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ÍNDICE

NOTA DA AUTORA
AVISO
SINOPSE
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
EPÍLOGO
AGRADECIMENTO
NOTA DA AUTORA

O Filho Rejeitado Do Sheik é o meu primeiro livro


nesse universo, espero ser início de muitos outros.
Preciso deixar alguns avisos para vocês. Para ter mais
liberdade em escrever a história e deixar o livro mais gostoso
de ler, decidi criar um país fictício chamado Sahra, até mesmo o
deserto chamado Amal é fictício.
O país do meu sheik, apesar de eles serem apegados
a muitas tradições antiga, algumas da cultura árabe serão reais,
outras mescladas, e algumas inventadas por mim. Ou seja,
Sahra é país mais moderno em relação a liberdade e direitos
para às mulheres.
Não tenho nenhuma intenção de dar aulas sobre essa
cultura tão rica, embora eu vá apresentar a vocês algumas
coisas sobre ela, mas o foco aqui é a história de Rashid e
Suzana.
Também não desejo insultar e nem criticar nenhuma
cultura ou religião.
Espero que vocês gostem.
Obrigada por lerem e pela oportunidade de apresentar
o meu trabalho.
AVISO

O Filho Rejeitado Do Sheik é um livro único.


A história de Suzana e Rashid começa e termina
nesse.
Foi um prazer escrever e espero que vocês gostem
tanto quanto eu amei dar voz a eles.
Um cheiro e boa leitura!
Agatha Costa.
SINOPSE

O sonho da vida de Suzana Weston sempre foi ser mãe.


No dia que enterrou seu marido, ela descobriu que ele a havia
traído, como também teve uma filha fora do casamento,
deixando-a completamente arrasada.
Ao completar 39 anos, Suzana sabe que seu relógio
biológico está correndo. E é em uma viagem de férias para
comemorar seu aniversário de 39 anos, organizada por sua
melhor amiga Lucy, que ela decide ter uma gravidez
independente.
O que Suzana não contava era que o homem escolhido,
tratava-se de uma figura muito importante em Sahra.
Uma noite de loucuras entre eles, gerou outras quentes no
deserto, de pura paixão. Ela fica grávida do homem intenso e
misterioso, que a fez conhecer a força da paixão pela primeira
vez.
Arrependida de tê-lo enganado, Suzana decide contar a
verdade sobre o bebê deles crescendo em seu ventre, mas
Rashid a rejeita, dizendo que nunca a conheceu e o filho não
era dele.
Rashid é um homem de coração gelado, que após uma
implacável decepção amorosa, ao ver a jovem que ele amava
se casar com seu irmão mais velho, decide nunca mais
entregar os seus sentimentos a outra mulher.
Ele só quer ter algumas noites de diversão, até a próxima
amante entrar em sua cama. Mas a estrangeira Suzana Weston
mexe com ele mais do que Rashid poderia ter esperado.
Só que Rashid jurou nunca mais acreditar em olhos
inocentes e sorrisos doces. Nenhuma mulher valia a sua
confiança e, depois de tê-la, ele a arrancaria da sua vida, como
se Suzana nunca tivesse existido.
Rashid seria capaz de permitir que o muro em volta de seu
coração protegido caísse?
Suzana seria capaz de perdoá-lo por ter rejeitado o filho
deles?
Qual seria mais forte?
Ódio ou amor?
CAPÍTULO 1

Connecticut, EUA

Apenas quem já foi traído consegue entender como é


profunda a dor ao descobrirmos que a pessoa que mais
achávamos amar no mundo, fosse capaz de colocar uma
estaca em nosso coração. Não conseguimos acreditar em
nossa ingenuidade, crenças e em como nos portamos como
tolos por tanto tempo.
Eu conheci Willian quando eu tinha 31 anos. Eu havia
acabado de perder os meus pais em um acidente de carro
horrível.
Foi em uma viagem que fiz à Paris, com minha amiga,
Lucy. Para tentar me recuperar dos longos meses de luto e
perda devastadora, que inesperadamente, conheci aquele
homem atraente.
Ele nos abordou no Rio Sena e pediu que eu tirasse
uma foto dele. Descobrimos, coincidentemente, ao nos
reencontrarmos, naquela tarde que estávamos no mesmo hotel
e marcamos de nos vermos de novo no bar.
Aceitar o convite de Willian para jantar e outros
encontros naquela semana foi algo tão natural quanto
empolgante.
Nós nos vimos todos os dias até o fim da minha
viagem, que terminou dois dias antes da dele. Eu descobri que
Willian morava em Boston, enquanto eu vivi a minha vida toda
em Connecticut. São cerca de duas horas de viagem, se
pegássemos a via I-90 W e a I-84. O que no início não achamos
ser muito, até voltarmos para casa e a realidade corrida das
nossas rotinas começar a pesar.
Mas eu acreditei estar tão apaixonada por Willian ou
desesperada desejando ter alguém para amar, que alguns
meses após nosso namoro firme, aceitei sua sugestão de
vender a casa que herdei dos meus pais e me mudar para
Boston com ele.
No ano seguinte nos casamos.
Eu queria ter uma família de imediato, já que não me
restava mais ninguém no mundo, além de parentes muito
distantes. Queria no mínimo quatro filhos. E embora não
pudesse controlar isso, planejava em minha mente, e,
principalmente, no meu coração, que seriam dois meninos e
duas meninas.
Mas Willian estava no começo de sua carreira militar e
meus trabalhos como artista plástica ainda não me davam
muito retorno.
Assim, adiamos por um ano, que se transformaram em
dois, e após quatro e meio, eu finalmente bati o pé, receando
receio que o fator, idade, viesse complicar o meu desejo de ser
mãe. E assim foi. Por um ano fiz alguns tratamentos rigorosos e
quando finalmente recebi resultados positivos do meu médico,
Willian ficou doente.
O meu imenso desejo de ter um filho teve que ser
adiado novamente, para que dessa vez eu pudesse cuidar do
meu marido enfermo, o que fiz de todo coração e com muito
amor. Infelizmente, o câncer o levou de mim.
Mas essa não foi a única dor que tive que enfrentar.
No velório, poucas horas antes do corpo ser enterrado
fui tomada pela surpresa. A mulher que Willian vinha me traindo
em suas viagens a trabalho e sua filhinha de três, surgiram. A
garotinha era completamente idêntica a ele. Até o sinal no
braço, no mesmo lugar que ele tinha, ela possuía.
Aquele dia enterrei o meu marido, a crença no amor, o
sonho de ser mãe e qualquer esperança de felicidade.
Eu estava completamente sozinha no mundo.
Com a morte de Willian, vendi nosso apartamento em
Boston, dei parte do dinheiro a filha dele e voltei a Connecticut,
para morar próximo a Lucy.
— Terra para Suzana?
O estalo em frente ao meu rosto faz eu desviar a
minha atenção dessas lembranças tristes e me concentrar em
Lucy.
Vim encontrá-la em um café próximo a agência de
viagens onde ela trabalha.
— Desculpe, o que dizia?
— O seu aniversário, amiga. É daqui a duas semanas.
Nós temos que comemorar.
Sorrio para a empolgação de Lucy, embora eu não
sinta o mesmo. É graças a ela que ainda levanto da cama,
trabalho e, continuo respirando. Acordo com suas ligações me
dizendo para mover o meu traseiro do lugar e vou dormir com
suas promessas que o dia seguinte será melhor.
Mas, não é. Nunca, é. Minha vida continua triste, vazia
e solitária.
— O que tem para comemorar, Lucy?
— Você fará 39 anos!
E com isso as minhas chances de ter um filho ficavam
cada vez mais distantes.
Eu sinto um vazio tão grande no peito, que todas as
noites enquanto choro no meu travesseiro, sinto que essa dor
vai me sufocar.
— Sim, eu estou ficando velha. E serei como a tia
viúva, dos gatos, mas eu não tenho gatos e nem sobrinhos.
— Ah, Suzana! Você está na melhor idade, amiga.
Precisa sair mais. Ver gente. Já faz um ano que aquele...
Lucy não continua. Embora ela odeie Willian pelo que
ele me fez, suas crenças não permitem que fale mal dos
mortos.
— A filha dele fez quatro anos no próximo mês. A mãe
de Willian me convidou para a festinha de aniversário dela.
Isso para mim foi como uma nova apunhalada sendo
dada em meu peito. Willian havia partido, mas diferente de mim,
ele tinha deixado uma parte dele no mundo.
— Que mulher sem noção.
— Não acredito que ela tenha feito por mal. Acho que
pensa que eu ficaria feliz em ver uma parte dele entre nós.
— Ela é louca, isso, sim. E você, bondosa demais para
não ver maldade nisso.
Talvez Lucy tivesse razão, mas eu só enxergava uma
mãe tentando lidar da melhor maneira possível, com a morte do
filho, sem imaginar o quanto isso ainda me fere.
— Mas esqueça isso. Vamos falar do seu aniversário,
que é o único que importa, pelo menos para mim. Eu tenho uma
surpresa para você.
— Eu não gosto de surpresas, Lucy. Sabe que não
tenho recebido nenhuma que tivesse sido agradável nos últimos
tempos.
— Mas você irá amar essa — ela ignora
completamente a minha descrença e desamino, e pega sua
bolsa na cadeira ao lado dela — Faz tempo que estou
namorando visitar esse país. E agora a agência conseguiu
formar ótimos pacotes.
Junto com os folhetos do hotel, passeios e outros
informativos, Lucy me estende as duas passagens aéreas em
nosso nome.
— Nós vamos para Sahra! — Ela comemora como se
tivéssemos recebido prêmios da loteria — Praia, sol, e quem
sabe você não conhece um sheik lindíssimo e rico.
— Ou uma outra versão, só que árabe de Willian.
Sheiks não costumam ter várias esposas? — murmuro,
amargurada.
— Não em Sahra, amiga.
— De qualquer forma, não. Obrigada.
O meu coração já havia sido quebrado uma vez e eu
nem sabia se existia alguma parte dele em meu peito, para ser
enganada, traída e machucada novamente.
— Tudo bem. Esquece o sheik bonitão. Mas nós
iremos viajar, Suzana Weston. E vamos comemorar o seu
aniversário.
Lucy tem me dado tanto apoio, muito antes da morte
de Willian, que não posso recusar o seu convite. Seria
completamente ingrato com ela, ainda mais vendo-a tão
animada com essa aventura. E ela também havia acabado um
relacionamento faz pouco tempo. Era minha vez de dar apoio a
ela.
— Certo. Eu vou. Mas nada de romance. Você tem
que me prometer, Lucy.
Ela cruza os dedos como fazíamos quando éramos
escoteiras e leva aos lábios, selando o juramento.
— Eu prometo — após isso ela pula da cadeira e vem
saltitante para o meu lado — Vai ser uma viagem incrível,
Suzana. Você vai ver.
Por Lucy, tentaria aproveitar a viagem e esconder da
minha melhor amiga o máximo possível, a constante tristeza me
consumindo.
Talvez o sol de Sahra pudesse trazer um pouco de
calor ao meu peito congelado.
Essa poderia mesmo ser uma boa viagem de férias
inesquecível.
CAPÍTULO 2

Palácio de Saha
Um ano antes
Vinte segundos.
Para algumas pessoas esse tempo seria tão
insignificante quanto um piscar de olhos. Para mim, mudou a
minha vida inteira.
Por causa deles, o meu irmão gêmeo Hamad havia
nascido na frente e se tornado o filho mais velho e futuro emir
[1]de Sahra. Nosso pequeno, próspero e lidíssimo país, no
deserto de Amal.
Nunca houve qualquer tipo de competitividade entre
nós. Até ele ficar comprometido e se casar com a mulher que
eu amava.
Apesar de ser o mais velho, Hamed é mais
descontraído, festivo e aventureiro do que eu. Ele estudou na
Europa, conheceu muitas mulheres em suas viagens pelo
mundo. Porque o meu irmão exigiu isso, antes de ser obrigado
a assumir como o futuro rei. Poder viver em liberdade.
Enquanto, eu, fiquei aqui, ajudando nosso pai a cuidar de
Sahra, fazendo o nosso país prosperar e crescer cada vez
mais.
Foi fácil para Hamed retornar anos depois e conquistar
a jovem Layla Zahir. Em poucas semanas de corte, ele já tinha
o coração da bela dama em suas mãos.
A nossa tradição exige que o futuro emir tome uma
esposa quando atingisse a idade máxima de quarenta anos,
para que ainda tivesse vigor para produzir herdeiros. Como
segundo na linhagem, eu não era obrigado a isso, a não ser
que Hamed fosse impotente ou morresse.
Agora eu só poderia assistir de longe a família de
Hamad e Layla se formar e crescer dando frutos. Congelar o
meu coração e esconder todos os dias a mágoa em saber que
Layla jamais poderia ser minha.
Ela havia traído nossas juras de amor, em nossas
caminhadas nos jardins, para se tornar a esposa do príncipe
herdeiro e futuro sheik.
Agora devo esquecê-la.
— Salam [2]— digo a Jalal que está me esperando no
pátio, no lado fora do grande salão palácio.
Ele é o meu braço direito e amigo de longa data.
— Salam. Os cavalos estão prontos, Vossa
Excelência. Podemos partir quando quiser.
Eu já havia tolerado os três dias de festa de
casamento. Todos os rituais para os noivos já haviam sido
cumpridos e minha presença no palácio não seria mais exigida.
— Para onde vamos? — Questiona Jalal,
— Passar algumas noites no hotel do meu primo,
Omar, na capital e de lá vamos para o Sul do deserto de Amal.
Pretendo me isolar na minha tenda no deserto o
máximo de tempo que eu puder. Hamed estava de volta e agora
é dever dele cuidar de todas as obrigações reais junto com o
nosso país. É hora dele aprender mais sobre Sahra. E em como
as coisas haviam mudado desde que ele partiu para estudar e
se divertir pelo mundo. Como relembrar algumas das nossas
importantes tradições.
Sigo para o meu garanhão negro, um Aswad[3], uma
raça premiada, criada em nosso país, que vale milhões em todo
mundo, devido sua resistência a longa viagens no deserto e
velocidade impressionante.
— Rashid?
Fico tenso ao reconhecer a voz e feminina me
chamando.
— Iria embora sem se despedir de mim?
— Vossa Alteza — faço uma reverência a Layla e não
ergo o meu olhar para ela — Apesar de nos tornarmos parentes
agora. De você se tornar minha irmã. Não é certo que fale
comigo sem o seu marido presente.
— Rashid — ela encurta a distância entre nós —
Nunca ligamos para essas tradições tão antigas. E nem creio
que Hamed iria ligar. Você ainda é o meu melhor amigo.
Não, eu não era. Como seria possível ser amigo de
quem temos um amor não correspondido?
Quando olhá-la com outro, sendo o meu próprio irmão,
idêntico a mim, mas tão diferente na personalidade, machuca.
— As coisas mudaram, Layla — dessa vez me atrevo
a olhar rancoroso para ela — Você fez a sua escolha.
— Eu tive que cumprir o pedido do meu pai!
— Você mesmo disse que não éramos tão ligados a
antigas tradições — relembro-a com sarcasmo — O que mudou
com meu irmão?
Apesar de Layla ser a escolhida de Hamed e o pai
dela ter ficado feliz com isso, ela poderia ter recusado a corte
dele e seu pedido de casamento. Sim, causaria um desconforto
diplomático por algum tempo, que seria superado quando nós
dois nos casássemos. Mas Layla queria mais. Ela desejava o
trono.
Como pude ser tão cego para não ter visto isso?
— Eu me apaixonei por ele. Aconteceu, Rashid.
— Nós conversamos por meses, Layla. Estava certo
apenas esperarmos Hamed voltar e assumir o seu cargo para
eu pedir sua mão. Idealizamos ficar juntos tantas vezes. Não.
Eu idealize. Agora quer me dizer que em três semanas de
cortejo, você se apaixonou pelo meu irmão?
Não vou confiar em seu olhar triste. Eu precisava
acreditar que Layla era apenas uma garota ambiciosa. Só
assim eu conseguiria lidar com o meu ego e coração ferido.
— Adeus, Layla — falo, secamente, dando às costas a
ela.
Não apenas a partiu o meu coração. Mas me enterrou
para o amor. Eu nunca mais entregaria essa parte tão frágil de
mim a ninguém.
CAPÍTULO 3

Connecticut, EUA
No aeroporto
Quando eu digo que odeio surpresas, tenho
propriedade para falar isso.
— Como assim você não vem, Lucy?
Fecho os meus olhos com fora e tento controlar a fúria
com minha amiga. Eu deveria ter imaginado quando ela disse
para nos encontrarmos no aeroporto, que alguma coisa estava
errada.
— Abiga — sua voz fanhosa que a faz falar errado,
poderia soar engraçada, se a situação não estivesse me
deixando completamente em pânico — Eu guro que queria ir.
Mas nem consigo lebantar da cama.
Com o que ela diz e um ruidoso espirro que dá, me faz
afastar o telefone do ouvido.
Lucy está mesmo mal, o que nem me permite ficar
brava com ela.
— Mas, Lucy, essa viagem foi ideia sua. Então se não
vai...
— Dada disso, abiga! É seu presente de anibersário.
Bocê tem que entrar naquele abião e se dibertir em Sarha por
nós duas. Promete isso, Suz!
Eu nuca quis fazer essa viagem, muito menos sem a
Lucy.
— Gastei uma fortuna. Bocê bai! — O grito a faz entrar
em uma crise de tosse seca — Já está aí. Então só aprobeita.
Seria um grande desperdício jogar as duas passagens
no lixo. Além disso, com Lucy doente, não haveria nada que eu
pudesse fazer. Com toda certeza a sua Diana, mulher que a
criou desde bebê, estaria enfurnada na casa dela, tratando-a
como o seu cristal.
— Certo. Eu vou. Mas saiba que vai ficar me devendo
essa.
— Te pago aquele japonês que bocê ama quando
boltar.
É claro que eu nunca iria exigir isso dela. A viagem
com ou sem Lucy, já tinha sido um presente de aniversário para
mim.
— Eu mando fotos. Aliás... — aviso, mostrando a
minha passagem a funcionária, para passar no embarque —
Vou encher você com fotos de praias, sol, comidas
maravilhosas, bebidas exóticas e homens bonitos.
— Cruel. É assim que me agradece bor ser uma amiga
incrível?
— Você é mesmo incrível — aviso, com amor — Eu te
amo, Lucy.
— Também te amo, Suzana. Banda notícias assim que
chegar lá, ok?
Quando chego ao portão de embarque, o meu voo
está sendo anunciado pela última vez.
— Suzana Weston? — Indaga a comissária no balcão.
— Eu mesma.
— Só faltava você e a Srta... — ela olha o computador,
checando sua lista de passageiros — Golding.
— É minha amiga, Lucy. Está doente e não irá.
— Então entre senhorita — ela sorri, amigavelmente
— Vamos partir imediatamente.
Serão muitas horas de viagem até Sahra, contando
com duas escalas de espera de três horas. Eu desejo que todo
esse empenho para chegar ao país, realmente valha a pena.

O aeroporto de Sahra é impressionante e diferente de


tudo o que já vi em questão de modernidade e beleza. Essa
primeira impressão do país é excelente e até começa a me
empolgar.
Um homem com trajes típicos, com as cores de Sahra,
azul, vermelho e preto, com uma placa com meu nome e de
Lucy está me esperando no lado fora do desembarque.
— Srta. Weston? Ou Stra. Golding? — Ele olha atrás
de mim, acho que esperando a minha amiga surgir a qualquer
momento.
— Suzana Weston — apresento-me a ele.
— Bem-vinda a Sahra, senhorita.
O sotaque ao falar minha língua é bastante carregado,
mas não tenho muitas dificuldades em entendê-lo. Explico ao
senhor que Lucy não vem, por ter ficado doente em última hora.
E ele demostra sincera indulgência por ela não ter vindo
comigo.
Gostei dele. É muito sorridente e simpático. Em
nossas conversas sobre a viagem, Lucy me disse que os
sahrarianos são conhecidos por sua hospitalidade, alegria e
gentileza.
Entramos no jipe dele e do aeroporto magnífico,
seguimos para Fils, a capital de Sahra. Eu fico encantada em
como a cidade é moderna, urbanizada e impressionantemente
limpa.
Eu já sinto o peso do calor nos primeiros minutos da
viagem, mas as paisagens por qual passamos são tão lindas,
que a temperatura extrema do Emirado não me incomoda.
— Chegamos, bela senhorita — avisa o Sr. Abdul, o
meu transfer, ao estacionar em frente ao lindo hotel — Zafir vai
levar suas malas.
Ele aponta um jovem igualmente sorridente, que vem
ao nosso encontro.
Ao check-in é feito rapidamente por uma funcionaria
bastante comunicativa e quase sem sotaque ao falar comigo. E
em minutos recebo as chaves do quarto.
Apesar de não ser o mais caro do hotel, é um dos
melhores que já fiquei em minha vida toda, e é de frente para a
linda praça de Fils. A cidade capital não fica próximo ao litoral.
A praia mais perto daqui e de livre acesso é em Dabab[4]. Vai
ter uma excursão para lá no dia seguinte e seria o meu primeiro
passeio com Lucy.
Antes mesmo de desfazer as minhas malas, estou
ligando para ela.
— Você não vai acreditar, Lucy — Jogo-me na cama,
olhando para o teto branco — Aqui é mais lindo do que nas
fotos. E faz muito calor também.
É obvio que minha animada amiga me enche de
perguntas curiosas e eu passo os minutos seguintes
respondendo e como uma pequena vingança por ter me
deixado embarcar nessa sozinha, a deixo com muita inveja.
CAPÍTULO 4

Fils, Sahra
Sei transitar muito bem entre o mundo moderno e das
nossas tradições milenares. Fico confortável em me sentar em
uma mesa com dezenas de chefes de estados, tratando de
assuntos importantes e de interesse entre nossas nações,
como posso passar dias, semanas e até mesmo meses, em
meu acampamento no deserto de Amal, em frente a um
magnífico oásis Raar-al-Mir, completamente privativo, que
pertence a minha família há mais de trezentos anos.
Tenho fascinação na junção entre as areias que
enformam linhas horizontais em constantes oscilações. A
contraposição das cores tépidas das dunas com o azul vivo dó
céu, refletindo nas águas serenas do lago.
É um alimento para a minha alma, sentir o frescor da
vegetação, que apesar da agitação da areia, se mantém
inabalável.
Aqui é onde eu tenho fugido do mundo nos últimos
meses, desde o casamento do meu irmão, na verdade. Jalal
costumar zombar, dizendo que tenho me escondido, e, ele não
está totalmente errado.
Esse tempo aqui, avaliando a minha vida, serviu como
uma espécie de purificação. A ferida em meu peito está
fechada. Nesses meses revivendo a nossa história, percebi que
estive apenas encantado com a ideia de me apaixonar pela
primeira vez, por uma jovem linda, atraente e ingênua.
A verdade é que foi mais o meu ego e orgulho sendo
feridos, do que realmente o meu coração.
Eu nunca desejei ser o sheik emir, esse destino já
estava traçado para Hamed, e eu aceitava o que tivesse sido
escrito a mim. Por amá-lo e saber das grandes
responsabilidades que ele teria no futuro, aceitei de bom grado
me tornar o braço direito do nosso pai, enquanto ele vivia suas
aventuras.
Então foi desapontador, mesmo que ele não tivesse
feito de forma cruel, vê-lo apenas tomar algo que queria e que
achei que fosse meu. Que Layla tão rapidamente tivesse caído
encantado por Hamed, esquecendo as promessas que fizemos
ao outro.
Mas isso teve seu lado positivo. Me fez ver o amor
como realmente é, frágil e não confiável. Eu não cairia nessa
armadilha novamente.
Agora era minha vez de aproveitar a vida, as festas e
as mulheres. Como segundo na linha de sucessão, pelo menos
até Hamed ter seus herdeiros, filas de belas garotas seriam
feitas a mim, tanto em Sahra como em todo o resto do mundo.
É minha vez de bancar o playboy da realeza.
Era o que estava em minha mente até Jalal trazer
informações importantes de Fils.
Agora já coroado, Hamed tem carta branca tratar de
assuntos de governo. Só que meu irmão não tem experiência
alguma para lidar com algumas questões que precisam de
medidas mais diplomáticas, do que operacionais.
Há um acordo que que dura mais de cinquenta anos,
garantindo que Alnaas al'ahrar, uma das tribos mais antigas no
norte de Amal, continue a ser independente de Sahra.
Apesar da área ser rica em petróleo e poder gerar
muitos benefícios a eles, a grande parte deseja continuar
vivendo da forma antiga, em suas tendas no deserto, comendo
e vestindo do que eles mesmo produzem.
Normalmente, eles são um povo pacífico, mas a
insistência de Hamed em tomar o lugar novamente para Sahra,
tem agitado os defensores rebeldes, deixando-os furiosos.
— Qual a última notícia que teve em Fils? — Indago a
Jalal quando ocupamos os nossos cavalos.
A pedido de meu pai, em uma missiva enviada a mim
há três dias, preciso ir à cidade capital para acalmar os ânimos
de algumas pessoas, depois que o restaurante onde Hamed e
Layla estavam sofreu um ataque como resposta às suas
promessas de tomar Alnaas al'ahrar.
— O povo ainda anda inquieto e com medo de uma
guerra.
Acho que foi um erro ter deixado Hamed lidar com
assuntos tão importantes como esse cedo demais. Mas ele
havia jurado ser capaz de começar a administrar suas funções
e tomar decisões necessárias.
Sahra não era como uma das fraternidades que ele
decidia coisas estúpidas. A vida do nosso povo, o presente e o
futuro de toda uma geração, dependia de nós.
— Acha que vai precisar ficar quanto tempo na
capital? — Estudo os olhos escuros de Jalal, que o turbante
preto faz ficar ainda mais sombrios ao analisar a sua pergunta.
Ele não era apenas o homem responsável pela minha
segurança. Mas um dos soldados mais bem treinados e
implacáveis do país. Eu nunca temia a minha vida ao lado dele.
— O mínimo necessário.
— E pretende ir ao palácio falar com Hamed?
Pelos relatórios que venho recebendo, o meu irmão
não anda muito amigável. Isso porque a essa altura seu
primeiro herdeiro já deveria estar a caminho, mas o ventre de
Laila continua vazio.
Somado a isso, ter tomado algumas estratégias
erradas, tanto políticas quanto econômicas, que cobram suas
consequências, faz Hamed ficar impaciente.
— Ele não quer a minha ajuda, Jalal — aviso, seco.
— Mas vai ajudá-lo mesmo assim.
De um jeito que Hamed não precise saber ou que só
descubra tarde demais. Sermos gêmeos idênticos, algumas
vezes tem suas vantagens.
CAPÍTULO 5

Já é o meu quinto dia aqui em Sahra e ainda tenho


mais dez de férias. Apesar de estar sendo uma aventura
incrível conhecer esse lindo país, sinto saudades de Lucy e
esses dias com ela teriam sido muito mais divertidos.
A minha amiga é bem mais descontraída que eu e faz
amizade fácil com desconhecidos. É ela que sempre me faz sair
da bolha da timidez e falar com a pessoas.
De qualquer forma, conheci lugares maravilhosos
como O Mercado de Fils, com suas lindas pecas de artes,
artigos de moda e comidas maravilhosas. Visitei as
deslumbrantes praias de Dabab e Zahri, que me ajudaram a
começar a ter um tom dourado em minha pele muito clara.
E há muitos passeios e atividades interessantes
oferecidas pelo hotel, mas hoje, em especial, não me sinto
animada.
E o dia do meu aniversário e comemorar sozinha em
um país distante, me soa mais solitário e triste do que o normal.
Ainda assim, pela insistência de Lucy, depois de me arrumar
toda, colocando um vestido novo e bonito, desci para o meu
jantar.
Tenho reserva no restaurante do hotel, mas não é
muito animador comer sozinha. Então, pulo o jantar e caminho
direto para o bar, assim que a porta do elevador abre. Talvez
uma bebida me animasse a encarar mais uma noite, em que a
minha companhia melancólica será a única que terei hoje.
Eu poderia tentar ir em alguns dos clubes noturnos na
cidade, mas a ideia de chegar sozinha e despertar curiosidade
e pena, desestimula.
Olho em volta do bar. Tudo nesse lugar é atrativo. As
pessoas são bonitas, sorridentes e elegantes, destacando o
status social que elas têm. Lucy teve realmente sorte em
conseguir essas reservas e agora entendo por que
praticamente havia me obrigado a vir.
Já estou ganhando suficientemente bem com as
minhas pinturas e esculturas para não precisar me preocupar
financeiramente. Uma viagem de férias por ano caberia em meu
orçamento, mas acho que nunca mais ficarei em um lugar tão
chique e bonito quanto esse.
— O que gostaria de beber, senhorita? — Indaga o
barman, ele usa uma mistura de roupas típicas da região com o
lado ocidental.
— O que me sugere? — indago, sorrindo, tentando
ficar mais animada.
Afinal, esse era um lugar que onde as pessoas
desejam relaxar e se divertir.
— Normalmente, as damas que nos visitam gostam
muito de easal[5]. É suave e doce. E tem toques de coco com
mel.
— Vou querer isso, por favor.
O homem prepara a bebida em um bonito copo
transparente e bem ornamentado. No final, recebo um drinque
exótico nas cores branco e amarelo.
— Cuidado — Ele me dá o alerta e uma piscada —
Apesar de ser uma bebida de escolha feminina, ela é forte.
Movimento a cabeça concordando e provo o meu
drinque. É realmente muito suave, gostoso, doce, sem ser
enjoativo e ao mesmo tempo refrescante. Levada por essa
explosão de sensações em minha boca, tomo mais dois longos
goles, também para aliviar o calor.
Coloco a minha bolsinha sobre o balcão e viro de
costas para o bar, decidindo observar ao meu redor.
Há muitos homens e mulheres vestindo as roupas da
região, mas outros da mesma forma que eu, revelando que
também são turistas conhecendo o lugar.
Lucy não havia exagerado quando disse que os
homens em Sahra eram lindos. A maior parte são altos,
bronzeados, devido a tanta exposição ao sol, possuem bocas
carnudas e pecaminosamente bem desenhadas, olhos
absurdamente claros ou impressionantemente escuros.
Mas o que mais me impressionou mesmo, é que
apesar de viris, são muito respeitadores também. Sim, eu notei
alguns olhares de cobiça em mim, mas se eu não desse algum
tipo de sinal positivo de interesse, nenhum deles seria
desrespeitoso para se aproximar. Isso é que vem me fazendo a
aproveitar a viagem com mais tranquilidade.
As mulheres também não ficam atrás. Apesar de
algumas delas optarem por usar o xador[6], que deixam a vista
apenas seus rostos bonitos. A maioria delas mantém apenas os
belíssimos hijabs [7], cobrindo seus cabelos. Suas maquiagens
são perfeitas, fazendo uma combinação impressionante com as
joias deslumbrantes.
O meu olhar continua a vagar pelo local. Eu estou
levando o copo com meu maravilhoso drinque a boca quando
observo um movimento na entrada. Algo como uma inquietação
entre as pessoas próximas, como se em algum momento,
alguém muito importante estivesse para entrar.
E de fato, surge um homem de expressão muito séria,
olhos escuros e com trajes com cores de Sahra um pouco
diferente da maioria. Ele observa todo o ambiente. Seus olhos
caem em mim por alguns segundos, mas acho que não sou
alguém interessante o suficiente para ele gastar o seu tempo.
Após a minuciosa avaliação, ele dá um passo ao lado,
colocando as mãos atrás das costas e outro homem surge.
Minha nossa!
Como eu poderia descrevê-lo?
Não consigo saber exatamente a cor dos seus cabelos
porque estão cobertos, mas como a maioria dos sahrarianos
possuem tons escuros, acredito que os deles sejam no mínimo
castanhos, mas aposto no preto, devido as grossas e bem
desenhadas sobrancelhas. Os olhos deles são azuis como
límpido céu de Sahra. Ele tem o rosto quadrado de queijo
rígido, um nariz proeminente, apenas o suficiente para dar mais
personalidade ao rosto bonito de tirar o fôlego e, claro, uma
boca volumosa de dar inveja.
Apesar das pessoas o observando e as locais fazerem
sinais de respeito, o homem caminha pelo local com bastante
tranquilidade.
Seria alguém importante que trabalhava no palácio
real ou para a família do sheik?
Minha curiosidade e pensamentos são freados quando
o olhar dele caí sobre mim. Diferente das outras pessoas que
ele olhou de relance, a sua atenção se fixa em mim e ele dá
uma olhada nada discreta em meu vestido até os meus pés nos
saltos vermelhos. E essa avaliação predatória faz a minha pele
formigar.
Quando volta ao meu rosto, o sorriso de canto de
lábios deixa muito claro que ele se agrada do que vê.
Um calor incontrolável começa a correr pelo meu
corpo. A minha boca fica seca, mas em vez de levar a bebida
que seguro a ela, passo a ponto da língua entre os meus lábios.
O gesto leva o homem misterioso e perigoso como um
leopardo, encarar-me com mais intensidade.
Senhor!
Que homem é esse?
Ele é completamente diferente de todos os que eu já
havia conhecido a minha vida inteira.
Mais sedutor. Perigoso. E letal.
A forma que mexe comigo, apenas me devorando com
seu olhar, torna essa a experiência mais erótica e sedutora de
minha vida.
Como isso era possível?
CAPÍTULO 6

Jalal não havia exagerado quando disse que o clima


em Fils andava um tanto quente. Principalmente com os
empresários do comércio e que fazem a cidade movimentar. Os
ânimos estão aflorados com alguns nômades de Alnaas al'ahrar
circulando pela capital.
Em meu jantar dessa noite com Yusuf Kazeen, o
presidente do comercio, eu esperava conseguir botar panos
quente por alguns dias. Até conseguir conversar com Hamed e
fazê-lo entender que pela violência e ambição cega, ele só
conseguiria conquistar inimigos.
Dizem que poder mudar as pessoas. Ou que só
revelava quem elas realmente são.
Passar tantos anos fora lidando com outras culturas,
teria mudado Hamed ou eu que realmente nunca o conheci.
As ações irracionalmente de meu irmão, decretando a
si mesmo, como o dono do mundo, me faz pensar cada vez
mais nisso.
Na política, além de inteligência, precisamos ter
diplomacia. Falta isso e algumas outras coisas em Hamed.
Infelizmente, um problema familiar impediu que Yusuf
comparecesse ao nosso compromisso. E ele tem a sorte de ser
eu, a ter nosso jantar adiado, e, não sheik de Sahra.
— Eu não tenho fome — Jalal arremessa o menu
sobre a mesa — Que tal irmos ao bar?
Desejo é voltar ao deserto, mas ainda preciso ficar
aqui.
Assim que concordo com o pedido dele, meu amigo e
protetor, sempre segue em minha frente. Ele precisa verificar
todos os lugares e pessoas antes de considerar se o ambiente
é seguro a mim.
Assim que entro no bar, após a figura marcante de
Jalal, alguns nativos me reconhecem e fazem respeitosos
cumprimentos enquanto os estrangeiros me encaram com
curiosidade.
Não foco a minha atenção em ninguém especial, até o
meu olhar cair sobre ela.
A linda mulher de vestido vermelho, cabelos longos e
negros, junto ao bar.
O seu rosto oval e nariz empinado demostram
personalidade, e os lábios têm um desenho que me agrada, me
atraem como dois imãs se colidindo.
Tudo nela emana delicadeza e força. Os dois não
precisam andar separados e a estrangeira prova isso.
Ela é linda, mas muitas mulheres do meu país também
são. Há algo nela, no entanto, que me faz ficar estranhamente
atraído.
Então, faço uma varredura com meu olhar malicioso
por cada curva no corpo perfeito que o vestido justo evidencia.
Mas é em seus olhos, quando voltamos a nos encarar que me
mantém cativo nela.
Há uma lenda em meu país, que diz que quando duas
almas gêmeas se esbarram, elas conseguem se reconhecer.
Que a força entre elas é tão intensa que torna impossível
ignorar. As pessoas do ocidente dizem algo como amor à
primeira vista.
Eu acho as duas possibilidades uma grande besteira e
improváveis.
O que essa mulher bonita e sexy me desperta é puro
tesão. Como um garanhão ficando eriçado ao sentir o perfume
da fêmea.
Além disso, não tive contato com nenhuma mulher
desde que me enfiei no deserto. O meu corpo está em
abstinência sexual e essa mulher faz a minha necessidade por
sexo explodir.
— Quem é ela Jalal? — Sussurro ao meu amigo, de
forma que somente ele consiga ouvir.
É claro que ele não pode me dar uma resposta
imediata, mas vai descobrir.
— Interessado em estrangeiras agora?
— Nela. — Respondo secamente e não desvio um
segundo o olhar da linda mulher cativando a minha atenção.
Observando sua mão delicada de dedos longos e
bonitos segurando o copo, constato que não há sinais de que
ela pertença a outro homem.
Mas isso não quer dizer nada, vindo de estrangeiras
como ela.
— Alteza — um garçom surge me entregando uma
bebida.
Dou um pequeno gole no burj[8] e a mistura entre o
macio, seco e amarga, dançam em minha boca.
Continuo estudando a mulher. Parece estar sozinha.
Sahra é um país seguro para as mulheres, tanto para as
nossas, como as que vem nos visitar. Desde meu avô, que se
casou com uma estrangeira americana, novas leis foram
implantadas e antigas erradicadas, nos tornando um dos países
mais modernos nos Emirados.
Nenhum homem pode chegar próximo a uma mulher
com intenções sexuais ou românticas, se elas não derem um
claro sinal para isso.
E eu o vejo perfeitamente na forma que linda
estrangeira me encara, que eu agrado a ela. Carregados de
desejo e com um pedido mudo que a tome para mim.
— Eu a quero. — Afirmo a Jalal.
Noto o sorriso retorcer discretamente o rosto dele e
depois em seu afastamento silencioso, para que eu pudesse
agir.
Retorno a minha atenção a estrangeria tentadora. Ela
passa novamente a ponta da língua em seus lábios tão
vermelhos quanto o seu vestido e isso dá uma resposta direto
ao meu pau, ficando duro.
Porra!
Eu preciso tê-la.
Largo o copo em uma bandeja qualquer de um garçom
passando por mim e vou em direção a garota. No meio do
caminho vejo a sua atenção ser desviada de mim para um
homem colocando-se a frente dela, cobrindo-a de minha visão.
Não!
Ela é minha.
Eu havia determinado isso assim que nossos olhares
se cruzaram pela primeira vez.
E eu derrubaria toda Sahra por esse objetivo.
CAPÍTULO 7

