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Introdução
Prólogo
1. Zakkai
2. Aflora
3. Kols
4. Zeph
5. Kols
6. Aflora
7. Shade
8. Aflora
9. Kols
10. Zakkai
11. Zeph
12. Shade
13. Aflora
14. Zeph
15. Kols
16. Aflora
17. Shade
18. Zakkai
19. Aflora
20. Zakkai
21. Kols
22. Aflora
23. Zeph
24. Aflora
25. Shade
26. Zakkai
27. Kols
28. Aflora
29. Kols
30. Shade
31. Zeph
32. Aflora
Epílogo
Rainha do Submundo
Sobre a autora
Mais Livros de Lexi C. Foss
Bem-vindo ao mundo Fae da Meia-Noite.
Ele é sangrento.
Escuro.
E liderado por um vampiro antigo que precisa morrer.
Meus dias como peão nesta guerra acabaram. Estou assumindo como rainha
neste tabuleiro e, na minha versão do jogo, todos se curvam a mim. Até
mesmo Constantine Nacht.
UM LABIRINTO.
Todos os lugares em que eu virava era um beco sem saída, o enigma se
espalhando diante de mim em uma confusão impossível de videiras de
obsidiana. Eram raízes da meia-noite se entrelaçando, me prendendo e me
mantendo como refém.
Girei em um círculo, perdida na escuridão estranha.
Ela me consumia, ameaçando destruir minha Terra. Mas lutei contra.
Eu o forcei a se comportar, a se misturar, a se ligar à minha existência e me
permitir a chance de respirar. Foi uma resposta natural, baseada no poder de
Zakkai. Sua essência tinha passado por mim, seguido por um beijo de
proteção com um toque da habilidade de Zeph. Meus dois companheiros me
ajudaram a subir neste jardim de rosas mortas.
Então as videiras começaram a girar e crescer, me trancando dentro.
E as palavras finais de Constantine se repetiram ao vento.
— Bem-vinda ao seu primeiro teste de ascensão, futura morta. Que
isso destrua para sempre sua alma.
Estremeci. Isso era um tipo de teste, algum tipo de provação projetada
para eu falhar. Eu não sabia as regras ou o que tudo isso significava. Não
sabia como sobreviver. No entanto, não tive escolha. Constantine não
poderia vencer. Não assim. Ele forçou esse poder em mim, garantindo meu
status de abominação, e eu encontraria uma maneira de desfazê-lo.
Eu havia memorizado os cantos e a criação mágica. Só tinha que
descobrir como desfazer esses vínculos e liberar a Fonte mais uma vez.
Depois que eu escapasse deste labirinto.
Kols?, sussurrei, tentando me conectar com quem eu sabia que poderia
me ajudar mais. Como um Elite de Sangue e o verdadeiro Príncipe Fae da
Meia-Noite, ele saberia o que fazer.
Mas o silêncio encontrou minhas palavras.
Shade? tentei em seguida.
Silêncio.
Mordi o lábio, incerta. Isso era mesmo real? Ou eu ainda estava
perdida em um pesadelo dentro da minha mente?
O poder pulsando dentro de mim parecia real. Assim como a trama
proibida de magia unindo a Fonte Sombria com minha Fonte da Terra.
Claire, pensei, tremendo um pouco. Os Fae Elementais podem sentir o
que eu fiz? Estou machucando-os agora?
A chanceler Elana havia obscurecido os Elementos com sua conexão
com a magia Fae da Meia-Noite. Mas essa foi uma decisão ativa e
consciente da parte dela de absorver mais poder.
Eu não queria mais. Queria menos.
Tentei empurrá-la para meus companheiros, para aliviar um pouco da
dor dentro de mim, mas o bloqueio entre nós permanecia.
Não aceito isso, decidi, empurrando a barreira e procurando a fonte da
obstrução. Tinha que ser um feitiço, algo que Constantine teceu, e eu teria
que desfazê-lo.
Ignorando o labirinto, fechei os olhos e me concentrei. Isso tudo estava
dentro da minha mente, um ginásio mental de energia se contorcendo e
conexões estrangeiras.
Uma árvore brotou no centro do meu ser, os galhos todos girando com
uma variedade de cores.
Vermelho para os Elite de Sangue.
Azul para os Sangré de Sangue.
Verde para os Guerreiros de Sangue.
Roxo para os Sangue de Morte.
Preto para os Maléficos de Sangue.
E cerúleo no centro, dançando ao longo das veias do tronco para os
Quandary de Sangue.
Acariciei mentalmente a bela criação, me sentindo maravilhada com as
folhas multicoloridas que brotavam nos galhos. Tão forte e cheia de vida.
Ainda caídas com cinzas.
Era o meu compromisso, a maneira como persuadi minha Fonte da
Terra a coexistir com a Fonte Sombria.
Uma formação tão antinatural e, no entanto, parecia se encaixar.
Eu me permiti um vislumbre de admiração, então me concentrei em
meus companheiros e nossos laços obstruídos. Zakkai me ajudou a
ascender, assim como Zeph. Senti Kols também, sua linhagem prosperando
em minhas veias. E Shade, minha eterna sombra escura, me presenteou com
sua garantia de que tudo ficaria bem.
Todos eles estavam comigo e, ainda assim, não estavam.
Por causa de Constantine.
Você não vai ganhar, eu disse. Ele não podia me ouvir. Ou talvez
pudesse. Talvez tudo isso fosse apenas algum tipo de pesadelo perverso.
Independentemente disso, o sentimento permaneceu.
Ele tentou matar meu companheiro. E agora, me forçou a essa
ascensão.
Vou desfazer esse feitiço. Depois, vou garantir que você não possa
mais machucar ninguém.
Eu não tinha ideia de como conseguiria, mas senti a segurança da
minha tarefa no fundo das minhas raízes. Ele pagaria por seus pecados.
Inalando lentamente, mergulhei mais fundo em minhas amarras,
procurando a magia que não me pertencia. Eu a senti circular Kols, meu
vínculo com sua linhagem parecia ter fornecido a Constantine o acesso que
ele precisava para tecer seus encantamentos nefastos.
Zeph também, percebi, puxando aquela corda e encontrando uma
âncora em meu companheiro Guerreiro de Sangue.
Os fios de Kols ligados a Shade e Zakkai. Por causa de seus laços de
acasalamento que foram estabelecidos na noite passada.
O feitiço de Constantine se apresentou em ondas intrincadas, as pontas
de fogo borbulhando com brasas que tornavam perigoso tocá-lo. Desfiz as
camadas com minha mente, buscando o padrão do encantamento, mas ele
havia tecido demais para desfazer sem risco.
Eu precisava de Zakkai.
O que significava que eu precisava descobrir como passar neste teste.
Abri os olhos. A escuridão ao meu redor aumentou enquanto eu
cutucava meus laços de companheiros. Estava muito escuro agora, as
trepadeiras formavam uma espécie de dossel sobre minha cabeça.
Um calafrio percorreu minha coluna. Isso definitivamente não era um
pesadelo. Mas também não era real. Eu podia sentir os laços mágicos que
revestiam o horizonte, a fonte sombria servindo como o construtor deste
curso.
Me ajoelhei para tocar as lâminas de carvão, sentindo minha magia da
Terra ganhar vida enquanto absorvia a composição genética da paisagem e
tentava manipulá-la à minha vontade. Flores brotavam ao longo das
videiras, pontilhando o mundo de cores. Então as pétalas se transformaram
em cinzas quando a magia sombria matou minha nova vida.
Meu coração doeu com a perda e minha respiração ficou presa na
garganta.
Tentei novamente, exigindo que o mundo mudasse para aceitar o
núcleo do meu ser. Mas ela respondeu estrangulando minha energia, me
negando qualquer forma de luz.
— Aflora. — A voz familiar de Constantine flutuou no vento, me
fazendo ranger os dentes em frustração.
Ele voltou para assistir ao meu teste. Toco de salgueiro, pensei, me
levantando para encará-lo. Eu não podia vê-lo, apenas ouvi-lo, sua figura
estava sombreada a cerca de três metros de distância.
— Ainda bem — ele sussurrou, sua forma se aproximando. — Você
está bem?
Arqueei uma sobrancelha.
— Essa é a sua versão de piada? Porque você terá que se esforçar mais
para provocar meu riso.
Ele se aquietou.
— Uma piada? Por que eu iria brincar com isso?
— Eu não sei porque você faz um monte de coisas — admiti. — Como
forçar a ascensão de um membro da Realeza da Terra, por exemplo.
— Você acha que fiz isso com você?
— Sei que fez — retruquei, colocando as mãos em meus quadris. —
Mas vou encontrar uma maneira de desfazer. E vou sobreviver a este teste,
marcando você como o futuro morto. — Não que eu fosse matá-lo. Isso não
me faria melhor do que ele.
Faes da Terra ansiavam por vida.
E eu seria uma Fae da Terra até meu último suspiro.
— Quem você acha que eu sou? — Constantine perguntou.
Eu o ignorei e me concentrei em meus arredores. Ele estava aqui para
me distrair da minha tarefa, e eu já tinha desperdiçado fôlego suficiente
com ele.
Minhas flores tinham se transformado em cinzas novamente enquanto
conversava com ele, e a luz restante brilhava como pequenas estrelas entre
as vinhas escuras. Tentei usar a magia para desfazê-las, mas a Fonte
Sombria assobiou em resposta.
— Tudo bem — eu disse a ele. — Então que tal isso? — Agarrei as
raízes e chamei um cipó ardente. Ele brotou alto e orgulhoso, com o fogo
ondulando de seus membros e explodindo direto no teto do meu dossel.
Eu sorri, orgulhosa.
E então o cipó gritou de dor enquanto se transformava em pó.
Meu coração acelerou e o golpe repentino me derrubou de joelhos.
Constantine correu, agarrando meu braço enquanto gritava meu nome.
Eu o empurrei com um raio de poder, enquanto o Sangue de Guerreiro
de Zeph prosperava dentro de mim e me iluminava por dentro. O feitiço
deixou meus lábios por instinto, o encantamento que Zeph me ensinou
durante uma de nossas lutas. E empurrou Constantine para o chão.
— Que merda é essa? — ele questionou com um chiado.
— Me toque novamente e vou paralisar você. — Então inclinei a
cabeça para o lado. — Um feitiço cortesia de seu pequeno espinho, Dakota.
— Seria apropriado usar o encantamento nele, já que ele havia enviado
aquela Fae mentirosa para se infiltrar no acampamento de Zakkai.
— Do que você está falando? — ele perguntou, parecendo chocado e
consternado. — Aflora, quem você pensa que eu sou?
— Esta é a parte em que você me lembra que é um ex-rei e exige que
eu me curve? Porque não acho que estou no clima para isso. Se alguém vai
se curvar, será você. — E eu adoraria vê-lo fazer isso. Supondo que eu
pudesse. O fato de ele ter se curvado sob o feitiço de Zeph foi um
desenvolvimento interessante. Constantine deveria ser poderoso o suficiente
para bloqueá-lo.
— Um príncipe — ele assobiou. — E não, princesa, não vou exigir
que você se curve. Mas me acerte com outro feitiço e vamos trocar algumas
palavras.
— Parece uma ameaça vazia, uma vez que você já está falando — eu
disse.
E novamente ele me distraiu da minha tarefa.
Pó polvilhado, preciso me concentrar.
Ele era apenas um...
Um raio de eletricidade me atingiu na lateral, me derrubando no chão.
No instante seguinte, a figura sombria me prendeu no chão com um
joelho entre minhas coxas.
— O que você tem? — ele questionou.
— Saia de perto de mim! — gritei enquanto um feitiço se alinhava em
meus lábios.
Mas sua boca capturou a minha, me silenciando em um instante.
Tecnicamente, eu ainda podia proferir o feitiço em meus pensamentos.
No entanto, eu não era tão versada na arte dos encantamentos mentais. E
meu cérebro também não funcionava corretamente.
Porque Constantine estava me beijando.
Que biscoito de lírio era esse?
Por que ele está...?
Sua língua entreabriu meus lábios e a familiaridade atingiu minhas
papilas gustativas, me derrubando sob uma onda de confusão.
Kols.
Ele tem o gosto de Kols.
Como?
Porque eles são parentes?
Argh, que nojo. Que nojo, que nojo, que nojo! Tentei empurrá-lo, mas
o macho permaneceu pesando sobre o meu corpo com as mãos nos meus
quadris.
Algo estremeceu dentro da minha cabeça, meus laços de companheiro
gritando em fúria.
Tentei me agarrar a eles para destravar o feitiço, mas aqueles extremos
empolgantes ameaçavam chamuscar minha mente – e as mentes de meus
companheiros – no processo.
Um tremor percorreu minha coluna enquanto minha boca respondia ao
beijo familiar e meu corpo se rebelava.
Por que ele está me beijando?, me perguntei, franzindo a testa.
Constantine não tinha motivos para fazer isso. Claro, ele poderia evocar
confusão dessa maneira... mas ele já estava conseguindo isso antes de me
tocar.
Ele também não lutou quando poderia bloquear meu feitiço. Não.
Constantine teria bloqueado meu feitiço.
Então, por que me deixar bater nele? Por que me beijar depois?
A não ser que...
A menos que não fosse Constantine, mas Kols.
Eu pisquei.
Não.
A voz é de Constantine.
Mas eu não podia vê-lo.
Quem você acha que sou? ele perguntou duas vezes. E me chamou de
princesa. Constantine se referia a mim como abominação e futura morta.
Kols muitas vezes me chamava de princesa.
O que Constantine saberia se, de alguma forma, tivesse aproveitado a
história do nosso vínculo. Isso era possível? Eu não fazia ideia. Mas eu não
sabia nada sobre Faes da Meia-Noite ou como a ascensão e as linhagens
funcionavam.
No entanto, Kols sabia.
Mordi sua língua, tirando um grunhido baixo de seu peito.
— Aflora — ele resmungou.
— Pare — exigi.
— Tente me derrubar com outro feitiço e eu vou te beijar de novo —
ele avisou. — Sei que não temos tempo para isso, mas doeu, Aflora. E não
posso te bater de volta.
Constantine o faria. A menos que ele estivesse pregando outra peça em
mim.
Tentei distinguir as feições de seu rosto, mas estavam mascaradas atrás
de uma cortina escura.
— Você consegue me ver? — perguntei em voz alta.
— Se consigo te ver? — ele repetiu. — Claro que sim.
Tentei encontrar sua boca, depois seus olhos. Eu sabia onde eles
deveriam estar, mas não conseguia distinguir os detalhes.
— Você está sombrio e escuro.
— O quê?
— Não consigo te ver — expliquei, estendendo a mão para tocar seu
rosto. A voz ainda era a de Constantine. No entanto... não se parecia com
ele. Não que eu realmente soubesse como era tocar o Ancião, mas não o
senti nessa figura sombria.
Podia ser um estratagema.
Ou o estratagema poderia estar me fazendo pensar que era
Constantine.
— Kols? — Seu nome saiu em um sussurro, principalmente porque me
senti tola por perguntar. Mas tudo estava... uma confusão.
— Sim, linda?
— Sua voz é igual a do Constantine — admiti baixinho, mordendo
meu lábio.
Ele ficou em silêncio por um momento, até que xingou.
— É o teste. É sobre confiança. Por isso você está me vendo como
alguém em quem não deveria e não confiaria.
— Confiança? — repeti.
— Sim. Existem sete testes de ascensão, cada um projetado para testar
diferentes aspectos da realeza e liderança. E o primeiro é sobre confiar
naqueles que te apoiam. — Ele segurou minha bochecha. — A Fonte
Sombria está testando sua capacidade de confiar em seus companheiros,
Aflora.
— Fazendo você parecer o Constantine — falei, me inclinando em sua
palma. Constantine não perderia o fôlego explicando o julgamento para
mim. Ele só esperaria que isso me matasse.
O que confirmou que não era ele, mas meu Kols.
Meu vínculo com a Terra pulsava em concordância. O vínculo com ele
era uma raiz grossa que conectava nossas almas. Isso não era algo que o
Ancião Fae da Meia-Noite poderia manipular. Ele não tinha controle ou
poder sobre minha magia da Terra.
Beijei os lábios de Kols, dizendo sem palavras que eu sabia que era
ele. Então recuei para olhá-lo.
— E agora?
— Agora vamos sair deste labirinto e acordar — ele respondeu em voz
baixa. — E para fazer isso, você precisa seguir seus instintos.
— Meus instintos dizem para queimar as videiras e permitir que a luz
ilumine meu caminho. — Sempre preferi a luz à noite. Mas Faes da Meia-
Noite se relacionavam com a escuridão.
Ele voltou a ficar de joelhos, então se levantou e estendeu a mão para
me ajudar a levantar. Aceitei, percebendo que podia ver sua sombra
claramente, apesar da escuridão se instalar ao nosso redor.
Na verdade, ele era a única figura que eu conseguia distinguir, agora
que as luzes cintilantes estavam totalmente cobertas pelas trepadeiras.
Isso deveria estar relacionado a este teste: minha capacidade de ver
aquele em quem eu confiava através da névoa de obsidiana.
— Onde estão os outros? — perguntei. — Por que eu só posso sentir
você?
— Não sei — Kols respondeu com um tom aborrecido, ainda
parecendo Constantine. — Zakkai pensou que seu teste teria algo a ver com
o Night.
— O seu encantamento?
— Sim. Os outros apareceram durante sua ascensão, exceto o Night.
— Uma pontada de tristeza ecoou em sua voz profunda, confirmando ainda
mais que era Kols e não Constantine.
— Tente chamar por ele — sugeri.
— Eu o senti morrer — Kols sussurrou. — Quando... quando eu morri.
Estremeci, me lembrando como foi quando perdi Clove meses atrás.
Eu não sabia que poderia trazer meu encantamento de volta. Mas foi Kols
quem me ensinou.
— Você tentou chamá-lo?
O silêncio que se seguiu indicou sua hesitação.
Ele não havia tentado.
E eu entendia o porquê.
— Você está com medo de que ele não responda — falei, segurando
sua mão e apertando-a. — Uma vez você me disse que os encantamentos
estão ligados às nossas vidas, que eles só morrem se morrermos, e você não
morreu, Kols. O Shade segurou seu fio de vida por tempo suficiente para
que eu lhe desse raízes.
O que significava que Night ainda estava aqui.
Ele tinha que estar.
Porque Kols estava muito vivo.
— Tente chamá-lo — encorajei com a voz baixa, mas confiante. —
Traga o Night de volta para você.
Meu companheiro Elite de Sangue permaneceu quieto por mais um
momento, me fazendo pensar que eu poderia estar errada, me perguntando
se tudo isso tinha sido um truque, mas meu coração pulsava com
conhecimento. Companheiro da Terra. companheiro Fae da Meia-Noite.
Meu Kolstov. Meu príncipe.
Kols não era conhecido por sua hesitação. Ele pensava em suas opções
e agia.
Mas esta era uma situação surreal.
Ele quase morreu.
Ele sentiu a morte de seu encantamento.
Cabia a ele confiar em sua própria alma.
Arregalei os olhos.
— É isso — murmurei. — Confiar.
— O quê?
— Você precisa chamar o Night. — Porque isso provaria que ele
confiava em si mesmo... porque eu confiava nele. — Você precisa confiar
nele para encontrá-lo. — Coloquei a mão em seu peito. — Ele está aqui. Sei
que está. Chame-o para que ele possa nos ajudar a encontrar a saída.
Senti a retidão desse caminho em minha própria alma.
Kols disse que esse teste era sobre confiar em meus instintos e confiar
em meus companheiros.
E agora eu só precisava que meu companheiro Elite de Sangue
confiasse em mim.
O círculo completo.
O teste completo.
Com apenas um caminho a seguir.
Era a vez de Kols escolher.
CAPÍTULO TRÊS
KOLS
— CONSTANTINE ATACOU LOGO DEPOIS que você ficou inconsciente — acrescentei. — Shade
desapareceu para sabe-se lá onde, deixando a mim e Zakkai defendendo o
paradigma sozinhos por... não tenho certeza quanto tempo.
— Duas horas e dezessete minutos — Shade anunciou quando
apareceu. — Fiquei tentando voltar, mas Constantine deixou uma massa de
energia bloqueando todas as entradas e saídas. — Ele olhou para Aflora. —
Não tenho ideia de como você fez isso, pequena rosa, mas é muito
impressionante.
Eu estava dividido entre dar um soco em sua cara por sair e concordar
com ele.
Considerando que ele voltou, e provavelmente foi por culpa de
Constantine que não conseguiu entrar, optei por este último.
— Muito impressionante — repeti, roçando os dedos na bochecha
dela.
Então fiz uma careta.
— Por que não posso ouvi-la? — Eu também não conseguia ouvir
Kols.
— Constantine fez algo com nossos vínculos — ela disse, sua atenção
indo para Zakkai.
Uma pergunta se formou em seus lábios, mas o Quandary de Sangue
disse antes que ela tivesse a chance de falar:
— Pegue o que você precisa.
Ele se inclinou para encostar a testa na dela, suas bocas se tocando em
um beijo leve que me fez semicerrar os olhos.
Kolstov e Shadow eu poderia aceitar.
Zakkai ia demorar.
Ele levou minha companheira. Manteve-a longe de mim... de nós.
Escondeu-a. Mas também a protegeu. Essa foi a única razão pela qual
permiti que ele ficasse em uma posição tão íntima com Aflora.
Ela fechou os olhos enquanto a energia se acumulava ao seu redor.
Clove voou para se acomodar ao lado dela nos restos destruídos da cama, e
sua asa roçou no ombro de Aflora.
O lobo de Zakkai permaneceu na antiga porta enquanto Raph deslizou
em volta do meu pescoço.
