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ENVOLVENTE E IMPERFEITO
1ª Edição
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser reproduzida ou transmitida por
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autor/editor.
Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes –
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estabelecido na lei nº 9.610/98, punido pelo artigo 184 do código penal.
TEXTO REVISADO SEGUNDO O ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA.
Sumário
Notas iniciais
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Epílogo
Agradecimentos
Olá, meus amores! É um imenso prazer trazer mais um romance
para apresentar a vocês, principalmente retornando agora com o universo de
Amor & Ritmo. Essa história foi muito pedida por vocês no decorrer dos
anos e por muito tempo fui resistente, não sentia que existia enredo. Até que
um dia isso mudou! Tive um sonho — podem rir, porque eu sonho demais
mesmo — e a partir dele, comecei a ter várias ideias para Ashley e Jay e
também para os demais. Kyle, Gal, Lisa e Lore, vocês vão conhecer melhor
todos eles aqui.
não te fará bem ler, aconselho a procurar uma das minhas outras histórias.
Sara Fidélis
A princesinha de um súdito só está deitada na beirada da piscina,
os óculos de sol com armações em um rosa gritante e um maiô amarelo
Não sei por que está hesitando, ele é sempre bem pior que eu, todo
mundo sabe disso.
dormindo e nem vai ver — falo, repassando os detalhes. — Não tem como
provarem que fui eu.
boca de uma vez só, faço o mesmo com a minha parte e mascamos até
máximo de silêncio que consigo. Caminho até chegar perto de onde ela está
mas não consigo fazer com que grude direito por estarem molhados, então,
devagar, consigo afastar os fios que estão secos, estirados na beiradinha e
duas partes.
Sorrio satisfeito com o resultado e Kyle faz sinal de joia para mim,
vai dar um trabalhão para essa chata tirar tudo! Refaço meu caminho em
silêncio e saio da piscina, mas Ashley nem se move, essa dorminhoca, ela
vai ver só...
— Agora é só esperar! — Kyle estica a mão e fazemos nosso toque,
comemorando.
Jay 1 x Ashley 0.
não demora muito para a tia Julia chegar, com nossas toalhas e nos
Olha só o que aconteceu? Vou ter que fazer milagre pra tirar tudo isso!
— Eu não masquei, mãe! Juro que não fiz isso, eu só me deitei lá
quietinha e…
Ashley me encara com ódio e abro um sorriso. Ela sabe que fui eu,
mas não tem como me acusar sem nenhum motivo, sem saber ao certo.
xingando!
— Que merda, hein? Vai ter que ficar careca — ele fala, apontando
— Como foi minha culpa, papai? Eu nem estava com a Ashley, essa
mentirosa! Fiquei lá do outro lado, deitado na minha, nem na piscina eu
fui.
— Foi você sim, porque eu não tinha goma de mascar e dormi, você
deve ter feito isso enquanto eu dormia.
com o Kyle de companhia, doutora? Não duvido nada de que tenham feito.
Meu pai coloca mais lenha na fogueira, mas Kyle se apressa a
negar.
— De jeito nenhum, tio Tray! A Ashley é um saco, mas é minha
prima, nós não fizemos nada disso. Ela que é burra e dormiu com a goma
na boca!
— Eu não dormi e eu não sou burra! — Ela volta a chorar, batendo
o pé no chão agora, e me esforço para não rir, enquanto tia Julia a arrasta
para o quarto.
ASHLEY
Pela janela do carro observo pela última vez, ao menos como aluna,
os degraus por conta própria e ainda que eu ame e respire música, preferi
trilhar meu caminho, do meu jeito, mesmo que seguindo os passos de minha
mãe.
aeroporto, porque ainda que eu tenha tentado viver como uma estudante
comum, meu pai não aceita muito bem esses termos e morre de medo de
mãe.
Ajeito os fios compridos e castanhos ao lado do rosto e sorrio ao vê-
la do outro lado.
— Oi, meu amorzinho! Como você está?
— Bem, mãe. Indo pra casa, e como estão as coisas por aí?
Ela olha para trás e cochicha alguma coisa com alguém e espero ver
meu pai surgir na tela, mas ele não aparece.
— Uma loucura! Você sabe que vai ter turnê da banda em uns
— Sim, mas eu não vou viajar com a banda. Você vai chegar agora,
seguir foi fácil, ela sempre esperou isso de mim e sei que posso ser muito
boa nisso, mesmo que talvez não seja a minha vocação, espero não
decepcionar.
— Não precisa disso. Sei que vai querer acompanhar o papai, eu me
viro. Além disso vamos ficar juntinhas por quinze dias antes disso
acontecer.
Ela faz uma careta, mas não sei se a convenci. Dona Julia é
determinada.
de zangada.
— Não perguntou o nome dele, Ashley?
do insuportável do Jay.
— Mãe… O Jay também vai ficar aí? — pergunto, sussurrando.
idiota.
— Como assim, meu amor? Onde mais ele ficaria?
— Na casa dele.
— Mas as gêmeas vão ficar aqui, por que… — Ela abre um sorriso
Penso por um instante que ela deve ter razão. Talvez seja mesmo
muita infantilidade que uma mulher de vinte e três anos fique de picuinha
— É, pode ser…
da turnê por minha causa, não vou ser eu a melar o esquema dela com meu
pai.
imaturo.
Não faço ideia de que negócios são esses, mas para manter o sorriso
JAY
colando os peitos nas minhas costas, me fazendo sorrir. Ouço sua voz sobre
o barulho que a moto faz, mas não consigo distinguir o que está dizendo.
desempenho da máquina e, porra, não poderia estar mais satisfeito com ela!
Faço a volta, retornando para onde estão Elijah e Sean, meus funcionários e
nas minhas costas, quando o tapa forte de Pink estala forte sobre a jaqueta
de couro.
outros incrível, não foi o caminho que escolhi pra mim. Sempre fui louco
por motos, alucinado por elas e pela sensação de liberdade que trazem.
eu queria algo mais íntimo e foi assim que o canal surgiu. Comecei fazendo
assunto são os veículos de duas rodas. Vendo as mais caras e melhores, para
quem tem grana pra bancar o luxo que elas são e mostro as belezinhas pra
quem não pode comprar ainda, mas pode sonhar com isso.
tatuagem com meu pai veio depois disso. E por falar nele...
— Oi, pai. — Atendo ao telefone logo no segundo toque.
tempos.
— Testando uma moto nova, ia passar no estúdio pra ver como vão
— Ah, não! Fala pra mãe que eu não faço a menor ideia do que
comprar pra ela. Eu não falo com a Ashley tem uns dois ou três anos.
— Te vira, gatinho do papai.
Faço uma careta, mas antes que insista que essa ideia é uma merda,
reagem a ele. Meu pai tem cinquenta e poucos anos, mas ainda é bonitão,
preciso admitir.
Quem não fica feliz com essa atenção toda é dona Jasmim, minha
mãe, ela vive implicando com as garotas com quem eu saio e nunca sei se o
ciúme é de mim ou do meu pai.
Mas sei que é uma festa mais íntima, eles não iam curtir que eu
levasse alguém de fora num momento especial e de família.
— Hoje não, gata. Mas quem sabe outro dia? — Ela faz uma cara de
um pedido do modelo novo da BM, mas quero saber o retorno daquele cara
antes.
tentando achar uma merda de um presente pra garota mais mimada desse
país.
Quando Ashley foi estudar direito, ainda que eu sempre tenha
achado que ela fosse ser cantora como o pai, nós não estávamos em nossa
melhor fase. Não que tenhamos tido uma fase boa de verdade, mas algumas
foram piores.
disso para ter os idiotas do colégio na palma da mão também. Por sorte foi
embora e me deu três anos de paz! Nesse tempo nos vimos apenas por
I wake up screaming from dreaming
ASHLEY 6 ANOS X JAY 8 ANOS
Não é fácil pensar em vingança quando se tem apenas seis anos,
mas quando vejo meu rosto no espelho sinto tanta raiva que eu poderia
está todo armado, igualzinho a vassoura que usam para limpar meu quarto.
— E aí, Dominadaaaaaas…
Meu pai está no palco, começando outro show e dessa vez acabou
nos trazendo junto. O tio Tray achou que seria uma boa ideia me colocar
pra cantar com o papai e eu adoro cantar, então fiquei muito contente
quando me disseram, mas não agora que toda essa gente vai me ver com
Ela é irmã do meu pai, tem olhos lindos, é loira e tem os cabelos
beeeem compridos, parece uma rainha, toda maravilhosa e eu pareço um
— Porque todo mundo vai ver esse cabelinho de rato que eu tenho.
— Deixa de bobagem, você é nossa princesa, está maravilhosa com
esse cabelo. Sabia que existem várias mulheres incríveis que usam esse
corte?
— Eu pareço uma bruxa, isso sim! — Cruzo os braços, teimando.
Tia Ane é estilista, e das boas, então ela deve saber das coisas. Não
— É mesmo?
pouco depois ouço meu pai me chamando para subir. Caminho com a
cabeça erguida e forço um sorriso ao caminhar pelo palco até chegar ao
lado do meu pai. Tio Josh, tio Tray e tio Ethan estão tocando baixinho,
mão. — Vocês sabiam que minha Ashley ama cantar, como o pai?
Ensaiamos aquela canção que escrevi pra ela, logo que nasceu e espero
que nos acompanhem.
Sinto uma raiva tão grande, que solto a mão do meu pai e saio
correndo do meu lugar. Não paro mesmo escutando todos eles me
gritar e arrancar aqueles cabelos dele também, mas com o susto, Jay cai de
cima do palco.
ASHLEY
Por fora, a mansão está igualzinha à quando eu era pequena. As
reformas sempre são feitas, mas a alameda com árvores altas que conduz
até a casa continua igual, os portões de ferro são os mesmos e tudo parece
idêntico.
Do lado de dentro é que a residência viu várias melhorias com o
passar dos anos. A minha família acompanhou a modernidade, disso não
posso me queixar.
Quando passo pela porta de entrada da sala ampla, encontro Tícia, a
atual governanta da mansão. Ela trabalha aqui há muitos anos, desde que
Rosa se aposentou.
— Menina! Que bom que chegou, seus pais estavam doidos pra te
ver.
Eu a abraço apertado e o motorista que foi enviado ao aeroporto,
ainda não sabem que cheguei, vai ser divertido ver o susto que vão levar.
— Pode deixar a bagagem aí, eu levo pro seu quarto — Tícia se
oferece.
decoração desde que me entendo por gente, mas minha mãe as adora e não
aceita que as substituam por nada.
Quando entro na cozinha noto a movimentação. Várias funcionárias
percebo que está tudo escuro. Talvez Tícia tenha se enganado e eles estejam
em outro lugar.
Meus pais estão à frente dos outros, sorrindo e há uma faixa enorme
pendurada, com os dizeres: Bem-vinda de volta ao lar, Ashley!
Sorrio ao perceber que está todo mundo aqui, mas absorvo pouco da
decoração linda, apenas o varal de luzes que foi pendurado e a mesa de
alimentos em um canto, porque logo sou engolfada em um abraço pela
minha mãe.
— Ah, meu amor! Que saudades de você, estou tão feliz que
chegou…
Eu aproveito o momento para fitá-la com atenção. Minha mãe nunca
girando comigo como se eu não pesasse mais que a garotinha que fui um
dia. Ele me coloca no chão de volta e quando dou um beijo estalado em seu
quinze anos, mas agora já estão moças mesmo. Sempre fomos muito
Tia Ane está linda. Ela é incrível na verdade, sempre muito elegante,
sem perder a naturalidade. Olhando você não diria que ela fez várias
plásticas, mas quem sabe, sabe…
cabeça.
Quando nos soltamos, percebo que seus olhos estão até marejados,
abraçando a esposa.
Carter vieram da fazenda que estão morando pra me ver, Ethan e Majô
trouxeram Rosa e gastei um bom tempo falando com Lore e contando tudo
sobre a faculdade.
Azal e Andy não puderam vir, mas mandaram presentes e me
convidaram para os visitar, o que não dispensei. Kyle e eu não nos víamos
há algum tempo e conversamos por vários minutos, até eu notar Jay sentado
em uma espreguiçadeira em um canto.
Seus olhos azuis estão fixos em mim, enquanto toma uma cerveja
sozinho. Seus cabelos estão maiores que na última vez em que nos vimos e
oi. Abro um meio sorriso em resposta e me volto para Kyle outra vez.
— Não vai lá falar com ele? — Meu primo ri da cena. — Vocês não
— Tá tudo bem, Kyle. Não tenho raiva dele mais, só não temos
muito em comum.
— Provavelmente não. E o que você fez por lá? Saiu muito? Fez
um namorado — sussurro.
Conheço bem o meu pai, mesmo aos vinte e três anos, se ele e meus
tios descobrirem que estou namorando, tudo isso vai tomar uma outra
proporção. Preciso contar sobre Timoty e eu, mas em outro momento, com
calma.
— A Ashley. O que acha que o tio Ash vai dizer? Eu voto em alguns
socos no genro pra receber bem na família, depois um sermão, mas no fim
quando for ameaçado de morte por ela, com uma guitarra e uma baqueta
sendo usada como instrumento de tortura, ele vai deixar de ser fã.
— Eles não são tão ruins — Lore fala, meneando a cabeça agora,
o Kyle estar rindo disso aqui, quer dizer que ele e o Jay não se meteriam
nessa confusão?
se contasse um segredo.
Na verdade, não preciso ser nenhum gênio para saber de nada disso.
O porte dele já diz tudo, Jay até se parece com meu pai na idade dele, a
jaqueta preta cobre o corpo, mas consigo ver as tatuagens subindo pelo
pescoço. Mas não é nisso apenas que se parecem, meu pai era arruaceiro e
brigão e Jay parece seguir os mesmos passos. Não que meu pai tenha
mudado muito desde então...
da festa, no canto.
— E daí? Ele não é meu primo de verdade e nem somos próximos e
o Kyle não faria isso, porque ele sabe que eu poderia descontar depois.
— Vou, mas não agora. Depois da turnê, vou esperar ele voltar...
— Acho que faz bem, eles sempre voltam contentes depois desses
— Sim! Vai ser tipo uma casa de férias, com muita festa e putaria —
JAY
De onde estou consigo ver logo que ela passa pelas portas. Não vejo
Ashley pessoalmente faz bastante tempo, então não estava pronto pra visão
do caralho que a patricinha metida é, usando uma sainha que mal tapa a
bunda arrebitada e cobre metade das coxas, as botas que sobem até pouco
acima dos joelhos e a blusa justa que mais se parece com um sutiã,
uma festa surpresa. Ashley sempre adorou ser o centro das atenções.
— Claro, daqui uma hora. Deixa de ser escroto, Jay! É nossa prima,
— Baba-ovo…
Ele mostra o dedo do meio, antes de me dar as costas e se afastar na
direção em que as pessoas estão. Todo mundo veio, além da galera da banda
e família, os caras da Shower Singers também apareceram, com o Peter
meio arrastado, até mesmo Amber e o tio Adam, que foi meu médico, só
meu pai jogue o Peter dentro da piscina, já que está frio pra caralho e a Lara
com o Chade não parecem achar uma boa ideia.