Apesar de ter sido uma mulher romântica por algum


tempo. Não sonhava mais com amor à primeira vista. Acreditei
que o meu por Willian foi se construindo e crescendo com o
tempo e convivência. Bem, somente da minha parte, já
sabemos.
Talvez a paixão fosse assim, avassaladora e
incontrolável.
Só sei que, no momento, os meus olhos não
conseguem se desviarem do homem me encarando no outro
lado do bar, me levanto a ter certeza de que é ele, a pessoa
perfeita para o meu desejo.
É esse homem lindo, com ar misterioso e
perturbadoramente atraente, encarando-me com intensidade,
que decido escolher para ser o pai do meu bebê.
A minha vida toda eu fiz tudo certinho.
Fui uma boa filha, estudei bastante, namorei, casei-me
na igreja. Fui uma esposa perfeita.
E para quê?
Tudo o que eu amava foi tirado de mim. Os meus pais
e meu marido antes mesmo da morte dele. Além de ter sido
enganada e traída da pior maneira.
Talvez fosse a bebida local, que eu não estava
acostumada, falando por mim, ou liberando esse desejo
violento, mas pela primeira vez na vida, irei agir
irresponsavelmente e de forma egoísta.
Anseio ser mãe desesperadamente, e essa possa ser
a última chance da minha vida. Eu nem desejo nada a mais
desse homem intrigante. Ele nunca saberá que, com sorte,
levarei para o meu país, no nosso filho em meu ventre.
Casos assim, aventuras de uma noite, aconteciam em
todo momento. Com a mãe da Lucy foi dessa forma. Minha
amiga foi gerada em uma viagem que a mãe dela fez de férias
à Escócia, após ter se formado no colégio.
Tudo bem. A mãe de Lucy só tinha vacilado em uma
louca noite de aventura e eu estava agindo de caso pensado. E
não estou dando a oportunidade desse homem decidir se
gostaria de ser pai.
Ainda, assim, eu desejo ardentemente ter um filho
dele.
Não.
Meu bebê.
E tudo isso só poderia ser apenas um devaneio da
minha cabeça. Até porque, mesmo que eu criasse coragem de
falar com ele, não havia nenhuma garantia de que desejasse
passar ao menos uma noite comigo.
— Mais um, por favor — peço ao barman, ainda
preciso de mais dose de coragem para levar esses
pensamentos insanos a diante.
O barman me encara com incredulidade. Não estou
ligando se o rapaz pensa que entrarei em um coma alcoólico se
continuar nesse ritmo.
Uma das coisas que pesquisei sobre o país, é que faz
alguns anos que o consumo de bebida alcoólica não era mais
proibido aos visitantes, desde que não cometessem condutas
inadequadas. Foi uma lei defendida pelo segundo filho do sheik,
um tal de Al Shahir alguma coisa, devido a Sahra receber
muitos turistas todos os anos e muito da economia do país ser
aquecida por isso.
Só quero mesmo é ficar bêbada. É o meu aniversário,
poxa.
Será que isso me levaria diretamente a uma das salas
de prisão de Fils?
Quando volto a encarar o dono das minhas fantasias
mais impossíveis, percebo que ele está sozinho e vindo em
minha direção.
O meu coração bate forte em meu peito.
— Oi.
Um homem loiro e com pele muito vermelha,
destacando que o sol de Sahra vem castigando-o severamente,
coloca-se à minha frente.
Eu nunca havia visto ele antes nem mesmo no hotel.
— Eu estava observando você. Vi que está sozinha.
Algo nesse homem me faz sentir um arrepio estranho
no pescoço. Talvez fosse pela forma que ele me olha. Não é
como o nativo misterioso, que me atraia com sua energia e
intensidade. Esse me passa uma sensação esquisita que não
sei explicar.
— Mas eu não estou — afirmo, determinada a refrear
qualquer expectativa dele.
O seu olhar diz que ele não acredita nada em mim.
— Tem certeza? — A forma que atrevidamente passa
a ponta dos dedos em meu braço, me faz ficar ainda mais com
medo.
Se Lucy estivesse aqui comigo, seria mais fácil
conseguir enfrentar essa aproximação invasiva. A minha amiga
não leva desaforos para casa.
Eu sempre fui mais pacificadora e que gostava de me
manter longe de confusões.
— Nenhum homem inteligente deixaria uma mulher tão
linda, sozinha num bar. Ainda mais aqui.
Sahra é um país seguro para que mulheres como eu,
sozinha em férias, possa visitar. E eu estou no bar do hotel,
qualquer funcionário poderia vir ao meu socorro.
— Já disse que não estou sozinha, senhor. O meu
noivo chegará a qualquer momento.
Ainda sem levar crença em minhas palavras, ele se
aproxima mais, ao mesmo tempo que eu tento me afastar,
comprimindo a minha cintura contra o balcão.
— Habibti? — Sinto uma mão passar por minha cintura
e seguir por minhas costas, me puxando, até que bato em um
peito largo e duro — Desculpe o atraso.
Levo um beijo gentil acima da minha cabeça, mas não
é o contato íntimo que faz o homem me importunando, de
vermelho a ficar pálido, acho que é a forma que ele está sendo
encarado pelo que me abraça.
— Algum problema? Esse homem está incomodando
você?
De longe a presença dele é impressionantemente
marcante, mas agora de perto e comigo presa em seus braços,
o que esse homem misterioso causa em mim, está longe das
minhas explicações.
Talvez seja por causa de seu braço protetor em minha
cintura, a mão de dedos longos, bonitos e fortes, fazendo um
carinho suave em minha pele sobre o vestido.
Como artista plástica, eu sou obcecada por mãos e as
dele demonstram força e poder.
O seu peito largo dando apoio as minhas costas, o
calor que o corpo dele irradia para o meu, a sua respiração que
faz alguns fios dos meus cabelos sacudirem e o perfume
masculino, cheiro de campo, invadindo os meus sentidos,
deixa-me levemente zonza por ele.
Balanço levemente a cabeça para dar uma resposta,
mas nem sei que disse, na verdade. Estou docemente
atordoada por ele.
— Desculpe — o desconhecido pigarreia e começa a
se afastar — Não sabia que a dama estava acompanhada.
— Mas foi exatamente o que eu a ouvi dizer.
O homem abre e fecha a boca como um peixe fora da
água. Ainda não posso ver o rosto do meu salvador, mas
acredito que ele deve ter uma expressão bem ameaçadora, que
faz o inconveniente insistente sair, tropeçando sobre os próprios
pés.
A fuga dele me dá alívio e ao mesmo tempo causa
lamento. Não há mais motivo para meu protetor continuar a me
manter abraçada.
Quando começamos a nos separar e ele me vira em
sua direção, sinto como se o meu corpo começasse a ficar frio.
— Obrigada, pela ajuda — murmuro, quando ficamos
frente a frente — Mas acho que poderia cuidar disso sozinha.
Não era exatamente isso que eu queria dizer, mas ficar
diante desse homem com apenas alguns centímetros nos
separando, me deixa nervosa.
— É mesmo? — Um sorriso jocoso começa a surgir
em seus lábios, tornando-a ainda mais sedutor do que nunca —
Não parecia isso.
— Mas eu poderia! — Afirmo, determinada.
Ou tentaria, pelo menos. Claro que se eu visse que
situação continuaria a sair do meu controle, teria pedido a ajuda
do barman ou qualquer outro funcionário que passasse por
perto.
No geral, Sahra é seguro, mas sempre tem alguns
visitantes ignorando regras e leis que foram criadas para nos
proteger de assédios.
Intimidada com a intensidade que ele me encara, fico
paralisada no lugar quando ele atrevidamente segura o meu
pulso e desliza seus dedos até os fecharem em minha mão.
Por que o toque dele não me incomoda e apenas a
presença do outro homem estranho me causava repulsa?
Claro que o fato dele ser um dos homens ou o homem
mais bonito e atraente que já vi, contribuía para me sentir
atraída por ele. Mas não era só isso. Desde que o vi entrar no
bar com sua aura de virilidade e poder, era como se nós
tivéssemos nos conectado de alguma forma.
Eu sabia que era ele.
Mas para o quê? Uma noite de sexo e aventura?
Observo hipnotizada ele ergue o meu braço, levando a
minha mão até próximo ao rosto dele e fica por um tempo
olhando para ela.
Por mexer com muitos materiais e produtos químicos,
eu cuido das mãos muito mais do que a maioria das mulheres,
afinal, também é o meu instrumento de trabalho. Elas são
bonitas.
— O quê foi? — Indago, insegura.
De todas as coisas que ele poderia não gostar em
mim, nunca imaginei que seriam as mãos.
— As suas garras — um sorriso provocativo e sexy
surge, levando-me a estremecer — Queria ver quanto afiadas
são antes de cravá-las em minha pele.
Uau!
Não é apenas a frase cheia de malícia que mexe
comigo, mas a forma como ele me olha. Como alguém
apreciando o banquete por horas, antes do jantar.
E que Deus me ajudasse, mas que queria ser o prato
dele.
CAPÍTULO 8

A forma que ela me encara, com bastante segurança,


é algo novo para mim e me inquieta de uma forma positiva,
fazendo o meu corpo novamente tomar o lugar da razão.
Essa estrangeira me intriga e me faz desejar
aprofundar cada vez mais fundo nos mistérios que seu olhar
esconde.
Se ela fosse uma das mulheres do meu povo, nem
poderia estar comigo, sem no mínimo uma companhia feminina,
sendo a mãe, tia ou uma avó. Mas ela vem de uma cultura
completamente diferente. Não pertence a Sahra e não há
nenhuma tradição rígida que nos impedisse de ficarmos tão
próximos.
E eu a quero!
Hoje. Essa noite. Agora.
— Eu sou Rashid — digo apenas o meu primeiro nome
quando levo seus dedos a minha boca.
Vendo que ela não me reconhece como príncipe, gosto
que pelo menos nesse momento seja assim.
Diferente de Hamed, sempre levei uma vida discreta. E
não deixo que circule fotos minhas além de Sahra. Os olhos do
mundo deveriam estar voltados para o meu irmão. Ele quem
gostava dos holofotes.
— Suzana.
É muito fácil me prender nas profundezas de seus
olhos castanhos, que me soam intrigantemente doces.
Foi assim que me avó se sentiu ao conhecer sua
primeira e única esposa estrangeira?
Hipnotizado à primeira vista.
— De onde você é Suzana?
Ela se movimenta. Vejo que seu corpo está tenso. A
minha presença a intimida e é delicioso saber que não sou o
único percebendo essa energia entre nós.
— Connecticut — ela faz um gesto para pegar o copo
que havia depositado no balcão, mas eu afasto, pedindo outro
drinque ao barman.
Aquele já deveria estar quente.
— Estados Unidos, conhece?
— Diferente dos americanos, aqui estudamos
geografia.
Sua careta indignada me faz sorrir.
— Ei! Essa foi pesada.
Ao contrário de se sentir ofendida, ela sorri também.
— Mas posso nos defender. Pelo menos não todos os
americanos.
— Também não posso defender todos os de Sahra.
A começar pelo meu irmão.
— E há alguém esperando você em Connecticut,
Suzana?
Eu nunca me envolveria com uma mulher que
pertencente a outro homem, porque arrancaria os olhos de
quem se atrevesse a cobiçar o que era meu. Então, essa
resposta determinaria tudo.
— Como um namorado?
— Ou um marido.
Ela abaixa o olhar timidamente.
— Sou viúva.
Em Sahra, se um homem morresse e tivesse irmãos, a
sua esposa poderia ser oferecida a um deles, como uma
segunda ou terceira esposa. Porque devemos proteger e cuidar
dela. Isso fazemos bem. Nossas mulheres são para serem
amadas, protegidas e tratadas como rainhas.
— Não — ela ergue seus olhos castanhos e doces
para mim — Não há ninguém esperando por mim Connecticut,
além da minha melhor amiga, Lucy.
Seus pais estariam mortos ou ela nunca os conheceu?
Quanto mais a jovem me revela, mais eu desejo saber
sobre ela.
— O que a traz ao meu país?
O drinque dela é servido e eu assisto-a levar o copo a
boca, imaginando outra coisa em seus lábios vermelhos.
— Férias — Ela dá um gole generoso na bebida antes
de voltar a me encarar.
Apesar do drinque ser adocicado e geralmente de
escolha feminina, ele tem um teor alcoólico que precisa tomar
cuidado.
Eu a quero bem consciente quando eu estiver entre
suas pernas, fazendo-a gemer e gritar o meu nome.
— Você deveria mesmo tomar cuidado com a bebida
— passo um dedo lentamente pelo seu pulso e sigo
suavemente até o cotovelo, notando os fios do seu braço
arrepiarem — O easal tem um sabor adocicado, mas é forte.
Principalmente para quem não é acostumado.
— Tem razão — Suzana volta a colocar o copo sobre o
balcão, também como uma forma de fugir do meu toque que
mexe com ela — Talvez se eu não tivesse pulado o jantar, não
me afetaria tanto.
Eu, ou a bebida?
Apostaria na primeira opção.
— Ainda não comeu?
Ela dá de ombro, observo o brilho de seu olhar mudar
para algo mais melancólico.
— Achei que jantar sozinha no dia do meu aniversário,
não era muito animador.
Suzana tenta fazer parecer como se fosse algo sem
importância, mas eu não encaro assim, como também analiso
que isso a incomoda, mesmo que ela negue.
— É o seu aniversário, hoje? Isso não pode passar em
branco.
Rapidamente a minha mente começa a agir e eu
busco Jalal pela sala. Sei que ele está por aqui, embora tenha
me dado liberdade e privacidade para ir até a mulher.
— Não. Tudo bem, eu...
Eu não deixo que ela termine e assim que meu
segurança surge em meu campo de visão, conduzo-a do bar
para o restaurante.
— Rashid — ela me chama enquanto tenta
acompanhar os meus passos.
— O nascimento é uma das datas mais importantes
por aqui — aviso quando paramos na entrada do restaurante —
Só fica atrás do casamento e pode ser comemorado até por
três dias. Ao menos um jantar você terá.
E será minha deliciosa sobremesa no final.
Jalal se aproxima e o que digo a ele em nossa língua,
faz a linda mulher com a mão grudada a minha, nos ouvir
calada.
— O restaurante inteiro? — Jalal me indagou,
abismado.
Antes de começar a cortejar Layla, acreditando que
nos uniríamos em matrimônio logo que Hamed voltasse, tive as
minhas quantidades de amantes. Sempre fui generoso com
elas, mas nunca havia feito um pedido tão impetuoso ou usado
meu poder como príncipe para evacuarem um restaurante,
deixando-o completamente para mim e a linda estrangeira ao
meu lado.
— Sim. E não esqueça dos outros detalhes.
— Como quiser, Vossa Excelência.
Jalal sai discretamente, empenhado em cumprir todos
os meus pedidos. O início da conversa dele com o maître soa
tensa, mas assim que o olhar do homem caí sobre mim, ele faz
uma referência respeitosa.
É esse tipo de comportamento que quero evitar
quando estiver jantando com Suzana, que ela estiver comendo,
na verdade.
A um olhar de Jalal todos estão sendo conduzidos
para fora do restaurante.
— É impressão minha ou as pessoas estão indo
embora? — Suzana cochicha para mim ao sermos direcionados
a nossa mesa.
— Convidadas a se retirarem — aviso com uma dose
de humor enquanto coloco-me atrás dela e puxo a cadeira para
que se sente.
— Mas por quê?
Paro ao seu lado e seguro seu queixo com carinho.
— Porque eu ordenei.
— Ordenou? — Seus lindos olhos ficam maiores e ela
passa a língua entre os seus lábios.
O gesto é absurdamente sexy e leva uma resposta
imediata para o meu pau.
— Mas... quem é você?
Passo o polegar suavemente em seu queixo. A maciez
da sua pele acende a cama trepidando dentro de mim.
— Por que a pressa, habibti? — Levo seus dedos mais
uma vez aos meus lábios, passando suavemente a minha
língua pelos nós deles — Antes que a noite termine, irá
descobrir isso.
Não sobre o príncipe Rashid[9] bin Shalaan[10] bin
Shahir[11] Al Awad[12], mas sobre um amante que ela jamais
sonhou ter.
CAPÍTULO 9

As palavras dele eram mais do que um convite,


significavam uma promessa.
E eu sento o meu corpo inteiro pegar fogo quando
Rashid passa as pontas dos seus ao longo do meu ombro,
antes de se dirigir para sua cadeira, colocando-se a minha de
frente.
E assim que ele se acomoda, as coisas começaram a
acontecer. O easal foi substituído por uma garrafa de
champanhe, que foi colocada na mesa em um balde. Eu mal
tive tempo de me surpreender com isso quando a taça com o
líquido borbulhante, foi entregue a mim. O restante seguiu com
a mesma rapidez e discrição.
Vários pratos locais foram exibidos diante de meus
olhos impressionados. Alguns eu já havia provado antes, como
o tabule[13] e o baba ganoush[14].
O que Rashid me apresentava era um banquete de
aniversário, e, eu não tenho como não me emocionar com isso.
Desde que ele espantou o turista inconveniente, suas ações
não foram menos que gentis, atenciosas e protetoras.
Eu sei que por trás de tudo isso, há intenções de que
terminemos a noite em sua cama, mas por mais louco que isso
seja, eu não me importo. Pelo contrário, estou
surpreendentemente ansiosa.
O último ano, até mesmo antes deles, foram terríveis
para mim. Mesmo antes de Willian cair doente, nossa relação já
estava fria. O sexo rolava apenas nos dias e horários marcados
nos meus picos de fertilidade. Acho que minha obsessão em
ser mãe, espantou a naturalidade entre nós. Ou talvez,
tivéssemos começados a perceber, que o encantamento do
início da relação, havia acabado.
Talvez nunca tivesse existido amor verdadeiro, apenas
carinho. Porque nem no dia que eu conheci o meu falecido
marido em Paris, uma das cidades mais românticas do mundo,
ele me despertou tanto desejo em mim, como Rashid fazia,
apenas com seu olhar predatório, carregado de promessas
indecentes.
E um segundo ponto me leva a seguir com essa
aventura perigosa e louca.
O meu desejo de ser mãe. É tão forte em mim, que me
tira a oportunidade de pensar racionalmente. Imaginar que nos
próximos anos eu não estarei sozinha, contando apenas com a
amizade fiel de Lucy. Porque por mais que minha amiga venha
negando que nunca irá se casar e ter filhos, sei que quando ela
encontrar o amor verdadeiro, seu fervoroso discurso irá mudar.
— Você ficou pensativa, habibti.
Olho angustiada para ele. Não queria enganar Rashid,
mas não acredito que ele agiria de forma natural, se eu apenas
pedisse que ele fosse um doador de esperma. Até porque pelo
que estudei do povo dele, são muito ligados a família.
— Já me chamou assim antes, no bar. O que significa?
A minha pergunta parece o pegar de surpresa e pela
primeira vez vejo sua segurança baixar um pouco. Ele leva o
copo com seu drinque a boca, tomando um longo gole antes de
me responder.
— Depende da situação. Ou para quem falamos isso.
Pode significar querida ou amada.
Nós mal nos conhecemos, então acredito que eu me
enquadre na primeira opção.
— É o mesmo para os homens?
— Não. Ao homem você dirá, habibi.
Eu faço outras perguntas sobre a língua dele e até me
arrisco dizer algumas palavras e frases, fazendo-o rir. Depois a
nossa conversa muda para os lugares que já visitei e Rashid
me fala de outros que eu não poderia deixar de tentar explorar,
antes de ir embora, ou visitá-los em uma próxima viagem a
Sahra.
— As montanhas de Asad [15]ficam nos limites que
separa o leste de Sahra com o país Musafir[16] — explica ele —
Jalal é de lá.
Busco o homem musculoso e de expressão
carrancuda pelo restaurante e encontro sua figura as sombras,
nos vigiando.
Jalal me dá um certo medo, preciso confessar. Parece
implacável.
Quantos mistérios mais rondavam esses dois?
CAPÍTULO 10

Quando volto a olhar para Rashid, percebo que seu


rosto exibe divertimento.
— Ele é seu segurança, certo?
— Um amigo, acima de tudo. Seu pai é diplomata de
Musafir e a mãe é daqui. Nós estudamos juntos desde criança e
fortalecemos a amizade desde então.
É muito claro para mim que Rashid confia cegamente
em seu braço direito.
— Você trabalha no palácio?
Eu quero saber muito mais sobre ele. Sinto como se
Rashid fosse uma rocha guardando pedras preciosas, mas
difíceis de escavar.
— O que faz pensar isso?
— É evidente que é uma pessoa importante. Vi as
pessoas saudarem você quando chegou no bar. E depois
saíram do restaurante apenas como uma ordem sua.
— O que sabe sobre a família Al Shahir?
— O atual emir, o sheik Hamed ou o anterior, o pai
dele?
— A família em geral. Ele tem mais um filho.
— Confesso que não fiz uma pesquisa profunda sobre
isso. Lucy e eu, a amiga que me presenteou com essa viagem,
ficamos mais interessadas em nosso roteiro. Você trabalha para
eles no palácio?
— Digamos que, sim — apesar da reposta curta, há
humor em seus olhos — Então, você não tem interesse algum
na realeza daqui ou de qualquer lugar do mundo.
— Por que eu teria? Estão completamente fora da
minha realidade. Acho que você é a pessoa mais importante
que conheci até hoje.
— Sou um homem simples.
— Um homem simples não conseguiria fechar um
restaurante inteiro, expulsando todas as pessoas, só para dar
um jantar de aniversário a uma desconhecida.
Ele sabe que tenho razão e que de simples ele não
tem nada. Mas sendo honesta comigo mesma, mesmo que
Rashid não fosse o homem poderoso que destaca ser, se
tivesse apenas me levado a uma barraquinha de comidas na
rua, sua presença ainda é tão marcante, que ele teria tornado o
meu aniversário especial.
— E ainda tenho mais duas surpresas para você — ele
avisa ao inclinar um pouco o corpo para pegar a minha sobre a
mesa.
Assim que ele levanta a outra mão, um garçom surge
trazendo um lindo bolo de aniversário com velas e tudo.
— Mas... — encaro, completamente chocada — Como
você conseguiu isso.
— Algo importante sobre mim, Suzana — seu polegar
acaricia os meus dedos — Quando realmente desejo, conquisto
tudo o que quero.
Outra mensagem com duplo sentindo, que faz o meu
sangue correr mais rápido em minhas veias.
Rashid me deseja.
Ele deixou isso claro desde o primeiro momento que
me viu e comigo não é diferente.
O bolo é colocado sobre a mesa e ele me incentiva a
apagar as velas e fazer um pedido conforme a minha tradição.
Eu só tenho uma coisa a pedir.
Ser mãe.
Assim que recebo meu pedaço de bolo e me delicio
com ele, descubro que a segunda surpresa da noite é uma
apresentação de dança.
Lindas mulheres com tops bordados em dourados e
pedrarias, com saias e lenços deslumbrantes, surgem. Elas
também têm bonitos adornos nos cabelos e testas. Joias
belíssimas com brincos enormes balançando nas orelhas e
muitas argolas nos pulsos.
A música e a forma que elas se movimentam é tão
envolvente, que mesmo não sabendo dançar nada, eu me
movo na cadeira, com um enorme sorriso esticando a minha
boca.
Tenho que confessar que após alguns dias de Lucy
falando mais sobre o destino das nossas férias, fiquei
encantada e animada em conhecer mais de Sahra, que
pesquisei muitas coisas sobre o país e os mulçumanos em
geral.
Umas das explicações que encontrei na internet é que
a origem da Dança do Ventre é bastante polêmica, existindo
muitas versões e contradições sobre ela. Uma das hipóteses
mais aceitas é que tenha se originado no Antigo Egito, vinda de
rituais ligados à fertilidade da terra e da mulher.
Originalmente o nome da Dança do Ventre é Racks el
Sharqi, em árabe é Dança do Leste. Posteriormente, este nome
foi traduzido pelos franceses como Danse du Ventre e pelos
norte-americanos como Belly Dance.
Aqui em Sahra, eu sei que está totalmente ligada a
sedução e fertilidade, mudando alguns movimentos de dança e
de corpos. Se imita as diversas oscilações da serpente, a
mulher deseja seduzir e hipnotizar o seu homem, se são mais
suaves como o balanço românticos dos lenços, significa a
busca por fertilidade.
No final do belo show, as dançarinas fazem uma
reverência tanto a Rashid quanto a mim, em sinal de respeito.
Essa foi uma apresentação artística a nós dois e não tinha
nenhuma intenção de sedução a ele.
— Foi maravilhoso. Nunca vi nada parecido —
contínuo, aplaudindo enquanto as vejo sair — E as roupas
delas? Perfeitas. Tão lindas.
Olho para ele, emocionada.
— Obrigada, Rashid — não me envergonho de secar
as lágrimas no canto dos meus olhos — Foi o melhor
aniversário que já tive até hoje. Eu nunca vou esquecer.
— Isso foi só o início — ele avisa, ficando de pé,
depois estende sua mão para mim — Vem comigo?
Para onde ele quisesse. Levanto-me, unindo a minha
mão a dele.
O toque causa um choque que reverbera por todo o
meu corpo.
Até o fim do mundo.
CAPÍTULO 11

Existe algo em Suzana que me desnorteia mais do que


qualquer mulher que eu já havia conhecido. Talvez seja essa
mistura de mulher com toque de garota tímida, que me leve do
desejo ao sentimento de posse e proteção.
Não é apenas todos esses meses em celibato,
praticamente vivendo como um nômade no deserto. Sempre me
achei capaz de controlar os meus instintos mais primitivos, mas
não com ela.
A voz em meu cérebro é insistente e angustiante.
Preciso tê-la e vou ter.
Então, assim que ela aceita o meu chamado e nossos
dedos se entrelaçam, eu a puxo para os meus braços.
Porra. A maneira como os nossos corpos se
encaixavam perfeitamente, como se tivéssemos sido moldados
um para o outro, foge da minha compreensão.
Mas é somente quando a minha boca cobre a dela,
esmagando os seus lábios, que a minha língua invade a sua
boca em um beijo voraz, carregado de fome e desejo, que
entendo a expressão, encontrar água no deserto.
As nossas línguas se movem juntas. Elas se buscam,
se encontram. Fazem uma dança agitada e sensual. Agarro
mais Suzana junto a mim. Os seus seios macios comprimem
em meu peito e isso leva um choque direto ao meu pau.
Como eu a desejo!
Não me importo com Jalal escondido nas sombras ou
qualquer outra pessoa no restaurante. Eu poderia simplesmente
jogar Suzana sobre a mesa. Erguer a saia de seu vestido,
rasgar sua calcinha com os meus dentes e afundar o meu pau
cada vez mais rijo, em sua boceta que deve estar cada vez
mais molhada com meus beijos e carícias em seu corpo
perfeito. Pelo menos é o que os gemidos dela em meus lábios
indicam.
Mas não.
O ato sexual entre um homem e uma mulher é algo
íntimo, que só deve ser compartilhado entre o casal.
Demonstrações públicas de afeto em Sahra são punidos com
uma lei dura. E nem mesmo o fato de ser o príncipe nos
manteria livre de um julgamento, se fossemos denunciados.
Claro que aqui, ninguém se atreveria a isso. Ainda
assim, não posso arriscar. Como também quero toda
privacidade e liberdade para fazer com Suzana, o que a minha
mente atordoada de desejo, almeja desde que coloquei os
meus olhos sobre ela.
— Vamos — nos afasto apenas o suficiente para olhar
em seus olhos embevecidos de prazer.
Ela não protesta quando a direciono para fora do
restaurante. Desde o início e quando aceitou o meu convite,
Suzana sabia como isso iria acabar. Ela não é uma viagenzinha
inocente e eu fico aliviado com isso. Com exceção de Layla, a
quem pretendi me unir ao matrimonio, elas sempre estiveram
fora do meu radar.
É um caminho angustiante até o elevador e quando as
portas se fecham, nos deixando sozinhos outra vez, agarro
Suzana e empurro em direção a parede, espremendo o meu
corpo contra o dela.
Movo o meu quadril e a faço sentir a potência da
minha ereção.
— Você me deixou assim — sussurro em seus lábios
que ficam cada vez mais inchados por meus beijos — Desde o
momento que a vi.
Esfrego mais o meu pau entre suas pernas e Suzana
fecha os olhos, deliciando-se de prazer.
Eu passo a minha mão por suas coxas e começo a
subir a saia do vestido até que eu consiga enfiar a minha mão
por dentro dele.
— Caralho! — Uma respiração pesada sai de mim
quando os meus dedos tocam a calcinha melada — Você está
molhada.
Encaro-a e afasto o tecido para o lado. Suzana
estremece quando deslizo o meu polegar até tocar o seu
clitóris.
— Rashid — ela vibra em meus braços com a minha
carícia.
Continuo a massagear sua boceta e ver seu rosto
retorcer de prazer. Isso a torna ainda mais linda para mim.
Quero vê-la gozar gritando o meu nome.
A porta é aberta indicando que chegamos a suíte
presidencial.
O hotel é do meu primo Omar. Sempre que venho a
Fils e não fico no palácio, esse quarto me pertence.
É impossível não me divertir com o olhar admirado de
Suzana quando estramos na suíte. Quando disse a ela que sou
um homem de vida simples, vinha do fato que prefiro mais a
minha tenda no deserto e absorver a natureza, do que todo o
luxo no palácio e a quartos como esse, mas eu tenho acesso a
todo luxo que a riqueza pode proporcionar. E vejo que ela sim,
possivelmente, tem uma vida mais modesta do que a minha.
Depois de dar alguns segundos para que ela absorva
tudo com um olhar curioso, eu a trago novamente para os meus
braços.
O beijo é imediato e explosivo como os anteriores.
Começamos a nos acariciar e acender cada vez mais
essa chama entre nós.
CAPÍTULO 12

Eu a guio de costas até o quarto, sem um único


momento desgrudar às nossas bocas.
Desvio o beijo para o canto dos seus lábios, passo por
suas bochechas, chegando em seu pescoço. Suzana apoia as
mãos em meus ombros quando a minha língua molhada passa
por sua pele.
Ela estremece comigo, por mim.
Eu me afasto para começar a retirar o seu vestido e
visão do seu corpo cheio de curvas coberto apenas pela lingerie
também vermelha, na pele levemente bronzeada pelo sol de
Sahra, me coloca louco.
Inclino e faço um caminho de beijos pelos seios dela,
parando em um, que eu chupo através do tecido rendado.
Suzana finca mais as unhas em meu ombro.
Ela tem mesmo garras, sorrio, excitado.
Minhas mãos vão para as suas costas e eu abro o
fecho do sutiã com muita facilidade. Quando os seus seios
empinados, de mamilos duros, saltam para mim, um grunhido
escapa da minha garganta.
Preciso prová-los.
Chupo os mamilos duros. Suzana geme alto. Eu
continuo a mamá-los, fazendo-a se contorcer de prazer. Eu
mesmo estou em um ponto muito alto de excitação.
Em seguida minhas mãos vão para sua calcinha e eu
rasgo o tecido como se fosse uma folha de papel. Ela me olha
surpresa, mas com inegável desejo transbordando por seus
olhos.
Seguro seus braços e a guio até a cama.
Deito-a nos lençóis negros e macios de seda. Começo
a acariciar suas pernas, levando Suzana a fechar os olhos e
morder os lábios de excitação. Cravo os meus dedos em suas
coxas e afasto suas pernas, deixando-a aberta para mim.
A sua boceta brilha mais do que as estrelas no céu de
Sahra. E eu tenho que provar o mel que ela oferece a mim.
Dou uma lambida longa, generosa e Suzana emite um
grito desesperado de prazer. O gosto dela explode em minha
boca, invade o meu cérebro e vai direto para o meu pau,
deixando-o ainda mais duro.
Depois de provar, eu jamais seria capaz de esquecer o
gosto dela.
— Rashid... Rashid... — seus dedos contorcem o
lençol enquanto ela geme o meu nome, como se fosse uma
oração.
Uma súplica a mim para que dê o que ela precisa.
Ergo meu rosto para ela e sorrio de um jeito safado.
Em seguida volto toda a minha atenção para a sua boceta
pedindo por isso.
Com a minha língua faminta, massageio toda a sua
vulva e com meus dedos provoco seu clítoris sensível e enfio
três dos meus dedos dentro dela. Supreendentemente, por não
ser uma virgem sem experiência, Suzana é apertada.
Pensar em meu pau afundando em sua cavidade
espremida e quente, me deixa fora de controle.
Eu sigo chupando-a, lambendo, fodendo-a com minha
boca e dedos até que o corpo de Suzana começa a sacudir de
prazer e com um gemido alto, seu gozo molha toda a minha
boca e dedos.
Ela me encara cheia de desejo, assistindo,
ansiosamente, eu começar a tirar o keffiyeh[17], e em seguida o
gahfiya, [18]revelando os meus cabelos completamente. Em
Sahra os homens os mantêm curtos, alguns até preferem
raspar completamente a cabeça, como Jalal, mas não é o meu
caso.
Depois eu tiro a túnica revelando meu peito, tendo
apenas o cirwal [19]cobrindo o meu corpo.
— Gosta do que vê, habibti? — Com a pergunta,
esfrego descaradamente o meu pau por baixo do cirwal,
embora a calça seja solta, é impossível ela não notar a minha
potência dura e cada vez mais excitada com ela.
Ela oscila, as suas pupilas dobram de tamanho e os
lábios se abrem, soltando um gemido alto.
— Responda? — Exijo duro.
— Sim.
Aproximo-me da cama ficando de joelhos diante dela.
— Então vem pegar o que você quer.
Ela fica de joelhos também e sua mão vem em direção
ao meu pau. Ela começa a me acariciar timidamente sobre o
tecido. É mais quente que o calor do inferno, mas não suficiente
para mim.
— Assim, não — agarro firme a sua mão e com a
minha outra abaixo a minha calça, fazendo meu pau saltar em
sua direção — Dessa forma.
Quando seus dedos delicados envolvem o meu pau, o
ar fica preso em meu peito.
Eu mostro como ela deve mover a sua mão, de cima a
baixo, em movimentos ritmados.
Porra, que tesão.
Fixo o meu olhar no dela. Há satisfação em notar que
me causa prazer.
Deixo que ela me masturbe até me levar ao limite e
quando estou muito perto de explodir, afasto-a bruscamente,
jogando-a na cama.
Só tenho tempo de buscar um preservativo dentro da
gaveta na mesa ao lado da cama.
Quando volta a minha atenção a ela, totalmente
protegido, vejo algo passar levemente por seus olhos.
Decepção?
Não. Balanço a cabeça afastando esse pensamento
absurdo. Que mulher sentira pesar, em ver um homem que
estava indo para cama pela primeira vez, os proteger?
Volto a cobri-la com meu corpo e beijo
apaixonadamente até sentir que o desejo entre nós havia
voltado com força total. Enquanto a beijo, os meus dedos
esfregam a sua boceta, deixando-a ainda mais molhada.
Suzana está pronta e eu preciso me afundar dentro
dela.
Quando faço isso, em uma arremetida forte e
profunda, vejo o paraíso pela primeira vez.
— Oh! — Estremeço quando saio dela e estoco duro
novamente.
Parece que todo o sangue em minhas veias vai direto
para o meu pau.
— Rashid — ela pranteia, envolvendo as suas pernas
em minha cintura e eu consigo me afundar ainda mais dentro
dela — Oh, Rashid.
Seus gemidos, a minha própria respiração pesada, o
cheiro de sexo invadindo o quarto, nosso desejo crescente,
tudo isso leva a nossa experiência a algo que eu jamais
experimentei.
Por um segundo, desejo que não houvesse mesmo a
proteção entre nós. Que fosse apenas pele contra pele.
O nosso caminho ao prazer é desenfreado.
Soco em sua boceta tão forte que não leva muito
tempo para Suzana se quebrar em meus braços, gritando o
meu nome. Eu vou com ela logo em seguida, caindo sobre o
seu corpo, logo após o meu orgasmo roupar todas as minhas
energias.
CAPÍTULO 13