Até que o encantamento de Kols voou para pousar ao lado de Clove.
Pisquei para as asas pretas com pontas cinzas do corvo, a cor rivalizando
com as pontas do cabelo ruivo do Elite de Sangue. Ele olhou para Night e
percebeu a mesma coisa, estendendo a mão para acariciar as penas
descoloridas.
Os dois foram marcados pela morte.
O olhar cor de gelo de Shade observou Kols e Night, também com
expressão de admiração. Em seguida, ele se encolheu quando a magia
emanou ao seu redor. O mesmo aconteceu comigo meio segundo depois,
minha mente de repente paralisada pelo encantamento de Aflora.
Algo estalou.
Formigou.
Se desintegrou.
Meu coração doeu por um instante antes que a emoção e os
pensamentos viessem correndo pela minha mente e alma. A afeição, a
frustração, o medo e o alívio por Aflora eram como uma torrente de
sensações que me roubaram o fôlego.
Eu a alcancei, afastando sua boca da de Zakkai e a conduzi até a
minha, sentindo gratidão por tê-la dentro de mim novamente. Ela retribuiu
meu abraço com igual fervor.
— Ainda bem que ela terminou — Zakkai murmurou.
Eu o ignorei, mantendo o foco em minha linda companheira e no poder
ondulando através dela. Minha rainha, pensei com reverência.
Ainda não, ela comentou, entrelaçando os dedos em meu cabelo. Eu...
eu não sei se... Ela parou, a incerteza vencendo as outras reações.
— Está tudo bem — sussurrei contra sua boca. — Nós vamos resolver
isso.
— Quero desfazer essa magia — ela admitiu bem baixinho. — Tem
que haver uma maneira de desfazer isso.
As opiniões de Kols a respeito me vieram a mente, mas ele não as
expressou em voz alta. Não é possível, ele disse. E mesmo que fosse, é o
recurso certo? Acompanhei sua revelação analítica, me deleitando com a
capacidade de estar tão perto dele e de suas crenças.
— Diga em voz alta — sugeri a ele. — Diga à Aflora.
— Me dizer o quê? — ela perguntou, seu foco em mim e depois nos
outros. — Eu suponho que você esteja falando com o Kols.
— Ele está — Kols respondeu, dando um olhar irritado na minha
direção. — Você estar na minha cabeça é problemático.
— E muito útil — rebati. — Diga a ela.
Ele suspirou, passando os dedos pelo cabelo castanho-avermelhado
espesso enquanto balançava a cabeça.
— Meu avô forçou sua ascensão em um esforço para matá-la. No
entanto, você passou no primeiro teste. Não só isso, mas a Fonte também te
abraçou. Eu estava pensando no que isso significa e me perguntando se o
destino poderia ter um objetivo. Se talvez você devesse ser a Rainha Fae da
Meia-Noite.
Endireitei as costas, mantendo a mão na nuca de Aflora. Zakkai estava
por perto, com Shade do outro lado. Mas os olhos da minha linda flor
estavam em Kols, que ainda estava deitado ao lado dela na cama adornada
com pétalas.
— Como eu poderia ser a rainha? Eu sou uma Fae da Terra.
— Uma Fae da Terra acasalada com quatro Faes da Meia-Noite — ele
disse em voz baixa. — Uma Fae da Terra que encontrou uma maneira para
as duas Fontes coexistirem. Uma Fae da Terra que deveria estar vibrando
com uma superabundância de poder agora, procurando destruir, pelo menos
de acordo com todos os rumores sobre abominações, e ainda posso ouvir
você colocando seu povo em primeiro lugar. Você não está pensando em si
mesma ou no que isso significará para você, mas para todos os outros. E
essa é a marca da verdadeira realeza, Aflora. Essa é a mentalidade de uma
rainha.
Soltei Aflora, ciente da intenção de Kols.
Ele colocou a mão em sua bochecha quando se aproximou.
— Você sempre esteve destinada a isso — ele sussurrou, roçando a
boca na dela. — Acho que o Shade sabia disso o tempo todo também.
O Sangue de Morte apenas sorriu, mas o olhar certamente confirmou a
afirmação de Kols.
— Por mais tocante que isso seja, precisamos nos mexer — Zakkai
interveio. Seu tom era marcado com autoridade, mas peguei um lampejo de
arrependimento em seu olhar prateado. Ele não queria interromper. No
entanto, a energia para o exterior do paradigma me disse exatamente por
que ele sentiu a necessidade.
— Ele está certo — concordei, minha energia defensiva já ganhando
vida. — Constantine ainda está aqui. — Ou nas proximidades, de qualquer
maneira.
— Academia Fae da Meia-Noite? — Zakkai perguntou, arqueando
uma sobrancelha para Shade.
— Sim — o Sangue de Morte concordou. — Minha avó conseguiu as
permissões, mas ele exigiu uma reunião com você.
Zakkai bufou.
— Claro que exigiu. Ele está tentando me encontrar há anos.
Shade deu de ombros.
— Você sabe como ele se sente sobre fazer acordos.
Fiz uma careta para eles.
— De quem vocês estão falando? E por que iríamos para a Academia?
Esse é o primeiro lugar que vão procurar por nós.
— Sua Academia, sim. Esta Academia, não. — Zakkai redirecionou
sua atenção para Shade. — E eu aceito o acordo.
— Esse não é a única exigência que fizeram — Shade respondeu. —
Ele também quer uma vantagem em seu momento de escolha.
— De mim ou de Zenaida?
— Você sabe que a minha avó prefere ser chamada de Zen. — Shade
deu a ele um olhar indecifrável. — E ele não esclareceu.
— Entendo — Zakkai murmurou. — Bem, estou preparado para pagar
qualquer preço enquanto estivermos escondidos. Com certeza, vou
agradecer a Zenaida mais tarde por organizar tudo.
O Sangue de Morte bufou.
— Já está feito, porque concordei em seu nome.
— Presunçoso de sua parte.
— Eu sabia que você faria qualquer coisa por Aflora — Shade
respondeu.
— Verdade — Zakkai concordou sem perder o ritmo, olhando para ela.
— Precisamos ir, estrelinha.
Ela assentiu.
— Eu posso sentir.
— Todos nós podemos — Kols disse. — Mas de que Academia você
está falando? Só existe uma para Faes da Meia-Noite.
— Mesmo? — Zakkai contra-atacou. — Onde você acha que todos os
Fae da Meia-Noite fora da lei vão estudar? No Reino Humano? — Ele
conjurou um dragão flamejante no segundo seguinte, o enviando para o céu
para atacar aqueles além das paredes do paradigma. — Porque duvido que
ensinem isso nas universidades de lá.
Shade balançou a cabeça e desapareceu novamente.
Olhei atrás dele.
— Outra porcaria de segredo.
Zakkai sorriu.
— Ele está cheio deles.
— Assim como você — respondi, dando um passo em direção a ele.
Sua arrogância estava começando a me irritar. — Para isso dar certo, todos
nós precisamos começar a nos comunicar.
— Para? — Seu sorriso se intensificou. — Você age como se
houvesse uma escolha.
— Há uma escolha se eu remover você — ameacei, não achando graça
de seus truques, jogos e enigmas. Ele era tão ruim quanto Shade. Não, era
pior. Um lobo solitário costumava fazer o que queria, como queria.
Comecei a dar outro passo, mas Aflora se levantou da cama para ficar entre
nós, colocando a palma da mão no meu peito.
— Podemos tentar nos concentrar, por favor? — ela pediu com a voz
régia em sua suavidade. Meu olhar imediatamente caiu para as linhas de
poder se contorcendo sobre seus braços e meu coração pulou na garganta.
Ela estava certa.
Havia coisas mais importantes para focar agora.
Segurei sua mandíbula, meu dom de Guerreiro de Sangue florescendo
sob minha pele com o desejo sombrio de protegê-la.
— Nós vamos resolver isso, linda flor. Prometo.
Ela assentiu, mas sua hesitação permaneceu. Ela não tinha certeza se
queria.
Mas eu concordei com a declaração de Kols: Aflora foi feita para isso.
Zakkai se moveu. Seu poder era uma onda irritante de calor que eu
podia sentir pulsando ao redor e através de Aflora.
Kols se levantou da cama, se juntando a nós, nossos corpos formando
um círculo protetor ao redor de nossa Aflora. Seus ombros relaxaram um
pouco enquanto ela respirava nossos aromas.
Olhei para Kols, e seu olhar refletia o que eu já sabia: haveria mais
provações, todas igualmente perigosas e difíceis.
Enquanto Kols teve toda a sua vida para se preparar para elas, Aflora
passou apenas alguns meses na Academia. Seu conhecimento era inferior,
suas habilidades, rudimentares. Kols também se beneficiava de seu pai ser o
único a delinear os testes.
No entanto, Constantine estava no comando agora.
E não havia como dizer o que ele faria ou como moldaria o futuro de
Aflora.
Prepará-la seria a tarefa mais difícil de nossas vidas. Mas jurei em
silêncio, naquele momento, fazer o que fosse necessário para protegê-la e
ajudá-la a ascender.
Eu morreria por ela.
Kols ecoou o sentimento, e nós dois prometemos lealdade eterna.
Ela seria nossa realeza.
Nossa futura Rainha Fae da Meia-Noite.
CAPÍTULO CINCO
KOLS
SHADE VOLTOU vários minutos depois com roupas que se pareciam com o que
vestíamos na Academia: calças e camisas de botão para os homens. Capas
também.
E uma saia e blusa para Aflora. Ela calçou as botas com um suspiro,
roçando os dedos no material preto fino. Era um couro único, feito de magia
Fae da Meia-Noite em vez de produto animal. Ela pareceu aprovar, seu lado
Fae da Terra preferindo encantamento a morte desnecessária.
Terminei de abotoar minha camisa antes de passar o braço ao redor de
sua cintura e puxá-la em minha direção para outro beijo. Ela parecia ter se
acalmado, sua aceitação do destino crescendo a cada segundo que passava.
Mas eu ainda a sentia tentando encontrar uma maneira de reverter a
ascensão.
Ela e Zakkai estavam tendo algum tipo de discussão mental sobre isso.
Não consegui ouvir, apenas senti o zumbido roçando minha psique.
O que acontecerá se ela desfizer a ascensão? Quase me matou, mas
foi por causa da maneira como meu pai o fez. Meu coração doeu só de
pensar. Mas não foi ele. Meu avô...
Engoli em seco.
Fogos de Phoenix.
Nem consegui processar.
E Tray. Eu me afastei de Aflora com um solavanco. Merda, Tray!
— O Tray vai ficar bem — Zeph se apressou a dizer, alcançando meu
ombro para apertá-lo. — Assim que estivermos em algum lugar seguro,
entraremos em contato com ele. — Seus olhos verdes foram para Shade. —
O que me lembra, para onde estamos indo, Shadow? Você não disse.
Tentei permitir que sua distração me tirasse de meus pensamentos e
preocupações sombrios, mas senti em minha alma que algo estava muito
errado. Tray não estava nada bem. Nenhum de nós estava.
Aflora se inclinou em minha direção e apoiou a cabeça no meu peito.
Ela não disse nada, apenas me ofereceu sua força emocional e apoio ao me
abraçar em um momento de intensa necessidade.
Zeph estava perto também, sua intensidade era como uma capa
protetora que ondulava ao meu redor.
— Para um lugar onde Constantine não pode ir — Shade disse em voz
baixa. — Para a Academia que ele sabe que existe, mas não pode violar.
Fiz uma careta.
— Ele sabe sobre essa outra Academia? — Isso nunca foi mencionado.
Claro, parecia que o Conselho e os Anciões haviam escondido vários itens
importantes. Então imagino que esta não era uma informação nova.
— Seu avô sabe de tudo — Zakkai respondeu antes que Shade pudesse
falar. — Acho que o seu pai também. Mas acho fascinante que eles tenham
mantido você no escuro. Fizeram o mesmo com seu irmão?
— Kai — Aflora o interrompeu, seu tom era baixo, mas severo. Ela
ainda estava com a cabeça no meu peito, mas seu foco estava no Quandary
de Sangue.
Seus olhos azul-prateados foram para ela e suas feições suavizaram um
pouco.
— Eu sei, estrelinha. — Ele olhou para Shade. — O Lucifer quer me
encontrar agora ou depois que chegarmos?
— Ele não disse — Shade respondeu antes que eu pudesse reagir ao
infame nome do Rei Fae do Inferno. — Então, acredito que temos
passagem segura para o paradigma, pelo menos até que ele decida o
contrário.
— Nós vamos para o reino Fae do Inferno? — As palavras saíram
como uma pergunta, mas era uma afirmação. Porque essa era a única
explicação para o que eles estavam dizendo. — A outra Academia Fae da
Meia-Noite está escondida... no reino Fae do Inferno?
Zakkai e Shade olharam para mim com expressões que diziam: Óbvio.
Mas só Zakkai verbalizou o pensamento.
— Há quanto tempo esse paradigma existe? — perguntei em voz alta.
— Zenaida o organizou com Lucifer há cerca de setecentos anos,
certo? — Zakkai fez a pergunta de forma casual, como se não fosse uma
grande revelação ou informação que alterasse a vida.
— Aproximadamente — Shade respondeu.
— É para lá que você vai quando desaparece — Zeph afirmou. —
Você segue para a outra Academia.
Shade deu de ombros.
— Às vezes. Mas não para as aulas.
— E meu avô sabia. — As palavras saíram baixas e minha mente
falhou em acreditar nelas, mesmo enquanto eu as expressava.
— Sim. Minha avó mora perto. — Seus olhos cor de gelo foram para
Aflora. — É onde fica o prado da Aflora também.
— No reino Fae do Inferno? — ela sussurrou, afastando a cabeça do
meu peito para que pudesse olhar para o Sangue de Morte. — É lá que estão
os paradigmas dos Quandary de Sangue que preferem a reforma à
vingança?
Shade assentiu.
— Sim. O Lucifer já te deu entrada como uma abominação marcada.
Como você deve saber, ele tem um fraco por elas. — Seu olhar se dirigiu a
mim. — E foi assim que negociei sua entrada também. O Zeph foi o
principal problema.
— Bem, nesse caso, recuso meu encontro com Lucifer e o Zeph pode
ficar aqui — Zakkai respondeu.
Aflora se eriçou em meus braços, mudando sua atenção de Shade para
o Quandary de Sangue.
— Kai.
— Estou brincando, estrelinha.
— Hilário — Zeph brincou. — Podemos ir agora? As defesas estão
começando a falhar novamente.
Aflora assentiu.
— Sim, posso senti-las desmoronando.
— Shadow? — Zakkai pediu.
— Já estou trabalhando nisso. — A voz do Sangue de Morte parecia
tensa e ele fechou os olhos em uma careta.
Franzindo a testa, fechei meu vínculo com ele e notei suas reservas de
energia em declínio. Você precisa de mais poder.
Ele grunhiu em resposta, nossa conexão mental intacta, mesmo no
primeiro nível de vínculo.
Tire um pouco de vitalidade de mim, eu disse a ele.
Você não é o único que eu preciso tocar, ele respondeu, me deixando
de fora com o clique de uma porta.
Fiz uma careta.
— Não seja um idiota teimoso — disse em voz alta, já que não
conseguia expressar em sua mente. Eu não sabia como ele tinha me
bloqueado, mas era um truque que eu queria aprender.
— Vá se foder, Kols — ele resmungou.
— Shade — Aflora falou, se afastando de mim para alcançá-lo. — Do
que você precisa?
— Poder — respondi por ele. — Suas reservas estão se esgotando.
— Estou bem — ele disparou.
— Você não está nada bem. Está prestes a desmaiar. — Toda essa
operação solitária precisava parar. Nós éramos uma unidade agora – todos
nós – e estava na hora de aceitarmos isso. — Deixe-nos ajudá-lo, Shade.
Nós somos seus companheiros.
— Ele está certo — Zakkai falou, me surpreendendo. — Você está
prejudicando a todos nós dizendo que está bem quando não está. Você
precisa do sangue da Aflora? — Ele observou o outro homem. — Sim, é
disso que você precisa. Não muito, apenas o suficiente para avançar. — Ele
acenou para Aflora. — Não o deixe recusar.
Ela segurou Shade antes que ele pudesse tentar argumentar, seus lábios
encontrando os dele em um beijo exigente. O cheiro metálico de sangue
atingiu o ar, sugerindo que ela mordeu a língua antes de abraçá-lo. Seu
gemido confirmou, e ele passou o braço na cintura dela enquanto se
entregava à sua essência. Zeph passou o braço ao redor do meu corpo em
um meio abraço, e senti seu peito nas minhas costas. Relaxei em seu abraço
familiar enquanto Zakkai avançava.
Uma capa preta girou ao redor de todos nós segundos depois, quando
Shade acionou sua habilidade de se esconder.
Meu estômago revirou com a sensação de me mover através do espaço
e do tempo sob seu encantamento.
Meus braços se arrepiaram quando aterrissamos em um caminho
empoeirado de brasas e fibras de carvão.
Reino Fae do Inferno, pensei, estremecendo com o calor que queimava
ao nosso redor. Meu avô não nos rastrearia aqui, não com a magia
empolgante e a crueldade subjacente no ar. Ele também não seria bem-
vindo.
No entanto, era bastante fascinante que Lucifer tivesse permitido que
Zen construísse um paradigma aqui.
Faes do Inferno não eram conhecidos por sua bondade. Ou ela trocou
algo extremamente valioso com ele, ou os dois tinham algum tipo de acordo
único.
Quandarys de Sangue eram extremamente poderosos. O Rei Fae do
Inferno acharia isso útil.
Shade soltou Aflora enquanto nos materializávamos e um suspiro de
contentamento veio de seus lábios. Os encantamentos apareceram logo
depois, seu feitiço os capturou também. Ou talvez eles tivessem seguido por
instinto. A magia dos encantamento era única e eles podiam aparecer e
desaparecer à vontade.
— A entrada é logo ali. — Shade indicou um arco de obsidiana. —
Tem dois portões do outro lado. Vão lembrá-los da outra Academia, mas
assim que vocês entrarem, vão sentir a diferença. Todos os Fae da Meia-
Noite excomungados – pelo menos, aqueles que escolheram não seguir Laki
– e criaturas residem lá. É sagrado, mortal e muito bem protegido. Portanto,
qualquer má vontade não será tomada de ânimo leve.
— Você age como se planejássemos queimá-lo — Zakkai falou em voz
baixa. — Já visitei sua avó antes, Shade. Recentemente, se você se lembra.
— Meu aviso não foi para você —Shade respondeu, seu olhar
encontrando o meu e o de Zeph. — Não exagerem. Com tudo o que está
acontecendo, não podemos nos dar ao luxo de sermos expulsos, porque não
há outro lugar para irmos. Os Faes da Meia-Noite estão nos procurando em
massa agora, furiosos com a ascensão da Aflora.
Fiz uma careta.
— Eles já sabem?
A expressão de Shade assumiu um tom sardônico.
— Sim. Constantine disse a todos que ela roubou o trono, pois é uma
Fae sedenta por poder que está fora de controle. Ele notificou os outros
Faes também.
— Como você sabe tudo isso? — Zeph questionou, com o tom repleto
de suspeita. Ele ainda estava com o braço em volta do meu corpo, sua
tensão palpável nas minhas costas.
— Porque a minha avó me disse — Shade respondeu. — Entramos no
proverbial final do jogo agora, então não tenho mais truques na manga.
Estou contando tudo o que estou descobrindo à medida em que descubro.
Mas acabei de passar várias horas tentando voltar para vocês, então me
perdoem pelo atraso.
— Obrigado por ser franco — interrompi antes que Zeph pudesse
falar. Senti sua ira e aborrecimento fervendo, mas não queria instigar mais
brigas. Precisávamos trabalhar como uma unidade, e se isso significasse
liderar pelo exemplo, eu o faria. — Sabemos como os Fae Elementais estão
reagindo às notícias?
Os lábios de Shade se curvaram para baixo, então ele balançou a
cabeça sutilmente.
— Eles vão me excomungar — Aflora falou. — Especialmente depois
do que a Elana fez com eles.
Eu odiava concordar com essa afirmação, mas conhecendo Exos e
Cyrus tão bem quanto eu conhecia, me peguei concordando.
— Eles vão temer o que não conhecem.
— É por isso que preciso reverter a ascensão — ela pressionou. —
Não posso ser um membro da Realeza da Terra e Rainha do Reino Fae da
Meia-Noite. Todos os reinos Faes vão me caçar e tentar me matar.
— Eles vão fazer isso de qualquer maneira — Zakkai acrescentou. —
O que significa que precisamos que você seja o ser mais poderoso que já
existiu para que possa se proteger.
Assenti.
— Sim.
— Não — Aflora protestou. — Não quero todo esse poder.
— É por isso que você é a Fae perfeita para adotá-lo — argumentei. —
Você não vai usá-lo para fins nefastos. Vai provocar mudanças.
— Mudanças muito necessária — Zeph ecoou.
— Precisamente — murmurei.
Aflora suspirou e balançou a cabeça.
— Vamos apenas... entrar. E então podemos continuar falando sobre
isso. Eu gostaria muito de um sanduíche.
— Pão de cogumelos? — Zeph ofereceu. — Mustard berries?
— Mouseberries — ela corrigiu com um sorriso.
— Mussleberries — ele falou com tom de voz divertido. — É claro.
Aflora revirou os olhos, mas um pouco da tensão em sua postura se
derreteu com a brincadeira.
— Hidromel também. E bife de dragão.
— Alguém está com fome. Não te alimentamos direito ontem à noite?