Bebo um gole da minha cerveja e volto a encarar o trio, me
— Boa!
Peter se senta na espreguiçadeira ao meu lado e seus olhos se voltam
— Nós não somos primos, ela é prima do Kyle — falo, pelo que me
parece a décima vez só hoje.
arrepiar e sou acometido por uma fisgada na virilha. Que caralho de reação
é essa?
— Hum... Boa noite, Jay. Achei que não fosse falar comigo.
— Não pensei muito nisso, em falar ou não. Vim chamar o Kyle pra
irmos embora.
olhos para Lore, que dá de ombros, mas se aproxima. Ela desfaz o laço e
tira a tampa da caixa, sua boca se entreabre e seus olhos se arregalam.
— Nossa! Eu... Jay! É maravilhosa! Você pensou no apelido que
quente apertado junto ao meu, enviando sinais muito pouco cristãos para
dentro da minha calça.
Porra! Isso tá muito errado. Não era mesmo desse jeito que essa
Like animals-mals
(Querida, estou caçando você hoje à noite
Te persigo, para te comer viva
ASHLEY 15 ANOS X JAY 17 ANOS
Eu o vejo passar pelo corredor, está com os fones nos ouvidos e
usando regata e shorts, então provavelmente vai descer para a academia.
pidões.
um baile de princesa, os pais dela vão estar lá e toda sua família também.
Não me sinto bem em mentir para o meu pai, ele é o tipo de homem
mas posso pensar nisso depois. Dou um beijo estalado em sua bochecha,
me preparando para sair, mas papai me segura no lugar.
— Deve ter algum, pai — digo, afinal dessa maneira não é tanta
mentira, certo? — Ao menos os parentes da Kendra, mas não precisa se
brinco, repetindo o que ele mesmo já falou outras vezes e torcendo para
mim está temendo que algo dê muito errado, porque dizem que mentiras
têm pernas curtas, mas não posso retroceder, já que no que depender do
meu pai, vou namorar com cinquenta anos e me casar quando ele já tiver
morrido.
Escolho uma roupa bonita, mas nada muito ousado, já que isso
daria na cara. Me visto e quando estou pronta, saio do quarto e sigo até a
sala de jantar, onde meus pais estão jantando com tio Tray e tia Jas, as
— Boa noite, pessoal. Sinto muito não jantar com vocês, mas estou
saindo.
marido bagunce meu cabelo, uma mania que ele tem já faz muito tempo.
Ela e Lisa têm dez anos e são fofas e educadas, ainda que de vez em
quando aprontem alguma coisa. Não poderia ser muito diferente, já que as
frutas nunca caem muito longe da árvore.
Tio Tray ostenta um sorrisinho ao me encarar e parece desconfiado.
ferrar.
— Tchau, gente — digo, mandando um beijo para a minha mãe.
— Também fui convidado — ele continua, como se isso não o
abalasse em nada —, mas sei que minha mãe fica preocupada quando vou
nessas raves, então achei melhor ficar em casa com a família.
— Nessas o quê?
Giro nos calcanhares e encaro meu pai, que me olha com uma
expressão apavorada.
— Brincadeira do Jay, pai. Claro que não é uma rave, é só um baile
— respondo entredentes, encarando meu arqui-inimigo e esperando que o
fogo nos meus olhos o convença de que é melhor se retratar agora mesmo.
— Tanto faz — Jay cede, dando de ombros, e eu quase respiro
Kendra não vão estar, deve virar uma zona aquilo lá. Sem adultos pra
supervisionar…
Meu pai o ignora e se volta para mim, o rosto vermelho, mas não
sei se está bravo ou só preocupado.
sandálias, me preparando para voltar para o quarto. Não sem antes pescar
uma batata do prato do meu pai, encher com catchup e atirar na cara de
Jay.
— Ei!
— Eu te odeio, seu babaca!
— É recíproco, Melequenta.
JAY
Eles são muito surtados. Às vezes eu acho que meu pai é o pior, em
outras tenho certeza de que o Ray é o dono desse posto, mas até mesmo
Não que esteja errado, vamos botar a casa abaixo. A diferença é que
podemos voltar e ter gente acampando nas nossas barracas — Ashton fala, e
Ashley tem vinte e três anos, o pai dela deve ser muito inocente
mesmo de acreditar que ninguém nunca acampou na barraca dela,
preocupados em ficar tanto tempo fora, talvez seja melhor mandar ela ficar
com Rosa.
Essa nem eu aguento ouvir. A coitada da avó da menina não dá
conta, eu sei bem como a Lore é, não faz nada assim tão errado, mas é
bagunceira que só ela, deixa tudo jogado e faz barulho igual um bebê de
dois anos.
— Foi mal, quis dizer que já está velha pra darem esse trabalho a
ela. Além disso, pelo que conheço da Lore, ela é tranquila, não precisam se
— Tem mais de vinte anos isso, supera Ray. Logo meu Anjo vai ter
olhos. — Eu não tô pronto pra ser avô, porra! Eu sou gostoso, cara. Não
posso ser chamado de vovô, por bebês!
atingiu…
— É isso.
babá, merda! Além disso, seu filho e as suas filhas — falo para Josh, Ethan
disso, garoto.
— Jay, você já vai olhar suas irmãs mesmo — meu pai tenta me
convencer.
— A única coisa que precisa fazer é ficar de olho e contar pra gente,
cacete — Ethan insiste —, a Lore tem só dezoito, quase a mesma idade das
suas irmãs.
todo mundo, exceto pelas gêmeas. Mas se é preciso dizer sim para tirar os
combinei com Kyle de dar uma festa digna de cinema na mansão e que não
os filhos e filhas vão aprontar, mas comiam todo mundo e não valiam nada.
— Por isso mesmo — Ashton assente —, eu sei como são as coisas.
com você, porque é responsável pra caralho, Jay — ele diz, apoiando as
comer até dar congestão, não me importo. Só que ser fornecedor é triste pra
cacete.
— Já parou pra pensar que quem eu como até dar congestão está
prato que tá comendo, meu filho. Se a garota tem idade boa pra tomar
decisões e se é da baderna também. Não vai ferrar com uma simples
camponesa que vai todos os dias ao campo recolher lenha, porque aí vou ser
não se aguenta. Ashton permanece sério, porque acho que a lógica ridícula
do meu pai chega a fazer sentido para ele de alguma maneira.
— Acho que já deu pra mim — falo, sem conseguir decidir se rio
alheios. — Vou passar no estúdio, marquei uma tatuagem hoje e depois vou
filmar uma moto nova.
— Você mesmo vai tatuar? Faz tempo que não faz uma
pessoalmente.
uma piscadela pra ele, que responde com um tapa na minha cabeça.
Saio da sala rindo e ciente de que eles vão ficar putos se
descobrirem que não tenho a menor intenção de vigiar ninguém. Não com
ASHLEY
As duas semanas desde que cheguei em casa se passaram muito
rapidamente, entre almoços e jantares com meus pais, saídas ocasionais
com tia Ane e shopping com as gêmeas e Lore, quase não percebi que a
viagem deles se aproximava e que logo estaria com Gal, Lisa, Lore, Kyle e
Jay, na mesma casa.
fortes. Ele era bem magrelo quando fui embora daqui, já era bonito, mas
não tanto assim. O que é uma pena, tanta beleza desperdiçada em uma
me irritar com a coroa. Que ele fez com a intenção de me deixar nervosa foi
bem óbvio, o que Jay não sabia, é que o apelido só me ofende quando parte
dele, porque vem em um tom pejorativo, na boca do meu pai sempre foi
seus saltos se afundando nele até estar diante de mim e então se senta ao
meu lado.
— Pensei em passarmos a tarde juntas, com sua mãe e as outras
mundo? Seu primo é arruaceiro, Ashley, qualquer coisa você dá uma bronca
nele!
— Não sei se isso funciona com caras da idade do Kyle, tia.
— Pois é, nem me fala… Eu não quero pensar nisso, mas meu filho
é terrível, vive se metendo em confusão, não parece em nada com o pai!
— Não mesmo — concordo, rindo —, parece mesmo é com a mãe
— falo, e ela abre a boca —, ou a senhora acha que a gente não sabe que
era um demônio perseguindo o tio Josh?
— Pior que conta, são as que ele mais gosta de falar. Ele adora a da
vez que pegou um camelo na festa do Azal e perseguiu a tia Jas, e aquela
— Eu sei, mas pensa que ele só descobriu o Jay quando ele já era
grandinho, isso já é uma fofoca daquelas! Porque eu era pequena, não
lembro de nada direito.
piscina, com tia Jas, Gal e Lisa, Lore e Majô, ficamos um bom tempo por
lá, fofocando e nos divertindo. Depois tomamos café e seguimos para a sala
de cinema, onde assistimos a um filme de comédia.
Já é início de noite quando cada uma vai para sua casa. Como a
maioria já foi embora, me surpreendo quando encontro Jay na cozinha,
sentado à mesa, debruçado sobre um bloco de notas, ele nem mesmo
Ele faz uma careta e volta a olhar para a página, me ignorando. Está
irritado e eu nem fiz nada, está na minha casa e não se dá ao trabalho nem
mesmo de ser educado.
hein Ashley? Nem deve dormir a noite com esse cérebro de gênio que você
tem!
— Diplomas são importantes, desenhos são coisas de crianças.
— Não disse que diplomas não são relevantes, eles são, mas pra
quem ama o que faz. Você não queria ser cantora como o seu pai? — ele
pergunta, fazendo uma careta estranha.
negócio, minha empresa do zero e fiz meu nome, você não precisa saber de
nada disso, porque sua opinião pra mim é a mesma coisa que porra
nenhuma.
homem com as mesmas qualidades. É ótimo que haja dessa forma, assim
não corro o risco de me esquecer de que você é um babaca.
— Disponha, Princesa.
ASHLEY 15 ANOS X JAY 17 ANOS
Estou tomando meu café da manhã na base do ódio. Só de lembrar
do que o Jay fez, estragando tudo na noite passada, meu sangue ferve e
sinto meu rosto esquentar. Como pode alguém ter tanto prazer em ferrar
com a vida dos outros assim? Não consigo entender o que eu fiz pra
merecer esse carma.
assim como seu pai e eu, não esperava que fosse mentir pra nós dessa
maneira, Ashley.
E é isso que estamos vendo. Julia Foster Ray, doutora em direito,
ferrar!
— Isso é irrelevante. Proposital ou não, só foi possível te ferrar
e eu era muito mais velha que você, adulta já. Você não tem idade pra isso.
— E agora vou ficar de castigo por um mês! Tudo culpa do Jay!
sede de vingança.
carrinhos abarrotados de compras, ela mesma traz uma caixa nas mãos.
ficam até comprando o que ele gosta de comer, o Jay nem mora aqui de
verdade! Pego o meu iogurte e deixo a mesa, seguindo para o meu quarto.
Eu deveria tomar uma atitude, não é justo que Jay saia ileso do que
me fez e ainda fique passeando pela minha casa se sentindo o dono do
Ele diz que eu sou mimada, mas como já esteve doente um dia, todo
mundo passa a mão na cabeça dele, apoiam suas atitudes e agem como se
ele fosse o próprio santo sei-lá-o-quê. Eu queria no mínimo que ele tivesse
uma dor de barriga lascada e que sofresse por uns três dias pra eu não ver
perfeita. É isso! Eu vou criar uma diarreia para meu querido inimigo.
meia hora depois, desconverso dizendo que comprei uma máscara para os
cabelos que queria testar e ela não questiona muito sobre o conteúdo do
pacote.
Para colocar o plano em prática é bem mais difícil, preciso esperar
que todos os funcionários se retirem e que meus pais também se deitem,
então saio na surdina do meu quarto e sigo até a cozinha, onde executo
minha vingança.
e coloco em todos os potes, pra não correr o risco de ele não tomar ou
demorar muito a acontecer. Pela primeira vez na vida, estou torcendo para
que o Jay apareça por aqui.
Por sorte não preciso esperar muito. No dia seguinte, logo pela
manhã o tio Tray chega para ensaiar com meu pai e os outros e Jay e Kyle
Tray.
Minha mãe vem correndo pelo corredor, descalça, toda descabelada
e com cinco rolos de papel higiênico nas mãos. Ela sai entregando para
eles e me oferece um também.
— O que tá rolando? — pergunto, já sentindo um medinho.
— Uma virose ao que parece, todo mundo está com diarreia. Seu
pai, eu, Josh, Tray, Ethan, Jay, Kyle… Você e os funcionários não devem
escapar, já liguei pro médico vir nos ajudar.
consegue sair do sanitário, assim como seu pai… Eu… Preciso voltar pro
banheiro.
JAY
— Então quer dizer que seu pai e os outros querem que você tome
conta das filhas deles? — Elijah está segurando a risada. — Logo você,
porra?
— Ei! Logo eu por quê?
— Você é um puto? Enfia seu pau em tudo que é lugar!
— Ficou doido? Ali é sagrado, elas não são minhas primas de
tempo.
não sente.
Meneio a cabeça.
chateada porque você não ligou, nem apareceu depois daquele dia.
— Sério?
— Sim, ela disse que ficou esperando e você não deu satisfação.
— Porque eu não devo satisfação — falo, balançando a cabeça. — É
uma pena, mas acho que nosso tempo venceu. Ela está começando a levar
as coisas a sério.
— É, vai ser foda. A Ashley mal chegou e já tive uma treta com ela
ontem, eu não sei o que acontece direito, mas ela consegue me deixar puto
sem fazer quase nada, e me pegou em um dia em que eu não estava nada
bem...
— Se sentindo mal? — ele pergunta, parecendo preocupado.
— Um pouco…
— Tô cuidando disso.
— Certo. — Elijah aquiesce e parece se esforçar para mudar de
assunto. Ele sabe que não ando muito legal, mas que odeio falar a respeito.
— Bom, pelo menos você só tem que se preocupar com ela, já que as outras
são tranquilas.
casa.
A despedida é demorada, porque por mais que se façam de durões,
casa. O quarto que prepararam para mim é o mesmo que eu ficava quando
era pequeno, mas com uma decoração mais moderna e menos infantil.
uma boa ideia tomar um banho agora, antes de sair para comer alguma
coisa…
Seus olhos pousam sobre o meu pau e ele ganha vida embaixo da
Cacete, ela está usando uma blusa branca e acho que está sem sutiã,
comigo.
— Babaca. — Ashley me dá as costas agora, a bunda arrebitada na
jantar, mas não a encontrei, não achei ninguém da cozinha. Falei com a
Tícia e ela disse que você falou com o meu pai que não precisávamos de
fora.
— Você não fez isso! — Ela se vira e coloco a mão no cós da cueca,
anterior. — Meu pai jamais iria concordar com isso tão aleatoriamente!
