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— Eu te odeio.

Ele riu e beijou o espaço abaixo da minha


orelha enquanto afastava a mão do meu pescoço
para segurar meu quadril. — Coloque os braços
ao meu redor.
— Não.
— Humm. — Ele me levantou com as duas
mãos na minha cintura. Agarrei seus ombros,
ofegante quando ele pressionou a virilha no ápice
entre minhas coxas. — Me segure com as pernas,
baby. Ou você vai cair.
— Me coloque no chão.
— Sem chance. — Ele capturou minha boca e aproveitou meu choque
para passar a língua entre meus lábios.
O que está acontecendo? Por que ele está fazendo isso?
E ah, não, isso... não pode... estar... acontecendo.
Me senti tonta.
A adrenalina envolveu meus membros.
Eu queria machucá-lo. Precisava lutar. Porque isso não podia continuar!
Mordi sua língua, mas fui recompensada com um sabor rico. Paralisei.
Em seguida, gemi. Ah, meu... luxúria extraordinária encheu nossas bocas,
me distraindo do meu objetivo e me jogando em um turbilhão de desejo do
qual não poderia escapar. Caí de cabeça na sensação, permitindo que meus
instintos assumissem o controle.
Minhas pernas estavam ao redor de sua cintura em um segundo.
Meus braços envolvendo seu pescoço.
E sua essência revestiu meus lábios, minha boca, minha garganta.
Gemi, desejando outra prova daquilo. Ele me deu, deslizando a língua
pela minha, me alimentando com aquele delicioso líquido que eu desejava.
Ele manteve uma mão em meu quadril enquanto subiu a outra até meu
cabelo, entrelaçando os dedos nos fios e inclinava minha cabeça para
receber melhor seu beijo.
Uma parte de mim estava gritando para pararmos. Mas eu não podia
ouvi-la sobre o rugido de necessidade em meus pensamentos.
Um calor diferente de tudo que já senti queimava em minhas entranhas,
pulsando em minhas veias com um pensamento: mais.
Rainha dos Vampiros
Livro Um
Livro Dois
Livro Três
Livro Quatro

Rainha dos Elementos


Livro Um
Livro Dois
Livro Três
Rainha dos Vampiros: Livro Um - Midnight Fae Academy: Book One (English)
Lexi C. Foss
Copyright de Midnight Fae Academy © Lexi C. Foss, 2020.
Tradução: Andreia Barboza
Copidesque da tradução: Luizyana Poletto.
Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são produtos da
imaginação do autor ou foram usados de forma fictícia e não devem ser interpretados como reais.
Qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, eventos reais, localidades ou organizações é
inteiramente coincidência.
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9610 de 19/02/1998. Exceto para o uso de
pequenos trechos em resenhas, é proibida a reprodução ou utilização deste livro, no todo ou em parte,
de qualquer forma, sem a permissão prévia por escrito do detentor dos direitos autorais deste livro.
Design de capa: Raquel Lyon, Crooked Sixpence
eBook ISBN: 978-1-68530-095-1
Capa Comum ISBN: 978-1-68530-096-8
A Matt, Laura e Vicki, pelo apoio e amor constantes, e por me permitirem
terminar esta história durante as férias. Vocês sempre respeitaram e
entenderam minha necessidade de escrever. Afinal, é bom para o coração.
;) Obrigada pelas memórias. Beijos.
CONTENTS

Sinopse

1. Aflora
2. Aflora
3. Kols
4. Aflora
5. Kols
6. Aflora
7. Aflora
8. Aflora
9. Aflora
10. Zeph
11. Aflora
12. Aflora
13. Kols
14. Aflora
15. Aflora
16. Aflora
17. Kols
18. Zeph
19. Aflora
20. Aflora
21. Zeph
22. Aflora
23. Kols
24. Kols
25. Aflora
26. Zeph
27. Aflora
28. Shade
29. Kols
30. Aflora
Epílogo: Kols
Zeph
Rainha dos Vampiros: Livro Dois
Rainha dos Elementos: Livro Um

Ilha Carnage
Agradecimentos
Sobre a autora
Mais Livros de Lexi C. Foss
Bem-vindos à Academia Fae da Meia-Noite.
Lar das Artes das Trevas.
Vampiros.
E Faes cruelmente bonito.

Uma mordida proibida levou à minha captura e recrutamento.


Não há flores aqui.
Nem vida.
Apenas morte.

Sou uma Fae da Terra que não pertence a esse lugar.


Eles podem jogar seus joguinhos mentais o quanto quiserem, mas vou
encontrar um jeito de voltar ao meu mundo elemental. Mesmo que isso me
mate.

Só que o diretor Zephyrus está um passo à frente dos meus movimentos.


O príncipe Kolstov não para de me encurralar.
E Shadow, a razão pela qual estou nessa confusão, assombra meus sonhos.

Minha afinidade com a Terra está morrendo e sendo substituída por algo
mais sinistro. Algo poderoso. Algo mortal.

Os Faes da Meia-Noite acreditam que este é o meu destino.


Eles alegam que fui “recrutada” para um propósito.
Para combater uma presença em ascensão.
Ou morrer tentando.
Não devo nada a eles. Mas se eu tiver que passar por suas provações para
encontrar o caminho de casa, que assim seja. Sobrevivi a uma praga e coisa
muito pior no reino Fae Elemental. Uma energia sinistra? Por favor. Que
piada.

Dê o seu melhor.
Estou à espera.
E não ouse me morder.
Ou vou fazer você se arrepender.

Nota da autora: Esta é uma série sombria de harém reverso paranormal


com elementos enemies-to-lovers. Apesar das opiniões de Aflora sobre o
assunto, com certeza haverá mordidas. Shadow, também conhecido como
Shade, garante. Este livro termina em um cliffhanger.
CAPÍTULO UM
AFLORA

G lacierDeestava
novo.
atrasado.

Toda essa coisa de relacionamento à distância em que nos


encontrávamos no Reino Humano não estava dando certo para mim. O Fae
da Água nunca aparecia na hora.
Ele me deixou sentada neste café no meio de Orlando com uma caneca
em forma de rato com um líquido escuro. Como os humanos bebiam essas
coisas estava além de mim. Um gole e eu queria vomitar.
Mas vim para fazê-lo feliz. Porque eu não o via há mais de um mês
devido às férias do solstício de verão.
As coisas ficariam bem quando voltássemos para a Academia, em
algumas semanas. Talvez. Exceto que sempre teríamos esse problema
elemental pairando sobre nossas cabeças, comigo sendo a herdeira do trono
Fae da Terra, e ele sendo um velho Fae da Água normal.
Soprei o líquido fumegante, mais para mascarar meu suspiro frustrado
do que para esfriá-lo. Porque sim, eu não ia beber isso. Eu tinha um pouco
de hidromel dos Espíritos na minha geladeira em casa só esperando para ser
aberto.
Outro olhar para o relógio me fez balançar a cabeça.
— Isso é ridículo — murmurei para mim mesma. Eu não deveria ter que
esperar mais de uma hora por um garoto. Especialmente por alguém que
dizia que me adorava.
— É mesmo — uma voz feminina respondeu quando algo comestível e
redondo, decorado de azul, apareceu ao lado da minha caneca. — Coma um
muffin. Por conta da casa.
Fiz uma careta para o bolinho antes de olhar para a mulher que o
entregou.
Arqueei as sobrancelhas em surpresa.
— Uma Fae Fortune — falei, olhando ao redor para ter certeza de que
ninguém ouviu minha admissão antes de notar seu vibrante avental verde.
— Uma Fae Fortune trabalhando em uma cafeteria humana? — Soou como
uma pergunta, porque que tipo de Fae escolheria residir neste reino?
Principalmente com essa herança? — Deve ser um trabalho assustador, com
pessoas te tocando o dia todo.
Fiz um curso no ano passado sobre Faes Fortune. Enquanto eles
adoravam tirar cartas – para contar o futuro – odiavam ser tocados.
Inspirava visões, geralmente indesejadas. E imaginei que os humanos
teriam o mesmo impacto.
Ela jogou seu longo cabelo escuro – semelhante ao meu – por cima do
ombro e riu. Pelo menos, ela não tilintava como alguns Faes preferiam.
Aquilo envelhecia rapidamente.
Não, esta Fae não tinha medo de demonstrar seu humor.
Uma característica que a tornou querida para mim de imediato.
— Quem é você? — perguntei em voz alta.
Seu sorriso alcançou os olhos azuis.
— Gina — ela respondeu, se sentando na minha frente. — Achei que
você gostaria de ter companhia, já que seu encontro não apareceu. Ah, mas
não é por culpa dele, garanto. Feliz ou infelizmente, essa será a menor de
suas preocupações muito em breve. — Ela piscou e suas íris azuis ficaram
claras por meio segundo antes de voltar ao normal.
Uma visão, percebi. Um hábito notório de sua espécie, assim como o
comentário enigmático.
Suspirei.
— Eu esperaria mais. Não acho que os pais dele se importam com o
nosso relacionamento. — Peguei o muffin, tentando descobrir por que um
humano comeria uma coisa dessas. Parecia tecido. — A propósito, sou
Aflora.
— Eu sei — ela respondeu e sua expressão se iluminou. — Única
herdeira do trono Fae da Terra. É um prazer conhecê-la, Alteza.
O tom provocante de sua voz me fez bufar.
— Sim, duvido que você se sinta assim. — Semicerrei os olhos. — O
que me diz que você está aqui por outra razão.
— Ah, estou — ela concordou. — No entanto, nossos caminhos terem
se cruzado é só uma coincidência do acaso. Só tomei conhecimento do seu
destino recentemente, quando senti a perturbação do equilíbrio. Vai ser um
ano interessante para você, Aflora. Supondo que você vá pegar o caminho à
esquerda. Humm, mas se você for para a direita, acho que ele vai te pegar
de qualquer maneira. Afinal, você está nos pensamentos dele agora.
— Uh-hum. — Essa garota estava provando que todos os meus livros
estavam certos sobre Faes Fortune e sua propensão para falar em enigmas.
— Bem, isso parece divertido.
— Será. — Ela sorriu novamente, mas vacilou quando seu olhar cintilou
mais uma vez. — Merda. — Ela olhou para o relógio e se afastou da mesa.
— Eu daria alguns conselhos para a estrada à sua frente, mas tenho que
correr. Meu futuro continua me encontrando, apesar dos desvios de
caminho. — Ela me deu um aceno com os dedos e saiu correndo do café,
ainda usando o avental.
Fiquei boquiaberta olhando para ela, assim como vários dos clientes ao
meu redor.
Pelo que pude dizer, ela era a única de plantão.
E é por isso que contratar um Fae é má ideia, pensei para o dono do
lugar. Não somos o tipo mais confiável em seu mundo.
Assim como meu encontro atrasado.
Com um suspiro, deixei o café e o muffin de lado. Pelo menos, entendi
essa parte da profecia de Gina: Glacier não viria.
Certo. De qualquer maneira, eu preferia meu hidromel dos Espíritos a
um encontro com um garoto.
Pegando a bolsa, deixei a caneca em forma de rato e o bolo enrolado em
papel na mesa e saí para o sol do início da tarde.
Pelo menos, Orlando tinha um clima bom: abafado, quente e muito
brilhante. Sorri enquanto vagava em direção ao portal, absorvendo os
elementos ao longo do caminho. As plantas tropicais daqui não
sobreviveriam com facilidade em meu mundo natal, mas talvez eu pudesse
fabricar uma estufa para acomodá-las.
Parei para tocar uma árvore particularmente bonita, com grandes folhas
verdes brotando do topo. Humm, isso seria fácil de...
A dor subiu pela lateral do meu corpo quando algo duro bateu em mim,
me empurrando vários passos para frente.
— Desculpe! — um humano gritou enquanto pedalava em uma
engenhoca de duas rodas.
Uma bicicleta, minha memória forneceu, lembrando de um curso sobre
transporte mortal.
Olhei para ele, pronta para reclamar, quando uma mão roçou em meu
braço.
— Você está bem? — uma voz profunda e masculina perguntou, com o
sotaque suave.
— Ah, estou sim. Obrigada. — Olhei para um par de olhos azul-gelo. A
cor e a perfeição das íris me deixou em silêncio.
— Tem certeza? — ele pressionou, passando os dedos no meu braço e
deixando arrepios em seu rastro. Ele sorriu, revelando um par de covinhas
que não pareciam combinar com o queixo quadrado e robusto ou a barba
por fazer castanha escura que aparecia em seu queixo.
Deve ter feito a barba há cerca de cinco horas, pensei. Em seguida
pisquei. Espere, por que eu me importo com uma coisa dessas?
— Cuidado, linda — ele advertiu, envolvendo o braço na minha cintura.
— Você está oscilando.
— Estou? — sussurrei, sentindo a garganta ficar seca enquanto seu
perfume inebriante me cercava. Humm, uma especiaria sombria com um
aroma terroso. Me inclinei para ele, pressionando a lateral do meu corpo
em seu torso duro.
Derretendo.
Caindo.
Enredada por sua masculinidade e graça.
Isso não está certo, pensei, franzindo a testa. Eu nem conheço esse
cara.
Tentei me afastar, mas meus pés recusaram meu comando mental.
O que está acontecendo com...
— Você está sangrando — ele murmurou, me segurando com mais
firmeza enquanto a outra mão desceu pelo meu braço.
Olhei para baixo e vi o fio vermelho escorrendo da minha pele.
E pisquei.
— Como? — perguntei, tentando me livrar do torpor para forçar minhas
pernas a trabalharem. Mas me senti enfeitiçada, perdida no toque do
estranho, como se estivesse sendo puxada para um sonho.
Uma parte de mim reconheceu a magia, sentiu os tentáculos sombrios
dela penetrando em meus poros. Com isso, trouxe lembranças da época em
que quase morri, como lutei para me agarrar à fonte da minha existência em
um esforço inútil para salvar a todos, menos eu.
— A moto — o estranho ao meu lado disse baixinho, me tirando da
imagem de pesadelo que ameaçava capturar minha mente. — Ela te acertou
quando ele fez a curva. Tolo desajeitado.
— Ah. — Engoli em seco. — Estou bem.
Menos o estado de devaneio para o qual perdi meus sentidos.
O mundo mudou quando ele nos levou para a porta de um prédio que
reconheci como meu destino. Estranho. Eu poderia jurar que estava a um
quarteirão de distância.
Quem é esse cara? Por que ele está me segurando?
Seu braço afrouxou, me dando a chance de fugir, mas senti as costas
pressionadas contra uma parede e minha visão se perdeu em uma névoa de
escuridão momentânea.
Algo está errado. Um pensamento que tentou aparecer momentos atrás,
mas que desapareceu sob esse estranho magnetismo. Seja qual for o feitiço
que ele lançou sobre mim, minha mente entrou em curto-circuito e meu
corpo se dobrou sob seu comando.
Deve... parar... isso...
— Ele me avisou que você era linda, Aflora — a voz sussurrou, com o
rosto muito perto do meu pescoço. — Mas eu não esperava que você fosse
uma florzinha tão delicada.
Sorri com a frase.
— O-o quê? — gaguejei e minha respiração pareceu me escapar quando
ele beijou meu pescoço. O que você está fazendo? Eu queria questionar,
mas minha boca rejeitou as palavras, preferindo gemer. Como você sabe
meu nome?
Isso não pode…
Oh…
Sua boca tocou minha pele, fazendo com que meus joelhos se
dobrassem.
Elementos Sagrados…
Isso era ruim. Senti a ilicitude disso se formando dentro de mim,
acendendo meus instintos, apenas para receber a influência de uma sedutora
nuvem escura.
Magia sombria, reconheci, sentindo meu coração quase parar. Ela girou
ao nosso redor, se infiltrando em minha capacidade de raciocinar. De
pensar. De correr.
— Pare — consegui dizer, mas minha ordem se perdeu na rouquidão da
minha voz.
Ele riu contra o meu pescoço e sua língua me tocou para provocar
minha pulsação acelerada.
— Eu gostaria de poder, flor delicada. Mas me foi dada uma tarefa.
Você.
Fechei os dedos e meus membros travaram enquanto eu lutava para
quebrar o feitiço que ele teceu sobre minha forma.
O que só me rendeu outra risada do poderoso Fae da Meia-Noite diante
de mim.
— Humm, sim. Mais disso, por favor. — Ele mordiscou a pele macia
atrás da minha orelha e sua diversão era palpável. — Eu estava começando
a me perguntar se talvez eu tivesse encontrado a Fae errada, com sua
aquiescência fácil e tudo mais.
Aquiescência fácil.
Eu mostraria a ele a aquiescência fácil.
Assim que eu pudesse encontrar minha vontade de me mover.
Mas sua magia me envolveu em um mar de preto, cortando meu acesso
ao elemento que eu dependia para sobreviver, e afundou garras duras em
minha alma.
Cerrei os dentes, furiosa por ter permitido que ele me prendesse com
tanta facilidade. Aquela moto me surpreendeu, permitindo que esse Fae da
Meia-Noite idiota me prendesse em sua teia escura.
Felizmente, não foi meu primeiro encontro com seu tipo de magia.
Fechando os olhos, ignorei os fios de tinta flutuando ao meu redor e me
concentrei em encontrar o núcleo da minha força.
Terra.
Era perigoso acessar a fonte do meu elemento, mas minha linhagem real
me permitia procurá-la, ver a Árvore do Mundo original. Suas raízes
maciças pareciam um emaranhado de vida estendendo-se a todos os Fae da
Terra vivos, a banda mais grossa se conectando a mim – a última herdeira
Fae da Terra.
Rastejei ao longo dele, absorvendo sua força e preparando meu ataque.
O Fae da Meia-Noite não saberia o que...
Seus caninos se afundaram em mim, arrancando um grito da minha
garganta. Medo, escuridão e desejo inundaram meus sentidos de uma vez.
Uma negação entreabriu meus lábios. Minha alma gritou com o erro de sua
mordida. Enquanto meu corpo se derretia nele em uma forte traição da
minha mente.
Uma lágrima escorreu do meu olho enquanto o prazer de seu abraço
cortava profundamente meu espírito e minha mente reconhecia o horror
absoluto do que isso significava.
Os Faes da Meia-Noite não podiam se associar a outros Faes em
qualquer capacidade. E isso incluía provar o sangue de um elemental ou de
qualquer outro Fae.
Isso desafiava todas as regras que já aprendi, e não apenas por causa de
seus dentes em meu pescoço, mas por causa da necessidade muito visceral
que seu toque provocou dentro de mim.
— Pare — exigi, mas o gemido subjacente à palavra menosprezou
minha intenção.
Ele segurou meu quadril com uma mão. Seu peito era como uma parede
sólida de músculos na minha frente. Como meu agressor podia ser tão
gostoso? Cada parte sua parecia se alinhar perfeitamente contra mim,
incluindo a ereção impressionante empurrando meu ventre.
Errado, eu me lembrei. Mas tão bom.
Eu queria desmoronar em uma pilha de agonia e êxtase ao mesmo
tempo. Mas a cada aperto, eu sentia minha conexão com os elementos
vacilar, a energia vital que eu adorava escorregava do meu alcance.
Ceder a ele, me perder dessa maneira... Não. Eu não podia. Eu tinha que
lutar. Meus irmãos Fae entenderiam. Eles o processariam por isso. Porque
não era minha culpa. Eles tinham que saber disso.
Eu esperava.
No entanto, se eu não demonstrasse ao menos descontentamento, eles
me assumiriam como cúmplice desse crime. E então nós dois seríamos
punidos.
Meus membros começaram a esfriar enquanto meu sangue fluía na
direção errada – em direção a sua boca. Não havia muito tempo. Eu tinha
que me posicionar agora, enquanto a alimentação o distraía.
Fechando os olhos, me permiti ficar mole, fingindo submissão. Venha a
mim, chamei a fonte do meu poder elemental. Me encha com a vitalidade
que eu preciso.
Isso seria mais fácil no mundo elemental, o Reino Humano era muito
distante do núcleo da minha energia. Mas atendeu ao meu chamado,
reconhecendo minha linhagem real e me encheu com força suficiente para
balançar a fundação do solo.
Isso derrubou o estranho, fazendo com que ele perdesse o controle por
apenas um momento.
Me livrei de seu aperto, agarrei as rochas próximas das paredes e
ordenei-lhes que caíssem sobre ele.
Mas ele as desviou com um movimento do pulso e seu olhar gelado
brilhou com sua essência sombria.
— Vai se arrepender disso, princesa.
— Acho que vou me arrepender de muitas coisas — retruquei, fazendo
um tijolo mais pesado voar em sua direção.
Ele o empurrou de lado antes de girar em uma nuvem cinza.
Entreabri os lábios, chocada por seu ato de desaparecimento.
Que era exatamente o que ele queria – uma distração.
Cordas sombrias foram amarradas ao redor do meu torso, me puxando
para trás.
— Ah Fae, não — falei, tentando inutilmente quebrar as faixas
esfumaçadas, mas elas eram recolocadas toda vez que eu cortava uma.
E então as portas se fecharam.
Me inclinei em direção aos botões, mas ele foi mais rápido. Sua mão
pareceu digitar um código estranho que definitivamente não combinava
com o destino que eu tinha em mente.
— Ah, querida — ele murmurou, se materializando ao meu lado. —
Parece que preciso confessar que cometi um crime. Espero que você não
tenha medo dos Faes da Meia-Noite, linda. Porque você está prestes a
conhecer um conselho inteiro deles.
CAPÍTULO DOIS
AFLORA

N unca fui uma pessoa particularmente violenta, mas eu realmente queria


matar o lunático sorridente que estava sentado à minha frente. Ele
envolveu meus pulsos em algum tipo de fumaça impenetrável antes de me
empurrar em uma cadeira no que parecia ser uma espécie de área de
recepção.
Só que não havia recepcionista.
E o cômodo era tudo, menos acolhedor.
Trepadeiras semelhantes a cobras subiam pelas paredes. Seus olhos
vermelhos brilhantes cintilavam de forma intensa nas extremidades. Eu
parecia ser o objeto de seu foco e suas caudas chacoalhavam e sibilavam em
uma batida sinistra que perturbou minhas entranhas.
Toda vez que eu me movia, elas se moviam mais rápido. Assim como
fizeram agora. O Fae da Meia-Noite louco na minha frente fez um som de
aviso, sugerindo que eu não irritasse as serpentes guardiãs, o que me fez
apertar a mandíbula. Ele não apenas não me disse seu nome, mas também
se recusou a explicar por que me mordeu.
Estremeci. A sensação de suas presas em meu pescoço ainda era muito
tangível e real. Ele deixou para trás algum tipo de vínculo que eu podia
sentir mais do que ver.
Bati nele de novo, então me encolhi quando a parede sibilou em
resposta.
— O que é isso? — questionei.
— Vinhas mágicas — meu captor falou. — Protege os terrenos reais de
intrusos. E, se estou entendendo a contorção corretamente, elas acreditam
que você é uma ameaça. Se fosse você, eu ficaria parado, princesa, ou elas
podem te morder.
— Assim como você? — resmunguei.
Ele sorriu.
— Humm, não, minha mordida inspira prazer. — Ele olhou para a cobra
mais próxima da minha cabeça com os olhos azuis gelo. — A delas, nem
tanto.
Abri a boca para dar uma resposta quando as portas cor de ébano no
final do corredor se abriram e um homem de cabelos escuros usando vestes
longas e esvoaçantes veio em nossa direção.
— Qual é o significado disso, Shadow?
Shadow? Olhei para meu acompanhante. O nome dele significava
sombra em nosso idioma? Jura?
Supus que ele tinha uma propensão a desaparecer em espessas nuvens
de fumaça.
— O que você quer que eu diga? — Shadow perguntou com os braços
esparramados no encosto do sofá. Ele era a epítome da indiferença
preguiçosa. — A Fae Real da Terra e eu nos empolgamos um pouco,
minhas presas escorregaram e, você não imagina! O sangue dela reagiu à
minha mordida.
Entreabri os lábios com a horrível lembrança do que aconteceu.
— Nos empolgamos? Presas escorregaram? — repeti, ficando de pé,
mas fui arrebatada pelas vinhas que deslizavam pela parede.
Gritei e a fumaça em volta dos meus pulsos se apertou quando uma
cobra se enrolou no meu pescoço e o apertou para silenciar o som.
O recém-chegado suspirou e sacou uma varinha.
— Solte — ele sussurrou, acenando com o bastão violeta no ar.
Um chiado de energia tocou minha pele, e o mistério nela entrou em
contraste direto com a minha essência da terra por dentro. Estremeci. A
sensação estranha me deixou nervosa, mesmo quando as cobras e as cordas
esfumaçadas desapareceram.
Meus joelhos se dobraram por instinto, me fazendo bater contra algo
duro e masculino.
Shadow.
Seu peito encontrou meu nariz e seus braços me envolveram quando ele
me pegou antes que eu pudesse cair no chão.
Quase grunhi, mas minha modéstia teve precedência.
Depois de arrumar a blusa e a saia, eu o empurrei para longe.
— Não me toque.
— Não foi isso que você disse há uma hora, princesa.
Um grunhido diferente de qualquer outro que eu já havia soltado antes
saiu da minha boca quando me lancei para ele, desejando causar o maior
dano. Mas ele me pegou em seus braços novamente, rindo o tempo todo.
— Está vendo o que quero dizer, pai? Ela é uma gata selvagem que não
consegue tirar as mãos de mim.
Pai?
Balancei a cabeça. Quem se importava?
— Vou te matar!
— Tente — foi a resposta arrogante de Shadow.
Argh! Eu queria gritar, chamar uma árvore para jogar esse idiota no
chão, mas meus poderes me recusavam aqui, meu acesso à fonte havia sido
cortado por algum tipo de magia sombria. Caso contrário, eu a teria usado
para escapar assim que chegamos.
— Você a mordeu — o pai de Shadow falou.
Ele era claramente um gênio, porque eu ainda tinha as marcas do ataque
no pescoço. E se estivesse com os braços livres, teria apontado como
referência, caso ele precisasse vê-la de perto. Mas Shadow me prendeu
contra si, esmagando meus seios em seu peito enquanto me mantinha cativa
em seu aperto muito musculoso.
Shadow sorriu para mim.
— Como eu disse, uma coisa levou a outra e...
— Você tem alguma ideia do que fez? — seu pai questionou, cortando o
filho idiota.
— Bem, achei que seria só uma prova, mas sim, estou bastante ciente
do vínculo de companheiros se encaixando. Por que mais eu teria entrado
voluntariamente neste lugar terrível se não para relatar o erro?
Vínculo de companheiros?
— Que vínculo de companheiros? — Lutei em seus braços mais uma
vez, mas ele me segurou com a facilidade de um Fae muito mais forte.
Era por isso que eu precisava ter mais aulas de autodefesa. Eu me
acostumei a confiar no meu elemento, que aparentemente não funcionava
neste reino sombrio.
— Nosso vínculo de companheiros — Shadow murmurou. — Estamos
unidos agora, princesa. Para todo sempre.
— Pare de me chamar assim.
— É o que você é, certo? Uma Princesa Fae da Terra? — Ele inclinou a
cabeça para o lado. — Ou você é uma rainha, sendo a única herdeira dos
Fae da Terra?
— Basta — seu pai ordenou enquanto sua capa ondulava ao redor do
homem mais velho com poder. Ele semicerrou os olhos azuis – da mesma
cor que os de seu filho – para Shadow. — Você percebe que pode ser
excomungado por isso?
Shadow deu de ombros.
— Me salva de ter que passar mais um ano na Academia.
Um som baixo e raivoso retumbou do peito de seu pai.
— E a garota? O acasalamento entre espécies é ilegal. Eles podem
exigir a morte dela, ou pior, a sua morte.
Espere, como a morte dele é pior que a minha?
— Eu nem quero estar aqui — eu disse, furiosa. — E você não pode me
matar. Sou a única herdeira da Terra. Se eu morrer, o elemento morre
comigo.— Não era exatamente verdade. Alguém, talvez Sol, provavelmente
assumiria meu acesso à fonte. Mas esperava que eles não soubessem disso.
Seu pai nem olhou para mim, mantendo o olhar ardente em seu filho.
— Leve-a para a masmorra e tranque-se lá dentro. Você sabe o caminho.
Vou até você se e quando o Conselho precisar de um comentário.
— Com licença, eu gostaria de fazer um comentário agora — exigi. —
Seu filho me mordeu contra minha vontade, depois me sequestrou e me
trouxe para este reino. Eu não deveria estar aqui. Nem você pode me manter
aqui. O Conselho Fae Elemental não vai tolerar isso.
Bem, eles poderiam.
Ser mordida por um Fae da Meia-Noite definitivamente quebrou várias
das leis interespécies que regem as relações feéricas. Mas foi contra a
minha vontade. A rainha Claire ficaria do meu lado. Ela me conhecia bem o
suficiente para saber que eu nunca faria algo assim.
— Eu sou a única herdeira Fae da Terra — acrescentei. — Meu pessoal
depende da minha conexão com a fonte para prosperar. Cada momento que
você me mantém aqui é...
— Chega — o pai de Shadow falou, sua expressão parecendo pedra. —
O Conselho Fae da Meia-Noite opera de forma muito diferente do seu. Se
você tem algo importante a dizer, seu pretendente entregará a informação
em seu nome, já que não são permitidas mulheres na Câmara do Conselho.
Arqueei as sobrancelhas. Para que tipo de reino de pensamento
retrógrado eu fui arrastada? Não, melhor pergunta...
— Quem é o meu pretendido?
Shadow riu.
— Eu, querida.
— O-o quê? — gaguejei. — Ele me agrediu e você quer deixá-lo falar
em meu nome? — Inacreditável. — Isto é uma tremenda batida de frutas!
— O quê? — Shadow perguntou.
— Me deixe ir — eu respondi. Ele não merecia uma resposta para essa
pergunta ou qualquer outra.
— Não posso fazer isso, princesa. Recebi ordens para levá-la lá para
baixo. Regras do Conselho. — Ele deu de ombros sem remorso, o que me
deixou louca para socá-lo.
— Agora, Shadow — seu pai disse e seu tom provocou um arrepio na
minha espinha.
No que foi que me meti?
Shadow me levantou do chão como se eu não pesasse nada – o que,
comparada a ele, eu provavelmente não pesava. Ele era bem mais alto que
eu, o cretino.
— Me coloque no chão.
— E você questionou meu apelido — ele murmurou. — Deu ordens a
torto e a direito como a porcaria de uma princesa.
— Porque você insiste em me maltratar — rebati, desejando mais do
que nunca poder acessar meus dons. Eu enrolaria uma videira em seu
pescoço e veria o que ele achava disso. Depois pegaria uma raiz de árvore e
esmagaria seu crânio.
A bela imagem se dispersou quando ele abriu uma porta de ferro com
um chute e começou a descer os degraus.
Cada parte de mim paralisou com a ameaça real de ir para o subsolo.
— Shadow — sussurrei. — Por favor.
Ele franziu a testa para mim.
— Por favor, o quê? Não é como se eu fosse te machucar. No entanto,
de qualquer maneira. — Ele balançou sua cabeça. — Sério, eu esperava um
pouco mais de fogo, princesa. Em vez disso, você é tão fraca quanto uma
garotinha.
Tensionei a mandíbula mesmo quando meu coração começou a bater
forte.
Cada passo nos levava mais fundo no subsolo. Meus pulmões
começaram a se apoderar da minha incapacidade de respirar.
Faes Elementais não pertenciam a esse lugar.
Faes Elementais precisavam de sol.
Faes Elementais morriam no subsolo.
Demorava semanas, às vezes meses, mas só a ameaça de ser levada para
algum lugar tão escuro e sombrio fez com que o pânico paralisasse cada
membro.
Shadow disse alguma coisa, mas não consegui ouvi-lo por causa da
batida forte em meus ouvidos.
Minhas costas bateram em uma almofada macia que eu mal senti.
Pedras, trepadeiras e coisas indescritíveis dançavam em minha visão.
Uma nuvem escura. Novas vozes.
Lute, uma parte de mim insistiu. Isso está tudo em sua mente.
Sim, tenho certeza de que a estátua de gárgula olhando para mim era
muito real.
Ah, eu tinha lido sobre isso. Elas disparavam lasers dos olhos. Ótimo.
Divertido. Por que havia uma na minha cela?
Shadow parecia estar falando com ela.
Certo, porque provavelmente eram velhos amigos.
Mas eles pareciam estar discutindo.
Talvez eu pudesse assistir a criatura de pedra esfolar meu “pretendido”
vivo. Humm, eu iria gostar muito disso. O calor começou a se agitar dentro
de mim com o pensamento e meu terror inicial começou a diminuir sob uma
onda muito mais violenta.
Desde que ele não me mantivesse aqui embaixo por muito tempo, eu
ficaria bem.
O que significava que precisava me recompor e encontrar uma saída.
Não era uma tarefa fácil, considerando que ele trancou a porta.
Que tipo de idiota se coloca voluntariamente em uma masmorra?
— Um inteligente — Shadow respondeu.
Franzi o cenho.
— Perguntei isso em voz alta?
— Não, mas você praticamente gritou comigo. — Ele estremeceu e
desabou sobre uma pilha de travesseiros no chão de obsidiana.
— Isso não faz nenhum sentido.
Ele deu um tapinha na cabeça.
— Use a cabeça, princesa.
Sim, porque você é muito bom em usar a sua, pensei com amargura.
Ele bufou como se tivesse ouvido.
Então percebi o que ele queria dizer.
— Ahhhh, não. Você não está tão na minha cabeça. — Eu teria uma dor
de cabeça colossal de outra forma.
— Não, estou no seu sangue, Princesa Flor — ele respondeu, parecendo
exasperado. — Sério, você não estuda o acasalamento de outras culturas no
seu mundo? Porque tive que estudar um semestre inteiro sobre a sua espécie
fraca no ano passado e, embora esteja provando ser útil agora, me entediou
quase até a morte.
— Não somos fracos — rebati. — E para sua informação, sim, tive uma
aula sobre política Fae. Você quer falar sobre chatice, esse curso leva o
biscoito de lírio.
— Biscoito de lírio? — ele repetiu, arqueando uma sobrancelha. — Que
merda é um biscoito de lírio?
— Achei que você estudava minha espécie, Shadow. Talvez você tenha
perdido esse capítulo em seu livro.
Ele bufou.
— Que seja. — Ele esticou as longas pernas, cruzando-as nos
tornozelos enquanto relaxava ainda mais na cama improvisada. — Nós
vamos ficar aqui por um tempo, princesa. Melhor descansar um pouco antes
que o Conselho dê seu veredicto.
Dormir. Sim, isso ia acontecer.
Mesmo com ele me dando a cama – um gesto que me recusei a avaliar –
eu nunca seria capaz de dormir aqui. Não com ele à espreita tão perto. Ou
aquela gárgula de pedra pendurada no canto.
Encontrei os olhos vermelhos da criatura e me encolhi.
Como um produto da terra, eu deveria ser capaz de comandá-lo.
Mas a fonte recusou minha ligação, assim como tinha feito desde que
cheguei a este inferno.
— E se eu tiver que usar o banheiro? — perguntei, procurando uma
maneira de sair desta cela.
Shadow apontou para um balde no canto.
— Aproveite.
Suspirei.
— Isso é inaceitável.
— O que é inaceitável é você ainda falar. Eu disse que está na hora de
dormir.
— Sim, porque eu recebo ordens suas. Ah, espere... — Revirei os olhos
e me levantei, andando pelas rochas com meus sapatos de salto.
Por que eu tinha me arrumado mesmo para ver Glacier? Porque eu
queria impressioná-lo. E ele me deu um bolo.
O que significava que ele não estaria procurando por mim mais tarde, e
quando tentasse ligar para se desculpar, assumiria que eu o estava
ignorando.
Pó de duende.
Talvez Sol sentisse minha energia perdida.
Sim. Sim, ele iria sentir. Ele alertaria sua companheira, Claire, e eles
procurariam por mim. Mas pensariam em procurar aqui?
Soprei uma framboesa com os lábios.
— Uau, não faça esse som de novo — Shadow disse, dando um
estremecimento teatral. — Que barulho irritante.
— Semelhante à sua voz — respondi com doçura. — Talvez estejamos
destinados a ficar juntos.
Ele sorriu.
— Você não tem ideia, querida.
— Sério, pare com os apelidos.
Ele sorriu.
— Você adora isso, princesa.
Era isso. Tirei vantagem de sua posição de bruços, pulando e montando
sobre ele, e dei um soco diretamente em seu nariz perfeito demais.
Uma sensação de vitória aqueceu minhas veias ao ver seu sangue, mas
foi derrubada por uma onda fria quando de repente me encontrei embaixo
dele no chão.
— Não é uma jogada inteligente, querida — ele murmurou, segurando
meus pulsos sobre minha cabeça com uma de suas mãos.
Como foi que ele fez isso?
— Magia — ele murmurou, respondendo mais uma vez ao pensamento
na minha cabeça.
— Pare com isso.
— Me obrigue — ele respondeu, encaixando cabeça no meu pescoço.
— Shadow.
— Aflora. — Seus quadris se encaixaram nos meus e seus lábios
acariciaram a marca de mordida na minha pele.
— O que você está fazendo?
— Me divertindo — ele disse baixinho, traçando a língua em minha
garganta. — Você me lembra o sol. Quente, mas brutal.
Me contorci embaixo dele, o que só fez com que ele soltasse mais seu
peso.
— Não ouse me morder de novo, Shadow.
— Humm, mas foi tão divertido da primeira vez. — Seus incisivos
roçaram meu pulso. — E você gemeu tão lindamente.
— Porque você me enfeitiçou!
— Só em parte — ele respondeu, não soando nem um pouco
arrependido e muito intrigado. — Eu não esperava gostar — ele
acrescentou em um sussurro. — Mas gostei.
— Shadow — avisei.
Ele suspirou.
— Relaxe, gatinha.
— Como posso relaxar com você em cima de mim?
— Foi você quem começou — ele respondeu, mordiscando meu queixo
em seu caminho de volta. — Você tentou quebrar meu nariz com um soco
ruim.
— Um soco ruim? — Arregalei os olhos. — Você é muito idiota!
— Me diga como realmente se sente, querida — ele zombou, inclinando
a cabeça para o lado. — Estou ouvindo.
— Eu quero te matar.
— Sim e...?
— Argh, você poderia sair de cima de mim, por favor?
— Por favor? — ele repetiu, bufando. — Nossa, mas você é uma
garotinha educada, não é?
— Eu não sou garotinha.
— Você age como uma criança inocente.
Meu sangue ferveu com o insulto velado.
— Você não sabe nada sobre mim.
— Digo o mesmo.
— Pó de duende, você é impossível. Me. Deixa.
— Pó de duende? — Ele realmente parecia confuso. — Espere, essa é a
sua versão de xingamento? — Como eu não respondi, ele começou a rir. —
Ah, doce menina, as coisas que vou te ensinar.
— Não se eu te matar — murmurei.
Um par de covinhas apareceu enquanto ele me observava atentamente.
— Eu realmente espero que você tente. Punir as mulheres é meu
passatempo favorito.
— Assim como violentá-las, aparentemente — retruquei.
Ele arqueou as sobrancelhas com essa acusação.
— Violentar? Eu mal te toquei.
— Você me mordeu contra a minha vontade!
— Você estava bem-disposta, Aflora. Confie em mim.
— Porque você lançou a porcaria de um feitiço sobre mim ou o que
quer que tenha feito.
— Porcaria? — Ele balançou a cabeça e estalou. — Cacete, querida. A
palavra que você está procurando é merda.
— Queridos deuses, apenas saia de cima de mim já!
— Não. — Ele teve a audácia de se curvar e dar um beijo de leve em
meus lábios. Tentei mordê-lo, o que me rendeu um som divertido. — Você
precisa descansar. Haverá testes pela frente.
Sim, seja lá que isso signifique.
— Eu preciso ir para casa — corrigi.
— Você está em casa, Aflora. Só não percebeu ainda. — Com essa
afirmação, ele começou a cantarolar a mais bela melodia.
— O que você está fazendo?
Ele não respondeu. Continuou sua estranha canção, que me envolveu
em um curioso mar de felicidade.
Outro feitiço, minha mente reconheceu.
Mas meus lábios se recusaram a emitir uma resposta. Meu sequestrador
estava me cativando com sua música.
Pare, implorei em minha mente. Por favor, pare.
— Só estou tentando te acalmar — ele sussurrou em resposta.
Balancei a cabeça, tentando limpá-la e forçá-lo a sair. Isto é errado.
Tudo o que você fez é muito errado!
Um suspiro profundo.
Senti a sugestão de menta em sua respiração quando ele pressionou a
testa na minha.
— Eu sei — ele concordou. — Confie em mim, eu sei.
O quê?
Só que ele não deu detalhes.
Em vez disso, cantarolou ainda mais alto, me fazendo revirar os olhos.
Logo a escuridão tomou conta, me embalando em um sono inquieto e
cheio de imagens de pesadelo que retratavam minha nova realidade.
Incluindo o Fae cruelmente bonito que me abraçou forte e sussurrou contra
meu ouvido quando ele disse:
— Sinto muito, Aflora.
Foi quando eu soube que realmente sonhava.
Porque pelo que eu sabia de Shadow, ele não era o tipo de homem que
se desculpava.
CAPÍTULO TRÊS
KOLS

— A lguma ideia do que se trata? — Tray perguntou quando entramos


no portal.
Digitei o código da Câmara do Conselho e balancei a cabeça.
— Não faço ideia, mas nosso pai disse que é urgente.
— É claro — meu irmão gêmeo respondeu, ajustando a gravata.
Usávamos ternos combinando, mas era aí que nossas semelhanças
terminavam. Ele representava a escuridão de nossa espécie em seus cabelos
e olhos, semelhante à nossa mãe. Minhas feições, porém, privilegiavam os
tons dourados e bronzeados da linhagem de nosso pai. — Você acha que
está relacionado a Aswad?
Dei de ombros.
— Pode ser qualquer coisa, mas provavelmente sim. — O que quer que
fosse, eu só queria acabar com isso para poder aproveitar minha última
semana de liberdade antes que a Academia começasse novamente.
Faltam apenas seiscentos e dezenove dias, pensei, mexendo o pescoço
para soltar os músculos rígidos. Então o destino assumiria o controle e eu
teria que me unir oficialmente a Emelyn Jyn. Mal posso esperar, pensei,
lutando contra um gemido interno.
A política real vinha com certos privilégios. O casamento arranjado não
era um deles.
As portas se abriram para revelar o interior cor de obsidiana da Sede do
Conselho.
Olhei para o lado.
— Preparado?
— Alguma vez não estive? — Tray retrucou.
Com um bufo, liderei o caminho para dentro. Vários conselheiros
acenaram para nós enquanto entrávamos na sala em direção ao nosso pai,
que estava na cabeceira da mesa. Ele sempre deixava as duas cadeiras à sua
direita disponíveis para nós, e nos sentamos nelas como esperado.
O pai de Emelyn, Lima, se sentou na posição de Segundo na Elite de
Sangue do outro lado do meu pai. Em menos de dois anos, ele serviria
abaixo de mim na mesma posição, a menos que eu optasse por substituí-lo.
O homem inexpressivo me deu um aceno de reconhecimento, como
sempre fazia. Ele esperava que meu noivado com sua filha fosse o
suficiente para manter uma parceria. Mal sabia ele que eu detestava
Emelyn. Estar relacionado com a encarnação do diabo em forma de mulher
não lhe rendia nenhum ponto no meu livro. Mas retribuí o gesto. Eu era
gentil.
Então acenei para os outros conselheiros na sala que chegaram. Meu pai
e Aswad eram os únicos membros com herdeiros com idade e status para
participar, mas Shade parecia ter faltado à reunião de novo. Ele não poderia
deixar mais claro que não tinha interesse em assumir o manto da Magia da
Morte de seu pai. Idiota.
O silêncio caiu quando Tadmir entrou com seu cabelo branco caindo
pelas costas.
— Lamento. — O Conselheiro Maléfico se sentou na cadeira ao lado de
Raz, seu segundo em comando. — Eu não estava no reino quando o aviso
chegou.
Meu pai baixou o queixo em aceitação ao pedido de desculpas, então se
concentrou no homem sentado na cabeceira oposta da mesa retangular.
— Bem, vamos em frente com isso. Por que estamos aqui, Conselheiro
Aswad?
As duas palavras finais soaram com desdém, engrossando o ar com
animosidade revelada.
Meu gêmeo endureceu ao meu lado, assim como metade da mesa.
Os Sangue de Elite e Sangue da Morte estiveram em desacordo por
séculos, nunca concordando com a forma como o Conselho Fae da Meia-
Noite funcionava. Infelizmente para Aswad e sua fila sombria de
necromantes, minha família não tinha intenção de renunciar. Aceitei os ritos
de ascensão no meu aniversário de dezoito anos, daí as vinhas negras como
tatuagem se contorcendo em minha pele. Elas abasteciam minhas veias com
mais poder a cada dia, esperando para se soltar no meu vigésimo quinto
aniversário.
Neste caso, o relógio da minha vida.
E os minutos minguantes na minha liberdade inestimável.
— Então? — meu pai questionou com a paciência claramente no fim.
O Sangue Mortal realmente parecia mais pálido do que o normal
quando limpou a garganta.
— Shadow tomou uma companheira que não foi escolhida pelo
Conselho.
Eu poderia ter ouvido um alfinete cair depois desse anúncio.
Arqueei as sobrancelhas.
O quê?!
— E tem mais — o Conselheiro do Sangue da Morte continuou. — Ela
não é uma Fae da Meia-Noite, mas uma Fae Elemental.
Fogos de Fênix, pensei, sentindo como se meu queixo estivesse no
chão. De todas as coisas para esta reunião, eu nunca, nem em um milhão de
anos, teria imaginado isso.
Tray parecia tão assustado quanto eu.
Enquanto isso, o resto do Conselho ficou literalmente em chamas
enquanto a magia açoitava a mesa de pedra obsidiana.
Aswad desviou o golpe com sua varinha, enviando a explosão de
Tadmir para o teto alto, onde meu pai a prendeu sob uma teia de energia que
chiou em minha pele.
— Parem — ele exigiu. Sua única palavra estabeleceu a lei sem falhas.
Malik, do Sangue de Elite, liderava o Conselho Fae da Meia Noite por
mais de mil anos.
Ignorá-lo rendia a mais severa das penalidades.
Eu sabia, em primeira mão, o que ele podia fazer. Tinha passado por
incontáveis julgamentos onde ele despojou outros Faes da Meia-Noite de
suas vidas por infrações muito menos potentes do que a que Shade tinha
acabado de cometer.
O cretino havia sido prometido à filha mais velha de Tadmir, Cordelia.
Tomar outra companheira contra a vontade do Conselho não apenas
violava as leis de nossa espécie, mas também era um grande insulto contra a
linhagem Maléfica.
— Excomunhão — Tadmir sibilou.
— Que nível de vínculo? — Svart perguntou. Sua energia de Sangue de
Guerreiro o cobria em um manto sombrio de magia impenetrável. Sua
espécie se destacava nas artes defensivas. O completo oposto do Sangue
Maléfico, que priorizava talentos ofensivos.
— Primeiro nível — Aswad disse, tomando seu assento com um
suspiro. — E nem sabemos se vai se manter. Ela não é uma Fae da Meia-
Noite.
— O que não melhora a infração — Lima resmungou. O pai da minha
noiva claramente não estava se divertindo. Ele semicerrou as íris negras no
Sangue da Morte em frente a ele. — O que ele tinha a dizer em sua defesa?
— Nada de importante — Aswad respondeu.
— O que significa que ele nem se desculpou — meu pai concluiu.
Eu quase bufei. Shadow, também conhecido como Shade, nunca se
desculpava por nada. O idiota arrogante se achava intocável, mesmo nos
terrenos da Academia. O fato de ele ter tomado uma companheira contra a
vontade do Conselho não me surpreendeu nem um pouco.
Mas eu não podia fingir que isso não me deixava com um pouco de
inveja. Considerei atos semelhantes mais de uma vez ao longo dos meus
vinte e quatro anos.
Qualquer coisa para evitar me casar com Emelyn Jyn. Só de pensar nela
me dava urticária.
— Foi o que pensei — meu pai disse quando Aswad não fez um
comentário em contrário. — Então sua punição é fácil: matar a
companheira parcialmente vinculada e forçá-lo a manter o contrato
obrigatório com a linhagem Maléfica de Tadmir. Shadow sofrerá uma
eternidade com a conexão não cumprida, mas produzirá os herdeiros
necessários. — Ele estendeu as mãos. — Isso não foi tão difícil. Esta
reunião de emergência é...
— Ela é a última Fae Real da Terra — Aswad interveio. — Matá-la
seria percebido como um ato de guerra contra os Faes Elementais. Também
os separaria da fonte terrestre.
Tray assobiou baixo ao meu lado. Sua reação rivalizava com meus
pensamentos com um acréscimo: Ah, puta merda.
— Aflora? — perguntei, incapaz de ficar quieto.
Todos os olhos se voltaram para mim, questionadores.
Sim, eu sabia da Fae Real da Terra. Nunca a encontrei, mas a vi na
coroação do Rei da Água há alguns meses. Expliquei isso ao Conselho e
acrescentei:
— Um dos companheiros da Rainha Claire é um Fae da Terra. Duvido
que ele levaria de forma leve se exterminarmos a única herdeira Fae da
Terra.
Um brilho de respeito cintilou no olhar de Aswad enquanto ele me
considerava, mas desapareceu antes que meu pai se virasse para ele.
Ele estava surpreso que eu conhecesse a política de outros reinos? Eu
estava treinando para a posição do meu pai desde o dia em que falei minha
primeira palavra. Compreender todos os Faes, independentemente do tipo,
era fundamental para o meu futuro. Então, sim, eu sabia praticamente tudo
sobre os Faes Elementais. Também ajudava que dois dos reis daquele reino
fossem meus conhecidos.
— Isso complica as coisas — meu pai murmurou.
— Sim — Aswad concordou. — Complica.
O silêncio se abateu sobre a sala enquanto Tadmir se acomodava em sua
cadeira. Sua fúria era palpável.
O Conselheiro Svart e o Conselheiro Chern observavam em silêncio
contemplativo.
Lima esfregou os pelos escuros que cobriam seu queixo, considerando.
Troquei um olhar com Tray, que parecia tão perplexo quanto todo
mundo.
— Será que vínculo vai aguentar? — me perguntei em voz alta. — Os
Faes Elementais acasalam de forma diferente de nós. E se o vínculo de
acasalamento desaparecer?
Todos olharam para mim de novo, e desta vez a expressão do meu pai
tinha uma sombra de orgulho. Comecei a falar com mais frequência
ultimamente, assumindo o controle onde podia, apenas para provar meu
valor. E cada movimento que eu fazia parecia apaziguá-lo mais e mais.
— Algo assim já ocorreu em nossa história? — perguntei a ele.
— Não, porque é proibido misturar linhagens Faes — ele respondeu.
Certo, o que significava que Aflora e Shade nunca poderiam acasalar
fisicamente para produzir um herdeiro: os vários Conselhos Faes exigiriam
a morte imediata de seu filho. Abominações não eram toleradas. A mistura
entre as espécies criava seres de muito poder, e muito poder levava à
insanidade.
Caso em questão, o incidente mais recente no reino Fae Elemental, onde
um híbrido Fae Elemental da Meia-Noite tentou absorver muito poder,
custando a vida de vários Faes.
— Então não sabemos o que vai acontecer com o vínculo deles, ou com
ela. — Os Faes da Meia-Noite deveriam morder humanos, não outros Faes.
Rumores sugeriam que nossos poderes se misturariam se bebêssemos de
outro Fae, e foi por isso que o Conselho proibiu o ato. — Como eu disse,
pode desaparecer.
— Ou pode transformá-la em uma abominação — Chern falou. Sua
linhagem Sangré era conhecida por sua infinita sabedoria. — Mas concordo
com o futuro rei que não saberemos até que a transição siga seu curso.
— O que pode levar meses — Tadmir disse com amargura.
— Qual a idade dela? — meu pai perguntou. — Vinte e dois? Vinte e
três?
— Ela acabou de fazer vinte e dois anos — Aswad respondeu. — Pedi à
minha assistente para conseguir todas as informações possíveis enquanto eu
esperava o início da reunião. — Ele balançou sua varinha no ar, fazendo
com que papéis aparecessem diante de todos os Conselheiros. — Este seria
seu último ano na Academia Fae Elemental, marcando-a como um terceiro
ano na nossa, mas considerando suas impressionantes pontuações nos
testes, ela provavelmente poderia ingressar na classe do quarto ano.
Tray e eu trocamos um olhar.
Ele não poderia estar sugerindo...
— Você quer que ela frequente a Academia Fae da Meia-Noite? — Meu
pai parecia tão em dúvida quanto eu. — Ficou louco?
— Na verdade, é uma sugestão interessante — Chern interrompeu
daquele jeito pensativo dele. Suas íris cinzas ao redor das pupilas pareciam
pulsar.
Seu comportamento calmo sempre me atraiu. Me inclinei para frente,
curioso para ouvir que outra sabedoria ele nos concederia.
— Os Faes Elementais vão ficar tão preocupados com seu potencial
acasalamento quanto nós — ele continuou. — No entanto, o extermínio
nesta situação é impossível, já que ela é a única Fae Real da Terra. Enviá-la
de volta poderia perturbar o equilíbrio. Se a mantivermos aqui, temos
proteções para monitorá-la.
— E o Shadow? — Tadmir interveio, e seu cabelo branco cintilou com
chamas azuis nas pontas. — Ele vai simplesmente voltar para a Academia
como se nada tivesse acontecido?
— Ouso dizer que ele também requer monitoramento — Chern
respondeu. — Ele iniciou o acasalamento com uma Fae da Terra poderosa.
Isso pode afetar seus poderes também.
O silêncio encontrou sua resposta.
Se o que ele previu fosse verdade, então a vida de Shade poderia estar
em perigo. Todos os Conselhos Faes levavam o equilíbrio muito a sério.
Qualquer perturbação a isso normalmente resultava em morte.
— O que você recomenda? — meu pai perguntou, com foco no
Conselheiro Sangré. — Sua linhagem é conhecida por estratégia e análise.
Como você vê isso?
Chern considerou por um longo momento enquanto esfregava seu
cavanhaque grisalho com o polegar e indicador. Era o único sinal de cabelo
nele, já que sua linhagem preferia tatuar as carecas com cores vibrantes.
Quanto mais intrincado o desenho, mais inteligente o Sangré de Sangue era
considerado. No caso de Chern, ele usava o padrão mais complexo de
todos.
— Acasalar a Fae da Terra irá despertar seu acesso à magia sombria, e o
Conselho Fae Elemental não tem meios para controlá-la. Nós temos. Os
professores da Academia podem treiná-la nas várias linhas enquanto
supervisionamos seu crescimento e trabalhamos em um plano de
contingência para fortalecer seus poderes. É uma solução provisória
apropriada enquanto trabalhamos com os Elementais em uma solução
completa. Eles vão ficar tão interessados em encontrar uma solução quanto
nós.
Ele bateu os dedos na mesa, mudando seu foco para Aswad.
— Quanto ao Shadow, ele exigirá o mesmo monitoramento. Sugiro que
observemos o dano que ele causou antes de atribuir sua punição.
O que significava que Shade escaparia temporariamente por quebrar
alguns dos nossos costumes mais antigos. Sem mencionar o desprezo contra
a linhagem familiar de Tadmir. A expressão do Conselheiro Maléfico
confirmou como ele se sentia sobre a sugestão. A desaprovação irradiava
dele, mas o Conselheiro foi esperto e ficou quieto.
Shade seria punido no devido tempo.
Assim que avaliássemos os danos.
Fazia sentido, mas eu queria saber como isso funcionaria.
— Quem vai observar o crescimento da Aflora? — perguntei.
Então a implicação me atingiu.
O brilho de conhecimento de Chern quando ele encontrou meu olhar
confirmou.
— Eu — falei. — Eu serei o responsável por monitorá-la.
— Sim, você é o mais capaz — Chern concordou. — Sua conexão com
a fonte lhe dará a percepção das flutuações de energia. Você também é o
único com a capacidade de desligá-la, caso seja necessário.
O único com meios para matá-la, traduzi. Ser o futuro rei vinha com
duras responsabilidades. Esta era uma delas.
Assenti para confirmar minha compreensão e concordância com o
fardo.
Meu pai me considerou por um longo momento, então assentiu também.
— Se este é o caminho que escolhemos, então proponho que isso seja
considerado um de seus testes de ascensão.
Murmúrios de concordância ecoaram ao redor da mesa.
Eu precisava completar sete antes que eu pudesse ascender
completamente.
Três já haviam sido feitos.
Este seria o número quatro.
Babá de uma Fae Real da Terra.
Bem, havia fardos piores. Eu já tinha visto Aflora antes. Ela era bonita
de se olhar. Eu não me importaria de ter um motivo para observá-la. Talvez
ela tornasse meu último ano mais intrigante.
Ou mais difícil.
Veríamos.
Eu só esperava que ela ficasse bem, porque se a jovem se tornasse uma
ameaça, eu a exterminaria sem piscar um olho.
Afinal, era meu dever.
Meu futuro.
E eu pretendia cumpri-lo adequadamente.
CAPÍTULO QUATRO
AFLORA

P arece
sólido.
um sonho imoral, pensei, me estendendo contra algo quente e

Fiz uma careta.


Adormeci na casa do Glacier de novo?, me perguntei.
Espere...
Abri os olhos e encontrei um olhar gelado me observando atentamente.
Tentei me arrastar para trás, mas barras de ferro me prenderam enquanto
minha frente estava inteiramente presa por um predador de jeans e camisa.
— Shadow — sussurrei, lembrando a realidade que eu esperava que
fosse um sonho muito ruim.
— Shade — ele respondeu.
— O quê?
— É o meu nome, querida flor. Como estamos noivos agora, imagino
que você deva usar minha denominação preferida.
Denominação? repeti para mim mesma. Sério? Seu vocabulário
combinava com o arco pomposo de sua sobrancelha escura.
— Você já está pronta para ir? — ele perguntou. — Porque estamos
bem no meio da noite e tenho coisas que quero fazer hoje.
— O quê?
Ele suspirou.
— Essa é a sua pergunta do dia? Porque já estou entediado. Que
companheira chata você vai se tornar nesse ritmo. — Ele rolou pelo chão de
concreto, se levantando com facilidade e estendeu a mão. — Jaqueta, por
favor. Você babou nela inteira na última hora.
Quase repeti minha “pergunta do dia”, porque senti vontade de espetá-
lo, mas a percepção de que estava aconchegada em seu casaco capturou
minha atenção. Couro preto cercava toda a parte superior do meu corpo,
com a parte macia debaixo da minha cabeça.
Como...? Olhei para ele. Ele tinha me dado isso enquanto eu dormia?
Sua expressão me disse para não me incomodar em perguntar, que ele
provavelmente me insultaria se eu tentasse. Então me afastei da cama
improvisada no chão e me levantei. Se ele quisesse sua preciosa jaqueta de
volta, ele mesmo poderia pegá-la.
Ele pegou.
Depois de colocá-la em volta dos ombros em um movimento rápido de
seus braços fortes, ele mexeu o pescoço.
— O príncipe Kolstov está esperando por nós lá em cima. — Com isso,
ele abriu a porta e saiu.
Olhei para a gárgula de pedra, esperando que ela reagisse. Quando isso
não aconteceu, segui em frente e praticamente tive que correr para alcançar
Shade nas escadas. Parecia que ele não ia perder tempo.
— Isso significa que estou livre para ir para casa? — perguntei quando
chegamos ao último andar.
— Não.
Ele não explicou.
Apenas empurrou a porta e me levou de volta à área de recepção
obsidiana em que originalmente esperávamos.
Um homem de terno com uma longa capa preta estava esperando por
nós no centro da sala. Suas íris douradas cintilavam com poder enquanto ele
olhava com raiva para Shade.
— Você demorou pra caramba.
— Minha mãe me ensinou a nunca interromper uma mulher no meio de
uma soneca de beleza — meu captor falou. — Além disso, eu estava
gostando de vê-la dormir. Ela é bastante atraente. — Ele piscou para mim,
fazendo com que eu o encarasse quase tão duramente quanto o outro
homem.
— Você é um toco de salgueiro — eu disse a Shade, cruzando os
braços. — Espero nunca mais ter que vê-lo novamente.
— Um toco de salgueiro — ele repetiu, considerando. — A maioria das
mulheres se refere ao meu pau mais como um tronco de árvore do que um
toco, mas podemos elaborar as nuances da minha circunferência mais tarde.
O príncipe Kolstov está encarregado de você por enquanto. — Ele fez uma
pequena reverência, recuando. — Aproveitem seu tempo juntos, e verei
vocês dois na próxima semana.
Ele desapareceu em um enxame de sombras antes que qualquer um de
nós pudesse responder.
— Próxima semana? — repeti. — Não, não. Não quero vê-lo
novamente. Estou indo para casa.
— Temo que não, linda — o príncipe Kolstov respondeu. — Você vai
para a Academia Fae da Meia-Noite. Comigo.
O quê?!
— De jeito nenhum. — Me movi ao redor dele, mas o príncipe entrou
no meu caminho. Minha cabeça mal alcançava seu ombro.
Olhando furiosa para ele, observei suas características familiares. Maçãs
do rosto fortes. Mandíbula esculpida. Pelos faciais bem aparados que
pareciam ser mais escuros do que as mechas cor de bronze em sua cabeça.
Bem, não exatamente bronze. Mais como marrom com listras vermelhas
que pareciam brilhar sob a iluminação. Bonito mesmo.
Não, absolutamente gostoso.
Mas isso não significava...
Espere...
— Eu te conheço — falei, arregalando os olhos. — Você estava na
coroação do Cyrus.
Eu havia perguntado a Claire quem era o belo Fae depois de vislumbrá-
lo na multidão. Se me lembro bem, ele conhecia Cyrus e Exos. O que
significava que ele poderia enviar uma mensagem ao Conselho Fae
Elemental para mim.
— Sim, eu estava — ele confirmou.
Meus ombros relaxaram instantaneamente.
— Ah, que bom. Então tudo isso é só um mal-entendido. Você sabe que
não posso ficar aqui.
— O que sei é que você não pode sair daqui — ele corrigiu. — Não até
vermos como a mordida de Shade te afeta.
— Você quer dizer a mordida que foi contra a minha vontade? A que ele
me impôs antes de me raptar?
Um músculo em sua mandíbula se contraiu. Foi a única indicação de
que minhas palavras significavam algo para ele.
— Independentemente de como aconteceu, você está aqui agora e não
podemos mudar o passado. Tudo o que podemos fazer é nos preparar para o
futuro. Então, se você me seguir, vou levá-la para A Academia Fae da
Meia-Noite e suas novas acomodações.
Ele se virou como se esperasse que eu concordasse magicamente com
seu comando.
Coloquei as mãos nos quadris.
— Não. Eu me recuso.
Kolstov olhou para mim por cima do ombro, aquelas íris douradas
brilhando com poder.
— A recusa não é uma opção. — Ele se virou um pouco e tirou uma
varinha de sua capa. — Estou tentando fazer isso do jeito gentil, Aflora. Se
preferir o caminho mais difícil, posso providenciar. Mas eu lhe asseguro,
você vai perder.
Semicerrei os olhos.
— A rainha Claire não vai aprovar este tratamento.
— A rainha Claire não tem jurisdição aqui ou sobre mim. — Ele me
encarou mais uma vez. — Que estrada vamos tomar, linda? Porque a minha
paciência já está no limite por Shade ter demorado muito tempo no andar de
baixo.
Dado que meus poderes ainda não funcionavam aqui, minhas opções
eram limitadas. Ou eu testava a extensão do que aquela varinha na mão dele
poderia fazer ou fingia jogar junto.
Talvez meus poderes se regenerem fora dessas paredes, pensei,
considerando a ele e sua postura casual. Vale a pena tentar, porque ficar
aqui não vai resolver nada.
— Tudo bem. Certo. Me leve para a Academia.
A diversão brilhou em seu olhar.
— O caminho difícil — ele murmurou e guardou sua varinha. Sua
resposta sugeria que ele esperava que eu agisse de forma diferente, apesar
das minhas palavras. Ele provavelmente estava certo. — Venha, gatinha.
Olhei para suas costas depois que ele se virou, não apreciando o
“carinho”.
Gatinha, pensei. Sim, sou uma gatinha. Certo. Com dentes afiados.
Ele me levou para uma espécie de elevador, depois digitou um código à
vista de todos, sugerindo que não se importava que eu soubesse. Ou talvez
ele fosse muito estúpido. Memorizei a mistura alfanumérica, só por
precaução.
As paredes se moveram ao nosso redor e grilos soaram à distância. Me
concentrei no cenário, procurando por algo familiar, quando de repente nos
materializamos do lado de fora de portões de ferro que eram quase três
vezes a minha altura.
Kolstov murmurou uma ordem estranha que fez com que as portas se
abrissem, em seguida gesticulou para que eu cruzasse o limiar assustador.
Duas gárgulas de pedra vigiavam e seus olhos vermelhos analisavam cada
movimento meu.
Engoli em seco.
Tecnicamente, eles são feitos de terra, então se eu...
— Pense em me machucar e eles vão acabar com você — Kolstov
avisou. — E mesmo que sejam seres do seu elemento, eles não são
respondem ao seu comando, apenas ao meu.
Considerei testar essa teoria, mas as trepadeiras que se retorciam ao
longo dos postes de ferro me fizeram desistir da ideia. Além disso, ainda
não conseguia sentir meu elemento. Fechando os olhos, procurei a conexão
rompida, franzindo a testa quando encontrei pontas desgastadas piscando
com energia perdida.
Um silvo do portão me fez pular para trás.
Kolstov estalou a língua.
— Cuidado com seus pensamentos, linda. Elas estarão em você em um
segundo, e pode apostar que vou deixá-las te morder algumas vezes antes
de chamá-las. Só para te ensinar uma lição.
Significando que ele poderia controlar essas criaturas vis.
— Príncipe Kolstov — eu o chamei em voz alta. — Você é o próximo
na fila para o trono Fae da Meia-Noite. — Daí sua capacidade de domar as
feras. Li o suficiente sobre a política internacional dos Faes para conhecer
os nomes importantes em todos os reinos. Foi por isso que fiquei surpresa
com sua presença na coroação de Cyrus.
E talvez eu estivesse um pouco interessada por causa de sua aparência.
Não tanto para esses traços agora.
— Assim como você é a princesa Aflora, a última Realeza da Terra —
ele respondeu, pressionando a palma da mão na parte inferior das minhas
costas para me dar uma empurrada. — Vá em frente.
Tropecei, já que meus saltos não foram feitos para o caminho de seixos.
— Se você sabe quem sou, sabe como isso é errado. Os Faes da Terra
precisam de mim e do meu acesso à fonte.
— Sim. Estamos trabalhando nisso. — Outro empurrão na base da
minha coluna me obrigou a andar ao seu lado. — O vínculo de vocês é
temporário, até que o Conselheiro Chern possa desenvolver uma melhor
armadura para seus dons naturais.
Vínculo? Isso explicava por que eu ainda não conseguia acessar meu
elemento.
— É perigoso me manter separada da fonte. Eu sou o canal que permite
que os Faes da Terra prosperem.
— Estamos cientes — ele disse, me direcionando para a esquerda.
A arquitetura gótica surgiu em meu campo de visão. Todo o campus
parecia um castelo de horror contra uma paisagem enluarada. Grandes
árvores sem vida ou folhas decoravam o chão com galhos negros, suas
raízes eram mais grossas do que Kolstov e eu juntos. Morcegos pendiam
junto com outros animais alados estranhos e de tamanhos variados.
Uma fênix pousou no topo de uma das torres de obsidiana ao longe.
Suas asas de fogo esvoaçavam na brisa.
— Dado seu status real, você será alojada com os Elite de Sangue.
Especificamente, na ala da minha família. Nossa suíte tem quatro quartos,
sala de estar, cozinha, sala de estudo e vários banheiros. Acredito que você
vai achar que está de acordo com seus padrões.
— Elite de Sangue? — repeti, engolindo em seco. Tenho que morar com
esse cara?
Ele parou para me olhar boquiaberto.
— Você não estudou as linhagens Fae da Meia-Noite?
— N-não.
Sua expressão me disse que não era uma resposta apropriada.
— Você é a Fae Real da Terra e não sabe nada sobre nossa estrutura
política. Como isso é possível? Posso lhe contar tudo o que é importante
sobre o Conselho Fae Elemental.
— A política interespécies está na minha agenda do curso deste ano.
— Estava — ele corrigiu. — Seu novo cronograma será atribuído esta
semana. Verei o que posso fazer sobre ter política Fae da Meia-Noite
adicionado a ele. — Ele balançou a cabeça e continuou andando. —
Absolutamente ridículo.
— Ah, me desculpe. Eu não esperava ser sequestrada e forçada a
frequentar a escola neste reino. Foi mal não ter feito um curso sobre
vampiros.
Ele parou mais uma vez, se virando devagar.
— Cuidado, linda. Esse tom pode lhe causar muita dor, especialmente
quando em referência à nossa existência e ao que somos – Faes da Meia-
Noite.
— Sugadores de sangue. Sim, estou ciente.
Kolstov deu um passo à frente, invadindo minha bolha pessoal.
— Você sabe tudo sobre isso, não é, amor? E com Shade já tendo
mordido seu pescoço? — ele murmurou, o som baixo e ameaçador. — Me
chame de sanguessuga mais uma vez, e eu lhe darei uma demonstração
completa do que um Fae da Meia-Noite pode fazer.
— Como você disse, eu já “sei tudo sobre isso”...
— Ah, linda, não. Uma mordida não é nada comparado ao poder que
posso liberar sobre você. — Ele estendeu a mão para colocar uma mecha do
meu cabelo atrás da orelha, então segurou minha bochecha para me permitir
sentir a energia pulsando sob sua pele. — Eu poderia destruir você em
segundos, baby.
— Só porque você me deixou em desvantagem — eu fervia. — Tire
minhas amarras e vamos ver o que acontece.
Seu sorriso exalava condescendência.
— Por mais divertido que seja colocá-la em seu lugar, tenho outros
planos esta noite que são muito mais importantes do que ceder a uma
pequena Fae da Terra. — Ele apoiou a mão na minha bunda dessa vez, me
empurrando para frente.
Eu lhe dei uma cotovelada nas costelas.
— Não me toque aí. Na verdade, não me toque em lugar nenhum.
Ele sorriu e sacou sua varinha.
— Certo. — Com um movimento de seu pulso, ele criou um fio de
magia que se enrolou na minha cintura. Ele deu uma puxadinha e eu pulei
para frente.
— Ah, vamos lá! — retruquei. — Posso andar sozinha sem toda a
teatralidade.
— Eu sei, mas assim é mais divertido. — Outro puxão quase me fez
cair de cara, mas sua magia me endireitou antes que eu pudesse tropeçar.
Um rosnado ficou preso na minha garganta.
— Pare.
Ele riu.
— Me obrigue. Ah, certo...
Cerrei os dentes com tanta força que minha mandíbula estalou.
Assim que essa corda se desintegrasse, eu daria um soco em seu queixo
arrogante.
Caminhamos em silêncio, com minha fúria fervendo mais a cada passo.
Pelo menos, não havia ninguém por perto para testemunhar essa
humilhação. Quase perguntei por que a Academia estava vazia, mas decidi
não falar novamente. Ele não merecia minhas palavras, minhas perguntas
ou minha submissão.
Em vez disso, observei o campus ao meu redor, procurando pontos de
fuga.
Devia haver um portal em algum lugar, porque a entrada guardada por
gárgulas estava fora de questão.
Claro, eu não tinha como saber se meus códigos me levariam para casa,
para outra parte deste reino ou para lugar nenhum.
Tentativa e erro, decidi. Eu só precisava de uma saída.
— Estes são os aposentos dos Elite de Sangue — Kolstov anunciou, e
sua diversão pareceu ter se tornado um tom sério. Ele me escoltou pelas
escadas de mármore até um conjunto de grandes portas. — Para entrar, você
precisa saber o feitiço certo. Também requer uma varinha. — Ele olhou
para mim. — Vou pedir ao Zeph para preparar uma para você antes do
início das aulas.
Zeph? E eles pretendiam me dar uma varinha? Isso significava que eles
esperavam que eu aprendesse magia sombria? As perguntas se alinharam
em meus lábios, mas meus dentes as seguraram.
Este monstro já provou ser inútil. Por que me incomodar em me abrir
com ele agora?
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Tratamento silencioso?
— Estou cooperando — retruquei em resposta.
Ele contraiu os lábios.
— Está mesmo. — Com uma palavra murmurada, o laço mágico em
volta da minha cintura desapareceu, e eu me lancei contra ele. Dei um tapa
em sua bochecha enquanto formei um soco com a outra mão. Ele a segurou
com habilidade antes de me girar e me prender em seus braços.
— Estou adicionando treinamento guerreiro ao seu currículo — ele
disse, seus lábios no meu ouvido. — Sua forma é atroz.
— Pó polvilhado! — gritei para ele, me contorcendo contra seu corpo
muito duro.
— Pó polvilhado? — ele repetiu e seu humor era palpável. — Quem te
ensinou a xingar? Um duende confeiteiro?
Argh!
— Me solte.
— Não. — Ele me manteve presa com um braço e puxou sua varinha
com a mão livre. — Ouça e aprenda, pois não vou me repetir. — Palavras
hipnóticas saíram de seus lábios. A linguagem era estranha para mim. —
Al'damu almalaquia.
A ponta de sua varinha cor de carvão criou um padrão infinito, fazendo
com que as portas rangessem e se abrissem sob seu comando.
Ele beijou minha têmpora e me liberou.
— Depois de você, linda.
Eu praticamente corri pela soleira, apenas para escapar dele, mas meu
rosto queimava onde sua boca roçou minha pele. Como se ele tivesse me
marcado com seu poder apenas por meio desse simples ato.
Ele arrumou a capa e escondeu a ferramenta mágica mais uma vez,
então estalou os dedos.
As chamas ganharam vida ao nosso redor, iluminando o interior de um
grande corredor com uma escada principal à esquerda. Ele gesticulou em
direção a elas.
— Dois lances. Estamos no andar de cima.
Não querendo dar a ele a chance de me tocar com suas mãos ou seu
poder, subi as escadas para o terceiro andar e esperei que ele se juntasse a
mim.
— Alguém está ansioso — ele brincou quando chegou ao topo.
Não me dignei a lhe oferecer resposta, apenas esperei por mais
instruções.
Ele acenou com a cabeça em direção ao final do corredor.
— A nossa suíte é a trezentos e quarenta e sete.
Nossa suíte. Estremeci com a declaração. Isto é temporário. Eu não vou
ficar aqui.
Só que o corredor inteiro estava cheio daquelas monstruosidades
barulhentas, todas observando cada movimento meu como se esperassem
que eu saísse um dedo da linha.
Nunca gostei de cobras.
E estas pareciam ser muito mais mortais do que os répteis do meu reino.
Elas se contorceram, deslizando sobre os painéis de madeira que pensei
que poderiam ser portas, exceto pelo fato de que todas estavam sem
maçanetas. Incluindo a nossa no final do corredor. No entanto, havia uma
aldrava com uma pequena gárgula apoiada sobre ela, que semicerrou os
olhos vermelho-sangue para mim.
Fiz uma pausa tão repentina que Kolstov correu para minhas costas,
levando as mãos aos meus quadris no processo. Ele nos alinhou
perfeitamente, provocando um arrepio na minha espinha.
Não. Eu não estou atraída por esse idiota. Não fique com nenhuma
ideia.
— Sir Kristoff, essa é Aflora. Escaneie-a conforme apropriado, então
permita que nós dois entremos. Ela ficará na suíte no futuro próximo, então
você deve conceder acesso a ela como faz com os outros da nossa lista.
Os olhos vermelhos brilharam. As pequenas pupilas negras se moveram
sobre mim em um olhar preguiçoso enquanto os lábios da gárgula se
curvavam para o lado.
— Humm — o ser murmurou em um tom baixo e masculino que
provocou um calafrio na minha espinha. Ele se afastou da porta. Suas
pequenas mãos seguravam a borda da aldrava enquanto a metade inferior
permanecia dentro da madeira. Quase como se estivesse pendurada em uma
janela. — Algo não está certo com esta. Não está certo.
Digo o mesmo, pensei, mortificada por sua forma realista que era de
rocha há apenas alguns segundos. Coisa de pedra de goblin falante.
— Talvez, mas você se curva aos meus comandos. Agora, examine-a e
permita sua entrada. — O tom de Kolstov não admitia discussão.
— Sim, sim — a coisa murmurou. — Como quiser, Mestre.
Uma luz ofuscante brilhou nos olhos da gárgula. Eu teria pulado para
trás se Kolstov ainda não estivesse me segurando. O maldito golpe do olhar
da criatura queimou sobre mim, deixando uma sensação de tinta em seu
rastro, como se tivesse me marcado com sua magia.
— Pode entrar. — Ela revirou os olhos em um brilho vermelho, e a
aldrava se transformou em mármore mais uma vez.
Kolstov usou as mãos em meus quadris para me levar até a porta. Ainda
assim, não abriu. Nós nos movemos pela madeira.
Um brilho de energia passou pela minha pele ao longo do caminho,
fazendo com que todo o pelo ao longo dos meus braços se eriçasse.
Isso não é natural.
— Bem-vinda ao lar —Kolstov disse quando uma elegante área de estar
apareceu diante de nós. — Espero que goste, porque suspeito que você
ficará o ano todo.
CAPÍTULO CINCO
KOLS

