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Wynter vestiu jeans preto e uma camisa que Logan deixara para
ela na cama. Era tudo muito James Bond para o seu gosto, mas confiou que
ele sabia o que estava fazendo. Ao calçar as meias, deixou a mente vagar
para o alfa. Quando acordou, ele já estava vestido e de banho tomado. Com
um beijo rápido na sua bochecha, ele foi lá para baixo sem dizer uma
palavra sobre o que aconteceu na sala de conferências.
Suspirou de alívio, pensando no que fizeram. Ao mesmo tempo,
não se arrependia. Como se um mágico tivesse revelado a pomba
escondida, ela desnudou a sexualidade recém-nascida. Poderia colocar a
culpa na loba, mas sabia a verdade. Como uma tigresa enjaulada, vinha
esperando que o homem certo a libertasse da prisão, destravando sua
verdadeira natureza. Riu, pensando em como o encorajara a deitá-la sobre a
mesa. A forma como fizeram amor foi fenomenal. Brusco e gentil, a paixão
e a intimidade abraçaram corpo e alma. A eletricidade entre eles chiou,
ameaçando queimar a sala todinha.
O que a surpreendeu mais foi a forma com que ele a pegou com
carinho depois, a acariciando e embalando. Não perderam o contato nem
por um momento. Ao se deitarem na cama, os lábios macios na sua testa
enviaram fios de calor pelo seu corpo. Wynter não tinha certeza se ele sabia
que ela havia sentido cada toque amoroso e cada beijo leve como pena. A
emoção jorrou no peito quando pensou nos próprios sentimentos.
Passou as mãos pelos cachos e tentou prender o cabelo com o
elástico. Quando levou a mão para fazer exatamente isso, sentiu uma
areazinha mais elevada perto do pescoço. Ele a mordera? Deu a ela uma
“mordida de amor”? Sim, deu. E, caramba, tinha sido intenso. Ela se
lembrou de como a dor leve a levou a outro orgasmo no momento em que
ele fez aquilo. Seria alguma perversão lupina? Talvez da próxima vez
devesse mordê-lo também? Sorriu com o pensamento.
O foco voltou ao que estavam prestes a fazer. Vou ficar segura…
Vou ficar segura. Continuou repetindo o mantra. Sabia que Logan não a
teria deixado ir se não pensasse que poderia mantê-la fora de perigo. Se ao
menos pudesse pôr as mãos nos dados, talvez fosse capaz de curar Emma.
Ao encarar o rosto no espelho, prometeu a si mesma que ficaria de olho no
prêmio.
Amo? Ah, Deus… ela disse que o amava. Talvez ele não tenha
ouvido. Ou será que ouviu? Não tinha certeza se imaginou que tinha dito
que o amava, mas tinha esperado não cair no sono logo depois.
Depois de usar o banheiro, tomou banho e se vestiu. Optando pela
simplicidade, colocou sutiã esportivo, camiseta rosa e legging preta.
Penteou a juba com os dedos, prendendo-a em um coque bagunçado. Dando
uma olhada no espelho, viu que parecia e se sentia relaxada, apesar do fato
de alguém estar por aí tentando sequestrá-la. Afastou os pensamentos
negativos, mas lembrou a si mesma de perguntar a Logan quanto a
conseguir o equipamento de laboratório. Sem saber o que aconteceu com as
amostras de sangue, queria se testar o mais rápido possível.
Fazendo uma experiência com os sentidos de lobo, fechou os
olhos. Pelo que podia dizer, havia café, mas não conseguia sentir o cheiro
de mais nada. Que loba ela era. Rindo por dentro, saiu em busca de Logan.
Como prometido, bagels e croissants estavam sobre uma bandeja
coberta por um pano na mesa da cozinha. Mordeu uma delícia em forma de
lua crescente crocante, e soltou um suspiro. Valia cada caloria, pensou. Ao
procurar pelo café, captou um vislumbre da ilha de granito e as bochechas
coraram. Nunca mais olharia para aquele balcão do mesmo jeito nem
esqueceria a experiência mais sensual da sua vida.