— A menos que eu dissesse que você pediu que eu falasse sobre
isso, que você gostaria de cozinhar para nós durante esse tempo…
— Você é um cara bem desprezível, sabe? Não adianta em nada esse
— Quer dizer que meu pau é enorme, Ashley? Essa conversa está
imprópria em tantos níveis que nem sei mensurar.
mensurar, porque basta eu ligar pra ele e dizer que era mentira, no máximo
me causou um inconveniente por hoje, já que vou ter que preparar alguma
— Tá bom então, eu e meu pau enorme vamos sair com uma garota,
mas volto mais tarde.
— Que bom pra ela, só tenta não conversar pra não estragar as
coisas…
ASHLEY
centímetros!
Quinto, mas que deveria ter sido primeiro: ele não tinha que ter
falado nada daquilo pro meu pai, assim as demais coisas não teriam
acontecido.
E então o safado me sai de casa, depois de me fazer cozinhar para as
gêmeas, Lore e Kyle e volta pouco depois com uma peguete, achando que
os dois vão comer a minha comida e depois ele vai comer a garota?
Ah, mas não mesmo.
Eu os observo entrar na cozinha. A garota tem o braço enlaçado no
dele e sorri de alguma coisa que ele falou. Como se Jay falasse coisas
engraçadas…
pra mim. — Vou pedir alguma coisa pra mim e pra Diane.
— Bom que sobra mais — Kyle diz, enchendo o prato outra vez —,
isso tá bom pra caralho.
mesa na maior grosseria, dona Julia teria afundado minha cabeça dentro do
macarrão se visse —, não sabia que viria e não fiz pra você, ainda mais com
visita.
— Ashley! — Lore me repreende pela falta de educação.
— O quê? Ai, me desculpa, Diane! É que ontem ele avisou que viria
com a Jessica e que ela dormiria aqui, aí me preparei. Por falar nisso, eu
achei que fossem namorar… hoje cedo parecia tão sério entre vocês.
Jay estreita os olhos, percebendo que estou me vingando pelas
cozinheiras e Diane o encara com o cenho franzido e cara de poucos
amigos. Quem é Jessica eu também não sei, foi o primeiro nome que me
veio à cabeça.
— Olha só, Jay, isso não é legal. Você trouxe outra garota pra cá
ontem, todo mundo aqui sabe e viu e hoje me traz como se… Sei lá, cada
dia da semana é uma pessoa? Eu tô fora!
Jay sai logo atrás da garota, mas na direção contrária, rumo ao seu
quarto e me volto para meus acompanhantes de jantar. Lore está segurando
uma risada, Gal me fita com a sobrancelha arqueada, enquanto Lisa não
parece ter entendido bem o que houve aqui e Kyle come como se não
houvesse amanhã.
— Essa Jessica nem existe — Lisa fala, mas sua fala sai em tom de
questionamento.
— Não, mas o seu irmão falou para o meu pai que eu queria
cozinhar para todos nós por três meses e fez com que ele dispensasse todas
as funcionárias da cozinha. A única coisa que eu sei fazer é o que vocês
opostos, são melhores amigos, se dão super bem e não desgrudam pra nada,
ainda que seja com Gal que ele saia para as baladas, quando Jay não está
por perto. Essas são as informações que consegui colher com Lore, que
para lidar com isso. Timoty vem me ver amanhã ou depois e não posso
correr o risco de que Jay me entregue para o meu pai, preciso dar um jeito
de ficar bem com o babaca, nem que para isso precise levantar a bandeira
branca.
Em silêncio e sob os olhares atentos de todos, pego um prato e
começo a encher com macarrão, talvez seja o suficiente para amansar um
pouco a fera.
ASHLEY
Apesar do meu esforço ontem, Jay bateu a porta na minha cara, mas
teve a ousadia de abrir uma fresta e pegar o prato de macarrão, e agora
meu namorado, que deve chegar a qualquer instante e essa briga com Jay
complicou tudo, já que ele pode tentar dificultar minha vida.
O que não torna nada mais fácil é a cena que não sai da minha
cabeça. Onde foi que ele conseguiu aquele par de coxas? Meu Deus do céu!
Como uma pessoa consegue aqueles músculos? As tatuagens no corpo todo,
tem da vida. Mas não, o desgraçado tem o corpo do diabo e ainda tem um
pau enorme. Será que estava… Não, ele nem estava excitado, o que
sem bater, agora acabei vendo o idiota quase pelado, e uma visão dessas não
é fácil de esquecer.
Eu não sou uma menininha inocente. Não sou mais virgem, por mais
que meu pai teime em pensar assim, mas não sou também experiente
demais, só transei com dois garotos, Timoty vai ser o terceiro, muito em
breve, mas nenhum deles era igual o Jay. O que é uma pena, porque todos
eles eram mais gentis e agradáveis. Não se pode ter tudo, não é mesmo?
Ouço as batidas na minha porta e logo Lore bota a cabeleira loira
para dentro.
o interior da casa. Como Lisa saiu com Kyle para irem ao cinema, minha
única preocupação é com Jay e os funcionários.
andando pela casa até as dez da noite, quando encerram o expediente e vão
para suas próprias casas. Mas como já passa das nove, se o Jay acabar
saindo, posso preparar alguma coisa para comermos mais tarde e mostrar a
casa para o Timoty, Lore vai me informar quando tudo estiver livre.
Timoty passa pela porta, sorrindo e me envolve em seus braços,
Ele é bem bonito, uma beleza comum, não tem nada de excepcional
você...
— Eu também.
Estamos namorando há alguns meses e tudo aconteceu lentamente
entre nós. Ele estudava comigo, morava por perto e as coisas foram
evoluindo naturalmente. Timoty é um cara tranquilo, não força a barra e é
confortável estar com ele, nós nos damos bem, ele é amigo das minhas
amigas da faculdade, fazia sentido começar a namorar com ele.
— Bom, vou deixar os dois aí, qualquer coisa me manda mensagem
— Lore diz —, e quando a barra estiver limpa, eu falo com os dois também.
Com esse aviso, ela nos dá as costas e fecha a porta, dando uma
piscadinha na saída.
Timoty sorri e nossas bocas se encontram em um beijo afoito, ele já
arranca a jaqueta e por um momento eu penso que talvez nossa hora tenha
chegado.
JAY
O dia não foi dos melhores. Além das dores de cabeça que vêm me
incomodando, tive que aturar um possível comprador que acha que tem o
rei na barriga só porque tem grana, como se isso na minha família, hoje em
coisa no meu estômago até agora é o café da manhã, mas já é hora do jantar,
então, para completar, estou puto, porque sou o tipo de pessoa que se irrita
quando está com fome.
cabeça lateja e levo a mão até a têmpora tentando me situar, mas acho que
vou precisar de um analgésico. Franzo o cenho quando um som bem
estranho chega até mim e demoro um pouco a identificar o que é, não
porque não reconheça, mas porque é tão inadequado para o local que não
faz sentido.
— Assim, Timoty…
Timoty? Mas quem caralhos é Timoty? Tem um cara comendo a
olhos arregalados.
Ela ergue a mão para me impedir, ao mesmo tempo em que abro a
desvio o rosto pra não ficar encarando enquanto isso, ainda que esteja puto
pra cacete, por respeito.
dela, como nomeou. Então não, isso não faz o menor sentido agora.
— Como assim eu não tenho? Você não sabe nada sobre mim, eu
e nem sei por quê. Eu nunca vi o infeliz na minha vida e ele nem me fez
nada, mas Lore franze o cenho e apoia a mão no meu peito.
Ainda não entendi qual é a dele, mas decido que vou o acompanhar
até lá fora.
— Vou te levar até o portão, amigo.
segundos.
O sangue corre mais rápido nas minhas veias e eu não sei bem que
com esse lance de namoro, eu não estou. E não estou confortável em ver
você se esfregando em cima dela também, aliás, com nada que envolva
sou pago pra ser amigo de ninguém e não espero que gostem de mim, então
— Não. Quero dizer que não vai ver nem falar com a Ashley, vai
— E eu tenho que terminar meu namoro com ela porque você, que
não é nem primo dela mandou? Sabe que ela te odeia, não sabe?
— Sei, eu também odeio a Ashley. Mas sabe do que eu gosto? De
quem tem coragem, Timoty. Vou te admirar mais se disser que não vai
terminar.
e que quando julgam pelas aparências, a minha não é das melhores nesse
sentido.
— E quais são? — ele questiona, cruzando os braços, como se me
desafiasse.
— É mesmo.
direção da guarita.
mesmo que não iria vigiar a Ashley, eu não tinha nada a ver com essa
situação e não tinha razão para o ameaçar o cara. A única coisa que me
tranquiliza, é saber que se ele é frouxo o bastante para desistir dela por
limites!
Dirijo a ela meu melhor olhar de quem não faz ideia sobre o que ela
está falando, melhor isso do que dar o braço a torcer e admitir que exagerei
mesmo.
— Vou malhar.
— Jay, eu estou falando com você. Se isso for só porque ontem eu
falei pra sua amiguinha que tinha trazido outra garota em casa, não era pra
pela tangente.
— Quando você botou a garota pra correr ontem então estava tudo
bem, mas quando sou eu, você surta, Princesa? Só revidei, não dizem que
— Vocês são como uma novela! Eu não disse que seria divertido,
quando viu o Jay desse tamanho entrando no quarto, quase fez xixi nas
calças de medo!
— Lore! — Ashley repreende a amiga. — Ele não ficou com medo
do Jay…
doendo e sei lá, vingando minha honra por aí, como um cavalheiro do
passado.
proibido e demoro alguns instantes para perceber que está pronta para mais
uma briga, porque estou distraído demais com o decote profundo,
emoldurado pela renda preta e pelas pernas totalmente expostas.
Ah, isso. Então pelo visto o rapaz seguiu o meu conselho à risca.
— Por quê? — Me faço de desentendido.
— Porque ele simplesmente me mandou uma mensagem, dizendo
que era melhor não nos vermos mais e que estava terminando comigo. Por
preparando para ouvir os gritos, o que vai só piorar minha dor de cabeça.
— Eu disse que ia bater nele, tá satisfeita?
Ashley pisca os olhos, surpresa com minha resposta.
— Quer dizer que você só falou que ia brigar com ele e foi o
suficiente pra terminar o namoro comigo assim?
Pondero se devo dizer tudo, mas quem está na chuva…
questão de sempre dizer, não é nada seu, fez uma ameaça vazia? Ele é um
molenga.
Photograph – Ed Sheeran
ASHLEY
Os últimos acontecimentos ainda não me parecem reais, é tudo
insano demais para ser verdade. Jay invadindo o quarto daquele jeito,
porque ficou com medo do Jay, não consigo acreditar que ele não achou que
deveria ao menos me contar o que havia acontecido!
— conto, observando como ficou o vestido azul no meu corpo —, ele disse
que o papai pediu que me vigiasse, assim como o tio Tray deve ter mandado
olhar vocês e o Ethan, a Lore… Mas foi demais, sabe? Ele entrou aqui e
com a Gal.
— Não é ciúmes, boba. Ele parecia… irritado? — Meu comentário
alguma coisa.
mas daí a me mandar uma mensagem terminando? Jay tem razão e nunca
pensei que fosse dizer isso, foi muita covardia. Agora ele que não tente
— Acho que não tem nem duas horas desde que ele saiu, mas eu
entendi seu ponto. A gente começou a namorar não tinha muito tempo, era
bem legal e tudo, eu gosto dele, fiquei chateada, mas talvez não seja…
Bom…
— Você não está apaixonada — Lisa conclui, aquiescendo.
— Se eu já me apaixonei?
— É…
Ela desvia os olhos dos meus para o chão e toda sua postura muda.
É bem nítido que esse é um assunto com o qual não se sente confortável.
— Já, mas não é isso tudo que falam.
agora me resta tentar me colocar a par de tudo e, pelo jeito, sem Timoty
comigo, o que mais tenho é tempo livre.
— Cadê o Kyle? — pergunto, de repente tendo uma ideia.
— Mas nós não fomos. E se juntarmos todo mundo pra uma sessão
cinema e noite do pijama? — sugiro, me animando. — A gente pede pizza e
assiste alguma coisa legal, depois dorme todo mundo junto, como quando
éramos pequenos!
— Ah! Eu acho o máximo! Vou chamar as meninas agorinha.
Faço uma careta, me lembrando da nossa última briga, que até não
terminou tão mal quanto começou, mas não estamos nesse ponto ainda.
— Melhor você falar com ele.
Lisa simplesmente sai correndo, antes que eu insista para que ela
faça isso.
quiserem…
Estalo os dedos na frente do rosto dele, para ver se o lerdo acorda.
— Kyle, presta atenção, o projetor de estrelinhas.
Agora o sorriso dele se alarga, quando começa a compreender o que
estou dizendo.
— Ele deve estar aqui, na despensa. Minha mãe tomou de mim
Ele aquiesce, ainda que não tenha aceitado com todas as letras, não
recusou a sugestão.
— Legal, vou me trocar e vou.
fala, com um risinho debochado. — Ele não vai nem a pau se uma de vocês
não chamar.
Troco o peso do corpo de uma perna para a outra e olho para trás,
buscando incentivo, mas Kyle voltou para dentro, me deixando sozinha.
alguma coisa legal, passar um tempo juntos. O Kyle disse que você não ia
querer, mas…
— Parece legal — responde, dando de ombros.
— Sério?
mas mesmo assim me pego assentindo, porque por alguma razão não me
parece errado.
— Você vem?
— Vou.
Não sei por que me preocupo assim depois de tudo que ele fez, mas
estou acostumada com Jay azucrinando minha vida, então não me sinto bem
arrasta o colchão.
frente dele, pego minha máscara de dormir, também calço minhas pantufas.
Jay está com um dos braços cobrindo o rosto, acho que por conta da
sala.
rapidamente.
— Valeu, Ashley.
— Não foi nada, quer mais alguma coisa?
Jay fecha os olhos, e entendo que talvez tenha sido uma má ideia o tirar do
quarto.
— Aqui…
Entrego minha máscara de dormir nas mãos dele, que a encara com
o cenho franzido.
gostoso imbecil.
outro lado.
— O Jay tá com dor de cabeça, dei um remédio pra ele, não gritem.
suficiente pra me perturbar, e cada vez que ele se mexe no colchão, acaba
os desenhos e descobrir quando foram feitos e por quê. Deus do céu, como
é que ele foi ficar gato desse jeito? Eu não estaria perdendo o filme inteiro
se os músculos fossem menos… apertáveis ou lambíveis.
Quando ligam da guarita para informar que nosso pedido chegou,
Kyle se levanta para buscar, mas ele paralisa ao perceber minha máscara no
tira dezenas de fotos, que eu sei que nunca vão ser esquecidas.
Kyle se dá por vencido depois que mostra a cena para as meninas,
selfie para o Instagram e só espero que ele não ache que eu fiz de propósito
outra vez. Quando Kyle volta com as pizzas e o refrigerante, toco o braço
de Jay tentando o acordar para que possa comer, mas ele não desperta de
Levo a mão até seu rosto para ver sua temperatura, mas ele acorda e
segura meu pulso em um movimento ágil, retirando a máscara em seguida.
contato.
