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Livro Um
Livro Dois
Livro Três
O Próximo Reinado
Introdução
Prólogo: Lark
1. Artica
2. Kalt
3. Artica
4. Lark
5. Artica
6. Artica
7. Kalt
8. Artica
9. Artica
10. Artica
11. Norden
12. Artica
13. Lark
14. Norden
15. Artica
16. Artica
17. Artica
18. Artica
19. Kalt
20. Norden
21. Artica
22. Kalt
23. Artica
24. Lark
25. Artica
26. Kalt
27. Artica
28. Lark
29. Kalt
30. Artica
31. Artica
32. Kalt
33. Artica
34. Norden
35. Artica
36. Lark
37. Norden
38. Artica
39. Artica
40. Artica
41. Artica
42. Lark
Epílogo: Norden
Epílogo bônus: Artica
Rainha dos Elementos: Livro Um
Rainha dos Vampiros: Livro Um
Ilha Carnage
Sobre a autora
Mais Livros de Lexi C. Foss
Sobre J.R. Thorn
Mais Livros de J.R. Thorn
Rainha Fae do Inverno
Lexi C. Foss e J. R. Thorn
Copyright de Winter Fae Queen 2021© Lexi C. Foss and J. R. Thorn.
Tradução: Andreia Barboza.
Revisão: Luizyana Poletto
Capa: Covers by Juan
Capa Photography: Wander Aguiar
Capa Models: David Miller, Autin, Phillipe Belanger, & Alana Baker
Só que não. Kalt não mudou nada. Ele ainda tem o corpo
perfeitamente esculpido e está mais lindo que eu me lembrava. E o
pior? Ele tem dois amigos igualmente gostosos.
É um problema.
Algo que não sei como resolver.
Então, sim, me desejem sorte! E enviem vibrações calorosas. Preciso
mesmo de ajuda para derreter toda essa neve...
ARTICA
KALT
ARTICA
LARK
S inos de trenó .
Dispensar Norden foi um erro colossal. Os preparativos para a
coroação serviam como um lembrete cruel do quanto eu estava
ferrado, e somente meu companheiro selkie parecia capaz de me
distrair do prazo iminente de vida .
Sem uma tríade estabelecida, a Fonte Fae do Inverno talvez não
me aceitasse. Minha própria morte não me preocupava. O destino
do meu povo era o que importava.
E Norden.
Deixá-lo iria... doer.
Ele foi meu melhor amigo por anos, tornando-se um candidato
óbvio para a tríade e minha cama. Nossa compatibilidade não tinha
precedentes.
Assim como a compatibilidade com um certo Fae Real da Água
que continuava a ignorar minhas convocações.
Contraí a mandíbula.
Tríades e círculos de companheiros tinham tudo a ver com crença
e amor , dois componentes vitais para os Faes do Inverno. Então, se
eu não pudesse completar essa tarefa monumental, como a Fonte
poderia confiar em mim para ser o rei da magia alimentada pela
crença?
Meu humor ficou mais sombrio enquanto um grupo de miniatura
de elfos alegres, nativos do Polo Norte tagarelava sobre as
decorações, que seriam inúteis se a Fonte me matasse no momento
em que eu aceitasse a coroa.
E depois? Meu povo estava contando comigo. Não havia outros
herdeiros adequados ao trono, e os Faes do Inverno poderiam ser
lançados ao caos. Um fato do qual meu pai adorava me lembrar,
mas mesmo assim insistiu em se aposentar.
Daí a coroação planejada para o meu trigésimo segundo
aniversário, em vinte e cinco de julho. Uma ascensão jovem, já que
meu pai tinha quarenta anos quando assumiu. Mas ele disse que
estava na hora.
Porque ele acreditava que eu estava pronto.
Só que eu não estava.
Eu nem tinha formado minha tríade ainda.
Caramelo .
Uma elfa esbelta chamada Holly tagarelava sobre fitas, glitter e
bastões de doces como recomendação para as peças centrais.
Claramente alheia ao meu humor. O que fazia sentido. Faes Reais do
Inverno nunca ficavam infelizes. Nós éramos feitos para liderar,
espalhar energia alegre, esperança e amor .
Lá estava essa palavra de novo.
— Bengalas doces azuis, não as de arco-íris — Holly esclareceu,
suavizando ligeiramente meu humor. Ela estava sentada no meio da
suíte, cercada por confetes e outras amostras de suprimentos de
coroação, todos combinando com meus gostos.
Os elfos que trabalhavam para a família real conheciam minhas
preferências e também sabiam o quanto eu levava a sério minha
responsabilidade com a coroa.
— Não tenho certeza sobre bebidas com glitter dourado ou
prateado, Alteza — ela continuou, pegando uma taça de
champanhe.
Levei uma taça de chocolate quente com um toque de álcool aos
lábios lentamente, um presente de Norden antes de dispensá-lo. Ele
adicionou um pouco de menta, o que fez meus lábios se curvarem.
Pelo menos um dos meus companheiros acredita em mim ,
pensei, suspirando.
— O que acha? — Holly insistiu, referindo-se às bebidas com
glitter.
— Humm, dourado — respondi, esfregando os dedos. Um fluxo
constante de líquido dourado com glitter encheu a taça, provocando
“ooohs” e “aaahs” dos elfos.
— Escolha excelente! É por isso que será uma coroação adorável.
Você pensou em cada detalhe — Holly falou.
Sim. Cada detalhe, menos aqueles que importavam, como um
círculo de companheiros digno da Fonte.
— E que tal ramos de visco pendurados na porta? — ela
ponderou. — Nós nos apegamos a essa tradição humana.
Inclinei a cabeça.
— Um pouco demais, não acha?
— Sim, sim — ela disse, riscando em seu bloco de notas.
— Acho essa ideia encantadora — uma voz com sotaque
pecaminosamente sexy falou.
Meus músculos imediatamente se contraíram.
Norden. Bem na hora.
Ele deve ter sentido minha tristeza através de nossa conexão.
— Não preciso de visco para te beijar — eu disse, sem me mexer
enquanto ele se aproximava por trás e colocava as mãos nos meus
ombros. Ele pressionou os polegares nas minhas costas,
massageando os músculos tensos com precisão.
— Humm, mas eu adoro a desculpa para te beijar quando você
não está no clima — ele sussurrou no meu ouvido.
Holly ergueu a caneta.
— Visco ao redor do trono, talvez?
Suspirei.
— Então os Faes podem fazer fila e me beijar logo depois que eu
for coroado? Acho que não.
Minha ascensão ao trono Fae do Inverno não ia ser ofuscada por
uma orgia de inverno no país das maravilhas.
Embora Norden ficaria muito feliz com isso.
— Você está levando essa coroação muito a sério — ele
ronronou.
Com certeza não estava. Além do cenário muito provável de que
eu falharia e morreria, uma razão muito boa para levar a coroação a
sério, havia o fato de que várias espécies e reinos estariam
presentes nesta cerimônia.
Eu tinha que agradecer à Rainha Fae Elemental por essa pressão
extra, e nossa pequena aliança Fae Inter Reinos.
— Holly, lembre ao Norden quem está na lista de convidados —
praticamente rosnei.
A pequena elfa virou outra página em seu bloco de notas.
— A corte dos Fae do Inverno e os círculos de companheiros
deles, é claro. Os selkies do Ártico. Os elfos chefes. Representantes
de todos os outros reinos Faes, incluindo, mas não se limitando aos
Faes Elementais, os Faes da Meia-Noite, os Faes Fortuna, vários clãs
de Fae Metamorfos, talvez os Faes do Inferno e... — Ela fez uma
pausa, seus olhos percorrendo as anotações. — Seu pai, mãe e a
tríade deles.
— Ah — Norden falou, movendo as mãos dos meus ombros para
meu pescoço, passando o polegar pela minha mandíbula. — Você
quer impressionar seus pais com sua ascensão.
— Quero sobreviver à minha ascensão e não ser a razão pela
qual o Polo Norte irá implodir — corrigi. — Tudo tem que correr bem
e isso significa nada de demonstração pública de afeto para me
distrair.
Norden afastou as mãos e veio para minha frente, sorrindo.
— Nem mesmo beijinhos rápidos?
— Você não tem esse tipo de controle. — Uma vez que Norden
se fixava em algo, ele não parava até ficar satisfeito... e era preciso
muito esforço para satisfazer um selkie.
Talvez, neste momento, sua forma de preliminares fosse a
distração de que eu precisava para acalmar minha agitação, mas no
dia da ascensão, eu precisaria estar completamente focado, algo que
ele precisava entender.
— Não seja um linguado congelado. — Norden se dirigiu para a
grande jacuzzi de gelo que eu mantinha no canto da suíte, aninhada
entre duas janelas grandes com vista para o mar. Como ele preferia
se transformar e andar nu, me permiti uma visão de sua bunda
firme antes que entrasse na água que eu mantinha em sua
temperatura preferida e ideal.
Abaixo de zero.
Ele suspirou e afundou na água cheia de gelo, admirando as
novas adições à minha suíte. Trabalhei no mural de uma cena
subaquática do oceano, uma que Norden havia descrito com
detalhes para mim.
Como eu não podia acompanhá-lo em suas aventuras, trazia o
mundo dele para cá.
Eu estava bastante orgulhoso da pintura. Os lábios de Norden se
curvaram em um sorriso quando ele avistou o novo naufrágio que
acrescentei com focas dançando nas sombras. Os humanos muitas
vezes colidiam com icebergs e perdiam a vida ao tentar conhecer
mais dessa paisagem impiedosa. Eu não os culpava, não quando o
meu mundo guardava mistérios sensuais como o selkie que foi o
primeiro a se juntar a minha tríade.
Ele me olhou com o canto do olho, enxergando diretamente
minha alma.
Me lembrando mais uma vez que conquistei ao menos um
coração que realmente acreditava em mim.
Só preciso de mais dois...
— Eu nunca mencionei um polvo. — Norden apontou a pequena
adição no canto.
— O mural é meu — eu disse enquanto Holly mexia em seu
caderno, virando a página e praguejando quando confete se
espalhou por toda parte.
Norden pensava que eu tinha adaptado minha suíte para ele,
mas sempre tive amor pela água e pelo mar.
Provavelmente foi isso que me atraiu para ele no início.
Meu companheiro Fae do Inverno só me lembravam das
responsabilidades geladas e das regras que sugavam toda a diversão
da magia real. Os elfos superiores e os trabalhadores se voltavam
mais para a alegria que dava poder à magia dos Faes do Inverno,
mas geralmente não eram compatíveis quando se tratava de
companheiros.
Norden, sim. Ele era um selkie, e a responsabilidade era um
conceito estranho para sua espécie. Ele vivia no aqui , no agora , e
seguia com a corrente em vez de contra ela.
Eu adorava essa característica. Uma criatura do mar que poderia
me tirar da pressão do trono. Foi por isso que o reivindiquei no
momento em que atingimos a idade apropriada.
Eu não jogaria o jogo dos meus antepassados. Não precisava
cortejar minha tríade ou minha futura rainha.
Eu simplesmente sabia .
Assim como sabia que Kalt, o Emissário dos Faes Elementais,
também estava destinado a ser meu.
Eu só precisava conquistá-lo, uma tarefa que estava se
mostrando muito mais difícil do que com Norden.
Meu amor pela água provavelmente era o motivo pelo qual Kalt
me atraía. O Fae Real da Água também complementaria nossa tríade
com sua habilidade política, e ajudaria a equilibrar a completa falta
de responsabilidade de Norden.
Quando eu assumisse a coroa, a distração que meu selkie
poderia oferecer teria seu lugar, mas eu também precisaria governar
um reino.
Infelizmente, Kalt ainda não estava disposto a aceitar seu lugar.
Algo que meu pai me garantiu que era típico.
Poucos Faes do Inverno realmente nasciam assim. E aqueles que
nasciam, eram sempre do sexo masculino.
Como eu.
Todos os outros Faes do Inverno eram mais ou menos
transformados por meio dos círculos de acasalamento, o que
permitia um grande influxo de poder em nosso reino.
Minha mãe era Fae da Meia-Noite. Mas meu pai era um
verdadeiro Fae do Inverno, daí minha linhagem. E os outros dois
membros de sua tríade eram Faes Metamorfos.
Minha mãe não queria acasalar com meu pai, dizendo que o sol
queimava seus olhos e aqui era insuportável durante os meses de
verão. Como agora, quando o sol brilhava literalmente o dia e a
noite toda.
Mas ele conquistou o coração dela e sua crença na magia dele, e
hoje os dois estão felizes e unidos em um círculo.
Eu queria isso. Minha tríade. Minha companheira. Meu círculo.
Se ao menos Kalt cooperasse.
Contraí a mandíbula com a insolência dele. Seu corpo respondia
ao meu. Senti sua compatibilidade no momento em que ele entrou
em meu domínio.
Eu até o senti quando ele retornou de seu reino hoje, e a
conexão parecia mais forte que nunca, amplificada.
Meu.
Norden brilhava com uma energia sexual particularmente
intensa, então suspeitei que ele também tivesse encontrado o
Emissário Fae Elemental. Porque ele também sentia a conexão.
Holly limpou a garganta e depois soltou um “aham” agudo.
Inclinei a cabeça para encorajá-la a continuar.
— Decidimos não ter o pudim de ameixa?
— Ah, vamos, Lark — Norden falou da jacuzzi. — Sem beijos ou
pudim de ameixa?
— Você nem gosta de pudim de ameixa.
— Gosto — ele sorriu. — Eu poderia lambê-lo de você depois da
coroação.
Tudo bem. Se eu sobrevivesse, poderíamos comemorar do jeito
que ele quisesse.
Suspirei, alcançando novamente o chocolate quente.
— Sim para o pudim de ameixa — falei com desdém. — Estamos
terminando?
Holly conferiu suas anotações.
— Acredito que temos tudo que precisamos para começar.
— Bom. — Me levantei, tirando a camisa. Toda essa conversa de
coroação estava mexendo com meus nervos, e com o retorno de
Norden, eu queria uma distração.
— Está dispensada, a menos que queira ver algo mais festivo.
Alguns dos elfos riram, enquanto outros gemeram.
— Lá vamos nós de novo — um deles resmungou.
— Silêncio! — Holly disse, acenando freneticamente para silenciar
os outros. — Aproveite suas... festividades, senhor.
Sorri enquanto ela conduzia o grupo para fora, fechando a porta
ao saírem.
Água espirrou enquanto Norden se levantava da jacuzzi.
— Um dia, eles vão querer ver o quanto podemos ser festivos —
ele provocou.
— Já terminou com a jacuzzi?
— Por enquanto. — Ele saiu dela e pegou uma toalha branca e
fofa, enrolando-a na cintura. Ela abraçava sedutoramente seus
quadris, mas não escondia sua ereção.
Norden caminhou até mim e notei o quanto seus olhos estavam
escuros. Isso significava apenas uma coisa.
Ele estava no clima para uma transa intensa. Algo havia
despertado seus instintos primitivos, e eu não achava que fui eu.
Humm ...
— O que te deixou tão excitado? — perguntei.
— Um certo Fae da Água. — Seus olhos brilhavam como
diamantes de chocolate. — Kalt retornou da seleção de estagiários.
Meu interesse foi despertado. Ajudei Kalt a encantar alguns
cristais de gelo com magia Fae do Inverno na esperança de atrair
uma potencial companheira do Reino Fae Elemental.
Se o Fae Real da Água não quisesse ser meu, talvez outra pessoa
quisesse. O que explicaria nossa conexão, pois talvez ele soubesse
quem era minha verdadeira companheira.
Havia vários candidatos importantes, mas apenas dois que ele
estava considerando seriamente.
As duas eram mulheres.
No entanto, meu feitiço teria atraído tanto um homem quanto
uma mulher, me deixando em suspense sobre quem ele realmente
havia trazido para meu reino.
— Homem ou mulher? — perguntei em voz alta, precisando
saber.
— Mulher.
Interessante . Normalmente, um Fae do Inverno não poderia
cortejar uma mulher até que sua tríade estivesse completa, mas isso
não era impossível.
Se Norden a tivesse encontrado e ela tivesse satisfeito seus
gostos, ele teria ficado excitado.
Embora qualquer coisa que se movesse provavelmente o
satisfaria.
— E ela é bonita? — perguntei, hesitante.
— Bonita é um insulto — Norden disse, se ajoelhando na minha
frente. — Ela é... perfeita. — Ele começou a desabotoar minha calça.
Mesmo que estivesse apenas tentando me aplacar, eu não ia
reclamar. — Temos que ficar com ela.
— Ficar com ela? — perguntei, levantando uma sobrancelha. —
Eu te encarreguei de encontrar candidatas para a Princesa de Cristal.
No plural . — O que significava que ele não poderia ficar com a
primeira que encontrasse.
As esferas de Kalt não foram os únicos itens que encantei com
magia Fae do Inverno nas últimas semanas.
Enviei enfeites para todos os reinos, tentando atrair
companheiros compatíveis.
E o propósito de trabalhar com a magia de Kalt era ver se havia
uma candidata ligada a mim através dele.
Norden sorriu, o prazer em seus olhos calorosos sugerindo que
eu tinha subestimado seu desejo de nos encontrar uma rainha. Não
candidatas. Mas uma única fêmea.
— Você sabe o quanto é difícil cortejar uma fêmea sem uma
tríade completa, Norden. — Eu preferia fazer isso da maneira certa,
mesmo que o tempo fosse essencial. Eu não podia me dar ao luxo
de cometer um erro.
E uma tríade tinha muito mais sucesso com uma base sólida
antes de escolher uma fêmea.
Era importante que todos os machos concordassem com a
companheira escolhida. Eu nunca forçaria um membro em minha
tríade que não pertencesse.
Algo que Kalt frequentemente apontava, é claro. Mas eu sabia
que ele me pertencia, mesmo que não estivesse pronto para admitir
ainda.
Meus instintos não poderiam estar errados aqui.
Ele era meu.
— Ela pode convencer o Kalt a se juntar a nós — Norden falou,
não exatamente lendo minha mente, mas me conhecendo o
suficiente para adivinhar meus pensamentos. Seus cabelos perfeitos
deslizaram sobre o ombro enquanto inclinava a cabeça para me
olhar. — Quer saber como eu sei?
O tom suave de sua voz arrepiou minha virilha, um fato que ele
percebeu enquanto tirava minha calça.
— Como você sabe? — perguntei, a voz mais rouca do que da
última vez que falei.
— Porque eu o deixei com ciúmes — Norden murmurou,
inclinando a cabeça para o outro lado.
Franzi a testa diante do movimento intencional e então notei uma
leve irregularidade em seu cabelo. Apenas uma mecha de fios
castanhos sedosos que não se alinhava com os outros. Algo que eu
sabia que nunca acontecia. O homem passava horas escovando o
cabelo, arrumando e aperfeiçoando constantemente cada camada.
Ele não suportava ter um único fio fora do lugar, por isso nunca
me deixava tocá-lo.
Mas... aquela mecha... aquela mecha era significativa.
— Você... você a deixou tocar em seu cabelo ? — perguntei,
incapaz de esconder o choque na voz.
Ele apenas sorriu e envolveu os dedos em meu pau, dando um
puxão forte.
Fae brilhante , respirei fundo, finalmente percebendo o que o
deixou tão excitado.
Não só ele havia encontrado uma fêmea compatível, mas
também a permitiu tocar em seu cabelo.
— Norden. — Seu nome escapou dos meus lábios em um gemido
quando ele tomou meu pau na boca, girando a língua na ponta.
Puta merda . Ele deixou uma fêmea tocar seu cabelo. E agora...
Fae congelado ... Eu não conseguia pensar quando ele fazia aquilo
com a boca, e ele sabia disso.
Ele me engoliu por inteiro, mostrando sua falta de reflexo de
engasgo antes de recuar, os olhos escuros cintilando com uma
mistura de orgulho e expectativa.
Ele claramente fez sua escolha.
Assim como fiz com ele e Kalt.
Uma decisão imediata impulsionada pelo instinto e talvez um
toque de necessidade.
— Você pediu um encontro?
Ele murmurou sua confirmação, a vibração incendiando meu
interior.
— E Kalt aprovou?
Norden confirmou com outra chupada profunda que foi direto
para minhas bolas.
— Que foda, Norden — grunhi, sua boca habilidosa me deixando
tão duro que quase gozei sem muita provocação.
Ele se afastou da minha virilha, as íris cintilando com uma
intenção sombria.
— Como desejar, meu príncipe. Me come com força. Depois,
iremos encontrar nossos companheiros.
Envolvi a mão na parte de trás do seu pescoço, tendo cuidado
para não desarrumar seu cabelo, e o puxei para se levantar. Ficamos
lado a lado, nossos paus se tocando enquanto eu o pressionava
contra mim.
