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Copyright © Andy Collins, 2019

Copyright © The Gift Box, 2019


Todos os direitos reservados.
Direção Editorial:
Roberta Teixeira
Gerente Editorial:
Anastacia Cabo
Arte de Capa:
Dri KK Design
Revisão:
Martinha Fagundes
Diagramação:
Carol Dias
Nenhuma parte do conteúdo desse livro poderá ser reproduzida em
qualquer meio ou forma – impresso, digital, áudio ou visual – sem
a expressa autorização da editora sob penas criminais e ações civis.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas ou acontecimentos reais é
mera coincidência.
ESTE LIVRO SEGUE AS REGRAS DA NOVA ORTOGRAFIA DA LÍNGUA
PORTUGUESA.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
VANESSA MAFRA XAVIER SALGADO - BIBLIOTECÁRIA - CRB-7/6644
Sumário
Início
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Parte II
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Epílogo 1
Epílogo 2
Epílogo 3
Epílogo 4
Agradecimentos
Dedicatória
CAM
Meus pais sempre me incentivaram a correr atrás dos meus
sonhos, por mais loucos que fossem, e sempre tive o apoio deles,
mas agora, nesse momento, Leah Willers estava exagerando.
— Mãe, você está exagerando — digo olhando para
garrafa com água na minha mão. Estamos no parque, sentados em
um banco, exaustos, resultado de uma corrida. Mencionei que
minha mãe é extremamente competitiva? Pois é, ela sempre chuta
minha bunda e me faz comer poeira.
— Não, Cam, conversei com seu pai e decidimos assim.
— Vocês sabem que sou o melhor nisso, por que
simplesmente não me dão a vaga? — Eu já estava frustrado.
— Porque você terá que brigar por ela. — Eu bufo, isso
era fácil. — E vai ter que melhorar suas notas.
Essa era a parte difícil.
— É meu último ano, mãe, pelo amor de Deus.
— Exatamente, e se você não melhorar, Cameron Willers,
vai reprovar.
Tomo uma respiração profunda. Ela tinha razão, em
partes. Eu teria que me esforçar para recuperar as minhas notas,
mas isso não deveria ser regra para que pudesse ser contratado pela
equipe dos meus próprios pais.
— Eu sei o que você está pensando, Cam, e a resposta é
não.
— Mas...
— Sem “mas”. Vamos, Jace e Sky estão esperando todos
para um almoço hoje.
— Não terminamos essa conversa mãe. — Levanto e
estendo a mão para ajudá-la.
— Eu sei, mas você já sabe como será, então sugiro que da
próxima vez que puxar esse assunto, não esteja em desvantagem.
— E se eu convencer o meu pai? — Ela me encara e ri.
— Zero possibilidade.
— Mas você pode convencê-lo. — Paro na sua frente e
coloco a mão em seu ombro. — Por favor, mãe!! — Faço minha
melhor cara de cachorro pidão.
— Isso costumava funcionar. — Eu sorrio. — Quando
você tinha cinco anos. Vamos, Cam, hoje é um dia especial para o
seu irmão.
Coloco o braço em seu ombro e voltamos caminhando
para casa. Muita gente nos observa e pensa que somos um casal. Às
vezes chega a ser engraçado, só não quando ela resolve bancar a
falsa namorada e me dá selinhos na boca quando não gosta de
alguma garota que está me encarando. Além de nojento, é
constrangedor.
Jace e eu puxamos para a família do nosso pai. Toda nossa
estrutura corporal vem dos Willers, por isso, mesmo com dezessete
anos, eu sou bem mais alto que a minha mãe com seus um e
sessenta, e bem mais forte também.
— Amanhã é seu primeiro dia de aula, e você já sabe o
que terá que fazer. Está ansioso? — Muito, só que não. Dou de
ombros. — Cam. — Paramos em frente ao nosso prédio. — Eu sei
o que você está querendo, eu já estive nesse mesmo lugar, mas nós
somos seus pais e só queremos o melhor para você. Acredite em
mim quando dizemos que o melhor é você se esforçar para obter
isso.
— Eu vou me esforçar.
— Eu sei que vai. — Ela fica na ponta dos pés para
alcançar meu rosto e me beija. — Eu te amo, filho.
— Eu também amo você. — Beijo o topo da sua cabeça e
entramos no prédio.

A sala está um verdadeiro caos; meu tio Oliver parece um


touro pronto para arrancar a cabeça do meu irmão. Tia Bree está
tentando segurá-lo, mas acho que ela não consegue isso por muito
tempo, estou apostando nisso até.
— Oliver, você precisa se acalmar. — Meu pai entra como
conciliador.
— Acalmar? Porra, Jason, seu filho engravidou a minha
filha!
— Eles estão namorando, Oliver! O que você queria que
acontecesse?
— Estamos noivos — Jace fala.
— Uma merda que estão! — meu tio responde e eu abafo
uma risada. Essa situação é a mais hilária que já presenciei.
— Você o colocou para morar no mesmo prédio que ela,
Oliver, os incentivou a terem um relacionamento, o que você
queria, porra?
— Não um neto, com certeza. Eles são crianças, Jason!
— Eles estão bem crescidos, Oliver.
— Sky ainda é a minha garotinha. — Minha prima geme.
— Pai!
— Sem essa de pai, Sky, como vai ser agora? Jace na
faculdade e você em casa, cuidando de um bebê?
— Você está exagerando, Oliver. — Tia Bree solta o braço
dele e ficam de frente. Eu me movimento no sofá para poder ver
melhor. De jeito nenhum posso perder enquanto ela dá um sermão
no meu tio. — Você está sendo um machista arrogante. — Seu tom
é alto.
— Foda-se, ela é a minha filha. Eu posso ser tudo isso.
— Pai! — Sky se levanta. — Jace e eu vamos ter um filho
e vamos nos casar em breve, fim da conversa. Esperávamos que
hoje fosse um dia para comemorarmos, e não uma confusão de
família.
— Você esquece a que família pertence? — falo. Todo
mundo lembra da minha existência agora, já que todos os rostos
viram para me encarar.
— Tio, falta pouco tempo para me formar, eu estou indo
bem, não há nada com que se preocupar.
Meu tio encara meu irmão como se estivesse arrancando
cada membro do corpo. É assustador.
— Comece a correr, Jace — ele diz e todos nós o
encaramos.
— Tio...
— Pai... — Sky e Jace falam ao mesmo tempo.
Meu irmão e Sky se encaram, eles sabem que meu tio está
falando sério, todos nós sabemos disso. Se tem algo que Oliver
Willers tem dentro dele é sede de luta. Ele adora. Mesmo que não
lute mais profissionalmente, lutar é sua maneira de aliviar a tensão.
E posso dizer que meu tio está muito tenso agora.
— Você tem cinco segundos — ele diz. Meu irmão está
perplexo, mas sabe que se não correr, Sky vai ficar viúva antes
mesmo de se casar.
— Droga! — ele resmunga, beija Sky, e sai tão rápido que
mal consigo ver quando ele passa pela porta.
— Você está brincando, não é mesmo? — tia Bree fala.
— Talvez. — Ele dá de ombros e sorri, e finalmente todos
na sala relaxam. — Agora, mocinha, vamos ter uma conversa. —
Ele pega a mão da Sky e vão para o antigo quarto do Jace.
— Uau — digo e minha mãe se senta ao meu lado. — Ele
ia mesmo bater no Jace?
— Seu pai não deixaria. — Ela segura minha mão, depois
olha para meu pai que está conversando com a tia Bree. — Pelo
menos eu acho que não.
— Porra, eu amo essa família. — Sorrio.
— Eu também. — Ela deita a cabeça em meu ombro. —
Mas se falar palavrão na minha frente novamente, Cam, eu bato em
você. — Ela belisca meu braço me fazendo sorrir.
Já é tarde quando todos voltamos para nossas casas. Jace
voltou assim que Sky e tio Oliver terminaram de conversar. Não
posso dizer que meu tio aceitou isso muito bem. Mesmo com
minha prima sendo uma mulher adulta, deve ser difícil para um pai
descobrir que agora sua garotinha vai ter um bebê, então em vez de
matar meu irmão, quando ele o olha, apenas rosna como um cão
raivoso.
Deito-me na minha cama e olho para o teto. Amanhã
começa mais um ano na escola, meu último, e agora preciso pensar
em uma saída para melhorar as minhas notas se quiser, ao menos,
ter a chance de concorrer a uma vaga.
Eu sou popular na escola, mas não o tipo adorado por
todos, não vai ser surpresa se ninguém estiver disposto a me ajudar.
Era oficial, eu estava fodido, muito fodido.
ELLIE
Durante todo trajeto de casa até aqui, meu irmão está
tentando me convencer de como é maravilhosa a escola, de quantos
amigos posso fazer, e de como posso aproveitar tudo isso sem toda
pressão que os outros alunos estão passando.
— Sério, Ginger, você vai aproveitar a melhor parte do
ensino médio.
— Juro que se você me chamar assim, eu conto seus
segredos. — Meu irmão me deu esse apelido por causa do desenho
Ginger, o qual eu adorava. Adoro, na verdade.
— Relaxa, eu vou manter a minha boca fechada, mas todo
resto que falei é verdade. — Eu me remexo no banco, pois essa
situação toda é desconfortável pra mim.
— Se eu achasse legal, teria cursado o ensino médio. —
Olho pela janela, observando a velocidade com que as casas
passam, ou que passamos por elas, tanto faz. — As pessoas vão me
achar estranha — confesso.
— Você é estranha, Ginger. — Idiota. — Mas todo mundo
no ensino médio é, você só vai precisar se encaixar.
— Eu tenho um objetivo, Ethan, e não vou fugir dele.
— Ah, sim, o seu castigo. Acho que posso te ajudar com
isso. Tenho uma pessoa que se encaixa perfeitamente. — Reviro os
olhos.
— Não preciso da sua ajuda, Ethan, eu vou até a
coordenação e pronto.
— Confie em mim, vai ser perfeito.
— E quem seria a pessoa? — pergunto curiosa.
— Cam.
Ele diz antes de estacionar o carro. Respiro fundo antes de
descer, o fato é: eu odeio esse lugar, odeio multidões, odeio alunos
com QI de ameba, odeio...
— Você parece que vai ter um treco — Ethan diz, ele deve
ter razão, porque estou me abanando com as mãos. — Vamos,
Gin... — Meu olhar mortal o faz parar. — Vamos, Eleanor. — Ele
pega minha mão, sorrindo.
— Isso vai ser um inferno — sussurro, apertando a dele.
— Não seria o ensino médio se não fosse.
Ethan caminha segurando firme a minha mão. Devemos
parecer um casal bastante estranho, mesmo tendo a mesma altura.
Ethan e eu somos opostos em muitas coisas, ah, e a melhor parte é
quando as pessoas descobrem que somos gêmeos.
É cômico ver seus rostos estupefatos. Ethan tem a pele
morena, enquanto eu sou do tipo que se apertar meu braço com
força, fico roxa por dois meses. Mas, somos as misturas perfeitas
dos nossos pais, só que viemos em um único pacote, como gêmeos.
Caminhamos até algo semelhante a um parque, um
extenso gramado, muito bem cuidado, onde algumas mesas e
bancos de madeira estão espalhados, e árvores ao redor deixam o
ambiente mágico, um lugar perfeito para sentar e se perder em um
livro.
Alguns alunos estão ocupando as mesas, vozes e risadas
altas são perceptíveis, bem como os olhares na minha direção.
Não só o fato que Ethan está segurando minha mão chama
atenção, como também sou a única garota aqui que não está usando
o uniforme. Que consiste basicamente em uma saia azul marinho
até os joelhos – eu imagino que seja, já que o que vejo as meninas
usarem são pequenos pedaços de pano –, blusa de mangas três
quartos e uma gravata. Estou muito, muito fora da minha zona de
conforto.
Os meninos também usam uniforme, composto por calças
azuis, camisa branca e gravata. Ethan tem mais um, onde a camisa
é vermelha, e ele fica realmente bom de se olhar quando o usa. Eu,
por outro lado, uso um jeans skinny, uma blusa rosa e tênis. Acho
que por isso as pessoas não param de me olhar, e isso me deixa
estupidamente nervosa.
— Vem, Cam está ali — Ethan diz, praticamente me
puxando pelo gramado, eu não tenho nem tempo de responder,
ainda estou tentando ignorar tantos pares de olhos me encarando.
— Ei, Cam — meu irmão fala.
— Oi, Ethan. — Eu me viro em direção à voz, pisco
algumas vezes e ajusto meus óculos para ver se estou enxergando
direito.
— Cam é homem? — digo sem pensar. Já ouvi meu irmão
mencionar esse nome algumas vezes em casa, mas como raramente
estou lá, nunca tinha visto o tal Cam pessoalmente. — Achei que
fosse uma namorada sua — falo novamente sem pensar.
— Cameron, para você — o carinha diz sem nem ao
menos me olhar. — De onde você tirou isso? — Ele aponta para
mim, e caramba, ele me chamou de isso?
— Eu... — Dou um passo à frente, mas Ethan me
bloqueia.
— Ela é minha irmã, cara. — Dessa vez o babaca me olha,
descaradamente, de cima a baixo.
— Tá falando sério? — É a mesma reação de todos. —
Por que eu nunca soube que você tinha uma irmã?
— Gêmea — dessa vez sou eu que falo e a cara que ele faz
é impagável.
— Ok, qual é a da brincadeira, Ethan? — ele me ignora e
pergunta ao meu irmão.
— Não é piada, cara, essa é Eleanor, a minha irmã gêmea.
— Cameron olha para Ethan, e depois para mim.
— De jeito nenhum — retruca, incrédulo.
— Eu preciso dar uma aula sobre genética para esse
babaca? — Olho para Ethan e cruzo os braços.
— Ouçam... Cam, você precisa de ajuda, e a minha irmã
também, acho que serão perfeitos um para o outro.
Eu quase posso vomitar com suas últimas palavras.
— Como a sua irmã, que eu nunca vi na vida, pode me
ajudar? — Agora é ele quem cruza os braços.
— Sabe por que você nunca a viu aqui? — Ethan começa
e fecho os olhos porque sei que se Cameron ficou boquiaberto com
nosso parentesco, vai ser pior quando Ethan terminar de falar: —
Minha irmãzinha aqui ficou com todo o QI da família, e quando eu
digo todo, Cam, eu quero dizer exatamente isso. Ela mora no
alojamento da faculdade, há uns três anos. Ela estuda no MIT.
Tenho certeza que estou vermelha agora, do tipo muito
vermelha, e Cameron me encara com ar de descrença.
— Sua professora acha que ela deve ter um pouco de
normalidade adolescente na sua vida, uma vez que ela é a porra de
um gênio e nunca realmente socializou. Ela está com essa difícil
tarefa de passar esse último ano conosco.
— Certo. — Seu amigo ainda está descrente. — E, em que
isso — ele aponta para mim, eu sinto vontade de socá-lo — vai me
ajudar?
— Cara, qual foi a parte de que ela estuda no MIT você
não entendeu? E sem contar que ela é minha irmã gêmea, então...
— Ele não deve saber contar, Ethan, porque pelo visto
ainda não adivinhou que tenho dezessete anos. — Vejo quando o
entendimento passa pelos seus olhos, bonitos olhos, por assim
dizer.
— Certo, então você tem uma irmã nerd, e...?
— E ela precisa de um pouco de normalidade, precisa ficar
longe desse mundo tecnológico onde ela se enfiou, e você, meu
amigo, precisa de uma tutora.
— De jeito nenhum! — Cameron e eu falamos ao mesmo
tempo.
— Ele é um idiota arrogante, Ethan, eu tô fora. — Giro,
mas meu irmão me impede de ir embora.
— Vou tentar mais uma vez, ok? — ele diz para mim e
depois olha para Cameron. — Cam, diga à minha irmã quem você
é. — O babaca me encara com um sorriso presunçoso nos lábios,
estende a mão e da forma mais lenta e dramática, diz:
— Cameron Willers. — Um segundo, é isso que demora
para me dar conta de quem ele é. A mão dele continua estendida, e
o sorriso que ostenta é ainda mais presunçoso.
Ethan sabia exatamente o que estava fazendo quando nos
apresentou. Ele poderia me dizer que era parente dos reis de
Mônaco e eu não daria a mínima, mas...
— Eleanor, diga a ele em que projeto você está
trabalhando agora.
— Motores — digo simplesmente, mas Ethan completa:
— Ela está trabalhando com a equipe de engenheiros que
está projetando o novo motor do carro da WR Racer — dessa vez,
meu irmão fala com orgulho evidente.
Cameron puxa a mão rapidamente, como se tivesse
tomado um choque.
— Isso só pode ser brincadeira — ele diz ainda incrédulo.
— Não é, então agora que apresentei vocês, eu vou indo
para a aula. Vocês devem ter algumas coisas para conversar. —
Meu irmão beija meu rosto e sai.
— Ethan! — grito como se ele estivesse me deixando com
um assassino bem na minha frente.
— Vejo vocês daqui a pouco, irmãzinha. — Acena e corre
para dentro do prédio.
Olho novamente para Cameron, que está me encarado
como se ainda tentasse acreditar nas palavras do meu irmão.
Arrumo meus óculos com a ponta do dedo e desajeitadamente me
sento no banco vazio.
Cameron também faz o mesmo, mas claro, com muito
mais graça. Ele se senta bem na minha frente, e fica me analisando.
— Eu sou algum tipo de animal exótico, por um acaso?
— Desculpe. — É a primeira palavra decente que ouço
vindo dele. — Você é muito diferente do Ethan.
— Ah, bem, eu poderia explicar cada detalhe genético
disso tudo, mas acho que não foi para isso que meu irmão me
trouxe aqui.
— O que você quer? — Eu não sei se é o seu tom, mas sua
pergunta me ofende.
— O que você quer? — repito sua pergunta. — Não sou eu
que preciso de uma tutora.
— Vai por mim, você quer alguma coisa também, só não
se sente confortável em dizer.
— Cinco minutos de conversa e você consegue me
analisar? — Arrogante.
— Exato, mas não se sinta feliz, eu achei isso bizarro.
— Tudo bem. — Tiro os óculos e esfrego os olhos. —
Acho que começamos com o pé esquerdo. Eu quero voltar para
faculdade o quanto antes, mas a minha orientadora quer que eu
“viva” — dou ênfase no viva — um pouco, ela diz que o último
ano é o melhor, então aqui estou, nem um pouco animada, para
falar a verdade. — Olho em volta.
— Preciso melhorar as minhas notas. Ontem estive
conversando com Ethan, e disse que hoje procuraria alguém para
me ajudar — ele confessa.
— Aulas particulares?
— Mais ou menos isso.
— Não vou fazer a droga dos seus trabalhos. — Cruzo os
braços.
— Alguém já te disse que você julga muito?
— Eu raciocino rápido, há uma diferença.
— Não importa, a questão é que se eu não melhorar meu
desempenho nesse último ano, eu não vou.... — As palavras
morrem.
— Você não vai o quê?
— Nada, eu preciso apenas melhorar, é isso.
— Ceeeerto, acho que nós dois estamos escondendo algo
então. — Ele sorri e se levanta.
— Vejo você na aula, Ellie.
Então ele sai, me deixando com cara de idiota. E o que foi
isso de Ellie? Ele me deu um apelido?
Confusa, eu me levanto rápido quando lembro que não
faço ideia de onde fica a sala de aula.
CAM
“Com licença.”
“Desculpe.”
“Droga.”
Contenho o riso ao ouvir a irmã de Ethan tentando se
desvencilhar da multidão de alunos para acompanhar meus passos.
Se eu entendi bem, é seu primeiro dia aqui, e duvido muito que ela
saiba onde fica a sala de aula.
— Você poderia ir um pouco mais devagar?! — resmunga
quando me alcança.
— Estou atrasado, então a resposta para sua pergunta —
paro de andar e ela faz o mesmo, então viro o rosto para olhar em
seus olhos e digo: — é não.
Vejo seu olhar incrédulo, suas mãos fechando em punho
ao lado do corpo. Como se estivesse se preparando para me bater.
Não foi exagero quando disse que consegui analisá-la em poucos
minutos. Ellie é do tipo de pessoa que deixa transparecer tudo que
pensa ou sente em seus gestos e expressões, e agora, eles estão me
dizendo claramente para me afastar.
— Sabe, não faço ideia do porquê suas notas estão baixas,
já que na matéria babaquice, você tirou um tremendo dez.
— E você precisa controlar esse humor de quem não tem
um orgasmo há meses, se quiser sobreviver ao último ano nessa
escola.
— O que orgasmos têm a ver com a sua atitude de babaca?
— Ellie diz alto demais e chama atenção de todos a nossa volta. E
o mais engraçado, é que ela ainda não notou isso.
— Você pode dizer novamente?
— Dizer o quê? Sobre os orgasmos? — questiona confusa,
até que algumas risadinhas da nossa plateia chamam a atenção dela.
Ellie olha em volta, e quando acho que a verei com rosto
vermelho de vergonha, ela me surpreende:
— Acho que o que você queria que eu repetisse era a parte
que chamo você de babaca, não é? Um babaca machista que acha
que toda mulher fica de mau humor porque não transa.
— Eu não di... — Minhas palavras são interrompidas por
aplausos e alguns gritos de mulheres em apoio a Ellie.
Ela nem se dá ao trabalho de olhar em volta, apenas me dá
um sorriso sarcástico, faz uma reverência fingida, e vai embora, me
deixando com a visão da sua bunda perfeita.
— Mas que mer...
— Senhor Willers? — Fecho os olhos quando ouço meu
nome e respiro fundo antes de abrir. Ao fazer isso, viro para
encarar a diretora Whyte.
— Em que posso ajudá-la, diretora? — Dou o meu melhor
sorriso.
— Ethan Mitchel me informou que a irmã dele será sua
tutora, pensei que ela fosse até a minha sala, estou com seu horário
para entregar.
Então quer dizer que o idiota do meu amigo já andou
mexendo os pauzinhos?
— Acho que ela está perdida.
— Não era ela conversando com você agora há pouco?
— Era? — Finjo confusão, mas a diretora me conhece
bem, ela apenas balança a cabeça de forma negativa.
— Ache-a, e entregue isso. — Ela estende o papel na
minha direção e o pego. — Eleanor Mitchel é uma aluna brilhante,
acredito que é exatamente a ajuda que o senhor precisa para
melhorar suas notas.
— Espero que sim, já que pelo que percebi, estarei preso a
ela como um gêmeo siamês. — Olho para o papel na minha mão.
Temos as mesmas aulas. Todas elas, sem exceção.
Caramba, de repente me sinto sufocado, nem mesmo com Ethan
tenho tantas aulas assim.
— Está me ouvindo, Cameron? — a diretora Whyte chama
minha atenção.
— Desculpe, o que dizia? — Guardo o papel na minha
mochila.
— Estava dizendo que você está atrasado. — Isso eu já
sabia, penso.
— Posso ir então?
— Não esqueça de entregar o horário para a senhorita
Mitchel.
— Com certeza não vou esquecer.
Sorrio e me despeço, saindo em disparada para a sala de
aula, que por sinal, é de literatura inglesa. E eu detesto essa
matéria, não sei onde estava com a cabeça quando decidi fazê-la.
De verdade, que homem na minha idade estuda
Shakespeare? Ou, seja lá o que o professor Murdock ensina, já que
nunca prestei atenção suficiente. Então, quando abro a porta da
sala, todos os motivos de eu ter me matriculado para essa matéria
me encaram.
Mulheres, muitas delas. E todas desesperadas para
socorrer um aluno que não entende muito de literatura inglesa. No
caso, eu.
Mas, uma delas em especial chama minha atenção. Ela não
está me olhando como se quisesse me devorar, e se eu for bastante
sincero agora, Ellie está me encarando com um olhar que diz: viu
só, babaca, encontrei a sala sem a sua ajuda.
E porra, esse olhar me faz sentir coisas estranhas.
Estranhamente gostosas...
Ando até meu lugar habitual, mas não sem antes passar
por ela e jogar – de forma desleixada – o horário dela em cima da
sua mesa.
— Que maduro — ouço-a murmurar, mas resolvo não
retrucar. Ao menos, por enquanto.
Se vamos estar juntos durante esse último ano, então terei
muito tempo para fazer a vida dela um inferno, e se possível,
melhorar minhas notas no processo.
Quarenta e cinco minutos depois, e muitos rabiscos
aleatórios no meu caderno, entre eles um desenho de um carro, o
professor Murdock libera a turma.
— Está explicado o motivo de você precisar de uma
tutora, você é péssimo até mesmo desenhando. — Tiro minha
atenção do papel e olho para cima.
— E você está dizendo que pode fazer melhor? — a
desafio, porque, sério, meu desenho nem está tão ruim.
Ela sorri, um sorriso presunçoso. Em seguida, abre a
mochila puxando um caderno, e – de forma nada gentil – coloca-o
aberto, em cima da minha mesa, em cima do meu desenho.
E... caramba!
Estou chocado com a perfeição do desenho. Os detalhes,
cada curva do carro foi bem desenhada e sombreada, dando ideia
de uma figura em 3D.
— Puta merda — digo sem querer, e quando a olho, ela
parece constrangida, mas não dura muito tempo, logo seu
constrangimento é substituído por arrogância.
— Eu não disse que posso fazer melhor. Eu faço melhor
— afirma como se fizesse isso desde sempre – o que não duvido –,
e antes que eu possa folhear os outros desenhos, ela fecha o
caderno e o guarda novamente. — Temos aula em cinco minutos.
— Ah, é? — Cruzo os braços e me inclino para trás. Todos
já foram e estamos só nós dois na sala.
— É. — Ela me encara, de pé, cruzando os braços
também. Tento não sorrir quando os óculos dela caem um pouco,
forçando-a a sair da sua posição desafiadora para ajustá-lo no lugar.
Ellie é uma coisa irritante.
E bonita.
E... merda, a maneira como ela ajusta os óculos é meio que
sexy.
— Você sempre encara todo mundo assim? — questiona.
— Assim como? — Pego minhas coisas e saio da mesa.
— Como se fosse algum animal exótico. — Passo por ela,
mas ela me persegue, segurando meu braço — Espera, esse olhar é
só para mim?
— Ah, agora você está se achando demais.
— Não falei isso como um elogio, Cameron. — O tom da
voz dela sai um pouco desconfortável, e sua expressão... droga, ela
é um livro aberto, e o que estou lendo aqui, é que está magoada.
— Eu não... eu... — droga, não faço ideia do que dizer. —
Precisamos ir. — Seguro a mão dela e saio andando o mais
depressa possível.
Ellie me acompanha em silêncio, porém, sei que está
surpresa. Com as minhas palavras, com meu gesto... com toda essa
situação estranha, assim como eu estou.
ELLIE
Estou sendo arrastada por toda escola, não no sentido
literal, claro, mais como: rebocada. Depois de um momento, que
posso definir como um dos mais constrangedores de toda minha
vida, Cameron segurou minha mão e saiu praticamente correndo
pelos corredores.
Se eu fosse uma pessoa de estatura pequena, isso seria um
problema, mas somos praticamente da mesma altura, então consigo
acompanhá-lo sem dificuldades, seja lá para onde quer que ele
esteja me levando.
Durante o bizarro percurso, algumas pessoas falam com
ele, que apenas assente, ou geme algumas palavras, mas não
diminui o ritmo. Quando paramos em frente a uma porta, eu respiro
aliviada.
— Estamos fugindo de algo? — pergunto, notando que
ainda estamos de mãos dadas. Ele também nota isso.
E ambos soltamos de forma tão abrupta, saltando para trás,
que é como se estivéssemos sendo atingidos por uma descarga
elétrica.
— Por que vocês demoraram? — Ethan aparece na porta.
Cameron ainda está me encarando com uma expressão estranha,
mas não fala nada, ele passa por Ethan e entra na sala de aula. — O
que foi isso? — meu irmão pergunta sem entender.
— Ele é seu amigo, me diz você. Só o conheço há uma
hora e já estou exausta. — Ele sorri.
— Cam é um pouco difícil de lidar, mas quando vocês
estiverem mais íntimos, as coisas serão fáceis.
— Íntimos?! — praticamente grito — A palavra íntimo,
Cameron e eu na mesma frase não condiz, entende o que quero
dizer, Ethan? Parafraseando você, intimidade entre seu amigo e eu
não rola. Fui clara?
— Me diz que você não falou isso.
— Isso o quê?
— Parafraseando. Na boa, Eleanor, você precisa se
enturmar, e falar como uma professora não é um bom começo.
— Isso é você insinuando que preciso baixar o nível do
meu vocabulário, caso contrário não farei amigos?
— Não, irmãzinha — Ethan coloca o braço no meu ombro
e começa a me conduzir para dentro da sala —, isso sou eu,
dizendo que você precisa relaxar.
Contenho a vontade de retrucar sua falta de argumento,
mas sei que é uma batalha perdida. Ethan nunca me levou a sério,
então esse tipo de discussão antes de a aula começar não vale a
pena o estresse.
Até porque, há outro estresse bem maior para lidar, e ele
está sentado ao meu lado.
Cameron passa a aula inteira me observando, é
desconcertante, irritante e todos os “antes” possíveis.
Talvez, se ele prestasse atenção na aula, ao invés das
pessoas sentadas ao seu lado, suas notas seriam melhores e eu não
estaria presa com ele por um semestre inteiro.
— Isso não vai dar certo — murmuro, fechando meu
caderno. A aula terminou e não pretendo ficar mais tempo do que o
necessário aqui dentro.
Cameron e Ethan já saíram para o almoço, o que é um
alívio, pois tenho zero vontade de passar meu tempo ocioso sendo
observada descaradamente.
— Oi! — Olho para frente e me surpreendo ao notar uma
menina parada me olhando com expectativa.
— Oi?! — Droga, não era para soar como uma pergunta.
— Sei que você é nova aqui, então pensei em me
apresentar — diz estendendo a mão em seguida. — Sou Heather.
— Eleanor. — Apertamos as mãos.
— Quer companhia para o almoço?
Por um segundo penso em negar seu convite, mas ninguém
aqui teve o mínimo de simpatia comigo, ou foi prestativo de algum
modo. Heather parece ser uma garota legal. É um pouco mais baixa
que eu, seus cabelos são loiros, na verdade são quase brancos, o
que é bem interessante.
— Tem certeza?
— Claro, como disse antes, sei que você é nova aqui, e
bem... — olha em volta — pode me chamar de “a estranha’ da
escola, não sou muito popular por aqui.
Sorrio.
Heather e eu vamos direto para o refeitório. O lugar é
bastante impressionante, e não se parece em nada com refeitórios
comuns, e posso até apostar que aqui tem garçons para servir os
alunos.
— Cam não tira os olhos da nossa mesa — informa antes
de morder seu sanduíche vegano.
— Ele é um babaca. — Evito olhar na direção deles,
porque se fizer, bem, eu sei o que vou ver. Ethan e ele estão apenas
a duas mesas de distância. Agindo como se fossem os donos do
lugar.
— Vocês dois nunca se deram bem?
— Se você definir nosso “nunca” como algumas horas,
posso dizer que sim, nunca nos demos bem. — Olho para a tela do
meu tablet e verifico alguns e-mails da faculdade, e
definitivamente, não tenho tempo para fofocas adolescentes.
— O que você quer dizer? — Ótimo, minha resposta a
deixou mais curiosa.
— Nos conhecemos há apenas algumas horas. — Sou
sincera.
— O quê? — Tiro a atenção dos e-mails e olho para
Heather, que parece bastante surpresa — Pensei que ele e Ethan
fossem melhores amigos, como assim vocês dois não se
conheciam?
— Minha família mudou para cá não tem muito tempo; eu
não vim, moro no alojamento da faculdade, então minhas visitas
em casa variavam de esporádicas a zero.
— Uau.
— Ainda assim, não me interesso pela vida social do meu
irmão. — Noto quando ela olha para Ethan, e droga, ela tem aquele
olhar sonhador. Aquele olhar que já vi muitas vezes no rosto das
mulheres quando estão apaixonadas pelo meu irmão. — Não te
aconselho a ir por esse caminho, Heather.
— Caminho? Que caminho? — Sorrio com a sua
confusão.
— O caminho que leva até o meu irmão é lindo, a estrada
é dourada, mas no final, você vai se deparar com o homem de lata.
— Sério que você acabou de fazer uma referência a “O
Mágico de Oz”? — ela sorrir.
— Posso não ter frequentado escolas normais, mas tive
uma infância bem normal, com direito a livros de história e ursos
de pelúcia.
— E como você está se sentindo aqui?
— Como se fizesse parte daqui e ao mesmo tempo fosse
uma intrusa. — O que não deixa de ser verdade.
— Seu irmão estuda aqui, você obviamente pertence à
mesma classe social que todos que frequentam a escola, por que se
sente uma intrusa?
Olho em volta e percebo que todos estão imersos em suas
próprias conversas. Algumas risadas aleatórias, brincadeiras entre
amigos.
— A carreira que quero seguir, digamos que não é comum
para mulheres. Na faculdade preciso lutar para garantir meu lugar,
e a luta não se resume a gênero, adicione isso à idade e minha
credibilidade sempre está sob vigilância. Mas aqui... — Uma risada
chama minha atenção e giro para observar o que a causou: Cam
está com os braços envolvidos na cintura de uma garota e ela sorri
alegremente com algo que ele fala ao seu ouvido. Ignoro e volto
minha atenção para Heather. — Aqui eu preciso me encaixar,
brigar por aceitação de pessoas que, como você mesma disse, são
iguais a mim. E não me sinto confortável.
— Acho que entendo você.
— Sério?
— Sim, sou a garota albina bolsista, afinal de contas. —
Sorri e eu faço o mesmo. Há entendimento na nossa troca de
sorrisos.
Acho que fiz uma amiga.
CAM
Passei a semana inteira ignorando a Ellie, ou ao menos
tentei fazer isso. Ela não é o tipo de garota que um cara consegue
dar um gelo, principalmente no segundo dia de aula, quando
apareceu usando o uniforme da escola. Foi difícil não olhar as
pernas da irmã do meu melhor amigo.
Agora, eu tinha uma pilha de dever de casa para pôr em
dia, e estava atrasado para um jantar de família. Em plena sexta-
feira.
— Já está pronto? — Mamãe entra no quarto, sem bater,
quando estou terminando de abotoar a camisa. Pelo menos não
estou fechando as calças.
— Quase.
— Deixe-me ajudar você. — Pega a gravata e começa a
fazer o nó, com facilidade. Acho que ela tem uma técnica própria,
pois nunca vi ninguém fazer um nó de gravata tão rápido. —
Prontinho. — Dá duas batidinhas no meu peito e se afasta. — Você
está lindo — diz com adoração, o tom que todas as mães usam para
seus filhos.
— Eu já sou adulto, mãe. — Minhas palavras saem como
um gemido.
— Dezessete não é ser adulto.
— Mesmo fazendo coisas de adulto? — Pisco pra ela e em
troca, recebo um tapa na cabeça.
— Espero que essas coisas estejam sendo bem protegidas,
Cam, porque eu não espero ser avó.
— O quê? E o que o Jace e a Sky fizeram, você chama de
quê? — O semblante dela muda na menção do neto, que vai
demorar meses para nascer, mas já parece ter amolecido o coração
das mulheres dessa família.
— Eles são adultos — defende.
— Jace tem vinte e três — argumento.
— Cala a boca, Cam. — Ela ri. — Vem, seu pai está
esperando. — Pego o terno, que não será usado, e acompanho
minha mãe para fora do quarto.
— Por que vocês não fazem como as famílias normais, e
marcam jantares aos domingos?
— Em todos esses anos de vida você ainda não aprendeu
que essa família é tudo, menos convencional?
Rindo, nós saímos para encontrar meu pai. Marcamos de
nos encontrar no restaurante. Ele ia direto do escritório com tio
Oliver, enquanto Jace levaria Sky e a tia Bree, enquanto eu levaria
a mamãe.
— Que tal me deixar dirigir? — pergunto quando
chegamos à garagem.
Ela olha para o carro, um Maserati que ganhou de presente
de casamento, e depois me encara pelo que parece uma eternidade
até que ela diz:
— Juro que se você arranhá-lo, vou garantir que mulher
nenhuma chegue perto de você durante um ano inteiro. — Ela
retira a chave da bolsa e me entrega.
— Por mais que esteja curioso para saber como você faria
isso, jamais ousaria arranhar esse bebê. — Olho para o carro e sinto
o sangue correr mais rápido pelas minhas veias.
Depois do acidente que tive, o qual dei perda total no carro
dela, as regras em casa estavam bem rigorosas. Sem contar que,
ainda de castigo, fui flagrado em uma corrida. Ainda lembro da sua
expressão decepcionada quando me viu naquele carro.

