Você está na página 1de 277

— Você está ascendendo como Fae da Meia-Noite — Kols falou com

gentileza. — O sangue é como nos conectamos à Fonte Sombria, Aflora.


Ofeguei, a comida perdendo todo o sabor na minha boca.
Balancei a cabeça em negação. Não.
— Humm, acho que ela precisa de um pouco de persuasão, Kols.
— Também acho — o Elite de Sangue concordou. — Ela não teve
problema com sangue ontem à noite.
— Não, não teve mesmo.
— Talvez seja preciso nos envolver em algo semelhante para inspirá-
la? — Kols sugeriu, colocando a caneca de hidromel na grama.
— É como se você pudesse ler a minha mente — Zeph falou, passando
o dedo pela pasta vermelha. Eu meio que esperava que ele levasse aos meus
lábios, mas levou a mão para a boca de Kols.
E começou a passar a textura pelo seu lábio inferior, mantendo o olhar
em mim o tempo todo.
Em seguida, se inclinou para o lado, mudando sua atenção para o outro
homem, e lambeu a pasta do lábio de Kols antes de mergulhar a língua em
sua boca para beijá-lo.
Meu companheiro Elite de Sangue gemeu em aprovação, fechando os
olhos ao se perder no abraço de Zeph. Os dois se entregaram um ao outro
tanto quanto o sabor da comida.
O fogo lambeu minhas veias ao vê-los, e meu estômago se apertou em
expectativa.
Então Kols pegou um pouco da pasta com seu próprio dedo e
desenhou uma linha no pescoço de Zeph, seguindo-a com a boca, lambendo
a pele no processo.
Se você estivesse sem camisa, eu faria isso com seus seios, Kols
sussurrou em minha mente. Então eu morderia seu mamilo rosado e
afundaria os dentes em sua carne para realmente te provar.
Rainha dos Vampiros
Livro Um
Livro Dois
Livro Três
Livro Quatro

Rainha dos Elementos


Livro Um
Livro Dois
Livro Três
Rainha dos Vampiros: Livro Quatro
Lexi C. Foss
Copyright de Midnight Fae Academy: Book Four © Lexi C. Foss, 2021.
Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são produtos da
imaginação do autor ou foram usados de forma fictícia e não devem ser interpretados como reais.
Qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, eventos reais, localidades ou organizações é
inteiramente coincidência.
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9610 de 19/02/1998. Exceto para o uso de
pequenos trechos em resenhas, é proibida a reprodução ou utilização deste livro, no todo ou em parte,
de qualquer forma, sem a permissão prévia por escrito do detentor dos direitos autorais deste livro.
Tradução: Andreia Barboza
Copidesque da tradução: Luizyana Poletto
Designer de capa: Raquel Lyon, Crooked Sixpence
Foto de capa por: CJC Photography
Modelo da capa: Jordan Hagel
ISBN e-book: 978-1-68530-122-4
ISBN físico: 978-1-68530-123-1

Created with Vellum


À Matt, por me encorajar a sonhar. Aos meus leitores, por tornarem esses
sonhos realidade. E às estrelas, por inspirarem meus sonhos.
CONTENTS

Introdução
Prólogo
1. Zakkai
2. Aflora
3. Kols
4. Zeph
5. Kols
6. Aflora
7. Shade
8. Aflora
9. Kols
10. Zakkai
11. Zeph
12. Shade
13. Aflora
14. Zeph
15. Kols
16. Aflora
17. Shade
18. Zakkai
19. Aflora
20. Zakkai
21. Kols
22. Aflora
23. Zeph
24. Aflora
25. Shade
26. Zakkai
27. Kols
28. Aflora
29. Kols
30. Shade
31. Zeph
32. Aflora
Epílogo
Rainha do Submundo
Sobre a autora
Mais Livros de Lexi C. Foss
Bem-vindo ao mundo Fae da Meia-Noite.
Ele é sangrento.
Escuro.
E liderado por um vampiro antigo que precisa morrer.

Meus dias como peão nesta guerra acabaram. Estou assumindo como rainha
neste tabuleiro e, na minha versão do jogo, todos se curvam a mim. Até
mesmo Constantine Nacht.

Ele se acha inteligente me prendendo a esses testes de ascensão destinados


a matar a mim e a meus companheiros.
Mas vou provar que ele está errado.
Somos mais fortes do que ele pensa.
E vamos fazê-lo sangrar.

Faes da Terra são ligados à vida.


Os Faes da Meia-Noite, preferem a morte.
Eu sou uma mistura dos dois.
Então vamos ver o que acontece quando a vida se casa com a morte, certo?

Entregue minha coroa, Constantine.


É hora de você se curvar diante de sua rainha.
SABE como é deixar um sonho e cair de cara em um pesadelo? Porque eu sei.
Em um momento, tudo está quente e feliz, e no próximo, duro, frígido e
assustador.
Assim como as íris douradas de Constantine Nacht. Elas me lembram
de metal duro e gelado. Girando com poder. Me puxando profundamente
em sua teia. E me levando a uma realidade que não é minha.
Ele sorri. Insensível. Cruel. Frio.
E então ele começa a cantar.
Uma rima antiga. Um zumbido que não entendo. A magia rodopia no
ar, chamando meu coração de Quandary de Sangue. Memorizo as palavras.
Estudo os padrões. Espero pela querida vida. Eu me afogo sob a onda de
energia estranha que me envolve da cabeça aos pés.
Ele disse que queria conversar.
Ele mentiu.
Não há surpresa nisso. Ele é um Fae da Meia-Noite velho e malvado,
com uma alma sombria, e isso está me engolindo inteira, me arrastando
para baixo, para baixo, para baixo...
Eu tremo.
Grito.
Paraliso.
Então queimo. De forma muito intensa. Brilhante demais. Sombrio de
um jeito insano. A Terra chora dentro de mim, meu espírito é derrubado sob
o ataque de energia que ameaça me consumir.
E ele canta.
Canta. Canta. Canta.
Meu nome é um sussurro no vento. Uma ascensão está se formando.
Consumindo. Me deixando em chamas por dentro.
Errado, penso. Isto está errado.
Minhas raízes estão morrendo.
Minhas flores param de desabrochar.
O sol vira noite.
Trevas. Morte. Sangue.
É esmagador, sombrio e me rasga em duas. Linhas escuras rastejam
pelos meus braços como hera envenenada, deslizando, ronronando e
cativando meu foco. Me lembram cobras trepadeiras, assobiando e me
desafiando a brincar.
Isso não é real, digo a mim mesma. É um pesadelo. Vou acordar logo.
Tenho que acordar!
— Você está ascendendo — uma voz profunda fala.
Constantine Nacht.
— Logo, eles a verão pelo que você é, Rainha Aflora. Uma
abominação na forma mais verdadeira. Um monstro. Um ser consumido
pelo poder, tanto Fae Elemental quanto Fae da Meia-Noite na natureza. E
mal posso esperar para ver você queimar.
Ele gargalha.
Eu grito.
Então o silêncio nos engole, suas palavras finais soam como uma
ameaça na brisa, envolvendo meu ser em um beijo de obsidiana.
— Bem-vinda ao seu primeiro teste de ascensão, futura morta. Que
isso destrua para sempre sua alma.
CAPÍTULO UM
ZAKKAI

O PODER EMANOU ATRAVÉS do paradigma, eletrizando meus sentidos como o Arquiteto


da Fonte.
Em um momento, eu estava fazendo uma promessa mental, flertando
com minha companheira. E no seguinte, saí em disparada para onde Aflora
dormia.
Constantine estava aqui. Eu o senti em cada respiração, a aura Elite de
Sangue manchando o paradigma com sua presença malévola.
Mergulhei na Fonte, procurando por seu núcleo mágico. Ela pulsava,
brilhante no centro, com seus poderes totalmente engajados e sufocando a
todos e tudo ao seu redor.
O que ele está fazendo?, me perguntei, parando de repente enquanto
observava um raio de magia entrar em outra alma. Ah, merda! Aflora!
Saí novamente, sua aura gritando em agonia com a inesperada intrusão
do encantamento sombrio.
Muito poder, pensei. É demais.
Tentei agarrá-lo em minha mente, arrancá-lo de minha companheira,
mas a Fonte já havia se ancorado dentro dela, despejando onda após onda
de energia no núcleo de seu ser.
— Puta merda — gritei, invadindo a cabana coberta de flores
murchas.
Sua magia da Terra chorava com a intrusão, sua alma se despedaçando
sob o erro das ações de Constantine.
— Ele está forçando a ascensão dela — disse para mim mesmo. — Ele
está redirecionando a Fonte para ela. — O comentário saiu em um
grunhido, minha fúria palpável e violenta.
Caí de joelhos ao lado dela enquanto as linhas escuras se espalhavam
de seu coração para seus membros, decorando-a como a escolha da Fonte.
— Isso é impossível — Kolstov sussurrou. — Não é assim que
funciona.
Balancei a cabeça. Porque ele estava errado.
— É perfeitamente possível — respondi, furioso comigo mesmo por
não ter percebido. — Ela é acasalada com duas linhagens reais e o
Arquiteto Fonte. — Isso dava a Constantine o acesso que ele precisava ao
núcleo de sua essência. Permitiu que ele respirasse o encantamento usado
para invocar novos governantes e redirecioná-lo para o herdeiro legítimo.
A companheira do Príncipe Fae da Meia-Noite deposto.
A outra metade escolhida pelo Arquiteto Fonte.
A alma gêmea do Príncipe Morte de Sangue.
Uma Fae Elemental Real.
Tudo que a marcaria como uma candidata em potencial.
— Merda. — Embalei o rosto de Aflora entre minhas mãos e tentei
redirecionar nosso poder para longe dela, reescrever o caminho e enviá-lo
de volta para Constantine, mas a Fonte já havia escolhido.
Digna, ela sussurrou de forma sombria. Pura. Jovem. Conduta
honrosa.
As palavras não eram reais, apenas sensações que atingiam meu
espírito e me diziam que não havia nada que eu pudesse fazer para impedir.
Alcancei Aflora e tentei guiá-la, aliviar sua dor, levá-la à ascensão com
uma suavidade que faltava na Fonte.
Seus gritos ecoaram na minha cabeça e sua confusão atingiu meu
coração. Ela não entendia o que estava acontecendo e se perdeu na névoa da
essência de obsidiana que crescia dentro dela.
— Zakkai! — alguém chamou. Uma voz profunda. Severa. Furiosa.
Levantei os olhos para encontrar um par de olhos verdes.
— O que foi? — questionei, irritado com a interrupção.
O Guerreiro de Sangue – Zephyrus – parecia pronto para me matar.
— Diga-nos o que você está fazendo.
— Ajudando-a a ascender — respondi de forma breve.
— Precisamos mordê-la? Foi o que fizemos da última vez que ela
explodiu com poder.
Balancei a cabeça, rangendo os dentes.
— Não. Isso aconteceu com a minha ascensão. — A noite em que me
tornei o Arquiteto da Fonte. Não havia uma saída para minha troca de
poder, então todos sentiram. Incluindo a família Nacht. Isso fez com que
Kolstov liberasse seu poder em um tumulto que destruiu o quarto de Aflora.
E então ela se desfez na Floresta Mortal.
Eu não tinha presenciado. Mas senti. E mais tarde, soube através de
Shade.
— Morder não vai ajudá-la desta vez. Constantine está
sobrecarregando sua essência com magia sombria e forçando um membro
relutante da realeza a ascender. — Olhei para o Guerreiro de Sangue. — Sei
como ajudá-la, mas preciso me concentrar. — E não poderia fazer isso com
ele me interrompendo.
— Faça isso — ele exigiu.
Não reconheci sua permissão, porque me recusei entender como
comando. Então fechei os olhos para voltar à minha tarefa.
Silêncio se seguiu enquanto eu voltava para minha tarefa, só que desta
vez a energia protetora de Zephyrus me seguiu. Serviu como uma
provocação estranha aos meus sentidos. Eu não estava acostumado a sentir
o calor de um Guerreiro de Sangue. Claro, não era para mim, mas para
Aflora. Independentemente disso, criou a aura de segurança que eu
precisava para mergulhar ainda mais na psique dela. Porque eu não tinha
que me concentrar no meu entorno. Zephyrus resolveria essa parte.
Entrei mais profundamente em seu núcleo, vacilando quando sua
agonia alcançou meus escudos mentais.
Ascender dói.
Como fogo derretido inundando o espírito interior. Experimentei o
mesmo quando aceitei o cargo de Arquiteto da Fonte. No entanto, eu tinha
entrado na situação sabendo o que esperar.
Aflora não estava disposta nem sabia o que esperar.
Eu deveria ter previsto, mas nunca imaginei que Constantine tentaria
esse movimento. Ele estava entregando a Fonte a ela. Só porque pretendia
matá-la. Ainda assim, ela poderia sobreviver – sobreviveria – se tornando
um risco enorme, algo que nunca pensei que ele iria correr.
— Não entendo como isso é possível — ouvi Kolstov dizer. — O teste
da ascensão requer sangue.
— Sangue Nacht — Shade respondeu.
— Sim — concordei com a voz um pouco tensa por tentar manter uma
conexão com Aflora enquanto também falava com seus companheiros. —
Sua conexão com a linhagem da família Nacht via Kolstov, e suponho que
através do vínculo Guardião de Zephyrus, teria concedido a ele o acesso
para realizar o encantamento. Então a Fonte aceitou o vínculo porque ela é
acasalada com um Nacht e um Sangue de Morte.
Sangue de Morte sendo a linhagem de Shade. Embora ele raramente
usasse o sobrenome.
— Ela também é a Rainha Fae da Terra — acrescentei, engolindo
quando um raio de energia da Fonte me atingiu. Serviu como uma ordem
para me afastar mentalmente de Aflora e permitir que ela ascendesse.
Respondi, criando uma parede intangível ao redor dela e depois fiz uma
porta proverbial. A me empurrou, forçando seu caminho e me
transformando em uma espécie de sifão.
Queimou.
Mas aceitei o fardo.
Porque era a única maneira de facilitar as coisas... dar a ela uma
chance de lutar.
— Um membro da realeza por natureza e sangue — Shade disse com a
voz estranhamente distante. — Então, tudo que Constantine precisava fazer
era recitar o encantamento...
— E a Fonte sombria foi direto para ela — Kolstov terminou. —
Merda.
— Precisamente — tentei dizer, sentindo meus pulmões se apertarem
com o esforço.
Uma mão encontrou meu ombro, a palma grande e indesejada. Então o
poder de Zephyrus me envolveu, seu encantamento protetor fornecendo
uma espécie de bálsamo estranho.
Estremeci, mas a tranquilidade de seu toque foi... inesperada.
Isso me deu espaço para respirar e de alguma forma transferiu meu
fardo para ele temporariamente. Estudei seu encantamento, curioso para
saber que feitiço ele havia lançado. Um feitiço de absorção, traduzi. Não o
que eu esperava, nem nada que já experimentei antes.
Zephyrus empurrou mais em mim, me forçando a tomá-lo.
Quase empurrei de volta em retaliação. Essa dinâmica de grupo ia
aniquilar minha paciência. Eu não trabalhava em conjunto. Preferia liderar e
ser seguido, não colaborar.
Mas por Aflora... eu tentaria.
E como isso me ajudou a relaxar, aceitei.
— Ela precisa passar no primeiro teste — Kolstov disse, respondendo
a uma pergunta que eu havia perdido. Ou talvez ele estivesse apenas
pensando em voz alta. — Confiar.
Assenti. Ela teria que confiar nos mais próximos para guiá-la.
— Mas ainda não começou. A Fonte ainda está se estabelecendo. —
Eu podia senti-la preencher cada centímetro de sua alma, escurecendo seu
acesso aos Elementos. Ou tentando, de qualquer maneira. Suas raízes
estavam lutando contra a intrusão, negando à Fonte sombria um lar
adequado.
Ela ofegou, ainda inconsciente e totalmente acordada ao mesmo
tempo.
As linhas sombrias se contorceram em aborrecimento.
Suas raízes se mantiveram.
— Fae — sussurrei, maravilhado e aterrorizado pela mistura
complicada de magia emanando dentro dela. Era hipnótico, lindo e bem
errado. Faíscas cerúleas ligadas a linhas pretas, chamas verdes, fumaça roxa
e contornos vermelhos profundos. Mas no centro de tudo havia uma árvore
próspera, os galhos eram um redemoinho de cores e magia enquanto a
Fonte sombria tentava penetrar em seu lar Elemental com uma variedade de
torções cruéis. — Ela está lutando contra.
Talvez não intencionalmente, mas de forma instintiva.
— Sua Fonte de Terra está se recusando a liberá-la — continuei,
perdido na estonteante variedade de encantamentos que se desenrolavam
dentro de Aflora.
Fechei os olhos novamente enquanto a exibição de relâmpagos
absorvia cada grama da minha atenção.
Eu estava perdido. A beleza das Fontes duelando, se unindo e
duelando novamente. Toda vez que a escuridão encontrava uma nova
entrada, um fio cerúleo encontrava as pontas e as desembaraçava enquanto
minha querida estrelinha aprendia e memorizava os feitiços mais rápido do
que eu já tinha visto.
Eu a senti puxando minha mente, meu poder, minha energia, e usando-
os para criar e moldar suas reações de forma apropriada. Muito rápido, ágil
e sedutor.
— Ela está ensinando — sussurrei, ainda totalmente absorto pela visão
diante de mim. — Ela está ensinando as Fontes a se unirem dentro dela. —
Era por isso que parecia que estavam lutando, se conectando e depois
lutando novamente. Ela estava encontrando uma maneira para que ambos os
poderes coexistissem dentro dela, para se ancorar na Terra e segurar a
magia Sombria também.
Temporariamente, pensei. Esta é a solução temporária.
— Ela está nos dando tempo — eu disse aos outros, então franzi a
testa. — Mas não podemos parar a ascensão. — Expressei em voz alta e
através do vínculo com Aflora. Ela não comentou, sua mente estava perdida
para o poder engolfando seu espírito. Eu nem tinha certeza se ela podia me
ouvir. No entanto, ela com certeza me sentiu. Assim como eu a senti
puxando minha essência para ajudar a acalmá-la.
— Não, só podemos garantir que ela sobreviva — Kolstov respondeu.
— Passando no teste inicial. — Ele fez uma pausa, e eu o senti olhando
para Zephyrus, embora meus olhos ainda estivessem fechados. Foi uma
sensação estranha, que confirmou que estávamos realmente ligados. Pelo
menos, no primeiro nível. Porque eu o salvei, usando meu sangue para
trazê-lo de volta à vida. Amarrando assim nossos destinos para a eternidade.
Talvez fosse por isso que Zephyrus podia me ajudar como ele fez:
meus laços com Aflora e Kolstov, dois de seus companheiros totalmente
ligados.
O sangue funcionava de maneiras complicadas, especialmente para
Faes da Meia-Noite.
— Isso avaliará os relacionamentos dela, assim como fez comigo e
com os meus — ele falou.
— O que significa que vai envolver todos nós — o Guerreiro de
Sangue deduziu em voz alta.
Passei por um teste semelhante como Arquiteto da Fonte. Minhas
provações eram diferentes das de uma ascensão real – mais complicadas e
na forma de quebra-cabeças e enigmas. As de Aflora provavelmente seriam
uma mistura por causa de seus laços comigo.
— Você teve que confiar nos instintos do Tray e na minha visão —
Zephyrus continuou. — Para passar pela luz ofuscante.
O arrepio de Kolstov foi palpável, algo que novamente senti mais do
que vi.
— Sim. — Sua voz era suave. — A Fonte a colocará em uma situação
que não permitirá que ela escape sozinha.
Isso parecia certo. Só que completei minha tarefa sozinho. Porque não
havia ninguém em quem eu pudesse confiar. Meu vínculo de acasalamento
foi cortado e meu pai insistiu que eu dominasse minha ascensão da Fonte
sozinho.
Não foi fácil.
Mas nada com a Fonte era.
Kolstov soltou um suspiro e se reposicionou ao meu lado na cama,
fazendo meus olhos se abrirem. Ele usava cuecas boxers e nada mais.
Zephyrus e Shade permaneciam nus do outro lado de Aflora, com
preocupação evidente.
— A qualquer segundo — Kolstov disse depois de avaliar as linhas de
obsidiana rastejando pelos braços dela.
Concordei com um aceno de cabeça, vendo a energia parecer se
estabelecer, me preparando para a próxima fase. Tudo passou por mim,
deixando-a para lutar contra o resto sozinha.
O silêncio caiu enquanto todos prendíamos nossas respirações.
Um arranhão na porta perturbou a paz momentânea. Os três homens
assumiram posições defensivas, suas varinhas parecendo surgir do nada.
— Relaxem — eu disse, ciente de quem tinha feito o som.
Zimney.
Meu encantamento lobo ártico abriu a porta com seu grande focinho
branco, então a empurrou para permitir que Clove voasse. As asas do falcão
quase atingiram Zephyrus e Shade enquanto ela voava entre eles para
pousar bem ao lado de Aflora.
Era o trabalho de um encantamento proteger o Fae que o conjurou. E
Clove claramente sentiu o desconforto de Aflora, assim como Zimney
sentiu o meu. Ou talvez ele tenha seguido Clove. Os dois estavam ligados
de uma maneira única, já que tecnicamente era minha magia que Aflora
havia aproveitado para criá-la. Isso significava que Clove respondia a mim
também. O que ela teria feito de qualquer maneira como companheiro de
Aflora.
Olhei para as duas criaturas e fiz uma careta.
— Eles sentem alguma coisa. — Não conseguia ouvi-los, mas senti o
conhecimento atravessando minha conexão com Zimney. — Eles estão aqui
para o primeiro teste.
Um morcego entrou logo em seguida, pousando no ombro de Shade.
Seguido pelo silvo de uma cobra de três cabeças que se manifestou
magicamente ao redor do pescoço de Zephyrus. Três pares de olhos
assustadores foram para o meu lobo, a criatura rastejante claramente agitada
pelo meu encantamento. Zephyrus murmurou algo para o réptil, que ele
chamou de Raph.
Olhei para Kolstov, curioso para ver que animal apareceria. Mas não
houve nenhum.
Porque Kolstov tinha morrido.
O que significava que seu encantamento havia morrido também.
Merda.
— Esse é o teste — comentei em voz alta, sentindo meu coração
acelerar. — Algo com o seu encantamento. — Aflora teria que trazer o ser
de volta dos mortos? Conjurar um novo? Trabalhar em um quebra-cabeça
envolvendo o encantamento dele? Havia tantas opções. Muitas.
Passei os dedos pelo cabelo, os fios loiros acinzentados caindo no meu
rosto por um momento e escondendo minha reação dos machos ao meu
redor. Uma reação sublinhada na incerteza momentânea.
Tínhamos nos unido o suficiente para que a Aflora passasse com
sucesso neste teste?
Porque eu não confiava em nenhum deles. Na verdade, não. Só em
minha estrelinha.
No entanto, e se o teste não fosse apenas para ela, mas também para
todos os seus companheiros?
Eu seria forçado a confiar nos outros? Colocar minha fé naqueles que
acasalaram com Aflora? Salvar Kolstov da morte já havia sido muito difícil.
Mas eu nem hesitei em ajudá-lo. Assim que vi o que sua morte teria feito
com Aflora, soube que ele teria que viver. Isso seria tão diferente? Quanto
eu estava preparado para sacrificar para garantir a sobrevivência de Aflora?
Não tive um momento para considerar a resposta, porque no instante
seguinte, Aflora começou a tremer.
Pressionei a palma em seu esterno em uma tentativa de segurá-la,
apenas para ter minha pele queimada pelo poder que irradiava dela.
Zephyrus xingou.
Shade estremeceu.
E Kolstov desabou ao lado dela em um estremecimento violento.
Clove soltou um grito agonizante, fazendo Zimney rosnar. Então a
magia se espalhou pela sala, quebrando o paradigma ao nosso redor. Shade
pulou enquanto feitiços saiam de seus lábios tentando manter o
encantamento no lugar. Eu imediatamente reforcei as bordas, dando a ele a
alavanca que precisava para consertar as rachaduras, e Zephyrus envolveu
tudo com sua magia de Guerreiro.
Um esforço natural de equipe.
Sendo ameaçado a cada segundo que passava.
O teste havia começado. A primeira tarefa de Aflora era acordar.
E o único que poderia ajudar a guiá-la era o membro da realeza caído
ao seu lado.
Se eles falhassem... ela morreria.
Outro golpe estrondoso contra o paradigma me fez arrepiar.
— Constantine sabe onde estamos. — Porque ele usou tudo isso como
uma distração para nos localizar, sabendo que estaríamos enfraquecidos
enquanto Aflora tentava passar em seu primeiro teste.
Cretino esperto, resmunguei para mim mesmo, enviando uma enorme
onda de poder para reescrever todos os feitiços que cercavam o exterior da
cúpula improvisada. Não era visível, apenas um uso alternativo do espaço
que Constantine havia localizado usando Aflora como uma espécie de farol.
Foi isso que senti ontem à noite.
Ele estava por perto. Seu poder era como uma lâmina de fogo contra
meus sentidos, que me alertaram para seus caprichos nefastos sem fornecer
os detalhes finitos.
E então ele me distraiu forçando a ascensão de Aflora.
Zephyrus lançou um feitiço defensivo que capturou minha consciência,
o Guerreiro de Sangue se provou incrivelmente capaz no momento.
Memorizei seu encantamento e o ecoei por todo o paradigma, reforçando-o
com um pequeno toque Quandary de Sangue que tornaria um pouco mais
difícil de desfazer.
Shade adicionou sua própria magia da Morte, permitindo que nós três
criássemos um escudo único que, com sorte, nos daria um pouco mais de
tempo.
— Preciso encontrar algum lugar para nós pularmos — Shade disse
rapidamente.
— Vá — respondi, o poder aprofundando minha voz para um
estrondo.
Zephyrus enviou outro encantamento que copiei enquanto Shade
desaparecia em uma nuvem de fumaça preta.
— É melhor ele voltar — Zephyrus disse baixinho.
— Ele vai. — Se havia uma coisa que eu podia contar com Shade, era
sua proteção para com Aflora. — Continue reforçando o paradigma.
Zephyrus grunhiu, mas fez exatamente o que eu disse.
Embora eu duvidasse que tivesse algo a ver com minha ordem e tudo a
ver com o par inconsciente na cama.
Eles eram os donos de seu coração.
E então ele fez o que um Guerreiro de Sangue era treinado para fazer:
proteger.
CAPÍTULO DOIS
AFLORA

UM LABIRINTO.
Todos os lugares em que eu virava era um beco sem saída, o enigma se
espalhando diante de mim em uma confusão impossível de videiras de
obsidiana. Eram raízes da meia-noite se entrelaçando, me prendendo e me
mantendo como refém.
Girei em um círculo, perdida na escuridão estranha.
Ela me consumia, ameaçando destruir minha Terra. Mas lutei contra.
Eu o forcei a se comportar, a se misturar, a se ligar à minha existência e me
permitir a chance de respirar. Foi uma resposta natural, baseada no poder de
Zakkai. Sua essência tinha passado por mim, seguido por um beijo de
proteção com um toque da habilidade de Zeph. Meus dois companheiros me
ajudaram a subir neste jardim de rosas mortas.
Então as videiras começaram a girar e crescer, me trancando dentro.
E as palavras finais de Constantine se repetiram ao vento.
— Bem-vinda ao seu primeiro teste de ascensão, futura morta. Que
isso destrua para sempre sua alma.
Estremeci. Isso era um tipo de teste, algum tipo de provação projetada
para eu falhar. Eu não sabia as regras ou o que tudo isso significava. Não
sabia como sobreviver. No entanto, não tive escolha. Constantine não
poderia vencer. Não assim. Ele forçou esse poder em mim, garantindo meu
status de abominação, e eu encontraria uma maneira de desfazê-lo.
Eu havia memorizado os cantos e a criação mágica. Só tinha que
descobrir como desfazer esses vínculos e liberar a Fonte mais uma vez.
Depois que eu escapasse deste labirinto.
Kols?, sussurrei, tentando me conectar com quem eu sabia que poderia
me ajudar mais. Como um Elite de Sangue e o verdadeiro Príncipe Fae da
Meia-Noite, ele saberia o que fazer.
Mas o silêncio encontrou minhas palavras.
Shade? tentei em seguida.
Silêncio.
Mordi o lábio, incerta. Isso era mesmo real? Ou eu ainda estava
perdida em um pesadelo dentro da minha mente?
O poder pulsando dentro de mim parecia real. Assim como a trama
proibida de magia unindo a Fonte Sombria com minha Fonte da Terra.
Claire, pensei, tremendo um pouco. Os Fae Elementais podem sentir o
que eu fiz? Estou machucando-os agora?
A chanceler Elana havia obscurecido os Elementos com sua conexão
com a magia Fae da Meia-Noite. Mas essa foi uma decisão ativa e
consciente da parte dela de absorver mais poder.
Eu não queria mais. Queria menos.
Tentei empurrá-la para meus companheiros, para aliviar um pouco da
dor dentro de mim, mas o bloqueio entre nós permanecia.
Não aceito isso, decidi, empurrando a barreira e procurando a fonte da
obstrução. Tinha que ser um feitiço, algo que Constantine teceu, e eu teria
que desfazê-lo.
Ignorando o labirinto, fechei os olhos e me concentrei. Isso tudo estava
dentro da minha mente, um ginásio mental de energia se contorcendo e
conexões estrangeiras.
Uma árvore brotou no centro do meu ser, os galhos todos girando com
uma variedade de cores.
Vermelho para os Elite de Sangue.
Azul para os Sangré de Sangue.
Verde para os Guerreiros de Sangue.
Roxo para os Sangue de Morte.
Preto para os Maléficos de Sangue.
E cerúleo no centro, dançando ao longo das veias do tronco para os
Quandary de Sangue.
Acariciei mentalmente a bela criação, me sentindo maravilhada com as
folhas multicoloridas que brotavam nos galhos. Tão forte e cheia de vida.
Ainda caídas com cinzas.
Era o meu compromisso, a maneira como persuadi minha Fonte da
Terra a coexistir com a Fonte Sombria.
Uma formação tão antinatural e, no entanto, parecia se encaixar.
Eu me permiti um vislumbre de admiração, então me concentrei em
meus companheiros e nossos laços obstruídos. Zakkai me ajudou a
ascender, assim como Zeph. Senti Kols também, sua linhagem prosperando
em minhas veias. E Shade, minha eterna sombra escura, me presenteou com
sua garantia de que tudo ficaria bem.
Todos eles estavam comigo e, ainda assim, não estavam.
Por causa de Constantine.
Você não vai ganhar, eu disse. Ele não podia me ouvir. Ou talvez
pudesse. Talvez tudo isso fosse apenas algum tipo de pesadelo perverso.
Independentemente disso, o sentimento permaneceu.
Ele tentou matar meu companheiro. E agora, me forçou a essa
ascensão.
Vou desfazer esse feitiço. Depois, vou garantir que você não possa
mais machucar ninguém.
Eu não tinha ideia de como conseguiria, mas senti a segurança da
minha tarefa no fundo das minhas raízes. Ele pagaria por seus pecados.
Inalando lentamente, mergulhei mais fundo em minhas amarras,
procurando a magia que não me pertencia. Eu a senti circular Kols, meu
vínculo com sua linhagem parecia ter fornecido a Constantine o acesso que
ele precisava para tecer seus encantamentos nefastos.
Zeph também, percebi, puxando aquela corda e encontrando uma
âncora em meu companheiro Guerreiro de Sangue.
Os fios de Kols ligados a Shade e Zakkai. Por causa de seus laços de
acasalamento que foram estabelecidos na noite passada.
O feitiço de Constantine se apresentou em ondas intrincadas, as pontas
de fogo borbulhando com brasas que tornavam perigoso tocá-lo. Desfiz as
camadas com minha mente, buscando o padrão do encantamento, mas ele
havia tecido demais para desfazer sem risco.
Eu precisava de Zakkai.
O que significava que eu precisava descobrir como passar neste teste.
Abri os olhos. A escuridão ao meu redor aumentou enquanto eu
cutucava meus laços de companheiros. Estava muito escuro agora, as
trepadeiras formavam uma espécie de dossel sobre minha cabeça.
Um calafrio percorreu minha coluna. Isso definitivamente não era um
pesadelo. Mas também não era real. Eu podia sentir os laços mágicos que
revestiam o horizonte, a fonte sombria servindo como o construtor deste
curso.
Me ajoelhei para tocar as lâminas de carvão, sentindo minha magia da
Terra ganhar vida enquanto absorvia a composição genética da paisagem e
tentava manipulá-la à minha vontade. Flores brotavam ao longo das
videiras, pontilhando o mundo de cores. Então as pétalas se transformaram
em cinzas quando a magia sombria matou minha nova vida.
Meu coração doeu com a perda e minha respiração ficou presa na
garganta.
Tentei novamente, exigindo que o mundo mudasse para aceitar o
núcleo do meu ser. Mas ela respondeu estrangulando minha energia, me
negando qualquer forma de luz.
— Aflora. — A voz familiar de Constantine flutuou no vento, me
fazendo ranger os dentes em frustração.
Ele voltou para assistir ao meu teste. Toco de salgueiro, pensei, me
levantando para encará-lo. Eu não podia vê-lo, apenas ouvi-lo, sua figura
estava sombreada a cerca de três metros de distância.
— Ainda bem — ele sussurrou, sua forma se aproximando. — Você
está bem?
Arqueei uma sobrancelha.
— Essa é a sua versão de piada? Porque você terá que se esforçar mais
para provocar meu riso.
Ele se aquietou.
— Uma piada? Por que eu iria brincar com isso?
— Eu não sei porque você faz um monte de coisas — admiti. — Como
forçar a ascensão de um membro da Realeza da Terra, por exemplo.
— Você acha que fiz isso com você?
— Sei que fez — retruquei, colocando as mãos em meus quadris. —
Mas vou encontrar uma maneira de desfazer. E vou sobreviver a este teste,
marcando você como o futuro morto. — Não que eu fosse matá-lo. Isso não
me faria melhor do que ele.
Faes da Terra ansiavam por vida.
E eu seria uma Fae da Terra até meu último suspiro.
— Quem você acha que eu sou? — Constantine perguntou.
Eu o ignorei e me concentrei em meus arredores. Ele estava aqui para
me distrair da minha tarefa, e eu já tinha desperdiçado fôlego suficiente
com ele.
Minhas flores tinham se transformado em cinzas novamente enquanto
conversava com ele, e a luz restante brilhava como pequenas estrelas entre
as vinhas escuras. Tentei usar a magia para desfazê-las, mas a Fonte
Sombria assobiou em resposta.
— Tudo bem — eu disse a ele. — Então que tal isso? — Agarrei as
raízes e chamei um cipó ardente. Ele brotou alto e orgulhoso, com o fogo
ondulando de seus membros e explodindo direto no teto do meu dossel.
Eu sorri, orgulhosa.
E então o cipó gritou de dor enquanto se transformava em pó.
Meu coração acelerou e o golpe repentino me derrubou de joelhos.
Constantine correu, agarrando meu braço enquanto gritava meu nome.
Eu o empurrei com um raio de poder, enquanto o Sangue de Guerreiro
de Zeph prosperava dentro de mim e me iluminava por dentro. O feitiço
deixou meus lábios por instinto, o encantamento que Zeph me ensinou
durante uma de nossas lutas. E empurrou Constantine para o chão.
— Que merda é essa? — ele questionou com um chiado.
— Me toque novamente e vou paralisar você. — Então inclinei a
cabeça para o lado. — Um feitiço cortesia de seu pequeno espinho, Dakota.
— Seria apropriado usar o encantamento nele, já que ele havia enviado
aquela Fae mentirosa para se infiltrar no acampamento de Zakkai.
— Do que você está falando? — ele perguntou, parecendo chocado e
consternado. — Aflora, quem você pensa que eu sou?
— Esta é a parte em que você me lembra que é um ex-rei e exige que
eu me curve? Porque não acho que estou no clima para isso. Se alguém vai
se curvar, será você. — E eu adoraria vê-lo fazer isso. Supondo que eu
pudesse. O fato de ele ter se curvado sob o feitiço de Zeph foi um
desenvolvimento interessante. Constantine deveria ser poderoso o suficiente
para bloqueá-lo.
— Um príncipe — ele assobiou. — E não, princesa, não vou exigir
que você se curve. Mas me acerte com outro feitiço e vamos trocar algumas
palavras.
— Parece uma ameaça vazia, uma vez que você já está falando — eu
disse.
E novamente ele me distraiu da minha tarefa.
Pó polvilhado, preciso me concentrar.
Ele era apenas um...
Um raio de eletricidade me atingiu na lateral, me derrubando no chão.
No instante seguinte, a figura sombria me prendeu no chão com um
joelho entre minhas coxas.
— O que você tem? — ele questionou.
— Saia de perto de mim! — gritei enquanto um feitiço se alinhava em
meus lábios.
Mas sua boca capturou a minha, me silenciando em um instante.
Tecnicamente, eu ainda podia proferir o feitiço em meus pensamentos.
No entanto, eu não era tão versada na arte dos encantamentos mentais. E
meu cérebro também não funcionava corretamente.
Porque Constantine estava me beijando.
Que biscoito de lírio era esse?
Por que ele está...?
Sua língua entreabriu meus lábios e a familiaridade atingiu minhas
papilas gustativas, me derrubando sob uma onda de confusão.
Kols.
Ele tem o gosto de Kols.
Como?
Porque eles são parentes?
Argh, que nojo. Que nojo, que nojo, que nojo! Tentei empurrá-lo, mas
o macho permaneceu pesando sobre o meu corpo com as mãos nos meus
quadris.
Algo estremeceu dentro da minha cabeça, meus laços de companheiro
gritando em fúria.
Tentei me agarrar a eles para destravar o feitiço, mas aqueles extremos
empolgantes ameaçavam chamuscar minha mente – e as mentes de meus
companheiros – no processo.
Um tremor percorreu minha coluna enquanto minha boca respondia ao
beijo familiar e meu corpo se rebelava.
Por que ele está me beijando?, me perguntei, franzindo a testa.
Constantine não tinha motivos para fazer isso. Claro, ele poderia evocar
confusão dessa maneira... mas ele já estava conseguindo isso antes de me
tocar.
Ele também não lutou quando poderia bloquear meu feitiço. Não.
Constantine teria bloqueado meu feitiço.
Então, por que me deixar bater nele? Por que me beijar depois?
A não ser que...
A menos que não fosse Constantine, mas Kols.
Eu pisquei.
Não.
A voz é de Constantine.
Mas eu não podia vê-lo.
Quem você acha que sou? ele perguntou duas vezes. E me chamou de
princesa. Constantine se referia a mim como abominação e futura morta.
Kols muitas vezes me chamava de princesa.
O que Constantine saberia se, de alguma forma, tivesse aproveitado a
história do nosso vínculo. Isso era possível? Eu não fazia ideia. Mas eu não
sabia nada sobre Faes da Meia-Noite ou como a ascensão e as linhagens
funcionavam.
No entanto, Kols sabia.
Mordi sua língua, tirando um grunhido baixo de seu peito.
— Aflora — ele resmungou.
— Pare — exigi.
— Tente me derrubar com outro feitiço e eu vou te beijar de novo —
ele avisou. — Sei que não temos tempo para isso, mas doeu, Aflora. E não
posso te bater de volta.
Constantine o faria. A menos que ele estivesse pregando outra peça em
mim.
Tentei distinguir as feições de seu rosto, mas estavam mascaradas atrás
de uma cortina escura.
— Você consegue me ver? — perguntei em voz alta.
— Se consigo te ver? — ele repetiu. — Claro que sim.
Tentei encontrar sua boca, depois seus olhos. Eu sabia onde eles
deveriam estar, mas não conseguia distinguir os detalhes.
— Você está sombrio e escuro.
— O quê?
— Não consigo te ver — expliquei, estendendo a mão para tocar seu
rosto. A voz ainda era a de Constantine. No entanto... não se parecia com
ele. Não que eu realmente soubesse como era tocar o Ancião, mas não o
senti nessa figura sombria.
Podia ser um estratagema.
Ou o estratagema poderia estar me fazendo pensar que era
Constantine.
— Kols? — Seu nome saiu em um sussurro, principalmente porque me
senti tola por perguntar. Mas tudo estava... uma confusão.
— Sim, linda?
— Sua voz é igual a do Constantine — admiti baixinho, mordendo
meu lábio.
Ele ficou em silêncio por um momento, até que xingou.
— É o teste. É sobre confiança. Por isso você está me vendo como
alguém em quem não deveria e não confiaria.
— Confiança? — repeti.
— Sim. Existem sete testes de ascensão, cada um projetado para testar
diferentes aspectos da realeza e liderança. E o primeiro é sobre confiar
naqueles que te apoiam. — Ele segurou minha bochecha. — A Fonte
Sombria está testando sua capacidade de confiar em seus companheiros,
Aflora.
— Fazendo você parecer o Constantine — falei, me inclinando em sua
palma. Constantine não perderia o fôlego explicando o julgamento para
mim. Ele só esperaria que isso me matasse.
O que confirmou que não era ele, mas meu Kols.
Meu vínculo com a Terra pulsava em concordância. O vínculo com ele
era uma raiz grossa que conectava nossas almas. Isso não era algo que o
Ancião Fae da Meia-Noite poderia manipular. Ele não tinha controle ou
poder sobre minha magia da Terra.
Beijei os lábios de Kols, dizendo sem palavras que eu sabia que era
ele. Então recuei para olhá-lo.
— E agora?
— Agora vamos sair deste labirinto e acordar — ele respondeu em voz
baixa. — E para fazer isso, você precisa seguir seus instintos.
— Meus instintos dizem para queimar as videiras e permitir que a luz
ilumine meu caminho. — Sempre preferi a luz à noite. Mas Faes da Meia-
Noite se relacionavam com a escuridão.
Ele voltou a ficar de joelhos, então se levantou e estendeu a mão para
me ajudar a levantar. Aceitei, percebendo que podia ver sua sombra
claramente, apesar da escuridão se instalar ao nosso redor.
Na verdade, ele era a única figura que eu conseguia distinguir, agora
que as luzes cintilantes estavam totalmente cobertas pelas trepadeiras.
Isso deveria estar relacionado a este teste: minha capacidade de ver
aquele em quem eu confiava através da névoa de obsidiana.
— Onde estão os outros? — perguntei. — Por que eu só posso sentir
você?
— Não sei — Kols respondeu com um tom aborrecido, ainda
parecendo Constantine. — Zakkai pensou que seu teste teria algo a ver com
o Night.
— O seu encantamento?
— Sim. Os outros apareceram durante sua ascensão, exceto o Night.
— Uma pontada de tristeza ecoou em sua voz profunda, confirmando ainda
mais que era Kols e não Constantine.
— Tente chamar por ele — sugeri.
— Eu o senti morrer — Kols sussurrou. — Quando... quando eu morri.
Estremeci, me lembrando como foi quando perdi Clove meses atrás.
Eu não sabia que poderia trazer meu encantamento de volta. Mas foi Kols
quem me ensinou.
— Você tentou chamá-lo?
O silêncio que se seguiu indicou sua hesitação.
Ele não havia tentado.
E eu entendia o porquê.
— Você está com medo de que ele não responda — falei, segurando
sua mão e apertando-a. — Uma vez você me disse que os encantamentos
estão ligados às nossas vidas, que eles só morrem se morrermos, e você não
morreu, Kols. O Shade segurou seu fio de vida por tempo suficiente para
que eu lhe desse raízes.
O que significava que Night ainda estava aqui.
Ele tinha que estar.
Porque Kols estava muito vivo.
— Tente chamá-lo — encorajei com a voz baixa, mas confiante. —
Traga o Night de volta para você.
Meu companheiro Elite de Sangue permaneceu quieto por mais um
momento, me fazendo pensar que eu poderia estar errada, me perguntando
se tudo isso tinha sido um truque, mas meu coração pulsava com
conhecimento. Companheiro da Terra. companheiro Fae da Meia-Noite.
Meu Kolstov. Meu príncipe.
Kols não era conhecido por sua hesitação. Ele pensava em suas opções
e agia.
Mas esta era uma situação surreal.
Ele quase morreu.
Ele sentiu a morte de seu encantamento.
Cabia a ele confiar em sua própria alma.
Arregalei os olhos.
— É isso — murmurei. — Confiar.
— O quê?
— Você precisa chamar o Night. — Porque isso provaria que ele
confiava em si mesmo... porque eu confiava nele. — Você precisa confiar
nele para encontrá-lo. — Coloquei a mão em seu peito. — Ele está aqui. Sei
que está. Chame-o para que ele possa nos ajudar a encontrar a saída.
Senti a retidão desse caminho em minha própria alma.
Kols disse que esse teste era sobre confiar em meus instintos e confiar
em meus companheiros.
E agora eu só precisava que meu companheiro Elite de Sangue
confiasse em mim.
O círculo completo.
O teste completo.
Com apenas um caminho a seguir.
Era a vez de Kols escolher.
CAPÍTULO TRÊS
KOLS

OS TESTES de ascensão nunca eram diretos. Eles testavam mais do que o


herdeiro da Fonte. Testavam todos ligados ao herdeiro também.
O que tornava a afirmação de Aflora verdadeira.
Eu precisava confiar em Night para me encontrar. Precisava confiar
que ele tinha sobrevivido. E que o que Aflora e os outros tinham feito era
suficiente para trazer não apenas a mim de volta da morte, mas também ao
meu encantamento.
Seu cabelo escuro emoldurava o lindo rosto e a expressão feroz
enquanto esperava minha concordância. Ela sabia que este era o caminho
certo, e eu precisava confiar em seus instintos.
Esses testes eram planejados para enganar a todos nós. Apenas os mais
fortes deveriam sobreviver. Eu fui mais que forte, mas fui enganado pelos
Anciões – meu próprio avô – e traído pelo meu Conselho.
Eu buscaria vingança do meu jeito, começando por ajudar minha
companheira a ascender.
Constantine Nacht queria que Aflora falhasse, queria zombar de sua
ascensão.
Eu garantiria que o oposto acontecesse.
Eu a ajudaria a se tornar rainha.
— Ahaminee — murmurei, invocando o feitiço para chamar um
encantamento. — Ahaminee, Night.
Aflora curvou os dedos em meu peito e seus olhos azuis brilharam
com aprovação.
Ela disse que eu parecia uma criatura sombria para ela. Que estranho.
Não tive problemas em vê-la. Mas todo o resto estava escuro e coberto
pelas trepadeiras. Isso me fez pensar se eu seria capaz de ver Night.
Supondo que ele ainda estivesse vivo.
Engoli em seco, o eco de seu grasnido moribundo se infiltrou em meus
sentidos e provocou um estremecimento por dentro. Ele foi uma parte de
mim, um ser de minha própria criação. E eu falhei com ele.
Não por escolha.
Nem mesmo de propósito.
Mas por causa da ganância do meu avô pelo poder.
Nunca imaginei que ele chegaria ao ponto de me matar para recuperar
o trono. Tudo aconteceu tão rápido e de forma tão inesperada que eu nunca
considerei o resultado.
E agora isto – forçando a ascensão de Aflora. Não fazia sentido.
O que você está tentando provar? me perguntei enquanto uma onda de
poder girava em torno de nós.
Um eco de grasnido começou, a escuridão se movendo em batidas de
asas enquanto as vinhas se fundiam em uma série de corvos. Aflora ofegou,
apertando minha mão com mais força. Coloquei o braço em suas costas,
segurando-a contra mim enquanto as penas batiam sobre nossas cabeças.
Isso me lembrou do pátio de transporte na Academia, com todos os
corvos formando uma embarcação para os alunos viajarem para dentro e
fora da Academia.
Mas nenhum teclado apareceu aqui.
Este turbilhão de energia não havia sido feito para ajudar a
teletransportar Faes da Meia-Noite. Era para servir como um teste. Outra
camada de confiança.
— Temos que seguir nossos instintos — pensei em voz alta.
Mais do que isso, eu tinha que seguir o meu, e Aflora tinha que confiar
em mim para escolher. Escolher um corvo que eu achasse que poderia ser
Night e segui-lo para nossa liberdade ou nosso destino.
Expliquei a descoberta para Aflora, a senti endurecer contra mim e
entendi como essa tarefa seria difícil para nós dois.
Ela tinha que confiar em mim.
Assim como eu.
Eu não estava em posição de confiar em meus instintos. Quase morri
ontem. Todos os meus poderes estavam complicados e confusos, fios de
várias magias ajudando a fortalecer minha alma e me manter vivo.
Eu não era mais um Elite de Sangue, mas algo significativamente
diferente.
Uma abominação.
Assim como minha companheira.
Eu podia sentir Shade, Zakkai e Zeph dentro de mim. Aflora também.
Uma coleção de força que não deveria ser possível, mas ainda assim,
existia.
— Kols? — Aflora sussurrou, as penas se fechando ao nosso redor. —
O que seus instintos estão dizendo? Porque os meus estão me dizendo para
correr.
— Espere — respondi, fechando os olhos para focar nas asas batendo.
Onde está você, Night?
Em vez de me concentrar nos sons ao meu redor, procurei o fio
familiar da vida. Da minha vida. Tanto novos como velhos. Antigo e atual.
Mas as essências que emanavam no ar se misturaram, mascarando o que eu
procurava.
Minutos se passaram enquanto eu cantava o feitiço baixinho, exigindo
que meu encantamento me encontrasse.
Mas nada aconteceu além do redemoinho de penas, algumas delas
cortando minha bochecha e braços como lâminas de carvão. Não eram
penas, mas pedra metálica. Perigosas. Letais. Cruéis.
Vamos...
Night tinha que estar aqui em algum lugar. A certeza de Aflora tomou
conta de mim, me dando a força que eu precisava para continuar
procurando. Ela confiava em mim para encontrá-lo. O que significava que
ele estava aqui em algum lugar, escondido atrás da massa de poder criada
pela Fonte Sombria.
A mão de Aflora estava em volta do meu pescoço, seus lábios
capturando os meus.
Fui pego tão desprevenido que não retribuí de imediato.
Mas quando sua língua entreabriu meus lábios, percebi seu plano:
sangue. Sua essência atingiu meus sentidos, deixando minhas veias em
chamas. Engoli seu beijo aquecido, sua energia fervilhando dentro de mim e
me firmando em um campo de existência além da compreensão.
Minha, pensei. Aflora é minha.
Algum tipo de barreira se transformou em cinzas entre nós, nossa
conexão ardendo em chamas para a vida. E no instante seguinte, ela me
soltou, e minha mente ficou clara e focada na minha tarefa.
Lá! Me afastei um pouco de Aflora, travando o olhar em um corvo a
poucos metros acima da minha cabeça.
— Venha aqui. — O pássaro grasnou em resposta, claramente agitado
por ser chamado para longe do enxame de penas, mas quando ele voou,
senti a certeza em nossa conexão. Night.
Aflora murmurou em concordância, pronunciando um feitiço enquanto
tecia algum tipo de magia Quandary pelo ar. Uma adaga invisível cortou
meu coração, roubando o ar dos meus pulmões, e na minha próxima
inspiração, me senti rejuvenescido com vida.
Finalmente, ela disse em minha mente. Constantine fez algo com
nossos vínculos. Descobri como desatar o aperto dele em você, mas os
outros ainda estão quietos.
Fiz uma careta, tentando meu vínculo com Zeph e encontrando-o
fechado. Eu estava tão focado em Aflora que não pensei em entrar em
contato com ele. Ter uma ligação mental com ele ainda era novidade, mas
minha ligação com ela também era. E, no entanto, toda a minha atenção
estava em encontrá-la.
Estranho.
Um ano atrás, meu primeiro instinto teria sido procurá-lo.
Isso não significava necessariamente que eu a amava mais ou menos,
apenas que minhas prioridades haviam mudado. Supus que também estava
consumido pela necessidade de encontrá-la por causa da ascensão e meu
desejo de ajudá-la.
Kols, Aflora disse, me trazendo de volta ao presente. Ela olhou para
cima com seus lindos olhos azuis e um sorrisinho nos lábios. Segui seu
olhar para encontrar Night pairando acima de nós, com as asas abertas
enquanto ele voava em um círculo sobre nossas cabeças.
Afastei meu braço de suas costas e segurei sua mão mais uma vez.
— Mostre o caminho — disse a ele, confiante em sua capacidade de
nos guiar.
Night decolou através da confusão de penas, criando um caminho para
seguirmos, e corremos atrás dele para o mar de escuridão.
Um silvo retumbante se arrastou atrás de nós, as vinhas de energia
chiando e se transformando em algo novo e perigoso. Mas mantive meu
olhar em Night, a mão segurando firmemente a de Aflora enquanto
corríamos sem parar.
Nem uma vez ela olhou para trás, não importava quanto barulho e caos
ecoasse no ar. Aflora foi resoluta em sua escolha, e sua fé em mim era como
um beijo tangível em meus sentidos.
Eu sabia desde o nosso primeiro encontro que ela era a companheira
ideal. Real. Linda. Forte. Agitada pra caramba. E agora ela era
verdadeiramente minha. Para a eternidade.
Ela me trouxe de volta da morte, me reivindicou com seu poder e se
enraizou tão profundamente dentro de mim que eu sempre pertenceria a ela,
e ela a mim.
Eu te amo, sussurrei, as palavras eram como um golpe contra meu
coração. Eu não tinha dito isso para ela antes. Eu realmente não tinha
considerado esse sentimento. Mas sabia com cada fibra do meu ser que
Aflora deveria ser minha para sempre.
Eu também te amo, Aflora respondeu, seus olhos azuis encontrando os
meus momentaneamente. Mas temos que fugir deste lugar.
Eu sei que temos, assegurei a ela. E quando o fizermos, confessarei
meus sentimentos em voz alta. Porque eu não tinha dito as palavras para ela
por medo. Eu sabia que sairíamos daqui vivos. O momento parecia certo.
Afastei essas emoções, a certeza de nosso destino envolvida no amor
que eu sentia.
Ela não sorriu por fora, mas senti sua alegria respondendo.
Assim como senti seu formigamento de incerteza quando Night nos
levou a uma luz branca brilhante. Cobriu o mundo de branco, afugentando a
escuridão e não deixando nada para trás.
— Kols? — ela perguntou.
— Vamos pular — disse a ela enquanto Night desaparecia no
horizonte.
— Tudo bem. — Ela não vacilou. Ela simplesmente continuou
correndo, nossas mãos ainda unidas.
E saltamos para o núcleo do poder da Fonte Sombria enquanto a luz
cegava a nós dois. Sua mão se soltou da minha, mas nós acordamos na
cama um ao lado do outro no instante seguinte. Respirei profundamente,
olhando para ela e encontrando seu olhar.
Então o colchão tremeu debaixo de nós conforme o poder rasgava o ar.
Zakkai e Zeph estavam de pé, com as varinhas nas mãos, lutando
contra um ataque do lado de fora. Puta merda, pensei, tentando me sentar e
me juntar a eles. Mas meu corpo recusou o movimento. Aflora parecia estar
tendo a mesma luta ao meu lado, ambos enfraquecidos por seu primeiro
teste de ascensão.
Você passou, assegurei a ela. Faltam mais seis.
Ela gemeu em resposta. Então fechou os olhos e começou a murmurar
encantamentos que fizeram meus olhos se arregalarem. Eram
encantamentos avançados, que eu não tinha ensinado a ela.
Mas um olhar para Zakkai me disse onde ela os aprendeu: através de
seu vínculo de acasalamento. Seu olhar azul-prateado se voltou para ela, o
orgulho momentaneamente iluminando sua expressão antes que ele
grunhisse para o ataque vindo do lado de fora.
A fundação balançou ao nosso redor, me jogando contra Aflora. O
poder explodiu dela, atingindo as laterais do paradigma com um feitiço de
fortificação que fez meu coração parar de pura admiração.
A energia ondulou por seus braços, a marca da Fonte Sombria
cobrindo sua pele clara com linhas escuras.
Ela terminou o encantamento e o mundo ficou em silêncio.
Zakkai e Zeph imediatamente caíram na cama, a exaustão deles era
evidente.
Então Zakkai mordeu seu pulso e o levou à boca de Aflora.
— Beba — ele exigiu.
Zeph seguiu o exemplo, colocando o pulso em meus lábios.
— Você também, pequeno príncipe.
Tentei bufar com o apelido, mas mal conseguia formar o som. Então
me agarrei em sua veia, afundando meus incisivos em sua pele e tomando o
sangue.
Bastou alguns goles para que a vida prosperasse através do meu ser,
revigorando minhas reservas e me atraindo firmemente de volta ao presente.
O filtro onírico sobre meus olhos se dissolveu, permitindo que eu realmente
visse os danos ao redor do quarto.
Embora eu não chamaria mais de quarto.
Porque não havia teto.
E a cama?
Era um monte de terra coberta de pétalas de flores mortas.
— Que merda aconteceu aqui? — perguntei quando soltei o pulso de
Zeph.
— Guerra — Zakkai respondeu, sem rodeios. — A porcaria de uma
guerra.
CAPÍTULO QUATRO
ZEPH

