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— Nervoso?
Virei-me quando Caius se sentou ao meu lado no telhado do hotel
Fleur de Lis.
— Tremendo nas minhas botas — eu disse, impassível. Eu olhei para o
pântano que cercava a mansão. Eu examinei a terra que era minha. As
famílias e bandos que viviam naquela terra.
Todas as pessoas pelas quais era responsável.
— Como se eu tivesse tempo para ficar nervoso com a Cúpula.
— Tenho um bom pressentimento sobre este ano — ponderou Caius.
— Foi isso que você disse no ano passado.
— Sim. — Caius acenou com a cabeça solenemente. — Mas este ano,
com certeza.
— Sei.
Eu lancei um olhar de soslaio para o meu beta estoico. Ele tinha sido o
beta do meu pai antes de ser meu. Eu o conhecia desde criança.
Ele nunca foi o tipo de entreter bobagens, mas ele estava inflexível de
que eu encontraria minha verdadeira companheira em cada Cúpula.
Todo ano ele estava errado.
— Você é um romântico incurável, não é? — Eu perguntei a ele.
Ele apenas olhou para mim em resposta, seu olhar sem emoção era a
única resposta que eu precisava.
— Por que você insiste tanto nisso, então? — Eu perguntei.
— Você é o Alfa Real — Caius me lembrou.
Como se eu pudesse esquecer.
— E a matilha precisa de uma Luna.
— Estou noivo de Magnolia.
— Isso é diferente.
Suspirei e dei um tapa em um mosquito incômodo que mordeu meu
pescoço.
— Como é diferente, Caius? Magnolia é perfeita para o papel. Ela é
inteligente e ferozmente leal. Ninguém na Alcateia Real contestaria isso.
— Você tem razão. — Caius acenou com a cabeça. — Magnolia seria
perfeita para a alcateia.
— Então, qual é o seu ponto?
Ele olhou para mim, seus olhos escuros ilegíveis.
— Mas ela não é perfeita para você.
Pisquei, desarmado pela franqueza repentina de Caius.
— Eu me importo muito com Magnolia — eu disse. — Ela é uma das
minhas amigas mais próximas.
— Mas ela não é sua companheira. Sua verdadeira companheira.
Afastei-me dele e olhei para o terreno do hotel. Algumas pessoas
ainda estavam do lado de fora, aproveitando os últimos minutos da luz
do dia para se preparar para a Cúpula de amanhã.
Homens e mulheres ansiosos percorriam os campos, misturando-se e
conversando, na esperança de ver seu verdadeiro companheiro.
Eu podia sentir a ansiedade deles. A excitação nervosa. A única
preocupação deles era se eles seriam ou não abençoados pela Deusa da
Lua amanhã.
Eles não ligavam para a política. Para logística econômica ou relações
entre alcateias.
Eles viveram vidas simples e felizes.
Que bom.
— Infelizmente, nem todos nós temos o luxo de esperar por nossas
verdadeiras companheiras. — Eu fiz uma careta. — Eu fiquei bem todos
esses anos sem uma.
— Tenha um pouco de fé, Sebastian. — Caius se levantou e colocou a
mão no meu ombro. — A alegria de conhecer uma verdadeira
companheira não é algo que você deva descartar tão rapidamente.
Meu beta me deixou sozinho no telhado para meditar.
Eu examinei os esperançosos da Cúpula abaixo de mim.
Poderia uma delas realmente ser minha verdadeira companheira?
Mas quanto mais eu olhava, menos esperançoso me sentia.
Ninguém que eu vi me interessou.
Se ela realmente estivesse lá, eu pelo menos sentiria algo quando a
visse, mesmo antes da cerimônia.
Certo?
Suspirei e me levantei, esticando minhas pernas.
Caius estava errado. Este ano não seria diferente.
Assim que me virei para sair, algo chamou minha atenção. Duas
figuras emergiram do pântano, caminhando de volta para a casa das
alcateias.
Lyla e seu namorado.
Meu olhar foi atraído para ela como uma mariposa para uma chama.
Ela me notou no telhado e fez um pequeno aceno, e de repente me vi
sorrindo.
Eu balancei a cabeça para ela enquanto as palavras de Caius se
repetiam em minha mente.
Este ano, com certeza.
Lyla me deu um sorriso enquanto desaparecia dentro do hotel.
Eu balancei minha cabeça, voltando à realidade.
— Não tenha muitas esperanças, Sebastian — eu murmurei baixinho
para mim mesmo. — Outro ano, outra Cúpula.
4
A CÚPULA
Caspian
Puta merda.
Isso foi tudo que pude pensar enquanto olhava para a grande mansão
que estava diante de nós.
A Casa da Alcateia Real era ainda mais impressionante de perto.
Banhada pelo luar, a arquitetura de pedra era misteriosa e de tirar o
fôlego.
As janelas iluminadas pareciam calorosas e acolhedoras, mas me
lembrou que outros estavam esperando lá dentro para conhecer a nova
companheira de seu alfa.
O sorriso de Sebastian me arrancou do meu devaneio.
Ele estendeu a mão e eu aceitei, permitindo que ele me ajudasse a sair
do carro, empurrando para baixo a onda de desejo que o toque causou.
Ocorreu-me a ideia de que os outros deveriam voltar logo da
cerimônia. Eu os imaginei voltando ao Fleur de Lis, celebrando os casais
bem-sucedidos com comida, bebida e dança.
Imaginei que o alfa real estava isento dessa tradição.
Senti minhas pernas enfraquecerem enquanto nos aproximávamos
dos grandes degraus que conduziam às portas da frente da casa da
alcateia.
— O que estamos fazendo aqui?
— Esta é sua nova casa — Sebastian explicou. — Você vai ficar aqui.
— Isso é um pouco presunçoso da sua parte — eu disse a ele, puxando
com mais força a mão que ele estava me guiando. — E a minha mochila?
O aperto de Sebastian ficou mais forte.
— Nós informamos sua alcateia sobre a mudança nos planos — ele
disse com naturalidade.
Estava claro que ele estava acostumado a ter qualquer coisa com um
estalar de dedos.
— A Alcateia Lua Azul já começou a se mudar para uma ala separada
desta mansão durante a Cúpula. Como sua alcateia de origem, eles serão
homenageados.
Soltei um suspiro de alívio sabendo que veria rostos familiares
novamente em breve.
— Obrigada. Vou precisar falar com eles. E as minhas coisas?
— Mandei alguém para recolher todos os pertences necessários.
Minha frustração aumentou.
— Você enviou um estranho para vasculhar meus pertences pessoais?
Eu arranquei minha mão da dele, interrompendo o progresso de
nosso desembarque pouco antes das enormes portas da frente.
— Sim, eles serão colocados em nosso quarto.
— Nosso quarto?!
Foi tudo demais para mim.
Isso porque estávamos — indo devagar,
Em menos de duas horas, deixei de ter uma relação de confiança e de
longo prazo com alguém que escolhi, para ser lançada a um estranho
pelo destino.
Não só isso, mas meu novo companheiro havia sido territorial,
possessivo e mandão desde o segundo que nos conhecemos.
Minhas emoções cruas e hormônios cozidos juntos em um coquetel
tóxico.
Tudo parecia fora de controle.
Eu não conseguia respirar.
Senti meu braço subir e tentei me conter, mas era tarde demais.
WHAP!
A queimadura se espalhou pela minha palma enquanto eu estava em
estado de choque, mortificada por ter acabado de dar um tapa no rosto
do alfa real...
Sebastian soltou um grunhido profundo, passando a mão pelo cabelo
agora desgrenhado.
Eu abri minha boca para me desculpar. Ou talvez para me defender.
Eu não tive a chance de descobrir antes que Sebastian me pressionasse
entre as portas da Casa da Alcateia Real e seu corpo.
Seu peito estava colado ao meu. Seus olhos cheios de fúria estavam
me mantendo presa no lugar junto com suas mãos.
Eu engasguei com a proximidade repentina. Com a sensação de seus
quadris pressionando meu estômago.
É isso que é ter um companheiro?
Este constante empurrão e puxão de domínio. Esta chicotada da raiva
para a luxúria?
Nesse caso, eu não tinha ideia de por que desejei isso por tanto tempo.
Talvez eu apenas tenha tido azar. Eu certamente nunca vi meus pais se
comportarem dessa maneira.
Ou talvez a Deusa da Lua cometeu um erro?
— Você já terminou? — A voz de Sebastian era um estrondo profundo
e perigoso.
Eu podia ouvir a batida irregular de seu coração.
Senti o desejo sob sua raiva.
Pelo menos eu não era a única lutando para controlar meus
sentimentos.
Eu balancei a cabeça uma vez.
— Sebastian — uma voz chamou.
Nossas cabeças se viraram para encarar um homem mais velho que
apareceu no patamar ao nosso lado.
Ele olhou para nós dois, uma emoção ininteligível em seus olhos
enquanto ele acariciava sua barba grisalha.
— Precisam de você na fronteira leste.
Meu pulso acelerou por um novo motivo quando Sebastian se afastou
de mim.
— Os bandidos estão de volta? — Eu disse.
— Fique aqui — Sebastian ordenou, ignorando minha pergunta.
Ele e o homem mais velho desceram os degraus, se transformando
antes de atingirem o chão e adentrarem a noite.
Encostei-me na porta.
O que devo fazer agora?
Ele realmente espera que eu fique no degrau da frente até que ele volte?
Do interior do quarto, bateram na porta.
— Você gostaria de entrar, madame?
Eu pulei para longe da porta, e ela se abriu lentamente para revelar
uma mulher no que parecia ser uma fantasia de empregada doméstica
francesa.
Eu quase bufei. É claro que ele faria sua equipe se vestir assim.
— Fui instruída a levá-la ao seu quarto — disse a empregada,
segurando a porta aberta.
— Meu quarto? — Eu disse, acrescentando ênfase extra à primeira
palavra. — Mas Sebastian disse...
— Alfa Sebastian acaba de me informar via link mental que você
prefere sua própria suíte. Isso está correto?
Surpresa com a mudança repentina, senti minhas defesas caírem.
— Bem... sim, isso seria ótimo, obrigada.
Com uma respiração final para me acalmar, eu pisei na soleira.
Era hora de reagrupar antes que meu companheiro voltasse para casa.
Sebastian
Por que diabos eu achei que seria uma boa ideia enviar Magnolia para
falar com ela?
Eu bati meu punho na minha mesa, espalhando papéis e canetas pelo
chão.
Tinha sido uma ideia terrível pra caralho trazer Lyla para a reunião
naquela manhã. Mas quando ela piscou seus olhos de corça para mim na
noite anterior, eu queria dar a ela a lua.
Uma reunião comum parecia uma fronteira mais acessível.
— Uma proposta de paz — ela disse. Algo que a integrasse mais na
minha vida. Em seu papel. Algo que mostrasse a ela que eu estava
tentando. Que eu a queria. Que eu confiava nela.
Em vez disso, só me fez parecer ainda mais um idiota.
Sim, vamos massacrar todos os mestiços; que romântico.
Quando Magnolia veio até mim sugerindo que uma conversa entre
garotas tornaria as coisas melhores, eu hesitei.
Lyla parecia mais propensa a arrancar a cabeça de Magnolia do que ter
uma conversa de boa vontade com ela.
Mas Magnolia tinha insistido.
E eu me peguei concordando. Pelo menos era uma chance a menos
para eu estragar outra conversa com Lyla.
Abaixei minha cabeça até minha mesa, descansando minha testa
contra ela em derrota.
Eu já tinha estragado tantas coisas em uma tentativa vã de manter
Lyla protegida. Para mantê-la em minha vida. Em vez disso, eu apenas a
afastei.
De repente, detectei levemente seu cheiro e pulei da minha mesa.
Ela estava vindo. Lyla estava chegando.
Rapidamente, juntei as coisas que tinha derrubado da mesa, jogando-
as na gaveta de cima antes de sentar novamente.
Por um longo momento, ela ficou do lado de fora da minha porta sem
bater.
Timidamente, entrei em contato com nosso vínculo.
Preocupação.
Frustração.
Determinação.
Ela bateu na porta.
— Sim? — Eu disse e imediatamente me arrependi.
Quão difícil é falar 'Entre'?
Lyla entrou, seus olhos vagando pelos mapas e livros encadernados
em couro que cobriam as paredes; a coleção de charutos do meu pai
empilhada em uma prateleira no canto.
Ela parou na frente da minha mesa, enrolando uma mecha de seu
cabelo ruivo no dedo.
Era algo que ela fazia, eu percebi, quando estava nervosa.
— Eu queria me desculpar — ela disse — pelo que eu disse esta
manhã... sobre os mestiços. Eu não fazia ideia...
Suas palavras foram como um soco no estômago. Eu deixei minhas
emoções levarem o melhor de mim. Tratei-a desrespeitosamente e foi ela
quem se desculpou.
— Venha aqui — eu disse, estendendo meus braços. Seus olhos se
arregalaram um pouco de surpresa, mas ela contornou a mesa e pulou
para se sentar em sua superfície.
— Fale comigo — disse ela. — Diga-me o que você está pensando.
Eu podia ouvir a mágoa em suas palavras. A preocupação.
Eu a fiz sentir que ela não era o suficiente.
— Eu só fico pensando em como sou sortudo por ter encontrado você
— eu admiti, e fui recompensado com um pequeno rubor aquecendo seu
rosto.
Incentivado, continuei:
— Não consigo deixar de pensar em como meus pais ficariam
orgulhosos. Especialmente sabendo que acabei com alguém tão incrível
quanto você.
— Você vai me dizer o que aconteceu com eles? — Ela perguntou
suavemente.
A dor familiar disparou dentro de mim.
A culpa.
A traição.
Foi esmagador.
Mas eu engoli.
Ela merecia saber.
— O ritual de acasalamento nem sempre é tão gratificante. Meu
melhor amigo, Silas, descobriu isso da maneira mais difícil — comecei.
Era mais fácil me concentrar nele do que em meus pais — ou em mim.
Lyla se inclinou, ansiosa para entender.
— Depois da primeira Cúpula, ele ainda estava esperançoso. Mas
assim que passamos por nossa segunda, ele tinha se decidido.
Eu respirei fundo, lutando contra fantasmas de memórias.
— Ele pensava que a única maneira de encontrar sua companheira era
se rebelando... transformando mulheres humanas em lobisomens
mestiços contra sua vontade, na esperança de que ele pudesse encontrar
alguém que atendesse seu chamado.
Eu podia me lembrar nitidamente dele naquela noite em meu quarto
enquanto ele me contava seu plano. O zelo em seus olhos. O desafio.
— E funcionou? — Lyla perguntou.
Eu concordei.
— Demorou várias tentativas, mas sim, finalmente funcionou.
Estendi a mão e coloquei minha mão em sua coxa. Não houve
demanda no toque. Sem expectativa. Eu simplesmente queria extrair
alguma força da firmeza da minha companheira.
Para sentir que ela estava lá. Isso ela entendeu.
Lyla não decepcionou. Ela enfiou seus dedos finos e ágeis nos meus
grossos e calejados.
— Meus pais souberam de suas ações e ficaram indignados — eu
continuei. — É contra nossas leis mudar os humanos, seja contra sua
vontade ou não. E quando meus pais encontraram Silas e seus mestiços...
Minha voz sumiu.
— Então o quê? — Ela pediu.
Essa foi a parte difícil. A meia verdade.
A parte que eu não estava pronto para ela saber.
A parte que ninguém realmente sabia.
— A companheira de Silas ainda era selvagem. Instável. Transformar
humanos raramente vai bem... e ela matou meus pais. — Eu respirei
fundo, a dor do passado deslizando em meu coração como uma adaga.
— A companheira de Silas também foi morta. As pessoas que mais
significavam para nós... se foram. — Eu engoli, esperando que fosse o
suficiente. Esperando que ela não precisasse de mais detalhes.
Porque se ela os tivesse, ela não teria escolha a não ser acreditar que
eu era um monstro.
O alívio me inundou quando Lyla jogou os braços sobre meus ombros,
me segurando contra ela.
Fiquei congelado por um momento, mas depois me levantei,
envolvendo meus próprios braços em torno de seu corpo minúsculo.
Refugiando-se no cheiro de seu cabelo e no som de seus batimentos
cardíacos.
— Eu nunca deveria ter dito nada sobre mestiços — ela murmurou em
meu peito. — Foi estúpido e ingênuo. Eu sinto muito.
Eu me afastei, enganchando meu dedo sob seu queixo, direcionando
seu olhar para o meu.
— Não é sua culpa. Seu coração é puro e você se importa muito.
Inclinei-me, capturando seus lábios em um beijo, sabendo muito bem
que menti.
Que eu estava escondendo dela um segredo.
Um segredo final que pode destruir tudo.
Se Lyla descobrir a verdade, ela sairá da minha vida para sempre.
10
CONHEÇA OS GREENS
Lyla
Parei em frente à mesa de jantar, sem saber o que seria pior: sentar
entre Caspian e Sebastian, ou eles se sentarem um ao lado do outro.
Olhei para Sebastian e decidi. Seu olhar para Caspian era cortante, e
Caspian ergueu as sobrancelhas enquanto tomava um gole de uísque. Eu
sentei no assento no meio de meus dois pretendentes. Do outro lado da
mesa, Skye estava fingindo que seu garfo e colher estavam se beijando. Eu
dei a ela um olhar exasperado.
— É difícil ter dois namorados, Lyla? — ela perguntou com inocência
fingida.
Eu sabia que meus pais não iam tornar isso fácil para mim, mas Skye
também não estava ajudando.
— Eu não tenho dois namorados, — eu respondi definitivamente. Eu
não sabia o que tinha exatamente, mas isso não vinha ao caso.
Suspirei enquanto um garçom colocava um pouco de vinho na minha
taça, e Sebastian recusou educadamente.
— Você não gostaria de uma bebida, Sebastian? — Caspian perguntou.
— Você deveria descansar. Você parece estressado.
Percebi que ninguém se comportaria bem naquela refeição. Dependia
de mim garantir que nossa mesa não queimasse o Flor de Lis até o chão.
— Caspian estava recomendando alguns pratos do menu para nós, —
minha mãe disse. — Como guisado de jacaré e a fervura de lagostim.
— E, se me permitem, o filé mignon com manteiga de trufas é incrível,
— Sebastian acrescentou, reclinando-se em sua cadeira e colocando o
braço em volta de mim.
— Colin tem colesterol alto e Lily o evita por solidariedade, —
Caspian disse com um estremecimento falso. — Mas como você seria
capaz de saber disso? — Ele escondeu seu sorriso atrás de seu copo de
uísque.
Meu queixo caiu. Não era típico de Caspian ser tão idiota. Mais cedo
naquele dia ele parecia tão ferido. Talvez fosse o uísque falando.