— U mumaano? — A linda Fae da Terra girou em meus braços. — Isso é


piada cruel, certo? Me diga que você está brincando.
— Achei que a maioria das mulheres gostasse da verdade ao invés de
mentiras, mas se é mentira o que você prefere, eu te contarei uma com
prazer.
Ela se afastou de mim. Sua pequena forma se provou ser mais forte do
que se poderia esperar. Eu poderia subjugá-la em menos de um segundo,
mas optei por dar a ela o espaço de que precisava. Era o mínimo que eu
podia fazer, considerando as circunstâncias.
Enquanto, por fora, eu poderia parecer não ter remorso, por dentro, eu
sentia pela pobre garota.
— Você quer dizer a mordida que foi dada contra a minha vontade? A
que ele me impôs antes de me raptar?
Sua admissão soava em repetição dentro da minha cabeça. Eu não
esperava que ela dissesse isso. A maioria das mulheres caía aos pés de
Shade, todas adorando sua persona de bad boy. No entanto, parecia que este
não tinha sido um assunto disposto nas atenções dele. A menos que ela
tivesse mentido para mim, mas eu duvidava. Ela olhou para Shade com um
desprezo semelhante ao brilho em seu olhar agora.
Não o olhar de uma mulher apaixonada por seu noivo.
Nem um que parecia se importar comigo.
Bem, eu merecia isso. Eu não tinha sido exatamente gentil com ela.
— Está com fome? — perguntei, andando pela sala e seguindo para a
área aberta da cozinha. As janelas ficavam alinhadas nas paredes, com vista
para o pátio nos fundos. Flashes de luzes chamaram minha atenção para os
mosquitos de fogo zumbindo na floresta. Eu teria que avisar Aflora para
ficar longe deles. Insetinhos perigosos.
Aflora não me respondeu. Seus pés pareciam grudados no corredor do
saguão. Ela olhou para os tetos de catedral, viu as claraboias mostrando
uma noite cheia de estrelas, e então olhou para a ampla sala de estar. Havia
três sofás, duas poltronas reclináveis e uma enorme tela de cinema. Perfeito
para entreter, o que Tray e eu fazíamos com frequência durante o ano letivo.
Bem, eu fazia.
Tray costumava se esconder em seu quarto com Ella.
Abri a geladeira e a encontrei vazia. Idiota. Não estivemos aqui durante
todo o verão, e só descobri há duas horas que precisava trazer Aflora para
cá.
Usando a varinha, murmurei alguns encantamentos para criar canecas
de chá. Isso teria que ser feito até que eu pudesse providenciar uma entrega
de comida da Academia.
Ou Zeph poderia lidar com isso.
Coloquei as canecas no balcão preto do bar que pendia para a sala de
estar e tirei o telefone do bolso.
Onde você está? digitei, pressionando Enviar.
Fazendo as malas, foi a resposta imediata. Sua Alteza, veio um segundo
depois.
Revirei os olhos. Não banque o idiota.
Só estou fazendo meu trabalho, Zeph respondeu.
De ser um idiota?
Estarei aí em breve. Certamente você pode encontrar algo para fazer
com ela até eu chegar. Ela é uma Fae, certo? Você gosta delas.
Eu bufei. Quem incendiou suas boxers?
Você.
Minhas sobrancelhas se ergueram. Não em alguns meses, se bem me
lembro.
Vá se foder, Kolstov.
Não foi o que você me disse da última vez que nos encontramos, mandei
de volta.
Sem resposta.
Não que eu esperasse uma.
Com um sorriso, empurrei o telefone de volta no bolso e encontrei
Aflora me observando do outro lado do bar.
— Namorada? — ela tentou adivinhar.
— Eu não tenho namoradas — respondi, me inclinando para apoiar
meus cotovelos no balcão. — Então não tenha ideias.
Ela zombou.
— Não se preocupe. Você não faz meu tipo.
Mentirosa, pensei. Reconheci a atração em seus olhos mais cedo, e pude
sentir o gosto da luxúria no ar quando a tive em meus braços. Ela podia não
querer admitir, mas a Fae Real da Terra definitivamente me achava atraente.
E o sentimento era muito mútuo.
— Conjurei um chá para você — eu disse, acenando para as canecas. —
Assim que o Zeph chegar, vamos descobrir como encontrar comida.
Ela não tocou na caneca, nem respondeu, preferindo olhar pelas janelas.
Como eu não tinha acendido nenhuma das luzes, ela podia ver tudo com
clareza, inclusive os mosquitos brilhando lá embaixo. Mas era além da
Academia que ela parecia estar estudando – o mar interminável da
arquitetura gótica.
— Tem vários quarteirões de largura — eu disse. — Os alojamentos
estão espalhados por toda parte. Caso você esteja curiosa, o Shade mora no
lado oposto do campus, que fica a cerca de quinze minutos a pé.
— Eu não estava curiosa.
Talvez não, mas peguei um vislumbre de aprovação em sua expressão.
Sim, ela definitivamente não gosta dele.
— O Zeph vai te levar para um tour adequado amanhã, e assim que
você tiver seu cronograma, vou te ajudar a mapear seus cursos. — Peguei a
caneca mais próxima de mim e tomei um gole do líquido quente e
mentolado.
Perfeição.
Se ela escolhesse não tocar no dela, então eu pegaria para mim.
Depois de outro gole, passei a dar uma explicação de seu futuro.
— Você terá quatro dias de aulas, depois dois dias de folga, depois três
dias novamente, seguidos por três dias de folga. O ciclo se repete depois
disso. Então, doze dias no total. Haverá uma pausa mais longa no meio do
ano para o Solstício, mas fora isso, o cronograma se mantém.
— E o que vou aprender?
— Você terá uma mistura de cursos de artes das trevas, treinamento
físico e provavelmente um curso político. — Porque aparentemente ela não
sabia nada sobre as cinco linhagens dos Faes da Meia-Noite. Bem,
tecnicamente seis. Mas apenas cinco ainda existiam.
— Eu sou uma Fae Elemental, não uma Fae da Meia-Noite.
— Uma Fae Elemental que foi mordida por um Fae da Meia-Noite,
apresentando assim você às artes das trevas. Está no seu sangue agora. —
Ou essa era a hipótese que Chern tinha levantado. Dado o que observei até
agora, ele provavelmente estava muito errado. Sem seu acesso aos
elementos, Aflora parecia tão inofensiva quanto uma humana.
Eu esperava que ela permanecesse assim. Então tudo isso poderia ser
deixado de lado. Ela retornaria ao seu reino, Shade seria punido por suas
transgressões, e tudo ficaria bem com o mundo novamente.
Encontrei seu olhar arregalado quando tomei outro gole da minha
bebida e observei suas bochechas pálidas. Franzi o cenho.
— O que foi?
— Eu... é... — Ela engoliu em seco. — A mordida dele infectou meu
sangue? — Ela levou a mão pequena ao pescoço quando deu um passo para
trás, sua expressão se desfazendo. — Uma... abomin... eu sou uma... — Ela
desabou no sofá, e apoiou a cabeça nas mãos.
Fiz uma careta para ela.
— Você não tinha juntado os fatos?
Sem resposta.
Apenas um movimento de seus ombros enquanto ela lutava contra o que
parecia ser um soluço.
Puta merda.
Mulheres chorando não eram minha praia. Eu não sabia como lidar com
lágrimas ou como acalmá-las. Deveria ir até lá e acariciar a cabeça dela?
Oferecer condolências? Mentir para ela sobre o inevitável?
Apoiei a mão na nuca.
— Eu, ah, eu sinto muito...
— Eu vou matá-lo! — Aflora resmungou. Seus olhos cheios de
lágrimas capturaram meu olhar, e vi suas bochechas vermelhas de emoção.
Mas não era tristeza ou autopiedade.
Aflora estava lívida.
E não eram lágrimas.
Não. Suas íris azuis brilhantes estavam em chamas com poder.
Ah, merda...
— Onde ele está? — ela exigiu, ficando de pé. — Onde está aquele toco
de salgueiro que fez isso comigo? Se vou cair, ele vai cair comigo. — Ela
foi até a cozinha com a energia fervilhando ao seu redor em uma onda
hipnótica que chamou meu sangue real.
Companheira ideal, uma parte de mim reconheceu. Ela é uma
companheira ideal.
— Diga-me onde ele está! — ela gritou na minha cara.
Certo. Isso não ia funcionar.
Apoiei minha caneca no balcão, colocando as mãos no mármore em
ambos os lados de seus quadris.
— Calma.
— Calma? — ela repetiu com um bufo semi histérico. — Você está
brincando comigo? Aquele bastão de duende fez de mim uma abominação!
Contraí os lábios com seu xingamento adorável.
O que aparentemente foi a reação errada, porque mais daquela deliciosa
fúria vermelha cobriu suas bochechas.
— Você está rindo de mim? Você vê graça no fato de ele ter me
violentado com suas presas e virado meu mundo de cabeça para baixo? —
Ela apontou um dedo no meu peito. — Você não é melhor do que ele, e eu
que pensei que você poderia ter a moral mais elevada sendo um
companheiro da realeza. Parece que não.
Segurei seu pulso antes que ela pudesse apontar em mim novamente e
trouxe o dedo ofensivo até minha boca para uma mordida de repreensão.
Não foi afiado o suficiente para machucar a pele – foi exatamente isso que a
colocou nessa bagunça – mas o suficiente para afirmar meu domínio.
— Vejo graça na sua escolha de apelido. Bastão de duende é muito
bom. Acho que vou pegar emprestado para Shade daqui para frente.
Um pouco de sua ira esfriou, mas aquele fogo líquido em seu olhar
continuou a queimar. Ela me lembrava uma Valquíria furiosa, com seus
cabelos ondulados preto azulado, pele macia e olhos brilhantes. Tudo o que
ela precisava era de asas.
Limpando a garganta, soltei sua mão e reafirmei meu aperto no balcão
ao lado dela.
— O passado já está feito. O que você precisa focar é em seguir em
frente. O Shade não estará aqui por mais uma semana. Se serve de consolo,
imagino que seu pai tenha algumas punições em mente para ele.
Ela mordiscou o lábio inferior, atraindo meu foco para sua boca
sedutora.
Aflora era mesmo uma bela Fae. Uma rainha com estrutura óssea real e
uma figura maravilhosamente formada. Peitos fantásticos, pensei, olhando
sua blusa torta. Pernas longas e atléticas. Se ela fosse humana, eu a
seduziria em um piscar de olhos. Eu a inclinaria sobre este balcão,
levantaria aquela saia e a comeria com força.
Infelizmente, seu sangue Fae Elemental tornava isso problemático.
Ainda assim, poderia ser feito.
— Você está olhando para mim como se eu fosse comida — ela
sussurrou, fechando as mãos ao lado do corpo. — Por favor, não me morda.
— Humm. — Me inclinei para ela, roçando a boca em sua orelha e
provocando um arrepio em resposta. — Não se preocupe, linda. Quando eu
te morder, não vou rasgar a pele. — Passei os lábios contra sua têmpora
pela segunda vez esta noite, então me forcei a me afastar. — Vamos arrumar
seus aposentos. Vai dar a nós dois uma distração muito necessária.
Porque se eu não tomasse cuidado, inventaria uma maneira diferente de
passar o tempo enquanto esperávamos por Zeph. O que só provaria que o
Guardião estava certo sobre minhas tendências e me renderia um mundo de
castigos.
E Zephyrus era o último de quem eu queria uma repreensão agora.
Conduzi Aflora pela sala de estar novamente. Ela ficou em silêncio
mais uma vez, torcendo as mãos na frente do corpo. Por mais horrível que
isso tivesse que ser para ela, a Fae parecia estar lidando bem com isso. O
que me disse que ela tinha um plano de fuga em mente. Era o que eu faria
na posição dela. Infelizmente, ela não tinha chance.
Algo me disse que a única maneira de ela entender isso era permitir que
ela tentasse e falhasse.
Permitindo que a luz das estrelas das janelas acima nos guiasse, entrei
em um corredor cheio de portas. Parando na primeira, abri para revelar um
grande espaço cheio de mais sofás, travesseiros, livros e uma série de
garrafas cheias de poções.
— Esta é a área do loft onde Ella e Tray mais descansam. Eles gostam
de estudar aqui.
— Ella e Tray? — Aflora repetiu em um murmúrio baixo.
Certo. Ela ainda não tinha estudado a política dos Fae da Meia-Noite. O
aborrecimento fervia em meu sangue, mas eu o contive e ofereci a ela uma
breve explicação.
— Trayton Nacht, também conhecido como Tray, é meu irmão gêmeo.
Isabella Cinder, uma Halfling, é sua companheira destinada. — Fechei a
porta. — Você vai conhecê-los na próxima semana.
— Ah — foi tudo o que ela disse.
Apontei para outra porta.
— Quarto do Tray e Ella. — Então apontei para o outro lado do
corredor. — Essa é uma área para hóspedes e a opção número um para
você. — Vários outros passos nos levaram a outra porta. Fiz um gesto para
ele, dizendo: — Opção número dois. — E, finalmente, no final do corredor,
eu disse: — Este é o meu quarto.
Girei a maçaneta porque precisava encontrar roupas provisórias para
ela. Fazer isso com minha varinha provavelmente resultaria em algo muito
escandaloso para ela usar. Embora atraente, não podia arriscar a tentação.
— Se quiser ficar aqui, vou pegar algo para você vestir. — Apontei para
o local logo atrás da porta, então me aventurei no meu santuário da
Academia em busca do closet, que ficava do outro lado do banheiro
espaçoso. Os tons marrons familiares e calorosos fizeram meus lábios se
curvarem, o cheiro de menta e especiarias ainda persistindo da minha
última visita.
Meu, pensei. Pelo menos por mais um ano.
Vasculhando meu guarda-roupas, entre ternos e itens casuais
sancionados pela Academia, encontrei uma camisa preta lisa e calça de
pijama de flanela. Então peguei algumas boxers para o caso de as calças
não servirem.
Aflora estava na entrada, rígida como uma tábua.
— Nunca esteve no quarto de um homem antes? — provoquei.
Ela curvou os lábios.
— Não sou inocente, Kolstov. Tenho namorado. É no seu quarto que
não quero entrar.
Fui tomado pela diversão.
— Continue dizendo isso a si mesma, linda. Talvez você convença a nós
dois.
Ela bufou.
— Todos os Fae da Meia-Noite são tão arrogantes quanto você e o
Shadow?
— Eu prefiro sexy e confiante, pelo menos na descrição de mim mesmo
— falei, piscando para ela. — Agora, qual será: opção um ou opção dois?
Ela revirou os olhos azuis.
— Como se eu me importasse.
— Bem, a primeira opção fica do outro lado do corredor de Ella e Tray,
então você provavelmente os ouvirá transar de vez em quando. A opção
dois é entre os nossos quartos, o que significa que você vai me ouvir
entretendo, assim como Tray e Ella transando. Portanto, talvez você prefira
a segunda opção para pensar em mim quando estiver sozinha à noite? Se
imaginando entre meus lençóis em vez de quem eu escolhi para saciar essa
noite?
Aflora entreabriu os lábios cheios em um suspiro.
— Que coisa grosseira de se dizer.
— Melhor se acostumar com isso — respondi, apertando-a contra a
parede. — Este é o meu território, e não vou mudar meus hábitos apenas
para me adequar ao seu jeito pudico.
Ela dilatou as narinas.
— Não sou uma puritana.
— Prove — desafiei, andando em uma linha perigosa.
Um músculo se contraiu em sua bochecha enquanto ela cerrava os
dentes.
— Não preciso provar nada para você — ela finalmente disse depois de
um segundo e se virou. Para meu choque total, ela marchou para a opção
dois como se quisesse mostrar seu ponto de vista. — Vou dormir aqui.
Ela abriu a porta.
E bateu atrás de si.
O som da tranca ecoou no corredor.
— Bem, ela tem espírito — uma voz profunda saiu da abertura do
corredor.
Meu coração acelerou quando minha única fraqueza apareceu debaixo
de uma das claraboias, com suas características marcantes brilhando sob as
estrelas.
— Olá, Zephyrus — cumprimentei, sentindo minha confiança escapar
de minhas veias.
— Príncipe Kolstov — ele respondeu, formal e direto. — Vou ficar com
o outro quarto de hóspedes. Então você e eu vamos ter uma longa conversa.
Dois golpes em uma frase.
Ele não apenas estava negando uma noite na minha cama – que nós dois
sabíamos que eu ficaria mais do que feliz em acomodar – mas também
queria ter uma discussão.
As discussões com o Guardião Zephyrus nunca eram a meu favor.
Eu deveria ter me oferecido como voluntário para o papel de apresentar
Aflora à Academia em vez de permitir que meu pai delegasse a tarefa a
Zeph. A parte egoísta de mim se regozijou, enquanto o lado prático sabia
melhor.
Infelizmente, minha metade egoísta havia vencido.
E agora eu pagaria o preço por isso.
CAPÍTULO SEIS
AFLORA

F inalmente, algo normal.


Sem cobras, gárgulas, insetos de fogo ou qualquer coisa imprópria.
Apenas um quarto comum, decorado com cama de casal, cômoda, um
pequeno banheiro anexo e armário.
Simples.
Mobiliado de forma elegante.
E ostentando uma janela com vista para o terreno da Academia. A
propriedade inteira me lembrava uma catedral com todos os vitrais e pedra
obsidiana. A maioria dos edifícios parecia ter a mesma altura, com torres
aleatórias intercaladas. Emoldurado pelas estrelas e pelo luar, tinha mesmo
um apelo vampírico.
Apropriado, considerando a propensão dos Faes da Meia-Noite por
sangue.
Toquei meu pescoço e entrei no banheiro em busca de um espelho.
Apesar do meu cabelo indomável, eu ainda era a mesma. A marca em meu
pescoço parecia mais um chupão do que uma mordida. Pelo menos, minhas
habilidades de cura feérica ainda funcionavam. Ao contrário do meu acesso
à fonte.
Segurando a pia fria de mármore, me inclinei para observar cada parte
do meu rosto.
Que poder de vínculo eles colocaram em mim? me perguntei. E como
faço para quebrar?
Passei as mãos sobre a blusa e a saia, pernas e sapatos, procurando por
qualquer coisa que parecesse errada ou estranha. Nada.
Tirei as roupas, só por garantia.
Nada.
Ainda segurando a pia, fiz uma careta para o meu reflexo. Tinha que ser
algum tipo de rede mágica que eu não conseguia sentir. Então, como eu a
derrotava?
Entrando no quarto com os pés descalços, fui até a janela para procurar
uma árvore ou qualquer tipo de vida lá fora. Se eu pudesse encontrar um
pedaço de terra e me agarrar a ela, poderia chamar minha fonte e romper...
Uma batida interrompeu minha concentração e a porta se abriu um
segundo depois.
Me virei com uma carranca, irritada com a interrupção.
— Aflora, o Zeph está... — Kolstov parou, com os olhos vagando sobre
mim.
Fiz uma careta. Qual é o problema dele...? Oh. Ah! Cobri depressa os
seios com os braços, a outra mão indo direto para a minha metade inferior.
— Saia!
Ele ergueu as mãos em rendição quando deu um passo para trás.
Então ele se curvou e jogou algo para dentro.
— Roupas para, hum, usar. — Ele pareceu estremecer antes de fechar a
porta.
Fiz uma careta para a madeira. Maço pomposo e intrusivo de...
Espere.
Como ele abriu a porta? Eu a tranquei.
Indo até lá, encontrei-a destravada.
Não era nada bom.
Pegando a camisa do chão, eu a puxei sobre a minha cabeça antes de
vestir a cueca boxer – um item que eu realmente esperava que estivesse
limpo – então abri a porta e saí.
E paralisei com um pé no corredor.
A cena me prendeu e meu queixo pareceu cair no chão.
Um homem prendia Kolstov contra a parede com a palma da mão em
volta do pescoço e a outra no quadril. Eles estavam presos em algum tipo de
olhar aquecido. E pelo que parecia, o recém-chegado, com maçãs do rosto
acentuadas, estava ganhando.
— Solte. — A ordem de Kolstov foi um ruído rouco. Ele estava
segurando as lapelas do outro homem com força e suas íris douradas
giravam com fogo.
— Você primeiro — o outro respondeu. Sua voz era rica, sombria e
tinha uma ponta de dominação que fez meus joelhos vacilarem.
Quem é esse cara? Zeph?
Ele parecia um pouco mais velho. Definitivamente mais forte. Mesma
altura de Kolstov, mas com uma aura de superioridade que achei
surpreendente. Quem poderia ser mais poderoso do que um Príncipe Fae da
Meia-Noite? Talvez o rei, mas esse cara não era ele. Era muito jovem para
isso. E também não se parecia em nada com Kolstov.
— Vá se foder Zephyrus — Kolstov resmungou.
— É diretor Zephyrus para você, príncipe Kolstov.
Arqueei as sobrancelhas.
Uau, então esses dois tinham algum tipo de história. Eu não sabia dizer
se eles queriam se matar ou arrancar as roupas um do outro.
Eu meio que queria assistir só para ver como tudo acabaria.
Mas também queria saber como Kolstov destrancou a porta do meu
quarto.
Abri a boca para perguntar quando as chamas irromperam entre os dois,
me fazendo pular. Não havia varinhas, nenhuma palavra foi dita, apenas
fogo dançando no ar como se convocado da cabeça de um deles.
Rapidamente, ficou óbvio quem o criou quando Zephyrus jogou
Kolstov no chão enquanto murmurava:
— Isso é jogo sujo.
— Só estou usando meus dons como meu mentor me ensinou —
Kolstov respondeu, com a mão no pescoço.
Zephyrus bufou.
— Se isso fosse verdade, você teria confiado em sua força física e não
em sua herança Elite de Sangue. — Ele limpou as chamas de suas mangas
com um movimento de pulso, e a energia se dissipou em uma nuvem cinza,
deixando seu blazer intocado.
Kolstov girou o pescoço e sacudiu as faíscas de suas próprias roupas,
criando um fio de vapor que desapareceu com os outros.
A fumaça se dissipou, deixando os dois ilesos, sem um pingo de
evidência sobre eles. Quase como se eu tivesse imaginado a coisa toda.
Hum. Isso é interessante.
Olhos verdes frios encontraram os meus, semicerrados.
— Esse é o meu projeto?
— Sim — Kolstov respondeu. — Aflora, conheça Zeph. Zeph, essa é a
Aflora.
O olhar de Zephyrus passou por mim em claro desinteresse.
— Que divertido. — Seu sarcasmo não me passou despercebido. — Sou
o diretor Zephyrus, seu novo Guardião. Tente sair desta suíte sem mim e
você vai se arrepender. — Com essa proclamação, ele deu meia-volta e se
dirigiu para a sala de estar, me deixando sozinha com Kolstov.
— Encantador — resmunguei.
Kolstov levou a mão à nuca e soltou um suspiro, balançando a cabeça.
Então ele seguiu o diretor.
Excelente. Um jogo de Persiga o Duende.
Imaginei que se eu quisesse alguma resposta – para não mencionar
comida – tinha que me juntar a eles.
Bufando, segui pelo corredor e os encontrei parados na sala de estar.
Mas não se tocavam desta vez. A tensão emanava deles. Nenhum dos dois
falava.
Limpei a garganta.
— Bem, hum, a fechadura do meu quarto está quebrada.
Sem resposta.
— Você não pode simplesmente invadir meu quarto sem...
— Seu quarto? — ele questionou, interrompendo a disputa com o
diretor para olhar na minha direção. — Esta é a minha suíte. As fechaduras
não se aplicam a mim.
Apertei a mandíbula.
— Se aplicam no meu quarto de hóspedes.
Ele bufou.
— Não, linda. Não se aplicam.
O fogo lambeu minhas veias com sua declaração.
Primeiro, Shadow me mordeu contra minha vontade.
Então, o Conselho me forçou a frequentar a Academia Fae da Meia-
Noite por razões que ninguém se deu ao trabalho de me esclarecer.
E agora, o príncipe Kolstov alegava que eu não teria privacidade aqui
em seus aposentos – um lugar que eu nem queria ficar.
Isso. Não. Era. Aceitável.
— Kolstov tem um problema em ser bloqueado — Zephyrus disse,
completamente alheio ao tumulto que se formava dentro de mim. — Não se
preocupe. Você vai se acostumar com isso.
— Você vai agir como um idiota comigo o ano todo? — Kolstov
questionou com o foco no diretor.
— Provavelmente... — Zeph respondeu.
A batida em meus ouvidos abafou a continuação de sua declaração.
Meu foco estava na onda de poder se formando dentro de mim.
Oh, olá, pensei. Venha aqui.
Fechando os olhos, segui o clarão de luz através da teia escura em
minha mente.
É aqui que me prenderam, percebi, o mapa clareando em minha mente.
Eles lançaram um feitiço de vínculo sobre mim.
Devia ter acontecido enquanto eu dormia.
Shade fez isso? Kolstov? Outro Fae?
Não importava.
O que eu precisava fazer era desvendá-lo.
Zephyrus e Kolstov continuaram a brigar na sala de estar, nenhum dos
dois parecia se lembrar da minha presença. Normalmente, eu consideraria
isso rude. Neste caso, a insolência deles funcionou a meu favor.
A energia girou dentro de mim enquanto eu navegava em cada fio,
separando-os cuidadosamente com minha tesoura invisível, desejando
libertar aquela faísca na parte inferior.
O design não era muito intrincado, sugerindo que foi feito às pressas. O
fato de eu poder ver as amarras implicava que Shade de fato havia
contaminado meu sangue e que talvez meu poder estivesse crescendo na
escuridão. Ou talvez eu não tivesse procurado no lugar certo.
Independentemente disso, eu podia vê-lo agora.
E eu parecia ser capaz de desfazê-lo.
Kolstov levantou a voz.
Zephyrus permaneceu calmo.
Os dois estavam envolvidos em alguma discussão sobre Kolstov jogar
Zephyrus aos lobos três meses atrás. Só escutei metade, pois minha atenção
estava na luz crescente dentro de mim.
Aí está você, murmurei, sorrindo para a fonte da Terra. Venha para mim
agora. Me ajude.
O poder zumbia através do meu ser, me revitalizando na força da minha
essência.
Sim. Sim.
Eu me senti viva.
Exuberante.
Inteira.
Suspirei, a vida vegetal ao redor da Academia formigando em meus
instintos. As árvores não estavam mortas, eram apenas de uma espécie
diferente. Um cipó ardente, as raízes me disseram, me dando um nome
próprio para trabalhar.
Prazer em conhecê-la, murmurei, revirando o pescoço e memorizando o
coração da espécie em minha mente. Você vai se sair muito bem.
Com um giro de poder, comecei a reconstruir a base da árvore
carbonizada, enraizando-a no quarto de hóspedes.
Kolstov não queria me dar um cadeado? Então eu faria um.
E rasgaria sua suíte no processo.
— Está sentindo isso? — Zephyrus perguntou, interrompendo o que
Kolstov tinha acabado de dizer.
Deve funcionar mais rápido, pensei, direcionando minhas ondas de
nutrição da lacuna na teia para a nova criação.
— O que você está fazendo? — Kolstov questionou.
Eu o ignorei.
De repente, sua mão estava em meu pescoço e seu corpo duro
pressionado ao longo do meu.
— Aflora.
Não abri os olhos.
Apenas continuei a desfiar e a tecer, a desfiar e a tecer. Cresça, pequena
árvore. Cresça.
A força terrena pulsava dentro de mim, rompendo as amarras finais e
florescendo para a vida. Suspirei contente, com meus poderes finalmente
livres.
Aromas florais perfumavam o ar, trepadeiras de minha autoria subindo
pelas paredes para me proteger das cobras do lado de fora. Porque eu podia
senti-las deslizando em agitação, sua intenção de quebrar o limiar era
palpável.
Ah, mas a gárgula as segurou.
Por quê?
Porque eu faço parte desta suíte agora. Ela protege todo mundo aqui
dentro. O conhecimento me veio de uma fonte desconhecida, mas senti a
veracidade da declaração dentro de mim.
— Aflora! — Kolstov gritou.
Curvei os lábios, sentindo o poder ondular através de mim em ondas
energizantes. O que foi que ele me disse antes? Ah, certo.
— Estou pronta para dançar agora, Príncipe da Meia-Noite — eu disse a
ele, empurrando-o para longe com um pulso de energia que o fez cair
sentado.
Ele tossiu e xingou quando raízes cresceram do chão, prendendo-o.
Eu sorri.
— Aqueles cipós ardentes com certeza são resistentes. — O do meu
quarto de hóspedes estava quase completo, os galhos alcançando o teto.
Contente com o design, disse-lhe para crescer para fora. Deixei a porta
aberta, dando a eles a oportunidade de formarem raízes grossas e pretas no
corredor em nossa direção.
Uma explosão me jogou de lado na parede, interrompendo meu foco por
um momento, quando Kolstov se levantou. Ele havia perdido a capa e o
paletó, as mangas da camisa estavam arregaçadas até os cotovelos. Tudo
aconteceu tão rápido que eu não sabia como ou quando ele fez a troca de
roupa, mas peguei as linhas se contorcendo ao longo de sua pele.
A fonte sombria, percebi.
Prosperava dentro dele.
E ele estava prestes a usá-la contra mim.
Me esquivei do golpe que se aproximava e um escudo de pétalas se
formou em minha pele em um instante.
— Isso é ridículo, Aflora — Kolstov retrucou. — Pare.
Eu o fiz tropeçar com uma das raízes, então agitei uma miríade de
ácaros ao redor dele, provocando um espirro.
Zephyrus ficou de lado, completamente imperturbável. Como ele não
parecia querer se juntar à batalha, eu o deixei sozinho – por enquanto – e
me concentrei em meu companheiro Fae Real.
Raios de eletricidade dispararam de seus dedos, todos apontados na
minha direção. Eu os desviei com flores, franzindo a testa enquanto ele
transformava as lindas criações em cinzas.
— Que falta de respeito — murmurei, mexendo uma série de partículas
de flores para cegar sua visão. Minha árvore do quarto finalmente me
alcançou, me ancorando na vida enquanto dirigia as grossas raízes pretas
em direção ao meu agressor.
Se eu pudesse incapacitar ele e Zephyrus, poderia encontrar um portal e
escapar.
Talvez.
Sinceramente, não tinha pensado tão à frente. Eu só queria sair dessa
porcaria de suíte.
As cobras, no entanto, provariam ser um problema.
Daí o escudo de pétalas.
Uma raiz se enrolou no tornozelo de Kolstov, apertando-o, mas foi
engolida por chamas vermelhas e amarelas.
Gritei quando as brasas atingiram meu coração e minha árvore gritou de
dor.
— Pare!
— Você primeiro — Kolstov grunhiu enquanto sua essência destrutiva
se espalhava pelo chão e destruía minha criação com uma facilidade
horripilante.
Caí de joelhos, agonizando com a destruição da vida à medida que seus
poderes vis comiam a bondade dos meus.
Um ódio diferente de tudo que já experimentei floresceu dentro de mim,
todo direcionado a esse monstro da realeza. A energia brilhou em seus
olhos dourados, atingindo os meus com cílios assassinos que destruíram
minhas vinhas e todos os vestígios da terra que eu trouxe para sua suíte.
Incluindo minha amada árvore.
Ele não parou nas raízes, mas pegou o cipó inteiro e o incinerou,
deixando-o em cinzas em questão de segundos.
Meu peito doeu com a perda.
Isso é muito errado.
Como você pôde?
Por quê?
Os cipós lá fora choraram comigo, seus galhos chacoalhando com raiva
em protesto.
— Isso foi fascinante — Zephyrus murmurou.
— Essa não é a palavra que eu usaria — Kolstov retrucou e seus pés
apareceram na minha visão. — Que merda é essa, Aflora?
Olhei para ele.
— Você é um monstro. — Minha voz estava rouca. A magia sombria
cobria minha fonte de terra, me deixando sem fôlego.
Ele zombou das minhas palavras.
— Você acabou de soltar um monstro na minha suíte, quase matando
todos nós no processo. Ficou louca?
— Ela não ia nos matar — respondi, lívida. — Você é o assassino aqui.
Suas sobrancelhas se ergueram.
— Mesmo? — Ele se abaixou, se segurou pelo pescoço e me colocou de
pé. — Vamos ver. — Ele me arrastou pela sala de estar até as janelas dos
fundos. — Olhe.
— Não.
Quando tentei lutar, ele passou os braços em volta de mim, me
prendendo contra seu peito. Seus lábios estavam no meu ouvido.
— Puta merda, olhe ou vou te arrastar de volta ao Conselho e te jogar
na masmorra por uma semana.
Eu me irritei com a ameaça e considerei conjurar mais pólen para
sufocá-lo, mas nossas cabeças estavam muito juntas. Eu provavelmente
acabaria inalando a mistura potente também.
Uma explosão ao longe chamou minha atenção, me fazendo suspirar.
— O que é que foi isso?
— Continue olhando.
Eu não tinha ideia do que ele queria que eu visse. Estava escuro como
breu lá fora, o que parecia ser sua versão do dia. Pelo que me lembrava,
Faes da Meia-Noite mantinha horas opostas aos Faes Elementais,
escolhendo dormir quando o sol nascia e trabalhar durante a noite. Não era
um horário que eu queria...
Um inferno subiu no céu, seguido por mais dois de diferentes posições
no terreno da Academia.
Semicerrando meu olhar, me concentrei na fonte e ofeguei quando senti
o cipó ardente mais próximo de nosso prédio expelir suas brasas cintilantes
para o céu.
Oh.
Era por isso que eles possuíam caules carbonizados e não tinham folhas.
Eles queimavam.
— Agora, imagine o que teria acontecido se sua pequena criação tivesse
passado por esse processo de hora em hora dentro da minha suíte? —
Kolstov me soltou, dando um passo para trás.
Engoli em seco e fiz um biquinho.
— Bem, como eu deveria saber disso? — perguntei, de frente para ele.
Zephyrus ficou de lado, com os braços cruzados e as feições esculpidas
desprovidas de emoção.
— Que tal você não brincar com coisas que não entende? — Kolstov
sugeriu. — É por isso que você está aqui, para aprender.
— Não, estou presa aqui porque um Fae da Meia-Noite me mordeu
contra minha vontade e você acha que os poderes dele vão se misturar com
os meus. Bem, eu me sinto bem agora que estou fundamentada novamente
em minha essência terrena. Então, que tal você me deixar sair e
encerrarmos a noite?
— Você se sente bem — ele repetiu. Seu ceticismo era evidente. —
Sim. Porque é perfeitamente normal que uma Fae da Terra seja capaz de
desvendar um feitiço de artes das trevas. Um que meu pai colocou em você,
a propósito. E era um feitiço de vínculo que outros Faes da Meia-Noite não
seriam capazes de desmantelar em uma semana, muito menos em minutos.
Então, sim, acho que é seguro dizer que as suspeitas de Chern sobre seu
futuro já estão se tornando realidade.
Movi a boca sem som. Suas palavras me paralisaram.
Ele estava certo? Eu não tinha notado a teia antes, mas uma vez que ela
veio até mim, trabalhei com rapidez. E me perguntei se a razão pela qual eu
pude ver de repente significava algo sobre meu poder crescente. Parecia que
sim.
O que significava...
— Eu realmente estou me transformando em uma abominação. — Algo
que já reconheci uma vez, mas agora... agora eu tinha provas.
— Parece que sim — Kolstov concordou. — No entanto, pode...
— Como isso é possível? — perguntei, cortando-o. — Tudo o que
aquele toco de salgueiro fez foi me morder. Não trocamos poderes. No
máximo, ele deveria estar herdando o meu, não o contrário.
— Uma mordida cria o vínculo de acasalamento em nosso mundo —
Kolstov respondeu, parecendo irritado. — Algo que você deveria saber
sobre a cultura Fae da Meia-Noite. Só que você não estudou nada sobre nós.
Que realeza fantástica você está se tornando.
Sua farpa não conseguiu penetrar em minhas emoções já abaladas,
porque estávamos além dos meus estudos e do que eu sabia. O que me
importava agora era o futuro e como usá-lo a meu favor.
— Faes Elementais não se unem através do sangue. Nós nos ligamos à
fonte. Então é unilateral. Eu nem o sinto, e se estivéssemos realmente
acasalados, eu sentiria. — Ou espero que seja o caso, acrescentei para mim
mesma.
— Ainda está se formando — Kolstov gritou. — O acasalamento Fae da
Meia-Noite é iniciado com a primeira mordida, selado com a segunda e
prometido para a eternidade com a terceira. O Shade apenas o iniciou, o que
significa que seus poderes e sangue estão se misturando agora, formando
uma nova vida juntos. Por isso você tem acesso à magia sombria. O que não
sabemos é qual será a profundidade disso.
— É por isso que o Conselho decidiu mantê-la aqui — Zephyrus
interveio. — Para observar o progresso dela. E você é o encarregado de
gerenciá-la.
Um músculo se contraiu na mandíbula de Kolstov.
— Esta é a parte em que você me chama de babá?
— Não. Carrasco parece ser um termo melhor. — Zephyrus se afastou
da parede e semicerrou os olhos. — É você que terá que matá-la se ela
provar ser uma abominação, certo?
Meu coração parou.
Não.
Mas o olhar no rosto de Kolstov dizia que sim.
Comecei a balançar a cabeça em negação, me recusando a acreditar que
poderia ser uma possibilidade, mas o tempo todo sabendo que tinha que ser
uma opção. Porque abominações não poderiam existir. Tanto poder levava à
insanidade.
E testemunhei em primeira mão o que acontecia quando alguém
alcançava muito poder.
Um arrepio percorreu minha espinha com a memória de Elana tentando
destruir todos os Fae da Terra com sua magia sombria. Ela tentou sugar
nossas almas de nossos corpos, para absorver nossas habilidades.
Minha conexão com a fonte da Terra quase se quebrou por causa dela.
Nunca serei assim, pensei comigo mesma.
Mas e se esse fosse o meu destino? E se essa conexão que Shade forçou
em mim me deixasse louca?
Eu quase soltei um cipó ardente nesta suíte. O que mais eu poderia
fazer?
Não importava que eu não soubesse. Eu deveria saber. Deveria ter
procurado mais fundo no núcleo do ser para determinar seu propósito antes
de escolhê-lo para minha situação.
Meus joelhos se dobraram, e eu caí no chão.
Como tudo tinha dado tão errado? O que eu poderia fazer? Aprender a
magia sombria? Controlá-la? Isso ajudaria?
— Vamos precisar de um novo feitiço de vínculo — Kolstov murmurou.
— Um mais poderoso.
Fiquei em silêncio, porque ele estava certo.
Retornar ao reino Fae Elemental era impossível no meu estado atual.
Levar magia sombria para lá perturbaria o equilíbrio.
Eu não tinha escolha a não ser permanecer aqui enquanto meu futuro se
revelava.
Tudo porque um Fae da Meia-Noite se aproveitou de mim no Reino
Humano.
Semicerrei os olhos.
Kolstov podia ter me irritado com sua arrogância, mas foi Shade quem
ganhou minha ira final.
Aquele Fae pagaria quando eu o visse novamente. Eu o envolveria em
trepadeiras e o apertaria até que sua linda cabeça saísse. Então eu o
queimaria.
— Ele me avisou que você seria linda, Aflora — ele disse.
Ele quem?, ponderei. E por que você fez isso comigo?
A morte e eu já nos conhecíamos bem, já que fui colocada na soleira
letal algumas vezes. Quando criança. E novamente no ano passado. No
entanto, minha vida havia vencido as duas vezes.
Eu não era de desistir e aceitar o destino. Lutei contra ele a cada passo
do caminho. E agora não seria diferente.
Uma nova lista de tarefas se formou em meus pensamentos, me dando
um propósito renovado.
Colaborar.
Aprender a controlar o lado sombrio.
Me comportar.
Exigir respostas.
Matar Shadow.
Sim. Sim, isso daria certo.
E então, quando terminasse, eu escaparia.
CAPÍTULO SETE
AFLORA

E mpurrei o molho vermelho como sangue no meu prato com uma


carranca. O pedaço gigante de porcaria marrom que estava no meio não
me atraiu, nem os estranhos e longos vermes brancos que o cercavam.
Quando Kolstov alegou estar saindo para pegar comida, pensei que ele
se referia a comida comestível. Mas isso não era comestível. No entanto, ele
e Zephyrus pareciam bastante satisfeitos, já que seus pratos estavam quase
vazios.
Torci os lábios. Não posso comer isso.
Felizmente, eles ainda não tinham cortado meu poder elemental, o que
significava que eu poderia fazer...
— É espaguete — Kolstov disse, interrompendo meus pensamentos. —
Fresco da Itália. Por que você não está comendo?
— Comida humana. — Franzi o nariz. — Por que você está comendo
comida humana?
Kolstov trocou um olhar com Zephyrus.
— Eu te disse. Ela não sabe nada sobre os Faes da Meia-Noite.
Cerrei o dentes, cansado dessa retórica.
Mas ele não tinha acabado.
— Quando você começou a aprender sobre outros reinos Faes, Zeph?
O diretor terminou de engolir antes de dizer:
— Quando criança.
— Eu também. Me lembro de Dorthia me questionando sobre os nomes
Fae Real quando eu tinha, tipo, seis ou sete anos. — Kolstov me prendeu
com um olhar. — Faes da Meia-Noite frequentemente entram no Reino
Humano, porque precisamos do sangue deles para sobreviver. Como
resultado, nossos paladares evoluíram com os deles, tornando a comida
mortal muito comum em nosso reino. Considere essa sua lição introdutória.
Agora abra a boca e coma o que eu te dei.
Considerei suas palavras e decidi dar uma resposta honesta.
— Seis ou sete anos de idade — repeti, saboreando as palavras. —
Humm. Quando eu tinha mais ou menos essa idade, meus pais me deixaram
com uma mãe solteira e seus dois filhos, afirmando que voltariam. Mas não
voltaram. As ligações deles com a fonte desapareceram, me deixando como
única herdeira. Então, um pouco depois disso, um Fae psicótico tentou me
matar e absorver minha magia da Terra.
Fiz uma pausa para efeito.
— Então, sim — falei. — Estive um pouco ocupada tentando sobreviver
nos últimos quatorze anos. Me perdoe por não adicionar política Fae à
minha agenda mimada. — Eu me afastei da mesa, cansada dele e suas
críticas pomposas.
Nada disso era minha culpa.
E eu estava muito cansada de sua atitude condescendente.
Ele segurou meu pulso enquanto eu contornava a pequena mesa de
jantar. Suas íris douradas brilhavam.
— Você precisa comer.
— Não tomo sangue, mas obrigada mesmo assim.
Ele franziu o cenho.
— Eu não estava oferecendo meu pescoço.
Revirei os olhos.
— Não, só a porcaria da sopa de vermes. Estou bem. Vou fazer algo da
Terra para mim. — Supondo que eu pudesse conjurar uma planta
comestível neste reino. Todas as fontes vegetais que senti ao meu redor
estavam longe de ser amigáveis.
Assim como o cipó ardente.
Definitivamente, não vou tentar comer isso.
— É espaguete — Kolstov repetiu, me puxando de volta para a cadeira
com seus braços fortes. — Macarrão, não vermes. Molho de tomate, não
sangue. E almôndega. — Ele terminou sua explicação com um empurrão
que me fez cair no meu lugar novamente. — Prove. Apesar do alho, acho
que você vai gostar.
— Almôndega? — repeti, sentindo meu estômago revirar. — Tipo,
parte de um animal?
— Provavelmente uma mistura de porco e vaca, sim.
Ofeguei.
— Você está comendo um animal?!
Ele trocou outro daqueles olhares com Zephyrus, então estendeu a mão
por cima da mesa para pegar a bola gigante do meu prato e jogou no seu.
— Agora só tem macarrão e molho de tomate. Bom apetite.
Zephyrus bufou, cortou a bola com a faca no prato de Kolstov e pegou
metade.
Estremeci. Que nojo.
Faes Elementais não comiam animais do Reino Humano. A dieta deles
não era adequadas o suficiente para nossos gostos. Eu preferia um belo
pedaço de orc, ou até mesmo uma torta rosa cinzenta.
Meu estômago roncou com o pensamento.
Zephyrus semicerrou aqueles olhos verdes que pareciam olhar através
de mim.
Ele deu um tapinha na camisa, tirando uma varinha de um bolso que eu
não podia ver, então acenou com algumas palavras murmuradas. Um prato
apareceu um momento depois com um pão de cogumelo em cima de folhas
roxas. Ele o trocou pelo meu prato sem dizer uma palavra e despejou os
vermes cheios de sangue em seu próprio prato.
Kolstov sorriu.
Zephyrus permaneceu em silêncio.
E olhei para a criação mágica com forte ceticismo.
— O que você colocou aqui?
— Coma e descubra, princesa — ele respondeu com uma piscadela.
Eu bufei. Bem, é melhor do que o que eles estão comendo, decidi,
pegando a faca e o garfo para cortar uma lasca da comida produzida
magicamente.
Zephyrus me ignorou, mantendo o foco em seu próprio prato. Enquanto
isso, Kolstov franziu a testa quando levei a massa macia aos lábios e
experimentei.
— O que é isso? — ele perguntou, parecendo chocado.
— Pão de cogumelos — Zephyrus o informou. — Popular no reino
dela.
— Como é que você sabe disso? — ele questionou.
— Você não é o único que fez cursos culturais, Sua Alteza. — Zephyrus
lhe deu um olhar que resultou em uma carranca do Príncipe da Meia-Noite.
Uma dinâmica muito estranha.
Zephyrus me parecia mais velho, não por causa de seu título, mas por
causa da experiência que se destacava suas feições. Definitivamente, não
era da idade de um aluno da Academia, mas não muito mais velho.
Diretor.
Algo me dizia que esse termo não significava neste mundo o mesmo
que significava em outros.
Ele não estava no comando da Academia, porque não tinha o ar de
autoridade certo para isso. Muito descontraído em seu tratamento com
Kolstov. Também não era adequado o suficiente na minha presença.
Mas ele definitivamente poderia passar por um professor.
— Você ensina? — perguntei a ele enquanto cortava um grande pedaço.
Não era o pão de cogumelos mais incrível da minha experiência, mas gostei
do sabor defumado. Deu um toque exótico, como se Zephyrus tivesse
chamuscado as pontas com sua energia Fae da Meia-Noite.
— Sim, é isso o que um diretor faz. — Ele bateu o garfo no prato,
olhando para a comida, e suspirou. — Você sabe alguma coisa sobre como a
Academia Fae da Meia-Noite é administrada? Como funcionam nossas
Casas de Magia? As linhagens que conduzem nossos cursos de estudos?
Minhas bochechas aqueceram.
— Como disse ao príncipe Kolstov, ainda não fiz um curso sobre sua
estrutura política. Estava no meu cronograma para este ano, além de dedicar
meu tempo para ajudar meus companheiros Faes da Terra a se
reconstruírem. O que aparentemente não vou fazer agora.
Mais da metade da minha espécie havia perecido nas últimas décadas
devido a uma abominação perversa sugando a energia de nossas almas na
tentativa de obter acesso a fontes elementares adicionais. Deixou os Faes da
Terra em frangalhos. Algo que eu esperava ajudar a nutrir e recuperar nos
próximos cinquenta anos.
Então Shade me mordeu e transformou meus planos em pó.
— Estou ciente do que aconteceu no reino Fae Elemental — Kolstov
murmurou. — Forneci livros didáticos para Exos e Cyrus para...
— Mestre Kolstov — uma voz grave interrompeu quando a gárgula
desceu sobre nossas cabeças.
Arregalei os olhos com a largura de suas asas de pedra. Para um corpo
tão pequeno, eu esperava alguns centímetros no máximo. Mas não, a largura
era do tamanho do meu braço.
Uau, onde ele esconde isso enquanto está na porta?
— Sim, Sir Kristoff? — Kolstov disse, arqueando uma sobrancelha.
— Um Sangré de Sangue está na porta para você, senhor — a gárgula
respondeu, curvando-se antes de girar para retornar ao vestíbulo.
— Ah, Chern deve ter nos enviado um presente de festa. — Ele limpou
os lábios com um guardanapo, depois se desculpou. — Volto em alguns
minutos.
— Presente de festa? — repeti, olhando para Zephyrus. — E o que é um
Sangré de Sangue?
— Uma das linhagens Fae da Meia-Noite. — Ele tomou um gole de um
copo de líquido vermelho que era vinho ou sangue fresco das veias de um
humano. Não perguntei. Considerando que meu copo continha água,
suspeitei que fosse o último. — Existem cinco casas ativas em nossa
espécie: Morte, Elite, Sangré, Guerreiro e Maléfico. Eu sou um Guerreiro
de Sangue. Kolstov é um Elite de Sangue. Shade, o seu noivo, é um Sangue
da Morte.
— Noivo — murmurei, odiando essa palavra. — Noivo prestes a
morrer.
Se Zephyrus me ouviu, não demonstrou.
— Cada linhagem tem uma afinidade com diferentes tipos de magia
sombria. É semelhante às suas atribuições elementares, mas as nossas são
definidas mais no sangue do que em nossas almas. À medida que seu
vínculo com o Shade se estabelecer, você provavelmente se juntará à
linhagem dele. Mas sua essência Fae Real pode contradizê-lo.
— É por isso que o Conselho quer que ela faça cursos em todas as casas
— Kolstov disse ao retornar. Em vez de recuperar seu assento, ele se moveu
para ficar atrás do meu. — Levante seu cabelo para mim, linda.
O pedido provocou um calafrio na minha espinha e travei as mãos em
torno da faca e do garfo.
— Por quê?
Ele passou os dedos pelos meus fios escuros e se inclinou para
pressionar os lábios no meu ouvido.
— Porque preciso de acesso ao seu pescoço.
Estremeci e os talheres bateram contra o meu prato enquanto eu cobria
os pontos de pulsação abaixo do meu pescoço. Se ele estava pensando que
ia me morder, era melhor mudar de ideia.
— Não!
Ele apoiou as mãos em meus ombros antes que eu pudesse pular da
cadeira.
— Calma, Aflora. Só quero colocar um colar em você.
— Um colar? — repeti, tentando olhar para ele. Seu aperto me manteve
no lugar.
— É necessário.
— Isso não me diz...
— O Conselho precisa acalmar suas habilidades elementares para
garantir a segurança dos alunos — Zephyrus explicou em um tom
entediado. — O colar vai te manter sob controle. — Ele olhou para Kolstov.
— Foi uma explicação tão difícil?
Acalmar minhas habilidades?
O couro envolveu meu pescoço antes que eu pudesse expressar a
pergunta em voz alta, com Kolstov já tirando meu cabelo do caminho.
Tentei sair de seu aperto para impedi-lo de prender a tira em volta do
meu pescoço, mas ela se encaixou no lugar com um zunido que perfurou
minha alma.
Ergui as mãos depressa para puxar a gargantilha, para encontrar o fecho
e abri-lo. Só que era sólido em toda a volta, selado por magia.
— Tire — exigi enquanto meu espírito choramingava por dentro por ter
sido cortado da minha fonte mais uma vez. — Tire agora.
Kolstov se acomodou na cadeira na cabeceira da mesa com um suspiro
longo e alto.
— É necessário, Aflora. Não podemos arriscar que você perturbe o
equilíbrio ou crie outro cipó ardente onde não deveria. — Ele olhou de
forma incisiva para as cinzas que ainda cobriam o chão da sala de estar. —
Isso também nos ajudará a observar seu crescimento de magia sombria. O
Zeph vai te levar amanhã para comprar uma varinha e outros itens
essenciais.
— Sim, porque aparentemente é meu trabalho bancar a babá — o
diretor retrucou. — Se o Conselho está tão preocupado com a segurança
dela, talvez forçá-la a frequentar a Academia não tenha sido a jogada mais
brilhante.
Meus olhos ardiam de lágrimas.
A proteção era a menor das minhas preocupações, considerando que
eles tinham acabado de colocar uma algema em meu pescoço para controlar
minhas habilidades.
Aquilo sufocou minha capacidade de pensar, de continuar ouvindo a
conversa enlouquecedora. Tudo o que eu queria – não, precisava – era
arrancar aquele colar ofensivo do meu pescoço.
Mas não se moveria, não importava de que maneira eu puxasse.
— Por que você ainda está aqui? — O tom rude de Zephyrus me tirou
do meu tumulto, levando meu foco de volta para os dois homens brigando.
Kolstov estava com as bochechas em um tom escuro de vermelho e os
lábios achatados.
— Para ajudar na transição.
— Besteira. Seu pai me mandou cuidar disso para que você pudesse
aproveitar sua última semana de devassidão antes das aulas recomeçarem.
Se você não está planejando fazer isso, vou voltar para a minha vida e você
pode gerenciar a transição dela.
Kolstov deu um soco na mesa.
— Não te pedi para vir.
— Bem, você também não sugeriu o contrário, não é?
Silêncio.
— Sim, foi o que pensei. Assim como a posição de diretor. Você afirma
ter coragem, Príncipe Kolstov. E embora eu saiba que tenha, parece perdê-la
no que diz respeito aos decretos do seu pai. — Com essa declaração rude,
Zephyrus se levantou com tanta força que a cadeira em que estava sentado
caiu no chão.
Ele não se incomodou em levantá-la.
Apenas se virou para sair.
— Dez horas, Aflora — ele disse por cima do ombro. — Esteja pronta
para sair.
Kolstov observou-o partir com as íris douradas em chamas. Quando a
porta bateu ao longe – presumivelmente no quarto de hóspedes – o Príncipe
da Meia-Noite estalou os dedos.
Uma aparição surgiu ao lado dele. Uma fêmea fantasmagórica que
ostentava um brilho maternal.
— Limpe isso — ele exigiu enquanto se levantava.
— Claro, senhor — a aparição murmurou. Suas palavras eram como o
sussurro de um fantasma ecoando pelo ar e deixou um calafrio em seu
rastro.
Em vez de seguir Zephyrus, ele se dirigiu para a entrada, saindo pela
soleira sem uma única palavra ou olhar para trás.
Os pratos foram tirados da mesa, desaparecendo diante dos meus olhos.
Peguei o conteúdo do meu pouco antes de o prato desaparecer no
estranho vácuo.
Então a forma feminina translúcida se transformou no ar com todo o
resto, me deixando sozinha e gelada na sala de estar com um pão de
cogumelo aleatório agarrado ao peito.
Silêncio.
Quietude.
Nada.
Nem mesmo uma respiração, porque eu tinha parado de inspirar e
expirar.
Como tudo deu tão errado em um dia? Olhei para a comida em minhas
mãos.
Eu tinha esperanças de que o amanhã forneceria novas oportunidades.
Ou possivelmente seria muito pior.
Sim, provavelmente isso.
CAPÍTULO OITO
AFLORA