— Ele me soltou com um beijo no pescoço, então caminhou ao meu redor
para pressionar seus lábios na bochecha dela. — Porque me lembro de tê-la
alimentado muito bem.
Suas bochechas ficaram com um lindo tom rosado enquanto ela
tentava encará-lo.
— Zeph.
O Guerreiro de Sangue roçou sua boca sobre a dela e segurou sua
nuca.
— Vamos, linda flor. Vamos explorar esta nova Academia. Depois,
vou garantir que você esteja devidamente alimentada. De novo.
Ela engoliu em seco.
— Então quero uma empada de salada.
— Vou te dar tudo que você quiser, Aflora — ele respondeu em voz
baixa, apoiando a testa na dela por um breve momento. — Incluindo
mouseberries.
Sua expressão se iluminou.
— Sim, por favor.
— Achei que ele era um Guardião que virou diretor — Zakkai
comentou. — Ele também é chef?
— Ele é bom com a varinha — Shade explicou.
— Ah. Os feitiços de comida compensam outras áreas mais fracas. —
Zakkai assentiu. — Eu entendo.
Zeph o ignorou.
Aflora apenas balançou a cabeça.
Shade sorriu.
E eu comecei a fazer apostas mentais sobre quanto tempo Zakkai e
Zeph iriam durar em uma sala juntos antes que um deles tentasse matar o
outro. Os dois eram alfas e nenhum era inclinado a se curvar.
Eu teria que ficar de olho neles.
Especialmente quando estivessem sozinhos com Aflora.
Ela poderia não sobreviver a um duelo entre os dois.
Uma preocupação para mais tarde, pois tínhamos coisas muito mais
urgentes com que lidar, como o problema com meu avô dizendo a todos os
Faes que Aflora havia manipulado sua própria ascensão. Dadas as
exigências do teste, isso seria um problema. Porque um desses níveis exigia
que ela ganhasse a aprovação da espécie Fae da Meia-Noite.
E isso provavelmente não aconteceria se todos acreditassem que ela
era uma abominação faminta por poder com a capacidade de ascender
ilegalmente.
Esfreguei a mão no rosto, exausto só de pensar nisso.
Felizmente, nos aventurar no reino Fae do Inferno nos daria um pouco
mais de tempo para nos prepararmos. Ou muito mais tempo. Eu tive mais
de vinte anos para me preparar para as provações.
Aflora teve alguns minutos para aceitar.
Não era de se admirar que ela quisesse reverter a ascensão.
Shade parou ao lado do arco de obsidiana e pressionou a mão no lado
direito para puxar um teclado. Então ele demonstrou como entrar, nos
dando os códigos para ativar o redemoinho de poder e a senha subsequente
para provar nossa permissão para prosseguir com o encantamento.
Parecia uma demonstração de fé dele – uma maneira de confirmar que
finalmente rompemos seu círculo íntimo.
Já estava na hora, ouvi Zeph pensar.
Bufei em concordância.
Embora eu tivesse entendido a propensão de Shade por segredos todos
esses meses, foi bom finalmente estar do outro lado.
No entanto, quando passamos pelo portão para os terrenos da
Academia, percebi que havia uma infinidade de segredos ainda a serem
revelados. Porque, puta merda, o exterior se assemelhava a Academia Fae
da Meia-Noite.
As paredes de pedra eram cobertas de trepadeiras sibilantes. Um par de
gárgulas estava junto aos portões, com as espadas já desembainhadas.
Franzi a testa.
— Você disse que éramos bem-vindos.
— Somos — Shade respondeu, mas a confusão era evidente em seu
tom enquanto as trepadeiras começaram a se contorcer com raiva.
Uma série de corvos de carvão grasnavam em fúria acima de nós.
Cipós ardentes dispararam fogo para o céu.
As gárgulas lá dentro pegaram em armas, correndo pelos portões.
Os pica-pedras rosnaram.
Uma fênix pousou a poucos metros de distância para abrir suas penas
em um furioso show de cores.
Os mosquitos de fogo começaram a enxamear.
E uma sensação de afundamento agitou meu estômago.
— Merda — murmurei, trocando olhares com Zeph. Sua expressão me
disse que ele tinha descoberto também.
— O quê? — Aflora questionou. — O que está acontecendo?
— É o seu próximo teste de ascensão. — Com Constantine
comandando o show, ele não se preocupava em dar tempo a ela. E é claro
que ele escolheu se envolver com este. — Você se lembra que eu disse que
todas as criaturas Fae da Meia-Noite eram minhas para comandar? —
perguntei baixinho, dando um passo ao lado dela.
— Sim — ela sussurrou. Seu medo era palpável.
— Bem, você é a nova monarca agora. O segundo teste de ascensão é
sobre domar as criaturas Faes da Meia-Noite à sua vontade. Mostre a eles
que você é a rainha e eles se ajoelharão aos seus pés.
Falhe... e eles vão te comer viva.
CAPÍTULO SEIS
AFLORA
NÓS VAMOS TER uma conversa muito séria sobre esses testes e o que esperar, eu
disse a Kols através do nosso vínculo mental. Supondo que eu sobreviva.
Você vai, ele respondeu de imediato. Vou garantir que sim.
Essas trepadeiras-serpentes diziam o contrário. Nunca fui fã das vinhas
sibilantes e contorcidas que cercavam a Academia Fae da Meia-Noite,
assim como elas nunca foram minhas fãs.
Mas Kols sempre as comandou, o que significava que elas me
deixavam em paz.
A maneira como estavam circulando e agindo agora, me disse que não
seria o caso hoje.
Me diga o que fazer, pensei para Kols. Rápido.
Você precisa conquistá-las, provando que é superior a elas.
Recomendo escolher a maior e mais malvada das criaturas para domar
primeiro. Algumas das menores e menos voláteis se curvarão por instinto.
Absorvi todos os seres que nos cercavam, incluindo os pássaros de
fogo que voavam acima de nós. Eles eram menores que a fênix, mas ainda
eram mortais na aparência. Principalmente porque suas penas eram chamas,
não cerdas macias.
— Clove — sussurrei, chamando meu falcão para o meu ombro.
Ela pousou. Seu olhar negro e redondo focava no céu e nas criaturas
que se aproximavam.
Uma cúpula de magia apareceu de Zeph no instante seguinte. Sua
habilidade defensiva se manifestou assim que dois dos pássaros de fogo
mergulharam em nossa direção.
Eles atingiram o escudo verde brilhante com uma faísca crepitante que
reverberou pelo ar e seus gritos agonizantes estilhaçaram meu coração.
A morte não é necessária, pensei comigo mesma. Mas a morte é o
jeito Fae da Meia-Noite.
Isso significava que as criaturas só entenderiam se eu reagisse com
violência?
Tinha que haver outra maneira, uma mais pacífica de domá-los. Para
provar o meu valor. Para ser a rainha deles. Não importava que eu quisesse
desfazer a ascensão mais tarde. Eu precisava dominá-las agora para
sobreviver a este teste, então encontrar uma maneira de consertar tudo.
Mas me recusei a fazê-lo através de métodos obscuros.
O escudo de Zeph atingiu outra criatura que se aproximava, me
fazendo estremecer.
Esse não é o caminho.
Mais dois caíram do céu. Suas belas luzes se apagaram enquanto os
pássaros pereciam de qualquer encantamento que ele havia tecido.
Compreendi que ele estava apenas tentando nos proteger, que todos os Fae
da Meia-Noite foram ensinados a lutar contra a selvageria respondendo à
barbárie, mas os Faes da Terra acreditavam na vida. Desejávamos luz, sol,
ar fresco, flores florescentes e animais felizes.
Me ajoelhei, tocando com os dedos as rochas escuras do caminho, com
os olhos fechados enquanto eu procurava as plantas e árvores ao meu redor.
Os cipós ardentes.
As flores pretas.
As lâminas de carvão.
Toda a vida estranha dos Fae da Meia-Noite, mostrando a elas a Fonte
dentro de mim. Não a sombria, mas aquela cheia de sol e Elementos –
minha conexão com a Terra. Então manipulei sua força e reforcei sua
vitalidade, renovando o propósito e proporcionando maior crescimento.
As raízes se estabeleceram mais profundamente. As lâminas de carvão
ficaram um pouco mais altas. As flores desabrocharam.
Ao redor deles, os mosquitos de fogo zumbiam com curiosidade,
temporariamente distraídos pela próspera vida vegetal.
Meu poder se estendeu e cresceu para as trepadeiras-serpente, o
organismo mais planta do que réptil. Elas resistiram a mim no início,
descontentes com minha manipulação. Mas alguns toques suaves de
vivacidade as fizeram ronronar em vez de sibilar enquanto suas vinhas
engrossavam para uma forma mais robusta que deslizava com uma força
semelhante às rochas atrás delas.
Eu as acariciei em seguida. As gárgulas.
Elas eram feitas de pedra, seres da Terra, e eu as cerquei com meu
Elemento, casando a escuridão com a luz e dando-lhes um frescor e vigor
diferente de tudo que eles já haviam sentido antes. Senti a confusão e
surpresa delas, duas emoções que se transformaram em respeito e adoração.
Tudo aconteceu tão rápido, de forma tão natural e gentil que as outras
criaturas começaram a fervilhar de curiosidade ao invés de raiva. Elas
esperavam retaliação, uma luta. Mas em vez disso, mostrei-lhes afeto. Eu as
apresentei ao modo de existência Fae Elemental enquanto também provava
meu domínio sendo a responsável por sua restauração.
Vou cuidar de todos vocês, eu estava dizendo a elas. Fortalecê-los.
Empoderá-los.
O que não foi dito – o que todas as criaturas sabiam – era que elas
também eram minhas e eu poderia destruí-las.
No entanto, no fundo, eles podiam sentir minha relutância em
machucá-las.
Dei uma prova empurrando a vida para os pássaros de fogo que
haviam caído, exigindo que as asas deles batessem mais uma vez.
A habilidade de ressuscitar e reviver a vida veio da Fonte Sombria, Era
um traço de Sangue de Morte que eu entendi com um feitiço da mente de
Shade. Ou talvez tenha vindo de Zakkai. Todos os meus companheiros eram
tão parte de mim que eu podia escolher encantamentos à vontade, já que
minha conexão Quandary de Sangue me permitia escrever e reescrevê-los
sem pensar muito.
Então talvez tenha sido uma combinação de esforço, vindo dos dois.
Independentemente disso, funcionou, e os pássaros de fogo bateram
suas asas brilhantes enquanto decolavam para o céu mais uma vez. Zeph
desfez seu escudo, garantindo que os seres não fossem feridos novamente.
A outra criatura era um pica-pedra – o roedor raro parecido com um pássaro
conhecido por absorver e desmantelar feitiços.
Ele pegou meu encantamento para recuperar a saúde completa, então
correu para se esconder entre as trepadeiras.
A fênix foi a última. O grande pássaro era tão alto que olhei
diretamente em seus olhos multicoloridos enquanto voltava a ficar de pé
lentamente. Ele inclinou a cabeça, curiosidade florescendo em seu olhar
inteligente.
Nos comunicamos com nossos espíritos, o meu roçando o dele em um
elogio astuto por sua beleza e prestígio.
Ele respondeu, agitando as plumas deslumbrantes e se exibindo de
uma forma masculina que me lembrou um pouco dos meus companheiros.
Aposto que você faz isso para todas as garotas bonitas, humm? pensei para
ele.
Ele se endireitou, desfilando pelo chão e exibindo seu passo longo e
elegante.
Sim, você sabe que é bonito, eu disse a ele, levantando a mão. Ele deu
um passo à frente, sem medo, a segurança de ser um profundo predador
conhecido por desmantelar sua presa.
Sua cabeça emplumada se encostou em minha mão. As penas eram
deslumbrantes, suaves e acolhedoras.
— Muito bonito — elogiei.
Clove gorjeou no meu ombro em concordância.
A fênix se curvou em resposta, seu bico roçou meu estômago antes de
dar um passo para trás.
— Pássaro arrogante — ouvi Zeph murmurar para Kols.
— Se você tem inveja de uma fênix, suspeito que teremos problemas
mais tarde — Zakkai falou.
Zeph bufou.
Shade sufocou uma risada.
Eu apenas sorri, inclinando a cabeça em reverência para a fênix,
demonstrando igual apreciação. Ele soltou um grasnido alto em resposta,
chamando a atenção de várias criaturas enquanto expandia suas asas para
decolar.
Os corvos seguiram em seu rastro de vento.
E então um eco de pedras se movendo ecoou.
Me virei para ver as gárgulas atravessando os portões com suas armas
em punho em posição de batalha. Fiz uma careta, confusa por um momento
até que todos tomaram uma posição de saudação ao longo do caminho, com
os braços se erguendo para criar uma parede de pedra e espadas afiadas, as
pontas apontadas diretamente para o céu.
— Quanto tempo você levou para passar nesse teste? — Zeph
perguntou. — Uma semana?
— Nove dias — Kols respondeu. — Nove longos dias.
— Hum. — Zeph parecia achar graça.
— Ela tem a vantagem da Terra — Kols disse. Seu tom era leve e a
expressão cheia de orgulho. — Usando a vida para cortejar a vida.— Ele
assentiu em aprovação. — Muito eficaz, princesa.
Shade sorriu.
— Constantine vai ficar chateado. — Ele olhou para Zakkai. — Espero
que Tadmir registre sua reação.
Zakkai não parecia compartilhar a diversão. Sua expressão estava séria
enquanto analisava as gárgulas e as criaturas ao redor.
— Devemos entrar enquanto podemos. Se Constantine perceber que
ela passou com tanta rapidez, ele vai se envolver no próximo teste.
— Qual é? — questionei.
— Um tópico para quando passarmos por aqueles portões — Zakkai
respondeu, apontando para a entrada. — Depois de você, minha Rainha.
CAPÍTULO SETE
SHADE
MINHA AVÓ ESTAVA do lado de dentro dos portões com uma travessa de cookies. Seu
sorriso era acolhedor e conhecedor.
Porque ela previu aquele teste fora dos portões.
Um aviso teria sido apreciado, mas ela não era assim. Faes Fortunas
não queriam alterar o destino, apenas projetar caminhos potenciais. E eu fiz
o trabalho da minha vida para alterar o meu – daí Kols ao meu lado.
Minha avó lançou um olhar superficial sobre ele e seus olhos azuis
assumiram um brilho apreciativo enquanto estudava seu cabelo.
Arqueei uma sobrancelha, desafiando-a a dizer algo.
Ela não disse.
Ofereceu as guloseimas para que pudéssemos desfrutar enquanto se
apresentava formalmente a Zeph e Kols. Não me animei com os cookies,
porque sabia o que significavam: mais más notícias.
— Leve-os para conhecer o lugar — ela aconselhou. — E venha me
ver depois.
Assenti, sabendo que ela queria que eu a visitasse, não os outros. Mas
um olhar para Zakkai me disse que ele percebeu e participaria da reunião
comigo.
Escondi muitas coisas dele ao longo dos anos. Mas ele sempre parecia
saber, como se pudesse se lembrar das linhas do tempo, assim como eu. Eu
sabia era impossível – sua memória foi alterada com todas as outras.
Porém, sua habilidade Quandary de Sangue provavelmente permitiu
que ele sentisse as linhas de tempo alternativas. Ou talvez ele sentisse a
manipulação do poder.
Independentemente disso, ele suspeitava da minha interferência e
lealdades questionáveis em todo o nosso relacionamento. O que significava
que ele iria me seguir para a reunião ou comparecer ao meu lado.
O último era o preferido, especialmente porque nós dois estávamos
ligados à Aflora agora.
Ela caminhou ao meu lado enquanto eu fazia o tour que minha avó
sugeriu.
— É semelhante à outra Academia, pelo menos em termos de
arquitetura. Mas este campus não tem um dormitório ou prédio Sangue de
Morte, Elite de Sangue, ou qualquer coisa categorizada. Todas as classes
são combinadas, porque a maioria dos Faes são Quandary de Sangue. No
entanto, existem poucos de outras espécie. Há também outros tipos, como
Faes do Inferno. Faz parte do acordo de Lucifer com minha avó.
Entre outras coisas.
Eu não entendia tudo, pois o acordo antecedeu minha existência em
vários séculos, mas sabia que havia oportunidades educacionais envolvidas.
— Estes são os dormitórios — eu disse, apontando para uma série de
construções de estilo gótico. Era uma reminiscência dos outros terrenos da
Academia, emoldurados com escuridão e uma lua alta, mas não eram
exclusivos de uma única espécie Fae da Meia-Noite. E não precisavam de
feitiços para entrar.
As gárgulas se moviam mais aqui, andando ou voando para locais
diferentes em vez de residir atrás de portas.
Eles se curvaram para Aflora quando ela passou, sua reverência era
palpável. Mas ela estava muito ocupada estudando o campus para perceber.
— Aqui não tem lâminas de carvão — ela observou, olhando para um
pátio de obsidiana com rochas afiadas e sulcos perigosos.
Segurei seu cotovelo quando ela se inclinou para tocar o chão.
— Não.
Ela franziu a testa para mim, então ofegou quando um redemoinho de
fogo irrompeu em um gêiser de chamas furiosas.
— Mãe Terra...
Alguns Faes que passavam jogaram faíscas no poço, suas brasas
cerúleas dançando com as cintilações vermelhas e amarelas. Então tudo se
transformou em um tornado de calor e sugou o ar para dentro do buraco,
desaparecendo.
— É como... como um cipó ardente? — ela perguntou.
— Só que pior — respondi. — Existem certos aspectos do reino Fae
do Inferno que não podem ser apagados, então minha avó alterou o
paradigma para aceitar as nuances.
— Isso é fascinante. — Kols estava agachado no caminho de
paralelepípedos. Seu olhar cor de ouro queimado focado nas rochas negras.
— Eu posso sentir a fusão da magia.
Assenti.
— Sim, certas áreas do paradigma são mais fortes que outras.
— O prado? — Aflora se perguntou.
— Está em uma área neutra. Nem todo o Reino Fae do Inferno é fogo
e calor. É... esporádico. É por isso que outros Faes se recusaram a visitá-lo.
Bem, isso e o fato de que Faes do Inferno não aceitavam bem os
visitantes. Todos eram abominações, e Constantine Nacht era o inimigo
número um entre eles.
— Onde vamos ficar?— Zeph perguntou, com os braços cruzados
enquanto analisava o campo com uma expressão especulativa.
— Em um dos dormitórios nos fundos do campus — eu disse a ele.
Aflora pareceu desapontada.
— Não na sua cabana?
— Nossa cabana — eu a corrigi com um aperto em sua mão. — E,
não. Fica muito longe do terreno da Academia. Precisamos de espaço para
praticar e aprender, e não podemos fazer isso em nosso campo. Esses
edifícios são destinados ao treinamento e domínio da magia. Então é melhor
ficarmos aqui.
— Ah. — Ela curvou os lábios e lentamente inclinou a cabeça em
concordância.
Eu os conduzi, mostrando-lhes algumas das áreas acadêmicas e
recintos recomendados para a prática das artes ofensivas e defensivas.
Zakkai e Zeph se interessaram por elas, a natureza calculistas dos dois
assumindo o controle. Kols parecia levar tudo na esportiva, observando os
Fae da Meia-Noite e estudando a composição geral do paradigma.
Era tudo muito real – como os paradigmas deveriam ser – mas a
presença subjacente de Faes do Inferno espreitava na área ao redor do
campus. Principalmente por causa dos encantos de proteção. Como alguns
dos Faes mais poderosos de Lúcifer frequentavam a Academia, ele ajudou a
reforçar as defesas naturais ao nosso redor.
A aldeia onde minha avó morava não tinha a mesma sensação porque
estava em terreno neutro.
Usei um feitiço para dar um mapa para Aflora, explicando onde as
diferentes seções do paradigma residiam e como cada uma interagia com o
reino Fae do Inferno. Ela ficou boquiaberta e fascinada.
Zeph parecia estar memorizando tudo.
Zakkai apenas deu um sorriso apreciativo.
— Zenaida é inteligente. — Ele admirava o céu e os prédios, sua
aprovação era evidente. — Nunca considerei misturar elementos do jeito
que ela fez. Reforça a estrutura enquanto ajuda a misturar.
— Vai enviar anotações para o seu pai? — perguntei em voz alta.
Zakkai bufou.
— Duvido que ele vá querer falar comigo tão cedo. Afinal, salvei um
Nacht.
Verdade. Não importava que Kols fosse inocente na guerra. Seu avô a
tinha começado. E o Quandary de Sangue queria que a linhagem Nacht
fosse exterminada.
— Ainda sou considerado um Nacht? — Kols chamou uma nuvem de
magia para sua mão. As cores eram uma mistura rodopiante de roxo,
vermelho, cerúleo e verde. — Eu realmente não me sinto mais como um
Elite de Sangue. — As chamas se extinguiram em um movimento de sua
mão. Seu olhar cintilou com curiosidade e uma sugestão de algo mais. Não
era tristeza – senti conforto em fazer parte do nosso círculo de
companheiros prosperando através de nossa conexão. No entanto, havia
uma sensação de perda.
Por Tray, percebi.
Sim, Kols respondeu através do nosso vínculo aberto, o que lhe
permitia ter liberdade em meus pensamentos. Considerei afastá-lo, mas não
o fiz. O instinto me disse que ele precisava dos vínculos. Porque aquele que
ele havia estabelecido ao nascer estava sofrendo.
Ele não podia sentir Tray, mas as almas deles estavam unidas de uma
maneira única – algo que nunca seria cortado.
— Você ainda é um Nacht — eu disse. — Mas um bom. Assim como o
Tray.
Kols piscou para mim.
Mas foi Zeph quem falou.
— Isso foi um elogio? — Suas palavras soaram em choque. — Um
elogio honesto?