— Eu adoraria o filé mignon, — eu disse a Sebastian.
— Jacaré parece nojento, — Skye adicionou.
Minha mãe se inclinou para frente. Estava claro que ela estava se
divertindo.
— Então, querida, enquanto caminhávamos à beira do rio mais cedo,
encontramos Caspian. Quando soube que ele estava sozinho, insisti em
que viesse jantar conosco. Eu sabia que você não se importaria, querida.
— Ele não está sozinho, — rebati.
— Certo, estou com você, Ly — Caspian disse.
— E sua família, e a alcateia..., — eu continuei, olhando timidamente
para Sebastian. Eu percebi que ele mal estava segurando sua compostura,
e ainda não tínhamos feito nossos pedidos.
Caspian
Lyla
Mordi meu lábio atrás das cortinas pesadas. Eu mal podia acreditar
que meu plano funcionou tão bem.
Quando Sebastian me disse para ir embora, eu não o obedeci. Eu
tinha pulado atrás das cortinas da janela do corredor oposto à sala de
reuniões. Para minha surpresa, consegui ouvir tudo.
Mas minha cabeça estava girando. De alguma forma, Sebastian tinha
certeza de que Silas era o responsável pelo porco mutilado.
Silas matou os pais de Sebastian. Ele já não tinha feito o suficiente?
Eu não conseguia afastar a sensação de que havia algo que Sebastian
estava escondendo de mim.
A porta se abriu e os membros do conselho saíram em fila.
Prendi a respiração, esperando que todos fossem embora
rapidamente.
— Sebastian. — Sua voz doce como mel raspou em meus ouvidos.
Magnolia.
Eu balancei minhas costas contra a parede. Através da fratura nas
cortinas, eu só fui capaz de ver Sebastian fazer uma pausa.
Magnolia correu até ele e colocou a mão em seu antebraço. O ciúme
me atingiu como um soco no estômago.
Eu não conseguia respirar. A maneira como ela o tocou... a intimidade
entre eles... era quase demais para suportar.
A ironia da situação não passou despercebida.
Deve ser assim que Sebastian se sente em relação a Caspian...
— Você está bem? — Magnolia perguntou, sua voz baixa. Como se ela
estivesse apenas esperando para ficar a sós com ele. Eu cerrei minhas
mãos em punhos.
Sebastian assentiu, parecendo relaxar um pouco na presença dela.
— Estou bem. Eu só quero deixar o passado para trás, mas estou
começando a pensar que isso nunca será possível.
Magnolia é outra coisa que eu gostaria que você deixasse para trás, pensei
amargamente. Mas, enquanto pensava mais nisso, me perguntei o que
Sebastian queria dizer.
O que aconteceu entre ele e Silas?
— Não importa o que aconteça, estou sempre aqui para você. —
Magnolia sorriu para o meu homem.
— Eu aprecio isso, — Sebastian disse com um suspiro.
Então Magnolia estendeu a mão e colocou os braços em volta dos
ombros largos de Sebastian, e por um segundo seu corpo relaxou no
abraço.
Foi doloroso ver a conexão óbvia entre os dois.
Como posso competir com a história que eles compartilham?
Eu balancei minha cabeça, desejando parar esses pensamentos
insanos. Sebastian me queria. Ele havia deixado isso bem claro.
Era eu quem precisava tomar uma decisão.
Uma decisão difícil.
Fiquei chocada com o quão completamente o medo de perdê-lo
nublou meu julgamento.
— Seb. — Eu estremeci com o apelido e o fato de que Magnolia ainda
estava abraçando ele.
— Sim, Magnolia?
— Você sabe que não se trata apenas de Silas se rebelando. Isso é
pessoal, — Magnolia disse, sua voz baixa e intensa.
— Eu entendo, — Sebastian se afastou dela. Claramente ela não o
estava confortando mais.
— Ouça-me, — Magnolia exigiu, e Sebastian fez uma pausa mais uma
vez. — Veja. Silas nem deixou o porco no seu quarto. 'Olho por olho?' O
aviso foi sobre Lyla.
Fiquei tonta de repente, e não era apenas por prender a respiração.
— Estou cuidando disso, — Sebastian disse rispidamente.
Ele se afastou de Magnolia e subiu as escadas.
Comecei a entrar em pânico, minha respiração pesada e alta assim que
fiquei sozinha. Eu cambaleei para o corredor.
Percebi que Magnolia era a menor das minhas preocupações. Até a
minha decisão mais importante — escolher o homem com quem passaria
o resto da minha vida — empalideceu em comparação com o que acabara
de aprender.
Magnolia tinha acabado de me dizer o que Sebastian nunca diria:
Silas queria me matar.
18
O SEGREDO DO ALFA
Lyla
Era isso. Eu sempre temi o momento em que teria que contar para
minha companheira o que tinha feito. Meu segredo mais sombrio.
Resisti a contar a Lyla porque as coisas já estavam muito instáveis
entre nós. Eu temia que meu segredo pudesse ser a gota d'água...
Se ela soubesse a verdade, ela poderia me deixar para sempre.
— Há... mais nessa história, — eu consegui dizer.
Lyla ficou a alguns passos de distância, me olhando com incerteza.
Recuei até estar encostado na minha mesa.
Era bom apoiar meu peso em algo.
— Anos atrás, quando Silas encontrou sua companheira, houve uma...
complicação. — Minha voz soou estranha para mim e minha visão estava
turva também. Eu não conseguia me concentrar e percebi que estava
ficando tonto.
É isso, pensei comigo mesmo. Você vai perder sua companheira antes
mesmo de tê-la.
— Ela era uma humana, e Silas a transformou. O processo funcionou
para seu corpo, mas sua mente travou.
Soltei um suspiro trêmulo, lembrando-me dela. Ela parecia uma
mulher, mas sua mente era a de um animal.
— Eu sabia que algo estava errado quando Silas não me disse mais
nada sobre ela. Ele não me deixou conhecê-la. Ele parou de atender
minhas ligações. E meus pais...
Minha voz falhou. Minha mãe e meu pai sempre tiveram uma noção
clara do que era certo. Eles fizeram parecer fácil liderar uma alcateia.
— Meus pais sabiam que Silas estava transformando mulheres
inocentes. Eles foram procurá-lo.
Lyla se aproximou e colocou a mão no meu braço. Sua compaixão
quase me fez sentir pior, porque logo ela perceberia que eu não merecia
isso.
— Silas conheceu meus pais com sua companheira. A mulher era
selvagem, raivosa. Ela havia perdido sua humanidade na mudança,
mesmo em sua forma humana. Tudo o que restou foi a pior parte de um
lobisomem... a sede de sangue. O desejo de violência.
Lyla se aproximou. Eu não conseguia olhar para ela.
— Ela matou meus pais. — Minhas mãos tremiam naquele momento.
O que veio a seguir foi a parte que eu escondi de Lyla — a parte que eu
esperava tão desesperadamente que ela não precisasse saber.
— Eu não tive escolha. Eu a rastreei e a matei.
As memórias terríveis inundaram minha mente. Uma coisa é matar
um lobo. Mas uma mulher humana...
O que eu tinha feito assombrava meus sonhos até aquele dia.
Lyla ainda estava me tocando, mas eu nunca me senti tão longe dela.
O silêncio pairou entre nós, pesado com minha vergonha.
— Você acha que eu sou um monstro? — Eu sussurrei.
Antes de Lyla responder, ela se afastou de mim. O gesto disse mais do
que palavras jamais poderiam. — Você não é um monstro, — ela disse
finalmente. — Mas você mentiu para mim.
Eu me virei para ela, incrédulo.
Ela poderia realmente perdoar o que eu fiz?
Mas sua expressão era fria.
— Sebastian, eu entendo o que você fez naquela época, — ela disse. —
Você matou a companheira de Silas. Isso me torna seu alvo natural. Você
sempre soube que havia um risco... mas eu não sabia.
Ela balançou a cabeça.
— Eu mereço saber disso. E mesmo depois de ele me ameaçar, você
não me contou o que aconteceu. Você me disse para não me preocupar.
Sua expressão mudou entre confusão e raiva. Ela parecia mais distante
a cada momento que passava.
— Eu deveria ser sua Luna! E ainda assim você não confia em mim
com a verdade. — Ela me olhou exasperada, esperando minha resposta.
— Você é minha Luna, Lyla? — Eu surtei. — Porque eu ainda não sei, e
parece que você também não. Como posso confiar em você se você não
quer se comprometer comigo?
Minhas palavras afundaram no ar diante de mim. Ao ouvir minhas
próprias palavras, percebi que soava na defensiva e que estava
choramingando.
Por que isso está acontecendo assim?
Lyla zombou de mim, dizendo:
— Você sabe o que torna tudo isso pior? Magnolia ganhou sua
confiança. Ela está mais atualizada sobre as ameaças à minha segurança
do que eu!
Seus olhos estavam selvagens agora. Eu me afastei da mesa,
precisando me mover. A raiva passava por mim.
Nós dois diríamos mais coisas das quais nos arrependeríamos. Mas eu
sabia que havia passado do ponto sem volta.
Lyla
O rosto de Caspian estava tão expressivo, tão amoroso, que tive que
desviar o olhar.
Suas palavras passaram pela minha mente várias vezes.
Seríamos felizes juntos?
A resposta veio de dentro de mim e tive quase certeza de que era
verdade.
— Eu acho que sim, — eu sussurrei. Quando voltei meu olhar para
Caspian, seus olhos estavam arregalados de alívio. — Mas temo que esse
não seja realmente o problema...
Eu me movi pela água, de volta ao lado da piscina, apoiando meus
braços contra ela.
Eu me perguntei: Como seria minha vida se eu não tivesse conhecido
Sebastian?
Nesse momento seria mais fácil — eu tinha certeza disso. Mas apenas
o pensamento de perdê-lo me encheu de tristeza.
E se eu tiver que perder Caspian... Meu coração torceu dolorosamente.
Eu tinha certeza que Caspian e eu poderíamos ser felizes juntos.
Poderíamos voltar ao lugar que ambos conhecíamos e amávamos.
Minha vida seria o que sempre imaginei.
Mas Sebastian representava um futuro além dos meus sonhos mais
selvagens. Paixão, poder, privilégio...
Só de pensar nisso, minha cabeça girou.
Meus dois futuros possíveis se expandiram diante de mim como dois
caminhos não trilhados. Eu sabia que, uma vez que começasse a
caminhar por um, o outro desapareceria para sempre.
Eu me virei para Caspian. Ele estava recostado na lateral da piscina,
me olhando com preocupação.
Fiquei impressionada com sua paciência, seu amor constante. E
enquanto eu olhava para o homem que estava ao meu lado desde que eu
conseguia me lembrar, não havia dúvida em meu coração de que eu o
amava.
Eu não sabia se isso era o suficiente para sempre, mas era o suficiente
para o agora.
Eu me movi em direção a Caspian e seus braços se abriram para mim.
Ele me abraçou e eu inclinei meu peso sobre ele, confiante de que ele me
apoiaria.
Isso não é suficiente? Eu me perguntei. Não é esse sentimento de
aceitação tudo que eu sempre quis?
As mãos de Caspian eram fortes contra minhas costas. A pele de seu
peito estava quente na água. Enquanto eu sentia o cheiro dele, o abraço
se tornou outra coisa. Seu corpo era mais do que apenas conforto para
mim.
Foi elétrico. Eu reajustei minhas mãos sobre seu peito duro e liso, e
seu corpo enrijeceu. Meu coração começou a bater descontroladamente
de ansiedade.
Quando olhei para cima, Caspian já estava lá, esperando. Meus lábios
encontraram os dele facilmente, e paramos por um momento, respirando
a respiração um do outro. Deixando que o sentimento fosse construído
entre nós.
Seu beijo foi terno e suave, como se nós dois fôssemos frágeis.
Realmente, nós dois éramos. Mas então eu me inclinei contra ele com
mais força, e ele me encontrou com uma paixão desprotegida. Ele me
puxou para mais perto e então percebi: eu não era feita de vidro.
Naquele momento, não precisava ser tratada com cuidado. E ele
também não.
Suas mãos estavam por toda parte, me segurando. Eu podia sentir o
amor em cada toque, o que me deixava tonta de desejo.
Eu confiei no homem diante de mim completamente. Eu o beijei
profundamente como se pudesse beber dele.
Ele me pegou em seus braços e me carregou em direção aos degraus
da piscina, para fora da água. Ele me deitou suavemente em uma
espreguiçadeira.
À nossa volta, a noite fervilhava de grilos e sapos. A copa das árvores
nos escondeu. Estávamos totalmente sozinhos.
Estremeci, mas foi mais por antecipação do que pela brisa fresca.
— Vou mantê-la aquecida — Caspian prometeu.
Eu olhei para ele, seus olhos amorosos que me aceitavam exatamente
como eu era. Toquei as gotas de água em seu peito perfeito, brilhando ao
luar.
Então eu agarrei sua nuca, puxando-o para baixo em cima de mim, em
um beijo profundo.
Ele respondeu com igual paixão, colocando uma de suas pernas entre
as minhas para que eu pudesse sentir sua ereção crescente contra minha
coxa.
Minha respiração estava ofegante enquanto passava minhas mãos por
seu corpo. Meu corpo estava reagindo antes de minha cabeça.
Mas eu não queria pensar. Isso parecia certo, e eu não queria lutar
contra isso.
Alcancei sua cueca, acariciando a pele macia de seu membro duro
como pedra. A respiração de Caspian ficou irregular.
— Porra, Lyla, — ele engasgou.
Abaixei sua cueca para que pudesse vê-lo. Seu abdômen ondulou,
chegando até seu pau perfeito, que se flexionou em minha mão.
Sem pensar, puxei minha calcinha para o lado, desesperada para senti-
lo.
Ele se inclinou em minha direção, então o comprimento dele estava
contra o meu sexo quando eu abri minhas pernas.
Meus músculos internos se contraíram de desejo enquanto movia
meus quadris contra ele.
Estávamos tão perto. Estávamos a apenas um movimento de
distância. Eu estava delirando de luxúria, já perto do orgasmo.
Suas mãos em mim eram gentis e fortes. Eu podia sentir que ele tinha
certeza: eu era tudo o que ele sempre quis; tudo o que ele sempre iria
querer.
Essa seria a sensação de fazer amor com Caspian, eu teria certeza
disso então.
Ele iria me adorar, aceitar todas as falhas e me dar tudo o que tinha.
Eu queria aceitá-lo, mais do que qualquer coisa.
Caspian abriu os olhos e olhou nos meus com uma intensidade
ardente. Era uma pergunta — uma que eu não sabia se poderia
responder.
Esta é a hora?
Vou finalmente perder minha virgindade?
20
PROBLEMAS DEPOIS DA MEIA-NOITE
Lyla
— Então você está me dizendo que sua garota foi roubada na Cúpula?
— Silas estava inclinado para a frente, os olhos arregalados de choque.
— Sim, — eu disse, dando uma baforada descontente do charuto entre
meus dedos.
— Droga. A Deusa da Lua pode ser uma garota inconstante às vezes,
hein?
— Isso é verdade.
Tomei um gole da garrafa meio vazia, entregando-a a Silas, que fez o
mesmo. Era fácil conversar com ele. E foi bom conversar com alguém
sobre toda aquela merda.
Liberação.
Talvez fosse porque ele era um estranho. Eu sabia que provavelmente
não veria o homem nunca mais depois daquela noite, o que tornou mais
fácil abrir o bico.
Muito mais fácil do que conversar com amigos e familiares, isso era
certo.
Eu não estava procurando por piedade, e Silas não ofereceu nenhuma.
Ele era apenas um cara com quem eu poderia desabafar.
— O que é pior, — continuei, — é que não foi qualquer um que
acabou se revelando seu companheiro. Foi o alfa. O alfa real. Você pode
acreditar nisso, porra?
O sorriso descontraído foi subitamente apagado do rosto de Silas.
Seus olhos brilharam sombrios, e seu comportamento de repente mudou
de aberto e convidativo para algo mais escuro.
Mas sumiu tão rápido quanto veio, e me peguei me perguntando se
tinha imaginado a coisa toda.
— Não, eu realmente não posso acreditar nisso, — disse ele
calmamente.
— Eu também não queria, — admiti. — Mas a realidade é uma merda.
Ficamos em silêncio por um tempo, revezando-nos para tomar um
gole da garrafa e fumar nossos charutos.
— Por que você não está lá dentro? — Eu perguntei eventualmente. —
Você não tem ninguém esperando por você?
— Não, — disse Silas. — Como eu disse, tive meu quinhão de
problemas do coração. E me chame de bastardo, mas não suporto ver
outras pessoas felizes com seus companheiros. Me faz sentir todo torcido
por dentro, sabe?
— Eu entendo, — eu concordei. — Por que eles ficam felizes quando
estou me sentindo uma merda?
— Amém, irmão. — Silas deu uma risadinha.
— Mas o que aconteceu com você? — Eu perguntei. — Você sabe
muito bem a minha história. Qual é a sua?
— Ah, bem, não gosto de falar muito sobre isso... — O rosto de Silas
escureceu novamente e, dessa vez, tive certeza de que não estava
imaginando. — Eu perdi minha companheira em uma terrível tragédia.
Ela foi tirada de mim muito, muito cedo.
Eu podia sentir o peso de suas palavras e tive a sensação de que meus
problemas atuais empalideceram em comparação com o que ele havia
passado.
— Mas mantenha a cabeça erguida, filho, — disse Silas. — Você ainda
tem a cerimônia da segunda chance chegando.
Tossi uma baforada de fumaça de charuto. Eu tinha me esquecido
completamente dessa parte da Cúpula.
Uma companheira de segunda chance...
A cerimônia tinha um certo estigma em torno dela.
Alguns viam isso como uma misericórdia concedida pela Deusa da
Lua, mas outros também viram como uma ninharia.
Todos os lobos não marcados entravam automaticamente na
cerimônia. Era visto como uma chance para aqueles que, por qualquer
motivo, não conseguiram encontrar seu verdadeiro companheiro.
Talvez seu verdadeiro companheiro simplesmente não estivesse na
Cúpula. Talvez seu verdadeiro companheiro tivesse falecido e essa fosse
sua segunda chance de uma vida cheia de amor.
— Hm... eu não tenho certeza disso, — eu disse relutantemente.
— Os rumores de que seu companheiro de segunda chance não é 'tão
bom' quanto seu verdadeiro companheiro não são tudo o que eles dizem
ser, — disse Silas. — Amor é amor, e uma vida sem ele é realmente muito
sombria.
— Como você saberia? — Eu me perguntei.