— T enho uma lista de materiais — Zephyrus disse quando saímos da


suíte de Kolstov na noite seguinte. O Príncipe da Meia-Noite não
estava à vista, e eu suspeitava que não o veria novamente até a próxima
semana.
Supondo que eu ainda esteja aqui. Suspirei, balançando a cabeça. A
quem estou enganando? Claro que estarei.
Os Faes da Terra confiavam em mim para manter a conexão com a fonte
da terra, o que significava bloquear todo e qualquer perigo. Incluindo a mim
mesma. E eu não podia negar que a potencial ligação de minhas habilidades
com Shade prejudicou minha capacidade de liderar.
E se ele puder acessar meus dons elementais?, me perguntei, seguindo
Zephyrus pelas escadas.
— Meu colar impede que o Shade toque na minha fonte de terra? —
perguntei em voz alta. — Ou ele está usando um também? — O
pensamento me fez contrair os lábios. Ah, eu realmente espero que tenham
colocado uma coleira nele...
Zephyrus fez uma pausa para me encarar.
— Você estava sonhando acordada enquanto eu estava falando?
Fiz uma careta. Ele estava falando. E, hum, sim, não ouvi uma palavra
sobre isso depois de seu comentário da lista de material.
O olhar que ele me deu confirmou que a resposta estava escrita no meu
rosto e ele não aprovou. O diretor envolveu a mão em meu pescoço e sua
palma oposta foi para meu quadril, enquanto ele me empurrava contra a
parede. Meus pés encontraram apoio em um degrau de forma desajeitada,
me mantendo na posição vertical enquanto ele capturava meu olhar com um
letal.
— Quando eu falo, você ouve. Entendeu?
Engoli em seco. Ele era mais de trinta centímetros mais alto que eu,
assim como Kolstov. E Zephyrus também possuía os músculos de um
homem que passou a maior parte de sua vida endurecendo seu exterior.
Guerreiro de Sangue, me lembrei de nossa conversa anterior. Embora eu
não conhecesse a definição completa, pude perceber a importância dessa
distinção. Junto com seus comentários sobre ser um Guardião.
Meu Guardião.
Este não era um homem para irritar, e ainda assim...
— Você maltrata todos os seus alunos dessa maneira? — perguntei a
ele, inclinando a cabeça para o lado.
Seu peito apertava o meu, e suas coxas – puta merda, aquelas coxas! –
me pressionavam com mais força contra a parede.
— Não sei. Ainda não comecei meu novo trabalho. Me pergunte
novamente na próxima semana.
— Você é um professor recente?
— Diretor — ele corrigiu. — E sim, é um cargo atribuído recentemente.
— Seu tom continha uma nota de amargura.
— Qual era o seu cargo anterior?
— Por que você está tão tagarela hoje? — Seu aperto aumentou em
volta do meu pescoço. — Acho que preferia a sua tristeza de ontem à noite.
— Eu não estava triste — gritei, semicerrando os olhos. — Me solte.
— Me obrigue.
— Este não é um comportamento adequado para um professor.
— Diretor — ele corrigiu de novo. — E, tecnicamente, ainda não
comecei. Neste momento, sou apenas o seu Guardião. O que significa que
você fará o que eu disser, sempre que eu disser.
— E você faz isso me estrangulando?
Ele curvou os lábios em um sorriso cruel.
— Confie em mim, isso não é nada comparado ao que posso fazer.
Acreditei nele. No entanto, por qualquer motivo, eu não o temia. Seu
exterior insensível apresentava uma fachada sinistra, seus olhos verdes frios
eram tão duros quanto o resto dele, mas meus instintos me disseram para
recuar.
— Posso ser mais fraca com esta coleira no pescoço, mas ainda sou uma
Fae Real. Dito isso, peço desculpas por sonhar acordada. Eu estava
pensando em como minha linhagem está ligada ao Shade e me perguntei se
isso significa que ele pode acessar meus dons também. Se ele pode acessar
a fonte da terra, tenho problemas muito maiores do que comprar livros ou
uniformes escolares. — Que imaginei que fosse parte de sua lista.
Um vislumbre de respeito iluminou seus olhos cor de esmeralda. Ele me
soltou e deu um passo para trás, fazendo sua capa ondular em torno de seus
tornozelos. As lapelas estavam cobertas com tinta verde que brilhava sob a
luz do fogo. Eu as estudei, imaginando o que significavam, quando
Zephyrus deu meia-volta e continuou descendo as escadas.
— O colar em seu pescoço deve impedi-la de acessar seus dons
elementais. Ele age como uma porta e, quando usado, essa porta é fechada e
impede sua alma de acessar os elementos. O que significa que o Shade
também está bloqueado. — Ele chegou ao nível inferior e olhou para mim.
— Satisfeita?
— Agora você está começando a soar mais como um professor —
brinquei, dando-lhe um sorriso. — Obrigada, diretor.
Suas pupilas cintilaram e um calor faiscou momentaneamente nas
profundezas esmeraldas.
— Humm — foi tudo o que ele disse antes de se virar novamente e
liderar o caminho para fora.
Em vez de liderar o caminho em direção aos portões principais, ele
virou à esquerda, o que nos levou ao coração do campus. O fogo cintilava
nos postes de luz, iluminando de leve os caminhos de carvão. Tijolos de
obsidiana e outros tipos de rocha forneciam a base para os edifícios, e arcos
góticos e vitrais davam à cena um apelo palaciano que eu tinha que admitir
que era bastante bonito.
Cipós ardentes e outras plantas estranhas enfeitavam o terreno,
incluindo flores pretas que me lembravam rosas e uma série de heras roxas
que brilhavam com insetos de fogo.
Me inclinei para dar uma olhada, mas fui puxada de volta por Zephyrus.
— Não.
— Por quê? — perguntei, estudando os insetos zumbindo. — Eles me
lembram duendes.
— Os mosquitos de fogo são pequenos idiotas nojentos que mordem.
Não os provoque. — Zephyrus me soltou. — Nossa vida selvagem não é
como a sua. Nós coexistimos porque é preciso, não porque queremos.
Então, confie em mim, você não quer tocar em nada neste reino.
Especialmente neles.
Estremeci com o aviso, então ofeguei quando uma fênix pousou a
menos de um metro de nós. Suas asas enormes ondulavam nas chamas e os
olhos eram predatórios.
— Caso em questão — Zephyrus murmurou. — Vá se foder. — Suas
palavras pareciam ser para o pássaro, não para mim.
A bela criatura inclinou a cabeça com íris vermelhas focadas e
inteligentes. Um grasnido curioso saiu de sua garganta, me fazendo curvar
os lábios. Ah, eu não tinha dúvidas de que esse ser era perigoso, mas podia
respeitar sua existência maravilhosa. Não que eu tivesse qualquer intenção
de alimentar o pássaro ou acariciá-lo. Eu sabia muito bem que não deveria.
Assim como eu sabia que não deveria perturbar os mosquitos de fogo.
Admirar a natureza não exigia nenhum tipo de interferência.
— Você é impressionante — elogiei.
A fênix se endireitou como se entendesse, expandindo suas asas para
mostrar a variedade de chamas coloridas.
Zephyrus se interpôs entre nós, cortando minha visão, e sacudiu a capa
em advertência ao belo ser.
— Não vou falar de novo. Vá. Se. Foder.
Um silvo precedeu a partida da fênix, me deixando maravilhada com a
forma como ela voou pelo terreno para um cipó queimando ali perto.
— Vamos esclarecer uma coisa — Zephyrus falou, me encarando mais
uma vez. — Como seu Guardião, meu dever é mantê-la viva. Para fazer
isso, preciso que obedeça a cada uma das minhas palavras. Vamos começar
com isso: não provoque a vida selvagem.
Eu me irritei com seu tom.
— Eu não estava provocando.
— Não se envolva com a vida selvagem — ele emendou.
— É como me dizer para não respirar.
— Então prenda a porra da respiração — ele retrucou, me fazendo
estremecer. Ele xingou e se virou. — Vamos lá. Esta lista está queimando
um buraco no meu bolso, e quero que isso acabe.
— Sim, senhor — murmurei.
— Melhor — ele respondeu enquanto continuava pelo caminho,
passando por um gazebo coberto com mais daquela hera violeta. Não tive
muito tempo para admirar a arquitetura, pois suas longas pernas nos levou
para uma clareira cheia de rocha de lava em vez de grama. Ergui as
sobrancelhas com as texturas bizarras. Então entreabri os lábios quando o
terreno mudou.
Não havia rochas.
Mas animais.
Zephyrus pigarreou, com as mãos nos quadris enquanto olhava com
raiva para o enxame de criaturas parecidas com pássaros.
Ah, meu...
Todos se moveram de uma vez, batendo as asas e florescendo com
bordas finas e afiadas. O ar ao redor deles pulsava com magia, e seus bicos
trêmulos e penas crepitantes rangiam contra o vento.
Zephyrus pressionou a palma da mão na parte inferior das minhas
costas, me empurrando para o centro da massa reunida. Levantei os braços
para proteger meu rosto, com medo de ser cortada por suas pontas
irregulares. No entanto, pareciam penas contra a minha pele.
Espiei pelos antebraços e nos vi cercados por pássaros parecidos com
corvos. Olhos negros, bicos negros, penas negras.
— O que...? — Parei quando um teclado apareceu.
Isso é um portal.
Zephyrus agiu antes que eu pudesse pegar os movimentos. Seus dedos
voaram sobre o código de destino rápido demais para eu memorizar. Não
que a fuga fosse uma opção para mim agora, mas ter um plano B não faria
mal.
A rajada de obsidiana girou ao nosso redor, formando uma fita de tinta
sólida que me fez chegar mais perto de Zephyrus. A palma de sua mão na
parte inferior das minhas costas desceu para o meu quadril - um movimento
de proteção que não passou despercebido para nenhum de nós, porque seu
olhar encontrou o meu assim que aconteceu.
Uma intensidade se construiu entre nós.
Ou talvez fosse a aura da transferência nos deslocando pelo espaço.
Eu não poderia dizer, mas isso aumentou meu batimento cardíaco. Seu
perfume masculino invadiu meus poros. A loção pós-barba mentolada que
ele usava era como um cobertor inebriante que me envolveu em sua
essência Fae da Meia-Noite.
Mas tudo desapareceu em um piscar de olhos quando pousamos em um
armário cheio de capas.
Zephyrus me soltou imediatamente, movendo os dedos depressa para
cima para desatar o nó em seu pescoço. Ele acrescentou sua capa às outras,
chamando minha atenção para a forma ordenada do interior. Tudo estava
codificado por cores e tinta gravada na lapela de cada túnica formal.
Roxo escuro.
Marrom.
Verde floresta – localização de Zephyrus.
Marinho.
E preto.
— O que representam? — perguntei baixinho, estendendo a mão para
acariciar as texturas macias.
Zephyrus segurou meu pulso, me puxando de volta.
— Não. Eles são encantados para reconhecer apenas seu mestre. — Ele
pareceu considerar. — Na verdade, é um bom momento de ensino. Tente
pegar o meu. — Ele gesticulou para a peça como se eu não soubesse onde
ele tinha acabado de pendurar.
Semicerrei o olhar.
— Acho que estou bem, obrigada.
— Não vai doer — ele prometeu. Não que eu acreditasse nele. — Só
vibrar um pouco.
— E isso é tudo que eu preciso saber — respondi, indo para o que eu
pensei que poderia ser a porta.
Ele envolveu o braço na minha cintura, me puxando para trás.
— Que parte de me obedeça você não entendeu?
— Você não me disse para segui-lo — apontei, olhando para ele. — E
pare de me maltratar.
— Pare de agir por impulsivo — ele respondeu, me puxando na outra
direção para encarar um espelho. — Nós vamos por aqui. A porta só leva a
outros portais. — Seu aperto aumentou. — E nem pense em explorá-los.
Vou te caçar, e você não vai gostar das consequências.
— Uau, sua fé em mim é encantadora.
Ele encontrou meu olhar no espelho, com um braço ainda enrolado na
minha cintura.
— Não tenho fé em ninguém além de mim mesmo, Aflora. Você seria
sábia em adotar uma armadura semelhante. — Com isso, ele me empurrou
pelo vidro – que cedeu como a entrada da suíte de Kolstov na Academia – e
entrou atrás de mim.
Zephyrus passou os dedos por sua espessa cabeleira com mechas
castanho escuro, cujas pontas tocavam em suas orelhas arredondadas.
— Certo. Por aqui. — Ele entrelaçou os dedos nos meus, me puxando
ao seu lado por uma calçada repleta de Faes da Meia-Noite.
Uau, pensei, maravilhada com as lojas e a atmosfera movimentada. Isso
me lembrou de passear pelo Reino Humano, particularmente a cidade de
Nova York, exceto que os prédios não eram altos o suficiente. Apenas
quatro ou cinco andares no máximo, mas os exteriores de vidro eram muito
modernos.
Todos usavam trajes de negócios, permitindo que Zephyrus se
encaixasse com seu terno. A saia e blusa que usei no meu encontro que deu
errado mal passavam no teste de moda, mas era melhor que usar as roupas
de Kolstov.
— Aqui — Zephyrus disse, me puxando em direção a um prédio
qualquer com o nome AcaWard rabiscado nas janelas.
Claramente, os Faes da Meia-Noite não usavam portas. As entradas
eram todas encantadas. Porque em um momento, os sons caóticos do
mundo exterior se agitavam em meus ouvidos, e no seguinte, estávamos
cercados pelas melodias quentes do interior.
Havia uma infinidade de roupas estendidas em cabides diante de nós. A
maioria cobria as paredes em fileiras que subiam até o teto. Fiz uma careta,
me perguntando como alguém pegava as roupas lá de cima.
Provavelmente com uma varinha.
Pelo menos, provava ser um uso eficiente do espaço.
— Olá, olá — uma voz feminina soou. — Bem-vindos ao AcaWard.
Como podemos ajudar?
Olhei ao redor, franzindo a testa quando ninguém apareceu. Alguém
estava nos observando em uma câmera e falando em um sistema de alto-
falantes?
— A Aflora precisa de pelo menos sete roupas, roupas íntimas e roupas
casuais sancionadas pela Academia. Você deve debitar os itens na conta
Nacht. — Zephyrus tirou um envelope do bolso com a mão livre e
estendendo-o. — Todos os detalhes necessários estão aqui.
O envelope desapareceu, me fazendo arregalar os olhos.
— Voltarei em uma hora para buscá-la. — Ele olhou para mim. — Já
discutimos o que acontecerá se você tentar fugir. Não recomendo.
Com isso, ele me soltou e deu um passo para trás através do vidro para
desaparecer na multidão.
— Espere... — Tentei segui-lo, mas o vidro não cedeu e, em vez disso,
bateu em minha testa. — Ai! — Esfreguei a cabeça, irritada por minha
incapacidade de sair da loja e ofendida por ela ter fechado a porta em mim.
Uma série de vozes irrompeu ao meu redor, todas tagarelando ao
mesmo tempo.
— Humm, sim, roupas novas são necessárias. De fato, de fato.
— Uma capa também.
— Não se esqueça da varinha.
— Ah! Já viram as novas saias da Academia? Estou pensando em preto
e vermelho, para combinar com a linhagem Nacht.
— Real, sim. Vejamos essas anotações. Humm, humm, mais de sete,
claramente. Muitos cursos.
— Vamos misturar com um toque de azul claro? Para combinar com
seus lindos olhos?
— Ah, é cerúleo? Não vejo um desses há séculos.
— Com toques de vermelho.
— Que fascinante.
Eu me virei, procurando a fonte dos tons femininos, mas me encontrei
completamente sozinha na loja.
— Por aqui, por aqui — disse uma delas.
Senti a cutucada contra minha bunda. Então fiquei boquiaberta quando
algo invisível segurou minha camisa para me empurrar para frente.
— Por que não posso te ver? — questionei.
Risadas tilintantes serviram como resposta.
Então elas começaram a comentar sobre minha aparência, notando o
tom do meu cabelo escuro, minha pele clara e minha cintura fina.
Quando uma delas tocou meus seios, fiz uma careta.
— Se mostre.
Mais risadas
E então me fecharam em uma sala de dez por dez com um espelho e três
paredes. Sem saída.
Tentei atravessar as barreiras, mas me vi presa.
Em seguida, as roupas começaram a aparecer em uma prateleira mágica
atrás de mim.
— Prova, prova, prova! — todas cantavam juntas.
Quando começaram a desabotoar minha blusa, eu me virei e afastei suas
mãos imaginárias.
— Vou me despir e me vestir, obrigada.
— Ah, cortou nossa diversão — uma delas murmurou.
— Sim. Sim. Ela exige privacidade. Nós daremos.
— Experimente todos eles, amor! E escolha seus favoritos. A nota diz
que todas as despesas estão cobertas.
— Aproveite!
Elas sopraram beijos invisíveis pelo ar e o som acariciou minhas
bochechas em uma onda indesejada. Limpei-as e então paralisei quando o
silêncio caiu ao meu redor.
Contei até vinte antes de deixar meus ombros caírem de alívio.
Finalmente.
Pelo menos, trinta peças de roupa esperavam na prateleira, assim como
uma dúzia de sapatos.
Passei os dedos ao longo de cada camisa e saia, notando a boa
qualidade. Como Fae da Terra, sempre gostei de fazer minhas próprias
roupas da natureza. Mas isso não era uma opção aqui. Eu precisava de
roupas que me ajudassem a assimilar esse reino. Quanto mais eu me
misturasse, menos as pessoas me notariam. E isso se tornaria importante
para minha eventual partida.
Supondo que eu encontrasse uma maneira de escapar. Além de um lugar
para onde correr.
Suspirando, me resignei ao meu destino atual mais uma vez. Poderia
muito bem escolher algumas roupas que se adequassem ao meu gosto.
Além disso, todas as despesas estavam cobertas, certo?
Conta Nacht, Zephyrus havia dito. Reconheci o nome da família como
aquela a que Kolstov pertencia. O que significava que ele, ou talvez seu pai,
estava pagando por tudo isso.
Curvei os lábios.
Embora eu preferisse que Shade pagasse a conta por me colocar nessa
confusão, não podia negar que sentia um pouco de alegria sabendo que
minha farra de gastos com guarda-roupa seria cobrada diretamente do meu
captor principal.
Sete roupas?
Não, com certeza ele quis dizer dezessete.
E uma dúzia ou mais casuais.
— Senhoras — chamei, olhando ao redor e esperando.
— Sim, srta. Aflora? — uma das invenções murmurou.
— Vou precisar de pelo menos três vezes essa seleção — eu disse. — E
não se esqueçam de roupas íntimas, meias e mais sapatos. Ah, e varinhas.
Seguiu-se um chiado, o ruído alegre ecoou na câmara.
— Ah, sim, como a madame quiser!
A sala se expandiu ao meu redor e uma fileira inteira de roupas
apareceu como se esperasse pelo meu comando. Seguiu-se uma caixa de
vidro, com varinhas brilhando por dentro.
Sim, isso serviria.
Esfreguei as mãos.
Vocês querem que eu fique aqui por um futuro indefinido? Certo. Mas
vou ficar no estilo.
Sorri para o meu reflexo no espelho.
— Obrigada pelo novo guarda-roupa, Príncipe da Meia-Noite —
sussurrei, esperando de alguma forma que a mensagem chegasse aos seus
ouvidos pomposos.
Zephyrus disse que eu tinha uma hora?
Bem, eu levaria três.
— Senhoras, vamos começar — falei para os seres mágicos. Isso ia ser
divertido.
CAPÍTULO NOVE
AFLORA

T udo bem. Os uniformes da Academia Fae da Meia-Noite não eram ruins.


Muito preto, mas as camisas eram brancas.
Terminei de amarrar a capa número nove no pescoço, testando o peso.
Todas as outras eram muito pesadas, o tecido me sufocando mais do que o
colar de couro em volta do pescoço. Mas esta era feita de seda leve e com
franjas em tons de vermelho escuro.
Passando as mãos ao redor dele, girei, gostando do jeito que ela se
enrolou ao redor das minhas pernas expostas. As saias da Academia eram
um pouco curtas, atingiam no meio da minha coxa. Por isso, pedi algumas
botas de cano alto para...
— Nada mal — uma voz profunda murmurou atrás de mim. — Mas
pessoalmente, acho que você ficaria melhor na cor da minha família, que é
roxo.
Me virei e me deparei com Shade sentado em uma cadeira que não
existia um momento atrás.
— Como você...? Onde você...? O que...? — Balancei a cabeça,
mordendo o lábio para não fazer outra pergunta inacabada para o toco de
salgueiro sentado a poucos metros de mim.
— A coleira é um toque bonito. Isso faz de você meu animal de
estimação? — ele perguntou, se levantando para se aproximar. — Ou
Kolstov está tentando reivindicar o que é meu? — As pontas dos seus dedos
roçaram o couro ao redor do meu pescoço, provocando um zumbido de
energia pela minha pele e um silvo de sua boca. — Desgraçado.
Shade segurou a parte de trás do meu pescoço antes que eu pudesse
pensar em reagir, puxando meu corpo contra o seu em um movimento que
roubou meu ar.
A eletricidade desceu pela minha espinha de seu aperto e do dispositivo
em volta do meu pescoço. Não doeu tanto quanto enviou uma sensação
desagradável pela minha pele.
— Shadow...
— Como você está, amor? — ele perguntou, me levando para trás, em
uma parede. — Estão te tratando bem? Tirando a coleira, é claro.
Alguns dos meus sentidos começaram a retornar quando ele pressionou
seu corpo no meu.
Ele era a razão pela qual eu tinha que usar uma coleira.
Porque ele me mordeu contra a minha vontade.
E agora, tinha a audácia de aparecer e me perguntar como eu estava?
Como se ele se importasse com meus sentimentos?
— Ah, você! — Apoiei as palmas das mãos em seu peito e tentei
empurrá-lo para longe. — Você é a razão de eu estar nessa confusão!
— Você parece estar gostando — ele respondeu, olhando para minha
blusa e saia preta. — Brincando de fashionista com dinheiro real. Que
divertido.
— Porque eu preciso de roupas para a Academia que tenho que
frequentar por sua causa. — Tentei empurrá-lo novamente, mas ele não se
mexeu.
Em vez disso, se inclinou mais para mim, alinhando os quadris com os
meus enquanto ele me prendia contra a parede.
— Vejo que ainda está chateada. — Ele passou o nariz pela minha
bochecha, e senti sua respiração em meu rosto. — Me permita te
compensar, querida.
— Me compensar? — repeti, cravando as unhas em seu blazer. — Você
destruiu minha vida. Possivelmente, até nos rendeu uma sentença de morte.
Não há como você me compensar, Shadow. — Eu estava ofegante no final
da minha declaração, não por causa de sua proximidade ou do jeito que sua
coxa deslizou entre as minhas, mas por causa da raiva que aquecia meu
sangue. — Eu te odeio.
Ele riu e beijou o espaço abaixo da minha orelha, afastando a mão do
meu pescoço para segurar meu quadril.
— Envolva os braços no meu corpo.
— Não.
— Humm. — Ele me levantou com as duas mãos na minha cintura.
Agarrei seus ombros, ofegando quando ele pressionou a virilha no ápice
entre minhas coxas. — Se segure em mim com as pernas, baby, ou você vai
cair.
— Me coloque no chão.
— Sem chance. — Ele capturou minha boca e aproveitou meu choque
para deslizar a língua entre meus lábios.
O que está acontecendo?
Por que ele está fazendo isso?
E, ah, não, isso... não pode... estar... acontecendo.
Fiquei tonta.
A adrenalina abasteceu meus membros.
Eu queria machucá-lo.
Precisava lutar.
Porque isso não podia continuar!
Apertei sua língua, mas fui recompensada com o sabor mais bonito.
Paralisei. Em seguida, gemi. Ah, meu... a luxúria encheu nossas bocas, me
distraindo do meu objetivo e me jogando em um turbilhão do qual eu não
poderia escapar. Em vez disso, caí de cabeça, permitindo que meus instintos
assumissem o controle.
Minhas pernas estavam ao redor de sua cintura em um segundo.
Meus braços envolveram seu pescoço.
E sua essência revestiu meus lábios, minha boca, minha garganta.
Gemi, desejando outra prova mais do que qualquer outra coisa no
mundo. Ele me deu com a língua, deslizando ao longo da minha, me
alimentando com aquele delicioso líquido que eu desejava.
Uma mão permaneceu contra o meu quadril enquanto a outra subiu para
o meu cabelo, entrelaçando os dedos nos fios enquanto ele inclinava a
cabeça para receber melhor seu beijo.
Uma parte de mim estava gritando para pararmos.
Mas eu não podia ouvi-la sobre o rugido de necessidade em meus
pensamentos.
Um calor diferente de tudo que já me lembrei de sentir queimou em
minhas entranhas, pulsando em minhas veias com um pensamento: mais.
Sua excitação cresceu entre minhas coxas. A calça dele se esfregava
contra a fina barreira da minha calcinha de renda. Minha saia estava ao
redor de meus quadris, minha blusa desabotoada deixando o sutiã à mostra,
e eu não conseguia me lembrar como isso aconteceu. Exceto que era minha
mão que estava em minha camisa, abrindo os últimos botões.
Estremeci.
— O que você está fazendo comigo? — Eu me senti possuída.
Controlada. Hipnotizada por este macho. No entanto, completamente lúcida
e consciente. — Como você está fazendo isso?
— É você — ele sussurrou, roçando os lábios nos meus. — Você me
mordeu, Aflora.
— Para te fazer parar — falei, embora não conseguisse lembrar por quê.
— Eu não gosto de você.
Ele sorriu.
— Igualmente, baby. Mas isso só torna as coisas muito mais sensuais.
— Sua boca recapturou a minha antes que eu pudesse responder e seu toque
me roubou a capacidade de pensar.
Suas mãos estavam em todos os lugares e em nenhum ao mesmo tempo.
Seu beijo era como uma marca contra meus lábios.
Seu pau pulsava contra o lugar que eu mais precisava ser tocada.
Roupas demais.
Ele segurou meus pulsos com uma de suas mãos e os ergueu acima da
minha cabeça.
— Ainda não — ele murmurou. — Não aqui.
— Não o quê? — questionei, atordoada.
— Shhh — ele me silenciou, enquanto seu aroma refrescante me
cercava em uma selva de sensações.
Árvores.
Água.
Flores em plena floração.
A familiaridade dos aromas me fez suspirar de contentamento enquanto
meu corpo vibrava com paixão renovada.
Eu o beijei com todo o meu ser, presenteando-o com a vida que
florescia em minha alma, sendo enredada em sua teia sombria em troca. Ele
me puxou para baixo, me preenchendo com uma energia venenosa que
parecia errada sob minha pele.
— Shade — gemi, me contorcendo contra ele.
— Estou com você — ele prometeu.
Mas não acreditei.
Eu não podia confiar nele.
Assim como Zephyrus disse, seria sábio desenvolver uma armadura
semelhante. Uma delineada em desconfiança.
Meus membros começaram a tremer.
Lágrimas deslizaram dos meus olhos.
O mundo retumbou ao meu redor, e eu não conseguia parar, mesmo
enquanto um inferno se formava dentro de mim, implorando para ser
liberado.
Isso me aterrorizou.
Me encantou.
Me possuiu.
A língua de Shade dominou a minha enquanto seu pau era uma presença
grossa contra o meu centro, me empurrando para o precipício de algo
aterrorizante. Me agarrei a ele com todas as forças, horrorizada e cativada
ao mesmo tempo. Nada que eu pudesse fazer impediria isso. Senti essa
realidade em meu próprio sangue, uma compulsão infalível para ceder aos
cuidados de Shade.
Uma parte de mim se rebelou.
A outra... se alegrou.
Eu o odiei mais naquele momento do que qualquer outra pessoa em toda
a minha existência. No entanto, meu desejo por ele venceu.
O êxtase explodiu dentro de mim, arrancando um grito da minha
garganta que estava cheio de auto aversão e dor. E também representou o
orgasmo mais poderoso da minha vida.
Eu não era uma total inocente.
Fiquei com Glacier inúmeras vezes, e ainda que o Fae da Água fosse
bom de cama, ele nunca me fez sentir assim.
Como gelo líquido.
Quente por dentro, congelada por fora.
Um tremor me balançou da cabeça aos pés enquanto meu êxtase
diminuía sob uma nova onda de horror.
Eu não conseguia discernir em cima de embaixo, o certo de errado, ou
paixão de ódio. Os lábios de Shade estavam no meu pescoço, e seu beijo era
muito terno para o meu gosto. Eu preferiria sua mordida para que eu
pudesse odiá-lo. Só que ele me segurou com adoração, envolvendo o corpo
no meu como um cobertor falso de proteção.
— Eu te odeio — sussurrei, com os olhos úmidos. — Te odeio. Te
odeio. Te odeio.
— Eu sei — ele respondeu baixinho. — Também me odeio. — Ele
acariciou meu pescoço, suspirando. — Eu não deveria estar aqui, mas
queria ter certeza de que você estava bem.
— Não estou bem — disse a ele, estremecendo. — Nada bem.
Ele beijou meu queixo antes de se afastar para encontrar meu olhar.
— Você é forte, pequena rosa — ele falou baixinho, o novo apelido
soando como uma carícia profunda. — Nós dois ficaremos bem no final.
Você vai ver. — Ele pressionou os lábios nos meus mais uma vez enquanto
me carregava para a cadeira. Ele pairou sobre mim com um olhar
pecaminoso. — Preciso ir antes que o Guardião Zephyrus termine seu
feitiço. Mas te vejo de novo em breve. Nos seus sonhos.
Shade desapareceu em uma nuvem de fumaça que parecia ocupar toda a
sala. Sua existência tocou cada peça de roupa e todas as paredes, até que
tudo que eu podia ver era a escuridão.
— Aflora! — A voz furiosa de Zephyrus soou como um tapa no rosto,
me sacudindo na cadeira. Ele estava diante de mim com uma expressão
lívida, com a varinha na mão.
Fiz uma careta para ele, então girei ao redor da sala desconhecida.
Espere... Olhei para baixo e me vi completamente vestida e embrulhada em
uma capa, como se fosse um cobertor.
Minha saia parecia novinha em folha, minha blusa estava totalmente
abotoada, e eu até usava botas de cano alto.
Eu pisquei.
— O quê...?
— Um encantamento do sono — Zephyrus sibilou. — Aquele idiota. —
Ele balançou a cabeça, deixando escapar um xingamento de seus lábios
carnudos. — Ele está burlando as regras com o jogo mental. Eu ficaria
impressionado se ele não estivesse quebrando uma centena de protocolos
para fazer isso.
— Então ele não estava... Isso não... eu... — Senti as bochechas
aquecerem, incapaz de terminar o que estava dizendo. Minha calcinha
úmida era a única coisa em mim que combinava com meu suposto sonho.
Então, ou acordei excitada ou tive um orgasmo durante o sono.
O que significava que Zephyrus provavelmente tinha visto.
Ah, Mãe Terra... O calor tocou cada centímetro do meu ser ao pensar no
que ele testemunhou.
Felizmente, ele não parecia muito interessado em mencioná-lo.
— Acabamos de fazer compras — ele disse, girando em uma onda de
superioridade enquanto uma série de sacolas apareciam ao seu redor. —
Imagino que é sua capa de escolha. O mesmo com a varinha. Os outros
itens estarão em seu guarda-roupa quando voltarmos. — Ele olhou para
minhas botas e saia. — Uma garotinha para nossa viagem de volta, mas
duvido que alguém perceba. Vamos lá.
— Espere, que varinha? — perguntei. — Não escolhi nenhuma.
— Verifique seu bolso, Aflora. Uma já te escolheu.
Dei um tapinha na lateral da capa, arregalando os olhos.
— Elas fazem isso?
Ele apenas me deu um olhar aborrecido e gesticulou com o queixo em
direção a um espelho. Assumindo que ele queria que eu fosse até ele, me
levantei e me vi no vestiário mais uma vez.
A capa ondulava ao meu redor enquanto eu girava em um círculo.
— Como...?
— Você tem muito a aprender sobre nosso mundo — Zephyrus
respondeu enquanto pegava sua capa e a envolvia nos ombros com um
floreio. — Além disso, uma varinha não é um ser mágico. É uma extensão
do nosso poder.
Com um aceno de sua mão, um teclado apareceu, e ele digitou um
código que peguei desta vez. Claro, era para o lugar que eu não queria ir,
então não era tão útil.
— Nós as usamos como um canal — ele continuou, passando o braço
ao redor dos meus ombros para me segurar enquanto o portal começou a
girar. — Como eu disse, é uma extensão do seu poder. Isso te ajuda a se
concentrar em um único livro em uma prateleira, em vez de uma coleção
inteira.
O grasnado perfurou meu crânio quando os corvos assumiram o
controle, nos dando as boas-vindas de volta ao terreno da Academia.
Em minutos, eles estavam de volta às suas formas rochosas, cobrindo o
pátio.
As chamas se acenderam ao longo dos caminhos novamente,
iluminando o campus tranquilo.
— Quando os alunos começam a chegar? — perguntei enquanto ele
liderava o caminho de volta para o prédio de Kolstov.
— Alguns já estão aqui, mas recolhidos. A maioria voltará em cinco
dias para assistir à fogueira anual de outono. — Ele sacudiu o pulso,
enviando as malas à frente em um trem que se movia em direção à
residência. — Vamos fazer um tour antes de voltar. Podemos parar no
refeitório também e pegar algo para comer.
Meu estômago roncou com a ideia, concordando.
Além do chá que ele me forçou a tomar ao acordar, eu não tinha comido
nada.
— Só esteja avisada — ele acrescentou, já andando. — A comida no
terreno da Academia é da variedade humana. Então, ou você terá que
aprender alguns feitiços de conjuração de refeições ou vai precisar mudar
seus gostos. Recomendo o último. — Ele estalou os dedos e uma tocha
apareceu em sua mão. — Tente acompanhar, Aflora. Vou te dar um curso
intensivo na vida da Academia, e não vou me repetir.
CAPÍTULO DEZ
ZEPH

E u nãoA sentia
comida.
falta deste lugar.

Os corvos descansando.
A aura geral de miséria.
Em uma semana, este lugar seria a definição do inferno, cheio de alunos
ansiosos para continuar seus estudos.
Eu os invejava.
Minha vida inteira tinha sido determinada antes do meu nascimento,
meu dever para com uma família que passei a odiar. Tudo e qualquer coisa
que Malik Nacht me dizia para fazer, eu fazia.
Inclusive aceitar um emprego como diretor na Academia quando eu não
tinha interesse ou desejo de ensinar.
Tomei um gole de café, apreciando a forma como ele escaldava minha
boca e garganta enquanto descia. A dor me fez sentir vivo. Ao contrário do
meu ambiente atual.
Aflora se sentou à minha frente, fazendo um beicinho com os lábios
carnudos enquanto olhava o conteúdo de nossas bandejas. Selecionei uma
série dos meus pratos favoritos para ela experimentar, mas a garota não
parecia interessada em nenhum deles.
Mulher impossível.
Ela não pertencia a esse lugar, assim como eu.
Coloquei a caneca sobre a mesa e cruzei os braços, me inclinando em
sua direção.
— Quer uma aula de magia?
Não conversamos muito durante o tour. Gesticulei para os prédios e
disse a ela quais cursos eram realizados e onde, além de apontar as várias
unidades residenciais. Ela permaneceu quieta o tempo todo, provavelmente
porque não planejava ficar aqui por muito tempo.
Dado o que testemunhei dentro da AcaWard mais cedo, ela ficaria aqui
por muito mais tempo do que esperava. Porque Shade claramente possuía
um controle sobre sua psiquê, algo que sugeria que seu vínculo de sangue
era muito mais forte do que deveria.
O que significava que seus poderes iriam crescer juntos.
E isso provavelmente levaria à morte deles.
Um pensamento decepcionante, mas realista.
— Que tipo de lição? — Aflora perguntou, se referindo à minha
pergunta.
— Bem, como você não parece interessada na comida daqui, vou te
ensinar um feitiço fácil para adquirir alternativas. — E, por sua vez,
demonstrar por que ela precisava mudar sua atitude sobre nossas ofertas de
sustento.
Os feitiços de aquisição requeriam energia.
Algo que se tornaria bastante evidente para ela em questão de minutos.
Peguei minha varinha e a coloquei sobre a mesa.
— Como mencionei anteriormente, as varinhas não são a fonte da
magia. Nós apenas as usamos para ajudar a focar a energia. Vou te dar um
exemplo. — Tínhamos uma mesa inteira para trabalhar, as outras vinte
cadeiras ao redor estavam vazias, o que me dava espaço para exagerar um
pouco esta lição. — O feitiço para criar algo comestível é Tareero Tamida e
depois o item.
Bem simples, realmente. Mas sua expressão me disse que ela não
concordava.
— Então eu apenas digo as duas palavras e a comida que quero, então
aparece.
— Bem, você precisa colocar um pouco magia por trás disso. Mas sim,
essa é a ideia geral.
Ela franziu a testa para mim.
— E eu uso a varinha?
— Não é obrigatório. Como eu disse, uma varinha foca nossa magia. —
Sua testa enrugada me disse que ela não estava entendendo. — Aqui. vou
dar um exemplo. Me fale o nome de algo que você esteja com vontade.
— Ah, não sei. Um sanduíche?
Agora era eu quem estava franzindo a testa.
— Você já tem um sanduíche. — Apontei para o misto quente em seu
prato.
— Isso não é um sanduíche.
— Com certeza é.
— Isso tem pão, presunto e queijo. Um sanduíche tem folhas verdes
assadas com perfeição, recheio de inhame, frutas e às vezes uma lasca de
hortelã, se você estiver se sentindo guloso.
Certo. Eu não sabia o que eram essas coisas.
— Que tal outro pão em vez disso? — Que eu, pelo menos, sabia fazer
como já tinha comido antes.
Ela torceu os lábios quando deu de ombros.
— Certo. Pode ser. Você pode fazer pão de amora?
— Existem diferentes tipos de pães?
Depois de me observar por um longo momento, ela disse:
— Pode ser pão de cogumelos.
Que bom, porque era o único que eu sabia fazer. Ao invés de perder
tempo explicando o plano novamente, apenas executei o feitiço.
— Tareero Tamida pão.
Um pão do tamanho de seu prato inteiro apareceu, fazendo com que ela
arregalasse os olhos.
— Isso é enorme — ela ofegou.
— Sim. Porque não controlei o tamanho com a varinha. — Não era
exatamente verdade. As crianças podiam fazer esse tipo de mágica durante
o sono e ainda fazer um pão apropriado, mas eu queria exagerar os
resultados para fins didáticos.
Ei, olhe para mim fazendo jus ao meu papel de diretor, pensei com
amargura.
O rei Malik não ficaria orgulhoso?
Filho da puta arrogante.
Limpando a garganta, afastei os pensamentos negativos e me concentrei
novamente.
— Usando a varinha, você pode controlar o resultado mágico. — Peguei
a varinha e executei o feitiço novamente, desta vez criando um pão de
proporções perfeitas. Então murmurei um feitiço de limpeza que dissolveu
toda a comida na mesa – incluindo os itens que pegamos do chef – e falei:
— Tente você.
Ela considerou por um momento, então assentiu.
— Tudo bem. — Tirando a varinha da capa, ela deu um pequeno aceno
enquanto dizia: —Tareero Tamida sanduíche.
Nada.
Nem mesmo uma contração de magia.
Eu me inclinei para trás na cadeira e observei enquanto ela tentava
novamente.
E de novo.
E de novo.
Tudo sem qualquer tipo de resultado ou uma única pontada de
sentimento.
Depois de sua décima tentativa, ela bufou:
— Não está dando certo.
— É óbvio.
Ela olhou para mim, esperando.
Se ela esperava que eu lhe desse mais instruções, estava bem enganada.
Já expliquei como funcionava o processo. Se ela não conseguia descobrir
como aplicá-lo, isso era com ela, não comigo. Além disso, eu nem deveria
estar aqui.
— Minha varinha está quebrada? — ela perguntou, estendendo a
varinha mágica.
Nem olhei para o item.
— Não. — Porque não tem relação com a varinha, acrescentei a mim
mesmo. Ela precisava descobrir isso sozinha. A magia vinha do sangue. Eu
realmente não podia ajudá-la a encontrar o vínculo. Ela precisava fazer isso
sozinha.
— Bem, isso é útil — ela murmurou, guardando a varinha. — Você
poderia pelo menos explicar como eu faço isso funcionar? — ela perguntou
devagar como se estivesse falando com um idiota.
Respondi a ela no mesmo tom:
— Você tem que acessar sua magia.
— Certo. Como?
— Como você chama sua essência da terra? — contra-ataquei.
— É uma conexão natural através da minha alma.
— Então, aí está — respondi. — Classe dispensada.
Ela apontou para o colar em seu pescoço.
— Acho que você está se esquecendo disso.
— Você está deixando um colar te impedir? Que decepcionante. —
Aquilo só bloqueava sua magia da terra, não seu acesso às artes das trevas.
Eu poderia admitir isso em voz alta, mas diminuiria este exercício.
— Me impedir? — ela repetiu. — Isso me cortou dos meus dons!
— E?
Ela olhou boquiaberta para mim.
— Uau. Você é o pior professor que já conheci.
— É meu primeiro ano — ofereci em explicação. — E tecnicamente
ainda não comecei.
— Bem, você teve um começo horrível — ela murmurou.
Dei de ombros, sem me incomodar com sua tentativa de insulto. Esta
não era a minha escolha de carreira. E se eu tivesse feito do meu jeito,
estaria acabado antes mesmo de começar.
— Então vocês esperam que eu faça magia com uma deficiência — ela
falou. — Ah, mas posso não ter nenhuma magia sombria, o que este
exercício parece confirmar.
— No entanto, você desmantelou um feitiço de alto nível dentro de sua
mente ontem, o que sugere o contrário — apontei. — Não é qualquer um
que pode superar um feitiço de vínculo Nacht.
— A pequena teia, você quer dizer?
— Não havia nada de pequeno naquilo. — No entanto, o fato de ela
considerar aquilo pequeno dizia bastante. — Como você o desfez? — Eu
me perguntei a mesma coisa na noite passada, mas tinha me divertido
demais por ela atacar Kols com uma pancada. Perigoso, sim. E divertido pra
caramba. Quase fiquei desapontado quando ela perdeu.
Infelizmente, ela sempre perderia.
— Encontrei um pedaço da minha luz e a segui — ela respondeu
vagamente. — Não vejo nenhuma luz agora por causa disso. — Ela
gesticulou para seu pescoço novamente.
— Isso corta você de seus elementos, não da magia sombria que está
crescendo dentro de você. — Que eu sentia emanar. Outra dica que eu
poderia dar a ela, mas com que propósito? A melhor maneira de aprender
era fazendo, não sendo liderado. Se ela queria alguma esperança de
sobreviver em nosso mundo, então precisava começar a pensar e agir por si
mesma. Não confiar nos outros para protegê-la.
Mesmo que esse fosse tecnicamente o meu trabalho por enquanto.
Ela balançou a cabeça.
— Isso é uma perda de tempo.
— É mesmo? — questionei. — Eu não fazia ideia.
— Uau. Esta não é mesmo a carreira certa para você.
Eu sorri.
— Suas habilidades de raciocínio são excelentes, Aflora. — Eu me
inclinei para frente. — E você não poderia estar mais certa.
— Então por que você está aqui? — ela perguntou.
— Porque estou cumprindo meu dever para com a coroa conforme
prescrito. — Quer eu goste ou não, adicionei a mim mesmo. Mas chega
disso. — Em relação a seus poderes, o Fae da Meia-Noite puxa através de
nosso sangue, não de nossas almas. Então tente isso em vez do que estava
fazendo antes.
Pronto. Joguei um osso para ela. Agora ninguém poderia me acusar de
não tentar ajudar.
— Através do meu sangue — ela repetiu, com tom cético. — Certo.
— Olha, se você não quer tentar, então coma a merda oferecida no bufê
e vamos voltar. Eu poderia tirar uma soneca, e você tem uma pilha de livros
para começar a ler. Não que algum deles fosse ajudá-la.
Essa pobre garota estava completamente fodida.
E não era problema meu.
Então por que você está tentando ensiná-la? alguma voz inútil no fundo
da minha mente perguntou.
Eu a afastei. Não a estava ajudando, só dando algumas orientações para
ela começar.
Aflora me encarou e seus olhos azuis brilharam de um jeito que me
lembrou sexo.
Calorosa.
Apaixonada.
Feroz.
Sexo.
O tipo de transa que eu gostava.
Não. Vai. Acontecer.
Exceto que sempre fui a favor do proibido. E nada poderia ser mais
proibido do que a mulher sentada na minha frente. Com a boca carnuda,
mandíbula delicada, pescoço esbelto e, humm, aquele corpo. Ela podia estar
embrulhada em uma capa agora, mas eu já tinha notado seus amplos
recursos – peitos empinados, cintura fina e uma bunda em forma de
coração.
Eu não era cego.
Aflora era uma mulher deslumbrante. E estritamente fora dos limites
por uma infinidade de razões.
O que só a tornava mais atraente.
— Tareero Tamida sanduíche — ela disse de repente, seu tom repleto de
poder.
Entreabri os lábios quando uma bolha verde gigante, parecida com um
envoltório, apareceu. Sua extremidade frontal pousou entre nós enquanto se
estendia por toda a extensão da mesa muito longa e descia para o chão.
Aflora arregalou rapidamente os olhos que estavam semicerrados.
— Ah... varinha.
Sim. A varinha.
Mas eu não estava tão preocupado com o sanduíche que ainda estava
crescendo, mas sim com a palidez se espalhando por suas bochechas.
— Aflora...
Ela começou a tremer, suas íris cerúleas se reviraram, enquanto a
energia murchava de seu corpo pequeno.
Merda.
Pulei da minha cadeira e atravessei a mesa – e a monstruosidade cada
vez maior em cima dela – e aterrissei ao seu lado a tempo de pegá-la antes
que ela caísse.
— Qalto — resmunguei, fazendo meu feitiço superar o dela e dissolver
a atrocidade verde em pó.
Aflora gemeu. Sua consciência lutava pela vida enquanto seu corpo
cedeu completamente.
— É por isso que recomendo que você coma nossa comida — eu
informei baixinho. — A magia requer força, e a força vem da nutrição
adequada.
Se ela me ouviu, não respondeu.
Com um suspiro, eu a peguei no colo.
— Acho que vamos continuar esta lição mais tarde.
Assim que ela acordasse.
CAPÍTULO ONZE
AFLORA

C inco dias de leitura e eu ainda não entendia como a magia sombria


funcionava. Parecia antinatural e errado, como se eu tivesse que acessar
uma parte inadequada de mim para ativar minhas habilidades.
Porque não pertenço a esse lugar, pensei pela milionésima vez.
Não ser capaz de alcançar a influência Fae da Meia-Noite dentro de
mim provavelmente era uma coisa boa. Isso significava que esse vínculo
forçado com Shade não era muito forte. Talvez desaparecesse em breve.
Quando sugeri esse sentimento esperançoso para Zephyrus ontem, ele
permaneceu tão inexpressivo como sempre, não revelando nada.
Ele era o pior professor em todos os reinos Fae e não tinha qualquer
remorso quanto a isso.
Obviamente, nenhum de nós queria estar aqui. O que nos dava algo em
comum. Não que isso tenha nos aproximado.
Não, Zephyrus era um livro fechado.
E eu não tentei abri-lo.
Em vez disso, passei a maior parte do tempo lendo sozinha no meu
novo quarto. Quando meu estômago reclamava, ou eu me juntava a ele para
as refeições na sala de estar ou caminhávamos até o refeitório. Em algum
momento, ele foi fazer compras, ou talvez tenha pedido comida, alguns dos
quais eram itens que reconheci. No entanto, a maioria eram refeições
humanas.
Eca.
Minhas entranhas ainda se reviraram do café da manhã que ele me
forçou a tomar. Ovos com queijo e cebola. Ele chamou de omelete.
Nojento.
Preferi rotular como tortura, mas comi a monstruosidade porque ele se
recusou a fazer qualquer outra coisa, e minha varinha não quis cooperar.
Acontece que toda a sua palestra sobre a magia exigir energia era verdade.
Quanto menos eu comia, pior era o meu desempenho.
Enquanto parte de mim preferia não ser capaz de acessar os poderes das
trevas, a outra parte reconhecia que eu precisava da magia para sobreviver
neste mundo.
Porque sim, A Academia Fae da Meia-Noite estava provando ter um
campus perigoso. Não apenas aquelas trepadeiras parecidas com cobras
observavam cada movimento meu, mas todos os tipos de vida selvagem me
olhavam com curiosidade. E aprendi muito rápido que nenhuma das plantas
ou animais neste reino eram gentis.
Senti meu ombro estremecer com a lembrança do mosquito de fogo que
conheci ontem à noite.
Não era um belo vaga-lume, mas uma fera com dentes afiados e uma
mordida ardente.
Zephyrus assistiu a coisa toda com uma expressão entediada, sem me
ajudar nem uma vez. Quando exigi saber por que, ele apenas deu de ombros
e disse:
— Não vai te matar.
Só de pensar nisso, fiz uma carranca. De novo.
O diretor Zephyrus servia como prova de que a beleza exterior não
equivalia à beleza interior. Porque seu exterior com certeza era lindo, mas
por dentro ele era um homem idiota, sombrio e inútil que me considerava
mais um fardo do que um projeto.
Tudo bem. Ele poderia pegar seu comportamento não cooperativo e
enfiá-lo em sua bunda musculosa. Não que eu tenha passado muito tempo
admirando sua bunda. Ou pensando em quantas horas ele tinha que passar
na academia para manter um físico tão em forma.
Certo, isso era uma mentira. Mas não havia muitos Faes Elementais
guerreiros, então o físico de guerreiro de Zephyrus me intrigou um pouco.
Forte não parecia um adjetivo adequado o suficiente para ele. O poder
praticamente escorria de seus poros sem ele nem mesmo tentar. Era mais ou
menos como Kolstov, mas de uma maneira diferente.
Com um aceno de cabeça, afastei os pensamentos dos dois machos e me
concentrei no livro em meu colo. Explicava a hierarquia Fae da Meia-Noite
e todas as linhagens. Zephyrus me disse que havia apenas cinco, mas de
acordo com o livro, havia seis tipos de Faes da Meia-Noite.
Passei o dia de ontem lendo sobre o legado da família Elite de Sangue e
Kolstov como a realeza mais antiga dessa linhagem. Como condutores
primários para a fonte de magia sombria, os Elite de Sangue eram
considerados os mais poderosos da espécie Fae da Meia-Noite, daí sua
liderança sobre todas as outras.
Os Guerreiros de Sangue eram particularmente dotados de força física e
agilidade, permitindo-lhes servir como Guardiões dos Elite de Sangue.
Logo, o papel de Zephyrus. O que eu ainda não entendia era por que ele foi
relegado à Academia quando sua família tinha uma longa história de
proteção aos Nachts. Pelo que li, ele estar aqui era um rebaixamento de
proporções épicas. Se ele não fosse tão idiota, eu perguntaria a ele.
Abrindo o livro, comecei a ler sobre a próxima linhagem.
Os Sangue da Morte.
A família de Shadow serviu como monarca, com Aswad como o atual
rei. Seus poderes estavam ligados à necromancia e aos lados mais severos
da magia sombria. Parecia que eles também mantinham o acesso à fonte,
mas de uma maneira muito diferente, através da arte de...
Um estrondo dentro da suíte me fez levantar depressa da cama.
Seguiu-se o som de uma risada feminina.
Fiz uma careta. Zephyrus havia mencionado que os alunos estariam
voltando hoje. Algo sobre o início de uma fogueira esta noite.
Aparentemente, era a coisa certa a se fazer. Considerei usar a enorme
distração no campus como um momento potencial para escapar, mas não
tinha para onde ir.
O fato de Claire não ter me procurado ainda confirmava o medo do
Conselho Fae Elemental em me fazer retornar. Dado o que aconteceu
recentemente naquele reino, eu entendia. A última noção que eles gostariam
de lidar no momento era um potencial Fae híbrido Elemental-Meia-Noite.
Exceto que eu não me sentia diferente.
Além do fato de que eu não conseguia acessar a Terra.
Eu realmente esperava que Sol e Claire estivessem segurando a fonte na
minha ausência. Eles eram os únicos que podiam acessar a magia da Terra
de maneira semelhante a mim. Suas conexões não eram tão fortes quanto as
minhas, mas deveriam ser suficientes para ajudar os Fae da Terra a manter
seus poderes.
Soltando um suspiro, comecei a ler de novo, quando vozes masculinas
ecoaram pelo corredor.
Kolstov, pensei, reconhecendo o tom profundo.
Uma batida soou na minha porta, seguida por:
— Esse é o meu aviso de cinco segundos, princesa. Tente não ficar nua
de novo.
Olhei para a porta.
— Idiota — murmurei, colocando o livro de lado e me levantando assim
que ele cumpriu sua promessa de esperar cinco segundos.
Suas brilhantes íris douradas focaram na minha camisa e jeans, a
diversão brilhando em suas profundezas.
— Estou quase desapontado por te encontrar vestida.
Uh-uh.
— Bem, estou desapontada por você estar de volta — retribuí,
acrescentando um sorriso açucarado no final.
Ele riu.
— Sim, também senti sua falta, linda.
Revirei os olhos.
— Aposto que sim.
— Pare de flertar e nos apresente. — A voz baixa veio do corredor
assim que um homem se juntou a Kolstov na porta. Eu o reconheci do livro.
— Trayton Nacht — eu disse. — Humm. Então as fotos realmente são
atualizadas em tempo real. — Eu me perguntei isso quando as imagens não
paravam de mudar ontem à noite, com algum tipo de magia que permitia
que elas se atualizassem a cada momento que passava.
— Você já estudou? — Kolstov perguntou, com um tom de provocação
em sua voz. — Imagino que você tinha muito o que colocar em dia.
Isso de novo, não.
— Sim, tive um tempo na solitária esta semana para ler, e como minha
varinha não funciona, decidi estudar as diferentes linhagens.
Ele se inclinou contra a porta, arqueando uma sobrancelha altiva.
— Aprendeu algo interessante?
— Sim, os Sangue da Morte têm poderes mais intrigantes do que os
Elite de Sangue. — Li nos textos que os dois tipos de Faes da Meia-Noite
estavam em guerra há séculos, e a expressão sombria de Kolstov confirmou
isso.
Um ponto para Aflora, pensei, sorrindo de forma maliciosa por dentro.
— Imagino que você seja obrigada a dizer isso como a companheira
escolhida ilegalmente do futuro Monarca do Sangue da Morte. Pena que
você não pôde ser reivindicada por uma linhagem mais digna.
E Kolstov empata a partida com uma declaração igualmente dolorosa
para Aflora, minha voz mental acrescentou, matando minha volta interior
da vitória.
— Como a sua? — contra-ataquei. — Não, obrigada.
— Não desdenhe até experimentar, baby — ele retrucou.
Trayton balançou a cabeça.
— Pare de flertar com nossa nova colega de apartamento.
— É como dizer a Kols para parar de respirar. — Uma fêmea pequena
apareceu ao lado de Trayton, sua cabeça com cabelos loiros quase brancos
mal passava do ombro dele. Seus olhos azuis brilhantes encontraram os
meus. — Eu sou a Ella. Me avise se esses dois idiotas estiverem te
incomodando, que eu resolvo.
Trayton abriu um sorriso indulgente quando passou o braço em volta da
cintura dela.
— É mesmo? E como você planeja fazer isso?
— Agora, quem está flertando? — Kolstov questionou.
— Ah, eu não estou flertando. — Trayton encarou Ella e começou a
apoiá-la contra a parede. — Já passamos da fase de flerte.
Ella bufou quando segurou seus quadris magros.
— Sempre tão romântico.
— Você me ama de qualquer maneira.
— Eu? — Ela bateu no queixo, pensativa. — Às vezes não sei por quê.
— E você escolheu o quarto ao lado do deles — Kolstov murmurou
para mim, tendo entrado no meu espaço. Ele olhou ao redor com um olhar
curioso. — É chato pra cacete aqui.
— Sinto muito. Eu deveria decorar? — perguntei, piscando. — Porque
perdi esse memorando.
Ele puxou sua varinha.
— Permita-me ajudar.
Segurei seu pulso antes que ele pudesse acenar.
— Não. Não pretendo ficar muito tempo.
— É mesmo? — Ele olhou para mim com aquelas íris penetrantes,
fazendo com que minha respiração ficasse presa na garganta.
Por que todos os Faes da Meia-Noite eram tão bonitos? Até mesmo seu
irmão era um espetáculo para ser visto.
— Para onde você planeja ir? — Kolstov perguntou baixinho, dando um
passo mais perto.
Não soltei seu pulso, embora provavelmente devesse. Mas sua
proximidade me fez paralisar. Seu cheiro rico e masculino me envolveu em
uma nuvem de macho inebriante.
— Eu... — Parei, sentindo a garganta apertar com força.
Seu olhar se desviou para meus lábios. Eu os umedeci por impulso,
minha boca ficando seca. Algo em Kolstov chamava minha Fae interior.
Seu poder era um companheiro digno para minha essência terrestre, só
porque nós dois possuíamos linhagens reais. Senti isso quando nossa
energia dançou na sala de estar há alguns dias.
Mas ele não era um Fae Elemental e, portanto, não era realmente um par
ideal.
Mesmo que meus instintos dissessem o contrário.
— Humm, acho que você quer provar — Kolstov sussurrou, levando a
mão livre para o meu quadril. — Se você for boa, talvez eu permita...
— Por que minha nova suíte fica ao lado da sua? — Zephyrus exigiu da
porta. — Todo o propósito desta nova tarefa, de acordo com seu pai, é
oferecer aos alunos meu conhecimento superior. Estudantes, sendo
Guerreiros de Sangue, não Elite de Sangue.
Kolstov me soltou. Seu pulso se afastou do meu aperto enquanto ele se
virava, me dando as costas.
— Nós dois sabemos que é uma missão temporária.
— Minha vida ao seu lado? Ou meu papel de professor? — A amargura
no tom de Zephyrus combinava com sua expressão.
— O último.
— Certo. Porque você planeja consertar isso quando se tornar rei.
— Nós vamos mesmo ter essa discussão de novo? — Kolstov de
repente parecia cansado. — Vamos, Zeph. Você sabe por que isso
aconteceu.
O diretor semicerrou os olhos por um longo momento antes de se virar e
sair sem dizer mais nada.
Kolstov suspirou, seguindo-o.
— Você pode continuar me punindo o quanto quiser. Isso não vai me
impedir de...
— Não — Zephyrus interveio. — Apenas. Não.
— Então pare de ser um idiota — foi a resposta.
— Vá se foder.
Um som de batida me fez pular. Enfiei a cabeça pela porta bem a tempo
de ver Trayton deixando Ella recém-beijada para trás, no corredor. Ela
piscou atrás dele, então olhou para mim.
— Bem-vinda ao drama familiar Nacht. Nunca é um momento maçante.
Sons de briga vieram da sala de estar, o que sugeria que os caras
estavam brigando. Uma imagem de Zephyrus prendendo Kolstov entrou na
minha cabeça, provocada pela primeira vez que os vi juntos.
Zephyrus me pareceu o mais forte dos dois, mas tive um vislumbre do
poder de Kolstov, e sim, eles definitivamente estavam empatados.
— Não se preocupe. Tray vai garantir que eles não destruam nada muito
valioso — Ella disse, passando por mim e entrando no quarto. Ela olhou ao
redor, bem como Kolstov tinha feito. — Chato talvez, mas entendo. Você
não quer estar aqui. O Shade foi um idiota por morder você.
Contraí os lábios. Finalmente, alguém que me entende.
Ela me encarou, acrescentando:
— Pelo menos, o meu companheiro me apresentou ao reino Fae da
Meia-Noite antes de me morder.
— Apresentou você? — repeti, sua declaração me confundindo. —
Quer dizer que você não nasceu aqui?
— Eu sou uma Halfling — ela me informou, então fez uma pausa como
se esperasse por uma reação.
— Então você cresceu no Reino Humano. — Era um palpite baseado
em sua afirmação anterior sobre entrar no reino.
— Sim. — O desafio em seu tom me confundiu.
— Você sabia que era parte Fae?
— Não, não até que o Tray me dissesse.
Arqueei as sobrancelhas.
— Bem, isso deve ter sido um choque.
— Sim, imagino que seja semelhante a ser mordida contra sua vontade e
forçada a frequentar uma Academia em outro reino. — Ela olhou para o
livro na minha cama e sorriu. — Ah, as facções Fae da Meia-Noite. Em que
capítulo você está?
— Acabei de começar a ler sobre os Sangue de Morte.
Ela assentiu.
— Quer um curso intensivo nas linhagens? Vai ser mais rápido do que
ler essa coisa chata.
— Você está se oferecendo para me ensinar? — Balancei a cabeça com
o quanto isso soou estúpido em voz alta. — Desculpe, os outros não foram
muito... úteis. — Tecnicamente, Zephyrus tentou um pouco. E Kolstov,
bem, ele estava apenas sendo um idiota pomposo por eu não ter estudado a
espécie Fae da meia-noite enquanto crescia.
Ella bufou e se acomodou na beirada da minha cama.
— Kolstov está um pouco preocupado com seu futuro, e Zephyrus é, ah,
não foi feito para ser professor.
— No entanto, ele é diretor.
— Sim, ele vai tornar nossas vidas um inferno este ano — Ella
murmurou. — De qualquer forma, chega disso. O que você precisa é de
uma visão geral rápida, algo que estou muito apta a fornecer, considerando
que tive que aprender tudo isso recentemente. — Ela deu um tapinha na
cama ao lado dela. — Prometo que não mordo. Toda a minha ingestão de
sangue é através da comida.
Olhei boquiaberta para ela, o comentário era tão irônico que me pegou
desprevenido.
O que a fez rir.
— Sua expressão é inestimável e provavelmente semelhante à minha
quando Tray me contou pela primeira vez sobre Faes da Meia-Noite
beberem sangue. Ah, mas isso me lembra. Lição número um: não os chame
de vampiros. Eles odeiam isso.
— Sim, Kolstov pode ter mencionado isso depois que eu o chamei de
sugador de sangue.
Ela contraiu os lábios.
— Aposto que ele adorou.
— Não muito.
Ela riu.
— Bem, não deixe que ele te incomode. Ele é um idiota mulherengo,
mas no fundo, tem um bom coração. Você só precisa procurar.
Finalmente me juntei a ela na cama, me sentindo um pouco à vontade
pela primeira vez em quase uma semana. Algo em Ella me fez relaxar.
Talvez fosse seu comportamento calmo ou, mais provavelmente, suas
avaliações francas. Gostei de sua franqueza e sua polidez.
Ela não me julgou por não saber tudo sobre os Faes da Meia-Noite.
E eu apreciei isso mais do que ela poderia saber.
— Certo, então deixe-me explicar para você — ela falou, dobrando uma
perna debaixo do corpo enquanto deixava a outra pendurada para o lado da
cama. — Existem cinco linhagens principais. Você sabe os nomes?
Assenti.
— Sangue da Morte, Elite de Sangue, Sangré de Sangue, Guerreiro de
Sangue e Sangue Maléfico.
— Você sabe o que eles fazem?
— Eu só li que Elite De Sangue mantém a fonte central de magia
sombria e os Sangue da Morte acessam os recursos mais difíceis de um
ponto de entrada diferente. Eles preferem magia letal e se interessam por
necromancia. — Peguei o livro. — Uma coisa que eu realmente não
entendo é como eles acessam a fonte indiretamente. Essa era a parte que eu
estava lendo quando vocês chegaram.
Ella pegou o livro e o jogou para o lado.
— É, não. Confie em mim, você quer a lição verbal, não a do texto.
Todas as linhagens acessam fontes de magia sombria, mas os Elite têm mais
acesso, e é por isso que são considerados realeza. Eles são os mais fortes.
Sabe todas aquelas linhas pretas pulsando no pescoço e nos braços de Kols,
levando ao seu coração? Sim, essa é a fonte que transfere o reinado para
ele, um golpe de poder de cada vez. É uma merda assustadora, se você me
perguntar.
Eu tinha notado as vinhas escuras se contorcendo ao longo de seu
pescoço e mãos, mas não percebi que elas corriam por seus braços.
— É permanente? — perguntei.
— Não. Dizem que desaparece depois que ele ascende. — Ela deu de
ombros. — Acho que veremos. De qualquer forma, os Sangue de Morte
acessam as seções mais sombrias da fonte. Eles literalmente prosperam em
Magia de Morte. Então, como necromancia, como você disse. Há rumores
de que eles são tão poderosos quanto os Elite de Sangue, o que explica por
que Malik e Aswad se odeiam.
Os dois monarcas reinantes, pensei, reconhecendo os nomes.
— Então há os Guerreiros de Sangue, como Zeph, que se especializam
em magia defensiva. Eles geralmente são esculpidos em pedra no sentido de
que são todos linhas duras, musculosos, atléticos e inexpressivos pra
caramba. Então, se o Zeph foi um idiota esta semana, não leve para o lado
pessoal. São todos assim. E ele está particularmente mal-humorado depois
de ter sido removido da guarda pessoal de Kols. A posição de diretor é uma
espécie de rebaixamento.
— E por que isso aconteceu? — perguntei.
Ella contorceu os lábios para o lado.
— Ah, então, o Kols e o Zeph... eles gostam de compartilhar mulheres.
E vamos apenas dizer que eles compartilharam a errada. As coisas deram
errado a partir daí.
— Os dois se apaixonaram por ela? — Imaginei.
Ella riu alto e balançou a cabeça.
— Ah, Deus não. Nada como isso. Kols? Se apaixonar? Isso é como
uma piada de mau gosto. — Ela balançou a cabeça, enquanto seus ombros
vibravam com a risada reprimida. — Mas sim, nada neste sentido. De
qualquer forma, os Sangré de Sangue são os próximos. Seu poder está na
inteligência. Eles são praticamente magos quando se trata de jogar xadrez.
— Ela apontou para o colar em volta do meu pescoço. — Isso foi
desenvolvido por um Sangré de Sangue. Posso dizer pelo poder girando em
torno dele.
Sua mudança não tão sutil de assunto de volta à nossa aula me deixou
curiosa sobre a verdade entre Zephyrus e Kolstov, mas permiti que ela
continuasse.
— Então os Sangré de Sangue são altamente intelectuais — deduzi.
— Sim. Você será capaz de identificá-los por suas cabeças carecas. Eles
desenham padrões em sua pele, e quanto mais intenso o desenho, mais
poderoso o Fae. É meio que o jeito deles de se exibirem, ou é assim que eu
vejo, de qualquer maneira. Os Guerreiros de Sangue usam seus músculos e
cicatrizes, os Sangré de Sangue pintam belos padrões em suas cabeças, os
Elite de Sangue se vestem com joias e roupas caras, e os Sangue de Morte
amam suas porcarias de crânio.
— Parece... encantador.
Ela zombou.
— Sim. Shade é o principal idiota do campus, mas acredite em mim, o
resto deles é tão sombrio quanto.
— Excelente. Mal posso esperar — falei, impassível.
Ela curvou os lábios.
— Gosto de você. Por mais que eu saiba que você não quer ficar, estou
ansiosa para tê-la por perto um pouco. Você pode me ajudar a manter o Tray
e o Kols na linha.
— Sim, mas duvido que eles vão me ouvir.
— Ah, vou te ensinar meu jeito — Ella prometeu. — Você vai ver.
Podemos domá-los juntas.
Eu duvidava disso, mas sorri de qualquer maneira.
— E os Sangues Maléficos?
— Ah, sim, o último dos cinco. Os Maléficos são especializados em
magia ofensiva. Eles são como o oposto dos Guerreiros de Sangue. O
último defende, o primeiro prefere feitiços que criam dano. Quando aprendi
tudo isso, eu passei a chamá-los de maliciosos, para me ajudar a lembrar
que sua magia é perigosa e muitas vezes intencionalmente cruel.
Certo. Evite essa espécie de Fae da Meia-Noite, pensei comigo mesma.
— Existe uma maneira de diferenciá-los? Quero dizer, os Sangré de
Sangue serão óbvios, pelo que você disse. E quanto aos outros?
Seus olhos azuis capturaram os meus e um sorriso se formou em suas
profundezas.
— Na verdade, que tal continuarmos esta lição esta noite durante a
fogueira? Dessa forma, posso te mostrar mais do que te dizer.
— Zephyrus mencionou a fogueira.
— Sim, é uma tradição anual — ela respondeu, saltando da cama. — É
realmente muito divertido. Mas um conselho? Não beba o beezlepunch.
Você vai se arrepender.— Ela foi em direção à porta. — Vou fazer
sanduíches se você quiser. Tenho certeza de que os idiotas ficarão famintos
por jogar toda essa magia por aí. Sinta-se à vontade para se juntar a nós
quando estiver pronta.
CAPÍTULO DOZE
AFLORA

