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Sinopse

Lyla vai até o coração do Mississippi com uma fraca esperança de


encontrar seu companheiro. Achar um par é uma coisa rara, e
sinceramente Lyla ficaria contente com o seu namoradinho de infância.
Quando a temporada começa sob a lua cheia, Lyla segue um uivo
arrepiante para encontrar o seu verdadeiro companheiro — Sebastian, o
Alfa Real. Será que Lyla aceitará o seu destino como parte da Matilha
Real ou escolherá o seu primeiro amor?
Título Original: Kidnapped by my Mate
Classificação etária: 18+
Autor Original: Bianca Alejandra

E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD


https://t.me/GalateaLivros

Livro Disponibilizado Gratuitamente!


Sumário dos Livros
Livro 1
Livro 2
–Livro 3 – Sem Revisão
–Livro 4 – Sem Revisão
Livro 1
Livro Disponibilizado Gratuitamente!
Sumário
1. Última Noite a Fora
2. Misturando e Entrosando
3. Esperançosos e Desesperados
4. A Cúpula
5. Chamada de Acasalamento
6. Companheiros Verdadeiros
7. Pensamentos Sóbrios
8. Tensão Real
9. Uma Verdade e Meia
10. Conheça os Greens
11. Controle de Danos
12. Jantar para Três
13. O Lugar Favorito de Sebastian
14. Jogos de Jacaré
15. O Amor é Sujo
16. Escolha Certa
17. Olho por Olho
18. O Segredo do Alfa
19. Perto do Limite
20. Problemas Depois da Meia-Noite
21. Libertando o Vapor
22. Parceiros de Dança
23. Corações Rebeldes
24. Presságios do Luar
25. Vínculo Quebrado
26. Verdades Turvas
27. Uma Reviravolta do Destino
28. Sangue da Noite
29. Dentro do Labirinto
30. Uma Escolha Impossível
1
ÚLTIMA NOITE A FORA Lyla
— Beije-me com mais força — eu exigi.
Caspian obedeceu, pressionando seus lábios contra os meus. Nossas
línguas se entrelaçavam em prazer.
Ele estava em cima de mim, seus quadris pressionados com força nos
meus. Eu podia sentir seu volume crescendo, e isso me deixava louca de
desejo.
— Porra, Lyla.
A perna de Caspian deslizou entre minhas coxas, seu pau pulsando
através de seu jeans. Parecia tão certo, mas o momento estava errado.
Talvez eu não devesse ter concordado em vê-lo uma última vez antes
de nossa grande viagem no dia seguinte...
Um grito perfurante irrompeu pelo carro, fazendo com que minha
cabeça batesse na de Caspian.
— É só o filme — disse ele, esfregando a mancha vermelha que se
formava em sua testa.
Respiração pesada.
Passos rápidos.
Um rosnado horrível.
O terrível filme de terror exibido na tela gigante... uma história
estúpida sobre criaturas horríveis invadindo uma pequena cidade.
Eu olhei para Caspian e sorri.
— Isto é o que você recebe por me trazer aqui. Você sabe que eu não
suporto filmes de terror.
Ele se inclinou e me deu um beijo rápido.
— E o que é mais assustador do que ver um filme de terror com um
lobisomem? — Seu sorriso maligno ficou maior, e eu fingi estar
assustada.
Caspian era meu namorado e o filho do beta da nossa alcateia.
Ele e eu éramos amigos desde pequenos... mas eu sempre tive uma
queda por ele. E eu não era a única.
Desde que consigo me lembrar, minhas amigas estavam rabiscando
Caspian em seus cadernos.
Ele era o palhaço da turma e tinha esta energia magnética que atraía
as pessoas para ele.
Mas nunca admiti minha queda por ele. Mantive meus sentimentos
em segredo, provavelmente porque percebi, já naquela época, o quanto
eles eram sérios.
Assim, em uma noite fatídica há dois anos, quando Caspian me disse
que também tinha sentimentos por mim, eu era a garota mais feliz do
mundo.
E desde aquele momento, somos inseparáveis.
Embora seu pai, o beta da alcateia, não aprovasse, éramos muito
felizes juntos.
Nunca me cansei da maneira como ele me olhava com aqueles olhos
castanhos acolhedores.
Ou a maneira como ele beijava meu pescoço assim. Enquanto a
heroína gritava na tela, eu sentia uma adrenalina.
Caspian continuou a beijar minha clavícula até que minha camisa o
parou. Sua mão adentrou meu sutiã, acariciando meus mamilos duros.
Seus quadris se moviam para frente e para trás, aplicando uma suave
pressão. Senti um suspiro escapar dos meus lábios.
— Aqui não — eu adverti enquanto puxava seu corpo para mais perto
do meu.
— Por que não? — Ele murmurou no meu ouvido. — Você é tudo em
que eu penso...
Dei-lhe um beijo e tirei sua mão de debaixo da minha camisa.
— Você me ama ou ama a ideia de me foder?
— Ambas. Elas não são mutuamente exclusivas.
— Nesse momento, eu diria que são.
Embora estivéssemos juntos há dois anos, não tínhamos transado.
Não era que eu não quisesse, mas eu respeitava os costumes da minha
cultura.
Caspian e eu éramos lobisomens da Matilha da Lua Azul. E como
lobisomens, estávamos ligados pelo destino a nossos verdadeiros
companheiros, que — se tivéssemos a sorte de encontrá-los — estariam
para sempre ao nosso lado.
Nas últimas décadas, no entanto, havia se tornado cada vez mais
difícil encontrar um verdadeiro companheiro. Isto havia deixado
centenas de lobos sem seus companheiros, forçados a terem
relacionamento após relacionamento, sabendo que eles não estavam com
sua destinada cara metade.
A Cúpula foi criada em resposta a isso, reunindo o maior número
possível de alcateias. Todos os anos, um ritual de acasalamento acontecia
com o objetivo de conectar os verdadeiros companheiros.
E nós acabamos nesta posição, os quadris pressionados juntos no
banco de trás de seu carro, porque estávamos perdendo a esperança.
Observei como os olhos de Caspian encaravam o meu corpo. Ele
estava banhado pela luz cintilante da tela de cinema; um caleidoscópio
de cores manchando sua pele.
— Vamos oficializar. Aqui e agora — insistiu ele, com seus olhos
voltados para os meus.
— A Cúpula começa neste fim de semana.
— Mas eu te amo.
Eu suspirei. Foi tão bom ouvir estas palavras. Mas o momento não
poderia ser pior.
— O ritual de acasalamento é daqui a uma semana, e já esperamos
todo esse tempo. Não faz sentido fazer nada até termos certeza de que
não temos companheiros.
Caspian gemeu e pressionou seus quadris contra os meus quadris uma
última vez.
Senti a queimadura familiar... aquele desejo inelutável de sentir sua
pele...
Ele desabotoou meu jeans. Logo, o zíper estava para baixo e sua mão
estava dentro da minha calcinha.
Depois de um começo desajeitado, seus dedos encontraram o ponto
certo, esfregando suavemente, ainda sem entrar dentro de mim.
Minha deusa.
Apertei meus dedos, cavando em seus ombros.
— Não preciso de nenhum ritual para me dizer o que já sei — ele
sussurrou no meu ouvido. — Você é a única para mim, Lyla.
— Concordamos em esperar — respondi sem fôlego.
Seus lábios beijaram os meus, e eu senti meu corpo tremer.
Eu queria ter tanta certeza quanto Caspian, mas cada vez que estive
perto de ceder, ficava difícil respirar.
E se meu verdadeiro companheiro estiver por aí?
É melhor esperar até termos a certeza. Não é?
— Eu sabia, porra!
A porta traseira se abriu, e meus olhos de cabeça para baixo viram
Teresa, minha melhor amiga. Ela estava me encarando com um olhar de
louca.
Ela tirou um fio de cabelo escuro do rosto e sorriu, sua pele marrom
clara acentuando seu sorriso brilhante.
— Você está atrasada para dormir — disse ela, encostada à porta.
Tirei Caspian de cima de mim e abotoei rapidamente minhas calças.
— Obrigado, Teresa. Você realmente sabe como arruinar um bom
momento — resmungou Caspian.
— Eu acredito que NENHUM momento com você possa ser muito
bom — respondeu ela.
— Ei… — eu a avisei com um olhar de lado.
Ela levantou as mãos em rendição e se afastou do carro, indo em
direção ao seu próprio, convenientemente estacionado a apenas algumas
vagas de distância.
Teresa e Caspian se odiavam desde que eu consigo me lembrar.
Já era irritante o suficiente que eu não pudesse estar perto de meus
dois melhores amigos ao mesmo tempo, mas era particularmente
incômodo considerando que seus pais eram alfa e beta.
— Eu te amo — disse ele novamente ao ajustar seu volume.
— Também te amo — respondi, dando-lhe um beijo na bochecha. —
Até amanhã. — Eu saí do carro e me inclinei para poder vê-lo. — E
descanse um pouco. Podemos retomar de onde paramos.
A porta do carro se fechou, deixando-me com uma pancada de
arrependimento.
Eu sabia que deveria estar feliz — a Cúpula poderia ser o começo de
uma vida totalmente nova.
Mas isso foi o que mais me assustou.
E se eu não quiser uma vida nova?
Caspian

Eu assisti Teresa roubar minha namorada, me deixando sozinho com


meu tesão e um filme de terror drive-in idiota.
A única coisa a fazer era ir para casa e me preparar para a Cúpula.
Tenho certeza que papai ficaria encantado se eu encontrasse minha
verdadeira companheira.
Uma pancada de aborrecimento me atingiu enquanto eu pensava na
famosa cerimônia. A voz do meu pai ecoou em minha mente, um
discurso que ele não cansava de me dizer: A Deusa da Lua lhe mostrará
sua verdadeira companheira, Caspian. Não se apegue a Lyla. Há coisas
melhores para você lá fora.
Eu não precisava da Deusa da Lua para me dizer o que eu queria.
Eu sabia exatamente o que, ou quem, era.
Mas infelizmente Lyla estava tão obcecada com a Cúpula quanto meu
pai estava.
Nós já nos amávamos.
Isso era tudo o que eu precisava saber.
Mas aparentemente não era suficiente para Lyla...
Eu suspirei, colocando meu carro em marcha ré e indo embora do
cinema drive-in antes que eu pudesse ficar deprimido.
Se isso a faz feliz, eu vou passar pelas moções.
Hoje em dia, ninguém encontra seu companheiro na Cúpula...
Lyla
Teresa e eu chegamos à minha casa bem depois da hora de dormir
habitual dos meus pais. Fiquei surpresa ao vê-los sentados com sorrisos
no rosto enquanto entrávamos na cozinha.
— Vocês não precisavam esperar por nós — disse eu.
— Queríamos nos despedir hoje à noite, já que você vai sair bem cedo
— disse minha mãe, sonolenta.
Eu me perguntei sobre seu primeiro ritual. Como eles devem ter
ficado assustados — a incerteza de um futuro sozinho pairando sobre
suas cabeças.
Meus pais eram namorados do colegial antes de serem companheiros.
Eles sempre esperavam que fossem destinados um ao outro.
E foram.
A Cúpula tinha confirmado o que eles sempre souberam. Suas vidas
não tinham sido nada além de amor e felicidade. Era tudo o que eles
conheciam como companheiros.
Eles já tinham passado exatamente pelo mesmo que eu e o Caspian
estávamos passando.
Mas também seremos felizes para sempre?
Eu amava Caspian. Desde que éramos crianças, parecia destinado que
estaríamos juntos.
A Deusa da Lua verá as coisas da mesma maneira e nos mostrará que
somos companheiros?
Caspian parecia pensar assim...
— Vou me certificar de cuidar muito bem da Lyla — disse Teresa. —
Eu sei que ela vai deixá-los orgulhosos.
— Vocês duas nos deixarão orgulhosos — respondeu minha mãe.
Eu estava tão envolvida em minhas próprias preocupações que quase
tinha esquecido como o ritual de acasalamento era importante para
todos os envolvidos.
O resultado da Cúpula significaria tanto para toda a alcateia quanto
para cada lobo individualmente.
Ninguém da nossa alcateia tinha acasalado nos últimos dez anos.
Menos pares de casais significava menos crianças. Especialmente
porque era incomum para um casal acasalado ter mais de um filhote.
Meus pais foram uma exceção, e minha irmã de nove anos, Skye, era o
membro mais jovem de nossa alcateia.
Nosso futuro coletivo dependia da união de companheiros para ajudar
nossa espécie a sobreviver.
Meus pais nos deram um último abraço e um beijo antes de
desaparecerem lá em cima.
Teresa os assistiu ir com um sorriso.
Observando minha melhor amiga, percebi que meu relacionamento
com o Caspian não era a única coisa que era uma incerteza.
E se as coisas mudarem entre nós quando encontrarmos nossos
companheiros?
A semana seguinte era um grande ponto de interrogação.
Então Teresa se virou e sorriu maliciosamente para mim, e eu sabia
que uma coisa era certa: estaríamos sempre lá uma para a outra. Não
importava o que o ritual da próxima semana pudesse trazer.

— Acho que vou ficar doente — resmunguei quando o carro adentrou


outro caminho de terra.
Tínhamos começado cedo, e Teresa tinha insistido em dirigir o dia
todo.
No início, eu tinha deixado facilmente; minha mente estava focada
em muitas outras coisas. Mas depois de algumas horas, eu me arrependi
de ter concordado com ela.
— Oh, sua grande bebê — disse ela, pressionando o acelerador. — Se
não chegarmos logo, vamos nos atrasar para os comentários de abertura!
Meu estômago dava voltas enquanto ela acelerava por um semáforo.
— Você está sempre atrasada — disse eu com os dentes cerrados.
Eu não poderia culpar a Teresa por tudo isso. A Cúpula inteira me
deixou doente do estômago. Eu não fazia ideia do que esperar.
Caspian, Teresa e eu fizemos 21 anos recentemente, e esse é o
primeiro ano em que você era autorizado a participar.
Na verdade, quase todos os lobos da Matilha da Lua Azul estariam
indo pela primeira vez.
Mas a maioria de nós voltaria sozinha.
Pelo menos não serei a única a ficar sem um companheiro...
— Aí está! — Teresa suspirou, e eu segui seus olhos até o fim da
estrada.
Escondida atrás de vários tipos de árvores altas, em uma colina com
vista para a área, estava uma mansão de arquitetura antebellum.
— A Casa da Matilha Real? — Eu adivinhei.
Teresa havia visitado uma vez, anos atrás, em negócios da alcateia com
seu pai, e havia afirmado que havia se apaixonado.
Não apenas pela casa, mas também pelo alfa, Sebastian. De acordo
com ela, ele era o — homem mais sexy vivo.
— Não é lindo? — Teresa suspirou. — Quem acasalar com o alfa real
será uma cabra sortuda.
— Talvez ele não encontre uma companheira.
— Esse tipo de conversa é deprimente — disse Teresa com desdém. —
Pense em pensamentos felizes. Se um solteirão real não é motivação, eu
não sei o que é.
Eu revirei os olhos e decidi satisfazer suas fantasias, mesmo que
apenas durante a semana. — Você é a próxima na fila para ser a alfa da
nossa alcateia. Se alguém tem uma chance com Sebastian, é você.
— Você nunca sabe — disse ela, piscando o olho. — Talvez eu esteja
chamando você de Royal Luna até o final da Cúpula.
Eu ri. Até parece...
Eu era provavelmente a única garota na Cúpula que não estava
interessada em Sebastian. A Deusa da Lua teria que ter um senso de
humor doentio para me colocar junto com o Alfa Real.
— Tanto faz. Já chegamos lá?
— Deus, sim. Acalma a franga — disse Teresa, enquanto ela fazia
outra curva.
Como se fosse mágica, uma grande mansão convertida em estilo
italiano apareceu em nossa frente. Um pequeno pântano diretamente
atrás dela lhe dava uma verdadeira sensação de Mississippi.
O Hotel Fleur de Lis.
Estacionamos em uma vaga de estacionamento e saímos para esticar
nossos corpos.
— Eu te disse que nos traria aqui a tempo — vangloriou-se ela.
— E inteiras também! — Exclamei, tirando minha mala do porta-
malas.
Olhei ao redor do estacionamento, tentando identificar qualquer
carro familiar. O carro do Alfa Hugo não estava longe do nosso. E o do
Beta Alexander estava estacionado ao lado dele.
Isso significava que Caspian já estava lá.
Talvez na próxima semana, quando tivermos certeza de que não
pertencemos a mais ninguém, possamos finalmente ter algum tempo
sozinhos.
Então ele estará se curvando para trás me agradecendo por fazê-lo esperar
tanto tempo.
Eu sorri ao pensar em deixar tudo isso para trás e voltar à minha
antiga vida e rotinas. Isso aliviou a preocupação presente no meu
estômago.
Entramos pela porta da frente, chegando até o lobby, e fomos
atingidas por uma onda de atividade ansiosa.
O Alfa Hugo e o Beta Alexander estavam no centro da agitação,
expressões sérias enquanto ladravam ordens.
— Pai? — Teresa disse ao nos aproximarmos, todo o seu ser mudando
para o modo alfa-em-treinamento.
— Oh, meninas, graças à Deusa. — Alfa Hugo jogou seus braços ao
nosso redor. — Estávamos ficando preocupados.
— Por quê? — Perguntou Teresa. — O que está acontecendo?
— Convoquei uma reunião de emergência — explicou ele. — Faça o
check-in do seu quarto, depois junte-se a nossa alcateia no salão
principal. Houve um ataque às fronteiras da Matilha Real.
— Um ataque? — Eu perguntei.
— Explicaremos mais tarde — disse Alfa Hugo. — Vá agora, encontre-
se com os outros.
Teresa e eu fomos até o salão principal, nos espremendo entre a massa
de outros lobisomens esperançosos. Havia muitas outras alcateias
reunidas ali, e todas elas tinham ouvido a notícia.
Teresa cutucou meu braço e desviou minha atenção para o topo de
uma grande escadaria.
— Bem, vejam quem é — ela ronronou.
Levantei-me na ponta dos pés, girei o pescoço sobre a multidão para
conseguir ver alguma coisa.
O alfa real.
Sebastian.
Teresa estava certa. Ele era um gato.
Seus cabelos loiros foram escovados para trás, sua apertada camiseta
preta mal limitava os músculos ondulantes por baixo e sua linha da
mandíbula podia cortar pedra.
E seus olhos...
Eles eram azuis elétricos, e eu senti um choque quando nos
entreolhamos.
Ele sorriu para mim, e sua atitude convencida me fez sentir uma
emoção que desceu pela minha coLuna.
Oh, Deusa.
De repente, a notícia de um ataque rebelde não era a coisa mais
urgente em minha mente.
Porque havia uma nova sensação de pressão entre minhas pernas.
Como se toda esta situação não pudesse ficar mais complicada...
2
MISTURANDO E ENTROSANDO
Lyla

— Como a maioria de vocês já ouviram, houve um ataque às


fronteiras da Matilha Real — anunciou Alfa Hugo à Matilha da Lua Azul.
— Mas Alfa Sebastian garantiu-me pessoalmente que a ameaça foi
neutralizada, e o ritual continuará como planejado.
Os assobios e os gritos dos membros de nossa alcateia encheram a
sala.
— Agora, como todos sabem, esta semana pode ser o momento mais
importante de suas vidas — continuou Alfa Hugo. — As festividades
começam com um coquetel esta noite, e a chamada de acasalamento será
daqui a duas noites. Lá você saberá se a Deusa da Lua o abençoou ou não
com um companheiro.
Ele olhou à nossa volta e sorriu para todos nós.
— Estou orgulhoso de todos e cada um de vocês. Sejam vocês
mesmos. Tentem não ficar nervosos, porque o plano da Deusa da Lua
está fora de suas mãos. Divirtam-se esta semana.
Sim, é claro.
— Mais uma coisa antes de irem — Beta Alexander entrou, dando um
passo à frente. O olhar dele se fixou no meu. — Se você está atualmente
em um relacionamento com outra pessoa presente, por respeito a este
evento sagrado, por favor, mantenha suas demonstrações de afeto a um
mínimo.
— Cas — eu murmurei quando a multidão começou a se dissipar ao
nosso redor. Removendo seu braço, dei um passo atrás para colocar
algum espaço entre nós. — Acho que seu pai está certo — eu lhe disse. —
Talvez devêssemos ir devagar.
O sorriso de Caspian diminuiu. — Você quer dar um tempo durante a
Cúpula?
— Sim — respondi com um estremecer, na esperança de arrancar as
palavras como um band-aid. — Não é que não possamos passar tempo
juntos, mas acho que devemos ser amigos, não.. amantes.
Caspian mordeu o lábio e acenou com a cabeça.
— É apenas uma semana. Quão difícil pode ser? — Eu me apressei.
— Acho que você não quer que eu responda a isso — respondeu ele.
Ao olhar fixamente para meu namorado, percebi que ele tinha razão.
Se um de nós encontrasse um companheiro na Cúpula, então nunca
mais estaríamos juntos novamente.
Eu poderia nunca mais beijar Caspian.
Só o pensamento fez meu estômago girar.
— Ei. — A voz do Caspian me trouxe de volta. Ele havia recuperado
sua compostura e tocou meu braço. — Eu entendo o que você quer dizer.
Conseguiremos superar isto, está bem?
Ele me deu aquele sorriso fácil que eu amava.
Embora Caspian estivesse machucado e confuso, ele se certificou de
me consolar.
E isso significou mais do que eu poderia dizer.
— Obrigada — eu sussurrei.
Ele puxou sua mão para trás e me deu um último sorriso antes de se
virar.
Vi Caspian se afastar, me perguntando por que parecia que ele estava
levando um pedaço do meu coração com ele.

Mais tarde, Teresa e eu descemos a grande escadaria do hotel. A festa


já estava em pleno andamento.
Mas eu estava mais do que ansiosa.
— Olhe para isto, Ly! — Teresa disse. O lobby havia se transformado
completamente. Uma bola de discoteca refletia o mármore branco e os
acentos dourados, e o espaço estava cheio de lobos se divertindo.
Desejei que eu pudesse ser descontraída assim.
Muitos lobos fizeram questão de permanecer solteiros até sua
primeira cerimônia de acasalamento para evitar as emoções confusas
com as quais eu estava lidando neste momento.
Teresa entrelaçou seu braço com o meu e me arrastou em direção ao
bar.
Enquanto ela pedia nossas bebidas, eu observava a cena ao nosso
redor.
Eu estava a apenas algumas horas de carro de minha cidade natal, mas
me senti como se estivesse em um mundo totalmente novo.
Um mundo de riqueza, poder... e possibilidades.
Um quarteto de jazz tocava perto do bar, e o baixo na música de dança
pulsava do outro lado da sala.
O evento se espalhava até o pátio traseiro, que estava coberto por um
dossel de luzes cintilantes. A multidão era jovem e deslumbrante. Apesar
de todos vivermos nos EUA, os outros convidados pareciam exóticos.
Havia um grupo de caras bronzeadas com cabelos longos e colares de
conchas de puka que reconheci imediatamente como a Matilha do Mar.
Observei como uma menina nerd-chic se juntou à conversa deles. Ela
tocou seus óculos de arame e corou por apenas um momento.
A Matilha Nova Inglaterra, eu adivinhei.
Senti olhos em mim, então me virei para a grande escadaria... e depois
congelei.
Sebastian, o Alfa Real, não vacilou quando nossos olhos se
encontraram. Mas seu olhar azul gelado me pegou de surpresa.
Seus braços fortes estavam cruzados, as mangas de sua camisa de
botão enroladas até os cotovelos. Eu não conseguia desviar o olhar,
imaginando por que alguém pareceria tão sério em uma festa.
Então o olhar de Sebastian se moveu para outro lugar na multidão.
Tentei recuperar minha compostura, amaldiçoando meu coração
acelerado. O alfa não estava olhando para mim, ele estava apenas
distraído.
Eu respirei fundo. Relaxa, Lyla. Havia centenas de pessoas na festa.
Muito mais para ver do que um alfa temperamental.
Uma eclética tropa de espíritos livres cobertos de lantejoulas e tintas
coloridas vagueou do pátio, e eu me perguntava quem eles eram.
— Matilha Adrenalina, fora de Las Vegas.
Eu me virei para ver os olhos marrons sorridentes do Caspian.
Meu coração errou uma batida. Caspian me viu olhando para Sebastian?
— Acabei de dar um trago no baseado deles no pátio — acrescentou
ele com um piscar de olhos.
Eu vou tomar isso como um não.
Eu dei uma risada. Qualquer nervosismo que eu senti ao vê-lo aqui
desapareceu imediatamente.
— Oi Caspian — disse Teresa, passando-me uma bebida
chocantemente verde.
— Teresa, você até que não está feia — respondeu Caspian e Teresa
revirou os olhos. — O que é a bebida?
— A coisa mais forte que eles tinham. Eles o chamam de 'o pântano'.
Tomei um gole e engasguei. Não era apenas forte, era radioativo.
— Eu preciso de um desses também — murmurou Caspian enquanto
se voltava para o bar.
Levantei meu copo até o de Teresa.
— À melhor semana de nossas vidas — ela brindou.
— Aos amigos que nos fazem passar por isso — respondi.
Cada uma de nós voltou a beber, embora eu só conseguisse tomar um
gole.
— Oh, minha deusa, os caras da Matilha Estrela Solitária têm que ser
os mais gatos — Teresa exclamou enquanto encarava um grupo de
cowboys de jeans. — Eles estão indo para a pista de dança!
Teresa me arrastou pela mão e Caspian nos seguiu.
A música eletrônica ficou mais alta quando chegamos à porta, e então
entramos em um grande espaço repleto de lobisomens dançantes.
As luzes nos rodeavam enquanto Teresa levantava minha mão e me
girava.
Enquanto dançávamos, comecei a me soltar e tomei outro gole
radioativo.
— Parece que encontrei meu povo — alguém gritou sobre a música.
Abaixei minha bebida e observei a garota na minha frente. Ela era alta,
loira, bonita, e claramente extrovertida. Ela parecia uma supermodelo.
— Eu também sou uma garota do pântano — explicou ela com um
sorriso autodepreciativo, segurando sua própria bebida verde nuclear. —
Eu sou Magnolia!
Ela estendeu sua mão livre e eu a peguei. Seu aperto foi firme.
— Lyla — eu gritei em resposta — e esta é Teresa e Caspian. —
Caspian levantou seu copo e os dois brindaram.
— Bem-vindo à Matilha Real — disse ela.
Ela faz parte da Matilha Real... então... é por isso que ela é tão perfeita...
— Vocês têm uns cômodos legais — Teresa exclamou.
— Obrigada, garota! — Magnolia gritou enquanto dançava.
Com a mudança da canção, as luzes foram diminuindo e os
estroboscópios se tornaram mais intensos. Eu não sabia se era a sala
quente ou a bebida forte, mas precisava apanhar um pouco de ar.
Teresa e Caspian estavam se divertindo com Magnolia, então eu me
afastei.
Desci um corredor estreito e entrei em um quarto vazio.
Puxando a porta de vidro deslizante, pisei em um pequeno terraço
sobre o gramado escuro e prístino.
Sentei-me em uma das cadeiras e suspirei.
A festa era apenas o início da Cúpula, e eu já estava sobrecarregada.
Nesse momento, a porta se abriu atrás de mim.
Alguém se juntou a mim no pátio, e eu me virei para ver quem era.
E depois esqueci de respirar. Era ele.
Sebastian. Parecendo tão preocupado como antes.
Quando ele me notou, parou de repente.
Claramente, ele não estava esperando encontrar ninguém aqui.
Mas a porta já estava fechada atrás dele. Já era tarde demais.
Estava sozinha com o Alfa Real.
— Oh. Olá — disse Sebastian. Então ele se afastou de mim em direção
à paisagem escura diante de nós.
— Oi — respondi, tentando parecer casual. Como se eu não tivesse
me assustado com o fato de que o Alfa Real me pegou bisbilhotando a —
Fleur de Lis.
Sebastian suspirou, e eu vi os músculos de seus largos ombros
relaxarem sob sua camisa.
O que ele está pensando? Ele era um mistério para mim. E, por alguma
razão, eu queria descobri-lo.
— Importa-se que eu me sente com você?
A voz de Sebastian me trouxe de volta à realidade.
— Seja meu convidado — eu respondi. — Bem, na verdade, eu sou sua
convidada.
Ele esboçou um sorriso enquanto se sentava. Fazer o alfa sorrir
parecia uma realização. Ele parecia ser um cara tão sério.
— Bem-vinda. O que você acha da Matilha Real? — Perguntou ele.
Por que o Alfa Real deve se importar com o que eu penso?
— Hum, é legal. — Ele levantou uma sobrancelha, como se me
encorajasse a falar sério. — Quero dizer, eu nunca estive em um hotel
melhor. É que, a Cúpula é, uh... sufocante.
— Nem me fale — respondeu ele com um suspiro.
— Você sabia que na Cúpula do ano passado apenas cinquenta laços
de acasalamento foram formados durante a chamada?
Eu abanei a cabeça. É claro, eu sabia que os números tinham
diminuído ano após ano. Mas apenas cinquenta novos laços de
acasalamento? Apenas uma centena de lobos acasalados?
Isso significava que as probabilidades deste ano eram sombrias.
— É quase como se a Deusa da Lua estivesse brava conosco —
prosseguiu ele. — Entre os números ruins e os malfeitores deste ano, me
faz pensar se deveríamos nos preocupar com a Cúpula.
Ele olhou para suas mãos. Eu mal podia acreditar que ele estava sendo
tão franco comigo.
— Se não houvesse a Cúpula, aqueles 50 lobos não teriam encontrado
seus companheiros — eu disse suavemente.
Ele reencontrou meu olhar. — Isso é verdade. Este é o seu primeiro
ano?
Eu acenei, me perguntando como ele sabia disso. Talvez porque eu
soasse jovem e ingênua. Mas suas próximas palavras me pegaram
desprevenida.
— Foi o que eu pensei. Eu a teria reconhecido — disse ele, com um
sorriso malicioso em seus lábios.
Oh, minha deusa. O Alfa Real está FLERTANDO comigo?!
Meu coração estava acelerado.
Eu imaginava Sebastian como o tipo sério, mas agora eu me
perguntava se havia muito mais nele do que se vê.
— Lyla! O que você está fazendo aqui fora? Tenho te procurado por
toda parte...
Eu me virei para ver Caspian atravessando a porta deslizante. Seu
semblante mudou quando ele reconheceu Sebastian.
Se eu não estava nervosa antes, agora eu definitivamente estava.
— Acho que este lugar não é tão secreto se vocês dois o encontraram
— disse Sebastian.
— Oh, desculpe. Eu não quis dizer... — Eu me apressei.
— Estou brincando. — O alfa franziu a testa. — Sebastian.
Caspian estreitou seus olhos, analisando o alfa.
— Caspian. Eu sou o namorado de Lyla.
— Hmm — Sebastian murmurou desdenhosamente. Ele olhou para
mim, e havia algo ilegível em sua expressão.
Senti-me corada.
E então, nenhum de nós disse nada e o silêncio incômodo se
estendeu, um segundo doloroso atrás do outro.
— Vamos voltar para a festa? Teresa está nos esperando na pista de
dança, — disse Caspian.
— Claro — Sebastian e eu respondemos ao mesmo tempo,
levantando-nos de nossas cadeiras.
O alfa passou pela porta e Caspian tocou meu braço.
— Ele parece... estranho — sussurrou ele, e eu olhei para Caspian com
um olhar de advertência Quando voltamos, a festa estava ainda mais
agitada.
Atravessamos a sala em direção à pista de dança, e foi fácil identificar
Teresa. Ela estava dançando com Magnolia no fundo da multidão, se
divertindo como nunca.
— ALFA SEBASTIAN! — Magnolia gritou.
Quando nos aproximamos, a linda loira atirou seus braços em volta
dele.
— Vejo que você já conheceu meu noivo — gritou ela.
Olhei para Teresa e tentei esconder minha expressão chocada.
O Alfa Real tinha uma noiva?! Isso era algo inédito para alguém que
iria participar de um ritual de acasalamento.
— Parabéns pelo noivado! — Caspian respondeu, parecendo um
pouco feliz demais por eles.
Eu, entretanto, tinha uma sensação estranha em meu estômago.
— Vamos tomar outra bebida? — Eu disse no ouvido de Teresa.
— Garota, você nem precisa perguntar! — Ela respondeu, arrastando-
me para o bar. — Outro pântano?
— Isso mesmo.
Ia precisar dele para conseguir sobreviver a esta festa.

Caspian: Bom dia cabeça sonolenta Caspian: Que tal explodirmos


esta barraca de picolé?

Caspian: Podemos ir para uma aventura Caspian: Como amigos...


;)

Caspian: Eu já estou com o carro aqui na frente Lyla: Me dê 15


minutos
Eu sorri para o meu telefone, balançando a cabeça. Olhei para Teresa
na outra cama do quarto do hotel, roncando enquanto ela dormia
durante toda a manhã.
Infelizmente, eu nunca conseguia dormir quando estava de ressaca.
E a sugestão do Caspian não era exatamente relaxante, mas pareceu
divertido.
Após um rápido banho e troca de roupa, abri a porta do passageiro do
fiel Ford de Caspian e me afundei no banco.
— Para onde? — Eu perguntei.
Ele sorriu para mim, e eu o vi piscar o olho através de seus óculos
escuros. Sua barba por fazer estava adorável e seu cabelo estava
despenteado por causa da janela aberta.
— Isso é para eu saber, e para você descobrir.
Meia hora depois, paramos em um estacionamento de terra batida. A
viagem tinha ajudado minha ressaca e eu estava pronta para algumas
explorações.
Ao sair do carro, um sinal chamou minha atenção.
— Cypress Swamp — li em voz alta, balançando minha cabeça. —
Você simplesmente não se cansa do pântano, não é, Cas?
— É minha nova bebida favorita — respondeu ele, enrolando seu
braço em torno da minha cintura. Encostei-me nele, depois me lembrei
de nosso acordo.
Merda! Esta coisa de amigos é mais difícil do que eu pensava.
Eu me afastei e ele levantou as mãos, fingindo inocência.
— Parece que os pântanos são a única coisa que eles têm por aqui —
disse ele.
Começamos por uma trilha florestal. O sol entrava pelas copas das
árvores, e éramos as únicas pessoas ao redor.
— O que você achou da festa de ontem à noite? — Eu perguntei.
Ele encolheu os ombros.
— Foi okay. Não sei, não estou muito interessado na cena da Cúpula.
Muitas pessoas novas, muita pressão. Prefiro estar só com você.
Considerei suas palavras, pensando se Alfa Sebastian era uma das
novas pessoas que Caspian preferia evitar.
Parte de mim concordava com ele. A noite passada também me fez
sentir sobrecarregada, e eu não entendi totalmente o porquê.
Havia pressão para você se arriscar, para fazer novas conexões.
E, claro, para fazer uma conexão importante... para encontrar um
companheiro.
O caminho nos levou a uma passarela de madeira suspensa sobre um
pântano verde néon.
Continuamos, apontando aves e répteis uns para os outros, quando
eventualmente ouvi um estranho murmúrio.
— Isso foi um jacaré? — Eu me perguntava em voz alta.
— Era meu estômago — respondeu Caspian. — Faltei ao café da
manhã e tudo...
— Vamos então dar a volta e encontrar comida para você! — Eu
respondi. — O que você quer? Gumbo? Lagostas?
Eu nomeei todos os pratos regionais que conhecia.
— Eu só quero um hambúrguer — admitiu Caspian.
Retornamos pelo mesmo caminho. O tempo passou rapidamente,
como sempre fez quando estávamos juntos.
Não precisávamos falar o tempo todo. Apenas desfrutávamos da
companhia um do outro.
Até mesmo eu estava novamente com fome com o passar do tempo,
então eu só podia imaginar como Caspian se sentia.
— Puta que pariu! Lyla, espere! — Caspian agarrou meu cotovelo e eu
parei na hora.
— Você quase me causou um ataque cardíaco, em que mundo é que
você está...?
Caspian parecia que tinha visto um fantasma. Ele apontou para o chão
diante de nós... e então o chão se moveu.
Era uma serpente!
— Na verdade, é meio fofa — disse eu.
— Shhhhh! — Caspian me puxou para perto dele, enrolando seus
braços em torno de mim.
Um baixo ruído de chocalho encheu meus ouvidos.
— É uma... ? — Perguntou Caspian.
— Cobra cascavel — respondi.
Sim, elas eram venenosas. Mas se você não as incomodava, elas não te
incomodavam.
Os braços fortes de Caspian me abraçaram ainda mais. — Shhhh, —
ele sussurrou no meu ouvido, me confortando... quando ele era o único
que estava aterrorizado.
Eu sorri contra seu peito, fingindo ser uma donzela em apuros.
Eu olhei a serpente. Ela abanou sua língua comprida e bifurcada, seu
chocalho mantido alto no ar.
E então ela deslizou, para dentro da floresta.
— Consegui! — Disse Caspian, com os olhos arregalados de
admiração.
Eu joguei meus braços ao redor dele.
— Como você sabia o que fazer?! — Perguntei, massageando seu ego
só um pouquinho.
— Eu não sei — admitiu ele. — Eu estava aterrorizado, porra.
Eu recuei, e talvez tenha sido a maneira como ele olhou para mim...
Mas eu não pude resistir. Eu o beijei profundamente, sem reservas. E
ele me beijou de volta.
Ele se afastou, e o olhar em seus olhos âmbar era tão intenso que meu
coração errou uma batida.
— Lyla, que se foda isto. A Cúpula, a chamada do acasalamento...
todas as coisas que nos mantêm separados.
Meu peito doía pela sinceridade em sua voz.
— Eu amo você, Lyla. Eu te escolho. Eu não preciso da Deusa da Lua
para me dizer. Vamos fugir. Agora mesmo... podemos deixar toda essa
besteira para trás.
Caspian lutou para recuperar seu fôlego. Ele parecia tão bonito, tão
certo.
E por que eu não deveria ter certeza também?
Eu amava o homem que estava diante de mim. Eu o conheço.
E no ano passado, apenas cinquenta laços de acasalamento foram
formados na Cúpula.
Por que eu precisava da aprovação da Deusa da Lua quando eu tinha
tudo o que precisava para ser feliz aqui mesmo em meus braços?
Engoli o caroço na minha garganta e encontrei o olhar de Caspian.
Poderia eu realmente fugir com ele?
3
ESPERANÇOSOS E DESESPERADOS
Lyla

Meu coração batia forte no meu peito enquanto as palavras de


Caspian ecoavam em minha mente.
Vamos fugir juntos.
O tempo parecia ter parado enquanto nos encarávamos.
A luz do sol poente brilhava através da copa dos ciprestes acima de
nós, sua luz dourada transformando o pântano em um lugar mágico.
O balançar das folhas ao vento e o murmúrio das águas lentas que
corriam era como o canto da natureza.
As palavras de Caspian pairaram no ar entre nós, carregadas de
esperança. Eu me vi sendo atraída por seus olhos e desviei meu olhar dele
antes que pudesse me afogar neles.
— Se pudéssemos. — Eu sorri, tentando afastar com um riso as
borboletas vibrando em meu estômago.
— Nós podemos — Caspian disse. — O que está nos impedindo?
— Tantas coisas... — Afastei-me dele e olhei para o pântano. — Este
lugar é um lar, Cas. Para onde iremos? Não é como se pudéssemos
simplesmente voltar para nossa alcateia e fingir que nada aconteceu.
A Cúpula era uma cerimônia de lobisomem rica em tradição.
Nenhum lobo escolheria abandonar voluntariamente sua verdadeira
companheira. Era um tabu. Ele estaria rejeitando o presente da Deusa da
Lua.
E isso colocaria um alvo na Alcateia Lua Azul.
— Não podemos simplesmente fazer isso com nossas famílias — eu
disse.
Caspian se aproximou de mim e pegou minhas mãos nas dele. Seu
toque era quente. Confortável.
— Claro, nosso bando pode ter que lidar com as consequências por
um tempo — Caspian começou. — Mas só um pouquinho. A Alcateia
Real tem problemas muito maiores do que dois lobos que fugiram.
Seu sorriso fácil suprimiu um pouco do medo em mim, e de repente
não parecia uma ideia tão ruim.
— Imagine isso, Lyla — Caspian sussurrou. — Só eu e você. Em
qualquer lugar do mundo.
Meu coração disparou com esse pensamento. Podemos fazer as malas
e sair daqui amanhã de manhã.
Para onde iremos?
O que faríamos?
— Eu estava pensando que poderíamos ir para a França primeiro —
disse Caspian. — Ver a Cidade Santa.
— Nós vamos fazer algo seriamente tabu, e a primeira coisa que você
faria é ir para a Cidade Santa dos lobisomens? — Eu perguntei, rindo.
Os olhos de Caspian brilharam com malícia.
— Sim. Eu apertaria a mão da Deusa da Lua e diria a ela 'obrigado por
nada!'
Eu revirei meus olhos. Eu poderia imaginar Caspian fazendo isso com
um sorriso de merda nos lábios.
— E depois que eles o libertarem da prisão, o que acontecerá? — Eu
perguntei.
— Então faríamos uma turnê pela Europa — disse ele. — Ou talvez
Ásia. Ou ambos, por que diabos não? — Ele sorriu e pressionou sua testa
na minha. — Eu não me importo para onde vamos, Ly. Desde que
estejamos juntos.
Fechei meus olhos e me entreguei à fantasia.
Tudo parecia terrivelmente romântico.
A coisa de que os sonhos são feitos.
Quem não gostaria de viajar pelo mundo e passar o resto de seu
tempo com o amor de suas vidas?
Mas é exatamente isso.
Caspian é o amor da minha vida?
Um espinho em minha mente estourou a bolha agradável do meu
sonho.
Um arrepio no fundo do meu coração.
— Não podemos, Cas — eu disse, meu coração pesado com as
palavras.
Caspian suspirou, a frágil felicidade saindo dele com a respiração.
— Você não está curioso? — Eu perguntei, pensando sobre a Cúpula.
— Você não quer ter certeza?
— Eu não diria que estou curioso... — Caspian se afastou de mim, e eu
já sentia falta do calor de seu toque.
— Eu sinto muito. — Eu me senti péssima. — Eu só preciso saber,
para que eu possa deixar tudo isso para trás.
— OK.
— Por favor, acredite em mim, nada me faria mais feliz se
descobríssemos que somos verdadeiros companheiros um do outro — eu
disse. — É apenas...
— Pare, Ly, — Caspian me cortou com um sorriso gentil. — Não se
sinta culpada. Você não é má pessoa por querer saber com certeza. Somos
lobisomens. Está em nossa natureza.
Caspian apertou os olhos contra o brilho do sol poente.
Eu me afastei do brilho também.
Estranho, alguns momentos atrás eu achei o pôr do sol lindo.
Agora só machucou meus olhos.
— Eu também quero descobrir — ele admitiu. — Mas estou mais
assustado do que curioso. Acho que estava apenas tentando evitar.
— Com medo de não estarmos verdadeiramente acasalados? — Eu
perguntei.
— Isso, mas mais do que significaria se não fôssemos. — Ele fez uma
pausa para organizar seus pensamentos. — Isso significaria que tudo o
que tínhamos era uma mentira? Que meus sentimentos por você não
eram reais?
Eu engasguei quando senti meu coração quebrar.
— Não! — Corri até ele e passei meus braços em torno dele. Pressionei
meu rosto em seu peito. — Nunca.
Senti as lágrimas brilhando em meus olhos, mas as pisquei para
dentro. Eu olhei para Caspian quando tive certeza de que elas não
transbordariam.
— Eu te amo, Cas. E nada vai mudar isso... laço de acasalamento ou
não, você sempre será importante para mim.
— Obrigado. — Nós sorrimos um para o outro, olhos enevoados. —
Você também.
Eu me estiquei e fiquei na ponta dos pés, e pressionei meus lábios nos
dele.
Ficamos assim nos braços um do outro por um tempo, nenhum de
nós querendo nos soltar.
— Droga — Caspian disse eventualmente. — Isso ficou sombrio bem
rápido.
— E de quem é a culpa?
— Desculpe, bebê, mecanismo de defesa. — Ele de repente franziu a
testa. — Bem, se o pior acontecer e minha verdadeira companheira for
outra pessoa... Espero que ela seja gostosa, pelo menos.
Eu ri e bati no peito dele.
— Idiota.
Ele sorriu para mim.
O sol tinha se posto atrás do horizonte quando o crepúsculo começou
a se pôr. O chilrear das cigarras e sapos-touro ecoou ao nosso redor.
— É melhor voltarmos — disse Caspian. — Grande dia, amanhã.
— Sim. Grande dia.
Ele pegou minha mão e juntos caminhamos de volta para a casa da
Alcateia Real.
De uma forma ou de outra, toda essa incerteza acabaria amanhã.
Eu só podia esperar que fosse um final feliz.
Sebastian

— Nervoso?
Virei-me quando Caius se sentou ao meu lado no telhado do hotel
Fleur de Lis.
— Tremendo nas minhas botas — eu disse, impassível. Eu olhei para o
pântano que cercava a mansão. Eu examinei a terra que era minha. As
famílias e bandos que viviam naquela terra.
Todas as pessoas pelas quais era responsável.
— Como se eu tivesse tempo para ficar nervoso com a Cúpula.
— Tenho um bom pressentimento sobre este ano — ponderou Caius.
— Foi isso que você disse no ano passado.
— Sim. — Caius acenou com a cabeça solenemente. — Mas este ano,
com certeza.
— Sei.
Eu lancei um olhar de soslaio para o meu beta estoico. Ele tinha sido o
beta do meu pai antes de ser meu. Eu o conhecia desde criança.
Ele nunca foi o tipo de entreter bobagens, mas ele estava inflexível de
que eu encontraria minha verdadeira companheira em cada Cúpula.
Todo ano ele estava errado.
— Você é um romântico incurável, não é? — Eu perguntei a ele.
Ele apenas olhou para mim em resposta, seu olhar sem emoção era a
única resposta que eu precisava.
— Por que você insiste tanto nisso, então? — Eu perguntei.
— Você é o Alfa Real — Caius me lembrou.
Como se eu pudesse esquecer.
— E a matilha precisa de uma Luna.
— Estou noivo de Magnolia.
— Isso é diferente.
Suspirei e dei um tapa em um mosquito incômodo que mordeu meu
pescoço.
— Como é diferente, Caius? Magnolia é perfeita para o papel. Ela é
inteligente e ferozmente leal. Ninguém na Alcateia Real contestaria isso.
— Você tem razão. — Caius acenou com a cabeça. — Magnolia seria
perfeita para a alcateia.
— Então, qual é o seu ponto?
Ele olhou para mim, seus olhos escuros ilegíveis.
— Mas ela não é perfeita para você.
Pisquei, desarmado pela franqueza repentina de Caius.
— Eu me importo muito com Magnolia — eu disse. — Ela é uma das
minhas amigas mais próximas.
— Mas ela não é sua companheira. Sua verdadeira companheira.
Afastei-me dele e olhei para o terreno do hotel. Algumas pessoas
ainda estavam do lado de fora, aproveitando os últimos minutos da luz
do dia para se preparar para a Cúpula de amanhã.
Homens e mulheres ansiosos percorriam os campos, misturando-se e
conversando, na esperança de ver seu verdadeiro companheiro.
Eu podia sentir a ansiedade deles. A excitação nervosa. A única
preocupação deles era se eles seriam ou não abençoados pela Deusa da
Lua amanhã.
Eles não ligavam para a política. Para logística econômica ou relações
entre alcateias.
Eles viveram vidas simples e felizes.
Que bom.
— Infelizmente, nem todos nós temos o luxo de esperar por nossas
verdadeiras companheiras. — Eu fiz uma careta. — Eu fiquei bem todos
esses anos sem uma.
— Tenha um pouco de fé, Sebastian. — Caius se levantou e colocou a
mão no meu ombro. — A alegria de conhecer uma verdadeira
companheira não é algo que você deva descartar tão rapidamente.
Meu beta me deixou sozinho no telhado para meditar.
Eu examinei os esperançosos da Cúpula abaixo de mim.
Poderia uma delas realmente ser minha verdadeira companheira?
Mas quanto mais eu olhava, menos esperançoso me sentia.
Ninguém que eu vi me interessou.
Se ela realmente estivesse lá, eu pelo menos sentiria algo quando a
visse, mesmo antes da cerimônia.
Certo?
Suspirei e me levantei, esticando minhas pernas.
Caius estava errado. Este ano não seria diferente.
Assim que me virei para sair, algo chamou minha atenção. Duas
figuras emergiram do pântano, caminhando de volta para a casa das
alcateias.
Lyla e seu namorado.
Meu olhar foi atraído para ela como uma mariposa para uma chama.
Ela me notou no telhado e fez um pequeno aceno, e de repente me vi
sorrindo.
Eu balancei a cabeça para ela enquanto as palavras de Caius se
repetiam em minha mente.
Este ano, com certeza.
Lyla me deu um sorriso enquanto desaparecia dentro do hotel.
Eu balancei minha cabeça, voltando à realidade.
— Não tenha muitas esperanças, Sebastian — eu murmurei baixinho
para mim mesmo. — Outro ano, outra Cúpula.
4
A CÚPULA
Caspian

— Você está ouvindo, Caspian?


Pisquei e olhei para cima, saindo do meu devaneio.
Meu pai e Alfa Hugo estavam olhando para mim, na expectativa.
Oh, não. Desculpe. Você poderia repetir isso?
Teresa sorriu para mim e eu lancei um olhar feroz para ela.
Meu pai franziu a testa, inclinando-se para a frente na mesa.
— Você será beta um dia. Você tem que levar essas coisas a sério.
— Beta dela? — Eu balancei a cabeça para Teresa. — Desculpe, mas
prefiro arrancar meu próprio pé.
— Caspian! — Meu pai me advertiu.
— É melhor se acostumar com isso, amigo — disse Teresa.
Hugo riu.
— Ah, a paixão dos jovens.
Meu pai olhou para o alfa, se desculpando.
— Como estávamos dizendo — meu pai continuou, mudando de
assunto — não houve indícios de outro ataque rebelde nas fronteiras da
Alcateia Real, mas precisamos ficar alertas. A Alcateia Lua Azul enviou
algumas pessoas para ajudar na vigia.
— Você e Teresa têm que estar extremamente vigilantes durante a
Cúpula — acrescentou Hugo. — Nós sabemos que é um grande dia para
vocês dois, mas você tem a responsabilidade de manter seus
companheiros lobos seguros. Está entendido?
— Sim, Alfa — Teresa e eu entoamos.
Nossa reunião continuou por mais alguns minutos, mas, por mais que
tentasse, não consegui manter o foco.
Hoje eu descobriria se Lyla era minha companheira ou não.
Como eu deveria prestar atenção a uma reunião chata quando o amor
da minha vida seria decidido — ou não decidido — esta noite?
Os outros se levantaram e eu segui o exemplo, um passo atrasado.
Um brilho perverso brilhou nos olhos de Alfa Hugo. Ele avaliou
Teresa e eu.
— E se vocês dois acabassem sendo verdadeiros companheiros?
— Ai credo! — Teresa gritou. — Nem mesmo brinque sobre isso!
Meu pai e Hugo deram uma olhada no meu rosto e riram. A sensação
de puro horror que eu estava experimentando provavelmente
transpareceu.
— Bem, é melhor você torcer para que a Cúpula me dê asas também,
porque irei pular de um penhasco — eu murmurei.
— Eu vou segurar sua mão no caminho até o chão, companheiro —
Teresa disse.
— Está vendo isso — meu pai cantou. — Eles concordaram em algo.
Depois de outra rodada de gargalhadas, Alfa Hugo colocou a mão nos
meus ombros e de Teresa.
— Bem, boa sorte esta noite — disse ele.
— Não coloque isso em nós — Teresa olhou para ele.
— Ei, você nunca sabe — ele brincou. — A Deusa da Lua age de
maneiras misteriosas.
Meu pai e eu saímos da reunião. Arrastei meus pés enquanto seguia
meu pai de volta ao nosso quarto.
— Teresa não seria uma má companheira, sabe — disse papai.
— Você também não — eu gemi. — Cale a boca, velho.
— Ela é perspicaz e muito inteligente — papai continuou. — Ela vai
ser uma excelente alfa.
— Talvez se ela tirar a cabeça da bunda — eu murmurei. — Por que
você está insistindo nisso? Não é como se tivéssemos qualquer poder
sobre quem são nossos verdadeiros companheiros.
— E nem todo mundo consegue um companheiro verdadeiro — meu
pai disse, ficando sombrio. — Se as coisas não derem certo esta noite, e
vocês dois ficarem sem companheiros...
— Isso é sobre Lyla, não é? — Eu interrompi.
Meu pai não respondeu.
Eu sabia disso, porra.
Entramos em nosso quarto e fechei a porta atrás de mim.
— O que você tem contra ela? — Eu exigi. — Eu a amo.
— Não. Você pensa que a ama. — Meu pai suspirou. — É por isso que
os lobos não namoram antes de sua primeira Cúpula.
— Não me diga como me sentir, porra — eu rosnei. Eu me afastei
dele, precisando me acalmar. Entrei no banheiro e joguei um pouco de
água fria no rosto.
Esta noite não pode vir rápido o suficiente.
Lyla

— Estou me vestindo para matar! — Teresa exclamou de alegria.


Sentei-me na cama enquanto ela puxava as roupas cuidadosamente
dobradas da mala e as jogava em nosso quarto, procurando a roupa certa.
— Você sabe que todos nós ficamos nus de qualquer maneira, certo?
— Eu disse aborrecida.
— Bem, claro. Mas estive pronta para isso durante toda a minha vida...
Estou mais preocupada em como ficarei depois da festa — ela retrucou,
olhando fixamente para o espelho enquanto passava várias roupas pelo
corpo.
Ela sorriu e parou em um lindo vestido que eu já poderia dizer que
abraçaria todas as suas curvas. Fiquei com um pouco de ciúme de como
ela estava animada.
Com o vestido pela metade, Teresa fez uma pausa e me observou pelo
espelho.
— Você pode pelo menos fingir que está animada? — Ela perguntou
com um sorriso.
Eu abri um sorriso cheio de dentes para ela, tentando esconder
minhas verdadeiras emoções. Era impossível — ela era minha melhor
amiga e me conhecia melhor do que ninguém.
— Esqueça.— disse ela. — Essa foi uma ideia terrível. — Eu gemi e caí
de volta na cama. — Eu só queria que já tivesse acabado.
O nariz de Teresa se contorceu em desaprovação. — Você pode ter um
companheiro até o final da noite, Lyla. Como isso não é empolgante?
— Eu realmente não acho que isso vai acontecer — eu suspirei. — Não
quero ter muitas esperanças. Além disso, tenho Caspian.
— Você pode ter alguém muito melhor do que o Asspian.
Ignorando seu comentário, me apoiei nos cotovelos, segurando o
olhar de seu reflexo.
— Não importa o que aconteça, eu cansei de esperar. Parece que
nossas vidas inteiras ficaram em espera por nossos companheiros. Eu
cansei dessa merda. Posso assumir o controle do meu próprio destino.
— Aí está a fodona que eu conheço — Teresa sorriu. — Agora venha e
fique sexy para estar pronta para o que quer que o destino jogue em você.
Claro que não trouxe nada sexy. Eu não tinha nada que valesse a pena
usar em todo o meu guarda-roupa.
Então meus olhos encontraram uma calça jeans deitada na cômoda.
— É sua? — Eu perguntei, desdobrando-as.
— Ela costumava ser. Mas ela está muito apertada em mim. Acho que
ficará bem em você. Dê uma chance a ela — ela disse com interesse.
Eu a coloquei e não pude acreditar. Mesmo que Teresa e eu tenhamos
praticamente vivido do guarda-roupa uma da outra por anos, eu nunca
tinha experimentado aquele par de jeans específico.
E por que não?!
Eles abraçaram meus quadris e coxas de uma forma que me fez
questionar se eu ainda estava olhando para a mesma jovem.
Encontrei um top preto simples que combinava muito com o jeans e
fiquei boquiaberta com a pessoa no espelho.
— Porra — Teresa assobiou.
— Acho que você está certa — admiti. — Talvez esta noite seja a hora
de mostrar o que tenho.
A lua cheia estava alta no céu quando passamos pelas últimas árvores
até uma clareira na floresta.
Ela brilhava forte, iluminando a massa crescente de corpos nus que se
formavam em um círculo. O ritual começaria quando todas as nossas
roupas fossem jogadas em seu centro.
Dei um passo para trás ao ver tantos amigos e estranhos nus.
Não estava em meus genes ser tão aberta com meu corpo.
Eu sei, nada típico de uma loba.
— Não sei se consigo fazer isso... — murmurei, dando alguns passos
para trás.
Como um lobisomem, era meu direito permitir que meus instintos
animalescos assumissem o controle — correr solta e me fundir com a
natureza e o mundo ao meu redor.
Mas não pude deixar de me encolher com o pensamento.
— Claro que você pode — ouvi Teresa dizer ao meu lado. — Carpe
diem e tudo mais, lembra?
Ela enfatizou sua declaração e me lembrou que eu estava atrasada
para a festa enquanto ela se movia para um local aberto no círculo, sua
bunda nua capturando meu olhar.
Este era o seu elemento — ela tinha um grande corpo e o tipo de
personalidade que deixava você saber disso. Ela olhou para mim e deu
um aceno rápido.
Enquanto a multidão se acalmava, eu rapidamente tirei minhas
roupas, perdendo o equilíbrio algumas vezes quando meu jeans prendeu
em meus pés.
Eu deslizei meu corpo nu para o lado de Teresa, um braço escondendo
meus seios enquanto minha outra mão escondia minha virilha.
— Você está incrível, — ela disse baixinho, tentando me inspirar
confiança.
Eu olhei em volta para os vários corpos, e meu olhar se fixou em
Caspian, a alguns metros de distância. Foi a primeira vez que o vi
totalmente nu.
Meu queixo caiu com a visão.
Ele era magro, mas musculoso, seus braços e tórax mais esculpidos do
que eu poderia imaginar. E quando meus olhos passaram pelas linhas em
V em seus quadris, minha respiração ficou presa na garganta.
Eu tinha sentido através de suas calças em mais de uma ocasião, mas
finalmente ver isso na minha frente...
Eu cometi um erro ao não ir até o fim? E se ele encontrasse sua
verdadeira companheira, e eu fosse deixada para sofrer sozinha até que
ficasse enrugada e velha e ninguém me quisesse?
Ele chamou minha atenção enquanto eu o cobiçava. Ele piscou.
Meu peito apertou e a respiração ficou mais difícil.
Isso é um erro. É tudo um grande erro... Meus pensamentos estavam
acelerados.
Mas era tarde demais para voltar.
A multidão ficou ainda mais silenciosa, exceto por alguns sussurros
abafados. Então eu vi dois lobisomens enormes se moverem para o
centro do círculo.
— Aquele é… ? — Eu perguntei.
— Duh — Teresa respondeu, e a realização me atingiu.
Eu estava olhando para o alfa real e o beta real.
— O mais alto é Caius — ela disse simplesmente. — Aquele com o
pelo preto... esse é Sebastian.
Desta vez, ela lambeu os lábios.
Sebastian...
Seu nome ecoou na minha cabeça enquanto eu ficava tão quieta
quanto os outros, observando a bela criatura na minha frente.
Tínhamos conversado na festa, mas pensar que até mesmo seu lobo
poderia ser tão impressionante...
Acho que ele é o alfa real por uma razão.
— Ele não é magnífico... ? — Teresa bajulou, já sabendo a resposta à
sua pergunta.
Eu não pude negar. Ela estava certa. Ele era absolutamente lindo — e
o lobo mais imponente que eu já vi.
O pelo que cobria seu corpo era como a encarnação da escuridão, e a
mancha branca sobre seu olho direito brilhava como uma estrela no céu
da meia-noite.
Eu mal tinha percebido que os outros, um por um, estavam
começando a mudar. Senti uma sensação de alívio sabendo que meu
corpo nu logo estaria coberto de pelos quando me transformasse em meu
lobo.
Levei apenas alguns segundos para mudar. A pontada de dor que eu
normalmente sentia em meus ossos e músculos mudando de forma não
estava mais lá.
Eu só podia sentir o medo e a incerteza tomando conta enquanto
estávamos no círculo, prontos para a próxima parte do ritual.
Beta Caius deu um passo à frente, ergueu o focinho para o céu e
soltou um uivo áspero que me abalou profundamente.
A Cúpula havia começado.
Pronta ou não, meu destino estava me chamando.
5
CHAMADA DE ACASALAMENTO
Lyla

Assim que o uivo de Caius rasgou a noite, todos os lobos presentes se


espalharam pela floresta.
A força do meu lobo me impulsionou como um míssil através da
escuridão, enquanto eu voava pela selva ao meu redor.
Isso também fazia parte da cerimônia.
Deveríamos vagar sozinhos pela escuridão da floresta, longe da luz da
lua.
Quando não pudéssemos mais suportar a solidão, uivaríamos e
esperaríamos que nosso chamado fosse atendido.
Era tudo muito dramático.
Eu não pude deixar de me perguntar por que não podíamos
simplesmente uivar quando estávamos todos juntos na clareira... isso
tornaria toda a cerimônia muito mais rápida.
Haveria menos espera... menos incerteza.
Acho que a Deusa da Lua é uma rainha do drama.
Eu vaguei pelo mato e realmente descobri que estava me confortando
no silêncio.
Os lobos eram criaturas sociais. Nós andávamos em bandos. Estava
em nossa natureza.
Mas estar longe de todos e de tudo aqui na escuridão... longe das
expectativas, da culpa e das decisões...
Era estranhamente reconfortante.
Minha mente vagou de volta para quando Alfa Hugo nos avisou sobre
o ataque rebelde alguns dias atrás.
É assim que é ser um rebelde?
É esta a paz pela qual lobos decidem fugir de suas alcateias?
Um galho se mexeu bem acima de mim e eu hesitei enquanto olhava
para cima, verificando se havia ameaças.
Uma coruja pousou em um galho acima de mim, seus olhos grandes
olhando para mim na escuridão.
Eu balancei minha cabeça tristemente.
Estar sozinha pode ter sido bom no momento, mas eu sabia que não
tinha sido feita para esse tipo de vida.
Eu nunca poderia viver a vida de um rebelde.
E eu estava honestamente com medo de ficar sozinha.
Um uivo cortou meus pensamentos, o som surpreendentemente
próximo. Nem um momento após, outro uivo respondeu, e uma onda de
felicidade cresceu dentro de mim.
Alguém encontrou seu companheiro.
Curiosa, avancei em direção ao som.
Eu me esgueirei pela vegetação rasteira, tomando muito cuidado para
não ser vista e interromper o momento especial.
Enfiei meu rosto em alguns arbustos e lá estavam eles.
O novo casal feliz.
Teresa!
Ela estava beliscando e acariciando um lobo que eu nunca tinha visto
antes. Ele devia ser membro de uma alcateia diferente.
A maneira como eles se olhavam nos olhos parecia tão íntima e
privada que me senti errada por ter vindo dar uma espiada.
Eles correram juntos para a clareira, prontos para solidificar seu novo
vínculo sob a luz da lua.
Eu podia ver agora que o ritual não era apenas uma tradição estúpida.
Ele tinha verdadeiro poder sobre nós.
Teresa nunca teria conhecido seu companheiro se não fosse pela
Cúpula.
Agora, com sorte, meu verdadeiro companheiro está mais perto de casa...
Outro uivo soou na noite.
E depois outro.
Foi uma reação em cadeia ao passo que os lobos soltavam seus
próprios gritos, enchendo a noite com uivos estremecedores.
Escutei com atenção, meu coração batendo forte na garganta.
Mas os uivos do meu companheiro não faziam parte da multidão.
Algumas chamadas tiveram resposta.
Outros se repetiam continuamente, seu desespero se tornando cada
vez mais aparente.
Seus uivos ficaram sem resposta.
Eles não iriam encontrar seu verdadeiro companheiro esta noite.
Mais uma vez, a Deusa da Lua parecia amaldiçoar as alcateias,
deixando muitos para trás para tentar continuar uma vida de solidão
enquanto seus amigos e familiares começavam de novo.
Uma pontada de medo me apunhalou.
Essa seria eu?
Eu teria que viver o resto da minha vida sozinha?
A incerteza e a solidão tornaram-se insuportáveis.
Eu podia sentir um uivo borbulhando dentro de mim, incapaz de ser
reprimido.
Eu gritei minha própria chamada noite adentro, esperando receber
uma resposta. Coloquei minha alma nela, uivando para que todos os
lobos do mundo pudessem ouvir.
Receberei uma chamada em troca?
Será do Caspian?
Contei um fôlego.
Dois.
Contei os batimentos cardíacos até ouvir meu companheiro me
chamando.
Mas minha única resposta foi o silêncio frio da noite.
Meu companheiro não era Caspian.
Meu companheiro nem estava aqui.
Eu balancei minha cabeça. Talvez ele simplesmente não tenha me
ouvido.
Reuni minhas forças para uivar novamente, mas só consegui deixar
escapar um gemido vacilante.
Eu estava me enganando. Não havia como meu companheiro não ter
ouvido o meu chamado.
Deprimida, cansada e insegura, abaixei minha cabeça. Esta noite só
fortaleceu minha crença de que nunca encontraria um companheiro.
Haveria outros rituais, mas será que eu ainda gostaria de fazer a
caminhada em busca do amor ano após ano, apenas para ser humilhada
pelo silêncio que se seguiria ao meu chamado...
Pelo menos eu ainda tinha minha família e Teresa — mas temia que
seu novo companheiro substituísse todos os papéis em sua vida,
especialmente o papel de melhor amiga.
Eu estava prestes a desistir e voltar à minha forma humana quando
finalmente ouvi...
Um uivo agudo...
Foi mais poderoso do que eu jamais poderia imaginar — me abalou
mais profundamente do que qualquer outra chamada.
Por instinto, eu uivei de volta, minha voz mais forte do que eu percebi.
O uivo veio mais uma vez e a esperança ganhou vida dentro de mim.
O desespero que eu estava sentindo se transformou em pura alegria.
Eu não estava imaginando isso. Esse era meu companheiro.
E ele estava esperando por mim.
Eu corri pela floresta, meu corpo se movendo puramente por instinto.
Corri mais rápido do que jamais corri em toda a minha vida. Desviei das
árvores e saltei sobre arbustos. Eu era um míssil em busca de calor,
prestes a acertar meu alvo.
Quem é?
Minha mente disparou.
É o Caspian?
O rosto de outro homem apareceu em minha mente e meus olhos se
arregalaram.
É... outra pessoa?
Eu atravessei as árvores até chegar em uma clareira menor e cavei
minhas patas no chão para desacelerar.
Lá estava ele.
Meu companheiro.
Esperando por mim.
E eu não conseguia acreditar para quem estava olhando.
Você só pode estar brincando.
Eu olhei para meu companheiro, meus olhos arregalados em choque.
Eu só podia ver suas costas, mas a cor de seu pelo era inconfundível...
Preto como a noite nos envolvendo.
Mas isso não poderia estar certo... O lobo na minha frente certamente
não era meu verdadeiro companheiro.
Ele se virou e meu coração errou várias batidas.
Meus medos se agravaram quando notei a mancha branca de pelo
acima de seu olho direito.
Ele era meu oposto completo.
Meu lobo tinha pelo branco e uma mancha preta sobre meu olho
esquerdo.
Eu era o yin para o seu yang.
Nossos olhos se encontraram e, naquele momento, comecei a
entender...
O ritual funcionou.
E por causa disso, minha vida e tudo que eu conhecia nunca mais
seriam as mesmas.
Sebastian, o alfa real.
Líder dos lobisomens.
Ele não era mais apenas o alfa real...
Daquele momento em diante, ele era meu companheiro.
O alfa real me olhou de cima a baixo, seu nariz se contraindo
enquanto ele sentia o meu cheiro.
Ainda não tínhamos mudado para nossas formas humanas, e por isso
eu era grata. O mundo parecia girar ao nosso redor na velocidade da luz.
Todo o meu ser parecia desequilibrado e perfeitamente alinhado ao
mesmo tempo.
Mesmo como um lobo, meu companheiro era lindo de se olhar, e o
novo cheiro que eu captei estava me deixando louca.
Eu me perguntei o que ele pensava de mim enquanto eu observava seu
nariz se contrair.
Antes que eu pudesse me preocupar muito com isso, Sebastian mudou
para sua forma humana, completamente nu.
Tentei desviar meu olhar dele, mas era impossível. Quando homem,
ele era esculpido como uma estátua grega, os músculos esculpidos como
se fossem formados de mármore.
— Mude, — ele disse para mim, sua voz profunda e rouca.
Fiz o que ele disse, o desejo de falar com meu novo companheiro em
forma humana era insuportável.
Comecei a mudar, e o pelo branco que cobria meu corpo desapareceu,
expondo minha pele pálida.
Meus braços e mãos imediatamente cobriram meus seios e sexo, meu
olhar abaixado.
Eu podia sentir seus olhos famintos percorrendo meu corpo.
Ele gosta do que vê?
— Olhe para mim, — ele ordenou.
Meus olhos se ergueram para encontrar os dele e fiquei sem fôlego.
De alguma forma, ele era ainda mais bonito de perto.
Seus incríveis olhos azuis queimavam com a mesma intensidade
incomparável de quando ele estava na forma de lobo.
Seus pelos faciais estavam aparados, deixando apenas uma barba por
fazer para acentuar suas maçãs do rosto salientes e nariz estreito.
Seu cabelo loiro estava penteado para cima e para trás, destacando a
linha acentuada de sua mandíbula.
— Eu não acredito — ele disse suavemente.
— Es-essa é a minha fala — eu gaguejei.
Seus olhos vagaram para cima e para baixo no meu corpo, e seu olhar
deixou um rastro de arrepios ao longo da minha pele.
Quando conheci o Alfa Real no jantar, nunca, em meus sonhos mais
loucos, teria esperado que ele fosse meu companheiro.
Seu olhar pousou em minhas mãos, que cobriam as partes mais
íntimas de mim.
— Por que você está se escondendo de mim, Lyla?
— Desculpe. Não estou acostumada a ficar nua na frente dos outros...
— admiti.
Ele sorriu, mostrando seus dentes perolados.
— Você é uma lobisomem. Sempre existe a possibilidade de ficarmos
nus.
Desesperadamente, olhei para baixo, meu olhar passando por seu
torso musculoso.
Eu engoli em seco, e uma vibração que se originou no meu estômago
desceu pelo meu corpo.
Um rubor aqueceu minhas bochechas quando uma umidade
repentina se espalhou entre minhas pernas, apenas aumentando meu
desejo por roupas.
Já era ruim o suficiente estar exposta, mas estar exposta e excitada era
algo que eu não estava totalmente pronta para lidar...
Certamente ele pode cheirar meu desejo?
O sorriso que se espalhou por seu rosto confirmou minha
preocupação.
Eu não esperava que nosso primeiro encontro como companheiros
fosse tão intenso.
E pelo jeito que os olhos de Sebastian me devoraram...
Eu engoli em seco.
As coisas estavam prestes a ficar muito mais selvagens.
6
COMPANHEIROS VERDADEIROS
Lyla

Eu estava lá, completamente nua diante do Alfa Real.


Meu companheiro.
Fiquei tonta só de pensar nisso.
Os olhos de Sebastian queimaram os meus, e eu poderia dizer que ele
sentiu minha incerteza.
— Eu quero que minha companheira se sinta confortável perto de
mim. Mas isso só pode acontecer se você permitir… — disse ele
calmamente.
Com cada grama de força que pude reunir, forcei minhas mãos ao
meu lado, revelando tudo o que eu era.
Eu o ouvi respirar rápido enquanto as batidas de seu coração se
aceleravam.
Mesmo em nossas formas humanas, tínhamos a maioria de nossos
instintos de lobo.
Sentime bem em saber que o afetava da mesma forma que ele a mim.
— Você é absolutamente linda.
Nunca antes essas simples palavras fizeram todo o meu corpo queimar
de desejo.
Dei um passo em direção a ele, a necessidade de estar perto dele era
primordial.
— Obrigada — eu me forcei a dizer. — Você é… uhhh...
Minha voz sumiu enquanto eu procurava as palavras que me
escaparam.
A floresta ao nosso redor estava carregada de uma sensação que eu
nunca havia sentido antes. Pelo menos não tão intensamente.
Meu corpo doía para tocá-lo e minha mente estava muito disposta a
obedecer.
Eu dei mais um passo à frente.
Sebastian estendeu a mão, sua palma voltada para cima no pequeno
espaço entre nós.
Uma oferta.
Uma pergunta.
Mas antes que eu pudesse segurá-la, um rosnado feroz irrompeu de
seus lábios e ele me puxou para trás.
Um gemido baixo me escapou quando seus dedos roçaram meu pulso.
Minha pele queimou com seu toque. Meu desejo por ele pulsou mais
forte.
E então o momento se quebrou de uma vez.
— Lyla? — uma voz veio das árvores.
Eu estava tão hipnotizada pela flexão e puxão do músculo nas costas
poderosas de Sebastian que quase não escutei.
Sacudindo a luxúria da minha mente, olhei por trás do ombro do meu
novo companheiro.
Sebastian soltou outro grunhido, estendendo um de seus braços
musculosos para me impedir de passar.
Meus olhos focaram na forma pálida ao longo da linha das árvores.
Meus olhos se arregalaram quando reconheci quem estava ali.
— Caspian?
Caspian

Eu vaguei pela floresta, humilhado pelo silêncio que se seguiu ao meu


chamado.
Meus piores medos haviam se tornado realidade.
Lyla e eu não éramos companheiros.
Não só isso, mas minha companheira não estava na Cúpula.
Lyla encontrou seu companheiro?
Meu coração doeu com o pensamento.
Eu estava vagando pela floresta, voltando para a clareira quando a vi.
Ela estava em sua forma humana em uma clareira, quando de repente um
rosnado feroz irrompeu de onde ela estava.
Avancei, querendo proteger minha namorada.
Mas então eu vi que ela não estava sozinha.
Ela estava com o alfa real.
Ela estava com seu companheiro.
E meu coração se partiu em um milhão de pedaços minúsculos.
Lyla

— Desculpe, — Caspian murmurou. Ele olhou para o chão quando


percebeu o que viu. — Vou deixar vocês dois sozinhos.
— Caspian, espere! — Chamei. Mas ele já havia partido, afastando-se
na escuridão da floresta.
— Deixe-o ir — Sebastian rosnou. Ele se aproximou de mim e passou
os braços em volta de mim. Seu cheiro acendeu a luxúria dentro de mim.
Foi tão intenso que fiquei impotente sob o sentimento.
Um desejo tão intenso que quase me consumiu.
É assim que é estar acasalado?
As mãos de Sebastian deslizaram para meus quadris. Seu toque era
quente e gentil, mas eu não podia negar a energia sexual que estava
surgindo entre nós.
Eu saí de seus braços.
— Eu sinto muito. Mas tudo isso está acontecendo rápido demais.
Não estou acostumada com isso.
— Você não está feliz por ter me encontrado? — Sebastian perguntou.
Eu recuei devagar.
— Claro que estou! Mas eu não esperava encontrar meu
companheiro... muito menos...
Minha mente estava girando.
Tudo parecia tão novo, intenso e repentino...
Fechei meus olhos e vi o choque e a dor no rosto de Caspian.
Oh, Deusa... o que eu vou fazer?
Senti Sebastian colocar seus dedos embaixo do meu queixo, e ele
segurou meu rosto até que eu abri meus olhos para olhar para ele.
A feroz intensidade em seu olhar se foi. Foi substituído por algo mais
macio.
Mais gentil.
— Eu consigo entender como isso pode ser um choque para você —
ele começou. — Esta é sua primeira Cúpula, correto?
Eu balancei a cabeça, meu coração batendo forte na minha garganta.
— E é claro que você não pode simplesmente esquecer a vida que você
tinha antes... — Sebastian suspirou. — Tenho certeza de que Caspian
significou muito para você.
— Significa — eu o corrigi.
A mandíbula de Sebastian apertou e eu pude ver a raiva queimando
em seus olhos. Mas ele fechou os olhos e respirou fundo, desejando se
acalmar.
— Nós somos verdadeiros companheiros. A Deusa da Lua se certificou
disso. Mas não vou forçá-la a ser minha Luna. — As palavras que ele falou
soaram robóticas. Como se ele estivesse se esforçando para dizer essas
coisas.
Meus olhos se arregalaram.
Luna? Eu?
— Então, isso significa...? — Eu comecei.
— Isso significa que isso não é obrigatório até que marquemos um ao
outro. Significa que tentarei conter o desejo que sinto de tomá-la em
meus braços e reivindicá-la.
Senti meu sexo apertar de desejo com suas palavras.
— Isso significa que você ainda tem uma escolha, Lyla. Caspian ou eu.
Senti meu mundo desabar ao meu redor.
Como diabos eu devo decidir sobre algo assim?
— Vamos nos preparar para seu futuro papel de Luna enquanto isso
— ele continuou. — Mas você tem até o final da Cúpula para decidir.
Entendeu?
Eu apenas acenei com a cabeça, e depois de um olhar final, Sebastian
afastou seus olhos dos meus.
O vácuo que se formou ao nosso redor pareceu estourar. A floresta
voltou à vida mais uma vez.
— Venha — ele disse suavemente.
Eu só pude segui-lo, para fora da floresta e sob a luz da lua.
Eu apertei os olhos e observei seu brilho prateado, minha mente em
completa desordem.
O que devo fazer agora?

Puta merda.
Isso foi tudo que pude pensar enquanto olhava para a grande mansão
que estava diante de nós.
A Casa da Alcateia Real era ainda mais impressionante de perto.
Banhada pelo luar, a arquitetura de pedra era misteriosa e de tirar o
fôlego.
As janelas iluminadas pareciam calorosas e acolhedoras, mas me
lembrou que outros estavam esperando lá dentro para conhecer a nova
companheira de seu alfa.
O sorriso de Sebastian me arrancou do meu devaneio.
Ele estendeu a mão e eu aceitei, permitindo que ele me ajudasse a sair
do carro, empurrando para baixo a onda de desejo que o toque causou.
Ocorreu-me a ideia de que os outros deveriam voltar logo da
cerimônia. Eu os imaginei voltando ao Fleur de Lis, celebrando os casais
bem-sucedidos com comida, bebida e dança.
Imaginei que o alfa real estava isento dessa tradição.
Senti minhas pernas enfraquecerem enquanto nos aproximávamos
dos grandes degraus que conduziam às portas da frente da casa da
alcateia.
— O que estamos fazendo aqui?
— Esta é sua nova casa — Sebastian explicou. — Você vai ficar aqui.
— Isso é um pouco presunçoso da sua parte — eu disse a ele, puxando
com mais força a mão que ele estava me guiando. — E a minha mochila?
O aperto de Sebastian ficou mais forte.
— Nós informamos sua alcateia sobre a mudança nos planos — ele
disse com naturalidade.
Estava claro que ele estava acostumado a ter qualquer coisa com um
estalar de dedos.
— A Alcateia Lua Azul já começou a se mudar para uma ala separada
desta mansão durante a Cúpula. Como sua alcateia de origem, eles serão
homenageados.
Soltei um suspiro de alívio sabendo que veria rostos familiares
novamente em breve.
— Obrigada. Vou precisar falar com eles. E as minhas coisas?
— Mandei alguém para recolher todos os pertences necessários.
Minha frustração aumentou.
— Você enviou um estranho para vasculhar meus pertences pessoais?
Eu arranquei minha mão da dele, interrompendo o progresso de
nosso desembarque pouco antes das enormes portas da frente.
— Sim, eles serão colocados em nosso quarto.
— Nosso quarto?!
Foi tudo demais para mim.
Isso porque estávamos — indo devagar,
Em menos de duas horas, deixei de ter uma relação de confiança e de
longo prazo com alguém que escolhi, para ser lançada a um estranho
pelo destino.
Não só isso, mas meu novo companheiro havia sido territorial,
possessivo e mandão desde o segundo que nos conhecemos.
Minhas emoções cruas e hormônios cozidos juntos em um coquetel
tóxico.
Tudo parecia fora de controle.
Eu não conseguia respirar.
Senti meu braço subir e tentei me conter, mas era tarde demais.
WHAP!
A queimadura se espalhou pela minha palma enquanto eu estava em
estado de choque, mortificada por ter acabado de dar um tapa no rosto
do alfa real...
Sebastian soltou um grunhido profundo, passando a mão pelo cabelo
agora desgrenhado.
Eu abri minha boca para me desculpar. Ou talvez para me defender.
Eu não tive a chance de descobrir antes que Sebastian me pressionasse
entre as portas da Casa da Alcateia Real e seu corpo.
Seu peito estava colado ao meu. Seus olhos cheios de fúria estavam
me mantendo presa no lugar junto com suas mãos.
Eu engasguei com a proximidade repentina. Com a sensação de seus
quadris pressionando meu estômago.
É isso que é ter um companheiro?
Este constante empurrão e puxão de domínio. Esta chicotada da raiva
para a luxúria?
Nesse caso, eu não tinha ideia de por que desejei isso por tanto tempo.
Talvez eu apenas tenha tido azar. Eu certamente nunca vi meus pais se
comportarem dessa maneira.
Ou talvez a Deusa da Lua cometeu um erro?
— Você já terminou? — A voz de Sebastian era um estrondo profundo
e perigoso.
Eu podia ouvir a batida irregular de seu coração.
Senti o desejo sob sua raiva.
Pelo menos eu não era a única lutando para controlar meus
sentimentos.
Eu balancei a cabeça uma vez.
— Sebastian — uma voz chamou.
Nossas cabeças se viraram para encarar um homem mais velho que
apareceu no patamar ao nosso lado.
Ele olhou para nós dois, uma emoção ininteligível em seus olhos
enquanto ele acariciava sua barba grisalha.
— Precisam de você na fronteira leste.
Meu pulso acelerou por um novo motivo quando Sebastian se afastou
de mim.
— Os bandidos estão de volta? — Eu disse.
— Fique aqui — Sebastian ordenou, ignorando minha pergunta.
Ele e o homem mais velho desceram os degraus, se transformando
antes de atingirem o chão e adentrarem a noite.
Encostei-me na porta.
O que devo fazer agora?
Ele realmente espera que eu fique no degrau da frente até que ele volte?
Do interior do quarto, bateram na porta.
— Você gostaria de entrar, madame?
Eu pulei para longe da porta, e ela se abriu lentamente para revelar
uma mulher no que parecia ser uma fantasia de empregada doméstica
francesa.
Eu quase bufei. É claro que ele faria sua equipe se vestir assim.
— Fui instruída a levá-la ao seu quarto — disse a empregada,
segurando a porta aberta.
— Meu quarto? — Eu disse, acrescentando ênfase extra à primeira
palavra. — Mas Sebastian disse...
— Alfa Sebastian acaba de me informar via link mental que você
prefere sua própria suíte. Isso está correto?
Surpresa com a mudança repentina, senti minhas defesas caírem.
— Bem... sim, isso seria ótimo, obrigada.
Com uma respiração final para me acalmar, eu pisei na soleira.
Era hora de reagrupar antes que meu companheiro voltasse para casa.
Sebastian

Eu pairava fora de sua porta, hesitante em bater.


Eu fiz uma careta com a sensação estranha no meu estômago. Eu
estava nervoso. Nenhuma mulher me fez sentir assim antes.
Mas Lyla era diferente.
Ela é minha companheira. Minha futura Luna.
Eu parei e balancei minha cabeça.
Se ela decidir ser.
Juntei minha coragem e bati.
— Posso entrar? — Perguntei.
— Sim — foi a resposta.
Apenas o som de sua voz me deixou louco de desejo. Respirei fundo
para me recompor.
Passos de bebê.
Entrei e a vi sentada na cama, vestindo nada além de seu fino pijama
de seda.
Deusa me ajude.
— O quarto é do seu agrado? — Eu perguntei rigidamente.
Eu era o alfa da Alcateia Real; o alfa que estava acima de todos os
outros.
E ainda assim, esta plebeia da Alcateia Lua Azul me deixou no limite,
com suas explosões repentinas e sua ardente vontade irritante e atraente
ao mesmo tempo.
A bênção da Deusa da Lua é uma maldição tanto quanto é um presente.
— Sim, obrigada por me permitir meu próprio espaço — ela rebateu.
Lá estava ele novamente.
Uma parte de mim queria dar um passo à frente e eliminar esse espaço
entre nós. Eu queria empurrá-la para baixo no colchão macio e sentir sua
pele macia sob meus dedos.
Eu repreendi esses pensamentos.
Ela não estava pronta ainda, isso estava claro.
— Ficou muito claro antes que era importante para você — eu disse,
enfiando as mãos nos bolsos para que não ficasse tentado a estender a
mão para ela. — Não estou acostumado com as pessoas me dando
ordens.
Lyla inclinou a cabeça com as minhas palavras, refletindo sobre elas.
Eu não era bom em desculpas, mas essa foi a melhor tentativa que
pude fazer.
Ela deixou o silêncio se estabelecer entre nós, e eu me perguntei como
exatamente poderíamos fazer isso funcionar.
Se este emparelhamento da Deusa foi um desafio, foi um bom desafio.
Mas fui criado para ser um alfa.
Estava no meu sangue.
Eu nunca desisto de um desafio.
Ou perco um.
Suspirei e atravessei a sala.
Lyla puxou o cobertor grosso da cama para cobrir o peito, ainda em
guarda.
Eu me inclinei contra uma das coLunas da cama enquanto olhava para
ela.
— Você está desapontada que a Deusa me escolheu como seu
companheiro? — Eu perguntei.
Um flash de surpresa coloriu seus olhos. Parecia que ela estava
pensando da mesma forma que eu. Sempre imaginei que, quando
encontrasse minha verdadeira companheira, as coisas iriam
instantaneamente se encaixar entre nós. Que nos apaixonaríamos
profunda e incontrolavelmente imediatamente.
Mas a realidade nunca é tão simples.
Mesmo quando se trata de laços místicos com seu suposto —
verdadeiro companheiro.
Lyla parou por um momento para pensar sobre minha pergunta e
uma pontada de incerteza atingiu meu estômago.
E se ela não quiser isso?
Lyla

Eu olhei para Sebastian por um momento, sem saber como formular


minha resposta.
Ele me perguntou algo semelhante antes. Naquele momento, eu não
havia entendido a intenção por trás da pergunta.
Agora, com suas defesas baixas, pude ver que ele se importava com a
resposta.
Que ele se importava muito.
— Eu... — Sua intensidade repentina me fez tropeçar em minhas
palavras. — Eu acho que eu pensei que a Deusa tinha nos abandonado.
Fiquei desiludida com tudo isso. Estou surpresa. Não fiquei desapontada.
Ele pareceu considerar minhas palavras por um momento, então
pigarreou. Foi alívio o que vi em seu rosto?
— Sua alcateia chegou e eles estão se acomodando enquanto
conversamos — ele disse, mudando de assunto sem muita sutileza.
— Obrigado, Alfa Sebastian.
— Só Sebastian está bom.
Eu balancei a cabeça, aceitando a pequena permissão e decidi
aproveitar sua generosidade atual para obter mais informações.
— O homem que veio atrás de você, ele disse que você era necessário
na fronteira. Houve outro ataque?
Sebastian cerrou a mandíbula. Eu poderia dizer que ele estava lutando
para decidir quanta informação me dar.
— São apenas alguns bandidos testando nosso tempo de reação —
disse ele. — Tentando encontrar buracos em nossas defesas. Nada que
minha equipe não consiga lidar.
Eu me endireitei, animada por ele estar falando. Essa foi a melhor
comunicação que conseguimos até agora.
O movimento fez com que os cobertores caíssem até minha cintura.
Os olhos de Sebastian caíram para o meu peito e eu tive que lutar
contra o desejo de me cobrir novamente.
Eu sabia que a seda fina do meu pijama fazia pouco para me cobrir.
Não havia dúvida em minha mente que ele podia ver meus mamilos
duros através do material.
A onda simultânea de constrangimento e excitação era muito confusa.
Ele era meu companheiro. Ele deveria me desejar, e eu a ele.
Mas ele também era um estranho. Nossa necessidade um do outro
não foi construída sobre nada. Não houve uma vida inteira de história
nos unindo.
Em vez disso, fomos apanhados por uma tempestade de luxúria e
frustração, como se ambos tivéssemos engolido poções do amor
defeituosas.
O leve alargamento nas narinas de Sebastian me disse o que eu já
sabia.
Ele gostou do que viu.
E eu não podia fingir que sua luxúria por mim não era atraente.
Rosnei e arrastei meus pensamentos nebulosos e hormonais de volta à
ordem.
— O que você espera de mim como Luna?
Sebastian arqueou uma sobrancelha.
— Você é obrigada a ser minha escrava sexual e produzir meu
herdeiro.
Eu engasguei, minha boca aberta.
— Você não pode estar falando sério.
De repente, a exposição foi demais e eu agarrei as cobertas, puxando-
as de volta sobre meu peito.
Sebastian abriu um sorriso luminoso.
— Sou conhecido por fazer piadas ocasionais.
— Isso foi maldade — eu disse, jogando uma das cinco milhões de
almofadas decorativas do quarto nele.
Sebastian a pegou facilmente e se sentou na beira da cama.
— Você vai ser minha segunda no comando. O coração da alcateia.
Eu balancei a cabeça, tentando não deixar a pressão de suas palavras
me esmagar. Eu sabia o que era uma Luna, mas nunca esperei me tornar
uma.
— E meu papel como sua companheira? — Eu perguntei baixinho,
meu batimento cardíaco acelerando.
Ele respirou fundo.
— Isso você decide.
Nossos olhos se encontraram, o cheiro inebriante de desejo
engrossando em torno de nós mais uma vez.
— Eu quero que isso funcione, você sabe — eu admiti.
Ele sorriu.
— Eu não posso te convencer a ficar no meu quarto, posso?
— Sem chance.
— Então, boa noite, Lyla.
Eu caí de volta na minha cama quando a porta se fechou atrás dele.
Talvez minha primeira impressão não esteja certa.
Talvez o destino não esteja sendo tão cruel comigo, afinal.
Talvez o alfa real seja um homem melhor do que eu pensava
originalmente.
7
PENSAMENTOS SÓBRIOS
Lyla

O dia seguinte foi um borrão.


A notícia se espalhou. O Alfa Real encontrou uma companheira.
Eu fui de ninguém para a fofoca do mundo dos lobisomens em uma
única noite.
Todos da Alcateia Lua Azul haviam se mudado para a Casa da Alcateia
Real, e todos estavam em êxtase. Principalmente Teresa. Ela se
emocionou sobre o quão sortuda eu era — mas obviamente não tão
sortuda quanto ela.
O nome de seu companheiro era Reed. Eu achei fofo que ela já estava
perdidamente apaixonada por ele.
Se ao menos meu vínculo de acasalamento com um certo alfa fosse
tão simples...
Eu não tinha visto Caspian desde aquela noite.
Eu estava muito preocupada, mas, por mais que tentasse, não
consegui encontrá-lo.
Entre inúmeras apresentações e tentando aprender tudo o que podia
sobre a Alcateia Real, eu mal tinha tempo para mim.
Já era tarde da noite e finalmente consegui respirar para ficar sozinha
com meus pensamentos. Eu caminhei pelos jardins atrás da casa da
alcateia, apreciando o perfume das flores na brisa noturna.
De repente, alguém me agarrou por trás.
Meu cérebro entrou automaticamente em modo de luta, meus
instintos de lobisomem entrando em ação.
Com todas as minhas forças, dei uma cotovelada em meu atacante.
Eu era forte e bem treinada, mas ele tinha o benefício da surpresa.
— Ai — ele gritou.
Aproveitei seu atordoamento momentâneo para rolar para fora de seu
alcance... e então percebi que meu atacante não estava revidando.
Balançando a cabeça, olhei para o corpo esparramado na terra diante
de mim.
— Caspian?!
Ele acenou fracamente com um braço em resposta. Por seus olhos
vermelhos como sangue e o cheiro de gim em seu hálito, eu poderia dizer
que ele estava bêbado.
Como diabos isso aconteceu?
Com toda a comemoração desde o ritual, não teria sido difícil para ele
encontrar álcool.
— O que diabos você está fazendo aqui? — Eu exigi.
— Indo para o meu quarto — ele disse simplesmente. Então, com
mais emoção: — Sozinho Eu bufei, me levantando do chão. — Bem,
vamos lá, vou ajudá-lo a entrar.
— Oh, não — disse ele, balançando a cabeça. — Eu não moro onde
você mora.
— O que você quer dizer? — Eu disse, oferecendo a ele minha mão.
Caspian aceitou, deixando-me colocá-lo de pé. Uma vez de pé, ele
cedeu contra mim.
— Você não sabe? Vou ficar no Fleur de Lis.
Dei um passo em direção a casa da alcateia, tentando não cambalear
sob seu peso.
— Não, Cas. Você se mudou para cá com o resto do nosso bando.
Caspian balançou a cabeça novamente.
— Não — disse ele, enfatizando o o. — O alfa real disse que eu não era
permitido.
Eu parei no meio do caminho, quase derrubando Caspian.
— Ele o quê?
Meus dentes cerraram-se. Fechei os olhos, respirando fundo e me
acalmando.
Um problema de cada vez.
— Até que parece um elogio... ser considerado uma ameaça pelo alfa
real — ele disse com um arroto.
— Acredite em mim, você não é uma ameaça.
Ele olhou para mim com o coração partido, e eu sabia que tinha me
expressado errado. Mas se ele pudesse se ver naquele momento, ele teria
concordado.
Eu me arrastei para frente novamente.
— Vamos.
Seus olhos se arregalaram quando ele tropeçou ao meu lado.
— Não estou procurando mais problemas.
— Então você não vai encontrar nenhum — eu disse, afastando o
cabelo de sua testa. — A Alcateia Lua Azul é minha família. E minha
família fica na minha casa. Além disso, não posso carregá-lo de volta para
o hotel.
Os olhos de Caspian pareceram focar, perfurando a névoa de álcool.
Ele me deu um abraço. Eu devolvi, desejando que Sebastian pudesse me
ver. Sebastian tinha me dito que eu tinha até o final da Cúpula para
decidir se eu queria me comprometer a ser sua companheira. No
entanto, ele já estava agindo como se fosse meu dono.
Será que ele realmente acha que banir Caspian de ficar aqui ajudará em
seu caso?
Que um simples método O QUE OS OLHOS NÃO VÊEM, O CORAÇÃO
NÃO SENTE vai me conquistar?
Banir Caspian da casa da alcateia foi oficialmente a cereja do bolo
hipócrita de mentiras de Sebastian.
Eu não era do tipo vingativa, mas o mau comportamento do meu
companheiro estava desencadeando algo dentro de mim. Ele precisava
confiar em mim e nas pessoas que escolhi para conviver.
De repente, senti o forte desejo de lhe dar uma lição...
— Venha comigo para o meu quarto — eu disse para Caspian. —
Precisamos limpar você.
Caspian

— Tudo vai mudar entre nós — eu disse.


Lyla tinha me arrastado pela casa da alcateia e, mesmo em meio à
minha névoa de embriaguez, fui capaz de ver os olhares desconfortáveis
que as pessoas estavam nos dando.
A futura Luna da Alcateia Real levando um homem até seu quarto não
era bem-visto. Ainda assim, Lyla parecia despreocupada.
Estávamos sentados juntos em sua cama e eu podia ouvi-la respirar
um pouco pesadamente depois de praticamente ter que me carregar até
lá.
— Ainda vamos nos ver — ela rebateu, embora parecesse incerta.
— Sim. Como se a Luna real tivesse tempo para velhos amigos.
Seu silêncio praticamente confirmou meu ponto.
Em apenas alguns dias, nossas vidas seriam totalmente diferentes.
Claro, eu acabaria me tornando o beta da Alcateia Lua Azul, mas isso
estava muito longe da realeza.
Muito longe de ser capaz de competir com o alfa real — seu verdadeiro
companheiro.
— Eu arranjei tempo para você agora — ela disse. — E olhe desta
forma... pelo menos seu pai ficará feliz com os acontecimentos recentes.
— Eu nunca me importei como ele se sentia em relação a você — eu
disse, minha voz engrossando.
Eu não sabia se era o álcool ou apenas puro desespero, mas coloquei
minha mão sobre a de Lyla. Eu queria sentir o calor de seu toque...
mesmo que não fosse mais meu para desfrutar.
Para minha surpresa, ela não se afastou. Ela olhou para mim, seus
olhos verdes transbordando de emoção.
— Eu conheço você — eu disse. — Sebastian é um lobo sortudo. Ele
pode te dar tudo o que eu nunca poderia dar.
— Exceto por um relacionamento construído por anos de confiança e
amor... — Suas palavras me atingiram como um soco no estômago.
Mas, em vez de dor, o sentimento que evocava era muito pior.
Esperança.
— Lyla...?
Ela respirou fundo antes de se virar para mim, seu rosto a apenas
alguns centímetros do meu. Seus lábios brilharam à luz da lâmpada.
— Sebastian me disse que eu tenho até o final da Cúpula para tomar
uma decisão. Ele não quer me forçar a ser sua Luna se eu não quiser.
— Mas ele é seu verdadeiro companheiro — meus lábios traidores
disseram. — Por que você não iria querer?
Eu queria quebrar minha própria cabeça para parar de falar.
Por que estou argumentando A FAVOR de Sebastian?
— Porque ele é um completo estranho — disse Lyla, — mesmo que a
Deusa da Lua diga que fomos feitos um para o outro.
Eu engoli em seco, minha boca de repente seca. Inclinei-me, minha
voz quase um sussurro.
— Essa é realmente a única razão? — Eu perguntei.
Lyla

Os olhos de Caspian encontraram os meus, brilhando com uma


mistura de esperança e arrependimento. Eu podia sentir a nostalgia
borbulhando por dentro e me lembrei da última vez que estivemos
sozinhos.
Meus olhos foram para os lábios de Caspian e minha respiração ficou
presa na garganta.
Conhecer Sebastian não apagou as memórias do meu tempo com
Caspian.
Mas as coisas nunca podem ser as mesmas... certo?
Uma pergunta silenciosa pairou no ar entre nós. Um para o qual eu
não tinha certeza se sabia a resposta.
— Minha descoberta sobre Sebastian não apagou tudo que tínhamos
juntos — Caspian disse.
Eu desviei o olhar. Eu não estava pronta para essa conversa.
— Você ainda está uma bagunça — eu disse, me levantando. — Eu
acho que você precisa se lavar. Ninguém mais deveria ver você nesta
condição.
Caspian olhou para mim da cama, seu rosto ilegível. O silêncio
enfatizou a tensão na sala. Eventualmente, ele suspirou e se recostou,
passando as mãos pelos cabelos.
— Você tem certeza disso? — Ele perguntou.
— O que você quer dizer?
— Eu estar aqui? Nu? No seu quarto? — Ele disse.
— Nu no chuveiro — eu o corrigi, puxando-o para fora da cama com
um sorriso malicioso.
Eu mostrei a ele o banheiro — era maior do que o meu quarto inteiro
em casa — e me certifiquei de que ele tinha tudo que precisava.
Enquanto Caspian olhava em volta nervosamente, puxei a cortina do
chuveiro e abri a torneira.
Em nosso caminho para cá, eu me certifiquei de que outros nos
tivessem visto, até mesmo parando para pedir roupas limpas a um criado.
Tínhamos atraído muita atenção, para grande consternação de Caspian.
Eu queria a atenção de Sebastian, mas não o deixaria machucar
Caspian. Não sem passar por mim primeiro.
Ele precisava processar seus sentimentos em vez de explodir de raiva
ou recorrer à violência.
Ele também precisava entender meus limites. Que eu não estava
prestes a ser um capacho.
TOC
TOC
Deixando Caspian no chuveiro, abri a porta do meu quarto e fui
cumprimentada por um servo segurando roupas limpas. Ele me olhou
desconfortavelmente quando aceitei as roupas e fechei a porta.
BAQUE
— Oh, merda — Caspian disse sobre a água corrente.
— Você está bem? — Abri a porta do banheiro e entrei para colocar as
roupas no balcão.
— Sim, acabei de deixar cair o shampoo — disse ele.
Através da cortina de chuveiro parcialmente aberta, avistei o corpo nu
de Caspian. A água caia em cascata sobre seus ombros largos e pela curva
de suas costas musculosas.
Quando ele se abaixou para pegar o shampoo, me vi olhando para sua
bunda tonificada.
Teresa sempre o chamou de — Asspian — como um insulto, mas eu
tinha que admitir...
É uma bunda ótima.
Caspian espiou pela cortina e jogou um pouco de água na minha
direção quando me notou.
— Ei! Que diabos?
Eu vacilei.
— Apreciando a vista? — Ele perguntou maliciosamente. — Você é
bem-vinda para se juntar a mim.
— Hum, acho que você tem idade suficiente para se lavar — respondi
sarcasticamente, tentando mascarar meu constrangimento.
Ele mostrou a língua para mim, um sorriso bobo no rosto.
— Lembra quando costumávamos tomar banho juntos?
— Isso foi quando éramos crianças — eu disse.
— Sim, bem, você ainda é muito imatura — ele brincou. Ele pegou o
chuveiro e apontou para mim.
Eu gritei e tentei desviar do spray.
— Oh, olha quem fala! — Eu ri. Peguei uma toalha e comecei a torce-la
para que estalasse quando eu a jogasse nele. — Você pediu... prepare-se
para...
QUEBRA!
A porta do quarto se abriu, explodindo em cacos de madeira.
Sebastian estava lá, rígido, olhando para mim da porta, seus músculos
pulsando com o desejo de se transformar.
— Qual o significado disso? — Ele disse com um rosnado.
Atrás de mim, ouvi a água desligar e a cortina do chuveiro abrir.
Caspian procurou por uma toalha, praguejando baixinho.
De repente, fiquei sem palavras.
O que eu fiz?
Sebastian olhou para Caspian, e seus olhos azuis ficaram vermelhos.
Ele começou a mudar para sua forma de lobo.
Meu queixo caiu quando sua forma cresceu, ocupando toda a porta.
— Sebastian! Não é o que parece! — Eu gritei, incapaz de acreditar em
minhas próprias palavras.
Eu queria desafiá-lo. Para machucá-lo por machucar meu namorado.
Por não confiar em mim. Por manter segredos de mim.
Mas agora que eu tinha feito isso, eu não tinha tanta certeza se
poderia parar o que estava por vir.
Ele iria despedaçar o único homem que eu já amei bem diante dos
meus olhos!
Estendi a mão para tocar meu companheiro, para detê-lo, com medo
que já fosse tarde demais...
8
TENSÃO REAL
Sebastian

Não é o que parece!


Eu ouvi a voz de Lyla, mas meu corpo se recusou a ouvir,
transformando-se na besta que queria se tornar.
Disseram-me que Lyla tinha uma visita em seu quarto, e meus
temores se concretizaram quando pude sentir o cheiro dele por todo o
corredor, almiscarado com um forte traço de bebida alcoólica.
Mas eu não esperava isso...
Meu sangue ferveu enquanto Lyla olhava boquiaberta para mim.
Caspian estava no chuveiro, uma toalha protegendo seu corpo. A visão
dele alimentou minha raiva.
Em alguns momentos, eu seria incapaz de parar meus instintos mais
primitivos. Eu mostrei minhas presas e deixei o desejo quente de matar
tomar conta da minha pelagem da meia-noite.
Lyla cruzou a sala e fechou a mão desesperadamente em volta de
minha pata dianteira. Eu queria sacudi-la, mas o toque foi elétrico,
chocando meus sentidos e me paralisando.
— Isso não é culpa dele — ela disse, olhando profundamente nos
meus olhos. — Por favor, acalme-se... Vamos conversar no seu quarto. —
Ela se virou e fechou rapidamente a porta do banheiro. Com Caspian fora
de vista, minha raiva começou a diminuir.
Alguns segundos depois, eu estava de volta à minha forma humana,
completamente nu, minhas roupas rasgadas espalhadas pelo chão.
Eu queria gritar com ela, fazê-la sentir vergonha de suas ações. Mas eu
sabia que isso só pioraria as coisas.
Lyla avançou e me envolveu em um grande abraço, me surpreendendo
com a força de seu pequeno corpo.
Lyla
A caminhada até o quarto de Sebastian foi carregada de silêncio.
Entramos e estremeci quando a porta se fechou atrás de nós.
Eu estava pronta para aceitar minha punição...
Mas para minha surpresa, Sebastian apenas foi se deitar em sua cama,
um olhar cansado em seu rosto.
Com a prática, a mudança para a forma de lobo não era muito
cansativa. Mas mudar motivado à raiva drenava a energia mais rápido do
que o normal.
Com cuidado, sentei-me na beira da cama, ao lado de seus pés.
— Precisamos estabelecer uma trégua — eu disse. — Eu nunca fui
assim. Eu não quero ser. Você me deixa em um frenesi.
— Você tem um efeito semelhante em mim — Sebastian disse com
um sorriso fraco. Ele riu e pegou minha mão, beijando-a suavemente.
Lembrei-me da porta do quarto explodindo e balancei a cabeça em
concordância. Nunca ninguém veio me procurar com um esforço tão
agressivo — como se me perder para outra pessoa fosse feri-lo tão
profundamente.
Isso fez meu coração palpitar, saber que ele se importava tanto.
Aproximei-me, permitindo que meu corpo descansasse ao lado do
dele. O calor que compartilhamos era inegável.
— Primeiro você me diz que tenho até o final da Cúpula para lhe dar
uma decisão. Então eu ouvi que você proibiu meu ex de ficar aqui com o
resto do nosso bando. — Minha voz foi sumindo enquanto minha raiva
desaparecia como um sonho ruim.
Sebastian grunhiu e se virou, deitado de costas. Eu segui o exemplo e
olhei para o teto branco e calmo.
Ele ainda estava nu, e eu estava tentando muito ignorar esse fato e me
concentrar na conversa.
— As coisas estão acontecendo tão rapidamente... — Sebastian
admitiu. — Na semana passada eu tinha certeza de que nunca
encontraria minha companheira...
Ele se virou de lado, seus penetrantes olhos azuis encontrando os
meus. Borboletas vibraram em meu estômago.
— Eu me sentia da mesma forma — eu disse.
— Nunca fui bom em compartilhar.
— Eu não sou sua para compartilhar ainda — eu o lembrei
suavemente.
— Mas ainda posso te perder — disse ele.
— Você não me perdeu. — Eu sorri.
Ele sorriu de volta.
— Você está falando sério?
— Claro que sim. Esperei tanto para encontrar meu companheiro. Se
pudermos encontrar uma maneira... eu quero fazer isso funcionar.
Sua mão grande acariciou suavemente minha bochecha,
inadvertidamente me puxando para mais perto.
— Sério?
— Sério — eu disse. — Mas, por favor, tenha a cortesia de ser honesto
comigo. Chega de segredos.
— Chega de segredos.
Os olhos de Sebastian dispararam para meus lábios e ele se
aproximou.
Minha respiração ficou presa na minha garganta.
No momento em que nossos lábios se tocaram, eu me senti leve, meu
espírito flutuando para cima e para fora do meu corpo.
Para um homem tão grande, o beijo de Sebastian foi
surpreendentemente terno. Mas depois do constante fogo e fúria entre
nós, ternura não era o que eu procurava.
Eu retribuí o beijo, forçando-o a ficar de costas. Fiquei surpresa
quando ele me permitiu assumir o controle.
Minha língua encontrou a dele, carregando meu corpo com uma nova
vida.
Ele me puxou completamente para cima dele, sua força absoluta me
pegando de surpresa.
Gostei da ousadia e beijei-o com força novamente. Meus quadris
montaram nos dele.
Com minhas mãos apoiadas em cada lado de sua cabeça, pressionei
minha virilha firmemente na dele, sentindo seu pau crescer a um
tamanho chocante.
Mesmo com meu short, eu podia sentir a circunferência de seu eixo
preencher o espaço entre minhas pernas; eu estremeci de alegria.
Suas mãos deslizaram ao redor de cada bochecha da minha bunda,
dedos curiosos me massageando por trás, me fazendo pular para frente.
Ele gemeu de prazer.
Eu tirei meu short antes de me reposicionar sobre seus quadris, dando
a ele um acesso mais fácil.
Os dedos de Sebastian pressionaram o algodão leve da minha
calcinha, massageando o feixe de nervos no ápice das minhas coxas.
Um suspiro escapou da minha boca quando seus dedos deslizaram sob
o algodão, massageando meu centro úmido, enviando espasmos de
êxtase a minhas veias.
Foram apenas alguns segundos de paixão, mas eu podia sentir que
estava chegando perto do orgasmo.
E era para ser só um beijo.
O toque de Sebastian era tão diferente do de Caspian.
O toque de Caspian era um calor baixo e constante — um que se
acumulava lenta e confortavelmente — que me deixava sem fôlego e
tonta.
O toque de Sebastian era um inferno escaldante, cada pequeno
movimento era um choque em meu sistema. Era emocionante e
assustador ao mesmo tempo.
Eu não queria impedir o que estava por vir.
Mas eu sabia que precisava.
Tínhamos acabado de nos conhecer. E embora meu corpo desejasse
Sebastian, meu coração não estava pronto.
Ainda precisávamos aprender muito um sobre o outro.
— Devemos ir mais devagar — eu ofeguei, inclinando minha testa
contra a dele.
— É insuportável — ele gemeu. — Só consigo pensar em fazer você...
— Shh — eu disse, de repente envergonhada.
Meu dedo cobriu seus lábios, forçando suas palavras a desaparecer nas
sombras de seu quarto.
— Eu quero isso também... mais do que qualquer coisa... mas não
agora. É muito rápido — eu admiti.
— Então me diga, o que posso fazer? Como posso te fazer feliz?
A intensidade de sua pergunta me jogou para trás.
— Hum — eu disse timidamente, empoleirada em cima de suas coxas
—, há algo na verdade. Não tenho certeza se você vai gostar.
— Diga — Sebastian insistiu, apoiando-se nos cotovelos.
— Deixe Caspian ficar aqui com os outros. Você estaria ajudando
alguém que é muito importante para mim. Pense nisso como uma
proposta de paz.
— Muito bem — ele admitiu, erguendo o queixo. — Mas também
tenho um pedido.
Meu estômago embrulhou e eu mordi meu lábio, balançando a cabeça
uma vez.
Se ele me fizesse prometer ficar longe de Caspian, eu não sabia o que
faria.
— Fique comigo. Aqui. No meu quarto.
Eu não pude evitar o sorriso que se espalhou pelo meu rosto.
— Não vejo que outra opção tenho desde que alguém transformou a
porta do meu quarto em palha.
Sebastian rosnou de brincadeira, e antes que eu pudesse piscar, ele me
prendeu no colchão.
— Está resolvido então. Você vai ficar comigo esta noite e depois irá ao
encontro do meu conselho pela manhã.
Eu congelei embaixo dele.
Conhecer seu conselho?
Eu só podia esperar que não houvesse mais ex-namoradas entre eles...

— Eles devem ser aniquilados! Eliminados da face da terra! — Uma


voz profunda gritou com raiva.
Sebastian me levou a uma sala onde vários de seus conselheiros reais
estavam esperando. Meu primeiro instinto foi recuar, me esconder dos
novos rostos. Mas Sebastian segurou minha mão, encorajando-me
quando entramos na discussão.
Fui imediatamente bombardeada pelos olhares de cada pessoa na sala,
me julgando silenciosamente antes mesmo de eu ter a chance de falar.
— Estes são meus conselheiros de confiança — Sebastian disse,
acenando com a mão.
Um par de gêmeos com ombros largos, cabelos dourados e músculos
protuberantes veio em minha direção.
A mulher era impressionante e tinha uma longa trança que ia até as
costas.
Seu irmão usava o cabelo curto e tinha uma barba por fazer que lhe
caía bem.
— Eu sou Tonya — disse a mulher rispidamente, estendendo a mão.
Aceitei e quase fui dominada pela dor quando ela apertou minha mão.
— E eu sou Titus — disse o homem, substituindo um caloroso aperto
de mão por um tapinha ainda mais forte nas costas.
Minha cabeça balançava a cada golpe, liberando qualquer teia de
incerteza sobre como eu seria aceita pelos outros.
— Eles são os gamas da Alcateia Real — Sebastian disse, sorrindo.
— Temos que treinar os jovens para lutar — gabou-se Tonya.
— E estamos animados para ver o que você consegue fazer — Titus
acrescentou com um aceno de cabeça.
Olhei para atrás dos gêmeos e vi Caius observando silenciosamente a
interação, estoico e silencioso. Era como se ele não tivesse nenhum
desejo de participar da reunião e só estivesse lá por obrigação.
Eu podia sentir o corpo de Sebastian ficar tenso e vi um movimento
com o canto do olho.
Magnolia havia se juntado à reunião. Ela evitou olhar para Sebastian e
eu, mas sua presença me fez cerrar os dentes.
Eu deveria ter esperado que ela estivesse lá. Ela tinha sido a Luna não
oficial da Alcateia Real até dois dias atrás. Mas eu não poderia dizer que
estava feliz com isso.
Já era difícil saudar a todos com minha timidez paralisante; tê-la ali
era quase insuportável.
Eu queria ordenar que Magnolia deixasse a sala — não, toda a Casa da
Alcateia Real! — e fosse morar em alguma ilha deserta a um milhão de
milhas de distância de mim e do meu companheiro.
Afastei o impulso e, em vez disso, envolvi meu braço em torno de
Sebastian, puxando-o para mais perto.
Fizemos uma trégua. Eu poderia me comportar.
Uma batida forte chamou minha atenção para a cabeceira da mesa,
onde estava um homem mais velho com cabelo grisalho. Ele bateu na
mesa com o punho e caminhou em minha direção.
— É um prazer conhecê-la, tenho certeza. Mas temos assuntos mais
importantes para discutir — ele disse rispidamente, me lançando um
olhar duro.
— Não ligue para ele. Ele está sempre estressadinho. — Sebastian se
inclinou para sussurrar em meu ouvido, sua respiração enviando arrepios
por toda a extensão de meu corpo. — Esse é meu tio, Tibério. Ele é um
pouco chato, mas não sei o que faria sem ele — disse ele, com um toque
de emoção na voz.
Eu queria pressioná-lo mais sobre o assunto, mas a atenção de todos
havia se voltado para Tibério.
— Devemos contra-atacar — o velho lobo exigiu. — Do contrário,
pareceremos fracos e vulneráveis. Desta vez, tivemos a sorte de não
perder ninguém.
Sebastian olhou ao redor da mesa, confuso.
— Houve outro ataque?
Os olhos de Tibério desviaram o olhar, com vergonha de responder.
Ele simplesmente acenou com a cabeça.
— Ainda não levaram nada? Ninguém está ferido? — Sebastian
perguntou. — O que isso significa?
— Significa que tivemos sorte. Mas eu não acho que isso acontecerá
novamente.
Eu podia sentir a tensão crescendo na sala.
— É o Silas? — Sebastian perguntou, os olhos arregalados.
— Não temos nenhuma razão para acreditar no contrário — Tiberius
respondeu.
Sebastian encontrou meu olhar curioso e, pela primeira vez, pude ver
o medo por trás daqueles olhos azuis brilhantes.
— Quem é Silas? — Eu perguntei.
A sala ficou em silêncio. Sebastian olhou para os outros antes de
encontrar sua resposta.
— Silas é um lobo rebelde que tem mordido humanos e os
transformado em lobisomens contra sua vontade — Sebastian disse
friamente.
Eu mal conseguia entender a situação. Um lobo rebelde estava criando
mestiços e os usando para atacar A Cúpula? Por quê?
Imediatamente pensei em minha alcateia, aliviada por eles terem sido
trazidos para a mansão. Sem dúvida, a segurança extra os manteria
seguros.
— Quais são os próximos passos? — Sebastian perguntou.
— Temos uma voz extra aqui. Por que não perguntamos a ela? —
Tonya disse com um sorriso.
— O que você acha, Lyla? — Perguntou Tibério. — Por favor, nos
entretenha...
Pega de surpresa com a franqueza de sua pergunta, eu me atrapalhei
com as respostas em minha cabeça.
— Precisamos encerrar a Cúpula — disse Magnolia com fria certeza
antes que eu tivesse a chance de falar. — Não podemos arriscar que mais
lobos se machuquem ou morram. Seria para sempre uma mancha no
nome da Alcateia Real.
Um murmúrio de apoio cresceu em torno da mesa. Eu assisti Tiberius
acenar com a cabeça com entusiasmo.
Parecendo satisfeita consigo mesma, seus olhos brilhantes pousaram
em mim.
A tensão era palpável e os outros ficaram desconfortáveis.
Então, antes que eu pudesse me conter, estava rejeitando seu
argumento.
— Eu tenho que discordar. Eu conheci lobos que esperaram suas vidas
inteiras por este evento. Encerrar agora, interromper sua celebração, isso
vai esmagar o espírito das alcateias...
Fiz uma pausa, olhando ao redor da sala para os outros. Foi uma
mistura de respostas: alguns pareciam felizes por eu estar falando,
enquanto outros pareciam irritados por eu sequer considerar dar minha
opinião sobre um tópico tão importante.
— Você realmente acredita que vale a pena nos arriscarmos apenas
para dançar, beber e jogar? — Tiberius questionou. Seu olhar era intenso
e eu estava mais do que um pouco intimidada. — A Cúpula é importante,
mas eles sobreviverão se for interrompida.
— A cerimônia da segunda chance ainda está para acontecer —
acrescentei, tentando evitar que minha voz tremesse. — Ter a
oportunidade de encontrar seu companheiro de segunda chance é tão
importante quanto a cerimônia principal.
— E se um daqueles mestiços nojentos que o rebelde está criando
romper nossa hierarquia? Devemos convidá-lo para jantar? — Tibério
respondeu com uma risada.
Eu não tinha certeza de como minhas respostas seriam aceitas, mas
como Luna era meu trabalho ter uma opinião e tentar ajudar a alcateia
de todas as maneiras que pudesse.
Como Luna real, era meu trabalho ajudar todos de nossa espécie.
— Por que não? — Eu disse. — A maioria dos lobos mestiços foram
transformados contra sua vontade. Não podemos julgá-los por obedecer
a um mestre que impõe sua vontade aos outros! Eles não sabem de nada.
Com a nossa ajuda...
— As festividades continuam — Sebastian interrompeu, um tom de
finalidade em sua voz. — Mas se você avistar um mestiço, deverá matá-lo
assim que o vir.
Com essas palavras, ele saiu da sala sem sequer olhar em minha
direção.
Eu fiquei em estado de choque, incapaz de me mover.
O que diabos aconteceu?
Tibério encerrou rapidamente a reunião e os outros começaram a sair.
Comecei a caminhar atrás de Sebastian, mas senti uma mão pesada em
meu ombro.
Eu me virei para ver Tiberius olhando para mim.
— Seria sensato se educar antes de falar — disse ele com tristeza. — A
mãe e o pai de Sebastian... meu próprio irmão... foram assassinados por
aquelas merdas mestiças que você estava defendendo.
Eu me virei para a porta de onde Sebastian tinha saído, sem saber se
deveria segui-lo.
Ugh! Eu nunca teria dito nada se soubesse! E logo quando eu estava
finalmente fazendo progresso com o bando — com Sebastian — eu
estraguei tudo...
9
UMA VERDADE E MEIA Lyla
Como Teresa diria com tanto amor: — Você estragou tudo de novo.
A sala comum da ala sudoeste estava cheia de membros da Alcateia
Lua Azul. Cumprimentei rapidamente os presentes e procurei qualquer
sinal da minha melhor amiga.
Ela saberá como consertar isso.
Se for possível consertar...
Como não encontrei nenhum vestígio dela lá, fui em busca de seu
quarto e bati três vezes na porta quando cheguei. Eu podia ouvir ruídos
através da parede e reconheci sua voz.
Eu empurrei a porta e...
— Foda-me! — Teresa gemeu.
Tentei tirar meus olhos de suas costas nuas, mas era como tentar
desviar o olhar de um acidente de carro.
Ela se sentou em cima de alguém que eu presumi ser seu
companheiro, quicando para cima e para baixo.
A sala estava cheia de seus cheiros, e eu quase podia sentir o gosto do
suor em sua pele.
Seu companheiro, escondido por seu corpo nu, estava gemendo de
prazer enquanto ela fodia com vigor.
Eu senti a cor sumir do meu rosto.
— E-eu não queria… — gaguejei.
— Você poderia fechar a porta? — Ela perguntou, olhando para mim
por cima do ombro enquanto ela continuava a cavalgar em cima de seu
companheiro como se estivesse em um rodeio.
Ela não precisou perguntar duas vezes. Eu me virei e bati a porta.
Sentindo algo entre nojo e admiração, eu estremeci.
Então, aceitando a derrota, lentamente deslizei pela parede até que
estava sentada no chão, minha cabeça entre os joelhos.
Acho que vou esperar até que ela termine.
Sempre esperei que fosse fácil. Eu encontraria meu companheiro, nos
apaixonaríamos instantaneamente e então viveríamos o resto de nossas
vidas em felicidade conjugal.
Em vez disso, eu senti como se tivesse trabalhado em meu
relacionamento com Sebastian por anos ao invés de apenas alguns dias.
Sebastian e eu simplesmente não parecíamos nos encaixar.
Por que a Deusa nos colocou juntos? Suponho que essa seja uma
pergunta para a qual eu nunca teria uma resposta.
Eu apenas teria que confiar que ela estava certa. Só tenho que tentar
fazer funcionar.
Afinal, ele era meu destino.
— Achei que iria encontrar você com o rabo entre as pernas — disse
uma voz acima de mim.
Eu estava tão envolvida em meus pensamentos que não tinha ouvido
ou cheirado ela vindo em minha direção.
Soltei um suspiro e virei minha cabeça para olhar para Magnolia.
— Posso ajudar?
— Não — ela mostrou seu sorriso perfeito. — Mas eu posso te ajudar.
Para meu completo choque, ela se ajoelhou no chão do corredor ao
meu lado, dobrando as pernas sob ela e alisando a saia.
Seu nariz enrugou delicadamente quando ela percebeu o THUMP!
THUMP! THUMP! Vindo da sala atrás de nós.
— Isso é...
— Sim.
— Encantador.
— O que você está fazendo aqui, Magnolia?
Ela suspirou.
— Sebastian e eu nos falamos...
Eu a cortei com um grunhido e ela revirou os olhos.
— Calma, garota.
Mordi minha bochecha, tentando suprimir o desejo de envolver
minhas mãos em seu pescoço.
— Seb e eu falamos — ela começou novamente. — E me fez perceber
que não tenho tratado você bem.
Eu levantei uma sobrancelha para ela, não acreditando.
— Eu sei o que você está passando. A coisa do companheiro. A coisa
da Luna. Eu fiz tudo. Eu posso ajudar.
A palavra — companheiro — despertou meu interesse:
— Explique.
Ela suspirou e colocou os braços em volta do torso.
— Eu só tive dois amigos: Alex e Sebastian. Alex eventualmente se
tornou meu companheiro, e éramos muito felizes juntos.
Ela disse — eram — eu percebi, meu estômago afundando.
— Estávamos prestes a tentar ter um filhote quando o primeiro
ataque de Silas aconteceu dois anos atrás. Perdi Alex e uma parte de mim
naquele dia.
— Sinto muito — eu sussurrei.
A dor que ela suportou teria sido devastadora. Perder um
companheiro era perder metade de si mesmo.
E eu não fui nada além de mesquinha com ela...
Eu não podia deixar o passado triste de Magnolia me distrair de
chegar ao fundo disso, no entanto.
Já era hora de entender com o que, exatamente, estava lidando. O
quadro completo — chega de meias-verdades. Sem mais mentiras.
— Quando as coisas mudaram entre você e Sebastian?
Magnolia inclinou a cabeça, seu olhar azul brilhante segurando o
meu.
— Éramos nada mais do que amigos até o início deste ano.
Eu inalei bruscamente. Foi tão recente. Alguns meses de diferença e
tanta dor, tanta confusão poderiam ter sido evitados.
— Vá em frente — eu encorajei.
— Ele precisava de uma Luna, e eu precisava de algo para me ajudar a
continuar. Eu estava me afogando em minha solidão e dor. Nós dois
estávamos.
Os olhos de Magnolia pareciam vidrados. Não com lágrimas, mas com
memórias.
— Quanto mais tempo passávamos perto um do outro, mais as
pessoas começavam a achar que éramos mais do que amigos. Nem ele
nem eu dissemos nada para dissuadi-los.
As maçãs do rosto dela ficaram rosadas, alertando-me para o fato de
que ela estava prestes a me dizer algo que eu realmente não gostaria.
— Uma noite, estávamos trabalhando até tarde em seu escritório e eu
o beijei, pegando-o completamente de surpresa.
Eu engoli em seco, meu peito começando a doer. Magnolia se virou
para mim e me ofereceu um pequeno sorriso. Quase um pedido de
desculpas pela dor que ela sabia que estava me causando.
— Eu queria tanto sentir algo que ignorei o que aquele beijo
imediatamente me disse e o beijei novamente. E de novo. Até que eu
comecei a chorar. Não havia nada entre nós. Absolutamente nada.
— Sebastian me puxou para seus braços e disse que tudo ficaria bem.
Poucos dias depois, ele me pediu em casamento e para eu me tornar sua
Luna. Dois meses depois, aqui está você.
Um silêncio caiu sobre nós quando ela terminou sua história. Ela
esperou, me deixando processar minhas emoções. Me dando tempo para
as sentir.
— Por que ele simplesmente não me disse isso? — Eu perguntei,
ficando com raiva.
— Ele é um bom homem, seu companheiro. Ele sentiu que era minha
história para contar.
Eu exalei, e a tempestade de dor, frustração e desejo se reorganizou
dentro de mim novamente.
Sebastian não a amava. Nunca amou.
Não admira que ele tivesse tanto medo de Caspian.
Sebastian

Por que diabos eu achei que seria uma boa ideia enviar Magnolia para
falar com ela?
Eu bati meu punho na minha mesa, espalhando papéis e canetas pelo
chão.
Tinha sido uma ideia terrível pra caralho trazer Lyla para a reunião
naquela manhã. Mas quando ela piscou seus olhos de corça para mim na
noite anterior, eu queria dar a ela a lua.
Uma reunião comum parecia uma fronteira mais acessível.
— Uma proposta de paz — ela disse. Algo que a integrasse mais na
minha vida. Em seu papel. Algo que mostrasse a ela que eu estava
tentando. Que eu a queria. Que eu confiava nela.
Em vez disso, só me fez parecer ainda mais um idiota.
Sim, vamos massacrar todos os mestiços; que romântico.
Quando Magnolia veio até mim sugerindo que uma conversa entre
garotas tornaria as coisas melhores, eu hesitei.
Lyla parecia mais propensa a arrancar a cabeça de Magnolia do que ter
uma conversa de boa vontade com ela.
Mas Magnolia tinha insistido.
E eu me peguei concordando. Pelo menos era uma chance a menos
para eu estragar outra conversa com Lyla.
Abaixei minha cabeça até minha mesa, descansando minha testa
contra ela em derrota.
Eu já tinha estragado tantas coisas em uma tentativa vã de manter
Lyla protegida. Para mantê-la em minha vida. Em vez disso, eu apenas a
afastei.
De repente, detectei levemente seu cheiro e pulei da minha mesa.
Ela estava vindo. Lyla estava chegando.
Rapidamente, juntei as coisas que tinha derrubado da mesa, jogando-
as na gaveta de cima antes de sentar novamente.
Por um longo momento, ela ficou do lado de fora da minha porta sem
bater.
Timidamente, entrei em contato com nosso vínculo.
Preocupação.
Frustração.
Determinação.
Ela bateu na porta.
— Sim? — Eu disse e imediatamente me arrependi.
Quão difícil é falar 'Entre'?
Lyla entrou, seus olhos vagando pelos mapas e livros encadernados
em couro que cobriam as paredes; a coleção de charutos do meu pai
empilhada em uma prateleira no canto.
Ela parou na frente da minha mesa, enrolando uma mecha de seu
cabelo ruivo no dedo.
Era algo que ela fazia, eu percebi, quando estava nervosa.
— Eu queria me desculpar — ela disse — pelo que eu disse esta
manhã... sobre os mestiços. Eu não fazia ideia...
Suas palavras foram como um soco no estômago. Eu deixei minhas
emoções levarem o melhor de mim. Tratei-a desrespeitosamente e foi ela
quem se desculpou.
— Venha aqui — eu disse, estendendo meus braços. Seus olhos se
arregalaram um pouco de surpresa, mas ela contornou a mesa e pulou
para se sentar em sua superfície.
— Fale comigo — disse ela. — Diga-me o que você está pensando.
Eu podia ouvir a mágoa em suas palavras. A preocupação.
Eu a fiz sentir que ela não era o suficiente.
— Eu só fico pensando em como sou sortudo por ter encontrado você
— eu admiti, e fui recompensado com um pequeno rubor aquecendo seu
rosto.
Incentivado, continuei:
— Não consigo deixar de pensar em como meus pais ficariam
orgulhosos. Especialmente sabendo que acabei com alguém tão incrível
quanto você.
— Você vai me dizer o que aconteceu com eles? — Ela perguntou
suavemente.
A dor familiar disparou dentro de mim.
A culpa.
A traição.
Foi esmagador.
Mas eu engoli.
Ela merecia saber.
— O ritual de acasalamento nem sempre é tão gratificante. Meu
melhor amigo, Silas, descobriu isso da maneira mais difícil — comecei.
Era mais fácil me concentrar nele do que em meus pais — ou em mim.
Lyla se inclinou, ansiosa para entender.
— Depois da primeira Cúpula, ele ainda estava esperançoso. Mas
assim que passamos por nossa segunda, ele tinha se decidido.
Eu respirei fundo, lutando contra fantasmas de memórias.
— Ele pensava que a única maneira de encontrar sua companheira era
se rebelando... transformando mulheres humanas em lobisomens
mestiços contra sua vontade, na esperança de que ele pudesse encontrar
alguém que atendesse seu chamado.
Eu podia me lembrar nitidamente dele naquela noite em meu quarto
enquanto ele me contava seu plano. O zelo em seus olhos. O desafio.
— E funcionou? — Lyla perguntou.
Eu concordei.
— Demorou várias tentativas, mas sim, finalmente funcionou.
Estendi a mão e coloquei minha mão em sua coxa. Não houve
demanda no toque. Sem expectativa. Eu simplesmente queria extrair
alguma força da firmeza da minha companheira.
Para sentir que ela estava lá. Isso ela entendeu.
Lyla não decepcionou. Ela enfiou seus dedos finos e ágeis nos meus
grossos e calejados.
— Meus pais souberam de suas ações e ficaram indignados — eu
continuei. — É contra nossas leis mudar os humanos, seja contra sua
vontade ou não. E quando meus pais encontraram Silas e seus mestiços...
Minha voz sumiu.
— Então o quê? — Ela pediu.
Essa foi a parte difícil. A meia verdade.
A parte que eu não estava pronto para ela saber.
A parte que ninguém realmente sabia.
— A companheira de Silas ainda era selvagem. Instável. Transformar
humanos raramente vai bem... e ela matou meus pais. — Eu respirei
fundo, a dor do passado deslizando em meu coração como uma adaga.
— A companheira de Silas também foi morta. As pessoas que mais
significavam para nós... se foram. — Eu engoli, esperando que fosse o
suficiente. Esperando que ela não precisasse de mais detalhes.
Porque se ela os tivesse, ela não teria escolha a não ser acreditar que
eu era um monstro.
O alívio me inundou quando Lyla jogou os braços sobre meus ombros,
me segurando contra ela.
Fiquei congelado por um momento, mas depois me levantei,
envolvendo meus próprios braços em torno de seu corpo minúsculo.
Refugiando-se no cheiro de seu cabelo e no som de seus batimentos
cardíacos.
— Eu nunca deveria ter dito nada sobre mestiços — ela murmurou em
meu peito. — Foi estúpido e ingênuo. Eu sinto muito.
Eu me afastei, enganchando meu dedo sob seu queixo, direcionando
seu olhar para o meu.
— Não é sua culpa. Seu coração é puro e você se importa muito.
Inclinei-me, capturando seus lábios em um beijo, sabendo muito bem
que menti.
Que eu estava escondendo dela um segredo.
Um segredo final que pode destruir tudo.
Se Lyla descobrir a verdade, ela sairá da minha vida para sempre.
10
CONHEÇA OS GREENS
Lyla

Acordei no meu próprio quarto na Casa da Alcateia Real, felizmente


com uma porta nova.
Tentei me imaginar aqui a longo prazo, mas ainda parecia um hotel
para mim.
Esta é a sua casa, eu me lembrei. Ou, pelo menos, pode ser...
A perspectiva era emocionante e assustadora.
Enquanto eu cambaleava para fora da cama em direção ao banheiro,
fui interrompida pela vista fora da minha janela.
A luz do sol banhava o gramado, o deixando com um brilho cintilante.
Os galhos finos de um salgueiro-chorão varriam a grama no ritmo da
brisa.
Foi o suficiente para fazer até mesmo minha mente frenética se sentir
em paz.
Abri a água quente no chuveiro, tirei meu pijama surrado e fiquei
embaixo da cachoeira.
Enquanto eu lavava meu corpo, meus pensamentos se voltaram para o
dia anterior. Meu estômago se revirou de vergonha e arrependimento.
A vergonha da reunião do conselho persistiu, mesmo depois de
Sebastian e eu termos feito as pazes. Eu sabia que ele não me culpava,
mas o assunto ainda era uma ferida aberta para ele.
Sua dor era intensa, impenetrável.
Mas ele ainda estava tentando me deixar entrar.
Seu desejo era inebriante. E ele me disse que era tudo para mim.
Desliguei a água. Enquanto eu secava meu corpo e colocava meu jeans
skinny e camiseta, pensei em minha antiga vida.
Tudo era tão simples. Tive uma sorte inacreditável sem saber.
Não conseguia me lembrar da última vez que me senti envergonhada
como no dia anterior. Meu relacionamento com Caspian tinha sido
estável. Eu nunca tive que me preocupar em saber meu papel.
Agora minha vida era tão imprevisível e intensa.
Eu sabia que estava onde a Deusa da Lua queria que eu estivesse, mas
me perguntei se minha nova vida — e novo homem — poderia ser tão
confortável quanto a anterior.
Eu percebi que estava sentindo falta de Caspian; sentindo falta de
nossa vida simples juntos...
Pare de ruminar e vá para fora ou você enlouquecerá!
Coloquei meu telefone no bolso de trás e desci correndo as escadas até
a entrada da frente. Adentrando o quente dia de primavera, corri em
direção ao estacionamento onde mais membros da minha alcateia logo
estariam chegando.
Não passou despercebido por mim que, uma semana atrás, uma
pequena parte de mim estava animada com a ideia de encontrar meu
verdadeiro companheiro — mesmo que não fosse Caspian.
Eu ingenuamente presumi que se isso acontecesse, tudo se encaixaria.
Eu pensei que a Deusa da Lua agia no interesse de nós mortais.
Agora eu não tinha tanta certeza.
Estar acasalada com o alfa real era mais do que eu esperava.
Meus passos se aceleraram quando dobrei a esquina. Carros pararam e
estacionaram em um campo, deixando convidados, presentes e malas.
Parecia um acampamento de verão.
Procurei pela minivan verde da minha família e localizei minha irmã
primeiro. Seu cabelo loiro brilhava ao sol quando ela passou para minha
mãe um enorme buquê de rosas cor de rosa.
Oh, Deusa. Aqui vamos nós.
Corri em direção a eles. Minha mãe me viu primeiro. Ela sorriu para
mim, e então sua expressão mudou para apreensiva.
Meu coração apertou. Claro. Para um pai, a única coisa mais
aterrorizante do que seu filho se mudando com um novo companheiro
era a possibilidade de eles não encontrarem nenhum.
Peguei Skye de surpresa, envolvendo seu pequeno corpo em um
abraço de urso. Ela tinha apenas nove anos e era magra como uma vara.
Ela gritou e se virou para me abraçar de volta. Eu respirei o cheiro
familiar do shampoo que compartilhamos e de repente fui tomada pela
emoção.
Eu só estava pensando em como meu novo companheiro afetaria
minha vida. Eu não tinha considerado como Skye sentiria minha falta
quando eu me mudasse.
Eu olhei para meus pais. Os olhos da mamãe estavam marejados de
lágrimas e papai esfregava as costas dela enquanto me olhava de forma
significativa.
— É tão bom ver você de novo, Ly, — disse ele, revelando que os
últimos dias foram longos para eles também.
Skye olhou para cima e minha família inteira estava olhando para
mim com expectativa. Minha garganta fechou.
Eles estavam esperando para ouvir sobre os poucos dias mais
importantes da minha vida. E eu não conseguia falar.
Meus pais sempre oraram para que eu fosse acasalada com alguém da
Alcateia Lua Azul. Tendo sido os primeiros amores um do outro antes de
se tornarem companheiros, eles queriam o mesmo para Caspian e eu.
— Como está, querida? — Mamãe perguntou, tentando soar casual. O
buquê parecia pesado em seus braços.
— Você tem um companheiro? — Skye foi direto ao assunto, sorrindo
inocentemente.
Eu balancei a cabeça, e meus pais relaxaram visivelmente.
— Lily! Colin! Que bom ver vocês. — Eu reconheceria aquela voz em
qualquer lugar: Caspian.
Eu me virei para vê-lo caminhando em nossa direção como se ele não
se importasse com o mundo — seu comportamento mal-humorado dos
últimos dias se foi completamente.
Caspian sempre se deu muito bem com meus pais. Ele realmente
gostava de passar tempo com eles, mas eu não acho que isso ainda se
aplica...
— Oh! — A exclamação de minha mãe me tirou de meus
pensamentos, e me virei para ver que ela havia deixado cair o buquê de
pura emoção.
Oh não...
— Eu sempre soube que vocês dois estavam destinados a ficar juntos!
— Lágrimas escorriam de seus olhos.
Meu queixo caiu de horror.
— Venha aqui, filho! — meu pai gritou, passando por mim para
encontrar Caspian.
— Mãe, eu... é... hum — eu me atrapalhei.
Skye estava pulando para cima e para baixo alegremente, e minha mãe
me sufocou em um abraço caloroso.
Oh, Deusa. O que eu fiz?
Caspian

Colin me abraçou com entusiasmo incomum, me dando um tapinha


nas costas.
— Bem-vindo à família, Caspian. Agora posso dizer isso oficialmente!
— Ele se afastou e seus olhos brilharam de emoção por trás dos óculos.
Eu pisquei.
Esperei anos para ouvir essas palavras, mas agora não as merecia.
Em meu estado de confusão, me virei para olhar para Lyla. Seus
braços estavam frouxos com o peso de um enorme buquê de rosas, e seu
rosto era a imagem do remorso.
Era o suficiente para partir o coração de qualquer cara.
Não que o meu precisasse de ajuda nesse departamento.
Quando Lyla me disse que tomaria sua decisão no final da Cúpula,
fiquei cheio de esperança. Aquilo deu um impulso ao meu passo e aliviou
meu coração dolorido.
Mas essa piada cruel? Isso me fez sentir pior do que antes. E eu não
conseguia descobrir por que Lyla estava jogando comigo.
— Espere, Colin — eu comecei. — Eu acho que você entendeu
errado...
— Caspian! — Lyla interrompeu, dando-me um olhar que só poderia
significar — Não diga uma palavra.
O que está acontecendo com ela?
Eu queria ficar com raiva de Lyla, mas eu só conseguia sentir
compaixão por qualquer dor e confusão que ela estava sentindo.
— Oh, Caspian! Colin e eu conversamos sobre como seria
conveniente colocar mais uma ala na casa! — Lily me abraçou.
Eu arregalei meus olhos para Lyla e ela empalideceu.
— Não vamos nos precipitar aqui — eu fiz uma careta.
Eu me desvencilhei da mãe de Lyla e me aproximei de Lyla, pegando o
buquê como desculpa para ficar ao lado dela.
Seus pais estavam conversando animadamente, então tivemos um
momento para nós mesmos.
— O que é tudo isso, Ly? — Sussurrei, sem me preocupar em esconder
a dor em minha voz.
— Sinto muito, Caspian. — Doeu apenas olhar em seus olhos. — Eles
apenas presumiram, e...
— Me empolguei, — eu inferi.
Lyla suspirou como se o peso do mundo estivesse em seus ombros.
Talvez ela achasse que sim, mas eu era o único com o coração partido.
— Você tem que dizer a eles a verdade... o mais rápido possível — eu
disse, olhos baixos. — Como se Sebastian precisasse de mais motivos
para me odiar.
— Claro — ela respondeu. — Isso é tão fodido. Eu realmente sinto
muito. Eu resolvo isso.
Ela mordeu o lábio com determinação. Quando ela estendeu a mão
para pegar o buquê de mim, seus dedos roçaram meu braço.
Calor e conforto imediatos.
O toque a afetou do jeito que me afetou? Eu nunca saberia. E mesmo
que isso tornasse tudo mais fácil, eu não poderia ficar com raiva dela.
— Não perca as esperanças, ok? Ainda quero ajudá-lo a encontrar o
lobo que você ouviu. Ainda há a cerimônia do companheiro da segunda
chance — Lyla continuou.
Eu zombei internamente. A única pessoa que eu queria era ela.
— Como se isso não fosse ainda mais raro do que encontrar um
verdadeiro companheiro. — Eu odiava o desprezo patético em minha
voz. — Tudo por uma conexão mais fraca.
Eu balancei minha cabeça, odiando o quão distante eu me sentia dela.
Eu precisava sair dali.
— Caspian. — Sua voz dizendo meu nome me atingiu como um
choque elétrico. — Tenho até o final da Cúpula para tomar minha
decisão.
Ela me deu um pequeno sorriso, me lembrando que eu não a tinha
perdido completamente.
Minha mente estava girando, mas eu a ouvi alto e claro.
Então eu estava sorrindo. Mas eu ainda tinha que me afastar dos pais
de Lyla até que ela lhes contasse a verdade... sobre quem era seu
verdadeiro companheiro.
Eu saí e corri de volta para a casa da alcateia, a esperança florescendo
em meu peito.
Lyla

Eu estava prestes a contar a verdade à minha família, realmente


estava.
Mas então Beta Caius apareceu.
— Bem-vindos ao território da Alcateia Real, sr. e sra. Green — ele
disse, amigável como sempre. — Permita-me mostrar-lhe a casa da
alcateia.
Minha mãe riu de alegria e agarrou meu braço quando Caius começou
a ajudar com a quantidade absurda de bagagem da minha família.
— Como conseguimos este tratamento VIP? — ela sussurrou.
— Há algo que preciso lhe contar — respondi.
Então eu olhei para cima e parei no meio do caminho. Sebastian
estava me observando, seus braços cruzados.
Ele estava na beira do gramado amplo e bem cuidado, acenando
quando chamou minha atenção.
— O alfa real está acenando para você — minha mãe gritou.
— Deve ser meu dia de sorte — respondi com os dentes cerrados.
— Sr. e sra. Green! — Sebastian chamou, sua voz exalando charme.
Ele deu um passo à frente e pegou a mão do meu pai, um sorriso
significativo em seu rosto perfeito. Então ele pegou a mão da minha
mãe... e beijou-a.
— Que esta seja a primeira de muitas visitas à Casa da Alcateia Real —
Sebastian disse alegremente.
Meus pais ficaram claramente lisonjeados, embora confusos.
— Olá, sr. Alfa — Skye sussurrou, olhando para ele com olhos
arregalados.
— Olá. Você deve ser a Skye. — Sebastian deu a ela um sorriso
vencedor e Skye visivelmente derreteu.
Meu coração estava disparado.
ESTA é minha oportunidade!
— Mãe, este é...
— Nós sabemos, querida — mamãe interrompeu. — Alfa Sebastian,
que prazer em conhecê-lo. Obrigada pela recepção calorosa.
A expressão de meu pai me disse que ele não foi conquistado tão
facilmente, mas Sebastian não se incomodou.
— Eu gostaria que meus próprios pais estivessem aqui conosco hoje —
disse ele melancolicamente —, mas tenho certeza de que eles estão lá em
cima, sorrindo para nós.
Um momento estranho passou; desta vez, até Sebastian percebeu.
— Lyla, gostaria de caminhar comigo? — Ele perguntou. — Vejo vocês
em breve, tenho certeza.
Corri para o lado dele. Sebastian deu longas passadas pelo gramado e
eu corri para acompanhá-lo.
Ele definitivamente sabe, entrei em pânico. Ele sabe que eu não contei
aos meus pais sobre nós, e ele está furioso.
— Eu acho que eles são um grupo um pouco difícil, hein? — Ele
perguntou com uma carranca. — Mas eles parecem gostar bastante de
Caspian.
Espere um minuto. Ele não sabe?
— Eles o conhecem há muito tempo — respondi, mantendo minha
guarda alta.
— Mas tenho certeza de que eles ficaram felizes em ouvir sobre nós.
— Não havia dúvida em sua voz.
Oh, Deusa, ele não sabe!
Meu coração bateu forte enquanto corria para alcançá-lo. Ele não
olhou para mim e eu não sabia o que ele estava sentindo.
— Muito feliz — eu disse, mas minha voz falhou.
Ele alcançou a grande porta da casa da alcateia e a segurou aberta para
mim.
Eu entrei antes dele. Ele colocou a mão nas minhas costas, me
conduzindo pelo corredor envidraçado para a esquerda, longe da
agitação da entrada.
Agora que ele estava me tocando, recuperar o fôlego seria impossível.
— Perdoe-me — disse ele em voz baixa. — Não estou acostumado
com essas... emoções intensas... que você tira de mim.
Eu olhei para ele, chocada. Eu imaginei que ele sempre foi tão intenso.
— Me incomoda quando você fala com ele — ele elaborou.
Eu senti um lampejo de raiva.
— Ele era meu amigo muito antes de sermos um casal — eu o lembrei.
Sua mão envolveu protetoramente minha cintura na última palavra. —
Além disso, você não é meu dono — arrisquei.
Com isso, nossos corpos cambalearam para trás e fui empurrada
contra a parede. Seus dedos estavam na pele nua da minha barriga
enquanto minha camisa se levantava e eu estava delirando com a
privação de oxigênio.
Seu rosto estava ilegível. Sério, mas de alguma forma brincalhão e
zangado. Ele se inclinou em direção ao meu ouvido.
— Mas você não quer que eu possua você?
Os músculos profundos em meu núcleo se contraíram. Minhas pernas
cederam quando eu lancei meus braços ao redor dele. Estávamos nos
beijando profundamente, cheios de necessidade. Era a única maneira que
qualquer um de nós sabia como lidar com o que sentíamos um com o
outro. A única maneira de fazer sentido.
Ele gemeu baixinho quando agarrei sua garganta. O som fez algo
comigo, e a próxima coisa que eu soube, meu corpo estava agindo antes
que minha mente pudesse entender.
Minhas pernas enroladas em sua cintura, suas mãos seguraram minha
bunda e Sebastian de repente era a única coisa no mundo.
Ele cambaleou por uma porta aberta, batendo-a com força atrás de
nós.
Eu engasguei quando ele me empurrou contra uma cômoda, mais
forte desta vez, suas mãos viajando sobre cada parte da minha bunda,
acariciando meu centro sensível através do meu jeans.
Eu puxei seu cabelo, puxando sua cabeça para trás para que eu
pudesse ter um momento para pensar. Ele rosnou com luxúria pela
minha força.
Seu pomo de adão balançou enquanto ele lutava para recuperar o
fôlego... tudo por minha causa.
Lambi aquele lugar perfeito, e então minha língua deslizou para onde
sua mandíbula encontrava seu pescoço.
— Lyla?!
Meu coração parou...
Porque essa era a voz da minha mãe.
Minhas mãos congelaram no cabelo de Sebastian, e as dele
congelaram na minha bunda.
Eu virei minha cabeça para ver minha família e Caius parados na
porta, suas bagagens a reboque.
Minha mãe estava cobrindo os olhos de Skye. Meu pai estava
segurando a barriga como se fosse vomitar.
Oh, Deusa...
Eu tinha algumas explicações sérias a dar.
11
CONTROLE DE DANOS
Lyla

O queixo de minha mãe estava praticamente no chão. Seus olhos


viajaram das minhas mãos emaranhadas no cabelo de Sebastian para
minhas pernas enroladas em sua cintura.
Skye se contorceu, puxando as mãos da minha mãe de seus olhos.
— Eu quero ver o que Lyla está fazendo!
Oh, Deusa.
Não olhei para Sebastian quando ele soltou minha bunda. Quando
meus pés finalmente estavam no chão, dei alguns passos para longe dele.
Skye, finalmente capaz de ver, fez uma careta porque ela perdeu o
show. Ela seria muito difícil quando ficasse mais velha.
— Você nos deve uma explicação, mocinha, — meu pai exigiu. Ele não
era normalmente um disciplinador, mas em tempos desesperados...
— Sim. Então. Bem, isso é o que eu estava tentando dizer a vocês lá
fora, — eu comecei, correndo para encontrar as palavras certas. — Este é
Sebastian. Ele é...
— Ele é o alfa. Você já nos disse isso — minha mãe se intrometeu. —
Claro, ele é muito bom para os olhos, mas como você poderia trair
Caspian?
A conversa não poderia ser pior. Não ousei olhar para Sebastian, que
estava quase definitivamente explodindo naquele ponto.
— Ele não é mais apenas seu namorado, Lyla, — meu pai continuou
de onde minha mãe havia parado. — Ele é seu companheiro. — Ele
balançou a cabeça em desgosto.
Amaldiçoei-me por me colocar nessa situação horrível e pensei em
como poderia resolver isso.
Mas antes que eu pudesse encontrar uma solução a voz fria e rouca de
Sebastian comandou toda a atenção na sala: — Acho que houve um mal-
entendido.
Eu o espiei por entre os dedos. Sua mandíbula estava dura, mas seus
olhos eram suaves. Ele olhou entre minha mãe e meu pai, irradiando
postura e charme.
Dizer que fiquei chocada seria um eufemismo massivo. Eu também
fiquei impressionada.
— Caspian e Lyla não estão mais namorando, e a Deusa da Lua não os
destinou a serem companheiros, — ele continuou, naturalmente
exigindo respeito com cada palavra.
— Eu sou o companheiro de Lyla, — ele concluiu.
Ele se virou para mim e sorriu, e meu coração parou.
O que ele está realmente pensando por trás dessa fachada calma?
— Lyla é a nova Luna da Alcateia Real, — ele anunciou triunfante.
A sala ficou em silêncio por um momento. Eu encarei Sebastian,
hipnotizada pelo pequeno e orgulhoso sorriso em seus lábios que
permaneceu ali após ele me reivindicar como sua.
— Espere um minuto. — O tom do meu pai me encheu de pavor. —
Lyla é a companheira de Caspian. É simples assim! Ela mesma nos disse,
pelo amor de Deus.
Eu engoli em seco. O sorriso de Sebastian havia desaparecido e ele se
virou para mim com os olhos estreitos.
— Você disse a eles o quê? — Ele demandou.
Eu olhei para meus pais.
— Eu disse que tinha um companheiro! — Eu corrigi meu pai. — E
então Caspian chegou, e vocês presumiram que era ele, e então quando
eu tentei dizer a verdade, vocês não me deixaram falar! — Percebi que
estava gritando. Minha voz soou chorona e imatura em meus ouvidos.
Não ajudou que meu pai estivesse balançando a cabeça em descrença.
— Então sim. Este é meu companheiro. Sebastian, — eu disse,
gesticulando para ele um tanto pateticamente.
Então, desesperada para que a situação acabasse, caminhei em direção
a Sebastian, agarrei sua mão e o conduzi para fora da sala.
— Explicarei tudo mais tarde, — disse a meus pais com um sorriso
cansado. — Talvez durante o jantar?
Eu olhei para Sebastian, me perguntando se ele tinha planos mais
importantes... como nunca falar comigo novamente.
— Seria uma honra recebê-los no restaurante do Fleur de Lis esta
noite, — disse ele, o que me inundou de alívio.
— Oito horas? — minha mãe perguntou.
— Perfeito. Estou ansioso para conhecê-los adequadamente, sr. e sra.
Green.
Skye praticamente desmaiou quando Sebastian deu a ela seu sorriso
vencedor. Mas meus pais trocaram olhares exasperados...
Abri a porta e mais uma vez fiquei sozinha com meu companheiro.
Sebastian

Senti os olhos de Lyla em mim. Ela me observou com atenção, como


se eu fosse um predador imprevisível.
— Explique-se, — eu disse. Minha voz não era mais a voz medida de
um político.
Eu a levei escada acima para o quarto dela. Ela se atrapalhou com a
chave na fechadura. Ela estava nervosa por ficar sozinha comigo.
Fechei os olhos, respirando fundo, como minha mãe sempre me
aconselhou a fazer.
Eu não queria explodir com ela. Eu não queria assustá-la.
Mas apenas vinte minutos atrás, parecia que ela e eu éramos as únicas
pessoas no mundo. E agora Caspian estava entre nós mais uma vez.
Finalmente, ela abriu a porta e eu a segui para dentro. Sentamos na
ponta da cama dela, sem nos tocar.
Ela respirou fundo.
— Devo desculpas a você, — ela começou. — Você não merece nada
disso.
— Muitas mulheres ficariam animadas em dizer a suas famílias que
estão acasaladas com o alfa real. — Minha voz estava baixa e perigosa.
A raiva era a mais confortável de todas as emoções confusas que eu
sentia. Também havia mágoa e medo... que ela não estava animada para
encontrar seu companheiro.
— Minha família não é exatamente normal. Talvez você tenha notado.
— Lyla colocou a cabeça entre as mãos. Ela suspirou e olhou para mim
timidamente. — E não pense que não estou animada com você.
Meu coração inchou com sua expressão séria.
— Meus pais sempre oraram para que eu encontrasse um
companheiro em nossa alcateia, como eles fizeram, — ela continuou. —
Eu sabia que iria partir o coração deles pensar que eu iria me afastar deles
e começar uma nova vida... sem eles.
Ela fez uma pausa e pude ver que a ideia de deixá-los também era
dolorosa para ela.
— Eu vou cuidar de você aqui, — eu prometi. — Eles têm um lugar na
casa da alcateia sempre que quiserem.
Lyla pegou minha mão, acariciando minha pele com os dedos. Nossa
conversa acalmou tanto seu medo quanto minha raiva.
— Obrigada, — ela disse suavemente. — Mas eu acho que não é tudo.
Eles sempre esperaram que eu terminasse com Caspian.
A raiva explodiu dentro de mim e me afastei de seu toque.
— Não estou acostumado a sentir ciúmes desse jeito, — admiti. —
Mas, novamente, ninguém me testou do jeito que você faz. — Suspirei.
— Eu nunca quis ninguém do jeito que eu quero você. Fui construído
para te querer e te querer para mim. Por que você tem que tornar isso tão
difícil?
Eu sabia que dizer isso a afastaria, mas não aguentava mais. Recusei-
me a ser pisado ou a ser o segundo a qualquer homem.
Sua expressão tornou-se cautelosa.
— Caspian é meu amigo desde que éramos crianças. Estivemos juntos
por dois anos.
Eu me levantei, querendo sair da sala. Querendo sair da minha
própria pele. Mas ainda assim, eu não queria deixá-la.
— Não estou dizendo isso para aborrecer você. Só quero que você
entenda, — disse ela.
Andei até o centro da sala, de costas para ela, concentrando-me na
minha respiração para não perder o controle.
— Você pode vir aqui? — ela perguntou.
A suavidade em sua voz fez minha raiva derreter, mesmo que apenas
por um momento. Voltei para a cama e ela colocou os braços em volta de
mim.
— Meus pais vão gostar de você, — ela disse suavemente. — Mas
Caspian é um dos meus melhores amigos. Ele vai estar na minha vida.
Eu encarei minhas mãos. Metade de mim queria sair furioso da sala,
mas a outra metade não conseguia suportar a ideia de deixá-la.
Ela despertou uma tempestade de sentimentos erráticos em mim,
emoções que eu nunca havia sentido antes.
Sempre tive certeza de mim mesmo, como líder, homem e amante.
Pela primeira vez, eu não tinha certeza se teria o que seria necessário
para conquistar seu coração. Eu nunca me comparei a outro homem,
mas como poderia competir com alguém que conhecia Lyla desde
sempre?
Apertando meus lábios com força, prometi a mim mesmo não perder
mais tempo me sentindo inseguro.
Eu sou o alfa. Eu sei que tenho o que é preciso para fazer Lyla feliz.
Tudo que eu precisava fazer era encantar seus pais. Se eu tivesse a
aprovação deles, o resto se encaixaria.
Senti Lyla esperando minha resposta. Virei-me para encará-la e fiquei
intoxicado pela proximidade de seus lábios.
Eu toquei sua bochecha com a ponta dos dedos e a beijei com
confiança.
Eu provaria a ela que era o único que ela queria. Então eu me afastei,
quebrando o feitiço entre nós.
— Venho buscá-la antes do jantar, — prometi, e então a deixei
sozinha.
Lyla

Fiquei na frente do espelho, alisando a saia do meu vestido preto. Eu


até passei um pouco de delineador líquido junto com meu rímel, o que
me fez sentir glamourosa.
Teresa ficaria orgulhosa. Senti uma pontada de tristeza por sentir falta
dela. Antes de nós duas termos encontrado nossos companheiros, ela
estava ao meu lado enquanto eu me preparava para cada ocasião especial.
Eu borrifei um spray corporal no meu cabelo e a campainha tocou.
Meu coração deu um pulo.
Sebastian.
Passei a tarde pensando nele. Eu sabia que as coisas não eram fáceis
para ele e apreciei o quanto ele estava tentando entender.
Eu estava ansiosa por aquela noite, quando poderia me concentrar
nele. Em nós. Juntos.
Eu abri a porta. Ele estava vestindo uma camisa de botão e um blazer
cinza claro. Ele tinha acabado de se barbear e parecia incrivelmente
sexy... de uma forma limpa.
Meus pais não resistiriam.
Ele estendeu uma única margarida para mim, o que me fez rir.
Ele sorriu e se inclinou para beijar minha bochecha. Por um
momento, me perdi no cheiro de sua colônia.
Quando ele estendeu o braço, agarrei-o.
Estar com Sebastian era como um conto de fadas. Ele era um
cavalheiro por completo. Ele sabia como encantar uma mulher.
Descemos a grande escadaria. As pessoas circulavam pela entrada,
desfrutando de um coquetel. Eles sorriram para nós com aprovação.
Percebi que estava desfrutando da pompa e circunstância, imaginando
como seria descer para jantar naquela bela casa todas as noites...
Passamos pela entrada principal e pela varanda, passando pelo
gramado. Caminhamos pela noite quente até o hotel. Meu braço
permaneceu enfiado no de Sebastian o tempo todo.
A anfitriã nos cumprimentou calorosamente quando entramos no
restaurante do Fleur de Lis. Então viramos a esquina e meu sorriso
sumiu.
Meus pais e Skye acenaram para nós. Mas eles não eram os únicos à
mesa.
Caspian se virou e ergueu seu copo de uísque como forma de
saudação, com um sorriso malicioso que me disse que ele não se
comportaria à mesa.
A mão de Sebastian se fechou em punho e um rosnado baixo escapou
de seus lábios.
Eu engoli em seco. Ambos os meus amantes estavam lá.
Seria uma noite dramática.
12
JANTAR PARA TRÊS
Lyla

Parei em frente à mesa de jantar, sem saber o que seria pior: sentar
entre Caspian e Sebastian, ou eles se sentarem um ao lado do outro.
Olhei para Sebastian e decidi. Seu olhar para Caspian era cortante, e
Caspian ergueu as sobrancelhas enquanto tomava um gole de uísque. Eu
sentei no assento no meio de meus dois pretendentes. Do outro lado da
mesa, Skye estava fingindo que seu garfo e colher estavam se beijando. Eu
dei a ela um olhar exasperado.
— É difícil ter dois namorados, Lyla? — ela perguntou com inocência
fingida.
Eu sabia que meus pais não iam tornar isso fácil para mim, mas Skye
também não estava ajudando.
— Eu não tenho dois namorados, — eu respondi definitivamente. Eu
não sabia o que tinha exatamente, mas isso não vinha ao caso.
Suspirei enquanto um garçom colocava um pouco de vinho na minha
taça, e Sebastian recusou educadamente.
— Você não gostaria de uma bebida, Sebastian? — Caspian perguntou.
— Você deveria descansar. Você parece estressado.
Percebi que ninguém se comportaria bem naquela refeição. Dependia
de mim garantir que nossa mesa não queimasse o Flor de Lis até o chão.
— Caspian estava recomendando alguns pratos do menu para nós, —
minha mãe disse. — Como guisado de jacaré e a fervura de lagostim.
— E, se me permitem, o filé mignon com manteiga de trufas é incrível,
— Sebastian acrescentou, reclinando-se em sua cadeira e colocando o
braço em volta de mim.
— Colin tem colesterol alto e Lily o evita por solidariedade, —
Caspian disse com um estremecimento falso. — Mas como você seria
capaz de saber disso? — Ele escondeu seu sorriso atrás de seu copo de
uísque.
Meu queixo caiu. Não era típico de Caspian ser tão idiota. Mais cedo
naquele dia ele parecia tão ferido. Talvez fosse o uísque falando.
— Eu adoraria o filé mignon, — eu disse a Sebastian.
— Jacaré parece nojento, — Skye adicionou.
Minha mãe se inclinou para frente. Estava claro que ela estava se
divertindo.
— Então, querida, enquanto caminhávamos à beira do rio mais cedo,
encontramos Caspian. Quando soube que ele estava sozinho, insisti em
que viesse jantar conosco. Eu sabia que você não se importaria, querida.
— Ele não está sozinho, — rebati.
— Certo, estou com você, Ly — Caspian disse.
— E sua família, e a alcateia..., — eu continuei, olhando timidamente
para Sebastian. Eu percebi que ele mal estava segurando sua compostura,
e ainda não tínhamos feito nossos pedidos.
Caspian

Era quase fácil demais. A fachada de cavalheiro sulista de Sebastian


não me enganava. Ele era um alfa, não um homem de família.
— Lembra daquela vez em Beaver Creek? Quando fizemos rafting? —
Eu perguntei. Lily já estava bufando de tanto rir. O que eu poderia dizer?
A mulher me amava.
— O incidente da parte inferior do biquíni! — Skye aplaudiu.
— Oh, não... — Lyla começou.
— Não se preocupe, Ly. Estar nua não é nada para se envergonhar. —
Eu sorri diabolicamente para Sebastian, que olhou de volta.
Eu não poderia me importar menos com ele. Eu queria que ele
soubesse que eu conhecia o corpo de Lyla muito melhor do que ele.
— Nunca esquecerei a expressão em seu rosto, — disse Colin entre
gargalhadas, — quando ela saiu da água depois daquela queda, e a calça
de seu maiô tinha desaparecido!
Eu ri até que lágrimas se formaram em meus olhos.
— De jeito nenhum ela iria encontrá-los, — Lily relembrou
melancolicamente.
— Eu estava tão envergonhada! — Lyla interrompeu.
— É por isso que eu te dei minha roupa de banho, bebê, — eu disse
com um sorriso astuto. — Para que todos não vissem sua adorável marca
de nascença.
O rosto de Lyla ficou vermelho de raiva ou de vergonha renovada, mas
um olhar para Sebastian me disse que meu comentário tinha acertado o
alvo. Sua mandíbula se contraiu com raiva controlada.
— Ela teve sorte de você ter usado roupa de baixo! Você sempre foi um
cavalheiro! — A mãe de Lyla deu uma risadinha.
Arrisquei mais um olhar exultante para Sebastian.
Dois podem jogar esse jogo, Alfa.
— Nós com certeza passamos por muita coisa juntos, hein, Ly? — Eu
perguntei.
— Tantos bons momentos! — Colin gritou. — Eu sempre disse que
você era o filho que eu nunca tive, Caspian...
— Pai! — Lyla avisou.
Ao lado dela, Sebastian estava lutando para manter sua compostura
rígida. Se ele não fosse um bastardo tenso, eu poderia ter me sentido mal
por ele.
— Sebastian, talvez você possa nos contar mais sobre a Casa da
Alcateia Real, — Lyla ofereceu.
O alfa se inclinou para frente, certificando-se de ter toda a atenção de
Lily e Colin. Aproveitei para pedir outro whisky com gelo.
— Como todos sabem, a Alcateia Real é a mais antiga da América do
Norte. Esta terra está na minha família desde que foi colonizada pelos
colonizadores.
Eu queria tirar aquele sorriso arrogante de seu rosto.
— Quando meu pai era um menino, ele ajudou seu pai a construir a
casa de da alcateia com as próprias mãos.
— Naquela época, os rapazes sabiam o que era trabalhar duro! —
Colin gritou.
— Isso é o que meu pai sempre disse também, — Sebastian respondeu.
Sim, certo.
Aposto que esse cretino real teve tudo entregue a ele em uma bandeja de
prata — bem, se os lobisomens não tivessem aversão à prata.
Talvez Colin pudesse ser conquistado pela educação digna de
Sebastian. E daí?
— Meu pai sabia que queria criar sua família na casa da alcateia, e
estou esperando para começar minha própria família lá. — Sebastian
pegou a mão de Lyla e meu estômago embrulhou.
Eu odiava vê-lo tocá-la. Foi a pior sensação do mundo.
Mas então Lyla sorriu timidamente. Ok, essa foi a pior sensação do
mundo.
Lyla não gostava de toda aquela pompa e circunstância. Não era quem
ela era. Então, por que ela estava sendo tão tímida?
Minha dor se transformou em raiva.
— Nós entendemos, Sebastian, — eu disse amargamente, — você é
um membro da Alcateia Real.
— O alfa da Alcateia Real, — ele corrigiu.
— Certo! Como eu poderia esquecer? É a única coisa sobre a qual você
fala, — prossegui, sabendo que estava chegando a um ponto sem volta, —
e estou começando a me perguntar se é o único pensamento que passa
por sua cabeça dura.
Sebastian

Quase engasguei com minha água gelada. Finalmente, Caspian estava


mostrando suas verdadeiras cores.
Isso me deixou com raiva, é claro, mas também me fez sentir um
pouco mal por ele. Era uma exibição patética e o cara estava bêbado.
Mas quando Colin bufou de tanto rir, e o peito de Caspian inchou
com orgulho, eu não pude mais me conter.
— Cuidado, Caspian, — eu disse, minha voz baixa e perigosa. — Só
porque a Deusa da Lua não o considerou digno de uma companheira,
não significa que você pode roubar a de outra pessoa.
— Sebastian! — Lyla repreendeu.
— Eu não preciso roubar Lyla. Ela é minha namorada — Caspian
revidou.
— Esse relacionamento terminou no momento em que ela ouviu meu
chamado de acasalamento, — respondi. — Eu teria cuidado, Caspian.
Todo mundo sabe o que acontece quando um beta testa um alfa.
Senti a mão de Lyla na minha perna, um aviso.
— Você quer dizer, todo mundo sabe o que acontece quando um alfa
se sente ameaçado, — ele rosnou.
— Oh, por favor. Você não me ameaça, — eu respondi. — Eu posso
dar a Lyla o mundo e muito mais. Eu sou o líder da alcateia mais
poderosa da América do Norte.
À medida que nossa discussão aumentava, os pais de Lyla ficaram
quietos.
— O que você tem para oferecer? — Eu exigi. — Você nem mesmo é o
companheiro dela!
Minha voz ecoou pela sala. Agora, não era apenas a nossa mesa que
estava quieta. Todo o restaurante estava em silêncio, nos observando.
Lyla

Com as últimas palavras de Sebastian, eu estava farta.


Eu estava esperando o fim da pior refeição da minha vida, mas era
hora de resolver o problema com minhas próprias mãos.
Empurrei minha cadeira para trás e me levantei. Eu estava tão
chateada que nem me importei que todos na sala estivessem olhando
para mim.
— Vocês são tão cheios de merda! — Eu gritei. — Vocês agem como se
quisessem o melhor para mim, mas vocês só pensam em vocês mesmos.
Vocês não poderiam se importar menos com o que eu quero.
Com isso, eu me virei e saí da sala de jantar, em seguida, saí do hotel.
Lágrimas ardiam em meus olhos enquanto eu me inclinava sobre o
parapeito da varanda. Eu não queria chorar.
O gramado se estendia diante de mim, fios de luz cintilando enquanto
a luz do dia desaparecia. A noite que viria era para ser repleta de risos e
comemorações.
Era para ser o momento mais feliz da minha vida.
Todos os outros lobos recém-acasalados estavam celebrando e
desfrutando da companhia um do outro.
No entanto, lá estava eu, presa entre dois homens. E eu quase não tive
espaço para respirar, muito menos para tomar uma decisão tão
importante.
Claro, minha família não ajudou. Eles sabiam a vida que eles queriam
para mim. Todo mundo tinha sua própria opinião, o que tornava muito
mais difícil encontrar a minha.
Suspirei, olhando para o céu rosa. A lua já estava aparecendo,
minguando, mas grande e branca e brilhante.
Deusa da Lua, por que você fez isso comigo? Eu perguntei ao céu
noturno, mas a única resposta foi o coro constante do chilrear das
cigarras.
— Lyla.
Eu sabia que era Caspian antes de me virar para vê-lo. Ele estava lá
com sua camisa amassada de botão, suas defesas abaixadas.
O calor e a compaixão voltaram aos seus olhos castanhos. Sua
expressão era de pesar.
— Sinto muito pelo drama, — ele começou. — Não quero tornar isso
mais difícil para você do que já é.
Ele nunca desviou o olhar, seus olhos transmitindo o amor
incondicional que ele sentia há anos.
— Mas eu não vou desistir disso. Eu vou lutar por você.
Mordi meu lábio enquanto as lágrimas continuavam a queimar.
— Eu sei que não tenho dinheiro ou prestígio, e eu sei que não sou um
alfa real. Mas eu conheço você, Ly. E eu te amo. Sempre amei e sempre
irei. E mesmo que você não seja minha verdadeira companheira, isso é o
suficiente para mim.
Quando ele terminou, ele olhou para suas mãos e então me deu um
sorriso que partiu meu coração.
Ele iria lutar por mim. Isso estava claro.
E Sebastian também.
Mas a questão que queimava nos cantos da minha mente era...
Posso evitar que esses dois cabeças quentes se destruam?
13
O LUGAR FAVORITO DE SEBASTIAN
Lyla: Ei T

Lyla: Alguma chance de você estar livre agora?

Lyla: Eu realmente gostaria de um tempo de garotas.

Teresa: Meu Deus, eu também

Lyla: Graças à porra da Deusa da Lua

Lyla: Espere, isso é blasfêmia?

Teresa: Tanto faz. Não ligo

Teresa: Dia longo?

Lyla: Você não tem ideia

Lyla: Drama de garotos me deixando louca

Teresa: Não diga mais nada

Teresa: Onde você está?

Teresa: Chegando e tenho vinho

Lyla

Suspirei de alívio. Finalmente, algo estava indo bem essa noite.


Eu disse a ela para me encontrar sob o salgueiro-chorão perto do rio,
então me deitei e olhei para os galhos balançando.
O céu estava tingido de rosa com o pôr do sol e a temperatura era
amena. Foi uma noite perfeita. Se eu pudesse aproveitar...
Todo mundo disse que eu era a garota mais sortuda. Eu estava
acasalada com o alfa real.
Eu sabia que não era justo ficar chateada quando muitas pessoas não
tinham um companheiro. De certa forma, meus problemas eram
invejáveis.
Mas para mim, estar dividida entre dois homens era quase pior do que
não ter ninguém.
— Ei irmã. — Teresa puxou a cortina de galhos flutuantes.
Ela estava usando um vestido de verão, assim como eu. Ela me passou
a garrafa de vinho branco e dois copos de plástico e estendeu um
cobertor no chão.
Rolei para o tecido de lã macio e ela se sentou ao meu lado, deitando-
se de costas e soltando um suspiro enorme.
— Parece que você está se sentindo da mesma forma que eu, — eu
disse, servindo-lhe uma taça de vinho.
— Oh, Deusa. Jantar com os sogros, certo? — Ela gemeu, antes de
perceber seu erro e se levantar sobre um cotovelo. — Merda, eu sinto
muito. Esqueci que os pais de Sebastian estão...
— Tudo bem. Mas tudo isso poderia ser mais fácil se eu pudesse
conhecê-los, — eu meditei.
— Então, se não são seus sogros te chateando, são seus pais? — ela
perguntou.
Tomei um gole do vinho frio.
— Você não acreditaria, T. Eles convidaram Caspian para jantar esta
noite.
Teresa engasgou, amando o drama.
— De jeito nenhum! Mama Lily com o golpe baixo. Então foi um
desastre?
— Você não tem ideia — eu gemi. — Caspian e Sebastian são tão
competitivos, e isso trouxe o pior de ambos.
— Eu posso imaginar, — ela disse, erguendo as sobrancelhas. — Mas
não é como se houvesse muita competição, certo? Quer dizer, Sebastian é
o alfa real. E seu companheiro.
Fechei meus olhos e pressionei minhas têmporas. Eu sabia que Teresa
estava certa, em teoria. Sebastian poderia me prometer uma vida com a
qual muitas garotas só poderiam sonhar.
Mas eu... eu não tinha tanta certeza.
— Como se ele já não fosse o espécime masculino mais gato da terra,
— acrescentou Teresa com um suspiro.
Eu não sabia como explicar que não teria apenas que desistir de
Caspian... Eu também teria que desistir da vida que poderia ter tido com
ele. A vida que sempre quis e tudo o que conhecia.
E embora Teresa não fosse entender, eu sim, ainda amava Caspian. Ele
tinha sido minha vida até aquele ponto. Estar com ele era uma segunda
natureza para mim.
Por outro lado, Sebastian era intenso. Fogoso. Depois que ficamos
juntos, me senti exausta. Mesmo que fosse um bom tipo de exaustão, eu
poderia viver assim para sempre?
Teresa tocou meu braço e me virei para ver sua expressão aberta e
calorosa.
— Eu sei que posso não entender, mas você pode me dizer qualquer
coisa, sabe, — disse ela com um sorriso. — Eu amo demais você para
julgá-la.
Inclinei-me para seu toque e levei suas palavras a sério.
— Quero dizer, Sebastian é incrível e insanamente sexy, obviamente,
— eu comecei. — Mas tudo com ele é tão intenso. Ele é territorial e
controlador.
— Ele é um alfa. — Ela fez uma pausa, tomando um longo gole. —
Você já considerou que esta situação poderia estar trazendo à tona essas
partes dele?
— Você está certa, — eu admiti. — E eu quero dar uma chance, só eu e
ele. Mas agora meus pais estão aqui, e eles amam Caspian...
— É muita coisa para equilibrar, Ly, — afirmou Teresa. — Vai ficar
mais fácil. Apenas tente se concentrar em você, ok? O que você quer.
— Obrigada, — eu disse enquanto envolvia meu braço em volta de
seus ombros magros. Sua pele ainda estava quente do sol. — Eu
realmente precisava desse conselho.
Teresa beijou minha bochecha dramaticamente antes de sair do meu
abraço e encher nossas taças de vinho.
— Ok, agora por favor me conte tudo sobre o seu companheiro, — eu
disse.
A última vez que os vi juntos, eles estavam fodendo os miolos um do
outro. Tirei essa imagem mental da minha mente.
— Oh minha deusa, Lyla. Reed é incrível. Eu nunca teria adivinhado
olhando para ele, mas ele é uma aberração! Deixe-me apenas dizer, ele
sabe exatamente o que está fazendo.
Ela suspirou com adoração.
— Mas eu te entendo, — ela continuou. — Agora que os pais dele
estão aqui, tudo é mais intenso. E, claro, meu pai acha que ninguém
jamais será bom o suficiente para mim.
Eu fiz uma careta. Alfa Hugo não facilitaria as coisas para Reed, isso
era certo.
— Estou ansiosa para quando seremos apenas Reed e eu, — disse ela
com um sorriso melancólico. — Ele já concordou em se mudar comigo
de volta para Lua Azul.
— Estou tão feliz por você, Teresa, — eu disse, falando sério.
Ficamos em silêncio por um momento, bebendo nosso vinho
enquanto o pôr do sol se refletia no rio diante de nós.
Pensei no que Teresa devia estar sentindo. Ela estava cheia de
entusiasmo e tinha certeza sobre seu futuro.
Fiquei feliz pela minha amiga, mais do que qualquer coisa. Mas eu não
podia negar que havia uma parte de mim que sentia ciúmes... Eu queria
que minha própria vida fosse tão simples.
O telefone de Teresa tocou, me tirando do meu devaneio.
— Reed está se perguntando onde estou, — disse ela. — Acho que
acabaram os dias em que éramos apenas nós contra o mundo.
— É para o melhor, — respondi com um sorriso triste, embora não
soubesse se realmente era melhor para mim. — Vou acompanhá-la até a
casa.
Peguei o cobertor e, enquanto me levantava, minha cabeça girava. Do
vinho, provavelmente, ou do jantar mais longo que já tive.
Teresa e eu voltamos para a enorme mansão de pedra. Quando nos
separamos do lado de fora do meu quarto, eu soprei um beijo para ela.
E então abri minha porta e quase tive um ataque cardíaco.
Sebastian

— Ah não! Eu não queria te surpreender! — Corri para o lado de Lyla


enquanto ela se apoiava contra a porta.
Ela começou a rir e fiquei aliviado por ela estar feliz em me ver.
— Sem ofensa, mas por que você está aqui? — ela perguntou.
Nossos olhos se encontraram então, e eu esqueci por que vim, além de
ficar sozinho com ela. Tudo era simples agora que éramos apenas nós.
— Eu queria te mostrar uma coisa, — eu disse uma vez que reuni
meus pensamentos. — Venha comigo.
Ela sorriu preguiçosamente, e eu soube que ela estava bêbada. Ela
estava de bom humor, então não me importei.
— Deixe-me trocar de roupa. Eu vou, hum, te encontrar no corredor?
— ela perguntou.
— Não tenha pressa, — respondi.
Quando eu saí de seu quarto, ela balbuciou: — Eu estarei com você, sr.
Cavalheiro.
Eu me peguei sorrindo, feliz por nós dois termos tido algum tempo
para nos acalmar desde o jantar. Eu não podia culpar Caspian por todo o
desastre, embora parte de mim quisesse.
Eu não estava orgulhoso da maneira como agi. Mas eu estava
preparado para fazer as pazes com ela.
Poucos minutos depois, Lyla abriu a porta vestindo uma muda de
roupa casual, mas com o mesmo sorriso malicioso.
Descemos em silêncio as escadas dos fundos, saímos pela porta lateral
e adentramos a noite quente.
— Para onde você está me levando? — ela perguntou.
— Para o meu lugar favorito.
Cruzamos o gramado, passamos pelo salgueiro-chorão e descemos ao
longo do rio até o cais.
O pequeno barco a remo balançou na água e eu desfiz a corda que o
prendia. Peguei a mão de Lyla, mantendo-a firme enquanto ela
encontrava seu assento no barco para duas pessoas.
Eu sentei no lugar oposto a ela — o lugar do remador — e manobrei
com os remos até que estivéssemos em mar aberto.
Lyla estava mais bonita do que nunca ao luar, e eu pensei na noite em
que nos conhecemos, quando tudo havia começado.
— Eu te devo desculpas por mais cedo, — eu disse. O esforço físico do
remo me acalmou e me senti pronto para uma conversa difícil.
Ela ficou quieta por um minuto, me observando, tentando me
entender.
— Sei que tudo isso também não é fácil para você, — continuei, — e
essas decisões são suas.
— Que decisões? — ela perguntou.
— Com quem você... ficará, — eu consegui dizer. Concentrei-me em
remar por um momento, atravessando o pântano e chegando em águas
mais estagnadas e pantanosas.
Árvores se ergueram ao nosso redor, bloqueando a lua e tornando a
noite brilhante mais escura.
Senti um aperto desconfortável na garganta. Eu não queria admitir o
quão desconfortável a situação me deixava.
Eu não estava acostumado a me sentir inseguro. Mas a intuição me
disse que a honestidade era a única maneira de me aproximar dela.
Ela não disse nada, mas eu podia sentir que ela estava me observando.
— Não posso negar... Estou preocupado com o quão próxima você é
de Caspian. — Remei, puxando-nos para a frente. — E eu quero que você
saiba que eu não sou apenas o alfa real. Eu sou seu companheiro. Isso é
ainda mais importante para mim.
Continuei a remar. Lyla olhou para mim e eu sabia que ela estava
contemplando minhas palavras.
Logo, fomos iluminados pela luz da lua. Havíamos entrado em meu
lugar favorito e observei a boca de Lyla se abrir, maravilhada.
A quebra das árvores acima do pântano permitiu que a luz entrasse. As
algas cresciam em abundância ali e, à noite, o local se transformava em
um lugar mágico.
O luar penetrava por entre as árvores e a superfície da água brilhava
com o verde das algas.
Eu senti como se o tempo tivesse parado. Até que ela respondesse, até
que eu soubesse o que ela estava pensando, o tempo iria parar para
sempre.
Lyla

Eu não queria falar. Eu não queria estragar o momento.