— Eu já te disse que te amo?
— Hoje à tarde ainda não — ele respondeu, levando a mão até
meu pescoço. — Mas sinta-se à vontade para sussurrar isso na
minha garganta enquanto me come.
Esse macho.
Esse macho astuto e sacana.
— Na cama, selkie — exigi.
— É claro, meu príncipe — ele murmurou, sorrindo com os olhos.
— Seja selvagem. Estou com vontade de rosnar .
5
ARTICA
ARTICA
C afeteria era uma palavra muito sem graça para descrever a grande
sala à minha frente.
Era como se eu tivesse sido jogada em um filme natalino do
Reino Humano.
Uma rede de luzes penduradas no teto, com esferas congeladas
flutuando entre os fios cintilantes, ampliava a iluminação geral do
grande salão. Bufês se estendiam ao longo das paredes dos fundos,
com as mesas abarrotadas de itens. E uma bancada ocupava o
espaço à minha esquerda, o piso, os bancos e as mesas eram
aparentemente esculpidos em gelo, e a maioria dos ocupantes eram
pequenos elfos.
Do outro lado, parecia estar acontecendo algum tipo de atividade
festiva. Passeio na Rena . O objetivo era um tipo de lição de
condução, mas o animal queria mesmo jogar os elfos para o chão.
Talvez fosse mais um exercício de treinamento que um jogo?
Mas a mesa ali perto era definitivamente para diversão. Havia
biscoitos e várias cores de glacê alinhados enquanto vários elfos
competiam em algum tipo de concurso de decoração.
E depois, comiam os resultados.
— Fae — suspirei. — É aqui que vocês comem ?
— Sim, ah, sei que é um pouco exagerado pelos nossos padrões
— Kalt falou enquanto passava os dedos pelo cabelo. — Mas é bem
normal neste reino.
— É incrível — falei, animada e tentando absorver tudo. Meu
estômago roncou quando o aroma tentador de canela, laranjas e
especiarias atingiu o meu nariz.
Fiz o que qualquer fae sensata faria: fui direto para o bufê.
E franzi a testa com o que encontrei.
Bolos, tortas, pudins, biscoitos, bengalas, chocolate, bombons e
mais guloseimas enfeitavam a mesa, mas em nenhum lugar havia
qualquer comida salgada.
Como bifes de dragão. Ou mouseberries . Sanduíches de
cogumelo. Nem mesmo hambúrgueres de salada.
Nada que eu consideraria uma refeição de verdade.
— Hum, será que perdemos o jantar? — perguntei quando Kalt
chegou ao meu lado. — Tudo isso é sobremesa.
— Não, não perdemos nada. Enquanto estiver no Polo Norte, é
isso que você vai encontrar em todas as refeições. Café da manhã,
almoço e jantar. Os Faes do Inverno amam doces. — Ele pegou um
pacote da área rotulada de caramelo de coco . — Sua boca está
aberta de novo.
Eu a fechei, sem ter certeza de quando ela se abriu pela primeira
vez. Mas provavelmente isso aconteceu várias vezes hoje,
começando quando o encontrei sentado na mesa do Professor
Elway.
— Mas não tem nada substancioso e quente? Nem sopa?
Eu realmente poderia comer um grande prato de ensopado de
orc agora. Misturado com coldberries e violetas verdes. Humm.
Não pilhas de açúcar e doces.
Kalt passou por mim, pegou uma caneca de cidra e me entregou.
— Isso provavelmente é a coisa mais quente e substanciosa que
você vai encontrar aqui.
— Não sei se consigo viver de sobremesa.
— Há um restaurante perto do véu, na Groenlândia, que serve
culinária internacional — ele murmurou. — Quando você estiver com
muita saudade de casa, podemos ir lá. Mas é importante tentar se
adaptar enquanto estivermos aqui, o que significa comer nas áreas
comuns com os seres deste mundo.
Considerei suas palavras por um momento, inclinando a cabeça
em um fraco aceno.
Seus lábios se contorceram em um sorriso irônico.
— Além disso, há um pouco de magia Fae do Inverno em cada
prato, o que vai restaurar sua energia. Isso faz com que o açúcar
seja praticamente secundário em relação à infusão de magia. — Ele
apontou para o bufê. — Vá em frente. Experimente. Você vai
entender o que quero dizer.
Inalando o aroma picante de maçã, levei a bebida quente até os
lábios com cuidado.
Um calor delicioso percorreu todo o meu corpo, descendo até os
dedos dos pés.
— Humm — murmurei, dando mais um gole. — Bem, talvez isso
não seja tão ruim.
Levei meu tempo para examinar as opções na mesa, e selecionei
uma torta de frutas e um pão doce trançado antes de me sentar em
uma das mesas espalhadas pela cafeteria .
Kalt se sentou em frente a mim com seu prato cheio de biscoitos
e caramelos. Levantei as sobrancelhas, e ele deu de ombros.
— O caramelo de coco é o meu favorito, e tem abóbora nos
biscoitos. Tenho que incluir legumes quando posso, e eles parecem
contrabalancear os efeitos do caramelo.
— Efeitos? — repeti, curiosa.
Ele deu de ombros.
— A magia Fae do Inverno pode ser contagiante. Embora a
comida seja nutritiva, pode haver alguns efeitos colaterais. É melhor
apenas aceitar. — Quando o encarei, ele sorriu. — Desde que eu não
arrisque uma guerra entre os reinos, sou capaz de me divertir um
pouco, Artica.
Eu sabia disso.
Eu o vi se divertir na Academia.
Mas era bom saber que o homem que observei ainda residia sob
a aparência formal do emissário.
Sorrindo, mordi a torta de frutas. Ah, perfeição amanteigada e
crocante, isso é bom , pensei, gemendo ao sentir a onda de magia
vibrando em minhas veias.
Sim, diversão parecia uma ótima ideia.
Kalt me entregou uma bengala doce com listras azuis.
— As que não são vermelhas são encantadas. Por que você não
vê o que essa faz?
Olhei para ela desconfiada.
— Passo.
— Vamos lá. — Ele arqueou as sobrancelhas para mim. — Uma
faz você voar por cerca de dez segundos.
Mordisquei o lábio inferior, considerando.
Voar certamente me agradava um pouco.
— Tudo bem. — Quebrei um pedaço e coloquei na boca.
Arregalei os olhos. Eu esperava um sabor de framboesa, mas
experimentei uma mistura tropical de abacaxi e coco. Chupei o doce
enquanto Kalt me observava com expectativa.
— E então? — ele incentivou.
Dei de ombros.
— Deve ser um bastão com defeiiiiito...
Mas na palavra defeito , minha voz subiu uma oitava e segurei a
vogal por muito mais tempo que o necessário, quase como se eu
estivesse...
Cantando.
— Ah, não — falei, e saiu como uma melodia distorcida. Coloquei
as duas mãos na boca.
Kalt caiu na gargalhada.
— Um encantamento de canto!
Flocos de neve. Não, não, não.
Se Kalt me ouvisse cantar, eu nunca o conquistaria. Ele
provavelmente contaria para Norden que eu era defeituosa demais
para ser uma candidata, e então me mandaria de volta para a
Academia.
Mas eu não podia evitar, e Kalt foi quem me fez comer aquilo.
Então, na verdade, era culpa dele que minhas fantasias nunca se
tornariam realidade.
Talvez eu devesse puni-lo.
Ele merecia.
— Me conte sobre o seu dia, Artica — Kalt murmurou, incapaz de
conter o sorriso.
Balancei a cabeça.
Ele se inclinou sobre prato de comida, a alegria brilhando em
seus olhos azul-cristal.
— Uma coisa que você vai aprender depressa aqui é que o
espírito festivo é rei. Você não pode lutar contra ele. É melhor
aceitar.
Claro, seja lá o que isso signifique.
— Eu deteeeeesto caaaantar — cantei.
— É melhor aprender a gostar — Kalt falou, aproveitando muito
da situação.
— Não, você não entende. Eu fui provocaaaada por isso. É
traumáááááááático. — O que quer que eu estivesse cantando, era
em tom mais baixo e não parecia tão terrível, apesar das minhas
lembranças da última vez que tentei.
É claro, foi há muitos anos. Eu era uma jovem fae com a afinação
subdesenvolvida, então talvez minha voz tivesse melhorado.
— Você tem uma voz linda, Artica. Não a esconda.
Olhei ao redor do bar de gelo. Vários elfos me encaravam, com
olhos brilhantes e sorrisos largos.
— Cante! — um deles gritou com uma voz aguda.
Um coro se iniciou.
— Cante, cante, cante, cante!
— Ah, meu Fae, tudo bem — cantei, minha voz mudando para
uma melodia muito mais alegre.
Uma comemoração começou, e Kalt se levantou depressa.
— O que você estáááááá fazendo? — Minha voz tinha um vibrato
impressionante quando ele me puxou da cadeira e me girou.
— Estou dançando — ele explicou.
O que quer que tivesse naquele caramelo deixou Kalt mais solto,
mas ele aceitou bem o fato, assim como havia me dito para fazer.
Agora estávamos no Polo Norte, um lugar de alegria, risos e
sobremesas sem fim.
Os elfos riram e se juntavam a nós, e uma pequena banda
começou a tocar jazz.
Ah, flocos de neve . Agora eu estava estrelando um musical
temático de Natal. Não era o que eu esperava fazer no primeiro dia.
— Vou perguntar de novo: me conte sobre o seu dia — Kalt
exigiu, me girando.
Quando retornei para seus braços, abri a boca e...
— Quase não fui para a aula,
Ia ficar sentada de bobeira
Por causa de um desafio
Foi isso que ganhei
O estágio mais mágico do...
Fiz uma pausa.
— D-do ano — gaguejei no que deveria ser minha nota final
triunfante. Limpei a garganta. — Bem. O encantamento acabou.
Kalt assentiu para os elfos dançarinos, a música alegre pairando
no ar.
— Eles não se importam. É disso que se trata o Polo Norte,
Artica. Bem-vinda ao seu primeiro gostinho de alegria festiva.
Percebi, de maneira avassaladora, como eu me encaixava
perfeitamente em seus braços.
Engolindo em seco, inclinei a cabeça para olhar em seus olhos.
— O Lance pode ter me desafiado a me inscrever, mas só porque
ele sabia que eu queria esse estágio. No entanto, admito que não é
como eu esperava.
— Isso é bom ou ruim?
Meus lábios se curvaram.
— Ainda estou decidindo.
Ele balançou a cabeça.
— Você é tão provocadora quanto o Norden — ele acusou, rindo
quando minhas bochechas coraram ao ouvir o nome do selkie. —
Quer beber alguma coisa? Prometo que não vai te fazer cantar de
novo.
Assenti, ansiosa. Ele me levou até o bar, onde os elfos estavam
servindo bebidas em canecas ao ritmo da música, cantarolando uma
melodia que eu não reconhecia. Podia ser uma música do Reino
Humano ou algo da cultura do Polo Norte.
— Por favor, me diga que têm álcool normal aqui — implorei
enquanto nos acomodávamos junto a uma mesa de gelo ali perto.
Os efeitos das sobremesas estavam começando a passar, me
deixando com um misto de constrangimento e sobriedade que só o
álcool poderia remediar.
— Você está com sorte. Embora eu vá te julgar se você não
permanecer no tema e pedir uma sidra ou gemada.
Mostrei a língua para ele, mas rapidamente retraí o movimento,
percebendo o quanto isso me fazia parecer infantil.
— Ah, isso foi... — Limpei a garganta. — Não sei de onde veio.
Kalt segurou meu queixo, me forçando a olhá-lo. Inspirei
rapidamente.
— É o espírito festivo, Artica. Está te afetando, assim como afeta
todos aqui. Normalmente, consigo me manter lúcido, mas é difícil.
Não há motivo para se desculpar pela magia Fae do Inverno nos
conquistar.
Um risinho se formou em meu peito, mas eu o reprimi.
A mão de Kalt acariciou minha mandíbula por um momento
enquanto seu olhar descia para meus lábios e depois retornava aos
meus olhos.
— Parte de ser um emissário é se misturar. Como minha
estagiária, você tem permissão para vivenciar a alegria festiva da
maneira que quiser.
Mesmo que isso signifique te beijar?
Porque eu queria muito beijá-lo.
— Dentro do razoável — ele acrescentou, como se lesse meus
pensamentos. Ele retirou a mão do meu rosto.
Concordei, tentando me recuperar do calor que queimava meu
corpo.
— Claro. — Mostrei a língua para ele mais uma vez, agora sem
me desculpar. — Bem, onde está a minha bebida?
Kalt pediu uma gemada e, em seguida, um martíni chamado
“fada das ameixas” com suco de cranberry e vodca. Enquanto isso,
ele saboreou duas rodadas de suco de coco com pedaços de
caramelo e rum.
Eu o observei.
— Você gosta mesmo de caramelo de coco, não é?
Ele não respondeu, apenas deu um gole longo.
Eu não tinha motivo para ficar tão excitada por um homem
bebendo seu rum com caramelo de coco.
Ficamos em silêncio por alguns momentos enquanto os elfos
cantavam e dançavam ao fundo, muitos em cima das mesas.
— Sobre a questão da tríade... — comecei, ainda presa em algo
sobre a situação. — Se o único problema é a sua, hum, crença, não
poderíamos resolver isso? — Se eu conseguisse convencer Kalt a
estabelecer uma aliança permanente entre os Faes do Inverno e
nosso povo na forma de um vínculo de companheiros, isso poderia
trazer benefícios reais para nosso reino.
E se eu acabasse entre um selkie e o fae dos meus sonhos por
acaso, não iria reclamar. Ainda não conheci o Príncipe Lark, mas se
ele fosse parecido com Norden ou Kalt, eu já estava convencida.
E se não desse certo, eu poderia desistir.
No entanto, com base na expressão de Kalt, podia perceber que
ele tinha a intenção de abandonar tudo isso. Mas o leve indício de
hesitação em seu olhar gelado sugeria que essa era a última coisa
que ele queria fazer.
Tentando manter as coisas o mais profissional possível, fiquei
com a expressão séria enquanto Kalt me olhava.
— Quero dizer, posso ser uma candidata — continuei. — Mas isso
não significa nada. Sou apenas uma entre muitas. Mas você não tem
concorrência, certo?
Ele apertou a mandíbula.
— Uma coisa é você não gostar deles — continuei, ciente de que
estava tocando em um ponto que provavelmente destruiria toda a
alegria que descobrimos hoje. Mas era uma discussão justa,
considerando que ele me trouxe aqui e aprovou minha qualificação
como candidata a companheira.
Então, discutiríamos sua candidatura também.
Quid pro quo , por assim dizer.
— Mas se você gosta deles — continuei —, seria uma aliança
positiva entre nossos reinos.
Um Fae Real da Água acasalado com um Príncipe Fae do
Inverno? Esse tipo de vínculo certamente fortaleceria as relações
Inter Reinos Faes da Rainha Claire e os Faes do Inverno.
Tanto que eu quase seria capaz de aceitar Kalt se envolver em
um círculo de companheiros que não me incluísse. Isso me
despedaçaria, mas se esse fosse o preço para garantir uma aliança
entre nossos reinos, eu aceitaria.
— Já expliquei o risco, Artica — Kalt disse, colocando a bebida de
lado. — A crença não é algo que pode ser fabricada. É imprevisível e
não confiável. Não estou dizendo que não acredito em mim mesmo,
mas a possibilidade existe. E eu nunca faria algo para destruir o
trabalho que realizamos até agora com os esforços Inter Reinos Fae.
Acenei com desdém.
— Sim, entendi, mas você está pensando demais nisso. Talvez
não seja sobre a crença em si , mas sobre o quanto os outros
membros da tríade acreditam em você. — Norden certamente
parecia confiante na conexão, o que deixava apenas o Príncipe Fae
do Inverno. — Inclinei a cabeça. — Como ele é? O príncipe?
Kalt franziu a testa.
— Ele é... é um idiota mal-humorado — Kalt finalmente falou. —
Mas leva suas responsabilidades tão a sério quanto eu. Cyrus o
adora. E, admito, nos aproximamos nos últimos meses. Somos
parecidos de várias maneiras, a ponto de eu vê-lo se tornando um
melhor amigo com o tempo.
Fiquei surpresa com sua admissão.
— Se vocês já são tão próximos, ou têm a capacidade de ficarem
próximos, qual é o problema em se juntar à tríade dele? O risco é
realmente tão grande?
— Muito curiosa, não é? — Ele levantou uma sobrancelha.
— Você me trouxe aqui para ser uma candidata. Tenho direito de
fazer perguntas.
— Eu não... — Ele se interrompeu, suspirando. — Eu sabia que
havia a possibilidade de você ser uma candidata por causa da magia
Fae do Inverno envolvida no processo de seleção. Mas escolhi sua
inscrição porque era boa, Artica. Não porque eu queria adicioná-la a
algum tipo de concurso de princesas. Bem, não apenas por isso, de
qualquer maneira. Mas talvez um pouco.
Ele estremeceu, a culpa evidente em seus traços.
Porque sim, com certeza, ele me trouxe aqui para ser candidata.
Estava tudo bem. Eu não tinha problema em ser cortejada por
um selkie sexy e um príncipe. Isso era, tipo, um sonho, certo?
— Tudo bem. Já superei essa parte — falei, mexendo os dedos e
demonstrando meu desprezo pela irritação anterior. — Mas quero
entender por que você não vai se juntar à tríade dele. Porque, na
remota chance de eu ser considerada mais do que uma candidata,
preciso saber no que estou me metendo.
Pronto. Me coloquei bem. E fui muito madura também.
Ele me estudou por um longo momento.
— O acasalamento é permanente.
— Sim, eu estou ciente.
— Não estou pronto para uma situação permanente.
Ergui as sobrancelhas.
— Você não tem problema em se comprometer com o seu
trabalho.
— Isso é totalmente diferente. — Ele cruzou os braços, o
burburinho do bar atrás de mim parecendo diminuir por tê-lo tão
perto. — Ainda não estou pronto para acasalar.
Meu coração apertou, as palavras causando uma dor que eu não
queria sentir.
— Não que seja da sua conta — ele acrescentou.
— Tecnicamente, você mexeu com minha capacidade de acasalar
ao me trazer aqui sabendo que eu poderia ser uma candidata —
apontei. — Algo que eu poderia argumentar que também não é da
sua conta. Ainda assim, aqui estamos. — Imitando sua posição, eu
perguntei: — Tudo para alinhar os assuntos faes, certo? Para
fortalecer nosso relacionamento com os Faes do Inverno?
Ele semicerrou os olhos em pontos gelados.
— Você está fazendo parecer que estou te usando.
— Até certo ponto, está — eu disse. — Mas estou bem com isso.
— Eu falava sério. Eu faria o que fosse necessário para ajudar a
garantir essa aliança para a Rainha Claire. E se eu acabasse na cama
de um selkie sexy enquanto fazia política, não reclamaria.
Porque claramente Kalt não tinha interesse em um
relacionamento comigo ou algo do tipo.
— Escute, não sou uma pessoa que se arrisca, não importa que
sejam pequenos, e não sou adequado para deveres reais, mesmo
que meu primo ou o Príncipe Lark tentem me convencer do
contrário. Há tempo e lugar para tudo, e agora não é o meu
momento.
Ele ficou em silêncio como se tivesse falado demais.
Percebi que Kalt fez questão de evitar o Reino das Águas.
Embora ele nunca fosse se tornar rei, havia muitos deveres reais que
ele poderia ter assumido como um Príncipe Fae da Água. Em vez
disso, ele aproveitou a chance de estabelecer relações Inter Reino
Faes quando a Rainha Claire fundou os esforços iniciais.
— Quero fazer uma diferença real, Artica — ele continuou, suas
palavras tão frias quanto o gelo. — Não posso fazer isso se estiver
preso a um círculo de companheiros ou se tomar decisões com base
em minhas emoções em vez da razão. Muita coisa tem acontecido.
Os portões para o Reino Fae do Inferno foram reabertos pela
primeira vez em... muito tempo.
Sim, eu ouvi falar disso. O Rei Fae do Inferno estava planejando
algo grande, mas ninguém sabia o que ainda. E ele não estava
compartilhando detalhes.
— E as Fontes têm se comportado mal — Kalt continuou. — As
profecias vindas dos Faes Fortuna estão cheias de mensagens
comuns de que algo está chegando, algo que vai impactar todos os
reinos, e os faes precisam estar preparados. Todos nós precisamos
estar do mesmo lado quando isso acontecer, seja lá o que for.
Tudo bem, essa parte eu ainda não tinha ouvido falar.