Como uma mulher que esteve casada por alguns anos


e teve alguns relacionamentos antes disso, eu conheci o sexo.
Mas nada do que vivi poderia se comparar com o que Rashid
me fez experimentar essa noite.
Até o fato de vê-lo se proteger, nos proteger, sendo
mais correta, jogando por terra o meu plano para essa noite,
ficou apagado quando Rashid me fez sua.
Ele me levou ao céu e me fez conhecer o paraíso.
Eu nunca havia me deparado com um homem tão
intenso, apaixonado e fogoso como ele. E, bem, preciso
ressaltar que tem duas vantagens, que acredito que todas as
mulheres devem ao menos sonhar, ele tem um pau grosso e
grande.
Esse pensamento me faz ver o quanto devassa estou
sendo e eu solto um pequeno gemido, envergonhada, que faz
Rashid afastar o rosto do meu pescoço para me encarar,
curioso.
— Quais pensamentos estão levando cor as suas
bochechas?
Ele se afasta, tirando o seu peso sobre mim, mas me
puxa para os seus braços em seguida.
— Eu não digo nem sob tortura.
Isso o faz sorrir e a forma que eu olho para o seu
corpo musculoso e perfeito, meio que deve dar a ele uma ideia
de quais pensamentos fazem uma verdadeira bagunça em
minha cabeça.
— Quanto tempo mais ainda têm por aqui?
Com a pergunta inesperada, Rashid passa
carinhosamente os dedos em minha testa, afastando os fios
suados do meu rosto.
— Dez dias. Em Sahra, não necessariamente em Fils.
Dos cantos dos meus olhos, os dedos descem até a
minha boca e ele brinca entreabrindo os meus lábios.
— Fique comigo! — O pedido feroz soa mais como
uma ordem, que não espera recusa.
Levo alguns segundos para realmente entender o que
Rashid está sugerindo. Até porque, quando embarquei nessa
aventura com ele, acreditei que teríamos apenas essa noite
juntos e nada mais.
— Quer que eu fique com você até o final da minha
viagem?
— Venha para o deserto comigo — ele se inclina e
encosta a testa na minha — Ainda não tive o suficiente de você,
Suzana.
Eu deveria achar um absurdo o que ele me propõe,
mas consigo entendê-lo perfeitamente. Também sinto que não
tive dele o suficiente e não falo apenas em meu plano insano
em engravidar. Mas de Rashid mesmo. Esse homem intrigante
e misterioso que me fez conhecer a paixão pela primeira vez.
— Mas, Rashid, no deserto? Sei que Sahra é seguro.
Só que, entende como isso é insano?
— Pense como uma aventura — ele esfrega o nariz no
meu e esse gesto me amolece ainda mais — O que quero te
mostrar é lindo e garanto que será a experiência mais incrível
da sua vida.
Mais tempo com Rashid, significava mais noites
quentes como essa e talvez em algumas delas, eu conseguisse
pegá-lo de guarda baixa, fazendo-o esquecer-se do
preservativo.
Esse pensamento, quase que criminoso e imoral, me
faz sentir como a pior pessoa do mundo.
Não. Eu não posso fazer isso com ele. É
completamente errado, imoral e injusto com ele e com nosso
filho, se eu realmente ficasse grávida.
Mas ainda assim, a proposta de Rashid para que eu
viajasse com ele, essas quase duas semanas, é irresistível.
— E eu poderia ir embora quando quisesse?
Eu deveria mesmo estar ficando maluca.
— Quando quiser. Basta me dizer e a trarei de volta a
Fils ou a levarei para onde desejar.
— Que garantias eu tenho disso?
Eu ouvi muitas histórias de mulheres que eram
sequestradas e mantidas como escravas sexuais, quando não
aconteciam coisas piores.
— A minha palavra, habibti. Eu posso garantir que ela
vale mais do que ouro aqui e é tão pesada quanto a lei.
Eu não sei explicar, mas acredito nele. O que vivemos
essa noite, tudo o que Rashid me fez sentir, não apenas
durante o sexo, me faz acreditar na promessa dele.
E talvez essa seja minha última chance na vida de me
jogar de cabeça em uma aventura e agir sem pensar.
— Tudo bem. E quando vamos?
O sorriso dele inicia modesto, mas logo se alarga,
fazendo os seus lindos olhos azuis brilharem como faróis.
— Amanhã cedo, depois que eu resolver algumas
coisas na capital — ele se move e seu corpo enorme volta
cobrir o meu — Por essa noite, ainda quero mais de você.
Ele afasta as minhas pernas com os joelhos e enfia
sua mão entre as minhas coxas. Ele esfrega os seus dedos na
minha boceta sensível, que rapidamente começa a ficar
molhada com as carícias que Rashid me faz.
— A noite inteira — ele sussurra em meu ouvido,
depois me beija com ímpeto.
Nos provocamos com os nossos lábios e mãos aflitas,
até que Rashid se afasta novamente para buscar outro
preservativo.
Nesse momento, só ele me importa. Com o que
Rashid me faz sentir.
E ele me leva ao paraíso mais uma vez.
E eu nunca mais queria voltar de lá.
CAPÍTULO 14

É um absurdo dizer isso, mas eu nunca havia


acordado com uma mulher em meus braços. Normalmente, os
meus encontros com amantes duravam apenas o tempo de
saciarmos nossos corpos com sexo. Depois eu as presenteava
com algumas joias e Jalal cuidava para que a garota fosse
colocada longe do meu caminho.
Era frio, mas como príncipe, se eu desejasse me casar
algum dia, teria que ser com uma mulher de conduta impecável.
Assim, nenhuma delas esperava algo mais de mim, além sexo,
prazer e muitos presentes.
Com Suzana, eu gosto de sentir sua mão pousada em
meu peito. Gosto da forma que seu corpo perfeito se encaixa no
meu. O calor que vem dele para mim. Seus cabelos longos,
macios e escuros roçando em minha pele
Eu poderia ficar horas observando os cílios tremularem
enquanto ela dorme em meus braços. Fascinando ao observar
como seus lábios entreabertos fazem o meu desejo ascender.
De como o seu corpo é perigosamente gostoso e me leva a ter
fantasias loucas com ela.
Deveria ser apenas uma noite ardente entre nós, uma
que ficaria guardada na memória, mas eu ainda não podia me
desfazer dela. Precisava tê-la até me sentir saciado e espero
que esses dias juntos, apenas nós dois e Jalal, no deserto,
conseguisse aplacar o desejo que essa estrangeira me
provoca.
Mas eu não posso no momento ficar preso a esses
devaneios. Eu vim a capital por um motivo importante, tentar
apagar o rastro de fogo que Hamed deixava pela cidade.
Afasto Suzana com cuidado para não a acordar,
depois sigo para o banheiro. O banho gelado não é agradável
tão cedo, mas é necessário para apagar o calor que ela causa
em mim.
Eu queria fazê-la minha outra vez, mas sei que se
provar mais um pouco, não vou conseguir sair do quarto, logo,
toda essa energia precisa ser deixada para mais tarde.
No deserto teremos dias e noites de calor para nos
fartamos um do outro. E eu estava faminto por Suzana.
Devidamente higienizado e de roupas limpas, olho
para cama onde ela dorme como uma sereia, enfeitiçando-me
cada vez mais e saio do quarto.
Escrevo um bilhete rápido para Suzana antes de partir.
— Salam — saúdo Jalal quando o encontro ao lado da
porta, fora da suíte — Ficou aqui esse tempo todo?
— Onde acha que eu iria? — A pergunta impertinente
não me incomoda, temos uma amizade longa para que eu não
me sinta ofendido por isso e nem o castigue — Sou
responsável pela sua segurança.
Mas ele não é o único, embora eu quase nunca veja
Jalal trocar de turno com outros.
— Um dia eu descubro como você surge e desaparece
do nada, Jalal.
Ele sorri. Acho que sou o único que já viu o sorriso do
meu segurança, que sempre mantém uma expressão severa.
— Você pode tentar.
Acho que nunca irei descobrir, por mais curioso que eu
fique. Deixe Jalal com os seus segredos.
— O encontro com Yusuf?
— Ele já está esperando-o no palácio.
— Então não vamos mais perder tempo.
Leva apenas quinze minutos de carro para eu chegar
ao palácio e mais dez para entrar em minha sala. Yusuf faz uma
reverência respeitosa quando eu entro.
Depois dos cumprimentos formais e votos de paz, nos
acomodamos em nossos lugares.
— Qual a gravidade da situação, Yusuf?
O homem perto dos cinquenta anos e que comenda o
comércio de Fils por mais de dez, me encara bastante
apreensivo.
— Cada vez mais os rebeldes de Alnaas al'ahrar vem
entrando na cidade, Vossa Excelência.
O homem está claramente desconfortável com o que
precisa me dizer.
— Yusuf, trabalhamos juntos por muitos anos. O que
precisa me contar, ficará entre nós.
É a minha promessa que não irei me indispor com o
que ele tem a falar sobre Hamed e nem contar a ele.
— A insistência do emir em tomar Alnaas al'ahrar, vem
deixando seu povo mais inquieto e eles reagem aqui.
Como a cidade já fez parte de Sahra, como um
acordo, feito por meu avô, há muitos anos, povo tem direito
circular pelo país sem fiscalização. Estivemos em paz por muito
tempo e eles só vinham a capital para vender e comprar
produtos. Assim tem sido até Hamed colocar seus olhos
cobiçadores nas terras de Alnaas al'ahrar.
— Invadem lojas. Assustam as nossas mulheres,
crianças e os turistas.
Esses guerreiros se intitulam protetores de Alnaas
al'ahrar. Eles a consideram uma cidade santa, que não pode
ser tocada. Não da maneira que meu irmão pretende.
— Nós já estamos aparecendo em noticiários
estrangeiros e isso não é bom para o turismo. Muitas famílias
em Fils e outras pequenas cidades, precisam e sobrevivem do
turismo.
Se formos considerados um país inseguro de visitar,
vai afetar uma boa parte de nossa economia e provocar um
desconforto com países vizinhos, com que temos excelentes
relações.
— Tenho tentado manter as coisas calmas, mas as
pessoas estão com os ânimos quentes.
Yusuf me fala mais detalhadamente de alguns
acontecimentos preocupantes e um possível ataque mais
ofensivo a capital. Nada do que escuto me deixa feliz.
— Vou falar com o meu pai e com Hamed também.
Gostaria que continuasse a manter o controle de tudo, Yusuf.
— Não há a menor dúvida sobre isso, Vossa
Excelência.
— Que a paz esteja com você — nos curvamos e após
a saudação espero que o homem saia para dirigir meu olhar a
Jalal.
Ele se posiciona de braços cruzados em frente a porta,
assim que a fecha.
— Vai mesmo falar com Hamed? Ele não vai gostar
disso.
Pelo que parece, meu irmão achava que após assumir
seu governo, estava acima de todos e tudo. Mas ainda havia
uma pessoa, que pela tradição, ele deveria ao menos ouvir.
— Com o nosso pai, primeiro.
— Ladino, mas inteligente.
Eu precisava jogar diferente de Hamed e de uma
forma que não jogasse ainda mais gasolina nesse incêndio.
CAPÍTULO 15

Acordo sozinha, tanto na cama, como na suíte de


Rashid. E se eu não estive em um quarto completamente
diferente do meu, diria que nossa noite não tinha passado uma
fantasia da minha cabeça. E a minha pele sensível e marcada
por ele, por nossas horas de paixão intensas, também é a prova
que foi muito real.
Sento-me na cama e sinto o meu corpo protestar. Não
de uma forma realmente ruim. Rashid é viril. Um verdadeiro
garanhão, como vi nos cavalos de alguns nativos ao andar
pelas ruas de Sahra.
Passo os meus dedos por meus cabelos emaranhados
e sorrio. Um sorriso bobo e apaixonado, que quando avisto
através do espelho, me faz acordar para realidade.
Eu não posso me apaixonar por ele. Serão apenas
mais dez dias juntos, antes de partir para os Estados Unidos.
Para minha vida normal, triste e solitária.
Mas como manter o meu coração protegido, se apenas
uma única noite com Rashid havia se tornado inesquecível para
mim?
Talvez eu devesse abandonar minha resistência em
me tornar a solitária dos animais e quando voltar para casa
adotar um gatinho, ou um cachorrinho, quem sabe.
Não quero ficar me torturando no que poderá
acontecer no futuro.
Saio da cama.
O lençol macio desliza pelo meu corpo nu. Vejo um
robe depositado em cima da cadeira e vou até ele.
Levo ao tecido ao nariz, apenas para o perfume
confirmar que pertence a Rashid. Visto-o e sigo em direção ao
banheiro. Assim que entro e posso analisar com mais calma, a
recordação de nós dois aqui, vem como flashes em minha
cabeça. Era para ser apenas um banho no meio da madrugada,
mas acabamos nos entregando ao desejo e a paixão.
Procuro nas portas do gabinete e encontro escovas de
dentes ainda na embalagem.
Depois da higiene bucal, ignoro a enorme banheira
branca e redonda me chamando e vou direto para o box. Há
três jatos de chuveiro e quando os ligo, a água toca o meu
corpo de todos os lados.
O banho é maravilhoso, relaxante e eu poderia ficar
nele por horas, mas preciso poupar tempo. Já passa das dez da
manhã e eu não tenho ideia de quando Rashid pretende voltar
para seguirmos com a nossa viagem ao deserto.
Ainda não acredito que concordei com isso, mas
também, nem cogito a possibilidade de mudar de ideia.
Depois de sair do banheiro procuro as minhas roupas
pelo quarto, não seria nada apropriado deixar a suíte vestindo
apenas toalhas ou robe de Rashid.
Encontro o meu vestido no chão e próximo aos pés da
cama, o sutiã e a calcinha rasgada. Lembrar do que Rashid fez,
em como seus olhos ardiam de desejo, me faz perceber que
nenhum homem havia sido tão selvagem comigo e que fiquei
louca com isso.
Era como se ele invocasse uma ninfomaníaca em
mim. Descobrir esse lado meu estava sendo uma experiência
memorável. Acho nunca mais conseguiria ver qualquer outro de
um jeito tão primitivamente sexual, depois de Rashid. Ninguém
nunca chegaria tão longe quanto ele.
Coloco o sutiã com pressa, depois o vestido. Sigo para
a sala e encontro os meus sapatos. Enquanto visto-os, vejo um
papel sobre a mesa e acredito que seja um recado dele para
mim. Por um momento penso que Rashid havia desistido do
pedido que me fez e desejava apenas se livrar da minha
presença.
Caminho com as pernas vacilantes até a mesa.
“Bom dia, habibti. Espero que tenha dormido bem.”
Antes mesmo de continuar a ler, um enorme sorriso
surge em meus lábios. Eu amava quando ele me chamava de
habibti. Parece que faz a conexão entre nós ficar mais forte e
mais íntima.
“Tome café da manhã.”
Mandão.
Até isso eu gostava nele.
Cuidado, Suzana!
“Nos vemos em breve. Quero muito mostrar o deserto
a você. Espero que não tenha mudado de ideia.”
Se eu tivesse asas, sairia voando nesse momento.
Rashid não tinha desistido da nossa viagem e nem estava me
dispensando.
Levo o papel ao meu peito e fecho os meus olhos,
inspirando, profundamente.
Fico nesse pequeno momento de felicidade até me
lembrar que preciso me apressar e voltar ao meu quarto para
fazer a mala.
Para não perder mais tempo, decido dispensar o café
da manhã como. Penso em beliscar algo em meu quarto
mesmo.
Quando saio da suíte apressada, bato a porta
esperando que ela travasse automaticamente. Só quando
chego ao elevador, lembro que não deixei nenhum bilhete para
Rashid.
O desespero me toma. Será que ele pensaria que fugi
dele?
Eu me chutaria no traseiro se pudesse. Sem ter o que
fazer, além de contar que ele buscasse informações sobre mim,
só me restava ir para o meu quarto e esperar por ele.
Quando entro, vejo o celular que havia deixado na
cama ascender.
Tem pelo menos umas vinte mensagens de Lucy,
querendo saber como eu estava e três ligações dela dessa
manhã.
Resolvo retornar.
— Suzana!
Ainda bem que estou fazendo uma chamada de vídeo
ou teria ficado surda com o grito dela.
— Onde você esteve? Se demorasse mais dez
minutos para me ligar, juro que colocaria toda polícia de Sahra
atrás de você.
Eu não duvidava nenhum pouco que a minha amiga
maluca tentasse isso.
— Por que tanto desespero, Lucy?
— Você não me ligou e nem me enviou uma
mensagem ontem a noite, depois do jantar.
— Não foi você que insistiu e sugeriu que eu deveria
sair e me divertir?
— Mas você não fez isso, Suzana. Porque eu te
conheço — ela faz uma pausa para espirrar — Ou pelo menos
achei que você não faria.
Depois ela me avalia como pode.
— Espera! Ainda está com o mesmo vestido de ontem
a noite? O que você aprontou, Suzana.
—Amiga é uma longa história.
— E envolve algum homem bonito?
— O mais bonito, interessante e atraente que você
poderia imaginar.
Ela arregala seus impressionantes olhos verdes e abre
um sorriso enorme antes de olhar para o teto do seu quarto.
— O senhor finalmente ouviu as minhas preces. Me
conte todos os detalhes. Principalmente os mais sujos.
A única pessoa que eu conseguiria me abrir e falar
sobre coisas tão intímas é Lucy. Ainda assim, acho que não
consigo revelar as partes mais sujas a ela.
— Tudo começou quando Rashid me salvou de um
bêbado inconveniente no bar.
— O nome dele é Rashid? Acho que não me é
estranho.
— Deve ser um nome bem comum aqui. Escuta quer
me ouvir ou vai ficar interrompendo? Eu não tenho muito tempo,
Lucy. Rashid me convidou para viajar com ele.
— Puta que pariu! — Seus olhos dobram de tamanho
ainda mais que da vez anterior — Certo. Prometo ficar calada.
E ela o faz. Pela primeira vez desde que conheço
Lucy, vejo-a me ouvir muda, deliciando-se com tudo o que
conto a ela.
Enquanto conversamos, aproveito para arrumar a
minha mala. Ela vai me ajudando a lembrar tudo o que preciso
colocar.
Depois de quase uma hora e meia de conversa, posso
finalmente dispensar Lucy porque a campainha em meu quarto
tocou.
É mais do que surpresa ver Rashid parado em minha
porta.
Sinto alívio, como uma grande felicidade em vê-lo de
novo.
CAPÍTULO 16

Após quarenta anos exercendo sua função como sheik


emir de Sahra, era para o nosso pai estar tendo suas merecidas
férias, mas as decisões ruins de Hamed me obrigam a pedir
uma intervenção.
— Que a paz esteja com você, filho.
— Que a paz esteja com você, pai — saúdo-o,
respeitosamente, tanto como antigo emir como meu pai.
— Rijad disse que precisava falar comigo urgentemente.
Isso me faz pensar que tem a ver com Hamed.
Eu devo lealdade ao novo emir, principalmente com meu
irmão, mas antes de tudo, devo isso a Sahra.
— Hamed andou tomando algumas decisões que não
estão refletindo muito bem meu pai. Todo o trabalho do meu
avô e o seu com Alnaas al'ahrar, agora está estremecido.
— Seu irmão deseja reivindicar a cidade antiga para
Sahrar outra vez, não é?
— Ele só está interessado no petróleo. Não liga para o
povo e como eles vão viver.
— Você havia conseguido um acordo com o chefe de
Alnaas al'ahrar. As negociações estavam avançadas. Achei que
Hamed só teria que concretizar isso. Mas ele quer mais. Em
sua sede em ser melhor governante de Sahra, anda metendo
os pés pelas mãos, não é mesmo?
— Talvez ele não tivesse tão preparado como imaginamos.
Todos os anos estudando no fora só serviram para preparar
Hamed para ser um homem de negócios do ocidente.
— Mas não o emir de Sahra — murmura nosso pai,
tristemente.
— Não disse isso, pai. Apenas acho que Hamed precisava
de mais tempo. Mais orientação. Ele passou muitos anos longe
do nosso povo.
— Ou talvez seu irmão nunca tenha sido o homem certo
para assumir essa missão — ele me olha com pesar, sinto que
nessa conversa ele estivesse envelhecendo cem anos — Mas
você era. Sempre foi. Você ficou aqui ao meu lado. Aprendeu
na prática e de coração aberto tudo o que precisava entender.
Era você que eu deveria ter tornado o emir.
— Hamed é o mais velho, pai. E eu nunca almejei isso.
— É o que o torna perfeito, Rashid. Você não deseja o
poder, mas sabe lidar com ele quando está em suas mãos. Seu
irmão é um garotinho com um brinquedinho novo. Eu deveria
ter mudado a lei quando tive tempo.
— Sabe que isso não seria fácil. O primeiro filho sempre
assume o trono.
— Não seria fácil. Lutaria com muitas pessoas. Mas não
seria pior do que ver Hamed colocando Sahra em guerra após
tantos anos de paz.
— Não vamos deixar que Hamed chegue a esse ponto.
Temos que fazê-lo enxergar a razão.
— Falarei com ele e espero que você esteja certo e
conheça seu irmão melhor do que eu.
Eu também queria acreditar nisso.
Alguns minutos depois no hotel

Eu nunca dei muita importância ao que as mulheres


vestem. Até porque as que cruzo diariamente, destacam sua
beleza através de joias brilhantes e, outros segredos que só
devem ser entregues aos seus maridos ou amantes, de forma
intima.
Mas não posso deixar de notar que no vestido branco e
simples, destacando ainda mais seus cabelos escuros e pele
ficando dourada, Suzana está tão deliciosa quanto no vestido
vermelho e sexy da noite anterior.
É uma mistura de sensualidade, com um toque de
inocência, que me coloca completamente ligado nela.
— Oi — ela diz com um sorriso tímido, mas que ilumina
todo o seu rosto de boneca — Você me achou.
— Eu a encontraria até no fim do mundo, Suzana — não
era para minha voz sair em um tom tão feroz e eu esperava que
tanta intensidade, não viesse a assustá-la — Você está pronta?
Olhando rapidamente por cima da cabeça dela, vejo uma
mala pequena em cima da cama. Mas isso não era uma
garantia de que ela fosse manter a palavra e me acompanhar
em viagem.
Nunca nenhuma mulher já me deixou inseguro.
—Sim. Podemos ir quando você quiser.
— Imediatamente — estico às minhas mãos até tocar os
seus braços e a trago para mais perto de mim — Mas antes.
Esmago seus lábios com os meus. E é como se faíscas
saltassem dos nossos corpos. A minha língua invade a sua
boca e eu torno o nosso beijo mais profundo e sensual. O seu
corpo tremula contra o meu e os gemidos de entrega faz o leão
dentro de mim, querer rugir.
— Temos que ir — seguro o rosto dela com as minhas
duas mãos — Ou eu não...
O seu olhar languido, sonhador e apaixonado, faz a
excitação queimar por todo meu corpo, como se jogassem
ácido sobre a minha pele.
— Teremos muito tempo, habibti. Dias e noites que a farei
minha, até que se esqueça de qualquer outro antes de mim e
ninguém mais após, signifique algo.
Eu desejava me tatuar nela como uma henna permanente.
E que eu nunca mais saísse de sua pele.
— Rashid — ela responde, atordoada a minha promessa
intensa.
Beijo-a outra vez. Não com a mesma paixão anterior, mas
com a profundeza de um carinho que abala até mesmo a mim.
— Vamos — digo em um tom determinado.
— Mas e a minha mala? — Suzana questiona, olhando
para trás enquanto a conduzo para o elevador.
— Jalal cuidará dela.
Suzana olha constrangida e surpresa ao ver meu
segurança surgir como um fantasma e entrar no quarto dela.
— Ele estava aqui o tempo todo? — Ela sussurra quando
entramos no elevador.
— Jalal faz isso sempre e nem eu sei como — aviso,
sorrindo — Então nem tente entender. Ele irá garantir nossa
segurança. Isso é tudo o que precisa saber.
—Até no decerto? — Ela indaga, baixinho.
— Principalmente, lá.
Vejo o seu corpo ficar tenso. Tenho conhecimento do que
o lado ocidental pensa dos países que formam o Emirados, mas
Sahra não é assim. Ou pelo menos não era até Hamed subir ao
poder.
— Está segura comigo habibti. Eu nunca deixaria ninguém
te tocar.
Que fosse um bêbado num bar ou algum dos inimigos que
Hamed estava colecionando. Ninguém tocaria num único fio de
cabelo de Suzana e quem tentasse seria um homem morto.
Isso era mais do que uma promessa.
CAPÍTULO 17

Nós não vamos deixar o hotel de carro como imaginei,


então em vez de descermos para o hall, o elevador nos leva
para a cobertura, onde tem um helicóptero está à disposição.
Eu me sinto como a Julia Roberts, no filme Uma linda
mulher, sendo paparicada.
— Eu nunca estive em um helicóptero antes — relato a
Rashid assim que ele termina de me ajudar com os
procedimentos de segurança.
— Quando chegarmos próximo a Amal, iremos fazer uma
boa parte do caminho a cavalo. Mas até lá, achei que gostaria
de ver Sahra do alto.
E ele não estava errado. Cada cidade, praias e montanhas
que sobrevoamos, eu ficava cada vez mais encantada com
esse lindo país.
Tudo era um sonho. A forma orgulhosa que Rashid falava
algum fato importante ou interessante. O jeito que ele mantinha
a minha mão na dele. Que fazia carícias sem perceber em
minha pele e a intensidade que olhava para mim, vendo-me
ficar encantada com tudo que ele me apresentava.
A única coisa que, inicialmente, colocou um pouco de
sombra sobre esse momento romântico, era seu amigo e
segurança, Jalal, que mantinha sua atenção focada em tudo,
mas com a mesma expressão carrancuda de sempre.
Senhor! Esse homem nunca sorria?
Pelo menos comigo nunca vi.
Depois de decidir ignorar Jalal e me concentrar totalmente
em Rashid, o clima ficou mais leve e eu consegui aproveitar a
viagem de helicóptero.
Quando pousamos na densa areia do deserto, há um carro
preto, próprio para conseguir avançar até esse ponto, mais
homens vestidos como Jalal e alguns cavalos estão a nossa
espera.
— É melhor que você vista isso — Rashid me entrega um
tipo de túnica branca — Vai proteger sua pele do vento e areia.
— Vento? Mas o sol está de matar.
Ele sorri da minha inocência. Rashid fica tão lindo quando
sorri, que me tira o fôlego mais do que o sol ardente, derretendo
a minha pele.
— Confie em mim, habibti.
E novamente ele tinha razão. Seu cavalo,
impressionantemente, galopava velozmente pelas dunas. As
patas do animal faziam a areia saltar em nossa direção como
uma tempestade.
Eu estava mais do que feliz de cavalgarmos juntos, tanto
pelo prazer de ter Rashid me abraçando firme, como pelo fato
de que sozinha, em qualquer um dos outros cavalos, eu teria
provavelmente quebrado o pescoço.
Quase meia hora depois cruzando o deserto e dunas,
começo a avistar de longe, como uma miragem produzida pelo
sol, a figura de um acampamento. Uma grande tenda para ser
mais correta.
Quanto mais vamos nos aproximando, vejo que não é
nenhuma fantasia causada pela alucinação.
O cavalo é freado alguns metros antes da grande tenda
marrom e cinza.
Rashid desmonta com elegância e me ajuda a descer. As
minhas pernas, cansadas da mesma posição e do galopear do
cavalo perdem a força e eu sou amparada por ele.
Da estampilha, ele tira um cantil, abre a tampa com os
dentes e leva o gargalho a minha boca. A água molhando os
meus lábios, tirando o gosto de poeira e areia, e,
principalmente, passando pela minha garganta seca, é
maravilhosa.
— Você está bem?
Seu olhar preocupado me leva a sorrir e tocar sua
bochecha com carinho.
Faz tempo que não tenho quem se preocupe comigo, além
de Lucy, mesmo por tão pouco.
— Estou. De verdade.
— Deveríamos ter feito algumas paradas — ele se culpa
ao se dar conta disso apenas agora — O deserto castiga quem
não está acostumado com ele.
Não foi uma viagem tão longa assim, mas em parte Rashid
tem razão, não estou acostumada a força e grandiosidade do
deserto. É interessante que um, me faz lembrar do outro.
Também nunca convivi com a alguém tão intenso quanto esse
árabe irresistível.
Inesperadamente ele me pega no colo e carrega para
dentro da tenda. Ela tem três divisões, uma para cozinha, o que
acho ser uma sala, pelas almofadas no chão, mesa e sofás.
No chão há tapetes persas cobrindo seja lá o que tenha
sobre a areia.
— O que achou? — Ele indaga assim que me coloca no
chão.
— É como uma casa.
— É a minha casa.
— Você realmente mora aqui?
É interessante como Rashid parece combinar com todos
os ambientes. Exalando poder e riqueza em sua suíte
superelegante ou essa força rústica, dominadora e
impressionantemente sexy, aqui no deserto.
— Sempre que consigo vir para cá. Tem algo que desejo
te mostrar.
Ele pega a minha mão e me conduz para o fundo da
tenda. Encontramos o quarto. Ele é lindo e dentro do que é
possível, não deixa nada a desejar em um dos quartos do hotel.
Uma mistura de antigo e novo, com toques da cultura de Sahra,
que me faz pensar nos Contos das Mil e Uma Noites.
Saímos por uma portinha feita pelo próprio tecido da tenda
e andamos por quase um minuto na areia tão fofa, que faz os
meus pés afundarem.
— Rashid — olho, impressionada, para a deslumbrante
paisagem que ele me apresenta — É lindo.
— É Raar-al-Mir — vejo o profundo amor que ele encara o
lago e toda a vegetação em volta dele — Esse oásis pertence a
minha família há muitas gerações.
— Agora eu compreendo perfeitamente você amar esse
lugar.
Eu poderia passar horas, dias, a minha vida inteira aqui
com as minhas tintas, quadros e pincéis. Mas, mesmo que eu
fosse a arista mais perfeita do mundo, nunca chegaria perto de
tanta perfeição.
— Você quer nadar? — Ao mesmo tempo que ele me faz a
pergunta, começa a tirar suas roupas.
— Agora?
— Está quente, não acha?
A indagação é feita com seu olhar malicioso varrendo o
meu corpo. Rashid não está falando exatamente do calor
provocado pelo sol.
— Os meus maiôs ficaram na mala dentro da tenda.
— Não precisamos deles — seu sorriso alarga quando me
vê devorar seu peito musculoso.
— Mas, e as outras pessoas? Os seus seguranças.
— Ninguém virá até aqui — ele leva os dedos ao cirwal,
deixando-o cair sobre seus pés, revelando seu pau enorme —
Nem mesmo Jalal.
Diante de meu olhar chocado e ao mesmo tempo
cobiçador por toda sua exuberância masculina, Rashid me
circula até parar atrás de minhas costas. Ele junta os meus
cabelos torcendo-os e joga-os sobre o meu peito. Em seguida
sinto a ponta dos seus dedos em minha nuca, e eles seguem
até as alças do vestido.
— Confie em mim, habibti — os lábios molhados tocam o
meu pescoço e apesar do calor absurdo, sinto a minha pele
arrepiar.
Eu confio cegamente. É por isso que estou aqui com ele,
em meio ao deserto e esse paraíso tropical.
O vestido cai sobre os meus pés, depois o sutiã e fico
apenas de calcinha diante dele, mas sei que a peça não durará
muito.
E exatamente como imaginei, ouço a peça ser rasgada e
depois de ser arrancada de mim, ela é jogada na areia.
Em seguida sou virada bruscamente para Rashid e ele
cobre os meus lábios com o seu.
Só nesse beijo, qualquer receio é levado para as
profundezas do lago.
Eu só tenho uma coisa em minha mente.
Que Rashid me possua.
CAPÍTULO 18

Quando Rashid me beija, é como se ele roubasse um


pouquinho de mim e me entregasse parte dele também. Os
movimentos sensuais dos lábios com as suas mãos acariciando
e correndo pelo meu corpo, me faz queimar mais do que os
raios de só tocando a minha pele.
Então ele me pega no colo e me leva para o lago de águas
tão cristalinas e azuis quanto os lindos olhos dele.
Continuamos a nos beijar e nos acariciar dentro da água.
Ele segura firme as minhas coxas e me faz enrolá-la em volta
da sua cintura, e eu enrosco os tornozelos, prendendo-me mais
a ele. Isso faz com que seu pau rijo comprima em mim,
excitando-me ainda mais.
A água ajuda a nos movermos com mais fluidez. Como se
estivéssemos em uma dança lenta e sexy do sexo.
Os nossos beijos ficam mais ardentes, luxuriosos e
apaixonados. Meu corpo grita por Rashid e anseio tê-lo dentro
de mim.
— Rashid — fecho os meus olhos e murmuro entre seus
lábios possessivos quando sinto os dedos dele se infiltrarem em
minha calcinha e escorregarem para dentro de mim — Ah!
Ele sabe como me tocar e rapidamente me fazer contorcer
por ele, gritando o seu nome e implorando por mais. Seus
dedos habilidosos tocando em meus pontos mais sensíveis,
coloca-me alucinada por ele.
Desço a mão por seu peito e quando fecho os dedos em
seu pau, ele fica cada vez mais e mais duro. Rashid solta um
gemido animalesco.
Vamos dando prazer ao outro até chegarmos ao ponto que
não conseguimos suportar mais tanto tesão. Rashid me aperta
mais firme contra o seu corpo e nos leva de volta para areia. E
por todo caminho ele me dá beijos ardentes de tirarem o fôlego.
Ele me deita sobre sua túnica para que a areia quente não
machucasse as minhas costas, depois se afasta alguns
segundos para buscar a proteção.
Eu só penso em Rashid. O quanto desejo tê-lo dentro de
mim.
E assim que ele se posiciona entre as minhas pernas
abertas e que seu pau me invade em uma investida profunda,
sou levada ao paraíso, que somente ele consegue me mostrar.
Solto gemidos desvariados quando suas arremetidas
duras fazem meu pico de prazer ficar cada vez mais perto.
Então suas grandes mãos cravam em minha cintura e ele
me faz virar, ficando de quatro para ele.
Aqui, no meio de tanta beleza natural, como viemos ao
mundo, sinto-me primitiva. Como dois animais buscando prazer.
Uma mão em meu quadril e outra segurando firme os
meus cabelos, Rashid entra e sai de mim com tanto ímpeto,
que minha boceta contrai ainda mais em volta do pau dele. Ela
começa a pulsar a cada estocada profunda que ele me dá e eu
me quebro em um gozo violento.
— Suzana... — ele geme o meu nome, passando a mão
por minhas costas, depois desaba sobre mim.
Fracos, caímos lado a lado.
Nossos corpos dourados brilham e o nosso suor reflete
aos raios de sol. É como se fossemos uma linda pintura e eu
tento memorizar o máximo de detalhes para eternizar isso
através de uma das minhas pinturas ou esculturas.
— Eu nunca mais vou pensar em nadar da mesma
maneira — murmuro, abrindo um sorriso preguiçoso.
— E eu nunca mais vou olhar para o lago como antes.
Quero acreditar na sinceridade de suas palavras, mas não
consigo. Rashid além de lindo, é um homem muito sedutor e no
sexo o melhor amante que qualquer mulher poderia sonhar.
— Diz isso a todas que traz aqui?
Seu semblante fica assustadoramente sério. Como se eu
estivesse ofendendo-o com essa pergunta.
— Nenhuma outra mulher esteve em minha tenda e
principalmente aqui. Você é única Suzana.
— Por quê?
— Esse é um lugar muito especial — ele se deita de forma
que seu rosto fique apontado para o céu.
O sol abrasador parece não o incomodar.
— Era um dos lugares preferidos da minha mãe. O meu
irmão não gostava muito de vir aqui com ela, mas eu amava.
— A sua mãe...
Tenho receio de perguntar e estar tocando em uma ferida.
— Faleceu há dez anos.
— Sinto muito, Rashid — acaricio seus cabelos e fico
surpresa em como eles são macios.
Sei bem como é a dor de perder quem amamos. Saber
que nunca mais poderemos olhar em seus olhos e nem darmos
um abraço.
— O seu pai?
— Ainda está vivo. Ele nunca quis uma segunda ou mais
esposas. E nunca se casou novamente depois que ela se foi.
Ele disse que já havia encontrado sua ruh nessa vida e que irá
reencontrá-la na outra se houver.
— Isso é opcional? — Estou faminta por conhecer mais
dele e sua cultura.
— Ter outras esposas?
— Sim. O sonho de todo homem, não é? Ter várias
mulheres como um sultão.
Ele fica de lado e sua expressão é divertida ao olhar para
mim.
— Não é assim. A segunda esposa não é a sua amante.
Você tem que amá-la, protegê-la, cuidar dela e das suas
necessidades tanto quanto a primeira. Não é algo apenas para
alimentar uma fantasia.
Pensando na possibilidade impossível de estar na posição
de esposa de Rashid, jamais aceitaria que ele tivesse uma
segunda esposa. Eu não conseguiria dividi-lo com ninguém.
— Um homem ter mais de uma esposa não é uma
obrigação — ele continua e passa gentilmente os dedos pela
minha testa, desfazendo a preocupação quem nem deveria
estar ali — Cada vez menos os homens em meu país têm
optado por isso. Devem ter descoberto que uma mulher sozinha
já dá bastante trabalho.
— Ei! — Belisco o braço dele, que só o faz rir mais alto.
Rolamos juntos nos besuntando de areia, até que ele se
deita e me coloca sobre o seu peito.
— Agora fale-me de você.
— Não tem nada interessante para falar sobre mim.
— Deixe que eu avalie isso.
— Já disse que sou artista plástica? Gosto de pintar, mas
também faço algumas esculturas quando estou inspirada.
— Gostaria de ver algum dia.
— Eu tenho fotos no celular. Quando voltarmos a tenda eu
te mostro.
Pego-me percebendo que realmente desejo que ele goste
do meu trabalho. Willian nunca ligou muito.
— E o que mais sobre a Suzana?
— Os meus pais estão mortos — isso me causa uma dor
no peito, que é amenizada quando ele toca rapidamente os
meus lábios — Foi acidente de carro. E você já sabe que sou
viúva.
— Você o amava?
Sinto tensão vindo dele, mas não sei como devo encarar
isso.
— Quando conheci Willian, achei que sim. Eu tinha
acabado de perder os meus país. Eu só não queria ficar
sozinha no mundo. Ansiava ter uma família com ele, mas...
Hoje me dói mais todo o tempo perdido me dedicando a
ser uma esposa perfeita para Willian, do que realmente a sua
traição.
— Suzana.
Ele acaricia o meu queixo.
— Foi um sonho apenas meu. Se a doença não tivesse
tirado ele de mim, a sua amante e a filha que tiveram, fariam
isso.
Rashid diz algo em seu idioma e pela forma que se rosto
se contorce, sei que foi um xingamento.
— A palavra de um homem é a sua honra. Se ele perde
isso, perde tudo. Você poderia tê-lo rejeitado três vezes depois
ido a corte.
— Você quer dizer o divórcio? — É muito fofa a raiva que
ele demonstra sentir para me defender de quem nem está mais
entre nós — Não funciona assim em meu país. E de qualquer
forma, só descobri isso no enterro dele.
— Chinzir[20]! — Ele vocifera e me puxa para um abraço.
É estranho que isso agora já não me magoe tanto. É como
se desde que conheci Rashid, e todo esse tempo passando
com ele, algumas feridas estivessem prontas para começarem
a se curar.
CAPÍTULO 19

Vir ao lago ao pôr do sol, além de me conectar com a


minha fé, dava oportunidade para que pudesse conversar com
Jalal e receber informações do palácio.
— Alguma notícia nova? — questiono quando iniciamos
uma caminhada tranquila a margem do lago.
— Depois que seu pai conversou à portas fechadas com
Hamed, ele anda estranhamente silencioso.
— Você não acredita que meu pai o tenha convencido a
enxergar que andava por caminhos perigosos?
— O que eu não acredito é em mudanças drásticas.
Rashid, ele é seu irmão e sei que seu desejo será sempre
buscar o melhor do emir. Mas acho que o amor pode ter cegado
você e seu pai por tempo demais. Ele já dava sinais de quem
era no oriente.
Diversas vezes tivemos que abafar alguma confusão em
que Hamed se enfiava. Não dá para negar que Jalal tem razão.
— Acha que ele pode estar agindo silenciosamente?
— Eu sei que está.
Se Hamed estiver mesmo ignorando os conselhos do
nosso pai para deixar o povo de Alnaas al'ahrar paz. A guerra
será inevitável.
— Descubra tudo o que puder, Jalal.
— O que pretende fazer?
De algum jeito obrigar Hamed a encontrar a razão.
Eu vou pensar sobre isso.
— E quanto a garota? Você sabe que precisa estar em
Fils. Vai ter mais vantagens estando lá.
Irritantemente Jalal tem razão mais uma vez. Eu deveria
estar no palácio vigiando e tentando colocar freios em Hamed.
Mas eu simplesmente não consigo dar adeus à Suzana.
Ainda, não. Ela é como um vício que não consigo me
livrar. Quanto mais a tenho, mais eu a quero.
— Ela só tem mais sete dias aqui...
— Rashid, você sabe que ela está sendo uma distração.
Suzana acredita que Jalal não gosta dela, mas na
verdade, meu amigo e segurança está apenas pensando de
forma militar e estratégica. Quando estou com a garota, o
mundo se torna só nosso.
— Apenas uma semana, Jalal. Ao meu irmão foram
concedidos anos.
— Sahra nunca esteve em perigo com você, como está
nas mãos dele.
— Ele é o sheik.
— Nunca deveria ter sido assim. E muitas pessoas já
estão dizendo isso. Quem deveria ter sido coroado é você.
Eu nunca almejei isso e nem sei se quero agora.
Só desejo que Sahra volte a ter paz.