Meu nome podia ser escutado a quilômetros de distância.


Todos ali vibravam no momento em que entrei no carro. Fechei os
olhos tentando me concentrar, mas ao abrir, o que vi me
desestabilizou e me fez tomar uma decisão. Uma que mudou não só
essa noite para mim, ela mudou a minha vida inteira.
— Mãe?! — Tris parecia tão surpresa quanto eu. Parada
na frente do carro, estava minha mãe. Tirei o cinto e, sem desligar
o motor, saí do carro.
O olhar de decepção que vi no rosto dela me dilacerou.
— O que você está fazendo aqui, mãe?
— Te desafiando — respondeu — Quem é o responsável
por isso? — Ela começou a olhar em volta.
— Mãe, você não está pensando em chamar a polícia,
está?
— Já disse, Cameron, estou aqui para desafiar você. Se
quer correr, vai correr contra mim.
— O que você quer dizer com isso?
— Que será uma competição, e se eu ganhar, você nunca
mais participa de uma corrida dessas.
— E se eu ganhar?
— Você não ficará de castigo pela eternidade, e começará
como piloto de testes da WR Racer.
Não consegui conter o sorriso presunçoso que se formou
no meu rosto.
— Temos um acordo. — Estendi a mão.
— Tire a garota do carro. Quero só você, e avise ao
organizador que seremos nós dois na pista. Você tem dez minutos.
Ela deu as ordens e se afastou, ignorando minha mão.
Observei-a caminhar até a área onde algumas pessoas ficam
assistindo a corrida, e então, estava falando com alguém.
Meu pai.
Ele também estava aqui.
Merda.
Thiago entrou em êxtase quando avisei que Leah Willers
ia correr. Ele não teve problema em tirar os outros pilotos da
corrida, já eu, me irritei bastante com a insistência da Tris em
tentar permanecer no carro.

Naquela noite, a minha decisão mudou o rumo da minha


vida, pois foi ali que percebi que a minha arrogância não passava
disso: arrogância. Minha mãe venceu fácil. Ela tinha técnica e
experiência que eu não tinha.
Foi naquele momento que percebi que meus pais me
conheciam melhor do que ninguém, eles sabiam como me
convencer.
— No que você está pensando? — A voz da minha mãe
me traz de volta ao presente e vejo que já estamos em frente ao
restaurante.
— No dia que corremos naquele racha — confesso.
— Aquilo foi uma loucura, seu pai ficou uma fera comigo
por dias.
— Você não sente falta das pistas? — questiono, curioso.
— Ainda estou nas pistas, Cam, só que de uma maneira
diferente. Foi minha escolha não correr mais profissionalmente, e
não me arrependo disso.
— Eu sinto falta. — Levo as duas mãos ao volante,
contornando sua forma, sentindo o couro.
— Você vai voltar, Cam, da maneira correta e quando
chegar a hora. — Sua mão cobre a minha, em um gesto de carinho.
— Mas temos um acordo.
— Sei disso. — Respiro fundo — E você sabe que estou
fazendo o possível para cumprir.
— Conheço você, então quero que comece a fazer o
impossível para manter-se fora de confusão, entendido?
— Tudo bem.
— Ótimo, agora vamos descer, já estão todos aqui.
Saio do carro e entrego a chave para o manobrista, vou até
a porta do passageiro e abro, estendendo o braço para minha mãe,
que sorri com o gesto e beija meu rosto em seguida.
O restaurante está cheio, o que não é novidade, já que
estamos em uma sexta-feira. Minha família está presente, inclusive
tia Helena, que veio sem o marido francês, e Tom, que também
veio sem o namorado.
— Sabe, só eu que acho que esses dois fizeram tudo ao
contrário? — Tio Tommy comenta ao meu lado, apontando para
Jace e Sky. — Pularam todas as fases, ou melhor, inverteram tudo.
Primeiro anunciam a gravidez, e agora, o noivado. Pensei que fosse
você o filho que quebraria todas as tradições, Cam.
— Não pretendo me casar — digo.
— Seu tio ali — aponta para tio Oliver — também tinha
verdadeiro pavor a compromisso, e olha só no que deu? — Ele
sorri, como se estivesse prevendo algo. — Homens como vocês,
quando encontram a pessoa certa, são capazes de descerem a lua se
for preciso.
— Não acha que isso é um exagero?
— Olhe em volta e diga por si mesmo. — Dá de ombros e
volta sua atenção para tia Helena.
Então, como se fosse um estranho, eu começo a observar.
Todos eles. Os toques sutis trocados entre Jace e Sky, ou a forma
que meu pai olha para minha mãe, cheio de admiração. E a
intensidade contida na troca de olhares entre tio Oliver e tia Bree, é
quase palpável.
Cada casal age de uma forma diferente, apesar de o
sentimento que os une ser o mesmo. É bem interessante, para falar
a verdade.
E quando já estou ficando entediado, e sufocado, vejo algo
que chama minha atenção. Ou melhor, vejo alguém que chama
minha atenção.
Um par de pernas longas e delineadas passa apressado
bem próximo à nossa mesa. A cabeça baixa como se estivesse se
escondendo. Ela está usando um vestido na altura do joelho, preso
ao busto, e solto para baixo. E sei que é ela antes mesmo de meus
olhos registrarem seu rosto. Reconheceria aquelas pernas em
qualquer lugar.
Passei a semana inteira admirando-as.
— Vou falar com uma amiga — aviso minha mãe, que
apenas assente.
Todos estão conversando animados, mal notam quando me
levanto. Apenas Jace me lança um olhar questionador, mas não
paro para responder, não quero perdê-la de vista.
Ando até o bar e a encontro sentada, sozinha, em um
banco. Ela parece perdida em pensamentos, então me sento no
banco vazio ao seu lado.
— Olá, Ellie. — Ela não se assusta com a minha
abordagem. Noto quando ela fecha os olhos, imagino que esteja
contando mentalmente até três, e quando enfim os abre, sou
contemplado pelo sorriso mais falso já visto pela história da
humanidade.
— Oi, Cam. Que surpresa mais agradável. — A palavra
agradável soa quase inaudível.
— Que tal tentarmos de novo? Eu digo oi e você não
precisa fingir que gostou da minha presença.
— Você quer tentar de novo? Está falando de agora ou
desde o dia em que nos conhecemos? — Ela gira o corpo e ficamos
frente a frente — Porque eu posso te dar milhões de motivos para
tentarmos de novo. Vamos ver — ela coloca um dedo em riste: —
Você passou a semana inteira fingindo que não existo, quando é
óbvio que precisamos ter o mínimo de interação se vou ter que te
ajudar.
— Não fiz isso. — Não muito.
— Ontem meu celular estava sem bateria, perguntei se
você sabia onde o Ethan estava, o que foi que você fez? — Seu
olhar é desconcertante.
— Fui infantil, peço desculpas.
— Tanto faz. — Dá de ombros, em seguida pega o copo
que estava no balcão e toma todo o conteúdo de uma vez.
— Espera, isso é... — Retiro o copo da mão dela e cheiro.
— Está bebendo?
— Isso não é da sua conta, Cameron. — Ela pega o copo
da minha mão e coloca em cima do balcão.
— Poderia fazer milhões de perguntas agora, uma delas
seria como você conseguiu uma bebida sendo menor de idade.
— Outro detalhe que não é da sua conta.
— Aconteceu alguma coisa? — Instintivamente minha
mão cobre a dela. Ellie olha para nossas mãos em cima do balcão,
até que o som de pessoas cantando parabéns chama nossa atenção,
o que faz com que ela retire a mão rapidamente.
Olho na direção da origem do som, e vejo várias pessoas
reunidas, cantando e batendo palmas animadamente. Ethan está
entre eles.
— Aquela é a sua família? — pergunto, mesmo já
sabendo, pois reconheci a mãe dela ao lado do Ethan.
— Sim. — Ela não se vira para olhar. — Pode me dar
outro, por favor? — pede ao garçom, que a atende de prontidão.
— Por que você está bebendo aqui, em vez de estar
comemorando com a sua família? Não é aniversário da sua mãe?
— questiono confuso.
— Falando nisso, obrigada pelas flores, minha mãe amou,
são lindas — diz referindo-se ao arranjo de flores que enviei. Ethan
me contou sobre o aniversário, mas não fazia ideia de que vinham
comemorar aqui.
— Ellie, você não respondeu a minha pergunta.
— Quero ir embora. — Dessa vez ela está me olhando,
seus olhos estão vermelhos e ela parece estar prestes a chorar.
— Espera aqui — aperto a mão dela e me levanto. — Não
se mexa, está bem? — Ela concorda com a cabeça.
Vou até a mesa onde a minha família está jantando, Jace
me vê, e faço um sinal para que ele venha ao meu encontro.
Imediatamente ele diz algo no ouvido de Sky e se levanta.
— O que foi? — pergunta assim que me encontra.
Estamos um pouco afastados do local onde todos estão, mas temos
uma boa visão da mesa.
— Pode me emprestar seu carro?
— Cam...
— Encontrei uma amiga, Jace. Ela não está bem, só vou
deixá-la em casa.
— Que amiga?
— Irmã do Ethan. A família dela está comemorando o
aniversário da mãe e ela não está se sentindo bem, só quero deixá-
la em casa, em segurança.
— Tudo bem. — Ele enfia a mão no bolso e me entrega o
ticket do estacionamento. — Só não apronte, está bem?
— Valeu.
— Não vai se despedir de todo mundo?
— Eles vão começar a fazer um interrogatório, pensei que
você pudesse avisá-los.
— Certo, me dê notícias mais tarde.
— Pare de agir como o papai.
— Bom, desde que serei um em breve, não é ruim ir
treinando. — Jace passa a mão pelo cabelo e olha em direção à
mesa. Meu irmão está nervoso, sei disso.
— Você vai ser um ótimo pai Jace, sabe por quê?
— Por quê?
— Porque você sempre foi um excelente irmão. — Jace
me abraça.
— Obrigado.
— Não tem de quê. Agora vai, sua noiva está esperando.
— Aponto para a mesa e Sky está nos observando.
Nós nos despedimos e volto para o bar. Ellie ainda está no
mesmo lugar, segurando um copo na mão, olhando fixamente para
o conteúdo. Parece que dessa vez ela não bebeu.
— Pronta? — Com um leve aceno de cabeça, ela concorda
e se levanta. Pego minha carteira e quando vou pagar pelas suas
bebidas, sou impedido.
— Não precisa, está na conta da mesa da família feliz —
diz e é notável o desgosto em sua voz.
Saímos do restaurante em silêncio. Ellie não se despede de
ninguém, nem mesmo de Ethan, e assim que o carro chega e
estamos afivelando os cintos, ela me surpreende mais uma vez.
— Você pode me levar para...
— Qualquer lugar que não seja sua casa? — concluo sua
frase.
Mais uma vez ganho um pequeno gesto com a cabeça. Não
sei lidar com essa versão dela. Nos conhecemos há poucos dias,
mas em nenhum momento a vi baixar a cabeça para algo, ou não
responder com algum argumento inteligente.
— O que você estava fazendo naquele restaurante? — É
ela quem interrompe o silêncio alguns minutos depois que saímos.
Estou dirigindo sem nenhum destino específico, apenas dando
voltas pela cidade.
— Era o jantar de noivado do meu irmão.
— Ah... você não precisava sair, droga, sinto muito ter
arruinado a sua noite, Cameron.
— Primeiro, vamos definir uma coisa. — Paro o carro no
sinal vermelho e então posso olhar para ela: — Nunca mais me
chame de Cameron, você parece um sargento do exército quando
me chama assim. Não que me incomode em bater continência pra
você... — Ela sorri, um sorriso verdadeiro dessa vez.
— Acho que se eu permitisse, você bateria muito mais que
continência para mim.
— Olha só, estamos cheios de piadas sexuais hoje? — Ela
ri novamente, só que dessa vez, alto.
— Passei a maior parte do meu tempo entre homens, e
tenho um irmão, lembra? Devo conhecer todas as piadas sexuais
existentes.
— Pensei que nerds não gostassem de sexo.
— Você se surpreenderia.
— Está se oferecendo?
— Não!! Deus, claro que não. — Ela bate no meu ombro
ainda sorrindo, fico olhando por alguns segundos para seu rosto,
sua boca... — O sinal abriu — diz ao mesmo tempo que ouço
alguém buzinar.
— Droga.
Coloco o carro em movimento novamente, não falamos
mais nada, mas há uma tensão no ar que não consigo explicar.
Continuo dirigindo por pelo menos uma hora, e não posso
negar que é relaxante. Ellie não fez mais perguntas, não pegou o
celular, ou tentou mudar a música que está tocando. Ela apenas
olha pela janela. Sua tristeza é tangível.
— Você precisa me dizer para onde quer ir — digo,
chamando sua atenção.
— Queria estar de volta no meu dormitório, queria nunca
ter saído de lá, não deveria ter voltado para casa, não deveria.
Suas palavras começam a se misturar com soluços até que
ela cobre o rosto com as mãos. Seu corpo inclina para frente,
tremendo.
Há uma lanchonete vinte e quatro horas, e ainda não é
tarde. Vejo alguns carros estacionados, então eu paro o carro.
— Ellie... — Minha mão afaga seu cabelo. — Ei, você
quer conversar?
Sem resposta. Ela continua chorando, e pela primeira vez
na vida não sei o que fazer. Já estive com Sky em alguns momentos
de crise. Já abracei, inclusive cheguei a passar uma noite no
apartamento dela para garantir que estava bem.
Mas agora? Não sabia o que fazer, então, como sempre,
faço a primeira coisa que me vem à mente.
Libero nossos cintos, e ajusto meu banco para trás, abrindo
espaço entre meu corpo e o volante. Sem parar para pensar, eu me
inclino e a puxo para mim, sentando-a no meu colo.
Ela me abraça com força, ainda chorando. Abraça-me
como se eu fosse importante, como se precisasse de mim. Isso me
atinge de uma forma irracional, e quando percebo, estou
retribuindo seu abraço. Com a mesma intensidade.
Com a mesma necessidade.
Deixo-a chorar. Sempre ouvi dizer que faz bem, que
algumas pessoas absorvem tanto que, em algum momento, tudo
precisa sair, então, não interrompo.
Até porque, estranhamente, eu não quero que ela saia dos
meus braços.

ELLIE
Estou chorando. Muito. Estilhaçando pedaços da minha
alma e transformando em gotas. Salgadas. Gotas de lágrimas.
Muitas lágrimas.
E o mais irônico dessa situação toda é que estou sendo
amparada pela última pessoa na face da Terra de quem esperaria
esse tipo de gesto, ou qualquer outro, se for sincera.
Mas aqui estava, dentro do carro dele, sentada no seu colo,
abraçada ao seu corpo, chorando como um animal indefeso.
Sim, acho que é isso, sou um animal indefeso nesse
momento, o que justifica o sentimento de conforto e tranquilidade
que estou sentindo agora.
Não são os braços deles envolvendo meu corpo de forma
protetora.
Nem seu cheiro inebriante.
Ou sua voz sussurrando que tudo vai ficar bem, mesmo
que ele não faça ideia do que seja.
Não, infelizmente nada vai ficar bem. Eu sei disso, porque
eu mesma vi.
— Ainda não quer ir para sua casa? — pergunta quando
me afasto o suficiente para enxugar minhas lágrimas com as costas
das mãos. A cena não é nada bonita.
— Não quero ir, não posso fazer isso agora.
— Quer que ligue para o Ethan? — A menção do nome do
meu irmão me causa dor.
— Sem ligar para ele, por favor.
— Ellie, você precisa me dizer o que fazer então. Ethan é
meu amigo, e não faço ideia do que aconteceu com você. — Sua
mão toca meu rosto, arrumando meu cabelo para trás da orelha. É
um gesto simples, mas tão gentil.
— Vou ligar para Heather e perguntar se posso passar a
noite lá.
— Quem é Heather?
— Da escola, a menina com quem almocei todos os dias
durante a semana. Não finja que não a viu. Mesmo me ignorando,
não acredito que não saiba quem ela é.
— Sei quem é, só não estava ligando o nome ao rosto —
tenta se justificar. Ainda estou sentada no colo dele, tento me
mover, e imediatamente suas mãos seguram meu quadril. — Não
precisa ir para a casa dela, posso arrumar um lugar para você passar
a noite. — Meu coração dispara com as suas palavras.
— Cameron...
— Não estou fazendo nenhuma proposta indecente, jamais
tentaria algo com você. Você pode passar a noite no apartamento
do meu irmão, se quiser. Ele praticamente não fica mais lá, e com
certeza vai passar a noite com a noiva.
— Não posso, não quero atrapalhar.
— Está vazio, Ellie, você não vai atrapalhar ninguém. Será
melhor do que dormir na casa da Heather e amanhã de manhã ter
que colocar um sorriso falso de bom-dia.
— Meu sorriso não é...
— É sim — ele me interrompe.
— Tem certeza que não tem nenhum problema?
— Tenho. Você pode até ficar no fim de semana inteiro, se
quiser.
— Não sei o que dizer.
— Apenas aceite, não quero que você passe a noite na casa
de um estranho, principalmente nesse estado.
— Por que você está fazendo isso? Quer dizer, sei que sou
a irmã do seu amigo, mas nós mal nos conhecemos, nem
começamos a estudar juntos, e agora — olho em volta, ainda estou
em seu colo —, estou sentada no seu colo, dentro do seu carro, em
um estacionamento.
— Você pensa demais, não é mesmo?
— Atos impulsivos levam a resultados inesperados.
— E você não gosta de não saber o que vai acontecer?
— Prefiro dizer que gosto de ter opções caso o que
imagino não aconteça.
— É uma mulher que sempre tem um plano B — conclui.
— Não — olho em seus olhos —, sou uma mulher que
sempre tem um plano, B, C e D, mas que nunca preciso usá-los.
Cameron não responde, na verdade, ele parece congelado
no lugar. Seu olhar é desconcertante e ao mesmo tempo transmite
segurança. Mas é tão intenso que faz com que eu me sinta
desconfortável, saindo de uma vez do seu colo e me sentando de
volta ao banco do passageiro.
— Acho que já podemos ir — digo ao mesmo tempo que
afivelo o cinto.
— Sim, claro. — Olho para ele por um segundo, que
parece incomodado com algo.
— Cameron, se tiver algum problema, eu posso ir para a
casa da Heather.
— Não tem problema, Ellie. Estou falando sério.
— Você parece estranho.
— É só... — Fecha os olhos por alguns segundos e quando
os abre, solta uma respiração pesada. — Eu sempre fui um cara de
momentos, sabe? — Ele vira o rosto para me encarar. — Nunca
planejei nada na minha vida.
— Mas pelo que Ethan me contou, você deseja ser piloto,
estou certa?
Ethan me disse durante uma de nossas conversas, antes de
ir para escola, que Cameron só tinha um desejo: o de ser o piloto
principal da equipe de corrida da família dele.
— Sim, mas acho que nem isso é planejado, sabe? É algo
que já nasceu comigo, é como se corresse no meu sangue. É
inevitável.
— Talvez, mas você quer muito isso, e está disposto até a
passar algumas horas bem chatas ao meu lado, então, acredito que
está começando a traçar seu futuro. — Sorrio.
— Sabe, Ellie, acho que nossas horas juntos não vão ser
nada chatas.
Ele retribui meu sorriso, com muito mais fervor, e então,
coloca o carro em movimento.
Leva pouco tempo para chegarmos ao apartamento. Vi
quando ele enviou uma mensagem durante o percurso, acredito que
avisando seu irmão.
— Nossa, aqui é bem legal — comento ao entrar. O lugar
é bem organizado, impecável para dizer a verdade, mas ao mesmo
tempo acolhedor.
Estou sentada no sofá, admirando a decoração simples e
elegante ao mesmo tempo. Muito diferente da decoração
extravagante da minha casa.
— Eu acho meio sem-graça, mas como não moro aqui...
— Dá de ombros. — Na verdade, nem meu irmão, pelo que parece.
— A noiva mora aqui perto?
— Algumas portas de distância. — Ele vai até a geladeira.
— Quer comer algo?
— Não, meu apetite foi embora faz horas. — Ele tira uma
garrafa de água e vem ao meu encontro.
— Quer ver o quarto onde pode se instalar?
— O sofá parece uma ótima opção, já disse que não quero
atrapalhar. — Ele me encara como se tivesse levado uma bofetada.
— Tem um quarto de hóspedes, Ellie. Geralmente eu o uso
quando fico aqui, pelo amor de Deus, você não vai querer dormir
em um sofá apertado quando tem uma cama confortável à sua
disposição.
— Você sabe como ser convincente — brinco.
— Olha — ele fecha a garrafa d’água e deixa de lado —,
sei que você não quer falar sobre o que aconteceu, mas eu preciso
saber de uma coisa.
— Cam...
— Por favor, só vou fazer uma pergunta e você responde
sim ou não, tudo bem?
— Certo — concordo, porque sei que devo uma
explicação a ele, e estou fascinada pela maneira que está agindo,
sem me pressionar.
— Alguém tocou em você? De forma inapropriada, eu
quero dizer.
— Não. Meu Deus, não. — Levanto-me rápido. — De
jeito nenhum! Por que você imaginou isso?
— Por que — ele também se levanta — minha tia passou
por uma situação bem fodida quando era mais nova, minha prima
também. Tem uma garotinha que amo como uma irmã que passou
por um verdadeiro inferno. Então, talvez esse tipo de merda seja a
primeira coisa que me vem em mente. Desculpa.
Suas palavras me deixam chocada, não fazia ideia sobre
nada disso. Eu me aproximo dele e seguro suas mãos.
— Ninguém me tocou dessa forma, ou me machucou,
Cam. — Respiro fundo e penso sobre o que aconteceu mais cedo,
sobre o que vi e ouvi. — Flagrei meu pai ao telefone, se
desculpando por não poder ir a um encontro hoje, pois é
aniversário da minha mãe.
— Ele está traindo a sua mãe? — questiona surpreso.
— Sim, e sabe qual é a pior parte? Minha mãe é
consciente, ela aceita que meu pai tenha um relacionamento fora do
casamento.
— Puta merda.
— Não fazia ideia, meus pais... — Começo a chorar. —
Eram exemplos de casal feliz; houve brigas, claro, mas todo
casamento tem, não é mesmo? Mas quando ouvi a conversa dele, e
quando o confrontei, meu Deus, desejei que um buraco abrisse e
me engolisse.
— Droga, eu não fazia ideia. Ethan sabe?
— Não sei, estive longe de casa por muito tempo, e agora,
sinto como se estivesse rodeada de pessoas estranhas.
— Por que não conversa com ele?
— Tenho medo — confesso. — Medo de que até meu
irmão esteja compactuando com essa realidade bizarra.
— Vem cá. — Ele me puxa para um abraço. — Converse
com ele, seu irmão tem mais caráter do que muitos caras que
conheço.
— Obrigada, Cam — digo com a cabeça encostada no seu
ombro.
— Se continuar me chamando de Cam, posso me
acostumar com isso — fala e eu sorrio em meio às lágrimas. — Vá
se deitar, você merece um descanso. — Nós nos afastamos.
— Vou avisar ao Ethan que estou bem. Se importa se eu
não disser que estou aqui?
— Está me pedindo permissão para mentir para o seu
irmão? — Ele ri.
— Não é uma mentira, só não direi onde estou.
— Merda.
— O quê?
— Eu adoro uma mulher inteligente. — Balanço a cabeça
e em seguida mostro o dedo do meio. — E cheia de atitude
também.
Não me contenho, e dessa vez, sou eu que estou rindo,
alto.
— Vamos lá, deixe eu te mostrar o quarto, e se precisar de
mim, estarei no do Jace. — Ele pega minha mão, mas eu o paro.
— Pretende ficar aqui?
— Claro, não vou deixar você sozinha nesse estado, Ellie.
Se quer saber, acho que você não chorou nem a metade do que
ainda vai chorar esta noite.
Sua sinceridade me deixa perplexa, logo, estou
concordando e indo me acomodar no quarto de hóspedes.
Cam me entrega um pijama que diz ser da Sky. Aceito,
porque, primeiro, o vestido que estou usando é desconfortável, e
segundo, não tenho mais forças para contra-argumentar.
Estou cansada física e emocionalmente.
CAM
Quando avisei Jace que ia dormir no apartamento dele,
porque uma amiga precisava de um lugar para ficar, precisei
explicar que não era um encontro sexual – o que acredito que não o
convenceu – e ainda aceitar levar Hori para passear de manhã.
O filho da mãe queria aproveitar a noite com a noiva, e
agora eu estava caminhando às seis da manhã, de um sábado.
Desnecessário dizer que tive uma noite bastante agitada, e não no
bom sentido.
— Ei, garota, vá com calma — peço para Hori, que ignora.
Ela está agindo como uma namorada ciumenta desde que
encontramos com a Ellie.
Ela também não dormiu a noite inteira, e estava descendo
para comprar café. Agora Hori está toda possessiva, puxando a
coleira com força, o que me impulsiona para frente.
Fiquei pensando sobre tudo o que a Ellie me contou, mas
somente uma coisa havia me incomodado de verdade. A maneira
como eu quis beijá-la quando estávamos dentro do carro. E a
vontade que senti de tirar sua roupa quando ela me mostrou o dedo
médio no apartamento.
— Isso é uma loucura — digo para mim mesmo, porque
não consigo entender o que essa garota tem, que me deixa tão
desorientado.
Ela me ignora. Replica tudo que digo. Faz questão de se
mostrar superior quando tem a chance.
Ela me faz pensar no quanto sou superficial.
— Droga. — Dessa vez, minha voz sai mais alta e Hori
para. — Não foi para você, tá? — Agacho e ela se aproxima. —
Mas precisa trabalhar esse ciúme. — Afago suas orelhas.
Deixo Hori no apartamento da Sky, e pelo visto, eles ainda
estão dormindo, então vou para o apartamento do Jace. Encontro
Ellie sentada, com um livro na mão.
— Por que você não aproveita e dorme mais um pouco?
— Sento-me ao seu lado no sofá.
— Nunca fui de dormir até tarde, é como se meu tempo
estivesse sendo desperdiçado quando poderia ser aproveitado de
milhões de maneiras diferentes.
— De onde você saiu? — brinco com ela.
— De algum Sci-fi, provavelmente — rebate casualmente.
— Já tomou seu café?
— Não.
— Que bom, comprei bastante coisa e jamais conseguiria
comer sozinha. — Ela levanta e deixa o livro no sofá. — Ah,
espero que não se importe, vi o livro na mesa e como estava
esperando você chegar, quis me distrair.
— Problema nenhum. Você me esperou para tomar café?
— Uhum — assente e vai para a cozinha. Eu a acompanho
e tento pensar em qualquer coisa que não seja as pernas dela nesse
vestido. Ela voltou a usar a mesma roupa do jantar, e foi engraçado
quando nos esbarramos mais cedo, já que ela foi comprar o café
vestida dessa forma e usando saltos.
— Você pode usar as roupas da Sky, tem um monte aqui.
— Puxo a cadeira para ela se sentar.
— Obrigada, mas acho que prefiro usar a minha roupa; já
estou abusando demais da hospitalidade de vocês.
— Falou com seu irmão?
— Avisei que ia passar a noite fora, e enviei uma
mensagem mais cedo confirmando que estava bem, mas que queria
conversar.
— Que bom que você decidiu falar com ele.
— Não gosto de meias-palavras, Cameron, nem de
situações inacabadas. Detesto mal-entendidos gerados por falta de
um simples diálogo, então, se estou com uma dúvida, vou lá e tiro,
mesmo que tenha medo do que vou descobrir.
— Voltamos para o Cameron?
— É o seu nome.
— É como a minha mãe me chama. E quando ela está bem
brava, o que acontece com certa frequência. — Ela ri.
— Por que você me chama de Ellie?
— Quer saber mesmo?
— Sim.
— Acho que ninguém te chama assim. — Ela me encara
por alguns segundos, absorvendo minhas palavras.
— Você me chamou assim poucos minutos depois de me
conhecer — conclui.
— É porque em poucos minutos, eu já sabia que ninguém
chamava você dessa forma.
Ela sorri, contida, parecendo satisfeita com a minha
resposta e volta sua atenção para o café. A verdade é que sempre
fui bom em ler pessoas, e quando a conheci, tive certeza que
detestava apelidos. Confesso que no momento falei apenas para
irritá-la, mas agora, sentia uma satisfação por saber que ninguém
mais a chamava assim.
O restante da manhã é gasto com distrações banais,
basicamente eu, jogando videogame, e ela, lendo o livro no sofá.
Até sermos interrompidos pelo meu irmão.
— Desculpem, só vim buscar algumas coisas — diz Jace
ao entrar. Ele parece surpreso com a cena presenciada na sala.
Estou sentado no chão, enquanto a Ellie está deitada no
sofá, ou melhor, estava, porque quando Jace entrou, ela se levantou
tão depressa que deixou o livro cair bem em cima da minha cabeça.
— Desculpe — começa a se desculpar, nervosa, pegando o
livro.
— Não se preocupe. Cam tem a cabeça mais dura do que
pedra. — Jace ri da situação.
— Engraçadinho. — Levanto-me do chão. — Ellie, esse é
o babaca do meu irmão; babaca do meu irmão, essa é a Ellie.
— Prazer, meu nome é Jace, não “babaca do meu irmão”
— diz enquanto apertam as mãos.
— Sou Eleanor. — Jace me encara confuso. — Seu irmão,
aparentemente, não gosta do meu nome.
— Interessante — diz ele, mas não o deixo continuar, já
que logo o retiro da sala e vamos para o seu quarto.
— Por que não me avisou que vinha? — questiono.
— Não preciso avisar que estou vindo no meu
apartamento. — Droga, ele está certo. — É impressão minha ou
você parece nervoso?
— Impressão sua, uma porra de uma impressão errada.
— Certo. — Ele vai até o armário e pega o laptop. — Vou
ficar no apartamento da Sky, então você pode ficar aqui o tempo
que precisar — fala e começa arrumar uma mochila, colocando
algumas roupas.
— Obrigado, mas não sei se ela vai ficar aqui mais uma
noite.
— O que aconteceu? Você não está metido em nenhum
problema, não é?
— Caramba, Jace, não. Por que todo mundo pensa que
estou metido em problemas? — Jace me olha e nem precisa dizer
nada, está com aquele olhar. Aquele, que diz: Quer mesmo que eu
responda? — Ellie está com problemas em casa, ela só precisava de
um tempo.
— Ela parece ser uma pessoa legal.
— Sim, ela é.
— Sabe como eu sei disso? — Jace fecha a mochila e
coloca a mão no meu ombro. — Porque nunca vi você com uma
mulher da forma como estava quando entrei na sala.
— E como é isso? — Cruzo os braços e Jace sorri.
— Vocês estavam vestidos, e não transando no meu sofá e,
ela estava bastante concentrada lendo “O Universo numa Casca de
Noz”, um livro de física.
Sorrio, porque ele tem razão. Ellie é especial. E vi isso no
primeiro dia quando ela acreditava que eu era uma mulher. Mas
jamais direi isso em voz alta.
Jace se despede de nós e avisa a Ellie que ela pode ficar o
tempo que precisar. Ele vai passar alguns dias na casa da Sky, e
acredito que nunca mais volte para cá, já que ela está tendo enjoos
e ele quer ficar por perto. Quando me conta isso, vejo que os olhos
de Ellie brilham sonhadores. Mulheres.
— Se você não vai usar as roupas da Sky, precisa buscar
as suas — afirmo.
— Estava esperando poder usar esse vestido mais um
pouco, achei ele bem sexy, você não? — brinca. Ela ainda está
deitada no sofá com o livro, e há uma almofada nas suas pernas
evitando qualquer tipo de cena constrangedora.
Só que agora, eu também coloco uma almofada no meu
colo, pois ao mencionar o vestido sexy, ela acabou com meu
controle.
— Você não pode usá-lo para sempre.
— Quem disse que não? — retruca. Eu me referi ao
vestido, mas ela sabe sobre o que estou falando. Ellie precisa
encarar a situação na casa dela.
— Como é o casamento dos seus pais? — pergunta e eu
paro o jogo. Já é final de tarde, e passamos o dia inteiro aqui. Jace e
Sky enviaram comida, então não havia mais nada para fazer.
— Eles se conheceram de uma forma bem doida. — Ela
sorri — Meu pai era ex-namorado da irmã dela. — Seus olhos
ampliam, acho que ela ficou um pouco surpresa. — Mas não é nada
disso que sua mente pode estar imaginando. Tia Helena e meu pai
não tinham mais nada quando ele conheceu a minha mãe.
— E então?
— Bom, eles se esbarraram por um acaso, se apaixonaram,
ela saiu de Los Angeles e se mudou para cá. Fizeram lindos bebês e
fim.
— Meu Deus, você é péssimo em contar histórias. — Ela
ri.
— Você sabe que a minha mãe era pilota? De testes de
uma equipe de Fórmula 1 em Los Angeles. O sonho dela era ter o
posto principal.
— O que aconteceu?
— Meu pai.
— Ele pediu para ela abandonar a carreira? — Agora ela
parece chocada.
— Não, mas eles se amavam, e ela escolheu seguir outro
caminho, junto com meu pai. E não se arrependeu disso.
Ellie fecha o livro, em seguida se senta ao meu lado, no
chão.
— Meus pais se conheceram muito jovens, namoram
desde a escola, foram os primeiros um do outro, entende? —
Concordo com a cabeça. — Cresci em um lar com muito amor,
Cam, talvez por isso tenha ficado tão chocada com tudo que
aconteceu ontem, porque sempre que penso nos dois como casal,
eu só vejo amor. Então...
— Então você não consegue ver nenhum sentido.
— Isso. — Seguro a mão dela.
— E essa conclusão está te sufocando, pois você não gosta
do inesperado, você lida com fórmulas, cálculos, com resultados
exatos — afirmo.
— Sim, acho que é isso.
— Também cresci em uma casa cheia de amor, Ellie, mas
tivemos muitos momentos inesperados. A prisão do meu irmão foi
um desses momentos, no entanto, em nenhum deles nos deixamos
abater. Nós sempre superamos, juntos.
— Acho que na minha família não existe mais isso, Cam,
esse “juntos”.
— Talvez o “juntos” de vocês seja de uma forma
diferente. Você não pode esperar nada exato quando o assunto
envolve pessoas.
— Acho que nunca ninguém me disse algo tão verdadeiro.
— Noto seus olhos encherem de lágrimas.
— Você provavelmente vai escutar muitas coisas de mim,
algumas bem impróprias — sorrio —, mas você nunca vai me
ouvir falar uma mentira.
— E pensar que te detestei no momento em que você abriu
a boca pela primeira vez. — Limpa as lágrimas e sorri.
— Ei, e quem disse que eu gosto de você?
— Se não gostasse, não teria me dado abrigo — retruca.
— Ah, é? Acho que vou deixar você usar esse vestido até
ele andar sozinho de tão sujo.
Ela mostra a língua.
Porra. ELA. MOSTRA. A. LÍNGUA.
Meu pau responde ficando em alerta.
— Você deveria parar com isso.
— Isso o quê? — finge inocência. — Mostrar a língua? —
repete o resto.
Merda.
— Muito maduro da sua parte — resmungo.
— Desculpa. — Ela ri. — Não costumo agir assim,
geralmente estou cercada de pessoas mais velhas, e, sei lá, acho
que você desperta o meu pior.
E você desperta algo que ainda não sei o que é, mas que
estou ficando viciado, penso.
ELLIE
Desconfortável. Essa palavra descreve muito bem esse
momento. Ainda estou no quarto de hóspedes do apartamento do
irmão do Cam, mas ele me convenceu a ligar para o meu irmão.
E foi o que fiz. Ethan não ficou muito feliz quando eu
disse que havia passado a noite ali, e quando Cam disse que ficou
lá, pensei que meu irmão iria matá-lo.
Agora, estamos nós dois, sentados na cama. Ethan está em
silêncio, pensando em cada palavra que disse sobre o que
aconteceu no dia anterior.
Na ligação do papai, sobre nossa mãe saber. Contei tudo, e
agora meu irmão parece estar em estado de choque.
— Ethan, preciso que você diga algo — incentivo.
— Queria dizer que não acredito em nada do que você
disse — finalmente diz algo e passa a mão no cabelo, frustrado. —
Mas se tem uma pessoa nesse mundo que jamais mentiu ou
mentiria para mim, esse alguém é você. Senti que havia algo
errado, mas queria te dar espaço.
— Você não conseguiu dormir, não é? — Ele nega com a
cabeça.
Sabe essa coisa de gêmeos? Pois é, temos isso quando um
de nós está passando por algum estresse muito grande. Quando
estava de mudança para o alojamento do MIT, passei a noite em
claro, Ethan também. Sempre que tenho algum teste importante, ele
sente todo meu nervosismo e vice e versa.
— Desculpa, não queria que isso afetasse você.
— Por favor, Ginger, quem precisa pedir desculpas aqui
sou eu. Não deveria ter ignorado quando vi que você se afastou no
jantar.
— Quando o papai começou a fazer o discurso, eu não
aguentei.
— Agora eu entendo, droga, se soubesse, também não
teria aguentado. O que pretende fazer?
— Quero ficar aqui mais esta noite, e amanhã penso como
será. Não posso voltar para a faculdade até terminar o semestre,
então acho que estou presa aqui, só não quero voltar para casa
ainda.
— Tudo bem, posso ficar aqui e te fazer companhia.
— Não precisa, Ethan. Cam está aqui, não estarei sozinha.
— Está me dizendo que prefere ficar aqui com o Cam? O
cara que você não suporta?
— Eu o julguei mal, tudo bem? Aparentemente, julguei
mal muitas coisas.
— Ginger, nem eu mesmo sabia sobre os nossos pais e, me
desculpe, Cam é meu melhor amigo, então sei que só se estivesse
maluco deixaria minha irmã dormindo sob o mesmo teto que ele.
— Ele não vai me atacar.
— Sei que não. Cam jamais faria isso. Mas sei que
nenhuma mulher resiste a ele.
— Assim como nenhuma mulher resiste a você? —
questiono e ele sorri.
— É disso que estou falando — diz com um sorriso sem-
vergonha.
— Seu amigo não está interessado em mim dessa forma.
Ele não foi nada além de solícito e bastante respeitoso. E, com
certeza, não sou o tipo de mulher que ele ia querer levar para cama.
— Ah, minha irmã, você pensa muito pouco de si mesma
— afirma. Dando uma batidinha no meu joelho, ele se levanta. —
Você tem tudo que precisa?
— Sim, obrigada por trazer minhas coisas. — Pedi para
ele trazer roupas para uma semana, mesmo sem ter ideia se ficarei
aqui.
— De nada, mas espero que não precise usá-las e que logo
esteja em casa, ou no MIT, em qualquer lugar que não seja no
quarto ao lado do Cam. — Ele se aproxima e me abraça. — Eu te
amo.
— Também te amo.
— Não sei o que fazer quando chegar em casa —
confessa.
— Sei exatamente como se sente. — Eu o abraço mais
forte.
Saímos do quarto e encontramos Cam na sala, com um
caderno aberto, distraído com a TV.
— Acho que isso explica muita coisa. — Minha voz faz
com que ele se assuste.
— O quê?
— Estudar e assistir TV ao mesmo tempo. — Ethan ri ao
meu lado. — Explica o motivo das suas notas serem tão baixas. —
Cam apenas resmunga e volta sua atenção para a TV.
— Cuide-se. — Ethan beija meu rosto. — E, Cam?
— Hum?! — responde sem tirar os olhos da TV.
— Minha irmã está fora dos limites. — Isso chama sua
atenção. — Muito, muito, muito fora dos limites.
Ethan beija novamente meu rosto e sai. Acho que ouço
quando Cam diz: tarde demais, mas a TV está alta, então posso ter
escutado errado.
Volto para o quarto para tomar um banho e trocar de
roupa. Confesso que estava me sentindo um pouco suja usando o
mesmo vestido do dia anterior.
— Que jogar? — Cam pergunta quando retorno para a
sala.
— O quê?
— Xadrez.
— Você joga xadrez? — Isso me surpreende.
— Meu pai me ensinou quando tinha cinco anos, isso
ajuda a me concentrar.
— Tem algum problema com concentração?
— Sim e não.
— Como assim? — Sento-me ao seu lado no tapete da
sala, enquanto ele abre a caixa e monta o tabuleiro de xadrez na
mesinha de centro.
— Eu me concentro, mas só quando é algo que me
interessa de alguma forma, ou quando sou desafiado.
— Ah, então seu problema é excesso de mimo. Se não for
como você quer, não desperta seu interesse?
— Ai! Essa doeu, Ellie, doeu. — Põe a mão no coração
fingindo estar ofendido. — Deixando meu ego abalado de lado,
como foi a conversa com seu irmão?
— Ethan não fazia ideia do que estava acontecendo
também.
— Imaginei.
— Sabe, pela primeira vez alguém acreditou mais no meu
irmão do que eu mesma, isso nunca havia acontecido antes. Você é
um bom amigo, Cam. Obrigada. — Pego na sua mão e aperto em
agradecimento.
— Não sou um bom amigo.
— Por que diz isso?
— Porque quando ele disse que a irmã dele estava fora dos
limites, eu só conseguia pensar no quanto amo quebrar regras e
ultrapassar limites.
Fico sem palavras.
— Então, minha sugestão é — continua sem mover nossas
mãos —, vamos jogar xadrez, isso vai ajudar a me concentrar em
outra coisa.
— Está dizendo que o que meu irmão disse fez você se
interessar por mim? Como... como se fosse uma aposta? — Tiro
minha mão da dele e me levanto, mas ele é rápido e logo estamos
frente a frente.
— As palavras do seu irmão só despertaram meu lado
idiota, o lado que adora ser desafiado. — A mão dele toca meu
queixo, erguendo meu rosto. — Mas quis ultrapassar os limites
desde quando você disse que pensava que eu era uma mulher. E
isso está me deixando maluco.
— Por que você está interessado em mim?
— Porque você é a única mulher que me fez pensar, Ellie.
Você me desafia o tempo todo.
— Eu ofendo você, é diferente. Você passou a semana
inteira me ignorando, e... — me afasto tentando ter um pouco de
espaço — Você não gosta de mim — concluo.
— Precisa parar de tentar buscar alguma explicação
lógica. Acredite, eu tentei.
— Eu... vou para o quarto.
Saio correndo, sem dar chances para ele falar. Respiro
fundo, várias vezes, para tentar acalmar as batidas do meu coração.
— O que foi que aconteceu? — pergunto para ninguém em
particular.
Ele não pode estar falando sério. Pode? Não havia razão
nenhuma, nenhum indício, ou situação. Nada. Cameron passou a
semana me ignorando, cada dia havia uma mulher diferente lhe
fazendo companhia durante o almoço. Não que eu estivesse
prestando atenção. Mas meu irmão e ele não eram discretos, o que
tornava impossível não notar.
— Ellie? — Quase pulo de susto quando ele bate à porta.
— Podemos conversar?
— Não sei — respondo ainda sem abrir. Deus, quando foi
que dei uma resposta dessas? Não sei?! Eu sei, sempre sei das
coisas. Ou assim pensava.
— Por favor, Ellie, só quero conversar, não quero que
interprete mal nada do que eu disse.
— Não sou idiota, sei interpretar muito bem. — Droga,
agora estou sendo infantil.
— Jura? Então por que você não abre e vamos conversar?
Vou até a porta e a abro.
— Porque a porta nunca esteve trancada. — Cruzo os
braços, mas ele sorri.
— E eu jamais entraria sem a sua permissão, mesmo que
estivesse escancarada.
Touché.
— Gosto de você, não sei o motivo, não faço ideia se é
apenas uma atração. Mas sei que gosto da sua companhia, ou da
maneira como você me enfrenta. Ou do jeito como você ajusta os
óculos, e morde o canto da unha quando está concentrada. Gosto
como fica sem jeito e ao mesmo tempo furiosa quando algum cara
da escola olha mais tempo do que o necessário para as suas pernas.
Não existe uma explicação lógica para isso, Ellie, nem tudo
podemos explicar.
— Você mal me olhou na escola durante essa semana. —
Toco novamente no assunto. Na verdade, nem sei o porquê isso me
atormenta. Mas faz, e muito.
— Sim, mas o que você não via, era como prestei atenção
em cada passo seu durante esses dias.
— Isso é loucura.
— Sei disso, e é por essa razão que vim aqui te chamar
para jogar xadrez. — Estende a mão; eu hesito. — Você tá
processando muita coisa agora: seus pais e tudo que falei. Já disse
que não faria nada que você não quisesse e estou falando a verdade,
também estou bastante confuso aqui, então quando digo “vamos
jogar xadrez”, quero dizer exatamente isso.
Droga, ele sempre tem as palavras certas, na hora certa.
Pego sua mão, aceitando seu convite, e só então entendo as
palavras do meu irmão: nenhuma mulher resiste a ele.
Esse jogo ia ser uma sessão de tortura.