N ão me juntei a Ella para comer sanduíches, mas concordei em segui-la


até a fogueira com Trayton. Kolstov e Zephyrus haviam desaparecido,
juntos ou separados, eu não tinha certeza. Eu também não me importava.
Ou era isso que eu ficava dizendo a mim mesma.
Eu não deveria me importar.
Eles eram apenas dois Faes gostosos lidando com seus próprios
problemas. Não tinha nada a ver comigo. Minha curiosidade sobre o que
havia acontecido entre eles empalidecia em comparação com a minha
necessidade de sobreviver neste novo mundo.
No entanto, uma parte de mim continuou ouvindo a declaração casual
de Ella sobre como os dois homens costumavam compartilhar mulheres.
Não era incomum no reino Fae Elemental que acasalássemos mais de
uma vez, especialmente quando um Fae tinha acesso a vários elementos.
Nossa nova rainha tinha acesso aos cinco elementos e, portanto, precisava
de cinco companheiros para satisfazer seu poder cada vez maior. No
entanto, não foi isso que Ella quis dizer.
Ela insinuou que compartilhavam mulheres por prazer.
E agora, eu me perguntava o que isso implicava. Porque estar
imprensada entre aqueles dois belos e ferozes machos? Sim, isso pintou
uma imagem muito sensual.
Uma que eu apaguei, porque nunca aconteceria.
Pelo menos, não fora da minha cabeça.
Porque na minha cabeça, definitivamente já estava acontecendo.
E eu realmente precisava que isso parasse para que eu pudesse me
concentrar de forma adequada no que quer que Ella estivesse dizendo ao
meu lado. Algo sobre as cores da linhagem.
Apesar de usarem roupas casuais, todos pareciam estar vestidos em tons
semelhantes.
— Os Maléficos de Sangue usam preto total o tempo todo. Eles nunca
usam cores — ela disse, apontando para um grupo de Faes da Meia-Noite
socializando em um lado da fogueira.
— Porque estamos na Academia? — perguntei em voz alta. Optei por
uma das saias pretas regulamentadas pela Academia e blusa branca simples
com botões. Nada muito extravagante, mas apropriado para o terreno da
escola. Ella tinha escolhido jeans e uma regata. A maioria dos outros estava
usando capas, as mulheres de saia, os caras de calça.
Exceto para os Sangues de Elite. Todos pareciam estar exibindo seu
senso de moda com uma variedade de cores diferentes. Eu os reconheci
quase imediatamente por causa do poder girando em torno deles – isso me
lembrou Kolstov.
— Não. Eles usam preto em todos os lugares, independentemente do
evento ou ocasião. É a cor deles. — Ela deu de ombros. — Todas as
linhagens têm uma. Sangues da Morte são roxos. Sangré, azul marinho.
Guerreiros de Sangue preferem verde profundo, como a cor da Floresta
Mortal que cerca nosso campus. Elites de Sangue vestem vermelho escuro.
E Maléficos... — Ela acenou para o mesmo grupo, terminando sua
declaração.
Vestem preto, traduzi.
— O que é uma Floresta Mortal? — perguntei, olhando ao redor do
prado aberto e procurando por árvores. Não estávamos mais perto dos
prédios do campus, mas também não estávamos em uma área de mata.
— Além das paredes — ela explicou. — Ainda estamos na Academia
propriamente dita. Mas se você passar pelos portões guardados por
gárgulas, encontrará rapidamente a Floresta Mortal. Não entre lá sozinha.
Há um monte de merdas assustadoras que vivem lá, e está cheio de cipós
selvagens. — Ela estremeceu com a declaração, algo que fez com que os
lábios de Trayton se curvassem quando ele se aproximou com dois copos de
algum tipo de bebida.
Ele entregou um a ela.
— Você está bem?
— Só estou avisando a Aflora sobre a Floresta Mortal.
Sua carranca desapareceu em um sorriso conhecedor quando ele
estendeu o outro copo para mim. Aceitei com um agradecimento baixo.
— Obrigada.
— De nada. E sim, a Ella não é fã de coisas que acontecem à noite.
Quando acasalei, com ela, não percebi que ela tinha medo de fantasmas. Se
eu soubesse... — Ele deixou no ar, e Ella lhe deu uma cotovelada na lateral.
— Cale a boca. Você cresceu neste mundo. Eu, não. E esses fantasmas
são esquisitos pra caramba.
Ele deu de ombros.
— É por isso que não chego perto deles.
— Sim. Eu nunca vou viver isso, vou?
— Não.
Ela revirou os olhos, voltando a se concentrar em mim.
— Eu posso ter ido explorar meu primeiro ano aqui. E posso ter me
encontrado cercada por cavaleiros fantasmagóricos com espadas que não
eram corpóreas, mas muito reais. Eles não ficaram felizes comigo por
perturbar o ninho deles, ou como eles o chamaram.
— Refúgio — Trayton a corrigiu. — Você dormiu durante o nosso curso
de Trepadeiras Selvagens no ano passado, não foi?
— Não. Mas seu mundo está cheio de tantas criaturas de faz de conta
que é difícil mantê-las em ordem
— Hum-hum. Acho que...
Larguei meu copo quando Shade apareceu do outro lado, com dois Faes
da Meia-Noite. Seu olhar instantaneamente encontrou o meu e seus olhos
azuis gélidos arderam nas brasas das chamas que nos separavam.
— Arghh, tenho coisas para dizer a você — grunhi, principalmente para
mim mesma, já que Shade não podia me ouvir ainda.
— O que foi? — Ella franziu o cenho.
Trayton se inclinou para pegar meu copo. O conteúdo havia se
espalhado por toda a grama de obsidiana. Não pude sequer tirar um
momento para considerar o quanto aquela cor era imprópria para vegetação.
— Aflora? — ele chamou, arqueando uma sobrancelha.
Eu podia ver os dois me observando da minha visão periférica, suas
expressões de confusão combinando. Até que Trayton seguiu meu olhar.
— Oh.
Sim. Oh.
— Segure minhas flores — eu disse, indo em direção ao meu agora
sorridente companheiro Fae da Meia-Noite.
— Segurar as flores dela? — Ouvi Ella repetir atrás de mim. — Isso
deveria ser como segurar uma cerveja?
— Talvez? — Trayton respondeu.
Eu os ignorei.
Meus coloquialismos claramente não pertenciam a este reino. Assim
como eu não pertencia. Mas nada poderia ser feito sobre isso agora.
Exceto talvez chutar o traseiro do Fae da Meia-Noite que me forçou a
esta situação.
Ele observou minha aproximação e vi a diversão aparecer em suas
feições.
— Olá, linda.
Sua expressão e palavras me enfureceram tanto que não consegui
impedir que meu punho pousasse bem em seu rosto.
Um silêncio caiu sobre o ar ao nosso redor. Os Faes que estavam ao
lado de Shade exibiam choque, mas não me importei. Fechei a mão de
novo, pronta para bater nele mais uma vez, mas meu pulso ficou preso em
sua mão.
Seu sorriso de desfez por trás de uma máscara de aborrecimento quando
ele usou seu aperto para me puxar para seu corpo duro.
— Parece que você precisa de uma lição sobre como cumprimentar
adequadamente um velho amigo.
— Velho amigo? — Bufei uma risada. — Sim, você certamente não é
isso.
Inclinei o joelho para cima, apontando para sua virilha.
Mas bati em sua coxa.
Seus olhos se estreitaram ameaçadoramente.
— Quem te ensinou a lutar? Uma flor?
Ele me girou em uma nuvem de fumaça que entupiu meus pulmões e
cegou minha visão. Girei, procurando por liberdade, mas minhas costas
foram pressionadas contra algo duro. Me contorcendo, tentei escapar, mas
outra parede atingiu minha frente, duas mãos fortes agarraram meus quadris
e me seguraram no lugar.
— Me solte! — exigi.
— Tarde demais para isso, princesa — ele respondeu, com os lábios
contra minha orelha. — Você já é minha.
Agarrei seus ombros – confirmando que Shade era a parede na minha
frente – e tentei usar a superfície em minhas costas como alavanca para
empurrá-lo para longe.
Mas ele permaneceu imóvel, sua força superando a minha com muita
facilidade.
Um gemido ficou preso na minha garganta. Ele me enlaçou em menos
de um minuto, me capturando neste cobertor grosso e esfumaçado.
— Não se atreva a me morder de novo — rebati, me sentindo
totalmente impotente e enfurecida ao mesmo tempo.
— Você veio para mim, baby — ele sussurrou de forma ameaçadora. —
Que tipo de companheiro eu seria se não punisse você adequadamente,
humm?
— Já estou sendo punida, seu toco de salgueiro!
Ele riu, balançando a cabeça contra o meu pescoço.
— Querida Aflora, realmente precisamos melhorar seu vocabulário. —
Ele beijou meu pulso acelerado, provocando um arrepio pela minha espinha
que parecia se instalar na minha barriga.
Não, não um arrepio.
Um tremor.
Algo que provocou um estremecimento sutil dentro de mim que me
aterrorizou ainda mais.
Porque isso significava que uma parte doente e distorcida de mim
gostava de seu toque.
Apertei meus olhos, fechando-os com firmeza, forçando aquela
sensação a diminuir. Não, não, não.
Seus dentes roçaram em minha pele, arrepiando meus braços.
— Por favor, não — implorei, cravando as unhas em sua capa.
Se ele me mordesse de novo, aprofundaria o vínculo. Kolstov disse que
Shade havia apenas iniciado o vínculo e uma segunda mordida o fecharia.
Depois um terceiro... Estremeci, incapaz de terminar a consideração, porque
não podia permitir que isso acontecesse.
Ou nada disso.
Eu precisava detê-lo.
Lutar.
Escapar.
Ele murmurou algo que não ouvi sob o caos que chacoalhava dentro de
mim. O colar em volta do meu pescoço me impedia de acessar minha
essência da Terra. Mas em algum lugar dentro, havia uma ligação com a
magia sombria – por causa de Shade. Eu só precisava usá-la contra ele.
Me afastando da realidade e ignorando a névoa sombria que encobria
minha visão, procurei profundamente em minha mente por algum tipo de
ligação. Qualquer coisa que não pertencia. Qualquer coisa que eu pudesse
usar.
Ele passou a língua pela base do meu pescoço, seu toque
temporariamente me atraindo de volta para as mãos em meus quadris e a
crescente excitação pressionando meu abdômen inferior.
A chama dentro de mim aumentou, ansiando por estar com ele de uma
forma íntima que nenhum de nós podia permitir. Tinha que ser o vínculo.
Essa compulsão de ceder a ele sexualmente e fazer o que ele pedisse.
Apertei a mandíbula, me recusando a ceder.
Sou mais forte do que isso.
Não deixe que os truques mentais dele a dominem.
Foco.
Respirando fundo, mergulhei de volta em minha mente, procurando de
forma frenética por um caminho a seguir que me tirasse dessa complicação.
Porque ceder a ele e esses impulsos indecentes não era uma opção.
Me amarrar mais a ele prejudicaria a nós dois.
Não que ele parecesse se importar.
— Eu não quero te machucar, Aflora — Shade murmurou. — Sei que
foi o que fiz, mas nunca foi minha intenção.
— Mentira — ofeguei, dividida entre o que ele estava fazendo e
dizendo e meu desejo de lutar.
— Não, querida. Nunca menti para você. E nunca vou mentir. — Ele
beijou meu queixo, indo até minha boca. — Você pode me odiar – e deve –
mas prometo que há uma razão.
— Que razão?
— Destino — ele respondeu de forma enigmática antes de cobrir meus
lábios com os seus.
Me recusei a abrir para ele.
Me recusou a retribuir.
Me recusei a cair nessa armadilha lasciva.
Ele não fazia sentido. Arruinou minha vida. Não me deu detalhes sobre
o que ele queria. E agora eu estava presa contra uma árvore ou parede,
cercada por uma essência espessa que eu não conseguia ver. Ainda
estávamos na fogueira? Ou em outro lugar? Ele parecia ser capaz de se
teletransportar, além de controlar minha mente. O que mais ele poderia
fazer?
Caramba, isso era mesmo real?
Sonhei com ele quase todas as noites esta semana, acordando em uma
variedade de estados orgásticos, todos provocados por sua boca e mãos. Os
sonhos eram uma resposta à sua mordida? Ou ele estava me manipulando?
Eu odiava não saber.
Odiava mais que eu não sabia como pará-lo.
Ele passou a língua pelos meus lábios, solicitando entrada.
Eu neguei.
Seu aperto em meus quadris aumentou, me fazendo estremecer. Agarrei
seu pescoço e cravei as unhas em seu couro cabeludo em resposta,
precisando machucá-lo de alguma forma.
No entanto, tudo o que fez foi fazê-lo sorrir contra meus lábios.
— Eu amo que você não está cedendo — ele admitiu baixinho. —
Prova que você foi a escolha certa o tempo todo. Uma companheira fácil
me aborreceria.
— Eu sou uma companheiro relutante — rebati. — Você...
Ele se aproveitou da minha resposta, deslizando sua língua na minha
boca e roubando meu fôlego. Quase mordi, então me lembrei do que isso
fez nos meus sonhos. Seu sangue me deixou louca de luxúria.
Não.
Permitir seu beijo fazia mais sentido.
Só que eu não queria nada disso, mesmo que meu corpo parecesse
ansiar por seu toque.
Voltei à minha busca interior, navegando nas complexas teias do meu
estado mental em busca de algo fora do lugar. Quando não encontrei nada,
mergulhei em minha alma, procurando desesperadamente meu elo com a
terra.
Tão escuro.
Preto.
Errado.
Espere, o que é isso? Um brilho de luz azul cerúleo chamou minha
atenção, me puxando para mais perto. Ela se misturou ao abismo escuro,
mas começou a brilhar quando me aproximei. Puxando o fio, eu a segui até
os recessos profundos do meu espírito.
Um calafrio correu por mim, seguido por uma onda de calor enquanto
Shade aprofundava nosso abraço. Por mais que eu o odiasse, tinha que
admitir que o macho sabia como beijar. Eu não pude deixar de responder,
arqueando meu corpo no dele como se estivesse sendo puxado para cima
por uma corda.
— Eu te odeio — murmurei contra sua boca.
— Você já disse isso antes — ele reconheceu. — E eu admiti que me
odiava pelo que tive que fazer com você.
— No entanto, você não vai me dizer por quê.
— Porque não posso. — Ele recapturou meus lábios, silenciando nossa
conversa, e puxou as palmas das mãos para os meus lados como se
memorizasse meu corpo pela primeira vez. E talvez ele estivesse. Eu
realmente não tinha como saber se ele visitou meus sonhos ou se estavam
todos na minha mente.
Eu nem sabia dizer se isso era real ou não.
O brilho cerúleo me atraiu mais profundamente, dividindo meu foco
entre o toque de Shade e o misterioso quebra-cabeça que se desenrolava
dentro da minha alma. Algo estava se abrindo, uma espécie de cadeado que
eu parecia estar distorcendo com esse estranho fio azul bonito.
— Eu posso sentir isso — Shade sussurrou. — O que quer que você
esteja fazendo.
Eu o ignorei.
Ele não poderia estar tão profundo em minha alma.
Se intrincando nos recessos mais escuros do meu ser.
— Somos companheiros — acrescentou. — Minha mordida nos selou
para a eternidade. Quanto mais cedo você aceitar isso, melhor.
— Eu não sou uma Fae da Meia-Noite — respondi, irritada novamente.
— Tem certeza disso? — ele perguntou, me fazendo piscar para ele.
A fumaça se dissipou, me permitindo ver suas íris azuis. Estou
pressionada contra uma árvore, pensei, finalmente capaz de ver meus
arredores.
Não estávamos nem perto da fogueira.
Então, ou ele nos teletransportou ou eu estava perdida em um estado de
sonho novamente.
— Me solte, Shadow.
— Não posso.
— Essa parece ser sua frase favorita — respondi com frieza. — Você
não pode me dizer por que me mordeu. Não pode me soltar. Não pode
explicar...
— Você fala demais. — Ele me beijou novamente, me fazendo grunhir
de frustração.
A corda cerúleo em minha mente se apertou de repente, me fazendo
enrijecer pouco antes de uma onda de poder ondular através da minha pele.
Shade voou para trás, caindo sentado a alguns metros de distância, com os
olhos arregalados em choque.
E a árvore atrás de mim se transformou em pó.
Olhei boquiaberta para as chamas azuis brilhantes cintilando em minhas
mãos, então estremeci quando elas desapareceram.
— Que merda foi essa? — uma voz masculina rouca exigiu.
— Seu poder despertando — foi a resposta arrastada.
Me virei para encontrar Kolstov olhando para mim e Zephyrus
encostado em outra árvore.
— Eu não queria fazer isso — falei, com um tom de súplica na minha
voz. — Eu só queria que o Shade me soltasse.
— Bem, deu certo — Zephyrus parecia achar graça.
Kolstov definitivamente não compartilhava dessa opinião.
Nem, ao que parecia, Shade compartilhava quando ele se levantou do
chão para ficar ao meu lado.
— Toque nela, e eu vou te destruir.
Pisquei, surpresa com o tom protetor. Ele estava me provocando
momentos atrás, se recusando a me explicar qualquer coisa e me beijando
sem minha permissão. Agora ele queria me defender? Que ridículo.
— Eu adoraria ver você tentar —Kolstov respondeu, cruzando os
braços. — Você está incapacitado e sozinho.
Shade levantou os braços, revelando as algemas de couro contra os
pulsos.
— Ah, você quer dizer isso? — As bandas desapareceram um segundo
depois. — Sim, eu as desativei logo que Chern as colocou. Mas obrigado
pelo acessório.
A energia ondulou em torno de Kolstov, e sua expressão ficou
ameaçadora.
— Você tem um desejo de morte, Sangue de Morte?
— Isso é para ser algum tipo de contraditório? — Shade perguntou
casualmente. — Porque você terá que ser mais direto. Pulei muitos dos
meus cursos de idiomas ao longo dos anos. Bem, essas e outras aulas.
— Sua arrogância vai te matar.
Shade sorriu.
— É mesmo? Bom saber.
— Alguém pode me dizer o que aconteceu? — perguntei,
interrompendo sua pequena briga cheia de testosterona. — Por que fiquei
azul? — O fogo se dissipou, mas eu o sentia percorrendo minhas veias,
esperando que eu o invocasse novamente.
— Azul? — Kolstov repetiu. — Eu vi roxo.
Zephyrus franziu a testa.
— Era vermelho.
Os dois machos trocaram um olhar enquanto Shade olhava para mim.
— Azul? — ele perguntou baixinho, seu tom diferente do que ele usou
com os outros machos.
— Sim. Azul brilhante.
— Como um tom mais claro?
Assenti.
— Interessante — ele murmurou, olhando para Kolstov. — Vamos ter
algum problema aqui?
— Já temos um — o príncipe respondeu com um rosnado. — Você a
mordeu contra a vontade dela.
— Foi isso que ela disse? — ele questionou, parecendo muito entretido.
— Bem, ela pode estar certa. Mas nossas leis ainda a tornam minha.
Fascinante como isso funciona, certo? — Seu sorriso era cruel. — É a sua
família que está por trás dessa política arcaica, Kolstov. Não podemos
quebrar as regras agora, podemos?
Kolstov parecia pronto para matar Shade.
Mas suas palavras estavam girando em meus pensamentos.
A família de Kolstov permite que os machos reivindiquem as fêmeas da
maneira que Shade fez? Sem repreensão? Por quê?
— Faes Elementais escolhem seus companheiros — falei em voz alta.
— É uma prática muito melhor. E eu vou escolher o meu.
Shade riu, com a expressão indulgente.
— Um pensamento adorável, mas impraticável em nosso mundo. Você
já me pertence, Aflora.
— Eu não pertenço a ninguém.
Ele segurou a parte de trás do meu pescoço, me puxando para si.
— Continue negando, querida. Isso torna a nossa dança muito mais
divertida. — Ele deu um beijo rápido em meus lábios antes de me soltar e
focar novamente em Kolstov. — Então eu vou perguntar de novo. Vamos
ter um problema aqui? Porque ela é minha e eu protejo o que é meu.
— Não preciso de você para me proteger — eu o corrigi. — Eu
sobrevivi a coisas muito piores do que isso, e vou continuar a sobreviver,
muito obrigada.
Ele me ignorou.
Assim como Kolstov.
Algum tipo de conversa estranha estava acontecendo entre os dois
machos.
— Foi uma pequena explosão de poder — Kolstov disse após um
segundo. — Ela está a salvo de reprimendas.
— Ótimo. — Os ombros de Shade pareceram relaxar um pouco,
sugerindo que ele estava mais tenso do que eu imaginava.
— Por que eu seria repreendida por me proteger? — perguntei, confusa.
— Em uma situação normal, você não seria. Mas nada sobre suas
circunstâncias é normal. Todos e quaisquer sinais de você se transformar em
uma abominação serão analisados e levados em consideração pelo
Conselho. — Kolstov arqueou uma sobrancelha para mim. — Acho que não
preciso dizer o que acontecerá se eles decidirem que você ficou muito
poderosa como resultado desse acasalamento.
Engoli em seco. Ah.
— Bem, isso tem sido divertido — Shade interrompeu. — Aflora e eu
vamos agora.
Espere, o que...
— Não. — Zephyrus finalmente se afastou da árvore, com a expressão
ainda entediada, mas de alguma forma parecendo tenso. — Vou
acompanhá-la de volta para os Elite, pois ela está sob minha proteção.
— Sim? E quem a protege de Kolstov se ele decidir tomar uma decisão
régia em relação à vida dela? — Shadow contra-atacou.
— Talvez isso seja algo que você deveria ter considerado antes de
colocar em risco a vida dela por sua própria necessidade egoísta —
Zephyrus respondeu, evitando a pergunta. — Vamos, Aflora.
Olhei para os três e balancei a cabeça.
— É, não. Estou bem. Vou sozinha, obrigada.
Me virei, indo em direção à escuridão. Em seguida, me virei novamente,
apenas para encontrar outra espessa camada cobrindo minha visão. Não
porque Shade estava mexendo com minha mente, mas porque ele nos levou
a algum lugar sem muita luz.
Quando me virei, encontrei três pares de olhos achando graça.
— Se perdeu, linda? — Kolstov perguntou.
Tensionei a mandíbula.
— Só me mostre a direção certa. — Assim que disse isso, percebi o erro
em minhas palavras.
Mesmo que eles gesticulassem de uma certa maneira, eu não podia
confiar neles para me dizer a verdade. Com minha sorte, eu acabaria
naquela Floresta Mortal que Ella havia mencionado antes. Ou em algum
lugar pior.
Cerrando os dentes, cedi e me concentrei em Zephyrus.
— Tudo bem. Me leve de volta.
Ele contraiu os lábios como se aprovasse minha queda.
Idiota.
— Por aqui, princesa — ele falou, gesticulando para o caminho atrás de
si.
Não respondi ou olhei para os outros machos enquanto seguia o diretor
em silêncio.
Talvez Shade e Kolstov se matassem na minha ausência.
Só se pode sonhar, pensei. Então fiz uma careta ao perceber que tudo
que Shade tinha feito comigo esta noite tinha sido real.
E com a minha sorte, ele provavelmente iria muito mais longe assim
que eu fechasse os olhos.
— Este mundo é fogo — resmunguei para mim mesma.
— É foda — Zephyrus corrigiu. — Ou você pode dizer que é uma
merda.
— O quê?
— Considere isso uma lição de vocabulário — ele disse por cima do
ombro. — Sou um diretor, afinal de contas.
Revirei os olhos.
— Sim, você é um professor brilhante.
Por um breve segundo, ele quase pareceu se divertir com minha piada.
Mas desapareceu um segundo depois em sua expressão habitual de
estoicismo.
— Faça-me um favor, Aflora. Tente não explodir na aula amanhã. Outra
demonstração de poder como essa pode ser sua sentença de morte.
Com isso, ele me levou de volta à suíte de Kolstov.
Dez minutos depois, ele me deixou na sala de estar, e me senti ainda
mais sozinha do que todas as noites desta semana.
Porque suas palavras serviram como um aviso não tão sutil, que me
disse que minha vida estava em perigo aqui. Algo que eu já sabia, mas a
realidade ainda doía.
Como eu poderia controlar um poder que eu não conhecia?
E pior, e se eu não conseguisse controlar nada?
CAPÍTULO TREZE
KOLS

— E ladeperguntou como a encontramos? — perguntei ao entrar na suíte


Zeph sem bater. Sua gárgula não piscou um olho, o que me
disse que eu era bem-vindo.
Zeph confirmou, entrando na sala de estar com duas garrafas de cerveja,
uma das quais ele jogou para mim. Eu a peguei pelo gargalo.
— Aflora estava muito consumida por sua explosão de poder para fazer
perguntas — ele respondeu, se sentando em uma das poltronas do quarto.
— Se ela pensar sobre isso mais tarde, provavelmente vai assumir que a
seguimos.
Isso não estaria necessariamente muito longe da verdade. Quando seu
localizador saltou de posição, eu sabia que algo tinha acontecido. A
mensagem de texto de Tray dizendo que Shade usou um feitiço de fumaça
para removê-la da fogueira apenas confirmou. O cretino claramente não
sabia como obedecer a nenhuma regra. Ele não apenas tirou as algemas –
algo que não deveria ter sido capaz de fazer – mas também interagiu com
Aflora depois de ser expressamente instruído a deixá-la em paz.
— Eu deveria denunciá-lo — falei em voz alta, me referindo a Shade.
Zeph tirou a tampa de sua cerveja e tomou um longo gole, o que fez sua
garganta se mover quando ele engolia.
— Não resolveria muita coisa.
Encostado na parede a poucos metros de sua cadeira, suspirei:
— Eu sei. — Se eu denunciasse Shade, eles poderiam expulsá-lo. Mas
ele espreitaria pelas bordas sombrias do campus de qualquer maneira. —
Que jogo ele está jogando com ela?
Zeph colocou a garrafa de lado, com a expressão pensativa. Quase me
esqueci desse lado dele, com toda a animosidade que ele jogou para cima de
mim nos últimos meses. Parte de mim esperava que nossa briga anterior
significasse que estávamos finalmente avançando. A outra parte de mim
sabia que não.
As coisas entre nós nunca mais seriam as mesmas.
— Você realmente viu chamas roxas? — Ele olhou para mim.
— Sim, do tipo que eu esperaria de um Sangue da Morte. — Eram
vibrantes e violetas.
— Bem, eu vi vermelho, como o tipo de chama que você cria.
Nós franzimos a testa um para o outro.
— E ela disse que era azul brilhante — acrescentei. — O que é
impossível. Nenhum Fae da Meia-Noite arde em azul brilhante.
— Talvez ela tenha querido dizer marinho, como os Sangré de Sangue?
— Como é que isso seria possível?
— Não faço ideia. Mas ela não é exatamente normal. Poderia ser uma
influência de seu poder elemental? — Zeph sugeriu.
Tirei a tampa da garrafa e tomei um longo gole enquanto considerava
isso. Então balancei a cabeça lentamente.
— Ela é uma Fae da Terra, não do Fogo. As chamas estão ligadas ao seu
despertar da conexão com a magia sombria.
— Sugerir seu vínculo de acasalamento com Shade está realmente
transformando-a em uma abominação — Zeph apontou.
Nós dois ficamos em silêncio, eu bebendo minha cerveja, Zeph girando
a sua na mesa daquele jeito pensativo.
— Merda, isso não é bom — eu finalmente disse. — Isso não é nada
bom.
— Você vai denunciá-lo?
Balancei a cabeça. Em seguida, repeti o movimento.
— Não sei o que vou fazer. Ainda pode ser temporário. Talvez ela tenha
expulsado o pouco poder que tem dentro de si e agora vá voltar ao normal.
— Ouvi a mentira em minhas palavras, vi a confirmação dela escrita nas
feições de Zeph.
— Você não costuma bancar o ingênuo, Kols.
Kols. Não príncipe Kolstov ou Kolstov, mas Kols. Ele não usava meu
nome preferido há meses. Tomei outro gole para me impedir de comentar
sobre isso ou permitir que ele visse o vislumbre de esperança que aquela
palavrinha me deu.
Podíamos não ser capazes de voltar a ser como antes, mas eu não me
opunha a seguir em frente.
Zeph foi quem cortou todos os laços.
Eu, não.
— Sei que você quer transar com ela, assim como faz com qualquer
outra mulher gostosa e inatingível que cruza seu caminho — ele
acrescentou, destruindo o momento. — Mas isso não deve impedi-lo de
fazer o que tem que fazer. Apenas aja e acabe com ela depois.
Uma abordagem muito cruel. Mas eu sabia que ele não quis dizer isso
dessa maneira. Não completamente. Zeph era um cara lógico. E para ele,
alimentar a luxúria antes de completar a tarefa lhe parecia prático.
Exceto que nada nesta tarefa era prática.
— Eu não posso simplesmente matar a última Fae Real da Terra — eu o
lembrei. — E talvez minha abordagem seja ingênua, mas preciso esperar
que essa mistura de poder desapareça.
— Errado. O que você precisa fazer é se preparar para o inevitável. O
poder dela está aumentando. Eu a tenho observado a semana toda, e ela não
está ficando mais fraca. Ela está ficando mais forte. Quase como se a
mordida de Shade acionasse um interruptor dentro dela. Algo não está
certo, e sua pequena exibição de poder esta noite prova isso.
Ele pegou a garrafa e terminou em alguns grandes goles. Em seguida,
acenou com a mão sobre o copo, enchendo-o novamente com um feitiço
murmurado.
Peguei meu telefone, verificando o aplicativo vinculado ao rastreador de
Aflora, e notei sua presença ao lado. Ela ainda não tinha tentado fugir, o que
na verdade me fez admirá-la. Isso implicava que ela colocava seu povo
antes de si mesma. Retornar ao seu estado atual frustraria o equilíbrio. Ela
também não estaria segura lá, já que o Fae Elemental derrubou
recentemente uma abominação insana. Eles não aceitariam isso em seu
retorno.
Então, talvez ela não tenha colocado seu povo em primeiro lugar, mas
foi seu instinto de sobrevivência entrando em ação.
Independentemente disso, a inteligência em sua decisão de ficar
aumentou seu apelo aos meus olhos. O que era exatamente a resposta errada
em geral, porque eu não podia – e não deveria – cogitar a possibilidade de
transar com Aflora.
Ela era um fruto proibido.
Fora dos limites.
Como Zeph já havia dito: inatingível.
No entanto, eu não podia negar o desejo de beijá-la. Eu também
adoraria ficar de olho em Shade no processo. O idiota tinha desaparecido
em uma nuvem de fumaça antes que eu pudesse agir. No entanto, senti sua
presença residual durante todo o caminho de volta ao prédio, sugerindo que
ele seguiu Aflora.
— Ele parece se importar com ela — pensei em voz alta.
— Quem?
— Shade — esclareci. — Ele rastreou você e a Aflora até a Residência
Elite.
Zeph considerou por um segundo, então deu de ombros.
— Acho que ele se preocupa mais com o vínculo do que com ela. Se
algo acontecer com ela, ele será o único a viver com dor por toda a
eternidade.
— Provavelmente deveria ter pensado nisso antes de mordê-la —
resmunguei.
— É verdade, mas acho que há um esquema maior por trás de tudo.—
Zeph colocou a garrafa quase cheia no chão e apoiou os braços nas coxas.
— Shade é um idiota, não me entenda mal, mas aquele filho da puta não faz
nada sem uma razão.
— Não sei. Ele parece fazer coisas o tempo todo só para irritar todo
mundo — murmurei em resposta. — Isso é parte do que o torna um idiota.
— Sim, mas essas coisas são bobas. Tomar uma companheira Fae
Elemental – especificamente, Aflora – é uma decisão catastrófica para ele e
ela. Por que ele faria tal coisa? Tem que ser mais do que apenas querer
irritar o pai dele, o seu pai ou o Conselho. Ele está tramando alguma coisa.
O que nos coloca em um círculo completo, pensei, lembrando a forma
como nossa conversa começou sobre que jogo Shade estava jogando e por
quê.
— Algo me diz que não saberemos até que seu plano se desdobre.
— É exatamente por isso que sugiro que você não diga nada e observe.
Vamos ver o que ele faz com ela.
— Você quer usar a Fae Real Elemental como isca?
Ele virou as mãos, com as palmas para cima.
— O Shade assinou sua sentença de morte no segundo em que a
mordeu, e nós dois sabemos disso. Todo esse jogo de observação é só uma
desculpa para que eles possam validar matá-la. Podemos muito bem
descobrir o que Shade está fazendo no processo e usar o pouco que resta de
sua vida.
Soltei uma risada sem humor. Suas palavras foram como um soco
repetido no estômago.
— Você é um filho da puta frio. Sabe disso, certo?
— Estou pensando de forma defensiva. É o que eu faço.
— Sim, e ainda que você seja ótimo nisso, poderia por um momento
tentar lembrar que ela é uma pessoa, não um peão? — Tecnicamente, ela é
uma futura rainha, eu me corrigi. Muito mais importante que um peão.
— Shade a colocou nessa confusão, não eu. Eu poderia escolher ter
pena dela ou usá-la para garantir que ele nunca mais faça essa merda de
novo. Eu voto no último. Você deveria também.
— Não é preto e branco, Zeph.
— Por quê? Porque você quer transar com ela? Vá em frente, sacie a
necessidade e siga adiante. É o que você faz de melhor.
Contraí o queixo com o insulto farpado.
— Certo, e você não está nem um pouco interessado em transar com
ela. — Eu sabia que ele estava, porque peguei o brilho de intriga em seu
olhar enquanto olhava para ela. Ah, ele escondeu bem, mas eu o conhecia
mais do que ele me dava crédito. Alguns meses de distância nunca
mudariam isso.
Além do mais, nós dois tínhamos um tipo, e Aflora preenchia todos os
requisitos. Ela também representava um dos maiores desafios que já
encontrei, principalmente porque flertar com ela era como flertar com a
morte. Um movimento errado e acabaríamos mortos bem ao lado dela. O
que só a tornava mais atraente como perspectiva, uma vez que acrescentava
o elemento do verdadeiro perigo.
— Não estamos falando sobre isso — Zeph retrucou, sua voz se
aprofundando.
Curvei os lábios.
— Tem razão. Não precisamos falar. Já sei que você a quer. E você
trouxe isso à tona duas vezes, não eu. Estou apenas jogando a bola de volta
na sua quadra. Se você quiser compartilhá-la, é só dizer.
— Pare.
— Por quê? Porque vou pressionar seus limites? — provoquei. —
Porque todo o papel de diretor adiciona mais um elemento do proibido a
uma situação já intrigante?
Suas íris verdes cintilavam com brasas. Eu simplesmente o irritei ou o
excitei pra caramba. Provavelmente as duas coisas.
Zeph gostava de sexo intenso.
A raiva era seu afrodisíaco.
A briga servia como preliminares.
E nós brigamos muito nos últimos meses, tanto mental quanto
fisicamente.
Nossa briga anterior ainda fervia entre nós. Ele conseguiu alguns bons
golpes, mas eu também, e isso nos deixou enfurecidos e um pouco
machucados. Por isso, optei por evitar a fogueira. Mas o alerta no meu
telefone, ativado pelo colar de Aflora, me mandou para a porta de Zeph.
Então a mensagem de Tray nos forçou a sair.
Agora, nós dois estávamos sozinhos.
Duas décadas de experiência pairando entre nós.
Cinco anos passados entre os lençóis com várias mulheres e
ocasionalmente apenas um com o outro.
Eu não namorava ou tinha relacionamentos. Mas Zeph sempre foi
minha única constância.
Até seis meses atrás, quando seduzimos a garota errada. Ela usou a
distração sexual para tentar tirar vantagem de mim e do meu poder, e
causou muitos danos no processo.
Desnecessário dizer que meu pai não havia aprovado o resultado ou a
incapacidade de Zeph de “me proteger adequadamente”.
E aqui estávamos nós.
— Eu preciso que você vá embora — Zeph finalmente disse, fechando
as mãos com força. — Agora.
— Não. — O que precisávamos fazer era resolver isso de uma vez por
todas. Seis meses dessa besteira era tempo suficiente. — O que você quer
que eu faça, Zeph? Pedir desculpas novamente? Prometer que vou resolver?
Porque já fiz as duas coisas. O que mais posso fazer? Você quer que eu
chupe seu pau a noite toda? Que deixe você me tomar por trás? Seduzir
Aflora por nós dois? Encontrar uma humana que se encaixe bem entre nós?
Diga-me o que preciso fazer para consertar isso.
— Você não pode consertar. Você me deixou levar a culpa por sua
escolha.
— Eu disse ao meu pai que eu a escolhi e a convidei para nossa cama.
Ele culpou você por não vetá-la. O que, sim, é meio que seu trabalho como
meu Guardião.
Ele semicerrou os olhos.
— Ele me denunciou na frente da porra do reino por uma merda da qual
nós dois temos culpa.
Estremeci com a memória da crueldade do meu pai. Porque, sim, ele
tinha sido um grande idiota em toda a questão. Depois ele se virou e me
disse para crescer.
— Nós dois sofremos naquele dia.
— No entanto, você ainda ascenderá e eu permanecerei aqui como
diretor. E não me diga que você vai mudar isso. Não quero nenhum favor
seu.
— Você é meu melhor amigo, idiota. Não é um favor. É uma realidade.
Ninguém pode substituí-lo como meu Guardião. Eu recuso.
Seus lábios se curvaram em um sorriso rude.
— Sim, bem, eu posso e vou recusar a tarefa.
Combinei seu sorriso com um dos meus.
— Você pode tentar, Zeph. Mas nós dois sabemos que minha palavra
será lei.
— O que faz de você igual a ele — ele retrucou. — Você deve estar
muito orgulhoso.
Puta merda, eu odiava quando Zeph bancava o idiota.
— Eu não sou meu pai.
— Então prove e pare de ameaçar forçar os outros a posições em que
eles não querem estar.
A garrafa quase escorregou dos meus dedos, suas palavras acertando em
cheio.
— Você realmente não quer mais ser meu Guardião. — Não era uma
pergunta, mas uma afirmação. — Tudo por causa de uma experiência
fodida?
— Foi mais do que uma experiência fodida, e você sabe disso. Fomos
imprudentes e estúpidos, e vidas foram perdidas no processo quando aquela
vadia usou seu acesso à fonte. Como você pode não se sentir culpado por
isso?
Abri os lábios e os fechei. Porque de repente eu entendi.
Não se tratava de me punir, mas de se punir por um fracasso pelo qual
se sentia responsável.
— Aquelas mulheres morreram por causa da Dakota, não por sua causa
ou minha.
— Você é realmente ingênuo se acredita nisso. É seu dever com realeza
Fae da Meia-Noite proteger esse acesso, e você não o fez. Assim como era
meu dever protegê-la do mal, e falhei quando deixei aquela vadia se deitar
na sua cama. — Ele empurrou a cadeira e revirou o pescoço. — Estou
encerrando a noite. É a sua vez de brincar de babá. Vou correr.
— Zeph...
— Não. — Ele me cortou com uma expressão estrondosa. — Chega,
Kolstov. Total e completamente. Está na hora de você acreditar nisso e
seguir em frente. — Ele passou por mim, indo em direção à porta e não
olhou nem uma vez para trás ou me pediu para ir embora. Em vez disso, ele
saiu, e sua aura de raiva queimava o ar.
Mas pela primeira vez em meses, eu sabia por quê.
Ele não estava bravo comigo.
Estava com raiva de si mesmo.
Não, ele estava bravo conosco. Por todos os danos que causamos. E
enquanto eu entendia a culpa e a responsabilidade pelo que tinha
acontecido, eu também sabia que ficar remoendo o passado não resolvia
nada.
Em vez disso, aprendi com a experiência.
Eu raramente transava com Faes da Meia-Noite antes do acontecido e
agora, nunca mais faria isso.
Apenas com humanas.
E pretendia continuar assim, mesmo depois de acasalar com Emelyn.
Estremeci ao pensar nela e em nossos destinos entrelaçados. Não transar
com ela seria a tarefa mais fácil da minha vida.
Ao contrário de Aflora...
Peguei o telefone novamente, notando que ela ainda estava na porta ao
lado. Provavelmente na cama. Seria muito fácil me juntar a ela e usá-la
como uma distração da minha frustração.
Exceto que, com seus poderes crescentes, era possível que ela também
pudesse acessar minha fonte.
O que a colocava firmemente na pilha de nunca acontecerá, onde ela
pertencia.
— Puta merda — murmurei, esfregando a mão no rosto.
Coloquei minha garrafa na pia e segurei o balcão.
Seria bom procurar alívio agora. Em vez de me divertir, como eu
pretendia fazer na semana passada, passei a maior parte do meu tempo com
Cyrus e Exos – dois dos Reis Fae Elementais – falando sobre Aflora. Eles
foram inflexíveis para que eu a protegesse, afirmando que ela não era
apenas uma Fae Real, mas também amiga de sua Claire. O que significava
que qualquer mal que acontecesse com a linda princesa me colocaria na
lista de merda de uma rainha e seus dois reis. Sem mencionar os outros três
companheiros.
Estou entre a cruz e a espada, pensei, suspirando. Certo, bem, ficar na
cozinha de Zeph não faria nada por mim. Conhecendo-o, ele não voltaria
esta noite.
Eu trabalharia mais com ele amanhã.
Porque, embora eu concordasse com a ideia da isca, precisávamos de
algo mais sólido que nos permitisse manter a Aflora segura.
Mesmo que sua morte fosse de fato inevitável.
CAPÍTULO CATORZE
AFLORA

— T udo bem, é aqui que deixo você — Ella falou, parando na frente
de um edifício de aparência sinistra com torres altas, pretas e
móveis. Bem, não exatamente se movendo. Era mais como se as videiras
em volta delas estivessem se movendo.
Por causa das cobras.
Reprimi um estremecimento.
— Vá até a gárgula, dê seu nome, e ela vai permitir que você passe —
Ella acrescentou, gesticulando para uma estátua de pedra rosnando a poucos
metros de distância.
— Sim, ela parece amigável — murmurei.
Ella bufou uma risada.
— São todos assim. Elas pensam que são donas do campus. — Ela
começou a andar para trás enquanto dizia: — Não recomendo chutá-las.
Cometi esse erro no início, e ela tentou arrancar meu pé. Na minha opinião,
idiotas irritantes. — Ela deu de ombros e se virou com um aceno. — Boa
sorte.
Enrolei meu manto com mais firmeza ao meu redor como se fosse um
cobertor em vez de uma peça do meu guarda-roupa da Academia. O toque
da varinha no bolso interno tornava impossível esquecer o verdadeiro
propósito.
Mordiscando o lábio, fui até a gárgula e disse:
— Sou Aflora, Fae Elemental da Terra.
Dois pontinhos de vermelho brilhante escanearam minha roupa, a
expressão hostil se tornando ainda mais malvada.
— Sua assinatura de energia é uma mistura intrigante de magia – parte
Real, parte Fae da Meia-Noite. — O ranger de pedras aprofundou a voz do
ser, dando-lhe um tom rouco que me fez estremecer.
— Tenho uma aula aqui hoje de magia da morte — falei. — Se você me
permitir entrar, estarei a caminho.
— Tão educada. Tão anormal. Assim como sua magia. Você é meio
difícil, não é? — Aqueles pontos afiados de luz vermelha encontraram meu
olhar. — Este não é o curso ou o campus para você.
— Apenas deixe-a passar, Sir Schmahl — Shade disse enquanto se
materializava ao meu lado. — Como minha companheira escolhida, ela tem
Sangue de Morte correndo em suas veias. Este é um curso apropriado para
ela, mesmo que ela seja muito fraca para lidar com isso.
— Muito fraca? — rebati, focando no toco de salgueiro à minha
esquerda. — Eu não sou fraca.
— Vamos ver, não é, amor? — Ele voltou a se concentrar na gárgula
eriçada. — Vamos, Sir Schmahl. Você sabe que quer ver o resultado deste
pequeno teste tanto quanto eu. Vai ser divertido vê-la falhar, não vai?
— Hum, sim. Sim, ela vai falhar — a gárgula concordou.
— Sério? — Olhei boquiaberta entre os dois. — Me intimidando no
meu primeiro dia de aula? Que encantador. — Não me passou despercebido
quantas vezes chamei Shade de encantador em um sentido sarcástico.
— Sem bullying, só estamos falando de forma prática — Shade
respondeu, exibindo suas covinhas. — O que me diz, Sir Schmahl? Está a
fim de um pouco de diversão rebelde?
— Se ela morrer, não sou responsável — foi a resposta sombria da
gárgula.
A porta se abriu ao lado dele, mostrando um túnel repleto de tochas.
Excelente. O interior combina com o exterior sinistro.
Shade pressionou a palma da mão na parte inferior das minhas costas,
me dando um empurrãozinho.
— Não se preocupe, Sir Schmahl. Vou dar um jeito em qualquer
confusão que ela criar.
Um bufo seguiu aquele comentário. Ou talvez fosse apenas a gárgula
mudando de posição. Eu realmente não poderia dizer, os sons eram difíceis
de decifrar.
— Venha, gatinha — Shade sussurrou em meu ouvido. — Vou te
acompanhar até a sala de aula.
Eu me irritei, mas não discuti. Principalmente porque eu não tinha ideia
de para onde estávamos indo. O cronograma que Zephyrus me deu não
listava os números das salas, apenas os prédios. E em nossos passeios esta
semana, ele não disse nada sobre onde ir uma vez dentro de cada estrutura
parecida com um castelo.
O calor de Shade penetrou na minha capa e seu cheiro de menta girando
em torno de mim em uma onda refrescante. Cada inspiração aumentava
meu estado de alerta, me acordando para este novo mundo Fae da Meia-
Noite enquanto também me acalmava de uma forma que não deveria.
É a mordida, eu disse a mim mesma. Ele hipnotizou meu sangue.
— Os corredores mudam — ele disse, movendo a mão para o meu
quadril para me impedir de dar outro passo. Ele colocou o braço em volta
das minhas costas de uma maneira decididamente íntima. Quando tentei me
afastar, ele me puxou mais para si. — seu aperto se apertou. — Aguente
firme.
— Pare de me maltratar...
Rochas em movimento cortaram minha declaração e me paralisaram no
lugar enquanto o corredor se deformava em uma nova dimensão de paredes
de masmorra. Minha garganta ficou seca com as portas de madeira sem
janelas e as chamas rastejando ao longo das diferentes tochas.
— Cada aluno cria um caminho diferente — Shade explicou baixinho.
— Nossa idade dita qual curso devemos seguir e leva à sala de aula
apropriada. Você pode ver o nosso delineado em fogo roxo lá embaixo. —
Ele apontou para o brilho violeta.
— Todos os prédios são assim? — Porque se fossem, esta seria uma
semana muito longa para encontrar meus cursos.
— Há semelhanças, mas cada assunto tem suas nuances. As artes
defensivas, por exemplo, exigem que você lute contra uma invenção para
entrar. Sua experiência e habilidade são determinadas pelo quanto você se
sai bem e você é colocada de acordo. Então suspeito que você estará em um
curso de nível iniciante de Guerreiro de Sangue. — Ele piscou para mim.
Fiz uma careta.
— Você não sabe nada sobre minhas habilidades. E não é minha culpa
que seu Conselho tenha me prejudicado. — Apontei para o colar, então
lembrei de sua declaração ontem à noite sobre suas algemas. — Espere...
— Ah, não. Sei onde você vai chegar e não, não vou te ajudar a removê-
lo. Prove seu próprio valor e descubra como fazer. Tenho fé em seu
fracasso, baby.
Argh!
— Você é um ignorante e impossível, seu toco de salgueiro!
Ele riu alto, balançando a cabeça.
— Não posso te levar a sério com palavras assim, Aflora. Tente me
chamar de idiota e vamos conversar.
— Que tal se eu te chamar de sanguessuga? — retruquei, lívida por sua
insensibilidade e comportamento conflitivo. — Um sugador de sangue
manipulador e impulsivo que usa a crueldade como ferramenta de flerte.
Seu sorriso morreu.
— Cuidado.
— Ou o quê?
— Ou você vai irritar todos os Fae da Meia-Noite neste prédio. Esse
termo não é algo que permitimos aqui.
Eu zombei disso.
— Bem, é o que você é, então não sei por que se esquiva disso.
Sanguessuga.
Ele me observou por um longo momento, seu sorriso maligno
retornando.
— Sabe de uma coisa? Mudei de ideia. Vá em frente e use esse termo.
Vamos ver o que acontece.
Com isso, ele se virou e foi em direção a nossa suposta aula.
Provavelmente era uma armadilha diretamente para o inferno, mas eu o
segui.
E parei na soleira quando encontrei um auditório de aparência normal,
com mesas, cadeiras e janelas que davam para um pátio de árvores em
chamas.
Este lugar era como um enigma. O corredor parecia uma caverna
subterrânea destinada a criminosos, e esta sala me lembrava um campus
universitário humano. Havia até um quadro-negro na frente.
Entrei, esperando que se transformasse em um pesadelo, mas nada
mudou.
Shade se sentou no meio de um grupo de alunas, que estavam com
expressões cheias de adoração enquanto falavam com ele.
Ele deve esconder sua atitude “encantadora” de mim, não dos outros.
Ou talvez gostassem desse lado dele.
Me sentei no lado oposto da sala, mantendo-o na minha visão periférica
enquanto assegurava uma ampla distância.
À medida que mais alunos entraram, eles o cumprimentaram com uma
variedade de apertos de mão estranhos, alguns batendo em seu punho, e
todos se sentaram perto dele, me deixando muito sozinha. O que estava
bem. Eu preferia assim.
Pelo menos até eles começarem a olhar para mim e sussurrar coisas para
ele que o fizeram rir.
Semicerrei os olhos. Esse jogo dele provou ser muito perigoso,
principalmente porque eu não sabia como jogá-lo corretamente. Ele me
mordeu, me seduziu, fingiu me proteger ontem à noite e me guiou hoje, sem
deixar de me insultar, e agora parecia que estava fazendo piadas sobre mim.
Eles estavam apostando na rapidez com que eu iria falhar?
Bem, eu teria que provar que todos estavam errados.
Exceto que eu não tinha ideia do que estava fazendo ou como usar
minha varinha.
E a gargantilha em volta do meu pescoço parecia um laço.
As palavras de Shade ecoaram em minha cabeça: Prove seu próprio
valor e descubra como fazer. Tenho fé em seu fracasso, baby.
Bobo pomposo, pensei. Sua provocação alimentou um fogo dentro de
mim, que se misturou com a energia cerúlea que criei na noite passada. Eu o
senti zumbindo sob minha pele, não tendo morrido mesmo enquanto eu
dormia. Como se agora me pertencesse, apesar da sensação estranha de sua
presença.
Observei meus dedos, esperando vê-los brilhando, quando um estrondo
alto na frente da sala me fez desviar o foco.
Um macho corpulento apareceu de uma nuvem de fumaça, com a capa
batendo ao seu redor como asas de morcego. Uma entrada apropriada
considerando sua cabeça pequena. Não se encaixava em seu físico robusto.
Não gordo, mas sólido. Seu pescoço inchou com força, suas coxas do
tamanho da minha cintura. E ele era pelo menos trinta centímetros mais alto
que eu.
Ele me lembrou um pouco de Sol, fazendo meu coração acelerar no
peito. Não do jeito que costumava quando eu tinha uma queda por ele, mas
de uma forma familiar. O macho praticamente me criou com a ajuda de sua
mãe. E sua irmã tinha sido minha melhor amiga antes de morrer.
Parecia uma vida atrás.
Uma memória distante diante da minha realidade atual.
O que incluía um gigante andando na base da sala de aula, segurando
um pergaminho. Todos ficaram quietos, esperando que ele falasse.
Um par de íris da cor da meia-noite observou a sala, pousando em mim.
Aqui vamos nós.
Mas em vez de dizer qualquer coisa, ele deu de ombros e voltou para
seu pergaminho, que cintilou em chamas roxas brilhantes um momento
depois, e ele bateu palmas.
— Bem-vindos à Conjuração Avançada. A maioria de vocês conhece
meus métodos de ensino. Para aqueles que não, prefiro ensinar em dupla.
Agora, preparem suas varinhas e podemos começar.
Todos os alunos pegaram suas varinhas, então fiz o mesmo.
— Vocês conhecem o feitiço — acrescentou. — Bem, talvez não.—
Essa última afirmação foi para mim, algo que ele confirmou quando
encontrou meu olhar. — Quando eu contar até três, acenem sua varinha em
um padrão cruzado três vezes e digam Sharikana.
Assenti para mostrar compreensão, mas ele já tinha desviado o olhar.
— E vá — ele disse.
Ecos do feitiço soaram ao redor da sala, e eu rapidamente segui o
exemplo, me assustando quando a energia passou ao meu redor. Uma
espécie de laço se formou em volta do meu pulso, e a substância mágica foi
amarrada diretamente a Shade do outro lado da sala.
Seus lábios se curvaram, e ele me jogou um beijo.
Tentei me afastar dele, o que apenas aumentou a conexão e enviou um
assobio penetrante pelo ar.
Me encolhendo, me abaixei em minha mesa e quase deixei a varinha
cair.
Então sentiu o puxão sutil de Shade de volta. Uma provocação. E isso
me empurrou para o penhasco em uma poça de fúria.
Apontando a varinha para ele, retruquei.
— Me solte.
O que não fez absolutamente nada além de diverti-lo.
Mandei uma rajada de fogo azul pela corda, diretamente para o pulso
dele.
Ele pulou da cadeira, largou a varinha e colocou a mão ao redor da linha
flamejante. Desta vez, eu caí da cadeira quando ele puxou.
Gritei e enviei outra rajada da magia cerúleo para ele, até que o vínculo
foi cortado.
E um professor furioso estava diante de mim.
— Você perdeu a cabeça, garota?
Sim, pensei para ele, limpando as mãos na saia preta e ajeitando a blusa
branca.
— Ele me laçou — expliquei. Porque ele tinha que ter visto isso, certo?
— Porque esse é o propósito do feitiço! — o professor rugiu. — Magia
de par. — Ele gesticulou ao redor da classe, indicando as cordas que
amarravam os outros alunos. — Sua magia escolheu a magia dele. Então
você tentou queimá-lo com seu poder, o que não é um comportamento
aceitável para minha classe.
Meu queixo caiu no chão.
— Minha magia escolheu a dele? — Isso era impossível. Eu nunca, em
um milhão de anos, escolheria aquele toco de salgueiro!
Outra percepção me atingiu com a mesma rapidez. Meu feitiço
funcionou. Ah, isso não podia ser um bom sinal. Devia parar, não começar
a funcionar.
Varinha de duende, isso era ruim. Muito ruim.
Shade estava a alguns metros de distância, seu entretenimento sobre a
nossa situação estava claro em seu olhar gelado.
— Talvez devêssemos tentar novamente, Diretor Irwin? Parece que a
Aflora não está interessada em ser minha parceira durante o ano.
O macho robusto se virou.
— O feitiço não pode simplesmente ser desfeito, Shadow. Ela é sua
parceira, e vocês aprenderão a trabalhar juntos. Começando na detenção
depois que terminarmos aqui hoje.
— Detenção — repeti, familiarizada com o termo, mas nunca tendo
experimentado.
— Sim. Onde você trabalhará em exercícios de união de pares até que
eu tenha certeza de que você entende o propósito do trabalho em equipe.
Ele proferiu um feitiço e acenou com sua varinha grossa, fazendo o
mundo se endireitar ao meu redor enquanto ele me mandava de volta para
minha cadeira com algum tipo de feitiço flutuante. Tentei afastá-lo,
desconfortável com a presença de tinta cobrindo meu ser, mas desapareceu
assim que minha bunda bateu no assento.
Shade não recebeu o mesmo tratamento.
Ele simplesmente desmoronou ao lado de sua escrivaninha em um
esparramado preguiçoso digno de um rei.
Eu o odiava.
O detestava.
Não suportava a mera visão dele.
E agora, estava presa a ele como companheira e parceira de classe.
Este ano não poderia ficar pior.
CAPÍTULO QUINZE
AFLORA

E u menti.
Este ano poderia piorar.
Quando me vi literalmente presa ao lado de Shade na versão de
detenção do Diretor Irwin, tudo que eu queria era morrer. Mas tínhamos um
ensaio para escrever. Juntos. Ele uniu nossas mãos com algum tipo de
caneta mágica que exigia que concordássemos com as palavras para que
funcionasse.
O tópico? Defina parceria.
Cerrei os dentes enquanto Shade tentava escrever algo sobre a parceria
cair para o mais forte do par liderar.
Quando o roteiro desapareceu, ele suspirou e olhou para mim.
— Tente você.
— Vá se foder — respondi.
— Ele não vai nos deixar sair até terminarmos.
— Então acho que vamos morar aqui. — Uma coisa infantil de se dizer,
mas de jeito nenhum eu ia trabalhar com esse monstro. — Você só tem a si
mesmo para culpar. Não foi como se eu tivesse pedido para você me
morder.
Ele bufou.
— Já voltamos àquela velha discussão?
— Não é velha — rebati. — É muito fresca, nova e errada.
Seu braço flexionou contra o meu, e a corda que amarrava seu membro
esquerdo ao meu direito apertou com o movimento. Havia outra faixa de
magia ao redor de nossos torsos, colando meu lado direito ao seu esquerdo.
Toda vez que ele respirava, eu sentia a alça puxando contra o meu peito.
Isso teria sido íntimo com qualquer outra pessoa.
Com Shade, só me fez querer matá-lo.
Mas fomos proibidos de sacar nossas varinhas.
Não que eu soubesse como usar a minha de qualquer maneira. A aula de
hoje consistia em uma série de tarefas insanas envolvendo conjurar objetos
mortais como crânios, ossos e corações.
Como Shade havia previsto, falhei em todas as tarefas.
Principalmente porque me recusei a tentar. Brincar com os mortos ia
contra todos os princípios que eu possuía como Fae da Terra. Eu conjurava
a vida, não a morte.
Shade, no entanto, se destacou de uma maneira assustadora. Cada
feitiço que ele proferia resultava em perfeição, sua aura era um manto
essencial de escuridão. Se ao menos eu pudesse transformá-lo em um
fantasma e fazê-lo desaparecer.
— Olha, se eu prometer te ensinar, você vai parar de agir como uma
pirralha? — ele perguntou. Seu tom genuíno era quase cômico.
Exceto que suas palavras me fizeram ver em tons de vermelho.
— Você é o último Fae em todos os reinos dos quais eu procuraria
tutoria. E eu não estou agindo como uma pirralha.
— Essa declaração inteira foi a definição de pirralha, Aflora — ele
respondeu, parecendo cansado. — Sou o melhor conjurador desta
Academia. Caramba, sou um dos melhores, ponto final. Dizer não à minha
oferta de tutoria é impraticável e estúpido. Você só está me recusando
porque está com raiva de mim. Por isso, comportamento de pirralha.
— Bem, sinto muito por estar um pouco irritada com nossa situação
atual. Você me colocou aqui.
— E o que está feito, está feito. É como usamos o passado para seguir
em frente que nos define e, até agora, você não está me impressionando.
— Ah, bem, que bom que não estou tentando te impressionar, Shade —
eu respondi, piscando.
Sua mandíbula estalou de apertar os dentes, o primeiro sinal de
frustração que eu já vi nele.
— Precisamos terminar esta porcaria de tarefa, Aflora. A menos que
você pretenda se juntar a mim em locais mais íntimos, como o banheiro ou
o chuveiro. — Seu olhar caiu para o botão de cima da minha blusa. — Na
verdade, isso soa como um belo plano. Devemos ir?
Tentei dar uma cotovelada nele, mas não consegui, graças às amarras.
Grunhi para ele.
— Não vai acontecer.
Ele contraiu os lábios quando se inclinou para pressionar sua boca
contra minha orelha.
— Isso não é o que você diz em seus sonhos, pequena rosa.
Engoli em seco e tentei encará-lo, apenas para ser puxada de volta para
o seu lado pelo poderoso feitiço.
— Você está na minha cabeça!
— Não, estou no seu sangue. — Ele beijou meu pescoço antes que eu
tivesse a chance de perceber sua intenção, em seguida, mordiscou meu
pulso. — Você é minha, princesa. Para todo sempre. Agora ou trabalhe
comigo ou vamos brincar na cama.
— Nunca.
— Pare de mentir para si mesma — ele falou baixinho. — Sei como
você realmente se sente e você também sabe. Quanto mais cedo passarmos
por esse período brutal de namoro, melhor. Porque estou morrendo de
vontade de transar com você.
— Shadow!
— O quê? — ele questionou e seus olhos azuis brilharam com poder. —
Você prefere que eu minta também? Finja que meu pau não está duro como
granito agora com seu perfume florido e curvas sedutoras? — Ele bufou. —
E eu nem gosto de flores. No entanto, tudo o que posso pensar é em
explorar sua pele macia como pétalas e mergulhar a língua em sua boceta
úmida. Porque vamos ser honestos, nós dois sabemos que você está
molhada. Posso sentir o cheiro, Aflora.
Meu queixo quase caiu no chão, Suas palavras grosseiras provocaram
coisas em mim que certamente não deveriam.
E com o Diretor Irwin à espreita na outra sala.
Ah, Mãe Terra, me salve deste Fae cruelmente bonito!
— Humm, e agora está se intensificando — ele comentou, se inclinando
para mordiscar meu pescoço mais uma vez. — O Glacier não falava com
você assim, baby? Com intenção e promessas cheias de luxúria?
Estremeci. Sua proximidade mexia com a minha cabeça.
Até que suas palavras foram totalmente registradas.
Glacier. Eu não conseguia me lembrar de ter mencionado o nome do
meu namorado. Bem, tecnicamente ex-namorado. Ele nunca priorizou
nosso tempo juntos, nosso último encontro perdido foi a gota d'água por
vários motivos. Principalmente por causa de Shade me sequestrar.
— Como você sabe sobre o Glacier? — perguntei. Minha voz soou
rouca, mas fingi não notar.
— Sei tudo sobre você, Aflora — ele sussurrou em meu ouvido. —
Você é minha há mais tempo do que imagina.
— Mas o que isso quer dizer? — Todas essas palavras enigmáticas
sobre um destino que ele parecia saber tudo a respeito estavam me deixando
louca. — Por que você me mordeu?
— Porque me mandaram — ele respondeu contra minha mandíbula
enquanto sua mão livre subia para segurar meu rosto.
Permiti que ele guiasse minha boca para a sua, só porque eu estava
muito nervosa para detê-lo. E uma pequena parte de mim queria saboreá-lo
novamente, sentir a carícia de seus lábios contra os meus.
Porque Shade sabia beijar.
Beijo de verdade mesmo.
Sua língua dominou a minha em um único movimento, silenciando a
conversa entre nós enquanto me proporcionava uma distração que eu não
sabia que desejava.
Ele tinha esse poder bizarro sobre mim, um que jogava a lógica pela
janela e a substituía por uma necessidade entorpecente.
Nesse estado, eu ansiava por outra mordida. Não que eu fosse admitir
isso em voz alta. Embora, algo me disse que eu não precisava. Shade alegou
estar no meu sangue, mas isso de alguma forma estava ligado à minha
mente. Eu podia senti-lo se infiltrando em cada centímetro meu, tomando
conta da minha existência com a dele.
— Odeio o que você está fazendo comigo — admiti em um sussurro, e
minha tentativa de me afastar foi frustrada por sua mão deslizando em meu
cabelo e me segurando no lugar.
— Seu pulso acelerado e excitação dizem o contrário — ele respondeu,
tomando minha boca mais uma vez.
Seu beijo anterior empalideceu em comparação com este. Ele tinha
pegado leve comigo antes. Agora, ele exigia submissão com cada carícia de
sua língua, seu aperto na minha nuca, onde ele me segurou no lugar para
sua dominação.
A amarração ao nosso redor pareceu afrouxar um pouco.
Seu braço se movia contra o meu.
Mas eu estava muito ocupada tentando acompanhar o ataque à minha
boca para considerar o que mais estava acontecendo.
Ele roubou minha capacidade de respirar. Seus lábios se tornaram
violentos de uma forma que eu deveria odiar. No entanto, minhas pernas se
apertaram em resposta. Meu abdômen se contorceu. E as minhas partes
íntimas imploraram por atenção.
Úmida não começava a descrever como eu estava. Por que isso estava
me excitando tão completamente? Por causa do nosso vínculo? Outro
feitiço? Ou eu gostava dessa atração de amor e ódio entre nós?
Gemi, em conflito.
Minha mente detestava esse macho.
Enquanto meu corpo sucumbia a cada toque dele, quase como se ele
tivesse me treinado em meus sonhos para responder dessa maneira.
Ele curvou os lábios contra os meus.
— Aí. Isso não foi tão difícil, foi? — ele perguntou baixinho, me
fazendo franzir a testa.
— O quê?
Ele roçou a boca contra minha bochecha antes de se acomodar de volta
em sua cadeira.
— Terminamos — ele gritou.
Eu pisquei para ele.
Em seguida, olhei para o papel que ele escreveu enquanto me beijava.
Desapareceu antes que eu pudesse ler, e o diretor Irwin apareceu na
porta segurando a redação. Sua expressão surpresa me disse que o que quer
que estava escrito não era o que ele esperava e provavelmente não era algo
com o qual eu concordaria. Shade tinha feito algo para anular a lição, além
de me beijar de forma intensa.
— Muito bem — o Diretor Irwin disse, nos libertando de suas amarras.
— Espero um comportamento melhor durante a nossa próxima sessão. —
Essa última parte foi direcionada a mim antes que ele desaparecesse em
uma nuvem de fumaça.
Shade se levantou e se espreguiçou, com sua protuberância
impressionante a centímetros do meu rosto.
Ele não estava mentindo sobre a parte de estar duro.
— Minha oferta de tutoria ainda vale sempre que você decidir
considerar a lógica sobre a emoção — Shade disse, em seguida segurou
meu queixo e levantou meu olhar para o dele. — Assim como minha oferta
de chuveiro e cama. — Com uma piscadela, ele se virou para a porta. —
Sugiro que você me siga, pequena rosa. Ou vai acabar perdida no prédio até
que os alunos comecem a chegar amanhã, o que vai atrapalhar
completamente sua agenda.
Ele desapareceu pela porta brilhante, não me dando um segundo para
organizar meus pensamentos ou minhas coisas.
Mas todos se foram.
O Diretor Irwin havia distribuído um texto e um caderno durante a aula,
junto com canetas. Os alunos levaram os seus embora. Mas os meus não
estavam em lugar algum.
Corri atrás de Shade e o encontrei esperando contra a parede, com seus
livros e os meus debaixo do braço.
— Como...?
— Como eu disse, conjurar é minha especialidade. — Ele inclinou a
cabeça, fazendo com que seu cabelo escuro caísse sobre a testa e em um
olho. — Eles estarão no seu quarto quando você voltar. Considere isso
minha versão de um ramo de oliveira. Aceite por sua conta e risco.
Ele não me permitiu responder, apenas continuou seguindo pelo
corredor. Fiquei perto dele, parando quando ele parava para permitir que as
paredes se movessem. Então dei um suspiro de alívio no segundo em que
saímos para a noite escura.
Até que encontrei Zephyrus esperando com uma carranca ao lado da
gárgula.
— Por que foi que você demorou tanto? — questionou, franzindo a testa
primeiro para mim e depois para Shade.
— Detenção — Shade respondeu. — Ela me atacou com fogo verde.
Foi realmente impressionante, mas me faz pensar de onde ela está tirando
essa influência de Guerreiro de Sangue. — Ele arqueou uma sobrancelha
para o diretor. — Alguma ideia?
Fiz uma careta para Shade.
— Não era verde. Era azul. E você mereceu.
— Eu acho que você pode ser daltônica, querida. Talvez devamos
verificar isso mais tarde. — Ele deu um sorriso por cima do ombro,
aparentemente decidindo que essa conversa estava encerrada, apesar de sua
pergunta a Zephyrus. — Vejo você em seus sonhos esta noite, pequena rosa.
— Fique fora da minha cabeça!
— Sangue, baby — ele me lembrou. As palavras soaram como um
sussurro em meu ouvido, apesar da distância que suas pernas tinham
colocado entre nós.
Bati no espaço vago, tentando me livrar de qualquer presença residual
ou feitiço que ele deixou em seu rastro. E encontrei Zephyrus olhando para
mim com uma sobrancelha arqueada.
— Fogo azul?
— Sim, azul.
— Você pode me mostrar? — ele perguntou.
Suspirando, estendi a mão, chamando o poder para a ponta dos meus
dedos. E, claro, nada aconteceu.
— Acho que o Shade sugou toda a minha energia por hoje — murmurei.
Zephyrus me considerou por um longo momento, então assentiu.
— Talvez amanhã, então. Estamos atrasados para a sala de jantar de
qualquer maneira, e você precisa comer.
— É seu trabalho me alimentar agora? — perguntei,.
— Não. Só quero que você sobreviva — ele respondeu. — Me siga se
você sente o mesmo.
Incapaz de lutar contra essa lógica, fiz o que ele pediu.
Comi um repugnante jantar humano em silêncio.
E encontrei meus livros esperando por mim na cama quando voltei para
o meu quarto. Ao lado havia uma rosa negra e um bilhete que dizia: Bons
sonhos.
CAPÍTULO DEZESSEIS
AFLORA

O segundo dia da minha agenda foi concentrado na classe do guerreiro.