— CONSTANTINE ATACOU LOGO DEPOIS que você ficou inconsciente — acrescentei. — Shade
desapareceu para sabe-se lá onde, deixando a mim e Zakkai defendendo o
paradigma sozinhos por... não tenho certeza quanto tempo.
— Duas horas e dezessete minutos — Shade anunciou quando
apareceu. — Fiquei tentando voltar, mas Constantine deixou uma massa de
energia bloqueando todas as entradas e saídas. — Ele olhou para Aflora. —
Não tenho ideia de como você fez isso, pequena rosa, mas é muito
impressionante.
Eu estava dividido entre dar um soco em sua cara por sair e concordar
com ele.
Considerando que ele voltou, e provavelmente foi por culpa de
Constantine que não conseguiu entrar, optei por este último.
— Muito impressionante — repeti, roçando os dedos na bochecha
dela.
Então fiz uma careta.
— Por que não posso ouvi-la? — Eu também não conseguia ouvir
Kols.
— Constantine fez algo com nossos vínculos — ela disse, sua atenção
indo para Zakkai.
Uma pergunta se formou em seus lábios, mas o Quandary de Sangue
disse antes que ela tivesse a chance de falar:
— Pegue o que você precisa.
Ele se inclinou para encostar a testa na dela, suas bocas se tocando em
um beijo leve que me fez semicerrar os olhos.
Kolstov e Shadow eu poderia aceitar.
Zakkai ia demorar.
Ele levou minha companheira. Manteve-a longe de mim... de nós.
Escondeu-a. Mas também a protegeu. Essa foi a única razão pela qual
permiti que ele ficasse em uma posição tão íntima com Aflora.
Ela fechou os olhos enquanto a energia se acumulava ao seu redor.
Clove voou para se acomodar ao lado dela nos restos destruídos da cama, e
sua asa roçou no ombro de Aflora.
O lobo de Zakkai permaneceu na antiga porta enquanto Raph deslizou
em volta do meu pescoço.
Até que o encantamento de Kols voou para pousar ao lado de Clove.
Pisquei para as asas pretas com pontas cinzas do corvo, a cor rivalizando
com as pontas do cabelo ruivo do Elite de Sangue. Ele olhou para Night e
percebeu a mesma coisa, estendendo a mão para acariciar as penas
descoloridas.
Os dois foram marcados pela morte.
O olhar cor de gelo de Shade observou Kols e Night, também com
expressão de admiração. Em seguida, ele se encolheu quando a magia
emanou ao seu redor. O mesmo aconteceu comigo meio segundo depois,
minha mente de repente paralisada pelo encantamento de Aflora.
Algo estalou.
Formigou.
Se desintegrou.
Meu coração doeu por um instante antes que a emoção e os
pensamentos viessem correndo pela minha mente e alma. A afeição, a
frustração, o medo e o alívio por Aflora eram como uma torrente de
sensações que me roubaram o fôlego.
Eu a alcancei, afastando sua boca da de Zakkai e a conduzi até a
minha, sentindo gratidão por tê-la dentro de mim novamente. Ela retribuiu
meu abraço com igual fervor.
— Ainda bem que ela terminou — Zakkai murmurou.
Eu o ignorei, mantendo o foco em minha linda companheira e no poder
ondulando através dela. Minha rainha, pensei com reverência.
Ainda não, ela comentou, entrelaçando os dedos em meu cabelo. Eu...
eu não sei se... Ela parou, a incerteza vencendo as outras reações.
— Está tudo bem — sussurrei contra sua boca. — Nós vamos resolver
isso.
— Quero desfazer essa magia — ela admitiu bem baixinho. — Tem
que haver uma maneira de desfazer isso.
As opiniões de Kols a respeito me vieram a mente, mas ele não as
expressou em voz alta. Não é possível, ele disse. E mesmo que fosse, é o
recurso certo? Acompanhei sua revelação analítica, me deleitando com a
capacidade de estar tão perto dele e de suas crenças.
— Diga em voz alta — sugeri a ele. — Diga à Aflora.
— Me dizer o quê? — ela perguntou, seu foco em mim e depois nos
outros. — Eu suponho que você esteja falando com o Kols.
— Ele está — Kols respondeu, dando um olhar irritado na minha
direção. — Você estar na minha cabeça é problemático.
— E muito útil — rebati. — Diga a ela.
Ele suspirou, passando os dedos pelo cabelo castanho-avermelhado
espesso enquanto balançava a cabeça.
— Meu avô forçou sua ascensão em um esforço para matá-la. No
entanto, você passou no primeiro teste. Não só isso, mas a Fonte também te
abraçou. Eu estava pensando no que isso significa e me perguntando se o
destino poderia ter um objetivo. Se talvez você devesse ser a Rainha Fae da
Meia-Noite.
Endireitei as costas, mantendo a mão na nuca de Aflora. Zakkai estava
por perto, com Shade do outro lado. Mas os olhos da minha linda flor
estavam em Kols, que ainda estava deitado ao lado dela na cama adornada
com pétalas.
— Como eu poderia ser a rainha? Eu sou uma Fae da Terra.
— Uma Fae da Terra acasalada com quatro Faes da Meia-Noite — ele
disse em voz baixa. — Uma Fae da Terra que encontrou uma maneira para
as duas Fontes coexistirem. Uma Fae da Terra que deveria estar vibrando
com uma superabundância de poder agora, procurando destruir, pelo menos
de acordo com todos os rumores sobre abominações, e ainda posso ouvir
você colocando seu povo em primeiro lugar. Você não está pensando em si
mesma ou no que isso significará para você, mas para todos os outros. E
essa é a marca da verdadeira realeza, Aflora. Essa é a mentalidade de uma
rainha.
Soltei Aflora, ciente da intenção de Kols.
Ele colocou a mão em sua bochecha quando se aproximou.
— Você sempre esteve destinada a isso — ele sussurrou, roçando a
boca na dela. — Acho que o Shade sabia disso o tempo todo também.
O Sangue de Morte apenas sorriu, mas o olhar certamente confirmou a
afirmação de Kols.
— Por mais tocante que isso seja, precisamos nos mexer — Zakkai
interveio. Seu tom era marcado com autoridade, mas peguei um lampejo de
arrependimento em seu olhar prateado. Ele não queria interromper. No
entanto, a energia para o exterior do paradigma me disse exatamente por
que ele sentiu a necessidade.
— Ele está certo — concordei, minha energia defensiva já ganhando
vida. — Constantine ainda está aqui. — Ou nas proximidades, de qualquer
maneira.
— Academia Fae da Meia-Noite? — Zakkai perguntou, arqueando
uma sobrancelha para Shade.
— Sim — o Sangue de Morte concordou. — Minha avó conseguiu as
permissões, mas ele exigiu uma reunião com você.
Zakkai bufou.
— Claro que exigiu. Ele está tentando me encontrar há anos.
Shade deu de ombros.
— Você sabe como ele se sente sobre fazer acordos.
Fiz uma careta para eles.
— De quem vocês estão falando? E por que iríamos para a Academia?
Esse é o primeiro lugar que vão procurar por nós.
— Sua Academia, sim. Esta Academia, não. — Zakkai redirecionou
sua atenção para Shade. — E eu aceito o acordo.
— Esse não é a única exigência que fizeram — Shade respondeu. —
Ele também quer uma vantagem em seu momento de escolha.
— De mim ou de Zenaida?
— Você sabe que a minha avó prefere ser chamada de Zen. — Shade
deu a ele um olhar indecifrável. — E ele não esclareceu.
— Entendo — Zakkai murmurou. — Bem, estou preparado para pagar
qualquer preço enquanto estivermos escondidos. Com certeza, vou
agradecer a Zenaida mais tarde por organizar tudo.
O Sangue de Morte bufou.
— Já está feito, porque concordei em seu nome.
— Presunçoso de sua parte.
— Eu sabia que você faria qualquer coisa por Aflora — Shade
respondeu.
— Verdade — Zakkai concordou sem perder o ritmo, olhando para ela.
— Precisamos ir, estrelinha.
Ela assentiu.
— Eu posso sentir.
— Todos nós podemos — Kols disse. — Mas de que Academia você
está falando? Só existe uma para Faes da Meia-Noite.
— Mesmo? — Zakkai contra-atacou. — Onde você acha que todos os
Fae da Meia-Noite fora da lei vão estudar? No Reino Humano? — Ele
conjurou um dragão flamejante no segundo seguinte, o enviando para o céu
para atacar aqueles além das paredes do paradigma. — Porque duvido que
ensinem isso nas universidades de lá.
Shade balançou a cabeça e desapareceu novamente.
Olhei atrás dele.
— Outra porcaria de segredo.
Zakkai sorriu.
— Ele está cheio deles.
— Assim como você — respondi, dando um passo em direção a ele.
Sua arrogância estava começando a me irritar. — Para isso dar certo, todos
nós precisamos começar a nos comunicar.
— Para? — Seu sorriso se intensificou. — Você age como se
houvesse uma escolha.
— Há uma escolha se eu remover você — ameacei, não achando graça
de seus truques, jogos e enigmas. Ele era tão ruim quanto Shade. Não, era
pior. Um lobo solitário costumava fazer o que queria, como queria.
Comecei a dar outro passo, mas Aflora se levantou da cama para ficar entre
nós, colocando a palma da mão no meu peito.
— Podemos tentar nos concentrar, por favor? — ela pediu com a voz
régia em sua suavidade. Meu olhar imediatamente caiu para as linhas de
poder se contorcendo sobre seus braços e meu coração pulou na garganta.
Ela estava certa.
Havia coisas mais importantes para focar agora.
Segurei sua mandíbula, meu dom de Guerreiro de Sangue florescendo
sob minha pele com o desejo sombrio de protegê-la.
— Nós vamos resolver isso, linda flor. Prometo.
Ela assentiu, mas sua hesitação permaneceu. Ela não tinha certeza se
queria.
Mas eu concordei com a declaração de Kols: Aflora foi feita para isso.
Zakkai se moveu. Seu poder era uma onda irritante de calor que eu
podia sentir pulsando ao redor e através de Aflora.
Kols se levantou da cama, se juntando a nós, nossos corpos formando
um círculo protetor ao redor de nossa Aflora. Seus ombros relaxaram um
pouco enquanto ela respirava nossos aromas.
Olhei para Kols, e seu olhar refletia o que eu já sabia: haveria mais
provações, todas igualmente perigosas e difíceis.
Enquanto Kols teve toda a sua vida para se preparar para elas, Aflora
passou apenas alguns meses na Academia. Seu conhecimento era inferior,
suas habilidades, rudimentares. Kols também se beneficiava de seu pai ser o
único a delinear os testes.
No entanto, Constantine estava no comando agora.
E não havia como dizer o que ele faria ou como moldaria o futuro de
Aflora.
Prepará-la seria a tarefa mais difícil de nossas vidas. Mas jurei em
silêncio, naquele momento, fazer o que fosse necessário para protegê-la e
ajudá-la a ascender.
Eu morreria por ela.
Kols ecoou o sentimento, e nós dois prometemos lealdade eterna.
Ela seria nossa realeza.
Nossa futura Rainha Fae da Meia-Noite.
CAPÍTULO CINCO
KOLS

SHADE VOLTOU vários minutos depois com roupas que se pareciam com o que
vestíamos na Academia: calças e camisas de botão para os homens. Capas
também.
E uma saia e blusa para Aflora. Ela calçou as botas com um suspiro,
roçando os dedos no material preto fino. Era um couro único, feito de magia
Fae da Meia-Noite em vez de produto animal. Ela pareceu aprovar, seu lado
Fae da Terra preferindo encantamento a morte desnecessária.
Terminei de abotoar minha camisa antes de passar o braço ao redor de
sua cintura e puxá-la em minha direção para outro beijo. Ela parecia ter se
acalmado, sua aceitação do destino crescendo a cada segundo que passava.
Mas eu ainda a sentia tentando encontrar uma maneira de reverter a
ascensão.
Ela e Zakkai estavam tendo algum tipo de discussão mental sobre isso.
Não consegui ouvir, apenas senti o zumbido roçando minha psique.
O que acontecerá se ela desfizer a ascensão? Quase me matou, mas
foi por causa da maneira como meu pai o fez. Meu coração doeu só de
pensar. Mas não foi ele. Meu avô...
Engoli em seco.
Fogos de Phoenix.
Nem consegui processar.
E Tray. Eu me afastei de Aflora com um solavanco. Merda, Tray!
— O Tray vai ficar bem — Zeph se apressou a dizer, alcançando meu
ombro para apertá-lo. — Assim que estivermos em algum lugar seguro,
entraremos em contato com ele. — Seus olhos verdes foram para Shade. —
O que me lembra, para onde estamos indo, Shadow? Você não disse.
Tentei permitir que sua distração me tirasse de meus pensamentos e
preocupações sombrios, mas senti em minha alma que algo estava muito
errado. Tray não estava nada bem. Nenhum de nós estava.
Aflora se inclinou em minha direção e apoiou a cabeça no meu peito.
Ela não disse nada, apenas me ofereceu sua força emocional e apoio ao me
abraçar em um momento de intensa necessidade.
Zeph estava perto também, sua intensidade era como uma capa
protetora que ondulava ao meu redor.
— Para um lugar onde Constantine não pode ir — Shade disse em voz
baixa. — Para a Academia que ele sabe que existe, mas não pode violar.
Fiz uma careta.
— Ele sabe sobre essa outra Academia? — Isso nunca foi mencionado.
Claro, parecia que o Conselho e os Anciões haviam escondido vários itens
importantes. Então imagino que esta não era uma informação nova.
— Seu avô sabe de tudo — Zakkai respondeu antes que Shade pudesse
falar. — Acho que o seu pai também. Mas acho fascinante que eles tenham
mantido você no escuro. Fizeram o mesmo com seu irmão?
— Kai — Aflora o interrompeu, seu tom era baixo, mas severo. Ela
ainda estava com a cabeça no meu peito, mas seu foco estava no Quandary
de Sangue.
Seus olhos azul-prateados foram para ela e suas feições suavizaram um
pouco.
— Eu sei, estrelinha. — Ele olhou para Shade. — O Lucifer quer me
encontrar agora ou depois que chegarmos?
— Ele não disse — Shade respondeu antes que eu pudesse reagir ao
infame nome do Rei Fae do Inferno. — Então, acredito que temos
passagem segura para o paradigma, pelo menos até que ele decida o
contrário.
— Nós vamos para o reino Fae do Inferno? — As palavras saíram
como uma pergunta, mas era uma afirmação. Porque essa era a única
explicação para o que eles estavam dizendo. — A outra Academia Fae da
Meia-Noite está escondida... no reino Fae do Inferno?
Zakkai e Shade olharam para mim com expressões que diziam: Óbvio.
Mas só Zakkai verbalizou o pensamento.
— Há quanto tempo esse paradigma existe? — perguntei em voz alta.
— Zenaida o organizou com Lucifer há cerca de setecentos anos,
certo? — Zakkai fez a pergunta de forma casual, como se não fosse uma
grande revelação ou informação que alterasse a vida.
— Aproximadamente — Shade respondeu.
— É para lá que você vai quando desaparece — Zeph afirmou. —
Você segue para a outra Academia.
Shade deu de ombros.
— Às vezes. Mas não para as aulas.
— E meu avô sabia. — As palavras saíram baixas e minha mente
falhou em acreditar nelas, mesmo enquanto eu as expressava.
— Sim. Minha avó mora perto. — Seus olhos cor de gelo foram para
Aflora. — É onde fica o prado da Aflora também.
— No reino Fae do Inferno? — ela sussurrou, afastando a cabeça do
meu peito para que pudesse olhar para o Sangue de Morte. — É lá que estão
os paradigmas dos Quandary de Sangue que preferem a reforma à
vingança?
Shade assentiu.
— Sim. O Lucifer já te deu entrada como uma abominação marcada.
Como você deve saber, ele tem um fraco por elas. — Seu olhar se dirigiu a
mim. — E foi assim que negociei sua entrada também. O Zeph foi o
principal problema.
— Bem, nesse caso, recuso meu encontro com Lucifer e o Zeph pode
ficar aqui — Zakkai respondeu.
Aflora se eriçou em meus braços, mudando sua atenção de Shade para
o Quandary de Sangue.
— Kai.
— Estou brincando, estrelinha.
— Hilário — Zeph brincou. — Podemos ir agora? As defesas estão
começando a falhar novamente.
Aflora assentiu.
— Sim, posso senti-las desmoronando.
— Shadow? — Zakkai pediu.
— Já estou trabalhando nisso. — A voz do Sangue de Morte parecia
tensa e ele fechou os olhos em uma careta.
Franzindo a testa, fechei meu vínculo com ele e notei suas reservas de
energia em declínio. Você precisa de mais poder.
Ele grunhiu em resposta, nossa conexão mental intacta, mesmo no
primeiro nível de vínculo.
Tire um pouco de vitalidade de mim, eu disse a ele.
Você não é o único que eu preciso tocar, ele respondeu, me deixando
de fora com o clique de uma porta.
Fiz uma careta.
— Não seja um idiota teimoso — disse em voz alta, já que não
conseguia expressar em sua mente. Eu não sabia como ele tinha me
bloqueado, mas era um truque que eu queria aprender.
— Vá se foder, Kols — ele resmungou.
— Shade — Aflora falou, se afastando de mim para alcançá-lo. — Do
que você precisa?
— Poder — respondi por ele. — Suas reservas estão se esgotando.
— Estou bem — ele disparou.
— Você não está nada bem. Está prestes a desmaiar. — Toda essa
operação solitária precisava parar. Nós éramos uma unidade agora – todos
nós – e estava na hora de aceitarmos isso. — Deixe-nos ajudá-lo, Shade.
Nós somos seus companheiros.
— Ele está certo — Zakkai falou, me surpreendendo. — Você está
prejudicando a todos nós dizendo que está bem quando não está. Você
precisa do sangue da Aflora? — Ele observou o outro homem. — Sim, é
disso que você precisa. Não muito, apenas o suficiente para avançar. — Ele
acenou para Aflora. — Não o deixe recusar.
Ela segurou Shade antes que ele pudesse tentar argumentar, seus lábios
encontrando os dele em um beijo exigente. O cheiro metálico de sangue
atingiu o ar, sugerindo que ela mordeu a língua antes de abraçá-lo. Seu
gemido confirmou, e ele passou o braço na cintura dela enquanto se
entregava à sua essência. Zeph passou o braço ao redor do meu corpo em
um meio abraço, e senti seu peito nas minhas costas. Relaxei em seu abraço
familiar enquanto Zakkai avançava.
Uma capa preta girou ao redor de todos nós segundos depois, quando
Shade acionou sua habilidade de se esconder.
Meu estômago revirou com a sensação de me mover através do espaço
e do tempo sob seu encantamento.
Meus braços se arrepiaram quando aterrissamos em um caminho
empoeirado de brasas e fibras de carvão.
Reino Fae do Inferno, pensei, estremecendo com o calor que queimava
ao nosso redor. Meu avô não nos rastrearia aqui, não com a magia
empolgante e a crueldade subjacente no ar. Ele também não seria bem-
vindo.
No entanto, era bastante fascinante que Lucifer tivesse permitido que
Zen construísse um paradigma aqui.
Faes do Inferno não eram conhecidos por sua bondade. Ou ela trocou
algo extremamente valioso com ele, ou os dois tinham algum tipo de acordo
único.
Quandarys de Sangue eram extremamente poderosos. O Rei Fae do
Inferno acharia isso útil.
Shade soltou Aflora enquanto nos materializávamos e um suspiro de
contentamento veio de seus lábios. Os encantamentos apareceram logo
depois, seu feitiço os capturou também. Ou talvez eles tivessem seguido por
instinto. A magia dos encantamento era única e eles podiam aparecer e
desaparecer à vontade.
— A entrada é logo ali. — Shade indicou um arco de obsidiana. —
Tem dois portões do outro lado. Vão lembrá-los da outra Academia, mas
assim que vocês entrarem, vão sentir a diferença. Todos os Fae da Meia-
Noite excomungados – pelo menos, aqueles que escolheram não seguir Laki
– e criaturas residem lá. É sagrado, mortal e muito bem protegido. Portanto,
qualquer má vontade não será tomada de ânimo leve.
— Você age como se planejássemos queimá-lo — Zakkai falou em voz
baixa. — Já visitei sua avó antes, Shade. Recentemente, se você se lembra.
— Meu aviso não foi para você —Shade respondeu, seu olhar
encontrando o meu e o de Zeph. — Não exagerem. Com tudo o que está
acontecendo, não podemos nos dar ao luxo de sermos expulsos, porque não
há outro lugar para irmos. Os Faes da Meia-Noite estão nos procurando em
massa agora, furiosos com a ascensão da Aflora.
Fiz uma careta.
— Eles já sabem?
A expressão de Shade assumiu um tom sardônico.
— Sim. Constantine disse a todos que ela roubou o trono, pois é uma
Fae sedenta por poder que está fora de controle. Ele notificou os outros
Faes também.
— Como você sabe tudo isso? — Zeph questionou, com o tom repleto
de suspeita. Ele ainda estava com o braço em volta do meu corpo, sua
tensão palpável nas minhas costas.
— Porque a minha avó me disse — Shade respondeu. — Entramos no
proverbial final do jogo agora, então não tenho mais truques na manga.
Estou contando tudo o que estou descobrindo à medida em que descubro.
Mas acabei de passar várias horas tentando voltar para vocês, então me
perdoem pelo atraso.
— Obrigado por ser franco — interrompi antes que Zeph pudesse
falar. Senti sua ira e aborrecimento fervendo, mas não queria instigar mais
brigas. Precisávamos trabalhar como uma unidade, e se isso significasse
liderar pelo exemplo, eu o faria. — Sabemos como os Fae Elementais estão
reagindo às notícias?
Os lábios de Shade se curvaram para baixo, então ele balançou a
cabeça sutilmente.
— Eles vão me excomungar — Aflora falou. — Especialmente depois
do que a Elana fez com eles.
Eu odiava concordar com essa afirmação, mas conhecendo Exos e
Cyrus tão bem quanto eu conhecia, me peguei concordando.
— Eles vão temer o que não conhecem.
— É por isso que preciso reverter a ascensão — ela pressionou. —
Não posso ser um membro da Realeza da Terra e Rainha do Reino Fae da
Meia-Noite. Todos os reinos Faes vão me caçar e tentar me matar.
— Eles vão fazer isso de qualquer maneira — Zakkai acrescentou. —
O que significa que precisamos que você seja o ser mais poderoso que já
existiu para que possa se proteger.
Assenti.
— Sim.
— Não — Aflora protestou. — Não quero todo esse poder.
— É por isso que você é a Fae perfeita para adotá-lo — argumentei. —
Você não vai usá-lo para fins nefastos. Vai provocar mudanças.
— Mudanças muito necessária — Zeph ecoou.
— Precisamente — murmurei.
Aflora suspirou e balançou a cabeça.
— Vamos apenas... entrar. E então podemos continuar falando sobre
isso. Eu gostaria muito de um sanduíche.
— Pão de cogumelos? — Zeph ofereceu. — Mustard berries?
— Mouseberries — ela corrigiu com um sorriso.
— Mussleberries — ele falou com tom de voz divertido. — É claro.
Aflora revirou os olhos, mas um pouco da tensão em sua postura se
derreteu com a brincadeira.
— Hidromel também. E bife de dragão.
— Alguém está com fome. Não te alimentamos direito ontem à noite?
— Ele me soltou com um beijo no pescoço, então caminhou ao meu redor
para pressionar seus lábios na bochecha dela. — Porque me lembro de tê-la
alimentado muito bem.
Suas bochechas ficaram com um lindo tom rosado enquanto ela
tentava encará-lo.
— Zeph.
O Guerreiro de Sangue roçou sua boca sobre a dela e segurou sua
nuca.
— Vamos, linda flor. Vamos explorar esta nova Academia. Depois,
vou garantir que você esteja devidamente alimentada. De novo.
Ela engoliu em seco.
— Então quero uma empada de salada.
— Vou te dar tudo que você quiser, Aflora — ele respondeu em voz
baixa, apoiando a testa na dela por um breve momento. — Incluindo
mouseberries.
Sua expressão se iluminou.
— Sim, por favor.
— Achei que ele era um Guardião que virou diretor — Zakkai
comentou. — Ele também é chef?
— Ele é bom com a varinha — Shade explicou.
— Ah. Os feitiços de comida compensam outras áreas mais fracas. —
Zakkai assentiu. — Eu entendo.
Zeph o ignorou.
Aflora apenas balançou a cabeça.
Shade sorriu.
E eu comecei a fazer apostas mentais sobre quanto tempo Zakkai e
Zeph iriam durar em uma sala juntos antes que um deles tentasse matar o
outro. Os dois eram alfas e nenhum era inclinado a se curvar.
Eu teria que ficar de olho neles.
Especialmente quando estivessem sozinhos com Aflora.
Ela poderia não sobreviver a um duelo entre os dois.
Uma preocupação para mais tarde, pois tínhamos coisas muito mais
urgentes com que lidar, como o problema com meu avô dizendo a todos os
Faes que Aflora havia manipulado sua própria ascensão. Dadas as
exigências do teste, isso seria um problema. Porque um desses níveis exigia
que ela ganhasse a aprovação da espécie Fae da Meia-Noite.
E isso provavelmente não aconteceria se todos acreditassem que ela
era uma abominação faminta por poder com a capacidade de ascender
ilegalmente.
Esfreguei a mão no rosto, exausto só de pensar nisso.
Felizmente, nos aventurar no reino Fae do Inferno nos daria um pouco
mais de tempo para nos prepararmos. Ou muito mais tempo. Eu tive mais
de vinte anos para me preparar para as provações.
Aflora teve alguns minutos para aceitar.
Não era de se admirar que ela quisesse reverter a ascensão.
Shade parou ao lado do arco de obsidiana e pressionou a mão no lado
direito para puxar um teclado. Então ele demonstrou como entrar, nos
dando os códigos para ativar o redemoinho de poder e a senha subsequente
para provar nossa permissão para prosseguir com o encantamento.
Parecia uma demonstração de fé dele – uma maneira de confirmar que
finalmente rompemos seu círculo íntimo.
Já estava na hora, ouvi Zeph pensar.
Bufei em concordância.
Embora eu tivesse entendido a propensão de Shade por segredos todos
esses meses, foi bom finalmente estar do outro lado.
No entanto, quando passamos pelo portão para os terrenos da
Academia, percebi que havia uma infinidade de segredos ainda a serem
revelados. Porque, puta merda, o exterior se assemelhava a Academia Fae
da Meia-Noite.
As paredes de pedra eram cobertas de trepadeiras sibilantes. Um par de
gárgulas estava junto aos portões, com as espadas já desembainhadas.
Franzi a testa.
— Você disse que éramos bem-vindos.
— Somos — Shade respondeu, mas a confusão era evidente em seu
tom enquanto as trepadeiras começaram a se contorcer com raiva.
Uma série de corvos de carvão grasnavam em fúria acima de nós.
Cipós ardentes dispararam fogo para o céu.
As gárgulas lá dentro pegaram em armas, correndo pelos portões.
Os pica-pedras rosnaram.
Uma fênix pousou a poucos metros de distância para abrir suas penas
em um furioso show de cores.
Os mosquitos de fogo começaram a enxamear.
E uma sensação de afundamento agitou meu estômago.
— Merda — murmurei, trocando olhares com Zeph. Sua expressão me
disse que ele tinha descoberto também.
— O quê? — Aflora questionou. — O que está acontecendo?
— É o seu próximo teste de ascensão. — Com Constantine
comandando o show, ele não se preocupava em dar tempo a ela. E é claro
que ele escolheu se envolver com este. — Você se lembra que eu disse que
todas as criaturas Fae da Meia-Noite eram minhas para comandar? —
perguntei baixinho, dando um passo ao lado dela.
— Sim — ela sussurrou. Seu medo era palpável.
— Bem, você é a nova monarca agora. O segundo teste de ascensão é
sobre domar as criaturas Faes da Meia-Noite à sua vontade. Mostre a eles
que você é a rainha e eles se ajoelharão aos seus pés.
Falhe... e eles vão te comer viva.
CAPÍTULO SEIS
AFLORA

NÓS VAMOS TER uma conversa muito séria sobre esses testes e o que esperar, eu
disse a Kols através do nosso vínculo mental. Supondo que eu sobreviva.
Você vai, ele respondeu de imediato. Vou garantir que sim.
Essas trepadeiras-serpentes diziam o contrário. Nunca fui fã das vinhas
sibilantes e contorcidas que cercavam a Academia Fae da Meia-Noite,
assim como elas nunca foram minhas fãs.
Mas Kols sempre as comandou, o que significava que elas me
deixavam em paz.
A maneira como estavam circulando e agindo agora, me disse que não
seria o caso hoje.
Me diga o que fazer, pensei para Kols. Rápido.
Você precisa conquistá-las, provando que é superior a elas.
Recomendo escolher a maior e mais malvada das criaturas para domar
primeiro. Algumas das menores e menos voláteis se curvarão por instinto.
Absorvi todos os seres que nos cercavam, incluindo os pássaros de
fogo que voavam acima de nós. Eles eram menores que a fênix, mas ainda
eram mortais na aparência. Principalmente porque suas penas eram chamas,
não cerdas macias.
— Clove — sussurrei, chamando meu falcão para o meu ombro.
Ela pousou. Seu olhar negro e redondo focava no céu e nas criaturas
que se aproximavam.
Uma cúpula de magia apareceu de Zeph no instante seguinte. Sua
habilidade defensiva se manifestou assim que dois dos pássaros de fogo
mergulharam em nossa direção.
Eles atingiram o escudo verde brilhante com uma faísca crepitante que
reverberou pelo ar e seus gritos agonizantes estilhaçaram meu coração.
A morte não é necessária, pensei comigo mesma. Mas a morte é o
jeito Fae da Meia-Noite.
Isso significava que as criaturas só entenderiam se eu reagisse com
violência?
Tinha que haver outra maneira, uma mais pacífica de domá-los. Para
provar o meu valor. Para ser a rainha deles. Não importava que eu quisesse
desfazer a ascensão mais tarde. Eu precisava dominá-las agora para
sobreviver a este teste, então encontrar uma maneira de consertar tudo.
Mas me recusei a fazê-lo através de métodos obscuros.
O escudo de Zeph atingiu outra criatura que se aproximava, me
fazendo estremecer.
Esse não é o caminho.
Mais dois caíram do céu. Suas belas luzes se apagaram enquanto os
pássaros pereciam de qualquer encantamento que ele havia tecido.
Compreendi que ele estava apenas tentando nos proteger, que todos os Fae
da Meia-Noite foram ensinados a lutar contra a selvageria respondendo à
barbárie, mas os Faes da Terra acreditavam na vida. Desejávamos luz, sol,
ar fresco, flores florescentes e animais felizes.
Me ajoelhei, tocando com os dedos as rochas escuras do caminho, com
os olhos fechados enquanto eu procurava as plantas e árvores ao meu redor.
Os cipós ardentes.
As flores pretas.
As lâminas de carvão.
Toda a vida estranha dos Fae da Meia-Noite, mostrando a elas a Fonte
dentro de mim. Não a sombria, mas aquela cheia de sol e Elementos –
minha conexão com a Terra. Então manipulei sua força e reforcei sua
vitalidade, renovando o propósito e proporcionando maior crescimento.
As raízes se estabeleceram mais profundamente. As lâminas de carvão
ficaram um pouco mais altas. As flores desabrocharam.
Ao redor deles, os mosquitos de fogo zumbiam com curiosidade,
temporariamente distraídos pela próspera vida vegetal.
Meu poder se estendeu e cresceu para as trepadeiras-serpente, o
organismo mais planta do que réptil. Elas resistiram a mim no início,
descontentes com minha manipulação. Mas alguns toques suaves de
vivacidade as fizeram ronronar em vez de sibilar enquanto suas vinhas
engrossavam para uma forma mais robusta que deslizava com uma força
semelhante às rochas atrás delas.
Eu as acariciei em seguida. As gárgulas.
Elas eram feitas de pedra, seres da Terra, e eu as cerquei com meu
Elemento, casando a escuridão com a luz e dando-lhes um frescor e vigor
diferente de tudo que eles já haviam sentido antes. Senti a confusão e
surpresa delas, duas emoções que se transformaram em respeito e adoração.
Tudo aconteceu tão rápido, de forma tão natural e gentil que as outras
criaturas começaram a fervilhar de curiosidade ao invés de raiva. Elas
esperavam retaliação, uma luta. Mas em vez disso, mostrei-lhes afeto. Eu as
apresentei ao modo de existência Fae Elemental enquanto também provava
meu domínio sendo a responsável por sua restauração.
Vou cuidar de todos vocês, eu estava dizendo a elas. Fortalecê-los.
Empoderá-los.
O que não foi dito – o que todas as criaturas sabiam – era que elas
também eram minhas e eu poderia destruí-las.
No entanto, no fundo, eles podiam sentir minha relutância em
machucá-las.
Dei uma prova empurrando a vida para os pássaros de fogo que
haviam caído, exigindo que as asas deles batessem mais uma vez.
A habilidade de ressuscitar e reviver a vida veio da Fonte Sombria, Era
um traço de Sangue de Morte que eu entendi com um feitiço da mente de
Shade. Ou talvez tenha vindo de Zakkai. Todos os meus companheiros eram
tão parte de mim que eu podia escolher encantamentos à vontade, já que
minha conexão Quandary de Sangue me permitia escrever e reescrevê-los
sem pensar muito.
Então talvez tenha sido uma combinação de esforço, vindo dos dois.
Independentemente disso, funcionou, e os pássaros de fogo bateram
suas asas brilhantes enquanto decolavam para o céu mais uma vez. Zeph
desfez seu escudo, garantindo que os seres não fossem feridos novamente.
A outra criatura era um pica-pedra – o roedor raro parecido com um pássaro
conhecido por absorver e desmantelar feitiços.
Ele pegou meu encantamento para recuperar a saúde completa, então
correu para se esconder entre as trepadeiras.
A fênix foi a última. O grande pássaro era tão alto que olhei
diretamente em seus olhos multicoloridos enquanto voltava a ficar de pé
lentamente. Ele inclinou a cabeça, curiosidade florescendo em seu olhar
inteligente.
Nos comunicamos com nossos espíritos, o meu roçando o dele em um
elogio astuto por sua beleza e prestígio.
Ele respondeu, agitando as plumas deslumbrantes e se exibindo de
uma forma masculina que me lembrou um pouco dos meus companheiros.
Aposto que você faz isso para todas as garotas bonitas, humm? pensei para
ele.
Ele se endireitou, desfilando pelo chão e exibindo seu passo longo e
elegante.
Sim, você sabe que é bonito, eu disse a ele, levantando a mão. Ele deu
um passo à frente, sem medo, a segurança de ser um profundo predador
conhecido por desmantelar sua presa.
Sua cabeça emplumada se encostou em minha mão. As penas eram
deslumbrantes, suaves e acolhedoras.
— Muito bonito — elogiei.
Clove gorjeou no meu ombro em concordância.
A fênix se curvou em resposta, seu bico roçou meu estômago antes de
dar um passo para trás.
— Pássaro arrogante — ouvi Zeph murmurar para Kols.
— Se você tem inveja de uma fênix, suspeito que teremos problemas
mais tarde — Zakkai falou.
Zeph bufou.
Shade sufocou uma risada.
Eu apenas sorri, inclinando a cabeça em reverência para a fênix,
demonstrando igual apreciação. Ele soltou um grasnido alto em resposta,
chamando a atenção de várias criaturas enquanto expandia suas asas para
decolar.
Os corvos seguiram em seu rastro de vento.
E então um eco de pedras se movendo ecoou.
Me virei para ver as gárgulas atravessando os portões com suas armas
em punho em posição de batalha. Fiz uma careta, confusa por um momento
até que todos tomaram uma posição de saudação ao longo do caminho, com
os braços se erguendo para criar uma parede de pedra e espadas afiadas, as
pontas apontadas diretamente para o céu.
— Quanto tempo você levou para passar nesse teste? — Zeph
perguntou. — Uma semana?
— Nove dias — Kols respondeu. — Nove longos dias.
— Hum. — Zeph parecia achar graça.
— Ela tem a vantagem da Terra — Kols disse. Seu tom era leve e a
expressão cheia de orgulho. — Usando a vida para cortejar a vida.— Ele
assentiu em aprovação. — Muito eficaz, princesa.
Shade sorriu.
— Constantine vai ficar chateado. — Ele olhou para Zakkai. — Espero
que Tadmir registre sua reação.
Zakkai não parecia compartilhar a diversão. Sua expressão estava séria
enquanto analisava as gárgulas e as criaturas ao redor.
— Devemos entrar enquanto podemos. Se Constantine perceber que
ela passou com tanta rapidez, ele vai se envolver no próximo teste.
— Qual é? — questionei.
— Um tópico para quando passarmos por aqueles portões — Zakkai
respondeu, apontando para a entrada. — Depois de você, minha Rainha.
CAPÍTULO SETE
SHADE

MINHA AVÓ ESTAVA do lado de dentro dos portões com uma travessa de cookies. Seu
sorriso era acolhedor e conhecedor.
Porque ela previu aquele teste fora dos portões.
Um aviso teria sido apreciado, mas ela não era assim. Faes Fortunas
não queriam alterar o destino, apenas projetar caminhos potenciais. E eu fiz
o trabalho da minha vida para alterar o meu – daí Kols ao meu lado.
Minha avó lançou um olhar superficial sobre ele e seus olhos azuis
assumiram um brilho apreciativo enquanto estudava seu cabelo.
Arqueei uma sobrancelha, desafiando-a a dizer algo.
Ela não disse.
Ofereceu as guloseimas para que pudéssemos desfrutar enquanto se
apresentava formalmente a Zeph e Kols. Não me animei com os cookies,
porque sabia o que significavam: mais más notícias.
— Leve-os para conhecer o lugar — ela aconselhou. — E venha me
ver depois.
Assenti, sabendo que ela queria que eu a visitasse, não os outros. Mas
um olhar para Zakkai me disse que ele percebeu e participaria da reunião
comigo.
Escondi muitas coisas dele ao longo dos anos. Mas ele sempre parecia
saber, como se pudesse se lembrar das linhas do tempo, assim como eu. Eu
sabia era impossível – sua memória foi alterada com todas as outras.
Porém, sua habilidade Quandary de Sangue provavelmente permitiu
que ele sentisse as linhas de tempo alternativas. Ou talvez ele sentisse a
manipulação do poder.
Independentemente disso, ele suspeitava da minha interferência e
lealdades questionáveis em todo o nosso relacionamento. O que significava
que ele iria me seguir para a reunião ou comparecer ao meu lado.
O último era o preferido, especialmente porque nós dois estávamos
ligados à Aflora agora.
Ela caminhou ao meu lado enquanto eu fazia o tour que minha avó
sugeriu.
— É semelhante à outra Academia, pelo menos em termos de
arquitetura. Mas este campus não tem um dormitório ou prédio Sangue de
Morte, Elite de Sangue, ou qualquer coisa categorizada. Todas as classes
são combinadas, porque a maioria dos Faes são Quandary de Sangue. No
entanto, existem poucos de outras espécie. Há também outros tipos, como
Faes do Inferno. Faz parte do acordo de Lucifer com minha avó.
Entre outras coisas.
Eu não entendia tudo, pois o acordo antecedeu minha existência em
vários séculos, mas sabia que havia oportunidades educacionais envolvidas.
— Estes são os dormitórios — eu disse, apontando para uma série de
construções de estilo gótico. Era uma reminiscência dos outros terrenos da
Academia, emoldurados com escuridão e uma lua alta, mas não eram
exclusivos de uma única espécie Fae da Meia-Noite. E não precisavam de
feitiços para entrar.
As gárgulas se moviam mais aqui, andando ou voando para locais
diferentes em vez de residir atrás de portas.
Eles se curvaram para Aflora quando ela passou, sua reverência era
palpável. Mas ela estava muito ocupada estudando o campus para perceber.
— Aqui não tem lâminas de carvão — ela observou, olhando para um
pátio de obsidiana com rochas afiadas e sulcos perigosos.
Segurei seu cotovelo quando ela se inclinou para tocar o chão.
— Não.
Ela franziu a testa para mim, então ofegou quando um redemoinho de
fogo irrompeu em um gêiser de chamas furiosas.
— Mãe Terra...
Alguns Faes que passavam jogaram faíscas no poço, suas brasas
cerúleas dançando com as cintilações vermelhas e amarelas. Então tudo se
transformou em um tornado de calor e sugou o ar para dentro do buraco,
desaparecendo.
— É como... como um cipó ardente? — ela perguntou.
— Só que pior — respondi. — Existem certos aspectos do reino Fae
do Inferno que não podem ser apagados, então minha avó alterou o
paradigma para aceitar as nuances.
— Isso é fascinante. — Kols estava agachado no caminho de
paralelepípedos. Seu olhar cor de ouro queimado focado nas rochas negras.
— Eu posso sentir a fusão da magia.
Assenti.
— Sim, certas áreas do paradigma são mais fortes que outras.
— O prado? — Aflora se perguntou.
— Está em uma área neutra. Nem todo o Reino Fae do Inferno é fogo
e calor. É... esporádico. É por isso que outros Faes se recusaram a visitá-lo.
Bem, isso e o fato de que Faes do Inferno não aceitavam bem os
visitantes. Todos eram abominações, e Constantine Nacht era o inimigo
número um entre eles.
— Onde vamos ficar?— Zeph perguntou, com os braços cruzados
enquanto analisava o campo com uma expressão especulativa.
— Em um dos dormitórios nos fundos do campus — eu disse a ele.
Aflora pareceu desapontada.
— Não na sua cabana?
— Nossa cabana — eu a corrigi com um aperto em sua mão. — E,
não. Fica muito longe do terreno da Academia. Precisamos de espaço para
praticar e aprender, e não podemos fazer isso em nosso campo. Esses
edifícios são destinados ao treinamento e domínio da magia. Então é melhor
ficarmos aqui.
— Ah. — Ela curvou os lábios e lentamente inclinou a cabeça em
concordância.
Eu os conduzi, mostrando-lhes algumas das áreas acadêmicas e
recintos recomendados para a prática das artes ofensivas e defensivas.
Zakkai e Zeph se interessaram por elas, a natureza calculistas dos dois
assumindo o controle. Kols parecia levar tudo na esportiva, observando os
Fae da Meia-Noite e estudando a composição geral do paradigma.
Era tudo muito real – como os paradigmas deveriam ser – mas a
presença subjacente de Faes do Inferno espreitava na área ao redor do
campus. Principalmente por causa dos encantos de proteção. Como alguns
dos Faes mais poderosos de Lúcifer frequentavam a Academia, ele ajudou a
reforçar as defesas naturais ao nosso redor.
A aldeia onde minha avó morava não tinha a mesma sensação porque
estava em terreno neutro.
Usei um feitiço para dar um mapa para Aflora, explicando onde as
diferentes seções do paradigma residiam e como cada uma interagia com o
reino Fae do Inferno. Ela ficou boquiaberta e fascinada.
Zeph parecia estar memorizando tudo.
Zakkai apenas deu um sorriso apreciativo.
— Zenaida é inteligente. — Ele admirava o céu e os prédios, sua
aprovação era evidente. — Nunca considerei misturar elementos do jeito
que ela fez. Reforça a estrutura enquanto ajuda a misturar.
— Vai enviar anotações para o seu pai? — perguntei em voz alta.
Zakkai bufou.
— Duvido que ele vá querer falar comigo tão cedo. Afinal, salvei um
Nacht.
Verdade. Não importava que Kols fosse inocente na guerra. Seu avô a
tinha começado. E o Quandary de Sangue queria que a linhagem Nacht
fosse exterminada.
— Ainda sou considerado um Nacht? — Kols chamou uma nuvem de
magia para sua mão. As cores eram uma mistura rodopiante de roxo,
vermelho, cerúleo e verde. — Eu realmente não me sinto mais como um
Elite de Sangue. — As chamas se extinguiram em um movimento de sua
mão. Seu olhar cintilou com curiosidade e uma sugestão de algo mais. Não
era tristeza – senti conforto em fazer parte do nosso círculo de
companheiros prosperando através de nossa conexão. No entanto, havia
uma sensação de perda.
Por Tray, percebi.
Sim, Kols respondeu através do nosso vínculo aberto, o que lhe
permitia ter liberdade em meus pensamentos. Considerei afastá-lo, mas não
o fiz. O instinto me disse que ele precisava dos vínculos. Porque aquele que
ele havia estabelecido ao nascer estava sofrendo.
Ele não podia sentir Tray, mas as almas deles estavam unidas de uma
maneira única – algo que nunca seria cortado.
— Você ainda é um Nacht — eu disse. — Mas um bom. Assim como o
Tray.
Kols piscou para mim.
Mas foi Zeph quem falou.
— Isso foi um elogio? — Suas palavras soaram em choque. — Um
elogio honesto?
— Acho que sim — Kols respondeu, com humor em seu tom.
— Que estranho. — Os olhos verdes de Zeph encontraram os meus.
Havia um sorriso à espreita em suas profundezas. Provavelmente, uma
piada. Ou talvez eu o tivesse agradado. Era difícil dizer com o Guerreiro de
Sangue.
— Shade tem muitas camadas — Aflora falou, dissolvendo meu feitiço
do mapa e passando seus braços em volta de mim. Beijei o topo de sua
cabeça. Seu abraço me deixou à vontade.
Obrigado, pequena rosa, sussurrei.
Ela respondeu com um ronco no estômago, sua fome evidente.
Zeph sorriu.
— Alguém quer Mustard berries.
Aflora balançou a cabeça, murmurando o termo certo para ele como
sempre fazia.
O olhar do Guerreiro de Sangue brilhou com prazer, amando suas
brincadeiras.
Zakkai ignorou a todos, mantendo seu foco em mim. Seus olhos me
diziam que ele estava impaciente para se encontrar com minha avó. Ele
queria um briefing completo sobre a segurança e tudo o que acompanhava o
paradigma.
— O dormitório em que estamos hospedados é logo ali — falei,
acenando com o queixo sobre a cabeça de Aflora.
Os outros me seguiram, com a mão de Aflora na minha mais uma vez.
Há uma semana, isso teria parecido surreal – como um sonho. Sete linhas
do tempo terminaram em destruição e quase morte.
E a número oito levou a isso.
A uma união entre cinco Faes da Meia-Noite.
Eu sabia que não devia me alegrar com a vitória. Não estávamos nem
perto de terminar. Nos concentrar na unidade se tornou ainda mais
imperativo, com Constantine nos envolvendo neste novo jogo perigoso.
Zakkai e Zeph eram os que representavam a maior ameaça.
Dois machos alfa competindo pelo domínio.
Aflora era a chave para mantê-los na linha, e eu não estava totalmente
convencido de que ela tinha Zakkai sob controle.
Ele se moveu atrás de mim com passos silenciosos. Sua presença era
como uma ameaça e um conforto. O poder irradiava dele e sua conexão
com a Fonte rivalizava com a ascensão de Aflora.
Subi os degraus de pedra até as portas duplas do dormitório onde duas
gárgulas esperavam, com os olhos baixos em sinal de respeito.
Uma terceira estava lá dentro com o corvo de Kols empoleirado em
sua cabeça de pedra.
— Sir Kristoff — cumprimentei com falsa alegria. A pequena criatura
me detestava por causa de todos os meus encontros com o tempo. Ele não
sabia de todos os detalhes, mas possuía certas lembranças de Kyros e eu
distorcendo o destino em várias ocasiões.
— Sangue de Morte — ele murmurou. Então inclinou a cabeça. —
Senhora Aflora.
Ela fez uma pausa no meio de um passo, seus olhos azuis caindo para
o pequeno ser de pedra. A cabeça dele nem chegava aos joelhos dela.
— Senhora Aflora?— ela repetiu.
Kols se moveu para o outro lado.
— Você é a realeza ascendente, linda — ele explicou contra seu
ouvido. — E passou no seu segundo teste. Todas as criaturas respondem a
você agora.
— Transferi sua caixa para os novos aposentos, mestre Kolstov — a
gárgula o informou depois de se endireitar. — Nada foi negligenciado.
— É bom saber que sua lealdade é inabalável — Kols respondeu,
sorrindo.
— Eu nunca gostei de Constantine — Sir Kristoff murmurou. Seu tom
exibia uma pitada de emoção – um traço raro para uma gárgula. — Faminto
por poder e cruel.
Ele caminhou em direção às escadas, assumindo o cargo de anfitrião.
Minha avó só me disse que ficaríamos em algum lugar deste prédio,
mencionando algo sobre os jardins dos fundos. Felizmente, parecia que Sir
Kristoff sabia para onde nos levar.
— Todas as criaturas Faes da Meia-Noite sabem como encontrar esse
paradigma? — Aflora perguntou enquanto seguíamos atrás da gárgula.
— Eles sabem como localizar Faes da Meia-Noite — respondi,
soltando sua mão e colocando-a na parte inferior de suas costas enquanto
me movia ao seu lado.
— Isso significa que todos são permitidos aqui? — Sua mente
adicionou uma pergunta logo depois, me dizendo por que ela havia feito a
primeira. Se Kristoff pôde entrar, é possível que Constantine envie uma
gárgula menos leal ou algo pior? ela perguntou.
— Não — respondi para as duas perguntas. — Existem vários feitiços
e camadas de proteção que impedirão qualquer pessoa e qualquer coisa com
más intenções de cruzar a fronteira do paradigma.
— Eles não podem simplesmente usar um pica-pedra como naquele
dia no campus? — ela pressionou.
— As proteções dos Faes do Inferno não são algo que os pica-pedras
podem absorver e desconsiderar — assegurei a ela. — O que significa que
nem seriam capazes de atingir o limite do paradigma para tentar encontrar
os feitiços.
— Porque a criatura mal-intencionada seria destruída ao entrar nos
portões de Lucifer — Zakkai acrescentou logo atrás de nós. —
Configuração extremamente útil, e também porque sua avó nos concedeu
aquela reunião na outra semana. Ela sabia que eu tinha boas intenções.
Dei de ombros.
— A cautela é o que a mantém viva.
— É mais do que cautela, Shadow. Zenaida é brilhante. — A
convicção em seu tom me disse que o elogio era sincero.
Assenti e continuei subindo até certo ponto das escadas, onde a gárgula
parou, indicando nosso andar. Era quase impossível saber em que nível
estávamos, porque os degraus continuavam subindo até terminarem em um
andar com uma única porta.
— Feitiços de ocultação — Zakkai comentou. — Como eu disse,
brilhante. — Ele deu um passo atrás de Aflora, apoiando as mãos em seus
quadris e prendendo a minha entre o abdômen e a parte inferior das costas
dela. — Você pode sentir a magia, estrelinha? Todos os fios secretos
pulsando pelo chão e escondendo os quartos, exceto aqueles que deveriam
ser nossos?
Ela se inclinou para o meu lado e de volta para ele, permitindo-nos
segurá-la enquanto ela considerava os encantos do edifício.
— É... intenso.
— É lindo — Zakkai sussurrou. — Como você. — Ele beijou seu
pescoço, então apoiou o queixo em seu ombro. — Mas você pode ver
através dele? A energia elétrica por detrás?
— Eu sinto — ela admitiu. — Mas não entendo.
— Feche os olhos — ele murmurou, passando os braços ao redor de
sua cintura enquanto minha mão permanecia entre eles. Isso criou uma
conexão íntima entre nós três, Zakkai não pareceu se incomodar com o fato
de eu ficar perto enquanto ele engajava seu elo mental para orientá-la na
lição mágica.
Seus grossos cílios pretos se espalharam pelas maçãs do rosto
enquanto ela fazia o que ele havia instruído, abrindo seus lábios para o que
quer que ele tivesse soltado dentro dela.
Kols e Zeph trocaram um olhar enquanto Sir Kristoff estava parado no
corredor.
A estática zumbia no ar enquanto Zakkai e Aflora falavam
mentalmente um com o outro e, após vários minutos de intenso silêncio,
Aflora abriu os olhos mais uma vez.
— Em que andar estamos, estrelinha? — Zakkai perguntou.
— Quarto andar. Ala sete.
— Muito bem — ele elogiou, beijando seu pescoço novamente. —
Muito bem. — Ele a soltou, seu foco se voltou para a gárgula. — Continue.
Sir Kristoff fez uma reverência sutil, reconhecendo Zakkai como
superior por causa de seu papel de Arquiteto da Fonte. Ou talvez porque ele
era o companheiro de Aflora. Independentemente disso, a gárgula nos levou
ao nosso quarto, passando pela porta em uma sala de estar cercada por
janelas.
Arqueei as sobrancelhas para o pátio.
— Quarto andar?
— Outra ilusão impressionante — Zakkai falou. — É um jardim no
terraço, acima de um dos quartos.
— Cheio de plantas reais. — Aflora praticamente correu, a curiosidade
substituindo a necessidade de comer, porque ela passou pela cozinha e a
área de jantar aberta. Zakkai fez um feitiço à sua frente para abrir as portas
de vidro, permitindo que ela corresse direto para o jardim de flores e
árvores.
Nós quatro rimos com sua animação, então Zeph foi atrás dela e se
encostou na porta.
— Você vai se despir como da última vez, linda flor?
Isso despertou o interesse de Zakkai.
— Ela se despiu em um jardim?
— No Central Park. — Zeph não tirou os olhos dela enquanto falava.
— Os humanos não aprovaram.
Aflora murmurou algo sobre só tirar o suéter da última vez antes de
cair em uma pilha de grama verde embaixo de uma árvore.
— Ah, tão lindo!
Contraí os lábios com sua diversão. Então olhei para a lua alta. Esta
parte do paradigma nunca via o sol, por isso era difícil determinar a hora.
No entanto, eu suspeitava que minha avó me esperava a qualquer minuto.
Olhei ao redor da sala de estar, localizei um corredor e passei por
quatro portas de quartos diferentes, todas abertas. O maior ficava no final
dele, onde encontrei um closet cheio de roupas. A maioria era feminina e
parecia ser do tamanho de Aflora. Havia também uma cômoda com quatro
varinhas.
Porque a Aflora ainda não tinha a sua.
Estranho que a Fonte sombria ainda não a tivesse presenteado.
Com um aceno, peguei a minha e me virei para encontrar Zakkai.
— Quer sua varinha? — perguntei a ele.
— Não. Deixe-a para a Aflora.
Boa resposta, pensei. Ele me seguiu para a sala de estar, onde Zeph e
Kols estavam assistindo Aflora em seu Elemento. Ela se perdeu
completamente em sua natureza Fae da Terra. Raízes dançavam pelo chão
enquanto ela renovava o solo com vida, fazendo com que as árvores se
alongassem e as flores desabrochassem.
— Preciso me encontrar com minha avó antes que ela me chame — eu
disse a eles. — Podem cuidar para que Aflora se lembre de comer alguma
coisa? — Porque eu suspeitava que ela tinha se esquecido da fome que
sentia.
Zeph assentiu sem olhar para mim.
Zakkai não se incomodou em comentar, apenas se virou para mostrar o
caminho.
Porque nós dois sabíamos que ele iria comigo, e ele não sentiu a
necessidade de mencionar isso para os outros.
Em vez de comentar, eu o segui e assegurei que minha conexão com a
Aflora permanecesse aberta. Era a minha maneira de dizer que não haveria
mais segredos.
O que quer que minha avó dissesse, eu compartilharia.
Porque Aflora e eu estávamos finalmente em um caminho verdadeiro –
como companheiros totalmente unidos.
Não havia mais linhas do tempo alternativas. Nem Paradoxos Fae. Só
havia um caminho a seguir, com nós quatro ao seu lado.
Não demore, ela sussurrou para mim, reconhecendo que eu tinha ido
embora.
Não estarei longe, prometi.
Eu sei, ela respondeu. Assim como sei como te encontrar. Ela soprou
um feitiço em minha mente, me dizendo que não apenas aprendeu a usar
minha habilidade de desaparecer, mas também a memorizou.
Bom, eu murmurei. Coma alguma coisa.
Hum-hum, ela murmurou enquanto sua mente ronronava com vida e
Terra mais uma vez.
Ri baixinho quando saímos do prédio.
— Quando tudo isso acabar, precisamos encontrar um lugar com um
jardim de verdade para ela.
— Para que possamos vê-la brincar nua? — Zakkai perguntou.
Contraí os lábios.
— Entre outras coisas.
Muitas outras coisas.
CAPÍTULO OITO
AFLORA

CORDIALIDADE. Beleza. Paixão.