Cavalheiros ainda existem? Acho que sim, ou uma versão


bem moderna deles, e poderia se chamar Cameron Willers.
Durante nosso fim de semana, ele atualizou com sucesso o
significado dessa palavra. Nossa partida de xadrez foi bem
animada, e ele é, definitivamente, uma pessoa extremamente
competitiva. Quem no mundo fica tão irritado quando perde duas
partidas seguidas?
Foi por isso que o deixei ganhar nas três vezes
subsequentes. Por isso, e pelas covinhas que apareciam no rosto
dele cada vez que sorria vitorioso.
Nosso assunto ficou engavetado, e aproveitamos o
domingo para colocar algumas matérias em dia. Cam é muito
inteligente, e sua informação sobre se concentrar somente quando
era algo que despertava seu interesse me deu uma boa noção de
como agir com ele durante nossas aulas. Segundo Ethan – e o
próprio Cam –, melhorar as notas foi uma exigência dos pais dele.
— Por que você não vai comigo? É bem mais fácil do que
Ethan ter que se deslocar até aqui só para te dar uma carona.
É segunda, e ele está reclamando há duas horas, desde
quando avisei que ia com meu irmão para a escola. Estamos na
frente do prédio, aguardando. Conversei com meus pais ontem à
noite pelo telefone, e disse que ainda não queria voltar; eles
entenderam minha posição, e perguntei para Cameron se podia
mesmo ficar, pelo menos, durante essa semana.
O sorriso que ele me deu, acompanhado do sim, me fez
ficar acordada metade da noite.
— Posso enumerar por ordem alfabética, mas serei mais
concisa: é um momento nosso que gostamos de compartilhar.
Desde que me mudei tivemos poucos momentos juntos, e nós
curtimos muito isso.
— Mesmo não sabendo o que é conciso, entendi a parte de
“coisa de irmãos”.
— Você sabe o que significa conciso.
— Sei, mas quando você fala essas palavras é bem
excitante. — Seguro minha mochila com mais força do que o
necessário. Ontem passamos o dia juntos, conversando, jogando
xadrez. Almoçamos com Jace e Sky, que ainda estava bastante
enjoada por causa da gravidez. Mas em nenhum momento ele fez
qualquer insinuação sexual.
A buzina do carro do Ethan me salva de uma situação
constrangedora.
— A gente se vê — digo e vou para o carro. Cam apenas
acena e volta para dentro.
— Como foi o fim de semana? — Ethan pergunta. Ele
sabe como foi, pois fazia questão de me ligar o tempo todo.
— Foi tranquilo.
— E por que está nervosa?
— Não estou nervosa.
— Jura que se eu medir sua pulsação, não estará
acelerada? Ou se ouvir seus batimentos, não estarão frenéticos?
— Está querendo ser médico, por um acaso?
— Só constatando o óbvio, Ginger.
— Argh! Pare de me chamar assim.
— Você disse para não te chamar assim na escola, fora
dela é outro caso. — Acho que meus olhos colam na testa, tamanha
a intensidade que os reviro nesse momento. — E então, por que
está nervosa? Ah, merda, você não dormiu com ele, não é?
— O quê?! — Fico tão chocada com a sua pergunta que
praticamente grito.
— Certo, pela sua reação, não dormiram juntos.
— Claro que não, mas...
— Ah, droga, tem um “mas”. Se não transaram, com
certeza rolou a segunda base.
— Você quer, por favor, parar de tirar conclusões
precipitadas? E o que significa segunda base?
— Você não sabe o que é segunda base? Tipo, primeira
base, segunda base...
— Está falando de baseball ou o quê?
— Jesus Cristo, Eleanor, você realmente não sabe que uns
amassos quentes chamamos de segunda base?
— Eu sou virgem, pelo amor de Deus, como eu ia saber
disso? — Ethan freia o carro abruptamente, o que faz com que meu
corpo seja lançado para frente. Minhas mãos tocam o painel para
me dar apoio, e agradeço por estar com cinto. — Você quer nos
matar?
— Que história é essa de virgem? — Ele está pálido.
— Você está bem?
— Claro que não! Como assim você ainda é virgem? Quer
dizer, não que isso não seja bom, mas você mora sozinha, sempre
foi independente, pensei que... que...
— Pensou que tenho uma vida sexual ativa, que passo
minhas horas livres copulando com cada espécime masculino que
conheço.
— Eu ia dizer transando com algum namorado, a forma
como você disse soou como um seriado do Discovery Chanel. —
Abafo uma risada.
— Qual o problema nisso? Digo, qual o problema de eu
ser virgem? Tenho dezessete, há alguma lei por aí que diga que já
estou velha demais para isso?
— Não, de jeito nenhum. Na verdade, é ótimo, excelente
— diz tão rápido que preciso me esforçar para entender. — Se for
sincero, há uma lei que diz que isso só tem que acontecer quando
você tiver mais de trinta anos, e que nunca, em hipótese alguma
você precisa informar isso para o seu irmão.
— Você é meu irmão gêmeo, meu único amigo, pensei
que soubesse disso.
— Tento não pensar se você transa ou não.
— Bom, agora já sabe que não, então pare de fazer
suposições sobre o fim de semana que passei com Cam, tudo bem?
— Certo, isso é bom, quer dizer, você é uma garota
sensata, essas coisas.
— Exatamente.
— Cam não sabe disso, não é?
— Acha realmente que eu discutiria isso com ele? Você
bateu com a cabeça por um acaso?
— Não, é só... deixa pra lá, vamos, antes que a gente se
atrase.
Ethan não diz mais nada, e o carro volta a se mover, o que
é um alívio, já que ouvimos alguns carros buzinando,
provavelmente insatisfeitos por Ethan ter parado bem no meio da
rua.
Na escola, encontro com Cam antes de entrar na sala.
Nossa primeira aula é de física, a única que gosto, mesmo sabendo
todas as respostas.
— Primeiro as damas. — Ele faz uma reverência para que
eu entre na sala, que já está quase cheia, portanto, metade dela está
olhando para a cena.
Imagino o que deve estar se passando na cabeça deles. Já
que alguns dias atrás, o mesmo cara que agora está me dando
passagem fingia que eu não existia.
Cam não se senta ao meu lado, mas ocupa a cadeira atrás
de mim, então, sempre que possível, ele escorrega um bilhete na
minha mão.

“Você quer que nosso primeiro beijo seja onde?”


Olho surpresa, esse é o terceiro bilhete que ele envia, e já
estamos quase no final da aula. Os dois primeiros eram apenas
brincadeiras bobas, mas agora? Respondo o bilhete.

“Seu ego está gigante, quem disse que eu quero te beijar?”


Passo o bilhete para ele que não demora com a resposta, só
que dessa vez, eu não consigo replicar.

“A maneira como você olhou para a minha boca ontem, antes de


dormir, é um bom indício. Mas não precisa mais pensar, Já
escolhi onde será nosso primeiro beijo.”
Passo o restante da manhã me esquivando dele. E quando
chega na hora do almoço, praticamente corro para me encontrar
com Heather.
— Por que você não para de olhar em volta? — pergunta
assim que nos acomodamos em uma mesa no refeitório.
— Não sei, hábito, acho. — Tento soar desinteressada,
quando na verdade estou apavorada.
O que ele quis dizer sobre escolher onde será nosso
primeiro beijo? E por que estou ao menos cogitando isso?
— Um que você não tinha semana passada. — Posso ser
inteligente, mas Heather é perspicaz.
— Estou procurando meu irmão — minto.
— Nesse caso, sua procura acabou, ele está chegando. —
Ela olha para um ponto acima do meu ombro e eu me viro para
verificar.
Ethan está caminhando para uma mesa, acompanhado de
uma garota, e ao lado dele está Cam, também com uma garota.
— Mas que filho da... — paro de falar e viro para frente.
Heather parece tão incomodada quanto eu.
— Acho que nunca vi esses dois almoçando sem um
bando de Maria Gasolina os cercando — diz ela.
— Maria Gasolina? — Tento não rir.
— Sim, é como algumas são chamadas. Tris, a que está
com Cam, é praticamente a líder delas. Basicamente são elas que
torcem para os meninos quando estão correndo.
— Correndo?
— Rachas — responde, dando de ombros, como se o que
ela tivesse acabado de me contar não fosse, para dizer o mínimo,
ilegal.
— Você quer dizer que eles participam de rachas? —
Heather me encara e finalmente se dá conta do que acabou de me
contar.
— Por favor, Eleanor, não diga que eu contei.
— Ethan também participa?
— Não com a mesma frequência que o Cam, que é o rei
nas pistas, ninguém nunca ganhou dele, a não ser uma vez.
— Que vez?
— Há alguns meses, a mãe dele apareceu em uma corrida
e eles correram juntos. Ela ganhou, e desde então ele nunca mais
participou de nenhuma corrida.
— Que loucura. — Estou surpresa.
— Sim, falaram disso por semanas.
— E a polícia? Nunca pegaram ninguém?
— Às vezes acontece de alguns policiais aparecerem, na
maioria das ocasiões não dá em nada, sabe o que dizem sobre
dinheiro, não é mesmo?
— Sei — Olho novamente para a mesa, as conversas
parecem bastante animadas. — Pelo visto eles gostam da
companhia, porque também nunca os vi dispensarem nenhuma
delas. — Meu sanduíche, de repente, tem um gosto amargo.
— Tem razão — Heather fala com a voz tão baixa que me
sinto culpada.
— Você e Ethan já...
— Sou do time das excluídas socialmente, lembra? — diz
em um tom divertido, mas sei que não é verdadeiro. — Cameron
Willers e Ethan Mitchel só se envolvem com o que há de melhor no
que diz respeito a status estudantil.
— Hã?!
— Desculpa, sei que Ethan é seu irmão, mas não menti.
— Por que isso não me surpreende? — digo mais para
mim do que para Heather. — Ouça, se serve de algo, nunca vi
Ethan namorar ninguém a sério, e se houvesse, tenho certeza que
eu seria a primeira a saber.
— Eu me sinto bastante atraída pelo seu irmão, Eleanor,
de verdade, mas jamais me sujeitaria a fazer metade do que essas
meninas fazem para chamar a atenção dele.
— É por isso que eu e você somos amigas. — Sorrio.
— E você, não tem ninguém na faculdade?
— Não, lá a maioria me trata como se eu fosse uma
criança que está tomando o lugar deles, sou basicamente uma
persona no grata.
— Para algumas pessoas deve ser bem difícil conviver
com alguém mais novo e mais inteligente.
— E adicione o gênero, sou um prato cheio para bullying.
— Se é tão difícil, por que você está lá?
— É o que quero fazer, é o que amo fazer. Nenhum babaca
misógino, machista, vai definir o que vou fazer do meu futuro.
Dane-se o que eles têm entre as pernas, no final, é o que tem aqui
— toco a cabeça — que fará toda diferença.
— Uau, acho que você acaba de se tornar minha heroína.
— Sorrio com a sua comparação, e me abstenho de contar quantas
vezes chorei antes de dormir pensando em desistir de tudo e voltar
para casa.
Quando terminamos de almoçar, Heather é a primeira a se
levantar, mas quando tento fazer o mesmo, alguém se senta à
minha frente.
— Oi, Ellie — diz com um sorriso preguiçoso nos lábios.
— Oi e tchau. — Levanto-me, mas ele segura meu braço
para me impedir de sair.
— Ei, o que foi? Algum problema?
— Nada, aliás, muita gentileza sua sair da sua bolha da
fama e vir falar comigo agora.
— Do que está falando?
— Que não quero chegar atrasada na aula.
— Não, você está sendo agressiva comigo e não faço ideia
do motivo, então, não saio daqui até descobrir.
— Problema é seu, não sei se você está em posição de
perder aula.
— Vai querer mesmo que eu perca aula enquanto estou
aqui esperando você me responder? Porque é isso que vai
acontecer, ficarei aqui, até o final da aula, até o final do dia se for
preciso até que você responda o que perguntei.
Babaca persuasivo.
— Sinceramente, não tenho tempo para jogar conversa
fora.
— Só vai ser conversa-fiada se você quiser, só quero saber
que bicho mordeu você. Com certeza aconteceu alguma coisa para
você estar me atacando desse jeito.
— Não estou atacando você. — Não muito, penso.
— Sério, Ellie, o que aconteceu? — Seu olhar é
preocupado, então cedo, sento novamente largando minha mochila
em cima da mesa.
— Por que você participa de corridas ilegais? — Começo
pelo básico, já que nem sob tortura conto o que realmente me
incomodou nessa situação toda.
— Gosto de correr — diz como se isso explicasse todo o
risco.
— Sua família é dona de uma das melhores equipes de
Fórmula 1, tem um motor revolucionário sendo desenvolvido
especialmente para WR Racer, por que arriscar o futuro da sua
carreira dessa forma? Posso não entender muito sobre bastidores
das corridas, porém, não acredito que pilotos que tenham um
histórico rebelde sejam respeitados. — Observo toda sua expressão
mudar, de descontraído, para furioso. Cam não gostou nem um
pouco do que falei.
— Existem muitas coisas que você não sabe sobre
corridas, Ellie. Nesse caso, recomendo que você continue apenas
nos projetos e nas plantas de motores.
— Você é um grosso, sabia? Seu ego deve ser maior do
que a sua capacidade de correr.
— E você é muito intrometida, sabia? Que tal contar que
estava morrendo de ciúmes da Tris na hora do almoço?
Fico em silêncio. Ele sorri. Quero matá-lo.
CAM
Você costuma medir seu nível de raiva? Como em escalas
de notas? De um a dez, por exemplo? Se eu fizesse isso, diria agora
que Ellie está em um nível dez de raiva, provavelmente indo para
onze.
— Não estou com ciúmes, Cameron. Satisfeito?
— Não, e você me chamou de Cameron, então, há algo
acontecendo, e não é sobre as corridas ilegais. Isso nunca foi
segredo para ninguém, e como eu disse, não minto.
— Sempre chamei você assim — tenta se defender.
— Não nos últimos dois dias.
— Nem sempre o mundo gira em torno do seu umbigo.
Nem tudo é sobre você, sabia?
— Mas a sua raiva, nesse momento, sim.
— Que tal o fato do meu irmão também correr? Vocês
podem ser presos, meu Deus, não acredito que são tão cheios de si
que nunca pensaram nessa possibilidade.
— Sei que posso ser preso.
— Então por que você se arrisca?
Ellie me encara, aguardando uma resposta da qual não vai
gostar. Como explicar para alguém o que sinto durante uma
corrida? Desde que apostei com a minha mãe, e ela ganhou, minhas
mãos tremem como se estivesse em abstinência. E porra, adrenalina
é a minha droga.
— Gosto de correr riscos. — Dou de ombros e vejo
surpresa em seus olhos, mas ela logo se recompõe.
— Sabe de uma coisa... — Coloca as mãos em cima da
mesa, seu olhar é eletrizante, e quando acho que nada mais poderia
me excitar, ela arruma os óculos com a ponta do dedo médio.
Caramba, fiquei de pau duro por uma garota que estava,
obviamente, mandando eu me foder sem dizer uma única palavra.
A criança interior em mim é despertada, e estico os braços
em cima da mesa, para logo em seguida erguer minha mão,
imitando seu gesto.
Quem nos visse assim, sentados em uma mesa no meio do
refeitório, apontando o dedo médio um para o outro, acharia que
somos loucos.
Talvez tivessem razão.
Eu estava louco pela Ellie, e ela não fazia ideia do quanto.
Ela não diz mais nada, mas seu olhar... Esse poderia
incendiar qualquer que fosse o alvo, que no momento, era eu. Sinto
as engrenagens girando, ela quer retrucar, tenho certeza disso,
porque é assim que funcionamos, mas engulo a decepção ao vê-la
pegar a mochila e sair. Fico observando-a caminhar, seus passos
são duros, está furiosa, só então lembro-me de algo.
— Droga! — Saio correndo para alcançá-la. — Ellie,
espera! — grito e ela para de andar. Estamos no corredor, e está
vazio, todos já entraram nas salas.
— O que você quer?
— Vai ficar lá em casa, ainda? — pergunto. Droga, eu
pareço desesperado. Talvez esteja.
— Não misturo os meus problemas, então, sim, se isso não
for um incômodo pra você.
— Sou um problema pra você? — Eu me aproximo mais;
Ellie dá um passo para trás até que suas costas tocam o armário.
Levo minha mão ao seu queixo, erguendo seu rosto — responda.
— Se der mais um passo, ao invés de ser um problema,
você terá um — diz enfurecida. Caramba, eu adoro o jeito
desafiador dela.
— Já disse que não vou fazer nada que você não queira. —
Passo o polegar no contorno dos seus lábios. — E também já disse
que escolhi onde será nosso primeiro beijo, e com certeza não vai
ser aqui.
— Vamos para a aula, Cameron — diz e passa por mim,
mas para antes de entrar na sala. — E não, você não é um problema
para mim, sabe por quê?
— Por quê? — Cruzo os braços aguardando sua resposta.
— Porque adoro resolver problemas.
Ellie entra na sala sem esperar minha resposta, sorrio.
Porra, vou adorar virar um problema para ela. Do tipo que ela vai
passar horas tentando solucionar.
No final do dia, aviso que vou passar na casa dos meus
pais. Minha mãe está me bombardeando de perguntas e se ela
sonhar que estou no apartamento do Jace com uma garota… tremo
diante das possibilidades. Leah Willers não é uma mulher que você
deve desafiar. Nunca.
— Vai se mudar? — questiona assim que entra no meu
quarto.
— Sentirá minha falta se eu for? — brinco com ela, porém
minha mãe é muito mais esperta.
— Por que você está hospedado no apartamento do seu
irmão?
— Jace está com a Sky, então fica mais fácil para levar
Hori para caminhar, e consigo estudar. — Omito o fato de estar
hospedando a irmã do meu melhor amigo.
Basicamente, não menti. Muito bem, Cam.
— Tem uma coisa na sua frase que não encaixa — diz
pensativa. Mantenho minha atenção nas roupas que estou
colocando na mochila. — Não vai perguntar o que é?
— Sei que você vai me dizer.
— Claro que vou, nesse caso a palavra estudo e você
nunca combinaram, então me pergunto como meu filho resolveu
estudar da noite para o dia.
Respiro fundo, desisto da mochila e me sento ao seu lado.
— Você e meu pai exigiram que minhas notas
melhorassem.
— Nós pedimos.
— Mãe…
— Tanto faz, continue.
— A irmã do Ethan estuda no MIT, e está na minha turma.
Está me ajudando com os estudos. — Certo, isso ainda não é uma
mentira.
— Como ela estuda no MIT e está na escola?
— Mãe — gemo —, é bem confuso, mas ela tem a minha
idade, na verdade, é irmã gêmea do Ethan.
— Ethan tem uma irmã gêmea? — Agora ela ficou
surpresa, perfeito.
— Tem, e confesso que fiquei igualmente surpreso com
esse fato, mas o que importa é que ela está me ajudando.
— Isso é bom, sinal de que você está criando juízo. Pedirei
ao seu pai que cancele nossa festa de comemoração. — Levanta-se
e sorri.
— Festa de comemoração?
— Sim, pensávamos que finalmente você ia sair de casa,
infelizmente parece que não é o caso.
Minha mãe faz uma cara triste e sai do quarto. Começo a
rir da sua insinuação. Porra, eu adoro essa família.
Não encontro com meu pai quando saio, mas envio uma
mensagem avisando que estarei no apartamento do Jace, e ele dá a
mesma resposta da minha mãe. Às vezes meus pais parecem que
têm cinco anos.
Quando chego no apartamento, ao abrir a porta, o aroma
que sinto faz meu estômago vibrar. Deixo a mochila na sala e olho
para cozinha. Ellie está concentrada, com uma enorme colher de
pau na mão e um livro, que suspeito ser de culinária, na outra.
— Querida, cheguei! — digo alto, mas ela não se assusta,
ao contrário, começa a resmungar.
— Qual o problema desses livros que não podem colocar o
tempo correto que os alimentos demoram para cozinhar? —
esbraveja e eu me aproximo. — Sério, ajustei o timer corretamente,
fiz tudo como essa droga de livro está indicando, e… nada, esse
bolo de carne parece que precisa ficar pelo menos duas horas a
mais no forno.
Ela pega a colher de pau e mexe no bolo como se estivesse
mexendo em um bicho morto.
— Acho que varia de acordo com cada forno, temperatura,
essas merdas todas.
— Ah! — Olha novamente para o livro. — A temperatura
estava correta.
— Então não sei, alguma coisa você deve ter feito errado.
— Não fiz nada de errado, essa droga de livro que está
errado — diz e o joga livro de lado. — Espera, você me chamou de
querida?
Sorrio.
— Posso chamar de outras coisas, se você quiser.
— Meu nome está ótimo, obrigada. Se me der licença, vou
tomar um banho.
— Ellie… — Seguro seu braço, e a viro para olhar em
seus olhos; ela não parece feliz e algo me diz que não tem nada a
ver com o bolo de carne.
— Agora não, Cam, por favor, eu só… preciso de um
banho. — Sua voz sai embargada e não gosto do que sinto ao vê-la
dessa maneira. Triste.
— Vem cá. — Puxo seu corpo até que meus braços a
envolvem, e porra, eu acho que adoro abraçá-la. — O que posso
fazer pra te ajudar?
— Você já está ajudando, mais do que imagina, mas se
conseguir fazer uma máquina do tempo, eu serei eternamente grata.
— Sinto-a respirar fundo, em seguida, seu rosto ergue e fico
paralisado com a intensidade do seu olhar. — Você tem uma
estranha mania de me abraçar, já notou isso?
— É que você tem uma estranha mania de fazer com que
eu queira te abraçar.
Respondo, e ficamos nos encarando por alguns segundos.
Seus olhos, Deus, ela tem olhos lindos, um castanho com um toque
de dourado, expressivos, sonhadores.
— Preciso tomar banho — diz.
— Você disse isso. — Retiro minha mão da sua cintura e
traço seus lábios com o polegar, mesmo gesto que fiz na escola. —
Se eu te beijasse agora, você fugiria?
— Hipoteticamente falando?
— Verdadeiramente falando.
— Eu… isso… um beijo é…
— Maravilhoso? — completo sua frase. Ela parece
nervosa; para onde foi a Ellie desafiadora?
— Nojento.
— O quê? — Sua afirmação me pega tão desprevenido
que me afasto um pouco, não muito, coloco as mãos nos ombros
dela e pergunto: — Por que você disse que um beijo é nojento?
— Você sabe quantas bactérias têm na boca?
Não acredito que estamos conversando sobre bactérias
bucais, na cozinha.
— Você, alguma vez, já foi beijada? — pergunto devagar.
— Hipoteticamente falando?
Deus!
— Certo, tudo bem, vá... é…
— Tomar banho?
— Isso, eu arrumo a comida. — Ela sorri contida e olha
para o bolo de carne em cima do balcão.
— Obrigada, Cam.
— Não precisa agradecer, também estou morrendo de
fome, estou ajudando por motivos egoístas.
— Não é por isso. — Ela ri e se aproxima novamente. Sua
mão toca meu rosto e reprimo a vontade de fechar os olhos. —
Obrigada por me distrair, meus pensamentos não estavam em um
lugar muito bom.
— De nada, e agora, seus pensamentos estão em um lugar
bom?
— Quase, agora penso em bactérias.
Sorrindo, Ellie beija meu rosto e sai da cozinha. Olho para
o cômodo vazio, e depois para o bolo de carne que precisa ser
assado novamente, e chego a uma conclusão.
Estou me apaixonando por Eleanor Mitchel.
A irmã – que está fora dos limites – do meu melhor amigo.
A garota, que, aparentemente, nunca foi beijada. Meu coração
entrou em uma corrida inesperada, e agora não faço ideia de como
conduzir isso.
Estou fodido, muito, muito fodido. E inegavelmente
apaixonado.
Porra.

Sempre tive certeza de que tudo que é bom, dura pouco.