— Estou disposto a sacrificar muito pelos faes, mas não posso
fazer isso se estiver em um círculo de companheiros. Porque não
seria apenas eu que estaria me sacrificando, Artica. Seriam também
aqueles com quem me importo.
Ah, e aí está a verdadeira razão pela qual ele não vai se
comprometer , pensei, admirando sua dedicação à causa.
Ele não queria apenas ajudar a Rainha Claire em seus esforços.
Ele queria liderar o ataque.
E não poderia fazer isso se outras vidas estivessem ligadas à
dele.
Kalt pegou sua bebida e tomou o resto.
— Você está estragando o clima festivo. Deveria comer outra
bengala doce.
Estalei a língua.
— Que tal você comer a bengala doce desta vez? — perguntei,
permitindo a distração. Levando em consideração tudo o que acabou
de revelar, ele merecia. E eu tinha muito no que pensar agora.
Seus lábios se curvaram, mas as covinhas não apareceram.
— Está bem. Vá pegar uma para mim.
Semicerrei os olhos.
— Acho que vou fazer isso.
Terminando o martíni, me levantei e segui em direção à mesa de
bufê, aproveitando o leve efeito da bebida. Encontrei potes de balas
coloridas e hesitei, pairando a mão sobre elas. Verde ou amarelo?
Talvez laranja? Eu já sabia o que as azuis fariam.
Curvei os lábios com a ideia de ver sua reação ao que eu
escolhesse.
Talvez eu devesse pegar uma de cada para ver de qual ele tinha
mais medo.
Voltei para o bar com uma bengala rosa, amarela, laranja, verde
e roxa.
Ele as observou.
— Não vou comer todas.
— Não. Só uma. — Levantei a amarela, observando
cuidadosamente sua reação. — Essa, talvez?
Sua expressão não mudou. Nem um pouco. Ele estendeu a mão,
mas eu a puxei para longe.
— Humm. Talvez não.
— Artica, o que você está fazendo?
Respondi, segurando a bengala laranja.
— Essa.
Ele semicerrou os olhos.
— Me dê logo a porcaria da bengala.
— Qual você quer?
— Não importa. Verde.
Finalmente me permiti dar uma risadinha maligna. Coloquei a
verde bem, bem longe de seu alcance.
— Entendo — ele ronronou, se recostando e achando graça. —
Você está tentando me dar algo que não quero. Inteligente, mas não
vai funcionar.
— Nãããão.
— Sei o que todas fazem, e não tenho preferência.
Meu ânimo diminuiu um pouco.
— A azul era a menos favorita, não era?
Ele piscou.
Ele está arruinando toda a minha diversão.
— Me diga o que elas fazem — pedi.
— Acho que vou deixar você descobrir por conta própria.
Fiz beicinho.
— Você não é sem graça.
Seus olhos se tornaram sedutores enquanto sorria.
Considerei as bengalas de açúcar e depois peguei a roxa.
— Tomei minha decisão. Essa aqui.
Ele franziu a testa, mas a pegou e mordeu um pedaço,
mastigando. Esperei, ansiosa para que ele pulasse e fizesse uma
dança, ganhasse um par extra de braços ou algo assim.
Segundos torturantes se passaram.
Nada aconteceu.
Espere, não. Sua pele se arrepiou e os pelos se eriçaram.
— Então... o que ela fez? — perguntei.
— Embota minha magia por cerca de sessenta segundos. Ainda
tenho cerca de quarenta segundos sem magia antes de poder me
isolar novamente.
Cruzei os braços.
— Isso não é justo.
Ele riu.
— Ainda assim, eu odiaria ficar completamente impotente por um
minuto quando realmente precisasse. — Ele riu. — O Norden usou
essa em mim uma vez. Não serei pego de surpresa novamente.
— Humm. Imagino que isso abra algumas oportunidades... —
Girei uma mecha de seu cabelo branco como neve ao redor dos
meus dedos e usei minha magia para disparar gelo até a raiz.
Ele fez uma careta.
— Você vai se arrepender disso.
— Ah, é mesmo? — Estendi a mão para pegar meu martíni, mas
percebi que estava vazio. — Devo continuar aproveitando os últimos
vinte segundos?
Ele segurou minha mão antes que eu pudesse pegar outra
mecha de cabelo. Prendi a respiração enquanto ele me encarava
intensamente.
— Dez.
Usei a outra mão para enviar um beijo, lançando neve em pó em
seu rosto.
Os elfos no bar que estavam nos observando caíram na
gargalhada.
Ele suspirou, limpando a neve do nariz.
— Acho que mereço.
— Acho que sim — eu disse com um ar de superioridade.
Gelo rastejou da mão dele, que estava segurando a minha,
subindo pelo meu braço. Recuei, tremendo com o frio penetrante.
Ele sorriu, parecendo debochado.
— O tempo acabou.
— Sim, sim, entendi — eu disse, esfregando calor de volta ao
meu braço.
Um grupo de elfos se aproximou, cantando uma melodia
animada. Mãos pequenas puxaram minhas roupas, me tirando do
banquinho.
— O que está acontecendo? — perguntei, me virando para Kalt.
— Eles querem que você se junte a eles. É bom. Significa que
gostam de você.
Os elfos me arrastaram para o piso da cafeteria, e a magia aqui,
alegria festiva ou o que quer que fosse, tomou conta de mim, me
deixando ainda mais animada.
Dancei e cantei, balançando os quadris e girando até ficar tonta.
Enquanto isso, Kalt assistia do bar, com um sorriso distraído no
rosto.
Sim, eu realmente ia gostar daqui, mas precisaria fazer algo
sobre a situação de Kalt.
Ele não merecia ficar sozinho, especialmente quando não havia
listado um único motivo contra se juntar a tríade do príncipe além de
razões políticas.
O brilho em seus olhos dizia que ele estava contendo a felicidade
pelo bem dos reinos.
Mas faltava algo, e se eu me esforçasse o suficiente, o
convenceria a fazer o que era melhor para todos os reinos... e para
ele também.
Não, não se eu tentasse , me corrigi enquanto acariciava o
pingente de flocos de neve com os dedos.
Se eu acreditasse .
7
KALT
ARTICA
ARTICA
K alt suspirou .
— Certo. Chega disso. Preciso te mostrar o espaço de trabalho.
Ele deu um passo, mas depois fez uma pausa, suspirando
novamente.
— Devo avisar que Norden renomeou recentemente todos os
departamentos por aqui. Parte da ascensão do Príncipe Lark é tornar
o palácio dele, o que inclui delegar certas tarefas a seus
companheiros. Ou, neste caso, companheiro .
Tarefas como realizar relações entre os Inter Reinos Faes em
nome dos Fae Elementais e dos Faes do Inverno? Eu queria
perguntar. Mas me contive, assentindo.
— Tudo bem. Posso aprender alguns nomes de departamento.
Kalt olhou para mim, sua expressão indicando que ele não
acreditava. No entanto, ele se virou novamente sem dizer uma
palavra e me levou a uma área enorme, do tamanho de um
armazém, cheia de ecos de marteladas, zumbidos e conversas em
voz alta.
— Oh! — exclamei, olhando ao redor para todos os elfos
trabalhando com supervisores Faes do Inverno. — A sala dos
brinquedos!
— Esse é um nome apropriado — Kalt disse com uma careta. —
Mas agora é chamada de T&A.
Pisquei.
— T&A?
Ele me encarou.
Eu o encarei de volta.
— O quê?
Ele limpou a garganta e colocou a mão na nuca.
— Você já visitou o Reino Humano?
— Só em feriados com a família — admiti. — Ah, e visitei o Lance
recentemente em algum lugar cheio de nascentes. Springy Falls?
Spring Waters? Não me lembro o nome. Mas fora isso, a Rainha
Claire me atualizou sobre muitas coisas.
— Incluindo siglas ou gírias? — ele vacilou.
— Ah, não. — Franzi a testa. — Por quê? T&A é algo importante
para os humanos?
Um dos elfos que estavam ali perto riu.
E o rosto de Kalt ficou vermelho novamente.
— O que é? — repeti.
— Bem, selkies são uma forma de Faes Metamorfos, certo? Eles
viajam pelo Reino Humano através das águas geladas, mas muitas
vezes se encontram entre os humanos nos climas mais frios do
mundo. Então, eles estão bem familiarizados com a linguagem
mortal. T&A corresponde a tits and ass , que significa peitos e
bundas em inglês.
Arregalei os olhos e observei a loja de brinquedos antes de piscar
de volta para ele.
— Eu... eu...
— É uma piada grosseira, graças ao selkie obsceno no comando
— Kalt continuou. — Mas na verdade significa Brinquedos e Centro
Ártico, ou Toys and Artic Center , em inglês. É apenas uma
insinuação sensual por trás do acrônimo.
Eu o encarei de boca aberta.
Então uma risada escapou da minha garganta.
— Não consigo acreditar que você explicou tudo isso com uma
expressão séria. — Bem, e com um rubor adorável nas bochechas
esculpidas.
O que contava como a segunda vez que o fiz corar hoje. E algo
nisso fez meu coração bater um pouquinho mais forte.
Porque Kalt desconcertado era cativante.
— Acredite em mim, o humor desaparece depois da centésima
vez que você repete — ele explicou, fazendo uma careta. — A
menos que você seja selkie, então é infinitamente engraçado.
Ouvi uma risadinha na minha direita, e voltei minha atenção para
os elfos absortos no trabalho. Um grupo costurava ursos de pelúcia,
outros pintavam pequenos blocos de construir e outros...
Semicerrei os olhos. Aquilo é um vibrador?
Um elfo se atrapalhou com um instrumento fálico, seu rosto
quase tão vermelho quanto o de Kalt tinha ficado.
— Por que precisamos fazer essas coisas? — ele questionou
enquanto outro elfo revirava os olhos.
— Não é para as crianças, Dec. É para algum adulto humano que
ainda acredita em magia. Ou talvez um selkie. Ou um círculo de
companheiros. — Ele mexeu as sobrancelhas de forma sugestiva. —
Talvez até mesmo uma companheira elfa.
Os lábios de Dec se contorceram, parte do rubor deixando suas
bochechas.
— Humm.
Kalt e eu seguimos, mas as palavras do elfo persistiam em minha
mente.
— O que ele quis dizer com ainda acredita em magia ? —
perguntei.
— Sabe como você conseguiu ver o palácio depois de segurar o
cristal e preenchê-lo com sua crença?
Assenti, me lembrando do momento espetacular em que ele
apareceu no topo da colina.
— Algumas criaturas são mais propensas a acreditar na magia do
Natal do que outras — Kalt explicou. — Por exemplo, crianças
humanas. Elas podiam ver tudo aqui no Polo Norte, enquanto os
adultos só veriam uma tundra congelada. Porque eles deixaram de
acreditar nos encantamentos natalinos.
— E os selkies também conseguem ver — murmurei.
— A maioria das espécies fae consegue — ele murmurou. —
Porque todos nós sabemos que a magia existe. Mas os humanos
tendem a descartá-la como superstição ou fantasia. Eles não
conseguem ver os elementos Faes do Inverno porque não
acreditam.
— E a crença é o que alimenta os Faes do Inverno.
— Sim. — Kalt assentiu, me levando para a parte de trás da
oficina. — Eles coletam milhares de cristais de crença e os
armazenam aqui. — Ele abriu uma porta de metal e eu olhei para
dentro.
— Fae — suspirei.
A sala, revestida de titânio, estava cheia com cristais cintilantes
até o teto.
— O que fazem com todos eles?
— A crença alimenta os cristais, que restaura e alimenta a magia
dos Faes do Inverno. Esse é o objetivo de entregar brinquedos ao
redor do mundo. A crença das crianças humanas acende os cristais
como uma estrela. Eles se certificam de incluir um pouco de cristal
em cada brinquedo. Aqui, vou te mostrar.
Ele fechou a porta da sala de cristal e se voltou para a elfa mais
próxima, que estava inserindo cuidadosamente cabelos em uma
boneca.
— Você se importa se eu pegar isso emprestado? — ele
perguntou para a elfa.
Ela balançou a cabeça, entregando a cabeça da boneca.
Olhei para o objeto e me arrepiei.
— Assustador.
Kalt ignorou meu comentário.
— Veja os olhos. São feitos com um vidro especial que os elfos
criaram com os cristais. A boneca será entregue para a criança, a
crença no Papai Noel, o Rei dos Faes do Inverno, vai aumentar e o
cristal transferirá a magia para a Fonte dos Faes do Inverno. E é
assim que eles mantêm a magia por tanto tempo. — Ele devolveu a
cabeça da boneca. — Alguma pergunta?
Balancei a cabeça.
— É genial.
— Certamente é inteligente. Vamos continuar.
Saímos do T&A, que eu nunca mais seria capaz de dizer com
uma expressão séria agora que conhecia a definição mais picante do
acrônimo, e entramos em outra área de trabalho.
O cheiro doce e o brilho dos enfeites me atraíram.
— E este lugar é...?
O olho de Kalt tremeu.
— O Centro de Enfeites, Decorações, Doces e Magia ou The
Baubles, Decorations, Sweets, and Magic Center .
— Tem um cheiro delicioso — eu disse.
Mas Kalt me encarou novamente.
O que sugeria que eu estava deixando passar outra piada. Repeti
o nome em inglês na cabeça, franzindo a testa.
— TBDSMC? — Seria outro termo humano?
— Se você remover o T e o C...
— BDSM? — perguntei.
Ele deu um único aceno curto.
Arregalei os olhos quando repeti aquilo para mim mesma. Porque
eu conhecia esse termo de um dos livros que li sobre reprodução
humana e seus, ah, fetiches. Muitos outros faes também se
interessavam por atividades semelhantes, mas não necessariamente
se referiam a elas por esse acrônimo.
— Sabe de uma coisa? Estou começando a gostar do Norden —
concluí em voz alta. — Ele tem um senso de humor divertido.
Kalt resmungou.
— Como se já não gostasse desde que ele disse que seu cabelo
lembrava a luz do sol sob as ondas.
Sim, aquilo provavelmente foi a coisa mais romântica que já me
disseram, mas eu não ia dar a Kalt a satisfação de me ouvir
concordar.
Ignorei o deboche e avancei, observando as guirlandas, coroas,
enfeites, globos de neve e fileiras e mais fileiras de doces, que
ocupava uma parede inteira.
O elfo atrás do balcão de doces acenou para mim, e eu obedeci.
— Acabei de fazer uma nova fornada de chocolates de caramelo
salgado — ele me informou, o entusiasmo iluminando suas feições
coradas. — Gostaria de experimentar um?
— Sim, por favor — respondi imediatamente. Porque quem
poderia dizer não a algo tão deliciosamente fae como aquilo?
Um elfo robusto, que batia na minha cintura, estava por perto.
Quando peguei um pedaço delicioso de doce, a mão dele se esticou
para pegar primeiro.
O chocolatier deu um tapa na mão do elfo grandalhão.
— Nada para você, Jingle. Já comeu metade de uma panela esta
manhã!
Jingle resmungou e se afastou com uma expressão carrancuda.
Algo me dizia que ele voltaria em breve para tentar novamente.
E enquanto colocava o chocolate na boca, entendi perfeitamente
o motivo.
Ah, meu Fae. Eu gemi, um som que só tinha feito na intimidade.
Sozinha. E pensando em Kalt.
Mas aquilo era tão bom quanto sexo. Ou como eu imaginava que
seria. Com Kalt, de qualquer maneira. Não com os poucos faes com
quem eu tinha experimentado ao longo dos anos. Eles não tinham
me feito gemer assim.
— Uau — murmurei, fechando os olhos enquanto engolia. —
Uau, uau. — Eu não tinha outras palavras. Não havia maneira
melhor de descrever. Apenas elogios, deleite e faelicidade ! Abri os
olhos, ansiosa por mais, e encontrei o rosto do elfo iluminado de
orgulho.
— Tão bom assim? — ele perguntou.
— Melhor . — Estendi a mão para pegar outro, mas parei. —
Posso?
— Fique à vontade!
Peguei mais um chocolate e me afastei antes que meus instintos
animais tomassem conta e eu comesse a bandeja inteira.
Jingle sabia das coisas. Pisquei para ele enquanto passávamos, e
ele sorriu.
— Flertar com elfos é um passatempo perigoso — Kalt
resmungou.
— Comer chocolate é flertar? — perguntei, genuinamente
curiosa. Já que afagar o cabelo de um selkie era o equivalente a
explorar as partes íntimas um do outro.
— Não, mas gemer e piscar certamente são — ele respondeu.
— Você experimentou aqueles chocolates de caramelo salgado?
— perguntei.
— Sim. São os favoritos do Norden.
Parei de andar.
— Você comeu chocolates com o Norden?
— Não. Ele os envia para mim todos os dias.
— Aquilo era para você? — perguntei em voz alta, de repente me
sentindo um pouco culpada por ter interrompido qualquer jogo que
ele e Norden estivessem jogando.
— Aqueles vão para a sala do trono com todo o resto — Kalt
respondeu com frieza. — Os que Norden me dá são do seu estoque
pessoal.
Havia um toque de algo em sua voz, talvez arrogância ou prazer.
Mas com um pouco de tristeza e irritação. Uma mistura de emoções
que ele se recusava a liberar por causa das expectativas que tinha
para sua vida.
Eu teria que arrancar tudo dele.
Kalt não seria um bom soldado se se arrependesse de não seguir
seu coração. Ele se tornaria amargo e cruel, e isso não beneficiaria
ninguém, especialmente ele mesmo.
Além disso, como alguém poderia negar a alegria deste reino?
Isso tinha que parecer mais como uma punição do que uma
necessidade.
— Me conte mais sobre a coroação — pedi, decidindo que era um
assunto seguro para explorar. — Elas acontecem com frequência? —
Frequência sendo um termo relativo, é claro. Já que os faes tendiam
a viver por muito tempo, alguns até mesmo pela eternidade.
— Não exatamente. Os Faes Reais do Inverno tendem a se
reproduzir quando acreditam que é hora, assim como a coroação
também é cercada por crenças. O Rei Fae do Inverno é responsável
por determinar quando e como as coisas ocorrem. E ele decidiu que
o trigésimo segundo aniversário do Príncipe Lark era o dia certo para
a ascensão.
Franzi a testa.
— Seu tom indica que você não concorda.
— Se concordo ou não é irrelevante. É apenas mais jovem que a
maioria. Acho que o atual Rei Fae do Inverno tinha cerca de
quarenta anos quando ascendeu. Então alguns podem achar que
isso é um pouco jovem, especialmente porque Lark ainda não se
acasalou completamente.
— E isso coloca sua ascensão em risco — traduzi.
Kalt assentiu.
— A Fonte dos Faes do Inverno espera um equilíbrio, e se ele
não estiver pronto...
Engoli em seco.
— Isso seria ruim.
— Exatamente.
— No entanto, o pai acredita nele, então ele deve estar pronto —
pressionei, um toque de confiança flertando com meus sentidos. Eu
nem havia conhecido o Príncipe Fae do Inverno ainda, mas de
alguma forma sabia que ele estava destinado a isso. — Vai dar tudo
certo.
Kalt me encarou por um momento.
— Esse é exatamente o tipo de crença de que ele precisa.
— Bem, que bom que estou aqui — brinquei, sorrindo. —
Quantos anos tem o atual Rei Fae do Inverno? — Eu não tinha
certeza de quanto tempo os Faes do Inverno normalmente viviam;
teria que pesquisar isso mais tarde.
— Ele reina há vários séculos, então perto de quinhentos mais ou
menos. Não que ele pareça ter essa idade. — Kalt deu de ombros. —
Mas o Rei Fae do Inverno age como um condutor para a crença que
alimenta a magia. Na verdade, ele é o canal direto da Fonte. Então a
juventude é importante, assim como a força. Sem ela, todo o reino
estaria em perigo.
Olhei ao redor.
— Ele deve ser muito bom no que faz, porque tudo parece estar
indo bem.
— Sim — ele concordou. — E agora será responsabilidade do
Príncipe Lark garantir que tudo continue assim. — Kalt começou a
andar novamente, e eu o segui enquanto pensava na tarefa
monumental. Certamente parecia ser muita responsabilidade.
— Quando é a coroação? — perguntei.
— Daqui a pouco mais de uma semana — ele respondeu com os
olhos brilhando com uma empolgação que eu não entendia. — Você
será fundamental para garantir que tudo funcione como uma
máquina bem lubrificada. É por isso que eu precisava de você aqui
imediatamente. E também por isso que eu queria que você fosse
uma candidata.
Um nó de nervosismo se formou no fundo do meu estômago.
— Mas não sei nada sobre a coroação dos Fae do Inverno, nem o
que significa ser candidata. Além do mais, e se eu não quisesse ser
candidata?