Porque aparentemente Faes da Meia-Noite gostavam de lutar.
Pelo menos, eu gostei do guarda-roupa: calças pretas com lycra,
camiseta e cabelo preso em um rabo de cavalo. Eu tinha até tênis. Todos os
caras estavam vestidos da mesma forma, incluindo Kols e Shade. Apenas os
Maléficos de Sangue usavam camisetas pretas em vez de brancas.
— Você tinha razão — eu disse a Ella. — As diferentes espécies estão
se tornando mais fáceis de identificar. — Os Sangré de Sangue eram os
mais fáceis com suas cabeças coloridas, assim como os Maléficos de
Sangue por causa de sua propensão para obsidiana. Os Sangue de Morte
reconheci por causa da aula de ontem, e os Elite de Sangue pareciam estar
gravitando em direção a Kolstov.
Os Guerreiros de Sangue não estavam nesta classe porque era o básico
de defesa e eles matariam a todos nós. Ou foi o que Ella explicou, de
qualquer maneira.
Independentemente disso, eu estava pronta para um curso físico. Eu
tinha muito aborrecimento reprimido para queimar, graças à ginástica
mental de Shade na noite passada. Ele me provocou com a língua várias
vezes, nunca me deixando gozar, e eu acordei ofegante, excitada e muito
frustrada.
Seu sorriso agora me disse que ele sabia disso também.
— Não posso dizer se você quer transar com ele ou matá-lo — Ella
comentou, seguindo meu olhar carrancudo para a fonte da minha raiva.
— Matar — eu disse. — Definitivamente matar. — Puxei a gola,
irritada com sua presença. Eu daria qualquer coisa para poder criar uma
árvore e usar os galhos para esmagar a cabeça do toco de salgueiro no chão.
Claro, provavelmente seria um cipó ardente.
Ah, sim, eu não queria brincar com eles novamente.
Um silêncio caiu sobre os alunos quando Zephyrus apareceu usando
calças largas e camisa sem mangas. Ele não reconheceu a mim ou a
Kolstov, apenas pegou um grosso bastão de madeira do chão, deu um giro e
acendeu as duas pontas com chamas verdes.
— Vocês todos sabem quem sou. Todos sabem por que estão aqui. A
magia defensiva é uma parte fundamental da sua educação continuada. Mas
não vou perder seu tempo ensinando feitiços de um livro que vocês podem
ler. Em vez disso, vamos praticá-los. Mas antes de poder designá-lo para
grupos, preciso avaliar suas habilidades. Então, a aula de hoje será para
descobrir o que vocês sabem e com o que podem lidar.
Ella e eu trocamos um olhar.
Eu tinha certeza para qual grupo eu seria designada.
— Vamos para duelos à moda antiga com circuitos vencedores e
perdedores. Já atribuí seus primeiros pares. — Ele estalou os dedos, e os
nomes começaram a rolar pelo ar em letras esmeraldas feitas de fogo.
— Há. Bem, nossa amizade durou pouco — Ella comentou, apontando
para o nosso par. — É melhor você trazer mais do que flores para essa luta,
garota da Terra. Eu tenho praticado com Tray. — Ela mexeu os dedos
alinhados com magia vermelha escura, e seu olhar pareceu provocante de
uma maneira brincalhona.
Sua provocação me aqueceu, me fazendo relaxar um pouco.
Até que a primeira luta começou.
Faíscas vibrantes voaram pelo ar enquanto os ataques físicos eram
bloqueados com feitiços defensivos.
Feitiços defensivos que eu não conhecia.
— Hum, esta vai ser uma luta muito curta — eu disse a Ella.
Ela sorriu.
— Eu sei. Mas prometo pegar leve com você. Confie em mim, eu era
uma novata há bem pouco tempo. Eu entendo. Podemos revisar algumas
defesas comuns hoje à noite ou durante um de nossos dias de folga.
Assenti, distraída, focando em Shade quando ele entrou no ringue com
um Maléfico esguio. O macho semicerrou o olhar.
— Estou tão feliz que vamos lutar juntos, Shadow. Eu estive morrendo
de vontade de chutar sua bunda a semana toda por desgraçar minha irmã.
— Foi isso que ela te disse? — Shade questionou.
— Isso exigiria que ela fosse capaz de falar, o que...
— Pare de flertar e vá direto ao assunto — Zephyrus disse,
interrompendo o Maléfico de Sangue.
— Com prazer — o macho esguio respondeu e uma lâmina afiada e
translúcida apareceu em sua mão.
Pulei quando ele atacou Shade em um turbilhão de poder, seu objetivo
indo direto para o coração do outro macho. Foi um ataque brutal,
claramente destinado a matar.
Mas Shade se esquivou com facilidade, agitando uma nuvem escura em
seu rastro e envolvendo-a ao redor do pescoço do outro macho.
— Se você quer jogar assim, então me desafie apropriadamente — ele
disse bruscamente, puxando a magia e deixando o macho de joelhos.
— Basta — Zephyrus retrucou.
Shade soltou o macho com um pequeno aceno de mão e deu de ombros.
— Foi Stiggis quem começou.
— Desgraçado! — O Maléfico de Sangue voou pelo ar em direção a
Shade, enquanto armas adicionais apareciam em suas mãos, mas ele bateu
de cabeça em uma parede de magia e caiu para trás no chão.
Arregalei os olhos quando Zephyrus guardou sua varinha, a parede
desaparecendo com ela.
— Chig, leve esse idiota ao médico.
— Sim, senhor — outro Maléfico de Sangue, que tinha o corpo duas
vezes maior do que o macho no chão, disse. Ele levantou o homem
inconsciente e o jogou por cima do ombro como se não pesasse nada, então
saiu do campo.
— Vou colocá-lo no círculo do vencedor, Shade. Mas espero ver magia
defensiva em sua próxima partida. — Zephyrus o dispensou antes que ele
pudesse comentar e gesticulou para que o próximo par se aproximasse.
Que era Kols e uma pequena fêmea com um sorriso perverso.
— Pronto, futuro amante? — ela perguntou a ele, seus olhos felinos
brilhando vermelhos com poder.
— Se você acha que vou pegar leve com você, Emelyn, está enganada.
Sua risada me lembrou de unhas em um quadro-negro. Sua expressão
nem de longe era divertida ou gentil de qualquer forma. Ela jogou sua longa
trança preta por cima do ombro e assumiu a postura de uma lutadora.
— Eu tenho praticado.
— Tenho certeza de que sim — Kols respondeu. Sua postura estava
relaxada quando eles se enfrentaram. — Dê o seu melhor, Jyn.
— O nome dela é Jyn ou Emelyn? — perguntei a Ella em um tom
baixo.
— Emelyn Jyn — ela respondeu, seu tom soou azedo. — Ela é a futura
companheira de Kols.
Arqueei as sobrancelhas.
— Ela é? — Ele não disse algo sobre não namorar?
— Sim. Atribuída pelo Conselho. Algum tipo de acordo entre Malik e
Lima.
— Sim, nosso Conselho gosta de combinar pares — Shade acrescentou
quando veio para ficar conosco. — Fui designado para Cordelia, a irmã
mais velha de Stiggis.
Fiz uma careta para ele.
— Então por que você me mordeu?
— Por que, não é mesmo? — ele perguntou, curvando os lábios. —
Talvez eu quisesse evitar meu compromisso. Ou talvez fosse inteiramente
por outra razão. E talvez, se você for uma boa rosinha, um dia eu te conte.
— Ele tocou a ponta do meu nariz com o dedo indicador e saiu assim que
Kols prendeu Emelyn no chão sob uma parede de poder. Isso me lembrou o
que Zephyrus usou para bloquear o ataque de Stiggis a Shade.
Emelyn gritou de dor, mas Kols não parou.
E Zephyrus apenas observou.
— Ele não vai impedi-lo? — questionei, dividida entre o comentário de
Shade e a ação que se desenrolava diante de mim.
— Quem? Zeph? — Ella perguntou, bufando. — É, não. Ele vai deixar
isso continuar até que Emelyn dê o sinal, o que deve acontecer em cerca de
três, dois, aí está.
Uma nuvem de fumaça vermelha emanou ao redor deles, e Kols soltou
o tijolo de magia.
— Pratique mais, Jyn — ele disse, se afastando.
— Somos as próximas — Ella me informou.
— Excelente. — Eu a segui até o ringue e notei como vários Faes
ficaram em silêncio ao nosso redor, sua intriga palpável.
Péssimo para eles este seria um show curto.
— Eu não tenho ideia do que estou fazendo, então vá em frente e
comece — eu disse, assumindo minha inexperiência.
Ela sorriu.
— Já estou começando, princesa.
Quase perguntei o que ela queria dizer, quando senti sua energia me
envolver em um manto de imobilidade. O pensamento de ser amarrada me
fez entrar em ação, aquela luz azul dentro de mim se acendeu e cortou
facilmente suas cordas invisíveis enquanto também memorizava a sensação
mágica delas.
Usando o conhecimento, tentei tecer meu próprio feitiço para envolvê-la
e quase sorri quando suas pernas travaram no lugar.
— Puta merda, você aprende rápido — ela disse, puxando sua varinha.
— Italaka.
Meu feitiço se dissolveu.
Peguei minha varinha também, sem saber como isso me ajudaria, e
esperei pelo próximo ataque dela. Que veio na forma de uma invenção de
água em forma de leão. Pulei para o lado quando suas mandíbulas se
abriram, seus dentes parecendo muito reais. Eles me lembravam fragmentos
de cristal. Afiados, precisos e vindo direto para mim.
Uma onda de poder cerúleo saiu de mim, destruindo seu fragmento e
jogando Ella ao chão.
Zephyrus entrou com uma daquelas paredes, exceto que passou ao meu
redor enquanto ele e Tray se ajoelhavam para verificar Ella. Fiquei
paralisada, incapaz de me mover e confusa pra caramba.
— Fiz errado? — perguntei, mas minhas palavras ecoaram ao meu redor
na prisão improvisada. Pressionei a palma da mão nela. Em seguida,
inclinei a cabeça enquanto a assinatura de energia parecia se desenrolar na
minha cabeça, me permitindo absorver o conhecimento assim como fiz com
o feitiço de vinculação.
Estranho, pensei, mesmo enquanto memorizava o feitiço que Zephyrus
havia tecido e, mais importante, como desfazê-lo.
Fechando os olhos, desembaracei os fios, removendo o cerco e me
permitindo ouvir o caos em erupção ao meu redor.
Perguntas e acusações fluíam de cada centímetro do pátio, seguidas por
alguém gritando:
— Zephyrus! Ela está fugindo!
Ele se virou para me encontrar livre de sua jaula e semicerrou os olhos
verdes.
— Você. Venha comigo. Agora.
Não tive a opção de obedecer, algum tipo de laço invisível apertava
minha cintura e me puxava para frente.
Kolstov deu um passo do meu outro lado, tensionando a mandíbula.
— Por que você não nos disse que poderia fazer isso, Aflora?
— Fazer o quê? — perguntei. — Tudo o que fiz foi desmantelar o
monstro de água dela.
— Você a atacou com WarFire — Kolstov retrucou.
— O quê? Eu nem sei o que é isso.
— É a bola roxa gigante que você acabou de jogar na companheira do
meu irmão — ele respondeu por entre os dentes.
— Roxa? — Pisquei para ele em confusão. — Era azul.
— E novamente, eu vi vermelho — Zephyrus acrescentou, abrindo uma
porta para um prédio próximo e nos conduzindo para dentro. — Que papel
você quer? Pacificador ou guarda?
— Pacificador — Kolstov respondeu. — Sou o único em posição para
isso. — Seu foco se voltou para mim. — Faça exatamente o que Zeph diz
para você fazer, ou ficarei sem escolha a não ser repreendê-la publicamente.
Ele se virou, simplesmente nos deixando apenas dentro da estrutura de
pedra arcaica. Fiquei boquiaberta, assustada tanto pela ameaça quanto pela
súplica em seu olhar enquanto ele a proferia.
— Não entendo.
Shade se materializou ao nosso lado, sua diversão era palpável.
— Bem, isso foi emocionante. Você com certeza sabe fazer amigos,
pequena rosa.
— Você sabia que ela poderia fazer isso? — Zephyrus questionou.
— Não, mas estou entusiasmado com a perspectiva.
— Alguém poderia me dizer o que eu fiz? — Interrompi antes que o
diretor pudesse responder.
— WarFire — Zephyrus disse. — Você criou o WarFire e o jogou em
Ella. É uma chama letal destinada a matar. E requer habilidade mágica de
alto nível, algo que você afirma não possuir, mas esse pequeno ato sugere o
contrário.
— Eu... — Eu não tinha certeza de como responder a isso. — Tudo o
que fiz foi destruir o leão d’água dela.
— Que cor você viu? — Zephyrus perguntou, me ignorando em favor
de Shade. — Eu vi vermelho. Kolstov jura que é roxo. E você?
— Verde — Shade respondeu. — Assim como ontem.
— É azul cerúleo — insisti, irritada por eles continuarem falando sobre
a cor da minha chama e não focando no que havia acabado de acontecer. —
A Ella está bem?
— Cerúleo...? — Zephyrus repetiu, parando e trocando um olhar com
Shade. — Isso é impossível.
— Por que vocês estão tão obcecados com a cor? Você está me dizendo
que quase matei a Ella. Ela está bem?
— Tray a está curando — Shade respondeu, ainda encarando o olhar de
Zephyrus. — E eu concordo. Isso é impossível.
— Você tem Sangue Quandary em sua história?
— Não. É uma linhagem morta.
— Eu sei disso.
— Então por que se incomodar em me fazer essa pergunta?
— Apenas me digam o que está acontecendo — interrompi, cansada
dessas conversas sobre cores e linhagens. Havia coisas mais importantes em
jogo aqui. — Como eu poderia criar o WarFire? Eu nem conheço um feitiço
de defesa padrão.
— WarFire é um feitiço ofensivo avançado. — Zephyrus finalmente me
deu sua atenção novamente. — É extremamente difícil de conjurar e requer
muita energia. Também é extremamente ilegal.
— Excelente. — Levantei as mãos e andei pelo pequeno espaço de
pedra, cautelosa com as paredes empoeiradas e teias de aranha nos cantos.
Lugar lindo, pensei, apertando a ponta do nariz. — Você percebe que os Fae
da Terra não lutam, certo? Somos seres muito pacíficos.
— Poderia ter me enganado — Shade murmurou.
— Aprendi a duelar ainda jovem por causa do meu direito de nascença,
mas raramente aprendi habilidades defensivas ou ofensivas na escola. Meu
método de luta é através do poder. Poder da Terra. E nós não criamos fogo.
— Ainda estamos aqui — Shade respondeu, encostado na parede com
os braços cruzados. — Como você desfez o feitiço de dela? Ou você leu
isso em um livro?
— Não sei. Eu apenas... o absorvi.
— Que foi como você desmantelou o campo de força de Zeph? —
Shade adivinhou.
— Era isso o que aquilo era?
— Sim. — Zephyrus semicerrou os olhos para mim. — Um poderoso
também, que você derrubou mais rápido do que qualquer um que já vi.
Engoli em seco.
— Oh. — Isso não era bom por muitas razões. Bem, nada disso era
bom. Mostrava um crescimento de magia sombria, o que eu definitivamente
não queria. — Eu realmente estou me tornando uma abominação, não
estou?
— É o que parece — Zephyrus respondeu, sem medir palavras. — A
questão permanece: é permanente ou temporário?
Eu não tinha resposta para isso e nem Shade tinha. Ele simplesmente
permaneceu tão indiferente como sempre, nem um único indício de remorso
apareceu em suas feições.
Porque ele não se importava com o fato de me colocar nessa situação.
— E você? — perguntei. — Está cultivando dons elementais?
Ele deu de ombros.
— Tudo parece normal para mim, exceto minha ligação com você. Essa
é nova.
— Sim, você a fez.
— Eu me lembro.
— E você não se importa nem um pouco com o que fez.
— Claro que me importo. Por que mais eu estaria de bom grado neste
barraco antiquado de uma antiga sala de aula com você? — Ele se afastou
da parede para vir em minha direção. — Este não é exatamente o mais
confortável dos espaços, mas eu não queria deixá-la sozinha com Zeph e
Kols.
Eu olhei para ele.
— Estou nessa confusão por sua causa.
— Eu sei.
— E você está completamente sem remorso.
— Estou? — ele respondeu, inclinando a cabeça.
— Está? — exigi.
— Vamos jogar o jogo do “talvez” de novo?
— ARGH! — Eu queria dar um tapa nele. — Você é impossível,
enigmático e um... um... toco de salgueiro sugador de sangue!
Ele riu e balançou a cabeça.
— Você está tão perto, Aflora. Tão perto.
Aparentemente, sugador de sangue havia perdido seu efeito
condenatório de ontem, me deixando como alvo de sua piada mais uma vez.
— Certo. Vá se foder — eu disse a ele, e as palavras soaram erradas na
minha boca.
E, claro, elas só o divertiam mais.
— Ah, eu gosto dessa palavra em seus lábios, pequena rosa. Diga foder
de novo.
Joguei as mãos no ar e me virei para Zephyrus.
— Você pode fazê-lo sair?
— Seria um desperdício de comando. Shade não segue regras.
— Verdade, eu não sigo — o Sangue da Morte confirmou. — Além
disso, estou aqui para sua proteção contra a multidão enfurecida lá fora. Se
Kols não conseguir acalmá-los, teremos uma luta em mãos. E ainda não
estou pronto para te perder.
— Não finja altruísmo. — Zephyrus cruzou os braços, fazendo com que
os músculos se contraíssem e flexionassem no processo. — Nós dois
sabemos que você só quer evitar a dor de perder uma companheira.
— Eu nunca afirmei o contrário — Shade respondeu de forma casual.
— Mas meu raciocínio não está nem em uma coisa nem em outra. Estou
aqui para protegê-la, e protegê-la é o que farei.
— Ou eu poderia criar outra bola de chamas cerúleo — murmurei, não
falando sério.
— Faça isso, e eu mesmo te mato — Zeph avisou.
Um calafrio percorreu minha espinha com a verdade naquelas palavras.
Seus olhos verdes brilhavam com sinceridade também.
Engoli em seco e assenti.
— Então talvez você possa usar esse tempo para me ensinar como
controlá-la.
— Vou precisar de mais do que alguns minutos para essa lição. — Ele
me considerou por um longo momento. — Mas vou falar com Kols sobre
sua agenda. Acho que seu estudo independente deveria ser reavaliado e
agendado comigo. Você vai precisar de toda a ajuda de magia defensiva que
conseguir depois dessa pequena exibição lá fora.
Shade assentiu, sua concordância clara.
Algo me disse que minha resposta não importaria, então fiquei quieta e
esperei.
O que pareceu horas depois, Kols se juntou a nós mais uma vez. Sua
expressão era cautelosa.
— A Ella está bem. Tray está irritado, mas compreensivo. E os outros,
bem, vamos apenas dizer que a Aflora não fez nenhum amigo.
Como se eu tivesse algum aqui de qualquer maneira, pensei com
amargura.
— Ninguém está aumentando o problema, mas tive que concordar em
aumentar as restrições de energia do colar dela — ele acrescentou.
Zeph arqueou a sobrancelha cor de chocolate.
— Como você vai fazer isso?
— Não faço ideia. — Ele olhou para mim. — Por enquanto, preciso que
você fique na suíte. Nada de ir ao refeitório. Sem socializar.
— E a aula de amanhã? — perguntei.
— Você estará comigo, então tudo bem. Mas daqui para frente,
precisamos de um dispositivo melhor para manter seus poderes sob
controle.
Uma coleira mais apertada. Maravilhoso.
Suspirei.
— Tudo bem. — Embora eu odiasse a perspectiva, entendia a razão por
trás disso. Se meus poderes continuassem nesse ritmo, eu poderia realmente
machucar alguém, e então eu nunca seria capaz de viver comigo mesma. A
contenção fazia sentido. Preferia suportar a dor do que infringi-la a outro.
— Você não vai discutir comigo sobre isso? — Kols perguntou, com a
expressão surpresa.
Balancei a cabeça, engolindo em seco.
— Sei o que uma abominação pode fazer, príncipe Kolstov. Se isso é
realmente o que estou me tornando, a contenção é um requisito. — Meus
ombros caíram enquanto eu olhava para a porta. — Se você me levar de
volta para a suíte, vou ficar lá até você me dizer o contrário.
Porque a fuga nunca seria uma opção nesse ritmo.
Não com o fogo ainda lambendo um caminho quente sob minha pele,
implorando para ser liberado.
O poder dentro de mim parecia estar procurando uma saída, uma
maneira de explodir. Tinha que haver uma maneira de acalmá-lo. Porque se
não... estremeci, me recusando a considerar esse resultado.
Vou sobreviver a isso, prometi a mim mesma. De alguma forma.
CAPÍTULO DEZESSETE
KOLS

— J uro por Deus, se você se desculpar novamente, vou bater em você


com outra criação — Ella ameaçou quando finalmente voltei para
casa.
Lidar com a pequena exibição de poder do Aflora me custou mais do
que eu queria admitir. Principalmente por causa de Emelyn. Ela foi até o
pai, o que significava que fui chamado para uma discussão de emergência
do Conselho sobre o desenvolvimento de Aflora. Assegurei a todos que a
tinha sob controle e reiterei a complicação de seu status como a última Fae
Real da Terra. Matá-la agora provocaria uma guerra. Eles precisavam
chegar a um acordo com o Conselho Elemental Fae antes que isso pudesse
ser considerado uma opção.
Vários queriam prendê-la.
Mas meu pai ficou ao meu lado e lembrou a todos que essa tarefa servia
como um dos meus testes de ascensão.
Um teste de ascensão que estava provando ser meu teste mais difícil até
agora.
Aflora estava sentada em um sofá ao lado de Ella, com os ombros
caídos enquanto segurava uma caneca de chocolate quente entre as mãos
delicadas.
— Eu não tinha ideia de que poderia fazer isso.
— Eu sei.
— Talvez eu não devesse ir a mais nenhuma aula — Aflora continuou.
— O poder parece estar crescendo, não morrendo, e isso não pode ser uma
coisa boa.
— As aulas são um requisito — interrompi, tornando minha presença
conhecida, já que nenhuma delas pareceu me ouvir entrar.
Aflora pulou, arregalando os olhos quando olhou para mim.
Ella não reagiu. Então talvez ela tenha notado minha chegada.
— Como foi a reunião? — Tray perguntou enquanto saía da cozinha
com uma cerveja. Ele fez um bom trabalho em esconder sua ansiedade
sobre o que aconteceu hoje, mas peguei o endurecimento de sua mandíbula
enquanto ele observava a proximidade de Aflora com Ella. Esse não foi um
incidente que qualquer um de nós esqueceria em breve, mesmo que Ella
parecesse bem agora.
— Estou com um colar atualizado para a Aflora usar — respondi,
puxando o item do meu bolso para mostrar a ele e ao resto da sala. — Mas
concordaram em deixá-la ficar por enquanto, desde que ela continue
frequentando seus cursos conforme programado. Seu dia de estudo
independente será com Zeph, onde ele tentará ensiná-la mais sobre artes
defensivas e controle.
— Aposto que ele adorou essa tarefa.
— Na verdade, ele se ofereceu — respondi.
Tray ergueu as sobrancelhas escuras na linha do cabelo.
— Ele participou da reunião?
Assenti.
— Ele serviu como testemunha no julgamento dela.
— Espere, houve um julgamento? — Aflora perguntou. — Por que não
tive permissão para testemunhar?
— Porque você é uma mulher — Ella murmurou. — O Conselho está
cheio de babacas machistas. — Ela olhou de forma incisiva para mim e para
Tray com essas palavras, a discussão comum entre nós.
— É como nosso mundo funciona — respondi, mais para o benefício de
Aflora do que para Ella. Esta última já sabia muito bem como fazíamos as
coisas por aqui. — Apenas homens podem se apresentar ao Conselho. Se
você tem algo a dizer, mande seu companheiro.
Aflora bufou.
— Porque eu posso confiar em Shade para falar em meu nome. — Ela
balançou a cabeça, me dando um olhar. — Sou tecnicamente uma rainha,
príncipe Kolstov. Eu falo por mim.
— Pelo que entendi, você ainda não aceitou sua ascensão, o que faz de
você uma princesa — corrigi. — E como eu disse, nosso Conselho não
permite que mulheres participem de nossos procedimentos. — Como
concordava com as preocupações dela em relação a Shade, não comentei
essa parte. Mas senti que era necessário acrescentar: — Dito isso, Shade
falou em seu nome hoje. E ele se saiu bem.
Ela entreabriu os lábios.
— O quê? O que ele disse?
— Não é importante. O que você precisa saber é que o Conselho
decidiu permitir que você continue frequentando as aulas, mas querem que
você use este colar atualizado. Shade, Zeph e eu também fomos
encarregados de monitorar o crescimento de seu poder, então você será
parceira de pelo menos um de nós em cada classe. — Olhei para Ella e
Tray. — Você se importa de nos dar um minuto para resolver a troca de
energia? Apenas no caso de haver uma consequência?
Normalmente, eu não me importaria com a presença deles, mas não
arriscaria Ella novamente.
Tray claramente concordava porque largou sua cerveja sem dizer uma
palavra e caminhou até sua companheira, estendendo a mão.
— Sério? — ela questionou, dando um olhar sardônico a nós dois. — A
Aflora não vai explodir.
Nenhum de nós respondeu porque sabíamos que Aflora poderia
realmente explodir a qualquer momento, e eu era o único poderoso o
suficiente para lidar com as consequências.
— Está tudo bem — Aflora murmurou, saindo do sofá. — Vamos para o
meu quarto. Eu não vou lutar contra a troca.
Depois de sua fácil capitulação mais cedo, presumi que ela diria algo
assim. Porque Aflora colocava a segurança de todos acima da sua. Esse
colar poderia muito bem sugar sua vida, pelo que sabíamos, e ainda assim
ela me deixaria colocá-lo se isso significasse que ela sofreria em vez
daqueles ao seu redor.
Eu a admirava pra caramba por isso.
Porque eu faria a mesma coisa na situação dela.
Era responsabilidade de um membro da realeza colocar os outros em
primeiro lugar. O que, consequentemente, era exatamente por isso que eu
odiava Emelyn Jyn. Ela só pensava em si mesma, não nos outros. Quando
eu disse isso ao meu pai, ele apenas deu de ombros e disse que era meu
futuro dever manter a mulher na linha. Então, mais uma tarefa a cair sobre
meus ombros no meu futuro papel.
Afastando o aborrecimento, me concentrei no cabelo preto grosso de
Aflora caindo em ondas pelas costas enquanto ela me levava para seu
quarto sem outro comentário. Ela realmente era linda, de um jeito
sobrenatural, com sua pele macia, curvas suaves e bunda em forma de
coração.
Em qualquer outra vida, e eu a inclinaria sobre sua cama, a penetraria
profundamente e a faria gemer meu nome por horas.
Mas esta vida me negava a capacidade de seguir em frente com essa
fantasia enlouquecida pela luxúria.
Peguei sua mão quando ela entrou no quarto e a levei para o meu,
desejando a familiaridade do meu espaço pessoal para a conversa que
precisávamos ter.
Ela não lutou contra meu pedido não verbal, apenas me permitiu levá-la
para meus aposentos e fechar a porta. Parando alguns metros dentro do meu
quarto, ela se virou e me observou com cautela.
— Eu não tenho ideia do que isso vai fazer quando eu colocá-lo em
você — admiti na quietude entre nós.
Sua garganta se moveu enquanto ela engolia.
— Acho que só há uma maneira de descobrir.
— Na verdade, vejo que há duas abordagens aqui. — Daí a razão pela
qual eu a queria no meu quarto para esta discussão. Eu estava quebrando
cerca de uma dúzia de regras, mas a ideia me ocorreu durante a viagem de
volta para casa.
Colocar aquele colar nela parecia errado. Como um caminho íngreme eu
não queria correr o risco de descer porque provavelmente não iria gostar do
que encontrasse esperando por mim no final.
No entanto, eu daria a ela a escolha de onde iríamos a partir daqui.
— Minha preocupação com esta coleira atualizada é que ela irá
prejudicá-la, deixando você incapaz de se defender. — Algo que eu
suspeitava que ela ia precisar agora que provou ser capaz de produzir
WarFire. Essa era uma habilidade avançada e difícil de dominar. E ela a
exibiu lindamente da pior maneira possível.
Aflora recuou até a cama de dossel e sentou-se sem ser convidada. Não
que ela realmente precisasse de convite.
— Se você não colocar isso em mim, posso perder o controle e
machucar mais pessoas.
— Sim — concordei. — Mas como você vai aprender a controlar se
estiver tão acorrentada? — Me afastei da porta para me juntar a ela na cama
e entreguei a ela o dispositivo atualizado. Ela se encolheu quando vibrou
em sua pele, da mesma forma que fez com a minha quando Chern me deu.
— Você pode sentir isso, certo? Como está sugando o poder da ponta dos
dedos?
Sua garganta se moveu novamente e sua língua apareceu para umedecer
seus lábios carnudos.
— Vou fazer o que tenho que fazer.
— Eu sei. — Estendi a mão para colocar uma mecha de seu cabelo
escuro atrás da orelha, então passei os dedos sobre sua coleira atual. — Mas
às vezes, o caminho seguro não é o caminho certo.
Olhos azuis brilhantes encontraram os meus.
— O que você quer dizer?
— Quero dizer que, para sobreviver, você precisa aprender a se
controlar, e nenhum de nós pode ensinar isso enquanto você estiver
deficiente. — Baixei a mão para cobrir o dispositivo em sua palma. Uma
onda de desconforto imediatamente subiu pelo meu braço. Colocá-lo em
volta do meu pescoço me sufocaria completamente.
Suspeitei que isso destruiria totalmente Aflora, provavelmente
diminuindo-a para um estado quase humano.
— Que tal escondermos o colar por enquanto e deixá-lo como um plano
B? Então, nesse ínterim, você pode trabalhar comigo e Zeph em como
dominar seus novos dons. Não será fácil e certamente não aperfeiçoaremos
isso da noite para o dia, mas com um pouco de confiança e orientação, acho
que podemos fazer isso dar certo.
— Isso é uma opção?
— Pode ser, sim. — Era um risco enorme da minha parte, especialmente
porque foi contra a decisão do Conselho. Mas meu pai havia me confiado
essa tarefa, alegando ser uma de minhas provações, o que me permitia fazer
isso do meu jeito. E aquele colar parecia errado em muitos níveis.
— Seu Conselho não aprovou esta opção — ela disse depois de um
instante, seu olhar inteligente lendo meu rosto um pouco bem demais. —
Por que você arriscaria isso por mim?
— Eu sou o futuro rei, e às vezes os reis tomam decisões impopulares.
— Essa foi uma lição que meu pai me ensinou em uma idade jovem. —
Isso estaria incluído nessa categoria.
Soltei o item em sua mão, tirei os sapatos e me virei na cama para
encará-la. Me encostei perto da montanha de travesseiros e da cabeceira da
cama. Relaxei contra o refúgio macio, puxando um joelho para cima para
envolver um braço ao redor dele enquanto minha perna oposta pendia da
borda do colchão.
Muito mais confortável.
— Você nunca teve que tomar uma decisão impopular para seu povo?
— perguntei em voz alta, estudando-a e percebendo a careta que minha
pergunta evocou. Eu sabia sua resposta antes que ela admitisse.
— Sim. — Ela imitou minha pose, só que ela não tinha uma cabeceira
para relaxar, apenas ar ou o poste de madeira escura. Ela não escolheu
nenhum e deixou o colar de lado, balançando seus dedos como se quisesse
recuperar a sensibilidade. Entendia porque senti a mesma pontada de perda
na minha mão ao tocar aquela gargantilha sugadora de poder. — Quando a
Chanceler Elana atacou na primavera passada, absorvi muito de sua energia
sombria para proteger meu povo.
Bem, esse era um detalhe interessante.
— Como você fez isso?
Ela mordiscou o lábio, então deu de ombros.
— Sinceramente, não sei. Foi um impulso natural receber o peso de seu
ataque e desmantelá-lo.
Eu a considerei por um longo momento.
— Me descreva o que você quer dizer com desmantelar. — Zeph havia
me contado o que ela disse sobre as chamas cerúleas mais cedo, bem como
seus comentários sobre separar feitiços e juntá-los novamente. Seu
comentário sobre Elana sugeria algo mais em jogo aqui. Algo que não tinha
nada a ver com Shade mordê-la.
— É como uma teia. — Ela torceu os lábios para o lado, seu olhar se
voltando para dentro como se estivesse procurando o desenho dentro de sua
mente. — Posso ver todos os fios e separá-los para se transformar no que eu
preciso que eles sejam. Ou, como hoje, memorizo como foi criado e o
replico.
Bem, merda.
— Você sempre foi capaz de fazer isso?
— Sim. Não. Bem, mais ou menos. — Ela piscou, voltando para mim.
— Eu raramente tive necessidade disso, mas sempre fui capaz de pensar
dessa maneira sobre poder. É natural, e é por isso que reagi a Elana da
maneira que reagi. Assim como hoje. Eu entendi a magia de uma maneira
estranha, criando-a para me agradar, mas não tinha ideia de que produziria
WarFire. Só liberei algumas das chamas queimando sob minha pele.
Seus ombros caíram em um suspiro, e eu lutei contra a vontade de me
inclinar por cima da cama e puxá-la para um abraço. Eu podia ver como ela
estava preocupada com tudo o que aconteceu hoje. Isso a marcava como
uma abominação, uma ameaça ao tipo Fae. No entanto, ela claramente
queria fazer a coisa certa. Ao contrário de alguns Faes em sua posição que
iriam atrás do poder para usá-lo a seu favor, para se proteger às custas de
outros.
Aflora não era nada disso.
Se eu dissesse a ela para usar aquele colar, ela usaria, mesmo que isso a
matasse no processo.
E não tinha nada a ver com sua necessidade de sobreviver e tudo a ver
com seu desejo de liderar adequadamente.
— Quero tentar algo. — Me afastei da cabeceira para me sentar de
pernas cruzadas na cama.
— Hum, está bem. — Ela copiou minha posição novamente, de frente
para mim com nossos joelhos quase se tocando.
— Vou lançar um feitiço – nada violento – e quero que você tente
manipulá-lo sem usar a varinha ou sua voz. Assim como você fez com a
Ella antes. Mas não use fogo.
Ela assentiu lentamente.
— Tudo bem.
— Ótimo. — Ergui as mãos e indiquei para ela fazer o mesmo. — Este
é um feitiço simples para criar um objeto. Você viu o Stiggis fazer isso
antes com o Shade. Preparada?
— Sim.
— Maçã Ajamee. — Uma maçã vermelha brilhante apareceu na minha
mão. Eu a peguei e dei uma mordida, balançando as sobrancelhas.
Ela franziu a testa.
— Achei que o feitiço para criar comida era Tareero Tamida.
— Ah, sim, essa é uma maneira de fazer isso por comida. Ajamee criará
o que você quiser. — Coloquei a maçã na mesa de cabeceira e abri a palma
da mão novamente. — Adaga Ajamee. — Visualizei a faca que queria, e ela
apareceu um segundo depois, brilhando sob a luz da lua que cintilava
através das janelas. — Você tem que imaginar o que quer quando diz, e o
objeto aparece.
— Zephyrus me disse para não fazer isso sem a varinha.
— Bem, eu não quero que você use a varinha ou suas palavras. Quero
ver se você consegue fazer a mágica funcionar sem emitir um som, como
fez hoje ao duelar com a Ella.
— Mas isso foi diferente, porque a magia foi usada em mim. Não
consigo sentir seu feitiço assim.
— Humm. Tudo bem, vamos fazer isso de uma maneira diferente então.
Deite-se — eu disse enquanto uma ideia perigosa se formava na minha
cabeça.
Eu não podia tocá-la do jeito que queria, mas poderia usar meus dons
nela de uma maneira totalmente diferente. Eu tinha prometido não lançar
um feitiço violento. Eu não disse nada sobre eróticos.
Aflora esticou as pernas compridas e deitou a cabeça em um travesseiro
enquanto eu me ajoelhava para me sentar perto de seu abdômen.
— Certo, quero que você tente absorver o que estou fazendo, do jeito
que você fez com a Ella, e use-o de volta em mim. — Isso vai ser divertido,
pensei. — Preparada?
Ela assentiu.
— Sim.
Passei a palma da mão sobre sua cintura, notando a forma como sua
camisa subiu para exibir uma faixa provocante da pele macia. Concentrei
minha energia lá, murmurando um feitiço destinado a induzir o calor de
uma maneira sensual.
Os dedos de Aflora se cravaram no edredom em ambos os lados de seus
quadris, e um som baixo e doce soou preso em sua garganta.
— Você sente isso? — perguntei baixinho, obrigando a sensação a se
espalhar por seu estômago e mais alto em seus seios.
Ela estremeceu, e seus olhos se fecharam.
— Concentre-se no feitiço, Aflora — sussurrei, usando meu poder para
enviar uma onda dele para baixo até o ápice entre suas coxas. — Tente
desfazê-lo e enviá-lo de volta para mim, linda.
Seus braços se arrepiaram enquanto ela apertava as pernas de uma
maneira que eu reconhecia muito bem.
Foi preciso contenção física para não me curvar e dar um beijo acima da
cintura de suas calças. Humm, então eu puxaria o tecido para explorar sua
excitação com a minha língua. Aposto que ela tinha um gosto doce, assim
como era seu cheiro. Seu perfume sedutor me chamou, confirmando seu
interesse e me dizendo o quanto ela estava pronta para me receber.
Meu feitiço se aprofundou nela, procurando os lugares em seu corpo
que exigiam um toque habilidoso e os aquecendo ainda mais.
— Kolstov — ela sussurrou, se arqueando para fora da cama.
— Kols — corrigi, cedendo ao desejo de pressionar a palma da mão em
seu abdômen. Eu a empurrei para baixo na cama e pairei sobre ela. —
Agora manipule o feitiço e recrie-o, assim como você fez com o de antes.
— C-certo — ela conseguiu responder com a voz rouca com
necessidade.
Oh, este era um jogo perigoso, porque agora eu queria ouvi-la gemer.
Vê-la desmoronar. Deslizar meu pau engrossando dentro dela e nos levar a
um clímax que nenhum de nós esqueceria logo.
Apertei minha mandíbula para conter um gemido, sentindo minhas
bolas doerem com a perspectiva colocada diante de mim. Seria tão fácil
tirar nossas roupas e nos perder nos lençóis por horas. Dias, mesmo.
Puta merda, eu preciso transar.
De preferência por uma deusa contorcida de cabelos escuros com azul
brilhante...
Arregalei os olhos. A cena se desvendando diante de mim era uma visão
impossível.
Puta merda, é cerúleo.
Eu podia ver sua magia se desenrolando enquanto ela mentalmente
acariciava meu feitiço, aprendendo e manipulando as pontas e criando um
feitiço próprio.
— Você está... — Um choque de calor direto na minha virilha me fez
cair no colchão ao lado dela em um espasmo tão violento que meu coração
parou.
O lindo olhar de Aflora capturou o meu. Seu sorriso era o de uma
sedutora com seu encantamento enrolado em meu pau. Literalmente. Ela
deu um aperto, e eu agarrei seu quadril em resposta enquanto nossos corpos
se viravam um para o outro na cama. — Puta merda, Aflora.
Ela definitivamente não era virgem ou inexperiente.
Não com um aperto assim.
— Você disse para usar o feitiço contra você — ela respondeu, com o
tom ainda rouco, mas desta vez cheio de prazer feminino. — Como estou
indo?
— Maravilhosamente — admiti em uma expiração rouca, estremecendo
quando ela fez isso de novo. Meu aperto aumentou enquanto eu lutava
contra o instinto de empurrá-la de costas e realmente assumir o controle.
Beijá-la profundamente, arrancar suas roupas e comê-la até meu coração
parar novamente.
Mas aquele fragmento de magia cerúleo provocou meus sentidos, me
firmando na realidade de nossa situação. Ela não apenas aprendeu um
feitiço através do toque, mas também o desfez e o reaplicou de uma
maneira que apenas um Sangue Quandary poderia. E a cor ao redor de sua
essência mágica provava isso.
Aflora era absolutamente uma abominação.
Um problema que eu acabaria precisando abater.
Se eu fosse inteligente, acabaria com ela agora e não esperaria que ela
ficasse mais forte. Havia uma razão para a linhagem Quandary ter
desaparecido.
Os Faes da Meia-Noite tinham massacrado todos eles.
Essa mulher representava mais risco para minha ascensão do que
qualquer pessoa que já conheci.
No entanto, meu instinto me fez puxá-la para mais perto, não afastá-la.
O desejo de proteger um presente tão precioso me dominou, consumiu
minha capacidade de pensar com clareza.
— Aflora — sussurrei, com os lábios de repente perigosamente perto
dos dela. — Você não tem ideia do quanto você é única.
Ela soltou seu aperto mental no meu pau, sua energia desaparecendo
quando ela capturou meu olhar.
— Sei mais do que você imagina.
— Você pode me contar sobre seus pais?
— O que tem eles?
— Eles tinham alguma herança Fae Sombria? — perguntei em voz alta,
tentando resolver o mistério de sua criação. Porque esses talentos não
poderiam ter vindo de Shade. Ele era cem por cento Sangue da Morte. —
Você está exibindo dons de Sangue Quandary, e eu não tenho ideia de como
isso é possível.
— Sangue Quandary? — ela repetiu, franzindo a testa.
— A sexta linhagem — expliquei, ignorando a pontada de
aborrecimento por ela não ter pesquisado completamente nossa espécie.
Cada reino Fae tratava a política de forma diferente. E ela estava certa sobre
sua criação ser muito diferente da minha. Eu cresci com os pais. Ela cresceu
lutando por sua existência contra alguma praga desconhecida que mais
tarde acabou por ser relacionada à abominação.
Que irônico, dada a situação dela.
— Meus pais eram Faes da Terra — ela disse. — Não Faes da Meia-
Noite.
— Ou isso não é verdade — que era minha suspeita — ou a mordida de
Shade de alguma forma infectou você com os dons mais raros entre nossa
espécie. Quandary de Sangue não existe há mais de mil anos.
— O que aconteceu com eles?
Eu não ia mentir para ela.
— Matamos todos.
Ela arqueou as sobrancelhas.
— O quê? Por quê?
— Porque os Quandary de Sangue existiam, podiam manipular energia
de uma maneira que ninguém mais era capaz de fazer, incluindo desfazer
qualquer magia que desejassem e deixar os Faes impotentes. A teia que
você mencionou é sua conexão com o feitiço. E...
— Eu posso desfazê-lo e juntá-lo — ela terminou para mim, e senti seu
corpo tenso ao lado do meu. — Isso não é normal.
— Não, não é.
— O Shade não pode fazer isso?
— Não que eu saiba — respondi. — Não é uma função do Sangue de
Morte. — Mas tive que me perguntar se ele de alguma forma sabia ou
sentiu esse dom dentro de Aflora. Talvez tenha sido por isso que ele a
escolheu como companheira – para causar estragos em nosso reino.
— Minha família entrou no poder por causa de um Quandary de Sangue
— continuei, pensando na história que meu pai me contou uma vez. —
Houve uma revolta que terminou com a derrubada de um Sangue de Morte
do governo – o ancestral de Shade, na verdade – e um Quandary de Sangue
transferiu a conexão de origem da realeza derrubada para meu avô. — O
que iniciou um milênio de animosidade entre nossas famílias.
— E então você matou todos os Quandary de Sangue?
Fiz uma careta, considerando.
— Eu não, mas os Faes da Meia-Noite, sim.
— Por quê? Se eles ajudaram, então por que vocês matariam todos eles?
— Porque eram perigosos. Como eu disse, eles poderiam desmantelar o
poder de um Fae da Meia-Noite e torná-lo não melhor do que humano.
— Eles fizeram isso? — ela perguntou.
— Sim. Os Sangue de Morte os usaram para tentar recuperar o poder
cerca de mil anos atrás. Os Quandary de Sangue foram derrotados e
exterminados em resposta, servindo como um aviso para manter os Sangue
de Morte na linha.
— Parece uma abordagem bastante assassina — ela respondeu, seu
desagrado escrito em suas feições. — Talvez alguns deles fossem inocentes.
— Como você? — Eu sugeri, arqueando uma sobrancelha. — Você é
inocente, Aflora?
Cedi ao impulso de pressioná-la de volta na cama, deslizando minha
coxa entre as suas enquanto me movia sobre ela, nossos lábios ainda
perigosamente próximos.
— Porque acho que você é muito mais experiente do que deixa
transparecer — murmurei.
O duplo sentido foi intencional. Aplicava-se tanto a suas habilidades
mágicas quanto a seus talentos sexuais. Porque o jeito que ela usou aquele
feitiço em mim sem nem mesmo corar me disse muito sobre sua confiança
no quarto.
O que só me fez querer explorá-la mais.
— Eu nem sei como usar esse poder — ela sussurrou, seus grandes
olhos azuis olhando de forma inocente para mim. Quase quis chamar isso
de atuação, mas senti sua sinceridade nas palavras. — Não tenho ideia de
onde veio ou por quê.
— Seus pais, provavelmente — respondi, apoiando meus cotovelos
contra os travesseiros em ambos os lados de sua cabeça. — Agora a
pergunta é: o que devo fazer com você?
Matá-la era a escolha óbvia.
Mas se Shade de alguma forma sabia sobre sua linhagem, isso
implicava um motivo muito mais profundo em jogo do que ele apenas
querer evitar seus deveres de acasalamento.
Eu praticamente podia ouvir Zeph na minha cabeça me dizendo para
usá-la como isca, para determinar exatamente até onde Shade planejava ir.
Esse plano parecia mais prático a cada inspiração, e não apenas porque
me daria respostas. Também me permitiria manter esta bela criatura viva
pelo maior tempo possível.
Eu ainda não podia tê-la, especialmente agora que sabia que tipo de
poder ela parecia estar colhendo em seu sangue. Mas isso não significava
que eu não poderia me divertir um pouco, certo?
— Vamos manter esse segredo entre nós por enquanto — eu disse a
Aflora, acariciando o nariz de leve contra o dela. — Mas significa que você
precisa fazer exatamente o que eu digo em relação aos seus talentos
crescentes. Entendido?
— Por que você faria isso por mim?
— Porque não terminei com você ainda — admiti em um sussurro,
roçando meus lábios no canto de sua boca.
Perigoso.
Muito perigoso.
Mas, ah, era bom.
Bom demais.
Esta fêmea era uma companheira ideal em todos os sentidos. Ou era isso
que meus instintos me diziam.
No entanto, minha mente pensava o contrário.
Cometi um erro meses atrás ao seguir meu pau em uma situação ruim.
Eu não permitiria que isso acontecesse novamente, não importava o
quanto doesse parar este joguinho.
E era precisamente por isso que rolei para longe dela e me deitei de
costas, sentindo meu corpo tenso com a necessidade de fazer muito mais do
que beijá-la de forma casta.
— Agora seria uma boa hora para você ir embora — eu disse, sentindo
minha mandíbula apertar com cada palavra. — Falaremos mais amanhã.
Aflora pareceu fazer uma pausa, mas eu não podia arriscar olhar para
ela. Porque se eu visse um único pingo de desejo refletido em seu olhar, eu
faria muito mais do que provar o canto de sua boca.
Enquanto eu adorava esticar meus limites e testar minha determinação,
algo me disse que essa mulher destruiria todo o meu controle.
Pior, eu aceitaria isso.
Quando a porta se fechou atrás dela, tudo o que eu queria era ir atrás,
empurrá-la contra a parede e devorá-la por inteiro.
E permitir que ela fizesse o mesmo comigo.
CAPÍTULO DEZOITO
ZEPH

— U ma Quandary de Sangue — falei.


A notícia não me surpreendeu. Suspeitei quando todos vimos
cores diferentes em seu fogo. Essa era uma marca registrada do Quandary
de Sangue, uma maneira de complicar sua magia.
— Eu me pergunto que tipo de varinha as invenções deram a ela na
AcaWard. — Na verdade, nunca olhei para o objeto, mas imaginei que
continha traços de sua herança. — Você já pediu para ver?
Kols balançou a cabeça com a expressão cansada.
— Eu estava muito focado em manter sua magia sob controle na Turma
de Elite hoje. A Emelyn decidiu que a Aflora é um alvo divertido para
praticar suas besteiras de garota malvada, o que a colocou em uma posição
imediatamente defensiva. — Ele suspirou, relaxando no sofá, e levou uma
garrafa de cerveja aos lábios.
Nesse ritmo, íamos gastar todo o meu estoque na primeira semana.
Ainda bem que tínhamos dois dias de folga chegando. Só tínhamos que
passar por outra aula amanhã primeiro, então eu poderia ir ao Reino
Humano para pegar mais. Exceto que seria por conta de Kols. Ele tinha
dinheiro. Eu, não.
— Poderíamos pedir a varinha dela agora — sugeri. — Ela está aí ao
lado, certo?
Kols tomou um longo gole e suas íris douradas brilharam de uma forma
que eu reconheci. Ele me disse o que ia dizer antes que as palavras saíssem
de seus lábios.
— Preciso de uma pausa antes de fazer algo estúpido.
— Como transar com ela?
— Sim, exatamente isso. — Ele semicerrou os olhos para mim. — E
não me diga que você está imune à atração. Podemos não ter nos divertido
juntos há alguns meses, mas conheço o seu tipo. Você a quer tanto quanto
eu.
Dei de ombros.
— Isso não vai acontecer.
— Eu sei. Agora, se meu pau pudesse entender a mensagem, estaríamos
na mesma página.
— Seu pau sempre te colocou em apuros — murmurei. Tecnicamente, a
nós, corrigi. O pau dele sempre nos colocava em apuros.
Ele colocou a garrafa na mesa de centro e se inclinou para apoiar os
cotovelos nos joelhos.
— Sim, se você precisa me culpar pelo que aconteceu com a Dakota,
então faça isso. Mas preciso da sua ajuda aqui, cara. Isso é uma coisa séria.
Se o Shade acasalou com ela porque sabe o que ela é, então há muito mais
acontecendo aqui do que apenas um ato de rebelião.
Eu não te culpo. Culpo a mim, pensei. Mas não importava, porque ele
estava certo. Precisávamos nos concentrar em Shade e Aflora e no que quer
que estivesse acontecendo.
— O que você leu dela quando falou sobre o fato de ela ser Quandary
de Sangue?
— Surpresa genuína e muita confusão — Kols respondeu. — Ou ela é
uma atriz incrível ou não tinha ideia de suas habilidades. Aposto no último,
porque ela parece pensar que é culpa do Shade. Ela estava bastante
convencida de que seus pais eram Faes da Terra de sangue puro.
— Seus dons provam que isso é mentira.
— Concordo, mas não significa que ela acredita nisso. Na verdade,
mostra inocência. Acho que ela é um peão em um jogo muito maior. O que
quero saber é: quem é o mestre no conselho? É Shade, seu pai, ou outra
pessoa? Porque nós dois sabemos que Sangue de Morte e Quandary de
Sangue compartilham uma história sombria.
— Daí a razão pela qual seu avô matou todos eles há mil anos — falei,
me lembrando das lições dos cursos de história aqui na Academia. Era um
assunto que sempre me deixava inquieto: o extermínio de uma linhagem
inteira para enviar uma mensagem a todos os outros.
Comporte-se ou você será o próximo.
Os Quandary de Sangue eram vistos como os vilões da história, mas
sempre suspeitei que havia mais do que nos contaram. Era um assunto que a
maioria de nós evitava, algo que assumi que foi feito com um propósito. Se
ninguém questionasse os eventos da Idade das Trevas Faes da Meia-Noite,
então os segredos permaneceriam enterrados com segurança.
Talvez esse fosse o propósito de Aflora aqui: ajudar a desvendar alguns
desses rumores.
— Precisamos mantê-la viva — eu disse, levantando o tornozelo para
apoiar sobre meu joelho oposto. — Ela vale mais do que uma isca. —
Porque ela pode ser a chave para desenterrar uma verdade há muito
escondida.
— Meu pai ia querer que ela morresse imediatamente. — Kols olhou
para o chão com uma expressão dura. — Eu deveria matá-la, Zeph. Ela é
uma abominação. Tenho provas disso.
Eu o considerei por um longo momento.
— Então por que você não a executou?
Ele continuou a se concentrar no tapete preto.
— Prometi ao Exos e ao Cyrus que cuidaria dela — ele admitiu
baixinho. — Não porque é a coisa certa a fazer, mas porque eu quero. —
Ele exalou um longo suspiro, finalmente levantando seus olhos dourados
para os meus. — Sinto esse desejo estranho de protegê-la, Zeph. Mal a
conheço e ainda assim...
— Você se sente obrigado a protegê-la do futuro difícil que sabe que a
espera — terminei por ele, com a voz igualmente baixa.
Porque sim, eu entendia. Essa inclinação bizarra de cuidar dela estava
ligada à minha estranha necessidade de ensiná-la, de ajudá-la a sobreviver.
No entanto, eu sabia que sua morte era inevitável. A necessidade de cuidar
dela me atingiu bem no estômago, e eu não tinha ideia de onde vinha ou por
quê.
— Você acha que tem algo a ver com ela ser uma abominação? —
perguntei. — Talvez ela tenha algum tipo de encantamento entrelaçado em
sua existência que está nos forçando a agir em seu melhor interesse.
— Como algum tipo de instinto de autopreservação?
— Sim, exatamente. — Esfreguei a barba por fazer em meu queixo, um
lembrete rígido da minha necessidade de me barbear novamente em breve.
Me deixei de lado essa semana como resultado da minha miséria
relativa à minha nova vocação. Ensinar não era para mim. Eu tinha pouca
paciência para idiotices, e metade dos novos alunos eram imaturos demais
para distinguir o pé esquerdo do direito. Eles aprenderiam. Eventualmente.
— É possível — Kols respondeu, considerando minha teoria de
encantamento. — Eu me sinto meio enlouquecido de luxúria toda vez que
estou perto dela. E antes que você diga que sou sempre assim, isso é
diferente. As outras eram apenas desafios que eu gostava de conquistar. A
Aflora representa mais do que apenas um desafio. Ela é uma ameaça real
para mim e para este reino. E vai contra todo o meu treinamento deixá-la
viva, quanto mais ajudá-la.
— Você está falando sobre o colar. — Dei a ele um olhar duro. — Me
diga que você o colocou nela.
— Você sabe que não — ele murmurou.
— Puta merda, Kols. — Isso era ruim. Realmente ruim. — Foi uma
ordem direta do Malik.
— Você acha que não sei disso? — ele questionou, balançando a
cabeça. — Percebi meu erro cerca de trinta minutos depois de permitir que
isso acontecesse.
— Você quer dizer depois que você se masturbou — conclui,
conhecendo-o muito bem. Ele me contou sobre o feitiço de calor ao explicar
suas descobertas sobre os poderes dela.
— Sim, duas vezes, mas isso não vem ao caso. Sei que é errado, mas
ainda não consegui colocar aquilo nela esta manhã. Em vez disso,
concentrei toda a minha energia em mantê-la sob controle hoje.
— O que, imagino, só te colocou muito mais perto do poder dela. —
Era assim que nossas habilidades funcionavam. Nos alimentávamos das
ondas de poder dos outros. Kols era o mais forte entre nós, as linhas pretas
que corriam por seus braços e peito eram uma indicação de seus laços com
a fonte. Se praticássemos nossos feitiços juntos, minha força aumentaria
dez vezes. Eu imaginava que o de Aflora também.
— Você não tem ideia — ele murmurou. — Meu poder está faminto
pelo dela, e não apenas em uma forma de ascensão.
— Ela é uma companheira ideal, não é?
Ele pegou a cerveja e deu um grande gole antes de assentir.
— Senti desde o momento em que coloquei os olhos nela. A
personalidade dela não está ajudando.
— O que isso significa?
— Ela é altruísta e inteligente, tem uma espinha dorsal de aço e, não
vamos esquecer que ela é impressionante. — Ele colocou a garrafa de volta
na mesa e apoiou a cabeça para as mãos. — Isso está errado em muitos
níveis.
Deixei-o chafurdar por um momento enquanto contemplava tudo o que
ele havia dito. Alguns pensamentos continuavam surgindo em minha
cabeça, a maioria perigosos de se pronunciar em voz alta. Semelhante aos
segredos históricos que eu suspeitava estarem escondidos por razões que
podiam não ser do interesse de todos.
No entanto, já que já estávamos tendo uma conversa que poderia nos
levar a uma masmorra, por que não forçar os limites?
— Nos disseram a vida inteira que as abominações são criaturas vis —
comecei, considerando minhas palavras com cuidado. — Mas não é como
usamos os dons que importa? Não necessariamente quem são nossos pais?
Ele ergueu o olhar apenas o suficiente para encontrar o meu e as palmas
das mãos ainda pairavam sobre sua boca.
— O que você está tentando dizer, Zeph? Seja claro.
— A Aflora é uma abominação, mas ela não me parece má. Eu
realmente a descreveria como doce.
— Nós mal a conhecemos — ele apontou.
Embora eu concordasse, não pude deixar de dizer:
— Você sempre se orgulhou de ser um bom juiz de caráter. Você
confiaria nas opiniões do Exos e do Cyrus sobre ela?
Ele abaixou as mãos, apertando-as entre as pernas enquanto continuava
a apoiar os cotovelos nas coxas.
— Exos e Cyrus fariam qualquer coisa para proteger sua companheira,
que é amiga da Aflora. Isso por si só significa que não posso confiar em
suas opiniões porque são inerentemente tendenciosas.
— Certo, bem, o que seu instinto diz sobre ela? Porque o meu diz que a
menina cresceu brincando com flores, não planejando dominar o mundo.
Ele bufou.
— Ah, ela é inocente. Mas não inteiramente. A maneira como ela usou
aquele feitiço de calor no meu pau falou muito sobre sua falta de inocência.
— Sempre pensando com seu pau — comentei, divertido apesar do
assunto sério. — Só porque ela conhece suas calças não significa que ela
queira assumir o reino Fae da Meia-Noite.
— Sim, sim, entendo o seu ponto. Mas eu teria apostado dinheiro uma
semana atrás que ela era virgem, e antes que você diga que isso é
irrelevante, não é. Se julguei mal a experiência dela, então eu poderia
facilmente julgá-la mal.
— Justo — concordei. — No entanto, nunca percebi uma atitude
virginal dela, apenas falta de experiência com vários parceiros. O que ainda
é minha suposição nesse campo de conversa. Em relação ao mais
importante, no entanto, não acho que a Aflora possa invocar danos de forma
intencional. Caramba, ela parecia pronta para chorar quando você destruiu
seu cipó ardente na semana passada.
Kols riu.
— Sim, ela não ficou nada feliz hoje quando o diretor Jenkins usou um
corvo em seu feitiço de coação. — Havia lágrimas nos olhos de Aflora
quando o pobrezinho morreu. Eu menti e disse a ela que o pássaro era um
ser conjurado, não real.
— Ela acreditou em você?
— Sim. — Ele curvou os lábios. — Fiz um corvo para ela em nosso
caminho de volta para a suíte. Ela ainda está com ele em seu quarto.
— E essa mulher é uma ameaça para nossa espécie? — zombei. — Você
está usando esse pássaro para espioná-la agora, não é?
— Não atualmente, mas sim, posso ver através de seus olhos.
Eu sorri.
— Eu te chamaria de brilhante, mas seu ego não precisa ser acariciado.
— Você tem razão. Já sei que sou brilhante. — Ele finalmente abriu um
sorriso. — Então o que nós vamos fazer?
— Acho que isso é óbvio — respondi, levantando meu tornozelo do
joelho para me deitar de forma preguiçosa na poltrona. Apesar de odiar a
localização da minha suíte, não podia negar o conforto dos móveis
fornecidos pela família de Kols. Eles mantinham a geladeira abastecida –
exceto pela cerveja – e me forneceram todos os luxos com os quais cresci
na Propriedade Nacht. Não era uma vida ruim. Eu simplesmente odiava a
parte de ter que ensinar.
— Vamos protegê-la — Kols afirmou, se referindo ao plano futuro.
— Sim. Até descobrirmos o que é que está acontecendo com o Shade.
— E possivelmente pegar algumas respostas históricas no processo. — Ele
a provou, então tem que saber o que ela é.
Kols assentiu em concordância.
— A questão é: ele sabia antes de mordê-la?
— Esse é o meu palpite.
— Meu também.
— Uma coisa que me deixa perplexo...
— Só uma? — Kols brincou.
Não comentei sobre isso, apenas continuei meu pensamento.
— Ele tinha que saber que descobriríamos. Por que ele não tentou nos
manter longe dela?
— Ele não teve escolha.
— Ele é o Shade — eu o lembrei. — Ele é um idiota que não segue as
regras, mas está bancando o bonzinho a semana toda. Por quê?
Kols franziu a testa.
— Eu... eu não sei.
Nem eu, daí a razão pela qual levantei a questão.
— Precisamos mantê-lo longe de Aflora.
— Mais fácil falar do que fazer. Ele continua visitando os sonhos dela.
— Kols fez uma careta. — Eu a ouvi gemer o nome dele ontem à noite.
Arqueei uma sobrancelha.
— Ouviu?
— tudo bem, eu posso ter tentado brincar com ela em seus sonhos. É
seguro e uma maneira fácil de queimar um pouco de luxúria. Mas o Shade
já estava lá.
Contraí os lábios.
— Talvez você devesse tentar empurrá-lo para fora esta noite e ver o
que acontece.
— Não pense que não vou.
— Ah, eu sei que vai. — Só o pensamento disso fez meu pau despertar
nas minhas calças porque eu sabia como seria essa cena do ponto de vista
de Kols. E sim, eu queria participar. Mas nunca cederia a isso. Mesmo que
eu fosse para a cama nas últimas noites pensando na boca de Aflora
envolvendo meu pau.
Limpei a garganta.
— Certo. Bem. Vou dar uma corrida.
— De novo? — Kols perguntou, arqueando uma sobrancelha.
— Um homem tem que se exercitar.
— Aham. — Ele me deu um olhar conhecedor. — Boa sorte.
— Dado que você é quem tem que dormir ao lado dela todas as noites,
acho que é você quem está precisando de sorte, companheiro. — Eu me
levantei e me espreguicei, sorrindo enquanto Kols observava o movimento.
— Sinta-se à vontade para me adicionar à sua pequena fantasia noturna.
Você sabe do que eu gosto.
Com essa provocação – uma que eu não deveria ter deixado escapar dos
meus lábios – saí para explorar os terrenos da Academia novamente.
O tempo todo pensando em uma beleza de cabelos escuros com lábios
carnudos e seios feitos para as mãos de um homem.
Pensar nela não era exatamente um pecado.
Mesmo que se parecesse com um.
Pena que essa distinção só me deixou mais duro.
CAPÍTULO DEZENOVE
AFLORA