Eu me diverti, rolando na grama e absorvendo toda a magia.
— Existem tantos tipos de terra — me maravilhei em voz alta, sem
falar com ninguém em particular. — Tanta vida!
Havia plantas de todos os reinos Faes, incluindo algumas do meu
próprio. E do mundo humano também.
— Estas são tulipas — eu disse, encorajando uma a florescer. — Tão
diferente da orquídea. — Que era linda e branca, mas exigia muito mais
atenção do que a outra.
Voltei para a árvore, encostando no tronco e suspirando feliz.
— Que carvalho poderoso você é — elogiei. — Forte e grande, com
uma circunferência impressionante.
— Isso é um eufemismo? — Zeph perguntou enquanto se aproximava
com um prato na mão. — Eu deveria ficar com ciúmes?
Eu ri, embriagada de vida e com a vitalidade Terrena que me cercava.
Os lábios de Zeph se curvaram quando ele se sentou na minha frente.
Kols o seguiu com outro prato e uma grande caneca.
— Hidromel. — A palavra escapou pelos meus lábios em uma oração
quando senti minha boca ressecada. Estendi a mão para o copo gelado,
praticamente ofegante de necessidade.
— Esse olhar está me dando muitas ideias — Kols disse enquanto
entregava a caneca para mim.
Eu a segurei e tomei um grande gole, sentindo meu coração se
regozijar com o sabor esplêndido. Sim. Sim.
— Ela ficou assim no Central Park? — Kols perguntou enquanto se
sentava ao lado de Zeph.
— Sim, e fez topless também — Zeph respondeu.
— Não é à toa que você a comeu contra uma árvore. — Kols colocou
o prato na grama, o bife de dragão me fazendo gritar de emoção. Devolvi o
hidromel e mergulhei direto no banquete.
Não precisava de talheres.
Apenas mãos.
E comida. Deliciosa, uma comida incrível.
O prato de Zeph tinha mouseberries. Um pudim vermelho estava ao
lado, o que me fez erguer a sobrancelha.
— O que é isso? — perguntei com a boca cheia. Eu tinha me
esquecido de que estava com fome, e agora ela voltou com força total.
— Pasta doce — ele respondeu.
Isso não era algo do mundo Fae Elemental.
— O que tem nela?
— Sangue. — Sem hesitação. Sem enrolar. Apenas uma única
declaração que fez meu estômago revirar. — Você precisa disso, linda flor.
Balancei a cabeça, negando. Porque, não, eu não precisava de sangue
agora. Particularmente, não com a comida. Que nojo. Beber dos meus
companheiros era uma coisa. Beber com minhas refeições era totalmente
diferente.
— Você está ascendendo como Fae da Meia-Noite — Kols falou com
gentileza. — O sangue é como nos conectamos à Fonte Sombria, Aflora.
Ofeguei, a comida perdendo todo o sabor na minha boca.
Balancei a cabeça em negação. Não.
— Humm, acho que ela precisa de um pouco de persuasão, Kols.
— Também acho — o Elite de Sangue concordou. — Ela não teve
problema com sangue ontem à noite.
— Não, não teve mesmo.
— Talvez seja preciso nos envolver em algo semelhante para inspirá-
la? — Kols sugeriu, colocando a caneca de hidromel na grama.
— É como se você pudesse ler a minha mente — Zeph falou, passando
o dedo pela pasta vermelha. Eu meio que esperava que ele levasse aos meus
lábios, mas levou a mão para a boca de Kols.
E começou a passar a textura pelo seu lábio inferior, mantendo o olhar
em mim o tempo todo.
Em seguida, se inclinou para o lado, mudando sua atenção para o outro
homem, e lambeu a pasta do lábio de Kols antes de mergulhar a língua em
sua boca para beijá-lo.
Meu companheiro Elite de Sangue gemeu em aprovação, fechando os
olhos ao se perder no abraço de Zeph. Os dois se entregaram um ao outro
tanto quanto o sabor da comida.
O fogo lambeu minhas veias ao vê-los, e meu estômago se apertou em
expectativa.
Então Kols pegou um pouco da pasta com seu próprio dedo e
desenhou uma linha no pescoço de Zeph, seguindo-a com a boca, lambendo
a pele no processo.
Se você estivesse sem camisa, eu faria isso com seus seios, Kols
sussurrou em minha mente. Então eu morderia seu mamilo rosado e
afundaria os dentes em sua carne para realmente te provar.
Minhas coxas se apertaram.
Zeph criou um padrão em ziguezague pelo pescoço de Kols e usou a
outra mão para começar a desabotoar a camisa do meu companheiro Elite
de Sangue. Sua boca seguiu o caminho enquanto soltava os botões até
chegar ao umbigo do outro homem.
— Puta merda — Kols murmurou, caindo na grama.
— Calma — Zeph murmurou, passando os dentes pela parte inferior
do abdômen de Kols até o quadril. — Você acha que a Aflora me ajudaria a
lamber seu pau se eu o decorasse com o doce?
Kols gemeu, fechando os olhos.
— Não faça promessas que não vai cumprir.
— Eu nunca faria isso — Zeph respondeu, levando a mão para a
virilha de Kols.
— Mentiroso — Kols grunhiu, arqueando o corpo na mão de seu
Guardião.
Zeph riu. Então ele abriu o botão da calça de Kols e baixou o zíper.
Nada de cueca.
Apenas pele nua.
Abri os lábios e meu pulso acelerou.
Zeph se inclinou para dar um beijo na excitação crescente, então seus
olhos verdes ardentes encontraram os meus.
— O que você quer fazer, linda flor? Torturar o Kols? — Ele pegou
mais pasta e traçou uma linha convidativa ao longo do comprimento do
outro homem. — Ou agradá-lo?
Ele abaixou a boca para demonstrar, provocando um gemido sensual
de Kols. Então criou outro rastro vermelho sedutor e me convidou para me
juntar a ele.
Eu prometo que você vai gostar, ele sussurrou em minha mente. E vou
recompensá-la por prová-lo também.
Seu olhar caiu para o ápice entre minhas coxas, suas narinas dilatadas
com a luxúria.
Ele pretendia me recompensar me lambendo. Com a pasta.
Querido Fae, pensei, engolindo em seco. Que... tortuoso. E muito
Zeph.
Suas íris pulsaram e havia expectativa em sua expressão. Ele sabia que
eu não recusaria. Não com uma oferta dessas.
Mas se eu odiasse o sabor, certamente estragaria o clima.
Só há uma maneira de descobrir. Estremeci, observando o pau de Kols
e o brilho promissor nos olhos verdes de Zeph.
Confie em mim, ele murmurou. Você vai aproveitar cada minuto. E ele
também.
Empurrei os pratos para o lado, deixando-os perto da caneca
descartada de hidromel. E rastejei até Kols.
Suas pupilas dilataram enquanto ele me observava, seus músculos
flexionaram, e ele cerrou os punhos ao lado do corpo.
— Obrigado — ele disse, seu tom cheio de necessidade.
Toquei seu abdômen com a boca, beijando-o logo abaixo do umbigo.
Então comecei a descer com a língua, saboreando sua pele ao longo do
caminho e me divertindo com sua vida renovada. Uma pontada de doçura
provocou meu nariz quando me aproximei de sua virilha. A pasta ostentava
um aroma sutil que me lembrou de chocolate quente - uma bebida deliciosa
que Faes Elementais gostavam de fazer com canela e infusões de frutas
florais.
O sangue não era algo comum na minha dieta.
Mas eu já tinha provado dos meus companheiros.
E não foi horrível.
Na verdade, foi bastante erótico.
Engolindo em seco, desloquei os últimos centímetros até a ereção
pulsante de Kols e lambi timidamente a ponta.
Ele xingou, esticando o corpo pelo que parecia ser a provocação final.
— Aflora — ele murmurou, roçando os dedos em minha mandíbula.
Zeph segurou seu pulso e colocou a mão ao seu lado mais uma vez.
— Não a toque.
— Eu te odeio. — A frase saiu em um rosnado e o desejo de Kols era
uma sensação quente contra minha boca.
— Você vai me amar de novo em um segundo — Zeph prometeu.
Em vez de atormentar mais meu companheiro, fechei a boca ao redor
da cabeça e comecei a descer. Seu silvo me encorajou a ir mais fundo, a
comida pintando sua pele com um sabor intrigante que me fez gemer.
Porque era bom.
Não, era delicioso.
Peguei tanto dele quanto minha garganta permitiu, então o soltei para
alcançar a base e terminar de lambê-lo.
Zeph adicionou mais pasta no segundo seguinte, tendo recuperado o
prato mais uma vez. Eu me entreguei a provar de novo, tratando Kols como
uma espécie de deleite delicioso.
Suas mãos estavam fechadas nas laterais do seu corpo, sua excitação
dura pulsava em minha boca. Zeph mudou o foco para a boca de Kols,
beijando-o profundamente enquanto eu o lambia até o fim.
Era erótico.
Sensual.
Perfeito.
Zeph estendeu a mão para mim, enfiando os dedos em meu cabelo
enquanto ajudava a guiar meu ritmo, com a outra mão na garganta de Kols.
— Não goze ainda, Kolstov.
Meu companheiro Elite de Sangue grunhiu, fazendo Zeph rir de um
jeito sombrio.
— Sádico — Kols acusou.
— Humm, mas você já sabia disso — Zeph respondeu, beijando-o
novamente.
Seu controle era resoluto e seu aperto inflexível enquanto ele ditava
meus movimentos, bem como o orgasmo de Kols.
A exibição fez minhas coxas ficarem tensas, minhas entranhas
queimarem com uma intensidade que me lembrou da Fonte.
O calor correu pelas minhas veias, me incendiando por dentro, e
percebi que estava sentindo o prazer crescente de Kols. Ele não podia
contê-lo, a excitação se derramando em nossos vínculos enquanto ele
empurrava sua necessidade para mim e Zeph.
— Trapaceiro — Zeph declarou em um gemido baixo.
— Me deixe gozar e posso compartilhar a sensação também. — O tom
de Kols continha uma promessa e uma ameaça, sua voz estava profunda de
desejo.
Zeph murmurou de forma ponderada, seu aperto me forçando a levar
Kols ainda mais fundo. Ele me olhou lentamente enquanto permanecia ao
lado de Kols.
— Você está pronta para engolir, linda flor?
Sim.
— Em voz alta — ele encorajou, não permitindo que eu me movesse.
— Diga contra o pau dele.
— Sim — consegui dizer, mas o som saoiu arrastado e obstruído pelo
calor pulsante de Kols na minha boca.
— Puta merda — Kols ofegou. — Cacete.
— Essa é a sua preferência? — Zeph perguntou, voltando sua atenção
para o Elite de Sangue.
Kols fez um barulho sombrio enquanto seus dedos se entranhavam no
chão ao nosso lado.
Zeph sorriu, então levantou minha cabeça até a ponta e me empurrou
de volta. Um suspiro chocado me escapou, e senti a penetração profunda
cortando minhas vias aéreas.
Mas o grunhido de Kols fez valer a pena. Ele tremeu debaixo de mim,
seu abdômen apertando quando o gozo foi disparado na parte de trás da
minha garganta.
Engoli, porque não havia outra opção. Não que eu desejasse uma.
Provar Kols era como uma recompensa, eu ansiava e precisava de sua
essência para sobreviver. Ele levantou uma mão, roçando os dedos em
minha bochecha enquanto gozava. Aquele lindo toque solitário foi uma
demonstração de gratidão à medida que ele se derretia debaixo de mim.
Meu coração se aqueceu.
Havia tanto amor e adoração naquele toque.
Eu te amo, ele disse em minha mente. Muito, Aflora.
Eu também te amo, respondi, bebendo dele figurativa e literalmente.
Ele gozou mais em minha garganta, então se acalmou. Senti sua
explosão aquecer nosso vínculo e acender um fogo dentro de mim.
Mas senti que ele deu mais a Zeph, usando seu orgasmo como uma
forma de punir o outro macho. O Guerreiro de Sangue segurou o próprio
pau enquanto um rosnado misturado com um gemido escapava de seus
lábios.
— Vou retribuir esse favor mais tarde — ameaçou.
— Tudo bem — Kols respondeu, seu tom preguiçoso e satisfeito. —
Estou ansioso por isso. — Ele se apoiou nos cotovelos, seu olhar cor de
bronze encontrando o meu. — Mas primeiro, acredito que você deve uma
recompensa a nossa companheira. A menos que queira que eu faça as
honras.
— Você pode ajudar — Zeph ofereceu e suas íris verdes queimavam
com a promessa. — Deite-se, linda flor. E levante a saia. — Ele passou o
dedo pela pasta novamente, deixando pouco para a imaginação sobre o que
ele queria.
E eu não ia recusar.
Então fiz o que ele pediu, levantando a saia e mostrando que estava
sem calcinha.
Os dois gemeram.
Então abri minhas pernas e eles xingaram.
Kols se moveu para a minha boca primeiro, traçando a linha dos meus
lábios para exigir entrada enquanto levava sua mão ao meu peito. Gemi
contra ele, arqueando em seu toque à medida em que retribuía com
abandono imprudente.
Vivo, pensei. Ele está vivo.
Eu sabia disso, foi parte de sua ressurreição, mas a lembrança contínua
de sua existência incendiou minha alma. Porque ele era meu. Em mais de
uma maneira. Meu. E eu teria sido totalmente destruída sem ele.
Assegurei que ele soubesse disso, abrindo a mente para a dele,
empurrando meus sentimentos de gratidão e devoção, dizendo sem palavras
o que ele significava para mim.
Ele respondeu com uma transmissão de suas próprias emoções, me
afogando em sua adoração e amor.
Então Zeph abriu minha intimidade com a língua, exigindo meu foco.
Ahhhh...
Seu dedo seguiu boca, e ele traçou seu toque, lambendo a pasta do meu
centro.
Quem poderia imaginar que comida podia ser tão emocionante?
Estremeci quando ele repetiu o gesto, então Kols passou os lábios por
meu pescoço e desabotoava minha blusa com habilidade.
Minha pele se arrepiou, fazendo meu corpo se preparar e ficar pronto
para explodir.
Mas uma mordiscada em meu clitóris me disse que eu ainda não tinha
permissão.
Você é mesmo um sádico, pensei para Zeph.
Ele murmurou enquanto movia a boca perversa e habilidosa contra o
meu sexo.
Kols aumentou a diversão, pintando meu seio com o restante da pasta e
fazendo exatamente o que prometeu: decorar meu mamilo e levá-lo à boca.
Então afundou os dentes em minha carne, tirando meu sangue à medida que
lambia a ferida.
Um inferno queimou através de mim, nocauteando meus sentidos e me
reduzindo a uma confusão contorcida de desejo insano.
Meus dois companheiros se divertiram, me levando próximo do clímax
apenas para me negar o resultado final.
Implore, Zeph me disse. Implore pelo que você precisa.
— Por favor — sussurrei. — Eu... eu preciso... — Pulei quando Kols
me mordeu novamente, desta vez no outro seio. — Oh! — Eu ia morrer
pelo toque de meus companheiros. Explodir em uma fonte de loucura e
sensação. — Por favor, me deixe gozar. — As palavras saíram atropeladas –
ou soaram distantes aos meus ouvidos, de qualquer maneira – porque eu
estava muito perdida nas bocas, línguas e mãos deles para pensar em
minhas palavras.
Zeph fez um som de aprovação e afundou os dentes na minha carne
delicada, me fazendo dar um grito gutural.
Aquilo machucou.
Queimou.
Me cativou por completo.
Fae... Era como se ele tivesse me virado do avesso, extraindo o mais
profundo prazer de minha alma com os dentes e arrancado as chamas
florescentes de mim ao me sugar.
Sangue. Meu sangue.
Eu o senti engolir, seu anseio por mim demonstrado em um beijo
abrasador em meus sentidos.
Agora, Aflora, ele disse, me dando a permissão que eu procurava e
desejava. Goze para nós.
Eu não tive que pensar, apenas obedeci. Meu corpo estava treinado
para sua vontade e ouvindo-o mais do que a mim. Estrelas piscaram em
minha visão, a escuridão ultrapassou meus sentidos e eu caí de cabeça em
um oceano de êxtase.
Me despedacei.
Me derreti.
Sobrevivi apenas com prazer.
Tremendo, queimando e me perdendo para meus companheiros.
Eles me possuíam. Meu coração. Minha alma. Meu corpo.
Mas eu os possuía em gentileza. A força deles estava enraizada em
meu espírito e me puxava de volta à vida na minha próxima respiração.
A boca de Zeph capturou a minha. Em seguida a de Kols. Então Zeph
novamente. As mãos deles estavam por toda parte, me acariciando com
inegável afeição e graça.
A água me cercou no segundo seguinte, meus companheiros me
levaram para tomar banho.
Mal senti o calor das gotas, meu foco em Zeph, Kols e seus toques.
Eles fizeram isso comigo: tiraram todas as minhas preocupações,
anseios e me apresentaram a um mundo de sensações e vida diferente de
qualquer outro.
A mente de Shade roçou a minha, seus pensamentos me levando
adiante.
Zakkai também estava lá, sua energia protetora me permitindo me
soltar e apenas ser.
Desabei contra Zeph e Kols, deixando que eles me banhassem, me
amassem, me valorizassem e me entregassem tudo o que eles tinham para
dar.
Os meus companheiros.
Meus amores.
Meu mundo.
CAPÍTULO NOVE
KOLS

AFLORA ESTAVA SENTADA à mesa de roupão, com o cabelo escuro caindo em ondas
úmidas sobre os ombros. Ela tinha um brilho satisfeito em suas feições,
com as bochechas rosadas pela alegria do banho.
Zeph a pegou por trás enquanto eu me ajoelhei e adorei seu clitóris.
Então eu a comi contra a parede.
Ela absorveu tudo. Seus gemidos de prazer eram um som residual na
minha cabeça enquanto eu girava a massa no garfo.
Seus olhos azuis caíram para o meu prato, franzindo a testa. Macarrão
sangrento e porcaria marrom.
Eu ri, me lembrando da nossa primeira refeição juntos.
— Espaguete e almôndegas — eu a corrigi antes de dar uma mordida.
Ela fez uma careta e pegou sua versão de sanduíche.
Zeph também tinha um em seu prato. Ele parecia estar fazendo um
esforço consciente para comer a culinária Fae Elemental com ela. Mas senti
seu desgosto pela textura encharcada quando mordeu.
Eu sorri. Em seguida dei outra garfada do meu prato da culinária
italiana favorito.
Embora as comidas fossem semelhantes às da nossa primeira noite
juntos, os sentimentos ao redor da mesa não poderiam ser mais diferentes.
Confiança e carinho flutuavam entre nós.
E só se fortaleceu quando Shade e Zakkai voltaram.
Os dois beijaram a cabeça de Aflora e vasculharam a geladeira,
totalmente abastecida, em busca de algo para comer.
Eles optaram por se juntarem a mim no espaguete, fazendo Aflora
torcer o nariz.
Então Zeph a distraiu com um prato de bife de dragão, e ela não
pareceu mais se importar com nada além da carne na sua frente.
Balancei a cabeça, achando graça de suas travessuras.
Comida era o caminho para seu coração.
Zeph acenou com a varinha para adicionar uma rodada de canecas à
mesa, todas cheias de hidromel. Os olhos de Aflora brilharam com
aprovação. Então ela olhou para mim.
— Agora seria um bom momento para a lição de ascensão.
Contraí os lábios. Durante nosso primeiro jantar, discutimos a ordem
dos Faes da Meia-Noite em alto nível. E agora, ela queria chegar ao cerne
da questão revisando os testes.
— Primeiro, quero saber se a avó do Shade tinha algo interessante a
dizer — Zeph interveio, seu olhar focado no Sangue de Morte. — Chega de
segredos, Shadow.
Shade passou os dedos pelo cabelo grosso e escuro, e relaxou em sua
cadeira.
— Eu não sou o Kols. Não aceito ordens.
Eu bufei.
— Se você acha que aceito todas as exigências dele, você não me
conhece. — No quarto, cedia a alguns comandos de Zeph. Mas só porque
eu gostava da recompensa de apaziguar seu lado sádico.
— Shade — Aflora interveio, com voz suave mas cheia de autoridade.
— Por favor.
A expressão dele se aqueceu com suas palavras.
— Qualquer coisa para você, pequena rosa.
Zeph grunhiu.
Eu apenas sorri e tomei um gole do hidromel.
Shade ofereceu um breve resumo de sua discussão com a avó,
concentrando-se nas partes importantes. Que eram principalmente sobre as
provações e o pedido para que todos nós nos preparássemos. Conselhos que
realmente não precisávamos, mas eu entendia que Zen sentia a necessidade
de enfatizar a importância de nos prepararmos para as provações.
— Temos que trabalhar como uma unidade — Shade concluiu. — Essa
é a essência do que ela estava dizendo. — Seu foco mudou para um
silencioso Zakkai. — Tenho certeza de que toda a palestra foi para você.
— Eu entendi depois da terceira frase — Zakkai respondeu sem
rodeios. Seus olhos azul-prateados encontraram os meus. — Mas acho que
também havia uma palavra de cautela em relação a certos testes...
— Respeito e unidade — murmurei, pensando no resumo de Shade
sobre o que Zen disse.
— De fato. — Zakkai pousou o garfo. — Esses serão os maiores
desafios, pois Constantine está afirmando que o Arquiteto da Fonte
redirecionou o poder de você para Aflora. Ele também fez todos
acreditarem que eu estava com Malik, o que não é verdade. — Ele olhou
incisivamente para todos nós enquanto dizia essa última parte.
— Sei que não — eu disse, meus instintos me dizendo que essa
afirmação era necessária. — Eu só encontrei meu avô algumas vezes, mas
ficou bem claro que ele é um excelente estrategista. — Era uma verdade
que eu não podia negar. — Mas juntos, vamos vencê-lo. — Minha atenção
se desviou para Aflora ao meu lado. — O que nos leva aos testes de
ascensão.
— Sim — ela concordou.
— São sete — comecei. — Eles podem vir em qualquer ordem, mas
historicamente seguem um padrão específico. Embora, com meu avô no
comando, é possível que esse padrão seja alterado.
Comecei a explicação sobre como o atual monarca costumava a
organizar os testes. Com o Rei Fae da Meia-Noite sendo o mais próximo da
Fonte Sombria, fazia sentido que ele os promovesse.
— No entanto, meu pai está possuído. — Fiz uma careta. — É por isso
que acredito que meu avô irá liderar as provações, principalmente porque
foi ele quem forçou a ascensão a você.
— Também uma avaliação justa, já que ele orquestrou dois em um só
dia — Zakkai acrescentou.
Assenti.
— Meu pai nunca faria isso. Nem forçaria Aflora a ascender dessa
maneira. — Meu pai valorizava sua conexão com a Fonte Sombria e levava
seu manto a sério. Ele nunca arriscaria forçar o poder a um Fae que não
fosse da Meia-Noite. Nem forçaria outro a se tornar uma abominação.
Não, isso era a cara do meu avô.
E o fato de ele estar dizendo mentiras sobre a ascensão para todos os
outros apenas confirmou sua orquestração dos eventos.
— Há sete tentativas — continuei. — Confiança e criaturas são as duas
pelas quais você já passou, a primeira é testar suas conexões, provando seu
valor por meio de um teste de confiança. O segundo é conquistar todas as
criaturas do mundo Fae da Meia-Noite.
— E criaturas em geral — Zakkai interveio. — Pelo menos, como
Arquiteto da Fonte, tive que conquistá-los por causa da singularidade de
minhas habilidades.
— Eu só tive que conquistar aqueles que residem no reino Fae da
Meia-Noite — esclareci.
— Interessante. — Zakkai pegou o garfo novamente para continuar
comendo, me dizendo com os olhos para continuar.
— Os outros testes giram em torno da aceitação, unidade, sacrifício,
respeito e a ascensão final da Fonte. Esses podem ser entregues através de
uma variedade de meios. Meu teste de aceitação foi o mais fácil para mim,
porque se tratava de aceitar o poder da Fonte Sombria e entender o que ela
poderia fazer. Como filho do atual rei, nasci entendendo e aceitando meu
lugar. A unidade foi meu quarto teste, que se concentrou em você.
— Porque seu pai queria que você trouxesse as facções para uma
decisão unificadora sobre o destino dela — Zakkai concluiu. — Inteligente.
— Qual era a sua? — perguntei em voz alta.
— Unir os Quandary de Sangue que queriam vingança — ele
respondeu. — O que, quando se considera isso, parece o oposto de unidade,
já que dividiu os Quandary de Sangue em duas facções.
— Você ganhou o respeito de ambos os lados através de sua liderança
— Shade disse em voz baixa. — Minha avó pode não concordar com os
pensamentos de vingança, mas ela sempre honrou sua ascensão e seu lugar
de direito como Arquiteto da Fonte.
Zakkai assentiu em reconhecimento.
— É por isso que os dois lados nunca guerrearam. Algo que temo estar
prestes a mudar depois do que ela disse sobre o desagrado de meu pai.
Shade apertou os lábios.
— Vamos cruzar essa ponte quando chegar a hora.
— Você espera que ele venha até aqui? — perguntei, escolhendo
traduzir literalmente a declaração de Shade ao invés de permitir que a
resposta enigmática pairasse indefinida no ar.
— Sim. — Os olhos cor de gelo de Shade encontraram os meus. —
Sim, espero.
— Ele vai querer discutir novos termos — Zakkai acrescentou. —
Pode servir como teste de unidade da Aflora.
— Meu avô nunca orquestraria isso.
— A Fonte pode não dar a ele uma escolha — Zakkai apontou. —
Nem todos os testes podem ser controlados. E eu também sou o Arquiteto,
então tenho alguma opinião sobre como as coisas progridem.
— Justo — concordei. — Bem, eu falhei no meu teste por não reunir
os Faes. — Um fato que me assombraria para sempre, mas não tanto quanto
quase ser morto pelas mãos do meu pai.
— Não, você não falhou — Zeph inseriu. — Você ainda estava no
meio de seu teste, mas Constantine assumiu e destruiu sua capacidade de
passar.
— Ele tem razão. — Zakkai girou o garfo em torno de um pouco de
macarrão enquanto Aflora observava com evidente desgosto. — Na
verdade, imagino que a Fonte Sombria concordaria com sua escolha.
Principalmente porque aceitou a candidatura de Aflora para rainha. Você a
manteve viva para que ela pudesse ascender. Esse é um resultado bem-
sucedido, não um fracasso.
Eu não havia considerado esse ponto de vista, mas era uma avaliação
justa, e eu preferia essa a que fazia.
— Você pode não ter unificado os Faes da Meia-Noite, mas quando
Aflora o fizer, os dois passarão — Zakkai concluiu, a segurança em seu tom
não tinha qualquer nota de hesitação.
— Certo, mas e se eu desfizer a ascensão? — ela perguntou.
Todos nós ficamos em silêncio.
Ela disse isso algumas vezes e, embora fosse possível, eu temia o
resultado dessa decisão.
Zakkai quebrou o silêncio, devolvendo o garfo ao prato e perguntando:
— Por que você quer desfazê-la?
— Porque é errada. — Ela pronunciou as palavras como se fossem
óbvias. — Eu sou uma Fae da Terra, não uma Fae da Meia-Noite.
— Sim, você já disse isso, mas está acasalada com quatro Faes da
Meia-Noite. E como você testemunhou, nossa magia sangra em nossos
companheiros quando nos unimos. — Ele levantou o dedo e sussurrou um
feitiço que criou uma estrutura cerúleo esfumaçada no meio da mesa. À
medida que crescia, percebi que ele havia criado uma espécie de árvore,
onde os fios mágicos brilhavam com galhos multicoloridos.
Aflora admirou com um leve sorriso.
— Vejo isso dentro de você — Zakkai murmurou. — Você criou uma
Fonte conjunta de magia, casando sua herança Fae da Terra com o sangue
Fae da Meia-Noite correndo em suas veias. — Ele olhou de forma incisiva
para as linhas pretas como tinta se contorcendo sob sua pele.
— Fiz isso para sobreviver à ascensão.
— Você fez isso para se tornar rainha — ele corrigiu. — A Zenaida
está certa sobre algumas coisas. Precisamos de reforma. E acredito que você
é a chave para ela.
— Um milênio de autoridade liderada por homens — Zeph comentou.
— Derrubada por uma mulher.
— E uma abominação — Zakkai acrescentou. — Você tem o poder de
provar a todos os tipos de Faes que as abominações podem ser boas, Aflora.
Que elas não precisam ser temidas.
— Constantine Nacht é a razão pela qual os Faes caçam e matam
abominações. — Zeph olhou para mim e depois para Aflora. — Seria
inteiramente apropriado que você desmantelasse seu trono provando que ele
está errado.
— Seria — admiti. Constantine Nacht pode ser meu avô, mas isso não
o impediu de tentar me destruir. E eu pretendia retribuir esse favor.
— Vocês fazem isso parecer tão fácil — Aflora murmurou. — Mas e
se eu me tornar a abominação que todos temem? Elana...
— Não é você — Zeph a interrompeu, não permitindo que ela
terminasse esse pensamento.
— Você só pensa nos outros e no que é certo para o seu reino — eu
disse calmamente. — É o que faz de você uma rainha adequada, Aflora. É
por isso que minha alma pediu a sua desde o início, porque eu considerei
você uma companheira digna o tempo todo. Você é tudo que um membro da
realeza deveria ser, e muito mais.
Os outros concordaram.
— E se eu não quiser? — Aflora perguntou em um sussurro baixo. —
E se eu não quiser ser a Rainha Fae da Meia-Noite?
— Você não será — respondi, com a voz bem baixa. — Mas isso te
torna perfeita para a tarefa. Você vai aceitar o papel, porque é o certo, não
porque você deseja. Mas porque você sabe que é a melhor para o trabalho.
— Estendi a mão para segurar seu rosto, traçando sua bochecha com o
polegar. — Você nasceu para ser rainha, Aflora. Você é forte. Esperta. Você
é uma sobrevivente. Você vai fazer história e mudar a todos nós.
— E nós vamos ajudá-la a cada passo do caminho — Zeph prometeu,
pegando sua mão.
A árvore sobre a mesa começou a pulsar, como um coração.
— Confie em nós para guiá-la e ensiná-la — Zakkai falou. — Nós
somos seu coração por uma razão, estrelinha.
— E eu não passei por sete vidas para falhar agora — Shade
acrescentou. — Estamos nisso para a eternidade, Aflora. Não só agora. Mas
para sempre.
— Não vamos decepcioná-la — sussurrei, puxando-a para um beijo.
— Para nós, você já é nossa rainha.
Ela estremeceu e se derreteu contra mim.
— Vocês vão me matar.
— Só no quarto — Zeph falou.
Aflora deu uma risada e balançou a cabeça, com lágrimas brilhando
em seus olhos azuis.
— Obrigada por acreditarem em mim.
— Nós seremos a crença que você precisa quando duvidar de si
mesma — prometi a ela. — Mas você está errada sobre uma coisa.
Ela se acalmou.
— Sobre o quê?
— Com certeza, não será fácil — eu disse. — Podemos fazer parecer
que sim, mas sabemos o que está por vir.
— É por isso que precisamos começar a treinar imediatamente —
Zeph respondeu.
— Verdade — Zakkai concordou, encontrando o olhar do meu
Guardião. — Já tenho uma agenda de cursos em mente.
— Bom — interrompi antes que Zeph pudesse exigir um relatório
completo. — Tradicionalmente, os Faes da Meia-Noite ascendem em seu
vigésimo quinto ano, dando-lhes tempo suficiente para se preparar. Mas
com meu avô absorvendo a Fonte Sombria e forçando-a em Aflora, as
regras mudaram. Vamos precisar de toda a estrutura que conseguirmos.
As ascensões eram poderosas.
E a de Aflora seria lendária.
Tínhamos que começar a nos preparar.
— O que acontece se eu ascender por completo? — Aflora perguntou
depois de um instante, com a expressão hesitante.
— Quando — corrigi. — Quando você ascender por completo, você se
tornará uma das abominações mais poderosas que existem.
CAPÍTULO DEZ
ZAKKAI

ESCOLHI o quarto mais próximo da sala de estar, preferindo ser a primeira linha
de defesa. Pareceu funcionar bem para Kolstov e Zephyrus, que decidiram
ocupar o maior, no fim do corredor, juntos. Shade escolheu o quarto ao lado
do meu. E Aflora... dispensou seu quarto para se juntar a Kolstov e
Zephyrus.
Mas eu a senti acordada.
Sem descansar.
Andando de um lado para o outro.
Me sentei e encontrei Zimney enrolado ao pé da minha cama. Ele
levantou as pálpebras rapidamente antes de fechá-las mais uma vez. Não
vou me mexer, ele estava dizendo.
Bufei e escorreguei das cobertas para vestir uma calça de pijama. A
avó de Shade abasteceu nossos armários e quartos com tudo o que
precisávamos. Se ela fez isso sozinha ou contratou alguém, eu não sabia.
Mas a agradeci mentalmente. Isso facilitaria nossa vida.
O fato de ela saber quais cômodos iríamos escolher – evidenciado pelo
tamanho correto de nosso guarda-roupa – serviu como uma demonstração
de poder. Ela previu nossas escolhas. Ou talvez ela apenas nos conhecesse
bem o suficiente para saber onde iríamos dormir.
Saí para o corredor, procurando sinais de vida e ouvi o deslizar suave
de papel contra papel. Seguindo o som vindo da sala de estar, encontrei
Shade lendo no menor dos dois sofás. A parte superior do seu corpo estava
exposta, já que ele usava uma calça de pijama semelhante à minha.
Seus olhos cor de gelo permaneceram no livro quando ele disse:
— Ela está lá fora.
— Você deveria estar dormindo — eu disse a ele.
Ele deu de ombros.
— Queria estar por perto caso ela precisasse de algo.
Parecia que eu não era o único com o gene protetor
— Vou ficar de olho nela — eu disse, com a voz baixa. — Vá
descansar, Shadow. Você fez o suficiente nos últimos dias, e todos nós
precisamos de suas reservas restauradas.
O treinamento da Aflora começaria oficialmente amanhã. Eu
desenvolvi um currículo intenso – algo que Zephyrus fortaleceu e Kolstov e
Shade aperfeiçoaram. Exigiria que todos nós estivéssemos no nosso melhor,
não exaustos.
Shade colocou o livro na mesa.
— Ela também precisa descansar. — Ele se levantou e esticou os
braços. — Talvez você seja o mais adequado para convencê-la.
— Farei o meu melhor.
Ele contraiu os lábios quando se aproximou.
— Você vai ter que fazer melhor que isso. Ela é teimosa.
— Eu sei como lidar com seu lado teimoso — garanti.
Ele deu uma risada seca antes de seguir pelo corredor em direção ao
quarto. Quando a porta se fechou, fui até a mesa, curioso para ver o que ele
havia escolhido para ler. Sorri com o título, familiarizado com a trilogia
fictícia do Reino Humano sobre hobbits.
Parecia justo Shade se entregar a um conto tão épico.
Deixando o livro de lado, caminhei para fora, para a beleza deitada no
chão. Parecia que ela havia parado de andar e preferiu admirar o céu.
— Não é real — ela me disse quando me aproximei. — Mas parece.
— É real até certo ponto — respondi, me sentando ao seu lado na
cama macia de grama verde.
A textura firme e a vida me disseram que ela a reforçou com seu poder,
garantindo sua força sob nossos corpos. Me inclinei para trás para me
deitar, roçando os dedos nos dela enquanto alinhava nossos braços. Seus
dedos flexionaram em direção aos meus, se curvando nas pontas para me
segurar do seu jeito.
— O reino Fae do Inferno tem estrelas? — ela perguntou.
— Imagino que sim em certas áreas, mas não explorei para ter certeza.
— Meu paradigma ficava no Reino Humano, na Antártida, onde havia
muitas estrelas à noite. Não que alguém pudesse se aventurar para admirá-
las.
Ela inclinou a cabeça para mim, com os olhos azuis cheios de
perguntas. Mas não deu voz a nenhuma delas. Em vez disso, apenas estudou
minhas feições, satisfeita em ficar ao meu lado por um momento em
silêncio.
Segundos se transformaram em minutos enquanto nos olhávamos, com
milhares de palavras não ditas e memórias flutuando entre nós.
Então ela se inclinou para roçar seus lábios nos meus.
Um símbolo de confiança.
Um presente de gratidão.
Nós fomos melhores amigos no passado, quando nossas vidas eram
cheias de uma inocência infantil que nenhum de nós jamais havia entendido
por completo. Tínhamos nos unido e nos amado de uma maneira destinada
às crianças. E agora éramos adultos, e nossa conexão mudou e cresceu em
algo muito diferente.
Era uma ligação provisória fundada na confusão.
Aflora não tinha entendido meus motivos ou meu propósito, assim
como eu não tinha compreendido plenamente seus desejos na vida. Mas
algumas semanas juntos abriram nossos olhos para um mundo totalmente
novo de existência, onde nossos objetivos aprenderam a se entrelaçar e
crescer como uma unidade, e não como fios separados.
Minha doce estrelinha nos fundiu, amarrou nossas raízes em um nó de
amor na Fonte de nossos seres e garantiu que estivéssemos unidos para
sempre.
Em essência, ela capturou meu coração. Eu não tinha certeza de como
ou quando isso tinha acontecido. Talvez na nossa infância. Ou durante
aquele primeiro sonho quando ela exigiu que eu a agradasse sem nem
perguntar meu nome. Quem sabe foi quando ela lutou comigo no meu
quarto logo depois de acordar.
Talvez ela sempre tenha minha dona.
Rolei de lado para encará-la, preferindo admirá-la sob a noite
estrelada. Colocando o braço debaixo da cabeça, apoiei a outra em seu
abdômen, passando o dedo mindinho por baixo do tecido de sua regata para
acariciar a pele quente.
Ela não se moveu, mantendo os olhos nos meus enquanto
continuávamos a olhar um para o outro.
Sem palavras.
Apenas o som da noite e o leve farfalhar de folhas e flores,
respondendo à rainha entre eles.
Seus cílios tocavam as maçãs do rosto enquanto ela piscava e os lindos
traços cativavam toda a minha atenção.
Eu poderia olhar para ela por horas e nunca me cansar.
Ela possuía tanto poder quanto força, e a marca da fonte a destacava
corretamente como um membro da realeza. Fitas cerúleas brilhavam em seu
cabelo escuro, iluminando suas feições e proclamando-a como minha
companheira. Afastei a mão de seu estômago para passar os dedos por seus
fios macios, sorrindo enquanto sua energia beijava minha pele.
— Você é tão linda que dói — eu me maravilhei, completamente
consumido por ela e pela vitalidade que ela emanava. Passei o polegar por
sua mandíbula, com um toque instintivamente reverente. — Sei que você
está preocupada com os testes e com a união de suas fontes de poder, mas
você nasceu para isso, estrelinha.
Sua confiança continuou a vacilar através de nossos laços.
Não que ela não acreditasse tanto em si mesma, mas questionava se
esse era ou não o caminho certo.
— Você cresceu ouvindo que abominações são más — continuei
baixinho. — Mas eu cresci sabendo que abominações também podem fazer
o bem. Olhe para a Academia ao nosso redor. Isso aqui existe por causa da
Zenaida, que, por todos os direitos, é uma abominação. E ela trabalhou com
o Lucifer, o rei inequívoco das abominações, para criá-la. Parece errado isso
aqui? Ruim? Sombrio? Nefasto? Ou você sente a vida e o amor neste
paradigma como eu sinto?
Sentimentos semelhantes existiam em meu próprio paradigma, aquele
que eu havia criado para os que eram a favor da vingança. Mas por baixo
dessa vida havia um sentimento de raiva e ressentimento em relação a
outros Faes.
O que senti aqui era uma promessa subjacente, um verdadeiro senso de
propósito para o futuro.
Sem violência ou desejo de derramamento de sangue.
Apenas um desejo de aprender e trabalhar juntos.
Uma demonstração de unidade – algo que eu esperava que fosse útil
para Aflora mais tarde.
— Paz — ela sussurrou. — Aqui me sinto em paz. Protegida. Segura.
Como se pudesse ser quem sou sem me preocupar com a punição.
Assenti.
— Porque todos podem ser quem são aqui. Abominações que só
querem viver, não lutar. E não é só dentro desse paradigma, Aflora. Você
também está percebendo isso do reino Fae do Inferno. Eles são uma raça de
seres que foram evitados por tanto tempo que construíram sua própria
sociedade para escapar dos outros.
— Alguns deles estão com raiva — ela disse em voz baixa. — Sinto a
ira deles como um peso contra minha alma. Mas outros estão apenas
cansados. Eles querem ser aceitos.
— E você pode ajudá-los nessa missão — eu disse a ela, traçando o
polegar em sua bochecha no meu caminho para acariciar seu cabelo mais
uma vez. — Ser uma abominação não a faz uma estrelinha má. A alma é
corrupta com ou sem poder. Constantine é a prova disso. Ele é um Fae da
Meia-Noite que destruirá tudo e qualquer um que resista à sua metodologia
de ordem. Caramba, ele tomou um conselho inclusivo que trabalhou em
unidade e os colocou contra seus próprios corações – as mulheres que são
as verdadeiras figuras de proa.
Era desprezível, errado e tão habilmente elaborado, que não pude
deixar de sentir um pingo de respeito pelo cretino.
Meu pai costumava dizer que admirar os inimigos era compreendê-los
e nunca subestimá-los.
Eu entendia isso agora.
E eu nunca subestimaria Constantine novamente.
— Constantine teve sucesso porque sabia que fraqueza explorar —
continuei. — Emoção. O que precisamos fazer é mostrar a ele como a
emoção pode ser poderosa, demonstrando o quanto nossos laços juntos
podem ser poderosos.
Pressionei a mão no chão do outro lado de sua cabeça, usando-a para
me equilibrar enquanto me inclinava para roçar meus lábios nos dela.
— Nós vamos treiná-la, estrelinha. Vamos ajudá-la em cada teste. Nós
vamos garantir que você se torne a rainha mais poderosa que os Faes já
viram. — Cobri sua boca com a minha mais uma vez, baixando a voz para
um sussurro. — E quando você ascender por completo, vamos nos ajoelhar
aos seus pés e mostrar a esses Anciões como é um conselho de verdade.
Ela olhou para mim por um instante.
— Me beije.
Rocei a boca na dela, demorando por meio segundo antes de me
afastar para estudar suas feições.
— De novo — ela sussurrou.
Uma variedade de comentários povoou meus pensamentos, vários
deles provocações em relação a seus outros companheiros a deixarem
carente por mais. Mas, em vez de pronunciá-los, aderi ao seu comando
sensual, desta vez entreabrindo seus lábios com minha língua para saboreá-
la adequadamente.
Nós nos envolvemos em sonhos, o que resultou em eu usar algo muito
parecido com isso enquanto eu a agradava com minhas mãos e boca.
Mas eu queria experimentar a verdadeira Aflora. O ser físico. Minha
companheira.
Senti-la debaixo de mim, passando as mãos em minhas costas, era
muito melhor do que uma fantasia. Ela me conhecia agora. Ela me aceitava.
Confiava em mim. Ela podia me sentir, não apenas em cima, mas dentro
dela.
E ela me queria.
Senti seu anseio, seu reconhecimento inato do que significávamos um
para o outro e sua subsequente felicidade com nossa conexão.
Sem pavor. Sem dúvidas. Nenhuma recusa.
Apenas aceitação pura e não adulterada.
Foi uma percepção surpreendente saber que minha companheira me
desejava do mesmo jeito que eu, que ela me considerava seu, assim como
ela era minha.
— Aflora — sussurrei, aprofundando nosso beijo com as palmas das
mãos pressionadas em suas bochechas para incliná-la adequadamente.
Ela passou as unhas por minhas costas. Seu toque era impaciente, mas
carinhoso.
Aflora queria mais.
Ela me queria.
Queria isso.
Estive com outras mulheres, mas nunca me senti conectado a nenhuma
delas. Elas não eram minhas. Não eram Aflora. Era algo que eu não tinha
entendido na época, já que minha intenção sempre foi apenas me relacionar
com Aflora para sua proteção e como uma dívida a ser paga aos pais dela.
Então eu a vi novamente.
Eu a senti.
Adorei-a com a minha língua.
E nunca cheguei a tal conclusão como naquele momento.
Até agora.
Até me acomodar entre suas coxas e sentir suas pernas me envolverem
em calorosas boas-vindas.
Até provar o desejo em sua língua e sentir seu centro contra minha
excitação crescente. Mesmo através das minhas roupas, eu sabia que ela
estava pronta para mim, que ela me queria – seu companheiro – seu Kai.
Não sabia que o sexo poderia ser assim, com tanta paixão, calor e
desejo.
Eu a observei com seus outros companheiros, vi como eles a
agradavam, como ela se desfez com eles com tanta devoção e graça.
Queria fazer tudo com ela agora, ser aquele por quem ela clamaria,
finalmente reivindicando minha companheira da maneira mais tradicional.
— Sim — ela sussurrou contra meus lábios. — Sim.
Eu não tinha perguntado. Não expressei o desejo. Mas ela sentiu em
minha mente, em nosso vínculo, seu coração respondendo ao meu apenas
por instinto.
No entanto, não queria fazer isso aqui. Queria ficar sozinho, acariciá-la
atrás de portas fechadas para que esse momento fosse só nosso.
Eu me levantei e a peguei em meus braços, carregando-a para o quarto
que agora era meu. Zimney estava longe de ser visto. Provavelmente
sentindo minhas intenções, o lobo correu para brincar em outro lugar.
A porta se fechou silenciosamente atrás de mim, assim como meus
passos eram silenciosos contra o tapete branco.
Coloquei Aflora na cama, deixando suas pernas penduradas na beirada
enquanto ela se sentava com as mãos em meus quadris. Fiquei entre suas
coxas, olhando para ela com admiração. Então me inclinei para capturar sua
boca mais uma vez.
Ela passou os dedos pelo meu abdômen, sua busca clara enquanto
desamarrava a corda da calça para empurrar o tecido macio sobre minha
virilha até minhas coxas.
Endireitei a coluna, permitindo que ela terminasse a tarefa de remover
minhas calças.
Então a tirei e voltei para minha posição.
Seus lindos olhos me observaram em profunda apreciação e suas
pupilas dilataram quando ela percebeu minha excitação espessa.
Aflora umedeceu os lábios e tirou a blusa, me presenteando com seus
lindos seios. Em seguida, ela se inclinou para tomar meu pau em sua boca
viciante, passando a língua pela parte inferior em um convite claro e óbvio.
Entrelacei os dedos em seu cabelo enquanto um xingamento escapava
de minha boca e eu me empurrava mais fundo, amando o jeito que ela me
aceitou. Quase como se sempre tivesse sido dela.
Mas esta não era a afirmação que eu tinha em mente.
Eu precisava estar dentro dela de outra maneira.
Completar nossa união, comendo-a até o clímax.
Uma parte muito masculina e competitiva de mim precisava que os
outros também ouvissem. Que soubessem que ela era minha tanto quanto
era deles.
Seus olhos azuis brilharam com consciência quando ela me soltou.
Ela voltou para a cama, enganchou os polegares no tecido de seu short
e o tirou de suas pernas longas e atléticas.
Fiquei ao lado do colchão, assistindo ao show.
Tudo isso foi feito sem palavras. Nossos corpos falavam por nós.
Uma dança erótica de conhecimento, paixão e intensidade.
E pura necessidade.
Apoiei um joelho na cama, observando enquanto ela encontrava um
lugar no meio do edredom. Seus fios escuros decoravam o travesseiro. Ela
abriu as pernas, me permitindo ver sua boceta linda, doce e molhada, seu
centro doendo para que eu a tomasse.
Salivei. Meu desejo de saboreá-la quase superava minha necessidade
de estar dentro dela.
Mas o último venceu.
Eu poderia saboreá-la mais tarde, desfrutar de seu gosto doce por horas
e garantir que todos a ouvissem gritando meu nome.
Esta noite, eu precisava nos completar.
Me inclinei para frente, rastejando sobre ela e prendendo-a debaixo de
mim.
— Isto é pela nossa união — falei em voz baixa, pressionando a virilha
na dela enquanto me equilibrava nos antebraços em ambos os lados de sua
cabeça. — Geralmente não sou tão gentil, Aflora. Mas algo no momento
exige isso.
Ela estendeu a mão para passar os dedos pelo meu cabelo. Os fios
brancos soltos ao redor do meu rosto caiam sobre ela como uma cortina de
falsa pureza.
— Não sou frágil.
— Eu sei — sussurrei, pressionando minha excitação na dela para
sentir seu calor acolhedor. Me encaixei, a cabeça se esfregando no clitóris
antes de descer para o seu centro. — Mas quero ter certeza de que você irá
se lembrar disso — eu disse a ela, me alinhando com sua entrada. — E
quero ouvir você gritar meu nome.
Ela começou a falar, mas suas palavras foram interrompidas com um
grito enquanto eu a penetrava, lhe dando uma breve introdução ao poder em
meus quadris e minha capacidade de dominá-la inteiramente. Então me
retirei devagar e a penetrei de novo, gradualmente agora, mais suave,
garantindo que ela sentisse cada centímetro.
Sua mente girava com comentários, comparando tamanhos, forças e
circunferências, e eu curvei os lábios quando ela admitiu que eu era o maior
de seus companheiros.
Eu já sabia daquilo.
Mas ela não. Porque ela ainda não tinha me sentido.
Zephyrus rivalizava comigo em alguns aspectos, sua propensão para
estar no comando era igual à minha, mas ao contrário dele, eu sabia ser
gentil.
Mostrei isso a ela enquanto definia um ritmo sensual destinado a este
momento, aquele em que nossos corpos se declaravam um ao outro.
Ela agarrou meus ombros e um gemido suave deicou seus lábios à
medida que eu a torturava com meu ritmo.
Seu grunhido baixo me fez sorrir.
Ela respondeu cravando as unhas na minha pele, exigindo com seu
corpo que eu fizesse mais.
— Você não pode ter intensidade todas as vezes — sussurrei, tomando
sua boca em um beijo destinado a silenciar. Ela começou a discutir em
minha mente, mas parou com um gemido quando minha língua envolveu a
sua na batalha que ela ansiava.
Quase todo dentro, eu disse a ela. E quase todo fora.
Repeti a ação várias vezes, extraindo cada impulso e garantindo que eu
alcançasse aquele seu ponto profundo a cada vez que a penetrava.
Ela arranhou minhas costas, envolveu as pernas em meus quadris
enquanto tentava inutilmente me pressionar e ditar um ritmo mais rápido.
Mas essa não seria uma transa rápida. Tratava-se de desencadear uma
experiência para nossas almas.
Rolei de costas, levando-a para cima de mim, e permiti que ela ditasse
o ritmo. Ela se sentou, ansiosa para obedecer, com as coxas escarranchadas
em meus quadris quando começou a me montar. Seus seios balançavam de
forma sedutora a cada movimento apressado de seus quadris e ela
entreabriu os lábios em um gemido de excitação. No entanto, depois de
mais alguns movimentos rápidos, ela mordeu o lábio e me olhou, com seu
cabelo escuro emoldurando seu lindo rosto.
A compreensão pareceu iluminá-la por dentro.
Me sentei para me juntar a ela. Meus lábios a tocavam de leve
enquanto eu me apoiava com uma mão atrás de mim e envolvia a oposta em
sua nuca.
— Carinho por ser muito bom — eu disse a ela, lambendo a linha de
seus lábios antes de entrar em sua boca.
Ela se mexeu, movendo as pernas para envolver minhas costas
enquanto se sentava mais firmemente montada em minhas coxas. Um
pequeno gemido ficou preso no fundo de sua garganta quando ela percebeu
o quanto a penetrei profundamente nesta posição.
E então nós dois começamos a nos mover.
Não de forma apressada, mas lânguida, nos entregando às sensações e
nos aproximando cada vez mais do ápice com movimentos longos e
profundos.
— Oh, Kai — ela murmurou, roçando os mamilos duros contra o meu
peito.
Estávamos cobertos de suor, transando com um esforço a um ponto de
quase loucura. Era tão feroz, exaustivo em cada movimento, que ficamos
sobrecarregados e fatigados pela pura intensidade de tudo isso.
Eu a senti começar a se derreter enquanto nossa magia dançavam
juntas e faíscas cerúleas enfeitavam o ar.
Este foi o culminar de anos de acasalamento em formação. Nossos
caminhos finalmente se cruzaram depois de nos desviarmos do curso.
Nossas almas se regozijaram ao voltarem para casa, juntas, em um belo
momento de felicidade, harmonia e perfeição absoluta.
Eu a beijei, confidenciando minhas histórias mais profundas e
sombrias em segundos, abrindo minha mente para ela e jogando a chave
fora.
Ela respondeu na mesma moeda, sua fé em mim era resoluta.
E juntos atingimos o clímax em um começo arrebatador que durou o
que pareceram horas, com nossos corpos presos juntos em felicidade
harmoniosa e se recusando a parar.
Ela gritou, como se meu nome fosse um farol, o que fez meu coração
disparar.
Fiz o mesmo, chamando Flora repetidamente, até que minha estrelinha
finalmente iluminou a noite sombria e cruel do meu espírito.
Seus lábios sussurraram contra os meus, seu corpo se movia, tomando,
repetindo, se contorcendo um pouco mais.
Até que caímos na cama, continuando nossa dança sensual, unidos em
um beijo destinado a durar uma vida inteira.
Ela me destruiu.
Me completou.
Garantiu que ficaríamos juntos para sempre.
Afundei os dentes em seu pescoço, desejando essa promessa em
sangue.
Ela respondeu na mesma moeda, tomando minha essência
profundamente em sua boca e engolindo antes de cobrir minha boca com a
sua mais uma vez.
Meu Kai, ela murmurou.
Minha Flora, respondi. Minha linda e brilhante estrela.
Nossa sensualidade nos seguiu em nossos sonhos, os enigmas se
quebrando entre nós e criando novos e complexos bloqueios – que ninguém
jamais seria capaz de quebrar.
Quando a noite finalmente chegou, eu a acordei da mesma forma que
havíamos adormecido. Então finalmente a provei e confirmei que nossos
sonhos eram a nossa realidade.
Este é o verdadeiro sonho, eu disse a ela. Minha vida com você. Esse é
o sonho, Aflora. E espero nunca acordar.
Ela sorriu, com o coração em seus olhos. Nem eu, Kai. Nem eu.
CAPÍTULO ONZE
ZEPH

