Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ELLIE
Estou chorando. Muito. Estilhaçando pedaços da minha
alma e transformando em gotas. Salgadas. Gotas de lágrimas.
Muitas lágrimas.
E o mais irônico dessa situação toda é que estou sendo
amparada pela última pessoa na face da Terra de quem esperaria
esse tipo de gesto, ou qualquer outro, se for sincera.
Mas aqui estava, dentro do carro dele, sentada no seu colo,
abraçada ao seu corpo, chorando como um animal indefeso.
Sim, acho que é isso, sou um animal indefeso nesse
momento, o que justifica o sentimento de conforto e tranquilidade
que estou sentindo agora.
Não são os braços deles envolvendo meu corpo de forma
protetora.
Nem seu cheiro inebriante.
Ou sua voz sussurrando que tudo vai ficar bem, mesmo
que ele não faça ideia do que seja.
Não, infelizmente nada vai ficar bem. Eu sei disso, porque
eu mesma vi.
— Ainda não quer ir para sua casa? — pergunta quando
me afasto o suficiente para enxugar minhas lágrimas com as costas
das mãos. A cena não é nada bonita.
— Não quero ir, não posso fazer isso agora.
— Quer que ligue para o Ethan? — A menção do nome do
meu irmão me causa dor.
— Sem ligar para ele, por favor.
— Ellie, você precisa me dizer o que fazer então. Ethan é
meu amigo, e não faço ideia do que aconteceu com você. — Sua
mão toca meu rosto, arrumando meu cabelo para trás da orelha. É
um gesto simples, mas tão gentil.
— Vou ligar para Heather e perguntar se posso passar a
noite lá.
— Quem é Heather?
— Da escola, a menina com quem almocei todos os dias
durante a semana. Não finja que não a viu. Mesmo me ignorando,
não acredito que não saiba quem ela é.
— Sei quem é, só não estava ligando o nome ao rosto —
tenta se justificar. Ainda estou sentada no colo dele, tento me
mover, e imediatamente suas mãos seguram meu quadril. — Não
precisa ir para a casa dela, posso arrumar um lugar para você passar
a noite. — Meu coração dispara com as suas palavras.
— Cameron...
— Não estou fazendo nenhuma proposta indecente, jamais
tentaria algo com você. Você pode passar a noite no apartamento
do meu irmão, se quiser. Ele praticamente não fica mais lá, e com
certeza vai passar a noite com a noiva.
— Não posso, não quero atrapalhar.
— Está vazio, Ellie, você não vai atrapalhar ninguém. Será
melhor do que dormir na casa da Heather e amanhã de manhã ter
que colocar um sorriso falso de bom-dia.
— Meu sorriso não é...
— É sim — ele me interrompe.
— Tem certeza que não tem nenhum problema?
— Tenho. Você pode até ficar no fim de semana inteiro, se
quiser.
— Não sei o que dizer.
— Apenas aceite, não quero que você passe a noite na casa
de um estranho, principalmente nesse estado.
— Por que você está fazendo isso? Quer dizer, sei que sou
a irmã do seu amigo, mas nós mal nos conhecemos, nem
começamos a estudar juntos, e agora — olho em volta, ainda estou
em seu colo —, estou sentada no seu colo, dentro do seu carro, em
um estacionamento.
— Você pensa demais, não é mesmo?
— Atos impulsivos levam a resultados inesperados.
— E você não gosta de não saber o que vai acontecer?
— Prefiro dizer que gosto de ter opções caso o que
imagino não aconteça.
— É uma mulher que sempre tem um plano B — conclui.
— Não — olho em seus olhos —, sou uma mulher que
sempre tem um plano, B, C e D, mas que nunca preciso usá-los.
Cameron não responde, na verdade, ele parece congelado
no lugar. Seu olhar é desconcertante e ao mesmo tempo transmite
segurança. Mas é tão intenso que faz com que eu me sinta
desconfortável, saindo de uma vez do seu colo e me sentando de
volta ao banco do passageiro.
— Acho que já podemos ir — digo ao mesmo tempo que
afivelo o cinto.
— Sim, claro. — Olho para ele por um segundo, que
parece incomodado com algo.
— Cameron, se tiver algum problema, eu posso ir para a
casa da Heather.
— Não tem problema, Ellie. Estou falando sério.
— Você parece estranho.
— É só... — Fecha os olhos por alguns segundos e quando
os abre, solta uma respiração pesada. — Eu sempre fui um cara de
momentos, sabe? — Ele vira o rosto para me encarar. — Nunca
planejei nada na minha vida.
— Mas pelo que Ethan me contou, você deseja ser piloto,
estou certa?
Ethan me disse durante uma de nossas conversas, antes de
ir para escola, que Cameron só tinha um desejo: o de ser o piloto
principal da equipe de corrida da família dele.
— Sim, mas acho que nem isso é planejado, sabe? É algo
que já nasceu comigo, é como se corresse no meu sangue. É
inevitável.
— Talvez, mas você quer muito isso, e está disposto até a
passar algumas horas bem chatas ao meu lado, então, acredito que
está começando a traçar seu futuro. — Sorrio.
— Sabe, Ellie, acho que nossas horas juntos não vão ser
nada chatas.
Ele retribui meu sorriso, com muito mais fervor, e então,
coloca o carro em movimento.
Leva pouco tempo para chegarmos ao apartamento. Vi
quando ele enviou uma mensagem durante o percurso, acredito que
avisando seu irmão.
— Nossa, aqui é bem legal — comento ao entrar. O lugar
é bem organizado, impecável para dizer a verdade, mas ao mesmo
tempo acolhedor.
Estou sentada no sofá, admirando a decoração simples e
elegante ao mesmo tempo. Muito diferente da decoração
extravagante da minha casa.
— Eu acho meio sem-graça, mas como não moro aqui...
— Dá de ombros. — Na verdade, nem meu irmão, pelo que parece.
— A noiva mora aqui perto?
— Algumas portas de distância. — Ele vai até a geladeira.
— Quer comer algo?
— Não, meu apetite foi embora faz horas. — Ele tira uma
garrafa de água e vem ao meu encontro.
— Quer ver o quarto onde pode se instalar?
— O sofá parece uma ótima opção, já disse que não quero
atrapalhar. — Ele me encara como se tivesse levado uma bofetada.
— Tem um quarto de hóspedes, Ellie. Geralmente eu o uso
quando fico aqui, pelo amor de Deus, você não vai querer dormir
em um sofá apertado quando tem uma cama confortável à sua
disposição.
— Você sabe como ser convincente — brinco.
— Olha — ele fecha a garrafa d’água e deixa de lado —,
sei que você não quer falar sobre o que aconteceu, mas eu preciso
saber de uma coisa.
— Cam...
— Por favor, só vou fazer uma pergunta e você responde
sim ou não, tudo bem?
— Certo — concordo, porque sei que devo uma
explicação a ele, e estou fascinada pela maneira que está agindo,
sem me pressionar.
— Alguém tocou em você? De forma inapropriada, eu
quero dizer.
— Não. Meu Deus, não. — Levanto-me rápido. — De
jeito nenhum! Por que você imaginou isso?
— Por que — ele também se levanta — minha tia passou
por uma situação bem fodida quando era mais nova, minha prima
também. Tem uma garotinha que amo como uma irmã que passou
por um verdadeiro inferno. Então, talvez esse tipo de merda seja a
primeira coisa que me vem em mente. Desculpa.
Suas palavras me deixam chocada, não fazia ideia sobre
nada disso. Eu me aproximo dele e seguro suas mãos.
— Ninguém me tocou dessa forma, ou me machucou,
Cam. — Respiro fundo e penso sobre o que aconteceu mais cedo,
sobre o que vi e ouvi. — Flagrei meu pai ao telefone, se
desculpando por não poder ir a um encontro hoje, pois é
aniversário da minha mãe.
— Ele está traindo a sua mãe? — questiona surpreso.
— Sim, e sabe qual é a pior parte? Minha mãe é
consciente, ela aceita que meu pai tenha um relacionamento fora do
casamento.
— Puta merda.
— Não fazia ideia, meus pais... — Começo a chorar. —
Eram exemplos de casal feliz; houve brigas, claro, mas todo
casamento tem, não é mesmo? Mas quando ouvi a conversa dele, e
quando o confrontei, meu Deus, desejei que um buraco abrisse e
me engolisse.
— Droga, eu não fazia ideia. Ethan sabe?
— Não sei, estive longe de casa por muito tempo, e agora,
sinto como se estivesse rodeada de pessoas estranhas.
— Por que não conversa com ele?
— Tenho medo — confesso. — Medo de que até meu
irmão esteja compactuando com essa realidade bizarra.
— Vem cá. — Ele me puxa para um abraço. — Converse
com ele, seu irmão tem mais caráter do que muitos caras que
conheço.
— Obrigada, Cam — digo com a cabeça encostada no seu
ombro.
— Se continuar me chamando de Cam, posso me
acostumar com isso — fala e eu sorrio em meio às lágrimas. — Vá
se deitar, você merece um descanso. — Nós nos afastamos.
— Vou avisar ao Ethan que estou bem. Se importa se eu
não disser que estou aqui?
— Está me pedindo permissão para mentir para o seu
irmão? — Ele ri.
— Não é uma mentira, só não direi onde estou.
— Merda.
— O quê?
— Eu adoro uma mulher inteligente. — Balanço a cabeça
e em seguida mostro o dedo do meio. — E cheia de atitude
também.
Não me contenho, e dessa vez, sou eu que estou rindo,
alto.
— Vamos lá, deixe eu te mostrar o quarto, e se precisar de
mim, estarei no do Jace. — Ele pega minha mão, mas eu o paro.
— Pretende ficar aqui?
— Claro, não vou deixar você sozinha nesse estado, Ellie.
Se quer saber, acho que você não chorou nem a metade do que
ainda vai chorar esta noite.
Sua sinceridade me deixa perplexa, logo, estou
concordando e indo me acomodar no quarto de hóspedes.
Cam me entrega um pijama que diz ser da Sky. Aceito,
porque, primeiro, o vestido que estou usando é desconfortável, e
segundo, não tenho mais forças para contra-argumentar.