Engulo em seco, notando o modo como as pupilas dilatadas dele
consomem as írises azuis, por completo agora, como se…
aprontando.
— Vai fazer o quê? Se vingar como uma diva faz?
imprevisíveis.
— Você só quis ajudar, Princesa. O Kyle que é um idiota.
— O quê? Tá defendendo a Ashley? Você tá mal mesmo. Eu, hein?
Gal, escuta essa. — Kyle sai correndo, nos deixando sozinhos de novo, com
o silêncio constrangedor.
Jay pega outro pedaço de pizza na caixa.
Gal estão fofocando enquanto Kyle e Lisa estão embolados embaixo das
cobertas agora.
— Só você e eu, porque os outros te adoram.
personalidade. Adoro motos, amo tatuagens pra caralho, não vivo sem
minha família, odeio a Ashley, essas coisas…
— Sei bem como é, certas coisas não mudam só porque alguém
modo como me chamava na infância, mas ele já virou para o outro lado, me
dando as costas e me deixando sem direito de resposta.
Finalmente um dia em que acordo me sentindo bem e disposto,
depois dos últimos, que foram um desastre. Me levanto do colchão,
evitando fazer barulho para não acordar Ashley, que dorme com o rosto
afundado no travesseiro e os cabelos esparramados para todo lado.
Penso em colocar a máscara que ela me emprestou ao lado do seu
travesseiro, mas mudo de ideia e decido levar comigo, gostei desse negócio.
um momento raro de gentileza. Ashley foi legal pra caralho comigo ontem à
noite e isso é uma merda, porque com ela, gostosa desse jeito, minha defesa
é saber o quanto é mimada e insuportável, se isso muda, fica complicado
foi na frente dos outros. Em minha defesa, eu não estava pensando direito,
ainda sonolento e um pouco confuso, mas nada justifica, já que
chaves.
Sei que deveria ter tomado café da manhã antes de vir, mas Elijah e
Sean já devem estar me esperando e preciso resolver algumas coisas da loja
ter trocado de moto umas três vezes aqui, ele também usa nossos serviços
quiser deixar ela aí, testo mais tarde e coloco no canal, se der bastante
lava a outra.
Aperto a mão dele e faço sinal para Sean, indicando que vou subir
para o galpão. Encontro Elijah assim que abro a porta, ele está sentado em
piorar a Ane ficou rindo dele na frente de todo mundo. Caralho, agora
parece que saiu uma reportagem falando que tão num relacionamento
aberto, o Josh tá quase infartando.
Isso me arranca uma gargalhada, eles se metem em cada enrascada
como sempre, podem avisar ao Ethan, o Kyle ainda não colocou fogo em
nada, não engravidou ninguém e nem deu festa na casa.
— E você?
Eu me obrigo a não desviar os olhos da tela, porque sei que minha
mãe perceberia que estou fugindo.
— Ela está bem também, ontem inventou uma noite do pijama lá,
colocou todo mundo pra dormir na sala e ver filme.
Ashton faz um sinal de prece que poderia ser engraçado, mas não é,
porque, porra, percebo como eu sou um filho da puta, que no íntimo queria
muito conhecer a caceta da barraca.
shows e voltar, não dá pra deixar essa criançada sozinha, eu vou voltar e
vou ter que arrancar meus olhos.
— Calma, Ray! Sossega a periquita! Tenho certeza de que o Jay
— Isso! Porra, Jay! Tinha que ter começado com essa parte!
— Você ameaçou o rapaz, Jay? — Josh aparece atrás dos três. —
maromba de academia, o menino deve ser um frango porque viu ele todo
fortão e fugiu de medo.
— Frango… Sei…
— No Natal? Você não faz ideia, cara. O Josh pira muito no Natal,
do tipo que compra Renas, coloca Papai Noel no telhado, luzes que você vê
do outro lado da cidade, enfeita todos os cantos da casa. Se você for no
— Não conhece o Azal? Ele já é tiozão agora, tipo meu pai, mas o
cara é louco, completamente. Dá umas festas que você sai de lá sem saber
se aconteceu de verdade ou se foi um sonho muito doido.
— No quê?
— Tem uma mulher aqui.
— E daí?
— Ela veio falar com você, mas não tá entendendo, Jay. É alguém
que eu nunca imaginei que fosse passar por aquela porta, e preciso falar que
as fotos não chegam nem perto de mostrar como ela é gata, cara.
— Quem?
— Se eu falar você nunca vai acreditar. Vai lá fora ver, falei pra ela
esperar.
Ashley está usando uma calça que imita couro, muito justa e botas
Dessa vez ela está maquiada, carrega uma bolsa grande nas mãos e o
visual escuro é completado com os óculos de sol arredondados e o batom
vermelho.
— Porra…
Gostosa pra caralho.
mim.
desconcertado.
um sorriso.
passando mal ontem, saiu sem tomar café, então eu vim trazer o almoço.
— O quê?
— Que foi? Meu pai não te mandou nos vigiar e cuidar da gente?
Também estou cuidando de você, precisa comer direito, você fica pulando
também desceram e estão nos rondando, curiosos com sua presença. Ela
acena e abre um sorriso que desarmaria até o mais bruto dos homens. Porra,
se desarma até a mim, o que não faz com os coitados?
para os dois. — Pelo jeito que estão me olhando, sabem quem eu sou, não
é?
Eles aquiescem.
— E acho que o Jay não fala muito bem de mim. Ele fala que sou
pestanejar.
— Imaginei. Saibam que foi o Jay quem começou com essa briga,
colando goma de mascar no meu cabelo. Tive que cortar tudo por culpa
dele!
incentiva.
Não sei por que estão dizendo isso, nem me passou pela cabeça
recusar.
— Isso — Sean concorda —, sua prima é um anjo.
dizer que essa calça te deixou ainda mais gostosa. — Dessa vez eu sussurro,
no pé do ouvido dela.
Ashley para onde está e admiro enquanto seu rosto adquire uma
— Quer dizer que você vai andar nesse motão aí enquanto eles
filmam?
venda. Não sei por que cismei que tinha comprado agora.
— Não vai, Princesa. Seu pai assiste ao canal, ele me mata se te vir
na minha garupa, andando mais rápido que o Flash.
— Ele nem vai saber que sou eu — insiste, colocando as mãos na
cintura.
— É arriscado.
Ashley bate palmas, empolgada e pega o capacete das mãos do
outro doido.
— Adrenalina!
Essa garota pirou e não faço ideia do que fez comigo, porque me
vejo a seguindo para o andar de baixo, ainda que contrariado.
Sean e Elijah também nos seguem, eles não conseguem nem
disfarçar o modo como ficam babando por ela, devorando cada um de seus
passos e cheios de sorrisinhos bobos pra tudo que ela fala. Ashley poderia
dizer a coisa mais idiota do mundo que eles iriam concordar.
— Cacete, não acredito que vai me obrigar a fazer isso —
entrega a bolsa nas mãos de um dos seus escudeiros e então monta atrás de
mim.
— Eu trouxe seu almoço, deixa de ser reclamão, Jay.
Ela faz um sinal de joia e ligo a câmera que está fixa no meu
capacete. Sean também liga a outra, que monitora os movimentos da rua.
— E aí, pessoal? Hoje no MotorJay temos a BMW R1250
Adventure pra um teste relâmpago. Essa moto não é nova, mas está como
zero, galera. E eu vou mostrar tudo pra vocês nesse vídeo. Como podem
ver, estou acompanhado de uma gata misteriosa…
Faço todo o circuito com ela, cortando giro e Ashley grita e ergue os
braços, curtindo o momento. Ela não parece sentir medo, muito pelo
contrário, curte e aproveita cada instante.
pai, o Josh, o Ethan, todos eles. Vão saber que era você, vai ver só.
— E o que tem? Não fizemos nada de errado.
Ashley desvia os olhos para minha moto, que está parada do outro
lado da rua.
— Bom. Já que o problema é a exposição, Jay, então vamos dar uma
volta, vem… — Ela pega o capacete e a bolsa, depois sai andando na
direção da moto, como se não tivesse a menor dúvida de que eu fosse segui-
la.
O pior de tudo é que eu o faço.
Então…
Subo na moto e Ashley sobe logo atrás, colocando o capacete.
— Pro parque, Jay — fala, dando ordens.
vasilhas de dentro da bolsa. Noto que estão cheias de frutas, pelo jeito isso
já estava em seus planos desde o princípio.
— Você arquitetou tudo?
implicâncias não são algo que levo pro coração, não te odeio de verdade,
entende? Se você ficar doente, com quem vou discutir? Em quem vou
descontar minha raiva quando as coisas derem errado?
— Nesse ponto tem toda razão, fica complicado, mas não precisa se
preocupar, eu estou bem.
— Trabalhando muito com as motos?
— Sério?
— Sim, não trabalhamos lá efetivamente — falo, abrindo a boca
quando ela enfia um morango enorme nela.
— E o desenho?
Ela dá de ombros.
— Algo sobre música.
fato de que não sou tão boa não me incomoda. Porque não é meu sonho.
— Acho que entendo.
— Mas eu queria ser tão boa na música, queria ter meu espaço, mas
não por ser filha dele, não porque o dinheiro ou meu nome abriram portas,
mas por merecer, entende? E fiquei com medo de que não fosse acontecer.
Preferi recuar… — Ela me oferece um sorriso triste. — Chame de covardia
se quiser.
— Não, eu sei que com o peso que a Dominium tem, fazer seu nome
por sua conta seria impossível.
— Exatamente.
— Mas sei lá, se quiser cantar pra mim, eu faço questão de te falar
se você for ruim, jogo até uns tomates podres pra melhorar o cenário.
Inevitavelmente meus pensamentos se tornam um emaranhado de
suposições fatais e mórbidas, cujos finais são sombrios e excruciantes.
Outra vez estou me sentindo mal, minha cabeça parece que vai estourar a
qualquer momento e, para piorar, dessa vez acordei vomitando, é
impossível não pensar apenas nas piores hipóteses, ao menos no meu caso.
esforço para finalizar a série, o suor escorre pelo meu rosto enquanto me
dou conta da dura realidade.
banda e a viagem dos meus pais, não vou perturbar minhas irmãs ou deixar
minha mãe preocupada comigo por conta de algo que provavelmente foge
ao nosso controle.
Caralho, eu não quero fazer exames, não quero descobrir que porra eu tenho
e não quero ter que falar nada disso para a minha família. Por hora, eu só
quero ficar sozinho.
chão, colocando nisso minha frustração. Esfrego meu rosto, tentando pensar
em como fazer o que preciso, sem pirar.
Meus pais têm um chalé nas montanhas, um lugar isolado, para onde
tem funcionários fixos, mas uma senhora limpa quando é preciso. Posso
engolir qualquer história, e eu disse que tomaria conta delas e dos outros,
mas não posso ficar aqui e fazer com que, ao invés disso, tomem conta de
mim. Os outros podem não ter percebido nada ainda, mas Ashley é esperta,
juntos. Fazia tempo que eu não me sentia daquele jeito, tão bem. A
seria hipocrisia dizer que não curti pra caralho ter a garota na minha garupa.
Mas é isso. Por melhor que tenha sido, se as coisas continuassem
tudo. Talvez um tempo longe seja bom até mesmo por isso, eu não iria
resistir a fazer besteira por muito tempo e o Ashton… Cacete, ele iria me
matar!
principal para que eu saia da mansão agora, mas é um ponto que reforça
minha decisão. Pego o telefone na bermuda e disco o número de Elijah, sei
que ainda que seja meu funcionário, somos amigos, e posso contar com ele.
dos grandes.
— Vou precisar viajar por uns dias, não sei quantos, mas vou te
atualizando. Conseguem se virar sem mim, certo?
— Claro, Jay.
Ainda que eu não queira me abrir e contar tudo que está perturbando
minha cabeça, resolvo que uma meia verdade pode bastar.
vai?
— Meus pais têm um chalé, vou ficar uns dias por lá, sem que eles
saibam.
— Tranquilo, só leva o telefone, tá bom?
— Fechou, cara. Valeu.
Tomo um gole de água e me levanto, subo as escadas para encontrar
minhas irmãs, sabendo que vai ser a parte mais fácil e ao mesmo tempo a
mais complicada. Enganar as duas não é difícil, mas saber que estou
mentindo é péssimo.
— Oi, Jay! — Lisa me vê no corredor e ergue os braços, enlaçando
nesse mundo e por isso mesmo quero poupar todos eles do que sei que
qualquer notícia relacionada a minha saúde poderia fazer. Eu sou o milagre
da nossa casa, sempre fui e não quero tirar o sorriso que meu pai colocou no
rosto da minha mãe tantos anos antes.
— Quem mandou me abraçar, irmãzinha? Tava malhando.
— Escuta, tenho que falar com você e a Gal, mas acho que você
pode falar com ela por mim…
— Fala.
Lisa ajeita os cabelos que acabei bagunçando e me encara com ar de
seriedade.
— Preciso que me ajudem. Tô fechando um negócio muito bom na
empresa, mas pra conseguir preciso fazer uma viagem que vai levar uns
dias.
— Uma viagem?
— É, pra negociar umas motos, mas se o pai e os caras descobrirem
— Isso.
— E quer ir, mas não quer que a gente conte pra eles que você não
— Relaxa, Jay. Se tem que ir, vai, a Lore não deixa ninguém sair da
linha!
— E eu tenho que confiar numa garota que tem dezoito anos? Ela
nem é maior de idade.
— Em duas, porque eu também sou responsável e você sabe.
torcendo para que não esteja muito na cara. — Falo com você no celular e
te aviso quando estiver voltando, você avisa os outros por mim, então?
Com isso resolvido, decido que não vou mesmo falar com meus
pais. É o melhor que posso fazer agora, porque não acredito que consiga
mentir se os encarar nesse momento.
mala que usei para vir para cá. Como não vou me encontrar com ninguém,
me preocupo mais com roupas quentes por conta do frio que faz lá em cima.
Hoje em dia a coisa toda evoluiu muito e há inclusive uma avenida com
várias lojas e hotéis lá em cima, mas a cabana dos meus pais fica perto de
Turquoise Lake, e lá eu consigo sossego, longe dos turistas e dos praticantes
do esporte.
Coloco várias blusas de frio, calças, meias, touca e botas. Sei que
outras questões, mas agora tudo que me interessa é sair das vistas de todos e
ficar sozinho, então me apresso em arrumar tudo e ir embora.
Com tudo pronto, vou até a minha casa guardar a moto e pego a
caminhonete e as correntes para neve. Depois volto para a casa dos Ray,
pego minha mala e guardo na carroceria, deixo a casa sem olhar para trás.
Eu preciso me segurar por todos eles agora, não é o momento de fraquejar,
ASHLEY
fechadas, sei que já é bem tarde. Demorei muito a dormir ontem, e perder
horas de sono pensando em Jay Anders nunca fez parte dos meus planos,
mas o dia que passamos juntos tornou impossível que fosse de outra
maneira.