— TUDO BEM, novo cronograma — eu disse, de pé em uma placa de pedra com


minha varinha. Apontei para o mármore obsidiana. — Hoje é treino
defensivo. — As palavras rolaram pela rocha em um rabisco ardente.
A ação se repetia enquanto eu dizia cada novo curso de cada dia.
Magia defensiva.
Magia da morte.
Magia ofensiva.
Curso intensivo em assuntos de realeza, incluindo ascensão com
referências históricas e estratégia geral.
Magia quântica.
— Vamos dia a dia, revezando nas manifestações. Mas todos
estaremos participando e aprendendo juntos. — Essa frase foi para Zakkai,
que estava sentado ao lado de Aflora com o braço apoiado nas costas da
cadeira dela. Ele ergueu uma sobrancelha. Sua arrogância me irritava.
Porque eu tinha passado a maior parte das últimas doze horas ouvindo-
o dar prazer a Aflora repetidamente, a porcaria do dia todo. O que
significava que ela não tinha dormido bem.
E nem eu.
Que merda.
Nossa única graça salvadora foi o fato de termos ganhado algum
tempo vindo aqui, porque eu duvidava muito que Lucifer fosse fazer um
acordo com Constantine tão cedo.
— Este é o nosso centro de treinamento. — Olhei para Shade em
busca de confirmação, e ele assentiu.
— As gárgulas estão garantindo que outros alunos não nos incomodem
— ele acrescentou em voz alta. — Esta área é usada para cursos avançados,
mas os diretores concordaram em transferi-los para outro lugar por
enquanto, por motivos de segurança.
— Bom. — Porque estávamos prestes a lançar alguns feitiços intensos
e perigosos. Era melhor não sermos interrompidos, especialmente se eu
decidisse fazer uma demonstração defensiva com Zakkai. — Então que
comece a diversão.
Aflora não hesitou. Sua vontade de aprender era evidente na maneira
como ela respondeu ao nosso primeiro dia de treinamento. Ela estava
cansada no final, com o corpo e mente doloridos por tudo que joguei para
ela, mas não esmoreceu ou pediu para parar. Tudo o que ela disse foi: Mais.
No dia seguinte, em nosso curso de magia defensiva, seguiu o mesmo
caminho com seus feitiços de memorização, manipulação e repetição. Ela
até me derrubou algumas vezes, um feito que poucos poderiam reivindicar.
Claro, eu estava distraído por sua boca, porque tudo que eu queria fazer era
beijá-la quando ela conseguiu replicar um escudo avançado usando as mãos
em vez da varinha.
Os cursos continuaram, Aflora nunca vacilava ou reclamava. Ela
estava focada e era a definição de determinação, fazendo exatamente o que
dizíamos e adicionando algumas reviravoltas.
À noite, ela era uma aluna apta, aprendendo, se destacando e
aperfeiçoando sua habilidade.
E durante o dia, ela se envolvia em uma rotina semelhante... no quarto.
Constantine permaneceu quieto, os testes à espreita em algum lugar no
horizonte. Shade se encontrava com a avó frequentemente, buscando
atualizações. Mas além de garantir que todos os Faes da Meia-Noite
odiassem Aflora, ele não havia revelado nada sobre o próximo teste.
No entanto, todos nós sabíamos que algo estava por vir.
Ele ficaria furioso por ela ter conseguido passar por duas ascensões
com tanta eficiência e rapidez.
— Ele é estratégico — Kols estava dizendo enquanto observávamos
Shade e Aflora praticarem magia ofensiva. Era sua terceira aula sobre o
assunto, já que estávamos em nossa terceira semana aqui na Academia. —
E quanto mais ele demora, mais nervoso eu fico.
Zakkai assentiu, com os olhos azul-prateados focados em Aflora. Ele
prendeu o cabelo branco na nuca, exibindo o pescoço longo e atlético. E as
marcas de mordida que Aflora deixou lá enquanto estavam na cama antes
da aula.
Nós desenvolvemos uma rotina ao compartilhá-la, com nossa
companheira escolhendo dormir em um quarto diferente a cada noite. Ela
nunca dormia em seu próprio espaço. Eu nem estava convencido de que ela
sabia que existia um quarto só para ela.
Duas vezes, Shade escolheu se juntar a Kols, eu e Aflora.
Zakkai nunca o fez, preferindo seu tempo sozinho com ela.
Era diferente, mas funcionou. Porque eu não tinha certeza se poderia
compartilhá-la com ele. Ele tentaria ditar o show, e eu me recusava a me
submeter a ele.
Shade não me obedecia também, mas parecia contente em seguir
minha liderança.
Zakkai preferiria me morder a seguir minha direção, algo que ele
provava semanalmente durante as aulas de magia Quandary. Eu disse a ele
para não pressionar muito nossa companheira, e ele traduziu minhas
palavras como coloque Aflora na posição mais perigosa possível e veja se
ela pode sobreviver.
Idiota, pensei, não pela primeira vez.
Pelo menos concordamos sobre Constantine.
— Ele definitivamente está planejando algo grande — ele disse. — Ou
a Zenaida não está vendo ou não quer arriscar o resultado nos avisando. —
Ele passou a mão sobre a barba por fazer e a estendeu para estralar o
pescoço. — Independentemente disso, precisamos estar prontos.
— Sim — Kols concordou. — Estaremos. — Ele cruzou os braços e
observou Aflora desmantelando um dos feitiços de ressurreição de Shade
com um ataque de vida de sua magia da Terra.
— Impressionante — murmurei, sorrindo enquanto ela criava uma raiz
da invenção e a envolvia na perna de Shade. Ela o puxou, derrubando-o no
chão. — Pronta para duelar com alguém mais forte? — perguntei a ela.
Uma figura sombria voou até mim meio segundo depois, a magia da
Morte roubando minha respiração e me deixando de joelhos.
Convoquei um feitiço de desfiguração defensivo, desmantelando seu
encantamento e liberando meus pulmões. Então atirei um feitiço ofensivo
nele, destinado a entupir seus tímpanos – o que ele desfez com sua varinha.
— O que você estava dizendo?— o Sangue da Morte perguntou.
— Que ele queria que eu brincasse com a Aflora — Zakkai respondeu,
enviando uma rede de magia sobre ela que chiou, faiscou e arrancou um
ganido surpreso dela. — Resolva isso, estrelinha.
Ela grunhiu em resposta, fazendo os pelos da minha nuca se
arrepiarem.
— O que você fez? — questionei.
— Estamos relembrando. — Zakkai inclinou a cabeça. — Pare de
rosnar, estrelinha. Você precisa de oxigênio.
Dei um passo à frente.
— Tire isso dela.
— Não. — Zakkai olhou para mim com a postura defensiva. — E eu
não recomendo tentar ajudar, ou vai piorar muito para ela.
Levantei minha varinha para ele.
— Desfaça o feitiço, Zakkai.
Ele olhou para minha mão e bufou.
— Tente e você vai se arrepender.
Estou. Bem, Aflora disse em minha mente, chamando minha atenção
para ela no chão, parecendo estar paralisada sob uma camada de magia
cerúleo.
Você não parece bem, Aflora.
— Confie nela para desfazer o feitiço — Zakkai interrompeu. — Ela
pode não nos ter por perto para os testes. Ela precisa aprender a trabalhar
por conta própria, sem deficiências. Dê a ela um momento para resolver o
quebra-cabeças.
Ele não vai deixar nada nem ninguém machucá-la, Kols acrescentou
em minha mente. Não se trata apenas de confiar em Aflora para lutar suas
próprias batalhas, mas também de ter fé em seus companheiros para
mantê-la segura.
Ela não parece segura, retruquei, estremecendo enquanto ela
choramingava dentro da rede. Ela parece magoada, Kolstov.
Ela está, ele concordou. Mas tenho fé de que ela vai se soltar. E se ela
não fizer isso, eu sei que o Zakkai vai intervir.
E se for tarde demais quando ele fizer isso? contra-ataquei. E se ela se
machucar?
Então ele vai se sentir péssimo, semelhante a como você se sentiu
quando matou Clove. Suas íris cor de bronze cintilaram ao encontrarem as
minhas, e ele arqueou a sobrancelha ruiva. O que aconteceu com o diretor
que queria que Aflora florescesse e crescesse?
Ele se apaixonou.
Kols sorriu. Sim. Sim, é verdade. Seu foco voltou para Aflora e sua
diversão desapareceu atrás de uma máscara de preocupação enquanto ela
lutava no chão.
Dei um passo à frente, mas Shade ficou na minha frente.
— Deixe-a aprender — ele encorajou, segurando meu pulso para
abaixar minha varinha. Então seu olhar cor de gelo cintilou para Zakkai, me
dizendo com um olhar para verificar o Quandary de Sangue.
Quando olhei para ele, vi sua expressão tensa de concentração, seu
olhar azul-prateado intenso enquanto observava Aflora trabalhar.
Sua distração poderia funcionar a meu favor. Eu poderia nocauteá-lo e
ajudar Aflora.
Ou poderia estragar tudo por não confiar nele e arriscar machucá-la
ainda mais.
Apertei a mandíbula, irritado com a situação, o que fez meu coração
bater um pouco mais rápido.
Não gostei de ter meu controle tirado e uma lição aleatória ser inserida
nos planos de hoje. Não era o que tínhamos programado fazer aqui.
Mas Zakkai era o curinga, aquele no qual eu não podia contar ou
confiar.
E casos como esse só pioravam a falta de fé.
Aflora se engasgou, capturando todo o meu foco.
Então ela proferiu um longo e perverso encantamento, fazendo a teia
voar para Zakkai.
Mas não o engoliu. Ele a pegou e absorveu a magia de volta em sua
varinha.
— Linda — ele murmurou.
Aflora semicerrou os olhos e o acertou com outro golpe de magia azul,
então girou uma bola de WarFire em sua mão. A magia girou com uma
infinidade de cores, a mistura inebriante claramente mortal.
— Faça isso — Zakkai disse.
Ela o soltou, jogando direto nele.
A bola caiu em seu peito.
Aflora gritou, pulando e correndo até ele em um torpor de
preocupação. Mas o fogo chiou e desapareceu, sem prejuízos a seu peito ou
roupas. Ele a segurou pela nuca e a puxou para um beijo, que terminou com
ela mordendo sua língua.
Ele riu quando ela o esbofeteou.
— O que é que foi aquilo? — ela exigiu.
— Magia defensiva — Zakkai respondeu, olhando para mim. — De
uma variedade atualizada.
Semicerrei os olhos.
— Está tentando me irritar?
— Não acho que tenho que tentar, Zephyrus — ele respondeu. — Você
está em um estado constante de raiva perto de mim.
— Humm, eu me pergunto por quê. — Fingi pensar a respeito. —
Talvez porque você não saiba como ser um membro da equipe e se
comunicar.
— Não, tenho certeza de que é porque não vou ficar de joelhos e
chupar seu pau como todos os outros — ele respondeu. — Não sou um de
seus alunos ou seu amante. Sou superior a você. No entanto, você tenta
mandar em mim como se eu fosse um de seus alunos, quando na verdade eu
brinco com seus feitiços desde os cinco anos de idade. Então, se alguém vai
se ajoelhar, será você.
— Certo, talvez...
— Isso nunca vai acontecer — rebati, cortando o que Shade estava
prestes a dizer. Que se dane. — Os feitiços que estou ensinando a Aflora
são aqueles que aprendi quando criança também. Mas ela é uma nova Fae
da Meia-Noite. Não posso simplesmente jogar encantamentos avançados
nela e esperar que ela aprenda.
— Mas é exatamente isso o que Constantine vai fazer — ele rebateu.
— Não podemos mimá-la. Não podemos pegar leve com ela. Temos que ser
duros. Porque a Fonte Sombria com certeza não vai tratá-la como uma
criança. — Ele entrou no meu espaço, seus olhos azul-prateados girando
com poder. — Estou garantindo que ela sobreviva. Que merda você está
conseguindo ao mimá-la? — Ele ergueu uma sobrancelha, me desafiando a
discutir.
Mas eu não sabia o que dizer.
Porque o cretino estava certo.
Me concentrei tanto em protegê-la – porque meu instinto natural era
esse – que me esqueci de como realmente prepará-la. Como ensiná-la.
Dei um passo para trás, precisando ficar longe dele... de todos eles...
para pensar, para processar o que fazer a seguir.
— Zeph — Aflora murmurou, movendo-se em minha direção.
— Não, Aflora. — Olhei para ela quando um escudo de magia me
envolveu. Meu desejo de não ser tocado ficou claro, e talvez não fosse justo
com ela, mas necessário mesmo assim. — Ele tem razão. O cretino está
certo. — E eu odiava admitir. O odiava por apontar isso. O odiava por
existir.
Balancei a cabeça.
— Eu só... eu preciso de um minuto. — Eu me afastei, indo em direção
à saída da sala.
Eu precisava repensar tudo.
Criar um novo plano.
Três semanas desperdiçadas.
Três semanas de treinamento elementar.
Me preparando para uma guerra que destruiria minha companheira se
eu não a a treinasse de forma adequada. Não só a ela, mas a nós. Se não a
preparássemos adequadamente.
Foi por isso que Zakkai criou o plano de treinamento original. Ele
sabia que teríamos que ser duros com ela. Mas eu recuei.
Não podíamos mais segurar.
Tínhamos que ser duros. Testar seus limites. Tudo, menos destruí-la.
Porque Constantine tentaria.
Agora eu só precisava decidir se era forte o suficiente para fazer isso –
forte o suficiente... para machucar minha companheira.
CAPÍTULO DOZE
SHADE

CRUZEI os braços e lutei contra a vontade de estremecer quando Aflora caiu no


chão com um suspiro.
— De novo — Zeph exigiu.
Ele escalou o treinamento de Aflora para um nível totalmente novo
depois da conversa estimulante de Zakkai. Não havia mais instruções. Sem
mais elogio. Apenas feitiços duros e comandos para continuar.
Aflora não reclamava.
Ela simplesmente se levantava e começava de novo.
E de novo. E de novo.
Eu admirava sua tenacidade e determinação, mas também queria matar
Zeph e Zakkai.
Fogos de Phoenix, Kols sussurrou em minha cabeça quando Zeph
derrubou Aflora com um feitiço particularmente doloroso. Ele está indo
longe demais, não?
Sim, ele está sendo um idiota. Eu entendia o porquê. Até concordava
que precisava que ser feito. Mas não significava que eu gostava de ver
acontecer.
— Atlaqi Sarahee — Aflora murmurou as palavras e fez um círculo
com o dedo.
Eles estavam praticando feitiços defensivos sem varinhas hoje – ideia
de Zeph, já que ela não tinha um conduíte mágico próprio.
O encantamento de cobra de Zeph se dissolveu, permitindo que ela
desse um suspiro de alívio.
Até que ele seguiu com um feitiço ainda mais poderoso que bateu
direto em seu peito.
Kols deu um passo à frente, mas um olhar de Zeph o impediu de
interferir.
Ele está de bom humor, Kols murmurou.
Vou tomar Aflora mais tarde, respondi. Não confio nele para dar o que
ela precisa depois disso. Não desse jeito.
Não. Ele precisa de alguém que possa suportar sua agressão e
devolvê-la. As íris cor de bronze de Kols brilharam. Terei prazer em ser
esse parceiro, pois será uma excelente oportunidade para chutar o traseiro
dele.
Eu sorri. Bom.
Zakkai se recostou na parede com as mãos nos bolsos da calça preta.
Ele estava sem camisa como o resto de nós, vestido para treinar. Aflora
usava regata e calças de um tecido elástico. Ela estava descalça e suando,
com o cabelo escuro preso em um rabo de cavalo.
— Dayani Adhabat — ela retrucou, seu dedo desenhando um traço no
ar para desmantelar o feitiço de estrangulamento que Zeph havia lançado.
— Asqati Mayatun. Sua mão flexionou com as palavras e uma bola escura
apareceu na palma de sua mão. Ela jogou em Zeph, mas a bola mortal
desapareceu antes que pudesse atingir seu rosto.
Ela seguiu com outra esfera, mirando no abdômen dele, então
adicionou o feitiço de estrangulamento, deixando o Guardião de joelhos.
Zakkai sorriu, achando graça.
Aflora rosnou e atingiu Zeph com um quarto feitiço, que era para ser
um soco no estômago.
Zeph desviou a maior parte do poder com alguns escudos defensivos.
Então ele atacou com outro encantamento ofensivo que bateu no
traseiro de Aflora novamente.
Ela soltou um ruído frustrado, mas não disse nada. Chamas cerúleas a
envolveram da cabeça aos pés enquanto ela lutava contra seu novo feitiço.
Zeph xingou quando um cipó ardente disparou do chão ao lado dele.
— Sem cipós — ele a lembrou.
Ele desmontou o feitiço antes que ela pudesse incendiar a sala. Dado
que os pisos e paredes eram todos de obsidiana, eu duvidava que fosse
causar muito dano. Mas era melhor não tentar o destino.
A dança letal continuou, e a roupa de Aflora ficou manchada e quase
destruída no processo. No final, tudo o que eu queria fazer era puxá-la para
meus braços e abraçá-la por horas.
Zeph vibrou com irritação. Ele odiava fazer isso, mas ele e Zakkai
eram os mais indicados para ensiná-la.
Vou distraí-lo, Kols me disse. Fique com Aflora.
A agitação de Zeph sugeria que ele queria acalmá-la, mas de forma
violenta. Ele precisava ser consolado também, saber que não a machucou.
No entanto, a raiva que ele sentia de si mesmo acabaria se traduzindo em
sexo agressivo.
E não era disso que ela precisava agora.
Aflora merecia um pouco de ternura depois dos últimos dias de treino
duro. Sim, tudo isso ajudava a prepará-la para enfrentar o inevitável, e
Constantine não pegaria leve com ela. Mas ter seus companheiros a deixava
firme e lhe dava uma vantagem que o Ancião nunca entenderia.
Portanto, ela precisava de dureza, massa também de amor.
Zeph e Zakkai podiam se concentrar no primeiro, pois se destacavam
em combate.
Enquanto isso, Kols e eu oferecíamos o apoio emocional de que ela
precisava para realmente florescer.
Zeph deu um passo em direção a Aflora, com a expressão marcada
pela determinação. Kols se moveu entre eles, e eu segui para o lado de
Aflora. Zakkai captou meu olhar e deu um leve aceno de cabeça, ciente da
minha intenção. Então a envolvi em um manto de escuridão e a levei para o
nosso prado.
Ela estremeceu contra mim, apoiando a cabeça em meu ombro
enquanto chorava de frustração. Eu a abracei, vagando as mãos sobre sua
blusa esfarrapada e oferecendo-lhe meu toque e apoio.
Você é magnífica, pequena rosa, eu disse a ela.
Há tanta violência, ela respondeu, estremecendo.
Suas lágrimas não eram um sinal de fraqueza ou tristeza. Eram
relacionadas a sua dificuldade em aceitar a escuridão de ser uma Fae da
Meia-Noite. Seu coração era todo luz, alegria e elementos doces. Este
mundo em que ela caiu deixou sua alma sombria, e apenas o mais forte dos
Faes poderia aceitar tal coisa.
Mas mesmo o mais forte dos Faes precisava de um momento leve para
refletir.
Puxei-a comigo para o chão, sua pequena estrutura se curvando em
meu colo por instinto. Então a segurei debaixo da sombra da árvore
enquanto o sol começava a nascer sobre nosso prado. Nós não falamos.
Apenas nos deleitamos em sua Terra, sua vida, seu desejo de criar.
Quando o calor tocou sua pele, ela ergueu a cabeça com um suspiro e
admirou o sol nascente. Ela sabia que não era real, que o paradigma o
fabricava, mas isso não impediu que seu contentamento fluísse através de
nosso vínculo.
— Podemos ficar aqui hoje? — ela perguntou em voz baixa. — Para
dormir, quero dizer.
— Podemos fazer o que você quiser, pequena rosa — respondi.
Ela curvou um pouco os lábios e começou a fazer um canteiro de
flores com pétalas macias, coloridas e cheias de sua força.
Observei enquanto ela trabalhava, satisfeita em se apoiar no tronco.
Aflora só precisava de um dia para brincar. E eu oferecia isso a ela,
permitindo que ela florescesse em sua magia da Terra e dando a ela a
chance de revigorar sua alma.
Aromas florais nos cercavam, seu Elemento em pleno efeito enquanto
ela se entregava ao seu coração Fae da Terra.
Até que ela se esparramou no chão, tirou o laço de seu cabelo e deixou
que os fios fluíssem sobre o chão em ondas azuis e negras.
Sorri, admirando a visão dela toda contente, calorosa e feliz.
— Junte-se a mim — ela sussurrou.
Respondi me afastando da árvore e rastejando até ela. Ela sorriu
quando cheguei ao seu lado, então ela colocou a palma da mão em volta do
meu pescoço para me guiar em sua direção com gentileza para um beijo.
Permanecemos assim por horas, apenas deixando nossas bocas
falarem.
Sem sexo.
Sem necessidade física.
Apenas um momento para nossas almas se curarem, amarem, se
entregarem uma à outra.
Eu disse a ela com minha mente o quanto eu a adorava. O quanto eu a
respeitava. Como fiquei orgulhoso por ela abraçar esse novo caminho.
E ela me disse o quanto estava agradecida por me ter como seu
companheiro. Como ela perdoou todos os meus segredos. Que queria viver
uma vida inteira juntos para curar todas as anteriores que eu sofri.
Foi um momento intenso e lindo, que nos deixou repletos de uma
maneira totalmente diferente.
Quando o sol chegou ao meio-dia, ela se aconchegou em meu peito.
E juntos, dormimos no monte de flores que ela construiu, o céu
fornecendo um cobertor natural de calor que nos permitia sonhar.
Mas ao fechar os olhos, me perdi em uma visão onde a escuridão do
meu mundo ameaçava engolir Aflora inteira, desmantelando sua luz.
Alguma coisa está para acontecer, pensei, semiadormecido. Um novo
teste está se formando. E este trará a morte.
CAPÍTULO TREZE
AFLORA

ZEPH E ZAKKAI estavam sendo particularmente cruéis hoje.


Estávamos vivendo nesse paradigma há quase seis semanas, e eles
decidiram que era hora de enfrentá-los juntos.
O que significava que estavam me atacando de ambos os lados.
Kols e Shade não foram capazes de assistir. Seus instintos de proteção
prevaleceram sobre a causa da sessão de hoje. Mas à medida que as horas
passavam, comecei a desejar que eles voltassem e me levassem para longe
deste inferno.
Eu entendia o propósito deste teste, entendia que os dois estavam
apenas tentando me preparar para lidar com a ascensão por conta própria,
mas fazia doer menos.
Os dois estavam sérios, usando feitiços que teriam me matado um ano
atrás.
Felizmente, a Fonte Sombria saltou em meu auxílio de forma
consistente, me permitindo desmantelar cada encantamento lançado em
meu caminho.
Tentei envolver meu lado da Terra também, mas o exercício de hoje
exigia que eu usasse meus poderes Fae da Meia-Noite.
O que eu suspeitava que era o ponto.
Eles queriam que eu aprendesse a confiar no meu lado Fae da Meia-
Noite sobre a parte Fae da Terra, já que eles assumiram que Constantine
faria o mesmo.
Estremeci quando os olhos azul-prateados de Zakkai brilharam com
poder e seus longos fios brancos ondularam em uma brisa mágica. A
expressão calculista de suas feições cruelmente bonitas me disse que eu não
ia gostar do que quer que ele faria em seguida.
Zeph atacou, seu encantamento de fogo envolvendo minha perna
quando Zakkai me atingiu com uma teia estratégica de magia que me
deixou sem palavras.
Caí no chão sob o ataque conjunto, estremecendo quando eles não
pararam.
Escudo, Zeph exigiu.
Ergui um escudo defensivo. A barreira era invisível, mas desviava de
seus feitiços com cuidado enquanto eu tentava desfazer o que quer que eles
estivessem usando para me incapacitar.
Queimou em minhas veias, roubando meu ar e me afogando em um
produto químico tóxico que acabou com minha capacidade de pensar.
Instintos, pensei entorpecida. Eles querem que eu confie em meus
instintos.
Zakkai havia me avisado que a lição de hoje seria difícil. Eu entendia
agora – eles desmantelaram de propósito a minha habilidade de memorizar
feitiços.
Tratava-se de confiar em reações físicas.
Eu os odiava.
Detestava que eles atingissem meu escudo repetidamente enquanto eu
tentava desfazer a dura restrição em minha mente.
Estávamos além da bondade hoje. Caramba, esta semana. Eles estavam
em cima de mim, mal me deixando dormir, me forçando a aprender,
aprender, aprender.
Havia muitos feitiços, feitiços demais.
Eu estava fazendo um curso intensivo em cinco semanas que deveria
ter sido ministrado em vinte e cinco anos. Como Kols apontou, eu não tinha
nem idade para ascender. Pelo menos, não de acordo com os rituais
anteriores Fae da Meia-Noite.
Tudo isso estava sendo jogado em mim por causa de um homem
desonesto, dissimulado e perverso que queria me usar.
Eu me recusava a deixá-lo ganhar.
Mas em momentos como este, era fácil ver como ele poderia me
derrotar sem esforços. Porque eu não podia lutar contra isso. Não sabia
como. Eles prejudicaram minha mente, me deixando indefesa sob meu
escudo deteriorado.
Pare de sentir pena de si mesma e resolva, Zeph me repreendeu. Você
é mais poderosa do que imagina.
Eu te odeio, respondi.
Que bom. Então estou atingindo o objetivo. Agora desmonte as merdas
dos encantos.
Rosnei para ele.
Ele rosnou de volta.
E de repente, eu queria cortar sua magia apenas para retribuir o favor.
Esse peso da escuridão pairava sobre meus ombros há semanas. Uma
sensação de pressentimento. Um sentimento denso de pavor.
Bati nele, me envolvendo na teia sombria de magia e permitindo que
ela florescesse através de mim. Minhas veias foram perfuradas com gelo,
desmantelando meu calor, mas reforçando minha determinação.
Se enrolou.
Se fortaleceu.
Se enrolou um pouco mais.
Até que não consegui segurar por mais um segundo, a magia muito
intensa e aterrorizante.
Ela explodiu de mim em uma chama cerúlea, devorando todos os
encantamentos na sala, incluindo meu escudo, e procurando os dois machos
que me atacavam.
Zakkai absorveu a tensão com um aceno de mão.
Zeph criou um escudo que desviou a explosão.
Então os dois olharam para mim no chão. O poder destruiu minhas
roupas.
Zakkai foi até uma sacola no chão, encontrou um novo par de calças e
uma regata e os jogou para mim.
— Vista-se. Vamos fazer isso de novo.
Estremeci, meu corpo estava fraco demais para repetir tudo.
— Não.
— Sim — Zeph interrompeu. — Agora, Aflora.
— Não — repeti. — Chega por hoje. — Esse poder foi demais. Muito
sombrio. Destrutivo demais. Também não era como eu. Ultrapassou minha
Terra, me deixando sem um único vislumbre de luz. Eu me recusava a
aceitar isso. Me recusava a abraçá-lo. Não queria permitir que isso
acontecesse novamente.
Mas Zeph não aceitou. Ele me acertou com outro raio de poder, me
derrubando e me prendendo no chão.
— Não terminamos.
Um estrondo começou no meu peito e senti minha irritação
aumentando. Ele não estava me ouvindo.
— Chega. Por. Hoje.
— Isso é muito ruim, estrelinha — Zakkai disse, jogando minhas
roupas para o lado. — Porque eu concordo com o Zeph. Vamos fazer de
novo.
Eu queria gritar. Mutilar. Matar os dois. Eu precisava de uma pausa.
Eu merecia uma pausa. Estávamos nisso há horas. Dias. Semanas. Não
reclamei uma vez, pegando tudo o que eles me deram e memorizando suas
regras.
Aguentei o tratamento deles, o comportamento volátil de Zeph e os
feitiços perversos de Zakkai, mas queria tirar o resto da noite de folga.
Agora mesmo.
Peguei o feitiço ofensivo de Zeph, copiei a estrutura geral e o enviei de
volta para ele, que desviou com sua varinha, já preparando outro
encantamento.
— Chega — eu disse com os dentes cerrados. Eu estava muito
cansada. Esgotada.
— Você acha que o Constantine iria ouvi-la agora? — Zakkai
perguntou. — Porque acho que ele se deleitaria com sua demonstração de
fraqueza e a afogaria nela.
— Eu não sou fraca!
— Sua situação sugere o contrário — ele respondeu.
Então ele me bateu com outra daquelas teias destinadas a desmantelar
meus pensamentos.
E Zeph seguiu com outro feitiço.
E outro.
E outro.
Tentei construir um escudo para combatê-los e me proteger, mas
minhas reservas de energia foram esgotadas pela escuridão que liberei.
No entanto, ainda perdurava.
Pairando em meu ombro, esperando que eu o abraçasse mais uma vez.
Mas não consegui. Isso me fez sentir muito fria. Muito errada.
Poderosa demais.
Eu me enrolei em uma bola, negando aquele lampejo de energia e
absorvendo o impacto dos golpes de Zeph e Zakkai.
Aflora? Kols sussurrou em minha mente. Você está bem?
Não, respondi, tremendo sob a dor e agonia de ter meus próprios
companheiros me atacando quando eu disse para eles pararem. Eles
estavam tentando provar um argumento. Eu entendia. Mas não aceitava.
Eles não querem parar.
Eu parecia muito fraca. Lamentável. E eu quase podia ouvir Zakkai e
Zeph me provocando por isso, me chamando para não desistir.
Eles queriam que eu fosse forte.
Que eu os enfrentasse.
Que lhes desse uma demonstração de poder que podia destruir todos
eles.
Eu os odeio, eu disse a Kols. Eu os odeio.
Eu podia ouvir a tristeza em minha voz, uma eterna tristeza que eu
detestava.
Sou mais forte do que isso, pensei. Muito mais forte.
Mas isso exigia que eu bloqueasse uma parte importante de mim.
Minha Terra. Minha ligação com o Elemento que eu amava e adorava.
Escolher a força significava que eu tinha que acolher a escuridão.
Estremeci, abominando a escolha.
No entanto, a eletricidade vagava sobre mim, assim como os gritos de
Zeph para lutar, não me deixaram escolha.
Bati naquele buraco negro, puxando-o para dentro de mim mais uma
vez e o liberei em uma onda de energia que fez com que lágrimas caíssem
dos meus olhos.
Tudo parou.
Chamas escuras envolveram a sala.
Então Zakkai a cortou com uma explosão de magia cerúleo que domou
a escuridão em uma pequena bola de poder giratório que parecia se infiltrar
em mim, centímetro por centímetro.
Eu não me movi, meus braços estavam travados em volta das minhas
pernas enquanto permanecia no centro da sala.
Todos os feitiços se foram.
Mas a agressão permaneceu.
— Aflora? — Zeph chamou com a voz profunda e com um toque de
preocupação.
Eu o ignorei.
— Ela está bem — Zakkai disse. — Ou estaria se aceitasse a Fonte
Sombria do jeito que precisa.
— Ela parece bem para você? — Zeph exigiu. — Porque ela parece
derrubada para mim.
Zakkai bufou.
— Você está permitindo que a emoção obscureça seu julgamento. É
por isso que ela não está tão preparada quanto deveria – porque você perdeu
o tempo dela mimando-a. Agora temos que recorrer a isso para garantir que
ela esteja pronta, porque você falhou em treiná-la.
— Eu falhei em treiná-la? — A voz profunda de Zeph reverberou pela
sala, fazendo minha pele se arrepiar. — Foi você quem acasalou com ela
primeiro, Zakkai. Depois a deixou no reino Fae Elemental para ser criada
por um bando de Faes da Terra. E agora você está me culpando por sua falta
de preparação?
— Ela não estava pronta naquela época.
— E também não estava quando começou na Academia — Zeph
retrucou. — Mas fiz o melhor que pude com o que tinha para trabalhar. Ela
não conseguia nem fazer a porcaria de um sanduíche quando começamos.
Vacilei com a maneira como ele falou. Era como se minha falta de
habilidade em magia sombria me deixasse de alguma forma fraca aos seus
olhos.
— Talvez as coisas tivessem sido diferentes se você a tivesse levado
naquele dia em vez do Shade — Zeph continuou.
— Ah, com certeza teriam. Vocês estariam mortos agora. Em vez
disso, estou preso à sua arrogância diariamente – uma arrogância que você
não merece.
— Você diz essas coisas como se soubesse o que eu posso fazer —
Zeph respondeu, com um tom letal. — Mas que tal você colocar essa sua
arrogância à prova, humm?
— Com prazer — Zakkai respondeu, fazendo um raio de magia
queimar no ar.
Zeph respondeu na mesma moeda, fazendo os pelos dos meus braços
se arrepiarem.
O que está acontecendo? Shade questionou na minha cabeça.
Mas eu estava muito consumida pelo poder crescente na sala para
responder. Perigo, meus instintos sussurraram para mim. Se proteja.
Levantei a cabeça para ver Zakkai e Zeph envolvidos em um duelo, a
agressividade deles aumentando a cada golpe.
Eles se recusavam a ceder.
Se recusavam a reconhecer o outro como superior.
Porque eles eram iguais. Dominantes, orgulhosos e poderosos à sua
maneira. Zakkai tinha vantagem como Arquiteto da Fonte, mas Zeph
passou toda a sua vida treinando para uma batalha como essa. Ele era um
Guardião, designado para proteger o Rei Fae da Meia-Noite. E ele
demonstrou isso, liberando todo o seu poder em Zakkai.
Arregalei os olhos quando a noção me atingiu.
Eles estavam pegando leve comigo. Mesmo quando achei que eles
estavam me dando tudo de si, eles nunca lutaram assim comigo.
E por alguma razão, isso me irritou.
Eles deveriam estar me treinando para lutar contra Constantine. O
homem sequer consideraria diminuir seus golpes. No entanto, Zeph se
conteve, com medo de que eu não pudesse lidar com ele em toda a sua força
de poder.
E Zakkai continuava argumentando que Zeph precisava remover o
filtro emocional e me testar. Me testar de verdade.
E eu reagi como criança hoje, dizendo para eles pararem. Justo quando
estávamos prestes a liberar meu maior poder.
O peso no meu ombro... aquele ponto obscuro que me pesava... era
minha conexão com a Fonte Sombria.
Eu entendia isso em um nível, mas não aceitava. Esse foi o motivo da
pressão de Zakkai. Ele queria que eu permitisse que a escuridão assumisse
para que pudéssemos chegar ao meu verdadeiro potencial.
Passamos cinco semanas fazendo feitiços triviais, históricos potenciais
e estudando cenários destinados a me ajudar a passar por meus testes.
Mas essa foi a primeira vez que experimentei o verdadeiro poder
florescendo dentro de mim – aquele que garantiria que eu me destacasse.
Zeph grunhiu quando Zakkai o atingiu com uma faísca cerúlea. Então
ele jogou uma verde com raios em preto de volta para ele.
Me sentei, com os olhos arregalados. Eles estão tentando se matar.
Não havia calma aqui. Sem submissão. Nem aceitação.
Eles eram parte do problema – o ponto áspero dos meus vínculos. Eles
não confiavam um no outro. Nem gostavam um do outro. E isso estava
vindo à tona enquanto duelavam de uma maneira que só os machos alfa
podiam.
Eu tinha que pará-los. Forçá-los a ver a razão. Se um deles fosse ferido
nessa agressão, eu nunca me perdoaria, nem a eles.
— Parem — eu disse.
Eles estavam muito perdidos nas energias furiosas para me ouvir, o
duelo se intensificando a cada segundo que passava.
Me ajoelhei, invocando aquele poder mais uma vez e permitindo que
ele me consumisse inteira, precisando dele para proteger a mim e meus
companheiros.
A Fonte culminou, enrolou e cresceu dentro de mim.
Zeph xingou quando Zakkai o atingiu com algo prejudicial. Isso só
pareceu enfurecê-los ainda mais, aumentando a necessidade de um declarar
vitória sobre o outro.
— Chega! — gritei, liberando minha energia nos dois e os derrubando
no chão.
Eles não estavam preparados para minha reação, muito focados um no
outro para me notar. Usei os últimos vestígios de minha força para ficar de
pé, com as mãos no quadril enquanto olhava para os dois.
— Chega — eu disse, o poder piscando ao meu redor em advertência
enquanto eu reabastecia minhas reservas esgotadas diretamente da Fonte
Sombria. Era estranho e frio, mas necessário, porque minha magia da Terra
não poderia reabastecer a parte sombria de mim.
Zakkai curvou os lábios de leve e seu cabelo branco estava
emaranhado em torno dos ombros.
— Muito bem, Aflora.
— Isso foi a porra de um teste? — Zeph parecia chateado.
Zakkai deu de ombros.
— Isso importa? Funcionou.
— Eu vou te matar — Zeph ameaçou.
Zakkai ficou de pé e balançou a cabeça.
— Você vai tentar — ele provocou, se movendo para ficar atrás de
mim. — E vai falhar. — Ele beijou meu pescoço, levando os lábios ao meu
ouvido. — Você está brilhando tanto, Flora. Assim como uma estrela.
Estremeci com seu elogio, mas um raio de irritação ainda permanecia
em minhas veias.
— Você me pressionou demais hoje.
— Pressionei o suficiente — ele respondeu contra meu ouvido,
lambendo minha orelha antes de dar outro beijo no meu pulso. — E você
foi magnífica.
Zeph se levantou do chão e se posicionou à nossa frente. Sua fúria era
palpável contra meus sentidos.
— Você precisa aprender a se comunicar, porra.
— Estou me comunicando. Você não está ouvindo — Zakkai
murmurou enquanto traçava um caminho até meu ombro com os lábios. —
Você tem gosto de escuridão, doce estrela.
Seu toque provocou um arrepio na minha coluna e seu corpo duro
embalava minhas costas enquanto ele pressionava com mais firmeza contra
mim. Ele estava sem camisa – algo que todos os meus companheiros
pareciam fazer diariamente para treinar – o que me permitiu sentir seu calor
na minha pele.
— Tão luxuriosa — ele murmurou, lambendo do meu pescoço até
minha orelha. — Você sente isso, certo? O poder? A intensidade?
— Sim. — Engoli em seco, com o olhar em Zeph. — Mas não tenho
certeza se perdoo você por provocar isso.
Ele riu contra o meu pescoço.
— Eu sei. Mas você vai. — Ele passou os braços em volta do meu
abdômen, me segurando contra si. — Você gostaria que eu te adorasse com
minha língua, minha rainha?
— Eu...
Ele mordiscou meu pulso.
— Podemos fazer o Guardião assistir — ele sugeriu.
Zeph estreitou o olhar e deu um passo à frente, levando sua mão ao
meu quadril.
— Ou talvez eu faça você assistir.
Meu coração acelerou com a intensidade dos sois.
Zakkai poderia ter provocado aquele duelo para testar minha
determinação e poder, mas Zeph havia se engajado com a intenção de
matar.
Um jogo perigoso.
Uma provocação letal.
Eles eram muito fortes, muito dominantes para compartilhar. No
entanto, eu não poderia escolher entre eles. Os dois eram meus
companheiros. Meu futuro. Eles possuíam partes iguais do meu coração, e
eu precisava que eles aceitassem isso, que aceitassem um ao outro.
Fiquei na ponta dos pés para beijar Zeph antes que ele pudesse falar
novamente, passando os dentes por seu lábio inferior e exigindo que ele
retribuísse. Ele não o fez de imediato, mas me apertou mais em advertência.
Então passei a língua em sua boca, e um pouco da tensão deixou sua
mandíbula.
Zakkai não me soltou, travou os braços em volta do meu abdômen
enquanto Zeph se aproximava para se pressionar contra mim, me apertando
com firmeza entre eles.
Estendi a mão para segurar Zakkai, garantindo que ele não fosse
embora.
E usei a outra mão para envolver a nuca de Zeph.
Vocês dois são meus, eu disse através dos vínculos abertos. Eu
reivindico vocês igualmente.
Zeph rosnou em resposta.
Zakkai combinou o som com uma vibração própria.
Soltei a boca de Zeph para encontrar seus olhos verdes em chamas.
— Eu não vou escolher.
CAPÍTULO CATORZE
ZEPH

A INTENSIDADE nas feições de Aflora me fez parar.


— Você acha que eu quero que você escolha?
Eu nunca pediria uma coisa dessas. Seria como pedir a ela para matar
um pedaço de sua alma. Todos nós fazíamos parte dela, gostando um do
outro ou não. E embora eu não ligasse para Zakkai, reconhecia seu valor
para ela.
Também poderia admitir sua importância como um protetor.
Não havia ninguém neste mundo mais adequado para proteger Aflora
do que Zakkai.
— Eu nunca ia querer que você escolhesse, linda flor — acrescentei
em voz baixa, segurando sua bochecha enquanto minha mão permanecia em
seu quadril. — Nós somos seus companheiros, mesmo quando nos odiamos.
— Odiar é um pouco forte — Zakkai respondeu, passando os lábios
pelo pescoço dela. — Não gostar, talvez. Odiar, não. Eu só queria provar
um argumento. Novamente.
Apertei a mandíbula com suas palavras, principalmente porque eu as
entendia. Respeitava também. Porque aquilo foi necessário.
E, admito, eu não tinha a capacidade de pressioná-la do jeito que ele
fez.
Ela não era a flor delicada que conheci na primeira vez, mas um ser de
magia e força superiores que eu admirava nas profundezas da minha alma.
No entanto, era difícil para mim ver essa parte dela. Porque exigia que
eu a machucasse para despertar seu poder, e eu aprendi nas últimas semanas
que machucar minha companheira não era uma habilidade natural para
mim. No quarto, de uma forma divertida? Sim. Na realidade, onde ela
poderia ser gravemente ferida por coisas fora do meu controle? De jeito
nenhum.
Zakkai parecia capaz de provocá-la sem arrependimentos. Como se ele
estivesse programado para dar a ela um treinamento perigoso.
Eu invejava isso. Pois concedia a ele uma medida de controle sobre
nossa situação que eu não conseguia alcançar. E eu não lidava bem com a
falta de controle.
Encontrei seu olhar por cima do ombro dela.
— Posso não concordar com seus métodos — falei. — Mas não posso
negar o resultado.
Seu aceno foi curto e direto ao ponto. Então ele voltou seu foco para o
pescoço de Aflora, seus lábios adorando sua pele.
— Eu não odeio seu amante Guardião, estrelinha — ele a informou. —
Eu só me recuso a me ajoelhar para ele.
Eu bufei.
— Digo o mesmo.
Aflora suspirou.
— Vocês dois vão acabar comigo. — Ela relaxou entre nós enquanto
falava, seus dedos acariciando minha nuca. — Posso, por favor, encerrar
por hoje?
Os olhos de Zakkai encontraram os meus mais uma vez e uma
compreensão estranha se passou entre nós.
— Não — ele disse em voz baixa. — Ainda temos outra lição a dar.
Ele passou a mão pela lateral de seu corpo, apertando sua pele
enquanto segurava meu olhar.
Uma nova atividade.
Algo sobre unidade e compreensão.
Ele estava me convidando para ajudá-lo a ensinar essa lição. Podíamos
brigar por muitas coisas, nos esforçando constantemente para superar o
outro, mas no final de tudo, ainda éramos seus companheiros. E nós nunca a
faríamos escolher.
— Você foi bem hoje — eu disse a ela.
— Extremamente bem — Zakkai acrescentou. — Mas você não
entendeu algo importante, Aflora.
— Sim — concordei, passando o polegar pelo seu lábio.
— O quê? — ela murmurou. — O que não entendi?
— O fato de que nós nunca vamos fazer você escolher — eu disse, me
inclinando para beijá-la.
— Mas podemos fazer com que você tome a nós dois — Zakkai
murmurou em seu ouvido.
— O-os dois? — ela gaguejou contra minha boca.
— É uma lição adequada, não é? — Estudei seus olhos, notando suas
pupilas dilatadas. — Você duvidou de nossas intenções. Agora vamos
demonstrá-las.
— Por não deixar você escolher — Zakkai terminou para mim. — E
nenhum de nós vai se submeter, Aflora. O que significa que você será
forçada a lidar conosco. Juntos.
— Ao mesmo tempo — eu disse.
— De fato.
Aflora estremeceu.
— Eu... eu não...
— Sem escolha, lembra? — Rocei os dentes em seu lábio inferior, em
seguida o mordi de leve. — Você vai nos tomar e nos aceitar. Como um.
Ela inalou e suas bochechas ficaram com um adorável tom rosa.
Zakkai afastou a mão de seu seio para explorar o ápice entre suas
coxas. Seu grunhido de aprovação me disse o que eu já sabia.
— Você está encharcada — ele sussurrou, seu dedo passando pela
intimidade dela, penetrando-a de maneira profunda. — Você nos quer
dentro de você, estrelinha? Todo esse poder te excitou, assim como fez
conosco. E agora você quer expelir um pouco dessa energia residual nos
recebendo nossa doce boceta e gritando nossos nomes.
Kols e eu tínhamos feito isso uma vez, mas não com Aflora.
Ela arregalou os olhos com o que Zakkai havia insinuado, sua mente
zumbindo com impossibilidades. Eu a silenciei com um beijo enquanto ele
a acariciava, o braço dele roçou em meu abdômen enquanto ele a provocava
continuamente. Ela ofegou quando os dentes dele perfuraram seu pescoço e
pude ver a garganta de Zakkai se movendo para extrair a essência de sua
veia.
Cobri sua boca com a minha língua, distraindo-a enquanto ele acendia
seu pavio interno com o beijo vampírico e toque inteligente.
Ela gemeu, estremecendo entre nós enquanto Zakkai a levava para
mais perto de um clímax. Isso tiraria um pouco da tensão de seu corpo,
tornando-a mais flexível enquanto a preparávamos.
Soltei seu quadril e toquei o mamilo saliente. Ela ofegou quando o
apertei, massageando-o no ritmo dos movimentos de Zakkai.
Ele soltou o pescoço dela e seu olhar encontrou o meu. Assumi sua
mordida, afundando os dentes nas mesmas ranhuras que ele criou,
proporcionando a Aflora uma demonstração de como pretendíamos
compartilhá-la como iguais.
Ela nos pertencia tanto quanto nós pertencíamos a ela.
Zakkai enfiou os dedos da mão livre nos cabelos espessos e guiou sua
cabeça para o lado e ligeiramente para cima para que pudesse beijá-la. Ele
expôs seu pescoço para mim ainda mais, deixando a base de seu pescoço
esticado para acomodar nós dois. Assim como faríamos em breve com seu
corpo.
Aflora inclinou os quadris ao toque de Zakkai, sua pele febril de
excitação enquanto ela se esforçava para gozar. Zeph, ela sussurrou. Zeph,
por favor...
Sorri contra seu pescoço, gostando que fosse a minha permissão que
ela buscava enquanto Zakkai a penetrava.
Então ele apertou seu clitóris, fazendo com que sua mente se perdesse
quando ela se desfez sob seu comando, não o meu.
Ele não me olhou enquanto fazia isso, mas mesmo assim senti seu
orgulho.
Ela era dele também.
E se ele quisesse que ela gozasse, ela o faria. Com ou sem minha
permissão.
Lutei contra a vontade de rosnar e, em vez disso, me concentrei na
euforia do sangue de Aflora. Eu podia saborear o orgasmo em sua essência,
sua excitação era um afrodisíaco para meus sentidos, me afogando em seu
perfume inebriante.
As pontas dos seus dedos permaneceram na minha nuca e ela cravou
as unhas em minha pele enquanto se contorcia de prazer.
Então Zakkai adicionou mais pressão, e ela se acalmou.
— Você pode aguentar — eu disse contra seu pescoço. — Apenas
relaxe e deixe-nos guiá-la. — Era um ato entre mim e Aflora que sempre
presumi que seria compartilhado com Kols primeiro. Mas o significado
disso com Zakkai não passou despercebido para mim.
Aflora precisava disso.
Nosso círculo precisava disso.
Porque juntaria nós dois de uma maneira que não poderíamos desfazer,
ao mesmo tempo em que mostrava a Aflora o que ela significava para nós.
Não se tratava apenas de compartilhar, mas de ensinar a ela o que
estávamos preparados para sacrificar por ela.
Zakkai não era do tipo para compartilhar.
E eu não era do tipo que se curvava.
Teríamos que confiar um no outro para controlar a situação, ler suas
dicas e garantir sua segurança e prazer o tempo todo.
Não era uma tarefa fácil, mas necessária.
— Tire as calças de Zephyrus — Zakkai disse contra sua boca,
liberando-a na sequência. — Agora.
Engoli a vontade de corrigi-lo e dar o comando eu mesmo. Em vez
disso, me concentrei no olhar dela enquanto ela olhava para mim.
Faça o que ele diz, sussurrei em sua mente.
Vi sua garganta se mover enquanto ela umedecia os lábios. Em
seguida, ela alcançou o cordão na minha cintura.
Beijei sua testa, agradecendo sem palavras por ela aquiescer. Esta
devia ser uma lição intimidadora para ela, mas Aflora mostrou sua fé em
nós fazendo exatamente o que lhe dissemos.
Ela empurrou o tecido dos meus quadris, fazendo-os cair e me
deixando nu diante dela. Nós nunca usávamos calçados durante os duelos, e
eu raramente usava camisa. Zakkai era o mesmo, sua calça era a única
roupa que restava entre nós três. Ele mesmo a removeu, chutando-a para o
lado antes de lamber a essência de Aflora de seus dedos.
Então ele fez algo que eu nunca teria previsto.
Criou uma cama com um feitiço e se sentou no meio dos lençóis
pretos.
Arqueei uma sobrancelha.
Ele apenas disse:
— Venha aqui e monte em mim, estrelinha.
Ele estava se oferecendo para ficar por baixo, pelo menos de uma
maneira suave. Ele ainda estava sentado e muito no comando, mas não seria
quem estocaria nela por trás.
O que significava que ele esperava que eu estabelecesse o ritmo depois
que ele terminasse de prepará-la para minha entrada.
Acariciei meu pau em antecipação. Vá até ele, linda flor. Leve-o nessa
boceta apertada para que eu possa ouvi-lo me dizer o quanto você está
molhada para nós.
Aflora estremeceu visivelmente, depois seguiu nossas ordens sem um
pingo de hesitação.
Zakkai a penetrou com facilidade, seu corpo mais que pronto para
receber o pênis dele. Mas o meu seria outro assunto completamente
diferente.
— Ainda não está pronta — ele disse, alcançando entre eles para
estimular seu clitóris com o polegar enquanto deslizava outro dedo nela ao
lado de seu pau.
Ela gemeu em resposta e seus seios coraram. Eram todos sinais de uma
mulher carente e em expectativa. Não uma temendo o que estávamos
prestes a fazer, mas sim ansiosa por nossas intenções.
— Acha que pode chupar meu pau enquanto ele te prepara? —
perguntei, dando um passo para o lado da cama. — Estou me sentindo um
pouco seco.
Zakkai deu uma risadinha, o som profundo e lânguido.
— Você não estará em alguns minutos.
— Humm — murmurei, concordando. Então segurei o queixo de
Aflora de leve e chamei sua atenção para mim. Ela estava na altura perfeita
enquanto estava montada em Zakkai, com seus lábios na altura da minha
virilha. — Abra os lábios para mim.
A dilatação de suas narinas me disse que ela aprovava.
Então sua boca confirmou quando ela me tomou profundamente. Sua
língua era um toque aveludado contra a parte inferior do meu pau.
— Puta merda — murmurei, amando o jeito que ela me chupou.
Ela sabia tudo que eu gostava, suas ações eram as que ensinei a ela,
com alguns movimentos que eram apenas puro instinto.
Uma aluna tão apta.
A aluna perfeita.
Ela murmurou algo contra o meu pau enquanto Zakkai a acariciava,
fazendo-a revirar os olhos.
Sorri, vendo todos os sinais que eu desejava nela: apreciação,
excitação, desejo.
Ela nos queria.
Nós a queríamos.
E estávamos prestes a embarcar em algo que mudaria o cenário para
todos nós.
Zakkai ainda tinha que abraçar seus outros companheiros, escolhendo
assistir ao invés de jogar. Esta noite, ele optou por se envolver da maneira
mais íntima imaginável – tudo para mostrar a Aflora que ele poderia
compartilhar à sua maneira.
Se ela tivesse dito não e fosse sincero, não faríamos isso com ela. Não
era isso que queríamos dizer com esta lição, que ela não tinha escolha.
Estávamos dizendo a ela que aceitávamos a dinâmica e que nunca
permitiríamos que ela escolhesse entre nós. Em vez disso, garantiríamos
que ela sempre pudesse levar nós dois.
Mesmo que isso significasse um pouco de dor com seu prazer.
O que ela parecia estar gostando agora enquanto seus quadris
ondulavam contra Zakkai.
Ele se apoiou em uma mão enquanto a outra continuava a prepará-la,
circulando seu clitóris com o polegar e estimulando-a do jeito que deveria.
Era exatamente o que eu faria.
Embora, eu provavelmente faria com que ela tomasse Kols primeiro,
então me posicionaria atrás dela e a prepararia dessa maneira para que eu
pudesse sentir intimamente nosso companheiro Elite de Sangue ao penetrá-
la com meus dedos.
Uma atividade para depois.
Esta lição era sobre Aflora satisfazer os dois machos dominantes em
sua vida.
E sobre nós aceitarmos um ao outro.
Seus dentes roçaram meu pau em uma carícia provocante, e seus olhos
azuis encontraram os meus.
— Sedutora — sussurrei, passando os dedos em seu rosto. — Mas não
vou gozar na sua boca, linda flor. — Envolvi a mão ao redor de seu pescoço
para encorajá-la a me levar mais fundo enquanto eu falava, meus quadris
forçando-a a tomar tanto de mim quanto sua boca permitia.
Esperei um instante antes de me retirar, sorrindo enquanto suas íris
brilhavam com necessidade erótica.
Ela lambeu minha ponta, me beijando à sua maneira, assim que Zakkai
confirmou sua prontidão com um olhar.
Sem palavras, apenas um brilho de conhecimento.
Soltei sua nuca e fui me ajoelhar na cama atrás dela.
Zakkai não se deitou como Kols teria feito. Ele escolheu permanecer
sentado, com o olhar preso no meu em uma guerra pelo domínio enquanto
eu encontrava minha posição contra Aflora.
Sua mão bloqueou minha entrada, com seus dedos ainda alojados
profundamente dentro dela.
Então ele se retirou lentamente, mas manteve seu pênis dentro dela.
Isso seria inegavelmente íntimo, um ato que nenhum de nós
provavelmente pretendia compartilhar juntos. No entanto, era
estranhamente apropriado, dadas as circunstâncias.
Seus dedos úmidos foram para a parte de trás do pescoço dela,
reivindicando-a enquanto ele a puxava para um beijo destinado a distraí-la.
Isso ia doer no começo.
E essa era sua maneira de dizer que faria o possível para mantê-la
ocupada.
Estendi a mão ao redor dela para retomar os cuidados com sua
protuberância sensível, e meu polegar encontrou a carne inchada com
facilidade. Ela estremeceu entre nós, outro orgasmo à espreita no horizonte
de seus pensamentos.
Ele a estimulou de forma adequada.
Agora íamos aniquilá-la completamente, desvanecer seus sentidos e
mostrar a ela um êxtase que poucos haviam experimentado.
Eu me alinhei com sua entrada, minha cabeça tocando o pau de
Zakkai.
Nenhum dos dois reagiu, Aflora perdeu o beijo.
Mas eu sabia que ele me sentia.
E eu suspeitava que isso era diferente de tudo que ele já tinha feito
antes.
Mantive uma mão contra seu centro enquanto usava a oposta para me
guiar em direção à sua entrada.
Ela paralisou quando comecei a penetrar, fazendo Zakkai rosnar e
morder seu lábio inferior.
Você pode aguentar, assegurei a ela enquanto pressionava lentamente,
minha paciência e controle resolutos.
Zakkai permaneceu igualmente imóvel, seu pênis pulsando em
resposta à pressão adicional, mas de outra forma permanecendo firmemente
alojado dentro dela.
Aflora choramingou um pouco, com o corpo tenso entre nós. Beijei
seu ombro e depois seu pescoço antes de levar meus lábios a sua orelha.
— Você é incrível — eu a elogiei. — Tão boa. Tão apertada. Tão
molhada. — Me movi dentro dela um pouco mais, acalmando-a nessa
intensidade, sabendo com que facilidade poderíamos machucá-la
acidentalmente assim.
— Oh — ela gemeu, se arqueando em mim e inclinando a cabeça para
trás para encontrar minha boca.
— Perfeita — sussurrei contra seus lábios. — Perfeita demais. — Eu a
penetrei com a língua, aproveitando ao máximo nosso beijo enquanto
deslizava o resto do caminho dentro dela.
Zakkai gemeu, e passou a palma da mão na lateral do corpo dela para
capturar seu seio enquanto continuava se apoiando na mão oposta.
Aflora gemeu, o som de prazer misturado com tormento. Eu a
massageei com o polegar, renovando seu êxtase na esperança de abafar a
dor.
Sua língua tocou a minha de forma sensual, então Zakkai fez algo em
seu seio que a fez ofegar.
Ela se virou para encará-lo, e ele tomou sua boca, exigindo sua atenção
enquanto apertava seu mamilo.
Não nos movemos, dando a ela o tempo que ela precisava para aceitar
nosso tamanho juntos.
Zakkai não era pequeno, e nem eu.
Mas ela nos tomou, seu corpo parecendo se expandir para acomodar
seus companheiros.
Os Faes Elementais eram conhecidos por seu apetite sexual, algo que
eu tinha me entregado completamente nos últimos meses. E tínhamos uma
vida inteira para explorar seus verdadeiros limites.
Este certamente não era um deles.
Algo que ela demonstrou quando começou a se mover de forma
hesitante entre nós, sua alma disparando para a vida com a sensação de ser
tão completamente preenchida por seus homens.
Permiti que ela ditasse o ritmo no início, querendo que ela aproveitasse
a experiência tanto quanto nós.
Zakkai sentia o mesmo, seu corpo estava tenso com o controle, dando-
lhe tempo para explorar, sentir e se entregar.
Seu clitóris pulsava sob meu polegar.
Sua respiração aumentou.
Seu coração batia forte.
E seu gemido reverberou.
— Me come — ela ofegou, suas palavras indo direto para minha
virilha.
Ela nunca xingava a menos que estivéssemos juntos na cama, e ela só
fazia isso para provocar minha paixão. Agora não foi diferente e aceitei sua
ordem com alegria.
Zakkai concordou, porque empurrou nela, seu membro acariciando o
meu em conjunto, provocando um choque em meu corpo.
Porque isso foi intenso.
Seus olhos encontraram os meus quando ele se afastou da boca de
Aflora, sua expressão me dizendo que ele sentia o mesmo.
Então ele fez isso de novo.
E eu repeti o movimento.
E encontramos um ritmo juntos que fez Aflora gemer entre nós, seu
corpo desmoronando sob um tufão arrebatador de sensação.
Todos nós sentimos isso, sua exuberância enfeitando os laços e
derramando em nosso próprio ritmo. Gemi, sentindo meu sangue em
chamas com sua reação ao ser preenchida ao máximo por nós dois.
Então Zakkai me deixou estabelecer um ritmo, minha posição me
dando mais impulso.
Ele beijou Aflora novamente, afastando a mão de seu seio para levar a
seu cabelo enquanto a puxava para si com uma necessidade que era quase
selvagem. Senti isso através dela, seu poder foi como uma chicotada em
meus sentidos que me levou adiante, me obrigando a nos levar ao limite em
uma ferocidade de movimento que nos mataria ou nos levaria à beira da
morte e de volta.
Já não importava.
Éramos como animais fodendo e nos divertindo com a energia
compartilhada rolando entre nós três, Aflora era um farol de poder que só
podíamos adorar e louvar.
Beijei seu pescoço, seu ombro, sua bochecha e, eventualmente, sua
boca enquanto Zakkai soltava seus lábios para se deleitar com seus seios.
Perdi a noção do tempo, meu controle deslizando em um vórtice de
paixão consumidora.
As paredes de Aflora começaram a nos apertar e seu corpo ficou tenso
enquanto seu clitóris pulsava sob meu polegar.
Mais um movimento, um único, e isso a enviou para as estrelas em
uma explosão que me levou junto com ela. Xinguei, meu orgasmo foi tão
intenso que cortou minhas entranhas e me deixou paralisado contra suas
costas. Eu estava apenas vagamente ciente de Zakkai gozando conosco, seu
rosnado parecendo ecoar pela sala.
E então nós três caímos, com Aflora tremendo entre nós.
— Expulsão de energia — Zakkai disse com a voz rouca.
Levei um momento para entender, então senti sua energia prosperando
em minhas veias. Outra daquelas bolas escuras de poder irrompeu dela, mas
não em uma luta desta vez... em êxtase.
E ela o liberou diretamente em nossos vínculos.
Foi isso o que me levou ao limite com ela, junto com sua boceta
apertada apertando meu eixo naquele movimento pulsante viciante. Minhas
bolas se apertaram com a memória, meu abdômen se contraiu. Não
estávamos mais dentro dela, meu pau contra sua coxa úmida e o de Zakkai
contra seu abdômen.
Ele passou os dedos pelo cabelo de Aflora, com a expressão reverente.
— Kols — ele disse em voz baixa.
— O quê?
— Kols — ele repetiu. — Ela vai precisar de alguém para cuidar dela
quando acordar. Shade e Kols são os melhores para isso.
Eu queria discutir, porque eu me destacava muito nos cuidados
posteriores, mas me sentia destruído agora, e percebi que ele estava certo.
Kols, eu disse, abrindo meu vínculo para ele.
Já estou aqui, ele respondeu, chamando minha atenção para onde ele
estava, encostado na porta.
Ah. Foi por isso que Zakkai disse seu nome – ele o estava chamando
para se juntar a nós. Eu estava tão perdido em Aflora que nem notei que
Kols estava aqui, algo que deveria ter me preocupado, já que eu sempre
estava ciente do meu entorno. Mas essa união com Aflora havia removido
minha capacidade de me concentrar em qualquer outra coisa além dela e do
ato que se seguiu.
Você está bem? Kols perguntou, sentindo a direção dos meus
pensamentos. Zakkai chamar Kols sugeria que ele não havia perdido a
consciência, nem mesmo quando todos nós gozamos. Eu não tinha certeza
se isso me impressionava ou me aborrecia.
Zeph? Kols perguntou quando não respondi à sua pergunta.
Vou sobreviver.
E ela? ele rebateu.
Ela está bem, respondi, roçando meus lábios contra sua têmpora. Só
está perdida no subespaço. Ela foi dominada por dois homens e explodiu
em uma avalanche de poder. Eu não estava surpreso que ela tivesse
desmaiado depois. Caramba, eu senti como se estivesse à beira da
inconsciência também.
Kols bufou na minha cabeça. Jogo perigoso que vocês dois acabaram
de jogar.
Ela adorou.
Eu sei. Suas palavras implicavam que ele a testemunhou
desmoronando.
Você está chateado? Eu nunca compartilhei mulheres com outros
homens, apenas com Kols. Mas esta situação era única.
Não. Eu gostei do show. Ele se afastou da porta e caminhou em nossa
direção.
— Eu assumo daqui. — Ele a ergueu em seus braços e a embalou
contra seu ombro. — Tentem não se matar enquanto ela estiver fora.
Com essas palavras de despedida, ele partiu.
E tudo que pude fazer, foi rir.
Porque matar Zakkai não era o que eu queria fazer no momento.
Ele parecia igualmente contra a ideia enquanto suspirava de
contentamento, apoiando o braço sobre os olhos.
— Vou tirar uma soneca.
Considerei deixá-lo, então rolei a cabeça contra a cama embaixo de
nós.
— Sim. Eu também.
Bem aqui.
Ao lado dele.
— Classe dispensada — acrescentei com um bocejo.
Porque depois daquela performance, quem se importava?
Ele bufou em concordância.
Fechei os olhos, esquecendo sua presença ao meu lado. E deixei o
sono me levar.
CAPÍTULO QUINZE
KOLS