Estou cansada física e emocionalmente.
CAM
Quando avisei Jace que ia dormir no apartamento dele,
porque uma amiga precisava de um lugar para ficar, precisei
explicar que não era um encontro sexual – o que acredito que não o
convenceu – e ainda aceitar levar Hori para passear de manhã.
O filho da mãe queria aproveitar a noite com a noiva, e
agora eu estava caminhando às seis da manhã, de um sábado.
Desnecessário dizer que tive uma noite bastante agitada, e não no
bom sentido.
— Ei, garota, vá com calma — peço para Hori, que ignora.
Ela está agindo como uma namorada ciumenta desde que
encontramos com a Ellie.
Ela também não dormiu a noite inteira, e estava descendo
para comprar café. Agora Hori está toda possessiva, puxando a
coleira com força, o que me impulsiona para frente.
Fiquei pensando sobre tudo o que a Ellie me contou, mas
somente uma coisa havia me incomodado de verdade. A maneira
como eu quis beijá-la quando estávamos dentro do carro. E a
vontade que senti de tirar sua roupa quando ela me mostrou o dedo
médio no apartamento.
— Isso é uma loucura — digo para mim mesmo, porque
não consigo entender o que essa garota tem, que me deixa tão
desorientado.
Ela me ignora. Replica tudo que digo. Faz questão de se
mostrar superior quando tem a chance.
Ela me faz pensar no quanto sou superficial.
— Droga. — Dessa vez, minha voz sai mais alta e Hori
para. — Não foi para você, tá? — Agacho e ela se aproxima. —
Mas precisa trabalhar esse ciúme. — Afago suas orelhas.
Deixo Hori no apartamento da Sky, e pelo visto, eles ainda
estão dormindo, então vou para o apartamento do Jace. Encontro
Ellie sentada, com um livro na mão.
— Por que você não aproveita e dorme mais um pouco?
— Sento-me ao seu lado no sofá.
— Nunca fui de dormir até tarde, é como se meu tempo
estivesse sendo desperdiçado quando poderia ser aproveitado de
milhões de maneiras diferentes.
— De onde você saiu? — brinco com ela.
— De algum Sci-fi, provavelmente — rebate casualmente.
— Já tomou seu café?
— Não.
— Que bom, comprei bastante coisa e jamais conseguiria
comer sozinha. — Ela levanta e deixa o livro no sofá. — Ah,
espero que não se importe, vi o livro na mesa e como estava
esperando você chegar, quis me distrair.
— Problema nenhum. Você me esperou para tomar café?
— Uhum — assente e vai para a cozinha. Eu a acompanho
e tento pensar em qualquer coisa que não seja as pernas dela nesse
vestido. Ela voltou a usar a mesma roupa do jantar, e foi engraçado
quando nos esbarramos mais cedo, já que ela foi comprar o café
vestida dessa forma e usando saltos.
— Você pode usar as roupas da Sky, tem um monte aqui.
— Puxo a cadeira para ela se sentar.
— Obrigada, mas acho que prefiro usar a minha roupa; já
estou abusando demais da hospitalidade de vocês.
— Falou com seu irmão?
— Avisei que ia passar a noite fora, e enviei uma
mensagem mais cedo confirmando que estava bem, mas que queria
conversar.
— Que bom que você decidiu falar com ele.
— Não gosto de meias-palavras, Cameron, nem de
situações inacabadas. Detesto mal-entendidos gerados por falta de
um simples diálogo, então, se estou com uma dúvida, vou lá e tiro,
mesmo que tenha medo do que vou descobrir.
— Voltamos para o Cameron?
— É o seu nome.
— É como a minha mãe me chama. E quando ela está bem
brava, o que acontece com certa frequência. — Ela ri.
— Por que você me chama de Ellie?
— Quer saber mesmo?
— Sim.
— Acho que ninguém te chama assim. — Ela me encara
por alguns segundos, absorvendo minhas palavras.
— Você me chamou assim poucos minutos depois de me
conhecer — conclui.
— É porque em poucos minutos, eu já sabia que ninguém
chamava você dessa forma.
Ela sorri, contida, parecendo satisfeita com a minha
resposta e volta sua atenção para o café. A verdade é que sempre
fui bom em ler pessoas, e quando a conheci, tive certeza que
detestava apelidos. Confesso que no momento falei apenas para
irritá-la, mas agora, sentia uma satisfação por saber que ninguém
mais a chamava assim.
O restante da manhã é gasto com distrações banais,
basicamente eu, jogando videogame, e ela, lendo o livro no sofá.
Até sermos interrompidos pelo meu irmão.
— Desculpem, só vim buscar algumas coisas — diz Jace
ao entrar. Ele parece surpreso com a cena presenciada na sala.
Estou sentado no chão, enquanto a Ellie está deitada no
sofá, ou melhor, estava, porque quando Jace entrou, ela se levantou
tão depressa que deixou o livro cair bem em cima da minha cabeça.
— Desculpe — começa a se desculpar, nervosa, pegando o
livro.
— Não se preocupe. Cam tem a cabeça mais dura do que
pedra. — Jace ri da situação.
— Engraçadinho. — Levanto-me do chão. — Ellie, esse é
o babaca do meu irmão; babaca do meu irmão, essa é a Ellie.
— Prazer, meu nome é Jace, não “babaca do meu irmão”
— diz enquanto apertam as mãos.
— Sou Eleanor. — Jace me encara confuso. — Seu irmão,
aparentemente, não gosta do meu nome.
— Interessante — diz ele, mas não o deixo continuar, já
que logo o retiro da sala e vamos para o seu quarto.
— Por que não me avisou que vinha? — questiono.
— Não preciso avisar que estou vindo no meu
apartamento. — Droga, ele está certo. — É impressão minha ou
você parece nervoso?
— Impressão sua, uma porra de uma impressão errada.
— Certo. — Ele vai até o armário e pega o laptop. — Vou
ficar no apartamento da Sky, então você pode ficar aqui o tempo
que precisar — fala e começa arrumar uma mochila, colocando
algumas roupas.
— Obrigado, mas não sei se ela vai ficar aqui mais uma
noite.
— O que aconteceu? Você não está metido em nenhum
problema, não é?
— Caramba, Jace, não. Por que todo mundo pensa que
estou metido em problemas? — Jace me olha e nem precisa dizer
nada, está com aquele olhar. Aquele, que diz: Quer mesmo que eu
responda? — Ellie está com problemas em casa, ela só precisava de
um tempo.
— Ela parece ser uma pessoa legal.
— Sim, ela é.
— Sabe como eu sei disso? — Jace fecha a mochila e
coloca a mão no meu ombro. — Porque nunca vi você com uma
mulher da forma como estava quando entrei na sala.
— E como é isso? — Cruzo os braços e Jace sorri.
— Vocês estavam vestidos, e não transando no meu sofá e,
ela estava bastante concentrada lendo “O Universo numa Casca de
Noz”, um livro de física.
Sorrio, porque ele tem razão. Ellie é especial. E vi isso no
primeiro dia quando ela acreditava que eu era uma mulher. Mas
jamais direi isso em voz alta.
Jace se despede de nós e avisa a Ellie que ela pode ficar o
tempo que precisar. Ele vai passar alguns dias na casa da Sky, e
acredito que nunca mais volte para cá, já que ela está tendo enjoos
e ele quer ficar por perto. Quando me conta isso, vejo que os olhos
de Ellie brilham sonhadores. Mulheres.
— Se você não vai usar as roupas da Sky, precisa buscar
as suas — afirmo.
— Estava esperando poder usar esse vestido mais um
pouco, achei ele bem sexy, você não? — brinca. Ela ainda está
deitada no sofá com o livro, e há uma almofada nas suas pernas
evitando qualquer tipo de cena constrangedora.
Só que agora, eu também coloco uma almofada no meu
colo, pois ao mencionar o vestido sexy, ela acabou com meu
controle.
— Você não pode usá-lo para sempre.
— Quem disse que não? — retruca. Eu me referi ao
vestido, mas ela sabe sobre o que estou falando. Ellie precisa
encarar a situação na casa dela.
— Como é o casamento dos seus pais? — pergunta e eu
paro o jogo. Já é final de tarde, e passamos o dia inteiro aqui. Jace e
Sky enviaram comida, então não havia mais nada para fazer.
— Eles se conheceram de uma forma bem doida. — Ela
sorri — Meu pai era ex-namorado da irmã dela. — Seus olhos
ampliam, acho que ela ficou um pouco surpresa. — Mas não é nada
disso que sua mente pode estar imaginando. Tia Helena e meu pai
não tinham mais nada quando ele conheceu a minha mãe.
— E então?
— Bom, eles se esbarraram por um acaso, se apaixonaram,
ela saiu de Los Angeles e se mudou para cá. Fizeram lindos bebês e
fim.
— Meu Deus, você é péssimo em contar histórias. — Ela
ri.
— Você sabe que a minha mãe era pilota? De testes de
uma equipe de Fórmula 1 em Los Angeles. O sonho dela era ter o
posto principal.
— O que aconteceu?
— Meu pai.
— Ele pediu para ela abandonar a carreira? — Agora ela
parece chocada.
— Não, mas eles se amavam, e ela escolheu seguir outro
caminho, junto com meu pai. E não se arrependeu disso.
Ellie fecha o livro, em seguida se senta ao meu lado, no
chão.
— Meus pais se conheceram muito jovens, namoram
desde a escola, foram os primeiros um do outro, entende? —
Concordo com a cabeça. — Cresci em um lar com muito amor,
Cam, talvez por isso tenha ficado tão chocada com tudo que
aconteceu ontem, porque sempre que penso nos dois como casal,
eu só vejo amor. Então...
— Então você não consegue ver nenhum sentido.
— Isso. — Seguro a mão dela.
— E essa conclusão está te sufocando, pois você não gosta
do inesperado, você lida com fórmulas, cálculos, com resultados
exatos — afirmo.
— Sim, acho que é isso.
— Também cresci em uma casa cheia de amor, Ellie, mas
tivemos muitos momentos inesperados. A prisão do meu irmão foi
um desses momentos, no entanto, em nenhum deles nos deixamos
abater. Nós sempre superamos, juntos.