— Minha companheira era uma espécie de companheira de segunda
chance, — disse Silas com um sorriso triste. — E ela era a luz da minha
vida. — Eu olhei para Silas. As linhas duras de seu rosto suavizaram
enquanto ele pensava em seu amor perdido. Ele parecia feliz com as
memórias que sem dúvida estava revivendo.
— Talvez eu pudesse tentar..., — eu disse duvidosamente.
— Faça isso, filho. — Silas deu uma última tragada no charuto antes
de jogá-lo na grama. Ele se levantou e me deu um tapinha no ombro. —
Eu sei que parece impossível, mas talvez você encontre alguém especial
como a sua garota encontrou.
Eu levantei a garrafa quase vazia em direção a ele.
— Obrigado pela conversa.
— Não se preocupe, — disse ele.
Ele começou a caminhar na noite, mas parou e olhou para trás para
uma palavra final. — Se você encontrar sua companheira, segure-a com
força. Nunca a deixe ir. Porque você nunca sabe quando o destino a
levará embora.
Sebastian
Lyla tentou pular entre nós, mas Caspian era um caso perdido.
Ela só se machucaria.
E se Caspian machucasse Lyla... então nenhuma quantidade de
autocontrole me impediria de matá-lo.
Eu a empurrei de lado, esquivando-me sob a estocada de Caspian
quando ele bateu no balanço do banco, arrancando-o de suas correntes.
Lyla tropeçou nas raízes da árvore, caindo de costas na grama. Isso
poderia deixar um hematoma, mas era melhor do que ficar no caminho
de um lobisomem bêbado.
A raiva me alimentou, meus ossos quebrando e os músculos se
expandindo enquanto eu assumia minha forma completa de lobo.
Caspian girou e se lançou novamente, e eu desviei para fora de seu
alcance.
Rosnei um aviso, mas o idiota continuou vindo.
Eu golpeei seu rosto, minhas garras se retraíram para que eu não o
deixasse com uma cicatriz. Mas o tapa não fez nada para detê-lo.
Isso vai ser complicado.
Se fosse uma luta normal, eu teria rasgado sua garganta naquele
momento. Mas o filho da puta estava bêbado. Ele não estava em seu juízo
perfeito.
E eu sabia que, se o machucasse, machucaria Lyla.
Puta merda.
De repente, ele se lançou para frente em um movimento imprudente
e suicida que deixou sua garganta completamente exposta. Mas não
consegui aguentar a abertura. Eu não queria matá-lo...
Suas mandíbulas apertaram meu ombro e eu gritei de dor.
Caspian
— Lyla! Ajuda!
A voz de Skye estava sumindo, mesmo com a ajuda dos meus sentidos
aguçados de lobo.
Corri para o labirinto, meus olhos vasculhando o chão em busca de
rastros. Eles estavam perto. Eles não poderiam ter ido longe.
E então eu os ouvi, bem do outro lado da parede.
— Lyla! — Skye gritou.
Corri para frente, com a intenção de romper o labirinto, mas bati em
uma parede de malha de metal grossa.
Pensei em pular sobre ele, mas os pés de milho tinham cinco metros
de altura e outra rede de fios de metal cobria todo o labirinto.
Obviamente, foi construído para impedir que lobos imprudentes ou
bêbados trapaceassem ou arruinassem o labirinto para todos os outros.
Mas naquele momento eu queria pegar quem quer que tivesse desenhado
o labirinto e dar um soco na cara deles.
Eu arranhei e mordi selvagemente o metal, mas ele não se moveu.
— Venha nos encontrar, Lyla. — Um profundo sotaque sulista
zombou de mim do outro lado da parede. — A pequena Skye está tão
assustada.
— Eu não estou com medo de você, seu idiota — A voz de Skye foi
abafada de repente.
Soltei um rugido cruel. Eu não precisava de palavras para deixar
minha ameaça clara.
Machuque-a e você morre.
O homem riu, sua voz sumindo.
— Depressa, Lyla, — ele chamou. — O tempo dela está se esgotando...
Corri como um lobo possuído, disparando pelo labirinto. Cheguei a
beco sem saída após beco sem saída, a risada zombeteira do estranho
enchendo o ar ao meu redor.
— Sinto pena de você, — disse a voz. Parecia que ele estava falando
bem ao meu lado. Eu me virei, atacando com minhas garras, mas ele não
estava lá.
Meus sentidos estão me enganando?
— Se você tem que culpar alguém pelo que aconteceu esta noite,
culpe a Deusa da Lua. Ela usa todos nós para seu entretenimento. — Sua
voz era como fumaça, entrando e saindo, constantemente girando ao
meu redor. Eu balancei minha cabeça. Não fazia sentido ouvir o que ele
tinha a dizer.
Continuei a correr pelo labirinto. Eu podia sentir que estava chegando
mais perto.
— O destino é cruel, — disse ele. — Eu só quero que você saiba que
você não fez nada de errado. Não tenho qualquer má vontade em relação
a você ou sua irmã... mas não tenho escolha.
Virei em uma esquina e vi o centro do labirinto à frente.
Espere, Skye. Estou quase lá...
Sebastian
Teresa: a bruxa...
Teresa: como...
Teresa: minha cabeça ainda está girando.
Lyla: Bjs
Rolei para fora da cama e me vesti com uma camiseta e jeans, rezando
para que este dia fosse menos dramático do que o anterior.
Quando desci, fui para a cozinha para fazer um café da manhã para
ressaca, mas parei do lado de fora da sala de jantar.
O chão estava coberto de cristais estilhaçados e um lustre quebrado
estava no centro.
Sebastian estava varrendo os destroços para uma pá de lixo.
— Uh... o que aconteceu, — eu perguntei.
Minha mente imediatamente começou a pensar em todos os piores
cenários, como uma lista de reprodução ruim.
Oh Deusa, ele brigou com Caspian?
Onde diabos está Caspian, afinal?
Talvez eu deva verificar o pomar em busca de montes de terra fresca...
Mas Sebastian apenas deu de ombros.
— Acontece que sou melhor quebrando coisas do que consertando.
Havia um toque de tristeza em sua voz e eu senti a necessidade de
confortá-lo.
Eu podia sentir a dor do meu companheiro, e isso também me deixou
triste.
Isso era muito diferente dos impulsos sexuais apaixonados que eu
estava sentindo por causa da minha atração de acasalamento...
Este era um tipo diferente de paixão.
Algo mais profundo.
— Está tudo bem? — Eu perguntei, dando um passo em direção a ele.
Mas antes que ele pudesse responder, ouvi a porta da frente abrir e
passos correndo pela sala de estar.
— LYLA! — Minha irmã mais nova se catapultou em meus braços,
sorrindo para mim.
— Skye! Quando você chegou aqui? — Eu perguntei, afastando o
cabelo do seu rosto. Estava começando a parecer tão selvagem quanto o
meu.
— Eles acabaram de chegar esta manhã. Eu os peguei no hotel. —
Caspian disse enquanto entrava pela porta com meus pais.
Corri e abracei mamãe e papai, me sentindo um pouco emocionada.
Viver com Caspian e Sebastian tem sido... intenso.
Meu pai pareceu perceber esse fato, enquanto seu olhar mudou para
Sebastian se aproximando de nós.
— Sr. e sra. Green, — Sebastian disse educadamente.
Havia uma certa tensão no ar e isso me deixou nervosa. Olhei para
minha mãe, que parecia tão ansiosa quanto eu.
Papai mudou de ideia sobre Sebastian depois do que aconteceu com
Silas e Skye, mas isso foi antes de nós morarmos juntos.
Ele conhecia Caspian há anos. Ele confiava nele.
Mas ele ainda não havia formado uma opinião sobre Sebastian.
Finalmente, meu pai estendeu a mão e deu a Sebastian um aperto de
mão firme, e eu parei de suar tanto.
Isso é bom o suficiente por agora.
Skye começou a puxar minha camisa enquanto saltava para cima e
para baixo em seus tênis leves.
— Lyla me leva para um passeio! Este lugar é enoooorme!
Meu pai colocou as mãos nos quadris enquanto olhava por cima do
meu ombro para a bagunça na sala de jantar.
— Eu também gostaria que Caspian e Sebastian me levassem em um
pequeno tour para que possamos ter certeza de que este lugar está dentro
das normas. Minha filha não vai viver em uma armadilha mortal.
Sussurrei no ouvido da minha mãe antes de levar Skye em direção às
escadas.
— Por favor, certifique-se de que eles não se matem.
— Sem promessas, — respondeu ela, dando-me um sorriso.
Quando subimos, Skye começou a me guiar em vez do contrário.
— Eu quero ver o seu quarto! — ela gritou.
Ela parou de repente e olhou para mim com seriedade.
— Espere, você...
Ela fez uma pausa, quase como se o que ela estava prestes a dizer fosse
proibido.
— Eu o que? — Eu perguntei.
— Vocês todos dormem no mesmo quarto? — Skye perguntou,
fazendo meu queixo cair.
— Skye! Não! — Eu disse rindo. — Quem você acha que eu sou?
— Só uma pergunta, — Skye disse inocentemente, embora eu não
acreditasse. Ela era perceptiva demais para sua idade.
Skye entrou no meu quarto e se jogou na minha cama.
— Deve ser tão divertido viver com seus dois companheiros.
— Isso é discutível, — eu disse, sentando ao lado dela.
— Mas é como estar com seus melhores amigos o tempo todo, certo?
Quando ela disse isso, parecia tão simples.
Isso era como passar todos os dias com meus melhores amigos.
Mas quando você introduziu o amor — o tipo romântico — na
mistura...
Esse círculo de amigos tornou-se um triângulo muito nítido e
pontudo.
— Você é tão sortuda, — disse Skye, suspirando. — Você encontrou o
amor verdadeiro com dois companheiros.
Amor verdadeiro...
Embora eu tentasse esquecê-las, as palavras da bruxa ainda estavam
ecoando em minha cabeça.
Eu faria minha escolha.
E encontraria o amor verdadeiro.
Mas ao custo de perder alguém para sempre.
A lógica simples e a perspectiva pura de Skye normalmente me faziam
sentir melhor sobre meus relacionamentos complicados.
Mas desta vez...
As coisas não são tão simples.
Caspian
— Você tinha alguma ideia de que Colin não era seu pai biológico? —
Sebastian perguntou. — Mesmo uma vaga ideia?
Com a pergunta de Sebastian, uma vaga memória começou a se
formar — uma que era bastante recente.
Naquele dia em que Sebastian me levou para a piscina sagrada da
Alcateia Real... aquela que deveria me mostrar a minha verdade...
A memória começou a tomar forma — meu sangue caindo na água, as
visões intensas...
Eu vi um homem pairando sobre meu berço, vestindo uma armadura
de platina.
Eu sabia sem dúvida agora...
Esse homem era meu pai.
Ele estava se despedindo.
Mas ele sabia que estava se despedindo para sempre?
Comecei a ficar tonta, mas recuperei o equilíbrio quando os braços de
Sebastian me firmaram.
— Por que ele foi embora? O que era mais importante do que sua
companheira e filha?
— Tudo que eu sei é que se ele te deixou... ele foi um idiota, —
Sebastian disse, me segurando com força.
Senti meus olhos ficarem embaçados de novo, mas dessa vez me
contive. Eu não choraria por um homem que não merecia minhas
lágrimas.
Mas a questão de sua partida ainda permanecia em minha mente...
Eu realmente não era suficiente para ele ficar aqui?
Era apenas o início da tarde e já me sentia emocionalmente esgotada.
Iríamos assistir a Marcha dos Guardiões da Lua mais tarde naquele
dia, um evento que deu início ao Carnaval des Loups, mas meus pais
estavam optando por pular as festividades.
Depois do que mamãe me disse, eu poderia entender por que ela iria
querer ficar longe de qualquer coisa relacionada aos Guardiões da Lua.
Muitas memórias dolorosas...
Abracei Skye e minha mãe em um adeus, mas quando cheguei em
Colin, ele me puxou para perto.
— Não importa o que aconteça, eu sempre serei seu pai, e você
sempre será minha garotinha, — ele sussurrou, sua voz trêmula.
Fiquei tocada por suas palavras e me senti exatamente da mesma
maneira.
Eu dei a ele um sorriso e um beijo na bochecha, um momento de
compreensão silenciosa passando entre nós.
Pai biológico ou não, Colin é meu pai verdadeiro, e ainda somos uma
família.
— Vejo vocês todos em breve, — eu disse, acenando enquanto eles
desciam a garagem em direção ao carro.
— E mamãe... mantenha papai longe dos furacões! Confie em mim.
— Apresse-se, nós vamos perder a marcha, — Sebastian gritou,
abrindo caminho na multidão com seus cotovelos.
Trombetas soaram, sinalizando o início da marcha.
Caspian e Sebastian conseguiram abrir caminho para nós e chegamos
à beira da rua.
Vi Teresa e Reed do outro lado da estrada e acenei, mas rapidamente
os perdi de vista quando uma luz brilhante piscando na frente dos meus
olhos quase me cegou.
Eu apertei os olhos para ver o sol brilhando em um mar de armadura
de platina.
Dezenas de Guardiões da Lua marcharam em uníssono perfeito,
parecendo mais com estátuas do que com homens.
Eu não pude deixar de me perguntar como meu pai — Michael —
tinha sido como um Guardião da Lua.
Ele parecia tão impressionante quanto esses homens? Era difícil para
mim não ter um pouco de admiração por ele, embora eu não quisesse.
Eles são tão legais!
Havia vários no centro da brigada, carregando uma grande caixa
dourada de algum tipo.
— O que é isso? — Perguntei a Sebastian, apontando para a caixa.
— É o dízimo para a Igreja, — respondeu ele. — Todos os anos eles
fazem uma coleta do povo, e vai para a Cidade Santa como uma oferenda
à Deusa da Lua.
Eu queria saber mais, mas antes que pudesse fazer outra pergunta,
uma voz estrondosa soou acima da multidão, causando comoção.
— Este dízimo é uma farsa!
Os Guardiões da Lua pararam sua marcha.
Eu me virei, procurando a fonte da voz, e engasguei quando a
encontrei.
De pé em um telhado do outro lado da rua estava um homem todo
vestido de preto, com uma máscara e um chapéu de aba larga.
É o homem que salvou a mim e a Teresa ontem à noite!
Estrela da Noite!
— Esse dinheiro pertence aos rejeitados — aqueles que são forçados a
viver nas sombras, os mestiços, os oprimidos! — Estrela da Noite gritou.
— A Igreja está corrompida. Eles apenas enchem os bolsos, ficando
cada vez mais ricos, enquanto ignoram aqueles que realmente precisam
de seu apoio!
A multidão explodiu em uma mistura dividida de vaias e gritos.
Alguns cantaram o nome de Estrela da Noite, enquanto outros o
amaldiçoaram.
Caspian assobiou, olhando para Estrela da Noite com admiração.
— Esse cara tem muita coragem!
Mas quando me virei para Sebastian, não houve veneração. Ele parecia
irritado.
— Ele está apenas dizendo mentiras! — Sebastian ferveu. —
Anarquista fodido!
Sebastian começou a se mover em direção ao Estrela da Noite.
— Alguém precisa acabar com essa heresia.
— Sebastian, espere...
De repente, gritos emanaram da multidão.
Dezenas de homens mascarados pularam de esconderijos
cuidadosamente escondidos, convergindo para os Guardiões da Lua.
Estrela da Noite não estava sozinho...
Ele tem uma alcateia inteira com ele!
Os homens da Alcateia Estrela da Noite jogaram bombas de fumaça
na multidão, explodindo em uma loucura multicolorida.
Eu tossi enquanto tentava olhar para onde Sebastian estava.
Caspian agarrou minha mão e eu segurei firme, não querendo perdê-
lo no caos também.
Mas então, através da fumaça, eu o avistei...
Sebastian estava preso no meio do caos.
Eu o observei levar um golpe forte na nuca com a arma de um
Guardião da Lua.
Seu corpo caiu na multidão e desapareceu de vista.
Ele estava prestes a ser pisoteado pela horda frenética quando os
Guardiões da Lua sacaram suas armas e atacaram os homens
mascarados.
— Sebastian!
Minha mão escorregou da mão de Caspian e corri em direção à briga.
— LYLA! — Fui imediatamente arrastada pelo mar tempestuoso de
pessoas, que me jogou para frente e para trás até que perdi todo o senso
de direção.
Mas eu não conseguia parar de seguir em frente. Não quando meu
companheiro estava em perigo.
Eu tinha que ajudá-lo antes que fosse tarde demais.
Por favor, Sebastian...
Apenas espere!
8
ZOMBI MAMBO
Sebastian
Minha cabeça latejava e tudo que eu podia ver era uma onda borrada
de pés em disparada.
Eu estava no chão, sendo pisado, batido e espancado enquanto a
multidão corria de forma imprudente.
Meus ouvidos zumbiam como uma sirene.
Algo havia me atingido na lateral da cabeça e eu mal conseguia pensar
direito.
Tentei rastejar, mas me mover era quase impossível.
— Sebastian!
Eu ouvi meu nome, mas parecia distante, abafado.
— SEBASTIAN!
Minha visão clareou e vi o rosto de Lyla bem na minha frente.
— Temos que sair daqui! — ela gritou, estendendo a mão.
Lyla ajudou-me a ficar de pé e, eu coloquei meu braço em volta dela
para me equilibrar.
Ela empurrou a multidão, lutando para segurar meu peso.
Controle-se, Sebastian!
Minha mente começou a sair de sua névoa e eu consegui ficar de pé
por conta própria.
— Onde ele está? — Eu perguntei, olhando em volta freneticamente.
— Onde está o Estrela da Noite?
— Esqueça ele, — disse Lyla. — Esses Guardiões da Lua não estão
brincando. Precisamos ir antes que alguém se machuque.
Eu queria ir atrás do vigilante que tentou manchar a reputação da
Igreja, mas Lyla estava certa...
Antes de ela me encontrar, eu estava me tornando um tapete de pele
de lobo para as botas dos Guardiões da Lua.
De repente, a fumaça se dissipou e o caos parou quando algo se
tornou muito evidente.
— O dízimo acabou! — gritou um dos Guardiões da Lua.
A luta tinha sido apenas uma distração...
O homem mascarado estava no topo de seu poleiro no telhado,
sorrindo.
Ele tirou o chapéu e acenou para os Guardiões da Lua.
— A Alcateia Estrela da Noite agradece a Igreja por sua generosa
doação. Vamos nos certificar de que isso volte para o povo de Nova
Orleans — aonde pertence.
Aquele filho da mãe arrogante...
Um grande estrondo emanou por toda a rua enquanto mais bombas
de fumaça explodiam.
Estrela da Noite desapareceu na fumaça, e com ele o dízimo da Igreja.