Sebastian estava me dizendo tudo que eu queria ouvir. Eu não tinha
ideia de como tive tanta sorte.
— Eu quero fazer memórias com você também, Lyla, — ele disse.
Atravessei o espaço entre nós e descansei minha mão em seu joelho.
— Obrigado por dizer tudo isso, — eu sussurrei. — Significa muito
para mim.
Eu olhei para a vista diante de mim. Era de outro mundo — um
pântano de neon banhado pelo luar verde-claro. Com Sebastian, me senti
segura.
— Este é o seu lugar favorito? — Eu perguntei, embora eu já soubesse
a resposta.
— Eu queria vir aqui com você porquê... — ele começou. Sua voz era
tão suave quanto a minha.
Um vaga-lume passou perto da minha cabeça. Talvez fosse o zumbido
persistente do vinho, ou a cena de sonho, mas estendi a mão para agarrá-
lo, totalmente sem medo.
Quando o pequeno barco começou a balançar, Sebastian gritou: —
Lyla, espere, você vai...
Eu perdi meu equilíbrio. Eu me ouvi gritar, e a próxima coisa que
percebi foi que estava submersa na água.
Braços fortes se estenderam e me envolveram.
Sebastian.
Nunca me preocupei por um segundo que pudesse me machucar. Seu
corpo estava lá, me segurando na água, me puxando para perto dele.
Minha cabeça chegou na superfície e respirei fundo. Tudo estava
escuro.
— Acho que estamos embaixo do barco, — disse Sebastian com uma
risada exasperada.
Privada de todos os sentidos, exceto o toque, eu só podia senti-lo; ele
era a única coisa real para mim.
Agarrei-me ao seu corpo, não só porque precisava dele para me
manter à tona, mas também porque precisava... para mim.
Sua respiração estável estava no meu rosto. Eu estava intoxicada por
ele — por sua vulnerabilidade em contraste com seu grande poder; sua
honestidade e franqueza...
Eu não conseguia vê-los, mas sabia que seus lábios estavam bem
diante dos meus. Inclinei-me para frente, pronta para fechar o espaço
entre nós e reivindicá-lo como meu.
Mas, naquele exato momento, senti um leve puxão na minha perna.
Depois, um mais forte.
Algo estava segurando minhas calças soltas e estava determinado a me
derrubar...
Abri a boca para gritar, mas meus pulmões se encheram
instantaneamente de água pantanosa e meus gritos foram abafados.
Olhando para baixo, vi uma pele escamosa brilhando ao luar
enquanto algo monstruoso me arrastava para baixo da água escura.
14
JOGOS DE JACARÉ
Sebastian

Por um momento, ela estava comigo na escuridão fria e silenciosa do


barco a remo virado para cima. Seu corpo estava pressionado firmemente
contra o meu na água, e ela estava segura.
Quando dei por mim, ela havia partido. Ela foi arrastada para baixo.
Tendo vivido naquele pântano minha vida inteira, eu sabia contra o
que estava lutando.
Um jacaré.
Eu mergulhei na água, desesperado para encontrá-la.
Mas, por mais que tentasse, sentia apenas algas marinhas. Eu abri
meus olhos, mas meus sentidos estavam falhando. Eu não conseguia ver
nada na água turva do pântano.
Comecei a entrar em pânico.
Saí para a noite enluarada, virando-me para me certificar de que nada
escaparia de mim.
E então eu vi: uma cauda espinhosa de prata refletiu a luz da lua.
Eu nadei atrás dele, já começando a mudar para minha forma de lobo.
— Sebastian!
A voz de Lyla ecoou sobre a água. Ela conseguiu colocar sua cabeça
acima da superfície, mas eu não poderia depender disso por muito
tempo.
Eu mergulhei em direção a ele, meus músculos inchados rasgando as
costuras da minha camisa. Garras saíram de meus dedos enquanto eu me
lançava para a besta.
Afundei minhas garras na pele de couro da cauda do jacaré.
Ele soltou um silvo frustrado, girando suas mandíbulas alinhadas
como navalha para me encontrar.
Bom, pensei comigo mesmo. Isso significava que havia libertado Lyla.
Ela estava segura, e isso era tudo que importava.
Eu bati meu punho contra o lado sensível do jacaré, na esperança de
poder espantá-lo. Mas a besta cambaleou em minha direção na água.
Não desistiria sem lutar.
Rosnei enquanto estendia a mão para agarrar e subjugar a besta,
confrontada com suas mandíbulas impiedosas.
Uma boca cheia de dentes irregulares esperando para apertar minha
carne.
O jacaré fechou seus dentes a alguns centímetros para a esquerda da
minha orelha. Queria meu crânio em sua boca, isso estava claro.
Mas eu não permitiria isso.
Eu grunhi, meus olhos logo acima da linha d'água. Então eu me lancei
para frente, cravando minhas garras nos olhos da besta, deixando-a cega.
A ideia era louca. Eu sabia. Mas eu era um alfa e não tinha um
momento a perder. Se minha companheira estivesse com problemas, eu
faria de tudo para salvá-la.
Eu subi nas costas da besta e alcancei sua boca, segurando os lábios
escamosos em cada uma de suas mandíbulas. Eu separei meus braços, de
modo que todos os seus dentes ficaram à mostra.
Puxei e puxei — até que suas mandíbulas estivessem estendidas ao
máximo. A besta lutou embaixo de mim, mas a luta foi inútil.
Com um puxão final, um som horrível de rasgar permeou o pântano
quando suas mandíbulas estalaram e afrouxaram. Derrotado, o jacaré
borbulhou ao afundar na água escura.
— Sebastian! — Lyla gritou por mim enquanto lutava para alcançar o
solo.
Nadei na água com todas as minhas forças.
Quando a alcancei, retirei minhas garras e a embalei em meus braços.
Finalmente, chegamos à beira da água e eu a coloquei em segurança em
solo firme.
Cobri seu corpo com o meu, aquecendo-a enquanto ela estremecia. A
grama abaixo de nós estava lamacenta e emaranhada.
— Você está machucada? — Eu perguntei, minhas mãos
ensanguentadas viajando sobre sua pele suavemente, procurando por
feridas.
— Eu acho que não, — ela sussurrou em resposta. — Você está?
— Não, — eu respondi, pressionando minha bochecha suavemente
contra seu cabelo molhado. Ela me segurou com força. Nossos peitos
estavam pesados enquanto lutávamos para recuperar o fôlego.
Ela estremeceu embaixo de mim, seu corpo ainda em choque com o
ataque do jacaré. O tenso jantar no início da noite parecia uma vida
inteira de distância.
A única coisa que importava agora era que ela estava segura e nós
estávamos juntos.
Eu gentilmente a levantei, para que ela pudesse descansar com
segurança no meu colo.
Sua mão embalou meu rosto e então seus lábios estavam bem diante
dos meus. Seu hálito quente me incendiou, embora eu estivesse com frio
e molhado.
Ela me beijou com paixão desprotegida e meu corpo reagiu. Eu
pressionei mais perto dela quando ela caiu para trás, empurrando minha
coxa entre suas pernas enquanto ela as abria embaixo de mim.
Meu corpo pulsou quando ela empurrou seus quadris nos meus,
gemendo em minha boca. Seus dedos se enrolaram em meu cabelo,
puxando-me em sua direção, embora dificilmente pudéssemos estar mais
perto.
O tempo passou enquanto ficamos ali, nos beijando e nos
contorcendo. Eu queria ficar assim para sempre, mas lentamente, a
realidade voltou para mim. Lyla precisava de atenção médica, mesmo que
não estivesse ferida.
Eu me afastei dela. Os olhos de Lyla brilharam na escuridão.
— Este ainda é seu lugar favorito? — ela perguntou.
— Gosto ainda mais agora, — respondi.
Comecei a me levantar, mas a impedi enquanto ela tentava se juntar a
mim.
— Não se mexa, — avisei, — até que o médico dê uma olhada em você.
Eu a levantei em meus braços.
— Não vou me opor a isso, — disse ela, segurando meu peito.
Saímos da floresta.
Lyla deu uma risadinha e eu olhei para baixo para ver seus olhos
brilhando para mim.
— Você disse que queria fazer memórias juntos, — disse ela. — Bem,
esta é uma grande memória.
Lyla

— Enfermeira, outro cobertor, por favor. Ela está tremendo. —


Sebastian levou uma caneca de chá aos meus lábios enquanto o médico
continuava a verificar meus sinais vitais.
— E você? — Eu exigi. — Eu já tenho três cobertores, e você ainda está
com a roupa molhada.
Sebastian considerou minha pergunta indigna de resposta,
estudando-me com a testa franzida. Ele segurou a caneca fumegante
diante de mim. Suspirei e tomei um gole.
— Bem, srta. Green, — disse o médico, deslizando para longe de mim
em seu banquinho, — além de algumas escoriações e hematomas, você
conseguiu escapar do jacaré ilesa.
A enfermeira voltou e colocou um cobertor no meu colo já bem
coberto.
— Eu acho que você teve sorte de o alfa real estar com você, — o
médico continuou.
Eu estava perdida nos olhos de Sebastian. Sua expressão permaneceu
inalterada, apesar das tentativas flagrantes de lisonja do médico. Ouvir
que eu estava bem era aparentemente tudo o que ele precisava.
Eu sorri para ele timidamente, puxando um dos cobertores em volta
dos meus ombros e apertando bem.
Algo mudou entre nós desde nossa aventura juntos. Mesmo nas luzes
brancas estéreis, a magia do pântano brilhante permaneceu.
Eu podia ver isso em seus olhos azuis calmos e perscrutadores. Ele
estava me olhando como se não pudesse acreditar que eu estava lá, ou
que tínhamos passado pelo que passamos.
De minha parte, não pude acreditar como ele havia neutralizado uma
situação tão louca.
Ele salvou minha vida com tanta facilidade e confiança.
Mesmo quando fui puxada para a água escura por uma força invisível,
tive uma sensação de calma. Eu sabia que podia confiar em Sebastian
para me manter segura, e ele provou que eu estava certa dez vezes.
Ele colocou a caneca na mesa ao lado dele, nunca desviando o olhar de
mim.
Sebastian pegou minha mão e desenhou pequenos círculos em minha
palma com o polegar.
Parecia tão íntimo, mas um momento depois, a paz foi interrompida
quando Caspian abriu a porta, entrando no quarto com a enfermeira em
seus calcanhares.
Caspian congelou quando me viu. Ele olhou feio para Sebastian, então
correu para o outro lado da cama e ajoelhou-se ao meu lado.
— Vim assim que soube que você estava ferida, — disse ele, sem
fôlego.
— Não estou ferida, Caspian, — respondi. — Você não precisa se
preocupar comigo.
— Eu sempre me preocupo com você, — Caspian disse. Seus olhos
analisavam meu rosto freneticamente. Ele ainda estava claramente
perturbado. — E quando eu soube que um jacaré pegou você...
— Eu sei, — respondi. — Sebastian me ajudou. Mas obrigada. — Nada
parecia ser a coisa certa a se dizer, mas fiquei comovida com sua
preocupação.
Peguei a mão de Caspian, na esperança de ajudá-lo a se acalmar, e
senti Sebastian recuar do meu outro lado.
De repente, me senti exausta. Estar com os dois homens no mesmo
lugar me deixava exausta porque eu nunca seria capaz de dizer a coisa
certa... ou fazer os dois felizes.
— Ele salvou você, é? — Caspian cuspiu, olhando por cima de mim
para Sebastian. — Ele é quem a colocou em perigo em primeiro lugar.
— Na verdade, fui eu quem tombou o barco a remo, — corrigi.
Mas nem ele nem Sebastian estavam me ouvindo. Era como o jantar
infernal novamente.
— Lyla nunca estará em perigo quando ela estiver comigo, —
Sebastian rosnou.
Caspian bufou.
— Ela acabou de estar, seu idiota arrogante.
Os dois homens se inclinaram para frente. Eles se encararam por cima
das minhas pernas; era como se eu nem estivesse lá.
— Se você algum dia colocá-la em perigo novamente, Alfa, eu juro pela
Deusa que vou fazer você se arrepender.
— Caspian, pare! — Eu exigi, mas minhas palavras foram ignoradas.
— Eu não acredito que você tenha o que é preciso para me fazer
qualquer coisa, seu filhote beta.
— Sebastian!
— Ah é? Eu diria que você está blefando, porque te deixei com ciúmes
desde o momento em que nos conhecemos. Porque sua companheira me
ama.
— Parem! — Eu gritei. O médico, que estava se distanciando cada vez
mais do conflito, saltou com o meu tom áspero.
Finalmente, Sebastian e Caspian reconheceram minha presença. Eles
eram tão competitivos, isso me deixava louca.
Espere um minuto...
Só então, tive uma ideia.
Eles querem transformar tudo em uma competição... então por que não
deixá-los competir?
Seria a oportunidade perfeita para colocar os dois em seus lugares.
— Se vocês estão tão decididos a competir, guardem isso para os Jogos
da Cúpula. O torneio de luta de porcos é amanhã.
Afastei minhas mãos de ambos e cruzei os braços sobre o peito.
Os dois homens se voltaram um para o outro, com olhares furiosos e
motivação renovada.
— Vamos aumentar as apostas, hein, Alfa? — Caspian apostou com
um sorriso malicioso. — Quem pegar aquele porco pode levar Lyla para
um encontro.
Ele ainda teve a coragem de inclinar a cabeça na minha direção. Como
ele ousa!? Caspian estava agindo como se eu fosse um prêmio a ser ganho.
— Ei, eu tenho algo a dizer — eu comecei.
Mas o brilho determinado nos olhos azuis de Sebastian disse tudo.
— Fechado, — ele concordou.
E então meus dois pretendentes apertaram as mãos.
A competição só poderia ter um vencedor... e isso se aplica a mais do
que apenas a luta de porcos.
Apenas um homem poderia vencer a luta pelo meu coração.
Mas se apenas um pudesse vencer...
Caspian ou Sebastian...
Para quem eu vou torcer?
15
O AMOR É SUJO
Caspian

Vadear em um poço de lama pode não ser a ideia de diversão de todos.


Mas eu?
Eu amei.
Eu nunca estive mais pronto para lutar contra um enorme porco
barrigudo amante da lama em minha vida.
O sol beijava a pele nua do meu peito e braços. A parte de baixo do
meu short estava coberta de lama.
Eu estava pronto para me sujar em nome do amor.
Os outros competidores ocuparam seus lugares ao meu redor em um
grande círculo no campo lamacento. A maioria de nós éramos alfas ou
betas, determinados a honrar nossas alcateias sendo os primeiros a pegar
o porco.
Esse era o meu plano também, mas eu estava lutando por mais do que
honra. Eu estava lutando para ter minha garota de volta.
Eu protegi meus olhos do sol enquanto olhava para as arquibancadas
cheias. As alcateias estavam sentadas juntas, bebendo limonada
enriquecida e torcendo por seus competidores.
Eu podia ver Lyla com um boné de beisebol, sentada com seus pais,
Skye e Teresa. Eu acenei para ela.
— Vaiiii Caspian! — A mãe de Lyla gritou, mas Lyla nem mesmo
acenou de volta.
Mas isso não iria diminuir meu bom humor. Talvez ela não pudesse
admitir que queria que eu ganhasse, mas eu tinha a sensação de que ela
queria.
Nada era melhor do que os encontros que tínhamos em casa. Lyla não
se esqueceria disso.
Por outro lado, eu sabia que ela não gostava que Sebastian e eu a
tratássemos como um prêmio.
Mas eu não estava muito preocupado. Eu já sabia exatamente o que
queria fazer para o nosso grande encontro.
Tudo que eu precisava fazer era vencer.
Uma grande mão agarrou meu ombro e me virei para ver Alfa Hugo.
— Você está pronto para levar para casa esta vitória para Lua Azul,
filho? — ele perguntou.
— Mais do que você imagina, Alfa, — respondi. Embora Teresa e eu
tivéssemos nossas diferenças, o pai dela sempre foi um mentor para mim.
Apertamos as mãos e ele encontrou uma posição inicial atrás de mim.
Eu senti alguém me observando.
Do outro lado do círculo, Sebastian olhou carrancudo em minha
direção. Eu sorri com bom humor. O alfa mostrou uma aparência dura,
mas achei que ele estava pelo menos um pouco intimidado.
Eu o observei enquanto os gêmeos, Tonya e Titus, se aproximavam
dele para uma conversa estimulante. Era quase estranho como eles eram
iguais. Tonya foi a única mulher a participar do evento.
Poucas garotas na Alcateia Real estavam dispostas a brincar na lama,
mas Tonya era um soldado por completo.
Talvez ELA seja minha maior competição, pensei, ainda mais do que
Sebastian.
Claro, eu não era um alfa. Mas eu era forte e inteligente. E se isso não
bastasse, eu estava determinado a mostrar a Lyla o quanto me importava
com ela.
Eu precisava de toda a ajuda que pudesse conseguir para ficar perto da
minha namorada.
— Bem-vindos, senhoras e senhores... à competição mais digna de
todos os Jogos da Cúpula! — Beta Caius gritou através de um megafone
com uma risada autoconsciente.
A multidão aplaudiu.
— O primeiro a pegar este porco barrigudo de 78 quilos coberto de
banha de porco será declarado o vencedor da... luta de porcos deste ano!
— Todo mundo enlouqueceu.
— E aí vem nossa própria Magnolia com... o homem do momento!
Golias! O mais escorregadio — e maior — porco barrigudo deste lado do
rio Mississippi!
Todos levantaram de seus assentos, esticando o pescoço para ver
Golias.
Do lado da arquibancada, o porco apareceu. Tinha manchas pretas
nas costas largas e rosadas. Ele guinchou ao puxar a corda que o prendia.
Magnolia apareceu cambaleando, rindo enquanto recuperava o
equilíbrio. Ela jogou o cabelo loiro sobre um ombro e gesticulou
amplamente para Golias.
Ela era uma verdadeira beldade sulista, linda e charmosa. Ela
caminhou graciosamente pela lama com botas de cowboy até a coxa.
Todos aplaudiram enquanto ela puxava com toda a força a corda de
Golias, levando-o para o centro da arena.
Eu encarei os olhos negros e redondos da besta enquanto ela bufava
de ansiedade.
Mal sabia o que o esperava...
Naquele momento, Magnolia aproximou-se do porco gigante e cortou
a corda de seu pescoço.
Finalmente, chegou a hora.
— Em suas marcas... preparem-se... VAI!
Um tiro foi disparado.
— Que o homem mais forte ganhe! — Beta Caius gritou.
Percebendo que estava preso, o porco se encolheu e então disparou...
direto para mim.
E eu disparei como um lobo na caça.
Aqui, porquinho. É hora de levar o bacon para casa.
Lyla

— Vai Caspian! — Minha mãe gritou em uma oitava desumana.


Eu assisti enquanto Golias, a pobre criatura, avançava direto para os
braços de Caspian.
Eu queria não me importar com o evento. Eu realmente queria. Mas
admito que meu coração estava na minha garganta. Parte de mim queria
que ele pegasse o porco gigante.
Mas, infelizmente, o animal era muito gorduroso e passou pelos
braços de Caspian.
— Não! — minha mãe chorou.
— Isso!, — Teresa aplaudiu baixinho.
Eu bati em seu braço, embora soubesse que não poderia esperar que
ela fosse imparcial.
— Torça pelo seu homem, ok? — Eu disse. — Porque nenhum dos
meus merece vencer agora.
— Oh, por favor! — Teresa estava usando óculos escuros, mas eu sabia
que ela estava revirando os olhos. — Todos nós sabemos qual dos seus
homens vai ganhar isso.
Eu olhei para o campo de batalha lamacento diante de mim.
Sebastian foi fácil de identificar entre os concorrentes. Ele era o mais
forte de todos os homens.
Seus bíceps e peitorais protuberantes brilhavam como se ele estivesse
oleoso, assim como o porco.
Ugh. Claro que ele era lindo mesmo coberto de lama.
Mas eu estava frustrada por ele ter participado do jogo bobo de
Caspian de que quem quer que ganhasse a luta de porcos também me
ganharia.
Eu não fiquei feliz com isso. Eu não era apenas um prêmio a ser
ganho.
Aparentemente, Golias, o porco, estava se sentindo da mesma
maneira. Ele rompeu uma parede de homens que esperavam por ele e
correu ao redor do poço de lama gritando.
Eu me senti mal por ele. Caspian e Sebastian estavam lutando na
minha frente, mas eu esperava que Golias vencesse.
Observei com admiração enquanto Golias percorria a circunferência
do poço de lama. Tonya e Titus entraram em formação de bloqueio.
Golias os atacou. Eles foram capazes de conter a enorme besta por
alguns momentos, agarrando seu corpo escorregadio... até que o porco
fugiu para longe.
Todos gritaram de agonia. Mesmo aqueles que não eram membros da
Alcateia Real queriam que Tonya, a única mulher no campo lamacento,
vencesse.
O que me deu uma ideia...
Enquanto Golias disparava em direção a Sebastian, e Sebastian, em
modo de defesa total, se preparou para receber a força adversária, eu tive
uma ideia...
Talvez eu não deva apenas ASSISTIR esta competição.
Sebastian

Saí da sujeira, coberto de lama.


A besta gordurosa escapou direto pelos meus braços. Isso não era
apenas diversão e jogos. Meu orgulho estava em jogo.
Era mais do que apenas uma luta de porco para mim.
Se eu perdesse a competição para Caspian, ele iria a um encontro com
minha companheira. E isso simplesmente não era algo que eu poderia
permitir.
Eu ia pegar aquele porco, nem que fosse a última coisa que fizesse.
O enorme animal avançou em direção ao outro lado do círculo, em
direção a Caspian e a floresta atrás dele.
Saí correndo, mesmo com a lama sugando minhas pernas. Eu me
movi rapidamente através do caos enquanto os homens caiam uns em
cima dos outros.
Outros alfas rolaram pela lama.
Mas eu não. Meu passo permaneceu firme.
Eu avancei, mesmo quando o porco guinchou e desviou, passando por
Caspian e Alfa Hugo.
Caspian me chamou, mas eu nem ouvi o que ele disse. Eu não estava
me concentrando na minha competição. Tudo o que pude ver foi o
prêmio.
Golias.
O porco parou na barreira de plástico. Minha intuição animal me
disse seu próximo movimento.
Todo o barulho ao meu redor desapareceu.
Eu precisava canalizar meus sentidos de lobo na minha forma
humana. Então, quando Golias deu meia volta, eu estava lá.
O porco percebeu que estava encurralado. Eu me preparei para o
golpe...
Golias correu para mim, esperando usar sua força absoluta para me
derrubar.
Seu corpo gorduroso escorregou pelos meus braços. Peguei suas patas
traseiras. Mas o porco chutou descontroladamente e eu perdi o controle.
A multidão aplaudia, mas não me importava se os aplausos eram a
meu favor ou contra mim.
Limpei minhas mãos engorduradas na calça enlameada e voltei para a
ação mais uma vez.
Golias estava percorrendo o perímetro do ringue mais uma vez. Até
mesmo alguns dos alfas mais fortes caíram na contagem, lutando para
recuperar o fôlego ou sendo sugados pela lama.
Pelo canto do olho, vi um homem correndo atrás do porco.
Caspian.
Ele tinha uma vantagem, estar mais perto do porco do que eu. Mas se
eu desse a volta no cerco, poderia interceptar Golias antes que Caspian o
alcançasse...
Corri, arrancando minhas pernas da lama a cada passo difícil.
Fiquei de olho em Golias e em meu competidor.
Finalmente, eu estava diretamente no caminho de Golias. O porco
gritou, olhou para trás e percebeu que estava preso em ambos os lados.
Golias estava exausto. Essa foi minha chance.
Não havia um momento a perder, mas meu tempo precisava ser
preciso.
Sobre as costas do porco untado, Caspian espelhou meus
movimentos. Ele se abaixou, pronto para atacar.
Com um grito de guerra final, eu me lancei para frente.
Eu sabia que estava um passo à frente. Enquanto eu voava no ar, eu
sabia que eu pegaria o porco.
Mas assim que alcancei o animal, o impensável ocorreu.
Lyla

Bem a tempo, pulei da arquibancada. Passei por cima da cerca de


plástico que separava o público dos competidores...
E eu agarrei Golias em meus braços!
Afundei na lama úmida e esmagadora. Um momento depois, fui
arremessada para frente.
Golias me arrastou e eu segurei seu pescoço para salvar minha vida. A
lama estava por toda parte. No meu cabelo, nas minhas axilas, na minha
boca.
A multidão rugiu.
Eu não conseguia parar agora. Eu só esperava que logo o porco ficasse
exausto.
Ele cambaleou para a direita e eu caí na lama com meu ombro direito.
Eu estremeci, mas mantive meu aperto.
Finalmente, o porco diminuiu a velocidade. Timidamente, eu dei um
tapinha em seu pescoço, deixando-o saber que ele poderia relaxar.
— Não vou machucar você, porquinho, — sussurrei para que apenas
Golias pudesse ouvir.
O porco grunhiu e se deitou ao meu lado.
Enquanto eu continuava a dar tapinhas em seu lado, o porco relaxou
em meus braços.
Oh, minha deusa. Eu consegui!
Eu levantei um punho enlameado no ar. Eu estava triunfante. A
multidão gritou meu nome.
Sebastian caminhou até mim e se abaixou, balançando a cabeça e
rindo enquanto me puxava da lama.
Um momento depois, Caspian passou os braços em volta de mim, me
dando um grande abraço.
— Você conseguiu, Ly! Você venceu todos nós, — ele gritou por cima
do barulho da multidão.
Eu olhei para os rostos animados. Eu me senti no topo do mundo.
Eu não queria ser um prêmio, então ganhei o jogo.
— Vou tomar minhas próprias decisões, meninos — regozijei-me,
virando-me entre Caspian e Sebastian. Esperançosamente, agora eles
sabiam que não podiam lutar por mim como garotos de escola.
— Então tome, Ly.
Os braços enlameados de Caspian estavam cruzados sobre o peito.
— O que? — Eu perguntei.
— Sim, tome uma decisão, Lyla. Aqui e agora. — Os olhos de
Sebastian queimaram com malícia.
— Com quem você quer sair?
16
ESCOLHA CERTA Lyla
Todo mundo estava olhando para mim.
Eu peguei o porco. Eu ganhei, conseguindo exatamente o que pensei
que queria.
A escolha era minha agora. Mas eu não tinha planejado fazer assim —
naquele momento e ali, e na frente de tantas pessoas.
— Caspian, Sebastian! Caspian, Sebastian! — à multidão aplaudiu,
consumindo o drama que se desenrolava no ringue.
Eu olhei inquieta para a minha direita. Sebastian acenou para a
multidão, então encontrou meu olhar com seu sorriso de parar o
coração. Ele estava em seu elemento de destaque.
A lama manchada em suas bochechas deixava seus olhos azuis ainda
mais lindos.
Oh, Deusa.
E então, do meu outro lado, a expressão de Caspian era séria e
vulnerável. Estávamos no meio de um grande evento, mas eu sabia que
era a única coisa que ele via.
Todos estavam esperando pela minha decisão.
Talvez devesse ter sido fácil. Eu poderia apenas ter escolhido meu
companheiro. Meu lindo e adorável companheiro alfa.
Mas isso é realmente o que meu coração quer?
Parte de mim ansiava por ficar fora dos holofotes. Eu sentia falta da
minha velha vida tranquila, onde éramos apenas Caspian e eu, e tudo era
simples.
Os gritos da multidão atingiram um nível febril.
Não pude tomar uma decisão então. Não tinha como. Eu precisava de
tempo para pensar.
Acenei meus braços e a multidão se acalmou.
— Tomarei uma decisão ao anoitecer!
Meu anúncio foi recebido com resmungos e reclamações. Certamente,
a Alcateia Real estava desapontada que alguém tão fraco de espírito e
indeciso fosse sua única esperança de uma Luna.
E minha família e amigos da Alcateia Lua Azul provavelmente
estavam se perguntando se eu poderia deixar para trás tão rapidamente o
lugar de onde vim...
Eu saí com dificuldade do poço de lama, pulei a barreira de plástico e
parti para a floresta.
De repente, fui oprimida pela decisão na minha frente. Era muito
mais do que apenas um encontro. Tratava-se de escolher com quem eu
queria passar minha vida...
E enquanto eu estava decidindo, estava arrastando dois homens para
o passeio. Quanto mais eu demorasse, mais dor causaria. Não importa o
que aconteça, eu quebraria o coração de alguém com quem me
importava profundamente.
Lágrimas encheram meus olhos enquanto a dura realidade desabou
sobre mim.
— Lyla! — Sebastian chamou. Eu me virei para ver Caspian e
Sebastian vindo em minha direção, querendo ajudar.
Eu levantei minha mão, esperando mantê-los longe. Ver os dois ao
mesmo tempo foi mais do que eu poderia suportar.
— Sinto muito, — eu resmunguei. — Eu preciso de algum tempo para
pensar.
Suas expressões mudaram ao mesmo tempo em que eles também
perceberam que sua aposta estúpida era muito mais do que um jogo.
Dando as costas a eles, saí pela floresta, tentando muito não imaginar
o que cada um deles estava sentindo.
Em pouco tempo, comecei a amar Sebastian. Eu sabia que ele estava
esperando por muito tempo para encontrar sua verdadeira companheira.
Agora ele me encontrou, e eu não poderia nem mesmo me comprometer
totalmente com ele.
Por outro lado, Caspian estava ao meu lado há anos. Ele sempre se
importou com o que tínhamos mais do que encontrar um verdadeiro
companheiro. Era nosso próprio tipo de vínculo especial.
E agora ele pode acabar sozinho.
Eu respirei trêmula, encostando-me em uma árvore coberta de
musgo. Eu precisava sair da minha cabeça.
Que bom que eu sei exatamente como fazer isso. Mudei para o meu lobo,
deixando minhas roupas lamacentas rasgadas no chão da floresta. Então
eu decolei. Eu corri entre as árvores, em direção ao pântano que estava à
minha frente.
A floresta fervilhava de vida. Minhas pernas rasgaram o solo quente e
úmido e respirei a fragrância inebriante do mundo natural.
Corri até meu corpo ficar exausto, mas minha cabeça estava calma.
Então eu segui o cheiro da casa da alcateia até que encontrei meu
caminho de volta. Atravessei o gramado em minha forma de lobo e
apenas me transformei perto da entrada dos fundos que levava ao meu
quarto.
A maioria dos lobos ali não teria pensado duas vezes em cruzar o
gramado da casa da alcateia nus.
Mas me sentir exposta era a última coisa que eu precisava naquele
momento.
Depois de um longo banho, desci a mesma escada de volta para o
gramado. Todo mundo estava lá fora aproveitando a noite quente.
Fui até a varanda e suspirei de alívio quando encontrei apenas minha
família e Teresa sentadas juntas. Naqueles dias, visitantes surpresa
haviam se tornado uma nova norma.
— Lyla! — Skye largou seus lápis de cor em cima do caderno diante
dela e correu para me abraçar. — Lyla é a rainha dos porcos. Isso foi o
mais legal de todos.
Skye sorriu para mim e eu ri enquanto alisava o cabelo loiro de sua
testa.
Deu-me um pouco de paz pensar sobre os acontecimentos do dia
através dos olhos da minha irmã mais nova.
— Sente-se ao meu lado, Ly! — Teresa chamou, dando tapinhas no
deck de madeira ao lado dela. — Você quer um cachorro-quente?
Do outro lado do gramado, enormes churrasqueiras assavam
hambúrgueres e espigas de milho.
— Estou bem por enquanto, — respondi, sentando-me ao lado dela.
Mesmo que eu me sentisse melhor do que antes, meu estômago ainda
estava em nós. Minha mãe sorriu para mim educadamente, o que eu
sabia significava que ela desaprovava minha interferência na corrida dos
porcos.
— Fico feliz em ver que você conseguiu se limpar, — ela disse
enquanto tomava um gole de chá doce.
Decidi que aquele comentário não merecia uma resposta.
Meu pai, por outro lado, estava orgulhoso. Ele ergueu sua cerveja para
mim.
— Onde está Reed? — Perguntei a Teresa, na esperança de desviar a
atenção de mim.
— Ele está com seu bando, — ela respondeu. — Eu disse a ele que ele
deveria passar um tempo com eles agora, já que ele vai voltar para Lua
Azul comigo quando tudo isso acabar.
— Não é adorável? — minha mãe perguntou. Teresa me lançou um
olhar de desculpas. Nós duas sabíamos o que viria a seguir.
— Imagine como seria simples, Ly, simplesmente voltar para Lua Azul
e continuar sua vida conosco.
— Eu não sei sobre vocês, mas não estou ansiosa para deixar este
lugar, — Teresa disse melancolicamente.
Eu segui seu olhar, olhando para o gramado verde e inclinado. O
salgueiro-chorão balançava com a brisa, e a luz rosa do pôr do sol
brilhava no pântano.
Era uma espécie de paraíso, ali no coração do Mississippi. Eu nunca
teria imaginado, mas combinava perfeitamente com o meu lobo. Tempo
quente, bela luz do sol e muito espaço para vagar.
— É como o paraíso, não é? — meu pai respondeu.
— Crescer aqui certamente deixaria uma pessoa mole, — disse minha
mãe. Claramente, a conversa havia se tornado muito otimista para ela.
— E estar sempre no centro das atenções! Isso não é jeito de um
homem ser. Os alfas reais são sempre presunçosos e pomposos. Eu não
quero isso para você, Lyla.
Suspirei.
— Bem, mãe, a decisão não é sua. — Eu sabia que ela podia ouvir o
cansaço em minha voz.
Ela se eriçou e tomou um gole de seu chá gelado.
— Se Lyla morasse aqui, você poderia vir e me visitar sempre que
quisesse, — Teresa lembrou a meus pais. — E, além disso, como você
poderia dizer não a esta mansão, Ly? Mesmo se seu companheiro não
fosse um alfa lindo?
— Obrigada pessoal, por sua contribuição inestimável, — eu disse
impassível.
Levantei-me e sentei ao lado de Skye, minhas pernas balançando
sobre a borda do convés. Até mesmo Teresa não estava me dando uma
chance.
Skye ergueu os olhos de seu desenho e ergueu seu copo de chá doce.
Eu tomei um gole. O gosto era bom, como o verão.
— Exatamente o que eu precisava, — eu disse a ela.
Ela sorriu para si mesma enquanto voltava ao desenho. Um lobo, é
claro.
— Adivinha quem estou desenhando, Lyla — disse ela sem erguer os
olhos.
Era apenas o contorno, mas pude distinguir um círculo ao redor do
olho direito do lobo.
— Alfa Sebastian? — Eu perguntei com um suspiro. Mas Skye olhou
surpresa. — Não, boba! É você!
Eu me peguei sorrindo e o alívio tomou conta de mim. Claro que o
lobo era eu. Eu também tinha uma mancha no olho.
Eu balancei minha cabeça maravilhada.
— Obrigado por isso, Skye.
— Pelo o que?
— Você me ajudou a lembrar de pensar em mim, não em todo mundo
o tempo todo.
Skye continuou a desenhar, mas ela acenou com a cabeça sabiamente.
— Você tem que descobrir o que você quer, Lyla. A escolha é sua, você
sabe.
Eu mal podia acreditar que minha irmã mais nova era quem estava me
dando o conselho de que eu precisava.
— Você é uma garota inteligente, sabia disso? — Eu perguntei a ela,
despenteando seu cabelo.
— Claro! — ela respondeu.
Eu sorri para o pôr do sol. O mundo estava claro para mim naquele
momento.
Skye me ajudou a perceber que eu precisava descobrir quem eu queria,
não o que todo mundo queria de mim.
Essa era a única maneira de eu ser feliz, e era a única maneira de fazer
qualquer outra pessoa feliz.
— Acabei! — Skye disse ao meu lado.
Eu me virei para ver um lobo todo branco com uma mancha preta. O
lobo estava sorrindo e sua língua estava para fora.
— Obrigado, Skye. Você é minha irmã favorita.
— Essa era a nossa piada, porque, claro, éramos a única irmã uma da
outra. Mas ainda assim nos fez sentir bem.
Skye se lançou no meu colo, tirando minha respiração com seu
abraço.
— Minha irmã favorita, — ela murmurou.
Quando a noite começou a cair, os acontecimentos do dia me
pegaram e me senti completamente exausta.
Aproveitei para fugir para o meu quarto, mandando beijos de boa
noite para minha família e Teresa.
Subi a escada de trás com dificuldade, minhas pernas parecendo
pesadas, mas meu coração parecendo leve.
Pela primeira vez desde o ritual de acasalamento, tive uma sensação
de clareza. Eu precisava de mais tempo para decidir com quem estaria,
mas agora tinha um roteiro.
Eu precisava decidir o que eu queria. E a única maneira de fazer isso
era passar um tempo de qualidade comigo mesma.
Virei a chave na fechadura, animada para fazer exatamente isso.
Empurrei minha porta e acendi a luz. E então meu coração parou.
Cobri minha boca, sufocando com o cheiro horrível que permeava o
ar. O cheiro da morte.
Golias, o porco gigante, estava pendurado no teto por seus próprios
intestinos.
O piso de madeira estava escorregadio com seu sangue, que pingava
dele como se saísse de uma torneira, pingando nas rachaduras da
madeira.
Ele havia sido cortado, sua pele espalhada para os lados em uma
matriz grotesca. O sangue coagulado me fez vomitar.
Quem diabos faria algo assim?
Os olhos da pobre criatura foram arrancados e gravadas em sua pele
havia cinco palavras sangrentas.
Palavras que fizeram meu sangue gelar.
Olho por olho.
17
OLHO POR OLHO
Lyla

Um ruído involuntário deixou minha garganta enquanto eu engasgava


com o ar momo.
Isso era mais do que uma brincadeira doentia. Isso era uma ameaça.
Alguém mutilou este animal e o deixou para que eu o encontrasse.
Mas por quê?
O que diabos eles querem de mim?
Um grito rasgou meu corpo quando o choque começou a passar. Meu
coração havia parado, mas agora estava batendo em dobro.
Um momento depois, Caspian entrou no meu quarto, envolvendo os
braços em volta de mim.
— Lyla, você está...?
Mas quando ele viu a carcaça de Golias, esculpida e pingando sangue,
ele fez uma pausa.
Ele puxou meu rosto em seu peito, protegendo-me do sangue
coagulado na nossa frente.
Fechei meus olhos, respirando o cheiro familiar dele. Eu sabia que se
eu focasse apenas em Caspian, poderia me sentir segura.
Seu corpo parecia um lar para mim. Firme e seguro.
Mas como ele pode me salvar de quem enviou esta mensagem horrível?
De repente, estava desesperada para sair do meu quarto. Eu queria
ficar o mais longe possível do animal morto.
Afastei-me de Caspian para ver outra figura na porta.
Sebastian estava congelado no lugar, olhando para o porco. Sua
compostura usual se foi, seu queixo caído e seus olhos traindo o medo.
Ele parecia ter visto um fantasma.
— Sebastian, — eu disse, minha voz rouca. Só então ele se virou para
olhar para mim. — Você sabe quem fez isso? — Eu perguntei.
Sebastian

Em vez de responder a Lyla, me virei e sai da sala. Eu avancei pelo


corredor.
— Reunião do Conselho. Imediatamente. — Eu disse no link mental da
Alcateia Real.
— Sebastian! — Lyla chamou.
— Por favor, fique aqui com os guardas! — Eu respondi sem me virar.
Eu precisava saber que ela estaria segura.
Meu coração disparou no meu peito e minha visão estava vermelha.
As palavras que foram gravadas na carne do porco ficaram gravadas em
minha mente.
Olho por olho.
Por mais que não quisesse acreditar, sabia quem era o responsável.
O homem que queria vingança e que nada pararia para me fazer
sofrer.
Silas.
Desci as escadas dos fundos até o andar térreo e continuei pelo
corredor até a sala de conferências, onde as reuniões do conselho eram
realizadas.
Eu seria o primeiro a chegar, mas esperava que os outros estivessem lá
logo em seguida.
O que eu não esperava era ver Lyla do lado de fora da porta, ofegante
ao recuperar o fôlego. Ela deve ter descido correndo a escada principal
para chegar primeiro.
— Eu quero entrar na reunião, — ela explodiu.
— Isso é impossível, — respondi.
— Por que? Já estive em uma antes!
— Fique com sua família. Isso não diz respeito a você. — Lamentei ter
ferido os sentimentos de Lyla, mas algo mais importante estava em jogo:
sua segurança.
Os olhos de Lyla ardiam de determinação.
— Mas eu deveria ser sua Luna, — ela disse, fechando o espaço entre
nós.
— Lyla, agora não é hora para essa conversa. — Minha voz era baixa e
ameaçadora. Olhei para atrás dela, para o quarto vazio. — Por favor, dê-
me licença. Eu tenho uma alcateia para proteger.
Eu esperei por um momento, me perguntando o que mais eu teria que
dizer para fazê-la ir embora. Mas eu a vi balançar a cabeça de frustração.
— Eu só posso estar aqui para você se você me deixar, — ela disse.
Então Lyla saiu do meu caminho antes que eu pudesse pensar em uma
resposta.
Sem olhar para trás, entrei e fechei a porta.
Eu sentei na cabeceira da mesa e massageei minhas têmporas. Mas
não ajudou a acalmar minha mente confusa.
Não havia como negar agora. A invasão e os ataques foram todos
obras de Silas.
De alguma forma, ele foi capaz de passar pelo sistema de segurança
superior da Alcateia Real. Ele tinha entrado no quarto de Lyla, pelo amor
de Deus.
— Fale comigo, Alfa. — Caius não perdeu tempo quando entrou na
sala e se sentou ao meu lado.
— Outra invasão, — comecei. Mas um momento depois, os outros
entraram.
Tonya e Titus se inclinaram sobre a mesa ansiosamente; Tiberius
sentou-se do meu outro lado e imediatamente começou a respirar no
meu pescoço.
Magnolia fechou e trancou a porta, então se abaixou em seu assento,
seus olhos brilhando de preocupação.
— O porco foi encontrado mutilado no quarto de Lyla, — comecei,
sem perder tempo. — Em sua pele estava gravada a frase: 'Olho por olho'.
Magnolia engasgou. De repente, todos estavam falando ao mesmo
tempo.
— Silas. Tem que ser.
— Ele já penetrou em nossas defesas! — Tonya bateu com o punho na
mesa. — Ele conseguiu entrar na casa com Golias e não o vimos.
— Precisamos enviar mais tropas, Alfa. Imediatamente, —
acrescentou Titus.
Eu balancei a cabeça, dando-lhes sinal verde.
— Então, as invasões sempre foram Silas, — Caius raciocinou. — Não
podemos perder mais tempo.
— Os rumores são verdadeiros. Silas voltou, — Magnolia disse
suavemente.
— Então não há dúvida em minha mente. A Cúpula deve ser
cancelada imediatamente, — Tiberius anunciou.
Todos ficaram em silêncio, esperando ouvir minha opinião.
— Cancelar a Cúpula só vai espalhar medo e pânico. O festival deve
continuar. Devemos continuar como de costume e manter as aparências.
Fiz uma pausa antes de entregar os detalhes da minha estratégia.
— Devemos continuar como de costume e manter as aparências. Nos
bastidores, aumentaremos nossas defesas. Continuaremos em guarda
para quaisquer violações de segurança adicionais.
Tibério não gostou da decisão e Caius também parecia constrangido.
Mesmo assim, ninguém ousou desafiar meu julgamento.
Permanecemos em silêncio por mais um momento.
— Obrigado, conselho. Reunião encerrada. — concluí.
Lyla

Mordi meu lábio atrás das cortinas pesadas. Eu mal podia acreditar
que meu plano funcionou tão bem.
Quando Sebastian me disse para ir embora, eu não o obedeci. Eu
tinha pulado atrás das cortinas da janela do corredor oposto à sala de
reuniões. Para minha surpresa, consegui ouvir tudo.
Mas minha cabeça estava girando. De alguma forma, Sebastian tinha
certeza de que Silas era o responsável pelo porco mutilado.
Silas matou os pais de Sebastian. Ele já não tinha feito o suficiente?
Eu não conseguia afastar a sensação de que havia algo que Sebastian
estava escondendo de mim.
A porta se abriu e os membros do conselho saíram em fila.
Prendi a respiração, esperando que todos fossem embora
rapidamente.
— Sebastian. — Sua voz doce como mel raspou em meus ouvidos.
Magnolia.
Eu balancei minhas costas contra a parede. Através da fratura nas
cortinas, eu só fui capaz de ver Sebastian fazer uma pausa.
Magnolia correu até ele e colocou a mão em seu antebraço. O ciúme
me atingiu como um soco no estômago.
Eu não conseguia respirar. A maneira como ela o tocou... a intimidade
entre eles... era quase demais para suportar.
A ironia da situação não passou despercebida.
Deve ser assim que Sebastian se sente em relação a Caspian...
— Você está bem? — Magnolia perguntou, sua voz baixa. Como se ela
estivesse apenas esperando para ficar a sós com ele. Eu cerrei minhas
mãos em punhos.
Sebastian assentiu, parecendo relaxar um pouco na presença dela.
— Estou bem. Eu só quero deixar o passado para trás, mas estou
começando a pensar que isso nunca será possível.
Magnolia é outra coisa que eu gostaria que você deixasse para trás, pensei
amargamente. Mas, enquanto pensava mais nisso, me perguntei o que
Sebastian queria dizer.
O que aconteceu entre ele e Silas?
— Não importa o que aconteça, estou sempre aqui para você. —
Magnolia sorriu para o meu homem.
— Eu aprecio isso, — Sebastian disse com um suspiro.
Então Magnolia estendeu a mão e colocou os braços em volta dos
ombros largos de Sebastian, e por um segundo seu corpo relaxou no
abraço.
Foi doloroso ver a conexão óbvia entre os dois.
Como posso competir com a história que eles compartilham?
Eu balancei minha cabeça, desejando parar esses pensamentos
insanos. Sebastian me queria. Ele havia deixado isso bem claro.
Era eu quem precisava tomar uma decisão.
Uma decisão difícil.
Fiquei chocada com o quão completamente o medo de perdê-lo
nublou meu julgamento.
— Seb. — Eu estremeci com o apelido e o fato de que Magnolia ainda
estava abraçando ele.
— Sim, Magnolia?
— Você sabe que não se trata apenas de Silas se rebelando. Isso é
pessoal, — Magnolia disse, sua voz baixa e intensa.
— Eu entendo, — Sebastian se afastou dela. Claramente ela não o
estava confortando mais.
— Ouça-me, — Magnolia exigiu, e Sebastian fez uma pausa mais uma
vez. — Veja. Silas nem deixou o porco no seu quarto. 'Olho por olho?' O
aviso foi sobre Lyla.
Fiquei tonta de repente, e não era apenas por prender a respiração.
— Estou cuidando disso, — Sebastian disse rispidamente.
Ele se afastou de Magnolia e subiu as escadas.
Comecei a entrar em pânico, minha respiração pesada e alta assim que
fiquei sozinha. Eu cambaleei para o corredor.
Percebi que Magnolia era a menor das minhas preocupações. Até a
minha decisão mais importante — escolher o homem com quem passaria
o resto da minha vida — empalideceu em comparação com o que acabara
de aprender.
Magnolia tinha acabado de me dizer o que Sebastian nunca diria:
Silas queria me matar.
18
O SEGREDO DO ALFA
Lyla

Na última hora, experimentei um verdadeiro coquetel de sentimentos


terríveis.
Nojo, confusão, ciúme e medo.
Mas enquanto eu estava no corredor, tentando me recompor, uma
emoção superou todas as outras.
Raiva.
Avancei pelo corredor e entrei no corredor principal. Os olhos de Beta
Caius se arregalaram quando ele me viu, e ele correu para me alcançar,
deixando um lobisomem bem-intencionado falando sozinho.
Corri para o outro lado e desci outro corredor, direto para o escritório
de Sebastian. Eu abri a porta e fiquei lá lutando para recuperar o fôlego.
Seu escritório era todo de madeira escura. Retratos de alfas do
passado pairavam pela sala.
Sebastian estava curvado sobre a mesa, segurando a cabeça entre as
mãos. Quando ele olhou para mim, foi como se ele tivesse envelhecido
dez anos.
Foi quase o suficiente para me fazer sentir mal por ele.
Quase.
— Você estava planejando me dizer que seu ex-melhor amigo está
tentando me matar? — Eu exigi.
— Lyla, feche a porta. — Sua voz era firme e severa. Se eu não estivesse
com tanta raiva, poderia ter sido intimidada por ele.
Fechei a porta e cruzei os braços sobre o peito.
— Você ouviu a reunião? — ele perguntou lentamente.
— Tenho todo o direito de saber o que está acontecendo! O porco
estava no meu quarto! — Eu gritei.
Ele respirou fundo e fechou os olhos, como se estivesse tentando
conter seu próprio temperamento.
— Você agiu pelas minhas costas ao ouvir aquela conversa. Confie em
mim quando digo que isso é algo com que posso lidar.
Eu estreitei meus olhos. Eu sabia exatamente o que Sebastian estava
fazendo.
Ele estava fazendo o que fazia de melhor. Sendo o líder frio e não
afetado. O alfa.
— Sebastian. Como posso confiar em você quando Silas mutilou um
animal no meu quarto? — Eu não conseguia acreditar que estava tendo
aquela conversa.
Ele deixou escapar outro suspiro profundo e se levantou. Parecia que
ele havia baixado suas defesas.
— Lyla, — disse ele enquanto caminhava em minha direção. Ele parou
bem na minha frente, seu peito perto o suficiente para tocar se eu
estendesse minha mão. Eu senti a familiar adrenalina.
A sensação de estar perto de seu verdadeiro companheiro.
— Se algo acontecesse com você, não sei o que faria. — Sua voz era
baixa. — Minha vida iria acabar.
Seu rosto era tão sincero que quase doeu olhar em seus olhos.
— Sinto muito por não ter te contado, mas saiba que estou fazendo de
tudo para ter certeza de que você está segura. Você é a coisa mais
importante para mim agora. Eu sempre vou te proteger. — Ele pegou
minha mão e me puxou para mais perto.
Por um momento, não consegui pensar em nada além do espaço entre
nós.
Ele se inclinou para ficar ainda mais perto de mim. Seu corpo era
grande e forte; seu rosto ficou ainda mais bonito em sua vulnerabilidade.
Ele era o alfa da alcateia mais intimidante do mundo.
Não posso simplesmente confiar que estarei segura com ele?
Mas então tudo voltou para mim. As palavras gravadas nas costas do
porco morto... o resto do conselho argumentando que Silas era uma
ameaça muito grande para ser ignorada...
Sebastian insistindo em continuar de qualquer maneira... e então
Magnolia.
— Eu não posso, — eu sussurrei, me afastando. — Sebastian, há algo
que você não está me dizendo. O que realmente aconteceu entre você e
Silas?
Sebastian

Era isso. Eu sempre temi o momento em que teria que contar para
minha companheira o que tinha feito. Meu segredo mais sombrio.
Resisti a contar a Lyla porque as coisas já estavam muito instáveis
entre nós. Eu temia que meu segredo pudesse ser a gota d'água...
Se ela soubesse a verdade, ela poderia me deixar para sempre.
— Há... mais nessa história, — eu consegui dizer.
Lyla ficou a alguns passos de distância, me olhando com incerteza.
Recuei até estar encostado na minha mesa.
Era bom apoiar meu peso em algo.
— Anos atrás, quando Silas encontrou sua companheira, houve uma...
complicação. — Minha voz soou estranha para mim e minha visão estava
turva também. Eu não conseguia me concentrar e percebi que estava
ficando tonto.
É isso, pensei comigo mesmo. Você vai perder sua companheira antes
mesmo de tê-la.
— Ela era uma humana, e Silas a transformou. O processo funcionou
para seu corpo, mas sua mente travou.
Soltei um suspiro trêmulo, lembrando-me dela. Ela parecia uma
mulher, mas sua mente era a de um animal.
— Eu sabia que algo estava errado quando Silas não me disse mais
nada sobre ela. Ele não me deixou conhecê-la. Ele parou de atender
minhas ligações. E meus pais...
Minha voz falhou. Minha mãe e meu pai sempre tiveram uma noção
clara do que era certo. Eles fizeram parecer fácil liderar uma alcateia.
— Meus pais sabiam que Silas estava transformando mulheres
inocentes. Eles foram procurá-lo.
Lyla se aproximou e colocou a mão no meu braço. Sua compaixão
quase me fez sentir pior, porque logo ela perceberia que eu não merecia
isso.
— Silas conheceu meus pais com sua companheira. A mulher era
selvagem, raivosa. Ela havia perdido sua humanidade na mudança,
mesmo em sua forma humana. Tudo o que restou foi a pior parte de um
lobisomem... a sede de sangue. O desejo de violência.
Lyla se aproximou. Eu não conseguia olhar para ela.
— Ela matou meus pais. — Minhas mãos tremiam naquele momento.
O que veio a seguir foi a parte que eu escondi de Lyla — a parte que eu
esperava tão desesperadamente que ela não precisasse saber.
— Eu não tive escolha. Eu a rastreei e a matei.
As memórias terríveis inundaram minha mente. Uma coisa é matar
um lobo. Mas uma mulher humana...
O que eu tinha feito assombrava meus sonhos até aquele dia.
Lyla ainda estava me tocando, mas eu nunca me senti tão longe dela.
O silêncio pairou entre nós, pesado com minha vergonha.
— Você acha que eu sou um monstro? — Eu sussurrei.
Antes de Lyla responder, ela se afastou de mim. O gesto disse mais do
que palavras jamais poderiam. — Você não é um monstro, — ela disse
finalmente. — Mas você mentiu para mim.
Eu me virei para ela, incrédulo.
Ela poderia realmente perdoar o que eu fiz?
Mas sua expressão era fria.
— Sebastian, eu entendo o que você fez naquela época, — ela disse. —
Você matou a companheira de Silas. Isso me torna seu alvo natural. Você
sempre soube que havia um risco... mas eu não sabia.
Ela balançou a cabeça.
— Eu mereço saber disso. E mesmo depois de ele me ameaçar, você
não me contou o que aconteceu. Você me disse para não me preocupar.
Sua expressão mudou entre confusão e raiva. Ela parecia mais distante
a cada momento que passava.
— Eu deveria ser sua Luna! E ainda assim você não confia em mim
com a verdade. — Ela me olhou exasperada, esperando minha resposta.
— Você é minha Luna, Lyla? — Eu surtei. — Porque eu ainda não sei, e
parece que você também não. Como posso confiar em você se você não
quer se comprometer comigo?
Minhas palavras afundaram no ar diante de mim. Ao ouvir minhas
próprias palavras, percebi que soava na defensiva e que estava
choramingando.
Por que isso está acontecendo assim?
Lyla zombou de mim, dizendo:
— Você sabe o que torna tudo isso pior? Magnolia ganhou sua
confiança. Ela está mais atualizada sobre as ameaças à minha segurança
do que eu!
Seus olhos estavam selvagens agora. Eu me afastei da mesa,
precisando me mover. A raiva passava por mim.
Nós dois diríamos mais coisas das quais nos arrependeríamos. Mas eu
sabia que havia passado do ponto sem volta.
Lyla

— Magnolia é uma velha amiga minha, — Sebastian rosnou. — É claro


que ela sabe coisas sobre meu passado.
Ele soltou uma risada.
— E não é irônico que você esteja com ciúmes?
Minhas bochechas queimaram. Ele estava certo. Claro que ele estava.
Sebastian se afastou de mim, balançando a cabeça.
Eu sabia que era loucura sentir ciúme de Magnolia. Sebastian havia
terminado seu relacionamento.
Ele estava pronto para se comprometer comigo, e ele tinha me dito
isso muitas vezes. Eu era a única que estava no nosso caminho.
Mas nossa discussão era mais do que ciúme. Era uma questão de
honestidade.
Eu estava com raiva e magoada.
Ainda assim, eu estava preocupada em estar levando as coisas longe
demais. Parte de mim queria esquecer isso e perdoá-lo por guardar
segredos, por tudo.
Mas eu não poderia continuar assim, protegida da realidade. Mantida
longe da verdade.
Ser companheira de Sebastian significava que minha vida estava em
risco, e ele escondeu isso de mim.
— Você não está sendo honesta também, — ele disse. — Você nem
consegue decidir entre mim e Caspian!
— Isso não se trata dele! — Eu gritei de volta.
— Você está certa, Lyla. Não se trata dele. Isso é sobre nós. E talvez se
você estivesse mais interessada em ser Luna do que em passar um tempo
com Caspian, haveria um 'nós'.
As mãos de Sebastian estavam fechadas em punhos. Eu sabia que ele
nunca me machucaria. Mas eu me preocupei que ele pudesse ir embora.
Ele pode se cansar de esperar que eu me decida e vá embora para sempre.
Então, reagi da única maneira que conhecia.
Tornando tudo pior.
— Caspian é um 'velho amigo', — eu cuspi suas próprias palavras de
volta para ele.
A mandíbula de Sebastian estava firme.
— Você é uma pessoa difícil, sabia disso? — ele perguntou. Com um
último olhar consternado, ele voltou para sua mesa e se sentou. — Eu
preciso de você fora daqui. Se você vai agir como uma criança, vou tratá-
la como uma.
— O que isso significa?! — Eu gritei.
Sebastian não respondeu imediatamente, em vez disso se concentrou
bastante, como se estivesse silenciosamente ligando a mente de alguém.
Uma batida repentina na porta me fez pular.
— Você ficará em lockdown por alguns dias. Para sua própria
segurança.
Guardas musculosos entraram na sala, parecendo se desculpar quando
agarraram meus braços. Tentei me afastar deles, mas foi inútil.
Ele está realmente me colocando em prisão domiciliar.
— Você pode me trancar, mas nunca me controlará! — Eu gritei para
Sebastian.
O alfa nem mesmo ergueu os olhos de sua mesa enquanto eles me
arrastavam para longe.

Uma hora depois, eu havia me acalmado um pouco, mas não o


suficiente para dormir.
O dia foi um dos mais longos da minha vida. Provavelmente era por
isso que minha mente não parava quieta.
Continuei repetindo minha luta com Sebastian em minha cabeça. No
início, senti pena e vergonha. Então, me senti injustiçada.
Eu deveria ser uma Luna, não uma adolescente que precisava ser
castigada.
Fiquei olhando para o meu novo quarto. Era quase idêntico ao meu
antigo, o que me lembrou da sensação que tive quando cheguei a casa da
alcateia: de ficar em um hotel em vez de uma casa.
Do lado de fora da minha janela, a lua brilhava sobre o gramado, e eu
podia ver meu salgueiro-chorão favorito, suas folhas brilhando ao luar.
Eu puxei minhas cobertas. Eu estava farta de ficar deitada na cama. Eu
queria sair.
E naquele momento, havia apenas uma pessoa que poderia me fazer
sentir melhor.
Tirei meu pijama e coloquei uma calça jeans. A intuição me disse que
um guarda estava esperando do lado de fora da minha porta, então abri a
janela.
A noite estava quente e clara. Clima perfeito para uma aventura.
Exceto que um guarda, em forma de lobo, estava rondando o
perímetro abaixo de mim.
Esperei que ele virasse a esquina e fiz minha jogada.
Abaixo da minha janela havia uma saliência na rocha exterior do
edifício, e eu pisei nela e fiz meu caminho lentamente até a esquina.
Foi fácil descer e, antes que eu percebesse, meus pés estavam na
grama.
Mas meu destino estava do outro lado da casa da alcateia. Eu me
esgueirei perto do prédio, virando a esquina escura, movendo-me na
direção oposta do guarda.
Eu não teria muito tempo antes que ele fizesse outra ronda.
Pegando uma pedra, mirei na janela que queria.
Alguns momentos depois, Caspian abriu a janela e se inclinou para
fora, esfregando os olhos.
— Ly? — ele perguntou com uma surpresa encantada.
— Ei, — eu chamei, mantendo minha voz baixa. — Você quer ir
naquele encontro?
19
PERTO DO LIMITE
Caspian

Eu me senti como uma criança de novo. Eu realmente me sentia.


Era como se eu tivesse dezesseis anos, convidando Lyla para o baile de
boas-vindas, e ela disse sim.
Era uma sensação que eu não poderia comparar com nada. A melhor
coisa do mundo, e eu só a sentia com Lyla.
Coloquei uma calça de moletom e uma camiseta. Eu poderia muito
bem abrir minha porta e usar a entrada principal, mas fui arrebatado pelo
jogo de Lyla.
Era uma aventura e eu queria continuar.
Escalei a lateral do prédio e pulei, rolando dramaticamente na grama.
Lyla desatou a rir, mas abafou a risada com o punho do moletom.
Seus olhos brilharam ao luar. Ela nunca pareceu mais bonita para
mim.
Talvez tenha sido a hora ímpia, ou o ar de travessura, ou o olhar em
seus olhos... mas a realidade parecia muito distante. Naquele momento,
eu não precisava compartilhar Lyla com ninguém.
Ela era minha namorada novamente, e eu planejava viver essa fantasia
ao máximo.
— Para onde agora? — Eu perguntei, pegando sua mão. Eu não
conseguiria parar de sorrir se tentasse.
— Achei que poderíamos dar um mergulho noturno, — respondeu
ela, — no Fleur de Lis.
Eu ri alto. Ela puxou meu braço, me puxando para frente pelo
gramado.
Descemos a calçada e depois seguimos para o pântano. Não
conversamos nem nada. Eu estava apenas curtindo sua companhia e a
noite quente de verão.
O hotel se erguia diante de nós, enorme e imponente com degraus de
mármore rosa.
— Lar doce lar, — eu suspirei. Faz apenas alguns dias que fui instalado
lá, mas parecia uma vida inteira de distância.
Lyla riu e deu um soco no meu braço. A situação toda parecia algo de
que poderíamos rir naquele momento.
Fomos para a parte de trás do prédio, onde uma piscina gigante ficava
atrás de portões de madeira. Espiamos pelas fendas juntos.
A piscina foi construída com ladrilhos de um azul profundo e as luzes
estavam acesas. A água estava tranquila e convidativa. Grandes árvores
nos cercavam. Estávamos basicamente sozinhos.
— Você quer uma mãozinha? — Eu perguntei.
Eu entrelacei minhas mãos para formar um degrau, e ela colocou seu
peso em mim, empurrando para cima. Com um salto gracioso, ela estava
do outro lado.
Eu me levantei facilmente, pulei e cai suavemente no deque da
piscina.
Lyla já estava agachada à beira da piscina, mergulhando os dedos na
água.
— Como está a temperatura? — Eu perguntei.
— Perfeita.
Ela se levantou e havia algo malicioso em seu sorriso. Não usávamos
roupas de banho, mas eu poderia dizer que não precisaríamos delas.
Tirei minha calça de moletom, então estava apenas de boxer, e parei
na beira da piscina por um momento antes de mergulhar.
A água sussurrou sobre minha pele, perfeitamente fria. Quando saí,
Lyla estava com suas roupas de banho, de pé onde eu havia pulado.
— Venha aqui, — eu sussurrei. E então ela mergulhou também.
Observei seu corpo sob a água. Seu cabelo esvoaçava atrás dela em
uma linha perfeita e brilhante. Seus quadris se torciam enquanto ela
chutava.
Sua cabeça rompeu a água e ela alisou o cabelo para trás do rosto
antes de abrir os olhos.
Ela encontrou meu olhar, então desviou o olhar. Isso me machucou —
o quão bonita ela era. Mas também, algo havia mudado no ar noturno.
Como se rompendo a superfície da água tivesse estourado a fantasia de
que estávamos sozinhos.
Eu não podia negar que Lyla não era mais minha.
Lyla tombou de costas, chutando com as pernas e suspirando alto para
as estrelas. Parecia que ela queria se manter ocupada ou evitar falar, com
medo de que algo desagradável pudesse surgir.
Eu submergi minha cabeça na água, pulando da parede e nadando até
meus pulmões queimarem. Lyla estava apoiando os braços na beira da
piscina, olhando para o hotel diante de nós. Eu mergulhei na água
novamente, lancei-me em sua direção e cutuquei o lado de seu corpo.
— Ataque de tubarão! — Eu gritei quando voltei à superfície.
— Não, você não vai fazer isso, — ela respondeu, colocando as mãos
na minha cabeça e me empurrando para baixo.
Eu saí da água, alcançando sua cintura e fazendo cócegas no lugar que
eu sabia que era o mais sensível dela.
Ela se afastou de mim e, por um momento, ficamos separados um do
outro enquanto recuperávamos o fôlego.
Enquanto nós nos observávamos, eu sabia que nenhum de nós
poderia mais manter a ilusão de que tudo estava bem.
O sorriso de Lyla se desvaneceu. E naquele momento, fui dominado
pelo meu amor esmagador por ela. Ele tomou conta de mim como um
maremoto.
Eu sabia que, embora não fosse o que ela queria ouvir, eu precisava
contar a ela. Eu precisava colocar tudo para fora ou então me
arrependeria para sempre.
— Você se lembra quando eu disse que queria evitar a Cúpula? — Eu
perguntei.
Lyla estava quieta.
— Eu disse que não me importava com o que a Deusa da Lua tinha
reservado para mim, — eu disse, — porque eu tinha você. Eu queria
escolher meu próprio destino. Eu não me importava com o que as
estrelas tinham a dizer.
Lyla desviou o olhar, olhando para seu reflexo ondulante na água.
— E eu recusei, — disse ela em voz baixa.
— Esse não é o ponto, Ly, — respondi, não querendo fazê-la se sentir
mal. — Eu só fico pensando...
Eu me pergunto se, naquele momento, eu tinha a sensação de que não
éramos companheiros de verdade.
Eu encarei a lua enorme e insensível.
— Mas o pior é que, agora que tenho certeza, ainda não me importo,
— disse eu. — Amo você, Lyla. Eu escolhi você como minha pessoa, como
minha alma gêmea, mesmo que a Deusa da Lua não o tenha feito.
Lágrimas se acumularam nos olhos de Lyla. Havia uma guerra feroz
dentro dela, puxando-a em duas direções.
Eu não poderia lutar essa batalha por ela. Eu sabia disso.
— Como seria? — Eu perguntei quando o pensamento me ocorreu. —
Se não tivéssemos vindo aqui; se nunca descobríssemos quem são nossos
verdadeiros companheiros...
Respirei fundo e fiz a ela a pergunta que me atormentava desde a
cerimônia de acasalamento:
— Você acha que seríamos felizes juntos?
Lyla

O rosto de Caspian estava tão expressivo, tão amoroso, que tive que
desviar o olhar.
Suas palavras passaram pela minha mente várias vezes.
Seríamos felizes juntos?
A resposta veio de dentro de mim e tive quase certeza de que era
verdade.
— Eu acho que sim, — eu sussurrei. Quando voltei meu olhar para
Caspian, seus olhos estavam arregalados de alívio. — Mas temo que esse
não seja realmente o problema...
Eu me movi pela água, de volta ao lado da piscina, apoiando meus
braços contra ela.
Eu me perguntei: Como seria minha vida se eu não tivesse conhecido
Sebastian?
Nesse momento seria mais fácil — eu tinha certeza disso. Mas apenas
o pensamento de perdê-lo me encheu de tristeza.
E se eu tiver que perder Caspian... Meu coração torceu dolorosamente.
Eu tinha certeza que Caspian e eu poderíamos ser felizes juntos.
Poderíamos voltar ao lugar que ambos conhecíamos e amávamos.
Minha vida seria o que sempre imaginei.
Mas Sebastian representava um futuro além dos meus sonhos mais
selvagens. Paixão, poder, privilégio...
Só de pensar nisso, minha cabeça girou.
Meus dois futuros possíveis se expandiram diante de mim como dois
caminhos não trilhados. Eu sabia que, uma vez que começasse a
caminhar por um, o outro desapareceria para sempre.
Eu me virei para Caspian. Ele estava recostado na lateral da piscina,
me olhando com preocupação.
Fiquei impressionada com sua paciência, seu amor constante. E
enquanto eu olhava para o homem que estava ao meu lado desde que eu
conseguia me lembrar, não havia dúvida em meu coração de que eu o
amava.
Eu não sabia se isso era o suficiente para sempre, mas era o suficiente
para o agora.
Eu me movi em direção a Caspian e seus braços se abriram para mim.
Ele me abraçou e eu inclinei meu peso sobre ele, confiante de que ele me
apoiaria.
Isso não é suficiente? Eu me perguntei. Não é esse sentimento de
aceitação tudo que eu sempre quis?
As mãos de Caspian eram fortes contra minhas costas. A pele de seu
peito estava quente na água. Enquanto eu sentia o cheiro dele, o abraço
se tornou outra coisa. Seu corpo era mais do que apenas conforto para
mim.
Foi elétrico. Eu reajustei minhas mãos sobre seu peito duro e liso, e
seu corpo enrijeceu. Meu coração começou a bater descontroladamente
de ansiedade.
Quando olhei para cima, Caspian já estava lá, esperando. Meus lábios
encontraram os dele facilmente, e paramos por um momento, respirando
a respiração um do outro. Deixando que o sentimento fosse construído
entre nós.
Seu beijo foi terno e suave, como se nós dois fôssemos frágeis.
Realmente, nós dois éramos. Mas então eu me inclinei contra ele com
mais força, e ele me encontrou com uma paixão desprotegida. Ele me
puxou para mais perto e então percebi: eu não era feita de vidro.
Naquele momento, não precisava ser tratada com cuidado. E ele
também não.
Suas mãos estavam por toda parte, me segurando. Eu podia sentir o
amor em cada toque, o que me deixava tonta de desejo.
Eu confiei no homem diante de mim completamente. Eu o beijei
profundamente como se pudesse beber dele.
Ele me pegou em seus braços e me carregou em direção aos degraus
da piscina, para fora da água. Ele me deitou suavemente em uma
espreguiçadeira.
À nossa volta, a noite fervilhava de grilos e sapos. A copa das árvores
nos escondeu. Estávamos totalmente sozinhos.
Estremeci, mas foi mais por antecipação do que pela brisa fresca.
— Vou mantê-la aquecida — Caspian prometeu.
Eu olhei para ele, seus olhos amorosos que me aceitavam exatamente
como eu era. Toquei as gotas de água em seu peito perfeito, brilhando ao
luar.
Então eu agarrei sua nuca, puxando-o para baixo em cima de mim, em
um beijo profundo.
Ele respondeu com igual paixão, colocando uma de suas pernas entre
as minhas para que eu pudesse sentir sua ereção crescente contra minha
coxa.
Minha respiração estava ofegante enquanto passava minhas mãos por
seu corpo. Meu corpo estava reagindo antes de minha cabeça.
Mas eu não queria pensar. Isso parecia certo, e eu não queria lutar
contra isso.
Alcancei sua cueca, acariciando a pele macia de seu membro duro
como pedra. A respiração de Caspian ficou irregular.
— Porra, Lyla, — ele engasgou.
Abaixei sua cueca para que pudesse vê-lo. Seu abdômen ondulou,
chegando até seu pau perfeito, que se flexionou em minha mão.
Sem pensar, puxei minha calcinha para o lado, desesperada para senti-
lo.
Ele se inclinou em minha direção, então o comprimento dele estava
contra o meu sexo quando eu abri minhas pernas.
Meus músculos internos se contraíram de desejo enquanto movia
meus quadris contra ele.
Estávamos tão perto. Estávamos a apenas um movimento de
distância. Eu estava delirando de luxúria, já perto do orgasmo.
Suas mãos em mim eram gentis e fortes. Eu podia sentir que ele tinha
certeza: eu era tudo o que ele sempre quis; tudo o que ele sempre iria
querer.
Essa seria a sensação de fazer amor com Caspian, eu teria certeza
disso então.
Ele iria me adorar, aceitar todas as falhas e me dar tudo o que tinha.
Eu queria aceitá-lo, mais do que qualquer coisa.
Caspian abriu os olhos e olhou nos meus com uma intensidade
ardente. Era uma pergunta — uma que eu não sabia se poderia
responder.
Esta é a hora?
Vou finalmente perder minha virgindade?
20
PROBLEMAS DEPOIS DA MEIA-NOITE
Lyla

Eu empurrei meus quadris, sentindo o comprimento do pau de


Caspian deslizar sobre a minha abertura.
Minha cabeça estava quente e pesada. Eu estava consumido pelo
ritmo de nossos corpos. O calor de sua pele no ar frio da noite.
Caspian beijou meu pescoço e eu engasguei para respirar. Ele se
abaixou, movendo seu pau para o lado e, em vez disso, empurrou um
dedo dentro de mim.
Eu gritei. Ele me acariciou como já havia feito tantas vezes antes.
Mas de alguma forma isso não me aproximou do meu limite.
Em vez disso, me fez pensar em Sebastian. Da última vez que estive
sozinha com ele, nua.
Lembrei-me de como me senti animada, hipnotizada por ele. Por quão
forte e poderoso ele era, pelo que eu poderia fazer com ele...
Caspian gemeu no meu pescoço e fui trazida de volta à realidade.
Lá estava eu com Caspian, o homem que me amava completamente,
que eu sabia que faria qualquer coisa por mim, e estava pensando em
Sebastian.
Eu não estava mais me movendo no ritmo de Caspian, mas ele não
percebeu.
Tive vergonha de mim mesma por não estar presente com ele no que
poderia ter sido um momento tão crucial.
Eu estava tão em conflito — lá com Caspian, mas com Sebastian em
minha mente.
Não.
Eu não poderia perder minha virgindade assim. Caspian merecia coisa
melhor.
— Sinto muito, — eu engasguei.
Caspian parou e tirou o rosto do meu pescoço para olhar para mim.
Lentamente, seu dedo saiu de mim.
— O que há de errado? — ele perguntou. Seus olhos estavam cheios de
preocupação e amor, como se eu não pudesse fazer nada de errado.
Se ele soubesse o que estava passando pela minha cabeça... A culpa era
quase insuportável.
— Eu não posso ir mais longe que isso, Caspian — eu disse
suavemente. Eu me senti tão mal por desapontá-lo. Por estar tão confusa.
— Foi algo que eu fiz? — ele perguntou.
Meu coração se partiu um pouco com a dor em sua voz.
— Não, não, — eu me apressei. — De jeito nenhum. Só... não é o
momento certo.
Caspian suspirou. Enquanto ele entendia as palavras que eu havia dito
tantas vezes, pude sentir algo mudar em sua expressão.
Seus olhos de mel, que estavam tão abertos, tomaram-se cautelosos.
Ele se deitou ao meu lado e eu me inclinei para que ambos ficássemos
espremidos na espreguiçadeira.
Arrumei meu sutiã e ele puxou a cueca de volta.
De repente, parecia que estávamos a quilômetros de distância,
quando, poucos momentos atrás, quase... nos tornamos o mais próximo
que duas pessoas podem ficar?
Pressionei meus olhos com as mãos e estremeci durante a noite.
Por que eu arrastei Caspian para isso?
Meu egoísmo me surpreendeu.
Eu ainda não sabia o que queria. E eu tinha aproveitado a paciência de
Caspian e seu amor incondicional.
— Haverá um momento certo, Ly? — Caspian perguntou após um
longo silêncio. A decepção em sua voz era clara.
Eu não sabia como responder a isso. Eu não tinha ideia se algum dia
seria o momento certo para nós.
Eu tinha apenas alguns dias restantes da Cúpula — apenas alguns dias
para tomar uma decisão impossível.
Do outro lado da piscina, nossas roupas se espalhavam pelo convés.
Eu sabia que ainda devia a Caspian uma resposta à sua pergunta. Mas
quando me virei para olhar para ele, seu queixo estava tenso.
— Vamos voltar para a casa da alcateia, — ele disse sem olhar em
minha direção.
Claramente, meu silêncio disse o suficiente.
A noite mágica que compartilhamos havia acabado.
Esta é a gota d'água para ele? Eu me perguntei ansiosamente. Mas não
ousei perguntar. Eu já o tinha machucado tentando acalmar minha
mente perturbada.
Caspian se levantou da espreguiçadeira e estendeu a mão para mim.
Eu a peguei e caminhamos juntos em silêncio em direção às nossas
roupas.
Sebastian

Girei o globo vintage que pertenceu ao meu pai, observando os países


do mundo voar diante dos meus olhos em um redemoinho de cores
desbotadas.
Era uma espécie de ritual para mim.
Acalmava minha mente pensar no espaço. Todos os lugares em que
estive; todos os lugares que eu só tinha visto nos livros.
Ouvi uma batida na porta sobre o disco clássico girando em cima do
toca-discos, que também era de meu pai.
Gostava de estar rodeado de coisas dele. Isso me lembrou dele e me
permitiu canalizar sua liderança lúcida.
— Entre, — eu chamei.
A porta se abriu e Magnolia entrou na sala.
— Uh-oh. Uísque e uma sinfonia melancólica composta por...
provavelmente um Wolfgang ou algo assim. Acho que as coisas não estão
indo muito bem, Seb. — Sua voz provocou, mas ela sorriu com empatia.
— Você adivinhou, — respondi, já caminhando para o frigobar
enquanto lhe ofereci um copo. — Quer se juntar a mim?
— Sempre, — ela disse.
Entreguei a ela um copo do líquido escuro e nos acomodamos em
duas poltronas de couro.
Magnolia tomou um gole enquanto observava o globo girar
lentamente.
Era normal para ela estar naquela cadeira, compartilhando uma
bebida comigo em qualquer noite. Éramos amigos de longa data,
amantes de curto prazo.
Mesmo antes de encontrar Lyla, ficou claro para mim e Magnolia que
não poderíamos iniciar um relacionamento romântico por necessidade
mútua.
Agora que eu encontrei minha companheira, não havia nem mesmo
um indício de atração. Desde que Lyla e eu nos conhecemos, meu mundo
inteiro girava em torno dela.
Isso era parte do motivo pelo qual toda a situação com Caspian era tão
difícil para mim. Ela foi a única que vi. Mas mesmo depois de me
encontrar, ela sentiu uma conexão com seu ex.
Uma conexão, pela qual vale a pena colocar em risco tudo que
tínhamos juntos...
Outra parte de mim temia que Caspian não fosse nosso único
problema. Nossa briga no início da noite me convenceu de que Lyla era
imatura e irracional.
Claro que ela era a única coisa que eu queria, mas como eu poderia ter
uma Luna assim?
— Você e Lyla tiveram uma briga, suponho? — A voz de Magnolia me
tirou dos meus pensamentos. Eu quase tinha esquecido que ela estava na
sala comigo.
Eu concordei.
— Ela ficou brava quando eu disse que ela não poderia comparecer à
reunião do conselho esta manhã. Em vez de me ouvir, ela ouviu a coisa
toda, — comecei.
Magnolia ergueu as sobrancelhas. Ela quase pareceu impressionada.
— Então ela invadiu aqui, lívida e disse que eu estava escondendo
coisas dela. Então eu contei a ela... a história completa sobre eu e Silas.
Eu não encontrei o olhar de Magnolia.
— E aí Lyla me perdoou por isso. Imediatamente. — Eu balancei
minha cabeça em descrença. — Mas ela estava brava por eu não ter
contado a ela antes!
Eu bati na minha testa. Apenas dizer tudo isso em voz alta me deixou
exasperado.
— Eu sei que isso não é o que você quer ouvir, Seb, mas ela tem razão,
— Magnolia disse.
Eu olhei para ela, confuso.
— Ela é sua Luna, Sebastian. Ela pode comparecer a qualquer reunião
que quiser. E ela definitivamente tem o direito de saber sobre o que
aconteceu com você e Silas, porque ela é o alvo óbvio.
Eu murchei com suas palavras.
— Mas esse é todo o problema, Magnolia. Ela ainda não é minha
Luna. Não até que ela me escolha.
Magnolia acenou com a cabeça, absorvendo essa informação.
— Entendo, — respondeu ela. — Mas você não pode culpá-la por fazer
você esperar. Isso só vai afastá-la. E, há algo admirável nessa demora dela,
eu acho.
Ela elaborou: — Ela provavelmente quer se recompor para que possa
se comprometer completamente. Para que ninguém se machuque mais
do que o necessário.
Eu fiz uma careta. Eu estava começando a me preocupar que ela tinha
razão.
— E você gostaria se alguém te trancasse no seu quarto? — ela
perguntou.
— Você viu isso? — Eu respondi timidamente.
— Havia guardas do lado de fora da porta dela, Sebastian! Qualquer
um poderia ver isso. — Ela suspirou. — Olha.
Magnolia baixou o copo e se inclinou na minha direção.
— Você precisa confiar nela o suficiente para deixá-la ficar ao seu lado,
não atrás de você. De que outra forma ela saberia o que realmente é ser
sua Luna?
Por um momento, senti a raiva crescer dentro de mim. Eu já tinha
tentado fazer isso e não funcionou.
Mas então percebi que a raiva vinha de um lugar de medo. E se eu fizer
tudo que posso e Lyla ainda não me escolher?
— Oh, Deusa, — eu gemi, deixando minha cabeça cair em minhas
mãos. — Obrigado pelo conselho, Magnolia. Dói ouvir isso, mas acho
que você tem razão.
— Eu sei, — ela respondeu.
Eu estava tão exausto. O que deveria ser a melhor experiência da
minha vida estava se tornando a mais exaustiva.
— É que sempre pensei que tudo faria sentido quando conhecesse
minha Luna... mas agora, está tudo mais complicado do que nunca.
Magnolia atravessou o espaço entre nós e apertou minha mão.
— Eu sei, — disse ela, — mas esta é a pior parte. O não saber. Não se
preocupe, Seb. Mostre a ela como seria ser sua Luna, de verdade. Eu não
acho que nenhuma garota poderia dizer não a isso.
Seu sorriso era genuíno, sem ciúme ou más intenções. Foi realmente
incrível como nosso relacionamento evoluiu ao longo dos anos.
Eu sabia que ela só queria o melhor para mim.
— Ok, Alfa. — Magnolia se levantou de seu assento. — Eu vou dormir.
Você vai buscar sua garota. E deixe-a sair daquele quarto, seu idiota!
Ela sorriu.
— Boa noite, — chamei, aliviado por meu humor ter mudado tanto
desde que ela entrou. — Obrigado pela conversa.
Ela acenou com a cabeça uma vez e fechou a porta atrás dela.
Fiquei sentado, girando o uísque em meu copo. As palavras de
Magnolia me encheram de esperança renovada.
Em vez de mostrar a Lyla como nossa vida poderia ser, eu a estava
punindo por me afastar daquela felicidade. Isso não era justo. E não era
assim que eu iria conquistá-la, de uma vez por todas.
Eu me levantei, abandonando minha bebida pela metade.
O corredor estava vazio, exceto pelos guardas no quarto de Lyla.
— Eu os liberto de suas funções aqui, — eu disse enquanto me
aproximava deles, e os dois homens acenaram com a cabeça antes de
seguirem para a escada.
Bati na porta de Lyla e de repente fiquei nervoso.
Ela ficará feliz em me ver?
Já era tarde — ela estava quase definitivamente dormindo. Eu
esperava que ela não se importasse que eu a acordasse. Mas eu queria
pedir desculpas imediatamente.
Não houve resposta. Ela estava dormindo, certamente. Eu lentamente
abri a porta.
— Lyla, sou eu, — disse eu no escuro. — Sebastian, — eu acrescentei.
Ela tem um sono profundo, pensei. Então eu acendi a luz e percebi com
um sobressalto que a cama dela estava vazia.
Ela não está no quarto.
Meu coração disparou e eu estava prestes a chamar os guardas
novamente. Silas deve ter entrado na sala.
Minha garganta fechou. Ele pegou minha companheira.
Mas então, com um grunhido, Lyla colocou metade de seu corpo no
quarto, subindo pela janela..
Ela parou de andar e olhou para mim, sua boca um perfeito o.
Então a brisa agitou as cortinas e fui abordado por um cheiro vil.
Todo pensamento racional, toda boa intenção que eu tinha, deixou
minha mente de uma vez.
O ciúme me percorreu, puro instinto animal. Senti meus músculos
incharem com o desejo de mudar e garras saltaram de meus dedos.
— Lyla, — eu rosnei, precisando me expressar antes de perder toda a
aparência de controle.
— Eu consigo cheirar Caspian em você...
21
LIBERTANDO O VAPOR
Lyla

Por um breve momento, eu pensei em apenas me jogar pela janela.


Eu ainda estava na metade do caminho, uma perna do outro lado do
peitoril da janela. Seria fácil cair de costas no meio da noite.
O chão muito, muito abaixo parecia ser mais indulgente do que
Sebastian.
Provavelmente seria uma morte mais rápida e menos dolorosa também.
— Entre, — Sebastian disse, sua voz mortalmente séria. — Agora !
— Ou o que? Você vai me acorrentar à cabeceira da cama também?
Você mandará mais guardas para me ver dormir?
Minha raiva explodiu como um mecanismo de defesa. Eu fui pega em
flagrante.
— Na verdade, eu estava vindo aqui para dispensá-los! — Sebastian
rugiu, e isso me parou. — Eu vim aqui para me desculpar, e agora peguei
você entrando furtivamente com... — Ele parou e fechou os olhos.
Eu podia ver suas mãos cerradas em punhos, os nós dos dedos brancos
com a tensão.
Ele estava tentando não mudar.
— Apenas entre... antes que você se machuque, — Sebastian
murmurou, seus olhos ainda fechados.
Eu cuidadosamente entrei, andando na ponta dos pés em direção à
cama como se estivesse navegando em um campo minado.
Só que isso era muito mais mortal.
Sebastian começou a andar com raiva na minha frente quando me
sentei na beira da cama, minhas costas retas, meus músculos tensos.
Eu estava pronta para...
O quê, exatamente?
Para correr?
Para me defender?
Eu realmente pensava que Sebastian iria me atacar?
Olhando para ele então, ele certamente parecia um animal selvagem.
Seus olhos estavam injetados, havia um rosnado constante crescendo em
seu peito, e eu praticamente podia ver o vapor saindo de seus ouvidos.
Mas não importa o quão bravo Sebastian estava, ele nunca me
machucaria. Eu sabia que ele se importava muito comigo para fazer isso.
Ele continuou andando, e mudou de rápido e agitado para lento e
sombrio. Ele se sentou na cama — o mais longe que pôde de mim — e
olhou para o teto.
A expressão em seu rosto passou de fúria para...
Dor.
Eu podia ver a dor em seus olhos, e era muito pior do que raiva.
A culpa começou a surgir em minha mente.
— Você me deu tempo para tomar minha decisão, lembra? — Eu disse,
tentando me livrar da sensação horrível em meu peito.
Eu sabia que tecnicamente eu não tinha feito nada de errado.
Sebastian e Caspian concordaram em me dar espaço para tomar uma
decisão.
Mas tudo ainda era um furacão confuso de emoções conflitantes.
Estávamos todos nos machucando.
E não importava quem eu escolhesse, alguém ficaria infeliz.
Eu acabei de voltar de machucar Caspian... e agora eu era a razão do
olhar de agonia no rosto de Sebastian.
Era como se minha pele estivesse coberta com lâminas de barbear. Eu
machucava tudo que tocava.
— Ainda não somos oficiais, — continuei quando ele não respondeu.
— Eu não sou sua Luna.
Sebastian finalmente olhou para mim então, e o que ele disse em
seguida rasgou meu coração ao meio.
— Eu nem sei se quero que você seja minha Luna mais.
Ele se levantou e saiu, fechando a porta apaticamente atrás de si. De
alguma forma, o clique suave da porta fechando doeu muito mais do que
se ele a tivesse batido.
Pelo menos a raiva mostrava energia.
A raiva mostrava que ele se importava.
Quando Sebastian saiu, ele parecia apenas cansado.
Cansado de mim.
Recostei-me na cama, sentindo como se um vazio se abrisse em minha
mente e eu caísse nele.
Por alguma razão, sempre achei que Sebastian esperaria por mim até
que eu tomasse minha decisão. Que ele sempre estaria lá se eu
finalmente decidisse que queria ficar com ele.
Mas naquela noite, a verdade fria e dura me atingiu no rosto.
Se eu não fizesse uma escolha logo...
Eu poderia perdê-lo.
Sebastian

Eu dei um chute no soco de pancada, usando o ímpeto de Titus contra


ele enquanto o deixava espalhado pela grama.
Voltando rapidamente minha atenção para sua gêmea, me abaixei
bem a tempo de evitar o chute de Tonya em minha cabeça, levantando
sua outra perna de baixo dela, para levá-la ao chão também. Eu pulei para
longe antes que os gêmeos pudessem se recuperar, o ar frio da manhã
esfriando minhas roupas de treino encharcadas de suor.
— Novamente! — Eu exigi.
Eu não tinha conseguido dormir na noite anterior.
Sempre que fechava os olhos, tudo que conseguia ver era Lyla e
Caspian. Eu vi suas mãos sobre ela, seus braços em volta de seu pescoço...
Com um rugido furioso, avancei e os gêmeos me encontraram de
frente.
Eles sabiam o que fazer.
Lutar contra meu estresse era uma ocorrência bastante comum.
Titus e Tonya se abaixaram, um em cada lado de meu corpo, os
gêmeos se movendo como se fossem um lutador só. Eles desencadearam
uma enxurrada de ataques com um tempo impecável que tornou
impossível para mim defender todos eles.
Eles estavam encarregados de treinar os soldados da Alcateia Real por
um bom motivo.
Mas eu era o alfa. Eu também não era desleixado.
Eu impulsionei seus ataques, desencadeando uma torrente de golpes
em meu contra-ataque.
A dor e a adrenalina me deixavam precisamente focado. Nada mais
existia.
Não havia responsabilidades alfa me pesando.
Não havia bandidos espreitando nas fronteiras de nossa alcateia.
Não havia uma companheira problemática, fugindo para encontrar
seu antigo amante e fazendo sabe-se lá o quê...
SLAM!
A próxima coisa que percebi foi que estava de bruços na grama, o
orvalho da manhã se misturando ao meu suor.
— Você deveria ter previsto nosso movimento, — Titus disse acima de
mim.
Tonya ofereceu a mão para me ajudar a levantar.
— De novo, — eu disse, determinado a afastar os pensamentos vis da
minha cabeça.
— Na verdade, — disse Tonya, olhando por cima do meu ombro. —
Acho que estamos sem tempo.
Olhei para trás e vi Caius e Tiberius se aproximando da casa da
alcateia.
Ótimo, pensei. O que foi agora?
Limpei-me enquanto Titus e Tonya saíam para nos dar um pouco de
privacidade. Eles tinham alguns filhotes para continuar treinando, de
qualquer maneira.
E se os bandidos em nossas fronteiras ficassem mais ousados...
precisaríamos de todos os lutadores saudáveis que pudéssemos
conseguir.
É
— É bom ver que você está usando seu tempo com sabedoria, — disse
Tiberius. — Rolar na terra bem cedo pela manhã é uma ótima maneira de
começar o dia.
— Fale logo, — eu murmurei.
— É sobre Lyla, — disse Caius.
Eu imediatamente fiquei com raiva.
Meus braços tremiam de fúria, o desejo de mudar quase incontrolável.
Mas ele sumiu quase tão rápido quanto veio.
Foi substituído por um cansaço profundo. Um que me fez querer
apenas me enrolar na cama e esquecer que o mundo fora dos meus
cobertores existia.
— Eu não quero falar sobre ela.
— Ainda temos que falar, — Tiberius continuou, implacável, — a
Alcateia Real precisa de uma Luna. Especialmente agora que estamos
sendo ameaçados no meio da Cúpula.
— Ela não é do seu agrado? — Caius perguntou.
— Não, — eu disse.
— Você cometeu um erro durante a cerimônia? — Perguntou Tibério.
— Ela é minha verdadeira companheira, — eu disse com os dentes
cerrados.
— Então por que você ainda não a marcou? — Meu tio exigiu. — Por
que você está perdendo tempo quando...
— Porque eu não quero forçá-la! — Eu rugi.
Os dois olharam para mim, intimidados pela minha explosão de raiva.
— Não quero uma Luna acorrentada a mim pelo destino, — expliquei.
— Eu quero uma que queira estar ao meu lado.
Caius e Tiberius ouviram com expressões pensativas em seus rostos.
— O que há de errado com aquela garota? — Tiberius se perguntou.
Seu tom era insensível, mas ele também parecia genuinamente confuso.
— Um verdadeiro companheiro não é suficiente?
— Ela já estava em um relacionamento antes de me conhecer, — eu
disse, vindo em sua defesa.
— Você também, — Caius me lembrou.
— Magnolia era diferente; vocês dois sabem disso.
Nós três ficamos em silêncio.
Eu me perguntei o quão diferente minha situação seria se eu tivesse
sentimentos românticos genuínos por Magnolia.
Se eu realmente visse um futuro com ela e a visse sob uma luz romântica,
eu ficaria tão em conflito quanto Lyla está agora?
Eu hesitaria, mesmo se soubesse que Lyla era minha verdadeira
companheira?
— Magnolia é diferente, — Tiberius concordou eventualmente. — Ela
seria muito melhor para a Alcateia Real.
Virei para Tiberius, mas antes que pudesse explodir com ele, uma voz
cortou minha raiva.
— Olhem para vocês, fofocando como um bando de velhas donas de
casa. — Nós nos viramos para encontrar Magnolia caminhando em nossa
direção, seu cabelo loiro brilhando platinado ao sol.
— Não estamos fofocando, — disse Tiberius. O velho parecia ofendido
por ser comparado a uma velha dona de casa.
— Peguei em um ponto fraco? — Magnolia brincou. — Saia daqui.
Tenho certeza que vocês dois têm outras coisas para fazer.
Tiberius olhou para Caius, e meu beta deu de ombros com
indiferença.
— Tudo bem, — Tiberius concedeu. — Talvez você possa colocar
alguma razão na cabeça de Sebastian.
— É no que eu sou boa, — Magnolia disse, me olhando de soslaio.
Vimos meus dois conselheiros mais próximos se afastarem, e o
aborrecimento que vinha crescendo dentro de mim começou a
desaparecer.
Eu entendi que eles só queriam, de coração, o bem da alcateia.. Mas
deusa-maldita eles poderiam ser irritantes pra caralho.
Voltei minha atenção para Magnolia.
— Então? O que vai ser? Você vai me dizer que eu preciso me apressar
e marcar Lyla também?
— Você pode fazer o que quiser, Sebastian, — ela disse. — Mas eu não
gosto de ver você fugir de seus problemas.
— Eu não estou fugindo.
— Sim, você está, — Magnolia insistiu. — Você fica na defensiva
quando alguém sequer menciona o nome dela.
Eu a encarei por um momento antes de suspirar em derrota.
— Eu só preciso espairecer, — eu admiti. — Eu realmente não quero
falar sobre ela agora... e a Deusa sabe que eu não suporto nem vê-la
também.
Magnolia balançou a cabeça lentamente e parecia que estava prestes a
me contar uma piada particularmente doentia.
— O que? — Eu perguntei.
— Você esqueceu o que acontece amanhã?
— Uh...
Eu não tinha ideia.
— É o Cotilhão, seu idiota, — disse Magnolia.
Fiquei atordoado em silêncio.
Oh merda.
— Por que não estou surpresa? — Magnolia suspirou. — É apenas um
dos eventos mais importantes da Cúpula...
Ela estava certa. O Cotilhão era a — estreia — oficial de todos os
novos pares abençoados pela Deusa da Lua. E isso significava...
— Estamos celebrando a bênção de verdadeiros companheiros da
Deusa da Lua, — Magnolia continuou. — E você e Lyla são o evento
principal.
22
PARCEIROS DE DANÇA Lyla
— Minha nossa, eu estou linda, — Teresa exclamou.
Eu tive que sorrir com o quão atrevida minha melhor amiga era. Ela
sempre foi uma garota confiante e tinha bons motivos para ser.
Ela estava deslumbrante em seu vestido de coquetel cor de vinho. O
tecido abraçava sua cintura e a saia se alargava para mostrar suas pernas
bem torneadas.
Teresa deu um pequeno giro, e eu ri de como ela estava animada.
— Reed é um lobo sortudo, — eu disse.
Ela ergueu uma sobrancelha para mim pelo espelho.
— Você está me enganando, Green? Porque eu toparia, apenas
dizendo.
— Nojento. Eu não quero os restos desleixados de Reed, — eu ri, e o
sorriso largo de Teresa suavizou para um sorriso caloroso.
— Aí sim, — disse Teresa. — Você ficou deprimida o dia todo.
Fiquei um pouco surpresa por Teresa ter notado. Achei que estava
escondendo bem.
— Estou um pouco nervosa, — admiti.
— Menina, por quê? — Perguntou Teresa. — Você tem o pedaço de
carne mais quente para exibir na festa — além de Reed, é claro.
Revirei meus olhos para ela.
— Bem, as coisas estão um pouco complicadas agora...
— Problemas no paraíso?
— Você nem sabe da metade.
Ela cruzou o quarto e sentou-se ao meu lado na cama, dando-me toda
a atenção.
— Conte-me, garota.
Eu dei a ela a versão resumida.
Ela não precisava saber todos os pequenos detalhes desagradáveis. Só
a Deusa sabe o que Teresa faria com essa informação.
Mas foi bom tirar as coisas do meu peito. Dizendo essas coisas em voz
alta, parecia que eu era capaz de me remover um pouco de tudo o que
estava acontecendo.
— Você ainda está obcecada por Asspian, hein? — ela perguntou.
— Teresa... eu avisei.
Ela ergueu as mãos em um gesto de paz. — Tanto faz. Mas eu não
consigo acreditar que Sebastian disse que não sabe se ele ainda quer que
você seja a Luna. Você está apenas jogando pelas regras que ele deu a
você, certo?
— Eu acho, — eu disse. — Ainda assim, não é como se ele tivesse que
gostar que eu ainda goste do Caspian...
— Bem, não há tempo como o presente para fazê-lo reconsiderar, —
disse Teresa, pulando da cama.
Sempre me surpreendi com a rapidez com que Teresa agia. Ela nunca
foi do tipo que ficava sentada pensando em um problema. Ela seria um
alfa incrível um dia.
— E o primeiro passo para fazê-lo reconsiderar... — disse Teresa,
saltitando em direção ao armário. — É o seu vestido.
— A Alcateia Real já me forneceu um, — eu disse. Eu enruguei meu
nariz. — Eu tenho que ter uma aparência adequada, afinal.
Teresa emergiu com o gigante nos braços.
O vestido era enorme — cheio de babados e rendas
superdimensionadas. Parecia que a Alcateia Real havia de alguma forma
sequestrado uma nuvem e a forçado a vestir um vestido sob a mira de
uma arma.
O rosto de Teresa parecia estar segurando um barril de lixo químico.
— Eles esperam que você apareça neste vestido?
— Tradição é tradição. — Dei de ombros.
— Oh, nuh-uh. — Teresa abanou a cabeça. — Não na minha frente. —
Ela pegou uma tesoura e um kit de costura do nada.
— O que você vai fazer com isso? — Eu perguntei, meus olhos se
arregalando em pânico.
— Alguns ajustes, — Teresa disse inocentemente.
— Você não pode simplesmente ajustar um vestido passado pela
tradição!
— Garota, você sabia que vai haver uma dança no baile? — Perguntou
Teresa. — Você realmente acha que será a Pequena Senhorita Dançarina
nesta monstruosidade? Você vai tropeçar em sua estreia!
— E?
— E você não pode ir a uma festa sem um presente, se você me
entende.
— Teresa, o evento é literalmente o oposto disso, — eu disse. —
Vamos aparecer com nossos companheiros — Tanto faz. — Teresa sorriu
enquanto cortava com sua tesoura, um brilho assustador em seus olhos.
E como uma cientista maluca em sua mesa de operação, ela começou a
trabalhar.

Caius chamou o nome de Teresa do outro lado das portas duplas


ornamentadas.
Estávamos de volta ao Fleur de Lis.
A Alcateia reservou todo o salão de baile e todas as mulheres
esperaram pacientemente para serem apresentadas.
Elas desapareceram atrás das portas lindamente trabalhadas, uma
após a outra, até que ficamos apenas eu e Teresa.
E agora ela estava indo embora.
Ela deu um aperto final em minhas mãos antes de desaparecer lá
dentro.
— Você está incrível, Lyla, — ela me assegurou. — Arrase, garota.
Qualquer um teria que ser cego para não notar.
Respirei fundo, olhando para um espelho no corredor.
Eu tinha que admitir, Teresa fazia milagres. Ela de alguma forma
transformou meu antigo vestido abominável em algo elegante, moderno
e bonito.
A silhueta do vestido tinha sido reduzida para exibir meu corpo, mas
não de uma forma excessivamente sexualizada.
O decote era de bom gosto, o corpete era elegante e as mangas eram
entrelaçadas em um padrão de renda que era moderno e elegante em um
estilo secular que me deixou sem fôlego.
A seda da saia praticamente flutuava no ar.
Mas Teresa não foi capaz de resistir a criar uma longa fenda frontal
que expôs todo o caminho até a parte superior da minha coxa.
Um presente, como ela colocou.
— Lyla Green! — A voz estrondosa de Caius ecoou pelas portas.
Eu respirei fundo enquanto caminhava.
É agora ou nunca.
Caspian

A Alcateia Real realmente não poupou nenhuma despesa.


O salão de baile do Fleur de Lis tinha uma decoração luxuosa. Tudo
praticamente gotejava com riqueza — dos lustres de diamantes
brilhantes à fonte de champanhe espumante.
Todo mundo estava vestido com esmero também, e eu me mexi um
pouco desconfortavelmente no meu terno. Olhei para a orquestra ao vivo
tocando no canto.
Eu estava fora do meu elemento.
Isso definitivamente não era uma festa. Parecia mais uma ópera ou
algum evento de salão super chique.
— Lyla Green!
Meus pensamentos descontentes desapareceram quando Caius
anunciou Lyla.
Todo o salão de baile ficou em silêncio enquanto todos os olhos
estavam voltados para as portas no topo da grande escadaria.
Todos estavam ansiosos para ver a nova Luna da Alcateia Real.
Bem, a Luna não oficial, ainda.
E vai continuar assim, se eu puder impedir.
As portas se abriram e ela entrou. Um suspiro coletivo surgiu de todos
dentro.
Dizer que ela estava linda seria o eufemismo do século. Era difícil
acreditar que a mulher que vi descendo as escadas era a mesma garota
com quem cresci.
Pensei em nosso momento aquecido juntos algumas noites atrás, e
meu coração doeu de saudade. Se eu tivesse uma maneira de convencê-la
do quanto ela significava para mim...
Sebastian

Era como se a própria Deusa da Lua tivesse entrado por aquelas


portas.
Lyla desceu a grande escadaria com pose e graça, seu vestido branco
esvoaçando ao seu redor como o luar.
Ela era o ser mais lindo que eu já vi.
Ela parecia uma Luna.
Eu queria me chutar por dizer algo tão estúpido como não querer que
ela fosse mais minha Luna.
Especialmente quando havia outro que a queria tão
desesperadamente...
Eu olhei para Caspian. Ele estava observando cada movimento de
Lyla, e eu podia ver o desejo em seus olhos. Eu podia ver o amor que ele
sentia por ela, e isso me fez querer arrancar os cabelos.
Eu olhei para o teto, uma mensagem silenciosa para a Deusa da Lua
em minha mente: Deusa, por que você tem que me torturar assim?
Lyla

Terminei de descer as escadas e olhei em volta sem jeito, enquanto


todos continuavam a me encarar.
Devo fazer um discurso ou algo assim?
Avistei Teresa no meio da multidão e ela fez um gesto enfático com o
polegar para cima, com uma taça de champanhe na outra mão.
— Um... eu comecei.
Mas de repente uma música animada começou a tocar, salvando-me
de ter que me dirigir à multidão. Eu olhei e fiquei surpresa ao encontrar
uma orquestra ao vivo na sala.
Eles trocaram seus instrumentos orquestrais por violinos, gaitas e
banjos. A música clássica abafada deu lugar a algo mais animado e
vibrante. Perfeito para uma boa dança sulista.
Bem, isso é uma cena que você não se vê todos os dias.
Senti alguns dedos se entrelaçarem com os meus e me virei para ver
Caspian parado ao meu lado. Sem dizer uma palavra, ele me girou para
entrar na pista de dança enquanto as pessoas começavam a formar pares
para a quadrilha.
A música começou a ficar mais intensa, mas em vez de quadrilha,
Caspian me puxou para perto de seu peito.
— Ei, — ele disse.
— Oi. — Meu coração martelou no meu peito.
Nós nos abraçamos por um momento antes de nos juntarmos ao resto
da multidão, nossos pés se movendo facilmente em um ritmo praticado.
Caspian e eu costumávamos dançar quadrilha o tempo todo, e a
memória trouxe um sorriso ao meu rosto.
Sempre foi fácil estar com Caspian.
Sem esforço.
Mas então suas próximas palavras estouraram minha pequena e
confortável bolha.
— Você tem me evitado desde o hotel... — Ele olhou para mim, seus
olhos eram piscinas quentes de mel.
— Eu... só precisava de um tempo para pensar...
— Olha, eu sei que as coisas estão estranhas entre nós agora, —
Caspian continuou. — Mas ainda amo você, Lyla. Acho que podemos
fazer isso funcionar.
— Caspian, — comecei, minha mente acelerada pensando no que
dizer. — Eu acho que...
De repente, eu estava girando enquanto todos na quadrilha trocavam
de parceiros. O salão de baile ao meu redor ficou borrado em uma
cascata de luzes até que de repente eu estava olhando para o rosto do
meu novo parceiro.
Sebastian.
Ele apenas olhou nos meus olhos, seu olhar azul elétrico acendendo
um fogo dentro de mim. Eu tive que morder meu lábio e desviar o olhar.
Eu não sabia se queria dar um soco nele ou pular em seus ossos.
— Sinto muito, — disse ele.
Como se as coisas não pudessem ficar mais confusas.
— O que?
Nós giramos em círculos, mas o mundo fora de seus braços
desapareceu.
— Eu não quis dizer o que eu disse na outra noite, — Sebastian disse.
— Eu estava tão zangado e confuso. Espero não ter estragado as coisas
entre nós.
— Eu também sinto muito. — Eu balancei minha cabeça. — Não
estou tentando machucar você com meu relacionamento com Caspian.
Tudo está acontecendo tão rápido.
Sebastian deu uma risada triste enquanto observava as festividades ao
nosso redor, e eu não pude deixar de admirar o corte severo de sua
mandíbula.
— A Cúpula é uma bagunça meio caótica, não é? — ele perguntou em
voz alta. Ele olhou para mim e eu quase vacilei com a intensidade em
seus olhos. — Mas nós não temos que ser.
Eu queria responder, mas estava girando e girando de novo, e desta
vez meu novo parceiro era um velho gentil.
Ele me deu um sorriso largo e sem dentes, e eu estava com medo de
segurá-lo com muita força. Ele provavelmente se transformaria em pó.
— Vamos, jovem! — ele gritou por cima da música. — Continue ou
vou te deixar para trás!
— Ok, vovô. — Eu ri enquanto era pega em seu ritmo frenético.
Os próximos minutos foram um borrão de pessoas e rostos, todos eles
me elogiando, dizendo como eles tinham sorte por sua nova Luna ser tão
bonita.
Eu me escondi atrás de um sorriso o tempo todo. Eu não merecia o
elogio deles.
Eu nem era tecnicamente a Luna deles ainda.
De repente, a pista de dança clareou e a música de alta energia mudou
para algo mais lento. Mais gentil e romântico.
Éramos apenas Sebastian e eu enquanto todos formavam um círculo
ao nosso redor.
Meu coração saltou na minha garganta.
A dança do alfa e da Luna...
Eu avistei Caspian no meio da multidão, e eu percebi que ele gostaria
que fosse ele na pista comigo. Sebastian se aproximou de mim,
absolutamente elegante em seu terno, e me ofereceu sua mão. Ele olhou
para mim, seus olhos cheios de esperança.
Eu encarei sua mão e esperei que minha indecisão não estivesse tão
clara em meu rosto.
Senti os olhos da Alcateia Real em mim, os olhos de Caspian, os olhos
dos meus pais...
Olhos, olhos, olhos.
Um holofote estava literalmente brilhando sobre mim, e eu senti que
essa dança era a analogia perfeita para meus problemas de
relacionamento. Era uma valsa confusa sobre a qual eu não tinha
controle. Em um minuto eu estava nos braços de Caspian, e no próximo,
nos de Sebastian.
Era uma dança que eu ainda estava aprendendo — uma dança para a
qual eu não sabia todos os passos.
Serei capaz de encontrar meu ritmo? Eu me perguntei.
Ou vou cair de cara no chão para que todos vejam?
23
CORAÇÕES REBELDES
Sebastian

Lyla hesitou por um momento...


Então ela pegou minha mão, enviando uma onda de alívio pelo meu
corpo.
Nosso público gritou e gritou, mas todos eles desapareceram quando
eu envolvi minha companheira em meu abraço e a música começou a
aumentar.
Isso é tudo que eu preciso.
Não importa o quão caótico o mundo ao nosso redor fosse, não
importa os perigos que ameaçassem a alcateia, eu sabia que poderia
enfrentar tudo se tivesse Lyla ao meu lado.
E porque ela aceitou a dança...
Posso pensar que ela também quer isso?
Dançamos em um círculo lento, nossos corpos se movendo
naturalmente ao ritmo da música.
— O resto da alcateia deve estar aliviada, — Lyla disse baixinho para
que só eu pudesse ouvi-la. Sua cabeça descansou contra meu peito, então
eu não pude ver seus olhos.
— Por que diz isso?
— Afinal, isso é o que se espera de nós, — ela continuou. — O alfa e a
Luna precisam ter uma aparência adequada.
A pequena e florescente esperança dentro de mim se desvaneceu e
morreu.
— É por isso que você aceitou essa dança? Para o bem das aparências?
Seu silêncio foi resposta suficiente para mim.
A raiva começou a queimar dentro de mim, mas não era dirigida a
Lyla.
— Olhe para mim, — eu exigi.
A esmeralda de seus olhos encontrou os meus, estreitando-se com o
meu tom. Sem dúvida ela esperava uma luta.
E depois de tudo que passamos? Eu não a culpo.
— Eu já disse a você, Lyla, e vou dizer de novo. — Controlei minha
raiva e, em vez de deixar que ela me consumisse, canalizei-a em minhas
palavras, tentando mostrar meu ponto de vista.
Lyla esperou pacientemente.
— Eu não quero forçar você a ser minha Luna. Se a única razão pela
qual você está dançando comigo agora é por causa do nosso vínculo, por
causa da Deusa da Lua... — Eu respirei fundo. — Então, foda-se, a Deusa
da Lua.
Lyla

As palavras de Sebastian foram um choque tão grande que tropecei


nos pés.
Eu teria morrido de vergonha se caísse no chão, mas Sebastian girou
casualmente, meu tropeço se transformando em um mergulho elegante e
florescer.
A multidão ao nosso redor bateu palmas em agradecimento.
— Tem certeza que deve dizer isso? — Eu perguntei, desarmada por
sua intensidade. — Você não vai ser atingido por um raio ou algo assim?
— Eu aguento, — disse ele com confiança e muito, muito a sério. —
Eu quero que você seja feliz, Lyla. E se a sua felicidade não está aqui em
meus braços...
Seu aperto em torno de mim começou a afrouxar, e uma onda de
pânico irracional cresceu dentro de mim. Parecia que meu coração era
um mar tempestuoso e Sebastian era meu barco salva-vidas.
Eu o agarrei com mais força e imediatamente ele devolveu o favor.
Eu balancei minha cabeça para mim mesma.
O que diabos há de errado comigo?
Sebastian olhou para mim e a raiva em seus olhos se foi. Tudo o que
pude ver foi paciência.
E amor.
Meu coração se partiu em dois.
Quem sou eu para merecer o carinho de Caspian e Sebastian?
Os dois eram pessoas incríveis, e qualquer outra garota no mundo
contaria suas estrelas da sorte por ter qualquer um deles.
Por que eu?
Parecia mais uma maldição do que um presente.
Por que minha felicidade tem que vir às custas de um deles?
— Honestamente, quando você me disse pela primeira vez que eu
tinha até o final da Cúpula para decidir, pensei que era apenas uma
formalidade, — disse eu.
Sebastian ficou quieto enquanto pensava nas minhas palavras.
— No começo... provavelmente era, — ele admitiu. — Mas então eu
comecei a conhecer você. Além do vínculo fatídico entre nós, além da
luxúria e da necessidade e do desejo, eu pude conhecer você.
Ele me girou enquanto dançávamos, e eu me senti leve em seus
braços.
— E, honestamente, eu sinto que teria me apaixonado por você
mesmo sem a ajuda da Deusa da Lua.
Eu derreti sob seu olhar firme.
Sebastian sempre foi essa figura alfa insensível e intimidante. Ele
tinha um temperamento explosivo e o usava como uma armadura.
Mas agora ele estava diante de mim, se expondo para que eu pudesse
olhar.
E gostei do que vi.
— Mas o que a alcateia vai fazer? Se... — Eu tropecei nas palavras. —
Se eu escolher não ser sua Luna... o que aconteceria?
Os olhos de Sebastian brilharam de dor com a hipótese.
— Estou disposto a ir contra a vontade da Deusa da Lua, — disse ele,
tentando manter o tom leve. — Eu acho que posso lidar com a ira de
Caius e Tiberius com bastante facilidade.
O alfa real estava disposto a colocar minha felicidade acima das
necessidades de sua alcateia. Isso era admirável? Isso era uma tolice?
Eu não fazia ideia.
Tudo que eu sabia era que isso me fazia sentir mais valorizada do que
nunca.
Eu inclinei minha cabeça contra seu peito e sorri quando pude sentir a
batida frenética de seu coração, batendo em conjunto com o meu.
Caspian

Eu assisti Lyla e Sebastian dançarem. Seus passos perfeitamente


sincronizados pisaram em todo o meu coração.
Mas por alguma razão mórbida, não consegui desviar o olhar.
Eu queria vomitar. Não porque eles eram péssimos dançando, ou
porque eles pareciam péssimos juntos. Na verdade, foi exatamente o
oposto.
A maneira como ela se dobrou em seus braços; a maneira como eles se
olhavam nos olhos... Era como assistir duas peças de um quebra-cabeça
se encaixando perfeitamente.
E isso rasgou a porra do meu coração.
Eu podia ver a atração magnética entre eles — como se alguma força
divina estivesse desejando os dois juntos. Todos podiam.
E o pior era que havia uma força divina fazendo exatamente isso.
Eu bebi o resto da minha delicada taça de champanhe e virei para o
céu.
Obrigado pela ajuda, Deusa da Lua.
Como devo competir contra ISSO?
Sebastian era seu companheiro predestinado. Seu parceiro destinado.
E eu era apenas seu antigo namorado.
— E aí, idiota. — Teresa ficou ao meu lado, assistindo a dança.
— Vadia, — eu respondi como forma de saudação. — Onde está seu
companheiro?
Teresa bateu em seu copo vazio.
— Pegando mais uma.
Ficamos um ao lado do outro em silêncio, e eu estava esperando pelo
eventual golpe. Mas isso nunca aconteceu.
— O quê, você não vai jogar na minha cara? — Eu perguntei
eventualmente, acenando para Sebastian e Lyla.
— Nah. Eu não sou tão megera assim. — Ela finalmente olhou para
mim. — Mas nunca pensei que você fosse do tipo masoquista.
— Descubro algo novo sobre mim todos os dias, — murmurei,
levando meu copo aos lábios apenas para lembrar que estava vazio.
— Honestamente, eu nunca gostei de você e Lyla como um casal, —
disse ela.
— Surpresa surpresa.
— Mas, pelo que vale a pena, — ela continuou, — você está lutando
bem, Cas.
— Que diabos você está falando?
Ela ergueu a sobrancelha, como se estivesse falando com um idiota.
O que, para ser justo, ela provavelmente estava.
— Sebastian é o seu verdadeiro companheiro. A manteiga de
amendoim para sua geleia. A maçã para sua torta. O pau para sua...
— Cale a boca, já entendi.
— Sim. E Lyla ainda tem uma queda por você. Você é tão importante
para ela que ela está pensando em desafiar a porra da Deusa da Lua.
Isso me parou.
Olhei para Lyla e Sebastian novamente. Eles pareciam tão perfeitos
juntos. Tão certo. E de alguma forma, por algum milagre, Lyla ainda
tinha uma queda por mim.
Fui eu quem atrapalhou o final de seu conto de fadas.
Eu não sabia se me sentia feliz ou culpado.
— Acho que vou me afogar em um pouco de bourbon, — eu disse.
Teresa ergueu o copo vazio para mim.
— Bon voyage, marinheiro.
Abri caminho no meio da multidão, ignorando os olhares irritados e
os murmúrios descontentes. Eu precisava ficar o mais longe possível
daquele lugar.
O barman estava muito ocupado assistindo a dança, então eu apenas
deslizei atrás dele e tirei uma garrafa de uísque da prateleira.
Saí para a parte de trás do Fleur de Lis e me sentei na varanda. Eu
poderia ter minha própria festa lá, com muitos parceiros de dança: a lua,
a floresta e a garrafa.
Eu abri a rolha e tomei um gole, apreciando a queimadura suave
enquanto descia pela minha garganta. O líquido âmbar acendeu um fogo
na minha barriga, e o calor lentamente começou a preencher o vazio que
eu sentia dentro de mim.
A garrafa espirrou ruidosamente quando a tirei dos lábios.
— Não quero ouvir, — respondi à garrafa.
Ela balançou novamente, e eu estreitei meus olhos para ela.
Não estava gostando do tom.
A brisa noturna balançava ao meu redor, e o farfalhar das folhas ao
longe apenas tinha que dar sua opinião.
— Você fica fora disso! — Eu gritei de volta.
Tomei outro gole profundo e o brilho do luar emergiu de trás de uma
nuvem perdida. Eu me senti exposto de repente — como se todo mundo
pudesse ver o quão patético eu era.
Eu olhei para a lua.
— Nem me fale de você.
O mundo estava contra mim.
E meus novos parceiros de dança eram críticos pra caralho.
Esta festa é uma merda.
— Sozinho, parceiro?
Uma voz profunda e retumbante me chamou, e eu apertei os olhos
para a garrafa em minha mão. Eu estou tão bêbado? Mas então eu percebi
que a voz não era uma invenção da minha imaginação bêbada.
Um homem se aproximou de mim na varanda e se sentou no degrau
ao meu lado.
Ele parecia um verdadeiro cavalheiro sulista, completo com um terno
preto, botas de cowboy pretas com esporas e um sorriso diabólico que se
escondia atrás de uma barba escura.
Um colete estiloso estava cuidadosamente enfiado por baixo de seu
terno, a corrente dourada de um relógio de bolso brilhando ao luar.
— Sim, — respondi depois de outro gole de uísque, — eternamente.
Ofereci um gole ao estranho e ele aceitou gentilmente, tomando um
pequeno gole antes de devolver a garrafa para mim.
— Não se preocupe filho, eu conheço o sentimento.
— Você experimentou seu quinhão de desgosto? — Eu perguntei a ele.
— Mais do que o meu quinhão, eu diria. — Ele pescou um par de
charutos de seu casaco e ofereceu um para mim. — Parece que você
precisa de companhia.
Normalmente eu não era de me abrir com estranhos. Mas havia algo
no jeito honesto do cara de falar que me desarmou.
Além disso, quem recusaria um charuto grátis?
— Sou Caspian, — eu disse enquanto pegava um.
O homem acendeu o charuto, soltando algumas baforadas antes de se
virar para mim.
— É um prazer conhecê-lo. — Ele sorriu, o branco perolado de seus
dentes aparecendo por baixo de sua barba bem aparada. — O nome é
Silas.
24
PRESSÁGIOS DO LUAR
Caspian

— Então você está me dizendo que sua garota foi roubada na Cúpula?
— Silas estava inclinado para a frente, os olhos arregalados de choque.
— Sim, — eu disse, dando uma baforada descontente do charuto entre
meus dedos.
— Droga. A Deusa da Lua pode ser uma garota inconstante às vezes,
hein?
— Isso é verdade.
Tomei um gole da garrafa meio vazia, entregando-a a Silas, que fez o
mesmo. Era fácil conversar com ele. E foi bom conversar com alguém
sobre toda aquela merda.
Liberação.
Talvez fosse porque ele era um estranho. Eu sabia que provavelmente
não veria o homem nunca mais depois daquela noite, o que tornou mais
fácil abrir o bico.
Muito mais fácil do que conversar com amigos e familiares, isso era
certo.
Eu não estava procurando por piedade, e Silas não ofereceu nenhuma.
Ele era apenas um cara com quem eu poderia desabafar.
— O que é pior, — continuei, — é que não foi qualquer um que
acabou se revelando seu companheiro. Foi o alfa. O alfa real. Você pode
acreditar nisso, porra?
O sorriso descontraído foi subitamente apagado do rosto de Silas.
Seus olhos brilharam sombrios, e seu comportamento de repente mudou
de aberto e convidativo para algo mais escuro.
Mas sumiu tão rápido quanto veio, e me peguei me perguntando se
tinha imaginado a coisa toda.
— Não, eu realmente não posso acreditar nisso, — disse ele
calmamente.
— Eu também não queria, — admiti. — Mas a realidade é uma merda.
Ficamos em silêncio por um tempo, revezando-nos para tomar um
gole da garrafa e fumar nossos charutos.
— Por que você não está lá dentro? — Eu perguntei eventualmente. —
Você não tem ninguém esperando por você?
— Não, — disse Silas. — Como eu disse, tive meu quinhão de
problemas do coração. E me chame de bastardo, mas não suporto ver
outras pessoas felizes com seus companheiros. Me faz sentir todo torcido
por dentro, sabe?
— Eu entendo, — eu concordei. — Por que eles ficam felizes quando
estou me sentindo uma merda?
— Amém, irmão. — Silas deu uma risadinha.
— Mas o que aconteceu com você? — Eu perguntei. — Você sabe
muito bem a minha história. Qual é a sua?
— Ah, bem, não gosto de falar muito sobre isso... — O rosto de Silas
escureceu novamente e, dessa vez, tive certeza de que não estava
imaginando. — Eu perdi minha companheira em uma terrível tragédia.
Ela foi tirada de mim muito, muito cedo.
Eu podia sentir o peso de suas palavras e tive a sensação de que meus
problemas atuais empalideceram em comparação com o que ele havia
passado.
— Mas mantenha a cabeça erguida, filho, — disse Silas. — Você ainda
tem a cerimônia da segunda chance chegando.
Tossi uma baforada de fumaça de charuto. Eu tinha me esquecido
completamente dessa parte da Cúpula.
Uma companheira de segunda chance...
A cerimônia tinha um certo estigma em torno dela.
Alguns viam isso como uma misericórdia concedida pela Deusa da
Lua, mas outros também viram como uma ninharia.
Todos os lobos não marcados entravam automaticamente na
cerimônia. Era visto como uma chance para aqueles que, por qualquer
motivo, não conseguiram encontrar seu verdadeiro companheiro.
Talvez seu verdadeiro companheiro simplesmente não estivesse na
Cúpula. Talvez seu verdadeiro companheiro tivesse falecido e essa fosse
sua segunda chance de uma vida cheia de amor.
— Hm... eu não tenho certeza disso, — eu disse relutantemente.
— Os rumores de que seu companheiro de segunda chance não é 'tão
bom' quanto seu verdadeiro companheiro não são tudo o que eles dizem
ser, — disse Silas. — Amor é amor, e uma vida sem ele é realmente muito
sombria.
— Como você saberia? — Eu me perguntei.
— Minha companheira era uma espécie de companheira de segunda
chance, — disse Silas com um sorriso triste. — E ela era a luz da minha
vida. — Eu olhei para Silas. As linhas duras de seu rosto suavizaram
enquanto ele pensava em seu amor perdido. Ele parecia feliz com as
memórias que sem dúvida estava revivendo.
— Talvez eu pudesse tentar..., — eu disse duvidosamente.
— Faça isso, filho. — Silas deu uma última tragada no charuto antes
de jogá-lo na grama. Ele se levantou e me deu um tapinha no ombro. —
Eu sei que parece impossível, mas talvez você encontre alguém especial
como a sua garota encontrou.
Eu levantei a garrafa quase vazia em direção a ele.
— Obrigado pela conversa.
— Não se preocupe, — disse ele.
Ele começou a caminhar na noite, mas parou e olhou para trás para
uma palavra final. — Se você encontrar sua companheira, segure-a com
força. Nunca a deixe ir. Porque você nunca sabe quando o destino a
levará embora.
Sebastian

A dança do alfa e da Luna estava finalmente chegando ao fim.


A música atingiu seu crescendo final, e os aplausos estrondosos de
nosso público tomaram seu lugar.
Eu sorri para Lyla e fiquei feliz em ver que, embora seu rosto estivesse
vermelho como uma beterraba, ela não tirou sua mão da minha.
A dança era exatamente o que precisávamos para nos entendermos.
Mesmo sendo um evento muito público, no momento parecia algo
privado e especial, apenas entre nós dois.
— Isso marca o fim do Cotilhão! — Caius anunciou, sua voz soando
no salão de baile. — Sintam-se à vontade para desfrutar das instalações
do hotel e, por favor, tomem cuidado ao voltar para seus quartos.
Algumas pessoas vieram nos cumprimentar por mostrar a eles uma
dança tão linda, e aceitei o elogio com um sorriso.
Eu geralmente não era do tipo que tolerava tais sutilezas, mas o
Cotilhão não tinha sido tão ruim. Eu senti como se tivesse me
aproximado um pouco mais perto de Lyla.
Mesmo assim, não fiquei muito satisfeito.
Olhei por cima do ombro e vi alguns membros da Alcateia Lua Azul
vindo em nossa direção — os pais de Lyla em particular.
Eu poderia dizer que eles não tinham se entusiasmado comigo ainda,
e eu não queria que eles arruinassem o clima agradável entre nós.
— Ei, — inclinei-me e sussurrei no ouvido de Lyla. — Venha comigo.
Eu quero te mostrar algo. — Ela olhou para mim, um brilho malicioso
nos olhos. — Não deveríamos ficar um pouco? Provavelmente existe
alguma regra que diz que o alfa e a Luna têm que se despedir dos
convidados.
Eu zombei.
— Podemos fazer nossas próprias regras.
Ela riu, e juntos corremos para a porta, acenando rapidamente para
todos que nos chamavam.
Escapamos noite adentro, correndo pelos campos iluminados pela lua
que cercavam o Flor de Lis.
— Onde estamos indo? — ela perguntou.
Olhei por cima do ombro e vê-la me deixou sem fôlego.
Achei que ela estava linda sob as luzes brilhantes do salão de baile,
mas sob o brilho suave da lua ela parecia divina. Quase sobrenatural.
— Um dos meus lugares favoritos no terreno do hotel. Muitas pessoas
não sabem disso.
Contornamos a orla do pântano até chegarmos à cortina de folhas de
um salgueiro-chorão isolado. Eu o afastei para revelar um banco de
madeira que pendia de um dos galhos da árvore.
Lyla engasgou ao passar.
— É como uma fuga secreta, — ela se maravilhou.
— Você é a única pessoa a quem mostrei isso, — admiti.
— Lindo, — ela sussurrou.
— Você é, — eu concordei.
Lyla revirou os olhos, mas o rubor em suas bochechas a denunciou.
— Eu sempre amei salgueiros-chorões, — ela disse suavemente. — Vê-
los balançar na brisa me deixa tranquila.
Sentamos juntos, o rangido da madeira soando quando o banco
balançou suavemente sob nosso peso.
O pântano se espalhou diante de nós, a suave mística da natureza um
pano de fundo deslumbrante.
— Por que você quis me trazer aqui? — ela perguntou.
— Eu encontrei este lugar quando ainda era um menino. — Dei de
ombros. — Acho que só queria que você me conhecesse um pouco mais.
— E você não mostrou a nenhum dos seus amigos? — ela perguntou.
— Quer dizer, eu não posso ser a única pessoa a quem você mostrou.
Eu balancei minha cabeça.
— Isso pode ser um choque para você, mas eu realmente não tinha
muito amigos.
— Não! — ela engasgou, sua boca formando um pequeno o surpreso.
— Har, har. — Eu sorri enquanto ela ria, o som era a música em meus
ouvidos. — Como você era? — Eu perguntei. — Quando você era
pequena, quero dizer.
Lyla pensou por um momento, olhando para a água.
— Eu era uma criança bem normal, eu acho, — ela começou. —
Brincava muito fora. Eu gostava de pegar sapos.
Eu bufei.
— Sapos?
— Ei, eles são legais, certo? — ela riu. — Minha mãe sempre ficava
louca quando eu trazia um para casa. Ela diria que eu teria verrugas se
tocasse muito nos sapos... e se ela me visse trazer um para casa de novo,
ficaria de castigo para sempre.
— Não me diga, — eu disse.
— Comecei a escondê-los no banheiro.
Eu a encarei, esperando o final da piada.
— É isso, — disse ela. — Nem preciso dizer que quase causei um
derrame na minha mãe na próxima vez que ela foi ao banheiro.
Nossa risada sacudiu o balanço do banco abaixo de nós. Eu não ria
assim há anos.
— Então, o que você fez durante toda a sua vida de castigo? — Eu
sorri. — Espere, devo trazê-la de volta para casa? Você está quebrando as
regras agora?
— Nós fazemos as regras, certo? — ela sorriu de volta. — Mas eu
peguei um livro, eu acho. Sempre gostei de ler, mas depois que fui
forçada a entrar, essa se tornou minha única fonte de entretenimento.
— Oh? — Eu sorri, imaginando uma Lyla menor enrolada sob o sol, o
nariz em algumas páginas. — Que tipo de livros?
— Uh, bem... contos de fadas, eu acho.
— Aha! Então, é por isso que você gostava tanto de sapos. Você estava
procurando por seu príncipe, — eu provoquei. Eu estava apenas
brincando, mas seu silêncio constrangedor falou muito. — Lyla...?
— Eu acho que é um milagre meus lábios não estarem cobertos de
verrugas, — ela murmurou.
Tentei manter o rosto sério enquanto ela me encarava, desafiando-me
a rir. Mas eu não consegui segurar. Eu rugi de alegria, lágrimas de alegria
escorrendo dos meus olhos.
— Oh, vamos lá, não é tão engraçado.
— Espere, — eu engasguei. — Espere. — Eu me levantei do banco. —
Deixe-me pular no pântano. Posso ser capaz de encontrar seu príncipe
agora.
— Vai se ferrar, idiota. — Ela riu. — Eu vou jogar você em vez disso.
Talvez isso ajude.
Nós finalmente nos acalmamos, e parecia que uma onda de
eletricidade correu direto para o meu coração quando Lyla encostou a
cabeça no meu ombro.
— Então... você já o encontrou? — Eu perguntei baixinho.
— Quem?
— Seu príncipe.
Ela inclinou a cabeça para cima para olhar para mim, seus olhos fixos
nos meus.
Seus lábios brilharam ao luar.
Inclinei-me lentamente aproximando meu rosto do dela.
— Talvez..., — ela respirou.
Lyla

Meu coração martelou no meu peito quando me inclinei em direção


ao beijo de Sebastian.
Era como se meu corpo estivesse se movendo por conta própria. Uma
atração magnética me trouxe para mais perto dele, e eu não tentei lutar
contra isso.
Eu só tinha visto vislumbres desse lado de Sebastian antes. O homem
despreocupado e tranquilo que se escondia atrás da máscara do alfa real.
Talvez toda essa coisa de Luna pudesse dar certo afinal...
Nossos lábios se tocaram, suavemente no início, uma chama baixa
ganhando vida. Senti sua língua traçar ao longo do meu lábio inferior e
aprofundamos o beijo.
Eu gemi quando sua língua se enredou na minha, o desejo quente na
minha pele.
Eu estendi a mão, meus dedos correndo por seu cabelo...
De repente, um rosnado feroz rasgou o ar, e Sebastian e eu nos
separamos.
Eu automaticamente fui para a defensiva, supondo que estávamos
enfrentando os bandidos que estavam ameaçando as fronteiras da
Alcateia Real.
O vento soprou ao nosso redor, afastando a cortina de folhagem do
salgueiro-chorão. Eu fiquei tensa, pronta para lutar contra o inimigo.
Mas quando meus olhos focaram no intruso, em vez disso encontrei
um rosto familiar.
— Caspian... — disse eu.
Seus olhos estavam injetados, sua camisa desabotoada e ele segurava
uma garrafa de uísque vazia em uma das mãos.
— Tire suas patas imundas dela, seu filho da puta, — Caspian
balbuciou para Sebastian.
Eu vi uma veia pulsar na têmpora de Sebastian, mas ele estava fazendo
um trabalho surpreendentemente bom em controlar seu temperamento.
— Caspian, você está bêbado — disse ele com os dentes cerrados. —
Acalme-se antes que eu tenha que...
Sebastian nunca conseguiu terminar a frase, porque naquele
momento Caspian se lançou para frente, mudando no ar.
— CASPIAN, NÃO! — Eu gritei.
Mas era tarde demais.
Suas presas expostas brilharam ao luar... e estavam indo direto para a
garganta de Sebastian.
25
VÍNCULO QUEBRADO
Sebastian

Lyla tentou pular entre nós, mas Caspian era um caso perdido.
Ela só se machucaria.
E se Caspian machucasse Lyla... então nenhuma quantidade de
autocontrole me impediria de matá-lo.
Eu a empurrei de lado, esquivando-me sob a estocada de Caspian
quando ele bateu no balanço do banco, arrancando-o de suas correntes.
Lyla tropeçou nas raízes da árvore, caindo de costas na grama. Isso
poderia deixar um hematoma, mas era melhor do que ficar no caminho
de um lobisomem bêbado.
A raiva me alimentou, meus ossos quebrando e os músculos se
expandindo enquanto eu assumia minha forma completa de lobo.
Caspian girou e se lançou novamente, e eu desviei para fora de seu
alcance.
Rosnei um aviso, mas o idiota continuou vindo.
Eu golpeei seu rosto, minhas garras se retraíram para que eu não o
deixasse com uma cicatriz. Mas o tapa não fez nada para detê-lo.
Isso vai ser complicado.
Se fosse uma luta normal, eu teria rasgado sua garganta naquele
momento. Mas o filho da puta estava bêbado. Ele não estava em seu juízo
perfeito.
E eu sabia que, se o machucasse, machucaria Lyla.
Puta merda.
De repente, ele se lançou para frente em um movimento imprudente
e suicida que deixou sua garganta completamente exposta. Mas não
consegui aguentar a abertura. Eu não queria matá-lo...
Suas mandíbulas apertaram meu ombro e eu gritei de dor.
Caspian

O sangue jorrou em minha boca, quente e salgado.


Meu cérebro estava nublado com sede de sangue, e eu recuei e
arranquei Sebastian com minhas garras. O carmesim se espalhou pelo ar
quando me aproximei, pronto para terminar o trabalho.
Se ele está morto, então definitivamente... definitivamente...
— CASPIAN!
A voz de Lyla cortou minha sede de violência. Eu me virei para ela
enquanto ela marchava em nossa direção. Ela parecia mais furiosa do que
eu já a tinha visto antes.
— MUDE DE VOLTA. AGORA!
Eu mudei, a raiva bêbada nocauteada do meu sistema pela maneira
que Lyla estava olhando para mim.
Como se eu fosse uma espécie de monstro.
Ela passou correndo por mim em direção a Sebastian.
Ele havia mudado de volta para sua forma humana e estava sangrando
muito.
Puta merda. Que porra estou pensando?
Eu caminhei em direção a eles.
— Merda, Sebastian, eu sinto muito...
— Não se aproxime! — Disse Lyla.
Eu parei no meio do caminho. Foi como se suas palavras tivessem me
dado um tapa na cara.
— Lyla, não foi isso que eu quis dizer, — eu disse. Minhas palavras
soaram vazias e sem sentido, até para mim. — Bebi muito e não estava
pensando direito, e...
— Apenas saia daqui, Caspian. Ela nem estava olhando para mim. —
Ela estava rasgando o vestido e usando-o para estancar algumas das
feridas de Sebastian.
— Eu posso ajudar, — eu disse, desesperado para compensar meu
erro.
— Não. — Ela olhou para mim, seus olhos frios como gelo. — Você já
fez o suficiente, Caspian. Saia.
Senti um abismo se abrir entre mim e Lyla.
Um que eu não tinha certeza se poderia ser cruzado.
A raiva cresceu dentro de mim, mas era dirigida a mim mesmo. Eu me
virei e corri, a dor que eu sentia era demais para suportar.
Eu mudei enquanto corria, esperando que os instintos mais básicos e
primitivos do meu lobo me salvassem de chafurdar na autopiedade. Mas
mesmo isso não conseguiu conter a agonia.
Corri pela floresta, um furacão de músculos e dentes uivantes.
Transformei pedregulhos em pó, cortei troncos de árvores como se
fossem feitos de papel.
Mas não foi o suficiente.
Nada foi suficiente.
Lyla

Eu ignorei o uivo enlouquecido da floresta e me concentrei em


Sebastian, que estava deitado no chão diante de mim.
Ele sorriu cansado para mim, seu rosto coberto com respingos de seu
próprio sangue.
— Eu teria ganhado, — ele brincou fracamente.
— Cale a boca, idiota, — eu disse suavemente. — Não fale agora.
Eu não era de forma alguma uma médica treinada, mas passei muitos
dias ajudando na casa do curandeiro local na Alcateia Lua Azul.
Eu analisei criticamente as feridas de Sebastian... e suspirei de alívio.
Ele vai ficar bem.
A cura natural de um lobisomem já estava começando lentamente,
parando o pior do sangramento.
Mas se Sebastian fosse humano... ele já estaria morto.
Peguei meu telefone, com a intenção de ligar para alguém pedindo
ajuda, mas Sebastian estendeu a mão e colocou a mão sobre ele.
— Não, — disse ele.
— Agora não é hora para sua dureza machista, — eu disse, mas ele
balançou a cabeça.
— Não é isso. Se os outros descobrirem que Caspian me atacou, eles
vão matá-lo. Toda a Alcateia Lua Azul ficaria envergonhada... talvez até
exilada.
Suas palavras foram como um respingo de água fria no rosto.
Era fácil ficar envolvida demais em nosso pequeno triângulo amoroso
estranho. Eu estava olhando para isso do ângulo de um ex ciumento e
bêbado.
Mas Caspian atacou o alfa real.
Motivo de execução fácil. E facilmente motivos para condenar toda a
minha alcateia... exilar todos nós para a vida de bandidos.
Mesmo enquanto ele estava sangrando em meus braços, Sebastian
estava pensando nos outros.
— Eu não posso simplesmente deixar você aqui, — eu disse, com
lágrimas de repente brotando dos meus olhos. Eu pisquei de volta
ferozmente.
Por que diabos estou chorando?!
— Bem, talvez possamos entrar em um dos quartos do hotel até que
minhas feridas cicatrizem, — Sebastian disse. — Seria mais confortável
do que aqui na grama.
Eu balancei a cabeça e com muito cuidado o ajudei a se levantar,
suportando a maior parte de seu peso. Sebastian sibilou de dor enquanto
suas feridas esticavam com o movimento.
Voltamos lentamente para o hotel, escolhendo as entradas dos fundos
para que ninguém nos visse.
Ficamos quietos o tempo todo, e o silêncio me permitiu chafurdar em
meus pensamentos.
Caspian havia atacado Sebastian.
Por minha causa.
Ele estava bêbado, mas isso não era desculpa.
Eu estava começando a perceber que talvez houvesse mais em jogo do
que apenas dor emocional.
Eu olhei para as minhas mãos encharcadas de sangue. A dor se tornou
muito real.
Os lobos podem ser intensamente territoriais. Eu mesma
experimentei isso quando vi Magnolia tocando Sebastian.
Eu queria sufocá-la.
Expulsá-la da alcateia.
Se isso se arrastar por muito mais tempo... quem sabe o que alguém
poderia fazer.
Depois de passar um cartão-chave na recepção, o usamos para entrar
em uma das suítes do Fleur de Lis.
Eu coloquei Sebastian na cama. Depois disso, fui ao banheiro e peguei
todos os trapos e toalhas extras. Eu vasculhei o frigobar do quarto em
busca de bebida.
Sentei-me ao lado dele, ensopando uma toalha de mão em vodca.
— Isso pode doer um pouco, — eu disse. — Mas temos que limpar
suas feridas.
— Eu sou um menino grande, — Sebastian disse. — Eu aguento —
ow!
Eu tive que rir de sua atuação ruim. Mesmo assim... ele estava
tentando me alegrar.
Suas feridas já estavam quase fechadas naquele ponto, os cortes largos
se tomando cortes mais finos.
Guardei o pano encharcado de vodca e passei outra toalha na água
quente. Limpei o sangue e a sujeira dele, lentamente limpando os
músculos de seus braços e seu peito nu...
De repente, eu estava ciente de quão nu Sebastian estava diante de
mim.
Ele ficou em silêncio, seus olhos azuis me observando atentamente
enquanto eu o limpava.
Algo em seu olhar fixo enviou uma onda de calor pela minha espinha.
Em algum momento, a toalha em minhas mãos havia caído e, em vez
disso, eram meus dedos que deslizavam por sua pele.
Fiquei maravilhada com o quão duros seus músculos pareciam — com
o quão grossos, pesados e poderosos eles eram sob meus dedos.
Sebastian rosnou de desejo, e o baixo profundo parecia ir direto para o
meu núcleo, fazendo minhas paredes apertarem de necessidade.
De repente, eu estava montando nele e nossos lábios se encontraram.
A fortaleza de seus braços me envolveu, prendendo-me em seu peito.
Senti seu pau endurecido inchar e esfregar contra minha bunda e
gemi de prazer.
Eu estava sufocando com seu beijo e me afastei, ofegante.
Sebastian moveu seus lábios para o meu pescoço, a barba por fazer em
seu rosto enviando arrepios de prazer ao longo da minha pele.
O som de tecido rasgando preencheu o ar enquanto ele desmontava
meu vestido arruinado.
— Sebastian, — eu engasguei quando ele apertou minhas nádegas,
abrindo-as.
Eu podia sentir minha luxúria escorrendo pelas minhas coxas,
escorrendo em seu pau enorme...
Oh Deusa, eu quero tanto...
Comecei a direcionar meus beijos para baixo.
Comecei em seus lábios, até sua mandíbula, sobre seu pescoço.
Eu beijei seu peito; tracei seu abdômen com minha língua...
Quando meu corpo deslizou para trás em suas coxas, seu pau se alojou
entre meus seios.
— Porra, Lyla, — ele gemeu, e o som de sua voz rouca me enviou a um
frenesi sexual. Seu cheiro almiscarado me dominou enquanto eu
arrastava meus lábios cada vez mais para baixo...
Mas de repente eu senti algo escorregadio e úmido nas palmas das
minhas mãos.
Não era suor.
Era sangue.
Eu me inclinei para trás e vi que as feridas de Sebastian haviam
reaberto.
Sebastian e eu congelamos por um segundo. Nenhum de nós
percebeu no calor do momento.
— Merda, — ele disse simplesmente.
E começamos a rir. Rimos para afastar toda a tensão acumulada, e
embora o riso não fosse exatamente a liberação que eu esperava,
funcionou da mesma forma.
Eu levei alguns minutos para limpá-lo novamente, então nos
deitamos na cama um ao lado do outro, cobertos com os lençóis extras
que eu tinha encontrado no armário.
— Nós provavelmente teremos que queimar isso para que ninguém
descubra, — Sebastian disse, acenando com a cabeça para as toalhas
ensanguentadas no canto da sala.
— Ou podemos deixá-los, — eu disse, seguindo seu olhar. — Talvez
comece um mito urbano na Flor de Lis. O maldito fantasma.
Ele riu baixinho, o som balançando suavemente a cama debaixo de
nós.
— Você não tem que fazer isso, você sabe, — ele disse, repentinamente
sombrio. — Você não tem que cuidar de mim.
Olhei para Sebastian e não vi nada além de honestidade em seus
olhos. Ele estava falando sério sobre o que havia dito antes.
Ele não queria que eu estivesse ao seu lado apenas por causa da Deusa
da Lua.
É por isso que ele pensa que estou aqui? Porque eu deveria ser sua Luna?
— Não estou aqui porque tenho de estar, — disse eu.
Eu ouvi uma pequena inspiração e seus olhos brilharam de esperança.
Meu coração parecia que ia explodir, estava batendo tão rápido.
— Estou aqui porque quero estar, — continuei. — Estou aqui porque...
porque eu escolhi estar aqui com você, Sebastian.
26
VERDADES TURVAS
Lyla

Fiquei olhando para as partículas de poeira flutuando na luz do


amanhecer que vazava pelas janelas.
Fazia um dia inteiro desde que Sebastian e eu escapamos da Fleur de
Lis e voltamos para a Casa da Alcateia Real.
Ele foi levado para as reuniões do conselho, e eu fui cercada pela
minha família e amigos da Alcateia Lua Azul.
A Cúpula iria chegar ao fim em breve.
E isso significava que eu teria que dar a Sebastian minha decisão
oficial.
Eu gemi e enterrei meu rosto no travesseiro, minhas bochechas em
chamas. Eu mal tinha conseguido dormir na noite anterior. Fiquei
repetindo mentalmente aquele momento que tivemos no hotel.
O que Sebastian achou das minhas palavras?
Elas foram muito vagas?
Muito diretas?
Eu ao menos sabia o que queria dizer com elas?
Eu gemi de novo, rolando na minha cama muito grande.
Uma batida na porta do meu quarto me salvou de cair em uma espiral
de dúvidas. Eu me arrastei para fora das cobertas e caminhei até a porta.
Eu a abri e minha respiração ficou presa na garganta.
Era Sebastian.
— Bom dia, — disse ele.
— Oi, — eu gritei.
Esperei que ele dissesse algo, mas ele parecia estar hesitando. Ele
tinha a mesma energia nervosa que eu, e o momento estava rapidamente
se tornando muito estranho.
Eu vi as bolsas sob seus olhos e me perguntei se ele teve tantos
problemas para dormir quanto eu.
— Vista-se, — Sebastian disse de repente. Ele parecia ter se decidido
sobre algo. — Há algo que eu quero mostrar a você.
Eu olhei para o meu pijama.
— Este não é um traje apropriado? — Eu perguntei.
— Vamos dar uma pequena caminhada, — disse ele. — Eu não acho
que seus chinelos vão aguentar.
— Uma caminhada? — Minha curiosidade foi aguçada. — Para onde?
— Você verá, — ele disse misteriosamente. — Vou esperar por você lá
embaixo.

— Acho que precisamos redefinir sua ideia de uma 'pequena


caminhada', — gritei.
Sebastian olhou para baixo do topo da colina, um sorriso no rosto. —
Você não me disse que gostava de curtir a vida ao ar livre quando criança?
— Quando criança! — Eu gritei de volta, enxugando o suor da minha
testa. — Isto é mais uma prova do que uma caminhada!
— Estamos quase lá, — Sebastian disse, sorrindo para mim. — Vai
valer a pena, eu prometo.
Eu me arrastei atrás dele, a inclinação íngreme fazendo minhas coxas
queimarem com o esforço.
Agora, eu era uma garota em forma. Meu sangue de lobisomem me
tornou naturalmente atlética. Eu também malhava muito regularmente.
Mas aquele caminho sinuoso através da floresta que cercava a casa da
alcateia era difícil.
Atravessando penhascos íngremes e ravinas íngremes, estávamos
caminhando...
Eu olhei para o sol diretamente acima. Tínhamos partido ao
amanhecer.
Há muito tempo.
Sebastian esperou por mim no topo da colina, a floresta ao nosso
redor brilhando ao sol. Ele estendeu a mão e eu peguei, tentando não
respirar muito forte.
— Quer que eu carregue você, princesa?
— Certo. — Minha voz estava cheia de sarcasmo. — Depois de toda
essa caminhada, é melhor você me levar para o meu castelo mágico.
Sebastian deu uma risadinha.
— Algo parecido.
Continuamos por mais alguns minutos até chegarmos ao que parecia
ser uma caverna escondida na parede rochosa de um penhasco.
— Ta-da, — Sebastian disse. — O castelo mágico, Sua Alteza.
Eu olhei para a escuridão da caverna.
— Você está brincando.
— Não.
— É aqui que você pula em mim e rouba todos os meus órgãos ou algo
assim?
Sebastian de repente agarrou meu pulso e me puxou para seu peito,
seu outro braço serpenteando em volta da minha cintura.
— Só se você não se comportar, — ele rosnou.
Borboletas explodiram em meu estômago, e eu tive que apertar
minhas coxas enquanto meu sexo apertava com seu movimento
repentino.
Ele sorriu diabolicamente e me soltou, entrando na caverna.
— Vamos, — ele chamou, acendendo uma lanterna.
Eu olhei para suas costas enquanto o seguia para dentro.
Ele se acha tão engraçado...
A caverna estava sombria e úmida. Nossos passos ecoaram na
escuridão. Havia uma descida suave à medida que nos aventurávamos
mais fundo no subsolo.
O som da água correndo começou a ficar cada vez mais alto.
Onde diabos ele está me levando?
À medida que continuamos em frente, a escuridão lentamente
desapareceu enquanto a luz do sol derramava do fim do túnel.
Sebastian desligou sua lanterna e se virou para pegar minha mão.
— É lá em cima, — disse ele. — Está pronta?
Eu balancei a cabeça ansiosamente. A antecipação estava me matando.
Caminhamos para a frente e eu engasguei de surpresa.
Era como se tivéssemos entrado em um mundo completamente novo.
Diante de mim estava uma cachoeira escondida.
Eu olhei para cima para ver que o interior da caverna se abria para o
céu enquanto a luz do sol se derramava, brilhando e se refratando na
água.
A grama exuberante cercava o lago no centro da caverna e flores
silvestres floresciam ao nosso redor. Vinhas selvagens pendiam baixas em
faixas verdes, balançando suavemente com a brisa fresca.
— É lindo... — eu disse.
Sebastian

— Este lugar é um território sagrado para a Alcateia Real, — expliquei


enquanto os olhos verdes brilhantes de Lyla se arregalaram e observaram
nosso entorno.
— As águas aqui fluem para o resto das terras da alcateia. É a força
vital da floresta e a força vital de nossa alcateia. — Eu apertei a mão de
Lyla e ela olhou para mim. — É onde o alfa e a Luna vão para solidificar
seus laços.
O rosto de Lyla ficou vermelho, mas ela não desviou o olhar.
— Eu posso sentir isso no ar, — ela disse sem fôlego. — Este lugar é
especial.
— Você poderia chamar de mágica. — Eu sorri. — Quer que eu te
mostre?
Ela assentiu, ansiosa para ver.
Soltei sua mão e fui até a beira do lago. Eu lentamente movi meus
dedos para que minhas garras saíssem, então cortei suavemente minha
palma.
Algumas gotas do meu sangue caíram nas águas cristalinas.
Uma rajada soprou ao nosso redor — uma brisa sobrenatural que fez
meus nervos formigarem. E de repente minha mente se encheu de visões.
Fui levado de volta ao passado, para quando meus pais me mostraram
aquele lugar pela primeira vez. Eu vi seus sorrisos, ouvi o som de nossas
risadas ecoando na caverna.
Então eu tive visões de Lyla.
Ela desceu do céu noturno acima de mim, como um anjo vindo das
estrelas. O luar a envolveu em um casulo de luz, formando um vestido
etéreo.
Ela parecia graciosa.
Ela parecia minha Luna.
Abri meus olhos, uma sensação de serenidade e segurança brilhando
dentro de mim.
Eu me virei para Lyla.
— Você gostaria de tentar?
Lyla

Eu dei um passo à frente e coloquei minha mão na de Sebastian.


Eu tinha certeza de que ele podia sentir meu coração pulsando na
ponta dos dedos.
— O que eu vou ver? — Eu perguntei a ele.
— Sua verdade, — ele disse simplesmente. — Você está pronta?
Não.
— Vamos fazer isso, — eu disse.
Sebastian gentilmente virou minha mão para que minha palma ficasse
levantada e, lentamente, ele passou uma garra sobre minha pele.
O ato foi estranhamente íntimo. Eu olhei em seus olhos enquanto
sentia meu sangue inchar do pequeno corte, contas vermelhas caindo na
água. Observei as ondas do meu sangue se espalharem pela superfície
vítrea da lagoa, se compondo e se multiplicando até que a água estava
viva com o movimento.
Eu podia sentir a energia do lugar crescer como uma maré subindo,
um redemoinho se formando ao meu redor. Parecia tentar conter uma
tempestade dentro da minha mente.
Talvez isso tenha sido um erro.
Mas então tudo ficou quieto e eu não estava mais na caverna com
Sebastian.
Eu era criança novamente. Eu estava afundada até os joelhos no
pântano perto da Alcateia Lua Azul, caçando criaturas para trazer para
casa. Caspian estava ao meu lado, seu sorriso brilhando à luz do sol.
De repente, ficamos mais velhos e estávamos nos beijando.
Nossa firme amizade de infância floresceu em um romance, e eu me
lembrava de ter me perguntado se ele seria meu verdadeiro
companheiro. Aquele que eu estava destinada a amar pelo resto da minha
vida.
Então eu estava em uma clareira na floresta, o luar brilhando sobre
meu corpo nu.
E antes de mim estava Sebastian. Ele uivou, o som arrancando minha
alma. Isso me agarrou como nenhum outro antes, a chamada do destino
alta e clara.
Mas até ele desapareceu.
Baixei os olhos para as minhas mãos e elas se encolheram até se
tornarem os pequenos punhos rechonchudos de um bebê. O bebê era eu,
e eu estava estendendo a mão para um homem que nunca tinha visto
antes...
Seu rosto estava obscurecido pela luz que brilhava pela janela.
Mas ele usava uma armadura de platina e uma espada ornamentada
estava embainhada em sua cintura.
Ele estendeu um dedo e eu o agarrei.
Seus olhos enrugaram tristemente enquanto ele sorria.
— Eu gostaria de não ter que deixar você, minha doce Lyla. — Sua voz
parecia distorcida, como se eu a estivesse ouvindo através de um longo
túnel. — Mas fui chamado pela Deusa para servir...
Eu queria gritar, para impedir o homem misterioso de partir. Ele era
importante para mim. Ele era familiar.
Mas eu nunca o conheci antes na minha vida...
— Lyla?
A voz de Sebastian quebrou o feitiço. Eu estava em seus braços, um
vento intenso diminuindo repentinamente quando percebi que ainda
estava na caverna.
— Você está bem? — ele parecia em pânico, seus olhos azuis
arregalados. — Eu nunca vi o ritual afetar alguém tão intensamente
antes... O que você viu?
Tentei pensar no turbilhão de visões.
Caspian... Sebastian... aquele homem...
— Eu... eu não sei, — eu disse. Eu balancei minha cabeça, tentando
limpar minha confusão. A incerteza estava me deixando nauseada. — E
você? O que você viu?
Sebastian trouxe seus dedos para debaixo do meu queixo e inclinou
meu rosto para ele.
— Eu vi você, — ele disse, seus olhos queimando com uma paixão
ardente. — Você é minha verdade. — Ele me beijou, e a sensação de seus
lábios nos meus me tirou o fôlego. Talvez fosse a magia daquele lugar,
mas me senti mais conectada a Sebastian do que nunca.
Era fácil imaginar uma vida com ele.
Era fácil me imaginar como Luna ao seu lado.
Ele se afastou, mas seu olhar prendeu o meu como um torno. Suas
mãos pareciam ferros de marcar contra minha pele.
— Lyla — disse ele, a voz ardendo de desejo. — Eu quero marcar você.
Aqui. Agora.
27
UMA REVIRAVOLTA DO DESTINO
Lyla

Caímos no chão musgoso enquanto nosso beijo ficava mais intenso.


Era difícil dizer onde eu terminava e Sebastian começava. Estávamos
enredados no auge da paixão, mãos agarrando e lábios errando.
Minha cabeça estava confusa de desejo.
Sebastian queria finalmente me marcar.
Eu seria dele e ele seria meu.
Senti sua ereção lutando contra suas calças, pressionando quente e
pesada contra meu sexo. Imaginei como seria incrível tê-lo dentro de
mim, sentir seus caninos finalmente marcando meu pescoço...
Mas as visões me incomodavam.
Tentei me concentrar em Sebastian: a maneira como suas mãos
deixaram rastros de fogo em minha pele... mas não consegui.
Sebastian tinha me dito ele mesmo.
Eu veria minha verdade.
Mas então por que eu vi Sebastian E Caspian? Eu me perguntei.
Quem era aquele homem misterioso que era familiar e um estranho para
mim?
Eu empurrei suavemente o peito de Sebastian. Eu nunca teria sido
capaz de movê-lo com minha força, mas ele se inclinou para trás,
sentindo meu desconforto.
— O que há de errado? — ele perguntou, sua respiração rouca e seus
olhos tempestuosos.
Quase cedi a ele ali mesmo.
Eu me contorci debaixo dele e me sentei. Ele fez o mesmo, sentando
na minha frente. Reservei um momento para olhar ao nosso redor mais
uma vez.
— Este lugar é realmente mágico, — eu disse seriamente. — Obrigado
por me mostrar.
— Mas...? — Sebastian perguntou, seus ombros caindo.
Meu coração se partiu.
Ele já sabia o que estava por vir... Isso é uma coisa tão comum comigo
agora?
— Eu quero me comprometer, Sebastian, eu realmente quero...
— Então por que não se compromete? — ele perguntou. Ele estava
tentando ao máximo esconder a frustração em sua voz. Eu podia ver a
dor enterrada bem no fundo de seus olhos.
Mas eu não poderia dizer a ele que também tinha visto Caspian em
minhas visões. Eu não tinha coração.
— Simplesmente não é o momento certo, — eu disse
desesperadamente, tentando fazê-lo entender. — Ainda não. Só... saiba
que estou tentando, ok? Eu realmente estou.
Sebastian não respondeu. Em vez disso, fechou os olhos e pareceu se
retrair por um momento.
Eu esperei, ouvindo o barulho da cachoeira e vendo o sol brilhar em
suas profundezas.
— Ok, — Sebastian disse, abrindo os olhos. Mas agora eles pareciam
vazios.
— Sebastian, eu...
— Nós devemos ir, — ele disse. — Temos uma longa caminhada de
volta.
Sebastian me ajudou a ficar de pé e seguiu em frente, acendendo sua
lanterna.
Eu não tive escolha a não ser seguir desanimadamente atrás dele.
Olhei de volta para a cachoeira uma última vez antes de me aventurar
mais fundo na escuridão.
As visões deveriam esclarecer tudo.
Então por que estou saindo daqui mais confusa do que nunca?
— Você viu o labirinto de milho?!
Skye pulou para cima e para baixo animadamente na minha cama, o
sol poente pintando-a com uma luz dourada.
— Calma gafanhoto, — eu disse, minha voz tremendo a cada salto. —
Você vai pular pela janela.
— Mesmo se eu caísse, não seria uma queda tão grande, — Skye disse
desafiadoramente.
Eu balancei minha cabeça. Uma queda de dez metros não era nada
para se zombar.
— Claro, mas então mamãe e papai vão te ver, e você vai ter que
ajudar os outros a se preparar para a cerimônia mais tarde esta noite. Eles
vão fazer você fazer todas as tarefas.
Skye deu um salto final, cruzando as pernas no ar, então caiu de
bunda para se sentar na cama.
— Tudo bem, — ela fez beicinho. — Mas você viu o labirinto de
milho?
— Eu vi. — Eu ri. — É com isso que você está animada? Não é com a
cerimônia de segunda chance?
— Qual seria o motivo da animação? — ela desafiou. — Eu sou muito
jovem para ter um companheiro. E você já tem Sebastian.
Bom argumento.
Eu sufoquei uma tosse assustada.
— Simples assim, hein? — Eu perguntei, principalmente para mim
mesma.
Skye olhou para mim e revirou os olhos, deixando escapar um gemido
enorme e exagerado. Ela começou a rolar na cama.
— Lyla está pensando em meninos denoooovo!
Eu bati nela com um travesseiro.
— Shhh, calada!
Ela riu, equipando-se com sua própria arma fofa.
— Você declarou guerra! — ela gritou de alegria.
E que guerra foi essa.
Depois de um ataque de riso e um massacre de penas felpudas, minha
irmã e eu deitamos esparramados em minha cama do tamanho do
campo.
— Você precisa se alegrar, Lyla, — Skye disse. — Mamãe disse que
você vai ficar com rugas logo no início, com toda essa preocupação que
você sente.
Soltei um longo suspiro, rolando para olhar para minha irmã mais
nova.
— Alguma outra palavra de sabedoria, oh, grande Skye?
Ela se sentou e cruzou as pernas, pressionando o polegar e os dedos
médios enquanto ela cantarolava e estalava os dedos.
Eu me perguntei brevemente quais vídeos estranhos do WolfTube ela
estava assistindo.
Seus olhos se abriram e um sorriso malicioso curvou seus lábios.
— Pegue as maçãs cristalizadas rapidamente, — disse ela. — Tenho a
sensação de que elas vão acabar muito rápido.
Caspian

Eu vaguei sem rumo pelo terreno da Alcateia Real, encontrando


qualquer desculpa para adiar a cerimônia da segunda chance.
Os amplos campos verdes ao redor da casa da alcateia haviam se
transformado em uma espécie de carnaval.
Barracas de comida, cabines de jogos e barracas coloridas estavam
todas montadas juntas; fios que pendiam com lâmpadas emaranhadas
entre eles.
O cheiro de salsicha e algodão doce encheu o ar. Ocasionalmente, o
POP! POP! De uma pistola de ar ou o tilintar de garrafas de vidro caindo
no chão irrompeu entre os gritos e as risadas.
A Cúpula estava chegando ao fim, e acho que eles queriam um final
digno.
Mas eles tiveram que transformar todo o lugar em uma porra de circo?
Eles até montaram um maldito labirinto de milho. Eu olhei em volta
para meus companheiros lobisomens, todos eles felizes e rindo sem
nenhuma preocupação no mundo.
E aqui estou eu — o bastardo miserável e solitário entre eles.
Eu olhei para cima e de repente percebi que me distanciei um pouco
das festividades e entrei em uma reunião mais silenciosa.
Um palco de madeira foi montado, simples e sem adornos. A lua
parecia brilhar um pouco mais forte no palco, e um punhado de
lobisomens estava lá em sua luz.
Muitas das alcateias se reuniram diante do palco, e todos eles olhavam
com olhos esperançosos.
Mesmo quando estava tentando evitar o lugar, não consegui.
Como uma mariposa por uma chama, fui atraído por ela.
A cerimônia da segunda chance.
Parecia um pouco inapropriado realizar algo tão sagrado perto de um
carnaval. Mas então me dei conta e tive que sorrir com a ironia.
Era apenas mais um dos jogos do carnaval.
A cerimônia da segunda chance é uma piada.
E aparentemente, eu também sou pensei enquanto me pegava andando
para frente, meus pés traidores subindo nos degraus de madeira um de
cada vez.
Como se o mundo estivesse esfregando sal em minhas feridas, vi
Sebastian parado ao lado em um pequeno pódio. Parecia que ele
presidiria a cerimônia.
Faz sentido.
Afinal, ele era a porra do alfa real.
Sebastian ergueu os braços e a multidão se acalmou. A cerimônia da
segunda chance estava prestes a começar.
Eu olhei em volta para o punhado de outros esperançosos no palco.
Os outros que não estavam marcados, que não haviam encontrado seus
verdadeiros companheiros.
Minha companheira está aqui no palco comigo?
Eu olhei para cada um deles, mas nenhum deles me fez sentir
absolutamente nada. Nenhum deles me fez sentir como Lyla fazia.
Eu olhei para a multidão e vi Lyla de pé com o resto da Alcateia Lua
Azul. Ela estava olhando na minha direção, mas eu não conseguia
distinguir sua expressão à distância.
Eu me perguntei o que ela estava pensando.
Ela tem pena de mim?
Ela está esperançosa de que eu encontre uma companheira de segunda
chance para que eu possa irritar e deixar ela e Sebastian sozinhos?
Ou ela se importa?
Suspirei e de repente uma onda profunda de exaustão me dominou.
Eu gostaria de poder voltar no tempo, antes da Cúpula. Quando
estávamos juntos. Quando a vida era simples.
De pé naquele palco, com a lua iluminando minha miséria, eu só tinha
certeza de uma coisa: As coisas nunca mais serão tão simples.
Lyla

Sebastian começou a recitar as orações ritualísticas, mas suas palavras


não tinham nenhum significado para mim.
Eu estava muito nervosa.
Eu olhei por cima das cabeças das pessoas que estavam na minha
frente, tentando ter uma visão melhor de Caspian.
Ele parecia abatido.
Ele parecia magoado.
Não nos falamos desde que ele atacou Sebastian. Até aquele
momento, eu ainda estava furiosa com ele. Mas vê-lo parecer tão perdido
e sozinho no palco...
Meu coração doeu para ir confortá-lo, mas eu sabia que isso só
pioraria as coisas.
Fechei meus olhos e orei para a Deusa da Lua.
Orei para...
O quê, exatamente?
Para Caspian encontrar sua companheira de segunda chance? Para ele
ficar feliz depois da cerimônia?
Mesmo que não seja comigo?
Suspiros explodiram das pessoas ao meu redor, e eu abri meus olhos.
Raios de luz poderosos caíram da lua para iluminar certos indivíduos no
palco. Eles olharam em volta, seus olhos arregalados e esperançosos.
Os feixes de luz que os envolviam dispararam para frente,
conectando-os a seus parceiros.
Aplausos irromperam da multidão.
Parecia que eu estava testemunhando algo sagrado.
Eles estavam encontrando seus companheiros!
De repente, outro raio de lua desceu do céu.
À direita de Caspian.
Ele parecia em estado de choque, uma expressão de pura descrença
em seu rosto.
Eu engasguei, minha mão cobrindo minha boca. Meus olhos
começaram a arder com lágrimas enquanto diferentes emoções
guerreavam dentro do meu coração.
Felicidade.
Alívio.
Ciúme?
Com o canto do olho, vi Sebastian observando Caspian de perto
também. Estávamos todos esperando que a Deusa da Lua revelasse quem
era sua parceira.
Outro feixe de luz disparou de Caspian.
Prendi minha respiração.
Ele disparou por todos os outros participantes no palco...
... além de todo o palco...
... e foi direto para...
MIM?!
28
SANGUE DA NOITE
Lyla

Isso não pode estar acontecendo.


A cerimônia ficou mortalmente silenciosa.
Era como se todos estivéssemos congelados no tempo. Um retrato de
alguma piada cruel e distorcida.
Eu fechei meus olhos com força, esperando ter sido pega em um
pesadelo. Mas, mesmo com minhas pálpebras fechadas, eu podia ver o
brilho prateado do raio de lua brilhando ao meu redor.
Era real.
Caspian era meu companheiro de segunda chance.
Mas como?!
Eu vi Sebastian me olhando de seu pódio, seu rosto congelado de
horror.
Ele era meu verdadeiro companheiro.
Como posso ter um companheiro de segunda chance ao mesmo tempo?!
Eu não conseguia entender isso.
Mas então eu percebi.
A cerimônia era para lobos não marcados.
Mesmo que eu tivesse encontrado Sebastian, ele não tinha me
marcado ainda. E pensar que tínhamos acabado de voltar da cachoeira.
Ele quase me marcou lá...
A verdade da situação era como um caco de gelo se enterrando em
meu coração.
Foi por isso que vi Sebastian e Caspian em minhas visões.
Meu vínculo com Sebastian não havia sido finalizado.
E, como resultado, eu agora tinha DOIS companheiros.
Eu olhei entre os dois. Os dois homens estavam paralisados pelo
choque. Suas expressões transmitiam mais ou menos o mesmo
pensamento que estava passando por minha mente.
O que diabos vamos fazer agora...?
— De jeito nenhum... — Teresa murmurou ao meu lado.
Suas palavras quebraram o feitiço.
O silêncio atordoado explodiu em um caos frenético.
De repente, fui cercada por pessoas — tanto curiosos quanto
escandalizados. Suas palavras se misturaram em uma confusão de ruído.
Ao meu redor havia olhos julgadores e mãos agarradas. Eu me senti
tonta: presa em um redemoinho de dedos apontando, olhos fixos e bocas
sussurrantes.
Foi avassalador.
Eu tenho que ir embora...
Eu cambaleei para trás e Teresa segurou meus ombros, me firmando.
— Vamos tirar você daqui, — ela disse.
Meus pais também estavam por perto e pude vê-los tentando acalmar
as pessoas. Alguns dos membros da Alcateia Real pareciam
completamente furiosos, e meu pai teve que recorrer a empurrar alguns
deles para trás.
Espero que as coisas não saiam do controle...
Sebastian

A Alcateia evoluiu para um alvoroço. Muitos deles se aglomeraram ao


meu redor — todos gritando, todos tentando chamar minha atenção.
Um alfa era o símbolo da força do bando. O alfa real era o alfa que
estava acima de todos os outros.
Então, o que significava se o alfa real não pudesse manter sua
companheira? Se a própria Deusa da Lua — considerasse dar à verdadeira
companheira do alfa real uma segunda chance?
O alfa real não era digno?
A Alcateia Real estava condenada?
O luar, uma vez gentil e amável, se transformou em um brilho áspero
e zombeteiro. Eu olhei para a lua, fria e indiferente no céu.
Então é assim que você vai me punir?
Acho que mereci.
Eu disse — foda-se a Deusa da Lua.
Parecia uma resposta natural, sua maneira de dizer — vá se foder —
de volta.
Eu vi Caius e Tiberius dirigindo alguns guardas da Alcateia Real
enquanto eles tentavam manter a paz. Depois de dar algumas instruções
curtas, eles começaram a empurrar a multidão em minha direção.
Eu cerrei meus dentes.
Eu não estava com humor para suas palestras. Sem dúvida, eles
estavam a caminho para me dar uma bronca sobre como eu já deveria ter
marcado Lyla.
Afastei-me deles e avaliei a situação.
Precisávamos acalmar a todos antes que as coisas escalassem fora de
controle. A Cúpula estava chegando ao fim. Terminar assim seria um
desastre.
Mas então eu vi Caspian pular do palco e começar a andar em direção
a Lyla, e todos os pensamentos de controle de danos foram embora.
Ele acha que só porque ele é seu companheiro de segunda chance, ele pode
tirá-la de mim?
Senti um rosnado crescendo em meu peito.
Sobre meu cadáver
Caspian

Eu não posso acreditar nisso.


Se isso fosse um sonho, eu não queria acordar.
Eu empurrei a multidão me sentindo mais leve do que antes, desde
que toda a maldita Cúpula começou.
Lyla e eu estávamos destinados a ficar juntos.
Ela era minha companheira. Eu sabia disso o tempo todo.
Houve uma pequena parte do meu cérebro que se perguntou o que
isso realmente significava.
Se Lyla era minha companheira de segunda chance, isso significava
que eu nunca tive uma verdadeira companheira? Ou ela estava lá fora em
algum lugar?
Pensei brevemente na primeira noite da Cúpula. Para a ligação que eu
tinha certeza que tinha ouvido. Aquilo era realmente minha imaginação?
Mas nada disso importava mais.
Lyla era minha e eu dela.
Até a maldita Deusa da Lua pensava assim!
Finalmente avistei Lyla. Teresa estava forçando um caminho para ela,
gritando com as pessoas e empurrando quem chegasse perto.
— Lyla! — Eu chamei por cima do caos.
Nossos olhos se encontraram do outro lado da multidão e eu senti
uma onda de eletricidade passar por mim. O tempo pareceu desacelerar
por um momento e eu senti algo em meu coração se encaixar.
Como se eu tivesse quebrado e agora estivesse consertado.
Qualquer dúvida que eu tinha antes se foi. Estávamos destinados a
estar juntos.
Lyla havia parado de se mover e eu podia ver a agonia em seu rosto.
Ela parecia querer chorar.
A visão fez meu coração despencar até a sola dos pés.
O que há de errado?
Corri para frente para diminuir a distância entre nós, mas de repente
esbarrei em alguém que estava bloqueando meu caminho.
Eu tropecei para trás e estava prestes a me desculpar e me mexer
quando vi quem era: Sebastian.
Ele olhou para mim, um olhar de hostilidade aberta em seu rosto.
Algo me disse que eu teria que passar por ele se quisesse chegar até Lyla.
Eu me ergui e olhei fixamente em seus olhos.
— Mova-se, — eu exigi.
— Não, — ele rosnou.
O desafio em sua voz fez meu sangue bombear. Avancei, o lobo dentro
de mim implorando para ser liberado.
— Não vou pedir de novo. — Minha ameaça era clara.
Sebastian estreitou os olhos e baixou a postura, preparando-se para
uma luta.
— Ela é minha companheira, — disse ele, sua voz gotejando com a
promessa de violência.
Eu sorri, agachando-me para encará-lo.
Senti as convulsões familiares ondularem pelo meu corpo.
Meus músculos cresceram.
Meus ossos racharam e dobraram.
Lembrei-me do gosto do sangue de Sebastian de duas noites atrás,
quando eu o ataquei bêbado.
Agora minha cabeça estava clara.
E eu não arrancaria apenas seu ombro.
— Não, — eu disse, minha voz embargada enquanto eu me mexia. —
Ela é minha.
Lyla

Está acontecendo de novo.