Claro que sabia que meus dias de paraíso particular com a Ellie
estavam contados. Só não esperava que minha ida ao inferno fosse
por causa do meu amigo. Ethan resolveu se juntar a nós no terceiro
dia. Alegando que gostaria de passar mais tempo com a irmã.
Minha bunda que é isso.
Agora estávamos os três, morando “juntos”. Ethan dormia
no colchão extra no quarto do Jace, comigo, e Ellie no quarto de
hóspedes. O cara tinha a porra do sono mais leve que já vi. Noite
passada, me levantei para beber água e quando voltei, estava com a
luz de uma lanterna focada no meu rosto. Ele estava parado na
frente da porta do quarto da irmã. Como um lunático.
— Você soube da corrida de hoje? — pergunta quando
estamos saindo da última aula.
— Soube. Thiago me enviou uma mensagem.
— E então, você vai?
— Você sabe que estou de castigo, Ethan, não quero ligar
o carro e dar de cara com a minha mãe de novo.
— Cara, aquela foi a sua melhor corrida.
— Foi — concordo.
— Vamos apenas olhar, está bem? Ellie jamais me
deixaria entrar em um carro.
— Sua irmã vai? — Isso chama minha atenção.
— Sinceramente? Não sei, mas se ela souber que estou
indo, vai grudar como um chiclete.
— Comparação nojenta. — Ele ri.
— Ginger detesta qualquer coisa que seja ilegal, ou
perigosa. — Ou divertida, penso.
— Ginger? — Nunca o ouvi chamá-la assim.
— Merda, não a chame assim, certo? Esse é um apelido
que dei a ela quando éramos crianças, ela detesta.
— Prefiro Ellie. — Dou de ombros.
— Eu sei que prefere. — Bate no meu ombro — Estou de
olho em vocês dois, fique sabendo, não tente nenhuma gracinha
com a minha irmã.
Ao chegarmos ao estacionamento, olho em volta para
tentar localizá-la, mas não a encontro.
— Minhas intenções com a sua irmã são puras e inocentes
— digo solene.
— Conheço você, Cam, e suas intenções estão mais para
pervertidas e indecentes.
Não contenho o riso, porque ele tem razão, em partes.
— Onde ela está?
— Ellie vai estudar na casa de uma amiga, parece que vai
ajudá-la com algo.
— E por que ela não me avisou?
— Você é o namorado dela, por um acaso? Ela me avisou.
— Vem, vamos embora, acho que temos uma corrida para
ir mais tarde.
Entro no carro e aguardo Ethan entrar. Provavelmente
estou agindo por puro impulso, já que não pretendo correr. Mas
estou chateado porque ela não me avisou que ia me dar um bolo
hoje, afinal, estamos estudando todos os dias após as aulas, e,
sobretudo, quando Ethan falou sobre a corrida, senti todo o sangue
do meu corpo esquentar. Abstinência é mesmo um inferno.

Eram dez da noite quando chegamos ao local da corrida.


Ellie ligou avisando que passaria a noite fora, e odiei o que senti ao
saber da notícia.
Ciúmes.
Sentimento horrível que jamais pensaria em sentir. Tudo
bem, minha mãe sempre disse que fui uma criança bastante
possessiva com meus brinquedos, que sempre empurrava Jace
quando o queria longe dela. Mas, ei, eu era criança, e crianças
agem assim. Não?
Mas quando Ethan disse que poderíamos ir sem problemas
porque sua irmã estaria fora do caminho… eu quase desisti para ir
buscá-la, quase.
O local de hoje era em uma pista que ainda estava em
construção. Afastada da cidade, o local perfeito para um evento
como esse. Sem vizinhança por perto, e com certeza, cheia de
pontos perigosos, já que havia máquinas de trabalho por toda parte.
— Olha só quem apareceu — diz Tris assim que me
aproximo.
— Só vim olhar.
— Cameron Willers só olhando uma corrida de carros,
duvido muito. Com medo da mamãe? — Ah, que filha da puta.
— Medo não é algo que costumo sentir, Tris. Se bem me
lembro, da última vez que transei com você, não foi exatamente em
um lugar seguro. — Seu rosto fica vermelho.
— Bem, só não repetimos porque você não quer. — Ela se
aproxima, arranhando meu peito com as unhas, mesmo jogo de
sempre. — Se parar de correr atrás da nerd novata, poderíamos
aproveitar muito mais. — Sua boca chega bem perto da minha,
muito, muito perto.
— Está falando da Ellie?
— É esse o nome dela? — diz em um tom fingido.
— Não, não é o nome dela, é apenas o nome que eu gosto
de chamá-la. — Retiro sua mão do meu peito. — Agora, se fosse
você, ia procurar outro babaca, porque já tive a minha cota e não
quero repetir.
— Você é um idiota, Cam! — grita e sai em seguida.
— Então, é assim que você trata suas namoradas? Com
tanta cortesia?
Viro para encarar a dona da voz. Ellie está me observando
e não parece nada feliz. Só não sei dizer o motivo disso, ou melhor,
qual dos motivos.

ELLIE
Depois da escola, fui com Heather até sua casa. Ela estava
com dificuldades em terminar um trabalho de literatura inglesa,
então resolvi ajudar.
Não que essa matéria fosse meu forte, mas aprendia
rápido. Porém, quando finalmente conseguimos concluir, ela viu
várias mensagens em um aplicativo de conversa. Aparentemente,
existe um grupo da escola e eles se comunicam ali.
Teria uma corrida à noite, as apostas já haviam começado,
e não fiquei surpresa ao ver que o nome do Cameron era o mais
cotado. Mesmo que soubessem que ele não podia correr, todos
sabiam que a chance de ele recusar, se fosse desafiado, era nula.
Mas, não foi isso que me preocupou.
A família de Heather estava em casa, incluindo um tio,
policial. E aí foi quando realmente me surpreendi, após o jantar,
pois ele recebeu uma mensagem informando sobre um racha que
aconteceria em uma pista afastada da cidade. Heather viu por um
acaso quando estava recolhendo os pratos.
Então, aqui estamos, no local onde acontecerá a corrida.
Heather foi em busca do meu irmão, enquanto eu, estou encarando
o motivo dos meus pesadelos diários.
Cam.
Ele está lindo.
Blusa branca, jeans. Básico, simples. Surpreendentemente
sexy.
E está sorrindo.
Idiota.
— Então, é assim que você trata suas namoradas? Com
tanta cortesia? — Cruzo os braços aguardando sua resposta.
Quando cheguei, ele estava em uma discussão bem acalorada com
Tris, a rainha das Marias Gasolina.
— Se eu tivesse uma namorada, com certeza não a trataria
dessa forma.
— Então você reserva sua dose de prepotência apenas para
o restante da população feminina que não namore você. — Dessa
vez, ele ri, alto.
— Meu Deus, Ellie, não. Não é nada disso, tudo bem? —
Cam se aproxima, mas não mudo a minha postura. — Trato as
pessoas como elas me tratam, se me respeitam, terão respeito,
independente do sexo.
Fico sem palavras, ele está certo.
— Agora, o que você está fazendo aqui?
— A polícia sabe o que está acontecendo, e podem chegar
a qualquer minuto.
— Eles sempre sabem. Isso não é novidade.
— Sério, Cam, vamos embora, não precisamos estar aqui.
— Não vou correr, se é isso que está pensando, então
relaxa e vamos ver qual babaca da vez pensa que sabe dirigir — diz
envolvendo os braços no meu ombro e começa a andar.
Eu o paro.
— Por que você não leva nada a sério? Não estou
brincando, Cam, por favor, você não precisa estar aqui, você tem…
— Tenho uma família que tem a porra de uma das
melhores equipes de corrida, eu sei disso, e quer saber? Não estou
nem aí, não mais. Sabe por quê? — Balanço a cabeça em negação.
— Porque eu preciso ser a droga do filho perfeito se quiser sentar
no banco de um dos carros da WR Racer, e Ellie, eu não sou
perfeito.
Cam me dá as costas e vai embora, deixando-me mais uma
vez sem palavras. Não sei o que fazer, então ligo para Ethan.
Demora o que parece uma vida para que ele atenda, e mal
consigo entender metade do que diz. O barulho das pessoas
conversando somado ao som da música não ajuda em nada. Pelo
menos, consigo entender onde estão e sigo para lá.
Andando entre a multidão, começo a observar. De
verdade, eu nunca estive em um lugar como esse antes. Há dois
carros posicionados na pista, mas não há ninguém no volante.
Muitos rostos conhecidos da escola, aparentemente todos estão se
divertindo.
Droga, será que ninguém aqui se preocupa? Localizo meu
irmão, e junto a ele estão Cam e Heather, e outras pessoas que não
tenho a menor ideia de quem sejam.
— Prontos para irmos? — pergunto quando me aproximo
do grupo.
— Não vamos embora, Eleanor. — Ethan responde e sinto
vontade de socá-lo.
— Heather? — peço ajuda à minha amiga.
— Avisei a eles sobre a mensagem que meu tio recebeu,
ninguém se importa.
— Como assim, ninguém se importa? — Olho para meu
irmão e depois para Cam que parece totalmente alheio, olhando
para os carros na pista.
— Ouça, lindinha, não tem necessidade de pirar, aqui todo
mundo é parceiro e ninguém vai chamar a polícia. — Um cara com
cigarro na mão toca no meu braço.
— Tire as mãos de mim — digo.
— Ah, qual é, a princesinha é de vidro?
Noto quando Ethan faz um movimento para intervir, mas
algo, ou melhor, alguém é mais rápido, e antes que possamos fazer
alguma coisa, o cara está sendo erguido pelo colarinho.
— Ela disse para tirar as mãos, você é surdo, por um
acaso?
— Ei, ei… calma, campeão. — Ele ergue as mãos em sinal
de rendição. — Não sabia que a princesinha tinha dono.
— Seu… — Cam ergue o punho, porém Ethan o detém.
— Não vale a pena, Cam. Larga ele.
— Se você olhar para ela, chegar perto ou respirar perto
dela, arrebento você, entendeu?
O cara não responde, ele apenas encara com um sorriso
debochado no rosto.
— Cam, por favor — sou eu que imploro dessa vez, ele
parece ouvir, porque finalmente larga o imbecil.
— O que está acontecendo aqui? — Um homem surge, e
ele parece bem mais velho do que nós.
— Seu menino de ouro parece estar bem esquentadinho
hoje — diz o idiota. Me pergunto por que não deixei Cam
arrebentar a cara dele.
— Alex, que tal você ir para o carro? Acho que tem gente
apostando em você hoje.
— Te vejo na pista? — diz para Cam, mas depois sorri. —
Opa, acho que não, o bebê Willers ainda está de castigo.
Cam avança, mas Ethan e o homem que acabou de chegar
o detêm. O tal Alex sai rindo e vai para o carro.
— Que tal descarregar essa raiva na pista? Nosso piloto
desistiu e não tenho mais ninguém.
— Você sabe que ele não pode, Thiago — Ethan é quem
responde, olho para o homem, ele é bem impressionante. E se estou
certa, de acordo com as fofocas, é ele quem organiza as corridas.
— Posso responder, Ethan — diz Cam, sério. Ele me olha
por alguns segundos e depois volta a olhar para Thiago. — Vou
correr.
Há um brilho sinistro nos olhos dele quando ouve a
resposta positiva do Cam. Eu não gosto disso, nem um pouco.
— Vou preparar tudo — diz e vai embora.
— Você o quê? — Tento manter minha voz controlada.
— Correr, vou correr. Você ouviu, Ellie, não finja que
não.
— Não estou fingindo, só não estou acreditando. Você não
pode correr, Cam, está…
— De castigo? — conclui minha frase — Sou ótimo em
quebrar regras. — Ele dá uma piscadinha e sai.
— Não acredito. — Olho na direção que ele foi, está indo
para um dos veículos que estavam posicionados na pista.
Um Impala preto, um belo carro, diga-se de passagem.
— De quem é o carro? — pergunto para Ethan.
— Thiago, ele empresta o carro para alguns pilotos
correrem, em troca, dividem o prêmio.
— E claro, geralmente é o Cam que corre para ele —
concluo.
— Na maioria das vezes, sim. Ele não precisa da grana,
então entrega tudo para o Thiago.
— Muito sábio, esse tal Thiago.
— O que você está pensando? — é Heather quem
pergunta.
— Que a polícia pode chegar a qualquer momento, que
Cam foi manipulado para correr, e que vou acabar com essa
palhaçada, agora mesmo.
— Eleanor, ninguém consegue tirar o Cam de dentro de
um carro, quando ele entra lá, é como se algo o possuísse, não sai
até finalizar a corrida.
— Ethan têm razão, da última vez, a mãe dele correu
contra ele.
— Sei disso, mas ele vai sair, nem que eu tenha…
Uma ideia surge e saio correndo para impedir essa corrida
idiota. Só espero que funcione.
CAM
Não esperava encontrá-la aqui, de todo lugar dessa cidade,
esse é o último local que esperava vê-la. Mesmo que Ethan tenha
mencionado a possibilidade de ela vir, ainda era apenas uma
possibilidade.
Agora, meu sangue ardia correndo pelas veias, tão rápido,
intenso. Estou com raiva pela forma como a tratei, pela maneira
como Alex a tocou e falou com ela.
E agora, estou furioso comigo mesmo. Porque estou
sentado, no banco do motorista de um carro que adoro dirigir,
quebrando uma promessa que fiz aos meus pais.
Só que não sinto vontade nenhuma de parar. Ao contrário,
meu pé toca o acelerador e o som faz meu corpo inteiro vibrar com
expectativa.
Merda, quanto tempo faz que não corro?
Olho para o lado, Alex está em um Camaro preto; o carro
é bom, mas sei que o Impala do Thiago é superior. Já corri várias
vezes com ele antes. Alex nota que estou olhando e sorri
presunçoso, ah, será um prazer fazer esse babaca comer poeira.
Quando volto a fixar meu olhar para a frente, engato a
marcha e piso no acelerador. O som do motor faz a plateia gritar.
Mas é outro grito que chama minha atenção.
— Cam! — Ellie está bem na frente do meu carro. Fecho
os olhos e respiro fundo, sem acreditar.
— É melhor sair, Ellie! — grito.
— Não, é você quem tem que sair daí — retruca.
— Você está dando um show desnecessário. Apenas saia
— digo alto para que ela possa me ouvir.
— Faça-me sair. — Ela cruza os braços me desafiando.
Piso no acelerador, ela não vacila com o barulho. Movimento o
carro apenas o suficiente para ver se ela se move. Nada.
Ellie é teimosa demais. Irritante demais. Exatamente como
eu sou. Pego meu telefone e busco o nome do Ethan, ele vai ter que
tirar a irmã dele do meu caminho.
— Você precisa… — paro de falar no instante que olho
para Ellie. — Puta que pariu!
— O que foi? — Ethan pergunta.
— Merda, merda, merda…
Largo o telefone no banco do passageiro; consigo ouvir
Ethan gritar meu nome, mas foda-se, a visão na minha frente me
deixou paralisado.
Ellie tirou a blusa. ELA TIROU A PORRA DA BLUSA.
E agora, está com as mãos tocando a alça do sutiã.
Os gritos de “tira-tira” fazem minha razão voltar ao
normal. Nem fodendo vou deixá-la fazer isso. Saio do carro.
— O que está fazendo? — Pego a blusa dela que está em
cima do capô do carro e tento cobri-la.
— Tirando você do carro.
— Precisava ficar nua?
— Eu nem havia começado. E então, vamos embora ou
terei que tirar o resto? — ameaça retirar o sutiã.
— Entra no carro.
— Mas…
— Entra na droga do carro, Ellie, ou juro por Deus que
vou jogar você lá dentro. — Ela engole em seco, mas obedece, em
seguida entro no carro.
— Ligue para o seu irmão, diga que estamos saindo.
Noto quando ela sorri vitoriosa. Diferente do que as
pessoas pensam, eu não vou correr, dou a volta com o carro e saio
da pista.
— Estamos roubando um carro?
— Pegando emprestado.
— Acredito que o dono não vai gostar.
— Ele supera. — Dou de ombros. Mais à frente, vejo luzes
piscando. É a polícia. — Droga.
— Ethan! — Ellie diz ao mesmo tempo que pega o celular,
bastante nervosa.
— Ele não está mais lá, não se preocupe. — A polícia
passa por nós em disparada, e respiro aliviado. Não faço ideia do
que pode ter dentro desse carro, e não estou a fim de descobrir.
— Eles não vão nos parar? — Ela observa surpresa ao ver
mais duas viaturas passarem.
— Por favor, só agradeça por termos sorte.
— Mas…
— Sem “mas”, vamos embora. — Acelero e o carro
dispara na pista.
— Tem certeza que o Ethan saiu?
— Sim, mas continue tentando falar com ele, vai se sentir
melhor.
— Obrigada.
Ellie consegue falar com o irmão. Eu sabia que Ethan
tinha saído antes da polícia chegar; não era a primeira vez que isso
acontecia, ainda assim, hoje parece ser diferente. Preciso agradecê-
la. Ellie teve o timing perfeito, e se não fosse por ela, agora estaria
telefonando para Jace, ou pior, para os meus pais.
— Você está bem? — pergunta.
— Sim, desculpe é só… preciso me desculpar com você
— digo sem tirar os olhos da estrada.
— Poderia estar me vangloriando agora, mas se for
sincera, estou bastante aliviada.
— Quer ir para casa?
— Tem alguma outra sugestão?
— Com certeza.

Vinte minutos depois, estou estacionando o carro em


frente ao autódromo. Ellie parece surpresa, porém, ela me
presenteia com um sorriso deslumbrante.
— Nunca vim aqui.
— Sério?
— Sim, na verdade, nunca entrei em um autódromo.
— Você está estudando engenharia mecânica e nunca
pisou em um autódromo? — Estou surpreso.
— Não é como se eu precisasse estar na pista para
construir motores.
— Vem, vamos ter a experiência completa.
— Podemos entrar?
— Posso fazer tudo que eu quiser, agora vem. — Desligo
o carro e abro a porta. Ellie sai e seguro a sua mão.
— Tem certeza que podemos entrar?
— Tenho, não ia correr o risco de sermos presos, não de
novo.
Converso com o segurança que libera nossa entrada. Ellie
está ao meu lado, e olha em volta impressionada com o local.
— Onde fica o boxe da sua equipe? — pergunta.
— Ali. — Aponto para o boxe 7. — Quer ver o carro? —
Ela assente como se tivesse ganhado na loteria, então a levo até lá e
levanto a porta de metal.
Quando as luzes acendem, Ellie entra e vai direto para o
carro de corrida, que está bem no centro. Um modelo novo que
ainda não foi testado, segundo soube, está aguardando o novo
motor. O mesmo que ela está trabalhando. Porra, tem algo mais
sexy?
— Uau, aqui é…
— Lindo — respondo, mas não me refiro ao lugar. —
Impressionante. — Caminho na sua direção, vendo-a tão imersa
observando os detalhes do carro. — Sexy.
— Sexy? — A palavra chama sua atenção; ela não havia
notado o quão próximo estou, e agora, o corpo dela está entre o
meu e o carro.
— Você, Ellie, é tudo isso. — Toco em seu rosto. — E
nem vou mencionar corajosa. Se não fosse por você, a noite teria
sido um inferno.
— Agradeça aos meus seios — diz em tom de brincadeira,
mas não consigo evitar olhar para eles. E só de lembrar que todos
ali poderiam ter visto o que eu quero reivindicar...
— Ellie — seguro seu rosto com as mãos —, preciso que
você me faça um favor?
— O que é? — Sua voz sai quase como um sussurro,
atraindo meu corpo para mais perto, sem deixar nenhum espaço
entre nós.
— Preciso que você não pense sobre germes agora.
— Po-Por quê?
— Porque eu quero te beijar.
— Vo-Você tem certeza?
— Absoluta. — Sinto sua pulsação acelerar. Ela parece
muito nervosa. — Pode tirar os óculos? — Ela faz, e mais uma vez
eu me perco na intensidade do seu olhar.
— Nunca fiz isso.
— Beijar? — Ela balança a cabeça tão forte que quase
bate na minha. — Nesse caso, é uma honra ser o seu primeiro.
— E se eu morder você?
— Não vai acontecer — inclino meu rosto para falar ao
seu ouvido: — E se isso acontecer, tenho certeza que vou gostar.
Feche os olhos, vou te beijar.
Não sei por que, mas sinto que preciso avisá-la do meu
movimento, não quero que ela me rejeite se for pega desprevenida.
E quando fecha os olhos, sinto-me no céu.
Meus lábios tocam os dela com calma. Ellie está tensa,
como se estivesse prendendo a respiração. Com paciência, meus
lábios exploram os dela, minhas mãos acariciam sua nuca, até que
sinto-a relaxando. Sua boca abre apenas o suficiente para dar
passagem à minha língua.
Sinto um sutil movimento das mãos dela, tocando meu
quadril, explorando, como se quisesse ter certeza se o que estava
acontecendo era mesmo real.
— Cam... — Meu nome sai como um gemido, e isso só
acende ainda mais meu desejo.
Mordo de leve seu lábio inferior, e escuto novamente meu
nome. E cada vez que ouço sua voz carregada de desejo, minha
vontade é de possuí-la. Aqui mesmo, em pé, encostada nesse carro.
— Abra a boca, Ellie, deixe-me te mostrar como eu posso
te beijar.
Ela faz o que peço, e logo, minha língua encontra com a
dela. E o beijo que iniciou de forma gentil, começa a se tornar
furioso, exigente. Carregado de um desejo que jamais senti por
nenhuma mulher.
É como se... se eu estivesse beijando pela primeira vez.
Como se cada mulher que tive antes sumisse, cada beijo antes
desse se tornou pequeno, insignificante perto do que estávamos
fazendo agora.
Então é assim que nos sentimos quando estamos
apaixonados?
— Caralho, eu adoro a sua boca — digo tentando parar de
beijá-la, mas é praticamente impossível.
Minhas mãos seguram-na pela cintura, e a puxo para mais
perto. Minha ereção é evidente, e quando ela nota, seu corpo inteiro
fica tenso. Ela interrompe nosso beijo e se afasta.
Ellie me olha de forma estranha, tocando os lábios –
vermelhos por causa do beijo –, com a expressão confusa, e não
gosto disso.
— Ei, você está bem? — Tento me aproximar, mas ela
ergue o braço pedindo espaço.
— Estou, é só... isso foi tão...
— Se você disser estranho, acho que ficarei
profundamente ofendido.
— Não foi estranho — sorri constrangida. — Foi...
— Mágico. — Ellie me encara surpresa, não sinto um
pingo de vergonha do que acabei de dizer, porque foi exatamente
isso que senti, esse beijo foi mágico.
Eu senti atravessar meu corpo inteiro, a mesma sensação
que tenho quando estou correndo.
— Nunca fui a garota que acredita em mágica. — Há um
pequeno sorriso no seu rosto, o sinal que preciso para me
aproximar novamente.
— É porque nunca nos beijamos antes. — Seguro sua
mão. — Senti que poderia voar, você não?
— Senti, eu senti, Cam. — Ellie respira fundo e toco seu
rosto.
— Obrigado por me deixar ser o primeiro homem a te
beijar. — Ela cobre minha mão com a dela, acariciando meus
dedos.
— Obrigada por me fazer acreditar em mágica.
Ellie sorri, e eu não me contenho. Eu a beijo novamente,
várias e várias vezes, até que ambos estejamos sem fôlego.

ELLIE
Mágica. Arte que supostamente produz por meios de
práticas ocultas, fenômenos extraordinários que contrariam as leis
naturais.
Foi exatamente isso que Cam fez comigo quando me
beijou pela primeira vez. Mágica, algo novo e extraordinário está
se formando dentro de mim, e só foi preciso um beijo.
O beijo dele.
Cam riu quando na volta para casa contei a ele que já
havia beijado, mas que foi um completo desastre porque o garoto,
naquela ocasião, sabia tanto quanto eu, ou seja, nada. Nossos lábios
mal se tocaram e logo estávamos nos afastando.
Foi constrangedor. E o garoto era meu vizinho, tínhamos
uns treze anos, se bem me lembro.
Completamente diferente do que aconteceu duas noites
atrás. Meu primeiro beijo de verdade foi mágico.
Agora estava me preparando para a realidade, a qual eu
deveria voltar para casa. Meus pais telefonaram há meia hora atrás,
pedindo, ou melhor, exigindo, que retornasse. Minha mãe quer
conversar, mas não sei se estou pronta, ou melhor, não sei se
saberei lidar com as escolhas dela.
Cam não gostou nada quando o mantive afastado assim
que retornamos. Ethan estava em casa, e eu não queria uma cena.
Mas estava sendo um pouco difícil controlá-lo na escola. Ele
simplesmente andava de mãos dadas comigo sempre que podia, e
hoje fez questão de beijar meu pescoço quando me viu no refeitório
almoçando com Heather.
— Ei, por que está demorando? — Cam entra no meu
quarto no instante em que estou arrumando minhas coisas. — Vai
sair?
— Não e sim. — Sua expressão confusa me faz sorrir.
Paro de guardar as roupas e vou até ele, que me abraça assim que
me aproximo.
— Oi — diz com um sorriso, enquanto passo meus braços
ao redor do seu pescoço.
— Oi.
— Pretende fugir?
— Não, na verdade ia falar com você, só estava
organizando tudo. Meus pais me ligaram, querem que eu e Ethan
voltemos para casa.
— E você está bem com isso?
— Com certeza não, mas não posso fugir para sempre, não
é?
— Não vejo problema, desde que fuja comigo. — Cam
tem um sorriso brincalhão no rosto, mas sei que cada palavra que
disse é verdadeira.
— E para onde você me levaria? — Entro na sua
brincadeira.
— Qualquer lugar que tivesse sol, onde pudéssemos andar
de carro com a capota abaixada. Quero ver seu cabelo voando por
causa do vento. — Ele toca meu cabelo, em seguida retira o
elástico que o prende.
Seus dedos passam entre os fios, de ponta a ponta, e fecho
os olhos aproveitando seu toque.
— Quero te pedir uma coisa — diz. Eu aceno com a
cabeça incentivando-o a falar, porque simplesmente não consigo
abrir os olhos. Seu toque é inebriante. — Quero fazer você gozar.
Ele é direto, e isso não me surpreende. Abro os olhos para
encará-lo, vendo que o sorriso brincalhão se foi, dando lugar a um
olhar cheio de expectativa.
— Você sabe que sou virgem, não é?
— Sei, e respeito qualquer decisão que você tome. Mas
quero muito fazer isso pra você. — Meu coração acelera tão rápido
que acredito que possa ter um ataque cardíaco.
— Não vamos transar, Ellie, mas quero te fazer gozar,
quero sentir você perdendo o controle — Cam diz cada palavra
bem devagar, sua voz em um tom baixo, suave.
As palavras do meu irmão novamente me vêm à mente.
Ninguém diz não a Cameron Willers.
Ao concordar, bloqueio a voz interior que me diz que será
apenas mais um “sim” na sua lista infinita. Não é isso que meu
coração sente, mas ainda assim, é a primeira vez que não escuto a
voz da razão.
Cam me surpreende ao me pegar no colo, tirando a minha
mochila de cima da cama, ele me posiciona com cuidado.
— Tive vontade de te beijar todos os dias — diz, seu
corpo acima do meu. — Tive vontade de dizer para o seu irmão
que estamos juntos, de dizer para cada maldito garoto daquela
escola que você é minha namorada.
— Não somos namorados. — Ele sorri com a minha
resposta.
— Ah, não? Tarde demais para isso, Ellie. Sou seu desde
aquele dia no autódromo, quando nos beijamos. Agora — toca meu
nariz —, preciso saber se você quer ser minha.
— Sua namorada?
— Por enquanto.
— Tem certeza?
— Sim, tanto quanto amo pilotar. — Sua resposta me
deixa sem fala, acho que é a coisa mais intensa que alguém já me
disse.
— Acho que podemos tentar — respondo ainda receosa.
— Feche os olhos — pede e eu obedeço. — Agora, por
favor, não pense em germes.
Isso me faz rir, mas logo meu riso é substituído por um
gemido, pois a boca dele invade a minha roubando todo o meu
fôlego.
É nosso segundo beijo, e é tudo tão inebriante. Seu corpo
paira acima do meu, sua boca possuindo a minha. Cam não está me
beijando, ele está me devorando.
Aos poucos sinto os movimentos das suas mãos. Ele beija
meu pescoço ao mesmo tempo que começa a abrir os botões da
minha camisa, expondo meu sutiã.
— Não acredito que você ia mostrá-los para aqueles
babacas no dia da corrida — diz com a voz carregada de desejo, ele
passa a língua nos lábios, e me pergunto como seria se ele a
passasse nos meus seios.
Mas não preciso falar, é como se estivéssemos em
sintonia. Cam toca a alça do meu sutiã e desliza pelo meu braço.
Ergo um pouco minhas costas para lhe dar acesso. Ele sorri ao abrir
o fecho com rapidez.
Logo a peça está fora, e estou fascinada com o olhar que
ele me dá.
— Puta merda, acho que me minha mãe vai se decepcionar
quando eu disser que todo juízo que ela quer que eu tenha se foi, só
com a visão dos seus peitos, Ellie.
— Muito romântico da sua parte mencionar sua mãe. —
Bato de leve em seu braço.
— Bem lembrado, nada de mães e nada de germes,
estamos de acordo? — Concordo. — Agora, feche os olhos, Ellie, e
aproveite o passeio.
Cam envolve meu seio com uma das mãos, em seguida o
leva à boca. Ofego quando sinto sua língua tocar meu mamilo. E,
caramba, é tão bom.
Ele só tirou a parte de cima da minha roupa, mas estou
sentindo meu corpo pegar fogo em todos os lugares.
Ele suga com vontade, alternando entre mordiscar, chupar
e lamber. E, meu Deus do céu! Acho que vou explodir.
— Cam... — Meu quadril ganha vida, movimentando-se,
indo ao encontro do dele. Sinto seu sorriso na minha pele quando
ele vê que estou correspondendo da maneira como quer: perdendo
meu controle.
— Vou tocar em você, tudo bem? — Não compreendo a
extensão das suas palavras até que percebo que está abrindo o zíper
da minha calça jeans.
Cam faz tudo tão lentamente quanto possível, e por um
segundo penso se existem dois dele. Esse paciente e o outro
impulsivo.
Uma trilha de beijos é formada, indo dos seios até meu
ventre. Suas mãos puxam devagar minha roupa para baixo, eu
deixo.
— Confia em mim? — Cam para de me beijar, e olho para
baixo, vendo que ainda estou completamente despida. Exposta para
ele como jamais estive para ninguém.
— Você tem o controle aqui, Cam.
— Repete, por favor.
— Você tem o controle aqui.
— Agora diga meu nome.
— Cameron. — Brinco com seu nome, e ele sorri beijando
meus lábios em seguida.
— Porra, só você para me excitar quando diz meu nome
assim. Prepare-se — ele aproxima a boca da minha orelha —,
Eleanor.
Meu nome sai como um gemido. Seu tom enrouquecido
deixa-o sexy, e me faz desejar ouvi-lo gritar. Gritar meu nome.
Com essa voz, com essa intensidade.
Cam não me deixa com meus pensamentos por mais
tempo. Seus dedos tocam meu sexo e reprimo um grito, primeiro de
surpresa, em seguida, de puro prazer.
— O que está fazendo? — A pergunta soa um pouco
idiota, porque sei o que está fazendo. Sou virgem, mas nunca fui
ignorante sobre o assunto, conheço a mecânica do ato, e nossa, isso
que está acontecendo aqui não chega nem perto de tudo que li a
respeito.
— Está gostando? — O sorriso que ele me dá já é a
resposta que procura, porque Cam sabe que sim, estou gostando, e
muito.
— Isso é algum tipo de jogo? — questiono e fecho os
olhos quando ele aplica um pouco mais de pressão no meu clitóris.
— Como xadrez? — Ele enfia um dedo, e estou tão
molhada que a invasão é bem-vinda. Seu dedo desliza devagar.
Para dentro e para fora, enquanto o polegar dele brinca com meu
clitóris. — Se for um jogo, você é a única que está ganhando.
Cam toma meu seio novamente com a boca, e dessa vez,
não consigo reprimir o som alto que sai da minha garganta. Sua
boca... seus dedos, é tão... tão...
— Cameron!
Um tremor toma conta do meu corpo, e instintivamente
minhas pernas fecham, mas ele não para. Seu polegar ainda
circulando meu clitóris, até que ele morde meu seio. Com força,
levando-me a mais uma espiral de sensações.
É como se minha alma tivesse se elevado, só restando meu
corpo mole, fraco, porém quente, febril.
Cam está deitado ao meu lado, e tem o cuidado de cobrir
meu corpo com um lençol, me dando privacidade, e ao mesmo
tempo, não para de me beijar. Meu rosto, minhas mãos.
— Como se sente? — pergunta. Ele está de lado, seus
olhos me observando atentamente. Ainda está vestido, e me
pergunto se não dói, porque o volume que vejo é enorme.
— Parece que corri uma maratona — confesso. — Você
está bem? — Olho para sua virilha e ele segue meu olhar.
— Vou ficar, só preciso ir ao banheiro.
— Está me dizendo que vai ao banheiro se masturbar?
— Quer fazer por mim?
— Não, não vou me oferecer porque isso não foi uma
troca; você disse que queria me fazer gozar, eu não disse que faria
o mesmo — respondo rindo.
— Caralho, como adoro a sua inteligência — diz e beija
minha boca rapidamente. — Nesse caso, se me der licença, vou ao
banheiro me masturbar pensando na sua boceta gostosa.
Abro a boca para tentar responder, mas fecho-a
rapidamente. Não tenho resposta para isso.
Cam sorri e sai do quarto. Olho para o teto tentando
aclamar as batidas do meu coração, porque desde que disse sobre
se masturbar, eu desejei que ele me fizesse gozar novamente.

Cam me deixa em casa, e já liguei para Ethan avisando


que estava voltando e que levaria suas coisas comigo. Desde o dia
da corrida meu irmão estava passando bastante tempo com
Heather. Sabia, através dela, que não havia acontecido nada entre
eles. Só que conheço muito bem meu irmão, e sei que ele quer
algo, mas só espero que não a machuque no processo.
— Eleanor? — Minha mãe bate à porta, em seguida entra.
Já faz duas horas que cheguei, mas nós não havíamos conversado
ainda. Deixo meus livros de lado, e sento-me na cama.
— Oi, mãe.
— Oi, querida, será... que podemos conversar?
— Tudo bem, mas, por favor, mãe, sem mentiras.
— Não pretendia mentir, mas só espero que você esteja
aberta a ouvir, sem julgamentos, tudo bem?
Concordo. Minha mãe pode ter milhares de defeitos, como
acredito que todo ser humano tenha, mas fomos criados a sempre
dizer a verdade, mesmo que doa.
E as verdades que ela começa a contar agora estão doendo
mais do que imaginei ser possível.
Fico sabendo que ela e meu pai resolveram ter um
casamento aberto, há mais de três anos. Tudo em comum acordo
entre eles. E a cada história que conta, sinto meu estômago revirar.
— Nós nos amamos, Eleanor, mas casamos jovens demais.
Não conhecemos outras pessoas, não vivemos, entende?
— Mãe, juro que gostaria de entender, mas é difícil demais
— confesso. — Vocês são felizes? Quer dizer, isso funciona entre
vocês? Não sentem ciúmes?
— Às vezes existem alguns relacionamentos que
ultrapassam algumas barreiras, como no dia do meu aniversário,
quando você flagrou seu pai ao telefone. Mas sempre que isso
acontece, nós conversamos e resolvemos a situação.
— Resolvem? Como? Como se fosse uma negociação
onde se coloca um ponto final? São sentimentos, mãe, vocês estão
brincando com os sentimentos de outras pessoas. Isso é...
— Eleanor... — Seu tom de advertência não me intimida,
mas respiro fundo e tento respeitar sua decisão.
— Não concordo, e tenho certeza que Ethan jamais
aprovará. — Levanto-me da cama e vou até a porta do quarto
abrindo-a. — Preciso estudar — minto. Ela sabe que não preciso
estudar porque nem sou uma aluna de verdade.
— Por favor, Eleanor, seu pai quer conversar com seu
irmão. Só peço que não fale nada até que eles conversem.
— Tudo bem.
— Jamais pedirei para você entender, só quero que saiba
que a vida não segue uma linha reta, Eleanor. — Minha mãe beija
meu rosto e sai.
Fecho a porta e me jogo na cama, sem conseguir conter as
lágrimas. Jamais entenderei como eles conseguem dormir com
outras pessoas e, ainda assim, dizer que se amam.
Acordo com a vibração do meu celular. Adormeci em
meio às lágrimas, mas um sorriso surge quando vejo o autor da
mensagem.

