente, encontrei a Rainha Claire e seus
companheiros. O Rei Cyrus perguntou novamente como eu estava
me sentindo, e eu afirmei mais uma vez que estava bem. Homem
estranho, parecia estar sempre preocupado. Embora eu não me
lembrasse de ele ter me perguntado isso antes.
De qualquer forma, continuei até chegar em Norden, que estava
com vários selkies.
Dadas suas aparências semelhantes, imaginei que esses fossem
seus irmãos.
— Meu irmão Yule queria conhecê-la — Norden me disse.
— Mesmo? — Me animei, satisfeita por cada um dos homens ter
tocado no presente sem questionar. Passei por vários que não
estavam interessados, mas a maioria era faes visitantes.
— Sim — ele respondeu. — Recentemente, fiz amizade com um
Fae Elemental no mundo humano, então posso dizer que sua
espécie me intriga.
— Ah, é?
— Sim, sujeito legal. Mas o companheiro dele, um metamorfo de
husky, é extremamente rude — ele disse, franzindo a testa.
Eu ri. Porque entendia o sentimento, dada a minha história com
Faes Metamorfos.
Só que...
— Você disse metamorfo de husky?
— Sim. E rude — ele repetiu.
— O Fae Elemental que você conheceu se chama Lance? —
perguntei.
Seus olhos azul-claro se iluminaram.
— Sim. Fae Elemental do Fogo.
Eu sorri.
— Ele é um dos meus amigos. Como está?
Yule inclinou a cabeça, fazendo com que sua longa madeixa
prateada caísse como uma cachoeira para um lado.
— Ele parece estar bem. Está perdidamente apaixonado por sua
humana também. Feliz e tudo mais.
Eu ri.
— Mesmo? O Lance costuma ser bastante mal-humorado, então
é ótimo ouvir isso.
Ele sorriu.
— Imagino que ele tenha sido infectado pela afinidade da
humana com o espírito natalino. Assim como você, Princesa. Nossa
magia fica bem em sua espécie.
— Obrigada — Norden interveio, sorrindo enquanto segurava o
presente como um refém em suas mãos. — Trabalhei muito duro
ontem à noite.
Balancei a cabeça para ele, mas não pude deixar de retribuir o
sorriso.
— Me devolva a caixa.
— Não, ainda tem um fae que precisa abençoá-la — ele disse, se
virando diretamente para Kalt, que parecia ser o último na fila.
Entreabri os lábios, surpresa ao encontrá-lo ao lado do trono.
Mas parecia estar apenas conversando com Lark enquanto eu
dava a volta pela sala.
Os dois semicerraram os olhos para mim, me fazendo franzir a
testa. O que eu fiz? perguntei a Norden.
Nada que eu saiba , ele respondeu com um tom de voz
semelhante.
— Está tudo bem, meu príncipe? — Sua voz era baixa, destinada
apenas a nós quatro enquanto nos reuníamos ao redor do trono.
Mas antes que ele pudesse responder, uma trombeta soou, e os
bonecos de biscoito de gengibre anunciaram a parte final da
cerimônia.
Porque o Príncipe Lark cercado por seu círculo de companheiros
era o sinal para que começasse.
A música irrompeu pela sala, o que fez meu coração cantar de
alegria enquanto eu tentava me concentrar no que Lark, Norden e
Kalt estavam dizendo.
Eu não conseguia ouvi-los sobre a bela canção. Cada acorde
melódico tocava meu coração.
Kalt pegou o presente e o entregou para mim enquanto dizia
algo.
Estremeci, sentindo a magia interior mais forte do que nunca.
Isso me fez sentir mais leve que o ar, mais feliz que a própria
vida, como se eu pudesse flutuar nos céus em uma nuvem de pó de
fada mágico.
— Eu lhes apresento — o boneco de biscoito de gengibre gritou
— o Rei e a Rainha reinantes do Reino Fae do Inverno.
Ah, Fae ... Eu me esqueci dessa parte com os pais de Lark.
Eu tinha que conhecê-los.
E coroar seu filho.
Enquanto estava embriagada de felicidade.
Bem, que maneira melhor de conhecer a família do que
abraçando o espírito festivo? pensei com alegria, suspirando
enquanto os pais dele entravam com seu círculo completo de
companheiros ao redor.
Três machos. Uma fêmea.
Meu futuro.
Como Rainha Fae do Inverno.
Aceito , pensei de forma sonhadora. Ah, com certeza eu aceito .
28

LARK

D e todas as vezes para K alt fazer exatamente o que eu precisava ,


tinha que ser agora, neste exato momento, nos levando para a
próxima etapa da coroação.
A simbologia de tê-lo ao meu lado no trono, conversando comigo
enquanto Norden e Artica chegavam, não passou despercebida para
ninguém na sala.
Meu círculo de companheiros havia se unido.
Mas por todas as razões erradas.
Artica fez uma reverência perfeita, totalmente inconsciente do
problema que se avolumava dentro dela. Ela estava embriagada com
a magia Fae do Inverno.
O que provocou o belo impacto de permitir que ela apresentasse
uma performance impecável como a ascendente Rainha Fae do
Inverno diante de todos os nossos pares.
E o perigoso efeito colateral de um possível óbito.
Porque ela estava muito próxima da Fonte Fae do Inverno para
uma companheira não totalmente ligada.
Eu não fazia ideia do que causou isso, mas podia sentir o poder
irradiar ao seu redor, envolvendo sua alma em uma dança destinada
a uma herdeira Fae Real do Inverno.
Ela não sabia como lidar com isso.
Não queria dizer que ela não podia , apenas que não tinha
treinamento adequado. E ela também era uma Fae Elemental, o que
significava que ainda estava ancorada à Fonte da Água.
Daí a guerra de bolas de neve na loja de brinquedos, um evento
que Kalt me detalhou enquanto Artica andava pela sala.
Eu a observei com cuidado, notando os fios de magia invernal
fluírem ao seu redor, crescendo a cada passo.
Ela irradiava crença .
E possuía mais alegria que todo o reino junto.
Eu deveria ter notado quando ela me beijou, mas estava tão
perdido no momento, na perfeição de sua aparência, que não me
concentrei nos encantamentos que giravam dentro dela.
Ela executou sua parte nessa ascensão tão lindamente que quase
chorei ao vê-la.
Não tinha dúvidas de que ela teria se saído muito bem mesmo,
sem o impulso festivo, o que só a tornava ainda mais incrível aos
meus olhos.
Mas agora eu estava preocupado com ela e não tinha como
acelerar o processo ou puxá-la para o lado.
A apresentação do círculo de companheiros do meu pai começou.
Cada um deles foi apresentado pelo nome e seu título formal,
sendo meu pai o Rei Fae do Inverno e minha mãe a Rainha Fae do
Inverno. Seus companheiros eram Príncipes Faes do Inverno da mais
alta ordem, uma designação dada apenas aos homens de um círculo
de companheiros. Outros membros da realeza Fae do Inverno
recebiam títulos de Príncipes de Primeira Ordem, Segunda Ordem, e
assim por diante.
Tratava-se da apresentação da corte real, rotulando as famílias
em ordem de sucessão, até mesmo os ducados. Muito semelhante à
estrutura da realeza em vários países mortais, algo que eles
herdaram sem saber da cultura Fae do Inverno.
Nossos costumes haviam se infiltrado nos assuntos humanos ao
longo dos séculos.
Assim como os costumes de vários outros reinos faes.
Uma consequência de compartilhar o acesso ao Reino Humano,
eu supunha.
Quando a última família real Fae do Inverno foi anunciada e
apresentada, a cerimônia de entrega do presente recomeçou. Mas
desta vez, Kalt e Norden auxiliaram Artica no desafio. Era costumeiro
que o círculo de companheiros trabalhasse em conjunto quando
estabelecido antes da coroação, e parecia que meu círculo de
companheiros havia sido definido.
Mas Kalt não tinha realmente se juntado a nós.
Ele estava ajudando por temer pela segurança de Artica.
No entanto, a simbologia do momento o tornava muito meu. O
que era algo que discutiríamos em detalhes mais tarde, pois eu
suspeitava que ele ainda pretendia lutar contra seu lugar em nosso
círculo.
Meus pais foram os últimos a abençoar o presente. Seus sorrisos
estavam cheios de orgulho e curiosidade ao conhecerem Artica. Eles
se encantaram por ela, como eu suspeitava que aconteceria. Ela
redefinia o significado de alegria .
O que era uma característica que eu adorava muito.
Mas, agora, estava amplificada por uma quantidade excessiva de
magia festiva.
Norden e Kalt não permitiram que ela tocasse na caixa em
momento algum enquanto faziam as rodadas com a Realeza Fae do
Inverno, mas isso não parecia ter ajudado. Na verdade, ela estava
de alguma forma irradiando ainda mais poder.
Engoli em seco quando eles se aproximaram, sentindo o coração
na garganta. Porque, sinceramente, eu não sabia o que aconteceria
em seguida.
A cerimônia pedia que Artica abrisse a caixa e me apresentasse a
coroa. Depois, a colocasse em minha cabeça.
O que significava que ela precisaria tocar no presente
novamente.
E na magia dentro dele.
Magia que servia como um condutor direto para a Fonte Fae do
Inverno.
Seus olhos azul-escuros encontraram os meus, as íris cintilando
como esferas de safira. Abri as pernas para que ela ficasse entre
elas. Artica apoiou as mãos em meus ombros, enquanto ela se
inclinava para me beijar na frente de toda a corte.
Isso não fazia parte da cerimônia.
Mas eu roubei um beijo dela antes, e ela parecia estar
retribuindo o favor.
— Isso é tão divertido — ela sussurrou contra a minha boca.
— Fico feliz que você esteja se divertindo — respondi com
honestidade, enquanto acariciava sua bochecha. A magia vibrava
entre nós, as correntes elétricas percorriam minhas veias e
chegavam diretamente ao meu coração.
Eu não estava certo se ela seria capaz de lidar com a coroa nesse
estado. Isso poderia levá-la ao limite, mas não havia outra maneira
de fazer isso. Se Norden ou Lark abrissem caixa, demonstraria uma
preferência por eles em relação à futura Rainha Fae do Inverno. E
embora eu pretendesse adorar meus companheiros igualmente,
Artica era considerada a joia do círculo de companheiros. Ela era o
coração que nos mantinha unidos, enquanto meu poder nos
protegia.
No entanto, ela parecia ser ambos nesse momento: coração e
alma.
Artica se levantou, abrindo um sorriso para a multidão. Sua
aparência e compreensão da cerimônia eram impecáveis, como se a
Fonte Fae do Inverno a guiasse pelas etapas.
Talvez guiasse mesmo.
Talvez tenha sido isso que a ajudou a saber exatamente o que
fazer.
Ela estudou, sim. Mas isso ia além de ler livros e memorizar
declarações.
Era um espírito encantado pela própria Fonte.
Uma mulher abraçando sua nova vida como Rainha Fae do
Inverno.
Os olhos de Norden encontraram os meus, a preocupação
irradiando em suas profundezas. Ele podia sentir agora o excesso de
alegria dentro dela. Ou talvez Kalt tenha contado. Eu suspeitava que
fosse o primeiro apenas por causa de sua conexão mental, o que
significava que a mente dela estava mostrando sinais de insanidade
festiva.
— E agora, para a coroação de nosso futuro rei! — meu pai
rugiu, recebendo aplausos de todos na sala.
Artica sorriu, pegou o presente de Norden e um arrepio
percorreu todo o seu corpo. Era como se ela estivesse absorvendo a
magia, mas eu não sabia como isso era possível.
Norden e Kalt se aproximaram dela, com os corpos
instantaneamente em alerta enquanto tentavam protegê-la de cair
ou de qualquer outro efeito colateral que pudesse surgir. A ação os
colocou contra os meus joelhos enquanto ela ainda estava entre
minhas coxas afastadas.
Me inclinei para frente, o gesto provavelmente parecia ansioso
para a multidão. No entanto, era mais para que eu pudesse tentar
ajudar a drenar parte da energia dela.
Não funcionou.
A Fonte Fae do Inverno ia diretamente para ela, o poder
aumentando à medida que ela desatava o laço e levantava a tampa
para exibir a coroa de gelo lá dentro.
— Oh, é linda — ela suspirou. Colocou o presente no meu colo,
posicionando-o entre nós para se permitir segurar a coroa com as
duas mãos.
Mais tentáculos de encantamentos Fae do Inverno se enrolaram
entre nós, fluindo para fora da caixa e penetrando em minha pele.
Mas não era o suficiente.
Ela já havia absorvido demais, uma façanha que deveria ser
impossível para uma não Fae do Inverno.
Ela nem mesmo era minha companheira ainda.
O que em fae está acontecendo?
Segurei seus quadris enquanto ela oscilava, a reação
provavelmente estava sendo interpretada como uma resposta ao
poder em meu colo. O que serviu como um eufemismo para a
multidão e nos rendeu uma rodada de risos e aplausos.
Eu estava tão concentrado nela que não comentei nem reagi,
meu coração batia depressa no peito enquanto ela enfiava as mãos
na caixa para pegar a coroa.
Artica estremeceu, entreabrindo os lábios enquanto uma onda de
intensidade se estilhaçava entre nós, estalando com uma fervor
gélido que foi direto para nossas almas.
A coroa se despedaçou na caixa no momento seguinte,
arrancando um suspiro de sua boca enquanto seus olhos se
reviravam.
Kalt e Norden passaram os braços ao redor dela, mais uma
demonstração de nossa tríade se unindo, enquanto eu a segurava de
pé com as mãos em seus quadris.
Mas o feito estava consumado.
A Fonte Fae do Inverno entrou em seu coração, corpo e alma,
assumindo o controle e transformando suas íris em um delicado
azul-claro. Ela piscou para mim, e confusão estava estampada em
seus traços.
Quase como se tivesse acabado de acordar de um sonho.
— Oh — ela sussurrou, desviando a atenção para o gelo dentro
da caixa.
A essência de Kalt floresceu entre nós, fazendo com que os
pedaços dançassem e se moldassem novamente na forma de uma
coroa de gelo.
— Coloque-a na cabeça dele — ele disse a Artica em voz baixa.
— Faça isso agora mesmo.
Não resolveria porcaria nenhuma. A Fonte Fae do Inverno entrou
em nossa Rainha Fae do Inverno.
No entanto, isso nos permitiria seguir as expectativas cerimoniais
e ocultar momentaneamente o problema. Como minha companheira
pretendida, o poder seria visto como irradiando do meu círculo de
companheiros, não apenas dela. E todos assumiriam que era a
minha essência que sentiam.
— Sim, coloque-a na minha cabeça — concordei, minha voz
quase inaudível e destinada apenas para meus companheiros
ouvirem.
Havia vários Faes Metamorfos na multidão que poderiam captar
nossa conversa, mas eles apenas presumiriam que estávamos
orientando-a durante a cerimônia.
As mãos de Artica tremiam quando ela obedeceu e sua pele
estava pálida como a neve.
Mas ela persistiu, levantando a coroa de gelo de Kalt até a minha
cabeça e a colocou com cuidado sobre meus cabelos.
Seus joelhos cederam no minuto seguinte, algo que Norden e
Kalt permitiram, acompanhando-a até o chão enquanto se
ajoelhavam para mostrar seu respeito e orgulho. Não era um
elemento obrigatório da cerimônia, mas falava de sua confiança e fé
em mim como rei.
Algo que teria me feito sorrir com orgulho em qualquer outro dia.
Mas não hoje.
O que provavelmente me fez parecer arrogante para aqueles na
sala, mas isso não os impediu de aplaudir e torcer.
Artica tremia, fazendo Norden me lançar um olhar de pânico.
O que quer que ele estava ouvindo na mente dela... não era
bom.
Coloquei a caixa de lado e me levantei, erguendo os braços para
agradecer à multidão. Era costume que o novo Rei Fae da Água
fizesse um discurso, e embora eu tivesse preparado um, agora não
conseguia lembrar as palavras.
— Vou quebrar a tradição — disse a todos. — Vocês ouvirão meu
discurso no Banquete de Coroação desta noite.
Alguns dos Faes Reais do Inverno olharam uns para os outros
surpresos.
— Nossa nova Rainha Fae do Inverno se apresentou de forma
tão admirável que eu quero compartilhar minhas primeiras palavras
como rei com ela e nossos companheiros em particular. — Fiz o
possível para adicionar insinuações a essa declaração, ciente de que
a troca de poder geralmente criava um influxo de desejo no círculo
de companheiros recém-unidos.
Os sorrisos e olhares sugestivos em resposta me disseram que
consegui. Até mesmo meu pai e minha mãe sorriram um para o
outro, provavelmente relembrando de sua própria ascensão.
Um assunto que eu não queria pensar.
No entanto, eu preferia isso à minha rainha enfraquecida.
Seus olhos mal estavam abertos, seu corpo sendo mantido em pé
apenas por Norden e Kalt.
Me inclinei para pegá-la em meus braços, ciente de que pareceria
que eu estava prestes a levar meu prêmio para meus aposentos e
não me importava com o que os outros pensassem sobre isso.
Os beijos roubados durante nossa cerimônia certamente
ajudariam nessa explicação da minha ausência temporária.
Vivas irromperam na sala do trono, os presentes animados com
essa apresentação dos eventos. Ou talvez fosse o espírito festivo
emanado pela minha rainha que os seduziu.
Independentemente disso, abri um sorriso excessivamente alegre
e segui meu caminho através da multidão com a coroa de Kalt na
cabeça.
Ele teceu algum tipo de magia nela, fixando a peça em meu
cabelo com gelo.
Eu o agradeceria mais tarde pelo salvamento.
Tanto ele quanto Norden me seguiram de perto, mais uma vez
demonstrando a união do meu círculo de companheiros.
Não haveria escolha para Kalt agora, algo pelo qual ele
provavelmente me desprezaria. No entanto, eu aceitaria
alegremente o seu ódio se isso significasse salvar Artica.
Não que eu tivesse ideia de como salvá-la.
Tudo isso era inédito, e a cada segundo que passava, meu
coração batia mais forte.
Quando chegamos ao grande salão, pareceu ter se passado
horas. E ainda tínhamos mais convidados para cumprimentar.
Sentinelas e guardas de biscoitos de gengibre.
Elfos.
Selkies.
Um clã de Faes Metamorfos de urso polar, um grupo que eu
suspeitava que Artica teria adorado conhecer, mas ela estava
adormecida contra meu peito naquele ponto.
Ninguém parecia notar, tão encantados com a beleza em meus
braços e o poder irradiando ao meu redor – vindo dela – para
comentar.
Holly nos encontrou perto da entrada da minha ala particular,
com os olhos brilhando de empolgação.
— Parabéns, meu rei. — Ela se curvou. — Gostaria que
trouxéssemos petiscos e bebidas para a sua suíte?
Quase recusei, dizendo que queria ficar sozinho.
No entanto, suspeitei que poderia ser bom para Artica.
Então concordei e deixei Norden fazer o pedido para nós.
Kalt me seguiu pelo corredor, e o silêncio era uma mudança bem-
vinda de todo a cantoria atrás de nós.
Ele não disse nada, sua mente provavelmente estava girando
como a minha.
Norden nos alcançou perto da porta dupla da minha suíte, tendo
provavelmente corrido pelo corredor a toda velocidade. Ele pegou
Artica dos meus braços quando entramos e levou-a depressa para a
cama, passando as mãos por todo o seu corpo.
Eles estavam mais intimamente ligados nesse ponto, o que dava
a ele prioridade e a capacidade de senti-la.
— Você consegue ouvir os pensamentos dela? — perguntei,
sentindo a garganta seca.
Ele balançou a cabeça.
— O último pensamento coerente dela foi Feliz Festivus . E então
ela começou a cantar algo sobre pingentes de gelo.
— Icicle Bells — Kalt murmurou. — Uma canção popular para
Faes da Água.
Olhei para ele.
— Você tem alguma ideia do que está acontecendo?
A porta do meu quarto se abriu com violência antes que Kalt
pudesse responder, e o Rei Fae da Água entrou com um Fae da
Meia-Noite de aparência estoica ao seu lado.
— Precisamos conversar.
29

KALT

— S ei que são reis nos reinos de vocês , mas neste , eu sou o monarca ,
e é considerado bastante rude entrar sem bater — Lark falou com
raiva, adotando uma postura protetora diante da cama.
— O Cyrus consegue sentir a Fonte da Água reagir ao que quer
que esteja acontecendo dentro da Artica — intervi antes que meu
primo perdesse a paciência ou retrucasse. E eu não queria arriscar
irritar o assustador Fae da Meia-Noite ao lado dele. Não conhecia
Zakkai muito bem, mas todo o seu círculo de companheiros me dava
calafrios. — A Fonte da Água está... bem, está protestando — falei
sem saber como explicar direito. Mas eu sentia, o que significava
que Cyrus também sentia.
— Ela está fazendo mais do que isso — Zakkai disse sem rodeios.
— A alma dela está presa entre duas Fontes em conflito, e nenhuma
delas está disposta a libertá-la.
— Acreditamos que isso seja resultado dos seus laços de
companheiros — Cyrus acrescentou. — É perfeitamente aceitável
para uma Fae da Água se juntar a uma tríade de Faes do Inverno e
aceitar a Fonte do Inverno. Mas não foi isso que aconteceu aqui.
Artica se ligou a dois Faes do Inverno, criando uma perturbação
entre as Fontes.
— Um desequilíbrio — Zakkai corrigiu. — Ela está canalizando a
magia Fae do Inverno através dos seus laços, fazendo com que a
Fonte da Água reaja de forma possessiva. Resumindo, as Fontes
estão lutando pela alma dela, e a coroação de hoje deu a vitória à
Fonte do Inverno.
— Como você sabe disso tudo? — Norden perguntou.
O Fae da Meia-Noite olhou para ele, as íris azul-prateadas
irradiando poder.
— Sou o Arquiteto da Fonte.
— Um Quandary de Sangue com poder imenso — Lark explicou
sem perder o ritmo, obviamente ciente da Fonte Fae da Meia-Noite e
das linhagens de Sangue que a mantinham. — Talvez até mais
poderoso do que a própria Rainha Fae da Meia-Noite.
Zakkai deu de ombros, seus longos fios de cabelo brancos
ondulavam como se ele tivesse passado os dedos repetidamente por
eles.
— Como ela é minha companheira, a distinção é irrelevante.
— O que acontece se a Fonte do Inverno vencer? — perguntei,
pensando no que Zakkai acabou de revelar. — Você disse que ela foi
vitoriosa. Mas o que isso significa para Artica?
Eu poderia adivinhar. No entanto, não queria. Queria que ele nos
dissesse exatamente o que esperavam que acontecesse aqui, para
estabelecer as apostas e garantir que todos estivéssemos na mesma
página.
— Ela não vai sobreviver — Zakkai respondeu. — Não em seu
estado atual. Ou melhor, não no estado atual de vocês.
Pisquei para ele.
— Que significa...?
Ele me encarou.
— Seu vínculo Elemental foi quebrado. — Seu olhar foi para Lark
e Norden. — Os vínculos dos Faes Elementais que ela começou a
estabelecer com vocês dois também estão incompletos. — Ele se
concentrou em Lark. — E seu círculo de companheiros é fraco, na
melhor das hipóteses. Está faltando vínculos fortes, o que sugere
que você ainda não o desenvolveu completamente.
Por minha causa , pensei. Porque recusei a tríade .
E a ironia era que eu recusei porque temia não ser bom o
suficiente para Lark ascender. Por não acreditar em mim mesmo o
suficiente para ele abraçar corretamente a Fonte Fae do Inverno.
No entanto, era Artica que sofria.
Artica, que talvez não sobrevivesse... por causa da minha
escolha.
— Em resumo, parece que a Fonte Fae do Inverno começou a
canalizar magia para Artica por meio do seu vínculo — Cyrus disse,
com o foco em Lark. — Isso foi intensificado na noite passada,
quando ela se vinculou em terceiro nível com Norden. E piorou
exponencialmente hoje ao ter um condutor da Fonte colocado em
suas mãos.
— Então as pequenas explosões de poder nesta semana estão
todas ligadas a isso? — Norden supôs.
— Que explosões de poder? — interrompi, franzindo a testa.
— Ela lançou um pingente de gelo na cafeteria ao apontar para
uma barra de limão — Lark afirmou. — E o isolamento de água dela
falhou na outra noite.
— Não se esqueça do monte de neve — Norden resmungou. —
Ela quase sufocou.
Olhei boquiaberto para eles.
— Por que vocês não me contaram nada disso?
— Quando eu teria feito isso? — Lark exigiu. — Enquanto você
estava escondido na Groenlândia, fingindo estar em uma missão
Inter Reinos Faes? — Ele fez pouco caso e balançou a cabeça, me
dispensando para falar com Cyrus. — E quanto às bolas de neve na
oficina?
— Ela parecia completamente alheia a isso — meu primo
comentou.
— É claro que estava — Zakkai respondeu. — Ela estava
fascinada pelo condutor da Fonte. Sua alma ficou perdida entre dois
faróis de poder a semana toda, e um deles finalmente encontrou
uma maneira de realmente chamá-la.
— Porque a outra ligação com a Fonte da Água não estava aqui.
— Norden me encarou, a acusação clara.
Se eu estivesse aqui, talvez tivesse percebido ou sentido todas
essas mudanças em Artica.
E talvez pudesse ter impedido esse problema antes que piorasse
a esse ponto.
Senti o maxilar tensionar e fechei as mãos ao lado do corpo.
Não só deixei Artica quando ela mais precisava de mim, mas
também abandonei Lark e Norden, e possivelmente acabei por
contribuir com a morte da nova Rainha Fae do Inverno.
Era quase ridículo o quanto eu temia impactar negativamente a
coroação de Lark antes.
Porque tornei tudo ainda pior do que jamais poderia imaginar.
Desviei o olhar para Artica na cama. Ela estava tão bonita
naquele vestido. Tão princesa e perfeita. No entanto, a palidez de
suas bochechas e o leve brilho de suor em sua testa denunciavam
sua condição.
Ela está lutando pela vida.
Por minha causa.
Por causa das minhas decisões.
Por causa dos meus medos.
Isso me tornava o pior tipo de companheiro. Completamente
indigno de um ser doce como Artica. Porque eu realmente falhei com
ela.
— Tudo bem. Já sabemos qual é o problema. Agora, como
consertamos isso? — Lark questionou.
Norden foi até a cama para passar os dedos pelos cabelos de
Artica, sua preocupação palpável.
Eu também queria tocá-la. Abraçá-la. Fazer as coisas certas. Mas
não tinha ideia de como. Seria mesmo possível? Ela algum dia me
perdoaria por colocá-la nessa situação?
Lark não sabia o que um vínculo faria. Norden também não.
No entanto, eu, como seu companheiro Fae da Água, deveria
saber. Deveria tê-la protegido. Deveria ter estado aqui para ela.
— Kalt — Cyrus exclamou, me fazendo dar um pulo.
Gelo começou a se espalhar pelos meus braços, minhas emoções
assumindo o controle do meu Elemento e permitindo que ele se
manifestasse. Imediatamente, dissolvi os cristais, voltando meu foco
para o meu primo. — Como consertamos isso? — ecoei Lark. — O
que posso fazer?
— Pode começar aceitando sua tríade — Cyrus me disse. —
Então os três terão que acasalar com Artica. — Ele fez uma pausa,
encontrando cada um de nossos olhares de frente. — Vocês
precisarão se envolver no vínculo de alma de quarto nível. Como um
Fae da Água.
— O quê ? — Lark arregalou os olhos para ele. — Isso... isso
significaria...
— Se unir às Fontes como um círculo de companheiros,
proporcionando equilíbrio uns aos outros — Zakkai disse com ironia.
— Nós fazemos isso pela Aflora todos os dias.
— Como a Artica não é a rainha de seu elemento ou mesmo da
realeza, deve ser mais fácil para vocês quatro administrarem —
Cyrus acrescentou. — E por sorte, eu sou o Rei Fae da Água.
Portanto, posso ajudar com a cerimônia.
— Supondo que a Artica aceite — eu disse, franzindo a testa. —
Ela quebrou nosso vínculo.
— Porque ela acha que você não a quer — Norden me disse,
seus olhos castanhos brilhando no tom mais escuro que eu já tinha
visto. — Ela quebrou o vínculo para deixá-lo partir, porque se recusa
a forçá-lo a uma situação da qual você não quer fazer parte.
Vacilei.
— Ela acha que você só acasalou com ela porque estava bêbado
com o espírito natalino do bar — ele continuou. — Foi o que peguei
em seus pensamentos, de qualquer maneira.
— Norden e eu sabemos que você é nosso — Lark afirmou, os
olhos cor de menta brilhando. — Mas a Artica duvida. A Artica
duvida de você porque você duvida de si mesmo. O que significa
que não podemos formar essa tríade até que você supere o que
quer que seja esse problema e nos abrace ou arrisque perder tudo.
— E a começar uma guerra — Zakkai forneceu. — Porque eu
duvido que os Faes do Inverno vão aceitar gentilmente sua Fonte
implodir dentro de sua nova rainha porque a Fonte de Água não
funciona bem.
— Não há nada que você possa fazer como Arquiteto da Fonte?
— Cyrus perguntou, seu medo palpável.
O que significava que ele também não acreditava que eu fosse
fazer essa escolha.
E por que ele acreditaria?
Por meses eu disse a ele que não queria fazer parte dessa tríade.
Disse o mesmo a Artica. A Norden e Lark também.
Achei que hoje provaria que eles não precisavam de mim.
Em vez disso, demonstrou o quanto eu realmente era
necessário... e o quanto falhei com eles.
— Ela ainda está viva. — Zakkai cruzou os braços. — Por que
você acha?
— Mas você pode fazer algo para redistribuir o poder? — Cyrus
enfatizou. — Puxá-lo para fora dela e empurrá-lo de volta para Lark?
— O que você acha que tenho feito na última hora? — Zakkai
perguntou a ele. — Ela só conseguiu terminar a cerimônia por
influência minha. Mas as Fontes não vão parar de lutar por sua
alma. Ela tem muitos laços incompletos. Se seus companheiros não
quiserem consertar a situação, então a natureza seguirá seu curso.
— Então você...
— Precisamos terminar a tríade — falei, interrompendo meu
primo.
Debater o que o Arquiteto da Fonte poderia ou não fazer era
irrelevante neste momento. Ele já afirmou que era a razão pela qual
Artica ainda não havia sido dilacerada pelas Fontes.
E eu não queria descobrir quanto tempo duraria sua boa
vontade.
A natureza seguiria seu curso.
Mas seria o curso certo .
Consertar meu erro e aceitar meu destino. A descrença jogou
todos nós nessa confusão. Então eu teria que usar a crença para nos
tirar dela.
Eu tinha medo da dor ligada a amar outra pessoa e
inevitavelmente parti meu coração por meus próprios meios tolos.
Nunca mais cometeria esse erro.
— Vamos completar a tríade — reiterei. — Em seguida, vamos
começar a cerimônia Fae da Água.
Artica e eu estávamos desvinculados desde esta manhã, e os
laços de primeiro nível poderiam ser criados novamente se as almas
fossem compatíveis o suficiente. E as nossas certamente eram.
Eu sabia disso há anos, e foi assim que eu soube que a magia
Fae do Inverno no enfeite a selecionaria.
Ela era perfeita para Lark e Norden.
Porque ela sempre foi perfeita para mim.
Enfrentei Lark e Norden com a postura resoluta.
— Estou pronto. Me digam o que preciso fazer. — Me expliquem
como consertar isso e salvar a alma de Artica.
30