— Acho que sim — Kols respondeu, com humor em seu tom.
— Que estranho. — Os olhos verdes de Zeph encontraram os meus.
Havia um sorriso à espreita em suas profundezas. Provavelmente, uma
piada. Ou talvez eu o tivesse agradado. Era difícil dizer com o Guerreiro de
Sangue.
— Shade tem muitas camadas — Aflora falou, dissolvendo meu feitiço
do mapa e passando seus braços em volta de mim. Beijei o topo de sua
cabeça. Seu abraço me deixou à vontade.
Obrigado, pequena rosa, sussurrei.
Ela respondeu com um ronco no estômago, sua fome evidente.
Zeph sorriu.
— Alguém quer Mustard berries.
Aflora balançou a cabeça, murmurando o termo certo para ele como
sempre fazia.
O olhar do Guerreiro de Sangue brilhou com prazer, amando suas
brincadeiras.
Zakkai ignorou a todos, mantendo seu foco em mim. Seus olhos me
diziam que ele estava impaciente para se encontrar com minha avó. Ele
queria um briefing completo sobre a segurança e tudo o que acompanhava o
paradigma.
— O dormitório em que estamos hospedados é logo ali — falei,
acenando com o queixo sobre a cabeça de Aflora.
Os outros me seguiram, com a mão de Aflora na minha mais uma vez.
Há uma semana, isso teria parecido surreal – como um sonho. Sete linhas
do tempo terminaram em destruição e quase morte.
E a número oito levou a isso.
A uma união entre cinco Faes da Meia-Noite.
Eu sabia que não devia me alegrar com a vitória. Não estávamos nem
perto de terminar. Nos concentrar na unidade se tornou ainda mais
imperativo, com Constantine nos envolvendo neste novo jogo perigoso.
Zakkai e Zeph eram os que representavam a maior ameaça.
Dois machos alfa competindo pelo domínio.
Aflora era a chave para mantê-los na linha, e eu não estava totalmente
convencido de que ela tinha Zakkai sob controle.
Ele se moveu atrás de mim com passos silenciosos. Sua presença era
como uma ameaça e um conforto. O poder irradiava dele e sua conexão
com a Fonte rivalizava com a ascensão de Aflora.
Subi os degraus de pedra até as portas duplas do dormitório onde duas
gárgulas esperavam, com os olhos baixos em sinal de respeito.
Uma terceira estava lá dentro com o corvo de Kols empoleirado em
sua cabeça de pedra.
— Sir Kristoff — cumprimentei com falsa alegria. A pequena criatura
me detestava por causa de todos os meus encontros com o tempo. Ele não
sabia de todos os detalhes, mas possuía certas lembranças de Kyros e eu
distorcendo o destino em várias ocasiões.
— Sangue de Morte — ele murmurou. Então inclinou a cabeça. —
Senhora Aflora.
Ela fez uma pausa no meio de um passo, seus olhos azuis caindo para
o pequeno ser de pedra. A cabeça dele nem chegava aos joelhos dela.
— Senhora Aflora?— ela repetiu.
Kols se moveu para o outro lado.
— Você é a realeza ascendente, linda — ele explicou contra seu
ouvido. — E passou no seu segundo teste. Todas as criaturas respondem a
você agora.
— Transferi sua caixa para os novos aposentos, mestre Kolstov — a
gárgula o informou depois de se endireitar. — Nada foi negligenciado.
— É bom saber que sua lealdade é inabalável — Kols respondeu,
sorrindo.
— Eu nunca gostei de Constantine — Sir Kristoff murmurou. Seu tom
exibia uma pitada de emoção – um traço raro para uma gárgula. — Faminto
por poder e cruel.
Ele caminhou em direção às escadas, assumindo o cargo de anfitrião.
Minha avó só me disse que ficaríamos em algum lugar deste prédio,
mencionando algo sobre os jardins dos fundos. Felizmente, parecia que Sir
Kristoff sabia para onde nos levar.
— Todas as criaturas Faes da Meia-Noite sabem como encontrar esse
paradigma? — Aflora perguntou enquanto seguíamos atrás da gárgula.
— Eles sabem como localizar Faes da Meia-Noite — respondi,
soltando sua mão e colocando-a na parte inferior de suas costas enquanto
me movia ao seu lado.
— Isso significa que todos são permitidos aqui? — Sua mente
adicionou uma pergunta logo depois, me dizendo por que ela havia feito a
primeira. Se Kristoff pôde entrar, é possível que Constantine envie uma
gárgula menos leal ou algo pior? ela perguntou.
— Não — respondi para as duas perguntas. — Existem vários feitiços
e camadas de proteção que impedirão qualquer pessoa e qualquer coisa com
más intenções de cruzar a fronteira do paradigma.
— Eles não podem simplesmente usar um pica-pedra como naquele
dia no campus? — ela pressionou.
— As proteções dos Faes do Inferno não são algo que os pica-pedras
podem absorver e desconsiderar — assegurei a ela. — O que significa que
nem seriam capazes de atingir o limite do paradigma para tentar encontrar
os feitiços.
— Porque a criatura mal-intencionada seria destruída ao entrar nos
portões de Lucifer — Zakkai acrescentou logo atrás de nós. —
Configuração extremamente útil, e também porque sua avó nos concedeu
aquela reunião na outra semana. Ela sabia que eu tinha boas intenções.
Dei de ombros.
— A cautela é o que a mantém viva.
— É mais do que cautela, Shadow. Zenaida é brilhante. — A
convicção em seu tom me disse que o elogio era sincero.
Assenti e continuei subindo até certo ponto das escadas, onde a gárgula
parou, indicando nosso andar. Era quase impossível saber em que nível
estávamos, porque os degraus continuavam subindo até terminarem em um
andar com uma única porta.
— Feitiços de ocultação — Zakkai comentou. — Como eu disse,
brilhante. — Ele deu um passo atrás de Aflora, apoiando as mãos em seus
quadris e prendendo a minha entre o abdômen e a parte inferior das costas
dela. — Você pode sentir a magia, estrelinha? Todos os fios secretos
pulsando pelo chão e escondendo os quartos, exceto aqueles que deveriam
ser nossos?
Ela se inclinou para o meu lado e de volta para ele, permitindo-nos
segurá-la enquanto ela considerava os encantos do edifício.
— É... intenso.
— É lindo — Zakkai sussurrou. — Como você. — Ele beijou seu
pescoço, então apoiou o queixo em seu ombro. — Mas você pode ver
através dele? A energia elétrica por detrás?
— Eu sinto — ela admitiu. — Mas não entendo.
— Feche os olhos — ele murmurou, passando os braços ao redor de
sua cintura enquanto minha mão permanecia entre eles. Isso criou uma
conexão íntima entre nós três, Zakkai não pareceu se incomodar com o fato
de eu ficar perto enquanto ele engajava seu elo mental para orientá-la na
lição mágica.
Seus grossos cílios pretos se espalharam pelas maçãs do rosto
enquanto ela fazia o que ele havia instruído, abrindo seus lábios para o que
quer que ele tivesse soltado dentro dela.
Kols e Zeph trocaram um olhar enquanto Sir Kristoff estava parado no
corredor.
A estática zumbia no ar enquanto Zakkai e Aflora falavam
mentalmente um com o outro e, após vários minutos de intenso silêncio,
Aflora abriu os olhos mais uma vez.
— Em que andar estamos, estrelinha? — Zakkai perguntou.
— Quarto andar. Ala sete.
— Muito bem — ele elogiou, beijando seu pescoço novamente. —
Muito bem. — Ele a soltou, seu foco se voltou para a gárgula. — Continue.
Sir Kristoff fez uma reverência sutil, reconhecendo Zakkai como
superior por causa de seu papel de Arquiteto da Fonte. Ou talvez porque ele
era o companheiro de Aflora. Independentemente disso, a gárgula nos levou
ao nosso quarto, passando pela porta em uma sala de estar cercada por
janelas.
Arqueei as sobrancelhas para o pátio.
— Quarto andar?
— Outra ilusão impressionante — Zakkai falou. — É um jardim no
terraço, acima de um dos quartos.
— Cheio de plantas reais. — Aflora praticamente correu, a curiosidade
substituindo a necessidade de comer, porque ela passou pela cozinha e a
área de jantar aberta. Zakkai fez um feitiço à sua frente para abrir as portas
de vidro, permitindo que ela corresse direto para o jardim de flores e
árvores.
Nós quatro rimos com sua animação, então Zeph foi atrás dela e se
encostou na porta.
— Você vai se despir como da última vez, linda flor?
Isso despertou o interesse de Zakkai.
— Ela se despiu em um jardim?
— No Central Park. — Zeph não tirou os olhos dela enquanto falava.
— Os humanos não aprovaram.
Aflora murmurou algo sobre só tirar o suéter da última vez antes de
cair em uma pilha de grama verde embaixo de uma árvore.
— Ah, tão lindo!
Contraí os lábios com sua diversão. Então olhei para a lua alta. Esta
parte do paradigma nunca via o sol, por isso era difícil determinar a hora.
No entanto, eu suspeitava que minha avó me esperava a qualquer minuto.
Olhei ao redor da sala de estar, localizei um corredor e passei por
quatro portas de quartos diferentes, todas abertas. O maior ficava no final
dele, onde encontrei um closet cheio de roupas. A maioria era feminina e
parecia ser do tamanho de Aflora. Havia também uma cômoda com quatro
varinhas.
Porque a Aflora ainda não tinha a sua.
Estranho que a Fonte sombria ainda não a tivesse presenteado.
Com um aceno, peguei a minha e me virei para encontrar Zakkai.
— Quer sua varinha? — perguntei a ele.
— Não. Deixe-a para a Aflora.
Boa resposta, pensei. Ele me seguiu para a sala de estar, onde Zeph e
Kols estavam assistindo Aflora em seu Elemento. Ela se perdeu
completamente em sua natureza Fae da Terra. Raízes dançavam pelo chão
enquanto ela renovava o solo com vida, fazendo com que as árvores se
alongassem e as flores desabrochassem.
— Preciso me encontrar com minha avó antes que ela me chame — eu
disse a eles. — Podem cuidar para que Aflora se lembre de comer alguma
coisa? — Porque eu suspeitava que ela tinha se esquecido da fome que
sentia.
Zeph assentiu sem olhar para mim.
Zakkai não se incomodou em comentar, apenas se virou para mostrar o
caminho.
Porque nós dois sabíamos que ele iria comigo, e ele não sentiu a
necessidade de mencionar isso para os outros.
Em vez de comentar, eu o segui e assegurei que minha conexão com a
Aflora permanecesse aberta. Era a minha maneira de dizer que não haveria
mais segredos.
O que quer que minha avó dissesse, eu compartilharia.
Porque Aflora e eu estávamos finalmente em um caminho verdadeiro –
como companheiros totalmente unidos.
Não havia mais linhas do tempo alternativas. Nem Paradoxos Fae. Só
havia um caminho a seguir, com nós quatro ao seu lado.
Não demore, ela sussurrou para mim, reconhecendo que eu tinha ido
embora.
Não estarei longe, prometi.
Eu sei, ela respondeu. Assim como sei como te encontrar. Ela soprou
um feitiço em minha mente, me dizendo que não apenas aprendeu a usar
minha habilidade de desaparecer, mas também a memorizou.
Bom, eu murmurei. Coma alguma coisa.
Hum-hum, ela murmurou enquanto sua mente ronronava com vida e
Terra mais uma vez.
Ri baixinho quando saímos do prédio.
— Quando tudo isso acabar, precisamos encontrar um lugar com um
jardim de verdade para ela.
— Para que possamos vê-la brincar nua? — Zakkai perguntou.
Contraí os lábios.
— Entre outras coisas.
Muitas outras coisas.
CAPÍTULO OITO
AFLORA
AFLORA ESTAVA SENTADA à mesa de roupão, com o cabelo escuro caindo em ondas
úmidas sobre os ombros. Ela tinha um brilho satisfeito em suas feições,
com as bochechas rosadas pela alegria do banho.
Zeph a pegou por trás enquanto eu me ajoelhei e adorei seu clitóris.
Então eu a comi contra a parede.
Ela absorveu tudo. Seus gemidos de prazer eram um som residual na
minha cabeça enquanto eu girava a massa no garfo.
Seus olhos azuis caíram para o meu prato, franzindo a testa. Macarrão
sangrento e porcaria marrom.
Eu ri, me lembrando da nossa primeira refeição juntos.
— Espaguete e almôndegas — eu a corrigi antes de dar uma mordida.
Ela fez uma careta e pegou sua versão de sanduíche.
Zeph também tinha um em seu prato. Ele parecia estar fazendo um
esforço consciente para comer a culinária Fae Elemental com ela. Mas senti
seu desgosto pela textura encharcada quando mordeu.
Eu sorri. Em seguida dei outra garfada do meu prato da culinária
italiana favorito.
Embora as comidas fossem semelhantes às da nossa primeira noite
juntos, os sentimentos ao redor da mesa não poderiam ser mais diferentes.
Confiança e carinho flutuavam entre nós.
E só se fortaleceu quando Shade e Zakkai voltaram.
Os dois beijaram a cabeça de Aflora e vasculharam a geladeira,
totalmente abastecida, em busca de algo para comer.
Eles optaram por se juntarem a mim no espaguete, fazendo Aflora
torcer o nariz.
Então Zeph a distraiu com um prato de bife de dragão, e ela não
pareceu mais se importar com nada além da carne na sua frente.
Balancei a cabeça, achando graça de suas travessuras.
Comida era o caminho para seu coração.
Zeph acenou com a varinha para adicionar uma rodada de canecas à
mesa, todas cheias de hidromel. Os olhos de Aflora brilharam com
aprovação. Então ela olhou para mim.
— Agora seria um bom momento para a lição de ascensão.
Contraí os lábios. Durante nosso primeiro jantar, discutimos a ordem
dos Faes da Meia-Noite em alto nível. E agora, ela queria chegar ao cerne
da questão revisando os testes.
— Primeiro, quero saber se a avó do Shade tinha algo interessante a
dizer — Zeph interveio, seu olhar focado no Sangue de Morte. — Chega de
segredos, Shadow.
Shade passou os dedos pelo cabelo grosso e escuro, e relaxou em sua
cadeira.
— Eu não sou o Kols. Não aceito ordens.
Eu bufei.
— Se você acha que aceito todas as exigências dele, você não me
conhece. — No quarto, cedia a alguns comandos de Zeph. Mas só porque
eu gostava da recompensa de apaziguar seu lado sádico.
— Shade — Aflora interveio, com voz suave mas cheia de autoridade.
— Por favor.
A expressão dele se aqueceu com suas palavras.
— Qualquer coisa para você, pequena rosa.
Zeph grunhiu.
Eu apenas sorri e tomei um gole do hidromel.
Shade ofereceu um breve resumo de sua discussão com a avó,
concentrando-se nas partes importantes. Que eram principalmente sobre as
provações e o pedido para que todos nós nos preparássemos. Conselhos que
realmente não precisávamos, mas eu entendia que Zen sentia a necessidade
de enfatizar a importância de nos prepararmos para as provações.
— Temos que trabalhar como uma unidade — Shade concluiu. — Essa
é a essência do que ela estava dizendo. — Seu foco mudou para um
silencioso Zakkai. — Tenho certeza de que toda a palestra foi para você.
— Eu entendi depois da terceira frase — Zakkai respondeu sem
rodeios. Seus olhos azul-prateados encontraram os meus. — Mas acho que
também havia uma palavra de cautela em relação a certos testes...
— Respeito e unidade — murmurei, pensando no resumo de Shade
sobre o que Zen disse.
— De fato. — Zakkai pousou o garfo. — Esses serão os maiores
desafios, pois Constantine está afirmando que o Arquiteto da Fonte
redirecionou o poder de você para Aflora. Ele também fez todos
acreditarem que eu estava com Malik, o que não é verdade. — Ele olhou
incisivamente para todos nós enquanto dizia essa última parte.
— Sei que não — eu disse, meus instintos me dizendo que essa
afirmação era necessária. — Eu só encontrei meu avô algumas vezes, mas
ficou bem claro que ele é um excelente estrategista. — Era uma verdade
que eu não podia negar. — Mas juntos, vamos vencê-lo. — Minha atenção
se desviou para Aflora ao meu lado. — O que nos leva aos testes de
ascensão.
— Sim — ela concordou.
— São sete — comecei. — Eles podem vir em qualquer ordem, mas
historicamente seguem um padrão específico. Embora, com meu avô no
comando, é possível que esse padrão seja alterado.
Comecei a explicação sobre como o atual monarca costumava a
organizar os testes. Com o Rei Fae da Meia-Noite sendo o mais próximo da
Fonte Sombria, fazia sentido que ele os promovesse.
— No entanto, meu pai está possuído. — Fiz uma careta. — É por isso
que acredito que meu avô irá liderar as provações, principalmente porque
foi ele quem forçou a ascensão a você.
— Também uma avaliação justa, já que ele orquestrou dois em um só
dia — Zakkai acrescentou.
Assenti.
— Meu pai nunca faria isso. Nem forçaria Aflora a ascender dessa
maneira. — Meu pai valorizava sua conexão com a Fonte Sombria e levava
seu manto a sério. Ele nunca arriscaria forçar o poder a um Fae que não
fosse da Meia-Noite. Nem forçaria outro a se tornar uma abominação.
Não, isso era a cara do meu avô.
E o fato de ele estar dizendo mentiras sobre a ascensão para todos os
outros apenas confirmou sua orquestração dos eventos.
— Há sete tentativas — continuei. — Confiança e criaturas são as duas
pelas quais você já passou, a primeira é testar suas conexões, provando seu
valor por meio de um teste de confiança. O segundo é conquistar todas as
criaturas do mundo Fae da Meia-Noite.
— E criaturas em geral — Zakkai interveio. — Pelo menos, como
Arquiteto da Fonte, tive que conquistá-los por causa da singularidade de
minhas habilidades.
— Eu só tive que conquistar aqueles que residem no reino Fae da
Meia-Noite — esclareci.
— Interessante. — Zakkai pegou o garfo novamente para continuar
comendo, me dizendo com os olhos para continuar.
— Os outros testes giram em torno da aceitação, unidade, sacrifício,
respeito e a ascensão final da Fonte. Esses podem ser entregues através de
uma variedade de meios. Meu teste de aceitação foi o mais fácil para mim,
porque se tratava de aceitar o poder da Fonte Sombria e entender o que ela
poderia fazer. Como filho do atual rei, nasci entendendo e aceitando meu
lugar. A unidade foi meu quarto teste, que se concentrou em você.
— Porque seu pai queria que você trouxesse as facções para uma
decisão unificadora sobre o destino dela — Zakkai concluiu. — Inteligente.
— Qual era a sua? — perguntei em voz alta.
— Unir os Quandary de Sangue que queriam vingança — ele
respondeu. — O que, quando se considera isso, parece o oposto de unidade,
já que dividiu os Quandary de Sangue em duas facções.
— Você ganhou o respeito de ambos os lados através de sua liderança
— Shade disse em voz baixa. — Minha avó pode não concordar com os
pensamentos de vingança, mas ela sempre honrou sua ascensão e seu lugar
de direito como Arquiteto da Fonte.
Zakkai assentiu em reconhecimento.
— É por isso que os dois lados nunca guerrearam. Algo que temo estar
prestes a mudar depois do que ela disse sobre o desagrado de meu pai.
Shade apertou os lábios.
— Vamos cruzar essa ponte quando chegar a hora.
— Você espera que ele venha até aqui? — perguntei, escolhendo
traduzir literalmente a declaração de Shade ao invés de permitir que a
resposta enigmática pairasse indefinida no ar.
— Sim. — Os olhos cor de gelo de Shade encontraram os meus. —
Sim, espero.
— Ele vai querer discutir novos termos — Zakkai acrescentou. —
Pode servir como teste de unidade da Aflora.
— Meu avô nunca orquestraria isso.
— A Fonte pode não dar a ele uma escolha — Zakkai apontou. —
Nem todos os testes podem ser controlados. E eu também sou o Arquiteto,
então tenho alguma opinião sobre como as coisas progridem.
— Justo — concordei. — Bem, eu falhei no meu teste por não reunir
os Faes. — Um fato que me assombraria para sempre, mas não tanto quanto
quase ser morto pelas mãos do meu pai.
— Não, você não falhou — Zeph inseriu. — Você ainda estava no
meio de seu teste, mas Constantine assumiu e destruiu sua capacidade de
passar.
— Ele tem razão. — Zakkai girou o garfo em torno de um pouco de
macarrão enquanto Aflora observava com evidente desgosto. — Na
verdade, imagino que a Fonte Sombria concordaria com sua escolha.
Principalmente porque aceitou a candidatura de Aflora para rainha. Você a
manteve viva para que ela pudesse ascender. Esse é um resultado bem-
sucedido, não um fracasso.
Eu não havia considerado esse ponto de vista, mas era uma avaliação
justa, e eu preferia essa a que fazia.
— Você pode não ter unificado os Faes da Meia-Noite, mas quando
Aflora o fizer, os dois passarão — Zakkai concluiu, a segurança em seu tom
não tinha qualquer nota de hesitação.
— Certo, mas e se eu desfizer a ascensão? — ela perguntou.
Todos nós ficamos em silêncio.
Ela disse isso algumas vezes e, embora fosse possível, eu temia o
resultado dessa decisão.
Zakkai quebrou o silêncio, devolvendo o garfo ao prato e perguntando:
— Por que você quer desfazê-la?
— Porque é errada. — Ela pronunciou as palavras como se fossem
óbvias. — Eu sou uma Fae da Terra, não uma Fae da Meia-Noite.