Ele olhou para mim, seu olhar focando no pingente em meu peito
antes de encontrar meu olhar novamente.
— Você acabou de me dizer que o Príncipe Lark deve estar
pronto e que tudo ficará bem. Sua crença é forte mesmo sem
conhecê-lo. Você é exatamente o que este reino precisa agora.
Franzi a testa para ele.
— Isso não responde minha pergunta, Kalt.
Ele parou de andar para me encarar novamente.
— Você pode me dizer honestamente que a ideia de ser
candidata te incomoda, Artica?
— Não é essa a questão. Você tomou uma decisão por mim sem
nem mesmo falar comigo.
— E você me disse ontem à noite que tinha superado essa parte
do nosso acordo — ele retrucou.
— Bem, eu superei — eu disse lentamente. — Estou apenas...
— Ainda não superou de verdade? — ele sugeriu.
— Superei — repeti, me sentindo um pouco mais segura. — Mas
não entendo como você pôde tomar essa decisão sem me conhecer.
— Quem disse que não te conheço? — Ele se aproximou. — Você
é amiga do Lance, que é praticamente um irmão para mim. Eu sei
tudo sobre você, Artica.
10
ARTICA
NORDEN
ARTICA
LARK
NORDEN
ARTICA
QUERIDA ARTICA,
Você nos daria a honra de se juntar a nós em uma aventura ao
ar livre esta noite? Norden adora ver os pinguins brincarem, e ele
conhece o local perfeito para observá-los. Podemos mostrar a você o
habitat natural deles e discutir o seu cortejo.
Porque você estava certa.
Conduzi nossa apresentação de forma inadequada e gostaria de
ter uma chance de compensá-la. Se você permitir, por favor,
encontre-nos na entrada do palácio às seis horas.
Sinceramente,
Príncipe Lark
ARTICA
P inguins .
Por toda parte.
Todos com formas e tamanhos diferentes, sugerindo que uma
variedade de espécies vivia aqui. Alguns tinham apenas trinta
centímetros de altura. Outros, chegavam perto da altura do joelho.
Um grupo se aproximou de Norden, como se ele fosse um velho
amigo ou colega.
Ele se sentou no chão, com a mochila ao lado, e deixou as
criaturas menores subirem em seu colo. Lark se juntou a ele e os
dois machos sorriam enquanto os pinguins tagarelavam, fazendo
aqueles sons vibrantes que eu não conseguia definir muito bem.
Então eles olharam para mim e me chamaram.
Me juntei a eles, amando a forma como os animais se aninhavam
ao nosso lado e se aconchegavam como se fôssemos seus blocos de
gelo pessoais.
— Este provavelmente é um dos melhores momentos da minha
vida — admiti rindo enquanto um pinguim puxava minha trança. —
Essas criaturas são adoráveis! — E a espécie do Príncipe Lark as
protegia, dando a elas um lugar para escapar e prosperar.
Uau, eu o tinha julgado completamente errado.
Bem, talvez não completamente.
Mas havia muito para entender sobre os Faes do Inverno e como
eles interagiam com outras espécies. Não era de se admirar que a
Rainha Claire tivesse buscado uma aliança com eles. Esses Faes
tinham uma natureza cuidadosa e eram belos seres feéricos.
Me deitei na neve gelada, rindo enquanto um pinguim menor
subia no meu estômago para se sentar, me tratando como se eu
fosse uma espécie de banco de gelo. Flocos de neve se agitavam no
ar entre nós, criados pela minha magia, apenas para serem levados
em um redemoinho de vento que dançava ao redor da linda criatura.
Entreabri os lábios, surpreendida pela energia mística.
Então percebi que ela vinha do Príncipe Lark.
Ele sorriu para mim e, em seguida, usou seu dom para fazer os
flocos de neve dançarem ao redor de vários outros pinguins,
acariciando as bochechas e bicos deles.
O encantamento alcançou a água, onde meu floco de neve se
dissolveu para se juntar ao riacho encantado.
— Lindo — sussurrei.
— Sim — Lark concordou, com o olhar fixo em mim enquanto
dizia as palavras.
Norden o cutucou.
— Chocolate quente.
O príncipe se assustou e rapidamente pegou a mochila.
— Deve estar tudo bem ainda. Posso usar um pouco de energia
para reaquecê-lo, se necessário.
Norden ergueu as sobrancelhas para mim, cheio de expectativa.
Eu já experimentei o chocolate quente daqui e admitia que era
delicioso, mas a expressão de Norden sugeria que havia algo além
de chocolate derretido no leite.
O príncipe Lark pegou um grande pote, um saco de doces, um
tipo de bastão marrom, um punhado de nuvens brancas fofas e uma
lata prateada. Em seguida, revirou tudo antes de tirar três canecas.
— Ah — ele disse, pegando doces listrados de vermelho e branco. —
Caso queira hortelã-pimenta no seu.
Norden abriu a mochila para pegar um cobertor no qual Lark
colocou tudo e se sentou. Ele bateu a mão no espaço ao seu lado
para que eu me juntasse a ele.
Com relutância, me sentei novamente. Um pinguim me seguiu e
subiu no meu colo para assistir o príncipe trabalhar. Norden
permaneceu no gelo, algo que eu suspeitava ser sua preferência, já
que o cobertor poderia facilmente acomodar ele e mais alguém.
— Então, o truque é aquecer o leite primeiro. — Lark abriu o
pote. — Normalmente em uma fogueira, o que fiz antes de embalá-
lo. Mas podemos usar um pequeno impulso.
Ele colocou a palma da mão sobre a tampa, agitando outra onda
daquela deliciosa energia no ar. Após um momento, ele assentiu, me
mostrando o líquido fervendo.
— Em seguida, vem o chocolate, mas não é qualquer um. — Ele
começou a explicar os ingredientes que seus elfos usavam para o
lote especial, que incluía um toque de caramelo e doce de manteiga
escocesa misturados com flocos de cacau escuro e outros
elementos.
As nuvens fofas, que ele chamava de marshmallows , foram
adicionadas em seguida. Mas não todas. Apenas o suficiente para
derreter no líquido.
A lata prateada continha outro tipo de mistura de chocolate,
desta vez em forma de pó.
— Eu mesmo misturo as especiarias — ele me disse com orgulho.
Norden se esticou, deitado de lado, com o olhar caloroso na lata
enquanto o príncipe Lark começava a adicionar mais de seus
ingredientes especiais.
— Ele nunca me mostrou nada disso.
Franzi a testa.
— Não?
— Não, não mostrei — Lark admitiu. — É um dos meus hobbies
pessoais. Semelhante à forma como Norden se sente em relação ao
seu cabelo.
— Ele espera que isso me convença a deixá-lo me acariciar —
Norden disse, erguendo as sobrancelhas de forma sugestiva.
— Você não o deixa tocar no seu cabelo?
— Normalmente não — Norden respondeu enquanto um pinguim
começava a caminhar até sua perna longa para encontrar um lugar
para se aninhar perto do quadril. — Selkies são muito exigentes com
o cabelo.
— E os Faes do Inverno são discretos sobre as guloseimas
favoritas — Lark acrescentou, me mostrando o bastão marrom. —
Canela. Mas não é só para colocar, e sim mexer exatamente vinte
vezes antes de descartá-lo. Quer fazer as honras?
Entreabri os lábios.
— E-eu? — Ele acabou de me contar a importância dessa bebida,
e queria que eu ajudasse? E se eu estragasse tudo? Arruinasse sua
guloseima favorita ? Engoli em seco. — Hum...
— Eu te ajudo — ele ofereceu, estendendo a palma da mão em
minha direção. — Podemos contar juntos.
— T-tudo bem — gaguejei.
Ele queria segurar minha mão.
Sim, eu poderia... eu poderia permitir isso.
Me aproximei e coloquei a mão na dele. A eletricidade crepitava
entre nós enquanto nossa magia se misturava em nossa pele,
fazendo meu braço tremer.
Ele estava quente.
Confortável.
Como um cobertor aconchegante em um dia frio.
Queria me aconchegar nele, mas me concentrei na tarefa
enquanto ele deslizava o bastão de canela em minha mão. Ele
envolveu meus dedos, garantindo a aderência, e então envolveu a
mão na minha.
— Tudo bem, queremos entrar devagar — ele disse, com a voz
mais baixa do que antes e provocando um formigamento pela minha
espinha.
Porque essa frase poderia ter muitos significados diferentes.
Não agora, meu lado sedento por sexo . Preciso me concentrar.
Mas o grunhido de sua voz enquanto murmurava:
— Sim, assim mesmo — não ajudou a acalmar minha libido.
Engoli em seco, me forçando a me concentrar no chocolate
quente.
Lark começou a contar enquanto movia meus dedos no sentido
horário.
— Devagar e suave — ele disse enquanto completávamos a
segunda volta.
No número cinco, eu me esqueci o que os números significavam.
Tudo o que eu podia fazer era sentir a magia se infiltrar através
dos meus poros e acariciar minha alma com um fogo que nunca
experimentei antes.
E ele mal estava me tocando. Apenas minha mão e o ocasional
roçar de braços, já que estávamos sentados bem perto um do outro.
Estou em grande apuro.
Como Kalt negou esta tríade? A química estava absolutamente
presente. Sim, eu ainda não o conhecia. No entanto, minha alma
parecia compreendê-lo em um nível instintivo. Como se eu pudesse
confiar nele sem pensar ou provocar.
Esse macho nunca me machucaria.
Mesmo que ele tivesse ameaçado me manter .
Ele disse que queria que eu fosse sua rainha. O que isso
significava?
— Vinte — ele sussurrou, me tirando dos meus pensamentos. —
Muito bem, Artica. — Ele guiou minha mão para cima e pegou o
bastão com uma toalha em sua outra mão.
Eu não fazia ideia de onde a toalha tinha vindo.
Nem me importava.
Estava desapontada demais por ele ter acabado de soltar minha
mão.
— Agora, vamos despejar as bebidas e adicionar mais uma
camada de marshmallows por cima — Lark me informou. — A
menos que você também queira um pouco de hortelã-pimenta?
O aroma de notas sensuais atingiu meu nariz, me fazendo
balançar a cabeça.
— Gostaria de experimentar sem primeiro. — Porque o cheiro por
si só era delicioso.
— Boa escolha — Lark respondeu, despejando o conteúdo em
três canecas fumegantes com habilidade.
Ele as cobriu com mais daquelas nuvens fofas antes de soprar
em cada uma. A magia se agitou novamente no ar, sugerindo que
ele acabou de abençoá-las com algum tipo de encantamento Fae do
Inverno. Então ele me entregou a primeira caneca.
Seus olhos verde-menta tinham um tom intrigado, como se ele
estivesse me testando de alguma forma com esse chocolate quente.
Ou talvez estivesse se testando.
Independentemente disso, o cheiro fez minha boca salivar para
experimentar. Então dei um gole com cuidado.
Soltei um gemido e minhas papilas gustativas pareceram aplaudir
os sabores incríveis que explodiram em minha língua.
— Ah, meu Fae — suspirei, bebendo um pouco mais. — Isso é
tão bom!
Era muito melhor que o chocolate quente da cafeteria.
Era como... como felicidade em uma caneca.
A expressão de Lark se iluminou de alegria e um leve alívio em
seus olhos cintilou indicando que passei em qualquer teste que ele
estabeleceu. Norden se sentou e se juntou a nós na manta, suas íris
castanhas cintilando enquanto Lark lhe passava uma das canecas
restantes.
— Obrigado — Norden sussurrou em tom reverente para ele.
Lark acariciou sua bochecha por um momento, piscando e depois
pegou sua própria caneca.
Foi uma troca que não entendi completamente. Talvez Lark não
permitisse que Norden experimentasse seu chocolate quente com
frequência? Ele tinha dito que era um prazer particular. O que
significava que ele estava me presenteando com um pedaço de si
mesmo através dessa delícia líquida.
Dado o quanto era saboroso, eu entendia por que ele mantinha
isso só para si. Era a bebida mais deliciosa que já tive o prazer de
saborear.
Lark começou a beber por último, com uma expressão satisfeita
enquanto todos nós desfrutávamos do nosso chocolate quente em
um silêncio amigável.
Tantas palavras não ditas pareciam flutuar pelo ar.
Um pedido de desculpas de Lark. Um perdão tímido de minha
parte. Uma intriga sensual de Norden.
Se essa era a ideia de cortejo deles, eu aprovava. Porque essa
caneca de gostosura fae era divina.
Terminei-a muito rapidamente, com os marshmallows derretendo
em minha boca com o líquido fumegante.
— Isso foi incrível — eu disse. — Obrigada pela experiência.
Lark assentiu, com os olhos brilhando.
— Obrigado por permitir.
Norden sorriu, já tendo acabado seu chocolate quente também.
Ele permaneceu na manta, mas manteve uma mão apoiada no gelo,
como se precisasse desse toque frio para ficar firme.
— O jantar deve chegar em breve.
— Chegar? — repeti.
— Hum-hum — ele murmurou de forma não comprometedora. —
Você gostaria de patinar no gelo enquanto isso? Ou conhecer mais
pinguins?
Meu interesse foi imediatamente despertado.
— Patinar no gelo? — repeti. Essa era uma das minhas atividades
favoritas em casa antes da Academia. Tínhamos uma pista bem na
rua da minha casa, que nunca derretia, graças à magia da Água Fae.
— Acho que isso é um sim — Lark murmurou enquanto
começava a guardar todos os itens do chocolate quente em sua
bolsa.
— Há um lugar ali, atrás daquela pilha de neve. — Norden
apontou com um movimento de cabeça. — Uma superfície sólida e
lisa de gelo, perfeita para dar algumas voltas de patins. Quer
experimentar?
Fiquei animada.
— Sim, por favor! — Mas... franzi a testa. — Mas não tenho
patins. — E eu duvidava que ele tivesse trazido algum que me
servisse.
— Sorte sua ter um amuleto dos desejos — Norden murmurou,
olhando para o colar de flocos de neve pendurado em meu suéter.
Meus dedos tocaram as bordas.
— Ah, sim. Você sabe o que é isso?
— Sei exatamente o que é — Norden confirmou. — O que
significa que você pode pedir patins, para você e para nós também.
— Ele olhou para Lark. — Ele não queria colocar nada afiado nas
bolsas.
— Segurança em primeiro lugar — o príncipe respondeu, sem
remorso.
— Verdade. — Norden olhou para mim, sua sobrancelha cor de
chocolate se elevando até a linha do seu cabelo. — Então, Sunshine?
O que será?
Eu sorri. Nem precisava pensar muito sobre isso. Porque
obviamente iríamos patinar no gelo.
— Três pares de patins a caminho.
17
ARTICA
ARTICA
KALT
NORDEN
ARTICA
KALT
ARTICA
LARK
ARTICA
S emicerrei os olhos .
— Você quer que eu vá com o Rei Cyrus até a loja de
brinquedos? — Eu não podia acreditar no que minhas orelhas
pontudas estavam ouvindo. — Depois de tudo que orquestrou aqui,
esse é o seu último gesto de despedida?
Eu passei da fase triste para a fase furiosa do luto.
Porque isso era inaceitável.
— Bem, seu pai seria uma boa escolha, mas ele não respondeu à
convocação de Cyrus.
Ergui as sobrancelhas.
— O Rei Cyrus entrou em contato com meus pais? — De alguma
forma, isso tornava tudo pior. A Academia devia ter enviado um
aviso a eles sobre o estágio, mas, com toda a loucura dos últimos
dez dias, eu não entrei em contato com eles nem uma vez.
É claro, eles estavam em férias de verão no momento.
Então não seriam facilmente localizáveis, de qualquer maneira.
— Ele tentou, mas com a falta de tecnologia de comunicação em
nosso reino, é difícil entrar em contato diretamente — Kalt
respondeu.
— Eles estão em férias de verão — murmurei. — Talvez nem
estejam no reino. — Eles costumavam viajar para outros reinos fae
ou para o Reino Humano nas férias. Então era difícil dizer. Eu estaria
com eles, mas quis um estágio Inter Reinos Fae em vez disso.
E olhe para onde isso me levou: bem no meio do Reino Fae do
Inverno, me preparando para caminhar pelo corredor com o Rei
Cyrus.
Estremeci. Apesar da animação de ontem à noite, preferiria
encontrar meus pais agora.
Ele suspirou.
— Artica, você sabe que é uma honra o Rei Fae da Água te
acompanhar, certo? Pense nas relações faes e no que simboliza. Isso
mostra que os Faes Elementais aprovam essa união. — Kalt parecia
prestes a desmoronar, mas não me importava. Queria atirar uma
bola de neve em seu rosto excessivamente bonito.
— Uma honra — eu disse em tom inexpressivo. — Maravilhoso.
Bem, foi bom trabalhar para você, Príncipe Kalt. Aproveite o resto do
seu dia. — Comecei a me afastar, depois parei e me virei para
encará-lo. — Sabe de uma coisa? Você deveria ir embora. Não é
como se você quisesse estar aqui mesmo. — Retomei minha marcha
em direção à oficina.
— Artica! — ele exclamou, provocando um arrepio pela minha
coluna.
Porque sim, eu provavelmente não deveria estar falando assim
com a realeza.
Engoli em seco e olhei para trás.
— Desculpe. Não deveria ter dito isso. Você trabalhou muito para
nos trazer até este ponto, e tenho certeza de que quer ver o
resultado de todo esse esforço. — Fiz uma reverência baixa e me
levantei. — Obrigada por seu serviço ao nosso reino, Príncipe Kalt.
Pronto. Isso foi muito mais profissional e doce.
Me virei novamente, mas ele segurou meu pulso.
— Pare — ele sibilou contra minha orelha. — Apenas. Pare .
Alguns dos elfos do lado de fora pararam para nos olhar. Eles
estavam começando a iluminar o caminho que eu faria em breve
como parte da cerimônia.
— Está tudo bem? — uma voz fria perguntou à minha esquerda.
Meu coração deu um salto ao ver o Rei Cyrus se aproximar de
nós, usando um terno muito semelhante ao de Kalt: todo azul-
marinho com camisa azul-claro por baixo. Sem gravata.
— Está tudo perfeito, meu rei — menti, tentando fazer uma
reverência, mas meu pulso ainda estava preso no aperto de Kalt.
— Humm — Rei Cyrus murmurou, olhou para o meu braço e
depois para o homem atrás de mim. — Kalt? Repensando algo?
— Não — ele respondeu, me soltando imediatamente.
— Que pena — o Rei Cyrus disse. — Bem, você deve querer
encontrar um lugar para assistir lá dentro. Está começando a encher.
— Ele se aproximou de mim. — Vou levá-la daqui.
Eu estava parcialmente grata pelo resgate e aterrorizada na
mesma medida por ficar sozinha com um dos Fae Elementais mais
poderosos que eu conhecia.
A presença intimidadora do Rei Cyrus me deixava com os joelhos
um pouco fraco. Mas pelo menos eu não teria que começar isso
sozinha.
— Claro — Kalt respondeu e fez reverência. — Você será incrível,
Artica.
Quase ri. Porque, nossa, que coisa gentil de se dizer.
Mas ele já estava se afastando, sem nem se importar com o que
eu tinha a dizer.
Comecei a curvar os ombros e a sentir meu coração afundar
ainda mais do que antes. Porque ele acabou de me deixar aqui para
ser acompanhada pelo Rei Cyrus.
Era uma honra, eu não podia negar.
No entanto, de alguma forma, parecia como uma rejeição ainda
maior que sua falta de abraço anterior.
— Vamos arrumar essa tiara — o Rei Cyrus disse de repente, se
colocando à minha frente para erguer meu queixo com os nós dos
dedos. Seus olhos cor de gelo franziram nos cantos ao me olhar. —
Pronto, está muito melhor.
Pisquei e percebi que ele estava endireitando minha postura, me
dizendo para manter a cabeça erguida.
— Desculpe, eu... — Não tinha certeza de como terminar aquilo.
Desculpe. Estou apaixonada pelo seu primo, mas ele não gosta de
mim, então me tornei uma princesa emburrada.
Franzi a testa.
Eu não sou assim , lembrei a mim mesma.
Então olhei para os elfos, notei seus ânimos alegres e o brilho
suave da neve no ar.
É assim que sou , pensei. Uma Fae da Água no meio de um
mundo invernal. Isso é um sonho se realizando. Preciso abraçar isso,
não ficar emburrada .
O Rei Cyrus sorriu como se pudesse ler meus pensamentos.
— Sim, muito melhor mesmo. — Ele soltou meu queixo, mas não
saiu do meu espaço pessoal. — O Príncipe Lark está pronto na sala
do trono, aguardando a coroa. Me disseram que você vai entregar
pessoalmente a ele.