ARTICA

F lutuando , pensei preguiçosamente . E stou flutuando em uma nuvem de


confete misturado com gelo.
Uma risadinha ficou presa na minha garganta.
Um lado meu entendia que havia algo muito errado aqui. Mas a
atmosfera festiva continuava me puxando para um círculo
vertiginoso de névoa colorida.
Ou era geada?
Isso continuava mudando, dançando entre paisagens geladas e
campos de bengalas doces.
Muita cor.
Seguido de neve branca.
Outra risada quase me escapou, e a insanidade da minha
situação me fez sentir embriagada pela vida.
Fa la la , cantarolei, um pouco tonta. La la . Franzi a testa.
Quantos mais las e fas? Ah, flocos de neve. Terei que recomeçar.
Mas as palavras se transformaram em uma melodia sobre
pingentes de gelo e flores de cerejeira. Não. Flores de açúcar . O
que é uma flor de açúcar?
Tentei balançar a cabeça para clarear a mente, para me
concentrar no perigo muito real da minha situação, mas outro
turbilhão me fez cair em um monte de neve.
Mas eu não conseguia sentir.
Porque não é real.
O frio parecia bem real. Estremeci e minha alma chorava dentro
de mim. Me sentia devastada e sozinha. Perdida e confusa. Dividida
ao meio. Esticada em duas direções que não conseguia definir.
O que está acontecendo comigo?
Minha coluna gelou e meu coração congelou, enquanto eu me
esquecia como respirar.
O mundo começou a oscilar, minhas pernas não flutuavam mais,
elas afundavam.
Para baixo. Para baixo. Para baixo.
Ah, isso não pode ser bom.
Movi as mãos no ar, tentando nadar de volta para as nuvens,
parando enquanto tons masculinos quentes me cercaram.
Familiares. Intensos. Meus .
Comecei a flutuar, permitindo que a corrente me levasse em
direção ao meu refúgio esperado. Porém uma placa de gelo
bloqueou meu caminho, se separando dos meus machos.
Meus machos , repeti para mim mesma com uma risadinha.
Suspiro.
Norden e Lark pareciam tão bonitos em seus smokings
prateados. E Lark com sua coroa, ele...
Franzi a testa. Espere ...
Ele parecia um rei com aquela coroa. Mas não estava certo. A
coroa...
Abri os olhos de repente, com um soluço preso em meus
pulmões.
Branco me cercava. Um mundo coberto por neve pura sem
qualquer enfeito festivo. Era tudo gelo, frio e um silêncio assustador.
A coroa se despedaçou , me lembrei. Eu... Eu quebrei a coroa .
Mas não sei como fiz ou o que levou a isso. Apenas que me senti
tão viva e cheia de mais alegria do que poderia conter. Eu queria
implodir, permitir que o mundo inteiro sentisse minha alegria festiva.
— É tudo uma questão de crença — uma voz profunda disse por
trás da placa de gelo. As palavras vibraram em meus ouvidos,
ecoando ao meu redor em minha prisão congelada. — Norden e eu
já sabemos que você pertence a nós. Agora cabe a você acreditar
nisso.
— Não tenho certeza se acredito mais — uma voz sensual
respondeu.
Norden . Meu coração tentou bater, cantar para meu
companheiro selkie. Mas meu interior se assemelhava à parede que
nos separava: sólido, frio e se recusando a se mover.
— Não acho que ele seja digno da Artica — Norden continuou. —
Ou de nós.
— Norden. — Isso veio de Lark, aquele que ouvi falar primeiro.
Seu tom de comando cantava para minha alma, sua essência
poderosa era algo que eu ansiava agora mais do que nunca.
Preciso de você , pensei. Preciso que você derreta o gelo e me
aqueça com sua alegria inata.
Tão diferente de quando nos conhecemos.
Muito mais impactante agora.
Tão certo .
— O quê? Talvez a Artica tenha agido certo ao quebrar o vínculo.
Ele falhou com todos nós, e agora olhe onde estamos. — O tom
zangado de Norden pouco fez para dissipar o tom sedutor de sua
voz. Mas ouvi-lo falar assim machucou meu coração.
Norden? , tentei novamente.
Nenhuma resposta.
Por causa da parede congelada.
Tentei erguer o punho para derrubá-la, mas meus membros
pareciam pingentes de gelo ao meu lado. Minha magia da água se
recusava a isolar minha pele, me deixando suscetível aos elementos
externos.
— Ela está fria como o gelo — alguém disse. Kalt, talvez? — Não
temos tempo para dúvidas agora.
Norden resmungou.
— Bem, isso é irônico vindo de você.
— Olha, me desculpa, está bem?
— Um pouco tarde para isso — Norden resmungou.
— O que você quer que eu diga? — Kalt exigiu. — Quer uma
explicação para a minha hesitação? Um discurso sobre como eu
estava preocupado que minha descrença pudesse afetar o círculo
todo?
A dor na voz de Kalt perfurou meu coração congelado. Eu não
sabia de por que o ouvia com tanta intensidade, ou o que realmente
estava acontecendo, mas podia sentir sua agonia como se fosse
minha.
— Sempre esperei ficar sozinho — ele continuou. — Eu... a tríade
me pegou de surpresa, assim como minha reação intensa a ela. E os
sonhos. Sei que você é responsável por alguns deles, mas...
Eu queria desesperadamente ver sua expressão. Abraçá-lo. Dizer
a ele que tudo ficaria bem.
Mas as paredes de gelo estavam se transformando ao meu redor,
me aprisionando sob uma espécie de iglu blindado. É minha magia?
pensei, sentindo-a se entrelaçar no gelo. Está construindo uma casa
protetora para mim? Por que eu preciso disso?
Felizmente, a barreira permitiu algum calor inesperado, fazendo
com que meus membros descongelassem.
— Eu não queria aceitar meu destino — a voz de Kalt reverberou
ao meu redor novamente, sugerindo que perdi parte do que foi dito.
— Mas quando a Artica quebrou nosso vínculo esta manhã pareceu
muito errado. Não me sinto bem desde então.
— Isso é normal — outra pessoa comentou.
— Mas não é. Já tive vínculos de primeiro nível antes. Nunca
doeu quebrá-los. Foi bom quando aconteceu. E tentei quebrar esse
com a Artica antes de partir, mas não consegui. Eu achava que era
por causa da paixão dela por mim ou da crença dela de que éramos
almas gêmeas, que talvez ela estivesse um pouco mais ancorada do
que qualquer outra pessoa que conheci. Mas não era isso.
Seus comentários agora ecoavam nas barreiras de gelo,
chegando aos meus ouvidos com uma vibração estranha.
— Não consegui quebrar o vínculo de companheiros, porque no
fundo, minha alma sabia que ela era a certa. No entanto, destruí a
crença dela em mim como seu companheiro predestinado. O que
permitiu que ela o quebrasse. E ao fazer isso, percebi o quanto
estava errado.
— Então, por que não disse isso a ela? — Norden perguntou, seu
tom ainda irradiando fúria. — Por que não tentou consertar?
— Ela não me deu chance! — Kalt respondeu, exasperado. — E
eu não sabia o que dizer.
— Mas agora você tem certeza de que pode lidar com isso? —
Norden não parecia acreditar nele, a dúvida em seu tom tão
incomum vindo do homem que comecei a conhecer.
Isso é real mesmo? me perguntei. Ou é um sonho?
Em algum momento, fiz uma cama para mim no gelo. Ou talvez
tivesse caído sem perceber.
De qualquer forma, me enrolei em uma bola na laje gelada e
ansiava por me aquecer. Ansiava por Norden e seu calor. Lark e sua
força. Até mesmo Kalt e sua afinidade com o gelo. Ele seria capaz de
derreter esse iglu, não seria?
Mas não queria forçá-lo a me ajudar.
Tomara que isso seja apenas um sonho.
— Não tenho certeza se consigo lidar com qualquer coisa — Kalt
soou exasperado mais uma vez. — Mas sei que tenho que tentar,
tenho que me render a essa conexão entre nós. Senti desde o início.
Com você, com Lark. Neguei porque senti que vocês mereciam
alguém melhor. Assim como fugi da Artica porque queria que ela
ficasse com alguém mais capaz de acreditar.
— Por que você duvida da sua crença? — Lark perguntou em voz
baixa. — Sua magia brilha aqui, Kalt. Sempre brilhou.
Esse sonho é tão estranho , pensei, sonolenta e bocejando.
Talvez eu não tenha comido doces selkies o suficiente hoje.
Meu estômago se contraiu com o pensamento e a fome me
atingiu profundamente.
O que eu comi hoje? me perguntei, franzindo o cenho. O que
aconteceu depois de coroar Lark?
Espera, a coroa...
Eu a imaginei se despedaçando, a magia se esgotando.
Para onde ela foi?
— A crença é uma sensação única — Lark continuou. — Ela vem
do coração e da alma, não da nossa mente. É o que dá influência ao
pensamento. A crença nos diz o que ver, como sentir e como reagir.
Você não pode forçá-la. Mas pode interpretá-la erroneamente.
Sua voz é tão bonita quanto seu rosto . Um pensamento
engraçado que me fez rir. Ou, mais precisamente, gorgolejar .
Porque meus pulmões estavam congelados novamente.
Eu quero acordar. Logo, por favor.
A magia tocou meu corpo mais uma vez, minha afinidade com a
água tentava me isolar novamente. Ela zumbiu e crepitou, mais
fraca que nunca.
O que está acontecendo? repeti para mim mesma. Será que
estou morrendo?
— Você soube desde o dia em que nos conhecemos que seu
destino o trouxe aqui por um motivo. Vi você abraçar nossa magia,
prosperar com ela, aproveitá-la. O que te impediu foi sua própria
determinação de ser alguém que você acha que precisa ser, não o
homem que está destinado a ser. — A voz de Lark tinha um toque
de calor que eu ansiava sentir contra minha pele.
O silêncio caiu, o frio dele era um beijo indesejado para meus
sentidos.
Eu queria chorar. Gritar. Pedir ajuda. Mas meus lábios estavam
congelados e meus olhos perdidos para sempre na brancura ao meu
redor.
— É assim que você conserta — Lark murmurou, me
despertando da névoa gelada em minha mente. — Aceitando a
conexão e percebendo que a crença sempre esteve lá e que você só
precisava abraçá-la.
— Eu sempre a senti — Kalt admitiu, com a voz baixa. — Eu... só
achava que vocês dois mereciam algo melhor.
— Algo que você tentou provar hoje — Norden apontou, com
uma nota de algo diferente de raiva em seu tom. Uma sensação de
interesse, talvez. Fosse o que fosse, aumentou sua sensualidade,
provocando uma sensação de formigamento em meu coração e se
espalhou por minhas veias.
Suspirei, aliviada com o lampejo de calor.
— Você me repreendeu de propósito — Kalt resmungou.
— Tive que me certificar de que você realmente queria isso —
Norden respondeu, enviando outro raio de calor em minhas veias. —
Não vou aceitar que você fuja novamente, Kalt. Não vou aceitar sua
dúvida. E de jeito nenhum vou aceitar que você machuque nossa
Artica novamente. Está me entendendo?
— É meio difícil não entender com você segurando meu pescoço
assim — Kalt resmungou.
— Isso não é resposta, Frosty.
— Eu entendo, selkie. — Kalt soou um pouco embaraçado, algo
que eu realmente gostaria de poder ver. — Mas você está se
adiantando. Ainda preciso conquistar o perdão de Artica e fazer esse
juramento pessoalmente a ela.
— Você acha que ela vai te perdoar? — Lark perguntou em voz
baixa.
Franzi a testa. Pelo que devo perdoar Kalt? Não foi culpa dele
termos nos vinculado. Ele estava bêbado. Eu o liberei. O que mais
havia para perdoar? Ele podia viver sua vida agora. Ser quem ele
sentia que estava destinado a ser.
Franzi mais a testa. Com o que estou sonhando? O que eles
estão fazendo? Por que ainda estou coberta por todo esse gelo?
Eu ansiava por me mover, por vê-los, por entender o que estava
acontecendo. O calor deles irradiava por minhas veias, o zumbido de
eletricidade era uma sensação bem-vinda pelo meu corpo. Será que
isso significa que vou acordar logo?
Eu realmente queria voltar a ver. Respirar. Sentar perto de uma
lareira quente e saborear alguns doces. Humm.
— Eu não vou dar escolha a ela — Kalt afirmou, interrompendo a
deliciosa fantasia em minha mente. — Ela pode ter perdido a fé em
mim como companheira. Mas acredito que a conexão ainda exista. E
que ela vai me dar outra chance.
— Você vai ter que se humilhar muito — Norden apontou. —
Alguma adoração entre as coxas, talvez.
— Isso parece mais como um presente do que um castigo.
— Posso transformar em castigo — Norden ofereceu. — Atrasar
sua gratificação em troca da dela.
Alguém limpou a garganta, o som não pertencendo a nenhum
dos três homens.
— Estou aqui pelo aspecto da cerimônia de união, não pelas
festividades que se seguem.
Ah, Fae ... essa era a voz do Rei Cyrus.
E o que ele queria dizer com cerimônia de união ?
— Para fazer isso, tenho que remover minha influência —
declarou uma quinta voz, cujo dono me era familiar e, ao mesmo
tempo, desconhecido. Alguém que conheci recentemente. Talvez na
sala do trono?
Onde a coroa se despedaçou , me lembrei mais uma vez. O que
aconteceu...
Gelo perfurou meu peito, arrancando um grito agudo e silencioso
de meus lábios. Fae!
31

ARTICA

A s paredes ao meu redor começaram a derreter , o sol brilhante e


quente cegava minha visão em outro mar de branco enquanto a
geada ao meu redor se transformava em lágrimas úmidas de agonia
por ser superada pela força externa.
Isso já não parecia um sonho.
Parecia um pesadelo.
Um frenesi árduo e induzido pela dor de um pesadelo.
Muita dor. Muito calor. Muita alegria.
Ao ponto de doer para respirar. Eu não conseguia ver além do
brilho, o frio me abandonou completamente.
Eu me sentia quente. Muito quente. Como uma Fae Elemental
abraçando a Fonte do Fogo pela primeira vez e sem ideia de como
controlar a chama.
Só que não era Elemental de forma alguma.
Era outra Fonte.
A Fonte do Inverno.
E... ela estava me consumindo.
Me afogando em um oceano de magia estranha e exigindo que
eu a aceitasse por completo.
— Você a está matando! — alguém gritou.
— Não, eu a salvei da morte. Agora é seu trabalho trazê-la de
volta — outro retrucou. — Você tem o poder, Fae da Água. Traga-a
para o seu plano e deixe seu Rei guiar a cerimônia.
Eu me virei, confusa pelas vozes e pelas sensações que me
rasgavam.
O turbilhão aumentou, girando e girando, me deixando tonta a
ponto de perder a consciência por um segundo.
Então aterrissei em outra placa de gelo, o material precioso
provocou um suspiro de alívio dos meus pulmões superaquecidos.
Pressionei a bochecha na textura, eternamente grata pela frescura e
familiaridade do poder.
Artica , uma voz profunda ecoou em minha mente.
Pisquei, percebendo que tinha vindo do gelo.
Não, não era gelo.
Homem.
Levantei o olhar, uma ação que exigia um grande esforço para
meu corpo exausto, e encontrei um par de íris azuis cor de gelo
olhando para mim.
Kalt , sussurrei.
Ele tocou minha bochecha, os dedos gélidos lágrimas de alívio
dos meus olhos. Ele as enxugou com o polegar enquanto me puxava
para cima de seu corpo como se eu não pesasse nada.
Espere, não.
Não era ele.
As mãos eram de outra pessoa.
Seguidas por um cobertor de neve em minhas costas que era
tãoooo bom e acolhedor que suspirei.
Senti lábios acariciarem meu pescoço, o formigamento gelado
acalmava o calor em minha pele da melhor maneira possível.
E o tempo todo, Kalt sustentou meu olhar.
Algo se mexeu atrás dele. Um brilho de luz na imensidão branca.
Apertei os olhos, incapaz de distinguir até que outra mão fria
encontrou minha coxa, puxando minha perna.
Lark .
Aqueles olhos verde-menta tinham mais poder do que meu
coração podia suportar, fazendo-o bater alegremente em meu peito.
Tentei alcançá-lo, preferindo muito mais esse sonho a todos os
outros, mas meus braços se recusaram a se mover.
Um gemido escapou de meus lábios, a necessidade de tocar Lark
e permitir que ele absorvesse um pouco da magia dentro de mim,
uma sensação intensa que arranhava meu interior.
Shh , Kalt sussurrou, atraindo meu olhar de volta para o dele.
Eu não sabia por que ele entrou em meu sonho.
Bem, eu sabia.
Ele sempre esteve em meus sonhos.
Mas eu finalmente o libertei. Então por que vir até mim agora?
Por que nos abraçar aqui?
Seria a maneira do meu coração de dizer adeus? Criando uma
última memória falsa para durar a vida toda?
Isso não é um sonho, Artica , ele me disse. Estamos perto da
Fonte da Água .
Franzi a testa, mas ele usou o polegar em meu queixo para
direcionar meu olhar para a luz intensa perto de nossas cabeças.
Usei minha conexão de sangue através de Cyrus para trazer
todos nós aqui, mas não temos muito tempo. Precisamos começar a
cerimônia antes que seja tarde demais.
Como Fae Real da Água, ele teria permissão para quase tocar a
Fonte se o líder de sua linhagem permitisse. Então isso fazia sentido
de certa forma. Mas parecia fantástico demais para ser real.
É real , ele suspirou, claramente ouvindo minhas dúvidas.
Algo que eu não entendia. Não estamos vinculados .
Não, como Fae da Água, não , ele respondeu. Mas vamos
consertar isso.
Eu já consertei , disse a ele. Eu te deixei ir.
Sim, e ao fazer isso, você me ajudou a enxergar meu verdadeiro
propósito. Seu olhar era triste quando me olhou. Você é suficiente
para mim, Artica. Você é mais do que suficiente. Na verdade, você é
boa demais para mim.
Curvei os lábios para baixo. Eu não entendo .
Você disse mais cedo que não era boa o suficiente para mim , ele
sussurrou, espalhando cristais de neve pela minha pele com o
polegar. Mas isso não é verdade. Você é a rainha perfeita dos Fae do
Inverno, e é boa demais para mim. Eu duvidei do meu valor, não do
seu. Duvidei da minha crença, nunca da sua. E duvidei das minhas
próprias forças, não das suas.
Engoli em seco. Agora eu sabia que isso era um sonho, porque
ele estava dizendo todas as coisas certas.
Nunca vou me perdoar por ter destruído sua crença em mim,
Artica. E vou passar o resto da vida tentando ser digno da sua fé.
Mais uma vez.
Ele pressionou os lábios nos meus, enviando uma onda de
formigamento mágico pela minha pele e minhas veias. Meu coração
bateu em resposta e minha alma pareceu se animar com o abraço.
Eu podia sentir o zumbido do vínculo de companheiros entre nós,
me desafiando a me conectar a ele.
Franzindo a testa, eu o afastei. Mesmo que fosse um sonho, não
queria me arriscar a prendê-lo novamente.
Ele suspirou. Artica, sei que te magoei. Me desculpe. Eu estava
muito envolvido com quem eu achava que deveria ser, sem entender
que quem eu sou agora é o que mais importa. Já alcancei meu
destino . Só parecia bom demais para ser verdade, como se fosse
um passo em falso que eu tivesse dado acidentalmente em minha
jornada. Uma chance linda da qual eu não era digno de vivenciar.
Seus lábios encontraram meu pulso novamente, a essência
nevada atrás de mim vibrando em minha pele enquanto uma
pontada de magia roçava meu ombro.
Norden .
Seu cabelo parecia seda, seu corpo era forte e seguro contra
minhas costas enquanto ele me encurralava contra o peito de Kalt.
Com Lark observando por cima do ombro de Kalt.
Apenas nós quatro em um mar de branco, acompanhados pela
Fonte da Água.
Um verdadeiro sonho.
Uma fantasia.
Uma realidade , Kalt me assegurou. Nós completamos a tríade,
Artica. É por isso que posso te sentir. Mas precisamos envolver os
vínculos Fae da Água.
Eu franzi a testa.
Inicialmente, você nos uniu como Fae da Água, com Norden no
terceiro nível. Se você não completar, as Fontes continuarão a lutar
pela sua alma.
Eu o encarei, procurando em seu olhar algo que eu não entendia.
Lutar pela minha alma? Era por isso que eu continuava sentindo
calor e frio? O intenso calor lutava contra as paredes geladas...
A Fonte da Água está tentando te segurar enquanto a Fonte do
Inverno está tentando forçá-la a ascender por causa de sua ligação
com Lark. Seu vínculo de terceiro nível com Norden impulsionou
tudo, então o condutor finalizou .
A coroa , traduzi.
Sim.
Ela se despedaçou , sussurrei pela milésima vez.
Sim , ele confirmou. E a magia entrou em você e em seu vínculo
com Lark. Isso está te matando, Artica.
Então vocês completaram a tríade , eu disse devagar.
Completamos.
Porque... as Fontes estão lutando pela minha alma . Não era uma
pergunta, mas uma afirmação. Algo que perfurou meu coração.
Sim , ele disse. E agora precisamos completar o acasalamento
elemental para ancorá-la entre as Fontes.
Engoli em seco. Ou minha alma será despedaçada .
Sim . Ele soava aliviado.
Mas eu não estava.
Você está fazendo isso para me salvar . Não porque ele queria.
Não porque ele me queria. Ele apenas não queria que as Fontes me
matassem.
Uma decisão nobre e que eu poderia respeitar.
Porque isso levaria a uma guerra inevitável.
Mas também iria me prender a Kalt pela eternidade, algo que eu
sabia que ele não queria de verdade.
Artica , ele disse, pressionando a mão com mais força em minha
pele. Não, isso não é verdade. Eu quero. Quero você. Quero o Lark e
o Norden também. Eu sempre quis.
Eu não estava certa se apreciava que ele ouvisse meus
pensamentos. Foi por ele ter nos levado à Fonte da Água? Isso o
tornou o mais forte de todos neste plano? Ele era um Príncipe Fae
da Água. Um membro da realeza. Um ser de imenso poder
Elemental.
Fazia sentido que ele pudesse me enxergar por completo e ouvir
todos os meus pensamentos e preocupações.
Mas eu não conseguia ouvir os dele.
Não conseguia sentir suas verdadeiras intenções.
E todas as ações dele me mostravam que era para salvar os
reinos, para garantir que nossa espécie não entrasse em guerra
como resultado do que eu fiz.
Não , Kalt disse bruscamente em minha mente. Isso não é culpa
sua, Artica. É culpa minha. Minha descrença nos levou a tudo isso,
não a sua. Duvidei do meu valor. Eu duvidei do meu destino. Duvidei
de nós. E é por isso que estamos aqui agora. Você fez tudo certo.
Você seguiu seu coração e sua alma. Eu ignorei o meu.
Não quero que nossos reinos entrem em guerra , pensei de volta
para ele. Existe outra maneira de consertar isso? Algo que não te
force a abrir mão da sua alma pela eternidade?
Você não está me ouvindo . A palma da mão de Kalt segurou a
parte de trás do meu pescoço enquanto suas íris cor de gelo giravam
com intensidade. Não estar com você seria abrir mão da minha alma
pela eternidade, Artica. Não fazer parte deste círculo de
acasalamento seria abrir mão da minha alma pela eternidade. Virar
as costas para o nosso destino seria abrir mão da minha alma pela
eternidade. Era isso que eu estava disposto a fazer, porque achava
que não era digno.
Seu aperto ao redor da minha nuca se intensificou.
Mas eu estava errado, Artica .
Ele roçou o nariz no meu, o beijo gelado indo direto para o meu
coração.
Este é o meu caminho e eternidade escolhidos .
Seus lábios roçaram os meus.
Você é minha companheira escolhida .
Sua língua deslizou para dentro da minha boca, dando vida
invernal ao meu ser e me envolvendo em uma felicidade nevada.
Eu escolho você. Escolho isso. Escolho a nós .
Ele aprofundou nosso beijo com cada afirmação, seu poder
inundando minhas veias enquanto me instigava a senti-lo, a vê-lo.
Meu coração doía por bater tão rápido, minha alma parecia
perpetuamente congelada por dentro e incerta sobre nosso próximo
passo.
Seu pingente em forma de floco de neve está brilhando
intensamente , ele me disse. Sei que você sabe o que isso significa,
Artica. Sei que você pode sentir o quanto somos certos juntos. E sei
que você acredita em nosso futuro.
Os lábios de Norden me acariciaram quando ele deslizou a língua
pela base do meu pescoço, o que provocou arrepios em seu rastro.
A mão de Lark também subiu pela minha coxa, o toque de pele
contra pele era uma carícia bem-vinda. Não tinha certeza de quando
perdi o vestido. Também não tinha certeza se me importava.
Não com a língua de Kalt em minha boca e sua pele fria
pressionada na minha.
Evitei meus sonhos por muito tempo, perdido em um mundo de
ambição e seguindo um caminho solitário, que não conseguia
enxergar o presente maravilhoso que estava diante de mim , Kalt
falou baixinho. Você é o futuro com o qual eu quero acordar todos
os dias, Artica.
Minha pele formigou e o toque coletivo provocou faíscas por todo
o meu corpo.
Kalt me beijou novamente, sua língua cativando a minha.
Sua alegria é contagiante , ele sussurrou. Seu coração é puro.
Sua beleza é extraordinária. E sua alma está cheia de vida e amor .
Gemi, seu beijo fornecendo o oxigênio que eu não percebia que
precisava.
Uma mão tocou o meu lado e depois deslizou entre mim e Kalt
para repousar contra meu abdômen. Norden, reconheci, sua mão
era como um bloco de gelo contra minha pele superaquecida.
Você é a rainha que eu nunca soube que precisava e que nunca
serei capaz de viver sem , Kalt continuou. Minha vida seria
insignificante sem você. Sem Lark e Norden também. Eu seria
solitário, desolado e sozinho. E embora eu mereça isso depois de
tudo o que fiz, vou passar a eternidade garantindo que eu mereça
mais.
A boca de Kalt deixou a minha, e seus olhos se fixaram nos
meus.
Vou passar a eternidade garantindo que eu te mereça , ele me
disse. Se você me aceitar, Artica, prometo ser seu para sempre. Para
te adorar. Te amar. Provar todos os dias que estamos destinados a
ficar juntos e que acredito em nosso destino.
Engoli em seco, meu coração batendo rápido demais.
Acasale comigo, Artica , ele murmurou. Acasale com todos nós.
32

KALT

P rendi a respiração , esperando pela resposta de A rtica .


Nós três estávamos deitados na cama de gelo na suíte de Lark,
perto da borda da piscina interna. Norden chamou aquilo de
banheira, mas ela ocupava mais da metade do enorme quarto, se
estendendo até o banheiro privativo.
Tiramos nossas roupas primeiro, incluindo Artica, na tentativa de
baixar sua temperatura corporal. Ela imediatamente se acalmou ao
sentir a placa de gelo embaixo de si e suspirou quando a envolvi
com minha magia da água.
Cyrus me disse para abraçá-la e, em seguida, Norden se
acomodou atrás dela com Lark ao meu lado.
Eles estavam me apoiando enquanto eu tentava firmá-la.
Estava exigindo uma quantidade absurda de poder para mantê-la
próxima à Fonte da Água, algo que Cyrus ajudava ao permitir que eu
usasse o plano da Fonte para me comunicar com Artica através de
nossas almas.
Eu estava ciente e, ao mesmo tempo, não estava do meu
entorno. Eu sabia que estávamos deitados. Sabia onde Lark e
Norden estavam posicionados. Mas minha mente estava
inteiramente focada em Artica e na Fonte da Água acima de nós.
Podia vê-la brilhando na luz, seus cabelos loiros quase brancos
como a neve. Mas eram seus olhos azuis profundos que me
mantinham cativo enquanto eu esperava por sua resposta.
Ela achava que eu estava fazendo isso para evitar uma guerra,
um sentimento que captei através da parte Fae do Inverno da nossa
conexão. Não eram tanto palavras que eu ouvia, mas sim
sentimentos. Como se eu pudesse sentir as intenções de seu
coração.
Ela não queria me prender.
Mas sentia que estaria fazendo exatamente isso ao forçar o
vínculo.
Foi Lark quem disse em voz alta qual era o problema, que sua
crença em minhas intenções estava vacilando. E Norden confirmou,
pois ele conseguia ler a mente dela.
— Beije-a novamente — Norden me disse agora. — Isso ajuda a
firmá-la.
Não hesitei, fazendo exatamente o que ele me disse. Minha boca
encontrou a dela no reino espiritual enquanto eu pressionava meus
lábios nos dela na placa de gelo na suíte de Lark.
Era uma sensação estranha, nossos corpos se conectando
enquanto nossas almas dançavam em um plano de existência que
poucos já haviam experimentado. Ter trazido Lark e Norden comigo
exigiu um poder enorme, algo que os dois me ajudaram através de
nosso vínculo Fae do Inverno.
Nada disso deveria ser possível.
Ou melhor, nada disso era permitido.
Mas, com a bênção de Cyrus, conseguimos fazer funcionar.
Suspeitei que Zakkai também ajudou. Não que ele fosse admitir.
No entanto, havia uma razão para ele ainda não ter partido. Algo
que ele se recusava a dizer em voz alta.
Artica suspirou, tanto no plano espiritual quanto fisicamente, seu
corpo parecendo relaxar contra o meu. Você beija tão bem quanto
sempre sonhei. Talvez até melhor .
Espere até me beijar de verdade para decidir , sussurrei,
aninhando meu rosto na bochecha dela em direção à sua orelha. Mal
posso esperar para provar você de todas as formas, Artica.
Norden murmurou em aprovação, fazendo com que seus olhos se
abrissem novamente. Não os ligados ao seu corpo, mas aqueles que
davam vida à sua alma. Ela tentou vê-lo, mas seu espírito estava
fraco demais para permitir muito movimento. Por isso a movemos
por conta própria, por que nos juntamos a ela aqui em vez de tentar
trazê-la de volta à sua forma corporal.
Agora tudo dependia da Fonte da Água.
E da disposição de Artica para se vincular.
— Pergunte novamente — Lark disse.
Ele e Norden pareciam incapazes de falar com ela nesse plano,
provavelmente porque não eram Fae Elementais. Felizmente, o
vínculo de Norden ainda permitia que ele a ouvisse. Mas, por algum
motivo, ela não conseguia ouvi-lo.
Artica , sussurrei. Você sabe que os Faes Elementais exigem
consentimento. E sei que essas não são as circunstâncias mais
ideais. Mas eu quero isso. Quero você. E Norden e Lark também a
querem.
Encontrei a mão dela e a levei ao meu coração, tanto física
quanto espiritualmente.
Você sente minha ligação com eles? Sente a crença que nos une?
Você é o centro disso, Artica. Aquela em torno da qual todos nós
giramos. Não o Rei dos Fae do Inverno, mas a rainha que estamos
destinados a estimar pelo resto dos tempos.
Ela estremeceu, fechando os olhos novamente. Um círculo de
companheiros .
Sim .
Para nos salvar de uma guerra.
Não , respondi de imediato. Para estarmos juntos como um. Para
nos amarmos e nos respeitarmos. Para compartilharmos as Fontes
de poder e sermos o círculo de companheiros mais poderoso que os
Faes do Inverno já viram. Para espalhar alegria e felicidade por
todos os reinos. E mostrar aos Faes que podemos nos unir, podemos
prosperar, e que o amor realmente supera tudo.
Mas você não me ama , ela sussurrou.
Suspirei. Artica, quero a chance de te amar. Eu quero a chance
de crescer com você. Quero a chance de ser bom o suficiente para
você.
Acariciei sua bochecha novamente.
Você partiu meu coração quando rompeu nosso vínculo. Foi uma
sensação diferente de qualquer outra que já experimentei. E eu
quero juntar os pedaços... por você , enfatizei. Por favor, Artica. Por
favor, me deixe te amar. Deixe-nos amar você .
Seus cílios se abriram para revelar as belas íris azuis. Ela olhou
nos meus olhos, me permitindo ver a dor dentro dela, sentir a
desconfiança e a mágoa que ela abrigava.
E a determinação que se solidificava. A realização de que não
havia outra escolha.
Que, embora ela pudesse abrir mão de sua própria alma pela
minha liberdade, ela não poderia permitir que sua decisão levasse os
reinos à guerra.
Lark suspirou, claramente percebendo o mesmo em sua aura.
Norden então confirmou as palavras em voz alta, nos contando
seus pensamentos.
Ela concordaria porque era necessário. E ela se arrependeria de
nos forçar a esse vínculo.
— Ela acredita que é a obsessão dela por você que nos trouxe a
esse ponto, que se ela tivesse percebido antes que você nunca a
amaria, poderia tê-lo deixado ir antes que isso começasse. E se
arrepende de ter aceitado o desafio para o estágio — Norden
concluiu, sua irritação palpável.
Eu entendia.
Porque agora ela estava sendo irracional.
Mas eu a levei a esse ponto. Então eu traria de volta.
— Será o suficiente para finalizar os vínculos Fae da Água? —
Lark perguntou, parecendo ser para outra pessoa na sala. — Ou o
círculo de companheiros precisará estar verdadeiramente completo
para equilibrar as Fontes?
Rangi os dentes. O círculo de companheiros dos Faes do Inverno
exigia crença, e Artica claramente não a tinha dentro dela agora.
Por minha causa e minhas ações obstinadas.
Eu a afastei, e agora o coração jubiloso de nosso círculo não
acreditava mais em nosso destino.
— Só há uma maneira de descobrir — Zakkai respondeu. — Isso
deve lhe dar tempo suficiente para equilibrar temporariamente a
alma dela. No entanto, a Fonte do Inverno continuará lutando até
que se estabeleça um equilíbrio permanente ou remova a contenda
da Fonte da Água.
Em outras palavras, ou resolvíamos nosso círculo de
companheiros...
Ou ainda sacrificaríamos a vida de Artica.
Mas se pudéssemos trazê-la de volta ao seu estado corpóreo,
mesmo que temporariamente, então eu poderia convencê-la de
minhas intenções.
Um vínculo de companheiros também lhe daria acesso à minha
mente.
O que ela poderia usar para processar minhas palavras e ações.
— Será suficiente — prometi a Lark e Norden. — Uma vez que
ela esteja vinculada, ela sentirá nossa crença.
— E o círculo de companheiros irá se estabilizar — Norden
concluiu.
— Sim — concordei.
Ele assentiu contra a cabeça dela.
— Faça isso.
Lark apertou a coxa de Artica, que repousava sobre a minha, os
lábios dele pressionando meu pescoço.
— Abra o caminho, Príncipe da Água.
33

ARTICA

K alt disse todas as coisas certas .