— Sim, você já disse isso, mas está acasalada com quatro Faes da
Meia-Noite. E como você testemunhou, nossa magia sangra em nossos
companheiros quando nos unimos. — Ele levantou o dedo e sussurrou um
feitiço que criou uma estrutura cerúleo esfumaçada no meio da mesa. À
medida que crescia, percebi que ele havia criado uma espécie de árvore,
onde os fios mágicos brilhavam com galhos multicoloridos.
Aflora admirou com um leve sorriso.
— Vejo isso dentro de você — Zakkai murmurou. — Você criou uma
Fonte conjunta de magia, casando sua herança Fae da Terra com o sangue
Fae da Meia-Noite correndo em suas veias. — Ele olhou de forma incisiva
para as linhas pretas como tinta se contorcendo sob sua pele.
— Fiz isso para sobreviver à ascensão.
— Você fez isso para se tornar rainha — ele corrigiu. — A Zenaida
está certa sobre algumas coisas. Precisamos de reforma. E acredito que você
é a chave para ela.
— Um milênio de autoridade liderada por homens — Zeph comentou.
— Derrubada por uma mulher.
— E uma abominação — Zakkai acrescentou. — Você tem o poder de
provar a todos os tipos de Faes que as abominações podem ser boas, Aflora.
Que elas não precisam ser temidas.
— Constantine Nacht é a razão pela qual os Faes caçam e matam
abominações. — Zeph olhou para mim e depois para Aflora. — Seria
inteiramente apropriado que você desmantelasse seu trono provando que ele
está errado.
— Seria — admiti. Constantine Nacht pode ser meu avô, mas isso não
o impediu de tentar me destruir. E eu pretendia retribuir esse favor.
— Vocês fazem isso parecer tão fácil — Aflora murmurou. — Mas e
se eu me tornar a abominação que todos temem? Elana...
— Não é você — Zeph a interrompeu, não permitindo que ela
terminasse esse pensamento.
— Você só pensa nos outros e no que é certo para o seu reino — eu
disse calmamente. — É o que faz de você uma rainha adequada, Aflora. É
por isso que minha alma pediu a sua desde o início, porque eu considerei
você uma companheira digna o tempo todo. Você é tudo que um membro da
realeza deveria ser, e muito mais.
Os outros concordaram.
— E se eu não quiser? — Aflora perguntou em um sussurro baixo. —
E se eu não quiser ser a Rainha Fae da Meia-Noite?
— Você não será — respondi, com a voz bem baixa. — Mas isso te
torna perfeita para a tarefa. Você vai aceitar o papel, porque é o certo, não
porque você deseja. Mas porque você sabe que é a melhor para o trabalho.
— Estendi a mão para segurar seu rosto, traçando sua bochecha com o
polegar. — Você nasceu para ser rainha, Aflora. Você é forte. Esperta. Você
é uma sobrevivente. Você vai fazer história e mudar a todos nós.
— E nós vamos ajudá-la a cada passo do caminho — Zeph prometeu,
pegando sua mão.
A árvore sobre a mesa começou a pulsar, como um coração.
— Confie em nós para guiá-la e ensiná-la — Zakkai falou. — Nós
somos seu coração por uma razão, estrelinha.
— E eu não passei por sete vidas para falhar agora — Shade
acrescentou. — Estamos nisso para a eternidade, Aflora. Não só agora. Mas
para sempre.
— Não vamos decepcioná-la — sussurrei, puxando-a para um beijo.
— Para nós, você já é nossa rainha.
Ela estremeceu e se derreteu contra mim.
— Vocês vão me matar.
— Só no quarto — Zeph falou.
Aflora deu uma risada e balançou a cabeça, com lágrimas brilhando
em seus olhos azuis.
— Obrigada por acreditarem em mim.
— Nós seremos a crença que você precisa quando duvidar de si
mesma — prometi a ela. — Mas você está errada sobre uma coisa.
Ela se acalmou.
— Sobre o quê?
— Com certeza, não será fácil — eu disse. — Podemos fazer parecer
que sim, mas sabemos o que está por vir.
— É por isso que precisamos começar a treinar imediatamente —
Zeph respondeu.
— Verdade — Zakkai concordou, encontrando o olhar do meu
Guardião. — Já tenho uma agenda de cursos em mente.
— Bom — interrompi antes que Zeph pudesse exigir um relatório
completo. — Tradicionalmente, os Faes da Meia-Noite ascendem em seu
vigésimo quinto ano, dando-lhes tempo suficiente para se preparar. Mas
com meu avô absorvendo a Fonte Sombria e forçando-a em Aflora, as
regras mudaram. Vamos precisar de toda a estrutura que conseguirmos.
As ascensões eram poderosas.
E a de Aflora seria lendária.
Tínhamos que começar a nos preparar.
— O que acontece se eu ascender por completo? — Aflora perguntou
depois de um instante, com a expressão hesitante.
— Quando — corrigi. — Quando você ascender por completo, você se
tornará uma das abominações mais poderosas que existem.
CAPÍTULO DEZ
ZAKKAI
ESCOLHI o quarto mais próximo da sala de estar, preferindo ser a primeira linha
de defesa. Pareceu funcionar bem para Kolstov e Zephyrus, que decidiram
ocupar o maior, no fim do corredor, juntos. Shade escolheu o quarto ao lado
do meu. E Aflora... dispensou seu quarto para se juntar a Kolstov e
Zephyrus.
Mas eu a senti acordada.
Sem descansar.
Andando de um lado para o outro.
Me sentei e encontrei Zimney enrolado ao pé da minha cama. Ele
levantou as pálpebras rapidamente antes de fechá-las mais uma vez. Não
vou me mexer, ele estava dizendo.
Bufei e escorreguei das cobertas para vestir uma calça de pijama. A
avó de Shade abasteceu nossos armários e quartos com tudo o que
precisávamos. Se ela fez isso sozinha ou contratou alguém, eu não sabia.
Mas a agradeci mentalmente. Isso facilitaria nossa vida.
O fato de ela saber quais cômodos iríamos escolher – evidenciado pelo
tamanho correto de nosso guarda-roupa – serviu como uma demonstração
de poder. Ela previu nossas escolhas. Ou talvez ela apenas nos conhecesse
bem o suficiente para saber onde iríamos dormir.
Saí para o corredor, procurando sinais de vida e ouvi o deslizar suave
de papel contra papel. Seguindo o som vindo da sala de estar, encontrei
Shade lendo no menor dos dois sofás. A parte superior do seu corpo estava
exposta, já que ele usava uma calça de pijama semelhante à minha.
Seus olhos cor de gelo permaneceram no livro quando ele disse:
— Ela está lá fora.
— Você deveria estar dormindo — eu disse a ele.
Ele deu de ombros.
— Queria estar por perto caso ela precisasse de algo.
Parecia que eu não era o único com o gene protetor
— Vou ficar de olho nela — eu disse, com a voz baixa. — Vá
descansar, Shadow. Você fez o suficiente nos últimos dias, e todos nós
precisamos de suas reservas restauradas.
O treinamento da Aflora começaria oficialmente amanhã. Eu
desenvolvi um currículo intenso – algo que Zephyrus fortaleceu e Kolstov e
Shade aperfeiçoaram. Exigiria que todos nós estivéssemos no nosso melhor,
não exaustos.
Shade colocou o livro na mesa.
— Ela também precisa descansar. — Ele se levantou e esticou os
braços. — Talvez você seja o mais adequado para convencê-la.
— Farei o meu melhor.
Ele contraiu os lábios quando se aproximou.
— Você vai ter que fazer melhor que isso. Ela é teimosa.
— Eu sei como lidar com seu lado teimoso — garanti.
Ele deu uma risada seca antes de seguir pelo corredor em direção ao
quarto. Quando a porta se fechou, fui até a mesa, curioso para ver o que ele
havia escolhido para ler. Sorri com o título, familiarizado com a trilogia
fictícia do Reino Humano sobre hobbits.
Parecia justo Shade se entregar a um conto tão épico.
Deixando o livro de lado, caminhei para fora, para a beleza deitada no
chão. Parecia que ela havia parado de andar e preferiu admirar o céu.
— Não é real — ela me disse quando me aproximei. — Mas parece.
— É real até certo ponto — respondi, me sentando ao seu lado na
cama macia de grama verde.
A textura firme e a vida me disseram que ela a reforçou com seu poder,
garantindo sua força sob nossos corpos. Me inclinei para trás para me
deitar, roçando os dedos nos dela enquanto alinhava nossos braços. Seus
dedos flexionaram em direção aos meus, se curvando nas pontas para me
segurar do seu jeito.
— O reino Fae do Inferno tem estrelas? — ela perguntou.
— Imagino que sim em certas áreas, mas não explorei para ter certeza.
— Meu paradigma ficava no Reino Humano, na Antártida, onde havia
muitas estrelas à noite. Não que alguém pudesse se aventurar para admirá-
las.
Ela inclinou a cabeça para mim, com os olhos azuis cheios de
perguntas. Mas não deu voz a nenhuma delas. Em vez disso, apenas estudou
minhas feições, satisfeita em ficar ao meu lado por um momento em
silêncio.
Segundos se transformaram em minutos enquanto nos olhávamos, com
milhares de palavras não ditas e memórias flutuando entre nós.
Então ela se inclinou para roçar seus lábios nos meus.
Um símbolo de confiança.
Um presente de gratidão.
Nós fomos melhores amigos no passado, quando nossas vidas eram
cheias de uma inocência infantil que nenhum de nós jamais havia entendido
por completo. Tínhamos nos unido e nos amado de uma maneira destinada
às crianças. E agora éramos adultos, e nossa conexão mudou e cresceu em
algo muito diferente.
Era uma ligação provisória fundada na confusão.
Aflora não tinha entendido meus motivos ou meu propósito, assim
como eu não tinha compreendido plenamente seus desejos na vida. Mas
algumas semanas juntos abriram nossos olhos para um mundo totalmente
novo de existência, onde nossos objetivos aprenderam a se entrelaçar e
crescer como uma unidade, e não como fios separados.
Minha doce estrelinha nos fundiu, amarrou nossas raízes em um nó de
amor na Fonte de nossos seres e garantiu que estivéssemos unidos para
sempre.
Em essência, ela capturou meu coração. Eu não tinha certeza de como
ou quando isso tinha acontecido. Talvez na nossa infância. Ou durante
aquele primeiro sonho quando ela exigiu que eu a agradasse sem nem
perguntar meu nome. Quem sabe foi quando ela lutou comigo no meu
quarto logo depois de acordar.
Talvez ela sempre tenha minha dona.
Rolei de lado para encará-la, preferindo admirá-la sob a noite
estrelada. Colocando o braço debaixo da cabeça, apoiei a outra em seu
abdômen, passando o dedo mindinho por baixo do tecido de sua regata para
acariciar a pele quente.
Ela não se moveu, mantendo os olhos nos meus enquanto
continuávamos a olhar um para o outro.
Sem palavras.
Apenas o som da noite e o leve farfalhar de folhas e flores,
respondendo à rainha entre eles.
Seus cílios tocavam as maçãs do rosto enquanto ela piscava e os lindos
traços cativavam toda a minha atenção.
Eu poderia olhar para ela por horas e nunca me cansar.
Ela possuía tanto poder quanto força, e a marca da fonte a destacava
corretamente como um membro da realeza. Fitas cerúleas brilhavam em seu
cabelo escuro, iluminando suas feições e proclamando-a como minha
companheira. Afastei a mão de seu estômago para passar os dedos por seus
fios macios, sorrindo enquanto sua energia beijava minha pele.
— Você é tão linda que dói — eu me maravilhei, completamente
consumido por ela e pela vitalidade que ela emanava. Passei o polegar por
sua mandíbula, com um toque instintivamente reverente. — Sei que você
está preocupada com os testes e com a união de suas fontes de poder, mas
você nasceu para isso, estrelinha.
Sua confiança continuou a vacilar através de nossos laços.
Não que ela não acreditasse tanto em si mesma, mas questionava se
esse era ou não o caminho certo.
— Você cresceu ouvindo que abominações são más — continuei
baixinho. — Mas eu cresci sabendo que abominações também podem fazer
o bem. Olhe para a Academia ao nosso redor. Isso aqui existe por causa da
Zenaida, que, por todos os direitos, é uma abominação. E ela trabalhou com
o Lucifer, o rei inequívoco das abominações, para criá-la. Parece errado isso
aqui? Ruim? Sombrio? Nefasto? Ou você sente a vida e o amor neste
paradigma como eu sinto?
Sentimentos semelhantes existiam em meu próprio paradigma, aquele
que eu havia criado para os que eram a favor da vingança. Mas por baixo
dessa vida havia um sentimento de raiva e ressentimento em relação a
outros Faes.
O que senti aqui era uma promessa subjacente, um verdadeiro senso de
propósito para o futuro.
Sem violência ou desejo de derramamento de sangue.
Apenas um desejo de aprender e trabalhar juntos.
Uma demonstração de unidade – algo que eu esperava que fosse útil
para Aflora mais tarde.
— Paz — ela sussurrou. — Aqui me sinto em paz. Protegida. Segura.
Como se pudesse ser quem sou sem me preocupar com a punição.
Assenti.
— Porque todos podem ser quem são aqui. Abominações que só
querem viver, não lutar. E não é só dentro desse paradigma, Aflora. Você
também está percebendo isso do reino Fae do Inferno. Eles são uma raça de
seres que foram evitados por tanto tempo que construíram sua própria
sociedade para escapar dos outros.
— Alguns deles estão com raiva — ela disse em voz baixa. — Sinto a
ira deles como um peso contra minha alma. Mas outros estão apenas
cansados. Eles querem ser aceitos.
— E você pode ajudá-los nessa missão — eu disse a ela, traçando o
polegar em sua bochecha no meu caminho para acariciar seu cabelo mais
uma vez. — Ser uma abominação não a faz uma estrelinha má. A alma é
corrupta com ou sem poder. Constantine é a prova disso. Ele é um Fae da
Meia-Noite que destruirá tudo e qualquer um que resista à sua metodologia
de ordem. Caramba, ele tomou um conselho inclusivo que trabalhou em
unidade e os colocou contra seus próprios corações – as mulheres que são
as verdadeiras figuras de proa.
Era desprezível, errado e tão habilmente elaborado, que não pude
deixar de sentir um pingo de respeito pelo cretino.
Meu pai costumava dizer que admirar os inimigos era compreendê-los
e nunca subestimá-los.
Eu entendia isso agora.
E eu nunca subestimaria Constantine novamente.
— Constantine teve sucesso porque sabia que fraqueza explorar —
continuei. — Emoção. O que precisamos fazer é mostrar a ele como a
emoção pode ser poderosa, demonstrando o quanto nossos laços juntos
podem ser poderosos.
Pressionei a mão no chão do outro lado de sua cabeça, usando-a para
me equilibrar enquanto me inclinava para roçar meus lábios nos dela.
— Nós vamos treiná-la, estrelinha. Vamos ajudá-la em cada teste. Nós
vamos garantir que você se torne a rainha mais poderosa que os Faes já
viram. — Cobri sua boca com a minha mais uma vez, baixando a voz para
um sussurro. — E quando você ascender por completo, vamos nos ajoelhar
aos seus pés e mostrar a esses Anciões como é um conselho de verdade.
Ela olhou para mim por um instante.
— Me beije.
Rocei a boca na dela, demorando por meio segundo antes de me
afastar para estudar suas feições.
— De novo — ela sussurrou.
Uma variedade de comentários povoou meus pensamentos, vários
deles provocações em relação a seus outros companheiros a deixarem
carente por mais. Mas, em vez de pronunciá-los, aderi ao seu comando
sensual, desta vez entreabrindo seus lábios com minha língua para saboreá-
la adequadamente.
Nós nos envolvemos em sonhos, o que resultou em eu usar algo muito
parecido com isso enquanto eu a agradava com minhas mãos e boca.
Mas eu queria experimentar a verdadeira Aflora. O ser físico. Minha
companheira.
Senti-la debaixo de mim, passando as mãos em minhas costas, era
muito melhor do que uma fantasia. Ela me conhecia agora. Ela me aceitava.
Confiava em mim. Ela podia me sentir, não apenas em cima, mas dentro
dela.
E ela me queria.
Senti seu anseio, seu reconhecimento inato do que significávamos um
para o outro e sua subsequente felicidade com nossa conexão.
Sem pavor. Sem dúvidas. Nenhuma recusa.
Apenas aceitação pura e não adulterada.
Foi uma percepção surpreendente saber que minha companheira me
desejava do mesmo jeito que eu, que ela me considerava seu, assim como
ela era minha.
— Aflora — sussurrei, aprofundando nosso beijo com as palmas das
mãos pressionadas em suas bochechas para incliná-la adequadamente.
Ela passou as unhas por minhas costas. Seu toque era impaciente, mas
carinhoso.
Aflora queria mais.
Ela me queria.
Queria isso.
Estive com outras mulheres, mas nunca me senti conectado a nenhuma
delas. Elas não eram minhas. Não eram Aflora. Era algo que eu não tinha
entendido na época, já que minha intenção sempre foi apenas me relacionar
com Aflora para sua proteção e como uma dívida a ser paga aos pais dela.
Então eu a vi novamente.
Eu a senti.
Adorei-a com a minha língua.
E nunca cheguei a tal conclusão como naquele momento.
Até agora.
Até me acomodar entre suas coxas e sentir suas pernas me envolverem
em calorosas boas-vindas.
Até provar o desejo em sua língua e sentir seu centro contra minha
excitação crescente. Mesmo através das minhas roupas, eu sabia que ela
estava pronta para mim, que ela me queria – seu companheiro – seu Kai.
Não sabia que o sexo poderia ser assim, com tanta paixão, calor e
desejo.
Eu a observei com seus outros companheiros, vi como eles a
agradavam, como ela se desfez com eles com tanta devoção e graça.
Queria fazer tudo com ela agora, ser aquele por quem ela clamaria,
finalmente reivindicando minha companheira da maneira mais tradicional.
— Sim — ela sussurrou contra meus lábios. — Sim.
Eu não tinha perguntado. Não expressei o desejo. Mas ela sentiu em
minha mente, em nosso vínculo, seu coração respondendo ao meu apenas
por instinto.
No entanto, não queria fazer isso aqui. Queria ficar sozinho, acariciá-la
atrás de portas fechadas para que esse momento fosse só nosso.
Eu me levantei e a peguei em meus braços, carregando-a para o quarto
que agora era meu. Zimney estava longe de ser visto. Provavelmente
sentindo minhas intenções, o lobo correu para brincar em outro lugar.
A porta se fechou silenciosamente atrás de mim, assim como meus
passos eram silenciosos contra o tapete branco.
Coloquei Aflora na cama, deixando suas pernas penduradas na beirada
enquanto ela se sentava com as mãos em meus quadris. Fiquei entre suas
coxas, olhando para ela com admiração. Então me inclinei para capturar sua
boca mais uma vez.
Ela passou os dedos pelo meu abdômen, sua busca clara enquanto
desamarrava a corda da calça para empurrar o tecido macio sobre minha
virilha até minhas coxas.
Endireitei a coluna, permitindo que ela terminasse a tarefa de remover
minhas calças.
Então a tirei e voltei para minha posição.
Seus lindos olhos me observaram em profunda apreciação e suas
pupilas dilataram quando ela percebeu minha excitação espessa.
Aflora umedeceu os lábios e tirou a blusa, me presenteando com seus
lindos seios. Em seguida, ela se inclinou para tomar meu pau em sua boca
viciante, passando a língua pela parte inferior em um convite claro e óbvio.
Entrelacei os dedos em seu cabelo enquanto um xingamento escapava
de minha boca e eu me empurrava mais fundo, amando o jeito que ela me
aceitou. Quase como se sempre tivesse sido dela.
Mas esta não era a afirmação que eu tinha em mente.
Eu precisava estar dentro dela de outra maneira.
Completar nossa união, comendo-a até o clímax.
Uma parte muito masculina e competitiva de mim precisava que os
outros também ouvissem. Que soubessem que ela era minha tanto quanto
era deles.
Seus olhos azuis brilharam com consciência quando ela me soltou.
Ela voltou para a cama, enganchou os polegares no tecido de seu short
e o tirou de suas pernas longas e atléticas.
Fiquei ao lado do colchão, assistindo ao show.
Tudo isso foi feito sem palavras. Nossos corpos falavam por nós.
Uma dança erótica de conhecimento, paixão e intensidade.
E pura necessidade.
Apoiei um joelho na cama, observando enquanto ela encontrava um
lugar no meio do edredom. Seus fios escuros decoravam o travesseiro. Ela
abriu as pernas, me permitindo ver sua boceta linda, doce e molhada, seu
centro doendo para que eu a tomasse.
Salivei. Meu desejo de saboreá-la quase superava minha necessidade
de estar dentro dela.
Mas o último venceu.
Eu poderia saboreá-la mais tarde, desfrutar de seu gosto doce por horas
e garantir que todos a ouvissem gritando meu nome.
Esta noite, eu precisava nos completar.
Me inclinei para frente, rastejando sobre ela e prendendo-a debaixo de
mim.
— Isto é pela nossa união — falei em voz baixa, pressionando a virilha
na dela enquanto me equilibrava nos antebraços em ambos os lados de sua
cabeça. — Geralmente não sou tão gentil, Aflora. Mas algo no momento
exige isso.
Ela estendeu a mão para passar os dedos pelo meu cabelo. Os fios
brancos soltos ao redor do meu rosto caiam sobre ela como uma cortina de
falsa pureza.
— Não sou frágil.