— Sebastian! — Eu gritei. — Caspian! Não!
Mas eles não estavam ouvindo.
Eles estavam prestes a lutar, mas desta vez não era apenas uma briga
movida a álcool.
Desta vez era intencional.
Desta vez era mortal.
E é tudo por minha causa.
Os laços de acasalamento eram venenosos.
Quão cruel poderia ser a Deusa da Lua?
É realmente isso que ela quer?
Ela me deu dois companheiros apenas para que eu pudesse vê-los se
destruindo?
Corri para frente, desesperada para ficar entre eles antes que fosse
tarde demais. Mas eu tropecei e caí, minhas mãos raspando
dolorosamente contra o chão.
Um grito agudo perfurou o ar da noite no mesmo momento em que
um uivo selvagem ecoou pelo terreno.
Eu pulei de pé, meu coração na minha garganta.
Algum deles se machucou?!
Mas eu vi Sebastian e Caspian parados um na frente do outro,
nenhum deles totalmente mudado. Eles olharam em volta, procurando a
origem do uivo.
Um coro de uivos estourou ao nosso redor, rapidamente seguido pelo
som de patas batendo e rosnados ferozes. Olhei em direção à linha das
árvores que delimitava a casa da alcateia e vi: Uma massa de formas
grandes e escuras correndo em nossa direção.
Rebeldes.
Estamos sob ataque.
Sebastian estava de repente ao meu lado, seus braços poderosos ao
meu redor.
— Pegue sua família e entre, — ele disse com urgência.
— Mas...
— AGORA!
E ele se foi, mudando no ar enquanto avançava para encontrar nossos
agressores. Muitos guardas da Alcateia Real correram com ele, ambos os
lados em rota de colisão um com o outro.
Eu vi Caspian passar correndo por mim. Nossos olhos se encontraram
por um momento que pareceu tanto um segundo quanto uma
eternidade. E então ele avançou junto com os outros, mudando para
lutar contra os invasores.
A noite logo estaria manchada de violência e sangue.
Corri em direção aos meus pais, a adrenalina correndo em minhas
veias. Eu tinha que colocá-los em segurança. Então eu poderia ajudar
Sebastian e Caspian.
Meu coração não seria capaz de aguentar se eu perdesse qualquer um
deles.
Meus pais estavam com outros membros de nossa alcateia. Teresa já
estava gritando e encurralando todos em direção à casa da alcateia.
Minha mãe agarrou meus ombros, seus olhos selvagens e em pânico.
— Skye?! — ela me perguntou. — Você viu Skye?!
Meu coração quase parou. Ela deveria estar aqui conosco...
O labirinto de milho.
— Eu vou buscá-la, — eu disse a ela. — Obedeça à Teresa.
Eu não esperei por sua resposta. Corri pelo terreno da manada em
direção ao labirinto de milho, esquivando-me e ziguezagueando pela
massa de pessoas em pânico correndo em direção à casa da alcateia.
— SKYE! — Eu gritei, mas minha voz foi abafada pelos rosnados da
batalha ao meu redor.
Por favor, fique bem. Por favor, fique bem.
— SKYE! — Eu tentei de novo.
... — La!
Eu parei no meio do caminho, apurando meus ouvidos para ouvir. Eu
pensei ter ouvido...
— Lyla!
Pronto!
Eu olhei para a multidão e vi minha irmã mais nova.
Mas ela estava sendo arrastada para o labirinto de milho por um
homem que eu nunca tinha visto antes.
Ele estava vestindo um terno preto azeviche e botas de cowboy pretas,
o brilho dourado de uma corrente espreitando de seu colete. Ele ergueu
os olhos para mim e, mesmo àquela distância, pude distinguir um sorriso
diabólico.
Ele murmurou algo para mim, sua mensagem fazendo meu sangue
esquentar de fúria.
Venha buscá-la.
E ele desapareceu no labirinto com Skye.
Eu avancei para frente como uma flecha de um arco. Mudei para o
meu lobo, meus músculos poderosos me impulsionando para frente
enquanto eu sentia o cheiro de Skye.
Eu não sabia quem era aquele homem. Mas se ele machucasse um
único fio de cabelo da cabeça da minha irmã...
Nem mesmo a porra da Deusa da Lua será capaz de identificar seu
cadáver.
29
DENTRO DO LABIRINTO
Lyla

— Lyla! Ajuda!
A voz de Skye estava sumindo, mesmo com a ajuda dos meus sentidos
aguçados de lobo.
Corri para o labirinto, meus olhos vasculhando o chão em busca de
rastros. Eles estavam perto. Eles não poderiam ter ido longe.
E então eu os ouvi, bem do outro lado da parede.
— Lyla! — Skye gritou.
Corri para frente, com a intenção de romper o labirinto, mas bati em
uma parede de malha de metal grossa.
Pensei em pular sobre ele, mas os pés de milho tinham cinco metros
de altura e outra rede de fios de metal cobria todo o labirinto.
Obviamente, foi construído para impedir que lobos imprudentes ou
bêbados trapaceassem ou arruinassem o labirinto para todos os outros.
Mas naquele momento eu queria pegar quem quer que tivesse desenhado
o labirinto e dar um soco na cara deles.
Eu arranhei e mordi selvagemente o metal, mas ele não se moveu.
— Venha nos encontrar, Lyla. — Um profundo sotaque sulista
zombou de mim do outro lado da parede. — A pequena Skye está tão
assustada.
— Eu não estou com medo de você, seu idiota — A voz de Skye foi
abafada de repente.
Soltei um rugido cruel. Eu não precisava de palavras para deixar
minha ameaça clara.
Machuque-a e você morre.
O homem riu, sua voz sumindo.
— Depressa, Lyla, — ele chamou. — O tempo dela está se esgotando...
Corri como um lobo possuído, disparando pelo labirinto. Cheguei a
beco sem saída após beco sem saída, a risada zombeteira do estranho
enchendo o ar ao meu redor.
— Sinto pena de você, — disse a voz. Parecia que ele estava falando
bem ao meu lado. Eu me virei, atacando com minhas garras, mas ele não
estava lá.
Meus sentidos estão me enganando?
— Se você tem que culpar alguém pelo que aconteceu esta noite,
culpe a Deusa da Lua. Ela usa todos nós para seu entretenimento. — Sua
voz era como fumaça, entrando e saindo, constantemente girando ao
meu redor. Eu balancei minha cabeça. Não fazia sentido ouvir o que ele
tinha a dizer.
Continuei a correr pelo labirinto. Eu podia sentir que estava chegando
mais perto.
— O destino é cruel, — disse ele. — Eu só quero que você saiba que
você não fez nada de errado. Não tenho qualquer má vontade em relação
a você ou sua irmã... mas não tenho escolha.
Virei em uma esquina e vi o centro do labirinto à frente.
Espere, Skye. Estou quase lá...
Sebastian

Minhas mandíbulas cerraram-se sobre a garganta do ladino, sangue


quente jorrando pelo meu.
Meu inimigo se debateu por um momento antes de ficar imóvel. Eu
joguei o corpo de lado, girando para enfrentar meu próximo oponente.
Meu corpo se moveu por conta própria, instinto e anos de
treinamento me permitindo lutar sem pensar sobre isso. Eu cortei ladino
atrás de ladino, minhas garras uma extensão da minha fúria.
Mas minha mente estava acelerada.
Se os ladinos estavam atacando tão diretamente, isso significava que
seu líder não poderia estar muito longe.
Silas... onde diabos você está?
De repente, um uivo distante cortou minha sede de sangue.
Mesmo que fosse fraco — quase imperceptível por causa do som
estridente da batalha ao meu redor — eu teria reconhecido aquele uivo
em qualquer lugar.
Lyla.
Lembrei-me do aviso sinistro deixado no quarto de Lyla.
Olho por olho.
E eu soube imediatamente o que estava acontecendo.
O ataque foi apenas uma distração.
Silas estava lá por mim.
E ele estava usando Lyla para chegar até mim.
Eu avancei pelo campo sangrento, desesperado para chegar até minha
companheira. Se ela se machucasse por causa de meus pecados
anteriores, eu nunca me perdoaria.
Acelerei, incitando meus músculos a me carregar mais rápido. Os
segundos pareceram horas.
Eu só podia esperar ter chegado a tempo.
Caspian

Eu circulei o ladino, cujas presas estavam vermelhas com o meu


sangue.
Eu ignorei a dor lancinante em meu lado, focando no inimigo diante
de mim.
Este é rápido.
Eu precisava cuidar dele para poder encontrar Lyla. Quando eu a
deixei pela primeira vez, ela estava indo em direção à casa da alcateia
com seus pais. Achei que ela estaria segura.
Mas então eu peguei um vislumbre dela correndo em direção ao
carnaval, entrando cada vez mais fundo na luta.
Eu nunca deveria ter deixado ela.
Eu vi os músculos do ladino ficarem tensos e me preparei para seu
próximo golpe.
De repente, um borrão de músculos e pele preta passou por mim,
batendo direto no ladino na minha frente.
A besta rasgou sua garganta com um golpe de sua enorme garra e foi
embora antes que o ladino pudesse atingir o chão.
Que porra foi essa?
Eu segui o movimento e percebi que era Sebastian.
Ele estava correndo através da briga sem se preocupar com sua
própria segurança. E havia apenas uma coisa em que eu conseguia pensar
que faria o alfa real enlouquecer daquele jeito.
Sua companheira está com problemas.
Aumentei o ritmo, tentando alcançá-lo.
Eu tinha acabado de encontrar minha companheira.
Eu não vou perdê-la na mesma noite.
Lyla

Eu irrompi no centro do labirinto. Era uma grande abertura circular


que se dividia em vários caminhos. Parado diante de mim estava o
estranho, uma garra presa na garganta de Skye.
Skye tentou se debater e se contorcer para fora de suas garras, mas ela
não estava nem perto de ser forte o suficiente. Seus olhos se arregalaram
quando ela me viu, e eu pude ver as lágrimas brilhando neles.
— Lyla! — ela chamou.
Eu rugi com fúria, avançando para arrancar a cabeça dele de seus
ombros.
— Uau, — ele disse, pressionando sua garra parcialmente deslocada
com mais força no pescoço de Skye. Skye congelou. — Não faça algo que
você vai se arrepender agora.
Eu derrapei até parar, minhas patas empurrando o chão aos meus pés.
— Boa garota, — disse o estranho com aprovação.
Olhei minha irmã de cima a baixo, verificando se ela estava ferida. Ela
parecia bem. Skye estava tentando parecer corajosa, mas eu podia ver o
medo em seus olhos.
Afinal, ela era apenas uma criança.
E este psicopata a tinha feito refém.
— Mude, — ele comandou.
Eu não me mexi.
— Agora. — Seu aperto aumentou em tomo de Skye, e eu a vi
estremecer.
Eu não tive escolha.
Eu mudei de forma, o ar da noite frio contra minha pele nua.
Eu me cobri o melhor que pude enquanto olhava para o estranho.
— Se você fizer qualquer coisa com ela, eu vou...
— Salve suas ameaças, — disse ele. Ele olhou para mim, e eu esperava
ver seu olhar pervertido vagar pelo meu corpo.
Mas seus olhos nunca quebraram o contato com os meus. Ele acenou
com a cabeça para um espantalho que estava pendurado em um poste de
madeira. Estava usando um saco de estopa.
— Você pode ir em frente e usar aquilo se quiser. Afinal, sou um
cavalheiro.
Eu lentamente caminhei até o espantalho, nunca tirando meus olhos
dele. Se ele se distraísse mesmo por um segundo...
Tirei o saco de estopa e coloquei na cabeça. O tecido era áspero contra
a minha pele, mas era melhor do que ficar nua.
— O que você quer com minha irmã? — Eu exigi.
— Esta fritada aqui era apenas uma isca para os peixinhos, — disse ele.
— Ok, então você me atraiu... Agora, o que diabos você quer comigo?
— Eu rosnei.
Ele sorriu e pude ver a luz da loucura em seus olhos.
— Você é a isca para o peixe grande... Estou tentando fisgar uma
maldita barracuda.
— Chega desses jogos! — Eu gritei. — Quem diabos é você?
— Claro. Onde estão minhas maneiras? — O homem acenou para
mim, tirando um chapéu imaginário. — O meu nome é Silas.
Meu sangue gelou.
Tudo fez sentido.
Ele queria machucar Sebastian.
E ele me usaria para fazê-lo.
— Ah. — Seus olhos se estreitaram quando ele viu minha expressão.
— Então ele te falou sobre mim. Nesse caso, não há motivo para
prolongar isso. Pega.
De repente, ele jogou Skye para o lado, e minha irmã gritou enquanto
ela voava pelo ar.
Corri para frente, pulando para pegá-la em meus braços. Eu me virei
para amortecer sua queda, o chão cavando dolorosamente em minhas
costas enquanto pousávamos.
— Skye? — Eu perguntei, desesperada para saber se ela estava bem.
Ela estava desmaiada — provavelmente desmaiou de choque.
— Seu bastardo... — Eu olhei para cima, mas Silas não estava mais lá.
De repente, em um redemoinho de fumaça roxa, ele estava atrás de
mim, seu aperto poderoso me arrancando de minha irmã. Tentei escapar
de suas mãos, mas ele era muito forte.
Senti sua garra pressionar minha jugular e congelei.
— Calminha. — Sua respiração estava fria e enjoativa contra meu
pescoço. — Não se apresse. O convidado de honra ainda nem chegou.
Ele me arrastou para o meio do círculo, colocando a outra mão na
minha boca.
Como diabos ele ficou atrás de mim? Eu me perguntei.
Nenhum lobo poderia se mover tão rápido.
Mas não tive tempo para pensar nisso. Porque naquele momento,
destruindo a malha de metal do labirinto, estava Sebastian.
Seu pelo estava rasgado e ensanguentado por causa da força bruta
utilizada na passagem pelo metal, mas ele nem parecia perturbado. Ele
travou os olhos em mim, e um rosnado ensurdecedor irrompeu de sua
boca quando ele olhou para Silas.
— Sebastian! — Silas chamou, sua risada zombeteira alta no meu
ouvido. — Fico contente que você pôde se juntar a nós.
Sebastian
— Mude sua forma agora, ou vou quebrar o pescoço dela como um
talo de milho, — Silas ameaçou.
Lá estava ele. O homem que eu traí.
Meu melhor amigo.
E ele estava com suas garras na garganta de Lyla.
Eu mudei minha forma, a luta saindo de mim.
Era isso.
Era aqui que eu pagaria por meus pecados.
— Silas, não faça isso, — eu disse. Eu levantei meus braços, minha
pele rasgada e ensanguentada de correr através do labirinto. — Por favor.
Ela é minha companheira.
Silas soltou uma risada áspera, seu rosto se contorcendo de alegria
enlouquecida.
— Você matou minha companheira. — Ele pressionou levemente o
pescoço de Lyla, tirando sangue. — Eu te disse antes... olho por olho.
Tentei me mover para frente, mas o aperto de Silas em Lyla
aumentou. O grito abafado de dor de Lyla me parou no meio do
caminho.
Seus olhos verdes brilhantes encararam os meus, brilhando
desafiadoramente mesmo naquele momento.
— Não se preocupe comigo, — seu olhar disse.
Mas ela estava pedindo o impossível.
— Você tirou minha Ella de mim... — A voz de Silas aumentou para
um tom febril.
— Silas...
— VOCÊ A TIROU DE MIM!
Silas se recompôs.
— Agora você vai sentir minha dor.
— Não faça isso, — eu implorei. — Mate-me ao invés. Por favor.
— Oh, eu vou, — disse Silas. — Depois de ver a vida sumir dos olhos
da sua companheira. Depois de segurá-la em seus braços enquanto ela
está morrendo, incapaz de fazer qualquer coisa para impedir. Só então
vou te matar.
Eu me preparei para mudar. Eu nunca conseguiria, mas tinha que
tentar.
— Lembre-se, Sebastian, — Silas disse, um tom de finalidade em sua
voz. — Isso é sua culpa.
De repente, outro lobo entrou correndo no labirinto, um borrão de
músculos e pelos. Meu ânimo melhorou, a entrada surpresa me
arrastando para fora do desespero.
— Caspian! — Chamei.
Silas se virou e viu o lobo, um lampejo de reconhecimento em seu
rosto. Eles se conhecem?
Mas isso não era importante.
Silas tirou os olhos de mim por um segundo.
E isso era tudo que eu precisava.
Eu avancei para frente enquanto mudava, cada grama de poder que eu
mantinha em meus músculos me impulsionando em direção a ele. Silas
se virou para mim, suas garras prestes a cravar na garganta de Lyla.
Eu consegui a distração de que precisava tão desesperadamente.
Mas será o suficiente?!
30
UMA ESCOLHA IMPOSSÍVEL
Sebastian

Silas desapareceu em um emaranhado de fumaça roxa.


Lyla caiu no chão depois de ser solta de repente.
Fiquei ao lado dela protetoramente, verificando se ela estava ferida.
Ela olhou para mim e deu um aceno rápido.
Ela está bem.
— Vá pegar aquele bastardo, — ela disse, veneno em sua voz. Ela
correu até um pequeno corpo no chão a alguns metros de distância. Era
sua irmã, Skye.
Eu nem tinha notado ela até aquele ponto.
Silas... você foi longe demais.
Eu me virei para ver Silas reaparecendo a alguns metros de mim, fios
daquela fumaça roxa formando seu corpo.
Meus olhos se arregalaram.
Lobisomens não eram capazes de fazer coisas assim, mas eu sabia que
criaturas eram.
Bruxas.
— Isso mesmo, — disse Silas quando viu a compreensão surgirem em
meus olhos. — Eu encontrei alguns novos amigos... Meus amigos antigos
tinham a tendência de me apunhalar pelas costas.
Caspian veio ficar ao meu lado. Seu pêlo se eriçou e fios de saliva
pingaram de sua boca aberta. Sem um olhar, nós dois começamos a
circular Silas, medindo-o.
— Dois contra um? — Silas zombou. — Isso não é justo...
Esse filho da puta está de verdade falando sobre JUSTIÇA depois de usar
minha companheira como refém?
— Não é justo para vocês. quero dizer. — Ele sorriu.
Foda-se.
Eu me lancei, indo direto para a garganta. Caspian me espelhou,
lançando um ataque do outro lado.
No último segundo, Silas desapareceu em outro redemoinho de
fumaça. Caspian e eu tentamos reverter nosso ímpeto, mas era tarde
demais.
Batemos dolorosamente um no outro, então lutamos para nos
desembaraçar.
Dor de repente explodiu no lado de meu corpo. Foi um corte afiado
que enviou uma onda de fogo através do meu corpo.
Caspian também uivou de dor quando nós dois sofremos uma onda
repentina de ataques.
Eu pulei para trás, tentando entender a situação.
Silas havia mudado.
Seu lobo parecia exatamente como eu me lembrava. Seu pelo era de
um cinza escuro fosco com um choque de branco ao redor do focinho.
Mas agora tentáculos de fumaça roxa vazavam de seu corpo em uma
aura sinistra. A fumaça girava em torno dele, movendo-se como se
tivesse vontade própria.
ROOOAAAAAAR!
Silas berrou em desafio, a voz de seu lobo distorcida com magia negra.
Eu dei a Caspian um olhar rápido, uma mensagem implícita passando
entre nós dois.
Estávamos prontos para a luta de nossas vidas.
Lyla

Eu quase tropecei nos meus pés quando o rugido dividiu o ar ao meu


redor.
Queria voltar atrás e ajudá-los, mas não pude. Eu tinha que tirar Skye
da luta.
Ela estava bem, graças à Deusa da Lua.
Tudo isso faz parte do plano dela também?
Será que toda essa angústia, dor e alívio são uma fração de algum grande
projeto?
Eu olhei para o rosto de Skye. Seus olhos estavam fechados, a
inspiração e expiração constantes de seu corpo minúsculo eram um
conforto para meus nervos em frangalhos.
Ela estava segura, por enquanto.
Corri para fora do centro do labirinto e para um caminho vazio,
colocando Skye suavemente no chão. Os sons da batalha ainda eram
altos na noite ao meu redor.
Pensei nos estranhos poderes de Silas, o olhar perigoso e confiante em
seus olhos. Eu só podia confiar que Sebastian e Caspian poderiam lidar
com ele.
Um espasmo de terror passou por mim com o pensamento de perder
os dois.
Uma imagem passou pela minha mente.
Silas estava coberto com o sangue de Sebastian e Caspian, e meus
companheiros estavam mortos a seus pés.
Eu balancei minha cabeça para me livrar da imagem horrível, lutando
contra as lágrimas que ardiam em meus olhos.
Por favor, fiquem bem...
Caspian

Este filho da puta luta como um demônio.


Eu desviei do caminho quando as garras de Silas erraram por um
centímetro. A fumaça roxa que o rodeava disparou de suas garras,
batendo no chão com uma rajada de vento intensa.
Esquece.
Este filho da puta é um demônio.
Sebastian e eu nos abaixamos e contornamos Silas, tentando
encontrar uma abertura. Mas aquela maldita fumaça lutou contra nós
também, nos jogando para trás como um furacão, afiando-nos para nos
cortar como uma espada.
Eu rosnei de dor quando fui cortado na perna, a fumaça enrolando de
volta como um chicote.
Precisávamos pensar em algo rápido.
Caso contrário, Sebastian e eu éramos um par de lobos mortos.
Sebastian

Eu ofeguei, tentando lutar contra a exaustão. Silas estava separando


Caspian e eu. Ele estava brincando com a gente.
Ele poderia ter nos matado cinco vezes agora... Do que diabos ele está
brincando?
De repente, Silas saltou para trás, voltando à sua forma humana.
Caspian e eu o observamos com cautela, imaginando que outros
truques ele tinha na manga.
Ele inclinou a cabeça para o lado e parecia estar ouvindo algo que só
ele podia ouvir. Ele suspirou e nos lançou um olhar de pena.
— Vocês são patéticos, — disse ele. — Mas parece que nosso tempo
acabou. — Ele recuou quando a fumaça roxa começou a girar em torno
dele, obscurecendo-o como uma cortina de fumaça.
— Eu não terminei com você, Sebastian, — ele continuou. — Matar
você é fácil. Você precisa sofrer antes de morrer... E você — ele voltou o
olhar para Caspian — prazer em vê-lo novamente. Espero que você tenha
encontrado sua companheira.
E com isso, ele desapareceu.
Isso é algum tipo de truque? Eu me perguntei. Ele está esperando que
baixemos nossas guardas para que possa nos emboscar?
Mas então os sons da luta nos campos ao redor da casa da alcateia
também pararam. A luta realmente acabou.
Eu me mexi de volta, repentinamente cansado.
Caspian se mexeu ao meu lado também, e ele estava imediatamente
na minha cara, exigindo respostas.
— Que porra foi essa? — ele gritou. — Como você o conhece? O que
ele quer com Lyla?
— Como você o conhece? — Eu rebati.
— Eu o conheci no Cotilhão, — disse Caspian. — O cara disse que
perdeu sua companheira.
— Ele perdeu muito mais do que sua companheira, — eu disse, minha
voz pesada com pesar. — Ele perdeu o coração e a alma e não vai parar
até que se vingue...
Eu olhei para a lua pálida no céu.
— Não o vimos pela última vez.
Lyla

Enfiei a última mala no porta-malas e o fechei com força.


A Cúpula finalmente acabou.
E que Cúpula agitada foi essa.
A Alcateia Real tinha se saído bem contra o ataque rebelde duas noites
antes. Enquanto muitos lobos foram feridos, notavelmente ninguém
morreu.
Papai ligou o carro enquanto mamãe e Skye saíam da casa da alcateia.
Eu dei um abraço em todos eles enquanto se preparavam para voltar para
casa.
— Veremos você em casa em breve? — Mamãe me perguntou.
Foi uma pergunta carregada. As coisas entre Sebastian, Caspian e eu
ainda não foram resolvidas.
— Veremos, — eu disse, incerta.
— Sebastian... — meu pai disse. — Ele é um cara bom.
Eu o encarei como se de repente ele tivesse outra cabeça.
— Ele ajudou a salvar Skye. — Meu pai encolheu os ombros. — Não
pode ser tão ruim.
Minha irmã me deu outro abraço, apertando com força.
— Eu quero ficar com você, — ela disse, sua voz abafada contra minha
camisa.
— Vejo você em breve, — eu assegurei a ela. — Promessa.
Acenei quando o carro saiu da garagem, um sorriso estampado no
meu rosto.
Suspirei, deixando meus ombros caírem assim que eles sumiram de
vista.
O que eu vou fazer...?
Caspian

Encontrei Lyla sentada sozinha na varanda do lado de fora da casa da


alcateia.
Mal tínhamos tido a chance de falar depois do ataque rebelde.
Fui até ela, mas ela estava tão perdida em seus pensamentos que nem
percebeu. Eu a admirei por um segundo, maravilhado com a forma como
a luz do sol tornava seu cabelo dourado.
Ela realmente é linda.
Então me sentei ao lado dela e ela finalmente olhou na minha direção.
Nós não falamos. Nós apenas olhamos nos olhos um do outro, e eu
pude ver a confusão e indecisão nos olhos dela.
Eu realmente não poderia culpá-la.
As coisas estavam muito fodidas.
Enfiei minha mão na dela.
Ela não se afastou.
— O que acontece agora? — Eu perguntei suavemente.
Ela não respondeu. O silêncio estava me matando. Cada batida do
meu coração parecia uma eternidade.
— Não tenho certeza... — admitiu Lyla. — Mas nós vamos descobrir
isso... juntos. Como sempre fazemos.
Lyla

Caspian sorriu para mim e de repente as coisas pareciam mais


simples.
Era como se estivéssemos em casa, sentados em sua varanda e
descansando o dia todo. Eu podia até ouvir o zumbido dos insetos e o
chilrear dos pássaros, e sentir o sabor do chá doce e fresco na minha
língua.
Olhando para trás, percebi como aqueles dias eram especiais.
E aqueles dias também podem ser o meu futuro.
Parecia tão natural: minha mão dobrada com a de Caspian.
Ele era meu companheiro de segunda chance.
E talvez o companheiro que eu realmente precisava...
— Lyla Green, — uma voz profunda gritou de repente atrás de nós.
Nós nos viramos e vimos Caius, seus olhos ilegíveis enquanto observava
nós dois. — O conselho pede a sua presença, se você estiver tão
agradecida.
O conselho?
O que eles querem?
Eu compartilhei um olhar com Caspian. Ele acenou com a cabeça,
apertando minha mão.
Eu me levantei e segui Caius. Eu senti como se tivesse deixado uma
parte de mim mesma naquela varanda ao lado de Caspian. Por que isso
parece tão ameaçador?
Meu coração disparou no peito e minhas mãos ficaram úmidas de
suor.
Entrei nas câmaras do conselho atrás de Caius. A sala ficou em
silêncio. Todos olharam para mim quando entrei.
Eu olhei nos olhos de Sebastian e tentei lhe dar um sorriso.
Mas ele não sorriu de volta.
Ele estava estoico e ilegível. A tensão na sala era tão densa que mal
conseguia respirar.
O que está acontecendo?
— Você tem uma decisão a tomar, Lyla, — disse Caius. — Bem aqui.
Agora mesmo.
Meu coração quase parou de bater.
— O que você está falando?
Mas eu já sabia.
— Foi dado a você até o final da Cúpula para se comprometer com seu
status de Luna da Alcateia Real... Hoje é esse dia.
Olhei para os outros membros do conselho, mas cada um deles estava
tão impassível quanto Caius.
— Então diga-nos, — Caius continuou. — Você rejeitará seu
companheiro de segunda chance e se comprometerá totalmente com o
alfa?
Tentei engolir o nó na garganta.
Olhei para Sebastian, mas seu rosto estava sério, sua boca uma linha
fina. Suas mãos estavam amarradas. Ele me deu tanto tempo quanto
podia.
Nem mesmo o alfa real poderia me ajudar.
Eu respirei fundo, instável.
Eles estavam me pedindo para fazer uma escolha impossível.
Eu abri minha boca... e nem mesmo eu tinha certeza de qual nome eu
diria.
Devo escolher Sebastian?
Ou Caspian?
Livro 2
Livro Disponibilizado Gratuitamente!
Sumário
1. Estabelecendo a lei
2. Três é Demais
3. Molhado e Selvagem
4. Preço do Amor verdadeiro
5. Estrela da Noite
6. Novas Revelações
7. Destinado ao Desastre
8. Zombi Mambo
9. Verdade ou Susto
10. Uma Mistura perigosa
11. Somente em Casa
12. No Fundo do pântano
13. Hospitalidade Sulista
14. O Último Homem em Pé
15. Rei do Baile de Máscaras
16. Companheiros em Máscaras
17. Packland Underground
18. Encaixando as Peças
19. Fazendo as Pazes
20. Estradas Rochosas
21. Corações Disparados
22. Acorrentado
23. Através das Rachaduras
24. Ligações Frágeis
25. Enganações
26. Interrompendo o Casamento
27. Até a Morte
28. Sacrifício
29. Luz antes das Trevas
30. Para o Futuro
1
ESTABELECENDO A LEI Lyla
Hoje era o dia mais importante de toda a minha vida...
Era um dia que pensei que nunca chegaria e, honestamente, ainda não
acreditava que estava acontecendo.
Eu passei por tanta coisa para chegar aqui: do amor à perda, da
felicidade ao desgosto — e todo o resto — mas no final das contas...
Meu coração estava completo.
Porque eu finalmente fiz minha escolha — com todo meu coração.
E eu sabia que era a escolha certa. Ele era o cara certo.
Como eu disse, hoje era o dia mais importante da minha vida...
Porque hoje é minha cerimônia de acasalamento.
O quarteto de cordas começou a tocar quando dei meu primeiro passo
no tapete coberto de pétalas de rosa.
Skye sorriu para mim enquanto espalhava as flores no caminho que
levava ao altar...
Onde meu companheiro estava esperando por mim.
Sorrindo para mim como se tivesse acabado de ganhar na loteria.
Mas fui eu que não conseguia acreditar na sorte que tive.
Eu tinha um homem que sempre estaria ao meu lado, não importando
os desafios que enfrentaremos.
E nós certamente enfrentamos nosso quinhão de desafios inesperados
— estou falando com você, Deusa da Lua — mas eu não teria feito de outra
maneira.
Nosso amor só se tornou mais forte com o inesperado, com as voltas e
reviravoltas da vida.
E elas nos trouxeram a este momento...
Deusa, ele está tão gostoso naquele smoking, pensei, grata por ele não
poder me ver corar atrás do meu véu.
Eu podia sentir os olhares de todos os meus amigos e familiares ao
passar por eles. Eu vi minha mãe na primeira fila, lágrimas de felicidade
escorrendo pelo seu rosto. Eu pisquei ferozmente.
Não chore, não chore...
E então eu estava no altar, diante do amor da minha vida. Meu
coração parecia que ia explodir quando ele estendeu a mão para tirar o
véu do meu rosto. Meu olhar acompanhou o véu e olhei para meu
companheiro.
Eu vi nosso futuro brilhando em seus olhos.
Você é meu futuro, pensei. Este é o meu feliz para sempre.
DOIS MESES ATRÁS Parecia que o tempo estava parado enquanto o
conselho me olhava de trás daquela mesa em forma de lua crescente.
Cada par de olhos me observava atentamente, esperando minha
resposta à sua pergunta.
Você rejeitará seu companheiro de segunda chance e se comprometerá
totalmente com o alfa?
Virei meu olhar para Sebastian e meu coração começou a disparar.
Seus olhos estavam cheios de uma tristeza profunda — eu sabia
exatamente o que ele estava sentindo...
Porque eu também sentia.
Estávamos conectados por nosso vínculo de acasalamento. Sentimos a
dor um do outro.
Mas eu estava sentindo mais do que apenas a dor de Sebastian...
Eu sentia a de Caspian também.
Eu não podia suportar a ideia de quebrar meu vínculo de
acasalamento com qualquer um desses homens. Causar tanta agonia a
alguém que eu amava...
Não importa que escolha eu fizesse, alguém iria se machucar.
— Lyla, por favor, responda à pergunta. — disse Tiberius, batendo os
dedos na mesa. — Não temos o dia todo.
Dê-me um minuto, idiota.
Você está me pedindo para tomar uma decisão que afetará o resto da
minha vida...
E não só a minha...
A vida dos dois homens com quem mais me preocupo vai mudar para
sempre.
Meus amigos.
Eu precisava ter certeza de que estava fazendo a escolha certa.
— Lyla, sua decisão, — disse Tiberius, mais incisivamente desta vez. —
Agora.
Oh Deusa, eu não sei o que diabos fazer!
Meus lábios se separaram ligeiramente e comecei a gaguejar.
— Eu... eu... escolho...
Sinceramente, não sabia o nome de quem sairia da minha boca.
Minha mente estava completamente em branco e meu corpo estava
no piloto automático.
Meu coração e minha cabeça foram desconectados, deixando-me uma
bagunça crepitante.
Mas não tive outra opção.
Eu havia chegado ao meu destino final.
Eu tive que fazer minha escolha.
— Eu escolho…
— PARE!
Sebastian saltou da cadeira e eu imediatamente engoli minhas
palavras, as colocando de volta na minha garganta.
— Isso é loucura, — ele rosnou, olhando para seu conselho. — Como
você pode esperar que ela tome essa decisão quando nós só nos
conhecemos há duas semanas? Ou quando ainda estamos nos
recuperando do que aconteceu com Silas?
— Silas é o motivo exato pelo qual você deve se comprometer com
isso agora. — disse Tiberius. — Mostre sua força para a alcateia.
— É assim que se faz, — disse Caius. — É tradição.
— Bem, foda-se a tradição! — Sebastian disse, pulando sobre a mesa e
se juntando a mim ao meu lado.
Eu não pude deixar de sorrir com a maneira como ele estava me
defendendo.
Mas não havia sorrisos do outro lado da mesa.
— Não seja infantil, Sebastian, — Tiberius disse. — Isso não é só sobre
vocês dois. É sobre a alcateia.
— Minha alcateia, — Sebastian disse. — Eu sou o alfa, lembra?
— Então comece a agir como tal, — Tiberius retrucou. — Até que você
esteja oficialmente acasalado, você responde a nós nos assuntos da
alcateia.
Eu sempre pensei em Sebastian como o lobo no comando — o alfa
que você não queria cruzar — mas esta reunião do conselho estava
colocando sua posição sob uma nova luz.
O tio de Sebastian parecia tão intimidante quanto Sebastian naquele
momento. Ele falava sério.
Tiberius se levantou e olhou para mim.
— Ela precisa nos dar sua resposta para que possamos deixar todo esse
absurdo para trás.
— Não, esta reunião está encerrada, — Sebastian disse, agarrando
minha mão e me puxando em direção à porta.
Sebastian

Eu respirei fundo enquanto levava Lyla para a varanda da casa da


alcateia. Caímos um ao lado do outro em um balanço de madeira frágil.
Lyla esfregou minhas costas enquanto eu colocava minha cabeça em
minhas mãos.
— Tiberius não distingue sua própria bunda de uma lua cheia, — eu
disse, frustrado. — Quem diabos é ele para me dizer o que fazer?
Mas eu já sabia a resposta à minha pergunta. Tiberius, sendo meu
parente de sangue, estava encarregado do conselho até que o
acasalamento com minha Luna fosse concretizado em uma cerimônia
oficial.
O que significa que estou sem sorte.
Eu sabia que o conselho queria me entregar as rédeas — para
finalmente me ver ocupar o lugar do meu pai — mas o fato de que eles
não achavam que eu estava pronto era como um tapa na cara.
Eu odiava que Tiberius me tratasse como uma criança, sempre
tentando me controlar — desde que Silas assassinou meus pais, ele tem
sido duro comigo.
Ele provavelmente me culpa pelo que aconteceu com Silas também.
Tanto faz. Tiberius pode enfiar sua garra de julgamento em seu...
— Sebastian, — Lyla disse suavemente, me tirando dos meus
pensamentos.
Eu me virei para olhar para minha companheira; seus olhos estavam
cheios de preocupação.
— O que vai acontecer entre nós? — ela perguntou. — Eu sei que o
conselho quer uma resposta, mas...
— Não diga mais uma palavra, — eu disse, pegando sua mão. — Eu
falei sério, o que disse antes.
— O que você quer dizer? — ela disse, seus dedos se entrelaçando com
os meus.
— Quero que você se sinta confortável ao tomar essa decisão, —
respondi. — Eu não quero que você escolha apenas porque o conselho
está forçando você a fazer uma escolha.
Especialmente quando eu não sei se essa escolha sou eu mesmo...
— Não se preocupe com o conselho, — eu disse. — Leve o tempo que
precisar.
Tentei parecer confiante, mas, sinceramente, não sabia por quanto
tempo poderia atrasá-los.
No mínimo, se Lyla não acabar me escolhendo, terei mais tempo com ela.
Ela olhou para mim com seus grandes e lindos olhos de corça, e eu me
vi perdido em sua inocência.
Isso não poderia ser fácil para ela, sentindo a atração do acasalamento
por dois homens.
Mas eu sou o homem que vai conquistar o coração dela.
Inclinei-me e coloquei minha mão em seu rosto, meu polegar roçando
seus lábios.
Suas bochechas ficaram vermelhas instantaneamente.
— Sebastian, espere... eu não deveria...
Suas palavras soaram hesitantes, mas quando coloquei minha outra
mão em sua cintura, senti seu corpo relaxar ao meu toque.
— Eu não quero que você pense em ninguém agora, — eu rosnei
baixinho em seu ouvido. — Só eu.
Agora que estávamos sozinhos, a atração do nosso vínculo de
acasalamento estava se intensificando, e eu queria fazer Lyla esquecer
que ela ainda tinha uma escolha a fazer.
Meu corpo pressionou contra o dela e me senti endurecendo.
O balanço da varanda balançou para frente e para trás rangendo
enquanto minha mão subia por seu corpo e agarrava sua nuca.
Comecei a guiar seu rosto em direção ao meu enquanto seus lábios se
separaram...
— Caspian — disse Lyla sem fôlego.
— O que?! — Rosnei, mas então vi que Lyla estava apontando para
trás de mim.
Eu me virei para encontrar Caspian olhando para mim.
— Espero não estar interrompendo, — ele disse, tentando manter seu
tom estável.
Definitivamente está.
Caspian

Lyla se afastou de Sebastian e tentou suavizar os vincos de suas


roupas.
Ela me olhou com culpa, mas eu não estava com raiva dela. Nem um
pouco.
Lyla recebeu dois companheiros — ela não tinha controle sobre isso.
Mas, aparentemente, Sebastian não tinha controle sobre si mesmo.
Aquele desgraçado com tesão precisa aprender a manter as patas longe da
minha companheira.
Sebastian me lançou um sorriso malicioso, como se soubesse o que eu
estava pensando.
— Se importa se eu me juntar a vocês? — Eu perguntei, sentando no
banco em frente a Sebastian e olhando para ele.
— Divirta-se, — Sebastian rosnou.
Parecia que ele próprio queria me nocautear.
O que esse idiota tem que eu não tenho?
Só dei uma rápida olhada ao meu redor para responder a essa
pergunta.
A vasta propriedade de Sebastian.
Sua Casa da Alcateia Real, que parecia mais um palácio.
Servos circulando, esperando por ele com as patas e as garras.
Oh, certo... Ele é a porra do alfa real.
Havia uma parte de mim que pensava que nunca estaria à altura de
Sebastian.
Ele tinha tudo, incluindo Lyla...
Mas então aquele raio de lua fatídico me atingiu na cerimônia da
segunda chance.
E Lyla não era mais apenas de Sebastian...
Ela também era minha.
Mas AMBOS estamos ligados a ela...
Todos nós ficamos sentados em silêncio na varanda, grilos cantantes
preenchendo o vazio.
A tensão era estranha, pairando no ar úmido e espesso.
Lyla ergueu os olhos e abriu os lábios como se estivesse prestes a dizer
algo, mas em vez disso apenas me deu um leve sorriso.
Não era muito, mas ainda fez meu coração errar uma batida.
A luz do sol estava batendo em seu cabelo vermelho perfeitamente, e
parecia que ela estava pegando fogo.
Eu ficaria feliz em queimar em suas chamas...
Eu sorri de volta, fazendo o meu melhor para evitar o olhar mortal de
Sebastian que eu podia ver pelo canto do olho.
Nada me impediria de apreciar a beleza dessa deusa na minha frente.
O sorriso de Lyla vacilou depois de um momento, e eu voltei à
realidade.
Nenhum de nós tinha qualquer ideia de como iríamos navegar nessa
bagunça.
Lyla tinha me dito que o que quer que acontecesse entre nós,
descobriríamos juntos.
Eu só tinha que confiar que ela permaneceria fiel à sua palavra...
Porque eu não tinha intenção de sair do lado dela.
Lyla

Eu olhei para frente e para trás entre meus companheiros — os dois


homens que seguravam, cada um, um pedaço do meu coração...
Ambos continuaram ao meu lado durante minha incerteza.
E os dois se colocaram em perigo quando Silas tentou machucar a
mim e a Skye.
Eu sabia que teria que fazer uma escolha sobre com quem gostaria de
passar minha vida, mas...
Perder qualquer um deles parecia muito para suportar.
Com esse pensamento, uma escuridão encheu minha mente e,
embora eu tentasse lutar, perdi a batalha.
Talvez eles ficassem melhor sem você.
Você não os merece de qualquer maneira.
Eu me perguntei se meus pensamentos sombrios continham alguma
verdade.
Eu estava machucando duas pessoas que amava por não fazer uma
escolha.
Mas eu estaria me machucando por escolher o companheiro errado...
Eu não sabia o que era pior.
Deusa, isso é tão confuso!
Eu só precisava de espaço para pensar.
Talvez seja melhor se eu for embora por um tempo.
Me dar a chance de limpar minha cabeça e ordenar meus sentimentos.
Então eu poderia fazer uma escolha sem a pressão do conselho —
especialmente Tiberius.
— Que bom, vocês estão todos aqui.
Eu me virei para ver Tiberius pisando na varanda.
Fale do diabo, e ele aparecerá...
Ele olhou para nós um por um, incapaz de esconder sua expressão de
desaprovação.
— O conselho precisa conversar com vocês imediatamente.
— Todos nós? — Sebastian perguntou, surpreso.
— Sim, isso diz respeito a vocês três. — Tiberius respondeu.

Eu estava de pé ansiosa entre Sebastian e Caspian enquanto


enfrentávamos o conselho.
Tiberius estava flanqueado por Caio e Magnolia de um lado e por
Titus e Tonya do outro.
No centro da mesa da lua crescente estava um livro grosso e
empoeirado. Parecia que poderia ter centenas de anos.
O que todos nós estamos fazendo aqui?
Eu estava começando a sentir que estava sendo julgada.
Preciso de um advogado?
Mas então Tiberius quebrou o silêncio.
— Esta situação é... sem precedentes... para dizer o mínimo.
Magnolia se moveu em sua cadeira desconfortavelmente, enquanto
Tiberius continuou.
— Com isso quero dizer ter um companheiro destinado e um
companheiro de segunda chance simultaneamente. É simplesmente
inédito.
— Bem, exceto por um caso, — Tonya entrou na conversa. Titus
acenou com a cabeça enquanto ela falava.
— Sim, eu estava chegando lá, — disse Tiberius, irritado. — Já que
vocês três parecem decididos a dar essa decisão de acasalamento o tempo
todo no mundo...
Os olhos de Tiberius moveram-se para Sebastian.
— Tivemos que nos voltar dolorosamente para os registros antigos da
história da alcateia para encontrar alguma espécie de solução.
— Isso já aconteceu uma vez na Alcateia Real, — Caius explicou. — E
a resolução... bem, é um pouco heterodoxa.
— Diga logo, — Sebastian rosnou.
— Sim, pare de rodeios, — Caspian disse, concordando com Sebastian
pela primeira vez na vida.
Tiberius pigarreou e abriu o livro pesado. A poeira voou por toda
parte.
Seu dedo percorreu a página desgastada enquanto lia em voz alta.
— De acordo com a antiga lei da alcateia, quando um lobisomem é
dividido entre companheiros, todos os três lobos devem viver juntos por
um ciclo completo da lua...
Os olhos de Tiberius se voltaram para mim e meu coração saltou para
a garganta.
— Até que a loba tome sua decisão.
Vivendo...
JUNTOS?!
Oh querida Deusa, no que eu me meti?
2
TRÊS É DEMAIS
Lyla

— Sinto muito... você poderia repetir isso? — Eu perguntei, atordoada.


Devo estar sonhando...
Isso TEM que ser um sonho.
Porque não tem como Tiberius ter dito...
— Vocês três viverão juntos sob o mesmo teto por um ciclo de lua
cheia, — Tiberius repetiu, dissipando qualquer noção de que tudo isso
era fingimento.
Uma veia que pulsava da testa de Sebastian parecia que ia estourar, e a
mandíbula de Caspian estava pendurada no chão.
Eu estava esperando por algum espaço longe dos meus companheiros
para tomar uma decisão, mas agora estava sendo forçada a ficar perto
deles.
Eu estava errada antes, quando pensei que isso era um sonho...
É uma porra de pesadelo.
Eu nunca pedi por dois companheiros.
Eu nunca pedi para experimentar duas conexões tão fortes que eu
pudesse praticamente sentir todas as emoções que eles sentiam.
E eu certamente nunca pedi para viver com os dois homens como se
fôssemos algum tipo de trisal louco!
Por que a Deusa da Lua está me torturando assim?
Sem aviso, Sebastian soltou um rugido que quase me derrubou.
Assustada, eu o observei caminhar em direção à mesa da lua
crescente.
Ele estava mais que chateado.
Sebastian
Eu não conseguia acreditar no que eles estavam propondo.
Eles queriam que eu, um alfa. compartilhasse a casa de minha alcateia
com o filho daquele beta?
Sem chance, porra.
Bati minhas mãos na mesa e olhei direto nos olhos de Tiberius.
— Você ficou maluco? De jeito nenhum vou concordar com isso!
— Você não tem escolha. — Tiberius disse, sua voz inabalável. — Todo
o conselho concordou com isso.
Meus olhos se voltaram para Magnolia, que me lançou um olhar
simpático.
Droga, até você, Magnolia?
Inclinei-me ainda mais perto enquanto abaixava meu tom.
— Não gostei da ideia de Caspian ficar na casa da minha alcateia
durante a Cúpula, — rosnei. — Nem no inferno ele vai se mudar para cá.
— Bem, você não precisa se preocupar com isso porque nenhum de
vocês vai ficar na casa da alcateia, — Tiberius respondeu.
— O-o quê? — Eu disse, perdendo minha vantagem.
— Um alfa que não consegue conquistar sua Luna, enquanto seu
outro companheiro a corteja, passa uma impressão ruim da alcateia.
As palavras de Tiberius pareciam uma bala de prata em meu
estômago.
— É melhor que isso permaneça um assunto privado até que seja
resolvido, — disse ele.
E agora aquela bala de prata me atravessou e saiu do outro lado,
deixando um buraco enorme.
Não era apenas minha posição como alfa que estava em jogo...
Eu poderia perder Lyla também.
Senti a raiva crescendo dentro de mim, o calor queimando meus
músculos tensos.
— Você vai ficar na villa da família em Nova Orleans, — Caius
exclamou, tentando soar positivo. — É realmente adorável nesta época
do ano. Os limoeiros no pomar são...
Cortei Caius com outro rugido monstruoso e coloquei meus punhos
sobre a mesa como uma marreta.
CRACK!
Ela se partiu em dois como se eu tivesse acabado de quebrar um galho.
Eu sabia que era infantil, mas estava lívido.
Eu queria revidar.
Queria dizer a Tiberius para ir se foder.
Mas não consegui.
Porque eu sabia que Tiberius estava certo...
Estou fazendo minha alcateia parecer fraca.
Eu me virei para ver Lyla me observando com os olhos arregalados.
A mão de Caspian estava descansando em seu ombro.
Lyla quase parecia assustada — com medo de mim.
Esta situação já está tensa o suficiente, e estou apenas tornando-a pior.
Saí da sala sem dizer mais nada.
Mas, mesmo quando deixei as câmaras do conselho, o medo nos olhos
de Lyla permaneceu comigo.
Deusa, o que ela deve pensar de mim?
— Sebastian, espere!
Eu olhei para trás para ver Magnolia correndo pelo corredor.
Quando ela me alcançou, ela imediatamente me puxou para um
abraço.
— Eu sinto muito que tenha acontecido assim. Eu gostaria de ter tido
tempo para avisar você...
Magnolia me pegou pela mão e me conduziu até a varanda.
A brisa quente me acalmou enquanto eu olhava para a linda Delta do
Mississippi na minha frente.
— Isso é realmente o que você acha que é o melhor? — Eu perguntei,
virando-me para Magnolia enquanto ela estava ao meu lado.
— Não concordo com Tiberius em muitas coisas, mas uma coisa em
que concordamos é a sua segurança, — disse ela.
— Por causa de Silas, — murmurei.
Magnolia acenou com a cabeça.
É
— Ele ainda está lá fora. É melhor mover você — e Lyla — para algum
lugar onde ele não os encontre tão facilmente. Essa foi a minha
motivação para concordar com isso.
Foi uma jogada inteligente. Até que Silas fosse pego, eu não só
colocaria Lyla em perigo ao ficar aqui, mas também toda a alcateia.
— Eu sei que não vai ser fácil, — Magnolia disse. — Mas talvez isso
seja realmente uma coisa boa. Uma chance para você e Lyla realmente se
conectarem, longe de todos os olhos curiosos do bando.
— Se Lyla quiser se conectar comigo, — respondi mal-humorado,
pensando em como eu havia me comportado alguns momentos antes.
Eu odiava ter deixado ela me ver perder o controle do meu
temperamento na frente do conselho.
— Não perca as esperanças em Lyla, — disse Magnolia. — Vocês dois
entraram na vida um do outro por um motivo.
— Mas qual é a razão? — Eu perguntei. — E se eu não for a pessoa
certa para Lyla?
Magnolia suspirou.
— Vamos pensar positivo por enquanto...
Mas sua expressão rapidamente ficou sombria.
— Porque se você não consegue fazer as coisas funcionarem, haverá
consequências.
Caspian

Bati suavemente na porta de Lyla.


— Ei, posso entrar?
— Sim, estou apenas fazendo as malas, — respondeu ela, parecendo
um pouco estressada.
Quando entrei em seu quarto, tive que evitar pilhas de roupas,
incluindo seu elegante vestido de cotilhão, para chegar até ela.
Eu quase tropecei em seu troféu da luta de porcos enquanto andava
na ponta dos pés entre os vestidos como se estivesse me movendo em um
campo minado.
— Você levará tudo isso? — Eu perguntei. — Eu só tenho uma mala.
Lyla me lançou um olhar horrível.
— Bem, isso não é ótimo para você.
— Ei, finalmente vamos morar juntos, — eu disse, tentando aliviar o
clima. — Quem diria?
Lyla não parecia divertida.
— Como você não está pirando com isso? — ela disse. — Estou uma
bagunça.
— Pelo menos estaremos em Nova Orleans para o Carnaval des
Loups, — eu disse, incapaz de me impedir de sorrir. — Aposto que vai ser
demais este ano!
— Caspian, isso não é férias de primavera! — Lyla disse, exasperada.
— Estamos basicamente sendo colocados de castigo pelo conselho!
— Bem, desculpe-me por tentar ver o lado bom, — respondi.
Mas, na verdade, o verdadeiro lado positivo era passar mais tempo
com Lyla — mesmo que o focinho grande de Sebastian também estivesse
lá.
Lyla desabou na cama e suspirou.
— Como chegamos a esse ponto? As coisas eram muito mais simples
na Alcateia Lua Azul.
Seria um caminho difícil para todos nós, mas especialmente para Lyla.
Ela tinha até a próxima lua cheia para tomar sua decisão, e isso seria em
menos de um mês.
Deitei ao lado dela e coloquei minha mão na dela.
— Eu não acho que você jamais foi destinada a uma vida simples, —
eu disse.
Lyla riu, e foi tão bom vê-la sorrir.
— Você disse que descobriríamos isso juntos, certo? — Eu perguntei.
Ela silenciosamente acenou com a cabeça, ainda sorrindo.
— Então acho que vamos ter que esperar e ver o que nos espera...
Lyla

Tiberius nos levou em veículos separados sem identificação e nos


escoltou para fora da Alcateia Real naquela mesma tarde.
Quatro horas depois, paramos em um portão de ferro não muito
longe das ruas movimentadas de Nova Orleans.
Você nunca saberia que estávamos tão perto da cidade, dada a
quantidade de árvores altas que cercavam completamente a vila.
Sebastian disse que fazia anos desde que ele tinha estado na villa —
não desde a morte de seus pais. Eu não sabia o que esperar...
Quando o portão se abriu e meu carro dirigiu pela longa estrada de
terra, coloquei minha cabeça para fora da janela, observando o que podia
através das árvores altas que ladeavam nosso caminho.
Destacando sua impressionante fachada havia um jardim exuberante
e uma fonte de pedra serena. Toda a propriedade era absolutamente
linda, assim como a Alcateia Real. Mas embora a casa da alcateia
parecesse mais moderna, a vila me fez sentir como se estivesse em um
conto de fadas.
Quando chegamos à casa, engasguei: parecia algo saído de um filme
— uma mansão no estilo colonial francês, completa com uma varanda
fechada por grandes colunas.
Havia até um lindo pomar de limão, quase invisível de frente, mas os
limões amarelos vibrantes se destacavam como pequenas gotas de sol.
Talvez morar aqui não seja tão ruim afinal...
Saí do meu veículo enquanto o motorista descarregava minha
bagagem. Os carros de Sebastian e Caspian já estavam estacionados na
garagem circular.
Eles devem estar esperando por mim lá dentro.
Minha excitação ao meu redor de repente se transformou em
ansiedade.
Por um momento, esqueci que estaria morando com ambos os meus
companheiros.
Pelo menos este lugar é grande o suficiente para que possamos dar algum
espaço um ao outro...
Mas assim que esse pensamento cruzou minha mente, entrei na
entrada, ficando cara a cara com Caspian e Sebastian.
Nenhum dos dois parecia muito feliz no início, mas quando me viram,
seus rostos se iluminaram.
Deusa, isso vai ser estranho.
Houve um momento de silêncio entre nós enquanto todos avaliamos
a situação.
Mas então quase gritei quando senti uma onda de eletricidade entrar
em meu corpo.
E então outro.
Os olhos de Sebastian e Caspian se arregalaram, e ficou claro que eles
sentiram isso também.
A energia subiu pelo meu corpo e foi direto para o meu...
— Puta merda!
Dessa vez eu gritei, quando a energia se estabeleceu entre minhas
pernas.
O suor escorria pela testa de Sebastian, e Caspian puxou a gola de sua
camisa.
Nossos corpos estavam todos reagindo visceralmente por estar em
uma nova situação.
Nossos atrativos de acasalamento estavam se intensificando, como se
eles quisessem que cedêssemos aos nossos desejos mais profundos.
O ar estava sobrecarregado de tensão sexual, e todos estávamos
sentindo isso.
Eu fechei minhas pernas com força o máximo que pude, mas isso só
fez o formigamento no meu sexo ainda mais poderoso.
A camisa de Sebastian estava quase encharcada de suor e, quando ele a
ergueu, tive um vislumbre de seu abdômen.
Mas sua camisa não era a única coisa que estava encharcada...
Senti que estava ficando molhada, meu desejo se acumulando na
minha calcinha.
Oh minha deusa, eu sou como a porra de uma torneira! Como faço para
desligar isso?
Mas não havia como desligá-lo.
A respiração de Caspian ficou mais pesada e seu peito musculoso
subiu e desceu, me hipnotizando.
Senti meus mamilos endurecerem e tentei cobri-los com as mãos,
deixando escapar um leve gemido quando percebi o quão sensíveis eles
eram.
Sebastian e Caspian estavam praticamente salivando enquanto seus
olhos bebiam da minha forma.
— O que em nome da Deusa está acontecendo aqui?! — Tiberius
gritou, pisando no foyer, farejando o ar.
Pela expressão em seu rosto, era óbvio que ele sabia exatamente o que
estava acontecendo.
O ar estava absolutamente fervilhando com o cheiro de sexo.
— Deixe-me esclarecer uma coisa antes de ir embora, — disse ele,
estreitando os olhos para mim. — O objetivo desta prática é que você
tome uma decisão sobre seu cônjuge. NÃO ter um vale-tudo sexual.
Claro que ele culparia a mulher, pensei, revirando os olhos.
— Você deve se abster de seus... impulsos, durante este tempo, —
Tiberius disse. — Ficar pura aos olhos da Deusa da Lua... Isso significa
SEM SEXO!
Eu concordei totalmente com esse sentimento; meu corpo por outro
lado...
Tem uma ideia completamente diferente.
Meu olhar travou em Sebastian, e então se fixou em Caspian.
Eu estava me sentindo atraída por meus dois companheiros, e era um
desejo mais forte do que eu já senti antes.
Eu adoraria manter este corpo em bloqueio, mas...
Não tenho certeza se vou conseguir resistir
3
MOLHADO E SELVAGEM
Caspian

Puxei minha camisa pela cabeça e limpei meu peito, manchado de


suor.
Segurando um longo prego de aço entre os dentes, martelei outro na
tábua que estava tentando pendurar em um buraco enorme na parede da
sala.
Eu não podia acreditar no nível de calor nesta maldita vila —
parcialmente porque meu vínculo de companheiro com Lyla me fez
sentir como se estivesse pegando fogo — mas também porque este lugar
não tinha ar-condicionado.
Nós estávamos lá há apenas alguns dias e a casa já estava
desmoronando. Se não a consertássemos, provavelmente desabaria em
cima de nós.
Vila Sebastian parecia perfeita por fora, mas por dentro... precisava de
uma grande reforma.
Mais ou menos como o próprio Sebastian, pensei, irritado.
Eu martelei o prego um pouco forte quando Sebastian apareceu na
minha cabeça, e minha mão escorregou, fazendo com que o martelo
caísse no meu polegar.
— Filho da puta! — Eu gritei enquanto meu polegar pulsava de dor.
Eu ouvi uma zombaria do outro lado da sala.
Olhei para onde Sebastian estava suando litros enquanto tentava
calafetar uma janela com correntes de ar. Ele estava com um sorriso
irritante.
— Não se machuque, filhote.
Deixei escapar um rosnado baixo quando voltei ao meu projeto.
Eu gostaria de calafetar sua boca.
Se a base questionável não acabasse derrubando a casa, a tensão entre
Sebastian e eu definitivamente o faria.
Minha atenção mudou para Lyla enquanto ela vagava pela cozinha.
Ela estava fazendo limonada e eu estava começando a salivar.
Mas não era a limonada que estava me deixando com sede...
Lyla estava usando um top decotado, enfiado em um short curto.
Quando ela se abaixou para pegar uma jarra, isso me deixou louco.
Deusa, ela está tão gostosa.
Toda aquela regra — sem sexo — estava realmente testando minha
determinação.
Quem Tiberius pensa que é?
Sexo é algo natural para parceiros.
Ele mesmo provavelmente só precisa transar.
Eu olhei de volta para Sebastian novamente. Ele ainda estava distraído
com a calafetagem.
Bom.
Meus olhos voltaram para a cozinha, onde pararam no decote de Lyla
naquela blusa solta.
Hora de me presentear com alguns bons e suculentos... limões.
Lyla

Eu recolhi alguns limões frescos do pomar para fazer limonada ao


estilo do sul enquanto os meninos trabalhavam.
Eu não esperava que a vila fosse tão... rústica por dentro, mas estava
grata que isso deu a Caspian e Sebastian algo para fazer.
Porque a Deusa sabe o que faríamos se fôssemos deixados por nossa
própria conta...
De repente, senti um par de mãos deslizar em volta da minha cintura
e um corpo firme pressionado contra minhas costas.
O cheiro de Caspian invadiu minhas narinas e fez meus sentidos
enlouquecerem.
Senti seus lábios beijando meu pescoço e não pude deixar de sorrir.
— Você não deveria estar trabalhando? — Eu o provoquei. — Esta casa
não vai se consertar sozinha.
— Achei que poderia haver outras coisas que precisavam da minha
atenção. — ele sussurrou em meu ouvido, depois mordeu meu lóbulo de
brincadeira.
Eu podia sentir a protuberância de Caspian contra minha bunda, e
isso estava me deixando animada.
Eu gostaria de poder me acalmar, mas meu vínculo de acasalamento
com Caspian estava tornando isso impossível.
— Comporte-se, — eu disse a ele, embora também estivesse falando
comigo mesma.
— Desculpe, um lobo não pode mudar suas listras, — ele disse,
continuando a acariciar meu pescoço.
— Isso nem faz sentido, — respondi, revirando os olhos.
Caspian desabotoou meu short, então lentamente abaixou o zíper.
Deusa, eu deveria parar com isso, mas...
Meu vínculo de acasalamento estava me deixando selvagem —
literalmente. Eu não conseguia me controlar.
Quando a mão de Caspian encontrou seu caminho até a minha
calcinha, eu soltei um grito baixo, esmagando o limão que estava
segurando. Seu suco espirrou por toda parte.
Caspian agarrou minha mão e colocou meus dedos encharcados de
limão em sua boca enquanto seus próprios dedos deslizavam em meu
sexo.
— Mmmm, — ele gemeu enquanto sua língua lambia o suco de limão.
— Surpreendentemente doce.
Então, quando seus dedos atingiram meu doce local, fui eu quem
gemeu.
Era como nos velhos tempos — bem, algumas semanas atrás —
quando éramos namorado e namorada, brincando no drive-in.
— Caspian... — implorei enquanto seus dedos brincavam
ritmicamente com meu clitóris. — Não podemos fazer isso agora.
Mas é TÃO bom pra caralho.
A respiração de Caspian estava quente no meu pescoço, e sua
crescente excitação contra a minha bunda estava me excitando ainda
mais.
Parte de mim queria que ele me possuísse ali mesmo.
A atração de acasalamento fez seu toque elétrico, enviando ondas de
choque pelo meu corpo. Eu engasguei quando seus dedos estimularam
meu sexo como um raio de luz.
Eu agarrei a jarra de limonada, tentando manter o equilíbrio
enquanto as ondas de prazer me balançavam.
— Merda! — Eu gritei quando a jarra de limonada virou e derramou
em meu peito.
O líquido frio apagou minha paixão ardente por um momento, e eu
desabei de volta até a Terra.
Eu rapidamente me afastei de Caspian e coloquei minhas calças de
volta.
— Eu deveria ir tomar banho, — eu disse, nervosa enquanto saía da
cozinha.
Desculpe, Caspian... esta barraca de limonada está fechada para negócios.
Mas assim que virei a esquina, dei de cara com Sebastian, colidindo
com sua forma suada.
Seus olhos se arregalaram enquanto encaravam meu top ensopado.
Sebastian apertou inadvertidamente a pistola de calafetagem em sua
mão, atirando um jato de silicone branco espesso em cima de mim.
Oh, pelo amor de Deus!
Sebastian

— Oh merda, sinto muito! — Eu disse, minhas mãos pairando sobre


os seios de Lyla, sem saber o que fazer.
Sua blusa já estava encharcada com o que parecia ser limonada, seus
mamilos empinados me provocando através do tecido fino.
Fiquei tão surpreso com sua aparição repentina que eu...
— Eu não tive a intenção de borrifar você com minha calafetagem, —
eu disse, tirando minha camisa e entregando a ela para que ela pudesse
usar como pano.
Deusa, isso soa mal.
— Isso saiu errado, — eu disse. — Eu quis dizer que você me
surpreendeu e perdi o controle da minha calafetagem.
Eu deveria apenas calar a boca.
— Está tudo bem, — disse Lyla, tentando manobrar por mim para a
escada. — Eu estava prestes a tomar banho de qualquer maneira.
Eu não conseguia tirar meus olhos do peito pegajoso de Lyla, e isso
estava fazendo minha atração de acasalamento enlouquecer.
Seu corpo roçou o meu quando ela passou por mim, e eu senti uma
onda de eletricidade entre nós.
Fomos atraídos um pelo outro.
Era inevitável.
Lyla soltou um gemido suave, mas imediatamente tentou engoli-lo de
volta.
— Com licença, — disse ela, passando por mim e subindo as escadas
correndo.
Lyla

Assim que cheguei ao meu quarto, tirei minhas roupas pegajosas e


pulei no chuveiro.
Eu abri a torneira totalmente fria e deixei a água gelada cair em
cascata sobre meu corpo.
Eu preciso me acalmar.
Entre Caspian e Sebastian, eu senti como se tivesse acabado de
caminhar por um campo minado sexual.
Minha atração de acasalamento estava fora de controle e estava
ficando cada vez mais difícil de resistir.
Talvez tudo que eu preciso seja um pouco de liberação...
Agora que eu estava sozinha, eu poderia expulsar toda aquela tensão
sexual sem tentar pular em um dos meus companheiros.
Meus dedos deslizaram lentamente entre minhas pernas, em meu
sexo.
Tentei manter minha mente em branco, mas não pude deixar de
pensar nos braços musculosos de Caspian me envolvendo na cozinha.
Ou sua protuberância enorme cavando em minhas costas.
Mas então o peito largo de Sebastian encontrou seu caminho em
meus pensamentos.
E seus peitorais perfeitos nos quais você poderia fazer saltar uma
moeda de 25 centavos.
Ou aquela linha em V profunda que levava a sua calça jeans.
Até o seu enorme...
Meu corpo estava esquentando rapidamente enquanto eu me fixava
em meus companheiros sensuais.
Estou ficando com tanto calor.
Minha pele estava queimando de desejo.
Espere, eu mudei a temperatura da água para o mais frio possível...
De repente, percebi que minha pele não estava queimando de desejo...
estava apenas queimando.
A água estava escaldante!
Eu gritei o mais alto possível quando pulei para fora do chuveiro, o
vapor subindo da minha pele.
Instantaneamente, eu ouvi o que parecia uma debandada de elefantes
nas escadas, e um momento depois, Sebastian e Caspian estavam
bufando e ofegando no banheiro.
— O que há de errado? — Sebastian perguntou.
— Você está bem? — Caspian disse, parecendo preocupado.
Os dois ainda estavam sem camisa e eu senti meu rosto queimar
enquanto observava seus peitos arfantes se moverem para cima e para
baixo.
Mas eles também estavam me observando. Seus olhos tomaram
minha forma da cabeça aos pés, e me ocorreu que eu estava nua e
ensopada.
Eu rapidamente me cobri com uma toalha, envolvendo-a em volta do
meu corpo e prendendo-a com força.
— O chuveiro está quebrado, — eu disse, tentando esconder meu
constrangimento com meu cabelo molhado.
Sebastian empurrou Caspian para fora do caminho e entrou no
chuveiro.
— Eu vou consertar isso, — ele grunhiu.
Caspian revirou os olhos.
— Você geralmente não tem servos para fazer isso por você?
Sebastian tentou torcer o bico do chuveiro e imediatamente o
quebrou.
— Porra! — ele rosnou, ficando vermelho.
— Afaste-se, Ralph Destruidor — Caspian disse presunçosamente
enquanto assumia o comando.
Caspian mudou uma garra e começou a usá-la como uma chave de
fenda, tentando afrouxar a cabeça da torneira.
— Só precisa do toque de um homem de verdade. — Mas assim que as
palavras saíram de sua boca, uma explosão de água foi lançada para fora
do buraco.
Gritei quando a torrente de água espirrou em todas as direções e
começou a sair da pia também.
O banheiro se transformou em um parque aquático em poucos
segundos.
— Desligue! — Eu gritei.
Mas Tweedledee e Tweedledum só sabiam como quebrar as coisas, não
consertá-las.
Estávamos todos encharcados, lutando contra a poderosa torrente
que nos atingia em todas as direções.
Quando finalmente diminuiu, estávamos mergulhados em vários
centímetros de água, ensopados.
Os corpos de Sebastian e Caspian brilhavam com pequenas gotas, e
seus jeans se agarraram a suas coxas com força, acentuando seus maiores
trunfos.
Eu senti aquela sensação familiar entre minhas pernas novamente
enquanto seus olhos me perfuravam com luxúria.
Dizer que eu estava molhada era o eufemismo do século.
Isso não vai ficar mais fácil até que eu faça uma escolha...
Meus olhos vagaram entre meus dois companheiros enquanto meu
coração ameaçava sair do meu peito.
Devo apenas ceder à minha atração de acasalamento?
Bem aqui e agora?
4
PREÇO DO AMOR VERDADEIRO
Lyla

Meu corpo queimava de desejo por meus dois companheiros.


Eles estavam na minha frente, suas formas perfeitas emitindo um
almíscar inebriante que me deixou louca.
Eles exalavam força.
Eles eram viris.
Cheios de fome...
Uma fome de mim.
Havia uma parte de mim que ansiava por saciar seus apetites, por
deixá-los me violar naquele momento.
Era natural.
O peito de Sebastian bufou para dentro e para fora enquanto ele
passava a mão pelo cabelo louro ondulado. Ele me avaliou, mas não disse
uma palavra.
Ele estava esperando que eu desse o primeiro passo.
Mas que passou vou dar?
Eu não estava no meu estado de espírito certo — eu estava feroz,
selvagem.
Os olhos de Caspian expressavam exatamente como eu me sentia.
Eles estavam selvagens, indomados e se fixaram diretamente em mim.
Ele estava tão focado em mim que nem estava agindo territorialmente
com Sebastian. Era como se eu fosse a única pessoa na sala.
De repente, tive vontade de gritar. Eu queria dizer:
— Foda-me! Prove qual de vocês é digno de ser meu companheiro!
Eu quase engasguei com as palavras quando elas entraram na minha
garganta, mas as empurrei de volta para baixo.
O que diabos aconteceu comigo?
Mas eu sabia, no fundo, porque me sentia assim...
Eu tinha dois companheiros, mas ainda não estava acasalada... e
estava sem marcas.
Eu estava vivendo em um purgatório carnal criado por mim mesma.
Meu corpo queria os dois companheiros, mas eu só poderia ter um.
Eu ainda tinha que fazer uma escolha, por mais impossível que fosse.
DING-DONG!
A campainha do andar de baixo tocou de repente, tirando-me do meu
estado extasiado.
Meus impulsos animalescos diminuíram e eu finalmente me senti
normal novamente.
Sebastian e Caspian pareciam que tinham acabado de sair de um
transe.
Oh, graças a Deusa...
Salva pela porra do gongo.
— Já estou indo! — Eu gritei, ainda puxando minha camisa pela
cabeça quando meu cotovelo ficou preso na manga.
Eu não sabia quem era meu salvador na porta, mas ele foi um empata-
foda, e eu não poderia estar mais grata.
Provavelmente é Tiberius. Tenho certeza que ele poderia cheirar nosso
pecado a centenas de quilômetros de distância...
Quando consegui colocar todos os meus membros nos orifícios
corretos da minha roupa, abri a porta.
— SURPRESA!
Teresa estava parada na porta, os braços abertos.
Ela imediatamente me puxou para um abraço sufocante, mas também
estranhamente reconfortante.
— O que você está fazendo aqui? — Eu perguntei, conduzindo-a para
dentro.
— Eu queria ver a cabana do amor em que você estava escondida,
mas...
Teresa torceu o nariz enquanto olhava ao redor da vila dilapidada.
— Não sabia que seria uma cabana de verdade.
— Ei, este lugar tem uma estrutura óssea excelente, — eu disse,
levando Teresa para a cozinha. — Ela apenas foi um pouco negligenciada.
— E você? — Teresa perguntou com um sorriso malicioso. — Vivendo
com dois companheiros... Tenho certeza de que você não está sendo
negligenciada.
— Eu posso te prometer que nada aconteceu, — eu disse rapidamente,
esperando que ela não pudesse ler a culpa em meu rosto. — Limonada?
Comecei a servir um copo para Teresa enquanto ela me olhava com
desconfiança.
— Eu não acredito, — disse ela. — Esta casa inteira cheira a
hormônios em fúria.
Quase derramei a limonada na mesa.
— Garota, admita! Você está curtindo! — Teresa disse, percebendo
meus nervos. — Você está mais excitada do que uma cadela no cio!
— OK tudo bem! — Eu gritei. — Sim, eu estou ficando louca por estar
confinada com meus companheiros! Eu sinto que meus laços de
acasalamento estão me estrangulando.
— Isso pode ser sexy se você gosta de asfixia auto erótica. — brincou
Teresa.
— Não gosto. — respondi secamente.
— Então o que você vai fazer? — Disse Teresa. — Você acha que
consegue aguentar um ciclo de lua cheia assim?
Era uma pergunta muito boa...
A lua estava minguando mais e mais a cada dia, assim como minha
resistência à minha atração de acasalamento.
— Não tenho certeza, — respondi. — Sei que minha vida seria mais
fácil se eu fizesse uma escolha, mas ainda não estou pronta.
— Para que lado você está se inclinando? — Teresa perguntou,
apoiando-se nos cotovelos e olhando para mim com olhos arregalados e
expectantes. — Sebastian ou Caspian?
— Oh Deusa, nem comece comigo agora, — eu suspirei.
— Qual é, se você não pode contar para a sua melhor amiga, para
quem você pode contar? — Teresa disse, me cutucando.
— Estou falando sério quando digo que realmente não sei. Ambos
são...
Caspian e Sebastian entraram na cozinha e eu imediatamente calei a
boca.
Felizmente, os dois conseguiram colocar as camisas.
Teresa deu a Sebastian um sorriso encantador e bateu os cílios.
— Ei, Seb! Bom te ver!
Ele acenou com a cabeça, mas não retribuiu o sorriso.
— Bem-vinda ao inferno — sinta-se em casa.
Teresa voltou sua atenção para Caspian e franziu os lábios.
— Ei, Asspian.
— Oh, ótimo... você está aqui. Eu senti tanto sua falta, — ele
respondeu, seu tom cheio de sarcasmo.
Deusa, aqueles dois vão se dar bem?
— Seu pai também está aqui, — disse Teresa. — E o meu. A maior
parte da Alcateia Lua Azul estará aqui em breve para o Carnaval des
Loups.
O que significava que minha família chegaria em breve também.
Estremeci com o pensamento de mamãe e papai vindo para verificar
meu novo arranjo de vida.
— Onde está Reed? — Eu perguntei, percebendo que Teresa tinha
aparecido sozinha.
— Ele já quebrou o seu vínculo de acasalamento? — Caspian brincou.
Teresa olhou para Caspian, mas depois se virou para mim.
— Ele está de volta ao nosso quarto de hotel. Ele vai ficar lá esta noite
porque nós vamos sair.
— Você e eu? — Eu perguntei.
— Sim, noite das meninas! — Teresa gritou.
Percebi Sebastian enrijecer com o canto do meu olho.
— Lyla precisa sair da Casa Frustração Sexual por uma noite, — disse
Teresa, piscando para mim.
— Espere, você vai nos deixar sozinhos? — Caspian hesitou, olhando
para Sebastian com cautela.
— De jeito nenhum, — Sebastian rosnou, seus olhos me implorando
para reconsiderar.
— Desculpe, garotos — eu disse, lançando um sorriso malicioso para
Caspian e Sebastian.
— Vocês terão que brincar entre vocês esta noite.

Música animada parecia estar saindo de cada janela aberta enquanto


eu caminhava pelo movimentado French Quarter com Teresa.
Os edifícios coloridos eram adornados com uma vegetação luxuriante
e plantas suspensas. Eles me lembravam da folhagem drapeada dos
salgueiros-chorões da Alcateia Real.
— Deusa, eu amo este lugar, — disse Teresa, enlaçando seu braço no
meu. — Você sabia que eu sou, na verdade, crioulo francês por parte de
mãe?
Teresa nunca falava muito sobre sua mãe, por tê-la perdido tão jovem,
mas eu tinha visto fotos dela.
Sua linda pele escura, seu sorriso luminoso — irradiava de seus olhos,
e você poderia dizer que ela tinha uma grande personalidade.
Assim como Teresa...
Na verdade, Teresa é a cara de sua mãe.
— É tão legal que você tenha essa conexão com Nova Orleans. — eu
disse.
— Sim, eu realmente me sinto muito em sintonia com minha mãe
quando estou aqui. — disse Teresa melancolicamente. — Ela era uma
pessoa muito espiritual. E não da maneira de revirar os olhos como
Tiberius é...
— O que você quer dizer?
— Ela sentia que a Deusa da Lua está ao nosso redor... Ela se mostra
na natureza, em nossa conexão com nossos ancestrais e até mesmo na
magia.
— Magia? — Ela estava certa, isso não soava como Tiberius, ou as
tradições enfadonhas da Igreja.
Teresa sorriu.
— Por aqui, alguns podem chamar de vodu.
Isso definitivamente não soava como a Igreja.
Teresa me deu uma cotovelada, provavelmente sentindo minha
apreensão.
— Vamos, abra um pouco a sua mente.
Ela de repente parou em seu caminho, me puxando de volta.
— Oh, eu sei o que temos que fazer!
Teresa apontou para uma pequena loja com uma pequena placa
pintada na vitrine.
— Leituras de tarô, — li em voz alta. — Não sei, Teresa...
Mas ela já estava me puxando em direção à porta. Quando nos
aproximamos, notei uma variedade de máscaras ancestrais penduradas
na janela, olhando ameaçadoramente para mim.
— Você realmente acha que devemos brincar com bruxas? — Eu
perguntei.
— Nem toda magia é ruim, Lyla, — disse ela quando paramos na
entrada.
Mordi meu lábio nervosamente, mas tive que admitir que estava
curiosa.
— Tudo bem, — eu disse. — Vamos fazer isso.
Teresa bateu palmas com entusiasmo e abriu a porta para mim.
— Honestamente garota... você precisa de um feitiço para manter as
pernas fechadas.
Eu estava prestes a protestar contra sua observação quando uma voz
interrompeu, enviando um arrepio minha espinha.
— Ah, você está aqui. Entre, garota. Sinta-se à vontade. Sinto que um
fardo pesado está pesando sobre você.
Por que ela diz isso como se estivesse me esperando?
Entramos na loja de vodu, passando por uma cortina pesada para
encontrar uma mulher pequena sentada atrás de uma mesa de madeira
lascada.
Foi a primeira vez que estive tão perto de uma bruxa... Supondo que ela
seja real.
Seus olhos quase pareciam luminescentes na escuridão da sala.
Teresa me cutucou para frente e me sentei na frente da bruxa, que me
deu um sorriso cheio de dentes.
— Você está aqui porque está presa em uma encruzilhada, — disse ela.
— Você tem uma escolha impossível a fazer, mas não sabe que caminho
seguir.
Ela provavelmente apenas memorizou algumas falas, pensei, não
convencida de sua conexão com o outro lado. Isso pode se aplicar a
qualquer pessoa.
A bruxa colocou suas cartas na mesa, de bruços.
— Você está pronta para olhar para o seu futuro?
— Honestamente, não sei se quero saber... — respondi.
— Não é sobre o que você quer, mas o que você precisa, — disse ela,
sorrindo. — Puxe sua primeira carta — será o que centrará você.
Hesitante, virei minha primeira carta. Ela retratava um homem e uma
mulher nus, seus membros entrelaçados.
— Os amantes, — disse a bruxa, olhando para mim intensamente. —
Exatamente como eu esperava. Você está enredada não em um, mas em
dois homens, estou certo?
Eu engoli em seco, balançando a cabeça.
Talvez isso não seja apenas um truque falso...
— Ao final do ciclo da lua, você terá definitivamente feito sua escolha,
— disse ela, seus olhos começando a ficar vidrados. — E o seu verdadeiro
amor será revelado.
Eu engasguei, colocando minha mão sobre minha boca.
— Puta merda, — Teresa murmurou atrás de mim.
Agora, isso é muito específico.
— Vire a próxima carta e coloque-a em cima da primeira, — disse a
bruxa. — Isso vai ser o que cobre você.
Virei minha próxima carta e coloquei em cima dos amantes.
— Oh meu Deus! — Meu coração parou quando vi o que era...
— Morte, — a bruxa murmurou.
Senti meu corpo todo ficar tenso e minha pele ficar fria.
— O verdadeiro amor tem um preço..., — a bruxa disse, sua voz de
repente se tornando fria e não afetada quando seus olhos encontraram os
meus.
— Você também perderá alguém que ama... para sempre.
5
ESTRELA DA NOITE
Lyla

Minha mão tremia quando alcancei as cartas na mesa — a morte


pairava sobre os amantes como um presságio sombrio.
— Quer saber mais, garota? — A bruxa arqueou as sobrancelhas
enquanto minha mão pairava sobre o baralho.
Mas então eu a puxei de volta.
— Eu... eu não acredito em você, — eu disse, lutando contra as
lágrimas que estavam começando a se formar sob minhas pálpebras.
A bruxa apenas riu de mim.
— Acredite no que quiser... mas minhas cartas nunca mentem.
— Besteira, — disse Teresa, lançando-se em minha defesa. — Tenho
certeza de que você enche o baralho de morte para que possa vender
todos os seus feitiços de proteção ou amuletos de boa sorte.
— Nenhum amuleto ou feitiço irá protegê-la do que está por vir, — a
bruxa respondeu ameaçadoramente.
— É isso, vamos embora! — Teresa gritou, agarrando minha mão e me
colocando de pé.
Enquanto ela me arrastava de volta pela cortina, olhei por cima do
ombro.
A bruxa se sentou calmamente, ainda com seu sorriso torto, e isso me
deixou profundamente perturbada.
E se o que ela diz se tornar realidade?
Quando chegamos à rua, Teresa começou a andar de um lado para o
outro, furiosa.
— Essa porra de fraude! Eu nunca deveria ter feito você entrar lá.
— Não é sua culpa, — eu disse, minha voz soando um pouco vazia.
— Lyla, por favor, me diga que você não acreditou naquele lixo, —
disse Teresa, agarrando meus ombros.
Meu silêncio falou por mim.
O rosto de Teresa contorceu-se em uma expressão preocupada.
— Sério, aquela vadia só está tentando assustar você para que compre
as cinzas de cigarro dela para espalhar na sua porta. Ela é uma vigarista.
— É que... parecia que ela sabia coisas sobre mim, — eu disse.
— É assim que eles te pegam. Eles fazem generalizações que soam
específicas, mas na verdade poderiam ser sobre qualquer garota que entre
lá.
Eu balancei a cabeça e sorri, tentando acalmar Teresa, mas ainda me
sentia mal por dentro.
Fosse a bruxa uma fraude ou não, ela estava definitivamente certa
sobre uma coisa...
Quando se tratava de ter dois companheiros, não poderia haver amor
sem perda.
Alguém iria se machucar.
Eu não queria machucar Caspian ou Sebastian.
Mas se a previsão da bruxa for verdadeira...
Vai ser muito pior...
Caspian

Música de uma velha vitrola fluía pela sala de jantar enquanto eu


observava Sebastian cambaleando precariamente em uma escada,
tentando recolocar o lustre.
É ruim eu querer que ele caia?
Sebastian tinha sido uma pedra no meu sapato desde que o conheci, e
agora que fui forçado a viver com ele, me sentia como se tivesse sido
obrigado a andar sob rochas maiores.
Agora ele não era apenas uma pedra no meu sapato, ele era uma pedra
no meu...
Meu... em todos os lugares.
— Merda, isso é pesado, — Sebastian murmurou, balançando para
frente e para trás enquanto tentava prender a gigantesca luminária em
seu gancho.
— Precisa de ajuda com isso, garotão? — Eu perguntei, incapaz de
esconder meu desprezo.
— Estou bem, — Sebastian rosnou. — Embora eu pudesse fazer isso
sem você aí me olhando como um canalha.
— Como quiser. Vou preparar uma bebida para mim, — eu disse,
caminhando em direção ao bar.
A vila pode ter caído em um estado de abandono, mas pelo menos
ainda havia algumas garrafas de uísque velho por aí.
De repente, quase em câmera lenta, vi a escada inclinar para a direita.
Os olhos de Sebastian se arregalaram quando ele percebeu o que estava
acontecendo.
Oh, pelo amor de Deus!
Lancei-me para a escada e consegui mantê-la estável, mas o mesmo
não poderia ser dito de Sebastian.
Ele desabou no chão junto com o lustre enorme que estava tentando
pendurar.
Centenas de gemas de cristal se estilhaçaram ao atingir no chão.
Sebastian se levantou cautelosamente, examinando a bagunça que ele
acabara de criar.
— Droga, deve ter custado muito caro, — falei.
Sebastian soltou um rugido tão alto que se o lustre já não tivesse sido
quebrado, certamente teria sido então.
Os cristais rangeram sob seus pés enquanto ele saía furioso da sala.
Dei de ombros, caminhando até o bar para me servir de uma bebida.
Olhando para os restos do lustre, pensei na frustração no rugido de
Sebastian.
Ele provavelmente sente que toda a sua vida desabou...
Tomei um gole pesado do meu copo de uísque.
É melhor eu ter cuidado, ou posso começar a simpatizar com o diabo.
Por mais que eu odiasse admitir, Sebastian e eu éramos muito
parecidos.
Nossos destinos estavam ligados à mesma mulher.
E não importa o quanto tentemos superar um ao outro, Lyla nos
deixava fracos aos seus caprichos.
A única diferença real entre nós era que Sebastian era um alfa —
nascido em uma linhagem de elite, tudo entregue a ele em uma bandeja
de prata.
Enquanto eu era filho de um beta, na fila para assumir a posição de
meu pai algum dia. Eu nunca teria o que Sebastian teve, simplesmente
por causa da linhagem.
E assim como Sebastian não tinha feito nada para se tornar um alfa;
ele não fez nada para merecer Lyla.
Ele era seu companheiro, ligado a ela através de algum uivo débil.
Eu era apenas o companheiro de segunda chance de Lyla, mas estive
com ela por dois anos antes de Sebastian aparecer. Nossa conexão não foi
apenas entregue a mim.
Segurei meu copo com força, tentando conter a raiva crescendo
dentro de mim.
Eu conquistei o nosso amor.
E eu não deixaria um alfa mimado entrar no meu caminho.
Vou ter que trabalhar ainda mais duro.
Sebastian

Puta que pariu!


Eu corri pelo corredor, cravando minhas garras na parede e rasgando
o papel de parede enquanto avançava.
Eu sabia que precisava colocar meu temperamento sob controle, mas
ultimamente tudo estava me incomodando.
Minhas garras pararam quando uma foto emoldurada obstruiu seu
caminho de devastação.
A foto estava tão empoeirada que eu não conseguia nem dizer quem
estava nela.
Respirando fundo, retraí minhas garras e lentamente limpei minha
palma contra a superfície suja.
De repente, eu estava olhando para mim mesmo — bem, para mim
mesmo aos sete anos. Eu parecia tão jovem e inocente.
E ao meu lado estavam meus pais, adornados com suas capas e coroas
reais.
Uma sensação sombria se apoderou de mim.
Meus pais estavam longe de ser perfeitos, mas não mereciam o que
lhes aconteceu.
Eles tentaram impedir Silas de transformar todas aquelas mulheres
humanas em mestiças ferozes em sua caça perversa para encontrar sua
companheira.
Mas então ele a encontrou...
E aquela mestiça assassinou meus pais.
Afastei-me da foto e olhei para as minhas mãos.
Elas estavam tremendo.
Por um momento, parecia que elas estavam cobertas de sangue.
Sangue de Ella.
Assim como eu nunca poderia perdoar Silas pelo que ele fez, ele nunca
me perdoaria por meus pecados.
Eu caí no chão e olhei para a feliz família real.
Aquele menino sorridente na foto seria eu novamente?
Fui forçado a esse papel de alfa antes de estar pronto.
Às vezes, não tenho certeza se quero mesmo isso...
E agora meu conselho me mandou embora para esconder minha
inadequação como um alfa.
Aos olhos deles, eu estava fazendo minha alcateia parecer fraca.
E talvez eles estivessem certos.
Meu conselho não confiava em mim.
Eu nem tinha certeza se confiava em mim mesmo.
Como posso ser o companheiro que Lyla precisa que eu seja?
Serei sempre péssimo em ser um alfa que toma conta de sua própria vida?
Lyla
Teresa sorveu ruidosamente, sugando o canudo de seu copo alto em
forma de lâmpada.
— Deusa, eu adoro furacões, — disse ela, finalmente chegando ao
fundo de seu coquetel congelado. — Melhor bebida já criada.
Depois da leitura do tarô, eu queria esquecer meu chamado futuro.
E beber parecia a solução mais rápida.
Mas agora corríamos o risco de esquecer um pouco demais.
— Ok, agora já chega, — eu disse. — Ainda temos que voltar para casa.
— Reed terá uma surpresa quando eu voltar para o hotel, — disse
Teresa, sorrindo.
— Por favor, poupe-me dos detalhes, — eu ri.
Pagamos nossas bebidas no bar ao lado da rua e começamos a
caminhar pela estrada quase deserta.
— Vou pegar um táxi no seu hotel, — eu disse, percebendo que não
havia chance de que essas pernas trêmulas iriam muito mais longe.
— Está perto, — disse Teresa.
Mas, à medida que nos aventuramos mais nas ruelas estreitas do
French Quarter, meus sentidos começaram a enlouquecer.
Eu pensei ter ouvido passos atrás de nós, mas tudo que eu podia ver
eram sombras.
— Teresa, talvez devêssemos voltar para a ru...
Duas figuras emergiram repentinamente da escuridão. A luz da lua
refletiu em suas garras afiadas.
— Ei, lindas garotas... vocês têm algo a nos oferecer esta noite? — um
dos homens zombou.
Seu amigo agarrou a bolsa de Teresa e puxou-a enquanto ela segurava
com força.
— Ei, tire as mãos de mim! — ela gritou.
— Sim, eu tenho algo para você, — eu rosnei.
Eu me lancei contra o homem que estava segurando Teresa e dei um
golpe no rosto dele com uma de minhas garras.
O segundo homem passou os braços em volta de mim, mas eu me
soltei e dei uma cotovelada em seu nariz.
— Teresa, corra! — Eu gritei, agarrando-a pela mão.
Nós disparamos pelo beco escuro, mas paramos quando percebemos
que havíamos chegado a um beco sem saída.
Eu me virei para ver os dois assaltantes se aproximando de nós e
parecendo muito irritados.
É por isso que eles chamam de beco sem saída? Isso é fodidamente
irônico...
Eu levantei minhas garras e me coloquei na frente de Teresa.
— Fique atrás de mim, — eu disse, embora eu não tivesse certeza se
poderia enfrentar os dois homens.
Mas, felizmente, eu não tive que descobrir porque um barulho alto do
telhado fez todos nós olharmos para cima ao mesmo tempo.
Uma voz profunda emanou de cima do beco:
— Então você acha que pode atacar mulheres jovens? Não na minha
cidade.
Um homem se aproximou da beirada do telhado e foi iluminado pelo
luar.
Ele estava vestido de preto da cabeça aos pés, e ele estava usando uma
máscara intrincada estilo ópera que obscurecia a metade superior de seu
rosto.
Em sua cabeça estava um chapéu de aba larga e na cintura uma
espada.
— Oh merda! É o Estrela da Noite! — um dos assaltantes gritou, com
medo em sua voz.
Quem diabos é...
Mas antes que eu pudesse terminar meu pensamento, o homem —
Estrela da Noite — mergulhou no beco, pousando entre nós e os
assaltantes.
Ele desembainhou sua espada e a brandiu em uma impressionante
demonstração de destreza.
Os homens tentaram correr, mas Estrela da Noite saltou para frente,
cortando-os nas costas.
Teresa agarrou meu braço enquanto o observamos esculpir
artisticamente as peles expostas deles. Os homens gritaram de dor. Os
cortes de Estrela da Noite eram rápidos como um relâmpago.
Ele recuou e nos deixou admirar seu trabalho...
As costas dos assaltantes agora eram hospedeiras de várias estrelas
sangrentas.
Eles mancaram para fora do beco, choramingando.
Meu olhar travou com o de Estrela da Noite e abri minha boca para
agradecê-lo, mas antes que eu pudesse falar, ele girou nos calcanhares e
perseguiu nossos atacantes.
Um momento, ele se perdeu nas sombras novamente.
Algo me diz que eles não irão muito longe depois que ele transformou suas
costas em carne picada...
— O que diabos aconteceu? — Teresa disse, ainda segurando meu
braço com força.
— Eu não sei..., — eu disse, olhando para o local onde o homem
misterioso acabara de estar.
Havia algo curioso sobre aquele homem...
Eu não sabia se era seu cheiro ou seus olhos, mas...
Tenho a sensação de que esta não será a última vez que cruzarei com
Estrela da Noite.
6
NOVAS REVELAÇÕES
Lyla

Acordei na minha cama com a pior ressaca do mundo.


Malditos furacões...
Mas eu sabia que os coquetéis inovadores eram apenas parte do
motivo de eu estar me sentindo uma merda.
Ontem foi muito difícil.
Primeiro, uma bruxa me disse que se eu quisesse encontrar o amor
verdadeiro, teria que perder alguém que eu amava — para sempre.
Então, quase fui assaltada caminhando para casa, e um homem
misterioso com uma máscara me salvou como uma espécie de super-
herói.
Estrela da Noite.
O próprio vigilante da justiça de Nova Orleans, aparentemente.
Eu pensaria que tudo tinha sido um sonho se não fosse pelas milhões
de mensagens perdidas de Teresa.
Estendi a mão até minha mesa de cabeceira e peguei meu telefone.
Teresa: MIGA

Teresa: O que diabos aconteceu noite passada??

Teresa: Muuuuito drama.

Teresa: Aquele cara mascarado...

Teresa: a bruxa...

Teresa: como...
Teresa: minha cabeça ainda está girando.

Teresa: Fiquei tão empolgada ontem à noite quando cheguei em


casa.

Teresa: Minha adrenalina disparou.

Teresa: O melhor sexo que eu e Reed já tivemos!!

Lyla: Oh Deusa, sinto que fui atropelada por um trem.

Lyla: Na verdade, vários trens.

Teresa: Como o Seb e o Cas se saíram sozinhos?

Lyla: Eu nem sei.

Lyla: Eu provavelmente deveria ir ver como eles estão e ter certeza


que eles não se mataram.

Lyla: Bjs
Rolei para fora da cama e me vesti com uma camiseta e jeans, rezando
para que este dia fosse menos dramático do que o anterior.
Quando desci, fui para a cozinha para fazer um café da manhã para
ressaca, mas parei do lado de fora da sala de jantar.
O chão estava coberto de cristais estilhaçados e um lustre quebrado
estava no centro.
Sebastian estava varrendo os destroços para uma pá de lixo.
— Uh... o que aconteceu, — eu perguntei.
Minha mente imediatamente começou a pensar em todos os piores
cenários, como uma lista de reprodução ruim.
Oh Deusa, ele brigou com Caspian?
Onde diabos está Caspian, afinal?
Talvez eu deva verificar o pomar em busca de montes de terra fresca...
Mas Sebastian apenas deu de ombros.
— Acontece que sou melhor quebrando coisas do que consertando.
Havia um toque de tristeza em sua voz e eu senti a necessidade de
confortá-lo.
Eu podia sentir a dor do meu companheiro, e isso também me deixou
triste.
Isso era muito diferente dos impulsos sexuais apaixonados que eu
estava sentindo por causa da minha atração de acasalamento...
Este era um tipo diferente de paixão.
Algo mais profundo.
— Está tudo bem? — Eu perguntei, dando um passo em direção a ele.
Mas antes que ele pudesse responder, ouvi a porta da frente abrir e
passos correndo pela sala de estar.
— LYLA! — Minha irmã mais nova se catapultou em meus braços,
sorrindo para mim.
— Skye! Quando você chegou aqui? — Eu perguntei, afastando o
cabelo do seu rosto. Estava começando a parecer tão selvagem quanto o
meu.
— Eles acabaram de chegar esta manhã. Eu os peguei no hotel. —
Caspian disse enquanto entrava pela porta com meus pais.
Corri e abracei mamãe e papai, me sentindo um pouco emocionada.
Viver com Caspian e Sebastian tem sido... intenso.
Meu pai pareceu perceber esse fato, enquanto seu olhar mudou para
Sebastian se aproximando de nós.
— Sr. e sra. Green, — Sebastian disse educadamente.
Havia uma certa tensão no ar e isso me deixou nervosa. Olhei para
minha mãe, que parecia tão ansiosa quanto eu.
Papai mudou de ideia sobre Sebastian depois do que aconteceu com
Silas e Skye, mas isso foi antes de nós morarmos juntos.
Ele conhecia Caspian há anos. Ele confiava nele.
Mas ele ainda não havia formado uma opinião sobre Sebastian.
Finalmente, meu pai estendeu a mão e deu a Sebastian um aperto de
mão firme, e eu parei de suar tanto.
Isso é bom o suficiente por agora.
Skye começou a puxar minha camisa enquanto saltava para cima e
para baixo em seus tênis leves.
— Lyla me leva para um passeio! Este lugar é enoooorme!
Meu pai colocou as mãos nos quadris enquanto olhava por cima do
meu ombro para a bagunça na sala de jantar.
— Eu também gostaria que Caspian e Sebastian me levassem em um
pequeno tour para que possamos ter certeza de que este lugar está dentro
das normas. Minha filha não vai viver em uma armadilha mortal.
Sussurrei no ouvido da minha mãe antes de levar Skye em direção às
escadas.
— Por favor, certifique-se de que eles não se matem.
— Sem promessas, — respondeu ela, dando-me um sorriso.
Quando subimos, Skye começou a me guiar em vez do contrário.
— Eu quero ver o seu quarto! — ela gritou.
Ela parou de repente e olhou para mim com seriedade.
— Espere, você...
Ela fez uma pausa, quase como se o que ela estava prestes a dizer fosse
proibido.
— Eu o que? — Eu perguntei.
— Vocês todos dormem no mesmo quarto? — Skye perguntou,
fazendo meu queixo cair.
— Skye! Não! — Eu disse rindo. — Quem você acha que eu sou?
— Só uma pergunta, — Skye disse inocentemente, embora eu não
acreditasse. Ela era perceptiva demais para sua idade.
Skye entrou no meu quarto e se jogou na minha cama.
— Deve ser tão divertido viver com seus dois companheiros.
— Isso é discutível, — eu disse, sentando ao lado dela.
— Mas é como estar com seus melhores amigos o tempo todo, certo?
Quando ela disse isso, parecia tão simples.
Isso era como passar todos os dias com meus melhores amigos.
Mas quando você introduziu o amor — o tipo romântico — na
mistura...
Esse círculo de amigos tornou-se um triângulo muito nítido e
pontudo.
— Você é tão sortuda, — disse Skye, suspirando. — Você encontrou o
amor verdadeiro com dois companheiros.
Amor verdadeiro...
Embora eu tentasse esquecê-las, as palavras da bruxa ainda estavam
ecoando em minha cabeça.
Eu faria minha escolha.
E encontraria o amor verdadeiro.
Mas ao custo de perder alguém para sempre.
A lógica simples e a perspectiva pura de Skye normalmente me faziam
sentir melhor sobre meus relacionamentos complicados.
Mas desta vez...
As coisas não são tão simples.
Caspian

— Droga, eu realmente senti falta das suas refeições caseiras. — eu


disse a Lily enquanto a ajudava a preparar o brunch.
— Eu sei que não há nenhuma maneira de vocês comerem refeições
adequadas nesta casa. — ela disse em um tom levemente reprovador.
Ela não estava errada.
Sebastian estava acostumado com chefs pessoais e criados, mas, na
verdade, nenhum de nós sabia cozinhar.
Estávamos pedindo comida para viagem.
Olhei por cima do ombro de Lily para ver Sebastian conversando com
Colin.
Ele parecia retraído, agitado — mais do que o normal.
Sebastian não conhecia a família de Lyla como eu. Eu tinha uma
vantagem clara.
Antes que as nossas vidas tivessem se tornado significativamente mais
complicadas na Cúpula, a família de Lyla era praticamente a minha.
Fazíamos churrascos juntos, fomos acampar, tivemos noites de jogos...
Mas as coisas eram diferentes agora.
A diversão e os jogos acabaram. Nós crescemos.
O destino estava puxando Lyla em duas direções, e eu não sabia se ela
acabaria nos meus braços... ou nos de Sebastian.
Lily deve ter percebido minha melancolia, porque estendeu a mão e
tocou meu braço.
— Não importa o que aconteça, você sempre será importante para
Lyla, — disse ela.
Então Lily me deu uma piscadela.
— Estou torcendo por você, — ela sussurrou.
Naquele momento, Lyla se aproximou de nós e me deu um sorriso.
— Ei, posso roubar minha mãe por um minuto?
— Claro, — respondi. — Não se preocupe, Lily... não vou deixar nada
queimar.
Ela riu enquanto Lyla a puxava para a varanda dos fundos.
— Melhor não!
Enquanto os observava irem embora, senti uma esperança renovada.
Se eu não tivesse esquecido o que Lyla e eu tínhamos antes da
Cúpula...
Então, talvez ela também não tivesse esquecido.
Lyla

Eu amava os insights não adulterados de minha irmã mais nova sobre


minha vida, mas agora era a hora de ter uma conversa muito adulta sobre
o que estava passando.
Eu precisava do conselho da minha mãe.
Sentamos na varanda dos fundos, olhando para o vibrante pomar de
limões.
— O que está acontecendo, querida? — Minha mãe parecia
preocupada quando colocou sua mão na minha.
— Isso é tão... — Eu me esforcei para encontrar as palavras certas.
— Eu simplesmente sinto que estou sendo esmagada por essa escolha
que devo fazer. — eu disse. — É um peso constante no meu peito e não
sei por quanto tempo mais consigo aguentar.
Lágrimas inesperadas escorreram pelo meu rosto.
Eu tentei fingir que tudo estava bem, mas agora estava desabando.
Os olhos da minha mãe se encheram de simpatia quando ela me
puxou para perto.
— Oh, Lyla, sinto muito que você tenha que lidar com isso.
— A Deusa da Lua deveria ter escolhido alguém mais forte para passar
neste teste, porque eu não estou pronta para isso. — eu disse, enterrando
meu rosto no ombro da minha mãe.
— Você é muito mais forte do que imagina, Lyla, — disse minha mãe.
— Confie em mim. Quando eu estava nesta posição, não lidei nem um
pouco tão bem quanto você.
Eu me afastei e olhei para ela, confusa.
— Quando você estava na minha posição? Eu pensei que isso não
acontecia há centenas de anos.
Minha mãe hesitou, seus olhos nadando em confusão, como se ela
estivesse se questionando se deveria continuar.
— Mamãe? — Eu perguntei de novo, a ansiedade se instalando na
boca do meu estômago.
— Bem, não sua posição exata, mas eu tinha um companheiro
destinado e um companheiro de segunda chance. — ela explicou
lentamente. — Só não ao mesmo tempo.
— Espere... você conheceu seu companheiro de segunda chance? —
Eu disse, perplexa. — O que papai disse?
Mamãe parou por um momento, então respirou fundo.
— Lyla... Colin é meu companheiro de segunda chance.
Eu fiquei chocada.
— Não... isso não... isso não faz sentido.
Os olhos da minha mãe de repente ficaram turvos.
— Eu nunca disse a você porque não queria que você olhasse para ele
de forma diferente.
— Por que eu iria olhar para ele de forma diferente? — Tive uma
sensação de pavor crescendo na boca do estômago.
— Lyla, sinto muito, eu... — ela desviou o olhar, com a voz trêmula.
— Mãe, por que eu olharia para meu próprio pai de maneira diferente
só porque ele era seu companheiro de segunda chance? — Eu perguntei
de novo, minha própria voz aumentando.
— Porque Colin não é seu pai biológico! — Ela deixou escapar antes
de colocar a mão sobre a boca.
Oh minha deusa...
Enquanto eu observava as lágrimas rolarem por seu rosto, me senti
entorpecida.
O homem que sempre pensei ser meu pai biológico era o
companheiro de segunda chance da minha mãe.
E seu companheiro destinado... era meu pai verdadeiro.
7
DESTINADO AO DESASTRE
Lyla

Tudo que eu pensei que sabia sobre meu pai é mentira...


Meu primeiro instinto foi sair furiosa e me afastar de minha mãe.
Mas em vez disso, eu fiquei. Eu empurrei todo o meu ressentimento e
estendi a mão, puxando-a para um abraço.
Talvez ter dois companheiros de cabeça quente me ensinou a ser mais
paciente, mas eu não poderia ficar com raiva de mamãe por mentir.
Eu pude ver que ela estava sofrendo também. Não foi fácil para ela
falar.
Mas eu precisava saber mais.
— O que aconteceu com ele? Meu pai biológico?
Mamãe olhou para mim, fungando para conter as lágrimas.
— O nome dele era Michael. Eu o conheci aqui, em Nova Orleans, há
vinte e dois anos.
Ela se endireitou, se recompondo antes de continuar.
— Estávamos muito apaixonados, mas... ele teve que ir embora.
— Onde ele foi? — Eu perguntei.
— Pouco depois de você nascer, ele recebeu a ligação...
Eu franzi minha sobrancelha.
— O quê?
— Às vezes, a Deusa da Lua nos chama para vir servi-la na Cidade
Santa — explicou a mãe. — Michael recebeu o chamado para se tornar
um Guardião da Lua, onde ele ficou servindo na Cidade Santa na França.
— Você foi com ele? — Eu perguntei. Nada disso fazia sentido.
— Eu deveria ir depois, mas antes de ir, recebi a mensagem de que seu
pai tinha...
Mamãe fez uma pausa, ficando sufocada de novo.
— Que ele o quê? Que ele faleceu? — Eu disse, meu coração
disparado.
Ela balançou a cabeça.
— Não, que ele abandonou seu dever como um Guardião da Lua...
Ele... ele nos abandonou.
— Ele era um desertor? — Eu disse chocada. Mas não eram seus
deveres de Guardião da Lua que me preocupava...
— Ele simplesmente te deixou sozinha? Ele já tentou entrar em
contato com você? Ou dizer onde ele estava?
— Nunca. — mamãe disse, incapaz de esconder a mágoa em sua voz.
— Mas vocês estavam destinados — eu disse. — E ele teve uma filha…
eu!
Eu estava começando a ficar com raiva. Agora eu entendi por que
minha mãe escondeu isso de mim.
— Às vezes... o destino não é suficiente, — mamãe disse, parecendo
pensativa. — Mas meu companheiro de segunda chance me trouxe uma
felicidade que eu nunca pensei que experimentaria novamente.
Eu estava me sentindo completamente oprimida por tudo que minha
mãe havia dito sobre mim.
Às vezes o destino não é suficiente...
Se Michael pode deixar minha mãe, apesar do fato de que eles eram
companheiros destinados...
E se Sebastian me deixar um dia também?
Tive vontade de vomitar.
Eu nunca tinha considerado Sebastian indo embora — estávamos
presos pelo destino — mas agora não parecia rebuscado de forma
alguma.
E quanto ao Caspian?
E se ele encontrasse sua própria companheira destinada? E se ele me
deixasse também?
Afinal, quão destinados são os companheiros destinados?
Eu estava começando a questionar tudo que achava que sabia sobre o
amor.
Minha cabeça estava girando como uma roda gigante ruim, e eu
queria sair dela.
— Lyla, não quero que você pense nisso — disse mamãe, me trazendo
de volta à realidade. — Não podemos mudar o passado.
— Eu só quero saber por quê — eu disse, minha voz falhando. — Por
que ele nos deixou?
Mamãe balançou a cabeça tristemente.
— Eu não sei a resposta para isso, querida. Eu nem sei se Michael
ainda está vivo. Mas o que sei é que ele fez uma escolha. Seu verdadeiro
pai é o homem que a criou. Aquele que ficou.
Mamãe me puxou para um abraço e eu descansei minha cabeça em
seu ombro.
Ela estava certa. Colin sempre seria meu pai.
Mas ela também estava certa sobre Michael fazer uma escolha...
Ele escolheu deixar sua própria filha quando ela era apenas um bebê...
Ele fez uma escolha...
E não fui eu.
Sebastian

Quando Lily voltou de fora, eu imediatamente notei que seus olhos


estavam vermelhos, como se ela tivesse chorado.
Mas ela era boa em esconder suas emoções — assim como Lyla. Ela
sorriu e se juntou a Caspian, rindo como se tudo estivesse bem.
Mas Lyla não havia voltado para dentro.
E eu senti em meus ossos que nem tudo estava tão bem.
Eu podia sentir a dor de Lyla, sua tristeza, como se fosse minha.
Olhei de volta para Caspian, que parecia alheio enquanto continuava
a relembrar com Colin e Lily.
Seguindo a dor de Lyla, saí para a varanda para encontrar Lyla com a
cabeça entre as mãos.
Merda, o que aconteceu?
Eu descansei levemente minha mão em suas costas, e ela olhou para
mim, com os olhos turvos.
— Lyla, o que... — Um momento depois, ela estava em meus braços,
enterrando o rosto em meu peito.
Eu a segurei com força. Eu não iria desistir até que tivesse absorvido
toda a sua dor e angústia. Até que eu fizesse tudo ir embora.
Depois que seu choro acalmou, coloquei minha mão sob seu queixo e
o levantei para que seu olhar encontrasse o meu.
— Vamos dar um passeio — disse eu.
Ela acenou com a cabeça lentamente.
Peguei a mão de Lyla e fomos para o pomar de limão.
Caminhamos até que as árvores nos envolveram completamente.
No centro do pomar havia uma alcova sombreada, onde a treliça era
acentuada por mais limoeiros crescendo através da estrutura de madeira.
Limões pendurados no caramanchão acima. Eu estendi a mão e
peguei um, jogando-o para Lyla de brincadeira.
Ela sorriu ao perceber. Foi bom ver a luz voltar ao seu lindo rosto.
— Diga-me o que há de errado, — eu disse. — Não quero que
escondemos nada um do outro.
Ela olhou para o limão em suas mãos, rolando-o, evitando o contato
visual.
— Eu acho que não posso esconder nada de você de qualquer
maneira. Você sempre parece saber o que estou sentindo.
Ela finalmente olhou para cima novamente e jogou o limão de volta
para mim, conseguindo outro sorriso fraco.
— Eu acabei de descobrir algo meio bombástico — bem, para a minha
vida pelo menos — e estou tentando descobrir como lidar com isso.
— Talvez eu possa ajudar — eu disse.
— Você pode descobrir por que meu pai biológico deixou a mim e
minha mãe logo depois que eu nasci e nunca tentou entrar em contato
comigo?
Meu queixo caiu.
— Espere, seu... o quê?
— Colin não é meu pai biológico, — disse ela. — Meu pai biológico era
um homem chamado Michael, um Guardião da Lua.
Eu não sabia o que dizer...
Foi tão louco. Eu ainda estava tentando absorver tudo.
Eu só posso imaginar como Lyla deve estar se sentindo...
Lyla

— Você tinha alguma ideia de que Colin não era seu pai biológico? —
Sebastian perguntou. — Mesmo uma vaga ideia?
Com a pergunta de Sebastian, uma vaga memória começou a se
formar — uma que era bastante recente.
Naquele dia em que Sebastian me levou para a piscina sagrada da
Alcateia Real... aquela que deveria me mostrar a minha verdade...
A memória começou a tomar forma — meu sangue caindo na água, as
visões intensas...
Eu vi um homem pairando sobre meu berço, vestindo uma armadura
de platina.
Eu sabia sem dúvida agora...
Esse homem era meu pai.
Ele estava se despedindo.
Mas ele sabia que estava se despedindo para sempre?
Comecei a ficar tonta, mas recuperei o equilíbrio quando os braços de
Sebastian me firmaram.
— Por que ele foi embora? O que era mais importante do que sua
companheira e filha?
— Tudo que eu sei é que se ele te deixou... ele foi um idiota, —
Sebastian disse, me segurando com força.
Senti meus olhos ficarem embaçados de novo, mas dessa vez me
contive. Eu não choraria por um homem que não merecia minhas
lágrimas.
Mas a questão de sua partida ainda permanecia em minha mente...
Eu realmente não era suficiente para ele ficar aqui?
Era apenas o início da tarde e já me sentia emocionalmente esgotada.
Iríamos assistir a Marcha dos Guardiões da Lua mais tarde naquele
dia, um evento que deu início ao Carnaval des Loups, mas meus pais
estavam optando por pular as festividades.
Depois do que mamãe me disse, eu poderia entender por que ela iria
querer ficar longe de qualquer coisa relacionada aos Guardiões da Lua.
Muitas memórias dolorosas...
Abracei Skye e minha mãe em um adeus, mas quando cheguei em
Colin, ele me puxou para perto.
— Não importa o que aconteça, eu sempre serei seu pai, e você
sempre será minha garotinha, — ele sussurrou, sua voz trêmula.
Fiquei tocada por suas palavras e me senti exatamente da mesma
maneira.
Eu dei a ele um sorriso e um beijo na bochecha, um momento de
compreensão silenciosa passando entre nós.
Pai biológico ou não, Colin é meu pai verdadeiro, e ainda somos uma
família.
— Vejo vocês todos em breve, — eu disse, acenando enquanto eles
desciam a garagem em direção ao carro.
— E mamãe... mantenha papai longe dos furacões! Confie em mim.
— Apresse-se, nós vamos perder a marcha, — Sebastian gritou,
abrindo caminho na multidão com seus cotovelos.
Trombetas soaram, sinalizando o início da marcha.
Caspian e Sebastian conseguiram abrir caminho para nós e chegamos
à beira da rua.
Vi Teresa e Reed do outro lado da estrada e acenei, mas rapidamente
os perdi de vista quando uma luz brilhante piscando na frente dos meus
olhos quase me cegou.
Eu apertei os olhos para ver o sol brilhando em um mar de armadura
de platina.
Dezenas de Guardiões da Lua marcharam em uníssono perfeito,
parecendo mais com estátuas do que com homens.
Eu não pude deixar de me perguntar como meu pai — Michael —
tinha sido como um Guardião da Lua.
Ele parecia tão impressionante quanto esses homens? Era difícil para
mim não ter um pouco de admiração por ele, embora eu não quisesse.
Eles são tão legais!
Havia vários no centro da brigada, carregando uma grande caixa
dourada de algum tipo.
— O que é isso? — Perguntei a Sebastian, apontando para a caixa.
— É o dízimo para a Igreja, — respondeu ele. — Todos os anos eles
fazem uma coleta do povo, e vai para a Cidade Santa como uma oferenda
à Deusa da Lua.
Eu queria saber mais, mas antes que pudesse fazer outra pergunta,
uma voz estrondosa soou acima da multidão, causando comoção.
— Este dízimo é uma farsa!
Os Guardiões da Lua pararam sua marcha.
Eu me virei, procurando a fonte da voz, e engasguei quando a
encontrei.
De pé em um telhado do outro lado da rua estava um homem todo
vestido de preto, com uma máscara e um chapéu de aba larga.
É o homem que salvou a mim e a Teresa ontem à noite!
Estrela da Noite!
— Esse dinheiro pertence aos rejeitados — aqueles que são forçados a
viver nas sombras, os mestiços, os oprimidos! — Estrela da Noite gritou.
— A Igreja está corrompida. Eles apenas enchem os bolsos, ficando
cada vez mais ricos, enquanto ignoram aqueles que realmente precisam
de seu apoio!
A multidão explodiu em uma mistura dividida de vaias e gritos.
Alguns cantaram o nome de Estrela da Noite, enquanto outros o
amaldiçoaram.
Caspian assobiou, olhando para Estrela da Noite com admiração.
— Esse cara tem muita coragem!
Mas quando me virei para Sebastian, não houve veneração. Ele parecia
irritado.
— Ele está apenas dizendo mentiras! — Sebastian ferveu. —
Anarquista fodido!
Sebastian começou a se mover em direção ao Estrela da Noite.
— Alguém precisa acabar com essa heresia.
— Sebastian, espere...
De repente, gritos emanaram da multidão.
Dezenas de homens mascarados pularam de esconderijos
cuidadosamente escondidos, convergindo para os Guardiões da Lua.
Estrela da Noite não estava sozinho...
Ele tem uma alcateia inteira com ele!
Os homens da Alcateia Estrela da Noite jogaram bombas de fumaça
na multidão, explodindo em uma loucura multicolorida.
Eu tossi enquanto tentava olhar para onde Sebastian estava.
Caspian agarrou minha mão e eu segurei firme, não querendo perdê-
lo no caos também.
Mas então, através da fumaça, eu o avistei...
Sebastian estava preso no meio do caos.
Eu o observei levar um golpe forte na nuca com a arma de um
Guardião da Lua.
Seu corpo caiu na multidão e desapareceu de vista.
Ele estava prestes a ser pisoteado pela horda frenética quando os
Guardiões da Lua sacaram suas armas e atacaram os homens
mascarados.
— Sebastian!
Minha mão escorregou da mão de Caspian e corri em direção à briga.
— LYLA! — Fui imediatamente arrastada pelo mar tempestuoso de
pessoas, que me jogou para frente e para trás até que perdi todo o senso
de direção.
Mas eu não conseguia parar de seguir em frente. Não quando meu
companheiro estava em perigo.
Eu tinha que ajudá-lo antes que fosse tarde demais.
Por favor, Sebastian...
Apenas espere!
8
ZOMBI MAMBO
Sebastian

Minha cabeça latejava e tudo que eu podia ver era uma onda borrada
de pés em disparada.
Eu estava no chão, sendo pisado, batido e espancado enquanto a
multidão corria de forma imprudente.
Meus ouvidos zumbiam como uma sirene.
Algo havia me atingido na lateral da cabeça e eu mal conseguia pensar
direito.
Tentei rastejar, mas me mover era quase impossível.
— Sebastian!
Eu ouvi meu nome, mas parecia distante, abafado.
— SEBASTIAN!
Minha visão clareou e vi o rosto de Lyla bem na minha frente.
— Temos que sair daqui! — ela gritou, estendendo a mão.
Lyla ajudou-me a ficar de pé e, eu coloquei meu braço em volta dela
para me equilibrar.
Ela empurrou a multidão, lutando para segurar meu peso.
Controle-se, Sebastian!
Minha mente começou a sair de sua névoa e eu consegui ficar de pé
por conta própria.
— Onde ele está? — Eu perguntei, olhando em volta freneticamente.
— Onde está o Estrela da Noite?
— Esqueça ele, — disse Lyla. — Esses Guardiões da Lua não estão
brincando. Precisamos ir antes que alguém se machuque.
Eu queria ir atrás do vigilante que tentou manchar a reputação da
Igreja, mas Lyla estava certa...
Antes de ela me encontrar, eu estava me tornando um tapete de pele
de lobo para as botas dos Guardiões da Lua.
De repente, a fumaça se dissipou e o caos parou quando algo se
tornou muito evidente.
— O dízimo acabou! — gritou um dos Guardiões da Lua.
A luta tinha sido apenas uma distração...
O homem mascarado estava no topo de seu poleiro no telhado,
sorrindo.
Ele tirou o chapéu e acenou para os Guardiões da Lua.
— A Alcateia Estrela da Noite agradece a Igreja por sua generosa
doação. Vamos nos certificar de que isso volte para o povo de Nova
Orleans — aonde pertence.
Aquele filho da mãe arrogante...
Um grande estrondo emanou por toda a rua enquanto mais bombas
de fumaça explodiam.
Estrela da Noite desapareceu na fumaça, e com ele o dízimo da Igreja.
Lyla

— Ladrões assim precisam ser presos, — Sebastian rosnou.


Os métodos do Estrela da Noite eram definitivamente um pouco
desagradáveis, mas ele salvou minha vida. Ele não podia ser totalmente
mau.
Mas agora não era a hora nem o lugar para dissecar seus motivos.
— Lyla! — Caspian veio correndo em minha direção, Teresa e Reed
logo atrás dele.
Abracei Caspian quando ele me alcançou.
— Graças à Deusa você está seguro!
— E você, Sebastian? — Teresa perguntou, inspecionando-o. — Você
parece um pouco machucado.
— Apenas alguns cortes e hematomas, — respondeu ele. — Era meu
dever como alfa confrontar aquele criminoso.
Caspian zombou alto, e Sebastian olhou para ele.
Deusa, não vamos começar outra briga.
Notei que os Guardiões da Lua começaram a cercar alguns dos
espectadores, questionando-os.
— Vamos, — eu disse. — Vamos sair daqui antes que sejamos todos
detidos para um interrogatório. — De volta à vila, nos reunimos na
cozinha, onde eu estava tentando limpar e curar as feridas de Sebastian.
— Elas vão se curar, — Sebastian rosnou, estremecendo quando eu
derramei álcool em um corte especialmente desagradável.
— Não se você pegar uma infecção, — eu rebati.
Olhei por cima do ombro para ver Teresa e Caspian conversando
animadamente, e pela primeira vez... eles realmente pareciam estar se
dando bem.
— Você tem que dar crédito ao homem.. ele tem muito estilo, — disse
Caspian.
— Sim, sem mencionar a maneira que sua alcateia era tão coordenada,
— Teresa acrescentou. — Ele entrava e saía daquela praça como um
relógio. — Reed acenou com a cabeça. — Ele fez aqueles Guardiões da
Lua perseguirem seus próprios rabos quando ele jogou as bombas de
fumaça.
Eu podia sentir Sebastian ficar tenso enquanto os ouvia.
— É meio revigorante ver alguém defendendo o rapaz — disse
Caspian.
Sebastian saltou da cadeira, marchando até eles enquanto eles se
apoiavam na bancada da cozinha.
— Vocês três são loucos?! Aquele lunático do Estrela da Noite é
perigoso. E sua alcateia é como um culto.
Caspian se endireitou e ficou frente a frente com Sebastian.
— Você diria isso considerando que a Igreja despeja dinheiro na
Alcateia Real. Talvez você seja aquele que sofreu uma lavagem cerebral.
— Isso é ridículo, — Sebastian cuspiu. — Eu simplesmente não apoio
comportamento criminoso. Pessoas poderiam ter se machucado.
— Sim, porque os Guardiões da Lua estavam balançando suas espadas
cegamente, — Caspian cuspiu de volta.
— O que eles deveriam fazer? — Sebastian gritou.
— Eu não sei, talvez tentar preservar a ordem antes de piorar tudo. —
Caspian rosnou.
Sebastian se virou e olhou para mim.
— Você está ouvindo isso, Lyla?
Caspian fez o mesmo.
— Sim, Lyla... qual é a sua opinião sobre isso?
Oh querida Deusa.
Por que estou sempre no meio das disputas dos meus amigos?
Eu entendia o lado de cada um, mas eu tinha minhas próprias
opiniões.
— Eu acho que as intenções do Estrela da Noite são boas, — eu disse.
— Na verdade, ele ajudou a mim e a Teresa na outra noite, quando
tivemos alguns problemas.
Eu mantive os detalhes daquela noite escassos porque não queria lidar
com a reação de Sebastian.
— Pequeno problema? Que diabos isso significa? — Sebastian
perguntou.
Teresa saltou para me ajudar.
— Apenas alguns caras nos assediando. O Estrela da Noite acabou
com eles.
— Eles provavelmente eram membros de sua própria alcateia, —
Sebastian disse. — Seu ato cavalheiresco de benfeitor não me engana
nem por um segundo.
— Eu discordo, — eu disse, começando a ficar irritada.
Eu sabia que Sebastian era obstinado, mas ele sempre foi tão teimoso?
Às vezes eu não tinha tanta certeza de que nossas visões realmente se
alinhavam.
— Você está acostumado com as coisas sendo de certo modo como
um membro da realeza. — eu disse. — Mas isso não significa que você
está sempre certo.
— E você é ingênua em pensar que Estrela da Noite tem motivos
altruístas. — Sebastian rosnou. — Você vai simplesmente confiar
cegamente em cada estranho que encontrar e esperar que eles queiram o
melhor para você?
Seu tom condescendente estava me irritando. Idiota não era uma boa
aparência para ele.
— Você nem estava lá, Sebastian!
— Talvez eu devia ter estado, — ele disse. — Talvez eu não devesse
deixar você sair por conta própria mais.
Caspian deu um passo à frente.
— Quem diabos é você para dizer a ela o que fazer?
Ele não precisava se envolver. Eu poderia lutar minhas próprias
batalhas.
— Desculpe? — Eu disse, me levantando e encarando Sebastian. — Eu
posso ser sua companheira, mas não sou sua propriedade. Então, se você
acha que vai...
— Ooooookay! — Teresa gritou, ficando entre nós e agitando os
braços. — Todo mundo relaxa, porra. Vamos dar uma trégua.
Sebastian e eu continuamos nos encarando, nossos olhos brilhando.
— As coisas estão muito tensas nessa porra, — disse Teresa,
balançando a cabeça. — Sério, vocês precisam desabafar... transar ou algo
assim.
Todos nós voltamos nossos olhares para Teresa.
— Ah, certo... esqueci a sua situação por um momento. Ok, apague
isso — vamos sair e ficar bêbados — todos nós!
Talvez ela estivesse certa...
Não havia necessidade de todos nós brigarmos agora. As tensões
estavam altas e precisávamos de uma pausa.
Eu olhei de volta para Sebastian.
— Estou disposta a deixar isso de lado, se você estiver.
— Concordo, — disse ele.
— YAY! — Teresa passou os braços em volta de nós dois. — Então
vamos começar a festa!
Descobrimos que o álcool era exatamente o melhor remédio.
— Sobre o que estávamos brigando antes? — Caspian perguntou,
agarrando-se a Reed enquanto eles cambaleavam bêbados pela rua.
— Nós não estávamos brigando por nada, — disse Reed.
— Não, eu me lembro especificamente de estar com raiva de você. —
Caspian disse, tropeçando.
Eu me virei para Sebastian. Ele estava estranhamente quieto.
— Você está bem? — Eu perguntei enquanto nos afastamos um pouco
do grupo.
— Sim, eu me sinto um idiota — disse ele.
— Bem, você estava agindo como um, — eu respondi, embora eu
também o cutuque de brincadeira.
Sebastian me deu um sorriso torto que era realmente muito
charmoso.
— Desculpe, às vezes eu me empolgo e preciso aprender quando
parar. Depois de Silas, tenho alguns problemas grandes de confiança.
Eu entendi o que ele estava dizendo. Seu melhor amigo o traiu. Mas
ele não poderia passar a vida esperando esse tipo de traição de todos.
— Apenas tente ter a mente um pouco mais aberta, — eu disse.
Sebastian estava prestes a responder quando Teresa começou a sibilar
para nós.
— SAIAM. DA. RUA.
Ela estava apontando loucamente para a frente e depois para um beco
próximo.
O que diabos ela está…?
Então eu vi o que ela estava apontando.
— Oh merda, — Sebastian disse, segurando meu braço.
Tiberius, Alfa Hugo e Beta Alexander estavam à frente, saindo de uma
igreja da Deusa da Lua após a missa da meia-noite.
E estamos completamente chapados.
Sebastian e eu entramos no beco com Teresa, Caspian e Reed.
— Eles vão passar por nós a qualquer minuto, — Caspian entrou em
pânico. — Teresa, nossos pais vão nos matar!
— Você não acha que eu sei disso?! — ela sussurrou-gritou.
— Ali! — Eu disse, apontando para uma escada encardida. Era fraco,
mas eu podia ouvir música vindo de baixo de nós.
Nós rapidamente descemos as escadas e passamos pela porta ao fundo
para nos depararmos com...
Na verdade, não sei ao certo O QUE é esse lugar...
Música jazz chique fluía em meus ouvidos; era quase hipnotizante.
Nós vagamos por algumas cortinas vermelhas, o que nos levou a um
grande clube aberto onde as pessoas estavam consumindo uma grande
quantidade de substâncias.
A iluminação era fraca e nebulosa, e os clientes nem se preocuparam
em olhar para nós, muito focados em suas bebidas coloridas e
espumosas.
Isso é algum tipo de bar clandestino?
Caspian encolheu os ombros e se dirigiu para o bar lotado.
— A primeira rodada é por minha conta.
Comecei a segui-lo, mas quase saltei da minha pele quando uma
nuvem de fumaça roxa e verde explodiu na minha frente.
Imediatamente minha mente foi para Silas — quando ele desapareceu
em uma névoa semelhante, ameaçando que o veríamos novamente.
Meu coração disparou por um momento antes de perceber que Silas
não estava ali. A fumaça vinha de uma bebida que o barman acabara de
preparar.
— Você parece um pouco nervosa, garota, — disse o barman,
inclinando-se sobre o balcão e me medindo. — Você está perdida?
Ele era alto e bonito, com uma voz que exalava carisma. Era quase
como se ele tivesse uma aura mágica vazando de seu tom sensual.
— O que... que lugar é esse? — Eu perguntei.
— Você não sabe, querida? — ele disse, dando-me um largo sorriso. —
Este é o Zombi Mambo.
— Zombi Mambo?
— Isso mesmo, — disse ele, deslizando uma bebida pelo bar para mim.
Quando olhei para baixo, pude ver a verdadeira Via Láctea girando
dentro do coquetel cósmico.
Puta merda!
— Como você fez isso?
Ele sorriu novamente, e desta vez havia um brilho malicioso em seus
olhos.
— Tudo pode acontecer aqui — é um lugar onde todos os seus sonhos
podem se tornar realidade — um clube de vodu.
9
VERDADE OU SUSTO
Lyla

Abri caminho pela pista de dança enquanto tentava encontrar Teresa.


Nós não deveríamos estar aqui.
Todo lobisomem sabia que bruxas e magia não eram algo para se
mexer. Não fazia muito tempo que nosso povo havia aprendido a
coexistir.
A magia era perigosa. Isso ficou dolorosamente óbvio quando Silas
nos atacou na Cúpula.
Aparentemente, as pessoas dentro desta boate não receberam o
memorando.
Eu olhei para cima, para as estranhas orbes de luz que se
transformavam, que flutuavam no ar acima de mim no lugar dos
holofotes.
Eu vi as máscaras de vodu de madeira entalhada penduradas ao longo
do teto, suas bocas abrindo e fechando enquanto eles cuspiam música.
Essas pessoas estavam usando magia... recreativamente.
Era quase como usar pólvora em vez de açúcar para polvilhar seus
cupcakes!
Uma mulher de biquíni feito inteiramente de ossos barulhentos
esbarrou em mim. Ela usava o crânio de algum tipo de animal como
chapéu. Ela agarrou minhas mãos e me girou, seus quadris se movendo
contra os meus.
— Ei, fofinha, — ela disse. — Quer dançar?
— N-não, obrigada, — eu gaguejei, me contorcendo.
Os encaixes de seu chapéu de caveira de animal brilhavam em um
verde brilhante.
— Oh, vamos lá, — disse uma terceira voz. — Vai ser divertido.
Meu queixo caiu no chão.
O crânio está falando?!
— Oh, Youri gosta de você... — A mulher sorriu enquanto balançava
de um lado para outro, seu biquíni de osso batendo como sinos de vento
na brisa.
Havia algo hipnótico na maneira como ela se movia, especialmente
com as luzes pulsantes da boate.
A mulher sorriu ao se aproximar cada vez mais.
— Está se sentindo aventureira, querida?
Eu não conseguia desviar o olhar. Fui pega em seu olhar, seus
surpreendentes olhos roxos brilhantes me puxando para frente...
— Lyla!
A voz de Teresa me tirou do transe.
Ela me encontrou no meio da multidão. Ela estava carregando o que
eu presumi serem bebidas em suas mãos, mas qualquer mistura que ela
estava segurando parecia muito... fora deste mundo.
— Uma amiga sua? — Perguntou Teresa.
— Ainda não, — disse a mulher de biquíni. — Mas estávamos prestes a
nos conhecer muito bem...
Teresa me lançou um olhar escandalizado.
— Lyla!
— Não estávamos! — Eu joguei um olhar para a mulher sorrindo. —
Prazer em conhecê-la.
Arrastei Teresa para longe, desaparecendo na multidão de corpos em
movimento na pista de dança.
— Por aqui! — Teresa gritou por cima da música. — Reed está aqui.
Nós o encontramos dançando sob algum tipo de chuva de névoa, a
névoa caindo em pesadas plumas até o chão. Eu andei por baixo dela e
imediatamente minha pele começou a zumbir.
Sabendo onde estávamos, provavelmente não era apenas água. Eu não
ficaria surpresa em descobrir que era algum estimulante mágico louco.
Teresa saltou até ele, entregando-lhe uma bebida. Reed envolveu os
braços em volta dos quadris de Teresa e eles começaram a dançar,
deixando-me ali parada na névoa.
— Teresa! Este é um clube de bruxas!
— Eu sei! — Teresa deu um grande gole da bebida nas mãos, fumaça
azul saindo de suas narinas. — Não é incrível?!
— Não! — Eu me abaixei quando um enxame de algo voou em cima.
Eram morcegos?! Olhei de volta para Teresa enquanto ela os observava
voar, com um sorriso no rosto. — Você sabe que não deveríamos estar
aqui!
— Tudo que eu sei é que as bruxas sabem como festejaaaar!
Teresa e Reed começaram a pular enquanto a música começava a
caminhar para uma grande batida.
Eu gemi. Quando Teresa entrava no modo de festa, não havia como
pará-la.
Senti uma mão pousar no meu quadril e me virei para encontrar
Sebastian olhando ao redor, com os olhos arregalados.
— Não é bem como eu imaginei minha noite.
— Nós realmente deveríamos sair daqui, — eu disse a ele.
Eu olhei em volta, meu coração batendo forte. A primeira bruxa que
conheci em Nova Orleans fez uma leitura de tarô perturbadora sobre
meu futuro. A segunda tentou me seduzir.
Eu nem quero saber o que a terceira vai fazer Ele acenou com a cabeça
para nossos amigos.
— Se você quiser tentar arrastá-los para fora, fique à vontade.
Eu dei uma olhada nos membros frenéticos que saltavam e se
debatiam.
— Err... não, obrigada. — Eu olhei para trás dele. — Onde está
Caspian?
Sebastian encolheu os ombros como se não pudesse se importar
menos.
— Eu pensei que ele estava com você.
Ótimo.
Encontrar uma boate tinha sido uma ideia horrível.
Caspian

Encontrar uma boate tinha sido uma ideia incrível!


Eu sorri enquanto observava um cara virar de cabeça para baixo em
um barrilete — completamente sem ajuda. Ele flutuou no ar, sustentado
por qualquer magia vodu maluca que eles estavam usando.
Isso é exatamente o que todos nós precisávamos.
Estávamos tão presos a algumas leis antigas e tradições enfadonhas.
Quem era o idiota que inventou essa regra?
Ei Bob, minha companheira tem outro companheiro; o que devo fazer?
Que tal vocês apenas viverem juntos até enlouquecerem?
BRILHANTE Bob, obrigado!
Idiotas do caralho.
Todos nós precisávamos nos iluminar.
Se soltar um pouco.
Liberar um pouco de vapor.
Que melhor maneira de fazer isso do que festejar com os habitantes
locais?
E cara, os moradores locais sabiam como festejar.
Fui até o barman, ansioso para provar o que eles tinham a oferecer.
— Que tipo de bebida vocês bebem? — Eu perguntei.
O barman semicerrou os olhos para mim, seus lábios se contraindo de
diversão.
— Você não é daqui, é?
— Isso é óbvio, hein?
— Você precisa começar a usar o jargão daqui, garoto, se quiser se
encaixar. Caso contrário, algumas das pessoas mais sórdidas vão tirar
vantagem de você.
O barman estalou os dedos e algumas das garrafas de bebida foram até
o balcão.
— Que tipo de linguagem eu deveria usar?
— Bem, para começar, não as chamamos de bebidas aqui. Nós as
chamamos de poções.
— Poções? — Eu estava começando a achar que esse cara estava
blefando. — Por que não chamá-las de coquetéis?
— Porque elas tem magia neles. Diversão garantida. — Ele fez um na
minha frente e eu tive que admitir que a coisa parecia louca o suficiente.
— Eu preciso te dar um braço e uma perna para eles ou algo assim?
— Ha, ha, — disse o barman. — Não. Apenas vinte e três dólares por
um.
Meus olhos saltaram.
Poderia muito bem ter sido um braço e uma perna.
Eu paguei o homem, minha curiosidade levando o melhor de mim. Eu
olhei para a caneca borbulhante, espumosa e embaçada em minha mão.
Goela abaixo.
Foi como entrar em outro mundo. Os efeitos foram imediatos. Eu
olhei em volta com novos olhos; o clube estava repentinamente
aterrorizante e emocionante ao mesmo tempo.
As luzes pulsantes literalmente ganharam vida. Elas tomaram a forma
de pessoas, dançando e movimentando-se entre a multidão.
As sombras mudavam e riram; as decorações zumbiam e cantavam.
Eu tomei outro gole da poção e de repente eu sabia qual era o gosto da
cor roxa. Um brilho de euforia me atingiu e senti meus lábios se
espalharem em um grande sorriso bobo.
Lyla e Sebastian TÊM que tentar isso.
— Mais dois desses, por favor, — eu disse.
O barman riu, uma breve faísca de chama verde saindo de sua boca.
— É para já.
Sebastian

— Então, estou pensando em deixá-los aqui, — sugeri.


Lyla me olhou incrédula.
— É sério?
— Claro, quero dizer, olhe para eles.
Teresa e Reed estavam se divertindo muito. Eles estavam enrolando e
esfregando um contra o outro com tanta força que fiquei surpresa que
suas calças não tivessem se desgastado.
— Você sabe que não podemos, — disse Lyla. — Se o fizermos, eles vão
acabar sendo a manchete do noticiário da manhã, amanhã.
Eu fiz uma careta. Estávamos aqui para descobrir nossos laços de
acasalamento, não para sermos babás.
Só então Caspian apareceu segurando duas bebidas espumosas.
Ótimo. Outra criança para tomar conta.
— Vocês dois têm postes de madeira enfiados na bunda ou algo assim?
— Caspian chamou enquanto se aproximava de nós. Ele entregou as
bebidas para mim e para Lyla. — Relaxem um pouco.
Lyla cheirou o copo borbulhante em sua mão.
— O que há nele? — ela perguntou.
— Magia — Caspian disse, com os olhos arregalados. Ele abriu as
mãos para um efeito dramático.
— Ceeerto... — Lyla mexeu um pouco. Apesar de tudo, pude ver a
curiosidade brilhando em seus olhos. — O que você acha, Sebastian?
Eu olhei para a gosma no copo.
— Não, obrigado. — Tentei devolvê-lo a Caspian, mas ele o empurrou
de volta para mim.
— Vamos, Alteza, você não sabe como se divertir? — Caspian piscou
para Lyla, e ela tentou disfarçar um sorriso. — Cara, eu me sinto mal pela
sua futura companheira. Ela vai ficar entediada demais.
Eu me virei para Lyla. Ela estava olhando para mim com expectativa.
Então é assim que vai ser.
Eu levantei o copo.
— Viva a pressão dos colegas, — eu disse.
Lyla riu enquanto batia seu copo contra o meu, mas antes que
pudéssemos beber, Teresa e Reed interromperam.
— Espere, espere, espere, — disse Teresa, arrastando um pouco as
palavras. — Tome um gole deste em vez disso. — Ela arrancou a caneca
de mim e a substituiu por outra.
Eu dei de ombros e tomei um gole.
A bebida desceu suave e enviou uma onda de calor através de mim, se
espalhando por todo o caminho até os dedos dos pés e pontas dos dedos.
Entreguei a Lyla e ela tomou um gole também.
— Como é? — Reed perguntou.
— É bom, — eu disse. Lyla concordou com a cabeça.
— Qual a cor de roupa íntima vocês dois estão usando agora? —
Perguntou Teresa.
— Branco, — disse Lyla.
— Preto, — respondi automaticamente.
Espere, o quê?
Teresa deu uma risadinha.
— Vocês dois já fizeram sacanagem um com o outro?
— Sim, — respondemos em uníssono.
Eu não pude deixar de notar a cara feia de Caspian.
E embora fosse uma visão que eu gostasse, eu não era de me gabar.
— Teresa! — Lyla gritou, com o rosto vermelho. — O que há nessa
bebida?!
— O que diabos está acontecendo? — Eu exigi. — É uma poção vérité,
— disse Teresa. — Um ‘verdade ou desafio’ vodu testado e comprovado...
mas na verdade é apenas a verdade. Lyla! Você poderia lamber o
chocolate do abdômen de Sebastian?
Lyla tentou se conter, seu rosto estava vermelho como um tomate...
mas eventualmente a verdade explodiu.
— Sim! — ela disse. Ela cobriu o rosto com as mãos. — Oh minha
deusa, eu te odeio tanto agora. — Eu tive que segurar minha risada.
— Não comece você também! — Ela olhou para mim.
— Sebastian! — Caspian interveio. — Você já cagou nas calças antes?
Eu tentei ao máximo não responder, mas a magia da poção não seria
negada.
— Sim.
Caspian e Reed começaram a rir.
— Eu era uma criança! — Eu disse defensivamente. — Tiberius estava
chateado comigo, e eu estava me escondendo dele... mas eu realmente
precisava ir ao banheiro. Em vez de sair e ser pego, bem...
Isso só os fez rir ainda mais. O álcool definitivamente não estava
ajudando.
— Acontece com o melhor de nós, — disse Reed. — Merda Sebastian.
— Eles uivaram ainda mais alto.
— Ei, Lyla, — perguntei. — Reed é engraçado?
— Não, — ela disse, o rosto sério.
— Oh, vamos, — Reed reclamou.
— Desculpe, querido. — Teresa colocou a mão em seu ombro. — A
verdade vodu falou.
Desta vez, todos nós caímos na gargalhada. Olhei para o nosso
pequeno círculo e foi bom ver todos se divertindo.
Até Caspian.
Talvez este lugar não seja tão ruim assim.
— Ok, ok, chega de coisas leves. — Teresa esfregou as mãos em uma
alegria bêbada. — Lyla! Com quem você prefere estar? Sebastian ou
Caspian?
Meu estômago embrulhou nervosamente quando todos nós olhamos
para Lyla.
Ela parecia completamente pega de surpresa, os olhos arregalados de
choque. Ela apertou os lábios em uma linha fina, mas era apenas uma
questão de tempo até que a poção fizesse sua mágica.
É assim que isso irá acontecer? Uma poção de vodu em uma boate?
Lyla respirou fundo, prestes a contar a verdade.
Retiro tudo o que disse.
Vir aqui foi uma ideia terrível.
10
UMA MISTURA PERIGOSA Lyla
NÃO é assim que deveria acontecer.
Tentei lutar contra a magia da poção, mas pude sentir uma resposta
borbulhando dentro de mim, forçando seu caminho para o mundo.
A pior parte é que eu nem sabia o que dizer.
Isso era o fim da Cúpula de novo, quando o conselho me convocou e
eu estava sendo forçada a tomar uma decisão ali mesmo.
Mas desta vez Sebastian não seria capaz de me ganhar mais tempo.
Todo mundo me encarou, e eu poderia jurar que as luzes da boate até
mudaram para me iluminar.
Eu respirei fundo. A verdade não podia mais ser contida. Fechei meus
olhos, meu coração batendo forte no meu peito...
— Eu realmente não sei...
Meus olhos abriram quando o alívio me inundou. Eu pensei que a
poção só me faria vomitar um nome, mas acho que honestamente não
sabia.
De uma forma estranha, me fez sentir um pouco melhor.
Pelo menos o vodu sabe o quão difícil é essa decisão.
Eu vi Sebastian e Caspian respirarem, a tensão no grupo de repente se
liberando.
— Boooo! — Teresa disse, completamente alheia. — Desculpa
insatisfatória!
— Verdade vodu, — eu disse.
— É realmente assim tão difícil de decidir? — Perguntou Teresa. Ela
olhou Caspian de cima a baixo, sem se impressionar. — Quero dizer, a
resposta não deveria ser óbvia?
Caspian mostrou-lhe o dedo do meio e ela bufou.
— É muita pressão, ok? — Fui estimulada pela magia correndo por
mim. — Tudo é tão opressor. Minha decisão não me afeta apenas. Estou
decidindo o futuro de alcateias inteiras!
— Lyla, está tudo bem. — Caspian disse, tentando me acalmar. — Foi
apenas um jogo bobo. Agora vamos...
— Mas é verdade! — Eu insisto. Agora que as palavras foram ditas, elas
não paravam de vir. — Estou com tanto medo de perder um de vocês.
A leitura das cartas de tarô da bruxa passou pela minha mente.
— Estou com medo de que qualquer um de vocês possa me deixar,
assim como meu pai fez...
Eu coloquei minhas mãos sobre minha boca.
Cala a boca, cala a boca, cala a boca!
Todos me olharam com curiosidade. Eu encontrei o olhar de
Sebastian, e ele acenou com a cabeça, seus olhos cheios de apoio.
— O que você quer dizer? — Caspian perguntou. Ele pegou minha
mão e apertou. Ele provavelmente podia ver o quão angustiada eu estava.
— Colin sempre esteve lá.
— Não Colin... — Não havia mais sentido em lutar contra a poção. —
Meu pai biológico.
Caspian

Todos nós nos mudamos para um lounge mais silencioso na boate


para que pudéssemos falar sem gritar por causa da música.
Sentamos em sofás baixos de couro preto, algo parecido com um
narguilé na nossa frente.
As outras pessoas na sala estavam soprando anéis de fumaça coloridos
que mudavam e se transformavam em formas selvagens e móveis. Um
velho com uma barba com dreadlocks explodiu um safári cheio de
fumaça.
Lyla estava quieta, organizando seus pensamentos. Graças à poção da
verdade, a verdade veio à tona.
— Colin é meu padrasto, — Lyla começou. — O nome do meu pai
biológico é Michael.
Ela nos deu um breve resumo de sua conversa com sua mãe. Ela só
descobriu recentemente... e eu podia imaginar o choque e confusão que
isso causaria.
As coisas já estavam complicadas o suficiente para Lyla, tendo que
escolher entre dois companheiros. Agora sua vida havia ficado ainda mais
confusa.
— Um Guardião da Lua, — Reed pensou alto. — Nossa. Que loucura.
— Sua mãe sabe onde ele está? — Perguntou Teresa.
Lyla balançou a cabeça.
— Nós nem sabemos se ele está vivo. Ele abandonou seu posto com a
Igreja. Eles levam isso muito a sério.
— Por que você não contou a ninguém? — Eu perguntei. — Deve ter
sido muito difícil manter isso só para você.
Eu peguei o olhar entre Sebastian e Lyla, e uma onda de ciúme passou
por mim.
Não me diga...
— Sebastian sabe — admitiu Lyla. — Eu disse a ele logo depois que
descobri.
— E você não me contou? — Eu perguntei. Parecia que alguém havia
me esfaqueado no estômago com uma faca e torcido o cabo. — Você não
confia em mim?
— Não é desse jeito! — Disse Lyla. — Ele apenas estava lá para mim
naquele momento.
Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo.
Aquele um momento era mais importante do que nosso
relacionamento?
Ela só o conhece há algumas semanas, pelo amor de Deus!
— Oh, e eu não estou aqui para você? — Minha cabeça começou a
girar. A fumaça na sala tornava difícil respirar. — Eu estive ao seu lado
desde que éramos crianças Lyla!
— Isso não foi o que eu quis dizer! — Lyla se inclinou para frente e
agarrou minha mão. — Eu não tive a intenção de esconder isso de você,
Caspian... Eu só tinha muito em que pensar e...
— Sim, claro. — Eu me afastei e me levantei. Eu tinha que dar o fora
daqui. — Eu sou apenas uma reflexão tardia. A segunda opção.
Assim como eu sou seu companheiro de segunda chance.
Um backup para quando Sebastian não estiver disponível.
Eu saí do salão e da boate completamente. Eu precisava de um pouco
de ar fresco. Mas o ar frio da noite não fez nada por mim.
Eu me sentia vacilante em meus pés, como se o mundo estivesse
inclinado, caindo para longe de mim.
Eu ia desmaiar por causa da poção logo, e eu não queria ficar sóbrio e
sozinho com meus pensamentos...
Preciso encontrar algo mais forte.
Sebastian

— Caspian! — Lyla tentou segui-lo, mas eu agarrei a mão dela.


Ela olhou para mim, com preocupação em seus olhos.
— Dê a ele um pouco de espaço, — eu disse. — A pior coisa que você
pode fazer agora é cercá-lo.
Eu me imaginei na posição de Caspian. Se Lyla tivesse confidenciado
algo tão importante para ele e não para mim... bem, eu ficaria muito
chateado com isso também.
Lyla se sentou novamente e colocou a cabeça entre as mãos.
— Deusa, eu sou horrível.
— Você não queria machucá-lo, — eu disse, colocando um braço ao
redor dela.
— Mas eu machuquei ele.
Ficamos sentados em silêncio por um momento, o baixo abafado da
outra sala era uma pulsação constante no ar.
— Bem, não para quebrar o clima nem nada..., — disse Teresa, — mas
Reed e eu vamos voltar lá para dançar. Quer se juntar a nós?
Eu olhei para os dois e balancei minha cabeça.
— Fiquem à vontade, — eu disse.
— Vamos, querido, — disse Teresa, arrastando Reed para ficar de pé.
— Eu ouvi sussurros de uma poção virilidade que precisamos
experimentar...
Eu os observei, antes de voltar para Lyla.
— Vamos tomar um pouco de ar fresco, ok?
Ela acenou com a cabeça, distraidamente. Saímos e vagamos em
silêncio até encontrarmos um pequeno parque pitoresco para sentar.
Lyla parecia um anjo sob as luzes da rua, seu cabelo uma auréola de
fogo ao redor de sua cabeça. Me torturou vê-la sofrendo.
— Eu nunca vou te deixar, você sabe, — eu disse. Peguei sua mão e
brinquei com seus dedos.
— Como você pode ter certeza disso? — ela perguntou.
— Até você me dizer que nunca mais quer me ver de novo, estarei bem
aqui.
Ela balançou a cabeça, com lágrimas nos olhos.
— Eu nunca diria isso.
Eu trouxe a mão dela aos meus lábios e a beijei.
— Então você não tem nada com que se preocupar.
Ela acenou com a cabeça e me deu seu melhor sorriso, mas eu poderia
dizer que seu coração não estava nele. A notícia de que seu pai verdadeiro
estava lá fora realmente a abalou.
E por mais que eu quisesse resolver toda essa provação com nossos
complicados laços de acasalamento, estava claro que Lyla não seria capaz
de se concentrar até que o mistério de seu pai fosse resolvido.
— Vamos procurá-lo, — eu disse.
— Caspian?
— Oh, claro, ele também, eu acho. — Eu sorri quando ela me deu um
tapa no braço. — Mas eu quis dizer seu pai.
— Mas como? — ela perguntou. — Já se passaram décadas desde que
ele desapareceu. Ele poderia estar em qualquer lugar do mundo agora. E
isso presumindo que ele ainda está vivo...
— Aqui em Nova Orleans é um bom lugar para começar. Esta cidade
tem muitas raízes na Cidade Santa. — Olhei em seus olhos, certificando-
me de que ela pudesse ver o quão sério eu estava. — Nós vamos
encontrá-lo.
Ela pressionou sua testa contra a minha e fechou os olhos.
— OK. Obrigada.
Ficamos assim por um tempo, sob a luz da lua minguante. Estávamos
em um cronômetro. Lyla tinha até a próxima lua cheia para tomar uma
decisão, e por mais que eu estivesse ansioso para ela chegar a uma...
Naquele momento, desejei que o tempo parasse.
Caspian

Encostei-me no poste de luz, as festividades do Carnaval des Loups se


transformando em mingau ao meu redor.
Respire fundo, Cas. Um dois. Um, dois...
Eu tinha que me afastar da multidão antes que me perdesse
completamente. Eu tropecei em um beco, a escuridão e o silêncio
relativo exatamente o que eu precisava.
Fechei os olhos e me concentrei em recuperar o equilíbrio.
Que noite fodida.
Eu só queria esquecer. Eu queria parar a dor em meu coração.
Mesmo estando completamente imóvel, podia sentir o mundo mudar
e girar ao meu redor. A brisa noturna soprava para todos os lados, e
parecia que eu estava voando pelas ruas.
O barman não estava brincando quando disse que as poções me
levariam em uma viagem. Parecia que estava viajando pelo mundo dentro
do meu cérebro.
Fiquei assim por um tempo — não tenho certeza quanto tempo — até
que a rotação na minha cabeça diminuiu um pouco. Quando abri meus
olhos, me encontrei em um lugar completamente diferente.
Eu estava em algum tipo de pátio abandonado, uma árvore morta
erguida acima de mim no centro. Uma única lâmpada pendurada nos
galhos secos, balançando suavemente com o vento.
Que porra é essa?
Como vim parar aqui?
A luz da lâmpada criou sombras que se deslocavam
descontroladamente ao meu redor. Minha própria sombra parecia se
alongar, torcer e esticar...
Pisquei e de repente havia uma porta na parede na minha frente.
Era esculpida em madeira roxa e delicadas linhas de ouro foram
gravadas em padrões complexos e espiralados em toda a superfície.
Eu não estou TÃO louco assim...
Tem alguma merda confusa acontecendo aqui.
Tentei dar um passo para trás, mas descobri que, em vez disso, dei um
passo à frente. Eu vi minha sombra se mover antes do resto de mim, e
meu corpo só podia seguir.
Me chame de louco, mas não é assim que isso deveria funcionar...
Dei um passo e outro, me aproximando cada vez mais da porta roxa.
Eu deveria estar me virando, mas uma parte de mim estava curiosa.
Houve uma estranha compulsão que me fez avançar.
Era reconfortante.
Prometia alívio da dor.
Parei diante da porta e um sussurro envolveu minha mente.
Entre, disse. Parecia um amigo querido. Tudo que você precisa fazer é
bater...
Eu levantei meu punho, hesitando no último segundo.
Eu realmente quero descobrir o que há do outro lado?
Mas a dor no meu peito respondeu a essa pergunta para mim. Ela
ameaçou me engolir inteiro... e essa porta parecia minha última tábua de
salvação.
Eu respirei fundo.
Toc, toc, toc.
11
SOMENTE EM CASA Lyla
O banco do parque era como uma ilha. Parecia que Sebastian e eu
estávamos no meio do oceano, longe de tudo o mais.
E eu tenho tudo que preciso bem aqui.
Os olhos azuis de Sebastian estavam calmos no brilho da rua
enquanto ele olhava para minha boca... e meus olhos... e minha boca de
novo...
Minha mente ficou em branco.
Parei de me preocupar com os sentimentos feridos de Caspian. Parei
de sofrer porque meu pai biológico me deixou.
Tudo o que restou foi o corpo de Sebastian diante de mim, suas
palavras ecoando em meus ouvidos.
Eu nunca vou te deixar, você sabe.
Assim que seus dedos roçaram minha bochecha, eu me deixei cair em
direção a ele. Nossos lábios se chocaram e, antes que eu percebesse,
minhas mãos estavam sob sua camisa, sentindo os sulcos de seu
abdômen...
Um pequeno ruído escapou de seus lábios. Eu o beijei
preguiçosamente, bêbada da poção da verdade, até que finalmente ele se
afastou e sorriu para mim.
Seu sorriso característico não era tão sarcástico como de costume.
A guarda do alfa real caiu pela primeira vez em sabe-se lá quanto
tempo, a poção da verdade o deixando relaxado.
Eu sabia que poderia perguntar a ele qualquer coisa. Mas não ousei.
Eu já tinha pedido muito.
— Acho que devemos ir para casa, — sussurrei. Porque, você sabe, a
poção da verdade.
Sebastian se inclinou para mais um beijo.
— Quer encontrar Reed e Teresa comigo? — Eu perguntei.
— Não. — ele respondeu, e eu ri. Seu sorriso cresceu quando percebeu
os efeitos da poção. — Eu prefiro apenas sair com você.
Eu me levantei, oferecendo a ele minha mão, e começamos a
caminhar de volta para o bar.
— Espere, você gosta da Teresa, certo? — Eu perguntei, percebendo
que era minha chance de descobrir com certeza.
— Claro. Só não acho que ela e Reed precisem de ajuda para diminuir
suas inibições, — explicou ele.
— Muito justo, — respondi com uma risada. Mesmo sem uma poção
de virilidade, aqueles dois não conseguiam manter as mãos longe um do
outro.
Será que Sebastian e eu seríamos assim, me perguntei, se eu não
estivesse dividida entre dois companheiros?
Eu empurrei esse pensamento de lado, grata por eu pelo menos não ter
dito isso em voz alta. Eu me senti culpada ao pensar em Caspian de mau
humor em algum lugar.
A lua apareceu sobre os telhados acima de mim, um meio-holofote
assustador.
Estávamos a um quarto do ciclo. Assistir a lua crescer e minguar
geralmente me trazia paz, mas não agora.
Agora, isso me lembrava que meu tempo estava acabando.
Mas eu mal conseguia me concentrar no meu futuro porque estava
tão presa ao meu passado...
Viramos o beco e descemos a escada sombria de volta ao Zombi
Mambo, abrindo as cortinas vermelhas, nos deparando com a festa ainda
mais selvagem do que havíamos deixado.
A névoa tingida de vermelho envolvia os corpos girando na pista de
dança.
Procurei Teresa na multidão, depois me virei e me vi olhando
diretamente para as mandíbulas vazias e barulhentas de Youri enquanto
a bruxa de biquíni de osso gargalhava.
— Puta merda! — Eu suspirei.
— Não há nada sagrado sobre este lugar. — Sebastian murmurou. —
Teresa e Reed estão provavelmente no banheiro. Talvez devêssemos
apenas ir.
Eu balancei a cabeça, mas havia outra pessoa desaparecida em minha
mente...
O barman chamou minha atenção enquanto secava uma caneca de
poção.
— Você tem uma poção para encontrar alguém? — Eu perguntei,
esgueirando-me até o bar.
— Oh, sim, querida. Chama-se telefone celular, — ele retrucou sem
perder o ritmo. — Seu amigo parecia que precisava se acalmar. Nada de
errado com isso.
Eu fiz uma careta. Foi o que Sebastian também disse. Talvez eu deva
apenas deixar Caspian em paz.
— Mas essa não é a única coisa em sua mente, é docinho? — ele
perguntou, colocando o copo de lado e inclinando-se graciosamente no
balcão. — Acho que seu amigo perdido não é tudo o que você está
procurando...
Eu corei bastante, evitando a pergunta curiosa enquanto Sebastian
envolveu seu braço em volta de mim.
Mas a poção da verdade tinha outras ideias.
— Eu preciso de algumas respostas... sobre meu futuro e meu passado.
Quando encontrei os olhos do barman novamente, eles estavam
cheios de compaixão.
— Entendo. Bem, eu não posso te ajudar nisso..., — ele começou. —
Mas há uma pessoa por aqui que sempre tem as respostas, — disse ele. —
Madame Cochon.
— Madame Cochon? — Sebastian repetiu.
— Aí sim. Ela é a bruxa mais sábia a oeste do Atlântico. Pode ver o
coração de uma pessoa como se seu peito fosse feito de vidro.
— Uau, — eu sussurrei. Talvez ela possa me dizer o que meu coração
quer... — Onde ela mora?
— Nas profundezas do pântano. Em sua própria pequena galáxia,
querida. — Ele riu. — Ela tem uma casa na árvore mais antiga de
N'awlins, sentada na parte mais escura do pântano.
— Então ela deve ser fácil de encontrar, — eu adivinhei.
— Não exatamente, docinho. Mas para vocês dois, bem, acho que seus
corações os levarão até lá.
— Obrigada, — eu disse, ganhando um de seus sorrisos brilhantes.
— Tenham uma boa noite, pombinhos, — ele disse com as
sobrancelhas levantadas.
— Boa noite, — Sebastian respondeu quando nos viramos para sair. —
Bem, isso foi estranho.
Adentramos a noite quente.
— O que você quer dizer?
— Toda a conversa sobre coração parece uma besteira sensível.
Sua sinceridade me fez rir, embora eu me sentisse ingênua por ter me
envolvido na mística da bruxa.
— Eu gostaria de conhecê-la. Tenho a sensação de que ela pode me
ajudar com meu pai — admiti.
Nossos olhos se encontraram e algo mudou na expressão de
Sebastian. Ele pegou minha mão e segurou-a com força.
— Eu irei com você, então, — ele decidiu. — Podemos partir amanhã.
— É sério? — Eu perguntei.
Ele acenou com a cabeça e eu fiquei na ponta dos pés para beijar seu
sorriso.
A vila estava às escuras quando voltamos. Mesmo que a casa grande
parecesse muito cheia quando estávamos todos em casa, parecia vazia
sem Caspian.
Sebastian e eu subimos as escadas silenciosamente. As tábuas do
assoalho rangeram enquanto nos movemos em direção aos quartos. Mas
quando Sebastian deveria entrar em seu quarto, ele continuou me
seguindo.
Meu coração estava na minha garganta, e quando me virei para ele, ele
estava bem ali. Os olhos azuis de Sebastian brilharam na escuridão.
A poção trouxe algo vulnerável para seu comportamento
normalmente severo, e o deixou tão bonito que meu coração doeu.
É assim que ele sempre olharia para mim se não tivesse que se
proteger de mim? Se ele soubesse que eu era dele?
— Eu não quero te deixar. — Sua voz estava rouca.
Pensei em todos os motivos pelos quais não deveríamos.
O álcool e as poções correndo em nossas veias, nublando nossa razão.
A proibição do conselho ao prazer carnal...
Quem eu estava enganando? Nada disso importava. Não quando
Sebastian já estava me despindo com os olhos, esperando minha
permissão para quebrar as regras.
Eu estava completamente sem palavras. A poção da verdade me
manteve falando a noite toda, mas agora eu deixaria meu corpo falar.
E a verdade é que eu queria Sebastian. Eu sabia que a necessidade que
vi em seus olhos se refletia nos meus.
Silenciosamente, agarrei sua mão e o puxei para o meu quarto,
batendo a porta atrás de nós.
No momento seguinte, seus braços estavam em volta de mim. Suas
mãos me segurando como se eu pudesse deslizar por seus dedos,
pressionando a carne da minha bunda.
Ele se inclinou para me beijar, mas parou um centímetro da minha
boca, me fazendo esperar.
Minha respiração engatou em antecipação. Ele estava tão certo, tão no
controle, e eu me perguntei o que ele tinha reservado para mim.
Então eu não aguentava mais. Eu o beijei profundamente, com fome,
e ele me beijou de volta.
Sebastian me levantou no ar e eu caí em cima da cama macia.
Seu corpo já estava em cima de mim, e comecei a tirar sua camisa,
desesperada para sentir sua pele nua contra a minha.
Ele desabotoou meu vestido e se acomodou em mim enquanto eu
saboreava o momento de contato delicioso.
Com minhas pernas enroladas em sua cintura, Sebastian esfregou sua
ereção contra mim em círculos rítmicos lentos. Mesmo que nós dois
estivéssemos com roupas de baixo, eu já estava louca para gozar.
— Eu quero tanto você, — eu engasguei.
Enquanto ele beijava meu pescoço, ele percebeu o que eu queria dizer
— que eu queria tudo dele, tudo, agora.
— Você sabe que eu também quero isso — respondeu ele.
Esperei que ele recuasse, que o clima mudasse como sempre acontecia
quando Sebastian era confrontado com a realidade da nossa situação.
Mas em vez disso, ele beijou meu pescoço, meus seios, minha
cintura... até que ele se acomodou entre minhas pernas.
Eu estremeci quando ele me beijou por cima da minha calcinha e, em
seguida, empurrou o tecido de lado.
Sua respiração estava quente na minha boceta exposta e sensível. Meu
corpo inteiro era um fio elétrico, esperando sua energia fluir para dentro
de mim.
Sua língua encontrou meu clitóris, lambendo-o suavemente. Eu gritei,
me esfregando nele, mantendo-o no local exato que me levaria ao êxtase.
— Goze para mim, Lyla — sussurrou ele. Sua voz era suave, mas
segura. Eu sabia o quão capaz ele era, e eu sabia que se eu deixasse, ele
poderia me fazer gritar.
A pressão dentro de mim atingiu seu pico e gozei, ofegante e gritando.
Meus dedos estavam emaranhados no cabelo de Sebastian.
O prazer continuou a tomar conta de mim enquanto eu relaxava na
cama como uma poça, e ele desabou ao meu lado.
— Sua vez — eu sussurrei.
— Shhh, — respondeu ele. — Outra hora. Deixe-me apenas abraçá-la.
Virei-me para que Sebastian pudesse me acariciar, encostando em seu
corpo quente e caí imediatamente em um sono tranquilo e sem sonhos.
Caspian

Toc, toc, toc.