Lyla
Acordei como queria acordar todos os dias. Com Lyla ao meu lado,
aninhada debaixo do meu braço.
Seu cabelo normalmente ondulado estava desarrumado e amassado
em ângulos estranhos, mas ela parecia linda assim.
Pacífica. Perdida em seu próprio mundo de sonhos.
Afastei uma mecha de cabelo de seu rosto, pensando em como dormi
bem. Dormir com ela ao meu lado parecia que tudo estava certo no
mundo.
Todo dia poderia ser assim.
— Caspian. — Lyla se mexeu, resmungando, e assim, a manhã perfeita
acabou.
Mesmo depois de uma noite como essa, ainda não sou o suficiente?
Lyla se espreguiçou ao meu lado, mas não reagi a ela. Eu sabia que ela
não estava acordada ainda — que ela murmurou o nome de Caspian em
algum lugar entre os sonhos e o despertar.
E isso era ainda pior.
Eu puxei meu braço debaixo dela. Eu precisava sair de sua cama. Fora
de seu quarto. Em meu próprio espaço.
— Bom dia, — ela disse com um bocejo. — Caspian já voltou?
Depois de colocar minha cueca, me virei para encontrá-la sorrindo
preguiçosamente para mim.
— Não tenho ideia, — resmunguei.
Se eu pudesse voltar para a cama com ela.
Se fosse assim tão fácil.
Mas não era, porra. Porque Caspian ainda estava entre nós. Mesmo
quando ele não estava lá.
Eu me afastei.
— Vai embora tão cedo? — Lyla perguntou, dando tapinhas na cama
ao lado dela.
— Vou tomar banho. — respondi. — Vamos encontrar Madame
Cochon hoje.
— Oh, que bom! Eu quase esqueci. — Ela saltou da cama e veio em
minha direção vestindo apenas sua calcinha. Ela tocou meu rosto e eu
encontrei seus olhos sorridentes. — Obrigado por me levar.
E assim, minha raiva evaporou.
— Vamos nos preparar, — eu disse com um beijo rápido em seus
lábios.
Eu esperava sair de lá antes que Caspian voltasse...
Caspian
Com um rugido, enviei outro homem voando. Ele caiu fora do ringue.
Quando me virei atrás de mim, vi Sebastian trabalhando como uma
maldita força da natureza.
Ele colocou um alfa de joelhos. Então outro.
Tão capaz quanto me sentia naquele momento, eu sabia que ainda
não estava à altura. Não com esse tipo de força.
Eu não sou um alfa.
Proeza e autoridade não corriam em minhas veias como corriam nas
dele. Eu não nasci assim.
E essa desvantagem parecia completamente injusta.
Pela primeira vez, tive a chance de nivelar o campo de jogo. A poção
alfa estava bem no meu bolso.
Tinha a chance de ver quem era o melhor homem de nós dois
tivéssemos o mesmo privilégio. E essa não era uma oportunidade que eu
poderia perder.
As pessoas na multidão seguraram garrafas de água para os lutadores,
e eu vi minha chance. Tirei o frasco de vidro do bolso e abri a tampa.
É agora ou nunca.
Então peguei uma garrafa de água e engoli as duas bebidas de uma
vez.
Eu descartei os recipientes vazios fora do ringue. E então me virei para
examinar a cena.
Sebastian era o único outro homem de pé.
Perfeito.
Uma confiança fria fluiu por todo o meu corpo, reforçando cada fio de
músculo. Me enraizando no chão como uma maldita árvore.
Do outro lado do ringue, Sebastian sorriu.
Eu estalei meus dedos.
Pode vir, filhote.
15
REI DO BAILE DE MÁSCARAS
Sebastian
— Eu mal posso esperar para ver o que Reed está vestindo — Teresa
comentou enquanto ela limpava o blush em minhas bochechas. — Ele
quer que fiquemos totalmente surpresos quando nos encontramos no
baile. Eu não entendo porque ele é tão tradicional...
— E não entendo por que estamos usando maquiagem quando vamos
apenas colocar máscaras, — respondi.
— Eu me pergunto o que Sebastian vai vestir... — Teresa continuou,
ignorando meu ponto.
Eu também me perguntei o que Sebastian usaria.
Vou reconhecê-lo?
Claro que vou.
Seu cheiro estava enraizado em minha memória, programado em meu
próprio ser. Assim como o de Caspian estava...
Oh, Deus. Ter dois companheiros era complicado todos os dias, mas
um baile de máscaras era talvez o pior evento possível.
Pensei na última dança que assisti com os dois — o baile de festas — e
como isso terminou em uma briga.
Eu só podia esperar que esta noite fosse melhor do que isso...
Esperançosamente, aquele Anel de Força machista tirou toda a luta de
seus sistemas...
Mesmo que eu não me importasse com a competição, parte de mim
ainda se perguntava quem tinha ganhado.
— Aposto que Caspian vai parecer um flamingo grávido — disse
Teresa enquanto soltava uma risada.
— Oh, por favor. Nós duas sabemos que ele se veste bem.
— Bem no nível Alfa real? Acho que não.
Eu revirei meus olhos.
— Ok, minha maquiagem está pronta agora, — eu disse, tomando
uma decisão executiva.
Depois de colocar minha máscara azul safira, me virei para me olhar
no espelho. Mesmo que a máscara cobrisse apenas a metade superior do
meu rosto, eu ainda fiquei surpresa.
Eu parecia totalmente diferente com o cabelo liso e um vestido que
não era meu estilo normal.
E eu gostei disso. Eu tinha meus motivos para estar nervosa esta noite.
Mas eu estava animada. Talvez algumas surpresas sejam boas para mim.
Uma hora depois, nosso táxi parou na frente de um enorme cubo de
mármore preto. O edifício era hiper contemporâneo — todas as
superfícies lisas e cantos agudos.
Ofereci minha mão a Teresa e a ajudei a sair do carro, e juntas
observamos a cena.
Teresa levou a mão à boca.
— Isso é...
— Insano — eu terminei por ela.
O local parecia uma espécie de peça de arte moderna, e a música que
vinha de dentro dava a entender que seria mais uma boate do que um
baile renascentista.
Lobisomens elegantes e disfarçados rondavam o tapete vermelho que
se estendia até as portas da frente escancaradas.
— Vamos! — Teresa gritou.
Começamos a andar no tapete e, embora eu tentasse evitar os flashes
das câmeras, Teresa me fez posar ao lado dela.
À medida que nos aproximamos, percebemos que a fachada do prédio
funcionava como um espelho e nos vimos refletidas no mármore preto e
no vidro.
Agentes de segurança estavam esperando em cada lado da entrada
principal.
Um homem segurava um frasco de perfume na mão enluvada.
— Todos os convidados devem mascarar seus cheiros antes de entrar.
— explicou ele.
Eu balancei a cabeça, mas eu não estava esperando por isso. Teresa e
eu compartilhamos um olhar através de nossas máscaras enquanto eles
nos borrifavam.
Como vou encontrar meus companheiros se não consigo localizar seus
cheiros?
— E precisamos de uma foto e seu nome para nossos arquivos —
acrescentou o agente.
Uma câmera disparou.
— Lyla Green, — eu disse.
E então entramos na festa.
A sala era enorme e todas as superfícies eram feitas do mesmo
mármore preto reflexivo, então toda a pista de dança lotada se refletia
infinitamente de volta a si mesma.
Duas escadarias dramáticas envolviam o fundo da sala. Acima de nós,
o prédio erguia-se em muitos andares, e cada andar se abria para a pista
de dança com varandas dramáticas feitas de vidro.
As luzes estavam baixas e pulsando no ritmo da música eletrônica
rítmica. E as pessoas...
O prédio já estava lotado de lobisomens, e cada um deles estava
disfarçado.
— Como vamos encontrar alguém que conhecemos? — Eu perguntei.
Teresa gritou de alegria.
— A única coisa que quero encontrar é o bar, — ela respondeu.
Olhei para as sacadas acima de nós mais uma vez e vi a aba larga de
um chapéu preto e, quando o homem que o usava se inclinou para a
frente, notei a máscara operística sobre seus olhos.
Estrela da Noite.
Mas quando olhei para trás, ele havia sumido.
— Sim, vamos beber alguma coisa, — gritei para Teresa por cima da
música. Mas quando me virei, não pude vê-la.
A multidão a engoliu.
Avancei entre as pessoas rindo e conversando enquanto bebiam em
copos de cristal.
Um garçom me ofereceu uma taça de champanhe de sua bandeja e eu
tomei um gole, esperando que me ajudasse a relaxar.
Momentos depois, meus sentidos estavam aguçados — a música se
tornou mais rítmica, as luzes mais hipnotizantes...
Eu fiz meu caminho através do mar de máscaras que variavam do
simples ao elaborado — retratando qualquer coisa, de animais e
monstros a nada, criando uma lousa em branco.
Eu estava ficando dominada pelo espetáculo, a música latejante, as
luzes pulsantes. Eu me virei, precisando encontrar uma saída, um pouco
de ar fresco...
E então, braços em volta da minha cintura. De repente, me senti
calma. Os braços eram fortes, familiares, confiáveis.
Meu companheiro. Mesmo que eu não pudesse sentir o cheiro dele, eu
sabia que era verdade.
Meu corpo estava reagindo, recostando-se na figura forte. Eu olhei
para cima e vi um lobo olhando para mim.
Bem, uma máscara de lobo, esculpida em ouro.
Estendi a mão para tocar a joia vermelha que era o nariz do lobo,
meus lábios se curvando em um sorriso.
Todo o seu rosto estava coberto e, naquele momento, enfrentei um
dilema insano.
Eu sei que ele é meu companheiro... mas qual deles?
O lobo se inclinou e eu mal podia sentir seu hálito quente no meu
pescoço. O ouro era liso enquanto sua máscara roçava minha pele.
Senti a sala girar ao meu redor, mas me inclinei contra o peito sólido
do meu companheiro.
Suas mãos seguraram minhas costas, me guiando para mais perto
dele, me encorajando a acompanhar seu ritmo enquanto ele balançava
com a batida.
A tão familiar eletricidade do laço de acasalamento percorreu entre
nós, nossas roupas criando atrito enquanto girávamos.
Suas mãos se aventuraram mais abaixo... até minha bunda, que ele
apertou, segurando-me com mais força contra seu corpo, onde eu podia
sentir o contorno vago de sua ereção crescente.
Meus joelhos ficaram fracos.
Sem uma palavra, meu companheiro se afastou, pegou minha mão e
me levou pela pista de dança e por um corredor escuro.
Embora não falássemos, eu sabia que ele estava me levando a algum
lugar onde poderíamos ficar sozinhos...
Ele queria jogar comigo... e eu estava mais do que disposta a jogar
junto.
16
COMPANHEIROS EM MÁSCARAS
Lyla
Depois de dar a volta na pista de dança pela quinta vez, subi as escadas
de dois em dois de volta até a varanda.
Meu coração estava disparado. Não havia como negar agora. Lyla não
estava aqui.
Claro, a festa estava um caos. Havia muitas pessoas, e o evento em si
foi planejado para desorientar seus convidados...
Mas quando olhei para o fosso estroboscópio de dançarinos, eu sabia
que não poderia atrasar mais.
Era hora de pedir ajuda.
Eu também não tinha encontrado Caspian. Talvez eles estivessem
juntos em algum lugar.
Eu esperava que estivessem, embora isso normalmente fosse a última
coisa que eu queria.
Mas eu não conseguia afastar a sensação inquietante de que algo
estava errado. Que minha companheira estava em perigo.
Desci a escada mais uma vez e me dirigi para a entrada principal.
Um guarda estava perto da porta com um ponto na orelha.
— Eu preciso falar com sua equipe. — Quando ele hesitou,
acrescentei: — Sou o alfa real.
— Sim, senhor. Desculpe, senhor.
Revirei os olhos e o segui por um corredor até uma sala cheia de
agentes estudando telas grandes.
Um deles se virou para mim.
— Alfa. Que honra conhecê-lo. Como posso ajudar?
Pelo menos ele é mais capaz do que seu colega.
— Estou procurando alguém.
— Nome?
— Lyla Green.
Ele começou a digitar e, um segundo depois, Lyla apareceu na tela. Ela
usava uma máscara de safira sobre os olhos e seu cabelo ruivo estava
alisado.
— É isso que ela está vestindo, — explicou o agente.
Seus lábios estavam separados e ela parecia linda, perdida em
pensamentos.
Talvez ela estivesse nervosa com alguma coisa...
Como ter dois companheiros na mesma festa.
— Alguém invadiu o escritório. — O novo agente se firmou na mesa.
— Estrela da Noite está aqui, — ele ofegou. — A alcateia dele roubou
um lustre.
Oh não. Meu estômago afundou, a sensação de medo se
intensificando.
— Mostre-me todas as saídas, — eu rosnei.
O agente rapidamente puxou imagens de segurança de todo o edifício
enorme.
Eu fiz a varredura dos trinta quadros diferentes...
— Lá.
O agente deu um zoom naquele que eu apontei. Era uma doca de
carga e o lustre estava sendo carregado em um caminhão sem
identificação.
E então eu a vi.
Lyla. Inconsciente. Sendo transportada para o banco do passageiro.
Por Estrela da Noite.
— Você está brincando comigo? — Eu gritei.
De repente, todos os agentes estavam fora de seus assentos, gritando
nos microfones que saíam de seus fones de ouvido.
— Há quanto tempo foi isso?
— Lamento muito pelo descuido, senhor. Isso foi há dez minutos.
Deixe-me rastrear a van e podemos ajudá-lo a encontrá-la..., — disse o
idiota enquanto batia no teclado.
— Não, obrigado. Só há uma coisa que você pode fazer por mim.
Todos se viraram para mim, desesperados para apaziguar o alfa real.
Mas eu já havia passado do ponto sem volta, pronto para fazer aquele
filho da puta do Estrela da Noite pagar.
— Chame os Guardiões da Lua. Diga a eles para me trazerem seu
melhor esquadrão AGORA.
Caspian
Era aqui. Juro pela merda da Deusa da Lua que era aqui.
Fiquei parado sob a luz da rua, olhando para a escuridão. Eu
provavelmente parecia um idiota, mas isso não era nada comparado a
como eu estava me sentindo.
O covil de Zara havia desaparecido. A porta roxa que havia me puxado
antes havia desaparecido em um sopro de magia vodu.
E em seu lugar estava um monte de... nada.
Com um suspiro, deixei cair meu peso na calçada e deixei minha
cabeça cair em minhas mãos.
Eu me senti uma merda. Esta poção alfa teve a pior ressaca de todos os
tempos.
O que diabos eu vou fazer agora?
Procurar outra bruxa que possa me ajudar? Encontrar Madame Cochon
novamente?
Sim, certo. Ela apenas diria: "Eu avisei".
Eu olhei de volta para a parede, mas a porta ainda não estava lá.
Não havia razão para eu ficar aqui, esperando que ela voltasse.
Eu me levantei e comecei a longa caminhada para casa. Inferno, não
para casa. A casa de Sebastian.
Antes de entrar na rua principal, olhei de relance para o beco.
Claro, nada mudou. Mas eu estava começando a achar que era uma
coisa boa Zara ter desaparecido no ar.
Essa poção alfa era uma coisa séria...
Madame Cochon estava certa.
Zara era um problema e eu sabia disso.
Mas eu também sabia que a poção alfa me fez sentir do jeito que
sempre quis sentir.
Como, pela primeira vez, tudo na minha vida estava se encaixando. E
de repente eu era capaz, no controle, no topo de todo o maldito mundo.
E esse sentimento seria difícil de esquecer...
Lyla
— E este é o meu quarto favorito em todo o lugar, — Estrela da Noite
me disse enquanto caminhávamos pelo corredor.
A risada transbordou da porta aberta à nossa frente e me vi sorrindo
junto com o líder enigmático.
— Sala de jantar! — ele anunciou.
Entrei para ver longas mesas cheias de dezenas de lobisomens. As
pessoas passaram os pratos umas para as outras, enchendo-os com
comida de cheiro delicioso.
Eu poderia dizer imediatamente que esta não era uma alcateia
normal. As mesas não foram divididas por status ou hierarquia; em vez
disso, todos jantavam juntos como uma família.
Mas a Alcateia Estrela da Noite era muito maior, mais estabelecida, do
que eu jamais imaginei. Era como se eles tivessem construído uma cidade
inteira sob Nova Orleans.
Um cheiro inegável chamou minha atenção: o travo natural de algo
entre um humano e um lobisomem.
— Você tem mestiços em sua alcateia? — Eu perguntei, chocada.
Estrela da Noite acenou com a cabeça.
— Ah, sim. Nossa alcateia é feita de párias, pessoas rejeitadas de outras
alcateias. Acho que essa é a melhor parte sobre nós.
Se todas as alcateias pensassem da mesma maneira...
Lua Azul era muito mais exclusiva. E a Alcateia Real estava em um
nível totalmente diferente.
— Deixe-me mostrar meu escritório.
Eu segui Estrela da Noite pelo corredor mais uma vez, e fiquei
surpresa ao descobrir que ele tinha deixado a porta aberta também.
Seu escritório era uma sala esparsa iluminada por velas e lampiões a
óleo.
— Eu sinto que voltei no tempo, — eu disse a ele.
— Ter fogo por perto me ajuda a pensar, — respondeu ele com uma
risada.
E então avistei uma armadura de platina enfiada no canto atrás da
mesa.
Corri até ela, tocando o metal frio com meus dedos.
— Você era um Guardião da Lua?! Meu pai era um Guardião da Lua,
— eu disse.
Eu não sabia por que queria dizer isso a ele. Talvez porque não seja
todo dia que você encontra um Guardião aposentado.
— Como é possível que você fosse um deles? — Eu continuei — Você
os desafia a cada passo!
Eu ri alto enquanto pensava nos Guardiões da Lua lutando para
conseguir seu dízimo...
Mas quando vi o rosto de Estrela da Noite, havia tristeza em seus
olhos.
— Por mais surpreendente que seja, eu era um Guardião da Lua... e
gostei no início. — Ele olhou para longe enquanto se perdia na memória.
— Eu queria cumprir meu dever de apoiar os lobisomens. Para
proteger a própria Deusa. Mas depois de um tempo, não aguentei mais.
Toda a corrupção...
Eu o observei enquanto ele tirava o chapéu para revelar o cabelo ruivo
penteado para longe de seu rosto. Ele pareceu instantaneamente mais
vulnerável.
— Eu deixei a Igreja, desertei a Ordem dos Guardiões da Lua... — ele
disse. — E nunca me importei em me esconder, em manter o sigilo, em
viver sob o radar.
Ele olhou para cima e me deu um sorriso tão triste que quebrou meu
coração.