— Eu sei — sussurrei, pressionando minha excitação na dela para
sentir seu calor acolhedor. Me encaixei, a cabeça se esfregando no clitóris
antes de descer para o seu centro. — Mas quero ter certeza de que você irá
se lembrar disso — eu disse a ela, me alinhando com sua entrada. — E
quero ouvir você gritar meu nome.
Ela começou a falar, mas suas palavras foram interrompidas com um
grito enquanto eu a penetrava, lhe dando uma breve introdução ao poder em
meus quadris e minha capacidade de dominá-la inteiramente. Então me
retirei devagar e a penetrei de novo, gradualmente agora, mais suave,
garantindo que ela sentisse cada centímetro.
Sua mente girava com comentários, comparando tamanhos, forças e
circunferências, e eu curvei os lábios quando ela admitiu que eu era o maior
de seus companheiros.
Eu já sabia daquilo.
Mas ela não. Porque ela ainda não tinha me sentido.
Zephyrus rivalizava comigo em alguns aspectos, sua propensão para
estar no comando era igual à minha, mas ao contrário dele, eu sabia ser
gentil.
Mostrei isso a ela enquanto definia um ritmo sensual destinado a este
momento, aquele em que nossos corpos se declaravam um ao outro.
Ela agarrou meus ombros e um gemido suave deicou seus lábios à
medida que eu a torturava com meu ritmo.
Seu grunhido baixo me fez sorrir.
Ela respondeu cravando as unhas na minha pele, exigindo com seu
corpo que eu fizesse mais.
— Você não pode ter intensidade todas as vezes — sussurrei, tomando
sua boca em um beijo destinado a silenciar. Ela começou a discutir em
minha mente, mas parou com um gemido quando minha língua envolveu a
sua na batalha que ela ansiava.
Quase todo dentro, eu disse a ela. E quase todo fora.
Repeti a ação várias vezes, extraindo cada impulso e garantindo que eu
alcançasse aquele seu ponto profundo a cada vez que a penetrava.
Ela arranhou minhas costas, envolveu as pernas em meus quadris
enquanto tentava inutilmente me pressionar e ditar um ritmo mais rápido.
Mas essa não seria uma transa rápida. Tratava-se de desencadear uma
experiência para nossas almas.
Rolei de costas, levando-a para cima de mim, e permiti que ela ditasse
o ritmo. Ela se sentou, ansiosa para obedecer, com as coxas escarranchadas
em meus quadris quando começou a me montar. Seus seios balançavam de
forma sedutora a cada movimento apressado de seus quadris e ela
entreabriu os lábios em um gemido de excitação. No entanto, depois de
mais alguns movimentos rápidos, ela mordeu o lábio e me olhou, com seu
cabelo escuro emoldurando seu lindo rosto.
A compreensão pareceu iluminá-la por dentro.
Me sentei para me juntar a ela. Meus lábios a tocavam de leve
enquanto eu me apoiava com uma mão atrás de mim e envolvia a oposta em
sua nuca.
— Carinho por ser muito bom — eu disse a ela, lambendo a linha de
seus lábios antes de entrar em sua boca.
Ela se mexeu, movendo as pernas para envolver minhas costas
enquanto se sentava mais firmemente montada em minhas coxas. Um
pequeno gemido ficou preso no fundo de sua garganta quando ela percebeu
o quanto a penetrei profundamente nesta posição.
E então nós dois começamos a nos mover.
Não de forma apressada, mas lânguida, nos entregando às sensações e
nos aproximando cada vez mais do ápice com movimentos longos e
profundos.
— Oh, Kai — ela murmurou, roçando os mamilos duros contra o meu
peito.
Estávamos cobertos de suor, transando com um esforço a um ponto de
quase loucura. Era tão feroz, exaustivo em cada movimento, que ficamos
sobrecarregados e fatigados pela pura intensidade de tudo isso.
Eu a senti começar a se derreter enquanto nossa magia dançavam
juntas e faíscas cerúleas enfeitavam o ar.
Este foi o culminar de anos de acasalamento em formação. Nossos
caminhos finalmente se cruzaram depois de nos desviarmos do curso.
Nossas almas se regozijaram ao voltarem para casa, juntas, em um belo
momento de felicidade, harmonia e perfeição absoluta.
Eu a beijei, confidenciando minhas histórias mais profundas e
sombrias em segundos, abrindo minha mente para ela e jogando a chave
fora.
Ela respondeu na mesma moeda, sua fé em mim era resoluta.
E juntos atingimos o clímax em um começo arrebatador que durou o
que pareceram horas, com nossos corpos presos juntos em felicidade
harmoniosa e se recusando a parar.
Ela gritou, como se meu nome fosse um farol, o que fez meu coração
disparar.
Fiz o mesmo, chamando Flora repetidamente, até que minha estrelinha
finalmente iluminou a noite sombria e cruel do meu espírito.
Seus lábios sussurraram contra os meus, seu corpo se movia, tomando,
repetindo, se contorcendo um pouco mais.
Até que caímos na cama, continuando nossa dança sensual, unidos em
um beijo destinado a durar uma vida inteira.
Ela me destruiu.
Me completou.
Garantiu que ficaríamos juntos para sempre.
Afundei os dentes em seu pescoço, desejando essa promessa em
sangue.
Ela respondeu na mesma moeda, tomando minha essência
profundamente em sua boca e engolindo antes de cobrir minha boca com a
sua mais uma vez.
Meu Kai, ela murmurou.
Minha Flora, respondi. Minha linda e brilhante estrela.
Nossa sensualidade nos seguiu em nossos sonhos, os enigmas se
quebrando entre nós e criando novos e complexos bloqueios – que ninguém
jamais seria capaz de quebrar.
Quando a noite finalmente chegou, eu a acordei da mesma forma que
havíamos adormecido. Então finalmente a provei e confirmei que nossos
sonhos eram a nossa realidade.
Este é o verdadeiro sonho, eu disse a ela. Minha vida com você. Esse é
o sonho, Aflora. E espero nunca acordar.
Ela sorriu, com o coração em seus olhos. Nem eu, Kai. Nem eu.
CAPÍTULO ONZE
ZEPH
SHADE ME ENCONTROU do lado de fora, sua expressão não revelando nada enquanto
eu carregava Aflora nua.
Vários Faes da Meia-Noite se reuniram ao redor da área, a energia
irradiando do prédio atrás de mim como uma torre elétrica que todos
sentiram. Aflora havia detonado quatro vezes nas últimas horas, as três
primeiras durante o combate e a última durante o sexo.
Eu não tinha testemunhado as outras, apenas a quarta vez.
E foi um espetáculo para ser visto.
Mas ela não aprovaria que todos a olhassem nesse estado, algo que
sussurrei na mente de Shade quando me aproximei.
Ele respondeu, nos envolvendo em uma capa sombria e nos levando
até um prado banhado pelo luar. Fiz uma careta, olhando ao redor.
— É o meu lugar, aquele para o qual costumo levá-la — explicou. —
Ainda dentro do paradigma, mas não no terreno da Academia. — Ele
inclinou a cabeça. — Eu vou te mostrar .— Ele liderou o caminho em
direção a uma árvore... e passou por ela.
Com a sobrancelha erguida, eu o segui e me vi em uma casa modesta
com uma cama grande, uma sala de estar e uma pequena cozinha.
— Ah, é aqui que você mora quando não está no campus. — Eu podia
dizer porque tinha o cheiro dele. O que significava que ele ficava muito
aqui.
Ele deu de ombros.
— Minha avó está perto. Fiquei com ela ao longo dos anos até que
decidiu que eu precisava do meu próprio lugar. — Ele foi em direção à
cama, mas passou por ela a caminho de um conjunto de portas duplas. —
Acho que ela também previu meu desejo de compartilhar um espaço
privado com a Aflora, mas não quero pensar no que motivou essa visão.
Sorri.
— Todos nós sabemos o que o motivou.
— Sim, mas como eu disse, não significa que quero pensar a esse
respeito. — Ele desapareceu pelas portas.
Segui atrás dele, parando na soleira enquanto ele se inclinava sobre
uma grande banheira – que era do tamanho de uma pequena piscina – com
bancos de mármore para sentar e um exterior de pedra para decoração. Ele
ligou a água, depois testou com a mão antes de clicar em um botão que
aumentava o fluxo e impedia que escoasse.
Aflora permaneceu inconsciente contra mim enquanto ele trabalhava,
completamente alheia aos sais e aromas que acrescentava para aperfeiçoar o
banho.
Levou quase quinze minutos, seu trabalho meticulosamente planejado.
Quando terminou, ele tirou a roupa.
Então Shade entrou na água e afundou nela antes de ligar o suave
ronronar dos jatos. Ele não fechou a torneira, mas mudou para um fluxo
mais sutil, o ralo parecendo funcionar em conjunto com a água que entrava.
Parecia circular de alguma forma, o que o tornava ideal para o banho,
porque a água continuaria a se refrescar.
Dê-a para mim, ele sussurrou em minha mente, estendendo os braços
para ela.
Eu me aproximei para fazer o que ele pediu, principalmente porque
estava claro que ele pretendia que eu me juntasse a eles. A banheira
acomodaria Aflora e todos os seus companheiros, tornando-a ideal para o
que quer que ele tivesse em mente.
Tirei a camisa, calça e sapatos, colocando as peças no armário ao lado
do banheiro. Então voltei para me juntar aos dois.
Ele apoiou a cabeça dela em seu ombro, passando os braços ao redor
de seu corpo para garantir que ela não afundasse.
— Há um pente ali — ele falou em voz baixa, gesticulando com o
queixo para alguns dos suprimentos que colocou ao lado da banheira. Não
tinha visto todos os itens que ele pegou, mas notei que eram todos feitos
para ajudar a limpar e cuidar de Aflora.
Peguei o que ele mencionou e usei para escovar seus fios
embaraçados.
Os jatos mantinham a água quente e em movimento, os aromas
relaxantes e obviamente destinados à cura.
Aflora lentamente voltou a si enquanto eu passava o pente por seu
cabelo escuro, seus olhos indo para Shade e depois para mim. Ela esticou
um pouco as pernas, então levantou a cabeça para me dar um melhor acesso
aos seus fios.
Nenhuma palavra foi dita, apenas emoção enquanto nos deixava cuidar
dela.
Todos nós sabíamos o que tinha acontecido, como Zakkai e Zeph se
juntaram dentro dela. Detalhei para Shade enquanto assistia, querendo que
ele soubesse o que eles estavam fazendo com Aflora e como ela estava
lidando com tudo.
Ele ficou preocupado no início, assim como eu, mas confiei em Zakkai
e Zeph para não machucá-la de verdade. E eles não o fizeram.
Foi estranho ver Zeph com outro homem, mas senti suas emoções o
tempo todo. Ele não estava com Zakkai por amor ou desejo, mas pela
necessidade de provar a Aflora que aceitava todos os seus companheiros.
Foi a maneira deles de garantir a confiança em nosso círculo.
Eu aceitei isso.
Assim como Shade.
— Como você está se sentindo? — ele perguntou a Aflora depois de
vários minutos de silêncio.
Ela não respondeu por um momento, seu foco em esticar as pernas e os
braços mais uma vez enquanto descansava de forma lânguida contra ele.
— Relaxada — ela respondeu. — Cansada, no bom sentido. Dolorida.
Soltei o pente e peguei um sabonete que Shade deixou ali. Ele se
dissolvia no banho, mas do jeito como os jatos pareciam funcionar, a água
circulava e voltava limpa.
Aflora me permitiu passar o sabonete em seus braços e ao longo de seu
torso, até as pernas. Não foi tão preciso quanto se ela tivesse se esfregado,
mas funcionou, e me deu uma desculpa para checá-la em busca de
hematomas e pontos de dor.
Ela não vacilou, seu corpo parecendo estar totalmente relaxado entre
nós.
Eu a senti checar Zeph e Zakkai, curvando os lábios de leve ao
encontrá-los desmaiados.
Bem, presumi que os dois estivessem dormindo, porque eu podia sentir
Zeph descansando contente. Ele e Zakkai estavam encarregados da maior
parte do treinamento físico de Aflora, deixando-os mais exaustos do que eu
e Shade.
Liderei mais o diálogo aberto sobre o que Constantine poderia
planejar, fornecendo o máximo possível de antecedentes e detalhes de
minhas próprias provações. Eu também a instruí sobre como ouvir a Fonte,
algo que ela parecia estar fazendo cada vez mais. O episódio de hoje foi a
prova disso, ou pelo menos foi a primeira vez que a vi aceitar o poder.
Shade a ajudou de outras maneiras, principalmente ensinando seus
mecanismos de fuga e ajudando-a a dominar as sombras.
Ele beijou sua bochecha quando ela saiu de seu colo para se sentar
entre nós. Em seguida, ela suspirou quando inclinou a cabeça para trás.
— Esta banheira é melhor que hidromel.
Eu ri do seu comentário.
Shade apenas sorriu.
— Que bom que você aprova, pequena rosa.
— Aprovo, sim — ela murmurou, levantando as pernas para chutar de
leve. — Isso só pode ser o sonho molhado de um Fae da Água. — Ela deu
uma risada de sua própria piada, então cobriu a boca.
— Vou ter que mandar um bilhete para Cyrus — eu disse. O Rei Fae
da Água certamente gostaria de brincar em uma banheira como esta.
Embora eu suspeitasse que ele já tinha uma.
Aflora deu outra risadinha, depois escorregou do banco com uma
risada de verdade. Shade segurou o braço dela para puxá-la de volta para o
assento entre nós, e ela sacudiu o cabelo molhado com um som feliz que fez
meus lábios se curvarem.
— Você é muito divertida quando está bêbada de sexo — eu a
informei, apoiando a mão em sua coxa para segurá-la no lugar ao meu lado.
Ela se acalmou e estendeu a mão para puxá-la mais para cima. Olhei
de lado para ela, sorrindo quando a encontrei me espiando através de uma
cortina de fios escuros e úmidos. Suas pupilas estavam dilatadas, seus
lábios carnudos implorando para serem beijados.
Mesmo depois de tudo que passou com Zakkai e Zeph, ela ainda
desejava mais.
Isso era o que a Fonte Sombria podia fazer: revitalizar e recarregar,
fornecendo ampla energia para quem manejasse o vínculo direto. E ela tinha
a Fonte da Terra dentro de si também.
Eu a segurei com ternura, observando sua expressão enquanto eu
passava o dedo por sua intimidade. Ela se apoiou contra mim, fechando os
olhos.
Ela está inchada? Shade perguntou, seu olhar cor de gelo focado no
rosto dela.
Mergulhei um dedo e balancei a cabeça. Não, ela parece estar normal.
Molhada e pronta. Me inclinei para beijar sua boca, querendo saboreá-la.
Ela abriu para mim, sua língua dançando com a minha enquanto eu a
acariciava sob a água.
Aflora apoiou a mão em meu pulso, cravando as unhas na minha pele
para encorajar meus movimentos. Depois, ela me soltou e estendeu a mão
para Shade, puxando-o para si e beijando-o profundamente.
Ele a atendeu de forma languida, passando a mão em sua coxa em um
local semelhante ao meu momentos atrás.
Mordisquei seu pescoço, roçando a língua em seu pulso. Estava
constante e lento, seus movimentos relaxados.
Depois de sua experiência febril com Zakkai e Zeph, ficou claro que
ela queria algo um pouco menos agitado. Algo mais terno e sensual, e
Shade e eu estávamos mais do que dispostos a dar isso a ela.
O que ela quisesse ou precisasse, nós forneceríamos.
Mesmo que fosse apenas abraçá-la enquanto ela dormia.
Ela se afastou de mim para montar Shade, passando os braços pelo
pescoço dele enquanto continuava a envolvê-lo em um beijo carinhoso. Não
era quente ou intenso, apenas cheio de emoção e amor. Senti as emoções
prosperando através de nosso vínculo, seu contentamento por apenas existir
e abraçá-lo, sua gratidão por tudo que ele sacrificou e seu desejo de adorá-
lo do jeito que ele sempre a adorou.
Ela inclinou os quadris para tomá-lo dentro de si, um gemido suave
entreabrindo seus lábios cheios enquanto ele a preenchia até o fim. Em
seguida, afastou a boca da dele e se concentrou em mim.
— Kols — ela sussurrou, me implorando para chegar mais perto com o
olhar cheio de paixão. Aflora estendeu a mão para mim também, garantindo
que eu entendesse o que ela queria.
Flutuei em direção a eles na água, meus lábios encontrando os seus por
impulso enquanto eu pressionava a palma da mão na parte inferior de suas
costas para empurrá-la de volta para Shade. Ela ofegou contra mim,
movendo os quadris enquanto ele a preenchia mais uma vez. A água nos fez
flutuar, criando um ritmo lânguido.
Seus lábios deixaram os meus para viajar pelo meu pescoço, onde ela
mordiscou minha veia.
Troquei olhares com Shade, as íris dele ardendo enquanto ela se
movia. Sua excitação tocou nosso vínculo, sua necessidade era como um
beijo gelado em meus sentidos.
Eu nunca tinha sentido seu desejo.
Ele sempre escondeu isso de mim.
Mas senti, com nosso vínculo aberto e receptivo.
Aflora afundou os dentes no meu pescoço, tirando um assobio surpreso
do meu peito. Então ela engoliu minha essência em um gemido, com seu
corpo aparentemente possuído por magia Sombria.
Ela está aprendendo a abraçar suas inclinações Fae da Meia-Noite,
pensei para Shade.
Sim, ele concordou, levantando a mão para a parte de trás de sua
cabeça. Ela está percebendo quem é.
Nossa rainha.
Nossa rainha, ele ecoou em um gemido enquanto ela se endireitava,
com meu sangue pintando seus lábios.
Ele olhou para ela e sua fome cravou nosso vínculo.
Shade a puxou e lambeu minha essência de sua boca, fortalecendo
nossa conexão para o próximo nível.
Foi impulsivo.
Ainda assim, certo.
E enviou uma onda de choque pelo meu corpo.
— Me levem para a cama — Aflora sussurrou. — Quero que vocês
dois me levem para a cama.
CAPÍTULO DEZESSEIS
AFLORA
AFLORA APARECEU EM NOSSO PRADO, com o manto esvoaçando na fumaça ao seu redor. Ella
desabou ao seu lado com um grito que fez Kols correr direto para a
cunhada.
Segurei Aflora, verificando se havia sinais de ferimentos sob o tecido
escuro que cercava seu corpo.
— Onde você achou isso? — perguntei, passando a mão pela capa que
cobria seu braço. O tecido estranho continha uma corrente elétrica e a
magia que passava por ele era diferente de qualquer outra que já senti.
— Não sei — ela sussurrou, olhando para mim com os olhos azuis
semicerrados. — Ele matou a Anrika, Shade. E a Emelyn.
Vacilei, tendo ouvido esses detalhes em sua mente.
— Havia outros também — ela continuou. — E eles estavam torcendo.
Felizes. Se deleitando com as mortes de companheiros Faes. — Sua raiva
atingiu meus sentidos, mas sua expressão irradiava dor. — Como eles
podem ser tão cruéis e desrespeitosos com a vida?
— Porque eles foram levados a acreditar que é o único jeito de viver
— minha avó respondeu da linha das árvores, com a voz baixa e carregada
pelo prado em uma brisa sutil. Ela apareceu sob o sol nascente, seu cabelo
escuro brilhando com a luz.
Nada de cookies.
Um bom sinal.
Mas meus avós estavam atrás dela, o que significava que eles sentiam
a necessidade de protegê-la.
Não era um bom sinal.
Quando Zeph e Zakkai irromperam na campina, percebi o porquê.
Enquanto minha avó admirava e respeitava Zakkai, meus avôs
interpretavam suas habilidades como uma ameaça em potencial.
Uma reação adequada. Zakkai era poderoso pra caramba. No entanto,
confiei nele com Aflora, porque senti sua fé através dos vínculos.
— Aflora — ele disse, levando a mão ao rosto dela por baixo do
capuz, e a puxou para si.
Zeph observou sua expressão por um instante, relaxando com sua
segurança antes de mudar o foco para a mulher que gritava no chão.
Ella não parava de chorar.
A halfling estava contando a Kols tudo o que havia acontecido com
Tray, como o Conselho o havia levado e o transformado em uma figura
sombria, diferente de quem ele costumava ser. Ela contou a ele sobre seu
pai também, dizendo que Malik estava agindo do mesmo jeito que Tray. E
que ela também não fazia ideia do que havia acontecido com a mãe de Kols.
Ela não a via há semanas.
— Mas eles não estão agindo normalmente, Kols. Aquele não é o Tray.
E seu pai não está agindo por conta própria — ela repetia. — Eu... não sei o
que os Anciões ou o Conselho fizeram... mas ele... o Tray disse para eles
me matarem. Ele deu permissão para... para... — Ela parou em um som
sofrido, e Zeph se ajoelhou ao lado da moça, derramando sua energia
protetora sobre ela.
— Ele estava cercado por magia sombria. — Aflora engoliu em seco.
— Pude ver as cordas que o prendiam, mas não sabia como libertá-lo. Não
houve tempo. E eu não tinha certeza se... se o reino Fae do Inferno o
aceitaria assim.
— Isso teria acionado as proteções — minha avó confirmou.
— Com Ella, de alguma forma, eu sabia que as proteções a aceitariam.
Foi instintivo — Aflora continuou como se não tivesse ouvido mais
ninguém. — Mas o Tray... nós precisamos voltar...
— Constantine estará esperando —Zakkai interveio, enganchando o
polegar no queixo dela para chamar sua atenção. — Ele não vai machucar o
Tray. Já o tem sob controle. No máximo, vai usá-lo como isca. O que
significa que precisa dele vivo.
Kols grunhiu, detestando aquelas palavras.