Ao localizar a cafeteira, serviu-se de uma caneca bem grande. O
sabor amargo era tão bom quanto o aroma. Um borrão de movimento lhe
chamou a atenção. Esgueirou-se com cuidado até a janela, preocupada com
a própria segurança. Ao olhar com atenção, viu Logan, Dimitri e uma
criança. Logan estava lançando para o menininho, que parecia se agarrar a
cada palavra do alfa. Dimitri se agachou atrás dele batendo a mão em uma
luva de apanhador.
Era esse o compromisso? Wynter sorriu. Abriu a porta, acenou
para ele e então a fechou. Logan deu uma piscadela e voltou a se concentrar
no jogo. As pedras do quintal aqueceram os seus pés descalços, mas
conseguiu chegar até uma das cadeiras confortáveis. Sentando-se debaixo
de um imenso carvalho do sul, admirou os ramos de samambaia que
cobriam o tronco e se espalhavam pelos galhos. A quase cinquenta metros
da casa, o lento movimento do bayou fervilhava com a vida selvagem.
O estalo do taco chamou a sua atenção. O garoto acertou um
lançamento longo, e a bola passou voando por cima da cabeça de Logan.
Ele saiu correndo para pegar a bola enquanto o rebatedor corria por bases
invisíveis. Dimitri esperou na base principal, pronto para dar um toca aqui.
Logan fez sinal de ok para o menino em resposta.
Cativada, observou o alfa e o beta instruírem o garotinho.
Flutuando entre conversas sérias e animadas, o trio jogou beisebol. Assistiu
com curiosidade e admiração. Uma calidez se assentou no peito ao ver esse
outro lado de Logan. Viu-o como um guerreiro quando o conheceu. Mais
tarde, como salvador. Então, no escritório, o homem de negócios. Tinha
visto o alfa, o líder fazendo um discurso fúnebre. O amante aventureiro,
dominador e carinhoso. E antes que pudesse deter o pensamento, imaginou-
o como pai. Pai dos filhos dela.
As palavras de Wynter ressoaram na mente de Logan. Eu amo
você. Talvez ela não tivesse tido a intenção de dizer, mas disse. Tudo o que
sabia era que a amava também e mal podia esperar pela transformação dela.
Porque assim que se transformasse, ela seria capaz de marcá-lo. Então,
depois que capturassem o assassino, eles acasalariam. Seria uma tortura do
caralho esperar; o lobo reclamaria.
Odiou tê-la deixado de manhã, não querendo nada mais do que se
afundar em sua doçura. Mas tinha prometido a René que jogariam.
Treinariam, na verdade. A liga infantil seria na primavera. Em breve, todos
os filhotes estariam pela sua casa, querendo jogar com ele. Orgulhava-se
das habilidades como lançador, mas sempre se certificava de deixar os
meninos ganharem do alfa. Ensinava habilidades e tentava aumentar a
confiança deles.
Antes de René chegar, conversou com Dimitri sobre ajudar na
transformação de Wynter. Logan queria que a primeira transformação fosse
pacífica e erótica, não traumática. Não só a libido de Wynter poderia estar
fora de controle, também temia que as lobas tentassem um desafio. Dois
meses tinham se passado e ele já as via lutar por um lugar na sua vida. E
não havia como negar o fato de que Luci tinha morado com ele. Agradecia
a deusa por nunca ter cedido e transado com ela. Ainda assim, a mulher era
uma defensora ferrenha do que acreditava ser seu. Logan disse a Dimitri
que planejava deixar Jake no comando da alcateia enquanto acompanhava
Wynter. Aos poucos, eles se misturariam, quando ela estivesse pronta, nem
um segundo antes disso. Ele a manteria segura entre eles até ser a hora
certa. Ferozmente protetor, jurou que ninguém tocaria em um fio de cabelo
da companheira.
Logan observou Dimitri se aproximar de Wynter. Tinha pedido
para o beta falar com ela antes de hoje à noite. Mesmo não sendo a primeira
vez que compartilharia uma mulher com ele, deixou muito claro; Wynter
era dele, e só dele. Assim, o outro teria que prestar muita atenção às suas
ordens. Enquanto a besta insistia, possessiva, em mantê-la só para si, ele
suspeitava que a transformação da companheira seria difícil. Deixariam
Wynter decidir de quanto alívio sexual precisaria depois. Esperava que lá
pela tarde os sentidos dela entrariam em alerta máximo, deixando-a
extraordinariamente excitada. Fome. Sede. Olfato. Luxúria. O corpo se
prepararia para a metamorfose.