— Acho que na minha família não existe mais isso, Cam,
esse “juntos”.
— Talvez o “juntos” de vocês seja de uma forma
diferente. Você não pode esperar nada exato quando o assunto
envolve pessoas.
— Acho que nunca ninguém me disse algo tão verdadeiro.
— Noto seus olhos encherem de lágrimas.
— Você provavelmente vai escutar muitas coisas de mim,
algumas bem impróprias — sorrio —, mas você nunca vai me
ouvir falar uma mentira.
— E pensar que te detestei no momento em que você abriu
a boca pela primeira vez. — Limpa as lágrimas e sorri.
— Ei, e quem disse que eu gosto de você?
— Se não gostasse, não teria me dado abrigo — retruca.
— Ah, é? Acho que vou deixar você usar esse vestido até
ele andar sozinho de tão sujo.
Ela mostra a língua.
Porra. ELA. MOSTRA. A. LÍNGUA.
Meu pau responde ficando em alerta.
— Você deveria parar com isso.
— Isso o quê? — finge inocência. — Mostrar a língua? —
repete o resto.
Merda.
— Muito maduro da sua parte — resmungo.
— Desculpa. — Ela ri. — Não costumo agir assim,
geralmente estou cercada de pessoas mais velhas, e, sei lá, acho
que você desperta o meu pior.
E você desperta algo que ainda não sei o que é, mas que
estou ficando viciado, penso.
ELLIE
Desconfortável. Essa palavra descreve muito bem esse
momento. Ainda estou no quarto de hóspedes do apartamento do
irmão do Cam, mas ele me convenceu a ligar para o meu irmão.
E foi o que fiz. Ethan não ficou muito feliz quando eu
disse que havia passado a noite ali, e quando Cam disse que ficou
lá, pensei que meu irmão iria matá-lo.
Agora, estamos nós dois, sentados na cama. Ethan está em
silêncio, pensando em cada palavra que disse sobre o que
aconteceu no dia anterior.
Na ligação do papai, sobre nossa mãe saber. Contei tudo, e
agora meu irmão parece estar em estado de choque.
— Ethan, preciso que você diga algo — incentivo.
— Queria dizer que não acredito em nada do que você
disse — finalmente diz algo e passa a mão no cabelo, frustrado. —
Mas se tem uma pessoa nesse mundo que jamais mentiu ou
mentiria para mim, esse alguém é você. Senti que havia algo
errado, mas queria te dar espaço.
— Você não conseguiu dormir, não é? — Ele nega com a
cabeça.
Sabe essa coisa de gêmeos? Pois é, temos isso quando um
de nós está passando por algum estresse muito grande. Quando
estava de mudança para o alojamento do MIT, passei a noite em
claro, Ethan também. Sempre que tenho algum teste importante, ele
sente todo meu nervosismo e vice e versa.
— Desculpa, não queria que isso afetasse você.
— Por favor, Ginger, quem precisa pedir desculpas aqui
sou eu. Não deveria ter ignorado quando vi que você se afastou no
jantar.
— Quando o papai começou a fazer o discurso, eu não
aguentei.
— Agora eu entendo, droga, se soubesse, também não
teria aguentado. O que pretende fazer?
— Quero ficar aqui mais esta noite, e amanhã penso como
será. Não posso voltar para a faculdade até terminar o semestre,
então acho que estou presa aqui, só não quero voltar para casa
ainda.
— Tudo bem, posso ficar aqui e te fazer companhia.
— Não precisa, Ethan. Cam está aqui, não estarei sozinha.
— Está me dizendo que prefere ficar aqui com o Cam? O
cara que você não suporta?
— Eu o julguei mal, tudo bem? Aparentemente, julguei
mal muitas coisas.
— Ginger, nem eu mesmo sabia sobre os nossos pais e, me
desculpe, Cam é meu melhor amigo, então sei que só se estivesse
maluco deixaria minha irmã dormindo sob o mesmo teto que ele.
— Ele não vai me atacar.
— Sei que não. Cam jamais faria isso. Mas sei que
nenhuma mulher resiste a ele.
— Assim como nenhuma mulher resiste a você? —
questiono e ele sorri.
— É disso que estou falando — diz com um sorriso sem-
vergonha.
— Seu amigo não está interessado em mim dessa forma.
Ele não foi nada além de solícito e bastante respeitoso. E, com
certeza, não sou o tipo de mulher que ele ia querer levar para cama.
— Ah, minha irmã, você pensa muito pouco de si mesma
— afirma. Dando uma batidinha no meu joelho, ele se levanta. —
Você tem tudo que precisa?
— Sim, obrigada por trazer minhas coisas. — Pedi para
ele trazer roupas para uma semana, mesmo sem ter ideia se ficarei
aqui.
— De nada, mas espero que não precise usá-las e que logo
esteja em casa, ou no MIT, em qualquer lugar que não seja no
quarto ao lado do Cam. — Ele se aproxima e me abraça. — Eu te
amo.
— Também te amo.
— Não sei o que fazer quando chegar em casa —
confessa.
— Sei exatamente como se sente. — Eu o abraço mais
forte.
Saímos do quarto e encontramos Cam na sala, com um
caderno aberto, distraído com a TV.
— Acho que isso explica muita coisa. — Minha voz faz
com que ele se assuste.
— O quê?
— Estudar e assistir TV ao mesmo tempo. — Ethan ri ao
meu lado. — Explica o motivo das suas notas serem tão baixas. —
Cam apenas resmunga e volta sua atenção para a TV.
— Cuide-se. — Ethan beija meu rosto. — E, Cam?
— Hum?! — responde sem tirar os olhos da TV.
— Minha irmã está fora dos limites. — Isso chama sua
atenção. — Muito, muito, muito fora dos limites.
Ethan beija novamente meu rosto e sai. Acho que ouço
quando Cam diz: tarde demais, mas a TV está alta, então posso ter
escutado errado.
Volto para o quarto para tomar um banho e trocar de
roupa. Confesso que estava me sentindo um pouco suja usando o
mesmo vestido do dia anterior.
— Que jogar? — Cam pergunta quando retorno para a
sala.
— O quê?
— Xadrez.
— Você joga xadrez? — Isso me surpreende.
— Meu pai me ensinou quando tinha cinco anos, isso
ajuda a me concentrar.
— Tem algum problema com concentração?
— Sim e não.
— Como assim? — Sento-me ao seu lado no tapete da
sala, enquanto ele abre a caixa e monta o tabuleiro de xadrez na
mesinha de centro.
— Eu me concentro, mas só quando é algo que me
interessa de alguma forma, ou quando sou desafiado.
— Ah, então seu problema é excesso de mimo. Se não for
como você quer, não desperta seu interesse?
— Ai! Essa doeu, Ellie, doeu. — Põe a mão no coração
fingindo estar ofendido. — Deixando meu ego abalado de lado,
como foi a conversa com seu irmão?
— Ethan não fazia ideia do que estava acontecendo
também.
— Imaginei.
— Sabe, pela primeira vez alguém acreditou mais no meu
irmão do que eu mesma, isso nunca havia acontecido antes. Você é
um bom amigo, Cam. Obrigada. — Pego na sua mão e aperto em
agradecimento.
— Não sou um bom amigo.
— Por que diz isso?
— Porque quando ele disse que a irmã dele estava fora dos
limites, eu só conseguia pensar no quanto amo quebrar regras e
ultrapassar limites.
Fico sem palavras.
— Então, minha sugestão é — continua sem mover nossas
mãos —, vamos jogar xadrez, isso vai ajudar a me concentrar em
outra coisa.
— Está dizendo que o que meu irmão disse fez você se
interessar por mim? Como... como se fosse uma aposta? — Tiro
minha mão da dele e me levanto, mas ele é rápido e logo estamos
frente a frente.
— As palavras do seu irmão só despertaram meu lado
idiota, o lado que adora ser desafiado. — A mão dele toca meu
queixo, erguendo meu rosto. — Mas quis ultrapassar os limites
desde quando você disse que pensava que eu era uma mulher. E
isso está me deixando maluco.
— Por que você está interessado em mim?
— Porque você é a única mulher que me fez pensar, Ellie.
Você me desafia o tempo todo.
— Eu ofendo você, é diferente. Você passou a semana
inteira me ignorando, e... — me afasto tentando ter um pouco de
espaço — Você não gosta de mim — concluo.
— Precisa parar de tentar buscar alguma explicação
lógica. Acredite, eu tentei.
— Eu... vou para o quarto.
Saio correndo, sem dar chances para ele falar. Respiro
fundo, várias vezes, para tentar acalmar as batidas do meu coração.
— O que foi que aconteceu? — pergunto para ninguém em
particular.
Ele não pode estar falando sério. Pode? Não havia razão
nenhuma, nenhum indício, ou situação. Nada. Cameron passou a
semana me ignorando, cada dia havia uma mulher diferente lhe
fazendo companhia durante o almoço. Não que eu estivesse
prestando atenção. Mas meu irmão e ele não eram discretos, o que
tornava impossível não notar.
— Ellie? — Quase pulo de susto quando ele bate à porta.
— Podemos conversar?
— Não sei — respondo ainda sem abrir. Deus, quando foi
que dei uma resposta dessas? Não sei?! Eu sei, sempre sei das
coisas. Ou assim pensava.
— Por favor, Ellie, só quero conversar, não quero que
interprete mal nada do que eu disse.
— Não sou idiota, sei interpretar muito bem. — Droga,
agora estou sendo infantil.
— Jura? Então por que você não abre e vamos conversar?
Vou até a porta e a abro.
— Porque a porta nunca esteve trancada. — Cruzo os
braços, mas ele sorri.
— E eu jamais entraria sem a sua permissão, mesmo que
estivesse escancarada.
Touché.
— Gosto de você, não sei o motivo, não faço ideia se é
apenas uma atração. Mas sei que gosto da sua companhia, ou da
maneira como você me enfrenta. Ou do jeito como você ajusta os
óculos, e morde o canto da unha quando está concentrada. Gosto
como fica sem jeito e ao mesmo tempo furiosa quando algum cara
da escola olha mais tempo do que o necessário para as suas pernas.