Imediatamente, as gravuras de ouro na porta começaram a se mover e
girar em uma exibição hipnótica.
Com um rangido, a porta se abriu, me atraindo para a escuridão de
dentro.
Antes que eu pudesse decidir, meu corpo estava me levando além do
limite.
E foi como se eu tivesse voltado no tempo. Tapeçarias intrincadas
pendiam das paredes e o ar estava pesado com uma fumaça doce.
Mulheres com cocares de contas e saias com franjas reclinavam-se
umas nas outras no chão, com os olhos trêmulos fechados.
Parece um antro de ópio.
Meu ombro foi cortado por um menino segurando longos cachimbos
de vidro. Seus olhos estavam vidrados e vazios.
Isso é assustador!
— Você queria algo mais forte? — uma voz rouca chamou.
Eu engoli em seco. Como ela sabia o que eu estava pensando?
Minhas pernas me levaram mais longe através da sala, meu coração
disparado. Este lugar estava totalmente errado, mas me senti impotente
para sair.
Uma mulher esguia estava sentada em um travesseiro, cercada por
velas. Cabelo loiro e macio caia sobre seus ombros, e ela segurava um
cachimbo de fumaça em sua mão tatuada.
— N-não, obrigado. — eu consegui dizer enquanto olhava para uma
pilha de mulheres desmaiadas. — Eu não quero algo tão forte.
— Bem, outra coisa então. Ou você vai ficar pela companhia, não é?
Alguns minutos é tudo o que a tia Zara pede.
Quando ela sorriu, vi que seus dentes estavam manchados de amarelo
e começando a apodrecer. Mas eu ainda me sentei em frente a ela, na
esperança de encontrar algo para entorpecer a dor.
— Oh, eu amo esta época do ano, — Zara continuou. — Desde que eu
era uma menina, sempre pensei que os lobisomens eram os mais sexy de
todos os seres mágicos.
Limpei minha garganta, evitando seu olhar intenso. Eu só podia
esperar que os — poucos minutos — passassem rapidamente e que eu
conseguisse sair desse buraco mágico e drogado.
— Que estranho, — continuou ela, — que um homem tão bonito
como você tenha problemas com o amor.
Se antes eu me perguntava se ela estava dando em cima de mim, agora
não tinha dúvidas. Mas quando olhei em sua direção, seus olhos estavam
focados em outro lugar.
Ela estava esmagando algo em um pilão.
— Eu faço uma poção do amor ótima, sabia? — ela disse com um
sorriso.
— Não estou interessado, — respondi. — Eu nunca iria querer...
manipular os sentimentos dela. — Por mais que eu quisesse Lyla, eu só a
queria se ela me quisesse também. Por sua própria escolha.
— Bem, talvez haja algo que você possa mudar... sobre você. — Seus
olhos piscaram com as últimas palavras.
— Como o quê? — Eu perguntei.
— Bem, você não precisa de um amuleto de beleza... — Ela piscou. —
Este outro homem. O que ele tem que você não tem? Dinheiro, poder...?
Ambos.
Eu estava tão envolvido em sua oferta que quase não me importava
mais que essa bruxa soubesse demais sobre mim.
Percebi tudo de uma vez.
— Eu quero ser um alfa. — eu disse a ela.
Ela sorriu de novo, maior agora. Como se ela soubesse disso o tempo
todo.
— Claro que sim, homem-lobo, — ela respondeu, sua voz gotejando
com afeto. — Me dê sua mão.
Hesitei por um momento enquanto olhava para as pontas de seus
dedos finos. Eles estavam cobertos de tatuagens que começaram a se
mover diante dos meus olhos, me hipnotizando.
Mas então eu fiz o que ela disse. Sua pele era lisa e fria, e eu senti uma
calma sedativa tomar conta do meu corpo.
— Ai! — Eu me afastei para ver que ela cortou meu dedo, e ela deixou
a gota de sangue cair de sua unha pontuda na argamassa.
— Alfas não reclamam. — ela murmurou.
Ela tirou um pequeno frasco de vidro do bolso da camisa e
mergulhou-o na mistura que havia criado, enchendo-o com o líquido
preto fino.
— Use-o com sabedoria, cachorrinho, — ela disse enquanto o passava
para mim.
O vidro estava frio como uma pedra. No momento em que o segurei, a
estranha compulsão que me trouxera lá se dissipou.
Eu tinha controle do meu corpo.
Levantei-me e enfiei-o no bolso, já fugindo de lá quando ela me
chamou.
— Agora tchau. E lembre-se, você sempre será um alfa para mim.
12
NO FUNDO DO PÂNTANO
Sebastian

Acordei como queria acordar todos os dias. Com Lyla ao meu lado,
aninhada debaixo do meu braço.
Seu cabelo normalmente ondulado estava desarrumado e amassado
em ângulos estranhos, mas ela parecia linda assim.
Pacífica. Perdida em seu próprio mundo de sonhos.
Afastei uma mecha de cabelo de seu rosto, pensando em como dormi
bem. Dormir com ela ao meu lado parecia que tudo estava certo no
mundo.
Todo dia poderia ser assim.
— Caspian. — Lyla se mexeu, resmungando, e assim, a manhã perfeita
acabou.
Mesmo depois de uma noite como essa, ainda não sou o suficiente?
Lyla se espreguiçou ao meu lado, mas não reagi a ela. Eu sabia que ela
não estava acordada ainda — que ela murmurou o nome de Caspian em
algum lugar entre os sonhos e o despertar.
E isso era ainda pior.
Eu puxei meu braço debaixo dela. Eu precisava sair de sua cama. Fora
de seu quarto. Em meu próprio espaço.
— Bom dia, — ela disse com um bocejo. — Caspian já voltou?
Depois de colocar minha cueca, me virei para encontrá-la sorrindo
preguiçosamente para mim.
— Não tenho ideia, — resmunguei.
Se eu pudesse voltar para a cama com ela.
Se fosse assim tão fácil.
Mas não era, porra. Porque Caspian ainda estava entre nós. Mesmo
quando ele não estava lá.
Eu me afastei.
— Vai embora tão cedo? — Lyla perguntou, dando tapinhas na cama
ao lado dela.
— Vou tomar banho. — respondi. — Vamos encontrar Madame
Cochon hoje.
— Oh, que bom! Eu quase esqueci. — Ela saltou da cama e veio em
minha direção vestindo apenas sua calcinha. Ela tocou meu rosto e eu
encontrei seus olhos sorridentes. — Obrigado por me levar.
E assim, minha raiva evaporou.
— Vamos nos preparar, — eu disse com um beijo rápido em seus
lábios.
Eu esperava sair de lá antes que Caspian voltasse...
Caspian

Eu apareci na vila tentando não me sentir como se tivesse sido


arrastado para o inferno.
A ressaca das poções e do álcool estava acabando comigo, com certeza.
Mas ainda pior era a sensação de vergonha.
Só que eu não estava voltando para casa depois de transar. Eu tinha
passado a noite com uma bruxa que distorceu meu senso de tempo
enquanto ela trabalhava em uma poção esquisita que estava queimando
um buraco no meu bolso.
Vou ter que esconder isso no meu quarto quando chegar em casa...
Oh, certo. E eu não estava voltando para casa.
Eu estava indo para a propriedade do outro namorado da minha
namorada.
Que sorte minha.
A ampla vila surgiu diante de mim como uma espécie de piada de mau
gosto. Era o tipo de lugar que um cara como eu só poderia sonhar em ter.
Um lugar construído para a realeza.
Só então a parte mais irritante da minha psique apareceu.
Sebastian é o alfa real...
Eu resmunguei, chutando as pedrinhas estúpidas da longa e perfeita
estrada que levava até a casa.
Meu queixo se abriu em um enorme bocejo.
Eu mal podia esperar para chegar ao meu quarto, subir na cama e...
Eu abri a porta da frente e entrei.
— Caspian! — Lyla chorou. Ela correu e jogou os braços em volta do
meu pescoço. Eu não pude deixar de sorrir com seu entusiasmo. — Estou
tão feliz em ver você.
— Isso faz um de nós. — Sebastian murmurou.
Eu olhei para cima para ver Sebastian carrancudo. Ele tinha acabado
de colocar uma garrafa de água em uma mochila e pendurá-la no ombro.
— Espere um minuto. Vocês estão indo para algum lugar? — Eu
perguntei, meus olhos estreitando.
— Vamos visitar uma bruxa chamada Madame Cochon. O barman
ontem à noite me disse que poderia me ajudar a encontrar algumas
respostas.
Fiquei tocado pela expressão doce de Lyla e me perguntei que
respostas ela estava procurando.
Seu homem? Ele está bem aqui, baby.
— Talvez eu possa aprender algo sobre meu pai, — Lyla acrescentou,
olhando para seus sapatos.
Oh, certo. Seu pai.
Toquei seu braço, na esperança de acalmar seus nervos.
— Isso parece perigoso. Eu vou com você. — eu disse.
— Eu posso protegê-la. — Sebastian disse do outro lado da sala.
Tentei não revirar os olhos.
— Por favor, venha — Lyla rebateu, com os olhos brilhando.
— Você sabe que eu nunca posso dizer não para você, — respondi.
Mesmo que eu não estivesse feliz em conhecer outra bruxa, eu queria
estar mais com Lyla.
E se ela e Sebastian fossem a algum lugar juntos, de jeito nenhum eu
não iria me juntar a eles.
Lyla

Acontece que alugar um aerobarco não foi tão fácil quanto


esperávamos. Mas os recursos de Sebastian, combinados com seu poder
de persuasão, pareciam ser o suficiente.
Enquanto Sebastian estava fechando um acordo com o proprietário da
pequena empresa de turismo, Caspian e eu nos sentamos em um banco à
sombra.
Eu o observei enquanto ele esfregava os olhos e reorganizava os
óculos de sol.
— Você está uma merda, — eu disse.
— Oh, obrigado. Você está — ele me inspecionou — ótima, como
sempre.
Eu ri.
— Obrigada. Mas, falando sério, eu queria falar com você sobre o que
aconteceu ontem à noite.
Senti um aperto no estômago, como sempre acontecia antes de uma
conversa séria.
— Lamento não ter contado a você o que descobri sobre meu pai.
Michael é o nome dele. — Eu balancei minha cabeça. Seu nome ainda
soava muito estranho para mim.
— Ainda estou aprendendo a lidar com isso, eu acho. É tão... bizarro.
Eu dei a Caspian um pequeno sorriso, esperando não ter ferido muito
seus sentimentos.
— Não se desculpe, Ly. — Seu braço me envolveu e ele me puxou para
perto. Eu afundei nele, me sentindo segura. — Eu deveria ser o único a
pedir desculpas. Não percebi que você estava sofrendo.
Eu o abracei de volta, cheia de alívio.
— E quanto à noite passada... Você sabe que gosto de fazer uma saída
dramática.
Mantendo seu braço em volta de mim, Caspian se inclinou para trás
para olhar nos meus olhos, me dando uma piscadela enquanto seus
lábios se curvavam em um sorriso irônico.
De alguma forma, ele foi capaz de manter um senso de humor sobre
toda a situação: Nós três compartilhando o mesmo teto, o drama
novelesco da história da minha família...
Era uma coisa bem pesada. Mas Caspian sempre me ajudou a ver o
lado bom, e essa era parte da razão pela qual eu o amava.
— Vocês dois aí!
Virei-me para ver um homem magro em um top que dizia — Tommy's
Gator Tours — acenando para a doca onde ele e Sebastian estavam.
Quando nos aproximamos, o homem cruzou os braços e fez uma
careta.
— Agora, só para você saber, tudo isso aqui é meu. — Peguei a doca de
plástico sobre o pântano e os dois aerobarcos amarrados a ela.
— Estou fazendo uma exceção ao alugar meu barco para seu amigo
Sebastian, em vez de levar vocês sozinho. Ele me assegurou que todos
vocês serão cuidadosos. Especialmente em relação aos rougarous.
Caspian e eu trocamos um olhar.
— Rougarous? — Eu perguntei.
— Oh, sim, mocinha. Lobisomens. Eles vivem lá no fundo. Rougarous
são o terror do pântano.
— Isso parece assustador, — respondi, tentando não sorrir.
— Seremos muito cautelosos, senhor — acrescentou Caspian. — Nós
sabemos o suficiente sobre lobisomens para manter nossa distância.
— Agora, não se deixe enganar. Estes não são os lobisomens uivantes,
alfas, betas, que conhecemos. Não senhor! Rougarous são monstros do
pântano sem forma humana. Nem um grama de humanidade em seus
corações ferozes.
Tommy estremeceu com o pensamento.
— Não se preocupe, Tommy, — Sebastian disse. — Nós nunca
mexeríamos com um lobisomem.
Tommy franziu a testa e começou a torcer uma ponta de seu bigode
estilo Hulk Hogan.
— Tudo bem então. Esteja de volta ao pôr-do-sol.
Subimos no barco.
Sebastian ligou o motor, e a enorme hélice rugiu para a vida. Acenei
um adeus para Tommy, então me virei e sentei ao lado de Caspian no
pequeno banco em frente à cadeira do capitão de Sebastian. Observei o
pântano em nossa frente. A água estava verde de algas e as margens eram
densos emaranhados de raízes.
O sol brilhou sobre meus ombros enquanto o barco fazia um ângulo
em direção à linha das árvores.
À medida que nos aproximávamos, vi uma fenda na densa folhagem e
uma longa extensão de água à nossa frente.
Sebastian diminuiu a velocidade do barco e Caspian se virou.
— Tem certeza de que este é o caminho certo? — ele perguntou.
— Não, — Sebastian respondeu. — Mas parece que leva para o fundo
do pântano. Não é?
— Estamos procurando a parte mais escura, — acrescentei, olhando
para o canal sombrio. — E isso parece muito escuro...
As árvores grossas e arbustos ao nosso redor começaram a bloquear o
sol, e quase parecia que eu estava olhando para a noite.
O barco continuou em frente até adentrarmos completamente na
escuridão.
— Eca, — Caspian disse, apontando para os galhos das árvores
próximas. — Olhe para aqueles filhos da puta.
Enormes aranhas, com quase dez centímetros de diâmetro,
penduravam de suas teias invisíveis acima de nossas cabeças. Eu
estremeci.
— Tem medo de alguns insetos, Caspian? — Sebastian perguntou
atrás de nós.
Eu me virei para encontrá-lo sorrindo com sua própria piada,
parecendo completamente confiante como nosso capitão.
Sua expressão certa me deu algum conforto. Não havia mais ninguém
que eu gostaria que me conduzisse ao desconhecido.
Continuamos em frente e a única coisa que consegui ouvir foi o
zumbido da hélice gigante do barco.
Eu me movi um pouco mais perto de Caspian enquanto olhava através
da escuridão, estudando nossos arredores pantanosos em busca de
qualquer pista de Madame Cochon.
Madame Cochon... onde você está?
Alguns solavancos romperam a superfície da água e chamaram minha
atenção, e observei enquanto eles continuavam ao lado de nosso barco.
As saliências estavam cobertas de escamas sujas.
E então fiz contato visual com um olho amarelo reptiliano.
Jacaré.
Eu me virei para apontar para Sebastian, mas o sorriso em seus lábios
me disse que ele já tinha visto. Ele piscou para mim e meu medo
desapareceu.
Ele já me salvou de um jacaré uma vez. Eu sabia que ele poderia fazer
isso de novo.
Depois de um tempo, a hidrovia se bifurcou e Sebastian virou para a
direita.
As sombras ficaram mais densas e comecei a tremer, embora estivesse
com calor quando a viagem começou.
Mas há quanto tempo foi isso? Há quanto tempo estamos aqui?
Eu não tinha certeza. Será que a noite já estava chegando? Isso não
parecia possível.
A única resposta lógica era que havíamos chegado tão fundo no
pântano que o sol não conseguia nos alcançar.
E mesmo que esse fosse o nosso destino exato, ainda me assustou.
— O que é isso? — Caspian perguntou. Ele estava olhando para longe,
onde o pântano à nossa frente estava tão escuro que eu mal conseguia
distinguir nada.
— Não consigo ver, — respondi, e pude ouvir o tom áspero em minha
voz.
— Oh, não é nada, — Sebastian chamou, sempre o capitão destemido.
— Com medo do escuro, Caspian?
Mas quando a névoa começou a rolar ao nosso redor, o medo se
instalou em meu estômago. O caminho diante de nós ficou ainda mais
obscuro...
— Que!? Você não consegue ouvir? — Caspian perguntou.
Sebastian desligou o motor. E então eu pude ouvir.
Galhos quebrando.
Salpicos enormes.
Um rosnado úmido e ecoante.
Algo grande estava vindo em nossa direção.
Caspian passou o braço em volta de mim de forma protetora, e
Sebastian avançou, parando na minha frente.
— Quem está aí? — ele gritou em direção ao pântano.
Mas nenhuma resposta veio. Quando dei por mim, tinha sido lançada
pelo ar.
Direto para o pântano.
Engasguei com a água pútrida enquanto agitava meus braços,
tentando desesperadamente manter minha cabeça acima da superfície.
Eu mal podia ver nada através da escuridão nebulosa, muito menos
rastrear onde meus companheiros haviam pousado.
Tudo que eu podia ouvir era o gorgolejo do aerobarco enquanto ele
afundava.
E então, enquanto examinava a linha das árvores, ouvi um rosnado
nauseante das árvores acima.
Dois olhos vermelhos, grandes como luas, piscaram e abriram-se e
uma silhueta imponente entrou em foco.
Oh, Deusa.
A criatura, em pé sobre duas pernas, abriu a boca e estalou as
mandíbulas, seus dentes brancos brilhando como adagas.
E então as duas luas vermelhas se aproximaram enquanto o monstro
descia para o pântano...
O rougarou.
13
HOSPITALIDADE SULISTA Sebastian
— Mas que MERDA foi isso?!
A voz de Caspian foi a primeira coisa que ouvi quando saí da água
morna do pântano.
Eu precisava encontrar Lyla.
Eu me virei, lutando contra as ervas daninhas enquanto nadava. Então
eu a vi, pisando na água ao lado de Caspian.
— O que quer que fosse, era enorme, — respondeu Lyla.
O aerobarco fez um último ruído gorgolejante ao afundar no pântano.
Desculpe, Tommy. Eu te devo uma.
E então eu ouvi de novo. O rosnado úmido e gotejante que vibrou na
superfície do pântano. Um ruído horripilante.
— O rougarou, — eu disse baixinho.
Então a criatura caiu em nossa direção, marchando pelo pântano
como se fosse uma mera poça.
Aquilo não era um lobisomem. Era a porra de um monstro.
Ele recuou e, sobre duas pernas, era tão alto quanto as árvores do
pântano. Ele inclinou sua enorme cabeça canina e uivou para os céus.
Mas esta era uma criatura saída do inferno.
— MUDEM! — Gritei para Caspian e Lyla, e no momento seguinte,
deixei meu lobo assumir. Se houvesse alguma maneira de termos uma
chance contra essa coisa, seria em nossa forma de lobo.
Mesmo que esse filho da puta faça meu lobo parecer um Chihuahua.
Eu nadei até Lyla e Caspian enquanto eles se transformavam em
lobos. Mas não a tempo...
O rougarou cambaleou para a frente, suas patas dianteiras batendo na
água, criando ondas gigantes.
Ele se inclinou com seu focinho enorme, puxando os lábios para
revelar uma fileira de dentes do tamanho da minha cabeça. Ele estalou
suas mandíbulas e seu hálito podre flutuou ao nosso redor.
Lyla uivou e eu me lancei de um tronco caído na água, com as garras
em punho, mirando no olho do rougarou...
Um momento depois, o pântano escuro foi iluminado por milhares de
minúsculas alfinetadas de luz.
— AQUI, FLUFFY!
A voz da mulher era quase tão alta quanto o rosnado do rougarou, e
isso fez o monstro se virar.
Errando meu alvo, eu caí no pântano, mas não antes de ouvir o
monstro soltar um pequeno gemido.
Saí da água bem a tempo de ver a mudança do rougarou. Seus ossos
estalaram ruidosamente quando ele começou a encolher.
Desafiando todas as leis da gravidade, o rougarou ficou menor de seus
pés para cima: seu corpo cada vez mais minúsculo diminuiu até chegar
em sua cabeça, que estava rapidamente se tornando menos grotesca —
até fofa — até...
O rougarou havia se transformado em um poodle toy. De sua altura
anterior, ele caiu na água com um salpico delicado.
Ele soltou um yap brincalhão e começou a nadar para longe de nós.
Eu tive que dar a Tommy. O rougarou não era um lobisomem. Não era
nem um rougarou. Era um poodle com um feitiço lançado nele.
— Bom menino, — a voz da mulher gritou, e então ainda mais alto: —
Desculpe pelo meu cão de guarda, pessoal!
Uma risada estranha e bufante ecoou pelo pântano.
À nossa frente, os pontos de luz — vaga-lumes — ficaram mais
brilhantes para revelar uma enorme árvore oca de mangue que havia sido
transformada em uma casa. E em uma de suas raízes estava uma mulher
barriguda em um vestido branco.
Ela tinha um grande nariz arrebitado e cabelo loiro selvagem.
— Eu sou Madame Cochon! — ela cantou. — Agora venham aqui e se
sequem, seus pequenos lobos!
Lyla

De alguma forma, quando o barman disse — a bruxa mais sábia a


oeste do Atlântico, — eu não esperava isso.
Seu sorriso era radiante e gentil, mas ela parecia mais bem-humorada
do que qualquer coisa, com sua pele rosa rosada e gargalhadas bufantes.
Caspian, Sebastian e eu nadamos até as raízes de sua casa na árvore, e
ela nos ajudou a sair da água pantanosa.
Já que todos nós tínhamos mudado de volta para a forma humana,
estávamos nus — bem, além de estarmos cobertos pela sujeira verde do
pântano.
A bruxa deu uma risadinha como uma adolescente, depois se virou e
cobriu os olhos enquanto os garotos saíam da água e iam para a varanda.
— Cheira a cachorro molhado! E não é apenas Fluffy. — Os olhos de
Madame Cochon brilharam de empolgação enquanto ela sussurrava para
mim: — Faz muito tempo que não recebo um alfa!
— Obrigado por nos receber, — respondi com um sorriso, optando
por não abordar o fato de que quase fomos atacados por seu poodle toy.
— O prazer é meu. Bem, não fique tímida agora. Entre e se aqueça e
seque.
A bruxa rotunda entrou pela porta de sua casa na árvore.
Cruzei meus braços sobre meu peito nu e a segui para dentro.
Minha mente estava acelerando com todas as coisas que eu queria
perguntar a ela.
Como você toma uma decisão impossível? Como você consegue superar o
passado?
Caspian

Quando entrei na casa da árvore de Madame, minha pele de repente


ficou limpa e seca.
— Como...?
— Um feitiço de entrada simples. Você precisa disso com uma casa
como a minha. — Madame Cochon piscou enquanto me entregava um
monte de pano turco, igual ao que ela usava.
Puxei o material macio sobre minha cabeça, grato por não estar mais
nu — mesmo que isso significasse usar vestidos combinando.
A luz na sala era suave, e uma lareira crepitava no canto próximo a
uma alcova cheia de almofadas de veludo.
— Agora, isso não é uma loucura! — Madame Cochon uivou de
repente. — Eu não sentia uma química tão complicada desde eu era uma
adolescente. E isso foi há séculos.
Ela piscou para mim com outra risada bufante.
Pelo canto do olho, vi Lyla enrubescer.
— Sim, isso é parte do que eu queria falar com você..., — disse ela.
Madame assobiava enquanto servia o chá de uma chaleira.
Senti uma respiração quente na minha perna e olhei para baixo para
ver Fluffy me cheirando atentamente.
— Eu acho que Fluffy gosta de m... — eu comecei, mas parei
abruptamente. Porque Fluffy começou a rosnar.
Comecei a recuar, lembrando do que o poodle era capaz.
— Agora, não tenha medo de Fluffy! Ele não machucaria uma mosca,
— ela chamou. Mas quando ela se aproximou de mim, ela dilatou as
narinas de seu nariz de porco.
— Fluffy está certo. Você cheira mal... como minha irmã, Zara. — A
bruxa olhou para mim.
— Eu — uh. Não tenho certeza do porquê. — Eu desviei o olhar, para
onde Sebastian e Lyla estavam se aquecendo perto do fogo.
Minha mente estava girando. Eu mal podia acreditar que eram irmãs,
porque não poderiam ser mais diferentes.
Cochon era só luz e risos, e Zara era... escuridão e drogas.
— Tenha cuidado com Zara, — ela continuou. — Magia não é
inerentemente má. É apenas uma ferramenta. Mas cuidado se não usar
direito, garoto. Porque ela vai usar você.
Eu engoli em seco. Ok, talvez Cochon também tenha alguma vantagem.
Embora o quarto estivesse quente, estremeci ao pensar no antro de
ópio.
Os corpos desabaram no chão... as tatuagens de Zara se contorcendo em
sua pele...
Havia alguma escuridão séria espreitando logo abaixo da superfície,
vazando pelas tábuas do chão.
Toquei a pequena crosta em meu dedo de onde ela havia me cortado.
Quando olhei para baixo, percebi que estava preto. Como se sua
origem escura o tivesse feito apodrecer, não cicatrizar.
Enfiei a mão no bolso do muumuu, desesperado para esquecê-la.
Mas a poção alfa, por outro lado... eu não conseguia tirar isso da
minha cabeça.
Eu me sentia um viciado em algo que nunca havia experimentado.
Eu sabia que a magia era sombria e podre sob a superfície, mas alguma
coisa sombria e podre dentro de mim não se importou.
Lyla

Madame Cochon se mexeu no sofá entre eu e Sebastian. Caspian veio


até nós também, parecendo assustado.
Eu me pergunto o que Madame acabou de dizer a ele...
Fluffy correu e pulou em seu colo.
— Agora, conte-me mais sobre sua situação — ela disse enquanto
olhava para nós.
— Hum, tenho dois companheiros, — apressei-me, — e tenho de
escolher um até o final deste mês.
Ela ficou quieta por um minuto, me avaliando. Agarrei-me a cada
movimento seu, esperando suas próximas palavras.
— Querida, você está muito preocupada em fazer uma escolha...
quando você sabe em seu coração o tempo todo.
Soltei um suspiro que esqueci que estava segurando.
Não. Isso não pode estar certo. A única coisa que eu sabia em meu
coração era que não sabia.
— Você se conhece, — continuou Madame Cochon. — E você tem que
confiar que sim.
Minhas mãos tremiam quando afastei o cabelo do rosto.
— Eu pensei que me conhecia, — eu disse, engasgando com minhas
palavras. — Mas, acabei de aprender algo que me faz questionar tudo.
Os olhos de Madame estavam arregalados de compreensão e eu podia
sentir os olhares dos meus companheiros também. Todos estavam
esperando que eu falasse.
— Minha família não é o que eu pensava. Meu pai biológico
abandonou a mim e minha mãe quando eu era muito jovem. — Minha
voz soou estranha para mim.
Madame segurou minha mão. Sua pele estava enrugada, mas lisa.
— Isso é tudo ao seu redor, — ela sussurrou. — Todas essas coisas
podem mudar. Mas você ainda é a mesma.
As lágrimas começaram a embaçar minha visão e ela enxugou minha
bochecha com a mão livre.
Não queria admitir que, embora fosse a mesma, me via de forma
diferente agora. Como alguém que foi deixado... e alguém que valia a
pena abandonar.
Madame olhou nos meus olhos por alguns segundos antes de
lentamente deixar os dela fecharem.
Enquanto o fogo crepitava e eu me sentava ali, minha mão na de
Madame Cochon, tive uma sensação peculiar de alívio. Eu me senti
completamente compreendida.
Esta mulher realmente sabe a verdade...
— Posso te mostrar uma coisa, querida? — Ela murmurou sem abrir
os olhos.
Eu concordei. A próxima coisa que eu soube foi que o mundo estava
girando.
Eu senti uma sensação semelhante uma vez antes — na piscina com
Sebastian, onde eu tinha visto a minha verdade.
De repente, eu estava olhando para uma extensão de cores brilhantes
e confusas. Eu podia ouvir uma cacofonia de vozes e, lentamente, a visão
entrou em foco.
Um mar de máscaras estava diante de mim. Elas eram todas
diferentes, e quando eu tentava me concentrar em uma, ela desaparecia
em uma nuvem de fumaça.
Mas eu tinha a nítida sensação de que todos que eu queria encontrar
estavam lá, escondidos atrás de uma máscara.
Meu pai.
Meu verdadeiro amor...
Eu mesma.
E então, tão rapidamente quanto veio, a visão logo desapareceu.
Quando abri os olhos, Madame Cochon estava me observando.
Caspian estava tocando meu ombro atrás de mim, e Sebastian estava
segurando minha mão livre.
Percebi que as lágrimas escorriam pelo meu rosto.
— Eu vi... máscaras. Cem máscaras se movendo, — comecei, sem
saber como colocar a visão em palavras.
Os olhos de Madame Cochon se estreitaram.
— O que você acha que isto significa?
— Não tenho certeza... — Parecia que tudo estava tão perto, mas fora
de alcance.
— Talvez isso signifique que eu não vou encontrar o que estou
procurando — eu engasguei.
Madame Cochon colocou um dedo enrugado em meus lábios para me
acalmar.
— As máscaras podem significar que a identidade de seu pai está
escondida para você, — ela propôs, — assim como a de seu verdadeiro
companheiro.
— Ou o baile de máscaras — acrescentou Caspian.
— Ah, sim, o baile do Carnaval des Loups é em alguns dias, —
elaborou madame.
— O que..?! — Sebastian exclamou enquanto pulava do sofá, olhando
para o ar acima de nós como se tivesse visto um fantasma.
Eu olhei para cima para ver uma aranha enorme tecendo uma teia no
canto do teto.
— Com medo de um inseto, Sebastian? — Caspian respondeu.
Era estranho, com certeza, mas enquanto eu observava, achei os
movimentos da aranha quase lindos.
— Oh, aquela coisinha, — Madame disse com uma risada. — Ela veio
até mim porque não conseguia aprender a tecer uma teia.
Apenas Madame poderia olhar para uma enorme aranha com tanto
carinho.
— Mas ela estava tentando demais. Depois que eu a deixei relaxada,
ela percebeu que não precisava tentar.
Ela se virou para mim.
— É apenas parte de quem ela é.
Eu estava sendo comparada a uma aranha, mas naquele momento,
isso não me incomodou. Eu sabia que fazer minha escolha não era fazer
nada, mas descobrir o que eu queria.
A resposta já estava em meu coração. Mas enquanto eu olhava entre
Sebastian e Caspian, eu sabia que isso não tornava as coisas mais fáceis.
Eu tenho que me encontrar primeiro.
E para fazer isso, eu precisava chegar a um acordo com meu pai.
Se a visão me disse alguma coisa, foi que ele ainda estava vivo...
Ainda lá fora, apenas fora de vista.
14
O ÚLTIMO HOMEM EM PÉ
Sebastian

A Bourbon Street parecia particularmente mágica, banhada pela luz


alaranjada do pôr-do-sol. Talvez eu ainda estivesse com algum tipo de
ressaca da nossa visita a Madame Cochon alguns dias atrás...
Ou talvez fosse porque Lyla estava andando na minha frente, seu
cabelo brilhando em vermelho sob as luzes da rua.
Ela era a única que eu via, embora Teresa estivesse ao lado dela e
Caspian e Reed estivessem ao meu lado.
A risada de Lyla encheu o ar enquanto ela e Teresa nos levavam em
direção à minha atividade menos favorita:
Compras.
— Depressa, meninos!
Os olhos de Lyla encontraram os meus e, pela centésima milésima
vez, senti meu coração se partir por Lyla Green.
Não porque eu a perdi. Não porque ela nunca foi minha.
Mas porque ela nunca seria toda minha.
E a maneira como eu a amava, a maneira como fui construído para
amá-la, exigia isso.
Eu não sabia o que era que me deixava tão pensativo. Talvez fosse a
adrenalina daquele maldito ataque de podle-garou.
Ou vendo as lágrimas escorrendo pelo rosto de Lyla na casa de
Madame Cochon, sabendo que eu não poderia aliviar a dor da partida de
seu pai.
Eu olhei para Caspian. Ele torceu uma pulseira no pulso, perdido em
seus próprios pensamentos.
Não era como se eu pudesse culpá-lo, tanto quanto havia feito no
passado. Agora entendi que estávamos na mesma posição.
E embora isso o tornasse meu inimigo, também o tornava como um
irmão. Um irmão em sofrimento comum.
Ok. Talvez isso seja um pouco demais.
— Sebastian! — A voz de Lyla me trouxe de volta, e ela acompanhou
meu passo, tocando meu braço. — O que você acabou dizendo a Tommy
sobre o aerobarco? Eu nunca perguntei.
Teresa também ficou para trás, querendo ouvir o fim da história.
— Comprei um novo para ele, — respondi.
— Isso é tão... generoso da sua parte, — disse Teresa, levando a mão ao
coração.
As duas meninas compartilharam um olhar que significava quem sabe
o quê na linguagem misteriosa das mulheres, e eu vi Caspian revirar os
olhos.
— Bem, os barcos são o seu sustento, — respondi. — E o que ele nos
emprestou naufragou. Depois que ele nos avisou sobre o rougarou.
— O que o seu conselho dirá? — Lyla perguntou, seus olhos brilhando
com malícia.
— Não tenho certeza, na verdade, — eu disse. Talvez se eles
percebessem que alguns milhares de dólares estavam faltando, eles
ficariam chateados. Mas a alcateia não estava sofrendo por dinheiro.
Talvez eles nem perceberiam. Houve um repentino rugido de aplausos
e me virei para encontrar uma comoção à nossa direita.
Tiberius e Caius acenaram para mim, com Magnolia ao seu lado.
Falando do diabo.
Um grande grupo de pessoas estava reunido em uma praça em torno
de algum tipo de competição.
— O que é isso? — Caspian perguntou.
Dei de ombros.
— É o alfa real! — alguém gritou, e um bando de espectadores se virou
para olhar enquanto eu me aproximava.
Tiberius me deu um tapa no braço.
— Que bom que você está aqui, filho. Precisamos de você no ringue.
Eu odeio quando ele me chama de "filho".
Ao olhar para a multidão de pessoas, vi o caos. Dezenas de homens
estavam lutando, lutando para se atirar para fora de um ringue pintado.
Senti a adrenalina começar a correr em minhas veias. Talvez alguma
competição fosse exatamente o que eu precisava para colocar minha
mente em um lugar melhor.
— Este é o Anel da Força. Inspirado pelos jogos dos guardiões na
Cidade Santa. — Caius gritou por cima dos grunhidos e gritos. — É
realmente simples. Seja o último a permanecer no ringue.
— Homens de alcateias por toda a terra estão lá. Já que você está sem
companheira e tudo, esta é sua oportunidade de provar que você ainda é
um alfa forte, — disse Tiberius.
Eu geralmente odiava quando eles começavam com essas coisas, mas
desta vez eu estava a bordo.
— Mostre a eles a sua força! — Caius comentou. — Mostre a essas
pessoas que o alfa real ainda está no controle.
— Sem pressão, — acrescentou Magnolia.
Enquanto Tiberius me empurrava para frente, eu tirei minha camisa,
separando a multidão e forçando meu caminho para o ringue.
— Senhoras e senhores, o Alfa Real entrou no ringue! — o locutor
gritou.
A torcida da multidão era música para meus ouvidos. Eu encontrei os
olhos de Caspian por um segundo antes de mergulhar no caos.
Eu não vou gastar minha energia com ele... Ele provavelmente vai
tropeçar nos próprios pés e se desqualificar.
Lyla

Teresa e eu ficamos à margem da multidão barulhenta, observando


Sebastian, Caspian e Reed desaparecerem no ringue de combate.
— Por mais que eu adorasse assistir isso, acho que devemos deixar os
porcos lutando sozinhos desta vez, — disse Teresa, agarrando meu braço.
— Isso me parece bom. — respondi.
Eu esperava que o esforço físico ajudasse a acalmar meus
companheiros, mas a última coisa que eu precisava era mais caos.
Nós nos afastamos da praça movimentada, por uma rua estreita onde
restaurantes se espalhavam pela calçada e as vitrines das lojas ainda
brilhavam no escuro.
— Acho que amo esta cidade. — disse Teresa com um suspiro
melancólico.
— Está no seu sangue. — respondi. Enfiei meu braço no dela e olhei
para as vitrines.
Em uma loja, uma bola de cristal foi posicionada em frente a um
jacaré de taxidermia, o que me fez sorrir.
Eu amo New Orleans? Eu me perguntei.
Era linda, com certeza — e inegavelmente divertida.
Fiquei intrigada com a forma como a magia e a realidade estavam
emaranhadas na cidade...
Mas eu ainda não conseguia dizer se isso deixava o lugar encantado ou
amaldiçoado.
Se minha experiência fosse alguma indicação, eu estava inclinada para
o último.
Eu vim aqui sabendo que era aqui que eu teria que fazer a maior
escolha da minha vida — com quem eu estaria.
Para sempre.
Mas eu não esperava que a força de uma crise de identidade fosse
lançada em ação.
Meu pai...
Como um homem que eu nem sabia que existia de repente poderia ter
tanto poder sobre mim?
O fato de que ele deixou mamãe e eu deveria significar que ele era um
idiota caloteiro. Em vez disso, me fez sentir como se eu fosse a inútil.
— Lyla, eu encontrei! — Teresa me puxou em direção a um brechó
especialmente lotado com vestidos de contas e máscaras brilhando
através do vidro.
Dentro havia um empório de máscaras saído diretamente dos
estrondosos anos vinte.
— Isto é tão você — Teresa disse, entregando-me um número de penas
azul-bebê.
— E isso é tão você — eu respondi, passando para ela um minivestido
de couro preto colado ao corpo.
Dez minutos depois, estávamos no grande camarim cercado por
vestidos descartados.
— É difícil para uma ruiva usar laranja, Ly. Não sei por que você
sempre escolhe vestidos laranja. — Teresa me explicou quando ela se
virou para inspecionar sua bunda no espelho.
Tirei o look laranja de lantejoulas e finalmente peguei o vestido azul
bebê — o primeiro que Teresa tinha visto.
— Ly, sinto muito pelo outro dia no bar vodu. — ela explodiu,
afundando na cadeira ao lado do espelho.
— Eu fico pensando sobre isso, e não foi legal da minha parte me
intrometer na sua relação com Sebastian e Caspian. Eu sei que você tem
muito o que fazer e não quero piorar tudo.
— Ah, T. — Passei a ela o vestido de couro preto. — Obrigado por
dizer algo. Mas não se preocupe com isso.
Eu parei no espelho com o vestido azul bebê e sorri. As penas eram
divertidas e sexy, e minhas pernas pareciam ser extremamente longas.
— É um arraso, — decidiu Teresa. — Mas, sério, como você está se
saindo com a decisão?
Suspirei.
— Honestamente, estou com dificuldade. E não é por causa de
Caspian ou Sebastian. Ambos estão sendo... maravilhosos.
— É que aprender sobre meu pai biológico trouxe à tona algumas
inseguranças profundas que eu nunca soube que tinha, — admiti. — O
fato de ele ter me deixado me faz sentir como se... eu mereça ser deixada.
Parecia estranho, mas quando disse isso, sabia que era verdade.
— Isso é loucura? — Perguntei a Teresa.
— Menina, não é verdade, — disse ela. — Mas não é loucura. Já ouviu
falar de problemas com o papai? Essa merda é real.
Teresa se colocou ao meu lado. O minivestido de couro era perfeito
para ela.
Ela colocou uma máscara de safira brilhante em cima do meu nariz.
— Não se preocupe, Lyla. Você é adorável pra caralho. E vale a pena
permanecer com você. — O sorriso de Teresa foi sincero. — E se os dois
homens babando em você não a convencerem, então você me tem
também.
Sebastian

O trabalho foi fácil: manter os pés leves e desferir os golpes ofensivos


— os quais foram poucos.
Foi preciso um homem corajoso para desafiar o alfa real. Corajoso e
estúpido.
Meus músculos reagiram imediatamente. Minha mente estava clara.
Aprendi rapidamente o que estava em jogo. A borda do círculo era o
lugar mais perigoso para se estar, mas também era onde um homem
podia progredir.
O objetivo era ser o último homem dentro do ringue. Era um jogo de
resistência, e os homens que dependiam de demonstrações dramáticas
de força logo se desvaneceram.
Então eu fiquei quieto. Eu fiquei com os pés no chão, focando apenas
em desequilibrar meus oponentes, não em feri-los.
Mesmo assim, os homens continuaram chegando. Ainda mais rápido
conforme o grupo se estreitava, já que havia cada vez menos pessoas
dentro do ringue.
Eu estava lidando com um oponente enquanto outro atacava. Eu o vi
com o canto do olho. Construído como um quarterback e me tratando
como um manequim de treino.
Ambos eram alfas, eu podia sentir isso. E os dois estavam caindo.
Eu poderia ter me virado e simplesmente deixado o quarterback
cuidar do cara que me prendeu em uma chave de braço. Mas isso era
muito fácil.
Preparando-me, absorvi o golpe quando o homem investiu contra
mim. Embora estivesse perigosamente perto da borda, não perdi o
equilíbrio.
Mas no momento do impacto, seu foco foi abalado. Então, quando
agarrei seus ombros e o empurrei para frente, eu o joguei para fora do
ringue com sua própria força.
E então tudo o que precisou foi virar o alfa que me prendia em uma
chave de braço em suas costas. Ele caiu no chão, suas pernas fora do
círculo.
Fora.
A multidão gritou.
Sebastian. Sebastian. Sebastian.
Meu próprio nome perdeu o significado à medida que o cantavam
continuamente.
E então voltei para a luta.
Caspian

Com um rugido, enviei outro homem voando. Ele caiu fora do ringue.
Quando me virei atrás de mim, vi Sebastian trabalhando como uma
maldita força da natureza.
Ele colocou um alfa de joelhos. Então outro.
Tão capaz quanto me sentia naquele momento, eu sabia que ainda
não estava à altura. Não com esse tipo de força.
Eu não sou um alfa.
Proeza e autoridade não corriam em minhas veias como corriam nas
dele. Eu não nasci assim.
E essa desvantagem parecia completamente injusta.
Pela primeira vez, tive a chance de nivelar o campo de jogo. A poção
alfa estava bem no meu bolso.
Tinha a chance de ver quem era o melhor homem de nós dois
tivéssemos o mesmo privilégio. E essa não era uma oportunidade que eu
poderia perder.
As pessoas na multidão seguraram garrafas de água para os lutadores,
e eu vi minha chance. Tirei o frasco de vidro do bolso e abri a tampa.
É agora ou nunca.
Então peguei uma garrafa de água e engoli as duas bebidas de uma
vez.
Eu descartei os recipientes vazios fora do ringue. E então me virei para
examinar a cena.
Sebastian era o único outro homem de pé.
Perfeito.
Uma confiança fria fluiu por todo o meu corpo, reforçando cada fio de
músculo. Me enraizando no chão como uma maldita árvore.
Do outro lado do ringue, Sebastian sorriu.
Eu estalei meus dedos.
Pode vir, filhote.
15
REI DO BAILE DE MÁSCARAS
Sebastian

Sebastian. Sebastian. Sebastian.


Os gritos da multidão diminuíram até que o ringue fosse o único foco.
Só eu e meu oponente. É uma tarefa simples.
Ser o último a sobreviver.
Derrubar Caspian.
Sua postura era ampla, seu peso baixo. Ele estava na defensiva.
Que era exatamente onde eu queria que ele estivesse.
Eu avancei, os músculos das minhas pernas explodindo a cada passo.
Eu cruzei o ringue facilmente, encontrando-o onde ele estava, no meio
do ringue.
Mantendo meu peso baixo, eu bati nele. Meus braços em volta da sua
cintura...
E encontrei uma resistência inesperada. Sua postura era sólida e por
um segundo me perguntei se esse duelo não seria o passeio no parque
que eu esperava.
Mas então seu equilíbrio vacilou e caímos no chão, rolando enquanto
cada um de nós lutava pela vantagem.
Eu sabia que o fluxo e refluxo do domínio fazia parte de qualquer
duelo. Uma luta não era uma corrida: era uma maratona.
E enquanto Caspian tinha seus momentos de clareza poderosa, eu me
conhecia. Eu conhecia minha resistência, forjada pelo fogo.
Paramos perto da borda do ringue e Caspian se levantou rapidamente.
Eu o segui.
Ele sempre foi tão rápido?
Mas não importa. Eu tinha que manter meu juízo sobre mim. Eu tinha
que estar pronto para tudo.
É
— É o melhor que você tem, Alfa? — Caspian zombou, seus olhos
brilhando com confiança.
E então ele correu para mim e dobrei os joelhos enquanto me
preparava para a colisão.
O impacto me balançou e perdi o equilíbrio por um momento.
Os gritos da multidão vacilaram. Naquele momento, entrei em
pânico, embora não tenha deixado transparecer.
Tiberius estava certo. O Anel da Força foi uma oportunidade de
mostrar ao mundo dos lobos que eu ainda estava no topo.
Que o alfa real sairia vitorioso, com sua Luna ao seu lado.
Era uma forma de mostrar minha confiança, mesmo que eu mesmo
não tivesse certeza do futuro.
Eu enraizei meus pés no chão mais uma vez. Caspian estava pulando
de um pé para o outro, se preparando para outro ataque.
Com um rugido, ele atacou novamente. Esta é minha chance. Mostre a
todos como é estar no controle...
Mas quando Caspian bateu em mim, uma pontada de dor subiu pela
minha espinha.
Como se as expectativas da alcateia já não estivessem me esmagando o
suficiente...
Eu não poderia deixar isso atrapalhar a luta.
Eu absorvi o golpe, meus braços envolvendo em torno dele enquanto
seus braços se esticavam contra os meus.
Aqui estamos nós de novo. Lutando mais uma vez.
Talvez a Deusa da Lua estivesse me punindo. Eu a imaginei olhando
para nós agora, puxando as cordas.
Desafiando-me a perder.
Caspian empurrou para frente e eu mudei meu peso para trás. Mas
meu pé estava instável. Meu equilíbrio estava vacilando.
Então a perna de Caspian estava atrás da minha, me fazendo tropeçar.
Na multidão, pude distinguir o rosto aterrorizado de Tiberius. E
então, balançando a cabeça, ele se virou.
Ele nem consegue olhar para mim.
Por mais complicado que fosse meu relacionamento com meu tio,
perder seu apoio foi a última rachadura em minha armadura.
Com um empurrão final, eu caí. O chão de pedra foi implacável
quando eu caí de costas, o ar correndo de meus pulmões.
A multidão ficou em silêncio.
Mas quando Caspian ergueu os punhos, eles enlouqueceram.
Ele me empurrou para fora do ringue.
Caspian foi o último homem de pé.
Magnolia me ofereceu a mão, mas eu não pude segurar. Não pude
suportar a pena em seus olhos.
Eu me levantei e forcei meu caminho através da multidão, precisando
mais do que qualquer coisa para ficar sozinho.
A vergonha me inundou enquanto eu corria para a escuridão.
Que tipo de alfa perde para o filho de um beta?
Que tipo de alfa eu sou? Minha companheira nem mesmo se compromete
comigo.
Talvez Caspian merecesse vencer Talvez ele seja o melhor homem afinal...
Caspian

Aquele sentimento. Como eu poderia explicar esse sentimento?


Era como se o mundo estivesse ao meu alcance. Meus inimigos sob
meus pés.
Eu sentia o vento em minhas costas e nada poderia ficar no meu
caminho.
Nem mesmo o alfa real.
Vencer Sebastian me fazia sentir que, pela primeira vez desde a
maldita Cúpula, tudo estava certo no mundo.
Sebastian sempre se sente assim? Bastardo sortudo.
Por mais irritante que fosse, a realização me deu paz. A única razão
pela qual Sebastian era tão bom era porque ele era um alfa.
E quando eu tinha a mesma vantagem, era um homem ainda melhor.
A multidão correu em minha direção, e uma coroa de ouro
espalhafatosa foi colocada em minha cabeça.
— Você é o Rei do Carnaval des Loups!
A torcida me envolveu e posei para fotos ao lado de garotos
sorridentes que sonhavam em ser como eu quando crescessem.
— Aquele é meu filho! — Eu me virei para ver meu pai apontando
para mim.
Ele veio até mim e me puxou para um abraço de urso.
— Esta é a primeira vez em uma década que um alfa perdeu o Anel da
Força! — ele gritou em meu ouvido por cima da multidão barulhenta. —
E o alfa real ainda por cima!
Ele se afastou e balançou a cabeça em descrença. — Como você
conseguiu isso?
— Foi o seu treinamento secundário, pai. Como nos velhos tempos.
Vê-lo tão feliz parecia quase tão bom quanto bater em Sebastian.
— Estou tão orgulhoso de você, Caspian. — disse ele, sua voz cheia de
emoção.
Eu ri e juntos nos afastamos da multidão.
— Escolhi um terno para você para o baile, — disse meu pai. — Você
virá ao hotel para se arrumar?
— Quero isso mais do que você jamais poderia imaginar, — respondi.
A ideia de voltar para a casa de Sebastian agora era nada menos que
nauseante. A noite era minha e eu queria me preparar sozinho para o que
estava reservado para mim.
O Anel da Força foi a primeira das vitórias da noite.
Em breve, eu veria Lyla no baile de máscaras.
Lyla

— Eu mal posso esperar para ver o que Reed está vestindo — Teresa
comentou enquanto ela limpava o blush em minhas bochechas. — Ele
quer que fiquemos totalmente surpresos quando nos encontramos no
baile. Eu não entendo porque ele é tão tradicional...
— E não entendo por que estamos usando maquiagem quando vamos
apenas colocar máscaras, — respondi.
— Eu me pergunto o que Sebastian vai vestir... — Teresa continuou,
ignorando meu ponto.
Eu também me perguntei o que Sebastian usaria.
Vou reconhecê-lo?
Claro que vou.
Seu cheiro estava enraizado em minha memória, programado em meu
próprio ser. Assim como o de Caspian estava...
Oh, Deus. Ter dois companheiros era complicado todos os dias, mas
um baile de máscaras era talvez o pior evento possível.
Pensei na última dança que assisti com os dois — o baile de festas — e
como isso terminou em uma briga.
Eu só podia esperar que esta noite fosse melhor do que isso...
Esperançosamente, aquele Anel de Força machista tirou toda a luta de
seus sistemas...
Mesmo que eu não me importasse com a competição, parte de mim
ainda se perguntava quem tinha ganhado.
— Aposto que Caspian vai parecer um flamingo grávido — disse
Teresa enquanto soltava uma risada.
— Oh, por favor. Nós duas sabemos que ele se veste bem.
— Bem no nível Alfa real? Acho que não.
Eu revirei meus olhos.
— Ok, minha maquiagem está pronta agora, — eu disse, tomando
uma decisão executiva.
Depois de colocar minha máscara azul safira, me virei para me olhar
no espelho. Mesmo que a máscara cobrisse apenas a metade superior do
meu rosto, eu ainda fiquei surpresa.
Eu parecia totalmente diferente com o cabelo liso e um vestido que
não era meu estilo normal.
E eu gostei disso. Eu tinha meus motivos para estar nervosa esta noite.
Mas eu estava animada. Talvez algumas surpresas sejam boas para mim.
Uma hora depois, nosso táxi parou na frente de um enorme cubo de
mármore preto. O edifício era hiper contemporâneo — todas as
superfícies lisas e cantos agudos.
Ofereci minha mão a Teresa e a ajudei a sair do carro, e juntas
observamos a cena.
Teresa levou a mão à boca.
— Isso é...
— Insano — eu terminei por ela.
O local parecia uma espécie de peça de arte moderna, e a música que
vinha de dentro dava a entender que seria mais uma boate do que um
baile renascentista.
Lobisomens elegantes e disfarçados rondavam o tapete vermelho que
se estendia até as portas da frente escancaradas.
— Vamos! — Teresa gritou.
Começamos a andar no tapete e, embora eu tentasse evitar os flashes
das câmeras, Teresa me fez posar ao lado dela.
À medida que nos aproximamos, percebemos que a fachada do prédio
funcionava como um espelho e nos vimos refletidas no mármore preto e
no vidro.
Agentes de segurança estavam esperando em cada lado da entrada
principal.
Um homem segurava um frasco de perfume na mão enluvada.
— Todos os convidados devem mascarar seus cheiros antes de entrar.
— explicou ele.
Eu balancei a cabeça, mas eu não estava esperando por isso. Teresa e
eu compartilhamos um olhar através de nossas máscaras enquanto eles
nos borrifavam.
Como vou encontrar meus companheiros se não consigo localizar seus
cheiros?
— E precisamos de uma foto e seu nome para nossos arquivos —
acrescentou o agente.
Uma câmera disparou.
— Lyla Green, — eu disse.
E então entramos na festa.
A sala era enorme e todas as superfícies eram feitas do mesmo
mármore preto reflexivo, então toda a pista de dança lotada se refletia
infinitamente de volta a si mesma.
Duas escadarias dramáticas envolviam o fundo da sala. Acima de nós,
o prédio erguia-se em muitos andares, e cada andar se abria para a pista
de dança com varandas dramáticas feitas de vidro.
As luzes estavam baixas e pulsando no ritmo da música eletrônica
rítmica. E as pessoas...
O prédio já estava lotado de lobisomens, e cada um deles estava
disfarçado.
— Como vamos encontrar alguém que conhecemos? — Eu perguntei.
Teresa gritou de alegria.
— A única coisa que quero encontrar é o bar, — ela respondeu.
Olhei para as sacadas acima de nós mais uma vez e vi a aba larga de
um chapéu preto e, quando o homem que o usava se inclinou para a
frente, notei a máscara operística sobre seus olhos.
Estrela da Noite.
Mas quando olhei para trás, ele havia sumido.
— Sim, vamos beber alguma coisa, — gritei para Teresa por cima da
música. Mas quando me virei, não pude vê-la.
A multidão a engoliu.
Avancei entre as pessoas rindo e conversando enquanto bebiam em
copos de cristal.
Um garçom me ofereceu uma taça de champanhe de sua bandeja e eu
tomei um gole, esperando que me ajudasse a relaxar.
Momentos depois, meus sentidos estavam aguçados — a música se
tornou mais rítmica, as luzes mais hipnotizantes...
Eu fiz meu caminho através do mar de máscaras que variavam do
simples ao elaborado — retratando qualquer coisa, de animais e
monstros a nada, criando uma lousa em branco.
Eu estava ficando dominada pelo espetáculo, a música latejante, as
luzes pulsantes. Eu me virei, precisando encontrar uma saída, um pouco
de ar fresco...
E então, braços em volta da minha cintura. De repente, me senti
calma. Os braços eram fortes, familiares, confiáveis.
Meu companheiro. Mesmo que eu não pudesse sentir o cheiro dele, eu
sabia que era verdade.
Meu corpo estava reagindo, recostando-se na figura forte. Eu olhei
para cima e vi um lobo olhando para mim.
Bem, uma máscara de lobo, esculpida em ouro.
Estendi a mão para tocar a joia vermelha que era o nariz do lobo,
meus lábios se curvando em um sorriso.
Todo o seu rosto estava coberto e, naquele momento, enfrentei um
dilema insano.
Eu sei que ele é meu companheiro... mas qual deles?
O lobo se inclinou e eu mal podia sentir seu hálito quente no meu
pescoço. O ouro era liso enquanto sua máscara roçava minha pele.
Senti a sala girar ao meu redor, mas me inclinei contra o peito sólido
do meu companheiro.
Suas mãos seguraram minhas costas, me guiando para mais perto
dele, me encorajando a acompanhar seu ritmo enquanto ele balançava
com a batida.
A tão familiar eletricidade do laço de acasalamento percorreu entre
nós, nossas roupas criando atrito enquanto girávamos.
Suas mãos se aventuraram mais abaixo... até minha bunda, que ele
apertou, segurando-me com mais força contra seu corpo, onde eu podia
sentir o contorno vago de sua ereção crescente.
Meus joelhos ficaram fracos.
Sem uma palavra, meu companheiro se afastou, pegou minha mão e
me levou pela pista de dança e por um corredor escuro.
Embora não falássemos, eu sabia que ele estava me levando a algum
lugar onde poderíamos ficar sozinhos...
Ele queria jogar comigo... e eu estava mais do que disposta a jogar
junto.
16
COMPANHEIROS EM MÁSCARAS
Lyla

Eu o deixei me conduzir, o homem em quem eu confiava, que eu


conhecia...
Que era meu companheiro...
Mas qual companheiro, eu não tinha certeza.
Seu cabelo estava penteado para trás, um estilo incomum para
Caspian ou Sebastian.
Ambos eram da mesma altura? Como é que eu nunca percebi isso
antes?
Aquele champanhe era algum tipo de poção?
A festa já me deixou intoxicada?
Tudo que eu sabia era que a noite estava estranha, mágica e escura...
E eu queria ficar sozinha com o homem na minha frente.
Por enquanto, isso era o suficiente.
Ele entrou em uma sala fora do corredor principal e eu o segui. Estava
iluminada com velas e forrado com um sofá de couro escuro, e uma
cortina se fechou atrás de nós.
Ele afundou no assento diante de mim, olhando para mim através de
sua máscara, e eu não consegui distinguir a cor de seus olhos.
Meu corpo inteiro estava tenso, em alerta, me perguntando o que viria
a seguir.
A máscara cobriu sua boca. Não consegui nem beijá-lo.
Ele ficou lá, me observando, e então estendeu a mão para tocar
minhas pernas. Enquanto ele corria as pontas dos dedos da parte de trás
dos meus joelhos até minhas coxas, eu estremeci.
A sensação era proibida e o mistério a tornava ainda mais intensa.
Ele abriu as pernas, me puxando para mais perto ainda, até que eu
estava de pé entre elas, e suas mãos estavam perigosamente perto do meu
sexo.
Mas ele estava se segurando também, se contendo... sendo
cuidadoso... prolongando cada toque.
Passei meus braços em volta do seu pescoço lentamente, como se
estivesse me movendo debaixo d'água.
Parecia errado eu não saber quem ele era, mas algo em seu
comportamento me mostrou que fazia parte do jogo.
Um jogo que ambos estávamos gostando.
Toquei o ombro de seu smoking, o tecido liso sobre seus braços
musculosos. Ao mesmo tempo, coloquei a outra mão sob a jaqueta para
sentir seu peito sob a camisa branca imaculada...
Então paramos de ser cuidadosos.
Ele me puxou para seu colo e eu caí com meus joelhos em cada lado
de seus quadris, meu núcleo se acomodou na ereção crescente sob sua
calça de smoking.
Com uma mão ele apertou minha bunda, e com a outra ele abafou os
gemidos que escapavam da minha boca.
Eu estava tão confusa quanto quando entrei na sala.
O físico parecia Caspian, mas a atitude era tão Sebastian — confiante,
certo, completamente no controle...
Suas mãos me seguraram com tanta certeza. Como se eu fosse a única
coisa que ele queria e pudesse dar tudo a ele.
Mas isso não me ajudou a descobrir quem ele era.
Fosse Sebastian ou Caspian na minha frente, os dois haviam se
decidido.
Ambos decidiram por mim. Ambos estavam apostando em mim... e
cabia a mim fazer uma escolha.
As palavras de Madame Cochon brincaram em minha mente:
Você está muito preocupada em fazer uma escolha, quando a verdade está
em seu coração o tempo todo...
Então eu não pensei demais. Eu sabia disso, estar sozinha com ele,
suas mãos em mim, parecia tão certo.
Meu companheiro apertou meus seios, me apalpando, me provocando
enquanto eu empurrava contra ele. E então sua mão viajou para baixo,
pela minha cintura, pelas minhas coxas...
Eu deixei minha cabeça cair em sua orelha, minha respiração pesada
quando ele encontrou meu clitóris sobre minha calcinha, esfregando em
círculos. Então ele puxou o tecido de lado e gentilmente colocou o dedo
dentro de mim.
Ele girou o dedo enquanto eu empurrava para baixo sobre ele,
silenciosamente implorando por mais.
E então, muito cedo, ele se afastou.
Ele agarrou o topo de sua máscara, inclinando-a para trás...
E Caspian sorriu para mim.
— Ei, Lyla — sussurrou ele.
Caspian

Eu assisti os lábios de Lyla crescerem no sorriso que eu conhecia tão


bem, e sua risada encheu o ar ao meu redor.
Suas mãos embalaram meu rosto, me observando como se ela
estivesse me vendo pela primeira vez.
— Você está desapontada por ter sido eu, e não Sebastian? — Eu
perguntei. Dada a maneira como ela estava gemendo de prazer, eu sabia
que ela não estava.
Eu estava no topo do mundo, com a mulher que amava em meus
braços.
— Não — respondeu ela. Seu olhar ficou intenso, seus lábios se
separaram e todo o seu corpo pressionou em cima do meu.
Eu acariciei seu cabelo e nós deitamos juntos mais uma vez, nossos
beijos mais apaixonados do que os toques ilícitos.
Abri mais minhas pernas, sentindo-a esfregar contra minha ereção,
sentindo suas mãos traçarem meu rosto.
E então, de repente, ele parou. O sentimento.
Eu estava afundando, caindo; era como se eu tivesse caído para outro
nível de existência.
Meus músculos não estavam mais elétricos... minha cabeça começou a
girar, a clareza e o foco se distanciando.
Eu engasguei e me afastei, inclinando-me no sofá atrás de mim.
Isso é uma merda de uma ressaca, pensei.
— Você está bem? — Lyla perguntou, ficando perto de mim com as
mãos no meu peito.
Eu balancei a cabeça, mas minha boca parecia grossa. Foi difícil
engolir.
Ela saiu de cima de mim e eu tropecei em meus pés.
— Caspian! — A voz de Lyla era urgente e surpreendentemente
familiar. Quantas vezes ela me chamou com aquela mesma voz
assustada?
Quantas vezes ela se preocupou se eu estava bem... se eu estava muito
bêbado... se eu estava no controle...
Foi deprimente pra caralho. Eu tinha que sair.
— Sinto muito, Ly, — eu sussurrei. — Eu preciso de um minuto.
Cambaleei pela cortina de veludo pesada, para a loucura do corredor
escuro.
Havia apenas um lugar que eu queria ir.
Não precisava de um minuto...
Eu precisava de outra dose.
Sebastian

Meus dedos estavam brancos quando agarrei a grade da varanda.


Eu examinei o caos da pista de dança abaixo pela milésima vez,
procurando por ela.
Eu reconheceria Lyla em qualquer lugar — mesmo com uma máscara
e um perfume disfarçado.
Mas havia muitas pessoas. Elas formavam uma multidão,
contorcendo-se umas contra as outras.
Depois de quase uma hora na varanda, comecei a ficar ansioso. Qual
era o sentido de vir a essa maldita festa se eu não conseguia encontrar
Lyla?
— Sebastian?
Eu me virei para encontrar Magnolia sorrindo ao meu lado, usando
uma máscara de gato e um sorriso.
— Eu reconheceria essa postura idiota em qualquer lugar, — ela
continuou, parando ao meu lado na varanda.
Eu endireitei minhas costas.
— Diz a loba com uma máscara de gato pateta, — respondi.
Eu não estava mentindo. A máscara era realmente boba. Havia longos
bigodes nela.
Ela deu um soco no meu ombro e eu não pude deixar de sorrir.
— Você está procurando por Lyla, — ela adivinhou.
— Sim, estou aqui há uma hora.
— Talvez a melhor maneira de encontrá-la seja indo para a pista de
dança você mesmo, — ela propôs.
Eu fiz uma careta com a sugestão. A única maneira de querer estar
nessa loucura seria se tivesse Lyla ao meu lado.
Eu não percebi que tinha me perdido em meus pensamentos até
Magnolia falar novamente.
— Ei, só estou brincando. Você a encontrará.
— Obrigado, Magnolia, — eu murmurei.
Eu só podia imaginar que essa festa não fosse fácil para ela também,
mas eu não estava com humor para piadas ou conversas. Nós dois
estávamos aqui sozinhos, e sem dúvida ela estava sentindo falta do
companheiro que ela havia perdido.
Eu tinha muito em que pensar.
A multidão gritando o nome de Caspian...
Como me senti ao perder o fôlego enquanto Tiberius olhava,
desaprovando.
E onde está Caspian agora, afinal? Com Lyla?
— Olha, Sebastian. — Senti Magnolia tocar meu braço. — Eu sei que o
conselho está colocando pressão em você agora. Mas você encontrará
uma maneira.
Eu encontrei seus olhos através da máscara de gato.
— Você sempre faz — acrescentou ela.
Soltei um suspiro.
— Isso parece diferente das outras vezes, — eu admiti.
— Isso é o que eles querem que você pense, — ela respondeu sem
perder o ritmo.
Eu ri. Talvez ela estivesse certa. Eles certamente queriam que eu
pensasse que estava por um fio...
Mas o que eles iam fazer, me despedir? Eles não podiam exatamente
substituir o alfa real.
— Por mais difícil que seja levar você a sério com essa máscara de
gato, isso realmente ajudou. Obrigado.
Ela sorriu de volta, e eu poderia dizer que ela estava genuinamente
feliz por eu estar feliz. Esse é o relacionamento que sempre tivemos.
— Eu vou encontrar Lyla, — eu disse, me afastando da grade.
— Pegue sua garota! — ela me chamou, e eu me dirigi para a multidão.
Lyla

Isso foi... estranho.


Demorou um minuto para me sentir normal depois que Caspian
desapareceu.
Toda a conexão tinha sido um frenesi — inebriante e misteriosa. Uma
descarga de adrenalina.
Estar com ele parecia tão diferente.
Foi só por causa das máscaras?
A festa?
Não, era outra coisa...
Mas então Caspian desligou como um interruptor. Eu não poderia
dizer o que o fez entrar em sua cabeça.
Minha expressão mudou quando ele tirou a máscara? Ele achou que eu
estava desapontada por ser ele?
Eu pensei que as coisas estavam indo tão bem...
Depois de alisar meu cabelo e ajustar minha máscara, separei as
cortinas de veludo.
O corredor estava ainda mais lotado do que antes, com um canal de
pessoas se movendo em cada direção.
Eu acertei o passo com um grupo se afastando de onde eu tinha vindo,
mas não me importei. O caos da pista de dança principal não era o que
eu queria ou precisava.
O corredor virou e notei uma escada escura e sem aglomeração à
minha direita. Subi as escadas e encontrei-me em um patamar silencioso,
sozinha.
Mesmo aqui na parte de trás do local, tudo era feito de mármore
preto, que era ainda mais assustador nas sombras.
As paredes vibraram com o barulho da festa enquanto eu continuava
subindo outro lance de escadas. Eu me senti estranha e sozinha, me
recuperando da partida abrupta de Caspian. Imaginando o que eu fiz de
errado.
O próximo patamar tinha uma porta e pensei que poderia encontrar
um lugar para sentar.
Quando empurrei a porta, porém, encontrei algo totalmente
diferente.
Uma dúzia de rostos mascarados se viraram para mim, mas não eram
festeiros fantasiados.
Eles eram a Alcateia Estrela da Noite, em suas máscaras pretas finas
habituais. E eles estavam organizados em torno de um enorme lustre de
cristal que eles claramente cortaram do teto.
Eu entrei direto em um assalto.
Eu encontrei os olhos do líder, o próprio Estrela da Noite, que cruzou
os braços e estremeceu.
— Agora que você viu tudo isso, não podemos exatamente deixá-la ir.
Saí pelo caminho que vim, de volta ao corredor. Uma debandada de
passos me seguiu. Antes que eu pudesse começar a correr, fui derrubada
no chão.
Alguém levou um pano à minha boca e eu respirei o cheiro forte.
Minha visão escureceu e percebi que Sebastian estava certo o tempo
todo.
Estrela da Noite tinha sido meu protetor antes, mas agora ele era meu
agressor.
Um homem me colocou em cima do ombro, e a última coisa que vi foi
Estrela da Noite meditando em um canto escuro.
Meu corpo estava ficando mole e eu estava desorientada demais para
sentir medo enquanto era carregada para o desconhecido.
17
PACKLAND UNDERGROUND
Lyla

Acordei em uma sala sombria e mal iluminada em um sofá puído.


Eu rapidamente me levantei e examinei o espaço. Não havia muito
entre essas paredes de concreto além de um fogão a lenha e uma mesa
simples.
E estava muito frio. E não havia janelas.
Mas onde eu estava? Eu comecei a relembrar a noite passada..
O baile de máscaras... a pista de dança lotada... Caspian na sala privada...
e o lustre...
Devo estar no esconderijo da Alcateia Estrela da Noite!
Eu esperava estar cercada pelos espólios do roubo de Estrela da Noite,
mas não havia nenhum. A sala era chocantemente humilde.
Levando minha mão à têmpora, percebi que quem quer que tenha me
tirado do baile deixou minha máscara.
Quão atencioso da parte deles...
Eu posso ter sido sequestrada, mas pelo menos eu tinha alguma
aparência de privacidade.
Quando tentei abrir a porta, ela estava destrancada. Eu olhei para um
corredor em forma de túnel.
Eu não conseguia afastar a sensação de estar no subsolo. Mas como
alguém poderia ter construído tudo isso?
— Olá! Você está acordada!
A voz profunda ecoou pelo corredor de concreto.
Virando minha cabeça, vi que o próprio Estrela da Noite emergiu no
espaço. Ele ainda usava o chapéu de aba larga e a máscara para os olhos,
mas agora estava sorrindo.
Dobrei minhas pernas, assumindo uma postura defensiva com os
punhos erguidos. Eu não estava prestes a deixar seus capangas me
atacarem novamente.
— Não se preocupe! Eu não vou te machucar. Você está segura aqui.
— Assim como eu estava segura quando seus homens me drogaram?
— Eu atirei de volta.
— Touché, — respondeu ele. — Eu te devo desculpas. Mas acredite em
mim quando digo que era simplesmente protocolo.
Eu fiz uma careta, ainda na defensiva.
Ele suspirou antes de continuar.
— Como você provavelmente percebeu, eu tenho um pequeno
problema com autoridade. E descobri que eles também têm um
problema comigo.
— Onde estou? — Eu perguntei, ignorando sua piada.
— Nas terras da Alcateia Estrela da Noite. — Ele abriu os braços,
gesticulando orgulhosamente para o espaço monótono. — Bem-vinda!
— Onde estão todas as riquezas que você roubou, então? — Eu
perguntei. — Como o dízimo e o lustre.
— Oh, esses não são para nós. Os recursos vão para pessoas
necessitadas, aqui mesmo na Cidade que o Cuidado Esqueceu. Esse é o
nome que damos para Nova Orleans, — explicou ele com uma piscadela.
Baixei meus punhos, intrigada com suas palavras.
— Parece que você tem uma ideia errada sobre a Alcateia Estrela da
Noite, — ele continuou. — Que tal eu lhe dar um grande tour, para que
você possa ver quem realmente somos.
Com isso, ele começou a descer o corredor, suas botas batendo contra
o chão.
Um tour parece... muito legal, na verdade.
Com um último olhar para trás, saí atrás do Estrela da Noite.
Sebastian

Depois de dar a volta na pista de dança pela quinta vez, subi as escadas
de dois em dois de volta até a varanda.
Meu coração estava disparado. Não havia como negar agora. Lyla não
estava aqui.
Claro, a festa estava um caos. Havia muitas pessoas, e o evento em si
foi planejado para desorientar seus convidados...
Mas quando olhei para o fosso estroboscópio de dançarinos, eu sabia
que não poderia atrasar mais.
Era hora de pedir ajuda.
Eu também não tinha encontrado Caspian. Talvez eles estivessem
juntos em algum lugar.
Eu esperava que estivessem, embora isso normalmente fosse a última
coisa que eu queria.
Mas eu não conseguia afastar a sensação inquietante de que algo
estava errado. Que minha companheira estava em perigo.
Desci a escada mais uma vez e me dirigi para a entrada principal.
Um guarda estava perto da porta com um ponto na orelha.
— Eu preciso falar com sua equipe. — Quando ele hesitou,
acrescentei: — Sou o alfa real.
— Sim, senhor. Desculpe, senhor.
Revirei os olhos e o segui por um corredor até uma sala cheia de
agentes estudando telas grandes.
Um deles se virou para mim.
— Alfa. Que honra conhecê-lo. Como posso ajudar?
Pelo menos ele é mais capaz do que seu colega.
— Estou procurando alguém.
— Nome?
— Lyla Green.
Ele começou a digitar e, um segundo depois, Lyla apareceu na tela. Ela
usava uma máscara de safira sobre os olhos e seu cabelo ruivo estava
alisado.
— É isso que ela está vestindo, — explicou o agente.
Seus lábios estavam separados e ela parecia linda, perdida em
pensamentos.
Talvez ela estivesse nervosa com alguma coisa...
Como ter dois companheiros na mesma festa.
— Alguém invadiu o escritório. — O novo agente se firmou na mesa.
— Estrela da Noite está aqui, — ele ofegou. — A alcateia dele roubou
um lustre.
Oh não. Meu estômago afundou, a sensação de medo se
intensificando.
— Mostre-me todas as saídas, — eu rosnei.
O agente rapidamente puxou imagens de segurança de todo o edifício
enorme.
Eu fiz a varredura dos trinta quadros diferentes...
— Lá.
O agente deu um zoom naquele que eu apontei. Era uma doca de
carga e o lustre estava sendo carregado em um caminhão sem
identificação.
E então eu a vi.
Lyla. Inconsciente. Sendo transportada para o banco do passageiro.
Por Estrela da Noite.
— Você está brincando comigo? — Eu gritei.
De repente, todos os agentes estavam fora de seus assentos, gritando
nos microfones que saíam de seus fones de ouvido.
— Há quanto tempo foi isso?
— Lamento muito pelo descuido, senhor. Isso foi há dez minutos.
Deixe-me rastrear a van e podemos ajudá-lo a encontrá-la..., — disse o
idiota enquanto batia no teclado.
— Não, obrigado. Só há uma coisa que você pode fazer por mim.
Todos se viraram para mim, desesperados para apaziguar o alfa real.
Mas eu já havia passado do ponto sem volta, pronto para fazer aquele
filho da puta do Estrela da Noite pagar.
— Chame os Guardiões da Lua. Diga a eles para me trazerem seu
melhor esquadrão AGORA.
Caspian
Era aqui. Juro pela merda da Deusa da Lua que era aqui.
Fiquei parado sob a luz da rua, olhando para a escuridão. Eu
provavelmente parecia um idiota, mas isso não era nada comparado a
como eu estava me sentindo.
O covil de Zara havia desaparecido. A porta roxa que havia me puxado
antes havia desaparecido em um sopro de magia vodu.
E em seu lugar estava um monte de... nada.
Com um suspiro, deixei cair meu peso na calçada e deixei minha
cabeça cair em minhas mãos.
Eu me senti uma merda. Esta poção alfa teve a pior ressaca de todos os
tempos.
O que diabos eu vou fazer agora?
Procurar outra bruxa que possa me ajudar? Encontrar Madame Cochon
novamente?
Sim, certo. Ela apenas diria: "Eu avisei".
Eu olhei de volta para a parede, mas a porta ainda não estava lá.
Não havia razão para eu ficar aqui, esperando que ela voltasse.
Eu me levantei e comecei a longa caminhada para casa. Inferno, não
para casa. A casa de Sebastian.
Antes de entrar na rua principal, olhei de relance para o beco.
Claro, nada mudou. Mas eu estava começando a achar que era uma
coisa boa Zara ter desaparecido no ar.
Essa poção alfa era uma coisa séria...
Madame Cochon estava certa.
Zara era um problema e eu sabia disso.
Mas eu também sabia que a poção alfa me fez sentir do jeito que
sempre quis sentir.
Como, pela primeira vez, tudo na minha vida estava se encaixando. E
de repente eu era capaz, no controle, no topo de todo o maldito mundo.
E esse sentimento seria difícil de esquecer...
Lyla
— E este é o meu quarto favorito em todo o lugar, — Estrela da Noite
me disse enquanto caminhávamos pelo corredor.
A risada transbordou da porta aberta à nossa frente e me vi sorrindo
junto com o líder enigmático.
— Sala de jantar! — ele anunciou.
Entrei para ver longas mesas cheias de dezenas de lobisomens. As
pessoas passaram os pratos umas para as outras, enchendo-os com
comida de cheiro delicioso.
Eu poderia dizer imediatamente que esta não era uma alcateia
normal. As mesas não foram divididas por status ou hierarquia; em vez
disso, todos jantavam juntos como uma família.
Mas a Alcateia Estrela da Noite era muito maior, mais estabelecida, do
que eu jamais imaginei. Era como se eles tivessem construído uma cidade
inteira sob Nova Orleans.
Um cheiro inegável chamou minha atenção: o travo natural de algo
entre um humano e um lobisomem.
— Você tem mestiços em sua alcateia? — Eu perguntei, chocada.
Estrela da Noite acenou com a cabeça.
— Ah, sim. Nossa alcateia é feita de párias, pessoas rejeitadas de outras
alcateias. Acho que essa é a melhor parte sobre nós.
Se todas as alcateias pensassem da mesma maneira...
Lua Azul era muito mais exclusiva. E a Alcateia Real estava em um
nível totalmente diferente.
— Deixe-me mostrar meu escritório.
Eu segui Estrela da Noite pelo corredor mais uma vez, e fiquei
surpresa ao descobrir que ele tinha deixado a porta aberta também.
Seu escritório era uma sala esparsa iluminada por velas e lampiões a
óleo.
— Eu sinto que voltei no tempo, — eu disse a ele.
— Ter fogo por perto me ajuda a pensar, — respondeu ele com uma
risada.
E então avistei uma armadura de platina enfiada no canto atrás da
mesa.
Corri até ela, tocando o metal frio com meus dedos.
— Você era um Guardião da Lua?! Meu pai era um Guardião da Lua,
— eu disse.
Eu não sabia por que queria dizer isso a ele. Talvez porque não seja
todo dia que você encontra um Guardião aposentado.
— Como é possível que você fosse um deles? — Eu continuei — Você
os desafia a cada passo!
Eu ri alto enquanto pensava nos Guardiões da Lua lutando para
conseguir seu dízimo...
Mas quando vi o rosto de Estrela da Noite, havia tristeza em seus
olhos.
— Por mais surpreendente que seja, eu era um Guardião da Lua... e
gostei no início. — Ele olhou para longe enquanto se perdia na memória.
— Eu queria cumprir meu dever de apoiar os lobisomens. Para
proteger a própria Deusa. Mas depois de um tempo, não aguentei mais.
Toda a corrupção...
Eu o observei enquanto ele tirava o chapéu para revelar o cabelo ruivo
penteado para longe de seu rosto. Ele pareceu instantaneamente mais
vulnerável.
— Eu deixei a Igreja, desertei a Ordem dos Guardiões da Lua... — ele
disse. — E nunca me importei em me esconder, em manter o sigilo, em
viver sob o radar.
Ele olhou para cima e me deu um sorriso tão triste que quebrou meu
coração.
— Mas desertar significava que eu tinha que deixar minha família.
Para sempre. E esse é o arrependimento mais profundo da minha vida. —
Sua voz soou em meus ouvidos quando ele terminou de falar. E então
meu coração acelerou.
— Qual o seu nome? — Eu sussurrei.
Tudo estava se encaixando. As coincidências colidindo umas com as
outras.
A armadura de platina, a máscara, o cabelo ruivo...
Estrela da Noite estreitou os olhos por um segundo como se estivesse
se perguntando se ele poderia confiar em mim.
— Michael — respondeu ele.
Eu respirei fundo e minha visão ficou turva com as lágrimas.
— Eu acho... — eu comecei, mas engasguei com as palavras, e
convoquei todas as minhas forças antes de continuar.
— Eu acho que você é meu pai.
18
ENCAIXANDO AS PEÇAS
Lyla

O queixo de Michael caiu. Ele me olhou como se me visse pela


primeira vez.
E de certa forma, ele estava. Nós dois estávamos.
Antes éramos estranhos e agora podíamos ser... uma família.
Ele puxou a máscara sobre a cabeça e então pude ver todo o seu rosto.
Ele parecia... comigo.
A mandíbula afiada, nariz proeminente e olhos verdes que eu nunca
tinha visto em minha mãe ou meu pai... aqui estavam eles.
Desamarrei a fita que prendia minha máscara no lugar e ela caiu.
Não tinha percebido o quanto confiava no anonimato da máscara e de
repente me senti exposta.
Michael mordeu o lábio. Ele observou todo o meu rosto e me peguei
prendendo a respiração.
Ele ficará desapontado?
O medo era puro e fresco, como uma velha ferida que foi reaberta.
Sobrecarregada, olhei para minhas mãos e sonhei em estar em
qualquer outro lugar.
— Lyla.
A voz de Michael estava cheia de emoção... de amor. Eu nunca disse a
ele meu nome.
Quando encontrei seus olhos mais uma vez, ele estava chorando.
Lágrimas escorriam por seu rosto.
Era surreal ver o guerreiro endurecido em um estado tão vulnerável.
Mas, como um verdadeiro herói, ele manteve contato visual.
O amor que vi em seus olhos curou uma parte de mim que eu tinha
acabado de descobrir que estava quebrada.
Mas a questão ainda permanecia. Se eu era o suficiente, por que ele foi
embora?
— Venha aqui, — ele sussurrou. Ele deu um passo à frente e abriu os
braços.
Soltei um soluço quando colidi com ele, abraçando-o com todas as
minhas forças.
Ele cheirava quente, familiar... como em outra vida. Ele me fazia sentir
segura.
Ficamos assim, chorando, abraçados por muito tempo.
Como poderia sentir falta de alguém que nunca conheci de verdade?
Mas eu senti falta dele. Meu corpo e meu subconsciente mantiveram sua
memória.
E estar em seus braços me trouxe um alívio intenso e inesperado.
— Como você me encontrou, garota maravilhosa? — ele perguntou
eventualmente.
Comecei a rir... e então comecei a rir. E ele estava rindo também.
Eu me afastei do abraço e nós dois nos dobramos de tanto rir, como se
estivéssemos extraindo todas as coisas que não sabíamos como dizer,
todas as emoções confusas.
Como eu o encontrei?
— Acho que você me encontrou, — respondi.
Ele estremeceu e eu pude vê-lo repassando os eventos do dia.
— Eu não tenho sido um anfitrião muito bom, tenho...?
Michael correu para o outro lado de sua mesa e puxou a cadeira.
— Aqui! Venha sentar! Deixe-me pegar uma bebida para você. Eu
tenho uísque. Na verdade, o álcool não vai se misturar bem com o
sedativo em sua corrente sanguínea... puta merda.
Sentei-me rindo das excentricidades de Michael.
— Água está ótimo — eu disse.
— Claro. Obviamente. — Ele praticamente saiu correndo da sala.
E eu sentei lá na cadeira do meu pai, sozinha em seu escritório. Nas
últimas duas semanas, pensei tantas vezes sobre esse momento.
Eu pensei nisso várias vezes em minha mente, me perguntando o que
eu diria ao meu pai quando o encontrasse...
Eu pensei em deixar a raiva tomar conta e gritar com ele por deixar
minha mãe e eu.
Eu pensei que iria desabar e nunca parar de chorar, me perdendo na
dor...
Mas agora que eu estava realmente com ele, me senti estranhamente
calma. E feliz. Eu me senti em casa.
Michael voltou com um copo de água gelada e se sentou em uma
cadeira do lado oposto de sua mesa.
Ele me observou enquanto eu tomava um gole, seus olhos cheios de
um desejo silencioso.
— Eu não posso acreditar que você está aqui — ele disse suavemente.
— Nem eu, — respondi. — Achei que você pudesse estar morto.
Ele desviou o olhar e depois olhou para as mãos.
— Eu pensei que nunca iria conhecê-la.
Respirei fundo, instável, e fiz a pergunta que estava pesando em meu
coração.
— Por que você não tentou me encontrar?
Ele ainda não conseguia olhar para mim.
— Eu queria proteger você — disse ele. — Desde que desertei dos
Guardiões, o perigo me segue aonde quer que eu vá. Eu não poderia
sujeitar você a isso.
Ele finalmente encontrou meus olhos, e eu vi a dor espreitando bem
no fundo.
— Mas não fazer parte da sua vida foi o meu maior arrependimento.
Eu assimilei bem essas palavras. Eu acreditei nele. Mesmo que eu
preferisse estar em perigo, entendi que ele só queria o que era melhor
para mim.
— Não é tarde demais — eu disse com um sorriso.
— Você está certa. — respondeu ele. — Podemos recuperar o tempo
perdido!
Ele estava animado novamente, inclinando-se em minha direção
sobre a mesa.
— Diga-me. Como são seus amigos?
— Oh, eles são barulhentos..., — eu disse, pensando em Teresa, — e
eles adoram se divertir, — eu continuei, pensando em Caspian, — e eles
amam a natureza, — eu acrescentei, pensando em Sebastian.
— Uau, — ele respondeu, como se fosse a melhor coisa que ele já tinha
ouvido. — E como está Lily?
Mamãe.
Eu me perguntei o que minha mãe pensaria se soubesse que eu estava
aqui. Como ela se sentiria?
— Ela está bem, — respondi, decidindo não acrescentar que ela
também estava em Nova Orleans. — Eu tenho uma irmã mais nova.
Eu vi novas lágrimas se formando em seus olhos.
— Qual é o nome dela?
— O nome dela é Skye. Ela tem nove anos. — Havia muito para dizer
a ele, mas eu também queria saber tanto. — Ok, minha vez. Quantas
pessoas vivem aqui? Qual é o tamanho da sua alcateia?
— Somos quase cinquenta agora. Sei que pode não parecer grande,
mas não consigo acreditar. Temos que ficar sob o radar, mas não posso
mandar as pessoas embora!
Ele balançou sua cabeça.
— Você ficaria surpresa com quantos lobos solitários estão lá fora,
procurando por uma alcateia.
Eu sorri para Michael.
— Eu acho tão legal que você deu a essas pessoas uma comunidade.
Nunca entendi por que algumas pessoas têm preconceito contra
mestiços.
Michael parecia tocado, quase pasmo pelo que eu disse. Eu tive que
desviar o olhar.
— Você deve ter vinte e dois anos agora. — disse ele. — Isso significa...
você tem um companheiro?
Eu estremeci.
— Agora isso é uma longa história.
Sebastian
Eu corri pelas ruas da cidade com Caius e Tiberius me seguindo, Alfa
Hugo de um lado e um esquadrão de Guardiões da Lua do outro.
— Seria muito mais fácil se pudéssemos mudar, — gritei.
— Não é permitido nos limites da cidade, Alfa. — um Guardião
respondeu. — Estamos quase no local suspeito...
Sua burocracia estúpida me fez cerrar os dentes. Eu não me importava
com o que era permitido. Eu precisava encontrar Lyla.
E transformar aquele estrela da noite criminoso em uma polpa de merda.
As ruas eram escuras e estreitas, e corremos para dobrar a esquina. À
minha frente, eu podia ver um cara bêbado vagando para casa...
— Caspian?!
Ele saltou cerca de trinta centímetros no ar.
— O que você está fazendo, filho? — Beta Alexander gritou.
O olhar no rosto de Caspian era impagável, mas não era hora de se
gabar.
— Lyla está desaparecida! — Disse quando o alcançamos. — E você
está cambaleando como um bêbado patético!
Seus olhos se arregalaram e então ele começou a correr,
acompanhando nosso ritmo.
— Lyla está desaparecida?
— Eu gaguejei? — Eu atirei de volta.
Chegamos ao fim do quarteirão e Magnolia apareceu na esquerda.
— Acho que encontrei algo aqui! — ela chamou. — O perfume do
baile começou a sumir. É fraco, mas eu captei o cheiro dela.
Perfeito.
— Nossa pista vem da direita! — um Guardião da Lua gritou.
— Dê-me dois de seus homens e eu irei com Magnolia! — Eu pedi. Eu
sabia que eles não iriam gostar disso, mas foda-se. Eu era o alfa real.
Nosso grupo se separou, e enquanto eu seguia Magnolia, percebi que
Caspian estava correndo atrás de mim. Clássico.
A rua era despretensiosa, mas quando respirei, pude sentir o cheiro
dela também.
Meu coração disparou com esperança.
— Aqui! — Magnolia parou ao lado de uma grande grade de esgoto
redonda.
Eu me agachei e segurei as barras de metal. Quando a grade não se
soltou, eu soube que ela havia sido enfeitiçada.
— Me ajudem, — eu rosnei para os Guardiões da Lua, mas Caspian foi
mais rápido.
Ele se posicionou à minha frente, e então nós dois puxamos. A grade
se manteve no lugar por alguns momentos, mas finalmente a puxamos
para fora.
Joguei a grade para o lado e encarei o esgoto.
— Fique aqui para vigiar, — eu disse a Magnolia. — Isso pode ficar
feio.
E então eu pulei no escuro.
Ouvi os outros pularem atrás de mim e continuei em frente, seguindo
o cheiro de Lyla. As lanternas dos Guardiões da Lua lançavam círculos de
luz nas paredes mofadas.
No final do túnel havia uma grande grade de metal e me movi em
direção a ela.
A água suja encharcou meus sapatos de couro e a calça do smoking,
mas eu não ia começar a me preocupar com isso agora.
Chegamos ao fim do túnel e os Guardiões da Lua começaram a
trabalhar na abertura da grade. Mas enquanto farejei o ar, não consegui
encontrá-la.
— Ela não está aqui!
Eu me virei para trás, passando minhas mãos ao longo das paredes. Os
Guardiões continuaram seu trabalho, mas Caspian estava ao meu lado.
E então eu senti. Uma crista na pedra. Quando me afastei, pude ver o
contorno de uma grande porta...
Mas era feita inteiramente de pedra, sem alça.
Caspian já havia se posicionado do outro lado e, juntos, enfiamos
nossos dedos no espaço, tentando libertar a pedra.
Ela começou a se mover lentamente. E continuamos a trabalhar até
que a enorme laje caiu no túnel.
O cheiro de Lyla flutuou pela porta aberta e eu espiei o espaço. Estava
mal iluminado — um túnel de concreto semelhante ao que eu estava
dentro.
A entrada que encontramos era claramente apenas para uso de
emergência, e não parecia que alguém a estava vigiando.
— Vamos, — grunhi para Caspian. E então estávamos correndo pelos
corredores de algum covil subterrâneo sujo.
Eu não posso acreditar que a Alcateia Estrela da Noite vive nesta merda.
Os corredores eram úmidos e deprimentes.
— Ei!
Os guardas da Estrela da Noite nos encontraram, e cinco homens
avançaram em nossa direção com longos bastões de combate.
— Deixa comigo, — Caspian disse baixinho.
— Perfeito, — respondi.
Então nós entramos em confronto. Eu parei o bastão de um guarda no
ar, pegando-o na minha mão, mas o golpe havia sido poderoso.
Os guardas eram lutadores talentosos. Mas depois que meu pé bateu
em seus estômagos, eu consegui uma brecha.
Caspian acenou para mim enquanto lutava com os outros guardas, me
incentivando.
Eu corri pelo corredor, espiando em todas as portas.
Uma sala de reuniões. Uma academia. Uma cafeteria.
E então eu a vi.
Com ele. Mesmo que eu só tivesse visto Estrela da Noite com sua
máscara, eu sabia que era ele.
Lyla estava sentada a uma mesa, chorando.
Aquele desgraçado de merda.
Eu me lancei na sala, mudando para a minha forma de lobo.
Quando eu caí no chão, meu rosnado retumbou nas paredes ao meu
redor.
Estrela da Noite se virou, seus olhos estreitos.
Pensei na marcha, em como seus homens atacaram os Guardiões da
Lua. Este homem era apenas um criminoso.
Roubar bens materiais era uma coisa, mas mexer com minha
companheira...
É hora de ele pagar!
Sem perder mais um segundo, eu ataquei.
Lyla

Eu assisti com horror.


Era como um pesadelo distorcido.
O enorme lobo preto de Sebastian atacou meu pai. Ele jogou Michael
no chão, as garras mortais do alfa manchando sua camisa branca de
sangue.
E então Sebastian abriu as mandíbulas e as envolveu no pescoço de
Michael.
Ele iria matá-lo. Eu estava prestes a assistir meu companheiro matar
meu pai.
— PARE! — Eu gritei, finalmente encontrando minha voz. — Ele é
meu pai!
Os olhos azuis do lobo transmitiram choque humano. Sebastian
recuou, mas a comoção encheu a sala mais uma vez.
Os Guardiões da Lua invadiram o espaço, gritando enquanto
algemavam Michael.
— CORRAM! — ele gritou, e eu sabia que ele estava tentando salvar
sua alcateia, embora ele não pudesse salvar a si mesmo.
Lágrimas turvaram meus olhos quando ele se virou para mim, e um
leve sorriso apareceu em seus lábios.
Mas eu não consegui retribuir. Meu coração estava partido.
Porque eu tinha acabado de encontrar meu pai e estava prestes a
perdê-lo de novo...
19
FAZENDO AS PAZES
Lyla

Na manhã seguinte, andei de um lado para o outro na sala de estar. O


sol entrava pelas janelas.
Antes disso, eu assisti o sol nascer. Eu não tinha dormido nada.
Minha mãe e meu pai estavam dando uma caminhada para ajudar
minha mãe a se acalmar.
Ela tentou ficar calma comigo, para parecer feliz, mas eu pude ver que
ela estava chocada e sobrecarregada.
E eu não a culpei.
Eu também estava.
Tudo estava acontecendo tão rápido. E assim que as coisas estavam se
encaixando, elas se desfizeram.
— Ei. — Eu me virei para ver Sebastian na porta. Ele parecia tão
cansado quanto eu. — Posso falar com você?
Não era que o estivesse evitando, só não sabia o que dizer. Inferno, eu
nem sabia o que sentir.
Minha mente racional sabia que a situação não era culpa dele. Mas eu
não conseguia afastar a memória de suas mandíbulas em volta do
pescoço de Michael.
Eu não pude deixar de ficar ressentida com a ferocidade com que ele
me protegeu.
Eu o segui pela porta da frente e caminhamos em silêncio pelo
quintal. Sentamos a uma mesinha à sombra de um carvalho, olhando
para o pomar de limoeiros.
— Olha, eu te devo desculpas, — ele começou. — Eu sinto muito que
os Guardiões da Lua levaram seu pai embora. Se eu soubesse, não teria...
Sua voz sumiu.
— Mas você não sabia, — eu disse.
— Eu estava com tanto medo de que algo acontecesse com você. —
Sua voz era baixa.
Fiquei em silêncio por um tempo, olhando para ele. Não era justo
culpá-lo. E ao vê-lo assim, tão dilacerado, eu sabia que ele estava se
culpando.
— O que aconteceu não é sua culpa. — Quando ele olhou para mim,
seus olhos azuis estavam profundos de tristeza. — Eu fui sequestrada,
afinal.
Eu olhei para a terra ao nosso redor, exuberante e linda. Era um lugar
perfeito para relaxar, mas o tempo todo em que estivemos aqui foi
estressante e exaustivo.
— Ele te machucou? — Sebastian perguntou, olhando para suas mãos.
— Estrela da noite?! Não! — Eu respondi, surpresa que ele até mesmo
perguntasse. — Não foi nada disso.
— Bom. Só não sei do que ele é capaz. — respondeu ele.
Eu o observei, me perguntando o que ele estava pensando.
— Ele é um bom homem. Você viu onde ele mora. Tudo que ele
pegou, ele distribuiu para os pobres.
Sebastian concordou. Ele finalmente olhou para cima e pegou minha
mão.
— Temos que tirá-lo da prisão, — continuei. — Eu só fico pensando
no que os Guardiões da Lua poderiam fazer com ele...
— Nós vamos, — Sebastian disse, sua voz segura quando ele apertou
minha mão.
— Vou me encontrar com o conselho mais tarde. Estrela da Noite
precisa ter um julgamento justo, e se eu conseguir que a Alcateia Real
apoie ele, ele terá uma defesa forte.
Fiquei chocada. Sebastian e eu estávamos de acordo.
Eu pulei da minha cadeira e joguei meus braços ao redor dele.
— Obrigada — eu sussurrei, respirando seu cheiro. E por um
momento, tudo era simples.
Sebastian e eu éramos uma equipe. Eu encontrei meu pai e íamos tirá-
lo da prisão.
Mas Sebastian beijou minha bochecha e começou a se afastar. Estava
claro que ele estava se segurando — provavelmente porque, até eu tomar
uma decisão, não tínhamos permissão para fazer isso.
Ou porque ele ainda não formou uma opinião sobre o Estrela da Noite.
Recostei-me na cadeira. Agora que eu sabia mais sobre meu pai,
precisava me concentrar em fazer uma escolha.
— Bem, como foi? — A voz de Sebastian me trouxe de volta. — Como
foi conhecê-lo?
Percebi que em meio a toda essa loucura, ninguém havia me
perguntado isso. Não tinha contado a ninguém o que havia acontecido.
— Foi uma loucura, — eu disse, sorrindo. — Nós dois tínhamos tantas
perguntas um para o outro. Mas havia uma estranha sensação de...
compreensão. Como se embora eu não o tivesse visto em tantos anos, eu
o conhecia mesmo assim.
Sebastian concordou.
— Estou feliz por você, Lyla. — Eu não pude deixar de me sentir
tocada pela sinceridade de Sebastian.
— Você faz as melhores perguntas, sabe? É como se você pudesse
sentir quando algo está em minha mente...
Ele desviou o olhar, seu sorriso vacilando. Eu me perguntei o que ele
estava pensando.
Sempre que eu estava com problemas, ele estava lá. Ele era meu
companheiro destinado. Ele era meu sistema de apoio.
Ele foi a primeira pessoa a quem procurava quando estava chateada e
quando estava feliz.
Poderia ser tão simples? Isso é tudo que preciso saber?
Talvez fosse.
— Obrigado, Sebastian. Por sempre me entender.
— É isso que eu quero ser, — respondeu ele. — Vamos pegar seu pai
de volta. Eu prometo.
Caspian
Eu sabia que estava me torturando assistindo Lyla e Sebastian juntos.
Mesmo assim, fiquei sentado à mesa da cozinha, no único assento que
dava para vê-los.
Eu a vi abraçá-lo. Sorrindo para ele. E como uma espécie de
masoquista, não conseguia desviar o olhar.
Sebastian provavelmente estava prometendo tirar Michael da prisão.
Tudo o que ele precisa fazer é mexer alguns pauzinhos.
Ele era o maldito alfa real. Ele tinha contatos, dinheiro e poder. Como
eu poderia competir com isso?
Eu costumava pensar que conhecer Lyla e amá-la — amá-la de
verdade pra caralho — era o suficiente.
Mas agora, a resposta era óbvia. Eu estava impotente para tirar
Michael da prisão.
Eu não poderia competir com Sebastian.
E isso me esmagou, porra.
Nem sempre me senti assim. Pensei no Anel da Força.
Eu me senti calmo, no controle.
Capaz.
Digno de Lyla.
Esse sentimento poderoso era tudo que eu queria.
E ficar sozinho com ela na festa...
A poção me fez esquecer que havia algo entre nós. Ela havia lavado
todas as inseguranças, todas as dúvidas...
Mas quando seus efeitos desapareceram, eu arruinei o momento. E
era por isso que, embora Lyla e eu tivéssemos compartilhado algo tão
especial, tão sexy, ela ainda estava lá com ele.
A voz de Lyla soou em meus ouvidos, chamando meu nome como se
ela estivesse com medo. Querendo saber o que havia de errado comigo,
por que eu estava tão fodido.
Eu era apenas o cara com quem ela poderia se divertir — o cara que
não sabia quando parar?
Isso não pode ser verdade. Era muito deprimente.
Eu queria ser aquele a quem Lyla pudesse recorrer. Para qualquer
coisa.
Eu queria ser aquele que ela escolheria.
Sebastian

Entrei na sala de reuniões do hotel pronto. Tomando meu lugar à


cabeceira da mesa, examinei o conselho.
O ar estava envelhecido, como a decoração, mas é melhor eu me
acostumar com isso porque eu estava me preparando para o longo prazo.
Seria necessário traçar muitas estratégias para tirar Michael da prisão.
E eu faria o que fosse preciso.
Tiberius estava carrancudo, como sempre, e Caius estava separando
papéis. Magnolia estava roendo a unha, perdida em pensamentos. Tonya
e Titus entraram na sala com uma jarra de água e copos.
— Ok, vamos começar a reunião. Podemos? — Todos os olhos se
voltaram para mim.
Aqui vamos nós.
— E eu gostaria de começar com um anúncio, — eu disse. — O recém-
preso Estrela da Noite é o pai biológico de Lyla.
As narinas de Tiberius dilataram-se e uma série de olhares de
desaprovação espalharam-se pela mesa.
— Como isso é possível? — Caius gritou.
— É uma longa história, — respondi.
— Isso não é uma boa aparência para a Igreja, — Titus acrescentou
com um estremecimento.
— Ela não teve nenhum relacionamento com ele até agora! — Disse,
esperando que isso os acalmasse.
Como se o conselho precisasse de mais motivos para desaprovar Lyla...
Eu respirei fundo e continuei.
— Eu sei que os valores do Estrela da Noite não se alinham com os
nossos. Mas ele é importante para a Luna da nossa alcateia... e é por isso
que devemos apoiá-lo enquanto ele vai a julgamento.
Murmúrios tomaram conta da mesa. Magnolia me lançou um olhar
ansioso.
Talvez isso seja ainda mais difícil do que eu pensava.
— Lyla não é a Luna da Alcateia Real, Sebastian, — Tiberius disse
calmamente — para nossa decepção. Pois todos nós estamos em
desvantagem por causa de sua indecisão!
Por mais que eu odiasse, eu sabia que ele estava certo. Ninguém estava
em maior — desvantagem — do que eu.
Mas eu não conseguia pensar nisso agora. E eu não podia desistir...
— Bem, se a Alcateia Real persuadir a Igreja a libertar Estrela da Noite
e nos permitir reabilitá-lo e desviá-lo de seus caminhos criminosos,
seríamos vistos como um exemplo brilhante de liderança filantrópica, —
eu tentei.
O silêncio reinou até que Tiberius riu.
— Sebastian, sua atitude caridosa é... admirável. Mas simplesmente
impossível!
— Estrela da Noite tem sido uma pedra no sapato da Igreja por muito
tempo. E eles finalmente o pegaram — com a sua ajuda! — Caius
acrescentou. — Você não quer perder a confiança da Igreja, e você acabou
de aumentar nossas realizações!
Mas o que eu fiz não me pareceu admirável. Eu causei dor a Lyla.
Se minha companheira estava sofrendo, como eu poderia estar feliz?
— Se fizermos qualquer coisa para impedir a prisão de Estrela da
Noite, filho, perderemos o financiamento da Igreja.
Eu odiava quando Tiberius me chamava de “filho”.
— Espere o que?! — Eu exigi, percebendo o que ele acabou de dizer. —
Podemos perder financiamento?
Agora Tonya e Titus estavam estudando a mesa.
— De fato, — Tiberius respondeu. — A Alcateia Real está à beira da
zombaria. Seu alfa não é capaz de conquistar sua companheira
destinada... Claramente, isso não passa uma boa impressão.
Eu estava furioso. Como ele ousa falar de mim desse jeito? E pior, falar
como se eu nem estivesse na sala?
— A lei dá a Lyla mais uma semana para decidir. Você consegue
entender o quanto ela sofreu nesse último mês, desde que ela e eu nos
conhecemos?!
A mesa ficou em silêncio.
— Vou dizer isso mais uma vez. — Eu me levantei, comandando toda a
atenção na sala. — Como seu alfa, exijo que vocês me apoiem na defesa
da libertação de Estrela da Noite!
Caius e Tiberius trocaram um olhar, e Caius assentiu.
— Sebastian, nós deixamos você se divertir, — meu tio disse. — Mas
basta. Esta alcateia precisa de um líder cujo poder é confirmado pelo laço
de acasalamento.
Como se eu já não soubesse disso. Como se a única coisa que eu
quisesse nesta porra de mundo não fosse Lyla.
Tiberius pigarreou.
— Se você não tiver uma companheira até o final deste ciclo lunar...
Sebastian, você não será mais o alfa da Alcateia Real.
20
ESTRADAS ROCHOSAS
Sebastian

Eu sempre podia contar com ar fresco para limpar minha mente


quando estava de mau humor. E eu estava no pior humor.
Mesmo o esplendor de um riacho natural e o chilrear calmante dos
grilos não podiam me ajudar agora.
Eu estava furioso porque o conselho estava forçando minha mão e
odiava o quão impotente eu estava para impedi-los.
Tentei meditar no meu projeto: pescar lagostins. Lembro-me de ter
vindo a este lugar com meu pai quando criança, e estava usando sua
técnica.
Amarrei um pedaço de cachorro-quente na linha de pesca e joguei na
água, mantendo minha rede pronta.
Mas uma vez que minha isca foi colocada, minha mente começou a
vagar de volta para tudo o que estava me incomodando.
Não pude ajudar o pai de Lyla. Sem minha alcateia me apoiando, era
impossível.
Eles não apenas se recusavam a ajudar, mas também ameaçavam tirar
a única coisa que sempre foi minha — a parte mais importante da minha
identidade...
Meu status como alfa.
E então havia o problema real — aquilo que fazia todo o resto
empalidecer em comparação e, se resolvido, poderia fazer todos os
outros problemas desaparecerem.
Lyla não conseguia escolher. Ela não podia se comprometer com um
companheiro.
Embora eu esperasse que ela fosse — e em dias bons, achei que ela
seria — minha, a verdade é que eu não sabia.
E eu não poderia dizer a ela que meu status como alfa real dependia
de sua decisão. Era muita pressão.
Eu não queria que ela pensasse que eu só queria estar com ela para
manter meu título. Porque estar com ela era muito mais importante do
que isso.
Ela era minha companheira.
Eu queria que ela me escolhesse por amor, se ela fosse me escolher.
Mas se eu não tiver Lyla, então não terei nada...
Eu estava viajando enquanto olhava para o leito de seixos do riacho,
quando notei os lagostins mordendo a isca!
Eu me virei para pegar minha rede... mas quando voltei, os lagostins
tinham ido embora.
Meus punhos cerrados, meus dedos ficando brancos. Mantenha o
controle, Sebastian.
Esses peixes estúpidos foram a gota d'água. Minhas garras começaram
a emergir e eu flexionei meus dedos abrindo caminho para elas.
Os próximos que vierem são meus...
Joguei a sobra de cachorro-quente e logo eles apareceram.
Eu cambaleei para frente, as garras brilhando enquanto caia na água.
Eu deslizei minhas garras para frente e para trás, certificando-me de ter
pegado todos eles.
— Te peguei, — eu sussurrei, me afastando.
Meu punho estava cheio de lagostins, e eu o abri lentamente para
inspecionar minha presa.
Eu me pergunto quantos eu peguei.
Eu tinha cem pequenos pedaços ensanguentados, mas nenhum
lagostim. Porque eu tinha matado os pobres coitados antes mesmo que
pudessem sair da água.
Toda vez que tento, acabo quebrando coisas.
A raiva corria em minhas veias enquanto eu batia meu punho no
riacho para limpá-lo. Uma onda de água encharcou minha camisa e
fiquei ali sentado, molhado e fumegante.
Chega de pescar por hoje. Afastei-me do riacho e, enquanto movia
meus membros, comecei a me acalmar.
O sol estava começando a se pôr e o ar estava animado com o som dos
grilos. Àquela hora do dia me fez pensar em estar aqui quando criança e
correr para casa para chegar na hora do jantar.
Mas as coisas não eram mais tão simples.
Eu não via Lyla desde antes da reunião e não estava ansioso para dar a
notícia.
A rua estava cheia de gente bebendo nas calçadas ou jantando com as
famílias nos pátios dos restaurantes.
Havia uma longa fila na sorveteria que eu amava quando criança.
Estava pensando em pegar uma casquinha de pistache quando notei
alguém acenando para mim.
Magnolia estava no meio da fila e eu me aproximei para encontrá-la.
— Você está aqui sozinha? — Eu perguntei.
— Isso é muito patético? — ela respondeu com um estremecimento.
— De jeito nenhum. E você não está sozinha agora.
Poucos minutos depois, eu estava com minha casquinha e Magnolia
com um sundae com calda de chocolate quente.
— Eu queria falar com você de qualquer maneira..., — disse ela
enquanto nos acomodávamos no meio-fio próximo. — Achei que você
passaria por maus bocados depois da reunião do conselho.
Esse foi o eufemismo do século.
— É tão difícil porque tudo que eu quero é Lyla... mas às vezes eu
sinto que estou sendo puxado em várias direções. Eu não posso fazer
todo mundo feliz.
Magnolia ficou pensativa por um tempo enquanto comíamos.
— Sabe, aposto que Lyla se sente da mesma maneira. Em vez de ter
um conselho, ela tem outro companheiro.
Eu não tinha pensado nisso antes.
— Eu acho que vocês dois precisam fazer o que vai fazer vocês felizes,
— ela disse. — Caso contrário, ninguém realmente ganha.
— Quando você ficou tão inteligente, Magnolia? — Eu perguntei. Ela
sorriu. — Obrigado, no entanto. Sério.
Voltamos juntos pela rua, cada um perdido em seus pensamentos.
Eu sabia o que me faria feliz: estar com Lyla. E se eu a tivesse, então
poderia ser alfa também.
Esse era o problema. Ou eu teria tudo que eu queria...
Ou não teria absolutamente nada.
Caspian

Lyla mordiscou as pontas do queijo grelhado que fiz para ela.


Sheesh. Ela está muito chateada para comer.
Mas se meu pai estivesse em perigo, eu me sentiria da mesma
maneira.
E se a comida reconfortante não estivesse ajudando a aliviar o humor
de Lyla, eu teria que tentar outra coisa.
Eu não conseguia me deixar levar pelos meus próprios sentimentos
feridos.
Eu estava com o coração partido e desesperado demais para ver que
Lyla também estava sofrendo. E eu não ia deixar isso acontecer
novamente.
— Fiz o queijo grelhado na gordura de crocodilo, — disse eu.
— Oh, que bom — murmurou Lyla. — Espere o que?
— Sim, sério. Eles vendem no supermercado.
Ela estreitou os olhos para mim, até esboçou um sorriso.
— Você está mentindo, — ela decidiu.
— Sim, estou mentindo. Mas, na verdade, usei um pouco de gordura
de bacon para ficar bem extra. — Essa parte era verdade.
— Desde quando você se tornou um che ?
Dei de ombros.
— Bem, está muito bom. Obrigada. — Lyla olhou para baixo e vi seu
sorriso vacilar. Eu sabia que ela estava preocupada com seu pai.
E então tive uma ideia incrível.
— Quer visitar o Michael? — Eu perguntei.
— Nós podemos fazer isso? — Lyla respondeu com os olhos
arregalados.
— Tudo o que tenho que fazer é ativar o antigo charme do Caspian, e
podemos entrar em qualquer lugar.
— Talvez apenas me deixe falar..., — ela brincou.
Lyla se levantou, o queijo grelhado esquecido. E lá estava o sorriso que
eu queria tanto ver.
— Vamos.
Lyla

— Ei, mãe, — eu disse ao telefone enquanto olhava pela janela do táxi


que estava levando Caspian e eu para os arredores da cidade.
— Oi Lyla. O que você está fazendo?
— Eu, hum... vou visitar Michael. E eu me perguntei se você gostaria
de ir também. Estou em um táxi e podemos buscá-la.
A linha ficou em silêncio e eu me peguei prendendo a respiração.
— Acho que não, Ly. — Ela suspirou. — Seria muito doloroso. Isso te
deixa triste?
— Não, claro que não, — respondi rápido demais. Isso me deixou
triste, embora eu não soubesse por quê.
— Eu sinto muito, querida. Estou tão feliz por você estar passando um
tempo com ele. Mas ele está no meu passado agora.
Ficamos em silêncio ao telefone por um minuto.
— Lyla? — ela perguntou.
— Sim?
— Eu quero que você descubra o que é melhor para você, — mamãe
continuou. — Só porque eu não o quero mais na minha vida, não
significa que ele não deva fazer parte da sua.
Isso fez sentido para mim e me senti um pouco melhor.
— Talvez você consiga ver o Michael que conheci anos atrás, —
acrescentou a mãe.
— Eu acho que já conheci — eu disse.
— Bom, querida. Você precisa fazer o que te deixa feliz. Faça por você
mesma, e não por mais ninguém.
— Obrigada, mãe, — respondi. — Eu estou fazendo isso.
E quando eu disse isso, eu sabia que era verdade.
— Perfeito. Faça disso um hábito, ok? — ela disse com uma risada. —
Lyla, eu te amo.
— Eu também te amo, — respondi antes de desligar.
Eu sorri para o telefone em minha mão.
Fazer o que me deixa feliz.
Parecia algo que Madame Cochon diria.
Para descobrir o que quero, tenho que ir atrás de minha felicidade.
Enquanto eu observava o borrão das árvores do lado de fora da minha
janela, me perguntei se tudo poderia simplesmente se encaixar...
Descobrimos que os Guardiões da Lua tinham uma bela prisão. Bem,
o exterior era lindo.
O interior era todo de concreto e fortemente guardado, mas eu
consegui convencer o diretor a me dar alguns minutos com Michael.
Caspian e eu seguimos o guarda por um corredor de concreto até que
ele parou e começou a destrancar a porta de metal da cela do meu pai.
Eu sabia que não tinha nada para temer, mas meu coração estava
disparado.
— Você está pronto? — Eu perguntei a Caspian, sorrindo
nervosamente.
— Vou esperar aqui, Lyla, — disse ele. — Divirta-se com seu pai.
Ele me puxou para um abraço. Eu não queria que ele me soltasse, mas
sabia que era melhor fazer isso sozinha.
Eventualmente ele se afastou e eu fui para a cela do meu pai.
— Lyla! — Michael disse quando me cumprimentou, seu rosto se
iluminando.
Ele estava sentado em um catre fino em um quarto sem janelas com o
que parecia ser um pijama esfarrapado. O contraste entre esse visual e
seu uniforme normal era gritante.
Mas de alguma forma eu tinha a sensação de que meu pai pareceria
confortável, não importa onde ele estivesse.
— Não é muito, é? — ele perguntou. — Mas você ilumina qualquer
sala.
Sentei-me na beira da cama, de frente para ele.
— Estou feliz que você esteja de bom humor, — eu disse. — Porque é
um pouco sombrio aqui.
— Oh, eu já vi pior. — Ele sorriu ironicamente. — E estou tão feliz por
termos nos encontrado ontem que não acho que nada poderia me
derrubar.
Eu sorri, mas senti a mesma sensação de ansiedade de antes. Mas por
quê?
— Eu também estou feliz, — eu disse. — É tão... louco conhecê-lo
depois de todo esse tempo.
Ele respirou trêmulo, como se ao reconhecer nossa estranha situação,
eu tivesse acionado algo para ele.
— Há algo que quero dizer e estava preocupado em não ser capaz de
dizer até que fosse liberado.
Meu coração estava disparado. Ele diria que não queria continuar
assim, se conhecendo? Que tinha sido melhor antes?
— Eu deveria ter ficado. — ele deixou escapar. — Eu deveria ter
voltado para você e Lily depois que deixei os Guardiões da Lua. Eu pensei
que estava protegendo você...
Ele olhou para suas mãos, que estavam segurando uma à outra com os
nós dos dedos brancos.
— Mas eu estava perdendo a melhor coisa da minha vida. Eu deveria
ter lutado mais. Eu sinto muito. Me desculpe.
Quando ele olhou para cima, seus olhos brilharam com lágrimas.
— Mamãe pensou que você estava morto. — eu disse, minha voz
fraca. — Você apenas a deixou, embora ela fosse sua companheira. E você
nunca veio me procurar... O que mais eu poderia pensar, além de que não
valia a pena me encontrar?
As inseguranças que pesavam tanto sobre mim foram postas para fora.
Mesmo antes de Michael responder, eu senti o alívio de sua libertação.
— Eu estava com medo e errado. — disse Michael. — Nunca foi sobre
você, Lyla. Me dói muito que minhas ações tenham feito você questionar
o seu valor. Você é mais do que digna.
Eu assimilei suas palavras, selando as rachaduras em meu coração.
Eu sou mais do que digna. Eu repeti para mim mesma.
Finalmente, fez sentido para mim. Não era nem sobre meu pai. Eu
tinha que acreditar nisso por mim mesma.
Não podia deixar ninguém decidir meu valor por mim. Nem Michael,
nem meus amigos... Tinha que vir de dentro.
— Eu gostaria de poder voltar e fazer tudo de novo. — Michael
sussurrou.
— Está tudo bem. — Eu disse, e eu quis dizer isso. A ansiedade dentro
de mim havia evaporado e um senso de possibilidade foi deixado em seu
lugar. — Não é tão tarde.
Eu podia me sentir sorrindo, e meu pai sorriu de volta.
— Venha aqui, — disse ele, levantando-se. Eu o abracei e senti seus
braços fortes em volta de mim, confiando nele.
— Podemos recuperar o tempo perdido, — continuei, — ou, melhor
ainda, podemos começar do zero! Não é tão tarde.
Ele riu em meio às lágrimas e, quando se afastou, parecia tão feliz que
até parecia um homem diferente.
— Essa é minha garota, — ele disse.
O guarda apareceu na porta.
— Seu tempo acabou, — ele anunciou.
Eu poderia ter ficado mais tempo, conversando com meu pai,
atualizando o passado e planejando o futuro... mas isso tinha sido o
suficiente.
Michael me abraçou mais uma vez, respirando o cheiro do meu
cabelo.
— Tchau, Lyla. Vejo você em breve.
— Vejo você em breve, — respondi.
E ao sair da cela da prisão, senti como se estivesse andando no ar.
Eu não podia acreditar que tive tanta sorte.
Meu pai havia me deixado, mas ele estava aqui agora. E ele queria
estar.
Talvez isso fosse tudo o que importasse. Não o tempo perdido, a dor
de ser abandonada ou o medo de que isso pudesse acontecer novamente.
Tudo o que importava era o presente.
Caspian estava encostado na parede e, quando viu minha expressão,
seu rosto se iluminou também.
Quando eu estava prestes a informá-lo de todas as boas notícias, o
tom áspero do guarda chamou minha atenção.
— Sua sentença foi decidida, seu bastardo vigilante.
Virei-me para ver o guarda sorrindo quando bateu à porta da cela do
meu pai, trancou-a e se inclinou através das grades para sussurrar: — Eu
mal posso esperar para ver você ser enforcado.
21
CORAÇÕES DISPARADOS
Sebastian

Como eu contaria a Lyla?


Ei Lyla, eu tentei o meu melhor, mas parece que seu pai vai apodrecer na
prisão.
Rosnei de frustração enquanto andava pelo meu escritório.
Você sempre teve jeito com as palavras, Sebastian.
Eu queria quebrar alguma coisa. Mas descontar minha raiva na vila da
minha família não resolveria meus problemas.
Além de Tiberius e o conselho se recusarem a me apoiar na libertação
do pai de Lyla, eles também ameaçaram tirar minha posição de alfa.
Eu. Como se a linhagem real não significasse nada.
Eu rugi enquanto atacava a coisa mais próxima de mim, meus dedos
se transformando em garras. As lascas da cerejeira centenária
espalharam-se pelo chão.
Eu encarei os sulcos profundos na escrivaninha única.
Como eu suspeitava, nenhum dos meus problemas havia
desaparecido.
Mas, caramba, eu me senti melhor.
Abaixei-me e peguei uma farpa, rolando-a na palma da mão.
Desde quando era eu contra o conselho?
Fomos feitos para ser uma equipe. Eu deveria ser um líder excelente e
sem falhas, e eles deveriam ser os conselheiros de confiança me
apoiando.
Em vez disso, estava me sentindo cada vez mais como uma marionete
em uma corda.
Não senti nenhuma intenção maliciosa do conselho. Eles não estavam
tentando fazer um jogo pelo poder. Eles estavam fazendo o que achavam
ser o melhor para a alcateia.
Aparentemente, o que era melhor para o bando não era eu.
E eu sabia exatamente por que eles pensavam isso.
O alfa não pode reivindicar sua Luna.
Saí do meu escritório e fui até a varanda na frente da vila.
Eu observei a cena diante de mim: a fonte de mármore, os carvalhos
perfeitamente cercados que ladeavam a calçada, as rosas que floresciam
embaixo deles.
A vila tinha sido o orgulho e a alegria dos meus pais. Um símbolo de
nossa herança real.
Nosso legado não terminaria comigo.
Eu tinha que conseguir algum respeito do conselho. Mostrar a eles
que minha vontade e minha visão eram rígidas.
Mais fácil falar do que fazer...
Suspirei e respirei fundo, deixando a fragrância do pomar de limão
encher meu nariz. Então a brisa mudou e eu cheirei algo muito mais
doce.
Lyla.
Ela estava voltando.
Fui tomado por uma onda de determinação.
Minha companheira destinada estava contando comigo. E eu estaria
condenado se a decepcionasse. Eu tiraria o pai dela da prisão, não
importa quanto tempo levasse.
Eu trabalharia dia e noite para garantir sua liberdade — mesmo que
ele fosse um herege...
Um pária que protegia os mestiços do olhar legítimo da Igreja.
Raiva, quente e urgente, inundou minhas veias... mas as palavras de
Magnolia eram como um bálsamo calmante.
Tinha que priorizar minha felicidade.
E essa felicidade é Lyla.
Tinha que aprender a aceitar o pai dela... heresia e tudo.
Um passo de cada vez.
Caminhei até a garagem para encontrar minha companheira. Eu a vi
correndo em minha direção, seu cabelo bagunçado pelo vento, uma juba
de fogo ao redor de seu belo rosto.
Meus braços se cruzaram ao redor dela quando ela bateu no meu
peito, completando-me.
— Lyla, sobre seu pai...
— Nós temos que salvá-lo, Sebastian! — ela chorou.
Ela olhou para mim e pude ver o puro pânico em seus olhos. O
desespero.
— Eles irão executar ele, Sebastian. Amanhã.
Lyla

Senti Sebastian congelar ao meu redor, seus músculos tensos.


O silêncio que se estendeu entre nós abriu um poço de pavor no meu
estômago.
Eu esperava que ele partisse para a ação. Que marchasse direto para os
Guardiões da Lua e exigisse a libertação de meu pai.
Sebastian era meu companheiro. Meu querido aliado e protetor. Ele
era alguém em quem eu sempre podia confiar.
E ainda...
— Você não vai libertá-lo, não é? — Minha voz era quase um sussurro.
— O conselho está sendo teimoso, — ele disse, sua voz tensa.
Parecia que uma adaga estava se enterrando em meu coração.
— Mas você é o alfa real, Sebastian! Diga a eles para libertá-lo!
Eu vi sua mandíbula apertar, e a frustração queimou como um inferno
em seus olhos.
— Não é tão simples. — Ele se afastou de mim, seus braços
escorregando da minha cintura. — Eu posso convencer o conselho a
ajudar, mas vai demorar alguns dias...
— Eu acabei de dizer que eles vão matá-lo amanhã! Precisamos tirá-lo
agora, ou...
— Não podemos simplesmente desafiar abertamente a Igreja! —
Sebastian rugiu.
Eu parei, meus olhos arregalados de choque. Ele parecia furioso. Suas
mãos estavam cerradas com tanta força que vi sangue pingando de suas
palmas.
Sebastian olhou para mim e respirou fundo, tentando se acalmar.
— Eles financiam nossa alcateia, Lyla — disse ele, com a voz tensa. —
Se os desafiarmos, eles podem cortar nossos recursos. Milhares de
famílias contam conosco.
Sebastian parecia ter o peso do mundo em seus ombros.
— Eles estão confiando em mim.
Meu coração bateu forte no meu peito. O calor começou a subir pela
minha nuca.
— E daí? — Eu perguntei. — Eu devo assistir meu pai morrer?
— Lyla...
— Por que a Igreja odeia tanto meu pai? — Eu exigi. — É tão errado
defender o que ele acredita? Para ajudar os necessitados?
— Ele é um desertor. — Sebastian disse. — Abandonar seu cargo de
Guardião da Lua não é um crime pequeno. Ele também rouba da Igreja.
Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Sebastian estava
listando os chamados crimes do meu pai como se ele estivesse me
falando sua lista de compras.
— Ele simplesmente rouba aqueles dízimos ridículos da Igreja para
poder devolver o dinheiro ao...
— Ele também lidera uma alcateia ilegal, — Sebastian continuou, me
cortando. — Uma alcateia não sancionada pela Igreja. Uma alcateia que
abriga mestiços.
Então é isso.
Eu dei alguns passos para trás. O desprezo e o preconceito gotejando
da voz de Sebastian me assustaram.
Um mestiço selvagem matou seus pais... mas ele estava tão envolto em
ódio que condenaria uma raça inteira de pessoas? Ele estava tão preso à
vontade da Igreja que ficaria parado vendo meu pai morrer?
O ódio de Sebastian o tornava feio.
É
É como...
— É como se eu nem conhecesse mais você...
Minhas palavras pareceram atingir Sebastian e eu ao mesmo tempo.
A raiva esvaiu-se dele como se meu sussurro tivesse sido um soco no
estômago.
E percebi com uma certeza terrível que as coisas talvez nunca
funcionassem entre nós dois. Que, mesmo que de alguma forma
conseguíssemos superar isso... suas prioridades acabariam por afastá-lo
de mim.
— Lembra-se do baile? — Eu perguntei a ele, minhas palavras afiadas
como espinhos. — Quando você me segurou em seus braços e disse
Foda-se a Deusa da Lua? Quando você não era o fantoche da Igreja?
Ele pegou minha mão, mas eu me afastei.
— Esse foi o homem por quem me apaixonei.
Percebi de repente que acabei de dizer a ele que o amava pela primeira
vez — em voz alta, pelo menos. Eu poderia dizer que ele percebeu isso
também.
E partiu meu coração que essa foi a maneira como eu disse a ele.
Como parte de um adeus.
Eu me virei para ir embora, assim que Caspian chegou.
— Se você não vai ajudar, vamos fazer isso sem você.
Fui até Caspian e ele acenou com a cabeça para mim.
— Os Guardiões da Lua não estão mais no esconderijo da Estrela da
Noite.
Eu respirei fundo. Nós tínhamos uma chance.
Caspian acenou com a cabeça para Sebastian.
— E ele?
Eu apenas balancei minha cabeça.
— Eu te disse, — ele respondeu, dando a Sebastian um olhar maligno.
Caspian sugeriu que tirássemos meu pai da prisão. Ele disse que
Sebastian não seria capaz de ajudar a tempo, mas eu não acreditei.
Acho que ele estava certo.
— O que diabos vocês dois estão fazendo? — Sebastian rosnou.
— O que parece, gênio? — Caspian perguntou a ele. — Vamos, Lyla.
Não temos muito tempo.
Sebastian passou correndo por mim e agarrou o colarinho de Caspian,
uma promessa de violência estalando no ar entre eles.
— Você a convenceu a fazer isso, não é? Seu filho da puta estúpido...
— PARE! — Eu gritei.
Sebastian olhou para mim com olhos selvagens.
— Não estou sendo forçada a nada. Estou salvando meu pai,
Sebastian. De uma forma ou de outra. — Sebastian empurrou Caspian
para longe. Caspian apenas olhou para ele, sua mandíbula firme.
— Estarei esperando por você na garagem, — Caspian me disse. — Eu
preciso de um pouco de distância desse idiota antes de dar um soco em
sua cara estúpida.
Caspian se virou para sair, e Sebastian nem mesmo prestou atenção
nele.
— Isso não é uma porra de uma piada, Lyla, — Sebastian disse. — Os
Guardiões da Lua não brincam em serviço. Se vocês dois forem pegos
tentando tirar alguém da prisão, eles irão matá-los. Eles não abrem
exceções.
— Então não seremos pegos, — eu murmurei.
Eu me virei para ir embora, mas Sebastian agarrou meu pulso. Um
choque elétrico percorreu meu corpo, meu corpo reagindo
instantaneamente ao seu toque.
— Digamos que você consiga tirar seu pai de uma prisão dos Guardiões
da Lua — ele disse. — Então o que? Onde você irá? A Igreja nunca vai
parar de caçá-lo.
— Não sei, — admiti. — Mas eu sei que se eu tentar trazê-lo de volta
para a Alcateia Real, seu conselho irá apenas entregá-lo aos Guardiões da
Lua novamente.
A respiração de Sebastian ficou presa na garganta com a minha
insinuação.
Eu me virei e peguei suas mãos. Eu encarei seus olhos, minha
esperança final em meus lábios.
Uma última tentativa desesperada.
— Venha comigo, — eu sussurrei. — Por favor.
O tempo parecia ter parado.
Sebastian e eu olhamos nos olhos um do outro, nosso vínculo
destinado um cordão inquebrável nos conectando. Eu pude ver um
futuro para nós em seu olhar.
Mas suas palavras seguintes arrebataram aquele futuro — partiu
aquele cordão ao meio.
— Eu não posso.
E assim, meus piores medos se tornaram realidade.
Ele era um alfa. O alfa da Alcateia Real.
E eu sou apenas a garota que não é boa o suficiente.
Nossas vidas eram muito diferentes. Nossas prioridades nunca
poderiam se alinhar.
Se não agora, ele iria embora eventualmente.
No final das contas, algum conflito o teria afastado de mim. Um
problema diferente com a Igreja. Outra ameaça surgindo no horizonte.
Algo que exige que ele escolha entre a alcateia e eu.
E ele vai escolher a alcateia todas as vezes.
Ele não tem escolha.
Afinal, ele é o grande e responsável alfa real.
Então eu enrijeci meu coração e dei um passo para trás, retirando
minhas mãos das dele.
Eu tinha que ir antes que ele me deixasse.
— Adeus, Sebastian.
Eu me virei e fui embora, deixando meu coração despedaçado para
trás.
22
ACORRENTADO
Caspian

Tudo tem que funcionar perfeitamente se quisermos fazer isso.


Respirei fundo enquanto esperava por Lyla, repassando o plano em
minha cabeça pela milionésima vez.
Se alguém tivesse me dito há um mês que eu estaria invadindo uma
prisão dos Guardiões da Lua, eu teria perguntado quais drogas eles
estavam usando — e onde conseguir um pouco.
Embora quaisquer que sejam as drogas hipotéticas, elas não seriam
nada comparadas com a merda que eu estava usando.
Amor.
Só o amor poderia fazer alguém fazer algo tão obviamente insano.
Eu balancei minha cabeça, tentando limpar meus pensamentos
divagantes.
Eu dificilmente estava fazendo sentido... até para mim mesmo.
Esta é a coisa mais estúpida que já fiz?
Sim.
Seremos pegos e executados?
Provavelmente.
Isso significa que vou desistir e abandonar Lyla?
Foda-se.
Não.
Eu teria arriscado qualquer coisa por ela.
Aparentemente, Sebastian não estava disposto a fazer o mesmo.
Sempre soube que ele era arrogante e egoísta, mas não havia pensado
nisso. Eu pensei que a única coisa que tínhamos em comum era que nós
dois iríamos até o fim do mundo por Lyla.
Eu estava errado.
Olhei para as luzes distantes da vila.
Você não a merece, idiota.
Lyla finalmente veio andando pela garagem.
Ela estava sozinha.
Não fiquei surpreso.
Ela passou por mim, seu rosto escondido debaixo do cabelo.
— Vamos fazer isso, — disse ela.
Eu caminhei ao lado dela enquanto caminhávamos para fora da
propriedade e em direção à cidade propriamente dita. Lyla claramente
não queria falar sobre isso e eu não queria me intrometer, mas tinha que
fazer isso.
Não podíamos nos dar ao luxo de nos distrair com o que íamos fazer.
A diferença era vida ou morte.
— Ei. — Parei de andar e tentei chamar sua atenção, mas ela estava
tão perdida em seus pensamentos que nem me ouviu. — Lyla! — Eu
tentei de novo.
Ela parou de andar, mas não se virou.
— Olhe para mim, — eu disse.
Ela o fez com relutância, afastando o cabelo de modo que a luz do sol
poente incidisse sobre seu rosto.
Seus olhos estavam avermelhados, suas bochechas manchadas de
lágrimas.
Mas o brilho desafiador em seus olhos me disse que ela não tinha
intenção de recuar. Tínhamos um trabalho a fazer.
E a última coisa que ela procurava eram palavras de conforto.
— Vamos salvar a vida do seu pai, certo?
Lyla assentiu, enxugando as lágrimas.
Ela pegou minha mão e apertou, dando-me um sorriso quebrado.
— Sim.
Continuamos assim, de mãos dadas, prontos para enfrentar nosso
próximo desafio. E eu tinha certeza de que o superaríamos.
Contanto que estivéssemos juntos.
— Você está ridículo, — disse Lyla.
Eu me remexi na velha armadura do Guardião da Lua de Estrela da
Noite, me sentindo como um peixe fora d’água. A armadura era grande
demais para mim. A platina fazia barulho a cada pequeno movimento.
— Como diabos aqueles caras usam isso o dia todo? — Eu reclamei. —
Isto não é armadura. Estou usando uma maldita panela de cozinha
inteira e um conjunto de panelas.
Lyla estendeu a mão e ajustou as alças do meu capacete, sorrindo ao
fazê-lo.
— Bem, espero que nenhum deles tente fritar um ovo na sua testa.
Lyla e eu estávamos virando a esquina da prisão dos Guardiões da Lua.
Não havia como entrarmos furtivamente... então pensei em mentir
para entrar.
Voltamos para o antigo esconderijo da Alcateia Estrela da Noite e
pegamos emprestada a armadura de Michael.
Tivemos sorte que os Guardiões da Lua já haviam sumido quando
chegamos lá.
Mas quanto tempo nossa sorte duraria?
— Que tal eu usar a armadura em vez disso? — Lyla sugeriu. —
Definitivamente ficaria melhor em mim.
— Você também pareceria uma criança que comprou uma fantasia de
Halloween do tamanho de um adulto por acidente.
Ela me deu um soco no peito e estremeceu quando seus nós dos dedos
atingiram o metal.
Nós sorrimos um para o outro, uma energia nervosa estalando entre
nós.
Eu a virei e prendi seus pulsos atrás das costas, em seguida, joguei um
saco sobre sua cabeça para garantir. Seria ruim se eles vissem nossos
rostos.
— Anda logo, prisioneiro, — eu disse, fazendo minha melhor imitação
do Guardião da Lua.
— Sim, senhor, — disse ela.
Era uma frase bastante inocente, mas sua voz imediatamente me fez
fantasiar sobre outras coisas muito inadequadas.
Eu me pergunto se ela gosta de algemas...
Eu balancei minha cabeça vigorosamente, sacudindo meu cérebro
dentro do meu capacete.
Hora e lugar, Caspian.
Respiramos fundo e contornamos a esquina, em direção à prisão.
Eu olhei para as altas paredes de pedra, notando a armadura brilhante
dos guardas patrulhando. O lugar parecia mais uma mansão chique do
que uma prisão.
O portão da frente estava aberto, um guarda solitário de guarda na
frente dele.
Aqui vamos nós.
— O que está acontecendo aqui? — ele perguntou quando nos
aproximamos.
— Tomou muitas poções, — eu disse, tentando soar o mais casual
possível. — Tentou arrancar minha cara com uma mordida.
— Vai se foder, tira! — Lyla disse para efeito adicional.
Tentei não revirar os olhos.
Os olhos do Guardião da Lua se estreitaram enquanto ele nos
examinava. O suor escorria pela minha testa. Eu estava pronto para
enfrentá-lo a qualquer momento.
Eu não seria capaz de correr muito longe com esta maldita lata que
estava usando, mas Lyla poderia pelo menos fugir.
— A cela quatro deve estar aberta, — disse o guarda. — Ela vai ficar
sóbria pela manhã.
Eu balancei a cabeça, conduzindo Lyla.
Puta merda, funcionou.
Atravessamos o pátio e entramos no prédio da prisão. Fechei as portas
atrás de nós e soltei um suspiro de alívio.
Lyla se virou e tirou a bolsa da cabeça, um sorriso brilhante no rosto.
— Tira? — Eu perguntei.
— Todos os bandidos não dizem isso?
— Sim, naqueles filmes ruins e cafonas — tanto faz. Ajude-me a tirar
essa maldita armadura.
— Depois de libertarmos Michael, teríamos que fazer uma fuga
rápida. Isso não iria acontecer nessa armadura.
Já tínhamos passado do ponto sem volta. Ou iríamos sair com o pai de
Lyla... ou não iríamos sair de jeito nenhum.
Lyla

Caspian e eu escapamos silenciosamente pelos corredores, evitando


cuidadosamente os poucos Guardiões da Lua que vimos.
Fiquei impressionada novamente com a elegância da prisão. Se eu não
a conhecesse, teria confundido o lugar com algum tipo de mansão de alta
classe no estilo francês.
Descemos para os níveis inferiores, onde meu pai estava detido. Os
níveis superiores eram apenas uma fachada, transformando-se em
concreto pouco convidativo quanto mais fundo você ia.
Agora parece uma prisão...
Talvez eu estivesse começando a virar uma psicopata, mas não me
sentia nervosa. Parecia que Caspian e eu éramos crianças de novo, e
estávamos entrando furtivamente na casa de Alfa Hugo para pregar uma
peça em Teresa.
Na época em que meus maiores problemas eram chegar em casa para
o toque de recolher ou qual livro eu deveria ler a seguir.
Se eu pudesse voltar...
A mão de Caspian no meu ombro me tirou dos meus pensamentos.
Ele gesticulou para o corredor.
Um Guardião da Lua estava sentado em uma mesa perto das celas da
prisão, dormindo. Eu podia ouvir seus roncos no corredor.
E pendurado em seu cinto estava um molho de chaves brilhante.
— Vá pegá-los, — Caspian sussurrou. — Vou ficar de guarda.
Eu balancei a cabeça e rastejei silenciosamente em direção ao guarda,
equilibrando-me nas pontas dos pés. Aproximei-me cada vez mais na
ponta dos pés, prendendo a respiração enquanto pegava as chaves...
O Guardião da Lua acordou de repente, seus olhos turvos fixando-se
nos meus.
Eu congelei, o pânico me enraizando no lugar.
Oh merda.
Precisávamos sair daqui. Se ele me agarrasse, eu estaria morta. O
guarda estendeu a mão, mas em vez de me agarrar violentamente, ele
pegou minhas mãos suavemente nas suas.
Ele sorriu e, pela primeira vez, percebi o cheiro de álcool emanando
dele.
— Renée, mon chéri, é você?
Meu cérebro entrou em curto-circuito e eu disse a primeira coisa que
me veio à mente.
— Uh... oui?
O sorriso do Guardião da Lua se alargou ainda mais, e ele se levantou
e me girou, feliz. Ele me pegou em seus braços e começou a balançar para
frente e para trás, dançando ao som de uma música que só ele podia
ouvir.
— Oh, como eu senti sua falta mon coeur. Eu sabia que você voltaria
para mim.
Avistei Caspian se esgueirando por trás do guarda no corredor... e,
inacreditavelmente, ele tinha um sorriso estúpido no rosto.
Me ajude, eu murmurei.
Caspian realmente bufou enquanto tentava conter a risada.
O Guardião da Lua franziu a testa e começou a se virar. Eu agarrei seu
rosto, mantendo seu foco em mim.
— E-eu também senti sua falta... uh... mon amour — eu gaguejei. — Eu
não aguentava mais. Você se foi há tanto tempo.
O Guardião da Lua sorriu sonhadoramente.
— Não se preocupe, meu amor, meu dever aqui está quase terminado.
Em seguida, vou levá-la de volta para a Cidade Santa, onde podemos
fazer um amor bem gostoso.
Outro bufo de Caspian.
— AHH, SIM, MEU AMOR! — Minha voz subiu uma oitava. Eu lancei
um olhar para Caspian por cima do ombro do guarda. Ele estava se
aproximando... — Isso é o que eu mais quero.
E, para meu horror, o Guardião da Lua começou a se inclinar para um
beijo.
— Diga meu nome, Renée. Eu amo o som dele em seus lábios.
— Uh...
Guardiões da Lua não usam exatamente crachás.
Eu não podia mais esperar por Caspian.
Eu me afastei, engatando meu punho com força e batendo direto no
nariz do guarda. Um forte crunch! Soou quando ele caiu no chão,
inconsciente.
Eu sacudi minha mão, mais do que um pouco surpresa por eu
realmente o ter nocauteado. Ele devia estar muito bêbado.
Ou eu sou melhor nessas coisas do que pensava.
Caspian se abaixou e agarrou o molho de chaves, girando-o em seu
dedo. Ele me olhou de cima a baixo com as sobrancelhas levantadas.
— Suas garras são afiadas, hein, — ele brincou.
Peguei as chaves dele, tentando não rir.
— Sim, bem, você tem sorte de eu não usá-las em você.
Continuei pelo corredor em direção à cela do meu pai.
— Agora vamos pegar meu pai e sair daqui antes que eu tenha que
nocautear mais Guardiões da Lua.
Sebastian

Eu encarei a lua enquanto me inclinava no parapeito da minha


varanda.
Eu me sentia vazio.
Sem objetivo.
Tudo o que era tão importante para mim apenas algumas horas atrás
de repente não importava.
Lyla se foi.
Eu esperei atordoado. Eu veria um esquadrão de Guardiões da Lua
marchando pela minha garagem com Lyla acorrentada?
Ou a noite passaria calmamente? Lyla conseguiria escapar com o pai?
Assim ela estaria livre.
E assim nunca mais a veria.
— Aí está você, — uma voz atrás de mim chamou.
Eu fechei meus olhos. Essa não era a voz que eu esperava ouvir.
— Você não estava atendendo ao telefone. — Magnolia estava ao meu
lado, um olhar de preocupação em seu rosto. — Olha, eu sei que o
conselho estava sendo difícil. Tenho certeza que se você tentar de novo...
— Esqueça, — eu disse, interrompendo-a. — Nada disso importa
mais.
— O que você está falando? Você vai apenas deixar o pai de Lyla
apodrecer na prisão?
Contei a Magnolia o que aconteceu.
Como Lyla iria tirar seu pai da prisão.
Como ela estava me deixando.
Magnolia ouviu em silêncio. Ela não disse uma palavra e, depois que
terminei, ela permaneceu em silêncio.
Normalmente, falar com Magnolia sobre meus problemas tirava um
peso do meu peito. Ela era uma amiga íntima e uma das minhas
confidentes mais próximas.
Mas desta vez, contar a ela sobre como Lyla foi embora não ajudou em
nada a aliviar a dor.
Na verdade, dizer tudo em voz alta tornava tudo ainda pior.
Virei-me para sair, sem saber realmente para onde estava indo. Eu
apenas deixei meus pés me levarem a algum lugar até que eu
desaparecesse.
Mas Magnolia agarrou minha mão.
— Não vá.
— Não adianta ficar. — Eu nem queria olhar para ela.
— A alcateia precisa de você.
Soltei uma risada seca e amarga.
— Eles não precisam de um alfa sem uma Luna.
Eu deixei Lyla ir pelo bem da Alcateia Real. E agora parecia que eu
nem teria isso.
— Não tem que ser assim. — Magnolia me fez olhar para ela e sua
expressão me pegou desprevenido.
Eu vi a tristeza enterrada em seus olhos. Mas também vi a
determinação. Uma vontade de aço que eu não poderia ignorar.
— Fique com a alcateia, — ela disse. — Eu posso ser sua Luna.
23
ATRAVÉS DAS RACHADURAS
Lyla

Eu mergulhei em um beco quando um enxame de Guardiões da Lua


passou correndo, suas botas de metal batendo no concreto.
— Vocês dois são loucos, — disse Michael. Eu me virei para ele e vi seu
sorriso brilhante brilhando no escuro. — Eu amo isso.
— Sim, bem, acho que herdei de você, — eu disse. Inclinei-me para
um abraço e suspirei quando os braços do meu pai me envolveram.
Depois que o pegamos, o inferno começou. O Guardião da Lua que eu
nocauteei acordou e ativou o alarme. Estivemos fugindo desde então.
— Alguém viu seus rostos? — meu pai perguntou.
— Um guarda viu, mas ele estava tão bêbado que me confundiu com
outra pessoa.
— Precisamos ficar quietos por um tempo, — Caspian disse, olhando
para cima e para baixo na rua. — Não podemos voltar para o seu
esconderijo. Você tem outro?
Papai acenou com a cabeça.
— Eu tenho o lugar certo, — disse ele. — Me sigam.

— É aqui que fica o seu esconderijo secundário? — Eu perguntei.


— Os Guardiões da Lua nunca se aventuram aqui, — disse meu pai. —
Apenas alguns humanos curiosos... mas eles são fáceis de assustar.
Caspian e eu olhamos para o parque temático abandonado. Era como
uma cena saída de um filme de terror.
Cercas enferrujadas e brinquedos desgastados pelo tempo nos
cercavam. O gemido de metal velho e o farfalhar de lixo e destroços ao
vento eram como uma espécie de trilha sonora de um ambiente
assustador.
— Você e sua alcateia se vestem de palhaços assassinos para assustá-
los também?
— Apenas às quartas-feiras. — Papai piscou para Caspian.
Eu não sabia se ele estava brincando.
Nós o seguimos por um cemitério de brinquedos de carnaval:
carrosséis assombrados, montanhas-russas de madeira apodrecidas, uma
roda-gigante inclinada que parecia poder desabar a qualquer segundo.
Por fim, chegamos à entrada de uma espécie de labirinto de espelhos.
— É sério? — Eu perguntei.
— Clichê, eu sei, — papai admitiu. — Mas é tão óbvio que ninguém
vai esperar isso — Ele desapareceu dentro, e Caspian e eu só podíamos
segui-lo.
— Estou começando a pensar que a roupa de Zorro do seu pai não era
apenas uma coincidência, — Caspian sussurrou.
Eu não pude negar. Estrela da Noite parecia ter um dom para o
dramático.
Ele nos conduziu através do labirinto de espelhos até chegarmos a
uma escada que descia para o subsolo.
Descemos atrás dele em uma grande caverna, onde podíamos ver as
luzes das casas bem abaixo de nós.
— Cuidado onde pisam, — papai disse. — É uma queda e tanto.
Ao nos aproximarmos do fundo, um coro de vozes se ergueu para nos
cumprimentar.
— É ele!
— Estrela da Noite está de volta!
Meu pai pulou da escada e foi imediatamente cercado pelos membros
de sua alcateia, todos falando ao mesmo tempo — bombardeando-o com
sorrisos e tapinhas nas costas.
Caspian e eu assistimos à cena.
— Todo mundo o ama, hein? — Caspian perguntou.
— Nem todos.
Por que a Igreja era tão contra isso? Tudo o que via ao meu redor era
uma comunidade feliz. Claro, eles roubaram alguns dízimos dedicados à
Igreja, mas tinham que sobreviver.
Se a Igreja tivesse tratado os mestiços de maneira justa, eles não
teriam que roubar em primeiro lugar.
— Como você saiu de lá? — alguém perguntou.
Papai se virou para mim enquanto sorria, seu peito se enchendo de
orgulho.
— Minha filha e seu companheiro me libertaram. Eles se moveram
pela prisão como sombras sob a lua.
Uma alegria cresceu ao nosso redor e tentei sorrir com o elogio.
Mas meu coração não estava ali.
— Tudo bem pessoal, de volta às suas funções. — Meu pai bateu
palmas duas vezes, chamando a atenção de todos. — Caspian, se você
não se importa de ir com Garrett aqui para cobrir nossos rastros. Eu
gostaria de falar com minha filha.
— Claro, — Caspian respondeu enquanto um homem grande e
corpulento o arrastava para longe. Mas ele manteve os olhos em mim.
Eu balancei a cabeça para ele, tentando assegurar-lhe que eu estava
bem.
— Venha comigo, — disse papai.
Eu caminhei ao lado dele enquanto caminhávamos pela aldeia
improvisada. As casas eram feitas de pedaços de madeira e metal,
provavelmente retirados do parque acima.
Estava muito longe da brilhante sede da Alcateia Real.
Mas as pessoas ao meu redor pareciam felizes.
— Estou surpreso que seu companheiro tenha deixado você me tirar
de lá.
Meu rosto se enrugou como se eu tivesse mordido um limão.
— Qual deles?
— Você sabe de quem estou falando.
Suspirei pesadamente, minhas emoções reprimidas saindo em uma
lufada de cansaço.
— Ele não me deixou fazer nada. Ele se recusou a ajudar.
— Bem, faz sentido. — Eu encarei meu pai como se ele tivesse uma
segunda cabeça crescendo em seu pescoço. — Você está dizendo que eu
deveria ter deixado você morrer?!
— Não! — Ele riu, esfregando a barba por fazer no queixo. — Não,
estou feliz que você não fez. Sou muito bonito para ser enforcado.
Eu revirei meus olhos.
— Mas ele é o alfa da Alcateia Real, certo? Suas mãos estavam
amarradas. Honestamente... se eu estivesse no lugar dele, teria feito a
mesma coisa.
Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Eu estava prestes a
sair furiosa quando meu pai me impediu.
— Não estou dizendo que você está errada, Lyla. Só estou dizendo que
Sebastian também não está... e a julgar pelo seu acesso de raiva, parece
que vocês dois deixaram as coisas mal resolvidas.
Eu olhei para ele. Quem era ele para me dar um sermão? Ele não
esteve presente por toda a minha vida e agora queria tentar agir como
um pai sábio?
— Então, o que você sugere que eu faça, pai?
— Não estou sugerindo que você faça nada, — disse ele, sem se afetar
com meu atrevimento. — Você é uma mulher. Estou anos atrasado para
tentar influenciá-la...
Ele fez uma pausa e pude ver como seus ombros caíram.
— Basta pensar nisso da perspectiva dele.
Suas palavras foram um respingo de água fria no fogo queimando
dentro de mim.
Ele estava certo.
Agora que meu pai estava fora de perigo imediato, eu poderia dar um
passo para trás e pensar sobre as coisas com a cabeça fria.
Eu não senti que estava errada.
Meus sentimentos e pensamentos naquela época estavam ligados a
medos muito reais. Eu ainda estava com medo de que qualquer um dos
meus companheiros pudesse me deixar.
E no caso de Sebastian, isso seria por causa da Alcateia Real.
Mas essa também era uma parte dele que eu admirava. Sua disposição
de assumir responsabilidades e fazer sacrifícios pelo bem dos outros. Sua
capacidade de assumir o comando e liderar.
E talvez isso não exigisse um ultimato.
Talvez possamos resolver as coisas juntos.
— Eu já volto, — eu disse.
Papai sorriu.
— Estaremos aqui.
Corri em direção à escada que me levaria de volta ao mundo exterior.
Talvez as coisas ainda não tenham acabado.
Sebastian

— O quê?! — Meus olhos quase saltaram das órbitas quando me


afastei de Magnolia. — Do que diabos você está falando, Mag?
Magnolia apenas olhou para mim, sua boca uma linha sombria de
determinação. Parecia que ela queria morder a própria língua. Mas em
vez disso, ela olhou para a lua e respirou fundo.
— Vamos conversar sobre isso lá dentro, — ela disse enquanto passava
por mim. — Apenas me ouça.
Eu a segui para dentro, minha mente uma bagunça.
Não havia nada entre Magnolia e eu. Nunca teve. Embora eu gostasse
muito dela, era como uma amiga. Nosso relacionamento anterior foi
puramente político.
Eu não consegui encontrar uma companheira.
O dela havia falecido.
Era só isso.
Ou então eu pensei.
Voltamos para o meu escritório e Magnolia parou quando viu as lascas
de madeira espalhadas pelo chão. Eu tinha esquecido que tinha atacado
minha mesa antiga. Parecia uma vida atrás.
Ela os pegou nas mãos e abriu a janela, jogando-os para fora. O ar frio
da noite soprou, despenteando o cabelo loiro de Magnolia.
O silêncio cresceu entre nós enquanto ela parecia melancólica.
Pensei nas últimas semanas, analisando cada uma de nossas
interações sob uma nova luz. Cada risada, cada sorriso, cada abraço.
Havia mais nisso do que eu imaginava?
Isso importa?
Mesmo se Magnolia tivesse sentimentos por mim... nada mudaria.
Meu coração era apenas de Lyla, e Lyla se foi. Ela o levou com ela,
deixando um buraco vazio em meu peito. Um vazio escuro.
Um que Magnolia não tinha esperança de preencher.
— Nós não nos amamos, Sebastian. Nós dois já sabemos disso.
Eu soltei um suspiro.
— Então, por que você está sugerindo isso agora?
— Estaríamos apenas voltando ao nosso acordo anterior, — disse ela.
— Antes da Cúpula. Antes de Lyla.
Uma pontada de dor me atingiu bem no coração ao som de seu nome.
É bom saber que ainda posso sentir algo.
— Não é mais o mesmo, — eu disse. — Naquela época eu tinha
certeza de que nunca encontraria uma companheira. Mas agora...
— Agora você a perdeu, — ela terminou. Ela me deu um sorriso
quebrado. — Estamos em pé de igualdade agora.
Ela estava certa. Seu companheiro estava morto. Minha companheira
decidiu ir embora.
Qual é o pior, eu me pergunto?
— Nós nunca seremos companheiros de verdade, — ela disse, sua voz
falhando.
— Nunca encontraremos o amor verdadeiro juntos. Essa alegria está
perdida para nós dois. Mas a Alcateia Real precisa de um líder forte,
Sebastian. E eu sei que é você. Não importa as ameaças do conselho.
— Tenho certeza de que Tiberius e Caius vão se virar bem sem mim,
— eu disse. — Eles encontrarão um substituto.
— Não. — Os olhos de Magnolia endureceram e eu pude ver o aço de
sua determinação. — Tem que ser você.
Suas palavras atingiram a dormência que me protegia.
Eu iria perder minha alcateia.
Eu ia perder tudo.
Eu respirei fundo.
— Você ainda pode ter um companheiro de segunda chance lá fora,
sabe? Tem certeza que quer desistir? — Eu dei alguns passos para frente.
Eu nunca tinha visto Magnolia parecer tão magoada antes. Tão
vulnerável.
— Receio não ter esse luxo, — disse ela. — Eu não posso esperar por
algo que pode nunca acontecer enquanto nossa alcateia se desintegra ao
nosso redor. — Ela estava tremendo, com os punhos cerrados.
Abaixei-me e peguei uma de suas mãos, gentilmente soltando seus
dedos. Uma lasca se alojou em sua palma e um fio de sangue escorreu por
seus dedos.
Ela também estava sofrendo.
Isso era um sacrifício para nós dois.
O rosto de Lyla apareceu em minha mente. Seu sedutor cabelo
vermelho-fogo. Seus olhos brilhantes e inteligentes.
A maneira como seus lábios se curvavam em um sorriso quando ela
dizia meu nome... A maneira como ela ria quando eu encarava seus olhos
por muito tempo.
A visão dela ficando cada vez menor enquanto ela se afastava de mim.
Lyla tinha levado metade de mim com ela.
Se eu também perdesse a Alcateia Real...
Bem, não sobraria nada de mim.
Eu gentilmente retirei a lasca na palma da mão de Magnolia. Torná-la
minha Luna me deixaria pelo menos ficar com essa metade de mim
mesmo.
E talvez isso seja tudo que eu possa pedir.
Lyla

Caminhei pelos jardins da vila em vez da entrada principal da


garagem.
Eu não sabia por que, mas caminhar pela estrada principal parecia
errado. Essa estrada foi feita para visitantes. Convidados bem-vindos.
Eu não pertenço mais aqui.
Eu desisti disso quando disse adeus.
Era mais adequado se esgueirar pelas sebes como um ladrão na noite.
Mas estou aqui para mudar isso... espero.
Eu estava me aproximando da beira do jardim quando ouvi vozes
saindo de uma janela aberta.
Era Sebastian e Magnolia.
Abri caminho através das sebes, com o coração na garganta. Parei
perto da casa, me escondendo na sombra das árvores.
Sebastian e Magnolia pareciam estar no meio de uma conversa séria.
O que devo dizer?
Eu fui tão dura quando parti... Será que ele me perdoaria? Ele me
aceitaria de volta?
Respirei fundo, procurando em meu coração pequenos bolsões de
coragem.
Só há uma maneira de descobrir, Lyla.
Eu estava prestes a sair e chamá-los quando vi Magnolia alcançar a
mão de Sebastian. Eles se olharam nos olhos, e a visão fez meu sangue
congelar.
Parecia tão íntimo.
Tão privado.
O que está acontecendo?
Não pode ser...
Então Magnolia falou, suas palavras não deixando dúvidas.
— Então... você vai me fazer sua Luna?
Parecia que o chão debaixo de mim de repente se abriu. Meu coração
despencou na escuridão.
Estou muito atrasada.
Houve um momento tenso de silêncio e parecia que anos se passaram
em algumas respirações.
— Ok, — Sebastian respondeu, sua voz suave. — Faremos isso juntos.
Você será minha Luna.
Os próximos momentos foram um borrão. Antes que eu percebesse,
estava fugindo da casa.
Corri o mais rápido que minhas pernas podiam me carregar,
desesperada para fugir.
Longe daqui.
Longe dele.
Corri até minhas pernas cederem debaixo de mim, até que meus
pulmões parecessem explodir.
Eu tropecei no chão e me enrolei em uma bola, abraçando meus
joelhos no meu peito em uma tentativa desesperada de me segurar.
Mas os pedaços do meu coração partido escorregaram pelos meus
braços.
Eu não achei que algum dia ele estaria inteiro novamente.
24
LIGAÇÕES FRÁGEIS
Lyla

Caspian: Cadê você?

Caspian: Lyla, me responda.

Caspian: Seu pai me disse que você voltou para a vila.

Caspian: Eu voltei, mas não tem ninguém lá.

Caspian: Sério, você está me assustando.

Caspian: Lyla!!
O sol estava nascendo.
Eu estremeci quando a luz queimou meus olhos.
Há quanto tempo estou deitada aqui?
Onde eu estava afinal?
Eu me levantei do chão e olhei em volta. Eu estava encolhida debaixo
dos longos braços de um salgueiro, a menos de um metro de distância da
água pantanosa do pântano. Um sapo gordo estava olhando para mim,
sua garganta saliente enquanto coaxava.
— Os beijos acabaram, — eu murmurei. — Nenhuma princesa para
você aqui.
O sapo coaxou para mim novamente antes de pular na água.
Eu me virei e examinei meus arredores. Eu poderia entrar no pântano
ou nas árvores, mas então escolhi as árvores.
Depois de lutar no meio da vegetação rasteira por pelo menos meia
hora, acabei conseguindo escapar para uma beira de estrada.
À distância, vi os portões do parque temático abandonado onde a
Alcateia Estrela da Noite estava escondida.
Eu imaginei que mesmo em meu estado frenético, meu corpo sabia
para onde ir... mesmo que minha mente não soubesse.
Este era o único lugar em Nova Orleans onde eu poderia ficar agora.
Imagens dos pitorescos pomares da vila passaram pela minha mente, e
uma pontada de dor cortou meu coração — tão forte que me deixou sem
fôlego. Eu balancei minha cabeça, tentando clareá-la.
Um pesado cobertor de gelo caiu sobre meu coração enquanto eu
lutava para bloquear qualquer pensamento sobre Seb...
Eu estremeci.
Dele.
Eu preferia não sentir nada do que sentir essa dor.
Eu preferia não pensar em nada do que pensar em Magnolia em seus
braços. Sobre como ela é muito mais perfeita e bonita e ... Adequada para
ser sua Luna do que eu.
Cerrei minha mandíbula enquanto meus pensamentos ameaçavam
arrancar a dormência reconfortante em meu peito. Limpei minhas
bochechas e fiquei surpresa ao encontrá-las secas.
Eu não chorei nada.
Talvez eu não tivesse mais lágrimas.
Eu vaguei pelas ruínas do parque temático, em direção ao labirinto de
espelhos que me levaria de volta ao esconderijo.
Eu mantive meus olhos em meus pés quando comecei minha jornada
pelo labirinto.
Eu não queria saber como eu estava agora. Tive medo de me olhar no
espelho e não reconhecer a garota que me encarava de volta.
De repente, senti mãos agarrando os meus ombros.
— Lyla, olhe para mim! — Eu pisquei, olhando para cima. Era
Caspian. De alguma forma, eu já estava vagando pelas ruas do
esconderijo subterrâneo.
Eu estava tão perdida na névoa de meus pensamentos que nem me
lembrava de descer a escada.
— Onde você esteve? — Caspian perguntou, seus olhos brilhando com
preocupação. — O que aconteceu com você? Parece que você já passou
pelo inferno.
Eu estremeci.
Que bom que eu não olhei para aqueles espelhos.
Eu abri minha boca para responder, mas nenhuma palavra veio para
mim. Era como se eu tivesse esquecido de como falar.
Caspian apenas olhou para mim, as sobrancelhas franzidas juntas,
uma carranca pesada em seu rosto.
— Vamos limpar você, — disse ele, tirando a poeira de minhas roupas.
— Eles têm água corrente de verdade aqui.
Ele pegou minha mão e me conduziu até o esconderijo. Eu segui
roboticamente, mal prestando atenção para onde ele estava me levando.
Uma toalha e algumas roupas reservas foram colocadas em meus
braços.
— Estarei esperando do lado de fora, — Caspian disse. Ele fechou a
porta atrás de si e percebi que estava em um banheiro.
Eu me despi, seguindo os movimentos. Entrei no chuveiro e abri a
água o mais quente possível. Fechei meus olhos enquanto a água
escaldava minha pele.
Achei que talvez ajudasse a limpar minha mente.
Não ajudou.
Caspian

Eu nunca tinha visto Lyla tão confusa antes.


Ela era a pessoa mais forte que conhecia. Claro, ela teve que lidar com
muita merda ultimamente, e ela tropeçou muito... mas ela sempre se
recompôs.
Mas agora...
Agora ela parecia um maldito fantasma.
E isso me assustou pra caralho.
Havia apenas uma pessoa que poderia fazer isso com ela.
Aquele idiota de merda.
Se eu o visse novamente, colocaria minhas mãos em volta de sua
garganta pegajosa e...
A porta do banheiro se abriu.
Lyla saiu com a camiseta extra e shorts que eu encontrei, seu cabelo
ainda encharcado. Ela não disse uma palavra e sentou-se silenciosamente
ao meu lado na cama.
O quarto que a Alcateia Estrela da Noite me deu era minúsculo.
Exceto pela cama, uma pequena mesa e o banheiro, não havia muito mais
aqui.
Nada com que eu pudesse distraí-la. E agora, ela precisava ficar longe
de seus pensamentos.
Mas o que diabos eu posso dizer?
— ... estão se acasalando.
Pisquei, inclinando-me mais perto de Lyla.
— O que é que foi isso?
— Sebastian e Magnolia vão se acasalar, — ela repetiu, sua voz quase
um sussurro.
Um choque elétrico passou por mim. Meu cérebro levou alguns
instantes para dar sentido a essas palavras.
Se Sebastian e Magnolia estão se acasalando, isso significa...
Meu coração quase saltou do meu peito. Uma onda de euforia correu
por minhas veias.
Isso significa que Lyla e eu finalmente estaremos juntos!
Eu me virei para ela, um sorriso enorme se espalhando pelo meu
rosto, mas minha felicidade durou pouco. Eu vi o olhar vazio em seu
rosto. A luz em seus olhos havia diminuído.
Como eu poderia estar feliz por algo que a estava rasgando por
dentro?
Lyla tinha acabado de perder seu companheiro destinado. Claro que
ela estaria com dor.
Eu queria bater minha cabeça na parede por ser tão insensível.
Tão egoísta.
Passei meus braços em volta dela, segurando-a contra meu peito. Eu
senti um desejo ardente de protegê-la. Eu nunca mais queria vê-la com
tanta dor novamente.
Lyla não se mexeu. Ela poderia muito bem ser uma boneca de
porcelana.
Ainda assim, eu apenas a segurei, esperando que eu pudesse ser o
único a impedi-la de quebrar.
— Eu nunca vou te deixar, — eu sussurrei.
Isso teve uma reação dela. Senti sua mão alcançar meu peito, seus
dedos agarrando minha camisa.
— Promete? — ela perguntou, sua voz falhando.
— Eu prometo.
Lyla começou a tremer em meus braços e senti suas lágrimas em
minha camisa.
Eu coloquei um dedo sob seu queixo e gentilmente levantei seu rosto
para que eu pudesse olhar para ela. Eu observei suas bochechas
manchadas de lágrimas e queimei a visão em minha memória.
Eu nunca iria machucá-la como Sebastian fez.
Eu não ia deixar nenhuma regra estúpida da Igreja ficar entre nós. Eu
a manteria segura e feliz, o resto do mundo que se dane.
Pressionei meus lábios nos dela, sentindo o gosto salgado de suas
lágrimas.
Nosso para sempre começa agora.
Lyla

O beijo de Caspian fez meu coração insensível saltar.


Eu estava mergulhando em um vazio. Um mundo escuro sem
Sebastian. Sem meu companheiro destinado.
Mas meu mundo não estava completamente sem luz.
Caspian era meu lar. Uma casa onde meu coração sempre poderia
encontrar conforto. Um calor que derreteu o gelo em minha alma.
E agora ele era tudo que eu tinha.
Seu toque afugentou a dor, e em seu lugar o desejo — pesado e
urgente — brotou dentro de mim. Aprofundei o beijo, traçando minha
língua ao longo de seu lábio inferior.
Enfiei meus dedos em seus cabelos e cheguei mais perto dele.
Eu queria sentir cada centímetro do meu corpo contra o dele.
Eu queria me perder nele até que não pudesse mais dizer onde eu
terminava e ele começava.
Eu o puxei para a cama, nosso beijo ficando cada vez mais apaixonado.
Ele finalmente se separou e eu ofeguei por ar, apenas para gemer
enquanto ele arrastava seus lábios pelo meu pescoço.
— Caspian! — Minha cabeça estava tonta de desejo. Senti sua
masculinidade pressionar contra minha coxa, abaixei-me e agarrei-a
através de sua calça.
Ele gemeu, o som enviando um arrepio de prazer pelo meu núcleo.
Eu não aguentava mais.
Eu amava Caspian. Ele era meu futuro.
E eu o queria agora.
Nós rasgamos as roupas um do outro, o som de tecido rasgando
apenas intensificando o momento. Ele montou em mim na cama e eu
parei por um momento para olhar para o quão bonito ele era.
Seu cabelo ruivo caía em cachos ao redor de sua cabeça. Estendi a mão
e tracei minhas mãos ao longo de seus ombros largos, para baixo em seu
peito musculoso, sobre seu abdômen...
Para a ereção latejante que estava dura e pronta.
Comecei a acariciá-lo para cima e para baixo suavemente, e ele fechou
os olhos enquanto gemia meu nome.
— Lyla... — O som disso deixou minha alma em chamas.
Ele se inclinou e traçou beijos do meu pescoço aos meus seios. Sua
língua circulou meu mamilo enquanto seus dedos percorriam meu
estômago e em direção ao calor entre minhas pernas.
Eu congelei, uma bolha de incerteza crescendo dentro de mim.
O que estou fazendo?
Mas o toque de Caspian afugentou a incerteza e eu me perdi no
sentimento.
— Oh, Deusa, — eu gemi enquanto ele esfregava círculos lentos em
meu clitóris. Ele abriu minhas pernas, esfregando o eixo de seu pênis
contra mim.
Meus olhos rolaram de prazer.
— Eu quero você, — ele sussurrou em meu ouvido. — Eu quero fazer
você minha.
Estremeci quando suas palavras enviaram uma pontada de dor em
meu coração. Lá estava ele novamente. Esse sentimento de injustiça.
Eu estava realmente escolhendo Caspian porque finalmente tomei
uma decisão?
Ou tudo isso era uma reação ao fato de Sebastian ter se acasalado com
Magnolia?
Eu fechei meus olhos com força.
Não. Eu quero isso.
— Eu sou sua, — eu disse, minha voz falhando.
Caspian parou, sentindo a mudança em mim. Eu o senti rolar e deitar
ao meu lado.
— Olhe para mim, Lyla.
Eu abri meus olhos para encontrá-lo olhando para mim.
— Eu quero marcar você.
Meu coração quase parou.
É isso.
— Tudo bem, — eu disse. — Marque-me.
Mas o rosto de Caspian se contorceu de tristeza. Foi uma expressão de
angústia tão intensa que uma pontada de medo passou por mim.
O que aconteceu?
Mas então eu senti a umidade deslizar pelo meu rosto. Pranto.
Eu soube de uma vez o que Caspian viu.
Ele viu uma mulher que não estava pronta para se comprometer com
ele.
Tentei desesperadamente enxugar minhas lágrimas, mas elas
continuavam vindo. Meu coração parecia uma zona de guerra, com
crateras de impacto e arame farpado.
Eu ainda podia sentir minha conexão com Sebastian.
Eu não queria me comprometer com Caspian só porque estava
sofrendo. Isso não seria justo com ele.
Respirei fundo, esperando que Caspian estivesse com raiva de mim.
Eu não o teria culpado. Mas ele não estava. Ele ficou em silêncio e
imóvel.
E de alguma forma, isso tornou tudo muito pior.
Ele olhou para mim, um apelo sem palavras em seus olhos.
Você algum dia estará pronta? Seu olhar me perguntou. Você poderá me
escolher?
Eu não tinha uma resposta. Cem desculpas queriam sair de meus
lábios, mas eu os selei. O que eu poderia dizer que ainda não disse?
Eu podia me sentir desabando. O buraco escuro do qual Caspian me
arrastou para fora mais cedo esperava ansiosamente com a boca aberta.
Caspian silenciosamente se vestiu e saiu da sala, fechando a porta
atrás de si. Ele não olhou para mim nenhuma vez.
Ele era minha última tábua de salvação.
E eu o joguei fora porque não podia me comprometer com ele.
E agora eu estava completa e verdadeiramente sozinha.
Sem Sebastian.
Sem Caspian.
Sozinha.
Você teve o que merecia, Lyla.
A realidade desabou sobre mim, e o peso da minha perda me fez
despencar na escuridão.
25
ENGANAÇÕES
Sebastian

— Preparado? — Magnolia perguntou.


Estávamos do lado de fora do hotel do conselho no French Quarter. O
prédio alto de três andares era pintado de um amarelo suave, suas
varandas transbordando de flores e vasos de plantas.
O sol nascente banhou o mundo com uma luz dourada; pássaros
matinais cantavam alegremente nas árvores.
O maldito lugar parecia muito alegre para o que tínhamos que fazer.
Estávamos prestes a abrir mão de nossas vidas.
— Vamos acabar com isso, — eu disse.
Magnolia estendeu a mão e me deu um tapa no ombro.
— Tente não parecer muito deprimido, — ela me disse antes de
entrar.
Eu a segui, meu rosto sombrio.
Sem promessas.
Encontramos Caius no saguão. Ele ergueu os olhos de um jornal,
pequenos óculos de leitura empoleirados no nariz.
— Sebastian, — ele disse, levantando suas sobrancelhas em surpresa.
Ele olhou para Magnolia. — O que vocês dois estão fazendo aqui?
— Chame Tiberius e os gêmeos, — eu disse, desabando em um sofá.
— Tomamos uma decisão sobre minha Luna.
As sobrancelhas de Caius se ergueram ainda mais.
— Nós?
Evitei o olhar do meu beta. Parecia que eu realmente não falava com
ele há muito tempo. Eu tinha esquecido o quão perceptivo ele poderia
ser.
— Vá embora, Caius.
Ele tomou outro gole de café antes de se levantar e sair para encontrar
os outros.
Magnolia sentou-se ao meu lado, as costas rígidas e retas. O tique-
taque de um relógio de pêndulo perto do fundo da sala preencheu o
silêncio, os segundos se arrastando lentamente.
— Devemos fingir que estamos apaixonados? — Eu perguntei a ela.
Magnolia olhou para mim.
— Você quer?
— Não.
— Bom. Nem eu. — Com isso, tivemos que sorrir um para o outro,
mesmo que fossem sorrisos ocos, vazios. Eu não estava sozinho nisso. E
não era como se estar com Magnolia fosse uma vida de tortura.
Ela era minha melhor amiga.
Mas ela não é a pessoa que amo.
Caius voltou com os outros. Tiberius estava com um roupão de banho
e os gêmeos com seus trajes de treino, cobertos de suor.
— Parece que interrompemos suas rotinas matinais, — disse
Magnolia.
— Você interrompeu, — Tiberius bufou. — Então é melhor que seja
importante.
Titus acenou para nós enquanto Tonya esvaziava uma garrafa de água
inteira em um único gole.
Eu olhei em volta para o meu conselho, realmente observando a
situação.
Eu finalmente iria anunciar minha Luna. Sempre pensei que essa
proclamação seria importante. Uma mergulhada em cerimônia e
expectativa. Um momento em que eu poderia manter minha cabeça
erguida.
Eu nunca pensei que seria...
Assim.
A pitoresca sala de estar em Nova Orleans estava muito longe das
luxuosas câmaras do conselho em nossa casa da alcateia. Caius ainda
estava com seu maldito pijama de seda.
Eu olhei para Magnolia.
E a mulher ao meu lado não era aquela que eu amava.
— Magnolia vai ser minha companheira, — eu disse, optando pelo
método rasgue-o-rápido-como-um-band-aid. — Ela vai ser a Luna da
Alcateia Real.
Houve um momento de silêncio enquanto o conselho considerava
minha declaração.
— É sério? — Perguntou Titus.
— Sim, — Magnolia disse.
Tonya fez um sinal positivo para nós.
— São notícias fantásticas! — Disse Tiberius. Ele se aproximou e
colocou a mão em nossos ombros, sorrindo para nós como um pai
orgulhoso. — Estou tão feliz por vocês dois.
Não achei que meu coração pudesse se partir mais do que já havia
feito, mas senti uma fissura abri-lo.
Tiberius parecia genuinamente feliz por nós. Não havia rancor ou
vingança em seus olhos porque eu não tinha escolhido Lyla.
Ele parecia acreditar que eu tinha escolhido Magnolia em vez de Lyla,
e em seus olhos, Magnolia era mais adequada para ser a Luna.
Tiberius era durão, mas só queria garantir um bom futuro para nosso
povo.
— Faremos o nosso melhor, — eu disse, tentando manter meus
verdadeiros sentimentos fora da minha voz.
— E Lyla? — Caius estava olhando diretamente para mim, seus olhos
escuros procurando os meus.
Eu apenas balancei minha cabeça. Não confiei em mim mesmo para
falar em voz alta sobre ela.
— Se é isso que você quer, — disse meu beta.
Não é sobre o que eu quero, pensei. Não tenho outra escolha.
— Faremos da sua cerimônia de acasalamento uma parte do desfile do
Carnaval des Loups, — disse Tiberius.
— Todas as alcateias verão isso como um sinal de nossa força. A
Alcateia Real finalmente estará completa, com um poderoso alfa e Luna
no comando.
Magnolia se levantou, determinação em seu rosto.
— Vou começar a fazer os preparativos. — Ela se virou para mim,
estendendo a mão. — Junta-se a mim?
Eu peguei, me levantando para ficar ao lado dela.
Tiberius nos olhou com um sorriso no rosto.
— O futuro é brilhante, — disse ele.
Magnolia apertou minha mão.
Para alguns de nós, pelo menos.
Lyla

Sentei-me no labirinto de espelhos acima do esconderijo, olhando


para meu reflexo.
Não sei há quanto tempo estou aqui, mas o tempo parou de significar
qualquer coisa para mim. Dizer que parecia estranho seria um
eufemismo.
Desde que minha vida virou de cabeça para baixo durante a Cúpula,
eu estava em um cronômetro. Tive um tempo muito limitado para
decidir meu destino.
Para decidir entre Sebastian e Caspian.
Primeiro eu tive até o final da Cúpula. E então, felizmente, eu tive até
a próxima lua cheia. O fim do ciclo lunar coincide com o fim do Carnaval
des Loups.
Isso é amanhã, eu percebi.
Mas nada disso importava mais.
Eu tomei uma decisão ao não tomar uma decisão.
Eu tinha perdido os dois.
Estendi a mão e toquei o espelho na minha frente. Eu me vi refletida
uma quantidade infinita de vezes no labirinto. Eu me vi de todos os
ângulos, de todas as perspectivas.
— Alguma de vocês poderia ter feito melhor do que eu? — Eu
perguntei. — O que você teria feito diferente?
Se minhas reflexões tivessem uma resposta, eles decidiram guardar
para si.
Quanta sorte eu tive por não ter um, mas dois companheiros incríveis?
Quão estúpida eu fui por afastar os dois?
Lembrei-me de quando estava voltando para o esconderijo depois de
descobrir sobre Sebastian e Magnolia. Eu mantive meus olhos no chão,
não querendo olhar para o meu reflexo.
Tive medo de não me reconhecer.
Mas agora, olhando para meu reflexo, descobri que o oposto era
verdade.
Eu sabia exatamente quem eu era.
E isso era muito pior.
Eu estava estragada.
Indecisa.
Eu vi uma mulher que nunca mereceu o que ela recebeu, e — com
razão — tinha perdido tudo. Olhei para a bagunça emaranhada do meu
cabelo, meus olhos vermelhos e inchados, meus lábios secos e rachados.
— Como você pensou que poderia fazer qualquer um deles feliz? — Eu
ri. — Você está delirando.
— Bem, você definitivamente parece uma pessoa maluca. — Eu vi
Michael parado no espelho atrás de mim. — Sentada em um labirinto de
espelhos em um parque temático abandonado... falando sozinha.
— Você deveria me jogar em um asilo, — eu disse. — Pelo menos a
camisa de força vai me segurar e nunca mais me soltar.
Papai riu e se sentou ao meu lado.
— Você está realmente no fundo do poço.
— Você pode me culpar?
— Não, não posso. — Ele colocou a mão no meu joelho. — E você
também não deve se culpar.
Eu apenas balancei minha cabeça. Eu não tinha energia para dizer a
ele por que ele estava errado. Eu me preparei, esperando um sermão
longo e desnecessário que eu abafaria como ruído.
Mas papai não disse uma palavra. Em vez disso, ele apenas se sentou
ao meu lado e começou a amarrar e desatar nós com um pedaço de corda
que ele tinha.
Ele começou a cantarolar — uma canção de ninar baixa e suave que
soava bem com sua voz de barítono.
Fechei meus olhos, me confortando em sua presença.
A melodia me acalmou e comecei a cochilar.
Eu descansei minha cabeça em seu ombro.
Sua voz vacilou por um momento antes de ele pegar a melodia
novamente.
— Obrigada, — eu sussurrei.
Papai não respondeu. Apenas ele estar lá era o suficiente.
Ficamos ali sentados no labirinto, os segundos, minutos, horas se
arrastando.
Eu esperava que eventualmente eu fosse capaz de superar a perda de
minhas duas almas gêmeas.
Mas, no fundo, eu sabia que nunca o faria.
Caspian

Eu vaguei pelas ruas pitorescas de Nova Orleans com um Sazerac na


mão.
Mesmo tão cedo, o Carnaval des Loups estava a todo vapor.
Bandas de jazz tocavam nas esquinas, foliões muito ansiosos se
chocavam contra mim a cada três segundos e várias mulheres mostravam
seus peitos por alguns colares de contas de plástico estúpidos.
Como diabos todos aqui poderiam estar tão felizes, quando eu estava
tão miserável?
Eu tinha que ser algum tipo de merda do próximo nível.
Sebastian e Magnolia estavam se acasalando. Minha única competição
estava fora de cogitação. Lyla e eu poderíamos finalmente nos acasalar.
Mas no final das contas... ela ainda não conseguia tomar uma decisão
sobre mim.
Quando era eu ou nada, ela escolheu a porra do nada.
Eu engoli o resto da minha bebida.
Tive uma terrível sensação de déjà vu enquanto tropeçava nas
serpentinas e confetes, por baixo dos foliões nas varandas.
E foi então que me dei conta.
Eu já estive nessa mesma situação antes. Pouco antes da cerimônia da
segunda chance na Cúpula, eu estava infeliz em um lugar de celebração.
Só que desta vez nenhum raio de lua milagroso brilharia e resolveria
todos os meus problemas. O maldito álcool não estava fazendo nada para
entorpecer a dor latejante no meu coração também.
Mas eu sabia de algo que faria.
Aquelas poções de vodu.
Saí das estradas principais e fiz meu caminho em direção às vielas
traseiras mais decadentes. Eu sabia que a porta de Zara não estaria mais
lá. A última vez que fui rastejar até lá, ela tinha sumido.
Ainda assim, eu tinha que ver por mim mesmo novamente. Tive que
confirmar que minha chance final de salvação havia realmente acabado.
Dobrei a última esquina, já girando nos calcanhares para andar
desanimado de volta por onde vim.
Mas estava lá.
Como meu próprio demônio pessoal me dando as boas-vindas com
braços largos e um sorriso, aquela porra de porta estava lá, me puxando
para frente com cordas invisíveis... e eu fui disparado para dentro, anzol,
linha e chumbada.
Eu tropecei pelos corredores escuros enquanto as sombras giravam e
mudavam ao meu redor. Elas dançaram aos meus pés, e eu jurei que
podia ouvir o sussurro de suas risadas.
Zara estava esperando por mim.
— Pegue o que você quiser, — eu disse, desespero claro em minha voz.
— Apenas faça a porra da dor ir embora.
Zara se aproximou de mim, um ciclone de fumaça girando em torno
de seus pés. Ela caminhou em volta de mim em círculos lentos, um
sorriso preguiçoso no rosto.
— Desculpe, querido, não posso ajudá-lo neste momento.
O desespero fluiu por mim.
— Mas eu conheço alguém que pode... — Ela olhou para mim por
baixo de seu cabelo desgrenhado. — Você está interessado?
— Sim, tanto faz. Não me importa quem seja, — eu disse. — Basta ser
rápido.
O sorriso preguiçoso de Zara se transformou em um sorriso, seus
olhos brilhando de alegria. De repente, uma nuvem de fumaça sulfúrica
explodiu aos meus pés. Eu engasguei enquanto enchia meus pulmões;
meus olhos lacrimejaram porque me cegou.
Eu peguei vislumbres de gavinhas escuras e finas chicoteando ao meu
redor como os tentáculos de algum monstro sombrio.
Eu tropecei para longe, sinos de alarme tocando em meu cérebro
viciado em álcool.
Eu já tinha visto isso antes. Logo antes do desaparecimento de...
— Prazer em encontrá-lo novamente, filho.
Esse sotaque sulista distinto confirmou meus temores. A fumaça se
dissipou e lá estava ele, diante de mim em um terno preto como breu. Ele
tirou o chapéu, sorrindo para mim como se eu fosse um velho amigo.
— Silas, — eu disse.
Se Silas estivesse aqui, então estaríamos todos prestes a cair em uma
piscina profunda de merda... e eu acabei de mergulhar de cabeça.
26
INTERROMPENDO O CASAMENTO
Caspian

Eu tenho que avisar os outros.


Eu me virei com a intenção de fugir do covil de Zara como um
morcego saindo do inferno.
Pelo menos, essa era a ideia.
Assim que me virei para correr, meus músculos travaram
dolorosamente, cãibras intensas tomando conta de meu corpo. Eu cerrei
meus dentes contra a dor, tentando me forçar a me afastar de Silas.
Mas não adiantou.
Meu corpo não estava mais ouvindo.
Meus membros estremeceram de repente, virei e caminhei em direção
a Silas e a bruxa.
O que diabos está acontecendo comigo?
Parecia uma porra de uma marionete. Eu vi a mão de Zara estendida
em minha direção, seus dedos se contraindo como se ela estivesse
manipulando algumas cordas invisíveis.
Ela puxou a mão de volta para si mesma e meu corpo deu mais alguns
passos para frente.
Merda.
Zara chamou minha atenção e tirou uma boneca vodu de palha de
suas vestes. Pendurado no pescoço da boneca havia um pequeno frasco
cheio de sangue.
Meu sangue.
Silas caminhou em minha direção, aqueles tentáculos sombrios e
esfumaçados ainda girando em torno dele. Eu sabia que se ele quisesse,
ele poderia torná-los tão afiados quanto lâminas.
A fumaça escura rastejou em torno de minhas pernas e lentamente
subiu pelo meu corpo.
É assim que eu morro? Preso e incapaz de me mover porque fiz um acordo
para uma porra de uma poção de vodu?
E para quê?
Para vencer Sebastian em uma luta de luta livre?
Caspian, seu filho da puta burro.
Fechei os olhos, esperando o fim.
Desculpe, Lyla.
— Abra os olhos, filho. Não vou matar você, — disse Silas.
Mas eu não iria ouvir esse idiota.
Eu o ouvi suspirar.
— Zara, se você puder.
Minhas pálpebras se abriram contra a minha vontade. Silas estava
bem na minha frente, um sorriso no rosto.
— Assim é melhor.
— Vá para o inferno, — eu disse com os dentes cerrados. Era difícil
falar. Tive que lutar contra meu próprio corpo para respirar.
— Zara, relaxe um pouco, querida? — Silas formulou como uma
pergunta, mas havia um tom inconfundível de autoridade por trás disso.
Claramente, ele era o responsável por qualquer relacionamento
distorcido que eles tivessem.
O aperto da bruxa em mim afrouxou e ficou um pouco mais fácil
respirar.
— Já faz um tempo, — disse ele. — Ainda está tendo alguns problemas
com sua senhora, pelo que vejo.
— O que você quer? — Eu não iria jogar seu jogo estúpido.
Silas colocou a mão no meu ombro e eu não conseguia nem me livrar
dela.
— A mesma coisa que você quer, — disse ele. — O amor verdadeiro.
Se eu pudesse ter recuado de surpresa, eu teria. O rosto de Lyla
apareceu em minha mente.
— O que isso tem a ver com alguma coisa?
Silas andava em círculos ao meu redor — como se ele fosse uma cobra
e eu um rato preso em seu olhar.
— Se alguém machucasse Lyla, o que você faria, Caspian? — ele
perguntou.
— Nem pense nisso, porra, — eu disse. — Se você machucar um fio de
cabelo da cabeça dela, eu vou...
— Você o quê? Me matar?
— Eu vou fazer muito pior do que isso, seu merda, — eu cuspi.
— Exatamente — Silas sorriu. Ele se inclinou, e tão rapidamente
quanto seu sorriso apareceu, ele se foi. Um olhar de pura raiva torceu seu
rosto.
— Sebastian matou minha companheira, Caspian. Você consegue
imaginar essa dor? O que você sente agora é nada.
Eu olhei para ele. Eu tinha ouvido tudo sobre o passado fodido de
Sebastian e Silas após o ataque na Cúpula.
— Você quer vingança, — eu disse.
— Eu quero mais do que apenas vingança. Quero minha Ella de volta,
— disse Silas. — Eu vou trazê-la de volta dos mortos. E uma magia tão
poderosa precisa de um sacrifício.
— Uma companheira por uma companheira, — Zara sibilou atrás
dele.
— Sebastian arrancou minha companheira de mim. Portanto, só faz
sentido eu retribuir o favor. Minha mente foi imediatamente para Lyla.
O que esse filho da puta doentio vai fazer com ela?!
Mas então a realização me atingiu.
Sebastian não estava mais se acasalando com Lyla...
— Magnolia... — eu sussurrei.
— Isso mesmo. Ela será o recipiente de Ella. — Silas sorriu. — E você
vai me ajudar a fazer isso.
Ele se inclinou bem perto do meu rosto.
— Você entendeu, não é? E se eu matasse Lyla bem na sua frente? E se
você encontrasse uma maneira de trazê-la de volta à vida?
Eu podia ver a loucura em seus olhos... e honestamente, isso me
assustou pra caralho.
Não só porque Silas era psicótico...
Mas também porque de uma forma obscura e distorcida, eu podia me
ver nele. Olhar em seus olhos era como olhar em um espelho sombrio.
Até onde eu iria se alguém machucasse Lyla?
O que eu faria para salvá-la?
O sorriso de Silas aumentou ainda mais quando ele olhou para mim.
— Estou feliz por nos entendermos.
— Você não entende nada, — eu cuspi.
Eu tentei lutar contra qualquer influência sombria que Zara tinha
sobre mim. A dor explodiu dentro de mim como um choque elétrico.
Meu coração deu um pulo e parou, e por um segundo pensei que meu
coração tinha parado.
Eu engasguei e arfei enquanto cambaleava de dor.
— Não entenda mal, filho, — disse Silas. — Você não tem
absolutamente nenhuma escolha aqui. Se você lutar contra o vodu de
Zara, você acabará se matando.
Zara balançou sua pequena boneca vodu para mim, segurando um
alfinete sobre o coração para enfatizar.
Essa vadia.
— Mas eu preciso de você vivo, então vou te dar um incentivo.
Todo o comportamento de Silas mudou. Ele passou de assassino
psicótico a cavalheiro sulista em um piscar de olhos.
— Não resista ao feitiço. Desista e faça o que for pedido.
Ele pegou um charuto, enfiando-o na minha boca.
Ele acendeu para mim e a fumaça subiu pelas minhas narinas.
— E depois que minha companheira for revivida, — ele continuou,
acendendo seu próprio charuto, — eu lhe darei Lyla.
Lyla

Olhei para o teto do meu novo quarto. A Alcateia Estrela da Noite me


deu um lugar para ficar em seu segundo esconderijo.
Eu rolei na cama, chutando as cobertas de cima de mim. Eu tentei o
meu melhor para esquecer que dia era.
Mas, é claro, quanto mais eu tentava esquecer, mais óbvio ficava.
Era o último dia do Carnaval des Loups.
A noite de lua cheia.
E, de acordo com alguns membros da Alcateia Estrela da Noite, o dia
do casamento de Sebastian. Eles ouviram a notícia durante uma de suas
missões de reconhecimento.
Ele e Magnolia iriam fazer sua cerimônia de acasalamento como parte
do desfile final do festival.
Meu telefone zumbia com mensagens de texto. Rolei e destravei a tela
para dar uma olhada, mesmo sabendo que não iria responder.
Qualquer coisa para quebrar a monotonia.

Teresa: ONDE ESTÁ?

Teresa: ONDE ESTÁ?

Teresa: Sebastian está se casando com a Magnolia?

Teresa: É melhor me responder garota.

Teresa: Eu sei que você está lendo isso.


Revirei os olhos, mas o próximo conjunto de mensagens era mais
difícil de ignorar.

Mãe: Lyla, você está bem?

Mãe: Faz um tempo que não falo com você e também não consigo
falar com Caspian.

Mãe: Me liga, por favor.

Mãe: Estaremos no desfile... espero ver você lá.