Mas algo me segurava.
Eu não conseguia definir, não podia dizer por que não acreditava
totalmente nele, além de que essa situação parecia tão distante de
qualquer possibilidade de reparação que eu sabia que não havia
outra alternativa.
Qualquer bom fae nessa situação faria o que fosse necessário
para salvar os reinos.
E Kalt era um dos melhores faes que já conheci.
Era por isso que sempre o amei. Um amor que agora parecia
manchado porque era a razão pela qual ele atualmente não tinha
escolha.
Ou talvez tivesse.
Mas eu não poderia saber disso até concluirmos o vínculo.
O que era uma pena, porque então eu teria acesso ao seu
coração e mente, e descobriria a verdade que eu já suspeitava: ele
estava sacrificando sua felicidade pelo bem dos reinos.
Eu seria infeliz com ele.
Bem, não por completo.
Porque Lark e Norden ajudariam a curar minha dor. E eu os
ajudaria a curar a deles também.
Sei que você não acredita em mim , Kalt sussurrou em minha
mente. Mas está tudo bem, Artica. Porque vou te provar isso assim
que terminarmos.
Não respondi porque não confiava em mim mesma para falar.
Também não confiava em mim para não ter esperanças de mais.
Porque eu queria acreditar nele. Queria que suas palavras fossem
verdade mais do que qualquer outra coisa. Mas eu me recusava a
desejar um final feliz que talvez nunca se concretizasse.
Cyrus está pronto para começar , Kalt disse, enquanto uma nova
presença se juntava a nós perto da Fonte. Isso é bastante incomum
com você estando inconsciente .
Franzi a testa. Eu não tinha considerado por que estávamos aqui
e falando em espírito em vez de pessoalmente.
Porque eu estava convencida de que tudo isso era um sonho
muito estranho até alguns minutos atrás.
E, honestamente, ainda não tinha certeza.
Mas a Fonte da Água parecia muito real, assim como minha
alma. Por que estou inconsciente?
Porque seu espírito está muito fraco para dar energia ao seu
corpo , ele me disse, parecendo triste. Os vínculos vão resolver isso.
Vamos te dar a nossa força para você se curar .
Engoli em seco. E unir nossas almas eternamente .
Pelo que entendo, isso é um benefício adicional , ele disse,
sussurrando sobre os meus lábios novamente. Norden e Lark sentem
o mesmo .
Eles não estão preocupados em se ligarem à Fonte da Água?
Eles estão mais preocupados em te perder, Artica , ele
respondeu. Vamos resolver isso juntos, como um círculo de
companheiros.
Suas palavras aqueceram meu coração.
Mas não o suficiente para inspirar esperança.
Tudo bem, talvez um pouco o suficiente para inspirar esperança.
No entanto, ignorei esse lampejo. Ou tentei, de qualquer
maneira.
Cyrus está começando , Kalt me disse, suas palavras foram
acompanhadas por uma onda de magia que formigou meus
sentidos. Tão lindamente gelada e cheia de energia mística.
Minha alma suspirou, se curvando à grandeza da Fonte e ao rei
que empunhava o poder.
Era uma verdadeira bênção ser formalmente acasalada pelo Rei
Fae da Água. Poucos faes seriam agraciados com tal experiência.
E no entanto, eu só estava sentindo isso em meu espírito, não
ouvindo as palavras ou cânticos formais que ele evocava para iniciar
o processo.
Mas não importava. Sonhei com essa união a vida toda,
pensando em como seria quando Kalt e eu finalmente disséssemos
nossos votos.
Agora nós diríamos.
Por todas as razões erradas.
O que entristeceu meu coração até que senti os lábios de Norden
em meu pescoço, me lembrando de que eu não estava sozinha. Que
ele e Lark também estavam aqui.
Meus companheiros destinados.
Um selkie e um Rei Fae do Inverno.
Um sonho se tornando realidade.
Obrigada , pensei para ele, ficando desapontada quando não
pude ouvir sua resposta.
Ele falou para você não agradecê-lo , Kalt me disse. Mas se você
estiver interessada em agradecê-lo depois, ele tem uma atividade
em mente.
Franzi a testa. Você consegue ouvir o Norden?
Não mentalmente. Ele está ciente do que estamos fazendo e
pode ler sua mente. E agora o Cyrus não está nada satisfeito com a
interrupção dele .
Meus lábios quase se curvaram. Só o Norden para interromper
um rei .
Ele tem muita prática com Lark , Kalt me disse. Então ele limpou
a garganta. Estamos quase chegando aos votos. Cyrus está se
apressando porque pode sentir a Fonte do Inverno tentando
interferir.
Uma explosão de calor tocou meu coração enquanto ele falava,
confirmando suas palavras. Kalt pressionou a palma da mão contra o
meu peito, aliviando imediatamente a dor com um toque gélido.
Nós iremos acasalar primeiro , ele me disse. Seguido por Norden
e depois Lark.
Engoli em seco. Isso poderia piorar muito as coisas ou...
Tenha fé , ele sussurrou. Sei que não mereço, mas tenha pelo
menos um pouco de fé.
Um pedido perigoso.
Por favor, Artica. Seu nariz se roçou ao meu. Ouça sua alma. Ela
vai te guiar .
Pensei na noite passada com Norden, em como permiti que meu
espírito tomasse conta e me entreguei ao momento.
Por que eu não poderia fazer o mesmo com Kalt?
Ele feriu meu coração. Mas não tinha sido o responsável pelo fim
do nosso vínculo. Eu fiz isso. Talvez devesse tentar novamente, dar a
ele o benefício da dúvida.
Não fui eu quem prometeu fazê-lo viver por si mesmo? Que
tentaria convencê-lo a se juntar à tríade de Norden e Lark?
Por que parei? Porque ele feriu meus sentimentos? Porque ele
recusou o meu abraço?
Por que o deixei vencer tão facilmente? Por que não lutei mais?
Eu o quis por mais tempo que podia me lembrar. Até me inscrevi
para este estágio por causa dele. Claro, também tinha sido um
desafio. Mas no fim das contas, ele era o motivo real pelo qual eu
queria a posição.
Porque eu o queria.
Ainda o queria.
Eu queria Kalt. Queria Lark. E queria Norden.
E por algum acaso do destino, todos eles eram meus.
Por que eu estava lamentando minha vida como se algo terrível
tivesse acontecido? Eu não costumava ter essa postura negativa. Eu
não me permitia ficar triste. Não ficava melancólica.
Eu vivia e aproveitava cada minuto como se fosse o último.
Por que isso deveria ser diferente?
Outra onda de calor entrou no meu peito, seguida imediatamente
pela mão fresca de Kalt. Precisamos dizer o juramento agora, Artica.
Eu vou te dizer as...
Eu, Artica, aceito o poder que me une a Kalt, nascido da Água ,
eu disse, não precisando que ele me dissesse o que falar.
Eu já sabia cada uma daquelas palavras belas.
E abri minha alma enquanto a bênção escapava de minha mente.
Para valorizar e respeitar através de todas as eras e tempos que
possam surgir diante de nós, até que nossas almas se separem ,
continuei baixinho.
As palavras eram em sua maioria as mesmas para todos os Faes
da Água, com alguns toques pessoais. Supondo que os faes
envolvidos quisessem se desviar um pouco das palavras tradicionais.
Eu era um desses faes.
Porque esta era a parte que sempre sonhei em dizer: os três
atributos que eu presenteava a Kalt como meu pretendente.
Eu lhe dou meu toque alegre, meu amor pela neve pura, minha
admiração calorosa, e aceito os dele em troca.
O resto era apenas semântica, um juramento falado para a alma
do meu pretendente sob a graça da Fonte da Água.
Meu elemento agora era dele, assim como o dele era meu, para
os céus dos Faes, que nunca nos separemos. E eu nunca o
abandonarei por outro, minha água pertencendo eternamente a ele
e.. . Eu parei. As palavras apenas a ele , ficaram presas na minha
língua.
Essas eram as palavras finais da promessa.
Mas minha água não seria apenas para ele.
Porque tínhamos Norden e Lark também.
E ao nosso círculo de pretendentes , concluí.
Silêncio caiu, o olhar cor de gelo de Kalt brilhou com emoção.
Senti a garganta começar a apertar e meus olhos se congelaram
de lágrimas.
Porque isso nos uniria para sempre.
E se ele me rejeitasse agora, eu...
Eu, Kalt, Príncipe Fae da Água, aceito o poder que me une a
Artica, Rainha do Reino Fae do Inverno. Para valorizar e respeitar,
através de todas as eras e tempos que possam surgir diante de nós,
até que nossas almas se separem. Eu lhe dou minha devoção
sincera, meu voto gelado de verdade, minha serenidade nevada, e
aceito os dela em troca .
O gelo nos meus olhos derreteu em lágrimas reais, suas palavras
um afago em minha alma que eu nunca previ.
Porque ele me presenteou com partes de si mesmo que
superavam o juramento normal.
Ele pensou naquelas palavras.
Tornando o restante um sussurro ao vento.
Meu Elemento agora é dela, assim como o dela agora é meu,
para os céus dos Faes, que nunca nos separemos. E eu nunca a
abandonarei por outra, minha água pertencendo eternamente a ela
e ao nosso círculo de pretendentes.
Seus lábios capturaram os meus, uma faísca de eletricidade se
acendendo no ar enquanto nossas almas se uniam diante da Fonte
da Água, cimentando nossos espíritos como um só.
Mas não havíamos terminado.
A cerimônia continuou com Norden me virando para encará-lo,
com seu olhar cor de chocolate fixo no meu enquanto Kalt assumia o
papel de beijar meu pescoço, e sua mente se abrindo para a minha
a cada segundo que passava.
Agora eu podia sentir sua intenção, perceber seu verdadeiro
propósito ao estar aqui, e a aceitação em seu coração de que este
era o seu verdadeiro destino. Que ele lutou contra isso por todas as
razões erradas, em vez de abraçar seu destino.
Diga seu juramento para Norden , Kalt sussurrou. Ele deverá ser
capaz de responder quando você terminar de dizer o seu.
Era difícil me concentrar com a mente de Kalt aquecendo a
minha, seu corpo pressionado contra minhas costas, seus lábios em
meu pescoço, e o sorriso sedutor de Norden se formando, dizendo
que ele era o próximo. Que em breve ele se uniria ao meu espírito
também.
Ah, Fae...
Esse não é o juramento , Kalt falou em minha mente, enquanto
roçava os dentes em minha orelha.
Meu corpo inteiro ardia por ele agora, minha alma querendo
finalizar nosso vínculo da maneira mais espiritual possível.
Mas o olhar de Norden se fixou no meu, e a promessa em seus
lábios era algo que eu quase podia sentir o gosto.
Eu, Artica, aceito o poder que me une a Norden. Para valorizar e
respeitar, através de todas as eras e tempos que possam surgir
diante de nós, até que nossas almas se separem. Eu lhe ofereço
meu lado brincalhão, minha adoração pelo gelo, meus dias com o
cabelo bom, e aceito os dele em troca. Meu elemento agora é dele
assim como o dele é meu, para os céus dos Faes, que nunca nos
separemos. E eu nunca o abandonarei por outro, minha água
pertencendo eternamente a ele e ao nosso círculo de companheiros.
Norden sorriu, seus lábios sussurrando sobre os meus enquanto
sua voz começava a ecoar em minha mente. Eu, Norden, o Selkie
mais Sexy do Universo ...
Ele fez uma pausa, suspirou profundamente e se afastou, me
fazendo franzir a testa.
Apenas títulos formais são permitidos , Kalt explicou. Cyrus o
está repreendendo .
Preciso fazer de novo?
Não, o Norden vai continuar .
Eu, Norden , ele disse novamente, Príncipe do Fae do Inverno da
Ordem Mais Alta, aceito o poder que me une a Artica, Rainha do
Reino Fae do Inverno. Para valorizar e respeitar, através de todas as
eras e tempos que possam surgir diante de nós, até que nossas
almas se separem. Eu lhe dou meu domínio sexual, meu... Ele
limpou a garganta. Ah, meu sacolé cremoso, minha adoração
calorosa, e aceito as dela em troca. Meu coração de selkie agora é
dela assim como o elemento dela agora é meu, para os céus dos
Faes, que nunca nos separemos. E eu nunca a abandonarei por
outra, minha pele sedosa pertencendo eternamente a ela e somente
a ela.
Não pude deixar de rir de suas alterações inteligentes. Só
Norden...
Cyrus está furioso comigo , disse Norden. Me beije para que eu
não precise ouvir a sua repreensão.
Pressionei os lábios nos dele, aceitando seu juramento e sentindo
nosso vínculo de quarto nível se estabelecer. Claramente, a Fonte da
Água não se importava com sua abordagem grosseira dos votos.
Afinal, os Faes amavam o sexo.
Estávamos todos focados em abraçar a vida.
E que melhor maneira de fazer isso do que sendo honestos sobre
nossas intenções?
É por isso que você é destinada a ser minha , Norden murmurou,
sua alegria por estar em minha mente novamente rivalizava com a
minha. Você me entende .
Eu também gosto de você , disse a ele.
Que bom. Porque estamos presos um ao outro para sempre
agora.
Posso pensar em destinos muito piores , admiti, pensando nas
Fontes lutando pelo meu corpo.
Seu toque ficou sério, sua língua deslizou para dentro da minha
boca enquanto ele me beijava tão intensamente que eu mal
conseguia respirar. Nunca mais me assuste assim de novo. Nunca
mais.
Vou tentar não fazer isso , sussurrei.
Ótimo. Agora se una a Lark para que possamos transar , ele
disse.
Kalt riu atrás de mim, claramente capaz de ouvir aquilo. Ou
talvez ele tenha dito em voz alta.
Eu só podia imaginar a expressão do Rei Cyrus neste momento.
Os corpos ao meu redor se moveram com Lark e Norden
trocando de lugar, enquanto Kalt permanecia em minhas costas,
como o ancoradouro Fae da Água.
A expressão de Lark era muito mais séria que a de Norden, seu
olhar cor de menta continha um toque de reserva.
Ele está preocupado com o que as Fontes vão fazer depois que
terminarmos a união , Kalt explicou. Ele não está repensando.
Eu não achava que ele estava, mas agradeci a Kalt por explicar a
preocupação de Lark.
O Rei Fae do Inverno segurou meu rosto, e tocou seus lábios nos
meus. Retribuí o beijo, sentindo seu poder chamar minha alma em
um nível que tornava o momento sóbrio.
Porque eu precisava dele. Seu toque era uma adição aos meus
sentidos, minha alma imediatamente se regozijou com sua
proximidade e ansiou por mais.
Mas ele levou a mão até meu pescoço e me empurrou um pouco
para trás.
Os votos , Kalt me lembrou.
Certo .
Eu, Artica, aceito o poder que me une a Lark, Rei Fae do Inverno.
Para valorizar e respeitar, através de todas as eras e tempos que
possam se desdobrar diante de nós, até que nossas almas nos
separem. Eu lhe ofereço minha ... fiz uma pausa para pensar,
avaliando-o e decidindo quais presentes eu lhe concederia.
Eu lhe ofereço minha alegria sincera, minhas habilidades
invernais, meu caráter alegre, e aceito os dele em troca. Meu
elemento agora é dele assim como o dele é meu, para os céus dos
Faes, que nunca nos separemos. E eu nunca o abandonarei por
outro, minha água pertencendo a ele e ao nosso círculo de
companheiros para sempre.
Lark sorriu, roçou os lábios nos meus novamente enquanto
aumentava seu aperto apenas o suficiente para conter meu
entusiasmo.
Porque Fae, ele tinha um gosto divino.
Como milagres natalinos do Festivus e doces faeliciosos .
Eu, Lark, Rei Fae do Inverno, aceito o poder que me une a Artica,
Rainha do Reino Fae do Inverno. Para valorizar e respeitar, através
de todas as eras e tempos que possam se desdobrar diante de nós,
até que nossas almas nos separem. Eu lhe ofereço meu coração
festivo, meu orgulho invernal e minha crença inabalável de que
estamos destinados a ficar juntos, e aceito o dela em troca. Meu
trono de Inverno agora é dela assim como o dela é meu, para os
céus dos Faes, que nunca nos separemos. E eu nunca a abandonarei
por outra, meu coração Fae do Inverno pertencendo a ela e ao
nosso círculo de parceiros para sempre.
Ele me beijou enquanto a magia se desencadeava ao nosso
redor, girando em um redemoinho de calor e gelo. Envolvi os braços
ao redor do pescoço dele, grata por poder usar meus membros,
enquanto Kalt e Norden se agarravam às minhas costas.
Uma cascata de emoção e sensação cobria minha pele, meu
coração, minha alma, meu ser inteiro, até o centro do meu âmago,
provocando uma explosão que me deixou tremendo.
Gritos ecoaram pelo ar.
Alguns xingamentos se seguiram.
E minha visão ficou negra como a noite.
Mas o calor continuou a me envolver, florescendo em minhas
veias, me ancorando aos meus parceiros e me dando uma saída
para todo o poder que se acumulou dentro de mim.
Eu gritei, o som infinito e silencioso enquanto meu coração se
despedaçava em mil pedaços.
Apenas para ser imediatamente colado de volta pelos meus
parceiros.
Não é real. Não é real. Não é real , eu repetia para mim mesma.
Mas Fae, parecia real. Queimava por dentro, me lançando em um
redemoinho de gelo onde eu me esquecia de como respirar.
Senti dedos em meu cabelo me puxar para cima, ar ser
infundindo meus pulmões enquanto a água ondulava ao meu redor
novamente, me arrastando para baixo.
Me dê mais , Lark disse em minha mente. Sua voz era um
comando ao qual eu não conseguia dizer não.
Eu não tinha ideia do que ele queria dizer.
Então seus lábios encontraram os meus e outra erupção jorrou
de mim. A intensidade roubou meu fôlego.
Ele continuou a me beijar, mantendo o corpo colado ao meu
enquanto me puxava para seu colo. Montei nele, incapaz de ver, mas
podia senti-lo. Sentia seu calor, sua familiaridade, sua força.
Me agarrei a Lark enquanto ele me devorava. Sua boca era como
uma linha de vida que eu não sabia que precisava.
Ele me segurou firme, dominando meu corpo com o seu
poderoso e me proporcionando uma vida renovada.
Passei os dedos pelo seu cabelo úmido, notando a textura gelada
das mechas, e o beijei novamente enquanto minhas pernas se
apertavam ao redor de sua cintura.
Ele estava duro.
Quente.
Apaixonado.
Me tome , implorei.
Não , ele respondeu, com a mão na parte de trás do meu
pescoço. Não assim .
Eu não entendia sua recusa, pois meu corpo pulsava de desejo
enquanto outra explosão escapava da minha boca em um grito que
ele engoliu.
Faaaaae . Estremeci, sentindo os músculos muito cansados e
minhas pernas começando a tremer.
Eu estava dividida entre o sono e o desejo de cavalgá-lo, o mais
complicado dos enigmas da minha existência. Mas o sono começou a
vencer, fui perdendo a aderência dos braços, enquanto ele
continuava a me beijar.
De forma terna agora.
Suave.
Com adoração.
Suspirei, sua língua era um carinho gentil em minha boca, me
embalando em meus sonhos.
Que estavam cheios de colinas nevadas e luzes cintilantes.
E um rei sorrindo para mim em um trono de gelo reluzente.
Meu rei.
Meu Lark.
Com dois príncipes ao seu lado.
Meus príncipes.
Meu Norden e Kalt.
Meu círculo de companheiros.
Meus companheiros Fae da Água.
34

NORDEN

— P reciso falar com os F aes do I nverno — L ark disse enquanto


passava os dedos pelos cabelos de Artica. Ela estava se acalmando e
sua pele retomava aquele belo tom rosado.
Kalt estava abraçado a ela na cama, os dois nus debaixo dos
lençóis com as costas pressionadas no peito dele.
— Vou ficar com ela — ele falou baixinho. — Ainda temos que
discutir algumas coisas quando ela acordar.
Lark assentiu.
— Sim. A crença dela está quase restaurada, mas ainda não
totalmente.
— Vai estar quando eu terminar — ele prometeu.
— Eu sei — Lark respondeu. Sua confiança em Kalt era tão forte
quanto a minha.
Agora estávamos nas mentes um do outro, um desenvolvimento
novo que eu gostei muito. Kalt suspeitava que fosse resultado dos
laços Fae da Água que agora compartilhávamos com Artica. Isso
normalmente não acontecia com companheiros Faes do Inverno.
Mas não havia nada de comum em nosso círculo de
companheiros.
— Vou com você — eu disse a Lark, rolando para fora da cama.
Eu estava relaxando perto das pernas de Artica, acariciando sua
coxa com a palma da minha mão. A necessidade de tocá-la estava
me consumindo, e não necessariamente de forma sexual. Eu só
precisava sentir sua pele, saber que ela estava viva e de volta para
nós.
Lark passou os dedos pelos cabelos dela mais uma vez, e
suspirou ao me seguir para fora da cama. Ele esteve deitado de
lado, de frente para ela, seu membro duro e claramente insatisfeito
depois da brincadeira com ela na água.
Bem, brincadeira podia ser um termo um pouco frívolo.
Mais como uma batalha de poder , na qual ele absorveu tanta
magia natalina quanto ela permitiu, ajudando a firmá-la neste plano
de existência e satisfazer as duas Fontes em conflito.
Ainda estávamos longe de terminar, algo que Zakkai se certificou
de que entendêssemos antes de partir.
Ele não ia mais se envolver, permitindo que nosso círculo de
companheiros lidasse com a redistribuição de poder.
Cyrus, no entanto, ainda estava muito envolvido como Rei Fae da
Água. Ele estava irritado, e nos disse para resolver isso depressa,
antes de ir ver sua companheira e verificar seu pequeno faeling . Eu
suspeitava que eles não estariam no Banquete de Coroação desta
noite.
O que era um bom resultado considerando tudo. Porque Lark e
eu não ficaríamos muito tempo. Não com Artica ainda se
recuperando na cama.
Ela precisava do nosso toque.
O que exigia que ela estivesse mais desperta.
Mas enquanto ela dormia, lidaríamos com a política da noite e
depois satisfaríamos seu corpo e alma pelo tempo que fosse
necessário para que ela se curasse adequadamente.
Lark vestiu o smoking branco real. Também vesti o meu, me
abstendo de resmungar minhas reclamações habituais sobre roupas
formais. Quando eu era obrigado a vestir roupas, preferia muito
mais jeans e suéter.
Infelizmente, os eventos de hoje me entorpeceram do meu
sarcasmo habitual.
Fiz o meu melhor para manter as coisas leves durante a
cerimônia de acasalamento, pois eu queria distrair Artica da
crescente preocupação em nosso círculo de companheiros.
A neve começou a cair no quarto, o que teria sido bom, exceto
que os flocos eram do tamanho de punhos. Eram macios como
penas, mas se transformavam rapidamente.
Em certo momento, eles se transformaram em confete colorido
quando a Fonte do Inverno assumiu o controle e infundiu alegria
festiva.
Foi quando realmente começamos a nos preocupar.
Porque a pele de Artica ficou ainda mais pálida e sua respiração,
superficial.
Felizmente, sua mente permaneceu conosco, coerente a cada
passo do caminho.
E fiz a minha parte ao fazê-la sorrir.
Também pressionei Kalt, mesmo que minha crença nele não
tivesse diminuído. Mas senti que ele precisava desse empurrão extra.
Lark deu um beijo na minha bochecha.
— Pronto, Nor?
Assenti, desviando o olhar para Artica.
— Vamos fazer isso logo. — Porque eu queria voltar para nossa
rainha o mais rápido possível.
— Não acho que você já tenha me dito essas palavras antes —
Lark murmurou.
— E não acho que você já tenha tentado fazer piada para me
distrair antes também — respondi, sorrindo enquanto me virava para
ele. — Obrigado, meu rei . — Beijei sua boca em vez de sua
bochecha, passando a língua pelo seu lábio inferior em um convite
descarado.
Ele segurou minha nuca para aprofundar o abraço, não apenas
aceitando meu convite, mas também o reconhecendo .
Gemi, sua boca maliciosa e dominante me deu exatamente o que
eu precisava: uma distração.
Ele também estava me agradecendo por concordar em
comparecer com ele. Pude sentir sua necessidade, não apenas
sexual, mas também emocional. Ele estava preocupado com Artica,
que não tivesse tirado o suficiente dela para fornecer um equilíbrio
temporário. Até finalizarmos este círculo de companheiros, todos
estávamos em risco, especialmente ela.
Vamos ficar bem , garanti a ele, alimentando-o com minha
crença através da minha mente e língua. Ela é perfeita para nós e
sabe disso. O Kalt vai resolver essa questão .
Eu sei , ele suspirou em resposta. Estou mais desapontado por
talvez perder isso.
Então vamos nos apressar , reiterei. E nos juntaremos a eles
assim que pudermos .
Lark tinha que fazer um discurso, agradecer aos Faes do Inverno,
e depois pedir licença por precisar cuidar de nossa rainha. Círculos
de companheiros eram conhecidos por exigirem muita ligação nos
primeiros meses. Os Faes do Inverno, ou melhor, todos os faes,
entenderiam essa necessidade.
Ele encostou a testa na minha e fechou os olhos para um
momento íntimo e privado. Lark nunca mostrava fraqueza para
ninguém além de mim. Foi assim durante toda a nossa vida, desde
quando éramos crianças.
Nossos pais sempre souberam que acabaríamos acasalando. Era
um vínculo óbvio que criamos ao perseguir elfos no playground dos
Faes do Inverno e construir fortes de gelo na neve.
As emoções cresceram à medida que ficamos mais velhos,
levando à experimentação e eventual intimidade sensual.
Ele foi meu primeiro.
Assim como fui o dele.
Às vezes, nos divertíamos com outras pessoas, juntos ou
separadamente, mas ninguém jamais se comparou.
Até Kalt.
E agora, Artica.
A necessidade de Lark de provar os dois, de iniciá-los
adequadamente em sua cama, era uma presença palpável no ar.
Mas ele redefinia o significado de paciência . Ele esperaria até que
estivessem prontos.
Meu polo oposto.
Porque eu não tive nenhum problema em tentar seduzir Kalt
nesses últimos meses.
E quando Artica me disse para fazer amor com ela, não pude
recusar. Lark não sentiu ciúmes, ficou apenas excitado e esperava
por mim quando voltei.
Mas tínhamos as festividades da coroação para pensar, o que
significava que ele sobreviveu a um dia muito longo de gratificação
prolongada.
O que explicava a dureza em sua calça agora.
Me pressionei contra ele, permitindo que ele sentisse o meu
enquanto eu mordiscava seu lábio inferior. Se o Kalt não se oferecer
para te chupar mais tarde, eu vou.
Você fará muito mais do que isso , Lark prometeu.
Eu sorri. Promete?
Ele grunhiu, me fazendo ronronar de prazer. Eu adorava quando
Lark estava excitado. O rei sempre tinha um desempenho admirável
na cama, mas quando ele atingia esse nível de desejo, era uma fera
absoluta.
Apenas se certifique de nos usar antes de tocar em Artica , eu
disse a ele. Eu posso lidar com você. Tenho certeza de que o Kalt
também pode. Mas a Artica precisa de carinho e doçura. Pelo
menos, para a nossa primeira atividade em grupo.
Lark assentiu. Eu sei . Ele me beijou de novo, em seguida me
soltou e encontrou o olhar ardente de Kalt na cama.
— Voltaremos em trinta minutos.
O Fae da Água engoliu em seco, com as pupilas dilatadas de
interesse.
— Estaremos esperando. — Duas palavras repletas de promessa.
Pisquei para ele.
— Você fica bem na nossa cama, Príncipe da Água.
— Eu ficaria ainda melhor com você atrás de mim, selkie — ele
respondeu sem perder o ritmo.
— Ahh, ele está aprendendo — murmurei, satisfeito com a
brincadeira sedutora. — Vamos tentar voltar em vinte e cinco
minutos, meu rei. Acredito que o Kalt acabou de me dar permissão
para comê-lo por trás.
Lark sorriu.
— Vamos ver.
Suspirei.
— Sempre o alfa.
— Isso nunca vai mudar — ele respondeu.
— Eu sei. — E não me importava nem um pouco. — Até logo,
Príncipe da Água.
Os lábios de Kalt estavam perto da têmpora de Artica quando ele
respondeu:
— Estou ansioso por isso.
Lark liderou o caminho, deixando a coroa de gelo para trás. Ele
não queria arriscar que alguém percebesse que faltava a magia
dentro dela. Ele também não tinha certeza se ela manteria sua
estrutura sem Kalt por perto para mantê-la congelada.
Se os Faes do Inverno perguntassem, ele diria que a deixou no
quarto para protegê-la com nossa rainha.
Caminhei um passo atrás dele, enquanto Lark seguia pelo
corredor, até que ele parou no meio do caminho e me encarou
diretamente.
— Eu te quero ao meu lado, Nor. Não atrás de mim. Nem na
minha frente. Mas ao meu lado.
Ergui uma sobrancelha.
— Não na sua frente? Porque tenho quase certeza de que essa é
uma das suas posições favoritas, meu rei.
Ele curvou os lábios.
— Quando estamos nus, com certeza. Quando estivermos
vestidos, você deve ficar ao meu lado. Sempre.
Fiz um gesto para seguir para frente, empurrando meu ombro no
dele, o que o deixou de frente para a direção oposta, já que ele não
havia girado enquanto eu me movia.
— Isso também pode ser uma experiência divertida.
— Com a adição dos outros, eu concordo — ele murmurou,
roçando os lábios em meu ombro enquanto se virava para a mesma
direção que eu. Então ele segurou minha mão, algo que ele nunca
fez antes, e entrelaçou nossos dedos.
Dei um aperto de agradecimento, e ele retribuiu no instante
seguinte. Por favor, não saia do meu lado, Nor.
Nunca , prometi.
Ele assentiu e continuou indo em frente.
Eu podia sentir seu nervosismo aumentar a cada passo, pela
preocupação com Artica misturada com a incerteza em relação ao
banquete de hoje à noite.
Era costume que todo o círculo de companheiros comparecesse.
Quebrar os costumes levantaria questões.
Ele sabia que seu pai faria perguntas logo após o discurso de
Lark, um discurso de coroação revisado que ele ainda estava
tentando formular em sua mente.
Apertei sua mão novamente, lembrando-o de que ele não estava
sozinho.
Obrigado por vir comigo , ele sussurrou.
Eu não perderia isso por nada no mundo , respondi.
Acho que se a Artica estivesse acordada e chupando seu pau,
você perderia .
Contraí os lábios. Você também gostaria de perder, não é? E eu
me quis dizer a Artica chupando-o ou a ele assistindo-a comigo. As
duas atividades seriam uma distração
Eu já te disse que te amo hoje, Nor?
Você pode ter mencionado isso de manhã , sussurrei de volta.
Mas ainda não ouvi isso através de nossa nova conexão mental.
Ele parou na porta do grande salão, seus olhos encontrando os
meus. Eu te amo, Nor.
Eu te amo também, Majestade.
Ele se inclinou para frente e deu um doce beijo em minha boca.
Vinte e oito minutos.
Vinte e sete , corrigi. Então é melhor fazer um discurso rápido.
Será rápido e eficiente , ele me prometeu. E espero que a Artica
esteja acordada quando voltarmos.
Ah, espero que ela esteja mais do que acordada , disse a ele.
Quero ouvi-la gritando de prazer neste corredor.
O Kalt vai fazer isso acontecer.
Vai, sim concordei. E então faremos acontecer de novo.
E de novo , ele ecoou enquanto abria a porta.
E de novo , repeti, entrando na sala com ele. Vinte e seis
minutos agora.
Então é melhor andarmos rápido , ele disse.
Com certeza .
35

ARTICA

No primeiro dia de acasalamento , meus verdadeiros amores me deram ...