Nunca me senti tão bem, tão viva, quanto na garupa dele. Mesmo
tendo estado com outros caras de maneiras muito mais íntimas, jamais me
senti tão próxima de alguém, e é perturbador saber que isso foi acontecer
Nós nunca fomos sequer amigos, mesmo que exista, por conta da
nossa história, uma ligação forte entre nós dois, e agora estou tentada a
descobrir onde isso vai dar. Meu pai poderia matar um de nós por eu sequer
acabo de ter, mas tento parecer inocente, afinal ainda não fiz nada de
errado. Coloco um sorriso no rosto e atendo.
saudades de você.
turnê?
Minha mãe reclina o banco para se deitar e arruma os cabelos
muito, em intervalos curtos, mas vamos dar uma pausa agora de três dias,
outro até acima das próprias, eles são como uma meta de relacionamento
para mim.
E por falar nele…
aparecer, puxando minha mãe para um beijo na boca, mas ela o afasta, rindo
— Oi, pai. Mamãe disse que quase ficou sem voz ontem, se
doutora mandar — ele diz, olhando minha mãe de um jeito todo malicioso.
— Eca… Eu ainda estou aqui!
— E como estão as coisas em casa? Jay disse que todo mundo está
bem.
— Sim, estão. Tudo está bem tranquilo…
Pouco depois, meu pai entrega o telefone nas mãos dela, que acena,
me cumprimentando.
Tray não sejam realmente meus tios, eu sempre os chamei assim e não
consigo evitar. Jay por outro lado, chama todos pelo nome, ele sempre foi o
— Claro, o que é?
— Preocupada?
— É, eu sei que vocês não se dão muito bem, mas queria saber se
ele está bem, o Jay precisa comer direito, se exercitar, você sabe… Se
manter saudável. Mas ele as vezes só parece pensar em trabalho e fica se
deixando de lado. Você tem visto ele comendo? Sabe se está tudo bem com
ele? — Pelo modo como pergunta, com a mão sobre o peito e o cenho
almoçamos juntos ontem e ele comeu direito — conto e vejo os olhos dela
Não estou sendo cem por cento honesta, porque me lembro bem de
como ele passou mal na última semana, mas não há razão para preocupá-la
por conta de uma enxaqueca, sendo que não há nada que possa fazer do
— Isso foi muito repentino, tem certeza de que ele disse que não era
dar cobertura.
Isso me causa estranheza. Por mais que eu saiba que nossa recente
amizade poderia ter deixado algo assim passar, imagino que ele teria
— Pois então acho que algo está muito errado mesmo. Não sei o que
é mais esquisito, a viagem ou vocês dois passando a tarde juntos sem
tentativas de homicídio.
— Sua besta! Liga pra ele, pergunta sobre a viagem e tenta ver se
tem algo incomum.
Kyle pousa os olhos reflexivos sobre mim, mas faz o que digo,
pegando o celular do bolso. Ele coloca os cabelos loiros para trás e disca o
número de Jay.
— Ótimo. Escuta, a Lisa disse que você teve que viajar às pressas
por causa de um lance do estúdio de tatuagem — Kyle fala e meneio a
cabeça repetidas vezes. Não foi isso, era algo da concessionária! Mas Kyle
faz sinal para que eu fique quieta —, está tudo bem?
— Ah, isso. Foi uma emergência… — Kyle estreita os olhos, mas
— Você fica aqui com elas, eu vou atrás dele tentar ajudar, com seja
lá o que for. Não deixa a Lisa e a Gal descobrirem nada.
Meneio a cabeça, discordando do plano.
pessoas que vivem em paz — falo. — Além disso, imagina se nossos pais
descobrem que ficamos só as garotas aqui? — pergunto, usando meu trunfo
contra os argumentos dele.
— Que ideia?
— Será que os rapazes da empresa sabem? O Sean e o Elijah?
Kyle ergue as sobrancelhas e apoia as duas mãos na minha cama.
pra ele em segredo, você pode matar o rapaz que ele não vai te contar.
— Quem falou em matar, Kyle? Meus métodos são mais delicados e
persuasivos.
Elijah acabou sendo o menor dos meus problemas. Eu não gostaria
de me gabar disso, porque sei que ele teve suas razões para ceder ao meu
apelo tão facilmente e elas não foram egoístas. A primeira tentativa, com
sorrisos e um café, não funcionou muito bem com ele, que mesmo
balançado resistiu bravamente e disse que Jay havia viajado por causa do
trabalho.
que também estava nervoso, mas garantiu que Jay apenas precisava de uns
dias sozinho no chalé dos pais, nas montanhas. Concordei com ele e tentei
não demonstrar que havia conseguido a informação de que precisava,
distrair as meninas com uma desculpa qualquer sobre o meu sumiço, mas
ainda tenho que arrumar uma mala e passar no mercado.
se despedir de ninguém, ele não deve ter feito compras e nem levado nada
direito. Lá nas montanhas é lindo, maravilhoso e de uma paz indescritível,
mas faz um frio de enrijecer os ossos e para comprar comida, caso esteja
toucas, algumas trocas de roupas e, por mais que eu não planeje ficar muito
tempo por lá, capricho nas lingeries, porque de trouxa eu não tenho nada!
Encho uma necessaire com meus produtos de higiene e beleza, mas também
carro.
carne lá, pedir em um dos mercados que com certeza deve ter perto da
estação de esqui, caso Jay não tenha comprado. O mais interessante nisso
tudo é que eu não sei cozinhar e nunca vi o Jay cozinhando, então não sei
quem é que vai fazer toda essa comida, menos ainda a tal sobremesa!
descobri onde ele está e peço — imploro — que seja responsável e não faça
pensar no que levou de fato a tudo isso. Alguma coisa não está bem e essa
eu tinha pouco mais de um ano de idade quando tio Tray ficou sabendo que
aparentemente, Jay precisa de ajuda agora, ainda que talvez não a queira.
Como fugiu de nós e tentou lidar com o que quer que seja sozinho,
já me preparo para a recepção calorosa que devo ter. Jay não vai ficar feliz
em saber que o descobrimos, ou que o segui até aqui. Ele que lute, porque
não vou a lugar algum sem saber o que está havendo.
quando começo a ganhar altitude percebo que aqui o inverno já chegou faz
bem como as laterais da estrada. Boa parte do caminho está livre, porque
outros carros já fizeram o percurso antes e não está nevando muito. Pelo
horário que me disseram que ele saiu, Jay deve ter passado por aqui
algumas horas atrás.
Se eu virasse à direita, iria para a estação de esqui. Já estivemos lá
que vendem inclusive as peças exclusivas que tia Ane desenha. Já à direita
fica a região de Turquoise Lake. O lago é bem extenso e alguns chalés,
como o dos Anders, foram construídos em frente às águas azuis, com uma
distância considerável um do outro.
Não é possível avistar as residências vizinhas, mas se seguir
lago e torna o cenário digno de um filme. Não consigo ver pelas vidraças do
chalé, porque as cortinas estão fechadas. Com a neve caindo, se Jay chegou
mesmo até aqui, deve ter guardado o carro na garagem, então não há nada
que denuncie sua presença em um primeiro olhar.
e espero.
Coloco o ouvido na madeira para tentar ouvir alguma coisa do lado
de dentro, mesmo porque estou congelando aqui fora, mas não escuto nada.
Penso em chamar o nome dele, mas se Jay estiver se escondendo e fugindo
de nós, talvez não abra se souber que sou eu. Então apenas esmurro a porta
estômago.
— O que… Ashley?
— Então você se escondeu aqui.
Ele arranca a máscara e tenta arrumar o cabelo, antes de esfregar o
ficar sozinho.
Legal, então vai ser mesmo do jeito difícil.
— Ficamos preocupados, Jay, Kyle e eu. Você saiu, sem uma
explicação razoável, mentiu pra sua irmã e se enfiou aqui nessa montanha.
Achamos que tivesse acontecido alguma coisa.
apenas um pedaço dela sem fechar, para continuar falando comigo, e não se
parece em nada com o rapaz divertido que passou a tarde de ontem comigo.
— Ontem estava tudo bem…
— As coisas mudam.
— Fala sério, Jay! Vai voltar a ser um imbecil? Eu tô congelando
aproveitar e te chantagear.
— Como é que é?
— Isso. Já que não está se sentindo bem, pode se deitar onde estava,
mas a porta fica aberta porque preciso pegar minhas coisas no carro.
agora. A não ser que queira que eu ligue pro seu pai e fale que você deixou
— Você…
Jay abre a porta e sai andando sem me responder, pelo modo como
apoia a cabeça com uma das mãos, percebo que está com enxaqueca de
novo.
— Eu sei, sou uma vaca!
quartos… Você não ouse fechar essa porta quando eu sair pra buscar as
coisas, porque sabe do que eu sou capaz!
Ele resmunga alguma coisa, mas não se mexe, então acho que não
mas não tenho coragem de pedir ajuda quando percebo que ele não está
bem. Jay se recusa a falar comigo, então sigo para a cozinha e começo a
para Kyle avisando que o encontrei, mas que ainda não consegui descobrir
o que está havendo.
Levo até onde ele está, tiro a almofada de cima do rosto dele e
afasto a máscara. Jay me encara com o cenho franzido. Coloco o pano
esticado sobre sua testa e depois ajusto a máscara em cima dele, para o
prender no lugar.
— E não está?
— Está, mas eu não disse…
— Vou fazer o jantar pra gente, vai ajudar com as náuseas também.
— Meu estômago está ruim por causa da cabeça, quando melhorar,
o enjoo passa.
— Pode até ser, mas precisa comer direito, então vou fazer uma
refeição decente.
— Tenho medo disso — resmunga, como o chato que é.
É claro que talvez nesse caso ele tenha razão, mas não vou dar o
braço a torcer. Abro uma aba no navegador do celular e pesquiso uma
Fazer um purê de batatas, cenouras e assar uma carne não parece tão
das pobres coitadas junto, mas consigo dar um jeito. Depois eu as pico e
coloco na panela com água, para cozinhar, de acordo com o que diz na
internet.
no andar de cima e volto até ele. Jay se deitou do jeito que chegou, então
arranco as botas que está usando e coloco seus pés no sofá, tentando não o
acordar, depois estico o cobertor sobre ele.
Volto para a cozinha, determinada a terminar o jantar improvisado e
então escorro a água e coloco sal, e depois tiro o frango pronto da fritadeira.
Não é nada muito elaborado, mas está pronto e já provei tudo pra ter
certeza de que não vou matar o pobre do carrancudo envenenado. Como ele
está tendo dores de cabeça frequentes, não acho que seja bom tomar nada
alcoólico agora, então faço um suco com as laranjas que comprei e me sinto
bem estranha ao perceber que estou aqui, fazendo tudo isso por ele.
Quando retorno para a sala, o encontro com os olhos abertos, mas
— Melhorou um pouco?
Ele aquiesce, parecendo aliviado.
— O remédio foi bom, mas esse paninho frio foi uma maravilha
também.
engraçado.
— Eu trouxe outros sapatos, estão na minha mala.
eles não cabem dentro das minhas pantufas e se senta em uma das cadeiras,
encarando a comida com curiosidade evidente.
— Desculpe, Ashley. Sei que queria ajudar, é que eu vim pra cá pra
não ter que falar com ninguém, porque não quero conversar sobre isso e
você ainda chegou na pior hora… Não devia ter sido tão babaca, mas achei
— O que eu vou dizer pro Kyle? Que vim aqui e você não me disse
saí de casa e vim pra cá, mas você veio atrás de mim. Está tornando as
coisas complicadas pra nós, Princesa.
— Quer dizer que fugiu pra cá por que queria ficar comigo? —
pergunto, o seguindo.
Ele ri, cheio de ironia.
onda de satisfação por saber que ele quer o mesmo que eu.
— O quê? Não era o que você queria saber? Por que eu me escondi
aqui? — Ele se vira e me encara, seus olhos faíscam de desejo, mas há algo
mais, que nesse momento não sei identificar. — Me escondi porque minha
vontade era me enterrar em você muito fundo, e te foder forte, esquecer seu
descobrir de uma vez por todas o gosto dos seus lábios, conhecer a perdição
do seu corpo.
— Só que isso não iria destruir apenas a mim, mas a você e as
sua fuga, ainda que reconheça que o desejo dele por mim é real. Consigo
ver em seus olhos que ele precisa disso agora. Jay precisa de mim e eu o
quero muito para me negar esse momento, então eu o instigo a avançar.
— Eu também não.
— Ah, caralho… Então que se foda o mundo.
Jay passa o braço pela minha cintura e me puxa para o seu peito,
nossos corpos se chocam e ele abaixa o rosto na direção do meu. Seus olhos
profundos me encaram, antes de se fecharem e ele gruda a boca na minha,
me beijando com desejo.
Eu ainda não sabia, mas essa decisão, esse primeiro beijo, mudaria
nossas vidas para sempre.
Honey
I'd walk through fire for you
Just let me adore you
Oh, honey
(Querida
Eu andaria pelas chamas por você
JAY
Se o inferno existe, acabo de conquistar minha vaga. Eu não deveria
ter mentido assim para Ashley, não quando o real motivo da minha vinda
para cá foi outro, ainda que o desejo por ela tenha contribuído e, porra, não
deveria me aproveitar disso de jeito nenhum, mas também não sou de ferro.
Saber, ouvir Ashley admitir que também queria que eu a fodesse e que
ninguém precisava saber, foi uma das coisas mais sexys que já escutei na
para encontrar a sua, entendo que eu não tinha chances mesmo. A garota
meu pau ganha vida, com Ashley nos meus braços consigo esquecer do
problema que me trouxe aqui, porque meu corpo todo está concentrado
nela, meus pensamentos estão focados nas sensações que o toque dela
Abro o zíper da blusa de frio que ela está usando e a retiro, e logo
começo a subir a outra, sentindo sua cintura fina nas mãos, a pele macia,
enquanto Ashley se aproxima ainda mais e esfrega o sexo contra minha
— Pelo visto seu ego é do tamanho do seu pau, Jay. Vamos usar
pelos pés, enquanto arranco a blusinha que está usando. Ashley fica apenas
de sutiã e calcinha. Ela tira minha jaqueta e a camiseta, e consigo me livrar
da calça rapidamente.
Ashley é perfeita, meus olhos percorrem seu corpo, que parece ter
sido esculpido e ela me fita cheia de tesão, o que a deixa ainda mais
boca.
Sinto o bico rígido na ponta da língua, delicioso, a pele macia ao
redor, e mamo forte enquanto ela geme de pé. Com a outra mão afasto o
íntimo demais.
Eu me levanto e a encaro com curiosidade, percebendo o tom rosado
— Anda logo.
Pelo modo como me fita, parece inclinada a questionar, mas faz o
que mando. Deslizo um dedo por seu sexo melado, sentindo sua excitação e
depois a penetro com ele. Ashley ergue o quadril em resposta, gemendo e
olhos nos seus, que me fitam enquanto seu peito sobe e desce, mais agitado.