Antecipando a experiência espetacular, Logan lutou para conter a
animação. Mal podia esperar para vê-la como loba. Tenso, ele precisava de
um escape. Desafiou René para uma corrida, e disparou pelo terreno.
— Oi, cher — Dimitri disse, sorrindo. Ele tirou a camisa,
revelando as reentrâncias bem-marcadas da barriga. — Caramba, está
quente.
— Está sim. — Wynter sorriu. Não pôde impedir os olhos de
vagarem pelo peito largo. Tão alto quanto Logan, ele parecia um
fisiculturista, não muito gigante, mas largo e duro. Merda, o que havia de
errado com ela? — Acabou o jogo?
— Acabou, o René é uma criança incrível. Logan vai levá-lo para
a mãe.
— Parece divertido.
— Então, é, eu falei com o alfa, sabe — ele comentou
— Sim. — As bochechas ficaram rosadas. O que Logan disse a
ele? Lobo mau.
— Como você está se sentindo?
— Hum, bem.
— Logan e eu conversamos hoje de manhã. Sobre a sua
transformação.
— Ele te contou tudo? — perguntou, com um sorriso amarelo,
tentando não olhar para o peito dele.
— Só digamos que temos alguns segredos. Que dizem respeito a
território. — Dimitri se sentou ao seu lado, apoiando a cabeça na madeira.
— Nós confiamos um no outro. Ele sabe que não importa o que aconteça,
eu o protegerei. E a você.
— Como hoje à noite? — Direto ao alvo, era assim que trataria o
assunto. Envergonhada ou não, aquela era a sua vida.
— Como hoje à noite — concordou Dimitri, tentando discutir o
assunto sem deixá-la desconfortável. — Mas não se preocupe. Logan fará
tudo o que tiver que fazer para tudo ser tranquilo.
— E você? — Viu que Logan vinha na direção deles. Ele,
também, havia tirado a camisa. Puta merda, o cara era gostoso. Tossiu,
tentando se concentrar no que ele dizia.
— É, eu também. — Dimitri sorriu para Logan, imaginando que
ele podia ouvir pelo menos parte da conversa. — Não vou mentir, cher,
estou ansioso para ver a sua transformação, para te ajudar.
— Estou com medo. Mas acho que vai acontecer quer eu queira
ou não. — Wynter olhou para o bayou e, então, abaixou a cabeça. — Quero
que você saiba que agradeço de verdade tudo o que tem feito por mim… as
conversas, a força que me deu esses dias. Sei que não tem sido fácil para
você também. O que quer que aconteça essa noite… confio em vocês dois.
— Logan e eu não vamos deixar que nada te aconteça. Vai ser um
dos melhores dias da sua vida. — Dimitri sorriu para Wynter, estendeu a
mão e pegou a dela. Queria tanto ser capaz de explicar a adrenalina que ela
sentiria, mas concluiu que seria em vão. Hoje à noite, ela correria com eles
e aprenderia o jeito dos lobos. Tinha fé de que ela se sairia bem depois que
se transformasse.
Wynter apertou a sua mão. Foi sincera quando disse o que disse.
Confiava neles, em Logan e em Dimitri. Juntos, passariam por aquela noite.
— Bem, olá, Logan, já comentei que você tem uma companheira
muito bonita? — Dimitri disse, quando o alfa se aproximou.
— Sim, já. Minha companheira é linda, não é? — Abriu um
sorriso irônico. Disse a ele para conversar, não para babar.
— Muito. — Dimitri riu, desfrutando da conversa fácil.
Logan se inclinou e deu um beijo em Wynter. Sua companheira.
Tão perfeita para ele.
Ela se estendeu para ele, enterrando as mãos no seu cabelo suado.
A língua invadiu a sua boca. Um beijo longo e entorpecedor se seguiu e,
antes que ela soubesse, tinha saltado para os braços dele, as pernas
envolvidas ao redor da cintura.