— T udo bem, então desta vez, tente não me matar, certo? — Ella
estava na minha frente em uma esteira, com as mãos no ar. Não
escapou ao meu conhecimento que Trayton pairava perto da borda. Seu
olhar tinha um aviso letal.
— Sem magia — ele disse. O tom de voz tinha uma inflexão real que
reconheci muito bem.
Ella demonstrou aborrecimento.
— Ela sabe, Tray. Esse é o objetivo desta aula de ginástica improvisada.
— Treinamento físico — Kols corrigiu, se juntando a seu irmão. Os
dois usavam camisas sem mangas que mostravam seu físico atlético. Eu
definitivamente podia ver as semelhanças entre eles, em suas posturas
régias e estrutura de mandíbula aristocrática. Mas Tray lembrava a noite,
enquanto Kols me lembrava o sol.
Um sol que eu sentia muita falta.
Começar as aulas à noite realmente mexeu com meu conceito de dias.
Terminamos mais perto da hora que eu costumava acordar, depois
dormimos durante as horas claras e começamos tudo de novo a cada noite.
Não admirava que os Faes da Meia-Noite fossem pálidos.
Bem, exceto Shade. Ele tinha um leve bronzeado, que eu suspeitava
estar ligado à sua propensão a desaparecer nas sombras.
Ele piscou para mim do outro lado do ginásio, onde estava esperando
sua vez no tatame.
Fiz uma careta para ele em resposta.
Seus sonhos à noite estavam me matando, e ele sabia disso. Discuti com
ele toda vez que ele entrava na minha cabeça, mas ainda assim acabava
quase nua e me contorcendo embaixo dele.
Exceto pela noite passada.
Minhas bochechas queimaram com a memória das coisas que fiz com
Kols enquanto dormia. Aquilo também estava na minha cabeça, um
mecanismo de enfrentamento que me ajudou a forçar Shade a sair, e eu
estava um pouco envergonhada com a forma com que usei o Fae Real. Ele
deveria estar me ajudando e orientando, mas passei a noite fazendo coisas
obscenas com seu físico esculpido.
Um físico que se flexionou quando ele deu um passo à frente e
levemente segurou meus braços.
— Você pode fazer isso, Aflora. É só um exercício de queda. A Ella vai
te mostrar como funciona. Só não chame seu fogo, certo?
Mãe Terra, mesmo agora ele estava tentando me ajudar e não tinha ideia
de como eu o usei na noite passada. Minha hesitação no tatame não tinha
nada a ver com medo e tudo a ver com culpa.
Só não pense nisso. Ou em como é bom ter suas mãos em meus braços
agora. Na verdade, você deveria dar um passo para trás, avisei a mim
mesma.
Só que não ouvi nada.
Olhei profundamente em suas íris douradas e pensei em como elas
brilhavam enquanto eu caía sobre ele. Engoli em seco. Seu gosto era uma
memória persistente na minha garganta.
— Posso fazer isso.
— Sei que pode.
Com um aceno de cabeça, me forcei a olhar para Ella. Ela arqueou uma
sobrancelha loira clara.
— Ah, você está pronta? Porque estou entediada e criando asas de fada
aqui.
Trayton bufou.
— É o que você deseja.
— Claro! — Ela jogou as mãos no ar. — Faes deveriam ter asas e
orelhas pontudas.
Minhas próprias orelhas se contraíram com o pensamento, e empurrei os
fios escuros atrás delas para mostrar as pontas.
— Tenho orelhas pontudas.
Ella se virou para me encarar, seus lábios se curvando em um enorme
sorriso.
— Aí! É assim que devemos nos parecer. Tudo o que ela precisa é de
asas.
— As fadas têm asas — Trayton explicou. — E elas não são reais.
— Bem, tecnicamente, os duendes existem e têm asas. — A diversão
tocou meu peito brevemente enquanto eu pensava na obsessão de Claire
com as pequenas criações provocadas por sua conexão com o elemento
Espírito.
— Nós temos nossa própria versão aqui — Trayton murmurou. — Ella
os ama.
— Mas ele não me deixa mantê-los como animais de estimação — ela
apontou.
— Porque eles mordem e gostam de atear fogo em todo o lugar.
— Vocês vão ficar parados conversando o dia todo ou vão trabalhar? —
A voz de Zephyrus soou logo atrás de mim e o calor de seu corpo provocou
um arrepio na minha espinha. Ele usava calça de moletom cinza e camiseta
branca hoje, algo que várias mulheres pareciam intrigadas em todo o
ginásio. Eu incluso.
Culpei Shade pelos meus hormônios descontrolados. Se ele não tivesse
passado todas as noites me provocando com seu toque e língua, eu não
estaria tendo todas essas fantasias ilícitas sobre Kols, e não acharia
Zephyrus particularmente irresistível hoje.
— Estou invisível? — o diretor exigiu.
— N-não — gaguejei, me virando para encará-lo e tendo que olhar para
cima para encontrar seus olhos verdes ardentes. Havia uma pontada de
marrom ao redor das pupilas que capturou minha atenção por um longo
momento antes de eu balançar a cabeça. — Já estávamos começando.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— É mesmo? Porque parece que vocês estão aqui fofocando. Talvez eu
precise reatribuir os pares. — Ele olhou para a esquerda e sua boca já estava
se movendo antes que eu tivesse a chance de responder. — Shade! Venha
aqui.
O Sangue de Morte veio até nós em uma onda de sua fumaça preta e sua
era expressão entediada quando ele apareceu.
— A coisa toda de diretor parece estar caindo bem para você, Zeph.
Aposto que é bom ser capaz de dar ordens uma vez ao invés de
constantemente ter que se submeter ao Kols.
— Ah, por favor, me atribua a ele — Kols pediu, dando um passo à
frente. — Vou mostrar a ele como se submeter.
Zephyrus deu de ombros.
— Eu ia dá-lo a Tray, mas vá em frente. — Ele olhou para o outro
membro da realeza. — Me ajude a administrar a partida entre Ella e Aflora,
depois vá treinar com Fang.
Olhando por cima do ombro, murmurei:
— Fang? — perguntei para Ella, esperando ter ouvido errado.
Ela começou a rir, assentindo.
— Sim, original. Eu sei.
— Parem de brincar — Zephyrus retrucou, segurando meu quadril e
forçando minha atenção de volta para ele. — Preciso ver com o que estou
lidando para poder planejar melhor nosso estudo independente na próxima
semana. A menos que você queira que eu assuma que tudo o que você sabe
fazer é colher flores do chão?
Me irritei com a insinuação negativa em seu tom.
— Não sou um duende indefeso, Zeph.
Ele arqueou a sobrancelha novamente, não dizendo nada e tudo apenas
com aquele olhar. Nós não éramos próximos o suficiente para eu usar seu
apelido. Isso meio que escapou.
— Diretor Zephyrus — corrigi baixinho.
— Não seja um idiota, Zeph — Ella interrompeu, dando um passo para
o meu lado. — Estávamos prestes a começar. E não precisamos ser
gerenciadas.
— Isso é que vamos ver — ele respondeu, mantendo os olhos nos meus.
— Vá então, duende flor. Me mostre o que você pode fazer. Estou à espera.
— Você acha que é sensato provocar a garota que quase me matou há
dois dias? — Ella perguntou, cruzando os braços. — Sem ofensa, Aflora.
— Ela está bem. Ela está usando a gargantilha nova e melhorada, certo?
— Ele parecia ver através de mim, suas íris verdes brilhando
conscientemente.
— Certo — eu disse, engolindo em seco. — Vai dar tudo certo.
— Então pare de enrolar e me dê um show, duende flor.
Um calor subiu pelo meu pescoço com suas palavras e o tom com que
ele as pronunciou. Duro, exigente e inflexível. Três palavras que
descreviam Zephyrus absolutamente.
Com um aceno resoluto, encarei Ella e peguei Kols e Shade ao lado de
Tray, observando toda a troca.
Excelente. Então eu daria um show a todos eles.
— É só me derrubar e acabar com essa merda — murmurei para Ella
quando entramos no círculo desenhado nos tatames.
Ela olhou boquiaberta para mim.
— Você acabou de xingar?
— Eu sei como xingar — eu disse, ficando no que eu esperava que se
assemelhasse a uma postura de luta. Assisti a alguns duelos de Campeão
Sem Poder no reino Elemental Fae. Sabia o que esperar. Eu simplesmente
não tinha me matriculado em nenhum dos cursos da Academia, preferindo o
atletismo solo aos esportes de combate.
— Sou pequena, mas sou rápida — Ella me avisou.
— Bom, então isso vai acabar bem rápido. — Porque eu não tinha ideia
do que estava fazendo e me recusava a machucá-la como da última vez.
Foi um milagre que ela tivesse me perdoado tão rapidamente. Na
verdade, isso me fez questionar sua inteligência. Mas ela alegou gostar de
mim e disse que tínhamos muito mais em comum do que eu imaginava.
Não querendo negar um presente de amizade, deixei passar a falta de bom
senso. Afinal, era a meu favor.
Ela me atacou com o punho na direção do meu rosto, me fazendo pular
para trás por instinto. Seguiu com um soco na minha cintura, que evitei
girando fora de seu alcance.
— É assim que vamos fazer? — murmurei, desviando de outro soco.
— Você disse para acabar com isso rapidamente. Fique parada e vou
atender ao seu desejo — ela ofegou, chutando desta vez.
— Por que é que as pessoas iriam querer fazer um curso violento? —
questionei, olhando para Zephyrus. — Para que propósito isso... — eu me
abaixei novamente, errando por pouco o cotovelo de Ella — serve?
— É o exercício físico que também permite que você se proteja em
situações adversas. — O braço de Zephyrus serpenteou ao redor da minha
cintura enquanto ele me puxava para trás em seu corpo duro.
— Que tipo de situações adversas? — Me virei e vi meus pulsos presos
em uma de suas mãos antes que eu pudesse sequer considerar meu próximo
movimento.
—Faes da meia-Noite frequentam o Reino Humano regularmente. —
Ele começou a me tirar do tatame.
— E há situações lá que exigem combate? — perguntei enquanto
tentava encontrar Ella por cima do ombro dele. Ele frustrou minha tentativa
de buscar sua intervenção acelerando o passo e praticamente me
empurrando para trás com seu aperto.
Tinha que haver uma saída de seu domínio, o que eu suspeitava ser a
lição aqui, mas meu corpo parecia obedecê-lo por impulso, apesar dos
comandos do meu cérebro em contrário.
— Existem muitos perigos no Reino Humano, Aflora — ele murmurou
quando minhas costas encontraram uma parede. Ele prendeu minhas mãos
sobre minha cabeça e sua mão oposta foi para minha garganta. — Você não
foi recentemente capturada e dominada lá?
— Por um Fae da Meia-Noite — respondi, olhando para ele. — Não por
um humano.
— Humm, mas se você soubesse como se defender de forma adequada,
talvez você não estivesse aqui — ele comentou, apertando mais a minha
garganta. —Mesmo agora, você está indefesa, sem ideia de como lutar
comigo. Eu posso sentir sua capitulação a cada ofego. Possuo você agora, e
não há nada que você possa fazer sobre isso.
As palavras eram suaves e seu olhar queimava no meu.
Tudo parecia desaparecer ao nosso redor, o momento se estendendo
enquanto ele me mantinha cativa em uma posição decididamente inferior.
Deveria ter me enfurecido. Em vez disso, aqueceu meu sangue, e não de
uma forma de combate. Mesmo se eu pudesse lutar com ele – o que eu não
poderia – eu não faria. Porque eu gostava dele me dominar.
A percepção tomou conta de mim, me fazendo derreter sob seu
domínio.
Eu queria que ele me possuísse, assim como ele disse.
Para me dizer o que fazer. Para me guiar. Para me ensinar de uma
maneira que não tinha nada a ver com essa aula e tudo a ver conosco.
Ah, estou em apuros.
Primeiro, Kols.
Agora, Zeph.
E sem mencionar Shade, que ainda assombrava cada respiração minha.
— Você gosta disso — Zephyrus sussurrou, e seu calor me cercou tão
completamente que me esqueci de como respirar corretamente. Cada
inalação me enchia com sua inebriante colônia amadeirada. Isso me deixou
tonta, confusa e dolorida por mais. — Você não deveria gostar — ele
continuou, aproximando seus lábios do meu ouvido. — É por isso que você
deixa o Shade te manipular tão completamente? Ele te deu um pouco de
atenção, e você mostrou seu pescoço para ele? Você é realmente tão fácil
assim?
Seu comentário acendeu um fogo em mim que consumiu o calor que
seu toque inspirou e me estimulou a agir. Meu joelho atingiu sua coxa dura
como aço, enviando uma pontada de dor pela minha perna. Isso só me
deixou mais irritada. Pisei em seu pé com toda a força que pude e me
contorci a sério contra ele.
Seus quadris prenderam os meus, me deixando totalmente indefesa e
fervendo de raiva.
— Me solte.
— Mas agora que estava ficando interessante — ele sussurrou, roçando
os dentes no lóbulo da minha orelha. Ele me mordiscou de leve, tirando um
grunhido da minha garganta.
— Você é grande demais para treinar comigo — rebati. — É uma luta
injusta.
— As lutas nunca são justas — ele respondeu.
— É para isso que serve a magia.
— Ah, mas é contra as regras do Conselho Fae da Meia-Noite expor
nossa espécie no Reino Humano. Então, o que você faria nesta situação,
duende flor? Deixaria um homem maior tirar vantagem de você? Ou usaria
magia nele e enterraria as evidências?
Parei de tentar me libertar e, em vez disso, encontrei seu olhar ardente.
— Você está perguntando se eu o deixaria me machucar ou o mataria
em vez disso?
— Um homem nesta posição faria mais do que apenas machucá-la —
ele respondeu baixinho. — Ele te destruiria.
— Então eu não teria escolha a não ser me defender de verdade.
— Então faça isso — ele encorajou. — Se defenda.
— Você acabou de dizer que a magia não é permitida em uma luta como
essa.
— Não estamos no Reino Humano.
— Não, estamos na aula de Defesa Sem Magia — retruquei. — Pare de
tentar me convencer a quebrar as regras, Zeph.
Ele levou a boca ao meu ouvido novamente, e senti sua respiração
quente contra minha pele.
— Estamos todos quebrando regras aqui, princesa. Esse seu colar é
apenas o começo do dilema em que nos encontramos, certo?
Paralisei. Meus pulmões pararam de funcionar.
E ele se afastou com um sorriso malicioso.
— Temos muito trabalho a fazer, Aflora. Espero que você venha
preparada para o nosso curso de estudo independente. Sugiro que você use
os próximos dois dias de folga para estudar.
Com isso, ele me soltou e saiu da sala.
Fiquei boquiaberta, olhando atrás dele, assim como vários outros
alunos.
Kols me lançou um olhar de desculpas, um que confirmou a declaração
de Zephyrus.
Ele contou ao diretor tudo sobre minha linhagem, bem como o colar no
meu pescoço. Não que eu pudesse culpá-lo, já que os dois eram claramente
próximos mesmo quando discutiam. Mas isso me deixou ainda mais
sozinha do que antes, me lembrando que eu não tinha aliados neste reino.
Qualquer que fosse a assistência que Kols fornecesse, provavelmente teria
um custo.
Porque ele sempre escolheria a si mesmo sobre mim.
Assim como ele deveria fazer.
Eu faria a mesma coisa na situação dele.
O que significava que eu só podia confiar nele até certo ponto, se tanto.
Enrijeci os ombros e endireitei a coluna. Eu não deixaria isso me
derrubar.
Zeph tinha razão. Eu tinha que lutar por mim mesma para sobreviver a
isso, o que significava que eu precisava aprender a me defender de forma
adequada. Tanto no Reino Humano quanto neste. Porque em breve, minha
vida dependeria disso.
CAPÍTULO VINTE
AFLORA

V árias semanas de aulas se passaram sem incidentes, principalmente


porque eu me trancava constantemente no quarto para estudar. Eu tinha
uma vida inteira de material para ler a fim de recuperar o atraso em todos os
meus cursos.
Aula de Magia da Morte.
Aula de Magia do Guerreiro.
Classe Mágica de Elite.
Classe de Defesa Sem Magia.
Dia de folga.
Dia de folga.
Política Fae da Meia-Noite – a única aula em que eu parecia estar indo
bem, graças às explicações de Ella.
Aula de Magia Maléfica – minha menos favorita.
Dia de estudo independente – arghh.
Dia de folga.
Dia de folga.
Dia de folga.
Hoje, tive outro dia de estudo independente com Zeph. Ele era um
idiota completo e muito prático para o meu gosto. Principalmente porque
ele inspirava pensamentos que não eram apropriados. Especialmente
quando me prendia no tatame ou na parede. Eu ocasionalmente pegava um
brilho de interesse em seu olhar, mas ele sempre desaparecia antes que eu
pudesse confirmar. O que significava que eu provavelmente inventei isso
em meus devaneios.
Quem poderia me culpar com minhas escapadas sexuais noturnas? Se
não era Shade na minha cabeça, era Kols. Me fazendo esquentar toda vez
que me aproximava do Príncipe da Meia-Noite. Então eu estava
praticamente corada o tempo todo porque ele raramente saía do meu lado,
sempre me ajudando em todas as aulas e garantindo que minha magia
ficasse sob controle.
Shade, no entanto, parecia estar me deixando em paz. Principalmente
porque ele continuou matando aula. Isso me irritava muito porque eu
precisava dele na aula de Magia da Morte e ele raramente aparecia, me
forçando a zanzar pelos corredores e treinar feitiços sozinha. Quando
perguntei sobre isso em meus sonhos, ele me beijou para silenciar a
conversa.
O único ponto positivo foi que isso me forçou a ser independente e
aprender por conta própria. Um benefício e uma maldição, porque eu não
tinha ideia se estava fazendo alguma coisa corretamente. Só segui meu
instinto.
Minhas pernas dobraram debaixo de mim quando Zeph passou o pé em
um arco que me jogou de bunda no tatame.
— Você está distraída — ele acusou. — Você acha que eu quero passar
meu tempo cuidando de você? Ou se liga ou dê o fora da minha academia.
— Sua academia? — bufei, ficando de pé. — Você está abraçando seu
papel de diretor?
Ele bufou e mudou de assunto.
— Me mostre o que você aprendeu na aula de Magia Maléfica ontem.
Eu sabia que ele ia exigir isso.
Depois de semanas lutando com ele durante vários dias de aula e em
alguns dias de folga, comecei a entender suas expectativas. Ele queria que
eu aplicasse cada lição à minha luta. Ele não só queria que eu dominasse o
controle do meu poder, mas também que eu pudesse usá-lo defensivamente.
Ou de forma ofensiva neste caso.
Fortalecendo a espinha, estendi a mão e murmurei o feitiço de
conjuração que aprendemos ontem. Picadores de gelo se formaram ao nosso
redor quase imediatamente, todos voltados para Zeph. Ele contraiu os lábios
enquanto os afastava com um rápido feitiço de defesa.
— Bom. De novo.
Repeti o encantamento.
Ele o destruiu um segundo depois.
— Mais uma vez.
Semicerrando os olhos, decidi pegá-lo desprevenido e convoquei um
feitiço diferente sobre o qual li em meus livros na noite passada. Era do
capítulo seguinte e envolvia fogo. Um movimento perigoso considerando
minha história com o elemento, mas minhas chamas cerúleas permaneciam
sob controle enquanto um desfile de brasas negras cercava Zeph.
Ele ergueu as sobrancelhas apenas o suficiente para confirmar que eu o
havia surpreendido. No segundo seguinte, ele pronunciou palavras que
dissiparam minha criação.
— Bom — ele murmurou. — Pelo menos, eu sei que você sabe ler.
A piada me fez revirar os olhos para ele.
— Não sou ignorante.
Ele me considerou por um longo momento.
— Não. Você não é.
— Cuidado, Zeph. Isso foi quase um elogio. — Eu sempre o chamava
de Diretor ou Zephyrus perto dos outros, mas costumava usar seu apelido
quando em particular. Ele nunca me corrigiu, então tomei isso como sua
maneira de permitir isso.
— Bem, você parece estar se dando bem com a Magia Maléfica, então
vamos tentar alguns movimentos mais defensivos. Talvez te ajude a não
levar uma surra na semana que vem.
— Um elogio ligado a um insulto — comentei. — Aí está o Zeph que
passei a adorar.
Ele olhou para mim.
— Pare de falar e comece a se concentrar.
— Estou concentrada.
— Então me derrube.
Suspirei.
— Certo.— Nós dois sabíamos que eu não podia. Não só ele tinha, tipo,
trinta centímetros a mais de altura, mas também era muito musculoso e um
defensor experiente. Acertá-lo era como socar uma parede. Fazê-lo se
mexer um centímetro se mostrou impossível toda vez que fazíamos esse
exercício.
Mas eu tentava mesmo assim, porque ele exigia.
Usando uma técnica que ele me ensinou na semana passada na aula de
Magia do Guerreiro, tentei dar a volta em suas costas para bater em seus
joelhos.
Ele se moveu comigo, com os braços cruzados e a expressão entediada.
Cerrando os dentes, tentei passar a perna por baixo, como ele fez
comigo há alguns minutos.
E nada.
Nem mesmo um vacilo.
Na verdade, me machucou mais do que provavelmente a ele.
Então corri atrás dele e pulei em suas costas, passando os braços ao
redor de seu pescoço e as pernas ao redor de sua cintura.
— Que merda é essa que você está fazendo?
— Me enganchando — eu disse, travando os antebraços ao redor de seu
pescoço. — Quando você se cansar de me segurar aqui, você vai cair.
— Você não pesa praticamente nada — ele gritou, virando a cabeça em
um esforço inútil para me ver. — Desça.
— Não.
— Isso não é nada útil. — Ele parecia lívido, o que só me fez me
agarrar mais a ele. Irritá-lo tinha se tornado meu passatempo favorito. Ele
era um idiota comigo, então eu pagava de volta na mesma moeda. — Sério,
desça daí.
Coloquei o queixo em seu ombro e suspirei.
— Acho que vou ficar aqui até você cair.
Seu grunhido vibrou em meu peito através do tecido fino de nossas
camisas. Ele usava outra daquelas sem mangas que mostravam seus braços.
Era a única coisa que eu ansiava em nossos dias de treino. Ah, e a calça de
moletom cinza. Eu também gostava delas.
— Aflora, você tem três segundos antes de eu removê-la, e você não vai
gostar de como eu vou fazer isso — ele avisou.
Eu bocejei.
— Faça o seu pior, Profe.
Incitar meu instrutor provavelmente não foi a jogada mais sábia, mas
ele não me assustava. Talvez eu tivesse adotado uma atitude muito
despreocupada enquanto frequentava a Academia.
Minha vida ainda estava muito em perigo, e eu levava isso a sério – daí
minhas intermináveis horas de estudo – mas às vezes eu tinha que relaxar.
E por alguma razão, esses momentos pareciam ocorrer quando eu estava
por perto de Zeph.
E nos meus sonhos com Kols e Shade.
Esses três homens me deixavam...
— Oof — ofeguei quando minhas costas bateram no tatame e Zeph se
esparramou em cima de mim, travando meus pulsos sobre minha cabeça.
Eu nem tinha o sentido se mover, apenas voei no ar de repente enquanto
ele me girava em um movimento que não deveria ter sido possível.
— Pirralha — ele murmurou, seus quadris prendendo os meus no chão.
— Talvez — consegui dizer, a palavra saindo em uma expiração sem
fôlego, graças à aspereza da minha aterrissagem. — Mas joguei você —
inalei bruscamente para reabastecer meus pulmões — no chão.
Suas íris cintilavam em verde escuro, me lembrando das florestas
exuberantes de casa. Quase suspirei, amando aquele olhar ardente e
desejando ver uma árvore real de novo. A magia sombria continuou a
aumentar enquanto meu acesso ao meu dom principal permanecia fora de
alcance, embora ultimamente eu a sentisse queimar de vez em quando,
como se me implorasse para me conectar à fonte.
Kols me disse na semana passada que se encontrou com Exos durante
um dia de folga e soube que Sol assumiu a responsabilidade de gerenciar a
fonte para mim na minha ausência.
Fiquei feliz e triste com essa notícia. Satisfeita porque o homem que eu
amava como um irmão precisava abraçar mais sua Terra, e eu finalmente
lhe dei o empurrão que ele precisava para fazê-lo. Mas o ato me entristeceu
também porque significava que os Faes Elementais da Terra estavam
procurando uma maneira de sobreviver sem mim.
Era a coisa certa a se fazer. Eu não poderia liderá-los como uma
abominação. No entanto, isso não me impediu de querer tentar.
Kols acreditava que cresci com os poderes de Quandary de Sangue e
que a mordida de Shade tinha me dado uma desculpa para acessá-los. Ou
talvez minha presença na Academia tenha sido o que realmente os
despertou.
Exceto que eu os usei antes quando parei Elana.
— O que colocou esse olhar intrigante em seus olhos? — Zeph
perguntou, me lembrando de sua presença em cima de mim. Não que eu
tivesse me esquecido. Seu cheiro amadeirado e corpo duro e masculino
eram difíceis de ignorar.
— Nada.
— Não minta para mim.
Olhei para ele.
— Porque você nunca mente para mim?
Ele realmente parecia ofendido com a declaração.
— Na verdade, não minto. Tudo o que eu lhe disse desde o início foi
verdadeiro. Nós dois sabemos que você não vai sobreviver aqui. É só uma
questão de tempo. Isso torna meus esforços inúteis, mas pelo menos eu
tentei.
Eu ri com humor.
— Você realmente tem jeito com as palavras, Zeph.
No entanto, ele estava certo. Ele sempre falava o que pensava, nunca
evitando a verdade. Isso não significava que eu poderia confiar nele, mas
poderia pelo menos contar com ele para me dar uma resposta direta.
— Você está evitando minha pergunta. No que você estava pensando?
— Por que quer saber? — contra-ataquei.
— Me divirta.
Suspeitei que ele quis dizer isso de forma literal, já que muitas vezes se
divertia com meus comentários. Este seria, sem dúvida, faria isso.
— Eu estava pensando em Sol assumindo o controle da fonte terrestre e
como estou feliz por ele, mas triste por mim. Como uma abominação, não
posso liderar adequadamente meu povo, não importa o quanto eu queira.
Zeph me considerou por um longo momento e soltou meus pulsos para
se equilibrar em seus cotovelos em ambos os lados da minha cabeça. Isso
efetivamente me prendeu debaixo dele de uma maneira íntima que ele não
pareceu notar.
— Você sabe por que as abominações são mortas à primeira vista?
— Sim. Elas são más.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— São? — ele perguntou baixinho, desviando o olhar para os meus
lábios. — Você é má, Aflora? Ou nossos Conselhos nos treinaram para
temer o que não entendemos?
Engoli em seco, sentindo o calor de seu corpo penetrar no meu, nos
aproximando a cada instante. Um desejo proibido de beijá-lo surgiu em
meus pensamentos mesmo enquanto eu considerava suas palavras.
— Eu não me sinto má — sussurrei.
— Também não acho que você seja — ele concordou, sua voz soou tão
calma, mesmo aquela sendo uma conversa que não deveríamos estar tendo.
— Acredito que as abominações são destruídas porque nossos Conselhos
temem seu poder. Eles alegam que isso perturbará o equilíbrio da fonte, mas
acho que o que eles realmente querem dizer é que isso perturbará o
equilíbrio deles.
— Por que você está me contando isso? — perguntei quando seus olhos
encontraram os meus mais uma vez.
— Não sei. — Ele começou a brincar com uma mecha solta do meu
cabelo escuro, enrolando seu longo dedo na ponta. — Algo em você me faz
querer protegê-la. Continuo lutando contra o instinto, mas você me puxa de
volta. É como um quebra-cabeça que não consigo resolver, mas suspeito
que esteja ligado ao seu poder. Quandary de Sangue são considerados os
mais letais de nossa espécie. No entanto, novamente, me pergunto se esse
rótulo foi criado pelo Conselho por medo, não por praticidade.
Ele apoiou a testa na minha, inalando profundamente e suspirando
contra meus lábios.
— Você está melhorando admiravelmente — acrescentou em voz baixa.
Então ele interrompeu o momento rolando de cima de mim e ficando de pé
em um de seus movimentos experientes. — Classe dispensada, Aflora. Vejo
você em alguns dias.
Meu coração batia forte no peito enquanto ele se afastava e minha
respiração estava irregular tanto por suas palavras quanto por sua
proximidade.
Se meu poder não me matar, esses machos vão, pensei, incapaz de se
mover. Eu me sentia quente, fria e incrivelmente excitada.
E meus sonhos esta noite só iriam piorar.
CAPÍTULO VINTE E UM
ZEPH

Q ue alívio pelos dias de folga das aulas.


Eu tinha três dias – tecnicamente, três e meio, já que liberei Aflora
mais cedo – para trabalhar essa intensa necessidade que pulsava dentro de
mim.
Toda vez que eu fechava os olhos, eu imaginava Aflora embaixo de
mim, se contorcendo no tatame de treino, na minha cama ou contra a merda
da parede, gemendo o meu nome o tempo todo.
Este desejo crescente de transar com ela era um problema. Quase agi
hoje, quando meu pau ficou duro como pedra enquanto eu a prendia no
chão. Falar tinha sido a única maneira de manter o foco e evitar fazer algo
estúpido.
Olhando para o meu reflexo no espelho, observei as cavidades escuras
sob meus olhos e a barba que já crescia contra minha mandíbula. Parecia
que não importava quantas vezes eu me barbeasse, aquela sombra
continuava ali. Um dia desses, eu simplesmente pararia e deixaria a barba
vir.
Talvez.
— Puta merda — murmurei.
O que eu realmente precisava era de sangue. Os suplementos no campus
eram suficientes para manter um Fae da Meia-Noite, mas nada comparado a
uma nova veia humana. Passei o último mês e meio vivendo com a porcaria
do substituto porque não estava com vontade de brincar.
Esta noite, isso mudaria.
Uma veia e uma boceta quente e úmida estavam no cardápio.
Porque eu precisava transar antes de fazer algo de que me arrependeria
– como ir para a casa ao lado, pegar Aflora e me satisfazer com ela.
Aquela fêmea havia mexido comigo da pior maneira. Todas essas
sessões individuais só pioraram. Eu colocava as mãos sobre ela
diariamente, memorizando suas curvas e sentindo seu corpo estremecer
contra o meu.
Ela era como um livro aberto. Seria tão fácil tomá-la. Ela demonstrava
seu interesse nos olhos. Sem mencionar o perfume floral de sua excitação,
que parecia ser um afrodisíaco constante entre nós nos dias de hoje.
Novo plano, decidi, tirando a camisa e o jeans que tinha acabado de
vestir.
Se eu fosse para o Reino Humano nesta forma, duraria alguns segundos
dentro de uma mulher. Especialmente se encontrasse uma que me lembrasse
Aflora.
Liguei a água do chuveiro, esperei cerca de dois segundos para aquecer
e entrei debaixo o jato frio com o braço apoiado contra o mármore.
Nenhuma quantidade de masturbação iria resolver essa obsessão crescente.
Mas isso me prepararia para esta noite, me deixando pronto transar com
alguém que não fosse Aflora.
E pensar nela o tempo todo.
Era tão errado, o que só tornava essa indulgência mais certa.
— Puta merda — xinguei de novo, apoiando a cabeça no antebraço
enquanto segurava meu pau com a outra mão.
Eu estava duro desde que coloquei os pés dentro da academia. Aflora
prendeu aquele cabelo lindo em um rabo de cavalo, como sempre fazia.
Todas as vezes, aquilo me despertava todos os tipos de fantasias. Eu queria
agarrar todo aquele cabelo e empurrar sua cabeça para o lado para trilhar os
lábios até a base de seu pescoço e mordiscar sua pele macia. Humm, então
eu iria guiá-la para ficar de joelhos e mergulhar profundamente em...
— Ei, a Aflora disse que você interrompeu sua sessão. A magia dela...?
— Kols parou quando entrou no banheiro. O box estava aberto em um
convite não intencional, porque não me preocupei em fechar nenhuma
porta. Sua atenção mudou para a minha mão e o aperto raivoso que em meu
pau, o que fez seus olhos aquecerem com a visão. — Oh.
Um único sentimento, cheio de compreensão.
Eu me acariciei enquanto ele assistia, toda uma história de intimidade
acendendo entre nós no espaço de um segundo. Essa intensidade entre nós
só cresceu ao longo dos anos, nos cegando para nossas ações e como elas
impactavam os outros.
Agora não era diferente.
Eu sabia que não deveria.
Eu sabia que ceder a esse impulso seria um erro.
No entanto, não podia negar o cintilar de suas pupilas ou a respiração
aguda quando sua excitação alcançou a minha.
Ele me desejava como sempre.
E eu estava longe demais para lutar contra isso.
Eu me afastei do mármore, segurei sua nuca e o puxei para o chuveiro.
Ele grunhiu quando suas costas bateram na parede e suas íris douradas
ficaram em chamas quando ele encontrou meu olhar de forma corajosa.
Tomei sua boca em um beijo punitivo destinado a tirar sangue, e ele
retribuiu na mesma moeda, segurando a parte de trás do meu pescoço e
apertando enquanto lutava contra meu domínio com o seu.
Ele perderia.
Nós dois sabíamos disso.
Mas parte do fascínio entre nós era a batalha cada vez que transávamos.
Soltei sua nuca para puxar sua camisa, e os botões arrebentaram em
minha mão enquanto eu arrancava o tecido de seu peito. Ele grunhiu. Eu
também. E sua camisa caiu em farrapos no chão do chuveiro.
Ele tirou os sapatos, o couro arruinado pela água. Suas calças e boxers
logo seguiram, nos deixando nus e ofegantes um contra o outro.
— Me conte sobre os sonhos — exigi. — Porque eu sei que você esteve
na cabeça dela todas as noites.
Kols arqueou enquanto eu agarrava seu pau, e sua respiração ofegou
sobre meus lábios.
— Não todas as noites — ele respondeu. — Mas a maioria.
— O que ela faz? Como você transou com ela? Quero detalhes. Todos.
— Apertei com mais firmeza, fazendo uma carícia firme e forte para
ressaltar minha ordem.
— Puta merda, Zeph.
— Isso aí — respondi, apoiando a testa na dele. — Me diga o que ela
gosta.
— Ela gosta de tudo — Kols ofegou, curvando as costas. — Eu a tive
de muitas maneiras diferentes no último mês, e ela adora tudo. Às vezes, ela
até assume o controle, me permitindo entrar em suas fantasias. No entanto,
ela não tem ideia de que sei ou que é tudo uma troca mútua. Ela acha que
está me usando contra Shade para chutá-lo de sua cabeça para satisfazer
seus próprios desejos.
— Humm, se isso fosse verdade, então eu estaria lá também. — Porque
eu sabia que ela me queria, tinha visto o brilho de interesse inúmeras vezes
em seus lindos olhos azuis.
— Acho que ela tentou, mas sou sempre o único disponível — admitiu.
— Ela me mantém acordado o tempo todo com a mão no meu pau,
acariciando sem parar até ficar satisfeita.
— Você goza? — perguntei a ele, nossos olhos presos um no outro.
— Toda vez.
— Você a imagina gozando e te lambendo depois?
— Sim.
— O que te faz gozar de novo. — Não era uma pergunta, mas uma
afirmação. Porque eu conhecia Kols. Nós dois estávamos tomando
suplementos de sangue porque não nos alimentávamos adequadamente há
séculos. E era tudo culpa da Aflora. Seu encantamento, seu fascínio, seu
doce perfume floral. — Ela está me deixando louco.
— Eu sei.
— Me conte sobre os sonhos — pedi de novo, pegando nossos paus e os
acariciando juntos. — Quero os detalhes, Kols. Me diga qual o gosto dela,
como ela grita, sua posição favorita. Como ela gosta de ser comida?
Ele engoliu em seco, com a palma da mão ainda na minha nuca, a mão
oposta no meu braço como se quisesse me ajudar a guiar o movimento
abaixo. Eu prosperava no controle, e ele também. A pobre Aflora ficaria
indefesa entre nós, pois nossas necessidades ditariam cada movimento dela.
E ela iria adorar isso.
Nós nos certificaríamos disso.
— Ela chupa um pau como uma rainha — Kols disse, apoiando a
cabeça na parede do chuveiro enquanto eu apertava nossos paus juntos em
um movimento violento do meu pulso. — Ainda não tomei sua bunda, mas
quero. Ela fica incrível de quatro e grita quando eu a como por trás. Puta
merda, ela é insaciável, Zeph. Posso tomá-la por horas, pelo menos em sua
mente. Eu a fiz gozar quatro vezes com minha língua na outra noite, e ela
gozou pela quinta ao redor do meu pau apenas alguns minutos depois.
Soltei um suspiro rouco, enquanto movia minha mão mais rápido.
— Ela se encaixaria perfeitamente entre nós.
— Eu sei. Confie em mim, eu sei. — Ele se moveu contra minha mão,
fechando os olhos. — Mas isso nunca vai acontecer. Ela é inatingível.
Meu pau pulsou com suas palavras, que era inteiramente o ponto.
Ele sabia como me estimular.
Assim como eu sabia como acelerá-lo.
— Se ela estivesse aqui, eu ordenaria que ela se ajoelhasse e nos
assistisse — disse a ele, movendo a mão mais uma vez. — Então eu a faria
nos lamber quando terminássemos.
Kols xingou com a expiração ofegante e aquecida.
— Você a deixaria gozar?
— Eu a faria gozar — respondi. — Mas diria a ela para fazer isso
sozinha. Ela não ganharia nossas bocas. Ainda não.
— Porque ela é proibida.
— Ela é uma pirralha desobediente.
— Quem também está completamente fora do nosso alcance — ele
acrescentou, sua provocação enviando um choque quente de luxúria pela
minha espinha. — Ela é perigosa, Zeph. Um brinquedo que não devemos
tocar.
— Eu sei.
— Seguir por esse caminho seria como flertar com a morte — ele
continuou, atiçando minha chama ainda mais. — Ela é o desafio mais
complicado que já conhecemos.
— Eu sei — repeti, apoiando a testa na dele. — Puta merda, eu sei.
— Não podemos tê-la, Zeph.
Rosnei com sua declaração, preparado para lutar.
Ele agarrou meus ombros para me empurrar contra a outra parede, lendo
minhas dicas como sempre fazia. E eu o segurei para empurrá-lo de volta,
mantendo o aperto em nós implacável.
— Você vai gozar na minha mão. Depois você vai lamber.
— Vá se foder...
— Hoje, não — respondi com um movimento forte, provocando um
som gutural dele. Eu o deixei me levar uma vez, depois de uma longa briga
que equivalia a preliminares selvagens. Mas quase sempre era o contrário.
— Você está me matando — ele gemeu, me empurrando para trás mais
uma vez.
Grunhi quando bati na parede, então nos girei para colocar suas costas
na superfície dura, mantendo meu peito pressionado contra o seu.
Ele grunhiu.
— Você está de mau humor.
— Não pedi para você se juntar a mim — falei, levando os lábios ao
músculo ao longo de seu pescoço para roçar seu pulso.
— Não, você me agarrou e arrancou minhas roupas.
— Você sabia que eu estava no chuveiro — sussurrei de forma sombria.
— Você podia ouvir.
— Não esperava que a porta estivesse aberta.
— Eu não esperava que você invadisse minha suíte, mas aqui estamos.
— Passei a língua sobre seu pulso furioso, senti seu pau responder com uma
pulsação contra minha mão. — Era isso o que você queria, certo? Transar?
— Era o que nós dois precisávamos. Tudo por causa dela.
Ele agarrou meu quadril com uma mão, a palma oposta ainda ao redor
da minha nuca em uma afirmação de falso controle. Nós dois sabíamos
quem era o alfa entre nós. Ele só gostava de lutar contra. E eu adorava que
ele fizesse isso.
— Ela grita quando goza — ele sussurrou, se arqueando ao meu toque.
— É o som mais bonito. Ouço todas as noites, sabendo que seus dedos
estão enterrados profundamente em sua boceta, e cada vez, imagino meu
pau levando-a profundamente enquanto você a come por trás. — Ele gemeu
enquanto eu o apertava em resposta à visão vívida pintando minha mente
com suas palavras. — Puta merda, Zeph, ela faria os barulhos mais
excitantes só para nós.
Imaginei a cena, nós dois a penetrando em ângulos diferentes e levando-
a a novos níveis de prazer, o tempo todo provocando, excitando e fazendo-a
implorar por mais. Mais imagens passaram pela minha cabeça, dela de
joelhos chupando Kols, com minha mão em seu cabelo para ditar o ritmo.
Kols caindo sobre seu corpo depois que eu transasse com ela, meu esperma
na língua dele se misturando com a excitação fresca dela. Aflora lambendo-
o depois que ele gozasse por todo o meu abdômen, como ele estava prestes
a fazer agora.
Ele apoiou a testa em meu ombro, e mantive os lábios ainda perto de
seu pulso.
— Faça isso.
— Você não se alimentou recentemente — respondi com a respiração
irregular dos movimentos da minha mão e nossa discussão.
— Estou bem. Puta merda, faça isso.
Meus incisivos doíam com a perspectiva, a linhagem de Kols era um
afrodisíaco para meus sentidos. Como seu guardião prometido por toda a
vida, eu poderia beber dele sem me preocupar com o elo de acasalamento se
encaixar, porque já estávamos ligados de uma maneira diferente. Jurei
minha fidelidade a ele há quase uma década, selando nossos destinos.
Era isso o que marcava esta designação como temporária.
Ninguém poderia proteger Kols como eu.
Estávamos literalmente ligados em uma cerimônia antiga que poucos
conheciam fora de sua linhagem estimada.
— Agora, Zeph — ele exigiu, com a voz rouca com a tensão de seu
clímax iminente.
Eu o levei ao limite, mordendo com força seu pescoço e perfurando sua
veia. Seu poder fluiu em minha boca em uma onda de energia derretida que
revitalizou minha conexão com as artes das trevas em um instante e me
levou ao clímax com ele.
Nossos gemidos reverberaram ao redor das paredes de mármore do box,
seu sêmen se misturando com o meu contra nossos abdomens e nos
cobrindo com a luxúria proibida que constantemente fermentava entre nós.
Era por isso que gostávamos disso - o erro disso.
Nós dois estávamos igualmente fodidos e abraçamos a insanidade.
Nada poderia existir aqui além da satisfação mútua, o destino dele e o
meu já amarrados em um arco de perfeição sancionado pelo Conselho.
Uma perfeição que Aflora colocava em perigo, o que só me seduzia
mais.
Ela tinha o potencial de mudar tudo.
E destruir todos nós.
Provavelmente da melhor maneira possível.
Soltei o pescoço de Kols, meus olhos encontrando os dele enquanto
nossas mentes se fundiam em uma infusão temporária. Isso sempre
acontecia quando eu o mordia, nossos estados mentais flutuavam.
Aqueles pensamentos sobre Aflora não eram meus, mas dele. Só que eu
ecoei o sentimento agora que ouvi.
— Você quer que ela foda com tudo — sussurrei, tendo visto o segredo
mais sombrio à espreita dentro de sua mente. — Você dá as boas-vindas ao
caos que ela pode provocar.
— É uma fantasia sombria. — Ele umedeceu os lábios, sua voz estava
rouca do nosso prazer. — Isso nunca vai acontecer.
— Mas você quer.
— Assim como você.
Não neguei.
Porque ele estava certo. A parte depravada de mim que se conectava tão
profundamente com a de Kols, desejava ver seus pensamentos maliciosos se
tornarem realidade. E foi exatamente por isso que eu o soltei.
— Saia. — Isso nunca deveria ter acontecido. Eu devia a ele – a todos –
permanecer distante e evitar a repetição da experiência de Dakota.
E Aflora representava o maior risco da história da minha existência para
a segurança de Kols.
Não deveríamos nem estar discutindo sobre ela, muito menos
fantasiando.
Kols semicerrou o olhar, ignorando meu comando para sair.
— Olha, eu entendo. Você está perdendo de vista seu controle quando
está por perto dela. Mas agir como um idiota não vai resolver esse
problema.
Cerrei os dentes, sentindo a vontade de socá-lo aumentar a cada
instante.
— Isso não tem nada a ver com o meu controle. — E tudo a ver com
protegê-la, acrescentei a mim mesmo.
— Tem tudo a ver com o seu controle. Você a quer, e está se tornando
cada vez mais difícil não transar com ela. O fato de que ela poderia
atrapalhar um futuro que nós dois desprezamos só a torna muito mais
intrigante. Mas não podemos. Nós dois sabemos que não podemos.
— Não sou eu que estou considerando essa fantasia — apontei.
— Talvez não, mas você gosta da ideia tanto quanto eu — ele disse,
enquanto se inclinava para pegar suas roupas encharcadas. — Da próxima
vez, eu estarei no comando.
— Não haverá uma próxima vez, Kols.
Ele me deu um olhar.
— Quando você começou a mentir para si mesmo? — ele perguntou.
Ele não esperou por uma resposta, em vez disso saiu do chuveiro para
jogar sua peça de roupa arruinada na lixeira e pegou uma toalha.
— Obrigado — ele disse da porta. — Mas nós dois vamos precisar de
muito mais do que isso para sobreviver a Aflora.
Eu não conseguia pensar em uma única resposta, suas palavras eram
mais verdadeiras do que qualquer coisa que eu já tinha ouvido.
Então me encostei na parede, fechei os olhos e deixei a água escorrer
pela minha pele, lavando a evidência do nosso prazer.
Ele saiu com uma toalha na cintura e sua acusação pairando entre nós.
Quando você começou a mentir para si mesmo?
No dia em que Aflora chegou, pensei para ele agora, não que ele
pudesse me ouvir.
A admissão foi mais para mim de qualquer maneira.
Incluindo a percepção de que sempre me interessei pela linda pequena
Fae Real da Terra, mesmo quando afirmei não estar.
Só que agora, meu controle estava escapando, assim como Kols havia
declarado, provando que ele ainda me conhecia melhor do que eu mesmo.
Estou muito fodido.
CAPÍTULO VINTE E DOIS
AFLORA

— A rgh, o Zeph está de mau humor — Ella gemeu quando


terminamos nossa quarta volta ao redor do pátio. Ele começou a
aula de hoje com cardio, alegando que isso ajudaria a nos animar para
quaisquer feitiços defensivos que ele tivesse reservado.
Mas eu concordava com Ella. Zeph só estava fazendo isso para ser
cruel.
— Está muito quente para isso.
— Eu sei — ela ofegou, pegando sua garrafa de água do chão e bebendo
metade de uma vez. — Juro que a lua é como o sol neste lugar, porque, puta
merda, está queimando aqui.
Todos os cipós ardentes explodindo nas proximidades não ajudavam.
Zeph soprou forte em seu apito, chamando todo mundo e nos agrupando
como fazia a cada aula. Kols se juntou a mim, usando moletom e camisa
sem mangas, parecendo revigorado apesar do nosso aquecimento pesado.
— Ele está sendo um idiota — ele murmurou.
— Eu sei. — Eu só não sabia por quê. Não nos víamos desde o meu dia
de estudo independente que ele terminou mais cedo. Isso foi há cinco dias.
Normalmente, eu o via pelo menos uma vez durante nossos dias de folga,
mas ele deixou a Academia ou me evitou o tempo todo. Suspeitei que fosse
o último, já que ele nem olhou para mim hoje.
Ele ficou com os braços cruzados no centro do pátio, as pernas
apoiadas, enquanto explicava o exercício de hoje em um tom sem emoção.
— Brincando com encantamentos — Shade comentou quando Zeph
terminou, roçando seu braço no meu enquanto ele se movia para ficar ao
meu lado. — Esta parte deve ser nova para você, certo? — Ele não esperou
que eu respondesse, em vez disso, acrescentou: — Eu me pergunto o que
vai aparecer para protegê-la. Talvez uma flor bonita?
— Ataque e descubra — provoquei.
Como pratiquei o feitiço de conjuração na noite passada durante meus
preparativos para a aula de hoje, eu já sabia o que viria para me defender. E
adoraria ver isso arrancar os olhos de Shade depois do sonho que ele me
infligiu na noite passada. Eu ainda podia sentir seus dentes provocando a
carne entre minhas coxas. E eu odiava como só a imagem disso me fez
apertar os membros, aumentando minha excitação novamente.
Por mais que eu o detestasse, Shade sabia como usar a língua.
Pelo menos, nas visões mentais que ele continuava me forçando.
Perguntei a ele ontem à noite se era tudo apenas para exibição, uma
fantasia que ele criou para viver, já que sua realidade não estava à altura.
Ele tomou isso como um desafio para me deixar louca, e ele conseguiu.
— Humm, você sabe. Agora estou intrigado — ele disse, referindo-se à
minha provocação.
— Você está agrupado com o Stiggis — Kols o lembrou. — Então vá se
foder.
— Infelizmente, o Stiggis não está na aula hoje. Algum tipo de
emergência familiar envolvendo a Cordelia. Trágico, tenho certeza. De
qualquer forma, vim para brincar com minha pequena rosa — Shade
respondeu.
— Ela é minha parceira, Shade. Encontre outra pessoa para irritar.
— Humm, talvez eu devesse me juntar a vocês dois — Shade sugeriu,
com um sorriso em seu tom de voz. — A menos que você tenha medo de
que possa ser demais para ela lidar, com as sensações e tudo mais. —
Estremeci com seu tom sugestivo e a forma como seus olhos azuis gélidos
brilhavam com conhecimento.
— Eu...
— Parem de brincar — Zeph interveio, me cortando. — Shade, trabalhe
com Kols. Vou lidar com a lição de Aflora por hoje. — Ele me segurou pelo
cotovelo, me levando para longe antes que qualquer um dos homens
pudesse responder.
Eu me soltei de seu aperto quando paramos no canto do pátio e levantei
uma sobrancelha.
— Está tudo bem?
— Não estamos aqui para conversar — ele retrucou. — Pegue sua
varinha e faça o feitiço para que eu possa ver o quanto preciso corrigir antes
do próximo exercício.
Certo, alguém está no modo idiota. Uma hera devia ter rastejado pelo
traseiro dele esta manhã e se agarrado nele.
Não querendo me intrometer ou tornar as coisas ainda mais
desconfortáveis entre nós, peguei minha varinha e murmurei o
encantamento. Um lindo pássaro com penas pretas e brancas desceu do céu
para pousar ao meu lado. Seu bico amarelo e preto se abriu para liberar um
som de boas-vindas.
Sorri para a bela criatura.
— Bom dia para você também, minha querida Clove. — Me inclinei
para correr um dedo ao longo de suas penas macias, tendo dado um nome a
ela na noite passada. Ela piscou os grandes olhos cor de obsidiana para
mim, então se inclinou para o meu toque, sua única confirmação de
conforto.
— Um falcão — Zeph comentou, olhando para o meu encantamento. —
Eu teria esperado um caracol ou outra coisa lenta e fácil de matar, não uma
ave de rapina.
Semicerrei o olhar para ele.
— Não sou fácil de matar.
Ele bufou.
— Sim. Você é. — Ele pegou sua varinha em um piscar de olhos, o
mesmo feitiço murmurado em voz baixa para chamar seu próprio animal
protetor à vida.
Pulei quando uma cobra apareceu, com a cauda longa e grossa como
meu pulso. Mas foram as cabeças que chamaram minha atenção. Havia três
delas, todas divididas no pescoço da cobra – se é que uma cobra tinha uma
coisa dessas.
Meu falcão se mexeu, notando meu desconforto, começando a agitar as
penas ao longo das asas com força enquanto as asas se flexionavam para
fora.
— Seu encantamento é uma cobra? — perguntei, dando um passo
instável para trás.
— Obviamente.
As escamas pretas e verdes começaram a se mover enquanto a cobra
deslizava em minha direção, três pares de olhos vermelhos parecendo
encarar minha existência.
— Não acho que isso goste de mim — sussurrei, me afastando alguns
centímetros.
— É meu encantamento, não seu — ele respondeu, cruzando os braços.
— Ele sente como me sinto e age de acordo.
O que significava que sua criação de três cabeças estaria em um humor
semelhante ao de seu mestre.
— Talvez isso não seja uma boa ideia — falei, olhando para o olhar
assassino vindo de seu encantamento. Zeph pode manter um exterior
entediado, mas por dentro, parecia estar furioso com alguma coisa.
E essa fúria estava definitivamente sendo refletida em sua cobra de
estimação enquanto ela deslizava em minha direção.
Meu falcão se eriçou novamente, soltando um grasnido de advertência
de um som que espalhou arrepios pelos meus braços.
— Zeph — eu sussurrei.
— Diretor Zephyrus — ele retrucou em um tom gelado. Sua cobra
sibilou em resposta, as três cabeças ecoando o sentimento e fazendo Clove
dar um gritinho com raiva.
Pulei para trás, os dois animais atacando um ao outro ao mesmo tempo
e brigando pelo chão.
— Pare! — exigi, tentando puxar o monstro rastejante do meu falcão.
Ele tinha as três bocas travadas em diferentes pontos, a cauda envolvendo o
corpo para apertar enquanto as garras de Clove afundavam a pele escamosa
e tentava usar seu bico para perfurar a fera viscosa.
Tudo aconteceu tão rápido, os animais rápidos, afiados e mortais.
Eles rolaram pelo pátio, enquanto sons horríveis saiam da garganta do
meu falcão e a criação hedionda de Zeph ameaçava destruí-la.
— Faça-os parar! — implorei, com lágrimas escorrendo dos meus
olhos. Mas ele apenas assistiu ao show com uma expressão desinteressada,
suas íris verdes tão mortas quanto sua alma.
Não era à toa que ele criou algo tão vil.
Isso o representava.
Ser capaz de ficar lá e assistir seu animal de estimação destruir meu
lindo falcão sem se importar com o mundo.
Seus gritos morreram lentamente, enquanto um pedaço do meu coração
parecia quebrar e murchar com ela.
Caí de joelhos, sentindo o peso da devastação me esmagar sob uma
onda de desolação. O livro não falava sobre isso, apenas comentava sobre a
lealdade resoluta de nossos encantamentos e como eles nos protegeriam até
o último suspiro.
Os olhos cor de obsidiana de Clove encontraram os meus com uma
piscada final, sua dor por ter falhado comigo tão palpável que gritei de
angústia.
— Por favor — sussurrei, estendendo a mão para ela e incapaz de fazer
nada porque eu não sabia como ajudá-la. Como parar isso. Como matar
aquela coisa doentia de três cabeças destruindo minha amada criação.
— Você é lamentável — Zeph disse, sua voz fria e sem remorso. —
Assim como seu encantamento. — Sua cobra deu um giro vitorioso, e o
corpo de Clove ficou mole, e seus olhos se fecharam.
Cobri a boca para conter um soluço, a visão diante de mim destruindo
minha vontade de respirar.
Qual era o sentido de inspirar a vida para tê-la tomada tão friamente?
O monstro voltou a se concentrar em mim, com aqueles olhos letais
brilhando com intenção maliciosa.
— O que você vai fazer agora? — Zeph me perguntou. — Fugir?
Construir uma fortaleza de flores para se esconder?
Não respondi, sentindo minha dor sufocar a capacidade de me mover.
Como você pôde? Eu queria perguntar a ele. Por que você fez isso comigo?
Que lição você está tentando me ensinar?
A cobra se afastou do meu encantamento morto, os pontinhos do mal
me observando com intenção óbvia.
Eu apenas encarei seu olhar, esperando o inevitável. Mesmo se eu
conhecesse um feitiço que pudesse ferir a criatura, não o usaria.
— Eu não tiro vidas. Eu as crio — sussurrei para ele, derrotada e
arrasada. — Então faça o que você quiser.
— É por isso que você não vai sobreviver neste mundo — Zeph
respondeu com a voz sombria com alguma emoção não dita. — Não há
ninguém aqui que vai te proteger. Só você mesma. E sem a vontade de
sobreviver, você simplesmente perecerá.
Engoli em seco, suas palavras golpeando meu coração já destruído.
— Melhor perecer do que me tornar um monstro. — Eu encontrei seu
olhar e vi a morte olhando para mim de suas profundezas verde-escuras. —
Um monstro como você — acrescentei, finalmente vendo-o pela primeira
vez.
Quaisquer demônios que ele abrigasse, eu não queria nada com eles.
Se ele queria me destruir com este exercício, ele tinha conseguido, mas
não da maneira que pretendia.
— Matar e ferir os outros não é a única maneira de sobreviver — eu
disse a ele, me levantando e ignorando seu animal eriçado. Se aquela coisa
queria me atacar, que assim fosse. Eu não iria revidar, pelo menos não da
maneira que Zeph previu. Em vez disso, eu faria do meu jeito – desfazendo
o feitiço dele. Talvez eu domesticasse um novo animal de estimação no
processo. Ou talvez morresse tentando.
A essa altura, o que importava?
Dei meia-volta, deixando-o para trás.
Ele chamou meu nome. Eu o ignorei.
Ele gritou atrás de mim. Parei de ouvir.
Vários alunos me viram sair do pátio. Não reconheci nenhum deles.
Chega, pensei. Só quero ir para casa.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
KOLS

— Q ue merda é essa? — exigi em voz baixa, entrando no caminho de


Zeph para impedi-lo de perseguir Aflora. Depois daquela
pequena demonstração de valentia, o idiota claramente precisava de um
momento para respirar antes de piorar a situação.
— Saia da frente — ele me ordenou.
— Não.
Seus olhos verdes brilharam com fogo esmeralda e seus ombros ficaram
tensos para uma luta.
Arqueei uma sobrancelha, desafiando-o a me bater. Na aula ou não, eu
lutaria com ele na frente de toda a escola. Mesmo que isso significasse ser
derrotado. Qualquer coisa para proteger Aflora do mau humor de Zeph.
— Você poderia pelo menos ter dito a ela que os encantamentos não
podem realmente morrer. — Bem, a menos que o dono também tenha
morrido. Então o encantamento falecia também.
Um músculo se contraiu em sua mandíbula quando ele olhou por cima
do meu ombro na direção que ela tinha ido.
— Ela precisa aprender.
— É assim que você justifica o que acabou de fazer com ela? —
perguntei em voz alta. — Fascinante.
— Ensinei uma lição que ela precisava aprender.
— E qual foi exatamente? Que ela não pode confiar em você?
— Sim. Ela também não deve confiar em mim.
Balancei a cabeça.
— Algo me diz que a lição foi mais para você do que para ela —
murmurei, me virando.
— Onde é que você está indo?
— Recuperar a linda florzinha que você acabou de derrubar —
retruquei.
— A aula ainda não acabou.
— Então me reprove — resmunguei.
— Não me tente, Alteza.
Eu o ignorei e segui a energia de Aflora em direção à Residência Elite.
Zeph que se danasse. Ele poderia lutar com Shade, assumindo que o Sangue
de Morte se incomodasse em ficar por perto. Ele provavelmente
desapareceria na primeira chance, optando por matar aula em vez de
comparecer. Dado o comportamento de Zeph hoje, eu não culparia ninguém
por pular do navio e dizer ao diretor para se foder.
Babaca, pensei, irritado de novo. Quando vi Raph, a cobra de estimação
de Zeph, rasgar o falcão de Aflora, quase interferi. Mas então a porcaria do
morcego de Shade foi atrás de Night, e ninguém mexia com meu
encantamento.
Sentindo minha inquietação, Night pousou em meu ombro. Suas asas
negras roçaram meu pescoço em sinal de afeto. Nós nos conhecemos anos
atrás quando aprendi como conjurá-lo, como era o caso da maioria dos Faes
da Meia-Noite. Mas Aflora era totalmente nova para o vínculo criado com o
feitiço protetor, o que só piorou muito o que Zeph fez.
— Você pode me ajudar a fazer uma demonstração para ela, Night — eu
disse ao meu corvo. — Então eu vou libertá-lo para a natureza mais uma
vez. — A maioria dos Faes da Meia-Noite tinha um relacionamento com
seus encantamentos onde eles só os chamavam em momentos de
necessidade, ou neste caso, durante uma aula. Eles eram considerados um
braço defensivo, usado principalmente em combate. Mas eu suspeitava que
Aflora não se sentiria assim sobre seu falcão.
Entrei na suíte, notei a quietude da sala de estar e fui direto para o
quarto dela. Ela não se incomodou em fechar a porta, apenas foi para a
cama e se enrolou em uma bola para olhar pela janela.
Depois de tudo que ela suportou, este exercício foi o único a derrubar
sua força. Saber disso me fez fechar as mãos ao lado do corpo enquanto a
minha irritação com Zeph aumentava a cada segundo. Ele pegou essa
criatura forte e linda e a menosprezou a uma bola de tristeza. Tudo por
causa de suas próprias emoções sobre sua perda de controle quando estava
com ela.
Meu corvo grasnou, assustando Aflora e fazendo-a se sentar, com os
olhos azuis cheios de esperança.
Mas ela se apagou quando me encontrou no corredor. Seu foco foi para
Night no meu ombro e sua expressão ficou nublada. Ela voltou seu olhar
para a janela, com os ombros caindo de uma forma que eu reconheci
imediatamente. Normalmente, esse tipo de resposta me fazia fugir. Mas dei
um passo à frente para me sentar ao lado dela na cama.
Ela estremeceu em resposta. Sua tristeza silenciosa ecoou no ar e
apertou meu coração.
— Você pode trazê-lo de volta — eu a informei baixinho, me referindo
ao seu falcão. Ele estava começando a se mexer no momento em que segui
para Zeph, o que significava que a fera voltaria à saúde completa em breve.
— Apenas use o mesmo feitiço, e ele encontrará o caminho até aqui. Pode
levar alguns minutos para passar por todas as portas. Sir Kristoff o deixará
passar, já que ele está ligado à sua essência.
— Não quero um novo encantamento — ela disse e sua voz era quase
um sussurro.
— Não será um novo. Só temos um.
Ela balançou a cabeça e suas bochechas brilharam com lágrimas.
— Zeph a matou.
Ela? pensei, franzindo a testa. Eu não tinha dado uma boa olhada no
falcão, mas Aflora saberia melhor que eu. Assim como ela seria capaz de
sentir que o vínculo ainda prosperava se ela o procurasse.
Night voou do meu ombro para se empoleirar na mesa de cabeceira,
tomando minha sugestão mental através de nossa conexão.
— Aflora — murmurei, passando o braço ao redor de seus ombros. Era
um ângulo estranho com as pernas dobradas parcialmente abaixo dela, mas
ela se derreteu no meu lado, seu corpo se enrolando no meu quando uma
única lágrima escorregou de seus olhos.
— Achei que o som... — Ela parou e seus ombros começaram a tremer.
Segui sua linha de pensamento.
— Você achou que Night era seu falcão. — Não me incomodei em
apontar que os falcões não soavam da mesma forma. Seu coração não sabia
a diferença, porque Zeph o partiu com sua crueldade.
— Sinto muito. Isso é... estou sendo...
— Um encantamento cria um vínculo inquebrável com seu criador —
sussurrei, roçando os lábios em sua têmpora. — É por isso que você sentiu
a dor do seu falcão, linda. Mas prometo que ele, ou melhor, ela, está bem.
Um encantamento não pode morrer a menos que seu dono morra. Zeph foi
um idiota por não te dizer isso.
Bem, ele era um idiota para um monte de coisas.
Dei-lhe um aperto tranquilizador e acrescentei:
— Nossos encantamentos são criados com o feitiço protetor, o que
significa que seu falcão nasceu do encantamento. Ela está ligada à sua
existência, então ela sempre se regenerará enquanto você estiver viva. — O
que, se fosse do meu jeito, seria por muito tempo.
Empurrei o cabelo dela por cima do ombro até minha mão alcançar sua
nuca, e a forcei a encontrar meu olhar mais uma vez.
— Diga Ahaminee — eu disse a ela. — Você não precisa da varinha,
apenas do feitiço. — Era uma frase mais avançada do que a que seu livro
teria ensinado a ela inicialmente, uma que eu só conhecia por causa da
minha criação única.
Me tornar o Rei dos Faes da Meia-Noite exigia uma certa quantidade de
instrução de defesa no início de minha vida. Ainda que eu aprendesse
algumas coisas na Academia, eu participava principalmente como uma
formalidade ou um rito de passagem.
Aflora me observou por um longo momento, como se estivesse
debatendo consigo mesma se deveria ou não confiar em mim. Dei-lhe
tempo para considerar suas alternativas. Ou ela acreditava em mim ou não.
— Só há uma maneira de saber a verdade — sussurrei, pegando a
desconfiança em seu olhar. Eu não podia culpá-la por ser cautelosa. Embora
eu possa ter me esforçado para ajudá-la nos últimos dois meses, não foi
tudo por bondade do meu coração. Eu queria que ela sobrevivesse por uma
infinidade de razões, uma das quais existia nas minhas calças.
Daí nossas frequentes sessões de sonhos.
O que piorou meus desejos por ela ao invés de satisfazê-los, já que
prová-la só me fez querer experimentar a realidade com ela.
— Ahaminee — Aflora disse, com incredulidade em seu tom e feições.
Mas havia poder suficiente ligado a isso para que o encantamento
funcionasse. Senti o feitiço brilhando no ar, alcançando sua criação e
chamando-a para se juntar a nós.
Como nada aconteceu de imediato, Aflora semicerrou o olhar em
suspeita.
— Não é um truque — garanti a ela. — Apenas seja paciente.
Ela apertou a mandíbula, mas me deu um aceno rígido, escolhendo
acreditar em mim um pouco mais.
Soltei seu pescoço para acariciar suas costas para cima e para baixo, lhe
dando minha força no processo e acariciando a energia que vibrava em
torno de sua aura.
Era um jogo perigoso permitir que meu poder se misturasse com o dela.
Uma intimidade que eu não deveria conceder. Uma que enfureceria todo o
Conselho se eles descobrissem. No entanto, veio tão naturalmente para mim
que eu não conseguia parar. Minha conexão com a magia sombria
prosperava quando em sua presença por causa do nosso potencial de
acasalamento.
Ela relaxou consideravelmente e sua expressão foi se suavizando.
— O que você está fazendo? — ela perguntou e vi suas pupilas
dilatando.
— Algo que eu não deveria estar fazendo — murmurei, fazendo uma
trilha com os dedos até seu pescoço para tocar seu pulso acelerado.
Ela se inclinou para o meu toque, com os olhos semicerrados.
— Por que é tão bom?
— Porque é para acalmá-la. — Tracei sua mandíbula com o polegar,
acompanhando o movimento com os olhos. Ela tinha uma pele tão macia,
me lembrando uma pétala de flor. Seus lábios eram macios também. Ou
imaginei que fossem em nossos sonhos compartilhados. Eles pareciam
macios agora, carnudos e deliciosos. Umedeci os meus, enquanto meus
pensamentos vagavam para um lugar que não deveria enquanto aumentava
a intimidade de nossa conexão.
Ela estremeceu, o poder zumbindo entre nós em sincronia. Seria tão
fácil para ela entrar em contato, tirar uma fatia do meu acesso à fonte, mas
ela não o fez. Ela simplesmente se aqueceu no brilho, com os olhos agora
totalmente fechados em contentamento.
Até que um som de arrulho fez com que ela os abrissem de surpresa.
Nosso elo enfraqueceu quando seu foco foi para o falcão que vinha do
corredor, e sua expressão se transformou em excitação e pura alegria.
— Clove!
O encantamento de Aflora pousou na cama e sacudiu as penas antes de
espiar de forma ameaçadora na minha direção.
Night gritou um aviso, mas enviei uma rajada de segurança através do
nosso vínculo, acalmando o animal antes que ele começasse uma briga com
o pássaro muito maior. Eu não estava preocupado com o sucesso de Night –
eu sabia que ele venceria, como sempre fazia – só não queria uma repetição
da experiência lá fora.
O falcão se aproximou de Aflora, com os olhos negros em mim o tempo
todo.
— Eu não sou uma ameaça para seu Fae — informei ao pássaro,
levantando a mão para inspeção. Não que isso tenha ajudado.
Os encantamentos eram resolutamente protetores de seus donos,
recusando-se a se submeter até mesmo a um Fae Real do meu calibre.
— A primeira regra que você precisa aprender é como se comunicar
com seu encantamento através do vínculo que você formou no momento da
criação — eu disse baixinho, tomando cuidado para não provocar nenhuma
emoção dela que pudesse inspirar retaliação de seu novo animal de
estimação. — Por exemplo, estou assegurando a Night que você e Clove
não são uma ameaça para nós. Você deveria fazer o mesmo com seu falcão.
— Como faço isso? — ela perguntou.
— Aqui, eu vou te mostrar. — Lentamente, cobri sua mão com a minha
e abri nossa conexão para começar um novo tutorial sobre encantamentos e
como controlá-los.
Cobrimos uma variedade de feitiços, todos destinados a chamar nossos
encantamentos para nós. Também dei a ela algumas dicas sobre como se
defender adequadamente e a Clove quando necessário, e até mesmo ensinei
alguns feitiços ofensivos.
Uma pontada de perigo mexeu com a minha mente durante toda a nossa
conversa, a noção de que o método de minha instrução representava um
risco significativo para a coroa, mas Aflora nunca tentou forçar, apenas
usando nosso vínculo para aprender e melhorar suas próprias habilidades.
Levou várias horas enquanto nossos encantamentos assistiam e se
uniam o tempo todo.
Quando terminamos, Aflora estava encostada na cabeceira da cama,
com as pernas esticadas e cruzadas nos tornozelos, comigo bem ao seu lado.
Seu sorriso era muito satisfeito, seus olhos azuis brilhavam com vida mais
uma vez e confirmando que eu mais do que completei a tarefa de melhorar
seu humor.
Ela suspirou de contentamento enquanto seu falcão se enfeitava entre
nós, suas grandes asas emplumadas para fora em uma exibição de preto e
branco. Aflora acariciou as pontas, contraindo os lábios.
— Você sabe que é bonita, não sabe?
— Sim, sim — respondi, plenamente consciente de que ela queria dizer
o elogio para o pássaro, mas aceitando-o para mim também.
Aflora riu e balançou a cabeça.
— Você é muito modesto, Kols.
— Extremamente. — Balancei as sobrancelhas para ela. — Nós dois
sabemos que sou atraente.
— Sabemos? — Ela coçou a mandíbula, me avaliando lentamente. —
Humm, acho que você é ok.
— Ok? — repeti, arqueando uma sobrancelha. — Sua visão está
falhando?
Ela bufou e sua atitude despreocupada me aqueceu por dentro.
Porque eu provoquei isso.
Eu coloquei aquele sorriso em seus lábios adoráveis.
Eu melhorei o dia dela.
E me agradou muito ver sua felicidade resultante agora.
Ela encontrou meu olhar, seu sorriso se transformando em algo mais
caloroso enquanto ela me considerava com uma seriedade crescente.
— Você tem mais do que boa aparência — ela sussurrou e umedeceu os
lábios. —Você é muito mais.
— Mais o quê? — perguntei a ela, ciente da corda bamba arriscada em
que ambos estávamos e ousando dar um passo à frente. — Muito mais o
quê?
Ela se inclinou para mim, apoiando a palma da mão no pequeno espaço
no colchão entre nós.
— Bonito — ela sussurrou, desviando os olhos azuis brilhantes para a
minha boca.
— Só bonito? — perguntei, me inclinando em sua atração magnética.
Ela engoliu em seco, com o olhar semicerrado encarando o meu.
— Mais do que bonito. — Ela levou a mão ao meu rosto, a outra ainda
situada entre nós. — Você é lindo, Kolstov.
— Não. — Segurei sua nuca, inclinando sua cabeça para o lugar exato
que eu queria, quase roçando meus lábios nos dela. — Você é que é linda,
Aflora — eu a corrigi. — Irresistível demais.
Ela estremeceu, e seu hálito doce era como um beijo que eu não podia
mais negar. Capturei sua boca, deslizando a língua para acariciar a dela um
segundo depois, e nossos mundos desabaram ao mesmo tempo.
Senti a intrusão lá no fundo, a correção do nosso abraço nos prendendo
em uma intimidade que nunca terminaria.
Ela estava embaixo de mim no momento seguinte, enquanto meus
quadris se acomodavam entre os dela e eu a prendia na cama. Meses de
preliminares entre nossas mentes levaram a isso, nossos corpos se unindo
como dois ímãs que finalmente removeram a barreira entre nós.
Essa barreira era uma realidade que eu sentia se esvaindo.
Nos conduzindo a um ápice perigoso que nenhum de nós poderia negar.
— Aflora — murmurei, roçando os dentes em seu lábio inferior.
Eu deveria parar com isso.
Deveria rolar para fora da cama e sair pela porta.
Mas meu corpo não queria ouvir minha cabeça.
Houve amplas oportunidades para ela acessar meu poder. Por que ela
faria isso agora?
Porque você está distraído, uma parte sombria de mim lembrou.
Só que ela parecia tão distraída embaixo de mim quanto eu estava, com
os olhos fechados, seu corpo se arqueando no meu, buscando mais.
Fiz uma trilha de beijos pelo seu pescoço, sentindo meus incisivos
dolorosamente perto de seu pulso sedutor.
Não, eu disse a mim mesmo, tremendo por dentro. Isso não é para você.
Ah, mas o resto dela eu podia provar. Poderia lamber. Poderia
mordiscar. Poderia explorar.
— Me mande parar — sussurrei com as mãos na bainha de sua camisa,
apertando duramente contra o tecido. — Me diga para ir embora.
Ela balançou a cabeça. Sua respiração ofegante era como música de
necessidade para meus ouvidos.
— Sonhei com isso tantas vezes... — ela admitiu com a voz ofegante e
sexy demais. — Eu te quero, Kols. Eu sei... eu conheço o risco. Sei que isso
é errado. Sei que não deveríamos. — Ela gemeu, arranhando a parte de trás
do meu pescoço com as unhas quando seu olhar encontrou o meu. — Mas
preciso saber disso. Por favor.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
KOLS