— Mas desertar significava que eu tinha que deixar minha família.
Para sempre. E esse é o arrependimento mais profundo da minha vida. —
Sua voz soou em meus ouvidos quando ele terminou de falar. E então
meu coração acelerou.
— Qual o seu nome? — Eu sussurrei.
Tudo estava se encaixando. As coincidências colidindo umas com as
outras.
A armadura de platina, a máscara, o cabelo ruivo...
Estrela da Noite estreitou os olhos por um segundo como se estivesse
se perguntando se ele poderia confiar em mim.
— Michael — respondeu ele.
Eu respirei fundo e minha visão ficou turva com as lágrimas.
— Eu acho... — eu comecei, mas engasguei com as palavras, e
convoquei todas as minhas forças antes de continuar.
— Eu acho que você é meu pai.
18
ENCAIXANDO AS PEÇAS
Lyla
Caspian: Lyla!!
O sol estava nascendo.
Eu estremeci quando a luz queimou meus olhos.
Há quanto tempo estou deitada aqui?
Onde eu estava afinal?
Eu me levantei do chão e olhei em volta. Eu estava encolhida debaixo
dos longos braços de um salgueiro, a menos de um metro de distância da
água pantanosa do pântano. Um sapo gordo estava olhando para mim,
sua garganta saliente enquanto coaxava.
— Os beijos acabaram, — eu murmurei. — Nenhuma princesa para
você aqui.
O sapo coaxou para mim novamente antes de pular na água.
Eu me virei e examinei meus arredores. Eu poderia entrar no pântano
ou nas árvores, mas então escolhi as árvores.
Depois de lutar no meio da vegetação rasteira por pelo menos meia
hora, acabei conseguindo escapar para uma beira de estrada.
À distância, vi os portões do parque temático abandonado onde a
Alcateia Estrela da Noite estava escondida.
Eu imaginei que mesmo em meu estado frenético, meu corpo sabia
para onde ir... mesmo que minha mente não soubesse.
Este era o único lugar em Nova Orleans onde eu poderia ficar agora.
Imagens dos pitorescos pomares da vila passaram pela minha mente, e
uma pontada de dor cortou meu coração — tão forte que me deixou sem
fôlego. Eu balancei minha cabeça, tentando clareá-la.
Um pesado cobertor de gelo caiu sobre meu coração enquanto eu
lutava para bloquear qualquer pensamento sobre Seb...
Eu estremeci.
Dele.
Eu preferia não sentir nada do que sentir essa dor.
Eu preferia não pensar em nada do que pensar em Magnolia em seus
braços. Sobre como ela é muito mais perfeita e bonita e ... Adequada para
ser sua Luna do que eu.
Cerrei minha mandíbula enquanto meus pensamentos ameaçavam
arrancar a dormência reconfortante em meu peito. Limpei minhas
bochechas e fiquei surpresa ao encontrá-las secas.
Eu não chorei nada.
Talvez eu não tivesse mais lágrimas.
Eu vaguei pelas ruínas do parque temático, em direção ao labirinto de
espelhos que me levaria de volta ao esconderijo.
Eu mantive meus olhos em meus pés quando comecei minha jornada
pelo labirinto.
Eu não queria saber como eu estava agora. Tive medo de me olhar no
espelho e não reconhecer a garota que me encarava de volta.
De repente, senti mãos agarrando os meus ombros.
— Lyla, olhe para mim! — Eu pisquei, olhando para cima. Era
Caspian. De alguma forma, eu já estava vagando pelas ruas do
esconderijo subterrâneo.
Eu estava tão perdida na névoa de meus pensamentos que nem me
lembrava de descer a escada.
— Onde você esteve? — Caspian perguntou, seus olhos brilhando com
preocupação. — O que aconteceu com você? Parece que você já passou
pelo inferno.
Eu estremeci.
Que bom que eu não olhei para aqueles espelhos.
Eu abri minha boca para responder, mas nenhuma palavra veio para
mim. Era como se eu tivesse esquecido de como falar.
Caspian apenas olhou para mim, as sobrancelhas franzidas juntas,
uma carranca pesada em seu rosto.
— Vamos limpar você, — disse ele, tirando a poeira de minhas roupas.
— Eles têm água corrente de verdade aqui.
Ele pegou minha mão e me conduziu até o esconderijo. Eu segui
roboticamente, mal prestando atenção para onde ele estava me levando.
Uma toalha e algumas roupas reservas foram colocadas em meus
braços.
— Estarei esperando do lado de fora, — Caspian disse. Ele fechou a
porta atrás de si e percebi que estava em um banheiro.
Eu me despi, seguindo os movimentos. Entrei no chuveiro e abri a
água o mais quente possível. Fechei meus olhos enquanto a água
escaldava minha pele.
Achei que talvez ajudasse a limpar minha mente.
Não ajudou.
Caspian
Mãe: Faz um tempo que não falo com você e também não consigo
falar com Caspian.
A lua cheia estava alta no céu, a própria Deusa brilhando no caos que
era o desfile do Carnaval des Loups.
E Magnolia e eu estávamos bem no fundo.
Meu assento em cima do carro alegórico da Alcateia Real me deu um
ponto de vista perfeito.
Uma banda marcial deslumbrada marchava em nossa frente em
perfeita sincronia enquanto um enxame de mulheres vestindo nada além
de penas dançava e balançava entre elas.
Pessoas com máscaras de lobo incrustadas de diamantes dançavam ao
som de bandas de jazz. Álcool e colares de contas voavam pelo ar. Um
homem com cobras vivas enroladas no pescoço vendia comida e bebida.
Dançarinos de chamas e acrobatas pulavam e giravam para a
admiração da multidão.
Era pura folia. Uma celebração de liberdade e expressão.
Mas eu senti o oposto completo.
Eu estava acorrentado. Vinculado à vontade de minha alcateia para
que eles pudessem sobreviver. Magnolia e eu usamos coroas como parte
da pompa da cerimônia.
Pesada é a coroa.
— Olha, — Magnolia disse. — Todos parecem tão felizes. — Ela
apontou alguns membros de nossa alcateia na multidão.
Eu vi pessoas aplaudindo e rindo enquanto passávamos. Eles
levantaram seus copos e sorriram para nós. Eles abraçaram seus filhos,
beijaram seus companheiros.
Caius estava saboreando uma bebida, e até Tiberius ria das travessuras
de um homem rotundo vestido de Batman que tentava dar uma
cambalhota.
Magnolia acenou para eles, um sorriso no rosto.
— Vê-los assim me dá força, — disse ela. — Acho que estamos fazendo
a coisa certa, Sebastian.
Eu imaginei a alternativa. A Alcateia Real sem Alfa, com um futuro
sombrio e incerto. Ela provavelmente estava certa. Eu não poderia deixar
isso acontecer. Todos dependiam de nós.
Eu vi Teresa e Reed dançando em cima de um táxi. Seu pai, Alfa Hugo,
olhou em choque enquanto seu beta, o pai de Caspian, o confortava.
Onde estão Caspian e Lyla agora?
Eles virão?
Eu procurei na multidão por algum sinal deles. Eu não os vi, mas
encontrei a mãe de Lyla. Ela tinha Skye sentada em seus ombros, e as
duas estavam comendo sanduíches enquanto caminhavam com a
multidão.
Vê-las foi como um novo golpe em meu coração já machucado.
Eu queria pular do carro alegórico e perguntar a Lily como Lyla estava.
Onde ela estava. O que ela estava fazendo.
Mas não consegui. Nosso carro alegórico passou por elas e elas
desapareceram na multidão.
Não parecia que eu estava indo para a minha cerimônia de
acasalamento.
Parecia que eu estava indo para o meu funeral.
Caspian
Pandemônio.
Caos completo, respingado de sangue.
Chegamos tarde demais.
O desfile se transformou em um banho de sangue. Os sombrios
Guardiões da Lua se moveram no meio da multidão, suas armas
manchadas de sangue. Eles deixavam um rastro de sangue após matarem
inocentes atrás de inocentes.
Alguns outros Guardiões que foram capazes de resistir à magia negra
de Silas lutaram, mas foi uma batalha perdida.
Olhei em volta e de repente percebi que Lyla não estava mais ao meu
lado.
— LYLA! — Eu gritei, mas minha voz era apenas uma entre muitas. Os
gritos dos desesperados e moribundos me ensurdeceram.
Corri para frente, desesperado para encontrar alguém que eu
conhecia — com medo de ver o corpo imóvel de um amigo ou membro
da família.
Eu avistei Teresa e Reed lutando contra um par de Guardiões da Lua.
Eu corri para ajudá-los, pulando e caindo nas costas de um Guardião
da Lua. Meus braços torceram em volta do seu pescoço, até que ele
desmaiou.
Eu vi Alfa Hugo e meu pai vindo correndo em nossa direção também,
e tentamos nos reagrupar para uma retirada de combate.
Teresa e Reed conseguiram derrubar outro Guardião da Lua, e todos
nós corremos para o beco mais próximo para recuperar o fôlego.
— Você está bem? — Teresa estava agachada ao lado de Reed
enquanto ele segurava sua cabeça com as mãos. Metade de seu rosto
estava manchado de sangue, escorrendo até o pescoço.
— Só um pequeno corte, — disse ele. — Parece pior do que é.
— O que diabos está acontecendo?! — Perguntou Teresa.
— Silas está atacando novamente, — disse Alfa Hugo. — Temos que
encontrar o máximo de membros da Alcateia Lua Azul que pudermos e
sair daqui. Estamos em desvantagem.
Olhei para meu pai e percebi pela primeira vez que ele tinha um corte
profundo na lateral do corpo. Ele chamou minha atenção e apenas
balançou a cabeça.
— Estou bem, — disse ele.
Eu cerrei meus dentes com raiva.
— Isso com certeza não parece...
O pisar das botas blindadas exigiu nossa atenção. Um esquadrão
inteiro de Guardiões da Lua possuídos estava marchando em nossa
direção, suas longas lâminas cobertas de sangue.
Todos nós nos viramos para correr pelo outro lado do beco, mas mais
Guardiões da Lua apareceram lá também.
Estávamos presos.
Comecei a mudar, raiva e desespero me dando forças.
— Nós podemos pegá-los, — eu disse. Eu não ia deixar minha família
morrer em algum beco escuro.
Mas eu senti meu pai me agarrar, impedindo minha transformação.
Ele e Alfa Hugo se olharam e trocaram um breve aceno de cabeça.
— Ouça-me, filho, — disse-me ele. — Hugo e eu vamos abrir caminho
para vocês três. Use esse momento para sair correndo daqui.
Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo.
— O que diabos você está tentando dizer? — Eu perguntei.
— Nada, — disse Alfa Hugo. — Estaremos bem atrás de você.
Mas eles não podiam me enganar. Eu conhecia aquele olhar em seus
olhos. Eles iam se sacrificar, porra.
— Você é louco! — Teresa gritou. Lágrimas escorriam por suas
bochechas. — Se você acha que vou deixar você aqui para morrer...
— Teresa, não temos tempo. — Alfa Hugo respirou fundo. Os
Guardiões da Lua estavam se aproximando. — Reed. Você protege minha
filha, entendeu?
— Com a minha vida, — respondeu ele.
Meu pai olhou nos meus olhos.
— Vocês, crianças, são o futuro da alcateia agora, certo? Cuidem-se.
Lágrimas encheram meus olhos. Esses velhos idiotas haviam se
decidido.
— Amo você, papai.
Meu pai sorriu, apertando meu ombro.
— Amo você, filho.
E com isso eles mudaram e atacaram os Guardiões da Lua.
— NÃO! — Teresa gritou, correndo atrás deles. Reed e eu a
seguramos. Só tínhamos uma chance de passar por eles. — SOLTEM-
ME! — Ela começou a mudar, e eu sabia que se ela corresse para frente,
ela morreria também.
— Teresa, olhe para mim. — Reed ficou na frente dela, segurando seu
rosto com as mãos. — Você tem que viver. Não deixe o sacrifício de seu
pai ser inútil. Sua alcateia precisa de você.
— Se você acha que vou deixar meu pai morrer...
— Se você correr para lá você morrerá, — disse Reed. — E você teria
que ser uma idiota para pensar que eu não irei correr atrás de você e
morrer ao seu lado.
Isso chamou a atenção de Teresa.
Ela parou de se debater e olhou diretamente para ele.
— Viva para nós, — disse ele.
Eu vi o fogo nos olhos de Teresa murchar e morrer. A brilhante
centelha de vida que sempre brilhou dentro dela não existia mais.
— Tudo bem, — ela disse, sua voz plana.
Com um aceno final um para o outro, todos nós mudamos.
Nós avançamos assim que meu pai e Alfa Hugo avançaram na frente
dos Guardiões da Lua, criando uma abertura para nós.
Tentei ignorar o som de metal perfurando a carne.
Tentei ignorar os respingos de sangue que respingaram em meu pelo
enquanto eu passava correndo.
Teresa soltou um uivo de partir o coração quando uma lâmina
perfurou as costas de seu pai.
Tive um último vislumbre de nossos pais enquanto eles lutavam com
unhas e dentes, espadas alojadas em seus corpos. Eles se sacrificaram
para que pudéssemos viver.
Essa imagem iria me assombrar pelo resto da minha vida.
Lyla
UM MÊS DEPOIS
— Relatório.
— Sim capita.
Caminhei pelos corredores da basílica, Tristan ao meu lado. O Festival
das Trevas da Lua começaria em breve e era meu trabalho garantir que
tudo corresse bem.
— Os esquadrões de Clovis e Jean estabeleceram um perímetro livre
ao redor da praça principal, como você ordenou, — relatou Tristan. — Os
esquadrões de Constance e Nina se vestiram de civis e se misturam à
multidão.
— Bom. — Eu balancei a cabeça, satisfeita. — Alguma notícia do
mestiço que escapou?
Alguns dias atrás, um homem estava fazendo barulho na praça. Ele
estava gritando uma retórica anti-festival, levando a população ao
frenesi. Ele escapou antes que os Guardiões da Lua pudessem prendê-lo.
— Nada ainda, capitã. Mas presumo que ele vai mostrar a cara em
algum momento do festival.
— Mantenha seus olhos abertos. Não vou aceitar nenhum deslize sob
meu comando.
Tristan acenou com a cabeça, com uma expressão sombria.
— Isso é tudo por agora, Tristan. Te vejo na praça.
Ele fez uma saudação rápida antes de sair da basílica.
No caminho de volta para o meu quarto, vi Adele caminhando em
minha direção. Nós nos cruzamos sem dizer uma palavra.
Há apenas alguns meses, pensei que estávamos ficando próximas. Mas
minhas obrigações como Guardiã da Lua me deixaram cada vez mais
ocupada, e conforme eu subia na hierarquia, Adele simplesmente parou
de falar comigo.
Isso me incomodou, mas não tive muito tempo para pensar nisso.
Eu tinha um trabalho a fazer.
Mercer era um implacável. Ele me deu os piores turnos e me colocou
nas partes mais voláteis da Cidade Santa.
Eu tinha me familiarizado intimamente com as favelas em que os
mestiços viviam. Suas condições de vida me horrorizavam. Tentei
estender a mão para ajudá-los, mas tudo que eles viam era a armadura de
platina de um Guardião da Lua.
Muitas vezes eles se sentiram tão ameaçados que me atacaram, e eu
tive que me defender.
Repetidamente...
Um assobio baixo me tirou do meu devaneio.
— Droga, odeio admitir, mas você fica linda com essa armadura.
Eu conhecia aquela voz. Meu coração batia forte em meu peito
enquanto me virava.
E como mágica, lá estava ele.
O homem dos meus sonhos.
O amor da minha vida.
Sebastian!
7
LONGE DA ÁRVORE
Sebastian
Eu deixei a água quente do chuveiro correr sobre mim. Essa era minha
parte favorita do treino. Deixar toda aquela tensão e rigidez
desaparecerem; deixar meus músculos relaxarem.
Eu sabia que não seria capaz de melhorar imediatamente após um
único treino, mas eu ainda tinha alguns dias até a corrida. Mesmo que
fosse um pouco, eu poderia aumentar minha resistência. E eu tinha a
sensação de que cada detalhe faria diferença se eu tivesse alguma
esperança de derrotar Achilles.
Esperançosamente, o conhecimento de Adele sobre as estradas
secundárias da Cidade Santa pode me dar a vantagem de que eu
precisava.
A cortina do chuveiro atrás de mim se abriu.
Meu corpo se moveu por instinto, e eu girei pronta para dar um soco
em quem quer que fosse burro o suficiente para atacar uma Guardiã da
Lua no chuveiro.
Sebastian pegou meu punho com a mão, sorrindo diabolicamente
para mim.
— Sebastian! — Eu sussurrei. — O que diabos você está fazendo?
Ele entrou no chuveiro, fechando a cortina atrás de si. Ele me
empurrou contra a parede, me levantando para que minhas pernas
estivessem em volta de sua cintura. Borboletas esvoaçavam no meu
estômago — Pensei em ajudar você a se lavar, — ele murmurou em meu
pescoço. Eu engasguei quando ele mordeu meu ombro, meu corpo
queimando de luxúria.
— Idiota! Alguém vai...
Ele pressionou seus lábios nos meus, toda a minha resistência
derretendo. Eu me perdi na sensação de seu corpo rígido pressionado
contra o meu. a água quente correndo sobre nós.
Ele era tão forte, prendendo-me sem esforço contra a parede.
Senti sua masculinidade roçar em meu sexo e estremeci de
antecipação.
Ele roçou seu pau contra meu clitóris em movimentos lentos e
medidos.
Oh, por favor...
Finalmente, ele me deu o que eu queria.
Ele meteu dentro de mim. Eu fechei minha boca com as mãos para
abafar meu grito. Se fizéssemos muito barulho, alguém definitivamente
nos descobriria.
Mas, por algum motivo, o risco de descoberta tornava isso muito mais
emocionante. O fato de Sebastian não conseguir esperar eu voltar para
casa... que ele me queria tanto que não se importava se alguém nos
encontrasse...
Esse pensamento colocou minha alma em chamas.
Ele meteu em mim uma e outra vez, cada impulso fazendo com que
fosse mais difícil conter meus gritos. Ele pressionou sua testa na minha,
nossos olhos travados em um olhar feroz.
Você é minha, seu olhar me disse. E vou te foder até ficar satisfeito.
— Sebastian. — Eu engasguei, um orgasmo intenso crescendo dentro
de mim. — Eu vou gozar.
— Goze para mim, — ele comandou em um grunhido feroz.
Isso foi o suficiente para me levar ao paraíso.
Meus dedos agarraram em suas costas e meus dentes cravaram em seu
ombro enquanto eu gritava, minha boceta convulsionando em torno de
seu pau.