Logan podia dizer que ela estava começando a se sentir mais
excitada. Estremeceu ao pensar no que aconteceria mais tarde. Mas, graças
a deusa, ele e o beta tinham um plano para passar por aquela transformação.
Porém, até lá, teria que fazer a mulher descansar. Sorriu no beijo, afastando-
se com um suspiro. A testa tocou na dela, ambos lutavam para recuperar o
fôlego.
— Ei, Wyn, linda, você está bem? — ele perguntou, carinhoso.
— Eu… me desculpa. Só estou tão… tão… — Ah, Deus, o que
está acontecendo? Acordou tão feliz, tão renovada. Agora estava acalorada
e faminta, tanto por comida quanto por sexo.
— Eu sei. Vamos lá, vamos entrar. A sua loba está vindo à tona.
Que tal irmos comer alguma coisa? Eu ajudo. — Logan continuou
segurando Wynter e indo em direção à porta dos fundos.
— Mas eu já comi — ela protestou, mas o estômago roncou.
— Sua loba está se preparando. Comer vai ajudar a controlar o
movimento. Ficar perto do D não deve estar ajudando muito.
— O que foi?
— Ela conhece o cheiro do meu beta. Vai querer ficar perto dele,
tocá-lo.
— Mas, Logan, isso não faz sentido. Eu só quero a você. — A
humilhação apagou a excitação, e ela enterrou o rosto no ombro dele.
— Está tudo bem, Wyn. É só o seu corpo fazendo isso — ele
assegurou, abraçando-a junto ao peito.
Logan ansiava dizer que a amava, mas o tempo estava passando.
Com a iminente mudança, só queria acalmar os sintomas. Em breve, diria a
ela, mas com Dimitri observando e ela no limite… agora não era a hora
certa.
Wynter ficou quieta consigo mesma. As emoções, e a luxúria por
causa de Dimitri, perturbaram o que ela dava como certo. Na noite anterior,
declarou que o amava. Foi inesperado, mas, ainda assim, as palavras
escaparam dos seus lábios. E hoje? Hoje ela quase molhou a calcinha por
causa de um beta gostoso sem camisa. Que tipo de ser humano horrível
fazia algo assim? Ela balançou a cabeça, percebendo que não era mais
humana. Só que ainda não estava convencida de que era cem por cento
loba. Foi feita de forma anormal, não nasceu shifter. A sanidade estaria fora
do seu alcance até que conseguisse analisar o próprio sangue; precisava
saber quem e o que realmente era.
Que filho da mãe poderia ter entrado nas suas terras e jogado isso
na sua porta? Tirou uma foto com o celular e a enviou por mensagem para
Chandler e para Devereoux. Depois, ligou na mesma hora para Dimitri e
insistiu para que fizesse uma pesquisa sobre o dono das instalações do
laboratório. Frustrado, não pôde sentar e esperar que Devereoux descobrisse
quem tinha mantido Wynter em cativeiro. Encontrariam o assassino
sozinhos, sem o vampiro.
Pediu para Dimitri fazer outra varredura no notebook antes de
entregá-lo a Wynter. Analisaram cada e-mail, cada byte de dados para ver
se havia um padrão no fluxo de informações. A decisão mais difícil que
Logan teve que fazer foi a de não dizer a Wynter sobre a mensagem
agourenta que deixaram. Ela passou por tanta coisa nos últimos meses; não
tinha coragem de deixá-la aflita. E, também, não havia nada que ela pudesse
fazer quanto ao assunto.
Conforme esperado, a lobinha tinha ficado em êxtase quando ele
mostrou o laboratório recém-construído. Era o mínimo que podia fazer,
dadas as circunstâncias. Ela logo começou a pegar amostras de sangue, não
de si mesma, mas dele e de Dimitri. Por pedido dele, Chandler doou o
sangue também, e as amostras de Emma tinham sido enviadas de Nova
York. Obcecada e determinada, Wynter trabalhou dia e noite.
Egoísta, Logan queria mais tempo com ela, mas o laboratório
dava à companheira uma boa distração, e a mantinha na segurança da casa.