Engoli em seco.
— Eu, ah, sim. Como a Princesa de Cristal da cerimônia de hoje.
— Como sua rainha pretendida — ele respondeu. — E eu não
poderia pensar em uma candidata melhor que você, Artica.
Eu o encarei.
— Não? — Nem mesmo Kalt? Seu próprio primo? Uma Fae da
Água que você realmente conhece?
— Minha pequena rainha me falou muito sobre seu espírito
festivo. Você a ajudou a decorar o escritório dela no ano passado e a
Casa do Chanceler.
Sorri.
— Foi divertido.
— Se você diz — ele respondeu, sorrindo também. — Sua alegria
contagiante é exatamente o que este reino precisa. Você será uma
ótima Rainha Fae do Inverno.
— Eu o ouviria — uma voz aguda falou. — Ele não é do tipo que
agrada ou conta mentiras.
— Não, não sou mesmo — ele respondeu, suavizando a
expressão quando encarou a Rainha Claire.
Fiz uma reverência, sentindo as bochechas se aquecerem por
estar em sua presença régia. Sim, estagiei com ela por pouco mais
de um ano. Mas eles eram dois dos elementais mais poderosos na
história dos Fae Elementais.
Eles até mesmo derrotaram a praga .
— Você está uma beleza — a Rainha Claire elogiou.
— Obrigado, minha pequena rainha — o Rei Cyrus respondeu,
alisando a lapela do terno com os nós dos dedos. — Minha
companheira escolheu para mim.
— Sim, o Vox tem um gosto incrível — ela disse com ironia. — E
eu estava falando com a Artica.
O Rei Cyrus colocou a mão no peito.
— Você me fere, meu amor.
A Rainha Claire revirou os olhos azuis.
— Duvido. — Ela olhou para mim, sua expressão se iluminando.
— Você me lembra um floco de neve, apenas muito mais bonita.
Eu sorri.
— Obrigada, minha rainha. — Observei seu vestido régio de ouro
e prata. — Você está incrível. — Notei a trança e a coroa em sua
cabeça, sorrindo. — E você aperfeiçoou seu cabelo.
— Ah, isso? — Ela fingiu arrumar a coroa. — Apenas um truque
antigo que aprendi com uma das minhas estagiárias favoritas.
— Favoritas, é? — repeti.
— Você sabe que é verdade — ela me disse. — É por isso que sei
que o Cyrus vai te tratar com muito cuidado enquanto te acompanha
até a sala de brinquedos.
— Eu nunca pensaria em fazer algo diferente — o Rei Cyrus
prometeu, se curvando para sua companheira. Em seguida, ele
segurou a mão dela e a levou aos lábios. — Você está mesmo
deslumbrante, minha pequena rainha. — As bochechas dela coraram
com o elogio.
— Ainda assim não vou te dar outro filho — ela suspirou.
Ele suspirou.
— Eu sei. Precisamos de jogos melhores.
— Não comece com isso de novo — a Rainha Claire o repreendeu
imediatamente.
O Rei Cyrus riu.
— Você gostou deles, minha pequena rainha.
Ela pigarreou, com as bochechas agora vermelhas.
— Divirta-se hoje, Artica. Você merece.
— Obrigada — eu disse, sorrindo enquanto ela voltava para o Rei
Fae dos Espíritos, que a aguardava alguns passos adiante. Ele lançou
um sorriso para o Rei Cyrus enquanto passava o braço ao redor da
Rainha Claire para acompanhá-la até onde pretendiam assistir as
festividades de hoje. Provavelmente a sala do trono, já que era lá
que a verdadeira magia aconteceria.
— Ela diz que não quer outro bebê ainda — o Rei Cyrus
comentou em tom casual. — Mas sabemos que ela tem sonhado
com um.
— Você está dando doces selkies a ela? — perguntei.
O Rei Cyrus franziu a testa.
— Doces selkies?
— Eles te inspiram a sonhar com suas fantasias — expliquei. —
Norden tem, ah, me dado alguns.
O Rei Fae da Água riu.
— Só conheci Norden brevemente, mas ousaria dizer que
precisamos nos tornar melhores amigos.
— Ele não abençoa os doces, ou melhor, não faz parte do
processo. Ele apenas os encomenda.
O Rei Cyrus me encarou.
— O quê?
— É assim que os doces selkies são feitos — expliquei, pensando
que era por isso que ele queria ser melhor amigo dele. Mas agora eu
entendia que ele quis dizer algo completamente diferente, que ele
gostava do estilo de sedução de Norden. Limpei a garganta. — Deixa
pra lá.
Sunshine? A voz preocupada de Norden surgiu na minha cabeça.
Está tudo bem aí?
Estou bem. Só fazendo papel de idiota na frente do Rei Fae da
Água.
Ah, sim, o Príncipe Lark mencionou que ele iria te acompanhar
até aqui dentro. Tenho certeza de que ele te adora.
Mais como ele te adora , respondi.
Todo mundo me adora , ele respondeu, sou muito adorável .
Sorri. Sim, você é .
— Artica? — O Rei Cyrus chamou, me trazendo de volta.
Porque ele ainda estava na minha frente.
E eu estava sorrindo como uma boba agora.
Caramba . Eu não poderia piorar as coisas.
— Desculpe, Norden está na minha cabeça — expliquei.
Ele sorriu então.
— Ah, novo vínculo de companheiros. — Ele se inclinou para
frente, com o olhar cor de gelo muito mais amigável do que eu já
tinha visto. — Posso te contar um segredo?
— Hum, claro? — Limpei a garganta. — Quero dizer, sim, por
favor.
— Ouvir a voz do seu companheiro em sua cabeça sempre vai te
fazer sorrir — ele me confidenciou em voz baixa. — A voz da Claire
sempre é o primeiro e último som que desejo ouvir em minha
mente. E suspeito que seus companheiros irão significar o mesmo
para você em breve.
Ele ofereceu o braço.
— Agora, acho que está na hora de começarmos.
Olhei ao redor para todos os elfos silenciosos, com olhares de
expectativa.
Então o som de um sino ecoou, trazendo enormes sorrisos aos
rostos alegres deles. Curvei meus lábios da mesma forma.
Isso parecia certo.
Na maior parte, de qualquer forma.
Mas enquanto olhava para o Rei Cyrus, percebi que não gostaria
que fosse de outra maneira.
Porque, pelo menos, ele acreditava . Eu podia sentir isso em sua
aura, uma espécie estranha de energia que eu nunca soube que
existia. No entanto, ela percorria sua presença, chamando minha
alma de uma maneira que eu não entendia completamente.
E eu confiava no processo.
Entrelacei meu braço ao dele.
— Estou pronta — anunciei. As palavras eram confiantes e
estavam fortalecidas de dentro de mim. A Fonte Fae do Inverno
estava chamando a todos, despertando eletricidade e alegria por
todo o reino.
— Ah — o Rei Cyrus murmurou, me soltando. — Quase me
esqueci. — Ele tirou uma caixa do bolso e a estendeu para mim. —
Isso é para você. Do Príncipe Lark.
Era um pacotinho vermelho semelhante ao que Kalt me deu
antes de me trazer aqui pela primeira vez.
Abri, hesitante, com medo do que encontraria dentro.
Havia uma carta me esperando abaixo do papel.
QUERIDA ARTICA,
Este colar pode ser do Kalt, mas parte da magia do floco de neve
é minha. E eu ficaria honrado se você continuasse a usá-lo.
Lembre-se, existimos aqui por causa de nossas crenças.
Tudo acontece por um motivo...
Seu,
Lark
KALT
O zumbido da magia no ar fez com que todos os pelos dos meus braços
se arrepiassem. Eu quase podia sentir o espírito natalino na língua, a
recente onda de canela e especiarias era uma essência tangível no
ambiente.
Quase como se alguém tivesse acendido vários incensos.
Norden estava parado à porta da oficina, com as costas eretas
enquanto de alguma forma conseguia manter uma expressão séria,
algo que eu nunca o vi fazer antes, enquanto todos os outros na
sala sorriam com expectativa.
A futura rainha estava chegando.
De braço dado com o Rei Fae da Água.
Meu estômago se retorcia e minha alma gritava comigo por ter
escolhido o caminho covarde. Mas quando Lark me ofereceu a
opção, disse a ele que Cyrus era o Fae da Água mais apropriado
para o trabalho.
Do ponto de vista das relações Inter Reinos Faes, isso fazia mais
sentido.
Porque eu não era companheiro de Lark.
Não realmente.
Embora a atração certamente estivesse presente, longe de mim
agir como um bom membro da tríade. Eu não merecia a honra de
ficar ao lado de Artica e levá-la pelo corredor para cumprimentar os
elfos.
Porque eu a afastei. Afastei todos eles. E por quê?
Eu só tinha a mim para culpar por tudo isso. Tinha sido fácil
aceitar esse destino quando sentia que era por uma boa causa.
Mas a expressão de Artica, a forma como parte de sua alegria
morreu quando ela cortou nosso vínculo, abriu meus olhos para um
novo mundo de dor.
Um mundo que eu causei.
Não apenas para mim, algo que eu poderia ter aceitado, mas
também para ela.
Quando ela continuou a me chamar de Príncipe Kalt e a agir
como se não fôssemos mais do que colegas, quase surtei. Porque
ela sabia muito bem que significava mais para mim do que isso.
Mas ela não sabia disso, porque fugi dela em vez de abraçar
nosso vínculo.
Um vínculo que ela cortou.
Porque ela não acreditava mais em mim.
Uma profecia autorrealizável , pensei entorpecido. Eu também
não acreditava em mim mesmo. Esse era todo o problema. Eu não
confiava que minha própria crença era boa o suficiente para a tríade,
para ela .
E provei isso por meio de todas as minhas ações, afastando-a ao
ponto em que ela me rejeitou.
No entanto, não foi apenas a mim que ela rejeitou, mas também
uma parte de seu próprio coração. Essa era a parte que eu não
previ, a parte que não considerei em nada disso: como minha
negação afetaria aqueles a quem eu estava destinado a amar.
Pensei que, ao afastá-los, estaria nos protegendo de futuras
dores. Mas não era esse o caso, eu estava só intensificando essa dor
e garantindo que ela se concretizasse.
As palavras do meu primo ecoaram em minha mente sobre o
amor ser a chave da vida, como seu círculo de companheiros lhe
dava propósito.
Sem esse propósito, quem eu sou? , me perguntei. Um emissário
esperando unir os reinos? Mas por qual causa? O que me impulsiona
a seguir esse destino?
Não o amor.
Não a minha tríade.
Não, foi o conceito de fugir de meus companheiros enquanto me
escondia atrás de um propósito falso. E tudo isso foi feito como uma
maneira de garantir que eu nunca experimentasse a dor que senti
esta manhã quando Artica rejeitou nosso vínculo.
O que significava que torturei a todos nós por nada.
E agora, talvez eles nunca me perdoassem.
Me arrepiei quando um pouco de gelo escorreu pela minha
espinha, a origem parecendo vir de fora. Provavelmente de Cyrus.
Semicerrei os olhos enquanto assumia o controle do elemento e o
derretia.
Mas outro cubo de gelo apareceu, tocando minha mão.
Olhei para ele, franzindo a testa. O que você está fazendo?
Pensei para meu primo, transformando rapidamente o elemento em
vapor.
— Ei! — um elfo gritou do outro lado da sala, me assustando. —
Quem jogou isso?
Pisquei. O que nos reinos congelados dos faes?
O elfo tinha uma monte de neve na bochecha, seus olhos negros
procurando pelo culpado.
— Silêncio — Norden disse a ele. — A coroação já começou. —
Algo que foi evidenciado pelo hino sendo cantado do lado de fora
das portas pelos elfos alinhados na rua. Isso significava que Artica
começou a caminhada em direção à oficina e em breve estaria lá
dentro.
Outro elfo gritou, fazendo com que eu o olhasse, confuso. Ele
também tinha um pouco de neve no queixo.
Outro cubo de gelo se formou contra a palma da minha mão.
Eu o derreti rapidamente e procurei pela causa da água
interrompendo a coroação. Cyrus poderia brincar comigo, mas não
arriscaria um desastre Inter Reinos Faes iniciando uma guerra de
bolas de neve na sala de brinquedos dos Faes do Inverno.
Mais elfos pularam quando neve os atingiu de forma inesperada,
a fonte vindo de fora.
Da Artica.
Curvei os lábios para baixo. Por quê...?
Um toque soou e o olhar de Norden encontrou o meu antes que
ele limpasse a garganta. Ele parecia bastante nervoso, dada a
perturbação na sala, mas, conforme todos se calaram, ele assentiu.
— Apresento-lhes Artica, a Fae Elemental do Reino das Águas, a
rainha pretendida do Príncipe Lark. — Ele se curvou, depois de fazer
discurso curto e doce, como estava destinado a ser, e abriu a porta
para permitir sua entrada.
Ela atravessou, parecendo uma deusa naquele vestido
deslumbrante.
Mas meus olhos foram imediatamente atraídos para seu pescoço
e o belo floco de neve de cristal pendurado na corrente perto de
seus seios.
Meu coração parou de bater.
Ela está usando meu amuleto .
Ela o tirou na minha frente, tentou devolvê-lo, e ainda o usava
agora durante esse momento incrivelmente importante.
Porque ela não desistiu da esperança .
Entreabri os lábios, sentindo meu coração acelerar no peito. Eu
deveria estar ao seu lado, acompanhando-a, ajudando-a nesta
cerimônia e garantindo que ela se sentisse segura.
Mas a deixei nas mãos de outro.
Do Rei Fae da Água, que se inclinou para sussurrar algo no
ouvido de Norden.
Algo que eu deveria estar sussurrando.
Era tudo parte da tradição, uma troca secreta de palavras que
ninguém jamais ouviria além dos dois homens perto da porta.
Os dois homens destinados a ser a segunda e terceira parte da
tríade do futuro rei.
Mas Cyrus não era o fae certo. Ele já tinha um círculo de
companheiros.
E ele só estava ali agora porque eu permiti. Foi minha escolha.
Flocos de neve, estraguei tudo , pensei, furioso comigo mesmo.
Mas fui distraído por mais uma chuva de gelo na minha mão. O
que nos reinos você está fazendo, Artica? Derreti o cristal mais uma
vez, mas dois elfos gritaram ao nos cantos da sala.
Artica e Cyrus paralisaram, assim como Norden.
Então, uma bola de neve gigante voou e acertou a parede bem
ao lado de Artica. Ela arregalou os olhos.
Isso não é bom. Nada bom.
— Que merda está acontecendo com você? — Norden
questionou, um pouco de sua dominância régia aparecendo. Ele
raramente a mostrava, optando por seguir o caminho amigável dos
selkies em vez do príncipe privilegiado.
No entanto, aquela bola de neve cair tão perto de sua
companheira claramente desencadeou seu lado mais autoritário.
Por ser companheiro de Lark, ele era considerado um Príncipe
Fae do Inverno.
O que lhe dava jurisdição para aplicar punições quando
necessário.
A sala ficou em silêncio mais uma vez, o selkie semicerrou os
olhos. Então ele olhou para Artica, que estava muito surpresa.
— Você está bem, Sunshine?
Cyrus olhou para mim na multidão, o conhecimento em seu olhar
me dizendo que ele também descobriu a causa da água espontânea
e não a entendia.
Artica assentiu.
— Estou. — Ela soou confiante, mas suspeitei que, por dentro,
ela não estava nada bem. Ela curvou os lábios em um sorriso
encantado para a sala, escondendo qualquer nervosismo que
pudesse estar sentindo. — Um pouco de neve não me assusta.
Alguns dos elfos riram.
Norden também sorriu.
— Bem, isso é bom, considerando que estamos cercados por
centenas de quilômetros dela. — Ele inclinou a cabeça, e um pouco
da sua energia compassiva retornou às suas feições. — Agora, onde
paramos?
— Você estava prestes a apresentar meu acompanhante — ela
disse, interpretando o papel lindamente.
— Ah, sim, Cyrus, o Rei Fae da Água do Reino Fae Elemental —
Norden declarou, alto o suficiente para que toda a sala ouvisse. — É
uma honra tê-lo e a sua rainha conosco hoje.
— Estamos honrados em estar aqui — Cyrus respondeu. — Não é
todo dia que uma Fae da Água se junta à Corte dos Faes do Inverno.
O olhar de Norden encontrou o meu brevemente antes de ele
dizer:
— Não, definitivamente não é todo dia.
Rangi os dentes. Sim, sim, entendi, selkie .
Mais gelo roçou meus nós dos dedos, me avisando que outra
bola de neve poderia aparecer. Mas um lampejo de poder vindo de
Cyrus cruzou meus sentidos primeiro, sugerindo que ele a
interceptou antes que pudesse se formar.
Seu olhar encontrou o meu novamente. Que merda está
acontecendo? Ele parecia perguntar.
Não faço a menor ideia , respondi com um olhar.
As formalidades continuaram quando Norden fez a Artica uma
série de perguntas festivas relacionadas, como sua guloseima
favorita, sua cor favorita de papel de embrulho, qual brinquedo ela
escolheria para um bebê selkie e, por último, como ela prometia
manter o espírito festivo deste reino.
— Acreditando — ela respondeu lindamente, e suas palavras
perfuraram meu coração e arrancando suspiros da multidão.
— Bem — Norden murmurou, olhando ao redor. — Acho que ela
é uma Princesa de Cristal perfeita para a tríade do Príncipe Lark. —
Seu olhar encontrou brevemente o meu, as palavras e você não
ditas entre nós. — É claro, estou sendo parcial como um de seus
companheiros. — Ele voltou sua atenção para os elfos. — São vocês
que têm que concordar. A Princesa Artica é digna de carregar a
coroa do futuro rei?
Uma camada adicional de gelo perfurou minha pele, me fazendo
pular.
O poder de Cyrus imediatamente apareceu, derretendo uma bola
de neve sobre a sala.
Abri os lábios quando mais três vieram, todas se dissipando
instantaneamente sob seu poder.
Mas algo estava seriamente errado.
E Artica parecia completamente inconsciente de que sua
afinidade Elemental estava provocando todas essas bolas de neve
aleatórias.
Um coro de aprovações ecoou ao nosso redor quando os elfos
concordaram que Artica era digna de carregar a coroa. Não que eu
duvidasse, mas se ela não parasse de tentar atacá-los com bolas de
neve, teríamos um problema sério.
Seus olhos sorriam enquanto ela observava os elfos, com os
lábios se curvando nas extremidades.
— Estou profundamente honrada e agradecida pela aceitação de
vocês — ela disse a todos, suas palavras adequadas a uma rainha.
Ela fez uma reverência baixa, mostrando aos elfos que os
respeitava tanto quanto à realeza, um costume neste reino de afeto
mútuo, e se levantou lentamente para dar seus passos finais em
direção ao fabricante de brinquedos responsável pela coroa.
Cyrus não a acompanhou nesta parte, sua responsabilidade
estava completa.
O que era muito bom, porque mais bolas de neve sugiram. Ele as
derreteu e uma gota de suor surgiu em sua testa. Estava exigindo
uma grande energia controlar a água antes que se formasse, e
apesar de ser o fae mais próximo da Fonte de Água, ele
eventualmente ia se exaurir.
O elfo entregou a Artica uma caixa contendo a coroa, explicando
que ela já havia sido abençoada com a crença de todos na sala. Ela
agradeceu com mais uma reverência, depois pegou a caixa
embrulhada em suas mãos.
— Vou me certificar de que todos na sala do trono também
abençoem esta coroa — ela prometeu, seu papel ainda mais
importante a partir deste ponto em diante.
Porque aquela coroa continha os poderes da ascensão.
E se alguém infundisse um leve sinal de descrença nela, a
coroação poderia dar terrivelmente errado.
Era exatamente por isso que eu ainda não a tinha tocado.
Porque não tinha certeza do que sentia.
Eu acreditava no Príncipe Lark. Acreditava em sua trajetória. Mas
não acreditava em seu tríade. Eu não acreditava em mim mesmo.
Mas ao assistir Artica, vendo Norden abraçá-la enquanto ele a
encontrava junto à porta, percebi o quanto eu estava errado.
Porque eu deveria estar lá em cima com eles.
Não Cyrus.
Ele olhou para mim pela última vez, seu olhar conhecedor
conforme ele saía da sala com Norden e Artica ao seu lado. Agora
ele completaria a escolta até a sala do trono.
As portas se fecharam com finalidade, mas meu coração deixou a
sala com Artica e Norden.
Comecei a me aproximar deles, desejando segui-los, mas fui
atingido na cabeça por uma bola de neve do tamanho do meu
punho.