Eu gemi e puxei as cobertas de volta sobre minha cabeça. Talvez se eu
enterrasse meu rosto no travesseiro fundo o suficiente, minha culpa iria
embora.
O mundo exterior só precisava desaparecer.
Meu cobertor protetor foi repentinamente arrancado de mim. Algo
pesado caiu no meu colo e eu gritei de surpresa.
— Levante-se, — disse meu pai.
Eu olhei para ele, sem entender.
— Você ficou deprimida dentro de sua própria cabeça por muito
tempo, — disse ele. — Você precisa se mover. Tirar sua mente das coisas.
Pegue isso e me siga.
E com isso ele saiu do meu quarto, esperando que eu o seguisse.
Suspirei. Eu não conseguia nem reunir energia para me sentir irritada.
Eu sabia que se eu ficasse aqui, ele simplesmente voltaria. Peguei o que
quer que meu pai tivesse jogado em mim.
Meus olhos se arregalaram quando percebi o que era.
Eu o segurei cuidadosamente em minhas mãos, testando seu peso.
Era uma espada de treino.
— Mais rápido! — ele gritou.
Eu me abaixei no momento em que a espada de treino do meu pai
passou sobre minha cabeça. Eu mal tive tempo de piscar antes que ele
desse outro golpe em minha direção.
Consegui levantar minha lâmina bem a tempo, o spray de faíscas do
nosso metal colidindo me fazendo estremecer.
As espadas estavam cegas, mas isso não significava que não poderiam
causar danos.
— Não use muito os braços! — Papai me repreendeu enquanto me
afastava dele. Eu tropecei para trás na caixa de areia, tentando recuperar
o equilíbrio.
— O poder vem de suas pernas, — disse ele. — Dirija esse poder
através de seu torso e de seus braços. Preparada?
Eu respirei fundo. Ele não me deu chance de responder.
Meu corpo se moveu automaticamente. Não tive tempo para pensar.
Não tive tempo de me lembrar das técnicas e instruções que meu pai
tentou enfiar na minha cabeça.
Eu apenas agi por instinto, torcendo meu corpo para longe do ataque
do meu pai para girar e contra-atacar com o meu.
Eu vi os olhos do meu pai se arregalarem de surpresa, e no último
segundo ele trouxe sua espada para bloquear meu ataque. Eu estive a
poucos centímetros de acertar um tiro certeiro.
Ele sorriu para mim e abaixou sua espada, e eu fiz o mesmo.
— Você tem um dom, — disse ele.
— Eu acho que herdei de você. — Mas ele estava certo. Eu era boa
nisso. Ter uma espada na mão era bom. Eu me senti poderosa.
Eu me senti no controle de algo.
E o melhor de tudo, lutar tirava minha mente das coisas. Eu não
conseguia pensar na minha vida bagunçada quando estava tentando não
ter meu crânio esmagado.
— Talvez eu possa ficar com a Alcateia Estrela da Noite, — eu disse, só
meio brincando. — Nós poderíamos roubar e ajudar os pobres juntos. —
Papai riu e eu tive que sorrir. Eu poderia realmente me ver fazendo parte
desta alcateia.
De repente, lembrei-me da leitura das cartas de tarô da bruxa. O
futuro que ela previu dizia que eu encontraria o amor verdadeiro até o
final do festival... mas eu perderia alguém no processo.
Ela estava errada.
Eu perdi duas pessoas com quem me importava. Mas talvez o amor de
que ela falava fosse amor familiar? Talvez reconectar-me com meu pai
fosse o que a bruxa havia previsto?
— Se você quer ficar aqui, você será bem-vinda, — papai me disse,
então seu sorriso ficou agridoce. — Mas é isso mesmo que você quer,
Lyla?
Meu sorriso vacilou.
— Claro, — eu disse.
Ele não estava acreditando.
— Seja honesta com você mesma. Seu coração não está aqui. Está lá
fora, com seus companheiros.
É
— É tarde demais, — eu disse. — Eu os afastei. Eu não os mereço.
— Lyla, me escute. — Meu pai usou sua espada para apontar ao nosso
redor. — Eu construí este lugar. Eu sou responsável pela Alcateia Estrela
da Noite, por ajudar esses pobres mestiços e dar a eles um lar. E estou
orgulhoso disso.
— Então...
— Mas não há um único dia em que eu não me arrependa do que fiz.
— Sua voz carregava o peso de anos de tristeza.
— Eu gostaria de ter ficado. Eu gostaria de ter lutado por minha
família e por aqueles que amo. Se eu pudesse voltar e fazer tudo de novo,
eu o faria.
Eu olhei nos olhos do meu pai e vi a sabedoria neles.
— Não termine como eu, Lyla, — disse ele. — Eu não quero que você,
daqui a algumas décadas, ainda pense em e se. Lute por aqueles que você
ama.
Eu fechei meus olhos.
Eu vi os rostos dos meus companheiros.
Estou realmente bem em deixar coisas assim?
Sebastian iria se acasalar sem nunca realmente saber como eu me
sentia.
Caspian estava em só a Deusa sabe onde, pensando que eu o rejeitei
quando na verdade eu estava apenas confusa e sobrecarregada.
Meu aperto aumentou em torno do punho da minha espada.
Lutar pelas pessoas que amo.
— Você acha que a Alcateia Estrela da Noite está pronta para um
pequeno passeio? — Eu perguntei. Abri meus olhos e vi meu pai sorrindo
para mim.
— Aqueles hooligans? Acho que eles estão dispostos a isso.
— Bom. — Eu cravei a espada de treino na areia, deixando-a lá. —
Porque temos um casamento para interromper.
27
ATÉ A MORTE
Sebastian

A lua cheia estava alta no céu, a própria Deusa brilhando no caos que
era o desfile do Carnaval des Loups.
E Magnolia e eu estávamos bem no fundo.
Meu assento em cima do carro alegórico da Alcateia Real me deu um
ponto de vista perfeito.
Uma banda marcial deslumbrada marchava em nossa frente em
perfeita sincronia enquanto um enxame de mulheres vestindo nada além
de penas dançava e balançava entre elas.
Pessoas com máscaras de lobo incrustadas de diamantes dançavam ao
som de bandas de jazz. Álcool e colares de contas voavam pelo ar. Um
homem com cobras vivas enroladas no pescoço vendia comida e bebida.
Dançarinos de chamas e acrobatas pulavam e giravam para a
admiração da multidão.
Era pura folia. Uma celebração de liberdade e expressão.
Mas eu senti o oposto completo.
Eu estava acorrentado. Vinculado à vontade de minha alcateia para
que eles pudessem sobreviver. Magnolia e eu usamos coroas como parte
da pompa da cerimônia.
Pesada é a coroa.
— Olha, — Magnolia disse. — Todos parecem tão felizes. — Ela
apontou alguns membros de nossa alcateia na multidão.
Eu vi pessoas aplaudindo e rindo enquanto passávamos. Eles
levantaram seus copos e sorriram para nós. Eles abraçaram seus filhos,
beijaram seus companheiros.
Caius estava saboreando uma bebida, e até Tiberius ria das travessuras
de um homem rotundo vestido de Batman que tentava dar uma
cambalhota.
Magnolia acenou para eles, um sorriso no rosto.
— Vê-los assim me dá força, — disse ela. — Acho que estamos fazendo
a coisa certa, Sebastian.
Eu imaginei a alternativa. A Alcateia Real sem Alfa, com um futuro
sombrio e incerto. Ela provavelmente estava certa. Eu não poderia deixar
isso acontecer. Todos dependiam de nós.
Eu vi Teresa e Reed dançando em cima de um táxi. Seu pai, Alfa Hugo,
olhou em choque enquanto seu beta, o pai de Caspian, o confortava.
Onde estão Caspian e Lyla agora?
Eles virão?
Eu procurei na multidão por algum sinal deles. Eu não os vi, mas
encontrei a mãe de Lyla. Ela tinha Skye sentada em seus ombros, e as
duas estavam comendo sanduíches enquanto caminhavam com a
multidão.
Vê-las foi como um novo golpe em meu coração já machucado.
Eu queria pular do carro alegórico e perguntar a Lily como Lyla estava.
Onde ela estava. O que ela estava fazendo.
Mas não consegui. Nosso carro alegórico passou por elas e elas
desapareceram na multidão.
Não parecia que eu estava indo para a minha cerimônia de
acasalamento.
Parecia que eu estava indo para o meu funeral.
Caspian

Segui Zara no meio da multidão, minhas pernas sacudindo atrás dela,


cada passo relutante. Eu lutei contra ela todo o caminho até aqui, mas foi
uma tortura.
Era como se eu estivesse colidindo por vontade própria contra uma
parede de espigões de aço, repetidamente, esperando que algo mudasse.
O controle vodu sobre mim era muito forte.
— Merda, por que eu não poderia ter feito um acordo com a irmã legal
em vez disso?
O aviso de Madame Cochon ecoou em minha mente. Zara era
encrenca. Mas era tarde demais para dar ouvidos ao seu aviso.
Continuamos em frente através do mar de corpos, todos eles
completamente alheios ao horror que estava por vir.
Porra, porra, porra! Faça algo, Caspian!
Zara me puxou para frente e eu tropecei em um Guardião da Lua em
patrulha.
— Calma aí, — ele disse, me firmando com suas mãos enluvadas.
Agora é minha chance!
Eu abri minha boca para gritar um aviso. Para contar a ele sobre a
bruxa me controlando... mas, quando o fiz, um choque elétrico passou
por mim. Um tão intenso que eu paralisei e quase desmaiei ali mesmo.
Mesmo que meu corpo quisesse entrar em colapso, os fios invisíveis
de Zara me seguraram. Ela me afastou do Guardião da Lua, da minha
esperança final.
— Nem pense nisso, — ela avisou. Ela pegou minha boneca vodu e
espetou-a na perna com a agulha.
A dor explodiu em minha coxa. Parecia que os músculos estavam se
partindo por dentro.
Eu não conseguia nem gritar.
Zara removeu a agulha e a dor desapareceu instantaneamente —
como se nunca tivesse existido.
— Apenas seja um bom menino e não resista, — ela murmurou em
meu ouvido. — Resistência só traz dor... e no final, você receberá sua
amada Lyla.
Um sussurro sombrio e insidioso invadiu minha mente, enrolando-se
em torno dele como uma cobra.
Lyla será sua...
Eu estava oscilando à beira da inconsciência. Era como se a magia dela
estivesse enfraquecendo minha mente... embotando meus sentidos.
De repente, senti uma exaustão profunda cair sobre mim como um
cobertor pesado.
— Muito bem, — Zara encorajou. — Agora, siga-me. — Nós nos
aproximamos de um palco elaborado, construído exclusivamente para a
cerimônia de acasalamento de Sebastian e Magnolia. O desfile terminaria
aqui com a união do alfa real e da Luna.
Zara empurrou um buquê de flores em minhas mãos e ficou
escondida na multidão enquanto eu subia os degraus de trás do palco. Eu
vi as alianças de casamento que Sebastian e Magnolia trocariam um com
o outro.
E eu tinha as alianças amaldiçoadas no bolso, que iriam condenar
todos nós.
— Ah, tudo certo Caspian? — Virei-me e vi Titus e Tonya, os deltas da
Alcateia Real. Parecia que eles estavam aqui para ficar de olho nas coisas.
— O que você está fazendo aqui? — Perguntou Titus.
Agora é minha chance. Eu tenho que avisá-los.
— Estou aqui apenas para deixar um presente, — eu disse.
Que porra é essa?!
— Estou muito feliz por Sebastian, — minha boca traidora continuou.
— Tenho certeza que sim, — disse Tonya. — Você e Lyla estão livres
para se acasalar agora.
— Isso é parte disso, eu acho. Mas eu realmente acho que Sebastian e
Magnolia formam um ótimo par. Magnolia será uma grande Luna. — Eu
parecia tão genuíno que me deu vontade de vomitar.
Sai da minha cabeça sua bruxa de merda!
— Claro que ela será, — disse Tonya.
— Poderia ter jurado que Seb estava apostando tudo em Lyla. — Titus
encolheu os ombros. — Bem, o que eu sei. Apenas seja rápido, Caspian.
— Obrigado, — eu disse enquanto os gêmeos se viravam.
Zara me forçou a ir até as alianças, e quando os gêmeos não estavam
olhando, ela me fez trocar a aliança de Magnolia pela amaldiçoada.
Também deixei o buquê de flores ao lado das alianças.
Parecia colocar flores em cima de um caixão em um funeral.
Eu desci do palco onde Zara estava esperando por mim.
— Bom trabalho, Caspian, — Zara zombou. — Agora vamos esperar.
Lyla
— Meus rapazes estão se posicionando, — papai disse, certificando-se
de que sua máscara de lobo estava bem no lugar.
O carro alegórico da Alcateia Real logo passaria.
Eu olhei para os enxames de Guardiões da Lua ao redor do desfile.
— Tem certeza que pode distrair todos eles? — Eu perguntei.
— Obviamente. — Eu podia ouvir seu sorriso através da máscara. — É
o que fazemos.
Eu balancei a cabeça, colocando minha confiança nele.
Eu tinha que chegar perto de Sebastian para que pudesse falar com
ele, mas era mais fácil falar do que fazer.
A segurança dos Guardiões da Lua realmente aumentou desde a fuga
do meu pai. Sem mencionar o fato de que eles estavam guardando a
cerimônia de acasalamento do alfa real.
Se não fôssemos espertos, eu estaria acorrentada antes mesmo de
Sebastian me ver.
Eu estava prestes a fazer um movimento quando avistei uma figura se
afastando abruptamente da multidão. Meu coração saltou na minha
garganta.
Caspian!
Porém, algo sobre ele estava errado. Parecia quase que ele estava
bêbado, mas seus movimentos irregulares eram muito estranhos para
serem apenas álcool.
Então avistei uma figura encapuzada que ele estava seguindo.
Eu tenho um mau pressentimento sobre isso...
— Fique de olho em Sebastian por mim, — eu disse ao meu pai. — Eu
volto já.
Caspian

Zara me empurrou para uma tenda para esperar o caos que se


aproximava. Ela me forçou a sentar em uma cadeira, gargalhando
enquanto manipulava meus membros de todas as maneiras.
— O vodu não é simplesmente maravilhoso? — Ela riu de novo
enquanto eu olhava para ela. — Não se preocupe, garoto. Você será
recompensado em breve. Este mesmo poder que você tanto odeia
realizará todos os seus sonhos. Lyla estará à sua disposição.
Algo dentro de mim estalou com as palavras de Zara.
Esta era facilmente a pior experiência que eu já tive na minha vida.
Minha vontade não era mais minha. Fui sujeito a imensa dor e
humilhação.
E, ao não fazer nada, significava que Lyla sofreria o mesmo destino.
Eu queria voltar a ser como costumávamos ser. Sem nenhuma
besteira. Sem alguma porra de poção alfa. Sem magia vodu.
Eu queria que ela me escolhesse por mim.
E eu prefiro morrer do que deixar Lyla ser controlada assim.
Eu lutei contra meus laços mentais, tumultuando meu coração e
mente. A magia de Zara lutou com chicotes e arame farpado. Parecia que
estava sendo rasgado de dentro para fora.
Eu gritei de dor, sangue jorrando da minha boca.
Os olhos de Zara se arregalaram.
— Que diabos está fazendo?! — ela engasgou. — Você vai se matar!
— Melhor... do que... essa... merda! — Eu gritei novamente quando
meu coração deu um espasmo no meu peito. Eu senti ela chegando.
Morte.
Eu sabia que se continuasse pressionando, meu coração explodiria.
Mas prefiro morrer livre do que ficar preso ao medo. Minhas
inseguranças me levaram a este ponto, e eu coloquei todos em um perigo
terrível.
— Se você quer tanto se matar, então deixe-me ajudá-lo, — Zara
cuspiu. Ela puxou a boneca vodu e foi apunhalá-la bem no peito.
Mas então, um borrão de movimento avançou para frente,
derrubando Zara. A boneca vodu saiu voando de suas mãos e, de repente,
o controle de Zara sobre mim se foi.
Eu estava livre!
E eu dei uma boa olhada em meu salvador pela primeira vez.
— Lyla!
Zara deu um passo para trás, seus olhos se estreitando antes de
desaparecer em uma nuvem de fumaça.
— O que diabos está acontecendo? — Lyla perguntou.
— É Silas, — eu disse, tentando recuperar o fôlego. Meu corpo doía
todo.
— Silas está aqui?!
— Vou explicar no caminho, — eu disse, agarrando a mão dela e
correndo em direção ao desfile. Precisávamos chegar a Sebastian.
Espero que não seja tarde demais.
Sebastian

Era isso. Eu enfrentei Magnolia, nossas mãos entrelaçadas enquanto


Tiberius oficializava a cerimônia e toda Nova Orleans nos observava.
Magnolia olhou obedientemente nos meus olhos e eu fiz o mesmo.
Ela colocou a aliança de casamento em volta do meu dedo e eu
espelhei sua ação.
Tiberius começou a ler os ritos finais; logo nossos futuros seriam
unidos para sempre.
Até que a morte nos separe.
Juntos, tínhamos certeza de que a Alcateia Real iria prosperar. Mas
enquanto estávamos lá no centro das atenções, o mundo esperando a
oficialização de nossa união, eu estava ficando cada vez mais agitado.
Nossa escolha fazia sentido. A relação política entre a Alcateia Real e a
Igreja era vital.
Eu escolhi responsabilidade ao invés de amor.
Mas por que diabos eu não posso ter os dois?
Lyla me deixou por causa do relacionamento de seu pai com a Igreja.
Meu conselho havia me dito que seria impossível manter nosso
relacionamento estável com um pária entre nós. Mas cabia a mim decidir.
Eu poderia ter encontrado um jeito.
A liderança nem sempre se sacrifica pelo bem de todos.
Às vezes, a liderança era fazer o que você sabia e sentia que era certo,
mesmo que isso gerasse alguns problemas. A verdadeira marca de um alfa
era como você lidava com as consequências.
Era hora de assumir o controle de minha alcateia e meu destino.
E essa hora é agora.
— Sebastian? — Perguntou Tiberius.
Percebi que todos estavam esperando que eu fizesse meus votos
cerimoniais. Eles estavam prestes a ficar desapontados.
— Tiberius, ouça..
— AAGHHHH!
Magnolia gritou e se curvou, convulsionando de dor. Fumaça escura
explodiu de suas costas enquanto sua voz começou a distorcer e mudar,
ficando mais grave. Ela parecia um demônio.
— Magnolia?!
Um suspiro coletivo ecoou da multidão enquanto todos estavam
paralisados, sem saber o que fazer.
Houve outra explosão de fumaça preta, o cheiro de enxofre espesso no
ar. E eu soube imediatamente quem estava por trás disso.
Silas apareceu com um sorriso maníaco no rosto.
— Olá, Sebastian.
Magnolia se endireitou de repente, longas garras crescendo na ponta
dos dedos. Eu vi seus olhos nublarem, o céu azul neles substituído pela
noite mais negra.
Seus lábios se curvaram para trás de seus dentes, e eu sabia que não
estava mais olhando para Magnolia.
Era um monstro na minha frente.
Ela avançou contra minha garganta.
O mundo desabou.
28
SACRIFÍCIO
Sebastian

Inclinei-me para trás quando as garras de Magnolia chegaram a


centímetros da minha jugular. Se eu tivesse me movido uma fração de
segundo depois, meu sangue vital estaria derramando no chão.
Tentei agarrá-la, mas Magnolia saltou para trás para ficar ao lado de
Silas, aqueles tentáculos de fumaça escura e mortal envolvendo os dois
de forma protetora.
— Deixe-a fora disso, Silas! — Eu rugi. Titus e Tonya correram para o
meu lado, assim como um esquadrão de Guardiões da Lua. — Isso é entre
você e eu.
Nós o cercamos. Os Guardiões da Lua haviam desembainhado suas
lâminas e estavam esperando por uma abertura.
Nem mesmo Silas conseguiria escapar dessa antes que atacássemos...
mas ele parecia calmo. Ele não parecia nem um pouco preocupado.
O que diabos ele está planejando?
Magnolia continuou a se contorcer e se contorcer, seu corpo sofrendo
algum tipo de transformação grotesca.
Sua mandíbula estava aberta, a baba escorrendo de suas presas afiadas.
Suas costas estavam curvadas, suas longas garras perversamente
afiadas.
Ela tinha um olhar feroz e selvagem.
Isso não é Magnolia.
— Isso inclui toda a sua alcateia imunda, Sebastian, — Silas disse. —
Você tirou minha companheira de mim. Agora vou pegar a sua... e tudo o
mais que você preza.
Silas acariciou a bochecha de Magnolia suavemente.
— Em breve, Ella. Logo estaremos realmente juntos novamente.
Meus olhos se arregalaram de horror.
Ella?
Aquela era a companheira de Silas?
Eu não poderia deixar essa loucura continuar.
— Matem-no, — eu disse aos Guardiões da Lua. — Tirem-no de sua
miséria.
Assim que eles começaram a avançar, Silas soltou um uivo poderoso e
colunas de fumaça preta explodiram de seu corpo.
Elas se moviam como mísseis buscadores de calor, cada uma delas
girando e voando pelo ar... indo direto para os Guardiões da Lua.
Alguns deles conseguiram cortar a fumaça ao meio, suas espadas de
alguma forma capazes de matar qualquer magia que Silas tivesse
convocado.
Mas outros...
A fumaça envolveu alguns deles, infiltrando-se por suas bocas, olhos e
ouvidos. Eles se curvaram, rosnando quando auras escuras começaram a
emanar de seus corpos.
Muitos dos Guardiões da Lua na multidão sucumbiram a essa magia
também.
Eles estão sendo transformados, eu percebi.
Silas estava tentando possuí-los como havia feito com Magnolia.
Os sombrios Guardiões da Lua de repente pararam de convulsionar, e
houve um estranho momento de quietude enquanto todos prendiam a
respiração.
Foi Silas quem quebrou o silêncio.
— Matem todos! — ele rugiu.
Caspian

Pandemônio.
Caos completo, respingado de sangue.
Chegamos tarde demais.
O desfile se transformou em um banho de sangue. Os sombrios
Guardiões da Lua se moveram no meio da multidão, suas armas
manchadas de sangue. Eles deixavam um rastro de sangue após matarem
inocentes atrás de inocentes.
Alguns outros Guardiões que foram capazes de resistir à magia negra
de Silas lutaram, mas foi uma batalha perdida.
Olhei em volta e de repente percebi que Lyla não estava mais ao meu
lado.
— LYLA! — Eu gritei, mas minha voz era apenas uma entre muitas. Os
gritos dos desesperados e moribundos me ensurdeceram.
Corri para frente, desesperado para encontrar alguém que eu
conhecia — com medo de ver o corpo imóvel de um amigo ou membro
da família.
Eu avistei Teresa e Reed lutando contra um par de Guardiões da Lua.
Eu corri para ajudá-los, pulando e caindo nas costas de um Guardião
da Lua. Meus braços torceram em volta do seu pescoço, até que ele
desmaiou.
Eu vi Alfa Hugo e meu pai vindo correndo em nossa direção também,
e tentamos nos reagrupar para uma retirada de combate.
Teresa e Reed conseguiram derrubar outro Guardião da Lua, e todos
nós corremos para o beco mais próximo para recuperar o fôlego.
— Você está bem? — Teresa estava agachada ao lado de Reed
enquanto ele segurava sua cabeça com as mãos. Metade de seu rosto
estava manchado de sangue, escorrendo até o pescoço.
— Só um pequeno corte, — disse ele. — Parece pior do que é.
— O que diabos está acontecendo?! — Perguntou Teresa.
— Silas está atacando novamente, — disse Alfa Hugo. — Temos que
encontrar o máximo de membros da Alcateia Lua Azul que pudermos e
sair daqui. Estamos em desvantagem.
Olhei para meu pai e percebi pela primeira vez que ele tinha um corte
profundo na lateral do corpo. Ele chamou minha atenção e apenas
balançou a cabeça.
— Estou bem, — disse ele.
Eu cerrei meus dentes com raiva.
— Isso com certeza não parece...
O pisar das botas blindadas exigiu nossa atenção. Um esquadrão
inteiro de Guardiões da Lua possuídos estava marchando em nossa
direção, suas longas lâminas cobertas de sangue.
Todos nós nos viramos para correr pelo outro lado do beco, mas mais
Guardiões da Lua apareceram lá também.
Estávamos presos.
Comecei a mudar, raiva e desespero me dando forças.
— Nós podemos pegá-los, — eu disse. Eu não ia deixar minha família
morrer em algum beco escuro.
Mas eu senti meu pai me agarrar, impedindo minha transformação.
Ele e Alfa Hugo se olharam e trocaram um breve aceno de cabeça.
— Ouça-me, filho, — disse-me ele. — Hugo e eu vamos abrir caminho
para vocês três. Use esse momento para sair correndo daqui.
Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo.
— O que diabos você está tentando dizer? — Eu perguntei.
— Nada, — disse Alfa Hugo. — Estaremos bem atrás de você.
Mas eles não podiam me enganar. Eu conhecia aquele olhar em seus
olhos. Eles iam se sacrificar, porra.
— Você é louco! — Teresa gritou. Lágrimas escorriam por suas
bochechas. — Se você acha que vou deixar você aqui para morrer...
— Teresa, não temos tempo. — Alfa Hugo respirou fundo. Os
Guardiões da Lua estavam se aproximando. — Reed. Você protege minha
filha, entendeu?
— Com a minha vida, — respondeu ele.
Meu pai olhou nos meus olhos.
— Vocês, crianças, são o futuro da alcateia agora, certo? Cuidem-se.
Lágrimas encheram meus olhos. Esses velhos idiotas haviam se
decidido.
— Amo você, papai.
Meu pai sorriu, apertando meu ombro.
— Amo você, filho.
E com isso eles mudaram e atacaram os Guardiões da Lua.
— NÃO! — Teresa gritou, correndo atrás deles. Reed e eu a
seguramos. Só tínhamos uma chance de passar por eles. — SOLTEM-
ME! — Ela começou a mudar, e eu sabia que se ela corresse para frente,
ela morreria também.
— Teresa, olhe para mim. — Reed ficou na frente dela, segurando seu
rosto com as mãos. — Você tem que viver. Não deixe o sacrifício de seu
pai ser inútil. Sua alcateia precisa de você.
— Se você acha que vou deixar meu pai morrer...
— Se você correr para lá você morrerá, — disse Reed. — E você teria
que ser uma idiota para pensar que eu não irei correr atrás de você e
morrer ao seu lado.
Isso chamou a atenção de Teresa.
Ela parou de se debater e olhou diretamente para ele.
— Viva para nós, — disse ele.
Eu vi o fogo nos olhos de Teresa murchar e morrer. A brilhante
centelha de vida que sempre brilhou dentro dela não existia mais.
— Tudo bem, — ela disse, sua voz plana.
Com um aceno final um para o outro, todos nós mudamos.
Nós avançamos assim que meu pai e Alfa Hugo avançaram na frente
dos Guardiões da Lua, criando uma abertura para nós.
Tentei ignorar o som de metal perfurando a carne.
Tentei ignorar os respingos de sangue que respingaram em meu pelo
enquanto eu passava correndo.
Teresa soltou um uivo de partir o coração quando uma lâmina
perfurou as costas de seu pai.
Tive um último vislumbre de nossos pais enquanto eles lutavam com
unhas e dentes, espadas alojadas em seus corpos. Eles se sacrificaram
para que pudéssemos viver.
Essa imagem iria me assombrar pelo resto da minha vida.
Lyla

Corri desesperadamente em direção ao palco, esquivando-me de civis


em pânico e também de Guardiões da Lua assassinos.
Sebastian estava lutando por sua vida, afastando cinco Guardiões da
Lua de uma vez. Silas simplesmente observou, rindo loucamente
enquanto apreciava a violência ao seu redor.
Psicopata fodido.
Eu queria tanto mudar, mas estava muito lotado. Eu acabaria batendo
em todos e atraindo a atenção daqueles Guardiões da Lua possuídos. Eu
nunca mais chegaria a Sebastian depois disso.
De repente, fui atingida por trás e caí esparramada no chão. Rolei e
fiquei de pé antes que pudesse ser pisoteada pela debandada da multidão.
Eu me virei, pronta para enfrentar meu atacante, mas a visão dela me
fez congelar.
Magnolia estava diante de mim. Seu vestido estava em farrapos e ela
estava coberta de sangue. Ela parecia uma noiva má saída de um filme de
terror, os olhos arregalados e ferozes.
Como vou lutar contra ela?
Ela se lançou para frente e eu tive que me lançar para o lado para ela
não abrir meu estômago.
— Magnolia! — Eu gritei. — Acorde!
Mas ela não ouviu. Qualquer que fosse o feitiço sob o qual ela estava
era muito forte.
Eu continuei a correr e me esquivar dela, dolorosamente ciente de que
cada segundo que perdia aqui era outro segundo que deixava Sebastian
mais perto da morte. Ele não podia continuar segurando todas aquelas
pessoas sozinho.
— Você realmente tem tempo para brincar de pega-pega?
Eu engasguei de dor quando uma enxurrada de gavinhas escuras me
cortou, abrindo cortes ao longo de meus braços e pernas.
Silas estava parado perto de mim, um sorriso perturbado no rosto.
Magnolia perdeu o interesse e saiu para aterrorizar outras pessoas na
multidão.
— Eu tinha outros planos para você..., — disse Silas, sua fumaça
mortal girando em torno dele. Observei enquanto a fumaça se
transformava em uma ponta, pairando sobre mim como o machado de
um carrasco. — Mas... tudo bem.
O pico desceu.
Fechei os olhos com força, esperando o fim.
Os rostos de Sebastian e Caspian brilharam diante de mim.
Sinto muito.
Senti sangue quente espirrar em meu rosto.
Mas a dor nunca veio.
Quando abri meus olhos, percebi que o sangue não era meu.
Era do meu pai.
Estrela da Noite estava em cima de mim, a ponta sombria atingiu seu
peito.
Eu olhei para meu pai, e nos encaramos.
Isso deve ser um pesadelo.
— Hey querida. — Ele sorriu e o sangue jorrou de sua boca.
— NÃO! — Eu gritei quando ele desabou em cima de mim.
Silas riu e estava levantando sua arma novamente para acabar
comigo...
Quando um poderoso rugido de dor ecoou do palco. Nós dois
olhamos e vimos que Sebastian estava encurralado em um canto.
— Oh, não posso perder isso. — Silas olhou para mim com um sorriso
no rosto. — Eu estarei de volta logo. — Ele desapareceu em uma nuvem
de fumaça. Virei meu pai de costas, tentando aplicar pressão na ferida em
seu peito. Mas seu sangue jorrou pelos meus dedos enquanto mais
sangue acumulava em suas costas.
— Não, não, não, não... — Minhas lágrimas se misturaram com o
sangue dele.
— Lyla, — disse ele, com a voz fraca.
— Não fale, — eu disse, desesperada. — Economize sua energia.
Ele ergueu a mão trêmula para cobrir a minha.
— É tarde demais para mim, querida.
Eu balancei minha cabeça vigorosamente. Meu pai tinha acabado de
voltar para minha vida.
Eu não iria perdê-lo, porra.
— Estou... tão feliz — ele respirou ruidosamente — que pude... ver
você de novo. Mesmo que fosse... só por um tempinho...
— Por favor, não, — eu solucei. Eu implorei a qualquer um e a todos.
Eu olhei para a lua e orei com todos os restos do meu coração
despedaçado.
Por favor, Deusa. Por favor, salve-o.
Eu farei qualquer coisa. Eu farei o que você quiser. O que for preciso.
Apenas... por favor.
Por favor.
Meu pai empurrou o punho de sua espada em minhas mãos. Ele
sorriu para mim, reunindo suas últimas forças.
— Lute por aqueles que você ama.
E eu vi meu pai morrer.
Por um momento, não acreditei. Mesmo quando seus olhos se
fecharam, mesmo quando ele parou de respirar e o sangue parou de
bombear de seu coração, eu não acreditei.
Eu tinha certeza de que um feixe de luz iria brilhar da lua acima,
benevolente e misericordioso, e meu pai abriria os olhos.
Mas isso nunca aconteceu.
Uma escuridão floresceu em meu coração.
Uma que preencheu as lacunas e rachaduras, e manteve minha alma
torturada unida. Ela se espalhou do meu peito para minhas pernas, para
meus braços, enchendo meu corpo até a borda absoluta.
Enchendo-o de força.
Era raiva.
Era ódio.
Meu olhar se concentrou em Silas enquanto ele estava no palco
assistindo Sebastian lutar por sua vida. Segurei a espada do meu pai,
meus dedos ficando brancos.
Eu não iria deixá-lo tirar mais ninguém de mim.
Silas vai morrer, porra.
29
LUZ ANTES DAS TREVAS
Caspian

Reed ajudou Teresa a sentar-se em uma cadeira.


Ela parecia em estado de choque. Seu rosto estava em branco e ela
olhava para frente.
Teresa não disse uma palavra desde que fugimos.
E eu não poderia culpá-la, porra.
Reed a puxou para perto, colocando um braço em volta de seus
ombros. Ele olhou para mim, seus olhos cheios de arrependimento.
— Sinto muito pelo seu pai.
— O bastardo teve que sair em uma labareda de glória, — eu disse.
Não parecia muito real. Ainda não. Eu provavelmente ainda estava em
negação. Ou choque.
Mas haveria tempo para lamentar mais tarde.
Reed e eu tínhamos conseguido reunir membros da Alcateia Lua Azul
e muitos outros enquanto escapávamos do banho de sangue do desfile.
Mas ainda havia muitos desaparecidos.
Nós nos reunimos dentro de uma lanchonete para nos esconder e
cuidar de nossos feridos. Eu assisti enquanto grupos de Guardiões da Lua
corriam para tentar conter a zona do desastre.
Espero que eles também não sejam possuídos.
A magia negra de Silas tinha como alvo as pessoas mais fortes para a
carnificina máxima.
As portas da lanchonete se abriram de repente, e eu vi Lily correr para
dentro, uma Skye apavorada em seus braços. Colin entrou mancando
atrás delas, um corte profundo na coxa.
Corri até eles, ajudando Colin a se sentar.
— Graças à Deusa vocês estão todos seguros, — eu disse.
Skye correu para pegar algumas bandagens para Colin. Ela tinha
lágrimas escorrendo pelo rosto, mas parecia determinada a ajudar.
Garota corajosa.
— Lyla não está aqui? — Lily perguntou, seus olhos examinando a
lanchonete.
— Não, ela provavelmente está com Estrela da Noite, — eu disse a ela.
— Nós o vimos, — Colin disse, grunhindo enquanto envolvia sua
perna nas bandagens que Skye tinha dado para ele. — Michael está
morto.
Um poço de pavor se abriu em meu estômago.
Oh, não...
— Vou voltar lá, — disse Colin, estremecendo ao se levantar.
— Até parece. — Eu o empurrei de volta em seu assento. — Você vai se
matar.
— Você não pode me impedir, Caspian. Eu vou, queira você ou não...
— Este é um pedido do seu beta, — eu disse, minha voz dura.
Isso parou Colin de repente. Ele e Lily trocaram olhares.
— Seu pai...?
Eu balancei minha cabeça.
Lily me puxou para um abraço.
— Eu sinto muito, — ela disse.
Eu me afastei. Não havia tempo para isso.
— Eu vou trazê-la de volta, — eu disse a eles. — Eu prometo. — Eu me
virei e saí correndo da lanchonete, mudando de forma enquanto saía. Eu
avancei, de volta ao caos.
Sebastian

Eu rugi quando outra espada me cortou, uma dor aguda e ardente


correndo pelo meu lado. Eu golpeei de volta o Guardião da Lua, minhas
garras arranhando sua armadura, apenas para ser cortado por trás.
Eu cambaleei para longe, desesperado para conseguir alguma
distância de meus atacantes. Eu queria pular da plataforma cerimonial
para a multidão, mas estava cercado.
Restavam cinco Guardiões da Lua e eles eram implacáveis. Eles me
perseguiram, conduzindo-me em direção ao centro do palco, seus rostos
inexpressivos obscurecidos pela fumaça da sombra que os controlava.
Eu olhei em volta, tentando bolar um plano.
Tonya e Titus travaram um combate mortal com um esquadrão de
Guardiões da Lua.
Caius estava ocupado tentando conter Magnolia sem machucá-la.
Tiberius estava gravemente ferido e teve de ser carregado antes de ser
morto.
Eu estava sozinho e em menor número.
— É isso, — Silas chamou. Ele estava parado alguns metros atrás dos
Guardiões da Lua, contente em me ver lutar pela minha vida. — Lute.
Sofra.
Se ele morrer... talvez seu feitiço morra com ele. Eu avancei em direção a
Silas, mas os Guardiões da Lua na minha frente fecharam as fileiras, me
empurrando para trás com espadas e lanças.
— Você vai ter que se esforçar mais do que isso, Sebastian.
Um Guardião da Lua avançou com a espada erguida. Ao mesmo
tempo, outro deu um passo à frente atrás de mim, pronto para atacar
caso eu saltasse para trás para me esquivar do primeiro ataque.
Mesmo possuídos, os Guardiões da Lua ainda mantiveram pelo menos
algumas de suas táticas de combate.
Os bastardos não podiam simplesmente se transformar em zumbis
sem cérebro ou algo assim?
Eu me lancei para enfrentar a ameaça na minha frente, pegando a
espada do Guardião da Lua em minhas mandíbulas. Eu torci meu
pescoço para trás, arrancando-o de seu aperto enquanto baixava minhas
garras em um golpe violento.
Eu rasguei sua armadura, seu sangue jorrando em um arco carmesim
enquanto ele caía.
Um a menos... faltam quatro.
Mas eu estava perdendo forças. Se Silas ou os Guardiões da Lua não
me matassem, a perda de sangue o faria. Eu perdi muito. O mundo ao
meu redor começou a girar e minhas pernas tremeram.
— Olhe para você — zombou Silas. — Você é patético. Eu vou gostar
de desmembrar você. Devagar e dolorosamente, vou... — De repente, ele
se virou e desapareceu em uma nuvem de fumaça.
Um lobo veio correndo pelo local em que Silas estivera apenas um
segundo atrás, dentes e garras brilhando ao luar.
Caspian!
Ele direcionou seu impulso direto para as costas dos Guardiões da Lua
na minha frente.
Usei esse momento para atacar, já que os Guardiões da Lua possuídos
foram pegos desprevenidos. Caspian e eu lutamos juntos em um
turbilhão de violência, nossos inimigos caindo um por um.
Nós lutamos e rasgamos e mordemos e cortamos até que nenhum
deles ficasse de pé.
E então era só eu, Caspian e Silas quando ele reapareceu.
Caspian e eu o circulamos lentamente, muito conscientes de quão
perigoso ele era. Nós lutamos com ele antes — na Cúpula. Estávamos
exatamente nesta situação no labirinto do milho.
E naquela época nós perdemos.
Silas recuou, mas ele poderia ter nos matado com sua magia negra e
sombria.
Desta vez tem que ser diferente.
— Eu não vou fugir desta vez, — disse Silas, sua voz mortalmente
calma. — Vocês dois vão morrer.
Um arrepio percorreu minha espinha. Mas eu não ficaria intimidado.
Faça ou morra, Sebastian. Toda a sua alcateia está contando com a sua
vitória.
Eu corri para frente e Caspian seguiu minha liderança.
Silas se curvou, sua forma mudando para sua versão obscura e
pervertida de lobo. Estava coberto de sombras, tentáculos de escuridão
crescendo em suas costas.
Nós saltamos para frente, e aquelas gavinhas nos golpearam como
moscas, a fumaça dura como aço. Gritei quando senti algumas de minhas
costelas quebrarem e me esparramei no chão.
Eu estava sem ar. Era difícil respirar. Silas disparou no ar, suas
mandíbulas mirando na minha garganta.
Rolei para o lado no último segundo, evitando o golpe fatal. Mas não
havia para onde correr. As sombras deslizaram pelo palco e amarraram
minhas pernas no chão. Eu não conseguia me mexer.
Eu vi Caspian tentar atacar Silas por trás, mas os tentáculos de Silas o
mantiveram à distância. Silas nem mesmo precisou olhar para trás. Era
como se as sombras fossem sensíveis, com vontade própria.
Silas fechou a distância entre nós e pairou sobre mim, a fumaça em
sua cauda se transformando em uma ponta.
É isso. É assim que eu morro.
A ponta desceu para perfurar meu coração.
Lyla

Eu corri para frente, segurando a espada do meu pai com força em


minhas mãos.
Eu cortei a ponta sombria que visava o coração de Sebastian. Silas
recuou, uivando de dor enquanto recuava da minha lâmina.
Ele mostrou os dentes enquanto olhava para a espada com ódio, e eu a
girei em minhas mãos.
Talvez seja por isso que ele possuía os Guardiões da Lua. Porque suas
armas eram uma ameaça.
Sebastian demorou a se levantar e meu coração disparou
nervosamente. Ele parecia estar em péssimo estado. O sangue manchava
seu pelo e sua respiração vinha em suspiros rápidos e irregulares.
Tínhamos que lidar com Silas rapidamente e conseguir ajuda.
Eu vi Caspian circundar Silas em nossa direção. Ele piscou para mim,
seus olhos grandes enrugando quando ele me deu um sorriso de lobo.
Nós três ficamos juntos para enfrentar o monstro diante de nós.
A abominação do lobo de Silas emitiu um grito agudo que fez a nuvem
de fumaça ao redor dele tremer e estremecer. Os tentáculos da escuridão
o faziam parecer algum tipo de horror cósmico.
Mas eu não estava com medo.
Meus companheiros estavam de cada lado meu, suas presas expostas
em desafio.
— Venha nos pegar, idiota, — eu disse.
Eu avancei, um grito de guerra em meus lábios. Os tentáculos de Silas
atiraram em nós como flechas, mas eu manuseava a espada do meu pai
com facilidade, cortando todos eles antes que pudessem nos perfurar.
A lâmina se encaixava naturalmente na minha palma. Era como se a
espada fosse uma extensão do meu braço. Senti a orientação de meu pai
na lâmina e meu corpo se moveu como se estivesse em transe, cortando a
escuridão diante de mim.
Sebastian e Caspian correram para frente assim que eu o cortei,
arranhando e mordendo nosso inimigo. Silas lutou como um demônio,
sua força e velocidade amplificadas pela magia negra.
As sombras se agruparam embaixo de mim, e eu pulei para o lado no
momento em que uma ponta irrompeu do chão, a centímetros de me
empalar.
Eu me virei, cortando a sombra ao meio, e ela caiu com um grito
agudo.
Mais sombras nos enxameavam e corri para abatê-las antes que
pudessem fazer algum mal.
Eu tinha apenas que destruir as sombras. Sebastian e Caspian
cuidariam do resto.
Meus companheiros acertaram um golpe selvagem no rosto de Silas,
fazendo-o voar para trás, caindo pesadamente no chão.
O que restou da fumaça enrolou-se em torno dele como um casulo e,
quando se dissipou, ele era humano novamente.
— Isso não acabou. — Ele cuspiu sangue, segurando seu braço
esquerdo flácido. — Eu voltarei. E da próxima vez, todos vocês e suas
alcateias imundas não irão se safar tão facilmente.
A fumaça enrolou-se em torno dele para levá-lo embora, mas desta
vez eu estava pronta.
Eu corri para frente e abaixei minha espada em um arco mortal. A luz
da lua cheia brilhou na lâmina enquanto eu balançava através da fumaça,
assim que Silas desapareceu.
Eu estava muito atrasada.
Eu virei para meus companheiros, mas algo chamou minha atenção.
Eu olhei para a espada e vi o gotejamento de sangue fresco em seu gume.
Houve um baque! Quando algo caiu aos meus pés. Meus olhos se
arregalaram.
Nem todas as partes de Silas escaparam.
A meus pés estava a cabeça de Silas. Seu rosto tinha uma expressão de
choque e surpresa, congelado na morte.
Chutei a cabeça para longe de mim com nojo.
Isso foi pelo meu pai.

Sentei-me nos degraus da frente da vila. A lua cheia estava começando


a cair no céu, e uma exaustão profunda me atingiu.
Assim que Silas morreu, o feitiço que prendia os Guardiões da Lua
terminou. O que quer que estivesse possuindo Magnolia, também se foi.
Ela caiu inconsciente imediatamente depois, mas parecia que ela
ficaria bem.
Minha família estava bem... mas outros não tiveram a mesma sorte.
Eu queria ficar longe de tudo — conseguir algum espaço para apenas
respirar.
Mas, como sempre, não consegui isso.
Eu vi Sebastian e Caspian descendo a calçada. Observando-os
caminharem em minha direção à luz do luar, de repente percebi o
verdadeiro significado por trás da leitura das cartas de tarô da bruxa.
Achei que isso significava que, se escolhesse um deles, perderia o
outro para sempre. Mas não era um deles que eu perderia.
Em vez disso, perdi meu pai.
Eu só queria descansar. Eu queria rastejar para a cama, me enterrar
em meus cobertores e desaparecer do mundo.
Eu queria ficar no escuro, sozinha.
Mas a lua cheia brilhando sobre mim não permitiria isso. Foi um
lembrete de que ainda tinha algo a fazer.
Uma decisão final.
Meus companheiros se aproximaram de mim e eu sabia que não tinha
mais tempo.
Mas desta vez eu não estava com medo. Eu não me senti apressada.
Fechei os olhos, procurando nas profundezas do meu coração. Eu só
podia escolher um.
E, finalmente, depois do que pareceu uma vida inteira de sofrimento e
angústia, tive uma resposta.
Eu sabia quem era meu verdadeiro amor.
30
PARA O FUTURO
Lyla

UM MÊS DEPOIS

O último mês foi um borrão.


Eu olhei para as colinas e campos verdes além da minha janela, uma
sensação de melancolia me preenchendo. Eu estava de volta ao
Mississippi, mas minha mente ainda estava em Nova Orleans.
Tanta coisa havia acontecido desde o fim do Carnaval des Loups.
As autoridades da Igreja fizeram uma investigação completa. Eles
encontraram Zara encolhida no pântano, apreenderam minha Madame
Cochon. Ela era a única cúmplice de Silas.
As consequências do massacre da parada foram um pesadelo para
enfrentar. Muitas pessoas perderam muitos entes queridos naquele dia
— não apenas a Alcateia Real e a Lua Azul.
As cerimônias de luto duraram duas semanas. Todos nós prestamos
nossos respeitos e nos despedimos cheios de lágrimas. As feridas ainda
estavam frescas, mas pelo menos tivemos tempo para trabalhar um
pouco de nossa dor.
E apesar das perdas horríveis... o fim do carnaval trouxe consigo novos
começos também.
Houve uma batida na porta.
— Entre, — eu chamei.
Magnolia entrou com uma pilha de papéis nos braços.
— Alfa Lyla, — ela cumprimentou.
Eu me encolhi.
— Por favor, pare de me chamar assim.
Ela sorriu, embora não tenha alcançado seus olhos.
— Você vai ter que se acostumar com isso, — ela me disse. — Isso é o
que você é, afinal. — Encontramos o testamento do meu pai. Dizia que,
no caso de sua morte, eu herdaria sua posição como alfa da Alcateia
Estrela da Noite. Magnolia estava me ajudando com parte da burocracia.
Eu olhei para a pilha de papéis que ela carregava.
E há muita burocracia.
— Não se preocupe, você só precisa assinar a parte superior, — disse
ela. — A Igreja não vai ficar feliz, sabe. A Alcateia Estrela da Noite não é
oficialmente reconhecida como uma alcateia.
— Sim, bem, tal pai, tal filha. — Eu sorri. — Temos que manter a
tradição.
Provavelmente deveria haver mais tensão entre mim e Magnolia, dado
tudo o que aconteceu, mas eu não a culpei por nada disso.
Eu só esperava que ela fosse feliz...
Magnolia se virou para sair, mas eu a impedi.
— Como você está?
Quando Magnolia acordou pela primeira vez após ser possuída, ela
estava histérica. Eu não conseguia nem imaginar a dor de ter seu corpo
tomado e usado para fazer coisas terríveis.
O espírito da companheira de Silas matou dezenas antes que ela
caísse.
Ela ainda carregava essa culpa. Eu não tinha certeza se isso iria
embora.
— Estou lidando com isso. — Ela suspirou. — Mas chega disso. Afinal,
é o seu grande dia. Concentre-se em você.
Eu olhei para o espelho e meus olhos se arregalaram de surpresa.
Não importa quantas vezes eu me visse com o vestido, ainda não
conseguia acreditar.
Eu estava envolta em um vestido que foi feito para uma rainha.
O vestido Paris Chiffon era largo e justo em todos os lugares certos. As
mangas bordadas e o corpete sob medida demonstravam elegância e
pureza. O marfim fazia minha pele brilhar.
Estou me acasalando hoje.
— Obrigada pela lembrança. — Eu ri nervosamente.
Magnolia piscou, fechando a porta atrás dela.
— Vejo você lá fora.
Eu não consegui nem mesmo respirar antes que minha porta se
abrisse novamente.
— LYLAAAA! — Teresa se moveu pela sala como um furacão e agarrou
minhas mãos. Ela me olhou de cima a baixo, um assobio baixo escapando
de seus lábios. — Você. Está. Linda.
— Essas coisas não combinam comigo.
— Cale-se. Você se parece com a própria Deusa da Lua.
— Uh, eu não diria isso tão casualmente. Acho que ela vai ficar com
raiva de mim por causa da Alcateia Estrela da Noite.
Teresa acenou com a mão com desdém, como se a ira de uma deusa
não fosse nada com que se preocupar.
— Eu mantenho a minha declaração. Ele vai pirar quando te ver.
Isso trouxe um sorriso ao meu rosto.
— Você acha que ele vai gostar?
— Eu sei disso. — O sorriso de Teresa vacilou por um momento. — Se
ao menos meu pai pudesse estar aqui conosco.
Eu apertei suas mãos.
— Eu sei. — Teresa e eu sempre fomos melhores amigas. Mas de
alguma forma, impossivelmente, nos tornamos ainda mais próximas.
Nós duas tínhamos cacos de vidro semelhantes marcando nossos
corações.
Nós duas perdemos nossos pais.
Nós duas nos tornamos alfas em seu lugar.
Teresa teve uma vida difícil. Ela não apenas teve que lidar com o
falecimento de seu pai, mas também assumir seu manto. Era muita
responsabilidade lidar com isso logo após a perda de um dos pais.
No meu caso, a Alcateia Estrela da Noite estava tão acostumada a
operar de forma independente que eu realmente não tive que fazer
muito como alfa. Era uma alcateia pequena também — a maioria cheia
de mestiços que entravam e saíam quando queriam.
Mas a Alcateia Lua Azul era outra história. Teresa teve que lidar com a
logística de administrar uma alcateia inteira com centenas de famílias.
Foi ela quem organizou minha cerimônia de acasalamento.
— Você é incrível. Você sabe disso, certo? — Eu perguntei a ela.
Teresa revirou os olhos, tentando esconder as lágrimas neles.
— Obviamente.
— Não chore, — eu disse. — Se você chorar, eu vou chorar, e isso me
dá a desculpa perfeita para estragar minha maquiagem.
— Isso significa que vou ter que fazer tudo de novo, — disse ela. —
Não me ameace com algo divertido.
Rimos juntas em uma mistura confusa de felicidade e tristeza. Eu não
poderia estar mais grata por ter uma amiga em Teresa.
Teresa sorriu e se inclinou.
— Posso ser honesta com você?
Opa.
— Fale.
— Estou honestamente surpresa que você o escolheu.
Isso me pegou completamente desprevenida.
— Mesmo?
— Sim. Quer dizer, você sabe como me sinto sobre suas opções, certo?
— Como se você não tivesse deixado isso óbvio. — Eu revirei meus
olhos.
Ela sorriu.
— Mas ainda assim, eu realmente pensei que você fosse escolher...
— Teresa, você está aqui? — Reed espiou dentro da sala, elegante em
um terno.
— O que foi, querido? — Perguntou Teresa.
— Eles precisam de sua ajuda do lado de fora com os arranjos dos
assentos. Aparentemente, houve uma confusão.
Teresa suspirou e se levantou.
— Não há descanso para os ímpios. — Ela me lançou um último olhar
antes de sair.
— Vou mandar sua escolta vir buscá-la quando estivermos prontos.
Não fique com medo agora. Passei uma eternidade acertando todos os
detalhes.
— Minha escolta? — Eu perguntei.
Mas Teresa já estava fora da porta.
Se eu tivesse o mesmo zelo que Teresa tinha.
Atravessei a sala e peguei a espada do meu pai. Eu a tirei de sua
bainha, o metal cantando quando foi liberado.
Realmente era linda.
Mesmo com meus olhos destreinados, eu poderia dizer que a espada
foi magistralmente construída. Parecia perfeitamente equilibrada
enquanto eu girava com facilidade.
O aço brilhou à luz do sol e eu observei meu próprio reflexo na
lâmina.
Ainda havia muito que eu não sabia sobre meu pai.
Como foi ser um Guardião da Lua? A Cidade Santa era realmente um
lugar mágico onde morava a Deusa da Lua? O que o fez se apaixonar por
mamãe?
Todas as perguntas que nunca saberei responder.
Suspirei e embainhei a espada.
Michael também não será capaz de me levar até o altar...
— Lyla! — Skye entrou na sala.
Ela estava adorável em seu vestido de dama de honra, uma cesta cheia
de pétalas brancas penduradas na curva de seu braço. Ela olhou para
mim, a preocupação franzindo a testa.
— Por que você parece tão triste?
— Só de lembrar de alguém especial para mim que faleceu, — eu disse.
— Esta espada era dele.
Mamãe não disse a Skye que Colin não era meu pai biológico. Ela
sentiu que seria melhor se ela não soubesse até que ela fosse mais velha.
Mas Skye não era menos minha irmã do que antes.
Ela me encarou com seus olhos brilhantes e inteligentes.
— Por que você não leva a espada com você? — ela disse. — Dessa
forma, será como se ele estivesse com você quando você se casar.
Eu suspirei.
Minha irmã brilhante, brilhante.
— Essa é uma ótima ideia, Skye!
Ela sorriu para mim, orgulhosa de si mesma.
— Além disso, você vai parecer uma princesa guerreira se andar até o
altar com uma espada.
— Você é minha escolta? — Eu perguntei a ela enquanto amarrava a
espada em volta da minha cintura.
— Sim. Teresa me disse para me certificar de que você não vai fugir.
Eu ri. A última coisa que eu faria seria fugir de hoje. Meu futuro estava
à minha frente e eu estava correndo até ele.
— Bem então. — Eu peguei a mão dela. — Mostre o caminho, mana.
Andamos para fora e ao longo do minúsculo caminho através do
pasto. Eu vi o celeiro no final da estrada e meu coração saltou na minha
garganta.
É aí que vou me acasalar.
Teresa disse que havia reformado o celeiro para a cerimônia,
transformando-o em um local rústico e pitoresco para todos os nossos
familiares e amigos mais próximos.
— Então você tem certeza que escolheu o companheiro certo? — Skye
perguntou. Ela saltou à minha frente, imitando a ação de lançar pétalas
para o ar.
— Claro que tenho, — eu disse. — Nunca tive tanta certeza de nada
em toda a minha vida.
— Eu não sei..., — ela comentou. — Eu meio que gosto mais do outro.
— Skye!
Ela riu, o som mais brilhante do que o brilho do sol poente.
— Espero ter dois companheiros quando crescer, — disse ela.
Meus olhos quase saltaram das órbitas.
— Não, Skye, confie em mim. Você não quer.
— Diz você. — Ela mostrou a língua para mim.
Se ela soubesse...
Caminhamos até as portas do celeiro para encontrar Colin esperando
por nós. Ele sorriu para mim, seus olhos marejados de lágrimas.
— Você está linda, querida.
Eu sorri, meu coração se enchendo de calor.
— Obrigada, pai.
— Vejo que Michael está com você. — Ele olhou para a espada
amarrada à minha cintura.
— Nunca pensei que dois pais me levariam até o altar, — eu disse.
Colin riu, estendendo o braço.
— Preparada?
— Sim, definitivamente.
Colin acenou para Skye.
— Faça as honras, menina.
Skye empurrou as portas do celeiro e as abriu, e um mundo de luz nos
esperava lá dentro. Teresa realmente se superou.
Luzes de corda e serpentinas cruzavam-se acima de nós, enroscadas
nas vigas de madeira expostas do teto.
Lençóis macios foram colocados elegantemente sobre colunas de
suporte de madeira, criando rios de marfim.
Lustres de latão pendurados nas vigas, seu brilho dourado suave
iluminando as fileiras de assentos de madeira branca abaixo.
Todos se levantaram quando comecei a andar até o altar. Skye criou
um caminho de pétalas para mim enquanto eu mantive meus olhos
firmemente plantados em meus pés. A última coisa que eu queria fazer
era tropeçar.
Eu podia sentir os olhares de todos os meus amigos e familiares ao
passar por eles. Eu vi minha mãe na primeira fila, lágrimas de felicidade
escorrendo pelo seu rosto. Eu pisquei ferozmente.
Não chore, não chore...
E então eu estava no altar, diante do amor da minha vida. Meu
coração parecia que ia explodir quando ele estendeu a mão para tirar o
véu do meu rosto. Meu olhar acompanhou o véu e olhei para meu
companheiro.
Eu vi nosso futuro brilhando em seus olhos.
Você é meu futuro, pensei. Este é o meu feliz para sempre.
Livro 3 – Sem Revisão
Livro Disponibilizado Gratuitamente!
Sumário
1. Finalmente acasalados
2. Uivos malignos
3. A noite final
4. Pecados do Pai
5. O custo de um favor
6. Cobras e Escadas
7. Longe da árvore
8. Prioridades
9. Posto em movimento
10. Debaixo do Véu
11. Faíscas
12. Em suas marcas
13. Photo Finish
14. Meias-verdades
15. Gritos à Lua
16. Coração partido ao meio
17. Passeios noturnos
18. Espancada, ensanguentada, machucada
19. Passos do Pai
20. Óleo no corpo
21. Cabeças mais frias
22. Jogando sujo
23. Grosseria
24. Ama de leite
25. Bestas do fardo
26. Entre no labirinto
27. Temporada de caça
28. Tudo Que Brilha ...
29. Oh minha deusa
30. Escuridão da Lua
1
FINALMENTE ACASALADOS
Lyla

Eu não consigo acreditar que isso está acontecendo.


O Sacerdote da Lua presidia a cerimônia, sua voz de barítono
percorrendo os ritos antigos um por um. Mas eu honestamente não
conseguia ouvi-los.
O mundo ao meu redor desapareceu.
Eu não enxergava nenhuma das belas decorações que Teresa colocou
no celeiro.
Eu não enxergava a multidão de amigos e familiares assistindo com
lágrimas nos olhos.
Eu mal me lembrava do meu próprio nome.
Tudo o que eu enxergava era meu companheiro diante de mim, seus
lindos olhos cheios de amor. E este homem lindo era meu e só meu.
— Lyla? — O padre me perguntou.
Eu pisquei. saindo do meu transe. Percebi que ele estava esperando
que eu dissesse algo.
— Hum, eu aceito?
Um punhado de risadas ecoou da multidão.
— Seus votos, — ele disse gentilmente, sorrindo.
Oh.
Meu rosto parecia que estava pegando fogo. Eu respirei fundo.
Não estrague tudo, Lyla.
— Não sou muito boa nesse tipo de coisa... falar em público e tals. —
Eu olhei para ele e sorri. — Mas acho que vou ter que me acostumar com
isso agora que vou ser a Luna da Alcateia Real.
Sebastian piscou para mim e borboletas vibraram em meu estômago.
Eu costumava ser tão insegura em relação ao que queria, mas parada
ali na frente dele, eu não tinha dúvidas em minha mente de que tinha
feito a escolha certa.
Finalmente, minha cabeça e meu coração se conectaram.
— Antes de te conhecer, eu era apenas uma garota normal. Não havia
nada de especial sobre mim. Eu ficava na minha... eu lia meus livros...
meus amigos tinham que me arrastar para fora de casa.
Eu lancei um olhar para Teresa, e ela me mandou um beijo enquanto a
multidão ria. Caspian estava ao lado dela, um sorriso genuíno no rosto.
Ele parecia tão feliz por mim, e isso deixou meu coração à vontade.
— Mas você me mostrou um mundo inteiramente novo, Sebastian. —
Eu entrelacei meus dedos com os dele. — Desde que te Conheci, descobri
muito sobre mim. Nós enfrentamos sofrimento e dor. Nós navegamos
nas noites mais escuras e sem lua.
Eu pisquei para conter as lágrimas.
— Você é minha luz guia. Você me mostrou que posso ser forte. Você
me mostrou que posso ser corajosa... e...
Eu respirei fundo, instável.
— Você me mostrou que sou digna de amor. Meu coração é seu e
apenas seu.
Sebastian sorriu para mim, e eu vi lágrimas nublando seus olhos pela
primeira vez. Meu coração estava tão cheio que eu tinha certeza de que
iria explodir.
O padre virou para Sebastian.
— Sou conhecido por ser um cabeça quente, — ele começou.
Eu ri e nossas famílias riram junto.
— Fico frustrado facilmente. Sou governado por minhas emoções. Eu
ajo de forma imprudente — geralmente para o aborrecimento do meu
fiel conselho.
Ouvimos Tiberius e Caius limparem suas gargantas, e um grande
sorriso tomou conta do rosto de Sebastian.
— Mas você me faz um homem melhor, — disse ele. — Você é a minha
suave brisa de verão. Você é as flores silvestres que florescem na
primavera. Você puxa minha alma com a mesma certeza que a lua segura
a quebra suave das ondas na costa.
— Eu te amo, Lyla. Sempre te amei e sempre te amarei.
Lágrimas de felicidade correram pelo meu rosto. Eu não conseguia
mais segurá-las.
— Você, Lyla, aceita Sebastian como seu companheiro eternamente,
assim como a lua adornará para sempre nosso céu?
— Aceito, — eu disse.
— Você, Sebastian. promete manter este vínculo, mesmo nas noites
mais escuras?
— Prometo, — disse ele.
— Então, sob o olhar da Deusa da Lua, eu agora os declaro
companheiros.
Sebastian pegou meu rosto em suas mãos e me beijou.
Seu beijo foi uma promessa para o futuro.
Seu beijo foi como voltar para casa.
Só quando nos separamos ouvi os gritos e aplausos de nossa família e
amigos. As coisas não poderiam estar mais perfeitas.
— Eu acho que sou sua Luna agora, — eu disse.
— Ainda não. — Ele piscou e se inclinou para sussurrar em meu
ouvido. — Ainda temos que consumar nosso vínculo.
Eu senti meu núcleo apertar de desejo.
Estou prestes a ter uma noite selvagem...
Sebastian

Com Lyla em meus braços, entrei em nosso quarto na casa da alcateia,


fechando a porta com um chute.
Nossa cerimônia de acasalamento foi mágica. Nós dançamos,
comemos e bebemos a noite toda com nossa família e amigos mais
próximos.
Mas agora é hora de nós dois ficarmos sozinhos.
Deitei Lyla em nossa cama, pétalas de flores silvestres espalhadas
pelos lençóis. As velas já estavam baixas ao nosso redor, proporcionando
um brilho suave e íntimo.
Lyla parecia uma deusa em seu vestido. A imagem de elegância e
pureza.
E eu não posso esperar para vê-la fora dele.
Ela sorriu timidamente para mim enquanto piscava os cílios.
— Então. Alfa Sebastian... o que acontece agora? — ela perguntou
inocentemente.
Arrastei-me na cama em direção a ela e corri minhas mãos por suas
panturrilhas, subindo a saia de seu vestido.
Ela mordeu o lábio enquanto eu traçava meus dedos ao longo de suas
coxas cremosas.
— Agora, minha Luna, temos um dever sagrado a cumprir. — Eu
plantei beijos em sua perna. — Temos que completar nossa união aos
olhos da Deusa da Lua.
Eu estava em cima dela agora, nossos lábios a centímetros de
distância. Ela olhou para mim, seus olhos brilhando no brilho da luz das
velas.
— Então, o que você está esperando? — Ela colocou os braços em
volta do meu pescoço. — Apresse-se e me complete.
Eu trouxe meus lábios aos dela, nossa paixão acendendo como um
inferno.
Meses de energia reprimida explodiram de uma vez enquanto nossas
línguas lutavam pelo domínio. Ela rasgou meu smoking e eu rasguei seu
vestido.
Eu estava tonto de desejo. Bêbado de luxúria.
Eu queimei com meu desejo por Lyla, e com o jeito que ela estava
esfregando seus quadris nos meus... ela estava apenas alimentando as
chamas.
Eu finalmente tirei seu vestido e parei um momento para admirar seu
corpo. Meus olhos beberam o suor em seu pescoço, o volume de seus
seios perfeitos, a curva de sua cintura...
— Você é linda.
Lyla
Eu derreti sob o olhar ardente de Sebastian.
Era hora de finalmente nos darmos um ao outro, tudo de nós mesmos.
Mas não tive medo. Eu não queria nada mais do que ser marcada por
ele. Eu queria que finalmente nos tomássemos um.
Eu podia sentir minha luxúria escorrendo pelas minhas coxas.
Abaixei-me e segurei o peso de seu pênis em minhas mãos, sentindo o
peso dele.
Essa coisa enorme deveria caber dentro de mim?
Guiei sua masculinidade para o meu sexo, então esfreguei para cima e
para baixo ao longo de seu comprimento. Seu membro esfregou contra
meu clitóris e me deixou selvagem.
— Porra, Lyla, — ele gemeu, sua voz rouca. O som disso enviou
arrepios por todo o meu corpo. Eu tranquei olhares com ele, e o amor e
desejo que vi em seus olhos refletiram os meus.
— Estou pronta, — eu disse.
Sebastian assentiu e me envolveu na fortaleza de seus braços, me
segurando com força. Nunca me senti mais segura do que naquele
momento.
Os lábios de Sebastian tocaram meu ombro levemente, então eu senti
seus dentes afundarem na minha pele quando seu membro afundou em
meu sexo.
E lentamente, muito lentamente, nos tornamos um.
A dor se instalou em meu ventre e irradiou por todo o meu corpo. Eu
gritei, as lágrimas brotando dos meus olhos.
Sebastian tirou os dentes do meu ombro. — Você está bem?
Eu balancei a cabeça, respirando fundo algumas vezes. — Me dê um
segundo. — Fechei os olhos, concentrando-me na sensação dos braços de
Sebastian ao meu redor. De seu calor e seu amor me envolvendo.
Nossos corações começaram a bater como um só, e a dor lentamente
desapareceu.
— Continue, — eu disse.
Sebastian começou a balançar os quadris para frente e para trás, e
cada movimento me fazia ver estrelas. — Oh, Deusa! — Eu gritei quando
seu pau atingiu um ponto que eu nem sabia que existia.
Eu me senti apertar em torno de seu membro, e ele rosnou, profundo
e gutural em meu ouvido. — Faça isso de novo, — disse ele.
Eu obedeci e o senti estremecer dentro de mim, me fazendo ofegar.
Sebastian constantemente aumentou seu ritmo, mergulhando dentro
de mim cada vez mais rápido. Construímos um ritmo, nossos corpos se
movendo como um só.
Eu agarrei os músculos de suas costas, saboreando a sensação de seu
peso em cima de mim.
Eu me levantei e mordi seu ombro, e ele gritou de prazer.
Nós dois deixamos nossas marcas, e parecia que nossa conexão tinha
se intensificado ainda mais.
A pressão estava aumentando dentro de mim, um orgasmo massivo
sendo orquestrado por Sebastian com cada estocada de seu pênis
enorme.
Minha respiração veio em suspiros irregulares.
Eu estava tão tonta que pensei que ia desmaiar.
Passei meus braços e minhas pernas em torno de Sebastian enquanto
ele metia em mim, e eu só pude me segurar quando ele me levou ao
paraíso.
— Sebastian! — Eu gemi. — Eu acho... acho que vou...
— Goze para mim, — ele ordenou, sua voz profunda me fazendo
gozar.
Eu gemi quando gozei, minha boceta convulsionando e apertando em
torno do pau de Sebastian. Pulsos de intenso prazer irradiaram-se para a
ponta dos pés, para a ponta dos dedos, até o topo de minha cabeça.
Sebastian grunhiu quando gozou, e eu senti sua semente quente
espirrar dentro de mim.
A sensação foi o suficiente para me levar, gritando, a outro orgasmo.
Caímos em uma pilha de suor e membros emaranhados.
Eu estava tão perdida na sensação que não sabia onde terminava e ele
começava.
Sebastian me puxou para impossivelmente mais perto, e eu me
aconcheguei em seu peito.
— Isso foi... — Eu balancei minha cabeça, sem fôlego e sem palavras.
— Eu concordo.
Rimos e o momento não poderia ter sido mais perfeito.
— Então, como é a sensação de ser oficialmente a Luna da Alcateia
Real?
— É uma sensação incrível, — aninhei-me mais perto dele. Comecei a
traçar pequenos círculos em seu peito com meu dedo. Eu o senti
enrijecer e sorri contra sua pele. — Mas eu não tenho certeza se
realmente entendi as coisas ainda...
Meus dedos vagaram por seu abdômen, traçando a linha em V
cinzelada de sua pélvis...
— Você pode me mostrar novamente como é ser sua Luna? — Eu
ronronei. Eu agarrei seu pau já duro como pedra, acariciando-o para
cima e para baixo. — Não tenho certeza se captei a mensagem da
primeira vez...
Sebastian me puxou para cima dele, um sorriso diabólico em seus
lábios.
— Então acho que teremos que fazer de novo. — Ele apertou minha
bunda, me fazendo gritar. — E de novo, e de novo, e de novo...
Houve um súbito lampejo de luz brilhante ao pé da cama. Eu
engasguei de surpresa quando Sebastian imediatamente inverteu nossas
posições, então eu estava embaixo dele.
Ele assumiu uma postura defensiva imediatamente, as unhas se
transformando em garras.
Estamos sob ataque?!
Mas, quando olhei em volta, não vi nenhum bandido ou bruxa
atacando. Na verdade, tudo o que havia era um pequeno envelope
coberto de filigrana de platina ao pé da cama.
Eu vi os olhos de Sebastian se arregalarem de surpresa quando ele viu.
Ele se inclinou e pegou o envelope, lendo rapidamente a carta dentro
dele.
Sua expressão ficou cada vez mais sombria enquanto ele lia, e meu
coração começou a bater mais forte enquanto a ansiedade crescia dentro
de mim.
— O que é isso? — Perguntei.
Sebastian não parecia apenas zangado.
Ele parecia furioso.
— Você está sendo convocada para a Cidade Santa, — ele me disse,
sua voz monótona.
O quê?!
— Por quem? — Perguntei.
Os olhos intensos de Sebastian fixaram-se nos meus.
— Pela própria Deusa da Lua...
2
UIVOS MALIGNOS
Lyla

Uma gota de suor desceu pela minha nuca enquanto eu observava o


conselho — meu conselho — ler a carta da Cidade Santa.
Tínhamos marcado uma reunião de emergência no celeiro onde a
cerimônia aconteceu. Teresa e Caspian também estavam lá. Como alfa e
beta da Alcateia Lua Azul, isso os afetava também.
Como as coisas podem ter mudado tão rapidamente?
Apenas algumas horas atrás, todos nós estávamos comemorando aqui
sem nenhuma preocupação no mundo.
Agora, a decoração elegante e as mesas vazias me faziam sentir
solitária.
Eu nunca posso ser apenas feliz?
— Eu sabia que isso iria acontecer, — Tiberius rosnou enquanto
andava de um lado para o outro. — Aquela maldita Alcateia Estrela da
Noite não é nada além de problemas.
— A alfa daquela maldita Alcateia Estrela da Noite está bem ali, —
Caius disse, gesticulando para mim. — E ela também é sua Luna Tiberius
rosnou de frustração enquanto começava a andar mais rápido.
— Então, eles estão cortando nosso financiamento? — Perguntou
Teresa. — Do nada?
Magnolia franziu a testa ao reler a carta pela enésima vez. Ou devo
dizer General Magnolia. Após o ataque em Nova Orleans, a Alcateia Real
estava aumentando seriamente sua segurança.
O título combinava com ela surpreendentemente bem.
— Por ajudar a rebelde Alcateia Estrela da Noite, — Magnolia leu na
carta. — O apoio da Igreja à Alcateia Real e à Alcateia Lua Azul cessará,
com efeito imediato.
— Quanto tempo podemos sobreviver sem a ajuda deles? — Sebastian
perguntou.
— Se começarmos o racionamento de emergência... — Caius pensou
por um momento.
— Alguns meses.
Tiberius parou de andar. — Se nós apenas...
— De jeito nenhum, — eu o interrompi. Eu já sabia o que ele ia dizer.
— Se perdermos a Alcateia Estrela da Noite, você me perde. — Meu pai
os havia confiado a mim. Não havia nenhuma maneira no inferno de eu
abandoná-los.
Tibério continuou a murmurar com raiva para si mesmo.
— Só há uma maneira de sair disso, — eu disse.
— Não Sebastian olhou para mim e pude ver que não havia espaço
para negociação. — Você não vai se tornar uma Guardiã da Lua.
— É a única maneira! — Eu disse.
A carta veio com uma advertência.
Se eu fosse servir como uma Guardiã da Lua no lugar de meu pai, a
Igreja poderia estar disposta a restabelecer o apoio a nossa alcateia.
Parecia um tiro no escuro... mas eu tinha que fazer isso.
— Eu não acho que você entendeu, — Sebastian fervia de raiva. —
Tornar-se uma Guardiã da Lua é um juramento. Uma promessa. Você
não pode simplesmente entrar e sair. Veja o que aconteceu com seu pai.
Eu vacilei. Sebastian estava certo. Mas que outra escolha nós
tínhamos?
— Sebastian..., — eu disse. Todo mundo sabia que eu estava certa. Mas
ele se recusava a ver a razão.
— NÃO! — ele gritou. — Como alfa, eu proíbo. — E com isso ele saiu
furioso do celeiro para a noite.
O silêncio deixado em seu rastro foi ensurdecedor.
Todos os olhos na sala se voltaram para mim. Eu queria fugir para
longe da atenção, mas sabia que não poderia.
Eu era a Luna.
Eu escolhi usar este manto. Agora tenho que suportar seu peso.
— Vou falar com ele, — falei.
O conselho acenou para mim. — Boa sorte, Luna, — Magnolia disse.
Eu saí, me preparando para enfrentar a ira de Sebastian. Ele não
ficaria feliz.
— Lyla!
Eu me virei e vi Caspian correndo atrás de mim.
Nós dois não tínhamos tido muitas chances de conversar desde Nova
Orleans.
Nós dois tínhamos muitas coisas para cuidar: eu, com minha
transição para ser alfa e Luna, e ele com suas novas responsabilidades de
beta.
Ele ficou arrasado quando eu disse a ele que escolhi Sebastian, mas eu
sabia que era a decisão certa para mim — e, em última análise, para ele
também.
— Ei, — eu disse.
Ficamos ali em silêncio por um segundo antes que ele se inclinasse e
jogasse o braço em volta de mim.
— Oh, não faça isso, — disse ele, com um sorriso no rosto. — Não
fique toda estranha comigo agora. Você só quebrou meu coração em um
milhão de pedaços.
Eu o empurrei. — Idiota, — eu disse. Mas seu sorriso era contagiante.
Estar com Caspian assim me lembrou dos bons velhos tempos.
Mesmo antes de namorarmos. Quando éramos apenas melhores amigos.
E parecia a coisa mais natural do mundo.
— Você está indo, não é? — ele disse. — Para a Cidade Santa.
Eu concordei. — Eu tenho que ir.
— Eu sabia que você iria. — Ele suspirou e olhou para a lua. — Mundo
louco, hein?
— Você pode dizer isso de novo. — De alguma forma, essa frase
simples resumiu tudo.
Mundo louco.
— Bem, talvez nos veremos no Festival das Trevas da Lua em alguns
meses, — disse Caspian.
Honestamente, eu tinha esquecido completamente dessa tradição.
Cada vez que havia um eclipse lunar, alfas e betas de todo o mundo
eram convidados para a Cidade Santa para o festival.
Ao contrário do Carnaval des Loups ou da Cúpula, o Festival das
Trevas da Lua era uma celebração mundial da cultura dos lobisomens que
acontecia apenas em raras ocasiões. Ele remonta aos tempos antigos.
— Espero que, depois de algum convencimento, Sebastian ficará tão
otimista quanto você, — eu disse. — E quem sabe, talvez você encontre
sua verdadeira companheira na Cidade Santa e não uma companheira
caótica de segunda chance.
— Oh, isso seria bom. — Caspian piscou para mim e eu tive que rir. —
Boa sorte em domar a fera, — ele disse enquanto se virava.
Pensei em como Sebastian parecia zangado e estremeci.
— Obrigada, — eu disse.
Eu vou precisar.
Sebastian

Lyla entrou em nosso quarto e se sentou ao meu lado na cama. —


Precisamos conversar, — disse ela.
— Não há nada para falar. Já decidimos sobre isso.
— Você já se decidiu, — ela disse, fixando os olhos nos meus, os dela
cheios de uma determinação de aço. — Eu estou indo, Sebastian. Eu
estou indo para a Cidade Santa.
A raiva fluiu por mim. Eu apertei minha mandíbula e fechei meus
olhos com força. Eu estava tentando manter minha raiva sob controle.
Como líder da Alcateia Real, eu não poderia me deixar ser tão
facilmente governado por minhas emoções.
Mas às vezes minha Luna tornava isso realmente difícil pra caralho. Eu
me afastei dela.
— Não, — eu disse categoricamente, não deixando espaço para
discussão.
Eu precisava de um pouco de ar fresco antes de quebrar alguma coisa.
Eu estava prestes a me levantar quando os braços de Lyla envolveram
minha cintura. Ela apoiou o queixo no meu ombro, sua voz suave no
meu ouvido.
— Racionamento de emergência, Sebastian?
Eu gemi, um pouco mais calmo.
— Seria apenas temporário, — insisti.
— Até quando? — ela pressionou. — Não podemos sobreviver sem o
apoio da Deusa da Lua. E se você tornar-se uma Guardiã da Lua pode nos
ajudar a cair nas graças dela...
Um estalo alto reverberou pelo quarto enquanto a estrutura da cama
embaixo de nós rachou. Eu olhei para baixo. Eu nem percebi que o estava
segurando com tanta força.
Os braços de Lyla se apertaram em volta de mim, me incentivando a
manter a calma.
— Eu não quero ir, — disse ela. — Mas eu preciso fazer isso. Eu preciso
fazer o que é melhor para nossas alcateias.
— Nós íamos finalmente começar nossa vida juntos, — eu cuspi por
entre os dentes cerrados.
— Primeiro Silas, agora a porra da Deusa da Lua...
— Eu sei, — disse ela, uma tristeza em sua voz que apenas adicionou
lenha ao fogo. — Se pudéssemos fugir juntos...
— Mas não podemos, — eu disse.
— Mas não podemos, — ela concordou.
O silêncio se estendeu.
— Não será para sempre, — ela continuou. — Pode demorar um
pouco, mas eu só preciso tentar acalmar as coisas com a Deusa da Lua.
A pior parte é que eu sabia que ela estava certa. Não tínhamos ideia de
onde diabos iríamos conseguir os recursos de que precisávamos para
sobreviver sem o apoio da Deusa da Lua.
Só poderíamos nos alimentar por um certo tempo, e o racionamento
não poderia nos manter vivos para sempre.
Mas isso não significa que eu tinha que gostar disso.
— Faça o que você precisa, — eu disse rispidamente. Eu me levantei,
me afastando de seu abraço.
Ela olhou para mim, a tristeza em seus olhos rasgando meu coração.
— Sebastian...
— Eu preciso de um pouco de ar fresco.
Saí do nosso quarto em direção à noite. Eu não perdi tempo,
mudando de forma e disparando em direção à floresta.
Eu deixei meu corpo se mover puramente por instinto, meus
músculos me impulsionando pela escuridão da floresta. Corri pelo mato,
batendo e investindo contra os troncos de árvores enormes. Eu não me
importei.
Eu só precisava me mover. Eu precisava desabafar.
Eu precisava de um inimigo na minha frente. Eu era bom em lidar
com isso. Mas toda a política... esses relacionamentos tumultuosos... eles
não me deram um alvo.
Eles não me deram algo que eu pudesse quebrar ou rasgar.
Então, eu rasguei tudo e qualquer coisa que cruzasse meu caminho.
Eu uivei para a lua. desejando que minhas garras pudessem alcançá-la
e derrubá-la.
Lyla

Acordei na manhã seguinte sozinha na cama.


Eu olhei para o espaço vazio ao meu lado, meu coração doendo.
Sebastian...
Tomei banho e me vesti, minha mente longe — na França,
especificamente.
Todo lobisomem conhecia a Cidade Santa.
O epicentro do mundo dos lobisomens, a Cidade Santa era onde a
Deusa da Lua presidia, cercada por seus temíveis Guardiões da Lua.
Um santuário para lobisomens, a cidade estava escondida nos confins
da França — longe dos olhos curiosos dos humanos.
Eu só tinha ouvido histórias sobre ela, mas parecia que eu ficaria
intimamente familiarizada com ela muito em breve.
A carta chegara com instruções sobre como aceitar a convocação da
Deusa da Lua.
Saí e encontrei um lugar tranquilo na sombra para meditar.
Concentrei-me no calor do sol nascente e ouvi o canto dos pássaros
matinais.
Fechei os olhos e recitei as palavras da carta:
— Deusa Lua. Eu, Lyla, Luna da Alcateia Real, por este meio me
comprometo a seu serviço. — Senti uma pressão bem no meu peito,
enchendo-me até o limite.
— Como uma Guardiã da Lua, eu juro defender sua verdade. Eu sou o
pilar que sustenta os Filhos da Lua... juntos, somos eternos.
Eu lentamente abri meus olhos, sentindo uma onda de euforia fluir
por mim.
De repente, percebi que o sol estava bem alto no céu agora, depois do
meio-dia.
Há quanto tempo estou aqui?
Senti braços em volta da minha cintura e me virei para encontrar
Sebastian atrás de mim. Ele parecia que não tinha dormido, com
manchas de sujeira em seus braços e rosto.
— Onde você estava? — Eu perguntei, entrando em seu abraço.
— Apenas saí para dar uma caminhada.
— Hum. E quanto da floresta sobreviveu após sua caminhada?
Eu o senti encolher os ombros ao meu redor.
Eu olhei para ele e seus olhos encontraram os meus.
— Sinto muito, — eu disse.
— Você está fazendo isso por nossa alcateia, — ele disse. — Não posso
culpar minha Luna por fazer isso.
O alívio me inundou.
Mas me doeu que nosso tempo juntos como recém-casados tenha
sido interrompido.
Eu olhei para Sebastian. desesperada para me sentir perto dele. Eu não
queria passar nossas últimas horas discutindo juntos.
Mas antes que eu pudesse falar, seus lábios colidiram com os meus. Eu
engasguei com o beijo repentino, deixando sua língua lutar com a minha
em submissão.
Ele me pegou em seus braços, me tirando do chão.
Eu me afastei, ofegante.
Seu olhar fez meu coração disparar em meu peito, e fez com que uma
onda de desejo fluísse por mim.
— Nós temos uma última noite juntos, — disse ele com voz rouca em
meu ouvido. — E você não vai gastá-la dormindo.
3
A NOITE FINAL
Lyla

Sebastian me jogou na cama e pulou em cima de mim.


Ele pressionou seu corpo no meu e eu arqueei minhas costas para
encontrá-lo. Eu queria sentir cada parte dele.
Eu engasguei quando ele arrancou minhas roupas, meu corpo
queimando de paixão.
Suas mãos ásperas arrastaram ao longo da minha pele enquanto ele
mordiscava meu pescoço.
Um gemido escapou dos meus lábios e eu torci minhas mãos em seus
cabelos.
Eu mal conseguia pensar. Eu estava tonta de luxúria, me afogando em
seu cheiro.
Eu nos virei para que eu ficasse por cima, montada em sua cintura.
Minhas mãos vagaram pelas cristas de seu abdômen esculpido, em
seguida, alcançaram atrás de mim para sentir seu membro. Parecia tão
duro e pesado em minhas mãos.
Ele rosnou de prazer enquanto meus dedos traçavam seu pau.
Eu me virei e pressionei minha bunda em seu rosto, e sua língua não
perdeu tempo em encontrar meu clitóris.
— Oh, porra, isso! — Eu suspirei.
Inclinei-me, colocando-o em minha boca. Eu o senti pulsar e palpitar
na minha língua enquanto eu balançava minha cabeça para cima e para
baixo, apreciando seu sabor.
Eu me perdi em nosso ritmo e na sensação de sua língua em mim e a
minha nele. Eu deslizava minha mão para cima e para baixo em seu pau
escorregadio e molhado. Seus gemidos eram música para meus ouvidos.
Ele empurrou dois dedos dentro de mim, me esticando enquanto sua
língua dançava no meu clitóris. Soltei um gemido abafado, minha boca
cheia.
Eu estava chegando perto. E pela forma como seus quadris se
torceram debaixo de mim, eu sabia que ele também estava.
— Lyla, — ele gemeu. — Porra, eu vou…
Eu me pressionei com mais força em seu rosto.
Cale a boca e me faça gozar!
De repente, seus quadris empurraram para cima, seu pau gigante
afundando em minha garganta. Eu estremeci. Ainda bem que pude
controlar o reflexo da minha garganta.
Ele gozou, jorrando sua semente quente na minha garganta. Eu engoli
tudo antes de me afastar para tomar um fôlego de ar fresco, que saiu em
um suspiro tenso.
— Sebastian! — Eu gritei, apertando-o entre minhas coxas.
Meus quadris tremeram quando gozei. Eu balancei para frente e para
trás, prolongando meu orgasmo, o prazer irradiando pelo meu corpo.
Eu desabei em cima dele; antes que eu pudesse recuperar o fôlego,
porém, ele de repente estava em cima de mim, me empurrando de cara
na cama.
Ele arrastou meus quadris para cima para que minha bunda ficasse no
ar e eu senti seu pau na minha entrada.
Oh, porra...
Ele meteu em mim, enfiando bem fundo.
Gritei contra os lençóis, a dor rapidamente substituída por um prazer
profundo e radiante.
Ele estocava em mim, sua força me empurrando cada vez mais fundo
nos lençóis.
Eu arranhei a cama, cada impulso me fazendo ver estrelas. Eu gritava
como um gato no cio enquanto nossos corpos encharcados de suor se
entrelaçavam.
Meus desejos animalescos estavam tomando o controle e eu queria
que ele ficasse ainda mais agressivo.
Sebastian puxou meu cabelo para trás, sua mão enrolando em volta da
minha garganta.
Ele se inclinou para mim, seus lábios bem perto da minha orelha,
continuando a meter em mim o tempo todo.
— Eu vou gozar dentro de você, — ele rosnou.
Eu gemi, esfregando meus quadris contra ele.
— É melhor você se apressar, — eu engasguei.
Seus movimentos tornaram-se mais selvagens e erráticos; eu podia
sentir a pressão familiar crescendo dentro de mim.
Eu gozei, minha boceta convulsionando enquanto eu ordenhava até a
última gota.
Eu o senti bombear dentro de mim, seu esperma quente me fazendo
gritar.
Eu me senti tão incrivelmente cheia.
Os braços de Sebastian se apertaram ao meu redor, e eu me derreti
nele, nossos corpos se fundiram em um.
Caímos na cama em meio ao suor, os únicos sons eram as batidas
selvagens de nossos corações e nossas respirações desesperadas e
ofegantes.
Eu me aninhei ao seu lado, perdida na felicidade.
Não demorou muito para que suas mãos começassem a vagar pelo
meu corpo mais uma vez.
Mordi seu ombro, o sabor salgado de seu suor na minha língua.
— Pronta para outra? — ele perguntou.
Eu rolei em cima dele, esfregando meus quadris nos dele enquanto
mordia meu lábio.
Prefiro deixar meu corpo falar
Sebastian

Eu olhei pelas janelas do aeroporto, observando os aviões voando


pelas pistas.
Uma daquelas latas tiraria minha Luna de mim.
Eu queria mudar de forma e arrancar seu motor para que Lyla pudesse
ficar aqui comigo.
Se fosse assim tão simples.
— Acho que exageramos na noite passada, — disse Lyla, gemendo no
assento ao meu lado. — Estou tão dolorida.
— Pense nisso como um treino de última hora, — provoquei. — Além
disso, você pode dormir bastante no avião.
Lyla e eu fizemos amor a noite toda.
Honestamente, eu também estava muito dolorido, mas não contaria
isso a Lyla.
Nossos dedos se entrelaçaram, segurando nossos segundos finais
juntos. Então Lyla se levantou do assento ao meu lado, sua bagagem de
mão dobrada debaixo do braço.
— Não será para sempre, — ela me lembrou.
— Mas vai parecer isso, — eu disse, me levantando para encará-la.
Eu podia vê-la ficando com os olhos turvos; ela enfiou o rosto no meu
peito para esconder as lágrimas.
Perfeito.
Eu não queria que ela visse as lágrimas se formando em meus olhos
também.
— Você virá para o Festival das Trevas da Lua, certo? — ela
murmurou.
— Eu irei por você, não por algum eclipse maldito.
Ela meio soluçou, meio riu.
— Acredite em mim, assim que conseguir resolver esta situação com o
financiamento, estarei derrubando suas sofisticadas portas francesas, —
eu disse. — As próximas semanas vão voar.
Mas eu sabia que elas não iriam.
Mesmo um único minuto longe de Lyla parecia uma eternidade.
Ela me deu um aperto final antes de se afastar de meus braços.
— Ligarei para você quando me acomodar, — ela prometeu.
— Estarei esperando.
Ela deu os primeiros passos para longe de mim. Cada passo era uma
rachadura no meu coração. Não era assim que as coisas deveriam ser.
Um alfa e uma Luna nunca se separaram.
Ainda assim, eu a observei desaparecer pelos portões.
E eu não poderia fazer nada para impedi-la.
Lyla

Fiquei olhando pela janela do carro, meu queixo caído.


Eu mal podia acreditar no que estava vendo.
Eu tinha pousado em Paris algumas horas antes e fui rapidamente
levada por um representante da Cidade Santa.
Tínhamos saído da cidade de carro e entrado no interior da França.
Depois, ainda mais longe, atravessamos florestas densas e escuras.
Tínhamos saído da rodovia principal, e seguimos por estradas de terra
e caminhos de cascalho.
A Cidade Santa é apenas uma cabana na floresta?
Eu abri minha boca para perguntar ao motorista, mas de repente, lá
estava.
No intervalo entre as respirações — no espaço entre uma piscada e a
próxima — a Cidade Santa apareceu diante de nós. As infindáveis
florestas desapareceram, o caminho de cascalho se transformou em
estradas lisas e pavimentadas.
A cidade brilhava à distância — com seus muros altos e telhados
reluzentes.
Parecia algo saído de um conto de fadas. Torres grandes e altas e arcos
magníficos ladeavam as estradas de paralelepípedos. A arquitetura da
cidade era de tirar o fôlego, cada construção uma obra de arte.
A Cidade Santa era linda.
Passamos por uma enorme ponte levadiça e por baixo dos portões
principais da cidade, as barras metálicas brilhando como ouro à luz do
sol.
Parecia estranhamente errado os carros passarem zunindo pelas ruas.
Seria mais apropriado ver cavalos e carruagens abrindo caminho pela
cidade.
Tudo aqui parecia antigo.
Vintage.
Como uma bolha no tempo.
Mas nada disso pode se comparar à Basílica da Lua.
Saí do carro e olhei para cima, meu pescoço esticado para trás para
contemplar o tamanho dela.
Esculpida em mármore branco, a estrutura abobadada praticamente
brilhava à luz do sol. Esculturas naturais de lobos foram gravadas em suas
paredes e pilares; mosaicos de tirar o fôlego do céu noturno pintados
acima deles.
Tudo parecia tão surreal.
Eu flutuei de um lugar para o outro. Eu poderia jurar que estava em
um sonho.
Peguei meu telefone para mandar uma mensagem para Sebastian.
Lyla
Sebastian! A cidade sagrada é tão linda!
Sebastian
não tão linda quanto você
Lyla
Lyla
você não vai dizer isso depois de ver este lugar
Lyla
mal posso esperar pela sua visita!
Sebastian
fotos ou não aconteceu
Eu estava prestes a tirar uma foto da magnífica arte da basílica quando
uma voz esganiçada me interrompeu.
— Bem, se não é a filha do desertor.
E assim, voltei à realidade.
Eu olhei para cima para encontrar um homem magro se aproximando
de mim. Ele usava túnicas compridas e ornamentadas em vermelho e
dourado e um chapéu de aparência pomposa que era grande demais para
ele.
Ele estava flanqueado por dois Guardiões da Lua vestidos com
armaduras completas que eram ainda mais chamativas do que os trajes
usados pelos Guardiões em Nova Orleans.
Acho que esse vai ser meu uniforme.
— Você deve ser Lyla — disse o homem de manto em um tom
monótono. — Espero que você não seja tão ruim quanto seu pai covarde
foi.
— E você é? — Perguntei.
Quem diabos esse cara pensa que é?
— Cardeal Mercer. Eu supervisiono os Guardiões da Lua, dos quais
você agora infelizmente faz parte.
— Encantada. — eu cuspi com os dentes cerrados.
Ótimo. Meu chefe é um idiota.
— É melhor você seguir minhas ordens ao pé da letra, — Mercer
ameaçou. — Ou então vou garantir que você encontre seu próprio
inferno aqui na Cidade Santa.
4
PECADOS DO PAI Lyla
Eu me encarei no espelho, meus olhos piscando em descrença.
A mulher que me encarou de volta não poderia ser eu.
A armadura de platina se encaixava perfeitamente em sua forma, seu
brilho imaculado praticamente resplandecendo na luz. Seu cabelo estava
preso para trás por uma tiara de metal, a forma de uma lua crescente
descansando em sua testa.
Ela parecia uma guerreira.
Ela parecia uma Guardiã da Lua.
Pisquei. tentando dissipar a ilusão, mas lá estava ela no espelho.
Lá estava eu.
Eu agarrei a espada do meu pai embainhada na minha cintura,
tentando reunir minha coragem. Eu respirei fundo.
Aqui vamos nós.
— Você está finalmente vestida? — O cardeal Mercer zombou atrás de
mim.
Fechei meus olhos, tentando conter a irritação que surgiu dentro de
mim.
— Já era hora, garota. Vire-se para que eu possa dar uma olhada em
você.
Eu me virei e me sujeitei ao olhar do Cardeal Mercer. Ele me olhou de
cima a baixo como se estivesse olhando para uma mosca que pousou no
peitoril de sua janela.
Eu conhecia o homem há vinte minutos e já sabia que o odiava
profundamente.
Ele grunhiu, um som que expressava desgosto e aprovação.
— Você está apresentável agora, pelo menos. Me siga.
Ele se virou e saiu do quartel da Guarda da Lua e voltou para os
grandes salões da basílica.
Eu o segui. Ele cheirava a livros velhos e mofados que ficaram
molhados e nunca secaram direito.
Eu respirei pela boca. Esperando que, onde quer que ele estivesse me
levando, não fosse muito longe.
Deixei meu olhar vagar pelo interior da basílica. Realmente era
enorme. O teto abobadado acima de mim parecia se estender tão alto
quanto o céu, cada centímetro coberto com arte.
Eu não pude deixar de me perguntar quanto tempo deve ter levado
para construir algo assim.
Era como a Capela Sistina. Mas ainda mais grandioso.
Bem, eu nunca tinha estado na Capela Sistina.
Mas eu tinha visto fotos, pelo menos.
Lembrei-me de como fiquei impressionada ao ver a Casa da Alcateia
Real quando fui pela primeira vez à Cúpula. Eu olhei ao meu redor,
balançando minha cabeça maravilhada.
Se a Lyla de antes estivesse aqui agora, ela provavelmente desmaiaria.
— Pare de cobiçar e feche a boca, — Mercer zombou.
Paramos em frente a um grande conjunto de portas duplas, o carvalho
escuro com incrustações de ouro.
— Eu fiz algo para deixá-lo com raiva? — Eu perguntei, genuinamente
curiosa. — Sem ofensa, mas você tem sido meio idiota.
Uma veia pulsou na têmpora de Mercer. Seu rosto começou a ficar
roxo.
— Você tem o sangue de um traidor fluindo em suas veias, — ele disse,
sua voz cheia de veneno. — Até que você prove o contrário, vejo você
como uma mancha a ser removida. Sem ofensa.
Antes que eu pudesse responder, Mercer empurrou as portas, abrindo-
as.
A sala seguinte fazia com que o resto da Basílica parecesse uma casa
de camponeses.
Era uma espécie de sala do trono, e esbanjava opulência.
A sala parecia se estender infinitamente diante de mim, com outros
Guardiões da Lua em pé vigilantes em cada lado. As paredes pareciam
esculpidas em ouro puro, um enorme lustre de diamantes brilhando
como a lua no céu noturno acima.
Percebi que Mercer havia me deixado para trás e tive que correr e
caminhar desajeitadamente para alcançá-lo; o tilintar da minha
armadura ecoou no espaço enorme.
Eu podia sentir os olhos dos outros Guardiões da Lua em mim
enquanto eu passava. Eles pareciam ter sido esculpidos em pedra, eles
estavam tão parados.
Se meu dever aqui fosse apenas ficar parada o dia todo, tenho quase
certeza de que eu enlouqueceria.
Eu segui Mercer até o final da sala.
Lá, sentada em um trono ornamentado esculpido em mármore, estava
a mulher mais bonita que eu já tinha visto.
Ela estava vestida com um elegante vestido com laços de platina, sua
pele tão pálida que era quase translúcida. Ela tinha longos cabelos negros
que caíam até os joelhos e uma coroa de estrelas de metal repousava
sobre sua cabeça.
Mas sua característica mais magnética eram os olhos.
Eles brilhavam, cintilantes e prateados, assim como a lua.
Não havia dúvidas em minha mente sobre quem era essa pessoa.
A Deusa da Lua.
Ela levantou; seus movimentos eram quase anormalmente graciosos.
Todos os Guardiões da Lua atrás de mim imediatamente se
ajoelharam.
Eu os imitei lentamente, ganhando o olhar desdenhoso de Mercer.
— Sua Santidade — Mercer disse. — Eu apresento Lyla, Luna da
Alcateia Real.
— Levante. — A voz da Deusa da Lua era tão suave e elegante quanto
eu imaginava que fosse. Mas havia uma corrente de força inconfundível
por baixo.
Como aço envolto em seda.
Eu me levantei, desejando que meus joelhos não vacilassem.
Por que me sinto tão nervosa?
A presença da Deusa da Lua era intimidante. Seu olhar parecia me
penetrar diretamente.
— Você jura, pela honra de seu nome e de sua alcateia, servir a Deusa
da Lua? — Mercer perguntou.
— Eu juro, — respondi.
— Você vai defender os valores da Cidade Santa? Você permanecerá
fiel e inabalável em seu serviço? — ele perguntou.
Lembrei da casa da Alcateia Real. Do sorriso de parar o coração de
Sebastian.
— Eu vou.
— Baixe a sua cabeça.
Eu segui suas instruções. Suponho que outros considerariam este um
momento de grande honra. Afinal, a posição de Guardião da Lua não era
dada tão facilmente.
Ainda assim, por baixo de todo o brilho e glamour, eu só queria poder
voltar para casa. Eu gostaria de poder estar nos braços da pessoa que
amo.
Senti a mão da Deusa da Lua descansar em meu ombro, seu toque
leve como uma pena.
— Eu espero grandes coisas de você, Lyla.
Suas palavras soaram tão definitivas, como se ela estivesse selando
meu destino.
Ela se afastou de mim, sentando-se novamente em seu trono.
— Vossa Santidade, — comecei. — Sobre a Alcateia Real...
— Está feito! — Mercer gritou, me interrompendo.
— Cumprimentem sua nova irmã.
O silvo do aço ecoou no ar ao meu redor. Eu olhei para trás para ver as
fileiras de Guardiões da Lua me saudando com suas espadas, as lâminas
brilhando como estrelas.
Eu fiquei lá, estupefata.
— Atenda à chamada, sua tola, — Mercer sibilou.
Hum... devo uivar?
— Sua espada. — Mercer parecia que ia estourar um vaso sanguíneo.
Eu desembainhei minha espada, refletindo seu movimento.
— Excelente, — disse Mercer. — Você está dispensada.
Volte para o quartel e espere por mim lá.
Eu me virei para ele. Eu nem tive a chance de falar com a Deusa.
— Mas…
— Agora.
Nós nos olhamos, e eu sabia que se eu lhe causasse mais dores de
cabeça, estaria em sérios apuros.
Eu teria que escolher minhas batalhas com cuidado.
Eu embainhei a espada de meu pai; com uma reverência final à Deusa
da Lua. me virei e saí da sala.
O resto dos Guardiões da Lua estavam paralisados, suas espadas
apontadas para o céu enquanto eu passava. A sala parecia mais longa do
que nunca, o silêncio quebrado apenas pelo eco dos meus passos.
Eventualmente, eu escapei, as portas duplas maciças fechando atrás
de mim.
Soltei um suspiro pesado de alívio.
O que diabos eles iriam fazer lá agora? Uma competição de encarar?
Eu me virei e bati direto em alguém, uma bacia de água espalhando-se
por todo o chão.
Eu olhei para baixo para ver uma garota da minha idade aos meus pés.
Ela tinha cabelos ruivos na altura dos ombros e olhos turquesa.
Uau, ela é bonita.
Ela olhou em volta, piscando atordoada.
Abaixei-me, estendendo minha mão.
— Eu sinto muito, — eu disse. — Aqui, deixe-me ajudá-la.
Seus olhos focaram em mim e um olhar de puro terror cruzou seu
rosto. Ela cambaleou para trás apoiada nas mãos e nos joelhos, seus olhos
nunca deixando o chão.
— Por favor, me perdoe, — ela gritou. — Vou limpar tudo
imediatamente.
Por um momento, fiquei paralisada de choque.
Eu realmente parecia tão assustadora?
— Não, foi minha culpa. Não precisa se desculpar…
Ela cambaleou para trás novamente, seu corpo tremendo de medo.
Eu parei, dando uma boa olhada nela. Ela estava vestida com
simplicidade. Eu não diria que ela estava vestida com trapos, mas ela
certamente não estava vestida como uma modelo.
Eu vi manchas de sujeira em seus pulsos e cotovelos.
Algum tipo de servente?
Peguei as toalhas que ela havia deixado cair e comecei a enxugar a
água do chão.
Ela entrou em pânico, pegando a toalha.
— Por favor, — disse ela. — Me permita. Não parece certo para
alguém na sua posição fazer um trabalho tão humilde.
Eu peguei sua mão na minha e dei a ela um sorriso tranquilizador.
— Existe uma regra que diz que eu não posso ajudá-la? — Perguntei.
Ela franziu a testa. — Bem. tecnicamente não, mas…
— Então deixe-me ajudar. Meu nome é Lyla. Acabei de chegar aqui
hoje. Qual o seu nome?
A garota pareceu lutar consigo mesma por um momento antes de
falar novamente.
— Adele, — ela admitiu.
— Aqui, — eu disse, entregando-a algumas toalhas.
— Vai ser mais rápido se limparmos juntas.
Enxugamos o resto da água e jogamos as toalhas encharcadas na bacia
que ela carregava.
— Obrigada, — disse Adele, finalmente.
— De nada. — Eu sorri para ela, e ela sorriu timidamente de volta. —
Então, como mencionei antes, sou nova por aqui e esperava que você
pudesse me mostrar a cidade?
Os olhos de Adele se arregalaram.
— Oh, não, eu não poderia...
— Por que? Você não gosta de mim?
— Não! Não. não é isso, — disse ela. — É só que... — Ela mordeu o
lábio, seus olhos vagando pelo ambiente. Por que ela estava tão nervosa?
— O que foi? — Perguntei.
— Você... realmente não deveria interagir com gente do meu tipo.
Minha cabeça girou em confusão. — Seu tipo? O que isso quer dizer?
Antes que Adele pudesse responder, as portas da câmara da Deusa da
Lua se abriram. Mercer estava lá, olhando para nós duas.
Adele engasgou, encolhendo-se diante de seu olhar. Ela fez uma
rápida reverência e saiu correndo.
Mercer a observou ir, um olhar de desgosto em seu rosto. Ele se virou
para mim.
— Uma Guardiã da Lua não deve se associar com essa escória.
Lembre-se disso.
— Escória? — Eu perguntei, furiosa. — Ela é apenas uma serva.
— Uma mestiça. — Mercer cuspiu. — Eles sabem o seu lugar na
sociedade, garota. E você também deveria. — Ele passou por mim,
esperando que eu o seguisse.
Relutantemente, caminhei atrás dele, o cheiro de pergaminho
bolorento flutuando em meu nariz.
O ódio contra mestiços se estendia até a Cidade Santa também?
Pensando no meu encontro com Adele, o terror em seu rosto
começou a adquirir um significado totalmente novo.
Olhei em volta para os corredores cintilantes da basílica, o brilho um
pouco mais opaco do que antes.
Talvez a Cidade Santa não fosse tão sagrada quanto eu pensava.
5
O CUSTO DE UM FAVOR
Sebastian

Eu desabei na cama, ainda encharcada do meu banho.


Eu me deixei secar ao vento, a água encharcando os lençóis debaixo de
mim.
Os últimos dias foram um inferno.
Apenas um problema após o outro, um em cima do outro até que eu
me sentisse como Atlas; o peso do mundo pesando sobre meus ombros.
As coisas estavam piores do que pensávamos.
Alguns de nossos suprimentos foram roubados na calada da noite.
Caius suspeitou que fossem os rebeldes.
Os fundos estavam se esgotando perigosamente, e nosso
racionamento de emergência teve que ser aumentado para que
pudéssemos durar os próximos dois meses.
Não apenas isso, mas alguns de nossos batedores relataram um clã de
bruxas viajando perto de nossas fronteiras. Tiberius acreditava que
provavelmente elas estavam apenas de passagem, mas eu não conseguia
afastar a sensação de que talvez elas viessem vingar Silas.
Depois do que aconteceu em Nova Orleans, eu nunca mais confiaria
em outra bruxa novamente.
Eu tive que interromper outra briga entre nossos soldados e a Alcateia
Estrela da Noite mais cedo hoje também. Ainda havia animosidade entre
os guerreiros.
Eu esperava que um banho quente ajudasse a aliviar minha tensão,
mas até agora tudo o que fiz foi molhar minha cama.
Eu gemi para o teto. Há poucos dias, Lyla estava aqui em meus braços.
Eu ainda podia sentir a forma de seu corpo sob minhas mãos, o som
de sua voz enquanto ela gritava meu nome de novo e de novo...
Eu me senti endurecer ao pensar nela.
Já fazia muito tempo desde a última vez que me masturbei.
Não era algo que eu gostasse, particularmente, especialmente porque
eu tinha um mulherão como Luna para me satisfazer. Ainda assim,
demoraria algum tempo antes de nos reunirmos...
Ah, foda-se.
Desci minha mão e comecei a me acariciar lentamente.
Imaginei Lyla de joelhos, seus lindos lábios em volta do meu pau. Eu
imaginei a sensação de sua língua deslizando para cima e para baixo ao
longo do meu membro, seus lindos olhos castanhos fixos nos meus...
Lyla...
De repente, a porta do meu quarto se abriu.
— Sebastian, eu queria te atualizar sobre— oh minha deusa.
Eu pulei de surpresa e vi Magnolia na porta, seu rosto vermelho como
um tomate enquanto ela olhava para mim.
Lutei para pegar os lençóis e me cobrir. Lá estava eu, completamente
nu na minha cama encharcada com meu pau em minhas mãos, minha
ex-noiva me encarando.
Após o momento inicial de choque, Magnolia girou, se virando.
— Oh Deusa, eu sinto muito. Eu vou, uh, volto mais tarde...
— Não, está tudo bem, — chamei, parando-a. — Fique.
Ela congelou na porta.
— O quê? — Magnolia engasgou.
Meus olhos se arregalaram depois que percebi como isso soou.
— Não, não, não foi isso que eu quis dizer, — gaguejei.
Ah merda, estou tornando isso pior
— Eu quis dizer que você não tem que voltar mais tarde. Espere lá fora
enquanto visto alguma roupa.
Ela acenou com a cabeça, fechando a porta atrás dela.
Fiquei sentado por um momento com a cabeça entre as mãos.
Posso levar um tempo para me acostumar em ter minha ex como general
comandante.
Coloquei um short e uma camisa e abri a porta para Magnolia. Ela
olhou para mim, seu rosto ainda rosa.
— Bem, entre, — eu disse.
— Certo.
Caminhamos até minha mesa de estudo, sentados um em frente ao
outro. O silêncio se estendeu por um momento desconfortável.
— Desculpe por isso, — eu murmurei.
— Não, está tudo bem. — Magnolia balançou a cabeça. — Eu deveria
ter batido. Além disso... — Ela olhou para mim e para longe novamente.
— Deve ser frustrante. Estar longe de Lyla.
Eu a examinei. Um sentimento de tristeza tomou conta de mim.
Não muito tempo atrás, eu estava preparado para passar o resto da
minha vida com Magnolia ao meu lado, escolhendo o dever ao invés do
amor.
Então Conheci Lyla. E minha vida nunca mais foi a mesma.
Minha companheira tinha me mostrado que o amor verdadeiro era
real e que eu merecia esse amor também.
— Então, o que você veio aqui para me dizer? — Perguntei.
Magnolia pigarreou e se endireitou, voltando ao trabalho. O papel de
general combinava com ela surpreendentemente bem.
— Tivemos outra luta entre nossos soldados e a Alcateia Estrela da
Noite. Eu coloquei os infratores na solitária, mas as coisas não podem
continuar assim.
— Eu sei. — Suspirei, sentindo o peso da responsabilidade mais
fortemente do que nunca.
— Caius e Tiberius partiram para pedir aos outros bandos qualquer
ajuda que pudessem nos dar. Eles não esperam que ninguém nos ajude,
mas eu achei que valia a pena tentar, pelo menos.
— Bem pensado.
Magnolia estendeu o braço sobre a mesa e colocou a mão sobre a
minha. O contato físico me surpreendeu.
Ela olhou nos meus olhos e me deu um aperto reconfortante.
— Nós vamos superar isso, Sebastian, — ela me assegurou. — Lyla
também está trabalhando duro.
Mais uma vez, meus pensamentos se voltaram para a França e minha
Luna. Tão longe.
Eu balancei a cabeça, meus pensamentos eram uma bagunça confusa,
assim como minha alcateia.
E isso precisava ser resolvido mais cedo ou mais tarde.
O destino da Alcateia Real dependia disso.
Lyla

— Você realmente não deveria estar aqui comigo, — disse Adele


enquanto caminhávamos em direção à praça do mercado. — Você vai ter
problemas com o Cardeal Mercer novamente.
— Não tenho ideia do que você está falando, — falei. — Estou
simplesmente patrulhando as ruas e acontece que estamos indo na
mesma direção. — Eu dei uma piscadela para ela.
Adele riu, mas ainda não conseguiu evitar olhar ao redor
nervosamente. Eu só podia imaginar as coisas que ela teve que passar
morando aqui na Cidade Santa.
Nos últimos dias, eu aprendi sobre o estranho preconceito contra
mestiços aqui. Eles eram vistos como inferiores.
Servos.
Subcidadãos.
Sebastian tinha uma visão semelhante de lobisomens transformados,
mas eu esperava que fosse apenas por causa da influência de seus pais.
Infelizmente, parecia ser um sentimento compartilhado pela maior parte
do mundo dos lobisomens.
— Além disso, — eu continuei. — Eu deveria poder passar mais tempo
com quem eu gosto. Não deveria importar que você seja uma mestiça,
Adele.
Ela me deu um sorriso triste.
— Se ao menos o resto do mundo pensasse como você, Lyla.
A praça do mercado ficava embaixo de uma grande torre do relógio no
meio da cidade. Um mar de pessoas andava por ali, salpicos vibrantes de
frutas, vegetais e roupas colorindo as estradas de paralelepípedos.
— O que você precisa pegar primeiro? — Eu perguntei a ela.
— Preciso comprar alguns suprimentos para as cozinhas do quartel,
— disse ela. — Há alguma comida que você queira comer?
— Na verdade, eu estou com vontade de…
— Ladrão!
O grito ecoou no mercado. Avancei, examinando a multidão. Observei
um homem sair da aglomeração, olhando em volta desesperadamente
enquanto disparava em direção a um beco. Em seus braços estava um
saco contendo o que supus serem mercadorias roubadas.
Eu corri atrás dele, a adrenalina bombeando em minhas veias.
Hora de fazer meu trabalho.
Eu virei na esquina. Ele estava em vantagem — já na metade do
caminho do beco escuro.
— Parado! — Eu gritei.
O homem olhou por cima do ombro, seus olhos se arregalando ao ver
o brilho de platina da minha armadura. Obviamente, ele não parou.
Fazer o quê. Eu sempre quis gritar isso pelo menos uma vez na minha
vida.
Corri atrás dele, ganhando terreno de forma constante, mesmo com o
peso da minha armadura de Guardiã da Lua.
Honestamente, depois que eu superei minha animação pela aparência
maneira da armadura, percebi que era difícil me mexer com ela todos os
dias.
O ladrão derrubou algumas latas de lixo enquanto fugia, mas eu
simplesmente pulei sobre elas. Eu percebi que ele estava ficando cansado.
Continuei a perseguição, virando outra esquina para ver que o ladrão
estava encurralado em um beco sem saída.
Ele se virou para me encarar, brandindo um pequeno canivete.
— Para trás! — ele gritou.
Aproximei-me dele lentamente, mantendo minha espada embainhada
ao meu lado. Eu sabia que provavelmente poderia matá-lo se precisasse,
mas não queria usar violência a menos que fosse necessário.
— Calma. Largue a faca e vamos conversar sobre isso, ok?
Ele golpeou o ar entre nós.
— Eu disse para trás!
Ele tropeçou para trás, acidentalmente tropeçando em algum lixo. O
saco em seus braços caiu no chão e se abriu...
Batatas?
Uma rolou até mim, batendo na minha bota. Eu a peguei, olhando-a
com desconfiança.
Em pânico, ele começou a recolhê-las e colocá-las de volta em seu
saco. A faca que ele segurava estava esquecida no chão.
— Você roubou batatas? — Perguntei.
Ele olhou para mim, o desespero em seu rosto.
— Elas são para minha família, — ele sussurrou. — Eles estão
morrendo de fome.
Meu coração se partiu pelo homem. Ele parecia esfarrapado, com
manchas de sujeira em seu rosto e cabelo. Eu também não tive a sensação
de que ele estava mentindo para mim. O desespero em seus olhos não
podia ser fingido.
— Você é um mestiço, não é? — Perguntei.
Ele acenou com a cabeça, mas ele não olhou para mim. Quase como
se ele tivesse vergonha do que ele era.
Novamente, os efeitos do preconceito sobre os mestiços aqui eram
óbvios. Este homem não conseguia nem alimentar sua família. Por que
diabos ninguém estava fazendo nada sobre isso?
Inclinei-me e coloquei a batata de volta em sua bolsa.
Ele olhou para mim, esperança chamejando em seus olhos.
— Vá, — eu disse.
As lágrimas transbordaram, limpando um pouco da sujeira de suas
bochechas.
— Oh, obrigado. Obrigado, — disse ele.
— Depressa, antes
— Antes do quê, garota?
Meu estômago embrulhou. Virei-me para ver o Cardeal Mercer atrás
de mim no beco, flanqueado por quatro outros Guardiões da Lua. O
mestiço atrás de mim se encolheu.
— Muito bem, — disse Mercer, um sorriso de serpente em seu rosto.
— Cardeal, — gaguejei. — Este homem está apenas tentando
alimentar sua família.
— Sim. Com comida que ele roubou. E, da última vez que verifiquei,
roubar é crime. — Mercer se virou para os outros Guardiões da Lua. —
Leve-o embora.
O mestiço gritou enquanto os Guardiões da Lua avançavam sobre ele.
arrastando-o para longe. As batatas em seus braços caíram na sarjeta,
completamente esquecidas.
— Você se saiu bem hoje, Lyla, — disse Mercer. Fiquei surpreso que
ele realmente me chamou pelo meu nome. — A Deusa da Lua ficará
satisfeita.
O homem olhou para mim desesperadamente, uma súplica em seus
olhos. Mas tudo que pude fazer foi assistir. Eu estava aqui para ajudar
minha alcateia a voltar para casa. Não um estranho, não importa o quão
errado isso pareça.
Saímos do beco e entramos na praça onde uma multidão havia se
reunido. Eles riram e zombaram do homem, lançando insultos contra
ele.
— Por favor! — o homem gritou enquanto era arrastado para longe.
— Eu só quero alimentar minha família! Por favor!
Eu o observei, a culpa roendo minhas entranhas.
Isso é o que é preciso para cair nas graças da Deusa da Lua?
6
COBRAS E ESCADAS
Adele

— Por favor! Eu só quero alimentar minha família! Por favor!


Eu atravessei a multidão agitada até que pudesse ver o que estava
acontecendo. Todos ao meu redor estavam aplaudindo os Guardiões da
Lua enquanto insultavam o pobre homem sendo levado embora.
Ele tinha lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto olhava para quem
quisesse ouvir.
— Eles vão morrer de fome! — ele soluçou. — Por favor!
Mas suas palavras caíram em ouvidos surdos.
Lágrimas brotaram de meus olhos, mas eu pisquei para evitar que
caíssem.
A multidão diminuiu ao passo que as pessoas voltavam a seus afazeres.
Era apenas mais uma prisão de algum canalha mestiço. Não havia
nada para ver aqui. Siga em frente e esqueça tudo sobre o homem
desesperado com uma família faminta.
Encontrei Lyla sozinha, observando o ladrão ser arrastado para o
destino cruel que o esperava.
— Você o pegou, — eu disse, minha voz baixa.
— Peguei. — Ela suspirou.
— Ele só queria alimentar sua família...
— Eu sei.
Eu olhei para o rosto dela, sua boca uma linha severa de
determinação.
Quando Conheci Lyla, o calor em seus olhos me atraiu para ela. Ela foi
tão gentil comigo. Ela parecia tão compassiva e compreensiva.
Mas olhando para ela agora, não consegui encontrar nenhum traço
dessa gentileza em seu rosto.
Agora, ela se parecia com qualquer outro Guardião da Lua.
Achei que você fosse diferente...
— O que isso deveria significar? — ela perguntou.
Eu vacilei.
Eu disse isso em voz alta?
Eu olhei para os meus pés. Sempre que eu podia sentir o confronto,
era sempre melhor evitar o contato visual. Isso me fez parecer menor.
Mais fraca.
Mais lamentável.
Isso intensificou a situação.
— O que você quer que eu faça? — Lyla perguntou. — Ele cometeu
um crime, Adele.
Eu concordei.
Tecnicamente, ela estava certa.
Mas ainda...
— Você acha que eu sou cruel? — ela me perguntou.
Eu olhei para cima com surpresa.
— Por que você se importa com o que eu penso? — Perguntei.
Lyla riu.
— Eu me sinto muito mal agora, — ela admitiu. — Eu só estava
procurando uma segunda opinião. — A esperança floresceu em meu
coração. Talvez eu estivesse certa. Talvez Lyla não fosse como as outras.
— Você não teve escolha, — eu disse. — Especialmente com o Cardeal
lá...
— Mas? — ela cutucou.
. —.. Mas eu esperava que você pudesse tê-lo deixado ir, — eu admiti.
Eu suspirei. Eu realmente tinha sido tão sincera com uma Guardiã da
Lua?
Lyla acenou com a cabeça; seu rosto pensativo.
— Obrigada por ser honesto, Adele.
Eu fiquei sem palavras.
Se Lyla podia ser tão gentil, então com certeza os outros...
— Vou falar com o cardeal Mercer, — disse Lyla.
— Vejo você na Basílica, ok?
Eu acenei com a cabeça enquanto ela se afastava, um salto confiante
em seus passos.
Se eu tivesse pelo menos um pouco dessa confiança...
Alguém esbarrou em mim por trás, fazendo-me tropeçar na estrada.
— Cuidado, mestiça!
Murmurei minhas desculpas a todos e a ninguém em particular.
Juntei minha coragem enquanto voltava para a multidão do mercado.
Se eu não levasse esses suprimentos a tempo, com certeza levaria uma
bronca.
Lyla

Respirei fundo antes de abrir a porta dos aposentos do Cardeal


Mercer.
Eu tive que invocar até a última gota de paciência que eu tinha para
não explodir com ele e arruinar todas as minhas chances de ajudar minha
alcateia.
Eu tinha que agradá-los.
Mas eu não podia simplesmente deixar o que aconteceu no mercado
passar despercebido.
Eu entrei. O cômodo era exatamente como eu imaginava.
Estava abafado. Livros cobriam as paredes do chão ao teto. Partículas
de poeira flutuavam no ar. Parecia uma biblioteca há muito tempo
esquecida. Ou o paraíso de um acumulador, se esse acumulador por
acaso tiver fascínio por livros, tomos e pergaminhos.
O cardeal Mercer estava sentado atrás de sua mesa com um pequeno
par de óculos de leitura empoleirado em seu nariz adunco.
— O que você quer? — ele perguntou, indo direto ao ponto. — Não
tenho tempo para conversas inúteis com todos os Guardiões da Lua.
— O que está te mantendo tão ocupado?
Seus olhos se estreitaram. — Estou administrando uma cidade inteira.
Eu evito que a Cidade Santa caia em ruínas.
Aproximei-me de sua mesa, meus olhos vagando pelo espaço.
Muitos dos livros estavam escritos em diferentes idiomas.
Latim, talvez?
Alguns estavam escritos em inglês, e não pude deixar de dar uma
espiada nos títulos.
Lendas do Mundo Antigo.
Almas Vazias.
Exigências Piedosas da Coroa dos Sonhos.
As Crônicas de Lobisomem.
Interessante.
— Eu achava que administrar a Cidade Santa era trabalho da Deusa da
Lua. — Meus olhos se voltaram para o cardeal e vi a veia em sua têmpora
protuberante.
— O que. Você.. Quer?
Sua paciência já estava se esgotando.
— Eu gostaria de uma audiência com a Deusa da Lua.
Mercer gargalhou, saliva voando no ar. Fiquei em silêncio enquanto
ele se divertia às minhas custas.
— E o que te faz pensar que merece tal honra? — ele perguntou.
— Bem. para começar, eu sou uma Guardiã da Lua.
— Garota insolente. Você está aqui para servir. A Deusa da Lua não é
uma conselheira escolar com quem você pode conversar sobre seus
problemas.
— Eu peguei aquele ladrão...
— Chega dessa tolice. Se você quer uma audiência com a Deusa da
Lua, você terá que fazer mais do que pegar um criminoso de rua.
Eu não estou gostando do rumo dessa conversa.
— E o que eu tenho que fazer? — Perguntei.
— Suba na hierarquia da Guarda da Lua. Mostre-se fiel e capaz. E a
maneira mais rápida de fazer isso é fazer o que eu digo.
Ele tirou os óculos empoleirados no nariz, olhando-me como um
abutre olha para um cadáver.
— Ao pé da letra, — ele terminou. — Agora me deixe em paz. Estou
ocupado.
Eu girei nos calcanhares e saí da sala. Quanto antes eu conseguisse
uma audiência com a Deusa da Lua, melhor. E se isso significasse engolir
meu orgulho por um tempo, eu o faria.
Dependia de mim salvar minha alcateia.
Mercer

Finalmente, paz e sossego.


A menina tinha o ímpeto e a paixão de seu pai, isso era óbvio.
Se ela herdou ou não sua heresia, ainda não se sabia.
Mas não importa. Eu sabia o que ela queria e tinha o poder de dar a
ela.
Isso me deu uma vantagem. Algo para segurar sobre sua cabeça.
Seria fácil brincar com sua ingenuidade. Em breve, ela estaria na
palma de minha mão.
Levantei-me da minha mesa e caminhei até a janela, as janelas dos
meus aposentos proporcionando uma vista magnífica da Cidade Santa.
Eu observei sua beleza. As torres brilhantes, as ruas douradas.
Vi um povo orgulhoso, leal e devoto.
Mas eu também podia ver sua escuridão.
Eu vi a escória que andava pelas ruas. Eu senti os tumores que se
escondiam da minha vista.
Mas logo, eu limparia esta cidade de suas impurezas. Eu acabaria com
os furúnculos horríveis que marcavam a Cidade Santa.
E Lyla?
Lyla seria minha executora.
2 MESES DEPOIS
Lyla

— Relatório.
— Sim capita.
Caminhei pelos corredores da basílica, Tristan ao meu lado. O Festival
das Trevas da Lua começaria em breve e era meu trabalho garantir que
tudo corresse bem.
— Os esquadrões de Clovis e Jean estabeleceram um perímetro livre
ao redor da praça principal, como você ordenou, — relatou Tristan. — Os
esquadrões de Constance e Nina se vestiram de civis e se misturam à
multidão.
— Bom. — Eu balancei a cabeça, satisfeita. — Alguma notícia do
mestiço que escapou?
Alguns dias atrás, um homem estava fazendo barulho na praça. Ele
estava gritando uma retórica anti-festival, levando a população ao
frenesi. Ele escapou antes que os Guardiões da Lua pudessem prendê-lo.
— Nada ainda, capitã. Mas presumo que ele vai mostrar a cara em
algum momento do festival.
— Mantenha seus olhos abertos. Não vou aceitar nenhum deslize sob
meu comando.
Tristan acenou com a cabeça, com uma expressão sombria.
— Isso é tudo por agora, Tristan. Te vejo na praça.
Ele fez uma saudação rápida antes de sair da basílica.
No caminho de volta para o meu quarto, vi Adele caminhando em
minha direção. Nós nos cruzamos sem dizer uma palavra.
Há apenas alguns meses, pensei que estávamos ficando próximas. Mas
minhas obrigações como Guardiã da Lua me deixaram cada vez mais
ocupada, e conforme eu subia na hierarquia, Adele simplesmente parou
de falar comigo.
Isso me incomodou, mas não tive muito tempo para pensar nisso.
Eu tinha um trabalho a fazer.
Mercer era um implacável. Ele me deu os piores turnos e me colocou
nas partes mais voláteis da Cidade Santa.
Eu tinha me familiarizado intimamente com as favelas em que os
mestiços viviam. Suas condições de vida me horrorizavam. Tentei
estender a mão para ajudá-los, mas tudo que eles viam era a armadura de
platina de um Guardião da Lua.
Muitas vezes eles se sentiram tão ameaçados que me atacaram, e eu
tive que me defender.
Repetidamente...
Um assobio baixo me tirou do meu devaneio.
— Droga, odeio admitir, mas você fica linda com essa armadura.
Eu conhecia aquela voz. Meu coração batia forte em meu peito
enquanto me virava.
E como mágica, lá estava ele.
O homem dos meus sonhos.
O amor da minha vida.
Sebastian!
7
LONGE DA ÁRVORE
Sebastian

Ela correu para os meus braços, quase me deixando sem fôlego.


Eu ri, um pouco sem fôlego.
— Você não é tão macia quanto eu me lembro, — eu disse.
Ela se afastou um pouco, seu sorriso radiante. Ela olhou para sua
armadura com culpa.
Abaixei-me para beijá-la e de repente me senti inteiro novamente.
Completo.
Eu estava respirando facilmente de novo, e uma tensão em meus
ombros que eu nem tinha percebido estar ali desapareceu. Depois de
ficar longe por tanto tempo, eu nunca mais queria ficar longe de minha
companheira novamente.
Os últimos dois meses em casa foram difíceis, embora tenhamos
conseguido resolver alguns problemas.
Todo e qualquer resquício de Silas foi extinto.
As tensões acerca da assimilação da Alcateia Estrela da Noite estavam
finalmente desaparecendo.
Mas nada disso resolveu nosso problema de recursos.
A sensação dos lábios de Lyla nos meus, no entanto, fez tudo aquilo
parecer tão distante. Pelo menos por enquanto.
Eu a bebi, reabastecendo minha alma.
— Então, como estão os preparativos, Capitã? — Eu perguntei.
Ela revirou os olhos para mim.
— Tão bons quanto você pode esperar. Os Guardiões da Lua não
brincam.
Fiquei surpreso com o orgulho em sua voz.
Sempre soube que Lyla era uma líder natural. Para ser Luna da
Alcateia Real, você precisava ser.
Mas havia algo que me perturbava na maneira como seus olhos
brilhavam. Um lampejo de uma obsessão de que não gostei.
— Eu pensei que você não deveria chegar antes da noite? — ela
perguntou.
— Eu queria fazer uma surpresa para você. — Eu pisquei para ela. —
Talvez você possa me mostrar a cidade?
— Eu não posso. — Ela suspirou. — Estou de plantão.
— Ah. que pena. — Eu a pressionei contra meu corpo, minhas mãos
percorrendo suas costas até sua bunda bem formada. — Talvez você
possa me dar um tour rápido pelo seu quarto.
Meu corpo ansiava por ela. Passaram-se meses desde a última vez que
nos tocamos. Por semanas, eu só podia imaginar seu corpo se
contorcendo embaixo de mim, sua voz gritando enquanto eu a fodia cada
vez mais forte...
— Não, Sebastian. — Ela saiu do meu abraço.
O sorriso no meu rosto congelou.
Espere — eu estava sendo rejeitado?
— Eu te encontro no seu hotel à noite, ok? Como planejamos. — Ela
ajustou a armadura e verificou se a espada estava amarrada com
segurança à cintura. — No momento, tenho um trabalho a fazer.
Ela se virou e marchou para longe, o eco de suas botas arrastando-se
atrás dela.
Eu fiquei lá, em estado de choque. Eu não conseguia nem reunir
energia suficiente para ficar com raiva.
Eu podia entender por que ela me rejeitou. Eu apareci do nada, bem
no meio do período mais movimentado para ela.
Mas Lyla sempre teve uma tendência rebelde que eu achava tão
atraente. Mesmo quando nos conhecemos e ela ainda era uma garota
tímida, ela me deu um tapa porque eu estava ficando muito assanhado
muito rapidamente. Eu, o Alfa Real!
Mas agora, eu não conseguia ver nada daquele fogo em seus olhos.
Eu a observei desaparecer lá fora, o sol brilhando em sua armadura de
platina.
O que a Cidade Santa fez com você, Lyla?
Lyla

Eu patrulhei as ruas lotadas, Tristan ao meu lado.


Pressionei meu dedo no fone de ouvido conectado ao meu ouvido.
— Relatório, — eu ordenei.
— Tudo limpo aqui, capitã, — relatou Clovis.
— Nada a relatar, — respondeu Jean.
Constance e Nina responderam com sentimentos semelhantes.
Eu balancei a cabeça para mim mesma, satisfeita.
A Cidade Santa era realmente linda.
Especialmente agora, quando os preparativos para o festival estavam
sendo finalizados.
Faixas enormes penduradas nas faces dos edifícios, e flâmulas
balançavam com a brisa. Estavam todas coloridas com as cores do
Festival das Trevas da Lua.
Preto para o céu noturno.
Prata para as estrelas e a lua.
Carmesim para o sangue dos escolhidos. Os fiéis.
Lobisomens.
O cheiro de carnes cozidas e bolos recém-assados flutuava ao vento,
risos e música se misturando a eles.
Flores coloridas decoravam as ruas e pendiam das varandas. Crianças
corriam pelas ruas, serpentinas voando atrás delas.
Passei por uma trupe de carnaval vestida com sedas brilhantes. Um
grupo de acrobatas empunhava tochas em uma intrincada rotina de
dança do fogo.
Fiz uma nota mental de checar se o corpo de bombeiros estava de
plantão, caso fosse necessário.
— Capitã. — A voz de Nina zumbiu em meu fone de ouvido.
— Relatório.
— Eu vi o mestiço na praça. Ele reuniu alguns outros com ele.
Tristan e eu trocamos olhares enquanto abríamos caminho através da
multidão.
— Entendido, Nina. Aguarde por enquanto. Estamos a caminho.
Eu agarrei o punho da minha espada. O mestiço não escaparia uma
segunda vez.
Adele

Eu tropecei no meio da multidão com meus olhos firmemente fixados


no chão à minha frente.
Eu só queria terminar minhas tarefas e voltar para a basílica.
Enquanto o resto da Cidade Santa celebrava o Festival das Trevas da
Lua, nós, mestiços, o temíamos.
A população adorava a celebração.
Mas essa alegria extrema também vinha com um ódio extremo.
Era assustadora a rapidez com que um folião bêbado podia passar de
feliz a irado se você olhasse para eles de maneira errada.
Era melhor para nós, mestiços, ficar fora de vista pelas próximas
semanas.
Especialmente durante o eclipse...
— Caros cidadãos! — uma voz estrondosa gritou.
Virei-me para encontrar um grupo de pessoas em cima de um palco
improvisado de caixotes de maçã. Alguns outros caminharam ao redor
deles, distribuindo pedaços de papel.
Suas roupas estavam em farrapos e eles pareciam sujos e cansados,
mas suas vozes eram claras e fortes.
A multidão em torno dos mestiços os ignorou, mas eles foram
persistentes.
— É hora de acabar com o Festival das Trevas da Lua! — ele gritou.
Eu congelei de medo.
Não por mim, mas por ele e seus amigos. Um deles abriu caminho
pela multidão, estendendo panfletos para qualquer um que os pegasse.
Peguei um, morbidamente curiosa.
Mestiço, cidadão pleno! Vamos abolir o festival Trevas da Lua!
— Por que não podemos aproveitar o festival junto com o resto de
vocês? — o homem exigiu. — Não somos todos escolhidos da lua? Não
somos todos filhos da Deusa da Lua?
— Desça daí, aberração! — alguém gritou.
Tentei me afastar da multidão, mas o mar de corpos me jogou para
frente.
Eu engasguei quando alguém jogou um tomate no homem,
manchando sua camisa.
— Você nos responde com ódio e violência, mas tudo o que fazemos é
falar a verdade! Só queremos ser tratados com justiça!
Normalmente!
A multidão ao meu redor continuou a ficar cada vez mais irritada.
Meu coração batia desesperadamente no meu peito. Os corpos ao meu
redor se agitaram e avançaram, pressionando ainda mais firmemente.
Eu preciso sair daqui.
— Em posição, capitã, — disse a mulher ao meu lado.
Eu me virei para ela, me perguntando se ela estava falando comigo.
Mas então notei o fio de um fone de ouvido enrolado em seu pescoço.
Oh não.
A mulher acenou com a cabeça e avançou. E ela não estava sozinha.
Uma dúzia de outras pessoas emergiu da multidão, correndo para
capturar os mestiços. Os Guardiões da Lua disfarçados alcançaram o
palco improvisado, puxando agressivamente os mestiços para o chão.
Alguns deles tentaram escapar, mas foram violentamente atacados e
acorrentados.
Seus gritos de dor foram abafados pelos aplausos da multidão, os
mestiços que estavam ouvindo o protesto se dispersando.
Os manifestantes pediram ajuda, misericórdia, mas é como se
estivessem mudos. Ninguém ouviu.
Foi quando ela abriu caminho pela multidão, seus olhos frios e
insensíveis. Meu coração se partiu.
Capitã Lyla da Guarda Lunar.
Ela olhou para os mestiços a seus pés com desdém.
— Leve-os embora, — disse ela.
Os outros cumpriram suas ordens rapidamente, arrastando-os para
longe. A multidão aplaudiu antes de se afastar para aproveitar a festa.
De repente, Lyla olhou para mim. Eu vacilei, me afastando de seu
olhar. Ela se aproximou de mim e todos os meus instintos me disseram
para correr.
Mas eu sabia o melhor a se fazer.
Correr só pioraria as coisas.
Ela pegou o folheto das minhas mãos. Eu tinha esquecido que ainda o
estava segurando.
Seus olhos se estreitaram enquanto ela lia. Ela também achava que era
ridículo? Ela acha que nós merecemos esse tratamento? Ela dobrou o
papel e o colocou em um dos bolsos.
— Termine o que você veio fazer aqui, Adele, — disse ela. — Tenho
certeza de que alguém está esperando por você na basílica. — Ela se
virou, Virando-se para se juntar aos outros Guardiões da Lua.
Lyla

— Como você pode ser tão cruel?


Eu me virei para Adele. Ela estava olhando para mim, com lágrimas
nos olhos.
— O quê?
— Eles não estavam machucando ninguém. Eles só querem ser
tratados com justiça. E agora eles provavelmente vão ser trancados em
algum lugar por protestar pacificamente em público.
Suspirei. Já havíamos tido essa conversa antes.
— Eu estava apenas fazendo meu…
— Seu trabalho, — concluiu Adele. Suas palavras gotejavam sarcasmo.
— É assim que você sempre vai justificar fazer essas coisas horríveis?
Meu batimento cardíaco acelerou, a raiva correndo quente em minhas
veias.
— Então, o que você quer que eu faça, Adele? Se você tem uma
solução, então vamos ouvi-la.
— Nada do que eu disser importaria. — Ela balançou a cabeça. — Você
e o cardeal Mercer deveriam conversar sobre isso. Acho que vocês são
melhores amigos agora, certo?
Eu agarrei seu pulso, puxando-a para mim. Como ela ousa me
comparar com aquela cobra. Ela achava que eu estava fazendo isso
porque queria?
— Eu não tenho escolha, — eu rosnei.
— Nenhum de nós tem. — ela respondeu, tristemente.
— Eu só pensei que você fosse diferente.
Eu estava prestes a perder a calma quando o olhar nos olhos dela me
paralisou imediatamente.
Era exatamente a mesma expressão de horror que ela teve quando eu
a encontrei pela primeira vez, semanas atrás. Quando cheguei pela
primeira vez na Cidade Santa. Quando ela pensou que eu era como os
outros Guardiões da Lua.
Ela estava tremendo muito. Fiquei surpresa por ela ainda estar de pé
com o quanto seus joelhos estavam bambos.
Ela parecia tão assustada.
De mim.
Eu a soltei, dando alguns passos para trás.
Eu me afastei, me juntando a Tristan e os outros. Meus pensamentos
voltaram aos últimos dois meses. Para todas as coisas que eu tive que
fazer para ser promovida à capitã, tudo para que eu pudesse cair nas
graças da Deusa da Lua.
Eu tinha tanta certeza de que estava fazendo a coisa certa. Mas depois
de ver o rosto de Adele, não tinha tanta certeza.
O que diabos estou fazendo? Esta não era eu. Se isso fosse o necessário
para cair nas graças da Deusa da Lua... Então, eu estava prestes a ter uma
crise de fé.
8
PRIORIDADES
Sebastian

Eu estava na cama quando ouvi uma batida na minha porta. O hotel


em que eu estava hospedado ficava perto da Basílica da Lua.
Não era nada extravagante. Eu não poderia pagar um tratamento
cinco estrelas aqui com o estado de nossos cofres. Olhei em volta para os
móveis modestos, as luminárias degradadas...
Um pico de aborrecimento passou por mim.
Eu não queria me acostumar a viver assim.
Depois que Lyla me deixou na basílica, eu vaguei pela Cidade Santa
sozinho. Theresa e Caspian chegariam amanhã, então eu queria
conhecer o local no caso de Lyla estar muito ocupada para mostrar a eles.
Este lugar era bem diferente das terras da Alcateia Real, isso era certo.
Abri a porta e encontrei Lyla do outro lado. Ela empurrou meu peito,
batendo a porta atrás dela. Eu caí de costas na cama enquanto ela
montava em meus quadris.
— Alguém está animada, — eu disse.
Ela se inclinou e empurrou seus lábios nos meus. Foi mais como um
ataque do que um beijo.
— Dia estressante no trabalho — murmurou Lyla.
Ela tirou a roupa, ajudando-me a tirar a minha.
Suas mãos correram pelo meu peito, seus dedos pairando sobre o cós
da minha boxer.
— Então, o que eu sou, sua bola anti-stress? — Perguntei.
Ela mordeu meu pescoço enquanto suas mãos deslizaram por baixo da
minha boxer, suas mãos embalando meu membro enrijecido.
— Tipo isso. — Ela se levantou para que pudesse me encarar. —
Alguma objeção?
Eu levantei uma sobrancelha. — Não. Senhora.
— ótimo.
Eu não estava acostumado com essa Lyla assertiva e exigente, embora
não exatamente odiasse isso.
Na verdade, era muito sexy.
Ela se posicionou acima de mim e lentamente se abaixou no meu pau.
Nossos gemidos se misturaram como um só. Ela mordeu o lábio
enquanto me empurrava para dentro dela.
— Oh porra, eu senti falta disso, — ela gemeu.
Eu empurrei meu pau para dentro dela, fazendo-a gritar.
Ela bateu seus quadris contra mim em retaliação, e eu quase gozei ali.
Eu tive que me concentrar muito para me conter.
Merda, já faz um tempo.
Lyla começou a me cavalgar com força, minha masculinidade
deslizando para dentro e para fora dela. Ela quicava para cima e para
baixo em cima de mim, seus seios se movendo ao ritmo de nossa transa.
Deixei minhas mãos vagarem por seu corpo, redescobrindo cada
centímetro de sua pele.
Ela agarrou minhas mãos e as colocou acima da minha cabeça.
Fechei meus olhos enquanto nos beijávamos, perdendo-me na
sensação dela apertando meu pau.
De repente, senti algo frio em torno de meus pulsos e o som distinto
de metal sendo travado.
Que porra é essa?!
Lyla tinha me acorrentado à cabeceira da cama!
— Quer apimentar as coisas? — Perguntei.
— Cale a boca e me foda, — ela ordenou.
Eu meto nela novamente, fazendo nós dois gemermos em êxtase.
Ela movia seus quadris em um movimento circular enquanto quicava
em cima de mim, cada movimento seu me deixando mais perto do
orgasmo.
Nós nos movemos cada vez mais rápido, nossos corpos escorregadios
de suor colidindo repetidamente.
— Porra, Lyla, eu vou...
Eu entrei em erupção como um vulcão, meu esperma transbordando.
Esvaziei tudo o que tinha dentro dela enquanto ela gritava de
satisfação, sua boceta convulsionando em torno do meu pau enquanto
ela gozava comigo.
Ela desabou no meu peito, ofegante.
Demorou um pouco para recuperarmos o fôlego.
— Já posso ir? — Eu perguntei a ela.
Ela riu enquanto deixava um rastro de beijos no meu pescoço. Sua
boca vagou pelo meu peito, desceu pelo meu estômago...
— Eu não terminei com você ainda.
Lyla

Deitamos juntos na escuridão, o suor de nossos corpos secando.


O que Adele me disse hoje mais cedo ainda ecoa em minha mente. Eu
redirecionei toda aquela raiva e energia para fazer amor com Sebastian,
mas agora que já tinha acabado, a frustração voltou.
— Isso foi diferente, — Sebastian sussurrou ao meu lado.
Virei-me para abraçá-lo, meus dedos traçando as marcas das algemas
que cavaram na pele ao redor de seus pulsos.
— Desculpe, eu machuquei você?
— Não. Foi diferente, mas não foi ruim.
Eu sorri contra sua pele.
— Então você gosta das algemas?
Ele me puxou para seu peito, envolvendo-me em seus braços.
— Talvez de vez em quando. — Ele deu uma risadinha. — Embora...
— Hm?
— Você parece um pouco diferente, Lyla. Eu realmente não consigo
identificar o que é. Mais distante?
— Oh, você também não. — Eu gemi.
— Eu também? — ele perguntou.
Eu estava prestes a contar a ele sobre Adele. mas algo me fez hesitar. O
histórico de Sebastian com mestiços não era exatamente dos melhores.
Eu esperava que seu preconceito contra eles tivesse diminuído depois de
Silas, mas eu não tinha certeza.
— Não, é apenas o estresse da minha nova posição na Guarda Lunar.
Preciso subir na hierarquia para cair nas graças da Deusa da Lua, mas
nem sempre concordo com as coisas que tenho que fazer para chegar lá.
Ele me apertou com mais força em seus braços e, naquele momento,
me senti segura e protegida.
— Deve ser difícil para você, — ele murmurou em meu cabelo.
Quando ouvi suas palavras, parecia que algo dentro de mim se abriu.
Como uma represa estourando, um poço de emoções me inundou.
As paredes que eu construí ao redor do meu coração nas últimas
semanas desabaram, e isso me deixou exposta e em carne viva.
Eu sufoquei um soluço enquanto as lágrimas escorriam pelo meu
rosto.
— Está tudo bem, — Sebastian confortou. Ele gentilmente acariciou
meu cabelo enquanto deixava minhas lágrimas caírem em seu peito. —
Você é forte, Lyla. Você vai resolver tudo.
Eu balancei a cabeça, não confiando na minha voz para falar.
— Vamos descansar um pouco. Vamos encontrar Teresa e Caspian no
início da manhã.
Sebastian me segurou enquanto minhas lágrimas secavam e,
eventualmente, caí em um sono exausto e sem sonhos.

Teresa: Adivinha quem desembarcou na França putaaaa Lyla:


duas baguetes?

Teresa: esses são croissants sua idiota Lyla: (emoji de macaco


tampando os olhos) Teresa: mal posso esperar para te ver,
Caspian está morrendo de vontade de chegar aí Teresa: eu o
incomodei durante toda a viagem, ele tá de saco cheio Lyla:
aposto que você gostou de cada segundo Teresa: ; )

Lyla: quanto tempo até você chegar aqui?

Teresa: três horas talvez Lyla: contando os segundos Gritei de


alegria quando Teresa finalmente chegou. Pulamos para cima e para
baixo enquanto nos abraçamos, saltando de entusiasmo.
— Oh, é tão bom ver você de novo, — Teresa disse. — Eu senti tanto
sua falta.
— Eu também senti sua falta, Teresa. — Eu sorri, me sentindo mais
leve do que me sentia há semanas. Ver Sebastian e meus amigos foi como
uma lufada de ar fresco.
Caspian saiu cambaleando da van, sobrecarregado de bagagem. Ele
parecia absolutamente abatido.
— Finalmente, — ele gemeu. — Nunca mais quero viajar com Teresa.
— Que pena, Beta, — ela cantou. — Ainda temos a viagem de volta.
— Nãããão, — Caspian gemeu.
— Aguenta firme, Caspian, — Sebastian disse.
Caspian parecia tão derrotado.
Eu ri tanto que minha barriga doía; Teresa riu junto comigo.
— Estou feliz que vocês possam rir às minhas custas. Agora alguém
pode me ajudar com essas malas, por favor?
Por fim, conseguimos colocar toda a bagagem no hotel e colocá-la em
seus quartos. Eu ainda tinha uma hora antes de me apresentar na
basílica, então passamos o resto da manhã tomando café da manhã na
varanda.
— Então, como está a vida na Cidade Santa? — Perguntou Teresa.
— Ouvimos dizer que você é Capitã Lyla agora, — acrescentou
Caspian.
Sebastian permaneceu em silêncio, ouvindo atentamente minha
resposta também.
Suspirei.
— É meio chato, para ser honesta. — Contei a Teresa e Caspian sobre
o cardeal Mercer: sobre as coisas que ele me obrigou a fazer para que eu
pudesse subir na hierarquia. Eu mantive os detalhes sobre mestiços fora
da minha história, no entanto. Eu ainda estava insegura de falar sobre
esse assunto com Sebastian por perto.
— Ele está balançando a promessa de uma audiência com a Deusa da
Lua na minha frente como uma isca em uma vara, — reclamei.
— Que idiota, — disse Teresa.
— Sim. E sou forçada a ouvir aquele idiota. Pelo menos até que eu
possa me encontrar com a Deusa da Lua.
— Você pode realmente confiar nesse tal de Mercer? — Caspian
perguntou. — Como você sabe que ele vai deixar você se encontrar com a
Deusa da Lua depois que você fizer o que ele quer?
Eu abri minha boca para responder, mas me vi sem palavras.
Merda. Caspian está certo.
— Para mim, parece que o cardeal está apenas usando você, Lyla. Ele
claramente odeia você. — Eu pisquei, as palavras de Caspian pareciam
verdadeiras.
Mas eu tinha que seguir suas ordens. Mesmo se eu o odiasse. Era a
única maneira de salvar a Alcateia Real.
Certo?
Eu olhei para Sebastian. Ele estava me observando atentamente. Ele
provavelmente percebeu como eu estava em dúvida.
— Eu confio em você, — foi tudo o que ele disse.
E isso era tudo que eu precisava ouvir.
Eu me levantei, cheia de determinação.
Eu estava seguindo um caminho que eventualmente me faria me
odiar. E se não fosse pelas pessoas que eu amava, que me lembravam
quem eu era... eu poderia ter continuado nesse caminho.
— Vou para a basílica, — disse eu.
— Acaba com ele, amiga! — Teresa me encorajou.
— Talvez não literalmente, — disse Caspian. — Tirar você da prisão
vai ser muito chato.
Eu sorri, inclinando-me para dar um beijo rápido em Sebastian. Seu
sorriso derreteu meu coração.
— Vai nessa, bebê.
— Há um grupo de mestiços pedindo esmola perto da praça do
mercado, — disse o cardeal Mercer.
Ele estava lendo outro livro empoeirado em sua mesa, nem mesmo se
preocupando em olhar para mim.
— Eu quero que você vá cuidar deles.
— É mendigar um crime? — Perguntei.
Ele parou de ler e olhou para mim.
— O quê?
'Eles estão machucando alguém? '
— Eles são monstruosos. — Mercer disse, seus olhos se estreitando. —
Não podemos ter esses vagabundos estragando o festival. Alfas e Betas de
todo o inundo estão chegando na Cidade Santa, e nós os forçamos a
olhar para isso? ~
— Já estou farta disso, — disse eu com firmeza.
— Siga minhas ordens, Lyla, ou me certificarei de que você nunca
tenha sua audiência com a Deusa.
— Sejamos honestos. Você nunca planejou conseguir a audiência com
ela, de qualquer maneira, não é? — Eu cuspi. — Eu já entendi o seu jogo,
Mercer. Vou cair nas graças dela do meu jeito.
Virei nos calcanhares e saí, sentindo um enorme peso sair dos meus
ombros.
Mercer se levantou, batendo o punho na mesa.
Ao sair pela porta, parei no meio do caminho para olhar para ele.
— Se você virar as costas para mim agora, garota, você vai se
arrepender. — Seus olhos queimaram de fúria.
— Acho que vou conseguir lidar com isso. — Saí da sala, deixando-o
para trás.
Eu sorri, finalmente livre da manipulação de Mercer.
Eu só podia esperar ter tomado a decisão certa.
9
POSTO EM MOVIMENTO
Lyla

Eu vaguei pelos corredores da basílica, perdida em meus


pensamentos.
Parar de dar ouvidos a Mercer foi uma ótima decisão, mas eu ainda
precisava conseguir uma audiência com a Deusa da Lua.
E agora que eu estava na lista negra do Cardeal da Cidade Santa,
parecia que estava mais longe desse objetivo do que nunca.
Olhei para as grandes portas duplas enfeitadas com ouro que levam
aos aposentos da Deusa da Lua. Ambos os lados estavam flanqueados por
seus guardas pessoais.
E se eu simplesmente fosse lá e batesse?
Ei Deusa da Lua, tem um minuto?
Eu ri de mim mesma.
É mais provável que eu seja apresentada ao interior de uma cela do
que a ela.
Ainda assim... nesse ritmo, parecia que eu teria que me esgueirar para
entrar.
Eu gemi. imaginando-me invadindo e entrando em seus aposentos
pessoais com roupas escuras e uma máscara de esqui.
Eu bufei com a imagem.
OK. Talvez eu estivesse com alguns problemas.
Eu estava na Cidade Santa há semanas e ainda estava tão impotente
como quando Cheguei aqui. Eu era uma marionete. E todas as cordas
levavam de volta aos dedos ossudos de Mercer.
Continuei pelo corredor e vi Adele limpando um dos vitrais. Um
suspiro de alívio me escapou.
Pelo menos havia uma coisa que eu poderia consertar.
Adele

Eu rolei meus ombros para trás, tentando aliviar a torção no meu


pescoço.
Ficar o dia todo olhando para cima para limpar essas janelas estava
causando um estrago.
— Eles nem mesmo dão a você uma escada para subir?
Eu me virei para encontrar Lyla parada atrás de mim, com as mãos
nos quadris.
Meu coração parou.
É isso.
Eu temia esse momento desde a nossa discussão na praça principal.
Depois que Lyla me deixou, eu corri direto para casa, à beira das
lágrimas.
Eu havia respondido a uma Guardiã da Lua. Eu a insultei. Eu a deixei
com raiva. Eu não sei o que deu em mim. Eu nunca me defendi assim
antes. Eu nunca tinha defendido... nada antes.
E por um bom motivo.
Mestiços insolentes só tinham um destino na Cidade Santa.
Eu já podia sentir o cheiro dos abismos vis das masmorras. Eu podia
imaginar a escuridão, o guincho dos ratos enquanto corriam, seus olhos
redondos brilhando no escuro, esperando você adormecer...
— Adele, eu estou... — ela começou. Ela hesitou por um segundo.
... levando você para as masmorras.
. —.. arrependida.
Meu queixo caiu de surpresa.
— O quê? — Eu perguntei, pasma.
— Você realmente vai me fazer falar tudo, não é? — Disse Lyla. —
Tudo bem. Eu mereço. Sinto muito, Adele. Você estava certa. Eu mudei, e
para pior.
Eu estava sem palavras. Lyla se mexeu desconfortavelmente na minha
frente, esperando minha resposta.
Demorei um minuto para encontrar minha voz.
— Você quer dizer... você não vai me levar para as masmorras? —
Perguntei.
— Huh? Claro que não. Por que você acha isso?
— Pelo o que eu disse a você na praça. Se um mestiço responde a um
Guardião da Lua, eles são levados embora.
— Eles levam vocês embora por responderem? — Ela fervia de raiva. —
Eu não posso acreditar nisso.
O rosto de Lyla escureceu de raiva antes dela olhar para mim, os olhos
cheios de determinação. — O que você fez não foi errado, Adele. O que
você disse é verdade. E isso me acordou. Caso você queira saber, não
ouvirei mais Mercer.
— Mas eu pensei que você tinha que subir na hierarquia para ajudar
sua alcateia onde você mora?
Lyla me contou sobre sua situação antes de nos distanciarmos. Mas
foi tão triste vê-la perder a compaixão que a tornava tão gentil...
— Ele estava apenas me usando para fazer seu trabalho sujo de
qualquer maneira. Duvido que ele fosse realmente me conceder uma
audiência com a Deusa da Lua. Não valeu a pena o que eu fiz com
aqueles mestiços.
Lyla soltou um suspiro pesado. — Embora seja verdade, estou meio
sem ideias de como vou me encontrar com ela agora. Por acaso você não
conhece nenhuma passagem secreta na basílica, conhece? Eu posso ter
que entrar sorrateiramente.
Meus olhos se arregalaram.
— Eles vão te matar se você tentar isso.
— Se eles me pegarem, — ela rebateu.
Eu balancei minha cabeça furiosamente. Lyla estava louca.
— Se você pudesse competir nos concursos...
Lyla inclinou a cabeça. — Concursos?
— Eles são tipo competições. São três, e quem ganhar mais é coroado
o campeão do Festival das Trevas da Lua. O campeão pode pedir um
favor à Deusa da Lua.
Lyla de repente agarrou meus ombros e olhou profundamente nos
meus olhos.
É
— Adele! É isso! — Ela me sacudiu com tanta força que pensei que
meu cérebro fosse cair. — Você é uma gênia! Por que você não me contou
sobre isso antes?
— Bem. Alfas não têm permissão para participar, — eu disse. — Você
também não é a Alfa da alcateia de seu pai?
— Ah. Não, não acho que isso seja um problema. A igreja desprezava
meu pai porque ele abandonou a Guarda da Lua. Eles nem mesmo
reconhecem a Alcateia Estrela da Noite.
Ela sorriu abertamente e me deu um abraço.
Eu congelei em seus braços.
É sério que uma Guardiã da Lua está me abraçando nesse momento?
Mas eu relaxei lentamente, levantando meus braços para dar um
tapinha desajeitado nas costas dela. Lyla era diferente. Eu tinha certeza
disso agora.
— Você me salvou, Adele. Obrigada!
Lyla se virou para sair.
— Espere! — Eu agarrei a mão dela.
Ela olhou para mim, uma pergunta em seus olhos.
Eu respirei fundo.
Estar perto de Lyla era assustador. Ela tinha todas essas ideias
malucas. Ela queria tanto salvar sua alcateia que faria qualquer coisa para
tentar fazer isso acontecer.
Bem, quase tudo. Ela não estava mais disposta a ir contra seu código
moral.
Ela era tão corajosa e forte.
E se eu ficasse perto dela por tempo suficiente, então talvez...
— Adele? — ela perguntou.
Eu tinha me decidido.
— Deixe-me ajudá-la, — eu disse.
Caspian

— Deixa eu ver. deixa eu ver!


Teresa arrancou o telefone das minhas mãos, passando pelas fotos que
eu tirei dela. Nas últimas horas, eu segui minha Alfa enquanto ela
brincava de turista na Cidade Santa.
— Oh, essa aqui está ótima, — disse ela. Seus dedos estavam
frenéticos na tela do celular, ajustando os vários filtros de fotos. — Reed
vai adorar.
Tomei um gole do meu macchiato, completamente entediado.
— Sabe, você deveria se tornar um fotógrafo, — ponderou Teresa, sem
tirar os olhos do telefone. — Você já é melhor em tirar fotos do que ser
um Beta. — '
— Ha, ha, — eu disse monotonamente. — Por que não coloca mais
filtros na sua foto? Talvez as maravilhas da tecnologia possam salvar essa
sua cara estúpida.
Ela me encarou e fui obrigado a retribuir o favor.
Sempre foi assim.
Eu a seguia, limpando suas bagunças enquanto ela flertava com Reed.
Ok, isso é um pouco injusto, admiti para mim mesmo.
Teresa era uma boa Alfa. Ela era cuidadosa e atenciosa, sempre
fazendo o melhor para a Alcateia Lua Azul.
Mas eu me sentia tão...
Incompleto.
Ser o Beta era ótimo, mas eu não conseguia ver isso consumindo
minha vida inteira.
Eu me imaginei daqui a trinta anos, minhas funções Beta reduzidas a
ser babá dos filhos de Teresa e Reed.
Ugh.
Isso era realmente tudo o que eu queria?
— Teresa! Caspian!
A voz de Lyla me tirou de minhas lamentações. Ela estava acenando
para nós enquanto se aproximava do café em que estávamos sentados.
— Eu descobri, — disse ela, sem fôlego.
— Descobriu o quê? — Perguntei.
— Como vou cair nas graças da Deusa da Lua.
— Fala! — Teresa exigiu.
Lyla rapidamente nos contou sobre as competições realizadas no
Festival das Trevas da Lua e como o vencedor poderia pedir um favor à
Deusa da Lua.
Teresa se virou para mim, seus olhos brilhando. — Por que você não
tenta? — ela disse. — Prove que você é um homem! Traga glória para a
Alcateia Lua Azul!
Revirei meus olhos para ela. Mas a ideia era atraente. E eu não estava
fazendo mais nada...
— Sim, porque não? Eu também vou participar.
Ouvi dizer que a Deusa da Lua é uma gata.
— Nos seus sonhos. — Teresa bufou.
— Ei, nunca se sabe, — eu disse.
Lyla estava sorrindo loucamente para mim e por um segundo me
lembrei de nossa antiga relação. Antes de irmos para a Alcateia Real.
Antes de ela conhecer Sebastian.
Mas esses tempos já se foram.
— Vamos arrasar nessas competições, — disse ela.
Eu sorri.
— Tente acompanhar.
Lyla

Entrei no quartel da Guarda da Lua, encerrado o dia. Eu mal podia


esperar para tirar minha armadura e visitar Sebastian.
Mas esperando por mim lá dentro estava ninguém menos que o
Cardeal Mercer.
— Então, você está planejando entrar nas competições, — ele
zombou.
Meus olhos se estreitaram.
Como ele soube?
— Desista, garota. Não há como você ser capaz de vencer.
— Então, acho que isso significa que não terei sua bênção? — Eu
perguntei, minha voz cheia de sarcasmo.
— Não. — Mercer respondeu, apontando um de seus dedos ossudos
para algo atrás de mim. — Mas ele tem.
Eu me virei para ver o maior e mais intimidante Guardião da Lua que
eu já vi. Ele tinha bem mais de um metro e oitenta, seu cabelo loiro
cortado curto. Seus músculos praticamente saltavam da armadura.
— Conheça Achilles, — disse Mercer com orgulho, como se estivesse
exibindo um cão de caça. — Ele vai te destruir.
10
DEBAIXO DO VÉU
Sebastian

— Olhe para todas essas pessoas, — disse Teresa com admiração.


— Se alguém pode atrair uma multidão deste tamanho, é uma Deusa,
literalmente, — disse Caspian, abrindo caminho pela multidão à nossa
frente enquanto procurávamos por um ponto de vista melhor.
Série Desativar o mudo
A praça principal estava apinhada de gente. Quase não havia espaço
para ficar de pé. Fui espremido por todos os lados enquanto nós três
atravessávamos a massa de corpos, tentando chegar mais perto da grande
varanda onde a Deusa da Lua apareceria.
Era um lindo dia na Cidade Santa, ainda mais ainda pelas decorações
que marcavam o início oficial do Festival das Trevas da Lua. A praça
inteira estava coberta de preto, dourado e carmesim; o sol brilhando no
céu azul claro acima.
Olhei em volta para os devotados cidadãos reunidos na praça, todos
esperando ansiosamente o aparecimento da Deusa da Lua.
Devia haver milhares de pessoas aqui.
Por fim, abrimos caminho no meio da multidão até chegarmos em
uma grande fonte de pedra que era a peça central da praça principal. A
névoa fria da água ajudava a compensar o calor escaldante do sol.
— Você consegue identificar Lyla naquela enorme fila de Guardiões da
Lua? — Ela perguntou enquanto me entregava uma garrafa de água.
Apertei os olhos, tentando distinguir os rostos na fila distante de
guardas. Havia pelo menos uma centena deles, alinhados na base da
grande varanda.
Eles não apenas garantiam a segurança da Deusa, mas eram um
poderoso lembrete da força de elite da igreja.
Eles eram um espetáculo para ser visto, vestidos com sua armadura
decorativa completa — espadas embainhadas em seus lados.
— Eles provavelmente estão cozinhando dentro de suas armaduras, —
eu disse.
Caspian enxugou o suor da testa.
— Sim. Quem se importa com a aparência se você desmaiar de
insolação.
— Vocês se lembram de quando exatamente a Deusa da Lua deve
fazer uma aparição? — Perguntou Teresa. — Esqueci de colocar protetor
solar e com certeza vou me queimar.
— É uma pena — disse Caspian.
Teresa olhou para ele.
— Ela já deve aparecer, — eu disse.
Bem na hora, o toque de trombetas soou pelo ar imediatamente
seguido pelo rugido da multidão.
Os aplausos foram ensurdecedores.
Eu não pude evitar, fui arrebatado pelo glamour e esplendor, pela
expectativa contagiante das pessoas ao meu redor.
Todos os olhos se ergueram, esperando pelo primeiro vislumbre da
Deusa da Lua.
E de repente lá estava ela.
Ela caminhou até a beira da varanda, seus movimentos tão suaves que
era como se ela nunca tocasse o chão.
Olhar para ela era como ver um sonho ganhar vida. Seu cabelo negro e
pele de porcelana eram perfeitos, o prata de seus olhos perceptível
mesmo a esta distância.
As pessoas ao meu redor aplaudiram. Alguns choraram. Outros
olharam boquiabertos, congelados de admiração.
Esta mulher comandava muito poder apenas com sua presença. Eu
podia sentir sua atração, com a mesma certeza que as marés obedeciam à
lua.
Ela ergueu a mão e imediatamente a multidão de milhares caiu em
um silêncio expectante.
— Meus filhos, — ela chamou. Sua voz era suave, mas tinha tanta
força que flutuou sem esforço por toda a praça. — Todos vocês se
reuniram aqui hoje na Cidade Santa para o festival. Para a folia e alegria
deste evento sagrado.
Seu olhar varreu a multidão. Embora eu soubesse que era impossível,
parecia que ela olhou diretamente nos meus olhos.
— No entanto, o festival Trevas da Lua nem sempre foi um momento
de alegria. Era um momento de sacrifício. Por devoção e fé. E nunca
devemos esquecer isso.
— Devemos relembrar os tempos anteriores à formação da Cidade
Santa. Quando nossa espécie estava quase extinta. Aproveitem este
festival, meus filhos. Meus preciosos devotos. Deleitem-se com o
conhecimento dos sacrifícios que tornaram tudo isso possível.
Com um aceno final, a Deusa da Lua deixou a varanda.
O transe que ela colocara na multidão se dissipou e mais uma vez a
praça vibrou com aplausos.
Flâmulas flutuavam no ar. O estalo de faíscas e fogos de artifício podia
ser ouvido.
O povo da Cidade Santa estava encantado.
Como uma mulher pode ter todo esse poder?
Refleti sobre minha própria liderança sobre a Alcateia Real e descobri
que estava deixando a desejar.
Então, isso é o que significa ser um líder
Lyla

O suor gotejou em meus olhos e tive que piscar furiosamente para


aliviar a ardência.
Eu não queria nada mais do que limpá-lo, mas, como a tradição exigia,
os Guardiões da Lua não tinham permissão para se mover até que a
Deusa da Lua saísse da torre.
Mercer tinha me dispensado de minha posição como capitã, então eu
estava presa aqui ao sol, em vez de escoltar a Deusa da Lua de volta à
basílica. Honestamente, estava aliviada por não ter mais essa
responsabilidade.
Comandar meu próprio esquadrão de Guardiões da Lua me custou
muito mais do que eu imaginava. Nas últimas semanas, fui diretamente
responsável por tantas prisões e invasões...
Eu encarei o mar de pessoas diante de mim.
Tentei procurar por Sebastian e os outros, mas não havia como
identificá-los no meio da multidão.
Todos estavam comemorando após o discurso da Deusa da Lua. As
risadas e gritos eram quase ensurdecedores.
Mas nada disso foi o que me chamou a atenção.
A folia e o decoro não podiam mais esconder a verdade feia que estava
me encarando todo esse tempo.
Nem todo mundo estava aproveitando as festividades.
Mestiços oprimidos andavam pelos becos, caminhando pelas sombras
como se tivessem medo de serem vistos.
Alguns estavam sentados perto da entrada dos becos, implorando por
comida ou dinheiro.
Outros caminhavam sob o sol escaldante carregando enormes caixas
de comida ou bebida para qualquer um, exceto para eles próprios.
Enquanto a Cidade Santa celebrava, os mestiços sofriam.
Eu podia ver isso tão claro quanto o dia.
Mas o que diabos eu poderia fazer sobre isso?
— Meia volta! — a ordem soou, tirando-me dos meus pensamentos.
Como um só, todos os Guardiões da Lua giraram nos calcanhares e
começaram a marchar em direção à basílica.
Suspirei de alívio.
Eu precisava me concentrar na preparação para as competições.
A primeira era uma corrida de lobos pela Cidade Santa.
Por mais que eu odiasse a maneira como os mestiços eram tratados,
eu tinha que agir de acordo com minhas prioridades. A corrida era algo
que eu poderia vencer. Algo em que eu pudesse trabalhar ativamente.
O que eu deveria fazer contra o preconceito da sociedade?
Eu era apenas uma pessoa.
O problema era grande demais para eu resolver sozinha.
Passamos por uma família de mestiços e eles se encolheram de medo
em um beco ao nos vermos.
Eu queria estender minha mão a eles, mas não consegui.
Eu endureci meu coração.
Concentre-se, Lyla. A Alcateia Real depende de você.

— Vou admitir uma coisa, — Caspian disse. — A Cidade Santa


definitivamente não poupa despesas quando se trata de vocês, Guardiões
da Lua, não é?
Caspian e eu entramos em uma das instalações atléticas construídas
para os Guardiões da Lua. Eu consegui convencer o porteiro a me deixar
levar Caspian junto também.
O espaço parecia um estádio olímpico. Era um enorme espaço ao ar
livre com várias atividades e equipamentos de treinamento espalhados
por toda parte. Havia quadras de basquete, campos de futebol,
equipamentos de atletismo... havia até uma piscina de mergulho.
Mas estávamos interessados na pista que contornava a coisa toda.
— O primeiro evento não é apenas uma corrida simples em uma pista
como esta, — comecei, — mas pelo menos podemos trabalhar nossa
velocidade e resistência aqui em paz.
— Uma corrida pela Cidade Santa, hein? Eles pelo menos marcam um
caminho para nós? — Caspian perguntou.
— Não. Será uma bagunça. Só temos que voltar para onde
começamos. Contanto que não usemos nenhum veículo ou algo
parecido.
Caspian saltou para cima e para baixo na ponta dos pés, aquecendo.
— Ok, vamos dar algumas voltas.
Nós nos despimos e mudamos para nossas formas de lobo.
Caspian e eu nos alinhamos no início, nos preparando para a corrida.
Nunca fui o maior lobo da alcateia. mas sempre confiei muito na
minha velocidade.
Uma corrida era minha especialidade.
Passamos pela linha de partida como flechas lançadas de um arco.
Meus músculos flexionaram e relaxaram debaixo de mim, a força do meu
lobo me acelerando mais rápido do que qualquer humano poderia correr.
Caspian também não era desleixado.
Ele foi capaz de me acompanhar, apesar de seu corpo ser maior e mais
volumoso.
Corremos ao redor da pista, quase empatados.
Um lampejo de ouro passou correndo por nós, deixando-nos para trás
na poeira.
O que diabos foi isso?
O lobo dourado era um borrão enquanto corria ao redor do resto da
pista, parando calmamente na linha de chegada.
Depois de alguns momentos, Caspian e eu chegamos.
O enorme lobo de pelo dourado mudou de volta para sua forma
humana, e ali parado diante de nós estava Achilles.
Cachorro de estimação de Mercer
Ele nos olhou de cima a baixo uma vez, zombando com desdém. O
cara nem parecia que tinha suado.
Achilles parecia ter sido cortado de mármore. Seus músculos tensos
sob sua pele, e...
Puta merda, aquilo era um tronco pendurado entre suas pernas?
— Se é isso que vocês chamam de correr rápido, é melhor desistir
agora. Isso foi patético.
Ele se virou e pegou suas roupas, saindo do complexo esportivo.
Caspian e eu voltamos às nossas formas humanas, encharcados de
suor.
— Idiota de merda. — Caspian murmurou.
Peguei minhas roupas, olhando para Achilles.
— Ainda assim, ele tinha razão. Ele era rápido. — Achilles tinha nos
vencido na corrida e nós começamos com uma grande vantagem.
Meus músculos ficaram tensos, mas não era apenas de dor...
Como diabos eu vou vencê-lo?
11
FAÍSCAS
Adele

Eu gemi enquanto pegava o haltere de 25 kg, tentando colocá-lo de


volta na prateleira.
Eu balancei meus braços doloridos.
Agora para o outro.
É muito impressionante que você possa levantá-los tão facilmente, mas se
você pudesse colocá-los de volta no suporte depois...
Limpar as instalações de atletismo era uma das tarefas mais difíceis
dadas aos criados da basílica. Isso sempre me deixava dolorida e exausta,
e Madame Donatella, minha guardiã, sempre se certificava de que isso
fosse minha primeira atividade do dia.
Meu coração acelerou ao pensar nela. De seus olhos cruéis e o chicote
enrolado em sua cintura... Eu balancei minha cabeça, focando
novamente nos pesos espalhados diante de mim.
Só faltam mais alguns.
Depois de mais alguns momentos de esforço intenso, olhei em volta
para a área de levantamento de peso. Tudo estava de volta ao seu lugar,
limpo e arrumado.
Eu balancei a cabeça para mim mesma, satisfeito.
Agora eu preciso ir buscar alguns suprimentos na cidade...
No meu caminho para fora da instalação, vi Lyla. Ela estava deitada na
pista, encharcada de suor.
Parei perto do toalheiro no caminho, pegando algumas toalhas.
Ela estava respirando pesadamente, deitada nua na pista.
Uau, ela é linda.
Eu me agachei ao lado dela, oferecendo a ela uma toalha.
— Aqui, — eu disse.
Ela abriu um olho, sorrindo quando me viu. Ela pegou a toalha e se
enxugou.
— Obrigada, Adele.
— Como vai o treinamento? — Perguntei.
Ela franziu a testa, sentando-se.
— O treino foi bom, mas não acho que será o suficiente. — Ela
rastejou até sua trouxa de roupas e as vestiu. — Achilles vai ser um
problema.
— Você tem que competir contra Achilles? — Eu perguntei.
— Você o conhece?
Eu concordei. — Ele é o chefe da guarda pessoal da Deusa da Lua.
— Oh. Bem. isso não é ótimo, — Lyla gemeu.
— O que é ótimo? — uma voz atrás de mim perguntou.
Eu me virei para ver quem falava... e continuei virando, meu rosto
vermelho como um tomate.
Havia um homem nu atrás de mim.
Lyla percebeu meu constrangimento.
— Cubra-se, Caspian.
— Está bem, está bem. — Eu ouvi o farfalhar de roupas por um
momento, meu coração batendo forte no meu peito. — Você pode se
virar agora, — disse ele.
Eu me virei e, quando vi que ele estava vestido, dei um suspiro de
alívio. Não que ele não fosse bonito. Tive um vislumbre de seus músculos
bem definidos, seu abdômen, abaixo de sua cintura...
Afastei meus pensamentos para longe, meu rosto queimando.
— Eu sou Caspian. — disse ele.
— Adele, — eu engasguei.
Ele tinha cabelo castanho claro que tinha aquela aparência de recém-
saído-da-cama-mas-ainda-bonito. A maneira como seus olhos brilhantes e
âmbar olharam para mim fez meu coração disparar.
Controle-se, Adele!
— Hum. você gostaria de uma toalha? — Eu perguntei, entregando
uma para ele.
— Obrigado. — Seus dedos roçaram os meus e uma onda de
eletricidade percorreu meu corpo. Ele sorriu para mim e eu não consegui
desviar o olhar...
Lyla pigarreou ao meu lado e a mágica foi quebrada. Ela estava
olhando entre nós dois, um sorriso no rosto.
— Estávamos conversando sobre a corrida, — disse Lyla.
— Huh? — Caspian desviou o olhar de mim. — Ah. certo. A corrida.
— Aparentemente, nosso amigo Achilles é o chefe da guarda pessoal
da Deusa da Lua.
— É sério? — Caspian gemeu. — Não é tipo conflito de interesses ou
algo assim?
Lyla encolheu os ombros. — Não muda o fato de que ele vai nos
destruir se não pensarmos em algo.
— Bem, a menos que a Guarda da Lua tenha te ensinado como criar
asas, acho que estamos ferrados, — Caspian disse.
— Acho que posso ajudar, — disse eu.
— Você pode dar asas a Lyla? — Caspian me perguntou.
— Huh? Uh, não. isso não é
Caspian deu uma risadinha e percebi tarde demais que ele estava
brincando.
— Ignore-o — disse Lyla, revirando os olhos.
Eu gostaria de poder.
Eu olhei para ele. Ele sorriu para mim novamente e eu desviei o olhar
rapidamente.
Opa, ele me pegou!
— Ajudar como? — Lyla continuou.
— Bem. nas corridas tudo que você precisa fazer é ir de um ponto a
outro. Estou muito familiarizada com todas as ruas e atalhos, já que
corro pela cidade fazendo tarefas o tempo todo.
— Aha! Portanto, mesmo que Achilles seja mais rápido, podemos ter
uma chance se fizermos um caminho mais rápido até lá! — Caspian
exclamou.
Eu balancei a cabeça, sentindo o orgulho crescer em meu peito.
Eu poderia realmente ajudar
— Por que você não mostra a cidade a Caspian, Adele? — Disse Lyla.
— Vou dar mais algumas voltas.
Meu coração pulou uma batida.
— Huh? — Entrei em pânico.
Ela me deu uma piscada sutil.
Eu estava sendo tão óbvia assim?
— Você não se importa, certo, Caspian? — Lyla perguntou a ele.
— Nem um pouco, — disse ele. — A menos que você tivesse outra
coisa para fazer? — Ele olhou para mim com expectativa, como se
esperasse uma resposta negativa.
— Hum, eu tenho algumas tarefas para fazer...
— Oh, então você está ocupada.
O rosto de Caspian caiu.
Vamos Adele! Vá em frente!
— Mas! — Eu disse rapidamente. — Eu tenho que ir em certas partes
da cidade por eles de qualquer maneira. Pode ser um pouco chato, mas se
você não se importa...
— Ótimo! — Caspian disse. Todo o seu rosto se iluminou e eu tive que
rir. Ele parecia tão feliz que era impossível não ficar encantada. — Vamos
lá? — Eu balancei a cabeça, meu coração galopando no meu peito. Eu
virei minha cabeça e espiei Lyla quando saímos; ela me deu um sinal de
positivo.
No que eu me meti?
Lyla

Eu deixei a água quente do chuveiro correr sobre mim. Essa era minha
parte favorita do treino. Deixar toda aquela tensão e rigidez
desaparecerem; deixar meus músculos relaxarem.
Eu sabia que não seria capaz de melhorar imediatamente após um
único treino, mas eu ainda tinha alguns dias até a corrida. Mesmo que
fosse um pouco, eu poderia aumentar minha resistência. E eu tinha a
sensação de que cada detalhe faria diferença se eu tivesse alguma
esperança de derrotar Achilles.
Esperançosamente, o conhecimento de Adele sobre as estradas
secundárias da Cidade Santa pode me dar a vantagem de que eu
precisava.
A cortina do chuveiro atrás de mim se abriu.
Meu corpo se moveu por instinto, e eu girei pronta para dar um soco
em quem quer que fosse burro o suficiente para atacar uma Guardiã da
Lua no chuveiro.
Sebastian pegou meu punho com a mão, sorrindo diabolicamente
para mim.
— Sebastian! — Eu sussurrei. — O que diabos você está fazendo?
Ele entrou no chuveiro, fechando a cortina atrás de si. Ele me
empurrou contra a parede, me levantando para que minhas pernas
estivessem em volta de sua cintura. Borboletas esvoaçavam no meu
estômago — Pensei em ajudar você a se lavar, — ele murmurou em meu
pescoço. Eu engasguei quando ele mordeu meu ombro, meu corpo
queimando de luxúria.
— Idiota! Alguém vai...
Ele pressionou seus lábios nos meus, toda a minha resistência
derretendo. Eu me perdi na sensação de seu corpo rígido pressionado
contra o meu. a água quente correndo sobre nós.
Ele era tão forte, prendendo-me sem esforço contra a parede.
Senti sua masculinidade roçar em meu sexo e estremeci de
antecipação.
Ele roçou seu pau contra meu clitóris em movimentos lentos e
medidos.
Oh, por favor...
Finalmente, ele me deu o que eu queria.
Ele meteu dentro de mim. Eu fechei minha boca com as mãos para
abafar meu grito. Se fizéssemos muito barulho, alguém definitivamente
nos descobriria.
Mas, por algum motivo, o risco de descoberta tornava isso muito mais
emocionante. O fato de Sebastian não conseguir esperar eu voltar para
casa... que ele me queria tanto que não se importava se alguém nos
encontrasse...
Esse pensamento colocou minha alma em chamas.
Ele meteu em mim uma e outra vez, cada impulso fazendo com que
fosse mais difícil conter meus gritos. Ele pressionou sua testa na minha,
nossos olhos travados em um olhar feroz.
Você é minha, seu olhar me disse. E vou te foder até ficar satisfeito.
— Sebastian. — Eu engasguei, um orgasmo intenso crescendo dentro
de mim. — Eu vou gozar.
— Goze para mim, — ele comandou em um grunhido feroz.
Isso foi o suficiente para me levar ao paraíso.
Meus dedos agarraram em suas costas e meus dentes cravaram em seu
ombro enquanto eu gritava, minha boceta convulsionando em torno de
seu pau.
Ondas de prazer dispararam por todo o meu corpo enquanto eu
encontrava a doce liberação.
Ele grunhiu quando gozou dentro de mim, sua semente quente
enchendo minhas profundezas.
Por um momento, ele apenas me segurou contra a parede enquanto
eu sentia seu gozo pingar de mim.
— Não me coloque no chão, — eu disse entre meus suspiros. —
Minhas pernas parecem gelatina agora.
Ele riu, seu abraço apertando em torno de mim.
— Você pode pensar nisso como mais um treino, — disse ele.
Eu balancei minha cabeça fracamente, me aninhando em seu pescoço.
— De jeito nenhum. Se continuarmos assim, ficarei em coma e
perderei totalmente a corrida.
Eu o senti sorrir maliciosamente contra minha pele.
— Não me dê nenhuma ideia.
Olhando de um lado para o outro para ter certeza de que o caminho
estava livre, Sebastian e eu saímos correndo das instalações de atletismo
de mãos dadas.
— O que você quer jantar? — ele perguntou-me.
— Hm, bem, estamos na França. Quer experimentar um caracol?
Seu rosto se enrugou com nojo.
— Não é tão ruim. — Eu ri. — Meio salgado.
— Deixa para a próxima, — ele disse.
Eu estava procurando um restaurante na área quando vi duas pessoas
caminhando até um beco escuro perto do centro de treinamento. Eu
pensei ter visto um vislumbre de vestes vermelhas e um chapéu alto e
pontudo.
Aquele era Mercer?
— Eu te encontro no hotel, ok? Eu só preciso verificar uma coisa.
Sebastian acenou com a cabeça, distraído tentando encontrar uma
alternativa para o jantar de caracol. Eu vaguei em direção à entrada de
serviço da instalação, meus passos silenciosos contra o paralelepípedo.
Aproximei-me mais até poder ouvir suas vozes.
. —.. tudo está nos conformes na corrida. Eles são muito lentos. — Eu
conhecia aquela voz. Era Achilles.
— Está tudo muito bem, mas preparei uma garantia. — Ele era
Mercer!
O que diabos ele quis dizer com garantia?
— Você acha que eu preciso de ajuda? — Achilles pareceu ofendido.
— Não. Mas não gosto de arriscar. Não se preocupe com os detalhes.
Apenas se preocupe com a vitória.
Achilles zombou indignado. — É óbvio.
Eu escapei, não querendo abusar de minha sorte. Meu coração batia
forte no meu peito, pensando nas implicações de sua conversa.
Mercer iria sabotar a corrida?
12
EM SUAS MARCAS
Sebastian

— Ali estão eles! — Teresa me cutucou enquanto o rugido da


multidão aumentava. Os corredores estavam se alinhando na linha de
partida.
Teresa e eu, junto com os outros Alfas, estávamos sentados em uma
área isolada que ficava bem acima do resto da multidão. A Cidade Santa
se dignou a reservar lugares que nos dessem a melhor vista do início da
corrida.
Havia vinte corredores espaçados ao longo da linha de partida na
praça principal.
Vi Lyla ao longo da linha, saltando levemente em seus pés. Ela parecia
calma e confiante.
O orgulho cresceu em meu peito.
Acabe com eles, baby.
— Me lembre: como essa corrida funciona mesmo? — Perguntou
Teresa.
— Caspian não te contou?
— Não. Ele não calava a boca sobre uma garota que ele conheceu
outro dia.
Então Caspian conheceu uma mulher? Interessante.
— Basicamente, os corredores recebem uma série de postos de
controle que devem ser alcançados em toda a cidade. Depois de passar
por eles e coletar as bandeirolas em cada posto de controle, eles voltam
aqui para o início.
— Existe uma ordem específica?
— Não, os próprios corredores decidem isso.
— Oh, então é preciso uma estratégia para a corrida, — ponderou
Teresa. — Caspian vai perder então. Aquele idiota vai simplesmente
correr sem rumo o mais rápido que puder.
Eu ri. — Vocês dois realmente não se dão bem, não é?
— Não é bem isso. Caspian é realmente um ótimo Beta. — Ela sorriu,
olhando para onde Caspian estava se alongando. — Eu apenas gosto de
incomodar ele. Mas não se atreva a dizer a ele que eu disse isso.
— Os meus lábios estão selados.
— Você acha que qualquer um deles pode vencer? — Perguntou
Teresa. — Eu sei que Lyla é rápida, mas ela está enfrentando uma
competição acirrada.
— Achilles vai vencer! — Uma voz barulhenta atrás de nós se
intrometeu.
Um pico de aborrecimento passou por mim.
— Alfa Cornelius. — Eu virei. — Eu não vi você aí.
Ele era o Alfa de uma alcateia do sul da França. Eu não conhecia o
homem muito bem, mas ele tinha a reputação de ser autoritário e
desagradável.
— Qualquer pessoa com cérebro pode ver que Achilles vencerá. Tenho
uma fortuna em jogo. — Eu olhei para a linha de partida, para Achilles,
medindo-o. Ele era enorme, e eu poderia dizer apenas olhando para ele
que ele era um guerreiro. Temível.
— Espero que você não tenha apostado suas economias, Cornelius. —
Eu sorri. — Porque você está prestes a perder todo esse dinheiro.
Cornelius zombou. — Impossível.
Meu olhar voltou para Lyla.
— Você nunca deve apostar contra a minha Luna.
Lyla

Fechei meus olhos, respirando profundamente.