Mesmo o assassino tendo descoberto onde ela estava ficando, Logan tinha
reforçado a segurança, certificando-se de que ninguém entrasse sem a sua
permissão. O lugar havia sido lacrado, evitando outros ataques. O inferno
congelaria antes que a tirassem de lá, pensou.
A tarefa mais difícil estava sendo resistir à necessidade crescente
que sentia pela companheira. A cada vez que faziam amor, ele se
atrapalhava para dizer a ela como se sentia. Deusa, ele a amava. Mas queria
que as memórias do amor deles fossem imaculadas e, naquele momento,
ambos estavam obcecados com o assassino. O acasalamento deveria ser
extraordinário e pacífico, não atado a lembranças de ódio e morte.
Nos últimos dois dias, Wynter não tinha feito nada além de
trabalhar e fazer amor. Por mais maravilhoso que fosse, ainda não tinha
voltado a dizer a Logan o que sentia. Sempre na ponta da língua, era como
se estivesse esperando a hora certa. Continuava pensando que seria quando
eles acasalassem, mas ele ficava adiando. Não estava certa sobre a parte
técnica do acasalamento, mas a loba não estava nada feliz. Logan disse que
queria esperar até que capturassem o assassino. Mas uma partezinha dela
questionava a decisão. Por que ele não queria acasalar com ela agora? A
loba não entendia, e nem ela. Por que não disse que a amava? Sendo
sincera, sentia o amor dele a cada vez que sorria para ela ou que acariciava
o seu cabelo, mas algo naquelas três palavrinhas… precisava ouvi-las, dizê-
las a ele. Inferno, precisava contar para o mundo todo.
Enquanto olhava os dados, conteve a empolgação com a
respiração suspensa. Embora o seu sangue tenha mostrado anormalidades se
comparado às amostras do lobo típico, marcadores genéticos incomuns
indicavam capacidades antivirais significativas. Havia extraído os genes,
inserindo-os nas amostras de Emma. Por mais impossível que parecesse,
seu sangue tinha, sem sombra de dúvida, irradiado o vírus. Dado que
mutações aleatórias podiam ocorrer a populações humanas, concluiu que
talvez o sistema imunológico de Emma tenha sido enfraquecido de alguma
forma. Como sabia, o sangue da menina, uma híbrida, não se comportava
como o de um lobo puro. Os genes humanos adulteravam os de lobo, que
proviam a imunidade. Uma variação minúscula no código genético. Sua
suposição inicial foi de que Emma tinha sido infectada de propósito, porém
parecia ser uma teoria menos plausível do que a das mutações aleatórias.
Mas quem tinha modificado o sangue de Wynter geneticamente?
E como? Por todo o tempo em que passou em cativeiro, eles tinham estado
trabalhando em alterações genéticas suspeitando que isso curaria a doença
de Emma? Se fosse verdade, o sangue de Wynter tinha sido cultivado por
semanas, como se ela fosse uma placa de Petri humana. Não é de se admirar
eles a quererem tanto. Mas como eles saberiam se o experimento tinha dado
certo? Não dava para terem certeza de que ela tinha se transformado, não é?
Se soubessem que a transformação foi um sucesso, iriam querê-la de
volta… o seu sangue. Como uma posse, eles rastreariam o experimento e
não parariam até recuperá-la. Com o vírus e o antídoto, seriam capazes de
chantagear, extorquir e torturar outros como bem quisessem.
Assustada com a descoberta, Wynter inseriu a agulha na veia.
Enquanto ela fazia a coleta, Logan bateu à porta. Era hora de dizer a ele.
Queria que Jax, em pessoa, levasse o seu sangue para Emma. Enviaria
instruções para dosarem o seu plasma na quantidade certa.
— Oi, docinho… ôpa, o que você está fazendo? — Logan
perguntou.
— É o meu sangue. Estou fazendo os últimos exames. Eu estava
certa — confirmou, com um sorriso contrito.
Logan a beijou na bochecha e logo recuou, dando espaço para que
ela terminasse. Sentou-se à mesa perto de onde ela estava de pé, pegando
um pacote de gaze na bandeja.
— Preciso enviar esse sangue para a Emma.