Vários outros elfos gritaram em consternação enquanto a neve
começava a cair do teto em grandes bolas fofas.
Cyrus claramente liberou seu controle sobre a água,
provavelmente mantendo o foco na jornada de Artica até a sala do
trono.
Isso me deixou como o único com a habilidade de conter aquilo.
Mas era demais.
E a água não parecia certa.
Ela cintilou .
Olhei para uma gota perto dos meus pés, franzindo a testa
diante da textura colorida da neve.
Uma mistura de gelo e confetes.
Duas fontes se fundindo em uma.
Meu olhar disparou para a porta. Ah, Fae... Artica está em sérios
apuros .
Comecei a correr atrás dela, mas fui atingido com mais uma
esfera fofa.
— Guerra de bolas de neve! — um dos elfos gritou, claramente
empolgado com a ideia de brincar na neve.
Vários outros começaram a se juntar, as pequenas criaturas
enlouquecendo com o espírito festivo que se espalhava dentro da
sala de brinquedos fechada.
Espírito festivo em excesso , percebi.
Eles estavam ficando embriagados com isso.
Deixando-os aproveitar a alegria, escapei para o corredor e saí
atrás de Artica. Mas um par de homenzinhos de biscoito de gengibre
bloqueou o meu caminho.
— Nada de interrupções — disseram ao mesmo tempo, um eco
muito arrepiante que eu nunca mais queria ouvir.
Rangi os dentes.
— Sou o Emissário Fae Elemental. Sou necessário na sala do
trono.
— O Príncipe Lark disse que você não deve interromper — eles
repetiram juntos mais uma vez.
Arqueei as sobrancelhas.
— Bem, como membro de sua tríade, eu discordo — retruquei. —
Agora saiam.
Eles se olharam com aqueles olhinhos de doce.
É, fofurem-se com isso , pensei, me enevoando para o pátio fora
do palácio principal.
Então pisquei.
Aquela foi a primeira vez em mais de uma semana que consegui
enevoar.
Quase congelei diante da mistura de excitação confusa.
Seria porque comecei a aceitar o meu propósito? Ou porque já
havia aceitado?
Ah, não importava agora. Eu tinha que alcançar Artica ou
Norden, para contar a eles o que estava acontecendo na sala de
brinquedos.
Mas havia muitos elfos alinhados na passarela, as belas canções
adornando o ar enquanto suaves flocos de neve caíam.
Saltar no meio disso tudo causaria uma cena.
A sala do trono , decidi. Artica teria que levar aquele presente
para cada pessoa na sala.
Eu a encontraria lá e a avisaria.
Porque algo me dizia que aquela guerra de bolas de neve na sala
de brinquedos era apenas o começo.
27
ARTICA
LARK
KALT
— S ei que são reis nos reinos de vocês , mas neste , eu sou o monarca ,
e é considerado bastante rude entrar sem bater — Lark falou com
raiva, adotando uma postura protetora diante da cama.
— O Cyrus consegue sentir a Fonte da Água reagir ao que quer
que esteja acontecendo dentro da Artica — intervi antes que meu
primo perdesse a paciência ou retrucasse. E eu não queria arriscar
irritar o assustador Fae da Meia-Noite ao lado dele. Não conhecia
Zakkai muito bem, mas todo o seu círculo de companheiros me dava
calafrios. — A Fonte da Água está... bem, está protestando — falei
sem saber como explicar direito. Mas eu sentia, o que significava
que Cyrus também sentia.
— Ela está fazendo mais do que isso — Zakkai disse sem rodeios.
— A alma dela está presa entre duas Fontes em conflito, e nenhuma
delas está disposta a libertá-la.
— Acreditamos que isso seja resultado dos seus laços de
companheiros — Cyrus acrescentou. — É perfeitamente aceitável
para uma Fae da Água se juntar a uma tríade de Faes do Inverno e
aceitar a Fonte do Inverno. Mas não foi isso que aconteceu aqui.
Artica se ligou a dois Faes do Inverno, criando uma perturbação
entre as Fontes.
— Um desequilíbrio — Zakkai corrigiu. — Ela está canalizando a
magia Fae do Inverno através dos seus laços, fazendo com que a
Fonte da Água reaja de forma possessiva. Resumindo, as Fontes
estão lutando pela alma dela, e a coroação de hoje deu a vitória à
Fonte do Inverno.
— Como você sabe disso tudo? — Norden perguntou.
O Fae da Meia-Noite olhou para ele, as íris azul-prateadas
irradiando poder.
— Sou o Arquiteto da Fonte.
— Um Quandary de Sangue com poder imenso — Lark explicou
sem perder o ritmo, obviamente ciente da Fonte Fae da Meia-Noite e
das linhagens de Sangue que a mantinham. — Talvez até mais
poderoso do que a própria Rainha Fae da Meia-Noite.
Zakkai deu de ombros, seus longos fios de cabelo brancos
ondulavam como se ele tivesse passado os dedos repetidamente por
eles.
— Como ela é minha companheira, a distinção é irrelevante.
— O que acontece se a Fonte do Inverno vencer? — perguntei,
pensando no que Zakkai acabou de revelar. — Você disse que ela foi
vitoriosa. Mas o que isso significa para Artica?
Eu poderia adivinhar. No entanto, não queria. Queria que ele nos
dissesse exatamente o que esperavam que acontecesse aqui, para
estabelecer as apostas e garantir que todos estivéssemos na mesma
página.
— Ela não vai sobreviver — Zakkai respondeu. — Não em seu
estado atual. Ou melhor, não no estado atual de vocês.
Pisquei para ele.
— Que significa...?
Ele me encarou.
— Seu vínculo Elemental foi quebrado. — Seu olhar foi para Lark
e Norden. — Os vínculos dos Faes Elementais que ela começou a
estabelecer com vocês dois também estão incompletos. — Ele se
concentrou em Lark. — E seu círculo de companheiros é fraco, na
melhor das hipóteses. Está faltando vínculos fortes, o que sugere
que você ainda não o desenvolveu completamente.
Por minha causa , pensei. Porque recusei a tríade .
E a ironia era que eu recusei porque temia não ser bom o
suficiente para Lark ascender. Por não acreditar em mim mesmo o
suficiente para ele abraçar corretamente a Fonte Fae do Inverno.
No entanto, era Artica que sofria.
Artica, que talvez não sobrevivesse... por causa da minha
escolha.
— Em resumo, parece que a Fonte Fae do Inverno começou a
canalizar magia para Artica por meio do seu vínculo — Cyrus disse,
com o foco em Lark. — Isso foi intensificado na noite passada,
quando ela se vinculou em terceiro nível com Norden. E piorou
exponencialmente hoje ao ter um condutor da Fonte colocado em
suas mãos.
— Então as pequenas explosões de poder nesta semana estão
todas ligadas a isso? — Norden supôs.
— Que explosões de poder? — interrompi, franzindo a testa.
— Ela lançou um pingente de gelo na cafeteria ao apontar para
uma barra de limão — Lark afirmou. — E o isolamento de água dela
falhou na outra noite.
— Não se esqueça do monte de neve — Norden resmungou. —
Ela quase sufocou.
Olhei boquiaberto para eles.
— Por que vocês não me contaram nada disso?
— Quando eu teria feito isso? — Lark exigiu. — Enquanto você
estava escondido na Groenlândia, fingindo estar em uma missão
Inter Reinos Faes? — Ele fez pouco caso e balançou a cabeça, me
dispensando para falar com Cyrus. — E quanto às bolas de neve na
oficina?
— Ela parecia completamente alheia a isso — meu primo
comentou.
— É claro que estava — Zakkai respondeu. — Ela estava
fascinada pelo condutor da Fonte. Sua alma ficou perdida entre dois
faróis de poder a semana toda, e um deles finalmente encontrou
uma maneira de realmente chamá-la.
— Porque a outra ligação com a Fonte da Água não estava aqui.
— Norden me encarou, a acusação clara.
Se eu estivesse aqui, talvez tivesse percebido ou sentido todas
essas mudanças em Artica.
E talvez pudesse ter impedido esse problema antes que piorasse
a esse ponto.
Senti o maxilar tensionar e fechei as mãos ao lado do corpo.
Não só deixei Artica quando ela mais precisava de mim, mas
também abandonei Lark e Norden, e possivelmente acabei por
contribuir com a morte da nova Rainha Fae do Inverno.
Era quase ridículo o quanto eu temia impactar negativamente a
coroação de Lark antes.
Porque tornei tudo ainda pior do que jamais poderia imaginar.
Desviei o olhar para Artica na cama. Ela estava tão bonita
naquele vestido. Tão princesa e perfeita. No entanto, a palidez de
suas bochechas e o leve brilho de suor em sua testa denunciavam
sua condição.
Ela está lutando pela vida.
Por minha causa.
Por causa das minhas decisões.
Por causa dos meus medos.
Isso me tornava o pior tipo de companheiro. Completamente
indigno de um ser doce como Artica. Porque eu realmente falhei com
ela.
— Tudo bem. Já sabemos qual é o problema. Agora, como
consertamos isso? — Lark questionou.
Norden foi até a cama para passar os dedos pelos cabelos de
Artica, sua preocupação palpável.
Eu também queria tocá-la. Abraçá-la. Fazer as coisas certas. Mas
não tinha ideia de como. Seria mesmo possível? Ela algum dia me
perdoaria por colocá-la nessa situação?
Lark não sabia o que um vínculo faria. Norden também não.
No entanto, eu, como seu companheiro Fae da Água, deveria
saber. Deveria tê-la protegido. Deveria ter estado aqui para ela.
— Kalt — Cyrus exclamou, me fazendo dar um pulo.
Gelo começou a se espalhar pelos meus braços, minhas emoções
assumindo o controle do meu Elemento e permitindo que ele se
manifestasse. Imediatamente, dissolvi os cristais, voltando meu foco
para o meu primo. — Como consertamos isso? — ecoei Lark. — O
que posso fazer?
— Pode começar aceitando sua tríade — Cyrus me disse. —
Então os três terão que acasalar com Artica. — Ele fez uma pausa,
encontrando cada um de nossos olhares de frente. — Vocês
precisarão se envolver no vínculo de alma de quarto nível. Como um
Fae da Água.
— O quê ? — Lark arregalou os olhos para ele. — Isso... isso
significaria...
— Se unir às Fontes como um círculo de companheiros,
proporcionando equilíbrio uns aos outros — Zakkai disse com ironia.
— Nós fazemos isso pela Aflora todos os dias.
— Como a Artica não é a rainha de seu elemento ou mesmo da
realeza, deve ser mais fácil para vocês quatro administrarem —
Cyrus acrescentou. — E por sorte, eu sou o Rei Fae da Água.
Portanto, posso ajudar com a cerimônia.
— Supondo que a Artica aceite — eu disse, franzindo a testa. —
Ela quebrou nosso vínculo.
— Porque ela acha que você não a quer — Norden me disse,
seus olhos castanhos brilhando no tom mais escuro que eu já tinha
visto. — Ela quebrou o vínculo para deixá-lo partir, porque se recusa
a forçá-lo a uma situação da qual você não quer fazer parte.
Vacilei.
— Ela acha que você só acasalou com ela porque estava bêbado
com o espírito natalino do bar — ele continuou. — Foi o que peguei
em seus pensamentos, de qualquer maneira.
— Norden e eu sabemos que você é nosso — Lark afirmou, os
olhos cor de menta brilhando. — Mas a Artica duvida. A Artica
duvida de você porque você duvida de si mesmo. O que significa
que não podemos formar essa tríade até que você supere o que
quer que seja esse problema e nos abrace ou arrisque perder tudo.
— E a começar uma guerra — Zakkai forneceu. — Porque eu
duvido que os Faes do Inverno vão aceitar gentilmente sua Fonte
implodir dentro de sua nova rainha porque a Fonte de Água não
funciona bem.
— Não há nada que você possa fazer como Arquiteto da Fonte?
— Cyrus perguntou, seu medo palpável.
O que significava que ele também não acreditava que eu fosse
fazer essa escolha.
E por que ele acreditaria?
Por meses eu disse a ele que não queria fazer parte dessa tríade.
Disse o mesmo a Artica. A Norden e Lark também.
Achei que hoje provaria que eles não precisavam de mim.
Em vez disso, demonstrou o quanto eu realmente era
necessário... e o quanto falhei com eles.
— Ela ainda está viva. — Zakkai cruzou os braços. — Por que
você acha?
— Mas você pode fazer algo para redistribuir o poder? — Cyrus
enfatizou. — Puxá-lo para fora dela e empurrá-lo de volta para Lark?
— O que você acha que tenho feito na última hora? — Zakkai
perguntou a ele. — Ela só conseguiu terminar a cerimônia por
influência minha. Mas as Fontes não vão parar de lutar por sua
alma. Ela tem muitos laços incompletos. Se seus companheiros não
quiserem consertar a situação, então a natureza seguirá seu curso.
— Então você...
— Precisamos terminar a tríade — falei, interrompendo meu
primo.
Debater o que o Arquiteto da Fonte poderia ou não fazer era
irrelevante neste momento. Ele já afirmou que era a razão pela qual
Artica ainda não havia sido dilacerada pelas Fontes.
E eu não queria descobrir quanto tempo duraria sua boa
vontade.
A natureza seguiria seu curso.
Mas seria o curso certo .
Consertar meu erro e aceitar meu destino. A descrença jogou
todos nós nessa confusão. Então eu teria que usar a crença para nos
tirar dela.
Eu tinha medo da dor ligada a amar outra pessoa e
inevitavelmente parti meu coração por meus próprios meios tolos.
Nunca mais cometeria esse erro.
— Vamos completar a tríade — reiterei. — Em seguida, vamos
começar a cerimônia Fae da Água.
Artica e eu estávamos desvinculados desde esta manhã, e os
laços de primeiro nível poderiam ser criados novamente se as almas
fossem compatíveis o suficiente. E as nossas certamente eram.
Eu sabia disso há anos, e foi assim que eu soube que a magia
Fae do Inverno no enfeite a selecionaria.
Ela era perfeita para Lark e Norden.
Porque ela sempre foi perfeita para mim.
Enfrentei Lark e Norden com a postura resoluta.
— Estou pronto. Me digam o que preciso fazer. — Me expliquem
como consertar isso e salvar a alma de Artica.
30
ARTICA
ARTICA
KALT
ARTICA
NORDEN
ARTICA
LARK
NORDEN
ARTICA
ARTICA
Um desfile de pinguins .
Meu coração se encheu de alegria ao ver todos aqueles pés
bamboleantes marchando pelo salão de baile à nossa frente, com
Norden como guia.
— Desculpem pelo atraso! — ele transmitiu para a sala. — Isso
exigiu um pouco mais de coordenação do que esperávamos.
Uma maneira inteligente de explicar nossa demora.
Mas, na realidade, ele conseguiu orquestrar tudo em quinze
minutos.
Depois de dizer a Lark que ele tinha uma ideia, ele saiu. Então
nos disse através do vínculo mental do círculo de companheiros para
encontrá-lo nas portas do salão de baile do palácio.
Onde os pinguins já haviam começado sua entrada.
Os faes e elfos lá dentro estavam radiantes com o espetáculo.
Alguns outros homens pareciam estar ajudando Norden com a
organização. Reconheci um deles como Yule e imaginei que os
outros também poderiam ser selkies.
Quando perguntei através de nossos vínculos de companheiros,
Lark pressionou a palma da mão em minha coluna e aproximou os
lábios do meu ouvido para me dizer seus nomes.
— Uau, o Norden tem muitos irmãos — sussurrei.
— Sete é o habitual para selkies — ele respondeu, o que fez
meus olhos se arregalarem.
— Habitual?
Ele sorriu.
— Alguns deles são gêmeos.
— Gêmeos? — ofeguei. — Será que o Norden vai querer...? —
Não consegui terminar a pergunta. Porque, sete selkies? Eu... Eu
não tinha certeza se meu corpo estava preparado para isso. Será
que posso ter um bebê selkie?
— Nossos filhos terão magia mista — Lark respondeu, ainda
falando próximo ao meu ouvido.
Ninguém além de Kalt percebeu, porque todos os presentes
estavam ocupados demais observando as maravilhas se movendo
pelo salão de baile.
— Então, nada de selkie? — Me senti um pouco triste com isso.
Eu não queria sete. Mas um ou dois poderia ser bom.
— Um selkie com magia da água e do inverno — Lark corrigiu. —
Com certeza é possível.
Olhei para ele.
— Quando você permitir, certo?
Ele franziu a testa.
— Não, minha rainha. Quando você permitir.
— Norden disse que você controla a reprodução — eu disse. —
Que você precisa abençoá-la. — Ele estava errado? Porque se
estivesse, então...
— Meu poder abençoa a criação, sim. Mas eu nunca o usaria sem
o seu consentimento. A decisão de quando e como nós procriaremos
será sua. — Ele sorriu. — Eu apenas serei seu método de controle
de natalidade mágico até que estejamos todos prontos para dar esse
passo.
— Controle de natalidade mágico — repeti, curvando os lábios
para combinar com seu sorriso. — Parece esperma mágico.
Será que é por isso que ele ainda não me tocou de verdade?
Porque ele não quer fazer isso até que eu esteja pronta para um
herdeiro? O pensamento fez meu sorriso vacilar, algo que ele
percebeu porque franziu a testa.
— O que há de errado? — ele perguntou.
Balancei a cabeça.
— Nada. Só estava pensando em ter sete selkies. — Meu coração
se apertou com a mentira.
E a expressão dele me disse que ele também percebeu.
— Artica...
— Senhoras e senhores! — um homem chamou os presentes na
sala. — Apresento-lhes o novo Círculo de Companheiros Real Fae do
Inverno!
Uma salva de palmas entusiasmada saudou seu anúncio, fazendo
minhas bochechas corarem. Quem é esse? perguntei, não
reconhecendo o homem alto de cabelos escuros. Embora sua
aparência física o colocasse na casa dos trinta, a aura antiga ao seu
redor sugeria que ele era muito mais velho.
O avô paterno de Norden, Berg , Lark respondeu, seus olhos
cintilaram ao ver a cena. Essa é uma grande honra. A família do
Norden raramente vem à costa. Encontrei seu avô apenas uma vez,
mas nunca sua avó.
E os pais dele? perguntei.
Lark limpou a garganta. Seus pais não estão mais conosco .
Oh. Eu não sabia... eu... sinto muito por isso. Isso me fez
perceber o quanto ainda tinha que aprender sobre meus
companheiros.
Eles pereceram fora de nossas barreiras de proteção, seja por
ursos polares ou humanos, não temos certeza , ele acrescentou
enquanto Norden se virava para nós com um sorriso deslumbrante.
Não fique triste por mim, Sunshine , ele murmurou. E não se
preocupe com a minha longevidade. Selkies não são totalmente
imortais, mas como um Príncipe Fae do Inverno, eu poderia muito
bem ser.
Eu não tinha percebido que estávamos conversando em nosso
círculo de companheiros. A coisa toda do canal em minha cabeça era
confusa. Pensamentos privados exigiam que eu os bloqueasse, algo
que aprendi Mas alternar entre canais individuais de companheiros e
nossa mente de grupo ainda era um trabalho em progresso.
Algo que se tornava mais difícil com emoção.
Portanto, acabei falando acidentalmente com todos os meus
companheiros quando a explicação de Lark me deixou triste.
Norden se aproximou de nós, levou a mão a minha bochecha e
pressionou os lábios nos meus.
Aplausos se seguiram, juntamente com seu avô fazendo
apresentações formais de nossos nomes e títulos, e terminando com
um comentário sobre não conseguirmos parar de nos tocar.
Norden riu.
— Você pode me culpar?
— Não, filho, não posso — seu avô respondeu, passando o braço
em torno de uma mulher pequena ao seu lado. Sua avó? pensei.
Sim. Vovó Ester , ele confirmou. E ela está muito ansiosa para
conhecer todos vocês. Assim como meus irmãos.
Você conhece os irmãos dele? perguntei a Lark.
Apenas o Yule , ele respondeu.
Os pinguins saíram do salão sob a supervisão cuidadosa dos
irmãos de Norden. Então Lark se dirigiu a todos com um breve
discurso, agradecendo a todos por se juntarem a nós para a primeira
Celebração do Círculo de Companheiros.
— Vocês devem ter notado que gostamos de doces por aqui —
ele continuou, provocando algumas risadas da multidão. — Mas
estamos trabalhando em nossas relações com os Fae de outros
reinos. Então, solicitei que algumas iguarias fossem trazidas de
todos os reinos faes. Espero que aproveitem o banquete desta noite,
mas primeiro, vamos brindar com hidromel natalino. Saúde!
Um exército de bonecos de biscoito de gengibre subiu,
segurando bandejas com taças e vários doces.