Inspire pelo nariz, expire pela boca.
Eu não estava nervosa. Eu estava confiante na minha velocidade e no
meu julgamento. Mas era definitivamente difícil me concentrar.
A multidão ao meu redor era ensurdecedora.
Vozes clamavam por atenção, vendendo bebidas, mercadorias e
comida. Alguns torciam por seu corredor favorito, outros atrapalhavam a
oposição. Serpentinas e confetes flutuavam com o vento, brilhando ao
sol.
Todas essas coisas eram uma distração.
Tinha que recolher três bandeirolas em três postos de controle.
Preto.
Ouro.
Carmesim.
As cores das Trevas da Lua.
Muito poético.
Graças a Adele. decidi recolhê-las nessa ordem.
Ela me mostrou as várias estradas secundárias que ela utilizava em
suas tarefas diárias que tornavam as rotas mais curtas e eficientes.
Eu memorizei cada estrada, cada beco, cada canto e fenda que poderia
ser útil.
— Está pronta? — Caspian perguntou ao meu lado.
Eu pisquei para ele. — Apenas se preocupe com você mesmo, — eu
provoquei.
— Oh ho, vamos ver se você consegue sustentar suas palavras.
Eu consigo.
E eu faria.
Eu estava pronta.
— Corredores! — O Mestre dos Eventos chamou. Ele estava vestido
como um bobo da corte medieval, uma máscara escondendo seu rosto. —
Preparar! — Tirei minhas roupas rapidamente, mudando para minha
forma de lobo. Imediatamente, o mundo ao meu redor ficou mais nítido,
meus sentidos se expandindo e se aprofundando.
Eu estremeci. O rugido da multidão era fisicamente doloroso agora,
graças aos meus sentidos aguçados de lobo. Eu olhei para o resto dos
competidores e vi o enorme lobo dourado que era Achilles me dando um
sorriso com dentes afiados.
Eu desviei o olhar, bloqueando-o de meus pensamentos.
Foco.
— Apontar!
Eu fiquei tensa, meus músculos rígidos e preparados.
BANG!
A arma disparou, e o rugido da multidão fez o chão tremer.
Eu disparei como uma bala.
Mas Achilles era um míssil. Ele acelerou sem esforço, sua velocidade
esmagadora.
Eu balancei a cabeça para mim mesma, sem surpresa. Isso era
esperado.
Eu me afastei, estabelecendo uma rota em minha mente até a flâmula
preta. Era a mais distante desde o início, mas no final das contas seria
mais eficiente começar com aquela.
Eu esperava que a maioria dos corredores fosse seguir Achilles.
Carmesim era a flâmula mais próxima e a mais fácil de obter. Mas
muitos deles escolheram rotas diferentes, optando por me seguir. Havia
cinco corredores na minha cola.
Caspian, que estava correndo ao meu lado, me lançou um olhar. Eu
percebi que ele estava pensando a mesma coisa.
Isso é estranho.
Minha mente voltou para a conversa que ouvi entre Mercer e Achilles.
Sua — garantia.
O que diabos eles estavam planejando?
Eu avancei, mas os outros competidores mantiveram o ritmo. Não
importava o que eles fizessem, o fato era que eu tinha que vencer.
Espectadores alinharam-se nas ruas, aplaudindo enquanto
passávamos correndo. Avistei um dos becos que Adele nos mostrou e
corri por ele, me afastando da movimentada rua principal.
Caspian disparou à minha frente e eu forcei meus músculos ao limite
para alcançá-lo.
De repente, fui atingida por trás, o empurrão me tirando o equilíbrio.
Minhas patas tropeçaram no chão e eu girei descontroladamente,
batendo com força na parede.
Recuperei o equilíbrio, me encolhendo defensivamente, de costas para
a parede. Os cinco lobos me cercaram, seus grunhidos sacudindo o ar.
Mercer, sua cobra.
Eles me prenderam em um círculo improvisado, com os pelos
eriçados. Eles com certeza não iriam me deixar terminar esta corrida.
Caspian

Eu corri em frente, a adrenalina bombeando em minhas veias.


Já fazia um tempo desde a última vez em que me senti livre assim.
Competir era bom. Era libertador depois de aguentar todas aquelas
semanas de papelada e responsabilidades de Beta.
Um estrondo alto soou atrás de mim e olhei por cima do ombro.
Eu derrapei até parar, minhas garras faiscando contra o chão.
Cinco lobos cercaram Lyla, impedindo-a de continuar a corrida.
Esses filhos da puta sujos.
Corri até eles, sem pensar duas vezes. Lyla tinha muito mais a perder
nesta corrida do que eu.
Eu colidi com o primeiro lobo, o que nos levou a colidir com os outros
quatro. Nós rosnamos e atacamos uns aos outros com nossos músculos e
dentes. Chamei a atenção de Lyla, incentivando-a a continuar a corrida.
Ela hesitou por um segundo. Eu sabia que ela não queria me deixar lá.
Mas com um aceno rápido, ela disparou pelo beco.
Um dos lobos fugiu da briga, perseguindo-a.
Eu investi contra ele, fazendo-o capotar no chão. Eu me virei e rosnei
para os cinco lobos, desafiando-os a se aproximarem.
Eu estiquei meu corpo, bloqueando o máximo do beco que pude.
Os outros lobos se aproximaram de mim, baba escorrendo de suas
presas.
Venham me pegar, vadias.
Lyla

Eu corri pelo posto de controle preto, reivindicando a flâmula em


minhas mandíbulas. A multidão aplaudia enquanto eu corria. Meu
batimento cardíaco era ensurdecedor, abafando a multidão.
Ok. O próximo é o ouro.
Eu corri pelas ruas, pegando atalho após atalho. Os capangas de
Mercer me custaram um tempo precioso, e eu não tinha certeza se
conseguiria compensar, mesmo com minha rota mais curta. Eu pulei em
uma das estradas principais, o ponto de controle dourado à vista.
Enquanto corria em sua direção. Achilles entrou na estrada principal
pela qual eu estava correndo. Nós passamos um pelo outro, as flâmulas
vermelhas e douradas presas em seu sorriso de lobo. Nós nos olhamos
por um momento.
Muito lenta, ele parecia dizer.
Ele estava a caminho do ponto de controle preto.
Merda.
Corri para o ponto de verificação ouro, reivindicando a flâmula.
Carmesim ainda estava tão longe, e Achilles estava quase acabando.
Meus olhos percorreram a cidade ao meu redor enquanto tentava
pensar em uma rota que me levaria à flâmula carmesim e depois à linha
de chegada rápido o suficiente. Nada estava alinhado.
Eu tinha que pensar em algo ou estava ferrada.
Qual é a distância mais curta entre dois pontos?
Uma ideia me atingiu como um raio. Era estúpido.
Irresponsável. Perigoso.
Mas pode funcionar.
Sebastian

A multidão ao meu redor ganhou vida quando o primeiro corredor


com todas as três flâmulas veio correndo de longe.
Eu me levantei, esticando o pescoço.
Era Achilles. Eu fiz uma careta, olhando para trás dele. Havia um
grupo de lobos o seguindo, mas eles estavam tão longe — eles não
tinham chance de alcançá-lo.
Lyla, onde você está?
— O que eu te disse? — Cornelius disse presunçosamente atrás de
mim. Ele riu alto, um largo sorriso em seu presunçoso rosto francês. — Já
estou sentindo o cheiro do dinheiro. Sua Luna simplesmente não estava
à altura, Sebastian.
Eu o ignorei, a raiva queimando em meu peito. A corrida ainda não
havia acabado.
Alguém na multidão engasgou, apontando para o céu. A multidão
ergueu os olhos e um grito coletivo de choque e excitação explodiu no ar.
Eu segui seus olhares, um sorriso enorme aparecendo em meu rosto.
Eu rugi de excitação, Teresa gritando ao meu lado.
Era Lyla! E ela estava pulando de telhado em telhado, aproximando-se
rapidamente da linha de chegada, todas as três flâmulas presas em suas
mandíbulas.
Ela saltou de um dos telhados suspensos mais baixos. Eu estava
apreensivo junto com a multidão, prendendo a respiração quando ela
bateu no chão, rolando violentamente antes de se recuperar e continuar
a correr.
A multidão rugiu em aprovação.
Ela estava na liderança!
Mas Achilles estava rapidamente ganhando terreno com sua
velocidade ridícula.
Fiquei na ponta dos pés, meu coração batendo forte no peito.
Teresa apertou meu braço, saltando para cima e para baixo.
— Quem vai ganhar? — ela perguntou desesperadamente.
Eu só consegui balançar minha cabeça.
Vai ser por um triz.
13
PHOTO FINISH
Lyla

Fiquei de pé, meus músculos gritando em protesto.


Talvez pular de um telhado não tenha sido a melhor ideia.
Eu acelerei, a adrenalina diminuindo a dor nas minhas pernas. A linha
de chegada estava bem ali.
Ouvi um rosnado furioso atrás de mim e sabia que Achilles logo
estaria na minha frente. Eu estava na liderança por enquanto, mas ele me
alcançaria em segundos.
O tempo parecia desacelerar enquanto eu continuava a correr, meus
próprios pés deixando a desejar.
Eu estava exausta. Correr por toda a cidade em uma corrida mortal
tinha me esgotado.
Mas eu estava tão perto.
Eu estava quase lá.
Eu tinha que vencer.
Só mais um pouco...
Achilles me alcançou, correndo ao meu lado. Ele olhou para mim,
furioso por eu ter chegado tão perto de vencê-lo. Eu percebi que ele iria
me empurrar, mas no último segundo me esquivei para trás e ele colidiu
contra o nada.
Ele perdeu o equilíbrio, esparramando-se no chão na minha frente.
Tentei pular sobre seu corpo, mas minhas pernas simplesmente não
tinham força.
Eu tropecei nele e juntos caímos na linha de chegada.
Por um segundo eu apenas fiquei lá, totalmente exausta. O rugido da
multidão tomou conta de mim como ondas na costa. Eu ofeguei,
desesperada por ar.
Depois de um momento, olhei para cima para ver os outros lobos
retornando, as flâmulas em suas bocas.
Achilles estava do outro lado da praça, olhando para mim.
Espere, eu ganhei ou ele?
Olhei para a multidão em busca de uma pista, mas não consegui
encontrar nenhuma resposta. Eu caminhei até onde eu tinha deixado
minhas roupas e mudei de forma, vestindo-as rapidamente.
— Lyla!
Eu olhei para cima e encontrei Caspian caminhando em minha
direção, parecendo desgastado. Havia hematomas por todo o corpo e
parecia que um corte feio ao longo de seu braço tinha sido enfaixado.
Eu tropecei até ele, a preocupação florescendo em meu peito.
— Caspian! Você está bem? O que aconteceu depois que eu saí?
— Nós brigamos por um tempo, mas os Guardiões da Lua nos
encontraram muito rapidamente. Aparentemente, Adele estava na
multidão ali perto e ligou para eles.
— Golpe de sorte, — eu disse.
Caspian zombou. — Eu poderia ter acabado com eles.
— Certo. — Eu bati no ombro dele e ele estremeceu de dor. —
Obrigada.
— Não precisa agradecer, — disse ele, esfregando o ombro.
— O que aconteceu com os lobos que nos atacaram? — Perguntei.
— Eles fugiram como morcegos do inferno quando os Guardiões da
Lua apareceram. Não tenho ideia de onde eles foram, mas os Guardiões
da Lua disseram que iriam procurá-los.
— Hum. — De alguma forma, eu duvidava que eles fossem
encontrados.
— Você está completamente maluca, a propósito. Pulando de telhado
em telhado assim.
Agora foi a minha vez de estremecer. Senti uma dor latejante no
tornozelo e no pulso. Tenho certeza de que, no mínimo, tinha uma
pequena torção. Ainda bem que nossas formas de lobo eram duráveis.
— Sim, bem, espero que tenha valido a pena. Não consegui saber
quem ganhou porque aquele idiota tentou me empurrar.
— Acho que eles estão revisando os resultados agora, — disse Caspian.
Olhei para o Mestre dos Eventos enquanto ele caminhava em direção
à tenda de observação. Eles instalaram algumas câmeras na linha de
chegada para o caso de algo assim acontecer.
Fui forçada a ficar lá e esperar pela revisão oficial.
Eu não estava nem um pouco nervosa antes da corrida. Mas agora que
havia acabado, e tudo que eu podia fazer era sentar e esperar, meus
nervos começaram a ficar descontrolados.
— Eu aposto em vocêê, — Caspian disse.
— Eu espero que você esteja certo.
Sebastian

— Achilles! — Cornelius rugiu. — Foi definitivamente Achilles!


— Sem chance, Cornelius, — Teresa zombou.
— Quanto dinheiro você apostou? Ufa, estou sofrendo só de pensar
nisso. Foi na casa das centenas? Milhares?
O rosto de Cornelius ficou sombrio, raiva em cada linha de seu corpo.
— Dezenas de milhares? — Teresa levou as mãos ao coração, fingindo
preocupação. — Melhor sorte da próxima vez, eu acho. Talvez você
recupere seu dinheiro na próxima competição.
Conversas semelhantes estavam acontecendo ao nosso redor. As
pessoas debatiam sobre quem elas acham que cruzou a linha primeiro, e
muitos fizeram apostas improvisadas na hora.
Obviamente, eu não era imparcial. Achava que Lyla tivesse vencido.
Mas todos teríamos que esperar pela decisão oficial do Mestre dos
Eventos.
— Senhoras e senhores, se eu pudesse, por favor, ter sua atenção! —
ele chamou em seu microfone, como se fosse uma deixa.
A multidão silenciou instantaneamente, todos nós esperando
ansiosamente.
— Os resultados chegaram! Por favor, dirija sua atenção para as telas
ao redor da praça.
A equipe do festival montou algumas telas grandes em vários lugares
da área. Eles mostraram uma foto de Lyla e Achilles enquanto
atravessavam a linha de chegada.
Aquele bastardo do Achilles tentou colidir com Lyla no momento
final. No início, eu o respeitei por suas grandes habilidades e físico
formidável.
Eu pensei que ele era um guerreiro.
Acontece que ele era apenas um covarde.
Ampliaram a foto e foi analisada a linha de chegada, e ficou claro que
um deles a cruzou primeiro.
Bem, parte de um deles, de qualquer maneira.
Era uma cauda grande e espessa.
A de Lyla.
— Porra! — Gritou Cornelius.
Sua profanação quebrou o encanto. A multidão despertou. As pessoas
aplaudiram e riram, outras gemeram e reclamaram.
Eu caminhei até o centro da área de estar dos Alfas, abrindo caminho
no meio da multidão. Atravessei a barreira que separava a multidão dos
corredores, seguindo em direção a Lyla.
Ela se virou e me olhou para mim com um sorriso radiante.
Eu a peguei em meus braços, dando um beijo apaixonado direto em
seus lábios.
A multidão ao nosso redor aplaudiu, aplaudindo em aprovação.
Eu me afastei para poder olhar nos olhos dela.
— Você é incrível, — eu disse.
— Finalmente, essa bunda gigante veio a calhar. — Lyla riu, olhando
para a foto de sua cauda cruzando a linha de chegada.
Eu coloquei minha boca perto de seu ouvido. — Posso pensar em
algumas outras maneiras em que ela pode ser útil.
Ela revirou os olhos, mas seus lábios se curvaram em um sorriso
malicioso.
— Parece algo que teremos que discutir mais tarde, — ela provocou.
— Eu ainda não te mostrei meu quarto na basílica, mostrei?
— Pensando bem, acho que não, — eu disse.
— Devemos consertar isso.
Caspian

Eu assisti Lyla e Sebastian se abraçarem sob os aplausos da multidão


ao redor deles, um sorriso no meu rosto.
Que casal poderoso eles são.
Alfa da Alcateia Real e sua incrível Luna.
Olhei para a multidão para me distrair do gosto agridoce em minha
boca.
Alguém estava acenando para mim por trás da barreira.
Adele!
Seu cabelo ruivo na altura dos ombros balançava para cima e para
baixo enquanto ela acenava, seus olhos verdes brilhando.
Ela é realmente adorável.
Eu me aproximei, esquecendo de Lyla e Sebastian.
Ela agarrou minha mão e apertou; seus olhos brilharam de excitação.
Senti um choque percorrer minha espinha com seu toque.
— Lyla venceu! — ela disse, sem fôlego. — Ela venceu!
— É tudo graças a você. — Eu deslizei por baixo da barreira para que
eu pudesse ficar ao lado dela. Peguei sua mão na minha novamente, e
desta vez ela corou em um tom fofo de rosa. — Se não fosse por sua
ajuda, não teria como Lyla ter vencido.
Ela balançou a cabeça ferozmente.
— Eu não mereço tanto crédito. — Ela riu, desconfortável com o meu
elogio. — É porque você foi capaz de afastar aqueles lobos que a
atacaram.
Eu ri, estremecendo quando o movimento apertou a bandagem em
meu braço.
— 'Afastar' é um pouco exagero. Você me salvou também, quando
chamou os Guardiões da Lua.
— Isso não é verdade! — Ela levantou a voz e fiquei um pouco
surpreso com o quão inflexível ela estava sendo. Ela não tinha confiança
em si mesma? Ela olhou para baixo, envergonhada. — Você foi muito
corajoso, — ela disse, sua voz baixa.
Eu mal conseguia ouvi-la por causa do clamor da multidão.
Coloquei um dedo sob seu queixo, guiando seu rosto suavemente para
que ela olhasse para mim.
— Você também. — eu disse.
Eu não era um idiota. Eu sabia como esta cidade tratava os mestiços;
podia ver claramente como isso a afetou.
Mesmo assim, depois de falar e passar algum tempo com ela, o fato de
ela ser mestiça não me incomodou nem um pouco.
Tudo o que via nela era uma mulher gentil e tímida que só queria o
melhor para as pessoas ao seu redor.
Minha chance de conseguir uma verdadeira companheira pode não
ter existido, mas...
Esta pode ser a segunda melhor coisa.
Lyla

Quando o evento principal terminou, a multidão se dispersou pela


cidade, em busca de outras coisas interessantes para fazer no festival.
Sentei-me na tenda médica com Sebastian ao meu lado enquanto o
médico colocava uma bandagem em volta do meu tornozelo e pulso.
— Não é nada sério, mas eu sugiro colocar gelo em cima pelos
próximos dias. Você vai se sentir melhor em um piscar de olhos.
Suspirei aliviada. A próxima competição era na semana seguinte, e eu
não poderia estar machucada.
Depois de agradecer ao médico, Sebastian e eu voltamos para a praça
movimentada.
— Eu acho que devemos voltar e deixar você descansar um pouco, —
Sebastian disse. — Você deve estar exausta Eu abracei seu braço,
apoiando-me pesadamente nele.
— Acho que tenho energia suficiente para mais uma sessão de
atividades intensas hoje, — provoquei.
Ele sorriu, inclinando-se para me beijar nos lábios.
— Aproveite esta vitória vazia, Lyla. Nós dois sabemos que você não
merece.
Achilles estava na nossa frente, bloqueando nosso caminho.
Sebastian rosnou. Eu podia sentir seus músculos tensos quando ele
começou a caminhar até Achilles, mas eu o segurei.
— Oh, você não teve ajuda suficiente de Mercer nessa corrida? — Eu
cuspi. — Da próxima vez, vocês dois podem muito bem amarrar tijolos
nos meus pés. Então você terá uma chance.
Seus olhos brilharam de raiva e ele se inclinou para frente, parecendo
que poderia nos atacar. Senti Sebastian ficar atento, pronto para revidar.
— Diga o que quiser, Lyla. Mas nenhum truque irá salvá-la no Anel de
Combate.
O próximo evento. O Carnaval des Loups tinha o Anel da Força... mas
ele era tipo brincadeira de criança comparado ao que eu estava prestes a
enfrentar. Esse sim era sério.
Achilles se endireitou e se afastou de nós.
— Aproveite a próxima semana, Lyla, — ele rosnou. — É todo o tempo
que você terá antes de eu destruir você.
14
MEIAS-VERDADES
Lyla

Sebastian me carregou para o meu quarto, me deitando suavemente


na cama.
Meu pulso e tornozelo estavam realmente começando a inchar.
— Você tem gelo? — ele perguntou-me.
— Eu tenho algumas bolsas de gelo no freezer, — eu disse.
Fechei meus olhos quando Sebastian saiu para ir buscá-las. A emoção
de vencer a corrida estava desaparecendo.
Toda a minha adrenalina se foi. o que me deixou com uma sensação
de seca. Como se eu tivesse ficado muito tempo no sol.
Sebastian pressionou as bolsas de gelo em mim, e o frio ajudou a
amenizar as pulsações suaves de dor dos meus ferimentos.
Suspirei de alívio.
— Mm. isso é bom, — eu disse.
Sebastian gentilmente arrumou meu corpo para que eu pudesse
descansar confortavelmente enquanto o gelo congelava minhas juntas.
Ele se deitou atrás de mim, seus braços me envolvendo.
Eu me aconcheguei nele, apreciando a sensação do meu corpo
dobrado contra o dele.
A sensação era ótima.
— Estou tão orgulhoso de você, — disse ele.
Um calor floresceu em meu coração e se espalhou por meu corpo.
— Tive muita ajuda, — admiti. — Sem Caspian e Adele, não teria
como derrotar Achilles.
— Adele? — Sebastian perguntou.
— Ela é uma amiga minha que Conheci na basílica, — disse eu. — Ela
é quem me ensinou sobre todas as estradas vicinais e becos da cidade.
Eu ainda ficava meio desconfortável em falar com Sebastian sobre
mestiços. Mas eu não poderia esconder isso dele para sempre...
— Ela lhe disse para usar os telhados também?
Eu ri, um pouco culpada.
— Não, foi ideia minha.
— Eu imaginei isso. — Ele beijou o topo da minha cabeça. — Só você
teria essa ideia nesse seu cérebro maluco.
— Ei, funcionou, não foi?
— Sim, — Sebastian concordou. — E agora você está um passo mais
perto de uma audiência com a Deusa da Lua. — 'Ainda há um longo
caminho a percorrer.
As palavras de Achilles ecoaram em minha mente.
Nenhum truque irá salvá-la no Anel de Combate.
Eu fiquei tensa.
Claro, minha velocidade e uma estratégia inteligente me ajudaram na
corrida contra Achilles. Mas provavelmente teria que enfrentá-lo em um
combate individual.
Como eu conseguiria derrotar o chefe dos guardas pessoais da Deusa
da Lua?
— Você pode se preocupar com isso mais tarde, — Sebastian disse.
Seus braços se apertaram em volta de mim enquanto ele corria os dedos
suavemente pelo meu cabelo. Ele provavelmente poderia sentir minha
preocupação. — Pare de pensar nisso por enquanto.
Era fácil dizer pare de pensar nisso, mas era mais difícil de fazer na
prática...
Fechei os olhos, concentrando-me na sensação dos braços fortes de
Sebastian ao meu redor. Eu tracei meus dedos pelo seu antebraço, sobre a
protuberância de seus bíceps...
Eu me virei para ficar de frente para ele e olhei em seus olhos.
— Distraia-me, — eu sussurrei.
Sebastian se inclinou, seus lábios leves como uma pena contra os
meus. Suas mãos alcançaram meu rosto e eu me derreti em seu beijo
doce.
Seus lábios traçaram os meus, descendo por meu queixo, meu
pescoço, até minha clavícula...
Tirei minha camisa e sua língua traçou círculos lentos em torno dos
meus mamilos, provocando-os. Eu engasguei suavemente, correndo
meus dedos por seus cabelos.
Eu podia sentir minha luxúria escorrer pela minha perna.
Eu o ajudei a tirar suas roupas, e num piscar de olhos nós dois
estávamos nus, pele com pele. Ele gentilmente se empurrou para dentro
de mim e eu gemi com a doce agonia da penetração.
Ele começou a se mover, metendo em movimentos lentos e
superficiais.
Normalmente, fazer amor era uma coisa intensa e selvagem. Sebastian
e eu deixaríamos a paixão nos consumir, nossos corpos iriam para a
guerra.
Mas desta vez foi diferente.
Isso não era um inferno e sim uma queima lenta e constante.
Sebastian me balançou lentamente. Movi meus quadris em seu ritmo
constante, e nós não nos apressamos em nossa busca pelo êxtase.
Meu coração batia forte no meu peito enquanto travamos os olhos,
nós dois fascinados em uma dança de prazer. Eu me abri para ele, e ele
acariciou as partes mais profundas e sensíveis de mim.
— Lyla, — ele gemeu.
Meu nome soou tão doce em seus lábios.
— Sebastian. — eu murmurei em sua pele.
Eu estava chegando perto...
Houve um suspiro repentino na porta. Sebastian e eu nos separamos,
nos cobrindo com os lençóis.
Adele estava na porta, olhando para o chão, seu rosto vermelho como
um tomate. Ela estava usando luvas de borracha e agarrando seu material
de limpeza como se sua vida dependesse disso.
— Eu... eu sinto muito, — ela gaguejou. — Eu bati, mas ninguém
respondeu... então pensei que o quarto estava vazio...
Eu ri, envergonhada. Acho que Sebastian e eu não tínhamos escutado.
— Não se preocupe com isso...
— Saia, — Sebastian rosnou.
Adele se encolheu.
Meus olhos se arregalaram enquanto eu olhava para meu
companheiro. Ele olhou para ela tão ferozmente que ela secou como uma
flor presa em um incêndio.
— Se você nos interromper novamente, eu irei pessoalmente me
certificar de que você seja repreendida, — ele ameaçou.
Adele fez uma reverência febril ao sair cambaleando do quarto, com o
material de limpeza tremendo na bacia.
— Sim. Eu sinto muito. Por favor, me perdoe. — Ela fechou a porta
suavemente ao sair, e ela se foi.
— Sebastian! — Eu disse indignada.
Eu bati no braço de Sebastian, sibilando enquanto meu pulso
queimava de dor.
Ugh, deveria ter usado minha outra mão.
— O que foi? — ele perguntou.
— Isso foi inacreditavelmente desnecessário, — eu disse. — Como
você pôde ser tão grosseiro com ela?
— Grosseiro? — ele perguntou incrédulo. — Aquela mestiça era
incompetente. Ela deveria saber que estávamos aqui.
Aí está, pensei com pavor. A questão dos mestiços.
— É nossa culpa não a termos ouvido bater, — eu disse.
— Ela deveria ter batido com mais força.
Eu fiz uma careta para ele, meus medos se tornando realidade.
Sebastian ainda guardava muito rancor dos mestiços por causa de seu
passado.
Ainda assim, isso não era desculpa para tratar Adele assim. Ou
qualquer outro servo mestiço, para falar a verdade.
— Mestiços também são pessoas, Sebastian.
Ele não respondeu. Ele já conhecia minha posição sobre o assunto, e
eu conhecia a dele.
Nós nos acomodamos na cama, um silêncio desconfortável entre nós.
A exaustão de repente me atingiu, e eu lentamente adormeci, minhas
preocupações inundando meus sonhos.
Patrulhei o terreno ao redor da basílica, mais uma vez rebaixada ao
simples serviço de guarda.
Mas não me importei.
Eu preferia muito mais caminhar ao redor da cênica basílica do que
rondar a cidade em busca de mestiços parados no lugar errado na hora
errada.
Sebastian já tinha ido embora quando acordei de manhã.
Ele havia deixado um pequeno bilhete na mesa de cabeceira, dizendo
que iria explorar a Cidade Santa.
Eu fiz uma careta ao ler.
Um dia desses, eu teria que resolver esse problema entre nós. A
questão dos mestiços era um dos poucos pontos sensíveis de nosso
relacionamento.
Mas não parecia algo que pudesse ser resolvido facilmente apenas por
uma conversa.
Ele havia perdido muito de sua vida por causa de mestiços, afinal.
Seus pais... seu melhor amigo...
Vi uma mecha de cabelos ruivos atrás de um alqueire de rosas. Adele
estava cuidando dos jardins, seu rosto coberto de poeira.
Tinha alguma coisa que essa menina não fazia?
Ela me viu caminhando em sua direção e parou o que estava fazendo.
— Lyla! Sinto muito pela noite passada, — disse ela. — Você não
deveria estar se desculpando. Sinto muito pela maneira como Sebastian
tratou você.
— Não, está tudo bem, — disse ela.
Tudo bem?
Meu rosto provavelmente deixou claro minha indignação, porque ela
elaborou.
— Estou acostumada com isso. — Ela sorriu tristemente. —
Principalmente dos Alfas. Eles tratam minha espécie como vermes.
— Só porque ele é um Alfa, não dá a ele permissão para tratá-la assim,
Adele. — Eu coloquei minha mão em seu ombro. — Na verdade, acho
que eles deveriam tratá-la ainda mais gentilmente porque eles são Alfas.
Eles deveriam estar liderando pelo exemplo, certo?
Adele cobriu minha mão com a dela, uma lágrima escorrendo por sua
bochecha.
— Oh, Lyla. Você é muito gentil, — ela disse, sua voz trêmula. — Se eu
pudesse ser tão forte quanto você.
Eu a puxei para um abraço.
Estranhamente, eu sentia que devia proteger Adele. Ela me lembrava
minha irmã mais nova.
— Você é muito mais forte do que eu, Adele. Eu só queria que você
pudesse ver.
Sebastian

Eu vaguei pela basílica, carregando uma bandeja de frappuccinos e


churros.
Eu encontrei um café perto da praça principal que era aparentemente
famoso por essa combinação e queria ver o que Lyla iria achar.
Eu não era o maior ã de doces, mas sabia que Lyla os amava.
Esperançosamente, isso ajudaria a compensar a noite passada.
Ela tinha razão.
Eu realmente não tinha um motivo para ser tão cruel com aquela
serva.
Foi mais uma reação instintiva do que ódio genuíno.
A questão dos mestiços ainda apunhalava uma parte crua e não
curada do meu coração.
Eu pensava que o tempo que passei com Lyla tinha começado a curar
essa parte de mim. Era um processo lento, mas a ferida começou a
cicatrizar. No entanto, uma simples interação com uma mestiça abriu a
ferida novamente, e eu ataquei.
Eu me perguntei quanto tempo levaria para eu superar isso.
Eu me perguntei se eu seria capaz de superar.
Finalmente avistei Lyla nos jardins, mas ela não estava sozinha. A
mestiça da noite anterior estava com ela. Elas estavam se abraçando, os
ombros da mestiça tremendo com os soluços.
Então, elas são amigas de verdade. Ela poderia ser a Adele que Lyla
mencionou?
Cerrei minha mandíbula, sentindo uma necessidade irracional de
caminhar pelos jardins e separar o abraço das duas.
Eu fechei meus olhos com força, empurrando o desejo para longe.
Então, ela está escondendo segredos de mim agora também.
Estávamos separados há meses. O que mais ela poderia estar
escondendo de mim? Quais outros amigos ela estava escondendo de
mim?
Eu saí da basílica, ódio irradiando da minha pele aquecida.
Enfiei os churros na boca ao sair.
Eles tinham gosto de merda.
15
GRITOS À LUA Adele
Atravessei a praça principal, tomando cuidado para não esbarrar em
ninguém com a grande cesta de tecido que carregava.
Estávamos chegando na metade do Festival das Trevas da Lua, e isso
significava uma mudança na decoração da cidade.
As flâmulas pretas vazias penduradas ao redor da cidade seriam
guarnecidas com lírios Echo, uma flor rara que floresce apenas à noite.
Eles deveriam ser uma representação do céu estrelado, dos pontos de
luz e da razão que nos guiam na escuridão.
Eu achava os lírios lindos.
Apesar da crueldade que nós mestiços tínhamos que enfrentar,
algumas tradições e seus significados eram importantes para mim.
Sempre que o festival acontecia, eu observava os lírios Echo
florescendo ao luar, e ficava cheia de esperança.
Com sorte, eles ajudariam a Cidade Santa a superar esses tempos
sombrios.
O único problema era que os lírios Echo eram muito raros e só
cresciam nas colinas que davam para a Cidade Santa. Durante o dia,
pareciam qualquer erva daninha comum, então eu teria que chegar lá ao
anoitecer.
Eu manobrei minha cesta através da multidão o mais cuidadosamente
que pude, mas acabei esbarrando em alguém apesar de meus melhores
esforços.
— Eu sinto muito, — eu disse com medo, esperando não ser
repreendida.
Minha vítima se virou e eu fiquei aliviada.
Seu cabelo castanho claro e olhos âmbar eram inconfundíveis.
— Adele — Caspian disse, com um sorriso no rosto. — Você pode
simplesmente dizer oi da próxima vez, não há necessidade de me bater
com uma cesta.
Senti minhas bochechas esquentarem.
— Desculpe, — eu repeti.
Ele balançou a cabeça, sorrindo.
— O que você está fazendo? — ele perguntou.
— Estou saindo da cidade, — eu disse. — Tenho de recolher flores
para o festival.
Caspian franziu a testa, olhando para o céu.
O sol estava baixando, o início do pôr do sol iluminando o céu com
tons de laranja e roxo.
— Tão tarde? — ele perguntou.
— As flores são mais fáceis de encontrar à noite, — expliquei.
— Não é perigoso ir para lá à noite?
— Bem, provavelmente há alguns animais selvagens nas montanhas,
mas nunca tive problemas com eles antes.
Javalis, ursos e outros animais selvagens vagavam pela floresta ao
redor da Cidade Santa. Enquanto eles geralmente evitavam a civilização,
um ou outro animal ocasionalmente vagava pela cidade.
— Vou acompanhá-la, — Caspian disse.
Eu pisquei. O quê?
Seu sorriso desapareceu lentamente enquanto eu olhava para ele,
estupefata.
— Uh, desculpe. Isso te incomodaria?
— Não! — Eu disse, rapidamente. — Não é isso não. Mas... você não
está ocupado?
— Nem um pouco, — disse ele.
Eu encarei incisivamente a sacola marrom em seus braços, cheia de
mantimentos.
Ele empurrou a sacola nos braços de uma pessoa que passava, sem
aviso prévio. O homem foi rapidamente arrastado pela multidão com seu
presente surpresa.
— Não. — Ele sorriu, enfatizando sua resposta.
Eu ri, tentando me esconder atrás do meu cabelo. Meu rosto
provavelmente estava do mesmo tom de vermelho agora...
A ideia de ir a algum lugar com Caspian fez meu coração disparar. E
colher lírios Echo com ele seria tão romântico...
— Sinto muito, mas acho melhor não, — eu disse, meu coração
partido.
— Por que não?
— Você sabe, — eu disse, gesticulando para mim mesma. Lágrimas
encheram meus olhos. — Será ruim para você ficar perto de mim por
muito tempo. As pessoas vão começar a odiar você.
Seu rosto ficou sombrio.
— Porque você é uma mestiça? — ele perguntou.
Eu vacilei como se a palavra fosse um golpe físico.
Eu balancei a cabeça silenciosamente.
— Adele, olhe para mim.
Eu olhei para cima e fiquei surpresa ao ver a expressão intensa em seu
rosto. Seus olhos ardiam de paixão.
— Eu não me importo se você é uma mestiça. Eu não me importo com
o que os outros vão pensar. Eu quero ir com você. — Ele pegou minhas
mãos. — Tudo bem?
Neste ponto, meu rosto já estava tão vermelho que era como se eu estivesse
em chamas.
Eu só pude acenar com a cabeça.
Ele foi tão direto — roubou minha voz.
Meu coração bateu forte na minha garganta.
Talvez não tenha sido a única coisa que ele roubou...
Ele sorriu para mim e eu me apaixonei mais um pouco.
— Vamos.
Caspian

Já era noite quando chegamos ao local onde crescem os lírios Echo.


As colinas suaves e onduladas que cercavam a Cidade Santa eram
lindas, mas quando viramos uma curva e vimos o campo de flores, meu
queixo caiu.
Um campo de suaves lírios brancos brilhava sob a luz da lua. O campo
parecia uma fatia perfeita da natureza: intocada e pura.
— Aqui estamos, — anunciou Adele, uma pitada de orgulho em sua
voz. — Vir aqui para colher flores é a minha parte favorita do festival. É
como meu refúgio secreto, — ela confessou.
— É lindo, — eu disse. — Obrigado por me mostrar.
Ela sorriu para mim; ela nunca esteve mais bonita do que naquele
momento.
— Vamos começar então?
Adele me mostrou como colher os lírios Echo de uma forma que não
prejudicasse o solo em que cresceram. Ela explicou como era importante
não perturbar as raízes para que crescessem novamente a tempo do
próximo festival.
Colhemos flores em um silêncio confortável por um tempo, enquanto
os sons discretos da natureza ecoavam na noite escura.
Admirei como ela era delicada com as flores. Percebi que não sabia
muito sobre ela.
— Você nasceu na Cidade Santa, Adele?
Suas mãos pararam por um momento antes de continuar.
— Eu acho que sim.
— Você acha?
— Aparentemente, fui encontrada ainda bebê na porta da basílica.
Nunca conheci meus pais. A Sagrada Ordem me acolheu como um bebê,
e desde então trabalho para eles.
Eu sentei lá, atordoado em silêncio.
Eu não imaginava...
— Eu realmente não culpo meus pais, — disse ela.
— Na verdade, sou meio grata a eles. Eles sabiam que minha vida seria
difícil como uma mestiça, então me deram à basílica.
— A vida ainda é difícil para você, não é?
— Não, em comparação com os outros, é fácil. Eu tenho um teto
sobre minha cabeça. Tenho garantia de três refeições por dia. Recebo
roupas limpas para vestir.
— Alguns mestiços nem mesmo têm essas coisas. Eles têm que lutar
para conseguir alguma comida. Outros trabalham até não aguentarem
mais, e seus salários mal mantêm suas famílias vivas.
Ela parou de colher flores e vi suas lágrimas brilharem ao luar.
— Eu tenho muita sorte, — ela sussurrou.
O silêncio se estendeu.
Eu não tinha nem ideia do que dizer. Havia algo que eu pudesse dizer?
Me desculpe?
Palavras superficiais como essas pareciam ser insensíveis.
Eu não tinha ideia do que fazer.
Então, eu gritei.
— AHHHHHHHHHHH!
Adele gritou, olhando para mim com os olhos arregalados.
— Caspian?!
— AHHHHHHHHHHHH! — Eu gritei de novo, mais alto dessa vez.
Ela correu para mim, suas mãos puxando meu braço.
— O que está acontecendo? O que você está fazendo?
— Estou gritando!
— Por que?
— Você não está chateada? Você não está com raiva? — Eu exigi. —
Ouvi sua história por dois minutos e já não aguentei! Como você
aguenta?
— Estou acostumada com isso, — disse ela.
— Foda-se isso! — Eu gritei.
Ela piscou para mim, surpresa com minha linguagem.
— Libere tudo! AHHHHHHHHHHHH! — Eu gritei. — Caspian! — Ela
sibilou. Ela olhou ao redor instintivamente, seus olhos temerosos.
Realmente me deixou triste o quão cautelosa e cuidadosa ela estava
sendo, até mesmo aqui.
— Não há ninguém por perto, Adele. — Tentei parecer o mais sincero
e sério que pude. — Experimente, — eu encorajei. — Você vai se sentir
muito melhor.
— Não sei...
— Se você não fizer isso, vou gritar ainda mais alto, — ameacei.
— Impossível!
— Quer apostar?
Ela franziu a testa, pensando sobre isso.
— Ahhh, — ela murmurou humildemente.
— O quê foi isso, você está no dentista? — Perguntei.
Ela riu, me dando um tapa no braço.
— Ahhh! — ela gritou um pouco mais alto, tentando novamente.
— Mais alto!
Ela respirou fundo. — AHHHHHH!! — ela gritou.
Eu me juntei a ela, gritando para o céu como um louco. Ela fez o
mesmo, botando para fora suas frustrações.
— A CIDADE SAGRADA É UMA MERDA! — Eu gritei.
— POR QUE TODOS VOCÊS TÊM QUE SER TÃO CRUÉIS?! — ela
exclamou.
Observei as paredes cuidadosas que ela construiu em torno de si
desmoronarem. Lágrimas e risos, felicidade e agonia, tudo misturado
enquanto sua voz subia até as estrelas.
Rimos e choramos, liberando nossas emoções com abandono
imprudente. Eu também não tinha percebido quanto estresse estava
deixando se acumular dentro de mim.
Estar com Adele me fazia esquecer tudo isso.
— Obrigada. — Ela riu, enxugando as lágrimas dos olhos. — Eu
realmente precisava disso.
— Eu realmente não entendo todo esse ódio mestiço. Quero dizer,
você pode mudar de forma como o resto de nós pode, certo?
Ela acenou com a cabeça.
— Posso ver?
A questão pairou entre nós no silêncio. Normalmente, os lobisomens
não se importavam em mostrar suas formas de lobo, mas de alguma
forma isso parecia uma coisa realmente íntima e preciosa para Adele.
Prendi a respiração, com medo de quebrar este momento frágil.
— Vire-se, — ela disse calmamente.
Inclinei minha cabeça, sem entender.
— Eu... tenho que tirar a roupa primeiro...
Meus olhos se arregalaram e eu me virei, fechando-os para aumentar a
segurança. Tirei minhas roupas também, mudando para a minha forma
de lobo. Se ela estava confiando em mim com sua forma de lobo, eu
deveria mostrar a ela a minha também.
Esperei com a respiração suspensa, meus sentidos se estendendo para
os campos ao nosso redor. Eu ouvi o pio de uma coruja distante, o
chilrear dos grilos, o vento balançando na grama alta...
Senti uma cutucada atrás de mim.
Eu me virei e minha respiração ficou presa na minha garganta.
Lá estava ela. Seu lobo era pequeno. Sua pele estava tingida de um
vermelho avermelhado, seus olhos tão verdes quanto antes.
Ela era linda.
Nós circulamos um ao outro lentamente, nos encarando. Quanto
mais eu olhava para ela, mais eu sentia essa pressão crescendo em meu
peito. Uma onda de emoção crua que eu não sabia identificar.
De repente, a pressão se tornou demais para suportar, levantei minha
cabeça para o céu noturno e uivei. Eu uivei com toda a minha alma.
E ela respondeu.
Seu uivo se misturou ao meu, nossos gritos alcançando a lua.
De repente, tudo se encaixou.
A atração que eu sentia por ela. Essa gravidade inevitável que me
atraiu para ela — como a terra e o sol.
Pensei no que ocorreu na Cúpula todos aqueles meses atrás. Lembrei-
me do uivo que ouvira na cerimônia, aquele que acabou sendo uma
imitação barata de alguma bruxa.
Eu estava tão convencido de que o chamado era verdadeiro.
Mas aquele momento não foi nada comparado ao que eu estava
experimentando agora.
Adele era minha companheira destinada.
Eu finalmente encontrei você.
16
CORAÇÃO PARTIDO AO MEIO
Adele

Meu coração estava disparado.


Não, foi martelando. Louco para ser livre.
A cada batida, parecia mais e mais que ele iria sair explodindo do meu
peito.
Mas não era alegria o que eu estava sentindo...
Era medo.
Eu tinha acabado de descobrir que estava acasalada; eu deveria estar
nas nuvens, mas...
Em vez disso, fiquei apavorada com o que poderia perder.
Eu estava acostumada com tudo sendo tirado de mim.
Minha dignidade, meus direitos, minhas oportunidades...
Mas eu não suportaria perder isso aqui também. Meu coração não
aguentaria.
Como posso me acasalar com um Beta?
Eu sou apenas uma mestiça!
Eu mudei de volta para a forma humana e rapidamente coloquei
minhas roupas, me afastando de Caspian.
Ele fez o mesmo e colocou a mão no meu ombro trêmulo.
— Adele, olhe para mim, — ele me persuadiu, preocupado.
Quando me virei, as lágrimas começaram a se formar em meus olhos.
— São... essas são lágrimas de felicidade? — ele perguntou, colocando
as mãos confortavelmente em minhas bochechas.
— Não sei, — respondi com sinceridade. — Você não entende... isso
não deveria acontecer.
Caspian olhou para mim, confuso. — O que não deveria acontecer?
Você ser minha companheira? Por que não?
— Porque não podemos ficar juntos! — Eu disse antes de colocar
minha mão sobre minha boca.
Caspian parecia desanimado, mas não foi dissuadido tão facilmente.
— Claro que podemos, Adele! Podemos…
— Não. não podemos, — eu repeti, minha voz tremendo. — Existem
regras... não. não apenas regras... leis contra isso. Recebemos cartas
diferentes, Caspian, e elas não fazem parte da mesma mão.
— Eu me recuso a aceitar isso, — respondeu ele, com uma raiva
justificada em sua voz. — Você é minha companheira. Quem se importa
com o que os outros pensam?
Eu balancei minha cabeça tristemente. — Você pode ter esse luxo, mas
eu não. Minha sobrevivência depende de minha obediência. Eu tenho
que manter minha cabeça baixa; eu não consigo mantê-la erguida com
orgulho como você.
Os olhos de Caspian ficavam cada vez mais melancólicos enquanto ele
assimilava minhas palavras.
— A Deusa da Lua nem mesmo reconheceria nossa união. — eu disse,
dando um passo para trás. — O que te faz pensar que sua alcateia
reconheceria? Ou seus amigos?
— Nós... podemos encontrar uma maneira de... — Caspian começou a
gaguejar.
— Não, — eu disse com firmeza, as lágrimas agora escorrendo pelo
meu rosto. — É assim que as coisas são, e aprendi a aceitar isso. Não
estou destinada a ser uma companheira, e você... você deveria estar com
alguém que pode te completar... não com uma mestiça como eu.
Deixei cair minha cesta de lírios Echo no chão e me virei, descendo a
colina correndo enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto.
— ADELE! — Caspian me chamou, mas eu não voltei.
Eu não suportaria olhar para ele porque isso quebraria meu coração
ao meio...
... E metade era tudo que eu tinha.
Lyla
Nunca me cansava de patrulhar a Cidade Santa: sua arquitetura
magnífica e ruas brilhantes.
Uma cidade gloriosa e soberana... até que você olhasse um pouco mais
de perto.
Essa soberania aplicava-se apenas a uns poucos selecionados. E o
resto?
Observei uma mulher mestiça mais velha, de aparência doentia,
mancar pelo mercado enquanto nobres passavam por ela como se ela
fosse invisível.
Não seria diferente se ela realmente fosse...
— Lyla! — Eu estremeci ao som do meu próprio nome, Caspian estava
correndo até mim, sem fôlego.
— O que está acontecendo? — Eu perguntei, tocando o punho da
minha espada. — Algo está errado?
Quando notei a cesta de flores em suas mãos, relaxei meu aperto. —
Merda. Caspian, não me assuste assim. Achei que fosse algum tipo de
emergência.
— E é! — ele gritou, brandindo a cesta na minha cara. — Acabei de
descobrir que estou acasalado! Com Adele!
Meu queixo caiu em descrença.
— Você está... você está acasalado? Espere — com Adele!?
Um enorme sorriso tomou conta do meu rosto.
Caspian finalmente encontrou sua companheira. E não poderia ser
melhor.
— Onde está Adele? — Eu perguntei animadamente. — Temos que
comemorar!
Pela expressão em seu rosto, eu percebi que isso não iria acontecer. —
Ela... ela não aceitou muito bem, — disse ele com tristeza.
De repente, me ocorreu o que exatamente significaria para alguém na
posição de Adele estar acasalado com alguém na posição de Caspian.
— A Cidade Santa pode parecer brilhante para a maioria, mas não está
exatamente brilhando para todos, não é? — Eu disse com um rosnado
frustrado.
— Muito menos para os mestiços — Caspian respondeu. — Isso é tão
fodido.
— Você disse a ela que nada disso importa para você? — Eu perguntei,
chegando mais perto. — Você disse a ela que ela te faz feliz e que as leis
não se aplicam ao amor?
— Uh... claro! Quer dizer, talvez não dessa forma eloquente, mas...
— VÁ ATÉ ELA! — Eu gritei, sacudindo-o. — Conte a ela como você
se sente!
— Eu adoraria, mas ela fugiu! Eu nem sei onde ela está, — ele
respondeu, segurando as flores com força.
— Bem, para sua sorte, eu SEI, — respondi com um sorriso. — A essa
hora, ela DEVE ESTAR trabalhando na basílica. Se você for LÁ agora,
você a encontrará!
Caspian se virou e começou a correr em direção à basílica. Eu nunca
tinha visto seus pés se moverem tão rápido.
— Siga seu coração! — Eu gritei atrás dele.
Eu sei que você tem um bom.
Adele

Minha cabeça estava girando quando voltei para a basílica. A única


coisa que eu podia fazer para tirar minha mente do meu companheiro
era me enterrar no trabalho.
Normalmente receber ordens era uma tarefa ingrata, mas hoje,
apreciei a distração.
— Garota, distribua esses panfletos para a competição do Anel de
Combate imediatamente, — um Bispo gritou para mim. — Precisamos
ocupar todos os assentos daquele estádio. De que adianta essa tolice se
não ganharmos dinheiro com isso?
Ele empurrou uma grossa pilha de folhetos em meus braços e foi
embora. Sempre me surpreendeu que a igreja patrocinasse um evento tão
violento; mas, se isso enchesse seus bolsos, a igreja provavelmente
patrocinaria muito pior.
Enquanto eu corria pelo corredor em arco, ouvi uma voz que parecia
garras em um quadro-negro. — Adele! Onde você esteve? Você está
atrasada. — Madame Donatella marchou em minha direção, suas botas
de salto pesado batendo no chão.
A Madame sempre me odiou, mas eu estava tentando descobrir por
que ela parecia tão irritada comigo naquele momento em particular.
— Onde estão os lírios Echo? — ela retrucou, parando na minha
frente.
Meu estômago embrulhou e senti minha pele esfriar.
Oh não, eu esqueci completamente!
Eu deixei as flores caírem quando fugi de Caspian!
Isso era ruim. Madame Donatella não era uma mulher que perdoava.
— Hum... eu... eu esqueci de trazê-los, mas posso ir pegá-los agora se...
Seus olhos frios me perfuraram como um picador de gelo direto no
coração. — Nós precisamos daquelas flores para o arranjo do festival. Você
é realmente tão estúpida que nem consegue realizar uma tarefa simples?
Isso é o que eu ganho por pedir a uma mestiça para fazer algo
importante...
A Madame agarrou um chicote enrolado preso ao cinto. — Sério, isso
é culpa minha, — disse ela, estalando a língua. — Eu sei como seus
cérebros são fracos e deveria ter percebido que isso aconteceria.
Eu dei um passo para trás quando seu chicote se desenrolou e atingiu
o chão.
— Tenho que disciplinar você melhor para evitar mais erros. Dessa
forma, você se tornará uma serva ainda melhor para a Deusa da Lua, —
disse ela, agindo como se a decisão de me punir fosse algo nobre e não
uma manifestação de seu próprio sadismo.
Fechei meus olhos e estremeci quando ela levantou a mão e estalou o
pulso, o chicote zunindo no ar, até...
— Com licença, senhorita, você parece ter deixado cair isso. — Eu abri
meus olhos para ver Caspian parado na minha frente. Ele segurava a
cesta de flores em uma mão e a ponta do chicote na outra.
Madame Donatella parecia completamente perplexa quando Caspian
me entregou os lírios Echo, e eu os entreguei a ela.
— Eles são lindos, — Caspian disse a Madame Donatella, ativando o
É
seu charme. Mas não largando o chicote. — É melhor colocá-los em um
pouco de água. Agora.
— Sim, claro, — ela murmurou, enrolando apressadamente seu
chicote e caminhando de volta por onde veio.
— Obrigada, — eu disse enquanto olhava para Caspian com gratidão.
Mas quando fui abraçá-lo, parei. Eu nunca poderia mostrar afeto público
por ele. Isso poria em perigo a nós dois.
Recuei, mas ele agarrou minha mão e me puxou para trás de uma
coluna.
— O que aquela mulher estava prestes a fazer com você... isso nunca
vai acontecer novamente, — ele disse, enquanto me segurava em seus
braços. — Agora que você é minha companheira, é meu dever protegê-la
de pessoas como ela.
— Não é apenas ela, Caspian... são as leis desta cidade,; ' eu disse, meu
coração disparado.
— Eu sempre fui um pouco violador das regras, — respondeu ele,
aproximando-se.
— Caspian, alguém vai nos ver — sussurrei bruscamente, mas não
estava me afastando. Eu queria que ele nunca mais me soltasse.
De repente, seus lábios foram pressionados contra os meus e todas as
minhas preocupações desapareceram.
Eu relaxei minhas costas e ele me puxou para perto, beijando-me com
intensa paixão.
O calor de nossos corpos, o calor de seu toque, a pressão de seus
lábios macios...
Foi tudo perfeito. Até...
GONG!
GONG!
GONG!
Os sinos da igreja começaram a tocar e eu voltei à realidade. Eu me
afastei e arrumei meu vestido, nervosamente olhando ao redor para ver
se alguém tinha nos visto.
— Relaxe, ninguém nos viu, — Caspian disse, com um enorme sorriso
no rosto. — Mas se você está tão preocupada... podemos continuar mais
tarde — em particular.
Não pude deixar de sorrir de volta, embora soubesse que era
imprudente.
Ele caminhou para trás sem tirar os olhos de mim, me dando uma
piscadela maliciosa. Tentei sufocar minha risada.
Eu não conseguia acreditar que isso estava realmente acontecendo.
Ou que eu estava deixando acontecer.
Caspian era meu companheiro.
— Companheiro... — eu sussurrei baixinho para mim mesma, apenas
para tornar isso real.
Mercer

Eu fiquei de pé nas sombras enquanto observava o Beta se afastar da


serva... a mestiça... com uma devoção doentia em seus olhos.
Era profano.
Era tórrido.
Era revoltante.
Embora a visão do beijo deles me enojou, não era nisso que eu deveria
focar.
O menino... ele era próximo de Lyla.
E a mestiça... Eu as tinha visto juntas também.
Não, revoltante não era a palavra que eu procurava...
— Interessante, — eu murmurei, meus lábios se curvando em um
sorriso.
17
PASSEIOS NOTURNOS
Lyla

Eu desabei na minha cama depois de uma patrulha longa e cansativa.


Algumas meninas removiam várias camadas de maquiagem antes de
irem para a cama. Eu. por outro lado...
... Tirei várias camadas de armadura de platina pesada.
— Sebastian, me ajude aqui, — eu gemi, espalhando-me sobre os
lençóis. Ele estava do outro lado do quarto, lendo um livro e franzindo a
testa.
Ele estava agindo de maneira cautelosa comigo nos últimos dias, e eu
não tinha certeza de qual era o seu problema.
Talvez ele estivesse apenas tenso por causa de minha luta no próximo
torneio...
Sebastian largou seu livro e se aproximou de mim enquanto eu me
levantava. Ele desamarrou minhas tiras de couro e deslizou a armadura
pela minha cabeça.
Quando finalmente retirei todas as peças, senti que podia respirar
novamente.
Enquanto inalava, senti Sebastian pressionado contra minhas costas.
Eu senti tudo dele.
Eu estava vestindo apenas um sutiã esportivo e shorts de compressão
que deixavam pouco para a imaginação.
Encostei em sua protuberância e a dureza de seu pau esfregou contra
o tecido fino do meu short, me deixando arrepiada.
Isso era exatamente o que eu precisava depois de um longo dia de
trabalho.
Eu levantei meus braços e Sebastian tirou meu sutiã, jogando-o do
outro lado do quarto.
Suas mãos seguraram meus seios e seus dedos massageavam meus
mamilos enquanto eu gemia de prazer.
Ele me empurrou para baixo na cama e fiquei de barriga para baixo
enquanto ele tirava meu short apertado, minha bunda exposta ao ar frio.
Ele deu um tapa faminto ali e grunhiu com aprovação enquanto eu
sacudia minha bunda em antecipação.
Os dedos de Sebastian esfregaram suavemente minha boceta, me
provocando e testando o quanto eu queria. Soltei um grito quando ele os
enfiou dentro de mim.
É isso... dentro e fora. Bom e lento.
— Sebastian. — eu gemi, relaxando enquanto cedia à sensação. Ele
retirou abruptamente os dedos de mim e deu um tapa na minha bunda
com uma força que me fez ofegar de excitação.
Eu estava molhada e disposta, pronta para ele ficar um pouco
violento.
— Me fode! — Eu exigi enquanto pressionava contra seu pau
latejante. — Eu quero você dentro de mim!
Ele parou por um momento, sem dizer nada, até...
— Não. — ele murmurou tão baixinho que era quase um sussurro.
Eu me virei para ver um olhar agitado em seu rosto.
— O que houve? — Eu perguntei, preocupada.
Sebastian não era do tipo que recusava sexo sem motivo.
Ele puxou as calças e fechou o zíper enquanto caminhava até a
geladeira. Ele pegou uma cerveja e abriu com os dentes, cuspindo a
tampa no chão. Ele estava bravo com alguma coisa. E ele estava
reprimindo o sentimento.
Eu rapidamente vesti uma camiseta larga e jeans e entrei na cozinha,
colocando minha mão em seu peito. — Babe, o que há com você? Por que
você está zangado?
— Quando você ia me contar? — ele perguntou em um rosnado baixo.
— Contar o quê? — Eu perguntei, confusa.
— Sobre sua amizade com aquela mestiça, — ele respondeu.
É disso que se trata?
Senti meu rosto esquentar. — O que que tem? — Eu perguntei
defensivamente.
— Você sabe como me sinto em relação a eles, — resmungou ele,
tomando um gole de sua cerveja.
— Sim, infelizmente, eu sei, — eu disse com raiva.
— Eu sei que você tem a mente fechada.
Sebastian bateu com a cerveja na mesa. — Depois de tudo com Silas,
como você pode me chamar de mente fechada?
— Porque você está julgando um grupo inteiro de pessoas com base
nas ações de alguns! — Eu gritei. — Suas próprias experiências limitadas
não lhe dão o direito de ser preconceituoso!
— Não sou só eu que me sinto assim! — Sebastian gritou de volta. —
Olhe a sua volta!
— Eu olhei em volta, Sebastian. E o que eu vi foi ódio e feiura, — eu
disse, me sentindo enojada. Eu sabia que meu companheiro tinha esse
lado, mas sempre tentei ignorá-lo.
— Não estou dizendo que tudo o que acontece aos mestiços na
Cidade Santa está certo, mas se formos muito amigáveis com eles, qual
será a impressão que iremos passar? — ele perguntou.
— Você está falando sério? É com isso que você está preocupado? —
Eu cuspi.
— Claro que é com isso que estou preocupado! — ele rosnou. — Se
irritarmos a Deusa da Lua ainda mais do que já irritamos, não haverá
nenhuma chance de salvar a Alcateia Real!
Eu balancei minha cabeça em frustração enquanto pegava minha
jaqueta. Nós não iríamos resolver isso esta noite, então era melhor me
afastar da discussão.
— Onde você está indo? — Sebastian perguntou, sua voz ainda tensa.
— Longe de você e de suas visões distorcidas! — Eu gritei. — Vou
tentar não me associar a nenhum mestiço sem sua permissão!
Eu bati a porta atrás de mim.
Lyla: Ei, você está livre?

Teresa: Sim, e aí?


Lyla: Sebastian está sendo um idiota Lyla: Estou andando sem
rumo

Lyla: Estou tão brava!

Lyla: Ele tem a mente TÃO fechada Teresa: Ugh, acredite em mim,
eu conheço o tipo Teresa: Eu cresci com homens de mente
fechada durante toda a minha vida Teresa: Agora que sou Alfa,
vejo isso ainda mais Teresa: Mas Sebastian tem um bom coração
Teresa: Mesmo que ele seja inflexível com suas crenças Lyla:
Inflexível é uma boa maneira de o descrever Teresa: Vamos sair
pra beber?

Lyla: POR FAVOR

Teresa: Vamos para o Gargoyle Gargling

O Gargling Gargoyle era um bar que definitivamente fazia jus ao seu


nome. Gárgulas de pedra preenchiam cada centímetro quadrado do
lugar. E alguns dos clientes pareciam um pouco com estátuas grotescas...
— Como você encontrou este lugar? — Eu perguntei enquanto o
barman me servia a maior caneca de cerveja que eu já tinha visto.
— Tenho tentado me aventurar pelos bares locais de vez em quando,
— disse ela, batendo sua caneca de cerveja contra a minha. Eu levantei
minha sobrancelha para ela.
— O que mais eu devo fazer enquanto o resto de vocês estão
treinando ou patrulhando — ou no caso de Sebastian, de mau humor, —
ela disse, sorrindo.
Nós duas rimos, mas meu humor rapidamente ficou sombrio.
— Sério, T, o que devo fazer sobre Sebastian? Eu obviamente o amo
mais do que tudo, mas não suporto que sua maneira de pensar seja tão
retrógrada. Assim como esta cidade inteira.
— Bonita, mas retrógrada, — Teresa respondeu, concordando. — Boas
intenções são frequentemente corrompidas pelo poder.
— Desde quando você se tornou tão filosófica? — Eu perguntei,
olhando para a minha amiga, perplexa. — Você pode voltar a ser atrevida,
por favor?
— Ei, eu ainda sou muito atrevida, — ela respondeu, cutucando meu
ombro. — É apenas algo em que tenho pensado muito desde que me
tomei uma Alfa. Eu quero fazer o meu melhor para dar um bom exemplo
para minha alcateia.
Eu concordei. — Ok, vamos gargarejar como gárgulas e sair daqui, —
eu disse, apertando minhas mãos em volta da minha caneca gigante. — O
último a terminar tem que pagar!
— Fechado! — Teresa disse, sufocando uma risada enquanto tentava
beber.
Sebastian

Eu vaguei pelas ruas da Cidade Santa, sentindo raiva...


A maior parte dessa raiva era dirigida a mim mesmo.
Odiava brigar com Lyla e me sentia culpado pela maneira como gritei
com ela.
Eu estava sob muita pressão para colocar minha alcateia de volta nos
trilhos e não queria decepcioná-los.
Eu sabia que Lyla não tinha as mesmas crenças que eu sobre mestiços,
mas era um problema que sempre evitamos. Mas aqui na Cidade Santa,
onde estão integrados à sociedade, era impossível evitar.
E daí se Lyla fosse amiga de uma mestiça? Isso era realmente um
problema?
Eu só queria não ter tanta raiva e ressentimento em relação a eles pelo
que aconteceu com meus pais...
Enquanto continuava andando, me vi chegando perto da periferia da
cidade, onde residiam os mestiços.
Eu fiquei imediatamente nervoso. Eu não percebi que tinha
caminhado até aqui.
Coloquei minhas garras para fora enquanto examinava meu ambiente,
procurando por quaisquer ameaças potenciais.
Fiquei atento quando ouvi vozes e confusão na esquina.
De repente, uma bola rolou até meus pés e duas crianças mestiças
saíram correndo, rindo.
Eles pararam de repente quando me viram. Havia medo em seus
olhos.
Um deles se aproximou hesitante para pegar a bola, mas seu amigo o
puxou de volta. — Não, deixa pra lá! — ele sussurrou com urgência.
Uma sensação angustiante brotou em meu estômago quando as
crianças assustadas recuaram e desapareceram nas sombras. Eu
lentamente retraí minhas garras.
Os mestiços não eram a ameaça aqui...
Eu era.
Lyla estava certa?
Eu fui incapaz de ver além da minha própria raiva?
Lyla

Quando voltei aos tropeços para casa, estava mais do que um pouco
embriagada.
Tentei beber como uma gárgula essa noite, mas sou peso pena, como
dizíamos lá em casa.
Eu provavelmente deveria ter pegado um táxi, mas de que adiantava
ter dois pés funcionando?
Sem aviso, fui nocauteada e meus pés foram ao ar.
Eu bati no pavimento de pedra, com força.
Lutei para me levantar, a dor percorrendo meu corpo.
Colocaram um saco em minha cabeça e tudo ficou escuro.
Vários pares de mãos me agarraram e me senti sendo jogada para
dentro de um carro.
A porta se fechou e os pneus guincharam quando ele começou a
acelerar.
— Você tem ganhado bastante fama, Lyla — uma voz zombou. — E
gostaríamos de bater um papo com você.
18
ESPANCADA, ENSANGUENTADA,
MACHUCADA
Lyla

Eu estava amarrada a uma cadeira, um saco ainda cobrindo minha


cabeça.
Eu queria mudar de forma, mas me sentia tonta, desorientada.
Foco Lyla!
Tentei invocar meu lobo, mas assim que o fiz, senti uma dor
paralisante nas minhas veias.
Eu gritei enquanto todo o meu corpo se convulsionava.
Respirei fundo, tentando me acalmar, e senti um leve cheiro de
acônito.
Eles provavelmente me injetaram com uma microdose para me
impedir de mudar.
Ideia inteligente.
Quem quer que sejam esses caras, eles não estão brincando.
Havia outro cheiro no ar também — fumaça de charuto. Eu não era
especialista, mas não era o cheiro rançoso de charutos baratos. Isso
cheirava a dinheiro.
E o veludo macio da cadeira a que eu estava amarrada parecia algo
caro também.
Quem diabos eu irritei?
Eu ouvi passos e várias pessoas entraram na sala. O saco sobre a
minha cabeça foi arrancado sem cerimônia, e eu semicerra os olhos na
luz forte.
Meus captores eram apenas silhuetas contra minha visão embaçada,
mas eu podia ouvi-los falando.
— Se a vadia foi tão fácil de capturar, talvez ela não seja uma ameaça
tão grande assim, — um deles disse, gargalhando.
— Sim, eu pensei que ela deveria ser rápida com seus pés. Ela ganhou
a maldita corrida, — outro gargalhou.
Vou te mostrar o que meus pés podem fazer.
Ele estava a apenas alguns metros de distância.
Eu balancei minhas pernas para cima e as enrolei na cintura do
homem, jogando-o no chão com um baque.
A corda apertou contra meus pulsos enquanto eu lutava contra
minhas restrições, tentando me libertar.
Ao olhar para cima e focar minha visão, me deparei com o cano de
uma arma.
— Eu apenas me sentaria e relaxaria se eu fosse você, — disse uma voz
arrogante, e vi seu dono homem abaixar a arma
Ele era um homem grande, com cabelo loiro encaracolado e uma
expressão permanentemente presunçosa. Seu terno gritava — podre de
rico. — Eu estava disposta a apostar que ele ganhava dinheiro
extorquindo outras pessoas, como uma espécie de mafioso.
— O que você quer comigo? — Eu exclamei. — Você sabe que eu sou
uma Guardiã da Lua da Santíssima…
Ele ergueu a mão para me impedir. — Estou bem ciente, — disse ele,
sorrindo. — Você sabe quem eu sou?
Ele parecia familiar, mas eu não conseguia identificá-lo. — Não, —
respondi laconicamente.
— Eu sou Alfa Cornelius. Eu daria a você meu nome de alcateia. mas
eu resido em muitas alcateias, então isso pode levar algum tempo, — ele
disse com um sorriso de satisfação.
Agora eu sabia onde o tinha visto. Ele estava na corrida com os outros
Alfas.
Já tinha ouvido falar de Cornelius... ele era famoso na Cidade Santa.
Ele era um dos Alfas mais ricos e influentes do local, e ele usava subornos
para entrar ou sair de tudo que quisesse.
Mas eu não iria acariciar seu ego obeso.
— Isso tudo é para me impressionar? — Eu perguntei ironicamente. —
Porque não impressiona. Você pode ter muito poder nesta cidade, mas
não pode subornar a Deusa da Lua... e ela vai saber disso.
Cornelius e seus homens começaram a rir loucamente. — Você acha
que eu Cheguei nesta cidade ontem? Eu m porra de lugar. A igreja recebe
doações generosas de mim, então eu faço o que quero,
independentemente da Deusa da Lua.
Ele sorriu para mim com condescendência. — Não que você tenha
acesso a ela de qualquer maneira, já que é uma mísera Guardiã da Lua.
— Apenas me diga o que você quer, — eu rosnei com os dentes
cerrados.
Cornelius puxou uma cadeira e sentou-se bem na minha frente. —
Você me fez perder muito dinheiro quando venceu Achilles na corrida.
Então, isso é sobre apostas...
— Eu acho que você escolheu o cavalo errado, — eu disse, olhando
para ele. — Mais sorte da próxima vez.
Cornelius fez uma careta e agarrou sua arma.
— Cuidado, garota.
Eu realmente deveria ter mais cuidado com o que falava, mas a
combinação de álcool e acônito não estava ajudando.
— Eu posso ser seu melhor amigo ou seu pior inimigo, — disse
Cornelius, segurando meu rosto com a mão. — Se você quer que eu seja
o primeiro, então você perderá a luta com Achilles no Anel de Combate...
isso se você chegar tão longe.
— Nunca, — eu cuspi. — Você pode ficar com sua pulseira da amizade.
Cornelius olhou para mim. — Que pena.
Ele se levantou e estalou os dedos, sinalizando para seus homens se
aproximarem.
Quando Cornelius saiu da sala, dando-me um último sorriso
malicioso, seus capangas se aproximaram de mim.
Caspian

— Vamos, Beta! Use esses músculos! Você é um cachorro ou um


LOBO?!
Teresa estava assistindo meu levantamento de peso na arena de
treinamento. Embora apreciasse o incentivo, às vezes parecia que ela
estava me atacando.
— Não finja que não está torcendo secretamente para que Lyla ganhe
a competição — falei, sentando-me e me enxugando.
— Quem disse que era segredo? — ela perguntou com um sorriso
malicioso.
— Obrigada pelo apoio, — respondi secamente.
— Ei, só porque Lyla vai acabar com você, não significa que eu não
quero que nossa alcateia tenha uma boa aparência, — ela disse, jogando-
me uma garrafa de água. — Então, sim, vou ajudar a colocar você em
forma.
— E eu não duvido, — eu disse com uma risada.
— Sim, bem, não é como se você tivesse uma companheira para fazer
isso por você, então acho que sua Alfa terá que...
Teresa parou no meio da frase quando viu minha expressão mudar
com a palavra — companheira.
— Você não está a escondendo de mim, está? Você de repente
encontrou sua companheira perfeita? Uma francesa com um corpão? —
ela provocou, sem perceber que não era uma piada.
Mas meu silêncio disse tudo.
— Espere a porra de um segundo... — ela disse, erguendo o dedo. —
Caspian... você está...
Eu tinha esquecido de contar a notícia a Teresa porque não sabia
como ela reagiria, mas acho que agora não tinha escolha.
— Eu encontrei minha companheira, — eu disse, não sendo capaz de
conter meu sorriso. — Alguns dias atrás.
Eu esperava um comentário sarcástico ou uma piada sobre como
nenhuma mulher seria louca o suficiente para chegar perto de mim, mas
em vez disso ela sorriu de volta.
— Estou... estou realmente feliz por você, — disse ela. — Uau. Devo
ter bebido água benta ou algo assim, porque não consigo pensar em nada
negativo para dizer agora.
Levantei-me e fui dar a ela um abraço, mas Teresa levantou as mãos.
— Ei, ei! Ainda não chegamos lá.
Rindo, peguei minha bolsa de ginástica. — Justo. E por falar nisso,
tenho alguns assuntos inacabados com minha companheira.
Adele

Enquanto relaxava em um banho quente, os pensamentos de Caspian


nublaram minha mente, subindo como o vapor da água.
Eu sabia que ele seria um problema... mas um bom tipo de problema.
Uma mestiça sendo acasalada com um Beta era arriscado, mas era um
risco que valia a pena correr.
Uma batida suave na minha porta me tirou dos meus pensamentos. —
Só um minuto! — Eu gritei enquanto me levantava e colocava um roupão
em volta da minha pele molhada.
Eu cautelosamente espiei pela janela para ver ninguém menos que o
encrenqueiro, parado na minha porta.
Sorrindo, abri a porta. — Caspian? O que... o que você está fazendo
aqui?
— Eu vim ver minha companheira, — ele disse, entrando pela porta e
jogando sua mochila de ginástica no chão.
Meu sorriso desapareceu rapidamente. Oh não, minha casa está uma
bagunça. Eu estou uma bagunça! Não estou preparada para isso.
Corri ao redor do único cômodo que constituía minha modesta casa,
tentando arrumá-la o máximo possível.
Caspian inclinou a cabeça e me deu um sorriso curioso. — Adele, o
que você está fazendo? Você não acha que eu me importo com a limpeza
da sua casa, não é? Quer dizer, olhe pra mim. Acabei de vir da academia.
— Claro que você se importa, — eu disse, nervosa. — Onde você
cresceu, seu armário da cozinha era provavelmente do tamanho de
minha casa inteira!
Caspian cruzou a sala e colocou as mãos na minha cintura, beijando-
me na bochecha.
— Posso ter crescido em uma família obcecada por status, mas
acredite em mim... Eu não sou assim.
Sua casa é perfeita. E você também.
Caspian se inclinou e me beijou nos lábios, colocando sua mão áspera
contra minha pele lisa. Eu gemia enquanto sua língua brincava com a
minha e nossos beijos se tornaram vorazes.
Ele queria estar comigo.
E eu queria estar com ele.
Isso era tudo o que importava.
Ele deslizou o ombro do meu roupão para baixo e meu seio saiu para
fora, fazendo-me corar.
Sua mão o acariciou, seu polegar traçando meu mamilo endurecido.
Eu instintivamente alcancei sua virilha, onde podia sentir seu
membro querendo se libertar.
Abri o zíper e coloquei a mão dentro, ofegando quando agarrei seu
pau grosso em minha mão.
Caspian retirou a parte do roupão que cobria meu outro ombro e
colocou meu mamilo em sua boca, chupando-o e mordendo-o levemente
com os dentes.
Eu gemia de prazer enquanto acariciava seu pau para cima e para
baixo.
Enquanto agarrava firmemente a base, imaginei-a me penetrando,
deslizando para dentro do meu sexo molhado, e...
Uma batida rápida e repentina na porta quebrou a mágica do
momento.
Olhei para Caspian e depois para a porta. Eu nem esperava um
visitante esta noite, muito menos dois.
Eu rapidamente coloquei meu roupão e Caspian fechou o zíper e
ajustou suas calças. — Quem... quem é? — Eu perguntei nervosamente.
— Sou eu... — A voz parecia distante e tensa, mas familiar.
Abri a porta e quase gritei, cobrindo a boca com as mãos.
Porque parada na minha porta estava Lyla...
Espancada, ensanguentada e machucada.
19
PASSOS DO PAI
Lyla
Adele limpou os cortes sangrentos no meu rosto enquanto Caspian
andava de um lado para o outro na pequena casa.
— Aquele filho da puta! — ele rosnou. — Não podemos deixá-lo
escapar impune.
Estremeci quando Adele passou um pano embebido em álcool na
minha testa. — Esses caras comandam a cidade, Caspian. Eles não são
apenas bandidos comuns.
— Mas você é uma Guardiã da Lua pelo amor da Deusa, — ele
respondeu. — Isso não significa nada para eles?
— Sim, isso significa que estou em uma posição ainda mais fácil de ser
manipulada, — eu disse, pensando em como eles riram de mim quando
eu comentei isso.
— Você não quer ver o lado ruim de Alfa Cornelius, — disse Adele.
— Ele tem um lado bom? — Eu perguntei incrédula. — Bem. não.
todos são ruins, — admitiu Adele. — Só estou dizendo que ele não fica só
na ameaça... ele é realmente perigoso.
— Você fala sobre ele como se tivesse experiência pessoal, — eu disse,
levantando uma sobrancelha. — Poderia compartilhar?
Adele hesitou e seu rosto ficou sombrio. — Sim, estou muito
familiarizada com Cornelius. Ele é um patrono regular da igreja.
Caspian parou de andar e olhou para sua companheira nervosamente.
— Ele... ele deu em cima de mim uma vez, — ela disse, sua voz
falhando um pouco. — E quando eu recusei... ele me açoitou
publicamente, dizendo que fui eu quem fez a proposta.
As garras de Caspian saíram e seus olhos brilharam enquanto ele
mudava parcialmente de forma. — Eu vou matar essa porra…
Adele calmamente colocou a mão no peito de Caspian, e ele começou
a relaxar, voltando ao normal.
— Estou bem, Caspian. Acredite em mim, já suportei muito pior do
que isso. Mas só estou dizendo que Lyla precisa ter cuidado.
Eu balancei a cabeça em compreensão. — Não vou deixá-lo tirar
vantagem de mim de novo, isso é certo.
— Eu digo que devemos tirar vantagem dele, — Caspian rosnou, seus
olhos ainda ardentes. — Mostrar a ele um pouco da hospitalidade do sul.
— Eu entendo sua raiva, Caspian, mas ainda sou uma Guardiã da Lua.
Eu tenho que derrubá-lo pelos canais apropriados, — eu disse, embora eu
desejasse poder estourar aquele fanfarrão inchado como a espinha que
ele era.
— Precisamos acertá-lo onde dói mais, — eu disse.
— E onde é isso? — Caspian perguntou, cruzando os braços.
— A carteira dele, — eu disse com um sorriso. — Ele está apostando
muito dinheiro no Achilles e espera que eu perca a luta. Mas isso não vai
acontecer.
Cornelius acendeu um fogo dentro de mim. Se eu não estivesse
determinada a vencer aquela luta antes...
Eu com certeza estava agora.
Sebastian

Acordei sozinho, o lado da cama de Lyla intocado. Ela não voltou para
casa ontem à noite.
Nossa briga foi ruim, mas eu não esperava que ela fosse ficar fora a
noite toda. Eu estava começando a ficar preocupado.
Verifiquei meu telefone, mas não havia novas mensagens. Mandei
uma mensagem para ela, esperando uma resposta rápida.
Sebastian
ei, cadê você?
Sebastian
sinto muito pela noite passada
Sebastian
não quero mais brigar
Sebastian
por favor me diga que você está a salvo
Joguei meu telefone na cama e deitei, segurando minha cabeça em
minhas mãos.
Deusa, eu fui um idiota na noite passada.
Eu não poderia sentar e afundar na autopiedade.
Eu precisava encontrar Lyla.
Eu pulei da cama e peguei minha jaqueta, indo para a porta da frente,
quando...
Ela se abriu e Lyla entrou... cheia de cortes e hematomas.
Larguei minha jaqueta e corri para ela. — O que diabos aconteceu?
Você está bem?
Ela me deu um abraço apertado, avisando que nossa discussão estava
posta de lado por enquanto. Ela encostou em meu peito e exalou um
suspiro profundo.
— Diga-me o que aconteceu, — eu disse com mais urgência. — Se
alguém te machucou, eu vou…
— Eu estou bem. Sebastian. — ela disse, se afastando. — Fiquei muito
bêbada ontem à noite e... caí de algumas escadas.
Lyla era muitas coisas, mas desajeitada não era uma delas.
— Algumas escadas? — Eu perguntei, cético. — Você caiu de todas as
escadas da basílica?
— Sebastian, se nós vamos brigar de novo, então eu irei embora de
novo, — ela disse, frustrada. — Não estou com saco para…
— Desculpe, desculpe, — eu disse, levantando minhas mãos. — Não
estou tentando começar uma briga. Eu só estava preocupado com você.
Levei Lyla até o sofá e me sentei, puxando-a para o meu colo. Ela se
aninhou em mim e fechou os olhos.
— Eu... vou tentar ter a mente mais aberta... sobre a questão dos
mestiços, — eu disse de repente. — Posso não concordar com tudo, mas
vou me esforçar mais. Só queria que você soubesse disso.
Ela acenou com a cabeça, acariciando meu pescoço. — Só não seja um
grande idiota, — ela murmurou.
— Ok, eu vou ser menos idiota com uma condição, — eu disse,
acariciando seu cabelo. — Você não pode beber mais álcool antes da
grande luta.
— Vou aceitar esse acordo, — respondeu ela. — Eu não sei se vou
beber de novo, honestamente.
— Bom, você precisa estar na melhor forma possível, — eu disse
resolutamente. — E eu vou ajudar você a treinar.
Lyla

Por mais fofa que fosse a ideia de Sebastian me ajudar a me preparar


para a luta, eu não estava exatamente animada de tê-lo como meu
treinador pessoal.
Malhar e fazer exercícios eram mais sagrados para ele do que a própria
Deusa.
Eu estava prestes a embarcar em uma aventura...
E não seria divertido.
Mas eu ainda tinha o resto do dia de folga do treinamento e do
trabalho, então eu ia aproveitar. Sebastian e eu decidimos dar uma
olhada na arena de luta onde a competição seria realizada.
Era um estádio enorme que poderia abrigar toda a Cidade Santa. E
isso provavelmente aconteceria, na noite da luta.
O terreno arenoso do piso do estádio era acompanhado por
formações rochosas e plataformas para escalar e pular.
Essa luta não seria apenas baseada na força — estratégia também
estaria envolvida.
Os olhos de Sebastian continuaram se arregalando com cada novo
detalhe que ele absorvia. — Este lugar é incrível — ele disse com
admiração. — Eu meio que gostaria de poder competir também.
— Oh, você acha que poderia me enfrentar no ringue? — Eu
perguntei, o provocando. — Lembre-se: a última vez que estivemos
frente a frente, eu varri o chão com você.
Enquanto caminhamos por um corredor repleto de troféus e fotos
comemorando os vencedores anteriores, Sebastian divertidamente
agarrou minha cintura.
— Bem, talvez seja hora de uma revanche, — ele rosnou, mordiscando
minha orelha.
— Eu não acho que seu ego poderia lidar com uma segunda derrota,
— eu disse, rindo enquanto sua língua fazia cócegas em meu pescoço.
Sebastian me pressionou contra a parede e sussurrou em meu ouvido.
— Quer você esteja embaixo de mim ou em cima de mim... de qualquer
forma, sou um vencedor.
Ele me beijou e meus lábios se separaram, ansiosos para provar meu
companheiro. A emoção do ringue de luta me fez querer gastar energia...
Mas lutar não era o que estava em minha mente.
Sebastian levantou minhas pernas. Nossa pequena sessão de amassos
estava ficando mais quente e intensa, mas esfriou rápido quando acabei
olhando para algo por cima do ombro dele.
— Sebastian. pare! — Eu gritei, me afastando e correndo até uma foto
empoeirada emoldurada na parede. Coloquei minha mão contra ela,
limpando a poeira, meus olhos embaçados.
Era uma foto de Michael.
A placa abaixo dizia: — ANEL DE COMBATE, GRANDE CAMPEÃO.
— Meu pai deve ter vencido a competição de luta no ano em que
participou, — disse eu, com o coração disparado.
Ele estava segurando a mesma espada na foto que ele me deu para
derrotar Silas.
— Ele ficaria tão orgulhoso de você, — Sebastian disse, colocando a
mão no meu ombro.
Michael tinha cometido muitos erros, mas era estranhamente
reconfortante saber que eu estaria colocando os pés no mesmo ringue
que ele, tantos anos atrás.
Eu só tive um curto tempo para me reconectar com ele, mas agora eu
estava seguindo seus passos.
Só que eu não estaria caminhando pelo mesmo caminho...
Meu pai fugiu de seus problemas quando as coisas ficaram difíceis.
Eu iria me levantar e encarar tudo de cabeça erguida, não importa o
quão difícil as coisas parecessem.
Eu vou ganhar isso...
Para mim. Para minha alcateia.
E para meu pai.
Adele

Meus dias de trabalho se tornaram menos monótonos, pois eu sabia


que tinha um companheiro esperando por mim assim que o dia
terminasse.
Isso era uma motivação, algo que me ajudava a enfrentar o trabalho
interminável.
Meu relacionamento com Caspian ainda era arriscado, mas a
recompensa provou ser muito maior.
Terminei de polir o último castiçal de ouro do santuário — apenas um
dos muitos que custava mais do que a minha casa — e peguei minhas
coisas com pressa.
Eu andei pelo corredor com um sorriso no rosto, mas ele
imediatamente sumiu quando vi dois Guardiões da Lua armados se
aproximando de mim.
Oh não... eles descobriram sobre...
Os dois homens pararam na minha frente, parecendo imponentes. —
O cardeal Mercer gostaria de falar com você, — um deles grunhiu.
Deixei que me acompanhassem até seu escritório, embora soubesse
que não tinha escolha.
Eu entrei nervosamente e eles fecharam a porta atrás de mim. O
cardeal Mercer se levantou e me olhou de soslaio.
Havia algo sinistro na maneira como seus olhos examinaram meu
corpo.
Ele saiu de trás de sua mesa e se aproximou de mim.
— Eu sei que você está bastante ocupada com suas tarefas do festival,
— ele disse, chegando desconfortavelmente perto. — Mas há algo mais
que é exigido de você.
— E o que é isso? — Eu gaguejei.
— De agora em diante, você vai trabalhar como minha assistente
pessoal, — ele respondeu, seus lábios se curvando em um sorriso sinistro.
20
ÓLEO NO CORPO
Lyla

Quando eu não estava em patrulha, cada segundo do meu tempo era


destinado a treinar pra caralho com Sebastian para o Anel de Combate.
Com toda a franqueza, as sessões de treinamento eram basicamente
terapia...
Eu não tinha contado a Sebastian sobre o que tinha acontecido com
Cornelius, e nossas lutas provaram ser uma ótima maneira de extravasar
minha raiva.
E esses dias, eu estava muito raivosa.
A cada soco que eu dava no saco cheio de areia pendurado na minha
frente, eu pensava nas fontes de minha raiva.
Elas estavam alimentando a luta dentro de mim.
Aquele idiota arrogante, Achilles, e o jeito que ele falou comigo: como
se eu não fosse uma competidora de verdade.
WHACK!
Vou fazê-lo se arrepender de ter me subestimado.
Cornelius, com suas ameaças e táticas de intimidação. Ele queria que
eu perdesse a luta de propósito.
WHACK!
Será TÃO satisfatório ver a expressão em seu rosto quando ele perceber
que apostou no lutador errado.
Cardeal Mercer, que tornou minha posição como Guardiã da Lua para
a igreja um verdadeiro inferno.
WHACK!
Esse idiota vai ter o que merece. Se ele quiser me jogar no fogo, vou sair
das cinzas como um cão infernal.
Rosnando, dei um chute circular no saco de pancadas que o soltou de
seu suporte e o fez voar pela sala.
Sebastian se esquivou por pouco, olhando para mim com surpresa.
— Você está realmente descontando sua raiva nesse treino, hein? —
disse ele, aproximando-se de mim. — Não, estou usando essa raiva para
alimentar meus instintos de luta, — respondi, respirando pesadamente.
— Isso nunca vai funcionar, — disse ele, balançando a cabeça. — A
raiva apenas confunde seus instintos. Ela não os intensifica. Um lutador
calmo e focado é muito mais eficaz do que um cheio de raiva. — Eu
resisti à vontade de revirar os olhos. — Uma palestra sobre ficar calmo,
vinda de você? Essa é boa.
— Claro, tenho um temperamento forte, mas sei como mantê-lo fora
do campo de batalha, — respondeu ele. — Se você não tem clareza em
uma luta, então você não tem chance.
— Importa-se de colocar isso à prova? — Eu perguntei, ainda me
sentindo energizada pela minha raiva.
Sebastian deu de ombros e começou a envolver as mãos com fita. —
Tudo bem, mas eu avisei.
— Enfie seus avisos no cu, — eu disse com um sorriso. — Talvez então
você não se machuque quando cair de bunda.
— Oh, então você já partiu para as provocações? — ele disse, sorrindo
de volta. — Ficarei ainda mais satisfeito quando eu provar que você está
errada. — Caminhamos pelo corredor e entramos no ringue de combate
de areia. Eu estava tão pronta para tirar aquele olhar presunçoso do rosto
de Sebastian.
Eu iria transformar minha raiva em um tornado de dor.
— Vamos começar, — Sebastian disse, assumindo uma postura
defensiva.
Assim que as palavras escaparam de sua boca, eu me lancei contra ele
a toda velocidade.
Ele bloqueou meus socos e me tirou o equilíbrio, me irritando ainda
mais.
Tentei derrubá-lo com força absoluta, mas ele se manteve firme e me
empurrou para trás.
Suando e ofegante, peguei uma espada de treino de um suporte de
armas próximo e joguei para ele antes de pegar uma das minhas.
— Vamos ver como você maneja uma arma, — eu disse ironicamente,
tentando tirá-lo do modo defensivo.
Minha espada encontrou a dele com um estrondo, e eu a golpeei
repetidamente, a raiva me consumindo.
Achilles.
Cornelius.
Mercer.
Sebastian bloqueou golpe após golpe, e então finalmente me
derrubou. Eu caí de costas e ele arrancou minha espada da minha mão,
colocando a ponta cega da sua contra o meu pescoço.
— Eu te disse, uma cabeça calma sempre prevalece em uma luta.
Eu odiava quando ele estava certo, mas não podia negar.
Eu deixei minha raiva nublar meu julgamento. Eu fui um desastre
nessa luta.
Ele estendeu a mão para me puxar para cima, mas eu ainda estava me
sentindo um pouco mesquinha...
Eu agarrei sua mão, mas em vez de me puxar para cima, eu o puxei
para baixo e rolei, prendendo-o no chão.
— Isso foi trapaça, — disse ele com um sorriso enquanto eu deitava
em cima dele. — Suponho que não estava esperando.
— Esteja sempre preparado, — eu disse, entrelaçando meus dedos
com os dele enquanto segurava suas mãos acima de sua cabeça.
Nossos corações batiam rápido por causa da luta, mas também por
causa da tensão entre nossos corpos.
Nada fazia nosso sangue bombear mais do que uma boa sessão de luta
e, a julgar pela dureza do pau de Sebastian embaixo de mim, todo o seu
sangue estava sendo bombeado para um único lugar.
Inclinei-me e fiz beicinho, prestes a dar-lhe um beijo. Sebastian
ergueu a cabeça, seus próprios lábios se separando em antecipação, mas...
Eu me afastei e me levantei. — O treinamento acabou por hoje. Estou
pronta para algo mais avançado, — eu disse, meu tom o chamando para
seguir.
Eu não iria permitir que essa adrenalina fosse desperdiçada. Quando
chegamos ao vestiário vazio, virei minha cabeça e olhei para Sebastian
por cima do ombro. Ele já estava tirando sua camisa encharcada de suor.
Seu abdômen brilhava e seu cabelo bagunçado o deixava ainda mais
sexy do que o normal.
Puxei minha própria camisa pela cabeça e Sebastian desabotoou meu
sutiã, acariciando meus seios por trás.
Ele esfregou seu pau contra meu short antes de tirá-lo e dar um tapa
na minha bunda.
Eu me deitei em um banco e levantei minhas pernas no ar. dando a ele
uma bela vista. Ele tirou a cueca e veio para cima de mim, olhando meu
corpo de maneira faminta.
De repente, ele olhou para um armário aberto e um sorriso malicioso
apareceu em seu rosto. — Espere, — disse ele, levantando-se e
caminhando até o armário.
Ele voltou com uma garrafa de azeite. Os lutadores ocasionalmente o
usavam em lutas, mas Sebastian claramente tinha outro uso para ele em
mente.
Ele gotejou o líquido espesso entre meus seios e por todo o caminho
até o meu estômago.
Estremeci com a frieza do óleo, mas quando Sebastian começou a
esfregá-lo na minha pele, ele ficou quente.
Ele esfregou o óleo por todo o meu peito, dando atenção especial aos
meus seios. Meus mamilos endureceram quando suas mãos deslizaram
por todo o meu corpo.
Peguei a garrafa e esguichei o óleo sobre os peitorais protuberantes e
tanquinho de Sebastian. Ele rosnou de prazer quando o óleo pingou em
seu pênis e comecei a acariciá-lo.
Minha mão deslizou para cima e para baixo no eixo com facilidade.
Esfreguei a ponta com o polegar, fazendo seus olhos revirarem.
Sebastian tentou me colocar em seu colo, mas nossos corpos estavam
tão escorregadios por causa do óleo que escorreguei de suas mãos e
caímos juntos.
Nós dois sufocamos nossa risada enquanto tentávamos voltar para
uma posição confortável. O pau lubrificado de Sebastian quase entrou
dentro de mim, provocando meu sexo, e isso me fez gemer. Eu queria
que ele me abrisse.
Nossas línguas lutaram uma com a outra quando Sebastian colocou
seu pau dentro de mim e começou a meter em mim.
O azeite pode ter eliminado um pouco do atrito, mas a velocidade e a
facilidade de entrada mais do que compensaram.
Sebastian estava me fodendo como um guerreiro e eu estava
explodindo de desejo.
— Isso, isso! Não para! — Eu gritei enquanto derramava mais óleo em
nossos corpos.
Eu mal conseguia pensar direito, estava tendo um orgasmo muito
intenso.
Sebastian também não aguentou mais. Ele saiu de dentro de mim e
despejou sua porra no meu estômago.
Quase assim que ele terminou, ouvimos o clique de uma porta. —
Merda, alguém está vindo, — eu sibilei.
Era raro alguém aparecer na arena de treinamento tão tarde. Rindo,
pegamos nossas roupas e seguimos para o chuveiro mais próximo,
fechando a cortina em torno de nós.
Enquanto tiramos o óleo de nossos corpos, nos abraçamos e trocamos
um beijo longo e profundo.
Eu sorri para mim mesma. Eu sabia que as sessões de treinamento
com Sebastian seriam exaustivas, mas...
Eu não sabia que elas seriam tão gostosas.
Sebastian

Eu me sequei depois do banho e enrolei a toalha em volta da minha


cintura. Eu disse a Lyla que iria treiná-la. mas ela provavelmente não
esperava um treino de corpo inteiro como esse.
Eu não conseguia parar de sorrir, pensando em como o sexo foi bom,
mas quando peguei meu telefone da minha mochila, o sorriso
desapareceu instantaneamente.
Magnolia: Ei, eu sei que você não precisa de mais más notícias,
mas...

Magnolia: as coisas estão piorando aqui

Magnolia: A Alcateia Estrela da Noite e a Alcateia Real


começaram a brigar novamente Magnolia: Tentei de tudo para
juntá-las, mas nada funciona Magnolia: A falta de recursos
também não está ajudando Magnolia: Não temos quartos
suficientes para abrigar todos, então temos que colocar duas
pessoas no mesmo quarto e, em alguns casos, TRÊS

Magnolia: Não é a melhor situação quando os — colegas de


quarto — já se odeiam Sebastian: foda-se

Sebastian: Podemos construir um novo alojamento? Temos muitas


áreas cultivadas Magnolia: Claro, mas para fazer isso, precisamos
de financiamento Magnolia: E temos pouco dinheiro

Sebastian: Tudo bem, estou trabalhando nisso

Sebastian: Faça o que você tem que fazer para manter todos
felizes agora Sebastian: Invada minha adega

Sebastian: Abra os barris da cervejaria

Sebastian: Dê algumas festas

Sebastian: Deixe-os animados, para que eles não percebam como


as coisas estão uma merda Magnolia: Entendido, Alfa

Magnolia: Vou manter isso sob controle

Magnolia: Só espero que possamos encontrar uma solução mais


permanente Eu sabia que as coisas na alcateia estavam ruins, mas não
sabia que estavam assim. Magnolia estava lidando com uma tempestade
de merda enquanto eu estava fora, mas eu vim aqui para nos colocar de
volta nos trilhos.
Tudo dependia daquela audiência com a Deusa da Lua.
Era muita pressão para Lyla. mas nós dois tínhamos que nos esforçar.
Ela tinha que ganhar a competição...
E eu não deixaria nada entrar no caminho dela.
21
CABEÇAS MAIS FRIAS
Lyla

Fique calma.
Não ceda à raiva.
Mantenha a cabeça limpa.
Eu estava na arena do lutador, repetindo essas palavras sem parar,
tentando abafar o barulho da multidão ensurdecedora.
Quase toda a Cidade Santa apareceu para a segunda competição do
Festival das Trevas da Lua.
Este era um dos eventos que mais agradava o público.
Sangue seria derramado naquela arena hoje...
Só esperava que não fosse o meu.
Em alguns minutos, eu estaria enfrentando meu primeiro oponente.
Eu não tinha ideia de quem seria ou que arma ele usaria. Era um sistema
projetado para manter os lutadores em alerta. Eu tinha que estar
preparado para tudo.
O Ringue de Combate era um torneio de várias fases que acabaria
com apenas dois lutadores, que se enfrentariam na rodada final.
Eu tinha que ser um deles.
Ao me afastar da multidão, me vi cara a cara com Achilles, esfregando
giz em suas palmas.
Ele estava vestindo apenas uma tanga solta e deixava pouco para a
imaginação. Meus olhos vagaram para baixo antes que eu pudesse detê-
los.
— Gostando do que vê? — Achilles perguntou, me provocando. —
Espero que você não se distraia muito com meu pau na arena.
— Espero que minha espada não escorregue, — eu disse
laconicamente. — Nós, lobisomens, podemos curar rápido, mas duvido
que você consiga crescer um pau novamente.
O sorriso arrogante em seu rosto desapareceu rapidamente. — Você
vai cair naquela arena. Você vai perder na frente de seu companheiro, a
Deusa e de toda a porra da cidade.
— Você vai comer essas palavras com uma porção saudável de poeira
quando eu te deixara no chão, — eu rosnei.
Controle sua raiva!
Mesmo que fosse minha própria voz interior me dizendo para manter
o controle, escutei a voz de Sebastian na minha cabeça.
Sem dizer mais nada, afastei-me de Achilles. Era melhor me retirar da
situação.
— Sim, vá embora! — ele zombou. — E continue andando até
Montana ou de onde quer que você seja. Você não consegue aguentar! A
arena não é lugar para vocês, delicadas beldades do sul.
Minha mão agarrou o punho da minha espada, mas meu telefone
felizmente começou a zumbir, me distraindo de alguns pensamentos
violentos.
Peguei-o para ver uma mensagem de Sebastian.
Sebastian
Boa sorte, baby
Sebastian
Estou aqui torcendo por você
Sebastian
Eu sei que você vai arrasar
Sebastian
Você meio que não tem escolha
Sebastian
Há muita coisa em jogo
Lyla
Mas assim, sem pressão nem nada
Mas assim, sem pressão nem nada
Sebastian
Desculpe, não estou tentando pressioná-la
Sebastian
Só estou deixando você saber que eu acredito em você
Lyla
Obrigado pelo apoio
Lyla
Seu treinamento realmente ajudou
Sebastian
Mantenha a calma e acabe com eles
Sebastian
Não havia espaço para erros. Eu precisava vencer isso; não apenas para
nós, mas também para a Alcateia Real e a Estrela da Noite.
Caspian colocou a mão gentilmente no meu ombro enquanto se
aproximava de mim. — Ei. Está pronta?
— O máximo possível, — respondi tensa. — Há muita coisa em jogo
nisso.
— Bem, aconteça o que acontecer, espero que sejamos você e eu
enfrentando um ao outro na rodada final, — disse ele.
Eu olhei para ele com surpresa. — Sério? Você quer lutar comigo?
— Claro. Quero dizer, você obviamente vai vencer, mas não vou
facilitar para você, — ele respondeu, sorrindo.
Eu estava tão feliz que Caspian estava aqui comigo antes de eu entrar
no ringue. Ele sempre sabia dizer a coisa certa para me manter
equilibrada.
— A PRIMEIRA DUPLA DE LUTADORES A MOSTRAR O SEU
VALOR NO ANEL DE COMBATE...
A voz de um locutor ecoou por todo o estádio e pelos alto-falantes da
área do lutador.
— Oh merda, eles estão anunciando a primeira luta! — Caspian disse
animadamente.
. —.. LYLA GREEN E CONTESSA CROW!
Eu lancei a Caspian um olhar nervoso. Eu seria a primeira a lutar e,
além disso, o nome de minha oponente não era nada amigável.
Eu agarrei a espada do meu pai e fechei os olhos. Ele esteve aqui, neste
exato local, anos atrás. Ele enfrentou o mesmo medo que eu estava
sentindo agora.
Pai, você nem sempre esteve do meu lado, mas eu sei que você ficaria
honrado em ver sua espada usada nesta luta.
Não quero decepcionar você, mas acima de tudo, não quero me
decepcionar.
Ele pode não estar aqui fisicamente, mas era quase como se eu
pudesse sentir sua presença. Isso me confortou.
Tirei minha espada da bainha e olhei para meu reflexo na lâmina
polida.
Eu posso fazer isso.
Eu entrei na arena com o rugido da multidão. Imediatamente avistei
Sebastian na área do Alfa, aplaudindo e gritando meu nome. Teresa
estava bem ao lado dele, levantando o punho.
Cornelius estava com um sorriso malicioso no rosto, mas isso não
duraria muito tempo. Eu mal podia esperar para ver sua expressão
quando eu chutar sua bunda de campeão na rodada final.
Meu oponente saiu da área do lutador do outro lado da arena.
A Condessa Crow fazia jus a seu nome feroz em todos os sentidos.
Ela estava usando uma máscara enjaulada e empunhando uma bola
com cravos e uma corrente. Ela a balançou em vários movimentos
rápidos e a bateu na areia com um baque pesado; a multidão foi à
loucura.
Contessa e eu estávamos a vários metros de distância uma da outra, e
ela olhou para mim através da máscara.
— Você pode simplesmente desistir agora, então eu não tenho que
machucar esse seu lindo rosto, — ela zombou. — Seria uma pena.
— Parece que você tem medo de uma luta de verdade, — retruquei. —
E você deveria ter. — Ela pareceu abalada com a minha confiança, mas
apenas por um momento. A ferocidade voltou a seus olhos e assim que a
campainha soou, ela se lançou contra mim, balançando sua arma.
Eu levantei minha espada bem a tempo de bloquear a bola com cravos,
cavando meus pés na areia.
Seu segundo golpe veio ainda mais rápido, e a corrente enrolou em
volta da minha lâmina em um caos total. Ela puxou sua arma e a força
me tirou do chão, fazendo com que eu caísse de bruços.
A multidão engasgou.
— Você está tornando isso muito fácil, — ela incitou. Eu consegui
recuperar minha espada e rolar para o lado, no momento em que a bola
com cravos pousou onde minha cabeça estava.
Isso teria deixado uma marca.
Ela tinha uma velocidade incrível para alguém que usava uma
armadura tão pesada, mas eu percebi uma fraqueza.
Cada vez que ela jogava a bola e ela caía na areia, ela afundava
bastante. Ela tinha que usar muita força para puxá-la de volta.
Eu estava formulando um plano.
Na próxima vez que ela jogasse a bola, eu estaria pronta.
Eu dei uma cambalhota para a frente e pulei de pé, brandindo minha
espada e fazendo-a perder o equilíbrio.
Ela balançou novamente, mas foi fácil de se esquivar de seu ataque.
Quando a bola pesada caiu na areia, tive minha chance.
Enfiei a ponta da minha espada no grosso elo da corrente, enterrando-
a na areia. Quando a Contessa tentou puxá-la de volta, a corrente
escapuliu de sua mão.
Ela tropeçou, tentando segurar sua arma, mas eu estava muito
coordenada. Dentro de instantes, minha espada estava em seu pescoço,
cortando sua pele.
Ela ergueu as mãos em sinal de rendição e a multidão explodiu em
aplausos.
Eu havia vencido a primeira luta. Eu olhei para Sebastian. que estava
pulando para cima e para baixo com tanta força que pensei que a área dos
Alfas ali no estádio fosse quebrar.
Voltei para a área do lutador, onde Caspian imediatamente me
abraçou.
— Lyla, você foi incrível! — ele gritou. — Você me fez mijar nas calças
no início, mas sua estratégia no final foi muito boa!
— A SEGUNDA LUTA DE LUTADORES A MOSTRAR O SEU VALOR
NO ANEL DE COMBATE...
Eu estava cheia de adrenalina, animada com a minha vitória. Nada
poderia me impedir de-
— CASPIAN ALEXANDER E ACHILLES DEBROUX!
Meu sangue gelou enquanto eu olhava para Caspian com horror. Eu
não conseguia acreditar que isso estava acontecendo.
Porra! Por que ele? Qualquer um menos Achilles!
Quando Caspian me soltou de seu abraço, seus braços estavam moles.
— Caspian... — Eu queria dizer a ele palavras de encorajamento.
Eu queria dizer a ele que ele iria arrasar.
Mas tais palavras não estavam saindo da minha boca...
Ele caminhou em direção à arena como um homem caminhando para
sua sentença de morte.
Caspian

Eu nunca teria admitido antes deste momento, mas Achilles me


assustava.
Ele tinha o dobro do meu tamanho e era um lutador dez vezes melhor
que eu.
Seria necessário um milagre para derrotá-lo. Mas, novamente, se eu o
derrotasse, Lyla não teria que fazer isso.
Esse pensamento me deu confiança suficiente para entrar no ringue,
embora internamente eu ainda estivesse apavorado.
Eu examinei a multidão procurando por Adele, mas não consegui
encontrá-la em lugar nenhum. Os mestiços provavelmente tinham que
assistir às lutas da periferia do estádio.
Esse pensamento fez meu sangue ferver completamente.
Bom, talvez eu possa usar isso.
Quando me posicionei na frente de Achilles, ele me deu um sorriso
malicioso. — Será divertido quebrar você no meio, Beta.
Engoli em seco quando a campainha soou.
O que aconteceu a seguir foi tão rápido que pareceu um borrão.
Achilles baixou o cabo da espada no topo do meu elmo, amassando-o e
me desorientando.
Enquanto eu cambaleava para trás, ele chutou minhas pernas e eu caí
de costas.
Achilles deixou a espada de lado e me socou com os punhos.
De novo e de novo e de novo.
O sangue escorria pelo meu queixo, meus olhos não conseguiam focar
em nada. Eu queria me render, mas meu corpo não deixava.
Sua sombra pairou sobre mim enquanto ouvia gritos na multidão.
Pensei ter ouvido Lyla gritando meu nome.
A dor era tão intensa que comecei a ficar dormente.
Então, quando tudo começou a escurecer, eu senti...
CRACK!
22
JOGANDO SUJO
Lyla

Tentei conter minhas lágrimas enquanto Caspian era carregado em


uma maca. Ajoelhei-me ao seu lado, segurando sua mão.
Achilles havia aniquilado completamente o Caspian. Levou apenas
segundos.
Foi brutal de assistir, mas foi ainda mais brutal ver as consequências.
As costelas de Caspian estavam fraturadas em vários lugares, e seu
rosto estava repleto de hematomas pretos e azuis.
Ele estava ofegante quando a ambulância entrou no estádio.
— Você... você vai se curar rápido, — eu disse, minha voz tremendo. —
Você estará de volta com a gente rapidinho.
Caspian apertou minha mão com força. — Não se preocupe comigo,
preocupe-se em ganhar, — ele murmurou.
Mas vencer era a última coisa em que eu estava pensando ao ver um
dos meus amigos mais próximos quase quebrado em pedaços.
— Por favor, — ele murmurou. — Você tem que vencê-lo... faça isso
por mim.
Eu balancei a cabeça, minha mão trêmula se firmando. Ele estava
certo. Não podia deixar Achilles vencer.
— Não se preocupe, — eu disse, olhando para Achilles do outro lado
da arena, onde as câmeras de repórteres o cercavam. — Eu farei aquele
filho da mãe desejar nunca ter nascido.
Foda-se isso de ficar calma e equilibrada.
Eu vou destruir aquele pedaço de merda quando nos encontrarmos no
ringue.
Vários socorristas colocaram a maca de Caspian na ambulância. Eu os
observei ir embora.
Eu não o decepcionaria.
Quando voltei para a área do lutador, fiquei surpresa ao ver Sebastian
esperando por mim.
— Como você chegou aqui? — Eu perguntei, imediatamente jogando
meus braços ao redor dele. Eu precisava tanto de seu abraço agora.
— As lutas foram interrompidas brevemente devido aos ferimentos de
Caspian. então eu subornei alguns Guardiões da Lua para me trazerem
aqui, — ele disse, me segurando forte.
Quando finalmente nos soltamos, ele tinha uma expressão séria no
rosto. — O que aconteceu com Caspian... Não posso assistir isso
acontecer com você.
— Não vai. — eu disse, sentindo um fogo dentro de mim. — Achilles
pode ser forte, mas é previsível. Ele não vai conseguir me pegar de
surpresa. — Sebastian assentiu, embora ainda parecesse nervoso. —
Apenas tenha cuidado. Eu te amo demais para ver você se machucar. Vou
ter que pular no ringue sozinho.
Eu sorri e coloquei minhas mãos em seus ombros largos, puxando-me
o suficiente para pressionar meus lábios contra os dele.
Nós continuamos nos beijando o máximo que pudemos, mas a
campainha sinalizou que a próxima partida estava prestes a começar.
A contragosto, ele se afastou. — Você consegue, — ele murmurou
enquanto o rugido da multidão abafava todo o resto.
Eu balancei a cabeça e respirei fundo.
É hora do show.
Adele

O cardeal Mercer estava me deixando sobrecarregada com tarefas


desde que me tornei sua assistente pessoal.
Ele se dirigia a mim com desdenho como se eu fosse uma tola, mas eu
não era idiota...
Eu sabia que ele estava me mantendo por perto por algum motivo
específico, mas não tinha certeza do por que ainda.
De qualquer maneira, eu estava prestando atenção em cada palavra
sua, mesmo quando ele não percebia que eu estava ouvindo, na
esperança de ouvir algo que pudesse ajudar Lyla e Caspian na
competição.
Mercer estava definitivamente fazendo tudo que podia para garantir
que Achilles fosse o campeão final.
Então, eu faria tudo o que pudesse para neutralizar isso.
Mercer se arrependeria de contratar essa mestiça, isso era certo.
Ele finalmente tinha saído de seu escritório para ir assistir às lutas, o
que significava que eu poderia fugir e assisti-las também.
Caspian e Lyla estavam competindo, e eu não queria perder nenhuma
de suas lutas.
Com sorte, nenhum deles já lutou. Só deu tempo para algumas rodadas,
eu acho.
Tirei meu avental de lado e corri pelos corredores da Basílica,
recebendo alguns olhares feios do clero. Mas não me importei.
Eu precisava estar naquela arena para apoiar meu companheiro.
Quando entrei nas ruas, descobri que elas estavam assustadoramente
vazias. Realmente parecia que toda a cidade estava assistindo às lutas.
Todos menos eu, pensei comigo mesma, irritada.
É uma pena que seja absolutamente proibido para um mestiço mudar
de forma na Cidade Santa, porque esse seria o caminho mais rápido para
o estádio.
Em vez disso, peguei uma carona na parte de trás de um caminhão de
lixo que passava, saltando quando ele se aproximou do estádio.
Mestiços estavam reunidos em todos os arredores da arena, tentando
espiar através das cercas e por cima dos portões, mas eu sabia como ter
uma boa visão.
Eu caminhei até a parte de trás do estádio, onde havia uma entrada
para a área do lutador.
Eu rapidamente amarrei meu cabelo e peguei um esfregão que estava
encostado na parede. Quando bati na porta, um guarda de aparência
carrancuda a abriu.
— Equipe de limpeza, — eu disse, segurando o esfregão. Ele nem
mesmo pensou duas vezes e me deixou entrar.
Eu realmente sou vista como nada além de uma serva dessas pessoas.
Era uma realidade perturbadora, mas pelo menos funcionou a meu
favor pela primeira vez.
Eu vi o nome de Caspian no outdoor eletrônico e um sorriso apareceu
em meu rosto.
Eu não perdi a luta dele! É agora!
Mas quando cheguei à beira da área do lutador, tive que tapar a boca
com a mão para não gritar.
Caspian estava deitado no chão, espancado até ter virado uma polpa
de sangue enquanto uma ambulância parava ao seu lado.
Lyla se ajoelhou ao lado dele, segurando sua mão.
Lágrimas escorreram pelo meu rosto.
Cada fibra do meu ser queria correr até ele.
Segurar ele.
Confortar ele.
Mas não importa o quanto doesse, eu não poderia...
Toda a Cidade Santa estava assistindo.
Eu não posso reivindicá-lo como meu companheiro agora.
Eu sou uma mestiça. É proibido.
Lyla

Avancei pelo torneio, um oponente após o outro.


Eu os derrubei, um por um, alimentada por minha sede de vingança.
Achilles tinha que pagar pelo que fez a Caspian, e eu tinha que
receber.
Finalmente era apenas nós dois.
A partida mais esperada do festival. Eu achava que o estádio estava
cheio antes, mas agora estava completamente lotado até o limite com ãs
gritando.
Todo mundo estava assistindo... o que significava que todos iriam me
ver ganhar ou perder.
Eu pretendia ganhar.
Da área do lutador, olhei para Achilles enquanto ele entrava na arena,
cercado por seus ãs adoradores.
Ele parecia tão arrogante e certo de que iria vencer. É o que todo
mundo esperava também.
Eu posso ter sobrevivido na corrida, mas ainda era a recém-chegada.
Achilles era um competidor feroz e eu não poderia subestimá-lo.
Embora ele provavelmente tenha me subestimado.
Eu poderia usar isso a meu favor.
Eu trabalhei especialmente em minhas táticas defensivas com
Sebastian, e eu sabia que Achilles era um tipo de lutador de — ataque
frontal completo.
A campainha tocou de repente, e a voz do locutor retumbou pelo
estádio.
— SENHORAS E SENHORES, A ÚLTIMA RODADA ESTÁ PARA
COMEÇAR!
Comecei a andar pelo estreito corredor que levava à arena de areia.
— GUARDIÃ DA LUA VS. GUARDIÃO DA LUA!
Eu ocupei meu lugar no centro do ringue, em frente a Achilles.
— ACHILLES DEBROUX E LYLA GREEN, OS DOIS
CONCORRENTES FINAIS, SE ENFRENTARÃO EM UMA BATALHA
DE HABILIDADE E FORÇA!
Ele sorriu para mim, balançando sua lâmina como um carrasco.
Eu enterrei meus pés no chão e assumi uma postura defensiva.
A campainha soou e Achilles avançou sem hesitação.
Mas eu estava pronta para ele...
Abaixei-me e cortei seu joelho, então dei a volta e cortei sua coxa.
Ele rugiu de raiva enquanto se virava para me encarar.
Eu fui a primeira a tirar sangue... e agora ele estava louco de raiva.
Ele veio para cima de mim como um touro atacando. Eu mal consegui
desviar. Seria difícil acompanhar sua resistência aparentemente
interminável.
A luta mal havia começado e eu já estava começando a perder o gás.
Eu precisava fazer movimentos mais ousados.
Achilles desceu sua espada sobre minha cabeça; eu bloqueei o golpe
com minha própria espada, mas sua força me arremessou para trás.
Em vez de tentar evitar o inevitável, deixei-me cair e dei uma
cambalhota graciosa para trás, o que me permitiu ficar de pé com algum
espaço entre nós.
Agora era a hora de mudar da defesa para o ataque.
Corri na direção de Achilles, minha espada erguida, gritando a plenos
pulmões.
Ele pareceu assustado a princípio, mas então sorriu, erguendo sua
própria espada e atacando de volta, permanecendo abaixado no chão.
Ele estava pronto para meus velhos truques, mas esta loba ainda tinha
alguns novos truques na manga.
Eu embainhei minha espada no último segundo e pulei, agarrando seu
capacete com as duas mãos e catapultando sobre sua cabeça, levando o
capacete comigo.
Eu me virei e bati no rosto de Achilles com seu próprio capacete,
arrancando um suspiro da plateia.
Mas eu não tinha terminado de humilhá-lo... Eu deixei o capacete de
lado e saquei minha espada.
Enquanto ele ainda estava atordoado com o golpe do capacete em seu
rosto, aproveitei a oportunidade para cortar sua mão e nocautear sua
espada.
Eu deslizei pela areia e cortei as panturrilhas de Achilles. Ele uivou de
dor, apoiando-se sobre as mãos e os joelhos.
Minha lâmina descansou em sua nuca.
Tinha acabado.
Ele estava à minha mercê.
Sebastian

Eu não conseguia acreditar. Lyla tinha vencido...


LYLA VENCEU!
Achilles estava patético e Lyla o dominou como um cachorro com o
rabo entre as pernas.
Alfa Cornelius estava cravando as garras em seu assento, os olhos
saltando das órbitas.
Virei-me para Teresa e joguei meus braços em volta dela,
comemorando junto com todos os outros.
'Ela venceu! Ela realmente—
— Ele ainda não se rendeu, — disse Teresa, uma pitada de medo em
sua voz.
Quando olhei para o rosto dela, ela não estava sorrindo. — Por que ele
não se rendeu?
Meu olhar voltou para a arena, onde Lyla ainda mantinha sua espada
na nuca de Achilles.
— Achilles! — ela gritou. — Admita sua derrota, para que possamos
acabar com isso!
As mãos dele estavam cavando na areia, fora da linha de visão de Lyla.
— Oh Porr...
Achilles se virou, jogando uma mão inteira de areia direto nos olhos de
Lyla.
Ela gritou de agonia enquanto cambaleava cegamente para trás.
Achilles a derrubou no chão e ergueu os punhos como um martelo...
Um momento depois, estava tudo acabado.
Meu corpo inteiro estava tremendo.
Eu não conseguia ouvir nada com o barulho da multidão, mas meu
coração estava batendo loucamente.
Lyla...
... tinha perdido.
23
GROSSERIA
Lyla

Acordar em uma cama de hospital não era como eu esperava que fosse
minha celebração da vitória, mas, novamente, eu não tinha o que
comemorar.
Eu tinha perdido.
Claro, Achilles só venceu por causa de um truque sujo, mas era uma
jogada lícita.
Ele tinha vencido e eu tinha que lidar com isso.
Eu tinha que lidar com a decepção de Sebastian...
Com a minha própria decepção...
Mesmo assim, ainda não estava tudo perdido. Houve mais um
concurso.
E assim que eu saísse dessa cama de hospital idiota, eu voltaria direto
para o treinamento.
Sebastian entrou, carregando um buquê de flores frescas, que colocou
em um vaso ao lado da cama.
— Achei que você gostaria de um pouco de cor neste quarto branco e
velho, — disse ele.
— Elas são lindas, — eu disse, sorrindo. Fiquei feliz por ele ter passado
por aqui. Eu precisava de uma distração de minha própria lamentação.
Sebastian sentou ao meu lado na cama e passou os dedos pelo meu
cabelo cor de areia. Eu podia sentir um galo na minha cabeça, onde
Achilles tinha me atingido.
— Como você está? — ele perguntou, colocando o braço em volta do
meu ombro.
Eu me aninhei em seu corpo e suspirei. — Já estive melhor. Pelo
menos eu fico alguns dias de folga do dever de Guarda Lunar.
Não ter que ver o rosto pomposo de Mercer por quarenta e oito horas
era definitivamente a única vantagem dessa situação.
Ele com certeza não viria ao hospital e me desejaria melhoras. Foi o
campeão dele que me colocou aqui.
Sebastian olhou pela janela, seu olhar distante e preocupado. Eu sabia
que ele estava pensando na Alcateia Real.
— Me desculpe, eu decepcionei todo inundo, — eu disse, me
esforçando para sentar. — Eu deveria ter prestado mais atenção. Eu
deveria ter percebido
— Pare, — Sebastian disse severamente, levantando sua mão. — Lyla,
não te culpo por nada. Essa luta foi sua. Você fez tudo certo. Achilles não
tem nenhuma honra.
Meu companheiro cerrou os punhos, e eu percebi que ele estava
começando a ficar nervoso.
— Esse filho da mãe é escória, — ele rosnou. — Ele não está apto para
ser um Guardião da Lua. Ele nem mesmo está apto a polir a porra da sua
armadura.
— Ele é um grande idiota, não há dúvida disso, mas ele me venceu,
justo e...
— Não, foda-se! — Sebastian gritou, me interrompendo. — Não teve
nada de justo no que Achilles fez!
Sebastian se levantou e começou a se dirigir para a porta.
— Onde você está indo? — Eu gritei atrás dele.
— Sebastian, não pense nisso. Não vale a pena!
Ele não estava me ouvindo neste momento. — Ele precisa responder
pelo que fez, — ele rosnou. — Eu não vou deixar ninguém desrespeitar
minha companheira e se safar.
Quando Sebastian saiu, eu me senti mal do estômago.
Isso poderia dar terrivelmente errado.
Por favor, não faça nada estúpido.
Sebastian

Eu invadi o quartel da Guarda da Lua como um furacão. A maioria dos


Guardiões da Lua saiu do meu caminho porque eles sabiam que se não o
fizessem, eu simplesmente iria passar por eles.
Eu era um Alfa furioso e eles não queriam ser alvo de minha ira.
Mas eles não precisavam se preocupar... Eu estava reservando isso
para uma pessoa em particular.
— Achilles! — Eu rugi. — SAIA E APAREÇA, SEU COVARDE!
Os Guardiões da Lua conversavam nervosamente, sem saber o que
fazer.
Um momento depois, vários deles se separaram quando Achilles se
aproximou, com uma aparência arrogante.
— Ah, o Alfa, — ele zombou. — Lutando as batalhas de Lyla por ela
agora?
— Esta é minha batalha, — eu rosnei. — Minha honra como um Alfa
exige retribuição. Então, por que não resolvemos isso como homens?
Você e eu. Vamos. Agora mesmo.
Achilles riu e estufou o peito. — Por que eu deveria perder meu tempo
com você? Você não tem nenhum significado para mim.
Ele começou a se afastar de mim. mas deixei escapar um rugido que
chamou sua atenção. — Você é apenas um covarde de merda. Você é uma
mancha na Guarda da Lua Sagrada.
Achilles estreitou os olhos para mim. Eu estava começando a atingi-lo.
— Oh, eu sou a mancha? Lyla é filha de um desertor — ele rosnou. — E
ela está constantemente desobedecendo ordens, assim como seu pai
imprestável fazia.
— Pelo menos Lyla nunca desiste de um desafio, — disse eu,
provocando-o. — O que é mais do que posso dizer para você.
Ele fez uma careta, agarrando o punho de sua espada. Bom, ele está
pirando. Eu só preciso que ele dê o primeiro golpe.
— Então, você é realmente o guerreiro que diz ser... ou está apenas
brincando de faz de conta? — Eu perguntei, me aproximando de seu
rosto. Minha saliva salpicou sua bochecha e pude ver a raiva queimando
em seus olhos.
Achilles mostrou as presas e deslizou a espada para fora da bainha. —
Sua desculpa patética de merda de um... Eu vou te mostrar um guerreiro
de verdade!
Enquanto Achilles erguia sua espada e eu colocava minhas garras para
fora, alguém pigarreou atrás de nós.
— O que é isso aqui? — — perguntou o cardeal Mercer, abrindo
caminho entre nós. — Este comportamento é inaceitável.
Eu dei a Achilles um sorriso satisfeito. — Sim, Cardeal. Eu pensava
que seus Guardiões da Lua fossem mais profissionais do que isso. Ele
estava prestes a me atacar.
— Oh, eu não estava falando sobre ele, — Mercer respondeu com um
sorriso malicioso. — É seu comportamento que não será tolerado, Alfa
Sebastian.
— Meu comportamento? Ele desembainhou a espada! — Eu gritei.
— Existem graves repercussões por provocar um Guardião da Lua, —
disse Mercer, ainda sorrindo. — É uma coisa boa eu ter chegado aqui
antes que seu temperamento tomasse conta de você. — Eu deveria saber
que esse bastardo tentaria distorcer a situação.
— A Deusa da Lua não vai ignorar esse grave ato de violência contra a
igreja, — disse ele, sua voz vil fazendo minha pele arrepiar. — Seria uma
vergonha causar um escândalo na Cidade Santa quando você tem tanta
turbulência acontecendo em casa.
Como diabos ele sabia sobre o que estava acontecendo com minha
alcateia?
Eu queria rasgar esses dois homens em pedaços, mas depois do que
Magnolia me disse...
Eu sabia que tinha muito a perder.
E Mercer sabia disso também, aparentemente.
Precisei de toda a minha força de vontade, mas retraí minhas garras e
recuei. Esta luta não valia o futuro de minha alcateia.
— Eu não tenho nenhum problema com você ou a igreja, — eu disse
em um rosnado baixo.
— Isso é o que eu pensei, — Mercer respondeu.
Quando me virei para ir embora, Achilles me chamou.
— Diga a sua companheira que ela deve parar agora, enquanto ela
ainda tem a chance. Caso contrário, ela vai acabar como aquele Beta
patético.
Não se vire. Ignore-o.
— Sério? Você não tem nada a dizer? Quem é o covarde agora? Quem
está fugindo de um desafio agora, sua vadia?
Continue andando.
Achilles continuou a me insultar até eu sair do quartel, mas nunca
parei ou o respondi.
Eu não precisava...
Porque Lyla iria destruir aquele filho da puta no próximo desafio.
E eu assistiria a tudo com um sorriso no rosto.
Lyla

— Você está nervosa com o último evento? — Teresa perguntou


enquanto se sentava ao lado da minha cama e escovava meu cabelo.
— Não sei, — respondi, franzindo a testa.
— Honestamente, parece muito fácil. Uma luta de porcos não é
exatamente um desafio muito difícil para mim. Lembra da Cúpula?
— Não é luta de porcos, — Teresa disse com uma risada. — Você vai
rastrear e caçar um javali em um labirinto sob a cidade. Há uma grande
diferença entre isso e pegar um porco escorregadio na lama.
— Tudo bem. justo, mas um porco ainda é um porco para mim, —
respondi. — Só sei que tenho que vencer.
— Sim, você e Achilles estão empatados. Vocês dois têm quase a
mesma quantidade de pontos provenientes dos dois últimos eventos, —
disse ela séria. — Vai ser acirrado pra porra. O próximo evento é o
desempate. Quem der o golpe mortal naquele javali será coroado
campeão.
Eu teria que trabalhar ao máximo em minhas habilidades de
rastreamento. Caspian era na verdade um dos melhores rastreadores que
Conheci, mas...
— Como está o Caspian? — Eu perguntei, me sentindo mal por não
poder ir visitá-lo.
— Bem, ele não teve tanta sorte quanto você, mas está se
recuperando, — ela respondeu, suspirando. — Mas parece que a Alcateia
Lua Azul está fora da competição.
— Ele não vai competir no próximo evento? — Eu perguntei, surpresa.
— Os ferimentos dele não estarão totalmente cicatrizados até lá, —
disse ela com tristeza. — Parece que toda a minha torcida estará focada
em você agora.
— Já não estava? — Eu perguntei, levantando uma sobrancelha.
Teresa conseguiu sorrir. — Ei, tinha que reservar pelo menos um
pouco para o meu Beta.
Eu sorri de volta. — Cara, a relação de vocês dois progrediu muito
desde que vocês se conheceram.
— Eu sei. estou brava por estar realmente começando a gostar dele e
não apenas tolerá-lo, — disse ela, e nós duas começamos a rir.
Uma batida abrupta na porta nos interrompeu. — Tenho uma
correspondência para você, — disse um mensageiro, entregando-me
apressadamente um envelope sofisticado antes de sair.
— Cartão de melhoras? — Perguntou Teresa, olhando para o envelope
com curiosidade.
Eu o abri e tirei uma carta. Uma única nota de um dólar flutuou para
fora das dobras e pousou no meu colo.
Quando comecei a ler a carta, minha expressão mudou.
' — Querida Lyla, você aceitou aquela perda com tanta graça e estilo,
era quase como se você nem tivesse a intenção de perder', — li em voz
alta, minha voz tremendo de raiva. ' — Aqui está um pouco de dinheiro
por ter perdido. — '
Eu olhei para a nota de um dólar no meu colo. — 'Assinado... Alfa
Cornelius. — '
Amassei sua carta e joguei no lixo, fumegando. — O que você vai
fazer? — Teresa perguntou nervosa, sabendo que eu não iria deixar isso
passar.
— Só há uma coisa que posso fazer. Eu vou espetar aquele porco... —
eu disse, a determinação crescendo em minha voz.
. —.. e eu vou matar o javali também.
24
AMA DE LEITE
Caspian

Embora meus ferimentos estivessem começando a cicatrizar, eu ainda


estava confinado a um quarto de hospital, certificando-me de não me
esforçar demais.
A parte mais difícil da minha longa permanência no hospital não era a
comida ruim...
Ou a falta de estimulação social...
Ou mesmo os banhos de esponja estranhos.
Era estar separado de Adele.
Por causa das leis fodidas na Cidade Santa, ela não tinha permissão
para me visitar no hospital, o que significava que eu não tive nenhum
contato com ela.
Eu me perguntei se ela sabia que eu estava aqui...
Uma batida suave na porta me tirou da minha melancolia. Teresa
entrou, carregando uma pilha de revistas.
Ela as jogou no meu colo. — Eu não sei do que você gosta, então eu
peguei uma de cada. Achei que você poderia estar entediado.
Olhei para a revista no topo da pilha. Holy Sisters of The Moon Goddess
Quarterly. O artigo em destaque era sobre todos os diferentes alimentos
que você poderia fazer na forma de uma lua crescente.
— Uh... eu não acho que este seja realmente o meu tipo de leitura, —
eu disse, colocando a pilha de lado. — Há uma Freiras Malcriadas ou algo
aqui?
— Em primeiro lugar, nojento, — respondeu Teresa, revirando os
olhos. — E em segundo lugar, fique feliz por ter trazido qualquer coisa
para você.
— É bastante incomum de sua parte ser legal comigo, — eu disse,
rindo.
— Sim, bem, você está tão abatido que não é mais divertido bater em
você eu mesma, — disse ela, sorrindo.
— Uau, é o início de uma nova era, — respondi brincando. — Pensei
que nunca alcançaríamos a paz.
— Só não espere que eu cante seus elogios ou algo assim, — ela disse.
— Então, você viu seu companheiro? Como ela está lidando com tudo
isso? Eu gostaria de conhecê-la em algum momento.
— É... complicado, — eu disse tristemente.
Dada a expressão de pena que Teresa estava me dando, imaginei que
Lyla provavelmente a tinha contado sobre Adele.
— Vai dar certo, — disse ela, dando um aperto no meu ombro, uma
rara demonstração de calor para Teresa.
Uma enfermeira de repente voltou para a sala, empurrando um
carrinho cheio de suprimentos. — Ok, bem, é melhor eu deixar a
enfermeira cuidar de você, — disse Teresa, indo para a porta. — Cure
rápido, Beta.
Quando Teresa saiu, a enfermeira puxou o carrinho até a cama, ainda
de costas para mim.
— Eu já tomei um banho de esponja esta manhã... — eu disse
cautelosamente.
A enfermeira se virou e eu tive que evitar gritar muito alto. — Adele!
— Quem diabos está dando um banho de esponja em você? — ela
perguntou, irritada.
— Esqueça isso! — Eu disse, meu coração batendo forte ao vê-la. —
Como você chegou aqui?
Adele apontou para seu uniforme de enfermeira. — Eu sou um mestre
do disfarce, — ela respondeu. — Embora seja terrível eu ter que usar um
disfarce só para ver meu companheiro.
— Pelo menos é sexy, — eu disse, sorrindo.
Eu a agarrei pela mão e a puxei para perto. — Você não tem ideia do
quanto eu queria ver você.
— Eu acho que sim, — disse ela, deitada ao meu lado na cama. —
Porque meu coração está literalmente doendo, sabendo que você estava
aqui, ferido, e eu não pude nem mesmo verificar você.
— E, ainda assim, sua bunda bonitinha e cheia de recursos ainda
encontrou um jeito, — eu disse, colocando as mãos em seu rosto.
Eu plantei um beijo longo e temo nos lábios de Adele, saboreando este
momento com meu companheiro. Eu pensei sobre seu gosto e seu cheiro
a cada segundo acordado, e agora que estávamos na mesma sala, era
inebriante.
— Eu te amo, — eu disse quando nossos lábios finalmente se
separaram. — Você é o luar da minha vida e não consigo acreditar na
sorte que tenho por ter encontrado você.
— Eu me sinto da mesma maneira, — ela respondeu, sorrindo. —
Nunca pensei que merecesse amor, mas você me mostrou que isso não é
verdade.
Enquanto eu olhava ansiosamente para os lindos olhos verdes de
Adele, ela mordeu o lábio como se estivesse considerando algo. Então,
sem aviso, ela colocou as pernas sobre meus quadris e montou em mim.
— Oo que você está fazendo? — Eu perguntei, ficando nervosa... e
também dura como uma rocha.
— Agora é um momento tão bom quanto qualquer outro, — disse ela,
com um toque de timidez em sua voz, apesar do fato de que ela estava
montada em mim em um vestido apertado de enfermeira.
— Uma boa hora para quê? — Eu perguntei, meu coração batendo de
excitação.
— Para consumar este vínculo de acasalamento, — ela respondeu,
suas bochechas ficando vermelhas.
Ela era tão fofa quando corava.
Meu corpo inteiro ainda estava dolorido, mas com certeza não ia
deixar isso me impedir de fazer sexo com meu companheiro pela
primeira vez.
A dor valeria mais do que a pena.
Adele começou a beijar meu pescoço e minhas mãos percorreram seu
corpo até sua bunda, onde subi sua saia.
Ela se contorceu em cima de mim enquanto minha rigidez
pressionava contra o cós da minha fina calça hospitalar.
Puxei o vestido pela cabeça de Adele, deixando-a sem nada além de
meia-calça transparente. Ela tirou minha camisola do hospital e arrastou
seus beijos pela minha barriga até chegar à minha virilha.
Lentamente, Adele puxou minha cintura e meu pau saltou para fora,
latejando e pronto para ser tocado.
Ela separou os lábios deliciosos e envolveu a ponta, sugando com
firmeza e profundidade.
Quando meu pau deslizou em sua garganta, estremeci. Ela estava
levando a coisa toda.
Essa garota realmente sempre encontra um jeito...
Ela olhou nos meus olhos enquanto continuava movendo sua boca
para cima e para baixo, e isso me deixou louco. Eu precisava estar dentro
dela. Enquanto Adele rastejava de volta até minha cintura, eu rasguei sua
meia-calça e ela gritou de excitação. Ela definitivamente tinha um lado
pervertido.
Meu pau pressionou avidamente contra seu sexo. Ela estava
incrivelmente apertada.
— Seja gentil, — ela gemeu baixinho. — É... é minha primeira vez.
— É meu também, — respondi, provocando uma expressão de
surpresa no rosto de Adele.
Eu estava tentando projetar confiança, mas na verdade eu estava tão
nervoso quanto ela.
Eu nunca tinha ido até o fim com Lyla, e agora que tinha encontrado
minha companheira, estava grata por isso.
Isso era realmente especial e eu queria me entregar totalmente a
Adele.
Sentei-me e dei-lhe um beijo afetuoso enquanto lentamente deslizei
para dentro dela. Sua expressão era de dor no início, mas quando ela se
acalmou, a dor se tornou puro êxtase.
Eu gentilmente bombeei meus quadris enquanto segurava os dela, e
ela fechou os olhos e jogou a cabeça para trás.
— Caspian... Oh minha deusa!
Ela apertou meu pau enquanto gozava. Passei meus braços em volta
dela com força, deslizando em seu sexo gotejante até que o prazer se
tornou demais para mim.
Eu puxei e liberei minha carga nos lençóis, pressionando minha testa
contra a de Adele.
Nós dois deitamos, respirando pesadamente e ofegando.
Enquanto olhávamos nos olhos um do outro, parecia que havíamos
realmente nos tornado um.
Perfeitamente sincronizado.
Lyla

Concentre-se, Lyla! Entre em sincronia com seus sentidos!


O próximo concurso era aquele que usava todos os sentidos aguçados
que um lobisomem tinha, e agora minha mente estava em todo o lugar.
Apesar da minha frustração, eu deveria estar grato por voltar a treinar
tão rápido depois da minha derrota no Anel de Combate.
Eu estava me saindo muito melhor do que Caspian, que ainda estava
esparramado em uma cama de hospital, tentando curar suas costelas
quebradas.
Fechei os olhos e tentei me concentrar. Eu estava no meio de um
parque exuberante perto da basílica e havia muitos barulhos, cheiros e
distrações. Mas isso é o que eu precisava para realmente aprimorar
minhas habilidades de rastreamento.
Basta encontrar um cheiro familiar e seguir seu nariz.
Respirei fundo e cheirei o ar, tentando sentir o cheiro.
De repente, franzi o nariz ao sentir o cheiro de algo nojento. Pelo
menos o cheiro era assim para mim.
Quando abri os olhos, vi o cardeal Mercer se aproximando.
Eu sabia que estava sentindo cheiro de algo podre.
Eu tentei ao máximo não encarar enquanto ele se aproximava de
mim.
— Lyla, já saiu do hospital? — ele perguntou em um tom que parecia
quase desapontado.
— Quando sou derrubado, não fico no chão por muito tempo, —
respondi com confiança.
— Eu vejo isso, — disse ele amargamente. — Não que isso importe.
— O que você quer dizer? — Eu perguntei, sentindo que Mercer
definitivamente não tinha parado para verificar minha saúde.
— Achilles vai ganhar o campeonato, — disse Mercer com um sorriso
malicioso. — Ele é o melhor caçador da Cidade Santa. Você pode muito
bem desistir agora.
— Guardiões da Lua nunca desista, — eu disse desafiadoramente. —
Além disso, não sou da Cidade Santa. Achilles nunca enfrentou uma
verdadeira garota do sul antes.
— Isso não é um hoedown, — Mercer respondeu com um sorriso de
desprezo. — É um campeonato sagrado, e você, minha querida,
simplesmente não é digna de ganhar ou conseguir uma audiência com a
Deusa da Lua.
As palavras de Mercer não me intimidaram. Eles apenas me
incentivaram a lutar mais.
— Eu irei conseguir aquela audiência com a Deusa, — eu disse,
olhando para ele.
— Marca. Minhas. Palavras.
Mercer

Eu corri pelos corredores da basílica, fervendo de raiva.


Esse Mississippi Mutt não tem lugar na Cidade Santa ou na Guarda da
Lua.
Quanto antes eu me livrar dela, melhor
Cheguei ao meu escritório para encontrar Alfa Cornelius esperando
por mim.
— Bom, você está aqui, — eu disse, fechando minha porta e
trancando-a. — Temos muito que discutir.
— Aquela garota está se tornando um problema, — disse Cornelius,
como se tivesse lido minha mente. — Precisamos fazer algo a respeito.
— Eu não poderia concordar mais, — respondi. — E eu acho que nós
dois podemos conseguir isso juntos. Mas preciso que você faça algo que
não posso fazer sozinho.
— Se derrubar aquela cadela, estou dentro — rosnou Cornelius. — O
que você tinha em mente.
— É algo que nunca deve ser rastreado até mim... — eu disse
sombriamente.
— ... Algo blasfemo.
25
BESTAS DO FARDO
Sebastian

O bacon chiou, ficando ainda mais crocante.


Os ovos fritaram, transformando-se em pedaços amarelos fofos.
A torrada torrou, transformando-se em uma perfeição marrom-
dourada.
Eu dei um passo para trás e admirei meu trabalho. Na verdade, eu me
sentia como um verdadeiro chef, o que significava algo, considerando
que quase todas as refeições da minha vida foram preparadas por criados.
Eu queria fazer algo especial para Lyla porque ela estava trabalhando
muito duro para se preparar para a caça ao javali. Sem mencionar que
Mercer estava fazendo sua patrulha mais horas do que o normal para
deixá-la exausta antes da final.
Claro, este café da manhã era simples, mas vinha do coração.
Coloquei-o em uma bandeja e carreguei-o com cuidado para o quarto,
onde Lyla ainda estava na cama.
— Acorde, bela adormecida, eu tenho uma surpresa, — eu disse,
sorrindo de orelha a orelha.
Coloquei a bandeja no colo de Lyla e ela acordou de repente, quase
derrubando sua refeição. — O que? O que está acontecendo? Onde está
minha espada? — ela disse freneticamente, ainda meio adormecida.
— Eu trouxe o café da manhã para você na cama, — disse com
orgulho.
Lyla, meio grogue, abriu os olhos e olhou para a propagação à sua
frente. Um sorriso apareceu em seus lábios, mas então se transformou
em risada.
Na verdade, ela não conseguia parar de rir.
— O que diabos é tão engraçado? — Eu perguntei, ficando irritada.
Aqui estou eu, tentando fazer algo legal...
— Não, nada, é ótimo, — respondeu ela, abafando outra risadinha.
Ao reexaminar o café da manhã que havia preparado, de repente
percebi que talvez não fosse tão cinco estrelas quanto eu pensava.
O bacon estava mole, os ovos aguados e a torrada queimada até ficar
crocante.
— Foda-se, — eu disse, balançando minha cabeça. — Eu sabia que
deveria ter apenas pedido.
— É o pensamento que conta, — disse ela, colocando a comida de lado
e me puxando para a cama. — Desde quando você começou a fazer coisas
assim? Você não é exatamente uma dona de casa.
— Só não tenho visto você quase nada esta semana, — eu disse
rispidamente, tentando esconder meu constrangimento.
— Você está treinando ou patrulhando. Eu não fico sozinho com você.
— Estamos sozinhos agora, — disse ela, levantando uma sobrancelha.
— Suponho que sim, — eu disse, pegando-a em meus braços.
Eu dei um beijo em minha companheira e tirei o cabelo de seus olhos.
Mesmo depois de acordar, ela parecia tão bonita. O sol a atingiu com
força, fazendo seus olhos brilharem.
— Você é mais magnífico do que qualquer coisa na Cidade Santa, —
eu disse, minha voz cheia de admiração.
— Droga, espero que a Deusa da Lua não tenha um espelho mágico na
parede para ouvir isso, — ela disse provocativamente. — Guarde sua
adoração por ela.
Eu agarrei Lyla e rastejei em cima dela, prendendo seus braços atrás
da cabeça.
— Minha adoração é por você e só você, — rosnei de brincadeira.
Comecei a beijar seu pescoço e ela envolveu as pernas com força em
volta da minha cintura.
— Eu tenho que ir trabalhar logo, — disse Lyla, embora fosse ela quem
estava me constrangendo.
— Quem está impedindo você? — Eu perguntei, mordendo a ponta de
seu lábio.
Lyla me virou abruptamente para que ela ficasse por cima, e então ela
agarrou meu pau.
— Se eu não for, terei problemas. Você não gostaria disso, não é?
— O que Mercer vai fazer? Espancá-lo? — Eu perguntei, ficando
excitado com o pensamento de disciplina corporal. — Esse é o meu
trabalho.
Eu agarrei Lyla e a joguei no meu colo, de modo que sua bunda ficasse
estendida no ar.
Eu puxei sua calcinha para baixo e corri minhas mãos em sua pele
macia. Eu dei um tapa brincalhão em sua bunda e ela soltou um gemido
de prazer.
— Oh, você gosta disso? — Eu perguntei, ficando mais excitada a cada
segundo. — Você quer mais?
— Talvez, — ela respondeu timidamente. — Se você me bater como
um guerreiro e não uma cadela.
— Isso foi um desafio? — Eu disse, levantando minha mão
novamente.
Meu telefone começou a zumbir na mesa de cabeceira, mas eu o
ignorei.
— Hoje em dia estou cheia de desafios, — respondeu ela, sacudindo-a
para trás. — Mostre-me o que você conseguiu.
Bzzzzz-bzzzzz.
Olhei para o meu telefone novamente, sabendo do que se tratava.
É exatamente por isso que eu queria ignorar.
Bzzzzz-bzzzzz.
Tentei voltar minha atenção para Lyla, mas meu humor estava
diminuindo rapidamente. Ela percebeu a mudança imediatamente.
— O que está acontecendo? — Ela perguntou, sentando-se e
colocando minha camisa enorme. — Eu sei que tenho estado ocupado
ultimamente, então não tivemos muita chance de conversar, mas você
ainda pode me dizer qualquer coisa.
Ela estava certa; Eu não deveria estar escondendo nada dela.
Afinal, éramos Alpha e Luna.
Ou mais precisamente, Alpha e Alpha, desde a assimilação do Night
Star Pack. E essa era a raiz dos nossos problemas.
— Eu não queria distraí-lo com isso enquanto você estava treinando e
tentando ganhar o concurso, mas você deveria saber o que está
acontecendo em casa, — eu disse sério.
Quando seu rosto caiu, eu esperava estar tomando a decisão certa. Eu
não queria tirá-la do jogo.
— De volta ao pacote? O que é isso? — ela perguntou, preocupada. —
Achei que as coisas estivessem sob controle.
— Nossos packs não estão assimilando bem. — eu disse, olhando-a
nos olhos. — E nossos recursos estão acabando. Muito baixo. Magnolia
tem me mantido atualizado, e isso só fica pior e pior.
— Merda — disse Lyla baixinho. — Por que você está me dizendo isso
agora?
— Porque você tem outras coisas com que se preocupar, — respondi.
— Você tem que ganhar este concurso... e o favor da Deusa da Lua...
— Ou nossa matilha será fodida, — Lyla disse, terminando o
pensamento que eu não queria terminar.
Seus olhos vidrados enquanto ela contemplava arcando com o fardo
de nossa sobrevivência.
Era um fardo pesado de carregar...
E ela era a única que poderia carregá-lo.
Lyla

As notícias de Sebastian me fizeram perceber que a situação em casa


era muito mais terrível do que eu pensava.
Eu sabia que os bandos provavelmente não se dariam bem, mas não
esperava que isso acontecesse quando não tínhamos dinheiro, comida ou
recursos para mantê-los felizes.
Esta foi uma bagunça épica, e se eu não fizesse a Deusa da Lua mudar
de ideia sobre o Pacote Real, estaríamos fodidos regiamente.
Sentindo minha preocupação, Sebastian agarrou minha mão.
— Venha, vamos dar um passeio, — disse ele. — Eu quero te mostrar
algo.
Sebastian me conduziu por um corredor da basílica que eu encontrei
pela primeira vez durante o treinamento do Guardião da Lua.
O Salão dos Heróis.
Estava alinhado com estátuas de figuras históricas famosas que
causaram um grande impacto no mundo.
Heróis de guerra...
Líderes...
Santos...
Mas por que eu estava aqui? Certamente não era um santo.
— Sebastian... por que você me levou ao Salão dos Heróis? — Eu
perguntei ceticamente. — Isso é para me capacitar de alguma forma?
Porque a última coisa que quero é ser colocado em um pedestal.
— Basta dar uma olhada em algumas dessas pessoas, — Sebastian
disse, me levando a uma estátua de uma mulher parecida com uma
guerreira empunhando uma espada e um escudo. — Alexandra Mariana,
matadora de mil malandros.
— Sim, ela é durona, claro, mas como isso pode fazer me sentir
melhor? — Perguntei.
— Porque, — Sebastian disse, exasperado. — Continue lendo. Ela era
uma Guardiã da Lua, assim como você. E seu pai foi um Guardião da Lua
antes dela. E olhe aqui para este...
Ele me levou a outra estátua de um homem de aparência humilde,
segurando um forcado.
— Jacques, o Fazendeiro, famoso por libertar uma aldeia inteira da
escravidão usando apenas sua inteligência... e um forcado.
Acho que estava começando a entender por que Sebastian me trouxe
aqui. Cada um tinha uma história diferente: seja de origens humildes ou
de uma longa linhagem, essas pessoas traçaram seus próprios destinos.
E eu iria criar o meu também.
Eu agarrei a mão de Sebastian e apertei. — Eu acredito em você, —
disse ele. — Você é meu herói.
— Mas e se eu falhar, — eu disse, a dúvida voltando à minha voz.
Sebastian parou por um longo tempo, então finalmente falou.
Quando olhei para ele, seus olhos estavam cheios de amor e
confiança.
— Então, vamos descobrir a próxima etapa... juntos.
Adele

Depois de horas limpando, polindo e fazendo recados, eu finalmente


terminei minha ronda na basílica.
Para um bando de padres e freiras, essas pessoas eram
surpreendentemente sujas.
Eu tinha uma última parada a fazer: deixar a correspondência do
Cardeal Mercer em seu escritório.
Ele estava preocupado com o próximo evento da competição e,
felizmente, eu voei relativamente fora de seu radar esta semana.
O que me deu mais tempo para entrar furtivamente no hospital e ver
Caspian.
Eu não tinha parado de sorrir desde que fizemos sexo e mal podia
esperar para fazer de novo. Se foi tão bom quando Caspian foi
hospitalizado, eu só podia imaginar o quão bom seria quando ele voltasse
aos cem por cento.
Quando virei a esquina, vi Mercer saindo de seu escritório... com
Alpha Cornelius...
Eu rapidamente me escondi atrás de um pilar.
O que esses dois estão fazendo juntos?
— Ela está esperando por mim agora, — disse Cornelius em um tom
abafado.
— Bom, — Mercer respondeu, olhando ao redor com cautela. —
Informe-a sobre o plano. Mas não deixe ninguém ver você.
— Entendido, — disse ele, balançando a cabeça, antes de caminhar
rapidamente pelo corredor. Ele nem mesmo me notou quando passou
correndo.
E ele provavelmente não vai me notar quando eu o seguir também.
Eu segui Cornelius pelas ruas da cidade enquanto ele se esgueirava
por becos sombrios.
Ele finalmente parou em um canto escuro da favela e bateu em uma
porta vermelha.
Cornelius tem negócios nas favelas? Isso está ficando interessante...
Quando a porta se abriu, uma mulher com uma capa com capuz saiu.
Ela acenou para que Cornelius a seguisse para dentro. Assim que a porta
se fechou, Cheguei mais perto.
Espiei por uma janela quebrada, para ver os dois conversando na
cozinha.
— Você vai usar sua magia para parar a garota — e apenas a garota, —
Cornelius rosnou. — Lyla não pode matar aquele javali.
Eu coloquei minha mão sobre minha boca. Não só Cornelius estava
tentando sabotar Lyla...
Ele estava se relacionando com uma bruxa!
26
ENTRE NO LABIRINTO
Lyla

Hoje é o dia.
Minha última chance de impressionar...
Minha última chance de provar a mim mesmo...
Minha última chance de GANHAR.
Sem distrações.
Sem dúvidas.
TODA a pressão, no entanto.
Sebastian apertou minha armadura quando eu respirei fundo.
— Nervoso? — ele perguntou. — Posso fazer alguma coisa para
ajudar?
Na verdade, havia muito que ele poderia fazer para acalmar meus
nervos...
Ele poderia foder meus miolos, para começar.
Mas isso se enquadraria na categoria de distrações, que eu havia jurado
evitar.
— Estou bem, — respondi, me examinando no espelho. — Eu só
quero entrar naquele labirinto.
— Isso deve ser um pedaço de bolo para você, — disse ele, esfregando
meus ombros. — Esses vigaristas da cidade não sabem merda nenhuma
sobre caça e rastreamento.
Ele estava certo. Este foi definitivamente o evento para o qual eu
estava mais naturalmente preparado.
Estou apenas pegando um maldito porco. Fazíamos isso o tempo todo em
casa. Quão diferente pode ser aqui?
Meu telefone começou a zumbir e eu atendi, me arrependendo
imediatamente. — Idiota — estava me enviando uma mensagem — o
nome que eu tinha para Achilles em meus contatos.
Estúpido: ei, você já está tremendo nas suas botinhas de
guerreiro?

Estúpido: não leve sua perda hoje muito difícil Idiota: era
inevitável

Lyla: Não leve muito a sério quando eu acidentalmente apunhalar


você em vez do javali Estúpido: lol você é mal-humorado hoje
Idiota: eu gosto...

Estúpido: está me deixando com um pouco de tesão Lyla: Segure


esse sentimento e vou castrá-lo completamente Idiota: castrar?

Idiota: isso é coisa de sexo?

Idiota: estou prestes a castrar agora e aliviar um pouco do


estresse pré-caçada Lyla: Bruto

Lyla: Se a sua tática é me deixar doente antes da caçada, então


está funcionando Idiota: E aqui eu pensei que isso estava levando
a sexo por telefone...

Lyla: Não estou interessado em ouvir você chorar enquanto você


se masturba Idiota: você vai chorar depois de perder Estúpido:
mas não se preocupe

Idiota: vou te consolar, baby


Joguei meu telefone na cama e rosnei, exasperado. Essa conversa
estava realmente começando a me deixar enjoada.
— O que está acontecendo? — Sebastian perguntou, preocupado.
— Nada, apenas uma conversa fiada estúpida de Achilles, — respondi.
— Eu não deveria me deixar distrair.
Deixei meu telefone na cama, decidindo deixá-lo para trás. — Venha,
vamos indo.
Eu preparei meus nervos enquanto saía pela porta.
É
É hora de caçar.
Adele: Lyla, por que você não atende o telefone?

Adele: Preciso falar com você!

Adele: AGORA

Adele: Por favor, me ligue assim que ver isso!

Adele: Cornelius está planejando algo com o labirinto Adele: Ele


está trabalhando com uma bruxa!

Adele: Você está em sério perigo!

Caspian

Eu finalmente recebi alta do hospital e tive permissão para voltar para


meus aposentos na vila do competidor. Eu ainda tinha que usar muletas,
mas foi uma atualização muito apreciada daquela sala esterilizada.
Mesmo que eu não pudesse competir, eu estava determinado a apoiar
Lyla na competição final.
A população da Cidade Santa não podia realmente assistir à caça,
como eles assistiam à corrida e à luta, porque ela era realizada em um
labirinto subterrâneo.
Mas todos se reuniram na saída para ver quem sairia como o
vencedor. Foi parte da mística do evento final.
Eu queria estar lá quando Lyla saísse vitoriosa.
Eu estava esperando Adele para que pudéssemos ir juntos, mas ela
estava atrasada.
Ela protestou que poderia parecer ruim para nós andarmos juntos,
mas os olhos de todos estariam na saída para o labirinto, não nós.
Além disso, toda essa coisa de — leis da Cidade Santa — estava
ficando muito velha pra caralho.
Quem eram eles para dizer com quem eu poderia ou não ser
acasalada?
Foi fácil para todos ignorar o que estava acontecendo com a emoção
do festival, mas eu não pude ignorar...
Não quando vi como isso afetou Adele e todo o seu povo.
Eu não tinha certeza do que poderia fazer como um Beta de um país
estrangeiro, mas com certeza tentaria fazer algo.
Uma batida forte na minha porta me tirou dos meus pensamentos.
— Aguentar! — Eu gritei enquanto mancava até a porta com minhas
muletas.
Quando eu abri, Adele estava lá, ofegante e sem fôlego. Ela parecia
que estava correndo.
Eu rapidamente a puxei para dentro. — O que aconteceu? Alguém
está perseguindo você?
Ela sacudiu a cabeça com veemência, mas ainda estava sem fôlego
para falar.
— Cornelius... labirinto... — ela finalmente conseguiu falar.
Enquanto ela recuperava o fôlego, Adele agarrou meu colarinho. —
Onde está Lyla? Ela não está atendendo ao telefone.
— Eu acho que ela já está no labirinto, — eu disse, ficando nervosa. —
Por que? O que está acontecendo?
— Cornelius está mandando uma bruxa atrás dela, — ela disse, já me
puxando em direção à porta. — E Lyla não tem ideia do que ela está
entrando!
Isso era ruim... muito ruim pra caralho.
Lyla estava prestes a entrar em um labirinto onde ficaria
completamente sem contato com ninguém...
E não teríamos como avisá-la.
Lyla

Eu fiquei na frente da minha entrada no labirinto, ansiosamente


batendo o pé.
Todos os competidores que chegaram a este ponto — os quatro
primeiros — tiveram suas próprias entradas individuais, mas houve
apenas uma saída — e um vencedor.
As regras da caça eram simples...
Rastreie o javali... e mate-o.
Mas só podíamos fazer isso na forma humana. Rastrear o javali como
lobos seria muito fácil.
Mudar no labirinto significava desqualificação imediata.
Eu ouvi um som de assobio atrás de mim e olhei para trás. Achilles
estava passando a caminho de sua entrada.
— Parece bem, Lyla. Eu sei que deveria estar rastreando o javali, mas
talvez eu apenas tenha que rastrear aquele traseiro em vez disso, — ele
provocou.
Ele estava tentando entrar na minha cabeça, mas eu não deixei. —
Ótimo, então você terá a visão perfeita quando eu ganhar isso.
— Eu amo a confiança, mas, honestamente, vou destruir você lá, —
disse Achilles, seu tom mudando abruptamente. Isso enviou arrepios
pelo meu corpo.
Voltei para a entrada escura e foquei. Apesar da escuridão, esta era a
minha hora de brilhar.
Uma campainha soou e eu corri para o labirinto. Eu imediatamente
percebi que isso seria mais difícil do que eu esperava.
Este foi um labirinto totalmente desenvolvido.
Sem os sentidos aguçados, você pode se perder aqui e nunca
encontrar o caminho para fora.
Parei e cheirei o ar, mas os cheiros dos outros caçadores estavam
dominando todo o resto.
A única maneira de sentir o cheiro do javali era me aproximando dele.
Meus olhos brilharam enquanto se ajustavam à escuridão, dando-me
uma visão noturna quase perfeita. Comecei a correr pelo corredor,
esperando estar indo na direção certa.
O labirinto girava e girava, mas todas as paredes pareciam exatamente
iguais. Eu poderia estar voltando para a entrada pelo que eu sabia.
Parei e respirei fundo, tentando me orientar. Eu não iria vencer
tropeçando cegamente.
Mudei meus dedos para deixar marcas de arranhões nas paredes para
indicar onde eu já tinha estado, então eu não voltei atrás acidentalmente.
Furtivo, mas não tecnicamente trapaceiro, pelo que eu sabia.
Meu plano provou ser um bom plano, porque logo comecei a pegar
outro cheiro...
O javali... pelo menos eu acho que é o javali?
Não cheirava exatamente a um animal selvagem, mas não era nenhum
dos caçadores. O que mais poderia ter sido?
Comecei a rastrear o cheiro, aumentando meu ritmo. Se eu chegasse
antes de Achilles, esse campeonato era meu.
Quando Cheguei mais perto e mais perto, coloquei a mão no punho
da minha espada. Não foi apenas o javali que senti...
Eu senti o cheiro da vitória.
Ao dobrar a esquina, um raio de energia veio voando em minha
direção; Eu me esquivei por pouco enquanto ele caía em cascata na
parede de pedra, enviando detritos para o ar.
Que porra é essa!?
Outro raio de energia passou por mim enquanto eu rolava para o lado.
Foi mágico!
De repente, percebi que o que estava sentindo não era o javali...
Havia mais alguém aqui conosco.
— Quem diabos é você?! — Eu gritei enquanto corria pelo labirinto,
mantendo minha cabeça baixa.
Isso definitivamente não fazia parte do desafio.
Alguém estava tentando me sabotar.
Eu parei em meu caminho quando um guincho ensurdecedor ecoou
pelo corredor.
Aquele era o javali.
Mudei de direção, fixando-me em sua localização. Mais feitiços
passaram zunindo por mim, e um deles atingiu meu ombro,
chamuscando minha armadura.
Quando olhei para trás, vi uma mulher de manto correndo atrás de
mim.
Alguém enviou uma bruxa atrás de mim!
Ao dobrar a esquina, fiquei cara a cara com o javali em uma grande
área aberta. Eu havia alcançado o centro do labirinto.
Era bem grande, mas eu poderia arrancar sua cabeça com um golpe se
o fizesse direito.
Então eu poderia cuidar daquela bruxa maldita.
Achilles cambaleou por um corredor do outro lado da sala. Ele sorriu
ao perceber que estávamos em um impasse. Quem alcançou aquele javali
primeiro...
BLAM!
Um feitiço explodiu em uma coluna no centro da sala, sacudindo todo
o labirinto. Até Achilles ficou surpreso ao ver a bruxa se aproximando.
Droga, se eu tentar lidar com ela primeiro, ele pegará o javali antes de
mim!
Eu me lancei na direção do javali. A bruxa enviou outro feitiço em
minha direção, mas...
Ele acidentalmente se conectou com o javali em vez de mim.
Todos os três congelamos quando o javali começou a gritar assassino
sangrento e se contorcer no chão.
Seus membros começaram a se esticar e suas costas se curvaram
estranhamente...
O javali estava se tornando uma massa grotesca de músculos... e só
continuou a crescer.
Um momento depois, era monstruoso em estatura, suas presas do
tamanho de lanças e seu corpo peludo mutante maior do que um touro.
E assim como um touro...
... Estava cobrando bem em mim!
27
TEMPORADA DE CAÇA Lyla
O corpo do javali tinha quase se transformado em uma forma humana
— com seus membros alongados e fisiologia muscular — mas estava de
quatro como uma besta.
Gritou de angústia por causa de suas mutações indubitavelmente
dolorosas.
Essa coisa precisava ser eliminada de sua miséria...
... Antes de me colocar fora de mim.
Peguei um pedaço solto de escombros enquanto o javali me atacava.
Eu atirei, acertando a criatura em seu olho.
Inclinou-se bruscamente para a esquerda, quase atropelando Achilles,
que saltou para fora do caminho.
Ele me lançou um olhar do outro lado da sala que sinalizou uma
trégua.
Eu nunca teria pensado que me juntaria ao meu arquinêmese no
concurso final, mas ele estava certo. Se quiséssemos sair disso vivos,
precisávamos trabalhar juntos.
A bruxa se encolheu atrás de uma parede caída; seus olhos arregalados
de medo.
Isso é tudo que ela está fazendo em primeiro lugar!
Mas não tive tempo de me preocupar com a bruxa porque o javali já
estava batendo os pés, preparando-se para atacar novamente.
— Vou distraí-lo, você tenta feri-lo! — Achilles gritou. — Mire no
ponto fraco!
Claro, o lugar perfeito para ser pisoteado até a morte.
— Ei, seu porco gordo! Venha me pegar! — Achilles gritou, bufando e
bufando como um porco.
O javali se virou e rugiu, sua baba e muco voando por toda parte...
inclusive por todo Achilles.
— Que porra é essa! — ele gritou, embebido em suco de javali.
Em circunstâncias normais, eu teria rido, mas agora eu estava lutando
pela minha vida.
Corri propositalmente em direção a uma poça de muco e deslizei para
dentro dela, usando-a para me empurrar para baixo do javali.
Eu levantei minha espada e cortei o estômago do javali gigante.
Ele guinchou como um porco preso quando seu sangue me derramou.
Enquanto ele se debatia descontroladamente, eu tinha certeza de que
seria esmagado.
— Dê o fora daí! — Achilles gritou. Eu rolei debaixo do javali e
comecei a correr quando ele me atacou por trás.
Virei-me no último momento e o javali se chocou contra a parede,
derrubando-o como uma estátua quebrada.
Enquanto ele cambaleava, momentaneamente atordoado, percebi que
não teria outro momento como este.
A parede caída havia criado uma rampa improvisada. Talvez se
usássemos para...
Olhei para Achilles e parecia que ele teve a mesma ideia. — A parede!
— ele gritou, puxando sua espada.
Nós dois subimos correndo a parede inclinada e pulamos da
extremidade, cravando nossas espadas nas costas do javali.
Ele enlouqueceu de raiva, tentando nos empurrar para fora. Minha
espada se soltou e eu voei pela sala, caindo em alguns escombros, mas
Achilles ainda estava segurando.
— Solte! — Eu gritei. — Você terá…
O javali golpeou Achilles contra uma parede e ele escorregou por ela,
uma bagunça amassada.
Tentei correr para ele, mas ele estava muito longe.
— LEVANTAR! — Eu gritei.
Mas era tarde demais...
O monstro espetou Achilles com sua enorme presa.
Seus olhos se arregalaram quando o javali arrancou a presa de volta.
Sua armadura foi completamente rasgada.
Achilles tentou estancar o sangramento, mas suas mãos e roupas já
estavam encharcadas. O sangue se acumulou ao redor de seu corpo
indefeso.
O javali bufou e dilatou as narinas, preparando-se para dar o golpe
final. Achilles estava praticamente morto, mas...
— Ei, aqui, porquinho! — Comecei a jogar pedras, chamando a
atenção do javali para mim.
Achilles pareceu chocado por eu estar ajudando.
Se a situação fosse inversa, ele provavelmente teria me deixado
morrer, mas eu não ia deixar isso acontecer.
Posso ter odiado o idiota, mas não o queria morto.
O touro rugiu de raiva quando Achilles ficou sentado sangrando. Eu
não sabia como iria lutar contra essa coisa sozinho.
Eu olhei de volta para a bruxa, que ainda estava congelada de medo.
— Faça alguma coisa! Você criou este monstro! Reverta o feitiço, — eu
gritei. — Ou faça qualquer coisa para ajudar! Nada mesmo! Essa coisa vai
nos derrubar um por um!
Seu corpo inteiro começou a tremer e sua voz estremeceu. — Eu... eu
não quero estar aqui. Isso não tem nada a ver comigo. Esta não foi minha
luta.
— Bem, é sua luta agora! — Eu rosnei. — Então, porra, faça alguma
coisa!
A bruxa continuou a sacudir a cabeça e murmurar, sem condições de
oferecer ajuda a ninguém.
Dependia apenas de mim e do javali...
E eu estava quase no meu limite.
Sebastian

Eu nervosamente caminhei para fora da saída do labirinto, esperando


Lyla emergir.
Esperando o resultado final do campeonato...
E pelo destino da minha matilha.
— Ela tem isso, Sebastian, — Teresa disse, colocando uma mão
calmante no meu ombro.
— Eu simplesmente odeio não poder ver nada! — Eu rosnei. — Este
lugar está literalmente perdendo dinheiro. Eles não podem instalar
algumas câmeras lá embaixo?
— Acho que o objetivo é aumentar a tensão sobre quem venceu, —
respondeu Teresa. — É mais dramático para o vencedor emergir do
labirinto com o troféu de caça nas mãos.
— Foda-se dramático, — eu cuspi. — Eu só quero saber o que está
acontecendo.
Teresa suspirou e encostou-se a uma árvore. — Sim, eu também,
honestamente. Isso é besteira. — Percebi Mercer nos olhando através da
multidão. Aquele idiota sempre gostou de Lyla. Provavelmente por causa
de seu pai.
Mas seria hilário ver seu rosto quando ela saísse daquele túnel e fosse
coroada campeã.
— Sebastian! Teresa! — alguém gritou sem fôlego atrás de mim.
Eu me virei para ver Caspian mancando em minha direção com a
garota mestiça.
— Finalmente, — Teresa disse, irritada. — Você poderia ter perdido a
grande revelação. O que te levou tanto...
— Lyla está em perigo! — Adele deixou escapar.
— Há uma bruxa esperando por ela no labirinto — Caspian
acrescentou, tentando recuperar o fôlego. — Ela foi criada por Cornelius.
— Aquele bastardo! — Eu rosnei.
Eu sabia que Lyla poderia cuidar de si mesma. Ela lutou com muitas
bruxas antes. Mas desta vez, ela estava em desvantagem.
O solo tremeu de repente quando o rugido mais monstruoso que eu já
ouvi berrou do labirinto.
— Oo que foi isso? — Teresa gaguejou.
— Isso não soou como a porra de um porco, — Caspian disse, seus
olhos ficando escuros.
— A bruxa... ela fez algo, — murmurou Adele.
Eu não podia simplesmente ficar parada e não fazer nada enquanto
minha companheira enfrentava Deusa sabe o quê.
Mas ao mesmo tempo, se eu entrasse no labirinto com a intenção de
ajudá-la...
Ela seria imediatamente desqualificada.
Eu podia ver Mercer se contraindo ansiosamente, rezando para que eu
fizesse exatamente isso.
Eu queria tanto pular naquele labirinto, mas tinha que confiar em
Lyla.
Isso é o que ela gostaria que eu fizesse.
Lyla

Eu estava perdendo força rapidamente. O javali era lento, mas estava


destruindo tudo em seu caminho e eu estava ficando sem espaço para
evitar sua debandada.
Se destruísse muito mais deste labirinto, a coisa toda poderia desabar
e me esmagar.
Sem mencionar que Achilles ainda estava vulnerável e sangrando até a
morte.
Eu já tinha infligido vários ferimentos no monstro que seriam fatais
em qualquer animal normal, mas essa coisa estava longe de ser normal.
Sua força foi reforçada por magia.
Infelizmente, a bruxa responsável por isso era inútil.
Isso dependia de mim, e eu estava sem opções.
Eu levantei minha espada e respirei fundo — uma respiração que pode
ter sido a minha última.
Gritando a plenos pulmões, ataquei o javali — e ele atacou de volta.
De repente, um feitiço passou zunindo por cima do meu ombro e
atingiu o monstro, desequilibrando-o.
Em seguida, outra — uma bola de chamas — queimando o pelo do
javali.
Virei-me para ver que a bruxa havia abandonado seu esconderijo para
entrar na briga... Embora suas mãos tremessem, seu canto era inabalável.
— Ganhe-me algum tempo! — a bruxa gritou. — Este próximo feitiço é
mais complicado.
Peguei minha espada e raspei contra a parede em ruínas como garras
em um quadro-negro. irritando a fera.
Ele pisou forte como uma criança tendo um acesso de raiva, confuso
sobre onde concentrar sua fúria.
A bruxa lançou um feitiço verde brilhante no javali, e sua pele
começou a borbulhar como se fosse explodir.
A besta começou a sofrer mutações novamente, seus músculos
ficando macios como massa.
Quando começou a encolher, vi minha abertura.
Eu me lancei contra o javali e trouxe minha espada para baixo em seu
pescoço, cortando sua cabeça de seu corpo.
A cabeça rolou pelo chão em uma bagunça sangrenta enquanto meu
peito arfava para dentro e para fora.
Finalmente estava morto.
Voltei minha atenção para a bruxa, que estava caminhando em minha
direção. Eu levantei minha espada e apontei para sua garganta.
— Dê-me uma boa razão para que eu não deva fatiar você da mesma
forma que aquele javali, — eu rosnei.
— Porque fui manipulada, — respondeu ela, erguendo as mãos em
sinal de rendição.
Abaixei minha espada com cautela.
— Explique, — eu rosnei.
— Um Alfa com o nome de Cornelius me chantageou para sabotar
você, — disse ela. — Ele teria me preso — ou pior — se eu não
obedecesse.
Então, Cornelius estava por trás disso... Eu deveria saber.
— Quando eu vi você correndo em direção ao javali, pronto para se
sacrificar... isso me tirou do meu torpor, — ela disse, ajoelhando-se e
tirando sua capa.
A bruxa embrulhou a cabeça do javali e me entregou. — Eu acredito
que isso é seu.
— Eu não posso simplesmente deixar você ir, — eu disse, pegando a
cabeça. — Eu sou um Guardião da Lua. E você cometeu um crime.
Diversos.
— Por favor, não me denuncie, — ela implorou. — Eu prometo que
não queria te machucar. Mas, como bruxa, sou considerado o mais baixo
dos mais baixos. Pior até do que um mestiço. Na Cidade Santa, eles
podem me enforcar apenas por existir.
Eu tinha empatia por ela. Essa bruxa era alguém que estava sendo
manipulada para tarefas moralmente corruptas, assim como eu. Mas
devo deixá-la ir livre?
Ou devo denunciá-la e usar esta oportunidade para pregar Cornelius
na parede por seus crimes... algo que eu queria desesperadamente fazer.
Eu estava preso a uma decisão impossível...
E eu não sabia que escolha faria.
28
TUDO QUE BRILHA ...
Lyla

Minha cabeça girou com indecisão enquanto eu considerava a bruxa


na minha frente.
Tive a chance de derrubar um dos homens mais corruptos da cidade.
Não foi apenas uma vingança pessoal...
Era meu dever como Guardião da Lua.
Mas também era meu dever proteger e servir as pessoas comuns.
E por mais que a Cidade Santa quisesse negar, essa bruxa estava
incluída naquele grupo.
Cornelius tentou controlá-la e extorquir por medo e intimidação.
Como eu poderia jogá-la debaixo do ônibus quando estava tentando
impedi-lo de manipular pessoas como ela?
A resposta foi mais fácil do que eu pensava...
Eu não pude.
— Eu não vou aceitar você, — eu disse, relaxando minha postura. —
Contanto que você prometa não concordar com a chantagem de
Cornelius. Se ele vier para você de novo, então você vem para mim.
A bruxa acenou com a cabeça, olhando para mim com gratidão. Ela
estendeu a mão para mim.
— Eu sou Tempeste. — disse ela, sorrindo suavemente. Quando
apertei sua mão, senti uma boa energia dentro dela.
Sem sua capa e capuz, eu podia ver suas feições mais claramente. Ela
tinha uma linda pele caramelo e cabelo escuro e indomável que me
lembrava seu nome tempestuoso.
Seus olhos ametistas brilhavam com magia, e havia um calor por trás
de sua fachada misteriosa.
— Posso te perguntar uma coisa? Por que você fica em uma cidade que
te persegue?
Tempeste me olhou com curiosidade. — Minha espécie é perseguida
em todos os lugares. É melhor morar na cova dos leões — pelo menos eu
sei onde os leões estão.
— Há mais de sua espécie aqui? — Perguntei.
— Oh, sim, — disse ela, com um sorriso malicioso nos lábios. — Se
você souber onde procurar. — Tempeste começou a recuar para as
sombras do labirinto, mas antes de desaparecer, ela me deixou com
algumas palavras de despedida.
— Estou eternamente em dívida com você, Lyla. Não vou esquecer a
sua bondade..., — disse ela.
— ... Nós nos encontraremos de novo.
Sebastian

— O que diabos está acontecendo aí! — Eu rosnei.


Nesse ponto, a Guarda da Lua havia se reunido ao redor da saída para
o labirinto e estava esperando com cautela para ver o que poderia sair.
Havia uma grande comoção acontecendo no centro daquele labirinto,
e eu sabia que Lyla tinha que estar envolvida nisso.
Eu não me importava mais se ela fosse desclassificada, só me
importava que ela continuasse viva.
— Deixe-me passar! — Eu rosnei para o bloqueio de guardas.
— Alfa Sebastian. não podemos deixar civis entrar no labirinto, —
disse um dos guardas, dando um passo à minha frente. — É muito
perigoso. Assim que avaliarmos a situação, enviaremos um esquadrão
para...
— Quando você avaliar a situação, será tarde demais! — Eu gritei com
raiva. — Meu companheiro está lá!
Parecia que quanto mais agitado eu ficava, mais Guardiões da Lua
apareciam ao meu redor. No entanto, nenhum deles estava fazendo o
que realmente deveria estar fazendo.
— Mercer! — Eu gritei, fervendo. — Diga a seus homens para fazerem
alguma coisa! Você está no comando, não é? Dois dos seus estão lá!
— Esta é uma situação delicada. Não sabemos o que estamos
enfrentando, — disse ele, sem um pingo de preocupação na voz. — Essas
coisas exigem paciência e oração.
Não dê um soco em um membro do clero... Não dê um soco em um
membro do clero... Eu repetia em minha cabeça várias vezes.
Mercer realmente era a escória da terra.
— Oh meu Deus! — Eu ouvi Teresa gritar de repente. A multidão ao
nosso redor engasgou-se coletivamente.
Eu me virei para ver os Guardiões da Lua se separando na frente do
labirinto.
O rosto de Mercer ficou pálido quando ele viu quem estava saindo da
escuridão.
Lyla!
Ela estava coberta de sangue e sustentava um Achilles gravemente
ferido. Em sua mão estava uma capa embrulhada.
Alguns dos outros guardas agarraram Achilles dela e começaram a
cuidar de seus ferimentos. Parecia que ele tinha sido apunhalado no
estômago.
Lyla parou bem na frente de Mercer, uma expressão desafiadora em
seu rosto. Parecia que ela tinha acabado de chegar no trem expresso do
Inferno.
Ela deixou a capa se desemaranhar e uma enorme e horrível cabeça de
javali pousou a seus pés.
Ele recuou em desgosto. Quando meu olhar se conectou com o de
Lyla, eu sorri.
A multidão explodiu em gritos de entusiasmo e aplausos. Caspian
saltou para cima e para baixo em uma perna, e Teresa gritou mais alto do
que todos juntos.
Ela realmente fez isso.
Ela ganhou o campeonato.
E com isso, uma audiência com a Deusa da Lua.
Lyla
Não esperava terminar meu dia coberto de sangue de porco mutante,
mas se viver nesta cidade me ensinou alguma coisa, era esperar o
inesperado.
Havia tanto para processar que minha cabeça estava girando. Eu só
precisava lavar esse sangue e relaxar meus músculos.
Eu entrei no banheiro e liguei o chuveiro no ambiente mais quente.
Quando pisei na água escaldante, nem me importei se queimava.
Parecia que a única maneira de lavar o que tinha acontecido hoje era
arrancá-lo da minha pele.
Enquanto eu observava a água vermelha rodopiar pelo ralo, eu queria
deixar minhas preocupações irem embora junto com ela, mas eram
muitas.
Cornelius ordenou que me matassem, e eu não pude nem provar
porque deixei a bruxa ir...
Eu me perguntei se realmente encontraria Tempeste novamente.
Sebastian já estava desconfortável por eu ter amigos mestiços — tenho
certeza que ele ficaria emocionado em conhecer minha nova amiga
bruxa.
E então havia meu encontro com a Deusa da Lua amanhã...
Foi por isso que trabalhei tão duro todo esse tempo. Mas e se não der
certo? E se ela se recusasse a nos ajudar?
Parecia que tinha feito tudo certo, mas esperava que isso fosse o
suficiente.
Enquanto eu corria meus dedos pelo meu cabelo molhado e deixei a
cascata de água sobre meu rosto, um par de braços fortes me envolveu.
— Estou tão orgulhoso de você, — Sebastian disse, me segurando com
força. — Você salvou nosso bando sozinho.
— Ainda não, — respondi, sem conseguir tirar a dúvida da minha voz.
Sebastian me virou para encará-lo e agarrou meus ombros.
Enquanto o vapor da água quente ondulava entre nós, seus lindos
olhos brilhantes cortaram a névoa.
— A parte difícil acabou, — disse ele. — Você merece uma pausa.
Julgando pelo estado atual de seu pênis, eu diria que a parte difícil
estava longe de terminar.
Sebastian pegou meu corpo molhado e me carregou para o quarto, me
pressionando contra a janela. Minha bunda deixou uma marca úmida no
vidro.
— Eu não posso acreditar que você está excitado por alguém que
estava coberto de sangue de javali, — eu disse, sorrindo para ele.
— Você está de brincadeira? Ver você saindo daquele labirinto, coberto
de sangue e vísceras, carregando seu prêmio — foi o mais excitado que eu
já estive, — ele respondeu seriamente.
Eu não pude deixar de rir. Eu estava acasalado com um lunático.
— Bem, agora é hora de reivindicar seu prêmio, — eu disse,
pressionando meus seios contra seu peito nu. — Obrigado por ficar
comigo durante tudo isso.
Sebastian me puxou para seus braços e me beijou profundamente
enquanto eu ficava na ponta dos pés; Eu o deixei assumir a liderança. Ele
estava certo, eu merecia uma pausa.
Ele me pegou e eu envolvi minhas pernas em volta de sua cintura
enquanto nos provamos vorazmente, como se fosse a primeira vez.
Segurei a haste da cortina enquanto Sebastian deslizou dentro de mim
e começou a empurrar.
Enquanto eu saltava para cima e para baixo em sua vara, gritei de dor.
Ele era tão fodidamente grande, e não tivemos tempo para relaxar
nisso.
Nada sobre as últimas semanas foi fácil... mas eu só tive que trabalhar
com o desconforto.
Momentos depois, aquela dor e desconforto se transformaram em
puro prazer.
— Foda-se, sim! — Eu gritei, montando Sebastian com vigor
renovado.
Ele bombeou seus quadris ainda mais forte, estimulado por meus
gemidos.
Ele estava acertando nos pontos certos e eu gozando como uma fonte.
Quando não conseguiu resistir mais, Sebastian soltou um gêiser,
atirando em sua carga com um grunhido gutural de satisfação.
Encostamos um no outro, ofegantes, ainda bombeados pela
adrenalina.
Sebastian beijou minha testa e eu coloquei minha cabeça em seu
peito.
Eu me senti completamente à vontade. Eu sabia que poderia fazer
qualquer coisa com meu companheiro ao meu lado, me apoiando.
— Estou pronto... — eu disse de repente. — Para a Deusa da Lua. Eu
sei que posso convencê-la a nos apoiar.
— Eu sei que você também pode, — respondeu ele, dando-me um
aperto reconfortante.
— Você é o Alpha, Luna e o Guardião da Lua, tudo em um. Você pode
fazer qualquer coisa, Lyla.