Não existe uma explicação lógica para isso, Ellie, nem tudo
podemos explicar.
— Você mal me olhou na escola durante essa semana. —
Toco novamente no assunto. Na verdade, nem sei o porquê isso me
atormenta. Mas faz, e muito.
— Sim, mas o que você não via, era como prestei atenção
em cada passo seu durante esses dias.
— Isso é loucura.
— Sei disso, e é por essa razão que vim aqui te chamar
para jogar xadrez. — Estende a mão; eu hesito. — Você tá
processando muita coisa agora: seus pais e tudo que falei. Já disse
que não faria nada que você não quisesse e estou falando a verdade,
também estou bastante confuso aqui, então quando digo “vamos
jogar xadrez”, quero dizer exatamente isso.
Droga, ele sempre tem as palavras certas, na hora certa.
Pego sua mão, aceitando seu convite, e só então entendo as
palavras do meu irmão: nenhuma mulher resiste a ele.
Esse jogo ia ser uma sessão de tortura.
ELLIE
Depois da escola, fui com Heather até sua casa. Ela estava
com dificuldades em terminar um trabalho de literatura inglesa,
então resolvi ajudar.
Não que essa matéria fosse meu forte, mas aprendia
rápido. Porém, quando finalmente conseguimos concluir, ela viu
várias mensagens em um aplicativo de conversa. Aparentemente,
existe um grupo da escola e eles se comunicam ali.
Teria uma corrida à noite, as apostas já haviam começado,
e não fiquei surpresa ao ver que o nome do Cameron era o mais
cotado. Mesmo que soubessem que ele não podia correr, todos
sabiam que a chance de ele recusar, se fosse desafiado, era nula.
Mas, não foi isso que me preocupou.
A família de Heather estava em casa, incluindo um tio,
policial. E aí foi quando realmente me surpreendi, após o jantar,
pois ele recebeu uma mensagem informando sobre um racha que
aconteceria em uma pista afastada da cidade. Heather viu por um
acaso quando estava recolhendo os pratos.
Então, aqui estamos, no local onde acontecerá a corrida.
Heather foi em busca do meu irmão, enquanto eu, estou encarando
o motivo dos meus pesadelos diários.
Cam.
Ele está lindo.
Blusa branca, jeans. Básico, simples. Surpreendentemente
sexy.
E está sorrindo.
Idiota.
— Então, é assim que você trata suas namoradas? Com
tanta cortesia? — Cruzo os braços aguardando sua resposta.
Quando cheguei, ele estava em uma discussão bem acalorada com
Tris, a rainha das Marias Gasolina.
— Se eu tivesse uma namorada, com certeza não a trataria
dessa forma.
— Então você reserva sua dose de prepotência apenas para
o restante da população feminina que não namore você. — Dessa
vez, ele ri, alto.
— Meu Deus, Ellie, não. Não é nada disso, tudo bem? —
Cam se aproxima, mas não mudo a minha postura. — Trato as
pessoas como elas me tratam, se me respeitam, terão respeito,
independente do sexo.
Fico sem palavras, ele está certo.
— Agora, o que você está fazendo aqui?
— A polícia sabe o que está acontecendo, e podem chegar
a qualquer minuto.
— Eles sempre sabem. Isso não é novidade.
— Sério, Cam, vamos embora, não precisamos estar aqui.
— Não vou correr, se é isso que está pensando, então
relaxa e vamos ver qual babaca da vez pensa que sabe dirigir — diz
envolvendo os braços no meu ombro e começa a andar.
Eu o paro.
— Por que você não leva nada a sério? Não estou
brincando, Cam, por favor, você não precisa estar aqui, você tem…
— Tenho uma família que tem a porra de uma das
melhores equipes de corrida, eu sei disso, e quer saber? Não estou
nem aí, não mais. Sabe por quê? — Balanço a cabeça em negação.
— Porque eu preciso ser a droga do filho perfeito se quiser sentar
no banco de um dos carros da WR Racer, e Ellie, eu não sou
perfeito.
Cam me dá as costas e vai embora, deixando-me mais uma
vez sem palavras. Não sei o que fazer, então ligo para Ethan.
Demora o que parece uma vida para que ele atenda, e mal
consigo entender metade do que diz. O barulho das pessoas
conversando somado ao som da música não ajuda em nada. Pelo
menos, consigo entender onde estão e sigo para lá.
Andando entre a multidão, começo a observar. De
verdade, eu nunca estive em um lugar como esse antes. Há dois
carros posicionados na pista, mas não há ninguém no volante.
Muitos rostos conhecidos da escola, aparentemente todos estão se
divertindo.
Droga, será que ninguém aqui se preocupa? Localizo meu
irmão, e junto a ele estão Cam e Heather, e outras pessoas que não
tenho a menor ideia de quem sejam.
— Prontos para irmos? — pergunto quando me aproximo
do grupo.
— Não vamos embora, Eleanor. — Ethan responde e sinto
vontade de socá-lo.
— Heather? — peço ajuda à minha amiga.
— Avisei a eles sobre a mensagem que meu tio recebeu,
ninguém se importa.
— Como assim, ninguém se importa? — Olho para meu
irmão e depois para Cam que parece totalmente alheio, olhando
para os carros na pista.
— Ouça, lindinha, não tem necessidade de pirar, aqui todo
mundo é parceiro e ninguém vai chamar a polícia. — Um cara com
cigarro na mão toca no meu braço.
— Tire as mãos de mim — digo.
— Ah, qual é, a princesinha é de vidro?
Noto quando Ethan faz um movimento para intervir, mas
algo, ou melhor, alguém é mais rápido, e antes que possamos fazer
alguma coisa, o cara está sendo erguido pelo colarinho.
— Ela disse para tirar as mãos, você é surdo, por um
acaso?
— Ei, ei… calma, campeão. — Ele ergue as mãos em sinal
de rendição. — Não sabia que a princesinha tinha dono.
— Seu… — Cam ergue o punho, porém Ethan o detém.
— Não vale a pena, Cam. Larga ele.
— Se você olhar para ela, chegar perto ou respirar perto
dela, arrebento você, entendeu?
O cara não responde, ele apenas encara com um sorriso
debochado no rosto.
— Cam, por favor — sou eu que imploro dessa vez, ele
parece ouvir, porque finalmente larga o imbecil.
— O que está acontecendo aqui? — Um homem surge, e
ele parece bem mais velho do que nós.
— Seu menino de ouro parece estar bem esquentadinho
hoje — diz o idiota. Me pergunto por que não deixei Cam
arrebentar a cara dele.
— Alex, que tal você ir para o carro? Acho que tem gente
apostando em você hoje.
— Te vejo na pista? — diz para Cam, mas depois sorri. —
Opa, acho que não, o bebê Willers ainda está de castigo.
Cam avança, mas Ethan e o homem que acabou de chegar
o detêm. O tal Alex sai rindo e vai para o carro.
— Que tal descarregar essa raiva na pista? Nosso piloto
desistiu e não tenho mais ninguém.
— Você sabe que ele não pode, Thiago — Ethan é quem
responde, olho para o homem, ele é bem impressionante. E se estou
certa, de acordo com as fofocas, é ele quem organiza as corridas.
— Posso responder, Ethan — diz Cam, sério. Ele me olha
por alguns segundos e depois volta a olhar para Thiago. — Vou
correr.
Há um brilho sinistro nos olhos dele quando ouve a
resposta positiva do Cam. Eu não gosto disso, nem um pouco.
— Vou preparar tudo — diz e vai embora.
— Você o quê? — Tento manter minha voz controlada.
— Correr, vou correr. Você ouviu, Ellie, não finja que
não.
— Não estou fingindo, só não estou acreditando. Você não
pode correr, Cam, está…
— De castigo? — conclui minha frase — Sou ótimo em
quebrar regras. — Ele dá uma piscadinha e sai.
— Não acredito. — Olho na direção que ele foi, está indo
para um dos veículos que estavam posicionados na pista.
Um Impala preto, um belo carro, diga-se de passagem.
— De quem é o carro? — pergunto para Ethan.
— Thiago, ele empresta o carro para alguns pilotos
correrem, em troca, dividem o prêmio.
— E claro, geralmente é o Cam que corre para ele —
concluo.
— Na maioria das vezes, sim. Ele não precisa da grana,
então entrega tudo para o Thiago.
— Muito sábio, esse tal Thiago.
— O que você está pensando? — é Heather quem
pergunta.
— Que a polícia pode chegar a qualquer momento, que
Cam foi manipulado para correr, e que vou acabar com essa
palhaçada, agora mesmo.
— Eleanor, ninguém consegue tirar o Cam de dentro de
um carro, quando ele entra lá, é como se algo o possuísse, não sai
até finalizar a corrida.
— Ethan têm razão, da última vez, a mãe dele correu
contra ele.
— Sei disso, mas ele vai sair, nem que eu tenha…
Uma ideia surge e saio correndo para impedir essa corrida
idiota. Só espero que funcione.
CAM
Não esperava encontrá-la aqui, de todo lugar dessa cidade,
esse é o último local que esperava vê-la. Mesmo que Ethan tenha
mencionado a possibilidade de ela vir, ainda era apenas uma
possibilidade.
Agora, meu sangue ardia correndo pelas veias, tão rápido,
intenso. Estou com raiva pela forma como a tratei, pela maneira
como Alex a tocou e falou com ela.
E agora, estou furioso comigo mesmo. Porque estou
sentado, no banco do motorista de um carro que adoro dirigir,
quebrando uma promessa que fiz aos meus pais.
Só que não sinto vontade nenhuma de parar. Ao contrário,
meu pé toca o acelerador e o som faz meu corpo inteiro vibrar com
expectativa.
Merda, quanto tempo faz que não corro?
Olho para o lado, Alex está em um Camaro preto; o carro
é bom, mas sei que o Impala do Thiago é superior. Já corri várias
vezes com ele antes. Alex nota que estou olhando e sorri
presunçoso, ah, será um prazer fazer esse babaca comer poeira.
Quando volto a fixar meu olhar para a frente, engato a
marcha e piso no acelerador. O som do motor faz a plateia gritar.
Mas é outro grito que chama minha atenção.