— Tudo bem. — A testa de Logan franziu com temor. O coração
dela acelerou, e ele podia dizer que a companheira tinha chegado a alguma
conclusão à qual não ia gostar de ouvir.
— Eles não vão parar de procurar por mim, Logan. Vão precisar
do meu sangue. Eles me criaram… criaram a minha loba — ela começou.
— Não vou deixar que a levem. Eles não podem te pegar aqui —
Logan a interrompeu. — Me escute; aquele filho da mãe pode ter feito algo
contigo, mas isso não muda quem você é por dentro.
— Não vê? Minha estrutura genética foi alterada. Eu não sou
igual a você. Eu não sou humana. Eu sou um monstro.
— Não, você não é. Pare com isso. Você é perfeita do jeito que é.
Nunca pense o contrário.
Wynter balançou a cabeça. O sorriso desanimado não chegou a
atingir o olhar, porque ela sabia a verdade do que tinham feito. Ela o amava
tanto. Amava o fato de ele não se importar com o que ela era ou que a sua
genética não era nem de lobo nem de humano. Mas sabia que o que
sugeriria não cairia bem. Com um leve puxão, tirou a agulha do braço,
aplicando pressão no buraquinho com um algodão. Mais tarde, pretendia
tirar mais sangue, criar um estoque. Se algo lhe acontecesse, queria se
certificar de que haveria o bastante para pesquisas futuras… para uma cura.
Ainda mais determinada, secou o suor da testa.
Sem perguntar, Logan preparou o Band-aid. Ele pegou o seu
braço com cuidado e colou o curativo.
Wynter suspirou e olhou nos olhos preocupados.
— Acho que precisamos me usar como isca. — Pronto, falou.
— Não — Logan disse firme, sem desperdiçar um segundo. Que
merda ela estava pensando? De jeito nenhum, pensou.
— Por favor, Logan, me ouça. Ele está vindo atrás de mim. Eles
estão vindo atrás de mim. Será mais de uma pessoa. Léopold disse que ele
fez outros vampiros. De qualquer forma, não importa. Não quero esperar
aqui como um alvo. Podemos me usar para atraí-lo, então você e Léopold
podem capturá-lo. É a única forma…
— Não — Logan repetiu. Ele soltou o seu braço e reparou no
último dos cinquenta frascos de sangue, do sangue de Wynter.
— Mas por que você não está dando ouvidos? Estou te dizendo, é
a mim que eles querem. Eu sou o antídoto. Eles não vão desistir. Não sei
como concluíram que o meu sangue curaria a Emma. Eles já podem estar
com amostras do meu sangue pré-transformação. Eu não o testei, mas é
possível que até na época as minhas células pudessem ter curado o vírus. Se
fizermos uma armadilha… você estará lá. Eu não estaria em perigo, não de
verdade.
— Eu disse que não. — Logan bateu a mão na mesa um pouco
mais forte do que pretendia.
Não estava tão bravo com Wynter quanto estava com toda a
situação. Mas ela precisava entender o quanto ele estava falando sério. Não
a queria vagando por aí e fazendo tolices que colocariam a ela e toda a
alcateia em perigo.
— E, para registrar, estou ouvindo. Mas, como alfa, tomei a
decisão. Você não será usada como “isca”, como você chamou de forma tão
despreocupada. Pedi ao Dimitri para rastrear cada endereço de IP de cada e-
mail enviado e recebido naquele notebook. Daqui a um dia, devemos ter a
informação de que precisamos para verificarmos os padrões, talvez até
identificar para onde eles foram depois que saíram de lá. Não podemos
arriscar que algo te aconteça. Não, me permita dizer de outro jeito: eu não
vou correr o risco de que algo te aconteça.
Ele voltou a olhar para os tubos cheios de sangue.
— Já estou preocupado de que algo esteja te acontecendo. O que
há com toda essa quantidade de sangue, Wyn?
— Estou bem — ela o dispensou. Levantar-se rápido demais a fez
bambear. Ele correu em auxílio e a pôs de volta na cadeira.
— Docinho, o que você está fazendo? — Logan se ajoelhou
diante dela e expôs a parte interna do braço que estava com o band-aid.