Ele está certo, sussurrei em sua mente. Constantine não vai machucá-
lo mais do que já o fez. E precisamos de tempo para formular um plano.
Reagir de forma precipitada é o que seu avô quer.
Você acha que não sei disso?, o Elite de Sangue resmungou de volta
para mim.
Encontrei suas íris ardentes.
Ele retribuiu o olhar.
Estou me certificando de que você não fuja e faça algo que vai
machucar a todos nós, eu disse a ele. Ele é seu irmão, Kolstov. Nem sempre
pensamos de forma racional quando se trata de quem amamos.
Minhas palavras e preocupação vieram de um lugar terno dentro de
mim que só existia para Aflora. Mas meu relacionamento com Kols evoluiu
nos últimos dois meses, tornando-se algo que eu nunca poderia ter previsto.
Eu me importava com ele.
E ontem à noite, nós compartilhamos algo... diferente.
Também solidificamos nosso acasalamento, mordendo um ao outro
várias vezes durante nossos momentos sexuais com Aflora. Ele estava
firmemente dentro de mim, tanto quanto eu estava dentro dele.
O que significava que ele podia sentir todas as minhas emoções, ouvir
minha preocupação e entender o raciocínio por trás das minhas palavras.
Embora as declarações o irritassem – sua mente me disse que ele
nunca reagiria sem pensar primeiro em suas ações – ele também apreciou
minha preocupação.
Trabalharemos juntos para trazê-lo de volta, prometi. Vamos ajudar
seu pai também. E tenho certeza de que sua mãe está bem, apenas trancada
em algum lugar.
Ele fez uma careta.
Nós vamos salvá-los, reiterei, garantindo que ele me ouvisse.
Eu sei, ele respondeu depois de um instante, suavizando o olhar para
mostrar compreensão antes de seu foco mudar para Aflora. Sua mente lutou
para mudar de assunto, a necessidade de distração ficando clara enquanto
ele sussurrava, Essa capa está irradiando energia sombria.
Sim. Eu podia senti-la sob meus dedos.
Zakkai parecia igualmente encantado, passando as mãos sobre o tecido
de forma semelhante a mim momentos atrás.
— Isso é um presente da Fonte — ele se maravilhou.
— Sim — minha avó concordou, nos lembrando de sua presença. — E
eu tenho o cajado correspondente.
Todos nós olhamos para ela.
— Cajado correspondente? — repeti.
Ela apenas sorriu, então inclinou a cabeça.
— Venham. O café da manhã está quase pronto.
— Cookies? — perguntei com cautela.
— Ovos — ela respondeu. — E shakes de sangue. A Aflora vai
precisar de um em breve. Assim como a Ella.
— O Lucifer vai ficar bem com a presença da Ella aqui? — Zakkai
perguntou em voz alta, expressando uma preocupação que eu não havia
considerado.
Os olhos azuis da minha avó brilharam com consciência quando ela o
olhou.
— Sim, Kai. Já acertei isso com ele.
— Você acertou mais alguma coisa com ele? — Zakkai pressionou.
Ela piscou.
— Por quê? Você sente alguma coisa?
Ele não respondeu, apenas a observou.
Ela o estudou por um longo momento, então se virou para as árvores
sem dizer mais nada.
Zakkai contraiu a mandíbula.
— Ela não vai nos dizer nada.
— Bem-vindo ao meu mundo — murmurei.
— Você quer dizer que outras pessoas guardam segredos de você? —
Zeph perguntou, fingindo choque. — Que horrível. Não tenho ideia de
como pode ser passar por isso. — O sarcasmo em seu tom me fez bufar.
— Onde estamos? — A voz suave de Ella nos fez focar nela. A garota
não se levantou, suas feições pálidas ainda estavam marcadas por lágrimas.
Mas parecia ter parado de chorar por enquanto, sua atenção distraída pelo
prado ao nosso redor e pelo sol nascente.
— Um paradigma dentro do reino Fae do Inferno — Aflora respondeu.
Ela se afastou de mim e de Zakkai para olhar para Ella. — E vou trazer
Tray de volta para você. Em breve. — Ela parecia muito régia e confiante, a
Fonte Sombria fervilhando ao seu redor com total abandono.
Olhei para Zakkai e depois para Kols. Os dois estavam estudando a
capa novamente.
Zakkai falou primeiro.
— Você aceitou a Fonte Sombria, passando no terceiro teste.
— Sim — ela confirmou. — Mas ainda sou a Rainha Fae da Terra
também.
— Porque você ensinou as Fontes a conviverem — Zakkai disse, com
a apreciação evidente em seu tom e feições. — É lindo, Aflora. — Ele deu
um passo em direção a ela, levando a mão ao seu rosto enquanto inclinava
sua cabeça para dar um beijo. — Você é deslumbrante.
Ela retribuiu, seu poder fluindo abertamente através de todos os nossos
vínculos.
— O café da manhã vai esfriar. — A voz da minha avó chegou até nós
pela brisa mais uma vez, sua energia roçando minha pele.
— A Aflora precisa de sangue.
— Preciso — minha companheira confirmou, sua voz soando cansada
de repente. — A Fonte... está exigindo.
— Sim — Kols concordou em voz baixa. — É desgastante e você vai
precisar se alimentar diariamente.
Aflora assentiu, segurando minha mão.
— Mostre o caminho, Shade. — A energia chiou por sua mão, subindo
pelo meu braço enquanto entrelaçava nossos dedos. Seu poder cresceu com
a aceitação da Fonte mudando-a.
Ela não duvida mais de si mesma, Kols me disse. É isso o que você
está sentindo. Ela finalmente se vê como a rainha legítima.
Acho que é mais do que isso, respondi. Não é que ela se veja como a
rainha legítima, ela quer ajudar aqueles que precisam, quer ser a rainha
que eles merecem e remover aqueles que mancham o reino Fae da Meia-
Noite.
Quando encontrei suas barreiras mais cedo, senti a incerteza e o
descontentamento escondida dentro da Fonte Sombria. Ela queria consertá-
la, tornar-se a entidade que corrigia os erros dos outros, que colocava os
Faes da Meia-Noite no caminho correto.
Era o que a tornava a rainha perfeita: ela sempre colocava os outros
antes de si mesma. Entendia o valor de liderar pelo exemplo. E nunca
permitiria que o poder a consumisse.
Seus olhos azuis encontraram os meus por baixo da capa, sua
expressão calorosa e acolhedora. Eu te amo, Shade. Eu amo como você me
entende.
Todos nós te entendemos, pequena rosa, eu disse a ela. E todos nós
amamos você.
Seus lábios se curvaram.
Parei de andar para puxá-la para um beijo, meus lábios sussurrando
sobre os dela enquanto eu dizia:
— E eu mais do que amo você, Aflora. Você é minha razão de tudo.
Foram palavras ditas publicamente destinadas apenas aos ouvidos dela.
Mas todos os seus companheiros os ouviram.
Ninguém comentou.
Ninguém interrompeu.
Eles apenas permitiram que o momento prosperasse por um segundo,
então retomei nosso caminho em direção à casa de minha avó. Ela apareceu
além das árvores, a porta aberta em convite.
Nós entramos e a sala se expandiu para nos acomodar.
— Inteligente — Zakkai murmurou, impressionado com a magia.
A mesa também se alongou, então várias cadeiras apareceram do nada.
Conduzi Aflora até uma e me sentei ao lado dela. Zakkai se instalou do
outro. Zeph, Kols e Ella se sentaram na nossa frente. Então meus avós se
acomodaram nas cabeceiras, deixando a cadeira em frente a Aflora
disponível para minha avó.
— Acho que não nos conhecemos — Kols falou, olhando para meu
avô Vadim. — Mas posso ver a semelhança. — Ele olhou para mim e
depois para o meu avô.
Nós dois tínhamos cabelos escuros, olhos azul-gelo e maçãs do rosto
salientes. Ele também se parecia um pouco com minha mãe, mas Kols não
sabia disso, pois minha mãe raramente era vista em público.
O avô Kodiak parecia um Fae Fortuna, com sua constituição mais
volumosa e presas alfa. Embora seus olhos azuis não fossem cortados como
os de um verdadeiro alfa, sua transição foi pausada de uma maneira única
quando ele se acasalou com minha avó.
— Rei Vadim, certo? — Kols continuou.
— Eu prefiro Vadim, não “Rei” — meu avô respondeu, seus lábios se
contraindo quando ele olhou para seu companheiro Alfa Fae Fortuna.
— Não vai acontecer — Vovô Kodiak murmurou.
— Que pena — o avô Vadim respondeu.
Minha avó bufou enquanto colocava um copo de sangue na frente do
meu avô Vadim, depois passou um de suco de laranja para o avô Kodiak.
— Comportem-se.
— Nunca — eles disseram ao mesmo tempo.
— Sinto que este é o meu futuro — Aflora murmurou, piscando para
os dois homens. — Só que multiplicado por dois.
Minha avó sorriu para ela.
— Um belo caminho, não? — Ela pegou o liquidificador para servir o
shake de Aflora, então o trouxe para a mesa. Suas íris azuis pousaram em
nós, seu olhar calculista. Então ela voltou para o liquidificador para fazer
mais.
Fiz um canudo com magia para Aflora, colocando-o em sua bebida
antes que ela pudesse tomar um gole. Obrigada, ela sussurrou em minha
mente.
De nada. Beijei sua têmpora e esperei minha avó terminar de servir
tudo. Eu teria me oferecido para ajudar, mas sabia que ela me repreenderia
por tentar. Ela gostava de receber as pessoas. Esta casa era seu domínio,
algo que meus avós conheciam e respeitavam, então eles também não
tentaram ajudar.
Os Ômegas eram exigentes quanto ao espaço deles.
Especialmente com um ninho por perto.
Ela enfeitou a mesa com uma travessa de ovos, um prato de bacon,
uma cesta de doces para o café da manhã e mais shakes de cor vermelha.
Em seguida, colocou uma salada de frutas florida enfeitada com folhas na
frente da Aflora.
— Ah, olha, mustard berries — Zeph comentou.
— Acho que se chamam mouseberries — minha avó corrigiu.
— Viu? — Aflora arqueou uma sobrancelha. — Mouseberries.
— Humm — ele gemeu, estendendo a mão sobre a mesa para roubar
um de seu prato. — Delicioso.
— Mentiroso — ela respondeu, sorrindo. — Obrigada, Zen.
— Disponha, querida. Achei que você não iria gostar do bacon. — Ela
se sentou com um floreio quando meu avô Kodiak começou a montar seu
prato. Ela poderia ter servido a todos nós, mas ele garantiria que ela tivesse
a primeira porção.
Todos nós esperamos enquanto o Alfa Fae Fortuna trabalhava. Ele
também preparou um prato para o vovô Vadim, depois começou a servir o
seu antes de entregar os talheres para Zakkai.
Era um gesto simbólico, que dizia que ele sentia que Zakkai era o alfa
inequívoco do nosso círculo.
Kols encontrou meu olhar com um sorriso, tendo ouvido meus
pensamentos. Não conte ao Zeph.
Não hoje, de qualquer maneira, concordei, momentaneamente
entretido. Mas quando tudo isso estiver terminado? Não posso prometer.
Concordo, Kols concordou.
Zakkai, que era muito versado nas formalidades Fae Fortuna, montou
um prato para mim primeiro, sugerindo que ele me via como o Ômega do
grupo. Revirei os olhos para ele.
— Hilário.
Ele apenas sorriu e começou a montar um prato para Kols, que
também não gostou de suas travessuras.
Então ele começou a montar um prato para Zeph, mas o Guardião o
interrompeu.
— Eu mesmo sirvo o meu.
Se ele entendia o significado disso ou não, eu não tinha certeza.
Zakkai respondeu, terminando o prato e entregando-o a Ella.
— Obrigada — ela sussurrou, claramente oprimida pela política da
mesa.
Zakkai não reconheceu sua gratidão, em vez, disso olhou para Aflora.
— Quer mais alguma coisa, estrelinha?
Ela balançou a cabeça, já na metade do prato de frutas.
— Não, obrigada.
Ele beijou sua têmpora, preparou um prato lentamente para si e, depois
passou os utensílios para um Zeph em fogo brando.
— Aqui — disse.
Kols mordeu o lábio para não sorrir.
Eu apenas balancei a cabeça com a guerra de domínio. Aparentemente,
a transa de ontem não resolveu o problema do duelo alfa.
Mas ficou um pouco menos tenso, como se os dois soubessem
trabalhar juntos agora. Pelo menos, no que dizia respeito à Aflora.
Ela tomou um gole de seu shake pelo canudo, então observou quando
comi os ovos e bacon. Ela franziu o nariz ao se inclinar para cheirar meu
prato.
— Troll gordo? — ela perguntou, me fazendo engasgar.
— O quê?
— Gordura de troll cozida — ela respondeu, fazendo uma careta. —
Você chama isso de bacon?
Minha avó soltou uma risadinha.
— É de um porco no Reino Humano.
Aflora empalideceu.
— Um porco?
— Você se lembra daquele negócio marrom no macarrão sangrento?
— Kols perguntou, fazendo com que os olhos de Aflora se arregalassem.
— Ah, sim. Não me lembre.
Ele riu, então enfiou uma garfada de ovo e bacon na boca com um som
de humm.
Ela se engasgou e se concentrou em sua salada de frutas novamente –
uma salada que cresceu de forma mágica enquanto Zeph discretamente
cantarolava um feitiço. Um pouco de seu desgosto pareceu se derreter com
a visão de seus berries coloridos, olhando para ele em clara gratidão.
Ele piscou.
Então o resto de nós comeu em silêncio.
Ella era a única que não parecia compartilhar de nossas diversão, sua
expressão melancólica enquanto ela se forçava a tomar um gole de seu
shake.
Meu coração doeu por ela.
— Você viu ou ouviu falar do Ajax? — perguntei baixinho.
Seus olhos azuis se levantaram para os meus, a tristeza neles fazendo
meu estômago se apertar.
Engoli em seco.
— O que aconteceu com o Ajax?
Ela balançou a cabeça e uma lágrima caiu pelo seu rosto.
— Eles... eles separaram todos nós. Ele estava na fila atrás de mim. Na
fila para ser...
— Executado — Aflora terminou por ela, a magia parecendo girar em
torno de seu ser. — Eu tenho que...
— Ele está seguro — minha avó disse, pegando sua mão. — Confie
em mim.
— Seguros como os pais de Aflora estavam? — Zakkai perguntou. —
Ou seguro como a Aflora está agora?
— Cuidado — o avô Kodiak avisou em um grunhido baixo.
Zakkai olhou para ele sem um pingo de medo.
— É uma pergunta justa, Kodiak.
— Seu tio está com ele — minha avó disse. — Kyros.
Meus ombros caíram de alívio. Se Tadmir e Kyros estivessem com
Ajax, então ele estava bem. A menos que...
— Ele sabe sobre a Emelyn?
— Sim. — A expressão da minha avó era triste. — É por isso que
Tadmir o pegou. Ele está tentando acalmá-lo.
— Ele já sabe sobre seus pais? — Zakkai perguntou.
— Os pais dele? — repeti.
Aflora ofegou, deixando cair o garfo.
— Os dois corpos debaixo de Anrika...
Zakkai lançou um olhar de desculpas.
— Sim, estrelinha.
— Ah, Fae...
Meu apetite se dissolveu e a comida começou a girar inquieta. Puta
merda.
— Preciso de um minuto — eu disse, me afastando da mesa. Merda.
Merda. Merda.
Os pais de Ajax já haviam sido atacados uma vez. Agora eles estavam
mortos? E a Emelyn também?
Senti Kols se juntar a mim, seu calor em minhas costas. Por que o
Ajax se importaria com a Emelyn? ele perguntou, sua mente procurando a
minha. Não respondi, mas ele encontrou a resposta que queria à espreita em
minha mente. Ah. Entendo.
Ele se inclinou, soltando um suspiro.
— Merda.
— Um resumo adequado — murmurei, andando e passando os dedos
pelo cabelo. O Ajax era forte. Ele poderia suportar muito. Mas isso... —
Preciso encontrá-lo.
— Não — ele respondeu.
— Como assim, não? — Ele me conhecia bem o suficiente para saber
que eu não obedecia a ninguém. Gerenciava minha própria vida, fazia
minhas próprias escolhas e não estava disposto a ceder à vontade dele no
processo.
— Eu disse não — ele reiterou. — Você não pode ir até ele.
— Vá se foder — eu disse, não mais interessado no que ele tinha a
dizer. — Só porque estamos ligados não significa que você tem direito a
opinar sobre o que eu faço ou não agora. — Só a Aflora tinha esse direito.
Ninguém mais.
— Mas você sentiu a necessidade de me lembrar do meu propósito
aqui quando sentiu meu desejo de ir até o Tray, e isso foi o que, trinta
minutos atrás? — Ele semicerrou os olhos. — Isso é realmente tão
diferente, Shadow?
Suas palavras me atingiram no coração, a exatidão delas tirando um
xingamento dos meus lábios. Porque ele estava certo.
Segurei o cabelo pela raiz e fechei os olhos.
Ele pressionou a palma da mão na parte inferior das minhas costas um
instante depois.
Em seguida, ele me puxou para seus braços, me oferecendo um abraço
que eu não sabia que precisava. Parte de mim queria socá-lo por me tocar,
por corrigir meu caminho antes mesmo que eu pudesse andar por ele. E
uma parte mais fraca só queria entrar em colapso.
Eu brinquei com o tempo, o que quase custou a vida de Kols.
E agora, os pais de Emelyn, Anrika e Ajax se foram.
Para nunca mais voltarem.
Mortos.
Por minha causa? me perguntei. Por causa da minha alteração do
destino?
Por causa do meu avô, Kols me corrigiu, seu braço envolvendo meus
ombros para me apertar com força. Você não, Shadow.
Soltei um suspiro trêmulo, meu coração na garganta.
Então enterrei o rosto em seu pescoço e inalei sua loção pós-barba.
Tinha uma mistura de rosas, me lembrando Aflora. Seu cheiro é igual ao da
nossa companheira, comentei.
O seu também, ele murmurou. Mas não rosas. Sinto cheiro de poder e
menta.
Isso poderia ser apenas eu, falei.
Ele riu e me soltou com um aceno de cabeça.
— Como desejar. — Então ele me deu um tapinha no ombro. — Você
está bem?
— Não — admiti. — Mas vou ficar.
Ele assentiu.
— Quando matarmos o meu avô.
— Quando matarmos o seu avô — concordei.
— Parece o encontro perfeito — Zeph disse da porta. — Haverá
chocolates e flores depois?
— Depende do nosso companheiro — Kols respondeu, se virando para
ele com um sorriso.
— Humm, agora você está falando a minha língua. — Zeph puxou
Kols para um beijo ardente antes de encontrar meu olhar em desafio. Meu,
ele estava dizendo.
Revirei os olhos.
— Ele é todo seu, diretor. — A não ser quando Aflora quisesse ficar
conosco novamente. Então eu satisfaria seus desejos, porque eles estavam
secretamente se tornando meus também.
Eu ouvi isso, Kols murmurou.
Eu não estava escondendo, eu disse a ele.
Não. Seu cabelo ruivo cintilou como fogo da luz do sol derramando
através das árvores, os fios com pontas cinzas particularmente brilhantes.
Não, você não está mais se escondendo. Uma brilho de emoção cintilou em
seus olhos. Posso sentir o que você sacrificou por nós, Shadow.
Meu primeiro instinto foi empurrá-lo para fora da minha cabeça, mas
eu estava muito cansado para tentar. Se ele quisesse brincar em minhas
memórias, eu permitiria.
Eles não entendem do que você desistiu por nós, mas eu entendo.
Assim como a Aflora.
Não respondi.
Porque realmente não havia muito o que dizer.
Estamos no caminho certo agora, ele sussurrou. Vamos voltar.
Ele se virou para liderar o caminho com Zeph ao seu lado.
Zakkai olhou para cima enquanto eu entrava. Ele estava com o braço
em volta da cadeira de Aflora, seu polegar roçando as costas dela através da
capa. Ela tirou o capuz, mas permaneceu enrolada nele.
O que me lembrou do motivo pelo qual viemos aqui em primeiro lugar.
— Conte-nos sobre o tal cajado — eu disse à minha avó. — Por favor.
CAPÍTULO DEZOITO
ZAKKAI
DOCE FAE.
A demonstração de poder de Aflora, juntamente com suas palavras, me
fez querer me afastar da mesa e me curvar a seus pés.
Ela queimou a árvore. Destruiu-a. E então acompanhou a ação com
uma declaração que me deixou no chão.
Eu não tinha ideia do que dizer a ela. Caramba, eu tinha me esquecido
de como respirar.
Pelas expressões dos outros na mesa, eu não era o único que queria
adorar a deusa entre eles.
Mas era por Laki que todos esperavam.
Ele observou as cinzas na mesa, sua expressão não revelando nada. Em
seguida, ele se levantou, fazendo com que Zakkai se endireitasse na cadeira
ao meu lado, imediatamente em guarda.
Aflora não se moveu, seus olhos segurando o olhar do ex-Arquiteto
Fonte.
Ele caminhou ao redor da mesa, todos nós observando cada
movimento dele.
— Levante-se — ele disse a Aflora enquanto se posicionava atrás dela.
Zakkai parecia pronto para dizer ao pai o que ele achava dessa
exigência, mas Aflora ficou de pé ao lado dele, sua demonstração de poder
não passando despercebida para os outros na sala ou para o macho de pé
diante dela.
Eles trocaram olhares por mais um momento.
E ele se ajoelhou a seus pés.
— Eu escolho unir os Faes. — Um anúncio baixo e poderoso que
enviou uma onda de energia pela sala.