— Cam! — Ellie está bem na frente do meu carro. Fecho
os olhos e respiro fundo, sem acreditar.
— É melhor sair, Ellie! — grito.
— Não, é você quem tem que sair daí — retruca.
— Você está dando um show desnecessário. Apenas saia
— digo alto para que ela possa me ouvir.
— Faça-me sair. — Ela cruza os braços me desafiando.
Piso no acelerador, ela não vacila com o barulho. Movimento o
carro apenas o suficiente para ver se ela se move. Nada.
Ellie é teimosa demais. Irritante demais. Exatamente como
eu sou. Pego meu telefone e busco o nome do Ethan, ele vai ter que
tirar a irmã dele do meu caminho.
— Você precisa… — paro de falar no instante que olho
para Ellie. — Puta que pariu!
— O que foi? — Ethan pergunta.
— Merda, merda, merda…
Largo o telefone no banco do passageiro; consigo ouvir
Ethan gritar meu nome, mas foda-se, a visão na minha frente me
deixou paralisado.
Ellie tirou a blusa. ELA TIROU A PORRA DA BLUSA.
E agora, está com as mãos tocando a alça do sutiã.
Os gritos de “tira-tira” fazem minha razão voltar ao
normal. Nem fodendo vou deixá-la fazer isso. Saio do carro.
— O que está fazendo? — Pego a blusa dela que está em
cima do capô do carro e tento cobri-la.
— Tirando você do carro.
— Precisava ficar nua?
— Eu nem havia começado. E então, vamos embora ou
terei que tirar o resto? — ameaça retirar o sutiã.
— Entra no carro.
— Mas…
— Entra na droga do carro, Ellie, ou juro por Deus que
vou jogar você lá dentro. — Ela engole em seco, mas obedece, em
seguida entro no carro.
— Ligue para o seu irmão, diga que estamos saindo.
Noto quando ela sorri vitoriosa. Diferente do que as
pessoas pensam, eu não vou correr, dou a volta com o carro e saio
da pista.
— Estamos roubando um carro?
— Pegando emprestado.
— Acredito que o dono não vai gostar.
— Ele supera. — Dou de ombros. Mais à frente, vejo luzes
piscando. É a polícia. — Droga.
— Ethan! — Ellie diz ao mesmo tempo que pega o celular,
bastante nervosa.
— Ele não está mais lá, não se preocupe. — A polícia
passa por nós em disparada, e respiro aliviado. Não faço ideia do
que pode ter dentro desse carro, e não estou a fim de descobrir.
— Eles não vão nos parar? — Ela observa surpresa ao ver
mais duas viaturas passarem.
— Por favor, só agradeça por termos sorte.
— Mas…
— Sem “mas”, vamos embora. — Acelero e o carro
dispara na pista.
— Tem certeza que o Ethan saiu?
— Sim, mas continue tentando falar com ele, vai se sentir
melhor.
— Obrigada.
Ellie consegue falar com o irmão. Eu sabia que Ethan
tinha saído antes da polícia chegar; não era a primeira vez que isso
acontecia, ainda assim, hoje parece ser diferente. Preciso agradecê-
la. Ellie teve o timing perfeito, e se não fosse por ela, agora estaria
telefonando para Jace, ou pior, para os meus pais.
— Você está bem? — pergunta.
— Sim, desculpe é só… preciso me desculpar com você
— digo sem tirar os olhos da estrada.
— Poderia estar me vangloriando agora, mas se for
sincera, estou bastante aliviada.
— Quer ir para casa?
— Tem alguma outra sugestão?
— Com certeza.
ELLIE
Mágica. Arte que supostamente produz por meios de
práticas ocultas, fenômenos extraordinários que contrariam as leis
naturais.
Foi exatamente isso que Cam fez comigo quando me
beijou pela primeira vez. Mágica, algo novo e extraordinário está
se formando dentro de mim, e só foi preciso um beijo.
O beijo dele.
Cam riu quando na volta para casa contei a ele que já
havia beijado, mas que foi um completo desastre porque o garoto,
naquela ocasião, sabia tanto quanto eu, ou seja, nada. Nossos lábios
mal se tocaram e logo estávamos nos afastando.
Foi constrangedor. E o garoto era meu vizinho, tínhamos
uns treze anos, se bem me lembro.
Completamente diferente do que aconteceu duas noites
atrás. Meu primeiro beijo de verdade foi mágico.
Agora estava me preparando para a realidade, a qual eu
deveria voltar para casa. Meus pais telefonaram há meia hora atrás,
pedindo, ou melhor, exigindo, que retornasse. Minha mãe quer
conversar, mas não sei se estou pronta, ou melhor, não sei se
saberei lidar com as escolhas dela.
Cam não gostou nada quando o mantive afastado assim
que retornamos. Ethan estava em casa, e eu não queria uma cena.
Mas estava sendo um pouco difícil controlá-lo na escola. Ele
simplesmente andava de mãos dadas comigo sempre que podia, e
hoje fez questão de beijar meu pescoço quando me viu no refeitório
almoçando com Heather.
— Ei, por que está demorando? — Cam entra no meu
quarto no instante em que estou arrumando minhas coisas. — Vai
sair?
— Não e sim. — Sua expressão confusa me faz sorrir.
Paro de guardar as roupas e vou até ele, que me abraça assim que
me aproximo.
— Oi — diz com um sorriso, enquanto passo meus braços
ao redor do seu pescoço.
— Oi.
— Pretende fugir?
— Não, na verdade ia falar com você, só estava
organizando tudo. Meus pais me ligaram, querem que eu e Ethan
voltemos para casa.
— E você está bem com isso?
— Com certeza não, mas não posso fugir para sempre, não
é?
— Não vejo problema, desde que fuja comigo. — Cam
tem um sorriso brincalhão no rosto, mas sei que cada palavra que
disse é verdadeira.
— E para onde você me levaria? — Entro na sua
brincadeira.
— Qualquer lugar que tivesse sol, onde pudéssemos andar
de carro com a capota abaixada. Quero ver seu cabelo voando por
causa do vento. — Ele toca meu cabelo, em seguida retira o
elástico que o prende.
Seus dedos passam entre os fios, de ponta a ponta, e fecho
os olhos aproveitando seu toque.
— Quero te pedir uma coisa — diz. Eu aceno com a
cabeça incentivando-o a falar, porque simplesmente não consigo
abrir os olhos. Seu toque é inebriante. — Quero fazer você gozar.
Ele é direto, e isso não me surpreende. Abro os olhos para
encará-lo, vendo que o sorriso brincalhão se foi, dando lugar a um
olhar cheio de expectativa.
— Você sabe que sou virgem, não é?
— Sei, e respeito qualquer decisão que você tome. Mas
quero muito fazer isso pra você. — Meu coração acelera tão rápido
que acredito que possa ter um ataque cardíaco.
— Não vamos transar, Ellie, mas quero te fazer gozar,
quero sentir você perdendo o controle — Cam diz cada palavra
bem devagar, sua voz em um tom baixo, suave.
As palavras do meu irmão novamente me vêm à mente.
Ninguém diz não a Cameron Willers.
Ao concordar, bloqueio a voz interior que me diz que será
apenas mais um “sim” na sua lista infinita. Não é isso que meu
coração sente, mas ainda assim, é a primeira vez que não escuto a
voz da razão.
Cam me surpreende ao me pegar no colo, tirando a minha
mochila de cima da cama, ele me posiciona com cuidado.
— Tive vontade de te beijar todos os dias — diz, seu
corpo acima do meu. — Tive vontade de dizer para o seu irmão
que estamos juntos, de dizer para cada maldito garoto daquela
escola que você é minha namorada.
— Não somos namorados. — Ele sorri com a minha
resposta.
— Ah, não? Tarde demais para isso, Ellie. Sou seu desde
aquele dia no autódromo, quando nos beijamos. Agora — toca meu
nariz —, preciso saber se você quer ser minha.
— Sua namorada?
— Por enquanto.
— Tem certeza?
— Sim, tanto quanto amo pilotar. — Sua resposta me
deixa sem fala, acho que é a coisa mais intensa que alguém já me
disse.
— Acho que podemos tentar — respondo ainda receosa.
— Feche os olhos — pede e eu obedeço. — Agora, por
favor, não pense em germes.
Isso me faz rir, mas logo meu riso é substituído por um
gemido, pois a boca dele invade a minha roubando todo o meu
fôlego.
É nosso segundo beijo, e é tudo tão inebriante. Seu corpo
paira acima do meu, sua boca possuindo a minha. Cam não está me
beijando, ele está me devorando.
Aos poucos sinto os movimentos das suas mãos. Ele beija
meu pescoço ao mesmo tempo que começa a abrir os botões da
minha camisa, expondo meu sutiã.
— Não acredito que você ia mostrá-los para aqueles
babacas no dia da corrida — diz com a voz carregada de desejo, ele
passa a língua nos lábios, e me pergunto como seria se ele a
passasse nos meus seios.
Mas não preciso falar, é como se estivéssemos em
sintonia. Cam toca a alça do meu sutiã e desliza pelo meu braço.
Ergo um pouco minhas costas para lhe dar acesso. Ele sorri ao abrir
o fecho com rapidez.
Logo a peça está fora, e estou fascinada com o olhar que
ele me dá.
— Puta merda, acho que me minha mãe vai se decepcionar
quando eu disser que todo juízo que ela quer que eu tenha se foi, só
com a visão dos seus peitos, Ellie.
— Muito romântico da sua parte mencionar sua mãe. —
Bato de leve em seu braço.
— Bem lembrado, nada de mães e nada de germes,
estamos de acordo? — Concordo. — Agora, feche os olhos, Ellie, e
aproveite o passeio.
Cam envolve meu seio com uma das mãos, em seguida o
leva à boca. Ofego quando sinto sua língua tocar meu mamilo. E,
caramba, é tão bom.
Ele só tirou a parte de cima da minha roupa, mas estou
sentindo meu corpo pegar fogo em todos os lugares.
Ele suga com vontade, alternando entre mordiscar, chupar
e lamber. E, meu Deus do céu! Acho que vou explodir.
— Cam... — Meu quadril ganha vida, movimentando-se,
indo ao encontro do dele. Sinto seu sorriso na minha pele quando
ele vê que estou correspondendo da maneira como quer: perdendo
meu controle.