Ondas de prazer dispararam por todo o meu corpo enquanto eu
encontrava a doce liberação.
Ele grunhiu quando gozou dentro de mim, sua semente quente
enchendo minhas profundezas.
Por um momento, ele apenas me segurou contra a parede enquanto
eu sentia seu gozo pingar de mim.
— Não me coloque no chão, — eu disse entre meus suspiros. —
Minhas pernas parecem gelatina agora.
Ele riu, seu abraço apertando em torno de mim.
— Você pode pensar nisso como mais um treino, — disse ele.
Eu balancei minha cabeça fracamente, me aninhando em seu pescoço.
— De jeito nenhum. Se continuarmos assim, ficarei em coma e
perderei totalmente a corrida.
Eu o senti sorrir maliciosamente contra minha pele.
— Não me dê nenhuma ideia.
Olhando de um lado para o outro para ter certeza de que o caminho
estava livre, Sebastian e eu saímos correndo das instalações de atletismo
de mãos dadas.
— O que você quer jantar? — ele perguntou-me.
— Hm, bem, estamos na França. Quer experimentar um caracol?
Seu rosto se enrugou com nojo.
— Não é tão ruim. — Eu ri. — Meio salgado.
— Deixa para a próxima, — ele disse.
Eu estava procurando um restaurante na área quando vi duas pessoas
caminhando até um beco escuro perto do centro de treinamento. Eu
pensei ter visto um vislumbre de vestes vermelhas e um chapéu alto e
pontudo.
Aquele era Mercer?
— Eu te encontro no hotel, ok? Eu só preciso verificar uma coisa.
Sebastian acenou com a cabeça, distraído tentando encontrar uma
alternativa para o jantar de caracol. Eu vaguei em direção à entrada de
serviço da instalação, meus passos silenciosos contra o paralelepípedo.
Aproximei-me mais até poder ouvir suas vozes.
. —.. tudo está nos conformes na corrida. Eles são muito lentos. — Eu
conhecia aquela voz. Era Achilles.
— Está tudo muito bem, mas preparei uma garantia. — Ele era
Mercer!
O que diabos ele quis dizer com garantia?
— Você acha que eu preciso de ajuda? — Achilles pareceu ofendido.
— Não. Mas não gosto de arriscar. Não se preocupe com os detalhes.
Apenas se preocupe com a vitória.
Achilles zombou indignado. — É óbvio.
Eu escapei, não querendo abusar de minha sorte. Meu coração batia
forte no meu peito, pensando nas implicações de sua conversa.
Mercer iria sabotar a corrida?
12
EM SUAS MARCAS
Sebastian
Lyla: Ele tem a mente TÃO fechada Teresa: Ugh, acredite em mim,
eu conheço o tipo Teresa: Eu cresci com homens de mente
fechada durante toda a minha vida Teresa: Agora que sou Alfa,
vejo isso ainda mais Teresa: Mas Sebastian tem um bom coração
Teresa: Mesmo que ele seja inflexível com suas crenças Lyla:
Inflexível é uma boa maneira de o descrever Teresa: Vamos sair
pra beber?
Quando voltei aos tropeços para casa, estava mais do que um pouco
embriagada.
Tentei beber como uma gárgula essa noite, mas sou peso pena, como
dizíamos lá em casa.
Eu provavelmente deveria ter pegado um táxi, mas de que adiantava
ter dois pés funcionando?
Sem aviso, fui nocauteada e meus pés foram ao ar.
Eu bati no pavimento de pedra, com força.
Lutei para me levantar, a dor percorrendo meu corpo.
Colocaram um saco em minha cabeça e tudo ficou escuro.
Vários pares de mãos me agarraram e me senti sendo jogada para
dentro de um carro.
A porta se fechou e os pneus guincharam quando ele começou a
acelerar.
— Você tem ganhado bastante fama, Lyla — uma voz zombou. — E
gostaríamos de bater um papo com você.
18
ESPANCADA, ENSANGUENTADA,
MACHUCADA
Lyla
Acordei sozinho, o lado da cama de Lyla intocado. Ela não voltou para
casa ontem à noite.
Nossa briga foi ruim, mas eu não esperava que ela fosse ficar fora a
noite toda. Eu estava começando a ficar preocupado.
Verifiquei meu telefone, mas não havia novas mensagens. Mandei
uma mensagem para ela, esperando uma resposta rápida.
Sebastian
ei, cadê você?
Sebastian
sinto muito pela noite passada
Sebastian
não quero mais brigar
Sebastian
por favor me diga que você está a salvo
Joguei meu telefone na cama e deitei, segurando minha cabeça em
minhas mãos.
Deusa, eu fui um idiota na noite passada.
Eu não poderia sentar e afundar na autopiedade.
Eu precisava encontrar Lyla.
Eu pulei da cama e peguei minha jaqueta, indo para a porta da frente,
quando...
Ela se abriu e Lyla entrou... cheia de cortes e hematomas.
Larguei minha jaqueta e corri para ela. — O que diabos aconteceu?
Você está bem?
Ela me deu um abraço apertado, avisando que nossa discussão estava
posta de lado por enquanto. Ela encostou em meu peito e exalou um
suspiro profundo.
— Diga-me o que aconteceu, — eu disse com mais urgência. — Se
alguém te machucou, eu vou…
— Eu estou bem. Sebastian. — ela disse, se afastando. — Fiquei muito
bêbada ontem à noite e... caí de algumas escadas.
Lyla era muitas coisas, mas desajeitada não era uma delas.
— Algumas escadas? — Eu perguntei, cético. — Você caiu de todas as
escadas da basílica?
— Sebastian, se nós vamos brigar de novo, então eu irei embora de
novo, — ela disse, frustrada. — Não estou com saco para…
— Desculpe, desculpe, — eu disse, levantando minhas mãos. — Não
estou tentando começar uma briga. Eu só estava preocupado com você.
Levei Lyla até o sofá e me sentei, puxando-a para o meu colo. Ela se
aninhou em mim e fechou os olhos.
— Eu... vou tentar ter a mente mais aberta... sobre a questão dos
mestiços, — eu disse de repente. — Posso não concordar com tudo, mas
vou me esforçar mais. Só queria que você soubesse disso.
Ela acenou com a cabeça, acariciando meu pescoço. — Só não seja um
grande idiota, — ela murmurou.
— Ok, eu vou ser menos idiota com uma condição, — eu disse,
acariciando seu cabelo. — Você não pode beber mais álcool antes da
grande luta.
— Vou aceitar esse acordo, — respondeu ela. — Eu não sei se vou
beber de novo, honestamente.
— Bom, você precisa estar na melhor forma possível, — eu disse
resolutamente. — E eu vou ajudar você a treinar.
Lyla
Sebastian: Faça o que você tem que fazer para manter todos
felizes agora Sebastian: Invada minha adega
Fique calma.
Não ceda à raiva.
Mantenha a cabeça limpa.
Eu estava na arena do lutador, repetindo essas palavras sem parar,
tentando abafar o barulho da multidão ensurdecedora.
Quase toda a Cidade Santa apareceu para a segunda competição do
Festival das Trevas da Lua.
Este era um dos eventos que mais agradava o público.
Sangue seria derramado naquela arena hoje...
Só esperava que não fosse o meu.
Em alguns minutos, eu estaria enfrentando meu primeiro oponente.
Eu não tinha ideia de quem seria ou que arma ele usaria. Era um sistema
projetado para manter os lutadores em alerta. Eu tinha que estar
preparado para tudo.
O Ringue de Combate era um torneio de várias fases que acabaria
com apenas dois lutadores, que se enfrentariam na rodada final.
Eu tinha que ser um deles.
Ao me afastar da multidão, me vi cara a cara com Achilles, esfregando
giz em suas palmas.
Ele estava vestindo apenas uma tanga solta e deixava pouco para a
imaginação. Meus olhos vagaram para baixo antes que eu pudesse detê-
los.
— Gostando do que vê? — Achilles perguntou, me provocando. —
Espero que você não se distraia muito com meu pau na arena.
— Espero que minha espada não escorregue, — eu disse
laconicamente. — Nós, lobisomens, podemos curar rápido, mas duvido
que você consiga crescer um pau novamente.
O sorriso arrogante em seu rosto desapareceu rapidamente. — Você
vai cair naquela arena. Você vai perder na frente de seu companheiro, a
Deusa e de toda a porra da cidade.
— Você vai comer essas palavras com uma porção saudável de poeira
quando eu te deixara no chão, — eu rosnei.
Controle sua raiva!
Mesmo que fosse minha própria voz interior me dizendo para manter
o controle, escutei a voz de Sebastian na minha cabeça.
Sem dizer mais nada, afastei-me de Achilles. Era melhor me retirar da
situação.
— Sim, vá embora! — ele zombou. — E continue andando até
Montana ou de onde quer que você seja. Você não consegue aguentar! A
arena não é lugar para vocês, delicadas beldades do sul.
Minha mão agarrou o punho da minha espada, mas meu telefone
felizmente começou a zumbir, me distraindo de alguns pensamentos
violentos.
Peguei-o para ver uma mensagem de Sebastian.
Sebastian
Boa sorte, baby
Sebastian
Estou aqui torcendo por você
Sebastian
Eu sei que você vai arrasar
Sebastian
Você meio que não tem escolha
Sebastian
Há muita coisa em jogo
Lyla
Mas assim, sem pressão nem nada
Mas assim, sem pressão nem nada
Sebastian
Desculpe, não estou tentando pressioná-la
Sebastian
Só estou deixando você saber que eu acredito em você
Lyla
Obrigado pelo apoio
Lyla
Seu treinamento realmente ajudou
Sebastian
Mantenha a calma e acabe com eles
Sebastian
Não havia espaço para erros. Eu precisava vencer isso; não apenas para
nós, mas também para a Alcateia Real e a Estrela da Noite.
Caspian colocou a mão gentilmente no meu ombro enquanto se
aproximava de mim. — Ei. Está pronta?
— O máximo possível, — respondi tensa. — Há muita coisa em jogo
nisso.
— Bem, aconteça o que acontecer, espero que sejamos você e eu
enfrentando um ao outro na rodada final, — disse ele.
Eu olhei para ele com surpresa. — Sério? Você quer lutar comigo?
— Claro. Quero dizer, você obviamente vai vencer, mas não vou
facilitar para você, — ele respondeu, sorrindo.
Eu estava tão feliz que Caspian estava aqui comigo antes de eu entrar
no ringue. Ele sempre sabia dizer a coisa certa para me manter
equilibrada.
— A PRIMEIRA DUPLA DE LUTADORES A MOSTRAR O SEU
VALOR NO ANEL DE COMBATE...
A voz de um locutor ecoou por todo o estádio e pelos alto-falantes da
área do lutador.
— Oh merda, eles estão anunciando a primeira luta! — Caspian disse
animadamente.
. —.. LYLA GREEN E CONTESSA CROW!
Eu lancei a Caspian um olhar nervoso. Eu seria a primeira a lutar e,
além disso, o nome de minha oponente não era nada amigável.
Eu agarrei a espada do meu pai e fechei os olhos. Ele esteve aqui, neste
exato local, anos atrás. Ele enfrentou o mesmo medo que eu estava
sentindo agora.
Pai, você nem sempre esteve do meu lado, mas eu sei que você ficaria
honrado em ver sua espada usada nesta luta.
Não quero decepcionar você, mas acima de tudo, não quero me
decepcionar.
Ele pode não estar aqui fisicamente, mas era quase como se eu
pudesse sentir sua presença. Isso me confortou.
Tirei minha espada da bainha e olhei para meu reflexo na lâmina
polida.
Eu posso fazer isso.
Eu entrei na arena com o rugido da multidão. Imediatamente avistei
Sebastian na área do Alfa, aplaudindo e gritando meu nome. Teresa
estava bem ao lado dele, levantando o punho.
Cornelius estava com um sorriso malicioso no rosto, mas isso não
duraria muito tempo. Eu mal podia esperar para ver sua expressão
quando eu chutar sua bunda de campeão na rodada final.
Meu oponente saiu da área do lutador do outro lado da arena.
A Condessa Crow fazia jus a seu nome feroz em todos os sentidos.
Ela estava usando uma máscara enjaulada e empunhando uma bola
com cravos e uma corrente. Ela a balançou em vários movimentos
rápidos e a bateu na areia com um baque pesado; a multidão foi à
loucura.
Contessa e eu estávamos a vários metros de distância uma da outra, e
ela olhou para mim através da máscara.
— Você pode simplesmente desistir agora, então eu não tenho que
machucar esse seu lindo rosto, — ela zombou. — Seria uma pena.
— Parece que você tem medo de uma luta de verdade, — retruquei. —
E você deveria ter. — Ela pareceu abalada com a minha confiança, mas
apenas por um momento. A ferocidade voltou a seus olhos e assim que a
campainha soou, ela se lançou contra mim, balançando sua arma.
Eu levantei minha espada bem a tempo de bloquear a bola com cravos,
cavando meus pés na areia.
Seu segundo golpe veio ainda mais rápido, e a corrente enrolou em
volta da minha lâmina em um caos total. Ela puxou sua arma e a força
me tirou do chão, fazendo com que eu caísse de bruços.
A multidão engasgou.
— Você está tornando isso muito fácil, — ela incitou. Eu consegui
recuperar minha espada e rolar para o lado, no momento em que a bola
com cravos pousou onde minha cabeça estava.
Isso teria deixado uma marca.
Ela tinha uma velocidade incrível para alguém que usava uma
armadura tão pesada, mas eu percebi uma fraqueza.
Cada vez que ela jogava a bola e ela caía na areia, ela afundava
bastante. Ela tinha que usar muita força para puxá-la de volta.
Eu estava formulando um plano.
Na próxima vez que ela jogasse a bola, eu estaria pronta.
Eu dei uma cambalhota para a frente e pulei de pé, brandindo minha
espada e fazendo-a perder o equilíbrio.
Ela balançou novamente, mas foi fácil de se esquivar de seu ataque.
Quando a bola pesada caiu na areia, tive minha chance.
Enfiei a ponta da minha espada no grosso elo da corrente, enterrando-
a na areia. Quando a Contessa tentou puxá-la de volta, a corrente
escapuliu de sua mão.
Ela tropeçou, tentando segurar sua arma, mas eu estava muito
coordenada. Dentro de instantes, minha espada estava em seu pescoço,
cortando sua pele.
Ela ergueu as mãos em sinal de rendição e a multidão explodiu em
aplausos.
Eu havia vencido a primeira luta. Eu olhei para Sebastian. que estava
pulando para cima e para baixo com tanta força que pensei que a área dos
Alfas ali no estádio fosse quebrar.
Voltei para a área do lutador, onde Caspian imediatamente me
abraçou.
— Lyla, você foi incrível! — ele gritou. — Você me fez mijar nas calças
no início, mas sua estratégia no final foi muito boa!
— A SEGUNDA LUTA DE LUTADORES A MOSTRAR O SEU VALOR
NO ANEL DE COMBATE...
Eu estava cheia de adrenalina, animada com a minha vitória. Nada
poderia me impedir de-
— CASPIAN ALEXANDER E ACHILLES DEBROUX!
Meu sangue gelou enquanto eu olhava para Caspian com horror. Eu
não conseguia acreditar que isso estava acontecendo.
Porra! Por que ele? Qualquer um menos Achilles!
Quando Caspian me soltou de seu abraço, seus braços estavam moles.
— Caspian... — Eu queria dizer a ele palavras de encorajamento.
Eu queria dizer a ele que ele iria arrasar.
Mas tais palavras não estavam saindo da minha boca...
Ele caminhou em direção à arena como um homem caminhando para
sua sentença de morte.
Caspian
Acordar em uma cama de hospital não era como eu esperava que fosse
minha celebração da vitória, mas, novamente, eu não tinha o que
comemorar.
Eu tinha perdido.
Claro, Achilles só venceu por causa de um truque sujo, mas era uma
jogada lícita.
Ele tinha vencido e eu tinha que lidar com isso.
Eu tinha que lidar com a decepção de Sebastian...
Com a minha própria decepção...
Mesmo assim, ainda não estava tudo perdido. Houve mais um
concurso.
E assim que eu saísse dessa cama de hospital idiota, eu voltaria direto
para o treinamento.
Sebastian entrou, carregando um buquê de flores frescas, que colocou
em um vaso ao lado da cama.
— Achei que você gostaria de um pouco de cor neste quarto branco e
velho, — disse ele.
— Elas são lindas, — eu disse, sorrindo. Fiquei feliz por ele ter passado
por aqui. Eu precisava de uma distração de minha própria lamentação.
Sebastian sentou ao meu lado na cama e passou os dedos pelo meu
cabelo cor de areia. Eu podia sentir um galo na minha cabeça, onde
Achilles tinha me atingido.
— Como você está? — ele perguntou, colocando o braço em volta do
meu ombro.
Eu me aninhei em seu corpo e suspirei. — Já estive melhor. Pelo
menos eu fico alguns dias de folga do dever de Guarda Lunar.
Não ter que ver o rosto pomposo de Mercer por quarenta e oito horas
era definitivamente a única vantagem dessa situação.
Ele com certeza não viria ao hospital e me desejaria melhoras. Foi o
campeão dele que me colocou aqui.
Sebastian olhou pela janela, seu olhar distante e preocupado. Eu sabia
que ele estava pensando na Alcateia Real.
— Me desculpe, eu decepcionei todo inundo, — eu disse, me
esforçando para sentar. — Eu deveria ter prestado mais atenção. Eu
deveria ter percebido
— Pare, — Sebastian disse severamente, levantando sua mão. — Lyla,
não te culpo por nada. Essa luta foi sua. Você fez tudo certo. Achilles não
tem nenhuma honra.
Meu companheiro cerrou os punhos, e eu percebi que ele estava
começando a ficar nervoso.
— Esse filho da mãe é escória, — ele rosnou. — Ele não está apto para
ser um Guardião da Lua. Ele nem mesmo está apto a polir a porra da sua
armadura.
— Ele é um grande idiota, não há dúvida disso, mas ele me venceu,
justo e...
— Não, foda-se! — Sebastian gritou, me interrompendo. — Não teve
nada de justo no que Achilles fez!
Sebastian se levantou e começou a se dirigir para a porta.
— Onde você está indo? — Eu gritei atrás dele.
— Sebastian, não pense nisso. Não vale a pena!
Ele não estava me ouvindo neste momento. — Ele precisa responder
pelo que fez, — ele rosnou. — Eu não vou deixar ninguém desrespeitar
minha companheira e se safar.
Quando Sebastian saiu, eu me senti mal do estômago.
Isso poderia dar terrivelmente errado.