Entro nela então com dois dedos, os lambuzando mais e os ofereço
para que chupe, ela parece achar um pouco estranho, mas abre a boca, sem
teimosia.
— Viu como seu gosto é bom? Não estou te fazendo um favor, eu
estou sonhando há dias com o momento em que vou enfiar o rosto no meio
das suas pernas e chupar sua boceta, Ashley. Eu quero lamber cada
esfrega em mim, mais eu quero, meu pau está tão duro que a fricção com a
cueca está incomodando.
Mordisco seu clitóris quando percebo que ela está perto e abocanho
seu sexo de lado, deslizando a língua por ela toda, sentindo seus espasmos,
pós gozo, ela parece até mesmo meio sonolenta, mas me fita com um
sorriso safado.
— Tem razão.
Levanto-me do sofá e caminho até o aparador, onde deixei minha
carteira. Pego um preservativo e volto para junto dela. Ashley o retira das
minhas mãos e o abre ela mesma, depois disso, com fogo nos olhos
lambe os lábios.
— Mas que porra…
Ashley é uma grata surpresa, uma patricinha que foi guardada a sete
chaves pelos pais, mas que na cama é toda desinibida. Me sento no sofá e
ela monta em cima de mim, sem esperar pelo meu comando.
trás, mas ela não para. Isso apenas parece a instigar ainda mais. Dou um
tapa forte na sua bunda e ela responde apertando meu pau com a boceta.
— Cacete! Como… O que foi isso?
pulam na altura da minha boca, mas fora do meu alcance. Ranjo os dentes,
de tesão, de raiva, de desejo, de ódio do mundo, de vontade de me fundir a
dizer que durei a noite toda, mas não é assim que acontece, porque a porra
da mulher não me dá alternativa
ASHLEY
de tudo que aconteceu ontem, dormirmos na mesma cama, não foi uma
com a piscina privativa da suíte e tudo mais, mas não consigo ver nada
disso agora, com as cortinas fechadas e eu as deixo assim, para não acordar
o Jay.
café. Prometi para mãe dele que o faria comer e, enquanto estiver aqui, é o
que vou fazer. Também preciso voltar ao assunto incômodo e insistir que
minutos. Encho dois copos bem grandes com a bebida cremosa e quando
Ele está usando apenas a calça de moletom que vestiu ontem à noite
para dormir e segue sem camiseta, com todos esses músculos e tatuagens à
mostra, me tentando, e eu não consigo desviar o olhar. Não sei como vamos
lidar com o que fizemos, se vamos agir como se não tivesse acontecido, ou
se…
um beijo na boca, então pelo jeito não vamos fingir que não aconteceu.
franze o cenho.
— O que é isso?
as coisas assim.
— Não é que não podia, é que precisamos definir o que pode ou não
pode.
na frigideira.
— Mas eu queria falar sobre sua vinda pra cá, antes.
— Falamos, mas você mentiu que veio por minha causa e eu sei que
não foi por isso, então quero saber a verdade.
— Você acha que eu menti? — Vejo quando ele coloca o sal, mas
— Você está dizendo que sabia que não era essa a razão e mesmo
assim fingiu acreditar pra transar comigo? Isso é usar uma situação ao seu
— Tudo bem. Eu disse que era por sua causa porque não queria falar
sobre isso, e ainda não quero. E você tinha mesmo uma parcela de culpa, só
não sei o que fazer. Também não posso ficar aqui eternamente, não sei
quando você pretende voltar… E não vem dizer que não me mandou vir,
por que eu já sei disso.
— Não vou dizer — fala, mexendo os ovos. Ele coloca duas fatias
de queijo e o cheiro bom chega até onde estou. — Vamos fazer um acordo?
Você topa? — Jay meneia a cabeça, pensativo. — Ontem eu saí da cidade
chegou, a gente ficou e eu esqueci tudo, mesmo que por umas horas.
— Jay…
Ele desliga o fogo e se vira para me encarar. Por mais que suas
qualquer coisa para tirar esse brilho ruim do seu olhar agora.
— Eu fugi por isso. Porque queria esquecer o problema que está
— Mas e o Kyle?
— Eu ligo pra ele e dou uma desculpa bem convincente. Mas até lá
ficamos aqui, você e eu, a gente finge que não tem nada de ruim rolando e
fodemos em todos os cômodos desse chalé.
Isso me arranca uma risada, mesmo em meio à preocupação que
sinto por perceber a apreensão dele.
que fazemos.
Ele aquiesce novamente.
— Eu sei. Mas até lá, não quero mais falar sobre isso, sobre nada
Ele coloca os dois pratos no balcão e faz sinal para que eu o siga
para a mesa, na sala de jantar.
— Legal! E depois?
— A gente vê um filme?
— O que foi?
— Já era, criei expectativas altíssimas. A maçã macia dentro
daquela massa quentinha, se não der certo eu vou ficar triste pra cacete.
Fico quieta. Não conto a ele que fui eu que escrevi porque não quero
influenciar sua opinião. Um dia ele me disse que seria sincero comigo e não
quero nada além disso.
I hate loving You
I love hating You
My feelings mix
In a canvas full of colors
Repito a estrofe três vezes e atinjo as notas mais altas, minha voz
ecoa no vazio e o som do violão me acompanha até certo ponto. Em dado
ASHLEY
Os olhos dele brilham como se refletissem o lago diante de nós.
— Então você gostou?
— Jura?
— Lógico! Eu não falei que te diria se fosse ruim? Mas você é boa
pra cacete, você é incrível, Ashley. Cadê? Continua cantando…
— Ok! Eu vou te foder, mas caralho, você não pode ignorar isso.
— Jay!
— Obrigada.
— Tira isso da cabeça porque sempre vão te associar com seu pai, com a
Ashton que se cuide, porque vão falar que você é melhor que ele — fala,
brincando.
— Exagerado…
— Já sei o que vamos fazer agora. Eu vou desenhar um pouco e
você vai escrever mais uma ou duas estrofes dessa música aí.
— Minha o quê?
Jay é intrigante. Seu humor oscila e me faz ficar curiosa sobre ele,
as vezes é muito sério, em outras ele se deixa levar pelo momento, como
agora. Seu mau humor geralmente camufla uma dor ou uma tristeza, mas
— Não tô, não. Você vai me falar mais ou menos os elementos que
Juntamos nossas coisas para irmos para dentro, mas quando nos
levantamos, o telefone do Jay toca, com uma chamada de Kyle, e ele faz
— Não é sério? Por que você sumiu então? E a Ashley foi atrás, o
que por si só já é bizarro e agora não me responde direito também, vocês
Tomo o celular da sua mão e sussurro para que apenas ele ouça.
— Confia em mim?
Jay aquiesce.
— E no Kyle?
— Com a vida.
completamente aturdido.
Devolvo o aparelho nas mãos dele e entro para dentro do chalé,
sabendo que agora a bomba ficará com ele para que resolva.
— PUTA QUE PARIU, JAY! VOCÊ FICOU LOUCO, CARALHO?
Mordo o lábio, apreensiva, notando que ele está bem mais calmo do
que imaginei que ficaria.
— Pensei que estivesse bravo.
— Ele não vai falar pra ninguém e você me livrou de ter que dizer a
verdade, porque ele não ia esquecer isso nunca e iria insistir. Então não
estou bravo, mas que você é pirada, isso é! Caralho, Ashley, como você
solta isso de repente e sai andando como se não fosse nada?
— Vocês não são como irmãos? — pergunto, dando de ombros. —
Foi o que o Kyle me disse, deixei que resolvessem sozinhos. O que ele
falou?
— Que o Ashton vai cortar meu pau fora e dar minhas bolas pro
Malífer, o tigre do Azal, comer.
dito o que disse ao Kyle é que ele vai nos dar cobertura até segunda e não
precisamos nos preocupar com mais nada.
JAY
— Que tal um desenho grande? Pode descer pela sua cintura e parar
no seu quadril. Pensei em fazer rosas e as notas musicais saindo do meio
delas.
— Seria enorme — ela responde, mordendo a pontinha da caneta
—, mas eu adoro tatuagens nesse lugar, acho sexy.
— Tudo em você seria sexy, Ashley, mas vai ficar muito bonita.
Ela assente e começo a rascunhar um desenho. Tenho ideias de
incluir alguns detalhes que me vêm à mente, mas vou deixar em suspenso
para que sejam surpresa.
Enquanto desenho, Ashley segue trabalhando na letra da música. Ela
batuca a caneta na folha de papel vez ou outra, no ritmo da canção, suas
— Ai, caralho…
— Que foi? — Ela vira o rosto na minha direção.
— Seu pai.
— Vídeo?
— Não, chamada de voz.
— Vai atender?
— Não sei…
— Vai ser mais suspeito se não atender.
— Oi, Ashton.
— E aí, Jay! Tudo bem?
— Tudo, como estão as coisas?
— O de sempre, então.
— Isso. Só tô ligando pra saber como vocês estão, cara. Falei com
a Ashley rapidinho ontem cedo, mas a gente só fica despreocupado se falar
— Você também?
— Ótimo.
Já menti tanto por mim que começo a acreditar nas coisas que falo.
— A Lore tá estudando? A Majô disse que ela não pode dar vacilo.
— E o Kyle?
são amigos, isso é bom. Cuida dela, beleza? Ela tá ok? O frango não voltou
mais?
— Combinado.
— Ah, por favor! Vai se sentir culpado? Você nem tirou minha
virgindade, deixa de besteira.
— Então devia cuidar direito, acho que estou com tesão agora
diabolicamente. Ela abocanha meu pau por completo e desce os lábios até a
base dele.
— Caralho!
Sua boca sobe novamente até a ponta e desce, devagar. Lambendo,
beijando e sugando a cabeça, seus olhos fixos nos meus. Ashley aumenta a
A tortura continua, com a boca, até que percebe que estou prestes a
pernas, nossas roupas ficam pelo caminho, tiro seu sutiã e chupo seus seios,
água, sinto o calor que emana dela. O cenário é idílico. Da piscina de borda
com que passe as pernas ao redor do meu quadril novamente. Beijo sua
piscina e ergo uma de suas pernas o suficiente para conseguir penetrar sua
boceta.
Meto meu pau até o fundo dela e fecho os olhos por um instante, me
local.
quando dou por mim, Ashley está saindo correndo antes que eu me mova,
como ela vem cuidando de mim me diz que ela sabe. Ashley sabe que eu
não estou bem. Ela traz um roupão e faz com que eu o vista antes de deixar
que sair.
minha parte. Não sou muito bom nessas coisas de cozinha, mas me esforço.
Ela mistura o suco do limão com minhas maçãs, açúcar, canela, trigo e uma
essência que não consegui identificar. Depois separa em um canto alegando
— Advinha?
— Não sei, vinho?
— De jeito nenhum! Você quer ter outra enxaqueca? Vamos tomar o
porra, ele manda bem pra caralho nesse chocolate, mas se chegar perto eu já
vou adorar. Ainda mais com o frio que está fazendo aqui.
Ashley volta a remexer os armários e pega tudo que é preciso para
fazendo coisas que eu sei que ela nunca fez, só pra me ajudar.
— Ficou muito calado, de repente…
— Estava pensando aqui, por que a gente brigava tanto?
braço…
— Mas foram as consequências.
Ela sorri, dando de ombros.
— Não. Fiquei esperando por sua vingança, mas você deixou passar
essa, nunca entendi por quê.
maligna que até hoje não pude contar pra ninguém que fui eu?
Isso me deixa intrigado. Que merda foi que ela aprontou?
— O que você fez?
Fico pensando no que ela diz, mas não consigo entender, não me
vem nada à mente que possa explicar sobre o que Ashley está falando.
Devoro a última garfada do meu segundo pedaço de torta e termino de
teve diarreia por sua culpa! O coitado do Josh perdeu o tambor da bateria
porque meu pai…
— Eu não tenho culpa! Era só pra você tomar — ela fala, vermelha
de tanto rir —, e talvez o Kyle. Mas você resolveu dar iogurte pra casa toda.
— Eles compraram muitos e quando chegou, eu disse que não era
pro meu pai tomar, que era só meu. Bem adolescente nojento e mimado,
sabe? Ele ficou com raiva e pra me ensinar, distribuiu pra casa inteira.
Resultado, todo mundo com dor de barriga.
Não me aguento, lembrando da cena toda. Pensamos que fosse uma doença,
mas estou agora encarando o próprio vírus, Ashley Foster Ray, que me fez
literalmente sentir calafrios e colocar tudo que estava sentindo naquela
ASHLEY
Estamos deitados na cama agora. Dormi por algumas horas, mas
acabei acordando com sede e notei que Jay não estava dormindo. Seus
— Tudo bem?
— Já é quase segunda-feira — ele fala, sua voz carregada de tensão.
quer dizer. Pela cor do céu posso ver que está perto de amanhecer e com
isso está chegando o momento de encararmos a vida real.
olhar.
— Não tem muito o que dizer. Eu fiquei apavorado e surtei, fugi
— Não fala assim. — Toco seu queixo, fazendo com que vire o
rosto para mim e noto seus olhos marejados. — Ei… do que você está com
medo?
Ele aquiesce e uma única lágrima escapa, rolando por seu rosto, Jay
a seca antes que eu o faça, com as costas da mão, como se não quisesse que
eu visse. Ele está triste, mas também parece furioso.
— Não. Mas eu sinto, Ashley. Eu sei que não é coisa boa, essas
— Não — ele nega com veemência —, eu sei que é uma merda das
Jay volta a olhar para fora, ele se senta na cama agora, de costas
— Não fala mais isso! — retruco, séria. — Você tinha três anos
quando venceu uma leucemia. Com toda certeza o Jay de hoje pode fazer
melhor.
Levanto-me da cama e me ajoelho diante dele, seguro seu rosto nas
entendo. Vou com você fazer os exames. Não quer contar para os seus pais
antes de saber o que você tem? Não tem problema, te dou apoio e seguro
sua mão o tempo que for, mas não vai fugir e deixar seja o que for te vencer.
— Nunca pensei que passaria por essa droga de novo. Nem que
fosse você quem iria me obrigar a fazer essas drogas de exames.
se referindo ao médico que cuidou dele na infância —, ele iria falar com a
minha mãe e prefiro manter isso em segredo por enquanto, além disso, acho
que pela minha idade nem me enquadro mais como seu paciente.
— Você não acha que seus pais merecem saber?
você está pensando… — Ele me olha, prestes a negar, mas ergo as mãos. —
Só me deixa ter esperanças por nós dois!
— Vai ficar tudo bem, Jay. E se não ficar, eu vou permanecer do seu
lado…
Jay ergue uma das mãos e seus dedos tatuados resvalam sobre meu
rosto, em um carinho suave, ele coloca uma mecha dos meus cabelos atrás
da minha orelha.
— Por quê?
— Não sei. Somos a família da Dominium — falo, por falta de um
único sobrenome que abranja a todos nós —, é o que fazemos, nos
apoiamos e ficamos uns com os outros.
perfeita, Ashley.