Como você está?

Uma pergunta tão simples, porém, com um poder imenso


de curar um coração ferido.

Ainda processando, mas, no geral, bem.

Observo os três pontinhos se mexerem, em seguida parar,


até que se mexem novamente. Parece que está pensando no que
dizer, ou está escrevendo um textão. Sua resposta me pega de
surpresa.
Dane-se, estou indo te ver.

Tanto tempo para escrever só isso? Penso, mas não retorno


sua mensagem. Pelo pouco que o conheço, sei que nada que eu
disser vai impedi-lo de vir. E sem mencionar que, mesmo tendo
estado com ele há poucas horas, preciso ouvir sua voz, suas
brincadeiras. Preciso sentir suas mãos segurando as minhas.
Cam fez com que eu me tornasse uma dependente.
Dependente dele.
Poucos minutos passam até que ouço alguém bater na
minha porta, e pela forma como bateu, sei que não é a minha mãe.
— Pode entrar — digo. Eu estava deitada na cama
verificando um e-mail que recebi da faculdade quando Cam entra.
Segurando uma rosa na mão. — Por favor, me diz que você não
roubou isso do jardim do vizinho.
— Jamais faria isso — diz ele e se senta na cama ao meu
lado me entregando a rosa. — Pedi permissão antes de pegar. —
Sorri.
— Obrigada.
— Não precisa agradecer, fiz isso porque queria ganhar
um beijo seu. — Ele faz bico esperando um beijo. Droga, é
exatamente disso que estava precisando: Cam e seu tom brincalhão.
— Não vai me dar? — Quase não compreendo o que diz, pois fala
ainda fazendo bico, e agora está inclinando na minha direção
fazendo movimentos com a boca como se fosse um peixe.
— Quer me beijar ou me fazer rir?
— Sinceramente? — Ele interrompe a brincadeira. — Te
fazer sorrir vem sempre em primeiro lugar.
Olho em seus olhos, e vejo que não está sorrindo agora.
Nossos rostos estão tão próximos que minha única reação é fechar
os meus, e deixar que ele me beije.
— Tá de sacanagem?! — A voz de Ethan interrompe
nosso beijo, me afasto rápido, me levantando da cama aos tropeços.
Cam fica no mesmo lugar.
— E aí, cunhado! — ele cumprimenta Ethan e meu irmão
avança na direção dele. Eu o impeço de alcançar Cam.
— Não acredito que você caiu na conversa dele, Ginger!
— Gemo. Péssima hora para falar meu apelido.
— Pare de me tratar como uma criança, Ethan, sei muito
bem o que estou fazendo.
— Será mesmo? Porque conheço aquele ali como a palma
da minha mão, e sei muito bem o que ele vai fazer.
— O quê, exatamente, eu vou fazer? — Cam levanta e
cruza os braços, seu tom de voz é desafiador.
— Vai fazê-la se apaixonar.
— E depois? — pergunta Cam, sem a menor cerimônia.
— E depois vai partir o coração dela em tantos pedaços
que será impossível colar! — Ethan praticamente grita, e eu tento
segurá-lo no lugar.
— Não se eu também estiver apaixonado por ela.
— O quê?! — Ethan e eu perguntamos ao mesmo tempo.
Esqueço do meu irmão e volto minha atenção a Cam.
— O que disse? — dessa vez, sou eu que pergunto. Cam
desvia olhar do meu irmão e volta sua atenção para mim.
— Que estou apaixonado por você. — Ele olha novamente
para o meu irmão. — E você terá que aceitar isso, Ethan. Você é
meu melhor amigo, mas se estiver no meu caminho, não vou
hesitar em te atropelar.
— Merda, isso é pior do que imaginei. — Ethan passa a
mão na cabeça baixando o olhar, para em seguida erguer e me fitar.
— Acho que você precisa se preparar para ser a futura senhora
Cameron Willers.
— O que quer dizer?
— Que conheço toda a família dele, e sei que eles nunca
dizem que estão apaixonados, se a coisa não for séria.
— Vou considerar isso um elogio. — Cam tem um sorriso
deslumbrante no rosto, um que diz que tudo que Ethan disse é
verdade.
— Cara, sinceramente, não sei qual dos dois está mais
ferrado. Seja lá qual for, estarei aqui.
Ethan me abraça e depois cumprimenta Cam com um
aperto de mão. Sinto-me como essas mocinhas de romance de
época quando são flagradas aos beijos no jardim com um
cavalheiro, e agora sua família está dando a autorização para se
casar.
— Papai me ligou, disse que quer conversar comigo, você
já falou com a mãe?
— Já, e não adianta perguntar, é melhor você conversar
com ele e tirar suas próprias conclusões.
— Tão ruim assim?
— Converse com ele, e depois nós...
— Vamos beber — informa Cam, e dessa vez, não posso
fazer nada além de concordar com ele. — Agora, por favor, Ethan,
saia porque vou beijar a sua irmã.
— Droga.
Meu irmão sai praticamente correndo do quarto. Cam está
me encarando, e sei que ele espera que eu diga algo sobre o que ele
revelou para o meu irmão.
— Não acha que está apressando demais as coisas? —
Cruzo os braços. Estamos parados no meio do meu quarto.
— O que posso fazer? Amo velocidade. — Ele dá um
passo à frente, e depois outro, até não haver mais nenhum espaço
entre nós. — E amo estar com você.
— Não quando estamos estudando — afirmo.
— Essa é a parte chata do nosso relacionamento.
Reprimo uma risada quando ele envolve seus braços ao
redor da minha cintura. Cam faz exatamente o que prometeu: me
beija, apaixonadamente.
CAM
A maioria dos caras que conheço corre do amor. Mas não
eu, não os homens da minha família. Nós corremos para ele, a toda
velocidade, ultrapassamos qualquer obstáculo quando sentimos que
finalmente aconteceu.
E caramba, não imaginava que iria me atingir tão cedo.
Vi como meu irmão era com Sky, a relação dos meus pais
e tios, mas comigo? Não era algo que pensei que fosse acontecer.
— Por que está sorrindo como um idiota? — Jace pergunta
enquanto estamos caminhando. Hori está com Sky alguns passos à
frente. Ela finalmente se sentiu bem e decidiu caminhar.
— Não estou — minto, porque sei que estou mesmo.
Pensar na Ellie sempre faz isso, me deixa com sorriso idiota e com
uma baita ereção. Nem sempre na mesma ordem.
— Quando vai apresentá-la? Corrigindo, quando vai nos
apresentar formalmente?
— Não sei de quem você está falando — brinco e ganho
um tapa na cabeça. Idiota.
— Sky e eu compramos a casa que te falei, quero levar
nossas coisas amanhã. Vai ser legal se você viesse ajudar e
trouxesse sua namorada.
— Você quer trabalho braçal de graça, isso sim.
— Estou apenas unindo o útil ao agradável.
— A parte do agradável é sua, com certeza — resmungo.
— Pensa bem, estaremos todos tão ocupados que será
menos constrangedor para ela, ou você prefere que a mamãe
invente um dos seus jantares, daqueles que até a tia Helena vem de
Paris?
— Você ganhou, Jace, Vou falar com a Ellie, e estaremos
lá amanhã.
— Sabia que era ela. — Jace bate no meu ombro e sorri.
Filho da puta, além de conseguir que eu vá carregar caixas,
ele ainda me fez dizer o nome dela.
— Como ela está? — Aponto para Sky. Já faz um tempo
que não conversamos, e desde que a Ellie voltou para a casa dela,
digamos que tenho passado bastante tempo por lá.
Já faz três meses que estamos saindo juntos. Foi engraçado
vê-la tentando manter a discrição na escola. Mas discrição e eu
nunca nos demos muito bem, e logo fiz questão de deixar bem
claro meu novo status.
Tris não gostou muito da novidade, mesmo assim, sempre
que pode, arruma um jeito de chegar próximo. Porém, não havia
mulher nenhuma que pudesse tirar minha atenção da Ellie. E
caramba, como eu amava vê-la naquele uniforme.
— Depois do susto inicial que tivemos quando ela foi
diagnosticada, ela está mais tranquila.
Sky foi internada às pressas mês passado, pois ela não
parava de vomitar. Jace estava na faculdade, então eu estava com
ela. Foi um susto e tanto quando desmaiou. Ela foi diagnosticada
com Hiperêmese Gravídica. Desde então, Jace redobrou os
cuidados, passando o tempo que podia ao lado dela. Mas nós
também ajudávamos, meus tios, minha mãe e eu nos revezávamos
quando Jace não estava em casa.
— Acho até que ela ganhou peso — digo e meu irmão
sorri.
— Sim, a barriga já começou a aparecer.
— Sério?
— Sim, e cara, é algo surreal. Muito diferente de quando
vimos no ultrassom.
Durante o resto da caminhada, Jace me conta como tem
sido na faculdade, e em contrapartida, conto sobre o dia que quase
quebrei minha promessa. O dia que a Ellie conseguiu fazer o que
ninguém consegue. Me fazer desistir de uma corrida.
Meu irmão não diz nada, e nem precisa. Apenas seu olhar
me diz que ficou decepcionado, e ao mesmo tempo orgulhoso por
eu ter desistido.
— Prometo que irá se divertir — repito pela terceira vez
enquanto massageio seus pés. Ellie está deitada no sofá do
apartamento do Jace, já que fui buscá-la mais cedo para caminhar
comigo e a Hori. Agora estou tentando convencê-la a ir comigo
ajudar com a mudança.
— Sua ideia de diversão é o oposto da minha.
— Então, espertinha, qual a sua ideia de diversão?
— Ler. — Ela nem pensa para responder.
— Falando sério, quando você quer rir, ou quer algo
excitante, o que você faz?
— Leio. — Ela retira os pés e muda de posição, ficando
sentada. — Adoro ler, e um bom livro é capaz de provocar tudo
isso, risos, excitação, lágrimas. Quando quero me distrair, é isso
que eu faço, leio um bom livro.
— Tem outra coisa na sua vida capaz de provocar tudo
isso.
— O que é?
— Eu. — Ellie ri da minha conclusão, mas falei a verdade,
menos a parte das lágrimas, a não ser que sejam de alegria, ou de
prazer. Alguma mulher já chorou de prazer? Preciso pesquisar
sobre isso.
— Tem certeza que não vou atrapalhar vocês?
— Não, você já conhece meu irmão e a minha cunhada,
agora só falta conhecer o resto da minha família.
— E você acredita que a melhor forma de conhecê-los é
ajudando na mudança? Por que acho que estou sendo usada?
— Porque você está, mas infelizmente, dessa vez é pelo
meu irmão. Agora vem, vamos conhecer minha família.
Saímos do apartamento e vamos até a garagem. Minha
mãe ainda não liberou meu carro, mas Jace me deixa usar o dele,
enquanto ele usa a minha moto. O que não é uma troca justa.
— Hoje você parece mais séria, algum problema? —
pergunto quando entramos no carro.
— Minha orientadora da faculdade me ligou.
— Quando?
— Ontem à noite. Ela me avisou que o motor está pronto e
parece que farão um evento para a apresentação. Está sabendo de
algo?
— Não, esses dias não tenho ido à WR, e meus pais e eu
mal nos vimos. Sei que viajaram semana passada, e que era algo do
trabalho. Mas isso é bom, não é? Você estava trabalhando junto
com a equipe que criou o novo motor.
— Sim, é ótimo, na verdade. Consegui acompanhar mais
da metade do processo, só não participei da finalização, mas sim,
trabalhei tanto quanto qualquer um nesse projeto.
— E eu estou orgulhoso. Tem noção de que posso dirigir
um carro que terá um motor criado por você?
— Isso, se você conseguir melhorar suas notas.
— Ah, eu consigo, você sabe disso.
Dou a partida e logo estamos a caminho da casa nova do
meu irmão. Ele e Sky decidiram se mudar para um lugar maior.
Com a família aumentando, ela queria que seu filho – ou filha –
tivesse a mesma liberdade que ela teve quando criança. Uma casa
com quintal grande para correr.
Ellie continua séria durante todo o percurso, e me pergunto
se não tem um algo a mais na ligação que recebeu. Quando
começamos a namorar, fui sincero a respeito do motivo do meu
castigo e porque meus pais exigiram que minhas notas
melhorassem.
Eu queria a vaga na equipe, e esse é o primeiro passo. Ellie
não me julgou, pelo contrário, estudávamos todos os dias depois da
aula, durante três horas seguidas; a próxima hora era gasta comigo
dando os melhores orgasmos da vida dela.
Ainda não transamos, mas já tínhamos feito praticamente
tudo que eu conhecia que não envolvia penetração. Ela adorava
cada experiência, e a primeira vez que deixei que ela me
chupasse... Puta que pariu, foi um desastre que acabou com os dois
rindo, ou melhor, ela mais do que eu, já que estava com as partes
baixas um pouco doloridas por causa da mordida que levei.
— Do que está rindo? — pergunta. Eu nem notei que
estava fazendo isso.
— Apenas lembrando da primeira vez que você colocou
meu pau na sua boca.
— Você poderia ser um pouco menos esmerado quando
descrever um boquete. E aquilo foi um acidente, que não se repetiu,
diga-se de passagem. — Ela também está se divertindo com a
lembrança.
— Graças a Deus, ou nossa próxima geração estaria
comprometida. — Sorrio, ela não.
— É aqui? — Ellie olha para frente. Estamos na frente do
portão da casa do Jace, e a visão é mesmo espetacular. Há um
longo caminho de árvores que leva até a casa, formando um túnel.
Mas algo me diz que ela apenas mencionou isso para mudar o foco
da conversa.
— Preparada para entrar no meu mundo?
— Acha que posso sair correndo?
— Sem chance.
— Droga — resmunga, mas sei que está tentando não
sorrir.

Louco. Essa palavra define muito bem como foi nosso


domingo. Minha mãe parecia que explodiria de tanta felicidade
quando apresentei Ellie como minha namorada, e quando contei
que ela trabalhou no novo motor da WR Racer, juro que pensei que
ela ia beijar minha namorada.
Na boca.
Meu pai, como sempre, foi muito educado. Diferente do
meu tio Oliver, que fez questão de contar cada momento
constrangedor da minha vida. Detalhadamente.
Mas Ellie estava com um sorriso no rosto sempre, e um
sorriso real, daqueles que eu amava ver, e isso só me fez amar
minha família ainda mais, e ela também.
Porra, eu a amo. Amo cada sorriso que ela dá, cada palavra
que sai da sua boca que não faço ideia do que significa. Cada vez
que retira os óculos para limpar as lentes. Cada um desses gestos,
eu amo. Até sua – nada convencional – forma de divertimento. Eu
amo.
— Está com um sorriso idiota — diz Jace quando se senta
ao meu lado, entregando uma garrafa de água. Nossos pais foram
embora e agora estamos somente nós quatro, e a Hori, que não para
de correr pelo quintal com a M’s.
— Só estava pensando. — Olho para frente e vejo Sky e
Ellie, que estão sentadas na grama observando M’s jogar a bola
para Hori.
— Pensando nela? — Aponta para Ellie.
— Sempre nela — confesso. — Quando você soube que
amava a Sky? — pergunto, e Jace demora um pouco para
responder.
— Sempre que penso sobre isso, nunca consigo chegar a
uma resposta concreta. Acho que desde que entendi o que o amor
significava, eu já sabia que era isso que sentia por ela.
— Por isso você nunca transou com ninguém? Por que a
queria?
— Sim, ela já tinha a parte que importava, mas eu queria
que tivesse tudo.
— A Ellie... ela é...
— Virgem — conclui.
— E antes que pense alguma besteira, estou conversando
contigo sobre isso porque você é meu irmão, e não vou falar sobre
sexo com a minha namorada com a mamãe. — Jace ri.
— Quem diria que eu estaria lhe dando conselhos sobre
sexo? Você é a última pessoa na face da Terra que eu imaginaria
me pedindo esse tipo de conselho.
— Não estou pedindo conselho, estamos conversando, é
diferente. E não me enche.
— O que quer saber durante a nossa conversa? —
Espertinho.
— Quero estar com ela, Jace, muito, mas respeito suas
escolhas, mesmo que isso me mate e me faça tomar tantos banhos
frios que perdi a conta.
— E então? — Ele me incentiva a continuar.
— Eu a amo.
— Provavelmente todos deduziram isso hoje. E não é pelo
fato de ela ser a primeira namorada que você nos apresenta
oficialmente, mas pela forma como você age em torno dela. Cara,
seus olhos brilhavam orgulhosos quando disse à mamãe que ela
trabalhou no motor, e se isso não for amor, não sei o que é.
— Por que é tão difícil dizer isso? Já disse que estou
apaixonado por ela, deveria ser mais fácil dizer eu te amo.
— Nem sempre.
— Para você foi.
— Para Sky, não.
— Droga.
— Você vai saber dizer no momento certo, só não espere
ouvir de volta, tudo bem? Às vezes os momentos certos não
coincidem. Comigo e com a Sky foi assim, e olhe como estamos.
— Sim, com um filho vindo e um cachorro.
— E esqueceu de mencionar felizes. Dê um tempo a ela,
Cam, e quando ela estiver pronta, você terá todas as partes dela que
deseja.
Olho novamente em direção a elas; Ellie está rindo de
algo, e de repente, vira. Nossos olhares se cruzam, e caramba, por
um momento, sinto que ela sente o mesmo que eu, mas no fundo,
sei que vai demorar até que eu tenha todas as partes que realmente
desejo. Porque no momento, a minha prioridade é o seu coração.

ELLIE
É fim de tarde quando conseguimos terminar de ajudar
Jace e Sky, e tive que dar o braço a torcer. Passado meu
nervosismo ao conhecer pessoalmente a família do Cam, ou
melhor, conhecer pessoalmente seus pais, donos da empresa para a
qual trabalhei duro em um projeto, a experiência foi bastante
divertida.
Agora estava sentada na grama conversando com Sky.
Estamos olhando M’s correr com Hori pelo quintal. As duas estão
se divertindo, enquanto nós não conseguimos nos levantar de tão
cansadas.
Sky só vomitou duas vezes durante o dia. Ela disse ter sido
um recorde, e mesmo ficando de repouso, sempre dava um jeito de
participar.
Já minha interação com M’s foi um pouco mais
complicada. De início, quando fui apresentada como namorada do
Cam, ela não aceitou muito bem. Mas quando ele deixou bem claro
que ela nunca ficaria de lado e disse que eu era uma cientista – o
que foi um exagero –, a garota passou a me ver com outros olhos.
— Sabe, estou muito feliz por ele — diz Sky. Ela me
flagrou olhando para Cam. — Nunca o vi assim, tão apaixonado, e
se for sincera, nem sabia que esse garoto sabia como amar uma
mulher que não fosse da família.
— Acha que ele me ama?
— Não, na verdade, eu tenho certeza. Logo você também
terá.
— Acho que o amor é tão complexo, quer dizer, como
saber que não é apenas desejo? Como diferenciar a vontade de estar
junto por um momento, da vontade de passar a vida inteira ao lado
de uma pessoa?
— Nossa, confesso que nunca pensei dessa forma.
— Eu penso, todos os dias para ser sincera.
— Talvez você precise parar de pensar um pouco. Deixe
que as coisas aconteçam entre vocês, e é capaz até que se
surpreenda. Assim como eu.
Ela passa a mão na barriga de quatro meses, que agora
parece uma pequena bola em seu abdômen.
— Bom, acho que vou deixar vocês um pouco a sós. —
Sky se levanta, e eu não ouso questionar, pois o lugar dela é
ocupado por Cam em seguida.
— Cansada? — Ele segura minha mão.
— Não tanto quanto pensei que ficaria.
— Quer ir embora?
— Ainda não, está uma tarde tão bonita, e acho que a M’s
está se divertindo bastante agora.
Cam a olha, vendo-a lançar a bola um pouco mais longe.
Hori dispara para buscá-la e rapidamente a entrega para a garota,
que repete o movimento.
— Preciso te contar uma coisa — digo o que está me
atormentando. Desde a ligação de ontem, não consegui dormir
direito.
— Pode falar. — Encolho minhas pernas, abraçando-as,
sem olhar para ele, mesmo sabendo que prefere conversar sempre
olhando nos meus olhos.
— Recebi uma proposta de emprego.
— Isso é uma ótima notícia. Ou não? — pergunta confuso.
— É, na verdade é a melhor notícia que alguém na minha
posição poderia receber. Mas a proposta é na Alemanha. — Dessa
vez eu me viro para olhar seu rosto.
— Você iria ano que vem, certo? Ainda estamos no meio
do semestre, e você precisa terminar esse ano na escola, foi isso
que a sua orientadora disse.
— Tecnicamente sim, mas a empresa não só me ofereceu
o emprego, como também a possibilidade de terminar meus estudos
lá. Não é um estágio, Cam. Serei a mulher mais nova a ocupar um
cargo importante. Minha orientadora ficou tão em êxtase com a
possibilidade, que me dispensou, e caso aceite, posso ir e não
precisarei ficar na escola.
— Está dizendo que vai embora?
— Estou dizendo que recebi uma proposta, e que não
decidi.
— Você pode ficar aqui, trabalhar na WR, posso conversar
com meus pais.
— Não é disso que se trata, Cam. Não quero ser a sombra
de ninguém, quero fazer a minha história, entende?
— E eu não faço parte dela — conclui. — Ellie... — Ele
segura minhas mãos. — Você pode ficar aqui, terminar sua
faculdade, é meu último ano, e depois disso eu serei piloto,
podemos morar juntos.
— Não, Cam, não podemos, estamos juntos há o quê? Três
meses?
— Meus pais precisaram de menos que isso para saberem
que se amavam, e estão juntos até hoje. Minha mãe é feliz com a
decisão que tomou.
— Mas eu não seria, e isso não é justo com a gente. Meus
pais passaram a vida inteira juntos, e hoje estão em um
relacionamento bizarro. Como posso confiar em amor quando
existem tantas versões dele? Como sei que é para sempre se ainda
nem posso beber legalmente em um bar? Você consegue entender
onde quero chegar?
— Acho que entendo, claro como a luz do dia.
— Cam, por favor, ainda não decidi nada. Recebi a
proposta ontem, as coisas entre nós estão avançando tão rápido... É
muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e estou tentando lidar
com tudo isso.
— Sabe o que eu acho? — Ele se levanta. — Que você
sabe o quer, só não tem coragem de dizer.
Cam volta para dentro da casa, me deixando sozinha. M’s
ainda brinca, correndo e sorrindo, completamente alheia à
discussão que acabou de acontecer, e que despedaçou meu coração.

Cam não falou comigo durante a semana. Basicamente,


voltou a ser o babaca arrogante que me ignorava quando cheguei.
Sem ligações de bom-dia, sem mensagens ou bilhetes engraçados
durante a aula.
Nem mesmo nossas horas de estudo foram mantidas.
Percebi que ele havia desistido na segunda-feira. Depois de me
ignorar na escola, ele não apareceu para estudarmos juntos.
E como se isso não fosse o suficiente, o idiota do meu
irmão estava me dando o mesmo tratamento, porque claro, Cam
disse a ele que eu ia embora para a Alemanha.
— Por que você não usa aquele vestido preto?
— Não é muito sexy? — Retiro a roupa e a analiso.
Heather está ajudando a me arrumar, e hoje resolvi que a minha
vida não gira em torno de Cameron Willers, então aceitei sair para
uma festa que alguém – que não faço ideia de quem seja – está
dando.
Segundo Heather, a escola inteira estará lá.
— Ele é lindo, e é uma festa, repleta de garotos bonitos
que estarão todos interessados em você, já que o boato que Cam e
você terminaram já espalhou mais rápido que erva daninha.
— Não terminamos. — Pelo menos eu acho que não.
— Bom, seja como for, ele não confirmou se vai, então...
— Ela pega o vestido da minha mão. — Use esse e arrase.
Olho para o meu celular e não há nenhuma mensagem
nova, então decido aceitar de uma vez a sugestão de Heather e
começo a me arrumar. Uma – torturante – hora depois, estou
descendo as escadas, devidamente vestida e maquiada. Mas quase
perco o equilíbrio quando a porta da frente abre, e junto com Ethan,
entra Cam.
Ele está lindo, vestido de preto da cabeça aos pés, assim
como eu. Sua camisa está enrolada até o antebraço, deixando-o
com um ar sexy e perigoso.
— Sério, não sei como você me convenceu a não ir mais
— Ethan diz, mas assim que os dois notam minha presença, a
atmosfera do ambiente muda. — Aonde está indo?
— Vou sair com a Heather — digo, mas sem olhar para
Cam, porém sei que ele não tira os olhos de mim. Eu posso senti-lo
me analisar.
— Onde estão seus óculos? — é o que ele pergunta.
— Não gosto de usá-los quando vou a uma festa.
— Não sabia disso — diz e vejo Ethan sair de fininho da
sala.
— Bom, acredito que nunca fomos a uma festa juntos.
— Poderia mudar isso.
— Sério? E quando seria? Quando finalmente você
parasse de agir como um adolescente mimado e voltasse a falar
comigo?
Ele sorri, abaixa a cabeça e toca a sobrancelha, mas
quando ergue o rosto e me encara, toda diversão que havia em seu
olhar se esvai.
— Ethan?! — ele grita. — Mudei de ideia, temos uma
festa para ir.
— Isso só pode ser piada. — Começo a ficar irritada, e só
piora quando meu irmão grita de volta dizendo que estará pronto
em cinco minutos.
— Quer carona? — Ele cruza os braços.
— No dia em que porcos voarem. — Passo por ele e vou
em direção à porta, mas ele segura meu braço me impedindo.
— Posso voar em uma pista, não deve ser tão difícil fazer
um porco voar. — Noto o desafio na voz dele. Mas não me dou por
vencida, se ele me ignorou a semana inteira, agora é a minha vez
que dar o troco.
— Sabe, Cameron, isso é o mais perto que você vai chegar
de mim essa noite.
— Estamos voltando aos jogos?
— Parece que eles nunca terminaram. Agora, se me der
licença. — Olho para sua mão ainda em meu braço. Cam entende o
recado e recua, mas quando alcanço a porta, não me contenho. —
E, Cameron? — Viro para encará-lo. — Tire o olho da minha
bunda.
— Só pra você saber, você tem uma excelente bunda.
— E só para você saber, não pretendo deixar você chegar
perto dela. — Saio batendo a porta com força. Mas consigo ouvi-lo
dizer:
— Vejo você e a sua bunda deliciosa na festa.
Idiota.