Está feito, percebi. Ela acabou de passar no quarto teste.
Esta mulher incrível e bonita tinha conseguido o que eu não consegui.
Ela tinha acabado de unir os Faes à sua maneira, provando seu valor
para a Fonte Sombria e ascendendo ao quinto nível.
Em vez de se alegrar ou comemorar, ela também se ajoelhou na frente
de Laki e atraiu seu olhar para ela.
— Então nos unimos como iguais — ela disse. — Não quero um grupo
que se curve. Quero um que fique orgulhosamente unido, se regozijando
com a vida e nossas existências prolongadas. Desejo igualdade entre as
linhagens Faes da Meia-Noite. Chega de superioridade.
Laki lhe deu um sorriso suave.
— Então você realmente é a nossa rainha — ele disse. — Porque
apenas uma rainha poderia negar sua óbvia superioridade em favor da
unidade. — Ele se inclinou para beijar sua testa. — Seus pais ficariam
orgulhosos. Assim como tenho orgulho do meu filho também. — Ele olhou
para Zakkai. — Ele também é um sobrevivente. E com tudo o que suportou,
nunca perdeu seu coração.
Ele se levantou e estendeu a mão para Aflora. Ela aceitou a oferta,
mais como um gesto simbólico do que qualquer outra coisa, e permitiu que
ele a levantasse.
Todos os Quandary de Sangue na mesa pareceram relaxar, suas
posturas de repente cansadas, e percebi como eles estavam no limite para
esta reunião.
Eles querem vingança pelo que aconteceu com eles, Aflora sussurrou.
Mas isso não significa necessariamente que eles anseiem pela morte.
Só ela seria capaz de ver isso. Em um reino cheio de escuridão, era
difícil encontrar a luz. Especialmente quando todos estavam se afogando na
necessidade de sangue.
Ela tomou seu lugar ao meu lado mais uma vez, e as invenções
reapareceram para encher nossas canecas e pratos novamente.
A conversa fluiu dos planos de Aflora para uma discussão sobre como
seria o mundo futuro. Laki ofereceu algumas sugestões para o
desenvolvimento do conselho, assim como Zeph e Zakkai. Aflora ouviu
sem comentar, absorvendo todas as ideias e ouvindo vários dos Quandary
de Sangue também.
Shade e eu permanecemos em silênci como ex-membros do Conselho
Fae da Meia-Noite. Embora tivéssemos nossas próprias sugestões e
opiniões para compartilhar, estávamos mais interessados em ouvir os
outros.
Aflora devia saber disso porque não nos pediu para falar. Ela se sentou
entre nós, segurando nossas mãos enquanto absorvia os comentários dos
outros.
Quando eles concluíram suas discussões, Zen chegou em um floreio,
dizendo que ela havia terminado de preparar suas acomodações. Eles
podiam não ficar ali indefinidamente – algo que Laki deixou claro quando
disse que iriam embora depois de descansarem – mas pelo menos, estariam
confortáveis.
— Vocês são bem-vindos a qualquer momento — Zen informou Laki.
— Ou pelo menos até que Lucifer diga o contrário.
Laki bufou.
— Eu nunca vou entender esse acordo que você tem com ele.
Ela apenas sorriu.
Eu também gostaria de entender, pensei para Shade.
Compreender minha avó é uma tarefa impossível, ele respondeu. Mas
sei que o arranjo deles envolve a permissão de enviar um número fixo de
Faes do Inferno para estudar aqui anualmente. Eles são muito poderosos
para seus Cães de Caça do Inferno guardarem e treinarem, então ele a
deixa fazer isso.
Intrigante, admiti. Você o conheceu?
Sim, Shade respondeu, seu tom me dizendo que ele não queria elaborar
sobre isso.
Como nossa companheira parecia prestes a desmaiar, decidi não
pressioná-la e a peguei pela cintura. Ela tinha acabado de se despedir do
último dos Quandary de Sangue e parecia pronta para dormir em pé.
Zakkai apareceu na nossa frente em um instante, sua boca encontrando
a de Aflora enquanto eu a segurava firme encostada no meu peito. O cheiro
metálico de sangue provocou meus sentidos, me dizendo que ele a estava
alimentando com sua essência para ajudar a reforçá-la novamente.
Fiz uma careta e abri minha ligação com Zeph. Ela se alimentou de
nós mais cedo.
Sim, ele respondeu, observando a troca. A Fonte Sombria parece estar
tirando muito dela. Isso é normal?
Acho que não, respondi. Meu pai nunca exigiu tanto sangue.
É porque ela está pegando principalmente de outros Fae da Meia-
Noite e não da veia humana?
Talvez, respondi. Mas o café de sangue continha essência mortal mais
do que suficiente para reabastecê-la.
Eu a considerei enquanto ela gemia contra a boca de Zakkai, seu corpo
faminto por mais sangue. Ele não hesitou em oferecer mais, mas meus
lábios se curvaram ainda mais para baixo.
Acho que a fonte a está preparando para o próximo teste, eu disse a
Zeph. Deve pressentir algo grande vindo.
Sacrifício, ele respondeu.
Não precisa necessariamente vir nessa ordem, mas, sim, esse seria o
caminho típico. E isso poderia exigir muitas coisas dela.
Com meu avô liderando o caminho, quem sabia o que ele faria?
Então vamos levá-la de volta para a suíte e alimentá-la
adequadamente, Zeph sugeriu.
Sim, concordei.
Nós a banharíamos em sangue se ela precisasse.
E então prenderíamos a respiração e esperaríamos ter dado o
suficiente.
CAPÍTULO VINTE E DOIS
AFLORA
A AGONIA de Aflora partiu meu coração em mil pedaços. Eu a acertei com outro
feitiço defensivo, tentando em vão tirá-la desse coma mágico.
Ela não se moveu. Não respondeu. Mal respirava.
Zakkai a pegou quando ela desmaiou, o pica-pedra desaparecendo na
névoa sombria. Seu encantamento uivou e se encolheu em um canto, com o
rabo entre as pernas. Ele ainda estava lá, tremendo de medo enquanto
Zakkai lançava um feitiço sobre ele.
Kols e eu levamos Aflora para o sofá, onde Shade andava de forma
frenética de um lado para o outro. Ele continuou puxando o cabelo e se
xingando por não ter previsto o que ia acontecer.
— O seu avô fez isso — ele disse, olhando para Kols. — Ele
costumava me enviar mensagens via Draco o tempo todo, sempre na forma
de corvos mortos. Ele achava que era simbólico.
— De Night — Kols deduziu de forma sombria. — Essa informação
teria sido útil dez minutos atrás.
— Ele nunca usou Zimney para esse propósito — Zakkai interveio. —
Eu deveria ter percebido o que estava errado. Ele tentou me dizer
desobedecendo minha palavra e olhando para Aflora em busca de
orientação. Mas deduzi incorretamente que ele estava se submetendo a ela
como a rainha. — Ele passou a mão pelo rosto, sua frustração palpável. —
Aquele seu avô maldito precisa morrer.
— Com certeza — Kols concordou.
O grito de Aflora dentro da minha cabeça me fez cair de joelhos ao
lado dela, junto com os outros.
— O que ele está fazendo? — questionei, sentindo meu peito doer
como se eu tivesse acabado uma intensa sessão de luta com um
companheiro Guerreiro de Sangue.
Eu me senti esgotado.
Arruinado.
Exausto.
— Ela está puxando energia de nós para sobreviver? — perguntei em
voz alta enquanto massageava minhas costelas agonizavam.
— É todo o sangue. — A voz de Zakkai estava tão tensa quanto a
minha. — A Fonte a estava preparando... para manter tudo unido.
— O quê? — Não entendi o que significava.
— Posso senti-la se quebrando. O teste que Constantine estabeleceu
está exigindo demais. A Fonte Sombria está em agonia. É o que estamos
sentindo – a reação da Aflora à Fonte sendo dividida em pedaços.
— Como isso é possível? — Kols exigiu. — Constantine não é mais
forte que a Fonte.
— Não. Ele é apenas o canal de atuação. E ele está exigindo muito
poder agora – mais do que qualquer monarca deveria exigir. O que significa
que todos os Faes da Meia-Noite podem sentir. Assim como podem sentir a
angústia de Aflora por ter que manter tudo junto.
— Você acha que ele percebe o que está fazendo? — Shade perguntou.
— Acho que ele é muito arrogante para ver além deste teste — Zakkai
gritou. — Estou tentando ajudá-la, mas é muito... muito caótico. E está
drenando muito.
Kols desmoronou no abdômen de Aflora, a respiração saindo em um
chiado.
— É... é como... — Um zumbido sutil veio de sua mente, fazendo com
que os olhos de Shade se arregalassem.
— Ah, merda — o Sangue de Morte sussurrou. — Não.
— Sim — Kols murmurou.
— Como? — exigi. — Como o quê?
— Como quando eu morri — Kols respirou, sua testa tocando o
abdômen de Aflora.
Uma explosão de energia me jogou para frente enquanto minhas mãos
vagavam sobre ela, verificando seus sinais vitais e avaliando seu corpo
imóvel. Ela parecia estar bem, como se estivesse dormindo.
Então Kols tossiu e meu olhar foi para Zakkai.
— Você disse que é como se a Fonte estivesse se quebrando e
protestando contra o teste. Porque não concorda com o sacrifício? —
Minhas palavras saíram como uma pergunta, mas pude sentir a resposta. —
Ela está sendo forçada a escolher. — Algo que jurei esta semana nunca
aconteceria. — Puta merda.
— Ela está segurando nossos fios de vida — Shade disse, com as
pupilas queimando. — Assim como eu fiz com o Kols.
Meu companheiro Elite de Sangue assentiu, com a pele
excepcionalmente pálida.
— Parece... como... isso.
— E Kolstov está escorregando mais rápido, porque ele é a escolha
certa para a morte — Zakkai falou em tom solene. — Ele já a enganou uma
vez. A Fonte está exigindo o que lhe é devido... forçando a escolha da
Aflora. É por isso que está se quebrando.
— Parece o erro do teste — percebi. — Temos que fazer algo para
ajudá-la. Tem que haver um jeito.
Mas a expressão de Zakkai dizia o contrário.
Assim como a linha sombria da boca de Shade.
— Não há nada que possamos fazer. Este é o caminho dela, e Aflora
vai ter que percorrê-lo sozinha.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
AFLORA
Um mês depois
Obrigada por ler Rainha dos Vampiros. Essa história e esse mundo
capturaram um pedaço do meu coração. As vozes foram muito poderosas e
o mundo me cativou de uma forma que poucos outros conseguiram. E
agora, Aflora finalmente alcançou o felizes para sempre que ela merecia.
Eu não poderia estar mais feliz por ela e seus companheiros, e espero que
você os ame tanto quanto eu. <3
— VOCÊ SABE que não precisa me acompanhar toda vez que vou visitar minha
avó, certo? — perguntei quando uma presença se materializou atrás de mim
– uma ação que fez com que me arrependesse fortemente de ter me
vinculado a Zakkai, porque agora ele poderia me seguir para qualquer lugar.
O que foi ótimo para proteger Aflora.
E horrível para a minha privacidade.
— Estou ciente — ele respondeu. — Assim como também estou ciente
de que Lucifer estará lá hoje, e estou ansioso para verificar meu projeto de
estimação. Você sabe, aquele daquela reunião? A troca de poder que eu não
queria fazer, mas não tive escolha, porque você já havia concordado com
isso em meu nome?
Bufei, ele adorava trazer este incidente à tona apesar de ter vários
anos.
— Você concordaria com qualquer coisa no que diz respeito à Aflora.
— Sim, mas esse não é o ponto, é?
Suspirei.
— Eu nunca vou pedir desculpas.
— Eu sei.
— E você sempre vai trazer isso à tona de qualquer maneira.
— Vou.
— Excelente — eu disse impassível, aparecendo na porta da casa da
minha avó.
Zakkai apareceu ao meu lado, satisfeito com meu aborrecimento.
Porque ele era um idiota que gostava de me provocar.
Tenho certeza de que era por isso que nos vinculamos também: só para
que ele pudesse ter acesso mais completo aos meus pensamentos e ampla
oportunidade de me irritar.
A Aflora também gosta de nos ver juntos, acrescentou através do nosso
vínculo. E eu gosto de fazê-la feliz.
Não poderia culpá-lo por essa lógica.
Levantei a mão para bater, mas a porta se abriu. Minha avó estava do
outro lado com cookies, o que arrancou outro suspiro de mim. Mais más
notícias.
Que comida ela faz quando a notícia é boa? Zakkai perguntou.
Qualquer coisa diferente de cookies.
Ah. Ele entrou e pegou um cookie de chocolate, então começou a
inspecioná-lo em busca de magia com sua mente.
Se ela quisesse te envenenar, não usaria cookies.
Você diz isso, ele respondeu. Mas a Zenaida é bastante inteligente.
O que significa que ela sabe que você está inspecionando os cookies
dela e garantiria que você não pudesse sentir ou encontrar o que ela está
escondendo, apontei, ignorando o prato de guloseimas e abraçando-a.
— Oi, Vó — sussurrei em seu ouvido antes de beijar sua bochecha. —
Estava com saudade.
— Eu sei. Eu também — ela respondeu, nos levando para a mesa. —
Mas o Ajax me mantém ocupada.
— É verdade — o macho em questão concordou quando apareceu no
meio da sala. Ele estava vivendo no reino Fae do Inferno com minha avó,
ajudando-a a manter o paradigma. Meus avôs também estavam aqui. Mas
meu velho amigo se tornou uma espécie de pupilo dela, treinando para se
tornar o que Lucifer tinha em mente.
Ajax vagou até a mesa e se sentou, sua forma alta e musculosa
flexionando com o movimento. Zakkai o estudou, sua natureza calculista
assumindo o controle.
— Humm — ele murmurou. — Sua magia está se estabelecendo.
Ajax grunhiu.
— A tempo também.
— Para quê? — Zakkai pressionou.
Ajax sorriu.
— Você gostaria de saber, não é?
— Sim, gostaria — Zakkai admitiu. — Particularmente porque foi a
minha habilidade que transformou seu poder.
Essa tinha sido sua parte do acordo com Lucifer: o Rei Fae do Inferno
havia pedido a ele para reescrever a magia de Ajax e alinhá-la com a fonte
Fae do Inferno.
Zakkai recusou a princípio.
No entanto, ele percebeu que Ajax não era apenas um sujeito disposto,
mas também desejoso, e concordou, depois de escrever um monte de
brechas no acordo com Lucifer, é claro.
Foi um debate fascinante de se observar entre Zakkai e Lucifer, os dois
com poder igual e sem medo um do outro.
Zakkai essencialmente fez com que Lucifer nunca pudesse pedir a
Aflora um único favor ou exigir qualquer coisa dela ou de seus
companheiros.
Em troca, ele o ajudaria conforme necessário apenas com o
desenvolvimento do Ajax.
E qualquer coisa com minha avó estava em negociação, o que
significava que Zakkai interviria para ajudá-la se quisesse. E eu sabia que
ele faria isso nas circunstâncias certas.
— É a cerimônia de abertura dos testes de noivas. — O tom profundo
pertencia a uma presença sombria à espreita nas sombras da sala.
Zakkai não reagiu, claramente sentindo a chegada de Lucifer antes de
mim.
— Isso parece vil — Zakkai murmurou. — Me diga mais.
Lucifer riu enquanto entrava na sala por algum tipo de porta invisível.
Minha avó não reagiu, apenas colocou uma xícara de café na cabeceira da
mesa e se sentou ao meu lado.
O Rei Fae do Inferno tomou a cadeira como se fosse um trono. As
mechas brancas em seu cabelo preto brilhavam sob a luz fraca, seus
penetrantes olhos azuis cintilando com diversão enquanto ele empurrava a
caneca para o lado.
— Boa tentativa — ele disse à minha avó.
Ela deu de ombros.
E Zakkai bufou. Viu?
Talvez ela tenha tentado enfeitiçar bebidas ou algo assim.
Ela não era uma típica Fae Fortuna Ômega por qualquer extensão da
imaginação, sua magia tendo sido alterada pelo Avô Kodiak mil anos atrás.
— Estou organizando um teste de noivas para satisfazer os machos
Faes de Inferno do meu mundo — Lucifer comentou. — Como você sabe, a
Fonte raramente aceita mulheres. O que significa que estou governando um
bando de homens sanguinários. A melhor maneira de domá-los é acasalá-
los. Então. Teste de noivas. — Ele abriu as mãos como se isso explicasse
tudo.
— E onde você está adquirindo essas fêmeas? — Zakkai perguntou,
seu tom igualmente casual e calmo.
Os lábios de Lucifer se torceram em um sorriso feroz.
— De outros reinos Faes, é claro.
— Através de acordos. — Zakkai não expressou isso como uma
pergunta, mas como uma afirmação.
Lucifer apenas acenou com a mão novamente como se dissesse:
Obviamente.
Zakkai o estudou por um longo momento antes de se concentrar em
minha avó.
— E você sabia que isso ia acontecer. Esse era o seu acordo o tempo
todo, não é? Que você poderia proteger os Quandary de Sangue neste
paradigma e construir uma escola mágica para treiná-los. Todo o tempo se
preparando para a inevitabilidade de Lucifer transformar isso em um campo
de treinamento para potenciais noivas Faes do Inferno.
Meu sangue gelou com sua sugestão.
Mas o olhar da minha avó me disse que ele estava certo.
— Há sempre um preço para a liderança, Zakkai. Fiz o melhor que
pude com o que tinha para oferecer. E agora estou cumprindo minha parte
da obrigação.
— Atuando como diretora para essas noivas — ele completou.
— Não totalmente preciso. — Ela olhou para Ajax. — Ele é o Diretor
escolhido. Estou aqui apenas para manter o paradigma seguro e vivo
enquanto Lucifer organiza seu teste.
Zakkai assobiou.
— Esse é um preço e tanto. — Então ele olhou para Lucifer. — A
Aflora não tem nada a ver com isso.
— Já negociamos nosso acordo, Arquiteto da Fonte. Estou aqui apenas
para fins de diversão. — Ele sorriu e inclinou a cabeça. — Mas como está
sua bela companheira? Grávida ainda?
— É esta a parte em que você exige nosso primogênito? — Zakkai
questionou.
Ele parecia ofendido.
— Eu nunca faria uma coisa dessas.
Zakkai grunhiu, sua descrença palpável.
— Tem razão. Eu faria isso, mas sua linda companheira está livre das
minhas negociações.
— Bom — Zakkai e eu dissemos ao mesmo tempo.
Lucifer encontrou meu olhar. Sua diversão tinha um brilho letal que
me deixou desconfortável.
— Sempre gostei de você, intrometido do tempo. Você é...
extremamente engenhoso. — Ele sorriu antes de se concentrar e, Ajax. —
Você está pronto para começar a dar as boas-vindas às candidatas a noivas?
— Estou, senhor — Ajax respondeu. Seu tom sério não era nada
parecido com o meu amigo descontraído dos nossos dias de Academia. Esta
nova versão era dura, forte, e continha uma tristeza no olhar escuro que
nunca parecia diminuir.
Ele levou muito a sério a morte de Emelyn, querendo se vingar.
Mas com Aflora assumindo e reformando todo o Conselho, não havia
ninguém para Ajax machucar.
Então Tadmir o trouxe para cá... onde Lucifer o recrutou.
Ele viu uma alma quebrada e ofereceu algo que ele não podia recusar:
uma chance de retribuição.
E esse era o ponto principal deste projeto.
Lucifer pegaria Faes femininas de todos os reinos e as forçaria a lutar.
Aquelas que vencessem seriam recompensadas com um casamento forçado
com um grupo de seus homens. Quem perdesse, morreria.
Aquilo servia como uma forma perversa de justiça contra aqueles que
condenaram abominações ao ostracismo por mais de mil anos.
Isso me fez pensar que truque minha avó tinha na manga. Ela nunca
concordaria com tal estratagema sem algum tipo de caminho secreto.
Enquanto eu olhava para ela, peguei o brilho de conhecimento em seu
olhar.
Era semelhante ao de anos atrás, quando contei a ela sobre Aflora.
Uma trama estava se desenrolando.
E parecia que Ajax e Lucifer estavam no centro disso.
Eu teria rido, mas algo me disse que este seria um conto sombrio e sem
humor.
Faes iam morrer.
Mas no final, talvez o Rei Fae do Inferno encontraria algo que ele
nunca soube que precisava: Amor.
RAINHA DO SUBMUNDO
Lexi C. Foss & J.R. Thorn
Meus pais fizeram um acordo com o diabo, e agora sou uma Fae do Inferno
cativa.
Lúcifer. O Rei Fae do Inferno que criou este reino esquecido por Deus.
Também conhecido como o orquestrador desses jogos mortais de
julgamento de noivas.
Tudo bem, Luci, eu vou jogar.
Queimando esse reino inteiro.
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Antologia: Entre Deuses
Table of Contents
Aflora
Rainha dos Vampiros
Frontispício
Copyright
Dedicatória
Contents
Livro Quatro
Introdução
Prólogo
1. Zakkai
2. Aflora
3. Kols
4. Zeph
5. Kols
6. Aflora
7. Shade
8. Aflora
9. Kols
10. Zakkai
11. Zeph
12. Shade
13. Aflora
14. Zeph
15. Kols
16. Aflora
17. Shade
18. Zakkai
19. Aflora
20. Zakkai
21. Kols
22. Aflora
23. Zeph
24. Aflora
25. Shade
26. Zakkai
27. Kols
28. Aflora
29. Kols
30. Shade
31. Zeph
32. Aflora
Epílogo
Rainha do Submundo
Sobre a autora
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