Acaricio o rosto dele também, e por quase um minuto inteiro, não
tem chances muito maiores do que tinha aos três anos, ele não vai a lugar
nenhum.
Jay ainda está dormindo com minha máscara rosa sobre seus olhos.
completa.
Eu me lembro da ligação com a tia Jas e dos comentários dela sobre
cuidados.
— Já se olhou no espelho?
Ele arqueia a sobrancelha.
— Não deu pra perceber? — brinco, levando nosso café até a mesa.
Jay me segue de perto e se senta em frente a mim.
nosso combinado, não vai mais poder se sentar no meu colinho, Princesa?
Acho que fico vermelha com o comentário. É engraçado, porque sou
bem ousada na maioria das vezes, mas Jay consegue me surpreender com as
assunto.
— E chegamos juntos?
— Melhor não. Eu chego na minha casa, você vai até a sua e dá um
caindo sobre ele e talvez não esperasse que eu tomasse essa iniciativa.
— Eu posso ir sozinho…
Seu semblante não está mais descontraído como instantes atrás, mas
de verdade.
um abraço coletivo.
— Meus amores? Você sumiu o fim de semana todo! Deixou a gente
mim. Olha para Lisa, em busca de apoio, mas ela coloca as mãos na cintura
e me fita com expressão neutra.
— Não tenho como discordar delas, você pisou na bola com a gente,
Ashley.
— Mas eu achei que não fosse mais querer ver aquele tal de
Timóteo nem pintado de ouro e você foi atrás dele? Sinceramente, Ashley?
— Ótimo!
em frente e todo mundo finge que esse fim de semana não aconteceu.
Como Jay e eu teremos de nos esforçar para fazer parecer.
— Jura? Que bom, deve ter dado certo o que ele foi fazer então —
Jay tem razão em uma coisa, seja o que for que ele tem, vai devastar
a família.
então.
enxergar.
— Avisando o Kyle.
— Credo! Desgrudem vocês dois! Logo nós vamos pra faculdade,
só falta querer ir para Princeford para ficar grudada nele por lá também.
Gal bufa, reclamando como sempre.
— E o que tem? Kyle já conhece tudo no campus, iria me mostrar as
— Você tem que curtir, Lisa! E ficar perto dele o tempo todo só vai
atrapalhar.
Meu Deus do céu. Como eu sou burra, como foi que não percebi que
sou a única lerda, mas pelo modo como Lore me fita, ela também sabe. Só
Jay tomou conta de tudo, até mesmo minhas roupas têm o cheiro
dele agora. Antes, quando pensava nele, meus sentimentos eram muito bem
definidos. Raiva, irritação, talvez uma leve atração.
Agora é tudo caos. O que sinto por ele, como parte dessa família, se
mistura com o que vivemos juntos nos últimos dias e não sei até que ponto
me manter próxima a ele é o melhor para nós, se estamos decidimos a não
nossa amizade recente vai ter que se tornar pública, esse segredo não vai
durar muito, mas podemos ir com calma.
“Indo.”
Saio de casa, mas levo alguns minutos para chegar até ele. A
mansão foi construída no fundo e antes dela há uma longa estrada cheia de
— Vamos?
Ele me entrega um capacete preto e eu o coloco sobre meus cabelos.
para que Jay pudesse ser atendido e em seguida fazer seus exames sem o
risco de parar em alguma página de fofoca.
Jay está de pé atrás da mãe, a abraçando, enquanto tio Tray está deitado no
chão, com a língua para fora e com um dos saltos da tia Jas sobre ele. É
uma foto engraçada e linda, e retrata exatamente como eles são, uma
família amorosa, hilária e unida, eles são tudo uns para os outros e eu
entendo por que Jay não quer que saibam. Mas também sei que eles não
gostariam de ser deixados de fora.
A tela pisca com uma notificação e mesmo sem querer acabo lendo
a mensagem.
Pink: Quando a gente vai se ver, gato? Saudades do seu pau. E de
voltássemos não ia mais acontecer, o que significa que ele vai sair com
outras pessoas, porque se tem algo que Jay Anders não é, é celibatário. Eu
também não, tudo está em seu devido lugar.
sairiam logo, mas que podiam ser necessários mais exames depois disso.
Deixamos o consultório mais tensos do que quando chegamos, mas
não há muito que possa ser feito, a não ser esperar por um resultado
ASHLEY
Kyle está agitado, não para de andar de um lado para o outro,
observando os freezers, como se as bebidas fossem de repente desaparecer
sozinhas.
— Vai ser uma festa insana! — comemora, sem acreditar na sorte
que deu.
Vamos dar uma festa na casa e a ideia nem teve que partir dele. O
pior é que com certeza Jay não está no clima, mas não posso falar isso para
ninguém sem levantar suspeitas.
meu pai.
— Fica de boa, Ashley. Quem vai infartar teu velho é você, não eu
também não faço a mínima ideia do que o babaca do meu primo está
falando, mesmo tendo plena consciência de que está me dando uma indireta
uma coisa toma conta dos meus pensamentos: Jay. Os resultados dos
exames, que saem mais tarde e a maldita mensagem daquela garota, que
percebido.
um outro vídeo dele, testando uma moto com uma garota na garupa, e é o
como amiga, mas a mão dele repousando na coxa dela não deixa dúvidas de
fizeram a merda, não adianta agora falar, mas se você se machucar nisso, a
coisa vai ficar feia, o Jay não está atrás de um amor.
— Nem eu.
— E se o Ashton…
— Ele não vai — corto meu primo. — Só se você contar. Além
disso, já acabou, a gente combinou que seria só esse fim de semana e que
voltando pra casa não ia acontecer mais.
— Ótimo, fico aliviado em ouvir isso. Você pode pegar outros caras,
ele sai com outras garotas, e tudo fica em paz.
— Por falar nisso, me tira uma curiosidade aqui. Você e a Lisa não
desgrudam, não rola nada?
Kyle arregala os olhos e então começa a rir, como se eu tivesse
enlouquecido.
— Você pirou? A Lili é minha irmã — fala, e parece bem sincero.
é leal, divertido…
— Babaca, pegador, rodado.
— Isso não faz de você uma pessoa ruim, você é solteiro. Sei lá, foi
só uma curiosidade. Mas você tem razão, ela vai pra faculdade logo, vai
conhecer alguém legal, se for estudar onde você está, tem seus colegas do
futebol — digo, sondando a reação dele.
Kyle joga futebol americano e Lisa comentou antes sobre ele a
— Não tem homem naquela faculdade pra ela, os caras do time não
valem nada. Quando alguém for digno dela eu vou reconhecer isso e apoiar.
— Entendi…
Mas não entendi foi nada, a não ser que Kyle morre de ciúmes e não
reconhece isso.
A festa tem início um pouco depois do almoço e não consigo ficar
muito tempo no mesmo lugar. Acabo conversando com todo mundo que
chega, verificando as bebidas e me mantendo de olho nos instrumentos
sagrados, ainda que a maior parte do pessoal fique na área da piscina.
Jay está nas espreguiçadeiras, no mesmo canto que estava na minha
festa de boas-vindas. A diferença é que dessa vez eu queria estar lá com ele.
— Oi, Ashley. Tudo bem? — Um rapaz de cabelos avermelhados se
Ele aquiesce.
— No dia que você voltou não conseguimos conversar, só te vi de
— Bem, você sabe exatamente como é viver com uma banda. Uma
loucura, mas bom — ele comenta.
Noto que Peter fica um pouco constrangido, ele não esperava por
essa revelação, muito menos eu.
— Kyle!
— Você não acha que ele é um gostoso? Olha esses braços? E ainda
é ruivo! Um gato!
estejamos bebendo.
— Eu…
Mas Kyle já está muito louco, e se afasta, rebolando em uma dança
Kyle agora está arrastando uma garota que não reconheço, até onde Jay
está.
Ele ergue os olhos e parece um pouco nervoso, analiso a cena de
longe, tentando compreender. Onde foi que vi aquele cabelo bonito? Ai meu
Deus do céu… É a tal da Pink.
que não caia. Ela gargalha, achando o máximo, e começo a perceber que
Kyle está se esforçando para nos entreter com outras pessoas.
Esse idiota…
novamente.
— Ainda demora um pouco. — Estou tentando muito ignorar o
pescoço dele. Jay não parece muito confortável com tudo isso, mas também
uma garota e um rapaz, prefiro não saber o que planejam e torço muito para
que Lisa também não veja essa cena.
— Claro que não, porra! Mas a gente voltou hoje, temos coisas mais
sérias agora pra nos preocupar, não acha? Pensei que fosse me apoiar.
Cruzo os braços sob os seios e noto que os olhos dele se desviam
era mesmo? Sentindo muito a falta do seu pau, eu também posso fazer o
que eu quiser.
Ele pisca os olhos umas três vezes, como se tentasse entender
minhas palavras.
o seu celular.
muito bem.
Jay me puxa pela cintura e de repente sua boca está sobre a minha,
em um beijo desesperado. Nossas línguas se tocam e ele comprime o corpo
contra o meu, suas mãos passeiam pelo meu corpo, pelas minhas pernas
— Oi! — respondo.
— Posso entrar?
— Não! Eu tô pelada!
depois coloco um casaco por cima da blusa, para fingir que me troquei e
Jay não demora muito a chegar e logo Pink vai embora. Não sei o
que foi que ele disse para ela, mas acabou a dispensando. Peter também
percebeu que eu não estava a fim, porque não tentou uma reaproximação
ele com os olhos em todo canto e não o encontrei, fiquei preocupada e outra
vez enciumada, porque não consegui evitar, mas não o achei. Enviei
mensagens e ele não respondeu e perguntei para o Kyle que também não o
viu.
mas a casa ficou uma zona. Decidi que isso é um problema para a Ashley
de amanhã, hoje eu só quero minha cama e ficar sozinha.
Lisa bebeu mais do que devia, com certeza deve ter visto o que o
no chão.
Ele parece um quadro assim, imóvel e lindo, sombrio, triste…
Paro diante dele e ergo seu queixo, noto o rosto molhado pelas
lágrimas.
— Os exames…
Jay ergue os braços e passo a camiseta justa pelo tronco forte. Abro
o zíper da calça e a desço até seus pés, mas ele precisa se apoiar na parede
para terminar de tirar.
— Agora a cueca.
Ele ergue o indicador para mim e faz um gesto de negativo.
— Eu já vi tudo que tem aí embaixo — falo, tentando o fazer
raciocinar.
lingerie também.
Entro na banheira e me sento, faço com que Jay entre e se sente
entre as minhas pernas e então, começo a ensaboar suas costas devagar, seu
peito, os braços.
Aos poucos, ele parece se acalmar.
— Consegue me falar agora, Jay?
— Isso significa…
— Que eu estou com câncer de novo, em alguma outra parte do
primário...
— Amanhã vamos fazer os outros exames então e descobrir onde
Ele aquiesce.
— Amanhã eu volto a ser forte.
Beijo sua nuca, seu pescoço e faço com que vire o rosto para mim.
lúcido. Jay se deita ao meu lado na cama e empresto uma das minhas outras
máscaras de dormir para ele, que agora não dorme mais sem, mas ao invés
E eu canto.
Os exames mais elaborados levaram algum tempo. O oncologista
responsável pediu tomografias de várias partes do corpo, mas a princípio
não encontrou nada, também foram feitos exames físicos e neles também
não conseguiram discernir o cerne da doença. A cada negativa, ficava mais
dividida entre preocupada por não acharem o sítio primário como chamam,
e aliviada por ver que a maior parte dos órgãos de Jay estavam intactos, ao
contrário do que ele mesmo supôs.
— Podem se sentar.
— E então, doutor? O que eu tenho? Sem rodeios, por favor.
— Jay, você tem um nódulo em um dos testículos — o médico fala,
— Eu vou morrer?
O médico não responde de imediato, o que só serve para nos deixar
mais nervosos.
— Certo, então ele tem chances de cura e pode lutar contra isso.
— Claro, é o que deve ser feito.
O modo como ele diz isso deixa muito claro que não acredita em
uma remissão para Jay, mas não entendo o porquê se disse que as chances
de tratamento são promissoras. Jay se mantém calado por um tempo e não
capacidade sexual, Jay. Como deve ter percebido, tudo continua como
antes, a menos que você sinta muita dor.
— E para quando é indicado que ele faça a... cirurgia? — pergunto,
segundo conta.
— Obrigado doutor, vamos entrar em contato. — Jay se levanta e
para fora, pelo corredor. Não sei o que dizer ou fazer, a única certeza que
tenho, é que não vou me afastar e nem permitir que ele esmoreça.
— Jay! Espera — Eu o alcanço na rua.
Primeiro, o médico disse que não atrapalha em nada sua vida sexual, não
disse? Atrapalhou até agora? Porque você descobriu hoje, mas a gente
transou o fim de semana todo!
alguma diferença? Não viu que eu quase infartei de ciúmes de você ontem?
Se seu medo é ser menos homem por causa de uma doença que nem tem
como controlar, então pode esquecer isso! Não passa uma mulher sequer
por nós sem quase quebrar o pescoço pra ficar te secando. Você não vê
isso? — questiono, apontando duas que agora mesmo o estão olhando.
Essas descaradas.
— Não tem nada a ver uma coisa com a outra… — Ele coça a
cabeça meio desconcertado com meu acesso de fúria. — Você disse que
quer ficar comigo? E aquele papo de que era só no chalé?
inteiro.
Everything is temporary
Everything will slide
Love will never die, die, die
(Estações, elas vão mudar
A vida vai fazer você crescer
Tudo é temporário
Tudo vai deslizar
E então ele me solta e lentamente o ar volta a penetrar meus
pulmões, meu coração retoma devagar o seu compasso natural.
— Mas se ligar pra ele, vai dar na cara que a gente estava junto, ele
Jay demora mais tempo que eu para compreender o que está havendo, e é
nítido quando sua expressão muda. É como levar um soco no estômago, ele
fica visivelmente arrasado, porque obviamente Kyle já sabe sobre nós.
digito uma mensagem para Kyle, que informa que as meninas ainda estão
em casa.
afetaram.
— Então vocês se encontraram no caminho? — Kyle me fita com
ironia.
— Não enche o saco — respondo, seca.
bandeja.
muito. A questão é que até agora não encontraram outras metástases, então
me recuso a perder as esperanças.
Eu fecho o computador assim que o vejo, não quero que ele também
leia a respeito dessas coisas.
— Vem cá… — Bato na cama para que ele venha até mim e Jay
— O médico disse que precisa ser retirado, assim não vai mais se
espalhar. E então você começa o tratamento para a metástase, uma coisa de
cada vez.
— Ashley, eu sei que você não entende, mas isso é tão foda pra
mim, pensar em tirar.
uma coisa que está colocando sua vida em risco, Jay. O que importa é você
estar bem e ficar aqui.
mas ele não dá margem. Não me sinto confortável sabendo que Tray e
Jasmim não fazem a menor ideia do que está havendo aqui, mesmo
compreendendo os motivos dele.
— E eu tenho opção?