— Vou tocar em você, tudo bem? — Não compreendo a
extensão das suas palavras até que percebo que está abrindo o zíper
da minha calça jeans.
Cam faz tudo tão lentamente quanto possível, e por um
segundo penso se existem dois dele. Esse paciente e o outro
impulsivo.
Uma trilha de beijos é formada, indo dos seios até meu
ventre. Suas mãos puxam devagar minha roupa para baixo, eu
deixo.
— Confia em mim? — Cam para de me beijar, e olho para
baixo, vendo que ainda estou completamente despida. Exposta para
ele como jamais estive para ninguém.
— Você tem o controle aqui, Cam.
— Repete, por favor.
— Você tem o controle aqui.
— Agora diga meu nome.
— Cameron. — Brinco com seu nome, e ele sorri beijando
meus lábios em seguida.
— Porra, só você para me excitar quando diz meu nome
assim. Prepare-se — ele aproxima a boca da minha orelha —,
Eleanor.
Meu nome sai como um gemido. Seu tom enrouquecido
deixa-o sexy, e me faz desejar ouvi-lo gritar. Gritar meu nome.
Com essa voz, com essa intensidade.
Cam não me deixa com meus pensamentos por mais
tempo. Seus dedos tocam meu sexo e reprimo um grito, primeiro de
surpresa, em seguida, de puro prazer.
— O que está fazendo? — A pergunta soa um pouco
idiota, porque sei o que está fazendo. Sou virgem, mas nunca fui
ignorante sobre o assunto, conheço a mecânica do ato, e nossa, isso
que está acontecendo aqui não chega nem perto de tudo que li a
respeito.
— Está gostando? — O sorriso que ele me dá já é a
resposta que procura, porque Cam sabe que sim, estou gostando, e
muito.
— Isso é algum tipo de jogo? — questiono e fecho os
olhos quando ele aplica um pouco mais de pressão no meu clitóris.
— Como xadrez? — Ele enfia um dedo, e estou tão
molhada que a invasão é bem-vinda. Seu dedo desliza devagar.
Para dentro e para fora, enquanto o polegar dele brinca com meu
clitóris. — Se for um jogo, você é a única que está ganhando.
Cam toma meu seio novamente com a boca, e dessa vez,
não consigo reprimir o som alto que sai da minha garganta. Sua
boca... seus dedos, é tão... tão...
— Cameron!
Um tremor toma conta do meu corpo, e instintivamente
minhas pernas fecham, mas ele não para. Seu polegar ainda
circulando meu clitóris, até que ele morde meu seio. Com força,
levando-me a mais uma espiral de sensações.
É como se minha alma tivesse se elevado, só restando meu
corpo mole, fraco, porém quente, febril.
Cam está deitado ao meu lado, e tem o cuidado de cobrir
meu corpo com um lençol, me dando privacidade, e ao mesmo
tempo, não para de me beijar. Meu rosto, minhas mãos.
— Como se sente? — pergunta. Ele está de lado, seus
olhos me observando atentamente. Ainda está vestido, e me
pergunto se não dói, porque o volume que vejo é enorme.
— Parece que corri uma maratona — confesso. — Você
está bem? — Olho para sua virilha e ele segue meu olhar.
— Vou ficar, só preciso ir ao banheiro.
— Está me dizendo que vai ao banheiro se masturbar?
— Quer fazer por mim?
— Não, não vou me oferecer porque isso não foi uma
troca; você disse que queria me fazer gozar, eu não disse que faria
o mesmo — respondo rindo.
— Caralho, como adoro a sua inteligência — diz e beija
minha boca rapidamente. — Nesse caso, se me der licença, vou ao
banheiro me masturbar pensando na sua boceta gostosa.
Abro a boca para tentar responder, mas fecho-a
rapidamente. Não tenho resposta para isso.
Cam sorri e sai do quarto. Olho para o teto tentando
aclamar as batidas do meu coração, porque desde que disse sobre
se masturbar, eu desejei que ele me fizesse gozar novamente.
ELLIE
É fim de tarde quando conseguimos terminar de ajudar
Jace e Sky, e tive que dar o braço a torcer. Passado meu
nervosismo ao conhecer pessoalmente a família do Cam, ou
melhor, conhecer pessoalmente seus pais, donos da empresa para a
qual trabalhei duro em um projeto, a experiência foi bastante
divertida.
Agora estava sentada na grama conversando com Sky.
Estamos olhando M’s correr com Hori pelo quintal. As duas estão
se divertindo, enquanto nós não conseguimos nos levantar de tão
cansadas.
Sky só vomitou duas vezes durante o dia. Ela disse ter sido
um recorde, e mesmo ficando de repouso, sempre dava um jeito de
participar.
Já minha interação com M’s foi um pouco mais
complicada. De início, quando fui apresentada como namorada do
Cam, ela não aceitou muito bem. Mas quando ele deixou bem claro
que ela nunca ficaria de lado e disse que eu era uma cientista – o
que foi um exagero –, a garota passou a me ver com outros olhos.
— Sabe, estou muito feliz por ele — diz Sky. Ela me
flagrou olhando para Cam. — Nunca o vi assim, tão apaixonado, e
se for sincera, nem sabia que esse garoto sabia como amar uma
mulher que não fosse da família.
— Acha que ele me ama?
— Não, na verdade, eu tenho certeza. Logo você também
terá.
— Acho que o amor é tão complexo, quer dizer, como
saber que não é apenas desejo? Como diferenciar a vontade de estar
junto por um momento, da vontade de passar a vida inteira ao lado
de uma pessoa?
— Nossa, confesso que nunca pensei dessa forma.
— Eu penso, todos os dias para ser sincera.
— Talvez você precise parar de pensar um pouco. Deixe
que as coisas aconteçam entre vocês, e é capaz até que se
surpreenda. Assim como eu.
Ela passa a mão na barriga de quatro meses, que agora
parece uma pequena bola em seu abdômen.
— Bom, acho que vou deixar vocês um pouco a sós. —
Sky se levanta, e eu não ouso questionar, pois o lugar dela é
ocupado por Cam em seguida.
— Cansada? — Ele segura minha mão.
— Não tanto quanto pensei que ficaria.
— Quer ir embora?
— Ainda não, está uma tarde tão bonita, e acho que a M’s
está se divertindo bastante agora.
Cam a olha, vendo-a lançar a bola um pouco mais longe.
Hori dispara para buscá-la e rapidamente a entrega para a garota,
que repete o movimento.
— Preciso te contar uma coisa — digo o que está me
atormentando. Desde a ligação de ontem, não consegui dormir
direito.
— Pode falar. — Encolho minhas pernas, abraçando-as,
sem olhar para ele, mesmo sabendo que prefere conversar sempre
olhando nos meus olhos.
— Recebi uma proposta de emprego.
— Isso é uma ótima notícia. Ou não? — pergunta confuso.
— É, na verdade é a melhor notícia que alguém na minha
posição poderia receber. Mas a proposta é na Alemanha. — Dessa
vez eu me viro para olhar seu rosto.
— Você iria ano que vem, certo? Ainda estamos no meio
do semestre, e você precisa terminar esse ano na escola, foi isso
que a sua orientadora disse.
— Tecnicamente sim, mas a empresa não só me ofereceu
o emprego, como também a possibilidade de terminar meus estudos
lá. Não é um estágio, Cam. Serei a mulher mais nova a ocupar um
cargo importante. Minha orientadora ficou tão em êxtase com a
possibilidade, que me dispensou, e caso aceite, posso ir e não
precisarei ficar na escola.
— Está dizendo que vai embora?
— Estou dizendo que recebi uma proposta, e que não
decidi.
— Você pode ficar aqui, trabalhar na WR, posso conversar
com meus pais.
— Não é disso que se trata, Cam. Não quero ser a sombra
de ninguém, quero fazer a minha história, entende?
— E eu não faço parte dela — conclui. — Ellie... — Ele
segura minhas mãos. — Você pode ficar aqui, terminar sua
faculdade, é meu último ano, e depois disso eu serei piloto,
podemos morar juntos.
— Não, Cam, não podemos, estamos juntos há o quê? Três
meses?
— Meus pais precisaram de menos que isso para saberem
que se amavam, e estão juntos até hoje. Minha mãe é feliz com a
decisão que tomou.
— Mas eu não seria, e isso não é justo com a gente. Meus
pais passaram a vida inteira juntos, e hoje estão em um
relacionamento bizarro. Como posso confiar em amor quando
existem tantas versões dele? Como sei que é para sempre se ainda
nem posso beber legalmente em um bar? Você consegue entender
onde quero chegar?
— Acho que entendo, claro como a luz do dia.
— Cam, por favor, ainda não decidi nada. Recebi a
proposta ontem, as coisas entre nós estão avançando tão rápido... É
muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e estou tentando lidar
com tudo isso.
— Sabe o que eu acho? — Ele se levanta. — Que você
sabe o quer, só não tem coragem de dizer.
Cam volta para dentro da casa, me deixando sozinha. M’s
ainda brinca, correndo e sorrindo, completamente alheia à
discussão que acabou de acontecer, e que despedaçou meu coração.
CAM
A vida é boa, incrivelmente boa. Ou era, até que a mulher
que quebrou meu coração em pedaços impossíveis de serem
restaurados, resolveu voltar. E não só isso, ela estava aqui, no
autódromo, no boxe da minha equipe. Sua voz penetrou nos meus
ouvidos deixando-me tonto, e levou tudo de mim para que eu não
perdesse o controle.
Foi necessário parar o carro e arriscar a minha segurança
antes que fizesse algo muito pior, como, por exemplo, ir correndo
de volta para o boxe.
Todos estão em silêncio quando retorno, até mesmo
Brandon, que apenas pega o meu capacete e informa que minha
mãe está me aguardando no escritório.
Só que mesmo que eu tenha ouvido sua voz, mesmo
sabendo que ela estaria no escritório com a minha mãe, nada,
absolutamente nada poderia ter me preparado para a visão na
minha frente.