— Eu disse que estou bem. — Ela se desvencilhou da mão dele e
desviou o olhar. Na verdade, tinha tirado sangue demais, mas com a
habilidade de cura sobrenatural, o equilíbrio estava voltando rápido.
— Fale comigo, Wyn. O que está acontecendo? — Logan
balançou a cabeça. Maldita lobinha teimosa.
Uma lágrima ameaçou escorrer do olho esquerdo e ela com
certeza a deteve com um dedo.
— Eu só… eu sei que eles não vão desistir. Não sei da doença de
Emma. Se for uma anormalidade genética aleatória, então pode acometer a
outro híbrido. As chances são pequenas, mas pensei que se pudesse estocar
o bastante do meu sangue… eu não tinha bolsas aqui, nem uma intravenosa,
então comecei com os tubos… — Ideia mais idiota, ela pensou. Uma
nuvem de desespero choveu acima da sua cabeça.
— Linda, olhe para mim. — Logan esperou até que os olhos
avermelhados encontrassem os dele. — Esse vírus… só sabemos de um
lobo, um híbrido, que foi infectado. Você mesma me disse que não acha que
ele foi mutado. O Jax vai levar o seu sangue para a Emma. Ele pode chegar
lá em um dia. Quanto a todo esse sangue… — Logan fez uma pausa e
olhou para os frasquinhos. — É admirável você querer estocá-lo para o
futuro, caso sejam necessários. Eu entendi. Mas você não pode se punir por
isso. Nem deveria se fazer virar uma almofada de alfinetes. Se quiser
guardar algumas bolsas, nós encomendamos os suprimentos intravenosos e
faremos com que aconteça, mas mais tarde. Nesse momento, no entanto,
você precisa se cuidar. Está trabalhando sem parar, mal come e dorme. Eu
preciso de você — ele disse, cheio de amor.
— É que estou tão preocupada. Algo vai acontecer. Algo ruim.
Posso sentir. Preciso me certificar de que haja amostras o suficiente do meu
sangue no caso… — Ela sabia que Logan só queria protegê-la, mas a
sensação esmagadora e agourenta nublava os seus pensamentos.
Logan se recusava a reconhecer as suas visões. Era uma parte
sombria dele que só dividiria quando ela estivesse em segurança. Na noite
passada, o pesadelo voltou. Dessa vez, mais claro; o rosto de Wynter, o
pescoço rasgado. O grito dele enquanto a vida era drenada do corpo da
companheira. Voltando a se concentrar, esfregou o joelho e apoiou a testa
na coxa dela.
— Sei que você está preocupada. Mas precisa confiar em mim. —
Ele ergueu a cabeça e pegou as mãos dela. — Não vou te usar como isca.
Eu te amo demais. Você não é só minha companheira, você é tudo para
mim.
O coração de Wynter ficou preso no peito. Ele a amava. Enquanto
as palavras saíam dos lábios de Logan, segurou o rosto dele, e ele beijou a
palma da sua mão.
— Eu também te amo. Meu alfa, eu te amo tanto.
Logan a puxou para os braços, beijando-a na testa, as bochechas
e, enfim, reivindicou os lábios trêmulos e macios. Devagar, incitou a sua
boca a abrir, a língua encontrou a sua e se perderam no amor, reafirmando o
futuro. Corações explodindo com paixão, aproveitaram o tempo explorando
e provando um ao outro.
Logan afastou os lábios, pressionando a testa na dela. Peito no
peito, os lábios a meros centímetros um do outro.
— Quero que saiba o quanto desejo acasalar contigo. Eu te amo
mais que a vida. Mas, quando completarmos o ritual, será sem medo, sem
morte. Nosso dia, Wyn; não pertencerá a ninguém a não ser a nós mesmos,
entendeu?
— Logan, nunca me senti assim em toda a minha vida. Eu me
perguntei por que… por que não acasalamos. Eu não entendo tudo, mas a
minha loba… ela está aqui. Quero ser sua companheira em cada sentido da
palavra.
— E você será… para sempre. — Logan voltou a capturar os
lábios dela, vertendo segurança e amor no beijo. Que as visões se danassem,
ninguém a tiraria dele… nunca.