Franzi a testa enquanto o zumbido baixo da música ecoava em
minha mente.
Um orgasmo em uma jacuzzi.
Franzi mais a testa. O quê?
E no segundo dia de acasalamento, meus verdadeiros amores me
deram...
Sexo oral excepcional, duas vezes,
E um orgasmo em uma jacuzzi.
Abri os olhos. O quarto ao meu redor era estranho, mas
calorosamente familiar.
E no terceiro dia de acasalamento...
Entendi , outra voz respondeu, as duas estavam dentro da minha
mente.
Você perguntou por que sugeri doze dias. Agora já sabe.
Um suspiro se seguiu. De onde estão vindo as vozes?
Sunshine! Viu, eu sabia que minha música a acordaria.
Você está desviando minha concentração, Nor.
Desculpe. Mantenha-a entretida para nós, Frosty , ele murmurou.
— Eu vou — uma terceira voz respondeu, com os lábios perto do
meu ouvido.
Dei um pulo e gemi quando uma onda de agonia se espalhou por
todo o meu ser. Fae, parecia que eu tinha nadado quilômetros contra
a correnteza. Levei a mão trêmula até minha cabeça, murmurando:
— Geada.
Norden continuou a cantarolar em minha cabeça, e a música era
surpreendentemente reconfortante.
Pare , Lark falou.
Mas não terminei meus doze dias.
Você tem minha permissão para demonstrá-los , Lark respondeu.
Apenas. Pare. De. Cantar.
— Por que eles estão na minha cabeça? — perguntei com um
gemido, me encolhendo com a voz rouca.
— É a interação do círculo de companheiros com os vínculos Fae
da Água — Kalt falou baixinho em meu ouvido, com seu corpo
quente contra o meu.
Me lembrei vagamente de ter desejado o gelo dele antes.
Agora eu queria seu calor.
Porque eu estava com muito frio .
Minha pele parecia gelo, meus movimentos estavam rígidos como
resultado.
— O que aconteceu? — murmurei.
Kalt gentilmente segurou meu pulso para afastar minha mão da
cabeça. Em seguida, ele substituiu meu toque pelo seu,
massageando o polegar em círculos em minha têmpora.
Eu gemi com a sensação divina.
— Do quanto você se lembra? — ele perguntou após um minuto.
— Você se lembra de ter acasalado com todos nós.
Engoli em seco, começando a balançar a cabeça, mas percebi
que isso me fez sentir pior.
Uma resposta negativa também não era totalmente verdade.
— A Fonte de Água — comecei. — Eu... Eu me lembro de fazer
votos em forma de espírito.
Para impedir que nossos reinos entrem em guerra , minha mente
completou. Porque as Fontes estão lutando dentro de mim.
Levei a mão ao peito. Geada .
— Nós estamos te equilibrando — Kalt falou, afastando a mão da
minha cabeça e o corpo de mim.
Comecei a tremer, mas ele me colocou de costas e
imediatamente se aconchegou ao meu lado, se apoiando no cotovelo
para me encarar enquanto emoldurava meu rosto.
— É por isso que você consegue ouvir o Norden cantar sua
versão erótica de os Doze dias de Natal em sua cabeça. — Ele
sorriu. — O Lark acabou de anunciar para todos que vamos
organizar um banquete de comemoração do círculo de companheiros
para apresentar adequadamente seu círculo real. E Norden
acrescentou que será em doze dias.
Pisquei.
— Um banquete de comemoração do círculo de companheiros?
— Eles estão no Banquete de Coroação agora, que
tradicionalmente exige que o novo Rei Fae do Inverno apresente
formalmente todos os seus companheiros. Mas não pudemos
comparecer, algo que ele está usando como desculpa para estarmos
ocupados demais consumando nossos vínculos. E Norden prometeu
que estaríamos prontos para receber a todos em doze dias.
— Doze dias — repeti, aparentemente incapaz de encontrar
minhas próprias palavras agora.
— Sim, como a música. — Ele sorriu um pouco mais. — E isso
levou ao canto, o que ele garantiu que todos nós ouvíssemos porque
ele achou divertido.
— E estou ouvindo porque estamos todos... acasalados. — Não
expressei como uma pergunta, mas como uma afirmação incerta.
Não era um sonho.
Acabei de acasalar com três machos.
Um deles é Kalt.
Fae... arregalei os olhos.
— Você aceitou a tríade.
— Aceitei — ele respondeu, e sua expressão continha muito mais
alegria do que eu poderia imaginar. — E nunca me senti tão aliviado
na vida.
Eu o encarei.
— É sério?
Ele assentiu.
— Estive fugindo do destino por muito tempo, Artica. — Ele
traçou uma linha com o polegar na minha bochecha. — E foi preciso
você me rejeitar para que eu percebesse o quanto fui tolo.
Franzi a testa, uma expressão que eu parecia estar fazendo com
frequência agora.
— Eu te rejeitei?
— Nosso vínculo. Você o quebrou.
— Porque era isso que você queria.
— É o que eu achava que precisava — esclareci. — Mas não era
o que eu queria. De jeito nenhum. É por isso que não consegui
quebrá-lo antes. Eu achei que era você me segurando, e você estava
de certa forma, mas não da maneira que eu achava que estava.
— Eu... — Parei de falar, incerta do que dizer. Uma vaga
lembrança de suas palavras mais cedo ecoaram em minha mente,
todas as declarações que ele fez sobre o futuro e como ele
interpretou mal suas esperanças e sonhos. Que era a mim, Lark e
Norden que ele realmente queria desde o início.
Que ele queria acordar comigo todos os dias.
Que ele se provaria para mim até que eu acreditasse nele
novamente.
Que ele pretendia me provar, me beijar de verdade, e me fazer
conhecer seus verdadeiros sentimentos através do nosso vínculo.
Sua mente estava aberta para mim agora. Sua alma também. E
ele não hesitou em me mostrar tudo, me permitindo ver seus
sentimentos e emoções, suas incertezas anteriores e um renovado
senso de propósito.
Sua crença me envolveu, aquecendo cada pedacinho da minha
alma.
Seu coração batia por mim.
Seu espírito dançava ao redor da Fonte de Água, me convidando
para brincar, abraçá-lo, amá-lo e ser amada.
— Você sempre foi a Fae da Água perfeita para mim — ele
sussurrou, mostrando tanto adoração com seu olhar gelado, que
meu coração doeu. — Sinto muito por ter demorado tanto para
aceitar. Não foi por falta de atenção, Artica. Eu sempre te notei. É a
verdadeira razão pela qual escolhi sua candidatura. Eu sabia que
você a completou por causa de um desafio, mas não me importava.
Você era a fae certa para essa posição, porque sempre foi a certa
para mim.
Engoli em seco.
— Kalt... — Ainda não sabia o que dizer. Isso parecia bom demais
para ser verdade. Perfeito demais para ser real. Intenso demais para
estar acontecendo comigo.
Como um sonho se tornando realidade na forma de um Príncipe
Fae da Água em uma cama glamorosa enfeitada por um mural do
mar. Eu não precisava perguntar para saber onde estávamos. Podia
sentir o cheiro familiar de caramelo salgado no ar, fortalecido pelo
oceano invernal, noz-moscada e masculinidade faeliciosa .
O quarto de Lark.
Estamos na cama do Rei Fae do Inverno.
Porque ele também é meu companheiro.
Os lábios de Kalt se curvaram.
— Todos nós podemos te ouvir agora, Artica.
Em algum nível, eu sabia disso, nosso círculo de companheiros
parecia se comunicar de uma só vez. Mas eu podia sentir em minha
mente onde poderia mudar a conexão para ser um companheiro de
cada vez. Suspeitava que eles pudessem fazer o mesmo.
Como evidenciado pelo repentino silêncio de Norden e Lark.
— Você ainda consegue ouvi-los? — perguntei em voz alta.
— Não, acho que eles estão nos dando um momento de
privacidade — ele respondeu. — Mas voltarão em breve.

— MAS É o Banquete de Coroação. Não deveríamos nos juntar a


eles? — Não que eu realmente pudesse. Minha voz ainda estava
rouca e meus membros estavam frágeis, na melhor das hipóteses.
Eu nem tinha certeza se conseguiria ficar de pé.
— Não, seremos formalmente anunciados e apresentados
durante o banquete de comemoração do círculo de companheiros
que Lark acabou de anunciar.
— Ah, certo. — Ele mencionou isso. — Daqui a doze dias.
Ele sorriu.
— Sim. Bem, acho que tecnicamente treze, já que o Norden
parece ter planos para cada um dos doze dias até lá.
— Conhecendo-o, realmente serão doze dias, e ele pretende que
façamos algo no banquete — respondi.
Kalt riu.
— Sim, provavelmente é isso mesmo. E deverá ser algo vindo de
mim. Ele está determinado a me fazer rastejar.
Eu o observei.
— E você está bem com isso? — Você está bem conosco? Era a
minha pergunta real.
— Estou muito bem com isso. — Sua expressão ficou séria e seu
olhar se fixo uno meu. — Estou mais do que bem com isso. Sou o
fae mais sortudo dos reinos.
Alguns provavelmente argumentariam que eu era a fae mais
sortuda dos reinos, já que acabei de me unir com três dos machos
mais sexy que existem. Mas não o interrompi com essa explicação.
— Sinto muito por te decepcionar, Artica. Sinto muito por não
perceber que minhas ações estavam prejudicando a todos, não
apenas a mim mesmo. — Ele tocou a testa na minha, enviando
outra onda de calor pela minha pele.
Suspirei, o toque reconfortante aliviava a dor dentro da minha
cabeça e me deixava ainda mais tranquila.
— E o mais importante de tudo — ele continuou baixinho —,
sinto muito por não estar ao seu lado quando você mais precisou de
mim. Prometo nunca mais te decepcionar. Passarei o resto da minha
existência vivendo cada momento ao máximo com você, em
qualquer função que você me permita fazer parte do seu mundo.
Ele ficou em silêncio, esperando que eu falasse.
Mas eu não tinha nada que quisesse dizer.
Porque, às vezes, as emoções não eram feitas para palavras, mas
para algo muito mais intenso.
Pressionei meus lábios nos dele, saboreando-o como se fosse a
primeira vez. Foi um beijo tímido, um toque que arrepiou meus
braços.
Eu não tinha percebido que estava nua até agora.
Ou que ele também estava sem roupa.
A Artica de ontem o teria admirado sem vergonha.
A de hoje não queria apressar a exploração.
Eu queria saborear o momento. Aproveitar isso. Me deliciar com
cada segundo de felicidade.
A energia vibrava entre nós. Nossos espíritos ansiavam pela
conexão física entre nossos corpos. Os Faes Elementais geralmente
trabalhavam através dos laços separadamente, passo a passo.
Mas Kalt e eu tínhamos ultrapassado todos eles.
Sem nunca nos tornarmos verdadeiramente íntimos fora de
nossas mentes.
Passei a língua pelo seu lábio inferior, suspirando com os traços
sutis de coco em sua boca. Combinava com seu cheiro, me dizendo
que ele teria o mesmo sabor.
Eu não estava errada.
Coco se misturou com hortelã em minha língua quando
aprofundei nosso beijo.
Ele entrelaçou os dedos em meu cabelo, me segurando enquanto
permitiam que eu ditasse nosso ritmo. Mas eu sentia sua
necessidade de controle pulsar, seu desejo de me devorar o
dominando.
Sua habilidade de se conter me surpreendeu, sua determinação
era uma força que não pude deixar de admirar.
Foi assim que ele conseguiu negar a tríade por tanto tempo.
Como ele conseguiu me afastar. Como ele foi capaz de ficar longe de
todos nós por mais de uma semana.
No entanto, isso lhe custou uma parte de sua alma.
Uma parte destruída dele, ferida pela separação forçada e pela
inevitável angústia que se seguiu.
Realmente o magoei quando o libertei do nosso vínculo. Agora
podia sentir isso lá no fundo, dentro de mim, aquela dor causada
pela minha rejeição percebida.
Pressionando a palma da mão em seu peito, tentei curá-lo agora,
mostrar a ele através do toque que eu estava aqui, que o aceitei
novamente, que estávamos unidos para sempre.
Mas ele precisava de mais.
Ele ansiava pelo meu perdão, minha aceitação e minha crença.
Nosso beijo se aprofundou novamente, nossas línguas se uniram
enquanto eu levava meu toque até seu pescoço. Tão masculino e
bonito. Tão duro e musculoso. Eu queria mais, deitá-lo de costas e
cavalgá-lo.
Mas meus membros não permitiam.
Estou me sentindo tão fraca , sussurrei para ele.
Você precisa se ligar fisicamente aos seus companheiros , ele
respondeu. Nossas almas estão conectadas, mas nossos corpos não.
E você acabou de passar por uma luta extrema de poder entre as
Fontes. Elas estão exigindo equilíbrio através do nosso círculo de
companheiros.
Que ainda não está completamente estabelecido , percebi,
sentindo as bordas desgastadas do nosso acasalamento. Por quê?
Porque é novo. Ele encaixou a coxa entre as minhas. Ainda não
provamos nossa crença mútua um no outro.
Como fazemos isso? perguntei, me arqueando debaixo dele
enquanto uma descarga de eletricidade irradiava do meu centro.
Ele sorriu contra minha boca. Você sabe como fazemos isso,
Artica. Nós acasalamos.
Tremi. Levei as mãos para seus ombros e depois passei por seus
braços enquanto ele rolava em cima de mim.
Agora, suas duas coxas estavam entre as minhas.
Ele posicionou seu pingente de gelo exatamente contra o meu
centro.
Kalt riu, provavelmente ouvindo o eufemismo em minha mente.
— Norden me disse que você fala “pau” lindamente —
murmurou. — Diga isso para mim agora.
— Sacolé tem um som mais agradável — respondi, me
arqueando novamente e estremecendo quando a cabeça do seu
sacolé tocou meu clitóris. Faaaae...
— Humm — ele murmurou. — Isso me deixa com sede, pequeno
flocos de neve. — Ele beijou do meu queixo até meu pescoço, seu
apelido indo direto para o meu coração.
Floco de neve.
Meu turbilhão pessoal de emoções misturado com elementos
invernais e doces , ele murmurou para mim. Doces que anseio
provar em minha língua .
Estremeci quando o gelo percorreu meu peito, seguido por sua
língua, o beijo gelado sendo imediatamente suavizado por sua boca
quente. Era uma sensação sedutora que apenas um habilidoso
Príncipe Fae da Água poderia criar, e Kalt a executou lindamente.
Seu toque roçou meus mamilos, fazendo com que endurecessem
de forma dolorosa até que seus lábios aliviaram a dor. Eu gemi,
tentando apertar minhas pernas contra as dele, mas ele as mantinha
afastadas ao mesmo tempo que me torturava com seu poder e sua
boca.
Eu não conseguia resistir a ele, meus membros estavam fracos
demais para forçar o que eu desejava.
Mas senti força pulsar em minhas veias a cada lambida e
mordida de sua boca, seu poder parecia provocar o meu em um
exercício tão necessário de isolamento.
Você está me fazendo me exercitar.
Não, estou brincando com minha companheira Fae da Água , ele
corrigiu. Talvez você possa experimentar isso no meu pau mais
tarde.
Meu estômago se contraiu com o pensamento. Sim .
Ele sorriu, descendo seu toque enquanto o gelo deslizava pelos
ossos do meu quadril, descendo pela parte superior interna da
minha coxa.
Gemi, sua boca fazia coisas perversas em minha pele e me
levava à beira do ponto sem retorno. E ele nem tinha tocado minha
umidade ainda. Nem mesmo beijado meu monte. Ele estava apenas
provocando aquele espaço sensível entre minhas coxas.
— Kalt...
— Eu sonhei com isso — ele sussurrou para mim, roçando o nariz
no lugar que eu desejava que ele lambesse. Ele inspirou, fazendo
com que eu apertasse as pernas mais uma vez enquanto meu
interior florescia com chamas renovadas, afastando o gelo das
minhas veias.
— Fantasiei com isso também — ele continuou. — No chuveiro.
Na minha cama. Inúmeras vezes enquanto eu estava longe, Artica.
Tudo o que eu quis nesta semana foi este momento, aqui, agora.
Este beijo íntimo que só você pode proporcionar. — Seu olhar cor de
gelo encontrou o meu, me permitindo ver sua intensa necessidade,
sua mente aberta e me concedendo acesso à saudade que ele sentiu
até a sua alma.
Ele passou a língua pela minha entrada, despertando mais calor
entre minhas coxas do que eu poderia imaginar.
Isso deve ser um sonho , pensei, enquanto a sensação roubava
meu fôlego.
Um sonho se tornando realidade , ele sussurrou de volta,
aumentando a pressão contra meu centro íntimo. Você tem um
sabor divino, pequeno floco de neve. Como um doce creme.
Fae...
Kalt , ele me corrigiu. Seu Príncipe Fae da Água .
Quase gritei, a intensidade de sua língua combinada com as
emoções e uma das minhas fantasias mais preciosas se tornando
realidade, se misturaram, me deixando sem fôlego e tremendo sob
sua boca.
E então ele encontrou meu clitóris, fazendo a turbulenta
insanidade dentro de mim se transformar em um turbilhão de
sensações que culminou em uma explosão eufórica.
Fae ... eu já estava gozando.
Meu corpo estava tão preparado e pronto depois de anos
fantasiando que ele mal precisou me tocar para me levar àquele
êxtase arrebatador.
Ou talvez fossem os vínculos recém-criados.
Ou os pensamentos em sua mente.
Ou as emoções em seu coração.
Não importava. Eu estava perdida nas sensações, enquanto
tremores dominavam meus membros e me lançavam em um
deslumbrante ápice que roubou o ar dos meus pulmões.
— Tão doce, pequeno floco de neve — ele elogiou. — Eu poderia
te lamber a noite toda.
Ah, eu gostaria disso.
Mas havia algo que eu queria mais.
Não, algo que precisávamos mais.
Quase pedi, mas outra onda de prazer percorreu minha espinha,
roubando minha capacidade de processar ou pensar em voz alta.
O tempo me escapou.
A sensação era o único propósito da minha vida.
E então a boca de Kalt encontrou a minha, deslizando seu corpo
sobre mim com uma promessa renovada, e ele me ofereceu com a
língua a linha de vida que me ensinava a respirar novamente.
A força me dominou, permitindo que eu envolvesse as pernas ao
redor de seu corpo, acolhendo-o dentro de mim sem nem mesmo
pensar.
Ele gemeu ao penetrar até o fim. Eu não tinha me familiarizado
com seu tamanho, mas ele parecia se encaixar perfeitamente em
mim. Nem muito longo, nem muito grosso, apenas certo.
Cada movimento de seus quadris contra os meus parecia
fortalecer ainda mais meus membros, permitindo que eu o abraçasse
por completo e me arqueasse para encontrá-lo.
Sua língua acariciava a minha, me alimentando com a doçura do
meu orgasmo anterior e me provocando com sugestões da divindade
do coco.
Envolvi os braços em seu pescoço, segurando-o firme, devorando
cada beijo enquanto seu corpo se unia ao meu.
Era melhor do que tudo o que já sonhei.
Porque era real.
O Príncipe Kalt não apenas me notou, mas também acasalou
comigo. E agora ele estava dentro de mim, me beijando e me
enchendo de tanta adoração e desejo, que meu coração quase
explodiu de sensações.
Eu sempre te notei , ele sussurrou. Só demorei um pouco para
perceber por que.
Seus lábios acariciaram os meus, seu ritmo diminuiu enquanto
ele acariciava minha bochecha e se afastava um pouco para me
olhar.
— Você é deslumbrante, Artica. Eu teria que ser cego para não te
ver. E mesmo que não fosse, seu coração me atrairia porque você é
tão bonita por dentro quanto é por fora.
Meus olhos se encheram de lágrimas. Suas palavras se tornaram
ainda mais poderosas pelo eco de verdade em sua mente.
Porque ele falou sério cada afirmação.
Ele me beijou novamente, desta vez com mais suavidade, como
se garantindo que eu sentisse cada palavra sussurrada contra a
minha língua. Ele queria que eu soubesse suas intenções, que
ouvisse seu voto de me amar, honrar e cuidar de mim pelo resto do
tempo.
Seu amor talvez não se igualasse ao meu por ele ainda.
Mas um dia se igualaria.
Nós dois cresceríamos juntos, nossos corações batendo como um
só, vivendo e aprendendo pela eternidade.
E eu estava bem com isso.
Porque eu acreditava em suas intenções.
Acreditava em nós.
Ele aprofundou o beijo, e senti seu membro pulsar dentro de
mim com uma necessidade que combinava com a minha. Ele
começou a se mover novamente, desta vez com propósito, enquanto
deslizava uma mão entre nós para provocar meu clitóris. Estremeci
debaixo dele, enquanto seu toque reacendia o fogo no meu ventre.
Ele levou a outra mão ao meu quadril, me inclinando para cima
em uma posição que permitia que ele me penetrasse
profundamente.
Tremi, a sensação tocou minha alma.
— De novo — implorei contra sua boca.
Ele investiu em mim, acariciando meu ponto sensível, com a
mente completamente aberta para a minha. Tudo isso de uma vez
criou uma cacofonia de sensações que me lançou às estrelas em
outra onda de prazer que inundou minhas veias com êxtase puro.
— Artica — ele gemeu, seu membro pulsando enquanto ele se
desfazia dentro de mim.
Calor.
Êxtase.
Luz brilhante.
Nossas almas rejubilaram, o vínculo floresceu com vida e
expectativa. Eu me senti renovada. Renascida. Cheia de tanta
energia e empolgação que imediatamente implorei por mais.
Poder pulsava em minhas veias.
Poder que eu precisava liberar.
Kalt gemeu enquanto parte dele se agitava através do nosso
vínculo. Meu nome escapou de seus lábios, parte súplica, parte
suspiro. Ele levou a mão ao meu pescoço, capturando meus lábios
com os seus, enquanto ele aceitava mais uma onda de poder.
Um rosnado ecoou de seu peito quando movi os quadris
novamente, precisando de mais. Precisando dele. Precisando de um
alívio ainda maior.
Porque o poder continuava a se acumular, aumentando dentro do
meu abdômen, girando com intensidade e suplicando por uma saída.
Não, ele exigia uma.
Gemi, a energia era demais, minhas veias pulsavam com o calor
e a abundância de magia inesperada.
As Fontes , percebi ofegante. Elas estão... estão...
Gritei enquanto outra explosão deixava meu corpo, essa não tão
orgástica ou bem-aventurada quanto as que Kalt inspirou.
Ele gemeu enquanto o poder também fluía para ele, nossas
almas Faes da Água sendo dominadas pela magia Fae do Inverno.
Lark ! Kalt gritou através dos nossos vínculos.
Se ele respondeu, não ouvi, o poder passou por mim com tanta
violência que perdi a visão do quarto e meus ouvidos zumbiram com
eletricidade estática.
Eu tinha ansiado por energia, querendo me sentir mais viva.
E as Fontes me concederam esse desejo.
Mas isso era demais. Minha alma chorava sob o ataque,
implorando por uma saída enquanto mais poder passava de mim
para Kalt.
Ele não me soltou, seu pênis ainda pulsava dentro de mim, mas
senti sua dor. Era demais. Precisávamos de nossos outros
companheiros.
Precisávamos do Rei Lark .
36