Todos responderam com um sonoro “Saúde!” e a celebração
começou oficialmente.
Nos encontramos primeiro com os pais de Lark, trocando beijos
no rosto e gentilezas. Depois, continuamos nosso desfile ao redor do
enorme salão de baile.
Kalt e Norden caminhavam um passo à nossa frente, com os
braços entrelaçados, enquanto Lark mantinha a palma da mão em
minhas costas.
Cumprimentamos todos os convidados em círculo, agradecendo a
presença deles e aceitando seus votos de felicidades.
Bem, a maioria deles, de qualquer forma.
— Suas Fontes ainda não estão completamente apaziguadas —
Zakkai nos informou depois que Lark o agradeceu por sua ajuda
após a coroação.
Eu soube de seu envolvimento em nossa união através dos meus
companheiros e expressei minha gratidão a ele por salvar minha
vida.
Ele assentiu antes de olhar diretamente para Lark e voltar à sua
declaração anterior.
— Sugiro que você resolva logo esse problema com as Fontes,
Rei Lark. Vamos partir amanhã.
Aflora suspirou, balançando a cabeça, claramente descontente
com o comentário nada agradável de seu companheiro.
— Nós faremos isso — Lark prometeu a ele antes de nos afastar
dos Faes da Meia-Noite e nos dirigir ao próximo grupo. Eu queria
perguntar o que Zakkai queria dizer, mas suspeitava que já
soubesse.
Meus laços com Kalt e Norden eram sólidos.
E, embora me sentisse ligada a Lark, havia algo faltando.
Intimidade.
— Rei Lúcifer — Lark disse, me tirando imediatamente dos meus
pensamentos.
Rei Fae do Inferno.
— Ouvi dizer que você tem desfrutado do Reino Humano — Lark
continuou.
— Você já foi para lá? — o Rei Lúcifer respondeu, com um tom
entediado. — Fascinante. — Uma palavra que não combinava com
seu tom de voz.
— Temos desfrutado dos avanços tecnológicos humanos — um
homem com características marcantes ao lado dele disse. Seus olhos
multicoloridos pareciam brilhar sob as luzes enquanto ele sorria. —
Também estamos apreciando seu espírito festivo.
— Estamos? — o Rei Fae do Inferno perguntou, arqueando uma
sobrancelha escura.
— Estamos — seu companheiro confirmou.
— Humm. — Ele ergueu os olhos escuros para o visco sobre suas
cabeças. — Sim, acho que estamos. — O Rei Fae do Inferno segurou
o outro homem pela nuca e o beijou com uma paixão que me
lembrou Norden.
Quando finalmente se afastaram, Lark terminou de fazer as
apresentações, me fornecendo o nome do macho impressionante:
Príncipe Melek.
Os dois Faes do Inferno parecem atraídos um pelo outro ,
brinquei, ganhando uma risada de Norden e Kalt.
Todos os Faes são capazes de alegria, Lark respondeu,
aparentemente satisfeito com a exibição, enquanto nos dirigíamos à
mesa excessivamente longa montada em um lado do salão de baile
do palácio.
Era um espaço enorme destinado ao entretenimento, com um
tamanho que rivalizava com a cafeteria. Exceto que tudo aqui era
muito mais formal, com candelabros iluminados por velas e cortinas
douradas.
Eu esperava mais grandiosidade festiva , admiti.
Esperava? Lark olhou para mim, contorcendo os lábios. Seu
desejo é uma ordem, minha rainha.
Ele acenou com a mão, usando seu novo acesso à magia da água
para criar flocos de neve cintilantes, seguido por uma exibição de
purpurina e fadas da água dançantes.
Uma bela demonstração de nossos poderes combinados que
atraiu um coro de “ahs” e “ohs” da multidão. Se não sabiam sobre a
mistura de Fontes em nosso círculo de companheiros, certamente
sabiam agora.
Para não ficar para trás, Norden formou um grupo de minúsculas
focas com a umidade do ar e as fez para perseguir as fadas pelo
salão.
Vários convidados riram com encantamento. Outros nos olharam
com olhos arregalados.
— Exibicionista — Kalt disse, revirando os olhos, mas o sorriso
que tocava seus lábios sugeria que ele aprovava.
Em qualquer outra era, seríamos um círculo de abominações.
Mas aqui, éramos aceitos. Eu podia sentir no ar, a alegria e a
expectativa inspiradas pela nossa união.
Estávamos inaugurando uma nova era de vida.
Introduzindo uma nova forma de existir.
E provando que a combinação de poder poderia ser usada para o
bem, em vez do mal.
Um grupo de Fae Elementais estava perto do final da mesa,
incluindo o pai de Kalt. Eu o reconheci imediatamente por seus
longos cabelos brancos e sorriso com covinhas. Mas o sorriso não
alcançava seus olhos da mesma maneira que o de Kalt.
Ele perdeu a cerimônia de coroação porque Kalt não o convidou,
algo pelo qual ele se desculpou assim que o viu. Eu já sabia que o
Príncipe Fae da Água perdeu a mãe quando era criança, então não
esperava vê-la, mas sussurrei sobre a perda dela para Norden e
Lark, para que eles soubessem que não deveriam perguntar.
Exceto que Norden me surpreendeu dizendo que já sabia.
Assim como Lark.
Isso serviu como um lembrete dos meses que os três passaram
juntos antes de eu chegar. Eu não estava com ciúmes, mas queria
muito compensar o tempo perdido.
Algo que provavelmente eu precisava dizer a Lark quando o
questionasse sobre sua hesitação mais tarde.
Kalt capturou minha atenção quando abraçou o pai, a tristeza no
olhar do homem mais velho nos deu mais uma visão sobre a
hesitação de Kalt em aceitar o círculo de companheiros.
Ele testemunhou essa perda por anos, viu o que o vínculo
quebrado fez com seu pai e não queria isso para si mesmo.
No entanto, ele sentiu uma dose daquela dor quando o afastei.
Quando as apresentações terminaram, tudo o que eu queria
fazer era abraçar Kalt e dizer o quanto o amava.
Mas ele chegou antes em mim, me envolveu em seus braços e
me beijou com uma paixão que provocou ainda mais aplausos.
Isso parece uma cerimônia de acasalamento , sussurrei em sua
mente.
Bom , ele sussurrou de volta para mim. Porque somos
companheiros .
Eu sorri. Sim. Somos. Você é meu. Oficial e irrevogavelmente
meu .
Ele riu. Você parece bastante satisfeita com isso.
Estou, sim.
Posso contar um segredo? ele sussurrou, capturando meu olhar.
— Eu também estou satisfeito. — Ele se inclinou para me beijar
novamente, mas uma voz carregada de poder nos interrompeu.
— Eu também estou — o Rei dos Fae da Água interveio.
— Cyrus — a Rainha Claire sibilou.
— O quê? — ele perguntou com falsa inocência. — Estou muito
satisfeito que Kalt finalmente tenha seguido seu caminho correto.
Não posso expressar isso?
Kalt passou o braço em volta da minha cintura enquanto
encarávamos seu primo.
— Sim, você estava certo. Eu estava errado. Quanto a isso, estou
bastante satisfeito, então vou conceder a sua vitória — Kalt disse
enquanto Norden e Lark se aproximavam atrás de nós. As mãos de
Lark foram para meus quadris, seu calor era um afago bem-vindo
contra minha pele, inspirando o poder a zumbir em minhas veias.
Poder que ele imediatamente absorveu como se soubesse que eu
estava prestes a precisar de outra liberação de energia. Seus lábios
encontraram meu pescoço.
Me avise se precisar que eu absorva mais , ele sussurrou em
minha mente, provocando arrepios em minha pele.
Obrigada .
É um prazer , ele respondeu, com um leve tom de desejo nessas
duas palavras.
Um desejo que eu sentia até o meu âmago.
Mas o pigarrear de alguém me trouxe de volta à realidade e aos
Faes Elementais ainda parados diante de nós.
Me lembrei dos nomes de cada um deles.
O Fae do Fogo, Titus.
O Fae Real da Terra, Sol.
O Fae Real do Ar, Vox.
E, é claro, o Rei Cyrus e seu meio-irmão Fae dos Espíritos, Rei
Exos.
Isso que é um círculo de poder.
A Rainha Claire estava radiante, usando vestido azul com
bordados prateados que combinavam com as ondas douradas de
seus cabelos.
Ela me fez uma reverência, e eu respondi da mesma forma,
rezando para as Fontes para que eu pudesse manter minha graça
festiva. Meus movimentos foram fluidos, como se guiados pela
alegria do Festivus.
Ou talvez estivessem sendo auxiliados pelo toque dos meus
companheiros, já que nem Kalt nem Lark me soltavam.
Senti Norden puxar meus cabelos. Seus dedos sempre
encontravam um motivo para tocar um dos meus cachos.
Talvez neste reino, com esses homens como meus guias, eu não
fosse mais tão desajeitada.
— Parabéns pelo seu círculo de companheiros e ascensão, Rainha
Artica — a Rainha Claire falou, irradiando orgulho. No entanto, o
brilho em seu olhar dizia que esse resultado não a surpreendeu. —
Eu não poderia pensar em uma fae mais perfeita para esse papel.
— Mesmo? — o Rei Cyrus perguntou, passando o braço ao redor
da cintura da Rainha Claire para lhe dar um beijo na bochecha. —
Você quer dizer que não era sobre a Artica que ouvi você e a Gina
discutirem no mês passado?
— Certamente a poderosa Fae Fortuna Ômega não previu isso —
O Rei Exos acrescentou.
— Não, ela não previu que uma Rainha Fae do Inverno daria
início a uma nova era de alegria para todos os reinos — a Rainha
Claire respondeu. — Nem me disse que essa rainha seria
fundamental para todas as minhas aspirações Inter Reinos Fae.
Minhas bochechas coraram à medida que a intenção óbvia de
seus comentários se registrava em meus pensamentos.
— Vocês... vocês sabiam que isso ia acontecer?
— Digamos apenas que sabíamos que havia uma grande chance
de que acontecesse — a Rainha Claire respondeu, sorrindo.
— E estamos muito felizes por isso — o Rei Cyrus acrescentou,
com o olhar fixo em Kalt. — O acasalamento lhe cai bem, primo.
— Assim como a paternidade para você — Kalt respondeu. — Por
falar nisso, onde está o Príncipe Ciro? — Sua pergunta me fez querer
me chutar por não ter perguntado sobre o filho único da Rainha
Claire.
Sou realmente boa nesse estágio de Inter Reinos Fae , pensei
com sarcasmo. Sempre me lembrando de detalhes importantes e
tudo mais.
Que bom que você tem uma tríade para te ajudar , Kalt
respondeu em minha mente, seu olhar cor de gelo brilhando de
prazer enquanto ele me olhava. E um Príncipe Fae da Água que se
lembra desses detalhes por você.
A Rainha Claire sorriu.
— Nós o deixamos com minha mãe e Mortus.
— Sim, voltamos apenas para os eventos desta noite. Uma noite
de encontro muito necessária — o Rei Cyrus falou, olhando de forma
significativa para o seu círculo de acasalamento. O sorriso torto nos
lábios de Titus me disse que eles tinham algo planejado. Algo
quente .
Algumas semanas atrás, eu teria suspirado de forma sonhadora e
desejado ter meu próprio círculo de acasalamento para me satisfazer
nessas atividades.
Mas agora eu tinha o meu.
— Sim, bem, tenho certeza de que o pequeno Ciro está dando
trabalho para a minha mãe — a Rainha Claire disse, com as
bochechas com um tom lindo de rosa enquanto ela tentava manter o
tópico anterior da conversa. — Mas prometi levar alguns bengalas
doces se ele se comportar bem.
— Sugiro as azuis — Kalt disse sem hesitar. — Ele vai adorar.
Reprimi um sorriso. Você é malvado , disse a ele.
Apenas retribuindo ao meu primo por todo o seu amor áspero,
Kalt respondeu, e a diversão em seu tom trouxe alegria ao meu
coração.
Fae, eu amava ouvi-lo feliz .
Seus lábios roçaram minha têmpora enquanto um sino prateado
ecoava pela sala.
O pai de Lark estava de pé na cabeceira da mesa com a cadeira
empurrada para fora.
— Acredito que esta é a sua nova cadeira, filho. Devemos
começar o banquete?
40
ARTICA
L ark me conduziu até a mesa com N orden e K alt logo atrás de nós .
Seu pai sorriu, deu um tapinha na cadeira e disse:
— Estarei na extremidade oposta com o resto da família.
— Obrigado, pai — Lark respondeu, abraçando-o rapidamente
antes de pular, sim, pular, para a outra extremidade, onde seus
companheiros estavam esperando com grandes sorrisos.
Ele parece bastante satisfeito em passar essa cadeira , pensei
para Lark.
Sim. É um gesto simbólico que diz que ele não está mais no
comando, e eu ouso dizer que ele está animado com isso , Lark
falou, curvando um pouco os lábios. Acho que esse é o verdadeiro
motivo pelo qual ele queria que eu ascendesse mais cedo.
Humm, não concordo , eu disse, encontrando seus belos olhos
verdes. Ele sabia que você estava pronto. Você será um rei notável,
milorde.
Ele sorriu, acariciando minha bochecha. Apenas porque tenho
você como minha rainha, milady. Ele se inclinou para me beijar e a
sensação de seus lábios nos meus provocou faíscas em minhas
veias. Ele as capturou com a língua, absorvendo minha onda de
poder e me trazendo paz por um momento antes de puxar uma
cadeira para mim.
Você se importa de se sentar entre Kalt e Norden para o
banquete? ele me perguntou.
Quase disse que sim. Porque sim, eu meio que me importava. Eu
queria estar ao lado dele.
Na verdade, não, eu queria estar debaixo dele.
Sentir toda aquela força enquanto ele me possuía.
Liberar poder de volta para ele e finalmente acalmar as Fontes
que lutavam por minha alma.
Mas eu não podia dizer isso na frente de todos esses faes, então
apenas assenti. Claro .
Ele franziu a testa. Você prefere estar ao meu lado?
Vou ficar bem aqui, eu disse a ele, me sentando antes que ele
pudesse comentar novamente.
Ele deu um beijo na minha cabeça, evitando a tiara. Discutiremos
isso mais tarde , ele sussurrou em minha mente. O acasalamento
tem tudo a ver com a verdade, e você está sendo desonesta comigo,
Artica.
Ele parecia desapontado.
Bem, ele poderia se juntar à festa. Porque eu também estava.
E frustrada.
E agindo como uma garota mimada.
No entanto, doze dias juntos e ele não me penetrou nem uma
vez ou me deixou prová-lo adequadamente.
Ah, ele tinha me provado várias vezes, mas eu não tive
permissão para retribuir. E agora que minha mente estava
funcionando além das ondas do prazer arrebatador, eu queria saber
por quê.
Vamos te manter devidamente entretida, Sunshine , Norden
respondeu enquanto se acomodava ao meu lado e colocava a palma
da mão na minha coxa.
Muito entretida , Kalt concordou ao ocupar a cadeira entre mim e
a cabeceira da mesa, ficando ao lado de Lark.
Kalt segurou minha perna, apertando-a.
Mais poder ondulou em mim com o contato, fazendo com que os
dois zumbissem em minha mente enquanto absorviam os choques
em excesso.
Isso vai ser divertido , Norden decidiu, seus dedos encontrando a
fenda do vestido para tocar minha pele nua.
Muito divertido , Kalt ecoou, fazendo o mesmo do outro lado.
Eu sei o que vocês estão fazendo , eu disse a eles.
Só garantindo que você esteja pronta para depois , Norden falou,
seus dedos agora acariciando a parte interna da minha coxa. Lark é
fã de gratificação atrasada, Sunshine. Mas acho que ele atingiu seu
limite esta noite.
Segui seu olhar para onde Lark acabou de se sentar e percebi o
calor nos olhos dele.
Calor e um pouco de desagrado.
Porque não fui honesta com ele? Ou porque ele estava chateado
com algo que Norden acabou de dizer?
Como ele estava me encarando, suspeitei que fosse o primeiro.
Engoli em seco, sentindo meu pescoço formigar. Estou em
apuros.
Sim, com certeza está , respondeu Lark.
Os elfos apressaram os convidados a se sentarem, reservando o
outro lado da mesa para os Faes Elementais, com o Rei Exos à
direita de Lark e a Rainha Claire ocupando a cadeira em frente a
mim. Vox se sentou ao lado dela, com Sol ao seu lado, depois Cyrus
e, finalmente, Titus.
Achei estranha a ordem enquanto os elfos tagarelavam e
começavam a encher os pratos de todos com diversos doces e
delícias geladas. E, fiel às palavras de Lark, também havia pratos de
todos os reinos.
Uma verdadeira representação das relações entre Inter Reinos
Faes.
— Essas são crab berries? — Sol perguntou, pegando um
punhado e enfiando na boca antes que alguém pudesse responder.
— Cranberries — Vox corrigiu com um suspiro exasperado. — E
tenho quase certeza de que eram apenas para decoração.
Sol resmungou e começou a encher o prato com vários doces,
carnes e geleias, sem se importar com os alimentos que se
sobrepunham.
— Há comida suficiente para todos — Vox assegurou, franzindo o
cenho enquanto uma rajada de vento deslizou uma porção de balas
de gomas encantadas e suspiros de merengue para o seu próprio
prato.
Bem, é uma forma de se servir , Norden ponderou, seu olhar
brilhando de prazer com a brincadeira entre Sol e Vox. Aquele com
cabelos bonitos e compridos é um Fae do Ar, certo?
Ele retirou a mão da minha coxa para adicionar uma colherada
de torta natalina ao meu prato. Kalt fez o mesmo, acrescentando
uma pilha de coco ralado no topo da minha torta.
Parecia que os dois estavam mais preocupados em garantir que
eu tivesse comida do que em se alimentarem.
Sim, Vox é Fae do Ar , confirmei. Sol é Fae da Terra .
Isso explica o tamanho dele, Norden murmurou. E o apetite.
— Isso é faelicioso — Sol falou, apontando para uma combinação
de itens em seu prato.
Vox suspirou.
— Acho que você não deveria combinar geleia de morango com
espaguete e almôndegas, Sol. — Ele fez uma careta, evitando as
almôndegas do espaguete enquanto acrescentava um pouco ao seu
próprio prato, longe da porção de geleia de morango.
Os dois Faes Elementais continuaram a discutir durante a
refeição, divertindo bastante Norden.
Pelo menos até ele notar a batalha elemental ocorrendo algumas
cadeiras adiante.
Titus levou um bolinho à boca, mas franziu a testa quando o item
congelou completamente, fazendo-o bater os dentes com uma
careta.
Grunhindo, ele estalou os dedos, enviando uma trilha de fogo na
superfície do brownie de Cyrus, que derreteu quase imediatamente.
Norden riu. Deveríamos fazer um encontro duplo com esse
círculo de companheiros. Gosto muito mais deles do que dos Faes da
Meia-Noite.
Depois de experimentar a recepção fria de Zakkai mais de uma
vez, não pude deixar de concordar.
A Rainha Claire e o Rei Exos pareciam não perceber o caos entre
seus parceiros, provavelmente porque era algo comum entre os seis.
Eles estavam mais envolvidos na conversa que estavam tendo
com Lark e Kalt, algo que perdi a maior parte, já que estava
evitando o olhar conhecedor do Rei desde que nos sentamos.
Sim, com certeza está , ele falou.
Me perguntei o que aquilo significava.
Que tipo de problema ele planejou para mim?
Me inclinei um pouco, captando a segunda metade da conversa
deles.
— Os reinos percorreram um longo caminho — o Rei Exos falou
com um tom de orgulho na voz, passando o braço nos ombros de
sua parceira. — E descobrimos que eles são muito mais receptivos
às relações Inter Reinos Faes do que se esperava inicialmente.
A Rainha Claire se inclinou para o Rei Exos enquanto apoiava a
mão no peito dele.
Um anel multicolorido capturou a luz em seu dedo, cintilando
com o poder de todas as Fontes Elementais juntas. Isso servia como
uma perfeita representação do que um círculo de companheiros
poderoso poderia realizar como uma unidade.
— Os tempos estão mudando — ela disse, olhando para Aflora,
que estava sentada mais ou menos no meio da mesa com os
companheiros ao seu redor. — Os faes estão se tornando mais
receptivos a uniões poderosas. Ainda não chegamos lá, mas a
mudança e a aceitação plena não acontecem da noite para o dia.
— Não, elas não acontecem — o Rei Exos concordou. — Mas é
por isso que precisamos normalizar esse conceito de interação entre
os Reinos Faes.
A Rainha Claire e Kalt assentiram enquanto Lark continuava a
ouvir em silêncio.