SHADE ME ENCONTROU do lado de fora, sua expressão não revelando nada enquanto
eu carregava Aflora nua.
Vários Faes da Meia-Noite se reuniram ao redor da área, a energia
irradiando do prédio atrás de mim como uma torre elétrica que todos
sentiram. Aflora havia detonado quatro vezes nas últimas horas, as três
primeiras durante o combate e a última durante o sexo.
Eu não tinha testemunhado as outras, apenas a quarta vez.
E foi um espetáculo para ser visto.
Mas ela não aprovaria que todos a olhassem nesse estado, algo que
sussurrei na mente de Shade quando me aproximei.
Ele respondeu, nos envolvendo em uma capa sombria e nos levando
até um prado banhado pelo luar. Fiz uma careta, olhando ao redor.
— É o meu lugar, aquele para o qual costumo levá-la — explicou. —
Ainda dentro do paradigma, mas não no terreno da Academia. — Ele
inclinou a cabeça. — Eu vou te mostrar .— Ele liderou o caminho em
direção a uma árvore... e passou por ela.
Com a sobrancelha erguida, eu o segui e me vi em uma casa modesta
com uma cama grande, uma sala de estar e uma pequena cozinha.
— Ah, é aqui que você mora quando não está no campus. — Eu podia
dizer porque tinha o cheiro dele. O que significava que ele ficava muito
aqui.
Ele deu de ombros.
— Minha avó está perto. Fiquei com ela ao longo dos anos até que
decidiu que eu precisava do meu próprio lugar. — Ele foi em direção à
cama, mas passou por ela a caminho de um conjunto de portas duplas. —
Acho que ela também previu meu desejo de compartilhar um espaço
privado com a Aflora, mas não quero pensar no que motivou essa visão.
Sorri.
— Todos nós sabemos o que o motivou.
— Sim, mas como eu disse, não significa que quero pensar a esse
respeito. — Ele desapareceu pelas portas.
Segui atrás dele, parando na soleira enquanto ele se inclinava sobre
uma grande banheira – que era do tamanho de uma pequena piscina – com
bancos de mármore para sentar e um exterior de pedra para decoração. Ele
ligou a água, depois testou com a mão antes de clicar em um botão que
aumentava o fluxo e impedia que escoasse.
Aflora permaneceu inconsciente contra mim enquanto ele trabalhava,
completamente alheia aos sais e aromas que acrescentava para aperfeiçoar o
banho.
Levou quase quinze minutos, seu trabalho meticulosamente planejado.
Quando terminou, ele tirou a roupa.
Então Shade entrou na água e afundou nela antes de ligar o suave
ronronar dos jatos. Ele não fechou a torneira, mas mudou para um fluxo
mais sutil, o ralo parecendo funcionar em conjunto com a água que entrava.
Parecia circular de alguma forma, o que o tornava ideal para o banho,
porque a água continuaria a se refrescar.
Dê-a para mim, ele sussurrou em minha mente, estendendo os braços
para ela.
Eu me aproximei para fazer o que ele pediu, principalmente porque
estava claro que ele pretendia que eu me juntasse a eles. A banheira
acomodaria Aflora e todos os seus companheiros, tornando-a ideal para o
que quer que ele tivesse em mente.
Tirei a camisa, calça e sapatos, colocando as peças no armário ao lado
do banheiro. Então voltei para me juntar aos dois.
Ele apoiou a cabeça dela em seu ombro, passando os braços ao redor
de seu corpo para garantir que ela não afundasse.
— Há um pente ali — ele falou em voz baixa, gesticulando com o
queixo para alguns dos suprimentos que colocou ao lado da banheira. Não
tinha visto todos os itens que ele pegou, mas notei que eram todos feitos
para ajudar a limpar e cuidar de Aflora.
Peguei o que ele mencionou e usei para escovar seus fios
embaraçados.
Os jatos mantinham a água quente e em movimento, os aromas
relaxantes e obviamente destinados à cura.
Aflora lentamente voltou a si enquanto eu passava o pente por seu
cabelo escuro, seus olhos indo para Shade e depois para mim. Ela esticou
um pouco as pernas, então levantou a cabeça para me dar um melhor acesso
aos seus fios.
Nenhuma palavra foi dita, apenas emoção enquanto nos deixava cuidar
dela.
Todos nós sabíamos o que tinha acontecido, como Zakkai e Zeph se
juntaram dentro dela. Detalhei para Shade enquanto assistia, querendo que
ele soubesse o que eles estavam fazendo com Aflora e como ela estava
lidando com tudo.
Ele ficou preocupado no início, assim como eu, mas confiei em Zakkai
e Zeph para não machucá-la de verdade. E eles não o fizeram.
Foi estranho ver Zeph com outro homem, mas senti suas emoções o
tempo todo. Ele não estava com Zakkai por amor ou desejo, mas pela
necessidade de provar a Aflora que aceitava todos os seus companheiros.
Foi a maneira deles de garantir a confiança em nosso círculo.
Eu aceitei isso.
Assim como Shade.
— Como você está se sentindo? — ele perguntou a Aflora depois de
vários minutos de silêncio.
Ela não respondeu por um momento, seu foco em esticar as pernas e os
braços mais uma vez enquanto descansava de forma lânguida contra ele.
— Relaxada — ela respondeu. — Cansada, no bom sentido. Dolorida.
Soltei o pente e peguei um sabonete que Shade deixou ali. Ele se
dissolvia no banho, mas do jeito como os jatos pareciam funcionar, a água
circulava e voltava limpa.
Aflora me permitiu passar o sabonete em seus braços e ao longo de seu
torso, até as pernas. Não foi tão preciso quanto se ela tivesse se esfregado,
mas funcionou, e me deu uma desculpa para checá-la em busca de
hematomas e pontos de dor.
Ela não vacilou, seu corpo parecendo estar totalmente relaxado entre
nós.
Eu a senti checar Zeph e Zakkai, curvando os lábios de leve ao
encontrá-los desmaiados.
Bem, presumi que os dois estivessem dormindo, porque eu podia sentir
Zeph descansando contente. Ele e Zakkai estavam encarregados da maior
parte do treinamento físico de Aflora, deixando-os mais exaustos do que eu
e Shade.
Liderei mais o diálogo aberto sobre o que Constantine poderia
planejar, fornecendo o máximo possível de antecedentes e detalhes de
minhas próprias provações. Eu também a instruí sobre como ouvir a Fonte,
algo que ela parecia estar fazendo cada vez mais. O episódio de hoje foi a
prova disso, ou pelo menos foi a primeira vez que a vi aceitar o poder.
Shade a ajudou de outras maneiras, principalmente ensinando seus
mecanismos de fuga e ajudando-a a dominar as sombras.
Ele beijou sua bochecha quando ela saiu de seu colo para se sentar
entre nós. Em seguida, ela suspirou quando inclinou a cabeça para trás.
— Esta banheira é melhor que hidromel.
Eu ri do seu comentário.
Shade apenas sorriu.
— Que bom que você aprova, pequena rosa.
— Aprovo, sim — ela murmurou, levantando as pernas para chutar de
leve. — Isso só pode ser o sonho molhado de um Fae da Água. — Ela deu
uma risada de sua própria piada, então cobriu a boca.
— Vou ter que mandar um bilhete para Cyrus — eu disse. O Rei Fae
da Água certamente gostaria de brincar em uma banheira como esta.
Embora eu suspeitasse que ele já tinha uma.
Aflora deu outra risadinha, depois escorregou do banco com uma
risada de verdade. Shade segurou o braço dela para puxá-la de volta para o
assento entre nós, e ela sacudiu o cabelo molhado com um som feliz que fez
meus lábios se curvarem.
— Você é muito divertida quando está bêbada de sexo — eu a
informei, apoiando a mão em sua coxa para segurá-la no lugar ao meu lado.
Ela se acalmou e estendeu a mão para puxá-la mais para cima. Olhei
de lado para ela, sorrindo quando a encontrei me espiando através de uma
cortina de fios escuros e úmidos. Suas pupilas estavam dilatadas, seus
lábios carnudos implorando para serem beijados.
Mesmo depois de tudo que passou com Zakkai e Zeph, ela ainda
desejava mais.
Isso era o que a Fonte Sombria podia fazer: revitalizar e recarregar,
fornecendo ampla energia para quem manejasse o vínculo direto. E ela tinha
a Fonte da Terra dentro de si também.
Eu a segurei com ternura, observando sua expressão enquanto eu
passava o dedo por sua intimidade. Ela se apoiou contra mim, fechando os
olhos.
Ela está inchada? Shade perguntou, seu olhar cor de gelo focado no
rosto dela.
Mergulhei um dedo e balancei a cabeça. Não, ela parece estar normal.
Molhada e pronta. Me inclinei para beijar sua boca, querendo saboreá-la.
Ela abriu para mim, sua língua dançando com a minha enquanto eu a
acariciava sob a água.
Aflora apoiou a mão em meu pulso, cravando as unhas na minha pele
para encorajar meus movimentos. Depois, ela me soltou e estendeu a mão
para Shade, puxando-o para si e beijando-o profundamente.
Ele a atendeu de forma languida, passando a mão em sua coxa em um
local semelhante ao meu momentos atrás.
Mordisquei seu pescoço, roçando a língua em seu pulso. Estava
constante e lento, seus movimentos relaxados.
Depois de sua experiência febril com Zakkai e Zeph, ficou claro que
ela queria algo um pouco menos agitado. Algo mais terno e sensual, e
Shade e eu estávamos mais do que dispostos a dar isso a ela.
O que ela quisesse ou precisasse, nós forneceríamos.
Mesmo que fosse apenas abraçá-la enquanto ela dormia.
Ela se afastou de mim para montar Shade, passando os braços pelo
pescoço dele enquanto continuava a envolvê-lo em um beijo carinhoso. Não
era quente ou intenso, apenas cheio de emoção e amor. Senti as emoções
prosperando através de nosso vínculo, seu contentamento por apenas existir
e abraçá-lo, sua gratidão por tudo que ele sacrificou e seu desejo de adorá-
lo do jeito que ele sempre a adorou.
Ela inclinou os quadris para tomá-lo dentro de si, um gemido suave
entreabrindo seus lábios cheios enquanto ele a preenchia até o fim. Em
seguida, afastou a boca da dele e se concentrou em mim.
— Kols — ela sussurrou, me implorando para chegar mais perto com o
olhar cheio de paixão. Aflora estendeu a mão para mim também, garantindo
que eu entendesse o que ela queria.
Flutuei em direção a eles na água, meus lábios encontrando os seus por
impulso enquanto eu pressionava a palma da mão na parte inferior de suas
costas para empurrá-la de volta para Shade. Ela ofegou contra mim,
movendo os quadris enquanto ele a preenchia mais uma vez. A água nos fez
flutuar, criando um ritmo lânguido.
Seus lábios deixaram os meus para viajar pelo meu pescoço, onde ela
mordiscou minha veia.
Troquei olhares com Shade, as íris dele ardendo enquanto ela se
movia. Sua excitação tocou nosso vínculo, sua necessidade era como um
beijo gelado em meus sentidos.
Eu nunca tinha sentido seu desejo.
Ele sempre escondeu isso de mim.
Mas senti, com nosso vínculo aberto e receptivo.
Aflora afundou os dentes no meu pescoço, tirando um assobio surpreso
do meu peito. Então ela engoliu minha essência em um gemido, com seu
corpo aparentemente possuído por magia Sombria.
Ela está aprendendo a abraçar suas inclinações Fae da Meia-Noite,
pensei para Shade.
Sim, ele concordou, levantando a mão para a parte de trás de sua
cabeça. Ela está percebendo quem é.
Nossa rainha.
Nossa rainha, ele ecoou em um gemido enquanto ela se endireitava,
com meu sangue pintando seus lábios.
Ele olhou para ela e sua fome cravou nosso vínculo.
Shade a puxou e lambeu minha essência de sua boca, fortalecendo
nossa conexão para o próximo nível.
Foi impulsivo.
Ainda assim, certo.
E enviou uma onda de choque pelo meu corpo.
— Me levem para a cama — Aflora sussurrou. — Quero que vocês
dois me levem para a cama.
CAPÍTULO DEZESSEIS
AFLORA

EU ESTAVA embriagada pelos meus companheiros.


Kols continuou me beijando, seu toque suave e conhecedor.
Shade me lambeu, me mordiscou e me explorou com as mãos.
Um deles estava entre minhas pernas, se banqueteando com minha
carne carente. O outro estava na minha boca, o pau duro, mas não exigente.
Continuamos trocando de posição.
Nossos membros estavam misturados. Nossas bocas, duelando. Nossos
corpos deslizando, vagando e possuindo um ao outro.
Eu me perdi nas sensações, me afoguei na paixão deles combinada, e
ofeguei quando os encontrei se beijando. Eles estavam tão perdidos nas
conexões quanto eu, as línguas dominando um ao outro antes de afundar os
dentes em seus pescoços.
Eu gemi, a imagem era erótica, bonita e inebriante.
Então Shade tomou minha boca novamente, o sangue de Kols
permanecendo em nosso beijo. Meu companheiro Elite de Sangue fez uma
trilha pelo centro do meu corpo para me lamber novamente. Eu gemia os
nomes deles, perdida no prazer que criaram.
Vi quando Kols se inclinou para Shade, sua boca maliciosa, perfeita e
levando o outro homem ao clímax depois de alguns movimentos.
Tudo parecia um sonho, uma fantasia ganhando vida, mas as marcas
de mordidas e os vínculos confirmaram a realidade de nossa intimidade.
Senti Zeph e Zakkai na minha cabeça, o contentamento dos dois era
palpável.
Todos os meus companheiros se uniram de alguma forma, respeitando
nossa dinâmica e completando nosso círculo de uma maneira que eu não
percebi que precisávamos.
Kols me penetrou, seu pau grosso pulsando com necessidade. Ele
ainda não tinha gozado. Mas Shade atingiu o orgasmo duas vezes. A
primeira vez foi na minha boca. A segunda, entre os lábios de Kols. E
agora, o Elite de Sangue – que tinha gosto do meu Shade – queria gozar.
Envolvi as pernas em sua cintura, encorajando-o a entrar em mim.
Mas ele manteve o ritmo lento. Amoroso. Suave.
Gemi, levantando os quadris para ele, exigindo mais.
Mas seu ritmo não vacilou. Ele me beijou preguiçosamente enquanto
Shade mordiscava seu ombro. Kols guiou Shade para minha boca, forçando
nossas línguas a se unirem enquanto ele continuava a entrar e sair de mim.
Lento. Com propósito.
Era o antídoto que eu precisava depois de longas semanas de
treinamento.
A ternura que eu não tinha percebido que desejava.
Um polegar – pensei que poderia ser o de Shade – encontrou meu
centro, extraindo mais prazer de mim. Apertei Kols, meu êxtase era grande
demais para segurar, e o forcei a se juntar a mim.
Ele não aumentou o ritmo, mantendo os movimentos completos.
E depois que ele terminou, Shade me lambeu.
Os dois nunca se entregaram um ao outro dessa maneira, e eu podia
sentir o interesse crescente através de cada movimento íntimo. Shade beijou
Kols mais uma vez, compartilhando o gosto do nosso amor, e gemeu
quando Kols chupou sua língua.
Então os dois olharam para mim e me beijaram ao mesmo tempo.
Foi erótico.
Sensual.
Lindo.
Uma fantasia que nunca imaginei.
E eu me perdi para eles novamente, permitindo que adorassem a mim e
um ao outro por horas. Eles beijaram minhas contusões, me renovaram com
sangue fresco e garantiram que eu estivesse fisicamente perfeita antes de
finalmente me embalarem na terra dos sonhos.
Relaxei, mais saciada do que me senti há muito tempo.
Até sentir uma pontada de calor em minha mente, a Fonte Sombria
chamando minha atenção. Algo não está certo, pensei, seguindo o fio do
desconforto.
Não, não era a Fonte... mas Faes da Meia-Noite.
Eu podia senti-los, a ruptura, a agonia ao redor do reino. O que é isso?
me perguntei, procurando a causa.
Raiva. Ódio. Muita dor.
A Vila.
Eu podia imaginar a taverna em chamas, o corpo de Anrika flutuando
no céu com um feitiço inscrito ao lado dela. Risaleea.
Procurei em minhas memórias e as de meus companheiros pela
tradução, então reconheci o feitiço da psique de Shade. Era um feitiço
Sangue de Morte lançado por um Fae da Meia-Noite moribundo quando
alguém desejava deixar uma mensagem para um ente querido.
Isto é real? Voltei para a aldeia, notando os incêndios e a fumaça dos
prédios. Todos estavam em silêncio, seu foco no palco.
Constantine estava no centro, com um pergaminho na mão.
Eu não podia ouvi-lo, minha visão não era bem percebida.
Mas todos os espectadores pareciam perturbados.
O que está acontecendo? Eu ansiava por perguntar a eles. Me virei,
sentindo o calor e as brasas do ataque.
O corpo de Anrika parecia tão vivo, com seus longos cabelos brancos
flutuando ao redor dela como uma capa angelical. Suas íris verdes
brilhavam com vida, mas sua pele marmorizada sugeria morte.
Ela não piscou.
Nem falou.
Seus lábios estavam entreabertos, talvez por expressar o feitiço.
E suas roupas estavam chamuscadas com cinzas.
Mais dois Faes da Meia-Noite estavam no chão, as peles com uma
textura similar. Mas seus olhos estavam fechados e as mãos entrelaçadas em
uma morte pacífica.
Eu podia sentir através da Fonte que estavam mortos. Todos. Que isso
era real. Que o que testemunhei estava acontecendo.
De alguma forma, eu estava vendo através dos olhos da multidão,
como se meu vínculo com a Fonte Sombria tivesse me concedido acesso a
todas as mentes deles.
Voltei a me concentrar no palco, entreabrindo os lábios quando
Emelyn apareceu ao lado de um homem inexpressivo de cabelos escuros.
Lágrimas escorriam por suas bochechas enquanto ela tentava implorar, a
palavra pai parecendo escapar de seus lábios. Mas eu não podia ouvi-la,
apenas ver.
Ofeguei quando Constantine a atingiu com um feitiço, arrancando a
alma de seu corpo e transformando-a em mármore como os outros.
Não, pensei. Não! Isso não poderia estar acontecendo. Isso não pode
ser real!
Antes mesmo de perceber o que estava fazendo, acionei a habilidade
de sombra de Shade e voei pelo espaço para pousar na multidão de silêncio.
Ninguém notou minha chegada, os espectadores muito ocupados
aplaudindo a morte de Emelyn.
O som reverberou pelos meus ouvidos, minha chegada me permitindo
ouvir.
Mas os aplausos não eram o que eu queria experimentar. Eles estavam
aplaudindo a morte de Emelyn.
Os olhos escuros dela olhavam para eles, congelados no tempo, a
agonia gravada em suas feições.
Ele a matou.
Constantine matou Emelyn.
Meu coração e meu mundo pararam. Eu não conseguia parar de olhar
em seus olhos sem vida ecoando uma dor que eu sentia em minha alma.
Eu estava muito atrasada.
Não consegui salvá-la.
Ela se foi, tirada de mim, deste reino, pelo Ancião de pé na plataforma.
Fechei as mãos com forças ao lado do meu corpo, sentindo a ira
aumentar a cada segundo.
Mas meu sangue congelou no minuto seguinte, quando uma voz
familiar gritou:
— Tray!
Não me movi e meus olhos ficaram presos no palco. Um Fae se
aproximou para remover Emelyn... esmagando o corpo dela com um grande
martelo, quebrando sua forma de mármore em mil pedaços.
Cobri meus lábios, soltando um suspiro abafado pela aprovação
estrondosa ao meu redor. Eles estão comemorando sua destruição.
Lágrimas embaçaram minha visão, minha alma gritando com a injustiça de
tudo isso.
Então Dakota apareceu, seu cabelo escuro estava penteado em um
coque elegante que de alguma forma combinava com seu rosto perfeito.
Quase rosnei ao vê-la, a vaca traidora que machucou mais de um dos meus
companheiros.
Só que a Fae loira se balançando ao lado dela chamou minha atenção
no segundo seguinte.
Ella.
Parei de respirar, era como se meu coração não funcionasse mais e mal
ouvi Constantine falando acima do rugido em meus ouvidos.
— Esta Halfling traidora ajudou conscientemente uma abominação a
escapar de nosso reino, suas travessuras quase tirando a vida de seu
companheiro, Trayton Nacht. Com base nos testemunhos de seu
companheiro, o Conselho Fae da Meia-Noite a considera culpada de todas
as acusações e a sentenciou a exsanguinação imediata.
— Ele está mentindo! — ela gritou, com as lágrimas escorrendo pelo
seu rosto. — Tray, diga a eles que ele está mentindo!
Mas Tray não fez nada.
Ele só ficou com o Conselho, com uma expressão de indiferença. Uma
energia estranha flutuava ao redor dele em ondas hipnóticas como se o
embalassem em um estado bizarro de conforto. Isso é só um pesadelo. Isso
não é real.
No entanto, parecia ser.
A Fonte Sombria pulsava dentro de mim, protestando contra essas
palhaçadas. Queria que eu agisse, fizesse algo para parar essa loucura.
— Por favor! — ela gritou.
Dakota riu, e o som cruel e frio irritou meus ouvidos.
Constantine entregou seu pergaminho e tirou uma varinha de sua capa.
Então ele começou a murmurar um feitiço, os acordes do encantamento
sublinhados com a morte.
— Tawaqweef! — gritei, explodindo seu encantamento em pedaços.
Fragmentos de pedras se espalharam pelo palco, atingindo Ella no rosto,
mas mantendo-a bem viva.
Constantine não hesitou, a falta de surpresa foi reveladora quando ele
apontou para mim na multidão.
— Peguem-na!
Eu, sem saber, me cobri com uma capa e escondi minha cabeça, e foi
por isso que ninguém me notou.
Mas agora, eles sabiam.
Uma horda de Guerreiros de Sangue apareceu das sombras. A
armadilha ficando evidente na forma como eles se moveram, com o foco
em mim.
Sim, isso era real.
O que significava que Anrika e Emelyn estavam mortas. Por causa
desse monstro. Essa coisa que os Faes da Meia-Noite escolheram seguir.
Vários Faes da multidão puxaram suas varinhas e as direcionaram para
mim, a propensão à violência uma marca sombria contra minha psique.
Matança Fae da Meia-Noite, pensei, olhando ao redor para esses seres
letais e o amor por tirar sangue. O que há de errado com vocês?
Todos ansiavam pela morte.
Todos queriam a minha morte.
Todos eles estavam bem em ficar parados para ver inocentes
morrerem.
Indignos, pensei. Vocês são todos indignos.
Os Faes da Meia-Noite em geral não eram gentis. Eles eram ruins.
Malvados. Vis. Eles não valorizavam a vida, a alegria ou o brilho. Eles
ansiavam pela escuridão dentro de seus corações.
Bloqueei todos os feitiços recebidos, o escudo que Zeph me ensinou a
fazer quase impenetrável.
E por trás disso, rosnei.
Eu odiava todos eles. Odiava os Faes da Meia-Noite. Odiava seu
desejo por demonstrações horríveis de tortura.
Todos ficaram extasiados com a demonstração de Constantine. Alguns
deles até aplaudiram. Desprezíveis. Errados. Seres cruéis.
Não quero ser como vocês. Não quero ser a rainha ou representar sua
espécie. Vocês são maus! Me ajoelhei, com um feitiço escapando de meus
lábios. Eu destruiria todos eles do jeito que eles gostavam. Ensinaria a todos
eles...
Aflora! Shade gritou em minha mente, me parando no meio do feitiço
e quebrando algum tipo de bloqueio que criei. No instante seguinte, todos
os meus companheiros entraram em meus pensamentos, mas Zakkai era o
mais barulhento entre eles.
É um teste, Zakkai disse, sua urgência em minha mente me
concedendo um breve momento de clareza.
Não é real? perguntei, esperançosa.
É, ele respondeu com tristeza. Mas ainda é um teste.
Anrika... Emelyn...
Eu sei, ele respondeu.
Ele as matou.
Eu sei, ele repetiu. Ele deve ter sentido você abraçando a Fonte
Sombria durante o treinamento, e escolheu agir. Ele fez tudo isso para te
prender.
Eu já tinha adivinhado isso com os Guerreiros de Sangue.
Mas não tinha considerado o teste.
Kols me disse que o monarca interino poderia providenciar os testes
para o sucessor. Esta deve ter sido a ideia de Constantine de um teste ideal.
Cretino doente, pensei, olhando para seu rosto presunçoso através do meu
escudo.
Feitiços continuaram a ricochetear, as bordas começando a se
desgastar.
Se esconda novamente, insistiu Zakkai.
Encontrei os olhos azuis assustados de Ella no palco e notei a falta de
reação de Tray novamente. Não posso.
Ela se tornou uma das minhas amigas mais próximas. Me aceitou antes
de todo mundo. Eu não podia deixá-la. Já havia falhado com Emelyn. Eu
não faria o mesmo com Ella.
Porque existem bons Faes da Meia-Noite, percebi. Eu estava olhando
nos olhos de um deles e tinha mais quatro gritando na minha cabeça.
Constantine havia encantado esses Faes. Ou pelo menos alguns deles,
como Tray. Agora que removi a névoa de fúria, pude ver que Tray não
estava nem um pouco relaxado, mas lutando contra a essência que o
cercava, tentando desesperadamente salvar sua companheira.
No entanto, qualquer que fosse o encantamento que Constantine havia
colocado sobre ele era poderoso demais para ele neutralizar.
Eu ansiava por ajudá-lo, por desmantelar o feitiço, mas não tinha
tempo. Os outros estavam quase atravessando minha barreira protetora.
Levá-lo ao reino Fae do Inferno não era uma opção. O feitiço ao seu redor
acionaria todos os tipos de alarmes dentro das fronteiras de Lucifer. Eles
matariam Tray ou negariam sua entrada.
De qualquer forma, ele sofreria.
Voltaremos para buscá-lo, prometi a ele, então estremeci quando os
vestígios finais do meu escudo começaram a desmoronar.
Só havia uma opção para mim agora.
Toquei na Fonte Sombria, permitindo que ela me consumisse como já
fiz várias vezes, mas agora, concedi acesso para ficar. Não a expulsei. Não a
empurrei para fora de mim. Aceitei como parte do meu ser.
Algo se encaixou e uma coroa proverbial circulou minha mente
enquanto eu me levantava e olhava Constantine bem nos olhos.
— Você vai se curvar — prometi a ele.
Então segui para o lado de Ella e a puxei para longe de Dakota antes
que a mulher de cabelos escuros tivesse a chance de reagir.
E desapareci no paradigma dentro do reino Fae do Inferno.
CAPÍTULO DEZESSETE
SHADE

AFLORA APARECEU EM NOSSO PRADO, com o manto esvoaçando na fumaça ao seu redor. Ella
desabou ao seu lado com um grito que fez Kols correr direto para a
cunhada.
Segurei Aflora, verificando se havia sinais de ferimentos sob o tecido
escuro que cercava seu corpo.
— Onde você achou isso? — perguntei, passando a mão pela capa que
cobria seu braço. O tecido estranho continha uma corrente elétrica e a
magia que passava por ele era diferente de qualquer outra que já senti.
— Não sei — ela sussurrou, olhando para mim com os olhos azuis
semicerrados. — Ele matou a Anrika, Shade. E a Emelyn.
Vacilei, tendo ouvido esses detalhes em sua mente.
— Havia outros também — ela continuou. — E eles estavam torcendo.
Felizes. Se deleitando com as mortes de companheiros Faes. — Sua raiva
atingiu meus sentidos, mas sua expressão irradiava dor. — Como eles
podem ser tão cruéis e desrespeitosos com a vida?
— Porque eles foram levados a acreditar que é o único jeito de viver
— minha avó respondeu da linha das árvores, com a voz baixa e carregada
pelo prado em uma brisa sutil. Ela apareceu sob o sol nascente, seu cabelo
escuro brilhando com a luz.
Nada de cookies.
Um bom sinal.
Mas meus avós estavam atrás dela, o que significava que eles sentiam
a necessidade de protegê-la.
Não era um bom sinal.
Quando Zeph e Zakkai irromperam na campina, percebi o porquê.
Enquanto minha avó admirava e respeitava Zakkai, meus avôs
interpretavam suas habilidades como uma ameaça em potencial.
Uma reação adequada. Zakkai era poderoso pra caramba. No entanto,
confiei nele com Aflora, porque senti sua fé através dos vínculos.
— Aflora — ele disse, levando a mão ao rosto dela por baixo do
capuz, e a puxou para si.
Zeph observou sua expressão por um instante, relaxando com sua
segurança antes de mudar o foco para a mulher que gritava no chão.
Ella não parava de chorar.
A halfling estava contando a Kols tudo o que havia acontecido com
Tray, como o Conselho o havia levado e o transformado em uma figura
sombria, diferente de quem ele costumava ser. Ela contou a ele sobre seu
pai também, dizendo que Malik estava agindo do mesmo jeito que Tray. E
que ela também não fazia ideia do que havia acontecido com a mãe de Kols.
Ela não a via há semanas.
— Mas eles não estão agindo normalmente, Kols. Aquele não é o Tray.
E seu pai não está agindo por conta própria — ela repetia. — Eu... não sei o
que os Anciões ou o Conselho fizeram... mas ele... o Tray disse para eles
me matarem. Ele deu permissão para... para... — Ela parou em um som
sofrido, e Zeph se ajoelhou ao lado da moça, derramando sua energia
protetora sobre ela.
— Ele estava cercado por magia sombria. — Aflora engoliu em seco.
— Pude ver as cordas que o prendiam, mas não sabia como libertá-lo. Não
houve tempo. E eu não tinha certeza se... se o reino Fae do Inferno o
aceitaria assim.
— Isso teria acionado as proteções — minha avó confirmou.
— Com Ella, de alguma forma, eu sabia que as proteções a aceitariam.
Foi instintivo — Aflora continuou como se não tivesse ouvido mais
ninguém. — Mas o Tray... nós precisamos voltar...
— Constantine estará esperando —Zakkai interveio, enganchando o
polegar no queixo dela para chamar sua atenção. — Ele não vai machucar o
Tray. Já o tem sob controle. No máximo, vai usá-lo como isca. O que
significa que precisa dele vivo.
Kols grunhiu, detestando aquelas palavras.
Ele está certo, sussurrei em sua mente. Constantine não vai machucá-
lo mais do que já o fez. E precisamos de tempo para formular um plano.
Reagir de forma precipitada é o que seu avô quer.
Você acha que não sei disso?, o Elite de Sangue resmungou de volta
para mim.
Encontrei suas íris ardentes.
Ele retribuiu o olhar.
Estou me certificando de que você não fuja e faça algo que vai
machucar a todos nós, eu disse a ele. Ele é seu irmão, Kolstov. Nem sempre
pensamos de forma racional quando se trata de quem amamos.
Minhas palavras e preocupação vieram de um lugar terno dentro de
mim que só existia para Aflora. Mas meu relacionamento com Kols evoluiu
nos últimos dois meses, tornando-se algo que eu nunca poderia ter previsto.
Eu me importava com ele.
E ontem à noite, nós compartilhamos algo... diferente.
Também solidificamos nosso acasalamento, mordendo um ao outro
várias vezes durante nossos momentos sexuais com Aflora. Ele estava
firmemente dentro de mim, tanto quanto eu estava dentro dele.
O que significava que ele podia sentir todas as minhas emoções, ouvir
minha preocupação e entender o raciocínio por trás das minhas palavras.
Embora as declarações o irritassem – sua mente me disse que ele
nunca reagiria sem pensar primeiro em suas ações – ele também apreciou
minha preocupação.
Trabalharemos juntos para trazê-lo de volta, prometi. Vamos ajudar
seu pai também. E tenho certeza de que sua mãe está bem, apenas trancada
em algum lugar.
Ele fez uma careta.
Nós vamos salvá-los, reiterei, garantindo que ele me ouvisse.
Eu sei, ele respondeu depois de um instante, suavizando o olhar para
mostrar compreensão antes de seu foco mudar para Aflora. Sua mente lutou
para mudar de assunto, a necessidade de distração ficando clara enquanto
ele sussurrava, Essa capa está irradiando energia sombria.
Sim. Eu podia senti-la sob meus dedos.
Zakkai parecia igualmente encantado, passando as mãos sobre o tecido
de forma semelhante a mim momentos atrás.
— Isso é um presente da Fonte — ele se maravilhou.
— Sim — minha avó concordou, nos lembrando de sua presença. — E
eu tenho o cajado correspondente.
Todos nós olhamos para ela.
— Cajado correspondente? — repeti.
Ela apenas sorriu, então inclinou a cabeça.
— Venham. O café da manhã está quase pronto.
— Cookies? — perguntei com cautela.
— Ovos — ela respondeu. — E shakes de sangue. A Aflora vai
precisar de um em breve. Assim como a Ella.
— O Lucifer vai ficar bem com a presença da Ella aqui? — Zakkai
perguntou em voz alta, expressando uma preocupação que eu não havia
considerado.
Os olhos azuis da minha avó brilharam com consciência quando ela o
olhou.
— Sim, Kai. Já acertei isso com ele.
— Você acertou mais alguma coisa com ele? — Zakkai pressionou.
Ela piscou.
— Por quê? Você sente alguma coisa?
Ele não respondeu, apenas a observou.
Ela o estudou por um longo momento, então se virou para as árvores
sem dizer mais nada.
Zakkai contraiu a mandíbula.
— Ela não vai nos dizer nada.
— Bem-vindo ao meu mundo — murmurei.
— Você quer dizer que outras pessoas guardam segredos de você? —
Zeph perguntou, fingindo choque. — Que horrível. Não tenho ideia de
como pode ser passar por isso. — O sarcasmo em seu tom me fez bufar.
— Onde estamos? — A voz suave de Ella nos fez focar nela. A garota
não se levantou, suas feições pálidas ainda estavam marcadas por lágrimas.
Mas parecia ter parado de chorar por enquanto, sua atenção distraída pelo
prado ao nosso redor e pelo sol nascente.
— Um paradigma dentro do reino Fae do Inferno — Aflora respondeu.
Ela se afastou de mim e de Zakkai para olhar para Ella. — E vou trazer
Tray de volta para você. Em breve. — Ela parecia muito régia e confiante, a
Fonte Sombria fervilhando ao seu redor com total abandono.
Olhei para Zakkai e depois para Kols. Os dois estavam estudando a
capa novamente.
Zakkai falou primeiro.
— Você aceitou a Fonte Sombria, passando no terceiro teste.
— Sim — ela confirmou. — Mas ainda sou a Rainha Fae da Terra
também.
— Porque você ensinou as Fontes a conviverem — Zakkai disse, com
a apreciação evidente em seu tom e feições. — É lindo, Aflora. — Ele deu
um passo em direção a ela, levando a mão ao seu rosto enquanto inclinava
sua cabeça para dar um beijo. — Você é deslumbrante.
Ela retribuiu, seu poder fluindo abertamente através de todos os nossos
vínculos.
— O café da manhã vai esfriar. — A voz da minha avó chegou até nós
pela brisa mais uma vez, sua energia roçando minha pele.
— A Aflora precisa de sangue.
— Preciso — minha companheira confirmou, sua voz soando cansada
de repente. — A Fonte... está exigindo.
— Sim — Kols concordou em voz baixa. — É desgastante e você vai
precisar se alimentar diariamente.
Aflora assentiu, segurando minha mão.
— Mostre o caminho, Shade. — A energia chiou por sua mão, subindo
pelo meu braço enquanto entrelaçava nossos dedos. Seu poder cresceu com
a aceitação da Fonte mudando-a.
Ela não duvida mais de si mesma, Kols me disse. É isso o que você
está sentindo. Ela finalmente se vê como a rainha legítima.
Acho que é mais do que isso, respondi. Não é que ela se veja como a
rainha legítima, ela quer ajudar aqueles que precisam, quer ser a rainha
que eles merecem e remover aqueles que mancham o reino Fae da Meia-
Noite.
Quando encontrei suas barreiras mais cedo, senti a incerteza e o
descontentamento escondida dentro da Fonte Sombria. Ela queria consertá-
la, tornar-se a entidade que corrigia os erros dos outros, que colocava os
Faes da Meia-Noite no caminho correto.
Era o que a tornava a rainha perfeita: ela sempre colocava os outros
antes de si mesma. Entendia o valor de liderar pelo exemplo. E nunca
permitiria que o poder a consumisse.
Seus olhos azuis encontraram os meus por baixo da capa, sua
expressão calorosa e acolhedora. Eu te amo, Shade. Eu amo como você me
entende.
Todos nós te entendemos, pequena rosa, eu disse a ela. E todos nós
amamos você.
Seus lábios se curvaram.
Parei de andar para puxá-la para um beijo, meus lábios sussurrando
sobre os dela enquanto eu dizia:
— E eu mais do que amo você, Aflora. Você é minha razão de tudo.
Foram palavras ditas publicamente destinadas apenas aos ouvidos dela.
Mas todos os seus companheiros os ouviram.
Ninguém comentou.
Ninguém interrompeu.
Eles apenas permitiram que o momento prosperasse por um segundo,
então retomei nosso caminho em direção à casa de minha avó. Ela apareceu
além das árvores, a porta aberta em convite.
Nós entramos e a sala se expandiu para nos acomodar.
— Inteligente — Zakkai murmurou, impressionado com a magia.
A mesa também se alongou, então várias cadeiras apareceram do nada.
Conduzi Aflora até uma e me sentei ao lado dela. Zakkai se instalou do
outro. Zeph, Kols e Ella se sentaram na nossa frente. Então meus avós se
acomodaram nas cabeceiras, deixando a cadeira em frente a Aflora
disponível para minha avó.
— Acho que não nos conhecemos — Kols falou, olhando para meu
avô Vadim. — Mas posso ver a semelhança. — Ele olhou para mim e
depois para o meu avô.
Nós dois tínhamos cabelos escuros, olhos azul-gelo e maçãs do rosto
salientes. Ele também se parecia um pouco com minha mãe, mas Kols não
sabia disso, pois minha mãe raramente era vista em público.
O avô Kodiak parecia um Fae Fortuna, com sua constituição mais
volumosa e presas alfa. Embora seus olhos azuis não fossem cortados como
os de um verdadeiro alfa, sua transição foi pausada de uma maneira única
quando ele se acasalou com minha avó.
— Rei Vadim, certo? — Kols continuou.
— Eu prefiro Vadim, não “Rei” — meu avô respondeu, seus lábios se
contraindo quando ele olhou para seu companheiro Alfa Fae Fortuna.
— Não vai acontecer — Vovô Kodiak murmurou.
— Que pena — o avô Vadim respondeu.
Minha avó bufou enquanto colocava um copo de sangue na frente do
meu avô Vadim, depois passou um de suco de laranja para o avô Kodiak.
— Comportem-se.
— Nunca — eles disseram ao mesmo tempo.
— Sinto que este é o meu futuro — Aflora murmurou, piscando para
os dois homens. — Só que multiplicado por dois.
Minha avó sorriu para ela.
— Um belo caminho, não? — Ela pegou o liquidificador para servir o
shake de Aflora, então o trouxe para a mesa. Suas íris azuis pousaram em
nós, seu olhar calculista. Então ela voltou para o liquidificador para fazer
mais.
Fiz um canudo com magia para Aflora, colocando-o em sua bebida
antes que ela pudesse tomar um gole. Obrigada, ela sussurrou em minha
mente.
De nada. Beijei sua têmpora e esperei minha avó terminar de servir
tudo. Eu teria me oferecido para ajudar, mas sabia que ela me repreenderia
por tentar. Ela gostava de receber as pessoas. Esta casa era seu domínio,
algo que meus avós conheciam e respeitavam, então eles também não
tentaram ajudar.
Os Ômegas eram exigentes quanto ao espaço deles.
Especialmente com um ninho por perto.
Ela enfeitou a mesa com uma travessa de ovos, um prato de bacon,
uma cesta de doces para o café da manhã e mais shakes de cor vermelha.
Em seguida, colocou uma salada de frutas florida enfeitada com folhas na
frente da Aflora.
— Ah, olha, mustard berries — Zeph comentou.
— Acho que se chamam mouseberries — minha avó corrigiu.
— Viu? — Aflora arqueou uma sobrancelha. — Mouseberries.
— Humm — ele gemeu, estendendo a mão sobre a mesa para roubar
um de seu prato. — Delicioso.
— Mentiroso — ela respondeu, sorrindo. — Obrigada, Zen.
— Disponha, querida. Achei que você não iria gostar do bacon. — Ela
se sentou com um floreio quando meu avô Kodiak começou a montar seu
prato. Ela poderia ter servido a todos nós, mas ele garantiria que ela tivesse
a primeira porção.
Todos nós esperamos enquanto o Alfa Fae Fortuna trabalhava. Ele
também preparou um prato para o vovô Vadim, depois começou a servir o
seu antes de entregar os talheres para Zakkai.
Era um gesto simbólico, que dizia que ele sentia que Zakkai era o alfa
inequívoco do nosso círculo.
Kols encontrou meu olhar com um sorriso, tendo ouvido meus
pensamentos. Não conte ao Zeph.
Não hoje, de qualquer maneira, concordei, momentaneamente
entretido. Mas quando tudo isso estiver terminado? Não posso prometer.
Concordo, Kols concordou.
Zakkai, que era muito versado nas formalidades Fae Fortuna, montou
um prato para mim primeiro, sugerindo que ele me via como o Ômega do
grupo. Revirei os olhos para ele.
— Hilário.
Ele apenas sorriu e começou a montar um prato para Kols, que
também não gostou de suas travessuras.
Então ele começou a montar um prato para Zeph, mas o Guardião o
interrompeu.
— Eu mesmo sirvo o meu.
Se ele entendia o significado disso ou não, eu não tinha certeza.
Zakkai respondeu, terminando o prato e entregando-o a Ella.
— Obrigada — ela sussurrou, claramente oprimida pela política da
mesa.
Zakkai não reconheceu sua gratidão, em vez, disso olhou para Aflora.
— Quer mais alguma coisa, estrelinha?
Ela balançou a cabeça, já na metade do prato de frutas.
— Não, obrigada.
Ele beijou sua têmpora, preparou um prato lentamente para si e, depois
passou os utensílios para um Zeph em fogo brando.
— Aqui — disse.
Kols mordeu o lábio para não sorrir.
Eu apenas balancei a cabeça com a guerra de domínio. Aparentemente,
a transa de ontem não resolveu o problema do duelo alfa.
Mas ficou um pouco menos tenso, como se os dois soubessem
trabalhar juntos agora. Pelo menos, no que dizia respeito à Aflora.
Ela tomou um gole de seu shake pelo canudo, então observou quando
comi os ovos e bacon. Ela franziu o nariz ao se inclinar para cheirar meu
prato.
— Troll gordo? — ela perguntou, me fazendo engasgar.
— O quê?
— Gordura de troll cozida — ela respondeu, fazendo uma careta. —
Você chama isso de bacon?
Minha avó soltou uma risadinha.
— É de um porco no Reino Humano.
Aflora empalideceu.
— Um porco?
— Você se lembra daquele negócio marrom no macarrão sangrento?
— Kols perguntou, fazendo com que os olhos de Aflora se arregalassem.
— Ah, sim. Não me lembre.
Ele riu, então enfiou uma garfada de ovo e bacon na boca com um som
de humm.
Ela se engasgou e se concentrou em sua salada de frutas novamente –
uma salada que cresceu de forma mágica enquanto Zeph discretamente
cantarolava um feitiço. Um pouco de seu desgosto pareceu se derreter com
a visão de seus berries coloridos, olhando para ele em clara gratidão.
Ele piscou.
Então o resto de nós comeu em silêncio.
Ella era a única que não parecia compartilhar de nossas diversão, sua
expressão melancólica enquanto ela se forçava a tomar um gole de seu
shake.
Meu coração doeu por ela.
— Você viu ou ouviu falar do Ajax? — perguntei baixinho.
Seus olhos azuis se levantaram para os meus, a tristeza neles fazendo
meu estômago se apertar.
Engoli em seco.
— O que aconteceu com o Ajax?
Ela balançou a cabeça e uma lágrima caiu pelo seu rosto.
— Eles... eles separaram todos nós. Ele estava na fila atrás de mim. Na
fila para ser...
— Executado — Aflora terminou por ela, a magia parecendo girar em
torno de seu ser. — Eu tenho que...
— Ele está seguro — minha avó disse, pegando sua mão. — Confie
em mim.
— Seguros como os pais de Aflora estavam? — Zakkai perguntou. —
Ou seguro como a Aflora está agora?
— Cuidado — o avô Kodiak avisou em um grunhido baixo.
Zakkai olhou para ele sem um pingo de medo.
— É uma pergunta justa, Kodiak.
— Seu tio está com ele — minha avó disse. — Kyros.
Meus ombros caíram de alívio. Se Tadmir e Kyros estivessem com
Ajax, então ele estava bem. A menos que...
— Ele sabe sobre a Emelyn?
— Sim. — A expressão da minha avó era triste. — É por isso que
Tadmir o pegou. Ele está tentando acalmá-lo.
— Ele já sabe sobre seus pais? — Zakkai perguntou.
— Os pais dele? — repeti.
Aflora ofegou, deixando cair o garfo.
— Os dois corpos debaixo de Anrika...
Zakkai lançou um olhar de desculpas.
— Sim, estrelinha.
— Ah, Fae...
Meu apetite se dissolveu e a comida começou a girar inquieta. Puta
merda.
— Preciso de um minuto — eu disse, me afastando da mesa. Merda.
Merda. Merda.
Os pais de Ajax já haviam sido atacados uma vez. Agora eles estavam
mortos? E a Emelyn também?
Senti Kols se juntar a mim, seu calor em minhas costas. Por que o
Ajax se importaria com a Emelyn? ele perguntou, sua mente procurando a
minha. Não respondi, mas ele encontrou a resposta que queria à espreita em
minha mente. Ah. Entendo.
Ele se inclinou, soltando um suspiro.
— Merda.
— Um resumo adequado — murmurei, andando e passando os dedos
pelo cabelo. O Ajax era forte. Ele poderia suportar muito. Mas isso... —
Preciso encontrá-lo.
— Não — ele respondeu.
— Como assim, não? — Ele me conhecia bem o suficiente para saber
que eu não obedecia a ninguém. Gerenciava minha própria vida, fazia
minhas próprias escolhas e não estava disposto a ceder à vontade dele no
processo.
— Eu disse não — ele reiterou. — Você não pode ir até ele.
— Vá se foder — eu disse, não mais interessado no que ele tinha a
dizer. — Só porque estamos ligados não significa que você tem direito a
opinar sobre o que eu faço ou não agora. — Só a Aflora tinha esse direito.
Ninguém mais.
— Mas você sentiu a necessidade de me lembrar do meu propósito
aqui quando sentiu meu desejo de ir até o Tray, e isso foi o que, trinta
minutos atrás? — Ele semicerrou os olhos. — Isso é realmente tão
diferente, Shadow?
Suas palavras me atingiram no coração, a exatidão delas tirando um
xingamento dos meus lábios. Porque ele estava certo.
Segurei o cabelo pela raiz e fechei os olhos.
Ele pressionou a palma da mão na parte inferior das minhas costas um
instante depois.
Em seguida, ele me puxou para seus braços, me oferecendo um abraço
que eu não sabia que precisava. Parte de mim queria socá-lo por me tocar,
por corrigir meu caminho antes mesmo que eu pudesse andar por ele. E
uma parte mais fraca só queria entrar em colapso.
Eu brinquei com o tempo, o que quase custou a vida de Kols.
E agora, os pais de Emelyn, Anrika e Ajax se foram.
Para nunca mais voltarem.
Mortos.
Por minha causa? me perguntei. Por causa da minha alteração do
destino?
Por causa do meu avô, Kols me corrigiu, seu braço envolvendo meus
ombros para me apertar com força. Você não, Shadow.
Soltei um suspiro trêmulo, meu coração na garganta.
Então enterrei o rosto em seu pescoço e inalei sua loção pós-barba.
Tinha uma mistura de rosas, me lembrando Aflora. Seu cheiro é igual ao da
nossa companheira, comentei.
O seu também, ele murmurou. Mas não rosas. Sinto cheiro de poder e
menta.
Isso poderia ser apenas eu, falei.
Ele riu e me soltou com um aceno de cabeça.
— Como desejar. — Então ele me deu um tapinha no ombro. — Você
está bem?
— Não — admiti. — Mas vou ficar.
Ele assentiu.
— Quando matarmos o meu avô.
— Quando matarmos o seu avô — concordei.
— Parece o encontro perfeito — Zeph disse da porta. — Haverá
chocolates e flores depois?
— Depende do nosso companheiro — Kols respondeu, se virando para
ele com um sorriso.
— Humm, agora você está falando a minha língua. — Zeph puxou
Kols para um beijo ardente antes de encontrar meu olhar em desafio. Meu,
ele estava dizendo.
Revirei os olhos.
— Ele é todo seu, diretor. — A não ser quando Aflora quisesse ficar
conosco novamente. Então eu satisfaria seus desejos, porque eles estavam
secretamente se tornando meus também.
Eu ouvi isso, Kols murmurou.
Eu não estava escondendo, eu disse a ele.
Não. Seu cabelo ruivo cintilou como fogo da luz do sol derramando
através das árvores, os fios com pontas cinzas particularmente brilhantes.
Não, você não está mais se escondendo. Uma brilho de emoção cintilou em
seus olhos. Posso sentir o que você sacrificou por nós, Shadow.
Meu primeiro instinto foi empurrá-lo para fora da minha cabeça, mas
eu estava muito cansado para tentar. Se ele quisesse brincar em minhas
memórias, eu permitiria.
Eles não entendem do que você desistiu por nós, mas eu entendo.
Assim como a Aflora.
Não respondi.
Porque realmente não havia muito o que dizer.
Estamos no caminho certo agora, ele sussurrou. Vamos voltar.
Ele se virou para liderar o caminho com Zeph ao seu lado.
Zakkai olhou para cima enquanto eu entrava. Ele estava com o braço
em volta da cadeira de Aflora, seu polegar roçando as costas dela através da
capa. Ela tirou o capuz, mas permaneceu enrolada nele.
O que me lembrou do motivo pelo qual viemos aqui em primeiro lugar.
— Conte-nos sobre o tal cajado — eu disse à minha avó. — Por favor.
CAPÍTULO DEZOITO
ZAKKAI