A guarda pessoal da Deusa da Lua me conduziu até seus aposentos,


abrindo as pesadas portas douradas.
Antes de entrar, vi o cardeal Mercer me encarando do fundo do
corredor.
Ele odiava que eu tivesse ganhado o campeonato, mas acima de tudo
ele odiava que eu tivesse me provado: não apenas aos olhos da Deusa,
mas de toda a Cidade Santa.
Eu tinha o que era preciso para ser um Guardião da Lua. apesar da
minha linhagem ou de qualquer outro fator.
Quando entrei nas câmaras, os guardas fecharam a porta atrás de
mim.
Eu encarei com admiração a Deusa da Lua em seu trono. Suas vestes
de seda eram tão longas que arrastavam escada abaixo. Ela estava usando
um cocar ornamentado que tinha mais de sessenta centímetros de altura,
com joias e cristais pendurados.
— Aproxime-se, — ela comandou com uma voz feminina e firme.
Quando comecei a descer o tapete de veludo em direção à Deusa da
Lua, meu coração disparou.
Ela pode parecer extravagante e encantadora, mas...
Eu sei por experiência própria que nem tudo que reluz é ouro...
Será que ela realmente ouvirá meus apelos?
Ou ela vai me desprezar de seu trono e me colocar de lado?
O destino da minha matilha está nas mãos dela...
29
OH MINHA DEUSA Lyla
Subi lentamente os degraus que levavam ao trono da Deusa da Lua.
com cuidado para evitar a cauda de seu vestido.
Ela não era a mulher mais calorosa, mas também não era
necessariamente fria. Ela apenas me olhou com curiosidade.
Sua natureza etérea e seu estilo extravagante a faziam quase parecer
uma boneca em tamanho real.
Eu cresci aprendendo sobre a Deusa da Lua quando criança — havia
uma nova a cada geração. Eles foram divinamente escolhidos pelo
conselho da igreja, mas supostamente transmitiram seu espírito e
sabedoria uns aos outros.
Enquanto eu estava a poucos metros da Deusa, não pude deixar de
pensar que ela era apenas uma garota não muito diferente de mim.
— Você se saiu bem nos desafios, — disse ela, me olhando de cima a
baixo. — Estou bastante impressionado. Não temos muitas mulheres
campeãs.
— Obrigado, Santidade, — eu disse, tentando ser humilde. — Foi uma
honra participar do festival.
Esta noite era o eclipse, o evento final do Dark of the Moon Festival.
Seria um alívio apenas relaxar e não competir por uma mudança.
Eu sacudi quando a Deusa da Lua de repente se levantou de seu trono.
Ela desceu os degraus graciosamente e se aproximou de um carrinho que
continha uma garrafa de cristal cheia de vinho.
— Você participa? — ela perguntou formalmente.
— Hum... sim, — eu respondi, surpresa. Fiquei chocado que a Deusa
da Lua estava me oferecendo uma bebida.
Ela serviu o vinho em duas elegantes taças de haste e entregou uma
delas para mim.
— Para sua vitória, — ela disse, batendo seu copo contra o meu. Eu
pensei ter quase visto a sugestão de um sorriso em seu rosto, mas era
difícil dizer.
— Eu acredito que a Cidade Santa foi agradável para você? — a Deusa
perguntou de uma forma que não me deixou muita flexibilidade.
A Cidade Santa tinha sido realmente um inferno, mas eu não podia
dizer isso a ela.
— Sim, é de tirar o fôlego, — respondi, tomando um gole do meu
vinho.
A Deusa da Lua passeou pela vasta sala e se ajoelhou em uma área de
estar coberta com travesseiros de veludo. — Venha, sente-se, — ela
ordenou.
Enquanto eu seguia e afundava no mar de travesseiros, me senti como
se estivesse em um paraíso luxuoso.
— Hum, sua Santidade, eu tenho algo que gostaria de falar com você,
— eu disse, concentrando-me extremamente em não derramar meu
vinho em um dos travesseiros.
— Fale livremente, — disse ela, ainda com sua expressão estoica. —
Esta é a sua chance. O que é que você deseja?
Enquanto eu me sentava com a Deusa neste ambiente mais casual, de
repente ela parecia menos intimidante. Eu projetei confiança quando
falei, mas ainda escolhi minhas palavras com cuidado.
— Minha matilha, The Royal Pack, está com problemas, sua
Santidade. Nosso dinheiro e nossos recursos estão acabando e o
financiamento da igreja foi cortado. Eu estava esperando que você
reconsiderasse deixar o Royal Pack de volta nas boas graças de...
— Mas não é mais apenas o Pacote Real, é? — a Deusa perguntou, uma
tensão em seu tom.
— Hum, bem, não... nós assimilamos com outro bando, — eu
gaguejei, minha confiança diminuindo rapidamente.
— E qual pacote seria esse? — ela perguntou, embora ela já soubesse a
resposta.
— O... Pacote de Estrelas da Noite, — eu respondi. Essa conversa
estava começando a entrar em um território perigoso.
— Sim. a matilha de seu pai — ela disse, franzindo os lábios. — Seu pai
que era um desertor. Um traidor da igreja.
Não havia nada que eu pudesse dizer para defendê-lo. Ele era todas
essas coisas.
— Meu pai gostava de fugir de seus problemas, — respondi. — Mas eu
não sou ele.
Eu sabia que estava andando em uma linha tênue, mas a Deusa da Lua
inclinou a cabeça com curiosidade. Ela acenou com a cabeça,
silenciosamente me encorajando a continuar.
— Nós assimilamos o Night Star Pack porque queríamos mostrar a
eles que havia força na comunidade e camaradagem. Queríamos que eles
sentissem que não precisavam mais ser isolados — A Deusa ainda não
tinha me cortado, então talvez eu estivesse dizendo as coisas certas? Ela
era incrivelmente difícil de ler.
— Sei que foi uma decisão polêmica que nos colocou em conflito com
a igreja, mas não queremos que nossa parceria seja rompida. Queríamos
apenas mostrar a luz a um pacote rebelde. Sebastian, o Alfa do Pacote
Real, sempre foi um seguidor devoto de você, sua Santidade. — Para ser
honesto, a Cidade Santa me fez questionar muitas coisas sobre a igreja, e
me senti um pouco traído dizendo essas coisas. Mas eu estava preparado
para fazer o que fosse necessário para salvar minha matilha.
Eu não queria decepcionar Sebastian.
— Os pecados de meu pai não são meus, Santidade, — eu disse com
convicção. — Eu só peço que você me deixe provar isso para você.
A Deusa da Lua sentou-se em silêncio, considerando minhas palavras.
Finalmente, ela se levantou e estalou os dedos. Seus guardas abriram a
porta e entraram, parando em posição de sentido.
Meu coração saltou na minha garganta.
Porra, eu disse algo errado?
Mas então a Deusa da Lua me deu um sorriso que, embora enervante,
exalava um calor genuíno.
— Isso foi esclarecedor, Lyla, mas preciso voltar às minhas obrigações,
— disse ela enquanto eu me levantava e a encarava. — Tanto suas
palavras quanto suas ações me impressionaram. Vou providenciar para
que a membresia de seu bando seja readmitida na igreja.
— Oh meu Deus… — Eu tive que me impedir de usar o nome da
Deusa em vão, eu estava tão animada. — Muito obrigado!
— Eu tenho uma condição, no entanto... — ela disse, estourando
minha empolgação como um alfinete em uma bolha.
— Dada a história de seu pai com a igreja, você deve prometer não
fazer nada que possa manchar sua reputação.
Foi um pedido pesado, dadas algumas das visões conservadoras da
igreja, mas eu tinha ido longe demais para questioná-lo agora.
— Claro... — eu respondi, sorrindo. — Eu não vou te decepcionar.

Quando saí da basílica, praticamente comecei a pular de alegria.


Meu encontro com a Deusa da Lua não poderia ter sido melhor, e
meu trabalho árduo finalmente valeu a pena.
Eu estava tão extasiada que mal podia esperar para chegar em casa
para contar a Sebastian. Peguei meu telefone e comecei a digitar
furiosamente.
Lyla: Sebastian!

Lyla: Acabei de sair da minha audiência com a Deusa!!

Lyla: E eu poderia chorar honestamente!!!

Sebastian: Espere??

Sebastian: Choro bom ou choro ruim?

Sebastian: Lyla

Lyla: Ótimo!

Lyla: Nossa associação foi restabelecida!

Lyla: Tudo saiu PERFEITO

Sebastian: Puta merda!

Sebastian: Isso é incrível!!


Sebastian: Espere, estou recebendo outra mensagem Sebastian:
É Magnolia...

Sebastian: Ela disse que o dinheiro acabou de ser transferido para


a conta do bando!

Sebastian: Querida, você não tem ideia de como sou grato por
você Lyla: Não fui só eu Seb

Lyla: Você tem sido minha rocha em tudo isso Sebastian: Nós
realmente formamos uma boa equipe Lyla: O melhor time

Adele

Caspian me embalou em seus braços enquanto descansávamos em


seus aposentos, longe dos olhos curiosos da cidade.
Mesmo que eu me ressentisse do fato de que não poderíamos estar
juntos publicamente, eu ainda apreciava esses momentos que passamos
sozinhos.
— Estive pensando... Caspian se sentou e me deu um olhar sério.
— Uh oh, devo ficar com medo? — Eu perguntei provocativamente,
mas seu rosto permaneceu solene.
— O que está errado? — Eu perguntei, começando a ficar preocupada.
— Tudo, — ele respondeu, sua voz tremendo um pouco. — Eu odeio a
maneira como você é tratado aqui. A forma como todos os mestiços são
tratados. É tão errado.
— É a realidade, — respondi com tristeza. — Poucas pessoas se
importam em fazer algo a respeito.
— Bem, eu quero, e vou lutar contra isso, — Caspian disse, seus olhos
cheios de indignação. — Um dia, viveremos em um mundo onde não
temos que esconder nosso amor.
Meu coração se encheu de afeto pelo meu companheiro. Eu me
aninhei em seu peito e sorri.
— Parece um sonho pelo qual vale a pena lutar.
Espero que um dia isso se torne real.
Caspian acariciou meu cabelo suavemente. — Ele vai. Porque eu não
vou parar até que seja.
Meu telefone começou a zumbir e eu relutantemente o retirei,
querendo ficar neste momento perfeito com meu companheiro.
Eu enruguei minha testa ao ler a mensagem. — Quem é esse? —
Caspian perguntou.
— É a igreja, — respondi. — O Cardeal Mercer está solicitando uma
reunião comigo sobre algo que ele precisa para o festival hoje à noite.
O pedido parecia bastante inocente, mas...
Com o cardeal Mercer... nada era inocente.
Mercer

Eu ainda não conseguia acreditar que a porra da vadia foi coroada


campeã. Isso fez meu estômago embrulhar.
Eu queria que a boceta fosse excomungada, não se tornasse mais perto
da Deusa da Lua.
Agora ela tinha sua matilha imunda reintegrada na igreja, e ela tinha
toda a cidade olhando para ela como se ela fosse algum tipo de heroína.
Mas o festival ainda não acabou...
O eclipse foi esta noite, e ainda havia a tradição consagrada pelo
tempo que o acompanhava. Eu tinha um truque na manga que estava
guardando há algum tempo...
Isso mostraria as cores verdadeiras de Lyla para todos.
Uma batida na minha porta sinalizou a chegada do mestiço. Um
sorriso surgiu em meus lábios.
Bom, na hora certa.
— Você... você pediu para me ver, cardeal... — ela gaguejou.
— Sim, minha querida, — respondi, aproveitando cada gota de seu
nervosismo. Sua timidez despertou algo em mim.
— Eu tenho um papel muito... especial para você desempenhar
durante o eclipse da escuridão da lua.
Muito especial, de fato.
30
ESCURIDÃO DA LUA Lyla
A última noite do festival...
A escuridão da lua.
Parecia um tanto sinistro, mas quando cheguei na animada praça da
cidade com Sebastian. descobri que era tudo menos isso.
Foi uma mascarada colorida e hedonista — cheia de dança, bebida e
libertinagem — tudo acontecendo em frente à pitoresca Basílica da Lua.
Todo mundo estava usando máscaras que funcionavam como uma
forma protetora de olhar para o eclipse e uma desculpa para uma fantasia
extravagante.
O eclipse foi o clímax do festival; toda a razão pela qual o evento foi
criado em primeiro lugar.
Um eclipse lunar foi uma das ocorrências mais sagradas e
reverenciadas na cultura dos lobisomens, que remonta ao início dos
tempos. Enrolei meu braço no de Sebastian enquanto caminhávamos
pela celebração lotada, observando todos os trajes e exibições
intrincados.
Sebastian estava usando uma máscara dourada estilo ópera que eu
escolhi para ele, enquanto eu usava uma máscara prateada em forma de
lua crescente e uma capa de seda esvoaçante.
— É a sua primeira vez no festival, não é? — Sebastian perguntou
enquanto passávamos por uma multidão de dançarinas do ventre.
— Sim, não é o que eu esperava, — respondi, parando no meio do
caminho quando um sopro de fogo quase queimou minhas sobrancelhas.
Sebastian riu e me puxou para fora do caminho, levando-me em
direção às barracas de comida, que eram coletivamente do tamanho de
uma pequena aldeia.
— Eu só estive uma vez, — Sebastian disse. — Meus pais me levaram
quando eu era criança. Não houve muitos eclipses lunares em minha
vida, então esta é minha primeira chance como um adulto.
Os olhos de Sebastian se arregalaram de repente. — Ah Merda! Eles
têm donuts fritos! — ele gritou animadamente, apontando para uma
barraca próxima. — Espere, vou buscar um pouco para nós. — Eu ri
enquanto Sebastian corria até a barraca de comida e entrava na fila. Foi
tão bom vê-lo relaxado e livre novamente.
A situação com o bando realmente estava pesando sobre ele. Mas
agora, ele era como uma criança em uma loja de doces.
Com o canto do olho, percebi duas crianças pequenas me observando
de trás de uma tenda próxima. Eles pareciam ser mestiços.
Sorri para eles, mas quando perceberam que eu os tinha visto,
desapareceram rapidamente.
Agora que estou pensando nisso, não vi nenhum mestiço no festival...
Eu sei que as coisas estão ruins para eles aqui, mas esta é a cidade deles
também. Eles devem ser capazes de se divertir.
— Lyla! É você por trás dessa máscara espalhafatosa? — uma voz
gritou atrás de mim.
Ugh, Achilles.
Eu me virei, pronta para trocar algumas palavras acaloradas, mas
fiquei surpresa ao vê-lo sorrindo calorosamente para mim.
— Brincadeira, você está realmente bem, — disse ele, se aproximando
de mim. Ele estava sem camisa, com tatuagens pintadas por todo o
corpo; ele estava usando uma máscara com chifres.
Mesmo que ele ainda usasse uma grande bandagem em seu lado,
Achilles nunca resistiu a uma chance de se exibir.
— Eu... eu nunca consegui te agradecer de verdade... por antes, — ele
disse, parecendo um pouco nervoso. Eu nunca o tinha ouvido projetar
nada além de arrogância absoluta, então isso era definitivamente novo.
— Você não precisa me agradecer; Eu só estava...
— Não, eu quero, — disse ele, levantando a mão. — Eu tenho sido um
idiota. E você... você salvou a porra da minha vida. Você é uma boa
pessoa, Lyla.
Achilles tirou a máscara por um momento e me olhou nos olhos.
— Eu acho... eu esqueci o que significa ser um verdadeiro Guardião da
Lua, — ele disse seriamente. — Mas você me lembrou de por que me
tornei um.
Suas palavras me tocaram de forma inesperada. Se havia algo de bom
em Achilles, talvez houvesse alguma esperança para esta cidade, afinal.
— Vou deixar você voltar a comemorar, — disse Achilles, abaixando a
máscara e recuando para a multidão. — Eu só queria que você soubesse
que de agora em diante, terei sua proteção.
Sorri ao me virar, surpresa com o quão agradável essa interação tinha
sido. Mas quando vi quem estava caminhando em minha direção, soube
que as gentilezas haviam acabado.
— Cornelius... — Eu disse amargamente quando ele se aproximou de
mim, flanqueado por dois de seus capangas.
— Se não for o campeão em si, — ele disse zombeteiramente. — O que,
por favor, diga, você disse quando se encontrou com a Deusa da Lua?
— Você quer dizer, eu disse a ela que você é um traidor da igreja que
se casou com uma bruxa que você contratou para me sabotar? — Eu
perguntei sem rodeios. — Não, eu não mencionei isso.
Cornelius estreitou os olhos e falou baixinho. — Eu não tenho certeza
do que você pensa você sabe, mas é melhor você manter sua boca fechada
de qualquer maneira. Ninguém gosta de um campeão tagarela.
— Ninguém gosta de um babaca Alfa também, — Sebastian rosnou,
caminhando com dois donuts fritos nas mãos.
Cornelius olhou feio para ele. — Então, agora que sua matilha voltou
a ter dinheiro, você cresceu algumas bolas?
— Segure isso, — Sebastian disse, me entregando os donuts.
WHACK!
Ele deu um soco bem no queixo de Cornelius, derrubando-o de
bunda.
Seus homens imediatamente se aproximaram, mas Sebastian e eu
puxamos nossas garras.
— Você não gostaria que a Deusa da Lua soubesse disso, não é? —
Perguntei.
— Ouvir sobre o quê? — Cornelius cuspiu. — Você me atacou! E você
vai pagar por isso!
— Isso não é o que parece para mim, — eu respondi, sorrindo para ele.
— Parece que seus homens estão me atacando porque você perdeu muito
dinheiro apostando nas competições.
— Como um Guardião da Lua, seria muito fácil para mim exigir
registros dessas apostas dos corretores. Portanto, seria do seu interesse
recuar. Cornelius segurou o queixo com uma das mãos e acenou para
seus homens com a outra.
— Isso não acabou, — ele rosnou.
— Sim, é, — Sebastian rosnou. — Porque se você chegar perto do meu
companheiro de novo...
Ele se ajoelhou e acertou o rosto de Cornelius.
. —.. Eu vou matar você.
Deixamos Cornelius sentado no chão, fervendo de raiva. Embora fosse
bom vê-lo parecer um idiota, eu sabia que ele não iria perdoar ou
esquecer isso.
— Isso pode ter sido um erro, — eu disse cautelosamente. — Quando
Cornelius é mordido, ele morde dez vezes mais forte.
— Então vou arrancar seus dentes, — Sebastian rosnou.
Eu avistei Caspian e Teresa parados na borda do palco principal
lotado. Caspian tinha uma expressão preocupada no rosto.
Eu puxei a manga de Sebastian e fizemos nosso caminho até eles.
— O que está acontecendo? — Eu perguntei, dando a Caspian um
olhar preocupado.
— É Adele. Não consegui encontrá-la em lugar nenhum, — disse ele.
— Ela saiu para uma reunião com Mercer e nunca mais voltou.
— Ela também não está atendendo ao telefone — disse Teresa,
colocando a mão no ombro de Caspian. — Mas vamos continuar
procurando. — Ela deu a ele um sorriso encorajador.
Foi um tanto chocante ver esses dois se dando bem — eles realmente
percorreram um longo caminho.
— Ok, vamos restringir onde você já olhou e então nos separar, — eu
disse, entrando em ação. — Você já procurou no...
Mercer de repente saiu para o palco principal. Todos na multidão
voltaram sua atenção para ele.
Ele envolveu seus dedos finos em torno de um microfone e se dirigiu à
multidão.
— Cidadãos da Cidade Santa e todos os nossos estimados hóspedes de
longe, o eclipse está próximo!
Eu olhei para o céu para ver uma sombra começando a se espalhar
pela lua.
— É hora de trazer nosso mascote favorito, o Half-Moon Half-Wit, —
Mercer gritou alegremente, arrancando gritos e aplausos da multidão.
Eu olhei para Sebastian, confusa. — O que diabos é um Half-Moon
Half-Wit?
Sebastian parecia desconfortável quando começou a explicar. — Uh,
bem, todo festival, eles escolhem um mestiço para fornecer
entretenimento para a multidão durante o eclipse. É uma tradição
datada, mas...
— Entretenimento? — Eu perguntei, enojada. — Para quem é
divertido? Parece humilhação e degradação, não diversão e jogos.
O tilintar de correntes chamou minha atenção de volta para o palco, e
eu engasguei de horror com a visão na minha frente.
Adele estava desfilando na frente da cidade com as mãos e as pernas
amarradas...
Completamente nua.
Ela parecia totalmente derrotada e quebrada.
— Mestiço imundo! — alguém gritou da multidão.
— Vadia mestiça! — outro provocou.
As pessoas estavam lançando todos os tipos de insultos vis, mas então
começaram a atirar objetos reais.
Frutas, vegetais, ovos...
Um por um, eles se conectaram com o corpo exposto de Adele.
Mercer sorriu, aproveitando cada segundo dessa tortura distorcida.
Lágrimas encheram meus olhos enquanto eu olhava para Sebastian.
Até ele parecia enojado com a exibição.
Mas então meu olhar mudou para Caspian...
Seu corpo inteiro tremia. Seus olhos estavam cheios de raiva. Ele
ainda estava muito fraco para mudar ou correr, mas ele imediatamente
começou a mancar em direção ao palco.
— Saia da minha frente! — ele gritou para a multidão, mas eles não
estavam ouvindo.
Vou fazer eles ouvirem.
Caspian não seria capaz de chegar até Adele rápido o suficiente, mas
eu poderia.
Eu me afastei de Sebastian e empurrei a multidão de pessoas.
Cravei minhas garras no palco de madeira e escalei a frente dele
enquanto tomates e ovos zuniam sobre mim.
Eu me joguei na frente de Adele, protegendo-a, então tirei minha capa
e a envolvi em seus ombros.
Eu podia ouvir vaias da multidão, mas não me virei. Eu apenas me
concentrei em Adele. Lágrimas escorreram por seu rosto quando eu a
abracei.
— Eu sinto muito, muito mesmo, — eu disse, sufocando minhas
próprias lágrimas.
— Qual o significado disso! — Mercer gritou, embora quando me virei
para olhar para ele, ele ainda estava sorrindo.
— Você está doente pra caralho! — Eu disse com raiva. — Esta
tradição é bárbara!
Eu me virei para a multidão, dirigindo-me a eles, não apenas como
Lyla, mas como a campeã do festival.
— Isso é errado, e você sabe disso! Todos vocês!
Esta mestiça não é apenas uma pessoa que merece respeito, ela é
minha amiga! — Eu gritei.
Muitas pessoas na multidão começaram a se mexer
desconfortavelmente, algumas parecendo culpadas, outras ainda com a
mesma expressão de desprezo de antes.
A lua estava agora completamente coberta por sombras, emitindo um
brilho vermelho estranho.
— Como um Guardião da Lua, eu jurei proteger as pessoas desta
cidade... e isso inclui mestiços! Todos eles!
Mercer se aproximou de mim, sorrindo ainda mais assustadoramente.
Ele se inclinou e sussurrou em meu ouvido.
— Você terminou.
Ele olhou de volta para a basílica e meus olhos seguiram seu olhar.
A Deusa da Lua estava parada na varanda com vista para a praça...
E ela estava carrancuda, me julgando naquele exato momento.
Qual era o julgamento, eu não tinha certeza.
Eu tinha jogado direto nas mãos de Mercer, mostrando minha
compaixão por um mestiço em público.
Eu sabia de todo o coração que tinha feito a coisa certa, mas...
Tão rapidamente quanto eu recuperei a boa graça da Deusa...
... tinha perdido tudo novamente.
Livro 4 – Sem Revisão
Livro Disponibilizado Gratuitamente!
Sumário
1. Uma questão de destino
2. Última chance
3. Peso do mundo
4. Sem tempo para lágrimas
5. Lua Azul Nascendo
6. Não use palavras
7. Acordo com o Diabo
8. A verdade nua
9. Jardim Secreto
10. A hora das bruxas
11. Carne e Ossos
12. União Profana
13. Percepções alteradas
14. Votos e valor
15. Prioridades
16. Do luxo ao lixo
17. Chips 'n Dip
18. Relíquias
19. A calma antes da tempestade
20. Na escuridão
21. Lupinus
22. Profanado
23. Corrida pelo Véu
24. Debaixo do trono
25. Ossos e fogo
26. Ratos no escuro
27. Em flagrante
28. Um pavio diminuindo
29. Sem misericórdia
30. Luz da Lua
1
UMA QUESTÃO DE DESTINO
Lyla

Quando fui colocada como guarda pessoal da Deusa da Lua, não tinha
certeza do que esperar.
Ela era uma figura tão prolífica e reverenciada que minhas
expectativas não poderiam corresponder à realidade.
Estaríamos indo em missões diplomáticas para países estrangeiros?
Será que a acompanharíamos em suas tensas assembleias, onde
encantaria os delegados com suas proezas políticas?
Ela curava os enfermos?
Distribuía comida para as massas famintas?
Distribuía carros grátis como um apresentador de talk show?
O que a Deusa fazia -exatamente em sua rotina diária?
A resposta, ao que parece, era...
Pouca coisa.
Além da ocasional prova de roupas, degustação de vinhos ou ritual
religioso, a Deusa não fazia quase -nada.
Ela vivia uma vida pródiga de luxo, livre de qualquer controvérsia real,
enquanto seus conselheiros faziam a maior parte da tomada de decisões.
E, infelizmente, um desses assessores era Mercer.
A maior parte do meu trabalho era ficar fora de seus aposentos, caso
ela precisasse que eu fizesse algo por ela.
Eu era mais uma assistente glorificada do que um guarda-costas.
Se esta é a glória da Deusa... eu não quero isso.
— Você não acha isso chato? — Eu perguntei a Achilles enquanto ele
estava ao meu lado. — Achei que íamos pelo menos sair em missões
legais ou algo assim.
— O que você quer dizer? Tivemos aquela missão ontem, —
respondeu ele.
— Pegar a lavagem a seco da Deusa da Lua não é -uma missão, — eu
disse, revirando os olhos.
— Ok, tudo bem, admito que é um pouco chato, — disse ele, dando-
me um sorriso brincalhão. — Mas pelo menos podemos ficar entediados
juntos, certo?
— Eu só... me tornei uma Guardiã da Lua porque queria fazer a
diferença, — eu disse, suspirando. — E agora parece que estou parada por
aí.
— Lyla! — A Deusa da Lua gritou atrás da porta. — Eu preciso de você
aqui agora!
— Ei, pelo menos você não vai ficar parada agora, — disse Achilles,
sorrindo. — Progresso.
— Certo... progresso. — Eu respondi sarcasticamente.
Entrei nas câmaras da Deusa da Lua e fechei a porta atrás de mim.
— Você precisava de mim, sua Santidade? — Eu perguntei, ajustando
rapidamente meu tom para soar respeitoso.
— Qual cocar devo usar para a ópera esta noite? — ela perguntou,
franzindo o nariz enquanto mostrava duas opções igualmente
extravagantes.
Então agora eu comecei a dar conselhos de moda...
— Eu gosto do da direita, — eu respondi tão alegremente quanto
pude.
Ela jogou o direito de lado e escolheu o esquerdo. — Obrigada, isso foi
útil, — disse ela com doçura falsa.
Tendo tido apenas breves interações com a Deusa no passado, eu
nunca percebi o quão diva ela era.
Eu estava começando a formar uma imagem muito diferente da Deusa
da Lua daquela que me ensinaram enquanto crescia.
Ela parecia insípida, superficial e desconectada das pessoas.
Ela ao menos sabia o que estava acontecendo com os mestiços?
Ou talvez uma pergunta melhor fosse...
Ela ao menos se -importava?
— Hum... havia mais alguma coisa que você precisava? — Eu
perguntei sem jeito enquanto ela se olhava no espelho.
Ela me ignorou no início, mas finalmente se virou e olhou para mim
sem expressão.
— Não, isso é tudo. Mande Achilles entrar. E Lyla, você pode sair mais
cedo hoje.
Eu não sabia por que estava sendo liberada mais cedo, mas não
questionei. Fiquei grata por me afastar da monotonia. — Obrigada, sua
Santidade.
Quando voltei para o corredor, acenei para Achilles. — Seus serviços
são necessários, — eu disse. — Provavelmente para aparafusar uma
lâmpada ou algo assim.
— Nunca é um momento de tédio nesta posição, — respondeu ele,
rindo.
— Bem, estou saindo mais cedo, então boa sorte. — Quando comecei
a sair, ele agarrou minha mão.
— Lyla... Estou feliz por estarmos trabalhando juntos agora. Gosto de
você mais como aliada do que como adversária.
— Eu também, — respondi calorosamente. — Você não é tão idiota
quanto eu pensava.
— Isso foi realmente um elogio? — ele perguntou, sorrindo.
— Sim, mas não deixe isso subir à sua cabeça não carnuda.
Foi bom que a tensão entre nós tivesse acabado.
Mas enquanto seu olhar permanecia em mim, eu me preocupei que
estivesse sendo substituído por uma tensão diferente...
E não foi competitivo desta vez.
Eu só esperava que Achilles soubesse seus limites.
Sebastian

Lyla costumava voltar para casa da patrulha abatida e exausta.


Mas ultimamente ela voltava para casa cheia de energia reprimida.
Ela precisava de um escape...
E fiquei mais do que feliz em obedecer.
Assim que ela entrou pela porta, eu a peguei em meus braços e a
beijei.
Ela relaxou em minhas mãos e sorriu.
— Você chegou em casa cedo. Como foi lá no posto? — Eu perguntei
brincando.
— Como você acha que foi? Eu só fiquei parada, como sempre, — ela
disse, uma irritação impaciente em sua voz.
— Eu poderia pensar em algo mais ativo que -você poderia fazer, — eu
disse com um sorriso.
Ela balançou a cabeça, mas não conseguiu evitar um sorriso. — Sexo é
tudo em que você sempre pensa?
— Quando eu tenho uma companheira tão gostosa quanto você,
como não posso? — Eu respondi vigorosamente.
Na verdade, havia muito mais do que sexo na minha mente com tudo
acontecendo em casa, mas eu precisava me distrair disso de vez em
quando.
Lyla não era a única que precisava de uma válvula de escape. Se eu não
liberasse minha frustração de vez em quando, provavelmente explodiria.
Eu a puxei para o sofá. Tiramos nossas roupas com pouca
consideração à ordem enquanto nos beijávamos avidamente.
Quando finalmente fiquei apenas com a meia esquerda, Lyla acariciou
meu pau com firmeza.
Seu aperto forte foi incrível deslizando para cima e para baixo em meu
eixo.
— Você sempre teve o toque mágico, — eu rosnei animadamente.
— Talvez eu seja uma bruxa — Lyla respondeu, sorrindo
maliciosamente.
— Nem brinque com isso! — Eu disse, embora não pudesse deixar de
rir.
— Ok, então se interpretar como uma bruxa claramente não te
excita... o que faz? — ela perguntou, piscando.
Lyla realmente queria brincar?
Agradeça a Deusa por esta falta de estimulação no local de trabalho!
Eu considerei minhas escolhas com cuidado. Nós realmente não
tínhamos feito isso antes, então eu não queria estragar tudo.
— Hmmm... bem, há algo meio sexy sobre... freira...
Seus olhos se arregalaram de horror.
— Nuun-não, — eu retirei minhas palavras sem jeito, tentando
pedalar para trás.
Então, freiras são um fracasso. E bom saber
— O que você estava prestes a dizer? — ela perguntou, erguendo as
sobrancelhas.
— Nada. Eu não ia dizer nada. Não tenho fantasias... porque você é a
garota dos meus sonhos, — eu disse, rezando para que ela não percebesse
a minha besteira.
— Tudo bem, — disse ela, rindo. — Se você apenas quiser fazer o de
costume...
Seus lábios de repente envolveram meu pau, e ela o levou
profundamente no fundo de sua garganta.
Gotas de suor se formaram na minha testa enquanto meus olhos
rolavam para trás.
Deusa, isso é bom pra caralho.
Sua cabeça se moveu para cima e para baixo enquanto ela segurava a
base da minha masculinidade em sua mão. Sua boca úmida e quente era
incrível, mas ela tinha um lugar mais úmido e quente reservado.
Eu mergulhei meus dedos em sua boceta e a abri, preparando-a para o
meu pau grosso.
Ela tremeu de prazer e começou a chupar minha orelha, antes de
sussurrar nela.
— Menino travesso. Se você aceitar minha inocência, terá que se
arrepender. Eu sou apenas uma virgem... Irmã Maty Volva da Sagrada
Ordem da Deusa da Lua.
Meus lábios se espalharam em um sorriso.
Minha companheira é a melhor, porra.
Depois de realizar alguns atos dos quais eu tinha certeza de que
teríamos realmente -que nos arrepender, minha mente voltou aos
problemas urgentes enfrentados por minha alcateia.
Enquanto Lyla estava no banho, peguei meu telefone e tentei enviar
uma mensagem de texto para Arthur novamente.
Eu só precisava tentar uma abordagem diferente.
Sebastian: Ei, eu de novo Sebastian: seu sobrinho favorito
Sebastian: Eu sei que você e o resto da família nunca se deram
bem Sebastian: Mas e se eu restaurasse o seu nome com a
alcateia e revertesse oficialmente a decisão do meu pai de
expulsá-lo Arthur: Hahah hoo garoto Arthur: Garoto...

Arthur: Você realmente não entende Arthur: Eu viajei pela porra


do mundo depois que seu pai me fodeu Arthur: Eu sou podre de
rico por minha própria criação Arthur: Tenho lindas mulheres
batendo na minha porta Arthur: Você realmente acha que eu
quero um título idiota?

Sebastian: Então o que você quer?

Arthur: Desculpe garoto, mas eu simplesmente não acho que


você tenha nada a oferecer Outra tentativa fracassada...

Quem disse — tente, tente de novo — pode ir se foder.


Eu estava começando a achar que meu tio era uma causa perdida.
O que eu poderia oferecer ao homem que já tinha tudo?
Adele

Embora eu realmente não conhecesse o homem que tentou assassinar


a Deusa da Lua, perguntei por aí e descobri onde sua família morava.
Convidei Caspian para me acompanhar e trazer comida fresca e
alguns suprimentos.
— Mestiços estão desaparecendo por toda parte, — eu disse
tristemente. — Tirados de seus empregos, de suas casas... em breve,
muitas famílias ficarão sem dinheiro ou meios para cuidar de si mesmas.
Temos que cuidar uns dos outros.
— Isso me deixa doente, — ele rosnou. — Isso não está certo.
— Eles estão tentando enviar uma mensagem, — respondi. — Que
somos inúteis. E que podemos perder nossos direitos a qualquer
momento.
Chegamos a um pequeno casebre que nada mais era do que uma
cabana com uma cortina. Eu me agachei sob a entrada baixa e rastejei
para dentro, cobrindo imediatamente meu nariz e boca.
O fedor era quase insuportável.
Eu me engasguei em choque quando vi a causa do odor...
Uma mulher magra e pálida estava encostada na parede.
Ela estava morta... provavelmente de desnutrição.
Lágrimas nublaram meus olhos, mas eu as segurei...
Porque sentado no canto, olhando para mim sem expressão, estava
um garotinho.
Ele não podia ter mais de quatro ou cinco anos.
Quase tão pálido quanto o cadáver de sua mãe.
Ele recuou um pouco quando Caspian se ajoelhou ao meu lado. — Oh
meu Deus...
Eu levantei minha mão, silenciosamente cortando Caspian. Ele
acenou com a cabeça e recuou.
Lentamente, estendi a mão para a criança pequena. — Eu não vou te
machucar... Eu só quero ajudar.
Cautelosamente, ele se arrastou para frente e colocou sua mãozinha
na minha.
Eu segurei minhas lágrimas, não porque eu não estivesse horrorizada
com o que tinha acontecido aqui...
Eu as segurei porque sabia que o tempo para as lágrimas havia
acabado.
Eu precisava ser forte pelo meu povo.
Ou nenhum de nós sobreviveria ao que estava por vir...
2
ÚLTIMA CHANCE
Lyla

— Lyla Green! Aproxime-se do conselho, — o Cardeal Mercer


ordenou enquanto olhava para mim do púlpito.
Caminhei lentamente pela ampla sala do tribunal da basílica, onde
Mercer, a Deusa da Lua e todo o Santo Conselho estavam sentados acima
de mim em uma única fileira.
Eu estava diante deles; pronta para enfrentar minha punição.
Eu causei um grande rebuliço dentro da Igreja com minha exibição no
festival, e ninguém -ficou feliz com isso.
— Você foi acusada de blasfêmia, insubordinação e comportamento
destrutivo, — disse Mercer, os cantos de sua boca se contraindo
enquanto ele segurava um sorriso malicioso.
Então... talvez rebuliço -tenha sido um eufemismo.
Eu duvidava que qualquer membro do clero ficasse do meu lado,
dados todos os olhares dirigidos a mim.
A Deusa da Lua tinha uma expressão estoica e ilegível.
— Você envergonhou a Igreja e a Deusa com sua exibição no festival,
interrompendo uma tradição sagrada Mercer zombou de mim de seu
poleiro. — Como membro da Guarda da Lua Sagrada, esse
comportamento é inaceitável. O que você tem a dizer sobre suas ações?
O que eu tenho a dizer para me defender?
E melhor eu escolher minhas palavras com cuidado...
Porque tudo o que eu dissesse decidiria meu destino.
VÁRIAS HORAS ANTES
Enquanto Sebastian batia impacientemente com as garras na mesa da
cozinha em seus aposentos, eu podia sentir uma discussão se formando.
Após o eclipse, fui colocada em licença temporária de minha posição
de Guardiã da Lua até que minha corte marcial programada com a Deusa
da Lua decidisse sobre um veredicto.
Eu fiz uma grande bagunça e praticamente arruinei qualquer simpatia
que ganhei da Deusa.
Algo de que Sebastian não tinha problemas para me lembrar...
— Só estou dizendo que se você quisesse acabar com a tradição,
poderia haver uma maneira mais diplomática de fazer isso, — disse ele
pela décima vez.
— Pare de chamar isso de tradição, — eu respondi, irritada. — Foi vil e
bárbaro. Foi tortura! pública.
Eu entendi sua frustração comigo. Nós finalmente garantimos a
segurança de nossa alcateia, apenas para tê-la arrancada de nós quase
imediatamente.
Mas eu não podia ficar de braços cruzados enquanto Adele era
cruelmente humilhada por esporte.
— A Deusa da Lua parecia uma pessoa razoável quando falei com ela
antes, — eu disse, massageando os ombros de Sebastian, tentando aliviar
a tensão. — Talvez eu consiga falar com ela. Não temos certeza se ela vai
voltar atrás em sua palavra.
— Lyla, teremos sorte se eles não nos expulsarem desta cidade com
alcatrão e penas, — disse ele em um rosnado baixo.
— Bem, eu não terminei de lutar, — eu disse resolutamente. — Vou
encontrar uma maneira de superar isso.
Sebastian suspirou, sabendo que eu não iria recuar. Ele agarrou minha
mão e apertou.
— Nós encontraremos uma maneira de superar isso, — ele disse,
admiração em sua voz. — Você pode ser impulsiva e teimosa, mas sei que
tomou sua decisão pela bondade de seu coração, e eu nunca usaria isso
contra você.
Joguei meus braços em volta dele e enterrei meu rosto em seu peito.
— Tenho tanta sorte de ter você como meu companheiro.
— Estamos nisso juntos, — disse ele, esfregando levemente minhas
costas. — Sempre.
Assim como Sebastian disse, minha decisão de proteger Adele veio do
meu coração. E eu sabia que era a coisa certa a fazer.
Se eu tivesse a chance de voltar e fazer diferente... eu não faria.
Adele merecia os mesmos direitos que todas as outras pessoas.
Todos os mestiços mereciam.
Eu expressei minha opinião muito publicamente.
E eu ainda acreditava nela.
Sebastian

Eu amaria Lyla, não importa o que ela fizesse.


E por mais que sua decisão tenha posto nossa alcateia em uma
situação ruim, ela o fez pelos motivos certos.
Essa integridade era parte do motivo pelo qual eu a amava tanto.
Mas se a Cidade Santa retirasse o apoio logo agora que ele -retomou
para nós...
Eu estava ficando sem opções viáveis.
Não havia mais disputas para que Lyla pudesse se provar...
Não sobraram mais favores para a Deusa da Lua...
Então, o que diabos íamos fazer?
Eu tinha um plano reserva por um tempo, mas era a opção nuclear o
que significa que eu realmente não queria usá-lo.
O fundo do poço.
O último recurso absoluto.
Meu tio Arthur.
Havia inimizade -entre nós... Desde que eu conseguia me lembrar.
Meus pais e Arthur cortaram laços há muito tempo, e por causa deles,
eu também fiz.
Tio Arthur era um mentiroso...
Uma fraude...
Um canalha sujo e podre.
O criador de escândalos da família.
E uma porra de um imenso idiota.
Mas ele também era podre derico.
E aconteceu que uma de suas propriedades não ficava longe daqui, em
Mônaco. Casa do mais rico dos ricos.
Mônaco ficava na Riviera Francesa, então ter um encontro cara a cara
não seria impossível, mas o problema seria fazer com que ele concordasse
em primeiro lugar.
Esperançosamente, não precisaria chegar nesse ponto, mas se
acontecesse...
Não seria fácil.
Caspian

Os últimos dias foram especialmente difíceis para Adele. Seu abuso


público nas mãos do cardeal Mercer a abalou profundamente.
Apesar de como tudo estava fodido, ela ainda deveria aparecer para
trabalhar, ou ela seria demitida.
Só provou o quão resistente e incrível ela era poder voltar para a
basílica com a cabeça erguida e fazer seu trabalho.
Mas isso não significa que eu estava feliz com isso...
Depois do que aconteceu no festival, eu não queria perdê-la de vista
nem por um momento.
Então, passei meus dias assistindo Adele em segredo enquanto ela
trabalhava.
Cada vez que um nobre era condescendente com ela, ou um membro
do clero a tratava como uma merda, levava cada grama de minha força de
vontade para não pular e lutar contra eles.
Mas eu sabia que Adele odiava violência.
E eu também sabia que ela não gostaria que eu intendesse.
Eu não poderia fazer isso de qualquer maneira... isso colocaria nosso
relacionamento em risco.
Por enquanto, tudo que eu podia fazer era assistir.
E por falar em assistir...
Olhei para o meu relógio de pulso e meus olhos saltaram da minha
cabeça quando vi a hora.
Porra! Se eu não sair agora, Adele chegará em casa antes de mim e terei
que me explicar!
Ela geralmente vinha aos meus aposentos quando saía do trabalho,
então eu precisava chegar lá primeiro.
Felizmente, meus ferimentos do Anel de Combate finalmente
sararam; eu não precisava mais das muletas, mas ainda não estava cem
por cento.
Voltei para minha casa momentos antes de Adele bater na porta. Abri
rapidamente, ofegante e sem fôlego.
— Ei, baby, — eu disse, segurando minha costela e respirando
pesadamente.
Ela me deu um sorriso conhecedor e entrou. — Você está bem? Você
parece um pouco sem fôlego, — ela disse em um tom de provocação.
— Oh, eu uh... eu só estava malhando, — eu grunhi. — Caspian... eu
sei que você tem me seguido enquanto estou no trabalho, — disse ela,
sentando-se na cama e sorrindo.
— Você... você sabia? — Eu perguntei, de queixo caído.
— Eu te amo, mas você não é tão furtivo quanto pensa, — ela disse
com uma risada. — Sutileza não é um dos seus pontos fortes.
— Você está brava? — Eu perguntei, me sentando ao lado dela.
— Não, eu agradeço, — respondeu ela, colocando a cabeça no meu
ombro. — Isso me faz sentir segura, saber que você está cuidando de
mim. Eu só quero que você tome cuidado. Se a pessoa errada descobrisse
sobre nós...
— Isso não vai acontecer, — eu disse, segurando-a com força. — Eu
não vou deixar ninguém nos separar.
Beijei minha companheira apaixonadamente, sentindo um amor febril
por ela. Ela era a pessoa mais importante do mundo para mim, e eu
nunca deixaria que nenhum mal acontecesse com ela.
Adele caiu de costas na cama e meu corpo a seguiu. Ela envolveu suas
pernas em volta da minha cintura.
Minha mão alcançou por baixo de sua saia, e ela soltou um pequeno
gemido quando puxei sua calcinha e meus dedos deslizaram dentro dela.
Minha companheira pode não ter ficado impressionada com minhas
habilidades furtivas, mas eu sabia que tinha outras habilidades que iriam
hipnotizá-la Abaixei-me por baixo de sua saia e abri suas pernas,
mergulhando minha língua em seu sexo úmido e quente.
Ela tinha gosto de mel e lavanda.
Tão suntuoso e doce.
Eu a saboreei com cada movimento da minha língua. Seu gemido era
incontrolável agora.
Ela não se saciava.
Eu tirei minha calça e pressionei meu pau em sua boceta enquanto
suas garras cravavam em minhas costas.
Ela estava tensa no começo, mas depois que ela relaxou, eu a enchi
com minha circunferência completamente.
Eu entrei e saí, lentamente.
— Tão... grande, — ela gemeu.
Eu podia sentir ela gozando enquanto eu empurrava para dentro e
para fora com intensidade crescente.
— Caspian... Oh. minha deusa! SIM!
Ouvi-la gritar meu nome me fez sentir como um rei.
E eu iria me certificar de que ela sentisse meu cetro enquanto eu
pudesse segurá-la...
Eventualmente, os gemidos de minha companheira e a expressão de
êxtase em seu rosto me colocaram no limite.
Eu puxei para fora, mas quando estava prestes a gozar nos lençóis,
Adele agarrou meu pau e apontou para seus seios.
— Eu quero você em cima de mim, — ela insistiu.
Qualquer coisa por você, minha rainha.
Ela observou amorosamente enquanto eu gozava, minha semente
caindo em cascata por seu seio flexível.
Eu desabei ao lado dela completamente exausto.
— Você tem a resistência de dez lobos, — ela disse, parecendo
igualmente exausta.
Beijei sua testa e ela se aninhou em meu corpo. — Eu te amo, — eu
disse.
— Eu também te amo, — respondeu ela. — Eu só queria que não
tivéssemos que esconder isso.
Enquanto eu olhava em seus olhos, imaginei como seria nosso futuro.
Um onde não tínhamos que esconder nosso amor.
— Talvez eu possa tirar você daqui. De volta à minha alcateia. Onde as
leis não importam. Na Alcateia Lua Azul, fazemos nossas próprias leis, —
eu disse, ficando animado com a perspectiva de trazer meu novo
companheiro para casa.
Adele suspirou e apertou minha mão. — Isso parece bom.
Mas não havia empolgação em sua voz...
Em vez disso, havia um toque de tristeza.
Lyla

Sebastian me acompanhou até a câmara do conselho, mas foi o mais


longe que ele pôde ir.
— Eu gostaria de poder apoiá-la lá, — ele disse, me dando um abraço
apertado.
Não me surpreendeu que Mercer quisesse que eu me sentisse sozinha
durante minha corte marcial, mas eu estava honestamente feliz por estar
sozinha.
Eu não queria ver a decepção no rosto de Sebastian se as coisas
dessem errado.
— Eu vou ficar bem, — eu disse, me afastando de seu abraço. — Basta
ter uma garrafa de vinho pronta para mim em casa.
— Eu acredito em você, — ele disse enquanto dois Guardiões da Lua
abriam as portas da câmara.
Fiquei consolada que meu companheiro acreditou em mim...
Mas será que a Deusa da Lua acreditaria?

O que você tem a dizer sobre suas ações?


A pergunta de Mercer ecoou em minha mente.
E eu sabia minha resposta.
— Eu peço desculpas à Deusa da Lua por minha ousadia, mas eu não
me arrependo de minhas ações, — eu disse com firmeza. — Eu mantenho
minha declaração de que a chamada tradição era bárbara e cruel.
O conselho murmurou um para o outro enquanto os lábios de Mercer
se curvaram em um sorriso maligno. Ele esperava que eu dissesse isso.
— Você demonstrou desprezo pela Igreja, e eu não acho mais você
apta para servir como uma Guardiã da Lua. Você será destituída de seu
título e posição de uma vez, — ele zombou. Dois Guardiões da Lua se
aproximaram para pegar minha armadura.
Destituída não apenas de minha posição, mas de minha dignidade.
E assim que serei lembrada...
Não santificada no Salão dos Heróis.
Ou celebrada na parede dos campeões na arena.
Não, eu serei considerada uma mancha na Guarda da Lua Sagrada, assim
como meu pai.
— Seu tempo aqui acabou, — Mercer disse, quase alegremente. —
Você receberá uma desonra desonrosa...
— MORRA, SUA IMPOSTADORA DO CARALHO! VOCÊ NÃO É
UMA DEUSA! VOCÊ É A PORRA DE UMA MENTIRA!
Um homem barbudo e esfarrapado apareceu de repente das sombras,
descendo das vigas.
Ele saltou para o corrimão do Santo Sigilo pendurado acima do
conselho e deslizou para baixo, pousando na plataforma.
Seus olhos estavam cheios de loucura e sua voz, de dor.
Eu botei minhas garras para fora e escalei o púlpito alto enquanto o
conselho começou a gritar e se espalhar.
A Deusa da Lua tentou correr, mas tropeçou em suas vestes
elaboradas. Ela congelou quando o assassino se lançou sobre ela,
brandindo uma adaga de prata.
Sem nem mesmo pensar, eu me lancei para frente também.
Parecia que o tempo diminuía conforme avançávamos em direção à
Deusa, mas a pergunta fatal era...
Quem vai alcançá-la primeiro?
3
PESO DO MUNDO
Lyla

A adaga de prata perfurou minha armadura enquanto eu mergulhava


na frente da Deusa da Lua, protegendo-a do perigo.
A lâmina não se conectou com a minha pele, mas mesmo estando em
estreita proximidade com a prata, senti arder. Era a substância mais
mortal conhecida por nossa espécie: ainda mais letal do que o Acônito.
Eu agarrei o suposto assassino e caímos escada abaixo enquanto eu
tentava tirar a adaga de suas mãos.
Ele gritou e se debateu como um louco.
— ELA DEVE MORRER! TENHO QUE CONCLUIR MINHA
MISSÃO!
Eu agarrei seu pulso e bati no chão várias vezes, mas ele não largou
sua arma.
— Não, não, não! Eu não posso falhar! — ele murmurou. De repente,
ele me empurrou com as pernas e começou a correr pelo corredor.
— Pare! — Eu gritei, pondo-me de pé e perseguindo-o.
Mesmo se eu estivesse prestes a perder meu título de Guardiã da Lua,
faria meus últimos segundos valerem.
Ele saltou pelos corredores a uma velocidade vertiginosa, mas não era
páreo para mim. Ele parecia doente e desnutrido, enquanto eu tinha
acabado de terminar uma quantidade excessiva de treinamento.
Quando o ataquei, sua adaga deslizou pelo chão. Eu segurei suas mãos
atrás das costas e o levantei.
— Quem diabos é você? — Eu rosnei.
Quando o virei e olhei em seus olhos temerosos, vi reconhecimento.
— É você... — ele gaguejou.
O reconhecimento rapidamente se tornou meu. Eu conhecia esse
homem...
A barba desgrenhada escondia seu rosto, mas me lembrei daqueles
olhos temerosos.

— Fique para trás! — o ladrão gritou.


Ele tropeçou para trás, acidentalmente tropeçando em algum lixo. O saco
em seus braços caiu no chão e se abriu, várias batatas rolando para os meus
pés.
— Você... você roubou batatas? — Eu perguntei enquanto ele olhava para
mim com desespero.
— Elas são para minha família, — ele sussurrou. — Eles estão morrendo
de fome.
Meu coração se partiu pelo homem. Ele parecia esfarrapado, com sujeira
espalhada em seu rosto e cabelo. Eu também não tive a sensação de que ele
estava mentindo para mim. O desespero em seus olhos não podia ser fingido.
— Você é um mestiço, não é? — Eu perguntei.
Ele acenou com a cabeça, mas ele não olhou para mim. Quase como se ele
tivesse vergonha do que ele era.
-Mais uma vez, os efeitos do preconceito sobre os mestiços aqui eram
óbvios. Este homem não conseguia nem alimentar sua família. Por que
diabos ninguém estava fazendo nada sobre isso?
— Vá, — eu disse.
Lágrimas transbordaram, limpando um pouco da sujeira de suas
bochechas.
— Oh, obrigado. Obrigado, — disse ele.
— Depressa, antes…
— Antes do quê, garota? — Mercer zombou atrás de mim.
Meu coração afundou enquanto eu olhava para o mestiço - o mesmo
que deixei ser preso no mercado quando me tomei uma Guardiã da Lua
pela primeira vez.
Seus gritos ainda ecoavam em meus ouvidos.
— Por favor, não deixe que eles me levem! Eu só quero alimentar minha
família! Por favor!
— Por favor... — ele murmurou, mas desta vez não era um eco.
— Por que você atacou a Deusa da Lua? — eu perguntei, meu rosnado
suavizando. Eu queria entender o que o levou a este lugar.
— Eu... eu tinha que fazer isso... — ele disse, seu olhar ficando escuro.
— Por que? — Eu perguntei, confusa. — Você não deveria estar na
prisão?
Ele parecia estar quase com medo de responder. — Eles vão machucar
minha família... — ele disse, com lágrimas nos olhos.
— Quem? — Eu perguntei, com urgência.
Ele hesitou, mas finalmente reuniu coragem para falar. — Era...
SPLAT!
Meus olhos se arregalaram de horror quando o sangue do homem
espirrou em meu rosto.
Havia uma espada enfiada em sua cabeça. Alguém puxou a lâmina e
seu corpo sem vida caiu no chão como uma cortina, para revelar...
Mercer.
— Essa imundície merecia a morte, — ele rosnou, limpando a lâmina
enquanto vários Guardiões da Lua corriam atrás dele.
Fiquei tão chocada; eu mal conseguia falar.
— Ele estava... nós nem tivemos a chance de... questioná-lo.
— Nós não precisamos questioná-lo, — Mercer zombou. — Ele era
mestiço. -Seu motivo era claro como o dia.
A corte da Deusa da Lua estava um caos. Todos os oficiais da igreja se
reuniram para discutir a tentativa de assassinato.
Uma hora atrás, eu estava sendo submetida à corte marcial; agora, eu
estava no centro de uma conspiração de assassinato.
Eu não sabia se ainda teria meu título privado, mas por enquanto
havia assuntos mais importantes em mãos.
— São os imundos mestiços, — Mercer gritou, irritando o tribunal. —
Eles estão se rebelando e tentando nos derrubar. — Muitos murmuraram
em concordância.
— Certamente isso é um exagero, — respondeu um bispo. — Foi um
incidente isolado. Afirmações como essa podem incitar uma guerra total
na Cidade Santa.
— Talvez uma guerra seja o que é necessário para erradicar os vermes
que infestam esta cidade, — Mercer rosnou.
— Os mestiços são uma parte funcional de nossa sociedade, — disse
uma freira. — Se os removermos sem um plano adequado, tudo
desmoronará.
Mesmo que seu raciocínio fosse um pouco distorcido, pelo menos
algumas pessoas estavam discordando de Mercer.
A Deusa da Lua permaneceu em um silêncio revelador durante a
discussão.
Será que ela se importa com o que está acontecendo?
— Os mestiços são ingratos pelo que demos a eles, — cuspiu Mercer.
— Temos sido muito tolerantes com eles. As leis -são muito tolerantes.
Meu estômago apertou quando vi muitos dos clérigos balançando a
cabeça.
— Esta tentativa de assassinato é a prova do comportamento
degenerado dos mestiços! — ele gritou. — Proponho que instituamos leis
mais duras para manter os mestiços sob controle e garantir que algo
assim não aconteça novamente. Devemos tomar as medidas necessárias
para manter nossa Deusa segura!
— Aqui, aqui! — várias pessoas responderam da multidão.
Oh não.
Isso era ruim.
Meus pensamentos foram imediatamente para Caspian e Adele.
A Cidade Santa já havia sido um ambiente antipático para seu novo
relacionamento...
E isso só iria piorar.
— Devemos agir AGORA! Com grande pressa e punho de ferro! —
Mercer gritou, dirigindo-se aos oficiais da Igreja.
Houve murmúrios de concordância em toda a câmara. Mercer sorriu
com satisfação.
Isso não poderia ter sido melhor para aquele bastardo.
— Lyla. — A voz afiada da Deusa da Lua cortou a conversa, e todos
ficaram em silêncio.
Até Mercer parecia surpreso que ela finalmente decidiu falar.
— Você salvou minha vida hoje, — ela disse estoicamente. — E por
isso eu te agradeço.
— Claro... claro, — eu gaguejei.
— Você pode ter me envergonhado com o eclipse, mas hoje você se
redimiu. Você vai permanecer na Guarda da Lua....
O rosto de Mercer ficou imediatamente azedo.
— Mas não em sua posição atual... — ela acrescentou, me deixando
tensa.
— ... Você vai se juntar à minha guarda pessoal Meu queixo caiu, e o
mesmo aconteceu com Mercer.
— Nestes tempos turbulentos, preciso de alguém ao meu lado em
quem possa confiar, — disse ela.
— Eu... eu não vou te decepcionar. E meu dever servir, — respondi
mecanicamente.
Sinceramente, parecia que seria impossível não -decepcioná-la, dado
meu histórico.
— Vamos torcer para que seja esse o caso... — ela disse rigidamente.
. —.. Você tem uma última chance.

Algumas horas atrás, pensei que seria despedida - ou pior, exilada - da


cidade.
Mas agora, fui polida, promovida e Cheguei ao serviço como um
membro da elite da Deusa da Lua, guardas pessoais.
Este lugar estava constantemente me dando chicotadas, mas quando
eu vi quem estava parado do lado de fora dos aposentos da Deusa, eu
sabia que iria receber mais um pouco.
— Lyla! — Achilles gritou, sorrindo quando me aproximei dele. —
Ouvi falar de seu heroísmo. Em um minuto você está cometendo atos
sacrílegos e no próximo está agindo como o escudo humano da Deusa.
Você está sempre cheia de surpresas.
— Essa sou eu, — eu disse sarcasticamente, deixando escapar um
suspiro. — O que você está fazendo aqui?
— Eu sou o chefe da guarda pessoal da Deusa. Ou você esqueceu? —
ele perguntou arrogantemente.
Ótimo... isso significa que somos basicamente parceiros.
— Devo ter esquecido, — respondi, amaldiçoando minha sorte.
— Não se preocupe, não vou ficar no seu caminho desta vez. Vou
deixar você assumir a liderança, — disse Achilles, lendo minha expressão
cínica. — Na verdade, eu farei tudo que-você pedir.
Havia um toque de flerte em seu tom que decidi ignorar, embora
devesse admitir que gostava muito mais dessa versão de Achilles do que
daquela que sempre tentava me sabotar nas competições.
Nossa dinâmica mudou quando salvei sua vida no labirinto; eu vi
então que havia algo de bom nele.
Espero que ele não faça nada para estragar tudo.
— Quem poderia imaginar que nós dois trabalharíamos lado a lado?
— ele perguntou, passando o braço por cima do meu ombro.
— Definitivamente não fui eu, — respondi, empurrando seu braço.
— Mas isso é emocionante... proteger a -Deusa da Lua, — disse
Achilles. — Apenas os Guardiões da Lua mais privilegiados são escolhidos
para essa tarefa.
— O que há de tão empolgante em ficar do lado de fora de uma porta
fechada o dia todo? — Eu perguntei, revirando meus olhos.
Parecia que eu tinha falado muito cedo porque a porta se abriu de
repente e me vi cara a cara com a Deusa da Lua.
— Sua Santidade! — Achilles gritou, curvando-se rapidamente para
ela.
Eu fiz o mesmo, mas quando levantei minha cabeça e olhei em seus
olhos, senti um aperto no estômago.
Ela me encarou com uma expressão fria e insensível.
Eu sabia que não só seria forçada a proteger a Deusa da Lua, mas
também seus valores e crenças.
Muitos dos quais eu não concordo...
Eu endureci meu coração enquanto forcei um sorriso. — Sua
Santidade...
Posso realmente deixar de lado o que acredito, para agradá-la?
Como ela disse na minha corte marcial...
Esta é minha última chance.
4
SEM TEMPO PARA LÁGRIMAS
Sebastian

Eu estive tentando entrar em contato com meu tio por telefone o dia
todo, mas ele estava — fora — ou — indisponível — toda vez que eu
ligava.
Eu finalmente consegui rastrear seu número de celular pessoal de
uma ex-namorada descontente que estava mais do -que feliz em
obedecer.
Ou melhor, — Diga àquele filho da puta que eu quero os melhores anos
da minha vida de volta... E minha pulseira de diamantes Cartier também! —
-Foi o que ela gritou para mim.
Após a quinta ligação ignorada, eu estava pronto para jogar meu
telefone contra a parede. Ele não sabia que eu estava ligando, mas se
soubesse, provavelmente seria ainda menos provável que atendesse.
Se ele não atender, talvez eu possa enviar uma mensagem de texto para
ele, algo que chame sua atenção.
Sebastian: ei

Sebastian: eu sei que você não me conhece, mas...

Sebastian: Eu fiz um teste de DNA para o bebê Sebastian: e eu


acho que você é o pai Arthur: QUEM É ESSE??

Arthur: Cynthia?

Arthur: Justine??

Arthur: Olha, esses testes nunca são precisos!

Arthur: Você não pode provar nada!

Arthur: É tarde demais para pagar por um aborto?


Arthur: Não vou mais pagar pensão alimentícia para supostos
bastardos!

Arthur: Você vai ouvir meus advogados!

Sebastian: Este é seu sobrinho, Sebastian, seu idiota Sebastian:


Eu realmente espero que você não tenha filhos ilegítimos
Sebastian: Porque você com certeza não está ganhando nenhum
prêmio de pai do ano Sebastian: Mas agora que tenho sua
atenção Sebastian: Precisamos conversar Arthur: Ah sim, ouvi que
você estava ligando para a casa Arthur: O que diabos você quer?

Arthur: Pq não tenho nada a dizer a você Sebastian: É sobre a


alcateia da família Arthur: Eu pensei que sua família não queria
nada comigo Arthur: Eu sou a — SEMENTE RUIM

Arthur: De acordo com seu pai, eu sou apenas um bêbado


desprezível que mancha o nome da família Sebastian: Bem, estou
controlando a alcateia agora mancha o nome da família
Sebastian: Bem, estou controlando a alcateia agora Sebastian: E
preciso de ajuda Sebastian: A igreja nos empurrou para fora e
cortou fundos Arthur: HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH

Arthur: Que merda, isso é hilário Sebastian: O que isso tem de


engraçado? Este é o seu legado também Arthur: Não mais garoto
Arthur: Seus pais queriam que eu vazasse, então eu fiz isso
Arthur: Fim da história Sebastian: Estou começando a entender
por que...

Sebastian: Parece que você não dá a mínima para ninguém além


de você Arthur: Tenho que olhar para o número uno Arthur: E
agora que eu tenho uma tonelada de dinheiro, você quer um
pedaço, hein?

Sebastian: Estou perguntando como seu sangue Sebastian: Logo


não seremos mais capazes de alimentar ou abrigar todo mundo
Arthur: Olha garoto, eu me construí. Eu descobri como viver
Arthur: Desculpe que sua sorte acabou Arthur: Mas vou te dizer a
mesma coisa que seu pai me disse Arthur: Quando ele me
expulsou da alcateia...

Arthur: Boa sorte, nanico Arthur: Você vai precisar disso Então...
isso foi uma verdadeira merda.
Eu sabia que Arthur não seria receptivo, mas esse era o próximo nível
de mesquinhez.
Talvez meu pai o tratasse como um nanico, mas de todas as histórias
que ouvi sobre Arthur, ele mereceu.
Pelo menos... eu acho mereceu?
Arthur e meu pai eram gêmeos fraternos; meu pai era o mais velho
por apenas alguns minutos.
Talvez houvesse algo a mais na inimizade do que eu imaginava.
Ou talvez Arthur fosse apenas um idiota.
De qualquer forma, eu sabia que não conseguiria entrar em contato
com ele por mensagem de texto.
Eu teria que fazer uma visita pessoal a ele se eu realmente quisesse
fazer um apelo...
Mas mesmo isso pode ser uma causa perdida.
Eu ouvi o clique da trava da porta da frente. Lyla finalmente voltou de
sua corte marcial.
Entrei na sala de estar. — Como fez isso...
Eu parei no meu caminho quando vi o estado da minha companheira.
Ela ainda estava usando sua armadura.
Eu teria pensado que eram boas notícias se ela não tivesse aquela
expressão de dor no rosto.
— O que aconteceu!? — Eu gritei, correndo para o lado dela.
— É... É uma longa história, — ela disse trêmula.

Lyla me contou tudo.


Sobre a tentativa de assassinato.
Sobre Mercer matando o assassino.
E sobre sua nova campanha contra os mestiços.
Ela disse que a Deusa deu a ela uma última chance de provar a si
mesma...
E até a promoveu...
Essa última parte parecia uma boa notícia para mim. mas Lyla não
tinha tanta certeza.
— Sebastian... eu só não sei se serei capaz de fazer as coisas que ela me
pede, — ela disse cautelosamente. — Não posso mais fazer concessões.
Eu entendi como ela se sentia, mas ainda estava preocupado com
nosso bando.
— Como você acha que isso afetará nossa posição com a Igreja? — Eu
perguntei hesitante, não querendo colocar mais pressão sobre ela. —
Você salvou a vida da Deusa da Lua, afinal.
— Eu honestamente não tenho certeza, — ela respondeu, suspirando.
— Eu ainda sinto que estou no gelo fino com ela. E toda vez que dou um
passo, parece que o chão está rachando embaixo de mim. Não tenho
certeza do que vai acontecer quando quebrar...
Passei meus braços em volta de Lyla e a segurei com força.
— Lembre-se de que você não precisa carregar todo esse peso sozinha,
— eu disse. — Estou aqui para compartilhar seus fardos e aliviar sua
carga.
Lyla

Enquanto Sebastian pegava no sono, eu me deitei ao lado dele, bem


acordada.
Havia muito em minha mente, e não pude evitar meus pensamentos
acelerados de sua maratona enquanto tentava ir para a cama.
Mercer teria sucesso com seus planos de suprimir os mestiços ainda
mais do que ele já tinha?
As implicações para Caspian e Adele eram terríveis, para dizer o
mínimo.
Então havia a questão do assassino...
Eu não conseguia tirar aqueles olhos temerosos da minha cabeça.
Por que ele fez algo tão imprudente?
Roubar batatas para alimentar sua família não era uma porta de
entrada para uma tentativa de homicídio.
Mas ele parecia desesperado, como se não tivesse outra opção.
E como ele escapou da prisão em primeiro lugar? Certamente ele não
poderia ter feito isso sozinho...
Eu senti como se de alguma forma tivesse falhado com ele.
Talvez se eu tivesse defendido ele todos aqueles meses atrás, isso não
teria acontecido?
Talvez se eu não tivesse comprometido minha moral e o deixado ser
preso, ele não teria se encontrado em uma situação tão desesperadora?
Eu ainda estava em uma posição precária com a Igreja, mas não me
permitiria cometer os mesmos erros que cometia naquela época.
Mercer estava decidido a tornar a vida um inferno para os mestiços,
mas eu iria lutar contra isso de qualquer maneira que pudesse.
Eu pensei no rosto do suposto assassino enquanto Mercer enfiava
uma espada nele...
Ele estava prestes a me dizer algo - as palavras estavam em seus
lábios...
Mas elas nunca conseguiram sair.
Ele disse que alguém iria machucar sua família.
Ele estava sendo coagido.
Um ladrão mesquinho não se transforma em um assassino de sangue frio
assim.
Quaisquer que tenham sido suas palavras finais, eu nunca saberia.
Esse último pensamento me assombrou quando finalmente adormeci.
Adele

Mantenha a cabeça baixa... -Não foi isso que eu sempre fiz?


Fiona, uma conserva na basílica, estava ajoelhada ao meu lado. Ela
normalmente tinha uma centelha vivaz, mas hoje ela parecia oprimida.
— Você notou o que está acontecendo? — ela perguntou em um tom
abafado. — Ontem Marsha foi despedida sem motivo. Ela tem cinco
bocas para alimentar. E esta manhã, ouvi dizer que Callum foi preso em
sua própria casa.
Eu tinha notado, e isso me assustou muito.
— Todo mundo está dizendo que um mestiço tentou assassinar a
Deusa, — eu sussurrei. — Agora eles estão nos reprimindo com ainda
mais força do que antes.
— Não podemos nem espirrar sem que isso seja uma afronta à Deusa,
— disse Fiona com raiva.
Eu segurei meu dedo em meus lábios, pedindo a ela para ela abaixar a
voz, e eu imediatamente me senti culpada por fazer isso.
Por que devemos ficar em silêncio?
Por que devemos ter medo até de falar?
— Estou tão cansada disso, — disse Fiona, com lágrimas nos olhos. —
Isso não é jeito de viver.
Eu queria abraçá-la e garantir a ela que as coisas iriam melhorar para
nós...
Eu queria dizer a ela que tudo ficaria bem...
Mas isso seria mentira.
As coisas só iam piorar.
Botas pisando de repente chamaram minha atenção. Eu olhei para
cima para ver dois Guardiões da Lua armados se aproximando com uma
nobre.
Eles rastrearam lama por todo o piso de mármore polido.
A nobre apontou para mim e gritou com voz estridente. — Lá está ela!
Foi ela que pegou minhas joias! Estou certa disso!
Meu coração saltou no meu peito. Ela estava me acusando de roubar?
Eu nem conhecia essa mulher!
Eu vacilei quando os Guardiões da Lua pisaram em frente, mas eles
passaram direto por mim...
Oh minha deusa.
Os olhos de Fiona se arregalaram de medo. — N-não, espere, — ela
gaguejou. — Eu não roubei nada.
Eles a agarraram e a colocaram de pé. — Por favor, isso é um erro! —
ela chorou.
— Mentirosa imunda, — zombou a nobre. — Você é quem faz as
minhas tarefas domésticas. Claro que foi você. Você simplesmente não
pode confiar em um mestiço. Estou com medo por minha própria
segurança, honestamente.
— NÃO POR FAVOR! — Fiona gritou enquanto a puxavam
rudemente pelo corredor. — EU SOU INOCENTE!
— Nenhum mestiço é inocente, — a nobre cuspiu, me olhando de
soslaio enquanto se afastava.
Meu corpo inteiro tremia.
Eu me senti completamente impotente.
Poderia ter sido eu quem eles arrastaram.
Fiona nem teve a chance de alegar inocência.
Suas palavras não significavam nada.
Sua voz não importava.
Eu cerrei meus punhos contra o azulejo de mármore frio.
Este novo mundo me apavorava...
Mas eu não iria deixar isso me quebrar.
Minha voz SERÁ ouvida.
5
LUA AZUL NASCENDO
Caspian

— Mais três litros! — Teresa gritou, cambaleando em seu banquinho.


— E minha última noite na Cidade Santa, e eu preciso ficar bêbada!
Teresa, Lyla e eu estávamos nos embebedando no Gargling Gargoyle.
O festival havia acabado e era hora do Alfa e Beta da Alcateia Lua Azul
voltarem para casa.
— Eu beberei para isso, — eu disse, me sentindo um pouco tonto.
Essas últimas semanas foram as melhores da minha vida - encontrar
minha companheira, assistir meu amigo ganhar o campeonato,
formando um vínculo mais forte com Teresa.
Mas eu também tinha visto muitas coisas na Cidade Santa que fizeram
meu estômago revirar.
Eu estava pronto para voltar para onde as coisas eram mais simples.
Sentia falta do tempo quente e do chilrear das cigarras.
Senti falta de tomar um chá gelado feito em casa enquanto a lua
nascia.
Senti falta de assistir a filmes cafonas no drive-in.
Lyla colocou o braço em volta do meu ombro. — Droga, eu realmente
quero que vocês fiquem. Eu estava me acostumando com a sua presença
aqui.
— Hum. eu preciso voltar para Reed, — disse Teresa, girando sua cerveja
descontroladamente. — Você sabe quanto tempo faz desde que eu transei?
SEMANAS! Vocês dois têm seus companheiros aqui, mas eu não.
— Ah cara, você vai tirar Adele de mim também — Lyla gemeu. —
Acabei de perceber isso.
Eu encarei minha cerveja, perdido em pensamentos.
Puta merda! Eu nem falei direito com Adele sobre voltar comigo!
Quando olhei de volta para cima, Lyla e Teresa estavam me lançando
um olhar de reprovação. — Você não perguntou a ela, não é? — disseram,
quase em uníssono.
— Eu meio que presumi que ela iria aproveitar a chance de sair daqui,
— eu disse, timidamente.
— Quero dizer... este lugar é horrível para mestiços.
— Não tenho certeza se será melhor para eles no Sul, — disse Lyla
séria. — Aqui eles podem ser servos, mas pelo menos eles têm um lugar
na sociedade. Em casa, nós os tratamos como bandidos.
— Bem, não na Alcateia Lua Azul, — Teresa disse desafiadoramente,
batendo sua cerveja no balcão. — Adele sempre terá um lugar conosco.
— Obrigado, Teresa, — eu disse, sorrindo. — É bom saber que você
está me protegendo.
— Claro, — ela respondeu. — Qualquer companheira sua teria que ser
uma santa -para te aturar.
Preciso de alguém assim para ajudar a manter meu Beta na linha.
Aí estava o velho deboche de Teresa que eu conhecia e amava.
— Lembra quando nós -fomos quase companheiros? — Lyla disse,
rindo como se fosse a coisa mais ridícula do mundo.
— Estamos muito melhor como amigos, — respondi. — Não foi nem
há muito tempo, mas parece uma vida inteira.
Teresa começou a chorar, o que quase me fez cair do banquinho.
— É... tão lindo que vocês dois encontraram seus companheiros
destinados, — ela disse, ligeiramente sufocada.
— Ok, chega de bebida, — eu disse, puxando sua cerveja. — E
estranho ver você ficar emocionada.
— Estou muito feliz que você está trazendo uma companheira para
casa, — Teresa disse, enxugando os olhos. — Me deixa.
— Mas... e se ela não quiser ir embora? — Lyla perguntou, sua
pergunta pairando em um silêncio constrangedor.
Nem me ocorreu que Adele querer ficar para trás era uma
possibilidade.
Como não respondi, Teresa me lançou um olhar preocupado. Ela
percebeu que eu estava em conflito.
— Olha, Caspian... Eu gostaria de poder dizer a você para apenas
seguir seu coração, mas a verdade é que precisamos de você de volta em
casa. Seria realmente uma merda se você ficasse para trás. Betas bons são
difíceis de encontrar.
— Eu também estava dividida, mas para mim, vir para a Cidade Santa
parecia a coisa certa a fazer, — disse Lyla, apenas me confundindo mais.
— Eu sei que tivemos nossas diferenças no passado, mas eu realmente
comecei a respeitar você, — disse Teresa, colocando sua mão sobre a
minha. — Quero dizer, você ainda é um pé no saco, mas a Alcateia Lua
Azul precisa de seu Beta.
Se Adele não quisesse ir embora, eu ficaria com uma escolha difícil.
Eu realmente teria que escolher entre minha alcateia e minha
companheira?
Meu coração sempre estaria com Adele, então a decisão seria dela.
Mas o que ela vai escolher?
Mercer

Enquanto eu caminhava pelos corredores das masmorras da cidade,


um sorriso satisfeito surgiu em meu rosto.
Braços desesperados alcançaram as barras, agarrando minhas vestes.
Gritos indefesos e suplicantes ecoaram das câmaras úmidas e escuras.
Garras arranharam e lascaram nas paredes, tentando em vão escapar.
Gritando...
Rosnando...
Lamentando...
E eu saboreei cada momento -disso.
As masmorras estavam lotadas de prisioneiros mestiços e era delicioso.
Dois Guardiões da Lua me saudaram quando eu passei e entrei em
uma sala privada nos fundos, onde Cornelius estava esperando por mim.
Ele parecia presunçoso, cercado por vários de seus capangas.
— Você conseguiu trazer bastante sucesso desta vez, — eu disse com
um sorriso malicioso. — Bem feito.
— Mestiços são fáceis de pegar... eles não mudam, mesmo quando
estão sendo perseguidos, — ele respondeu, rindo.
O pensamento de um mestiço ousando mudar na cidade me deixou
doente. Até mesmo a implicação era repulsiva.
— Então, já que fiz um trabalho tão bom, acho que mereço algo a
mais, não é? — Cornelius perguntou avidamente.
Esse porco glutão não tem dinheiro suficiente?
Abri um cofre e tirei várias pilhas grossas de notas novinhas, jogando-
as em seu colo.
— Eu não estava falando sobre dinheiro, — ele respondeu
ameaçadoramente.
— Então o que você quer? — Eu perguntei, cuspindo entre os dentes.
Eu estava perdendo a paciência com esse porco.
— Estou expandindo meus negócios, — respondeu Cornelius,
sacando uma pistola e girando-a preguiçosamente no dedo. — E eu
preciso ter certeza de que seus Guardiões da Lua não vão interferir.
Eu estreitei meus olhos. Eu nunca deveria ter me envolvido com esse
degenerado.
— Muito bem... apenas me poupe dos detalhes para que eu não tenha
que me arrepender, — eu disse secamente. — Contanto que você
continue trazendo mestiços para mim, podemos chegar a um acordo.
— Perfeito, — respondeu Cornelius, sorrindo com seus caninos
afiados.
E logo, a Cidade Santa estará finalmente limpa.
Adele

— Pessoal, tem pão fresco e água limpa aqui! — Eu gritei enquanto


um grupo de mestiços desabrigados se aglomerava ao meu redor. — Há
mais do que suficiente para todos vocês!
Eu estava exausta de preparar comida e suprimentos o dia todo, mas
também transbordava de orgulho de minhas realizações.
Claro, não era muito, mas pelo menos eu sabia que essas pessoas
seriam alimentadas esta noite. Eu também consegui roubar alguns
cobertores velhos do quarto de lençóis da basílica.
Mestiços ainda estavam sob custódia em um ritmo alarmante, apesar
do fato de que eles estavam apenas tentando viver suas vidas e sustentar
suas famílias.
Meus recursos eram limitados, mas eu faria tudo o que pudesse para
fornecer algum alívio para aqueles cujos familiares haviam sido levados.
Uma mulher mais velha veio mancando até mim e colocou sua mão
trêmula na minha. — O-obrigada, — ela disse, lágrimas se formando em
seus olhos enrugados. — Meu marido foi levado e eu não tinha
ninguém... não sabia o que fazer.
— Você me tem, — eu disse, segurando a mão dela e firmando-a. — E
você tem todos eles também.
Fiz um gesto para todas as pessoas que se reuniram.
— Se todos nós nos unirmos, podemos apoiar uns aos outros, — disse
eu. — Nós passaremos por isso.
Ela acenou com a cabeça. — Com você nos liderando... acho que pode
haver esperança.
Liderando?
Eu nunca realmente pensei em mim como líder... Eu estava sempre
tão ocupada tentando manter minha cabeça baixa, mas agora que eu a
levantei...
Eu quero mantê-la alto.
Tenho orgulho de minha herança e não vou deixar ninguém me
envergonhar por quem eu sou.
E hora de lutar pelo meu povo!

Quando Cheguei aos aposentos de Caspian, exausta, ele estava


esperando por mim com um grande sorriso no rosto.
Ele me pegou e me girou. — Ei, linda, — disse ele, aninhando-se no
meu pescoço.
— Você está de bom humor, — eu disse, dando-lhe um beijo. — O que
está acontecendo com você?
— Venha, sente-se comigo, — Caspian disse, pegando minha mão e
me levando para a cama. — Tenho algo empolgante para lhe contar.
Quando nos sentamos, meu coração começou a disparar. O que ele
iria me dizer?
— Eu conversei sobre isso com Teresa e... queremos tomá-la um
membro oficial da Alcateia Lua Azul! — disse ele, transbordando de
entusiasmo. — Seríamos o primeiro bando a introduzir um mestiço.
Estaríamos fazendo história!
Meu coração afundou de repente com suas palavras. — Você... você
quer que eu vá embora com você?
— Bem... sim, claro. Somos companheiros, — ele disse, sua excitação
diminuindo com o meu tom. — O que está errado?
Ele não entendeu. Mas como ele poderia?
Esta não era uma decisão tão fácil para mim.
Ser introduzida em sua alcateia parecia um progresso, mas era apenas
o tipo superficial de progresso. O que aconteceria com a perseguição real
que meu povo enfrentava?
— Caspian... Eu adoraria nada mais do que ir embora com você e viver
feliz para sempre em sua alcateia...
— Mas... — ele disse, sua respiração ficando pesada.
Mas posso realmente deixar a Cidade Santa?
Posso deixar meu povo para trás quando eles mais precisam de mim?
6
NÃO USE PALAVRAS
Caspian

Meu coração caiu enquanto eu olhava nos olhos de minha


companheira.
Antes mesmo de ela falar, eu sabia sua resposta.
— Eu não posso ir, — ela disse firmemente, fazendo meu coração
apertar ainda mais.
— Adele, esta cidade está infestada de ódio! — Eu disse, confuso com
a decisão de minha companheira. — O que está prendendo você aqui?
— Não posso simplesmente abandonar meu povo enquanto ele sofre!
— ela respondeu, sua voz tensa. — Você acha que se eu for embora com
você e começar uma nova vida, vou simplesmente esquecer o que está
acontecendo aqui?
Eu abri minha boca para discutir, mas depois a fechei. Eu sabia que ela
estava tomando a única decisão que podia, dadas as circunstâncias.
Não importa a vida que eu oferecesse a ela, ela nunca seria capaz de
descansar...
Não até que seu povo tivesse encontrado alguma aparência de paz.
— Sinto muito, — disse ela, pegando minha mão. — Meu lugar é aqui.
Enquanto eu olhava em seus olhos verdes radiantes, vi um fogo que
nunca tinha visto antes. Ela havia se decidido e não haveria como
convencê-la do contrário.
E eu também me decidi...
— Se o seu lugar é aqui... — Eu disse, inclinando-me. — Então o meu
também é.
As chamas verdes em seus olhos dançaram quando ela jogou seus
braços em volta de mim e pressionou seus lábios nos meus.
— Então você vai ficar? — ela perguntou quando finalmente se
afastou.
— Eu nunca vou sair do seu lado, — eu disse, acariciando sua
bochecha suavemente. — Você é minha companheira... Sua tristeza é
minha tristeza. Sua dor é minha dor. E sua luta...
Eu olhei para ela com um olhar firme. — E minha luta agora. Estarei
com você em cada passo do caminho.
Adele pegou minha mão e a colocou contra seu peito. Eu podia sentir
seu coração batendo rápido. — Eu te amo, — disse ela. Seu coração
começou a bater ainda mais rápido. As vibrações percorreram meu corpo
como eletricidade.
Eu podia sentir -seu amor.
E eu queria que ela sentisse o meu também.
Eu a puxei para o meu colo e ela soltou um suspiro sem fôlego.
— Eu te amo mais do que palavras podem descrever, — eu rosnei com
desejo.
— Então não use palavras, — disse ela, envolvendo as coxas em volta
de mim.
Ela agarrou minha camisa, rasgando-a e expondo meu peito.
Retribuí o favor, rasgando seu vestido e jogando-a na cama.
Meus olhos beberam do corpo nu da minha companheira. Tão macio
e flexível. Ela era perfeita em todos os sentidos.
Ela olhou para mim inocentemente, mas havia um brilho perverso em
seus olhos.
A maneira como ela lambeu os lábios fez meu pau endurecer
instantaneamente.
Quando eu puxei para fora, ela olhou ansiosamente. Tirei minhas
calças e rastejei em cima dela, meu pau a provocando.
Não estávamos com humor para preliminares. Queríamos nos tomar
um só e não havia tempo a perder.
Ela abriu bem as pernas e tomou cada centímetro de mim em seu sexo
molhado, me fazendo gemer de prazer.
Deusa, ela é tão quente e apertada!
Apesar da minha ansiedade, tive o cuidado de começar devagar e
focado.
Quando meu pau atingiu os pontos certos, ela choramingou e se
contorceu embaixo de mim.
Eu peguei o ritmo, deslizando mais rápido e mais forte para combinar
com seus movimentos frenéticos.
Quando encontramos nosso ritmo perfeito, seus gemidos se tomaram
como música.
Nenhum de nós ficava saciado.
Nossos corpos ansiavam por mais.
A cama tremeu com minhas estocadas poderosas; eu não conseguia
segurar mais.
Eu puxei para fora e gozei como uma cachoeira, e escorreu por seu
estômago como um riacho.
Eu desabei ao lado de minha companheira, entrelaçando meus dedos
com os dela.
Não ia ser fácil, mas eu sabia que estávamos tomando a decisão certa
de ficar aqui.
Eu tinha minhas dúvidas sobre a Cidade Santa, mas isso não
importava...
Porque eu encontrei meu próprio pedaço do céu.
Lyla

— Eu queria que você não estivesse indo embora! — Eu disse


enquanto abraçava Teresa na calçada fora do aeroporto.
— E eu queria que você voltasse para casa! — ela respondeu,
apertando-me com força.
— Eu quero, mas... — Minhas palavras pairaram no ar.
— Eu sei, negócios inacabados e tudo isso... blá, blá, blá, — disse
Teresa, sorrindo. — Não é como se isso fosse um adeus permanente de
qualquer maneira. Nos veremos em breve.
— Espero que sim, — respondi, sorrindo.
— Bem, talvez não tão em -breve. Eu e Reed definitivamente temos
algum tempo perdido para compensar, — ela disse com um leve rosnado.
Eu tinha certeza de que Reed seria sexualmente atacado poucos
momentos depois de Teresa voltar.
— Mas onde diabos está aquele meu Beta? — Ela disse, olhando ao
redor. — Ele deveria ter chegado aqui com sua companheira quinze
minutos atrás.
— Quando Caspian alguma vez -chegou na hora certa? — Eu
perguntei, rindo.
Como se fosse uma deixa, um táxi parou e Caspian saltou, parecendo
um pouco desgrenhado.
— Finalmente, — Teresa bufou. — Pensei que teria que me
transformar e rastreá-lo.
— Onde está Adele? — Eu perguntei, percebendo imediatamente que
Caspian tinha vindo sozinho... e sem nenhuma bagagem.
Caspian olhou entre nós, lutando para encontrar suas palavras.
— Ela não vem... — disse Teresa.
Caspian acenou com a cabeça.
— E você também não vai...
Ele acenou com a cabeça novamente.
— Eu... eu tenho que renunciar ao meu posto de Beta, — disse ele com
tristeza. — É o que é melhor para mim e para minha companheira. Posso
fazer mais diferença aqui.
Meu olhar vagou entre os dois enquanto eles permaneceram em
silêncio. Foi talvez a primeira vez que eles passaram tanto tempo sem
brincadeiras e brigas.
— Você entende que não há como voltar atrás dessa decisão, certo? —
Teresa perguntou, seu tom instável. — Terei que escolher um novo Beta
assim que chegar em casa.
— Eu entendo — Caspian respondeu solenemente.
— Mas eu já me decidi.
Houve um silêncio tenso no ar, até...
Teresa de repente jogou os braços ao redor de Caspian e abraçou -ele.
Meu queixo caiu. Caspian parecia tão atordoado quanto eu, mas após
o choque inicial, ele fechou os olhos e a abraçou de volta.
O que diabos está acontecendo!?
— Vou sentir sua falta, seu bastardo louco, — disse ela, lutando contra
as lágrimas.
— Vou sentir mais sua falta, sua vadia louca, — ele disse com uma
risada tensa.
Teresa enxugou os olhos e deu um passo para trás. — Eu entendo por
que você está ficando, Caspian. E honestamente... acho que você é muito
corajoso. Eu nunca te respeitei mais.
Ela respirou fundo e agarrou a alça de sua mala. — Ok, isso é emoção
suficiente. Eu tenho que sair daqui. A Cidade Santa está fazendo coisas
estranhas comigo.
Todos nós nos abraçamos e Teresa acenou enquanto desaparecia no
movimentado aeroporto.
Eu me virei para Caspian. — Estou feliz por você ficar.
— Eu também... — ele disse com um sorriso determinado. — Vamos
criar um inferno.
Sebastian

Eu quebrei meu lápis ao meio, frustrado, enquanto olhava para os


números na minha frente.
Eu não era um especialista em matemática, mas não precisava ser para
ver que as coisas estavam ruins para a Alcateia Real.
Eu sabia que precisava voltar para casa eventualmente, mas não
poderia voltar de mãos vazias.
Minha alcateia confiava em mim para encontrar uma solução para
nossos problemas financeiros, e eu não poderia decepcioná-los.
Meu telefone tocou e olhei para baixo para ver uma mensagem de
Magnolia.
Ótimo, provavelmente mais notícias ruins.
Magnolia: Ei, então você sabe aquele financiamento que a igreja
mandou na semana passada?

Sebastian: Sim, e quanto a isso?

Magnolia: Deve vir semanalmente, certo?


Magnolia: Porque eles não mandaram nada...

Sebastian: Merda

Sebastian: Estou trabalhando nisso, mas vai demorar um pouco


Magnolia: É exatamente isso, Sebastian...

Magnolia: Não temos tempo

Magnolia: Depois que o bando foi reintegrado à igreja, pensamos


que estávamos bem Magnolia: Estávamos contando com esses
fundos semanais Sebastian: O que você está tentando dizer
Magnolia?

Magnolia: Caius pré-pagou por um monte de recursos e


construção Magnolia: Já começamos a construir moradias para a
Alcateia Estrela da Noite Magnolia: Achamos que tínhamos mais
dinheiro entrando Sebastian: PORRA!

Sebastian: Então você está me dizendo que estamos endividados


agora?

Magnolia: Sim

Magnolia: dívida considerável Sebastian: porra porra

Sebastian: Isso é culpa minha Sebastian: Eu prometo que vou nos


dar o dinheiro Magnolia: Faremos o nosso melhor para nos
manter à tona Magnolia: Por favor, se apresse Eu segurei minha
cabeça em minhas mãos, cavando meus dedos em minhas têmporas.
O que vou fazer agora?
A alcateia estava com uma dívida enorme... o que significava que se
não pudéssemos pagar essa dívida, estaríamos em uma merda ainda mais
profunda.
Alguém começou a bater na porta, mas eu ignorei.
Provavelmente um maldito Ministro da Lua, procurando uma doação de
caridade.
Eles bateram de novo, desta vez com mais força.
— Vá embora! — Eu rosnei.
A porta se abriu de repente quando a fechadura explodiu de suas
dobradiças.
Cornelius invadiu com vários de seus homens, dando-me um sorriso
malévolo.
Minha cadeira caiu quando me levantei e puxei minhas garras, pronto
para uma luta.
— Você pode guardar isso, — disse ele casualmente.
— Estou aqui apenas para conversar.
Eu não baixaria minha guarda nem por um segundo em tomo daquela
cobra.
— O que você quer? — Eu rosnei.
Cornelius pegou minha cadeira e se sentou.
— Estou aqui para lhe fazer uma oferta... — disse ele, cruzando os
dedos.
. —.. Uma que você não pode recusar.
7
ACORDO COM O DIABO
Sebastian

Todos os músculos do meu corpo ficaram tensos quando Cornelius se


sentou à minha frente.
Eu queria colocar minhas garras naquele filho da puta, mas consegui
me conter.
Por enquanto.
— E melhor você falar rápido, Cornelius, — eu rosnei.
— Eu tenho um fusível curto.
— Acho que você vai querer ouvir o que tenho a oferecer, — disse ele,
com um sorriso malicioso.
— O que quer que você esteja vendendo, eu não vou comprar, porra,
— rosnei.
Cornelius riu enquanto estreitava os olhos. — Exatamente. -Você não
está comprando... porque não tem dinheiro.
Meu estômago apertou e meu coração bateu forte no meu peito.
Como diabos ele sabe disso?
— Eu sei tudo sobre sua alcateia com problemas, — ele disse, lendo
minha expressão chocada. — Você não fica tão rico quanto eu sem saber
tudo -sobre seus inimigos.
Eu rosnei, minhas garras se estendendo ainda mais. — Então, você
quer ser inimigo? Vamos então!
— Você se tornou um inimigo de mim quando me ameaçou no eclipse, —
Cornelius rosnou de volta. — Agora sente-se, porra, se você sabe o que é bom
para você... e sua alcateia.
Foi contra o meu melhor julgamento, mas lentamente me sentei.
— Muito bom, — ele zombou. — Isso funcionará muito melhor se
coçarmos as costas um do outro.
Era mais provável que Cornelius enfiasse uma faca nas minhas costas
do que a coçasse...
— Minha oferta é esta... — ele disse, inclinando-se para frente e me
olhando nos olhos.
— Você trabalhará para mim. Em qualquer função que eu achar
adequada. Você tem os músculos e a mente para a minha linha de
trabalho, e eu poderia usar alguém como você ao meu lado. Em troca de
seus serviços, fornecerei recursos e financiamento para sua alcateia.
Anonimamente, é claro.
Eu engoli em seco enquanto minha garganta ficava seca.
Estou mesmo considerando essa merda?
Eu sabia que Cornelius era a última pessoa em quem deveria confiar...
Mas eu também -sabia que ele era podre de rico.
— Então o que você diz? — ele perguntou, levantando-se e
estendendo a mão.
Eu disse que estava disposto a fazer qualquer coisa pela minha
alcateia, pela sobrevivência deles.
Mas eu estava disposto a fazer isso?
Quando me levantei e olhei Cornelius em seus olhos redondos, soube
a resposta.
Eu golpeei sua mão. — Eu digo, dê o fora da minha casa.
Cornelius não pareceu desanimado. — Sua primeira tarefa é esta
noite. Se você recobrar o juízo, me encontre nos canais à meia-noite.
— SAIA! — Eu rugi.
Cornelius saiu com seus homens, mas não sem antes apontar uma
arma para mim e fingir que atirava. — Vejo você hoje à noite, — ele
zombou.
Quando a porta se fechou, desabei contra a parede.
PORRA! PORRA! PORRA!
Eu nunca poderia trabalhar com aquele pedaço de merda, muito
menos na folha de pagamento dele!
A Deusa sabia quais atividades ilegais sua operação conduzia para
ganhar dinheiro.
Eu só tinha que encontrar outra maneira de ajudar minha alcateia.
Tinha que ter algo. Certo?
Eu precisava que Lyla me falasse de bom senso, me sacudisse pelos
ombros e me dissesse que isso era loucura.
Mas Lyla nunca pode saber sobre isso...
Assim que esse pensamento surgiu em minha mente, soube que já
havia tomado minha decisão.
Cornelius podia ser a porra do diabo, mas...
Eu estava prestes a fazer um acordo com ele.
Lyla

SPLAT!
Eu pisei em uma poça profunda de lama que pintou minhas botas
douradas de marrom.
Eu estava carregando a Deusa da Lua em meus braços, tomando
cuidado para não deixar uma partícula de sujeira tocar sua pele de
porcelana preciosa.
Isso é tão degradante, -pensei comigo mesma quando vi Achilles rindo
atrás de mim.
Eu tinha certeza de que a Deusa ainda estava tentando me punir por
aquela façanha que fiz no eclipse.
— Obrigada, Lyla — disse ela em um tom falsamente doce enquanto
eu a colocava na frente da capela, onde ela discursaria na Assembleia
Lunar.
A Assembleia Lunar era uma espécie de discurso do — estado da
alcateia. — Sebastian tinha que dá-los na Alcateia Real uma vez por ano
também.
Mas, assim como o resto da persona perfeitamente curada da Deusa,
seu discurso também era uma fachada.
Mercer o tinha deixado mais cedo esta manhã. Fiquei doente de
pensar que as palavras dele estariam saindo de sua boca.
Quando comecei a entrar com Achilles e a Deusa da Lua, ela estendeu
a mão. — Eu só preciso de um de vocês para me acompanhar nisso. Lyla,
você está dispensada do serviço pelo resto do dia.
Por mim tudo bem, sua Infernal.
As pesadas portas da capela se fecharam, bloqueando-me do lado de
fora.
Estava claro que eu não voltaria para suas boas graças tão cedo. Salvar
a vida dela apenas garantiu meu emprego, não seu favor.
Aparentemente, isso estava reservado para Achilles.

Tentei assistir à televisão da Assembleia Lunar em um pub próximo,


mas tive que desligar quando tudo que eu podia ouvir eram as palavras
de Mercer.
— Vamos limpar a Cidade Santa novamente!
— Mais Guardiões da Lua significa ruas mais seguras!
— A Igreja precisa de suas doações!
A coisa toda me deixou doente. E em minha posição ingrata como
capacho da Deusa da Lua, não havia nada que eu pudesse fazer a
respeito.
Eu caminhei de volta para o quartel da Guarda da Lua com minha
armadura suja. Eu precisava de um banho quente para lavar toda a
sujeira.
A sujeira literal de qualquer maneira... o resto não poderia ser lavado
tão facilmente.
Tirei minha armadura e entrei no chuveiro. Eu abri todas as torneiras
na configuração mais quente e deixei o vapor me engolfar.
Alisei meu cabelo molhado para trás e soltei um suspiro de alívio.
— Droga, é como uma sauna aqui! — uma voz gritou, me assustando.
Eu me virei para ver o corpo perfeitamente tonificado de Achilles
cortando o vapor.
Ele sorriu para mim enquanto se aproximava... completamente nu.
Eu não pude deixar de corar. Por que eu estava corando? Não era
como se não tivéssemos tomado banho juntos no quartel antes...
Embora isso geralmente ocorresse quando eu o odiava
profundamente.
Nós nos tomamos muito mais próximos desde que começamos a
trabalhar juntos na guarda pessoal da Deusa da Lua.
— Como foi a assembleia? — Eu perguntei, tentando evitar olhar
abaixo de sua cintura.
— Chata pra caralho, — ele respondeu, deixando a cascata de água
descer por seu abdômen. — Teria sido mais divertido se você estivesse lá.
— Sim, bem, eu fui excluída, não fui? — Eu disse um pouco
amargamente. — Ela só queria você lá.
— Ei, eu não posso evitar se eu sou irresistível, mesmo para uma
Deusa, — ele respondeu, sorrindo.
— Alguém tem uma cabeça grande, — eu disse, rindo.
E então eu acidentalmente olhei para baixo.
Por que diabos eu olhei para baixo!?
Sua cabeça não era a única coisa grande...
Na verdade, ele estava totalmente ereto. Ele sorriu quando rastreou
meu olhar.
— Desculpe, apenas um efeito colateral de tomar banho ao seu lado.
— Uh... não, está tudo bem... — eu disse, nervosa. — Eu vou, uh, vou
deixar você cuidar disso. Eu terminei de qualquer maneira.
Eu rapidamente desapareci na névoa e peguei uma toalha.
Eu estava acostumada à tensão entre mim e Achilles, mas não da
variedade sexual.
Talvez eu prefira o tipo em que estamos tentando nos matar, afinal?
Sebastian

Eu puxei minha jaqueta enquanto caminhava ao lado dos canais, a


única luz era um brilho fraco da lua coberta de nuvens.
Eu sabia que estava louco por estar aqui, mas quanto mais eu pensava
em minhas opções, mais eu percebia que não tinha outra escolha.
Eu não podia simplesmente esperar que uma solução para meus
problemas caísse no meu colo. Eu precisava entrar em ação.
Algumas figuras sombrias estavam paradas embaixo de uma ponte
próxima, as brasas de seus charutos flutuando em minha direção.
Eu deslizei pela margem lamacenta do rio em meus calcanhares e me
juntei a eles nas sombras, mantendo minhas mãos nos bolsos e minha
cabeça baixa.
— Eu ficaria surpreso, mas nós dois sabíamos que você viria, — disse
Cornelius presunçosamente. — Você fez a escolha certa.
De alguma forma, eu duvidava disso, mas agora era a única escolha.
— Apenas cumpra sua parte do acordo e eu cumprirei a minha, —
respondi rispidamente.
— No mínimo, sou um homem de palavra, — disse ele, segurando
meu ombro com força. — Fico feliz por ter você a bordo.
Notei uma grande caixa de madeira no canto, coberta por uma lona.
— O que é isso? — Eu perguntei hesitante.
— Essa... é sua primeira tarefa, — disse Cornelius, sorrindo.
Ele puxou a lona e meus olhos se arregalaram.
O caixote estava cheio de armas.
— Apenas uma pequena negociação de armas leves, — ele disse,
enquanto seus capangas riam atrás dele.
Seus capangas.
Era isso que eu também era? Apenas mais um capanga fazendo seu
trabalho sujo?
Cornelius pegou o telefone e digitou algo, depois o virou para me
mostrar.
Era uma transferência bancária para a minha alcateia. Ele tinha
acabado de passar.
Quase gritei quando vi quantos zeros encheram a tela.
— Viu... homem de palavra, — disse ele, seus olhos fixos em mim.
Ele me prendeu em um estrangulamento - e ele sabia disso.
Cornelius enfiou a mão na caixa e puxou uma pistola elegante. Ele o
segurou pelo cano e me entregou.
— Isto é seu, — ele disse sombriamente. — Você vai precisar.
Ao sentir o aço frio em minha mão, um arrepio percorreu minha
espinha.
Estou fora de mim.
Eu não estava apenas afundando...
Eu já estava afundado.
8
A VERDADE NUA Adele
Meu esforço de alívio para os mestiços mais do que dobrou em menos
de uma semana.
Eu havia convertido minha casa em um local para armazenar
suprimentos e oferecer esteiras de dormir para aqueles que perderam
suas casas.
Eu tinha os aposentos de Caspian para ficar, então tive muito mais
sorte do que a maioria.
Ele foi absolutamente incrível, ajudando-me com toda a preparação
da refeição e inventário.
Mesmo que nossa situação na Cidade Santa fosse terrível, e eu
estivesse ficando exausta entre o trabalho na basílica e meu esforço de
socorro...
... Eu estava mais feliz do que nunca.
Eu não estava apenas me levantando e assumindo o comando,
ativamente fazendo a diferença para meu povo - eu também estava
acasalada com o homem mais amoroso e atencioso que já conheci.
Quando estava experimentando tanto amor e apoio de alguém, como
não poderia transmitir isso para outras pessoas que perderam seus
cuidadores?
Mais e mais mestiços eram presos todos os dias, mas eu não deixaria
isso me impedir de lutar.
Eles queriam que fôssemos quebrantados, desencorajados e
derrotados.
Mas eu não iria quebrar.
Os mestiços estavam mais unidos do que nunca, tomando-se uma
comunidade real... como uma alcateia.
Eu levei um saco pesado de arroz para minha velha casa e o joguei no
chão com um baque. Limpei o suor da minha testa e suspirei.
Ainda havia muito trabalho a ser feito.
Um par de braços fortes me envolveu por trás. — Você deveria me
deixar fazer o trabalho pesado, Caspian sussurrou em meu ouvido. Eu me
virei e dei um beijo nele.
— Acredite em mim, estou acostumada, — eu disse, flexionando meu
braço tonificado. — Anos e anos de trabalho manual na basílica superam
as repetições na academia a qualquer dia. — Nós dois rimos.
Precisávamos encontrar humor em algum lugar desses tempos sombrios.
— Só não se esforce demais, — disse ele com uma pitada de
preocupação. — Você está assumindo muito. E as coisas só estão
piorando, não melhorando.
Eu balancei a cabeça, olhando para a meia dúzia de pessoas
amontoadas em esteiras no quarto.
— Os números estão crescendo muito rápido. Tantas pessoas estão
perdidas e todas estão vindo para mim, — eu disse tristemente.
— Talvez... talvez isso não seja uma coisa ruim, — Caspian disse, seus
olhos brilhando com uma determinação de fogo.
— O que você quer dizer? — Eu perguntei hesitante.
— Mais mestiços se unindo significam mais pessoas para se juntar à
luta, — ele respondeu.
— Sim. mas estamos aqui para nos apoiar. Não é uma luta literal.
— Talvez devesse ser, — ele rebateu.
Meu coração estava disparado. — Caspian, não diga coisas assim!
— Por que não? — ele disse, seu tom aumentando. — Às vezes, a única
maneira de combater o fogo é com fogo.
— Resistência nem sempre é luta, — respondi com firmeza. —
Existem outras maneiras de reagir.
— Nesse caso, não tenho tanta certeza, — disse ele com tristeza. — O
que acontece quando eles ficam sem desculpas para prendê-los e
simplesmente começarem a caçá-los? O que então?
Eu esperava que as coisas não ficassem tão sombrias. Ainda havia
algumas pessoas decentes na Cidade Santa, e grande parte da economia
dependia do nosso trabalho, mas...
Ele estava certo ao dizer que meu povo estava em perigo constante.
Mas eu tinha uma opinião forte sobre uma coisa...
— Eu nunca irei tolerar a violência.
Lyla

Quanto mais tempo eu servia como guarda pessoal para a Deusa da


Lua, mais comecei a me sentir como uma serva em vez de uma guerreira.
Ela me pediu para fazer tudo menos trançar seu cabelo - felizmente
ela tinha uma equipe inteira para isso.
Hoje ela me fez — protegê-la — enquanto ela tomava banho.
Quanto mais tempo eu passava com ela, ficava cada vez mais claro que
ela estava apenas solitária.
A maior parte de seu conselho consistia em homens mais velhos que
tentavam controlá-la, e ela raramente saía da basílica, exceto para fazer
aparições públicas cuidadosamente selecionadas para reforçar a imagem
da Igreja.
Na verdade, eu senti um pouco de pena dela...
Seu banheiro era a coisa mais magnífica que eu já vi. Tudo era
dourado, branco e rosa, e sua banheira do tamanho de uma piscina tinha
cerca de trinta torneiras.
Ela nadou em silêncio, bolhas de sabão subindo da água.
De repente, ela desapareceu sob a superfície.
Observei a água ansiosamente por vários momentos, mas ela não
reapareceu.
— Sua Santidade? — Eu disse, espiando por cima da borda da
banheira.
Ela ainda não havia subido e eu estava começando a ficar preocupada.
— Sua Santidade! — Eu gritei alto, mas ela não estava em lugar
nenhum.
Eu arranquei minha armadura e mergulhei na banheira, temendo o
pior.
Enquanto eu caminhava até o meio, a Deusa da Lua levantou a cabeça
e começou a rir histericamente.
Fiquei completamente atordoada. Eu nem sabia que ela tinha
capacidade de rir.
Ela sempre foi tão séria e impassível.
Ela nadou até mim até que nossos rostos estivessem a apenas alguns
centímetros de distância.
— Eu te enganei? — ela perguntou, um sorriso brincalhão em seus
lábios.
— Me enganou? Você quase me deu um ataque cardíaco, — eu disse,
de repente ciente de que estava em uma banheira com a Deusa da Lua.
Isso é muito estranho.
Ela me inspecionou de perto, nadando em um círculo ao meu redor.
— Diga-me Lyla... você tem um companheiro?
— Eu... eu tenho, — eu gaguejei, surpresa. Ela nunca tinha me feito
uma pergunta pessoal antes.
— Como é estar acasalada? — ela perguntou curiosamente. Ela estava
de volta a ficar desconfortavelmente perto de mim.
— É... é um vínculo como nenhum outro, — respondi. — Alguém que
está sempre disponível para você, não importa quais adversidades você
deva enfrentar.
Ela sorriu com a ideia. — Isso soa bem. Não estou autorizada a ter um
companheiro.
Eu nunca tinha pensado muito nisso, mas isso não me surpreendeu. A
Deusa da Lua é uma figura tão mítica. Que necessidade ela teria de um
companheiro?
Exceto, ela não era realmente tão mítica. Ela parecia mais uma garota
normal do que uma deusa.
Eu não tinha certeza de como o conselho decidiu sobre essa garota em
particular, mas me perguntei se ela tinha ao menos uma palavra a dizer
sobre o assunto.
— Eu tenho que permanecer pura, — ela suspirou. — Às vezes é tão
chato.
Ouvi-la dizer essas coisas foi surreal, e eu esperava que ela não se
arrependesse de ter sido tão reveladora.
Embora ser revelador -não parecesse muito problemático para ela...
Enquanto ela nadava ainda mais perto de mim, onde a água era mais
rasa, seus seios flutuaram acima da superfície.
Eu era permitida a -ver a Deusa da Lua nua? Quero dizer, seus seios
pareciam como qualquer outro par de seios... não havia nenhum raio
sagrado de luz saindo de seus mamilos.
Ela estava de repente tão perto que eu podia sentir sua respiração em
meus lábios.
— Como é? — ela perguntou, seus olhos travando nos meus.
— Como... como é o que? — Eu perguntei nervosamente.
— Quando você está com seu companheiro... — ela disse suavemente,
seus lábios fazendo beicinho.
— Quando ele está dentro de você.
PUTA.
MERDA.
A Deusa da Lua estava me perguntando sobre sexo.
E ela estava praticamente em cima de mim.
Uma batida repentina na porta do banheiro me deu a fuga que eu
precisava desesperadamente.
— Estou indo! — Eu gritei com a voz rouca, pulando para fora da
banheira.
Minha fina armadura grudou na minha pele quando abri a porta, toda
molhada, para a confusão do Guardião da Lua lá fora.
— Hum. uh. o Cardeal Mercer gostaria de discutir os planos de
proteção para o próximo discurso da Deusa, — ele disse cautelosamente.
— Achilles vai aliviar você de seu posto.
Suspirei de alívio. Esta provavelmente seria a única vez que eu ficaria
grata -por uma reunião com Mercer.
Eu lancei um rápido olhar de volta para a Deusa da Lua, que havia
retomado a nadar em sua banheira enorme.
— Diga a ele que estarei lá imediatamente, — respondi.
Parecia que minha conversa de — pássaros e abelhas — com a Deusa
teria que esperar...
Ou melhor ainda, ser adiada indefinidamente.
Sebastian
Enquanto eu segurava a arma de aço frio em minha mão, eu estava
igualmente animado e com medo dela.
Os lobisomens tinham muitas habilidades inatas, mas nada que
pudéssemos fazer chegava perto do poder desta pequena pistola.
Tão perigoso... e ainda assim me senti tão bem com ela em minhas
mãos.
Eu ainda não confiava em Cornelius, nem por um segundo, mas ele
havia cumprido o pagamento. Magnolia me mandou uma mensagem,
muito feliz por eu ter encontrado uma nova fonte de financiamento.
Se ela soubesse de onde estava vindo...
Ou se Lyla soubesse...
Mas eu não podia deixar isso acontecer. Eu iria garantir a
sobrevivência da minha alcateia, não importava o que custasse.
Peguei um pano da mesa e lustrei o cano da pistola até quase poder
ver meu próprio reflexo em sua superfície preta e brilhante.
— Sebastian? — A voz de Lyla veio da sala de estar.
Oh merda! Eu nem ouvi a porta abrir!
Eu rapidamente enfiei a arma na minha cintura e a cobri com minha
camisa.
Quando me virei, Lyla estava bem na minha frente.
Merda, ela viu?
Sebastian, você estava...
Ela sabe... Como diabos vou explicar. —.. se masturbando? — ela
perguntou, terminando seu pensamento — Hum... sim! — Eu disse,
quase gritando.
Seus olhos percorreram minha virilha, onde a arma estava atualmente
alojada. A protuberância fazia parecer que eu estava de pau duro.
— Este foi um dia muito estranho, — disse ela, balançando a cabeça.
— Você pode terminar isso sozinho. Vou para a cama.
Quando ela desapareceu no quarto, eu me permiti expirar.
Essa foi por pouco, porra.
Lyla era a pessoa mais inteligente que conhecia. Ela não demoraria
muito para perceber que algo estava errado.
A questão não era se eu poderia manter esse segredo de Lyla...
Era... por quanto tempo?
9
JARDIM SECRETO
Lyla

Voltei para casa tarde após escoltar a Deusa da Lua para outra
assembleia. Embora um nome melhor para isso seja — teatro de
fantoches.
Eu duvidava que ela soubesse o que metade de suas palavras
significavam...
Essa era uma mulher que me perguntou como era o sexo, afinal.
Estremecendo, tentei tirar da minha mente o pensamento de nosso
encontro na hora do banho.
A Deusa da Lua deve estar reprimida como o inferno.
Entrei no quarto e fiquei desapontada ao descobrir que Sebastian não
estava em casa.
Nas últimas noites, ele estava desaparecendo e eu estava começando a
ficar desconfiada. Ele nunca se esgueirou assim.
Peguei meu telefone e mandei uma mensagem para ele.
Lyla: Ei...

Lyla: Voltará para casa logo?

Sebastian: Ei, desculpe baby Sebastian: Esqueci de te dizer


Sebastian: Vou jogar cartas com os caras de novo esta noite
Sebastian: Volto um pouco tarde Minha testa enrugou enquanto eu
olhava para o meu telefone. Sebastian tinha me falado sobre esses —
caras — algumas noites atrás também.
Ele disse que se sentia confinado na Cidade Santa enquanto eu estava
trabalhando, então ele precisava desabafar com alguns novos amigos.
Senti o cheiro de merda imediatamente.
Sebastian não saía com amigos.
Eu estava disposta a deixar passar uma vez, mas ele era um péssimo
mentiroso e eu sabia que ele estava escondendo algo de mim.
Lyla: Por que você não leva Caspian com você da próxima vez?

Lyla: Tenho certeza de que ele gostaria de um tempo — de garotos


— também Sebastian: Sim

Sebastian: Claro

Sebastian: Talvez

Sebastian: Ei, tenho que ir, mas vejo você mais tarde Sebastian:
Amo você, bebê A decepção me inundou quando desabei na cama.
Desde quando guardamos segredos um do outro? Eu queria saber o que
estava acontecendo, mas... Eu queria que Sebastian contasse para mim
por conta própria.

Quando acordei, estiquei os braços e as pernas, esperando cutucar


Sebastian, mas, em vez disso, tinha todo o espaço do mundo.
Seu lado da cama ainda estava vazio...
Ele nem voltou para casa ontem à noite.
Tinha um raro dia de folga hoje e esperava que passaríamos algum
tempo juntos.
Com meu dia de folga já tendo um começo difícil, levantei-me mal-
humorada e me arrastei para a cozinha.
É melhor ele ter uma desculpa muito boa para ficar fora a noite toda!
Enquanto preparava um café para mim. notei um pedaço de papel
sobre a mesa, preso ali com uma...
Faca.
Oh minha deusa!
Meu coração saltou na minha garganta: eu imediatamente pensei no
pior.
Sebastian foi sequestrado e preso por resgate?
Mas nossa alcateia nem tinha dinheiro!
Como diabos eu pagaria por seu retorno seguro!?
Peguei o jornal da mesa, mas assim que comecei a ler, me senti uma
idiota.
OI BONITA
EU TENHO UM ENIGMA PARA VOCÊ
VOCÊ ENCONTRARÁ SEU CAMINHO
QUANDO VOLTAR AO PASSADO
E ESTAR ONDE SANGUE E AREIA SE ENCONTRAM
Não era uma nota de resgate...
Era uma charada!
Isso era para algum tipo de caça ao tesouro?
Eu agarrei a pista com entusiasmo. Talvez fosse por isso que Sebastian
estava agindo de forma tão estranha?
Isso não funcionou exatamente, mas independentemente disso, era
uma coisa doce de se fazer.
Meu telefone de repente começou a zumbir.
Sebastian: Ei...

Sebastian: Você entendeu a primeira pista?

Lyla: Sim, você não acha que a faca era um pouco demais?

Lyla: Afinal, o que é isso?

Sebastian: Siga todas as pistas!

Sebastian: Elas vão te levar a uma surpresa Sebastian: Eu estarei


esperando Estava tentando decifrar a charada de Sebastian por quase
uma hora, e eu ainda não tinha pensado em uma resposta.
Voltar ao passado?
Sangue e areia?
Meus olhos dispararam ao redor da sala, esperando que eles vissem
algo que pudesse fazer o enigma inconscientemente clicar.
Isso é inútil, eu poderia muito bem...
Meu olhar de repente travou em minha espada e as rodas em minha
cabeça começaram a girar.
Por que estou tão obcecada pela minha espada!?
Sangue e areia...
... e espada.
— A Arena! — Eu pulei e gritei bem alto, embora não houvesse
ninguém por perto para me parabenizar.
Mas a arena era enorme...
Como eu encontraria a próxima pista? Pode levar o dia todo.
Espere, há mais enigma!
Peguei o jornal. — Você encontrará seu caminho quando voltar ao
passado li em voz alta.
O que conectou meu caminho na arena com o passado?
Eu sorri quando a realização me atingiu.
Eu sabia exatamente -onde estava a próxima pista.

Enquanto eu estava na frente da foto do campeonato do meu pai na


arena, eu não pude deixar de ficar com os olhos um pouco turvos...
... Porque pendurada acima estava minha própria foto do campeonato.
Foi difícil não ficar emocionada, vendo o quão perto eu estava
seguindo seus passos.
Coloquei minha mão em seu corpo empoeirado. — Espero estar
tomando as decisões certas. — Assim como eu deduzi, saindo de trás da
moldura de Michael estava um pedaço de papel - a próxima pista.
Eu o desdobrei e li o enigma.
VOCÊ ESTÁ QUASE LÁ
SOB A ESTREITA LUZ DA LUA
A ÁGUA VAI LIDERAR O CAMINHO
VEJO VOCÊ EM BREVE
Eu estava começando a pensar que Sebastian poderia ter uma carreira
lucrativa como redator de enigmas.
Este foi especialmente vago. Eu não tinha ideia de para onde deveria
ir.
A Cidade Santa estava cheia de fontes, banheiras, rios...
Ele poderia estar em qualquer lugar.
Seria trapaça se eu simplesmente fosse ao quartel-general do
Guardião da Lua e rastreasse seu celular?
Não, de jeito nenhum vou deixar Sebastian me vencer em jogos mentais.
Quando olhei mais de perto para o enigma, percebi que tanto —
caminho — quanto — água — estavam escritos apenas ligeiramente -
diferentes.
— Luz estreita da lua... caminho... água... — eu disse, tentando
entender isso em voz alta. — Água... caminho.
— WATERWAY! — Eu gritei animadamente. — E estreito...
— Via navegável estreita... os canais!
Eu sabia onde Sebastian estava!
Eu provavelmente estava um pouco orgulhosa de mim mesmo para
descobrir algo tão simples, mas eu era uma Guardiã da Lua, e a ginástica
mental era mais cansativa do que a atividade física real.
Corri para a rua e chamei o primeiro táxi que passou.
O sol já estava começando a se pôr...
E eu não queria deixar meu companheiro esperando por mais tempo.

Quando Cheguei a um pequeno cais perto da parte principal dos


canais, Sebastian já estava em uma gôndola, sorrindo para mim.
O sol se foi e o luar pálido brilhou na água parada.
Uma lanterna pendurada na popa do barco estava cheia de Echo Lilies
brilhantes.
Meu coração se encheu de felicidade. Esta foi a coisa mais romântica
que eu já vi.
— Você conseguiu! — Sebastian gritou. — Momento perfeito
também!
Ele segurou minha mão quando entrei na gôndola. Quase nos virei
quando joguei meus braços ao redor dele.
— Isso é perfeito, — eu disse, colocando meus lábios suavemente
contra os dele.
— Tem mais, — ele disse, sorrindo. Ele fez sinal para que eu me
sentasse enquanto nos empurrava para longe do cais.
Sebastian parecia tão bonito enquanto remava nosso barco ao luar. Eu
me senti culpada por ter duvidado dele.
Eu era a companheira mais sortuda do mundo.
Depois de vários minutos, Sebastian conduziu o barco por um canal
escuro que parecia um beco sem saída e nos amarrou a um poste.
— Esta é apenas uma parede de tijolos... — eu disse, confusa.
Sebastian apontou para uma escada de madeira frágil que parecia
levar a um telhado.
— As aparências enganam, — disse ele, estendendo a mão.
Ele me içou e eu subi a escada, sem saber o que esperar.
Mas quando cheguei ao topo, fiquei sem fôlego.
No topo do telhado havia um bosque escondido, cheio de uma
vegetação luxuriante e flores.
Dezenas de vaga-lumes dançavam no ar como pequenas orbes
brilhantes.
O jardim era tranquilo e sereno, e no centro havia uma estátua
rachada e antiga da primeira Deusa da Lua sob um véu e vestidos longos
esvoaçantes.
— Como você encontrou este lugar? — Eu perguntei com admiração.
— Digamos que estou tentando encontrar um lugar especial para nós
há algum tempo, — ele respondeu com orgulho. — Como eu me saí?
— Você foi incrível, — eu disse, puxando-o para perto.
Nós nos beijamos sob o olhar de pedra da Deusa, e eu olhei para ela
com o canto do olho.
— Sim... eu não tinha tanta certeza sobre essa parte, — Sebastian
disse, coçando a nuca.
Um sorriso malicioso surgiu em meus lábios. — Eu tenho uma ideia...
Ele olhou para mim com entusiasmo... e talvez até um pouco
apreensivo.
— Vamos profanar essa vadia, — eu disse, empurrando-o para a grama
macia.
— O que quer que minha Luna queira, — ele respondeu, sorrindo.
Nossas roupas foram tiradas em questão de segundos, nós dois
ansiosos para sentir a pele nua um do outro.
Nossos beijos estavam molhados e selvagens com paixão e eu me
contorci em cima do corpo quente de Sebastian.
Se este fosse um espaço sagrado, não seria quando terminarmos com
ele.
Sebastian me agarrou pelo cabelo e beijou meu pescoço, seus lábios
traçando até o local onde ele me marcou.
Ele mordeu a marca novamente e uma onda de prazer sensual
percorreu meu corpo, todo o caminho até o meu sexo.
Eu gritei quando senti um formigamento forte entre minhas coxas.
O pau de Sebastian roçou contra minha pele enquanto ele me pegava
e me pressionava contra a estátua.
Eu agarrei suas costas como um animal enquanto ele empurrava seu
membro latejante na minha boceta.
— Oh meu Deus! — Eu gritei enquanto agarrava a Deusa literal para
me equilibrar.
Ele começou a meter em mim com tanta força que pensei que a
estátua pudesse tombar.
Suas estocadas determinadas e grunhidos viris estavam me deixando
molhada. Eu estava gozando como um tsunami.
— Puta merda! — Sebastian gritou quando sentiu meu esperma
acumulando em tomo dele.
Ele deslizava para dentro e para fora com facilidade, e eu poderia dizer
que ele estava fazendo tudo ao seu alcance para não explodir.
Ainda não.
Eu agarrei sua bunda firme com minhas mãos e o encorajei a ir mais
fundo. Todos os vinte centímetros dele estavam dentro de mim e eu mal
conseguia me conter.
Mas era tão incrível que não queria que acabasse.
Quando nossos olhos se encontraram, Sebastian soltou um gemido
baixo. — Porra, eu vou gozar!
Ele saiu da minha boceta e acariciou seu pau rapidamente, gozando
fortemente.
E assim, a estátua da Deusa da Lua foi regada com... Bem, não era
louvor, -isso era certo.
Sebastian

Nós nos aninhamos no jardim, nus e entrelaçados sob o luar.


Eu poderia ter ficado com minha companheira assim para sempre.
Lyla adormeceu, com a cabeça apoiada no meu ombro.
Eu sorri ao ver como ela parecia em paz.
Eu faria qualquer coisa por você, meu amor
Meu telefone zumbiu no bolso da calça a alguns metros de distância, e
eu cuidadosamente estendi a mão para puxá-lo.
Todo o meu corpo ficou tenso quando vi quem era...
Cornelius: Tenho outro trabalho para você...

Cornelius: Hoje à noite.

Cornelius: E traga sua arma.

Cornelius: Você vai usar.


10
A HORA DAS BRUXAS
Lyla

Sebastian tinha me despertado no jardim e me apressado de volta para


o barco. Apesar de nossa noite romântica, houve uma mudança
perceptível em seu humor no caminho para casa.
Ele parecia nervoso - até um pouco paranoico.
Talvez eu tenha sido muito rápida em descartar seu comportamento
estranho nos últimos dias.
Só porque ele fez algo doce por mim, não significa que ele não estava
guardando segredos.
Quando perguntei se havia algo errado, ele simplesmente ignorou,
dizendo que estava cansado.
Mas enquanto estávamos deitados na cama, seus constantes
movimentos inquietos provaram exatamente o oposto.
Ele estava bem acordado.
E eu também, embora fingisse o contrário.
Depois de mais ou menos uma hora, Sebastian saiu da cama com
cuidado e vestiu as roupas, enquanto eu observava com um olho aberto.
Ele se agachou ao lado de uma saída de ar e começou a desenroscá-la
com a garra.
O que diabos ele está fazendo?
Ele agarrou algo do respiradouro e enfiou dentro das calças. Fechei
meus olhos antes que ele se virasse. Momentos depois, ouvi a porta da
frente fechar suavemente.
Eu imediatamente tirei as cobertas e pulei da cama.
Vesti minha calça jeans e abotoei apressadamente uma das blusas
xadrez de Sebastian.
O que ele estava escondendo no respiradouro?
Eu olhei para o relógio. Eram três horas da manhã...
A hora das bruxas.
Para onde ele estava indo na calada da noite?
Embora ele tivesse uma vantagem inicial sobre mim, eu também tinha
uma vantagem embutida.
Os companheiros podiam farejar um ao outro por quilômetros.
Coloquei uma jaqueta e botas e corri para a porta, mas parei quando vi
minha espada pendurada em um gancho na sala de estar.
Mordi meu lábio enquanto debatia se deveria aceitar.
Melhor prevenir do que remediar
Peguei a espada e me aventurei no ar frio da noite, farejando o cheiro
de Sebastian.
Eu agarrei o punho da minha espada enquanto seguia o cheiro em
direção às favelas.
Eu esperava não ter que usá-la, mas não tinha ideia no que Sebastian
tinha se metido.
Eu só espero chegar lá antes que ele faça algo perigoso...
Sebastian

Cheguei às coordenadas que Cornelius havia enviado para mim. Era


um armazém abandonado esboçado no centro das favelas mestiças.
Estava tão escuro e sombrio que parecia que a lua nem brilhava aqui.
Eu me espremi pela abertura de uma porta de metal pesado e vaguei
na escuridão.
Meus olhos começaram a brilhar enquanto eu me movia
parcialmente, permitindo-me usar minha visão noturna.
O prédio parecia vazio... Cornelius estava mesmo aqui?
Comecei a ter a sensação de que estava sendo enganado.
Eu sabia que não deveria ter confiado naquele desgraçado!
De repente, algumas luzes brilharam no segundo andar, brilhando
diretamente para mim.
Meus olhos de lobo sensíveis estavam cegos.
— Que porra é essa! — Eu rosnei. — Cornelius! Isso é você?
— Tão legal da sua parte finalmente aparecer, — disse ele, irritado. —
Você está atrasado.
Tudo que eu podia ver eram manchas pretas enquanto meus olhos
normais tentavam se reorientar. Eu segui o som de sua voz.
— Sim, bem, pelo menos eu vim, porra, — eu rosnei. — Você vai me
dizer do que se trata?
— Por que você não vê por si mesmo, — ele zombou.
Eu adoraria se você não tivesse apenas me cegado.
Quando meus olhos finalmente se ajustaram, meu estômago
embrulhou com a visão na minha frente.
Uma mulher estava de joelhos, com os pulsos amarrados e a boca
amordaçada.
Um capuz cobria o topo de sua cabeça.
Ela estava suja e machucada, arranhões em todos os braços.
Cornelius e seis de seus homens a rodeavam, todos com sorrisos
maliciosos inquietantes.
— O que... o que é isso? — Eu perguntei, me sentindo mal. Eu sabia
que não gostaria da resposta.
— E assim que você vai provar sua lealdade a mim, — disse Cornelius,
me olhando fixamente nos olhos. — Chame isso de iniciação.
Meus olhos se arregalaram de horror. Ele ia me pedir para...
— Você trouxe sua arma? — Os homens de Cornelius não estavam
mais cercando a garota, mas a mim.
Eu, trêmulo, puxei a arma da minha cintura e segurei-a com força.
— Esta mulher tem causado muitos problemas para mim, —
Cornelius rosnou. — Precisamos lidar com ela.
— Eu... eu não posso, — eu disse, dando um passo para trás.
Eu estava completamente fechado, então não havia para onde correr.
— Claro que você pode, — disse ele, como se fosse a decisão mais fácil
do mundo. — Basta pensar em sua alcateia.
Ele não está me dando escolha. -Eu lentamente levantei minha arma e
apontei para a mulher encapuzada.
Ela se contorceu e soltou um grito abafado.
— Se você cuidar dos meus problemas, eu cuidarei dos seus, —
Cornelius incitou.
Respirei fundo e estabilizei minha mão.
— FAÇA! — ele gritou.
Em um movimento rápido, apontei o cano da minha arma para
Cornelius, mirando bem entre seus olhos.
Meu dedo estava no gatilho.
— Ainda quer que eu faça isso? — Eu rosnei.
Eu ouvi o clique de seis dispositivos de segurança sendo desligados
enquanto todos os seus homens apontavam suas armas para mim.
— Pense no que você está fazendo, — alertou Cornelius.
— Eu estou, — eu rosnei. — Eu nunca mataria por você.
— Nesse caso... você apenas se tornou o problema, — disse ele em um
tom sinistro.
Lyla

Eu ouvi vozes acaloradas vindo de dentro do armazém. O cheiro de


Sebastian estava vindo de dentro da janela quebrada.
Eu me levantei e olhei para dentro, tentando ver o que estava
acontecendo.
Minha mão disparou sobre minha boca quando vi Sebastian...
Ele estava apontando uma arma -para uma mulher indefesa.
Cornelius estava parado em frente a ele, estimulando-o.
— Se você cuidar dos meus problemas, eu cuidarei dos seus, — disse
ele.
Oh não, Sebastian... O que você fez?
Eu rastejei pela janela aberta e me posicionei acima deles, me
escondendo nas sombras.
— FAÇA! — Cornelius cuspiu.
A arma de Sebastian de repente apontou para Cornelius, e por sua vez
seus homens apontaram suas armas para Sebastian.
Eu desembainhei minha espada instantaneamente, pronta para
defender meu companheiro.
— Pense no que você está fazendo, — alertou Cornelius.
— Eu estou, — ele rosnou. — Eu nunca mataria por você.
— Nesse caso... você apenas se tornou o problema.
Isso estava a segundos de se transformar em um banho de sangue.
Eu precisava fazer algo.
Agora.
Agarrei o corrimão com uma mão e pulei sobre ele, gritando a plenos
pulmões.
— AHHHHHHHHHHHHH!
Antes que eles tivessem a chance de olhar para cima, minha espada
acertou um dos pulsos do bandido, cortando a mão que segurava sua
arma.
Ele gritou de agonia e caiu no chão, segurando seu coto
ensanguentado.
Eu me virei e tirei a arma da mão de outro bandido e chutei-o no
estômago.
Sebastian aproveitou sua abertura e atirou em outro no ombro.
— O que diabos você está fazendo aqui? — ele gritou.
— Salvando você, senhor guarda segredos! — Eu respondi com raiva.
Nos protegemos atrás de uma caixa de metal. Sebastian trocou tiros
com os bandidos até que toda a sua munição se esgotou.
— Droga! — Sebastian rosnou enquanto tentava recarregar.
Atrás da caixa, ouvi ossos quebrando e roupas rasgando.
Agora estávamos cercados por três lobos ferozes enquanto a baba
escorria de suas mandíbulas abertas.
— Acabem com eles! — Cornelius gritou, escondendo-se atrás de um
contêiner.
Enquanto Sebastian disparava desordenadamente sobre a caixa, um
dos lobos se lançou contra ele.
As balas erraram, mas as mandíbulas do lobo não. Ele mordeu o
ombro de Sebastian e corroeu seu tecido muscular dilacerado.
— Porra! — ele gritou, tentando se livrar do lobo.
Enquanto eu tentava ajudá-lo, os outros dois me atacaram,
arrancando minha espada da minha mão e me prendendo no chão.
As patas do lobo estavam me esmagando ao pisarem no meu peito.
Estendi minha mão em direção ao meu companheiro enquanto ele
estava deitado no chão, sangrando.
— Sebastian...
Cornelius riu com alegria arrogante quando deu um passo em minha
direção.
— Isso é melhor do que eu esperava, — disse ele, pegando uma arma.
— Eu consigo matar três espinhos na minha costela em uma noite.
Eu estiquei meu braço o máximo que pude, esperando tocar meu
companheiro uma última vez antes de morrermos.
Não acredito que vai acabar assim...
— Meu único arrependimento é que você morrerá sem saber que peão
você tem sido para o Cardeal Mercer, — Cornelius disse, rindo
loucamente. — Ops, acho que agora você sabe.
Ele apontou a arma para minha cabeça. — E hora de morrer, seu
irritante...
ARRR-RRR-OOO!
O lobo mordendo Sebastian de repente explodiu em chamas. Seu pelo
cinza escureceu instantaneamente quando ele se transformou em um
cadáver carbonizado.
Cornelius girou descontroladamente, confuso. — Que porra é...
Os outros dois lobos e os homens feridos restantes irromperam em
infernos de fogo, um por um.
Cornelius largou a arma no chão, recuando horrorizado enquanto
seus homens queimavam até se tornarem cinzas.
Foi quando eu a notei...
A mulher que havia sido amarrada conseguiu se libertar.
Suas mãos brilhavam com poder arcano enquanto seus lábios
entoavam um feitiço.
Seus intensos olhos de fogo travaram nos meus e eu me engasguei.
— Tempeste!
Quando ela me salvou no labirinto, ela disse que nos encontraríamos
novamente...
E parecia ser uma reunião explosiva.
Ela voltou sua atenção para Cornelius quando ele tropeçou em um
dos cadáveres carbonizados.
— Para trás, bruxa imunda! — ele gritou, sua voz trêmula.
Mas ela não tinha intenção de recuar.
Ela estava apenas começando.
11
CARNE E OSSOS
Sebastian

A dor em meu ombro era quase insuportável. Esse lobo tinha me


mordido profundamente.
Claro, iria sarar, mas isso não mudava o fato de que estava doendo
para caralho agora.
Mas minha dor era nada -comparada com a carnificina que estava
acontecendo na minha frente...
Todos os homens de Cornelius tinham acabado de ser queimados por
uma bruxa.
E agora ela estava caminhando em direção a ele, suas mãos emanando
um poderoso brilho vermelho.
— Você vai queimar por isso, bruxa! — Cornelius cuspiu enquanto
cambaleava para trás.
— Eu acho que vai ser ao contrário, — ela respondeu, um sorriso
malicioso se espalhando por seu rosto.
— Você é quem vai queimar!
Antes que Cornelius pudesse gritar, uma coluna de fogo explodiu de
sua boca...
E seus olhos...
E orelhas.
Eu assisti com horror quando sua carne foi queimada de seus ossos.
Ela o estava derretendo de dentro para fora.
Seu corpo desabou em uma pilha de pele e ossos derretidos.
Levou tudo dentro de mim para não vomitar bem ali.
Ela fez um trabalho incrivelmente curto com aquele bastardo e salvou
nossas vidas no processo.
Olhei para Lyla enquanto ela se aproximava da bruxa.
O que diabos ela está fazendo!?
— Lyla, pare! — Eu gritei, lutando para me sentar. — Ela é perigosa!
Fiquei surpreso quando Lyla colocou a mão no ombro da bruxa. —
Obrigada, Tempeste — disse ela em um tom que sugeria familiaridade.
Ela CONHECE essa bruxa?
Lyla se aproximou de mim e me ajudou a ficar de pé. — O que diabos
está acontecendo? — Eu perguntei enquanto me inclinei contra ela para
me equilibrar.
— Tempeste... ela salvou minha vida uma vez antes, — Lyla respondeu
hesitantemente.
— Nós salvamos a vida uma da outra, — disse Tempeste, corrigindo-a.
Minha cabeça estava girando, embora talvez fosse apenas a perda de
sangue.
Olhei para trás, para a pilha pegajosa que costumava ser Cornelius,
cheio de pavor.
Parte de mim estava feliz por ele estar morto...
Recusei-me a fazer seu trabalho sujo, então pelo menos minha
consciência estava limpa.
Mas assim como Cornelius pegou fogo, o mesmo aconteceu com
outra oportunidade de sustentar minha alcateia.
Mais uma vez, eu estava em uma encruzilhada sem um mapa.
— Por aqui! — uma voz grave gritou de repente do lado de fora do
armazém.
O som inconfundível da armadura do Guardião da Lua ecoou por um
corredor próximo.
— Porra, o Guardião da Lua está aqui, — eu rosnei.
— Lyla, não podemos estar relacionados a isso.
Não houve tempo para se livrar dos corpos. Foi uma porra de um
massacre.
— Eles saberão que foi uma bruxa, — respondeu Tempeste. —
Nenhum fogo normal poderia fazer o que eu fiz para aqueles bastardos.
Mas temos que sair daqui. Agora.
Eu lancei a Lyla um olhar inquieto.
— Podemos confiar nela, — disse ela com firmeza.
— Eu prometo.
Eu concordei. Mesmo não gostando disso, confiei no julgamento de
Lyla.
— Me siga! — Tempeste gritou, levando-nos para as sombras.
Lyla

Tempeste nos conduziu com segurança por uma série de túneis


subterrâneos.
Eu tinha esquecido completamente as incontáveis catacumbas e
corredores sob a superfície da Cidade Santa.
O labirinto era um quadrante bem conhecido, mas o resto dos túneis
não eram usados.
Eu me perguntei se havia alguém que soubesse para onde todos eles
iam.
— As bruxas usam esses túneis como uma forma de se locomover com
segurança pela cidade, — disse Tempeste enquanto caminhava na nossa
frente com uma tocha.
— Há mais de você? — Sebastian perguntou, seu tom um pouco
cauteloso.
— Sim, mas apenas aqueles que sabem onde procurar podem nos
encontrar, — ela respondeu misteriosamente.
— Como você foi capturada? — Eu perguntei.
— Cornelius estava me procurando desde que você me deixou entrar
no labirinto, — ela respondeu. — Eu sabia demais.
Ela parou e olhou por cima do ombro para Sebastian. — A melhor
pergunta é... como você -se envolveu com Cornelius?
Eu estava pronta para ouvir a resposta a essa pergunta também.
— Ele... ele me ofereceu dinheiro para ajudar minha alcateia se eu
fizesse alguns trabalhos para ele, — Sebastian respondeu envergonhado.
— Eu nunca deveria ter concordado com isso.
— Ah, sim, o passatempo favorito de Cornelius... coerção — disse
Tempeste com amargura.
— Por que você escondeu isso de mim? — Eu perguntei, sentindo-me
magoada. — Você quase morreu, Sebastian.
— Eu fiz uma besteira... grande, — disse ele, cerrando os dentes. — Se
você não estivesse lá para me apoiar...
— Chega de segredos, — eu disse severamente.
— Temos que ser honestos uns com os outros.
— Sinto muito, eu só não queria que você me olhasse de forma
diferente, — ele respondeu, segurando minha mão enquanto mancava
para frente. — Eu não queria decepcionar você ou a alcateia.
— Sebastian, eu te amo. Eu nunca...
Tempeste se virou e olhou para nós.
— Vocês dois podem guardar a terapia de casais para outro dia? Estou
tentando nos tirar de um labirinto de merda agora.
— Desculpe, — eu disse em rendição. — Vamos calar a boca.
Chegamos a um beco sem saída e Tempeste parou. — Acho que está
aqui.
Ela puxou para baixo uma escada de corda escondida e subiu,
afastando algumas tábuas de madeira no topo. — Aqui em cima! — ela
nos chamou.
Seguimos escada acima e saímos em uma cabana mofada. Tempeste
cobriu a entrada secreta com as tábuas do assoalho.
— Obrigada de novo, — eu disse, dando-lhe um abraço. — Você
salvou nossas vidas.
— E você me deu uma oportunidade de vingança, — disse ela,
sorrindo. — Acho que estamos quites.
— O que você vai fazer agora? — Sebastian perguntou. — Esses
Guardiões da Lua vão relatar que um Alfa foi morto por uma bruxa.
— Eles teriam que me encontrar primeiro, — ela disse
arrogantemente. — E você viu o que eu fiz com aqueles bandidos.
— Mas e se a Igreja começar uma caça às bruxas? — Eu perguntei,
preocupada. — Você viu o que eles estão fazendo com os mestiços.
Tempeste zombou. — As bruxas não vão apenas se curvar como os
mestiços...
. —.. Nós iremos revidar.
Caspian

Adele aninhou-se em minha cama em um raro momento de paz e


sossego.
Ela tinha desistido de sua própria cama - e praticamente toda a sua
casa - para os esforços de alívio, então ela estava na minha quase todas as
noites.
E eu definitivamente não estava reclamando.
Eu a puxei para perto e beijei sua testa. — Eu amo ter você aqui.
— Eu amo estar aqui, — respondeu ela, massageando meu couro
cabeludo com os dedos.
Se eu estivesse na forma de lobo, provavelmente estaria abanando o
rabo com entusiasmo.
— Você sabe como eu fico quando você faz isso, — eu disse como um
aviso brincalhão.
— Você está certo... eu sei, — ela respondeu maliciosamente.
Ela começou a massagear minha cabeça, bem atrás das orelhas, e eu
derreti no travesseiro.
— Você é muito fácil, — ela brincou.
Eu a agarrei pela cintura e a segurei, mordiscando suas orelhas.
— Talvez eu seja fácil... — eu respondi. — Ou talvez você apenas tire o
melhor de mim.
— Você tira o melhor de mim também, — ela disse suavemente.
Adele me beijou profundamente e envolveu suas pernas em volta de
mim.
Minhas mãos agarraram suas coxas suculentas enquanto minha
língua explorava sua boca.
Ela se sentou e me empurrou nas costas, montando em mim. Meu pau
se contraiu em antecipação quando ela puxou minha boxer e o soltou.
Ela puxou a camisola sobre a cabeça e minhas mãos seguraram seus
seios saltitantes quando ela começou a se contorcer em cima de mim.
— Você é mais bonita do que a estrela mais brilhante do céu, — eu
disse, olhando para minha companheira com admiração.
Não importa quantas vezes eu a visse nua, ela nunca deixaria de ser
inspiradora.
Seus longos cabelos caíram sobre os ombros quando ela se inclinou e
me beijou.
— E você é mais charmoso do que mil príncipes, — ela disse com uma
risadinha leve.
— Ei, quero dizer cada palavra disso, — eu disse sério. — Você é uma
deusa.
Algo sobre esse último elogio acendeu um fogo dentro de Adele e
todas as apostas foram canceladas.
Ela se sentou no meu pau sem hesitar e ele deslizou direto em seu
sexo encharcado.
Eu grunhi com sua sensação escorregadia e meti dentro dela
vigorosamente.
Ela me montou com força, colocando as mãos atrás da cabeça e
sorrindo.
Essa expressão sedutora me fez enlouquecer. Eu queria dar a ela a
melhor foda de sua vida.
Nossa pele bateu juntas enquanto eu metia mais rápido e mais forte.
Eu agarrei Adele e a virei de quatro.
Eu rapidamente entrei nela por trás, e ela gemeu em êxtase enquanto
eu a fodia como se não houvesse amanhã.
— Caspian, estou gozando! — ela gritou enquanto eu batia em sua
bunda perfeita.
Bom, eu quero que ela goze uma e outra vez.
Quando o prazer finalmente se tomou insuportável, eu gozei em suas
costas.
Eu desmaiei de exaustão, meu peito arfando para dentro e para fora.
— Puta merda, — eu disse, tentando recuperar o fôlego.
— Eu te cansei? — ela perguntou brincando.
— Pergunte-me novamente após a segunda rodada, — eu rosnei,
dando a ela um sorriso malicioso.

Quando nos preparamos para dormir, senti um amor intenso por


minha companheira. Eu ainda estava surpreso por ter encontrado
alguém tão perfeita para mim.
Mas apesar de como as coisas estavam boas entre nós, havia algo
faltando...
E eu sabia exatamente o que era.
— Você sabe... já que você está aqui com tanta frequência... você pode
muito bem se mudar oficialmente, — eu disse, tentando ser casual sobre
isso.
Adele olhou para mim com melancolia nos olhos enquanto prendia o
cabelo para trás e se encostava na pia.
— Caspian, admito, foi divertido brincar de casinha com você..., mas
precisamos ser realistas.
— Brincando de casinha? — Eu repeti, o clima de repente ficando
sombrio.
— Você sabe o que quero dizer, — respondeu ela.
— Podemos fingir que está tudo bem, mas a verdade é que não
podemos ter um relacionamento normal — Quem diz!? — Eu gritei com
raiva.
— A lei! — ela retrucou. — Caspian, você sabe disso!
— Adele, estou cansado de ficar junto, mas não estar realmente junto,
— eu disse, sem conseguir esconder a dor em minha voz.
Ela começou a chorar. Eu sabia que ela tinha os mesmos sentimentos.
— Eu sei, eu odeio isso, — ela disse, sua voz falhando. — Não é justo,
mas não sei o que fazer.
Eu sabia.
— Foda-se as leis! — Eu rosnei, tendo um momento de clareza. — Não
vou deixar nada nos separar!
— O que você está dizendo? — Ela perguntou enquanto eu enxugava
suas lágrimas.
Olhei em seus lindos olhos verdes e senti meu coração inchar de
amor. — Eu estou dizendo...
. —.. Vamos fazer uma cerimônia de acasalamento.
12
UNIÃO PROFANA Adele
As palavras de Caspian ecoaram em meus ouvidos enquanto eu olhava
em seus olhos sinceros.
Ele estava falando sério sobre isso.
Ele queria se acasalar...
Oficialmente.
Como em uma cerimônia de acasalamento, um vestido, um ministro...
Espere, apague esse último.
Não havia um ministro vivo que realizaria uma cerimônia de
acasalamento para um ex-Beta e uma mestiça.
Mas isso importa mesmo? Como Caspian disse... foda-se as leis!
Eu não merecia ser feliz, como qualquer outra pessoa?
Oh minha deusa, eu estou realmente me metendo nisso?
Havia tantas coisas que poderiam dar terrivelmente errado, mas
quando Caspian disse essas palavras, senti que me apaixonei ainda mais
profundamente por ele.
Ele estava jurando estar ao meu lado, não importa o que
enfrentássemos.
Se ele estava disposto a colocar tudo em risco, então por que eu não
deveria?
— Você está me matando com esse silêncio, — Caspian disse, olhando
para mim com preocupação. — Você acha que eu sou louco?
— Sim! — Eu soltei.
— Sim... você acha que eu sou louco? — ele perguntou, parecendo um
pouco magoado.
— Não, quero dizer sim -sim, — eu disse com urgência, percebendo
meu erro.
Caspian parecia ainda mais confuso. — Não tenho certeza se estou
entendendo...
Eu agarrei seu rosto com as duas mãos e plantei meus lábios nos dele,
segurando o beijo até que eu mal conseguia respirar.
— Sim... — eu disse, finalmente exalando. — Eu quero me acasalar
com você.
Caspian me pegou em seus braços com entusiasmo, e nós dois
desabamos na cama de tanto rir.
— Você acabou de me fazer o homem mais feliz do planeta, — disse
ele, sorrindo de orelha a orelha.
— Eu quero gritar dos telhados.
— Por favor, não. Ainda é extremamente ilegal para nós fazer isso, —
eu disse, tentando abafar uma risada. Apesar de isso ser sombrio, ainda
era meio engraçado.
— Então, nós teremos uma cerimônia secreta de acasalamento, — ele
disse, já planejando em sua cabeça. — Nossos amigos mais próximos, um
local pitoresco, muito é muito vinho...
Enquanto Caspian continuava tagarelando suas ideias, eu apenas o
encarei e sorri.
Isso era real.
Isso estava acontecendo.
Eu vou me acasalar.
Adele: Ei, eu sei que nós duas estivemos ocupadas ultimamente
Adele: Mas você tem tempo para se encontrar?

Adele: Eu tenho uma coisa que quero te perguntar Lyla: Sim,


definitivamente Lyla: Senti falta de ficar com você Lyla: A vida tem
realmente me jogado algumas dificuldades Adele: Nem me fale
Adele: Eu sinto que tenho apagado incêndios a torto e a direito
Lyla: Literalmente...

Adele: O quê?

Lyla: Oh, nada

Lyla: Onde você quer se encontrar?


Adele: Eu tenho que levar algumas coisas para o abrigo Adele:
Você pode me encontrar lá?

Lyla: Claro, vou até trazer alguns cobertores extras e cantis que —
peguei emprestado — do quartel Adele: Obrigada Lyla! Vc é a
melhor Lyla

O que Adele estava fazendo por seu povo era realmente inspirador.
Quando Cheguei ao abrigo, vi dezenas de mestiços trabalhando juntos
para se alimentar e abrigar uns aos outros.
Apesar de suas circunstâncias, eles não foram quebrados.
Adele inspirou esperança neles.
Eu fiz questão de não usar minha armadura de Guardiã da Lua,
sabendo o quão desastroso isso teria sido.
Eu realmente queria que os Guardiões da Lua fossem um símbolo de
segurança, ao invés de opressão, mas, infelizmente...
— Lyla! — Adele gritou, acenando para mim em uma mesa de
piquenique feita de sucata de madeira reciclada.
Sentei-me em frente a ela e imediatamente percebi que algo estava
diferente nela.
Eu não tinha certeza do que era, mas ela parecia mais feliz do que eu
já tinha visto.
— O que está acontecendo com você? — Eu perguntei. — Você está...
totalmente nas nuvens agora.
— Ok, isso vai parecer loucura... — Ela parecia hesitante, mas também
animada.
— Vá em frente, não me deixe em suspense, — eu disse ansiosamente.
— Eu e Caspian decidimos nos...
Ela disse isso tão baixinho que eu não consegui nem mesmo entendê-
la.
— Decidiram o quê? — Eu perguntei em voz alta.
Ela se inclinou para perto. — Nos acasalar, — ela sussurrou.
— O QUE!? — Eu gritei a plenos pulmões, arrancando olhares
assustados de vários mestiços.
É
— Shhhh! — Adele disse, tentando não rir. — É um segredo. Por
razões óbvias.
Na verdade, eu estava lutando contra as lágrimas quando me inclinei
sobre a mesa e abracei Adele. — Estou MUITO feliz por você, — eu disse.
— E orgulhosa também. O que vocês estão fazendo é lindo e corajoso.
— Sim, bem, não é como se nós pudéssemos ter um ministro ou algo
assim, já que ninguém em sã consciência concordaria, mas queremos
pelo menos fazer algo que se assemelhe a uma cerimônia oficial, — ela
respondeu.
— Você sabe que vou ajudar de todas as maneiras que puder, — eu
disse, segurando a mão dela.
— Bem... na verdade... eu queria te perguntar... — As bochechas de
Adele ficaram vermelhas. — Você seria minha dama de honra não oficial?
Parei por um momento e uma ideia brilhante flutuou em minha
mente.
— Não, — eu disse com firmeza.
Adele parecia chocada por eu ter recusado. — Oh, eu só pensei...
— Vou fazer melhor para você, — eu disse sorrindo. — Eu irei oficiar.
Seus olhos se arregalaram. — Espere, você pode...
— Eu sou uma Guardiã da Lua da Sagrada Ordem, — eu disse,
sorrindo. — O que significa que estou automaticamente licenciada para
oficiar cerimônias de acasalamento. Então, chega desse papo de não oficial
Sua cerimônia de acasalamento será oficial como o inferno!
Adele estava praticamente explodindo de emoção.
Isso finalmente estava se tornando real para ela.
Caspian e Adele mereciam ser felizes - mais do que qualquer outra
pessoa que eu conhecia.
E tive a honra de oficializar sua união.
Sebastian

Meu trabalho de curta duração com Cornelius fora um fardo pesado.


Eu estava mentindo para Lyla e isso colocou uma pressão em nosso
relacionamento e na minha consciência.
Fiquei feliz por Cornelius ter recebido o que merecia e por não poder
mais me manipular, mas...
Ele foi meu último recurso.
Sem seu dinheiro sujo, minha alcateia iria sofrer. Era inevitável que
Cornelius e eu brigássemos, mas embora eticamente me sentisse muito
mais leve, minha culpa continuava a pesar sobre mim.
Eu deveria ser o provedor da minha alcateia.
O Alfa.
Mas eu estava falhando com eles.
Peguei meu telefone e respirei fundo. Percorrendo meus contatos,
parei no Tio Arthur novamente.
Parecia que eu estava batendo em um cavalo morto, mas era o único
cavalo que eu tinha.
Comecei a digitar a magnum opus de todos os textos, esperando que
funcionasse.
Sebastian: Ei, eu sei que você me odeia, mas eu realmente
preciso que você me escute. Essa briga entre os membros da
família é uma merda. Foi entre você e meus pais. Não entre nós.

Sebastian: Deixando o problema com a minha alcateia de lado,


eu realmente gostaria de me reconectar com você e conhecê-lo
como um adulto. Nem sempre concordei com as decisões e
crenças dos meus pais e, ultimamente, tenho questionado muitas
coisas que aprendi enquanto crescia.

Sebastian: Eu conheci alguns mestiços e bruxas notáveis, se você


pode acreditar. O que estou tentando dizer é que nossas
percepções mútuas são distorcidas por experiências limitadas.
Vamos começar de novo.

MENSAGEM AUTOMATIZADA: Mensagens não recebidas. O


chamador com o qual você está tentando entrar em contato
bloqueou seu número.
Eu praticamente esmaguei meu telefone na minha mão.
Eu tinha acabado de derramar minha porra de coração e alma nesses
textos, e meu tio bastardo bloqueou meu número.
Apesar de nossas diferenças, ele ainda era um idiota.
Mas eu não desistiria. Não mais.
Peguei meu laptop e comecei a procurar voos para Mônaco.
Ele me deixou sem escolha.
Eu tinha que confrontá-lo pessoalmente.
Lobo para lobo.
Quando meu cursor pairou sobre — livro de voo, — de repente me
ocorreu o que eu estava fazendo.
Eu não estava apenas me preparando para deixar a Cidade Santa...
Eu estava me preparando para deixar Lyla.
Eu sabia que ela tinha negócios pendentes aqui, mas...
Eu realmente poderia embarcar nessa jornada sozinho?
Lyla

Com a notícia de que uma bruxa havia assassinado um Alfa, a basílica


estava em alerta máximo.
Fui convocada no meu dia de folga para dar à Deusa alguma proteção
extra. A igreja não queria correr nenhum risco.
Quando Cheguei em seus aposentos, ela nem estava lá.
Bem, dez segundos no trabalho e eu já a perdi.
Afundei em sua confortável área de descanso e esperei, tentando
resistir à vontade de bisbilhotar.
A Deusa da Lua ainda era um grande ponto de interrogação para mim.
e eu queria saber mais sobre ela.
Talvez eu apenas dê uma olhada rápida em seu armário. Qual é o
problema disso?
Aproximei-me do maior guarda-roupa que já vi na minha vida. Girei a
maçaneta de ouro e abri.
Eu me engasguei, vendo todas as suas roupas magníficas. Peguei um
robe de seda branca com detalhes dourados e o vesti.
Eu me admirei no espelho enquanto me virava.
Eu admito, ela tem bom gosto.
De repente, ouvi um clique de fechadura.
Oh minha Deusa, a Deusa!
Eu não poderia ser vista assim. Sem pensar, mergulhei no enorme
guarda-roupa e fechei a porta.
Ela recusou-se a trancar, ficando ligeiramente entreaberta.
Eu ouvi a porta da frente fechar, seguida por algumas risadas. Havia
duas vozes.
Uma era inconfundivelmente a Deusa da Lua e a outra era...
Achilles?
— Isso é tudo de que você precisa, sua Santidade? — ele perguntou em
um tom que não era nem remotamente apropriado.
— Eu acho que você sabe o que eu preciso, — ela respondeu.
Minha única visão do armário era o reflexo no espelho, que estava
apontado para a cama.
E tanto Achilles quanto a Deusa da Lua estavam de repente naquela
cama.
Minha mão disparou sobre minha boca para que eu não gritasse.
Porque quando Achilles baixou as calças e rastejou em cima da Deusa,
ela abriu as pernas...
Gritar foi a única reação sensata que veio à mente.
Achilles...
E a Deusa da Lua...
Estão...
TRANSANDO!
13
PERCEPÇÕES ALTERADAS
Lyla

Eu não conseguia acreditar no que estava vendo.


A Deusa da Lua - o símbolo de tudo o que era puro e sagrado - estava
sendo comida por seu guarda-costas pessoal!
E eu estava presa neste maldito guarda-roupa enquanto eles
transavam...
Eu não conseguia mover um músculo - mal conseguia respirar...
Ou corria o risco de ser descoberta.
Não é que eu quisesse ser uma voyeur, assistindo a essa maldição
blasfema...
Mas era como um incêndio profano em uma caçamba de lixo, e eu
não conseguia desviar o olhar.
Achilles rasgou o corpete da Deusa da Lua e começou a desamarrar o
vestido.
Fiquei realmente impressionada. Havia muitas camadas em seus trajes
intrincados, e ele estava removendo-os em um ritmo recorde.
Quando ele finalmente a deixou nua, ele parou e olhou para ela com
luxúria.
— Você realmente é uma deusa, — ele rosnou. — Esses seios foram
esculpidos pelas divindades.
— E esse pau foi esculpido no melhor mármore, — ela respondeu,
lambendo os lábios.
Nojento! Nojento! Nojento!
A Deusa da Lua rastejou em direção a Achilles de quatro e abriu a
boca, deixando seus lábios envolverem sua masculinidade.
Achilles gemeu de prazer enquanto ela tentava pegar a coisa toda. Ela
se engasgou com o tamanho e sua clara falta de experiência.
— E isso... assim... use sua língua, — ele instruiu.
A essa altura, eu estava convencida de que estava de alguma forma
preso no inferno e esse era meu castigo eterno.
A Deusa da Lua deitou-se de costas e abriu as pernas, dando-me uma
visão extremamente gráfica de onde a lua não brilhava.
— Faça aquilo que eu gosto, — disse ela, tentando soar inocente.
— Você quer dizer fazer um oral? — Achilles perguntou, sorrindo.
Achilles se curvou e enterrou o rosto em seu sexo. Ela imediatamente
começou a gemer tão alto que pensei que toda a Guarda da Lua seria
alertada.
— Você está tão molhada, — disse ele em uma voz abafada.
Por um breve momento, quase tive um ataque cardíaco quando notei
a Deusa olhando diretamente para mim.
Exceto que não era para mim, era para o espelho.
Ela estava olhando para seu próprio reflexo.
Ela está se vendo sendo comida? Isso não poderia ficar mais perturbador
Mas eu estava errada sobre isso.
Achilles a virou de bruços e mergulhou o pau dentro de seu sexo. Ele
grunhiu com cada impulso, e o bater de sua pele nua e os gemidos
estridentes da Deusa da Lua criaram uma cacofonia insuportável.
Eu cobri meus ouvidos, tentando abafar o barulho.
Eu só poderia rezar para que isso acabasse logo...
Mas de alguma forma, eu duvidava que rezar -fosse de alguma ajuda.
Depois do que pareceram séculos, Achilles e a Deusa da Lua se
cansaram e foram mergulhar no banho.
Eu silenciosamente escapei do quarto e fechei a porta atrás de mim,
dando um suspiro de alívio.
Eu tinha certeza de que o que aconteceu lá me deixou marcada para o
resto da vida.
Eu nunca poderei olhar para nenhum deles da mesma maneira
novamente.
Corri pelos corredores da basílica e saí para as ruas o mais rápido que
pude.
Eu precisava de ar fresco.
Não, o que eu preciso é enxaguar os olhos com água benta.
Eu ainda não conseguia acreditar no que acabara de testemunhar.
Eu sabia há um tempo que a Deusa da Lua era tão infalível quanto
qualquer outra, mas ver realmente era uma história diferente.
A hipocrisia e a falsidade da Igreja inundaram minha mente.
A Sagrada Ordem era apenas um bando de idiotas que se auto
intitulavam que construíam sua sociedade nas costas de mestiços, e
então colhiam os benefícios enquanto faziam o que queriam!
Minha percepção da Deusa da Lua foi irrevogavelmente alterada.
Eu gostava muito mais dela como símbolo...
Porque a verdadeira era uma merda.
No dia seguinte, tentei descobrir como enfrentar Achilles.
Devo encontrá-lo para um café?
Enviar a ele uma mensagem de texto bem elaborada?
Formar um grupo de intervenção?
Mas quando o vi entrar no vestiário do quartel da Lua, toda chance de
formalidade voou pela janela.
Eu o agarrei pela armadura e o joguei contra um armário.
— O que diabos você pensa que está fazendo!? — Eu rosnei.
— Uh, eu não sei, mas estou nisso, seja o que for, — disse Achilles,
sorrindo.
Vários outros Guardiões da Lua nos lançaram olhares questionadores.
Eu não poderia fazer isso aqui...
— Venha comigo, — eu rosnei, puxando-o para o arsenal. Pelo menos
lá éramos apenas nós e um monte de armaduras vazias.
Achilles flexionou o bíceps enquanto passava a mão pelos cabelos. —
Droga, eu não tinha ideia que este seria o dia em que finalmente...
— Cale a boca, — eu disse, interrompendo-o. — Você não está aqui
para conversar. Você está aqui para ouvir.
— Tudo bem, porra, estou ouvindo, — disse ele, parecendo nervoso.
— Eu sei... — Eu abaixei minha voz enquanto olhava ao redor. — Eu
sei que você está fodendo a Deusa.
Seus olhos saltaram das órbitas. — Como você...
— Como eu sei não é importante, — eu disse rapidamente, não
querendo revivê-lo. — Mas você precisa parar imediatamente.
— Oooohh, entendo do que se trata, — disse Achilles
presunçosamente, colocando o braço na parede e me empurrando. —
Você está com ciúmes.
— Des-desculpe-me, — eu recusei. — Isso é insano!
— E isso? — ele perguntou, levantando uma sobrancelha. — Não aja
como se você não tivesse sentido a tensão sexual entre nós.
— Você está imaginando coisas, — eu rosnei, deslizando por baixo de
seu braço. — Eu quero que você pare porque é perigoso.
— Claro, — disse ele, revirando os olhos. — Você é tão transparente.
Eu estava começando a ficar muito chateada.
— Achilles, como podemos continuar trabalhando para uma deusa tão
falsa? Literalmente, nada sobre sua persona é real! Seu poder é apenas
uma ilusão encobrindo o que realmente está acontecendo!
— Eu não sei, o poder de sua boceta parecia muito real, — ele
respondeu, não me levando a sério.
Eu poderia ter castrado esse idiota!
A benevolente e poderosa Deusa da Lua era apenas uma invenção
criada pela Igreja para forçar seus ideais sobre todos os outros.
Achilles pode ter concordado com isso, mas eu definitivamente não
concordava.
— Tudo o que a Deusa, ou Mercer, ou qualquer um deles se
preocupam é o poder! — Eu gritei. — Se você não consegue ver isso, não
posso te ajudar!
Eu saí do arsenal e Achilles correu atrás de mim. — Lyla, espere!
O que estou fazendo aqui?
Eu pensei que poderia fazer uma diferença real, mas...
Eu não tinha mais certeza do que era real.
Caspian
Eu não podia acreditar que teria uma cerimônia secreta de
acasalamento amanhã!
Ainda havia muito a fazer e tão pouco tempo para fazê-lo.
Mas eu não queria esperar mais. Eu não me importava com todos os
sinos e assobios...
Tudo o que me importava era declarar meu amor por minha
companheira em um ritual de acasalamento.
Eu queria dar a ela tudo o que a sociedade dizia que ela não era boa o
suficiente para ter.
Seu coração era mil vezes mais bonito do que qualquer uma das almas
feias que espalham seu ódio nesta cidade.
Apesar do meu bom humor, meu humor rapidamente piorou quando
vi aquele ódio se desenrolando na minha frente.
Uma multidão se reuniu perto do mercado, onde um Guardião da Lua
estava arrastando um dos vendedores de sua loja. Sua filha assistia em
lágrimas.
— Não por favor! Eu tenho uma família para alimentar! — ele gritou.
— Não fiz nada de errado!
— Você é um mestiço de merda! — o Guardião da Lua rosnou. — Sua
própria existência está errada. — Eu estreitei meus olhos e marchei até o
guarda, empurrando o grupo de espectadores.
— Qual é o crime desse homem? — Eu perguntei, minha voz
crescendo.
Eu não era mais um Beta, mas ainda podia projetar como se fosse.
— A licença dele para vender expirou, — respondeu o Guardião da
Lua. — Ele está operando este negócio ilegalmente.
Olhei para o — negócio — do homem, uma pequena barraca de frutas.
Isso era ridículo.
— Por que você o está prendendo? Deixe-o renovar a licença! — Eu
disse com autoridade.
— Eu... eu não posso pagar por isso agora, — o homem disse
humildemente. — Mas terei o suficiente até o final do...
— Muito pouco, muito tarde, — o guarda rosnou, lidando com ele
rudemente.
— Vou para a basílica e pago eu mesmo, — eu disse, dando um passo
em frente com ele. — Certamente não há nenhuma lei contra isso?
O Guardião da Lua olhou para mim, mas relutantemente soltou o
homem.
— Amante de mestiço, — ele cuspiu enquanto se afastava.
— O-obrigado, — disse o vendedor, segurando minha mão.
Embora estivesse projetando confiança por fora, por dentro estava
tremendo.
Eu estava imaginando o que aconteceria se Adele estivesse na mesma
situação.
Eu permiti um sorriso fraco enquanto o vendedor abraçava sua filha
chorando.
A visão fortaleceu minha determinação.
Adele não pararia de lutar por seus direitos...
E nem eu.
Lyla

Hoje foi um rude despertar...


Mas pelo menos eu finalmente acordei.
As próprias fundações desta cidade estavam apodrecendo e
corrompidas.
Eu não queria perder a esperança de fazer a diferença, mas as coisas
estavam parecendo especialmente desanimadoras.
Mesmo se todo mundo tivesse me decepcionado, eu conhecia uma
pessoa que sempre estaria ao meu lado...
Agora, eu precisava do conforto do meu companheiro.
Empurrei cautelosamente a porta de nossa casa e entrei no quarto,
mas congelei assim que vi Sebastian.
Ele estava fazendo uma mala.
— Onde... Onde você está indo? — Eu perguntei, meu corpo todo
ficando rígido.
Ele me olhou com tristeza nos olhos.
— Estou indo para Mônaco.
14
VOTOS E VALOR
Lyla

Sebastian me segurou em seus braços com força enquanto estava


parado na porta com sua mala feita.
Lágrimas encheram meus olhos, mas eu não as deixaria cair.
Eu precisava ser mais forte do que nunca sem ele.
Eu odiava que ele estivesse indo embora, mas, ao mesmo tempo,
entendia sua decisão.
Nossa situação na Cidade Santa havia se deteriorado muito e
Sebastian ficou sem opções.
Ele não podia simplesmente ficar sentada enquanto eu tentava
acalmar as coisas com a Deusa da Lua, embora eu estivesse começando a
duvidar que isso fosse mesmo possível...
Sebastian precisava evitar que a Alcateia Real desmoronasse...
Eu só esperava não desmoronar enquanto ele estava fora.
Quando senti seu aperto começar a afrouxar, puxei-o para mais perto.
Eu não estava pronta para soltá-lo ainda.
— Eu gostaria de não ter que fazer isso, — Sebastian disse, sua voz
falhando um pouco.
— Mas você tem, — eu disse, tentando confortá-lo.
— Você tentou o seu melhor aqui, mas...
— Não foi o suficiente, — disse ele, concluindo meu pensamento.
E se eu também tivesse chegado ao precipício do que poderia realizar
aqui?
E se tudo que eu fiz tivesse sido em vão?
Eu tinha Caspian e Adele para ajudar a me manter forte, mas...
Minhas prioridades estavam variadas desde que cheguei à Cidade
Santa.
Caspian e Adele descobriram a deles...
Sebastian tinha decidido sobre a sua...
Então, quais eram as minhas?
— Venha comigo, — Sebastian disse de repente.
Nós soltamos nosso abraço e eu encarei seus olhos. Eles estavam
cheios de esperança.
— Eu... eu quero... — gaguejei, lutando para encontrar as palavras
certas.
— Então faça! Deixe este lugar para trás! — ele pediu.
Eu gostaria que fosse tão simples.
— Eu não posso, — eu disse, baixando minha cabeça. — Ainda não.
Sebastian levantou meu queixo com o dedo e pressionou seus lábios
contra os meus.
Eu saboreei a sensação de calor que percorreu meu corpo. Eu não
sabia quando sentiria isso de novo...
— Eu te amo, — Sebastian disse, se afastando e pegando sua bolsa.
— Eu também te amo, — respondi, lutando contra minhas lágrimas.
— Voltarei com uma solução, — disse ele, determinado. — Eu preciso.
Enquanto eu observava Sebastian descer as escadas e desaparecer na
noite, senti uma pontada de arrependimento.
Eu não pude deixar de pensar...
Eu deveria ter ido com ele.
Adele

A cidade parecia tão distante do alto das colinas.


Estar isolada na natureza me permitiu distanciar-me de minha
situação, mesmo que apenas por uma noite.
Amanhã eu voltaria a lutar, mas esta noite...
Esta noite, eu estava me acasalando.
Eu estava em frente a Caspian em um campo de lírios, nossas mãos
entrelaçadas.
— Vamos começar — disse Lyla, sorrindo animadamente enquanto
olhava para nós dois.
Ela havia roubado alguns mantos sagrados da basílica apenas para
tomar isso oficial.
Caspian estava vestindo um smoking branco com um corsage de
lírios. A flor luminescente brilhava enquanto o sol se punha.
Na verdade, todo o campo começou a brilhar.
Era realmente de tirar o fôlego, mas Caspian nem pareceu notar.
Seus olhos estavam apenas em mim.
— Você está tão linda, — disse ele, seus olhos brilhando por causa da
luz das flores.
Corei enquanto ele me encarava.
Sinceramente, me senti linda... talvez pela primeira vez na vida.
Eu também estava vestindo branco. Um vestido simples e elegante
que se arrastava atrás de mim, descansando graciosamente nos lírios
brilhantes. — Eu sei que isso é super inapropriado como seu ministro,
mas já que somos os únicos três aqui... — Lyla disse, sorrindo. — Vocês
estão super sexy.
Eu ri tanto que quase comecei a chorar. Isso estava longe de ser uma
cerimônia típica de acasalamento.
Mas era absolutamente perfeito.
— Vamos começar com os votos, — disse Lyla enquanto olhava para
mim. — Adele, por que você não vai primeiro.
Respirei fundo, me sentindo mais nervosa do que jamais me senti na
vida. Mas o olhar calmante de Caspian me manteve no chão.
— Eu nunca imaginei ter uma cerimônia de acasalamento como essa
pois... — Minha voz já estava começando a falhar. — Bem. porque eu
nunca imaginei que teria uma.
Caspian apertou minha mão suavemente e me encorajou a continuar.
— Eu estava tão focada em apenas sobreviver no dia a dia que não
pensei que o amor fosse possível, — eu disse, sentindo as lágrimas caírem
pelo meu rosto. — Eu não pensei que estava nas cartas para mim, mas...
— Mas então eu conheci você, Caspian. Eu sorri apesar das lágrimas.
— Você me mostrou o quão errada eu estava. Você me fez ver que eu era
tão digna de amor quanto qualquer outra pessoa. — Lyla estava
praticamente chorando, mas ela se recompôs para continuar a
cerimônia. — Boa sorte depois disso — disse ela a Caspian.
— Eu... eu sabia que você era especial desde o momento em que te
conheci, — ele disse, suas mãos começando a tremer. — Você inspira as
pessoas com esperança todos os dias. Você me inspira todos os dias.
— Eu me sinto tão sortudo por estar aqui com você, no local onde
mudamos de forma pela primeira vez, — ele continuou. — Foi aqui que
eu percebi que você era minha companheira. Portanto, é apropriado que
aqui seja onde eu me comprometo a ser seu companheiro para todo o
sempre.
Meu coração se encheu de amor com as palavras de Caspian.
Estávamos unidos para o resto da vida.
— Pelo poder investido em mim pela Sagrada Ordem da Deusa da
Lua, eu agora os declaro companheiros, — Lyla disse, radiante.
Eu nunca estive mais feliz do que neste exato momento.
— BEIJEM-SE JÁ! — Lyla gritou, assustando nós dois.
Caspian me agarrou em seus braços e colocou seus lábios macios nos
meus. Meus problemas pareciam estar a um milhão de quilômetros de
distância. Mas mesmo quando esses problemas retomassem, Caspian
estaria ao meu lado.
Quando finalmente nos separamos, Lyla nos deu um grande abraço.
— Isso foi lindo, — disse ela. — Estou tão feliz que vocês dois se
encontraram neste mundo louco.
— Muito obrigada por fazer isso, — eu disse. — Significa muito para
nós dois que você esteja aqui.
— Eu gostaria que Sebastian estivesse aqui para ver isso, mas ele vai
me ouvir falar sobre isso nos próximos meses, — ela disse, enxugando as
lágrimas. — Vou voltar para a cidade e dar a vocês dois um pouco de
espaço.
Caspian deu a ela um sorriso agradecido. — Obrigado por tudo, Lyla.
Caspian
Meu coração bateu forte quando meu olhar voltou para a minha
companheira.
Éramos apenas nós dois agora.
E ainda havia mais uma tradição de cerimônia de acasalamento para
ser cumprida.
Coloquei minha mão nas costas de Adele e gentilmente a deitei em
uma cama de lírios.
Ela parecia um anjo, as flores brilhantes criando um halo ao seu redor.
Tirei meu paletó e me deitei em cima dela, beijando-a suavemente.
— Está tudo bem? — Eu perguntei, querendo que fosse perfeito.
— Está mais do que bem, — respondeu ela. — Isso é tudo que eu
poderia sonhar.
Eu lentamente retirei seu vestido branco pela cabeça, deixando-a nua
entre os lírios.
Seu corpo parecia tão delicado e bonito.
Sua pele era lisa e seus mamilos macios pareciam suculentos em cima
de seus seios celestiais.
Beijei seu pescoço enquanto removia minha camisa e calças. Quando
nossa pele nua se tocou, senti a paixão fluindo em minhas veias.
Mesmo que tivéssemos aproveitado dos corpos um do outro em
muitas ocasiões, esta noite parecia que era a primeira vez novamente.
Minha masculinidade endureceu ao mais leve toque. Eu estava pasmo
com a magnificência da minha companheira; eu sabia que não merecia
alguém tão especial.
Ela era como uma deusa, e eu, apenas um mortal.
Ela estremeceu quando meus lábios roçaram suavemente seu ombro.
Era onde eu iria marcá-la, nos unindo para o resto da vida.
Mas ainda não.
Eu esperaria até que estivéssemos no auge da paixão, quando seria o
mais intenso.
Eu empurrei minha masculinidade dentro de seu sexo enquanto seus
dedos se enredavam no meu cabelo.
Seus gemidos cheios de prazer despejaram combustível em meu fogo.
Estávamos esquentando rápido.
Meus movimentos se tomaram mais difíceis e determinados quando
ela me agarrou com força.
Eu queria que ela não sentisse nada além de êxtase.
Talvez então ela pudesse esquecer todas as dores e sofrimentos que
enfrentou, mesmo que apenas por um momento.
Eu queria dar a ela esse presente.
Quando olhei em seus olhos, não vi nada além de amor.
Eu senti -nada além de amor.
Este é o momento.
Eu abri minhas mandíbulas e meus caninos se estenderam.
À medida que nossos corpos se entrelaçavam e nossas almas se
tomavam uma, parecia que apenas nós dois existíamos neste mundo.
Nós desligamos todo o barulho, tudo fora do nosso próprio coração.
Estar dentro de minha companheira nunca foi tão curativo,
reconfortante.
Ela me deu tudo...
Ela me fez sentir completo...
E eu faria o mesmo por ela.
Mordi o ombro de Adele e ela gritou, não de dor, mas em pura euforia
arrebatadora.
Eu também senti isso.
Eu me lembraria desse sentimento para sempre, e isso me daria força
e conforto quando eu mais precisasse.
Nosso amor nunca seria quebrado.
Nosso amor não poderia -ser quebrado.
Era impenetrável.
E juntos, eu sabia que poderíamos enfrentar qualquer coisa.
Lyla

Quando cheguei em casa, senti um vazio.


Apesar de quão feliz eu estava por Adele e Caspian, o amor deles só fez
meu coração doer por Sebastian ainda mais.
Desejei ter dito uma versão de meus próprios votos a Sebastian antes
de ele partir. Havia tanta coisa que eu queria dizer.
Meu telefone começou a zumbir e eu olhei para ele com esperança.
Mas não era Sebastian...
Achilles: Ei, precisamos conversar Achilles: Eu quero me
desculpar por ontem Achilles: Eu não estava ouvindo Achilles:
Mas estou pronto para ouvir agora Achilles: Posso ir aí?