— Tem certeza que não vai beber? — pergunta Heather


pela décima vez. Já estamos na festa há mais de duas horas e
dispensei não só as bebidas alcóolicas, mas também metade do
time de futebol da escola.
Não estou com vontade de beber, muito mesmo de
paquerar com quem quer que seja. Até porque, suspeito que
qualquer tentativa seria um fracasso, já que Cam está a poucos
metros de onde Heather e eu estamos.
Na verdade, nessas duas últimas horas, sempre que me
viro, eu o vejo. Inclusive na pista de dança. Ele teve a coragem de
dançar com a Tris e sua turma de seguidoras. Sério, ele dançou
com cada uma delas. E sempre que as tocava, seus olhos me
procuravam. Era uma provocação clara, uma que eu estava caindo.
— Acho que vou para casa. Sinceramente, essa festa já
deu o que tinha que dar, não vejo como a minha noite poderia ficar
pior.
As palavras saem da minha boca como uma maldição,
porque ao invés de obter uma resposta da Heather, é Cam quem
responde:
— Posso levar você. — De onde ele surgiu?
— Não precisa, sou plenamente capaz de pegar um táxi.
— Assim como sou plenamente capaz de te dar uma
carona, já que estou indo embora.
— Não vai ficar mais? Pensei que estava gostando de
dançar.
— Ah, não sabia que você estava me observando.
— Jura? Mas não, não estava observando você. Bem,
cheguei a ver algumas vezes que seus olhos não saíam da minha
bunda.
— Que bom que você mencionou, porque acredito que ela
chamou não só a minha atenção, mas também da porra do time
inteiro de futebol.
Ele parece irritado, e com ciúmes. Gosto disso.
— Com ciúmes, Cameron? — Cruzo os braços
aguardando sua resposta. Cam se aproxima, mas não me intimido, e
quando penso que vai responder com sarcasmo, ele me surpreende.
— Deixa eu te levar, Ellie. — Toca meu rosto. — Senti
sua falta, só quero estar um pouco com você.
Droga. Eu cedo.
— Tudo bem, vou só avisar a Heather.
— Sua amiga está dançando com seu irmão, nesse
momento. — Cam aponta para a pista, e vejo que tem razão.
Heather e Ethan estão dançando juntos, muito juntos.
— Tudo bem, vamos embora.
Deixo Cam me conduzir para fora, e quando chegamos até
onde o carro está estacionado, noto que é um modelo diferente do
que ele usava.
— Carro novo? — pergunto ao observar o veículo, não sei
dirigir, mas caramba, eu entendo de cada peça que forma o motor
dessa máquina. É um Mazda RX-7, modelo 97. Um clássico que
vai de zero a cem em cinco ponto três segundos.
— Não, é meu carro velho. Meus pais me deram um voto
de confiança e me devolveram.
— Uau, eu adoro esse carro. — Sou sincera.
— Quer dirigir? — Ele segura as chaves no ar.
— Apesar de adorar a ideia de poder dirigi-lo, não posso.
— Por que não?
— Não sei dirigir.
— Oi?! Está falando sério?
— Estou. Não consegui passar no teste, fiquei nervosa e
narrei com detalhes o que acontecia com o corpo humano caso um
carro batesse a sessenta por hora. Acho que o fiscal não gostou
muito.
— Deus, não acredito que amo uma garota que nem sabe
dirigir.
Cam ri, sacudindo a cabeça e, em seguida abre a porta do
passageiro. Não sei se ele percebe o que acabou de me dizer, mas
eu, sim, cada palavra. Ele disse que me amava. E foi de uma
maneira tão natural, tão sincera.
— Se eu pedir para não me levar para casa, o que você
faria? — As palavras saem da minha boca assim que penso sobre o
que quero. Não quero pensar muito sobre isso, apenas sobre as suas
palavras e como também senti sua falta.
— Para onde quer ir?
— Qualquer lugar que queira me levar.
— Ellie...
— Por favor, Cam.
— Preciso perguntar uma coisa antes de sairmos, na
verdade, são duas. — Cam vira o rosto na minha direção. — Quero
saber se você tem certeza disso, e se já tomou uma decisão sobre a
Alemanha.
— Tenho certeza, e também já tomei minha decisão.
Cam apenas me encara por alguns segundos, e sem dizer
mais nada, liga o motor do carro e nos leva até o antigo
apartamento do Jace.
CAM
Odeio perder. Sempre odiei. Desde pequeno sempre fui
muito competitivo, e raramente não conseguia alcançar meu
objetivo.
Esse momento raro estava acontecendo agora, e eu sabia
disso, ainda assim, não conseguia dizer não. Chame isso de
masoquismo, eu chamo de amor.
Agora estou no apartamento que era do Jace, e ainda há
alguns móveis aqui, incluindo a cama, para onde estava levando a
Ellie nesse exato momento.
Ela andava na minha frente, enquanto minhas mãos
seguravam seu quadril, pressionando sua bunda contra minha
ereção.
Passei a festa inteira excitado, apenas ao vê-la dançar.
Provoquei seus ciúmes porque estava adorando vê-la irritada, e
também porque estava com ciúmes de cada babaca que se
aproximava dela.
Só que quando ela insinuou que não queria ir para casa, a
brincadeira acabou, e soube naquele exato momento que estava
perdido.
A porta do quarto abre e entramos aos tropeços. Ellie ri da
situação, e eu a puxo, colando nossos corpos.
— Tem certeza disso? — pergunto mais uma vez. — Vou
fazer amor com você e depois vou te perder, é isso?
— Cam, não precisa ser assim. — Ela tenta tocar meu
rosto, mas não permito.
— Só quero que me diga a verdade, Ellie, porque quando
eu estiver dentro de você preciso saber o que esperar, preciso que
quebre qualquer esperança que eu tenha agora.
— Cam...
— Por favor.
— Vou embora daqui a uma semana. Dei minha resposta a
eles hoje de manhã. — Fecho os olhos reprimindo a vontade de
gritar.
— Então acho que tenho pouco tempo, não é?
— Podemos passar essa semana juntos, e depois...
podemos tentar seguir juntos, Cam. Existem muitos
relacionamentos à distância.
Eu quase rio da sua sugestão, quase.
— Se você quiser isso, também precisa saber o que
esperar, Ellie, e eu só te prometo essa noite. Ela inteira, só nós dois.
Farei amor com você até esquecer o porquê eu te odeio nesse
momento. Farei amor com você até esquecer que te amo. Mas é só
isso, só hoje. Porque sou o cara que gosta de tocar, abraçar, e não
posso ter isso através de um maldito computador. Então se você
quiser desistir, esse é o momento, porque se eu começar, não vou
parar.
Ellie me olha por alguns segundos, e seus olhos começam
a encher de lágrimas, e leva tudo de mim para não confortá-la.
Nesse momento, quero que ela sinta a mesma coisa que eu, quero
que ela sofra.
— Você é a única pessoa em quem confio, e a única que
eu desejo.
Ela começa a tirar o vestido, e quando o tecido desliza
pelo seu corpo, caindo no chão, vejo que está usando apenas uma
pequena calcinha. Meu pau reage imediatamente, ela é uma visão e
tanto para ser ignorada. Retiro as minhas roupas em seguida.
Quando estamos ambos nus, ela me abraça e me beija
desesperadamente. Toca-me com uma necessidade insana. Ela me
leva para cama com urgência.
E logo, cada um dos seus gestos é retribuído, com muito
mais intensidade. Porque quero que ela tenha tudo essa noite. Que
saiba exatamente o que está deixando para trás.
— Abra mais as pernas — peço enquanto coloco o
preservativo. Ela está ofegante, assim como eu, isso somente com
beijos. Não a fiz gozar ainda, pois quero fazer isso quando estiver
dentro dela. — Relaxe, está bem?
— Tudo bem.
— Vou devagar. — Ela morde o lábio, assentindo, e então
começo a penetrá-la, devagar como prometi, sentindo seus
músculos esticarem aos poucos. Nossos olhos estão abertos,
absorvendo esse momento — Ellie?
— Sim.
— Eu te amo. — Não a deixo falar, cubro sua boca com a
minha e a penetro mais rápido, rompendo a barreira até que ela está
totalmente preenchida. Sinto como seu corpo fica tenso,
provavelmente pela dor, mas ela não para de me beijar, e juntos,
encontramos nosso ritmo.
Um ritmo que despedaça cada parte do meu coração, a
cada vez que a penetro. Cada vez que a ouço gemer meu nome.
E quando gozamos, a única coisa que consigo dizer é:
— Eu te amo.
Maybe together we can get somewhere
Talvez possamos ir juntos a algum lugar
anyplace is better
Qualquer lugar está bom
Starting from zero got nothing to lose.
Começar do zero sem nada a perder
Fast Car – Tracy Chapman
ELLIE
Minhas mãos tremem tanto que mal consegui segurar meu
crachá quando precisei apresentar para ter acesso ao boxe. O
segurança apenas sorriu, gentil, provavelmente acreditando que
estava nervosa por estar em um ambiente como esse. Mas meu
nervosismo não tinha nada a ver com isso.
Carros fazem parte do meu dia a dia. Agora, a pessoa que
provavelmente está dentro desse boxe…
Meus passos vacilam quando entro e vejo várias pessoas
andando de um lado para o outro. O carro principal está parado no
centro, como uma obra de arte a ser apreciada. Instintivamente
minha mão é atraída para ele. Traçando os contornos da lataria, não
só projetei o motor que está sendo usado por eles nessa temporada,
mas fui a responsável pelo novo design do carro também.
A nova suspensão, agora mais alta para melhorar o fluxo
de ar para a parte traseira, a entrada de ar acima da cabeça do
piloto. O piloto. Minha mão toca o nome dele que está impresso na
traseira do carro; meus dedos tremem apenas me deixando ciente
de que a qualquer momento estarei frente a frente com ele.
— Oi, posso ajudar? — Uma voz me faz saltar, como se
tivesse sido pega cometendo um delito.
— Desculpe, eu sou…— O estranho olha o meu crachá e
sorri.
— Senhorita Mitchel, é um prazer enfim conhecê-la. —
Ele estende a mão e eu a aperto. — Sou Brandon, chefe da equipe.
— É um prazer.
— Estava admirando sua criação? — Aponta para o carro
e sinto meu rosto esquentar de vergonha. Sim, definitivamente fui
pega em flagrante. — Eu não culpo você, se tivesse sido
responsável em criar o nosso melhor carro até agora, também
babaria em cima dele. — Brandon sorri, obviamente se divertindo
com meu constrangimento.
— Mais ou menos isso — respondo ainda sem jeito.
— Venha, vou apresentar você ao resto da equipe. Estão
todos na sala observando nosso piloto testar o motor novo.
Droga. Paro de andar no mesmo instante. Olho para a
porta a nossa frente. Todos estão na sala. Foi o que ele disse.
Então…
— Você está bem? — pergunta, e só aí noto que estou
tremendo novamente. Droga, vir até aqui não foi uma boa ideia,
aceitar esse emprego não foi uma boa ideia.
— Estou bem, só um pouco…
— Ansiosa? Porque aqui todos estamos, o motor que você
criou está sendo testado agora, claro que você está nervosa para
saber o resultado.
É, quase isso. Penso, mas não falo, apenas dou um sorriso
fraco e o aguardo abrir a porta que me levará direto para o meu
passado.
Um passado que deixei há sete anos.
Brandon abre a porta me dando passagem, há várias
pessoas aqui, e todas elas estão focadas nas telas. Olho para uma
delas e vejo o carro passar como um raio pela pista.
Então percebo. Ele não está na sala, está testando o motor.
Somente ele seria capaz de dirigir a essa velocidade em um teste.
— Brandon? — um rapaz loiro chama. — Ele não está
diminuindo a velocidade.
— Droga. Me dê isso. — Brandon pega o fone que usam
para se comunicar com os pilotos. — Isso não é hora de brincar,
Willers.
O chefe de equipe diz, mas não presto atenção, pois estou
focada na tela onde o vejo dar mais uma volta.
— Porra, Cam, será que você pode, pelo menos uma vez,
seguir o protocolo? — Brandon parece ainda mais irritado. Não
ouço a resposta, mas se bem me lembro, certamente foi alguma
frase arrogante.
— Ouça — Brandon chama minha atenção —, que tal
você falar com ele?
— Eu?! — Minha voz sai em um tom alto demais e todos
os olhares estão em mim. Ótimo.
— Sim, quem sabe ele escuta alguém profissional, porque
eu, já desisti. Ele vai estourar esse motor antes mesmo que a gente
consiga usar em uma corrida oficial.
— O que quer que eu diga? — Olho para Brandon,
assustada quando ele apenas coloca os fones nos meus ouvidos.
— Apenas diga quem você é, e avise que se ele continuar
dessa forma, vai explodir o motor.
Olho novamente para a tela. Cam está correndo a uma
velocidade estúpida para um teste, mas diferente do que todos
pensam, o motor não vai decepcionar. Não quando fui eu que o
criou, especificamente para ser usado por ele.
Quando tento devolver os fones, Brandon já está usando
outros, e então meu coração dispara quando ouço a voz dele.
— Porra, cara, esse motor… huuum... — Cam geme. — É
como se eu estivesse transando, caralho, meu pau nunca esteve tão
duro.
Todos em volta começam a rir, inclusive Brandon, até que
lembram da minha presença.
— Desculpe por isso — diz ele, cobrindo o microfone com
a mão. — Cam, quero que pare de transar com o motor e escute a
voz da razão aqui, certo?
— Corta essa, Bran, não vou diminuir meu ritmo, o carro
está respondendo bem. — Brandon olha para mim e movimenta a
mão me incentivando a falar.
— É... hum… oi? — Sinto-me patética.
— O quê? Quem está aí? — Sua pergunta faz meu coração
acelerar ainda mais.
Estou tão nervosa que tenho medo de sair correndo.
— Hora de maneirar a boca, Cam, temos uma dama na
linha. Ela é a nossa nova engenheira chefe — diz Brandon, e juro
que posso ouvir as batidas do meu coração, mesmo usando os
fones. — Quem sabe ouvindo a criadora do motor, você não escute
dessa vez? Então seja educado, e dê as boas-vindas a Eleanor.
Um, dois, três segundos passam. Olho para o monitor e
vejo que o carro começa a desacelerar. Mais um, dois, três
segundos, até que a voz dele penetra no meu ouvido, só que dessa
vez, todo o tom brincalhão se foi.
— Ellie?
— Oi, Cameron — é o que consigo dizer, até ouvir
Brandon xingar.
— Porra, Cam, o que você pensa que está fazendo?
Todos olham para o monitor para ver Cameron Willers
com o carro parado no meio da pista de corrida.
— Avisem aos outros que temos um carro parado! —
ordena Brandon e todos começam a falar ao mesmo tempo. —
Cam, estou falando sério! Que porra você pensa que está fazendo?
Há carros na pista, merda, você quer provocar um acidente?
Cam não responde. Não há nenhum sinal de que ele possa
ter ouvido.
— Merda! — Brandon grita novamente. — Conseguiram
avisar?
— Sim, só havia mais dois pilotos na pista e eles já foram
informados — um dos caras responde.
Olho para o monitor e o carro está parado, porém Cam
ainda não saiu.
— Cam? — digo e aguardo. — Está me ouvindo?
— Infelizmente. — Respiro fundo tentando controlar
minhas emoções. Todos aqui estão ouvindo nossa interação, mas
resolvo ignorar minha vergonha, focando apenas nele.
— Você precisa sair da pista.
— O que você está fazendo aqui? — ele me corta. — Que
merda acha que está fazendo aqui?
— Cameron, vamos conversar.
— Não me chame de Cameron, porra! — ele praticamente
grita e eu me assusto.
— Tudo bem, acabou o show — Brandon diz enquanto
manda todos retirarem os fones de ouvido. — Não sei o que há
entre vocês dois, mas espero que resolvam — diz, em seguida ele
retira os próprios comunicadores.
Deixando somente nós dois.
— Não acredito que ninguém me disse que foi você quem
fez o motor. Caralho, foi você que redesenhou a porra do meu
carro. — Ouço um barulho e imagino que tenha socado algo.
— Precisamos conversar — insisto.
— Se quiser isso, sabe onde me encontrar, porque não vou
sair daqui.
— Você quer que eu entre na pista? — pergunto, surpresa.
Brandon me olha e balança a cabeça, já que nem ele acredita no
que acabei de ouvir.
— Cameron Willers, volte para o boxe imediatamente, ou
eu mesma irei te buscar.
Todos se viram para olhar a dona da voz que assumiu o
controle. Leah Willers está com um fone de ouvido. Droga, será
que ela ouviu tudo?
— Agora, Cam, e não estou brincando — ordena e retira
os fones, em seguida caminha até onde estou e pega o meu,
deixando-o em cima da mesa. — Bem-vinda à equipe, Eleanor.
Olho para sua mão estendida. Não fazia ideia que ela se
lembrava de mim, mas pelo sorriso em seu rosto, acredito que sabe
exatamente quem sou, ou melhor, quem fui para seu filho.
— Obrigada, senhora Willers, é uma honra trabalhar com
vocês.
— Me chame apenas de Leah, tudo bem? — Nós nos
cumprimentamos. — E a honra é toda nossa em tê-la aqui conosco.
Eu gostaria de conversar com você, em particular, pode ser?
— Claro.
— Brandon, quando meu filho chegar, peça para me
encontrar no escritório. Agora, que tal tomarmos um café?
Vamos juntas para o escritório; a sala está repleta de
troféus conquistados pela equipe, e fotos, muitas fotos, a maioria
delas de Cam. Todas na primeira colocação.
Seu nome sempre foi uma referência quando se fala sobre
Fórmula 1. Ousado, não tem medo de arriscar. Cam é um piloto
como poucos, não importa o tempo, ele se adapta.
— Sente-se. — Leah indica a cadeira e vai até uma mesa
cheia de xícaras e uma garrafa térmica. — Como prefere seu café?
— Puro, obrigada. — Ela me serve para em seguida
sentar-se à frente da mesa.
— Mais uma vez, gostaria de deixar bem claro que é uma
honra tê-la aqui conosco. Sei que você tinha uma vida na
Alemanha, e também sei que não é fácil deixar para trás tudo
aquilo que conquistamos.
— Eu agradeço pela oportunidade, mas deixar a Alemanha
não foi tão difícil como pensei. Quando fui embora, abandonei
muita coisa aqui, então essa volta é como um...
— Recomeço? — pergunta ao perceber minha dificuldade
em falar.
— Isso.
— Ouça, aqui na WR Racer somos uma família.
Trabalhamos todos em sintonia, e vou tentar ser bastante honesta
com você, tudo bem? — Concordo e ela prossegue: — Quando os
possíveis nomes para o cargo começaram a ser cogitados, Jace
trouxe o seu à mesa, e confesso que de início fui contra, mas sei
reconhecer um bom trabalho, e o que fez ao longo desses anos
trabalhando naquele centro de desenvolvimento, foi espantoso.
— Obrigada — agradeço, mas sei que ela apenas
começou.
— Cam não estava sabendo da sua contratação. Ele não
fazia ideia de que você era a responsável pelo novo carro dele, e
preciso te dizer, meu filho está apaixonado por ele. — Sorrio,
porque essa era a minha intenção ao criar cada linha que formava
aquele carro. — Não era dessa forma que pretendia contar a ele,
mas agora parece que o mal está feito e precisamos estar de acordo.
— Ele não me quer aqui. Tivemos uma história, senhora
Wi... Desculpe, Leah, e essa história não terminou de uma forma
boa.
— Meu filho tem inúmeros defeitos, como mãe posso
enumerar cada um deles, e acredite, a lista é enorme, mas como
mãe também senti o sofrimento dele quando você foi embora.
Naquele dia, você levou uma parte do meu filho com você.
— Sinto muito.
— Não sinta, mas quero que seja honesta e me diga: por
que aceitou esse emprego? Sei que você estagiava na empresa que
desenvolveu nosso motor há sete anos, e que foi maravilhoso, por
falar nisso.
— Obrigada, trabalhamos muito duro para criar algo
inovador.
— Sei disso, e sei também que seu nome não apareceu nos
créditos quando o trabalho nos foi apresentado. Acho que se não
fosse Cam ter contado quando ajudamos na mudança de Jace e
Sky, provavelmente eu nem saberia que havia uma mulher
brilhante por trás daquele trabalho. Você soube que foi o Cam que
fez o primeiro teste?
— Não fazia ideia — confesso, surpresa. Quando aceitei o
emprego na Alemanha, estava ciente que meu nome não apareceria
quando o motor da WR Racer fosse apresentado, fui embora antes
da festa de lançamento, e nunca mais olhei para trás.
— Sim, ele fez, e foi a primeira vez que vi meu filho
chorar. Agora, preciso que você me responda o motivo de ter
aceitado vir trabalhar aqui, porque eu preciso saber se terei que
lidar novamente com meu filho de coração partido.
— Eu...
Somos interrompidas quando a porta abre e Cam entra
parecendo furioso. Seu macacão está aberto, com a parte superior
pendendo no quadril, a camisa branca está transparente, molhada
de suor. O rosto dele está vermelho, mas suspeito que não seja pela
corrida.
É por causa da minha presença.
— Sente-se, Cam. Acredito que você se lembre da
Eleanor, então não vou prolongar demais nossa conversa.
— Sim, eu me lembro dela. — Ele se senta na cadeira ao
meu lado. — Lembro de cada maldito detalhe dela.
O olhar que ele me dá causa um arrepio por todo meu
corpo. O homem que está na minha frente agora não lembra em
nada o garoto de dezessete anos pelo qual me apaixonei.

CAM
A vida é boa, incrivelmente boa. Ou era, até que a mulher
que quebrou meu coração em pedaços impossíveis de serem
restaurados, resolveu voltar. E não só isso, ela estava aqui, no
autódromo, no boxe da minha equipe. Sua voz penetrou nos meus
ouvidos deixando-me tonto, e levou tudo de mim para que eu não
perdesse o controle.
Foi necessário parar o carro e arriscar a minha segurança
antes que fizesse algo muito pior, como, por exemplo, ir correndo
de volta para o boxe.
Todos estão em silêncio quando retorno, até mesmo
Brandon, que apenas pega o meu capacete e informa que minha
mãe está me aguardando no escritório.
Só que mesmo que eu tenha ouvido sua voz, mesmo
sabendo que ela estaria no escritório com a minha mãe, nada,
absolutamente nada poderia ter me preparado para a visão na
minha frente.
Ellie estava sentada, mas no instante em que entrei na sala
ela se virou, e porra, os anos só lhe fizeram bem. Seu cabelo está
mais longo e mais claro, e já não usa mais os óculos. Não posso
afirmar nada sobre seu corpo, pois está sentada, porém, ela parece
mais madura, mais segura.
Mais sexy.
Inferno.
— Sente-se, Cam. Acredito que você se lembre da
Eleanor, então não vou prolongar demais nossa conversa. — Minha
mãe aponta para a cadeira vazia ao lado de Ellie.
— Sim, eu me lembro dela — comento ao me sentar. —
Lembro de cada maldito detalhe dela.
Dos seus beijos, da forma como ela me enfrentava, e de
como seus olhos brilhavam quando eu a fazia gozar. Lembro de
cada detalhe.
— Eleanor é a nossa nova colaboradora, e irá trabalhar
conosco. Ela fez parte da equipe que criou nosso novo motor. Na
verdade, ela foi a responsável pelo projeto, não só do motor como
do design do carro.
Tento manter uma expressão estoica. Nem fodendo darei o
prazer de vacilar, ou de dizer que o trabalho que ela fez é perfeito.
Não, não faço isso, ao invés de elogiar, faço aquilo que sempre
gostei de fazer quando se trata dela.
— Você colocou alguma cláusula no contrato sobre
abandono de emprego? Não sei se você sabe, mãe, mas sua
funcionária tem uma grande tendência a abandonar as coisas.
Minha mãe respira fundo, e acho que está tentando se
controlar. Tenho certeza que se a Ellie não estivesse presente, já
teria levado um safanão, ou dois.
— Assinei um contrato de três anos, e jamais quebraria um
acordo, sou profissional.
Ah, ela não disse isso.
— Tem razão, desculpe, mãe, você tem uma excelente
profissional aqui, uma que sempre coloca a carreira em primeiro
lugar — digo cada palavra olhando para Ellie.
— Já chega — Minha mãe interrompe. — Cam — ela me
encara e em seguida olha para Ellie —, Eleanor, vocês dois terão
que trabalhar juntos. Hoje temos uma festa onde estará presente
toda a imprensa, então sugiro que se tiverem assuntos inacabados,
resolvam antes de darem as caras por lá, porque eu juro por Deus,
que se vocês dois não se comportarem, vou tratá-los como as
crianças que estão sendo.
— Festa? — Ellie pergunta, surpresa.
— Sim, desculpe se você não foi avisada a tempo, mas
teremos um evento hoje à noite e gostaria muito que estivesse
presente.
— Tudo bem, irei sem problemas.
— Ótimo, aqui estão algumas orientações, o endereço do
seu apartamento, entre outras coisas. Se precisar de algo pode falar
comigo ou Brandon.
— Obrigada.
Ellie pega os papéis e cumprimenta minha mãe, e então se
vira na minha direção e estende a mão. Penso se ignoro ou não,
mas minha mãe está me olhando de uma forma que faria até meu
pai ajoelhar. Não foi assim que ela me educou, então, levanto e
apertamos as mãos.
— Bem-vinda à WR Racer. — Nosso aperto é firme. A
suavidade da mão dela contrasta com a minha, e seu cheiro... Porra,
preciso me controlar para não farejá-la como um animal.
Ellie apenas assente e logo depois sai da sala. Praticamente
desabo na cadeira, cubro o rosto com as mãos e tento controlar a
vontade de gritar.
— Cam... — Sinto a mão na minha mãe no meu ombro.
— Por favor, agora não.
— Se acha que não pode lidar com essa situação, podemos
reverter.
— Não sou criança, mãe, posso lidar com isso. — Ela se
senta na mesa, parecendo pensativa.
— Farei tudo que estiver ao meu alcance para não te ver
sofrer, Cam, sabe disso, não é?
— Sei.
— É por isso que vou te dar um conselho, mas não como
mãe, e sim como mulher. Eleanor foi embora porque fez uma
escolha, e você também tinha uma escolha, Cam.
— Minha escolha era me conformar com um
relacionamento à distância.
— Sim, uma escolha que decidiu não fazer, e por conta
disso se tornou autodestrutivo. Mesmo com a ida dela, você se
manteve firme nos estudos, mas eu e seu pai sabíamos o que
aprontava nos fins de semana.
— Onde você quer chegar?
— Em você, em como acredito que tenha tomado uma
decisão ruim, e que agora com a volta dela, isso vai te bater com
força.
— Por que você não diz que ela tomou uma decisão ruim?
Ela foi embora, mãe, não eu.
— Quantas vezes você a procurou, Cam? — Ela cruza os
braços aguardando uma resposta que não vai obter. Eu não a
procurei, e nos últimos sete anos as únicas notícias que tinha dela
eram através do Ethan, ou quando lia algum artigo onde o nome
dela era citado. — Foi o que pensei, você é teimoso demais para
procurar uma mulher, não é? Mesmo que ame, como tenho certeza
que era o caso.
— Não a amo — digo tão rápido que minha mãe ri.
— Posso ver, pela maneira como você falou com ela
quando estava agindo como uma criança birrenta na pista. Deu para
ver muito bem que você não a ama.
— Você largou tudo para ficar com meu pai, e vocês são
felizes. Por que ela não podia fazer o mesmo? Dar uma chance para
nós dois? Ela poderia trabalhar conosco desde aquela época.
— Então é disso que se trata? — Ela ajoelha na minha
frente e segura minha mão. — Não use o meu relacionamento com
seu pai como parâmetro, Cam. Naquela época eu agi pesando todos
os prós e contras, meus sonhos mudaram quando me apaixonei pelo
seu pai. Seus sonhos mudaram quando você se apaixonou por ela?
— Não.
— Então, por que você acha que os dela deveriam mudar?
Ninguém com dezessete anos acredita que o amor é para sempre,
nem eu mesma acreditava. Quando conheci Jason, já tinha tido
minha cota de paixões. Cam — ela segura meu rosto com as mãos
e me inclino um pouco para que nossos olhos fiquem no mesmo
nível —, se você ainda a ama, é a sua chance de começarem uma
nova história. Não perca isso por causa da sua teimosia.
— Não sei o que fazer — confesso, fechando os olhos.
— Sabe, você sabe. É um Willers, e vocês sempre
conseguem o que, e quem, vocês querem de verdade. — Ela beija
minha testa e logo estou ouvindo a porta sendo fechada.
Minha mãe foi embora e deixou meus pensamentos ainda
mais confusos.
Mas há algo que não posso negar sobre o que ela disse:
Sou um Willers, e nós sempre conseguimos quem
queremos.
ELLIE
Voltar não foi a decisão mais difícil que tomei, nem de
longe. Na verdade, essa decisão já havia sido tomada antes mesmo
de receber a proposta da WR Racer, e sim, tinha tudo a ver com
Cam.
Quando embarquei para a Alemanha, estava indo em
direção aos meus sonhos, o futuro que batalhei para ter. E fiquei
muito orgulhosa de tudo o que consegui alcançar. Fiz meu nome no
mundo da mecânica, e agora, quando estou abrindo a porta do meu
novo apartamento, sei que tudo valeu a pena. Até mesmo ter
desistido dele.
Olho para o local, que não é grande, e ainda provisório. A
empresa cedeu para que eu possa me acomodar até encontrar um
lugar para morar definitivamente. Meus pais tentaram me
convencer a ficar na casa deles, mas já sou adulta, e minha visão
sobre o tipo de relacionamento que eles levam continua a mesma.
Ethan e Heather foram para Yale, e hoje, minha amiga – e
cunhada – é formada em História e meu irmão em Direito. Ambos
retornaram para Seattle e agora moram juntos em Greenwood. Não
estive presente durante esses anos, mas meu irmão chegou a me
visitar algumas vezes. E sempre que possível, conversávamos
através de chamadas de vídeo.
Meu telefone toca e sorrio ao ver o nome do meu irmão na
tela. Ele é exatamente a pessoa que preciso ouvir agora.
— Ei, Ginger!
— Sério, Ethan? Você precisa parar com isso.
— Nunca, e aí onde você está?
— No apartamento, acabei de chegar da WR Racer.
— Não sei por que você não quis ficar conosco, temos
espaço de sobra aqui em casa.
— Eu agradeço, mas você sabe que gosto de ter meu
espaço, e não estou nem um pouco a fim de ouvir você e a Heather.
— Sorrio.
— Bem pensado, irmãzinha. Então, você chegou a vê-lo?
— Caminho até o quarto e me sento na cama. Eu sabia que Ethan
perguntaria sobre Cam.
Logo após a minha mudança, Ethan me manteve
atualizada sobre como ele estava, até que um dia, as histórias
começaram a ficar doloridas demais e pedi para que não
conversássemos mais sobre ele.
Cameron fazia parte do meu passado, e era ali que eu
queria que ficasse. Só que não esperava que ele seria o meu futuro
também. Com dezessete anos, eu não acreditava em amor
verdadeiro. Ele foi o primeiro cara que beijei, o primeiro a quem
entreguei meu corpo e estava entregando meu coração. Como
poderia saber se ele era o meu para sempre?
Só que os anos não apagaram o que vivemos, pelo
contrário, cada homem que namorei depois dele não despertou
metade do que ele havia despertado em mim. Apenas um chegou
perto o suficiente, tão perto que cheguei a cogitar que ele fosse a
pessoa certa.
Até que ele disse duas palavras.
Duas palavras que me fizeram repensar toda a minha vida,
e finalmente decidir voltar para casa.
— Ginger? Ainda está aí? — Ethan chama minha atenção.
Fiquei tão perdida em pensamentos que esqueci que ele estava
aguardando uma resposta.
— Sim, desculpe. Eu o vi na empresa, tivemos um
encontro nada amigável.
— Você não esperava flores, não é mesmo?
— Tem razão, foi apenas... Não sei, um choque talvez?
— Juro que não entendo o que aconteceu com vocês, era
óbvio o quanto gostavam um do outro.
— Acho que faltou um pouco mais do que isso para
darmos certo.
— Ou um pouco menos. Ser menos cabeça-dura, por
exemplo.
— Isso também. — Sorrio, mas sei que ele tem razão.
— Ouça, eu mesmo não aprovei o que você fez, mas
sempre a apoiei em todas as suas decisões. Agora, o que pretende
fazer? Ainda sente alguma coisa por ele?
— Eu o amo, Ethan, essa é a verdade, e foi por isso que
voltei.
— E o Alemão?
— Klaus e eu não temos mais nada. Não vou mentir e
inferiorizar o que tivemos, mas o que sinto por ele não chega nem
próximo do que sinto pelo Cam.
— Nesse caso, acho que você vai ter muitos problemas
pela frente, irmã. Cam mudou muito, ele não é mais aquele garoto
que você conheceu.
— Percebi isso, mas você sabe que adoro problemas.
— Deus, isso vai ser divertido. — Ele ri. — Quer que
mande deixar suas coisas no seu apartamento?
— Na verdade, ainda não. Haverá uma festa hoje, e Leah
me convidou. Passarei aí mais tarde para me arrumar, e amanhã
podemos providenciar o resto.
— Acho que a minha diversão vai começar hoje à noite.
Cam enviou os convites para Heather e eu.
— Te vejo daqui a pouco.
— Até mais.
Assim que desligamos, meu celular vibra. Olho para o
visor e vejo que é uma mensagem de Klaus. Ignoro, pois
definitivamente não estou no clima para ouvir, ou ler, qualquer
coisa que ele tenha a dizer.
Preciso começar a pensar em como farei para ter de volta o
amor da minha vida. E estava disposta a rastejar se fosse preciso.
Só espero que não chegue a esse ponto. Seria um humilhante
demais.

A festa acontece em uma boate famosa no centro de


Seattle, no entanto, como vim com Ethan e Heather, não estou me
sentindo deslocada. Apenas um pouco desconfortável com a
atenção que recebemos na entrada.
É praticamente um evento com direito a tapete vermelho.
— Estou orgulhoso — diz Ethan assim que entramos.
— Por quê?
— Você atravessou o tapete vermelho e em nenhum
momento parecia que ia desmaiar. Totalmente diferente da menina
que queria morrer no primeiro dia de aula.
— Aquilo era diferente.
— Ela sempre parecia que ia morrer quando estava na
escola — diz Heather, e olho, incrédula, para a minha amiga.
Estamos ambas de braços dados com Ethan, uma de cada lado.
— Você é minha amiga, precisa estar do meu lado —
brinco.
— Você não foi uma boa amiga nos últimos anos, seu
irmão, sim.
— Essa doeu até em mim, Ginger. — Não tenho tempo
para responder aos dois, pois estamos próximo ao bar, e Cam está
bem na minha frente.
Cercado de pessoas. Agindo como se fosse um rei.
Talvez ele seja.
— Ei, cara! — Ethan é o primeiro a cumprimentá-lo. Noto
a surpresa no seu olhar ao me ver, mas ele disfarça muito rápido e
logo está cumprimentando Heather.
E está me ignorando.
— Vai mesmo fingir que não me viu? — Ele se vira e me
olha da cabeça aos pés.
— Quer mesmo que eu cumprimente você?
— Acho que Heather e eu vamos dar uma volta. — Ethan
pega a mão da noiva e sai como um rato fugindo de um navio
afundando.
— Então, vai responder minha pergunta? — diz Cam,
cruzando os braços. Todas as pessoas que estavam em volta dele
agora nos observam. O maldito quer dar um show.
— Desculpa, eu não falo a língua dos ogros. Você pode
repetir? Com um pouco mais de educação, que tenho certeza que
você tem? — Um pequeno sorriso surge nos lábios dele.
— Sempre me enfrentando. — Balança a cabeça de um
lado para o outro, depois se aproxima e inclina o rosto para falar ao
meu ouvido: — Olá, Ellie.
Sua voz causa arrepios por todo meu corpo, e ouvi-lo
chamar meu nome dessa forma doce, sensual, enche meus olhos de
lágrimas.
Cam percebe a reação que causa, porque sorri de forma
debochada, e em seguida sai, de mãos dadas com uma mulher que
estava no grupo de pessoas conversando com ele antes de
chegarmos.
— Mas que...
— Filho da mãe? — diz Leah, me assustando.
— Nossa! Você me assustou.
— Desculpe, não foi minha intenção. — Ela me entrega
uma taça com champanhe. — Se fosse você, tomaria várias dessa,
vai precisar.
— Você viu, não foi? — pergunto, mas a minha atenção
está na direção para onde Cam foi com a mulher. Eles sumiram.
— Vi e ouvi. Gosto do seu jeito, Eleanor. Gosto mesmo.
— Leah encosta a taça dela na minha fazendo um brinde, e em
seguida vai embora.
Olho para minha taça e decido seguir seu conselho. A
minha estrada de volta para Cam parece que será bem longa, então,
nada melhor que um bom champanhe como combustível.
CAM
— O que está acontecendo? — pergunta Rachel, assim que
entramos na sala VIP. Não há ninguém agora, já que todos estão lá
embaixo curtindo a festa.
— Pressa. — Encosto seu corpo na parede e começo a
levantar seu vestido.
— Acabamos de chegar e você já quer transar?
— Qual o problema? Não foi pra isso que você veio?
— Você é um babaca, Cam. — Ela me empurra.
— Não é como se você não soubesse disso. Foi você que
pediu meu contato, que ligou para mim a semana inteira, não eu,
Rachel.
— Sim, mas eu não...
— Você queria vir hoje comigo, aparecer nas capas de
revistas amanhã, como minha acompanhante. Pronto, tudo certo,
você está tendo seus segundos de fama.
— Acha que estou usando você?
— E não é isso que todas vocês fazem? — Vou até a mesa,
e nela há um balde com uma garrafa de champanhe. Não é o que
estava tomando, mas vai servir.
— O que está acontecendo? Você não estava agindo dessa
forma, foi aquela mulher?
— Aquela mulher tem nome.
— Ah, por favor. Você a ignorou na frente de todos e
depois ela conseguiu humilhar você.
— Quer saber, você teve seu momento, tirou sua maldita
selfie para postar nas redes sociais amanhã, então, se não vamos
foder — aponto para a porta —, é melhor ir embora.
— Seu...
— Tchau, Rachel. — Pego a garrafa e me sento no sofá.
Não olho mais para ela, mas escuto muito bem a porta
bater, com força, muita força.
— Droga. Sou um idiota. — Bebo o champanhe na
garrafa. Olho para a sala vazia, e não sinto vontade nenhuma de
sair daqui.
Não quero olhar para Ellie, vestida na porra daquele
vestido justo. Não quero pensar em como ela está linda. Não quero
sentir vontade de beijá-la.
Fui rejeitado uma vez, e nem fodendo vou pagar de babaca
apaixonado novamente.
Já estou na metade da garrafa quando pego meu celular.
Olho as redes sociais e vou direto para a do Ethan, vendo as duas
fotos recentes. Uma em que está com Heather, e outra, dos dois
com Ellie.
Ela está sorrindo. A porra do sorriso falso.
Olho a marcação e clico no nome dela; a maldita tem a
conta fechada. Mas há uma conta à qual tenho acesso, e quando
uma vez vi uma foto dela, confesso que me desestabilizou.
Klaus Diehl, piloto alemão. Um dos poucos pilotos que
consegue me alcançar nas corridas. O cara é tão arrogante quanto o
nome dele, mas consigo superá-lo até nisso. Pelo menos é o que
Jace sempre diz.
Havia somente duas fotos deles: uma quando ele fechou
contrato com uma nova equipe de corrida há dois anos, e outra no
Natal do ano passado. Os fofoqueiros de plantão diziam que eram
reservados quanto ao relacionamento deles. Agora me pergunto se
ele está de acordo com a vinda dela para cá, ou se veio com ela.
— Merda! — Tomo o restante do conteúdo de uma só vez
e quando me levanto, esbarro na mesa. — Puta que pariu! — gemo
de dor.
Vou aos tropeços até a porta, e quando abro, esbarro em
alguém.
— Desc... Cam?! — Ah, merda, tudo menos isso. Tudo
menos ela.
— Oi, Ellie.
— Está tudo bem? — Ela me encara, desconfiada, em
seguida olha em volta, como se estivesse procurando por algo.
— Estou ótimo, apenas tropecei na porcaria da mesa.
— Certo — concorda, hesitante. — Estava procurando
meu irmão, você o viu?
— Não, estou sozinho aqui. — Ela olha mais uma vez para
dentro da sala. Estamos ambos parados na porta, e não sei se tenho
coragem para fazer o primeiro movimento.
Primeiro, porque estou tonto por causa de tanto
champanhe. E segundo, não quero ser o que dará o primeiro passo.
Mesmo que esse passo seja para sair do caminho dela.
— Tudo bem, vou... — Ellie para de falar, em seguida
respira fundo — Certo, lá vai. Deixei meu celular em casa e me
perdi dele já tem uns vinte minutos, você é a última pessoa na face
da Terra a quem eu pediria ajuda agora, mas já que estamos aqui, e
não gosto de perder tempo, poderia ligar para ele?
— Você ao menos respirou para dizer tudo isso?
— Pode fazer isso ou não? É sério, Cam, quero ir embora,
mas preciso avisá-lo.
— Por que vai embora?
— Quer que enumere os motivos por ordem alfabética ou
de importância? — Tento não sorrir.
— Venha, vamos tentar falar com ele. — Dou um passo
para o lado e a deixo entrar na sala.
Ellie entra ressabiada, vê a garrafa de champanhe vazia e
faz uma careta. Depois, se senta no sofá.
Ah, porra, meu pau fica ligado apenas com a cruzada de
pernas que ela dá.
— Aqui, pode usar. — Destravo meu celular e entrego a
ela.
— Obrigada. — Vejo-a discar o número do Ethan, sento-
me ao seu lado e aguardo. — Ótimo, ele não atende.
— Tente de novo, seu irmão deve estar transando com a
noiva em algum lugar dessa boate — brinco, mas o olhar que ela
me lança diz que não curtiu a brincadeira.
— Muito obrigada pela informação.
— Sexo incomoda você?
— Nunca incomodou — responde, tentando ligar
novamente.
— Sério? Da última vez que lembro, você era virgem. —
Observo sua reação.
— E da última vez que me lembro, você não tinha o
último pau da face da Terra.
Tiro o telefone das mãos dela e o jogo na mesa. Ellie me
encara, furiosa, mas ignoro. Estou bêbado demais, furioso demais,
com saudades demais.
Levanto e estendo a minha mão, ela aceita e se levanta
também. Estamos frente a frente e só consigo pensar em beijá-la.
O homem que não ia bancar o babaca apaixonado, bem,
ele se foi no segundo gole de champanhe.
— Não — esqueço o bom senso e me aproximo dela —,
mas tenho o único pau que você quer ter dentro de você agora. —
Ellie ofega quando minhas mãos a envolvem pela cintura
aproximando nossos corpos. — Estou mentindo?
— Não. Mas isso não significa que... — Interrompo seu
argumento colocando meu dedo em seus lábios.
— Os seguranças não vão permitir a entrada de ninguém,
eu garanto a você.
— Você já deve ter feito isso muitas vezes, não é mesmo?
— desdenha.
— Sim, e para o inferno com meu orgulho, Ellie, porque
nada que eu tenha feito durante esses anos se compara à realidade
de fato. — Ela me encara, surpresa. — Posso não ter o último pau
da Terra, mas foda-se, você tem a única boceta que eu quero estar
dentro. — Beijo seu pescoço — Você é a única mulher em quem
eu pensava enquanto transava com outras. — Beijo seu ombro. —
Aquele sofá já foi muito usado, não vou mentir, mas em todas as
vezes, cada maldita noite, era em você que pensava. — Minhas
mãos vão para sua bunda e eu a impulsiono para cima. Ellie
envolve suas pernas na minha cintura e seus braços circulam meu
pescoço. — Era a sua boca que desejava. — Toco os lábios dela
com os meus, apenas de leve. — Era a sua boceta molhada que eu
queria lamber. Agora me diga, eu menti quando disse que é o meu
pau que quer dentro de você agora? — Beijo novamente seu
pescoço, e ela fecha os olhos.
Toda minha razão, meu orgulho, minha raiva se esvaem
dando lugar apenas a dois sentimentos: desejo e saudade.
Tê-la dessa forma, tão perto, tão minha, me faz voltar no
tempo, um tempo onde ela pertenceu somente a mim.
— Diga que não era em mim que você pensava quando
aquele babaca do Klaus estava transando com você?
— O que você disse? — Seus olhos estão abertos agora,
bem abertos. — Me solta, Cam.
— Ellie, não...
— Me solta! — Eu a liberto. — O que você está
pensando? Que tipo de pessoa você pensa que sou, Cam? — diz
ofendida.
— O tipo de pessoa que estava nos meus braços quando
tem um namorado? — Merda, não consigo me conter.
— E você estava vendo isso como uma competição, é
isso? Como quando meu irmão disse que eu estava fora dos limites
pra você e isso chamou sua atenção? É por isso que me disse tudo
aquilo depois de ter me tratado como lixo mais cedo?
— Você está errada.
— Então me prove! Me prove que estou errada, Cam. Que
não sou um desafio pra você.
— Te provei isso há sete anos e você não deu a mínima.
— Eu era imatura demais! — grita. — Será que você vai
me punir por causa de uma decisão que tomei há sete anos?
— Você não era imatura, egoísta, sim.
— Foi você que não quis continuar, tínhamos opções.
— Porque eu não queria dormir abraçado a um
computador, porra! — grito.
— Nesse caso, você precisa pensar novamente quando for
me chamar de egoísta.
Ellie sai da sala me deixando sozinho. E porra, ela tem
razão. E eu odeio chegar a essa conclusão.
Tomo minha cerveja tentando ignorar o quanto a presença
dela me afeta. Quando saí da sala, eu a encontrei conversando com
minha mãe e Jace, e agimos como se nosso encontro poucos
segundos atrás, jamais tivesse acontecido. Agora, ela está sentada
ao meu lado, em silêncio.
A tensão entre nós dois é tanta que mal consigo respirar.
Desde que ela reapareceu hoje no autódromo, como se tivesse se
materializado do além, simplesmente não consigo respirar direito.
E depois de ter sentido seu corpo novamente pressionado ao meu,
caramba, nada em mim parece querer funcionar corretamente.
— Então… hum… Como está Hori? — pergunta
rompendo nosso silêncio constrangedor. Minha mãe e Jace saíram
poucos minutos depois da minha chegada, e tenho certeza de que
foi propositalmente.
Acho que se soubessem o que aconteceu lá em cima,
pensariam duas vezes antes de nos deixar sozinhos.
— Morreu, ano passado — respondo sua pergunta sem me
dar ao trabalho de olhá-la, não porque estou sendo rude, mas vê-la
assim, tão… tão linda, porra, dói.
Quero tocá-la de novo.
— Me desculpe, eu não sabia, Cam. Sei como você a
adorava e…
— Não se desculpe, afinal, você estava na Alemanha, não
é? — Faço um sinal para me servirem outra bebida. Acho que a
nossa discussão fez todo o álcool evaporar do meu sistema.
— Está sendo grosseiro.
— Apenas constatando um fato. — De que você me
abandonou, penso.
— Precisa ser assim? — diz ao mesmo tempo que toca
meu braço. O simples contato da sua pele na minha me deixa
furioso, e confuso. Porém, não consigo me afastar. — Não sabia
sobre Hori, se soubesse teria…
— Por favor, não termine essa frase, Ellie. — Dessa vez
consigo me desvencilhar do seu toque, e finalmente a encaro.
Seu olhar está carregado de tristeza. Sei que ela sente pela
morte do animal, porra, até hoje sinto falta dela. Depois que minha
sobrinha nasceu, Hori praticamente foi morar comigo. Era minha
companheira.
— Você não voltaria, e sinceramente, não faço ideia do
motivo que a fez voltar agora. Você não se importou como eu
ficaria quando me deixou. — As palavras saem amargas da minha
boca. Desvio o olhar no momento que outra cerveja é colocada na
minha frente, e pego a garrafa tomando praticamente todo
conteúdo.
Por que mesmo estamos tendo essa conversa na porra de
um bar? É a pergunta que quero fazer, mas suas próximas palavras
vêm carregadas de desdém.
— Bom, pelo que soube, você ficou muito bem durante a
minha ausência. — Viro a cabeça na sua direção, não acreditando
no que ela está dizendo, e agora, quem está olhando para frente é
ela. — Acho que o número de mulheres com quem você sai
mostrou muito bem como soube lidar com a minha partida. — Ela
encara as prateleiras de vidro à nossa frente, como se as garrafas de
bebidas fossem mais interessantes. — Acho até que houve uma
matéria sobre você, dizendo que nunca repetia uma mulher. —
Pega a taça de vinho a sua frente, como se estivesse em pleno
controle da situação.
Uma porra que está.
Levanto e me aproximo dela, seguro o banco fazendo-o
girar. Ellie não espera esse movimento, assim, suas mãos vacilam e
o vinho respinga por todo o balcão e em seu vestido
Estou tão próximo que sinto seus joelhos tocando minhas
coxas. Reprimo a vontade de abrir suas pernas e encaixar meu
corpo ali. No lugar que sempre pertenceu. Como estive poucos
minutos atrás. Ao invés disso, aproximo meu rosto e falo ao seu
ouvido:
— Você não mudou, Ellie. — Noto como seu corpo reage
à minha voz. — Continua a mesma julgadora.
— Não julgo ninguém por suas atitudes, Cameron. —
Contenho um sorriso de escárnio ao ouvir suas palavras. Sei
exatamente que está se referindo a mim, quando a chamei de
egoísta.
— Deveria melhorar esse seu lado stalker, se fosse boa
nisso, saberia que minha cama é sempre um convite aberto, e que
nunca recuso repetir uma boa trepada.
Afasto o rosto o suficiente para ver seu olhar consternado.
— Você é nojento.
— E você, não deveria se preocupar com quantas mulheres
eu durmo. Já disse que nunca recuso repetir uma boa trepada, não
posso dizer o mesmo das ruins… — Deixo minhas palavras
morrerem enquanto meu olhar passeia pelo seu corpo.
Porra, ela está mais linda do que nunca. Mas entende
exatamente o que quero dizer, porque quando meu olhar alcança o
seu, a próxima coisa que sei é que estou sentindo o lado esquerdo
do meu rosto arder com a força da bofetada que ela me deu.
— Você também não mudou, Cameron. Continua o
mesmo babaca mimado. E também precisa melhorar seu lado
stalker. Pense nisso na próxima vez que tentar me atingir
mencionando o Klaus.
A tristeza que vejo em seus olhos faz tudo dentro de mim
desmoronar. Raiva, ressentimento... Ela tem razão, fui um babaca
ao insinuar nossa primeira – e última – noite juntos.
Ellie sai correndo do bar e mal consigo alcançá-la. Ela
consegue passar facilmente, diferente de mim, que sou
interrompido a cada três passos que dou. Mas as pessoas são
espertas o suficiente e logo me dão passagem ao ver minha
expressão nada amigável.
Quando consigo sair do bar, ela já está entrando em um
táxi.
— Foda-se. — Minhas mãos vão para minha cabeça, e
seguro meu cabelo com força. — Foda-se. — Olho para cima. —
FOOOOODA-SE!!
Grito para o nada, caindo de joelhos na calçada. Eu vi a
dor no seu olhar quando menosprezei o que tivemos. E sei, que
mais uma vez, a afastei.
— Idiota! — Soco o chão. — Idiota. Idiota. Idiota — soco
repetidamente, até que alguém me puxa pelo braço.
Minhas mãos estão sangrando, e quero bater na pessoa que
me parou. Mas não posso, porque é Jace quem está me segurando.
— Vamos para casa. Você já fez estrago demais por uma
noite — diz ele, e eu apenas aceno, deixando-o me levar para onde
quer que ele queira. Eu não me importo.
Porra, Ellie, por que você tinha que voltar?