— Sim, algo semelhante a isso — ela falou, tocando o queixo.
Então seu olhar se iluminou. — Ah! E se fizéssemos algo assim todos
os anos?
Gostei bastante da ideia.
— Como um novo feriado? — arrisquei, me inserindo na
conversa.
— Um feriado funcionaria — a Rainha Claire respondeu. — Mas
precisaríamos que todos os reinos o celebrassem, o que pode ser
difícil.
Assenti, concordando com aquilo. Já era difícil o suficiente fazer
com que os reinos concordassem com coisas simples, como uma
academia para crianças de heranças faes mistas, formalmente
conhecidas como abominações pela maioria dos faes.
Eu não conseguia imaginar que um feriado seria mais fácil para
ser aprovado. Todos gostariam que fosse algo específico de sua
própria cultura, o que iria contra todo o propósito.
— E se fizéssemos algo exatamente como isso — falei, pensando
em voz alta. — Um banquete Inter Reinos Faes, em que todos
trouxessem suas próprias culinárias famosas para outros reinos
experimentarem.
— Humm, bolinhos de cogumelo como aperitivos — o Rei Exos
murmurou, curvando os lábios.
— Doces Selkies para a sobremesa — Norden acrescentou,
prestativo.
Lark e Kalt trocaram olhares, contemplativos.
— Na verdade, não é uma má ideia — Kalt falou. — O banquete,
quero dizer. Os doces selkies podem ser... interessantes.
— Este lugar é perfeito para um banquete também — o Rei Exos
acrescentou. — A alegria mantém todos os reinos faes sob controle.
Quero dizer, até mesmo os Faes do Inferno estão se divertindo.
Ele fez um gesto em direção ao Rei Fae do Inferno perto da
extremidade oposta da mesa. O príncipe estava ao seu lado, os
traços definidos e belos me lembrando mais um anjo que um Fae do
Inferno, mas as aparências podiam enganar.
— Estou surpreso que esses dois tenham ficado — Kalt admitiu,
inclinando a cabeça para o casal. Ele franziu a testa, analisando as
possibilidades mais sombrias do que os Faes do Inferno poderiam
estar realmente fazendo enquanto estavam no Reino Humano.
Fechando acordos com um Fae desavisado, talvez ? pensei. Eu
não sabia muito sobre os Faes do Inferno, mas sabia que o rei tinha
um gosto por criar acordos unilaterais que o beneficiavam mais do
que a contraparte.
Kalt olhou para mim. Talvez , concordou. Mas tenho certeza de
que qualquer Fae neste reino sabe que não deve fechar um acordo
com os Faes do Inferno. Eles são fortalecidos pela alegria. O que
mais alguém poderia precisar?
Norden enrolou os dedos em uma das minhas mechas, alisando a
ponta com seus dedos mágicos. Ah, eu tenho muitas necessidades,
Príncipe Kalt.
Revirei os olhos quando a Rainha Claire interrompeu nossos
devaneios privados.
— Ah, mas precisamos de um nome para isso — ela falou,
franzindo a testa. — Dia da Comida Inter Reinos Faes?
— Comidinha de Verão — Norden sugeriu, fazendo vários
companheiros da Rainha Claire sorrir. Todos haviam direcionado seu
foco para nossa conversa agora, a ideia de uma festa claramente
despertando seu interesse.
— Não — Lark falou de repente, interrompendo a animação em
nossa parte da mesa imediatamente. — Festivus de Verão da Rainha
Fae do Inverno. — Seu tom indicava que não era uma sugestão
tanto quanto um nome oficial. Um que ele havia decidido e não
debateria. — Vou anunciar aos convidados, mas a Artica tem que
planejar tudo — acrescentou, seu olhar verde menta pousando em
mim.
— Eu? — ofeguei, surpresa não apenas pelo nome que ele
escolheu, mas também por seu pronunciamento.
— Seu sonho não é gerenciar as relações Inter Reinos Fae? — ele
perguntou, arqueando a sobrancelha.
Franzi a testa. Você está aproveitando essa novo vinculo para
procurar meus desejos e sonhos em minha mente?
Ele encontrou meu olhar. Você ficaria brava se eu dissesse que
sim?
Eu o considerei por um momento, minha expressão tensa se
transformando em um sorriso. Não, não ficaria , admiti. Mas pensei
que estivesse encrencada...
Ah, você está. Mas vamos lidar com isso em particular depois .
Seus lábios se curvaram em um sorriso que prometia travessuras
maliciosas mais do que punições severas.
Os músculos das minhas coxas se contraíram em resposta.
— Considere feito — ele anunciou antes de pegar sua taça para
tomar um gole do líquido borbulhante. Vários outros fizeram o
mesmo, colocando as bebidas na mesa ao mesmo tempo que ele.
— Todos os anos em vinte e cinco de julho? — Norden sugeriu.
— Para celebrar o seu aniversário?
— Desde que a atenção continue focada em nossa rainha, não
me importo com o dia — meu rei Fae do Inverno respondeu. — A
felicidade dela é o que mais importa.
— Ouçam, ouçam — o Rei Cyrus ecoou. — E é assim que se faz.
A Rainha Claire revirou os olhos.
— Cale a boca.
— Nunca — ele murmurou, soprando-lhe um beijo de gelo que
Titus transformou em uma chama, derretendo-o na mesa.
A Rainha Claire suspirou, balançando a cabeça.
Ignorei suas travessuras, voltando meu foco para o Rei Fae do
Inverno mais uma vez.
— Seria uma honra para mim realizar uma festa de aniversário
anual em sua homenagem, meu rei.
— Não foi isso o que eu disse nem como eu chamei — ele
respondeu, franzindo a testa.
— Não, você disse que a minha felicidade é o que mais importa.
E isso me deixaria muito feliz.
Ele pensou por um momento, então curvou os lábios em um
sorriso genuíno.
— A sua felicidade é o meu único desejo, então que assim seja
feito. — Mas você ainda está encrencada , ele acrescentou.
Antes, eu estava um pouco preocupada com o que isso
significava.
Agora... agora eu estava intrigada. Aceito qualquer punição que
você desejar me dar, meu rei.
Seus lábios se curvaram, e então ele dirigiu-se à mesa, elevando
a voz ao anunciar:
— A partir deste momento, o Festivus de Verão da Rainha Fae do
Inverno ocorrerá anualmente no dia vinte e cinco de julho para
trazer alegria aos reinos.
Todo o salão aplaudiu enquanto uma dose de magia alegre se
espalhava pelo reino.
A magia está ligada a feriados , Lark sussurrou em minha mente.
Você trará muita alegria ao nosso povo através desse evento
grandioso. Eles vão te amar para sempre por isso.
Meu estômago se agitou com a adoração em sua voz. Eu pensei
que você estivesse bravo comigo.
Decepcionado, Artica. Nunca bravo , ele corrigiu. Agora termine
sua comida. Tenho uma surpresa para você mais tarde.
Norden apertou minha coxa, roçando os lábios em minha
bochecha. Você está radiante, Sunshine. Absolutamente radiante.
Você está tentando me distrair , acusei, curvando os lábios
mesmo enquanto minha mente se preocupava com os comentários
de Lark. Mas o toque de Norden era... Humm .
Está funcionando? Seus dedos encontraram aquela fenda
novamente, passando pela parte interna da minha perna até a renda
rosa entre as minhas coxas. Coma sua comida, doce Artica.
Enquanto Kalt e eu brincamos com a sobremesa.
A mão de Kalt pousou na minha coxa oposta enquanto ele
continuava novas discussões políticas com o Rei Exos e Lark. Sua
expressão não revelava nada, mas o vínculo de companheiros
pulsava com conhecimento.
Até Lark sabia o que esses dois estavam fazendo, e a aprovação
praticamente irradiava dele.
Me arrepiei. Apertei o garfo enquanto tentava me concentrar no
meu prato.
Isso era uma distração faetástica .
Uma que eu tentava não deixar ninguém ver enquanto mastigava
e engolia a comida.
Mas não sentia o gosto de nada.
Minha atenção estava nas duas mãos debaixo do meu vestido.
Elas se revezavam, me provocando através da renda.
Então uma delas deslizou sob o tecido para acariciar minha carne
sensível. Dei um solavanco e em seguida limpei a garganta,
enquanto lutava contra a necessidade de gemer.
Dei outra garfada em algo doce. Torta de creme, talvez? Deveria
ter seduzido completamente meu paladar, mas o fogo ardente entre
as minhas pernas era tudo o que eu conseguia sentir ou pensar.
Outro dedo deslizou sob o tecido, acariciando minha entrada
antes de me penetrar profundamente. Norden , suspirei,
familiarizada com seu toque.
Engula, Sunshine, antes que engasgue , ele sussurrou de volta
para mim.
Obedeci, então me assustei quando ele levou um garfo aos meus
lábios com a mão livre, enquanto a outra me estimulava por baixo
da mesa e Kalt circulava meu clitóris.
Você pode gemer enquanto engole isso. Vou dizer a todos que é
sua sobremesa favorita.
Não entendi a princípio, mas quando o garfo tocou minha língua,
ele curvou o dedo de uma maneira que instantaneamente me levou
ao êxtase.
O garfo me impediu de gritar, mas não silenciou meu gemido de
êxtase.
O que fez Norden rir enquanto ele dizia em voz alta que era
minha sobremesa favorita.
Um biscoito de caramelo salgado coberto de creme, percebi,
finalmente sentindo o gosto na língua enquanto ele me alimentava
com outro pedaço.
Era tão intensamente erótico que quase gozei de novo, mas o
raio de poder rugindo em minhas veias me segurou.
Outro orgasmo provavelmente me faria explodir.
E eu não queria correr o risco de qualquer magia que pudesse
acontecer.
Com minha sorte, seriam uma série de bolas de neve brilhantes
com fios de confete ou algo assim.
O toque de Kalt deixou o meu centro, a sua conversa séria
continuando enquanto ele estendia a mão para passar o dedo no
creme da minha sobremesa, o mesmo dedo que ele acabou de usar
para me tocar, e o levava aos seus lábios para provar.
Minhas bochechas estavam em chamas.
A situação só piorou quando Norden fez exatamente a mesma
coisa.
— Delicioso — ele murmurou, piscando para mim.
Vocês vão me matar de prazer , pensei, com as pernas ainda
tremendo com as réplicas do meu orgasmo.
Não se preocupe, Sunshine , Norden sussurrou de volta para
mim. Nós vamos te reviver com outro orgasmo.
Lark limpou a garganta, se levantando mais uma vez para se
dirigir à mesa.
— Quero agradecer a todos por comparecerem à nossa primeira
Celebração do Círculo de Companheiros. Espero que tenham gostado
da culinária Inter Reinos Fae e que se juntem a nós no primeiro
Festivus de Verão da Rainha Fae do Inverno do próximo ano.
Outra rodada de aplausos encheu o ar, a alegria contagiante.
Minha cabeça já estava cheia de ideias, me lembrando uma
tempestade de delícias festivas.
— Para aqueles interessados — Lark continuou —, vamos
encerrar a noite com chocolate quente no lounge do palácio. Caso
contrário, vocês estão convidados a passearem à vontade. As
acomodações serão cortesia até o final da semana.
Ele fez uma pequena reverência.
Mais aplausos seguiram.
Então ele se afastou da cadeira, vindo diretamente até mim, e
estendeu a mão.
— Minha rainha. Se quiser me acompanhar na primeira xícara, já
preparei uma especialmente para você.
41
ARTICA
T udo bem . T alvez minha mãe estivesse certa . P orque isso parecia
mesmo um conto de fadas.
E a caneca de chocolate quente decorada esperando por mim era
divina.
Lark me puxou para o assento ao seu lado, a poltrona era grande
o suficiente para mais duas pessoas se juntarem a nós. Mas Kalt e
Norden ficaram de pé ao nosso lado com suas canecas nas mãos.
Todos nós ganhamos a mistura especial de Lark, mas ele
preparou cada com um toque único: algo que ele admitiu agora ser
a verdadeira razão pela qual ele saiu. Não houve uma emergência
com os Faes Metamorfos. Apenas Lark querendo surpreender seus
companheiros com chocolate quente após o jantar.
Minha caneca tinha um toque de hortelã-pimenta, algo que Lark
suspeitou que eu gostaria.
Ele tinha razão.
A de Kalt era temperada com coco, que ele adorava.
E a de Norden tinha um toque de caramelo salgado, algo que
parecia fazer seus olhos revirarem.
— Obrigada — sussurrei para Lark, percebendo agora que este
era um verdadeiro presente do coração dele. Um agrado que apenas
um Rei Fae do Inverno poderia conceder a seus companheiros.
— De nada — ele murmurou para mim, com os lábios em meu
ouvido. — Mas essa não é a surpresa que mencionei, apenas um
bônus.
Estremeci e meus dedos dos pés encolheram com o tom rouco
de sua voz.
Vários dos faes ao nosso redor estavam perdidos em suas
próprias conversas, o tom se acalmando para a noite. Todos
estavam satisfeitos, não apenas com a comida, mas de vida, a
magia no ar era um afrodisíaco que intensificava os sentidos e
espalhava alegria por todo o reino.
Meus olhos começaram a se fechar em um suspiro quando uma
cabeleira loira familiar chamou minha atenção. Me sentei mais ereta,
abrindo os lábios em um sorriso largo.
— Juniper! — chamei, colocando minha caneca de lado para me
levantar.
Ela se virou e arregalou seus olhos verde-mar enquanto
respondia com um sorriso.
Abri os braços e ela me abraçou apertado. Seu alívio era palpável
e me fez franzir a testa.
— Está tudo bem? — perguntei, me afastando para olhá-la.
— Eu estava tão preocupada — ela disse em um desabafo. —
Eu... eu vi... — Ela olhou ao redor, e percebi que ela precisava de
um momento privado.
Já volto , disse a Lark, guiando Juniper para o canto da sala onde
poderíamos conversar em particular.
— O que foi? — perguntei, preocupada. — E quando você
chegou aqui? — Ela não estava aqui quando fizemos nossas rondas
mais cedo. Na verdade, nenhum dos Faes Fortuna estava.
— Acabei de voltar pelos portais — ela explicou. — Tive que
convencer o Alfa Oberon a me deixar voltar. Na verdade, ele disse
não, mas o Professor Kamden concordou em me acompanhar. —
Suas bochechas coraram com o nome, mas ela balançou a cabeça.
— Isso não é importante. Eu só... eu te vi cair, Artica. E... e te devo
um pedido de desculpas.
Franzi a testa.
— Me viu cair?
— Bem, desmaiar, acho. Contra o Rei Lark. Depois da coroação.
Finalmente, compreendi.
— Ah, aquilo...
— Sim, por causa da minha descrença, certo? — ela insistiu. —
Eu... eu fiquei tão chocada com o seu novo papel que... não sei. Eu
estava preocupada, Artica. Preocupada com o que poderia acontecer.
Você mal conhecia seus companheiros e... — Ela parou de falar,
suspirando. — Eu nunca deveria ter tocado no presente. Sinto muito.
Não percebi o que iria acontecer. Mas não deveria ter espalhado
minha descrença. Aconteceu sem querer. Você pode me perdoar?
Franzi a testa para ela.
— Você... você acha que eu desmaiei por causa da sua
descrença?
— Não foi por causa disso? — ela perguntou.
Sorri e neguei com a cabeça.
— Não, desmaiei por causa da combinação de Fontes dentro de
mim. — Eu senti um pouco da descrença de Juniper quando ela
tocou o presente, mas eu já estava tão imersa na magia naquele
ponto que o choque dela não poderia causar mais danos. — Está
tudo bem, Juniper. Também tive meus momentos de choque.
— Você tem certeza? — ela insistiu. — Eu estava tão
preocupada!
— Obrigada, mas estou bem. Prometo. — Eu a abracei
novamente, encontrando o olhar de Lark sobre seu ombro.
Norden tomou meu lugar no assento e apoiou a cabeça no
ombro de Lark enquanto o Rei Fae do Inverno brincava com uma
mecha de seu cabelo. Norden devia ter permitido o toque depois de
desfrutar o presente do chocolate quente de Lark.
Suspirei. Nosso círculo de companheiros cresceu tanto em tão
pouco tempo, em parte por causa dos desafios que enfrentamos e
das dificuldades que fomos forçados a superar.
Kalt se juntou a eles e seus olhos cor de gelo encontraram os
meus enquanto ele piscava, o gesto tocando diretamente meu
coração.
— Não estou brava — prometi a Juniper, lhe dando um aperto.
No entanto, de alguma forma, minhas palavras pareciam mais
direcionadas a Kalt. Porque descobri que o perdoei completamente
por negar seus laços. Negar a nós . Meu coração era inteiramente
dele, e eu podia sentir o eco disso em nosso vínculo de
acasalamento.
Juniper desabou em meus braços, aliviada.
— Ah, graças aos Faes. Eu estava... péssima. Foi isso que o
Professor Kamden me trouxe. Ele... ele sabe que ando distraída.
Eu me afastei para estudar o rosto dela.
— Hum-hum. E quem é esse Professor Kamden de quem você
continua falando?
Desta vez, seu rubor se estendeu até o pescoço.
— Ele é... bem, ele é um professor, então eu só o conheço de
passagem. Sei que ele não tem interesse em mim; quero dizer, sou
apenas uma estagiária. Mas ele é... — Ela suspirou. — Ele é
encantador, Artica.
— Conheço bem esse sentimento — eu disse a ela, olhando
novamente para o meu círculo de companheiros. Ela seguiu meu
olhar com uma risadinha. — Eu também sou estagiária. — Franzi a
testa. — Ou era, acho. — Agora eu era uma rainha. O que
significava que não precisava mais dos créditos do estágio.
Bem, pelo menos todos os meus cursos já estavam concluídos.
Mas o estágio deveria ser o meu último “curso” na Academia.
Talvez Kalt me dê uma nota de aprovação.
Vou considerar isso , ele respondeu, um brilho travesso no olhar.
— Bem, vamos ver o que acontece — Juniper suspirou, dando
um passo para trás.
Sorri e estendi a mão para apertar seu braço de forma
tranquilizadora.
— Siga o seu coração, Juniper. Ele nunca vai te decepcionar.
Ela retribuiu o sorriso, então uma estranha onda de magia
percorreu meu toque enquanto sua pele ficou fria contra minha mão.
— Juniper? — suspirei, sentindo a magia escapar dela. —
Juniper!
Ela começou a convulsionar e revirar os olhos brilhantes.
Segurei-a com as duas mãos, garantindo que ela não caísse
enquanto meu coração batia descompassado no peito.
— Juniper — repeti, seu nome sussurrado enquanto tentava
trazê-la de volta do que estava acontecendo com ela.
Ela congelou.
Piscou.
E então me encarou.
Através de íris prateadas.
Entreabri os lábios quando Lark chegou ao meu lado, seguido por
Norden e Kalt. Eles sentiram meu pânico através do vínculo e vieram
imediatamente para meu lado.
Ou talvez eles tenham visto Juniper convulsionar.
Alguns outros faes voltaram sua atenção para nós, a
preocupação marcando suas feições diante da erupção de poder.
Mas foi breve e já estava completo.
Porém, eu não conseguia mais sentir a magia da Água em
Juniper.
E seus olhos cintilavam .
Um estalo irradiou de sua alma e me sacudiu profundamente
quando senti a Fonte da Água liberando-a, aceitando minha bênção
para que ela descobrisse seu próprio destino.
Minha crença em seu coração , percebi, o choque me deixando
sem palavras. Eu disse a ela para seguir o coração dela. E... e ela fez
exatamente isso.
Porque ela acabou de se transformar em uma Fae Fortuna, a
única raça entre nossa espécie que podia enxergar o futuro e
interpretá-lo com profecia.
Ela estremeceu novamente, o poder irradiou através dela... um
poder que tocou o meu e vibrou em nossa pele até os lábios de
Juniper.
LARK
Um Ano Depois...
Sensuais.
A mazon
R ainha dos V ampiros : L ivro U m
A mazon
I lha C arnage
Bem-vinda à Ilha Carnage.
Casa do caos brutal.
Sangue e lágrimas.
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Uma mestiça.
Rejeitada.
Uma loba sem companheiro.
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Lexi C. Foss é uma escritora perdida no mundo do TI. Ela mora em Chapel Hill,
na North Carolina, com o marido e seus filhos de pelos. Quando não está
escrevendo, está ocupada riscando itens da sua lista de viagem. Muitos dos
lugares que visitou podem ser vistos em seus textos, incluindo o mundo mítico
de Hydria, que é baseado em Hydra nas ilhas gregas. Ela é peculiar, consome
café demais e adora nadar.
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