Lyla: Ok

Lyla: Estou me sentindo um pouco péssima Lyla: Um amigo


poderia me ajudar Achilles e eu servimos o vinho mais cedo e já
estávamos começando a nossa segunda garrafa.
Tentei evitar o assunto da Deusa da Lua, mas depois de uma garrafa
de vinho, era inevitável.
Achilles jurou -que pararia.
Eu tinha minhas dúvidas, mas esperava que ele estivesse dizendo a
verdade.
Apesar do nosso passado, eu realmente tinha gostado do cara.
Nosso relacionamento não era tão profundo, mas era bom ter alguém
para desabafar.
A Deusa sabe que Adele e Caspian já estão fartos de seus próprios
problemas sem que eu continue insistindo.
Achilles ouviu atentamente enquanto eu falava sem parar sobre a
ansiedade da separação do meu companheiro, e eu apreciei isso.
— Pelo menos você tem um companheiro, — Achilles disse um pouco
amargamente. — Acho que nunca vou encontrar a minha.
— Você é louco? — Eu perguntei, enchendo meu copo. — Você
praticamente conquistou a Deusa! Acho que você vai se sair bem no
namoro.
— Você realmente acha isso? — ele perguntou, se aproximando um
pouco mais.
— Sim, você é um partidão, — eu disse casualmente. — Você pode
conseguir quem quiser.
— E se... — Achilles me olhou nos olhos com uma intensidade que eu
nunca tinha visto antes e meu coração deu um pulo.
. —.. E se a pessoa que eu quero for você?
15
PRIORIDADES
Lyla

Meu coração estava disparado enquanto a estrutura muscular de


Achilles pairava sobre mim.
Ele acabou de dizer que me queria?
Como posso responder a isso?
— Lyla, sei que você também sente isso — disse Achilles, colocando a
mão na minha coxa. — Não negue.
— Achilles, estou acasalada! — Eu disse enfaticamente. — Onde
exatamente você acha que isso vai dar?
— Eu não sei, mas você não quer descobrir? — ele perguntou.
Antes que eu pudesse responder, ele me agarrou e esmagou seus
lábios nos meus.
Meus olhos se arregalaram de surpresa e eu imediatamente recuei.
SMACK!
Minha mão deixou uma marca vermelha brilhante na lateral de seu
rosto.
— Que diabos você está fazendo!? — Eu gritei com raiva.
— Me desculpe... eu só pensei... — Pela expressão de seus olhos,
Achilles sabia que tinha feito uma grande besteira.
— Você pensou o quê? — Eu perguntei, minhas garras emergindo de
minhas unhas. — Que você se aproveitaria de mim quando estava me
sentindo vulnerável?
Eu me levantei e recuei. — Eu acho que você deveria ir embora.
— Você está me culpando por tudo isso? Achei que estávamos nos
aproximando! — ele rosnou.
— Estávamos! Como amigos, — eu gritei.
Por que os homens - sempre - tem tanta dificuldade em fazer essa
distinção?
Todo esse tempo, eu esperava que Achilles pudesse mudar, mas talvez
ele sempre fosse o idiota arrogante e competitivo que não sabia quando
desistir.
Achilles com raiva agarrou sua jaqueta e caminhou em direção à
porta. — Claro, amigos. Continue dizendo isso a si mesma, Lyla.
Deusa, ele era irritante! — Você tem sorte de que meu companheiro
não esteja por perto ou...
— Sim, sobre isso... — ele disse enquanto estava na porta. — Onde
está seu companheiro? Porque ele com certeza não está aqui. Talvez ele
precise definir suas prioridades.
Achilles bateu à porta atrás de si e minha espada caiu da parede.
Aproximei-me e a peguei, olhando para meu reflexo na lâmina polida.
Não era Sebastian quem precisava definir suas prioridades...
Era eu.
E finalmente soube quais eram.
Mercer

— Esta cidade precisa definir suas prioridades! Eu gritei, dirigindo-me


à assembleia. — Por muito tempo fechamos os olhos para os vermes que
infestam nossas ruas sagradas.
Houve murmúrios de concordância na apinhada câmara do conselho,
mas não foi o suficiente.
Eu precisava do apoio absoluto deles...
E a melhor maneira de conseguir isso era com medo.
Era a única coisa que convenceria a congregação a colocar dinheiro
em meus esforços.
— Eu não acho que nenhum de vocês realmente entende a gravidade
da situação, — eu disse dramaticamente. — Existem bruxas -entre nós!
Isso fez a multidão tagarelar.
— Isso mesmo! Um dos nossos, Alfa Cornelius, foi brutalmente
assassinado por uma bruxa - dentro de nossas próprias paredes, — eu
gritei, certificando-me de olhar todos os nossos bolsos mais fundos -
diretamente nos olhos. — Quase não havia sobrado dele para identificar
seu corpo.
— Ele era um seguidor devoto da Deusa da Lua e merecia justiça! —
Eu disse, forçando a tensão em minha voz.
Eu não dava a mínima para aquele filho da puta obeso, -mas sua morte
era a desculpa perfeita para irritar a Igreja com a ameaça de bruxaria.
Mestiços não invocavam o mesmo medo que as bruxas faziam,
embora a façanha com o assassino tivesse valido a pena.
— Eu imploro a todos vocês que ajam contra esses pagãos, — eu disse,
circulando o auditório. — Devemos caçá-los e entregar a justiça pela mão
sagrada da Deusa da Lua!
— Aqui, aqui! — várias pessoas gritaram de seus assentos.
Os murmúrios abafados se tomaram uma discussão completa
enquanto todos começavam a discutir ansiosamente as notícias
perturbadoras de bruxas em nossa cidade.
Mas eles não precisam preocupar seus cérebros insignificantes -com os
planos...
Eu já tinha cuidado disso.
— Proponho um novo decreto! — Eu gritei bem alto, acalmando a
congregação. — Uma infestação requer um extermínio! Qualquer pessoa
encontrada envolvida em feitiçaria deve abrir mão de seu direito a um
julgamento e ser queimada na fogueira por seus crimes contra a Deusa!
— Concordo! — alguém gritou.
— Eu também!
— Todos de acordo, diga sim!
— SIM! — a congregação rugiu como uma só.
Meus lábios se curvaram em um sorriso enquanto eu mergulhava no
caos.
Meus sonhos de uma Cidade Santa pura -estavam finalmente se
tomando realidade.

Aproximei-me da Deusa da Lua com absoluta reverência ao entrar em


seus aposentos.
Mesmo que ela não mereça minha reverência...
— Santidade, a assembleia correu muito bem, — disse eu, fazendo-lhe
uma reverência submissa.
— Bom saber, — ela disse em um tom entediado.
— Você encontrou uma solução para o seu problema?
— Sim, Vossa Santidade. Você pode ter certeza de que a cidade estará
agradecendo por sua ação rápida.
— E que ação é essa? — ela perguntou, examinando-se no espelho.
— Seu novo decreto para caçar as bruxas que se refugiaram nas
sombras, — eu respondi.
Esta idiota sem noção não sabe nada sobre sua própria cidade.
— Muito bem, — ela murmurou. — Isso é tudo?
— Eu sei que você nomeou Lyla como sua guarda pessoal, mas eu
estava pensando que ela seria a pessoa perfeita -para colocar no comando
da caçada, — eu disse, tentando soar sincero.
Lyla é a PIOR pessoa para colocar no comando, mas é exatamente por isso
que eu a quero lá.
Será um prazer vê-la falhar novamente.
E então ela estará fora do meu caminho para sempre.
Então eu poderia finalmente focar no que eu realmente precisava para
tomar meus sonhos realidade...
O Véu da Primeira Deusa da Lua.
Foi difícil esconder meu desgosto enquanto eu olhava para a falsa na
minha frente.
Esta criatura vazia e insípida que não fazia ideia de sua inutilidade.
Embora talvez isso soasse muito cruel...
Como uma marionete, ela era muito útil.
Mas ela era apenas o rosto da Igreja - uma fachada - eu era quem
detinha o real -poder.
E quando eu finalmente tivesse o Véu em minhas mãos...
... Esse poder seria infinito.
Sebastian

Meu avião estava se aproximando de Mônaco e a bela Riviera Francesa


tornou-se visível pela minha janela.
As praias rochosas me lembravam das praias do Mississippi.
A água de um azul profundo, os churrascos, o feixe errante do farol...
Eu realmente senti falta disso.
Mas isso nem se compara ao quanto eu sentia falta de Lyla...
Estávamos separados há menos de um dia, mas eu já estava sentindo a
ansiedade da separação.
Era uma coisa muito real para companheiros, e eu já tive que fazer
isso uma vez.
Pelo menos naquela época eu tinha minha alcateia para me distrair,
mas agora estava indo para um território desconhecido.
Quanto mais eu pensava em minha alcateia, mais eu percebia o quão
importante era cumprir minha missão.
Eu estava correndo um risco enorme, vindo aqui e confrontando
Arthur.
Eu não tinha ideia de como ele reagiria... e se não fosse favorável...
Isso pode significar o fim da alcateia real.
Seríamos forçados a nos dissolver em outros grupos, quem quer que
nos acolhesse.
Eu não seria mais um Alfa.
Sem esse título... eu nem tinha certeza de quem eu era. Foi tudo que
eu já conheci.
Eu amava ser um líder e amava minha alcateia. E perder essas coisas...
Era o pior cenário que eu poderia imaginar.
Meus pensamentos estavam ficando muito sombrios. Peguei a revista
de bordo, na esperança de me distrair, mas entrevistas com celebridades
da lista D e palavras cruzadas não iam acalmar minha alma.
A única pessoa que poderia fazer isso era Lyla.
Mesmo que eu não pudesse enviar uma mensagem de texto para ela
do avião, decidi redigir uma mensagem de qualquer maneira, apenas para
me sentir mais perto dela.
Sebastian: Eu nem sei se vou acabar mandando isso, mas queria
que você estivesse aqui. Prometemos que estaríamos sempre um
ao lado do outro. Mas a vida realmente tem dificultado isso
ultimamente. Isso pode me fazer parecer fraco, mas não me
importo. Eu preciso de você aqui comigo. Como minha
companheira. Como minha Luna. E como minha melhor amiga.
Espero que encontremos uma maneira de nos reunirmos em
breve. Porque somos mais fortes juntos.

Lyla

Meu coração batia forte enquanto eu caminhava pelos corredores da


basílica.
Eu já me decidi.
Não há como recuar agora.
Mercer me chamou para uma reunião, e seu momento não poderia ter
sido melhor.
Eu tinha algumas coisas que queria tirar do meu peito blindado.
Eu preparei meus nervos ao me aproximar da sala de reuniões.
Controle-se, Lyla!
Empurrei as portas pesadas e entrei na sala, onde encontrei Mercer e a
Deusa da Lua esperando por mim.
Achilles também estava lá, embora não me olhasse nos olhos.
— Bem-vinda, Lyla, — Mercer disse em seu tom áspero. — Temos
muito que discutir.
— Sim, temos, — respondi, provocando uma expressão inquieta em
seu rosto.
Enquanto se recompunha, ele começou a falar. — Você vai liderar o
novo...
— Na verdade, acho que vou falar primeiro, — eu disse
laconicamente, interrompendo-o.
Eu arranquei minha armadura, peça por peça, e a deslizei pela mesa
comprida, onde ela derrapou até parar na frente da Deusa da Lua.
Ela olhou para mim como um cervo pego pelos faróis.
Respirei fundo e senti com cada fibra do meu ser que estava tomando
a decisão certa.
Minhas prioridades estavam finalmente em ordem.
— Eu me demito, porra.
16
DO LUXO AO LIXO
Sebastian

Respirei a brisa salgada do oceano; as vistas deslumbrantes de Mônaco


se espalham diante de mim. O sol poente pintou a cidade em lindas
laranjas e vermelhos profundos, o tom dos meus óculos de sol dando ao
meu entorno uma qualidade quase assustadora e misteriosa.
Mônaco gotejava riqueza.
Supercarros enchiam as estradas, modelos de moda descansavam nas
varandas dos cafés e qualquer passante aleatório estava envolto em
roupas de grife e joias obscenamente caras.
Era um mundo com o qual eu estava muito familiarizado e, até
recentemente, fazia parte.
Agora, aqui estava eu, sentado no topo de um ônibus de dois andares
em vez de uma limusine com chofer.
Acho que nunca tinha pegado transporte público antes, e não era algo
com o qual eu queria me acostumar.
Mas, a menos que eu pudesse convencer meu tio a desembolsar algum
dinheiro, teria de começar a pesquisar os preços das passagens de ônibus.
Tentei abafar o som de um bebê chorando sentado atrás de mim, mas
não importa o quanto eu tentasse, os gemidos da coisa sempre
quebravam minha barreira mental.
Eu verifiquei três vezes quantas paradas eu ainda tinha antes de poder
escapar do ônibus.
Quase lá.
Mônaco era uma cidade grande, e meu tio Arthur possuía uma
enorme propriedade que até mesmo diminuía a Casa da Alcateia Real.
Completa, com segurança 24 horas e portões dourados reluzentes,
você pensaria que o lugar era uma espécie de embaixada, em vez de uma
casa particular.
Mas não era para lá que eu estava indo. Eu não chegaria a menos de
um quilômetro da porta antes que sua segurança me prendesse e me
jogasse no oceano.
Por mais magnífica que fosse sua casa, duvidei que meu tio réprobo
passasse muito de seu tempo lá.
O ônibus dobrou a esquina, meu destino finalmente à vista.
O prédio era lindo. Lembro-me de ouvir entusiastas falarem sobre sua
arquitetura neoclássica, suas portas em arco e frontão, seus murais de
inspiração barroca e renascentista italiana.
Nenhuma dessas palavras significava nada para mim.
Tudo que eu sabia era que quem projetou o lugar tinha um gosto
incrivelmente bom - e incrivelmente caro.
Saltei do ônibus, olhando para os degraus de mármore, jardins bem
cuidados e fontes deslumbrantes.
O Grand Casino.
Um gêmeo menos conhecido do famoso Cassino de Monte Cario, o
Grand Casino era um paraíso para lobisomens super-ricos e outros
clientes da variedade mais sobrenatural.
E eu apostaria minha vida inteira que o tio Arthur estava lá agora,
apostando uma fortuna.
Eu marchei escada acima, recebendo alguns olhares de desaprovação
de outros clientes em seu caminho. Todo mundo era obviamente
incrivelmente rico, e eles se vestiam para mostrar isso com seus vestidos
esvoaçantes e smokings sob medida.
Mesmo em meu oxford e suéter - que não era uma roupa surrada de
forma alguma - eu me sentia deslocado com toda a elegância ao meu
redor.
Aproximei-me do porteiro corpulento, mostrando-lhe minha AD de
Alfa. Sua mão carnuda agarrou meu ombro, me impedindo de passar.
— Desculpe garoto, você não tem permissão para entrar.
Minha mandíbula apertou de raiva. Eu tive que resistir à vontade de
jogar esse idiota escada abaixo e forçar meu caminho.
— Eu sou o Alfa da Alcateia Real, — eu disse o mais calmamente que
pude.
— Isso não significa merda nenhuma, agora que sua alcateia está no
fundo do poço, — o porteiro falou lentamente.
TODO MUNDO sabe que estou falido?
Virei-me para enfrentar o porteiro.
— Mova-se, — eu disse, minha voz perigosamente baixa.
Ele olhou para mim, não intimidado.
— E o que você vai fazer se eu não fizer isso? — Meus braços
começaram a tremer, o desejo de mudar quase insuportável. Senti meus
ossos começarem a se estender, meus músculos se expandindo...
O porteiro também percebeu.
Ele deu um passo para trás, pegando uma arma nas costas. Outros
guardas perceberam e se aproximaram um pouco mais.
Respirei fundo pelo nariz
Atacar agora não me ajudaria.
Eu me virei sem outra palavra, descendo as escadas. Eu teria que
encontrar outra maneira de entrar.
Ouvi o porteiro zombar e pude sentir seu olhar queimando minhas
costas.
Cheguei ao pé da escada e olhei para o Grand Casino que se erguia
acima de mim.
Vou entrar, mesmo que seja a última coisa que eu faça.

Eu observei o salto para o duto de ar, tentando calcular a distância em


minha cabeça.
Sim, acho que posso fazer isso.
Do contrário, a segurança do cassino estaria limpando minhas
entranhas do afiado portão de ferro forjado que cercava a propriedade.
Eu passei os últimos momentos da luz do dia vasculhando o terreno
do cassino, e agora a noite havia caído. Avistei uma grande saída de ar e
subi furtivamente no telhado de um prédio vizinho para contemplar o
salto.
Bater no respiradouro provavelmente faria algum barulho, mas não
havia como evitar. Eu só teria que entrar e me misturar com os grandes
apostadores antes que os guardas pudessem vir e investigar.
Eu mudei de forma, deixando minhas roupas abandonadas no
telhado.
Recuei lentamente, dando-me o máximo de espaço possível para
começar a correr.
Não estrague tudo, Sebastian.
Corri para frente, reunindo minha força debaixo de mim para um
salto enorme. Meu pelo preto era uma sombra contra o céu noturno.
Eu estava na metade do caminho para a ventilação quando percebi
que minha forma de lobo era grande demais para a ventilação.
Porra, porra, porra, porra...
Eu mudei de volta para minha forma humana em um instante. Meus
antebraços se chocaram contra a grade de metal, quebrando com um
estrondo. A dor passou por mim enquanto eu entrava no respiradouro.
Eu soltei, adrenalina correndo em minhas veias.
Acertei em cheio.
Eu rastejei pelas aberturas, eventualmente encontrando uma saída
embaixo que dava para o que parecia ser um banheiro masculino.
Eu caí bem na frente de um homem, uma expressão chocada em seu
rosto.
Inferno, eu ficaria surpreso também, se algum cara nu caísse do teto.
Ele abriu a boca para gritar, mas eu me lancei para frente e o
nocauteei com um único soco.
Eu o segurei antes que ele pudesse cair e bater sua cabeça no chão. Eu
o arrastei para uma cabine e comecei a desabotoar seu temo.
Desculpe, amigo.
O temo era um pouco apertado para mim, mas funcionou bem o
suficiente. Saí do banheiro e vaguei pelo cassino, misturando-me com a
multidão.
Cada centímetro deste lugar gritava riqueza. Os malditos garçons
estavam vestidos com roupas Gucci e Armani sob medida. Eu duvidava
que a realeza de países inteiros tivesse tanto dinheiro quanto a riqueza
acumulada neste edifício.
Eu estava acostumada com o luxo, mas nada disso assim.
Observei, fascinado, uma mulher mais velha se sentar à mesa de
blackjack. Ela jogou descuidadamente na mesa o que devia valer milhões
de dólares em fichas.
Ela bateu duas vezes na mesa, com preguiça de dizer — as cartas! —
em voz alta.
— Dezoito, — disse o traficante.
Mais duas batidas.
— Vinte e três, — disse o dealer, reivindicando suas fichas.
Ela bocejou, claramente entediada.
Como alguém poderia bocejar de tédio depois de perder literalmente
milhões de dólares -estava além da minha compreensão.
Se eu pudesse pegar algumas fichas, a Alcateia Real ficaria bem por muito
tempo...
Uma risada alta e barulhenta me afastou de meus pensamentos de
roubo.
Mesmo depois de todos esses anos, eu a reconheceria em qualquer
lugar.
Fui até uma mesa de pôquer e o vi.
Tio Arthur.
Ele usava um temo roxo bombástico, os punhos de sua jaqueta
forrados com pele. Seus dedos estavam cheios de anéis, as pedras
brilhando na luz. Arthur parecia uma versão barata de um vilão de James
Bond.
Supondo que versões baratas e falsas usassem roupas que
provavelmente valiam mais do que uma casa.
Meu tio estava recolhendo seus despojos, uma minúscula montanha
de fichas caindo para o seu lado da mesa.
— Melhor sorte da próxima vez, Gaston.
Gaston, um velho sujeito de aparência corpulenta, bufou e saiu da
cadeira, com o rosto vermelho.
Eu deslizei para o assento livre antes que alguém pudesse ocupar o
lugar.
Eu olhei para meu tio, mas ele estava muito ocupado contando suas
fichas.
— Eu acho que terminei por esta noite, — ele disse sem olhar para
cima. — E melhor você encontrar um oponente diferente.
— Eu acho que você deveria ficar, — eu rosnei. — Eu insisto.
Arthur olhou para cima quando ouviu minha voz, um sorriso
divertido puxando seus lábios.
— Bem, olhe o que o lobo fez, — disse ele.
— Você bloqueou minhas chamadas.
— Não brinca.
— Com licença, senhor, — disse o dealer, olhando para mim. — Esta é
uma mesa de apostas altas apenas. Se você não tem nenhum chip...
Antes que alguém pudesse reagir, inclinei-me e peguei um chip da
pilha do meu tio, colocando-o na minha frente.
Os guardas pareceram se materializar do nada, movendo-se para me
prender.
Eu me preparei para uma briga, mas meu tio levantou a mão, parando
os guardas.
— O que o seu traseiro está fazendo em Mônaco? — ele me perguntou
ironicamente.
— Você sabe por que estou aqui, — eu disse. — A Alcateia Real precisa
de ajuda.
Arthur riu de novo, sua gargalhada idiota ecoando por todo o cassino.
Seu rosto parece tão socável agora...
— E por que eu deveria me importar com a Alcateia Real mesmo?
— Porque somos uma família.
— Família, — Arthur cuspiu. — Somos uma família apenas quando é
conveniente para todos vocês. Meu irmão me odiou até o túmulo. Se seu
legado podre morrer com ele, então eu digo boa viagem.
Eu bati minhas mãos na mesa, pilhas organizadas de fichas fritas
transformadas em montes bagunçados.
— Ouça aqui, seu pedaço de...
— Vamos manter as coisas civilizadas, sim, cavalheiro?
Virei-me para encontrar uma bomba absoluta de uma mulher se
aproximando de nossa mesa.
Ela estava vestida com um vestido longo de ouro cintilante, o tecido
aderindo às suas curvas de todas as maneiras certas. Uma fenda
tentadora foi cortada na saia, expondo sua perna. Seu cabelo ruivo caía
em ondas delicadas, seus olhos castanhos brilhando sob os lustres
vistosos.
O queixo de meu tio caiu, e o meu também.
O que diabos ELA estava fazendo aqui?
Eu finalmente encontrei minha voz.
— Lyla?!
17
CHIPS 'N DIP
Lyla

Eu desfiei em direção a Sebastian e seu tio em meus saltos altos,


apreciando suas expressões de queixo caído.
Quando Teresa insistiu pela primeira vez para que eu trouxesse este
vestido para a Cidade Santa, eu realmente não vi por quê. Eu não estava
lá para assistir a nenhum baile ou festa de gala, e provavelmente ficaria
presa na armadura de Guardiã da Lua na maior parte do tempo lá.
Mas depois de ver os olhos de Sebastian se arregalarem ao me ver,
decidi que sempre confiaria no julgamento de Teresa no futuro. Se
aquela garota sabia de uma coisa, eram vestidos.
Também tomava muito fácil passar pelo porteiro.
Eu caminhei até os dois homens; eu podia sentir o olhar de todos ao
meu redor.
— Lyla?! — Sebastian disse.
Sebastian e seu tio se levantaram e eu me movi para enlaçar meu
braço com o do meu companheiro.
— O que você está...
Estendi a mão e dei um beijo na bochecha dele para interrompê-lo.
— Você poderia ter esperado que eu ficasse pronta antes de você
partir, — eu disse, piscando para Sebastian.
— Eu gostaria que ele tivesse esperado, — disse o homem que presumi
ser seu tio.
Virei meu olhar para ele, sorrindo agradavelmente.
— Arthur, — disse ele enquanto pegava minha mão e a beijava. — É
um prazer conhecer você.
Senti um estrondo crescer no peito de Sebastian e apertei seu braço
para tentar acalmá-lo.
Um arrepio de inquietação percorreu meu corpo com o toque de
Arthur, mas não deixei transparecer em meu rosto.
Se aprendi alguma coisa na Cidade Santa, foi como mascarar minhas
emoções.
Eu dei a Arthur meu sorriso mais cativante.
— Oh, o prazer é meu, — eu disse, falando sério. — Eu posso ver que
ser bonito é de família.
A risada de Arthur foi tão alta que irritou meus ouvidos.
— Que encantadora você é, — disse ele.
— De qualquer forma, — Sebastian interrompeu, claramente
impaciente. — A Alcateia Real...
— Você realmente deve vir à minha casa para que eu possa jantar com
você, — Arthur disse, ignorando Sebastian completamente. — Eu
realmente preciso -conhecê-la melhor.
O bíceps de Sebastian inchava sob meus dedos, e eu sabia que ele
estava no limite de sua paciência.
Eu tinha que encerrar isso rapidamente.
— Que tal fazermos uma aposta amigável? — Eu perguntei.
Sebastian

— Oh? Que tipo de aposta você tem em mente? — meu tio perguntou
com um sorriso malicioso.
O que diabos está acontecendo?
Lyla não tinha deveres de Guardiã da Lua? O que ela estava fazendo
fora da Cidade Santa? E o que diabos ela estava fazendo flertando com
meu tio?
Lyla apertou meu braço, seu olhar fixo em Arthur.
Eu cerrei meus dentes, me forçando a ficar parado.
Eu tinha que confiar nela.
Foi uma boa coisa Lyla ter vindo quando ela veio. Se eu fosse deixado
sozinho, eu já teria enviado meu tio estúpido voando por todo o cassino -
logo antes de minha bunda ser expulsa de Mônaco.
Lyla avançou, uma sedutora em ação. Seus saltos acentuavam as
formas perfeitas de suas pernas, e o vestido apresentava um decote
generoso.
Ela parecia tão sexy, -mas eu não gostava de todos os outros homens
olhando para a minha Luna.
Especialmente meu tio de merda.
— Jogamos uma rodada rápida de pôquer, — disse Lyla. — Quem é
forçado a deixar a mesa primeiro perde.
Lyla caminhou em um círculo lento em volta do meu tio.
— Se eu ganhar, você tem que nos ouvir. Mas se você ganhar...
Lyla estava atrás dele agora e colocou os braços em volta da cintura de
Arthur. Ela se apoiou em suas costas, seus lábios contra sua orelha.
— Então você pode me convidar para jantar. E podemos nos conhecer
muito bem.
Achei que fosse explodir de raiva ali mesmo. Eu vi vermelho. Meus
braços tremeram, meu corpo inteiro me implorando para mudar e rasgar
qualquer coisa e tudo ao meu redor.
Mas consegui me controlar.
Lyla tem um plano.
Repeti isso para mim mesmo como um mantra.
Meu tio estava sorrindo de orelha a orelha.
— Por mais tentadora que seja esta aposta, você precisa de fichas para
jogar pôquer. E se você não tem nenhum, então isso significa...
— Eu tenho, — ela disse.
Lyla caminhou de volta em minha direção, sentando-se na minha
cadeira à mesa de pôquer. Ela pegou o único chip que eu havia tirado da
pilha de Arthur antes.
— Isso é tudo que eu preciso para forçá-lo a sair.
Arthur começou a rir e, desta vez, não estava sozinho. Alguns outros
jogadores começaram a rir da declaração impossível de Lyla.
Como ela deveria forçar Arthur a sair da mesa com apenas uma ficha?
Ela teria que ser algum tipo de prodígio do pôquer.
E se eu conhecia meu tio, ele provavelmente era a coisa mais próxima
de ser um.
Até eu tive dificuldade em descobrir o que Lyla estava fazendo.
Eu olhei para ela. Ela parecia incrivelmente calma e composta, um
sorriso confiante nos lábios.
— Você tem um acordo, — disse Arthur enquanto se sentava. Ele
olhou Lyla de cima a baixo com olhos lascivos. — Vou gostar de receber
você para jantar.
Lyla

Eu nunca tinha jogado pôquer antes na minha vida.


Minha experiência inteira se limitou ao que eu tinha visto nos filmes.
Observei Arthur dar uma olhada em suas cartas do outro lado da
mesa. O sorriso sempre presente em seu rosto se foi, e o brilho malicioso
em seus olhos havia desaparecido.
Ele estava completamente desprovido de emoção.
Boa cara de pôquer
Eu o espelhei, dando uma olhada em minhas próprias cartas.
Um sete de ouros e um três de copas.
Eu não conhecia muito bem o jogo, mas tinha a sensação de que
minhas cartas não eram as melhores.
Antes mesmo que o dealer começasse a revelar o conjunto para nós,
Arthur jogou uma ficha.
Eu olhei para o único chip que eu tinha.
Ele quer terminar tão cedo.
Isso é muito ruim. Eu queria demorar um pouco mais.
Eu joguei minha única ficha também, igualando sua aposta.
— Devemos apenas parar de brincadeira? — ele perguntou-me. — Se
você quisesse jantar comigo, você poderia apenas ter perguntado. Isso
teria salvado todos nós desse aborrecimento.
Algumas pessoas ao nosso redor riram.
Eu olhei para Sebastian. Ele estava tão impassível quanto Arthur, mas
tive a sensação de que ele estava pronto para entrar em ação a qualquer
momento.
— Estou desapontada, Arthur. — Eu tranquei olhares com ele
enquanto tentava manter o nervosismo fora da minha voz. — Eu não
imaginaria que você fosse um trapaceiro.
Toda a alegria sumiu do rosto de Arthur.
Embaixo, vi um assassino de sangue frio.
A multidão ao nosso redor ficou mortalmente quieta.
Meus batimentos aceleraram, os cabelos da minha nuca se arrepiaram.
Aqui vamos nós.
Sebastian

A tensão em volta da mesa era tão densa que eu mal conseguia


respirar.
Parecia que o menor movimento faria toda a situação explodir. Eu
podia sentir o cheiro da promessa de violência no ar.
E eu adorei isso.
Agora é disso que estou falando.
Chega de rodeios.
Se alguém tivesse um problema, poderíamos ter uma conversa com
nossos punhos.
— Nós não consideramos acusações de trapaça levianamente aqui no
Grand Casino, — Arthur disse, sua voz aparentemente firme.
Meu tio raramente falava baixinho.
E quando o fez, eu sabia que ele estava chateado.
Lyla deu de ombros, levando tudo na esportiva.
Mesmo que ela pudesse ser tão fogosa e apaixonada quanto eu, ela
definitivamente sabia como lutar essas batalhas psicológicas melhor do
que eu.
— E eu também não as faço levianamente, — disse Lyla. — Mas você
realmente achou que eu não notaria você enfiando aquelas cartas no
bolso da jaqueta?
As mãos de Arthur foram para os bolsos do paletó instintivamente.
— O que diabos você...
Ele congelou.
Todos ao redor da mesa olharam para ele com expectativa.
Lyla piscou, a imagem da inocência.
— Por que você não mostra para o resto de nós? — ela perguntou
docemente.
Arthur jogou as duas cartas na mesa.
Ases de bolso.
Um suspiro coletivo ecoou daqueles ao nosso redor. Fiquei tão
chocado quanto eles. Meu tio podia ser um canalha, mas até eu achei
difícil acreditar que ele trapacearia em uma mesa de pôquer.
Como diabos...?
Então me lembrei do ato de sedutora de Lyla, como ela colocou os
braços em volta da cintura de Arthur.
Foi quando ela colocou os cartões?
Um guarda do cassino aproximou-se de Arthur e colocou a mão firme
em seu ombro.
Arthur olhou para Lyla com um sorriso malicioso no rosto.
— Muito inteligente, — disse ele.
Meu tio de repente agarrou um punhado de suas fichas e girou,
jogando-as no rosto do guarda. Quando o guarda o soltou surpreso.
Arthur saltou para a mesa de pôquer, espalhando fichas e cartas
enquanto o fazia.
Um guarda pulou nele, mas ele passou por cima dele, saltando para
uma mesa de blackjack vizinha. Arthur continuou esquivando-se dos
guardas um após o outro, chutando-os enquanto fazia o máximo de
confusão possível.
— Você sabe onde me encontrar! Amanhã à tarde! — ele gritou para
nós enquanto abria caminho através do cassino em direção à saída.
Observei enquanto ele abria caminho pela multidão como um louco.
Era quase como assistir a uma comédia pastelão, o palco inteiro do
cassino Arthur. Ele ria enquanto caminhava, desaparecendo pelas portas
da frente.
Passei meu braço em volta da cintura de Lyla, puxando-a para perto.
— Onde você aprendeu a fazer isso? — Eu perguntei. — Você aprende
alguns truques depois de trabalhar na Cidade Santa. Especialmente para
uma cobra como Mercer, — ela disse.
Eu ri, inclinando-me para um beijo rápido.
Memórias da enorme propriedade de meu tio passaram pela minha
mente, seu convite ainda pairando no ar.
— As coisas estão prestes a ficar interessantes...
18
RELÍQUIAS
Lyla

Sebastian e eu nos sentamos na parte de trás de uma limusine,


observando a paisagem noturna passando pelas janelas.
Tínhamos deixado o pequeno hotel em que estávamos hospedados
apenas para encontrar um veículo de luxo esperando por nós no meio-
fio. Acho que Arthur não costumava se conter quando recebia
convidados.
Eu me servi do minibar da limusine, abrindo uma garrafa de
champanhe.
Sebastian não hesitou em se dar ao luxo também. Suas bochechas
incharam quando ele tomou um gole de champanhe direto da garrafa.
— Calma aí, — eu provoquei. — Vamos ter que estar pelo menos um
pouco sóbrios para lidar com seu tio.
Sebastian acenou com a cabeça, os ombros tensos.
— Só uma coisinha para relaxar. — Ele sorriu para mim, embora eu
pudesse ver que ele estava um pouco tenso. Ele provavelmente estava
sentindo a pressão de nossa missão.
Eu disse a Sebastian que tinha saído dos Guardiões da Lua ontem à
noite depois que voltamos do cassino. Sebastian não discutiu minha
decisão de forma alguma. Ele me segurou em seus braços, e eu ainda
podia ouvir as palavras que ele sussurrou para mim na noite passada.
Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço.
Tive uma sorte incrível de ter alguém tão carinhoso e compreensivo
quanto meu companheiro.
Ainda assim, desde que eu disse a ele, Sebastian estava no limite.
Seu tio era nossa esperança final.
E pelo pouco que eu sabia sobre Arthur, sua ajuda não viria fácil.
— Do que seu tio realmente gosta? — Eu perguntei. — Ele parece o
tipo que adora ser o centro das atenções. Mas algo me diz que é apenas
uma atuação.
— Ele sempre foi a ovelha negra da família, — disse Sebastian. Ele
olhou melancolicamente pela janela enquanto subíamos o longo
penhasco, o oceano escuro cintilando lá embaixo. — Ele e meu pai nunca
se deram bem e ele se afastou cada vez mais.
— Até que finalmente eles pararam de se falar completamente, — eu
adivinhei.
Sebastian sorriu. — Arthur nunca quis ser responsável por uma
alcateia. Mas meu pai insistiu que era seu dever. Eles simplesmente
nunca concordariam.
Nós nos acomodamos em nossos assentos, ambos perdidos em nossos
pensamentos. O tempo passou e ainda não havia sinal da casa de Arthur.
Bati na janela de vidro que nos separava do motorista. O motorista o
abaixou.
— Sim?
— Quanto falta para chegarmos à casa de Arthur? — Eu perguntei a
ele.
— Nós estávamos dirigindo em sua propriedade nos últimos vinte
minutos, madame.
O quê? Sério?
— Oh.
— Não se preocupe. Estaremos na propriedade principal em alguns
momentos.
Agradeci ao motorista e voltei para o lado de Sebastian.
— Quão rico é o seu tio? — Eu perguntei, pasma.
Sebastian só deu de ombros, mas seus olhos se estreitaram em
suspeita.
— Na verdade, estou curioso para saber como exatamente ele ficou
tão rico. Nossa família sempre foi rica, mas isso...
As palavras de Sebastian foram sumindo quando a casa de Arthur
apareceu.
. —.. Isso é outra coisa, — Sebastian terminou.
Bem, casa não era exatamente a palavra certa.
Mansão? Conjunto habitacional?
Palácio?
Fosse o que fosse, era enorme. Parecia ter cinco andares de altura,
todo o lugar iluminado com holofotes e luminárias deslumbrantes. O
próximo quilômetro ou mais era dedicado a elaborados bosques e jardins,
fontes de mármore cuspindo água no ar noturno.
Estátuas de pedra alinhavam-se na calçada que levava à casa, cada
uma delas esculpida com precisão natural. Todas pareciam ser de Arthur
em várias poses e roupas.
Olhando para toda essa extravagância e riqueza, não pude deixar de
me lembrar de O Grande Gatsby.
Tudo isso poderia ser real?

Nossa limusine parou na calçada curva em frente aos portões


principais, as barras de ferro forjado enroladas para parecerem vinhas de
flores. Nosso motorista abriu a porta para nós quando saímos em um
tapete vermelho.
Sebastian e eu olhamos em volta, completamente atordoados.
Não éramos os únicos hóspedes de Arthur.
Parecia haver um baile completo ocorrendo.
Os super ricos se misturavam nos pátios do lado de fora da casa
enquanto uma orquestra tocava música que flutuava agradavelmente no
ar noturno com aroma de flores.
Este lugar rivalizava até mesmo com a Basílica da Lua na escala de —
quantidade obscena de riquezas.
Nada assim poderia existir em casa, no Mississippi. Inferno, eu ficaria
contente com algumas luzes de Natal penduradas em uma varanda e um
churrasco quente.
— Onde encontramos seu tio? — Eu perguntei a Sebastian.
— Tenho certeza de que ele vai nos encontrar quando quiser. Por
enquanto, devemos examinar o lugar. Descobrir o que está acontecendo.
— Eu sei que a primeira coisa que irei descobrir, — eu disse, olhando
para a enorme mesa de comida. — Estou morrendo de fome.
Sebastian

Lyla e eu nos sentamos perto de uma das fontes enquanto os cupidos


entalhados em mármore cuspiam água de seus jarros.
Enchemos o buxo, deixando uma pequena montanha de pratos vazios
na mesa diante de nós. Muitos dos convidados mais — sofisticados — nos
observaram, suas expressões variando de choque a puro desgosto.
A comida deveria ser apreciada. Não havia nenhuma regra que dizia
que você tinha que parecer elegante enquanto comia.
Ainda assim, nem mesmo a comida deliciosa poderia acalmar
completamente o mal-estar que crescia em meu estômago.
Eu sabia que Arthur não nos ajudaria apenas pela bondade de seu
coração. Ele exigiria que fizéssemos algo por ele em troca.
E a pior parte é que meu tio sabia exatamente o quanto estávamos
desesperados.
Ele poderia me pedir para enfiar talheres nos olhos, e eu teria que
perguntar se ele preferia facas ou garfos com um sorriso no rosto.
Eu cerrei meus dentes, algo pior do que a raiva me corroendo. Levei
um tempo para descobrir o que era. A realização me atingiu como uma
tonelada de tijolos.
Eu sentia vergonha.
Eu era o Alfa da Alcateia Real e estava pronto para ficar de joelhos e
rastejar por um pouco de dinheiro.
Patético.
Senti a mão de Lyla na minha e seu toque salvou-me dos meus
pensamentos.
— Parece que todo mundo está entrando, — disse ela. — Vamos com
o fluxo.
Abandonamos nossa mesa e atravessamos as grandes portas da frente
da casa de Arthur. O interior era tão ridiculamente luxuoso quanto o
resto do terreno.
Teve um efeito estranho e entorpecedor.
Eu só conseguia ver muita riqueza antes de parar de me importar.
Lyla e eu entramos em um grande showroom, onde o chão estava
cheio de vários objetos em caixas de vidro protetoras. Guardas de
aparência séria flanqueavam cada exibição, armas de fogo claramente
visíveis por baixo de seus trajes.
Aproximamo-nos de um dos objetos expostos e parei em estado de
choque.
— O que foi? — Lyla perguntou, olhando para a espada de aparência
medieval. O punho parecia velho e enferrujado, mas a lâmina curva em
forma de cimitarra brilhava como se fosse nova.
— É uma relíquia da lenda do lobisomem, — eu disse, minha voz um
sussurro. — Meu pai costumava me contar histórias sobre isso quando eu
era criança. Esta é a espada de Wulfrun.
Os olhos de Lyla se arregalaram.
— Você quer dizer, o Wulfrun? O príncipe lobisomem que fugiu com uma
bruxa? Esse Wulfrun?
Eu balancei a cabeça, instantaneamente transportado de volta para a
minha cama de infância, ouvindo atentamente as histórias de ninar do
meu pai. A história de Wulfrun foi trágica, e seu amor proibido foi em
grande parte responsável pela segunda grande guerra entre lobisomens e
bruxas.
E pensar que sua espada lendária estava bem ali...
Eu olhei para a etiqueta indefinida colocada antes da espada.
Starcarver.
Antes que eu pudesse me perguntar o que meu tio estava fazendo com
tal relíquia, meus olhos vagaram para a descrição escrita ao lado do
nome.
Bem, mais uma etiqueta de preço.
Eu nunca tinha visto tantos zeros em um único número antes.
A repulsa fluiu por mim.
Este bastardo estava vendendo artefatos.
Meu olhar varreu ao redor da sala para os muitos outros itens à venda.
Nada era sagrado para ele?
— Lyla, você conseguiu! — Viramos para encontrar o próprio diabo
sorrindo para nós, seu temo roxo trocado por um smoking mais formal.
Arthur fez uma reverência, exagerando o movimento. — Suavizar sua
pequena façanha no cassino me custou um pouco.
— Tenho certeza de que você poderia pagar. — Lyla deu de ombros,
sem remorso.
— Bem, você não está errada. — Ele riu, embora sua alegria não
atingisse seus olhos. — E por isso que você está aqui, não é? Pela minha
riqueza.
Eu limpei minha garganta. O bastardo nem olhou na minha direção
uma vez.
Arthur girou nos calcanhares e começou a se afastar.
— Siga-me até meu escritório, — ele chamou. — Vamos conversar lá.
Uma veia saltou em minha têmpora. Eu me perguntei quantos socos
em seu rosto eu poderia dar antes de ser crivado de balas.
Abrimos caminho no meio da multidão, seguindo Arthur para longe
do showroom e por duas portas de mogno cuidadosamente entalhadas.
Seu escritório estava lotado de livros e papéis. Enormes mapas do
mundo cobriam as paredes, várias ferramentas de navegação espalhadas
pelo espaço.
Eu olhei os mapas com interesse.
Muitos deles pareciam familiares. Um mapa detalhado da Europa, um
da África, paisagens topográficas da Amazônia..., mas algumas delas eu
não reconheci. As formas e detalhes não se assemelhavam a nenhum país
ou continente que eu conhecia.
Esses mapas eram mesmo da Terra?
Arthur estava sentado atrás de sua mesa, acomodando-se em uma
poltrona de couro macio. — Então, você quer algum financiamento para
a sua alcateia, — ele disse, indo direto ao ponto. — O que tem pra mim?
E nem comece a falar besteiras sobre família. -Uma palavra disso e
expulso vocês dois.
— Eu já sabia que você não faria isso pela bondade de seu coração, eu
disse. — Diga um preço. Um favor. Se você precisa que algo seja feito, me
considere a melhor pessoa para o trabalho.
— Nós, Lyla disse, entrelaçando seus dedos nos meus.
Doeu meu orgulho vender-me assim mas ter Lyla ao meu lado tomava
tudo suportável.
Arthur olhou para nós por um momento, nos avaliando.
— Tenho certeza de que você viu os itens que exibi esta noite, — disse
ele.
Eu balancei a cabeça, os lábios apertados. Se eu tivesse falado,
provavelmente teria arruinado todas as nossas chances.
— Estou procurando outra relíquia. Aquele que será a magnum opus
da minha coleção particular.
— Você quer dizer que não vai vender este também? — Eu cuspi antes
que pudesse me conter.
Arthur balançou a cabeça, surpreendentemente solene.
— Não, este não tem preço.
— O que é? — Lyla perguntou.
Pode ter sido minha imaginação, mas parecia que a temperatura ao
nosso redor caiu vários graus. Arthur olhou para cima, uma qualidade
assombrada em seu olhar.
— O Véu da Primeira Deusa da Lua.
19
A CALMA ANTES DA TEMPESTADE
Lyla

Ilha de Lupinus. Uma ilha escondida nas brumas, da qual ninguém jamais
voltou.
Ótimo. Mal posso esperar para adicionar meu nome à lista.
Toda criança lobisomem já ouviu histórias sobre a Ilha de Lupinus.
Diz a lenda que a ilha misteriosa foi onde ocorreu a origem dos primeiros
lobisomens.
Mas até conhecer Arthur, era só isso.
Uma história.
Aparentemente, se a noite passada era alguma indicação, cada conto
popular e história de ninar eram verdade. Lembrei-me de todos aqueles
artefatos lendários reunidos em uma sala...
Apoiei-me no parapeito do iate particular de Arthur enquanto
observava as ondas passarem abaixo de nós. O balanço das ondas no
oceano era hipnótico.
Apesar da ideia de uma desgraça iminente, me senti estranhamente
relaxada.
Finalmente, havia um objetivo simples e direto definido diante de
mim. Um que não envolvesse abandonar minhas crenças e navegar por
um mar de mentiras e hipocrisia.
Só precisávamos encontrar um véu velho.
Aquele que pertenceu à primeira Deusa da Lua. Foi na manhã seguinte
ao nosso encontro com Arthur. Ele insistiu em que passássemos a noite,
e então discutiríamos mais detalhes no dia seguinte. Ele ainda tinha um
leilão para fazer.
Sebastian e eu tínhamos nos retirado para um quarto de hóspedes que
não pareceria deslocado em um hotel cinco estrelas.
Um braço enrolado em volta da minha cintura, e o cheiro tentador de
um croissant torrado com manteiga flutuou até meu nariz.
— Café da manhã? — Sebastian perguntou, entregando um para mim.
Eu dei uma grande mordida, suspirando pela descamação
amanteigada.
— Arthur nos chamou para o convés superior, — disse ele.
— Então, ele finalmente vai nos dizer qual é a grande confusão sobre
este véu? — Eu perguntei.
— Provavelmente. Meu tio tem um dom para o dramático.
Atravessamos o iate de luxo e subimos até onde Arthur estava
esperando.
Ele parecia ter saído de um filme de Indiana Jones para a vida real. Ele
tinha a aparência característica: completo com o chapéu alto, a jaqueta
de couro e um chicote enrolado na cintura.
Tentei não revirar os olhos e falhei miseravelmente.
— Pronta para a aventura? — Arthur perguntou, abrindo os braços em
um grande gesto.
— Na verdade, sim, — eu disse, surpresa com a verdade de minhas
palavras. Apesar das apostas e do perigo iminente - ou talvez por causa
disso - a excitação cresceu em meu peito.
— Isto é o que eu gosto de ouvir. — Arthur sorriu. — Não será fácil,
mas não seria uma aventura adequada se fosse, seria?
— Vá direto ao ponto, — Sebastian disse categoricamente. — O que o
impediu de chegar ao Véu antes?
Arthur desinflou, um pouco de sua excitação se esvaindo.
— Vejo que você herdou o senso de diversão do -seu pai, — ele
murmurou.
Arthur tirou uma bússola antiga do bolso da jaqueta. A caixa parecia
ser de ouro maciço, a agulha tremeluzindo erraticamente dentro da
caixa.
— Esta bússola nos mostra o caminho para a Ilha de Lupinus, —
Arthur disse. — Acredita-se que o primeiro templo da Deusa da Lua
esteja lá.
Eu olhei para a engenhoca com desconfiança.
— Você quer dizer a bússola que muda de direção a cada meio
segundo? — Eu perguntei.
Ele assentiu.
Fabuloso.
— Eu contratei alguns caçadores de tesouro para recuperar o Véu para
mim. mas...
— Nenhum nunca voltou, — Sebastian terminou por ele. — O que te
faz pensar que seremos diferentes?
Arthur o encarou, irritado por ter sido interrompido.
— Porque eu encontrei isso, — Arthur disse, sacudindo a bússola em
suas mãos.
— Você quer dizer a bússola que muda...
— Instruções a cada meio segundo, sim, — disse Arthur, exasperado.
— Meus homens lutaram com unhas e dentes por uma dessas coisas.
— Você quer dizer que há mais de uma bússola de merda? — Sebastian
perguntou.
— Não somos os únicos atrás do Véu, — disse Arthur.
— Claro que não. — Meu pulso acelerou, uma sensação ruim no meu
estômago. — E nossa competição é...?
— A Santa Igreja.
Fechei meus olhos, meus medos confirmados.
O longo alcance da Igreja parecia abranger toda a nossa vida, não
importa o que estivéssemos fazendo.
— Existe alguma razão pela qual este véu é tão importante? Eu
entendo que a primeira Deusa da Lua usou, mas é apenas um tecido, não
é?
Arthur não respondeu de imediato. Ele olhou para o oceano infinito
ao nosso redor, imerso em pensamentos.
— A primeira Deusa da Lua foi extraordinária. Uma Deusa literal em
todos os sentidos da palavra.
Seus poderes eram milagrosos. Dobrando a mente. Seus sucessores
ainda eram poderosos, mas longe do mesmo nível de habilidade.
— Dizem que seu poder era tão grande que afetava tudo ao seu redor.
Incluindo as joias e roupas que ela usava. Diz a lenda que se você olhar
através do Véu da Primeira Deusa da Lua, poderá ver o futuro.
Eu escutei atentamente, minha mente varrida em pensamentos sobre
o passado antigo.
Toda essa conversa de poder divino passou pela minha cabeça. Por
alguma razão, não pude deixar de me fixar em como a primeira Deusa da
Lua realmente era.
Ela era tão insuportável e imperfeita quanto nossa atual Deusa da
Lua?
Ela foi gentil?
Piedosa?
Tentei me imaginar em uma posição de poder supremo. Tive a
sensação de que seria insuportavelmente solitário.
Sebastian foi o primeiro a quebrar o silêncio.
— Então, quem pode ver o futuro...
. —.. o controla, — Arthur finalizou.
— E o que você está planejando fazer com algo assim? — Sebastian
perguntou.
Arthur exibiu um sorriso de lobo.
— Isso não é nada para se preocupar. Se você quiser manter sua
alcateia viva, você só precisa me dar aquele Véu.
Eu não gostei do som disso, e pelo silêncio mortal de Sebastian, eu
sabia que ele também não gostou.
Mas não tínhamos escolha.
No mínimo, obter o Véu para Arthur evitaria que ele caísse nas mãos
da Santa Igreja.
— Vocês dois deveriam descansar um pouco, — disse Arthur,
voltando-se para o painel de controle do iate. Ele agarrou o volante
enquanto olhava para o horizonte. — Podemos ficar no mar por alguns
dias. Vou precisar de vocês dois com força total.
Lyla: Como vão as coisas?

Caspian: as coisas ainda estão uma merda, mas estamos


sobrevivendo Caspian: conseguimos montar uma espécie de base
de abastecimento Caspian: não temos muito a compartilhar, mas é
algo Lyla: Só tome cuidado. Mercer é uma cobra, mas ele é
inteligente Lyla: Ele vai jogar você em uma masmorra na primeira
chance que conseguir Caspian: preocupe-se consigo mesma Luna
Caspian: Adele e eu cuidamos disso Eu fiz uma careta para o meu
telefone enquanto me deitava na cama. Nosso quarto no iate era tão
luxuoso quanto o resto do estilo de vida ridículo de Arthur, mas eu não
estava reclamando.
Todo esse luxo foi uma mudança bem-vinda depois de meus
aposentos espartanos no quartel da Guarda da Lua.
Para mim, parecia que Caspian estava subestimando Mercer.
Não era como se eu duvidasse do meu amigo. Eu sabia que ele estava
confiante e mais do que capaz.
Mas ele não conhecia Mercer como eu.
Rolei, me preocupando com o que fazer, quando Sebastian saiu do
banheiro. Ele estava todo molhado.
E completamente nu.
Bem. Caspian terá que se defender sozinho por um tempo.
Sebastian

Eu tracei minhas mãos pelo corpo de Lyla, a sensação de sua pele na


minha me deixando louco de desejo.
Eu acho que nunca me cansaria de sentir seu batimento cardíaco
vibrando sob meus dedos, o formato de seus lábios enquanto ela gemia
meu nome.
Eu me posicionei acima dela, minha masculinidade latejante
pressionada contra seu sexo. Ela se esfregou contra mim, seus quadris
girando sedutoramente.
Eu me afastei.
— Por favor... — ela choramingou.
— Vamos fazer isso devagar, — eu disse, mordendo seu lábio.
Ela gemeu, um sussurro sem fôlego que me deixou querendo mais.
Eu deixei meus lábios traçarem por sua mandíbula, até o pescoço,
sobre a protuberância de seus seios. Eu ia prolongar isso.
Fazer durar.
Meus dedos subiram por suas coxas. Eu os deixei roçar contra seu
clitóris, e ela arqueou as costas, um suspiro escapando de seus lábios.
Eu sorri contra sua pele, apreciando a sensação de ter seu prazer à
minha mercê.
— Você quer mais? — Eu provoquei.
— Sebastian...
Eu trilhei beijos por seu corpo. Eu mal podia esperar para saboreá-la
na minha língua.
Antes que eu pudesse continuar, o barco inteiro sacudiu para cima,
apenas para desabar violentamente um segundo depois.
Lyla e eu cambaleamos, o movimento repentino nos tirando de nossa
intimidade.
Que porra foi essa?
Coloquei uma calça e corri para o convés, Lyla logo atrás de mim
depois que ela vestiu apressadamente a camisola.
Os mares suaves e amenos de antes estavam repentinamente escuros
e tempestuosos. Nuvens raivosas ondulavam acima de nós. Paredes de
spray marinho subiram no ar, batendo no iate.
Corri para a ponte do navio e encontrei Arthur rindo ao volante.
— Você nos levou para uma tempestade?! — Eu gritei, furioso.
— Estamos perto! — ele gritou. — A Ilha de Lupinus nos aguarda!
Mercer

— Misericórdia! — o pagão gritou, seu rosto sujo manchado de


lágrimas.
Nenhuma quantidade de lágrimas irá salvá-lo do que você é.
— Tire-o da minha vista, — ordenei. Apenas estar na presença de
mestiços me deixou nauseado.
O Guardião da Lua arrastou a criatura pelas ruas, seus lamentos
perturbando uma noite perfeita.
O toque de recolher estava funcionando exatamente como eu
esperava. As ruas estavam perfeitas e claras, a beleza da Cidade Santa
imaculada pela ralé que poluía sua perfeição.
Mestiços ofensivos foram presos.
As bruxas estavam acorrentadas.
E todos eles foram jogados nas masmorras para que pudessem
apodrecer juntos.
Magnífico.
As coisas estavam indo bem. Só faltava uma coisa.
— Cardeal.
Virei-me para encontrar Achilles e seu esquadrão de Guardiões da Lua
esperando atrás de mim. Eles não estavam usando sua armadura de
platina pela primeira vez, optando por roupas mais modernas e táticas.
Pesadas mochilas nas costas, as lâminas da Guarda da Luna
embainhadas na altura dos quadris.
— Presumo que você esteja preparado? — Eu perguntei a ele.
Ele assentiu.
Entreguei a ele a bússola de ouro.
— Não vou tolerar o fracasso. Se você não encontrar e trazer para
mim, você e seus homens serão caçados até os confins da Terra. Você
entende?
— Eu entendo, — disse Achilles, sem ênfase.
Passei um olhar crítico sobre os homens reunidos diante de mim e
não fiquei desapontado. Com o rosto sombrio e confiantes, esses
guerreiros preferem morrer a falhar em sua missão.
— Ótimo. Agora me traga o Véu.
20
NA ESCURIDÃO
Caspian

— Tudo bem se eu comer mais um pouco?


Eu olhei para o garoto, seus olhos arregalados e suplicantes. — Claro
que você pode, amigo. — Peguei a tigela vazia de suas mãos e coloquei
outra concha de sopa. — Há muito mais, então não se apresse, ok?
Seu rosto se iluminou como se fosse manhã de Natal. Ele aninhou a
tigela de sopa contra o peito como se fosse a coisa mais preciosa do
mundo e voltou para a mesa para saborear a refeição.
As pessoas que administravam a Cidade Santa tinham muito a responder
Quando Adele e eu encontramos o menino pela primeira vez, ele parecia
que estava às portas da morte.
Suas roupas estavam em farrapos e suas bochechas tão afundadas, sua
pele tão cinza, que pensei que tínhamos encontrado um cadáver.
Eu ainda conseguia me lembrar do cadáver de sua mãe ao lado dele, o
olhar assombrado em seu rosto...
Ele parecia mais saudável agora, as novas roupas que demos a ele
cobrindo mais pele do que apareciam.
Adele entrou com os braços cheios de suprimentos.
Eu me aproximei e a abracei, colocando a comida no balcão.
— Como vão as coisas por aí? — Eu perguntei.
Ela balançou a cabeça tristemente.
— E como uma cidade fantasma. O novo toque de recolher de Mercer
deixou todo mundo apavorado.
— Por que este cardeal tem tanto poder? A Deusa da Lua não governa
a cidade? — Eu perguntei.
— Tecnicamente, ela deveria, — Adele concordou. — Talvez Mercer
apenas a convenceu de que esse era o melhor curso de ação. Afinal,
alguém tentou assassiná-la...
Eu apertei meus braços ao redor dela.
— Cara, isso é uma merda.
Ela acenou com a cabeça contra o meu peito.
Ela saiu dos meus braços e pegou alguns pedaços de pão.
— Nós fazemos o que podemos. — Eu podia ver as lágrimas brilhando
em seus olhos, mas ela sorriu ao se virar para as crianças. — Quem quer
pão?
As crianças levantaram as mãos com entusiasmo, grandes sorrisos em
seus rostos.
Nós as encontramos todas espalhadas pelas favelas, perdidas e
sozinhas. Era sempre a mesma história. Seus pais tinham acabado de sair
e nunca mais voltaram.
Provavelmente graças ao trabalho prático de Mercer Observei enquanto
o sorriso de Adele iluminava a sala, seu entusiasmo era contagiante.
A maneira como ela conseguiu esconder sua tristeza por trás de um
sorriso tão brilhante me deixou pasmo.
Esta mulher é mais forte do que eu jamais poderia ser Juntei-me a eles na
mesa.
Se pudéssemos distrair essas crianças de suas situações de merda por
pelo menos um pouco, então tudo valeria a pena.
Mas não poderíamos fazer isso para sempre.
Coisas precisavam mudar.
E rápido.
Adele

Fechei a porta silenciosamente atrás de mim, as crianças dormindo


profundamente.
Aqueles três não tinham para onde ir e isso partiu meu coração.
Pelo menos eles tinham um lugar para ficar.
Por enquanto...
Caspian e eu queríamos ajudar tanto quanto podíamos, mas nós dois
não podíamos fazer muito.
Claro, essas crianças estavam seguras. Mas havia tantas outras lá fora.
E não apenas crianças. Toda a comunidade estava em necessidade.
A escassa mesada que a basílica me deu para o meu trabalho mal dava
para alimentar essas crianças. Não havia como sustentar mais pessoas.
Desci as escadas e encontrei Caspian rabiscando algo, uma pilha de
papéis na mesa ao lado dele.
— O que é isso? — Eu perguntei enquanto me acomodava em seu
colo.
Eu espiei o papel na frente dele. Parecia ser uma espécie de pôster.
— Eu só pensei em deixar outras pessoas saberem sobre nosso
pequeno espaço aqui, — disse ele. — Sei que não podemos oferecer
muita comida a todos, mas talvez eles tenham um lugar para pelo menos
descansar um pouco.
Eu passei meus braços em volta do pescoço, genuinamente tocada por
seu esforço.
— Obrigada, — eu disse.
— Pelo que?
— Por ser tão altruísta. Você poderia facilmente ter voltado para casa,
para sua alcateia. Você nem é mestiço, mas está arriscando muito para
nos ajudar.
Ele me puxou para perto, as pontas de nossos narizes se tocando.
Fechei meus olhos, apreciando a sensação de seus braços em volta de
mim.
— Somos uma equipe, — disse ele simplesmente.
Eu o beijei, meus lábios leves contra os dele.
Como um homem tão incrível se apaixonou por alguém como eu?
Eu me afastei e seu olhar travou com o meu. Seus olhos ardiam de
desejo enquanto percorriam meus lábios, meu pescoço...
Senti meu rosto começar a queimar.
Eu conheço esse olhar...
Houve um súbito clarão de luz do lado de fora.
Nós dois congelamos.
Caspian olhou pelas janelas da frente, seus olhos se estreitando.
— Você viu isso também? — ele perguntou.
Eu concordei.
Houve uma batida na porta.
O medo tomou conta do meu coração. Já havia passado do toque de
recolher. As únicas pessoas com permissão para sair agora são os
Guardiões da Lua.
E se um Guardião da Lua estava na porta, isso significava...
— Prepare-se para pegar as crianças e correr, — Caspian me disse.
Seus olhos estavam mortalmente sérios. Ele parecia pronto para mudar
de forma a qualquer momento.
— Não há como te deixar...
Toc, toc, toc.
Caspian se moveu para a porta, seus dedos lentamente se alongando
em garras perversamente afiadas.
Eu só podia assistir, meu coração preso na garganta.
Ele abriu a porta e eu prendi a respiração.
— Posso entrar? — disse a voz. Era uma voz suave e feminina.
Definitivamente, não era o som áspero de um Guardião da Lua
intimidante.
Caspian cautelosamente deu um passo para o lado, suas garras ainda
escondidas atrás das costas.
A figura encapuzada entrou, fechando a porta atrás dela.
— O que você está fazendo aqui depois do toque de recolher? —
Perguntou Caspian.
— O toque de recolher não importa muito quando você seria preso à
primeira vista de qualquer maneira. — Ela puxou o capuz. A primeira
coisa que notei foram seus olhos. Eles eram de uma cor violeta profunda
e pareciam brilhar sutilmente mesmo na escuridão.
— Você é uma bruxa, — eu disse antes que pudesse me conter.
Ela acenou com a cabeça.
— Meu nome é Tempeste. Uma amiga de Lyla. — Ela fez uma pausa,
avaliando nós dois. — E nós temos um inimigo comum.
— Inimigo? — Caspian se moveu para ficar ao meu lado, um braço
protetor enrolando em volta da minha cintura. Ele manteve os olhos
fixos na bruxa o tempo todo. Eu nem acho que ele piscou. — A Igreja, —
disse Tempeste. — Eles encontram qualquer desculpa que podem para
prender mestiços. Eles caçam a mim e à minha espécie implacavelmente.
E hora de nos unirmos.
A bruxa deu um passo para mais perto de nós, a determinação
brilhando em seus olhos violeta.
— É hora de revidarmos nessa luta.
Lyla

Eu segurei o corrimão como se minha vida dependesse disso.


O barco subiu na onda, o rugido do motor e a tempestade ao nosso
redor ensurdecedores. Eu tinha certeza de que, a qualquer segundo, nós
simplesmente cairíamos para trás e cairíamos nos braços ansiosos do
oceano agitado.
Mas, no momento final, chegamos ao topo da onda, borrifos
estourando em grandes paredes ao nosso redor. O barco desabou, meu
estômago fazendo o mesmo um momento depois.
Meus braços doíam e meus olhos ardiam por causa da água salgada.
Arthur riu como um maníaco por tudo isso.
— Estamos quase lá! — ele gritou sobre o redemoinho. — Eu posso
sentir!
— Tudo o que posso sentir é que se você não nos tirar dessa
tempestade, estaremos todos mortos! — Sebastian veio correndo do
convés inferior, um corte profundo ao longo de seu antebraço.
Ele fez uma careta quando outra onda bateu em nós, a água salgada
picando seu corte.
— O barco está cheio d’água! — ele gritou comigo. Embora
estivéssemos bem próximos um do outro, tínhamos que gritar para ser
ouvidos.
Eu tropecei em Arthur enquanto ele se esforçava para manter o
volante reto.
— O que a bússola diz? — Eu gritei.
— Estamos perto!
Eu vasculhei seus bolsos até que encontrei. Eu o abri e, para meu
horror absoluto, a agulha estava girando tão rápido que pensei que
pegaria tração e decolaria como um helicóptero.
— Como isso significa perto?! — Eu exigi.
— Confie em mim! — Arthur insistiu.
— Eu não confio em você para merda nenhuma, seu bastardo louco!
— Sebastian trovejou. Ele caminhou até Arthur, e eu sabia que ele estava
se preparando para socá-lo no rosto.
Eu não o culpava exatamente, mas se Arthur perdesse o controle do
volante, estávamos mesmo ferrados.
Eu me movi para bloquear o caminho de Sebastian, mas naquele exato
momento uma onda enorme se chocou contra a lateral do barco.
Fui arremessada pelo ar como uma boneca de pano quando todo o
iate virou na tempestade.
A grade bateu em mim, minhas costelas quebrando dolorosamente
contra o metal. Levantei os olhos bem a tempo de evitar que Arthur
caísse ao meu lado.
O barco começou a afundar e eu sabia que estávamos completamente
à mercê do mar.
E o mar não parecia nem um pouco misericordioso.
Sebastian estava agarrado ao parapeito a alguns metros de mim.
Estendi a mão para ele quando outra onda enorme bateu.
Fui arremessada pelo ar, o tempo diminuindo a velocidade por uma
fração de segundo.
— LYLA! — Sebastian gritou.
Essa foi a última coisa que ouvi antes de cair no oceano. Senti uma
corrente subterrânea selvagem me varrer para baixo das ondas. Meu
corpo foi jogado e girado como uma boneca de pano nas águas escuras,
deixando-me completamente desorientada.
Eu não sabia qual era o caminho para cima ou para baixo.
Eu me debati freneticamente, o pânico absoluto dominando minha
mente.
Mas não adiantou. Não importa o quanto eu tentava, não consegui
encontrar a superfície.
Meus pulmões queimaram, pontos negros nublando minha visão.
E assim que termina?
Todo o ar escapou dos meus pulmões e eu suguei, desesperada por ar.
Água salgada queimou minha garganta, inundando meus pulmões.
Minha visão escureceu.
Meu corpo ficou mole.
Eu flutuei mais fundo na escuridão, minha consciência
desaparecendo.
Sebastian...
21
LUPINUS
Adele

Eu encarei a bruxa, completamente chocada.


Ela disse que deveríamos lutar?
Lutar contra a Santa Igreja?
— Isso não é possível, — eu murmurei.
— E sim — Tempeste disse, sua voz clara e forte. — Admito que
provavelmente não venceremos em um confronto aberto. Mas se os
atingirmos onde dói e recuarmos antes que possam retaliar...
— Como uma guerra de guerrilha, — disse Caspian.
— Exatamente, — disse Tempeste. — Minhas irmãs já abordaram
outras mestiças com a ideia e nós temos apoio.
— Não, — eu disse, balançando minha cabeça. — Não, não era isso
que eu estava tentando fazer. Eu só queria ajudar as pessoas. Eu só queria
fornecer um lugar seguro e um pouco de comida para os necessitados.
— E por quanto tempo você consegue manter isso? — ela me
perguntou. — Quantos você pode ajudar? As coisas só vão piorar.
Eu olhei para Caspian em busca de apoio, mas ele parecia imerso em
pensamentos.
Ele estava realmente considerando isso?
— Especialmente com a ajuda de Lyla. Eu sei que ela é contra o que
eles estão fazendo, mesmo que ela seja parte da Guarda da Lua. —
Tempeste falou com um fervor zeloso que me assustou.
— Lyla se foi — disse Caspian. — Ela deixou a Cidade Santa há alguns
dias.
Tempeste piscou enquanto processava esta nova informação.
— Não importa, — ela decidiu. — Ainda podemos fazer isso.
— Não deveríamos! — Eu insisto. — Violência nunca é a resposta! Eles
vão apenas usar isso como uma desculpa para aumentar seus esforços.
— Minhas irmãs não têm o luxo de esperar as coisas passarem, e nem
você se as coisas continuarem assim. — Tempeste se virou para Caspian.
— Ajude-a ater bom senso.
— Eu entendo o que você está dizendo, Tempeste. Eu realmente
entendo. Estou acostumado com lutas, e muitas vezes não há escolha no
assunto, — disse ele.
Meu coração afundou.
— Excelente, — disse Tempeste. — Então, devemos...
— Mas, — Caspian disse. — Eu não sou a pessoa para decidir isso.
Adele tem muito mais experiência com a Igreja do que eu, e se ela diz que
não é uma boa ideia, concordo com ela. Eu confio em seu julgamento.
Dei um suspiro de alívio.
— Obrigada, — eu sussurrei enquanto olhava para ele.
Tempeste olhou entre nós dois, a decepção estampada em seu rosto.
— Eu pensei que os aliados de Lyla seriam mais corajosos do que isso.
— Ela se virou, colocando o capuz de volta. Ela abriu a porta, o ar fresco
da noite soprando dentro. — Erro meu.
— Você pode passar a noite aqui se quiser, — ofereci. — Você pode ser
pega.
— Eu me viro.
Ela se virou para nós uma última vez antes de fechar a porta.
— É apenas uma questão de tempo antes que você veja que estou
certa, — disse Tempeste. — As coisas só vão piorar. E quando chegar a
hora, estarei esperando.
Ela fechou a porta atrás dela, e com outro flash de luz ela se foi.
Caspian olhou para fora das janelas da frente.
— Malditas bruxas, — ele murmurou.
— Você acha que ela estava certa? — Eu perguntei a ele. — Você acha
que devemos lutar?
Ele se virou para mim e segurou minhas mãos.
— As coisas estão sombrias. Teremos apenas que esperar e ver se isso
chegará a esse ponto.
Olhei pela janela, observando as ruas vazias. As estradas estavam sem
vida. Abandonadas sob a luz pálida da lua.
— Espero que não.
Sebastian

Tossi um bocado de água do mar, minha garganta queimando de dor.


Eu me levantei e me arremessei, meu corpo convulsionando na areia da
praia embaixo de mim.
O que diabos aconteceu?
Esfreguei meus olhos para limpar a água salgada e sujeira, olhando
turvamente ao meu redor.
Eu acabei na costa, destroços de nosso iate destruído espalhados na
areia ao meu redor.
Flashes de memória me atingiram como relâmpagos.
Ondas gigantes.
Trovão crescente.
O barco partindo embaixo de mim.
Lyla sendo lançada no oceano...
Fiquei instantaneamente alerta.
Lyla!
Eu tropecei, esquadrinhando a costa ao meu redor desesperadamente.
— LYLA! — Eu gritei.
Nada.
Deusa, por favor...
Corri pela costa, meus olhos examinando os escombros
desesperadamente.
— LYLA!? — Eu tentei de novo.
Então eu vi.
Um pedaço de madeira flutuante se mexeu, algo preso embaixo.
Ou alguém.
Eu corri em direção a ele, destruindo os restos em ruínas do barco.
— Lyla!
Arthur gemeu, apertando os olhos contra a luz.
Ele se sentou, cuidando do braço machucado.
— Obrigado, nanico, — ele murmurou. — Essa merda era muito
pesada.
Minha decepção se transformou imediatamente em raiva. Eu agarrei
meu tio pelo colarinho, puxando-o com força para ficar de pé.
Ele sibilou de dor.
— O que...
Eu o sacudi.
— Onde. Está. Lyla.
Ele olhou em volta, lançando um olhar superficial ao longo da costa.
— Seu palpite é tão bom quanto o meu.
Eu o empurrei para o chão e avancei sobre ele.
— E melhor você orar com todo o seu coração podre para que ela
esteja bem, — ameacei. — Porque se ela não estiver, eu vou te rasgar
membro por membro, nosso acordo que se dane.
O bastardo riu de mim, e tive que me conter para não rasgar sua
garganta ali mesmo.
— Você achou que isso ia ser fácil? Você pensou que poderíamos
simplesmente entrar e encontrar o Véu? — Arthur se levantou, limpando
a roupa. — Supera, nanico. Se sua companheira é tão incrível quanto
você pensa, ela está viva.
Ele se apalpou, certificando-se de que estava mais ou menos inteiro.
Ele me jogou a bússola de ouro. — Fique com isso, — disse ele. — Eu
acho que você vai calar a sua boca por um tempo, pelo menos.
Eu abri. O vidro foi quebrado além do reparo, a agulha oscilando para
o lado.
— Está quebrado pra caralho.
— Isso significa que estamos aqui. Apenas um uso, essas coisas. Mas
sua caixa é de ouro maciço.
Venda e compre para sua companheira uma maldita pulseira de GPS
quando vocês voltarem para casa.
Eu olhei para ele, mas ele estava certo.
Lyla era feita de um material resistente. Eu só tinha que acreditar que
ela estava bem em algum lugar desta ilha.
Em algum lugar desta ilha mítica que nem deveria existir Olhei para a
densa selva selvagem diante de nós, uma névoa misteriosa saindo de
dentro. Formas escuras pareciam se mover nas sombras. Eles dispararam
para longe, mas eu poderia jurar que tive um vislumbre de presas afiadas
e garras em forma de gancho.
— Pegue seu queixo da areia, nanico. — Arthur amarrou as botas e
soltou o chicote da cintura que, de alguma forma, conseguira segurar
durante os destroços. — Precisamos encontrar um véu.
Eu rolei meus ombros, caminhando ao lado do meu tio.
Ele pode ser um fodido pé no saco, mas eu sabia que ele poderia se
garantir em uma luta.
Isso era de família.
Espere, Lyla, estou indo.
Lyla

Acordei devagar, sem ideia de onde estava.


Eu me senti lenta, como se meus pensamentos estivessem sendo
arrastados por areia movediça.
O que aconteceu?
Minhas memórias me escaparam, não importou o quanto eu tentei
lembrar. Era como tentar se lembrar de um sonho pela manhã.
Bem quando eu estava prestes a me lembrar, esquecia.
Era como tentar agarrar a fumaça com minhas próprias mãos.
Levantei-me, lutando contra a tontura que me atingiu.
Eu estava em um quarto, mas não tinha ideia de como cheguei lá.
Parecia que tinha dado um passo para trás no tempo. Tudo era esculpido
em madeira ou pedra, minha cama coberta com peles de animais em vez
de lençóis.
Eu estava vestido com um longo manto branco adornado com renda
dourada.
Eu tinha certeza de que não possuía nada tão elaborado.
— Olá? — Eu gritei.
Não houve resposta.
— Sebastian? Qualquer um?
Eu caminhei em direção à porta com as pernas trêmulas, uma
sensação de urgência me preenchendo.
Eu não deveria estar procurando por algo?
Algo importante...
Tentei a maçaneta da porta e fiquei surpresa ao descobrir que não
estava trancada.
Então eu não sou uma prisioneira. Isso é um alívio.
Saí para um corredor de pedra, uma fileira de tochas revestindo as
paredes de cada lado de mim. O som fraco de música coral estava à
minha esquerda e, sem muito mais o que fazer, decidi segui-lo.
A batida de meus pés descalços ecoou contra a pedra. Eu segui as
vozes até emergir em um grande espaço em forma de cúpula. Era quase
todo construído com a mesma pedra do corredor, mas o teto era de vidro
transparente.
Havia um grupo de mulheres de pé no centro, todas vestidas da
mesma forma que eu. Suas vozes se misturavam ao ar, tecendo e
harmonizando em um ritmo hipnótico que me atraiu para mais perto.
Elas pararam quando me aproximei, virando-se para me olhar como
um só.
— Lyla, — uma delas me chamou.
Ela era bonita. Seu cabelo era longo e grisalho, seus olhos âmbar da
cor do outono. Ela acenou para que eu avançasse e me senti compelida a
ouvir.
As mulheres ao seu redor se afastaram, sorrindo para mim enquanto o
faziam. Elas eram todas muito altas. Eu me senti quase como uma
criança ao lado delas.
— Onde estou? — Eu perguntei. — Não me lembro como cheguei
aqui.
— Isso é normal, — disse a mulher de cabelos grisalhos. — Você teve
uma experiência muito sofrida. Eu bloqueei suas memórias para aliviar
um pouco do trauma. Você gostaria delas de volta?
Eu olhei para ela, curiosa.
Trauma? De que tipo de experiência ela estava falando?
— Eu gostaria da minha memória de volta, por favor.
Ela acenou com a cabeça, colocando as mãos em cada lado da minha
cabeça. Seu toque era quente e gentil.
— Basta lembrar que está tudo no passado. Você está segura agora.
Antes que eu pudesse responder, as memórias inundaram minha
mente. Tudo voltou correndo em um redemoinho estonteante de sons e
imagens.
O barco. A tempestade. O véu.
A sensação de água correndo em meus pulmões, a maneira como
minha visão se desfez em nada...
Sebastian.
Eu me engasguei, e a próxima coisa que eu sabia era que estava
embalada nos braços da mulher de cabelos grisalhos. Devo ter perdido a
força nas pernas.
— Onde estão os outros? — Eu suspirei.
— Outros?
— Sebastian e Arthur?
— Você estava sozinha, criança.
Eles devem ter chegado à ilha em outro lugar...
Olhei para a mulher e meus arredores com novos olhos.
— A Ilha de Lupinus, — eu disse.
A mulher acenou para mim, um sorriso suave nos lábios.
— Quem é Você? — Eu perguntei.
— Meu nome é Serafina, — disse ela. — E este é o meu clã.
Eu olhei em volta para as mulheres vestidas que estavam nos
observando. Todas elas pareciam iguais. Elas poderiam ser irmãs.
— Nosso clã serviu à Primeira Deusa da Lua, — ela continuou. —
Somos conhecidas como o Clã da Lua.
Eu tropecei em meus pés, a mão de Serafina me firmando.
— Mas por que as bruxas serviriam à Primeira Deusa da Lua? — Eu
perguntei.
Serafina riu baixinho, assim como as bruxas ao nosso redor.
— Oh, criança. Suponho que eles não ensinem mais isso a você.
Suas próximas palavras me chocaram profundamente. Meu mundo
inteiro virou de cabeça para baixo.
— A Primeira Deusa da Lua era uma bruxa.
22
PROFANADO
Sebastian

A videira se lançou sobre mim, o talo se abrindo para revelar fileiras de


dentes afiados e pontiagudos.
Eu o golpeei com minhas garras, despedaçando-o em pedaços.
Plantas comedoras de homens. Ótimo para caralho.
Eu me abaixei quando a planta gigante bloqueando nosso caminho
atingiu outra videira cruel em mim. Parecia uma vênus mutante flytrap
em esteroides, quase tão alta quanto eu. Sua dúzia de trepadeiras agitava-
se violentamente em tomo dela, cada uma delas ansiosa para me agarrar.
— Uma ajudinha aqui!
Arthur estava empoleirado no topo de uma grande pedra a alguns
metros à minha direita enquanto uma pantera gigante tentava agarrá-lo
com as garras. O estalo de seu chicote cortou o ar enquanto atingia a
pantera repetidamente.
A arma deixou sulcos profundos ao longo das costas da pantera, mas a
besta parecia cada vez mais irritada.
— Estou ocupado! — Rosnei enquanto agarrei outra videira e a
arranquei da planta. A coisa se debateu com raiva, toda a sua forma
vibrando.
Este lugar estava tão fodido!
Corri para o lado, me inclinando para ficar entre a planta carnívora e a
pantera. Rolei para o lado enquanto me esquivava de outra videira,
pegando uma pedra e jogando-a na cabeça da pantera.
Ela pousou de forma limpa, chamando a atenção da besta.
— Pare de chicotear! — Eu pedi.
Arthur congelou, deixando o chicote cair para o lado. A pantera se
virou para mim, rosnando ameaçadoramente.
Eu estava preso entre duas monstruosidades, ambas ansiosas por sua
próxima refeição.
Isso teria sido muito mais fácil se eu pudesse mudar de forma. Mas
algo sobre a Ilha me impedia de fazer isso.
Que tipo de ilha sagrada de lobisomem não deixa lobisomens se
transformarem em lobos?
Tudo o que consegui fazer foi transformar minhas mãos em garras.
Eu não tive tempo para refletir sobre isso.
Um leque de videiras avançou para mim ao mesmo tempo que a
pantera saltou.
Eu me joguei para o lado, batendo com força no chão.
Planta e animal colidiram violentamente. As vinhas rasgaram a
pantera enquanto ela rosnava em desafio, cortando e arranhando a
planta gigante e trêmula.
Joguei um olhar para meu tio, preparado para dizer a ele para fugir,
mas não havia necessidade.
Esse filho da puta já estava correndo para salvar sua vida.
Corri atrás dele, deixando a flora e a fauna lidando uma com a outra.
Paramos perto de um rio, nos abrigando em um afloramento de grandes
rochas.
Arthur estava ofegante, respirando profundamente. Mas ele ainda
estava sorrindo como um maníaco.
— Você foi de muita ajuda lá atrás, — eu disse.
— Você me disse para parar de chicotear!
— Sim, porque você só estava irritando aquela pantera gigante. Você
teria morrido de exaustão antes de machucá-lo.
Meu tio deu um tapinha em si mesmo, recuperando o fôlego. — Bem,
é por isso que eu trouxe você junto. Você é o músculo, certo?
Eu olhei para ele com desconfiança.
Meu pai me disse que meu tio tinha a reputação de ser um lutador
feroz. Isso tudo foi uma atuação?
Ou ele mentiu a vida toda?
— Vamos andando, — disse ele. — Não devemos perder tempo.
Adentramos a selva novamente. A planta assassina e os animais
anormalmente grandes e agressivos eram estranhos o suficiente, mas
essa não era a única coisa estranha nesta ilha.
Tudo parecia completamente estranho.
Flora que eu nunca tinha visto antes parecia comum. Pássaros
estranhos voavam acima das árvores. Todo o lugar estava coberto por
uma névoa espessa que fazia tudo parecer mais sinistro e misterioso.
— Você ao menos sabe para onde está indo? — Eu perguntei a ele
depois do que parecia uma maratona.
— Você realmente não notou nada diferente? — ele perguntou.
Eu olhei ao meu redor; a névoa estava ainda mais densa do que antes.
Percebi que as plantas brilhavam suavemente na névoa. Eles emitiam um
brilho branco suave.
Isso me lembrou do luar.
— Eu realmente não posso dizer com toda essa névoa no caminho.
— Esse é o ponto, — disse Arthur. — Nós seguimos o nevoeiro.
Isso não fazia sentido para mim. mas continuei de qualquer maneira.
O simples fato de que uma bússola quebrada e uma tempestade foram
como acabamos nesta ilha abandonada pela Deusa, em primeiro lugar,
me disse que o bom senso não se aplicava realmente aqui.
Continuamos em silêncio, tomando cuidado para não perturbar o
ambiente. Eu ocasionalmente tinha um vislumbre de movimento na
névoa, ou de olhos brilhantes que nos espiavam na escuridão.
Mas nenhuma outra criatura nos incomodou, felizmente.
Eu havia perdido completamente a noção do tempo. Poderíamos ter
caminhado pela névoa por horas ou minutos.
A única coisa de que eu tinha certeza era que cada segundo que
passava era um segundo em que Lyla estava lá fora em algum lugar.
Sozinha.
Eu queria avançar pela névoa, gritando o nome dela a plenos pulmões.
Mesmo assim, mantive a calma. Lembrei-me da lição que dei a Lyla
quando ela estava treinando para o Anel de Combate.
Um guerreiro calmo é o mais mortal.
Eu precisava seguir meu próprio conselho.
Arthur desapareceu em uma espessa parede de névoa alguns metros à
minha frente. Eu o ouvi suspirar e acelerei meu ritmo.
Passei e de repente estava claro como o dia.
Ficamos no topo de uma colina; um templo de pedra estava aninhado
entre as árvores à distância. Olhei para trás, para a parede de névoa atrás
de mim e vi que ela circundava toda a área à nossa frente.
— Que tipo de magia é essa? — Eu me perguntei em voz alta.
— Inferno se eu sei. mas é isso que estamos procurando, — Arthur
disse, gesticulando para o templo à distância. — Se o véu existe, vai estar
lá.
— Vamos seguir em frente, então. — Desci a colina. Não tínhamos
visto nenhum sinal de Lyla ainda, mas por alguma razão inexplicável, eu
sabia que a encontraria no templo.
Eu podia sentir isso.
Como um ímã puxando minha alma.
Eu só podia esperar que ela ainda estivesse inteira.
Lyla

Mordisquei um pedaço de pão, muito distraída para aproveitar a


refeição que a Clã da Lua havia preparado para mim.
As bruxas trouxeram algumas mesas e cadeiras e gentilmente me
forneceram comida. Em um dia normal, eu devoraria o frango assado
com batatas, mas aquele não era exatamente um dia normal.
Eu imagino que muitas pessoas não descobriram que toda a sua
sociedade foi construída sobre uma mentira.
Sentei-me em uma mesa privada com Serafina, as outras bruxas
sentadas em mesas diferentes ao nosso redor.
— A comida não é do seu agrado? — Perguntou Serafina.
— Não, não é isso, — eu disse. — Estou apenas distraída. A Primeira
Deusa da Lua era uma bruxa?
— Claro — disse Serafina, como se devesse ser óbvio. — Ela usou
magia, afinal. O que mais ela poderia ser?
— Uh... uma deusa?
Sua risada soou como um carrilhão de vento.
— Eu acho que seria assim naquela época, sim.
— Espere, e quanto à atual Deusa da Lua? — Eu perguntei. — Ela
também é uma bruxa?
— Na verdade, não sei, — disse ela. — A Santa Igreja nos isolou de
tudo depois que as tensões entre bruxas e lobisomens aumentaram
alguns séculos atrás. Eu não poderia nem dizer se a Deusa atual é a
verdadeira sucessora.
Minha mente girou.
Tínhamos tocado a melodia de uma falsa Deusa esse tempo todo?
A atual Deusa da Lua estava ao menos ciente disso?
— Então, o que a traz à Ilha de Lupinus? — Perguntou Serafina. —
Não é exatamente um destino de férias.
— Na verdade, vim procurar o Véu da Primeira Deusa da Lua, — disse
eu. — Você não saberia onde está, não é?
As sobrancelhas de Serafina se ergueram de surpresa. A atmosfera na
câmara mudou repentinamente. Eu olhei ao redor. Todas as outras
bruxas pararam de comer.
— E por que você estaria procurando por isso? — ela me perguntou.
Pela primeira vez desde que a conheci, Serafina parecia cautelosa.
Suspeita.
Expliquei minha situação a ela.
Como a Alcateia Real estava à beira do colapso. Como eu viajei para a
Cidade Santa e me tornei uma Guardiã da Lua, como me demiti e vim
aqui com Sebastian e Arthur.
Serafina ouviu em silêncio, sua expressão mudando de choque para
uma profunda tristeza.
— As coisas estão piores do que eu pensava. — Ela suspirou, seus
olhos âmbar fixos nos meus. — O que você fez foi muito corajoso, Lyla.
Muitos não podem se levantar contra a Santa Igreja e ir embora.
Dei de ombros. — Isso não importará se eu não conseguir encontrar o
Véu. E a nossa esperança final.
Serafina olhou para as irmãs e um momento de silêncio pareceu
passar entre elas. Ela assentiu e tirou uma pequena placa de pedra de
suas vestes. Ela me entregou.
— O que é isso? — Eu perguntei.
— Isso a levará ao que você procura, — ela disse simplesmente.
Eu peguei, alívio me inundando. Parecia ser uma espécie de mapa. Eu
examinei rapidamente, tentando entender.
Meus olhos se arregalaram.
Já estive aqui antes...
— Serafina, é realmente não...
Um grito de gelar o sangue me interrompeu. Todos nós nos viramos
para ver uma bruxa tropeçar na câmara, suas vestes encharcadas de
sangue. Ela agarrou o peito antes de cair sem vida no chão.
Tudo aconteceu tão rápido.
Um pelotão de guerreiros entrou na câmara, espadas em punho. E não
qualquer lâmina.
Lâminas dos Guardiões da Lua.
As bruxas se levantaram de um salto, apanhadas completamente de
surpresa. Alguns deles lançaram feitiços rápidos ou enviaram raios de
energia em direção aos agressores. Mas era tarde demais.
Os Guardiões da Lua cortaram as bruxas como uma foice no trigo.
Gritos e sangue encheram o ar enquanto uma bruxa após a outra era
morta sem piedade.
Um Guardião da Lua avançou contra mim, e eu tive apenas tempo
suficiente para desviar sua lâmina. Eu o chutei, fazendo-o tropeçar no
chão. Eu me virei bem a tempo de ver um guerreiro enorme espreitando
atrás de Serafina, o brilho do metal preso em seu punho.
Um guerreiro muito familiar para mim.
— Achilles! Não!
Achilles enfiou a lâmina nas costas de Serafina, a lâmina perfurando
seu estômago. Serafina desabou no chão, com dor e agonia nos olhos.
— Lyla? — ele se engasgou. Ele puxou a espada do corpo de Serafina,
um rastro de arco vermelho no ar. — O que diabos você está fazendo
aqui?
Ignorando-o, corri até Serafina.
Ela parecia que estava entrando em choque. O ferimento foi
obviamente fatal.
— O que diabos você está fazendo?! — Eu gritei.
Mãos ásperas agarraram meus braços. Dois Guardiões da Lua me
prenderam no chão, me arrastando para longe de Serafina.
Achilles se ajoelhou diante de mim, olhando nos meus olhos. Ele
brandiu sua lâmina na minha frente, ainda pingando sangue de Serafina.
Ele colocou a ponta embaixo do meu queixo.
— Você simplesmente não consegue evitar se meter em problemas,
não é?
23
CORRIDA PELO VÉU
Adele

Eu entreguei outro pacote de suprimentos, sorrindo para o senhor


que o pegou em seus braços com gratidão. Não era muito, mas eu
esperava que as roupas e cobertores proporcionassem, pelo menos,
algum conforto.
Muitas pessoas visitaram nosso pequeno porto seguro hoje. Caspian
teve que ir ao centro da cidade para conseguir mais suprimentos, então
eu estava tomando conta do local sozinha.
— Você realmente é uma santa, Adele, — disse o senhor. Ele parecia
tão abatido e exausto quanto todos os outros na fila atrás dele, mas seu
sorriso demonstrava que seu espírito não estava abatido.
Pelo menos, ainda não.
Eu rejeitei a declaração ridícula.
— Estou apenas distribuindo alguns cobertores, — eu disse
rapidamente. — Qualquer um poderia fazer isso.
— Mas ninguém mais está fazendo, criança. — Ele sorriu para mim, e
pude ver décadas de dor em seu olhar. — Sua bondade vale muito mais
do que os cobertores que você distribui.
Meus olhos ficaram marejados de lágrimas, mas eu as afastei.
O senhor saiu arrastando os pés e foi substituído por um homem mais
jovem. Eu sorri enquanto entregava a ele o pacote, mas suas mãos
permaneceram nas minhas antes que ele o pegasse.
— E aqui que nos encontramos? — ele me perguntou.
— Bem, não é muita coisa, mas você pode descansar aqui, — eu disse
confusa.
— Não é isso o que eu quero dizer, — disse ele, se aproximando. Ele
me mostrou uma adaga que estava escondida nas dobras de sua roupa. —
Para a resistência.
Meus olhos se arregalaram de medo.
— Há rumores circulando, — ele me disse. — Nós devemos contra-
atacar em breve. E você está distribuindo suprimentos, então...
— Não! Não é isso o que estou fazendo aqui.
— Mas...
A porta se abriu de repente, e um esquadrão de Guardiões da Lua
entrou, com as armas em punho.
Ah, por favor, não.
A sala inteira congelou de medo. Os mestiços se encolheram, indo
para os cantos mais distantes da sala. Os Guardiões da Lua se espalharam
pela sala, com apenas sua presença sendo o suficiente para exigir
obediência.
E o Cardeal Mercer entrou.
— Bem, olhe o que temos aqui. — Ele olhou em volta, uma expressão
de puro desgosto em seu rosto.
— Um terreno fértil para traição. Uma fossa de rebelião.
Antes que eu me desse conta, saí para confrontá-lo.
— Cardeal, — eu disse, meus olhos no chão. — Estou apenas
distribuindo cobertores e comida. Não estamos fazendo nada...
O jovem de antes passou disparado por mim, com sua adaga
desembainhada e um grito desesperado nos lábios. Antes que eu pudesse
piscar, ele foi colocado de cara no chão, com um Guardião da Lua
pressionando o joelho em sua nuca.
Mercer nem mesmo estremeceu. Ele apenas olhou para mim, um
sorriso malicioso aparecendo em seus lábios.
O desespero me preencheu. Era isso. Essa era a desculpa de que ele
precisava.
— Prendam todos eles, — disse ele, olhando diretamente nos meus
olhos. — Joguem eles na parte mais profunda das masmorras.
Mercer

Eu assisti à fileira de mestiços sendo levados acorrentados, com Adele


na frente.
Sempre soube que ela era um problema.
Agora eu tinha a prova de que precisava para deixá-la apodrecer em
uma cela.
Em breve, a Cidade Santa será pura.
Tudo de que eu preciso é o Véu.
Peguei um celular, franzindo a testa para a tela minúscula. Eu não
suportava esses dispositivos minúsculos. Eles eram uma distração.
Mas eles tinham seus usos.
Mercer: Relatório.

Achilles: estava em Lupinus.

Achilles: as bruxas foram mortas Mercer: Excelente. E o Véu?

Achilles: meus homens estão procurando agora Mercer: Não vou


tolerar o fracasso.

Mercer: Mais alguma coisa a relatar?

Mercer: Achilles.

Mercer: Responda-me ou arranco sua cabeça.

Achilles: não

Achilles: nada

Mercer: Retorne rapidamente.

Mercer: A mestiça Adele estava reunindo uma força de resistência.

Mercer: Nós colocamos um ponto final nisso, mas eles estão


ficando mais ousados.

Mercer: Os ratos estão se reunindo.

Achilles: entendido Lyla


Eu olhei para Achilles do outro lado da câmara.
Eu tinha sido amarrada e amordaçada. Tentei mudar de forma, mas
algo estava me impedindo de fazer isso.
Mesmo se eu conseguisse mudar de forma, os dois Guardiões da Lua
em cada um dos meus lados cortariam minha cabeça com suas espadas
no segundo que eu tentasse alguma coisa.
Eu tinha que encontrar uma maneira de sair daqui, mas as coisas não
pareciam boas.
Eu estava em menor número, em desvantagem.
Achilles estava curvado sobre um telefone via satélite, digitando na
tela. De vez em quando, ele olhava para mim, e, toda vez, eu o encarava
ferozmente.
Eu fui uma idiota por pensar que ele havia mudado. Ele tentou fazer
algo contra mim assim que Sebastian saiu e, agora, ele invadiu um
templo e massacrou todos que estavam nele.
Alguns de seus homens começaram a voltar para a câmara. Eles
conversaram entre si, mas eu não conseguia ouvir bem o que diziam.
Achilles deu algumas ordens, e eles se dispersaram novamente. Acho que
Arthur não estava mentindo quando disse que a Santa Igreja estava atrás do
Véu também.
A pequena placa de pedra queimava no meu bolso. Eu a enfiei nas
dobras de minhas vestes instintivamente quando os Guardiões da Lua
apareceram.
Eu não podia deixá-los saber que eu a tinha.
Achilles se aproximou de mim, agachando-se para ficarmos cara a
cara.
— Vocês dois vão ajudar na busca também, — ele ordenou aos guardas
que cuidavam de mim. — Vou lidar com está aqui sozinho.
Eles assentiram, desaparecendo por um dos corredores de pedra.
Achilles tirou minha mordaça, e eu cuspi em seu rosto.
— Você me dá nojo, — eu sibilei.
— E bom ver você também.
— Essas bruxas eram inocentes!
— Você está se ouvindo?, — ele perguntou. — Bruxas? Inocentes? -Você
ficou completamente maluca?
— Elas não estavam machucando ninguém. Foi a Igreja -que as
abandonou em primeiro lugar. Você está aqui apenas para fazer o
trabalho sujo, não é? Você enviou um bom relatório para o seu mestre?
— Enviei, — disse Achilles sem se abalar. — Eu também disse a ele que
o Véu não estava aqui.
Seus olhos procuraram os meus.
— Você está atrás dele também, não é? Por que mais você estaria neste
lugar de merda? — Ele pressionou sua espada contra meu pescoço.
— Diga-me onde está.
— Apodreça no Inferno, — eu cuspi.
Ele aplicou uma pequena pressão em sua espada, e eu senti um fio de
sangue quente escorrer pelo meu pescoço. Eu olhei para ele.
Eu estava apavorada. Eu não queria morrer.
Mas, de jeito nenhum, eu diria a esse bastardo onde estava. Ele levaria
o Véu direto para Mercer, e, se Mercer pudesse ver o futuro...
Não. Prefiro morrer
O olhar de Achilles endureceu, e tive certeza de que ele passaria a
lâmina pela minha garganta. Em vez disso, ele suspirou e a embainhou.
— Escute, Lyla. Eu não quero te matar. Se dependesse de mim, eu a
desamarraria e a deixaria ir.
— Então faça isso, — eu o pressionei.
— Você sabe que não posso, — disse ele. Eu podia ver nele a mesma
batalha que eu havia lutado comigo mesma nos últimos meses.
Dever ou honra.
— Então você sabe por que não posso lhe contar, — eu disse.
Ele suspirou, e, por um segundo, o duro Guardião da Lua desapareceu,
revelando Achilles como o homem simples que ele realmente era.
— Mercer está com Adele, — disse ele.
Suas palavras foram como um punhal direto no meu coração.
— Ela está praticamente morta, — disse ele. Ele não disse isso com
malícia ou ódio. Ele apenas declarou como um simples fato. E foi muito
pior, porque eu sabia que era verdade. — Mas, se você me ajudar a
encontrar o Véu...
Ele deixou a oferta no ar.
Eu seria capaz de negociar com Mercer? O Véu em troca de Adele?
Fechei os olhos, tentando não desmoronar com a pressão.
— E então? — Achilles perguntou. — O que vai ser?
Sua honra ou Adele?
Sebastian

— Ela está morta.


Eu examinei o cadáver. Um corte direto na jugular.
Um golpe limpo.
— Você acha que sua companheira fez isso? — Arthur perguntou.
— De jeito nenhum. — Eu balancei minha cabeça, olhando para a
cena de carnificina ao nosso redor. — Lyla nunca faria algo assim.
Arthur e eu chegamos ao estranho templo há alguns minutos. Depois
de vasculhar o terreno por um tempo, encontrei um quarto que continha
alguns pertences de Lyla. Suas roupas estavam cuidadosamente dobradas
ao lado de uma cama, com sua espada descansando em cima.
Lyla estava aqui.
Mas que diabos aconteceu depois?
A grande câmara abobadada em que estávamos estava cheia de corpos.
Mulheres em vestes brancas manchadas de sangue jaziam mortas, seus
corações perfurados, e suas gargantas cortadas.
Parecia que elas estavam fazendo uma refeição. As mesas estavam
viradas, com a comida estragada no chão em meio ao sangue seco.
— A Igreja deve ter chegado aqui antes de nós, — Arthur supôs.
— Então, e agora? Se a igreja já estava aqui, então...
Uma tosse fraca veio de um dos corpos, seguida por uma respiração
áspera e instável.
Corri em direção a ela, virando-a suavemente.
Ela tinha cabelos grisalhos e olhos castanhos. Um ferimento brutal
tinha aberto seu estômago.
— Você... deve ser... Sebastian, — ela sussurrou.
— O que aconteceu aqui?
— Guardiões da Lua... — A mulher estava desaparecendo, chegando
perto do seu último suspiro. — Eles levaram Lyla... O Véu... Escondido...
— Seus olhos começaram a fechar.
— Onde? — Eu apertei seus ombros com urgência, implorando para
que ela mantivesse os olhos abertos. — Para onde eles a levaram?
Eu coloquei minha orelha contra seus lábios, seu último suspiro sendo
apenas um sussurro.
E então ela se foi.
Eu a coloquei suavemente no chão, fechando seus olhos. Eu olhei para
Arthur, e seu rosto estava sério.
— E então? — ele perguntou.
— Eles voltaram para a Cidade Santa, — eu disse. — O Véu está na
merda da Basílica da Lua.
24
DEBAIXO DO TRONO
Caspian

A sacola de suprimentos que eu tinha em minhas mãos escorregou


por entre meus dedos dormentes. Alimentos e remédios preciosos se
espalharam pelo chão, mas eu não me importei.
Tudo o que pude ver foi a porta aberta, as janelas estilhaçadas.
Nosso pequeno porto seguro foi invadido.
Não, não, não, não, não.
Eu corri para dentro do local.
— Adele? — Eu chamei freneticamente. — ADELE?
O lugar estava deserto.
Madeira lascada e vidro quebrado espalhados pelo chão. Fiz um exame
crítico do local e fiquei aliviado ao ver que não havia sangue.
Procurei por todo o lugar, em busca de pistas. A Guarda da Lua estava
por trás disso?
Estávamos apenas distribuindo comida, pelo amor de Deus.
Corri de volta para o lado de fora, pronto para destruir toda a Cidade
Santa.
— O Cardeal Mercer prendeu todos eles, — uma voz falou.
Eu me virei e encontrei um velho mestiço agachado na entrada de um
beco próximo.
— Saí logo antes dos Guardiões da Lua entrarem. O Cardeal acusou
Adele de reunir a resistência, — disse ele.
Aproximei-me dele, desesperado por informações.
— O que ele vai fazer com ela? — Eu perguntei.
— Ela provavelmente está sendo levada para as masmorras agora, —
disse o senhor. — Mas Mercer não é conhecido por ter misericórdia.
Especialmente quando se trata de traição...
Não pude deixar de pensar nas palavras da bruxa Tempeste.
Você vai perceber que estou certa mais cedo ou mais tarde. Não se pode
raciocinar com essas pessoas.
Ela estava certa.
Esses monstros se escondiam debaixo de dogmas e mantos de seda. A
única linguagem que eles entendiam era a força.
— Lamento não poder impedi-los. — O gentil mestiço tossiu em seu
cobertor. — Esses ossos não se movem como antes.
— Não, apenas me dizer tudo isso foi o suficiente. Obrigado. — Juntei
meus suprimentos abandonados e os entreguei ao velho. — Distribua
isso para aqueles que precisam, ok?
Ele assentiu com a cabeça, pegando-os.
— O que você vai fazer? — ele perguntou.
— Vou procurar algumas bruxas.
Lyla

Dizer que a viagem de volta à Cidade Santa foi desconfortável seria o


eufemismo do ano.
Eu estava amarrada e amordaçada durante todo o caminho. Sobre o
mar agitado e no jato particular da Guarda da Lua. Achilles tentou falar
comigo algumas vezes, mas eu apenas dei a ele um silêncio mortal.
Os últimos dias foram terríveis.
Eu tinha certeza de que teria queimaduras de corda permanentes em
meus pulsos se algum dia me libertasse.
Mas queimadura de corda era a menor das minhas preocupações.
Eu não tinha visto Sebastian ou Arthur desde o naufrágio.
Eu estava esperando eles repentinamente aparecerem e me
resgatarem, para que pudéssemos acabar com esses canalhas da Guarda
da Lua. Mas eles nunca vieram.
E se eles não sobreviveram ao naufrágio?
Eu balancei minha cabeça.
Não.
Eles estavam vivos. Eles tinham que estar.
Muito provavelmente, eles ainda estavam na Ilha de Lupinus. Porém,
mesmo que encontrassem o templo, tudo o que encontrariam seria um
massacre.
Eles não teriam nenhuma pista de onde eu estava ou de que o Véu
estava na Cidade Santa.
Sem falar que o barco que nos trouxe até Lupinus estava no fundo do
oceano.
Eu teria que encontrar uma maneira de sair disso sozinha.
A fuga parecia cada vez mais impossível, principalmente agora que eu
estava na parte de trás de uma van blindada. Parecia exatamente aqueles
veículos táticos que uma equipe da S. W. A. T. usaria.
— O quê? Eu não vou poder ver o esplendor da Cidade Santa na
minha chegada?, — eu perguntei. Eles removeram minha mordaça, já que
o veículo era completamente à prova de som.
— A Igreja não quer que você seja vista na Cidade Santa. Você ter
desertado dos Guardiões da Lua faria as pessoas perderem a fé. —
Achilles estava sentado ao meu lado, limpando sua espada.
Sério?
Eu ri. Eu ri tanto que lágrimas escorreram dos meus olhos e meu
estômago começou a doer.
— O quê? — ele perguntou.
— Se a verdade vazar, sobre como toda a sua Ordem Sagrada é uma
merda, uma Guardiã da Lua que fugiu vai ser a menor de suas
preocupações.
— Não vai, — disse Achilles. — Todas aquelas bruxas estão mortas.
— Então é verdade, — eu disse. — A primeira Deusa da Lua era uma
bruxa, e a Santa Igreja está tentando encobrir isso.
— Não sei nada sobre isso, — disse Achilles. — Eu tinha minhas
ordens e as cumpri. Simples assim.
— Você é mais do que uma peça estúpida, Achilles. Você e eu sabemos
disso.
Ele não respondeu, mas a expressão em seu rosto mostrou que ele
concordava comigo.
Achilles era leal. Eu não poderia culpá-lo por isso.
Mas a lealdade nem sempre é uma coisa boa.
Especialmente a alguém como Mercer.
Mercer

Eu olhei para Lyla, acorrentada e aos meus pés. Ela parecia ter passado
pelo Inferno. E, mesmo agora, algemada e injetada com acônito, ela
olhava para mim com um olhar insuportavelmente desafiador.
Achilles a jogou no meu escritório, explicando que ela sabia onde
estava o Véu. Ele estava esperando do lado de fora com seus homens.
Sua mera presença era um insulto à Santa Igreja e a tudo o que ela
representava. Este herege infiel ainda respirava. Esta traidora teve
permissão para viver.
Mas isso mudaria.
Eu vou acabar com você em breve.
— A ovelha negra retorna ao rebanho, — zombei.
— Quão fundo a sua covardia vai? Você não apenas abandona a
Guarda da Lua, mas continua a obstruir nossos negócios.
— Diz o homem que se esconde atrás de suas vestes e de seus homens.
Sua voz rangeu em meus ouvidos como garras em um quadro-negro.
— Como você ousa falar comigo nesse tom? — Eu trovejei. — A
heresia corre em suas veias sujas.
— Pelo menos, eu luto minhas próprias lutas, — ela continuou. — Por
que você não vai se esconder debaixo do vestido da Deusa da Lua? Ela
pode ordenar todas as coisas ruins para longe de você.
A raiva pulsou em minha mente, quente e urgente.
— A Deusa da Lua é meu peão! Assim como todo mundo. A tentativa
de assassinato daquele mestiço idiota foi o primeiro passo que me
permitiu limpar a Cidade Santa dos vermes. O próximo passo é o poder
do Véu.
Lyla tinha se calado, e eu tive uma satisfação feroz com o silêncio.
— Espere. Você quer dizer...
— Sim, sua garota estúpida. Fui eu quem disse àquele rato para tentar
matar a Deusa da Lua. Ela se tornou muito mais fácil de manipular
quando começou a temer pela própria vida.
Inclinei-me para mais perto, apertando seu rosto entre minhas mãos.
Ela tentou desviar o olhar, mas eu a forcei a se levantar para que eu
pudesse olhar para ela.
— E, depois que você me levar ao Véu, eu não vou precisar mais dela.
Eu a joguei no chão, e ela caiu com um som forte. A satisfação cresceu
dentro de mim.
E, depois que eu não precisar mais de você, irei levar meu doce tempo
fazendo você desejar nunca ter nascido.
— Agora, se você quiser que sua amiga mestiça viva, você me levará
até o Véu. Agora.
Lyla

Desci a sala do trono da Deusa da Lua, com Mercer ao meu lado e a


espada de Achilles nas minhas costas.
A Deusa da Lua estava na Cidade Santa, assim como a maioria dos
Guardiões da Lua. Era apenas eu, Mercer e seus homens mais leais.
Foi aqui que concluí minha introdução à Guarda da Lua meses atrás.
Quando a Cidade Santa era um lugar lindo e misterioso, cheio de
maravilhas e oportunidades.
A memória nem parecia real.
Era como se fosse uma vida diferente.
Um mundo diferente.
Um que não era construído sobre mentiras e ódio.
Eu sempre soube que Mercer era o cérebro por trás de todas as coisas
horríveis que aconteciam na Cidade Santa, mas eu nunca teria imaginado
que sua insanidade fosse tão profunda. O cara tentou assassinar a Deusa
da Lua.
Achilles sabe?
Pensei em tentar dizer a ele, mas ele não tinha nenhuma razão para
acreditar em mim em vez de em Mercer. Eu provavelmente só levaria um
tapa na cara por criar problemas.
Eu os Conduzi ao trono da Deusa da Lua, caminhando por trás dele.
Eu procurei no assento, buscando a pequena fenda onde a placa de pedra
se encaixaria — Depressa, garota. — Mercer praticamente saltou com
impaciência.
A parte de trás do trono era tão elaborada quanto o resto, com
entalhes gravados no metal. Corri mens dedos sobre a superfície até
encontrar o que estava procurando.
Tirei a placa de pedra de minhas vestes e a pressionei contra o
pequeno espaço na cadeira.
O som de pedras sendo moídas encheu a sala quando a cadeira
deslizou para o lado sozinha, revelando uma escada que descia em espiral
até a escuridão.
— Fascinante, — sussurrou Mercer. Ele olhou para mim. — O que
você está esperando? Mostre o caminho.
A espada nas minhas costas me estimulou, me dando um
encorajamento extra.
Eu entrei na escuridão. Eu só podia ter esperança de que o lugar não
tivesse armadilhas.
Pelo menos, eles me deram uma lanterna.
Descemos os degraus e entramos em uma série de corredores longos e
escuros.
Eram catacumbas.
Caminhamos pelo túnel de ossos, cada vez mais fundo na terra.
A luz de nossas lanternas esculpiu arcos de luz na escuridão, o ar
denso com poeira que não era movimentada há séculos.
Continuamos em silêncio até que pudéssemos ver uma luz fraca ao
longe. O túnel terminou e se abriu em uma grande caverna, com uma
estátua gigante de mármore esculpida à semelhança de uma Deusa da
Lua elevando-se sobre nós.
E, a seus pés, estava um baú de ouro incrustado de pedras preciosas.
Irradiava um brilho dourado, e até eu conseguia dizer que não era
uma coisa comum.
Tem que ser isso.
O Véu da primeira Deusa da Lua está ali dentro.
— Segure-a, — Mercer ordenou.
Achilles deu um passo à frente e me segurou, suas mãos como algemas
de ferro.
Eu só pude assistir enquanto Mercer se aproximava do baú, a
segundos de distância de seu objetivo.
Um rugido ensurdecedor quebrou o silêncio. Todos ficaram
instantaneamente em alerta máximo, os Guardiões da Lua pegando suas
armas.
Meus olhos examinaram a escuridão.
Não estamos sozinhos aqui.
25
OSSOS E FOGO
Sebastian

Se havia uma coisa em que meu tio era bom, essa coisa era fazer as
pessoas fazerem o que ele queria.
Assim que soube que o Véu estava na Cidade Santa, ele chamou um
hidroavião para nos buscar.
Voltamos para a costa, e o avião chegou em poucas horas.
— Como diabos você conseguiu um avião para nós?, — eu perguntei.
— Já ouviu falar de GPS, nanico?
Nós colocamos o cinto, com o motor rugindo enquanto decolávamos
no ar, voando alto acima das brumas estranhas da ilha.
— Isso não deveria ser uma ilha mítica? — Eu perguntei incrédulo. —
Você está me dizendo que poderíamos simplesmente ter voado para cá?
— O problema era encontrar o lugar, — disse Arthur. — Uma vez que
sabemos onde está, é fácil. Você pode apostar sua alcateia inteira que
guardei essas coordenadas para mais tarde.
Eu não o pressionei mais. Se isso nos ajudasse a chegar à Cidade Santa
mais rápido, eu não iria reclamar.
Eu estava segurando a espada de Lyla com muita força.
Espere, meu amor. Estou a caminho.
Desembarcamos na propriedade de Arthur logo em seguida e
imediatamente nos transferimos para seu jato particular, já esperando na
pista de pouso.
— Já faz um tempo que não vou à Cidade Santa, — disse Arthur. — E
muito abafado para o meu gosto. Principalmente com aquele idiota do
Cornelius no comando.
— Cornelius está morto, — eu disse.
— É? — Arthur se animou.
— Ele tentou me envolver em uma merda suspeita que eu não queria
fazer. — Eu encarei meu tio incisivamente. — Pagou o preço.
— Interessante. — Eu já podia ver as engrenagens girando em sua
cabeça pensando sobre o novo vácuo de poder na Cidade Santa.
Tanto faz.
Não era problema meu.
As próximas horas até a Cidade Santa se arrastaram. Quando Arthur e
eu chegamos à Basílica da Lua, meu corpo inteiro estava tenso. Eu estava
pronto para mudar de forma a qualquer momento.
Corremos para dentro, indo para a sala do trono da Deusa da Lua.
Eu estava pronto para ter que lutar para entrar, mas o lugar estava
deserto.
— Onde diabos estão todos? — Eu perguntei.
— A sorte favorece os ousados, — disse Arthur, avançando.
O trono tinha sido movido para o lado, com uma passagem secreta
revelada embaixo. Desci correndo os degraus, temendo que fosse tarde
demais.
Se Lyla foi forçada a levá-los para o Véu, então não havia dúvida em
minha mente de que Mercer se livraria dela.
Corri o mais rápido e silenciosamente que pude por baixo dos arcos
de ossos e catacumbas. Arthur me acompanhou, com seus olhos
brilhando de empolgação.
Estávamos chegando perto.
Havia uma luz no fim do túnel. As vozes começaram a chegar em
nossa direção, e diminuímos o passo, avançando com cuidado.
— Segure-a.
Foi Mercer falando.
E ele só poderia estar falando sobre uma pessoa.
Empurrei a espada de Lyla para as mãos de Arthur.
— Leve isso para ela, — eu ordenei.
Antes que ele pudesse responder, comecei a mudar de forma, com
minhas roupas rasgando em pedaços. Corri em direção à saída do túnel,
rosnando enquanto me aproximava.
Eu conseguia sentir a força da minha forma de lobo me impulsionar
para frente em disparada.
Nem mesmo uma Deusa poderia me impedir de chegar até Lyla.
Lyla

Antes que pudéssemos reagir, uma enorme forma escura saiu de um


dos túneis, atingindo os Guardiões da Lua ao meu redor.
Enviando-os em várias direções, com garras ferozes rasgando e
dilacerando a carne. Gritos de agonia ecoaram na caverna, com sangue
espirrando no ar.
Eu vi Mercer lutar para se proteger, como o covarde que era.
Eu rolei para longe, tentando escapar da besta, então percebi o que
era.
Um lobo preto enorme, com uma mancha branca sobre um dos olhos,
como uma estrela no céu noturno.
Sebastian!
Meu coração se encheu de esperança, sua presença, de repente, me
enchendo de coragem.
Meus olhos se voltaram para Mercer, que estava cambaleando para
trás em estado de choque.
Ah, agora você está ferrado.
Se eu pudesse mudar de forma! Acônito ainda corria em minhas veias,
e eu sabia, por experiência própria, que tentar me transformar seria
incrivelmente doloroso.
Uma lâmina veio derrapando no chão, fazendo barulho aos meus pés.
Meus olhos se arregalaram ao reconhecer o que era.
A espada do meu pai!
Eu olhei para cima e vi Arthur espreitando na escuridão do túnel. Ele
colocou um polegar para cima antes de recuar e sumir de vista.
Peguei a arma e avancei, para apoiar Sebastian.
Ele conseguiu matar alguns dos Guardiões da Lua porque teve o
elemento surpresa, mas ainda havia quatro deles de pé. Eles se
reagruparam e cercaram meu companheiro.
Suas lâminas reluziam com o brilho do baú dourado do Véu.
Eu sabia que Sebastian era um lutador muito bom, mas até ele estava
em apuros neste caso.
Antes que eu pudesse chegar até ele, uma lâmina veio em minha
direção pelo lado. Eu mal consegui erguer minha espada a tempo,
evitando o golpe. Ainda assim, a força do movimento me jogou no chão,
e rolei para cima e vi Achilles parado diante de mim.
— Saia, Achilles!, — eu gritei. — Você não tem que fazer isso!
— Tenho, sim, — disse ele.
Ele avançou com sua espada, mirando na minha garganta. Eu me
esquivei para o lado, a lâmina me errando por um fio de cabelo.
Mas seus movimentos pareciam mais lentos.
Lento.
Se Achilles realmente quisesse me matar ali mesmo, meu sangue
estaria sendo derramado no chão da catacumba agora.
Sebastian rugiu ao matar outro Guardião da Lua, mas os outros três
caíram sobre ele com suas lâminas. Ele precisava da minha ajuda.
Agora.
E eu não tinha tempo de lutar contra Achilles.
Achilles deu um passo à frente novamente, emitindo outro golpe de
espada, mirando no meu estômago. Tentei me defender, mas o acônito
tinha me enfraquecido. Achilles me desarmou, enviando minha espada
girando para longe na escuridão.
Ele apontou sua espada para o meu peito.
Tudo o que ele precisava fazer era cravá-la...
— Achilles, por favor, — eu implorei com minhas mãos para cima. —
Eu sei que você é mais do que um guarda estúpido. Você não pode
confiar em Mercer, ele...
— ACHILLES! — Mercer gritou de seu esconderijo, com saliva voando
de sua boca. — MATE ELA.
Achilles hesitou. Eu podia ver o conflito por trás de seus olhos.
Eu só conseguia olhar para ele, completamente à sua mercê.
Para minha surpresa, ele não me feriu. Ele baixou a espada. Seu rosto
era uma máscara ilegível.
— Vá, — ele disse. Essa única palavra cheia de emoção.
Simpatia?
Eu não podia pensar nisso agora.
— Obrigada, — eu disse.
Passei correndo por ele, desesperada para chegar até Sebastian,
quando uma dor repentina queimou meu rosto. Eu caí no chão, e Mercer
estava acima de mim, com uma adaga ensanguentada em sua mão.
— Estou cercado por traidores e hereges, — Mercer disse. Ele olhou
para mim. — Depois que eu terminar com você, eu irei destruir todos os
fracos nos Guardiões da Lua. Depois que eu tiver o Véu, darei um jeito na
Deusa da Lua também. A Cidade Santa será minha, e nada jamais...
Mercer foi atirado para trás, para a estátua da Deusa da Lua. Ele bateu
nela com um baque e caiu no chão.
Achilles limpou o pó das mãos, parecendo enojado por sequer ter
tocado em Mercer. Ele me ajudou a levantar.
— Eu sempre me perguntei por que Mercer era tão obcecado pelo
Véu, — disse Achilles. — Agora eu sei o porquê. Estou cansado dessa
merda.
— Peguei! — Arthur gritou. — Vamos sair daqui!
Ele estava parado na entrada do túnel, com o baú dourado em seus
braços. Ele deve ter escapado da briga e o pegado.
Achilles avançou em direção a Sebastian, ajudando-o a afastar os
Guardiões da Lua restantes. Sebastian tinha vários cortes em seu corpo e
começou a recuar quando Achilles tomou seu lugar.
Corri para Sebastian, tentando o meu melhor para apoiá-lo. Ele
mudou de volta para sua forma humana, seu corpo escorregadio de
sangue.
— Oi. amor. — Ele sorriu para mim enquanto o sangue escorria de sua
boca.
Soltei uma meia risada, meio soluço.
— Saiam daqui!, — Achilles gritou. — Eu vou segurá-los.
Eu me posicionei debaixo do braço de Sebastian para sustentá-lo
enquanto mancávamos em direção à saída. Arthur estava esperando,
pulando para cima e para baixo com impaciência. Ele colocou um pano
pesado sobre a caixa dourada, diminuindo o brilho que ela emitia.
Começamos a correr para mais fundo nas catacumbas, o som de
combates e aço colidindo ecoando atrás de nós.
Eu olhei para trás.
— Achilles!, — eu gritei. — Venha conosco!
Ele se virou e acenou com a cabeça, chutando o Guardião da Lua que
estava de frente para ele, mas, antes que pudesse correr em nossa
direção, ele congelou de repente, seu rosto contorcido de dor.
Achilles caiu de joelhos quando Mercer arrancou sua adaga das costas
dele.
— NÃO! — Eu gritei.
Tentei correr em direção a ele, mas Sebastian e Arthur me seguraram.
— Nós temos que ir, — Sebastian disse, com uma expressão sombria.
Os dois homens me arrastaram enquanto eu lutava e me debatia.
Mercer olhou para mim, levantando sua adaga para o golpe final.
— É tarde demais! — Arthur disse. — Não deixe o sacrifício dele ser
em vão.
O tempo pareceu desacelerar enquanto eu olhava nos olhos de
Achilles. Pode ter sido minha imaginação ou um truque de sombras, mas
eu poderia jurar que ele estava sorrindo. Ele balançou a cabeça para mim
e, pela primeira vez, parecia que estava em paz.
E então a adaga de Mercer caiu.

Os próximos momentos foram um borrão.


Lembro que corremos pelo labirinto vertiginoso das catacumbas,
fugindo de Mercer e dos Guardiões da Lua restantes.
Corremos pela escuridão, com o brilho suave do baú dourado
lançando sombras aterrorizantes sobre os crânios e ossos que formavam
os túneis ao nosso redor.
E, agora, as catacumbas eram o lar de outro cadáver.
Achilles...
Tínhamos conseguido encontrar um caminho que saía das
catacumbas e entrava nos esgotos e, de lá, rastejamos por um bueiro e
saímos nas ruas da Cidade Santa.
Arthur entrou em um beco deserto, e Sebastian e eu tropeçamos atrás
dele.
Sebastian estava bastante machucado, mas felizmente nenhum de
seus ferimentos era sério. Arthur deu a ele uma camisa e shorts de uma
pequena bolsa que guardava para casos de emergências.
O corte que Mercer fez na minha bochecha precisaria de pontos, mas
eu ia sobreviver.
Arthur colocou o baú dourado no chão. Ele o abriu com reverência,
como um profeta revelando as palavras de um deus.
E lá, descansando sobre uma almofada de veludo, estava o Véu da
primeira Deusa da Lua. Não parecia particularmente divino nem nada.
Apenas um anel de metal envolto em tecido.
Arthur mexeu nele como uma criança que acabou de ganhar um
cachorrinho. Ele não tinha certeza se deveria tocá-lo ou não.
O ódio de repente cresceu dentro de mim.
Todo esse maldito derramamento de sangue por um pedaço de pano.
A maldita coisa provavelmente nem tinha poderes místicos. Esse
pedaço de tecido comido por traças realmente valia tanto sofrimento?
Empurrei Arthur para o lado e peguei o Véu.
Eu o coloquei.
Eu iria provar que toda essa merda de lenda era uma mentira.
Assim como toda a maldita Cidade Santa.
Mas, no segundo que o coloquei, tudo escureceu.
Pisquei, desorientada.
Que diabos?
E, de repente, vi fogo.
Um mar de chamas me engoliu, com fumaça preta sufocando meus
pulmões.
Eu estava sendo queimada viva.
26
RATOS NO ESCURO
Lyla

As chamas lamberam minha pele.


A fumaça preencheu meus pulmões.
Eu não conseguia nem gritar de tão grande que era a dor Eu abri minha
boca para uivar, mas nenhum som saiu.
Tentei correr, mas minhas mãos e pés estavam presos a algo atrás de mim.
Havia rostos nas chamas.
Eles balançaram e se deformaram, distorcidos pela dança do Inferno.
Seus olhos despejaram fumaça, suas línguas lançaram fogo.
Eles riram e zombaram, deliciando-se com minha agonia.
Minha carne estava queimada, meus ossos virando cinzas e poeira.
Este era o meu destino.
Este era o meu futuro.
Acordei gritando, pânico e terror percorrendo meu corpo.
Braços fortes estavam ao meu redor, me impedindo de desmoronar
completamente.
— Você está bem, — Sebastian disse. — Você está bem.
Eu me encolhi em seu peito, tremendo de medo.
Que diabos foi isso?
— O que você viu?, — Arthur exigiu. Eu olhei para cima, com minha
visão obscurecida pelas lágrimas. Ele estava segurando o Véu, mas parecia
murchar e envelhecer diante dos meus olhos. O pano macio e delicado se
desintegrou, e a argola de metal enferrujou e se desfez em pó.
— Você colocou o Véu, — Arthur insistiu. — Você viu o futuro.
Seu rosto estava a centímetros do meu. Ele olhou nos meus olhos, e
eu vi o olhar de um homem possuído.
Obcecado.
— O quê. Você. Viu?
Sebastian o empurrou.
— Deixe-a em paz, — ele rosnou.
— Graças à sua companheira, o Véu foi destruído! — Seu olhar louco
se voltou para mim. — O que você viu?
Estremeci. As imagens voltando à minha mente.
A sensação de ser queimada viva.
O fedor da minha própria carne queimando.
Eu balancei minha cabeça, tentando afastar a imagem.
Esse era realmente o futuro?
Meu -futuro?
Sebastian

— Não lembro, — sussurrou Lyla. Sua voz estava tão trêmula... Eu


nunca a tinha visto tão apavorada.
— Se esforce mais! — Arthur insistiu.
Lyla se encolheu, enterrando o rosto no meu peito.
— Vai à merda, Arthur, — eu avisei. — Se ela não lembra, então ela
não lembra.
Ele bufou de frustração, andando de um lado para o outro no beco.
Que diabos acabou de aconteceu?
Quando Lyla agarrou o Véu, ela ficou tensa como se tivesse acabado
de ser atingida por um choque. Alguns segundos depois, ela começou a
chorar como uma alma penada.
Pressionei meu rosto em seu cabelo, massageando pequenos círculos
em suas costas para confortá-la.
Será que ela realmente não se lembra do que viu?
— Tudo o que você acabou de ver não é real, — eu a consolei. — E
apenas um mito de que você pode ver o futuro. Pode ser apenas algum
absurdo místico de merda.
Arthur parou de andar. A luz frenética em seus olhos se foi. Ele estava
olhando para a pequena pilha de poeira em suas palmas.
Tudo o que restou do Véu.
— Colocamos o Véu em sua posse, — eu disse. — Tecnicamente,
mantivemos nossa parte do acordo. Agora é hora de você cumprir a sua.
Arthur limpou as mãos, a poeira do Véu espalhando-se no ar. Ele tinha
uma expressão confusa no rosto. O tipo de sorriso quando você pensa
que algo é engraçado quando, na verdade, não é nada engraçado.
— Eu admito. A caça ao tesouro com você foi muito agradável, nanico.
— Fale por si mesmo, — eu grunhi.
— Eu vou lhe dar o maldito dinheiro de que você precisa tão
desesperadamente, mas não estou satisfeito. Você vai ter que fazer outra
coisa por mim no futuro, sem fazer perguntas.
Eu estreitei meus olhos, não gostando disso nem um pouco.
Mas era isso.
A resposta para salvar a Alcateia Real.
— Tudo bem.
Arthur concordou com a cabeça, satisfeito. Ele pegou o baú dourado
do Véu e o enfiou embaixo do braço.
— Bem, estou voltando para Mônaco. Tenho certeza de que a Ilha de
Lupinus tem muitos mais segredos que não descobrimos.
— Cuidado com as panteras, — eu disse. — Seria uma pena se você
fosse comido.
Arthur riu enquanto se afastava.
— É melhor que isso seja genuíno, porque não vou assinar nenhum
cheque até voltar.
Bastardo esperto.
Ele desapareceu na esquina, mas eu sabia que não tinha visto meu tio
pela última vez.
Voltei minha atenção para o amor da minha vida, que estava, no
momento, em meus braços.
Finalmente segura.
Pelo menos por enquanto.
Ela parou de tremer. Sua respiração voltou ao normal.
— Você está bem?, — eu perguntei.
— Sim. — Ela se afastou de mim. respirando fundo algumas vezes.
Mesmo com o corte em sua bochecha e sangue e sujeira secando em seu
pescoço, ela estava linda.
Eu olhei para baixo e percebi que também tinha alguns ferimentos
abertos.
— Precisamos encontrar Caspian, — eu disse. — Ele pode nos ajudar a
nos limparmos, e podemos finalmente ir para casa.
— Ainda não, — disse Lyla.
Eu franzi a testa.
— O que quer que aconteça aqui não é da nossa conta, Lyla.
Conseguimos o que viemos buscar.
Mas Lyla apenas balançou a cabeça.
— Eu tenho alguns negócios inacabados aqui. — Sua voz soou baixa e
perigosa, e eu sabia que, quando Lyla decidia algo, não havia como pará-
la.
Suspirei, resignando-me ao meu destino.
— Além disso...., — ela continuou. — Mercer tem Adele. E não vou
abandoná-la como fiz com Achilles.
Adele

Bati no chão com um pano sujo, fazendo com que os ratos fugissem.
Eles eram enormes. Seus olhos redondos e dentes afiados brilhavam à luz
das tochas.
Eles estavam sempre observando, apenas esperando o momento em
que alguém começasse a cochilar. E, então, eles corriam e mordiscavam
sua carne até que você os afastasse novamente.
Eu não dormia há três dias.
O fedor de corpos sujos e resíduos enchia o ar. As celas estavam
explodindo com mestiços. Avistei algumas bruxas enquanto entrava, mas
elas estavam sendo mantidas em suas próprias celas.
Cuidadosas precauções foram tomadas para que elas não pudessem
lançar nenhum feitiço.
Olhei para os rostos tristes e desesperados ao meu redor. Jovens e
velhos.
Seus corpos estavam cobertos de feridas. Seus espíritos estavam
quebrados. Eu não conseguia ver bem no brilho fraco da fogueira, mas
conseguia ver a falta de esperança em seus olhos.
A pele seca se estendia ao longo de ossos quebradiços.
Tentei falar com alguns deles. Por mais inútil que pudesse ter sido,
tentei animá-los.
Porém, minhas únicas respostas foram soluços silenciosos ou olhares
distantes, sem foco.
Voltei para o meu cantinho. Era imundo e fedia demais, mas fornecia
uma pequena sensação de conforto.
Ter uma parede contra as minhas costas me ajudava a respirar um
pouco melhor, mesmo que o ar ao meu redor fosse praticamente lixo
tóxico.
Eu me enrolei como uma bola, meu pano sujo pronto para assustar os
ratos famintos que eventualmente viriam atrás de mim.
Eu olhei para os outros ao meu redor. Eles pareciam ter aceitado que
este seria o lugar onde eles morreriam.
Quanto tempo eu duraria até começar a me sentir como eles?
Caspian

— Precisamos ser discretos por enquanto.


Olhei para Tempeste como se ela tivesse uma cabeça extra.
— Isso é hilário, Tempeste. Mas qual é o plano real?
Ela olhou para mim, extremamente séria.
— Talvez você não consiga ver porque é um lobisomem de sangue
puro, Caspian, mas as coisas estão ficando terríveis.
Eu passei os últimos dias com Tempeste e seu clã.
Elas me receberam de braços abertos, e eu as ajudei a planejar suas
várias táticas de ataque e fuga.
Havia cerca de seis outras bruxas, mas eu não tive a chance de
conhecê-las.
Eu nem sabia seus nomes.
As bruxas estavam atormentando as patrulhas dos Guardiões da Lua
que vagavam pelas áreas pobres. Elas também tentavam libertar aqueles
que os Guardiões da Lua haviam prendido, com vários graus de sucesso.
As bruxas sempre tiveram muito cuidado para nunca matar nenhum
dos Guardiões da Lua. Uma morte de verdade deixaria toda a situação
totalmente fora de controle.
Algumas das irmãs de Tempeste tentaram salvar uma das suas, mas
acabou sendo uma armadilha.
Os Guardiões da Lua estavam esperando por elas.
— Eles estão muito mais cientes das nossas táticas agora, —
continuou Tempeste. — Mal conseguimos escapar da última vez.
— Sempre soubemos que não seria fácil, — eu disse. — Se pudéssemos
trazer mais mestiços para nós...
— Se você e sua companheira tivessem me ouvido quando eu me
aproximei de vocês, teria sido mais fácil. Mas, desde que Mercer invadiu
seu pequeno porto seguro, a Guarda da Lua tem estado em alerta
máximo.
Eu a encarei.
Ela nos avisou. Ela disse que as coisas iriam piorar.
E pioraram.
Mercer estava com Adele.
— Não podemos apenas esperar que as coisas aconteçam. — Eu
conseguia sentir meu temperamento piorando, meu corpo me incitando
a mudar de forma e invadir as prisões. — Adele está sofrendo sozinha.
— Acredite em mim, eu sei como você se sente. Minhas irmãs também
estão definhando nas masmorras. — Tempeste falou baixinho, mas eu
podia sentir a tensão em sua voz. Ela estava tão ansiosa quanto eu. —
Mas não podemos simplesmente atacar às cegas. Precisamos de um
plano.
— Talvez pudéssemos ajudar com isso.
Eu olhei para a porta, e meu queixo caiu.
Lyla e Sebastian estavam parados lá, parecendo que tinham acabado
de lutar uma série de batalhas.
Um sorriso diabólico se espalhou pelos lábios de Tempeste.
— Exatamente o rosto que eu queria ver, — disse ela.
— Mercer está com Adele, — eu disse sem perder tempo.
Lyla acenou com a cabeça. Seus olhos em chamas.
— Eu sei. Vamos acabar com esse maldito.
27
EM FLAGRANTE
Lyla

Eu estremeci quando Caspian jogou um pouco de vodca na minha


bochecha. O corte que Mercer causou queimava como o inferno.
Ele começou a me costurar, e eu tive que cerrar os dentes para me
distrair da estranha sensação de minha carne sendo fechada.
As feridas de Sebastian eram muito mais sérias do que as minhas, mas
a pele grossa e os músculos de sua forma de lobo impediram que
qualquer um de seus ferimentos se tomasse fatal.
Tempeste e algumas de seu clã estavam tratando dele em uma sala
separada.
— Droga, eu sabia que Mercer era um filho da puta louco, mas não
achava que ele fosse tão louco. — Eu dei a Caspian um rápido resumo de
todas as coisas que aconteceram desde que eu deixei a Cidade Santa. Da
minha viagem a Mônaco ao naufrágio do barco na Ilha de Lupinus e ao
plano de Mercer para derrubar a Deusa da Lua.
— E por isso que precisamos expô-lo, — eu disse. — Não podemos
parar depois de resgatar Adele. Precisamos acabar com ele ou coisas
assim continuarão acontecendo.
— Por que simplesmente não contamos a todos? — Caspian
perguntou. — Espalhe a palavra. A Deusa da Lua é uma farsa. Mercer é
um psicopata.
— Você realmente acha que alguém acreditaria em um bando de
fugitivos, mestiços e bruxas? Seríamos ridicularizados por todo o
caminho até uma cela. Precisamos de um... Ai! Cuidado!
Caspian havia puxado os pontos com força demais para o meu gosto.
Ele tinha um pequeno sorriso no rosto.
— Desculpe, Luna. Foi sem querer.
— Isso é hora para brincadeiras? — Eu perguntei.
— Por que não? — Caspian cortou o fio, terminando. — Alguma
merda louca vai acontecer quer estejamos rindo ou infelizes.
Eu pisquei, surpresa.
— Hum. Não esperava que você fosse tão cheio de sabedoria.
Caspian encolheu os ombros. — Eu sou um homem mudado.
— Deve ser a influência de Adele. — Eu sorri para ele.
Eu podia ver a dor por trás de seus olhos, mas ele sorriu de volta
mesmo assim.
— Nós a traremos de volta, — eu assegurei a ele.
— Sim.
Nós apenas ficamos sentados em silêncio por um tempo, apreciando o
raro momento de quietude. Eu sabia que não haveria muito tempo para
descansar depois que definíssemos nosso plano.
Fosse o que fosse.
— Então, alguma ideia sobre que diabos vamos fazer agora? —
Caspian perguntou.
— Eu tenho uma, — Sebastian disse.
Eu me virei para encontrá-lo parado na porta, a maior parte superior
de seu corpo envolta em curativos. Levantei-me e fui até ele, ficando na
ponta dos pés para dar um beijo rápido em seus lábios.
— Você vai ficar bem? — Eu perguntei.
— Tempeste e seu clã são fazedoras de milagres, — disse ele. — Eu
estarei bem em algumas horas.
— Aquelas espadas dos Guardiões da Lua quase acertaram uma
artéria, — acrescentou Tempeste, entrando atrás dele. — Você poderia
ter morrido antes de nos encontrar. Você é sortudo.
— Que bom que eu tinha meu amuleto da sorte comigo, — ele disse
enquanto piscava para mim.
Eu revirei meus olhos.
— Então, que ideia você tem? — Eu perguntei a ele. — É perigoso, mas
pode funcionar, — disse Tempeste. — Embora haja uma parte em
particular sobre a qual não tenho certeza...
— E qual é? — Caspian perguntou.
Sebastian olhou para ele com um sorriso malicioso nos lábios.
— Quão bem você sabe atuar?
Caspian

Eu me arrastei em direção às prisões, a armadura de Guardião da Lua


se esfregando desconfortavelmente contra minha pele.
— Lyla poderia ter roubado um conjunto mais próximo do meu
tamanho, — murmurei.
— Quieto, — Sebastian sibilou ao meu lado. Ele estava vestindo a
armadura de Guardião da Lua também, mas ele estava usando um
capacete que cobria seu rosto. — Estamos chegando perto.
O resto do clã de Tempeste se arrastou atrás de nós, suas algemas
chacoalhando no ar noturno.
O plano de Sebastian era muito simples.
Nós nos apresentaríamos como Guardiões da Lua e fingiríamos estar
trazendo um bando de bruxas para serem presas.
O único problema era que eu tinha que ser o único a falar para
entrarmos. Sebastian era muito reconhecível, sendo um Alfa, então eu
tinha que interpretar um Guardião da Lua de modo convincente.
Isso e a senha rotativa, que mudava todas as semanas.
Lembrei-me das palavras de Lyla.
Apenas seja um idiota e arrogante. Se eles pedirem seu indicativo, será
Nightspear ou Starsearcher Use o bom senso.
Basicamente, tínhamos cinquenta por cento de chance de sucesso. Se
formos pegos do lado de fora da prisão, as coisas ficarão feias.
Enquanto Sebastian e eu resgatamos Adele e os outros prisioneiros,
Lyla e Tempeste iriam tentar encontrar alguma evidência para que
pudéssemos pegar Mercer. Para provar à Santa Igreja que ele estava
planejando um golpe.
Mas não tinha tempo para me preocupar com Lyla e Tempeste.
A prisão ficava no final da rua. Era um edifício imponente, as pedras
escuras como breu. Era cercada por muros altos e patrulhada o tempo
todo.
Espero que seja um par de idiotas de plantão esta noite.
Dois Guardiões da Lua estavam vigilantes no portão e ficaram atentos
quando nos aproximamos.
— Está pronto? — Sebastian sussurrou.
— Vamos lá.
Caminhamos até os dois guardas, e eu puxei com violência as
correntes das bruxas. Algumas delas me lançaram um olhar furioso. Eu
não tinha certeza se elas estavam atuando ou se estavam realmente
chateadas.
Eu puxei novamente, por via das dúvidas.
Tenho que atuar para nossos amigos aqui.
— Tenho algumas bruxas aqui para serem presas, — disse.
— Como diabos vocês dois capturaram cinco bruxas? — um deles
perguntou.
Ah. Hum. Bom ponto.
— O quê? Vocês dois não conseguiriam? — Eu zombei. — E vocês se
consideram Guardiões da Lua?
Eles olharam para mim, e eu zombei de volta.
Idiota e arrogante. Idiota e arrogante.
— Indicativo? — um deles perguntou.
Tudo bem, eles se pareciam mais com Nightspears ou Starsearchers?
— Starsearcher, — eu disse. Prendi minha respiração.
Acho que eu estava procurando pela minha estrela. Ela estava dentro
desta maldita prisão.
— Entre, — um deles grunhiu.
Eu balancei a cabeça, mantendo a calma.
Puta merda, funcionou.
— Andem logo, escórias, — eu disse, puxando a corrente.
Atravessamos os portões, abrindo caminho pelos jardins áridos e
entrando no prédio principal.
O lugar parecia um calabouço saído da Idade Média.
Havia uma longa escada que descia para o subsolo, e, pelo fedor que
subia, eu tinha certeza de que era onde esses malditos doentes
mantinham todos os prisioneiros.
— Bom trabalho, — Sebastian disse. Ele tirou o capacete e começou a
destravar as algemas das bruxas atrás de nós. Assim que suas mãos
estavam livres, elas removeram as mordaças da boca.
— Você é um Guardião da Lua convincente, — uma delas me disse. —
Eu queria colocar fogo em você.
A parte importante dessa declaração foi a ênfase em queria e não
quero. — Hum, obrigado.
Descemos as escadas furtivamente, e fui forçado a respirar pela boca.
Cheirava como se alguém tivesse cagado em uma montanha de
cadáveres. Sebastian chegou ao fim da escada e deu uma olhada ao virar a
esquina. Ele ergueu o punho, e eu copiei o gesto. A bruxa atrás de mim
esbarrou em mim, e tivemos que nos esforçar para ficar quietos.
Eu acho que elas não conheciam o sinal para não se mexa.
Sebastian fez um sinal para mostrar o que viu, e eu tive que traduzir
silenciosamente para nossas amigas bruxas.
— Quatro guardas à esquerda, cinco à direita, — sussurrei o mais
baixo que pude.
A bruxa atrás de mim concordou com a cabeça, e o resto delas recuou
escada acima alguns degraus.
— Quando eu lhe der um tapinha no ombro, prenda a respiração, —
ela sussurrou.
Eu balancei a cabeça, passando a mensagem para Sebastian.
As bruxas começaram a entoar o feitiço, sendo tão silenciosas quanto
as regras de sua magia permitiam. Eu conseguia sentir a energia no ar
rançoso ao meu redor. Parecia o momento antes de uma tempestade com
raios, o ar carregado de eletricidade estática.
Mesmo assim, por mais silenciosas que estivessem tentando ser, seus
murmúrios ecoaram até os guardas abaixo.
Sebastian sinalizou que um estava se aproximando, e eu conseguia
ouvir o som de suas botas batendo no chão de pedra.
Eu me preparei para uma briga. Se as coisas ficassem barulhentas,
estaríamos em apuros. Eu só podia ter esperança de que qualquer feitiço
que elas estivessem lançando acabasse rapidamente...
Os passos ficaram cada vez mais altos, a sombra do guarda no chão
crescendo a cada passo.
Eu fiquei tenso, botando minhas garras para fora.
Lá vamos nós...
Senti um toque no ombro e imediatamente prendi a respiração.
Toquei em Sebastian quando uma névoa roxa estranha passou por mim
descendo as escadas e se espalhou na área abaixo de nós.
Eu ouvi o estrondo de armadura à medida que os guardas começaram
a desmoronar. Sebastian e eu avançamos com a névoa, assistindo
enquanto os Guardiões da Lua caíam no chão inconscientes.
Eu mostrei um polegar para cima para as bruxas. Elas sabiam o que
estavam fazendo.
Parecia que esta área era apenas um posto de guardas, e as masmorras
estavam ainda mais abaixo do solo. Esses desgraçados estavam usando
máscaras que cobriam a boca, incapazes de suportar o fedor a que
sujeitavam seus prisioneiros.
A névoa desapareceu após um instante, e eu pude respirar livremente
novamente. Pesquei as chaves e continuei descendo ainda mais
masmorras abaixo. Eu agarrei as chaves com minhas mãos, o rosto de
Adele preenchendo minha mente.
Quase lá.
Lyla

Tempeste se concentrou na fechadura do escritório de Mercer,


murmurando um feitiço baixinho.
Depois de um instante, um clique -suave sinalizou que ela havia
terminado. Entramos, e olhei em volta para as paredes de livros e tomos.
Deve haver algo que possamos usar aqui.
Graças ao meu conhecimento das patrulhas dos Guardiões da Lua e
um pouco da magia de Tempeste, fomos capazes de nos esgueirar pela
basílica até o escritório de Mercer. Mas eu sabia que não teríamos muito
tempo.
Tempeste e eu nos dispersamos, procurando em seus documentos por
algo que pudéssemos usar contra ele.
Eu folheei os livros estranhos, quase todos eles sobre mitos e lendas
antigas.
Mercer também estava procurando por artefatos...
Vasculhei sua mesa, esvaziando gaveta após gaveta, quando um som
estranho chamou minha atenção. A gaveta que olhei estava vazia, mas,
quando a movi, ainda havia algo fazendo barulho lá dentro.
Um compartimento secreto.
Meu pulso disparou.
— Achei algo, — gritei para Tempeste.
Tempeste correu, e, depois de lançar um feitiço rápido, o
compartimento se abriu e revelou um diário escondido.
Poderia ser isso?
Eu folheei as páginas, examinando-as. Era principalmente coisas sem
sentido, falando sobre deuses e lendas. Estrelas e o ciclo da criação. Mas
então eu encontrei.
Seu plano delineava como ele poderia destruir a Deusa da Lua, como
o Véu seria apenas o primeiro item que ele poderia usar em sua busca
para se tomar um...
Deus da Lua?
— Que diabos? — Eu sussurrei.
Tempeste pegou o livro e começou a lançar um feitiço sobre ele.
Depois de alguns momentos, o livro desapareceu com um pequeno flash
de luz. — Está no nosso esconderijo, — disse ela. — Agora vamos sair
daqui antes...
— Antes de quê? — uma voz inconfundível chamou da porta do
escritório.
Ah, merda.
Tempeste e eu recuamos enquanto uma dúzia de Guardiões da Lua
avançava com as lâminas em punho. Não havia saída. No segundo que
Tempeste abrisse a boca para lançar um feitiço, ela seria derrubada.
Mercer entrou lentamente, como se tivesse todo o tempo do mundo.
Sua cabeça estava erguida, com um sorriso insuportável nos lábios. Ele
nos olhou de cima a baixo, e pude ver o ódio puro queimando em seus
olhos.
— Se você quer se associar a uma bruxa... — ele rosnou.
. —.. Então você pode queimar como uma também.
28
UM PAVIO DIMINUINDO
Adele

A dor aguda dos dentes perfurando minha carne me acordou com um


choque.
Eu me mexi freneticamente, agarrando meu pano e espancando os
ratos. Eles gritaram de ódio, com seus minúsculos dentes podres
pingando meu sangue.
Esfreguei a nova ferida.
Se a exaustão não me matasse, uma infecção certamente o faria.
Houve uma comoção repentina perto da frente das celas.
Será que a Guarda da Lua veto para nos atormentar mais um pouco?
Levantei-me, recusando-me a deixá-los ver quão miserável e
apavorada eu estava. Eu só queria me enrolar em uma bola e chorar, mas
eu não me permitiria isso.
Seja forte, Adele.
Um Guardião da Lua destrancou a cela e procurou lá dentro. A luz da
tocha que ele segurava quase me cegou.
— Adele, — disse ele.
Eu franzi as sobrancelhas, reconhecendo imediatamente a voz.
Eu já enlouqueci.
Não havia nenhuma chance dele ser...
Mas então fui repentinamente puxada em um abraço. Meus olhos
começaram a se ajustar ao brilho das chamas, e lá estava ele na minha
frente...
Caspian.
A força em minhas pernas, de repente, sumiu, o sentimento que eu
estava segurando transbordou. Eu o segurei como se não houvesse
amanhã, com minhas lágrimas escorrendo pela platina de sua armadura.
— Estou aqui, — ele murmurou. — Você está segura agora.
— Todas... essas pessoas..., — eu choraminguei em meio às lágrimas.
— Eu sei, — ele me assegurou. — Você tem sido tão forte! Mas preciso
que você seja forte um pouco mais. Você consegue andar? — Sua voz era
gentil, mas firme. Eu tirei força disso.
Eu balancei a cabeça, enxugando minhas lágrimas.
— Vamos tirar essas pessoas daqui, — eu disse.
Sebastian

Sair da prisão foi muito mais fácil do que eu esperava. Acho que os
Guardiões da Lua de plantão estavam todos concentrados em ameaças
do lado de fora.
Eles nunca teriam esperado um ataque vindo de dentro.
Ter um grupo de bruxas para nocauteá-los silenciosamente
certamente não fez mal também.
As bruxas de Tempeste foram libertar suas irmãs, e Caspian, Adele e
eu reunimos os mestiços no área da frente.
Eu olhei em volta, de repente ciente de como essa situação era
ridícula.
Aqui estava eu, me esgueirando pela Cidade Santa, ajudando bruxas e
mestiços a escaparem de uma prisão dos Guardiões da Lua.
Se o Sebastian de algumas semanas atrás pudesse me ver agora, ele
provavelmente se mataria primeiro, para me salvar dessa vergonha.
Ainda assim, se meu tempo aqui na Cidade Santa me ensinou alguma
coisa, foi que as aparências enganam. Só porque alguém era uma bruxa
ou um mestiço, isso não necessariamente fazia deles uma pessoa má.
Assim como certos cardeais nem sempre são boas pessoas.
Voltei minha atenção para pastorear os prisioneiros do lado de fora.
Ainda não estávamos livres.
Foi um processo lento. Muitos dos mestiços nem mesmo conseguiam
andar. Mas todos eles se juntaram para ajudar uns aos outros. Eles
pareciam um exército de cadáveres ambulantes, mas eles tinham
esperança em seus olhos novamente.
Eles desapareceram na Cidade Santa, muitos seguindo seus caminhos
separados.
Mas para onde eles voltariam?
Casas e mesas vazias? Eles voltariam para implorar por restos na rua?
Eu balancei minha cabeça, tentando afastar os pensamentos
deprimentes.
Concentre-se, Sebastian. Termine essa merda e volte para casa em
segurança.
As bruxas também se espalharam pela cidade.
Eu não perguntei por quê. Essas bruxas seguiam seus próprios planos
estranhos, e tudo com que me importava era ver Tempeste e Lyla seguras
de volta ao esconderijo.
O Sol estava nascendo quando voltamos.
Caspian carregou Adele nos braços. Ela estava dormindo
profundamente. A pobre garota devia estar exausta.
— Lyla?, — eu chamei enquanto entrávamos.
— Tempeste?
Não houve resposta.
Eu farejei atrás de seu cheiro, mas não encontrei nada.
Olhei para Caspian e percebi que ele estava pensando a mesma coisa
que eu.
Elas deveriam ter voltado muito antes de nós. Entramos na sala de
reuniões principal. Caspian colocou Adele suavemente em um sofá
enquanto eu olhava ao redor em busca de sinais sobre o paradeiro de Lyla
e Tempeste.
Vi um livro em cima de uma mesa que não existia antes. Eu me
aproximei e o peguei, franzindo a testa. Abrindo-o, entendi o que era.
— Ah, puta merda, — eu disse.
— O que é isto? — Caspian perguntou.
— É o diário de Mercer. — Eu o folheei, lendo sobre seus planos
malucos para ascender à divindade. — Isso é exatamente o que
precisamos para expô-lo à Deusa da Lua.
— Lyla e Tempeste conseguiram! — Caspian disse. — Mas onde
diabos elas estão?
A porta se abriu, e Caspian e eu imediatamente entramos em ação.
Eu prendi o intruso na parede, uma garra sob sua garganta.
Caspian estava agachado na frente de Adele, pronto para atacar. Adele
acordou de repente, com os olhos arregalados.
— Paz! Paz! — a bruxa gritou.
Eu aliviei meu aperto, tirando minha garra de sua jugular.
— O que você está fazendo entrando aqui desse jeito?, — eu exigi. —
Você poderia estar morta agora.
Ela balançou a cabeça, sem fôlego.
— É Tempeste e Lyla, — ela se engasgou.
Meu estômago embrulhou.
— Onde elas estão?, — eu rosnei.
— Mercer está com elas, — a bruxa disse. — Elas estão sendo levadas
para a praça principal.
— Então vamos resgatá-las, — disse Caspian.
A bruxa balançou a cabeça. — Tem muitos Guardiões da Lua. Não
temos chance.
— Por que ele as está levando para lá?, — eu perguntei, temendo a
resposta.
— Ele quer torná-las um exemplo, — disse ela. — Ele vai queimá-las
na fogueira.
— O QUÊ? — Caspian gritou.
Eu já estava me movendo. Peguei o diário de Mercer, indo em direção
à porta.
— Eu preciso levar isso para a Deusa da Lua, — eu disse.
— O que devemos fazer? — Caspian me chamou.
— Ganhar tempo!
Mudei de forma assim que saí, pegando o diário com os dentes. Era
proibido por lei se transformar dentro da Cidade Santa, a menos que
você tivesse permissão específica da Deusa da Lua.
Mas foda-se a lei.
Corri pelas ruas, me movendo mais rápido do que jamais me movi em
toda a minha vida.
Por favor, que eu consiga chegar a tempo.
Lyla

O Sol nasceu na Cidade Santa, o brilho dourado refletindo lindamente


nas estradas e edifícios pitorescos.
Eu poderia até ter aproveitado da vista se não estivesse sendo levada
para minha própria execução.
A notícia se espalhou rapidamente sobre as duas — hereges — que
seriam feitas de exemplos na praça principal. Acho que a praça servia
duplamente como um lugar para celebrações e um local de matança.
Embora, olhando para a multidão voraz que nos cercava, essas duas
coisas poderiam ter sido a mesma.
Eles gritavam e zombavam, lançando insultos que fariam corar o mais
ousado dos marinheiros.
Olhei para seus rostos, entorpecida pelo choque.
Como essas pessoas podem ser tão propensas ao ódio?
Eu tinha certeza de que elas nem sempre foram assim. As pessoas ao
nosso redor pareciam cidadãos normais e comuns.
Estavam tão cegos pelo ódio e preconceito que não conseguiam ver o
horror do que estavam fazendo?
Eles ao menos sabiam que o que estavam fazendo era errado?
Eu sibilei de dor quando uma pedra bateu na minha perna.
O público estava rapidamente se transformando em uma multidão
enfurecida à medida que gritos e pedras choviam sobre nós.
Os Guardiões da Lua ao nosso redor não fizeram nada para detê-los.
Eles apenas nos arrastavam, as algemas de ferro rasgando a pele em volta
dos meus pulsos.
Eu só podia cerrar os dentes e lidar com a dor.
Adele
Caspian e eu abrimos caminho através da multidão na praça principal.
Eles montaram uma plataforma alta de madeira, com pilhas de lenha e
gravetos empilhados embaixo.
Duas estacas de madeira foram plantadas no solo.
A visão me horrorizou.
Não havia uma execução de bruxa oficial na Cidade Santa fazia um
século.
Mercer estava trazendo de volta as piores partes da História.
Vimos a procissão entrar na praça, e a multidão se afastou para eles.
Eu podia ver Lyla e Tempeste sendo atingidas por pedras enquanto
eram arrastadas para a condenação.
— O que devemos fazer? — Caspian perguntou.
Antes que eu soubesse o que estava fazendo, fui para o caminho
aberto entre os Guardiões da Lua e a plataforma. Caspian fez como eu,
ficando ao meu lado. Ficamos de mãos dadas, espalhando-nos o máximo
que podíamos.
Não havia como impedi-los, mas tínhamos que tentar.
A multidão ao nosso redor vaiou, gritando para sairmos do caminho.
A mão de Caspian apertou a minha, e ele me deu um aceno de
encorajamento.
Então, de repente, alguém agarrou minha outra mão. Eu olhei e vi
outro mestiço parado ao meu lado, um olhar de determinação
aterrorizada em seu rosto.
Outros mestiços começaram a se colocar ao nosso lado. Formamos
uma parede, olhando para os Guardiões da Lua que se aproximavam.
— Não acredito, — Caspian riu ao meu lado.
Uma risada borbulhou em meus lábios também, mas saiu mais como
uma gargalhada maníaca. Isso era uma loucura.
Mas parecia certo.
Tentamos nosso melhor, mas os Guardiões da Lua avançaram e
passaram por nós com facilidade. Eles sacaram seus cassetetes e bateram
nos manifestantes mais teimosos, e nossa pequena demonstração de
resistência foi rapidamente esmagada.
Mas isso os atrasou, mesmo que apenas por alguns minutos.
Com sorte, foi o suficiente.
Lyla

Minhas algemas estavam apertadas atrás de mim, meus braços


torcidos dolorosamente em tomo da estaca.
O rugido da multidão me atingiu como uma onda física. A sede de
sangue deles chicoteando em um frenesi.
— Queime, bruxa!, — uma voz gritou.
— Morte à infiel!, — gritou outro.
Mas, apesar de toda a raiva e ódio, nem todo mundo clamava por
nossas mortes. Eu pude ver algumas pessoas nas bordas, parecendo
desconfortáveis.
Outros avançaram rapidamente pela praça principal, o mais rápido
que podiam, sem querer ver a carnificina acontecendo.
Havia gente boa aqui na cidade.
Mas os maus os superavam, sua raiva muito mais alta do que a
desaprovação silenciosa dos outros. E eu não podia nem os culpar. Era
preciso muita coragem para enfrentar o mal.
Eu tive um vislumbre de Adele e Caspian no breve momento em que
eles tentaram parar a procissão para a praça, mas eles foram rapidamente
afastados.
Procurei por Sebastian na multidão, mas, por mais que tentasse, não
consegui encontrá-lo.
Em vez disso, vi Mercer subindo os degraus da plataforma de madeira,
com uma tocha acesa em suas mãos. Ele sorriu para mim, seus olhos
brilhando com maldade.
A visão do Véu da Primeira Deusa da Lua voltou à minha mente.
Um mar de fogo. A agonia de ser queimada viva.
Era isso. Estava se tornando realidade.
Mercer se aproximou de mim, inclinando-se para que pudesse
sussurrar em meu ouvido.
— Vou gostar de ouvir você gritar.
29
SEM MISERICÓRDIA Mercer
— Fiéis da Cidade Santa!, — esbravejei.
A multidão se silenciou, seus rostos ansiosos sedentos pelo som da
minha voz. Eu levantei meus braços, desfrutando de sua adoração.
Era assim que deveria ser.
Eu no comando. As massas ouvindo cada palavra minha. — Vocês se
reuniram aqui para testemunhar a derrota do mal!
Um rugido de aprovação varreu a multidão, mas percebi que nem
todos estavam tão entusiasmados para eliminar o mal da cidade. Tomei
nota deles.
As ervas daninhas precisam ser extraídas antes que se espalhem.
— Por muito tempo, o mal tem se enraizado na Cidade Santa. Por
muito tempo, ficamos sentados de braços cruzados enquanto eles
infeccionavam e se multiplicavam, manchando nosso mundo perfeito.
Mas isso tudo acaba agora! E começa com elas.
Fiz um gesto para as mulheres condenadas atrás de mim.
— Uma, uma bruxa, um demônio imundo que escapou das gaiolas do
Inferno. — A bruxa lutou contra suas correntes, mas ela não conseguia
falar por causa da mordaça em sua boca. Eu cuspi em seus pés.
— A outra, uma desertora. Uma quebradora de juramento. Uma
herege que abandonou seus irmãos e irmãs na Guarda da Lua. — Lyla
olhou para mim, mas pude ver o medo por trás de seus olhos.
Ótimo. Seus últimos momentos devem ser cheios de medo.
Eu levantei minha tocha bem alto, as chamas chicoteando com o
vento.
— Juntos, devemos limpar este mal da Cidade Santa! O fogo queimará
seus pecados e as deixará puras!
Eu me virei e caminhei em direção a Lyla, com o rugido da multidão
nas minhas costas.
Eu mantive meus olhos grudados nos dela enquanto enfiava a tocha
na pilha de gravetos a seus pés.
— Queime bem, herege. Diga olá ao seu pai por mim.
E as chamas explodiram com seu propósito sagrado.
Lyla

Em um instante, tudo com que eu estava me preocupando, de


repente, não importava.
Nossos problemas em casa com a Alcateia Real.
O horrível preconceito que assolou a Cidade Santa.
A verdadeira linhagem e identidade da Deusa da Lua.
O plano de Mercer para derrubá-la e se tomar um Deus da Lua.
Nosso plano urgente para o expor.
Tudo isso perdeu importância em comparação com o fogo se
espalhando aos meus pés.
Isso ia além do medo.
Era terror, primitivo e antigo. Um que todos os seres vivos conheciam.
Um que estava programado em seu DNA, impresso em seus ossos.
Eu me contraí e me contorci, mas as correntes de ferro em volta dos
meus pulsos me mantiveram presa à estaca. O fogo cresceu, as chamas se
espalhando pelas minhas pernas.
Eu gritei, e uma fumaça preta desceu pelos meus pulmões.
A pequena parte do meu cérebro que ainda era capaz de pensar
racionalmente entrou em desespero.
É isso.
E assim que eu morro.
Tentei gritar enquanto o fogo se espalhava, mas eu não tinha ar para
gritar.
Eu mal conseguia ver através do calor e da fumaça, mas podia ouvir
tudo.
Aplausos.
Gritos.
E a risada de Mercer.
O som de alegria pura estava completamente deslocado e tomava
tudo ainda mais horrível.
Minha visão começou a enfraquecer, meu corpo entrando em choque.
Eu olhei para o meu lado e vi os olhos de Tempeste nos meus. Uma
mensagem silenciosa de apoio.
Pelo menos, morreríamos juntas.
Sebastian

O carro parou bruscamente, mas temi que fosse tarde demais. Eu


conseguia ver a fumaça subindo no centro da praça principal, com um
inferno no centro.
Nem esperei a Deusa da Lua sair do carro.
Eu chutei a porta, disparando pela multidão diante de mim. Qualquer
um no meu caminho foi arremessado para o lado ou violentamente
empurrado para o chão enquanto eu os atropelava. Por fim, eles abriram
caminho.
— Apaguem as chamas! Parem com isso agora!, — a Deusa da Lua
gritou atrás de mim, sua voz ecoando entre o barulho da multidão.
Todo o barulho na praça desapareceu quando a Deusa da Lua deu um
passo à frente, com seu rosto em uma máscara de fúria.
Eu avancei em direção à fileira de Guardiões da Lua, e eles sabiamente
se afastaram para me deixar passar. Eu subi na plataforma, com um
Mercer furioso no meu caminho.
— O que você acha que está...
Eu o empurrei para o lado, fazendo-o cair da plataforma com um
grito. Corri até a nuvem de fumaça e encontrei Lyla inconsciente. Ela
tinha bolhas por toda a pele.
Eu ignorei as chamas, tentando libertá-la, mas suas correntes de ferro
me impediram de puxá-la para fora do fogo.
Um movimento chamou minha atenção, e vi Tempeste lutando
fracamente para chamar minha atenção. Eu arranquei a mordaça de sua
boca, e ela imediatamente começou a entoar um feitiço.
Eu arranquei minha camisa, tentando apagar as chamas, desesperado
para afastá-las de Lyla. O incêndio se extinguiu, apagado com mágica.
— Liberte-as! — Eu rugi para os Guardiões da Lua próximos.
— Não se atreva a se mover, — Mercer ameaçou.
Os Guardiões da Lua se entreolharam, sem saber o que fazer.
Mercer voltou para a plataforma, com uma tocha em suas mãos.
— Como você ousa atrapalhar essa punição divina! — Ele fervia. — Eu
vou garantir que você e toda a sua alcateia sofram por isso...
— Chega!
A Deusa da Lua subiu na plataforma, e toda a arrogância de Mercer
desapareceu.
— Vossa Santidade, — disse ele. — Esses três são fugitivos. Hereges.
Uma ameaça à Cidade Santa.
Por favor, deixe-me terminar o que eu...
— O único herege que vejo aqui, Mercer, é você. — A Deusa da Lua
mostrou a ele o diário que eu havia dado a ela.
O rosto de Mercer empalideceu.
— Cardeal Mercer, — a Deusa da Lua anunciou.
— Você vai pagar por seus crimes contra a Santa Igreja e a Cidade
Santa.
— Vossa Santidade, é tudo mentira! Você acredita nas falsificações dos
infiéis?!
A Deusa da Lua o ignorou, Virando-se rapidamente e saindo da
plataforma.
— Prenda-o, — ela ordenou. Os Guardiões da Lua obedeceram a seus
comandos instantaneamente. — Eu acredito que você conheça a punição
por traição, Mercer. — A voz da Deusa da Lua estava desprovida de
misericórdia. — Já que você gosta tanto de a impor.
Adele

Passaram-se alguns dias desde a comoção na praça principal.


A notícia da traição de Mercer se espalhou rapidamente. A Deusa da
Lua supervisionou pessoalmente uma limpeza nos Guardiões da Lua, e
muitos dos leais a Mercer foram presos e afastados.
Todos foram acusados de traição, rebelião e crueldade injustificada
para com a população da Cidade Santa.
Muitas das leis cruéis que Mercer implementou foram suspensas, e
descobri que estava mais tranquila nos últimos dias.
Os mestiços podiam andar por aí com as cabeças um pouco mais
erguidas e com passos mais leves.
Obviamente, anos e anos de abuso não desapareceriam da noite para
o dia, mas Mercer foi a força motriz por trás das atitudes da Santa Igreja.
Sua prisão foi um começo.
E Caspian e eu pretendíamos ir até o fim com essa luta.
Lyla e Sebastian haviam feito as malas e estavam prestes a ir.
As queimaduras de Lyla foram graves, mas, graças ao clã de Tempeste
e uma pequena ajuda dos curandeiros da Deusa da Lua, ela estava em boa
forma. Ela pode ficar com algumas cicatrizes permanentes nas pernas,
mas poucos podem dizer que sobreviveram a ser queimados na fogueira.
— Obrigada, Lyla. Por tudo. — Eu a abracei, com lágrimas caindo pelo
meu rosto. — Sem você, nada disso poderia ter acontecido.
— Ah, por favor, — ela me provocou. — Eu posso ter ajudado um
pouco, mas você é a verdadeira heroína aqui, Adele.
— Eu não poderia concordar mais, — Caspian acrescentou enquanto
colocava seu braço sobre meu ombro.
— Então, você vai ficar aqui por um tempo? — Sebastian perguntou a
Caspian.
Caspian apertou meu ombro enquanto assentia.
— Estarei onde quer que Adele esteja.
Eu fiz o possível para não corar e falhei miseravelmente.
— Vocês dois são sempre bem-vindos para uma visita, — eu ofereci.
Lyla e Sebastian trocaram um olhar, rindo sem jeito.
— Sem ofensa, mas pode demorar muito até que qualquer um de nós
queira ver este lugar novamente, — disse Lyla.
Dissemos nosso último adeus e os observamos desaparecer em um
táxi.
— Então, e agora, heroína? — Caspian perguntou.
Eu me virei para ele e tracei círculos lentos em seu peito com meu
dedo.
— Bem, acho que merecemos um pouco de tempo juntos...
Ele me pegou em seus braços antes que eu pudesse terminar. Eu ri,
aconchegando meu rosto em seu pescoço.
Voltamos para casa, prontos para começar o resto de nossa vida
juntos.
Lyla

Sentei-me diante da Deusa da Lua. O silêncio entre nós estava quase


insuportável. Esta era minha última parada antes de deixar a Cidade
Santa para sempre. Eu só queria acabar com isso.
Estávamos na sala do trono, com a passagem oculta coberta
novamente. Apenas alguns Guardiões da Lua ficaram de vigilância ao
nosso redor.
A limpeza na Guarda da Lua ainda estava em andamento, e a Deusa da
Lua e o resto da Igreja me garantiram que aqueles que permaneceram
não tinham sido contaminados por Mercer.
A primeira vez que a vi, a Deusa da Lua parecia um ser supremo. Um
que veio das estrelas acima para nos agraciar com sua sabedoria e
aconselhamento.
Agora, ela parecia apenas uma mulher comum para mim. Ainda
incrivelmente linda, e tenho certeza de que ela era muito poderosa à sua
maneira, mas ela não era mais um ser misterioso.
Ela estendeu a mão para trás e me entregou a espada do meu pai.
Meus olhos se arregalaram enquanto a pegava.
— Nós a encontramos nas catacumbas embaixo da basílica, — disse
ela. — Achei que deveria devolvê-la a você.
Eu balancei a cabeça, agradecendo.
Isso significa que a Deusa da Lua sabe que sua antecessora era uma
bruxa? Ela era realmente a herdeira por direito na linhagem da Deusa da
Lua?
Pensei em perguntar a ela, mas havia algo em seu olhar que me disse
que a pergunta estava fora dos limites.
Eu não queria testar minha sorte.
Esse era um mistério para outra hora.
— Tendo em vista sua ajuda para revelar as intenções de Mercer, eu
decidi perdoar você e sua alcateia por todas as transgressões anteriores.
Você não receberá nenhuma punição por deixar a Guarda da Lua e está
livre para ir.
Eu me curvei ligeiramente.
— O que vai acontecer com Mercer? — Eu perguntei.
— Ele será executado em breve, — disse ela. A maneira como ela disse
isso enviou um arrepio à minha espinha. A Deusa da Lua ainda não era
alguém que você iria querer chatear.
— Posso vê-lo uma última vez? — Eu perguntei a ela. — Eu meio que
quero ver a expressão em seu rosto antes de ir. Ele foi provavelmente o
maior idiota que já conheci.
A Deusa da Lua se permitiu dar um pequeno sorriso.
— Você e eu.
Segui a Deusa da Lua até uma prisão especial reservada apenas para os
inimigos mais perigosos da Santa Igreja.
Parecia que estávamos em Alcatraz com todas as medidas de
segurança, algumas tecnológicas e outras mágicas.
E, ainda assim, apesar de todas essas medidas de segurança, apesar dos
Guardiões da Lua ficarem vigilantes fora da cela, quando a Deusa da Lua
e eu entramos, descobrimos que ela estava vazia.
Nós duas paramos, completamente chocadas.
A Deusa da Lua foi a primeira a voltar a si.
— Guardiões!, — ela chamou. — O que significa isso? — Os Guardiões
da Lua de plantão correram para dentro da cela, tão perplexos quanto
nós. Eles abriram a cela e a examinaram, em busca de pistas.
Eles não encontraram nada, exceto um pequeno símbolo esculpido na
parede.
A imagem ficou gravada em minha mente, e eu sabia que,
provavelmente, me lembraria do símbolo misterioso pelo resto da minha
vida.
Três estrelas circundadas por uma lua crescente.
30
LUZ DA LUA Sebastian
2 Semanas Depois
Sebastian: como as coisas estão?

Tiberius: Cheguei ao banco 2 horas atrás Tiberius: fundos


transferidos Sebastian: bom

Tiberius: a santa igreja deixou uma mensagem para você


Sebastian: o que diz?

Tiberius: estaremos observando Sebastian: tudo bem

Sebastian: vamos para casa, tib Tiberius: não me chame assim


Coloquei meu telefone no bolso, com um sorriso malicioso no rosto.
— O que Tiberius disse?, — Caius perguntou.
Estávamos juntos na área do lado de fora da Casa da Alcateia Real
enquanto supervisionávamos o fluxo constante de vans e caminhões que
transportavam os suprimentos tão necessários.
Lyla e eu voltamos para o Mississippi e partimos para a ação.
Havia mais de um milhão de coisas para cuidar, e nós dois
trabalhamos sem parar.
Estávamos ambos exaustos, mas era uma exaustão boa.
Nossa alcateia não estava mais ameaçada, e as coisas pareciam ótimas
no futuro próximo. A riqueza havia voltado para os cofres da Alcateia
Real.
Não apenas Arthur tinha cumprido sua promessa, mas, graças a
termos exposto Mercer, tínhamos voltado às boas graças da Santa Igreja.
Pode ainda ser um relacionamento frágil por enquanto, mas foi uma
grande melhoria.
— A transferência foi concluída, — respondi. — Mas a Santa Igreja
disse que vai ficar de olho em nós.
— Se eles aceitaram que a Alcateia Estrela da Noite está conosco
agora, duvido que tenhamos mais alguma coisa com que nos preocupar,
— disse Caius.
Eu balancei a cabeça, concordando.
— Você consegue lidar com as coisas aqui? Vou fazer minhas rondas.
Caius concordou com a cabeça.
— É bom ter você de volta, Alfa.

Eu fui em direção ao campo de treinamento, com a batida


sincronizada dos pés em um ritmo constante, que sacudia o chão aos
meus pés.
Magnolia estava em uma plataforma elevada, com seus braços
balançando para frente e para trás, como se fosse um maestro de uma
orquestra.
Mas, em vez de instrumentos, seus companheiros empunhavam
armas. Eles giravam seus rifles em perfeita sincronia, com os soldados da
Alcateia Real finalmente se misturando aos guerreiros da Alcateia Estrela
da Noite.
Magnolia viu que eu estava me aproximando e interrompeu o
treinamento.
— Descansar! — ela gritou. — Vão treinar com Tonya e Titus.
Os gêmeos Delta deram um passo à frente da formação, com sorrisos
perversos em seus rostos.
— Tudo bem, — Tonya chamou. — Quem quer levar uma surra
primeiro?
Para não ficar para trás, Titus estendeu um bastão ao seu lado,
girando-o habilmente em suas mãos enquanto zumbia de ansiedade.
Irritar a multidão é com eles mesmo.
Ela pulou da plataforma e caminhou até mim, deixando seus homens
por conta própria.
— Alfa, — disse ela, dando-me uma saudação forte.
— General. — Eu devolvi, batendo meus calcanhares.
Olhamos um para o outro por um segundo, formais e silenciosos.
— Pfft, — Magnolia gargalhou.
Eu desabei, e nossa risada encheu o ar ao nosso redor.
— Você fez um trabalho incrível aguentando firme, Magnolia.
Ela dispensou o elogio.
— Eu não conseguiria ter feito isso sem Caius e os outros. Você está
me dando muito crédito.
— Eu não acho que estou. — Eu sorri para ela enquanto ela tentava
minimizar. — Falei com Caius e Tiberius. Os dois disseram que, se não
fosse por você, Lyla e eu não teríamos nenhuma Alcateia Real para qual
voltar. Então, obrigado. — Um tom de rosa coloriu suas bochechas, mas
ela tentou manter uma expressão estoica.
— Obrigado.
Observamos os gêmeos lutarem por um tempo, e um silêncio natural
se estabeleceu.
— Então..., — eu comecei. — Conheceu alguém que chamou a sua
atenção? Um soldado bonito talvez?
Ela empurrou meu braço com um sorriso no rosto.
— Cala a boca.
— Ei, nunca se sabe, — eu disse. — Talvez o seu príncipe encantado
esteja mais perto do que você imagina.
— Quem sabe, — ela se perguntou.
Magnolia olhou para longe, com uma expressão pensativa no rosto.
Fiquei feliz por podermos conversar normalmente de novo. Meu
relacionamento com Magnolia sempre foi algo que eu queria resolver, e
parecia que as coisas estavam indo nessa direção.
Além disso, Caspian encontrou sua companheira.
Por que Magnolia não poderia?
— Alfa!, — Tonya chamou. — Faz algum tempo que esses pequeninos
não veem um guerreiro de verdade lutar. O que você acha de lutar umas
vezes?
Eu olhei para Magnolia, com minha sobrancelha levantada.
— Por que não?, — ela disse. — Deve ser bom para a moral, contanto
que você não se faça de idiota.
Eu ri, me aquecendo.
Eu dei aos meus soldados um sorriso afiado enquanto entrava na
arena de combate. Eu abri meus braços.
— Quem é o primeiro?
Lyla: Teresa queria que eu perguntasse a vc pq não estava
respondendo às mensagens dela Lyla: Você está evitando-a ou
algo assim?

Caspian: não. só tenho estado ocupado aqui Caspian: adele e eu


começamos uma rede de apoio a mestiços Caspian: sou
basicamente um assistente social aqui Lyla: Mas você conseguiu
arranjar tempo para me responder?

Caspian: eu gosto mais de você Lyla: (emoji rindo)

Lyla: Pelo menos mande uma mensagem para Teresa Lyla: Ela
está preocupada Caspian: difícil de acreditar, mas ok Caspian:
tenho que ir, falo com você mais tarde Lyla: Diga oi para Adele por
mim Caspian: Ok

Arrastei-me para a cama, com meu cabelo ainda molhado do banho.


As coisas estavam finalmente -começando a desacelerar.
Reed me atualizou sobre os assuntos relativos à Alcateia Estrela da
Noite e então prontamente me dispensou para ir ver Teresa.
Quero dizer, claro, ele queria ver sua companheira.
Mas ele poderia ter me ajudado um pouco.
Suspirei, aconchegando-me em meu travesseiro.
Eu estava começando a cochilar quando senti os braços de Sebastian
deslizarem por baixo de mim. Ele me levantou da cama, me embalando
em seus braços. Ele começou a caminhar em direção à porta do nosso
quarto.
— Para onde você está me levando?, — murmurei em seu peito.
— É uma surpresa.
Eu sorri sonolenta, aconchegando-me em seus braços.
Sebastian saiu da Casa da Alcateia Real. O ar frio da noite enviou
arrepios por toda a minha pele.
Estremeci, com o frio afastando minha sonolência. Estávamos
caminhando pelo campo e entrando na floresta.
— De repente, você sentiu vontade de acampar?, — eu perguntei.
— Algo assim, — disse ele misteriosamente.
Continuamos cada vez mais para dentro da floresta, caminhando cada
vez mais para o meio da natureza.
As árvores dançavam com o vento, com um coro de pássaros e insetos
cantando na escuridão.
Finalmente chegamos a uma pequena clareira na floresta, e eu arfei de
surpresa com a visão.
Parecia algo saído de um conto de fadas.
Um caminho de flores levava a uma cama no meio da clareira, com
lençóis brancos novinhos que contrastavam com a exuberante floresta
verde ao redor. Uma arcada de galhos ondulados estava acima da cama,
enfeitada com luzes que brilhavam suavemente.
O céu noturno acima de nós estava claro e brilhante, com as estrelas
brilhando apenas para nós.
Sebastian me levou pelo caminho de flores e me deitou suavemente
na cama.
— Primeiro, foi o café da manhã na cama, agora, são camas que
parecem mágicas na floresta?, — eu perguntei. — Você realmente vai ter
dificuldade se continuar tentando se superar assim.
Sebastian riu enquanto pressionava seu corpo contra o meu.
— E um problema que eu ficaria feliz em ter.
Ele pressionou seus lábios contra os meus, e o mundo ao nosso redor
derreteu.
Todo o estresse e incerteza desapareceram.
A única coisa que importava eram os braços de Sebastian ao meu
redor, seus lábios explorando minha pele. Desejo pulsou através de mim.
mas não era quente e urgente como sempre.
Esta era uma necessidade lenta e constante. Uma que cresceu e
inchou até que eu estava cheia dela até a borda. Tiramos nossas roupas,
sentindo a seda macia da cama em nossa pele.
Ele não teve pressa, com seu toque deixando um rastro de arrepios
pelo meu corpo. Eu me contorci embaixo dele para que ele pudesse
acelerar sua doce tortura, mas ele não cedeu.
Ele foi lento, doce e gentil, e isso me deixou uma bagunça, sensível e
trêmula.
Passei meus braços em volta dele, com os músculos tensos de suas
costas flexionando sob meus dedos. Ele posicionou sua masculinidade
enrijecida em frente à minha entrada, e eu podia sentir que estava
pingando de antecipação.
Nós nos olhamos, e eu nunca havia experimentado um sentimento
tão avassalador de amor e paixão.
— Eu te amo, — eu sussurrei.
— E eu amo você.
Ele entrou em mim, e não pude evitar o gemido que escapou dos
meus lábios.
Sebastian começou a se mover lentamente - ah, tão lentamente - e eu
movi meus quadris no seu ritmo. Ele parecia determinado a prolongar o
momento, e eu não estava reclamando.
Levamos nosso tempo, com nossas respirações em sincronia, e nossos
corações batendo como um só. No momento em que seu quadril ficou
mais rápido, eu estava pronta.
Gozamos juntos, com nossas vozes soando até as estrelas acima de
nós. Caímos juntos na cama, com nossos corpos escorregadios de suor.
Ficamos lá deitados juntos, emaranhados nos braços um do outro.
Nenhum de nós disse uma palavra. Não precisávamos.
Eu conseguia ver o futuro exposto diante de nós e mal podia esperar
para passar o resto da minha vida com Sebastian. Adormecemos ali, na
clareira, e desejei que esse momento pudesse, de alguma maneira, durar
uma vida inteira.
Acordamos com os raios de sol no horizonte, o canto dos pássaros e o
som do telefone de Sebastian vibrando na cama ao nosso lado.
Sebastian gemeu enquanto procurava cegamente por ele na cama.
— Quem está nos incomodando tão cedo de manhã?, — ele se
perguntou.
— Você pode simplesmente ignorar, — eu sugeri, aconchegando-me
em seu peito.
Ele olhou para o telefone, e senti seu corpo ficar tenso embaixo de
mim. Eu levantei minha cabeça para olhar para ele. Ele não parecia feliz.
Meu coração começou a bater mais rápido no meu peito.
Ah não.
— O que é? — Eu perguntei, sem querer realmente saber a resposta.
Sebastian me mostrou seu telefone, com uma única mensagem na
tela.
Arthur: faça as malas, nanico. vamos sair em uma aventura.
Continua no Livro 5…
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