Quando chego ao quarto da tenda, encontro Suzana ainda


dormindo. Eu havia exigido bastante dela antes de deixá-la
sozinha para descansar.
Basta que eu vejo seu corpo, que cada dia ganha um tom
de dourado mais bonito, cujo lençol mal consegue cobrir, meu
corpo já reage.
Sem desviar um único segundo da perfeição que faz os
meus olhos ficarem ofuscados e que intensifica o desejo em
mim, começo a tirar as minhas roupas.
Descubro-a completamente e arrasto-me pela cama.
— Habibti? — Passo minha mão lentamente pela sua
bunda virada para mim.
Ela é toda macia ao meu toque. Como se os meus dedos
deslizassem sobre pura seda.
Aliso suas coxas e beijo seu pescoço.
— Suzana?
Ela me deixa desnorteado com o perfume natural do seu
corpo. Tudo nela me deixa embriagado e explodindo de tesão.
— Rashid? — Seus olhos sonolentos despertam felizes ao
me verem — Você voltou.
Beijo a curva do seu pescoço, subo pelo queixo e tomo os
lábios em um beijo feroz.
— Estou aqui, habibti — enfio a minha mão entre as suas
pernas e minhas carícias começam a deixá-la melada — Não
vou a lugar algum.
— Nunca?
Eu queria poder prometer isso. É o meu coração grita para
fazer. Manter Suzana comigo para sempre. Mas temos mundos
completamente diferentes.
Volto a beijá-la com tanto fervor, que em seguida Suzana
apenas geme o meu nome, deixando qualquer dúvida ou
preocupação de lado. O futuro não importava, o nosso agora e
hoje, sim.
Encontro a proteção as cegas e assim que fico seguro,
afundo-me em sua boceta quente e apertada.
Suzana emite um grito alto de prazer e eu me empenho
para multiplicar cem vezes mais.
Meto fundo. Mais fundo. Rápido. Como um dos meus
garanhões correndo pelo deserto.
— Ah! — Suzana enfia suas unhas em minhas costas,
alucinada pelas minhas arremetidas.
Sua boceta molhada me apertando mais e pulsando forte
em torno do meu pau, é um aviso que ela está lindamente
gozando comigo e ela diz isso entre sussurros e balbucios de
prazer. O que me leva a também liberar o meu orgasmo,
gritando por ela.

Ainda estamos na cama, saciando nosso corpo dessa vez


com frutas e bebidas geladas.
— O que está pensando? — Indago, levando uma uva à
boca dela.
— Você.
O som da fruta estourando em sua boca, a forma que seus
lábios se movem ao mastigá-lo e caldo suculento nos cantos
dos lábios, faz o meu pau começar a acordar.
— Eu?
Ela passa os dedos na parte frontal de meus cabelos. É
intrigante como gosto quando Suzana faz isso. Seus olhos
demonstram um carinho que me abala. Isso é perigoso. Posso
me viciar tanto quanto já estou por ela.
— É lindo. Eu adoraria pintá-lo algum dia.
Me ver pelos olhos dela. Seria interessante.
—Talvez algum dia eu pose para você. Se você também
estiver sem roupa.
— Rashid? Tudo para você é sexo?
Não era. Sexo estava ligado a mim mais como uma
necessidade do meu corpo.
Até agora.
— Me deixe mostrar o quanto, habibti.
CAPÍTULO 20

Seis dias.
Em apenas seis dias a minha linda fantasia ardente no
deserto iria acabar. Tudo o que eu teria de Rashid seria
lembranças doces e incríveis ao lado dele. Ainda assim eu
estava muito feliz.
Lucy estava certa quando disse que essa viagem mudaria
a minha vida. E mesmo que eu não saísse desse paraíso,
levando o bebê de Rashid em meu ventre, não desistiria da
ideia de ser mãe.
Voltando para casa, a primeira coisa que eu faria seria
procurar uma clínica de fertilização, para que eu pudesse
realizar de forma legal e moralmente, esse desejo.
— Está pronta, habibti?
— Você ainda não me disse o que vamos fazer?
Ele só havia me entregado uma linda vestimenta chamada
goa gaun e dito que faríamos um passeio pelo deserto.
— Os olhos falam melhor do que a boca.
— É um ensinamento árabe?
Rashid apenas me dá um dos seus sorrisos de tirar o
fôlego e me leva para fora da tenda. Quando chegamos em
frente a ela, solto um enorme grito de surpresa.
— Camelos?
Não sei se olho para os lindos animais brancos ou para
ele.
— Nós vamos de camelo?
— Pensei que ficaria com medo.
— Eles são mansos?
Rashid me envolve em seus braços e eu já fico toda
derretida por ele. Como só há Jalal verificando os animais por
perto. Não se pode dizer que estamos em uma exibição pública
de afeto.
— Eu nunca a colocaria em perigo.
— Nesse caso, estou ansiosa por mais essa aventura com
você.
Tudo que exploramos até agora foi o oásis, não que eu
esteja reclamando. Amei cada cantinho dele que Rashid me
tornou sua.
Tanto ele quanto Jalal, me ajudaram a subir no camelo e
mostram como devo fazer para colocá-lo em movimento. Nos
primeiros passos fiquei insegura, mas assim que aprendi a me
posicionar no animal o passeio se tornou mais divertidos.
Nós passamos por lagos menores e chegamos a um ponto
que podíamos ver as montanhas de longe. Dessa vez Rashid
ficou atento aos momentos que acreditava que deveria parar,
dando-me água, algumas frutas e um tempo para esticar as
pernas.
E ele sempre aproveitava isso para também me
presentear com seus beijos e carinhos.
Voltamos a tenda antes do pôr do sol e enquanto ele e
Jalal tinham seu momento religioso no lago, eu aproveitava
para fazer rascunhos de algumas pinturas que quero iniciar.
Estou preguiçosamente relaxada na banheira de madeira
quando Rashid surge. A roupa que ele usa essa noite é
diferente. Tem mais bordados e tecidos mais finos, como se ele
estivesse se vestido para uma ocasião especial.
Noto também que ele traz um embrulho em suas mãos.
— Para você. Um presente de aniversário atrasado.
A curiosidade me faz esquecer que estou completamente
nua na banheira e eu me levanto, animada.
Rashid em encara com o seu olhar faminto. Em vez de me
envergonhar como no início, isso me faz sentir poderosa. Saio
da banheira e nem faço questão do roupão em uma cadeira.
Descalça, com o meu corpo e cabelos molhados, caindo
em minhas costas, vou até ele.
Os olhos de Rashid estão brilhando de desejo, como se
suas pupilas fossem de fogo.
Não retiro o pacote das mãos dele, mas começo a
desfazer os laços.
— Rashid — balbucio sem ar.
Encontro várias peças que formam o mesmo figurino que
as dançarinas usaram no meu aniversário. Só que o meu top,
saia e lenços são em vários tons de vermelho e tem bordados
dourados, além de pequeninas pedras transparentes que
brilham tanto, que me faz pensar se as joias são reais.
— Eu não posso aceitar.
— Recusar um presente aqui é considerado uma ofensa
grave, habibti — ele envolve as peças com o papel de embrulho
e as coloca em minhas mãos — Além disso, tenho minhas
próprias intenções através dela.
— Intenções?
— Dance para mim.
Agora assim eu fico vermelha.
— Mas eu não sei dançar. Não como elas.
Ele passa a mão pela curva do meu pescoço, pelos meus
ombros e fecha seus dedos em volta do meu seio. Com a sua
carícia os meus mamilos ficam duros e outras partes em meu
corpo despertam de desejo por ele.
— Apenas dance. Como quiser.
Eu me vejo desejando isso desesperadamente.
— Está bem, habibi.
É primeira vez que o chamo assim e isso o leva a soltar
um grunhido atormentado e me puxar para os seus braços.
É como se eu estivesse sendo punida com o beijo mais
sensual e desnorteante do mundo. Só que para o meu lamento,
apesar de desejar aplacar nosso desejo tanto quanto eu,
Rashid se afasta para que eu termine de me arrumar.
Descubro no quarto que na cama tem joias, um
deslumbrante conjunto contendo colar, brincos e muitas
pulseiras de pedras vermelhas, também tem um kit novo de
maquiagem. Decido ousar fazendo algo bem marcante,
principalmente nos olhos e na boca vermelha.
Quando decido que estou pronta, em vez de Rashid,
encontro Jalal no lado de fora da tenda.
— Vou levá-la — ele se coloca ao meu lado em uma
distância respeitosa. — Rashid à espera.
Eu já não sinto tanto medo dele. E vejo que esse porte
carrancudo, faz parte da sua postura profissional. Até um dia o
vi rindo de algo atrapalhado que fiz, mesmo que tivesse durado
pouco tempo.
Sigo Jalal sentindo-me ansiosa e quanto chegamos perto
de uma luz de fogueira, ele me diz para continuar sozinha.
A música lindamente romântica e típica desse país e as
chamas da fogueira me guiam até Rashid. Ele se ergue do
tapete quando me nota aproximar e estende a mão para mim.
— Está linda, habibti.
— Você também está lindo. Deveria ter dito isso antes.
Ele passa seu polegar em minhas bochechas e esse
carinho me faz entender o significado de sentir borboletas no
estômago.
Depois Rashid me guia até os tapetes, almofadas e
mantas. Nos acomodamos e ele vai explicando cada tipo de
comida para o nosso jantar.
— Como conseguiu trazer isso tudo?
— Um homem não pode revelar todos os seus segredos.
É isso que o torna ainda mais especial. Rashid me faz
pensar que ele é capaz de realizar o impossível.
Comemos, alimentamos um ao outro, na realidade. Ele me
conta histórias antigas que me deixam cada vez mais fascinado
por sua cultura. É incrível como me vejo facilmente morando
aqui. Em qualquer lugar do mundo que ele estivesse.
Esse pensamento me pega como uma marretada na
cabeça. Sem que eu percebesse, estava cada dia mais me
apaixonando por ele.
Como seria voltar aos meus dias solitários, sabendo agora
que, a verdadeira felicidade existe.
— Habibti? — Ele toca o meu rosto preocupado.
Não quero que esses pensamentos tristes estraguem a
nossa noite perfeita.
— Acho que chegou a hora da dança — aviso, ficando de
pé — O que você acha?
— Estive o tempo todo fantasiando com isso — ele passa
suavemente os dedos por um dos véus em minha saia — No
momento que a vi olhando com tanta admiração para as roupas
delas, idealizei isso.
— Então, meu habibi — ergo o meu pé e coloco contra o
peito dele, empurrando-o para trás — Talvez não seja a melhor
dança que você viu na vida, mas será a melhor que eu já fiz.
O fogo que vejo arder em seus olhos não vem do reflexo
da fogueira, mas sim de dentro de Rashid e ele está queimando
por mim.
CAPÍTULO 21

Suzana precisaria de muitas aulas para executar com


a mesma perfeição a dança que as odaliscas fizeram no
aniversário dela. Mas se me perguntassem qual apresentação
me encantava mais, não precisaria pensar duas vezes para
dizer a dela.
Porque seus movimentos sensuais, tentando repetir o
que ela se recordava dos passos, eram exclusivamente para
mim.
O seu corpo ondulando como uma serpente, o suave,
mas sensual movimento de mãos, pernas e braços. A forma
que seus seios sacudiam e eram oferecidos a mim. Esse
delicioso balançar de quadris e ondulações que lembravam às
várias vezes que eu a tomei.
Sim. A sua maneira, Suzana executava uma dança
pecaminosamente sensual e erótica. O meu pau já estava duro
por baixo da túnica. E eu o esfrego tentando causar algum
alívio do tesão que ela me provoca e que só cresce mais com a
parte mais sensual da sua dança.
Ela me hipnotiza.
Me cativa.
Me torna seu escravo. E eu não quero quebrar essas
correntes.
Completamente levada pela música, ela arranca o
último véu, o que representa a sua fertilidade e quando se curva
para mim e eu a puxo para o meu colo.
Sou apenas instinto, primitivo e fora de controle.
Beijo-a como se precisasse engoli-la ou fundi-la
comigo.
O top cobrindo os lindos seios, é a primeira peça que
arranco de seu corpo. E quanto a minha boca fecha em volta
dos mamilos, sugando-os, Suzana tomba a cabeça para trás.
Dedico longos minutos mamando neles e fazendo-a se
contorcer em meus braços.
Depois livro-a da saia e da calcinha pequena,
correndo-a lentamente por suas pernas.
Seus gemidos de excitação faz o meu pau ficar ainda
mais grosso. Então faço Suzana ficar de pé em frente a mim.
Eu agarro uma das suas coxas e trago uma perna para cima do
meu ombro. Suas mãos trêmulas agarram os meus cabelos
com forca, mas eu não ligo, gosto dessa brutalidade.
Passo a língua por toda a vulga e cubro a sua boceta
com a minha boca.
— Rashid! — seus gemidos me deixam ainda mais
excitado.
Eu lambo e chupo sua bocetinha gostosa com tanta
vontade, que leva apenas alguns segundos e Suzana mela a
minha boca com seu gozo.
Ela cai fraca sobre mim, mas ainda tem energia para
me empurrar sobre o tapete. Com seus cabelos sedosos
roçando em meu peito, inicia uma trilha de beijos pelo meu
corpo até chegar ao meu pau.
Quando a sua boca delicada, de lábios macios,
abocanha o meu pau ,vejo mais estrelas do que as que brilham
no céu sobre as nossas cabeças.
Afundo os meus dedos nos cabelos delas e ajudo a
chupar o meu pau da forma que gosto. A boca dela é quente e
sinto que posso derreter dentro dela.
— Porra! — Rujo alto quando Suzana aceita que eu
enfie meu pau mais fundo em sua garganta.
Ela aguenta tudo o que pode antes de começar a
tossir e eu dar tempo para ela tome ar.
Esfrego meu pau, me deliciando com seu rosto
vermelho e molhado.
Eu tenho que estar dentro dela. Esse desejo é tão
insano, que estou pronto de enlouquecer de tanto tesão.
Mudo nossas posições colocando Suzana embaixo de
mim e arregaço as suas pernas.
Esfrego sua boceta e vejo o quanto ela está ensopada
de prazer. Isso destrói toda a minha resistência e eu me afundo
dentro dela.
— Rashid... — ela murmura, alarmada, quando me
retiro e afunda dentro dela mais uma vez.
A proteção foi ignorada completamente dessa vez. Sei
os riscos, mas se não tivesse Suzana apenas uma vez assim,
sentir o meu pau em pele, afundando dentro da sua boceta
molhadinha e quente, iria passar todos os meus dias
enlouquecido com esse desejo.
— Não se preocupe — saio devagarinho e estoco duro
outra vez — Há um chá que você pode tomar no dia seguinte.
Eu vou cuidar disso.
Quando intercalo as arremetidas lentas com mais
profundas, que a fazem gritar alto de prazer, sua preocupação é
deixada de lado e eu volto a beijá-la ferozmente.
Os nossos quadris movimentam-se juntos buscando o
prazer e ele chega violento, fazendo-nos sacudir e nossos
gritos apaixonados ecoarem na noite escura.
Quando trago Suzana esgotada para os meus braços,
tenho certeza de uma coisa. Não importa o que o destino me
reserve no futuro. Não posso renunciar a ela. Nunca.
Por volta do meio da madrugada envolvo o corpo nu
de Suzana em uma manta e com ela ainda dormindo, após
outras rodadas de sexo quente, levo-a de volta para a
segurança da tenda.
Eu não consigo pegar no sono tão facilmente. Além de
seu corpo irresistível enroscado no meu, tenho milhares de
coisas atormentando a minha cabeça.
A conversa que tive com Jalal. As decisões
equivocadas de Hamed nos levando para a guerra. O futuro de
Sahra e destino do nosso povo, que por anos nossa família
cuidou e protegeu.
A manhã já está nascendo quando Jalal invade o
quarto da tenda.
Somente a sua expressão extremamente severa,
mostrando que ele está em posição de defesa, me impede de
me enfurecer com ele, por quase ter visto partes do corpo de
Suzana que somente eu posso colocar os olhos.
— Acorde-a! Temos que sair daqui. Já não é mais
seguro.
— O que aconteceu Jalal?
— Vamos para a casa. Lá é mais seguro e te conto
pelo caminho.
A propriedade que ele se refere fica quase meia hora a
cavalo daqui. É de lá quem vem toda comida entregue na tenda
e tudo o que posso precisar. Bastava Jalal comunicar a um dos
empregados e o pedido seria entregue a mim.
Acordo Suzana. Ela está desorientada pelo sono e não
compreende muito a gravidade do que eu digo e o fato de
termos que nos arrumar às pressas. Ajudo-a se vestir e a
carrego até meu cavalo.
— O que aconteceu Jalal? — Inquiro enquanto ele
monta.
— Seu irmão fez um ataque silencioso Alnaas al'ahrar
há dois dias. Alguns homens revidaram se infiltrando no
palácio. Chegaram muito próximo do quarto do sheik. Os
guardas conseguiram tirá-lo de lá. Outros avistaram rebeldes
seguindo nessa direção.
— E você acredita que estão vindo atrás de mim?
— É possível. Para matá-lo como retaliação ou para
pegá-lo como refém.
— Precisamos proteger a Suzana — encaro,
preocupado a mulher novamente adormecida em meus braços.
Ela está exausta. Tomei dela e de seu corpo tudo o
que pude na noite anterior e ainda não me sinto saciado.
— Rashid! Estamos falando da sua vida.
Para Jalal isso é tudo o que importa.
— E eu estou falando da vida dela!
Antes que meu segurança e melhor amigo pudesse
protestar, faço o cavalo sair em disparada pelo deserto.
Ninguém tocaria em Suzana.
Eu mataria com as minhas próprias mãos o primeiro
que tentasse isso.
CAPÍTULO 22

Acordo num quarto completamente diferente da tenda


e nada similar com o do hotel onde tenho reserva. Esse me
lembra muito o estilo árabe que já vi em filmes e revistas. As
cores claras são predominantes. O teto é oval, as janelas
amplas estão cobertas com cortinas de um tecido muito fino. O
colchão na cama dossel me faz sentir estar como estar deitada
nas nuvens.
— Salam — uma jovem entra no quarto fazendo
reverencias exageradas, que eu respondo timidamente.
Eu não entendo nada do que ela me diz, mas ela
aponta uma mesa farta. Acho que quer mostrar o café da
manhã esperando por mim.
Vejo pela janela que o dia está bastante claro lá fora e
pego robe nos pés da cama para me cobrir ao me levantar.
A jovem continua falando comigo, mostrando um
guarda-roupa enorme. Além de todas as roupas que eu trouxe
na mala, tem as que Rashid me deu na tenda e outras novas
que não fazia ideia de onde tinham saído.
Mas o que me interessa mesmo é o telefone. Fico feliz
ao saber que aqui tem sinal de internet e não há uma senha
bloqueando. Eu não iria entender se a jovem simpática tentasse
me falar.
— Suzana! — Lucy atende no segundo toque e seu
desespero me faz sorrir — Você ainda está viva.
— Que exagero, Lucy. Você sabia que eu ficaria sem
internet no deserto por dez dias.
— O que não impediu de me deixar preocupada, ok.
Ainda mais depois do que eu soube sobre o seu árabe
misterioso.
— O que soube sobre o Rashid?
Eu não conseguia pensar em nada de ruim vindo dele.
Não combinava com o homem atencioso e apaixonado que
conheci nesses últimos dias.
— Você está sentada?
— Lucy!
— É melhor se sentar Suzana.
Eu preciso mesmo tomar café da manhã, então ocupo
uma das cadeiras em frente a mesa.
— Diga logo o que sabe sobre o Rashid.
— Ele é nada mais do que irmão do emir de Sahra.
Eu preciso de um tempo para assimilar o que ela diz.
— O sheik de Sahra. O governante desse país?
— Ele mesmo. Quando falou dele. Sabia que tinha
visto em algum lugar.
— Rashid é um nome comum aqui, certo?
— Não, exatamente. E Al Shahir, não é? E você
mesma disse que ele trabalhava no castelo. Rashid esteve ao
lado do pai cuidando de Sahra até o irmão Hamed voltar de sua
longa temporada longe do país e ser coroado.
— Ainda assim, você não pode ter certeza disso, sem
vê-lo, Lucy.
— Mas você pode, não é? — Espera... — ela some da
minha tela por um segundo e a imagem é focada no teto —
Aqui. Eu imprimi a única foto que consegui dele ao lado do pai,
o antigo emir. Pode me dizer se esse é o seu Rashid?
Ela me mostra a imagem impressa e eu não tenho
como negar isso. Rashid é mesmo príncipe de Sahra.
— Meus Deus!
— Ah! — Lucy pula no lugar toda feliz — Eu estava
certa, não é verdade?
— Sim — balbucio, ainda muito chocada para dizer
mais alguma coisa — Por que ele não me disse nada, Lucy?
Olhamos em silêncio uma para a outra.
Rashid me contou sobre a mãe. O amor do pai dele
ainda em luto. Falou vagamente sobre o irmão, mas não disse
nada sobre o importante papel dele em Sahra. Se antes ele era
um homem impossível para mim, agora se tornava
inalcançável.
— Eu não sei, Suzana. Mas só foi uma aventura, né?
Você não se apaixonou por ele, certo?
Eu não havia apenas me apaixonado, como a noite de
ontem poderia ter consequências.
Mas Rashid falou sobre um chá que eu deveria tomar.
Deve funcionar como a pílula do dia seguinte, mas só
conseguia pensar que tomar esse chá, arrancaria uma possível
vida crescendo dentro de mim.
— Suzana?
— Hum... A gente conversa depois, tá bom?
— Não! Eu quero saber como foi...
Eu encerro a ligação antes que ela continue.
A minha cabeça está cheia demais para lidar com
minha amiga curiosa agora.
— Rashid? — Digo a jovem que educadamente está
de prontidão na porta — Onde está o Rashid?
— Rashid? — Ela diz o nome dele em um sotaque
carregado, ou talvez fosse eu que falasse da minha própria
maneira.
Ela me aponta a mesa e repete o nome dele com
outras palavras algumas vezes. Entendo que eu preciso tomar
café primeiro.
Não tenho muita fome, mas o desejo de que a mulher
colabore comigo e me leve até o príncipe, fala mais alto.
Príncipe. É estranho pensar nele assim. Para mim era
só Rashid, mas pensando bem, agora explica toda essa aura
de poder que ele tem. A realeza está em seu sangue.
— Agora você pode me levar até o Rashid?
Sua ladainha que não entendo nada, retorna, mas
dessa vez ela me mostra uma porta. Observo que é o banheiro.
Depois aponta para um conjunto de roupas que ela havia
separado.
Ok. Rashid é um príncipe e fora do deserto deve ter
protocolos para falar com ele. Quando mais rápido eu
entendesse isso e cumprisses essas regras, mas rápido
conseguiria vê-lo e perguntar por que manteve esse segredo de
mim.
Depois do banho, a jovem me ajuda a pentear e
prender devidamente os meus cabelos, e me auxilia com o
hijab.
— Rashid — aponto para os meus olhos e depois para
a porta — Quero ver o príncipe.
A jovem balança a cabeça e sorri, mas dessa vez
vamos em direção a porta.
Há um guarda parado do lado de fora. E ele começa a
nos seguir quando andamos pelo corredor. A casa é imensa e
nós passamos por diversos cômodos cheios de esculturas,
quadros e outros objetos de arte, que eu teria imenso prazer de
parar e apreciar, se não estivesse ansiosa para ver Rashid.
Só quando paramos em um lindo e imenso jardim,
percebo que, em vez de me levar a ele, a jovem tinha feito um
tour comigo pela casa.
Desanimada, aceito me acomodar em uma das mesas
e assisto quando um empregado surge trazendo bebidas
geladas e comida.
Decido ficar pelo jardim esperando que Rashid viesse
me procurar, já que ir até ele parecia impossível.
— Habibti — sua voz me alegra, mas são os toques
dos seus dedos passando pelo meu ombro, que faz meu
coração bater mais forte — Dormiu bem?
Viro-me rapidamente e dou de cara com seu sorriso
irresistível. Eu não posso focar nisso, ordeno a mim mesma.
— Sim. E você não estava lá quando acordei.
— Você estava tão cansada, que nem notou nossa
viagem de cavalo até aqui — ele continua a sorrir e se senta ao
meu lado — Achei um pecado despertá-la quando precisei sair.
Então deixei Samila cuidando de você. Ela foi atenciosa?
— Muito. Apesar de não entender nada que ela diz.
— Na capital é mais comum as jovens falarem em
inglês, porque frequentas as escolas e universidades de lá.
— Isso não é um problema, Rashid. Ela foi muito
atenciosa e nos comunicamos bem.
— Então por que vejo angústia em seus olhos?
Como ele já me conhecia tão bem?
— Lucy me disse uma coisa — mordo o meu lábio e
ele segura o meu queixo, impedido que eu abaixe a cabeça e
desvie o meu olhar.
— O que sua amiga disse?
— Que você é...
— Que eu sou?
— Que você é Rashid bin Shalaan bin Shahir Al Awad,
o príncipe de Sahra.
Seu movimento incomodo na cadeira foi quase
imperceptível, mas eu estava muito atenta a ele.
— Você descobriu — é quase um sussurro.
— Então é verdade? — Eu me levanto, indignada —
Por que não me disse nada Rashid?
Quando ele fechou o restaurante inteiro, só para me
dar um jantar particular de aniversário, que conseguiu as
dançarinas para fazer um show exclusivo para mim, e me levou
para voar de helicóptero, e ele disse trabalhar no palácio,
imaginei que ele fosse alguém importante, mas não um
príncipe, irmão de um emir.
— Por causa disso. Desse olhar. Eu sou Rashid,
habibti — ele se aproxima, segurando as minhas mãos — Ainda
sou aquele homem que conheceu no deserto.
— E é mais que isso. Não confiava em mim?
— Não é isso. Eu gostava de como era somente nós
dois no mundo. Mas contos de fadas um dia acabam, não é
mesmo?
O que ele queria dizer com isso? Esse era o nosso
adeus?
Cogitar isso me causa uma dor profunda no peito.
— Não pense nessas besteiras — ele leva a mão em
meu rosto, cobrindo a minha bochecha com carinho — Ainda
temos quatro dias. Tenho que ajeitar algumas coisas e depois a
gente conversa, tudo bem?
Uma pequena promessa, de um pequeno futuro de
nós dois juntos, era melhor do que nada.
— Por que viemos para cá às pressas?
— As coisas andam complicadas na capital. O meu
irmão está colecionando inimigos. Não era seguro ficarmos no
deserto.
— Você corre perigo? — Agarro-o, apavorada.
Ele sorri com meu alarde e faz um carinho em meu
rosto, que vai até os meus lábios.
— Preocupada comigo?
— É claro que, sim. Eu não quero que nenhum mal
aconteça a você.
Ele me olha atentamente. Acho que se lembra que já
perdi muitas pessoas que amo.
— Eu sei me cuidar, habibti — ele me puxa para os
seus braços e eu grudo as minhas mãos na cintura dele — Não
ocupe sua cabeça com isso.
Jardim nos dá certa privacidade. Acho que a única
pessoa por perto é Jalal, zelando pela segurança de seu
príncipe e dessa vez, fico muito feliz e aliviada por ele estar
sempre ao redor de Rashid.
Ele me beija. Um beijo mais contido para não nos
levarmos a algo mais quente, mas ainda assim, cheio de
emoção.
— Escuta. Preciso me ausentar por um ou dois dias.
Encontrar o meu irmão. Quero que fique aqui e me espere.
— Mas...
— Fils não está segura nesse momento, Suzana.
Prometa que vai me esperar?
— Tudo bem. Não há nenhum lugar que eu queira ir
sem você, Rashid.
— Então venha — ele segura a minha mão e nos
conduz de volta a casa — Me faça lembrar do porquê preciso
voltar o mais rápido que puder.
Nós temos horas maravilhosas no quarto.
Eu sinto como um gosto amargo de despedida. E me
preocupo com ele.
— Nada vai acontecer — ele vem até mim na cama,
após vestir sua túnica — Vou voltar são e salvo.
—Você promete? — Agarro a roupa dele.
— Prometo.
Nos beijamos até uma batida na porta nos interromper.
A garota que agora conheço como Samila, entra após
o comando de Rashid. Ela traz uma bandeja contendo uma
xícara.
Rashid pega a bandeja e a jovem se retira. Ele coloca
sobre a mesinha ao meu lado da cama.
— É o chá que eu falei ontem a noite. Deve tomá-lo
até o fim dessa tarde.
Assinto e quando olho para a xícara me esperando,
sinto uma pressão forte em meu peito.
— Eu volto logo — Rashid beija a minha testa, depois
apaixonadamente os meus lábios com furor.
Fico, melancólica observando-o se afastar. Quando a
porta é fechada logo atrás dele, eu olho para xícara, depois
toco o meu ventre.
E se a semente de Rashid estiver ganhando vida em
mim?
Um filho. O meu bebê tanto desejado, sonhado e com
o homem que eu havia me apaixonado perdidamente.
Só tenho mais quatro dias em Sahra e talvez nunca
mais voltasse a vê-lo. Eu queria, não, desejava mais do que
apenas doces lembranças de momentos vividos com Rashid.
Uma parte de mim me avisava o quão errado eu
estava agindo. Mas uma outra, e essa era bem mais forte, me
faz correr até o banheiro e despejar a bebida na pia.
Talvez eu nem tivesse ficado grávida, nem no deserto
e nem hoje.
O destino diria.
CAPÍTULO 23