Por favor, não faça nada estúpido.
Sebastian
Hoje é o dia.
Minha última chance de impressionar...
Minha última chance de provar a mim mesmo...
Minha última chance de GANHAR.
Sem distrações.
Sem dúvidas.
TODA a pressão, no entanto.
Sebastian apertou minha armadura quando eu respirei fundo.
— Nervoso? — ele perguntou. — Posso fazer alguma coisa para
ajudar?
Na verdade, havia muito que ele poderia fazer para acalmar meus
nervos...
Ele poderia foder meus miolos, para começar.
Mas isso se enquadraria na categoria de distrações, que eu havia jurado
evitar.
— Estou bem, — respondi, me examinando no espelho. — Eu só
quero entrar naquele labirinto.
— Isso deve ser um pedaço de bolo para você, — disse ele, esfregando
meus ombros. — Esses vigaristas da cidade não sabem merda nenhuma
sobre caça e rastreamento.
Ele estava certo. Este foi definitivamente o evento para o qual eu
estava mais naturalmente preparado.
Estou apenas pegando um maldito porco. Fazíamos isso o tempo todo em
casa. Quão diferente pode ser aqui?
Meu telefone começou a zumbir e eu atendi, me arrependendo
imediatamente. — Idiota — estava me enviando uma mensagem — o
nome que eu tinha para Achilles em meus contatos.
Estúpido: ei, você já está tremendo nas suas botinhas de
guerreiro?
Estúpido: não leve sua perda hoje muito difícil Idiota: era
inevitável
Adele: AGORA
Caspian
Sebastian: Espere??
Sebastian: Lyla
Lyla: Ótimo!
Sebastian: Querida, você não tem ideia de como sou grato por
você Lyla: Não fui só eu Seb
Lyla: Você tem sido minha rocha em tudo isso Sebastian: Nós
realmente formamos uma boa equipe Lyla: O melhor time
Adele
Quando fui colocada como guarda pessoal da Deusa da Lua, não tinha
certeza do que esperar.
Ela era uma figura tão prolífica e reverenciada que minhas
expectativas não poderiam corresponder à realidade.
Estaríamos indo em missões diplomáticas para países estrangeiros?
Será que a acompanharíamos em suas tensas assembleias, onde
encantaria os delegados com suas proezas políticas?
Ela curava os enfermos?
Distribuía comida para as massas famintas?
Distribuía carros grátis como um apresentador de talk show?
O que a Deusa fazia -exatamente em sua rotina diária?
A resposta, ao que parece, era...
Pouca coisa.
Além da ocasional prova de roupas, degustação de vinhos ou ritual
religioso, a Deusa não fazia quase -nada.
Ela vivia uma vida pródiga de luxo, livre de qualquer controvérsia real,
enquanto seus conselheiros faziam a maior parte da tomada de decisões.
E, infelizmente, um desses assessores era Mercer.
A maior parte do meu trabalho era ficar fora de seus aposentos, caso
ela precisasse que eu fizesse algo por ela.
Eu era mais uma assistente glorificada do que um guarda-costas.
Se esta é a glória da Deusa... eu não quero isso.
— Você não acha isso chato? — Eu perguntei a Achilles enquanto ele
estava ao meu lado. — Achei que íamos pelo menos sair em missões
legais ou algo assim.
— O que você quer dizer? Tivemos aquela missão ontem, —
respondeu ele.
— Pegar a lavagem a seco da Deusa da Lua não é -uma missão, — eu
disse, revirando os olhos.
— Ok, tudo bem, admito que é um pouco chato, — disse ele, dando-
me um sorriso brincalhão. — Mas pelo menos podemos ficar entediados
juntos, certo?
— Eu só... me tornei uma Guardiã da Lua porque queria fazer a
diferença, — eu disse, suspirando. — E agora parece que estou parada por
aí.
— Lyla! — A Deusa da Lua gritou atrás da porta. — Eu preciso de você
aqui agora!
— Ei, pelo menos você não vai ficar parada agora, — disse Achilles,
sorrindo. — Progresso.
— Certo... progresso. — Eu respondi sarcasticamente.
Entrei nas câmaras da Deusa da Lua e fechei a porta atrás de mim.
— Você precisava de mim, sua Santidade? — Eu perguntei, ajustando
rapidamente meu tom para soar respeitoso.
— Qual cocar devo usar para a ópera esta noite? — ela perguntou,
franzindo o nariz enquanto mostrava duas opções igualmente
extravagantes.
Então agora eu comecei a dar conselhos de moda...
— Eu gosto do da direita, — eu respondi tão alegremente quanto
pude.
Ela jogou o direito de lado e escolheu o esquerdo. — Obrigada, isso foi
útil, — disse ela com doçura falsa.
Tendo tido apenas breves interações com a Deusa no passado, eu
nunca percebi o quão diva ela era.
Eu estava começando a formar uma imagem muito diferente da Deusa
da Lua daquela que me ensinaram enquanto crescia.
Ela parecia insípida, superficial e desconectada das pessoas.
Ela ao menos sabia o que estava acontecendo com os mestiços?
Ou talvez uma pergunta melhor fosse...
Ela ao menos se -importava?
— Hum... havia mais alguma coisa que você precisava? — Eu
perguntei sem jeito enquanto ela se olhava no espelho.
Ela me ignorou no início, mas finalmente se virou e olhou para mim
sem expressão.
— Não, isso é tudo. Mande Achilles entrar. E Lyla, você pode sair mais
cedo hoje.
Eu não sabia por que estava sendo liberada mais cedo, mas não
questionei. Fiquei grata por me afastar da monotonia. — Obrigada, sua
Santidade.
Quando voltei para o corredor, acenei para Achilles. — Seus serviços
são necessários, — eu disse. — Provavelmente para aparafusar uma
lâmpada ou algo assim.
— Nunca é um momento de tédio nesta posição, — respondeu ele,
rindo.
— Bem, estou saindo mais cedo, então boa sorte. — Quando comecei
a sair, ele agarrou minha mão.
— Lyla... Estou feliz por estarmos trabalhando juntos agora. Gosto de
você mais como aliada do que como adversária.
— Eu também, — respondi calorosamente. — Você não é tão idiota
quanto eu pensava.
— Isso foi realmente um elogio? — ele perguntou, sorrindo.
— Sim, mas não deixe isso subir à sua cabeça não carnuda.
Foi bom que a tensão entre nós tivesse acabado.
Mas enquanto seu olhar permanecia em mim, eu me preocupei que
estivesse sendo substituído por uma tensão diferente...
E não foi competitivo desta vez.
Eu só esperava que Achilles soubesse seus limites.
Sebastian
Eu estive tentando entrar em contato com meu tio por telefone o dia
todo, mas ele estava — fora — ou — indisponível — toda vez que eu
ligava.
Eu finalmente consegui rastrear seu número de celular pessoal de
uma ex-namorada descontente que estava mais do -que feliz em
obedecer.
Ou melhor, — Diga àquele filho da puta que eu quero os melhores anos
da minha vida de volta... E minha pulseira de diamantes Cartier também! —
-Foi o que ela gritou para mim.
Após a quinta ligação ignorada, eu estava pronto para jogar meu
telefone contra a parede. Ele não sabia que eu estava ligando, mas se
soubesse, provavelmente seria ainda menos provável que atendesse.
Se ele não atender, talvez eu possa enviar uma mensagem de texto para
ele, algo que chame sua atenção.
Sebastian: ei
Arthur: Cynthia?
Arthur: Justine??
Arthur: Boa sorte, nanico Arthur: Você vai precisar disso Então...
isso foi uma verdadeira merda.
Eu sabia que Arthur não seria receptivo, mas esse era o próximo nível
de mesquinhez.
Talvez meu pai o tratasse como um nanico, mas de todas as histórias
que ouvi sobre Arthur, ele mereceu.
Pelo menos... eu acho mereceu?
Arthur e meu pai eram gêmeos fraternos; meu pai era o mais velho
por apenas alguns minutos.
Talvez houvesse algo a mais na inimizade do que eu imaginava.
Ou talvez Arthur fosse apenas um idiota.
De qualquer forma, eu sabia que não conseguiria entrar em contato
com ele por mensagem de texto.
Eu teria que fazer uma visita pessoal a ele se eu realmente quisesse
fazer um apelo...
Mas mesmo isso pode ser uma causa perdida.
Eu ouvi o clique da trava da porta da frente. Lyla finalmente voltou de
sua corte marcial.
Entrei na sala de estar. — Como fez isso...
Eu parei no meu caminho quando vi o estado da minha companheira.
Ela ainda estava usando sua armadura.
Eu teria pensado que eram boas notícias se ela não tivesse aquela
expressão de dor no rosto.
— O que aconteceu!? — Eu gritei, correndo para o lado dela.
— É... É uma longa história, — ela disse trêmula.
Sebastian: Merda
Magnolia: Sim
SPLAT!
Eu pisei em uma poça profunda de lama que pintou minhas botas
douradas de marrom.
Eu estava carregando a Deusa da Lua em meus braços, tomando
cuidado para não deixar uma partícula de sujeira tocar sua pele de
porcelana preciosa.
Isso é tão degradante, -pensei comigo mesma quando vi Achilles rindo
atrás de mim.
Eu tinha certeza de que a Deusa ainda estava tentando me punir por
aquela façanha que fiz no eclipse.
— Obrigada, Lyla — disse ela em um tom falsamente doce enquanto
eu a colocava na frente da capela, onde ela discursaria na Assembleia
Lunar.
A Assembleia Lunar era uma espécie de discurso do — estado da
alcateia. — Sebastian tinha que dá-los na Alcateia Real uma vez por ano
também.
Mas, assim como o resto da persona perfeitamente curada da Deusa,
seu discurso também era uma fachada.
Mercer o tinha deixado mais cedo esta manhã. Fiquei doente de
pensar que as palavras dele estariam saindo de sua boca.
Quando comecei a entrar com Achilles e a Deusa da Lua, ela estendeu
a mão. — Eu só preciso de um de vocês para me acompanhar nisso. Lyla,
você está dispensada do serviço pelo resto do dia.
Por mim tudo bem, sua Infernal.
As pesadas portas da capela se fecharam, bloqueando-me do lado de
fora.
Estava claro que eu não voltaria para suas boas graças tão cedo. Salvar
a vida dela apenas garantiu meu emprego, não seu favor.
Aparentemente, isso estava reservado para Achilles.
Voltei para casa tarde após escoltar a Deusa da Lua para outra
assembleia. Embora um nome melhor para isso seja — teatro de
fantoches.
Eu duvidava que ela soubesse o que metade de suas palavras
significavam...
Essa era uma mulher que me perguntou como era o sexo, afinal.
Estremecendo, tentei tirar da minha mente o pensamento de nosso
encontro na hora do banho.
A Deusa da Lua deve estar reprimida como o inferno.
Entrei no quarto e fiquei desapontada ao descobrir que Sebastian não
estava em casa.
Nas últimas noites, ele estava desaparecendo e eu estava começando a
ficar desconfiada. Ele nunca se esgueirou assim.
Peguei meu telefone e mandei uma mensagem para ele.
Lyla: Ei...
Sebastian: Claro
Sebastian: Talvez
Sebastian: Ei, tenho que ir, mas vejo você mais tarde Sebastian:
Amo você, bebê A decepção me inundou quando desabei na cama.
Desde quando guardamos segredos um do outro? Eu queria saber o que
estava acontecendo, mas... Eu queria que Sebastian contasse para mim
por conta própria.
Lyla: Sim, você não acha que a faca era um pouco demais?
Adele: O quê?
Lyla: Claro, vou até trazer alguns cobertores extras e cantis que —
peguei emprestado — do quartel Adele: Obrigada Lyla! Vc é a
melhor Lyla
O que Adele estava fazendo por seu povo era realmente inspirador.
Quando Cheguei ao abrigo, vi dezenas de mestiços trabalhando juntos
para se alimentar e abrigar uns aos outros.
Apesar de suas circunstâncias, eles não foram quebrados.
Adele inspirou esperança neles.
Eu fiz questão de não usar minha armadura de Guardiã da Lua,
sabendo o quão desastroso isso teria sido.
Eu realmente queria que os Guardiões da Lua fossem um símbolo de
segurança, ao invés de opressão, mas, infelizmente...
— Lyla! — Adele gritou, acenando para mim em uma mesa de
piquenique feita de sucata de madeira reciclada.
Sentei-me em frente a ela e imediatamente percebi que algo estava
diferente nela.
Eu não tinha certeza do que era, mas ela parecia mais feliz do que eu
já tinha visto.
— O que está acontecendo com você? — Eu perguntei. — Você está...
totalmente nas nuvens agora.
— Ok, isso vai parecer loucura... — Ela parecia hesitante, mas também
animada.
— Vá em frente, não me deixe em suspense, — eu disse ansiosamente.
— Eu e Caspian decidimos nos...
Ela disse isso tão baixinho que eu não consegui nem mesmo entendê-
la.
— Decidiram o quê? — Eu perguntei em voz alta.
Ela se inclinou para perto. — Nos acasalar, — ela sussurrou.
— O QUE!? — Eu gritei a plenos pulmões, arrancando olhares
assustados de vários mestiços.
É
— Shhhh! — Adele disse, tentando não rir. — É um segredo. Por
razões óbvias.
Na verdade, eu estava lutando contra as lágrimas quando me inclinei
sobre a mesa e abracei Adele. — Estou MUITO feliz por você, — eu disse.
— E orgulhosa também. O que vocês estão fazendo é lindo e corajoso.
— Sim, bem, não é como se nós pudéssemos ter um ministro ou algo
assim, já que ninguém em sã consciência concordaria, mas queremos
pelo menos fazer algo que se assemelhe a uma cerimônia oficial, — ela
respondeu.
— Você sabe que vou ajudar de todas as maneiras que puder, — eu
disse, segurando a mão dela.
— Bem... na verdade... eu queria te perguntar... — As bochechas de
Adele ficaram vermelhas. — Você seria minha dama de honra não oficial?
Parei por um momento e uma ideia brilhante flutuou em minha
mente.
— Não, — eu disse com firmeza.
Adele parecia chocada por eu ter recusado. — Oh, eu só pensei...
— Vou fazer melhor para você, — eu disse sorrindo. — Eu irei oficiar.
Seus olhos se arregalaram. — Espere, você pode...
— Eu sou uma Guardiã da Lua da Sagrada Ordem, — eu disse,
sorrindo. — O que significa que estou automaticamente licenciada para
oficiar cerimônias de acasalamento. Então, chega desse papo de não oficial
Sua cerimônia de acasalamento será oficial como o inferno!
Adele estava praticamente explodindo de emoção.
Isso finalmente estava se tornando real para ela.
Caspian e Adele mereciam ser felizes - mais do que qualquer outra
pessoa que eu conhecia.
E tive a honra de oficializar sua união.
Sebastian
Lyla: Ok
Lyla
— Oh? Que tipo de aposta você tem em mente? — meu tio perguntou
com um sorriso malicioso.
O que diabos está acontecendo?
Lyla não tinha deveres de Guardiã da Lua? O que ela estava fazendo
fora da Cidade Santa? E o que diabos ela estava fazendo flertando com
meu tio?
Lyla apertou meu braço, seu olhar fixo em Arthur.
Eu cerrei meus dentes, me forçando a ficar parado.
Eu tinha que confiar nela.
Foi uma boa coisa Lyla ter vindo quando ela veio. Se eu fosse deixado
sozinho, eu já teria enviado meu tio estúpido voando por todo o cassino -
logo antes de minha bunda ser expulsa de Mônaco.
Lyla avançou, uma sedutora em ação. Seus saltos acentuavam as
formas perfeitas de suas pernas, e o vestido apresentava um decote
generoso.
Ela parecia tão sexy, -mas eu não gostava de todos os outros homens
olhando para a minha Luna.
Especialmente meu tio de merda.
— Jogamos uma rodada rápida de pôquer, — disse Lyla. — Quem é
forçado a deixar a mesa primeiro perde.
Lyla caminhou em um círculo lento em volta do meu tio.
— Se eu ganhar, você tem que nos ouvir. Mas se você ganhar...
Lyla estava atrás dele agora e colocou os braços em volta da cintura de
Arthur. Ela se apoiou em suas costas, seus lábios contra sua orelha.
— Então você pode me convidar para jantar. E podemos nos conhecer
muito bem.
Achei que fosse explodir de raiva ali mesmo. Eu vi vermelho. Meus
braços tremeram, meu corpo inteiro me implorando para mudar e rasgar
qualquer coisa e tudo ao meu redor.
Mas consegui me controlar.
Lyla tem um plano.
Repeti isso para mim mesmo como um mantra.
Meu tio estava sorrindo de orelha a orelha.
— Por mais tentadora que seja esta aposta, você precisa de fichas para
jogar pôquer. E se você não tem nenhum, então isso significa...
— Eu tenho, — ela disse.
Lyla caminhou de volta em minha direção, sentando-se na minha
cadeira à mesa de pôquer. Ela pegou o único chip que eu havia tirado da
pilha de Arthur antes.
— Isso é tudo que eu preciso para forçá-lo a sair.
Arthur começou a rir e, desta vez, não estava sozinho. Alguns outros
jogadores começaram a rir da declaração impossível de Lyla.
Como ela deveria forçar Arthur a sair da mesa com apenas uma ficha?
Ela teria que ser algum tipo de prodígio do pôquer.
E se eu conhecia meu tio, ele provavelmente era a coisa mais próxima
de ser um.
Até eu tive dificuldade em descobrir o que Lyla estava fazendo.
Eu olhei para ela. Ela parecia incrivelmente calma e composta, um
sorriso confiante nos lábios.
— Você tem um acordo, — disse Arthur enquanto se sentava. Ele
olhou Lyla de cima a baixo com olhos lascivos. — Vou gostar de receber
você para jantar.
Lyla
Ilha de Lupinus. Uma ilha escondida nas brumas, da qual ninguém jamais
voltou.
Ótimo. Mal posso esperar para adicionar meu nome à lista.
Toda criança lobisomem já ouviu histórias sobre a Ilha de Lupinus.
Diz a lenda que a ilha misteriosa foi onde ocorreu a origem dos primeiros
lobisomens.
Mas até conhecer Arthur, era só isso.
Uma história.
Aparentemente, se a noite passada era alguma indicação, cada conto
popular e história de ninar eram verdade. Lembrei-me de todos aqueles
artefatos lendários reunidos em uma sala...
Apoiei-me no parapeito do iate particular de Arthur enquanto
observava as ondas passarem abaixo de nós. O balanço das ondas no
oceano era hipnótico.
Apesar da ideia de uma desgraça iminente, me senti estranhamente
relaxada.