O PODER IRRADIANDO de Aflora seduziu meus sentidos, provocando minhas


habilidades de Quandary de Sangue. Continuei me perdendo em sua capa,
os tentáculos girando ao redor dela cheios de uma energia deliciosa.
Ela se inclinou ao meu lado, sua força diminuindo apesar do sangue no
shake de Zenaida. Aflora precisaria se alimentar adequadamente em breve.
O treinamento de ontem e o teste de hoje a deixaram exausta e precisando
de mais sustento. Eu garantiria que ela recebesse esses nutrientes assim que
terminássemos com qualquer jogo que Zenaida quisesse jogar.
Ela fez um show, limpando a mesa de jantar, mas Kodiak insistiu em
ajudá-la com os pratos, dizendo que ela precisava se concentrar nos
convidados. Percebi pela testa franzida que ela teria uma palavrinha com
ele mais tarde, seu desejo como Ômega de administrar o espaço ficando
evidente na maneira como ela olhava para inspecionar o trabalho dele na
cozinha.
Seus olhos adquiriram um brilho prateado por um momento enquanto
o futuro se apresentava a ela. Depois de um instante, suas feições relaxaram
e ela nos levou para a sala de estar – que se expandiu para acomodar todos.
Me sentei em um sofá com Aflora. Zephyrus se acomodou na
almofada do lado oposto, estendendo o braço atrás dela enquanto eu
segurava sua mão.
Shadow e Kolstov assumiram a namoradeira.
Ella, apelido de Isabella, estava sentada em uma cadeira sozinha, com
os ombros curvados. No entanto, seus olhos eram brilhantes e muito vivos.
Eu nunca havia encontrado a garota, mas a conhecia através de Aflora.
Uma Halfling.
A companheira de Trayton Nacht.
Não tão poderosa, mas uma Elite de Sangue com qualidades mortais
depois de ser criada no Reino Humano.
Aflora gostava dela. As duas eram amigos. Portanto, eu a protegeria.
Mesmo que não aprovasse que ela fosse acasalada com um Nacht.
O gêmeo de Kolstov, pensei, apertando um pouco os lábios.
Bem, se Trayton acabasse como Kolstov, eu o perdoaria.
Talvez.
Aflora apoiou a cabeça no meu ombro. Tray é um bom Fae da Meia-
Noite, ela me disse, me mostrando um fio em sua mente que piscou de
forma brilhante dentro da Fonte Sombria. Nós vamos salvá-lo.
Como você desejar, estrelinha, sussurrei, impressionado com a
facilidade com que ela puxava os fios da vida dos Fae da Meia-Noite dentro
da Fonte Sombria. Ela não parecia perceber o quanto isso era avançado em
termos de poder. A Fonte Sombria já a estava tratando como uma rainha,
apesar dos quatro testes pela frente.
— Este é o cajado — Zenaida disse, apontando para a mesa.
Arqueei uma sobrancelha para a superfície plana e vazia.
Mas Aflora ofegou quando algo se revelou exclusivamente para ela.
— Posso? — ela perguntou.
Zephyrus encontrou meu olhar, a expressão confusa rivalizando com
meus próprios sentimentos. O que você vê, estrelinha?
Magia, ela sussurrou. Linda magia.
— Sim — Zenaida respondeu enquanto se acomodava no colo de
Vadim. A cadeira era larga o suficiente para compartilharem, mas a Ômega
parecia estar desejando o toque de seu companheiro. Talvez porque seu Alfa
ainda estivesse limpando a cozinha e ela precisasse de alguém para impedi-
la de assumir a tarefa.
Ou talvez ela só quisesse ser abraçada.
Ele passou os braços ao redor dela, a adoração em seu rosto me
lembrando do jeito que Shade costumava olhar para Aflora.
Aflora se inclinou para frente, curvando os dedos ao redor do ar – ar
que se manifestou em uma videira quando ela o tirou da mesa.
Arregalei os olhos.
Não era uma videira. Era um cajado.
Mas a rocha de obsidiana se enrolava em torno de uma haste longa e
escura, como uma videira de cobra, até a esfera impressionante no topo. A
cor brilhou da orbe, flashes cor de cerúleo, roxo, vermelho e verde, com o
núcleo subjacente sendo tão preto quanto uma noite sem estrelas.
A magia zumbiu, me lembrando de uma varinha, o cajado
imediatamente indo para Aflora e pousando com poderosa aprovação.
Peguei a varinha que Aflora estava usando para comparar, notando
como o conduíte mágico não a reconhecia mais como dona.
Porque ela tinha acabado de herdar sua verdadeira Fonte – o cajado.
— Onde você encontrou isso, Zen? — perguntei, usando seu nome
preferido apenas porque eu queria que ela me desse uma resposta de
verdade, não um enigma.
— É o cajado real — Kolstov sussurrou com admiração em seu tom.
Olhei para ele, nunca tendo ouvido falar de tal coisa.
— Cajado real?
— Uma relíquia. — Ele admirou a eletricidade girando em torno do
círculo no topo. — Há rumores de que foi roubado e destruído pelos
Quandary de Sangue.
Zenaida bufou.
— Não foi roubado ou destruído, mas me entregue legitimamente
como a Rainha Fae da Meia-Noite. No entanto, esse manto nos ombros de
Aflora é um sinal da Fonte Sombria. O cajado escolheu um novo
proprietário. É por isso que só ela podia vê-lo. Coloque-o de volta na mesa,
Aflora.
Aflora se inclinou para colocá-lo sobre a mesa e, obviamente, o
condutor mágico desapareceu.
No entanto, a energia permaneceu, meu poder de Arquiteto da Fonte
me permitindo identificar a composição geral do cajado sem realmente vê-
lo. Era como olhar para um campo elétrico e sentir os pulsos magnéticos,
mas ser incapaz de identificar as camadas únicas.
— Isso é fascinante — eu disse, impressionado. — Quem o criou?
— Quem cria as varinhas? — ela rebateu.
Uma resposta justa a uma pergunta estúpida da minha parte.
— A Fonte. — É claro. Assim como a Fonte Sombria havia criado a
capa em volta dos ombros de Aflora e a gargantilha em seu pescoço.
As roupas debaixo do manto também eram mágicas, mas eu suspeitava
que elas nasceram mais da necessidade. Ela estava nua quando foi para a
aldeia. Assim como eu estava quando comecei a correr em direção ao prado
para encontrá-la.
Um feitiço rápido me fez usar uma camisa, calças e sapatos adequados.
Zephyrus usava uma roupa parecida.
Kolstov e Shade estavam de calças de pijama e camisetas.
Que grupo interessante fazíamos, nossa magia desigualmente
combinada e ainda complementar uma à outra.
Cruzei a perna, mantendo o foco em Zenaida.
— O que mais você e o Lucifer negociaram? — perguntei a ela,
mudando o assunto, porque eu sabia que essa não era a única razão pela
qual ela nos queria aqui.
Zenaida adorava seus jogos de palavras.
E eu era um mestre em resolver enigmas.
Seus olhos azuis brilharam divertidos, satisfeitos por eu ter estragado
seu jogo. Claro, nós dois sabíamos que eu estava certo desde o início, que
ela estava escondendo algo de nós.
Eu tinha acabado de dar tempo a ela para bancar a anfitriã, tinha me
entregado ao café da manhã – que, felizmente, não tinha sido envenenado,
algo que verifiquei com magia antes de dar uma mordida – e permiti que ela
desse o cajado a Aflora porque eu tinha assumido que seria benéfico para
seu próximo teste.
— Seu pai pediu entrada — Zenaida disse em voz baixa. — Eu
negociei e o pedido foi concedido.
— Teste de unidade — respondi, olhando para Kolstov e depois para
Aflora antes de focar novamente em Zenaida. — Quanto tempo temos para
nos preparar?
A Fae Fortuna Ômega piscou.
— Não muito.
O que significava que ele já estava vindo para cá.
— Ele já está nos portões? — perguntei de forma casual, já
considerando nossas opções.
— Sim — Aflora respondeu, alcançando o cajado, e o poder ondulou
ao redor dela. — Posso senti-los. — Seus olhos azuis encontraram os meus.
— Ele trouxe vários Quandarys de Sangue com ele.
— Essa é uma boa negociação, Zenaida — murmurei, olhando para a
vidente. — Imagino que você não nos avisou por um motivo?
— Não há outros caminhos, Zakkai. Estávamos destinados a nos
encontrar novamente. E a Aflora merecia a pausa, por mais fugaz que
pudesse ser. — Ela juntou as mãos no colo. — Então, ou os lados vão unir
forças ou...
— Destruir um ao outro — terminei para ela. — Obrigado pela
refeição. — Essa foi sua versão de nos ajudar a nos recuperar antes do
próximo teste de Aflora. Minha pobre companheira não tinha tempo para se
recuperar, além de algumas horas. Mas agora que a fonte a havia marcado
com o manto, iria querer acelerar sua ascensão – algo que Constantine havia
assegurado que aconteceria com suas travessuras hoje.
O Ancião tinha me superado em estratégia novamente.
Tensionei a mandíbula com o conhecimento e minhas veias se
inundaram com antecipação.
— Precisamos ir.
— Tem mais sangue na geladeira — Zenaida murmurou. — Leve-o
com vocês. A Aflora vai precisar.
Em vez de aceitar a oferta, mordi o pulso e o segurei na boca de
Aflora.
Minha companheira não hesitou, pegando o que precisava antes que
Zephyrus seguisse o exemplo.
Zenaida apenas sorriu, com olhar conhecedor.
— Vamos manter a Ella aqui enquanto você negocia — ela falou em
voz baixa. Em seguida, olhou para a mulher, sua expressão se iluminando.
— Vou fazer cookies para você, querida. Você vai amá-los.
Shade olhou para a avó, mas ela já estava voltando para enxotar
Kodiak de sua cozinha.
Seus olhos cor de gelo encontraram os meus, sua preocupação era
palpável.
— Nós os abordaremos como uma unidade — eu disse enquanto
Aflora terminava de beber da veia de Kolstov. Shade foi o último.
Então partimos com Aflora carregando seu novo cajado e liderando o
caminho. Seus passos eram confiantes, um comportamento novo que nunca
vi.
Foi uma melhora.
E convinha a uma rainha.
Sorri com a visão, e percebi que todos os outros tinham expressões
semelhantes.
Porque todos estavam pensando a mesma coisa que eu.
Ela está pronta.
CAPÍTULO DEZENOVE
AFLORA

O CAJADO me lembrava uma varinha pesada, o conduíte mágico se encaixando


na minha mão e se movendo como uma extensão do meu braço.
Redemoinhos mágicos dançavam ao redor dele, fazendo cócegas na
minha pele enquanto a Fonte me abraçava com pequenos beijos ardentes
que desapareciam na minha capa.
Tudo parecia muito natural, como minha conexão com a Terra, a vida e
a escuridão girando com vigor renovado depois de ter tirado sangue de
todos os meus companheiros.
O ato de beber deles não me incomodava.
Mas eu não me entregaria às suas escolhas culinárias.
Porco. Que nojo.
Vou fazer todos os pães de cogumelos que você puder comer, linda
flor, Zeph jurou, captando meu pensamento. Eu até adicionarei seus
mouseberries favoritos.
Pão e bife de dragão poderia ser divertido, respondi. Acompanha
batata flitas?
São como batatas fritas?
O que são batatas fritas? perguntei, franzindo a testa para ele.
Batatas que são fritas.
Eu pisquei. As roxas? Ou verdes?
Ele olhou para mim, seus olhos verdes brilhando. É óbvio que não
estamos falando da mesma comida.
Provavelmente não, concluí. Quase abri a boca para explicar o mingau
flamejante, mas uma perturbação dentro do paradigma fez meu foco mudar
para a Academia.
Shade nos conduziu na maior parte do caminho de volta, nos poupando
tempo e energia de ter que andar. Estávamos perto dos portões principais, e
eu podia ver o grupo de Quandarys de Sangue espreitando além dele.
As gárgulas estavam agitadas, assim como as trepadeiras-serpente, mas
um sopro de calma vindo de mim as acalmou quando nos aproximamos.
Outros Faes da Meia-Noite observavam do lado de fora, com
expressões sombrias.
— Voltem para seus dormitórios — eu disse a eles, em tom de
comando. Era meio-dia. Todos deveriam estar dormindo, apesar da lua
sempre presente deste lado do paradigma.
Vários se curvaram e correram de volta para seus prédios, me dando
uma pequena pausa.
Sexy, Zeph elogiou. Sexy pra caramba.
Tudo o que fiz foi dizer para entrarem.
Em um tom majestoso pra cacete, ele disse. Eu quero que você use isso
com o Kols mais tarde.
Quase revirei os olhos. Você nunca para de pensar em sexo?
Um coro de Não soou na minha cabeça, todos os meus companheiros
aparentemente tendo ouvido minha pergunta. Provavelmente porque tinha a
palavra sexo envolvida.
Os dedos de Zakkai se entrelaçaram nos meus, sua mão aquecendo
meus sentidos enquanto seu poder rolava através de mim para flertar com as
brasas criadas pelo cajado.
Zeph estava do outro lado com Kols e Shade atrás de nós.
Uma frente unida, exatamente como Zakkai havia dito.
Os portões se abriram para mim quando me aproximei, Laki estava do
outro lado. Ele tinha as mãos enfiadas nos bolsos de sua calça cor de
carvão, a camisa branca de botão desabotoada na parte superior com as
mangas enroladas até os cotovelos em cada braço.
Ele se parecia muito com Zakkai: olhos da mesma cor, tom de cabelo
semelhante, alto, magro, musculoso. Sua genética Fae da Meia-Noite dava a
eles uma aparência mais fraternal do que pai-filho, assim como Zen se
parecia com a irmã mais velha de Shade, não com sua avó.
Mas as eras como Fae estavam nos olhos.
E eu poderia dizer ao encontrar o olhar de Laki que ele tinha pelo
menos um milênio a mais que Zakkai.
O que fazia sentido com a realeza Fae da Meia-Noite ascendendo uma
vez a cada mil anos.
— Pai — Zakkai o saudou.
— Filho — Laki retornou. — Vejo que você ainda está acasalado e que
adquiriu alguns novos títulos.
— Apenas um — ele respondeu, olhando para Kols antes de
redirecionar seu foco de volta para o pai. O desafio em sua postura
provocou o homem mais velho a comentar ou emitir um comando, mas em
vez de reconhecer a quem Zakkai se vinculou, a atenção de Laki se voltou
para mim.
— Aflora. — Ele pronunciou meu nome com uma suavidade que me
surpreendeu. — Você certamente floresceu em algo inesperado. — Suas íris
azul-prateadas admiravam o cajado e depois minha capa. — A realeza Fae
da Meia-Noite cai bem em você.
— Ela é perfeita para isso — Zakkai concordou, apertando minha mão.
Sorri e dei um passo para o lado.
— Vamos fazer isso dentro dos portões. Ainda que o exterior do
paradigma esteja bem protegido, as criaturas se sentiriam mais confortáveis
conosco dentro das paredes. — Minhas palavras foram instintivas e
causadas pelo assobio agitado das trepadeiras. Eles não ficaram chateados
com a chegada dos Quandary de Sangue, mas sim com sua localização.
A sobrancelha loura acinzentada de Laki se ergueu em surpresa, então
ele assentiu e levou os outros para dentro.
Havia quinze Faes da Meia-Noite no total, incluindo Laki, compondo
apenas uma fração dos que eu tinha visto no paradigma de Zakkai.
— Onde estão os outros?
— Aguardando o resultado desta discussão — ele disse.
— Entendo. — Considerei para onde levá-los. Precisávamos de um
lugar grande o suficiente para que todos pudessem falar.
A biblioteca de história, Shade sugeriu. Tem uma mesa grande no
centro que vai acomodar todos nós, e estará vazia a esta hora do dia.
Onde?, perguntei.
Em vez de responder, ele se aproximou de Zakkai e deu-lhe um olhar.
O Quandary de Sangue assentiu, soltando minha mão.
Laki assistiu a troca com uma expressão curiosa, sua surpresa ficando
palpável quando Zakkai deu um passo atrás para caminhar ao lado de Kols.
Por aqui, Shade me disse, assumindo o grupo e nos levando a um
prédio em direção ao centro da Academia.
— Senti falta deste lugar — Laki comentou enquanto caminhávamos.
Ele ficou ao lado de Zakkai e atrás de Shade.
Mas a falta de agressividade no ar me disse que ninguém estava com
vontade de lutar. Laki e seus seguidores chegaram para conversar, assim
como ele disse.
Isso provavelmente tinha um pouco a ver com Lucifer também.
Ninguém iria querer tentar o Rei Fae do Inferno a descer para fazer justiça
por quebrarem quaisquer regras que ele estabeleceu para este paradigma.
Eu tinha ouvido sussurros e histórias sobre Lucifer o suficiente para
saber que, dependendo de seu humor, ele poderia realmente gostar de
assistir a uma batalha se desenrolar aqui.
Felizmente, ninguém parecia estar com vontade de tentar o destino e
convidá-lo para jogar.
Shade nos guiou em direção a um conjunto de grandes portas duplas
do lado de fora de um prédio particularmente bonito com paredes de pedra e
janelas de vidro fumê.
No interior, o teto parecia ter pelo menos doze andares acima de nossas
cabeças, apesar de o exterior não ter mais de dois andares de altura, e todas
as paredes internas estarem cobertas de livros e janelas. Ah, pensei,
admirando a beleza das prateleiras e as escadas em caracol que levavam a
cada área individualmente. Por que você não me mostrou este lugar?
Estamos um pouco ocupados dominando as artes físicas, ele
respondeu. E não, isso não é um eufemismo para sexo.
Em qualquer outro momento, eu teria rido.
Mas tínhamos uma horda de Faes muito sérios atrás de nós.
Shade apertou minha mão, em seguida foi em direção ao centro do
espaço onde havia uma mesa com quatro cadeiras e um tapete ornamentado
azul e branco com franjas douradas.
Ele colocou o pé em cordas soltas e deu um passo para trás quando a
mesa e as cadeiras começaram a chacoalhar.
— Olá, olá, olá! — uma voz feminina chamou. — Bem, bem, o que
temos aqui?
— Um grupo de vinte, por favor — Shade disse.
— Sim, sim, claro!— O vento soprou quando uma figura invisível
começou a separar a mesa.
Uma invenção? pensei. Como no Acaward?
Invenções, Shade respondeu. E, sim.
Quase perguntei por que ele disse no plural, quando outra mulher
chamou:
— Não, não, aqui.
— Sim, assim mesmo — acrescentou uma terceira.
— Bebidas? Lanches? Sangue? — uma quarta ofereceu.
— Cafés com sangue — Zakkai disse. — E bolinhos.
— Ah, ele é chique. Chique, chique, chique. Eu gosto de chique. — Os
fios brancos balançaram ao redor de seu rosto quando a invenção fez algo
em sua bochecha.
Ela acabou de te beijar?
Infelizmente, ele murmurou, olhando para o espaço.
— Rabugento também! — A invenção riu e repetiu a ação.
— Cuidado — Zeph falou. — Ele pertence à Rainha Fae da Meia-
Noite.
— Ah, não me importo — eu disse, achando graça da expressão de
Zakkai.
Seus olhos azul-prateados se voltaram em minha direção. Você vai se
arrepender depois, estrelinha.
Vou? dei a ele um olhar inocente. Que terrível para mim.
Pirralha, ele falou, grunhindo quando a invenção deu um terceiro
beijo em seu rosto com um estalo alto antes de rir à distância. Tenho certeza
de que ela agarrou minha virilha.
Tenho certeza de que você a impressionou, respondi. Ela
provavelmente vai te beijar de novo.
Laki limpou a garganta, pensei talvez para chamar minha atenção, até
que percebi que era para abafar uma risada.
— As invenções são sempre atraídas pelo poder — ele disse, seu tom
não combinando com o humor em seu olhar.
— Então, por essa conta, elas deveriam estar dando em cima de Aflora
— Zeph falou.
Todas as invenções riram novamente enquanto cadeiras e peças de
mesa surgindo do nada se agrupavam no centro da sala. Dei um passo para
trás quando o tapete começou a crescer para nos acomodar, a área se
transformando em um show selvagem de móveis em movimento e
invenções tilintantes.
Quando terminaram, uma delas me deu um beijo na testa e outra
sussurrou:
— Rainha muito sortuda — em meu ouvido. Suspeitei que esse
comentário fosse da imaginação que acariciou Zakkai.
Depois de um turbilhão de atividades, o ar começou a se acalmar,
xícaras de café e jarras se manifestaram ao longo de um pano branco no
centro da mesa, e pratos de bolinhos apareceram em cada lugar na frente de
vinte cadeiras.
— Apreciem! — as invenções aplaudiram, desaparecendo nas vigas
acima, provavelmente para assistir e esperar por mais desejos.
Bem, isso... engoli em seco. Isso foi algo completamente diferente.
Bem-vinda à biblioteca, Shade respondeu, então puxou uma cadeira no
centro da mesa. De alguma forma, ele sabia que eu não gostaria de me
sentar na cabeceira, mas entre os outros, para ouvir a todos.
Ele se sentou do meu lado, então Zakkai pegou a do outro lado e olhou
de forma incisiva para Kols.
O Elite de Sangue olhou para ele por um instante antes de aceitar a
oferta.
Zakkai se acomodou no assento ao lado dele, esticando o braço nas
costas da cadeira em uma demonstração de clara proteção a Kols, e colocou
a palma da mão no meu ombro.
Os Quandary de Sangue presentes assistiram a interação com atenção
extasiada.
Laki podia ser o líder, mas Zakkai era o rei.
E ele havia acabado de demonstrar por meio de ações que Kols estava
sob sua proteção. Mais do que isso, ele o tratou como membro da realeza,
puxando a cadeira como se fosse superior.
Zeph se sentou ao lado de Shade, sua expressão não revelando nada.
Mas ouvi a surpresa em sua mente com as ações de Zakkai. Acho que todos
nós estávamos nos sentindo assim.
Ter um vínculo com meu companheiro Quandary de Sangue me
permitiu entender por que ele fez isso. Ele estava demonstrando sua
afiliação com nosso círculo, reivindicando-nos como seus.
O que significava que seu povo deveria nos tratar com respeito.
— Sentem-se — ele disse.
Laki sorriu, mas fez o que o filho exigiu, assumindo a posição à nossa
frente. Então os outros começaram a encontrar suas localizações também.
Eu me virei para encostar o cajado na cadeira, não querendo segurá-lo
durante a refeição, e me virei para encontrar a mesa inteira olhando para o
meu conduíte mágico. Franzindo o cenho, olhei para ele, depois para eles, e
depois de volta para o cajado. O que foi? perguntei aos meus companheiros.
O que há de errado?
Desapareceu de novo, Zakkai explicou, concentrando-se nos outros. E
pela expressão no rosto do meu pai, ele sabe porquê.
— A Zen te deu o cajado — Laki disse com admiração. — O que, eu
suponho, significa que você agora fala por ela e por aqueles sob esta cúpula.
Acho que devemos começar.
CAPÍTULO VINTE
ZAKKAI

SIMBOLISMO, percebi. Esse foi o significado de Zenaida dar o cajado hoje a


Aflora.
Ah, eu não tinha dúvidas de que também era pelo fato de a capa e a
fonte abraçarem Aflora, tocando-a com sua magia, mas Zenaida havia
escolhido estrategicamente aquele momento para apresentar o cajado,
sabendo que meu pai veria o que significava: Aflora é nossa rainha.
Inteligente, Zenaida, pensei, transmitindo meu conhecimento para
Aflora em um breve resumo dos pensamentos em minha cabeça.
Isso significa que ela concorda com o meu caminho? Aflora
perguntou.
Sem dúvida, eu disse. Mas eu poderia ter dito isso a ela sem o cajado.
Caramba, eu nem sabia que a coisa existia até hoje, mas claramente, meu
pai o reconheceu.
— Você nunca mencionou o cajado — eu disse a ele. — Por quê?
— Porque nunca foi relevante. A Zen era a Rainha Fae da Meia-Noite,
o cajado era um presente dado a ela pela Fonte há mais de mil anos. Ela
raramente o usava, e eu nunca esperei que ela o desse a outro Fae. — Seu
foco foi para a Aflora. — Mas admito, combina com você.
— Sim — concordei. — É verdade.
Outros murmuraram comentários positivos também, o respeito na
mesa parecendo aumentar a cada segundo que se passava.
Finalmente, os outros Quandary de Sangue se sentaram, mantendo os
olhares baixos com reverência ao invés de encarar Aflora de frente.
Zephyrus quebrou o silêncio, pegando uma das garrafas primeiro,
enchendo a caneca de Shade e depois a sua. Contraí os lábios com a
lembrança do café da manhã onde fiz o mesmo com Shade, tratando-o
como o Ômega do nosso círculo.
Seu olhar cor de gelo encontrou o meu, sua falta de humor evidente.
Fiz um show de distribuição de café do meu lado também. Primeiro
para Aflora, depois para Kolstov e, por fim, para mim mesmo antes de
passar a jarra de cerâmica para meu pai.
Todos começaram a se servir, alguns tomando goles ansiosos depois de
provar o sangue do líquido quente.
Aflora apenas provou o dela com cuidado antes de se concentrar em
meu pai mais uma vez.
Ele relaxou na cadeira, olhando para ela com uma mistura de
admiração e cautela.
— Então suponho que você escolheu o lado da reforma? — ele
adivinhou. Não era uma pergunta para mim, ou ele teria falado em um tom
mais rude. Era para Aflora, e eu estava genuinamente curioso para saber
como ela responderia.
— Não. — Ela se inclinou para frente, juntando as mãos na mesa ao
lado de seu prato intocado. — Não escolhi reforma ou vingança. Porque os
dois lados estão errados.
Alguns dos Quandary de Sangue se entreolharam. Meu pai apenas
ergueu uma sobrancelha.
— Entendo. — Ele a estudou por um momento. — Então me diga o
que você acredita que é certo. Detalhe seu plano.
Ela balançou a cabeça.
— Não — ela repetiu. — Primeiro, preciso que você entenda por que a
vingança não é o caminho correto. — Ela olhou para Kolstov se
desculpando, o que me fez franzir a testa.
Senti a energia mudar na sala quando ela trouxe um feitiço de memória
para mostrar o que ela viu na aldeia mais cedo.
Eu nem sabia que ela o conhecia, mas antes que eu pudesse perguntar
como ela o aprendeu, a memória começou a passar diante dos meus olhos
como uma imagem vívida.
Eu não só podia ver tudo, mas também podia sentir o calor da
multidão, ouvir suas risadas e aplausos, e sentir a urgência que vinha da
Fonte Sombria, assim como Aflora sentiu.
Emelyn já estava morta.
Então Dakota apareceu, arrastando uma relutante Ella para o palco.
Constantine leu sua condenação.
Ela gritou.
E Aflora se concentrou em Trayton.
E então ela congelou a memória, sua voz entrando em todas as nossas
mentes quando ela disse: Conseguem ver isso? A coação envolvendo-o
como uma corda grossa, estrangulando o macho por baixo? Ela aumentou
a clareza, garantindo que todos pudéssemos ver e sentir a energia malévola.
Então ela puxou a memória de nossas mentes, retornando a todos nós
para a sala em um arrepio de ar frio.
Aflora pegou seu café. Sua postura era perfeitamente composta, mas
eu a senti sofrer, tanto por Trayton quanto por Kolstov.
Um zumbido de estática se abriu entre eles enquanto os dois se
comunicavam.
Em seguida, ele alcançou debaixo da mesa para apoiar a palma da mão
na coxa dela, apertando-a suavemente.
Ela pousou a caneca na mesa, o som ecoando na quietude da sala.
— Bem — ela disse, encontrando o olhar impassível do meu pai. —
Você viu isso?
— Sim.
— Está ciente do que significa?
— Sim — ele repetiu.
Ela assentiu.
— Para os outros, caso vocês não consigam sentir o feitiço de coação
ao redor dele, Tray é um prisioneiro em seu próprio corpo. O feitiço não é
visível para os outros. Ele age e parece completamente normal para todos.
Mas a Fonte Sombria me mostrou a verdade. E fez isso porque dói naqueles
que estão sendo manipulados por essa magia, o que me diz que o Tray não é
o único comprometido por esse feitiço.
Uma dedução justa.
E uma explicação razoável.
— Constantine é o orquestrador dessa magia — ela continuou. —
Então ele precisa ser removido.
Semicerrei um pouco os olhos com sua escolha de palavra. Algo que
reverberou em sua mente, me dizendo que ela a escolheu com propósito.
Mas Aflora não me permitiu seguir até o fim, sua estratégia já avançando
para a próxima fase de sua decisão.
— Uma vez que ele seja removido, precisaremos tentar aqueles que
estiveram envolvidos no extermínio de Faes da Meia-Noite e testá-los para
este feitiço. — Ela apertou as mãos mais uma vez sobre a mesa, se
inclinando para frente. — Aqueles considerados cúmplices por escolha
serão tratados de acordo. Os demais, serão libertados de seu confinamento.
Tomei um gole do meu café, considerando suas palavras junto com os
demais. Nem uma vez ela mencionou a morte. Apenas remoção, que foi
uma palavra muito cuidadosamente selecionada.
Porque minha companheira defendia a vida.
E isso me disse que tudo o que ela pretendia fazer tinha a ver com
criação, não destruição.
— Não é um plano deliberadamente criado, mas é justo — concluiu.
— Ele casa a vingança com a reforma. Porque puniremos aqueles que
prejudicaram os Faes da Meia-Noite e reformaremos este reino.
— E você espera que nós apenas nos juntemos a você neste esforço?
Que depositemos nossa confiança em você para ver isso acontecer? — meu
pai perguntou, com uma pontada de censura em seu tom.
— Sim — ela respondeu.
As sobrancelhas dele se ergueram.
— Simples assim?
Agora foi a vez dela de repetir a palavra.
— Sim.
Ele bufou uma risada.
— Eu não tinha ideia de que você era tão ingênua, Aflora.
Ela respondeu com uma risada, mas faltou humor.
— Por que todos os Faes da Meia-Noite confundem minha sinceridade
com ingenuidade? — Ela expressou isso como uma pergunta retórica,
ficando com a expressão sóbria um instante depois. — Não sou ingênua,
Laki. Sou a Rainha Fae da Terra, um manto que assumi aos sete anos,
depois que os Anciões Fae da Meia-Noite mataram meus pais por se
associarem com Quandarys de Sangue.
Ela pressionou a palma da mão na mesa, fazendo uma árvore começar
a se enraizar em seus dedos, crescendo enquanto ela pressionava.
— Eu não sou ingênua. Sou uma sobrevivente. Uma sobrevivente que
enfrentou uma abominação louca duas vezes e sobreviveu. Uma
sobrevivente que foi mordida contra sua vontade e levada para um reino
totalmente diferente do seu, mas aprendeu não apenas a usar sua magia,
mas também a abraçá-la.
A árvore cresceu mais, se inflamando em uma enxurrada de galhos
enquanto ela se levantava, a mão funcionando como uma raiz sob a criação
à medida que ela continuava a falar.
— Uma sobrevivente que quase destruiu uma sala cheia de Elites de
Sangue em fúria depois que o Conselho Fae da Meia-Noite matou seu
companheiro. Uma sobrevivente que ajudou a trazer aquele companheiro de
volta dos mortos, apenas para ser recompensada com uma ascensão que ela
nunca quis, marcando-a assim como uma abominação para o resto da vida.
A magia girou através dos galhos. A árvore tinha apenas trinta
centímetros de altura, mas ostentava muito poder.
— Uma sobrevivente que acasalou com quatro linhagens diferentes de
Faes da Meia-Noite — ela disse enquanto os tentáculos esfumaçados de
energia assumiam os vários matizes de todos os seus companheiros.
Cerúleo. Vermelho. Roxo. Verde. — Uma sobrevivente que passou por três
testes de ascensão em menos de dois meses, ganhando favores com a Fonte
Sombria e encontrando uma maneira de combiná-la com sucesso com a
Fonte da Terra.
A árvore começou a crescer, com movimentos medidos e controlados
pelo poder de Aflora.
— Eu não sou ingênua. Sou a energia redefinida. Uma rainha de dois
mundos. Uma abominação. E um membro da realeza que anseia por criação
e vida sobre a morte. Os Faes da Meia-Noite foram ensinados a adorar a
violência por muito tempo. É hora de uma estranha mostrar a eles como
viver novamente. Eu sou a forasteira, a sobrevivente que sabe lutar sem
derramamento de sangue. A sobrevivente que sabe vencer sem matar
aqueles que ela enfrenta.
Folhas multicoloridas brotaram dos galhos enquanto ela fazia a árvore
se espalhar pela mesa como trepadeiras, o organismo se transformando
diante de nossos olhos.
— Os Faes da Meia-Noite se esqueceram de como amar e respeitar um
ao outro — ela concluiu em voz baixa, desviando o foco para sua invenção
quando as raízes e galhos começaram a se entrelaçar para formar belas
matrizes de cores enquanto suas peças se misturavam e amadureciam como
um só. — Juntos, podemos unir os Faes da Meia-Noite. — Em segundos, os
galhos pegaram fogo, sua impressionante árvore se desintegrando em
cinzas. — Ou juntos, podemos ver todos eles queimarem.
Ela se sentou mais uma vez, uniu as mãos e disse:
— A escolha é sua.
CAPÍTULO VINTE E UM
KOLS

DOCE FAE.
A demonstração de poder de Aflora, juntamente com suas palavras, me
fez querer me afastar da mesa e me curvar a seus pés.
Ela queimou a árvore. Destruiu-a. E então acompanhou a ação com
uma declaração que me deixou no chão.
Eu não tinha ideia do que dizer a ela. Caramba, eu tinha me esquecido
de como respirar.
Pelas expressões dos outros na mesa, eu não era o único que queria
adorar a deusa entre eles.
Mas era por Laki que todos esperavam.
Ele observou as cinzas na mesa, sua expressão não revelando nada. Em
seguida, ele se levantou, fazendo com que Zakkai se endireitasse na cadeira
ao meu lado, imediatamente em guarda.
Aflora não se moveu, seus olhos segurando o olhar do ex-Arquiteto
Fonte.
Ele caminhou ao redor da mesa, todos nós observando cada
movimento dele.
— Levante-se — ele disse a Aflora enquanto se posicionava atrás dela.
Zakkai parecia pronto para dizer ao pai o que ele achava dessa
exigência, mas Aflora ficou de pé ao lado dele, sua demonstração de poder
não passando despercebida para os outros na sala ou para o macho de pé
diante dela.
Eles trocaram olhares por mais um momento.
E ele se ajoelhou a seus pés.
— Eu escolho unir os Faes. — Um anúncio baixo e poderoso que
enviou uma onda de energia pela sala.
Está feito, percebi. Ela acabou de passar no quarto teste.
Esta mulher incrível e bonita tinha conseguido o que eu não consegui.
Ela tinha acabado de unir os Faes à sua maneira, provando seu valor
para a Fonte Sombria e ascendendo ao quinto nível.
Em vez de se alegrar ou comemorar, ela também se ajoelhou na frente
de Laki e atraiu seu olhar para ela.
— Então nos unimos como iguais — ela disse. — Não quero um grupo
que se curve. Quero um que fique orgulhosamente unido, se regozijando
com a vida e nossas existências prolongadas. Desejo igualdade entre as
linhagens Faes da Meia-Noite. Chega de superioridade.
Laki lhe deu um sorriso suave.
— Então você realmente é a nossa rainha — ele disse. — Porque
apenas uma rainha poderia negar sua óbvia superioridade em favor da
unidade. — Ele se inclinou para beijar sua testa. — Seus pais ficariam
orgulhosos. Assim como tenho orgulho do meu filho também. — Ele olhou
para Zakkai. — Ele também é um sobrevivente. E com tudo o que suportou,
nunca perdeu seu coração.
Ele se levantou e estendeu a mão para Aflora. Ela aceitou a oferta,
mais como um gesto simbólico do que qualquer outra coisa, e permitiu que
ele a levantasse.
Todos os Quandary de Sangue na mesa pareceram relaxar, suas
posturas de repente cansadas, e percebi como eles estavam no limite para
esta reunião.
Eles querem vingança pelo que aconteceu com eles, Aflora sussurrou.
Mas isso não significa necessariamente que eles anseiem pela morte.
Só ela seria capaz de ver isso. Em um reino cheio de escuridão, era
difícil encontrar a luz. Especialmente quando todos estavam se afogando na
necessidade de sangue.
Ela tomou seu lugar ao meu lado mais uma vez, e as invenções
reapareceram para encher nossas canecas e pratos novamente.
A conversa fluiu dos planos de Aflora para uma discussão sobre como
seria o mundo futuro. Laki ofereceu algumas sugestões para o
desenvolvimento do conselho, assim como Zeph e Zakkai. Aflora ouviu
sem comentar, absorvendo todas as ideias e ouvindo vários dos Quandary
de Sangue também.
Shade e eu permanecemos em silênci como ex-membros do Conselho
Fae da Meia-Noite. Embora tivéssemos nossas próprias sugestões e
opiniões para compartilhar, estávamos mais interessados em ouvir os
outros.
Aflora devia saber disso porque não nos pediu para falar. Ela se sentou
entre nós, segurando nossas mãos enquanto absorvia os comentários dos
outros.
Quando eles concluíram suas discussões, Zen chegou em um floreio,
dizendo que ela havia terminado de preparar suas acomodações. Eles
podiam não ficar ali indefinidamente – algo que Laki deixou claro quando
disse que iriam embora depois de descansarem – mas pelo menos, estariam
confortáveis.
— Vocês são bem-vindos a qualquer momento — Zen informou Laki.
— Ou pelo menos até que Lucifer diga o contrário.
Laki bufou.
— Eu nunca vou entender esse acordo que você tem com ele.
Ela apenas sorriu.
Eu também gostaria de entender, pensei para Shade.
Compreender minha avó é uma tarefa impossível, ele respondeu. Mas
sei que o arranjo deles envolve a permissão de enviar um número fixo de
Faes do Inferno para estudar aqui anualmente. Eles são muito poderosos
para seus Cães de Caça do Inferno guardarem e treinarem, então ele a
deixa fazer isso.
Intrigante, admiti. Você o conheceu?
Sim, Shade respondeu, seu tom me dizendo que ele não queria elaborar
sobre isso.
Como nossa companheira parecia prestes a desmaiar, decidi não
pressioná-la e a peguei pela cintura. Ela tinha acabado de se despedir do
último dos Quandary de Sangue e parecia pronta para dormir em pé.
Zakkai apareceu na nossa frente em um instante, sua boca encontrando
a de Aflora enquanto eu a segurava firme encostada no meu peito. O cheiro
metálico de sangue provocou meus sentidos, me dizendo que ele a estava
alimentando com sua essência para ajudar a reforçá-la novamente.
Fiz uma careta e abri minha ligação com Zeph. Ela se alimentou de
nós mais cedo.
Sim, ele respondeu, observando a troca. A Fonte Sombria parece estar
tirando muito dela. Isso é normal?
Acho que não, respondi. Meu pai nunca exigiu tanto sangue.
É porque ela está pegando principalmente de outros Fae da Meia-
Noite e não da veia humana?
Talvez, respondi. Mas o café de sangue continha essência mortal mais
do que suficiente para reabastecê-la.
Eu a considerei enquanto ela gemia contra a boca de Zakkai, seu corpo
faminto por mais sangue. Ele não hesitou em oferecer mais, mas meus
lábios se curvaram ainda mais para baixo.
Acho que a fonte a está preparando para o próximo teste, eu disse a
Zeph. Deve pressentir algo grande vindo.
Sacrifício, ele respondeu.
Não precisa necessariamente vir nessa ordem, mas, sim, esse seria o
caminho típico. E isso poderia exigir muitas coisas dela.
Com meu avô liderando o caminho, quem sabia o que ele faria?
Então vamos levá-la de volta para a suíte e alimentá-la
adequadamente, Zeph sugeriu.
Sim, concordei.
Nós a banharíamos em sangue se ela precisasse.
E então prenderíamos a respiração e esperaríamos ter dado o
suficiente.
CAPÍTULO VINTE E DOIS
AFLORA

MEU ESTÔMAGO SE CONTRAIU, me fazendo acordar.


Fome, pensei. Estou faminta.
Mas eu me alimentei de todos os meus companheiros antes de cair na
cama. Então Zeph e Kols me convidaram para fazer ginástica sexual com
eles... e eles me alimentaram novamente antes que eu desmaiasse.
No entanto, eu estava faminta, e não era comida que eu desejava, mas
sangue. Argh, gemi para mim mesma. Zeph dormia profundamente ao meu
lado, com a palma da mão no meu quadril.
Kols estava atrás de mim, com o braço em volta da minha cintura, me
segurando a ele.
Ambos estavam profundamente adormecidos, contentes e bem
saciados.
Perturbá-los parecia errado. Eu vou só, ah, me transportar até a
cozinha, e voltar depois que tomar uma bolsa de sangue.
Na verdade, eu nunca tinha me alimentado direto de bolsas, porque
Zeph colocava o sangue de forma criativa nas minhas refeições. Mas eu
sabia que havia bolsas na geladeira para esse propósito.
Curvando os lábios, eu me engajei na habilidade de Shade de se
teletransportar pela sombra e vesti com magia um par de calças de pijama e
uma regata enquanto eu me materializava na cozinha.
Zakkai estava ao lado da geladeira com o ombro apoiado na parede e
uma bolsa de sangue já na mão.
— Está quente — ele disse.
— Como você...?
— Você estava sonhando com sangue — Shade murmurou atrás de
mim.
Olhei por cima do ombro para encontrá-lo sentado à mesa com um
livro e um copo de suco vermelho ao seu lado.
— Fiz isso no caso de você querer mais — ele falou, gesticulando para
a bebida.
Engoli em seco, minha boca salivando.
Zakkai me entregou a bolsa, com a tampa aberta e liberando um aroma
metálico.
Suguei o conteúdo, gemendo quando o líquido atingiu minha língua.
Zakkai permaneceu encostado na parede enquanto observava, seus olhos
brilhando com poder. Ele estava vestido calças de pijama. Assim como
Shade.
Quando terminei a bolsa – no que devia ter sido um minuto – Shade se
levantou e me entregou o suco.
Coloquei o canudo entre os lábios e comecei a sugar enquanto Zakkai
jogava a bolsa fora e pegava outra de algum tipo de aquecedor ao lado da
geladeira. Parecia ter sido criado exclusivamente com o propósito de
aquecer o sangue.
Só quando terminei o suco e a segunda bolsa finalmente senti que
poderia respirar novamente, a dor no meu estômago diminuindo.
Mas de alguma forma, eu sabia que seria um alívio temporário.
— Isso é normal? — perguntei. Porque Kols nunca precisou de sangue
assim. Se precisou, eu não notei.
— Não — Zakkai respondeu, sem se preocupar em adoçar as palavras.
— Suspeitamos que a Fonte Sombria esteja preparando você para o
próximo teste.
— Ou que talvez já tenha começado. — Shade retomou seu assento na
mesa, empurrando o livro para o lado. — Constantine não vai gostar de
perceber que você contornou a armadilha e passou em outro teste logo
depois. Portanto, é provável que ele já tenha iniciado o seguinte, na
esperança de pegá-la desprevenida enquanto estiver exausta.
Zakkai assentiu em concordância.
— Sim, e se for esse o caso, a Fonte Sombria está ciente do que está
por vir e quer que você esteja preparada, e é por isso que você está
desejando uma abundância de sangue.
— Entendo. — Estremeci, as duas explicações enervantes. — E você
não ansiou por sangue assim antes de qualquer uma de suas provações?
Ele balançou a cabeça.
— Não. Apenas a quantidade normal.
— Ah. — Mordi a bochecha. Eu teria que perguntar a Kols sobre isso
também, mas suspeitava que sua resposta seria a mesma de Zakkai. —
Hum... — Parei para limpar a garganta, sentindo a boca seca, apesar de todo
o sangue que acabei de beber. — O que...? Qual foi o seu quinto teste?
— Meu teste de sacrifício? — ele esclareceu.
Assenti. Kols me contou tudo sobre suas próprias provações em um
esforço para me preparar para as minhas, mas ele nunca foi além do teste de
unidade.
— O seu será diferente do meu — ele avisou.
— Eu sei. Estou apenas curiosa sobre o que você teve que sacrificar.
— Talvez me desse uma ideia do que esperar.
Ele ficou quieto por um momento, seu olhar passando rapidamente
para Shade antes de retornar para mim.
— Tive que sacrificar as memórias da minha mãe — ele admitiu. —
Mas, ao fazê-lo, a Fonte me fortaleceu, me ajudando a curar feridas que eu
não sabia que estavam abertas por causa de sua morte.
Considerei suas palavras por um momento.
— Mas como você sabe disso se não consegue se lembrar desses
momentos?
— Porque a Fonte retornou minhas memórias durante a ascensão —
ele explicou. — Depois que eu me curei.
— Então a Fonte... te ajudou?
— De certa forma — ele respondeu. — Os testes são para preparar um
líder – testar seus limites e ajudar a fortalecer suas fraquezas. Ao me
esquecer de minha mãe... consegui me concentrar melhor. E então pude
apreciar melhor a memória dela quando ascendi.
Isso fazia sentido de certa forma.
— Você acha que a fonte vai levar as memórias dos meus pais?
Ele me estudou por um momento, sua expressão não revelando nada.
— Diga a ela — Shade falou. — Conte a ela a sua teoria.
Olhei para ele e depois para Zakkai.
— Você tem uma teoria?
Ele lançou um olhar para Shade.
— Tenho.
— Ela precisa saber — meu companheiro Sangue de Morte insistiu. —
Vai ajudá-la a se preparar.
— Ou assustá-la pra cacete sem motivo.
— Você repreendeu Zeph por causa do treinamento dela — Shade
retrucou. — Vá comer suas próprias palavras, Kai.
Zakkai cerrou os dentes, sua irritação e desconforto palpáveis.
— Ele tem razão — eu disse baixinho, levantando a mão para
descansar sobre seu coração. — Me conte a sua teoria.
Ele permaneceu em silêncio por um momento, respirando com
habilidade ao mesmo tempo em que liberava um pouco da tensão em seus
ombros e mandíbula.
Seus cílios baixaram quando ele piscou.
Então sua expressão suavizou.
— Dada a sua sede crescente, acho que a Fonte Sombria pode exigir
que você faça uma escolha – entre ser Fae da Meia-Noite e Fae Elemental.
Isso pode fazer você sacrificar sua conexão com a Terra.
Meu coração afundou.
Oh.
Agora eu entendia sua hesitação.
— Essa é uma escolha impossível — sussurrei.
— O que torna um teste provável — ele respondeu. — Especialmente
com Constantine segurando as rédeas.
Estendi a mão para o balcão, precisando me equilibrar.
— Eu realmente espero que você esteja errado — admiti.
— Também espero.
O silêncio caiu entre nós.
Então meu estômago roncou novamente.
Zakkai não disse nada, apenas foi até a geladeira e começou a aquecer
outra bolsa de sangue.
Levou apenas alguns minutos. Quando ele me entregou, eu já estava
salivando novamente, confirmando sua teoria de que isso estava de alguma
forma relacionado ao meu teste pendente.
Engoli enquanto considerava tudo o que ele disse.
Era uma previsão inteligente da parte dele, e eu realmente esperava
que não se tornasse realidade.
Ele pegou a bolsa quando terminei e a jogou fora. Então ele voltou e
colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha antes de traçar a
ponta pontiaguda. Suas orelhas eram arredondadas como as dos outros Faes
da Meia-Noite. O toque quase me fez querer perguntar se essas
características desapareceriam como resultado de eu escolher a espécie dele
ao invés da minha.
Mas eu ainda não estava pronta para brincar.
Me concentrei em seus olhos e na ternura que irradiava de suas
profundezas.
— Obrigada — eu disse, expressando minha gratidão por ele me
contar sobre sua suspeita. Então encontrei os lindos olhos de Shade e repeti
as palavras, me certificando de que eles soubessem que eu estava grata aos
dois por cuidarem de mim.
Todos nós percorremos um longo caminho em nosso relacionamento.
Era como noite e dia comparado aos meus primeiros dias na Academia Fae
da Meia-Noite.
A mordida proibida.
Minha inscrição.
Estar presa em uma suíte com Kols.
As rivalidades.
Olhando entre Shade e Zakkai, não pude deixar de sorrir. Eles
pareciam tão relaxados e contentes na cozinha, algo que eu duvidava que
tivesse acontecido dois meses atrás.
— O que colocou esse sorriso em seu rosto? — Zakkai perguntou, seus
olhos azul-prateados brilhando sob a luz do luar que entrava pelas portas de
vidro da sala de jantar.
— Só de pensar no quanto eu amo todos vocês.
Ele arqueou a sobrancelha.
— Até eu?
— Até você — respondi, ficando na ponta dos pés para dar um beijo
em seus lábios.
— Shade? — ele disse contra a minha boca. — Anote isso. Sangue é
como provocamos emoção em Aflora.
— Esse definitivamente não é o único jeito — meu companheiro
Sangue de Morte falou enquanto parava atrás de mim para mordiscar de
leve meu pescoço.
Estremeci, seu toque fazendo coisas que provavelmente não deveria
depois de passar tantas horas brincando com Kols e Zeph.
Mas esses homens me deixavam insaciável.
Tanto para sexo quanto para sangue.
Zakkai gemeu em aprovação contra minha boca, sua língua traçando a
linha dos lábios antes de entrar para me envolver em um abraço profundo e
sensual, repleto de paixão e adoração. Gemi, me enrolando nele e me
perdendo em seu toque enquanto Shade aproximava a boca de meu pulso.
Ao invés de morder, ele sugou minha pele até meus joelhos ameaçarem
ceder debaixo de mim.
Apoiei as mãos nos ombros de Zakkai, cravando as unhas em seus
músculos enquanto lutava para permanecer de pé.
Ele rosnou, o som hipnótico roubando o meu ar.
Eu esperava que ele me agarrasse, me levantasse no balcão e
arrancasse as roupas de mim.
Mas ele se afastou e olhou para o lobo parado perto da porta.
— O que foi? — ele resmungou.
Percebi que seu rosnado não era para mim... mas para Zimney.
Zakkai estudou a criatura, então me soltou para se aproximar e se
ajoelhar diante dele.
— O que há de errado?— ele perguntou com a voz mais suave quando
alcançou a besta branca ártica. — O que há em sua boca, Zimney?
O lobo resmungou.
Então ele gemeu quando seus olhos negros encontraram os meus.
Zakkai olhou para trás, mas pude ver minhas marcas de unhas ainda
em sua pele.
— Ele está dizendo que é para você.
Engoli em seco.
— Quero saber o que é? — Porque o sangue na boca dele sugeria que
não.
Ele emitiu um ruído evasivo antes de estudar a mandíbula de seu
encantamento novamente, a baixa iluminação pintando sombras escuras no
focinho do lobo.
— Parece que... — Ele inclinou a cabeça, olhando para o outro lado.
— Um pica-pedra. — Ele franziu a testa. — Por que você está trazendo um
pica-pedra para a Aflora?
— A Clove não te trouxe um pica-pedra depois do ataque à Academia?
— Shade perguntou.
— Sim — sussurrei. — Logo antes dos Guerreiros de Sangue
aparecerem para revistar os aposentos de Kols.
Zimney estava tentando nos dar um aviso? Querendo dizer que os Faes
da Meia-Noite estavam vindo?
— Nós nunca descobrimos quem enviou aquele pica-pedra — Zakkai
comentou. Ele alcançou a boca de Zimney, mas o lobo recuou, seus olhos
ainda em mim. — Ele realmente quer que você aceite, Aflora.
— O que está acontecendo? — A voz baixa de Zeph veio da entrada
da cozinha. Seu cabelo escuro estava bagunçado do sono, e ele estava
usando calça de pijama como os outros. Kols seguiu logo atrás, escondendo
um bocejo com a mão.
— O Zimney nos trouxe um pica-pedra morto. — Zakkai se
endireitou, com a testa franzida. — Foi você quem eliminou o último,
certo?
— Quer que eu faça isso de novo? — Zeph adivinhou.
— Não, estava me perguntando se você notou alguma magia no outro.
Eu estava dizendo a Aflora que nunca descobrimos quem o enviou. Achei
que poderia ter sido Zimney brincando com Clove, mas depois que ela me
contou o propósito, sei que não foi ele. Meu lobo nunca a colocaria em
perigo assim. — Ele cruzou os braços, as pernas se preparando como se
esperasse uma discussão.
Mas Zeph apenas balançou a cabeça.
— Destruí depressa, porque o Shade apareceu para avisar que os
Guerreiros de Sangue estavam chegando.
Zakkai olhou para Shade.
— Não olhe para mim — meu companheiro Sangue de Morte
respondeu. — Eu só estava tentando proteger o Kols. E com certeza não
daria um pica-pedra morto de presente para a Aflora.
— Tadmir? — Zakkai perguntou.
— Por que o Tadmir lhe daria um pica-pedra? — Kols interveio.
— Porque ele é o tio de Zakkai e foi ele quem me deixou a pedra —
respondi, tentando evitar uma resposta sarcástica do Quandary de Sangue.
A contração de seus lábios me disse que ele sabia exatamente por que
eu respondi.
— Também nunca descobrimos por que ele fez isso — acrescentei,
pensando no dia em que lancei aquele encantamento de história de objeto.
— Você estava falando comigo... — Fiz uma careta. — Só que não era sua
voz. — Era mais profunda. Diferente. — Era Tadmir falando comigo? Ele
disse que vinha atrás de mim. Que eu o conhecia. Que eu me tornaria ele.
Por que diria isso?
— Para mover o destino — Shade respondeu. — Ele provavelmente
estava fingindo ser Zakkai para te preparar. — Ele balançou a cabeça. — É
difícil dizer exatamente o que ele pretendia, mas sei que não foi nefasto.
Zakkai assentiu.
— Concordo. Ele está alterando o tempo várias vezes para tentar
machucar você ou qualquer um de nós.
— Espere. — Kols ergueu a mão, sua expressão era de total confusão.
— Tadmir. Tipo, o Conselheiro Maléfico Tadmir? Ele é seu tio?
— Meio tio — Zakkai explicou. — Ele é um Quandary de Sangue
Paradoxo Fae disfarçado de Maléfico de Sangue.
Kols olhou boquiaberto para ele.
Zeph também.
— E ele esteve do nosso lado o tempo todo — Shade terminou. — Ele
ajudou a criar uma distração após sua, hum, excomunhão.
Limpei a garganta.
— Ele também deixou a rocha, então estou me perguntando se o pica-
pedra é dele. Como uma mensagem, talvez? Ou um aviso?
Não, isso também não parecia certo.
Nunca encontrei Tadmir, então não tinha como saber se era a voz dele
na minha cabeça ou não.
Franzi o nariz.
Em seguida, balancei a cabeça.
— Só há uma maneira de descobrir — continuei. — Vamos pegar o
pica-pedra e, argh, fazer alguns feitiços para descobrir quem o enviou. —
Fiz uma careta com as palavras, não gostando da ideia de mexer com um
animal morto. Mas não vi outra opção, e os olhares dos meus companheiros
diziam que também não.
— Você é a comandante das criaturas agora — Kols apontou. — Isso
te torna mais próxima a elas.
— E você pode usar minha magia para ver se há alguma mensagem em
sua morte — Shade acrescentou.
Eu balancei a cabeça. — Excelente. Tudo bem. Só preciso pegá-lo de
Zimney. —
Tirar o pica-pedra morto da boca da fera. Certo. Fácil. Tarefa
simples. Sim.
Estremeci quando dei um passo em direção a ele, o cheiro metálico
todo errado. Isso me fez torcer o nariz, ao contrário das bolsas que bebi
momentos antes. Provavelmente porque este sangue vinha de um cadáver.
— Aflora?— Zeph me chamou. — Você quer...? — Zimney rosnou
enquanto ele dava um passo em direção ao lobo. — Ou talvez não.
— Ele também não quer me dar — Zakkai murmurou. — E ele é meu
encantamento.
— Está tudo bem — eu disse, respirando fundo e me ajoelhando diante
da fera. Estendi a mão. — Eu vou fazer — Zimney largou o pica-pedra na
minha mão — isso...
A energia zumbia, fazendo os pelos dos meus braços dançarem.
Franzi a testa, a sensação me deixando enjoada.
— Ah, pessoal? — perguntei. — Vocês sentem isso, ou...? — Comecei
a me virar enquanto falava, apenas para perceber que a sala não existia
mais.
Meus companheiros se foram.
Zimney também havia desaparecido.
Apenas o pica-pedra permaneceu.
Aflora! A voz de Zakkai ecoou em minha mente, sua presença
estranhamente distante.
Kai?
O pica-pedra começou a se contorcer na minha mão, me fazendo soltá-
lo. Raízes brotaram dele enquanto girava pelo espaço escuro aos meus pés.
— Eu o pegaria se fosse você — uma voz profunda disse das sombras.
— O quê? — Eu me virei, procurando a fonte.
Então o pica-pedra começou a ganir e todos os meus companheiros
gritaram na minha cabeça.
Olhei para baixo para ver a criatura se transformando em fumaça, as
raízes sendo a única parte deixada para trás.
Só que não... aquilo não eram raízes. Eram almas, percebi,
reconhecendo a essência dos cursos de magia de Sangue de Morte de
Shade.
Os seres se retorciam em agonia, o zumbido de magia era familiar.
Alcancei-os por instinto – os quatro fios – então balancei quando eles
dispararam em direções diferentes, as extremidades se prendendo às
paredes escuras ao meu redor.
O que...?
Os seres começaram a se esticar, me fazendo gritar enquanto cravavam
suas extremidades em minhas mãos, as raízes profundas e sólidas se unindo
ao meu ser. Novamente. Como se eles sempre fizeram parte de mim e foi a
atmosfera ao nosso redor que me forçou a liberá-los.
O que está acontecendo?
— Pobre Aflora — a voz profunda murmurou, o tom de Constantine
familiar e reconhecível. — Sempre escolhendo seus companheiros antes de
si mesma.
Eu não podia vê-lo, mas senti seu poder pulsando contra o meu,
exigindo que eu ficasse parada até que ele terminasse de brincar com sua
presa. Minha mente acariciou seu feitiço, tentando aprender as nuances dele
e como neutralizá-lo, mas o puxão em meus fios me fez focar no aqui e
agora e na minha necessidade. Eles se enraizaram mais fundo, se prendendo
à minha alma... suas vozes começando a retornar...
— Você sabia que aquele pica-pedra foi como eu confirmei sua
conexão com meu neto pela primeira vez? — Constantine perguntou, como
se eu não estivesse sendo dilacerada pelas vinhas cravadas em minhas
mãos. — Eu o enviei com a expectativa de que fosse encontrado entre suas
coisas durante a busca. Mas um falcão interrompeu meu feitiço. Um
encantamento. Seu encantamento. O que eu achei profundamente fascinante
na época. Até que percebi por que aquele encantamento interferiu.
Aflora? A voz de Kols ecoou na minha mente em um sussurro, a alma
na palma da minha mão vibrando.
Estou aqui, eu disse a ele. Eu estou...
— Você acasalou com meu neto, o herdeiro do reino Fae da Meia-
Noite. Sem dúvida porque o enfeitiçou com sua magia de abominação. Eu
esperava que ele fosse mais forte. Eu também esperava que o Sangue de
Morte estivesse mentindo. Aliás, aqui estamos. E parece que Shadow estava
tentando me enganar também. Mas sou eu que tenho a jogada final. — Ele
fez uma pausa. — Na verdade, não, isso não está certo. Você está segurando
as cartas.
As almas se contorceram em minhas mãos, a agonia delas tocando
minha alma quando o espaço começou a se mover, esticando-as... tirando-as
do meu coração.
— Quem você vai sacrificar? — Constantine perguntou, com a voz
baixa e ameaçadora. — Qual alma você vai liberar para sobreviver? — Sua
energia beijou minha pele. — Que comece o teste.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
ZEPH