Conheço muito bem o meu país, como o meu povo


também, e, ao circular pela capital, vejo que estamos à beira do
colapso. Não dá mais para esperar que Hamed use a razão e
pare de agir como um garotinho que não ganhou o presente
esperado no dia do aniversário.
— Alto! — Um guarda manipula seu fuzil quando eu,
Jalal e mais alguns, colocados para a minha segurança
chegamos à porta do emir.
— Eu quero falar com Hamed — ordeno ao homem
que até quase dois anos atrás recebia ordens minhas e dos
meus homens.
Ele não está contra mim, mas defendendo seu rei.
— Vossa Alteza não está recebendo visitas.
Eu sabia que Hamed iria evitar a minha presença o
máximo que ele pudesse.
— Você está falando com o príncipe Rashid bin
Shalaan bin Shahir Al Awad — Jalal se coloca entre mim e os
homens na porta — Então saia da frente antes que eu arranque
a sua cabeça antes mesmo que pisque os seus olhos.
Eu não vou permitir que ninguém arranque a cabeça
de ninguém ou qualquer parte do corpo, mas a ameaça de
Jalal, que é um dos melhores soldados em Sahra, se não o
melhor, faz o guarda começar a vacilar.
— Escuta, Ibrahim Al-Maktoum, não é mesmo?
Jalal já havia me alertado quem estaria de guarda na
sala de estratégias de Hamed.
— Sim, Vossa Excelência.
— Nós já trabalhamos juntos antes. Todos vocês me
conhecem bem. Eu jamais colocaria a vida de Hamed em
perigo. Antes de tudo, ele é o meu irmão. Eu sempre vou
protegê-lo — não é apenas isso que o preocupa a permanecer
firme em sua missão de guardar a porta — E dou a minha
palavra que nenhum dos dois serão penalizados por me
deixarem entrar.
Os homens se entreolham. E no fim, liberam espaço
para que Jalal abra a porta.
Avisto Hamed em sua mesa, ele tem outros homens
em torno dele, analisando algum tipo de mapa.
Reconheço entre eles o comandante da guarda real e
o do estratégias de guerra.
— Rashid? — Hamed se ergue, bastante surpreso em
me ver entrar — O que faz aqui? Seus assuntos agora são as
políticas internacionais.
— Temos que conversar, Hamed.
— Sheik Hamed Al Awad. Pode ser o meu irmão, mas
ainda sou o seu rei.
— Como quiser, Vossa Alteza — eu não tenho
problema algum em ter alguém superior a mim, o meu ego não
precisa ser massageado dessa forma — Precisamos conversar.
Sozinhos.
Hamed dá um olhar para todos os homens na sala e
com um erguer de mãos, faz todos eles se retirarem.
— E o seu cão de guarda? — Ele aponta para Jalal,
que não se abala nenhum pouco com o que ele diz.
— Jalal fica. — Aviso com firmeza.
É nítido que Hamed não gosta disso, mas ele também
que se livrar de mim o mais rápido possível.
— Então — ele ocupa a sua cadeira com ares de
majestade — O que quer falar?
— Seus ataques a Alnaas al'ahrar e sua insistência em
tomar a cidade está colocando nosso país em guerra com eles.
— Não se toma o que sempre nos pertenceu.
A arrogância que ele diz isso, me preocupa mais do
que o normal.
— Alnaas al'ahrar pertence aos alnaarianos agora. As
negociações sobre o petróleo que você tanto deseja já estavam
avançadas, sem precisarmos invadir a cidade sagrada.
— Palavras ao vento. Prefiro a ação. Nenhum país que
quer ser respeitado fica de conversinha com seus inimigos. Eles
tomam o que lhes foram roubados.
— O povo de Alnaas al'ahrar não é nosso inimigo!
Agora eles estão com raiva e pior, com medo.
E o medo faz as pessoas agirem irracionalmente.
— As suas ações impensadas estão levando outros
países a ficarem inseguros com o nosso governo — pontuo,
apoiando as minhas mãos na mesa
— Qual o seu problema Rashid? Está mesmo
preocupado com o destino de Alnaas al'ahrar? — Ele se ergue
e coloca suas mãos na mesa e nossos olhares furiosos se
cruzam — Ou é apenas a sua inveja que eu esteja me tornando
o maior e melhor emir que Sahra já viu? Melhor do que nosso
pai e avô. E um que você jamais será.
— Se você quer dizer, tornar-se um ditador, assassino
e...
— Cuidado com as palavras. Traição é paga com a
morte. E eu não pouparia nem mesmo você, meu irmão.
— O que aconteceu com você, Hamed? Como você
mudou tanto?
— Eu mudei? — Ele se ergue voltando a uma calma
assustadora — Talvez tenha começado a ver as coisas as
claras. Enquanto eu estava fora, você estava aqui,
conquistando admiradores e ganhando terreno para usurpar o
meu lugar.
— O quê?
— Não havia nada que eu estivesse disposto a fazer
sem que alguém me dissesse, Rashid faria diferente. O Rashid
isso, o Rashid aquilo.
— Porque passei anos aqui, ajudando nosso pai a
manter Sahra em pé e prosperando. Você exigiu conhecer o
mundo.
— E vocês não ligaram nenhum pouco para isso.
Pensa que não notava que nossa mãe amava apenas você.
— Isso não é verdade.
— Não é? Eu ouvi os dois conversando. Rashid seria
um rei maravilhoso, pena que ele nasceu alguns segundos
depois, eles diziam. Eu fui embora para aprender como ser um
bom rei e meu irmão ficou aqui, planejando roubar o que é meu.
Ou Hamed estava ficando completamente louco. Ou
ele estava sendo envenenado por alguém e há bastante tempo.
— Até uma esposa que não pode gerar filhos você me
empurrou.
— Layla não pode ter filhos?
— Aquela é seca como folhas de inverno. Era isso que
você queria, não é? Se não tenho um herdeiro, você ocupa o
meu lugar. Mas irei tomar uma segunda esposa. Ou melhor,
renegar Layla. Seus filhos não irão roubar o meu trono.
— Quem andou colocando essas coisas na sua
cabeça, Hamed?
A minha pergunta o pega de surpresa e eu percebo
que estou no caminho certo.
— Hamed. Eu nunca iria tomar o seu trono e nem
roubar nada do que acredita que é seu. O que posso fazer para
você acreditar nisso, meu irmão?
Ele me estuda atentamente e por tempo irritante.
— Abdicaria de seu título real e deixaria Sahra?
Dar adeus ao meu país, minhas terras, cultura, as
minhas raízes e principalmente família?
— Não diga sandices! — Jalal se manifesta pela
primeira vez.
A família é a base de tudo em nossa cultura. Eu não
havia cometido nenhum crime para ser exilado.
— Cala boca cão imundo! — O meu irmão esbraveja.
Eu me coloco entre eles. Hamed e Jalal nunca se
deram bem, e não quero aumentar ainda mais essa
animosidade. O meu irmão o provocou bastante o meu amigo
quando éramos jovens e agora entendo que foi tudo por ciúmes
da nossa amizade.
— Você faria isso, Rashid?
— Não aceite, Vossa Excelência.
— Deixaria Alnaas al'ahrar e seu povo em paz?
— Sim.
— Ele está mentindo. Que garantias você tem Rashid,
que se depois de longe, Hamed não voltará a atacar.
— A minha palavra! — Esbraveja Hamed.
Eu poderia mesmo confiar na palavra do meu irmão?
Um homem faltar com ela na nossa cultura, significava desonra.
— Tenho que pensar. Enquanto isso, você coloca uma
trégua nesses ataques?
— Vou te dar uma semana.
Não é tempo suficiente para tomar uma decisão como
essa. E eu também queria descobrir se existia mesmo alguém
sussurrando esses absurdos nos ouvidos de Hamed. Mas era o
que eu tinha no momento.
— O que você vai fazer? — Jalal questiona assim que
começamos a caminhar no longo corredor.
— Eu preciso pensar, Jalal. Mas de uma coisa eu sei,
Hamed não pode continuar no trono, agindo como ele está
fazendo ou ele levará Sahra a destruição.
Seguimos silenciosamente até o carro nos
aguardando.
— E você tinha razão. Eu preciso ficar em Fils.
Só havia uma coisa positiva na exigência de Hamed.
Longe de Sahra, eu ficava cada vez mais perto e livre para
Suzana.
CAPÍTULO 24

Eu estava sonhando?
Não. As mãos e lábios tocando minha pele, fazendo-a
incendiar eram reais demais para que eu estivesse em um
sonho erótico com Rashid.
— Habibi? — Abro os olhos languidamente e encontro
o tom azulado dos de Rashid, mais escuros devido a penumbra
— Você já voltou.
— Foram os minutos, horas e dia longe, mais
angustiantes da minha vida, habibti.
Não tomo como exagero nenhuma as suas palavras
porque me senti exatamente igual na sua ausência, miserável.
Rashid me beija. Um beijo lento, sensual, mas com
muita fome e desejo.
Ansiosos um pelo outro, tiramos as nossas roupas.
Quando a pele nua dele toca a minha, a febre se espalha pelo
meu corpo.
Ele inicia beijos que começam do meu pescoço e
correm pelos meus ombros. A sua boca envolve o meu seio e o
beliscão que Rashid dá no mamilo enquanto torce o outro com
o polegar e indicador, levam um formigamento entre as minhas
pernas.
Continua mamando meus seios e gemidos irrefreáveis
escapam dos meus lábios entreabertos. Então ele desce mais a
sua boca. Abre as minhas pernas e devora a minha boceta com
sua boca talentosa.
— Rashid! — Torço o lençol entre os meus dedos,
segurando-o firme.
Suas lambidas, três dos seus dedos entrando em mim,
a forma que ele massageia o meu clítoris ficando duro e
sensível, a combinação de tudo isso, faz o prazer explodir
dentro da minha mente e meu corpo sacudir.
Ainda estou trêmula quando ele termina de se proteger
e coloca-se entre as minhas pernas.
Então ele me invade em uma estocada só.
— Ah! — Grito tanto de prazer como por sentir seu pau
imenso e grosso me preencher inteira.
Rashid me fode com fúria. Como um animal que não
pode ser domado. Todas as vezes que fizemos amor, foi intenso
e especial, mas havia algo diferente em Rashid. Como se ele
estivesse me marcando como dele, para que eu nunca mais me
esquecesse disso.
Gozo de novo, mas ele ainda não está satisfeito. Vira-
me de costas colocando-me de quatro na cama e volta a socar
o seu pau em minha boceta em chamas.
O seu quadril bate duro contra a minha bunda,
fazendo-me ir para frente e para trás.
Ele é impiedoso comigo.
Cada estocada sua, dura, firme e profundo, sinto um
prazer ainda maior que os anteriores começar a crescer.
— Ai, habibi! — Agarro os lençóis com mais forca
quando ele começa a esfregar o meu clitóris com as pontas dos
dedos — Eu não aguento.
Parece que prazer está desintegrando o meu corpo.
Mas ele não tem piedade. O que digo o faz ficar ainda
mais determinado em me foder e tornar essa noite impossível
de esquecer.
Ele continua a me foder forte e implacável. O meu
orgasmo vem como uma avalanche impossível de conter. O
meu corpo sacode, tento me afastar de Rashid, mas ele me
mantém presa a ele enquanto também goza, grunhindo feito
uma fera selvagem.
Eu não tenho forças para me mover, então como
sempre, alguns segundos após recuperar um pouco suas
energias, ele me leva para o seu peito.
Não posso mais negar ou fugir disso. Eu estava
perdidamente, completamente apaixonada por ele.
Jamais haveria outro além de Rashid.
Nunca.
— Como foi na capital? — Indago antes que a
sonolência causada pelos carinhos dele em meus cabelos, me
fizessem dormir.
— Nada bem. Precisamos voltar a Fils pela manhã.
Pode ficar no palácio comigo.
Eu ainda não consegui assimilar que Rashid é príncipe
de Sahra.
— Ainda tenho reserva no hotel. Prefiro ficar lá.
Mal sabia como me comportar aqui com os
empregados me tratando como se a princesa fosse eu. Num
palácio, então. Além disso, provavelmente Rashid ficaria muito
tempo ocupado. E eu não queria a tensão de me preocupar o
tempo todo com o que dizer ou fazer.
E entrar no palácio com a posição de amante dele, não
me agrada.
O que o irmão dele faria sobre isso?
Rashid não me fala muito dele.
— Talvez você esteja certa. O hotel pode ser mais
seguro nesse momento.
— Atacaram o palácio outra vez? — Ergo a minha
cabeça para ele com olhar preocupado.
— Ainda, não. Mas as pessoas na capital andam
tensas. Conversei com o meu irmão e não foi muito favorável —
ele alisa minhas costas nuas com seus dedos — Mas não
ocupe sua cabeça com essas coisas.
— Acha que não sou inteligente o suficiente para
entender?
— Não é isso, Suzana. No momento nem eu sei qual é
o rumo melhor a tomar.
Eu noto que ele está mesmo preocupado e que encher
a cabeça dele com minhas neuroses não ajudará em nada.
— Eu sei que vai encontrar uma solução — deslizo
pelo seu peito e busco os seus lábios — Tenho fé em você,
Rashid.
Sobre o futuro de Sahra e o nosso.

Chegamos ao hotel, mas não vamos direto para o meu


quarto. Rashid me coloca na suíte dele e convoca o gerente.
— A senhora Weston está sobre os meus cuidados.
Quero que mantenha a segurança dela e realize qualquer
pedido que ela desejar.
— Como quiser, Vossa Alteza — o homem se curva
antes de sair.
— Não acha que é um exagero, Rashid?
— Com você? E para você? — Ele me puxa para os
seus braços — Nada é exagero, habibti.
E quando penso que não, esse homem conquista
ainda mais o meu coração.
Infelizmente, o nosso momento romântico tem que
acabar com o surgimento de Jalal.
— É um recado do meu pai — avisa Rashid e ele
parece bastante preocupado — Tenho que ir vê-lo
imediatamente.
A gente precisa conversar. Eu só tenho mais dois dias
legalmente em Sahra. Depois de amanhã, ao menos que
recebesse uma extensão de visto, precisarei voltar aos Estados
Unidos.
— Rashid, eu...
— Conversamos na minha volta mais tarde — ele me
beija, exasperado — Tenho algo importante para te dizer.
— Vossa Excelência — inquieto, Jalal o chama da
porta.
— Não se preocupe — ele encosta a testa na minha —
Tudo vai se resolver. Não saia do hotel, está bem?
Eu assinto e tento conter as lágrimas em meus olhos.
Aflita, assisto-os saírem apressados pela porta.
Jogo-me na poltrona mais próxima.
Não resta mais nada a fazer além de esperar Rashid
voltar.
CAPÍTULO 25

O restante da manhã e tarde passaram sem que eu


tivesse qualquer notícia de Rashid.
O fato de nunca ter me dado o telefone dele, se é que
tem um, faz muita falta agora, porque eu poderia ligar ou enviar
uma mensagem para que ele respondesse quando pudesse.
Eu tentei ver os canais de notícias aqui, mas eu não
entendo nada do que eles falam. E as imagens de pontos que
foram atacados na capital, só havia me deixado mais nervosa,
então desisti da TV.
Eu não comi quase nada durante o almoço e ao me
trazerem o jantar, também não estava com apetite, mas comi
um pouco de salada de frutas.
O que me distraia um pouco era conversar com Lucy.
Mas nossos horários não ajudavam muito.
— E se ele não voltar?
— Ele vai voltar, Lucy. Rashid deu a palavra dele.
— Mas se algo o impedir de voltar? Tem que ir embora
depois de amanhã.
Apesar de Sahra ter sido um país tranquilo de visitar,
as leis de imigração eram bastante rígidas. Então quando
entramos com a solicitação de visto, só nos dão exatamente os
dias que pedimos nos formulários. Nem um a mais.
— Rashid vai voltar — afirmo, determinada — Ele já
deve estar vendo isso.
— Espero que você tenha razão. De qualquer forma
estou louca para voltar a te ver.
— Eu também, Lucy.
Mas eu esperava que isso não significasse perder o
homem que eu amava.

A minha noite foi tensa e carregada de pesadelos.


Salto alarmada da cama e procuro por toda suíte. Não
há nenhum sinal de que Rashid está ou esteve por aqui.
A angústia e ansiedade começam a tomar conta de
mim.
Ligo a TV. A legenda no jornal, que traduzi no meu
telefone, diz que o palácio de Fils foi invadido por rebeldes, que
agora estão presos para interrogação.
A minha preocupação com Rashid agora é alarmante.
— Você é burra, Suzana!
Por que eu não aceitei ficar no palácio com ele? Pelo
menos eu teria informações mais exatas e atualizadas.
Eu não posso ficar aqui imaginando coisas. Preciso
ver Rashid. Saber se ele está bem.
Volto para o quarto para me arrumar e pego a minha
bolsa em cima da poltrona.
Há um movimento grande na recepção do hotel.
Turistas querendo encurtar sua viagem e exigindo reembolso. O
país não anda seguro agora.
Alcanço a rua e faço sinal para o primeiro carro de taxi
que vejo.
— O palácio de Fils, por favor.
O motorista vira em minha direção antes de sair.
— Tem certeza de que quer ir para lá?
Seu sotaque é carregado, mas eu entendo
perfeitamente, como também decido ignorar seu alerta.
— Sim, por favor.
Leva quase uns vinte minutos para chegarmos perto.
— Não tenho como ir mais longe, senhorita. Mas já dá
para ver o palácio daqui.
— Tudo bem. Obrigada, senhor.
Desço do carro rapidamente. É impossível não
perceber que o clima na capital não está mais como no dia que
cheguei. Em vez de sorrisos amigáveis, há preocupação no
olhar das pessoas.
Com a minha mente focada em Rashid, caminho
apressadamente até a frente do castelo.
— Com licença — chamo a atenção de um dos
guardas que tem um impressionante armamento nas mãos —
Eu vim ver o príncipe Rashid bin Shalaan bin Shahir Al Awad.
Por um momento e pelo tempo que ele me encara
friamente, penso que não havia entendido o que falei. Estou
pronta a começar a digitar o meu pedido no telefone para ser
traduzido quando o guarda se manifesta.
— Vossa Excelência não irá falar com a imprensa.
— Não! — Aliviada por ele falar a minha língua, abro
um sorriso — Eu não sou uma jornalista. Escuta. Fale com o
senhor Jalal. Diga que é Suzana Weston.
Ele faz um sinal para que um outro guarda se
aproxime. Eles dizem algo na língua deles e os dois riem.
Depois inesperadamente e a arma deles é apontada para mim.
— Saia ou o único lugar do castelo que irá conhecer,
será a prisão.
Tenho fôlego para argumentar o dia inteiro, se fosse
preciso, mas as armas apontadas para mim e suas expressões
agressivas, me fazem recuar.
Foi ingenuidade e burrice minha achar que bastava
chegar ao palácio de dizer o nome de Rashid e me levariam até
ele.
Com corpos imensos e expressões severas, outros
dois guardas surgem e me arrastaram para longe dos portões
do palácio.
As lágrimas de frustração queimam em meus olhos,
mas esperança de Rashid me encontrar na suíte como
prometeu, me faz voltar a me movimentar.
Mal dei alguns passos em direção a parte mais
movimentada da cidade, quando avisto a manada de pessoas
surgirem correndo em minha direção.
Por instinto, sigo na mesma direção que elas estavam
indo. Correndo o máximo que eu consigo. Essas pessoas
estavam fugindo de algo muito perigoso e eu não queria ficar no
caminho.
Por sorte, não muito longe vejo um vão entre duas
lojas e me refúgio lá com outras pessoas. Homens e mulheres
que estão pressionados comigo no cubículo, dizem coisas que
eu não entendo, mas a expressão nos homens e em algumas
mulheres, que não tem seus rostos cobertos, são de puro
medo.
Eu vejo surgir homens em cavalos pretos e enormes.
Eles têm algum tipo de garrafas nas mãos, que nas pontas há
pedaço de tecido pegando fogo. As garrafas são jogadas em
todas as direções e elas incendeiam barracas nas ruas e
atingem algumas lojas antes que as portas fossem fechadas.
Ouço gritos assustados em todos os lugares.
Então o exército de Sahra surge e eles tem armas de
fogos. Agora são os rebeldes que fogem dando-nos
oportunidade para usar as ruas para escaparmos.
É impossível eu encontrar um carro para o hotel, sigo
andando e tentando me recordar do caminho. Após me perder
algumas vezes e quase uma hora de caminhada, finalmente a
calmaria já está voltando a capital e consigo que um taxi me
leve corretamente ao hotel.
— Sra. Weston. Sou o gerente do hotel, lembra? — O
homem intercala o meu caminho até o elevador — Vi que seu
checkout é para tarde e seu voo sai a noite. Fils está em estado
de alerta agora. Então não é seguro que saia do hotel.
Permaneça aqui até a hora de ir para o aeroporto. Vamos
disponibilizar um carro que a leve.
Entendo superficialmente o que o homem me diz. O
meu pensamento está em Rashid e se ele está correndo algum
tipo de perigo no palácio.
Os homens que atacaram a cidade tinham uma
expressão maligna no olhar.
— Se precisar de algo, providenciamos para a
senhora.
— Podem enviar uma mensagem ao príncipe Rashid
bin Shalaan bin Shahir Al Awad?
— Bom...
— O senhor ouviu as ordens que ele deixou ontem.
Deve providenciar qualquer coisa que eu pedisse. E eu preciso
falar com Rashid antes de viajar.
Nem que fosse apenas para me despedir dele.
— Certo, senhora. Farei o melhor que puder. Apenas
não saia mais do hotel, por favor. Não é seguro.
Assinto e garanto que vou direto para o meu quarto.
Como esperar por Rashid tornam os minutos angustiantes, eu
decido começar a fazer a minha mala.
Eu ganhei muitas coisas Rashid, peço que providencie
mais uma mala. Eu não queria deixar nada para trás. Poderiam
ser as minhas últimas lembranças dele.

Dessa vez eu nem consegui dormir de tão tensa que


eu estava.
Cada minuto do relógio correndo me deixa mais
angustiada.
— Você está bem Suzana?
— Exatamente sobre o que, Lucy?
— Olha, pode ter acontecido alguma coisa mesmo. Eu
vi no jornal que o pai deles teve um ataque cardíaco.
Eu também soube disso na legenda que traduzi no
jornal, embora não tenha conseguido pegar mais nenhuma
outra informação. Faz sentido Rashid ainda não ter voltado,
mas eu não tinha mais o que fazer. \
Preciso voltar para casa.
— Talvez ele te procure quando as coisas acalmarem.
— E como Lucy? Rashid só sabe que moro em
Connecticut, que sou viúva e artista plástica.
— Para um príncipe, já é muita informação. Escuta.
Volte para casa e espere as coisas se melhorarem para o
Rashid.
Talvez Lucy tenha razão. Se ele realmente quiser,
poderá me procurar no futuro.
Ainda assim, ir embora sem ao menos dizer adeus,
estava abrindo uma ferida em meu peito.
Tudo o que me resta a fazer é escrever uma carta e
deixar com o gerente do hotel.
Alguns minutos depois estou dentro do carro que me
leva ao aeroporto e duas horas depois, olhando no portão de
embarque pela última vez, esperando ver Rashid, sigo para o
avião.
CAPÍTULO 26

Palácio de Fils
No dia anterior

Assim que entro nos aposentos de meu pai e vejo


Hamed me encarar severamente, percebo que estamos em
uma situação complicada.
— Que a paz esteja com o senhor, meu pai.
Curvo-me respeitosamente para ele.
— Que a paz esteja com você, meu filho.
Eu dirigiria a mesma saudação a Hamed, mas pelo
seu olhar de ódio para mim, vejo que a última coisa que ele
deseja era paz.
— Veio correndo pedir ajuda ao papai, não foi? — Ele
me acusa duramente — Pensei que fosse agir como um
homem.
Olho para Jalal e ele não esconde que a informação
fugiu dele. Antes de ser meu segurança e que me deve
fidelidade, ele é o meu melhor amigo. E foi muito mais irmão
para mim do que Hamed a vida toda.
— Hamed... — começo a dizer.
— Calem-se os dois! — O nosso pai diz, rispidamente.
Não importa o nosso cargo. Na figura de pai, ele
sempre teria o nosso respeito.
— Hamed, estou completamente decepcionado, que
além de não ouvir os meus conselhos, ainda fez uma proposta
imoral ao seu irmão.
— Eu queria ver até onde iria o amor que ele diz sentir
tanto por Sahra. E se não queria mesmo tomar o meu lugar.
— Mentira! — Acusa Jalal — Sua única intenção era
tirar Rashid do caminho.
Eu não preciso que ele me defenda.
— Fique calado cão de guarda, ou juro que mando
executar você.
— Toque em Jalal ou mesmo o ameaçasse de novo e
eu... — ignorando completamente que Hamed é o emir, coloco-
me a frente dele.
— Parem com isso! — Papai volta a se manifestar —
Hamed? O que há com você? É o meu primeiro filho...
— Por segundos — ele reclama, amargurado — Mas
sempre preferiu ele. Queria que ele fosse o rei. Ouvi sua
conversa com a mamãe.
— Não queria filho — a voz de papai soa cansada
tanto quanto ele — Quando ouviu isso?
— Eu tinha sete anos.
— Só uma criança e não ouviu bem. Ou entendeu
errado o que nós conversamos. Você sempre foi mais ativo,
aventureiro e...
Ele leva a mão ao peito.
— E...
— Pai? — Nós dois falamos juntos e corremos até ele.
O nosso pai aperta forte o peito. Seu rosto começa a
ficar vermelho.
— Um médico! Jalal peça a ambulância.
Não o vejo sair e início os primeiros socorros enquanto
papai perde a consciência em meus braços.
— Ele morreu? — Indaga Hamed em pânico quando
os paramédicos o colocam na maca.
— Não, Hamed. Mas você um dia ainda vai matá-lo se
continuar assim.
Ele me olha com raiva.
— É culpa sua. Seu cão nunca deveria ter falado nada
para ele.
Não queria brigar com ele, não agora.
— Eu vou com ele — aviso assim que o nosso pai é
colocado na ambulância.
Quando me sento ao lado dele, segurando sua mão,
vejo Hamed parado, nos encarando com uma expressão que
não sei identificar. Apesar da angústia em ver nosso pai
desacordado, espero que esse susto faça o meu irmão voltar a
pensar com o coração e não com sua razão distorcida.
CAPÍTULO 27

Connecticut, EUA
Um mês depois

Eu não conseguia encarar isso sozinha, então pedi


que Lucy fizesse isso comigo.
Já tinham sido oito testes de farmácia e agora eu tinha
o de sangue nas mãos dela, apenas para confirmar o que eu já
sabia.
— Então, Lucy? Fale de uma vez!
Eu não sei dizer qual de nós duas está mais nervosa.
— Positivo. Você está mesmo grávida, Suzana.
Eu não sei se sorrio, se choro ou entro em pânico.
Grávida.
O meu sonho em ser mãe, finalmente se tornando
realidade.
— Oh, meu Deus, Suzana. Você vai ter um bebezinho
— ela me abraça feliz, empolgada e me balança de um lado
para o outro.
— Eu ainda não consigo acreditar — balbucio, as
lágrimas estão correndo grossas pelo meu rosto — Eu vou ter
um filho.
— Você e Rashid vão ter um bebê — ela me recorda
— Agora não acha que tem motivos para procurá-lo?
Um motivo muito grande.
— O Rashid não quer saber de mim, Lucy — mesmo
com as minhas pernas trêmulas, levanto do sofá e começo a
andar pela sala, nervosa — Ele nunca me procurou.
— As coisas em Sahra ainda estão tensas, Suzana.
— E um telefonema? Nada. Você mesmo disse que se
ele quisesse, teria me encontrado e ele não quer.
Eu passei dias, semanas e noites chorando
amargando essa realidade. Só fui uma mulher que Rashid teve
uma aventura. Agora talvez eu nem esteja mais nas lembranças
dele. O que me dói em dobro, porque todos os dias com ele e
noites principalmente, a forma como ele me tratava, cuidava de
mim, me fizeram acreditar que Rashid tinha sentimentos. Mas
eu só me iludi mais uma vez.
Em meu desespero por amor, fantasiei tudo.
— E já te disse. Ele me pediu para tomar o chá. Eu
não fiz isso. Engravidei contra a vontade dele.
— Ainda assim, ele é o pai, Suzana. Tem o direito de
saber sobre o filho. Não erre sobre isso também — ela me
encara com dor — Eu sei como é crescer sem um pai. O quanto
isso dói.
Sei que Lucy tem razão, eu acompanhei de perto sua
tristeza por não saber e nunca ter conhecido o pai dela. Mas
tenho medo de como Rashid iria reagir ao filho que ele não
planejou.
Ele não é qualquer homem. É um príncipe.
— Eu vou pensar, Lucy. Prometo que vou pensar.

Aeroporto de Connecticut, EUA

Três semanas depois


Após três dias me remoendo entre o certo, o errado e
meus medos, cheguei à conclusão que Lucy tinha razão. Não
importava como Rashid iria reagir ao saber do nosso filho, ele
tinha o direito de saber que será pai.
Assim, com a ajuda de minha amiga, que mexeu os
pauzinhos através de sua agência de viagem, um serviço que
não me saiu barato, consegui mais uma licença para visitar
Sahra por cinco dias.
Volto para o mesmo hotel. Descubro pela recepcionista
que gerente está ausente por assuntos familiares, mas há outro
no lugar dele.
Como eu só queria conferir se ele havia entregado a
minha carta a Rashid, deixo para lá.
— Aqui está as suas chaves Srta. Weston. Pedimos
que tenha atenção ao andar pela cidade, principalmente a noite
— com os cartões, ela também me entrega um panfleto —
Esses pontos estão indicados com zona vermelha. Evite ir lá
sem um guia.
A minha viagem não era novamente de turismo. Só
quero falar com Rashid.
Depois de deixar as minhas coisas no quarto e enviar
uma mensagem para Lucy, avisando que cheguei bem d tomar
um banho, eu me arrumo para a minha missão.
Dessa vez uso o hijab e tento ficar o mais próximo às
mulheres nativas.
No portão não são os mesmos homens que me
expulsaram da última vez, o que também não me favorecia em
nada. Todos devem ser treinados iguais.
— Que a paz esteja com você — digo a um dos
guardas na língua dele.
O cumprimento respeitoso exige que ele retribua e isso
meio que já quebra parte da tensão.
— Com licença, senhor — sigo a dizer na sua língua.
Eu treinei por dias o discurso que precisava fazer.
— Preciso ver e falar com Jalal. Ele é segurança do
príncipe Rashid bin Shalaan bin Shahir Al Awad.
O homem me encara com desconfiança, mas comigo
falando sua língua nativa, dessa vez ele é menos rude que o
anterior.
— Veja! — Eu me movo para abrir a minha bolsa e ele
aponta sua arma para o meu rosto — Tenho uma foto dele.
Mostro a foto que imprimi. Era para ser uma lembrança
minha no deserto. Rashid tirou para mim e só depois vendo a
galeria de fotos que vi que em algumas delas, Jalal aparecia,
essa inclusive, ele estava sorrindo, o que era extremamente
raro.
O homem analisa a foto e embora Rashid não apareça
nela, reconhecem Jalal.
Eles conversam o que não consigo entender.
Infelizmente o pouco tempo que tive para aprender o idioma, só
foi suficiente para o meu discurso, com intenção de convencê-
los a me deixar entrar ou chamarem Jalal.
Um dos homens falam em uma espécie de rádio e
após alguns minutos angustiantes, o grande e pesado portão
começa a abrir.
Sou conduzida pelo longo caminho de pedra. O
palácio magnífico vai se agigantando conforme eu me aproximo
e eu fico embasbacada em como ele é bonito. Com suas torres
de cúpulas redondas e arquitetura milenar, ele parece saído de
um conto de fadas.
Chegamos em um grande pátio e eles fazem um sinal
para que eu parasse.
— Suzana?
Como o fantasma de sempre, Jalal surge de onde não
vi se aproximar.
— Jalal — sorrio, aliviada por encontrá-lo — Eu
preciso falar com Rashid.
Ele não retribui o meu sorriso. Sinto que está
aborrecido comigo.
— Nunca imaginamos que você iria voltar.
Ele não imaginou ou não queria que eu voltasse?
— Eu tenho que falar com Rashid. Por favor, Jalal, me
leve até ele.
Assisto-o meditar. Acho que deve estar em dúvida
entre cumprir sua obrigação como segurança do príncipe ou
seu dever como amigo.
— Venha comigo.
Sou conduzida para dentro. Saber que vou rever
Rashid depois de tanto tempo e saudade, me faz levar a mão
ao ventre, onde nosso filho cada dia mais, cresce mais forte.
Jalal acompanha o meu movimento com o olhar e me
analisa intrigado. Eu tiro rapidamente a mão da barriga e torço-
as uma na outra. Não quero que ele descubra e diga algo a
Rashid antes de mim.
Chegamos ao hall que tem um gigantesco lustre
pendendo do teto. Eu nunca me vi pisando em um lugar como
esse e fico um pouco apreensiva.
— Fique aqui — diz Jalal — Não vá a lugar algum ou
fale com alguém antes que eu volte.
— Tudo bem.
Ele indica um elegante sofá de espera, mas eu ignoro.
Os minutos se arrastam me deixando mais nervosa.
Então eu vejo um movimento de guardas vindo da
escada e para minha alegria e surpresa, Rashid surge. E é mais
forte que vá até ele.
— Habibi! — O meu chamado carinhoso desvia a
atenção dele da conversa que estava tendo no telefone.
Seu olhar para mim era como se me visse, mas não
identificasse quem eu era.
Não poderia ser as roupas.
— Sou eu, habibi, Suzana — os guardas se colocam
hostis quando tento me aproximar dele.
— Suzana? — Ele repete como se testasse o meu
nome pela primeira vez — E o que deseja Suzana? Por que
acha que pode se dirigir a mim assim?
— Eu... — os meus lábios estão secos e eu estou
muito nervosa — Podemos falar à sós?
— Não. Não podemos. Agora saia do meu caminho.
Por que ele estava agindo assim tão friamente?
Tudo bem, que visse o que vivemos apenas como uma
aventura romântica, mas não precisava ser tão frio comigo.
— Sei que está passando por muitas coisas.
Enfrentando muitos problemas. E eu entendo.
Respiro fundo. A hora da verdade tinha chegado.
— Mas preciso te contar e não vou embora sem fazer
isso. Eu estou grávida — ignorando que seus homens poderiam
estourar os meus miolos com suas armas a qualquer momento,
encho-me de coragem e pego a mão dele.
E entre risos e lágrimas, levo-a ao meu ventre.
— O nosso bebê.
Os homens me olham estranho e Rashid puxa a mão
como se o meu toque o queimasse.
Ele sorri, mas não é como um dos sorrisos que ele
sempre me dava, bonito e cheio de calor. Há frieza nesse gesto
como também em seu olhar.
— Sei que não esperava e que é assustador...
Ele segura firme os meus ombros e diz algo aos seus
guardas, que riem.
— Tirem-na aqui. Eu nunca vi essa golpista antes.
— Rashid? — balbucio, chocada e incrédula que ele
estivesse me dizendo isso.
— Achou que o quê? Que vindo até aqui eu a tomaria
como esposa? — Ele me afasta com brusquidão — Nunca que
uma puta americana como você seria digna de se tornar rainha.
Rainha? Eu nunca havia dito isso. Eu só queria que,
ao menos, ele quisesse participar da vida do filho.
— Por favor...
Tento me aproximar dele, mas Rashid puxa o braço
com tanta violência, que me faz cair no chão. Eu nunca me
senti tão humilhada em toda a minha vida. Nem mesmo quando
a amante de Willian surgiu no enterro, apresentando a filha
deles.
— Pelo bebê que diz carregar. Vou ser misericordioso
com você e deixá-la ir embora. Agora saia daqui! Volte ao seu
país e nunca mais volte pisar em Sahra. Se eu a vir novamente,
que seja na rua — ele se agacha e segura meu queixo com
brutalidade — Vai direto para cadeia.
O meu corpo está trêmulo, mas o que me mantém
largada no chão, chorando, é meu coração ficando
espedaçado.
Levo a minha mão a barriga.
Rashid não me ama.
Ele nunca sentiu nada por mim e rejeitava o nosso
filho.
Eu acreditei numa fantasia tola e agora estava
pagando por ela.
Um dos guardas me obriga a sair do chão e me leva
para fora do castelo.
Quando chegamos aos portões ele me arremessa a
um dos soldados fazendo vigia.
— Se ela entrar novamente — ele avisa de forma que
eu conseguisse entender — Vocês vão pagar com a vida.
O soldado que me deixou entrar me encara com ódio.
Ele diz algo em seu idioma, que me faz ter certeza de que está
me xingando. Depois, novamente sou arremessada contra o
chão, dessa vez na calçada.
— Vá!
As pessoas passam e me encaram com curiosidade,
mas ninguém tem coragem de enfrentar o guarda real.
Com as minhas mãos e joelhos machucados, pego a
minha bolsa e me levanto do chão.
A vergonha só não é maior que a dor virando ferida em
meu coração.
Por mais que me ferisse, eu conseguiria lidar com a
tristeza de Rashid não me querer mais como mulher, mas negar
o seu próprio filho e nem me deixar explicar como as coisas
haviam acontecido.
Quando retorno para casa, Lucy me esperava no
aeroporto.
— Ele negou o filho dele, Lucy — desabo, chorando,
caindo em seus braços acolhedores — Aquele não era o
Rashid. Não era o homem por quem eu me apaixonei.
Não. Eu nunca seria capaz de perdoá-lo por isso.
Agora seria apenas eu e meu bebê.
Sozinhos.
Mas eu daria a ele todo amor que o pai dele negava.
CAPÍTULO 28

Connecticut, EUA
Quatro meses depois

Nas semanas e meses seguintes após eu retornar de


Sahra, dediquei-me completamente ao meu trabalho e a
planejar e colocar em prática as coisas para a chegada do
bebê.
Assim, eu tinha a minha casa cheia de caixas, quadros
e esculturas espalhadas por todos os lados.
— E aqui, podemos ouvir... — a médica gira o
equipamento pelo meu ventre, cada vez mais redondo — Um
coração saudável e forte, batendo. Não quer mesmo saber o
sexo, Suzana?
— Não, doutora.
Já me emocionava o suficiente ver o meu bebê na tela
e saber que ele ou ela está bem.
— Mas deveria me deixar saber — reclama Lucy, que
veio outra vez a consulta comigo.
— Claro que, não. Você não consegue guardar
segredo, Lucy.
— Esse eu guardaria — ela diz manhosa, mas eu não
caio em sua cara de coitadinha.
Depois de dar o exame por encerrado, a doutora limpa
o gel da minha barriga e desliga o equipamento.
Eu me sento na maca, suspirando. Poderia ficar o dia
inteiro assistindo o meu bebê.
— Está tudo certo com seu peso Suzana. Os exames
também indicam que está tendo uma gestão muito saudável.
Continue seguindo tudo o que eu disse. Você trocou as tintas
que usava, não é?
— Sim. Desde a primeira consulta doutora.
Muito bem. Então dentro de dois meses e três
semanas, aproximadamente trinta e seis o seu bebê estará
entre nós.
— Ah, quero te entregar o convite — Tiro o envelope
da bolsa — Minha agente gostou tantos das minhas criações
novas, que agendou essa exposição no próximo fim de
semana.
— E já tem quase tudo vendido — avisa Lucy, muito
mais orgulhosa dessa conquista do que eu.
— Será um prazer ir.
Saio da clínica feliz. Eu me obrigo a todos os dias
sorrir e ficar bem pelo bebê.
Evito pensar em Rashid e todo meu sentimento por ele
foi colocado para fora através de arte, em meus quadros e três
esculturas que fiz. Taylor diz que é minha melhor coleção em
todos esses anos trabalhando com ela.
Um sonho nas arábias, assim que décimos chamar a
exposição, é uma mistura de várias paisagens do deserto. Tem
telas com várias pinturas do lago, das dunas, camelos, a tenda
onde vivi os melhores dias e noites com Rashid. Uma com um
casal se amando na areia e outra de um homem árabe, mas
que não mostra muita a parte do rosto, apenas sua
contemplação para o oásis.
Uma das esculturas chamada, O homem no deserto, já
tinha traços mais reveladores. Qualquer um que conhecesse
Rashid de perto, iria reconhecê-lo. Eu proibi que fosse vendida,
mas aceitei expor junto com os quadros e as duas esculturas de
dançarinas do ventre.
— O meu Deus! — Assim que abro a porta de casa, o
desanimo em ver tanta bagunça por todos os lados me pega.
— Calma, amiga. Taylor disse que pegará os últimos
quadro hoje, não?
— Sim.
— E nós vamos pintar o quarto do bebê após sua
exposição — ela tenta circular entre as caixas fechadas e
quadros — Você só tem que parar de comprar tanta coisa pela
internet.
— Se fosse só pela internet — abro um sorriso,
culpado — Mas você sabe que tem alguma coisa nos
computadores. Se eu penso em algo para o bebê, elas
aparecem na tela. Então é difícil resistir a tanta coisa linda.
Ontem eu comprei uns sapatinhos fofos.
— Meu Deus! — Ela se joga no sofá — Essa criança
vai ser mais mimada por mim ou por você? Porque vi um
vestido no shopping e comprei.
— Lucy, não sabemos se é menina.
Eu geralmente compro coisas que sirva para os dois
sexos.
— Se não for, tem uma colega no trabalho que está
grávida e ao contrário de você — ela me encara os seus lindos
verdes, fuzilantes — Ela sabe que terá uma menina e já contou
para todo mundo.
Eu não quis saber mais de nenhuma informação de
Rashid, e Lucy respeitou isso. Mas às vezes pesquisava coisas
da cultura dele, pois quero que o nosso bebê tenha contato,
embora ele nunca vá saber que seu pai é o príncipe de Sahra, o
primeiro filho é esperado que seja homem, e isso é muito
importante.
Não quis colocar essa pressão na criança, sem ela
nem ter nascido ainda.
Seja o que for, vou amá-la igual.
— Comida italiana? — Indaga Lucy, olhando no
aplicativo.
— O que desejar, Lucy. Eu só preciso de um banho.
É a minha parte preferida do dia porque posso parar
em frente ao espelho e ficar muito tempo observando como a
minha barriga fica cada vez maior.
E é uma pena que Rashid não esteja acompanhando
nada, penso com tristeza.
A dor no peito me faz lembrar que jurei não ficar
pensando nele.
— Somos só nós dois, bebê.