LARK

A lguns minutos antes

— SE VOCÊ NÃO PARAR de cantar, vou te encurralar contra aquela


parede e fazer o sexto dia da sua canção se tornar realidade — eu
disse a Norden em voz baixa.
— Promete? — ele perguntou, claramente excitado pela luxúria
do acasalamento que aquecia nossos vínculos.
Artica e Kalt tinham se reconciliado, despertando uma energia
excitante sob minha pele que me implorava para correr de volta para
a suíte e me juntar a eles.
Mas Norden sugeriu que déssemos mais dez minutos de
privacidade para permitir que seu vínculo se formasse por completo.
Concordei a contragosto, ciente de quanto Artica precisava...
Um solavanco no meu coração me fez tropeçar no meio do
caminho, fazendo com que meu pai olhasse da mesa ao lado da
minha mãe. Eu estava indo dizer a ele que precisávamos nos
encontrar mais tarde, mas o brilho em seu olhar me disse que ele já
sabia.
E ele sentiu a perturbação que acabou de puxar minha alma.
Norden pressionou a palma da mão nas minhas costas.
— Está tudo bem? — Em seguida, ele deu um salto como se a
mesma pontada tivesse perfurado seu peito. — Puxa vida. — Ele
esfregou o peito, franzindo a testa. — O que foi isso?
— Precisamos ir — eu disse, encontrando o olhar do meu pai. Ele
fez um pequeno aceno, me dizendo que entendia. Como ex-rei, ele
teria sentido a mesma perturbação na Fonte que senti.
E dado o discurso que acabei de fazer sobre o recém-formado
Festival da Celebração do Círculo de Companheiros, ele sabia que
algo estava acontecendo com meus companheiros.
Principalmente, Artica.
Outra pontada através dos vínculos me fez praticamente correr, o
que provocou uma aplauso conhecedor em meu rastro.
Pelo menos os Faes eram facilmente entretidos.
Caso contrário, poderiam ter se ofendido com minha partida
abrupta.
Uma vez no corredor, saí correndo com Norden bem ao meu
lado, o selkie cumprindo sua palavra de nunca mais sair do meu
lado.
Os sentinelas de biscoito de gengibre saltaram para fora do
nosso caminho ao nos verem, permitindo que eu corresse direto
para minha ala privada.
Passamos pelas bandejas que Holly entregou mais cedo, me
lembrando de que eu pedi comida e nenhum de nós tocou, algo para
retificar assim que solucionássemos o problema que nos aguardava
na suíte.
Norden alcançou a maçaneta primeiro, girando-a enquanto eu
empurrava, nós dois entramos no quarto ao mesmo tempo.
E encontramos Kalt e Artica vibrando com poder irrestrito na
cama.
— Lark — Kalt suspirou, seu olhar cor de gelo brilhava com
energia excessiva. Ele estava tentando ancorar Artica através do
vínculo, mas era demais para ele absorver.
Nem pensei.
Agi ao me juntar a eles na cama.
Então segurei Kalt pelo pescoço e o beijei com força, sugando o
poder dele apenas com meu toque. Ele suspirou de alívio imediato,
enquanto Artica gemia debaixo ele.
Norden já estava se despindo, e se juntou aos dois na cama e
puxou Artica para si, para beijá-la.
Ela gemeu, passando os braços no pescoço dele, enquanto o
puxava para cima dela.
— Me come, Norden — ela implorou, palavras grosseiras que eu
nunca ouvi sair de seus lábios. — Por favor .
Faça isso , eu disse a ele, ouvindo sua momentânea hesitação
em relação ao estado de luxúria dela. Ela precisa do contato físico
para se ancorar .
Seu grito no segundo seguinte me disse que ele atendeu, dando
o que ela precisava enquanto eu continuava a acalmar as fontes de
energia de Kalt com minha língua. Ele se aconchegou em mim, algo
que duvidei que ele normalmente faria, mas o poder que irradiava
de sua pele derreteu seu gelo e o levou a um ponto de quase
combustão.
Ele se acalmou, passando os braços ao redor do meu pescoço,
enquanto ele correspondia ao meu beijo com um interesse
crescente.
Meus lábios se curvaram. Finalmente está vendo o que tem
perdido, humm?
Ele respondeu abrindo meu cinto e desabotoando minha calça.
Não minha camisa.
Nem mesmo meu paletó.
Ele foi direto para minha virilha.
Você e o Norden têm muito em comum , eu disse enquanto ele
abaixava o zíper.
Eu não estava usando nada por baixo, o que deu a ele acesso ao
meu pau que pulsava.
Ele envolveu a mão em volta de mim, me acariciando com força
enquanto conhecia meu tamanho e grossura. A sensação era incrível
depois de todos esses meses de espera. Todos esses meses de
desejo .
Aliado aos eventos da noite passada, quando senti Norden gozar
dentro de nossa rainha.
E então a tão esperada conexão hoje com meus companheiros,
adiando minha satisfação ainda mais.
E agora, ouvir Norden transar com Artica ao nosso lado.
Fae, tudo isso me deixou ainda mais duro. Não vou aguentar ,
avisei Kalt, meu corpo muito tenso para uma verdadeira sessão de
preliminares.
O poder no quarto. A luxúria. A perfeição dos aromas. Os
gemidos extasiados de Artica. Os grunhidos sensuais de Norden. A
pegada habilidosa de Kalt e sua língua conhecedora.
Era tudo demais.
Kalt me empurrou para trás, afastando os lábios dos meus
enquanto ele deslizava pelo meu corpo para me tomar em sua boca.
— Sinos de trenó — sibilei, a sensação íntima de sua língua
contra meu pau foi direto para minhas bolas que se apertaram.
Ele me engoliu profundamente, adicionando um toque de gelo
com a língua que despertou uma mistura de prazer e dor em minha
pele.
Essa pequena artimanha prolongou a tortura.
Algo que eu tanto gostei quanto odiei.
Porque esperei o dia todo por um alívio e ele estava me
provocando.
— Kalt .
Ele murmurou, gostando da forma como ronronei seu nome.
Gostando do meu sabor. Apreciando como meu toque ancorava o
poder que inundava suas veias.
Eu senti tudo.
Cada pensamento. Cada emoção extasiante. Cada desejo
obscuro.
Ele nunca esteve com um homem. No entanto, estava fazendo
um ótimo trabalho me chupando.
Porque ele estava se apoiando na expertise de Norden, o selkie
estava lhe dando informações, dizendo exatamente o que fazer com
a língua enquanto levava Artica à loucura ao nosso lado.
Alcancei a mão dela, precisando daquela conexão, e encontrei
sua palma esperando pela minha. Entrelaçamos nossos dedos,
criando uma torrente de poder que se agitava no ar entre nós.
E então nos beijamos.
Eu não tinha certeza de como aconteceu, até perceber que
Norden empurrou a cabeça de Artica mais perto da minha.
Formamos o topo de um triângulo na cama, com as costas contra o
colchão e as cabeças inclinadas uma em direção à outra.
Enquanto Kalt continuava a me devorar com a boca.
E Norden agora lambia Artica entre as coxas.
Era divino, a conexão do orgasmo pulsava em minhas veias
enquanto eu continuava a segurar a mão dela.
Levei a outra mão para a cabeça de Kalt, não para direcioná-lo,
apenas para segurá-lo. Porque ele estava me enlouquecendo com a
língua.
E o beijo de Artica... era a perfeição redefinida.
Ela estava perdida no prazer, o poder tomou conta de sua mente,
corpo e alma, levando a todos nós a esse estado extasiante de
existência.
Acolhi cada pulso de poder que vinha de dentro dela,
absorvendo-o profundamente em minhas veias e espírito.
Seus grunhidos se transformaram em gemidos.
Seus tremores de dor se transformaram em arrepios de prazer.
E sua mente se aquietou em um redemoinho de êxtase celestial.
Senti seu orgasmo em sua língua, a vibração de seu prazer me
impulsionando a segui-la nesse mundo maravilhoso de êxtase.
Kalt gemeu, engolindo cada gota enquanto Norden murmurava
aprovação entre as pernas de Artica.
Foi um dos momentos mais eróticos da minha vida.
E quando Artica abriu os olhos, revelando as íris azuis
escurecidas com intenções amorosas, eu soube que isso era apenas
o começo.
Você estava certo , sussurrei para Norden. Vamos precisar de
pelo menos doze dias .
Então é melhor irmos para a banheira de hidromassagem , ele
murmurou, se referindo, é claro, à sua piscina no canto. Porque na
primeira noite de acasalamento, meus verdadeiros amores me
deram...
Um orgasmo em uma jacuzzi , Artica terminou por ele.
Norden riu. Feliz orgasmos para todos, e para todos, uma noite
prazerosa .
37

NORDEN

A rtica praticamente brilhava . S eu cabelo lembrava a luz do sol mesmo


durante o sono.
Doze Dias de Orgasmos, uma música que eu, com certeza, faria
os elfos escreverem como minha primeira tarefa como Príncipe Fae
do Inverno, esgotou todos nós.
Exceto talvez por Lark, que foi inegavelmente controlado durante
nosso frenesi de acasalamento. Ele passou mais tempo nos dando
prazer do que agradando a si mesmo, mantendo o foco em regular a
estrutura de poder dentro do nosso vínculo.
Algo que provavelmente teria sido mais suave se ele tivesse
transado com Artica.
Mas ele estava tomando seu tempo, aprendendo as preferências
dela, descobrindo a maneira certa de lhe dar prazer com a boca e
língua primeiro, enquanto deixava seus próprios orgasmos para mim
e Kalt.
Você está preocupado que ela não vá gostar do seu estilo de
transar? perguntei enquanto descansávamos na cama, com Kalt e
Artica entre nós. Ela estava recostada no peito dele, enquanto eu
passava os dedos pelos cabelos de Kalt. Eram macios e bonitos, me
lembravam da geada, e era por isso que ele manteria seu apelido.
Quero que seja perfeito , ele me confidenciou.
Doze Dias de Orgasmos não foi perfeito o suficiente? perguntei a
ele, curvando os lábios em um sorriso provocador. Porque eu achei
nevelicioso .
Ele sorriu. Foi um começo razoável para uma vida inteira de
prazer.
Razoável? Eu ri. Preciso ir até aí te chupar de novo, Majestade?
Seu olhar brilhou. Eu nunca recusaria sua boca no meu pau, Nor.
Mas Kalt e Artica estão finalmente dormindo, e não quero incomodá-
los.
Sei como ser discreto.
Mas nós dois sabemos que você não será , ele retrucou, vendo
através de mim como sempre fazia.
Bem. Isso não significa que eu não saiba como ser discreto ,
apontei.
Ele beijou a nuca de Artica, com o olhar fixo no meu. Vou ficar
bem. Ela está quase pronta para mim.
Ela está mais do que pronta para você. Ela não pediu
explicitamente, mas tentou seduzi-lo algumas vezes com suas curvas
bonitas e boca deliciosa.
Mas ele sempre a distraia com um orgasmo ou deixando-a
assistir Kalt chupá-lo, algo que ela apreciou muito . Assim como eu.
O Príncipe Fae da Água tinha uma língua incrível, superando
todas as minhas expectativas. Literalmente.
Porque foi ele quem me deu o orgasmo no primeiro dia de
acasalamento.
Na jacuzzi.
Eu queria muito repetir, mas havia tantas outras posições para
experimentar e formas de brincar.
Artica deixou que eu a tomasse por trás, algo que quase deixou
Lark tentado para transar com ela na noite passada.
Mas o Rei Fae do Inverno se conteve. De novo. Provando que sua
resistência era a mais forte de todos nós.
Você quer que ela suba em você como uma árvore , eu decidi.
Seus lábios se curvaram. Eu não me oporia.
Então transe logo com ela.
Paciência , ele murmurou. A gratificação adiada tem suas
recompensas .
Ou você está preocupado com o que isso fará com as Fontes?
perguntei, tentando entender a sua hesitação.
Mas ele balançou a cabeça. Não, eu já te disse que só quero que
seja perfeito .
Semicerrei o olhar. O que você está planejando fazer? Encher a
suíte com flores de gelo?
Você vai descobrir esta noite , ele respondeu. Depois da
Celebração do Círculo de Companheiros.
Meu interesse foi despertado. Você está planejando uma
surpresa?
Ele apenas sorriu.
Quero ajudar.
Ele balançou a cabeça. Isso é para todos vocês. Tenha paciência,
Nor. Você vai me agradecer depois.
Artica se espreguiçou e seus lábios cheios se abriram em um
gemido que foi direto para a minha virilha. Kalt imediatamente se
agitou em resposta, sua mão encontrando automaticamente o seio
dela antes mesmo de acordar por completo.
Lark arqueou uma sobrancelha para mim.
Desta vez, eu não disse ou fiz nada, juro . Mas influenciar nossos
companheiros Faes da Água era algo que eu faria e tinha feito
durante toda a semana.
No entanto, desta vez, eu estava muito interessado no processo
de pensamento de Lark para pensar em alimentar os dois Faes da
Água com mais “doces selkies” antes que eles fossem sonhar.
Artica arqueou novamente, fazendo Lark franzir a testa, seu pau
alojado em sua bunda deliciosa. Ergui minhas sobrancelhas.
Tem certeza de que consegue esperar até esta noite, meu rei?
Ela é muito apertada. Ainda mais do que o Kalt. Algo que nós dois
agora sabíamos por experiência própria.
Lark rosnou. Pare com isso, selkie .
Artica gemeu em resposta, se contorcendo enquanto levantava a
perna sobre os quadris de Kalt.
Beijei o pescoço dele, incentivando-o a acordar mais rápido.
Ele já estava duro. Eu praticamente podia sentir o cheiro de sua
excitação. Uma mordida em seu pulso o fez gemer. Estou exausto ,
ele murmurou em minha mente.
A boceta gostosa da Artica está esperando que você a coma ,
respondi de volta, usando palavras grosseiras de propósito para
despertá-lo do sono.
Ele praticamente estremeceu contra mim.
Então Artica se lançou nele, quando outra onda de poder se
propagou dela através dos nossos laços.
Eu gemi, o calor uma sensação bem-vinda em minhas veias.
Kalt moveu os quadris, encaixando o corpo automaticamente no
da Artica enquanto ele a penetrava de uma vez. Nossa rainha
sempre estava pronta, com o corpo preparado após a maratona
incessante de sexo dos últimos doze dias.
Talvez eu estivesse errado em relação ao cronograma.
Talvez precisássemos ficar na cama por mais doze dias e
completar vinte e quatro.
Imagine as letras que eu poderia criar com mais doze dias de
brincadeiras?, pensei para Lark, recebendo um rosnado em resposta.
Não vou adiar as apresentações do nosso círculo de
companheiros. Vocês todos são meus, e eu quero que o reino inteiro
saiba disso.
É por isso que você convidou todas as reinos faes para ficar?
perguntei a ele. Para que todos saibam disso?
Seus olhos cor de menta encontraram os meus. Quero a sua
boca no meu pau agora, Nor.
Isso não é uma resposta, meu rei.
Não, é uma exigência.
Eu sorri. Achei que íamos adiar nossa gratificação até mais tarde?
Vamos , ele respondeu, estendendo a mão sobre Kalt e Artica em
direção ao meu cabelo. Ele não o agarrou; apenas passou os dedos
por ele. Mas eu realmente quero a sua boca. Por favor.
Humm, implorando. Eu aprovo. Mas vamos cuidar dos nossos
Faes da Água primeiro. Depois vou te satisfazer no chuveiro.
Ele sorriu, pressionado os lábios no cabelo de Artica enquanto
continuava a acariciar o meu. Quero que todos as reinos faes saibam
, ele admitiu para mim. Foi por isso que os convidei para ficar.
Sua assistente, Holly, cuidou do grande número de acomodações,
auxiliada por vários outros elfos. Eles ficaram encantados com o
anúncio de que os visitantes poderiam permanecer no reino até a
Celebração do Círculo de Companheiros.
E como nada urgente chegou ao nosso conhecimento, presumi
que tudo transcorreu sem problemas, o que marcava uma nova era
nas relações Inter Reinos Faes.
Lark continuou a beijar o pescoço de Artica enquanto eu passava
o dedo em seu clitóris. A boca de Kalt adorava a dela enquanto a
comia com estocadas poderosas que me deixaram dolorosamente
excitado. Porque cada movimento de seus quadris fazia sua bunda
firme roçar minha virilha, e puta merda, aquele Fae da Água tinha
uma bunda muito bonita.
Artica gritou com um estremecimento que balançou a cama. O
poder fluía dela para nós três conforme ela voltava de seu êxtase
energizado. Kalt gemeu com seu próprio orgasmo, gozando dentro
dela antes de se virar para me beijar, o que atingiu em cheio o meu
pau.
Eu o tirei de dentro dela e o empurrei para que ficasse deitado
de costas, enquanto Lark fazia o mesmo com Artica, e nós dois
descemos para lamber o gozo de suas peles e coxas.
Era um ato mútuo de adoração e veneração, destinado a
demonstrar o poder e o vínculo do nosso círculo de companheiros.
No entanto, fomos interrompidos por uma batida leve na porta
apenas alguns minutos depois de começarmos.
Kalt gemeu quando tirei a boca da cabeça do seu pau.
— Eu atendo — falei, não querendo tirar Lark de seu café da
manhã entre as coxas de Artica.
Nem me dei ao trabalho de me vestir.
Qualquer pessoa que estivesse batendo na porta do quarto de
Lark sabia o que estava acontecendo aqui.
Eles provavelmente estavam familiarizados com a minha forma
nua.
Girei a maçaneta e encontrei Holly, que estava corada do outro
lado, me fazendo xingar a mim mesmo por ter estragado nossa
diversão. Eu nunca deveria ter pensado que eles nos deixariam em
paz, exceto pela entrega diária de comida e água.
Holly fez uma reverência.
— Príncipe Norden.
— Oi, Holly — eu disse, suspirando enquanto me apoiava no
batente da porta. Ela começou a falar, mas levantei uma mão. —
Espere. Se vamos fazer isso, então quero adivinhar. O Fae do Inferno
acabou ficando?
Ela mordeu o lábio e assentiu.
— Eles estão causando problemas? — Porque eram a aposta
óbvia aqui. O Rei Fae do Inferno apareceu no Banquete de Coroação
depois de perder a coroação real. Isso chocou a mim e a Lark, mas
não houve tempo suficiente para nos apresentarmos
adequadamente.
Ela balançou a cabeça.
— O rei e o príncipe têm vagado pelo Reino Humano e apenas se
hospedam aqui à noite.
Ergui as sobrancelhas. Bem, esse é um desenvolvimento
interessante . Eu revisitaria esse fato divertido mais tarde.
— Tudo bem, então é um Fae Metamorfo? — Meus irmãos selkies
sabiam como se comportar por aqui, mas alguns desses clãs de
lobos eram verdadeiramente barulhentos.
— Príncipe Norden, seria mais prudente se eu simplesmente
contasse — ela disse, mordendo o lábio novamente. — A Rainha
Artica iria gostar muito de saber disso.
Isso me fez endireitar a postura, desfazendo todo o meu humor
anterior.
— O que foi? — perguntei, agora muito mais sério e um pouco
preocupado.
— Bem, os pais dela chegaram — ela disse. — E querem vê-la.
Lark se juntou a mim na porta, obviamente tendo ouvido cada
palavra. Ele estava com um roupão amarrado na cintura, sua
modéstia assumindo o controle.
— Eles terão que esperar até o Banquete de Celebração do
Círculo de Companheiros, Holly. Se eles perguntarem por que, diga
que ela está ocupada com seus companheiros. Lidaremos com
qualquer ressentimento mais tarde.
— Claro, meu rei — ela disse, fazendo uma reverência baixa. Ela
se levantou e começou a sair antes de parar e olhar para trás para
nós. — Hum, vocês gostariam de almoçar, Altezas?
— Sim, isso seria adorável. Obrigado, Holly — Lark respondeu,
elegante como sempre.
Ela fez uma reverência novamente e saiu pelo corredor.
Olhei para ele e depois para Artica na cama. Ela estava sentada
com os olhos arregalados e uma expressão muito mais alerta do que
nos últimos dias.
— Eu... eu ouvi certo? Meus pais estão aqui?
— Estão — Lark disse a ela, caminhando de volta para a cama
enquanto eu fechava a porta. — Mas temos algumas horas antes de
cumprimentá-los.
Ela estremeceu, olhando para nós três.
— Isso... isso é bom... porque eu não tenho certeza do que dizer
sobre isso.
— Tenho uma música que pode te ajudar — ofereci.
Ela curvou os lábios.
— Eu... acho que só preciso... — Suas bochechas coraram, me
fazendo sorrir.
— Sim, Sunshine? O que você precisa?
— De mais algumas explosões — ela sussurrou.
— Elas se chamam orgasmos — falei em tom casual, me
juntando a ela na cama e a empurrei com a palma da mão. — Aqui,
vou soletrar isso para você com a minha língua. Contra o seu clitóris.
Então eu cantaria minha música para ela novamente.
E demonstraria cada ato ao longo do caminho.
Vamos nos atrasar para esse banquete , Kalt murmurou.
Elegantemente atrasados , corrigi. Agora beije nossa rainha
enquanto eu a faço gozar.
Fae, eu amava minha vida.
Lamber nossa rainha até ela gritar?
Humm, sim, por favor.
38

ARTICA

T udo começou comigo atrasada para o D ia do E stágio I nter R einos


Fae.
Então parecia adequado que eu também chegasse atrasada para
o meu próprio Banquete de Celebração do Círculo de Companheiros.
Só que isso veio com a vergonha de meus pais serem os
primeiros a me ver depois de dias brincando com meus novos
companheiros. E como eles nos surpreenderam no corredor,
receberam a dose completa do meu estado abalado.
Rosto quente. Lábios inchados. Uma libido que aparentemente
não morria. E duas Fontes lutando pela minha alma.
Nada demais.
Tudo bem.
Mas sim, definitivamente teria preferido o olhar irritado do
Professor Elway agora do que os olhos azuis arregalados da minha
mãe.
Isso vai ser divertido.
— Artica! — ela exclamou, segurando meus ombros enquanto
observava meu vestido e tiara, uma roupa parecida com a que usei
no Dia da Coroação, sendo que este vestido era branco prateado
para combinar com os smokings dos meus companheiros.
E por baixo, minhas pernas estavam instáveis, graças às
atenções de Kalt e Norden apenas alguns minutos atrás.
— Mãe — eu disse, sorrindo com timidez para ela e meu pai.
Não era a reunião familiar que eu esperava.
O que está acontecendo ?, Lark perguntou de onde quer que ele
estivesse.
Ele desapareceu mais de uma vez nos últimos dias. Presumi que
fosse para cuidar dos assuntos do Reino Fae do Inverno. Mas fiquei
desapontada quando ele partiu antes de nós esta noite. Pensei que
entraríamos juntos no salão de baile para o anúncio.
Esperava que ele nos encontrasse lá.
E talvez ele explicasse por que ainda não me tocou de verdade.
Certamente não era por falta tentativa da minha parte. Mas eu
me perguntava se era resultado das Fontes em conflito. Talvez ele
ainda não pudesse realmente me tocar? Ou estivesse preocupado
com o que isso faria?
Independentemente disso, eu desejava que ele me dissesse.
Porque parte de mim continuava sentindo que eu tinha feito algo
errado.
Os pais da Artica estão aqui , Norden disse a ele quando não
respondi de imediato.
Eles deveriam estar no salão de baile , Lark respondeu com
frieza. Com os meus pais.
Dê-lhes um momento , Norden murmurou. Eles estão
preocupados com a filha.
Lark resmungou. Eles abriram mão do direito de se preocupar
quando saíram de férias sem deixar um contato.
Isso é bastante típico para os Faes Elementais , Kalt informou a
ele.
Limpei a garganta, porque era difícil me concentrar com todos os
homens conversando em minha cabeça.
— Sinto muito por vocês terem descoberto tudo isso só agora —
disse timidamente, acenando para Norden e Kalt.
Já que Lark está desaparecido . Me certifiquei de manter esse
pensamento para mim em vez de transmiti-lo para todo o círculo,
um truque que eu estava começando a aprender.
— Sente muito? — minha mãe repetiu. — Querida, não peça
desculpas . Não por isso!
— Acho que foi um choque — meu pai admitiu, recebendo um
olhar furioso da minha mãe. — Especialmente porque só
descobrimos ontem. Não é muito tempo para processar.
— Só ontem? — perguntei, franzindo a testa. — Me disseram que
o Rei Cyrus tentou entrar em contato com vocês antes da coroação.
— Ah, ele tentou, mas estávamos fora do alcance — meu pai
falou em tom grave, dando um sorriso para minha mãe. —
Estávamos passando o verão no Reino Humano, e como você sabe,
não existem torres Fae Elemental lá.
— Isso mesmo — minha mãe acrescentou. — Não recebemos a
mensagem até ontem e viemos direto para cá.
— O que foi um pouco engraçado, considerando que tínhamos
acabado de entrar neste reino, mas estávamos hospedados no retiro
de verão do Alfa Regional da Costa Oeste dos Faes Fortuna, em Los
Angeles. Então, nem mesmo os telefones dos Faes Fortuna teriam
conseguido nos alcançar lá.
— Ah, hum, parece que foi uma boa experiência — falei com
cautela. — Então, sobre a coroa...
— Foi uma experiência incrível — minha mãe disse, batendo
palmas com animação e me interrompendo. — Você sabia que o Alfa
possui uma frota dos melhores veleiros? Fomos até o território que
os humanos chamam de Península de Baja em um deles.
Kalt entrelaçou os dedos nos meus, apertando minha mão.
Embora eu tivesse herdado o senso de alegria de meus pais,
felizmente evitei a tendência deles de tagarelar como leões-
marinhos.
Limpando a garganta, tentei falar novamente, mas fui
interrompida por meu pai.
— Há recifes lindos por lá. Sua mãe queria trazer alguns corais
para a madrasta do Rei Fae da Água como um presente real. — Ele
sorriu. — Ela ama o organismo marinho que lhe deu o nome.
Ele tirou um pedaço deslumbrante de coral rosa do bolso. Notei
que ainda estava cheio de vida, protegido por uma camada de
magia da água presenteada pelos meus pais.
Kalt sorriu.
— A tia Coral vai adorar.
Meu pai piscou, olhando para Kalt pelo que parecia ser a primeira
vez. Ele estava tão envolvido em me ver e me contar sobre suas
aventuras que nem pareceu notar os homens atrás de mim.
Ou o Rei Fae do Inverno se aproximar atrás deles.
Um Rei Fae Inverno que estava com uma carranca que me
impedia de falar.
— Vocês devem ser os pais da Artica — Lark disse, fazendo com
que eles se enrijecessem e olhassem para ele. — Meus pais estão
esperando por vocês no salão de baile. Minha assistente, Holly, irá
acompanhá-los até lá.
Ele se afastou para permitir que uma pequena elfa desse um
aceno.
— Olá — ela cumprimentou com um sorriso. — Se vocês me
seguirem.
— M-mas ainda não fomos devidamente apresentados — meu
pai gaguejou.
— Não, vocês estavam ocupados falando sobre suas férias —
Lark respondeu sem perder o ritmo. — Talvez vocês permitam que
sua filha fale um pouco quando nos encontrarmos novamente no
salão de baile.
Que ótima maneira de impressionar os sogros , Norden
comentou, levando os dedos até uma mecha do meu cabelo e o
puxou de leve.
Você sugeriu que Artica cantasse uma música sobre orgasmos
para explicar sua ausência nos últimos doze dias , Lark lembrou.
Acha que isso seria mais impressionante?
Lembro de você me dar um sermão sobre a importância da
honestidade em um relacionamento. Eu só estava sugerindo que
nossa Artica fosse honesta sobre suas atividades recentes.
Lark bufou.
Tenho certeza de que eles teriam ficado mais impressionados
com isso do que com sua clara falta de consideração , Norden
acrescentou enquanto Lark passava pelo meu pai sem nem olhar
para ele, ficando bem na minha frente, bloqueando assim a visão
dos meus pais sobre mim.
Eu sou um rei. Sou impressionante por natureza .
Engoli em seco ao ver o brilho de aço em seu olhar verde menta
enquanto ele me avaliava devagar, observando desde a tiara até os
sapatos de salto prateados.
Além disso , continuou, acariciando minha bochecha enquanto
olhava por cima da minha cabeça para o selkie atrás de mim. Eles
não me impressionaram, falando sobre suas próprias vidas em vez
de reconhecerem a coroação da filha. Ela é uma rainha agora. E será
tratada como tal.
Eles estão apenas animados , expliquei.
— Bem, acho que nos veremos em breve — minha mãe disse,
com a voz muito mais desanimada que antes.
Suspirando, contornei Lark. Sendo da realeza ou não, eu não
podia simplesmente dispensar meus pais assim.
Abracei minha mãe novamente.
— Desculpe, estamos tentando seguir as formalidades —
sussurrei. Não que algo tenha sido estabelecido ainda, já que era o
primeiro Banquete de Celebração do Círculo de Companheiros. Mas
eu tinha que dizer algo.
— Não, ele está certo. Estávamos sendo rudes — ela disse ao me
soltar. — Estou ansiosa para conhecer seus companheiros. E... e
estou orgulhosa de você, Artica.
— Estamos orgulhosos de você, querida — meu pai ecoou,
olhando por cima do meu ombro.
Porque Lark estava se impondo atrás de mim.
E eu suspeitava que ele tinha uma expressão muito real no rosto.
— Ela é uma deslumbrante Rainha Fae do Inverno — ele disse,
apoiando as mãos em meus quadris. — Temos muita sorte de tê-la.
Assim é muito melhor , Norden elogiou.
Ele não estava errado. Meus pais imediatamente irradiaram
felicidade.
— Vejo que você está em boas mãos. — Um pouco de alegria
retornou à voz do meu pai. — Boas mãos, de fato.
Minha mãe sorriu.
— Apenas algumas semanas atrás, você estava falando sobre o
estágio. Nunca esperaria... Quer dizer... É...
— Um conto de fadas? — sugeri, sorrindo com timidez
novamente.
— Não é um conto de fadas — Kalt disse. Ele se moveu para o
meu lado e segurou minha mão novamente. Não tinha certeza de
quando o soltei. Talvez quando fui abraçar minha mãe?
Norden foi para o outro lado.
— Não, é um sonho realizado.
— Sim — Kalt concordou. — Mas é um sonho que a Artica
transformou em realidade por causa de sua alegria, que vejo que ela
herdou de vocês.
Ah, ele está roubando a cena, Lark , Norden disse.
Como eu já disse, não preciso causar boa impressão. Eu sou um
rei.
— Príncipe Kalt — minha mãe falou com um tom que sugeriu que
ela estava tentando descobrir o nome dele e acabou de descobrir
sua identidade. Ela arregalou os olhos e entreabriu os lábios em
apreciação.
Porque, sim, Kalt provocava esse tipo de reação em todos que
cruzavam seu caminho. E ele estava ainda mais impressionante no
smoking impecável com seu cabelo branco ártico macio e
despenteado até os ombros. Sem mencionar aqueles olhos azul-
gelo.
— É um prazer conhecê-los — ele falou baixinho.
— Oceania e Muriel — forneci, dando seus nomes.
Lark suspirou. Acho que estamos fazendo apresentações então .
Desculpe , sussurrei, fazendo uma careta.
Seus lábios roçaram minha têmpora. Nunca se desculpe, minha
rainha. Eu sempre respeitarei sua escolha.
Lark se apresentou educadamente e a Norden, explicando os
costumes do círculo de companheiros Fae do Inverno, e novamente
pediu a meus pais que seguissem Holly até o salão de baile do
palácio. Eles concordaram com um pouco mais de contentamento
dessa vez, repetindo o quanto estavam orgulhosos de mim antes de
desaparecerem com a assistente de Lark.
Ele ainda segurava meus quadris e me girou em seus braços
assim que a porta no final do corredor se fechou.
— Artica, você tira meu fôlego — sussurrou, com um brilho sério
nos olhos cor de menta. — Peço desculpas por não estar aqui para
dizer isso no momento em que você saiu do quarto. Eu estava
lidando com um problema com um convidado de última hora, com a
Holly.
— Problema com um convidado? — Kalt repetiu, mais uma vez
ao meu lado, com Norden do meu lado oposto.
— Apenas uma pequena altercação entre dois Faes Metamorfos
errantes.
Semicerrei o olhar.
— Lobos?
— Hum-humm — ele murmurou, confirmando o que eu já sabia.
— Eles são animais selvagens e malvados — falei sério.
Ele curvou os lábios para cima.
— São mesmo?
— Eles zombam dos faes que não podem se transformar —
informei. — E mordem.
— Sinto que há uma história aqui que quero saber — ele
murmurou, sorrindo. — Mas precisamos ir. Os convidados estão
esperando há mais de uma hora, algo que estão tolerando apenas
porque não divulguei nenhum tipo de cronograma. Mas tenho
certeza de que estão ficando com fome.
— Como seremos apresentados? — Norden perguntou.
— À moda antiga, através dos bonecos de biscoito de gengibre.
Norden franziu a testa.
— Que entediante.
— Tem uma ideia melhor? — Lark perguntou a ele.
E era o tipo de pergunta que ele provavelmente nunca deveria
ter feito.
Porque os olhos de Norden se iluminaram imediatamente.
— Sim, na verdade, eu tenho.
39