O aperto de Aflora aumentou quando ela me puxou para si, seus lábios
reivindicando os meus, fazendo com que eu me perdesse para ela
novamente.
Só que desta vez, dei boas-vindas à natureza proibida do nosso abraço.
Me deleitei com o doce perigo fermentando entre nós.
Permiti que seduzisse meus sentidos e me empurrasse para a promessa
licenciosa de puro pecado.
Sua camisa desapareceu, me permitindo o primeiro vislumbre real de
sua pele pálida.
— Tão linda — murmurei, fazendo um caminho de beijos para baixo
até a renda de seu sutiã. Seus olhos azuis queimavam com paixão e
necessidade, arrancando um sorriso de mim enquanto eu lambia ao longo
do vão de seu seio. Ela cravou as unhas em meu couro cabeludo e sua
respiração acelerou quando puxei o tecido para o lado com meus dentes
para revelar uma ponta dura e rosada.
Provei com hesitação, com um gemido preso na garganta com a pura
luxúria dilatando suas pupilas em resposta.
— Mais — ela implorou.
— Mais o que, linda?
— Apenas mais. — Ela se contorcia debaixo de mim, seu doce corpo
preparado e pronto para todos os nossos flertes noturnos. Eu quase podia
sentir sua necessidade dentro de mim como se estivéssemos conectados em
uma piscina íntima de pensamentos.
Seus gemidos eram música para meus ouvidos, me encorajando a sugar
seu mamilo profundamente.
— Kols! — ela gritou em resposta, inclinando a cabeça para trás na
cama em uma onda arrebatadora.
Mordisquei a ponta antes de repetir a ação no outro bico enquanto
segurava o seio oposto e dando-lhe um aperto suave. Puta merda, ela era
responsiva e seu corpo inteiro vibrava com desejo debaixo do meu por
quase nenhuma atenção em seus seios.
Todas aquelas fantasias me ensinaram o que ela gostava.
Mas também deram a ela uma visão das minhas preferências, o que ela
provou enganchando os dedos no cós da minha calça e empurrando-a para
baixo em um movimento ousado. Isso expôs meu pau.
Ela não se desculpou.
Não me procurou para aprovação.
Usei o pé para guiar o tecido pelas minhas pernas, ficando nu da cintura
para baixo.
— Puta merda, Aflora.
— Sim — ela respondeu, movendo as mãos para minha camisa para
tirá-la. — Sim, por favor.
Um rosnado se transformou em um gemido na minha garganta e apoiei
a testa em sua clavícula.
— Não diga isso a menos que seja sincero.
Ela tremeu, ainda segurando o tecido enrolado em meus ombros.
— Por favor, Kols. — Ela envolveu as pernas em minha cintura,
colocando meu pau contra seu centro aquecido. Eu podia sentir seu calor e
umidade através do tecido de suas calças pretas, sua necessidade penetrando
em minha pele enquanto ela se esfregava descaradamente contra mim.
Eu xinguei.
Meu pau pulsou.
Minhas bolas apertaram.
E quase me esqueci de como respirar.
Porque eu a queria. De verdade.
Tome-a, uma voz sombria sussurrou. Transe com ela intensamente.
Só a imagem disso quase me fez gozar em cima dela.
Que eu pudesse sentir sua própria necessidade crescente só intensificou
a experiência, me incitando a tomar o que eu queria, a entrar nas fantasias
proibidas à espreita entre nós.
Seus calcanhares empurraram minha bunda, exigindo ação. Pairei os
lábios perto de seus seios, com a testa ainda contra sua clavícula.
E então ela gemeu.
O som foi direto para minha virilha, envolvendo meu pau e dando-lhe
uma carícia figurativa que removeu a razão dos meus pensamentos.
Eu a queria.
Ela me queria.
Éramos adultos consentindo.
Isso vai acontecer.
Um cobertor proibido nos envolveu em um casulo de luxúria e desejos
ilícitos, minha mente correndo solta com todas as maneiras que eu queria
tomá-la. Mas primeiro, assim, com meu pau enterrado profundamente entre
suas coxas.
Eu a beijei novamente, penetrando sua boca com a língua e minha
resolução desmoronou em pó.
Ela me recebeu com um som doce e necessitado.
E o resto de nossas roupas desapareceu com um feitiço murmurado sob
minha respiração.
— Oh — ela se maravilhou enquanto a magia brilhava sobre sua pele.
Ela arqueou em mim e sua boceta quente acolheu meu pau em um beijo
molhado.
— Última chance, Aflora — avisei enquanto meu pau penetrava sua
umidade.
— Me coma — ela exigiu, assim como eu a ensinei em nossos sonhos.
Porque eu amava ouvir essas duas palavras de seus lábios.
Ela as fez soar tão inapropriadas, servindo assim como um lembrete de
como isso era errado entre nós e convidando meus instintos mais sombrios
para brincar.
Eu queria fazer coisas sacanas com ela.
Ensiná-la a transar das melhores maneiras.
Explorar cada centímetro dela.
Degradá-la.
Reivindicá-la.
Marcá-la.
Puta merda, eu estava tão duro que quase doía. Cada parte de mim
ansiava por terminar isso, torná-la minha, reivindicá-la tão resolutamente
que ninguém mais poderia satisfazê-la novamente.
— Por favor — ela sussurrou. — Me tome, Kols. Preciso disso. Eu
preciso de você. — A súplica em sua voz cortou a barreira final entre nós,
reduzindo meu controle pela metade.
Estoquei dentro dela e senti um choque de eletricidade subir e descer
por minha espinha. Puta merda, nunca me senti tão conectado a uma
mulher. Suas sensações eram minhas e as minhas eram dela, apenas
aumentando a experiência e nos estimulando em uma dança maliciosa entre
a pele e o espírito.
Ela gritou enquanto eu a penetrava, levando nós dois a um frenesi de
ofegos e êxtase que eu tinha certeza de que todos no campus tinham que
sentir. Porque nossos poderes estavam se misturando mais uma vez, o dom
dela tecendo com o meu de uma maneira inebriante da qual eu não
conseguia escapar.
Perigoso.
Devo. Parar.
Não posso.
Ah, que se foda.
Minha.
Lutei contra esse último pensamento, sentido meu corpo tenso contra o
dela, apenas para ser sugado de volta para sua teia de energia delirante
enquanto suas coxas apertavam ao meu redor. Isso estava errado. Muito,
muito, muito errado.
Argh, puta merda, não posso me afastar.
Mais.
Menos.
Destruição.
Lindo.
Meu nome escapou de seus lábios em um som de adoração que aqueceu
minha pele, sua forma linda colada à minha enquanto eu a levava a um
êxtase diferente de qualquer outro que eu já tinha alcançado. Ela gritou
quando alcançou o ápice, me levando consigo em um santuário arrebatador
de insanidade e felicidade, tudo misturado como um.
Seu prazer rivalizava com o meu, sua mente aberta para mim de uma
maneira que eu não entendia.
Eu podia sentir sua Terra.
Podia sentir o cheiro das árvores e flores que ela adorava em casa.
Podia sentir seu porto seguro me recebendo em casa.
O que está acontecendo? me perguntei, delirando de prazer e confusão,
sentindo meu pau pulsando em outro orgasmo dentro dela e me levando ao
clímax mais uma vez.
— Puta merda — murmurei, apoiando a cabeça em seu ombro.
Ela estremeceu, seu próprio êxtase se rompendo como resultado do
meu, nossa união se tornando muito mais poderosa do que qualquer sonho
já nos permitiu experimentar.
Só que isso me deixou com frio, minha alma instantaneamente sentiu
uma perturbação, uma presença estranha que não deveria estar dentro de
mim. Eu imediatamente a tranquei, sentindo o terror percorrer meu corpo
com o pensamento de outra mulher me usar.
No entanto, meus poderes me cercaram completamente, a assinatura de
energia normal e intocada.
Mas a essência desconhecida permaneceu, agarrada à minha fonte de
vida e me envolvendo de uma forma que não deveria.
Novamente tentei cortá-la, usando meu poder para atacar o vínculo e
paralisando quando Aflora gritou de dor.
Ela abriu os olhos, encontrando meu olhar ao mesmo tempo. Entreabriu
os lábios e os meus se curvaram em um grunhido.
— O que você fez? — questionei.
Porque eu podia ver em seu olhar que ela sabia de alguma coisa.
Pânico, horror e medo se misturaram em sua expressão ao mesmo
tempo.
Seus lábios se moveram sem som.
Suas pupilas se dilataram.
— Que merda você fez? — repeti, apoiando meus cotovelos em ambos
os lados de sua cabeça. Nossos corpos ainda estavam unidos, meu pau ainda
pulsava dentro dela. Mas a fúria superou o clímax arrebatador, minha mente
alcançando a sensação pulsando em meu coração. — Como?
— E-eu não sei — ela gaguejou. — Eu... não deveria...
Recuei, caindo de joelhos na cama e percebendo com desgosto o que
tínhamos acabado de fazer.
— Puta merda! — Ela tinha me vinculado. Não como um Fae da Meia-
Noite, mas como um Fae Elemental. Eu podia sentir a hera de sua magia da
Terra apertando ao meu redor, sufocando minha conexão com a fonte e me
afogando em uma essência que eu não queria. — Livre-se disso. Corte-o.
Remova.
— E-eu não posso — ela gaguejou, e sua expressão demonstrou um
horror astuto. — É o terceiro nível.
— O quê? — Eu sabia como funcionavam os vínculos dos Fae
Elementais. Havia quatro níveis, os dois primeiros quebráveis e o terceiro...
não. Isso nos marcava como noivos. Até a cerimônia final que unia para
sempre duas almas Faes Elementais. — Isso é impossível. — Exigia um
acordo de ambas as partes, ao contrário dos laços Faes da Meia-Noite que
podiam ser completamente unilaterais quando conduzidos pelo macho.
— Eu não...
— Como foi que isso aconteceu? — gritei, pulando da cama e tentando
ficar o mais longe possível dela. — Como você me enganou?
— Eu não te enganei!
— Até parece que não — rebati, começando a andar. — Eu não me
vincularia a você de bom grado. — Eu tinha um dever com meu reino, com
meu povo, que sempre vinha em primeiro lugar. E eu sabia que não deveria
permitir que uma Fae da Terra iniciasse a porcaria de um vínculo de
acasalamento.
Eu era o futuro rei.
Um membro da realeza.
Um poderoso Fae da Meia-Noite.
— Você me enganou de alguma forma — eu a acusei. — Eu só não
sabia como ou quando. Talvez tudo tenha sido uma manobra desde o início.
Um ardil para me seduzir para algo perverso. Isso explicaria a atração. —
Esse era o seu plano o tempo todo? — questionei quando outro pensamento
se seguiu rapidamente, um que ameaçou me puxar para um estado
assassino. — O Shade te colocou nisso?
— O quê? Não!
— Então por que você faria isso? Você está trabalhando com ele?
Tentando trazer vergonha para minha família? Para mim? Quer destruir meu
reinado antes mesmo de começar?
Seu lábio inferior tremeu e seus olhos azuis cuspiam fogo enquanto ela
subia na cama.
— Vá se ferrar, Kols!
— Já me ferrei, isso já aconteceu, princesa — retruquei, lívido comigo
mesmo por minha estupidez. Segurei a nuca, observei a visão na cama
novamente e me virei antes de fazer algo idiota como acender fogo. — Saia.
— As palavras escaparam dos meus lábios antes que eu pudesse retirá-las.
Então me ocorreu o quanto essa ordem era certa, o quanto eu precisava que
ela fosse embora neste segundo antes de matá-la.
Porque essa era a solução imediata – sua morte.
Isso quebraria o vínculo.
Acabaria com Shade.
Seria uma punição adequada para todas as partes envolvidas, inclusive a
mim, porque eu suspeitava que perdê-la me machucaria também, graças a
essa merda estranha que ela colocou dentro do meu peito.
Rosnei e apoiei a mão no peito.
— Saia daqui, Aflora — exigi, precisando dela o mais longe possível de
mim antes que eu fizesse algo que não pudesse voltar atrás.
— E vou para onde? — ela perguntou, com a voz muito baixa.
A tentação de olhar para ela, de pedir desculpas, me atingiu tão
rapidamente que rosnei. Ela que se danasse. Não merecia minha
preocupação. Ela me prendeu em sua teia proibida e garantiu que eu não
pudesse sair sem um sentimento significativo para nós dois!
Eu a odiava.
Detestava sua existência.
Desejei nunca tê-la conhecido.
— Saia! — gritei, sem me importar com o quanto soava perturbado. Era
como se tivesse lava derretida fervendo em minhas veias e meu poder
aumentava a cada segundo. Se ela não fosse embora, eu explodiria, e ela
suportaria o peso dessa erupção.
Seu soluço perfurou meus ouvidos.
Eu a ignorei.
Muito focado na raiva crescente que ameaçava destruir a nós dois.
Mal a notei correr, passando por mim usando um par de calças e camisa,
não considerei como ela se vestiu tão rapidamente e, em vez disso, ajoelhei
no chão para liberar o poder que ameaçava minha própria existência.
Chamas irromperam em cada centímetro do quarto, destruindo a evidência
de nossa transa, e devorando todos os seus pertences em uma varredura
completa de poder.
Objetos podiam ser substituídos.
Eu resolveria isso depois.
Quando pudesse pensar corretamente novamente.
— Puta merda! — berrei, sendo cercado por chamas vermelhas,
espiralando e guinchando pela sala. Uma explosão de poder bateu a porta
para impedir que se espalhasse pela suíte, me deixando preso dentro do
inferno furioso.
Acolhi o calor.
A punição por minhas ações.
E caí em culpa e tristeza.
Não só porque decepcionei os Faes da Meia-Noite e meus pais, mas
também Aflora.
Eu merecia queimar.
Acolhi a dor.
— Destrua-me — exigi, encostando a testa no chão. — Apenas me
destrua.
CAPÍTULO VINTE E CINCO
AFLORA

Q uente.
Eu me sentia muito quente.
Como um vulcão à beira de uma erupção.
O calor fervia sob minha pele, avançando em minhas veias, me fazendo
suar enquanto corria sem rumo pelo ar da meia-noite.
Saia.
Saia daqui.
A fúria de Kols perfurou meu coração, sua raiva era como uma marca
açoitando meu coração a cada passo.
Eu podia sentir sua ira, sua raiva, sua culpa.
Mas não pretendia que isso acontecesse, não entendia como isso era
possível. Ele não é um Fae Elemental, pensei pela milésima vez. Não posso
me acasalar com ele. No entanto, senti a conexão inconfundível nos
unindo. Pulamos os níveis um e dois e fomos direto para o terceiro, nosso
vínculo resoluto.
Quebrá-lo seria impossível.
Como se os Faes precisassem de outro motivo para me matar.
Preciso sair daqui, pensei, girando em um círculo em algum lugar fora
dos muros da Academia. Atravessei o portão aberto, incerta do meu destino,
e agora não fazia ideia de onde estava. Um movimento estúpido nascido da
turbulência emocional.
Como um belo momento podia dar tão errado?
A essência de Kols ainda aquecia minhas coxas e seu sêmen umedecia
meu interior.
Mãe Terra, aquele homem podia se mover. Ele me levou a um estado de
incompreensão. Apenas para ser destruído pelo destino mostrando sua
cabeça feia.
Isso me deixou acasalada com dois Faes da Meia-Noite.
Gritei uma palavra incoerente no vazio da escuridão ao meu redor. Não
havia um único xingamento que pudesse expressar minha frustração. Nem
um que pudesse ajudar. Nem mesmo um encantamento. A menos que
existisse algo que pudesse desfazer o tempo, mas eu duvidava.
— Que merda você está fazendo aqui? — uma voz profunda
questionou, me fazendo girar em direção a uma sombra à espreita perto de
uma árvore.
Eu mal podia ver com a lua escondida acima dos galhos grossos da
floresta em que entrei.
— Zeph — falei com o coração na garganta.
Clove me seguiu para fora, apenas para levantar voo quando comecei a
correr, e eu não tinha ideia de para onde ela foi. Provavelmente a algum
lugar com o corvo de Kols, já que os dois pássaros me seguiram na minha
corrida louca para fora. Pelo menos, eles estavam a salvo da cobra vil de
Zeph.
Ele avançou com passos silenciosos.
— Você está bem?
Eu me assustei com seu tom preocupado, mas sabia que ele não estava.
Além disso, era uma coisa absurda de se perguntar porque obviamente eu
não estava bem.
Apenas a noção disso me fez rir alto e a vontade de chorar me atingiu
em cheio no estômago.
Responder a ele seria inútil, então o ignorei, me virei novamente e
retomei meu caminho entre as árvores.
Só que ele segurou meu braço e me puxou de volta para si.
Reagi instintivamente, passando a perna por baixo dele para
desequilibrá-lo e atingindo seu queixo com meu punho.
Os dois golpes me deixariam orgulhosa em sua aula de defesa. Mas seu
grunhido e rosnado resultantes me fizeram instantaneamente lamentar
minha reação imediata.
Saí correndo, precisando escapar dele.
Mas seus braços prenderam minha cintura apenas dois passos depois.
— Que merda é essa, Aflora? — ele questionou com os lábios contra
minha orelha. — É por causa de Raph?
— Raph? — repeti, perdida. — Quem é Raph?
— Minha cobra — ele respondeu baixinho, me apertando com mais
firmeza quando pressionou o nariz no meu pescoço. — Por que você está
com o cheiro do Kols? — Uma pergunta baixa, algo que eu não suportaria
responder.
Eu não queria que o vínculo se encaixasse.
Não pretendia me perder no momento.
Saia.
Saia daqui.
— Me solte — implorei, sentindo o calor crescendo dentro de mim mais
uma vez. Acalmou temporariamente devido ao choque de sua chegada, mas
voltou com força total, inundando minhas veias com fogo líquido.
— Não. — Seu tom não permitia discussão, mas eu precisava que ele
me liberasse, pois esse poder dentro de mim ameaçava cada respiração
minha.
— Zeph... — Tentei avisá-lo, mas minha respiração foi ficando ofegante
enquanto o suor escorria pela minha pele. — Queima — sussurrei, e meus
membros começaram a tremer sob o ataque de energia em cascata através
do meu espírito.
— O que você está fazendo? — Zeph perguntou, me girando em seus
braços e me pegando quando meus joelhos dobraram.
— Ela parece pronta para explodir, e não de uma forma atraente — uma
nova voz disse enquanto Shade se materializava ao nosso lado. Ele segurou
minha bochecha e seu olhar procurou o meu. — Por que você está tão
preocupada, pequena rosa? Por que sinto Kols em você?
— Como é que você sabia que estávamos aqui? — Zeph interrompeu.
— O medo dela me chamou — Shade murmurou, com os olhos ainda
nos meus. — O que o Kols fez com você, Aflora? Por que o poder dele está
se derramando através de nosso vínculo?
Eu não poderia dizer isso mesmo que quisesse, pois minha garganta
apertada com emoção e medo enquanto as chamas ameaçavam vir à tona.
Se Zeph não me soltasse, eu o queimaria vivo. E mesmo que ele merecesse
isso depois do que fez com Clove, eu não poderia machucá-lo. Não assim.
Engolindo em seco, empurrei o calor, mas o senti disparar dentro de
mim e formar faíscas nas pontas dos meus dedos.
— Seus olhos estão brilhando — Zeph disse. — Fogo cerúleo.
— Onde está o Kols? — Shade exigiu.
— Não sei.
— Não é o trabalho dele manter os poderes dela sob controle? — Ele
finalmente me soltou para focar no macho atrás de mim. — Ele fez algo
com os poderes dela.
Isso é preocupação na voz de Shade?, me perguntei, começando a me
sentir delirante. Não pode ser. Não.
— Também posso sentir — Zeph respondeu, a mesma nota em seu tom.
Isso é ruim, pensei, tremendo sob um zumbido de eletricidade que
percorria minha pele.
— Queima... — consegui sussurrar enquanto meus joelhos tremiam
violentamente. — Vou...
Um grito rasgou da minha garganta, cortando minhas palavras à medida
que uma dor diferente de tudo que eu já tinha sentido abriu um buraco no
meu peito. Zeph me soltou com um silvo, permitindo que eu caísse no chão
em uma onda de chamas cerúleas que queimaram o chão da floresta.
— Puta merda!
— Que porra é essa?
Suas vozes se misturaram, tornando impossível distingui-los. Eu não
conseguia ouvir além do rugido do poder lambendo minha essência e
ultrapassando minha alma.
Lágrimas caíram dos meus olhos.
Tudo doía.
Meu coração acelerou.
Muito.
Demais.
Eu não sabia encontrar meu equilíbrio. Isso me lembrou da primeira vez
que acessei a fonte do meu poder da Terra, aquela necessidade de aplacar
ambos os lados entre minha alma e o núcleo do meu elemento.
Só que não consegui encontrar esse centro.
Ele continuou se movendo para fora do meu alcance e me banhando em
eletricidade, cantarolando perigosamente no ar, me alertando sobre o erro
da minha presença.
— Me ajudem — implorei, sem ter certeza se falei as palavras em voz
alta ou murmurei em minha mente. — Muito quente. Morrendo.
Um grito agonizante chegou aos meus ouvidos, o som era excruciante,
algo que percebi ser meu. Tudo brilhava em tons de azul ao meu redor, um
efeito ondulante da minha aura superaquecida.
Foco, eu disse a mim mesma. Se controle.
Só que eu não sabia como, porque estava muito cheia de substância
energizada para aceitar mais.
Puxei o colar em volta do pescoço, precisando da minha Terra,
esperando me esconder na fonte para encontrar minha estabilidade mais
uma vez.
Pronto, pensei enquanto meu elemento respondia, apesar do dispositivo
em volta do meu pescoço. Se eu o desativei ou o anulei, eu não tinha
certeza, mas meus belos dons responderam e me firmaram com a
familiaridade do solo e da terra.
Eu me enraizei no chão, me deleitando com meu direito de
primogenitura e travando minha linhagem real para encontrar refúgio em
meu elemento lar.
Cada inspiração me enchia de aromas florais, e cada expiração
acalmava o fogo, até que finalmente emergi o suficiente para observar meus
arredores em um pátio queimado envolto em luz solar.
Brasas azuis cintilaram no ar, atraindo meu foco para os danos ao meu
redor.
Abri a boca, mas nenhum som me escapou, apenas outro gemido de dor
quando as chamas começaram a crescer mais uma vez dentro de mim.
Ah, não...
Meu estômago embrulhou, uma cãibra foi crescendo no meu abdômen e
se agitando com um poder não reprimido.
— Precisamos aterrá-la! — alguém gritou. Parecia Kols, mas isso não
podia estar certo.
— E como é que fazemos isso? — Humm, Shade, minha mente
concluiu, sua presença fornecendo um bálsamo temporário para minha alma
revoltada. Companheiro.
— Tenho uma ideia. — Isso ainda me lembrava Kols, uma parte de mim
reconhecendo sua aura próxima. Ou talvez em mim. Afinal, ele era meu
companheiro de Terra agora. Talvez.
O que eu fiz?
Tudo ficou quieto mais uma vez sob outra onda pulsante de dor
excruciante que me esmagou até a alma. Eu me enrolei como uma bola no
chão, buscando a utopia criada apenas pelo verdadeiro equilíbrio.
Isso me iludiu. Meus talentos estavam muito ferozes e indomáveis para
atender a qualquer tipo de ordem.
Choraminguei, então estremeci quando uma mão apertou minha
garganta, dando um aperto.
— Vamos ajudá-la — uma voz profunda me informou.
Zeph.
Ele me guiou para me deitar de costas, me segurando quando tentei me
enrolar mais uma vez.
— Precisamos de você assim — ele explicou, acomodando sua coxa
entre as minhas.
Pele contra pele.
Fiz uma careta.
Por que estou nua?
— É melhor que isso dê certo — Shade disse com os lábios de repente
na minha orelha enquanto ele se esticava ao meu lado.
— Se isso não acontecer, há apenas uma alternativa — Kols respondeu,
com a boca perto da outra orelha, seu calor penetrando a lateral do meu
corpo.
— Kols — consegui dizer. Minha garganta ficou seca enquanto eu
tentava olhar para ele, pedir desculpas, perguntar de onde ele veio ou como
ele chegou.
— Não — ele respondeu em tom rude.
A dor estilhaçou meu peito, sendo oprimida pela lava se derramando
através do meu ser. Eu poderia tentar novamente mais tarde. Assumindo
que sobreviveria a esta próxima explosão de calor.
Zeph soltou meu pescoço, descendo a mão pelo meu torso até meu
quadril enquanto ele se acomodava entre minhas coxas abertas.
— O que...? — Outro choque pulsante de calor silenciou minha
pergunta, frustrando minha capacidade de me concentrar em qualquer coisa
além dos tremores em meus membros.
— Agora! — Kols exigiu. — Antes que ela detone de novo!
De novo? pensei, estremecendo quando algo afiado beliscou meu
pescoço. Shade, reconheci imediatamente, nosso vínculo se encaixando
mais firmemente com sua mordida.
— Não! — gritei, mas me perdi para a onda de êxtase que sua boca
forçou através do meu organismo. Estremeci em conflito entre o inferno que
ameaçava meu ser e a euforia escorrendo em minhas veias.
Engoli em seco quando Kols mordeu o outro lado do meu pescoço, seus
incisivos deslizando profundamente em minha veia para sugar duramente
meu sangue.
Um grito se alojou em minha garganta, a dor se misturando com o
prazer quando uma terceira boca encontrou meu peito, o beijo quase suave.
O rasgo provocado pelos dentes seguiu contra minha pele macia, fazendo
com que minhas costas se curvassem no chão. Zeph. Senti sua
reivindicação, seu vínculo alcançando meu espírito e afundando
literalmente os dentes em minha alma. Junto com Kols.
Os três sugaram juntos, tomando meu sangue e me deixando fraca e
indefesa sob eles.
E totalmente impotente.
Quase chorei. Minha morte iminente era a experiência mais feliz e
arrebatadora que já senti.
Até que percebi que não estava morrendo, mas vivendo.
Prosperando.
Me equilibrando.
Eles estavam tomando meu excesso de energia, bebendo o suficiente e
me deixando esgotada. Criando um novo equilíbrio que me permitisse
respirar novamente, pensar, perceber a gravidade de seu sacrifício.
Todos os três me tomaram como companheira de uma só vez.
Bebendo minha essência em um esforço para me ajudar a criar ordem
dentro do meu poderoso caos.
E eu não tinha absolutamente nenhuma ideia do porquê.
Abri a boca para perguntar, mas meus lábios de repente ficaram
dormentes demais para se mover.
Eles estavam tomando demais.
Tentei dizer a eles, avisá-los, implorar para que parassem, mas cada
puxão me sugava mais fundo em uma teia de euforia da qual eu não
conseguia escapar. Duas bocas no meu pescoço, uma no meu peito, e uma
necessidade pulsante florescendo entre minhas coxas.
Como se Zeph soubesse, ele soltou meu seio para deslizar sua boca até
meu mamilo, seus olhos verdes encontrando os meus enquanto ele
gentilmente provocava a ponta com a língua.
Arqueei, meu corpo respondendo enquanto minha mente lutava para
alcançá-la. Só que ele sugou meu mamilo profundamente, fazendo com que
meu cérebro desaparecesse.
Kols riu contra o meu pescoço, passando a língua sobre a ferida que ele
criou.
— Isso é divertido — ele murmurou, traçando um caminho molhado até
minha orelha. — Se eu não quisesse te matar, eu me entregaria mais a essa
reação.
Estremeci, sem saber como reagir a essa ameaça.
— Você não vai matá-la — Shade falou, sussurrando sobre minha
mandíbula enquanto se movia para pairar contra meus lábios. — Vai doer
demais. — Ele me beijou com ternura, deslizando a língua entre meus
lábios para me dar um gosto do meu próprio sangue.
Zeph mordiscou meu peito com força, me fazendo ofegar, e Kols imitou
o movimento contra o lóbulo da minha orelha.
— Que merda vamos fazer agora? — ele perguntou.
— Humm, você é o futuro rei — Shade murmurou, falando cada
palavra contra minha boca. — Imagino que você vai descobrir. Por
enquanto, vou colocar nossa bela adormecida no meu quarto, já que você
destruiu o dela.
— Você não se atreva a....
Não ouvi o final da declaração de Kols. Suas palavras desapareceram
sob uma nuvem de fumaça. Algo que segundos depois se abriu para revelar
uma cama enfeitada com uma rica seda roxa.
A cama de Shade.
CAPÍTULO VINTE E SEIS
ZEPH

— P uta merda! — Kols gritou, seu foco no espaço que Shade e Aflora
tinham acabado de desocupar. — Eu vou matá-lo.
— Isso supondo que você estará vivo para fazer isso — murmurei,
olhando ao redor do campo. — Você acasalou com ela, não foi?
Kols soltou um longo suspiro, várias xingamentos se seguiram antes que
ele dissesse:
— Nós três acabamos de fazer isso.
— Ah, eu sei essa parte. — Pressionei a palma da mão no meu peito,
irritado com o fio circulando meu coração e me ligando a uma mulher que
nenhum de nós tinha o direito de reivindicar como nossa. — Eu estava me
referindo à antes da nossa formação quadrupla. Aflora estava encharcada
em seu poder.
Kols fez uma careta, segurando a nuca com a palma da mão enquanto
soltava um longo suspiro.
— Nós, hum, transamos.
Concluí pelo estado dela. Aflora correu até aqui sem sapatos, seu cabelo
estava uma bagunça e sua camisa ao contrário. Foi parte da razão pela qual
eu a persegui. A outra parte foi movida pela culpa. Eu tinha sido duro com
ela hoje. Talvez um pouco duro demais.
E agora tudo tinha ido para o inferno.
— Entendo a parte de transar com ela — mais do que eu jamais queria
admitir — mas por que foi que você a mordeu? — Eu conhecia Kols. Ele
tinha controle, mesmo perto de alguém tão atraente quanto Aflora.
— Eu não mordi. Não até agora, de qualquer maneira. — Ele ficou de
pé, mudando o foco para o dano ao nosso redor. — Seu vínculo Fae
Elemental foi iniciado, nos levando ao terceiro nível.
Entreabri os lábios.
— É por isso que senti o cheiro dela em você. — Eu sabia que era mais
profundo do que sexo, mas não conseguia descobrir por que ela
praticamente escorria sua magia. Agora eu entendia. — Ela acasalou com
você.
— Sim. — A raiva ecoou em seu tom, mas eu suspeitava que ele estava
mais furioso consigo mesmo do que com ela. Kols sabia tão bem quanto eu
que o vínculo entre Faes Elementais exigia um acordo mútuo para tomar
forma.
O que significava que no fundo, ele queria acasalar com Aflora.
E isso devia estar irritando-o.
— Isso fez com que nossos poderes se fundissem — ele acrescentou
rispidamente, absorvendo a destruição. — Ela explodiu.
— Seu poder a enviou ao limite.
— E direto para o fundo do poço. — Ele balançou a cabeça. Seu
aborrecimento era palpável. — Não tenho ideia de como vamos consertar
isso. As consequências serão severas.
— Eles vão matá-la por isso, e provavelmente a mim também. —
Porque falhei em proteger Kols mais uma vez. Também participei do
vínculo de quatro vias, não para beneficiar Kols, mas para salvar uma
abominação. Isso não seria perdoado.
— Sim — Kols concordou baixinho. — Vão matá-la publicamente para
punir nós três. Também vão tirar sua vida para me machucar. E meu pai vai
minha ascensão. — Ele pronunciou as palavras em um tom morto, suas íris
douradas brilhando com poder e conhecimento.
Me levantei devagar, em seguida enfiei as mãos nos bolsos do moletom.
— É esse o caminho que você escolheu?
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Você está perguntando se eu vou deixá-los te matar?
— Você poderia?
— Não.
— Você não terá escolha. — Uma vez que o Conselho descobrisse isso,
eles teriam todas as nossas cabeças em uma bandeja.
— Sempre há uma escolha — Kols respondeu, seu olhar preso o meu.
— Matar Aflora destruirá um pedaço da minha alma – graças ao nosso
vínculo de acasalamento ilegal – e me deixará em miséria. Vi isso acontecer
com outros Faes. É o pior tipo de punição. — Ele deu um passo à frente
para agarrar minha camisa, me puxando para ele. — E perder você é um
destino que me recuso a aceitar. Não vou permitir que tirem você ou a
Aflora de mim.
Aflora, eu sabia, era mais para sua própria sobrevivência. Perder sua
companheira o destruiria, e ela o uniu como um Fae Elemental e um Fae da
Meia-Noite, marcando as consequências de sua perda como indefiníveis.
Poderia muito bem matá-lo.
No entanto, ele poderia viver sem mim.
Ele simplesmente não queria.
Agarrei sua camisa com uma mão, levando a outra para a parte de trás
de seu pescoço, e o beijei para retribuir o sentimento.
Por mais que eu às vezes desprezasse esse homem, também não poderia
viver sem ele.
Mesmo quando queria.
Ele retribuiu o beijo e senti o gosto de sua língua misturado com o
sangue de Aflora enquanto me beijava em uma demonstração dominante de
poder. Retribuí o movimento na mesma moeda, pegando-o com uma
ferocidade que eu sabia que ele não podia negar, e sorri quando ele gemeu.
Agora não era a hora nem o lugar.
Eu também queria adicionar Aflora à mistura. Nós iríamos para o
inferno de qualquer maneira, então eu poderia me conceder o sabor que eu
ansiava por semanas.
Mas primeiro, precisávamos de um plano e, para formá-lo
adequadamente, precisávamos de tempo.
— Seu pai teria sentido a perturbação do poder — eu disse, soltando
Kols quase tão rapidamente quanto eu o agarrei.
Ele assentiu.
— Eu sei.
— Ou você diz a ele a verdade e condena a todos nós ou conta uma
história que nos sirva de proteção. E se você escolher o último, precisamos
fazer algo para esconder nossa conexão com a Aflora. — Porque todo
mundo que andasse perto de nós seria capaz de sentir o cheiro dela em
nosso sangue e vice-versa. Seria óbvio para todos o que tínhamos feito esta
noite, e a notícia se espalharia rapidamente. Especialmente quando os filhos
de vários membros do Conselho participavam da Academia Fae da Meia-
Noite.
— Posso lidar com a história — Kols murmurou. — Mas precisamos ter
certeza de que o Shade está na mesma página, pois ele será o álibi.
— Você vai contar ao seu pai que vocês dois se envolveram em um
duelo ilegal — concluí.
Kols assentiu.
— Isso vai explicar o que aconteceu aqui. — Ele apontou para a clareira
queimada que Aflora havia criado com sua explosão de poder. — Meu pai
vai repreender a nós dois, mas será um aviso verbal. Ele vai alegar que é um
rito de passagem para nós lutarmos.
Um ponto bom e justo.
— Isso vai funcionar, mas precisamos de algo para esconder os
vínculos.
— Isso vai ser mais difícil — ele murmurou.
— Não, vai nos custar — corrigi. — Muito.
— O que você quer dizer?
— Eu conheço um cara — murmurei, massageando a mandíbula
enquanto considerava o que estava prestes a revelar. — Ele pode ajudar a
esconder coisas assim.
Kols semicerrou os olhos.
— Como juramentos de proteção?
— Sim. Como juramentos de proteção.
Ele ficou em silêncio, seu olhar astuto preso ao meu enquanto uma
miríade de emoções percorria sua expressão.
Compreensão.
Mágoa.
Raiva.
Dor.
Cada emoção me atingiu no estômago, me fazendo sentir pior a cada
segundo. Porque sim, eu conhecia o cara porque havia pesquisado sobre
como quebrar laços. Especificamente, o juramento de proteção que fiz para
Kols. Ele precisava de outra pessoa, alguém mais adequado para protegê-lo.
E eu já havia provado mais de uma vez que não era o homem certo para o
trabalho.
Como prova, ele acasalou uma abominação no meu turno.
Isso me marcava como o pior Guardião da história Fae da Meia-Noite.
— Vamos discutir como você o conhece mais tarde — Kols finalmente
falou. — Por enquanto, você pode entrar em contato para ver se ele pode
nos ajudar a mascarar o vínculo de acasalamento?
Assenti, não dizendo mais nada. Ele poderia trazer à tona o quanto
quisesse, mas não mudaria nada. O que estava feito, estava feito.
— É uma solução temporária que nos dá tempo para descobrir como
resolver essa merda. — Kols soltou um longo suspiro, mudando seu foco
para o céu amanhecendo. Um milhão de pensamentos passaram por suas
feições, cada um ligado a uma emoção que eu podia provar de sua aura sem
que ele tivesse que dizer uma palavra.
Porque eu sentia o mesmo.
Isso era muito fodido.
Quando Kols sugeriu que nós três a mordêssemos de uma vez, não
hesitei. Aceitei a solução quase com entusiasmo. Muito ansiosamente. Até o
ponto em que eu não tinha considerado as consequências. Eu só queria
salvar Aflora.
Eu deveria tê-la matado.
Teria tornado tudo isso muito mais fácil.
Se eu tivesse acabado com Aflora quando ela chegou, Kols nunca teria
acasalado com ela, seu futuro não estaria em perigo, e ele poderia ter vivido
sua vida do jeito que deveria.
Ela tinha sido uma fraqueza para todos nós desde o dia em que chegou.
Parte de mim a odiava por isso, daí o comportamento de Raph na aula hoje.
Ele agiu de acordo com minha agressão em relação a ela, descontando em
seu precioso encantamento.
Errado, sim.
No entanto, foi bom colocar para fora um pouco da minha frustração.
Até que a culpa me atingiu em cheio no peito.
A fêmea tinha algum tipo de atração mágica sobre todos nós, criando
uma teia de escolhas perigosas em que Kols e eu caímos quase
voluntariamente.
Eu a desprezava por isso.
E a adorava ao mesmo tempo.
— Estou feliz que minha solução deu certo — Kols falou, sua mente
claramente seguindo um caminho semelhante ao meu porque eu me sentia
exatamente da mesma maneira. — É errado, e eu a odeio, mas odiei ainda
mais vê-la sofrer.
— Porque você não a odeia. — Assim como eu não odiava.
— Eu sei — ele concordou. — Mas quero.
— Eu sei — respondi, repetindo propositalmente suas palavras.
Um momento de compreensão mútua caiu entre nós, nossas mentes
alinhadas daquela maneira estranha que passamos a respeitar ao longo dos
anos. Era por isso que trabalhávamos bem juntos, mesmo quando não
deveríamos.
— Vou lidar com o meu pai e o Shade, enquanto você... — Kols parou,
desviando seu foco para o chão. Ele se inclinou para pegar uma varinha
descartada, curvando os lábios para baixo. — Acho que vou falar com
Aflora também. Isso é dela, certo?
Eu não tinha prestado muito atenção na varinha dela, mas parecia ser.
— Acho que sim. Mas não me lembro dela usando.
— Ela provavelmente a convocou sem perceber. — Kols olhou a
ferramenta mágica com interesse, levantando-a para a luz fornecida pelo sol
nascente, e franziu a testa com mais força. — A essência dela está aqui,
então com certeza é dela, mas posso jurar que de alguma forma mudou.
Está vendo aquela faixa azul? Parece uma rachadura, não é?
Observei a ponta de ouro afiada e notei as letras inscritas no topo.
— Esta varinha pertencia a outra pessoa. Tem certeza de que é dela?
— Definitivamente é a dela — ele disse, pegando e seguindo meu foco
para a palavra. — Lahaz. Isso soa como um feitiço.
— Ou um nome.
— Vou perguntar se ela sabe o que significa quando confirmar que
pertence a ela. — Ele inclinou a varinha novamente, franzindo a testa. —
Como eu nunca notei as linhas cerúleas antes?
— Talvez a varinha tenha mudado de formação — sugeri. Condutos
mágicos eram conhecidos por crescer com seus mestres. — Pode estar
amadurecendo, assim como a conexão de Aflora com as artes das trevas.
Ele tensionou a mandíbula e seu olhar encontrou o meu mais uma vez.
— Ela vai ser terrível.
— Já é.
Ele bufou.
— Verdade. — Com um xingamento baixo, ele mudou o foco para a
clareira novamente. — Certo. Fale com o seu cara. Eu vou encontrar o
Shade e dar um esporro no idiota. Depois vou me certificar de que estamos
acertados.
— E se não estivermos?
— Então eu realmente terei um duelo para relatar. — Ele se virou,
repleto de frustração e irritação emanando de sua essência.
Tudo por causa de uma garota.
Alguém a quem nenhum de nós queria estar ligado.
No entanto, eu realmente não me arrependia de reivindicá-la, mesmo
sabendo que deveria.
Essa percepção irritante me seguiu enquanto eu ia para o portal e por
todo o caminho até a casa de Ching. Quando cheguei, ainda não tinha
respostas, apenas uma opinião resoluta de que havíamos feito o que
precisávamos fazer e que não havia alternativa real.
O que não podia ser totalmente verdade.
Destruímos nossos futuros por uma garota cujo lugar não era aqui.
Uma abominação.
Um erro.
Então, por que parecia tão certo?
CAPÍTULO VINTE E SETE
AFLORA

Vários minutos antes.

L ençóis de seda.
Tons suaves de violetas.
Móveis de obsidiana.
Tudo combinava com os móveis de Shade quando ele visitava meus
sonhos. Suas preferências apareciam em cada detalhe minucioso.
Me sentei no colchão, exausta demais para lutar com ele ou exigir que
ele levasse para o meu quarto. Afinal, o que importava? Eu não ficaria viva
por muito mais tempo. Podia muito bem partir em grande estilo.
Apoiei a cabeça nas mãos, sentindo meu corpo tremer com a troca de
poder no campo. Senti os três dentro de mim, a presença deles me
firmando. A questão era: isso seria permanente ou temporário?
Não que mudasse meu destino.
Eu era uma abominação, meu pico de energia provava isso.
— Sou um perigo para todos — sussurrei e meus ombros caíram.
— É mesmo — Shade concordou, tão prestativo como sempre. — Mas
podemos ajudá-la a gerenciar tudo.
Eu quase ri. Exceto que saiu como uma espécie de bufo meio soluço,
meio enlouquecido.
— Fae, estou sem esperança — murmurei, arrasada. — Quando me
tornei assim tão fraca?
— Você não é fraca, pequena rosa — ele sussurrou, roçando os dedos
em uma das minhas mãos que cobriam meu rosto. — Você é uma das
mulheres mais fortes que eu já conheci.
Desta vez eu ri e baixei minhas mãos para o colo enquanto encontrava
seu olhar.
— Não foi isso que você disse quando nos conhecemos. Acredito que
você me chamou de flor delicada, logo depois de dizer que alguém me
chamou de linda. — Fiz uma careta com a memória, meu foco se aguçando.
— Quem te disse que eu seria linda, Shade?
— Isso importa? — ele rebateu. — O que está feito, está feito.
— Como vou morrer em breve, gostaria de saber quem me submeteu a
esse destino. Então sim, isso importa. Quem me deu a você como missão?
Não era assim que ele me chamou quando nos conhecemos? Uma
missão...?
— Você não vai morrer logo, Aflora. — Ele segurou meu queixo entre o
polegar e o indicador, dando um aperto sutil. — Nós não vamos deixar
ninguém te machucar.
Nós sendo ele, Zeph e Kols.
Ah.
— Sim, eu acredito nisso. — Não. Os três tinham me ajudado a me
firmar? Sim. Mas isso não inspirava muita confiança, não depois dos meus
últimos meses com eles. — Por que vocês me morderam?
Me referi a todos de uma vez, o que ele deve ter entendido porque
respondeu:
— Para evitar que você explodisse novamente. — Seu tom sugeria que
sua resposta era óbvia.
Ele estava certo apenas porque não tinha me dito o que eu realmente
queria saber.
— Por que você se importaria se eu explodisse? Quero dizer, por que
não me mata? Sou um perigo para você, para todos. Por que me ajudar? —
Eu deveria estar morta. Uma abominação enterrada. Destruída. Não me
sentindo centrada na minha miríade de poder. Não tendo vínculos de
companheiros com três Faes.
Nada disso fazia sentido.
Ele suspirou, soltou meu queixo e se virou para uma das cômodas.
Esperei por uma resposta enquanto ele abria uma gaveta. Continuei
esperando enquanto ele abria mais uma. Então ele arqueou uma sobrancelha
quando se virou para me entregar uma cueca boxer e uma camisa.
— Não quero roupas. Quero respostas.
Ele desviou os olhos, o calor queimando em suas pupilas.
— Bem, você é quem sabe, mas tenho que admitir que meu foco está
um pouco distraído com você nua no meu quarto. Particularmente depois de
dois meses de preliminares em nossos sonhos.
Argh! Eu tinha me esquecido de que estava nua, com minha atenção
dividida entre meu destino e minha confusão sobre o que aconteceu lá fora.
— Como eu perdi todas as minhas roupas? — Saí correndo do meu
quarto de calça e camisa. Sem sapatos. Mas eu não tinha ideia de como...
— Você as destruiu quando explodiu no campo.
Eu pisquei.
— Explodi?
— Você pegou fogo, Aflora. — Ele deixou a camisa e a boxer ao meu
lado. — Chamas cerúleas brilhantes, devo acrescentar, e você destruiu toda
a clareira. Eu ficaria impressionado se você não tivesse quase me matado e
a Zeph no processo.
Arqueei as sobrancelhas.
— O quê?
Ele me observou por um longo momento, suas íris azuis cor de gelo se
afinaram enquanto suas pupilas se dilatavam.
— Há muito poder dentro de você, pequena rosa. Exigiu uma liberação,
apenas sua explosão não foi suficiente e você estava se preparando para
uma maior. Então reagimos de acordo.
Ao me morder, traduzi.
— Por quê? — perguntei.
— Por que precisa haver uma razão?
— Porque eu deveria estar morta, Shade! — rebati, irritada com sua
evasiva contínua. Este jogo de gato e rato precisava acabar. — Apenas me
diga por que isso está acontecendo. Por que você me mordeu? Quem te
colocou nisso? Qual é o seu...
Seus lábios cobriram os meus, assim como sempre faziam neste
momento em nossos sonhos.
Eu me abstive de mordê-lo, ciente do que isso faria.
Cravei as unhas em seu pescoço, fundo o suficiente para tirar sangue.
Ele se encolheu e envolveu meu pescoço com a palma da mão, me
empurrando para sua cama.
— É assim que você quer jogar, Aflora?
— Estou cansada de jogar — eu disse a ele, com um grunhido baixo. —
Quero informações, Shade. Chega dessas meias respostas.
— Uma meia resposta implica que lhe dei pelo menos uma resposta
parcial, o que na maioria das vezes não dei.
— Exatamente — eu disse, exasperada.
Ele usou seu aperto em meu pescoço para me puxar para cima da cama
até minha cabeça encontrar um travesseiro. Ele se acomodou ao meu lado,
equilibrando-se em seu cotovelo enquanto a outra mão permanecia em volta
do meu pescoço.
— Como você está se sentindo? — ele perguntou na voz mais suave
imaginável, seu jogo caloroso no ponto mais uma vez.
— Irritada. Nervosa. Com vontade de matar.
Seus lábios se curvaram, mas apenas ligeiramente.
— E fisicamente? Você está dolorida? Alguma coisa dói?
— Só meu cérebro — murmurei. — Com todas as respostas
enigmáticas e tudo mais.
Sua diversão desapareceu atrás de uma máscara de leve aborrecimento.
— Estou falando sério, Aflora. Você ficou em chamas. Achei que ia
queimar até virar cinzas sob aquela onda de poder. — Ele quase parecia
triste com a perspectiva, mas eu sabia que não devia acreditar em seu tom.
— Me diga como você está se sentindo. Por favor.
Quase perguntei se essa palavra o machucou, mas em vez disso lhe dei a
verdade porque eu estava muito exausta para brincar com ele.
— Me sinto equilibrada e cansada.
Ele assentiu, afrouxando seu aperto enquanto tocava mais para baixo,
entre meus seios, me lembrando que estava nua.
Eu deveria ter aceitado suas roupas.
Exceto que realmente não importava. Ele me viu nua inúmeras vezes
em nossos sonhos.
— Você está com dor em algum lugar? — ele perguntou baixinho,
refazendo sua pergunta anterior.
— Não. — Apenas na minha mente.
Outro aceno de cabeça, este mais solene. Ele segurou meu quadril para
me guiar para ficar de lado para enfrentá-lo enquanto abaixava a cabeça
para descansar no mesmo travesseiro que eu.
— O Kols ou o Zeph te contaram alguma coisa sobre Quandary de
sangue?
— Sei que eles podem desmontar a magia e reconstruí-la — eu disse. —
E que eles costumavam trabalhar com os Sangue de Morte e que os Elite de
Sangue os mataram.
Ele assentiu.
— Sim. Eles temem o que não podem controlar.
— Como abominações.
— Assim como abominações — ele concordou. — O que a torna volátil
e perigosa aos olhos deles.
— Porque sou muito poderosa para eles controlarem — sussurrei. —
Você mesmo disse, quase matei você e o Zeph esta noite. — Vacilei com as
palavras, sentindo uma pontada em meu coração com o pensamento de
machucar outra alma, quanto mais duas tão próximas da minha.
— Mas você não fez isso — ele murmurou. — Eu te acompanhei bem a
tempo, e você conteve sua própria explosão assim que ela foi lançada. Bem,
além de matar todas aquelas árvores.
Se ele quis dizer isso como uma piada, não achei muito engraçado.
— Qualquer perda de vida é inaceitável. Se não posso ser controlada,
devo ser exterminada.
— Essa é uma visão muito estreita, Aflora — ele murmurou, passando a
palma da mão ao longo da minha caixa torácica. — E se você pudesse
aprender a controlar?
— Tenho tentado isso desde que cheguei, e esta noite deve te dizer em
que pé estou.
— Mas agora você tem um sistema de suporte no qual confiar.
— Eu não tenho ninguém em quem confiar — rebati. — Você nunca me
diz nada de importante. Zeph é o pior professor do reino. E Kols me odeia.
Um sistema de apoio.
— Sim, ele é um professor de merda — Shade concordou, sorrindo. —
Mas Kols não te odeia, e eu te digo coisas importantes o tempo todo. Você
simplesmente não me ouve.
— Certo. — Não me incomodei em discutir com ele. Não fazia sentido
tentar quando isso não mudaria nada. Ele nem me disse por que me mordeu,
muito menos quem o colocou nisso.
Uma quietude tensa caiu entre nós. Ele me encarou com seus olhos cor
de gelo, enquanto continuava a passar a mão no meu corpo. Devagar.
Propositalmente. Com ternura. Arrepios percorreram meus braços, a
intimidade de sua proximidade evocando memórias de nossos sonhos e os
toques que se seguiram a essa carícia. Mas ele não tentou me beijar. Não
tentou fazer nada além de memorizar a curva do meu quadril.
— O avô de Kols ordenou o abate dos Quandary de Sangue logo depois
que eles ajudaram a família Nacht a ter acesso à fonte de magia sombria
sobre minha família. Acredito que seja porque eles não queriam arriscar que
esse realinhamento de poder fosse desfeito. É o ponto final de discórdia
entre os Elite de Sangue e os Sangue de Morte. É por isso que sua
existência deve ser protegida.
Foi a maior quantidade de informações que ele já me deu de uma só
vez, e ainda não era o suficiente.
— Você sabia? — perguntei em voz alta. — Você sabia que eu poderia
acessar a Magia Quandary?
Ele me considerou por um longo momento antes de dizer:
— Sim, me disseram do seu potencial. Não acreditei até sentir que você
substituiu o colar na sua primeira semana aqui, e tenho feito tudo o que
posso para ajudá-la a se esconder desde então.
Fiz uma careta.
— Ajudar a me esconder?
— Você não achou que o Kols era o único te ajudando, achou? — Seus
lábios se curvaram para cima. — Ele está na sua cabeça tanto quanto eu,
Aflora. Certamente você já percebeu isso.
— Ele me ajuda durante a aula.
— E à noite — ele acrescentou e um sorriso sinistro cintilou em seus
olhos. De alguma forma, aquele olhar só o deixou mais bonito, de uma
forma pecaminosa que fez meu coração bater forte.
Então suas palavras foram registradas.
— Ele sabe sobre os sonhos. — Não foi uma pergunta, mas uma
afirmação. Entreabri os lábios. — Mas eu pensei que era por causa do nosso
vínculo!
— Não, querida. Manipulação de sonhos é magia antiga. Você facilita
porque não sabe como se defender, e nenhum de nós se preocupou em
ensiná-la. Meu raciocínio deve ser óbvio, mas você teria que perguntar a
Kols qual é o propósito dele em sua mente. Se eu fosse adivinhar, diria que
era sua maneira de lutar contra uma atração óbvia. Para mim, só quero
brincar com minha pequena companheira mal-humorada.
Fiz uma careta para ele, o que só o fez sorrir ainda mais.
— Você é um diamante raro entre um mar de joias, Aflora. Não posso
culpar Zeph ou Kols por querer você. Estou até disposto a compartilhar,
mas você é minha em primeiro lugar. Porque minha reivindicação é mais
profunda. E em breve, finalizaremos nosso acasalamento. Então a verdade
poderá ser revelada. Pelo menos, em partes.
— Mais enigmas — murmurei, me virando de costas, mas ele me puxou
de volta.
— Te dar todas as respostas te enfraqueceria, Aflora. Enigmas, como
você os chama, são o que fazem um Quandary de Sangue prosperar. E há
alguns fatos na vida que devem ser descobertos por nós mesmos para que
possamos florescer. Mas isso não me faz menos aqui para você. Tenho te
ajudado desde o início, mais do que você jamais saberá.
— Ajudado a me atormentar e me tomando contra a minha vontade —
resmunguei. — Você é um companheiro incrível, Shade. — Não pude evitar
o sarcasmo grosseiro em meu tom. — Você destruiu minha vida, e agora
vou morrer por causa disso. E você nem vai me dizer por quê. — Desta vez,
ele me deixou me deitar de costas.
Fechei os olhos, cansada.
Ele não ia me contar nada de útil.
Ele nunca contava.
— Você não foi a única que não teve escolha — ele disse algum tempo
depois. — Somos todos peões em um tabuleiro servindo a um propósito
maior. Um destino que pode ou não se concretizar. Só o tempo dirá.
— O que isso quer dizer? — perguntei, abrindo os olhos para encontrá-
lo apoiado em seu cotovelo e olhando para mim com tristeza. — Alguém
disse para você me morder. Não lhe disseram por quê?
— Eu já sabia o porquê, Aflora. Mas isso não significa que eu queria
tomá-la contra sua vontade, que eu queria forçar um vínculo em você
mesmo sem conhecê-la. — Ele segurou minha bochecha, roçando o polegar
em meu lábio inferior. — Se é um pedido de desculpas que você quer, não
posso te dar. Porque não me arrependo. Não mais. Não depois de descobrir
tanto sobre você. Agora vejo por que nossos destinos deveriam se
entrelaçar.
— Por causa da minha Magia Quandary.
— Não, por sua causa. — Ele se inclinou para me beijar, sua boca
exigindo a minha. — Sei que nada disso faz sentido, que você me culpa por
tudo o que aconteceu, e tem todo o direito de se sentir assim. Mas um dia,
você entenderá e me agradecerá por forçar.
— Não acredito — resmunguei, seus lábios muito perto dos meus.
Ele sorriu.
— Estou muito ansioso para provar que você está errada.
Eu sabia que ele não seria capaz, que não era possível para mim
agradecê-lo por me arrastar para este mundo e destruir minha vida. Mas não
consegui parar a onda de calor que me dominou quando ele me beijou mais
uma vez.
Eu o odeio.
Queria machucá-lo como ele me machucou.
No entanto, o fogo que ele acendeu dentro de mim aumentou com cada
toque, lambida e mordiscada entre nós. Provou que a luxúria e o ódio eram
realmente vizinhos no círculo de emoções que ditavam a todos nós. Porque
a paixão entre nós queimava mais e mais a cada dia.
— Eu te odeio — sussurrei.
— Eu sei.
— Gostaria de nunca ter te conhecido — acrescentei com um grunhido
rouco em meu tom.
— Eu sei — ele repetiu, seu olhar gelado se abrindo para encontrar o
meu. — Mas se você não tivesse me conhecido, não saberia sobre seu
Sangue Quandary.
Outro beijo, este mais profundo, seus olhos presos nos meus o tempo
todo.
— Você nunca teria explorado os outros poderes — acrescentou, sua
voz ficando mais sombria, de uma forma que fez minha barriga se apertar.
Sua língua deslizou pelos meus lábios, provando, tentando e seduzindo
completamente.
Engoli um gemido, tentando não mostrar como ele me fazia sentir.
Tentando afastar a luxúria que ele despertava com muita facilidade.
No entanto, a coxa que separava minhas pernas soube imediatamente,
suas calças roçando em meu sexo exposto, minha umidade escorrendo pelo
tecido de suas calças em um instante.
— Sua pequena exibição esta noite teria sido uma eventualidade com ou
sem minha influência — ele continuou em um tom rude. — Porém, você
não teria ninguém para te colocar de castigo. — Ele flexionou a coxa de
uma forma que provocou prazer, fazendo minha carne sensível pulsar com
uma necessidade que ele habilmente despertou.
— Shade...
— Você não teria nenhum conhecimento do que estava acontecendo,
Aflora — ele sussurrou. — Ou como pará-lo.
Engoli em seco, reconhecendo seus comentários como verdadeiros, e
seu toque evocando uma reação de vulcão em chamas no meu baixo ventre,
ameaçando me consumir completamente.
— Sem minha interferência em sua vida, você teria machucado as
pessoas que ama. — Ele mordiscou meu lábio inferior ao mesmo tempo em
que sua coxa pressionou meu calor úmido.
Essa conversa não deveria estar me excitando.
Ele não deveria estar me deixando tão quente.
Enfiei os dedos em seu cabelo grosso e escuro, me agarrando a ele,
apesar de minha mente me dizer para ordenar que ele parasse.
Resistir a ele provou ser impossível.
— Você me faz sentir tão... — parei, incapaz de explicar. Meu corpo
estava em chamas de uma maneira semelhante ao que senti mais cedo, mas
ao mesmo tempo, diferente.
Kols tinha me incendiado com poder e sensação.
Shade de alguma forma acariciou minha alma com chamas geladas, um
elemento impossível que parecia existir apenas entre nós.
— Goze para mim, linda — ele sussurrou contra o meu ouvido.
Queria gritar para ele me soltar, implorar para ele me levar ao êxtase e
para matá-lo ao mesmo tempo. A intensidade entre nós transbordou, meu
mundo desmoronou em um clímax tão avassalador que quase esqueci como
respirar.
E então eu estava gritando seu nome como uma maldição e uma bênção
enquanto a energia explodia ao nosso redor.
Ele absorveu tudo, me permitindo flutuar em um estado de êxtase que
abalou cada centímetro do meu ser, me deixando sair do meu corpo e
retornar.
— Shade! — O quarto brilhava, meu coração batia em um ritmo caótico
que se recusava a desacelerar, até que sua boca me trouxe de volta à
realidade do nosso momento.
Sua língua acariciou a minha enquanto me acariciava e seu calor
aquecendo minha pele fria e úmida.
Estremeci, perdida para ele total e completamente, enquanto o
desprezava mais uma vez, ainda o beijando como se eu precisasse de sua
existência para sobreviver.
— Você é linda — ele elogiou, me acariciando em um gesto quase doce
demais para o nosso vínculo volátil. — Durma, Aflora. Vamos discutir mais
pela manhã.
Abri minha boca para argumentar, mas ela se fechou por causa de
qualquer feitiço que ele teceu sobre mim. Semicerrei os olhos em
aborrecimento, desejando que ele parasse de mexer com meus sonhos e
meus estados de sono.
Mas ele desapareceu em uma nuvem de sua fumaça inebriante antes que
eu pudesse transmitir a mensagem.
E meu mundo ficou preto.
CAPÍTULO VINTE E OITO
SHADE