O dia da exposição

— Suzana você está linda — Lucy coloca-se atrás de


mim e segura o meu ombro — Vermelho sempre a deixa muito
sexy.
Lembro que usava um vestido vermelho quando
conheci Rashid.
— Não quero parecer sexy — eu me afasto de frente o
espelho — Apenas vender os quadros que faltam. Talvez seja
melhor eu me trocar.
— Nem, pensar. Você está linda. Além disso, já
estamos no horário. Taylor já ligou duas vezes enquanto estava
no banho. Aquela mulher é uma desalmada.
Não é verdade. Ela só está muito empolgada com a
exposição. Terá outros olheiros, imprensa e pessoas muito
importantes na lista de convidados.
Eu não ligava para nada disso, mas fazia parte do
trabalho, que não posso dispensar. Estou bem economicamente
para os próximos cinco anos, mas crianças geram gastos. Logo
viria a escola e quando eu piscasse os olhos, o meu filho
estaria fazendo planos para a faculdade.
Eu não pensava em me casar novamente e nem ter
outros bebês. Mesmo que eu não tenha significado nada para
Rashid, ele significou tudo para mim. Nenhum outro homem
chegaria tão perto do que ele me fez sentir.
— Ei, por que essa cara triste? Estava pensando nele?
— Por um momento Lucy. Mas hoje é um dia para
ficarmos felizes. A médica até me deixou tomar uma taça de
champanhe para comemorar.
— Tem razão. É sua noite de brilhar. E vou beber tudo
por você.
— Nem pense ficar bêbada que eu nem consigo me
carregar.
— Talvez eu conheça algum convidado bonitão.
Eu esperava que sim. Depois que terminou seu
relacionamento complicado. Lucy vinha fugindo dos homens.
Ela pensar, nem que seja por brincadeira, em abrir o coração
novamente, me deixa feliz.

Duas horas depois, na galeria

Já sorri, conversei com pessoas, e pousei para fotos


de revistas, mais do que eu conseguia. Agora não vejo a hora
de Taylor me dispensar para ir embora. Mas de acordo com ela,
a festa está no auge.
— Suzana! Você não vai acreditar nisso — Taylor me
encontra na mesa de frutas, colhendo algumas uvas — Temos
um convidado muito especial. Não um convidado exatamente. A
equipe dele praticamente exigiu que o deixássemos entrar. É
claro que eu jamais poderia dizer não. Quem se atreveria a
isso?
A empolgação dela me deixa um pouco tonta e
divertida. Mas o meu sorriso morre completamente quando olho
em direção a entrada e vejo logo após Jalal e mais alguns
homens, surgir Rashid.
Nenhum deles usam as vestimentas típicas de Sahra.
Todos estão de terno e o de Rashid é branco, destacando dos
pretos dos seus seguranças.
— Não — balbucio no momento que o olhar intenso
dele caí em mim.
Levo a minha mão ao ventre e Rashid acompanha
meu gesto.
O que ele está fazendo aqui?
Por que veio?
Eu ajo sem pensar, deixando as uvas caírem no chão,
indo para uma porta que dá para os fundos da galeria.
— Ei, Suzana? — Escuto Taylor me chamar, mas não
diminuo os meus passos — Aonde você vai?
Praticamente corro até o estacionamento.
— Droga!
Vim com a Lucy e as chaves do carro estão com ela.
Atordoada, continuo andando entre os automóveis.
— Suzana!
Escuto a voz de Rashid e por mais que queira, não
olho para trás. Continuo a correr.
Finalmente chego a rua e praticamente salto em frente
ao primeiro carro de taxi que vejo vazio.
— Cuidado, moça. Eu poderia ter atropelado você.
— Me tira daqui, por favor.
Assim que o homem faz o motor funcionar outra vez,
vejo Rashid alcançar a rua. Pela iluminação vejo seu rosto de
expressão muito dura, acompanhar eu me afastar.
Quando o carro se mistura ao trânsito, respiro aliviada.
CAPÍTULO 29

Fils, Sahra
Cinco meses antes

Ela foi embora.


Nenhum telefone, e-mail, que fosse uma carta em
despedida. Suzana apenas desapareceu, como se ela não
tivesse sido um mero devaneio da minha cabeça.
Nas noites seguintes a sua viagem de volta aos
Estados Unidos, enquanto dividia o meu tempo em ficar com o
meu pai no hospital, se recuperando do infarto e lidar com as
merdas que Hamed havia feito, e ele mesmo, amargava horas
pensando se realmente as noites que tivemos no deserto, não
havia sido fruto da minha cabeça.
— Qual o seu problema filho? — O meu pai, segura a
minha mão, apesar de ele estar fraco, ainda é firme — Hamed
jurou que vai começar a recuar as tropas. Dessa vez seu irmão
está dizendo a verdade.
Eu não sei se posso confiar em Hamed mais uma vez.
Talvez quase perdermos o nosso pai tivesse feito-o ver o
quanto estava agindo errado. Sei que os dois conseguiram
finalmente conversar e acertar o passado. Mas ainda tenho os
dois pés atrás com o meu irmão.
— Então? Qual é o motivo da sua angústia? É uma
mulher?
— Como você sabe?
— Eu sempre sei de tudo.
— Jalal...
— Não foi ele dessa vez. Além disso, eu conheço bem
essa expressão de homem atormentado por uma mulher. A sua
mãe me deu trabalho. Nem mesmo por Layla, no casamento
dela, eu o vi assim.
— Com Layla foi mais ego ferido, hoje consigo
enxergar isso. Suzana é diferente.
— E por que não vai atrás dela?
— É complicado.
— O amor sempre é.
— Ela é estrangeira papai. Americana.
— Seu avô também se casou com uma. Sabe que não
precisa se casar com uma sahrariana, não é? Se fosse o sheik,
seria mais complicado.
— Ela é viúva.
— Significa que sabe como ser uma boa esposa. Sua
mãe também era, sabia?
— O quê.
— Não chegaram a consumar o casamento. O marido
morreu antes. Ela era meio que proibida para mim, porque a
noiva perder o marido no casamento, não é bom sinal. O que o
prende aqui, filho?
— Não posso correr o risco e deixar Hamed sozinho
de novo.
— Outra vez se sacrificando por seu irmão.
— Por Sahra, pai. Se Suzana sente alguma coisa por
mim, ela vai me esperar.
— Cuidado, filho, dizem que amor suporta tudo, mas
isso não é verdade. Ainda mais ao tempo longe de quem o
alimenta.
Então isso seria mais uma prova que os nossos
destinos nunca estiveram ligados.

Fils, Sahra, um mês depois

Tenho que reconhecer que Hamed está cumprindo à


risca sua promessa de recuar e estabelecer a paz entre Sahra e
povo do deserto. Mas ele fez tanta merda e irritou tanta gente,
que a confiança nele está na lama.
— Eu disse a você. São uns selvagens.
— Tem que ter paciência, Hamed. Você provocou tudo
isso.
Nós sempre brigamos. Com a diferença é que agora o
meu irmão me permite estar em suas reuniões e mesmo que
não goste admitir, começa a ouvir os meus conselhos.
— Vou falar com Baghdadi — ele me diz fazendo sinal
para que seu secretário se aproximasse — Ele garantiu que
foram avistadas novas tropas de rebeldes vindo a capital.
Enquanto o homem faz a ligação, vejo Jalal ser
chamado por um dos guardas. Ele olha para mim enquanto
ouve. Hamed chama a minha atenção para algo e quando volta
a olhar para porta, o meu amigo já não está.
Diabos de homem que desaparecia como mágica.
A conversa continua tensa. Hamed avisa ter um
compromisso fora do castelo e eu continuo a discutir com o
comandante do exército, que sugere atacar os novos rebeldes
se aproximando de Fils.
— Rashid — Jalal me puxa para um canto, o
comandante tenta impedir, mas antes que meu amigo parta
para cima dele, apaziguo as coisas.
O clima anda cada vez mais tenso.
— Ela está aqui.
Jalal não precisa me dizer um nome. Sei de quem ele
está falando.
— Onde está? — Seguro o seu braço com força —
Onde ela está, Jalal? Por que não a trouxe a mim?
— Com Hamed aqui? Sério?
— Ainda não confia nele?
— Você confia?
Não posso responder isso ainda.
— Traga-a a mim — ordeno — Não. Me leve até ela.
Cruzamos o palácio até chegarmos ao grande hall
onde Jalal disse que a havia deixado.
— Onde ela está? — Agarro a roupa dele — Onde
está a Suzana?
— Eu pedi que esperasse aqui.
— Porra, Jalal. Procure em cada canto desse palácio.
Infelizmente, gastamos tempo demais procurando em
todos os cômodos do palácio que não pensei no mais obvio,
Suzana ter seguido para o aeroporto.
— Eu acho que ela... — início assim que vejo Jalal
surgir.
— Temos um problema.
— Rashid! — Hamed surge de outra direção — Você é
um dissimulado.
Um estrondo que faz as paredes milenares tremerem,
leva nós três a olharmos para fora.
Uma fumaça densa cobre tudo.
— O que está acontecendo? — O meu irmão
pergunta.
— Baghdadi estava certo — assume Jalal — Um novo
grupo de rebeldes invadiu a cidade e estão vindo para cá.
Precisamos tirar os dois daqui.
— A Suzana.
Ela escapou entre os meus dedos mais uma vez.
— Chequei e foi dada nova entrada no aeroporto —
diz Jalal — Agora o mais importante é manter os dois vivos. O
pai de vocês já está sendo removido. Ficarem aqui não é mais
seguro.
Uma nova explosão nos faz sair do lugar e seguir Jalal
e seus homens.

Hospital de Fils, um mês depois

Quando desperto, sinto como se um bombardeio


estivesse acontecendo em minha cabeça.
— Filho! Graças a Deus que você acordou.
— Pai?
Viro em direção a voz e vejo o meu pai na cadeira de
rodas. A minha mente fica um pouco mais confusa.
Quero me levantar, mas tanto o meu pai como Jalal
não permitem.
— Tenha, calma, Vossa Alteza. Nós não o perdemos
por pouco.
— Você quis dizer, Excelência, Jalal.
Percebo o olhar que ele e meu pai trocam e não gosto
disso.
— Ainda precisa ter uma cerimonia oficial, mas Jalal
tem razão, meu filho. Você é o emir agora.
— O quê? — Mesmo com os protestos e a dor
lancinante em minha cabeça, me sento na cama — O que estão
dizendo? Não! Hamed é o emir de Sahra.
O meu pai engole um soluço antes de segurar a minha
mão e me encarar com dor.
— Seu irmão está morto, meu filho.
— Morto? — Nego-me a acreditar — Jalal, o que
aconteceu?
— Do que você se lembra antes do ataque?
— Ataque?
Forço a minha mente a voltar ao passado.
— Quanto tempo estou aqui?
— Um mês.
Isso não é possível.
— O que se lembra, Rashid? — Dessa vez é o meu
pai a perguntar.
— Estava em reunião com Hamed. Jalal me chamou.
Suzana. Ele tinha voltado a Sahra.
— O prédio foi cercado pelos rebeldes — explica Jalal
— Eles queriam Hamed. Você saiu na frente para desviar a
atenção dos rebeldes e assim o emir pudesse sair, sem que
fosse visto.
— E Hamed?
—Atacaram o carro quando um outro grupo
inesperado de rebeldes surgiu. Eles atacaram fortemente o
palácio. Tomaram a nossa guarda. Consegui te tirar do seu
carro capotado e trazê-lo ao hospital com vida, mas o que
Hamed estava e alguns de seus homens pegou fogo. Não
conseguimos ao menos recuperar parte do corpo deles.
Meu senhor.
É muita coisa para eu conseguir assimilar,
principalmente a dor pela partida do meu irmão. Não fomos os
melhores amigos do mundo e nem estávamos dando bem nos
últimos tempos, mas eu tinha fé que Hamed voltaria a ser uma
boa pessoa. Ele era a minha outra metade. Dividimos o mesmo
ventre.
— Faz um mês que isso tudo aconteceu? — Indago,
fracamente.
— Sim. Seu ferimento foi grave na cabeça e nem
sabíamos se iria acordar, filho.
Com isso já faz três meses que estou longe de
Suzana.
Ela ainda se lembraria de mim?
Estaria acompanhando as notícias sobre Sahra?
Já havia me esquecido?
— O que acontece agora?
— Assim que sair do hospital e estiver bem — avisa o
meu pai — Haverá a cerimonia oficial para coroá-lo.
— O seu pai segurou as pontas enquanto você esteve
aqui — Jalal coloca a mão no meu ombro — Mas Sahra precisa
de você. O povo precisa. Tem que consertar a bagunça que
Hamed fez.
Eu nunca desejei ocupar o lugar de Hamed como ele
pensava. Mas o país precisava de mim agora.

Fils, Sahra.
Duas semanas antes da exposição

Quando Layla pediu uma audiência para falar comigo,


já tinha uma ideia do que ela queria discutir. O assunto já foi
levantado por meu pai e os pais dela, após um jantar entre as
nossas famílias.
— Você vai se casar comigo, Rashid? Como deveria
ter sido desde o início.
Por ser a viúva de meu irmão, Layla tinha esse direito.
Mas nenhum de nós dois era obrigado a cumprir essa tradição.
— Agora você me quer, Layla? Porque Hamed está
morto?
A minha pergunta direta e dura a pega de surpresa.
Não sou mais o idiota que ela pensa ter poder de manipular,
com seus sorrisos falsamente inocentes e doces.
Ela está se aproveitando do fato que moralmente por
ser a viúva do meu irmão, eu deva pedi-la em casamento. Mas
posso garantir que ela tenha uma boa vida, sem precisar dar
esse passo.
— Eu estive cega, habibi.
— Não me chame assim. Não tem mais esse direito.
— Rashid, eu disse no meu casamento que pensei
amar Hamed, mas ele me mostrou que não era como você. Ele
mal me tocava por isso nós...
— Não tiveram filhos? Mas não era por culpa de
Hamed. Você não pode ter filhos.
— Quem te disse isso? — Ela está pálida ao me
encarar.
— O meu irmão. Achava que eu a empurrei para ele,
mas no fundo foi você, não é?
— Já disse que achei que estava apaixonada — ela
chora, levando o lenço aos olhos.
— Em todo caso. Não sei se casar com você seria
uma boa ideia.
— Por que não? Sou a viúva do seu irmão. Nossas
famílias se conhecem há anos e... O meu pai é o general.
— Mas você ainda não pode ter filhos.
Isso a faz encolher, atingida.
Fui duro, eu sei. Não é motivo suficiente para recusar
Layla, principalmente se eu a amasse.
— Não me importo que tenha uma segunda esposa
para ter seus herdeiros. Desde que eu seja a primeira.
Ah, o peso da primeira esposa. Embora a segunda
esposa também deva ser tratada com respeito e ter os mesmos
direitos da primeira, entre as mulheres ser a primeira sempre
tinha um peso maior.
Eu não me via casado com Layla, com outra candidata
desconhecida, então.
Nem pensar.
— Eu não posso pensar nisso agora, Layla.
A razão é que com as coisas ficando mais calmas,
cada vez mais eu não conseguia tirar Suzana da minha cabeça.
Sua partida para os Estados Unidos, sem me dizer
nada, por duas vezes, ainda é uma ferida dentro de mim.
Pensei que o que vivemos, tivesse sido especial para ela
também.
Que quando retornou a Sahra estava disposta a
explicar sua partida sem uma despedida adequada, mas outra
vez, ela escapou pelos meus dedos como areia no deserto,
ignorando tudo o que compartilhamos.
— Sei que amava Hamed e que está tentando lidar
com o luto por ele. Mas sabe que se casar comigo é o correto a
fazer. Vou dar mais um tempo para pensar antes de voltarmos
conversar, Rashid.
Olho para Jalal que tem uma expressão indecifrável.
Layla não podia me colocar contra a parede e se ela
continuasse a insistir nisso, eu precisaria tomar medidas mais
duras.
— Você não consegue esquecê-la, não é? — Jalal
destaca assim que Layla deixa a sala.
— Eu não penso em Layla desde o casamento dela
com Hamed.
— Não é dela que eu estou falando — ele me encara
ainda mais sério do que o normal — É sobre a americana.
Ele é meu amigo. Meu irmão. Não adiantava continuar
mentindo por orgulho.
— Não — levanto-me indo até a janela — Eu não
consigo tirá-la da minha cabeça Jalal. E meu corpo sente falta
dela. É como se a minha alma não estivesse inteira.
— Então vá atrás dela.
O meu pai tinha dito a mesma coisa.
— Sabe que a situação em Sahra ainda não está
completamente estabilizada.
— Mas também não está tão ruim quanto o seu irmão
deixou. Se ela é sua alma gêmea, tem que buscá-la.
Eu sorrio de sua afirmação inflamada.
Ele também tinha aprendido a gostar de Suzana? Ou
só queria a minha felicidade?
Talvez os dois.
— E você agora acredita nisso?
— Não. Mas você acredita. Ou começou a acreditar
nisso desde que a viu.
Isso é verdade.
— Consiga o endereço dela e cuide para a minha
viagem aos Estados Unidos aconteça o mais rápido possível.
Ele apenas balança a cabeça e deixa a sala
silenciosamente.
CAPÍTULO 30

Connecticut, EUA.
Uma hora após a exposição

Eu tinha escapado por muito pouco, reflito, encostando


o meu corpo trêmulo contra a porta.
Tiro o sapato apertando os meus pés e passo a mão
na barriga.
— Calma bebê. Vai ficar tudo bem.
Eu não posso me permitir ficar tão abalada por ter
visto Rashid. Qualquer emoção minha passaria para o bebê e
isso não seria bom. Eu tenho tentado levar uma gravidez
tranquila.
Um chá. Sim, um chá, um banho e ir direto para cama
me faria bem.
Decido pelo banho primeiro. Depois de sair e me
secar, coloco uma camisola de gestante de cetim e um robe do
mesmo tecido, calço as pantufas e sigo para cozinha.
A água está na chaleira quando escuto a campainha
tocar.
Desligo o fogo, ela toca mais uma vez, outra vez e
irritantemente não para até eu ir à porta.
Pela insistência na campainha, só poderia ser Lucy.
Ela deve não ter entendido nada da minha saída sem aviso.
Além de Taylor, que deve estar furiosa comigo ao me assistir
fugir como uma louca.
Ninguém além de Lucy sabe quem é pai do meu bebê.
Então eu teria que encontrar uma explicação logo para dar a
ela.
— Eu posso explicar — aviso, abrindo a porta
rapidamente.
— É excelente ouvir isso — a voz dura e o olhar
intimidador me fazem paralisar no lugar
— Rashid?
Aproveitando-se da minha surpresa, ele entra em
minha casa sem ser convidado. Como se Rashid precisasse de
convite para entrar onde ele quisesse.
— O que está fazendo aqui, Rashid?
— Então é verdade? — Ele olha para o meu ventre
redondo, que a roupa de dormir não consegue esconder.
Como se não acreditasse no que seus próprios olhos
viam.
— Vim olhar com os meus próprios olhos o quão... —
ele parece não encontrar adjetivos em meu idioma para
provavelmente me insultar, então faz isso na língua dele.
— Eu quero que você saia!
Pensei que já havia superado tudo. Sua rejeição, a
negação em relação ao nosso bebê. O meu amor por ele. Mas
não, basta ter Rashid no mesmo ambiente que eu e meu
coração parece querer saltar do meu peito.
Então, como toda mãe onça deve agir, eu ataco,
batendo em seu peito para nos defender.
— Saia daqui!
— Fique calma — ele murmura, calmamente,
segurando os meus pulsos — Todas as emoções que tiver, irão
passar para o bebê.
— E desde quando você se importa com o meu filho?
— Nosso filho.
— Ah, seu filho? Não. É meu filho. Só meu.
A partir do momento que ele me deu as costas aquele
dia, negando tudo o que nós vivemos, esse bebê passou a ser
só meu.
— É um menino?
— Não sei. Eu não quis saber nos ultrassons. Eu
queria que meu bebê...
— Nosso bebê, Suzana — dessa vez ele é duro ao
falar isso.
— Eu queria que ele ou ela soubesse que era amado
independente do que fosse.
Rashid alivia a pressão, mas não me solta. Ele une os
meus pulsos e ergue a mão como se fosse tocar o meu ventre,
mas acaba deixando a mão pesando no ar.
— Eu posso?
Há tanta angústia no rosto dele, que mesmo querendo
apenas nutrir raiva por todos os meses de sofrimento e
abandono que ele me casou, tenho empatia.
Amando ou odiando Rashid, esse filho também é dele.
E mesmo não querendo mais nada com o seu pai, o nosso
bebê tinha direito a ter contato com ele.
Eu não respondo à pergunta dele, soltando as minhas
mãos, pego a dele, ainda parada no ar e a levo para o meu
ventre.
Seus dedos envolvem a minha barriga e Rashid fecha
os olhos, dizendo algo em sua língua nativa.
— Nós vamos nos casar.
O decreto duro e firme, me leva a afastar a mão dele e
eu coloco um pouco de distância entre nós
— O quê? Do que está falando?
— Vou corrigir esse erro. Nós vamos nos casar
imediatamente.
Encaro-o chocada e com raiva. Como ele podia me
dizer isso?
— Erro? Acha que nosso filho é um erro que precisa
ser corrigido?
Ele dá três passos decididos até mim e agarra
rudemente o meu ombro. Não sei dizer quem de nós dois está
mais furioso nesse momento.
— Agora admite que o bebê que está em seu ventre é
meu?
— Nunca fui eu que neguei.
Ele me encara como se não estivesse entendendo
nada.
— O que você queria, Suzana? Dinheiro? Fama? Que
merda você buscava comigo?
Amor. Não me sentir mais sozinha no mundo. Silenciar
o vazio que existia em meu peito. Mas Rashid havia deixado um
buraco ainda maior, que sangrava todos os dias com a
ausência dele.
— Vá embora. Eu não quero nada de você! — Odeio
mostrar fraqueza quando não consiga frear as minhas lágrimas
— Meu filho e eu não precisamos e, não queremos nada de
você. E esquece essa história ridícula de casamento.
— Ridícula — ele me encara duro — É o certo a fazer.
Sou o emir de Sahra, agora. É imoral que eu tenha um filho
bastardo. E...
— É por isso? O precioso sheik não pode deixar seu
segredinho sujo escondido do seu reino?
— Suzana. Você está sendo irracional. Assim que a
imprensa daqui souber que carrega o meu filho no ventre,
vocês dois estarão desprotegidos. Sahra está voltando ao
estado de paz, mas ainda tenho inimigos criados pelo meu
irmão morto, espalhados por aí.
Mesmo com Lucy tentando me falar alguma coisa, não
quis saber nada a respeito de Sahra e qualquer outra
informação que me fizesse lembrar de Rashid.
— O seu irmão morreu?
Droga. Eu não deveria sentir pena dele por isso.
— Como eu disse, agora sou o sheik governante. Você
pode casar comigo e voltar a Sahra, pacificamente, ou vou
tomar o meu filho de você.
— Não pode fazer isso!
Completamente cega de raiva e desespero, bato
novamente em seu peito com toda força, tantas vezes, até
perder minhas energias e cair contra o peito de Rashid.
— Não estamos em Sahra. Você não é o rei aqui nos
Estados Unidos. Nenhum juiz iria permitir isso.
— Você quer tentar, habibti?
Por algum tempo acreditei que essa palavra significava
carinho. Mas agora tem um sabor agridoce em meus lábios.
As lágrimas saltam dos meus olhos, como se
transbordasse no lindo lago de Raar-al-Mir.
— Não pode fazer isso comigo — aviso, sentindo-me
fraca — Não o quer de verdade. Você disse... disse que...
As palavras começam a desaparecer nos meus lábios
ao mesmo tempo que uma escuridão me toma, e, eu perco os
meus sentidos.
CAPÍTULO 31

Verifico os sinais vitais de Suzana e se ela está


respirando devidamente, antes de deitá-la no sofá e ir até Jalal
esperando na porta.
— Chame um médico imediatamente.
— E o que faço com a outra garota?
Eu noto que a bochecha dele está arranhada. Não é
somente Suzana que tem garras, a amiga dela que nos trouxe
aqui, contra a sua vontade, também tem.
— Leve-a ao hotel e a mantenham lá até segunda
ordem.
— Rashid você sabe que infringiu meia dúzia de leis
pelo menos, né?
— Faça o que pedi Jalal. Traga um médico logo.
Ele me olha por cima dos ombros.
— Ela está bem?
— Desmaiou de nervoso, mas quero a garantia de um
médico.
— E por que não a levamos a um hospital?
Olho com impaciência para ele, que se dá conta que
tirar Suzana do hospital seria mais difícil que da casa dela.
— Não está pensando no que estou pensando, não é?
— Se eu não tiver alternativa, sim.
— Rashid? Quer criar guerra justo com os Estados
Unidos?
— Pelo meu filho?
— Acha que é seu?
— Eu sei que é meu.
— Droga! — Ele coça sua cabeça careca, agora
evidente sem seus trajes oficiais de Sahra — Eu vou buscar um
médico e dar um jeito na garota. Ela não tem apenas garras
afiadas, sabe gritar como ninguém. Não sei como não fomos
presos pela polícia até aqui.
Deixo que ele saia resmungando. A minha atenção
volta para Suzana no sofá. Eu me aproximo dele, me sento e
coloco-a em meu colo.
Ela está comigo de novo. Os dois estavam. E dessa
vez eu não permitiria que Suzana fugisse, levando o meu filho.
Porque sei que é meu. Ela não teria ficado tão
surpresa e com medo ao me ver na galeria.
Assim que coloquei os meus olhos nela. Que a vi linda
naquele vestido vermelho e notei seu ventre redondo, eu soube
que esse bebê era meu.
Por que ela não tinha me contado?
Não foi por nenhuma das acusações que fiz. Se
Suzana só almejasse fama e meu dinheiro, já teria usado a
gravidez contra mim.
Eu tinha que fazê-la se casar comigo.
E eu faria tudo o que fosse preciso.
CAPÍTULO 32

Eu sabia que alguma coisa estava errada antes


mesmo de abrir os meus olhos. O medo faz o meu coração
bater mais forte, mas eu me recuso a voltar a realidade.
Tinha sido um pesadelo!
Rashid não esteve na galeria. Ele não veio ao
apartamento me confrontar sobre a gravidez. E nem me
intimado a me casar com ele. Porque tudo isso era um absurdo.
Portanto um terrível pesadelo.
— Eu sei que já está acordada, habibti — ouvir a voz
dele e a forma carinhosa que me chama, ao mesmo tempo que
alegra o meu coração idiota, me causa raiva.
— Não me chame assim — finalmente abro os olhos e
me sento na cama — Não tem mais esse direito Rashid.
Ele está ao meu lado, sentado em uma poltrona que
não é grande o suficiente para ele, mas ainda assim o
acomoda. Parece que até os objetos se curvar a ele.
— Do que devo chamar minha futura esposa, então?
— Sra. Weston. E eu não vou ser a sua esposa. Saia
da minha...
A minha voz começa a morrer quando percebo que
não estou em meu quarto e que o ambiente tem um leve
movimento, indicando que também não estamos em um quarto
de hotel ou qualquer lugar que Rashid tenha escolhido para se
hospedar em meu país.
— Onde eu estou? — Pergunto, alarmada.
Quero me levantar da cama, mas Rashid me mantém
no lugar.
— Calme. O médico disse que você precisa se manter
tranquila.
— Médico? Que médico? A minha médica é a Dra.
Banks.
— Um que pedi para trazer quando você desmaiou.
— Ordenou que um estranho me tocasse?
Tudo bem. Talvez eu estivesse fazendo uma
tempestade em um copo d`água e devesse estar agradecida
por Rashid ter se preocupado comigo e nosso filho.
Não! Meu filho. Ele tinha perdido o direito ao bebê
quando me abandonou sozinha e grávida dele.
— Eu não deixei que um estranho tocasse em você —
ele diz isso de uma forma tão dura e intensa, que quando se
ergue vindo até mim na cama, fico paralisada, olhando-o — Eu
nunca deixaria que outro tocasse em você. Ele apenas a
examinou.
Quando seus dedos firmes, mas gentis, tocam o meu
rosto, segurando o meu queixo, meu coração dá um pulo no
peito.
Droga! Por que esse homem continua tendo esse
poder sobre mim?
Eu deveria odiar o Rashid.
Eu odeio.
— Você me sequestrou. Isso é crime!
— Não posso roubar o que é meu, Suzana.
— Eu não sou sua!
— Mas o nosso filho é, então. E enquanto ele estiver
dentro de você, os dois me pertencem.
— Em que século você acha que vive, Rashid?
Ele não responde a minha pergunta. Em vez disso faz
um escrutínio pelo meu rosto. Como se fotografasse com os
olhos cada detalhe.
— Você disse que eu tinha uma escolha.
— Ainda tem e nenhuma delas me levará para longe
do meu filho. Quanto mais cedo aceitar isso é melhor.
Ele me solta e se afasta, indo em direção a porta.
— Estamos em avião, não é mesmo? Para onde está
me levando, Rashid?
— Sahra. Para casa.
— Sahra não é a minha casa. Connecticut é. Me leva
de volta.
Ele não responde, se quer se vira ao abrir a porta.
— A Lucy vai me procurar. Ela vai denunciar você. O
meu país vai me resgatar...
— Lucy está indo para Sahra também.
— É mentira. Lucy jamais aceitaria isso.
A menos que Rashid a obrigasse. E só havia um jeito
de minha amiga concordar em fazer parte do plano sujo dele.
Temer por minha vida ou que me tirassem o bebê como Rashid
prometeu. A Lucy sabe do meu imenso desejo de ser mãe e
que perder meu filho seria a minha morte.
As lágrimas descem pesadas pelo meu rosto quando
vejo Rashid sair e fechar a porta.
Eu o odiava mais do que nunca.
CAPÍTULO 33

Eu não queria ter que partir para ações tão extremas,


como levá-la a força comigo, mas Suzana não estava me dando
alternativas. Ela não conseguia entender que termos um filho
era uma ligação para o resto da vida. Mais forte que qualquer
sentimento que ainda pudéssemos ter pelo outro.
E eu tenho muitos por ela.
O meu corpo ainda a quer como se fosse a primeira
vez. Vê-la grávida, sabendo que minha semente cresce nela, só
fez esse desejo aumentar ainda mais. Eu nunca a vi tão linda
quanto agora.
Mas apesar da atracão, inegável, também estou muito
furioso com ela.
Como pôde ter escondido o meu filho de mim?
Ela mentiu duas vezes. Primeiro não tomando o chá e
nem falando sobre isso, depois ao esconder o nosso bebê.
— Por que ela fez isso, Jalal? Por que não me falou
sobre o meu filho?
— Talvez tenha ficado com medo.
Olho para ele, desacreditado.
— O que fiz para causar esse medo nela?
Tratei Suzana como uma rainha. A minha rainha.
Desde o dia que nos conhecemos. Em um primeiro momento só
a vi como uma amante, que eu usasse e pudesse descartar,
mas ela foi me envolvendo de tal maneira, que me vi enfeitiçado
o suficiente para desejá-la comigo para sempre.
Quando a deixei no hotel o plano era cuidar da
documentação dela, como também pedi-la em casamento. E se
eu fosse cumprir o pedido de Hamed, renunciando meus
direitos reais, até mesmo estava disposto a recomeçar minha
vida nos Estados Unidos com Suzana.
Mas o infarto de meu pai e tudo o que veio depois,
jogaram esses planos pela janela. Hamed morreu e agora sou
emir de Sahra.
— Não o que você tinha feito, mas quem você é e o
que poderia fazer.
Ele me entrega o copo com whisky e dessa vez eu
aceito, preciso da bebida para ver se me acalma um pouco. O
meu desejo é voltar ao quarto e com os meus beijos e carícias,
fazer com que Suzana se derretesse em meus braços até
provar como quanto ela esteve errada em tentar me manter
longe.
— Você era o príncipe de Sahra. Irmão do emir, e um
dos homens mais poderosos do mundo. Talvez ela tivesse
medo de que tirasse o filho dela. E, no final das contas, é isso
que disse a ela, não é?
Droga. Largo o copo na mesinha sem ao menos tocá-
lo. Jalal está certo, sequestrando Suzana e amiga dela, porque
foi exatamente isso que fiz, só confirmava as desconfianças
dela e seus medos.
— Eu não vou continuar longe do meu filho. O que
queria que fizesse Jalal?
Não tenho intenção alguma de tirar o bebê de Suzana,
mesmo que ela não se case comigo, mas também não posso
ficar longe deles.
— Se fosse meu filho e a mulher que eu amasse?
Teria me casado com ela ali mesmo nos Estados Unidos.
É irritante quando ele consegue ser mais sábio do que
eu. Normalmente tenho frieza e sabedoria para tomar decisões
importantes, mas quando se tratava de Suzana. Bam! A razão
deixava de existir.
Essa mulher me deixa maluco.
— Para alguém que não acredita no amor. Você anda
bastante filosófico, não?
Sua cara marrenta não me assusta, pelo contrário, me
faz rir.
— E amiga dela?
— Graças a Alá está no outro avião.
— E ela fincou as garras em você de novo?
— Apenas fui pego desprevenido.
— Jalal. Eu já o vi enfrentar mais de dez homens ao
mesmo tempo — toco o ombro dele com humor em meus olhos
— Nenhum te pegou desprevenido.
Minha provocação vai manter meu amigo carrancudo,
possivelmente o resto da viajem. É bom que eu não seja o
único carrancudo aqui.
Eu tenho muito o que pensar.
Como fazer Suzana se casar comigo e transformar seu
ódio e medo por mim, em amor?
O deserto.
— Mudanças de planos Jalal — murmuro enquanto
observo as nuvens através da janela.
Talvez relembrar o que vivemos, a traga de novo para
os meus braços.
CAPÍTULO 34