ARTICA

Um desfile de pinguins .
Meu coração se encheu de alegria ao ver todos aqueles pés
bamboleantes marchando pelo salão de baile à nossa frente, com
Norden como guia.
— Desculpem pelo atraso! — ele transmitiu para a sala. — Isso
exigiu um pouco mais de coordenação do que esperávamos.
Uma maneira inteligente de explicar nossa demora.
Mas, na realidade, ele conseguiu orquestrar tudo em quinze
minutos.
Depois de dizer a Lark que ele tinha uma ideia, ele saiu. Então
nos disse através do vínculo mental do círculo de companheiros para
encontrá-lo nas portas do salão de baile do palácio.
Onde os pinguins já haviam começado sua entrada.
Os faes e elfos lá dentro estavam radiantes com o espetáculo.
Alguns outros homens pareciam estar ajudando Norden com a
organização. Reconheci um deles como Yule e imaginei que os
outros também poderiam ser selkies.
Quando perguntei através de nossos vínculos de companheiros,
Lark pressionou a palma da mão em minha coluna e aproximou os
lábios do meu ouvido para me dizer seus nomes.
— Uau, o Norden tem muitos irmãos — sussurrei.
— Sete é o habitual para selkies — ele respondeu, o que fez
meus olhos se arregalarem.
— Habitual?
Ele sorriu.
— Alguns deles são gêmeos.
— Gêmeos? — ofeguei. — Será que o Norden vai querer...? —
Não consegui terminar a pergunta. Porque, sete selkies? Eu... Eu
não tinha certeza se meu corpo estava preparado para isso. Será
que posso ter um bebê selkie?
— Nossos filhos terão magia mista — Lark respondeu, ainda
falando próximo ao meu ouvido.
Ninguém além de Kalt percebeu, porque todos os presentes
estavam ocupados demais observando as maravilhas se movendo
pelo salão de baile.
— Então, nada de selkie? — Me senti um pouco triste com isso.
Eu não queria sete. Mas um ou dois poderia ser bom.
— Um selkie com magia da água e do inverno — Lark corrigiu. —
Com certeza é possível.
Olhei para ele.
— Quando você permitir, certo?
Ele franziu a testa.
— Não, minha rainha. Quando você permitir.
— Norden disse que você controla a reprodução — eu disse. —
Que você precisa abençoá-la. — Ele estava errado? Porque se
estivesse, então...
— Meu poder abençoa a criação, sim. Mas eu nunca o usaria sem
o seu consentimento. A decisão de quando e como nós procriaremos
será sua. — Ele sorriu. — Eu apenas serei seu método de controle
de natalidade mágico até que estejamos todos prontos para dar esse
passo.
— Controle de natalidade mágico — repeti, curvando os lábios
para combinar com seu sorriso. — Parece esperma mágico.
Será que é por isso que ele ainda não me tocou de verdade?
Porque ele não quer fazer isso até que eu esteja pronta para um
herdeiro? O pensamento fez meu sorriso vacilar, algo que ele
percebeu porque franziu a testa.
— O que há de errado? — ele perguntou.
Balancei a cabeça.
— Nada. Só estava pensando em ter sete selkies. — Meu coração
se apertou com a mentira.
E a expressão dele me disse que ele também percebeu.
— Artica...
— Senhoras e senhores! — um homem chamou os presentes na
sala. — Apresento-lhes o novo Círculo de Companheiros Real Fae do
Inverno!
Uma salva de palmas entusiasmada saudou seu anúncio, fazendo
minhas bochechas corarem. Quem é esse? perguntei, não
reconhecendo o homem alto de cabelos escuros. Embora sua
aparência física o colocasse na casa dos trinta, a aura antiga ao seu
redor sugeria que ele era muito mais velho.
O avô paterno de Norden, Berg , Lark respondeu, seus olhos
cintilaram ao ver a cena. Essa é uma grande honra. A família do
Norden raramente vem à costa. Encontrei seu avô apenas uma vez,
mas nunca sua avó.
E os pais dele? perguntei.
Lark limpou a garganta. Seus pais não estão mais conosco .
Oh. Eu não sabia... eu... sinto muito por isso. Isso me fez
perceber o quanto ainda tinha que aprender sobre meus
companheiros.
Eles pereceram fora de nossas barreiras de proteção, seja por
ursos polares ou humanos, não temos certeza , ele acrescentou
enquanto Norden se virava para nós com um sorriso deslumbrante.
Não fique triste por mim, Sunshine , ele murmurou. E não se
preocupe com a minha longevidade. Selkies não são totalmente
imortais, mas como um Príncipe Fae do Inverno, eu poderia muito
bem ser.
Eu não tinha percebido que estávamos conversando em nosso
círculo de companheiros. A coisa toda do canal em minha cabeça era
confusa. Pensamentos privados exigiam que eu os bloqueasse, algo
que aprendi Mas alternar entre canais individuais de companheiros e
nossa mente de grupo ainda era um trabalho em progresso.
Algo que se tornava mais difícil com emoção.
Portanto, acabei falando acidentalmente com todos os meus
companheiros quando a explicação de Lark me deixou triste.
Norden se aproximou de nós, levou a mão a minha bochecha e
pressionou os lábios nos meus.
Aplausos se seguiram, juntamente com seu avô fazendo
apresentações formais de nossos nomes e títulos, e terminando com
um comentário sobre não conseguirmos parar de nos tocar.
Norden riu.
— Você pode me culpar?
— Não, filho, não posso — seu avô respondeu, passando o braço
em torno de uma mulher pequena ao seu lado. Sua avó? pensei.
Sim. Vovó Ester , ele confirmou. E ela está muito ansiosa para
conhecer todos vocês. Assim como meus irmãos.
Você conhece os irmãos dele? perguntei a Lark.
Apenas o Yule , ele respondeu.
Os pinguins saíram do salão sob a supervisão cuidadosa dos
irmãos de Norden. Então Lark se dirigiu a todos com um breve
discurso, agradecendo a todos por se juntarem a nós para a primeira
Celebração do Círculo de Companheiros.
— Vocês devem ter notado que gostamos de doces por aqui —
ele continuou, provocando algumas risadas da multidão. — Mas
estamos trabalhando em nossas relações com os Fae de outros
reinos. Então, solicitei que algumas iguarias fossem trazidas de
todos os reinos faes. Espero que aproveitem o banquete desta noite,
mas primeiro, vamos brindar com hidromel natalino. Saúde!
Um exército de bonecos de biscoito de gengibre subiu,
segurando bandejas com taças e vários doces.
Todos responderam com um sonoro “Saúde!” e a celebração
começou oficialmente.
Nos encontramos primeiro com os pais de Lark, trocando beijos
no rosto e gentilezas. Depois, continuamos nosso desfile ao redor do
enorme salão de baile.
Kalt e Norden caminhavam um passo à nossa frente, com os
braços entrelaçados, enquanto Lark mantinha a palma da mão em
minhas costas.
Cumprimentamos todos os convidados em círculo, agradecendo a
presença deles e aceitando seus votos de felicidades.
Bem, a maioria deles, de qualquer forma.
— Suas Fontes ainda não estão completamente apaziguadas —
Zakkai nos informou depois que Lark o agradeceu por sua ajuda
após a coroação.
Eu soube de seu envolvimento em nossa união através dos meus
companheiros e expressei minha gratidão a ele por salvar minha
vida.
Ele assentiu antes de olhar diretamente para Lark e voltar à sua
declaração anterior.
— Sugiro que você resolva logo esse problema com as Fontes,
Rei Lark. Vamos partir amanhã.
Aflora suspirou, balançando a cabeça, claramente descontente
com o comentário nada agradável de seu companheiro.
— Nós faremos isso — Lark prometeu a ele antes de nos afastar
dos Faes da Meia-Noite e nos dirigir ao próximo grupo. Eu queria
perguntar o que Zakkai queria dizer, mas suspeitava que já
soubesse.
Meus laços com Kalt e Norden eram sólidos.
E, embora me sentisse ligada a Lark, havia algo faltando.
Intimidade.
— Rei Lúcifer — Lark disse, me tirando imediatamente dos meus
pensamentos.
Rei Fae do Inferno.
— Ouvi dizer que você tem desfrutado do Reino Humano — Lark
continuou.
— Você já foi para lá? — o Rei Lúcifer respondeu, com um tom
entediado. — Fascinante. — Uma palavra que não combinava com
seu tom de voz.
— Temos desfrutado dos avanços tecnológicos humanos — um
homem com características marcantes ao lado dele disse. Seus olhos
multicoloridos pareciam brilhar sob as luzes enquanto ele sorria. —
Também estamos apreciando seu espírito festivo.
— Estamos? — o Rei Fae do Inferno perguntou, arqueando uma
sobrancelha escura.
— Estamos — seu companheiro confirmou.
— Humm. — Ele ergueu os olhos escuros para o visco sobre suas
cabeças. — Sim, acho que estamos. — O Rei Fae do Inferno segurou
o outro homem pela nuca e o beijou com uma paixão que me
lembrou Norden.
Quando finalmente se afastaram, Lark terminou de fazer as
apresentações, me fornecendo o nome do macho impressionante:
Príncipe Melek.
Os dois Faes do Inferno parecem atraídos um pelo outro ,
brinquei, ganhando uma risada de Norden e Kalt.
Todos os Faes são capazes de alegria, Lark respondeu,
aparentemente satisfeito com a exibição, enquanto nos dirigíamos à
mesa excessivamente longa montada em um lado do salão de baile
do palácio.
Era um espaço enorme destinado ao entretenimento, com um
tamanho que rivalizava com a cafeteria. Exceto que tudo aqui era
muito mais formal, com candelabros iluminados por velas e cortinas
douradas.
Eu esperava mais grandiosidade festiva , admiti.
Esperava? Lark olhou para mim, contorcendo os lábios. Seu
desejo é uma ordem, minha rainha.
Ele acenou com a mão, usando seu novo acesso à magia da água
para criar flocos de neve cintilantes, seguido por uma exibição de
purpurina e fadas da água dançantes.
Uma bela demonstração de nossos poderes combinados que
atraiu um coro de “ahs” e “ohs” da multidão. Se não sabiam sobre a
mistura de Fontes em nosso círculo de companheiros, certamente
sabiam agora.
Para não ficar para trás, Norden formou um grupo de minúsculas
focas com a umidade do ar e as fez para perseguir as fadas pelo
salão.
Vários convidados riram com encantamento. Outros nos olharam
com olhos arregalados.
— Exibicionista — Kalt disse, revirando os olhos, mas o sorriso
que tocava seus lábios sugeria que ele aprovava.
Em qualquer outra era, seríamos um círculo de abominações.
Mas aqui, éramos aceitos. Eu podia sentir no ar, a alegria e a
expectativa inspiradas pela nossa união.
Estávamos inaugurando uma nova era de vida.
Introduzindo uma nova forma de existir.
E provando que a combinação de poder poderia ser usada para o
bem, em vez do mal.
Um grupo de Fae Elementais estava perto do final da mesa,
incluindo o pai de Kalt. Eu o reconheci imediatamente por seus
longos cabelos brancos e sorriso com covinhas. Mas o sorriso não
alcançava seus olhos da mesma maneira que o de Kalt.
Ele perdeu a cerimônia de coroação porque Kalt não o convidou,
algo pelo qual ele se desculpou assim que o viu. Eu já sabia que o
Príncipe Fae da Água perdeu a mãe quando era criança, então não
esperava vê-la, mas sussurrei sobre a perda dela para Norden e
Lark, para que eles soubessem que não deveriam perguntar.
Exceto que Norden me surpreendeu dizendo que já sabia.
Assim como Lark.
Isso serviu como um lembrete dos meses que os três passaram
juntos antes de eu chegar. Eu não estava com ciúmes, mas queria
muito compensar o tempo perdido.
Algo que provavelmente eu precisava dizer a Lark quando o
questionasse sobre sua hesitação mais tarde.
Kalt capturou minha atenção quando abraçou o pai, a tristeza no
olhar do homem mais velho nos deu mais uma visão sobre a
hesitação de Kalt em aceitar o círculo de companheiros.
Ele testemunhou essa perda por anos, viu o que o vínculo
quebrado fez com seu pai e não queria isso para si mesmo.
No entanto, ele sentiu uma dose daquela dor quando o afastei.
Quando as apresentações terminaram, tudo o que eu queria
fazer era abraçar Kalt e dizer o quanto o amava.
Mas ele chegou antes em mim, me envolveu em seus braços e
me beijou com uma paixão que provocou ainda mais aplausos.
Isso parece uma cerimônia de acasalamento , sussurrei em sua
mente.
Bom , ele sussurrou de volta para mim. Porque somos
companheiros .
Eu sorri. Sim. Somos. Você é meu. Oficial e irrevogavelmente
meu .
Ele riu. Você parece bastante satisfeita com isso.
Estou, sim.
Posso contar um segredo? ele sussurrou, capturando meu olhar.
— Eu também estou satisfeito. — Ele se inclinou para me beijar
novamente, mas uma voz carregada de poder nos interrompeu.
— Eu também estou — o Rei dos Fae da Água interveio.
— Cyrus — a Rainha Claire sibilou.
— O quê? — ele perguntou com falsa inocência. — Estou muito
satisfeito que Kalt finalmente tenha seguido seu caminho correto.
Não posso expressar isso?
Kalt passou o braço em volta da minha cintura enquanto
encarávamos seu primo.
— Sim, você estava certo. Eu estava errado. Quanto a isso, estou
bastante satisfeito, então vou conceder a sua vitória — Kalt disse
enquanto Norden e Lark se aproximavam atrás de nós. As mãos de
Lark foram para meus quadris, seu calor era um afago bem-vindo
contra minha pele, inspirando o poder a zumbir em minhas veias.
Poder que ele imediatamente absorveu como se soubesse que eu
estava prestes a precisar de outra liberação de energia. Seus lábios
encontraram meu pescoço.
Me avise se precisar que eu absorva mais , ele sussurrou em
minha mente, provocando arrepios em minha pele.
Obrigada .
É um prazer , ele respondeu, com um leve tom de desejo nessas
duas palavras.
Um desejo que eu sentia até o meu âmago.
Mas o pigarrear de alguém me trouxe de volta à realidade e aos
Faes Elementais ainda parados diante de nós.
Me lembrei dos nomes de cada um deles.
O Fae do Fogo, Titus.
O Fae Real da Terra, Sol.
O Fae Real do Ar, Vox.
E, é claro, o Rei Cyrus e seu meio-irmão Fae dos Espíritos, Rei
Exos.
Isso que é um círculo de poder.
A Rainha Claire estava radiante, usando vestido azul com
bordados prateados que combinavam com as ondas douradas de
seus cabelos.
Ela me fez uma reverência, e eu respondi da mesma forma,
rezando para as Fontes para que eu pudesse manter minha graça
festiva. Meus movimentos foram fluidos, como se guiados pela
alegria do Festivus.
Ou talvez estivessem sendo auxiliados pelo toque dos meus
companheiros, já que nem Kalt nem Lark me soltavam.
Senti Norden puxar meus cabelos. Seus dedos sempre
encontravam um motivo para tocar um dos meus cachos.
Talvez neste reino, com esses homens como meus guias, eu não
fosse mais tão desajeitada.
— Parabéns pelo seu círculo de companheiros e ascensão, Rainha
Artica — a Rainha Claire falou, irradiando orgulho. No entanto, o
brilho em seu olhar dizia que esse resultado não a surpreendeu. —
Eu não poderia pensar em uma fae mais perfeita para esse papel.
— Mesmo? — o Rei Cyrus perguntou, passando o braço ao redor
da cintura da Rainha Claire para lhe dar um beijo na bochecha. —
Você quer dizer que não era sobre a Artica que ouvi você e a Gina
discutirem no mês passado?
— Certamente a poderosa Fae Fortuna Ômega não previu isso —
O Rei Exos acrescentou.
— Não, ela não previu que uma Rainha Fae do Inverno daria
início a uma nova era de alegria para todos os reinos — a Rainha
Claire respondeu. — Nem me disse que essa rainha seria
fundamental para todas as minhas aspirações Inter Reinos Fae.
Minhas bochechas coraram à medida que a intenção óbvia de
seus comentários se registrava em meus pensamentos.
— Vocês... vocês sabiam que isso ia acontecer?
— Digamos apenas que sabíamos que havia uma grande chance
de que acontecesse — a Rainha Claire respondeu, sorrindo.
— E estamos muito felizes por isso — o Rei Cyrus acrescentou,
com o olhar fixo em Kalt. — O acasalamento lhe cai bem, primo.
— Assim como a paternidade para você — Kalt respondeu. — Por
falar nisso, onde está o Príncipe Ciro? — Sua pergunta me fez querer
me chutar por não ter perguntado sobre o filho único da Rainha
Claire.
Sou realmente boa nesse estágio de Inter Reinos Fae , pensei
com sarcasmo. Sempre me lembrando de detalhes importantes e
tudo mais.
Que bom que você tem uma tríade para te ajudar , Kalt
respondeu em minha mente, seu olhar cor de gelo brilhando de
prazer enquanto ele me olhava. E um Príncipe Fae da Água que se
lembra desses detalhes por você.
A Rainha Claire sorriu.
— Nós o deixamos com minha mãe e Mortus.
— Sim, voltamos apenas para os eventos desta noite. Uma noite
de encontro muito necessária — o Rei Cyrus falou, olhando de forma
significativa para o seu círculo de acasalamento. O sorriso torto nos
lábios de Titus me disse que eles tinham algo planejado. Algo
quente .
Algumas semanas atrás, eu teria suspirado de forma sonhadora e
desejado ter meu próprio círculo de acasalamento para me satisfazer
nessas atividades.
Mas agora eu tinha o meu.
— Sim, bem, tenho certeza de que o pequeno Ciro está dando
trabalho para a minha mãe — a Rainha Claire disse, com as
bochechas com um tom lindo de rosa enquanto ela tentava manter o
tópico anterior da conversa. — Mas prometi levar alguns bengalas
doces se ele se comportar bem.
— Sugiro as azuis — Kalt disse sem hesitar. — Ele vai adorar.
Reprimi um sorriso. Você é malvado , disse a ele.
Apenas retribuindo ao meu primo por todo o seu amor áspero,
Kalt respondeu, e a diversão em seu tom trouxe alegria ao meu
coração.
Fae, eu amava ouvi-lo feliz .
Seus lábios roçaram minha têmpora enquanto um sino prateado
ecoava pela sala.
O pai de Lark estava de pé na cabeceira da mesa com a cadeira
empurrada para fora.
— Acredito que esta é a sua nova cadeira, filho. Devemos
começar o banquete?
40

ARTICA

L ark me conduziu até a mesa com N orden e K alt logo atrás de nós .
Seu pai sorriu, deu um tapinha na cadeira e disse:
— Estarei na extremidade oposta com o resto da família.
— Obrigado, pai — Lark respondeu, abraçando-o rapidamente
antes de pular, sim, pular, para a outra extremidade, onde seus
companheiros estavam esperando com grandes sorrisos.
Ele parece bastante satisfeito em passar essa cadeira , pensei
para Lark.
Sim. É um gesto simbólico que diz que ele não está mais no
comando, e eu ouso dizer que ele está animado com isso , Lark
falou, curvando um pouco os lábios. Acho que esse é o verdadeiro
motivo pelo qual ele queria que eu ascendesse mais cedo.
Humm, não concordo , eu disse, encontrando seus belos olhos
verdes. Ele sabia que você estava pronto. Você será um rei notável,
milorde.
Ele sorriu, acariciando minha bochecha. Apenas porque tenho
você como minha rainha, milady. Ele se inclinou para me beijar e a
sensação de seus lábios nos meus provocou faíscas em minhas
veias. Ele as capturou com a língua, absorvendo minha onda de
poder e me trazendo paz por um momento antes de puxar uma
cadeira para mim.
Você se importa de se sentar entre Kalt e Norden para o
banquete? ele me perguntou.
Quase disse que sim. Porque sim, eu meio que me importava. Eu
queria estar ao lado dele.
Na verdade, não, eu queria estar debaixo dele.
Sentir toda aquela força enquanto ele me possuía.
Liberar poder de volta para ele e finalmente acalmar as Fontes
que lutavam por minha alma.
Mas eu não podia dizer isso na frente de todos esses faes, então
apenas assenti. Claro .
Ele franziu a testa. Você prefere estar ao meu lado?
Vou ficar bem aqui, eu disse a ele, me sentando antes que ele
pudesse comentar novamente.
Ele deu um beijo na minha cabeça, evitando a tiara. Discutiremos
isso mais tarde , ele sussurrou em minha mente. O acasalamento
tem tudo a ver com a verdade, e você está sendo desonesta comigo,
Artica.
Ele parecia desapontado.
Bem, ele poderia se juntar à festa. Porque eu também estava.
E frustrada.
E agindo como uma garota mimada.
No entanto, doze dias juntos e ele não me penetrou nem uma
vez ou me deixou prová-lo adequadamente.
Ah, ele tinha me provado várias vezes, mas eu não tive
permissão para retribuir. E agora que minha mente estava
funcionando além das ondas do prazer arrebatador, eu queria saber
por quê.
Vamos te manter devidamente entretida, Sunshine , Norden
respondeu enquanto se acomodava ao meu lado e colocava a palma
da mão na minha coxa.
Muito entretida , Kalt concordou ao ocupar a cadeira entre mim e
a cabeceira da mesa, ficando ao lado de Lark.
Kalt segurou minha perna, apertando-a.
Mais poder ondulou em mim com o contato, fazendo com que os
dois zumbissem em minha mente enquanto absorviam os choques
em excesso.
Isso vai ser divertido , Norden decidiu, seus dedos encontrando a
fenda do vestido para tocar minha pele nua.
Muito divertido , Kalt ecoou, fazendo o mesmo do outro lado.
Eu sei o que vocês estão fazendo , eu disse a eles.
Só garantindo que você esteja pronta para depois , Norden falou,
seus dedos agora acariciando a parte interna da minha coxa. Lark é
fã de gratificação atrasada, Sunshine. Mas acho que ele atingiu seu
limite esta noite.
Segui seu olhar para onde Lark acabou de se sentar e percebi o
calor nos olhos dele.
Calor e um pouco de desagrado.
Porque não fui honesta com ele? Ou porque ele estava chateado
com algo que Norden acabou de dizer?
Como ele estava me encarando, suspeitei que fosse o primeiro.
Engoli em seco, sentindo meu pescoço formigar. Estou em
apuros.
Sim, com certeza está , respondeu Lark.
Os elfos apressaram os convidados a se sentarem, reservando o
outro lado da mesa para os Faes Elementais, com o Rei Exos à
direita de Lark e a Rainha Claire ocupando a cadeira em frente a
mim. Vox se sentou ao lado dela, com Sol ao seu lado, depois Cyrus
e, finalmente, Titus.
Achei estranha a ordem enquanto os elfos tagarelavam e
começavam a encher os pratos de todos com diversos doces e
delícias geladas. E, fiel às palavras de Lark, também havia pratos de
todos os reinos.
Uma verdadeira representação das relações entre Inter Reinos
Faes.
— Essas são crab berries? — Sol perguntou, pegando um
punhado e enfiando na boca antes que alguém pudesse responder.
— Cranberries — Vox corrigiu com um suspiro exasperado. — E
tenho quase certeza de que eram apenas para decoração.
Sol resmungou e começou a encher o prato com vários doces,
carnes e geleias, sem se importar com os alimentos que se
sobrepunham.
— Há comida suficiente para todos — Vox assegurou, franzindo o
cenho enquanto uma rajada de vento deslizou uma porção de balas
de gomas encantadas e suspiros de merengue para o seu próprio
prato.
Bem, é uma forma de se servir , Norden ponderou, seu olhar
brilhando de prazer com a brincadeira entre Sol e Vox. Aquele com
cabelos bonitos e compridos é um Fae do Ar, certo?
Ele retirou a mão da minha coxa para adicionar uma colherada
de torta natalina ao meu prato. Kalt fez o mesmo, acrescentando
uma pilha de coco ralado no topo da minha torta.
Parecia que os dois estavam mais preocupados em garantir que
eu tivesse comida do que em se alimentarem.
Sim, Vox é Fae do Ar , confirmei. Sol é Fae da Terra .
Isso explica o tamanho dele, Norden murmurou. E o apetite.
— Isso é faelicioso — Sol falou, apontando para uma combinação
de itens em seu prato.
Vox suspirou.
— Acho que você não deveria combinar geleia de morango com
espaguete e almôndegas, Sol. — Ele fez uma careta, evitando as
almôndegas do espaguete enquanto acrescentava um pouco ao seu
próprio prato, longe da porção de geleia de morango.
Os dois Faes Elementais continuaram a discutir durante a
refeição, divertindo bastante Norden.
Pelo menos até ele notar a batalha elemental ocorrendo algumas
cadeiras adiante.
Titus levou um bolinho à boca, mas franziu a testa quando o item
congelou completamente, fazendo-o bater os dentes com uma
careta.
Grunhindo, ele estalou os dedos, enviando uma trilha de fogo na
superfície do brownie de Cyrus, que derreteu quase imediatamente.
Norden riu. Deveríamos fazer um encontro duplo com esse
círculo de companheiros. Gosto muito mais deles do que dos Faes da
Meia-Noite.
Depois de experimentar a recepção fria de Zakkai mais de uma
vez, não pude deixar de concordar.
A Rainha Claire e o Rei Exos pareciam não perceber o caos entre
seus parceiros, provavelmente porque era algo comum entre os seis.
Eles estavam mais envolvidos na conversa que estavam tendo
com Lark e Kalt, algo que perdi a maior parte, já que estava
evitando o olhar conhecedor do Rei desde que nos sentamos.
Sim, com certeza está , ele falou.
Me perguntei o que aquilo significava.
Que tipo de problema ele planejou para mim?
Me inclinei um pouco, captando a segunda metade da conversa
deles.
— Os reinos percorreram um longo caminho — o Rei Exos falou
com um tom de orgulho na voz, passando o braço nos ombros de
sua parceira. — E descobrimos que eles são muito mais receptivos
às relações Inter Reinos Faes do que se esperava inicialmente.
A Rainha Claire se inclinou para o Rei Exos enquanto apoiava a
mão no peito dele.
Um anel multicolorido capturou a luz em seu dedo, cintilando
com o poder de todas as Fontes Elementais juntas. Isso servia como
uma perfeita representação do que um círculo de companheiros
poderoso poderia realizar como uma unidade.
— Os tempos estão mudando — ela disse, olhando para Aflora,
que estava sentada mais ou menos no meio da mesa com os
companheiros ao seu redor. — Os faes estão se tornando mais
receptivos a uniões poderosas. Ainda não chegamos lá, mas a
mudança e a aceitação plena não acontecem da noite para o dia.
— Não, elas não acontecem — o Rei Exos concordou. — Mas é
por isso que precisamos normalizar esse conceito de interação entre
os Reinos Faes.
A Rainha Claire e Kalt assentiram enquanto Lark continuava a
ouvir em silêncio.
— Sim, algo semelhante a isso — ela falou, tocando o queixo.
Então seu olhar se iluminou. — Ah! E se fizéssemos algo assim todos
os anos?
Gostei bastante da ideia.
— Como um novo feriado? — arrisquei, me inserindo na
conversa.
— Um feriado funcionaria — a Rainha Claire respondeu. — Mas
precisaríamos que todos os reinos o celebrassem, o que pode ser
difícil.
Assenti, concordando com aquilo. Já era difícil o suficiente fazer
com que os reinos concordassem com coisas simples, como uma
academia para crianças de heranças faes mistas, formalmente
conhecidas como abominações pela maioria dos faes.
Eu não conseguia imaginar que um feriado seria mais fácil para
ser aprovado. Todos gostariam que fosse algo específico de sua
própria cultura, o que iria contra todo o propósito.
— E se fizéssemos algo exatamente como isso — falei, pensando
em voz alta. — Um banquete Inter Reinos Faes, em que todos
trouxessem suas próprias culinárias famosas para outros reinos
experimentarem.
— Humm, bolinhos de cogumelo como aperitivos — o Rei Exos
murmurou, curvando os lábios.
— Doces Selkies para a sobremesa — Norden acrescentou,
prestativo.
Lark e Kalt trocaram olhares, contemplativos.
— Na verdade, não é uma má ideia — Kalt falou. — O banquete,
quero dizer. Os doces selkies podem ser... interessantes.
— Este lugar é perfeito para um banquete também — o Rei Exos
acrescentou. — A alegria mantém todos os reinos faes sob controle.
Quero dizer, até mesmo os Faes do Inferno estão se divertindo.
Ele fez um gesto em direção ao Rei Fae do Inferno perto da
extremidade oposta da mesa. O príncipe estava ao seu lado, os
traços definidos e belos me lembrando mais um anjo que um Fae do
Inferno, mas as aparências podiam enganar.
— Estou surpreso que esses dois tenham ficado — Kalt admitiu,
inclinando a cabeça para o casal. Ele franziu a testa, analisando as
possibilidades mais sombrias do que os Faes do Inferno poderiam
estar realmente fazendo enquanto estavam no Reino Humano.
Fechando acordos com um Fae desavisado, talvez ? pensei. Eu
não sabia muito sobre os Faes do Inferno, mas sabia que o rei tinha
um gosto por criar acordos unilaterais que o beneficiavam mais do
que a contraparte.
Kalt olhou para mim. Talvez , concordou. Mas tenho certeza de
que qualquer Fae neste reino sabe que não deve fechar um acordo
com os Faes do Inferno. Eles são fortalecidos pela alegria. O que
mais alguém poderia precisar?
Norden enrolou os dedos em uma das minhas mechas, alisando a
ponta com seus dedos mágicos. Ah, eu tenho muitas necessidades,
Príncipe Kalt.
Revirei os olhos quando a Rainha Claire interrompeu nossos
devaneios privados.
— Ah, mas precisamos de um nome para isso — ela falou,
franzindo a testa. — Dia da Comida Inter Reinos Faes?
— Comidinha de Verão — Norden sugeriu, fazendo vários
companheiros da Rainha Claire sorrir. Todos haviam direcionado seu
foco para nossa conversa agora, a ideia de uma festa claramente
despertando seu interesse.
— Não — Lark falou de repente, interrompendo a animação em
nossa parte da mesa imediatamente. — Festivus de Verão da Rainha
Fae do Inverno. — Seu tom indicava que não era uma sugestão
tanto quanto um nome oficial. Um que ele havia decidido e não
debateria. — Vou anunciar aos convidados, mas a Artica tem que
planejar tudo — acrescentou, seu olhar verde menta pousando em
mim.
— Eu? — ofeguei, surpresa não apenas pelo nome que ele
escolheu, mas também por seu pronunciamento.
— Seu sonho não é gerenciar as relações Inter Reinos Fae? — ele
perguntou, arqueando a sobrancelha.
Franzi a testa. Você está aproveitando essa novo vinculo para
procurar meus desejos e sonhos em minha mente?
Ele encontrou meu olhar. Você ficaria brava se eu dissesse que
sim?
Eu o considerei por um momento, minha expressão tensa se
transformando em um sorriso. Não, não ficaria , admiti. Mas pensei
que estivesse encrencada...
Ah, você está. Mas vamos lidar com isso em particular depois .
Seus lábios se curvaram em um sorriso que prometia travessuras
maliciosas mais do que punições severas.
Os músculos das minhas coxas se contraíram em resposta.
— Considere feito — ele anunciou antes de pegar sua taça para
tomar um gole do líquido borbulhante. Vários outros fizeram o
mesmo, colocando as bebidas na mesa ao mesmo tempo que ele.
— Todos os anos em vinte e cinco de julho? — Norden sugeriu.
— Para celebrar o seu aniversário?
— Desde que a atenção continue focada em nossa rainha, não
me importo com o dia — meu rei Fae do Inverno respondeu. — A
felicidade dela é o que mais importa.
— Ouçam, ouçam — o Rei Cyrus ecoou. — E é assim que se faz.
A Rainha Claire revirou os olhos.
— Cale a boca.
— Nunca — ele murmurou, soprando-lhe um beijo de gelo que
Titus transformou em uma chama, derretendo-o na mesa.
A Rainha Claire suspirou, balançando a cabeça.
Ignorei suas travessuras, voltando meu foco para o Rei Fae do
Inverno mais uma vez.
— Seria uma honra para mim realizar uma festa de aniversário
anual em sua homenagem, meu rei.
— Não foi isso o que eu disse nem como eu chamei — ele
respondeu, franzindo a testa.
— Não, você disse que a minha felicidade é o que mais importa.
E isso me deixaria muito feliz.
Ele pensou por um momento, então curvou os lábios em um
sorriso genuíno.
— A sua felicidade é o meu único desejo, então que assim seja
feito. — Mas você ainda está encrencada , ele acrescentou.
Antes, eu estava um pouco preocupada com o que isso
significava.
Agora... agora eu estava intrigada. Aceito qualquer punição que
você desejar me dar, meu rei.
Seus lábios se curvaram, e então ele dirigiu-se à mesa, elevando
a voz ao anunciar:
— A partir deste momento, o Festivus de Verão da Rainha Fae do
Inverno ocorrerá anualmente no dia vinte e cinco de julho para
trazer alegria aos reinos.
Todo o salão aplaudiu enquanto uma dose de magia alegre se
espalhava pelo reino.
A magia está ligada a feriados , Lark sussurrou em minha mente.
Você trará muita alegria ao nosso povo através desse evento
grandioso. Eles vão te amar para sempre por isso.
Meu estômago se agitou com a adoração em sua voz. Eu pensei
que você estivesse bravo comigo.
Decepcionado, Artica. Nunca bravo , ele corrigiu. Agora termine
sua comida. Tenho uma surpresa para você mais tarde.
Norden apertou minha coxa, roçando os lábios em minha
bochecha. Você está radiante, Sunshine. Absolutamente radiante.
Você está tentando me distrair , acusei, curvando os lábios
mesmo enquanto minha mente se preocupava com os comentários
de Lark. Mas o toque de Norden era... Humm .
Está funcionando? Seus dedos encontraram aquela fenda
novamente, passando pela parte interna da minha perna até a renda
rosa entre as minhas coxas. Coma sua comida, doce Artica.
Enquanto Kalt e eu brincamos com a sobremesa.
A mão de Kalt pousou na minha coxa oposta enquanto ele
continuava novas discussões políticas com o Rei Exos e Lark. Sua
expressão não revelava nada, mas o vínculo de companheiros
pulsava com conhecimento.
Até Lark sabia o que esses dois estavam fazendo, e a aprovação
praticamente irradiava dele.
Me arrepiei. Apertei o garfo enquanto tentava me concentrar no
meu prato.
Isso era uma distração faetástica .
Uma que eu tentava não deixar ninguém ver enquanto mastigava
e engolia a comida.
Mas não sentia o gosto de nada.
Minha atenção estava nas duas mãos debaixo do meu vestido.
Elas se revezavam, me provocando através da renda.
Então uma delas deslizou sob o tecido para acariciar minha carne
sensível. Dei um solavanco e em seguida limpei a garganta,
enquanto lutava contra a necessidade de gemer.
Dei outra garfada em algo doce. Torta de creme, talvez? Deveria
ter seduzido completamente meu paladar, mas o fogo ardente entre
as minhas pernas era tudo o que eu conseguia sentir ou pensar.
Outro dedo deslizou sob o tecido, acariciando minha entrada
antes de me penetrar profundamente. Norden , suspirei,
familiarizada com seu toque.
Engula, Sunshine, antes que engasgue , ele sussurrou de volta
para mim.
Obedeci, então me assustei quando ele levou um garfo aos meus
lábios com a mão livre, enquanto a outra me estimulava por baixo
da mesa e Kalt circulava meu clitóris.
Você pode gemer enquanto engole isso. Vou dizer a todos que é
sua sobremesa favorita.
Não entendi a princípio, mas quando o garfo tocou minha língua,
ele curvou o dedo de uma maneira que instantaneamente me levou
ao êxtase.
O garfo me impediu de gritar, mas não silenciou meu gemido de
êxtase.
O que fez Norden rir enquanto ele dizia em voz alta que era
minha sobremesa favorita.
Um biscoito de caramelo salgado coberto de creme, percebi,
finalmente sentindo o gosto na língua enquanto ele me alimentava
com outro pedaço.
Era tão intensamente erótico que quase gozei de novo, mas o
raio de poder rugindo em minhas veias me segurou.
Outro orgasmo provavelmente me faria explodir.
E eu não queria correr o risco de qualquer magia que pudesse
acontecer.
Com minha sorte, seriam uma série de bolas de neve brilhantes
com fios de confete ou algo assim.
O toque de Kalt deixou o meu centro, a sua conversa séria
continuando enquanto ele estendia a mão para passar o dedo no
creme da minha sobremesa, o mesmo dedo que ele acabou de usar
para me tocar, e o levava aos seus lábios para provar.
Minhas bochechas estavam em chamas.
A situação só piorou quando Norden fez exatamente a mesma
coisa.
— Delicioso — ele murmurou, piscando para mim.
Vocês vão me matar de prazer , pensei, com as pernas ainda
tremendo com as réplicas do meu orgasmo.
Não se preocupe, Sunshine , Norden sussurrou de volta para
mim. Nós vamos te reviver com outro orgasmo.
Lark limpou a garganta, se levantando mais uma vez para se
dirigir à mesa.
— Quero agradecer a todos por comparecerem à nossa primeira
Celebração do Círculo de Companheiros. Espero que tenham gostado
da culinária Inter Reinos Fae e que se juntem a nós no primeiro
Festivus de Verão da Rainha Fae do Inverno do próximo ano.
Outra rodada de aplausos encheu o ar, a alegria contagiante.
Minha cabeça já estava cheia de ideias, me lembrando uma
tempestade de delícias festivas.
— Para aqueles interessados — Lark continuou —, vamos
encerrar a noite com chocolate quente no lounge do palácio. Caso
contrário, vocês estão convidados a passearem à vontade. As
acomodações serão cortesia até o final da semana.
Ele fez uma pequena reverência.
Mais aplausos seguiram.
Então ele se afastou da cadeira, vindo diretamente até mim, e
estendeu a mão.
— Minha rainha. Se quiser me acompanhar na primeira xícara, já
preparei uma especialmente para você.
41