A AGONIA de Aflora partiu meu coração em mil pedaços. Eu a acertei com outro
feitiço defensivo, tentando em vão tirá-la desse coma mágico.
Ela não se moveu. Não respondeu. Mal respirava.
Zakkai a pegou quando ela desmaiou, o pica-pedra desaparecendo na
névoa sombria. Seu encantamento uivou e se encolheu em um canto, com o
rabo entre as pernas. Ele ainda estava lá, tremendo de medo enquanto
Zakkai lançava um feitiço sobre ele.
Kols e eu levamos Aflora para o sofá, onde Shade andava de forma
frenética de um lado para o outro. Ele continuou puxando o cabelo e se
xingando por não ter previsto o que ia acontecer.
— O seu avô fez isso — ele disse, olhando para Kols. — Ele
costumava me enviar mensagens via Draco o tempo todo, sempre na forma
de corvos mortos. Ele achava que era simbólico.
— De Night — Kols deduziu de forma sombria. — Essa informação
teria sido útil dez minutos atrás.
— Ele nunca usou Zimney para esse propósito — Zakkai interveio. —
Eu deveria ter percebido o que estava errado. Ele tentou me dizer
desobedecendo minha palavra e olhando para Aflora em busca de
orientação. Mas deduzi incorretamente que ele estava se submetendo a ela
como a rainha. — Ele passou a mão pelo rosto, sua frustração palpável. —
Aquele seu avô maldito precisa morrer.
— Com certeza — Kols concordou.
O grito de Aflora dentro da minha cabeça me fez cair de joelhos ao
lado dela, junto com os outros.
— O que ele está fazendo? — questionei, sentindo meu peito doer
como se eu tivesse acabado uma intensa sessão de luta com um
companheiro Guerreiro de Sangue.
Eu me senti esgotado.
Arruinado.
Exausto.
— Ela está puxando energia de nós para sobreviver? — perguntei em
voz alta enquanto massageava minhas costelas agonizavam.
— É todo o sangue. — A voz de Zakkai estava tão tensa quanto a
minha. — A Fonte a estava preparando... para manter tudo unido.
— O quê? — Não entendi o que significava.
— Posso senti-la se quebrando. O teste que Constantine estabeleceu
está exigindo demais. A Fonte Sombria está em agonia. É o que estamos
sentindo – a reação da Aflora à Fonte sendo dividida em pedaços.
— Como isso é possível? — Kols exigiu. — Constantine não é mais
forte que a Fonte.
— Não. Ele é apenas o canal de atuação. E ele está exigindo muito
poder agora – mais do que qualquer monarca deveria exigir. O que significa
que todos os Faes da Meia-Noite podem sentir. Assim como podem sentir a
angústia de Aflora por ter que manter tudo junto.
— Você acha que ele percebe o que está fazendo? — Shade perguntou.
— Acho que ele é muito arrogante para ver além deste teste — Zakkai
gritou. — Estou tentando ajudá-la, mas é muito... muito caótico. E está
drenando muito.
Kols desmoronou no abdômen de Aflora, a respiração saindo em um
chiado.
— É... é como... — Um zumbido sutil veio de sua mente, fazendo com
que os olhos de Shade se arregalassem.
— Ah, merda — o Sangue de Morte sussurrou. — Não.
— Sim — Kols murmurou.
— Como? — exigi. — Como o quê?
— Como quando eu morri — Kols respirou, sua testa tocando o
abdômen de Aflora.
Uma explosão de energia me jogou para frente enquanto minhas mãos
vagavam sobre ela, verificando seus sinais vitais e avaliando seu corpo
imóvel. Ela parecia estar bem, como se estivesse dormindo.
Então Kols tossiu e meu olhar foi para Zakkai.
— Você disse que é como se a Fonte estivesse se quebrando e
protestando contra o teste. Porque não concorda com o sacrifício? —
Minhas palavras saíram como uma pergunta, mas pude sentir a resposta. —
Ela está sendo forçada a escolher. — Algo que jurei esta semana nunca
aconteceria. — Puta merda.
— Ela está segurando nossos fios de vida — Shade disse, com as
pupilas queimando. — Assim como eu fiz com o Kols.
Meu companheiro Elite de Sangue assentiu, com a pele
excepcionalmente pálida.
— Parece... como... isso.
— E Kolstov está escorregando mais rápido, porque ele é a escolha
certa para a morte — Zakkai falou em tom solene. — Ele já a enganou uma
vez. A Fonte está exigindo o que lhe é devido... forçando a escolha da
Aflora. É por isso que está se quebrando.
— Parece o erro do teste — percebi. — Temos que fazer algo para
ajudá-la. Tem que haver um jeito.
Mas a expressão de Zakkai dizia o contrário.
Assim como a linha sombria da boca de Shade.
— Não há nada que possamos fazer. Este é o caminho dela, e Aflora
vai ter que percorrê-lo sozinha.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
AFLORA

GRITEI, com os braços esticados e abertos enquanto eu me recusava a liberar


qualquer um dos meus companheiros.
A risada cruel de Constantine me circulou em uma corda invisível,
deslizando pela minha pele e provocando meus ouvidos.
Eu o odiava.
Odiava isso.
— Eu me recuso a escolher! — gritei.
O que só o fez rir ainda mais.
— Ah, Aflora. Você age como se fosse uma opção. — Sua voz veio
bem na minha frente, seu corpo envolto em sombras, me deixando na
escuridão perpétua com as cordas da magia rasgando minhas mãos. — Você
deve sacrificar um.
— Não. — Eu não faria isso. Nunca poderia sacrificar nenhum dos
meus companheiros. Preferia morrer. Preferia perder. Preferia não ascender.
— Pegue tudo de volta. Assuma o poder. Pegue a Fonte.
Sua diversão escureceu minha alma, me dizendo que não havia
raciocínio com ele.
Ele é louco. Louco. Está completamente perdido nessa ideia de
genocídio.
Eu podia sentir seu ódio ao meu redor, sua necessidade de destruir
todos aqueles que ele considerava abominações. Seres vis com muito poder.
Só que era ele quem abusava da Fonte Sombria, me forçando a uma
teia perversa de morte e desespero.
Este não é o caminho, pensei. Não é assim que a Fonte Sombria deseja
que alguém ascenda.
Eu podia senti-la chorando, implorando ao governante – Constantine –
para parar. Para tomar tudo de volta. Para redirecionar o teste para algo de
crescimento e potencial para que eu provasse meu valor de uma maneira
mais apropriada.
Mas Constantine ignorou o apelo, já decidido.
Este foi o caminho que ele escolheu, um jogo cruel de “sacrificar um
companheiro”.
Estremeci e meu coração se partiu em um milhão de pedaços. Eu podia
sentir o fio de Kols se enfraquecendo, seus laços com a morte muito
frescos. A Fonte Sombria o estava absorvendo, o menor de todos os males.
Ele quase morreu uma vez.
Fazia sentido pegá-lo novamente e terminar seu caminho.
Não, pensei, atirando energia naquele fio e fortalecendo-o com minha
Fonte da Terra. Eu era um ser de vida e criação, e usei esse dom para
enraizar Kols em mim.
Aflora? ele sussurrou, sua voz era como uma bela carícia em minha
mente.
Kols, murmurei, enviando mais vitalidade para ele e renovando suas
forças.
O que você está fazendo?
Segurando você, respondi, tensa enquanto a Fonte ondulava ao meu
redor em uma ordem para que eu liberasse um companheiro.
Gritei enquanto ela pulsava, me esticando ainda mais, afinando as
almas daqueles que eu mais amava. Não! gritei, batendo nas videiras com
outro ataque de força interior, desenhando minha própria versão de videiras
ao redor delas para reduzir a tensão.
Mas em detrimento da minha própria alma.
Aquilo queimou.
Doeu.
Me deixou sem fôlego nessa massa de magia sombria.
Pode me soltar, Kols disse com a voz suave e compreensiva. Está tudo
bem, linda. Já fui presenteado com mais tempo, tive uma chance de me
despedir de todos vocês. De poder te amar, mesmo nas poucas semanas
restantes. Me basta sonhar com você eternamente enquanto descanso,
Aflora. É o suficiente para eu ter vivido uma vida plena.
Não! Eu o agarrei. Pare de me dizer isso. Eu não o soltaria. Não
escolheria. Eu não permitiria que ele fosse o sacrifício que Constantine
exigia.
Tinha que haver outra maneira.
Tinha que haver...
— Isso é patético — Constantine falou. — E é exatamente por isso que
uma mulher nunca poederia governar. Você está pensando com a emoção e
não com praticidade. Kolstov é o sacrifício óbvio como o mais próximo da
morte. Mas ao invés de escolher o elo fraco, você está fazendo todos
sofrerem. Que rainha lamentável você seria.
Eu rosnei.
— Você não sabe nada da rainha que serei.
Porque ele subestimou os poderes dos vínculos, a força do
acasalamento, o fortalecimento do coração. Este Ancião Fae da Meia-Noite
só pensava em termos de recurso prático, tomando decisões sobre vida e
morte por capricho.
Não tinha nenhum pingo de remorso.
Nenhuma preocupação com os outros.
Apenas uma necessidade de estar no comando, liderar por seu próprio
exemplo e nunca aceitar ninguém fora de sua visão distorcida de
superioridade.
Ele era a razão pela qual as abominações eram evitadas, a razão pela
qual Lucifer teve que reabrir os portões para o reino Fae do Inferno mil
anos atrás, e porque Zen teve que criar o paradigma para proteger os Faes
da Meia-Noite exilados.
Essa não era a marca de um rei digno, mas de um ditador que liderava
o povo apenas por seus próprios instintos. Nunca ouvindo seus
companheiros Faes em busca de orientação ou solicitando as opiniões deles.
Ele só dizia o que fazer e esperava que se curvassem.
Ele enganou os Quandary de Sangue em sua ascensão, reescrevendo o
poder da linha da morte para reforçar a sua própria, porque ele tinha uma
visão para seu povo.
Uma visão que expulsava as mulheres.
Expulsava aqueles que ele acreditava serem mais fortes.
Expulsava os que tinham a capacidade de detê-lo.
Então ele forçou a minha ascensão como uma espécie de truque do
destino para me pintar como um monstro para seu povo. Quando, na
verdade, ele era o malfeitor nesse cenário, o vilão que ansiava por um
oponente digno.
E ele me escolheu.
A Fonte Sombria me aceitou.
Meus companheiros me reivindicaram.
— Eu não vou escolher — repeti com a voz mais forte. — Eles são
meus companheiros. Meu coração. Minha alma. Sem eles, não sou digna o
suficiente para ser rainha. Eles são minhas rochas, minha fundação, minhas
raízes. Não vou destruí-los. Não vou liberá-los. Não vou sacrificar aqueles
que me fazem quem sou, porque senão vou me perder.
— Então todos eles vão morrer — Constantine sussurrou, suas
palavras cruéis. Ele me tocou com seu poder mais uma vez, as paredes
pulsantes me puxando com força, fazendo a Fonte Sombria gritar em agonia
por ser forçada a abusar daquela que escolheu para ascender.
Gritei, sentindo minha alma em frangalhos enquanto meus
companheiros gritavam dentro da minha mente e coração para parar essa
loucura, para abraçar a escolha.
Todos me disseram para escolhê-los, para abrir mão deles. Para que eu
vivesse, que sobrevivesse.
Mas este mundo não funcionaria sem os quatro juntos.
Meus companheiros representavam quatro ramos da espécie Fae da
Meia-Noite, as linhagens inestimáveis, o poder insuperável.
No entanto, senti a energia deles diminuindo, as luzes piscando
enquanto o teste se desenrolava ao meu redor, com Constantine exigindo
meu sacrifício.
Eu não podia simplesmente desistir ou ir embora.
Ele garantiu que eu escolhesse um companheiro... ou eu perderia
todos.
De qualquer forma, eu perderia meu coração no processo.
Aflora! Kols me chamou novamente. Por favor, linda. Me ouça. Eu
não posso deixar você fazer isso. Me pegue. Me sacrifique. Não posso viver
em um mundo sem o Shade e o Zeph. Eles estão morrendo, meu amor. Eles
estão... estamos todos... estou pronto... juro para você que estou pronto, que
posso fazer isso. Só me solte, linda. Estarei com você sempre. Você sabe
disso. Eu serei parte da Fonte para...
Não se atreva a ouvi-lo, Zeph interrompeu. Posso sentir sua energia
diminuindo, Aflora. Não dê ouvidos a ele. Não deixe o Kols fazer isso!
Aflora, Shade sussurrou. Me leve... Já vivi sete vidas com você. Oito
incluindo essa. É o suficiente... é o suficiente para eu saber... que você
escolheu esse caminho, que você é...
O rosnado de Zakkai se infiltrou em minha mente quando soltei um
suspiro de dor, a escuridão rugindo ao meu redor. Estou tentando, mas não
consigo… não consigo aguentar muito mais... Aflora... Aflora, você tem
que...
Não! gritei para todos eles. Não vou escolher!
Este jogo perverso tinha que terminar.
Eu não os sacrificaria.
Não podia.
E disse a eles com uma explosão de poder que me deixou sem fôlego...
mas fortaleceu seus fios. Semelhante ao que eu fiz com Kols, minhas vinhas
prosperando em torno dele, solidificando meu aperto.
Repeti a ação.
Todos pulsaram de volta à vida, suas vozes clareando mais na minha
cabeça.
Aflora, Zakkai chamou.
Eu o ignorei, empurrando mais vitalidade e poder nas cordas enquanto
a escuridão ao meu redor começava a tremer e recuar.
Quando parei, ele rastejou para frente, puxando meus companheiros e
enfraquecendo seus laços.
Mas quando pulsei mais uma vez... tudo se acalmou.
A presença de Constantine pareceu parar ao meu redor, sua confusão
era um toque tangível em meus sentidos.
E eu sorri.
— Não vou escolher — falei pela terceira vez.
Então liberei todo o meu poder e vitalidade em meus companheiros,
explodindo-os com cada grama de minha força e vida, dando a eles todo o
meu coração... e alma.
Eles gritaram em minha mente, exigindo que eu parasse.
Mas não consegui. Eu não o faria.
Este era o meu sacrifício.
O vento girou ao meu redor, a Fonte Sombria aceitando minha escolha.
Minhas veias começaram a pulsar, a energia se derramando de mim
através de quatro fios, revigorando meus companheiros enquanto minha
própria alma começava a chorar.
Eles me imploraram para parar.
Kols exigiu que eu ouvisse.
O poder de Zakkai me envolveu enquanto ele tentava controlar meus
esforços, mas rompi seu feitiço com um dos meus, sentindo meu coração se
quebrar um pouco no processo com sua agonia retumbante. Eu te amo,
murmurei para ele.
Amo todos vocês, eu disse, sussurrando nas mentes deles com minhas
palavras finais enquanto caía de joelhos com um chiado exausto.
Eu estava errada antes. Constantine queria que eu escolhesse. Eu me
recusei. Até agora.
— Eu escolho me sacrificar.
Minhas mãos encontraram o chão escuro.
E soltei cada gota do meu ser nas vinhas que me ligavam a eles, os
gritos de dor pela minha perda... me seguindo para baixo... para baixo...
para baixo...
CAPÍTULO VINTE E CINCO
SHADE

ISSO NÃO ESTÁ ACONTECENDO.


Oito vidas.
Sete das quais eu a vi quase morrer. Eu sempre mudei o tempo.
Sempre a trouxe de volta. Sempre recomecei. Sempre consertei tudo.
Mas não havia como voltar desta vez.
Eu não tinha Paradoxos Fae. Não tinha espada. Eu não tinha poder
para parar isso.
— Aflora — sussurrei, olhando para sua pele azulada. O poder de
obsidiana que revestia suas veias se foi. Não havia mais Fonte Sombria.
Nem ascensão. Mais nenhuma... vida. Assim como foi com Kols. Só que
pior.
Porque combinava com um destino que pensei ter alterado.
Eu tinha feito tudo certo desta vez, finalmente nos levado pelo
caminho destinado à eternidade.
E agora... Meu coração se partiu. Pequena rosa...
— Por favor, não faça isso. — As palavras saíram em um sussurro,
minha voz falhando.
Tantas vidas. Tanto sacrifício. Muita dor.
Mas nada se comparava a isso, ver sua pele mudar... ouvir sua
respiração vibrar... ver sua alma murchar...
Meu coração se recusou a bater.
— Não. — A palavra deixou meus lábios em um som engasgado. —
Não, Aflora. Não. — Sussurrei um feitiço enquanto minha mente travava
em seus fios finais, minha alma se recusando a soltá-la. — Não!
Eu a puxei de volta, meu aperto mágico escorregando enquanto ela
lutava comigo, seu espírito se movendo sem minha permissão.
— Não! — gritei novamente, desesperado.
Muitas vidas.
Este não poderia ser o fim.
Não podia ser isso.
Eu a amei pelo que pareceram eras de uma existência, nossas almas
amarradas de uma forma que poucos entenderiam. Eu a mordi. Ela era
minha. Eu a manteria. Ela não podia me deixar. Não era assim que
funcionava.
— Isso não deveria acontecer! — Eu me enfureci. — Desisti de tudo
por você! Por que você não me soltou? — Eu teria sido seu sacrifício. Eu
teria morrido a seus pés se isso significasse ouvi-la respirar mais uma vez.
Meu aperto em sua alma escorregou novamente, e eu agarrei o ar,
meus dedos passando por ela. Meu feitiço estava diminuindo. Assim como
ela. Assim como meu coração. Assim como a porra da minha própria alma.
Zakkai sussurrou algum tipo de encantamento ao meu lado, sua
tentativa de trazê-la de volta reforçando minha esperança por uma fração de
segundo.
Até que seu suspiro final ecoou em meus ouvidos.
Um som que eu nunca esqueceria.
Um som que me seguiria até o túmulo.
Um som que me disse que eu tinha falhado.
— Oito vidas — sussurrei, minha cabeça caiu em seu peito enquanto
seu pulso desacelerou para uma batida silenciosa.
Eu te amo. Suas palavras passaram pela minha mente, sua alma
beijando minha bochecha enquanto ela escapava da minha última tentativa
de segurá-la.
Estarei sempre com você, Shade. Observando de cima. Eu sempre vou
te amar. Algo macio caiu na minha mão.
Uma pétala de rosa.
Agraciada por sua magia, seu toque Fae da Terra... seu último adeus.
Minha pequena rosa. Minha doce e linda Aflora. Tomada por este
mundo. Esta existência injusta, cruel e miserável.
Não havia volta.
Não havia mais truques de tempo.
Nem cartas na manga.
Era isso.
Apenas eu... minha Aflora... e seu beijo final na forma de uma pétala
de rosa no meu pulso.
Ele ganhou, pensei. Constantine... ganhou.
Eu sempre fui destinado a amá-la e perdê-la. Porque a morte sempre
encontra um caminho.
CAPÍTULO VINTE E SEIS
ZAKKAI

OS FIOS de vida de Aflora circundavam meus pulsos, um poder invisível que


eu podia sentir mais do que ver.
— Ela está aqui — eu disse, falando com ninguém especificamente e
com todos.
Mas ninguém respondeu.
Shade estava com a testa no peito dela, os ombros curvados em agonia
pela perda.
Kolstov e Zephyrus estavam atrás dele, observando com expressões de
horror misturadas com dor.
Eles estavam em choque.
— Ela está aqui! — repeti com a voz tensa enquanto tentava
inutilmente chamar a atenção deles. Mas eles estavam perdidos em dor,
vendo o corpo congelado e sem vida, o coração parando de bater.
Rosnei em aborrecimento, nem um pouco pronto para desistir.
Mas senti Aflora pulsar através da teia da Fonte Sombria, os últimos
vestígios de sua força me impelindo a liberá-la.
É minha escolha, ela parecia estar dizendo. Deixe-me ir, Zakkai. Por
favor, deixe-me ir.
Meu peito doía e minha mente não estava disposta a compreender o
que tinha acabado de acontecer, a rapidez com que perdi minha
companheira.
O sacrifício não deveria ser assim.
Sacrifício tinha a ver com crescimento, perseverança, poder.
Não com morte. Não se tratava de entregar as cordas da vida à Fonte
Sombria. Mas Constantine forçou esse teste sobre ela, fazendo-a escolher.
E ela escolheu a si mesma.
Como uma verdadeira rainha, colocando todos os outros antes de si.
Todos os Faes da Meia-Noite sabiam. Todos sentiram sua decisão, seu
sacrifício, ela colocando nosso amor e nossas vidas acima da dela.
Eu os senti chorar, senti a Fonte Sombria romper com a perda de um
poderoso membro da realeza, uma candidata ideal para governar.
E senti a vitória de Constantine sobre tudo isso, sua risada maliciosa
enquanto a observava perecer dentro daquele vazio escuro... sozinha... sem
seus companheiros.
Aflora, chamei enquanto sua alma escorregava pelos meus dedos e o
feitiço que Shade havia proferido desaparecia no vento.
Ela beijou a mão dele com uma pétala de rosa.
Assim como sussurrou seu amor em minha mente.
Estou bem, ela me disse. Está tudo bem... me deixe ir... me deixe ser
livre, levar os Faes à vida. Vou ver todos vocês de cima. Vou te ver das
estrelas.
Meus joelhos cederam e as lágrimas borraram minha visão quando
uma luz cintilante piscou acima dela, brilhando como um pequeno sol.
Minha estrela.
Minha estrelinha.
Minha doce e linda estrela.
Aflora... Ela foi minha outra metade por tanto tempo que eu não tinha
certeza de como sobreviveria sem ela.
Isso era muito pior do que cortar nosso vínculo todos aqueles anos
atrás. Muito pior do que toda a dor que Constantine e os Anciões infligiram
à minha vida e ao meu ser. Muito pior do que minha própria ascensão e a
dor de assumir o papel de Arquiteto da Fonte.
Era como ter um milhão de estrelas queimando dentro de mim,
deixando apenas uma para me guiar e cuidar de mim por uma eternidade de
solidão.
Porque não haveria outra Aflora.
Nenhuma outra rainha.
Nenhuma outra estrela.
Ela era minha primeira e única... e eu falhei com ela.
Eu falhei... minha doce... linda... estrela...
Apoiei a cabeça nas mãos, sentindo meu mundo se estilhaçar enquanto
a Fonte Sombria chorava comigo, a dor ecoando por todos os vestígios do
meu ser e espírito.
Os Faes da Meia-Noite sabiam.
A rainha tinha acabado de morrer... porque ela se sacrificou por todos
eles. Não apenas por seus companheiros, mas por todos os Faes da Meia-
Noite.
Uma demonstração de como o poder devia ser, como devia ser usado,
como uma verdadeira rainha devia liderar.
A Fonte Sombria piscou com o acerto de sua escolha, elogiando-a por
sua liderança e graça. Foi uma bela despedida.
E um impressionante... olá.
Pisquei, sentindo os caminhos e a magia girando, mudando e
abraçando o sacrifício que ela havia feito... ao se regenerar com vida.
Afastei as mãos meu rosto enquanto olhava para aquela luz piscando, a
estrela na sala que só eu parecia ser capaz de ver.
Sua luz na escuridão.
Sua vida no centro da Fonte Sombria.
Uma realeza... ascendendo ao trono desejado.
Sacrifício e respeito, pensei. Ela acabou de passar em dois testes de
uma vez.
Porque ela se sacrificou por aqueles que amava, e todos os Faes da
Meia-Noite sentiram... e respeitaram sua escolha.
O que deixou apenas um teste para ela passar – sua ascensão.
Senti a energia disparar através de mim, a Fonte Sombria chamando
meu foco mais uma vez enquanto revitalizava nossos laços, reacendendo as
veias de Aflora e empurrando o poder de volta para seu coração.
Eu a senti se mover, sua alma se aventurando pela Fonte Sombria e de
volta à luz.
Sua luz.
Sua estrela radiante.
Sua Terra.
Sua vida.
Sua vitalidade.
Voando pela teia de poder Fae da Meia-Noite com uma finalidade
condizente com uma rainha.
E pousando no corpo ainda quente diante de mim.
Ela abriu os olhos e vi estrelas pintando suas pupilas com luzes
ofuscantes. E ela respirou fundo.
Nossa rainha ressuscitou oficialmente.
CAPÍTULO VINTE E SETE
KOLS

ELA ESTÁ VIVA.


Eu podia sentir em meu corpo, em minha alma, em cada respiração. A
Fonte Sombria aceitou seu sacrifício. E permitiu que sua alma passasse pelo
coração do poder Fae da Meia-Noite antes de retornar ao seu estado
corpóreo.
Ela passou no teste.
Não apenas no teste do sacrifício, mas no do respeito também. O
conhecimento ecoou ao nosso redor, todos da espécie Fae da Meia-Noite se
curvaram para sua rainha escolhida. Era o tipo de respeito que não
precisava ser visto, mas sentido. E isso me deixou de joelhos.
— Minha rainha — murmurei enquanto meus olhos se enchiam de
lágrimas, lutando contra a umidade que já existia. As novas lágrimas eram
de profunda felicidade e orgulho. — Você conseguiu.
Zeph parou ao meu lado, tão perdido em sua dor que não percebeu seu
retorno. Então ele caiu de joelhos ao meu lado por uma razão totalmente
diferente, a emoção rasgando seu peito em um grito angustiado que ele
segurou dentro de si por muito tempo, sua dor esmagando nosso vínculo.
Estendi a mão para ele, firmando-o e permitindo-lhe ter o seu
momento. Ele ficou tão chocado e ferido que não conseguiu reagir. E agora
que Aflora estava acordada, ele soltou uma onda de angústia que não
conseguia mais conter.
Angústia que rapidamente se transformou em exuberância enquanto
ele rastejava em direção a ela.
Provavelmente foi a única vez que eu o veria se curvar dessa maneira.
Shade?, sussurrei, notando seus ombros curvados e sua forma caída.
Sua testa estava apoiada no peito de Aflora e seu corpo imóvel.
Ele não respondeu.
Zeph beijou Aflora, dando um rosnado possessivo.
— Nunca mais faça isso.
Shade?, repeti, tentando encontrar sua mente em nossa conexão. Mas
tudo o que ouvi foi o silêncio.
— Você está bem, estrelinha? — Zakkai perguntou, se ajoelhando ao
lado dela e perto de Zeph.
Shade ainda não se moveu, mesmo quando o corpo de Zeph o cutucou
de lado.
Aflora assentiu lentamente, piscando seus olhos azuis para Zakkai e
Zeph. Olhou para mim, depois para a cabeça baixa de Shade.
Ela levantou a mão para passar os dedos pelo cabelo dele, sem dizer
nada em voz alta. Mas senti o zumbido de energia que sugeria que ela
falava em sua mente.
Ele não reagiu.
Fiz uma careta.
— Shade. — A voz de Aflora estava baixa e sonolenta, como se tudo
aquilo tivesse sido um pesadelo estranho, não uma experiência de partir o
coração. — Você nos deu tudo, Shade. Foi a minha vez de sacrificar algo
por você.
Seus dedos continuaram a pentear o cabelo dele com movimentos
suaves e rítmicos.
— Ainda é o caminho certo — ela continuou. — E você é a razão de
estarmos aqui. — Ela olhou para cada um de nós. — Vocês todos são o meu
propósito de estar aqui. — Sua atenção se voltou para o homem arrasado
em seu peito. — E você tornou isso possível, Shade.
Ela acariciou sua nuca, seu cabelo escuro um contraste impressionante
com a pele pálida dela.
— A vida não pode existir sem a morte — ela sussurrou. — Entendo
isso agora. Por sua causa, Shade. Por causa de todos vocês.
Ela sorriu, a expressão incrivelmente real, e ainda assim ela brilhava
como uma deusa intangível.
Você usa o poder lindamente, eu disse em sua mente. Você é
impressionante.
A eletricidade tocou minha pele enquanto ela respondia com magia em
vez de palavras. Seu controle sobre a Fonte Sombria era quase resoluto.
— Eu também vou te proteger — ela murmurou para Shade. — Todos
faremos sacrifícios uns pelos outros. É o que nos torna mais fortes. E
sabemos que temos que agradecer a você por abrir o caminho. Você nos deu
um presente que nunca será retribuído. Mas passarei minha eternidade com
você, tentando.
— Não quero retribuição — ele murmurou. — Eu só quero você.
— Você me tem — ela jurou. — Você me tem por inteiro.
Ele levantou a cabeça, com os ombros ainda curvados de dor.
— É meu destino correr riscos por você. Não o contrário.
Eu nunca o ouvi falar em um tom tão grave. Ele sempre ostentava um
ar despreocupado, como se nada o perturbasse. Mas agia com a maior
seriedade agora.
— E é meu destino amar todos vocês — ela sussurrou. — E nunca ter
que escolher.
Ela o puxou para si, fazendo o corpo dele se mover sob seu comando
físico.
— Eu daria tudo e qualquer coisa por vocês. Incluindo a mim mesma.
Porque você demonstrou a importância do sacrifício, Shade. Você me
mostrou como viver. Me ensinou como odiar e como amar. Você me ajudou
a aprender a voar sem restrições. E é a razão de eu estar aqui hoje. Agora
mesmo. Bem aqui. Com todos vocês.
Ela o beijou. Sua devoção marcou nossos vínculos enquanto ela se
entregava a todos nós em um nível que desafiava a existência.
Nós éramos dela.
Ela era nossa.
E juntos, perseveraríamos.
Juntos... voaríamos.
Nós a cercamos, cada um se revezando para adorar nossa deusa,
expressando nossa gratidão, amor e reverência absoluta.
Fui o último, meus lábios provando os dela e todos os seus outros
companheiros. Uma união perfeita. Uma ocasião alegre. Um abraço
carinhoso.
Ela sussurrou meu nome com os dedos no meu cabelo enquanto eu me
entregava a outro beijo. Traços lânguidos. Calorosos. Belos. Amorosos.
Encostei a testa na dela, sentindo a urgência dentro de Aflora.
Não era sexual, mas árduo. Nosso abraço estava atrelado ao futuro e a
um destino chamando seu nome.
Rainha Aflora.
— Está na hora — ela murmurou, envolvendo todos nós com seu
poder enquanto engajava a sombra de Shade e nos levava para Floresta
Mortal fora da Academia principal, para o lugar onde a vida dos Faes da
Meia-Noite começou.
Era uma plataforma sagrada cercada por criaturas, noite e o zumbido
de aprovação no ar. Pura magia.
Os Faes da Meia-Noite só se reuniam aqui uma vez a cada mil anos. O
terreno era um lugar conhecido para a ascensão da Fonte Sombria.
Era isso que tornava a Floresta Mortal tão perigosa: a vida vegetal, os
animais e o ar eram assombrados por magia antiga. Tornava os eventos
imprevisíveis.
Mas hoje, a Floresta Mortal estava silenciosa. Esperançosa. Em
expectativa.
Aflora estava no meio de tudo com seu manto e cajado encantados, o
cabelo preto azulado balançando em uma brisa intangível criada pelo poder
e não pelos Elementos ao seu redor.
Um círculo de árvores antigas nos cercava, com galhos negros
brilhando com fogo para iluminar a noite.
A magia roçou minha pele quando uma capa apareceu em meus
ombros, meu peito nu foi coberto de repente por uma camisa e minhas
calças de pijama substituídas por calças pretas.
Zeph, Zakkai e Shade estavam vestidos com trajes semelhantes.
Mas os fechos de nossas capas eram rosas rubi com estrelas brilhantes
no centro. As bordas brilhavam com a energia defensiva de Zeph, e os
fechos se conectavam ao tecido com uma série de raízes multicoloridas.
Uma para cada companheiro.
Meu coração se aqueceu com a afirmação clara de que nossa rainha
nos presenteou com sua própria prova de proteção.
E elas brilhavam ao luar. As pétalas vermelhas cintilavam com cores
renovadas para combinar com as raízes.
Uma série verdadeiramente mágica de encantos.
Acariciei-o com o polegar, sentindo o toque de Aflora, e sorri.
Obrigado, amor.
Ela soprou um beijo em minha mente, então terminou seu próprio
guarda-roupa com um vestido preto esvoaçante que brilhava como um
diamante, mostrando todas as cores dos Faes da Meia-Noite.
Seu olhar foi para a linha das árvores. Sua postura se tornou poderosa
quando os galhos começaram a farfalhar.
Então uma onda de feitiços voou para ela da borda da floresta – cada
um ricocheteando em um escudo que não a senti criar.
Magnífico.
Nossas capas eram o escudo e seu aperto o portador do feitiço protetor.
Foi por isso que senti Zeph dentro da magia. Ele assumiu uma postura
cautelosa ao lado dela com Zakkai do outro lado, prontos para uma luta.
Mas Aflora havia terminado com essa batalha.
Ela não lançou nenhum encantamento aos Guerreiros de Sangue que se
aproximavam. Ela simplesmente absorveu seus encantos e os transformou
em pétalas de rosa no chão.
Shade ficou atrás dela, e eu na frente, os quatro criando um claro
círculo de companheiros ao redor dela.
Isso não impediu os Guerreiros de Sangue ou os Anciões atrás deles.
No entanto, cada feitiço ofensivo foi desintegrado em flores. O poder
de Aflora era resoluto.
Ela tocou meu ombro. Seu corpo pequeno estava escondido pelo meu
muito mais alto. Me mexi quando ela deu um passo ao meu lado. Zeph se
aproximou, com Zakkai e Shade completando a fila à esquerda de Aflora.
Meu avô apareceu, com meu pai e meu irmão ao lado dele, a fúria
coletiva roubando o ar dos meus pulmões.
— Abominação! — eles gritaram.
— Isso não pode continuar — meu avô concluiu.
— Ainda assim, você mesmo garantiu minha ascensão — Aflora
respondeu em um tom calmo e um feitiço de memória apareceu quando ela
exibiu o evento para todos os Faes da Meia-Noite.
— Logo eles a verão pelo que você é, rainha Aflora — a voz de meu
avô reverberou pela Floresta Mortal e por todas as nossas mentes. — Uma
abominação na forma mais verdadeira. Um monstro. Um ser consumido
pelo poder, tanto Fae Elemental quanto Fae da Meia-Noite na natureza. E
mal posso esperar para ver você queimar.
— Uma abominação, sim — ela concordou. — Mas não sou o
monstro, Constantine. Não sou o ser consumido pelo poder. No entanto,
todos me viram queimar, assim como você disse. E agora, eles também
conhecem minha verdadeira natureza.
Senti o pesar de Aflora se derramar através de nosso vínculo, seu
coração partido pelo homem diante dela.
Não pelo meu pai.
Não pelo meu irmão.
Mas pelo meu avô.
— Você quer controlar todos eles — ela sussurrou. — Porque tem
medo do que não entende. Você se recusa a ouvir, observar e aprender.
Anseia por poder como proteção, e isso o consumiu. Porque você nunca
aprendeu a ter equilíbrio.
A energia fluiu através de nossas conexões enquanto Aflora se
firmava, empurrando a Fonte Sombria para seus companheiros,
demonstrando sua versão de equilíbrio.
— Você nunca aprendeu a amar — ela continuou em tom triste. — E
por isso, sinto muito. Emoções são o que nos enraízam para a vida. Sem
elas, voamos muito alto e nos esquecemos de como sentir. Meus
companheiros, aqueles que você tentou me forçar a escolher, são as minhas
rochas. Minha fundação. As razões pelas quais sou capaz de absorver e
manter conexões com duas Fontes.
Ela segurou minha mão e a de Zakkai, apertando nossas palmas.
— Esses Faes da Meia-Noite representam meu equilíbrio. Eles são os
meus reis. Meus iguais. Meu conselho pessoal. Eles são o motivo da minha
ascensão hoje. Porque eles me ensinaram a viver e amar.
O silêncio caiu e meu avô semicerrou os olhos.
No entanto, ao redor da linha das árvores... os Faes da Meia-Noite
começaram a se ajoelhar.
Não para a linhagem Nacht.
Mas para Aflora, a Rainha dos Faes da Meia-Noite.
Um raio de poder escapou de nossos escudos e a energia de Aflora
envolveu meu pai e irmão enquanto ela desembaraçava uma teia invisível
das auras deles. Eu não podia ver, mas sentia.
Zakkai estendeu a mão, encorajando seu trabalho.
— O que você está fazendo? — Constantine perguntou, sentindo
também. Ele começou a arregalar os olhos. — Vocês não sentem essa
feitiçaria? — Ele olhou para os Anciões e os Guerreiros ajoelhados. — Ela
encantou a todos. Vocês não sentem isso?
— Não sou eu quem tece encantamentos, Ancião Constantine — ela
respondeu. — Estou apenas... desfazendo-os.
Meu pai ofegou quando caiu de joelhos, com a mão no pescoço.
Seus olhos dourados encontraram os meus com horror abjeto
irradiando em suas profundezas.
— Kols... — Então ele olhou para as próprias mãos com vergonha
enquanto as memórias do que ele tinha feito passavam por suas feições. —
Querido Fae... — Sua atenção se voltou para o homem ao lado dele. —
Meu próprio filho. Você me fez matar meu próprio filho.
— Para o bem da espécie Fae da Meia-Noite — meu avô rosnou. — O
que, claramente, todos vocês se esqueceram, porque essa coisa os
enfeitiçou. — Ele apontou para Aflora, sua ira aumentando a cada segundo.
Zakkai endireitou a postura e semicerrou o olhar, sua reação me
dizendo que meu avô havia acessado a Fonte Sombria.
Mas um aceno de Aflora desmantelou tudo e fez com que pétalas de
flores caíssem do céu claro.
Meu avô xingou.
E Tray deu um soco no rosto dele.
— Onde é que está a Ella? — ele exigiu, pegando o velho pelo
colarinho e estrangulando-o com seu aperto. — Onde ela está?
— Ela está vindo. — A resposta de Aflora foi levada pelo vento, seu
poder tão resoluto que até eu quis me ajoelhar. Nunca senti nada parecido.
Meu pai sempre ostentava uma energia que me tirava o fôlego, mas
Aflora... ela era como segurar a própria Fonte. — Ela está segura, Tray.
Meu irmão desmoronou, e sua agonia despedaçou meu coração.
Queria ir até ele, abraçá-lo, jurar que Ella o perdoaria.
Mas um toque da mente de Shade me manteve firme.
Porque minha companheira precisava mais de mim e minha posição ao
lado dela era simbólica de muitas maneiras. E ela falou sério: nós éramos
suas âncoras, aqueles que a mantinham no chão.
Se eu deixasse nosso casulo de proteção, meu avô me usaria contra ela.
Eu não podia permitir que isso acontecesse.
Meu avô explodiu Tray com um feitiço que o jogou no chão, em
seguida levantou a mão com uma bola de WarFire destinada a destruir.
— Vocês são inúteis — ele resmungou.
Um choque atingiu meu coração e o medo no rosto do meu irmão me
fez dar um passo à frente.
Não, Shade exigiu, sua palavra me paralisando.
O WarFire deixou a palma da mão do meu avô, se inclinando em
direção ao peito do meu irmão.
Tray! Tentei me mover, ir até ele e salvá-lo de seu destino, mas Zeph
segurou meu ombro, me mantendo no lugar.
Meu irmão gritou quando o feitiço o atingiu, mas congelou segundos
depois quando a pedra engoliu sua forma. Pisquei, chocado com o estado
marmorizado instantâneo da morte.
Meu pai gritou de fúria e a Fonte Sombria respondeu ao seu chamado,
envolvendo meu avô em um mar de escuridão.
Mas o homem apenas riu, dissolvendo o feitiço com um movimento de
sua varinha e disparando uma onda de choque no abdômen do meu pai,
fazendo-o cair de joelhos ao lado do corpo imóvel de Tray.
— A magia é fascinante — uma nova voz, profunda, envolvente e
familiar disse. — Pode ser manipulada de muitas maneiras. — Tadmir
atravessou as árvores com vários conselheiros.
Suas habituais vestes pretas haviam desaparecido, substituídas por uma
capa com bordas em cerúleo e seus longos cabelos brancos cintilavam com
chamas verde azuladas.
— Desculpe o atraso — ele falou. — Eu tinha alguns feitiços para
desfazer. — Ele apontou a varinha para meu irmão e as pedras se
quebraram ao redor da pele de Tray, revelando meu irmão gêmeo irado por
baixo.
Pisquei, confuso com a visão dele se contorcendo para fora do
invólucro de mármore.
Meu avô parecia igualmente fascinado e parcialmente surpreso. Ele
ficou boquiaberto com os Conselheiros que se aproximavam, seu olhar
pousando no de cabelos brancos.
— Ah, sim, você não se lembra disso — Tadmir falou. — Bem, em
uma linha do tempo anterior, você conhecia minha verdadeira natureza.
Você matou minha companheira Quandary de Sangue. Tentou levar meu
filho também.
Um homem de cabelos escuros com tatuagens girando no braço
apareceu no instante seguinte encostado em uma árvore. Arqueei as
sobrancelhas em reconhecimento. Kyros. Paradoxo Fae. Ele tinha ajudado
Shade a manipular o tempo.
O macho piscou para mim como se tivesse ouvido meus pensamentos,
então apoiou o pé no tronco da árvore.
— Infelizmente, o tempo não me permitiu salvar minha companheira.
Mas me permitiu me preparar adequadamente para você e seus planos
destrutivos para os Faes da Meia-Noite. — Ele apontou para si mesmo. —
Você queria um conselho todo masculino, então me tornei um Maléfico de
Sangue e tomei uma nova companheira – uma mulher que era a melhor
amiga da minha companheira anterior. É uma história longa que termina em
uma infinidade de linhas do tempo, sendo essa a via preferida, é claro.
Ele ergueu os olhos para Aflora.
— A linha do tempo em que ela se torna rainha — ele concluiu com
um sorriso. — Eu disse que você me conhecia. E agora você vê o porquê.
Somos iguais, você e eu. Abominações que usam nosso poder para
melhorar o mundo, não para destruí-lo.
— A mensagem na pedra — ela respirou, seus lábios se curvando de
leve. — Eu me lembro e agora entendo.
— Sim — ele concordou, curvando a cabeça em reverência sutil. —
Minha rainha.
— Foi sobre isso que avisei a todos — meu avô falou e seu medo era
palpável. — Que abominações vivem entre nós e tomarão nossos reinos.
Você é a prova. Os reinos Faes precisam ver! — Ele enviou uma onda de
poder que se tornou uma súbita rajada de vento, dissolvendo-se em fogo um
instante depois.
Ele ficou chocado, então seu olhar focou na linha das árvores enquanto
uma abundância de poder balançava a Terra.
Uma presença familiar tocou meus sentidos quando as árvores se
separaram em reverência, permitindo que a Rainha Fae Elemental entrasse
com seus companheiros, o Rei Fae do Espírito e o Rei Fae da Água ao seu
lado.
E um Fae da Terra de aparência muito irritada atrás deles.
Engoli em seco.
A última vez que vi aquele homem gigante, ele deu um soco no meu
rosto. E eu não estava com vontade de repetir a performance.
Um Fae do Fogo e um Fae do Ar apareceram logo em seguida, o
círculo inteiro da rainha a cercando em proteção óbvia.
Então seu olhar se fixou em Aflora.
Todos se aquietaram.
Até que meu avô sorriu.
— Eu disse que ela era uma abominação. Assim como a Elana. Acho
que vocês sabem o que tem que ser feito.
Ah, merda
CAPÍTULO VINTE E OITO
AFLORA

APERTEI A MÃO DE KOLS, sentindo sua tensão.


Nós dois sabíamos o que as palavras de Constantine implicavam e
como elas poderiam ser percebidas, mas senti a Fonte da Terra brilhando
sobre mim. O que significava que Sol também podia sentir.
Suas íris castanhas-esverdeadas encontraram as minhas sobre a cabeça
de Claire e a preocupação era evidente em suas feições. Mas um olhar e
seus lábios se curvaram.
Ele sabia que eu ainda era a mesma. Apenas uma versão nova e
melhorada.
Aprimorada.
Mais poderosa.
Mas ainda uma Fae da Terra de coração.
Fiz uma reverência para minha Rainha Fae Elemental, mostrando meu
respeito.
— Rainha Claire — cumprimentei em voz baixa. Há alguns meses, eu
teria corrido e implorado para ela me levar para casa. Mas vendo-a agora,
cercada por seus companheiros, percebi que eles não representavam mais
meu refúgio preferido.
O reino Fae da Meia-Noite era meu lar agora, minhas raízes haviam
crescido profundamente no solo deste mundo e o reivindicavam como meu.
Por causa dos meus companheiros.
E a Fonte Sombria.
Esses Faes precisavam mais de mim também. Eles exigiam minha luz
e vida para guiá-los em uma fase de crescimento e prosperidade.
O que exigia que eu fizesse algo destrutivo primeiro.
Algo que eu nunca teria considerado fazer algumas semanas atrás.
Mas aprendi através de meus testes que às vezes devemos destruir para
pavimentar o caminho para a recriação. Pois a vida não poderia existir sem
a morte.
Constantine era uma semente ruim, sua mentalidade tão distorcida que
ele não conseguia mais ver a luz. Ser uma rainha exigia escolhas difíceis, e
esse seria meu fardo.
Meu teste final de ascensão.
Devolvendo a semente ruim à terra, onde ela poderia renascer e
florescer em algo bom.
Claire me observou com suas íris azuis intensas enquanto as memórias
passavam por seus olhos. Reconheci o brilho assombrado em suas feições,
porque muitas vezes eu mesma o sentia quando pensava em Elana. Ela
destruiu quase todos os Espíritos Faes com uma praga que mais tarde
transformou os Fae da Terra.
Senti aquela magia sombria, a absorvi e a desfiz antes que ela pudesse
alcançar o coração da minha Fonte. Eu não tinha entendido na época, já que
minha mente trabalhou apenas no instinto protetor, mas agora eu sabia que
aquele dom tinha vindo de Zakkai.
Como sua companheira Quandary de Sangue, fui capaz de salvar meus
companheiros Faes da Terra, reconfigurando o feitiço de Elana e afastando-
o do meu reino.
O que significava que sempre fui uma abominação, desde os sete anos.
No entanto, eu vivia em paz com meus companheiros Faes Elementais.
E agora, eu compartilharia essa paz com os Faes da Meia-Noite.
— Não sou uma ameaça — eu disse a ela em voz baixa. — Não é a
quantidade de poder que importa, mas sim como o usamos. — E se alguém
entenderia isso, seria Claire. Como uma Fae Elemental com acesso aos
cinco Elementos, ela sabia melhor do que ninguém o que o poder podia
fazer a um Fae.
— Estar conectada a duas Fontes torna você mais poderosa —
Constantine fervia. — Isso a torna perversa e enganosa, e vou garantir que
todos vejam essa farsa que você criou. — Fios escuros de energia
escapavam de seus dedos enquanto ele falava, mas ninguém mais parecia
notar.
A Fonte Sombria protestou em meu coração, me dizendo que esse não
era o caminho, me implorando para resolver as coisas.
Esta era a magia que ele usou para manipular e controlar os outros, o
feitiço perverso que consumiu dois Elites de Sangue e provavelmente vários
outros.
O olhar cor de obsidiana de Tadmir encontrou o meu, o conhecimento
brotando de suas profundezas.
Ele não pode ver, mas pode sentir, Zakkai explicou. Eu também.
Embora eu possa sentir com mais clareza através de sua mente.
São como linhas pretas de fumaça, eu disse a ele. Escapando dele em
ondas.
Esta é sua posição final, Zakkai sussurrou enquanto o poder se
fortalecia, enviando faíscas elétricas por minha psique.
Sim.
Mas eu não ia lutar com Constantine.
Muitos Faes se machucaram e foram mortos por seus jogos e
travessuras. Eu queria florescer em uma plataforma de crescimento e vida.
Não ficar na mente daqueles que prejudicaram a espécie Fae.
Este reino foi governado pela morte por muito tempo.
Estava na hora de demonstrar o que a vitalidade e a luz podiam fazer.
Constantine enviou seu poder em uma rajada de ar, tocando as almas
de todos que estavam próximos, até Claire. Mas peguei as raízes antes que
elas pudessem se conectar aos núcleos de seus seres.
E gentilmente a puxei de volta, me recusando a permitir que os
espíritos deles fossem manchados pela escuridão.
— Constantine Nacht — eu disse, minha voz ecoando pela Floresta
Mortal e além. — Você governa de um trono de destruição e ódio. É hora de
uma nova era de recriação e amor.
Puxei seu feitiço com meu cajado enquanto falava, as linhas pretas
facilmente respondendo ao meu chamado.
— As abominações não devem ser temidas. Elas são seres de amor,
criadas por Faes que escolhem acasalar fora de seus reinos com outros seres
de heranças semelhantes, mas diferentes. Isso é algo para ser celebrado, não
destruído. — Olhei para a Monarca Fae Elemental. — Você não concorda,
rainha Claire?
Ela era uma Halfling, um ser nascido de uma Fae Elemental e um
humano. Mas por causa de sua metade mortal, ninguém se referia a ela
como uma abominação – apenas alguns usavam isso como insulto quando
queriam ser cruéis. No entanto, era realmente tão diferente?
— Concordo — ela respondeu, em tom altivo e de cabeça erguida. —
O amor é o Elemento mais poderoso de todos.
— As emoções são ferramentas poderosas — concordei, voltando
minha atenção para Constantine. Ele criou mais daquela fumaça. Sua
expressão era impassível na tentativa de não revelar nada. Porque ele não
tinha ideia de que eu podia vê-lo por quem ele realmente era – uma alma
quebrada, presa no corpo de um poderoso Ancião Elite de Sangue.
Destruir sua concha não consertaria a escuridão dentro dele.
Ele precisava viver. Ver. Testemunhar.
Seu destino apareceu para mim em um piscar de olhos, a Fonte
Sombria concordando com minha decisão quando comecei a girar aquelas
fibras de obsidiana em raízes parecidas com videiras perto de seus pés.
Ele não percebeu, estava muito focado em criar mais... e mais... seu
desejo de manipular e controlar o consumindo de dentro para fora e
obscurecendo sua capacidade de decifrar seu destino.
Ele era um ser de sua própria criação.
Ira escura.
Chamas de obsidiana.
Alma obsessiva.
Tadmir deu um breve aceno de cabeça, não sabia se ele viu ou sentiu
minha intenção. Mas a palma da mão de Zakkai apertando a minha sugeria
a primeira. Porque ele podia ver o encantamento se formando, tecendo ao
redor e pelas pernas de Constantine enquanto o Ancião continuava a exalar
poder.
Ele não parecia entender porque não estava funcionando e sua
frustração o fez franzir a testa quando emitiu uma ordem através da Fonte
Sombria.
Mas a Fonte não respondeu mais a ele.
Estava sob meu comando.
Eu não poderia dizer quando ascendi, mas a senti prosperando em
minhas veias, a energia me chamando de rainha enquanto eu estava sobre o
antigo terreno fértil do poder Fae da Meia-Noite.
Eu não tinha ideia de por que eu tinha corrido até aqui todos aqueles
meses atrás para expulsar a abundância de vitalidade em meu ser. Mas eu
entendia agora. A Floresta Mortal me chamou com um propósito, exigindo
que eu revitalizasse a Terra em preparação para minha eventual ascensão.
Fui a rainha escolhida o tempo todo.
Kols foi o Príncipe Fae da Meia-Noite destinado a me guiar através de
seu teste... e então sacrificar seu trono por mim, a legítima monarca.
Uma Rainha Fae da Terra conectada a duas linhagens régias Fae da
Meia-Noite, a companheira do Arquiteto Fonte, e a protegida escolhida de
um Guerreiro de Sangue forte.
Este caminho sempre foi nosso, sussurrei para Shade.
Sim, ele concordou. Foram necessárias apenas oito tentativas para
acertar.
Eu sorri. Tenho alguns companheiros teimosos.
Ele bufou. Eufemismo.
Eu ouvi isso, Zeph respondeu secamente.
Acho que todos nós ouvimos, Kols respondeu.
Nossas mentes estavam se conectando de uma maneira estranha, quase
como se eu tivesse cruzado todos os nossos fios para garantir que
pudéssemos ter um vínculo aberto. Eu ainda tinha meus vínculos para cada
um deles, mas este novo fórum aberto... era o resultado da minha magia Fae
da Terra.
Olhei para Claire com surpresa, notando seu sorriso.
Vínculos Fae da Terra, percebi. O quarto nível.
Sempre exigia uma cerimônia, um ritual de magia e palavras, mas de
alguma forma, Claire nos incitou o tempo todo, criando um acasalamento
divino diferente de tudo que eu já tinha ouvido falar.
Seu acesso aos Elementos cresceu. Eu podia sentir enquanto ela
espreitava na borda da Fonte da Terra, suas raízes acariciando a energia sem
ancorar.
Porque ela me respeitava como a Rainha Fae da Terra.
E esse dom de intensificar meu acasalamento com Kols, Zeph, Shade e
Zakkai era sua maneira de demonstrar que realmente não era sobre quanto
poder possuíamos, mas como o usávamos.
Obrigada, pensei, transmitindo a mensagem com os olhos.
Ela sorriu de leve e fez uma reverência, com a cabeça inclinada em
deferência, assim como eu fiz quando ela chegou.
Duas rainhas reconhecendo a realeza da outra.
Respeitando os limites.
E celebrando a monarquia uma da outra.
O que significava que ela sabia que eu não era como Elana, que apesar
do meu status de abominação, ela confiava em mim. E pela aparência de
seus companheiros, eles também.
Constantine rosnou, atraindo meu foco de volta para ele. Sua fúria era
um pico afiado no ar enquanto ele tentava uma última vez lançar um
encantamento. Mas já era tarde demais. As raízes estavam bem fundas no
solo abaixo dele, as brasas enfumaçadas de seus feitiços se solidificando em
rocha obsidiana ao seu redor enquanto o tronco de uma nova árvore brotava
em uma série de trepadeiras letais.
Ele arregalou os olhos.
— Não fiquem aí parados! — Seu grito foi dirigido aos guerreiros
ainda ajoelhados. Ou talvez aos outros Anciãos e Conselheiros. — Façam
alguma coisa!
— Estamos fazendo — Tadmir respondeu de forma categórica. —
Estamos assistindo e admirando a escolha de punição da nossa Rainha Fae
da Meia-Noite. — Seus olhos negros brilharam para mim e seus lábios se
curvaram em uma leve diversão. — O que devo dizer que é bastante
apropriado.
Verdade, Zakkai concordou em minha mente. Você o está prendendo
em uma árvore.
Estou criando um símbolo do nosso futuro, corrigi. Ao enrolar uma
árvore em volta dele. O que o prenderia por toda a eternidade, mas esse não
era o ponto.
Ele apertou minha mão e sua diversão era palpável.
Ignorei a vontade de sorrir e me concentrei na vida crescendo.
— Às vezes, a destruição é necessária para renovar a vida. Mas é como
administramos essa destruição, e as lições que nascem com ela, que mais
importa — eu disse a Constantine em voz baixa. — Você servirá para
sempre como um lembrete disso, pois sua alma residirá dentro da árvore de
sua própria criação mágica... por toda a eternidade.
Ele abriu a boca para responder, seus olhos dourados brilhando com
magia, mas o tronco da árvore o silenciou quando as trepadeiras cobriram
sua boca e envolveram a parte de trás de sua cabeça.
Abençoado silêncio caiu enquanto a vida continuava a brotar, o tronco
robusto, largo e envolto em todos os pecados sombrios do homem. Peguei
sua magia sombria e a tornei corpórea, cada veia pulsante era um feitiço
que eu retraí dos Faes da Meia-Noite deste reino.
Porque agora que eu sabia que encantamento ele preferia para sua
manipulação, eu podia senti-los por todo o reino.
Eu os puxei de volta através da minha conexão com a Fonte Sombria.
E envolvi o poder ao redor da base, observando enquanto ele se
enrolava cada vez mais alto até que a árvore estava com vários metros de
altura, com galhos repletos de chamas ardentes que sempre queimariam
como um lembrete para os Faes da Meia-Noite do quanto nós chegamos
longe.
— Um show de renascimento — suspirei, contente com o design. —
Uma árvore de vingança, destinada a inspirar a reforma.
Um show de luz iluminou a floresta e pequenos pontos piscavam no ar
enquanto centenas de Faes da Meia-Noite se aproximavam, com as varinhas
empunhadas como tochas.
Zenaida liderava um lado.
Laki, o outro.
Faes da Meia-Noite de todas as espécies seguiam atrás deles, entrando
na clareira das árvores, preenchendo tanto espaço quanto o chão permitia.
Eles ergueram as varinhas em direção ao céu.
E inclinaram as cabeças.
— Nossa rainha ascendeu — Zen proclamou.
— Nossa rainha ascendeu — vários repetiram.
E então eles começaram a cantar um hino antigo, as palavras líricas
para meus ouvidos.
É uma música Fae da Meia-Noite elogiando a Fonte Sombria por sua
escolha, Kols explicou, tocando os lábios na minha têmpora. Estão
cantando sobre você, Aflora. Sobre nossa nova Rainha Fae da Meia-Noite.
CAPÍTULO VINTE E NOVE
KOLS