Eu tinha um plano.
Conseguir encontrar Lucy e fugirmos de Sahra, assim
que possível. Mas Rashid tinha jogado sujo outra vez ao me
trazer para o deserto, onde lembranças maravilhosas nos
cercavam.
Provavelmente foi aqui, no dia que dancei para ele em
frente a fogueira e que nos amamos na areia, que nosso filho
havia sido concebido. Voltar ao oásis mexe comigo de tal
maneira que gasto muita energia tentando ignorar Rashid.
Eu o odeio. Mas não posso negar que ainda me sinto
atraída por ele.
Desejo sexual. É o que venho convencendo a mim
mesma. Não pode ser nada além disso. E meus hormônios da
gravidez também são culpados.
Porque toda vez que vejo-a entrar na tenda, como
agora, e, tirar o keffiyeh e a gahfiya, revelando seus cabelos
escuros, arrancar a túnica, mantendo apenas o cirwal, cobrindo
seu corpo musculoso, o meu sangue começa a correr mais
rápido em minhas veias.
As memórias de nós dois aqui, nos amando
intensamente, pioram as reações do meu corpo e isso é um
ponto para Rashid nessa guerra entre nós.
— Gosta do que vê, habibti?
Já desisti de pedir para ele parar de me chamar assim.
Me lembrava o Rashid que eu me apaixonei, quando preciso
me concentrar naquele que com olhos frios, me expulsou do
palácio ao saber sobre o nosso bebê.
— Sabe que pode tocar quando quiser — ele passa a
mão no peito suado e vem até mim, como uma pantera
analisando a sua presa.
Ridículo. Esse joguinho bobo de sedução não daria
certo.
— Eu sou todo seu, Suzana. Sempre serei.
As suas mãos pegam as minhas que estão trêmulas e
as levam para o seu peito.
— É só pedir.
Engulo em seco.
Nunca!
Jamais vou tocá-lo e permitir que me toque de novo.
Os meus dedos estão no peito de Rashid e eu consigo
sentir seu coração batendo forte. Ele também está envolvido e
isso não é algo que se finge.
— Rashid... — o seu nome escapa por entre os meus
lábios um segundo antes dele segurar possessivamente o meu
rosto e tomar minha boca.
O nosso primeiro beijo depois de meses dolorosos de
separação. E eu sinto um mundo de sentimentos explodir
dentro de mim.
É como se eu voltasse a respirar com esse beijo. Que
voltasse a viver. Porque sem Rashid eu apenas sobrevivi, me
arrastando pela vida.
Eu nunca deixei de amá-lo, apenas tentei manter
adormecido esse sentimento. E com esse beijo tudo fica claro
para mim.
A gente não escolhe quem vai amar e quão grande
será esse sentimento.
— Suzana — ele interrompe o beijo para que eu possa
respirar, mas sua boca continua pelo meu rosto, pescoço.
Ele começa a retirar a minha roupa e quando me vê
apenas de calcinha, exibindo a minha barriga imensa, a
intensidade que sempre vi em seu olhar, multiplica.
— Você está linda, Suzana.
Ele toca o meu ventre com carinho e isso me
desmonta.
Eu não fui o tipo de gestante que se preocupava com
as mudanças do corpo, porque o único homem que já pensei
agradar era Rashid, então ele me dizer isso nesse momento,
me faz sentir plena com as mudanças que a gravidez faz em
mim.
Depois de me olhar com devoção, Rashid volta a me
puxar para os seus braços e me beija. Ele me faz esquecer dos
motivos que preciso ficar longe dele.
Como também preciso tocá-lo, passo timidamente a
minha mão por seu peito largo, escorrego-o pelo seu abdômen
e enfio os meus dedos dentro do cirwal, encontrando seu pau
inchado.
— Oh, Suzana! — Ele sussurra esse gemido em meus
lábios e estremece com meu toque.
Eu podia ser completamente vulnerável a atracão por
Rashid, mas com ele não é diferente. Ele está em angústia
tanto quanto estou.
Envolvo o seu pau com meus dedos e vou movendo-
os lentamente, sinto-o engrossar ainda mais em minha mão e
os estremecimentos de Rashid.
Eu o torturo assim como ele está fazendo comigo, até
ele tomar o controle de volta e me pegar no colo para me deitar
na cama.
Ele começa a deslizar a calcinha pelas minhas pernas
de uma maneira muito sensual e que me impede de desgrudar
o olhar de seu rosto lindo e tensionado pelo desejo.
Rashid tem a ousadia de levar a lingerie ao nariz e
inalar o meu cheiro como se fosse seu perfume preferido.
O gesto me faz estremecer.
Depois fica de joelhos em frente a cama e agarra os
meus tornozelos, separando as minhas pernas. Primeiro ele
passa suave e sensualmente as mãos por minhas coxas. Seus
lábios e nariz percorrem em minha pele o mesmo caminho que
elas fizeram.
Nesse ponto já estou completamente envolvida e
absorvida por ele.
Então sua boca cobre a minha boceta e as suas
lambidas e chupadas me fazem gemer alto. Busco o lençol para
ter algo em que meus dedos pudessem agarrar.
— Rashid — pranteio seu nome, em desespero
enquanto ele continua a me torturar de prazer — Ah...
Ele me faz ferver. Sentir a febre queimando minha
pele. Convulsionar e explodir em um orgasmo em sua boca.
Seu corpo cobre o meu. Ele me beija de um jeito feroz
e eu retribuo como se a minha existência dependesse disso.
Como a minha barriga enorme de gestante não dá
muitas posições que me ajude, ele se senta na cama e me traz
para o seu colo. Seguro em seus ombros e Rashid em minha
cintura, ajudando-me a descer em seu pau. Ter Rashid me
preenchendo de novo, após tanto tempo me faz inclinar a
cabeça para trás, soltando um gemido alto.
Sinto-o ficar tenso e quando olho em seu rosto, vejo
receio e aflição.
— O que foi?
— Se eu machucar vocês dois?
A sua pergunta deveria me fazer rir, mas o seu rosto
verdadeiramente atormentado, provando que Rashid está
mesmo preocupado em não machucar a mim e ao bebê, me
desmonta.
Você não vai Rashid. Eu só fiquei bastante tempo
sem...
Tenho vergonha em continuar e assumir que nunca
teve outro além dele.
— Ninguém?
— Só você.
O que eu digo sacode a fera dentro dele e ele me puxa
completando a penetração. Eu estremeço em seus braços e
conforme o prazer de ser possuída por Rashid intensifica, volto
a me mover em cima dele, dessa vez com sua ajuda.
— Ah... Isso!
Os meus gemidos ficam cada vez mais constantes e
espero que nenhum dos seguranças próximo a tenda e outros
funcionários trazidos para nos atender, pudessem me ouvir.
Mas é impossível não reagir a todo prazer que Rashid está me
dando.
Estou cada vez mais perto do precipício quando sinto
seus dedos massagearem meu clítoris e o meu gozo vem como
um trovão em meio a tempestade.
— Rashid! — Ele me silencia com um beijo urgente e
também se entrega ao prazer.
Sem forças, desabamos na cama sem nos desgrudar.
Eu tinha sentido muito falta disso, apenas estar em
seus braços protetores depois de nos amarmos.
Eu quase poderia dormir com suas carícias em meus
cabelos.
— Eu sabia que tudo iria acabar bem, habibti.
O que ele me diz me acerta como se fosse uma
martelada na cabeça.
Me seduzir era tudo parte do plano dele?
— Foi só sexo, Rashid — levanto-me e busco as
minhas roupas pelo chão — Isso não muda nada. Ainda não
vou me casar com você.
Quando o encaro, em vez de raiva, vejo seu sorriso
convencido e isso me irritar ainda mais.
— Continue dizendo isso. Se enganando — ele se
estica mais na cama e leva um dos braços para atrás da
cabeça — Mas eu posso esperar a vida toda, Suzana.
Quando olho para o seu corpo nu, tão perfeito, que me
faz desejar ter uma tela nova e tintas para pintá-lo de novo,
sinto tesão, que me leva a raiva.
Ah! Eu o odeio!
Saio da tenda precisando de ar puro. Diferente da
última vez que estivemos aqui, agora há muitos guardas ao
redor. Isso minava qualquer tentativa minha em escapar. Eu
precisava ir para um território melhor.
Sigo para o lago. O sol como sempre está de nos fazer
derreter.
Mais lembranças me invade quando mergulho os pés
na areia e caminho pelo longo da margem.
Está muito quente e eu decido me sentar embaixo de
algumas palmeiras. Passo os minutos seguintes pensando na
loucura da minha vida desde que conheci Rashid. Eu descobri a
paixão, o verdadeiro prazer no sexo e agora tenho um filho
dele, enquanto me recuso a casar pelas razões erradas.
Mas Rashid não é um homem que desiste fácil. E ele
não irá recuar até conseguir o quer.
É irônico que nas poucas vezes que me permitir
pensar em Rashid, sobre o nosso filho, fantasie que ele nunca
tivesse nos rejeitado e feito de nós dois a sua família.
Agora Rashid está de volta e o meu medo de outra vez
entregar meu coração a ele e o ver destruído, me paralisa e me
faz fugir desse compromisso que nos unirá para sempre.
O nosso filho também tem esse poder. Mas o
casamento? Não, isso é entre mim e Rashid. É algo sobre nós.
— Suzana?
Abro os olhos e vejo as linhas do rosto dele, os raios
de sol não me permitem observar mais do que isso.
— É melhor voltar para a tenda.
Eu nem percebi que havia pegado no sono. Há quanto
tempo estive aqui?
Aceito a sua mão e ajuda para me levantar, mas assim
que tento, uma forte vertigem me faz perder as forças.
— Não consigo — murmuro fraca.
Rashid resmunga alguma coisa em sua língua e me
pega no colo.
— Estou pesada, Rashid.
— Não para mim.
Não insisto. Sinto-me tão fraca que sei que não
conseguiria caminhar.
— Eu acho que é o calor — aviso, sentindo a minha
garganta seca.
— Não deveria tê-la trazido — sua voz denuncia a
culpa que ele sente — Não, nesse estado. Assim que se sentir
um pouco melhor vamos partir.
— Iremos a Fils? No palácio.
Mesmo com muitos guardas, ele é grande o suficiente
para que eu pensar em algum plano de fuga.
— Vamos ao palácio para o nosso casamento — ele
avisa, fazendo a minha empolgação esmorecer — Vamos para
a casa perto daqui.
Aposto que lá terá o dobro dos guardas que nos
protegem na tenda. Fugir de lá seria quase impossível.
CAPÍTULO 35

Mas eu tentei escapar, por três vezes de concluir que


só estava apenas dando trabalho às pessoas e bancando a
idiota.
Além disso, cada tentativa de fuga minha, mantinha
Rashid afastado. Eu não sei se ele ficava mais furioso comigo
ou com seus empregados.
Já se passou uma semana e eu tive tempo o suficiente
para refletir.
Tenho que me casar com Rashid.
A minha preocupação com Lucy, não a vi e nem falei
com ela desde que fomos trazidas a Sahra. o medo de que
Rashid perca a paciência e realmente cumpra a promessa de
tomar nosso filho de mim quando nascesse e os sentimentos
que ainda tenho por ele, e não adiantava continuar negando,
finalmente me levam a essa decisão.
Estou cansada de lutar, brigar e chorar. São os meus
últimos meses de gravidez e deveríamos estar cuidando da
chegada do bebê.
Rashid nos rejeitou cruelmente no início, mas ele
ainda é o pai do meu filho, e parecia estar mesmo arrependido
e desejando ter nós dois ao seu lado.
E eu faria tudo para que nosso bebê crescesse seguro
e feliz, até mesmo me casar com o pai dele, mesmo sabendo
que não me ama. Pelo menos, ainda somos muito compatíveis
na cama. E eu mais do que qualquer pessoa, sei como essa
conexão que temos é rara.
— Samila disse que queria falar comigo?
Vejo-o surgir no jardim. Olhando-o com mais atenção,
percebo que os últimos dias não tem sido fáceis para ele
também. A barba acirrada estava maior, há olheiras em volta de
seus olhos e seu rosto que sempre exibe confiança está
abatido.
— Sim — eu inicio um pouco receosa — Quero dizer
que eu...
Respiro fundo. Era agora ou nunca.
— Escuta, Suzana, eu...
— Vou me casar com você, Rashid.
Ele me encara surpreso. Não era isso que esperava o
tempo todo?
— Vai se casar comigo?
— Vou. Mas tenho algumas condições.
Ele puxa uma cadeira e se senta, sem em um segundo
algum desviar a atenção de mim.
— Quero que libere Lucy. É a única família que tenho.
— Tudo bem.
Ajeito-me no lugar, começando a me sentir mais
confiante.
— Depois eu quero a sua palavra que se o nosso
casamento não der certo e eu decidir pelo divorcio, vivendo
aqui ou voltando para os Estados Unidos, não vai tomar o meu
filho de mim.
— Nosso filho.
Olho-o seriamente.
— Eu aceito.
— E por último. Se o nosso casamento der certo...
— Você pode parar de ser tão pessimista.
— Essas coisas acontecem e eu não quero ser pega
desprevenida de novo.
— Prossiga.
— Se nosso casamento der certo — seu rosto se
contorce, mas dessa vez ele não me interrompe — Eu não
quero que tenha uma segunda esposa. E nenhuma outra além
de mim.
Sei dos costumes dele e respeito, mas não consigo me
imaginar dividindo Rashid com nenhuma outra mulher. Isso me
deixaria maluca.
— Ciúmes, habibti? — O sorriso cínico e orgulhoso me
faz ter vontade de enfiar as minhas unhas na cara dele.
— Igualdade. Se será meu único marido...
Mesmo que em Sahra fosse permitido as mulheres
terem mais de um marido, eu jamais aceitaria isso. Não vejo
nenhum outro me beijando, tocando e me tornando dele, além
de Rashid.
— Eu nunca permitiria isso! — Ele se levanta, vindo
até mim.
Foi como ter mexido com um leão com vara curta.
— Ciúmes, habibi? — Devolvo a provocação na
mesma moeda.
Ele envolve o meu rosto com as duas mãos, esse
simples toque possessivo é suficiente para me fazer
estremecer.
— Não divido o que é meu.
— Ainda não sou sua.
— Mas será. De corpo e alma habibti.
Após a promessa ele me puxa para os seus braços e
beija com fervor.
É a primeira vez que nos tocamos assim, desde a
tenda.
Eu odeio amar esse homem tão intenso.
Palácio de Fils, Sahra
Dois dias depois

O meu retorno ao palácio é bem diferente das duas


vezes que estive aqui.
Primeiro porque dessa vez, chego com o carro real e
com Rashid ao meu lado. Segundo porque é impossível
esconder de todos que estou grávida do sheik.
O quanto disso seria considerado um escândalo?
— Suzana? — Ele me chama ao assistir o meu receio
ao descer do carro — Ninguém tem nada a ver com isso.
Ele me conhece bem.
— Como não? É o seu povo, Rashid.
— Pessoas que no final das contas, só querem me ver
feliz. Por favor, querida, desça do carro.
Sinceramente? Eu não me envergonho do nosso filho
e não deve me importar o que qualquer pessoa maldosa possa
pensar ou dizer.
Uno a minha mão a dele e permito que me ajude a sair
do carro.
Não há ninguém no grande pátio e eu fico aliviada. Só
os guardas nos portões e outros em vários pontos estratégicos,
mas todos estão concentrados em seu dever.
Já dentro do palácio, não posso dizer o mesmo. Assim
que entramos há uma imensa fila de funcionário esperando por
nós. Rashid me apresenta os que imagino terem um papel
maior. Nenhum deles se atreve a olhar para a minha barriga e
todos tem uma expressão feliz e de respeito.
Talvez Rashid tivesse mandado que falassem com
cada um, ou apenas entendem qual a minha importância na
vida do sheik. De qualquer forma, sinto-me mais tranquila em
não receber olhares recriminatórios ou hostis.
— E por fim — diz Rashid quando chegamos em frente
a duas jovens muito bonitas — Layla é a viúva de Hamed.
Dou um olhar compadecido a ela, tentando mostrar
que sinto tocada por sua perda, afinal, eu já estive no lugar
dela. Mas apenas recebo um olhar frio, que se estende para a
minha barriga redonda.
Sem perceber, aperto a mão de Rashid. Não gosto da
energia que vem da cunhada dele. Sinto como se ela visse a
mim e meu filho como invasores. Mas essas não eram
conclusões que eu deveria ter, sem conhecer Layla primeiro.
— É um prazer conhecê-la.
Esperamos que ela retribua o meu cumprimento.
— Layla — Rashid a repreende, baixinho.
— Sim. Estou muito feliz que esteja aqui, Suzana.
Eu não acredito nisso.
— E essa é Jamile, irmã da Layla — continua Rashid
me apresentando uma jovem com olhar e sorrisos acolhedores
— Jamile fala muito bem a sua língua e cuidará de você,
habibti. Para que todas as suas necessidades e desejos sejam
atendidos.
— É um prazer conhecê-la — diferente da irmã, ela me
faz uma reverência e suas palavras soam sinceras.
— O prazer é meu Jamile.
Assim como os outros funcionários, a garota também
não fica encarando a minha barriga, que a túnica não consegue
disfarçar como eu gostaria.
Ao fim das apresentações, Rashid libera todos,
despede-se das irmãs e me guia para o quarto.
— A sua cunhada não gostou de mim — observo
quando entramos.
— Não ligue para Layla. Ficou apenas surpresa e logo
vocês poderão ser amigas.
Eu duvidava disso, mas eu não queria colocar mais
lenha nesse clima já estranho.
— E a Lucy?
Ter alguém da minha parte, me deixará mais
confortável enquanto o casamento é colocado em andamento.
— Chegará amanhã — Rashid para a minha frente e
me beija, diferente das outras vezes, é só um roçar de lábios —
Sei que já pulamos as etapas. E já temos nosso bebê a
caminho. Só que até o casamento, precisamos seguir certas
normas.
— Normas? Que normas?
— Só vamos nos encontrar na frente de uma dama. E
como você só tem a Lucy, pode ser ela ou Jamile. Voltas no
jardim são permitidas e até um ou dois beijos se elas fingirem
não ver. Mas nada além disso até o casamento.
— Você está brincando?
Ele me encara sério, fazendo o meu olhar chocado
aumentar.
— Rashid, antes mesmo de te conhecer eu não era
uma virgem inocente.
— Não é só uma questão de tirar sua virgindade. É
sobre entrar pura na igreja. Nós dois, na verdade.
— Então não vamos nos ver? Você não vai...
Fizemos sexo essa manhã no chuveiro, antes de nos
aprontarmos para viajar até Fils. Depois de finalmente parar de
resistir a Rashid e voltar aos seus braços, retomamos o fogo
que tínhamos antes de nos separarmos.
— Para quem dúvida do sucesso desse casamento —
ele exibe um sorriso divertido — Está ansiosa demais para me
levar para cama.
— Não seja idiota!
Porque ele está completamente correto. Que mulher
em sã consciência conseguia resistir a um deus do sexo como
ele.
— Eu só queria ter sido avisada antes.
Teria aproveitado melhor as horas antes da nossa
viagem.
Ele acaricia a minha bochecha com o polegar.
— Serão apenas cinco dias, habibti.
— Cinco? Iremos nos casar em cinco dias?
— Eu me casaria hoje mesmo se fosse possível.
Cinco dias com visitas vigiadas e beijinhos castos nos
jardins.
Que os meus hormônios me ajudassem a não
enlouquecer.
Principalmente quando tenho guardado na memória o
nosso último beijo cheio de desejo.

Alguns minutos depois

Conhecer o pai de Rashid está me deixando mais


nervosa e ansiosa do que o normal. Um homem cheio de fé e
tradições, que eu não sabia como estava reagindo a chegada
do neto e meu casamento com seu filho.
— Fique calma — Rashid me pede pela terceira vez
enquanto esperamos o pai dele surgir na sala — O meu pai já a
estima muito.
— Ele nem me conhece.
— Conhece através de mim.
— E você disse muitas coisas lindas e louváveis sobre
mim? — indago, sarcástica.
— Por que eu faria diferente? — Ele me encara sério
— É a mãe do meu filho e...
— Salam — um senhor que lembra muito Rashid entra
na sala acompanhado de uma mulher de rosto cabisbaixo —
Que a paz esteja com vocês.
Nós repetimos a saudação e o pai dele nos indica o
sofá.
— Então você é a Suzana? — O senhor me encara
com carinho e isso começa a dissolver a minha tensão — A
jovem que roubou o coração do Rashid, aqui.
— Pai.
Vendo os dois juntos, compreendo que o afeto entre
pai e filho é igual como em qualquer outro lugar do mundo.
— Estou feliz em conhecê-la Suzana. Saiba que a
partir de agora será como uma filha para mim. E espero que me
veja como um pai.
Ter essa figura novamente em minha vida, enche o
meu coração de calor.
— É o que mais desejo.
Ele olha para o meu ventre. Fico apreensiva, mas o
sorriso que o pai de Rashid abre, coloca todas as minhas
dúvidas por terra.
— Estamos radiantes com a chegada dele.
— Pode ser ela, papai.
— Não importa.
O sorriso dele não diminui, pelo menos até o que eu
acho, uma lembrança o pegar.
— Eu perdi um filho amado recentemente. Esse bebê
é um presente.
Ainda não perguntei a Rashid como foi a morte do
irmão dele. Sinto que é uma ferida aberta e que ele deve se
abrir comigo quando se sentir preparado.
CAPÍTULO 36

A cada minuto ao lado de Suzana, eu tenho certeza de


uma coisa: Ela me ama.
Ainda não a pressionei sobre os motivos que a
levaram a se esconder de mim, porque não quero que ela recue
com decisão de finalmente aceitar se casar comigo.
O passado já não importa mais. Estamos juntos, eu
amo, como nunca imaginei amar alguém no mundo e estou
pronto para dizer isso na hora certa.
Eu teria feito isso se o meu pai não tivesse
interrompido a nossa conversa.
A estrangeira doce, guerreira, valente, determinada e
gentil, que havia roubado o meu coração. O amor surgia
quando e com quem menos esperamos. E estou contente que
tenha sido por ela que eu me apaixonei.
Temos química. As nossas conversas são sempre
interessantes, mesmo quando ela me desafia com sua língua
afiada e juntos vamos formar uma família que irá multiplicar
ainda mais o nosso amor.
Caramba. Ainda bem que Jalal não pode ouvir
pensamentos ou eu seria atormentado por ele até o juízo final.
— Vossa Alteza — O meu secretário chama a minha
atenção.
Antes que ele possa continuar, Layla surge atrás dele.
O homem fica chocado com a ousadia dela em quebrar o
protocolo, entrando na sala sem ser avisada, mas eu faço um
sinal que está tudo bem.
— Deixe a porta aberta Zayn — depois de vê-lo sair
discretamente, viro para Layla — Onde está sua companhia?
Mesmo que ela seja viúva, eu sou o sheik, não é
apropriado que venha me ver sozinha.
— Jamile está paparicando a sua futura esposa. Sério
Rashid? Uma estrangeira e ainda grávida? Como pode ter
certeza de que essa criança é sua? Conhece bem essas
mulheres do ocidente. Se deitam com todos os homens que
encontram.
— Eu não tenho que dizer nada a você, Layla, mas só
vou falar uma vez — levanto-me, olhando-a furiosamente —
Nunca mais duvide da paternidade do meu filho ou vou
considerar isso traição.
Seu olhar altivo rapidamente se desfaz ao observar
minha expressão fria.
— Em segundo lugar. Não volte a desrespeitar minha
futura esposa ou a envio para casa dos seus pais.
— Entendo a situação e o que me leva a ser a
segunda esposa. Mas sobre o nosso casamento?
— Pelos céus acima de nossas cabeças. Eu não vou
me casar com você.
— Sou a viúva de Hamed.
— E vou garantir que seja bem cuidada, mas pela
última vez. Esqueça isso.
— É por culpa dela!
— Sobre isso você está correta. É por Suzana. Mesmo
que ela não me pedisse, eu nunca tomaria outra esposa.
Porque ela é a única que eu amo.
Ouço seu grito estridente, seguido de um ataque ao
pegar um objeto na mesa e jogar contra a parede.
Vejo claramente agora quem Layla é. Uma jovem
mimada que achou que poderia ter tudo e quem quisesse.
Hamed fez um favor ao tirá-la do meu caminho.
Respiro, fundo quando a vejo sair.
Talvez o palácio não seja o melhor lugar para a viúva
do meu irmão morar.

Os olhos podem chorar de alegria.


Uma vez ouvi meu pai dizer isso a minha mãe.
Embora os meus não estejam realmente em lágrimas,
é uma festa ver Suzana feliz ao lado de sua melhor amiga,
Jamile e outras mulheres, escolhendo tecidos para os seus
vestidos novas.
— Olha esse que bonito — Jamile pega uma peça
vermelha com bordados dourados — Combinam com seus
cabelos.
— Nós já não temos tecidos demais?
— Vossa Alteza disse que deveria ser um vestido para
cada dia do ano.
— Escuta, onde mais tem um sheik para se casar? —
Lucy provoca, fazendo as duas rirem.
— Rashid é um exagerado, isso, sim.
Em se tratando de Suzana, não vou contrariar isso.
Assim que saio das sombras, ela rapidamente percebe
a minha presença e me recebe com um sorriso.
— E por falar em sheik-lobo-mau — Lucy provoca.
Eu não ligo. Já estou me acostumando ao jeito dela.
Principalmente, em sempre esquecer que em Sahra, eu sou o
rei.
É o meu momento com Suzana para cortejá-la antes
do jantar e não quero perder um único minuto.
— Ai, meu Deus — ela sussurra quando pego a sua
mão e começamos a andar pelo salão das damas — Eu me
sinto como nos tempos da regência.
— Nos tempos da regência eu só a veria no dia do
casamento — respondo, sorrindo.
— Você acha tudo isso engraçado, não é?
— Nós já quebramos todas as regras possíveis,
podemos manter algumas?
— Tá certo. Não quero bancar a ranzinza.
Então ela vira, parando de frente a mim.
Como é linda. Cada dia que passa e sua gravidez
avança mais, Suzana fica mais bonita.
— O que aconteceria se... — ela olha para os dois
lados, analisando se estamos sendo ouvidos —
Acidentalmente, a noite, eu me perdesse no seu quarto?
— Suzana.
Ela tinha jogado o anzol, agora seria impossível eu
escapar disso.
— Você não sabe onde é o meu quarto.
— Será?
O sorriso travesso me leva a fazer o que eu não
deveria. Tomá-la em meus braços dando um beijo que deixará
todos os presentes chocados.
E noite, como se fosse eu, a donzela esperando o seu
príncipe encantado, fico na penumbra do meu quarto,
ansiosamente esperando a porta abrir.
Em um capuz vermelho e pesado vejo Suzana surgir.
A tradição diz que no dia do casamento deveríamos
nos entregar com o corpo puro.
Mas se o amor não era a coisa mais pura do mundo?
O que mais seria?
CAPÍTULO 37

O meu casamento com Rashid está sendo


completamente diferente do que eu estava acostumada na
minha cultura, mas igualmente lindo.
A começar que aqui em Sahra, as noivas têm os
braços, mãos e pés pintados à henna. Também recebi joias
para os cabelos e meu vestido de casamento não precisava ser
necessariamente branco. Eu escolhi creme, com muitas rendas,
bordados e pedrarias.
E minha surpresa maior é que no começo da
cerimônia, recebo de Rashid uma imensa caixa cheia de joias.
Ele me explica que é o mahr. O valor a ser pago pelo
noivo à noiva, no momento do casamento.
Eu não precisava de joias, tecidos finos, vestidos e
todos os lenços que ele me dava. O meu grande presente era o
nosso filho e Rashid.
— Ayuni [21]— ele me diz com um olhar devotado,
antes de me beijar.
Embora eu não entendesse nenhuma palavra, e, nem
mesmo Lucy, chorando próximo a nós, foi uma sagração linda.
— Eu desejo que você seja muito feliz, Suzana — ela
me abraça antes que o restante dos convidados começasse a
fazer fila.
Não sei como explicar, mas eu sinto que tomei a
decisão certa e que esse será apenas os primeiros, de longos
anos felizes com Rashid e nosso filho.
Depois de falarmos com todos, e seguirmos alguns
outros rituais, paramos para as fotos.
Não foi um casamento aberto ao público, apenas
família e amigos mais próximos presenciaram. Mas Rashid
disse que algumas fotos nossos seriam colocadas no site oficial
do palácio e nos jornais para que o povo pudesse ver.
Eu nunca vi uma festa tão animada e mesmo tendo
medo de errar alguns passos, não consigo fugir do meu sogro,
me levando para dançar.
Serão três dias de festas, pelo menos que eu e Rashid
estaremos presentes.
A única que não vi entre nós, foi a Layla, mas essa
não faz a menor falta. Diferente do que Rashid disse, ela nunca
tentou uma aproximação comigo para nos tornarmos amigas.
Eu só a via pelos cantos, me encarando com rancor e ódio.

A festa ainda está no auge quando Rashid me pega no


colo e leva para o nosso quarto.
— Pensei que você tinha falado que a comemoração
do casamento pode durar até três dias.
— O nosso até uma semana. E eles vão comemorar
muito. Com a nossa presença durante o dia — sua expressão é
séria, mas o olhar intenso denuncia a sua verdadeira intenção
— Mas as suas noites serão minha. Pelo resto das nossas
vidas.
Ao contrário de mim, Rashid nunca viu a nossa união
como algo temporário. Quando aceitei o pedido dele, fui
inicialmente coagida, vamos falar a verdade, eu tinha em mente
que me casar com ele, seria apenas uma forma de ganhar
tempo até encontrar uma nova forma para voltar aos Estados
Unidos com o nosso filho.
Agora vejo que não posso isso. Me apaixonei por
Sahra quase tão profundamente quanto amo Rashid. Eu quero
fazer esse casamento dar certo, não apenas pelo bebê. Cada
palavra que eu disse hoje em nosso casamento, foi sincera.
— Pelo resto das nossas vidas, habibi — sussurro em
seus lábios alguns segundos antes dele me beijar.
Essa noite não fizemos apenas sexo quente.
Nós fizemos amor.

Alguns dias depois

Eu não liguei por nesse momento não termos uma lua


de mel, mas estou profundamente triste em saber que Lucy
precisa voltar para casa.
— Tem mesmo que ir? Lucy o que vou fazer sem
você?
Estou sendo exagerada e seu olhar irônico comigo
prova que ela sabe disso. A minha adaptação ao palácio tem
sido tranquila e gradativa.
— Terminar de organizar as coisas para a chegada do
bebê?
Eu só soube alguns dias depois ao casamento, ao
falar com Rashid sobre o quarto do nosso filho no palácio, que
ele tinha trazido dos Estados Unidos tudo o que havia
comprado para o bebê. Além das inúmeras caixas que
precisam ser abertas, quase diariamente chega ao palácio mais
coisas que eu escolho por catálogo ou internet.
— Aprender a língua do país? Acompanhar seu marido
em compromissos importantes?
— Tá bom. Eu tenho muita coisa para fazer. Mas ainda
queria que você estivesse aqui. Pensar que vamos nos ver a
maior parte do tempo apenas por telefone ou computador me
deixa triste.
— E eu estarei aqui quando seu bebê nascer — ela
me encara divertida e me puxa para um abraço — Sabe que o
meu chefe está estudando a possibilidade de eu trabalhar aqui.
E se ele disser, não. Rashid afirmou que abriria uma agência só
para mim.
— Ele disse isso? Quando?
Não me surpreende Rashid ter prometido algo assim.
E eu sei que ele cumpriria a promessa, bastava eu ou Lucy
darmos o sinal.
— Um dia antes do seu casamento. Ele gosta mesmo
de você, Suzana.
Gostar.
Eu queria que Rashid me amasse. Mas tenho que
admitir que desde que me trouxe para Sahra, ele fazia o
máximo possível para me deixar feliz. Até parecia o mesmo
Rashid que conheci antes dele me mostrar que também poderia
ser cruel.
Era isso que ainda me mantinha com o pé um
pouquinho atrás.
E se Rashid mudasse de novo?
Mas eu não tenho tempo de contar meus receios a
Lucy e mesmo que tivesse, acho não faria, para não a
preocupar. Rashid, Jalal e mais dois funcionários chegam,
avisando que o carro para a levar ao aeroporto está esperando.
A nossa despedida é emocional, com muitos lamentos
e lágrimas.
— Ela vai voltar, habibti — ele afirma ao me abraçar
enquanto assistimos Jalal guiar Lucy para dentro do carro.
— Como você sabe? — Seco as novas lágrimas
molhando o meu rosto.
— Porque eu não vou deixar que nada a deixe triste.
— Rashid! Não pode obrigar Lucy a ficar aqui.
Ele me vira para ele quando o carro cruza os portões.
Seu sorriso é travesso e faz as borboletas em meu estômago
baterem asas.
— Se você diz.
Eu pretendia dizer outras coisas a ele, mas quando
Rashid me beija, todo o restante do mundo é esquecido.