Ellie estava sentada, mas no instante em que entrei na sala
ela se virou, e porra, os anos só lhe fizeram bem. Seu cabelo está
mais longo e mais claro, e já não usa mais os óculos. Não posso
afirmar nada sobre seu corpo, pois está sentada, porém, ela parece
mais madura, mais segura.
Mais sexy.
Inferno.
— Sente-se, Cam. Acredito que você se lembre da
Eleanor, então não vou prolongar demais nossa conversa. — Minha
mãe aponta para a cadeira vazia ao lado de Ellie.
— Sim, eu me lembro dela — comento ao me sentar. —
Lembro de cada maldito detalhe dela.
Dos seus beijos, da forma como ela me enfrentava, e de
como seus olhos brilhavam quando eu a fazia gozar. Lembro de
cada detalhe.
— Eleanor é a nossa nova colaboradora, e irá trabalhar
conosco. Ela fez parte da equipe que criou nosso novo motor. Na
verdade, ela foi a responsável pelo projeto, não só do motor como
do design do carro.
Tento manter uma expressão estoica. Nem fodendo darei o
prazer de vacilar, ou de dizer que o trabalho que ela fez é perfeito.
Não, não faço isso, ao invés de elogiar, faço aquilo que sempre
gostei de fazer quando se trata dela.
— Você colocou alguma cláusula no contrato sobre
abandono de emprego? Não sei se você sabe, mãe, mas sua
funcionária tem uma grande tendência a abandonar as coisas.
Minha mãe respira fundo, e acho que está tentando se
controlar. Tenho certeza que se a Ellie não estivesse presente, já
teria levado um safanão, ou dois.
— Assinei um contrato de três anos, e jamais quebraria um
acordo, sou profissional.
Ah, ela não disse isso.
— Tem razão, desculpe, mãe, você tem uma excelente
profissional aqui, uma que sempre coloca a carreira em primeiro
lugar — digo cada palavra olhando para Ellie.
— Já chega — Minha mãe interrompe. — Cam — ela me
encara e em seguida olha para Ellie —, Eleanor, vocês dois terão
que trabalhar juntos. Hoje temos uma festa onde estará presente
toda a imprensa, então sugiro que se tiverem assuntos inacabados,
resolvam antes de darem as caras por lá, porque eu juro por Deus,
que se vocês dois não se comportarem, vou tratá-los como as
crianças que estão sendo.
— Festa? — Ellie pergunta, surpresa.
— Sim, desculpe se você não foi avisada a tempo, mas
teremos um evento hoje à noite e gostaria muito que estivesse
presente.
— Tudo bem, irei sem problemas.
— Ótimo, aqui estão algumas orientações, o endereço do
seu apartamento, entre outras coisas. Se precisar de algo pode falar
comigo ou Brandon.
— Obrigada.
Ellie pega os papéis e cumprimenta minha mãe, e então se
vira na minha direção e estende a mão. Penso se ignoro ou não,
mas minha mãe está me olhando de uma forma que faria até meu
pai ajoelhar. Não foi assim que ela me educou, então, levanto e
apertamos as mãos.
— Bem-vinda à WR Racer. — Nosso aperto é firme. A
suavidade da mão dela contrasta com a minha, e seu cheiro... Porra,
preciso me controlar para não farejá-la como um animal.
Ellie apenas assente e logo depois sai da sala. Praticamente
desabo na cadeira, cubro o rosto com as mãos e tento controlar a
vontade de gritar.
— Cam... — Sinto a mão na minha mãe no meu ombro.
— Por favor, agora não.
— Se acha que não pode lidar com essa situação, podemos
reverter.
— Não sou criança, mãe, posso lidar com isso. — Ela se
senta na mesa, parecendo pensativa.
— Farei tudo que estiver ao meu alcance para não te ver
sofrer, Cam, sabe disso, não é?
— Sei.
— É por isso que vou te dar um conselho, mas não como
mãe, e sim como mulher. Eleanor foi embora porque fez uma
escolha, e você também tinha uma escolha, Cam.
— Minha escolha era me conformar com um
relacionamento à distância.
— Sim, uma escolha que decidiu não fazer, e por conta
disso se tornou autodestrutivo. Mesmo com a ida dela, você se
manteve firme nos estudos, mas eu e seu pai sabíamos o que
aprontava nos fins de semana.
— Onde você quer chegar?
— Em você, em como acredito que tenha tomado uma
decisão ruim, e que agora com a volta dela, isso vai te bater com
força.
— Por que você não diz que ela tomou uma decisão ruim?
Ela foi embora, mãe, não eu.
— Quantas vezes você a procurou, Cam? — Ela cruza os
braços aguardando uma resposta que não vai obter. Eu não a
procurei, e nos últimos sete anos as únicas notícias que tinha dela
eram através do Ethan, ou quando lia algum artigo onde o nome
dela era citado. — Foi o que pensei, você é teimoso demais para
procurar uma mulher, não é? Mesmo que ame, como tenho certeza
que era o caso.
— Não a amo — digo tão rápido que minha mãe ri.
— Posso ver, pela maneira como você falou com ela
quando estava agindo como uma criança birrenta na pista. Deu para
ver muito bem que você não a ama.
— Você largou tudo para ficar com meu pai, e vocês são
felizes. Por que ela não podia fazer o mesmo? Dar uma chance para
nós dois? Ela poderia trabalhar conosco desde aquela época.
— Então é disso que se trata? — Ela ajoelha na minha
frente e segura minha mão. — Não use o meu relacionamento com
seu pai como parâmetro, Cam. Naquela época eu agi pesando todos
os prós e contras, meus sonhos mudaram quando me apaixonei pelo
seu pai. Seus sonhos mudaram quando você se apaixonou por ela?
— Não.
— Então, por que você acha que os dela deveriam mudar?
Ninguém com dezessete anos acredita que o amor é para sempre,
nem eu mesma acreditava. Quando conheci Jason, já tinha tido
minha cota de paixões. Cam — ela segura meu rosto com as mãos
e me inclino um pouco para que nossos olhos fiquem no mesmo
nível —, se você ainda a ama, é a sua chance de começarem uma
nova história. Não perca isso por causa da sua teimosia.
— Não sei o que fazer — confesso, fechando os olhos.
— Sabe, você sabe. É um Willers, e vocês sempre
conseguem o que, e quem, vocês querem de verdade. — Ela beija
minha testa e logo estou ouvindo a porta sendo fechada.
Minha mãe foi embora e deixou meus pensamentos ainda
mais confusos.
Mas há algo que não posso negar sobre o que ela disse:
Sou um Willers, e nós sempre conseguimos quem
queremos.
ELLIE
Voltar não foi a decisão mais difícil que tomei, nem de
longe. Na verdade, essa decisão já havia sido tomada antes mesmo
de receber a proposta da WR Racer, e sim, tinha tudo a ver com
Cam.
Quando embarquei para a Alemanha, estava indo em
direção aos meus sonhos, o futuro que batalhei para ter. E fiquei
muito orgulhosa de tudo o que consegui alcançar. Fiz meu nome no
mundo da mecânica, e agora, quando estou abrindo a porta do meu
novo apartamento, sei que tudo valeu a pena. Até mesmo ter
desistido dele.
Olho para o local, que não é grande, e ainda provisório. A
empresa cedeu para que eu possa me acomodar até encontrar um
lugar para morar definitivamente. Meus pais tentaram me
convencer a ficar na casa deles, mas já sou adulta, e minha visão
sobre o tipo de relacionamento que eles levam continua a mesma.
Ethan e Heather foram para Yale, e hoje, minha amiga – e
cunhada – é formada em História e meu irmão em Direito. Ambos
retornaram para Seattle e agora moram juntos em Greenwood. Não
estive presente durante esses anos, mas meu irmão chegou a me
visitar algumas vezes. E sempre que possível, conversávamos
através de chamadas de vídeo.
Meu telefone toca e sorrio ao ver o nome do meu irmão na
tela. Ele é exatamente a pessoa que preciso ouvir agora.
— Ei, Ginger!
— Sério, Ethan? Você precisa parar com isso.
— Nunca, e aí onde você está?
— No apartamento, acabei de chegar da WR Racer.
— Não sei por que você não quis ficar conosco, temos
espaço de sobra aqui em casa.
— Eu agradeço, mas você sabe que gosto de ter meu
espaço, e não estou nem um pouco a fim de ouvir você e a Heather.
— Sorrio.
— Bem pensado, irmãzinha. Então, você chegou a vê-lo?
— Caminho até o quarto e me sento na cama. Eu sabia que Ethan
perguntaria sobre Cam.
Logo após a minha mudança, Ethan me manteve
atualizada sobre como ele estava, até que um dia, as histórias
começaram a ficar doloridas demais e pedi para que não
conversássemos mais sobre ele.
Cameron fazia parte do meu passado, e era ali que eu
queria que ficasse. Só que não esperava que ele seria o meu futuro
também. Com dezessete anos, eu não acreditava em amor
verdadeiro. Ele foi o primeiro cara que beijei, o primeiro a quem
entreguei meu corpo e estava entregando meu coração. Como
poderia saber se ele era o meu para sempre?
Só que os anos não apagaram o que vivemos, pelo
contrário, cada homem que namorei depois dele não despertou
metade do que ele havia despertado em mim. Apenas um chegou
perto o suficiente, tão perto que cheguei a cogitar que ele fosse a
pessoa certa.
Até que ele disse duas palavras.
Duas palavras que me fizeram repensar toda a minha vida,
e finalmente decidir voltar para casa.
— Ginger? Ainda está aí? — Ethan chama minha atenção.
Fiquei tão perdida em pensamentos que esqueci que ele estava
aguardando uma resposta.
— Sim, desculpe. Eu o vi na empresa, tivemos um
encontro nada amigável.
— Você não esperava flores, não é mesmo?
— Tem razão, foi apenas... Não sei, um choque talvez?
— Juro que não entendo o que aconteceu com vocês, era
óbvio o quanto gostavam um do outro.
— Acho que faltou um pouco mais do que isso para
darmos certo.
— Ou um pouco menos. Ser menos cabeça-dura, por
exemplo.
— Isso também. — Sorrio, mas sei que ele tem razão.