Acordo na manhã seguinte em uma cama que não é a


minha. Gemo quando movimento minha mão, que está ferida, mas
segundo meu irmão, não é nada grave. Ele me trouxe para a casa
dele na noite passada. Sky cuidou dos meus ferimentos sem falar
nada.
Eu sei que ela não falaria, já que não é o tipo de pessoa
que te bombardeia com perguntas inapropriadas. Mas dessa vez,
tenho certeza de que sua discrição não era apenas devido à sua
personalidade.
Jace e Sky presenciaram tudo o que aconteceu no bar.
Levanto da cama e encontro meu celular. Minha cabeça
lateja por causa da mistura de bebidas. Não há chamadas, nem
mensagens. Nada sobre Ellie. Merda, o que eu esperava afinal,
depois de ter dito com todas as letras que ela tinha sido uma
trepada ruim?
Nós tivemos apenas uma vez juntos. Uma noite que passei
idolatrando seu corpo, sussurrando o quanto a desejava, que era a
mulher mais incrível do mundo. Acreditando que seria o suficiente
para fazê-la desistir da ideia de viajar.
Não foi. Quando acordamos, ela estava firme com seus
objetivos, minha última tentativa de convencê-la a ficar falhou, e
eu nunca havia me sentido tão desprezado em toda minha vida.

— Eu te amo. — Beijo sua cabeça e ela me abraça mais


apertado, ainda naquele estado entre o sono e o despertar. —
Ouviu o que eu disse? — Tento me levantar, preciso deixar claro o
que sinto.
Pessoas que se amam não se separam, certo?
Mas quando tento me sentar na cama, ela me impede,
segurando meu braço. Fico de lado e minha mão toca o seu rosto.
Ellie está me olhando de uma forma que me faz sentir um frio no
estômago. Não é o olhar que eu esperava, não depois do que disse
a ela.
— Eu ouvi, Cam. Ouvi cada uma das três palavras. —
Sorrindo, dou um beijo suave em seus lábios.
— Nesse momento, acho que podemos começar a ver um
lugar para morarmos. Não quero que você fique em um alojamento
de faculdade.
— Não, Cam, não podemos — diz sem se mover.
— Eu amo você, Ellie, isso… isso muda tudo, não? —
Estou confuso, e porra, não deveria estar, tudo que ela disse antes,
deixou bem claro que não mudaria de ideia.
— Nada mudou.
— O quê? — Dessa vez ela não detém meu movimento.
Saio da cama sem me importar por estar nu na sua frente. Ellie se
senta e puxa o lençol para si, até cobrir seus seios.
— O que aconteceu essa noite, nós dois… você era… —
Não consigo nem raciocinar.
— Virgem, sim, você sabe disso. — Sua voz estava tão
calma. Inacreditável.
— E você me deu isso. — Eu me aproximo da cama,
sentando-me à sua frente. Pego suas mãos e seguro, como isso
fosse impedi-la de ir a algum lugar.
— Não queria que fosse com outra pessoa, Cam. Eu
confio em você, gosto de você, não queria que a minha primeira
vez fosse com outro.
Suas palavras me atingem em cheio. Direto no peito.
— Gosta?! — Solto suas mãos. — Você GOSTA? — grito
a última palavra quando me levanto. — Você nem sequer me ama?
— Não era para soar como uma pergunta. — Você me usou para
dormir com você e depois ir embora?
— Você já sabia que eu ia — tenta argumentar. — Você
estava de acordo com isso, inclusive deixou bem claro que só
teríamos essa noite.
— Sei de cada palavra que disse, só... merda, sou um
idiota.
— Cam… por favor… — Ela estica o braço, um convite
que eu ignoro.
— Dane-se. — Vou até minhas roupas e começo a me
vestir. — Dane-se você. Dane-se a Alemanha. — Pego minhas
roupas. — Dane-se a porra do seu emprego.
Quando termino, ela está em pé, parada na minha frente.
— Podemos fazer isso funcionar, Cam. Basta…
— Não, não podemos, e pare de insistir nisso. Você já teve
sua estreia, conseguiu o que queria. — Viro para ir embora, mas
ela segura meu braço, forçando-me a olhá-la mais uma vez.
— Existem milhares de relacionamentos à distância que
dão certo, Cam. — Mais uma vez ela joga a carta dos
relacionamentos à distância.
— Só que eu, Ellie, não sou o tipo de cara que namora
virtualmente. — Ela me olha com tristeza. — Só me responda uma
coisa.
— O quê?
— Você me ama? — Ellie pisca algumas vezes, hesitando
em responder. Ela não precisa, pois sei sua resposta. — Não
precisa falar nada, sabe por quê? — Ela movimenta a cabeça
negativamente. Eu me aproximo tocando seu cabelo. Os fios
macios escorrem entre meus dedos. — Se me amasse, jamais me
deixaria.
— Cam…
— Tenha uma boa vida, Ellie.

Saí daquele quarto com três objetivos em mente: a odiaria


para sempre; não a procuraria, e jamais diria “eu te amo” para outra
mulher.
Consegui apenas dois deles.
— Posso entrar? — Sky bate na porta.
— Você não precisa pedir permissão. — Abro a porta,
permitindo sua entrada.
— Ver você sem roupa não está na minha lista de afazeres
do dia — brinca. — Vim ver como está.
— Me sentindo um lixo — confesso e me sento na cama.
Ela vem e se senta ao meu lado.
— Acho que as coisas entre você e a Eleanor não andam
muito bem, não é?
— O que vocês viram no bar foi apenas o começo.
Tivemos outra discussão antes, e eu falei muita merda.
— O quão ruim?
— Ruim no nível que se você souber, vai querer me
nocautear na próxima vez que treinarmos juntos.
Tento colocar um pouco de humor na situação. Minha
prima não luta mais profissionalmente, mas nós costumamos
treinar juntos de vez em quando. Na maioria das vezes, ela faz isso
com Jace.
— Olha, sempre fui uma cabeça-dura quando o assunto é
romance.
— Jura? — Ela me acerta com o cotovelo.
— Mas sei reconhecer um casal quando se ama de
verdade, e você e a Ellie têm isso.
— Não sei se ela sente o mesmo.
— Mas eu sei, sabe por quê? Porque ela te olha da mesma
forma que eu olhava para o Jace.
— Como?
— Com medo. O que sinto pelo seu irmão era tão
avassalador que me assustava, Cam. Acredito que a Ellie sente a
mesma coisa.
— Ela acabou de voltar, depois de passar sete anos
morando em outro país. Acha de verdade que ela me ama? Nós
tivemos zero contato durante esse tempo.
— Você tentou falar com ela?
— Não.
— Olha, Cam, eu amo você, mas acho que nessa equação
ambos estão errados.
— Você quer dizer que devo ir atrás dela? Me humilhar
como um cachorro abandonado?
— Estou dizendo que vocês dois vão ficar brigando como
cão e gato até alguém ceder, só que nesse processo, vocês podem
se magoar além do que merecem, e isso pode não ter volta, Cam.
— Estou confuso, Sky. Irritado, para ser sincero.
— Sei que está, e sei também que quer ir atrás dela. Não
precisa ter vergonha do que sente; você nunca foi um homem de
esconder seus sentimentos, nenhum de vocês, na verdade.
— Bom, pelas merdas que eu disse ontem, com certeza
não consigo esconder meus sentimentos.
— Conversem, Cam, mas façam isso olhando para frente,
não para trás.
— Obrigado. — Seguro a sua mão e aperto.
— E, como sou sua prima e cunhada favorita, talvez tenha
esbarrado no contrato de trabalho dela que estava na mesa do Jace,
e, talvez, tenha visto o endereço novo, e quem sabe, com um pouco
de sorte, tenha anotado em um papel. — Sky levanta e me entrega
um papel com um endereço. — Quem sabe você não vai lá agora...
— Dá de ombros.
— Eu te amo, sabia?
— Sabia.
Com um sorriso vitorioso, ela me deixa sozinho, olhando
para o pedaço de papel na minha mão.
ELLIE
Passei a noite em claro, pensando na nossa discussão. Em
como estive tão perto de transar com ele naquela sala, e na
facilidade que ele tem de estragar tudo.
Cam sempre foi impulsivo, mas quando está no modo
babaca-arrogante é praticamente insuportável. Cada palavra que ele
disse ontem feriu meu coração como uma navalha. Realizando
cortes profundos e precisos.
Citar o Klaus, e em seguida nossa primeira vez, foi um
golpe baixo demais, até mesmo para ele.
Agora, estava no autódromo, tentando me concentrar no
trabalho. Toda a equipe havia sido dispensada hoje, mas pedi para
que minha entrada fosse liberada. Ethan levou minhas malas mais
cedo, e depois disso vim direto para cá. Não conseguia ficar em
casa, não com meus pensamentos revivendo a noite anterior.
Mas aqui, sentada em uma mesa, olhando para algumas
plantas e fórmulas, posso pensar com clareza. Ajusto os óculos que
teimam em cair. Hoje resolvi usá-los, pois ontem chorei tanto
dentro do táxi que quase danifiquei as lentes de contato ao retirá-
las, então, só para o caso de mais lágrimas surgirem, resolvi me
prevenir.
— Pensei que você não os usasse mais.
— Merda! — A voz do Cam me assusta e quase derrubo o
tablet que está na minha mão. Qual o problema dessa família que
está sempre me assustando?
— Desculpe se assustei você.
— Não foi nada, estava concentrada, pensei que estaria
sozinha hoje.
— Você chegou ontem e já está trabalhando?
— Fui contratada para isso, não é? Estava olhando os
gráficos de desempenho do teste de ontem.
— Foi perfeito.
— Você os viu? — Pego o tablet novamente. Na verdade,
a intenção era de verificar os gráficos, mas só conseguia pensar no
cara que agora puxava uma cadeira para sentar-se ao meu lado.
— Não, mas estava ao volante, lembra?
— Sim, mas...
— Você ainda os usa. — Cam aproveita que viro o rosto
para encará-lo e retira meus óculos.
— O que está fazendo?
— Decidindo como eu gosto mais, se com ou sem. — Ele
os coloca de volta.
— Prefiro sem. Eles sempre caem.
— Já eu prefiro com. Amo como você sempre os ajusta
com o dedo.
— Esse dedo? — Mostro o dedo médio.
— Tudo bem, mereci isso.
— Sim, mereceu.
— Podemos conversar? Mas sem brigas.
— Isso é possível? Será que conseguimos conversar sem
uma briga?
— Prometo tentar — diz veemente.
— O que aconteceu com a sua mão? — Noto a atadura
envolvendo-a.
— Magoei uma mulher na noite passada, e me puni por
isso.
— Cam... — Toco seu rosto.
— Ellie, eu só... — Ele cobre a minha mão com a dele,
fechando os olhos, e repito seu gesto contentando-me em sentir o
calor do seu rosto.
Ficamos assim por alguns segundos, até que a porta do
escritório abre, e dou de cara com a última pessoa que imaginei que
apareceria nesse momento.
— Estou atrapalhando alguma coisa?
— Klaus?! — Cam mantém a mão dele na minha quando
nos levantamos. — O que você está fazendo aqui?
Não consigo disfarçar o espanto na minha voz. Ainda
faltam semanas para o começo da temporada, e os pilotos só se
deslocam quando chega mais próximo ao dia da corrida. Como a
primeira corrida será aqui, sabia que nosso encontro seria
inevitável.
Mas vê-lo dois dias depois que parti da Alemanha, me
deixa além de surpresa. Estou chocada.
— Willers, não sabia que você e a minha noiva eram tão
íntimos — diz e olha para nossas mãos juntas.
Ah, merda! Cam me olha, incrédulo, mas não solta minha
mão.
— Nos conhecemos há bastante tempo, acredito que antes
mesmo de serem noivos. Estou certo? — Ele faz a pergunta a mim,
mas não espera minha resposta. — Agora, ver você antes de a
temporada começar é uma verdadeira surpresa.
— Charlotte estava com saudades, sabe como é, ela tem
uma ligação muito forte com a mãe.
Droga. Dessa vez, Cam solta minha mão como se tivesse
recebido um choque.
— Ellie, que tal conversarmos lá fora? Isso, é claro, se o
seu amigo não se incomodar. Não atrapalhei o trabalho de vocês,
não é?
Klaus se aproxima e segura meu braço, com força em
excesso. Cam percebe, e o próximo movimento que vejo, é Klaus
sendo agarrado pelo colarinho.
— Não me importa quem você é. Eu realmente não dou a
mínima se você é namorado, noivo ou até a porra do marido dela,
nenhum título de merda te dá o direito de tocá-la assim.
— Acho bom você me soltar, Willers, ou a próxima foto
sua com uma das suas prostitutas será com a cara arrebentada.
Porque vou esmagá-la junto com seu ego de filhinho de papai.
— Cam... — tento intervir, mas Cam apenas ri da ameaça.
— Jura? E como seria isso? Porque se você não sabe, além
de ser filho de papai, também sou o querido do tio, e quer saber o
que Oliver Willers me ensinou quando se trata de cuidar de idiotas
como você?
Ele ergue o braço, pronto para dar um soco, mas mais uma
vez, somos interrompidos.
— Pai? — Charlotte entra na sala e quando me vê corre na
minha direção. — Mãe!!
Cam solta Klaus imediatamente ao ver a menina se jogar
nos meus braços.
— Oi, princesa! — digo e beijo seu rosto. Seu cabelo loiro
está solto, caindo em ondas que vão até a cintura. Ela está usando
um vestido e uma tiara de princesa na cabeça.
— Estava com saudades — diz ela chorosa.
— Também estava. — Ela sorri satisfeita com a minha
afirmação.
— Papai disse que estaria trabalhando, você já pode sair?
— pergunta, e em seguida olha para o pai e Cam, que está nos
observando completamente atônito.
— Posso. Você pode me esperar lá fora junto com seu pai?
Preciso terminar algo aqui e já encontro vocês.
Ela assente e sai do meu colo, indo direto para o pai. Klaus
não ousa discordar, ele jamais faria isso na presença de Charlotte, e
a contragosto, sai da sala.
— Inacreditável... — Cam fala, finalmente.
— Podemos conversar, preciso explicar algumas coisas.
— Ele te chamou de Ellie — diz ainda aturdido. —
Caralho, ele te chamou de Ellie e te tocou daquela maneira. —
Leva as mãos até a cabeça.
— Nós temos...
— Não, não temos nada. Sua filha e seu noivo estão
esperando você.
— Ela não é minha filha. — Dói dizer isso em voz alta,
mas ele merece saber a verdade.
Quando conheci Klaus, Charlotte tinha apenas dois anos.
A mãe dela havia falecido devido a um câncer e a minha
aproximação com o seu pai formou um vínculo muito forte entre
nós duas. E, com Klaus sempre viajando por causa das corridas, eu
era a única presença constante na vida dela.
— Todo mundo sabe que ela é filha dele e de uma modelo
que faleceu, a morte dela esteve em todos os jornais. Se tem algo
que você não precisa se dar ao trabalho de explicar é isso, agora,
por favor, estou tentando entender como você o deixou tocá-la
daquela forma, e como permitiu que ele a chamasse de Ellie. Pensei
que isso fosse algo nosso, mas pelo visto, até isso você conseguiu
estragar.
— Me deixa explicar.
— Apenas dê um aviso a ele: se eu o vir tocando em você
daquela forma novamente, ele morre. Simples assim.
Cam não me deixa falar. Ele sai da sala como um furacão,
e saio correndo tentando alcançá-lo, porém, mesmo vendo para
onde foi, não consigo ir atrás, pois Charlotte e Klaus estão me
esperando na saída do boxe.

Klaus Diehl não é um homem que devemos subestimar.


Soube disso no dia em que nos conhecemos. Ele era implacável
quando queria algo. Usava seu charme e beleza sempre a seu favor.
Em poucos dias fiquei encantada com a forma que ele me tratava e
também à filha.
Ele foi o único homem que chegou perto de me fazer
esquecer o Cam. Mas quando pediu minha mão em casamento,
percebi que por mais que gostasse de estar com ele, não era amor.
Foi nesse dia que decidi voltar, e foi nesse dia que Klaus
começou a usar a filha para me manipular. E isso se estendeu por
três meses, até que recebi a proposta da WR Racer, resolvendo dar
um basta na nossa relação já inexistente.
— O que deu na sua cabeça? Por que veio pra cá, Klaus?
— Estamos no meu apartamento, já que Charlotte não quis ir para o
hotel.
— Cameron Willers. — Ele balança a cabeça em negação.
— Você chega na cidade em um dia e no outro já cai na cama dele?
Foi por causa dele que você nos trocou? Por causa de um
playboyzinho mimado que você nos abandonou, Eleanor? —
Ótimo, agora ele me chama de Eleanor.
Klaus soube do meu apelido quando Ethan foi me visitar.
Estávamos jantando quando meu irmão o mencionou, dizendo que
um ex-namorado meu me chamava assim. Acredito que ao me ver
com Cam, ele apenas juntou dois mais dois.
— Você não tem ideia do que está falando.
— Não, mas tenho ideia do que vi. Iam transar ali mesmo,
no boxe? Como nós fazíamos?! — Suas últimas palavras saem
quase como um grito e eu recuo.
Em todas as vezes que Cam e eu discutimos, nunca, em
nenhum momento, tive medo. Agora, nesse instante, estou
apavorada.
— Vá embora, Klaus. A Charlotte pode ficar, você não.
Não estou te reconhecendo; — Klaus fecha os olhos, e quando os
abre, está expressando arrependimento.
— Não quis te machucar, ou te assustar. Porra, eu só estou
irritado, está bem? — Gesticula tentando se explicar.
— Não há nenhuma explicação para a maneira horrenda
como você segurou meu braço. NENHUMA!
— Eleanor, me desculpe, eu...
— Cai fora, ou chamo a polícia, e tenho certeza de que se
eu erguer a manga da minha camisa, verei uma bela marca roxa
como prova, e aí, a próxima foto que os jornais terão será de você
sendo preso.
— Você não faria isso.
— Faria, e como faria.
— Está fazendo isso por causa daquele piloto de merda?
— Não, estou fazendo isso por mim. Cada decisão que
tomo é sempre por mim, nunca por outra pessoa. Então, Klaus, CAI
FORA! — grito as últimas palavras. Ele recua, mas seu olhar é de
puro desgosto.
— Jamais machucaria você.
— Com certeza não vou pagar para ver. Amanhã você
pode vir buscar a Charlotte, conversarei com ela.
— Tudo bem — diz, caminhando em direção à porta.
— E, Klaus, não pense nem por um segundo que você irá
usá-la para me manipular. Não funcionou na Alemanha, não
funcionará aqui.
Ele vai embora e eu tranco a porta, depois, verifico como
Charlotte está antes de ir para o meu quarto. Preciso dormir, porque
amanhã sei que terei que desfazer toda essa bagunça.

CAM
Estamos na terceira semana de treinos. Três semanas
desde que Ellie voltou, vinte e um dias que a ignoro. Ela e seu
noivo de merda.
Klaus, aparentemente, resolveu antecipar sua vinda para
Seattle. Ele mexeu alguns pauzinhos, e agora, toda a sua equipe
está aqui. Não é incomum isso acontecer, inclusive, outras três
equipes já estavam treinando aqui antes de ele chegar. Mas o que
me irritou de verdade foi o motivo por trás disso.
E eu estava parado na frente da porta do apartamento dela
nesse exato momento.
Ellie não foi nada além de profissional durante esses dias,
e ela chegou a tentar uma conversa, mas deixei bem claro que
precisava de tempo para digerir tudo aquilo. Charlotte se tornou
uma presença constante no nosso boxe. Sempre que visitava o pai,
ela ia ver Ellie. Confesso que a interação entre as duas me deixava
encantado.
Foi um susto quando a vi entrar na sala, chamando Ellie de
mãe. Por um milésimo de segundo, pensei que aquela garotinha
pudesse ser nossa filha. Mas sabia que era do Klaus, o que não me
impediu de desejar ter aquilo com ela. E toda vez que as via juntas,
esse desejo só crescia.
Olho novamente para o papel na minha mão. O endereço
está certo. Ethan me garantiu que ela estaria sozinha. Amasso o
papel, jogando-o no lixo junto com meu orgulho, e depois dou meu
nome ao porteiro para que ele a avise da minha chegada.
Assim que minha entrada é autorizada e as portas do
elevador se abrem, vejo Ellie me esperando no corredor. Vestida
com uma calça de moletom, uma camiseta colada, cabelo amarrado
e usando a porra dos óculos. Meu coração acelera.
— Oi. — Seu cumprimento é cauteloso.
— Será que nós dois podemos conversar? — Ela assente,
mostrando o caminho para o apartamento.
— Vou trancar a porta, por precaução.
— Não é uma má ideia — digo. Apesar do tom brincalhão,
acho que já estamos cansados de sermos interrompidos.
— Sente-se. Quer beber alguma coisa?
— Não, estou bem.
— Certo. — Ellie se senta ao meu lado no sofá, e nós
estamos próximos, mas não ao ponto de nos tocarmos. Ambos
estão com os cotovelos apoiados no joelho, olhando para frente.
— O que você está achando do trabalho? — Tento iniciar
a conversa. Essa coisa está sendo mais difícil do que imaginei.
— Gosto do que faço, então não há motivo para não gostar
do meu trabalho.
— Também amo pilotar, não me vejo fazendo outra coisa.
— Eu sei — diz, ainda olhando para frente.
— Se eu te pedisse para sair da WR, você faria isso? —
Olho para seu perfil. Ela fica calada por vários segundos, e vejo
como seu rosto começa a ganhar um tom de vermelho. Não está
envergonhada, está prestes a chorar.
— Se você me pedir para sair, eu saio, sem hesitar.
— Por quê? — Ela entrelaça os dedos, arrumando a
postura.
— Já fiz você sofrer demais, fui embora quando me pediu
para ficar, e agora, se a minha presença te faz mal, eu saio, porque
nunca mais quero te fazer sofrer. — Dessa vez ela me olha, e as
lágrimas acumuladas começam a cair pelo seu rosto.
— E o Klaus?
— Klaus e eu terminamos muito antes de eu receber a
proposta da WR. Ele apenas está tentando reatar algo que não
existe mais. E antes que você pergunte, não, ele nunca foi abusivo
comigo. Aquele dia foi o primeiro e último; jamais deixaria alguém
me maltratar. — Fico aliviado com a sinceridade das suas palavras.
— Por que terminaram? — Minha pergunta é mais por
conta da curiosidade do que pelo desenrolar da nossa conversa.
— Não me julgue, tudo bem? — Concordo e ela
prossegue: — Terminei com ele no dia em que fui pedida em
casamento.
— Por quê? — Sua resposta me surpreende.
— Porque foi nesse dia que descobri que ele não era o
homem que eu queria para passar o resto da minha vida.
Meu coração bate tão forte quando escuto sua resposta que
preciso de uns segundos para falar:
— Você tem certeza disso? — Ela assente. — Preciso
ouvir você dizer, quero ouvi-la falar, Ellie Você tem certeza disso?
Preciso que tenha, porque se eu começar não vou parar. Nunca
mais.
— Tenho, Cam, tenho toda certeza do mundo. Foi por isso
que voltei, mesmo se não tivesse a proposta de trabalho, minha
volta começou a ser planejada quando recusei o pedido de Klaus.
Fecho os olhos e conto mentalmente: um, dois, três. Foda-
se para o que fizemos no passado; Ellie sempre foi a dona do meu
futuro.
— Vem cá. — Seguro sua mão e a trago para o meu colo.
Ela se senta, exatamente como no dia em que fez isso pela primeira
vez, dentro do carro. — Odeio ver você chorar. — Tiro seus óculos
e deixo no sofá. — A gente perdeu tanto tempo. — Seguro seu
rosto com as duas mãos e encosto minha testa à dela. Ellie está com
as mãos nos meus ombros. — Mas também temos muito tempo
pela frente. Cansei de brigar, Ellie, cansei de sentir raiva de mim
mesmo.
— De você?
— Sim. Sentia raiva de mim mesmo todos os dias. Cada
maldita vez que acordava com uma mulher diferente e via que não
era você. Sentia raiva sempre que tentava te odiar, mas quando eu
me lembrava do seu corpo assim perto do meu. — Beijo sua
bochecha e sinto o sal das suas lágrimas. — Quando lembrava do
seu sorriso ou da maneira como você gozava, eu só...
— Só o quê?
— Só conseguia te amar.
Fecho os olhos quando meus lábios tocam os dela. Jamais
senti o que ela me faz sentir com um simples beijo. Na verdade, a
quem quero enganar? Nunca foi um simples beijo, não entre nós
dois.
Minha língua acaricia a dela enquanto meus braços
envolvem sua cintura em um agarre. Ellie segura minha nuca,
puxando meu cabelo com força suficiente para me fazer gemer.
— Não está pensando em germes agora, está? — pergunto,
interrompendo nosso beijo.
— Não, mas estou pensando em combustão.
— Combustão?
— Sim, na verdade estava pensando nos estágios do
funcionamento do motor.
— O quê? A gente está se beijando, depois de sete anos, e
você está pensando em combustível? — Ela sorri e sai do meu
colo.
Ellie está parada, em pé, na minha frente e está com a
porra de um sorriso sedutor.
— Sim, pensei nos estágios, veja bem: temos a admissão,
quando a válvula de admissão abre e o pistão desce. — Ela solta a
corda da calça de moletom e a retira, ficando apenas de calcinha e
camiseta — Depois temos a compressão. Que é quando o pistão
sobe totalmente. — Ela retira a blusa revelando seus seios, e noto
que estão maiores do que me lembrava, e porra, estão ainda
melhores. — Em seguida temos a explosão, ou combustão. — Ela
se senta novamente no meu colo, com as pernas abertas. — Que é
quando uma carga elétrica é liberada entre dois pontos. — Ela
passa a ponta da língua nos meus lábios. — Essa faísca detona a
mistura, e empurra o pistão para baixo — diz e esfrega a boceta no
meu pau, que se pudesse gritar, estaria gritando para ser enfiado
dentro dela. — E, por fim, temos o escape, que é quando alguns
resíduos dessa combustão precisam ser retirados do motor...
— Ellie, acho que posso assumir agora. Sei exatamente
como retirar esses resíduos do motor.
Ela ri quando me levanto com ela no meu colo, as pernas
envolvendo no meu quadril.
— O quarto é por ali. — Ela aponta na direção do quarto.
— Ótimo, ele vai servir. Por hora.
A risada que ela solta quando saímos para o quarto deixa
bem claro que, sim, ela tem certeza do que quer.