Finalmente, havia um objetivo simples e direto definido diante de
mim. Um que não envolvesse abandonar minhas crenças e navegar por
um mar de mentiras e hipocrisia.
Só precisávamos encontrar um véu velho.
Aquele que pertenceu à primeira Deusa da Lua. Foi na manhã seguinte
ao nosso encontro com Arthur. Ele insistiu em que passássemos a noite,
e então discutiríamos mais detalhes no dia seguinte. Ele ainda tinha um
leilão para fazer.
Sebastian e eu tínhamos nos retirado para um quarto de hóspedes que
não pareceria deslocado em um hotel cinco estrelas.
Um braço enrolado em volta da minha cintura, e o cheiro tentador de
um croissant torrado com manteiga flutuou até meu nariz.
— Café da manhã? — Sebastian perguntou, entregando um para mim.
Eu dei uma grande mordida, suspirando pela descamação
amanteigada.
— Arthur nos chamou para o convés superior, — disse ele.
— Então, ele finalmente vai nos dizer qual é a grande confusão sobre
este véu? — Eu perguntei.
— Provavelmente. Meu tio tem um dom para o dramático.
Atravessamos o iate de luxo e subimos até onde Arthur estava
esperando.
Ele parecia ter saído de um filme de Indiana Jones para a vida real. Ele
tinha a aparência característica: completo com o chapéu alto, a jaqueta
de couro e um chicote enrolado na cintura.
Tentei não revirar os olhos e falhei miseravelmente.
— Pronta para a aventura? — Arthur perguntou, abrindo os braços em
um grande gesto.
— Na verdade, sim, — eu disse, surpresa com a verdade de minhas
palavras. Apesar das apostas e do perigo iminente - ou talvez por causa
disso - a excitação cresceu em meu peito.
— Isto é o que eu gosto de ouvir. — Arthur sorriu. — Não será fácil,
mas não seria uma aventura adequada se fosse, seria?
— Vá direto ao ponto, — Sebastian disse categoricamente. — O que o
impediu de chegar ao Véu antes?
Arthur desinflou, um pouco de sua excitação se esvaindo.
— Vejo que você herdou o senso de diversão do -seu pai, — ele
murmurou.
Arthur tirou uma bússola antiga do bolso da jaqueta. A caixa parecia
ser de ouro maciço, a agulha tremeluzindo erraticamente dentro da
caixa.
— Esta bússola nos mostra o caminho para a Ilha de Lupinus, —
Arthur disse. — Acredita-se que o primeiro templo da Deusa da Lua
esteja lá.
Eu olhei para a engenhoca com desconfiança.
— Você quer dizer a bússola que muda de direção a cada meio
segundo? — Eu perguntei.
Ele assentiu.
Fabuloso.
— Eu contratei alguns caçadores de tesouro para recuperar o Véu para
mim. mas...
— Nenhum nunca voltou, — Sebastian terminou por ele. — O que te
faz pensar que seremos diferentes?
Arthur o encarou, irritado por ter sido interrompido.
— Porque eu encontrei isso, — Arthur disse, sacudindo a bússola em
suas mãos.
— Você quer dizer a bússola que muda...
— Instruções a cada meio segundo, sim, — disse Arthur, exasperado.
— Meus homens lutaram com unhas e dentes por uma dessas coisas.
— Você quer dizer que há mais de uma bússola de merda? — Sebastian
perguntou.
— Não somos os únicos atrás do Véu, — disse Arthur.
— Claro que não. — Meu pulso acelerou, uma sensação ruim no meu
estômago. — E nossa competição é...?
— A Santa Igreja.
Fechei meus olhos, meus medos confirmados.
O longo alcance da Igreja parecia abranger toda a nossa vida, não
importa o que estivéssemos fazendo.
— Existe alguma razão pela qual este véu é tão importante? Eu
entendo que a primeira Deusa da Lua usou, mas é apenas um tecido, não
é?
Arthur não respondeu de imediato. Ele olhou para o oceano infinito
ao nosso redor, imerso em pensamentos.
— A primeira Deusa da Lua foi extraordinária. Uma Deusa literal em
todos os sentidos da palavra.
Seus poderes eram milagrosos. Dobrando a mente. Seus sucessores
ainda eram poderosos, mas longe do mesmo nível de habilidade.
— Dizem que seu poder era tão grande que afetava tudo ao seu redor.
Incluindo as joias e roupas que ela usava. Diz a lenda que se você olhar
através do Véu da Primeira Deusa da Lua, poderá ver o futuro.
Eu escutei atentamente, minha mente varrida em pensamentos sobre
o passado antigo.
Toda essa conversa de poder divino passou pela minha cabeça. Por
alguma razão, não pude deixar de me fixar em como a primeira Deusa da
Lua realmente era.
Ela era tão insuportável e imperfeita quanto nossa atual Deusa da
Lua?
Ela foi gentil?
Piedosa?
Tentei me imaginar em uma posição de poder supremo. Tive a
sensação de que seria insuportavelmente solitário.
Sebastian foi o primeiro a quebrar o silêncio.
— Então, quem pode ver o futuro...
. —.. o controla, — Arthur finalizou.
— E o que você está planejando fazer com algo assim? — Sebastian
perguntou.
Arthur exibiu um sorriso de lobo.
— Isso não é nada para se preocupar. Se você quiser manter sua
alcateia viva, você só precisa me dar aquele Véu.
Eu não gostei do som disso, e pelo silêncio mortal de Sebastian, eu
sabia que ele também não gostou.
Mas não tínhamos escolha.
No mínimo, obter o Véu para Arthur evitaria que ele caísse nas mãos
da Santa Igreja.
— Vocês dois deveriam descansar um pouco, — disse Arthur,
voltando-se para o painel de controle do iate. Ele agarrou o volante
enquanto olhava para o horizonte. — Podemos ficar no mar por alguns
dias. Vou precisar de vocês dois com força total.
Lyla: Como vão as coisas?
Mercer: Achilles.
Achilles: não
Achilles: nada
Eu olhei para Lyla, acorrentada e aos meus pés. Ela parecia ter passado
pelo Inferno. E, mesmo agora, algemada e injetada com acônito, ela
olhava para mim com um olhar insuportavelmente desafiador.
Achilles a jogou no meu escritório, explicando que ela sabia onde
estava o Véu. Ele estava esperando do lado de fora com seus homens.
Sua mera presença era um insulto à Santa Igreja e a tudo o que ela
representava. Este herege infiel ainda respirava. Esta traidora teve
permissão para viver.
Mas isso mudaria.
Eu vou acabar com você em breve.
— A ovelha negra retorna ao rebanho, — zombei.
— Quão fundo a sua covardia vai? Você não apenas abandona a
Guarda da Lua, mas continua a obstruir nossos negócios.
— Diz o homem que se esconde atrás de suas vestes e de seus homens.
Sua voz rangeu em meus ouvidos como garras em um quadro-negro.
— Como você ousa falar comigo nesse tom? — Eu trovejei. — A
heresia corre em suas veias sujas.
— Pelo menos, eu luto minhas próprias lutas, — ela continuou. — Por
que você não vai se esconder debaixo do vestido da Deusa da Lua? Ela
pode ordenar todas as coisas ruins para longe de você.
A raiva pulsou em minha mente, quente e urgente.
— A Deusa da Lua é meu peão! Assim como todo mundo. A tentativa
de assassinato daquele mestiço idiota foi o primeiro passo que me
permitiu limpar a Cidade Santa dos vermes. O próximo passo é o poder
do Véu.
Lyla tinha se calado, e eu tive uma satisfação feroz com o silêncio.
— Espere. Você quer dizer...
— Sim, sua garota estúpida. Fui eu quem disse àquele rato para tentar
matar a Deusa da Lua. Ela se tornou muito mais fácil de manipular
quando começou a temer pela própria vida.
Inclinei-me para mais perto, apertando seu rosto entre minhas mãos.
Ela tentou desviar o olhar, mas eu a forcei a se levantar para que eu
pudesse olhar para ela.
— E, depois que você me levar ao Véu, eu não vou precisar mais dela.
Eu a joguei no chão, e ela caiu com um som forte. A satisfação cresceu
dentro de mim.
E, depois que eu não precisar mais de você, irei levar meu doce tempo
fazendo você desejar nunca ter nascido.
— Agora, se você quiser que sua amiga mestiça viva, você me levará
até o Véu. Agora.
Lyla
Se havia uma coisa em que meu tio era bom, essa coisa era fazer as
pessoas fazerem o que ele queria.
Assim que soube que o Véu estava na Cidade Santa, ele chamou um
hidroavião para nos buscar.
Voltamos para a costa, e o avião chegou em poucas horas.
— Como diabos você conseguiu um avião para nós?, — eu perguntei.
— Já ouviu falar de GPS, nanico?
Nós colocamos o cinto, com o motor rugindo enquanto decolávamos
no ar, voando alto acima das brumas estranhas da ilha.
— Isso não deveria ser uma ilha mítica? — Eu perguntei incrédulo. —
Você está me dizendo que poderíamos simplesmente ter voado para cá?
— O problema era encontrar o lugar, — disse Arthur. — Uma vez que
sabemos onde está, é fácil. Você pode apostar sua alcateia inteira que
guardei essas coordenadas para mais tarde.
Eu não o pressionei mais. Se isso nos ajudasse a chegar à Cidade Santa
mais rápido, eu não iria reclamar.
Eu estava segurando a espada de Lyla com muita força.
Espere, meu amor. Estou a caminho.
Desembarcamos na propriedade de Arthur logo em seguida e
imediatamente nos transferimos para seu jato particular, já esperando na
pista de pouso.
— Já faz um tempo que não vou à Cidade Santa, — disse Arthur. — E
muito abafado para o meu gosto. Principalmente com aquele idiota do
Cornelius no comando.
— Cornelius está morto, — eu disse.
— É? — Arthur se animou.
— Ele tentou me envolver em uma merda suspeita que eu não queria
fazer. — Eu encarei meu tio incisivamente. — Pagou o preço.
— Interessante. — Eu já podia ver as engrenagens girando em sua
cabeça pensando sobre o novo vácuo de poder na Cidade Santa.
Tanto faz.
Não era problema meu.
As próximas horas até a Cidade Santa se arrastaram. Quando Arthur e
eu chegamos à Basílica da Lua, meu corpo inteiro estava tenso. Eu estava
pronto para mudar de forma a qualquer momento.
Corremos para dentro, indo para a sala do trono da Deusa da Lua.
Eu estava pronto para ter que lutar para entrar, mas o lugar estava
deserto.
— Onde diabos estão todos? — Eu perguntei.
— A sorte favorece os ousados, — disse Arthur, avançando.
O trono tinha sido movido para o lado, com uma passagem secreta
revelada embaixo. Desci correndo os degraus, temendo que fosse tarde
demais.
Se Lyla foi forçada a levá-los para o Véu, então não havia dúvida em
minha mente de que Mercer se livraria dela.
Corri o mais rápido e silenciosamente que pude por baixo dos arcos
de ossos e catacumbas. Arthur me acompanhou, com seus olhos
brilhando de empolgação.
Estávamos chegando perto.
Havia uma luz no fim do túnel. As vozes começaram a chegar em
nossa direção, e diminuímos o passo, avançando com cuidado.
— Segure-a.
Foi Mercer falando.
E ele só poderia estar falando sobre uma pessoa.
Empurrei a espada de Lyla para as mãos de Arthur.
— Leve isso para ela, — eu ordenei.
Antes que ele pudesse responder, comecei a mudar de forma, com
minhas roupas rasgando em pedaços. Corri em direção à saída do túnel,
rosnando enquanto me aproximava.
Eu conseguia sentir a força da minha forma de lobo me impulsionar
para frente em disparada.
Nem mesmo uma Deusa poderia me impedir de chegar até Lyla.
Lyla
Bati no chão com um pano sujo, fazendo com que os ratos fugissem.
Eles eram enormes. Seus olhos redondos e dentes afiados brilhavam à luz
das tochas.
Eles estavam sempre observando, apenas esperando o momento em
que alguém começasse a cochilar. E, então, eles corriam e mordiscavam
sua carne até que você os afastasse novamente.
Eu não dormia há três dias.
O fedor de corpos sujos e resíduos enchia o ar. As celas estavam
explodindo com mestiços. Avistei algumas bruxas enquanto entrava, mas
elas estavam sendo mantidas em suas próprias celas.
Cuidadosas precauções foram tomadas para que elas não pudessem
lançar nenhum feitiço.
Olhei para os rostos tristes e desesperados ao meu redor. Jovens e
velhos.
Seus corpos estavam cobertos de feridas. Seus espíritos estavam
quebrados. Eu não conseguia ver bem no brilho fraco da fogueira, mas
conseguia ver a falta de esperança em seus olhos.
A pele seca se estendia ao longo de ossos quebradiços.
Tentei falar com alguns deles. Por mais inútil que pudesse ter sido,
tentei animá-los.
Porém, minhas únicas respostas foram soluços silenciosos ou olhares
distantes, sem foco.
Voltei para o meu cantinho. Era imundo e fedia demais, mas fornecia
uma pequena sensação de conforto.
Ter uma parede contra as minhas costas me ajudava a respirar um
pouco melhor, mesmo que o ar ao meu redor fosse praticamente lixo
tóxico.
Eu me enrolei como uma bola, meu pano sujo pronto para assustar os
ratos famintos que eventualmente viriam atrás de mim.
Eu olhei para os outros ao meu redor. Eles pareciam ter aceitado que
este seria o lugar onde eles morreriam.
Quanto tempo eu duraria até começar a me sentir como eles?
Caspian
Sair da prisão foi muito mais fácil do que eu esperava. Acho que os
Guardiões da Lua de plantão estavam todos concentrados em ameaças
do lado de fora.
Eles nunca teriam esperado um ataque vindo de dentro.
Ter um grupo de bruxas para nocauteá-los silenciosamente
certamente não fez mal também.
As bruxas de Tempeste foram libertar suas irmãs, e Caspian, Adele e
eu reunimos os mestiços no área da frente.
Eu olhei em volta, de repente ciente de como essa situação era
ridícula.
Aqui estava eu, me esgueirando pela Cidade Santa, ajudando bruxas e
mestiços a escaparem de uma prisão dos Guardiões da Lua.
Se o Sebastian de algumas semanas atrás pudesse me ver agora, ele
provavelmente se mataria primeiro, para me salvar dessa vergonha.
Ainda assim, se meu tempo aqui na Cidade Santa me ensinou alguma
coisa, foi que as aparências enganam. Só porque alguém era uma bruxa
ou um mestiço, isso não necessariamente fazia deles uma pessoa má.
Assim como certos cardeais nem sempre são boas pessoas.
Voltei minha atenção para pastorear os prisioneiros do lado de fora.
Ainda não estávamos livres.
Foi um processo lento. Muitos dos mestiços nem mesmo conseguiam
andar. Mas todos eles se juntaram para ajudar uns aos outros. Eles
pareciam um exército de cadáveres ambulantes, mas eles tinham
esperança em seus olhos novamente.
Eles desapareceram na Cidade Santa, muitos seguindo seus caminhos
separados.
Mas para onde eles voltariam?
Casas e mesas vazias? Eles voltariam para implorar por restos na rua?
Eu balancei minha cabeça, tentando afastar os pensamentos
deprimentes.
Concentre-se, Sebastian. Termine essa merda e volte para casa em
segurança.
As bruxas também se espalharam pela cidade.
Eu não perguntei por quê. Essas bruxas seguiam seus próprios planos
estranhos, e tudo com que me importava era ver Tempeste e Lyla seguras
de volta ao esconderijo.
O Sol estava nascendo quando voltamos.
Caspian carregou Adele nos braços. Ela estava dormindo
profundamente. A pobre garota devia estar exausta.
— Lyla?, — eu chamei enquanto entrávamos.
— Tempeste?
Não houve resposta.
Eu farejei atrás de seu cheiro, mas não encontrei nada.
Olhei para Caspian e percebi que ele estava pensando a mesma coisa
que eu.
Elas deveriam ter voltado muito antes de nós. Entramos na sala de
reuniões principal. Caspian colocou Adele suavemente em um sofá
enquanto eu olhava ao redor em busca de sinais sobre o paradeiro de Lyla
e Tempeste.
Vi um livro em cima de uma mesa que não existia antes. Eu me
aproximei e o peguei, franzindo a testa. Abrindo-o, entendi o que era.
— Ah, puta merda, — eu disse.
— O que é isto? — Caspian perguntou.
— É o diário de Mercer. — Eu o folheei, lendo sobre seus planos
malucos para ascender à divindade. — Isso é exatamente o que
precisamos para expô-lo à Deusa da Lua.
— Lyla e Tempeste conseguiram! — Caspian disse. — Mas onde
diabos elas estão?
A porta se abriu, e Caspian e eu imediatamente entramos em ação.
Eu prendi o intruso na parede, uma garra sob sua garganta.
Caspian estava agachado na frente de Adele, pronto para atacar. Adele
acordou de repente, com os olhos arregalados.
— Paz! Paz! — a bruxa gritou.
Eu aliviei meu aperto, tirando minha garra de sua jugular.
— O que você está fazendo entrando aqui desse jeito?, — eu exigi. —
Você poderia estar morta agora.
Ela balançou a cabeça, sem fôlego.
— É Tempeste e Lyla, — ela se engasgou.
Meu estômago embrulhou.
— Onde elas estão?, — eu rosnei.
— Mercer está com elas, — a bruxa disse. — Elas estão sendo levadas
para a praça principal.
— Então vamos resgatá-las, — disse Caspian.
A bruxa balançou a cabeça. — Tem muitos Guardiões da Lua. Não
temos chance.
— Por que ele as está levando para lá?, — eu perguntei, temendo a
resposta.
— Ele quer torná-las um exemplo, — disse ela. — Ele vai queimá-las
na fogueira.
— O QUÊ? — Caspian gritou.
Eu já estava me movendo. Peguei o diário de Mercer, indo em direção
à porta.
— Eu preciso levar isso para a Deusa da Lua, — eu disse.
— O que devemos fazer? — Caspian me chamou.
— Ganhar tempo!
Mudei de forma assim que saí, pegando o diário com os dentes. Era
proibido por lei se transformar dentro da Cidade Santa, a menos que
você tivesse permissão específica da Deusa da Lua.
Mas foda-se a lei.
Corri pelas ruas, me movendo mais rápido do que jamais me movi em
toda a minha vida.
Por favor, que eu consiga chegar a tempo.
Lyla
Lyla: Pelo menos mande uma mensagem para Teresa Lyla: Ela
está preocupada Caspian: difícil de acreditar, mas ok Caspian:
tenho que ir, falo com você mais tarde Lyla: Diga oi para Adele por
mim Caspian: Ok