ARTICA

T udo bem . T alvez minha mãe estivesse certa . P orque isso parecia
mesmo um conto de fadas.
E a caneca de chocolate quente decorada esperando por mim era
divina.
Lark me puxou para o assento ao seu lado, a poltrona era grande
o suficiente para mais duas pessoas se juntarem a nós. Mas Kalt e
Norden ficaram de pé ao nosso lado com suas canecas nas mãos.
Todos nós ganhamos a mistura especial de Lark, mas ele
preparou cada com um toque único: algo que ele admitiu agora ser
a verdadeira razão pela qual ele saiu. Não houve uma emergência
com os Faes Metamorfos. Apenas Lark querendo surpreender seus
companheiros com chocolate quente após o jantar.
Minha caneca tinha um toque de hortelã-pimenta, algo que Lark
suspeitou que eu gostaria.
Ele tinha razão.
A de Kalt era temperada com coco, que ele adorava.
E a de Norden tinha um toque de caramelo salgado, algo que
parecia fazer seus olhos revirarem.
— Obrigada — sussurrei para Lark, percebendo agora que este
era um verdadeiro presente do coração dele. Um agrado que apenas
um Rei Fae do Inverno poderia conceder a seus companheiros.
— De nada — ele murmurou para mim, com os lábios em meu
ouvido. — Mas essa não é a surpresa que mencionei, apenas um
bônus.
Estremeci e meus dedos dos pés encolheram com o tom rouco
de sua voz.
Vários dos faes ao nosso redor estavam perdidos em suas
próprias conversas, o tom se acalmando para a noite. Todos
estavam satisfeitos, não apenas com a comida, mas de vida, a
magia no ar era um afrodisíaco que intensificava os sentidos e
espalhava alegria por todo o reino.
Meus olhos começaram a se fechar em um suspiro quando uma
cabeleira loira familiar chamou minha atenção. Me sentei mais ereta,
abrindo os lábios em um sorriso largo.
— Juniper! — chamei, colocando minha caneca de lado para me
levantar.
Ela se virou e arregalou seus olhos verde-mar enquanto
respondia com um sorriso.
Abri os braços e ela me abraçou apertado. Seu alívio era palpável
e me fez franzir a testa.
— Está tudo bem? — perguntei, me afastando para olhá-la.
— Eu estava tão preocupada — ela disse em um desabafo. —
Eu... eu vi... — Ela olhou ao redor, e percebi que ela precisava de
um momento privado.
Já volto , disse a Lark, guiando Juniper para o canto da sala onde
poderíamos conversar em particular.
— O que foi? — perguntei, preocupada. — E quando você
chegou aqui? — Ela não estava aqui quando fizemos nossas rondas
mais cedo. Na verdade, nenhum dos Faes Fortuna estava.
— Acabei de voltar pelos portais — ela explicou. — Tive que
convencer o Alfa Oberon a me deixar voltar. Na verdade, ele disse
não, mas o Professor Kamden concordou em me acompanhar. —
Suas bochechas coraram com o nome, mas ela balançou a cabeça.
— Isso não é importante. Eu só... eu te vi cair, Artica. E... e te devo
um pedido de desculpas.
Franzi a testa.
— Me viu cair?
— Bem, desmaiar, acho. Contra o Rei Lark. Depois da coroação.
Finalmente, compreendi.
— Ah, aquilo...
— Sim, por causa da minha descrença, certo? — ela insistiu. —
Eu... eu fiquei tão chocada com o seu novo papel que... não sei. Eu
estava preocupada, Artica. Preocupada com o que poderia acontecer.
Você mal conhecia seus companheiros e... — Ela parou de falar,
suspirando. — Eu nunca deveria ter tocado no presente. Sinto muito.
Não percebi o que iria acontecer. Mas não deveria ter espalhado
minha descrença. Aconteceu sem querer. Você pode me perdoar?
Franzi a testa para ela.
— Você... você acha que eu desmaiei por causa da sua
descrença?
— Não foi por causa disso? — ela perguntou.
Sorri e neguei com a cabeça.
— Não, desmaiei por causa da combinação de Fontes dentro de
mim. — Eu senti um pouco da descrença de Juniper quando ela
tocou o presente, mas eu já estava tão imersa na magia naquele
ponto que o choque dela não poderia causar mais danos. — Está
tudo bem, Juniper. Também tive meus momentos de choque.
— Você tem certeza? — ela insistiu. — Eu estava tão
preocupada!
— Obrigada, mas estou bem. Prometo. — Eu a abracei
novamente, encontrando o olhar de Lark sobre seu ombro.
Norden tomou meu lugar no assento e apoiou a cabeça no
ombro de Lark enquanto o Rei Fae do Inverno brincava com uma
mecha de seu cabelo. Norden devia ter permitido o toque depois de
desfrutar o presente do chocolate quente de Lark.
Suspirei. Nosso círculo de companheiros cresceu tanto em tão
pouco tempo, em parte por causa dos desafios que enfrentamos e
das dificuldades que fomos forçados a superar.
Kalt se juntou a eles e seus olhos cor de gelo encontraram os
meus enquanto ele piscava, o gesto tocando diretamente meu
coração.
— Não estou brava — prometi a Juniper, lhe dando um aperto.
No entanto, de alguma forma, minhas palavras pareciam mais
direcionadas a Kalt. Porque descobri que o perdoei completamente
por negar seus laços. Negar a nós . Meu coração era inteiramente
dele, e eu podia sentir o eco disso em nosso vínculo de
acasalamento.
Juniper desabou em meus braços, aliviada.
— Ah, graças aos Faes. Eu estava... péssima. Foi isso que o
Professor Kamden me trouxe. Ele... ele sabe que ando distraída.
Eu me afastei para estudar o rosto dela.
— Hum-hum. E quem é esse Professor Kamden de quem você
continua falando?
Desta vez, seu rubor se estendeu até o pescoço.
— Ele é... bem, ele é um professor, então eu só o conheço de
passagem. Sei que ele não tem interesse em mim; quero dizer, sou
apenas uma estagiária. Mas ele é... — Ela suspirou. — Ele é
encantador, Artica.
— Conheço bem esse sentimento — eu disse a ela, olhando
novamente para o meu círculo de companheiros. Ela seguiu meu
olhar com uma risadinha. — Eu também sou estagiária. — Franzi a
testa. — Ou era, acho. — Agora eu era uma rainha. O que
significava que não precisava mais dos créditos do estágio.
Bem, pelo menos todos os meus cursos já estavam concluídos.
Mas o estágio deveria ser o meu último “curso” na Academia.
Talvez Kalt me dê uma nota de aprovação.
Vou considerar isso , ele respondeu, um brilho travesso no olhar.
— Bem, vamos ver o que acontece — Juniper suspirou, dando
um passo para trás.
Sorri e estendi a mão para apertar seu braço de forma
tranquilizadora.
— Siga o seu coração, Juniper. Ele nunca vai te decepcionar.
Ela retribuiu o sorriso, então uma estranha onda de magia
percorreu meu toque enquanto sua pele ficou fria contra minha mão.
— Juniper? — suspirei, sentindo a magia escapar dela. —
Juniper!
Ela começou a convulsionar e revirar os olhos brilhantes.
Segurei-a com as duas mãos, garantindo que ela não caísse
enquanto meu coração batia descompassado no peito.
— Juniper — repeti, seu nome sussurrado enquanto tentava
trazê-la de volta do que estava acontecendo com ela.
Ela congelou.
Piscou.
E então me encarou.
Através de íris prateadas.
Entreabri os lábios quando Lark chegou ao meu lado, seguido por
Norden e Kalt. Eles sentiram meu pânico através do vínculo e vieram
imediatamente para meu lado.
Ou talvez eles tenham visto Juniper convulsionar.
Alguns outros faes voltaram sua atenção para nós, a
preocupação marcando suas feições diante da erupção de poder.
Mas foi breve e já estava completo.
Porém, eu não conseguia mais sentir a magia da Água em
Juniper.
E seus olhos cintilavam .
Um estalo irradiou de sua alma e me sacudiu profundamente
quando senti a Fonte da Água liberando-a, aceitando minha bênção
para que ela descobrisse seu próprio destino.
Minha crença em seu coração , percebi, o choque me deixando
sem palavras. Eu disse a ela para seguir o coração dela. E... e ela fez
exatamente isso.
Porque ela acabou de se transformar em uma Fae Fortuna, a
única raça entre nossa espécie que podia enxergar o futuro e
interpretá-lo com profecia.
Ela estremeceu novamente, o poder irradiou através dela... um
poder que tocou o meu e vibrou em nossa pele até os lábios de
Juniper.

E ASSIM, todos os reinos saudarão a Rainha do Festivus Alegre, seu


amor, um farol para iluminar o caminho para reunir os faes há muito
perdidos em seus medos.
Eles serão inspirados.
Aprenderão a acreditar.
Apenas um coração permanece tão frio quanto a pedra.
Uma fissura que só uma Halfling pode remediar.
Ou todos os reinos sofrerão sua ira e o Festivus não mais
existirá.

A SALA CAIU em silêncio diante da demonstração de poder, todos


focados nos olhos de Juniper enquanto eles se cobriam de gelo com
a magia prateada da profecia proferida.
Então ela caiu no chão, em sono profundo.
Um homem musculoso de ombros largos se juntou a nós e se
ajoelhou enquanto a abraçava de forma protetora contra seu peito.
Seus olhos prateados e presas o denunciavam como um Alfa Fae
Fortuna.
Ele olhou para mim de sua posição ajoelhada, e seu cabelo preto
longo escondia parte do rosto.
— Rainha Artica — cumprimentou, com a voz grave.
— Professor Kamden? — arrisquei, minha voz rouca.
Ele assentiu.
— Ela está bem? — Lark perguntou, a preocupação
transparecendo em seu tom.
— Ela vai ficar — o Professor Kamden disse, se levantando
devagar com Juniper nos braços. — A transição... foi repentina.
O braço de Juniper caiu, pendendo frouxamente ao seu lado.
Eu o levantei sem pensar, colocando-o em seu abdômen.
Foi então que notei a marca de flocos de neve em sua mão.
Abri os lábios e os olhos prateados do professor se voltaram para
os meus.
— Você disse algo que provocou isso?
— Eu... eu disse a ela para seguir seu coração — sussurrei.
Ele assentiu novamente, o gesto brusco.
— Uma bênção de crença.
— Uma bênção que só poderia ter ajudado a incentivar alguém a
seguir um sonho que já existia — Lark acrescentou.
— Sim, eu sei — o Professor Kamden respondeu. — Vou levá-la
daqui — ele disse isso de uma maneira que deixava claro que não
aceitaria alternativas.
Não que eu tivesse uma para oferecer.
E ele se dirigiu à saída sem dizer mais nada.
Eu o segui com os olhos, espantada com suas costas
imponentes.
Certamente, minha influência ajudou nessa transição inesperada,
mas senti em meu coração que Juniper estava no caminho certo.
O que me preocupou mais foram suas palavras.

UMA FISSURA que só uma Halfling pode remediar.


Ou todos os reinos sofrerão sua ira e o Festivus não mais
existirá.

O QUE AQUILO SIGNIFICAVA?


Olhei para a Rainha Claire do outro lado da sala, a única Halfling
que eu conhecia. Seria ela a pessoa que Juniper estava se referindo?
Será que a Rainha Claire tinha outro papel a desempenhar no
destino dos reinos?
Ou havia outro Halfling que ainda não tínhamos conhecido?
E qual coração frio colocava o Festivus em risco?
— Bem, uma bênção festiva — Lark disse para a sala. — O
primeiro presente de nossa rainha para os reinos. Não consigo
pensar em uma maneira melhor de encerrar nossa noite. — Ele
passou o braço em meu ombro, com o sorriso firme no lugar. —
Acho que é hora de partirmos. Agradeço a todos, uma boa noite
festiva.
42