S enti a presença de Kols na suíte cerca de um minuto antes de Aflora


gozar. De alguma forma, ele convenceu Sir Black a lhe conceder
entrada, algo que ninguém mais foi capaz de fazer. Suspeitei que nosso
vínculo de companheiro compartilhado tivesse ajudado.
Embora isso não explicasse como o Elite de Sangue conseguiu entrar
nos bairros residenciais do Sangue de Morte.
— Você emitiu um edital para permitir sua entrada? — questionei, me
materializando atrás dele na sala de estar. Ele parou no centro da sala,
provavelmente porque ouviu os gritos de prazer de Aflora. Eu pararia para
ouvir também, se fosse ele. Ela realmente era uma bela criatura. Única e
totalmente minha.
Um lampejo de chama dourada iluminou seu olhar enquanto ele
relaxava externamente.
— Ela grita mais alto por mim.
— É mesmo? — Considerei o que eu sabia de seu relacionamento tênue
e sorri. — Vou ver se concordo amanhã de manhã.
— Ela não vai ficar na sua cama por muito mais tempo.
— Ah, é? E para onde você pretende levá-la? De volta à sua cama?
Com o quarto dela sendo reduzido em cinzas e tudo mais — falei
lentamente, me encostando na parede que levava a um corredor estreito.
Ao contrário de Kols, eu só tinha um quarto. Não gostava de receber
convidados. A menos que fossem morenas lindas, como a mulher dormindo
profundamente em meus lençóis. Eu a aconchegaria quando voltasse.
Ele franziu a testa.
— Ela te contou isso?
Dei de ombros, não revelando nada. Porque não, ela não tinha me dito
nada. Eu senti. A demonstração de poder de Kols desencadeou a reação de
Aflora, sobrecarregando sua conexão com a fonte das artes das trevas. Seus
gritos de socorro me despertaram do sono, me arrastando para as primeiras
horas da madrugada em busca da minha companheira agonizante.
Nunca, nem em meus sonhos mais loucos eu poderia ter previsto
encontrá-la na Floresta Letal. Foi um milagre ela ter sobrevivido a sua
jornada até lá.
Um milagre, assumi, que poderia ser atribuído à interferência de Zeph.
Ele a seguiu até lá e provavelmente lidou com algumas ameaças antes de se
aproximar dela.
Ou talvez tudo tivesse sido um encontro com o destino.
Aflora parecia adorá-los.
— Não se preocupe, Príncipe da Meia-Noite, nossa rainha está segura
na minha cama. Não há necessidade de perturbá-la ou movê-la.
— Você nem deveria estar perto dela, muito menos dividindo um quarto
— ele respondeu, cruzando os braços e fazendo o possível para parecer um
membro da realeza.
— Ah, estamos jogando um jogo de quem pode quebrar mais regras?
Porque acho que você está muito à minha frente esta noite, Kols. Quantos
juramentos você quebrou ao acasalar com ela? Ou devemos discutir as
visitas noturnas aos sonhos dela? — Fingi considerar nossa situação e cocei
o queixo. — Não, isso estava tecnicamente dentro dos parâmetros das
regras. Então, que tal aquele colar que você não colocou nela depois de sua
pequena exibição mágica na aula de Magia do Guerreiro? Porque sim, eu
sabia tudo sobre isso.
— Você esteve à espreita em meus quartos? — ele questionou.
Dei de ombros de novo, porque eu nunca revelaria meus segredos. Não
para ele. Nem a ninguém.
— O que você realmente quer, Kols? Há uma mulher nua e linda na
minha cama para quem eu gostaria de voltar, e em breve, se você não se
importar.
— E se eu me importar?
— Isso não vai me parar — admiti com um sorriso. — Assim como
minha reivindicação inicial sobre ela não o impediu.
— Bem, você vai ter que resolver isso com ela, já que ela acasalou
comigo.
— É assim que os vínculos Fae Elementais funcionam? — perguntei,
fingindo curiosidade. — Porque eu jurava que eram acordos mútuos. —
Sim, eu também sabia disso. Senti no momento em que se encaixou. Parecia
um mosquito de fogo se agarrando ao nosso vínculo e se recusando a soltar.
Eu não tinha entendido o que era até encontrar Aflora.
No momento em que seu poder pegou fogo, as peças do quebra-cabeça
se encaixaram. Eu imaginava que como uma Fae mista, ela teria vários
parceiros. Kols não era exatamente minha primeira escolha, mas eu deveria
saber que o destino exigiria assim.
Ele provavelmente tinha previsto isso. Assim como todo o resto.
Um músculo se contraiu na mandíbula de Kols.
— Que jogo você está jogando aqui, Shade? Você tinha que saber sobre
suas origens Quandary de Sangue. Por isso a escolheu. O que eu não
consigo descobrir é o seu objetivo final. Isso fazia parte? Formar um
vínculo de quatro vias?
— Quem disse que eu tenho um objetivo final? — Eu contra-ataquei. —
Talvez outra pessoa esteja puxando minhas cordas.
Ele bufou.
— Isso é impossível. Você despreza autoridade.
— Verdade — concordei. — Mas isso não significa que eu não possa
buscar cumprir um propósito maior. Talvez eu queira acabar com essa rixa
antiga entre nossas famílias.
A incredulidade deixou suas feições sombrias.
— Nós dois sabemos que isso é besteira.
— Nós? — rebati, dando de ombros mais uma vez. — Acho que vamos
descobrir.
Ele deu um passo à frente, sua fachada calma rachando.
— Pare com essa merda, Shade. Por que a Aflora? Qual é a sua jogada
aqui?
— Talvez eu goste dela — sugeri. Não era exatamente uma mentira. Eu
me abaixei quando seu soco veio para o meu nariz, me afastei de seu
alcance e atravessei a sala assim que Sir Black gritou. A gárgula atrevida
desprezava a violência. Era a única característica que eu não gostava nela.
Quero dizer, quem não gostou de um ataque de selvageria? Especialmente
entre um Sangue de Morte e um elite de Sangue.
Kols ignorou Sir Black e puxou sua varinha. Sua expressão irradiava a
intenção de causar dano. Um feitiço escapou de seus lábios assim que um
som alto veio do dispositivo que ele segurava em sua mão.
A intenção assassina sumiu de suas feições, substituída por uma careta
quando ele respondeu ao chamado mágico com um movimento de seu
pulso.
— Oi, pai — ele cumprimentou com uma voz admiravelmente calma.
Ele me lançou um olhar que me disse para não dizer nada. Pensei em
desobedecê-lo, mas decidi que era do interesse de Aflora não anunciar
minha presença. Quanto menos fizermos para chamar a atenção para nós
mesmos, melhor.
Porque essa coisa toda de vínculo de quatro vias? Sim, não terminaria
bem quando o Fae da Meia-Noite descobrisse.
Parte de mim mal podia esperar. Quase os desafiei a fazer algo sobre
isso. Nosso poder coletivo como uma unidade tinha o potencial de dominar
toda a porcaria do Conselho.
Mas nosso ativo mais forte ainda não tinha ideia de como usar seus
poderes Quandary.
O que me trouxe para a parte prática que sabia que não estávamos nem
perto de estar prontos ainda. Por isso, me encostei à parede e escutei o lado
de Kols da conversa. Sua magia familiar permitia que seu pai falasse
diretamente em seu ouvido enquanto a varinha estava acionada. Semelhante
a atender a um telefone humano, mas sem o dispositivo necessário.
Pessoalmente, eu preferia os celulares físicos e carregava um comigo
para falar com meu próprio pai. Quanto menos aquele idiota conseguisse
entrar na minha cabeça, melhor.
Kols e Malik, no entanto, tinham um vínculo muito diferente do que eu
e meu pai.
— Sim, Shade e eu entramos nisso — o Príncipe da Meia-Noite disse,
me fazendo arquear uma sobrancelha. — Essa é a perturbação que você
provavelmente sentiu.
Ah. Esperto. Culpar a rivalidade em vez de nossa Aflora. Não era uma
tática ruim. Seu pai acreditaria que Kols venceu a batalha com facilidade,
desconsiderando o significado do meu poder como a maioria dos Elite de
Sangue fazia. Foi assim que corri sob o radar com tanta fluidez. Todos se
sentavam em seus tronos altos e poderosos, se assumindo como os
herdeiros legítimos do reino, enquanto a verdadeira realeza se escondia nas
sombras.
Realezas como eu.
Um dia, eu faria questão de demonstrar o quanto eles estavam errados
sobre mim e os meus.
Mas não hoje.
Em vez disso, acenei com a cabeça para Kols, aceitando sua história e
ouvindo enquanto ele detalhava nosso duelo improvisado com o pai. Para
seu crédito, ele me concedeu alguns golpes positivos, mas depois se gabou
da minha eventual queda no final. Foi preciso um esforço considerável para
não bufar diante da conclusão ridícula.
Como se eu fosse cair tão facilmente.
No entanto, para proteger Aflora, eu permitiria que o conto estranho
existisse. Eu até chegaria a agradecer Kols por criá-lo, porque isso
significava que ele decidiu proteger nossa companheira em vez de entregá-
la. Pelo menos por enquanto.
Essa decisão poderia mudar em um segundo.
Mas algo me disse que não. Testemunhei sua preocupação com a Fae
Real da Terra em mais de uma ocasião. E esta noite, ele levou essa
preocupação a um nível totalmente novo de necessidade. Sugerir que nós
três a mordêssemos de uma vez exigiu um pouco de sacrifício de sua parte,
algo que ele deu sem pensar. Ele renunciou a todo o seu reino para garantir
sua sobrevivência.
Porque agora não havia dúvida de que tudo mudaria.
Ele não poderia ascender corretamente com Aflora como companheira.
Não porque a fonte o rejeitaria, mas porque o precioso Conselho negaria
sua candidatura e exigiria que ele renunciasse. Como ele tinha um gêmeo
com uma companheira adequada, seria uma solução fácil para eles. Haveria
um grupo que desaprovaria o fato de Ella ser uma Halfling, mas
conhecendo Tray, ele os mandariam se danar.
Então ele seria confrontado com a punição de seu gêmeo por salvar uma
abominação em vez de matá-la.
Os ombros de Kols estavam tensos com aborrecimento, seus olhos
dourados brilhando enquanto ele aceitava o que seu pai tinha acabado de
dizer com um tom de arrependimento.
— Peço desculpas pelo meu comportamento. Não vai acontecer de
novo.
Eu quase disse: “Não faça promessas que você não pode cumprir”, mas
eu não ia oferecer conselhos. Em vez disso, entrei na cozinha para preparar
uma bebida.
Kols me encontrou um momento depois, com a varinha já guardada.
— Se alguém perguntar...
— Você acabou comigo em um duelo não autorizado — terminei por ele
enquanto jogava três cubos de gelo em um copo. — Entendi.
Ele me observou por um longo momento com a expressão cautelosa.
— Como eu deveria confiar em você para não estragar tudo para todos
nós?
— Humm. — Encontrei meu licor favorito, tirei do armário e me servi
uma boa quantidade.
— Isso é tudo que você tem a dizer? Humm? — Ele parecia pronto para
recuperar sua varinha.
— Você pode começar me deixando ficar com Aflora durante a noite —
respondi, dando um pequeno redemoinho no meu copo para esfriar o
conteúdo. — Vamos nos reencontrar amanhã quando você trouxer algo para
ela vestir.
Ele me olhou com um brilho violento em seu olhar.
— Se você tocá-la...
— Ah, tenha certeza de que já toquei — interrompi, adorando a forma
como sua pele ficou vermelha em resposta. — Mas eu nunca a machucaria.
— E você espera que eu acredite? Que confie em você para mantê-la
segura?
— Sim — eu disse, respondendo às duas perguntas. — Ela é minha
companheira, Kolstov. Posso gostar de provocá-la, mas nunca deixaria
ninguém ou nada machucá-la. Por que mais eu teria aparecido na Floresta
Lethal? Certamente não era para um pequeno passeio no final da manhã.
Isso é certo. — Tomei um gole longo e necessário da bebida, adorando a
forma como o líquido queimava o fundo da minha garganta.
Kols finalmente cedeu com um suspiro, assentindo em um acordo
derrotado.
— Vou me arrepender dessa merda.
— Com certeza vai — concordei, mas não estava me referindo tanto a
confiar em mim quanto estava se ligar a Aflora. Ele teria momentos de
arrependimento, seguidos por doces momentos de recompensa que fariam
tudo valer a pena.
Ou talvez fosse apenas o meu destino, não o dele.
O tempo diria.
— Zeph foi encontrar alguém que possa nos ajudar a esconder os
vínculos — ele me informou em voz baixa. — Até que possamos descobrir
como seguir em frente, precisamos esconder isso do Conselho.
— E eles me chamam de rebelde — murmurei, achando graça.
— Isso não é um jogo — Kols retrucou.
— Tudo na vida é um jogo para alguém — respondi, contornando-o
para entrar na sala de estar.
— A vida dela não significa nada para você? — ele questionou e seu
tom rude me fez parar no meio do passo. — Você não percebe o que vai
acontecer com você se algo acontecer com ela?
Olhei por cima do ombro para encontrar seu olhar.
— Não me importo com o que acontece comigo — admiti. Minha voz
era um sussurro que pareceu dar um tapa no rosto dele. — Mas me importo
com o que acontece com ela. É por isso que ela vai ficar aqui esta noite. Te
dei dois meses com ela, Kolstov. É a minha vez de cuidar dela. Você pode
tê-la de volta, ilesa, amanhã.
Não me incomodei em dar a ele mais nada, apenas voltei para o meu
quarto e a beleza descansando no centro da cama. Se ele optou por ficar e
ouvir, isso era com ele.
O que eu queria fazer agora não tinha nada a ver com Kolstov,
Zephyrus, o Conselho ou qualquer outra pessoa.
Tudo girava em torno de Aflora.
Assim como tinha acontecido desde a minha primeira mordida.
Coloquei o copo na mesa de cabeceira, tirei a camisa e me arrastei para
a cama ao lado dela. Algumas palavras murmuradas a libertaram do feitiço
do sono, permitindo que seus lindos olhos azuis se abrissem.
Acariciando sua bochecha, me inclinei para passar a língua ao longo de
sua boca. Ela entreabriu para mim como eu sabia que ela faria, já que sua
mente ainda estava presa na terra de neblina e sonhos, e suas memórias
convencendo-a de que isso poderia ser mais uma fantasia do que realidade.
Eu poderia facilmente tirar vantagem dela nesse estado.
Mas não o faria.
Queria ganhar sua confiança em um sentido mágico, não
necessariamente em um sentido tradicional. Eu desejava sua alma. Seu
coração. Ela por inteiro.
Ela não estava nem perto de me dar mais do que toque físico, e tudo
bem. Tínhamos tempo. Nós trabalharíamos até alcançar o que eu realmente
desejava. Ela poderia me desprezar por isso, mas no final, se apaixonaria
por mim.
O que era tudo parte da diversão.
A Quandary de Sangue precisava de desafios, quebra-cabeças e
enigmas. Eu os oferecia a ela em abundância, existindo apenas para seduzi-
la, e um dia nossos poderes se misturariam para criar algo tão bonito e
incrível que o Conselho não ousaria tocá-lo.
Se Zeph e Kols optassem por fazer parte disso ou não, era com eles.
Até agora, eles estavam seguindo o caminho certo.
Mas eu sabia que nosso caminho não era fácil, com uma infinidade de
becos sem saída em potencial. Meu propósito nesta vida era garantir que a
fêmea enrolada em mim sobrevivesse.
E eu faria tudo ao meu alcance para ver isso.
Mesmo que ela me odiasse por isso.
Mordisquei seu lábio inferior com gentileza antes de beijá-la
profundamente, apreciando-a da única maneira que eu sabia. Ela estava
exausta demais para fazer mais alguma coisa, e isso estava bem para mim.
Eu a abraçaria a noite toda, cuidaria dela em seus sonhos e continuaria a
observá-la das sombras quando ela acordasse.
Minha companheira.
Minha pequena rosa.
Meu futuro.
Adoro você, pensei para ela, não que ela pudesse me ouvir. Sinto muito
por ter que te magoar, Aflora.
A única maneira de ela realmente voar era sem restrições, o que exigia
sacrifícios de todos nós.
E este seria meu.
CAPÍTULO VINTE E NOVE
KOLS

— P orperguntou
que você ainda está com a varinha da Aflora? — Zeph
enquanto entrava no meu quarto sem bater. Coloquei
seu conduíte mágico na cômoda, desejando mantê-lo seguro para quando eu
voltasse para ela amanhã de manhã.
— Não cheguei a vê-la. O Shade já a colocou em sua cama. Fiz uma
careta com as palavras, não muito satisfeito por ela ter passado a noite com
ele. Claro, ele não tinha exatamente me dado muita escolha. Eu poderia ter
lutado com ele, exigido que ele a entregasse, mas decidi que não valia a
pena. Como eu podia sentir suas emoções agora – graças ao vínculo – sabia
que ela estava segura. Se e quando essa sensação mudasse, eu faria algo
sobre isso.
Por enquanto, eu o deixaria ficar com ela.
Só por esta noite.
Amanhã era um dia totalmente novo para negociação.
Também me daria tempo para substituir todos os seus pertences e os
móveis do quarto.
Parte de mim ainda queria matá-la por me prender nessa confusão.
Enquanto isso, o lado mais lógico de mim reconheceu que tinha sido uma
reivindicação mútua.
Eu a quis desde o momento em que nos conhecemos, e mesmo antes
disso, quando a vi na coroação de Cyrus. Ela era uma das mulheres mais
bonitas que eu já tinha visto, com seu longo cabelo preto realçado com
mechas azuis. Aqueles olhos lindos. Curvas deliciosas. Sorriso
pecaminosamente doce.
Cada atributo que ela possuía me atraiu para ela.
Juntamente com seu poder surpreendente e linhagem real, não era de se
admirar que minha alma Fae a procurasse como um par.
Eu estava fraco demais para lutar contra e, por isso, pagaria o preço
final.
Odiá-la era mais fácil do que me odiar. Isso não deu certo.
— Você parece péssimo — Zeph disse, parando na cama. Eu estava
deitado sobre os travesseiros com uma garrafa de uísque no colo. Sem
camisa. Sem sapatos. Apenas um par de moletom cinza.
— Obrigado. Eu me sinto péssimo. — Tomei outro gole, desejando
loucamente que já me deixasse bêbado. Mas o poder que absorvi de Aflora
parecia estar consumindo minha capacidade de me sentir intoxicado.
Peguei o peso de sua explosão, permiti que alimentasse minhas
entranhas e a alimentei diretamente de volta à fonte. Como uma espécie de
sifão.
Zeph e Shade ajudaram, mas não eram eles que tinham acesso direto às
artes das trevas. Então o peso disso caiu sobre mim.
A tinta ao longo dos meus braços se contorcia de contentamento,
enquanto minhas entranhas se revoltavam.
Eu não podia acreditar que nada disso tinha acontecido, não tinha a
menor ideia do que fazer agora. Menti para o meu pai, algo que nunca tinha
feito antes. Não sobre uma situação importante como esta, de qualquer
maneira. Pequenas mentiras, sim. Importantes, não.
— Puta merda — murmurei, tomando mais um gole antes de entregar a
garrafa para Zeph. — Quer?
Ele pegou a garrafa e a colocou de lado em vez de tomar um gole.
— Não vai ajudar.
— Nem me fala. — Eu estava tentando afogar minhas mágoas por mais
de uma hora sem sucesso. — O poder dela é como um fio vivo correndo
pela porra da minha alma.
— Não tenho certeza do que posso fazer, mas meu amigo nos fez isso.
— Ele deixou cair um par de pulseiras de couro marrom na cama ao lado do
meu quadril. — Ching disse que isso ajudará a esconder nossa conexão dos
outros.
— Ching?
— Meu amigo que é especialista em esconder vínculos. Aparentemente,
os laços de acasalamento são uma coisa popular para se esconder, então ele
já tinha várias ferramentas disponíveis à sua disposição para criá-los. —
Zeph estudou os braceletes. — Não dei sua identidade a ele, principalmente
porque imagino que ele surtaria se soubesse. Porque só há uma razão para
alguém se especializar nesse tipo de magia, que é esconder coisas do
Conselho.
— Mas ele sabe quem você é.
— Sabe. Assim como ele também sabe que quero ir embora. — Ele
encontrou meu olhar, me desafiando a comentar.
Não falei nada.
Principalmente porque eu estava exausto demais para brigar com ele
agora.
Eu só queria que essa noite acabasse.
Além disso...
— Não há como ir agora — eu disse a ele, voltando meu foco para as
pulseiras. — Então, como funciona? — perguntei, dando a ele a chance de
desviar e mudar a direção da nossa conversa.
Ele aceitou.
— São feitiços de ocultação genéricos. Usar a pulseira encobre o
vínculo de acasalamento, tornando impossível sentir ou rastrear.
— E a Aflora? Se ela usar uma, vai esconder seu vínculo com o Shade,
e as pessoas irão suspeitar que algo está acontecendo.
Zeph assentiu.
— Sim, o Ching está fazendo algo especial para ela. Ele vai tentar fazer
algo pela manhã. Se não, precisamos de uma desculpa para mantê-la fora da
aula.
— Vou dizer que ela foi atingida por alguma magia perdida durante meu
duelo com Shade. Ninguém vai questionar. Caramba, a Emelyn
provavelmente vai ficar feliz. A vadia pintou um alvo nas costas de Aflora
apenas por causa de sua ligação comigo. Bem, esse ódio se tornaria muito
pior quando ela percebesse que nos acasalamos.
Assumindo que viveremos o suficiente para que alguém descubra além
do Conselho.
Meus ombros caíram enquanto eu afundava mais nos travesseiros.
— Você não é do tipo que fica deprimido — Zeph disse, elevando seu
corpo alto sobre mim enquanto me olhava ao lado da cama.
— Vá se foder, Z — murmurei, puxando um travesseiro sobre minha
cabeça. Infantil, sim, inútil, também sim. Mas eu só queria me esconder por
toda a eternidade.
— Você percebe que essa conexão entre nós quatro é poderosa, certo?
— Zeph perguntou.
— Não tive um minuto para analisá-la. — Minhas palavras foram
abafadas pelo travesseiro.
Um travesseiro que desapareceu quando Zeph o tirou de mim.
— Pare de agir como um idiota preguiçoso, sente-se e comece a pensar.
Olhei para ele.
— Não quero pensar, idiota.
— Bem, sinto muito, idiota — ele respondeu. — Nós quebramos
algumas regras. E daí? As leis de acasalamento são arcaicas e você sabe
disso. Você também nunca quis acasalar com Emelyn mesmo. A Aflora é
uma combinação muito melhor. Ela é gostosa pra cacete também. Forte.
Poderosa. Uma Quandary de Sangue. Isso significa que, com o treinamento
certo, ela pode reescrever toda essa merda a nosso favor. A única parte
realmente ruim de tudo isso é ter o Shade envolvido. Eu sugeriria que o
matássemos, mas isso prejudicaria Aflora, o que enfraqueceria o vínculo em
geral.
Eu pisquei para ele.
— Quem fez de você o Rei Prático de repente?
— Eu sempre fui o prático, Príncipe Bebê Chorão — ele respondeu.
— Eu não sou um bebê chorão.
— Você está deitado em uma pilha de travesseiros sentindo pena de si
mesmo em vez de perceber a oportunidade que existe aqui. Ela é muito
poderosa. Você sentiu isso hoje à noite quando a derrubamos. O Conselho
vai ficar louco com isso porque eles não podem lutar contra, a menos que
nos curvemos. O que não tenho vontade de fazer. E você?
— O que aconteceu com eles provavelmente vão matá-la e depois a
você? — perguntei. — Não foi isso que você disse há apenas algumas
horas?
— Sim, e você me disse que não ia deixar isso acontecer. E eu acredito
em você. Então pare de sentir pena de si mesmo e me ajude a encontrar uma
solução. Como você disse, não há como sair disso agora. Vamos descobrir o
que fazer, a menos que você tenha um dispositivo de viagem no tempo
guardado por aí que eu não saiba.
— Esse é um reino totalmente diferente de seres feéricos — murmurei,
pensando no Paradoxo Fae. — Mas eles seriam bem úteis agora.
— Sim, exceto que não nos ajudariam. Na verdade, eles provavelmente
tornariam as coisas piores.
Eu bufei.
— Verdade. — Eles eram pequenos filhos da puta enganadores que
adoravam pregar peças com o tempo. Pedir um favor a eles exigia um
pagamento significativo e, mesmo assim, nunca era garantido que eles
seguiriam sem deixar alguma surpresa desonesta à espreita. — Ainda assim,
é um caminho para manter em mente — falei. Porque todas as opções
tinham que ser consideradas.
— Não realmente. Acho que acabaríamos nos unindo a ela,
independentemente do que fizéssemos.
Ele não estava errado.
— Senti a atração desde o momento em que a vi pela primeira vez.
— Eu também.
Trocamos um longo olhar que terminou em um suspiro mútuo.
— O que eu ainda quero saber é o que o Shade tem a ver com tudo isso
— Zeph continuou. — Ele sabia que isso aconteceria.
— O que você quer dizer?
— Ele não ficou nada surpreso esta noite. Apenas aceitou. Que tipo de
Fae da Meia-Noite não se importa com dois outros homens tomando
liberdades com sua companheira?
Fiz uma careta.
— Eu certamente não estou feliz que ela esteja na cama dele agora.
— Exatamente.
— No entanto, eu permiti — acrescentei.
— Porque você não se opõe a compartilhar mulheres. Mas o Shade é
notoriamente alfa em suas preferências e não do tipo que compartilha.
— Verdade. — Me sentei, esfregando a mão em meu rosto enquanto
pensava em tudo. — Ele não pareceu satisfeito com minha sugestão de
mordê-la, no entanto.
— Ele parecia preocupado — Zeph concordou. — Mas não com a nossa
reivindicação. Ele estava preocupado com ela e com o que aconteceria se
não conseguíssemos controlar seu poder. Há uma diferença.
— Sim, há — concordei, lembrando o medo em seus olhos enquanto ele
a observava desmoronar diante de nós. — Ele realmente se importa com
ela.
— Ele também salvou minha vida esta noite quando ela explodiu pela
primeira vez. Se ele tivesse me ignorado, eu teria queimado junto com ela.
Só que não estou equipado para sobreviver ao fogo cerúleo.
Foi quando cheguei, sentindo seu poder aumentar através do nosso
vínculo. Consegui absorver a maior parte de sua destruição, mantendo a
energia centralizada naquele pátio com uma corrente elétrica agitada
diretamente da fonte.
— Isso é confuso demais — eu disse, soltando um suspiro. — Perguntei
a ele sobre seu motivo esta noite. Ele respondeu com sua habitual palhaçada
enigmática.
— Você confia nele? — Zeph perguntou.
— Não. — Eu não confiava nada naquele cretino.
— Nem eu.
— Então, o que faremos?
— Vamos monitorá-lo. E proteger a Aflora. — Ele trocou olhares
comigo enquanto dizia isso. — Há algo sobre ela, Kols. Alguma coisa
importante. E é mais profundo do que seu Sangue Quandary.
— Ela é uma abominação — eu o lembrei. — Pode ser isso que você
esteja sentindo.
Ele balançou a cabeça.
— Continuo sentindo que ela é a chave para algum segredo há muito
enterrado. É apenas uma sensação que tenho. Um que eu quero entender
antes de decidirmos como proceder.
Os instintos de Zeph provaram ser confiáveis ao longo dos anos, e eu
não iria negá-los agora.
— Devemos começar investigando sua origem — eu disse, pensando
em seu passado. — Seus pais supostamente morreram quando ela era
jovem. Todos acharam que tinha a ver com a praga Fae da Terra, que mais
tarde perceberam que era causada por uma abominação.
— Eu apostaria que havia mais nessa história — Zeph respondeu.
— Eu também. — Eu teria que envolver Exos ou Cyrus nisso para
solicitar alguns detalhes. Talvez pudesse pedir informações sobre o passado
dela e alegar que precisava disso para ajudar a inocentá-la ou algo assim.
— Você está pensando em perguntar aos Membros da Realeza Fae
Elemental. — Um bom palpite, nascido de anos de conhecimento um do
outro.
— Estou — confirmei.
— Um bom começo.
Concordei com um aceno de cabeça antes de dizer:
— Bem, acho que precisamos colocar essas pulseiras e esperar que seu
amigo traga algo para Aflora.
— Ele vai trazer. — Zeph pegou as pulseiras de couro marrom e me
entregou uma. — Saúde, Kols.
Eu bufei uma risada.
— Sim. Saúde. — Bati a pulseira contra a dele, em seguida, a prendi em
meu pulso. Além de uma leve sensação de zumbido, não senti nada
diferente, mas o aceno de cabeça de Zeph me disse que funcionou. Quando
ele seguiu o exemplo, colocando a sua no lugar, eu entendi.
Os leves traços dos vínculos de acasalamento tinham desaparecido.
Agora só tínhamos que ver quanto tempo essas coisas duravam.
Resolver o mistério da existência de Aflora.
E descobrir o que Shade estava fazendo.
— Isso vai ser um grande desafio — eu disse.
Zeph sorriu.
— Sim. Vai mesmo. — Ele puxou os lençóis de volta na minha cama.
— Agora chega pra lá. Vou dormir aqui.
Arqueei uma sobrancelha.
— Seu quarto é ao lado, Guardião.
— Cale a boca e se mexa, Kols.
Curvei os lábios quando obedeci.
— Tire as calças.
— Nos seus sonhos.
— Ou podemos tocar em Aflora — sugeri, pensando em como seria
divertido implicar com Shade. — Fazê-la gemer nossos nomes tão alto que
o Sangue de Morte não consiga dormir.
Um brilho sinistro escureceu o olhar de Zeph para uma cor verde
floresta.
— Está tarde e eu não estava planejando descansar muito de qualquer
maneira.
Sim, era quase meio-dia lá fora.
— Então vamos nos divertir. Nós merecemos depois das últimas vinte e
quatro horas.
— Você já se divertiu antes — Zeph respondeu. — Esta noite, é a minha
vez.
— Então faça isso. Eu acompanho. — Eu não recusaria quando uma
chance era oferecida.
CAPÍTULO TRINTA
AFLORA

E speciarias ricas.
Hortelã-pimenta.
Colônia amadeirada.
Eu estava nadando em todos os aromas, sentindo o corpo excitado
apesar de mal ser tocado. Quando a noite caiu, tudo o que eu queria fazer
era dormir, já que meus companheiros não me deixaram descansar.
Eles estavam competindo por um lugar em meus sonhos, sua sedução
resoluta e muito tentadora.
Eu os detestava.
Ansiava por eles.
Queria matá-los.
Não os entendia.
— Você me odeia — eu disse a Kols, que estava com os braços em volta
de mim enquanto me puxava de volta para seu peito, levando os lábios ao
meu pescoço. Nada disso era real. Eu sabia. Mas não sabia como impedir
que nenhum deles entrasse na minha cabeça.
— Eu não te odeio, princesa — ele sussurrou.
— Você me culpou por nosso vínculo de acasalamento.
— Porque ele é um idiota que não sabe como se apropriar de suas
próprias ações — uma voz sombria falou diretamente no meu ouvido e
substituindo a voz de Kols na minha cabeça.
— O quê?
— Acorde, pequena rosa — Shade exigiu, roçando os dentes no meu
pescoço. — Acabamos de jogar este jogo. Por enquanto.
Abri os olhos e a risada de Kols era um som residual em minha mente.
Cortinas violetas estavam abertas para revelar uma noite estrelada e
lençóis de seda entrelaçados com minhas pernas. Shade estava deitado atrás
de mim, com o braço em volta da minha cintura, o peito nu nas minhas
costas e os lábios no meu ouvido novamente.
— Bem-vinda de volta, pequena rosa.
Engoli em seco, sentindo meu coração acelerar.
— Onde estou?
— No meu quarto. — Ele deu um beijo no meu pescoço mais uma vez,
então me guiou de costas para pairar sobre mim. — Você precisa dormir
mais. Que tal matarmos nossas aulas hoje e ficarmos aqui?
— Como eu...? — Eu parei, os eventos da noite passada surgindo em
minha mente em um ataque cruel da realidade.
A cobra de Zeph matando Clove.
Sexo com Kols.
Ele me mandando embora.
Eu correndo para a floresta.
Meus poderes explodindo.
Shade me seguindo aqui.
Cada memória passou por mim, me fazendo vacilar quando o pavor se
acumulou sombrio e espesso dentro da minha barriga.
— O que acontece agora?
— Vamos dormir — Shade respondeu. — Bem, supondo que você
esteja aceitando minha oferta de matar aula.
— Não. — Balancei minha cabeça em um esforço para limpá-la. — O
que acontece com nós quatro? Comigo?
— Ah, acredito que o plano é fingir que nada aconteceu. — Ele deu de
ombros. — Acho que vamos ver como isso funciona, não é?
— Eu... — O quê? — Isso vai funcionar mesmo? O Conselho não vai
saber? E os nossos vínculos? — Eu podia sentir os três machos dentro de
mim, rasgando meu coração com seus vários ganchos. A magia deles se
amontoou em minha alma também, como se cada um disputasse o domínio
sobre meus poderes, procurando me absorver inteiramente.
Me firmando, percebi. Eles estão absorvendo minha energia para me
manter firme e estável.
Eu os cutuquei em minha mente, recuando quando as linhas sibilaram
em resposta. Shade se encolheu visivelmente, curvando seus lábios para
baixo.
— O que você acabou de fazer?
— Toquei seu... vínculo? — Era um palpite. Eu realmente não sabia
como chamar, mas pareciam correntes ancoradas em torno do meu espírito,
me prendendo.
— Você pode vê-los?
Assenti devagar, olhando para dentro de mim mais uma vez.
— Sim. Acho que sim.
— Você pode descrevê-los?
— Como fios finos de magia se enrolando em torno do núcleo de
minhas habilidades — expliquei. — Estão pulsando com poder. Seus
poderes. — Estendi a mão para aquele com um vínculo mais sólido,
notando a essência de Shade enquanto cuidadosamente acariciava nossa
conexão.
Ele estremeceu em resposta, seus olhos azuis brilhando intensamente.
— Essa é a sua habilidade Quandary de Sangue — ele sussurrou. —
Não consigo ver nossa conexão. Não assim.
— O que você vê? — perguntei em voz alta.
— Você — ele disse baixinho, acariciando minha bochecha. — Ou
melhor, eu sinto você. Dentro de mim. Na minha mente, meu coração,
minha alma. — Ele se inclinou para mim, roçando seus lábios nos meus. —
Posso sentir suas emoções. Sei quando você está com dor ou excitada. Não
exatamente seus pensamentos, mas perto. Como se nossas almas estivessem
unidas de uma maneira que torna você mais fácil de ler. E, claro, posso
entrar nos seus sonhos.
Divertimento provocou seus lábios carnudos, fazendo-os se contorcer
enquanto eu revirei os olhos em resposta.
— Vou priorizar aprender a bloquear todos vocês — murmurei. Talvez
Ella pudesse me ensinar. Ou um dos meus livros.
— Humm, vou contra-feitiçar você, pequena rosa. Ou talvez eu apenas
brinque com você na realidade. — Ele passou os dentes pelo meu lábio
inferior, seu toque promissor.
— Não sei — respondi, querendo provocá-lo. — Você pode não
corresponder às expectativas dos meus sonhos.
Ele riu, senti seu fôlego de hortelã contra a minha língua.
— Querida, vou superar todas as fantasias, incluindo as que você
compartilhou com Kols.
Estremeci com o pensamento, lembrando o que o Príncipe da Meia-
Noite tinha me infligido na noite passada.
— Isso pode não ser possível depois de ontem à noite.
— Por quê? Porque ele permitiu que o Zeph se juntasse a ele desta vez?
— Shade parecia divertido de um jeito sombrio. — Conheço minhas
habilidades e elas estão absolutamente à altura.
— Você fala demais.
— Diz a fêmea que gozou contra minha coxa ontem à noite apenas com
minha boca tocando a dela — ele respondeu baixinho, me beijando
novamente, desta vez com propósito. — Continue assim, pequena rosa, e
vou lhe dar uma demonstração em vez de deixá-la dormir.
— Você provavelmente vai fazer isso em minha mente — retruquei.
Ele sorriu contra minha boca.
— Provavelmente. — Outro beijo. — Com certeza. — Desta vez com a
língua. — Definitivamente. — Adormeci em seus braços mais uma vez,
desta vez com uma estranha satisfação no peito.
Algo que que desapareceu quando acordei sozinha na cama e encontrei
sua metade do colchão fria. Uma rosa negra repousava no travesseiro com
um bilhete ao lado.

Surgiu uma coisa. Sonhe comigo, pequena rosa.


S.

Eu bufei.
— Tudo conversa — murmurei, me recostando para ver as luminárias
de seu quarto. Eram elegantes de uma forma que eu meio que esperava dele.
Escuras também. A madeira de obsidiana com móveis violeta. Muito Shade.
Mas não havia itens pessoais. Não havia fotos. Nada de pequenas
bugigangas, apenas o essencial necessário para viver.
Talvez ele não passasse muito tempo aqui.
Como ele faltava às aulas regularmente, isso faria sentido.
Eu me espreguicei e me afastei dos lençóis. A boxer e a camisa que ele
me ofereceu na noite passada estavam dobradas no balcão do banheiro com
outra rosa negra. Tomei isso como um convite para tomar banho e me
trocar, o que fiz, usando seu shampoo com cheiro de menta e frescor, assim
como ele.
Prendendo as longas mechas do meu cabelo em um nó, vesti suas
roupas e me observei no espelho.
Meu colar havia desaparecido.
Eu não tinha notado antes.
Tinha caído ontem à noite ou Shade o removeu?
Provavelmente na noite passada, o que explicava como minhas
habilidades Faes Elementais haviam retornado. Fechei os olhos e sorri
quando a fonte me recebeu com um beijo aromático da Terra. Isso meio que
me lembrou Zeph e seu cheiro amadeirado.
Na verdade, cheirava quase demais como ele.
Quase como se...
— Aflora. — Sua voz soou da porta e seus olhos verdes estavam
selvagens com emoções. — Temos de ir.
Fiz uma careta para ele.
— O quê?
— Não há tempo para explicar. Preciso que você coloque isso, e nós
precisamos correr. Agora. — Ele estendeu uma coleira idêntica à que eu
havia perdido.
— Zeph, eu...
— O Conselho sabe, Aflora. Eles estão procurando o terreno para você.
Temos que ir agora.
— Não entendo.
— Nem nós, mas eles têm uma gravação sua admitindo que é perigoso.
Não sabemos de onde veio ou como.
— Uma gravação? — repeti, engolindo em seco.
Ele me entregou o colar e respondeu:
— Sim. Só ouvi parte dela antes de correr aqui para te encontrar.
— O que você ouviu? — sussurrei, sentindo meu coração bater a mil
por hora no meu peito.
— Você disse que qualquer perda de vida é inaceitável e que se não
pudesse ser controlada, então deveria ser exterminada. — Ele balançou sua
cabeça. — Podemos discutir isso mais tarde, mas precisamos ir. Eles logo
estarão a caminho daqui.
Segurei o colar distraidamente, com a cabeça muito consumida pelo que
ele acabou de dizer.
— Isso foi o que eu disse ao Shade ontem à noite — sussurrei,
engolindo em seco. — Eu disse a ele que deveria ser exterminada.
— Bem, então sabemos de onde veio a gravação — ele murmurou,
xingando baixinho. — Eu sabia que não podíamos confiar naquele idiota.
Mas por quê?, pensei. Por que ele faria isso comigo?
Por que ele fez tudo isso? eu me questionei. Nada sobre Shade poderia
ser previsto. Tudo o que ele fez era para si mesmo em primeiro lugar. Eu
ainda nem sabia por que ele tinha me mordido.
Surgiu uma coisa, ele havia escrito.
Algo como correr para o Conselho para contar a eles sobre a noite
passada?
— Aflora! — Zeph gritou. — Temos de ir.
Certo. Colar. Fechado. Pescoço. Pronto. Um zing imediato passou pelo
meu corpo quando a magia se encaixou, me fazendo tremer. Não apenas
removeu meu acesso à terra, mas também enfraqueceu significativamente
meu fogo cerúleo. Quase ao ponto de não o sentir.
— O que há nisso...? — Eu parei, a compreensão surgindo. — Espere,
isso é...?
A porta do quarto se abriu com um estrondo e dois Faes da Meia-Noite
entraram com varinhas em punho.
Zeph encostou-se na parede, com as mãos nos bolsos, enquanto Kols
seguia o que agora percebi serem Guardiões Reais. Eles usavam o brasão da
família Nacht em seus mantos, as cores verdes os denotando como
Guerreiros de Sangue.
Assim como Zeph.
— Ela está desarmada — Zeph os informou. Seu tom sério e sem
emoção. — Como pedido.
O quê?
— Excelente. Leve-a para as Masmorras do Conselho — Kols disse,
soando tão majestoso como sempre.
— Masmorras do Conselho? — repeti, com o coração na garganta.
Essa coisa toda foi planejada, percebi. De Shade me deixando com o
bilhete a Zeph aparecendo com o colar. E eu, como uma boba, a coloquei,
muito consumida pelo comentário sobre a gravação.
Agora eu estava indefesa.
E prestes a ser levada ao Conselho para extermínio.
— Uma fonte anônima forneceu uma gravação de você admitindo suas
habilidades aumentadas. — Kols disse e encontrou meu olhar. — Seus
poderes serão avaliados pelo Conselho. Se eles determinarem que essa
afirmação é verdadeira, uma reatribuição pode ser necessária.
Traduzi o que ele realmente quis dizer: extermínio. Assim como eu
disse ontem à noite. Só que Shade me deu um vislumbre de esperança, algo
que eu deveria saber que não deveria sentir.
Ele me enganou.
Todos haviam me enganado.
Shade gravou uma conversa privada e a compartilhou com o Conselho.
Zeph apareceu como um cavaleiro de armadura brilhante, alegando
querer me ajudar a escapar, tudo para me dar uma falsa sensação de
conforto enquanto eu colocava o colar que esgotava o poder.
E agora, Kols estava olhando para mim como se eu não significasse
nada para ele. Ele me queria morta. Ele me disse isso na noite passada.
Tornaria sua vida mais fácil se eu não existisse, mataria o vínculo entre nós
e o libertaria para seguir seu destino. Então, naturalmente, ele me queria
fora de cena. Por que não iria querer?
A parte rancorosa de mim quase o acusou, mas o meu lado inteligente
se segurou. Se eu falasse agora, ele poderia tirar minha vida e alegar
legítima defesa. Com Zeph como testemunha, ele também se safaria.
Provavelmente usaria a vida dos guardas como causa e alegaria que eu os
havia matado. Quando, na verdade, ele faria isso para silenciá-los.
Pelo menos, era assim que eu jogaria.
O que significava que eu precisava guardar a declaração para mais
tarde.
Anunciá-la na frente de outros membros do Conselho.
Porque se eu ia cair, ele também cairia.
Assim como Zeph.
E Shade, o cretino traiçoeiro.
Todos iriam para o túmulo comigo.
As pupilas de Kols dilataram, ele semicerrou o olhar com
conhecimento, como se ouvisse o plano se desenrolar em minha mente. Ou
talvez ele tenha visto o desejo de vingança em meu olhar.
Não me importei.
Eu o deixei ver minha raiva.
Permiti que ele testemunhasse minha promessa de retribuição.
Não vou cair sozinha, eu disse a ele com um olhar.
Porque no final, eles vão pagar pelo que fizeram comigo. Eu juro.
Bem-vindos ao purgatório, rapazes.
É melhor vocês aguentarem.
Vai ser um passeio selvagem.
A floraElaolhou para mim com um ódio que senti na alma.
achou que a traímos. No entanto, tudo o que fizemos foi para
salvá-la.
Se Zeph não tivesse colocado aquele colar no seu pescoço a tempo, os
Guardiões teriam sentido seus laços adicionais, o que exigiria que eu os
matasse. Porque eu não podia arriscar que eles voltassem ao Conselho com
esses detalhes.
Vendo a expressão de Aflora, ficou claro que Zeph não teve chance de
explicar.
Ela parecia pronta para me matar. Imaginei que isso funcionava a nosso
favor em termos de credibilidade, mas eu podia ver as rodas girando em sua
cabeça.
Se ela falasse uma palavra de nossos laços, estávamos fodidos.
Zeph e eu trocamos um olhar. Sua expressão me dizia que ele também
percebeu sua animosidade.
Aflora era uma bomba-relógio de muitas maneiras, tanto no que ela
podia dizer quanto em seus poderes crescentes. Sem mencionar Shade, o
cretino que traiu a todos nós.
Nossa primeira ordem de trabalho seria libertá-la.
Então lidaríamos com o Sangue de Morte.
De preferência, com uma estaca na porra de seu coração.

Continua...

Obrigada por ler Rainha dos Vampiros: Livro Um.

Aflora e seus companheiros retornarão em Rainha dos Vampiros: Livro


Dois.

Como agradecimento pela leitura, tenho um pequeno presente, uma cena


bônus para vocês. É o sonho que Zeph infligiu a Aflora na noite anterior,
antes de tudo ir pelos ares...
A floraTraçar
olhou para mim com um ódio que senti na minha alma.
sua mente era muito fácil, a pobre garota não havia
desenvolvido uma única barreira para me manter fora. O Guardião em mim
sabia que precisávamos corrigir esse descuido o mais rápido possível
enquanto o macho em mim queria explorar a fraqueza ao máximo.
Hoje à noite, optei pela última opção.
A prova que tive dela na floresta não era suficiente, e depois de semanas
– meses, para ser honesto comigo mesmo – de desejá-la, eu precisava me
entregar pelo menos uma vez.
Kols descansou ao meu lado, sua presença mental era próxima sem ser
intrusiva. Ele queria assistir, como sempre fazia quando eu brincava com
uma mulher.
Eu permiti, porque também queria que ele assistisse.
Eventualmente, nós a compartilharíamos.
Mas para esta experiência, eu precisava tê-la para mim, para conhecê-la,
adorá-la e comê-la do jeito que eu desejava. Bem, talvez não nessa medida.
Isso exigiria que tudo fosse realidade, não um sonho. Ela também precisava
trabalhar de acordo com minhas expectativas.
Humm, sim, isso seria uma introdução. Uma espécie de sedução. Uma
maneira de ela conhecer minhas preferências, pelo menos na superfície.
— Aflora — murmurei, puxando-a para longe de Shade e para uma
terra dos sonhos que eu controlava.
Sua diversão tocou minha mente através do vínculo quádruplo que
todos formamos, momentaneamente me afastando da experiência, pois tê-la
tão perto parecia estranho e errado. Mas eu rapidamente ergui um bloqueio,
impedindo-o de interferir, e suguei Aflora mais fundo na minha teia.
Suspeitei que ele permitiria, pois foi muito fácil exigir a presença dela.
Ele provavelmente já estava satisfeito, já que ela estava em sua cama esta
noite.
Ou talvez ele tenha gostado do intervalo.
Ela era uma amante carente?
Curiosa?
Tímida?
Eu mal podia esperar para descobrir, os detalhes de Kols não eram
suficientes. Eu queria mais, ansiava por experiência em primeira mão, e iria
adquirir isso dela esta noite.
Ela piscou para mim em confusão, seus lindos olhos azuis mostrando
um mundo de perguntas que não expressou em voz alta. Quando um
lampejo de dor atingiu suas feições, eu sabia por quê. Meu coração deu uma
pontada sutil, meu arrependimento por ter sido muito duro com ela durante
a aula me atingiu em cheio. Mas eu não pediria desculpas, me recusava a
dar um centímetro de vantagem a ela. O mundo não seria fácil, e era meu
trabalho prepará-la. Por mais cruel que minha lição pudesse ter sido, era
necessária.
No entanto, sua introdução à minha versão de intimidade seria uma
experiência mais suave. Assustá-la no mundo real diferia significativamente
da minha preparação no quarto.
Com gentileza, segurei seu pescoço, escolhendo ação sobre palavras, e
me inclinei para roçar os lábios sobre os seus em nosso primeiro beijo.
Tecnicamente, isso não contava. O que significava que teríamos mais de
uma primeira experiência e isso só me empolgou mais.
— Zeph — ela sussurrou, com uma pontada de admiração em sua voz
que foi direto para minha virilha.
Inocente, pensei, divertido. Exceto que Kols me disse que ela chupava o
pau como uma rainha, o que significava que ela poderia bancar tanto
inocente quanto sedutora.
A combinação perfeita.
— Você está manipulando meu sonho? — ela perguntou, com o olhar
brilhante com conhecimento.
Eu sorri.
— O Shade te disse que o Kols também esteve em sua cabeça.
Ela assentiu.
— Sim.
— Então você já sabe a resposta, linda fada. — Capturei sua boca
novamente antes que ela pudesse fazer uma reclamação, precisando dela
mais do que ela poderia saber. Morder seu seio saciou um pouco da minha
sede e despertou um novo vício que exigia satisfação. E só ela poderia me
aliviar agora.
Aumentei meu aperto ao redor de seu pescoço e curvei os lábios quando
ela engoliu em seco em resposta. Ela devia estar nua com Shade, porque
não usava nada. Suas lindas curvas estavam em exibição para eu explorar e
provar até terminar.
Mas comecei com sua boca, deslizando a língua para dentro para
dominar a dela da maneira que eu preferia. Cada carícia serviu como uma
lição, ensinando-a como me receber, como me acolher e como beijar
exatamente do jeito que eu preferia.
Ela era natural, seus gemidos confirmando que ela gostava da
exploração também, seu corpo se curvando no meu em bela submissão.
— Você é perfeita — elogiei, fazendo uma trilha de beijos ao longo de
sua mandíbula e mordiscando seu pulso com ternura antes de pressionar
meus lábios em sua orelha. — Eu quis você desde aquela primeira noite —
admiti baixinho. — Mas você era o fruto proibido que não pude provar.
Tudo isso acabou esta noite, linda fada. Você é minha agora, e eu pretendo
levá-la completamente.
Eu me afastei para encontrar seu olhar, notando a vermelhidão de suas
bochechas e a escalada de sua respiração. Todos os sinais de excitação,
exceto pela pontada de medo em seus olhos, o que coloquei lá antes com a
demonstração de Raph.
Não gostei de ver aquele brilho nos olhos dela.
Mas poderia respeitá-lo.
— Não sou um amante fácil, Aflora — eu a avisei. — A dor me intriga
e sou a favor do controle. Mas você está no comando aqui. Sempre. Precisa
me dizer se eu for muito longe. Até que eu possa confiar em você para fazer
isso, vamos pegar leve um com o outro. Tanto na sua mente quanto fora
dela. O tipo de relacionamento que prefiro leva tempo. — Kols era o único
em minha vida que realmente atingiu o nível de confiança que eu precisava,
e era por isso que muitas vezes compartilhávamos mulheres. Ele me
mantinha equilibrado. Me dizia quando eu levava as coisas longe demais.
E, por sua vez, eu o protegia.
Ou tentava, de qualquer maneira.
Duas vezes falhei, a segunda sendo com a mulher olhando para mim
agora.
No entanto, eu não tinha falhado apenas com ele desta vez, mas comigo
também.
Pior, eu não conseguia me arrepender. Não dessa vez. Não com Aflora
se submetendo tão lindamente abaixo de mim.
Ela não questionou minhas preferências.
Não as rejeitou.
Apenas as aceitou com um leve aceno de cabeça e um adorável
umedecer de lábios. Não era o suficiente, mas definitivamente servia como
um começo.
— Esta noite eu vou só te provar — eu disse a ela. — Mas considere
isso um aviso introdutório para o que eu eventualmente vou querer de você.
Agora segure a cabeceira e não goze até que eu lhe dê permissão.
Ela estremeceu, mas ergueu os braços em perfeita demonstração de
obediência. Eu meio que esperava que ela lutasse comigo, discutisse,
dissesse algo em contrário. No entanto, ela parecia completamente
encantada, como se eu estivesse agindo em uma fantasia que ela nutria há
muito tempo. Talvez fosse verdade. Afinal, estávamos brincando na mente
dela. Ela poderia tentar assumir o controle, se quisesse. No entanto, ela
parecia contente em me deixar liderar, e eu a adorava ainda mais por isso.
Senti Shade deslizar para a periferia de sua mente, tendo encontrado
uma maneira de contornar meu bloqueio.
Seria fácil expulsá-lo, colocá-lo para fora mais uma vez, mas desta vez
o deixei ficar. Era meu trabalho como diretor ensinar, então eu mostraria a
ele como isso era feito.
A diversão de Kols tocou minha mente, seus anos de experiência
mostrando quando ele adivinhou meu motivo para permitir que Shade
permanecesse no limite. Ele sabia que eu adorava insultar, e era o que eu
faria.
— Você está pronta para mim, Aflora? — perguntei.
Ela assentiu.
E eu balancei a cabeça.
— Palavras, linda fada. Me diga as palavras. — Essa era a primeira
lição de confiança: comunicar-se aberta e verbalmente.
— S-sim, exceto que ainda não tenho certeza se isso é real ou não.
— É fantasia — sussurrei, acariciando-a. — Uma fantasia conjunta.
— Na minha cabeça.
— Sim.
— Com você no controle, como Kols e Shade.
— Comigo no controle, mas não sou nada como Kols ou Shade, Aflora.
— Afundei meus dentes em seu lábio inferior, tirando sangue no processo e
gemendo com o gosto delicioso dela.
Ela respirou fundo em resposta, enquanto arrepios se espalhavam por
seus braços e seios deliciosos. Seus mamilos endureceram em lindos
pequenos pontos que imploravam por minha boca, mas eu não iria me
entregar a eles até que tivesse sua total compreensão e consentimento.
— Isso é um sonho — murmurei. — Um que estou influenciando em
sua mente.
— Certo.
— Nós dois estamos cientes de que isso está acontecendo —
acrescentei.
Ela assentiu novamente e repetiu:
— Certo.
— Tenho sua permissão para continuar?
Ela fez uma pausa, me considerando por um longo momento antes de
abaixar o queixo uma vez.
— Sim.
— Bom. — Porque eu precisava que isso fosse mútuo, não unilateral.
— Só que estou confusa — ela admitiu contra a minha boca quando eu
estava prestes a beijá-la novamente.
— Confusa sobre o quê? — perguntei, tocando os lábios nos dela com
cada palavra.
Seus olhos azuis encontraram os meus e ela franziu o cenho. No
entanto, sua pulsação acelerou. Ela claramente me queria. Era a mente dela
nos dando problemas agora.
— Na aula mais cedo, você...
— Não, Aflora — interrompi, sabendo o que ela queria discutir. — O
que exijo de você durante uma aula na sala de aula nunca se sobrepõe ao
que exijo de você no quarto. São duas entidades diferentes, totalmente
separadas. Eu sou o Diretor Zephyrus durante o horário da Academia. E
depois dela, sou apenas Zeph.
Ela engoliu em seco, suas pupilas dilatando.
— Apenas Zeph.
— Você pode lidar com isso?
Outro aceno de cabeça, este um pouco mais superficial, mas
acompanhado por um olhar acalorado que confirmou que seu desejo
rivalizava com o meu.
— Sim — ela sussurrou.
— Então eu posso prosseguir?
— Sim — ela repetiu.
Eu sorri. Brilhante.
— Chega de falar, a menos que seja para me dizer como você gosta da
minha língua. — Capturei sua boca e engoli o doce som que ela fez em
resposta ao meu comando.
Esse pequeno ruído se tornou um gemido enquanto eu passava as mãos
pelos lados dela, explorando suas curvas flexíveis.
Aflora era a perfeição feminina, suave em todos os lugares certos com
um coração de guerreiro por baixo. Eu o senti bater contra minha mão
enquanto segurava seu seio, acariciando o mamilo rosado com o polegar e
extraindo mais daqueles sons intrigantes de seus lábios.
Puta merda, eu adorava uma mulher responsiva.
E Aflora era definitivamente isso.
Ela não se esquivou de seu prazer. Seus mamilos apertaram em ânsia e
convite. Lambi seu pescoço até a clavícula e mais abaixo para tomar um
dos picos rígidos em minha boca. Ela entrelaçou os dedos pelo meu cabelo
na tentativa de me manter lá. Eu a mordi com força em resposta e observei
o ferimento enquanto grunhia baixo.
Ela endureceu e abriu a boca em confusão.
— Te dei permissão para soltar a cabeceira, Aflora? — perguntei a ela.
— N-não — ela gaguejou.
— Então sugiro que você segure-a de novo – agora mesmo – e não solte
até que eu diga o contrário.
Ela rapidamente agarrou a madeira.
— Sinto muito.
Sorri contra seu seio.
— Ah, linda, você não está arrependida. Não de verdade. Mas se você
soltar a cabeceira novamente, você vai se arrepender mesmo.
A negação do orgasmo era meu passatempo favorito, e eu me destacava
nisso. Ela estaria em lágrimas antes do fim do meu tormento, implorando
para gozar, e então eu não pararia até que ela me implorasse para parar.
Seu aperto aumentou ao redor da cabeceira da cama e suas bochechas
ficaram um pouco pálidas.
Exatamente o oposto do que eu queria ver dela.
E precisamente por isso que levaríamos nosso tempo para nos
conhecermos.
— Eu nunca machucaria você — prometi a ela. — Gosto da dor, mas só
quando misturada ao prazer.
Demonstrei lambendo de leve a marca da mordida em seu seio. Minha
língua acalmou a ferida e seduzindo-a de volta ao momento.
— Assim — sussurrei, fechando minha boca em torno de seu mamilo e
chupando-o profundamente enquanto massageava a ponta com a língua.
Ela se curvou no colchão em resposta, fechando os olhos em um gemido
enquanto ela se agarrava desesperadamente à cabeceira da cama.
— Assim mesmo — elogiei, mudando para o outro seio.
Ela praticamente ofegou em resposta, e senti seu coração batendo
descontroladamente contra suas costelas.
Humm, sua excitação aumentava a cada segundo, permeando o ar e
provocando todos os meus sentidos masculinos. Inalei profundamente,
amando o perfume floral dela e achando muito apropriado.
Embora a gratificação atrasada fosse meu jogo favorito, eu não faria
isso com ela esta noite. Principalmente porque não conseguiria. Eu estava
morrendo de vontade de saboreá-la, sentir seu clímax contra minha língua e
me deleitar com seu prazer repetidamente até o pôr do sol.
Não haveria sono para nenhum de nós esta noite.
Ela estaria exausta, gratificada e incapaz de se mover mais tarde sem
pensar em mim e na lembrança da minha língua entre suas coxas.
Eu desci por seu corpo, beijando um caminho molhado ao longo de seu
abdômen, parando para passar a língua em seu umbigo enquanto estudava
suas reações.
Lábios entreabertos.
Bochechas rosadas.
Olhos semicerrados.
Absolutamente tudo o que eu queria ver em uma mulher ao fazer essa
descida. Mordisquei o osso do seu quadril, sorrindo quando ela ofegou e
resistiu em resposta. Uma fêmea tão sensível, definitivamente feita para ser
mordida. Mas eu guardaria isso para nossa experiência real juntos.
Este sonho era sobre satisfação para nós dois.
Uma maneira de aprender mais um sobre o outro sem risco.
Seus cachos macios e escuros provocavam os pelos ao longo do meu
queixo enquanto eu dava um beijo no topo de seu monte. Segurei suas
coxas para empurrá-las, expondo a boceta lisa.
Ela não se esquivou de mim.
Também não lutou.
Apenas inclinou a cabeça para trás com um som ansioso, a excitação
palpável e visível na maciez de sua intimidade.
— Você está encharcada por mim, linda fada — sussurrei, admirando
seu calor úmido. — Mal posso esperar para deixá-la mais molhada, baby.
Ela estremeceu, abrindo seus lábios em expectativa.
Passei o nariz em sua abertura, inalando profundamente e permitindo
que seu doce néctar me tomasse completamente. Meu pau pulsava, me
implorando para arrancar a calça de moletom e me afundar nela. Mas isso
não era sobre mim ou minhas necessidades.
Eu queria fazer isso por ela.
E também para satisfazer meu desejo de saborear seu prazer.
Algo me dizia que ela seria do tipo que grita, sem medo de compartilhar
seu êxtase com o mundo. Humm, eu apostava que ela travaria em meus
dedos também, sua boceta gananciosa desejando um pau para ordenhar.
Meu pau.
Em breve, prometi a nós dois. Muito em breve.
No entanto, primeiro, exigi isso. Eu a abri de forma intima com a
língua, lambendo seu clitóris até a entrada apertada que um dia logo tomaria
meu pau. Também tomaria seu traseiro, quando a preparássemos para isso.
Talvez até enquanto Kols comia sua boceta.
Só de pensar nisso, minhas bolas se apertaram com a necessidade.
Ela seria a peça perfeita do quebra-cabeça entre nós, se contorcendo em
êxtase enquanto a levávamos ao ápice.
Todas as mulheres que compartilhamos anteriormente não significavam
nada, eram apenas oportunidades passageiras das quais tivemos prazer
temporário.
Aflora seria diferente.
Porque ela nos pertencia, como nós pertencíamos a ela.
Nossa companheira.
Nossas mentes logo estariam entrelaçadas – uma vez que a
mordêssemos mais duas vezes.
Gemi com o pensamento muito real do que isso significaria para nós,
como seria verdadeiramente íntimo transarmos enquanto estivéssemos
dentro dela. Nossas almas unidas como uma. Nossos corações batendo em
conjunto com o outro.
Puta merda, quem poderia imaginar que isso poderia ser tão sexy?
Nunca desejei uma companheira porque isso não era para mim. Kols era
meu futuro. Servir como seu Guardião era meu único caminho.
Mas agora Aflora existia entre nós.
Tê-la mudou tudo.
— Zeph — ela sussurrou, seu apelo era como uma música que eu queria
tocar a noite toda. Parei logo abaixo de seu clitóris, saboreando sem
agradar, e ela desejava mais.
Seus dedos estavam brancos ao redor da cabeceira da cama, sua
contenção admirável enquanto ela se segurava. Eu podia ver seu desejo de
soltar, de agarrar minha cabeça e me guiar para o lugar que ela precisava
que eu tocasse.
Gemi contra sua carne, sorrindo quando ela estremeceu. As
reverberações teriam dado a ela apenas uma pontada de satisfação, apenas
para puxá-la mais fundo em um cobertor de desespero.
— Por favor — disse, sua voz melodiosa soou como um golpe contra
meu pau. Porque eu adorava o som de uma mulher implorando,
especialmente ela.
— Por favor, o quê? — eu a provoquei, estudando seu rosto enquanto
seus olhos se fechavam em uma frustração prazerosa. Porque minhas
palavras a fizeram vibrar mais uma vez. — Você quer que eu chupe seu
clitóris, Aflora? Te acaricie com a minha língua até você explodir?
— Sim — ela choramingou, enquanto suas pernas tremiam ao meu
redor.
— Diga — eu a encorajei. — Me diga para chupar seu clitóris.
Ela deu um gemido adorável, minha ordem a excitando ainda mais.
Ajudou o fato de que meus lábios estavam agora roçando seu clitóris
quando eu falava, o calor da minha respiração acariciando sua excitação.
Ela umedeceu os lábios e uma exalação trêmula escapou enquanto ela
estremecia.
— Por favor, chupe meu clitóris, Zeph. Me deixe gozar.
Anjo inteligente, pensei, divertido. Não só ela pediu com gentileza, mas
também acrescentou um comentário para que eu a deixasse gozar.
— Você é perfeita, Aflora — eu a informei. — Perfeita demais. — E ela
nem sabia por quê. Ela era natural em se submeter a mim, sua capacidade
de receber instruções eram exibidas de forma maravilhosa no quarto.
Eu a recompensei com uma lambida firme, fechando a boca em torno de
seu botão sensível e lhe dando a sucção que ela desejava.
Ela gritou, arqueando o corpo do colchão enquanto mantinha um aperto
mortal nas barras da cabeceira da cama. Sua admirável demonstração de
submissão exigia uma ampla recompensa, então dei a ela.
— Goze para mim, linda fada — sussurrei. — Goze com força.
Eu mal tinha pronunciado as duas últimas palavras quando ela
desmoronou em um grito que eu me lembraria para sempre. Porque estava
sublinhado com o meu nome. Nunca gostei tanto de ouvir isso quanto neste
momento, enquanto ela repetia várias vezes, debatendo a cabeça de um lado
para o outro enquanto se despedaçava espetacularmente sob minha língua.
Kols se remexeu ao meu lado na cama, sua mente sintonizada com a
minha e a de Aflora, suas tendências voyeuristas brilhando enquanto ele nos
observava. Ele acariciou seu pênis no mundo real, apenas fora da paisagem
de sonho, seu orgasmo se formando.
Estendi a mão para impedi-lo de continuar.
— Não. Está na hora de você se juntar a nós.
— O quê? — Aflora perguntou, emergindo de seu estado orgástico e me
ouvindo falar em voz alta e em minha mente com Kols.
Ele não hesitou ou discutiu. Seus poderes se misturam com os meus
quando ele se juntou a nós dentro de sua mente.
Sorri quando ela arqueou as sobrancelhas e as bochechas coraram,
mostrando seu prazer recente. Deixando uma trilha de beijos em seu
abdômen, voltei para a boca enquanto deitei meu corpo ao lado do dela.
— O Kols também quer participar.
— Mas ele me odeia — ela sussurrou para mim, fazendo Kols rir
enquanto ele se acomodava entre suas pernas.
— Isso é fantasia — ele disse a ela baixinho, roçando os lábios o
mesmo lugar que acabei de abandonar. — Apenas se deite aí e aproveite,
linda. — Ele não lhe deu tempo para protestar, sua boca cobrindo o clitóris
enquanto penetrava dois dedos em sua boceta apertada.
Ela gritou, quase soltando a cabeceira da cama para fazê-lo parar, mas
segurei seus pulsos antes que ela pudesse.
— Shhh, você vai ficar bem.
— É demais — ela ofegou, se contorcendo. — Sensação... demais.
Sorri, sabendo exatamente o que ela queria dizer.
— Ah, Aflora, mas isso é um sonho — murmurei, beijando-a com
ternura para silenciar seus protestos contínuos. — Você não conhece a
melhor parte de sonhar, linda fada?
Ela balançou a cabeça. Eu não sabia dizer se era em resposta à minha
pergunta ou ao tormento que Kols estava infligindo a ela entre suas coxas.
De qualquer forma, eu respondi.
— A melhor parte de um sonho é que pode desafiar a realidade —
sussurrei. — O que significa que podemos fazer você gozar a noite toda,
sem ter que fazer uma pausa. Porque seu corpo continuará a se regenerar de
acordo com nossas expectativas.
Ela arregalou os olhos.
— Não.
— Ah, sim — respondi, acariciando-a e apalpando seu seio para dar um
pequeno aperto no mamilo. — É a pior e melhor forma de tormento
conhecida pelos Fae da Meia-Noite. E estamos só começando.
Ela começou a tremer, seu próximo orgasmo já aumentando, graças à
habilidade de Kols.
— Bem-vinda à minha mente, Aflora. — Beijei o canto de sua boca e
seu seio mais uma vez, provocando um estremecimento dela. — É um lugar
tortuoso e intenso, cheio de infinitas maneiras de dar prazer a você. Esta
noite é só uma introdução, uma amostra do que o nosso futuro reserva.
Ela gemeu, e eu sorri, sentindo seu êxtase crescente.
— Vá em frente e grite por nós, baby — eu disse baixinho, dando-lhe
permissão para desmoronar. — Quando o Kols terminar, vamos trocar de
lugar, e eu vou levá-la a novas alturas novamente.
E de novo.
E de novo.
O que fiz.
Assim como Kols.
Até que o sol se pôs, quando prometi a ela repetir a performance mais
tarde.
Só que, no momento em que abri os olhos, tudo foi pelos ares.
E meus planos para Aflora desapareceram sob uma onda de realidade
esmagadora.
O Conselho sabe...

Aflora e seus companheiros retornarão em Rainha dos Vampiros: Livro


Dois.
R V :L D

Estou no purgatório.
Inferno.
Uma masmorra Fae da Meia-Noite.
Tudo porque meus companheiros me traíram.

Shade jura que é inocente.


Zeph promete que o que ele fez foi para o meu próprio bem.
Enquanto isso, Kols nem se desculpa. Sua arrogância pretenciosa alega que
o destino interveio no momento certo.

Odeio todos eles.


E os desejo também.
Agora, tenho que trabalhar com eles para resolver um segredo milenar, que
envolve minha verdadeira herança.

Exceto que nossa busca despertou um poder antigo que está ameaçando
destruir o reino Fae da Meia-Noite com sua vingança.

Se ao menos a Academia oferecesse cursos de mediação.


Um desses poderia ser útil agora.
Porque, como se vê, sou a única com o poder de impedir que essa coisa
assuma o controle.
E tenho que contar com meus companheiros para me ajudarem a me guiar.

Bem-vindos à Academia Fae da Meia-Noite, onde as aulas são inúteis e os


machos Faes são todos idiotas. Me desejem sorte.

Nota da autora: Esta é uma série sombria de harém reverso paranormal


com elementos de bully romance (inimigos para amantes). Apesar das
opiniões de Aflora sobre o assunto, com certeza haverá mordidas. Shadow,
também conhecido como Shade, garante isso. Este livro termina em um
cliffhanger.

A
R E :L U

Meu único conselho: nunca beije um estranho.

Eu meio que beijei um homem sexy em um desafio em um bar uma vez e


descobri que ele é um Rei Fae destinado a ser meu companheiro. Agora, fui
arrastada para a Academia Elemental Fae para controlar os poderes que
desbloqueei naquela noite.

Então, beijar? Isso não vai acontecer de novo. Não mesmo.


Lição aprendida.

Beijei Titus também. E agora estou em um mundo de problemas. Não paro


de queimar coisas, inundar dormitórios e atrair a brigada feminina do
campus.
Este Reino Fae é um pesadelo que ganhou vida. De verdade.
Mas também existem sonhos aqui.

Sensuais.

E eles se materializam como os cinco mentores elementais Faes. Eles


deveriam me ajudar a controlar meus poderes, mas quem vai impedir os
elementos de me controlarem?

Nota: Este é um romance paranormal de harém reverso e livro um da


trilogia Rainha dos Elementos.

A
I C

Bem-vinda à Ilha Carnage.


Casa do caos brutal.
Sangue e lágrimas.
E esquemas nefastos.

Uma mestiça.
Rejeitada.
Uma loba sem companheiro.

Minha família não me quer.


Meu Alfa me deserdou.
E meu companheiro me rejeitou.
Então acabei de receber uma nova atribuição de alcateia.
Ilha Carnage.
Lar dos piores lobos.
Garras cruéis. Bestas cruéis. Atos perversos.

Não sou uma deles.


Mas também não sou loba Nantahala.
Sou algo distintamente diferente: uma Ômega presa na pele de uma Alfa.

Um passo em direção ao meu destino, e todos os machos viram suas


cabeças.
Eu sou carne fresca.
Propriedade a ser reivindicada.

O esconde-esconde agora é um jogo de vida e morte.


Com garras e dentes.
Malícia e dor.

Só os mais fortes sobreviverão.


Entre por sua conta e risco.

Nota da autora: Esta é uma história sombria de metamorfos com tons de


Ômegaverso. Três machos Alfa, uma fêmea Ômega. Haverá mordidas e
violência, porque esses Alfas não vão parar por nada para proteger sua
companheira. E ela os reivindicará de volta com a mesma força.

Amazon
AGRADECIMENTOS

Ah, por onde começar? Este livro não teria sido possível sem muitos
fatores. Em primeiro lugar, a J.R. Thorn, por me ajudar a criar os Reinos
Fae. Foi um prazer e uma honra absolutos trabalhar em Rainha dos
Elementos com você, e amo que possamos continuar neste mundo com
outros personagens Faes. Mal posso esperar para ler Fortune Fae Academy
(ainda não lançado no Brasil)! Por favor se apresse.
Um sincero obrigado a Katie, por toda a sua ajuda e orientação ao longo
do caminho. Adoro trabalhar com você e sempre gosto de seus comentários
enquanto escrevo. Zeph envia seu amor (ou sua versão dele, de qualquer
maneira).
Para Bethany, obrigada por ser uma editora incrível e lidar
constantemente com meus prazos/contagens de palavras finais em
movimento. Um dia desses, terminarei um projeto no número de palavras
desejado e no prazo. Talvez. Eu culpo as vozes. Neste caso em particular, os
meninos são os culpados. Odeio todos eles. (Brincadeira, pessoal. Eu amo
vocês. Mais ou menos. Bem, realmente apenas Shade. Kols e Zeph, vocês
sabem por que estou irritada.)
A Vicki, Laura e Matt, obrigada por sua paciência e compreensão, e por
me deixar pular o dia da cervejaria/chocolate para terminar o primeiro livro
de Aflora. Da próxima vez que sairmos de férias, prometo não ter um prazo
perto da hora da viajar!
Para Lori, obrigada pela capa linda. É incrivelmente inspiradora, assim
como de toda a série. Sou muito apaixonada pela arte e design. Obrigada
por criar todos os pequenos detalhes que correspondem às minhas palavras.
Para Heather, obrigada pelos lindos cabeçalhos e página de título. Estou
muito apaixonada pela impressão do livro físico. Está incrível, assim como
o meu site, que eu te adoro por criá-lo e mantê-lo.
A Louise e Diane, obrigada por serem meus pilares figurativos e por
sempre estarem ao meu lado. Vocês duas me mantêm à tona quando preciso,
me dizem para me esconder e escrever (quando preciso que me digam para
me esconder e escrever) e me ajudam de maneiras que vocês provavelmente
nem percebem. Eu amo vocês duas!
À minha equipe de relações públicas da Essentially Chase, obrigada por
me orientarem e fornecerem sua ampla experiência neste setor. Adoro
vocês. Por favor, nunca me deixem. Não sou bom em correr, mas vou correr
atrás de vocês!
À minha equipe de ARC e ao Famous Owls de Foss, obrigada por seu
apoio e por amar meus livros! Eu aprecio todos vocês mais do que vocês
sabem.
E aos meus leitores, obrigada por estarem aqui! Adoro as mensagens,
comentários e e-mails de vocês. Vocês todos consistentemente tornam meus
dias melhores e me fornecem a motivação que preciso para continuar.
Compartilho minhas palavras porque vocês me convencem a fazer isso,
então obrigada por me deixarem contar ao mundo sobre as vozes na minha
cabeça.

Voltarei com mais Aflora, Kols, Shade e Zeph em breve! <3


Lexi C. Foss é uma escritora perdida no mundo do TI. Ela mora em Chapel Hill, na North Carolina,
com o marido e seus filhos de pelos. Quando não está escrevendo, está ocupada riscando itens da sua
lista de viagem. Muitos dos lugares que visitou podem ser vistos em seus textos, incluindo o mundo
mítico de Hydria, que é baseado em Hydra nas ilhas gregas. Ela é peculiar, consome café demais e
adora nadar.
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Série Aliança de Sangue


Inocência Perdida
Liberdade Perdida
Resistência Perdida
Rebeldia Perdida
Realeza Perdida
Crueldade Perdida

Rainha dos Elementos


Livro Um
Livro Dois
Livro Três

Rainha dos Vampiros


Livro Um
Livro Dois
Livro Três
Livro Quatro

Império Mershano
O Jogo do Príncipe: Livro 1
O Jogo do Playboy: Livro 2
A Redenção do Rebelde: Livro 3

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Ilha Carnage
Antologia: Entre Deuses

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