Em todas as tardes após as minhas aulas para


aprender sahry, gosto de ficar no lindo jardim do palácio
tomando sol. Às vezes como hoje, fico pintando e quando estou
concentrada nisso, não vejo o tempo passar e nem as pessoas
a minha volta.
Por isso não notei Layla se aproximar.
— Você tem o dom para isso.
Dirijo o meu olhar da tela para ela. Não sinto
sinceridade no sorriso que ela me dá. Sempre que toquei no
assunto, afirmando a Rashid que desconfio que Layla me odeia,
ele diz que são coisas da minha cabeça. Mas eu sei que não é.
Sua rispidez comigo não mudou após o casamento e
outro dia, sem querer, ou talvez não tenha sido tão sem querer
assim, eu a ouvi dizendo a Jamile, no meu idioma, que o único
motivo do sheik se casar comigo era porque precisava de um
bebê. Um herdeiro que garantisse o reinado dele por muitos
anos.
Eu sei que Layla fez isso de propósito e sabia que eu
estava na sala. Mas ainda assim, mesmo comigo lutando para
não ser contaminada por suas palavras venenosas, a dúvida foi
plantada em meu coração.
Quando Rashid renegou o nosso filho, o irmão dele
ainda era o emir, ele não precisava cumprir obrigação. Mas e
agora?
— Salam, Layla.
— Salam — ela se dirige para uma das cadeiras
próximas a mim e se acomoda tranquilamente — Quero me
desculpar. Não tenho sido uma boa irmã para você. Acho que
ainda estava amargurada pelo luto.
— Eu sinto muito pelo que houve.
Estou sendo cem por cento sincera. Pela expressão
que vejo passar pelo rosto dela, rapidamente, vejo que ela não
acredita nisso.
— O destino tem suas formas de agir. Sabia que era
com Rashid que eu iria me casar?
Isso me paga de surpresa, exatamente como ela
gostaria.
— Estávamos perdidamente apaixonados. Mas Hamed
exigiu que me casasse com ele e... — ela faz uma pausa para
emitir um suspiro profundo — Como uma boa filha, fui obrigada
a aceitar. Aquilo destruiu o Rashid. Ele ficou um ano inteiro
refugiado no deserto.
— Por que está me dizendo isso, Layla?
O passado dos dois não importa mais. Eu que me
casei com Rashid e espero um filho dele.
— Para que saiba que nós nunca deixamos de ter
sentimentos pelo outro. E agora com Hamed morto, vamos nos
casar como deveria ter sido desde o início.
— Isso não é possível. Rashid está casado comigo.
— Eu acho que você sabe que um em meu país, um
homem pode ter mais do que uma esposa.
— Mas não Rashid. Ele me prometeu.
— E ele te disse que como viúva do irmão dele, é sua
obrigação me tornar como esposa? — Ela me enfrenta com
uma expressão de desafio — Ele não te disse isso, não é?
Com o meu choque, o seu sorriso é vitorioso.
— Nem mesmo o Rashid pode dar às costas a essa
tradição. Tudo o que interessa a ele é o filho para nascer — a
voz dela ameniza, mas eu não confio na falsa simpatia — Você
vai se cansar logo daqui. Esse não é o seu mundo. Mas não se
preocupe, quando partir, vou cuidar bem da sua criança.
Com a intriga de Layla, todos os meus medos quando
vi Rashid surgir na galeria, voltam a mim com força total.
Rashid mentiu?
Ele me enganou com suas palavras, promessas e
juramentos falsos?
Eu fui novamente traída?
— Se algum dia eu decidir ir embora — rujo como uma
leoa defendendo sua cria, ao colocar as minhas mãos em meu
ventre — O meu filho vai comigo!
O sorriso de Layla é como uma cobra e seu eu não
estivesse tão tensa, tentando assimilar tudo o que ela disse,
arremessaria cada um dos meus objetos de desenho nela.
— Você não pode. Aqui, o filho pertence ao pai.
É sua última provocação antes de sair e me deixar
com cabeça confusa e coração contaminado por seu veneno.
Embora os meus olhos estivessem pesados com as
lágrimas, não me permito chorar.
— Vossa Alteza — Jamile larga seus afazeres assim
que me nota entrar nas instalações íntimas do sheik e esposa.
— Onde está o Rashid? Eu quero vê-lo
imediatamente.
— Senhora. Não acho que deva ficar tão...
— Quero vê-lo agora, Jamile. Ou me leva até ele ou eu
sairei batendo em cada porta desse palácio.
Acho que ela começa a entender a gravidade da
situação, pois começa a mexer as mãos e dizer coisas em sua
língua, demonstrando o quanto está nervosa.
Quando ela sai, sigo direto para o quarto. Procuro as
malas pelo quarto, cegamente. A dor, que antes era apenas
uma fisgada em meu peito, começa a crescer rapidamente.
Como Rashid pôde fazer isso comigo?
Como ele havia sido capaz de me trair dessa maneira?
Essa traição doía muito mais do que a de Willian,
porque eu não amei meu marido metade do que eu amo
Rashid.
CAPÍTULO 38

Já tenho metade da mala com roupas que fui jogando


aleatoriamente quando Rashid entra no quarto expressando
toda sua preocupação comigo.
— Habibti? — Ele tenta se aproximar, mas eu me
afasto — Está sentindo dor?
Gemo baixinho, fazendo sua expressão ficar aflita. A
sua preocupação não é comigo e sim com o seu precioso
herdeiro.
— O que está sentindo Suzana?
— Raiva. Ódio. Desapontamento. E uma imensa
tristeza.
Ele me encara confuso, depois percebe a mala aberta
em cima da cama.
— Mas raiva do que todos os outros que citei.
— Por que essa mala? — Ele pergunta de uma
maneira extremamente calma e que faz a minha fúria crescer.
— Eu vou embora! Vou voltar aos Estados Unidos.
— Que merda você está falando? Sei que deve ter
sonhado com uma lua de mel... Mas não podemos viajar agora.
— Não tem nada a ver com isso.
Ele acha mesmo que sou tão fútil?
— O que é então? — Sua indagação é exasperada —
Você nem pode entrar em um avião nesse estágio da gravidez,
Suzana.
Droga. Eu não havia pensado nisso.
— Então vou ficar em um hotel — volto a minha
atenção entre o closet e a mala na cama — Irei para qualquer
lugar bem longe de você, Rashid. Longe das suas mentiras.
Seus passos largos e ansiosos o trazem para perto de
mim.
— Do que está falando?
— Layla! O seu dever em se casar com ela.
— Quem te disse isso?
Ele não estava negando. Isso faz o meu coração se
apertar.
— Que foram apaixonados antes de mim? Que seu
irmão não tivesse impedido era ela que seria sua esposa? E
que pela tradição vai fazer dela sua segunda mulher?
— Não foi exatamente assim. Escuta, se me deixar
explicar... — ele tenta tocar o meu rosto, mas eu o afasto com
um empurrão.
— Não há nada a explicar Rashid. Eu disse a você que
não aceitaria outra dividindo-o comigo. E nem você ou ela vão
ficar com o meu bebê. Vocês se amam? Querem ficar juntos?
Então...
Só há uma coisa que nos separaria para sempre.
— Suzana — é mais do que uma ordem para que eu
parasse, Rashid me encara atormentado.
— Eu o rejeito.
Vejo-o ficar impressionante pálido enquanto as
lágrimas descem grossas pelo meu rosto.
— Não faça isso, habibti.
Rashid vem velozmente até mim. Ele se ajoelha,
abraçando a minha cintura.
A surpresa me toma completamente. Um sheik nunca
se curva a ninguém. Mesmo antes do título, Rashid não era o
tipo de homem que fazia isso.
Vê-lo tão vulnerável como eu assistia, me abala
profundamente, mas eu preciso seguir em frente.
— Eu o rejeito, Rashid — murmuro, trêmula e ele me
segura mais firme.
Noto os seus olhos brilharem.
Lágrimas?
Em todo tempo que estamos juntos nunca vi Rashid
chorar, nem mesmo pela morte do irmão.
— Você quer me matar? — Há tanto tormento em seu
olhar, que me pergunto se ele realmente está sofrendo com isso
tanto quanto me demostra — Não continue, Suzana ou é isso
que irá fazer.
Se eu disser as palavras três vezes, significa que
estamos divorciados.
— Eu... eu... — a minha mente grita a frase
desesperadamente, mas é o meu coração tolo, calando essa
voz.
Não posso ir adiante. Mesmo que Rashid decida ter
nós duas, três, dez esposas, não consigo voltar a ficar longe
dele. Eu já vivi essa dor antes.
— Então jure para mim — desabo, também caindo de
joelhos à sua frente.
Ele segura o meu rosto com aflição e passa
desesperadamente a mão pelas minhas bochechas.
— O que quiser, ayuni.
— Você nunca terá uma segunda esposa. Nem Layla e
nenhuma outra além de mim. Você disse que a palavra de um
homem vale mais do que a lei.
Rashid encosta a testa na minha. O meu coração bate
dolorido no peito.
— Fiz esses votos quando me casei com você, ayuni.
Eu nunca os quebraria.
— Foi isso que disse aquele dia?
— Só você, apenas você, Suzana. Até o último dia que
eu respirar.
Ele beija os meus lábios com amor e devoção.
Talvez eu não devesse, mas acredito em Rashid.
Eu vejo amor em seu olhar quando me olha. Quando
ele me beija com tanta paixão como agora. Eu sinto o seu
desejo tão incontrolável quanto o meu, quando começa a
arrancar as minhas roupas.
Na forma carinhosa que ele me deita na cama. Nos
olhos que não conseguem desviar de mim quando também
arranca as suas roupas com pressa.
Eu vejo o quanto Rashid me deseja ao colocar seu
rosto entre as minhas coxas e me ter em seus lábios até me
fazer gozar em sua boca.
Quando ele me vira de joelhos na cama e me faz dele,
de forma quente, selvagem e carregada de intensidade. Ele me
diz com seu corpo, no jeito que me faz gozar gritando o seu
nome, que pertencemos um ao outro.
Apenas nós dois.

Odeio brigar com Rashid, mas se todas as nossas


brigas terminassem assim, com sexo quente, depois momentos
de carinho na cama, não seria tão ruim algumas discussões
para apimentar as coisas.
— Quem te disse todas aquelas besteiras, habibti?
— Layla — respondo com a minha voz ficando trêmula
— Ela me contou que vocês estavam apaixonados quando seu
irmão a obrigou a casar com ela.
Sinto o seu corpo ficar tendo e ele pega a minha mão,
fazendo círculos no peito dele.
— Isso não é verdade. Sim, eu a cortejava antes de
Hamed voltar. Achei que nos casaríamos. Mas Layla caiu nos
encantos dele. Ela não foi obrigada a casar. Fez isso porque
quis.
— E você sofreu muito.
Ele se vira para me encarar e a tranquilidade que vejo
em seu rosto, começa a tirar os meus receios. Rashid não
parecia ainda estar amargurado com isso.
— O meu ego foi ferido acima de tudo. O meu irmão
exigiu passar alguns anos estudando fora, ter liberdade e
diversão. Eu fiquei aqui ajudando o nosso pai, cumprindo
obrigações que eram dele. Eu acho que fiquei chateado por
Hamed ter sempre o que queria. Eu nunca esperei nada. Ser o
emir, a fama, o poder. Só desejava a Layla e ele me tomou.
Vendo a história sendo contada por Rashid, consigo
entender o outro lado dela. De certa forma, ele também foi
traído por quem achava amar.
— Mas Hamed não me tomou nada. Foi escolha de
Layla aceitar se casar com ele. Passei um bom tempo no
deserto porque gosto de lá e você viu isso. Eu compreendi que
na verdade, nunca amei Layla como pensei. Eu não me casei
com ela antes e mesmo viúva agra, não tinha a intenção disso,
antes mesmo de você voltar a minha vida.
— Ela me disse que vocês dois ficariam com o meu
bebê.
Com o olhar dele indicando meu equívoco, eu me
corrijo.
— O nosso bebê.
— Layla está amarga porque eu já disse a ela isso. Eu
acho que aqui já não é há mais lugar para ela morar.
— O que vai fazer, habibi?
— Encontrar um lugar onde ela possa viver, se
recuperar do luto e ser feliz.
Como dizem, pessoas felizes não incomodam
ninguém.
— E Jamile?
Quer que eu a mande embora também?
— Ainda, não sei. Eu gosto dela. Tem sido boa
comigo.
Ele se vira ficando sobre mim.
— O que quiser, quando quiser, basta me dizer e darei
a você, ayuni — ele passa o polegar pelo meu rosto — Mas
nunca mais pense em fazer algo como aquilo de novo.
Ele fala sobre as palavras que o renegaria.
— Você me deixou com raiva.
— Atire coisas em mim — ele sorri e perco o meu
fôlego com isso — Mas não volte a pensar naquilo de novo.
Eu não poderia. O meu amor por Rashid só cresce
mais em meu peito.
— Então fica anotado que a partir de hoje, se me
irritar, vou arremessar sapatos na sua cabeça.
Eu não vou fazer isso. A minha natureza pacífica
impediria.
— Se terminarmos, assim — ele esfrega seu pau já
ficando duro em mim, fazendo-me gemer — Será divertido.
Nó temos uma conexão incrível de pensamentos.

Quando acordo, estou sozinha no quarto.


Normalmente, Rashid não sai ao menos sem me dar um beijo
de bom dia, mas como tivemos uma noite bastante agitada, nos
amando até a exaustão, acho que ele não quis interromper o
meu sono.
Assim que saio do quarto após os meus cuidados
matinais, encontro Jamile me esperando na saleta.
— Salam, Jamile — cumprimento-a, festivamente.
— Salam, Vossa Alteza.
— Aqui pode me chamar apenas de Suzana, lembra?
— Recordo com um sorriso amigável e vou para a mesa de
café da manhã, que ela providenciou para mim — Por que não
se senta comigo?
Não é a primeira vez que a convido quando estamos
sozinhas. Em público ela deveria manter uma postura
respeitável e distante, mas eu não goste de tanta formalidade
na intimidade.
— Eu tenho uma coisa para dizer. E talvez isso a faça
repensar se quer continuar a trabalhar comigo e ser a minha
amiga.
Conto a ela tudo o que sua irmã Layla me disse, e o
que Rashid vai fazer como represália. Eu estudo
cuidadosamente suas expressões para ver se noto algo
diferente da jovem doce, atenciosa e amigável que ela tem sido
desde que cheguei ao palácio.
— Não acredite nas mentiras de Layla, Vossa Alteza.
Ela apenas está com inveja de você.
— Por ter me casado com Rashid? Mas ela é tão linda.
Poderia ter marido que quisesse.
— Não é assim. Logo que se casaram, Hamed
desejava um filho e isso não aconteceu. Inicialmente,
pensamos que o problema fosse com ele. Mas a minha irmã foi
a vários médicos e na verdade, é ela que não pode engravidar.
É do seu filho que ela tem inveja. Por não ter dado um Hamed e
nunca poderá dar a Rashid, mesmo que se casassem.
Faz sentido muita coisa agora. A raiva de Layla
comigo e sua promessa de ficar com o meu bebê.
— Por que devo acreditar em você? É a irmã da Layla.
Como posso saber se isso não é um plano de vocês duas?
Eu tenho que pensar nisso e manter o meu filho
seguro.
— Porque não concordo com o que Layla está
fazendo. Primeiro a ambição que a cegou se casando com
Hamed, agora a dor de ser rejeitada. Mas eu não posso dar
nada além da minha palavra, Vossa Alteza. Só peço que tente
resolver qualquer problema com sheik, sem dar ouvido a
terceiros.
— Ele vai mandar Layla embora do palácio —
relembro.
— Acho justo. Se quiser que eu vá...
— Eu gosto de você, Jamile. E não acho que tenha
que pagar pelos erros da sua irmã.
— Fico muito agradecida Alteza. Prometo que todos os
dias provarei a minha fidelidade.
— Suzana. Somos amigas agora.
— Então, Vossa... — com meu olhar divertido, ela volta
a se corrigir — Você e o sheik se resolveram?
— Sim. Há algumas outras coisas que precisamos
conversar, mas... Tem algo que eu gostaria que você me
ajudasse. Quero fazer uma surpresa ao Rashid.
— Uma mulher sábia, sabe como amansar o marido —
ela murmura, sorrindo.
— E Rashid não tem que me amansar? — Indago,
falsamente, indignada.
— Desculpe. Esqueço que temos criações e costumes
diferentes.
Quando ela percebe que minha reação é apenas para
provocá-la, sua expressão aterrorizada, ameniza.
— Quero aprender mais sobre Sahra e posso te dizer
coisas interessantes da minha cultura também.
Podíamos unir o melhor dos mundos.
— E em que gostaria que eu a ajudasse?
A seduzir o meu marido.
CAPÍTULO 39

Assim que deixei Suzana entregue ao seu descanso


necessário, fui me encontrar com Jalal. Eu preciso ficar mais
atento ao estado delicado da minha esposa e que ela não deve
se esforçar muito. Mas no dia anterior, quando ela quase negou
nossa união por três vezes, eu quase perdi a cabeça.
Eu nunca implorei nada a ninguém, mas estava
disposto a isso, a me curvar e pedir que Suzana não fosse
embora. Jamais senti tanto medo em minha vida como no dia
anterior.
Sou completamente apaixonado pela minha esposa
desde o primeiro momento que a vi e não menti a ela quando
disse que se me deixasse, significaria a minha morte. Não a
física, tudo o que acredito não me permitiria a isso, mas eu
estaria com a alma condenada a dor e a solidão. Esse seria um
castigo pior que toda uma eternidade queimando no inferno.
Mas eu consegui a tempo, fazer com que Suzana
entendesse que jamais haverá outra mulher para mim, além
dela.
Somos uma família agora e não vou deixar que nada e
ninguém se coloque entre nós.
— A Layla não vai gostar disso.
— Ela não tem que aprovar nada. Tive paciência de
esperar que ela tentasse se aproximar da Suzana e tudo o que
ela fez foi tentar envenenar o meu casamento — eu nunca iria
perdoá-la por isso — A minha única obrigação com ela por ser
a viúva do meu irmão é garantir que tenha suas necessidades
supridas. Mas eu a quero longe do palácio antes do meu filho
ou filha nascer.
— Vou providenciar isso.
Jalal era mais do que meu segurança agora. Ele é o
meu braço direito e conselheiro. As observações deles são
sempre inteligentes, além do fato que é ao lado de Suzana, o
único que consegue me levar a tranquilidade quando a raiva
tenta me cegar.
— E sobre Lucy? Como ficou?
— Eu a acompanhei aos Estados Unidos como me
pediu. O chefe dela foi convencido.
Quando Jalal diz, convencido, quer dizer de fato,
persuadido.
— A fazer uma filial aqui. Mas também, com todas as
vantagens e benefícios que você ofereceu a ele, até eu gostaria
de abrir uma empresa.
— Mais uma?
Ele tem seus investimentos em Sahra, que lhe dão
muito lucro.
— Quando a Lucy chega?
— Em duas ou três semanas.
Suzana ficará muito feliz em saber que sua amiga-
irmã, não apenas vai estar aqui para o nascimento do nosso
bebê, como também vai morar em Sahra.
— Agora mande que tragam Layla. É a última vez que
quero ver a cara dela.
Eu não dou a chance para que um cão raivoso morda
a minha mão duas vezes.
CAPÍTULO 40

Palácio de Fils
Algumas semanas depois

Não posso reclamar de nada. A minha vida tem sido


maravilhosa.
Enquanto pelas manhãs e parte da tarde Rashid
trabalhava para tornar Sahra o país maravilhoso e de paz que
foi antes do irmão dele assumir o poder, gasto o meu tempo
longe dele finalizando a preparação do quarto do nosso filho,
estudando sahry e tendo aulas de danças com Jamile.
— Tem certeza de que não estou parecendo uma
idiota?
Amo a minha barriga redonda de grávida, mas não sei
consigo parecer sexy com ela.
— Pelo contrário. Estar grávida deixa os seus olhos,
pele e cabelos mais brilhantes. Além disso, trazer uma pessoa
a esse mundo é presente. Uma dádiva. Sei que o sheik ficará
fascinado em vê-la.
E Jamile havia me ensinado movimentos da dança que
chamavam mais atenção para os meus seios, quadris e coxas.
— Será hoje como pretendia?
— Sim. Em poucas semanas vou ter o bebê e já sinto
que mal consigo me levantar da cama sozinha.
Se eu não tivesse a certeza dada pela minha médica,
que era apenas um bebê dentro de mim, juraria que estava
grávida de gêmeos. O bebê de Rashid é grande por natureza
porque devido eu estar em uma idade que pede cuidados ao
engravidar, eu não havia mudado a alimentação saudável.
— Você aprendeu todos os passos, Suzana — Jamile
entrega o robe para que eu vista — Será uma apresentação
linda.
A nossa amizade vem ficando cada vez melhor e
Jamile não dava nenhum sinal que fosse como a irmã.
— E Layla? Tem visto-a?
Eu só a vi uma única vez desde a manhã após minha
briga com Rashid. O seu olhar de ódio para mim ao ir por outro
caminho no corredor, onde nos cruzamos, indicava que o meu
marido havia falado com ela e a colocado em seu devido lugar.
Depois ele me disse que uma casa nova estava sendo
procurada para que Layla pudesse morar. Só que de acordo
com que Jamile me dizia, nada do que era oferecido a irmã
dela, estava do agrado da mulher. A casa era grande demais,
imoralmente pequena para a viúva do falecido emir, perto
demais da cidade ou longe da família.
— Teve que escolher uma casa perto de Dabab. Ela
não ficou feliz, mas o sheik perdeu a paciência com ela.
— Você está chateada?
Afinal de contas, Layla é irmã dela.
— Minha irmã nunca foi fácil. A primeira filha. Os meus
pais idealizavam um mundo de fantasia para ela. Talvez um
pouco de realidade ajude-a ser menos mimada.
— Estou feliz que você tenha ficado Jamile.
— E eu que acredite nos meus sentimentos sinceros,
Alteza.
Não quero gastar o resto do meu dia pensando e Layla
e todo rancor que ela carrega. Nos minutos seguintes cuido
para que essa noite especial, que vou oferecer a Rashid seja
perfeita.
E nós começamos pelo jantar. Pedi que fosse servido
tudo o que disseram que ele amava e pelo seu chef preferido.
Lembro do meu aniversário, em como ele foi
atencioso, gentil e generoso comigo.
— Gostou do jantar habibi?
— Estava maravilhoso. Mas por que tudo isso?
— Você sempre me trata como uma rainha. E está
sempre cuidando de tudo e todos. Eu queria retribuir isso.
— Mas você é. Não apenas rainha da minha vida, mas
de toda Sahra, ayuni.
— Não é a primeira vez que me chama assim. Quer
dizer luz dos meus olhos, não é?
Rashid deposita o guardanapo na mesa e pega a
minha, fazendo-me ficar em pé.
— Ou no seu caso. Amor verdadeiro.
Sua declaração inesperada me faz ficar sem ar.
— Rashid...
— Já deveria ter falado há muito tempo, ayuni — ele
segura o meu rosto com tanto carinho, que traz lágrimas aos
meus olhos — Estava esperando o momento certo, mas ele é
hoje, agora, e, nenhum minuto a mais. Eu te amo, Suzana.
— Rashid... — sorrio, choro, sou um poço sem fundo
de tantos sentimentos e amor por ele — Eu também te amo.
Acho que me apaixonei por você no memento que o vi entrar
naquele bar.
— Foi amor à primeira vista, habibti — ele me beija
nos lábios com profunda devoção — Para nós dois.
— Um encontro de almas.
Eu sabia que era ele. O homem que meu coração
escolheu amar. O pai desse e todos os outros bebês que
viessem. Soube o tempo inteiro.
— Espera... — ronrono quando os beijos que dá em
meu pescoço me fazem estremecer — As surpresas ainda não
acabaram.
Ele olha para mim e ninha barriga redonda.
— Já tenho em mãos tudo o que preciso, amor.
Rashid. Sempre me dizendo as coisas mais lindas.
— Não. Mas quero te dar um presente antes. Vem
comigo.
Eu o guio para o nosso quarto que está todo decorado
como se estivéssemos em um cenário romântico de Mil e Uma
Noites.
Deixo-o no meio do quarto e vou até o grande objeto
coberto por cetim.
— Foi a primeira peça que fiz depois que fui embora.
Trabalhei nela por semanas pensando em você.
Tiro o tecido e uma escultura de Rashid surge.
“O homem no deserto”, foi o nome que dei e
conquistou muito interesse na exposição, mas não poderia me
desfazer dela.
— É lindo, Suzana.
— Taylor queria vender. Recebeu ofertas irresistíveis,
mas eu não podia fazer isso.
Ainda vou pintar e esculpir, mas não totalmente de
forma profissional, embora minha agente me tenha feito
prometer enviar algumas peças a ela. Como esposa do sheik,
qualquer quadro ou arte que eu produzisse, valeria muito mais
agora. No entanto, quero curtir nosso casamento e a vinda do
nosso filho o máximo que eu puder.
— Agora é seu. O meu presente de casamento —
aviso, tímida — Claro, se você quiser.
— Posso colocar na minha sala? — Ele pergunta
como um menino pedindo autorização para devorar o bolo dado
a ele.
— É seu presente, Rashid. Pode até jogar fora se
quiser.
— Eu jamais faria isso. Talvez um dia quando não
estiver tão ciumento, coloque no grande salão para todos
saberem como minha esposa é talentosa.
Eu fico muito emocionada que ele realmente tenha
gostado.
— Então, agora... — seu olhar faminto e cheio de
desejo me fala o que ele quer.
— Calma — agarro a túnica dele e o faço caminhar de
costas até cair sobre a cama — Tem só mais uma coisa.
O seu olhar felino me acompanha até o aparelho de
som. Eu tiro a minha própria túnica e mostro a ele o que havia
por baixo do tecido.
— Caramba, Suzana. Você quer me matar?
Estou com a mesma roupa de dança do ventre que ele
me deu no deserto. Precisei fazer alguns ajustes na cintura e
nos seios devido a gravidez. Ainda assim, vejo sua expressão
tão apaixonada como da primeira vez.
— Essa dança é especialmente para você, meu sheik.
Ligo a música e começo a execução dos passos
exatamente como Jamile me ensinou.
Todas as horas exaustivas treinando, valeram a pena.
Rashid não consegue desviar o olhar de mim. Ele passa a
língua nos lábios ao assistir os meus movimentos sensuais e os
nós dos seus dedos estão brancos de tanta força que ele
agarra os lençóis.
Mesmo com o meu ventre enorme, sinto-me linda e
sexy dançando para ele. Porque era mais do que o meu corpo
ondulando. Tinha a ver com o meu sorriso e meu olhar sedutor
para ele.
Quando a música acaba, ele vem até mim como uma
fera enjaulada, ganhando liberdade.
Seus beijos são cheios de fome e paixão. As suas
mãos exploram o meu corpo como se Rashid quisesse me
tatuar com seus dedos.
Febris arrancarmos as nossas roupas. E Rashid me
faz ir ao céu com sua boca fodendo sem piedade a minha
boceta molhada e desejando mais dele.
Ele se senta na cama e me conduz para o colo dele.
Essa é uma das nossas melhores posições agora. Posso ter o
controle e ir como eu quiser.
— Hum... — estremeço, segurando firme o seu ombro
quando o sinto me preencher toda — Rashid.
Ele me ajuda, segurando a minha cintura, a me mover
sobre ele.
É tão bom.
Os meus movimentos vão aumentando de velocidade
até o orgasmo chegar mais perto e ele explode em minha
cabeça, fazendo-me cair sobre Rashid.
Ele goza junto comigo, sussurrando o meu nome.

Rashid está fazendo carinho na minha barriga, depois


a beija. Há uma coisa que venho pensando há alguns dias,
sempre que ele é tão atencioso e carinhoso comigo e nosso
bebê.
— Rashid? — O meu chamado fraco o faz olhar para
mim — Eu não consigo entender você. Demonstra que que ama
o nosso bebê, mas o rejeitou. Aquilo me magoou muito.
Ele se senta na cama, apressado.
— Eu nunca rejeitei o nosso filho, Suzana.
— Talvez o acidente que você disse que teve, e os
dias que ficou no hospital, te fizeram perder da memória. Mas
você rejeitou, sim — lembrar disso ainda é uma ferida aberta
em meu peito, que todos os dias tento cicatrizar — Quando eu
voltei a Sahra para te contar do nosso filho. Jalal me colocou
para dentro do castelo e eu te vi.
— Jalal? — Ele demostra sincera confusão — Como
exatamente aconteceu?
— Ele pediu que eu esperasse. E depois eu vi você
indo em direção a saída. Te chamei, fui até você. Contei que
estava grávida e você disse que eu era louca. Que nunca tinha
me visto antes. Que eu era uma golpista querendo dinheiro e
que nunca se casaria com uma prostituta americana. Me
empurrou, depois mandou que os guardas me colocassem para
fora.
— Não era eu, ayuni — ele passa os seus dedos
trêmulos em meu rosto — Eu nunca faria isso.
— Era você, sim. Nunca te vi tão furioso daquela
forma, mas era você, Rashid.
— Não. Não era. Aquele era Hamed. Éramos gêmeos
idênticos. Se lembra do retrato que mostrei no salão?
Deveria, mas não prestei muita atenção na pintura
porque, preciso falar, não era um trabalho muito bom, além
disso, estava tão preocupado com Rashid, dele falar como seu
relacionamento com o irmão foi complicada, além da sua dor
pelo luto, ainda tão recente, que não, eu não prestei muita
atenção naquele quadro.
Ou talvez tenha sido o escudo que coloquei em meu
inconsciente e que eu não tinha derrubado até agora.
Eu não sei como não liguei esses pontos antes, mas
agora faz sentido. O homem que procurei, realmente parecia
nunca ter me visto antes. Isso que mais me magoou na época,
pensar que Rashid havia se esquecido de mim tão
rapidamente.
— Não era você? — balbucio, quase chorando.
— Não, ayuni. Aquele dia Jalal disse que você estava
aqui. Fiquei imensamente feliz sabendo que tinha voltado. Eu
queria saber por que tinha ido embora da primeira vez e sem ter
dito nada.
— Eu deixei uma carta com o gerente do hotel.
— Nunca a recebi.
— O meu visto tinha acabado. Eu não poderia mais
esperar. Achei que fosse um sinal seu para me fazer entender
que era o fim.
— O meu pai teve um infarto aquele dia. Ele descobriu
que Hamed estava me chantageando para renunciar a tudo e ir
embora — eu percebo que isso é algo que ainda o fere —
Alguém esteve envenenando o meu irmão contra mim. Mas
quer saber de algo? Estava disposto a largar tudo e depois ir
atrás de você. Por isso não consegui entender por que
escondeu o meu filho de mim.
— Ah, Rashid — soluço e ele me uxa para o seu colo
— Estivemos todo esse tempo enganados sobre o outro.
Tirando a galeria e quando me trouxe a força para Sahra.
Nunca fugi de você. Só tinha pavor de que me tomasse o bebê.
— E eu alimentei mais ainda esse medo, afirmando
justamente isso. Eu nunca cumpriria a promessa, Suzana. Eu
quis te dizer aquele dia ao aceitar o meu pedido, mas pensei
que fosse o destino me dando outra chance, então me calei.
Queria que vocês dois ficassem comigo, não importasse como.
— Dois tolos apaixonados — encosto a minha testa na
dele e sorrio entre as minhas lágrimas, dessa vez de felicidade
— Agindo como dois tolos apaixonado.
— O amor realmente nos deixa burros e cegos — ele
murmura entre os meus lábios trêmulos — Mas também nos
liberta. Eu amo vocês dois, ayuni.
A forma que Rashid afirma isso, que ele me olha e
principalmente acaricia a minha barriga onde nosso filho está
quentinho e protegido, me faz nunca mais duvidar a partir de
agora.
— Oh! — Ele me encara chocado e meu sorriso alarga
mais — Sentiu isso?
— É o nosso bebezinho dizendo ao pai dele que
também o ama muito.
E como para provar o que eu disse, o bebê chuta forte
o meu ventre de novo.
É o nosso momento mágico em família.
CAPÍTULO 41

Foi o melhor sexo de toda a minha vida.


Eu sei que sempre afirmo isso quando caímos suados
e exaustos na cama, mas havia algo diferente em Suzana.
Tanto que, por mais que tenha tentado resistir as suas
provocações, não consegui ficar imune as suas jogadas de
sedução.
E embora seu médico tivesse dado carta branca para
termos uma vida sexual ativa até o nascimento do bebê,
preocupa-me que isso deixe mais cansada do que o normal. Ela
diz que sou muito protetor, o que não posso negar.
Meu desejo e fome por ela nunca irá diminuir, mas seu
bem-estar e do nosso bebê vinham antes do meu inesgotável
apetite sexual por ela.
— Rashid? — Ela me chama baixinho enquanto passo
os meus dedos entre os fios macios dos seus cabelos e tento
normalizar minha respiração — Habibi, acho que chegou a
hora.
Tomo alguns segundos para compreender o que ela
está falando e quando faço isso, salto na cama, alarmado.
— A bolsa estourou — com um enorme sorriso, ela
aponta a cama molhada.
— Por Ala, Suzana! — Sinto como se o meu sangue
esvaísse do meu corpo como vapor — Eu disse seria arriscado
transarmos. É culpa minha.
Eu podia errar como emir de Sahra. Até tomar
algumas decisões políticas erradas. Mas não podia falhar com
eles dois.
— Rashid, você tem um pau enorme, querido — ela
tenta sorrir, mas uma contração a faz se curvar — Mas não o
suficiente para fazer a bolsa estourar.
Eu não estava convencido disso, mas o mais
importante era levar Suzana para sala hospitalar, criada no
palácio para atendê-la no momento do parto.
Pego-a no colo ignorando todos os protestos que ela
quisesse fazer e saio desesperado do quarto.
— Chame o médico imediatamente, Jalal — encontro
o meu amigo no corredor — O meu filho vai nascer.
— Ou filha — destaca Suzana.
Não importava para nenhum de nós dois, só
queríamos ver nossa criança chegar ao mundo bem.
De acordo com o médico, não foi um parto difícil, em
duas horas de trabalho, Suzana cumpriu a sua missão. Mas
para mim, vendo-a se esforçar, sofrer e chorar com as
contrações, levou uma verdadeira e angustiante eternidade.
— Aqui, Vossa Alteza — o doutor coloca o bebê no
peito de Suzana enquanto eu continuo a abraçá-la — Seu lindo
garotinho.
O meu rosto está molhado e não é apenas pelo suor
por todo esforço em dar apoio a minha esposa. É a emoção de
ver nosso filho pela primeira vez.
— Ele é tão lindo, Suzana — murmuro, beijando os
cabelos molhados dela — E perfeito.
Ela se emociona tanto quanto eu ao passar a ponta
dos dedos no rosto rechonchudo do nosso pequeno milagre.
— É tão grande e forte quanto o pai.
Realmente é um bebê muito robusto. E os meus traços
com os suaves de Suzana, o torna um garotinho lindo.
— E ele vai se chamar Khan bin Rashid bin Shalaan
bin Shahir Al Awad — avisa ela com orgulho, dizendo o nome
dele completo.
— Sabe o que significa Khan?
— Rei, governante. Assim como o pai dele.
Ele é mesmo o nosso reizinho. E se no futuro irá se
tornar sheik emir de Sahra, dos nossos corações Khan já é
dono.
— Obrigado por me tornar hoje o homem mais feliz do
mundo — viro-me o suficiente para buscar seus lábios, para um
beijo cheio de amor — Eu te amo, ayuni.
O nosso bebê que não quer ser ignorado por muito
tempo, bem no dia do seu nascimento, resmunga e voltamos
dar toda a nossa atenção a ele.
Quando os dedos pequenos seguram o meu com tanta
força, o meu amor por ele intensifica.
Por Suzana, principalmente.
A mulher que não é mais uma estrangeira me
fascinando, mas a dona do meu coração.
EPÍLOGO

Palácio de Fils
Alguns anos depois

Tento me concentrar no bloco de desenho, mas Rashid


e as crianças brincando no jardim tiram completamente a minha
concentração.
Admiro com o coração cheio de amor o nosso
pequeno Khan, cada dia mais lindo, de personalidade forte
como o pai e igualmente protetor comigo e seus irmãos mais
novos. A nossa pequena Hanna, que com seu olhar doce e
sorriso travesso, faz de Rashid gato e sapato. O mais novo da
família, o calmo e dócil bebê Jamil, que comemoramos o
aniversário de um ano, há dois meses.
Passo inconscientemente a mão pelo meu ventre.
Ainda não disse nada ao meu esposo sobre um novo príncipe
ou princesa crescendo em meu ventre.
— Amiga, não me diz que vai competir com a Katy
Middleton, em qual das duas terá mais bebês?
Viro para o local onde vejo Lucy surgir. Ela havia me
pegado no flagra sonhando acordada com a chegada de mais
um bebê. Nada escapa dos olhares atentos de Lucy.
— Olha só quem me diz isso. A pessoa que jurou que
nunca iria se casar e ter filhos.
Foi uma grande surpresa descobrir por quem ela havia
se apaixonado e que isso estabeleceu de uma vez por todas a
paz em Sahra. E estou muito feliz em ver que ela encontrou o
amor e é tão feliz quanto eu, com sua linda família.
— Eu só tive dois bebês.
— Até agora — o marido dela aparece trazendo as
crianças no colo.
O casal, como todos os apaixonados, mergulha na sua
bolha e eu deixo os meus rascunhos para depois.
Junto-me as minhas quatro preciosidades, sabendo
que logo seremos cinco.
— Algo me diz que esse sorriso feliz tem um motivo
muito especial, habibti.
Rashid me conhece tão bem. Ele sabe identificar cada
um dos meus sorrisos.
— Quanto especial você acredita que seja, meu amor?
— Levo sua mão ao meu ventre e isso faz soltar um urro de
felicidade.
As crianças olham curiosas para nós dois, mas quando
veem Rashid me girar no alto, rindo de felicidade, também
pulam e gritam em volta de nós dois. Até o bebê Jamil pula com
a bunda no chão.
Será que dessa vez viria mais uma menina para
formar dois casais, como sempre sonhei?
Houve uma época que havia desistido da felicidade.
Agora minha vida transborda dela e de amor.
Graças a esse sheik que havia roubado o meu
coração.
AGRADECIMENTO
Agradeço à Deus, primeiramente. A minha família, que
sempre me apoia em tudo e a cada leitor que deu oportunidade
de conhecer esse sheik maravilhoso.
Espero que todos vocês tenham gostado do livro. Foi
uma aventura incrível dar vida e voz ao Rashid e Suzana.
Para saber mais sobre os meus livros e próximos
lançamentos, me siga no Instagram: @agathacostaescritora.
Até breve com o próximo mocinho cadelinha da nossa
mocinha forte e determinada.
Quem será?
Beijos!

[1] Emir: Lider do país.


[2] Salam: Significa paz, mas também é um cumprimento íntimo.
[3] Aswad: É uma raça de cavalos criadas exclusivamente para esse livro.
[4] Dabab: Também é uma cidade fictícia para o livro.
[5] Easal: bebida criada para o livro, não é proibida e Sahra, mas apenas estrangeiras
costuma tomar em bares, restaurantes e ocasiões de festas.
[6] Chador ou Xador: É uma veste feminina que cobre todo o corpo com exceção do
rosto.
[7] Hijab: Modelo de lenço que as mulheres mulçumanas usam para cobrir os cabelos.
[8] Burj: Bebida criada para o livro, típico de Sahra, muito parecido com o whisky.
Assim, permitida em Sahra.
[9] Rashid: Nome próprio.
[10] Bin Shalaan: Nome do pai.
[11] Bin Shahir: Nome do avô.
[12] Al Award: Nome de família.
[13] Tabule: Uma saladinha fria com triguilho, tomate, pepino, salsa, hortelã e outros
temperos como suco de limão e pimenta.
[14] Babaganouche/Baba ganoush: É como um patê de beringela assada, tahine, e
suco de limão. É servido com pão sírio, mas também como salada.
[15] Asad: Região nas montanhas criada para o livro.
[16] Musafir: País criado para o livro. Significado viajantes.
[17] Keffiyeh: tradicional lenço quadrado, dobrado e usado em volta da cabeça, pelos
homens no Médio Oriente (árabes, curdos, judeus mizrahim e judeus do velho yishuv).
[18] Gahfiya: Pequena touca branca usada para prender o cabelo dos homens e
manter o keffiyeh no lugar. Pode ser feito de uma trama parecida com o crochê.
[19] Cirwal: consiste em uma calca larga usada pelos árabes e mulçumanos por baixo
da túnica. Acredita-se que foi uma invenção dos persas, adotada pelos árabes a partir do
século VII e incorporada ao longo do tempo por muitos países muçulmanos.
[20] Chinzir: Porco. O porco é considerado um animal imundo.
[21] Ayuni: Luz dos meus olhos. O verdadeiro amor.

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