LARK

B em , isso foi uma reviravolta inesperada para a noite . M as eu sabia


exatamente o que Artica precisava para ajudá-la a esquecer o
incidente.
Ela não fez nada de errado além de expressar sua crença em
uma amiga.
Algo que ela entenderia assim que visse minha surpresa para ela.
Norden, vários itens chegaram na suíte enquanto estávamos
desfrutando do banquete. Você poderia levar Kalt com você para
desembalá-los? Ele saberá o que fazer , eu disse.
Não sabia como ter uma discussão mental com os dois sem
envolver Artica, e não queria estragar a surpresa para ela. Então,
esperava que Norden transmitisse meu pedido a Kalt.
Você vai levá-la a algum lugar?
Vou, sim.
Onde?
Olhei para ele enquanto caminhávamos, nós quatro agora perto
da entrada da minha ala. Ao meu coração .
Seus lábios se curvaram. É a noite perfeita .
O que significava que ele sabia exatamente por que eu pretendia
levá-la até lá.
— Nos encontramos no quarto — Norden disse em voz alta,
dando um tapa nas costas de Kalt. — Prometi um banho para o
Frosty aqui.
Kalt olhou para ele, erguendo uma sobrancelha.
— Vai pentear meu cabelo depois?
— Com certeza — Norden afirmou.
O Fae da Água sorriu.
— Então, me guie, selkie.
Artica franziu a testa quando eles saíram, seus belos olhos
pousando em mim.
— Você quer falar sobre a profecia?
Curvei os lábios para combinar com os dela.
— A profecia? — Eu ri. — Não, não quero.
Eu ouvi cada palavra que Juniper falou.
Mas não estava preocupado.
Se uma alma de coração frio quisesse tirar Festivus dos reinos,
teria que enfrentar a mim e meu círculo de companheiros. E eu não
duvidava de nossa capacidade nem por um segundo.
Estávamos prestes a nos tornar o círculo de companheiros mais
forte da história dos Faes do Inverno.
Quem quisesse testar isso estaria desafiando o destino.
— Nem todas as profecias se realizam — eu disse a ela. —
Algumas são apenas avisos. E acho que essa pode ter sido inspirada
pelo nosso círculo de companheiros ainda não estar completamente
completo. — Estendi a mão para ela. — Então vamos consertar isso.
Eu senti sua insatisfação comigo durante o jantar, e sabia o que
causou isso.
Mas o aspecto mais importante de um relacionamento era a
verdade.
E ela não me deu isso hoje à noite.
Algo que eu pretendia corrigir.
Ela pressionou a palma da mão na minha, enviando uma
descarga elétrica pelo meu braço. O poder dentro dela ansiava por
uma saída. Passei o polegar pela sua pele, absorvendo o máximo de
energia que podia através desse simples toque.
— Você acha mesmo que profecias podem ser apenas avisos de
futuros possíveis? — ela perguntou enquanto começávamos a
caminhar em direção à saída mais próxima do palácio.
— Profecias são caminhos potenciais na vida que acontecerão
sob o conjunto certo de circunstâncias — eu disse a ela, parando na
porta para pegar o casaco que fiz para ela esta tarde. Era branco,
com pele falsa nas bordas e tinha um capuz para proteger seu
cabelo. O tecido fino também fluía até o chão para garantir que cada
parte dela permanecesse aquecida.
Ela o vestiu, a textura sedosa cobriu seus braços com um brilho
de magia destinado a mantê-la isolada. Um suspiro escapou de seus
lábios e as bochechas imediatamente coraram com o encantamento.
— Uau — ela sussurrou. — O que é isso?
— Um casaco feito para uma rainha — respondi com
honestidade, roçando meus lábios nos dela. — Não se preocupe com
a profecia, meu amor. É um caminho possível, mas estou confiante
de que vamos contra-atacar.
— Mas ela disse que apenas um Halfling pode nos salvar — ela
sussurrou enquanto eu a levava em direção ao trenó que esperava
na neve.
— Nosso círculo de companheiros nos salvará de toda e qualquer
ameaça — prometi a ela. — No entanto, quer saber o que eu
realmente acredito? — perguntei, encarando-a.
— Sim.
— Acho que a profecia não era para nós. Acho que era para o
Halfling ou para o coração frio ouvir. — Um deles ou os dois
poderiam estar na sala esta noite. — Não acredito que tenha algo a
ver conosco ou com nosso círculo de companheiros. E sabe por que
mais eu acredito nisso?
— Por quê? — A palavra saiu como um sopro de ar.
Acariciei sua bochecha, capturando seu olhar.
— Porque eu acredito no nosso círculo de companheiros, Artica.
Acredito que podemos lidar com todas as ameaças ao nosso reino. E
acredito também que estamos a caminho de desfrutar de um dos
finais mais felizes de todos os tempos. — Pressionei os lábios nos
dela. — Agora junte-se a mim no trenó. Está na hora da sua
surpresa.
Ela olhou para a carruagem e depois de volta para mim.
— Como ele vai se mover?
— Você vai ver — prometi a ela, ajudando-a a se sentar no
assento destinado à minha rainha. Em seguida, me acomodei atrás
dela, envolvendo-a com minhas pernas e a puxei para trás,
encostando-a em meu peito. Com os braços firmemente envoltos em
sua cintura, sussurrei um encantamento mágico que deu vida ao
trenó.
E disparamos pela neve.
Ela soltou um grito de alegria. O som foi um beijo lindo para os
meus ouvidos enquanto acelerávamos pelos terrenos nevados do
palácio e para a geleira além.
Aproveite , Norden sussurrou para mim com o tom carregado de
diversão, o que me dizia que ele estava prestes a aproveitar Kalt
antes de começarem a desempacotar as caixas.
Artica também seria capaz de sentir o calor deles, o que
explicava seu estremecimento de desejo. Beijei seu pulso, o vento
soprando rápido e agressivo demais em nossos ouvidos para eu
falar. Então, em vez disso, escolhi sussurrar em sua mente.
Sei que você está chateada comigo, minha rainha , disse a ela.
Mas queria que tudo fosse perfeito e certo.
Ela não respondeu de imediato, sua mente processando minhas
palavras. Perfeito como?
Talvez aquela não tenha sido a escolha certa de palavras. Eu quis
dizer a situação , tentei explicar, apertando cada vez mais meu
abraço enquanto descíamos uma colina íngreme em alta velocidade.
As palmas de suas mãos foram para minhas coxas, apertando
minhas pernas. Mas a magia nos mantinha na carruagem.
Minha magia.
Preciso que você saiba o quanto significa para mim , continuei. A
maioria dos casais precisa de tempo e cortejo para entender seus
corações. Mas eu nunca fui assim. Eu sabia que você era meu
destino no momento em que te vi. Assim como Norden e Kalt. E
agora, vou te mostrar como eu sabia. Mas primeiro, quero que você
feche os olhos.
Não me passou despercebido que acabei de dizer que queria
mostrar algo a ela, seguido por um pedido para que ela fechasse os
olhos.
Mas ela entenderia em breve.
Tente relaxar , acrescentei em um sussurro, notando sua rigidez.
Não vou deixar nada te acontecer.
Um zumbido de confiança nos cercou quando ela permitiu que
minhas palavras a acalmassem, e a senti fechar os olhos da mesma
forma.
Bem a tempo do nosso trenó atravessar o véu da geleira diante
de nós.
Para qualquer outra pessoa, seria uma camada sólida de gelo.
Mas não para o Rei e a Rainha do Reino Fae do Inverno.
Ou para o herdeiro, já que estive aqui inúmeras vezes.
No entanto, era a primeira vez que eu trazia um convidado.
Norden tentou entrar comigo uma vez, mas não conseguiu. Talvez
agora ele conseguisse, agora que nosso círculo de companheiros
estava completo.
O trenó começou a diminuir a velocidade à medida que o interior
da caverna de gelo ganhava vida. Isso me lembrou de estar dentro
de um diamante, a luz interior natural iluminava cada fenda e aresta.
Mesmo no auge do inverno, este lugar brilhava como um sol gelado.
Onde estamos? Artica suspirou, sua mente se enchendo de
admiração diante dos encantamentos que se desenrolavam ao nosso
redor.
Mais cinco segundos , eu disse a ela, enquanto o trenó parava
gradualmente no coração da caverna de gelo.
— Não abra os olhos ainda — eu disse em seu ouvido. — Vou te
ajudar a sair.
Saí do trenó primeiro e depois me inclinei para pegá-la nos
braços e a coloquei em uma plataforma de gelo, com as mãos em
seus quadris. Girando-a devagar, coloquei meu peito novamente em
suas costas.
— Pronto. Agora você pode abrir os olhos, minha rainha.
Sua inspiração me disse que ela obedeceu e seu coração batia
tão rápido que eu quase podia ouvi-lo. Mas senti isso através do
nosso vínculo e da magia deste lugar.
— Onde estamos?
— No centro da magia Fae do Inverno — eu disse a ela. — É
daqui que vêm os materiais para os cristais da crença, o que
significa que este é o poder que impulsiona todo o processo de
criação. É literalmente o coração do nosso mundo.
— Oh, Fae — ela sussurrou, sua adoração tangível. — Posso
sentir a magia na minha pele, prová-la na minha língua.
— Porque está respondendo a você como sua rainha. É isso que
eu queria que você visse, para entender por que eu soube desde o
início que estávamos destinados a nos encontrar. — Eu a virei para
me encarar, desviando o olhar para o pingente de floco de neve em
seu pescoço. — Esse cristal vem daqui, Artica. Ele brilha
intensamente quando você está perto de um companheiro
compatível. O Kalt pode tê-lo encantado, mas o material é todo
magia dos Faes do Inverno.
— É uma pedra dos desejos — ela me disse. — Pelo menos, foi o
que ele me falou.
— Sim, é alimentada pela crença. Se você desejar e acreditar o
suficiente, isso acontecerá. Mas também é um pingente que
expressa compatibilidade.
— Sim, o Norden mencionou isso — ela respondeu. — Então
você está dizendo que foi assim que você soube? Por causa do
pingente?
Balancei a cabeça.
— Não. Estou te dizendo que o pingente é feito da magia desta
caverna, a mesma magia que vive e sempre viveu dentro de mim. É
a mesma magia que agora vive dentro de você também.
— Você é como o pingente — ela traduziu em voz baixa.
— Sim. Uma versão muito mais poderosa dele. — Acariciei sua
bochecha. — Meu coração cantou no momento em que te vi. E
embora eu tenha agido mal, foi mais resultado da frustração de você
não sentir isso imediatamente também. Mas nasci para acreditar no
destino. É quem eu sou. E nem todos têm o dom de entender a vida
dessa forma.
Seus olhos brilharam.
— Eu consigo sentir agora. Consigo sentir que você é meu
destino. Que nosso círculo de companheiros é exatamente como
deveria ser.
— Não — eu disse, sorrindo. — Não é exatamente como deveria
ser. Mas está prestes a ser. — Eu a beijei, segurando-a junto a mim,
permitindo que ela sentisse a paixão e o calor em meu coração
enquanto a abraçava no lugar mais querido pela minha espécie.
A magia zumbia ao nosso redor e a caverna ganhou vida em
resposta às sensações que cresciam entre nós.
Esperei para te tocar, Artica, porque eu queria este momento.
Queria que você confiasse e me conhecesse tão completamente que
não houvesse uma única dúvida em sua mente de que eu estava te
tomando por todas as razões certas.
Conduzi Artica até uma cama de peles falsas que coloquei aqui
no início desta semana para este propósito, ciente do que pretendia
fazer esta noite depois do banquete.
Ela estremeceu, seus olhos azuis se encheram de lágrimas
quando ela olhou para mim.
— Achei que tinha feito algo errado — ela sussurrou.
— Você nunca poderia fazer algo errado, minha rainha — garanti
a ela. — Exceto não me contar como realmente se sente. — Tirei o
casaco de seus braços e ombros, adicionando-o à pilha de peles.
A magia na caverna continuou a zumbir, mantendo-a aquecida
enquanto eu a olhava nos olhos.
— Se eu fizer algo que te deixe chateada, eu quero que você me
diga — eu disse. — Confie em mim para resolver. Confie em mim
para entender. Confie o suficiente em mim para expressar seu
desconforto. E eu farei o que puder para garantir que nunca mais te
farei se sentir assim.
— Está bem — ela sussurrou, seu olhar fixo no meu.
— Agora me diga o que você quer, Artica. — Eu já sabia, mas o
objetivo era que ela me contasse. Confiar em mim, assim como eu
tinha pedido.
Ela curvou os lábios e as lágrimas em seu olhar escorreram para
suas bochechas e se transformaram em pequenos cristais de gelo.
— Quero que você faça amor comigo, meu rei.
— Seria meu maior prazer, minha rainha — eu disse, beijando as
lágrimas congeladas de sua pele enquanto alcançava o zíper de seu
vestido.
O da coroação era um espartilho, algo que tivemos que cortar.
Eu preferia muito mais o zíper deste vestido.
Ele ia até sua bunda, tornando fácil empurrar o tecido de seus
ombros e deixá-lo cair no chão. Ela saiu dele, completamente
confiante em sua nudez, os seios provocantes chamando minha
boca. Mas me ajoelhei em vez disso, querendo tirar os sapatos de
salto de seus pés delicados.
Ela usou meus ombros para se equilibrar, seu toque era como um
calor elétrico que eu podia sentir através do smoking, até a minha
alma.
Eu me inclinei para beijar a renda rosa entre suas coxas, ciente
de que Norden pediu essa cor contra sua pele macia.
Ela não usava mais nada.
Apenas a calcinha.
E então eu lambi seu doce calor através do tecido, amando o
sabor do orgasmo que ela teve durante o jantar. Isso me deixou
faminto por ela, meu pau já duro e dolorido atrás do zíper.
Ela entrelaçou os dedos em meus cabelos, segurando minha
boca contra si enquanto eu mordiscava o clitóris inchado através da
renda.
— Lark — ela murmurou, movendo os quadris.
Eu sabia que se continuasse assim, ela chegaria ao clímax
apenas com a magia e minha boca.
Mas eu a queria nua debaixo de mim, sua boceta escorregadia
envolvendo meu pau, e seu corpo estremecendo contra o meu
quando ela gozasse.
Ela soltou um gemido baixo quando me levantei novamente.
No entanto, ela rapidamente se calou quando percebeu que eu
estava me despindo.
Primeiro o paletó.
Depois o colete.
Em seguida, a camisa social.
Seguido pelos sapatos, meias e calça, até que eu não estivesse
usando mais nada.
Porque eu não usava roupa íntima. Assim como Norden e Kalt
também não.
Ela desviou o olhar para a minha virilha, sua língua se insinuando
para lamber os lábios de forma apreciativa.
Então ela se ajoelhou e me levou à boca.
Xinguei baixinho, não esperando essa reação, mas geada , sua
boca parecia divina contra minha pele.
— Artica — gemi, entrelaçando os dedos em seu cabelo.
Ela ainda estava com a tiara, algo que me esqueci de tirar.
Eu a peguei, deixando-a cair entre as peles ao lado, e segurei
seu cabelo.
Ela me engoliu profundamente, passando a língua em minha
ereção de uma maneira que sugeria que ela observou Norden e Kalt
ao longo da última semana e memorizou seus movimentos.
— Isso também te chateou? — perguntei ofegante. — Que eu
não te deixei... Fae . — Ela me engoliu até o fundo da garganta, me
chupando como uma mulher faminta.
Quis te provar durante toda a semana , ela gemeu em minha
mente. Você sempre dizia não.
Porque eu não confiava em mim mesmo para não transar com
você , admiti. Eu queria esperar... até chegarmos aqui... até agora...
mas, pelos sinos do trenó, Artica, vou gozar se você continuar
fazendo isso.
Ah, mas eu queria estar dentro dela.
Senti-la .
Transar com ela do jeito que eu deveria ter feito desde o início.
Eu a puxei para longe de mim, um ato que exigiu uma força
extrema e pura força de vontade, e imediatamente a empurrei para
as peles. Me ajoelhei entre suas pernas, com uma mão apoiada no
chão, enquanto a outra a segurava entre suas coxas.
— Encharcada — falei. Penetrei dois dedos dentro dela, bem
fundo, amando a forma como ela se arqueava em direção à minha
mão. — Você foi feita para mim, para isso, para nós .
Ela gemeu, abrindo as coxas enquanto tentava me atrair com sua
oferta deliciosa.
Me inclinei para lamber seu clitóris novamente, amando o sabor
doce em minha língua. Fiz uma trilha de beijos pelo seu corpo, até
seu pescoço, e lentamente retirei a mão de entre suas coxas,
substituindo-a pela minha virilha.
Ela imediatamente envolveu as pernas ao meu redor, o convite
explícito sendo um toque úmido na cabeça do meu pau enquanto eu
me posicionava em sua entrada.
— Por favor, Lark — ela implorou. — Preciso de você dentro de
mim. Eu preciso de você...
Eu a penetrei com força, arrancando um grito de sua garganta
que ecoou na câmara de gelo. O poder jorrou dela e a conexão
íntima despertou as duas Fontes, fazendo-as entrar em batalha mais
uma vez.
Mas nossas almas eram suficientes para domá-las.
Algo que provamos quando nossos corpos começaram a se unir
em uma demonstração furiosa de paixão e graça.
Eu a beijei, minha língua encontrando a dela em um ritmo muito
mais lento do que aquele que ocorria entre as nossas pernas.
Fiz amor com ela à minha maneira, devorando sua boca,
roubando seu fôlego, enquanto a fazia gritar novamente ao penetrá-
la.
Maior do que os outros , ela ofegou, a frase terminando em um
gemido de prazer.
Eu sou o rei , disse a ela, consciente do meu tamanho e certo de
que ela poderia aguentar.
Mas essa foi a outra razão pela qual eu não a tomei durante toda
a semana.
Queria que ela estivesse aquecida e preparada para o meu pau.
E ela estava pronta agora.
Seus tornozelos se cruzaram em meus quadris enquanto eu a
possuía com força sobre as peles. Ela cravou as unhas em meus
ombros enquanto gritava por mais.
A energia continuou a pulsar ao nosso redor, as duas Fontes
interagindo de uma maneira que não estavam acostumadas.
Poderia facilmente sair do controle.
No entanto, nosso círculo de companheiros acreditou.
E essa crença domava as Fontes, forçando-as a se comportar.
A boca de Artica se uniu à minha, sua boceta apertada se
contraiu enquanto seu corpo começava a estremecer. As ondas
arrebatadoras se desdobravam ao nosso redor, ameaçando nos
afogar em um poder incandescente.
Mas eu segurei a Fonte do Inverno perto de mim, sugando a
energia de Artica através do nosso vínculo enquanto nossos corpos
se moviam como um só.
— Goze para mim, linda — sussurrei, deixando o carinho escapar
de meus lábios. — Quero te sentir gozar contra mim. Quero que
você me encharque com seu prazer. E quero ouvir você gritar meu
nome.
Ela concedeu meu desejo. Seu corpo explodiu em um clímax tão
poderoso que sacudiu a caverna com sua explosão de energia.
Aceitei tudo, filtrando cada golpe mordaz em meu espírito de
volta para a Fonte.
Seu orgasmo continuou em uma onda, se estendendo sem fim
enquanto o poder se dissipava dela, sua alma me dando tudo o que
eu podia suportar até que sucumbi às sensações e a segui até o
ápice.
Doeu pra caramba.
Mas nunca senti nada tão bonito, tão extasiante, tão viciante ,
em toda a minha existência.
Ela extraiu mais do meu pau do que eu achava possível,
preenchendo-a por completo e me permitindo reivindicá-la de dentro
para fora. À medida que os tremores diminuíam, eu me abaixei,
lambendo meu prazer de seu sexo e arranquei outra onda dela, o
que a fez gritar meu nome mais uma vez.
Então ela me empurrou para trás e retribuiu o favor, sua boca me
limpando enquanto ela extraía mais prazer das minhas veias, sua
garganta trabalhando enquanto ela engolia cada gota.
Era um sonho hedonista, observado apenas pela magia do cristal
ao nosso redor.
Até que nossos corações começaram a se acalmar, nossos corpos
saciados, a troca de poder mais do que completa.
Eu a puxei para se deitar em meu peito, envolvendo o braço em
seu ombro.
— Tenho outro presente para você — sussurrei contra sua testa.
Tecnicamente dois , pensei, mas não queria estragar a surpresa.
Seus olhos sonolentos olharam para cima para mim.
— Mesmo?
Assenti, tirando a caixinha de dentro das peles, que eu escondi
mais cedo hoje antes de fazer chocolate quente para meus
companheiros.
Ela sorriu para o papel vermelho.
— Isso me lembra o presente que o Kalt me deu. — As pontas
dos seus dedos roçaram o colar.
— Porque é o mesmo papel — respondi, entregando o presente.
— Abra.
Seus lindos olhos brilharam com uma alegria indisfarçada
enquanto seus dedos desembrulhavam o papel até chegar à caixinha
de joias por baixo. Um brilho infantil tomou conta de seus traços
quando ela abriu a tampa e seus lábios se entreabriram diante do
anel deslumbrante no interior.
— Um diamante de cristal para combinar com seu colar — eu
disse a ela, sorrindo para a alegria completa que emanava de sua
mente. — Posso?
Seus olhos se encheram de lágrimas enquanto ela assentia com
animação, seus pensamentos me dizendo que ela estava sem
palavras.
— No Reino Humano, é costume que os companheiros usem
alianças de casamento — expliquei, pegando sua mão esquerda e
encontrando o dedo apropriado. — Então fiz isso para você, e três
para mim, Norden e Kalt. — Alianças que eles já haviam encontrado
esperando por eles na suíte, com um bilhete meu pedindo que
usassem. — Parece apropriado já que estamos neste reino. —
Encontrei a segunda caixinha que continha a minha, para mostrar a
ela os cristais gravados no revestimento de metal.
O poder zumbiu através de mim enquanto eu o colocava, a
energia me dizendo que Norden e Kalt também colocaram os seus.
Nosso círculo de companheiros estava oficialmente completo.
— Eu amei — Artica finalmente conseguiu dizer, com mais
lágrimas felizes caindo de seu olhar. — Eu... eu amo todos vocês. —
A hesitação era mínima, sua mente a reprimindo apenas por causa
do tempo e da forma como a vida sempre lhe foi explicada.
Mas ela escolheu nos ver através de sua alma.
Através de sua conexão com a Fonte do Inverno.
Ao acreditar em nosso destino compartilhado.
Que foi o melhor presente que ela poderia me dar, e eu a
agradeci com minha língua.
Antes de possuí-la novamente, dessa vez mais devagar, sobre a
cama de peles.
E fazer amor com ela com minha mente, corpo e alma.
Minha Artica.
O coração do nosso círculo de companheiros.
Nossa linda Rainha Fae do Inverno.
— E les estão quase chegando — eu disse a K alt , olhando ao redor da
suíte em busca de qualquer coisa fora do lugar. — Tem certeza sobre
o visco?
— Ah, sim — Kalt respondeu. — Tenho certeza.
Ele segurou a parte de trás do meu pescoço e me puxou para um
beijo debaixo do visco, exatamente quando a porta se abriu ao
nosso lado.
Artica riu.
Então ela ofegou quando Kalt a puxou para si, também debaixo
do visco, e a beijou intensamente nos lábios.
— É assim que eu deveria ter te beijado em seu dormitório — ele
disse depois de deixá-la atordoada contra ele.
— Ah — ela suspirou. — Ah, sim. Sim, por favor.
Lark riu baixinho atrás dela, apoiando o ombro no batente da
porta enquanto observava a decoração.
— Legal — ele disse, fazendo um gesto de aprovação. — Eu
aprovo.
— Aprova o quê...? — Artica começou a perguntar, até que
finalmente viu o quarto. Ela entreabriu os lábios, enquanto sua
mente se desenrolava em uma série de afirmações de surpresa e
empolgação.
Em algum momento, Lark providenciou o envio de todas as
decorações dela para cá.
Com a adição de mais seis ou sete caixas.
Pelo menos, foi o que Kalt estimou, porque o minúsculo quarto
dela não comportaria tanta alegria festiva.
Havia enfeites, sinos, conchas e flores elementais que eu nunca
ouvi falar, além de guirlandas e uma árvore de pinheiro plantada no
centro do quarto. Parecia que ela estava no dormitório de Artica.
Então Kalt pediu um favor rápido a Sol, que prontamente a
replantou no centro da suíte e a deixou cerca de seis vezes maior.
Felizmente, o pé-direito duplo permitia isso.
Havia quatro presentes embaixo da árvore, que eram as nossas
adições à surpresa.
Dois para Lark.
E dois para Artica.
Os de Kalt eram sinceros.
Os meus, eram úteis.
— Ah... meu... Fae — Artica finalmente disse, girando em um
círculo de brilho branco, seu vestido milagrosamente tão impecável
quanto estava no jantar.
Você não transou com ela usando o vestido? , perguntei a Lark,
um tanto desapontado.
Não, eu o tirei primeiro.
Humm. Eu teria que corrigir isso, então. Porque aquelas fendas
na saia existiam por um motivo. Tentei demonstrar durante o jantar.
Infelizmente, minha dica não foi registrada pelo rei.
Mas pelo menos ele finalmente fez amor com ela.
Algo evidenciado pelo brilho em suas feições e em seu cabelo
loiro.
— Isso é tão lindo — ela disse, rindo enquanto continuava a
girar.
Avistei o anel em seu dedo e curvei os lábios em aprovação. Era
um diamante de cristal que combinava com seu colar e com as
alianças que Lark deixou para nós.
Algo pelo qual eu ainda precisava agradecê-lo.
Fui até onde ele estava na porta, entrelacei os dedos em seu
cabelo branco prateado sedoso, e o beijei intensamente nos lábios.
Ele sorriu e segurou minha nuca enquanto me puxava contra si.
Senti saudades de você também , ele pensou em mim. E pensar
que deixei você e o Kalt aqui em cima nus por tanto tempo.
Curvei os lábios. Você gosta disso, não é? Convenci o Kalt a se
juntar a mim nu para fazer a decoração, assim como ele me
convenceu a colocar o visco perto da porta.
Era um relacionamento construído em confiança e respeito
mútuo, em que eu faria qualquer coisa que ele pedisse, desde que
ele me deixasse admirar sua bunda nua o dia todo.
A mesma regra se aplicava a Artica.
E a Lark também.
— O que tem nas caixas? — Lark perguntou.
— Ah, você notou alguns presentes, não é? — fingi estar
chocado. — E eu pensei que você não gostasse disso.
Ele sorriu para mim.
— Provocador.
— Sempre — afirmei, puxando-o para dentro do apartamento
pelas lapelas de seu smoking. — A Artica vai abrir o dela primeiro.
Ela ainda estava girando e aproveitando a atmosfera do quarto,
fazendo flocos de neve caírem ao seu redor. Ela riu, irradiando pura
alegria e felicidade.
Eu a conduzi em uma dança que a deixou rindo.
Kalt observava com um sorriso enquanto Lark começava a se
despir.
Hora de ficar nu? perguntei.
Sempre , ele respondeu, o brilho em seu olhar me dizia que ele
repetiu a palavra de propósito.
Girei Artica e a inclinei bem ao lado da árvore.
— Você tem presentes para abrir. É a nossa Celebração de
Matemas. — Um termo que acabei de inventar e que agora usaria
todos os anos, exatamente doze dias após o aniversário de Lark.
Ah, que divertido.
Uma festa da Rainha Fae do Inverno para o aniversário de Lark,
seguido por doze dias de acasalamento, terminando com um festivo
Matemas.
A existência perfeita.
Eu estava destinado a ser um selkie muito feliz.
Beijei minha rainha antes de colocá-la de pé novamente. Kalt
apareceu com seu presente.
— Mas eu não dei nada a vocês — ela disse, com um tom de
tristeza na voz.
— Aceitaremos sexo oral — eu a informei, prestativo. — Ou sexo
na jacuzzi. Ou orgasmos no café da manhã. Ou tudo isso junto.
Lark se juntou a nós usando calça de flanela. O rei sorrateiro
trocou o terno por pijama.
Trapaceiro , disse a ele.
Estou te dando algo para tirar com os dentes mais tarde , ele
respondeu.
Meu humor instantaneamente se iluminou.
Artica arqueou as sobrancelhas.
— Meu certificado de graduação? — ela perguntou, parecendo
chocada. — Como...?
— Posso ter cobrado alguns favores na semana passada durante
uma de suas sonecas — ele respondeu. — Cyrus trouxe com ele
hoje à noite.
Os olhos de Artica se encheram de lágrimas e ela passou os
braços em volta do pescoço dele.
— Obrigada!
Ele a abraçou de volta, roçando os lábios em sua têmpora.
— De nada, floco de neve.
— Bem, acho que você pode ser o próximo — decidi, entregando
a Lark o presente que trouxe para ele.
Ele semicerrou o olhar.
Eu apenas sorri.
Ele abriu a caixa com cuidado, como se achasse que ela poderia
atacá-lo. Então ele sorriu para a escova que havia dentro.
Não era para o cabelo dele.
Mas sim para o meu.
Algo que ele soube no momento em que a viu. Obrigado ,
sussurrou.
De nada . Era um presente que significava que ele poderia
pentear meu cabelo sempre que quisesse, o que poderia parecer
estranho para a maioria, mas era basicamente uma proposta de um
selkie.
Artica beijou Kalt antes de soltá-lo, seus olhos ainda brilhando de
felicidade.
— Eu tenho os melhores companheiros do mundo.
— É verdade — concordei. — Mas você ainda tem mais um
presente para abrir.
Me inclinei para pegar sua caixa, ansioso para que ela a abrisse.
E a usasse.
Ela abriu a caixa, franzindo a testa ao ver o pote dentro. Então
ela leu o rótulo, um que solicitei especialmente para ela, e arqueou
as sobrancelhas mais uma vez.
— Creme Corporal de Chocolate com Caramelo Salgado — ela
disse, lendo o título oficial. — Uma criação BDSM para o prazer de
seu companheiro.
— Tinta comestível — eu disse, mexendo as sobrancelhas. —
Para os orgasmos matinais, talvez?
Ela riu.
— O que vou fazer com você?
— Pintar isso no meu pau inteiro e engolir? — sugeri. — Dá um
novo significado para centro de doces , não é?
Ela se inclinou rindo, enquanto Kalt pegou seu último presente de
debaixo da árvore e entregou para Lark.
Um momento se passou entre eles, então Lark abriu o envelope
e leu o conteúdo dentro.
Eu já sabia o que era, tendo ouvido a notícia do próprio Kalt.
— Isto é uma candidatura a emprego? — Lark perguntou,
franzindo a testa para o documento.
— Sim — Kalt disse. — Renunciei oficialmente à posição de
Emissário Fae Elemental. Então preciso de um novo emprego. Farei
praticamente qualquer coisa que você queira. Se você me aceitar,
quero dizer.
Lark sorriu.
— Talvez você possa supervisionar a distribuição da magia Fae do
Inverno pelo Reino Humano? Sabe, para ajudar a adicionar véus
protetores às atividades feéricas.
— É mesmo? — Os olhos de Kalt brilharam, o assunto sendo algo
que eu os ouvi discutir algumas vezes.
— Entre outras coisas — Lark disse, dando de ombros. Mas pude
sentir sua empolgação no ar, o calor sendo um beijo para o meu
espírito. — Esse é apenas o primeiro item que me vem à mente.
Tenho certeza de que posso pensar em tarefas adicionais mais tarde.
— Muitas tarefas — corrigi. — Porque sou um fracasso na política
fae.
— Como evidenciado por suas convenções de nomenclatura —
Lark disse, olhando para mim. — Você percebe que eu tive que
aprovar todos esses acrônimos, não é?
— Você adorou — eu disse a ele. — Tenho certeza de que o T&A
é o seu favorito.
Seu olhar foi para Artica e a tinta em suas mãos.
— Eu não me importaria de pintar um pouco de T&A agora.
— E lamber tudo? — sugeri, passando o braço em torno da
cintura de nossa rainha.
— Humm, com certeza — o Rei Fae do Inverno ronronou. —
Afinal, é Matemas, não é?
— É — confirmei, alcançando o zíper que fechava o vestido de
Artica. — Posso?
— Pode — ela confirmou com um tremor de antecipação.
Seu vestido caiu no chão, revelando suas curvas lindas.
Sem renda.
Porque alguém ficou com aquela calcinha como lembrança.
Não que eu pudesse culpá-lo. Eu teria feito o mesmo.
— Você está deslumbrante, floco de neve — Kalt disse a ela.
— Absolutamente deslumbrante — Lark ecoou.
— Nossa encantadora Sunshine — acrescentei, curvando os
lábios enquanto nós três cercávamos nossa rainha. — Feliz Matemas,
Artica.
Agora feche os olhos , acrescentei em um sussurro mental.
Estamos prestes a realizar todos os seus sonhos.
EPÍLOGO BÔNUS: ARTICA

Um Ano Depois...

R espirei fundo enquanto L ark e eu esperávamos nosso sinal , parados


atrás da cortina prateada que bloqueava nossa visão do restante do
salão de baile do palácio.
Toquei minha máscara, esperando que o tema da fantasia
ajudasse a acalmar meus nervos, mas me perguntei se escolhi as
cores certas para combinar com meus companheiros.
Minha máscara era azul-royal com detalhes prateados,
representando minha união entre duas Fontes.
Lark usava uma prateada que fazia seus olhos verdes-menta
brilharem com um calor festivo.
Norden usava máscara azul água-marinha gravada com cristais.
E, com base na forma como ele os tirava e colocava na boca, eram
na verdade balas selkie.
A máscara de Kalt era de um verde deslumbrante que combinava
com os olhos de Lark e me fez pensar nos presentes embrulhados
sob a árvore Festivus em nossa suíte.
A música vibrava no ar, dando início às festividades da noite com
as notas de uma série de pingentes de gelo flutuando no teto.
Os pingentes de gelo foram resultado de minha própria criação,
graças às minhas conexões com a Fonte da Água e a Fonte do
Inverno. Pareceu apropriado usar meu talento para espalhar um
pouco de alegria festiva.
— Todos vão te adorar — Lark me informou, seu olhar ardendo
com brasas de paixão.
— Vão adorar seu cabelo também — Norden insistiu ao ajeitar
uma mecha atrás da coroa de gelo, que Kalt reforçou em minha
cabeça com um beijo gelado que a colou aos meus cabelos.
— Ninguém vai te adorar tanto quanto nós — ele prometeu,
acariciando meu queixo e roubando um beijo rápido antes de se
posicionar ao nosso lado.
— Isso não é sobre mim — lembrei a todos enquanto Lark
continuava a me devorar com os olhos, sugerindo que este feriado
seria eternamente sobre minha beleza e alegria para ele.
Bem-vindos ao primeiro Festivus de Verão da Rainha Fae do
Inverno!
Essas palavras ecoaram em minha mente antes que as cortinas
se abrissem e Lark as pronunciasse em voz alta, provocando uma
salva de palmas da impressionante reunião de convidados Inter
Reinos Faes, elfos, espécies indígenas do Polo Norte e Faes do
Inverno.
— Gostaria de dizer algo? — Lark perguntou, com um brilho de
encantamento em seus olhos. — Afinal, este é o seu dia.
Sorri para ele, porque era seu aniversário, e se ele queria que eu
falasse, então eu me certificaria de que todos soubessem disso.
Levantei os dedos e invoquei a alegria vibrante no ambiente e os
flocos de neve persistentes, formando uma taça estilizada em minha
mão que continha pura alegria festiva.
Levei apenas um momento para fornecer a cada convidado sua
própria taça de alegria festiva, meu controle sobre a magia tendo
melhorado exponencialmente ao longo do último ano.
— Um brinde ao Rei Fae do Inverno! — eu disse, minha voz
aumentando com confiança. — Hoje, ele completa trinta e três anos,
mas também celebro nosso primeiro ano como um círculo de
companheiros oficial. — Ergui minha taça para Kalt. — Ao Príncipe
Kalt, o fae que me ensinou a acreditar.
— Ao Príncipe Kalt! — a plateia ecoou.
Me voltei para Norden, que começou a corar, tendo comido o
suficiente de sua máscara para que eu pudesse ver suas bochechas
rosadas, a expressão incomum nele bastante adorável.
— Ao Príncipe Norden, o selkie que me ensinou a...
— Gritar por meu sacolé — ele disse com sua habitual alegria
travessa.
— Me ensinou a encontrar alegria em todas as coisas e a realizar
todos os meus sonhos — corrigi. Embora ele não estivesse errado
sobre seu sacolé.
— Ao Príncipe Norden! — a multidão repetiu, com o grupo de
selkies cantando seu nome com um toque de orgulho.
Me virei para Lark, que me segurava perto de seu quadril, com o
braço ao redor de minha cintura enquanto ele erguia sua própria
taça de cristal.
— Ao Rei Lark — eu disse, abaixando a voz, mas minha magia
ainda levava minhas palavras para todo o salão. — O fae que me
ensinou a amar.
Meu coração acelerou com minhas palavras, porque mesmo
agora, ainda não tínhamos verdadeiramente expressado nossos
sentimentos em voz alta. Pelo menos, não desde aquela noite na
caverna de gelo.
Mas eu não duvidava de seu amor por mim. Isso apenas me
lembrou um pouco dos doze dias de nossa união de companheiros
em que ele não me tocou, porque parecia estar esperando o
momento certo para me dizer essas palavras.
Ele sorriu quando a multidão ecoou seu nome. Todos bebemos
de nossas taças e então a música continuou com um ritmo animado
destinado a inspirar a dança.
Todas as nações se deliciaram com comida e alegria festiva, os
faes aceitando dançar enquanto a pista rapidamente se enchia com
uma mistura de raças.
Era lindo.
— Eu não poderia ter imaginado um evento melhor — Lark me
disse. Sua taça desapareceu em um sopro de gelo, assim como a
minha. Ele se virou para mim enquanto me conduzia para a pista de
dança, me guiando em uma dança praticada que envolvia todos os
meus companheiros.
Troquei para Kalt, ri quando ele salpicou minha pele com beijos
de neve, e então me juntei a Norden, incapaz de resistir à sua
alegria contagiante quando ele trouxe os lábios aos meus.
Eles me moveram, me inclinaram e me iraram até que voltei para
Lark, ofegante e radiante.
Ele sorriu ao passar os braços em torno da minha cintura.
— Estou tão orgulhoso de você, Artica. Estou orgulhoso de
nossos companheiros, e quero que você saiba que você me tornou o
fae mais feliz de todos os reinos. — Ele me ergueu com facilidade, e
me deu um beijo que me deixou tonta. Ele me afastou, diminuindo
nossa dança para um sutil deslizar enquanto flocos de neve tocavam
seus cílios. — E quero que você saiba que eu também te amo.
Engoli o nó em minha garganta.
— E-eu nunca disse que te amava. — Bem, eu disse que amava
todos os meus companheiros na caverna de gelo. Mas não repeti as
palavras desde então.
Ele sorriu.
— Você me diz isso todos os dias, minha rainha. Com sua risada,
sua alegria contagiante, com cada beijo.
Sorri enquanto alegria enchia meu coração e lágrimas escorriam
em minhas bochechas.
— Me desculpe por não ter dito em voz alta com mais frequência.
Porque eu te amo, Lark. Eu amo todos vocês.
Ele me beijou, se afastando para que sua resposta roçasse meus
lábios.
— Nunca peça desculpas por levar seu tempo. Palavras são
vazias sem ações e sentimentos, minha rainha — ele respondeu
baixinho.
Ele estava certo.
Eu não precisava que meus companheiros dissessem as palavras
para saber como eles se sentiam em relação a mim. Eu já podia
sentir o amor deles em meu coração e em minha alma.
Porque todos acreditavam em mim.
E a crença era o presente mais maravilhoso de todos.
Fim.

Outras séries sobre o universo Fae:


Rainha dos Elementos
Rainha dos Vampiros
Fortune Fae Academy: Omegaverse (ainda não disponível em
português).

Outras séries sobre o harém reverso


Ilha Carnage
Reivindicação
R ainha dos E lementos : L ivro U m

Meu único conselho: nunca beije um estranho.


Eu meio que beijei um homem sexy em um desafio em um bar uma
vez e descobri que ele é um Rei Fae destinado a ser meu
companheiro. Agora, fui arrastada para a Academia Elemental Fae
para controlar os poderes que desbloqueei naquela noite.

Então, beijar? Isso não vai acontecer de novo. Não mesmo.


Lição aprendida.

Beijei Titus também. E agora estou em um mundo de problemas.


Não paro de queimar coisas, inundar dormitórios e atrair a brigada
feminina do campus.
Este Reino Fae é um pesadelo que ganhou vida. De verdade.
Mas também existem sonhos aqui.

Sensuais.

E eles se materializam como os cinco mentores elementais Faes. Eles


deveriam me ajudar a controlar meus poderes, mas quem vai
impedir os elementos de me controlarem?
Nota: Este é um romance paranormal de harém reverso e livro um
da trilogia Rainha dos Elementos.

A mazon
R ainha dos V ampiros : L ivro U m

Bem-vindos à Academia Fae da Meia-Noite.


Lar das Artes das Trevas.
Vampiros.
E faes cruelmente bonito.
Uma mordida proibida levou à minha captura e recrutamento.
Não há flores aqui.
Nem vida.
Apenas morte.
Sou uma Fae da Terra que não pertence a esse lugar.
Eles podem jogar seus joguinhos mentais o quanto quiserem, mas
vou encontrar um jeito de voltar ao meu mundo elemental. Mesmo
que isso me mate.
Só que o diretor Zephyrus está um passo à frente dos meus
movimentos.
O príncipe Kolstov não para de me encurralar.
E Shadow, a razão pela qual estou nessa confusão, assombra meus
sonhos.
Minha afinidade com a Terra está morrendo e sendo substituída por
algo mais sinistro. Algo poderoso. Algo mortal.
Os Faes da Meia-Noite acreditam que este é o meu destino.
Eles alegam que fui “recrutada” para um propósito.
Para combater uma presença em ascensão.
Ou morrer tentando.
Não devo nada a eles. Mas se eu tiver que passar por suas
provações para encontrar o caminho de casa, que assim seja.
Sobrevivi a uma praga e coisa muito pior no reino Fae Elemental.
Uma energia sinistra? Por favor. Que piada.
Dê o seu melhor.
Estou à espera.
E não ouse me morder.
Ou vou fazer você se arrepender.
Nota da autora : Esta é uma série sombria de harém reverso
paranormal com elementos enemies-to-lovers . Apesar das opiniões
de Aflora sobre o assunto, com certeza haverá mordidas. Shadow,
também conhecido como Shade, garante. Este livro termina em
um cliffhanger .

A mazon
I lha C arnage
Bem-vinda à Ilha Carnage.
Casa do caos brutal.
Sangue e lágrimas.
E esquemas nefastos.
Uma mestiça.
Rejeitada.
Uma loba sem companheiro.

Minha família não me quer.


Meu Alfa me deserdou.
E meu companheiro me rejeitou.
Então acabei de receber uma nova atribuição de alcateia.
Ilha Carnage.
Lar dos piores lobos.
Garras cruéis. Bestas cruéis. Atos perversos.

Não sou uma deles.


Mas também não sou loba Nantahala.
Sou algo distintamente diferente: uma Ômega presa na pele de uma
Alfa.

Um passo em direção ao meu destino, e todos os machos viram suas


cabeças.
Eu sou carne fresca.
Propriedade a ser reivindicada.
O esconde-esconde agora é um jogo de vida e morte.
Com garras e dentes.
Malícia e dor.

Só os mais fortes sobreviverão.


Entre por sua conta e risco.
Nota da autora : Esta é uma história sombria de metamorfos com
tons de Ômegaverso. Três machos Alfa, uma fêmea Ômega. Haverá
mordidas e violência, porque esses Alfas não vão parar por nada
para proteger sua companheira. E ela os reivindicará de volta com a
mesma força.

Amazon
Lexi C. Foss é uma escritora perdida no mundo do TI. Ela mora em Chapel Hill,
na North Carolina, com o marido e seus filhos de pelos. Quando não está
escrevendo, está ocupada riscando itens da sua lista de viagem. Muitos dos
lugares que visitou podem ser vistos em seus textos, incluindo o mundo mítico
de Hydria, que é baseado em Hydra nas ilhas gregas. Ela é peculiar, consome
café demais e adora nadar.

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Série Aliança de Sangue


Inocência Perdida
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Resistência Perdida
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Universo da Aliança de Sangue


Desejo
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Rainha dos Elementos


Livro Um
Livro Dois
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O Próximo Reinado

Rainha dos Vampiros


Livro Um
Livro Dois
Livro Três
Livro Quatro

Outras séries sobre o universo Fae:


Rainha Fae do Inverno

Série X-Clan
A origem
Território Andorra
O experimento
A flecha de Winter
Território Bariloche

Série V-Clan
Território de Sangue
Território Noturno

Outros Livros
Ilha Carnage
Reivindicação
J.R. Thorn é autora de romance paranormal de harém reverso.

Saiba mais em:


www.AuthorJRThorn.com

Ficou viciado em Academia? Leia RH Academy, de J.R. Thorn: Fortune


Academy, disponível na Amazon.com em inglês!

Bem-vindos à Fortune Academy, uma escola onde os sobrenaturais


podem se sentir em casa – só que não faço ideia de onde é que
estou.
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