— Ouça, eu mesmo não aprovei o que você fez, mas
sempre a apoiei em todas as suas decisões. Agora, o que pretende
fazer? Ainda sente alguma coisa por ele?
— Eu o amo, Ethan, essa é a verdade, e foi por isso que
voltei.
— E o Alemão?
— Klaus e eu não temos mais nada. Não vou mentir e
inferiorizar o que tivemos, mas o que sinto por ele não chega nem
próximo do que sinto pelo Cam.
— Nesse caso, acho que você vai ter muitos problemas
pela frente, irmã. Cam mudou muito, ele não é mais aquele garoto
que você conheceu.
— Percebi isso, mas você sabe que adoro problemas.
— Deus, isso vai ser divertido. — Ele ri. — Quer que
mande deixar suas coisas no seu apartamento?
— Na verdade, ainda não. Haverá uma festa hoje, e Leah
me convidou. Passarei aí mais tarde para me arrumar, e amanhã
podemos providenciar o resto.
— Acho que a minha diversão vai começar hoje à noite.
Cam enviou os convites para Heather e eu.
— Te vejo daqui a pouco.
— Até mais.
Assim que desligamos, meu celular vibra. Olho para o
visor e vejo que é uma mensagem de Klaus. Ignoro, pois
definitivamente não estou no clima para ouvir, ou ler, qualquer
coisa que ele tenha a dizer.
Preciso começar a pensar em como farei para ter de volta o
amor da minha vida. E estava disposta a rastejar se fosse preciso.
Só espero que não chegue a esse ponto. Seria um humilhante
demais.
CAM
Estamos na terceira semana de treinos. Três semanas
desde que Ellie voltou, vinte e um dias que a ignoro. Ela e seu
noivo de merda.
Klaus, aparentemente, resolveu antecipar sua vinda para
Seattle. Ele mexeu alguns pauzinhos, e agora, toda a sua equipe
está aqui. Não é incomum isso acontecer, inclusive, outras três
equipes já estavam treinando aqui antes de ele chegar. Mas o que
me irritou de verdade foi o motivo por trás disso.
E eu estava parado na frente da porta do apartamento dela
nesse exato momento.
Ellie não foi nada além de profissional durante esses dias,
e ela chegou a tentar uma conversa, mas deixei bem claro que
precisava de tempo para digerir tudo aquilo. Charlotte se tornou
uma presença constante no nosso boxe. Sempre que visitava o pai,
ela ia ver Ellie. Confesso que a interação entre as duas me deixava
encantado.
Foi um susto quando a vi entrar na sala, chamando Ellie de
mãe. Por um milésimo de segundo, pensei que aquela garotinha
pudesse ser nossa filha. Mas sabia que era do Klaus, o que não me
impediu de desejar ter aquilo com ela. E toda vez que as via juntas,
esse desejo só crescia.
Olho novamente para o papel na minha mão. O endereço
está certo. Ethan me garantiu que ela estaria sozinha. Amasso o
papel, jogando-o no lixo junto com meu orgulho, e depois dou meu
nome ao porteiro para que ele a avise da minha chegada.
Assim que minha entrada é autorizada e as portas do
elevador se abrem, vejo Ellie me esperando no corredor. Vestida
com uma calça de moletom, uma camiseta colada, cabelo amarrado
e usando a porra dos óculos. Meu coração acelera.
— Oi. — Seu cumprimento é cauteloso.
— Será que nós dois podemos conversar? — Ela assente,
mostrando o caminho para o apartamento.
— Vou trancar a porta, por precaução.
— Não é uma má ideia — digo. Apesar do tom brincalhão,
acho que já estamos cansados de sermos interrompidos.
— Sente-se. Quer beber alguma coisa?
— Não, estou bem.
— Certo. — Ellie se senta ao meu lado no sofá, e nós
estamos próximos, mas não ao ponto de nos tocarmos. Ambos
estão com os cotovelos apoiados no joelho, olhando para frente.
— O que você está achando do trabalho? — Tento iniciar
a conversa. Essa coisa está sendo mais difícil do que imaginei.
— Gosto do que faço, então não há motivo para não gostar
do meu trabalho.
— Também amo pilotar, não me vejo fazendo outra coisa.
— Eu sei — diz, ainda olhando para frente.
— Se eu te pedisse para sair da WR, você faria isso? —
Olho para seu perfil. Ela fica calada por vários segundos, e vejo
como seu rosto começa a ganhar um tom de vermelho. Não está
envergonhada, está prestes a chorar.
— Se você me pedir para sair, eu saio, sem hesitar.
— Por quê? — Ela entrelaça os dedos, arrumando a
postura.
— Já fiz você sofrer demais, fui embora quando me pediu
para ficar, e agora, se a minha presença te faz mal, eu saio, porque
nunca mais quero te fazer sofrer. — Dessa vez ela me olha, e as
lágrimas acumuladas começam a cair pelo seu rosto.
— E o Klaus?
— Klaus e eu terminamos muito antes de eu receber a
proposta da WR. Ele apenas está tentando reatar algo que não
existe mais. E antes que você pergunte, não, ele nunca foi abusivo
comigo. Aquele dia foi o primeiro e último; jamais deixaria alguém
me maltratar. — Fico aliviado com a sinceridade das suas palavras.
— Por que terminaram? — Minha pergunta é mais por
conta da curiosidade do que pelo desenrolar da nossa conversa.
— Não me julgue, tudo bem? — Concordo e ela
prossegue: — Terminei com ele no dia em que fui pedida em
casamento.
— Por quê? — Sua resposta me surpreende.
— Porque foi nesse dia que descobri que ele não era o
homem que eu queria para passar o resto da minha vida.
Meu coração bate tão forte quando escuto sua resposta que
preciso de uns segundos para falar:
— Você tem certeza disso? — Ela assente. — Preciso
ouvir você dizer, quero ouvi-la falar, Ellie Você tem certeza disso?
Preciso que tenha, porque se eu começar não vou parar. Nunca
mais.
— Tenho, Cam, tenho toda certeza do mundo. Foi por isso
que voltei, mesmo se não tivesse a proposta de trabalho, minha
volta começou a ser planejada quando recusei o pedido de Klaus.
Fecho os olhos e conto mentalmente: um, dois, três. Foda-
se para o que fizemos no passado; Ellie sempre foi a dona do meu
futuro.
— Vem cá. — Seguro sua mão e a trago para o meu colo.
Ela se senta, exatamente como no dia em que fez isso pela primeira
vez, dentro do carro. — Odeio ver você chorar. — Tiro seus óculos
e deixo no sofá. — A gente perdeu tanto tempo. — Seguro seu
rosto com as duas mãos e encosto minha testa à dela. Ellie está com
as mãos nos meus ombros. — Mas também temos muito tempo
pela frente. Cansei de brigar, Ellie, cansei de sentir raiva de mim
mesmo.
— De você?
— Sim. Sentia raiva de mim mesmo todos os dias. Cada
maldita vez que acordava com uma mulher diferente e via que não
era você. Sentia raiva sempre que tentava te odiar, mas quando eu
me lembrava do seu corpo assim perto do meu. — Beijo sua
bochecha e sinto o sal das suas lágrimas. — Quando lembrava do
seu sorriso ou da maneira como você gozava, eu só...
— Só o quê?
— Só conseguia te amar.
Fecho os olhos quando meus lábios tocam os dela. Jamais
senti o que ela me faz sentir com um simples beijo. Na verdade, a
quem quero enganar? Nunca foi um simples beijo, não entre nós
dois.
Minha língua acaricia a dela enquanto meus braços
envolvem sua cintura em um agarre. Ellie segura minha nuca,
puxando meu cabelo com força suficiente para me fazer gemer.
— Não está pensando em germes agora, está? — pergunto,
interrompendo nosso beijo.
— Não, mas estou pensando em combustão.
— Combustão?
— Sim, na verdade estava pensando nos estágios do
funcionamento do motor.
— O quê? A gente está se beijando, depois de sete anos, e
você está pensando em combustível? — Ela sorri e sai do meu
colo.
Ellie está parada, em pé, na minha frente e está com a
porra de um sorriso sedutor.
— Sim, pensei nos estágios, veja bem: temos a admissão,
quando a válvula de admissão abre e o pistão desce. — Ela solta a
corda da calça de moletom e a retira, ficando apenas de calcinha e
camiseta — Depois temos a compressão. Que é quando o pistão
sobe totalmente. — Ela retira a blusa revelando seus seios, e noto
que estão maiores do que me lembrava, e porra, estão ainda
melhores. — Em seguida temos a explosão, ou combustão. — Ela
se senta novamente no meu colo, com as pernas abertas. — Que é
quando uma carga elétrica é liberada entre dois pontos. — Ela
passa a ponta da língua nos meus lábios. — Essa faísca detona a
mistura, e empurra o pistão para baixo — diz e esfrega a boceta no
meu pau, que se pudesse gritar, estaria gritando para ser enfiado
dentro dela. — E, por fim, temos o escape, que é quando alguns
resíduos dessa combustão precisam ser retirados do motor...
— Ellie, acho que posso assumir agora. Sei exatamente
como retirar esses resíduos do motor.
Ela ri quando me levanto com ela no meu colo, as pernas
envolvendo no meu quadril.
— O quarto é por ali. — Ela aponta na direção do quarto.
— Ótimo, ele vai servir. Por hora.
A risada que ela solta quando saímos para o quarto deixa
bem claro que, sim, ela tem certeza do que quer.
TE DEDICO.
A The Gift Box é uma editora brasileira, com publicações
de autores nacionais e estrangeiros, que surgiu no mercado em
janeiro de 2018. Nossos livros estão sempre entre os mais vendidos
da Amazon e já receberam diversos destaques em blogs literários e
na própria Amazon.
Somos uma empresa jovem, cheia de energia e paixão pela
literatura de romance e queremos incentivar cada vez mais a leitura
e o crescimento de nossos autores e parceiros.
Acompanhe a The Gift Box nas redes sociais para ficar por
dentro de todas as novidades.
http://www.thegiftboxbr.com
Facebook.com/thegiftboxbr.com
Instagram: @thegiftboxbr
Twitter: @thegiftboxbr
Skoob: bit.ly/TheGiftBoxEditora_Skoob