— AS ASCENSÕES de vocês são muito mais emocionantes que as nossas — Cyrus


murmurou enquanto tomava um copo de limonada ardente. Sua magia da
água não parava de esfriar o líquido antes que alcançasse sua língua,
acabando assim com todo o propósito do feitiço. Mas eu não ia corrigir o
Rei Fae da Água.
— Vocês transformam ex-reis em árvores, quase queimam uma
floresta com um monte de varinhas bruxuleantes e depois fazem uma festa
incrível — ele continuou. — Quero dizer, sério, estou impressionado e um
pouco irritado que isso só aconteça uma vez a cada mil anos.
Bufei.
— Eu te asseguro que não são todas assim. — Pelo menos, nenhuma
além daquela, pelo que eu sabia.
E, na verdade, as outras foram ascensões bastante mortais,
considerando o extermínio Quandary de Sangue que se seguiu.
Fiz uma careta.
Talvez Cyrus tivesse razão.
— Sei uma maneira de tornar tudo isso ainda mais emocionante —
uma voz profunda atrás de mim falou, o tom me lembrando de pedras
rolando.
Estremeci quando o Fae da Terra gigante colocou a palma da mão no
meu ombro e deu um aperto não muito terno.
— Kolstov — ele disse.
— Sol — respondi. Shade? Talvez eu precise que você me faça
desaparecer em breve.
Sua diversão voltou através do vínculo. E deixar de ver aquele Fae da
Terra bater na sua cara? Nossa, estou bem aqui.
Semicerrei o olhar para ele. Devo contar a ele como você mordeu a
Aflora contra a vontade dela? Então insistir em uma apresentação?
— Cyrus — a voz de Zeph interveio. Sua presença ao meu lado era
tranquilizadora e protetora enquanto ele olhava para a mão no meu ombro e
a seguia até o dono. — Sol.
— Zephyrus — o Fae da Terra respondeu friamente.
— Bem, isso vai ser divertido — alguém disse atrás de nós, fazendo
Cyrus revirar os olhos.
— Você só quer vê-los lutar — o Rei Fae da Água falou.
— Correção — Titus, que presumi ser quem falou anteriormente, se
juntou ao nosso pequeno círculo e encostou o ombro no de Zeph — Quero
ver esse aqui lutar.
Meu Guardião bufou.
— Você não poderia lidar comigo em uma luta.
— Isso é uma ameaça? — Sol questionou.
Suspirei. Aflora?
Ela se aproximou de nós em um piscar de olhos, com os olhos azuis
brilhando com poder. No segundo em que apareceu, Sol me soltou e deu um
abraço nela, o que fez Zeph rosnar ao meu lado. Ela gritou quando o Fae da
Terra a pegou e a girou, então riu quando ele a colocou no chão. Era nítido
que sua amizade era nascida do amor fraternal.
Mas eu também sabia que ela teve uma queda pelo bruto.
Isso azedou um pouco a minha diversão.
Assim como o olhar que ele me deu quando colocou o braço em volta
dela.
Protetor nem começava a descrever aquele olhar. Era mais uma
expressão que dizia: Se machucá-la de novo, vou te rasgar em pedaços e
aproveitar cada minuto.
Claire se juntou a nós, seu olhar indulgente indo para Cyrus e Titus
antes de Sol.
— Não, você não pode transformá-los em rochas. A Aflora não
aprovaria.
Ele resmungou.
— Jogando a minha diversão montanha a baixo.
Montanha, pensei, bufando. Trocadilhos Fae da Terra?
De repente, vejo de onde vem o vocabulário de Aflora, Zeph falou.
— Pare de ser implicante, Sol — Aflora murmurou, beijando-o na
bochecha e ganhando outro rosnado de Zeph.
— Acho que você precisa de mais limonada — sugeri de leve, olhando
para o meu Guardião.
Ele não se moveu.
— Certo — murmurei. — Vamos. Obrigado a todos por terem vindo.
Eu não tinha certeza do que dizer, então mantive as formalidades de
agradecer à realeza por participar da ascensão. Eu soube por Cyrus que
Constantine procurou os outros reinos para contar sobre Aflora e pedir
ajuda. Claire foi a única a responder, os outros reinos Faes dizendo a ele
para lidar com sua própria confusão.
Suspeitei que o Rei Fae do Inferno tinha algo a ver com essas recusas.
Eu não sabia dizer o motivo. Era mais um instinto que herdei de Shade.
Continue vasculhando minha cabeça e você vai se arrepender, ele
avisou, captando meus pensamentos.
Não deveria ter acasalado comigo, respondi.
Não mudaria isso por nada no mundo, ele admitiu, me lançando um
sorriso rápido antes de focar novamente em Tadmir. Ele estava contando
sobre Ajax, algo sobre ele assumir uma nova posição com Zen. Eu não
tinha entendido muito bem, mas pretendia perguntar sobre depois da
cerimônia.
Especialmente porque o que quer que Tadmir estivesse dizendo sobre
Ajax parecia ter todo o interesse de Kyros também, algo que percebi não ser
comum para o Paradoxo Fae.
Aflora saiu do abraço de Sol e se espremeu entre mim e Zeph,
passando o braço em volta da cintura dele enquanto apoiava a cabeça em
meu ombro.
Onde está o Zakkai? perguntei a ela.
Com a Zen e o Laki, ela respondeu com um suspiro. Eles estão
conversando com seu pai sobre como seguir em frente.
Era lá que você estava? perguntei, me sentindo mal por interromper
uma discussão tão importante.
Sim.
Você precisa voltar?
Não, estou cansada de discutir política, ela respondeu. Eu preferi agir
como uma barreira entre você e o punho de Sol.
Eu bufei. Posso me virar sozinho.
Pode. Mas quero ser a única a tirar sangue de você. Ela se mexeu para
beijar meu queixo enquanto o Fae da Terra observava.
Ele claramente não aprovou, mas um empurrãozinho de sua rainha o
fez relaxar um pouco.
Titus pegou a bebida de Cyrus. Sua fascinação pelas chamas ficou
evidente enquanto ele criava várias outras para dançar com as brasas.
Enquanto isso, Cyrus baixou o foco para o decote do vestido de Claire, que
ele claramente achava mais intrigante do que a limonada.
Que pequeno círculo estranho nós fazíamos.
Exos e Vox estavam conversando sobre filosofia com Chern, que
Aflora afirmou que não estava sob nenhum feitiço. O Conselheiro Sangré
de Sangue nunca demonstrou emoção ou preferência, marcando-o como um
Fae da Meia-Noite para observar. No entanto, eu suspeitava que ele
aprovasse a ascensão de Aflora, porque o Conselheiro disse a ela que era
uma escolha lógica.
Tray e Ella não estavam à vista, tendo corrido para os braços um do
outro logo após a cerimônia da varinha. Eu tinha uma boa ideia do que eles
estavam fazendo, mas não queria sair procurando para descobrir. Eu
compartilharia um momento privado com meu irmão mais tarde. Por
enquanto, eu estava satisfeito por saber que ele estava saudável e vivo.
Todos os outros pareciam estar conversando, vários Faes não tendo
visto velhos amigos por mais de mil anos, e os Faes da Meia-Noite mais
jovens perguntando aos Quandarys de Sangue sobre seus paradigmas e
como eles se esconderam.
O céu estava colorido, o sol nascendo para ultrapassar a lua.
Nossa ascensão estava lentamente chegando ao fim, a Floresta Mortal
se preparando para retornar às suas costumeiras travessuras protetoras.
Com a árvore de Constantine no centro de tudo, os galhos pretos
retorcidos cheios de chamas.
Era um espetáculo para ser visto, algo que eu nunca poderia ter
imaginado.
Muitas vidas foram perdidas. Amigos, família, Faes inocentes.
Mas como Aflora disse, onde havia vida, havia morte.
Felizmente, minha mãe não estava entre essas almas. Ela foi presa pelo
meu avô e agora estava na clareira, perto da mãe de Shade.
Aswad espreitava. Sua expressão era de confusão e perda. Ele foi
vítima do meu avô, assim como vários outros conselheiros, incluindo o pai
de Emelyn, Lima, que ficou histérico logo após ser libertado do feitiço. Pelo
menos, esse foi o relato e a explicação de Tadmir sobre o motivo de Lima
não ter comparecido à cerimônia.
Senti pelo Elite de Sangue, mas também achava que era culpa dele.
Lima sempre ansiou pelo poder, daí ter arranjado um casamento entre mim
e sua filha. Então, embora ele possa ter ficado sob o feitiço do meu avô,
nem sempre foi assim.
No que dizia respeito a Aswad, eu não tinha certeza de como me
sentia. Eu podia sentir a descrença de Shade quanto a sinceridade de seu pai
e suas perguntas sobre se ele realmente estava ou não sob um feitiço. No
entanto, Tadmir confirmou que ele mesmo desfez o feitiço de manipulação
antes da cerimônia. E ele também sentiu que estava lá há algum tempo.
Exos ouviu nossa breve conversa e mencionou algo sobre um Fae do
Espírito chamado Mortus ter passado por uma experiência semelhante com
Elana. Shade perguntou se ele confiava no Fae do Espírito, e Exos franziu a
testa, dizendo:
— Não exatamente.
Um sentimento que Shade e eu compartilhávamos não apenas sobre
Aswad, mas também sobre os outros Conselheiros e Anciões.
Estaríamos atentos e prontos para lidar com essas ameaças à medida
que surgissem, porque ninguém tocaria em nossa rainha.
Zeph murmurou em concordância em minha cabeça, nossas conexões
bem abertas, graças aos laços Fae da Terra que se estabeleceram entre todos
nós.
Porém Aflora mencionou que não era normal que o vínculo fosse tão
vasto, dizendo que ela estava bastante certa de que Claire e seus
companheiros não podiam falar dessa maneira. Claro, ela nunca procurou
uma prova definitiva dessa crença, porque não era da conta de ninguém se
os companheiros de Claire podiam ou não falar um com o outro.
Independentemente disso, eu suspeitava que nossa capacidade de
conversar era devido à mistura da Fonte Sombria com a da Terra, e talvez o
resultado de vários de nós compartilhando nossos próprios vínculos uns
com os outros também.
Aflora suspirou satisfeita contra mim, seu corpo parecendo oscilar.
Acho que nossa estrelinha está pronta para ir para casa, Zakkai disse
a todos nós. A questão é: qual casa?
Conheço um lugar, Shade respondeu.
Claro que sim, Zeph falou. Outro paradigma?
Um segredo final parece um direito de passagem, Shade disse,
ignorando a pergunta. Podemos ir?
Aflora sussurrou, dizendo que precisava se despedir de alguns Faes, o
que incluía Claire e todos os seus companheiros. Eles voltariam para seu
reino em vez de ficar, Exos afirmou que a magia da Morte estava irritando
seus laços com o Reino Espiritual – um fato que Shade achou divertido.
Eventualmente, as formalidades terminaram. Não abracei meu pai, mas
disse a ele que iríamos conversar. Sua expressão dizia que ele entendia, já
que nosso último encontro não foi favorável. E para ser honesto, sua
incapacidade de enfrentar meu avô me incomodou um pouco. Como Rei
Fae da Meia-Noite, ele deveria ter sido mais forte.
Mas isso era uma conversa e preocupação para outro dia.
Shade não se aproximou do pai, mas abraçou a mãe.
Quando não consegui encontrar Tray ou Ella, decidi dar paz a eles e
voltei para minha companheira. Eles estão bem, ela sussurrou para mim,
pegando minha mão. Eu posso sentir o contentamento deles.
Obrigado, respondi, alcançando Shade enquanto ele nos envolvia em
um manto de sombras.
Ele segurou meu quadril, me puxando para si e provocando um
grunhido de Zeph.
Eu apenas balancei a cabeça e sorri. Porque o lado possessivo Zeph era
meu tipo favorito.
O que significava que teríamos um dia inteiro de diversão maliciosa.
CAPÍTULO TRINTA
SHADE

MEU CORAÇÃO DISPAROU quando nos materializamos no meio de um jardim de rosas –


algo que eu havia criado um mês antes de morder Aflora.
Prometi a mim mesmo que não voltaria aqui até que ela estivesse
pronta.
E eu esperava ter feito a escolha certa. Porque não poderia imaginar
um momento melhor.
Zakkai franziu a testa enquanto vagava até o limite do jardim para
olhar para o oceano, com a sobrancelha branca arqueada.
— Califórnia? — ele perguntou.
Assenti.
— Por que a Califórnia? — Kols perguntou olhando para o céu. —
Este não é território Sangue de Morte.
— Não. Mas o futuro Alfa Fae Fortuna desta região é um amigo. —
Assumindo que ele tenha colocado as coisas em ordem e seguido o caminho
certo. Infelizmente, a morte de sua mãe podia tê-lo alterado. Além de uma
dúzia de outros obstáculos. Mas eu tinha fé de que ele resolveria isso. Em
tempo.
— Seif? — Kols adivinhou, ciente da minha amizade com o Sangue de
Morte que recentemente se transformou em um Alfa Fae Fortuna.
— Sim.
Ele me encarou por um momento enquanto uma pergunta persistia em
sua mente, sobre como eu sabia que este acabaria sendo o território de Seif.
Mas, em vez de falar, ele voltou a admirar o céu. Ele já sabe sobre Anrika?
ele perguntou.
Meu avô Kodiak disse que estava cuidando disso. Eu teria contado,
mas com todo o resto acontecendo, não houve tempo. Ele está se
certificando de que Seif também receba a mensagem de morte da Anrika.
Porque ela lançou um feitiço sobre seu corpo, a mensagem era significativa
para Seif. Eu não sabia o que dizia, nem queria saber. Algumas coisas não
eram da minha conta.
— Isso é lindo — Aflora sussurrou, passando os dedos sobre as
roseiras e fazendo as flores desabrocharem. Ela se ajoelhou para tocar o
solo e a excitação irradiou dela quando começou a estudar toda a vida ao
seu redor.
Foi por isso que eu escolhi esta casa.
Prosseguia por hectares ao longo das falésias. A cara propriedade
privada era deslumbrante e perfeita para uma pequena ninfa do jardim
correr e brincar.
Ela parecia sentir esse propósito agora enquanto ria e começava a
correr pelo jardim até o bosque de árvores além. Havia uma piscina em
algum lugar, também. Mas eu duvidava que esse fosse o destino pretendido.
Zeph a seguiu com um sorriso predatório, algo que senti Kols
responder fisicamente através do nosso vínculo.
Zakkai parecia contente em admirar o mar, com as narinas dilatadas
enquanto a brisa do oceano despenteava seus cabelos brancos e espessos.
— Minha mãe adorava o oceano — ele me disse enquanto Kols seguia
Zeph em busca de Aflora. — Me lembro dela sempre querendo fazer
castelos de areia comigo quando criança. — Seus lábios se curvaram com
as memórias. — Aflora e eu costumávamos fazê-los também. Mas fora da
sujeira no reino Fae Elemental. Eu me pergunto se ela se lembra.
— Tenho certeza de que sim — eu disse baixinho.
Ele assentiu, então suspirou.
— Esta é uma bela casa, Shadow. Suponho que todas essas viagens no
tempo permitiram que você jogasse um pouco com dinheiro humano?
Eu apenas o encarei, não inclinado a revelar nada.
— Não devo supor que você parou em um cassino na região? Talvez
um na área de Vegas?
— Porque eu faria isso? — rebati, nem confirmando nem negando o
palpite óbvio.
— Por que, não é mesmo? — Ele passou as mãos em sua calça preta e
olhou para o oceano novamente. — Quantas vezes você acha que o Tadmir
nos levou de volta no total?
— Muitas para contar — respondi com honestidade.
Ele assentiu.
— Exatamente o que pensei. — Então ele sorriu. A visão era uma rara
expressão de prazer em suas feições. Porque faltava zombaria. Este era
Zakkai... sorrindo de contentamento. — Devemos gratidão a eles.
— Você mais do que os outros — eu meio que brinquei.
— Sim, imagino que tenha sido bastante difícil.
— Porque você sabia. — Não era uma pergunta, mas uma afirmação.
— Porque eu sabia — ele admitiu. — Só não a extensão ou os detalhes
do que você estava fazendo, mas podia sentir como resultado da minha
ascensão.
Sim, eu suspeitava disso.
— Por que você concordou desta vez? — Em linhas do tempo
anteriores, ele sempre lutava comigo ou encontrava uma brecha. Mas
nesta... ele estava quase aquiescente.
— Talvez eu estivesse cansado.
— Ou talvez você tenha se apaixonado — sugeri.
— Com certeza me apaixonei — ele concordou com os olhos
brilhando enquanto olhava na direção que Kols e Zeph seguiram. —
Devemos ir atrás deles antes que fiquem com toda a diversão.
— Sim, imagino que Aflora já esteja nua.
— Porque eu podia sentir a diversão de Kols no vínculo.
— Ela está — Zakkai respondeu, sorrindo. — Ela se tornou uma ninfa
de jardim completa, exatamente como você desejava.
— Mexendo com a minha cabeça?
— Sempre. — Ele olhou para mim com um olhar impenitente. — Sua
mente é fascinante, Shadow. Muitos segredos e agendas escondidas. O que
me lembra aquele encontro com Lucifer que você marcou em meu nome
para a próxima semana? Você vem comigo.
Suspirei.
— Claro que vou.
A malícia mudou suas feições.
— Vai ser divertido, Shadow.
— Acordos sempre são — murmurei, caminhando com ele para
encontrar nossa Aflora.
Ela estava realmente nua.
E dançando em um canteiro de flores que definitivamente não estava lá
quando chegamos.
Zeph havia se posicionado ao lado de uma árvore, com o ombro
apoiado na casca. Kols estava com ele, ambos excitados e entretidos com a
visão da nossa companheira girando de alegria.
— Não precisamos transar para terminar o acasalamento Fae da Terra?
— Zakkai a chamou, e seu jeito direto a fez tropeçar e quase cair.
Segui para o lado dela, pegando-a por instinto. E ela riu contra o meu
peito. Seus olhos azuis encontraram os meus e vi a pequena ninfa bêbada
em sua Fonte da Terra.
— Transar parece bom — ela disse com um suspiro. — O Shade vai
primeiro.
Então ela me puxou para as flores e nos cobriu com um dossel de
pétalas.
Zeph e Zakkai protestaram enquanto Kols riu.
Minhas roupas desapareceram sob seu poder, me deixando tão nu
quanto ela e de costas no chão. Arqueei uma sobrancelha.
— Sem preliminares? — provoquei, já duro como uma rocha só com
sua demonstração de força.
— Humm. — Ela montou meus quadris, com a expressão irradiando
alegria pura e não adulterada. — Tivemos meses de preliminares. — Ela se
encaixou ao máximo, movendo o corpo na direção do meu. — Agora eu só
quero você, Shadow. Meu Príncipe Sangue de Morte. E seu pau muito
impressionante.
Eu ri, segurando seus quadris para jogá-la de costas. Eu me acomodei
entre suas coxas e a penetrei novamente, levando os lábios para sua orelha.
— Você tem falado demais com o Zeph. Ele te deixou boca suja.
— Você prefere toco de salgueiro? — ela perguntou enquanto seus
quadris subiam ansiosamente para encontrar os meus.
— Eu pareço um toco de salgueiro para você?
— Não sei — ela gemeu. — Me come com mais força e te digo mais
tarde.
Eu ri contra seu pescoço.
— Você é mesmo uma ninfa, pequena rosa.
— Sim — ela concordou. — Agora pare de falar e me faça gozar.
— Qualquer coisa por você — sussurrei, amando-a com meu corpo,
boca e mãos. Nosso vínculo Fae da Terra estava muito vivo e totalmente
encaixado, mas o sexo foi como a fonte Fae Elemental culminou o ato.
E eu senti, aquela energia quente me banhando de sol em retidão, me
reivindicando como companheiro e garantindo que minhas raízes se
entrelaçassem para sempre com as dela.
— Eu te amo — ela me disse baixinho, com os braços em volta do
meu pescoço enquanto nossos corpos se uniam como um.
— Eu também te amo, pequena rosa. — Eu a beijei então, liberando
toda a minha gratidão, desejo e apreço em sua boca. Todos aqueles anos
brincando com o destino. Todas aquelas linhas do tempo. Todos aqueles
erros. Todos aqueles fins próximos. Eu quase a perdi muitas vezes. Mas
aqui estava ela, minha doce e bela Aflora, em uma cama de sua própria
criação, desabrochando de vida e felicidade.
Finalmente, pensei, me deleitando com o sonho do momento. Está
finalmente... terminado.
Ela segurou minha bochecha, envolvendo as pernas em minha cintura
enquanto eu a penetrava mais fundo. Você pode descansar agora, Shade,
ela murmurou. Pode finalmente aproveitar o momento sem se preocupar
com o que vem a seguir. Você pode finalmente... existir.
Com você, respondi, aumentando meu ritmo. Eu posso finalmente
existir... com você.
Sim. Ela mordiscou meu lábio inferior.
— Me morda — ela sussurrou. — Me morda como se fosse a primeira
vez. Reivindique-me como sua da maneira certa.
Estremeci, então fiz exatamente como ela pediu, afundando os dentes
em sua garganta enquanto puxava seu sangue poderoso com um gemido
alto.
Ela gemeu, me apertando com sua vagina ao gozar, seu orgasmo me
puxando com ela, nosso prazer compartilhado queimando em minhas veias
e tocando minha alma.
Ela segurou meu pulso e mordeu, bebendo de mim como eu tinha feito
dela.
Nossa conexão só se fortaleceu, nossas almas já unidas como uma.
Mas uma parte de mim se sentia ainda mais completa, ainda mais
possuída, ainda mais aceita.
Apoiei a cabeça em seu ombro, ofegante pelo esforço de nossa
conexão.
Então fechei os olhos e fiz exatamente o que ela disse.
Eu existia e não me preocupava com o momento seguinte.
Porque, pela primeira vez na minha vida, não precisava.
Eu poderia apenas... ser.
CAPÍTULO TRINTA E UM
ZEPH

VI AFLORA TOMAR Kols profundamente em sua boca. Minha pequena sereia de


jardim ganhando vida enquanto bebia seu clímax e o incitava com a língua.
Ela era deslumbrante.
Perfeita.
Sedutora pra caramba.
Eu estava tão duro que minhas bolas doíam por querer estar dentro
dela. Mas isso era sobre o vínculo. Ela já tinha tomado Shade... duas vezes.
Agora, ela tinha terminado com Kols, deixando a mim e Zakkai nus ao seu
lado.
Nós nunca nos tocamos ao mesmo tempo, mas algo sobre a união da
Terra exigia isso.
Aflora nos chamou para seu jardim, fazendo seu dossel de flores
crescer para criar um lindo abrigo para esconder nossa união.
Shade estava de lado, observando por com pálpebras pesadas.
Kols rastejou até ele, e os dois começaram a se beijar, o que só parecia
deixar meu pau mais duro e Aflora mais carente.
Ela teve três orgasmos, dois com Shade e um com a minha boca.
Mas os laços Faes da Terra exigiam mais.
Faes Elementais eram famosos por sua necessidade insaciável,
particularmente com seus companheiros. E estávamos todos ligados no
quarto nível agora, o que explicava seu crescente desejo por mais.
Ela colocou a palma da mão em volta do meu pescoço, me puxando
para si enquanto se ajoelhava, e me forçou a aceitar seu beijo. Minha
obediente Fae da Terra desapareceu, e em seu lugar havia uma megera
faminta que tomava o que queria. Me ajoelhei, alinhando nossas coxas e
pressionando meu pau em seu ventre.
Zakkai se moveu atrás dela, passando a língua por sua coluna enquanto
a mão desaparecia entre suas pernas abertas.
Eu sabia o que ele pretendia, porque senti através das raízes em minha
mente, ele queria pegá-la por trás enquanto eu ia na frente.
Eu não tinha planejado fazer com que compartilhar Aflora com ele
fosse uma ocorrência regular, mas não ia reclamar. O homem tinha muito
poder. Se ele quisesse transar com ela ao mesmo tempo que eu, não seria
tolo em dizer não.
Ela gemeu contra a minha língua, gostando do que ele fez.
Segurei seu seio, apertando o mamilo tensionado e carente. Ela enfiou
os dedos pelo meu cabelo para me guiar para baixo, precisando de meus
lábios contra sua pele macia.
Puta merda, Kols sussurrou na minha cabeça, chamando minha
atenção para si.
Shade havia deixado uma trilha de beijos pelo corpo do outro homem
para chupá-lo da mesma forma que Aflora havia feito apenas alguns
momentos atrás, e pelo prazer em suas feições, ela aprovava muito o show.
Eu a distraí, roçando os dentes contra seu seio e capturando seu pico
rosado. Ela estremeceu, então gemeu quando Zakkai a penetrou, enchendo-
a totalmente sem aviso prévio. Quando ele saiu, ela gemeu, aborrecida.
Encontrei seu olhar, vi a certeza em suas feições de que ela estava
pronta para nós dois, e vi quando ele a penetrou por trás.
Ela segurou meus ombros para se equilibrar para sua intrusão, com os
olhos arregalados com luxúria e excitação.
Era o olhar de uma mulher pronta para ser compartilhada.
Capturei sua boca e sorri enquanto Kols xingava novamente, Shade
provando ser bastante habilidoso com a língua.
Algo que eu poderia experimentar algum dia.
Mas, por enquanto, eu queria o calor liso e apertado de Aflora.
Me aproximei dela, prendendo-a entre mim e Zakkai. Então levantei
sua perna para envolver meus quadris, deixando-a se equilibrar em um
joelho. Ela não protestou, seu corpo já se inclinando para mim em
preparação para minha entrada.
Em vez de negá-la, eu a penetrei em um único impulso, enchendo-a até
o fim e sentindo o membro de Zakkai através da parede fina dentro dela.
Tão quente, pensei, gemendo em sua mente. Você é tão gostosa.
Me come, ela respondeu, usando meu comando favorito. Me come com
força. Não se segure. Por favor, não se detenha.
Acho que não conseguiria se tentasse, admiti, estabelecendo um ritmo
que Zakkai cumpriu em igual medida.
Ele estava com a mão em seu quadril, a outra ao redor de seu pescoço
enquanto a guiava de volta para beijá-lo. Segurei sua perna, levando a outra
mão entre nós para acessar melhor seu clitóris.
Kols e Shade pararam de se tocar para curtir o show, sua excitação
apenas aumentando o momento. Então os dois avançaram para adorar
Aflora com as bocas, beijando seus ombros, braços, lambendo seus dedos, e
garantindo que ela os sentisse enquanto Zakkai e eu tomávamos seu corpo.
Foi pecaminoso, indulgente e depravado, e eu amei cada segundo.
Afundei os dentes na garganta de Kols, precisando de sua essência. Ele
gemeu, então afastou a boca de Aflora da de Zakkai para beijá-la.
Zakkai foi até a garganta dela, mordendo-a profundamente e
provocando um som terno em seus lábios.
Nossa transa se tornou animalesca, o compartilhamento de sangue
acontecendo entre todos nós enquanto Aflora mordia nossas línguas e nós
nos beijávamos e mordíamos um ao outro para satisfazer nossos desejos
mais sombrios.
As mãos de Aflora deixaram meus ombros, e envolveram Shade e
Kols em cada lado dela enquanto ela se esforçava para proporcionar a eles
tanto prazer quanto estávamos dando a ela.
Seu poder pulsava ao nosso redor, exigindo que nos descontraíssemos
e vivêssemos como um.
— Puta merda — murmurei. — Puta merda, Aflora.
Zakkai ecoou meu sentimento. Seus músculos estavam tensos
enquanto ele oscilava à beira do clímax.
— Agora — Aflora gritou, e a energia saiu dela através de nossos
vínculo e nos levou sob uma nuvem de êxtase que cobriu minha mente com
uma paixão vertiginosa.
Meu estômago se apertou e meu pau pulsou enquanto eu gozava dentro
dela, enchendo-a com meu sêmen, enquanto Kols e Shade gozavam em
cada lado de nós, sua ejaculação cobrindo a pele de Aflora.
Zakkai foi o último, seu orgasmo atingiu todos nós e seu poder me fez
explodir novamente, logo após o meu primeiro clímax.
Muito intenso.
Incrível demais.
Tão nós.
Capturei a boca de Aflora, sentindo sua vagina apertada pulsar ao meu
redor com os resíduos de seu próprio prazer, e disse a ela o quanto eu a
amava, como ela era perfeita, e a elogiei por aceitar a todos nós.
Ela me beijou de volta, depois Shade, Kols, e finalmente Zakkai, com
seu coração aberto.
E retribuímos nosso amor e adoração a ela na mesma moeda.
Então eu a peguei e a carreguei para dentro da grande casa de Shade, e
perguntei:
— Onde é o quarto?
CAPÍTULO TRINTA E DOIS
AFLORA

Um mês depois

ME SENTEI NO BALCÃO, observando Zeph cozinhar um bife de orc na grelha.


Zakkai estava perto dele, com a testa franzida.
— É para ser roxo assim mesmo?
— Às vezes — respondi. — Pode ser azul também.
Ele franziu o nariz.
— Que apetitoso.
— É, sim — insisti. Meu estômago roncou em antecipação quando
Zeph virou o bife.
Kols e Shade estavam na mesa compartilhando um prato de massa que
tinham acabado de comprar em Roma. Porque meu companheiro Elite de
Sangue era obcecado por comida italiana, algo que descobri no último mês
neste reino.
Passamos a maior parte de nossas semanas aqui na casa de Shade nos
penhascos, nos entregando aos nossos laços e desfrutando de uma pausa
muito necessária da vida Fae da Meia-Noite.
No entanto, Shade e Zakkai saíram algumas vezes para “acertar as
pontas soltas”. O que traduzi como reunião com Lucifer e Zen, geralmente
supervisionando os ex-Conselheiros.
Eles também rastrearam Dakota, que sumiu no ritual de ascensão. Eu
não tinha certeza do que tinham feito com ela, mas senti sua vida se separar
da Fonte. O que me dizia que ela estava morta. Só não perguntei como,
porque preferia não saber.
E Kols voltou para casa duas vezes para ver Tray e seus pais. A
relação entre ele e o pai ainda era desconfortável, mas pelo menos estavam
conversando. Tray também havia se mudado com Ella, e estavam morando
em Massachusetts, em Nacht Estates.
Eu pretendia ir visitá-los na próxima semana, pois sentia falta deles.
Mas, por enquanto, estava contente em apenas estar aqui. Relaxando.
Vivendo. E nos preparando para os próximos passos.
O que era bem direto – precisávamos de um novo Conselho Fae da
Meia-Noite.
Enquanto a maioria dos Conselheiros estava sob o controle de
Constantine, restava ver quanto tempo eles estavam sofrendo com sua
viagem de poder. Eles também perderam a fé da espécie Fae da Meia-Noite.
Assim como os Anciões. Mesmo aqueles como o bisavô de Kols, que havia
sido colocado em coma induzida por magia por Constantine, não eram mais
confiáveis.
Portanto, estávamos propondo um novo Conselho e alocando cargos
consultivos para substituir os antigos Anciãos.
— Você falou com o Tadmir sobre Stiggis e Cordelia? — perguntei a
Shade.
Ele engoliu a comida e assentiu.
— Sim, ele ainda está conversando com os dois sobre o Conselho.
Acho que ele quer que eles o sigam primeiro, já que nenhum deles estava
realmente preparado para assumir. Bem, Stiggis estava até certo ponto, mas
Cordelia não. E acho que ela pode ser a melhor opção.
— Ela certamente é mais equilibrada do que o irmão — Zeph
concordou. — Exceto por ter perdido a cabeça por causa da sua
infidelidade.
Shade bufou.
— Foi um casamento arranjado que me deu acesso a Tadmir.
— Eu não acho que a pobre garota viu dessa forma — Zeph falou. —
Daí meu questionamento sobre sua capacidade de estar no Conselho.
Qualquer um que perca a cabeça por você claramente não é estável.
— Não ligue para ele — Kols falou, pousando o garfo e pegando sua
cerveja. — Ele está azedo porque você não vai chupar o pau dele.
— E ele se pergunta por quê — Shade murmurou.
Meu companheiro Guerreiro de Sangue franziu a testa enquanto
Zakkai sorria, entretido pela briga.
— Bem, acho que a Cordelia tem potencial — Zeph disse. — Mas
estou desapontado que o Tray não vai se juntar ao Conselho.
— Ele não quer ter nada a ver com a política Fae da Meia-Noite depois
que eles quase mataram sua companheira — Kols respondeu, olhando para
mim. — Não posso dizer que o culpo.
— Vamos dar tempo a ele. — Foi o que eu disse no início desta
semana, quando Kols deu a notícia de que seu gêmeo recusou a posição do
Conselho. — A mudança não acontece da noite para o dia, e é por isso que
temos uma mistura de idades e conhecimentos no Conselho.
A mãe de Shade concordou em participar, desde que ele ficasse com
ela. Ela se tornou uma mulher tímida depois de ser mantida no escuro por
mil anos. Mas seríamos pacientes e trabalharíamos com ela na reforma.
Zen também recusou uma posição, afirmando que tinha outras
obrigações com o Rei Fae do Inferno para cumprir. Mas ela concordou em
atuar como orientadora desde que nos aventurássemos ao reino Fae do
Inferno para visitá-la.
O pai de Kols serviria como Ancião, mas bem vigiado.
E Vadim também concordou com a mesma posição.
— O que vamos fazer sobre Svart e Chern? — perguntei, me referindo
aos Conselheiros Guerreiro e Sangré de Sangue.
Zakkai foi a escolha clara para a posição Quandary de Sangue, com
Laki como seu vice. Kols assumiu o papel de liderança Elite de Sangue –
onde ele esperaria até que Tray concordasse em assumir ou talvez se juntar
como seu vice em comando. E Shade concordou com o manto Sangue de
Morte, com sua mãe servindo como vice.
Todos nós olhamos com expectativa para Zeph.
Que disse não pela milésima vez.
Suspirei.
— Você é a escolha óbvia para o cargo de Conselheiro Guerreiro de
Sangue, e sabe disso.
— Tenho o dever de proteger a minha rainha, não bancar o político.
Então, não.
Apertei os lábios enquanto eu olhava para Kols. Tão teimoso.
Eu que sei, ele respondeu. Acho que no fim das contas, vamos precisar
que o Shade chupe o pau dele.
Ri alto, fazendo com que todos olhassem para mim.
Kols apenas sorriu.
Limpei a garganta e agi como se não tivesse acabado de rir na frente de
todos, e me concentrei novamente na discussão dos Conselheiros.
Mas Zeph estava inflexível contra a adesão.
Então começamos a pesquisar outros nomes e fazer uma lista de quem
visitar. Chern estava em nossa lista potencialmente confiável. Ele não tinha
sido consumido pelo poder de Constantine, mas também não tinha sido por
seus planos. Ele aparentemente votou contra várias decisões do Conselho,
mas foi ignorado em favor da maioria.
O que me preocupou foi que eles alegaram que essas decisões foram
unânimes.
Então, ou ele estava mentindo – grande possibilidade – ou Constantine
havia mentido – também uma grande possibilidade.
Independentemente disso, estávamos observando-o. E ele não podia
permanecer no Conselho.
— Não temos que decidir isso hoje — Zeph disse, empurrando um
prato de bife de orc com frutas na minha direção. — Essa é a beleza do
tempo.
— Pelo menos, neste caminho — Shade interveio.
Alguns de nós sorriram para ele, então o silêncio encheu a sala de
jantar enquanto comíamos nossas refeições. Zeph fez bifes de vaca para ele
e Zakkai, o que era nojento. Sua propensão para comer animais neste reino
era bem enervante.
Eu preferiria tentar um pica-pedra.
Estremecendo, cortei um pedaço de orc e levei-o aos meus lábios
quando uma comoção soou do lado de fora, perto da piscina.
Zakkai gemeu quando Zimney uivou.
— Sua cobra vai se afogar um dia desses — ele disse, olhando para
Zeph.
— Ele vê sua fera como um igual e só quer brincar — Zeph retornou.
— Não vou impedi-lo.
Mais respingos ecoaram, seguidos por Clove chilreando enquanto ela
castigava os animais por causa da violência.
Draco mergulhou por uma janela para se aconchegar no ombro de
Shade, suas asas de morcego vibrando com irritação.
Em seguida, o corvo de Kols pousou no parapeito da janela com um
olhar de expectativa.
Estudei todos eles e balancei a cabeça.
Esta era a minha vida agora, cheia de encantamentos malucos,
companheiros alfa teimosos e um futuro sem data para terminar.
As íris de Zeph ardiam quando ele pegou meu olhar, sua mente
cutucando a minha e ouvindo meus pensamentos.
O que significava que eu podia ouvir o dele e os planos que ele tinha
para mim mais tarde no jardim.
Ele não parava de fazer piadas sobre sementes e crescimento.
A cada vez eu revirava os olhos, mas por dentro, seus trocadilhos
falavam ao meu coração Fae da Terra.
Sim, essa não era uma vida ruim.
Na verdade, era bem incrível. Rodeada de homens bonitos.
Encantamentos protetores. Feitiços mágicos. E vínculos construídos para
resistir à eternidade.
Meu coração floresceu de alegria enquanto minhas coxas se apertavam
com antecipação.
Os Fae da Terra tinham tudo a ver com criação e alegria.
E eu não conseguia pensar em nada nem em ninguém que me
trouxesse mais alegria do que meus quatro companheiros bonitos.
Você tem cinco minutos para terminar, Zeph me disse. Depois eu
quero jogar um jogo de “esconder a cobra no jardim”.
Olhei para ele. Tudo bem. Porque seria bom ter acesso a um pouco de
semente.
Ele sorriu. Vou te dar mais do que um pouco, linda flor.
Mal posso esperar, sussurrei de volta para ele.
E eu disse isso de bom grado.
Quem precisava de bife de orc quando eu tinha quatro companheiros
prontos e dispostos a me saciar?
Me levantei e fiz um feitiço que desintegrou minhas roupas.
— Venham me pegar — eu disse, indo para o jardim com um coro de
rosnados atrás de mim.
Definitivamente uma vida incrível, pensei, sorrindo quando o primeiro
deles me pegou assim que cheguei ao canteiro de flores. Um que eu não
trocaria por nada no mundo.
Agora eu sabia o que era acordar de um pesadelo e estar totalmente
imersa em um sonho.
Um sonho construído para durar uma eternidade.
Com quatro companheiros Fae da Meia-Noite sensuais.
E um futuro que era inteiramente nosso.
Sem intromissão. Chega de jogos. Só eu e meus companheiros. Para o
resto da eternidade.

Obrigada por ler Rainha dos Vampiros. Essa história e esse mundo
capturaram um pedaço do meu coração. As vozes foram muito poderosas e
o mundo me cativou de uma forma que poucos outros conseguiram. E
agora, Aflora finalmente alcançou o felizes para sempre que ela merecia.
Eu não poderia estar mais feliz por ela e seus companheiros, e espero que
você os ame tanto quanto eu. <3

Você pode estar se perguntando o que vem a seguir no universo Fae... O


epílogo a seguir responderá a isso e muito mais. Aprecie.
Vários anos depois

— VOCÊ SABE que não precisa me acompanhar toda vez que vou visitar minha
avó, certo? — perguntei quando uma presença se materializou atrás de mim
– uma ação que fez com que me arrependesse fortemente de ter me
vinculado a Zakkai, porque agora ele poderia me seguir para qualquer lugar.
O que foi ótimo para proteger Aflora.
E horrível para a minha privacidade.
— Estou ciente — ele respondeu. — Assim como também estou ciente
de que Lucifer estará lá hoje, e estou ansioso para verificar meu projeto de
estimação. Você sabe, aquele daquela reunião? A troca de poder que eu não
queria fazer, mas não tive escolha, porque você já havia concordado com
isso em meu nome?
Bufei, ele adorava trazer este incidente à tona apesar de ter vários
anos.
— Você concordaria com qualquer coisa no que diz respeito à Aflora.
— Sim, mas esse não é o ponto, é?
Suspirei.
— Eu nunca vou pedir desculpas.
— Eu sei.
— E você sempre vai trazer isso à tona de qualquer maneira.
— Vou.
— Excelente — eu disse impassível, aparecendo na porta da casa da
minha avó.
Zakkai apareceu ao meu lado, satisfeito com meu aborrecimento.
Porque ele era um idiota que gostava de me provocar.
Tenho certeza de que era por isso que nos vinculamos também: só para
que ele pudesse ter acesso mais completo aos meus pensamentos e ampla
oportunidade de me irritar.
A Aflora também gosta de nos ver juntos, acrescentou através do nosso
vínculo. E eu gosto de fazê-la feliz.
Não poderia culpá-lo por essa lógica.
Levantei a mão para bater, mas a porta se abriu. Minha avó estava do
outro lado com cookies, o que arrancou outro suspiro de mim. Mais más
notícias.
Que comida ela faz quando a notícia é boa? Zakkai perguntou.
Qualquer coisa diferente de cookies.
Ah. Ele entrou e pegou um cookie de chocolate, então começou a
inspecioná-lo em busca de magia com sua mente.
Se ela quisesse te envenenar, não usaria cookies.
Você diz isso, ele respondeu. Mas a Zenaida é bastante inteligente.
O que significa que ela sabe que você está inspecionando os cookies
dela e garantiria que você não pudesse sentir ou encontrar o que ela está
escondendo, apontei, ignorando o prato de guloseimas e abraçando-a.
— Oi, Vó — sussurrei em seu ouvido antes de beijar sua bochecha. —
Estava com saudade.
— Eu sei. Eu também — ela respondeu, nos levando para a mesa. —
Mas o Ajax me mantém ocupada.
— É verdade — o macho em questão concordou quando apareceu no
meio da sala. Ele estava vivendo no reino Fae do Inferno com minha avó,
ajudando-a a manter o paradigma. Meus avôs também estavam aqui. Mas
meu velho amigo se tornou uma espécie de pupilo dela, treinando para se
tornar o que Lucifer tinha em mente.
Ajax vagou até a mesa e se sentou, sua forma alta e musculosa
flexionando com o movimento. Zakkai o estudou, sua natureza calculista
assumindo o controle.
— Humm — ele murmurou. — Sua magia está se estabelecendo.
Ajax grunhiu.
— A tempo também.
— Para quê? — Zakkai pressionou.
Ajax sorriu.
— Você gostaria de saber, não é?
— Sim, gostaria — Zakkai admitiu. — Particularmente porque foi a
minha habilidade que transformou seu poder.
Essa tinha sido sua parte do acordo com Lucifer: o Rei Fae do Inferno
havia pedido a ele para reescrever a magia de Ajax e alinhá-la com a fonte
Fae do Inferno.
Zakkai recusou a princípio.
No entanto, ele percebeu que Ajax não era apenas um sujeito disposto,
mas também desejoso, e concordou, depois de escrever um monte de
brechas no acordo com Lucifer, é claro.
Foi um debate fascinante de se observar entre Zakkai e Lucifer, os dois
com poder igual e sem medo um do outro.
Zakkai essencialmente fez com que Lucifer nunca pudesse pedir a
Aflora um único favor ou exigir qualquer coisa dela ou de seus
companheiros.
Em troca, ele o ajudaria conforme necessário apenas com o
desenvolvimento do Ajax.
E qualquer coisa com minha avó estava em negociação, o que
significava que Zakkai interviria para ajudá-la se quisesse. E eu sabia que
ele faria isso nas circunstâncias certas.
— É a cerimônia de abertura dos testes de noivas. — O tom profundo
pertencia a uma presença sombria à espreita nas sombras da sala.
Zakkai não reagiu, claramente sentindo a chegada de Lucifer antes de
mim.
— Isso parece vil — Zakkai murmurou. — Me diga mais.
Lucifer riu enquanto entrava na sala por algum tipo de porta invisível.
Minha avó não reagiu, apenas colocou uma xícara de café na cabeceira da
mesa e se sentou ao meu lado.
O Rei Fae do Inferno tomou a cadeira como se fosse um trono. As
mechas brancas em seu cabelo preto brilhavam sob a luz fraca, seus
penetrantes olhos azuis cintilando com diversão enquanto ele empurrava a
caneca para o lado.
— Boa tentativa — ele disse à minha avó.
Ela deu de ombros.
E Zakkai bufou. Viu?
Talvez ela tenha tentado enfeitiçar bebidas ou algo assim.
Ela não era uma típica Fae Fortuna Ômega por qualquer extensão da
imaginação, sua magia tendo sido alterada pelo Avô Kodiak mil anos atrás.
— Estou organizando um teste de noivas para satisfazer os machos
Faes de Inferno do meu mundo — Lucifer comentou. — Como você sabe, a
Fonte raramente aceita mulheres. O que significa que estou governando um
bando de homens sanguinários. A melhor maneira de domá-los é acasalá-
los. Então. Teste de noivas. — Ele abriu as mãos como se isso explicasse
tudo.
— E onde você está adquirindo essas fêmeas? — Zakkai perguntou,
seu tom igualmente casual e calmo.
Os lábios de Lucifer se torceram em um sorriso feroz.
— De outros reinos Faes, é claro.
— Através de acordos. — Zakkai não expressou isso como uma
pergunta, mas como uma afirmação.
Lucifer apenas acenou com a mão novamente como se dissesse:
Obviamente.
Zakkai o estudou por um longo momento antes de se concentrar em
minha avó.
— E você sabia que isso ia acontecer. Esse era o seu acordo o tempo
todo, não é? Que você poderia proteger os Quandary de Sangue neste
paradigma e construir uma escola mágica para treiná-los. Todo o tempo se
preparando para a inevitabilidade de Lucifer transformar isso em um campo
de treinamento para potenciais noivas Faes do Inferno.
Meu sangue gelou com sua sugestão.
Mas o olhar da minha avó me disse que ele estava certo.
— Há sempre um preço para a liderança, Zakkai. Fiz o melhor que
pude com o que tinha para oferecer. E agora estou cumprindo minha parte
da obrigação.
— Atuando como diretora para essas noivas — ele completou.
— Não totalmente preciso. — Ela olhou para Ajax. — Ele é o Diretor
escolhido. Estou aqui apenas para manter o paradigma seguro e vivo
enquanto Lucifer organiza seu teste.
Zakkai assobiou.
— Esse é um preço e tanto. — Então ele olhou para Lucifer. — A
Aflora não tem nada a ver com isso.
— Já negociamos nosso acordo, Arquiteto da Fonte. Estou aqui apenas
para fins de diversão. — Ele sorriu e inclinou a cabeça. — Mas como está
sua bela companheira? Grávida ainda?
— É esta a parte em que você exige nosso primogênito? — Zakkai
questionou.
Ele parecia ofendido.
— Eu nunca faria uma coisa dessas.
Zakkai grunhiu, sua descrença palpável.
— Tem razão. Eu faria isso, mas sua linda companheira está livre das
minhas negociações.
— Bom — Zakkai e eu dissemos ao mesmo tempo.
Lucifer encontrou meu olhar. Sua diversão tinha um brilho letal que
me deixou desconfortável.
— Sempre gostei de você, intrometido do tempo. Você é...
extremamente engenhoso. — Ele sorriu antes de se concentrar e, Ajax. —
Você está pronto para começar a dar as boas-vindas às candidatas a noivas?
— Estou, senhor — Ajax respondeu. Seu tom sério não era nada
parecido com o meu amigo descontraído dos nossos dias de Academia. Esta
nova versão era dura, forte, e continha uma tristeza no olhar escuro que
nunca parecia diminuir.
Ele levou muito a sério a morte de Emelyn, querendo se vingar.
Mas com Aflora assumindo e reformando todo o Conselho, não havia
ninguém para Ajax machucar.
Então Tadmir o trouxe para cá... onde Lucifer o recrutou.
Ele viu uma alma quebrada e ofereceu algo que ele não podia recusar:
uma chance de retribuição.
E esse era o ponto principal deste projeto.
Lucifer pegaria Faes femininas de todos os reinos e as forçaria a lutar.
Aquelas que vencessem seriam recompensadas com um casamento forçado
com um grupo de seus homens. Quem perdesse, morreria.
Aquilo servia como uma forma perversa de justiça contra aqueles que
condenaram abominações ao ostracismo por mais de mil anos.
Isso me fez pensar que truque minha avó tinha na manga. Ela nunca
concordaria com tal estratagema sem algum tipo de caminho secreto.
Enquanto eu olhava para ela, peguei o brilho de conhecimento em seu
olhar.
Era semelhante ao de anos atrás, quando contei a ela sobre Aflora.
Uma trama estava se desenrolando.
E parecia que Ajax e Lucifer estavam no centro disso.
Eu teria rido, mas algo me disse que este seria um conto sombrio e sem
humor.
Faes iam morrer.
Mas no final, talvez o Rei Fae do Inferno encontraria algo que ele
nunca soube que precisava: Amor.
RAINHA DO SUBMUNDO
Lexi C. Foss & J.R. Thorn

Bem-vindo ao reino Fae do Inferno, um lugar onde apenas os fortes


sobrevivem.

Meus pais fizeram um acordo com o diabo, e agora sou uma Fae do Inferno
cativa.

Escravizada. Controlada. Jogada para os Cães de Caça do Inferno e que se


espera que sobreviva.
Porque, apenas as sobreviventes ganham seus companheiros.

Não importa que eu não queira me casar.


Eu sou um Halfling. Parte Fae do Inferno e parte garota-que-não-dá a
mínima.
Mas por causa de uma barganha, ele me possui.

Lúcifer. O Rei Fae do Inferno que criou este reino esquecido por Deus.
Também conhecido como o orquestrador desses jogos mortais de
julgamento de noivas.
Tudo bem, Luci, eu vou jogar.
Queimando esse reino inteiro.

Assumindo que eu não seja pega na teia do Diretor Fae da Meia-Noite


primeiro.
Ou enlaçada pelo pensativo Comandante Fae do Inferno que espreita do
lado de fora dos portões.
E nem me fale sobre o príncipe favorito do Rei Fae do Inferno. Aquele
lunático sexy que não para de me enviar presentes.

Nenhuma gostosura ou persuasão sensual vai me manter aqui.


Eu não sou feita para me casar.
Eu sou uma ameaça.

Você fez um acordo pela garota errada, Lúcifer.


Prepare-se para a luta de sua vida.

Nota das autoras: Rainha do Submundo é um romance paranormal de


sequestro sombrio com quatro companheiros atormentados e nenhuma
escolha necessária. Se você gosta de seus anti-heróis dominantes e sensuais,
veio ao reino certo: o Reino do Inferno, onde o romance é quente e não há
necessidade de perdão.

DISPONÍVEL EM PORTUGUÊS EM 2023


Lexi C. Foss é uma escritora perdida no mundo do TI. Ela mora em Chapel Hill, na North Carolina,
com o marido e seus filhos de pelos. Quando não está escrevendo, está ocupada riscando itens da sua
lista de viagem. Muitos dos lugares que visitou podem ser vistos em seus textos, incluindo o mundo
mítico de Hydria, que é baseado em Hydra nas ilhas gregas. Ela é peculiar, consome café demais e
adora nadar.

https://www.lexicfoss.com/Inicio
MAIS LIVROS DE LEXI C. FOSS

Série Aliança de Sangue


Inocência Perdida
Liberdade Perdida
Resistência Perdida
Rebeldia Perdida
Realeza Perdida
Crueldade Perdida

Rainha dos Elementos


Livro Um
Livro Dois
Livro Três

Rainha dos Vampiros


Livro Um
Livro Dois
Livro Três
Livro Quatro

Outros Livros
Ilha Carnage
Antologia: Entre Deuses
Table of Contents
Aflora
Rainha dos Vampiros
Frontispício
Copyright
Dedicatória
Contents
Livro Quatro
Introdução
Prólogo
1. Zakkai
2. Aflora
3. Kols
4. Zeph
5. Kols
6. Aflora
7. Shade
8. Aflora
9. Kols
10. Zakkai
11. Zeph
12. Shade
13. Aflora
14. Zeph
15. Kols
16. Aflora
17. Shade
18. Zakkai
19. Aflora
20. Zakkai
21. Kols
22. Aflora
23. Zeph
24. Aflora
25. Shade
26. Zakkai
27. Kols
28. Aflora
29. Kols
30. Shade
31. Zeph
32. Aflora
Epílogo
Rainha do Submundo
Sobre a autora
Mais Livros de Lexi C. Foss

Você também pode gostar