Beijos. Estou sendo acordado com beijos sendo


depositados por toda extensão da minha coluna. E porra, é uma
excelente maneira de acordar.
— Se você continuar assim, garanto que vamos chegar
atrasados no trabalho.
— Você é o chefe, não vai me demitir — diz rindo, ao
mesmo tempo que continua beijando minhas costas.
— Para onde foi a minha namorada responsável?
— Provavelmente se foi quando você deu a ela dois
orgasmos na noite passada.
— Só dois? Pensei que fosse mais, tem certeza que contou
direito? — Aproveito que parou de beijar minhas costas e me viro
para ficarmos frente a frente. Ela está deitada em cima de mim,
nua. Minha ereção esfrega na sua boceta molhada.
Passamos nossa primeira noite juntos, há uma semana.
Ethan me flagrou trocando de roupa no quarto dela, e na hora, eu
disse a primeira coisa que me veio na cabeça: o chamei de
cunhado, da mesma forma que fiz quando ele nos flagrou anos
atrás. Só que diferente da primeira vez, dessa vez ele não quis me
matar.
E agora, era a primeira vez que acordávamos juntos no
nosso apartamento. Ela aceitou vir morar comigo ontem à noite, e
eu não quis perder mais nem um minuto. Afinal, perdemos sete
anos.
— Abra mais as pernas — digo a ela, enquanto minha mão
segura firme seu seio.
— Vamos chegar atrasados.
— Então você não deveria me acordar dessa forma. — Ela
abre mais as pernas e meu pau começa a deslizar dentro dela. —
Cavalgue em mim, Ellie, quero que você me foda, como fodi você
ontem à noite.
— Será um prazer — diz ao inclinar o corpo para frente. E
quando ela começa a se mover, fecho meus olhos, porque, caralho,
estou no paraíso.
Ele se movimenta com agilidade, seus seios balançam na
minha frente, para cima e para baixo, no ritmo dos seus quadris. E
puta merda, sinto que vou explodir a qualquer momento.
— Devagar, se não quer que eu goze antes de você. —
Meus olhos ainda estão fechados, então eu sinto... — CARALHO!
— Os músculos internos dela apertam meu pau, como se
estivessem me sugando. — Puta merda, Ellie, o que você está
fazendo? — Abro os olhos e minhas mãos seguram o quadril dela
com força, ainda incentivando seus movimentos. As mãos suaves
espalmam no meu peito para manter o equilíbrio; o cabelo dela cai
pelo rosto, formando uma cortina sexy pra caralho.
— Vou gozar — ela geme.
— Porra, eu também.
Ellie se inclina mais até que estamos nos beijando. Ela
ainda está se movimentando, a musculatura interna se contraindo
conforme seus movimentos, apertando meu pau no processo.
Então, ela geme meu nome e me leva ao clímax mais intenso de
toda minha vida.
Puta merda.
— Se eu não te amasse — digo, tentando controlar minha
respiração. O corpo delgado está jogado em cima de mim. — Eu te
amaria agora. Caralho, Ellie, você tem uma boceta mágica.
Sinto sua risada contra meu peito, e decido que quero
ouvir esse som todos os dias de manhã. Pelo resto da minha vida.
E sempre após esse sexo louco.
ELLIE
Já é a terceira vez que verifico minhas anotações sobre o
motor do carro do Cam, e meu nervosismo pode ser sentido de
longe. É a primeira corrida oficial da temporada, e estou muito
ansiosa para ver o resultado das melhorias que fizemos.
Cam não conseguiu a pole position, pois perdeu para
Klaus na classificação, e isso me fez conhecer um lado dele que até
então, para mim, era desconhecido.
Cameron Willers era profissional. Ele respeitava seus
oponentes na pista de corrida, e não ficou chateado por estar em
segundo lugar.
Quando perguntei sobre isso, apenas deu de ombros,
dizendo que seria muito mais divertido ultrapassá-lo fazendo-o
comer poeira. Essa justificativa não me surpreendeu. Na verdade,
esse lado dele é o que mais adoro.
— Mãe! — Charlotte entra no boxe e corre para me
abraçar.
— Como você está linda. — Olho para ela, vestida com
um macacão de corrida, como o do pai.
— Papai disse que poderia ver a corrida aqui, com você.
— Claro que pode. — Olho para a babá que a acompanha
dando minha permissão.
Klaus e eu chegamos a um acordo a respeito de Charlotte.
Legalmente não tenho nenhum direito sobre ela, emocionalmente
eu a amo como se fosse minha filha. Cam também a adora, e fiquei
bastante emocionada e agradecida quando ele mesmo sugeriu que
fizesse um acordo com o pai dela.
Agora Charlotte pode me visitar sempre que quiser, e eu
poderei vê-la quando e como quiser, desde que não atrapalhe seus
estudos.
— Você ficará aqui, está bem? Preciso terminar algo e já
vamos assistir à corrida juntas.
Ela concorda e a deixo sentada na cadeira. Todos
começam a ficar a postos; Brandon está com seus fones de ouvido,
assim como Leah, que está aqui. Na verdade, toda a família dele
está aqui, porém, somente Leah e Jace ficam no boxe, o restante
assiste na área reservada para os familiares.
Saio do boxe e o encontro encostado no carro. Os pilotos
ainda não foram para suas posições e ele está se preparando para
colocar o capacete.
— Já mencionei como você fica sexy usando essa roupa?
— Cam retira o capuz antichamas que havia posto.
— Não, mas posso fazer amor com você o usando mais
tarde. — Sorri e me abraça, beijando meus lábios.
— Boa sorte na corrida. — Toco seu rosto.
— Tenho toda a sorte aqui comigo. — Ele aponta para o
carro e noto um adesivo novo na lateral.
Os dizeres Veni Vidi Vici, logo abaixo de uma fênix. Como
um brasão.
— Você já me contou o que essa frase significa para a
família de vocês, mas por que a fênix?
— A fênix significa as mulheres da minha vida, minha
mãe, tia Bree, Sky e você, Ellie. — Cam me abraça novamente. —
Amo você, obrigado por voltar pra mim.
Ele me beija com tanto fervor que me deixa tonta. E
quando nos separamos, sinto uma dor no peito, como jamais senti
antes.
— Olhe para linha de chegada. Eu serei o cara que vai
atravessá-la. — Pisca e coloca o capuz.
— Graças ao carro que eu projetei. — Cruzo os braços, ele
baixa a parte de baixo do capuz para que a boca fique livre. E está
sorrindo.
— Você sempre tem uma resposta afiada para mim.
— Sempre.
Cam sorri e se prepara para entrar no carro. Só então, algo
me vem à mente; corro para o banheiro pegando uma caneta no
caminho.
CAM
Minha família estava aqui, eles sempre estavam nas
minhas corridas. Só que dessa vez era diferente. Minha família
inteira estava presente, porque Ellie está aqui.
Quando nos despedimos, ela entra correndo no boxe,
reprimo a vontade de sair correndo atrás dela só para beijá-la
novamente.
— Cam, está na hora — Brandon avisa e me preparo para
levar o carro para pista; a corrida vai começar em breve.
No momento que estou prestes a sair, eu a vejo
novamente. Dessa vez, ela está parada na frente do meu carro,
impedindo minha passagem.
— O que está acontecendo? — pergunto, mas ao invés de
ouvir Brandon, ouço a voz dela.
— Você precisa sair desse carro — diz, usando os fones de
comunicação.
— Ellie, não posso, a corrida vai começar.
— Sabia que você diria isso. — Noto que está sorrindo por
causa do seu tom de voz, mas não imaginava ver o que estou vendo
agora.
Ellie levantou a blusa, como fez quando quis me tirar de
dentro do carro antes de um racha. Só que agora, não era somente o
sutiã dela que estava à mostra.
Acima dos seios, de caneta vermelha, estava escrito: EU
TE AMO.
— Eu também te amo, mais do que você possa imaginar.
— A emoção na minha voz é impossível de conter. Ela abaixa a
camisa cobrindo os seios novamente, e sai, sem dizer mais nada.

Tem alguma coisa errada, e não é com o meu carro.


Ultrapassei Klaus na volta vinte e cinco, e ele me ultrapassou
novamente na volta trinta e quatro.
Agora estamos na volta quarenta e dois, e sei que há algo
acontecendo, só que não tenho tempo de raciocinar, porque bem na
minha frente, há dois carros: um deles está capotado e o outro está
parado, fazendo com que eu o acerte em cheio.
Meu carro gira. Várias vezes, voando na pista até bater
contra a proteção de pneus próxima ao muro. Ouço gritos através
do comunicador. Ouço quando alguém fala sobre fogo. E então,
ainda tonto, eu vejo.
O carro do Klaus está pegando fogo.
— Merda! — Libero o cinto de segurança e começo a sair
do carro.
— Cam?! Você está bem?! — ouço Ellie falar, mas estou
atordoado demais para responder. Corro aos tropeços em direção
ao carro que está em chamas, que começam a se alastrar pela parte
frontal.
— Vamos tirar essa merda — digo a Klaus, que parece tão
atordoado quanto eu. Tento abrir a trava do cinto dele, mas está
emperrada. — Merda, merda!
— Cam!! Você tem que sair daí! — ouço quando Brandon
pede que eu saia, mas não posso simplesmente deixar o cara morrer
aqui.
Olho para Klaus no mesmo instante em que vejo o fogo
aumentar. Seu olhar é de puro desespero, e forço a trava várias
vezes até que ouço o clique, ao mesmo tempo que sinto meu corpo
sendo jogado para trás.
O grito de Ellie mistura-se com o da minha mãe. E depois,
não escuto mais nada.
ELLIE
Corridas de carro são sempre excitantes: a emoção, a
adrenalina. Era viciante. O som dos motores quando os carros
passavam na pista, tão velozes que nossos olhos não conseguiam
acompanhar.
Mas eu vi, naquele dia, cada detalhe do que aconteceu.
E esses detalhes continuam me assombrando sempre que
fecho os olhos.
Porque toda a situação emocionante tem um lado ruim, e
no caso de corridas de carro, o lado ruim, geralmente terminava em
um cemitério.
Exatamente como o que estou agora. Sentada em frente a
uma lápide, aguardando uma garotinha se despedir do seu pai.
— Pronta para ir? — pergunto a Charlotte, que está
vestindo o mesmo macacão que usava no dia da corrida.
Três dias atrás, conheci o verdadeiro significado da
palavra desespero, mas não... Talvez não chegasse nem perto da
dor nos olhos da garotinha que assistiu seu pai morrer pela tela de
uma TV.
Klaus morreu na explosão, vimos como Cam tentou salvá-
lo, e ele também poderia ter morrido naquele momento. E agora,
eu, que sou uma especialista em física e mecânica, não sabia como
explicar como meu namorado havia sobrevivido.
Seu corpo foi lançado para longe no momento da
explosão. Ele fraturou um braço, duas costelas, e está com várias
escoriações pelo corpo.
Fora isso, ele está vivo. E isso é o mais importante, não
importa como, ele está vivo.
— Sabe o que acho... — diz Charlotte ao me dar a mão. O
enterro terminou há algumas horas, mas ela ainda queria ficar. —
Que quero ser pilota, igual ao meu pai e ao tio Cam.
Sua afirmação me pega de surpresa e me agacho para ficar
com os olhos no mesmo nível dos dela.
— E sabe o que eu acho? Que seu pai ficaria muito
orgulhoso de você.
— Você acha que ele está com os anjos agora?
— Está sim, querida. Ele está. — Beijo sua bochecha.
Está com os mesmos anjos que salvaram Cam.
CAM & ELLIE
(SUPERFICIAL)

Ainda estava me adaptando à minha nova rotina. Piloto,


marido e pai... Não nessa mesma ordem, com certeza, não nessa
mesma ordem. Minha mulher e filha vinham em primeiro lugar,
sempre.
E sim, Charlotte era minha filha, não importa o que seus
documentos dizem, eu a amo como minha. Klaus e eu tivemos
nossos momentos, mas sei exatamente o que seus olhos me
disseram quando tentei tirá-lo daquele carro em chamas.
Porra, isso me atormenta todas as noites. O desespero que
vi em seus olhos, e por fim, a aceitação. Ele sabia que não
sobreviveria, e garanti a ele que iria cuidar das duas mulheres que
ele amava.
Quão louco é isso? Eu nunca gostei do cara, saímos quase
no soco por causa da Ellie, e agora estava andando pela casa,
juntando bonecas da filha dele espalhadas pelo chão. Nossa filha.
Charlotte não me chama de pai, isso jamais pedirei a ela.
Klaus era um filho da puta, mas era um excelente pai para a
menina, então ele é o herói dela. Estou conformado em ser o
segundo nessa equação.
— Tio Cam! — entra gritando na sala, e pelo seu olhar,
não é algo bom. — A mamãe não está bem.
Largo as bonecas no chão na mesma hora e saio correndo
em direção ao quarto. Charlotte me acompanha, e quando
entramos, bem, a cena é de tremer, ou melhor, o que ouço me faz
estremecer.
A porta do banheiro está aberta, e Ellie parece estar
vomitando. Pelo cheiro, ela está vomitando.
— Está tudo bem? — pergunto ao me aproximar.
— Pareço bem?! — grita e quase dou um passo para trás.
Quanta agressividade. — Acho que vou morrer — geme e eu me
abaixo para arrumar seu cabelo antes que fique cheio de vômito.
— Não vai morrer, deve ser algo que você comeu, vai
passar.
— Não vai passar, Cam. Pelo menos por alguns meses.
Droga... — Ela enfia a cabeça novamente no vaso.
Eca, nem nas minhas piores ressacas fiquei assim.
— Quer ir ao hospital?
— Eu só preciso respirar.
— Acho que aqui dentro é meio impossível — tento
brincar, mas sou presenteado com um olhar assassino.
Ultimamente ela tem me dado muitos desses. Qual o
problema dela, afinal?
— Odeio você, sabia? Odeio tanto — diz ainda gemendo.
Ela se afasta do vaso e se senta no chão, encostada na parede.
Charlotte está longe de ser vista agora. Alemãzinha
esperta.
— Por que você me odeia? — Sento-me ao seu lado. A
cena é bem inusitada, estamos os dois sentados no chão do
banheiro fedendo a vômito.
— Se você não tivesse... se nós não tivéssemos... — Ela
começa a chorar.
— Ellie, por favor, você não está fazendo nenhum sentido.
— Tiro suas mãos do rosto, vendo que está chorando. Seco suas
lágrimas com a mão e beijo seus olhos. — Me diga o que está
acontecendo.
— Estou grávida! — dispara e fico paralisado.
— Como?! — Acho que não ouvi direito, mas ela
interpreta minha pergunta de forma errada.
— O quê? Como assim? Além de termos transado sem
camisinha e de você ter jurado que tirou a tempo, quer mesmo que
eu explique?
Opa, agora ela está furiosa, porque levanta e mal me dá
tempo para processar tudo. Ellie vai para o quarto e se senta na
cama. O olhar que ela me dá quando me vê saindo do banheiro é
tudo, menos amistoso.
Não era a primeira vez que transávamos sem camisinha,
mas ela sempre foi muito cuidadosa.
— Não foi isso que quis dizer. — Vou até ela e me ajoelho
entre as suas pernas. — Quero que você diga novamente.
— Estou grávida.
— E isso não é bom? — Porra, estava me controlando para
não gritar de felicidade.
— Sim, até que vomitei, e fiquei tonta e quis matar você.
— Sorrio, pois sei como ela odeia coisas inesperadas.
— Não vou me desculpar por ter engravidado você. —
Toco a barriga dela, e caramba, tem um filho meu aqui.
— Estou apavorada — confessa.
— Eu sei, também estou.
— E se eu não conseguir? E se for uma péssima mãe?
— Charlotte discordaria.
— Quando a conheci, ela já andava e falava, nem usava
fraldas mais. Eu não faço ideia de como agir quando o bebê chorar,
como vou saber o que fazer?
Sorrio. Deus, eu a amo descontroladamente.
Levanto e pego sua mão, vou até a outra extremidade da
cama e me sento, com as costas apoiadas na cabeceira. Posiciono-a
sentada na minha frente.
Retiro a sua camisa, deixando-a apenas com a calça jeans
e o sutiã. Então, minhas mãos tocam sua barriga novamente.
Respiro fundo, apreciando a carga de adrenalina que corre nas
minhas veias, assim que minha mão toca a pele dela. No mesmo
local onde está crescendo nosso filho.
— Sei que você está desesperada, e que um bebê não havia
sido planejado — beijo seu ombro —, mas não tenho palavras para
explicar o que estou sentindo agora.
— Acabamos de nos mudar para uma casa nova, estamos
apenas começando uma vida juntos, estou com tanto medo, Cam.
— Eu te disse que você seria minha para sempre, e que eu
seria seu. Soube disso desde o primeiro momento.
— Você nunca duvidou, não é? — Ellie segura minha mão
e entrelaça nossos dedos.
— Não, nunca. E tenho certeza de que farei você nunca
duvidar também. Só precisa confiar em mim, confiar em nós.
Ellie se mexe, sai da nossa posição, mas logo se posiciona,
sentando-se no meu colo. Minhas mãos seguram sua bunda, e vejo
seu olhar carregado de amor.
— Espero que nosso filho herde toda a sua coragem —
diz, ao mesmo tempo que traça o contorno do meu rosto. — Espero
que quando ele se apaixone, aja exatamente como você.
— Como um louco?
— Como um homem de verdade deve agir. Sem reservas,
sem medo. Tenho muita sorte de ser amada por você, Cameron. —
Ela beija meu rosto, meu pau pulsa com a menção do meu nome.
— Isso significa que você vai se casar comigo? Na igreja,
com direito a véu e todas aquelas coisas?
— Você quer mesmo isso, não é?
— Claro, vai ser a visão mais linda do mundo ver você
entrar em uma igreja, com a Charlotte como dama de honra.
— E uma barriga enorme?
— E com nosso filho aparecendo, sim, vai ser uma visão
inesquecível. Meu ponto de chegada, a bandeira quadriculada que
sempre quis ver balançar.
— Só você para comparar nosso casamento com uma
corrida. — Sorri e eu pego a sua mão, olhando para o anel de
noivado, o mesmo que coloquei no dedo dela no dia em que abri os
olhos no hospital. Deixei minha mãe louca naquele dia, ela não
entendia o motivo da minha insistência para ver minhas roupas.
Mantive o anel comigo durante a corrida, e depois que Ellie
levantou a camisa e vi a frase que estava escrita, tive a certeza que
havia chegado a hora. Só não sabia que faria isso deitado em uma
cama de hospital..
Ela não sabia que eu havia comprado o anel no dia que ela
voltou, quando ouvi sua voz através do comunicador. Naquele dia,
senti uma raiva sem igual, mas a raiva não era dela, e sim de mim
mesmo, porque a primeira coisa que fiz ao sair do autódromo foi ir
em uma joalheria para comprar o anel.
Eu garantiria que ela o usaria. E aqui estamos. Quase
chegando ao final da corrida das nossas vidas.
— Quero fazer amor com você — digo e beijo sua mão.
— Não acredito que você vai querer perder a luta da M’s.
— Droga, tem razão. — Ela sorri e então segura meu rosto
com as mãos.
— Obrigada por tudo, e sim, vamos fazer do seu jeito, com
direito a vestido de noiva, barriga enorme e Charlotte como dama
de honra.
— Você não precisa me agradecer por nada. Você voltou
pra mim, Ellie, me deu uma filha, e agora — toco a barriga dela
novamente —, nossa família está aumentando. Se tem alguém que
precisa agradecer, esse alguém sou eu.
Ela me beija com tanto fervor, que não me importo que
estava vomitando há poucos minutos. Merda, eu não me importaria
se ela vomitasse em cima de mim agora mesmo. Ela está grávida,
do nosso filho.
O primeiro de vários, porque nem fodendo eu vou parar,
esse é apenas o começo.
JACE & SKY
(SENSACIONAL)

— Nervoso? — pergunta Sky, assim que voltamos ao


tribunal. Ela vem me acompanhando em todas as audiências, nunca
saiu do meu lado, e é meu porto seguro quando penso que tudo vai
desmoronar.
— Se disser que não, você saberá que estou mentindo. —
Seguro sua mão e caminhamos pelo corredor até a sala de
audiência.
— Jace. — Paramos de andar, ainda temos tempo, mas
sempre gosto de chegar mais cedo, e tenho certeza que meu cliente
já está lá dentro. Paciência não é o forte dele.
— Sim? — Olho para os papéis na minha mão.
— Olhe para mim, Jace. — Guardo os papéis de volta na
pasta e faço o que ela me pediu.
Sky está na minha frente, e o passar dos anos só lhe fez
bem. Ela ainda frequenta sessões de terapias, mas não
semanalmente. O projeto que criou, junto com a mãe, ajuda
mulheres em situações de risco. O boxe como profissão já faz parte
do passado, mas ela continua dando aulas na academia,
religiosamente.
Seus alunos a amam, sua força e inteligência são motivo
de inspiração. E quando nosso primeiro filho nasceu, há sete anos,
Sky renasceu novamente.
Se eu já a amava antes, meu amor se transformou no
momento em que a vi segurar nossa filha pela primeira vez. Aquela
mulher segurando nosso bebê seria capaz de sacudir o mundo para
proteger nossa princesa.

— Ela é tão pequena, Jace! — Seus olhos estavam cheios


de lágrimas. — Tão preciosa.
— Ela é perfeita, Sky, assim como você. — Beijo sua testa.
Foram horas intermináveis, as doze horas mais longas da minha
vida. Mas a minha garota era forte demais, ela só gritou uma vez,
e o próximo som que ouvimos foi o choro da nossa filha.
— Como vamos chamá-la? — pergunto olhando para o
pequeno ser embrulhado em uma manta amarela.
— Hope. Quero chamá-la de Hope — diz Sky, sem tirar os
olhos da filha.
— Bem-vinda ao mundo, Hope Willers.

— Jace? — A voz dela me faz voltar ao presente. Ela está


sorrindo, como se soubesse exatamente o que estou pensando.
— Desculpe, estava com os pensamentos longe.
— Quero te dizer uma coisa antes de entrarmos, tudo
bem? — Concordo, e então nos sentamos em um banco próximo à
porta. — Você precisa saber que independente do resultado de
hoje, você foi incrível, Jace, e estou muito orgulhosa de você.
— Acha que vamos perder?
— Bom, acredito que perder não faz parte do nosso
vocabulário, não é? — Sorri. — Mas quero que você não se deixe
abater, qualquer que seja o resultado.
— Não vou, prometo a você.
— Vi meu marido passar noites em claro trabalhando
nesse julgamento, sei o quanto você se esforçou. Você quase
perdeu a festa de aniversário da Hope porque estava trabalhando.
— Você ficou chateada comigo? — pergunto confuso. Sei
que foi uma correria, mas consegui chegar a tempo, e Sky me
garantiu que estava tudo bem.
— Não, Jace, não fiquei chateada. Só estou dizendo que
sei que Hope é sua prioridade, então sei também o quanto esse caso
é importante para você.
— Ele me ajudou, Sky. Na prisão, Clarence sempre me
ajudou, e sinto que devo isso a ele, e à M’s também.
— E é por isso que sei que se algo não sair como
planejado, isso vai afetá-lo. Só quero que você entre ali sabendo o
quanto estamos orgulhosos do que você fez para chegar até aqui,
Jace. Eu e a nossa família.
— Obrigado. — Beijo sua mão. — Você não tem ideia de
como eu precisava ouvir isso agora.
— Tenho sim. — Ela toca meu rosto com ternura. — Você
sempre me deu apoio antes das minhas lutas; em cada uma delas
você esteve lá para mim, e agora, estou aqui para você, Jace.
Sky segura meu pulso, subindo um pouco a manga da
camisa. Ela olha para a tatuagem, a frase que todos nós temos em
algum lugar do corpo. A dela fica na clavícula. Sky fez depois que
venceu sua luta de retorno aos ringues.
Veni Vidi Vici.
Três palavras cheias de significado, Vim, Vi e Venci, para
nós é muito mais que isso, é união, família, é o que somos.
— Entre lá, e vença a sua luta. — Sky beija meu pulso,
mas não me contenho apenas com esse gesto.
Segurando seu rosto, olho fixamente em seus olhos. Os
olhos da mulher da minha vida, a única pessoa que já amei, e que
tenho certeza que amarei pelo resto da minha vida.
— Já disse que te amo?
— Acho que hoje não. — Ela me encara com a mesma
intensidade, sua respiração está ofegante. Sky tem essa mesma
reação, sempre, e ela sabe que não vou beijá-la, vou possuir sua
boca.
— Eu — beijo o canto direito da sua boca — amo — beijo
o canto esquerdo — você.
Beijo seus lábios, e Sky abre a boca dando passagem para
minha língua acariciar a dela. E é assim, com um beijo, que ela me
dá toda a segurança que preciso para entrar no tribunal e encarar o
segundo maior desafio da minha vida: convencer os jurados para
que deem a liberdade a Clarence.
Porque o meu primeiro desafio foi fazer Sky dizer que me
amava, e nesse, saí mais do que vitorioso.
JASON & LEAH
(COLATERAL)

Nunca acreditei em destino, ou coisas do tipo. Sempre fui


o tipo de homem prático, que planejava tudo. Nada era feito ao
acaso, até que um dia, resolvi tirar férias, e bem, o resultado disso
era uma baixinha de cabelo negro, que estava tentando escolher a
roupa nesse momento enquanto tento me concentrar no livro que
estou lendo.
— Droga, onde foi que eu deixei? — Leah xinga
novamente, e acredito que essa seja a décima vez, em menos de dez
minutos que repete o xingamento.
Somos pais, avós, mas ela nunca perdeu sua essência, e
quando perde a paciência, droga, é algo muito, muito sexy.
— Jason, você pode me ajudar? — pede, finalmente.
Sorrio, porque já esperava pelo seu pedido de ajuda.
Ela sempre pede. Quando temos algum compromisso,
Leah nunca acha o que está procurando, uma bolsa, um batom, seja
lá o que for, sempre há algo que faz com que nos atrasemos.
— O que está procurando? — Entro no closet. Ela está
olhando uma gaveta cheia de joias.
— Meu brinco, não consigo achar. — Continua revirando
tudo.
— Por que não usa outro? — Cruzo os braços e encosto na
parede.
— Porque quero usar esse. — Ela aponta para o brinco na
sua orelha esquerda. É um que dei a ela logo que chegamos de Los
Angeles, presente de aniversário, era nosso primeiro mês morando
juntos. O primeiro mês que ela havia deixado sua vida inteira para
trás para vir morar comigo.
— Merda, não acredito que perdi — resmunga mais uma
vez, e vou até ela olhando para a bagunça de joias.
— Você vai achar.
— E se não achar? — Leah para de mexer e me olha, seus
olhos estão ficando vermelhos, droga, ela está prestes a chorar.
— Esse brinco é tão importante assim?
— É. Ele é especial, não finja que não sabe disso.
— Depois de tantos anos, ainda é especial?
— Quase trinta anos — diz e então fecha a gaveta. —
Estamos juntos há quase trinta anos e esse foi o primeiro presente
que você me deu, então, sim, ele é especial.
Eu a puxo para mim, e ela envolve seus braços ao redor do
meu pescoço.
— Sabe o que você me deu que é tão especial para mim?
— Nossos filhos? — Sorri.
— Quase. — Eu a ergo, ela enlaça meu quadril com suas
pernas. — Você, Leah, foi você que eu ganhei de presente e nada
do que te dei ao longo desses anos se compara ao que ganhei
quando você veio correndo – mancando – naquele aeroporto.
— Não pude evitar, estava apaixonada por um cara com
um corte de cabelo bem estranho.
— Você não achava estranho na época. — Aperto a bunda
dela e ouço seu gemido. — O que acha de chegarmos atrasados?
— Seu irmão vai nos matar.
— Não se eu disser a ele que estava fazendo amor com a
minha mulher.
— Jason...
— Leah...
Não falamos mais, Leah sai do meu colo apenas para tirar
o vestido, em seguida, me ajuda com a minha roupa. Ela olha para
o chão, e sei o que está pensando, não vamos chegar até a cama.
Fazemos amor no chão do closet, em cima do carpete. Mas
nada disso importa, nunca importou. Porque eu me perco cada vez
que ela geme levando meu pau à boca, ou a cada vez que a sinto
gozar nos meus dedos.
— Jason! — geme, sei que está prestes a gozar, e caralho,
também estou. Ela está tão molhada que meu pau entra e sai com
facilidade.
— Só mais um pouco — peço, contendo minha vontade de
gozar, porque quero prolongar isso ao máximo. Se vamos chegar
atrasados, Oliver terá um bom motivo para brigar.
— Eu te amo — diz ela, ao mesmo tempo que sinto seus
músculos se contraírem, envolvendo meu pau. E nesse momento,
gozo junto com ela.
Estamos ofegantes, ainda no chão. Uso meus braços para
apoiar o peso do meu corpo, e ainda estou dentro dela, sem a menor
vontade de sair.
— Sempre linda — digo ao tirar uma mecha de cabelo do
seu rosto.
— Mesmo cheia de rugas?
— Perfeita, sempre e para sempre. — Beijo seus lábios e
antes de me levantar, olho para um ponto brilhante no carpete.
Estico o braço e pego o brinco perdido. Sorrindo, o coloco
em sua orelha.
— Agora acho que podemos ir. — Leah toca na orelha e
sorri ao reconhecer a joia.
— Eu te amo, meu Guerreiro Lannister[1], sempre e para
sempre.
Sorrio e a deixo me beijar mais uma vez, e logo nosso
beijo avança para mais uma rodada de sexo, só que dessa vez, no
chuveiro.
Oliver vai me perdoar pelo atraso.

[1] Casa Lannister: Referência à Série Guerra dos Tronos.


OLIVER & BREE
(FENOMENAL)

Nunca imaginei chegar nesse ponto da minha vida.


Acreditava que morreria em cima de um ringue. Só que a vida
sempre nos leva por um caminho completamente diferente do que
imaginamos, e que na maioria das vezes, como agora, é tudo que
precisamos.
— Acho que será uma luta e tanto, o que você acha?
— Mamã!! — É o que obtenho como resposta.
Bem, basicamente é o que ele sempre fala, já que é a única
palavra que aprendeu, e que na maioria das vezes é dita quando vê
a sua mãe.
Bree.
Ela está vindo em nossa direção agora. Estamos sentados
em uma área reservada, com uma vista privilegiada do ringue.
Bom, não podia ser diferente, somos os Willers, e se isso não fosse
o suficiente, sou o dono da porra do lugar.
— Ei, cara, você viu a sua mãe antes mesmo de eu vê-la.
— Ele sacode os braços na direção dela.
Quem no mundo não quer se jogar nos braços dela? Eu
quis no momento que senti seu perfume pela primeira vez dentro de
um elevador em Las Vegas. Ela o usa até hoje, é seu cheiro, nosso
cheiro.
E no momento que a tive pela primeira vez, tive a certeza
de que nunca mais seria o mesmo.
Bree mudou minha visão da vida. Ela e Sky tornaram-se
meu mundo, meu universo inteiro. E agora, mesmo sendo avós, a
vida mais uma vez nos surpreendeu.
Olin Willers, o garoto de apenas oito meses que está
sentado no meu colo, babando, é a prova que milagres acontecem.
Ele não tem nosso sangue, mas isso jamais teve importância.
Ele é nosso, assim como Sky.
Estávamos no hospital quando Olin nasceu, e foi uma
coincidência, já que estávamos lá para presenciar o nascimento do
nosso segundo neto. Jace e Sky já tinham Hope, e naquele dia,
quando minha filha estava dando à luz a Jeremy, vimos uma
comoção entre as enfermeiras.
Uma mulher havia acabado dar à luz, mas rejeitou o bebê.
Ela não conseguiu nem olhar para a criança, e foi quando eu o vi.
Pequeno, indefeso. E soube naquele instante, que meu filho acabara
de nascer.
— Oi. — Bree se aproxima e Olin quase pula do meu colo.
— Ei, tem alguém com saudade da mamãe? — Ele sorri, ela sorri e
porra, eu os amo. — E oi, você.
Bree se inclina para me beijar, mas eu a puxo pela cintura
e a faço se sentar no meu colo. Posso estar mais velho, mas essa
mulher sempre me faz perder o controle, não importa onde
estivermos.— Senti sua falta. — Beijo seu pescoço, e ela se inclina
me dando acesso livre.
— Estou vendo, ou melhor, sentindo. — A bunda dela
pressiona o meu pau e gemo contra seu pescoço.
— Bree... — advirto-a, mas ela ri em resposta.
— Espero que você seja mais comportado que seu pai,
Olin — diz para o bebê que balbucia algo incompreensível.
— Tomara que não, porque você sabe...
— Sei, ele é um Willers.
— Exatamente. Como estão as coisas lá embaixo?
— Tudo em ordem, Jace acabou de chegar então saí para
dar um pouco de privacidade a eles.
Jace, meu sobrinho e genro. Nunca houve um homem
melhor para cuidar da minha filha. Mesmo que isso pareça um
pouco estranho de assimilar, ele garantiu seu lugar no coração da
Sky, e não foi um caminho fácil. Agora ele é um advogado
implacável, que busca por justiça, e que acima de tudo, ama o que
faz.
Acredito que hoje tenha sido sua maior vitória, pois
finalmente conseguiu a liberdade do homem que compartilhou a
cela da prisão com ele.
Clarence Von Grantt, uma montanha em forma de
músculos. Um homem cujo pecado que o levou à prisão foi
defender a filha. Ele matou por ela, e eu não teria feito menos.
Levou tudo de mim para não ter feito o mesmo com Max, quando
soube o que aconteceu, a maneira como minha filha ficou e com a
ida do meu sobrinho para a prisão. Foram os piores dias da minha
vida.
Mas, como disse, a vida tem maneiras de nos guiar, e ela
me levou até Clarence, e conseguimos dar um jeito em Max.
Em troca, Amabile Von Grantt, a nossa M’s, virou parte
da minha família, e era a luta dela que assistiríamos agora.
Diferente de mim e Sky, M’s não se profissionalizou no
Boxe, ela se tornou uma lutadora de MMA, e a mulher é
implacável no octógono.
— No que está pensando? — Bree chama minha atenção.
— Em tudo, em todos. Em como chegamos até aqui.
Olho para o octógono e os vejo entrar, Clarence está ao
lado de M’s, eu nunca a vi sorrir daquela forma. Nossa garota está
com o semblante mais leve, determinado. Tenho certeza que
destruirá sua oponente em um piscar de olhos.
— E pensar que tudo começou com um ato de desespero
meu — diz Bree, e volto minha atenção a ela.
— Já te pedi perdão? Pelas merdas que fiz naquela época?
— Já, você sempre pede, todos os dias, quando me faz a
mulher mais feliz do mundo. — Ela se movimenta para ficarmos
frente a frente. Olin adormeceu no seu colo.
— Eu te amo, e me pergunto todos os dias o que fiz para
merecer você.
— Você não fez nada para merecer, mas faz tudo para
permanecer. Eu amo você, Oliver Willers, e amo tudo que você
representa na minha vida.
Observo nosso filho adormecido, em seguida fixo meus
olhos aos da minha esposa, a mulher da minha vida.
A mulher que me nocauteou.
Vini, Vidi, Vici. É assim que a nossa história acaba.
FIM.
FIM MESMO.
Aos meus leitores, pacientes e impacientes. Obrigada por
estarem sempre comigo.
Ao meu marido, que me ajudou quando precisei focar para
terminar.
À The Gift Box, por ter abraçado essa série e ter feito dela
um motivo de orgulho para mim.
À Dri Harada, que sempre me emociona com as capas, e
ela quase surtou quando 1 se transformou em 2, 3 e por fim, 4.
À Martinha Fagundes, que foi uma ninja. Obrigada, jamais
vou esquecer o que você fez por mim.
Ah, claro... e agradeço aos problemas, porque sem eles, eu
não teria: VENI VIDI VICI.
Gostaria de dedicar esse livro para muitas pessoas, mas,
infelizmente, uma delas é bastante possessiva, nesse caso, Caroline
Menezes.

TE DEDICO.
A The Gift Box é uma editora brasileira, com publicações
de autores nacionais e estrangeiros, que surgiu no mercado em
janeiro de 2018. Nossos livros estão sempre entre os mais vendidos
da Amazon e já receberam diversos destaques em blogs literários e
na própria Amazon.
Somos uma empresa jovem, cheia de energia e paixão pela
literatura de romance e queremos incentivar cada vez mais a leitura
e o crescimento de nossos autores e parceiros.
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