Beijo seu rosto e ele fecha os olhos, recebendo meu gesto.
— Quer fazer o que hoje? Vai tentar trabalhar um pouco?
— Ainda não. Vou malhar, passar um tempo com as minhas irmãs e
depois vou dormir com você — fala, se aproximando para me devolver o
beijo.
Abro um sorriso.
— De novo? Vai me acostumar mal assim.
— Pois reaprenda, nossos pais vão voltar uma hora e essa vida
— Você não vai sair de perto de mim, não foi o que me falou? Seu
pai que aceite isso.
— Eu sei que não, mas ele não vai bater em um homem que pode
morrer, vai? Nem o Ashton seria tão doido assim.
Fecho a cara ao ouvir o comentário dele e aponto o dedo para o seu
rosto.
— Não repita mais isso.
seu seja muito mais. Não quero que fale em morrer, você não vai e não
com isso.
exato, entende? Não dá pra prever o que vai acontecer, como meu
organismo vai reagir, não são milagres, são procedimentos.
— Você deveria ir malhar agora, vamos aproveitar que hoje não está
com dor e fazer outra noite do pijama igual fizemos aquele dia, curtir todo
boca, sem o cuidado de olhar no corredor antes, por sorte ninguém nos vê.
Esse inconsequente…
JAY
Seria uma puta de uma mentira dizer que essa doença não está
fodendo com a minha cabeça. Por alguma razão, sobre a qual prefiro não
pensar, a única coisa que me mantém ligado à sanidade agora é Ashley.
segundo poderia ser o último, quando sei que preciso registrar cada
Ressignificar a vida. Tudo que tem preço não tem valor, e o que tem
valor, não está à venda.
apertado da minha mãe e o cheiro do perfume que ela usa nas roupas.
café que Elijah me oferece porque sabe que eu não tenho o melhor dos
humores de manhã, os smoothies que Ashley aprendeu a fazer para cuidar
de mim, o toque suave dos dedos dela na minha pele e mais centenas de
coisas que ela faz. Sua voz cantando pra que eu durma, sua boca na minha,
sua pele arrepiada…
Lore pedindo pra tirarem a cebola da pizza porque sabe que eu
odeio, Josh mandando enfeitar nossa casa para o Natal, porque no fundo
pode não haver outro dia, pode não ter outro Natal pra mim, posso não ver
outra festa do Azal, posso não viver pra falar pro Ashton que estou louco
— Claro que é. Eu fiz tudo pra jogar a tal da Pink pra você.
Literalmente atirei a menina no seu colo! E você me faz o que? Some com a
Ashley!
— Se você sabia que eu estava com ela por que perguntou? Além
disso, não está podendo julgar ninguém, porque estava numa suruba,
— Não sabe com quem tá falando? Lógico que dei conta! Mas era
um casal, depois chegaram mais duas garotas e o outro cara não fazia nada!
Eu sou atleta, mas não sou de ferro. Tive que tomar três xícaras de café pra
acordar hoje.
— Fiquei, e daí?
— Você sabe que tá ferrado? O Ashton vai arrancar suas bolas!
— Por favor. Não fica mais tentando arrumar ninguém pra ela, ou
pra mim.
— Então vão ser exclusivos? — pergunta, em tom de piada.
— Caralho, quem diria que isso ia começar com você colando goma
no cabelo da menina!
Isso me faz sorrir, eu também não imaginaria.
— É, quem diria.
— Vai trabalhar hoje?
— Não, mandei mensagem pro Elijah dizendo que vou passar lá
amanhã. A Ashley quer fazer outra noite do pijama, igual fez naquele dia.
— Cara, ela colocou uma coleira em você. Porra… Não tô
acreditando nisso!
— Ah, vai se ferrar, Kyle. Você estava lá aquele dia e curtiu porque
eu vi. Quem não aproveitou fui eu que estava passando mal.
— Eu curti mesmo, fiquei agarradinho com a sua irmã, vendo filme
— provoca.
— Depois eu solto essa barra de ferro na sua cabeça, dizendo por aí
que foi acidente e vão dizer que foi uma atitude cruel.
— Ishi, lá vem…
Eu me preparo para enfrentar as desconfianças dele, porque não sou
muito da Gal porque ela é pirada, mas eu me esforçaria mais com ela
também, só que isso nunca vai acontecer porque… Bom, porque seu anjo
da guarda é ágil e atento, porque você é inconsequente pra caralho — ele
da sua expressão de pavor, mas três segundos depois Kyle volta correndo e
me dá um abraço desajeitado.
— Também te amo pra caralho. Nunca se sabe…
Ashley arrumou a sala da mesma forma que na outra vez, a
diferença é que hoje estou me sentindo fisicamente bem, então fico
acordado. Kyle tentou roubar minha irmã de novo, mas ela não parece
muito disposta a falar com ele, então me aproveito disso e pego minhas
gêmeas para mim.
estar sozinho.
— Lili, por que está me ignorando? Vai me deixar aqui, sem
ninguém?
resposta da amiga.
Então é isso. Elas estão bravas com ele por conta da farra de ontem
à noite. Isso me arranca uma risada, nunca pensei que fossem tão
ciumentas.
— Isso não é justo, uma coisa não tem nada a ver com a outra!
— Você nos deixou sozinhas, nem se preocupou se estávamos vivas
seu tempo.
— Vou soltar o filme — ela diz, erguendo o controle na mão. —
Assim que a comida ficar pronta a Tícia vem avisar e aí eu pauso.
— Não entendi por que não pedimos pizza de novo — Gal reclama,
com expressão de desagrado.
— Porque a senhora Jasmim Florzinha Peste, vulgo sua mãe, pediu
Jasmim Florzinha Peste a assumir essa missão, e ela fiscaliza viu? Me liga e
pergunta se ele comeu!
— Santo Deus… Ainda bem que ela não pediu pra mim — Lisa
resmunga.
— Porque você não sabe cozinhar — Gal responde, rindo também.
— E eu sei? Só estou coordenando as coisas.
Ashley se faz de desentendida, mas na verdade se saiu muito bem
quando precisou fazer as refeições no chalé.
— Que menina prendada essa minha prima, parece ser a nora que tia
uma guerra, mas logo tomo meu lugar atrás das trincheiras, no caso, atrás
da minha irmã, Gal.
— Ei! Está me fazendo de escudo humano!
— Seu covarde!
Atiro meu travesseiro na cabeça da Ashley e ela cambaleia. Quando
percebe a direção de onde veio o tiro, dirige a nós um de seus olhares
as gargalhadas ecoam pela sala, de onde estou, alcanço meu celular e tiro
fotos de todos eles, sem que percebam.
São os momentos. Aqueles que não podem ser comprados.
Amor, anjos como você não podem voar para o inferno comigo)
Eu me levanto do colchão, ainda meio sonolenta, e esfrego os olhos,
analisando a cena ao meu redor. Gal e Lisa estão dormindo uma ao lado da
outra, mas o lugar de Jay está vazio e seu cobertor está embolado no chão,
como se tivesse sido chutado para longe.
Lore está dormindo de bruços, com as pernas abertas igual a uma
Jay deve ter saído cedo, ele disse que queria ir até a concessionária o
quanto antes ver como estavam as coisas depois dos dias que passou fora,
só não imaginei que fosse acordar antes de todos e sair assim, sem avisar
ninguém.
Tícia e as outras funcionárias estão conversando enquanto preparam
o café da manhã, e devem estar querendo nos matar pela bagunça que
fizemos com os travesseiros, as penas estão por todo lado, grudadas até
aparador de vidro da mamãe, o que indica que Jay ainda não saiu e deve
estão todos dormindo para matar a saudade. Ficar perto dele sem poder me
aproximar de verdade é uma tortura.
Passo pela minha porta, pela de Kyle e quando chego diante da dele,
noto que está entreaberta e meu coração dispara no peito. Por um instante
eu não consigo me mover enquanto olho para Jay ali, caído no chão.
— Jay!
rosto se move de um lado para o outro e sua expressão vai de confusa para
assustada.
— Caralho… Acho que eu caí no chão.
oferecendo a mão.
De jeito nenhum que vou deixar que saia daqui agora, principalmente
— É a mesma coisa!
meus —, foi bem bizarro. Não senti enjoo, nem nada, simplesmente vomitei
cabeça de um lado para o outro e isso parece piorar o modo como se sente,
porque Jay segura a cabeça com as duas mãos. — Mas preciso mesmo ir até
a concessionária, o Elijah deve estar puto com o meu sumiço já.
— Jay, por favor, você não pode mais perder tempo, sabe melhor do
mas segurar um homem desse tamanho não é uma tarefa fácil. — Por favor!
Eu só preciso de um minuto…
ao invés disso parece usar de todas as suas forças para se manter de pé.
Lore e eu o levamos até o elevador e descemos para a garagem,
apesar de não saber exatamente o que está acontecendo, ela não faz
perguntas.
O motorista nos vê e vem até onde estamos para ajudar. Eles são
muitos, trocam de turno para ficar na casa, mas Jay o reconhece porque vejo
quando ele o cumprimenta chamando pelo nome.
vão surtar, então é melhor esperar saber o que é antes de alarmar a todos.
— Tá bom, mas me dê notícias.
Beijo sua bochecha antes de correr para o carro. Jay está com a
cabeça apoiada no banco e mantém os olhos fechados.
preocupar agora.
Ele finalmente me encara e quando abre os olhos azuis é como se
abrissem as janelas do céu, mas o brilho dos olhos são lágrimas que ele está
segurando enquanto aperta a minha mão.
Jay aquiesce.
— Não quero morrer e também não quero ser a porra de um eunuco.
— Eunuco?
— Eu sei o que é um eunuco, mas não tem nada a ver com essa
situação…
— Inferno!
— Ei… Você é o Jay Anders, um cara que nunca aceitou perder,
nem mesmo para uma garotinha magricela e melequenta.
Ligo para o urologista ainda no carro, e como ele disse que seria,
não mede esforços para nos atender, mexendo em sua agenda e alterando
tudo para operar Jay ainda hoje. O primeiro passo para nos livrarmos dessa
doença.
Por sorte, acho que ninguém o viu, Liam entrou com Jay pelos
fundos, mas não duvido que amanhã mesmo minha cara amassada e meu
é muito mais difícil, todos conhecem meus pais e a minha família. O que
me coloca em uma situação muito delicada, porque nossos pais não podem
não demorou muito. Uma enfermeira veio me informar que Jay entraria em
Ainda assim, é péssimo saber que tia Jas e tio Tray estão do outro
lado do país sem saber que o próprio filho está passando por uma cirurgia
nesse exato momento. Me sinto como uma traidora. Isso não é coisa para
ser escondida, por mais que seja essa a vontade dele. Eles merecem saber.
Quando terminam a orquiectomia, uma enfermeira aparece para me
— Olha, querida, sei que você está esperando desde que a cirurgia
— Por quê?
— Ele disse que não quer receber visitas agora, quer ficar sozinho.
Ainda está sob efeito da anestesia e, por mais que a operação em si seja
pequena, talvez para ele seja algo maior, entende? Acho que você deveria ir
para casa descansar e voltar depois.
digo que sinto muito por isso. Dê só um tempinho para ele, não é uma
situação fácil para um homem e precisamos respeitar a vontade do paciente.
— Eu entendo que se sinta assim, mas pense que é o que ele quer
agora e faça o que eu disse. Vá para casa, dê um tempo e volte mais tarde.
Tenho certeza de que ele vai estar mais tranquilo quanto a cirurgia e sua
Sinceramente, não sei como pode pensar que uma coisa assim possa
mal.
— Tudo bem. Pode dizer a ele que eu fiquei aqui até o fim?
Ela sorri.
— Ele já sabe, meu bem, foi a primeira coisa que perguntou quando
terminou.
— Ele não deveria ter alta hoje ainda? — Pelo menos foi o que eu li
na internet.
— Vou segurar o Jay aqui por mais alguns dias, não pela cirurgia,
mas porque estava se sentindo mal quando chegou e porque vamos fazer
alguns exames adicionais. Será feita uma biópsia do material que foi
cabeça…
Por enquanto ele vem apenas para analisar a situação, geralmente em casos
como o dele, o tratamento é feito com quimioterapia. Um especialista vai
saber.
chances.
Saio do hospital sem enxergar nada. Liam está me esperando e não
irreparável?
Eu não vou.
Entro pelo estacionamento, tentando não ser vista, mas Lore já está
na porta do meu quarto, me esperando. Minha vontade é a de me jogar nos
braços dela e chorar tudo o que tenho guardado, mas não posso ainda.
— Eu não sei, Lore. Ele vai ficar internado para fazer exames.
quando vejo quem está ligando. Lore se vira de costas, acho que não quer
lado. Ele está almoçando e já são quase três horas da tarde. Imagino que
tenha acordado há pouco.
gente, hein?
Forço um sorriso, para não parecer nervosa ou triste.
— Que senhorzinho dramático! — brinco, tentando fingir
naturalidade.
— Senhorzinho o caralho! Me respeita, garota!
Santo Deus! Ele vai ficar arrasado quando souber. Tio Tray é o tipo
de pessoa que não deveria nunca passar por coisas assim, acho que ninguém
deve saber.
Ele balança a cabeça, como se isso fosse um absurdo.
— Aquele filho da puta, não pode ver um rabo de saia! E olha que
mandei ficar de olho nas irmãs dele! Acho que lembro dessa Pink aí,
apareceu no canal dele… Você tem o número dessa mina?
Meu pai revira os olhos e dá um peteleco na orelha dele.
não sei se estou preparada para lidar com a reação que isso vai causar em
todos.
Ela meneia a cabeça e sai do quarto sem dizer mais nada, mas Lore
não entende. Sinto que quando eu disser, quando todos souberem o que está
havendo, vai ser real.
O problema é que o fato de não contarmos a ninguém, não torna o
câncer menos perigoso ou mortal. Jay ainda está doente, mesmo que mais
ninguém saiba.
E com isso, ele também está sozinho naquele hospital…
JAY
A anestesia ajuda com a dor física, mas não diminui a ferida
excruciante que atormenta minha alma. Passei por uma cirurgia simples,
mas que por si só vai mudar a minha vida para sempre, e o pior ainda está
por vir. Não sei se vou suportar tudo que vai ser preciso.
A enfermeira vem avisar que Ashley voltou e quer me ver. Me sinto
estranho com isso, é como se não fosse mais o mesmo, como se já não fosse
bom o suficiente para ela e ao mesmo tempo sei o quanto isso é idiota, deve
ser… Ainda sou a mesma pessoa, sei que ela me diria isso.
fundo não quero isso. Não quero ficar sozinho, por mais que me esconder
seja a opção mais fácil e atrativa.
uma jardineira rosa que combina com sua delicadeza, faz com que se pareça
ainda mais com a Princesinha Ray.
— Oi, Jay!
Noto que traz consigo um buquê de flores amarelas, e ela o deixa
— Oi, Princesa.
— Como você está? — Ela fica ao meu lado e repousa sua mão
pelo mesmo caminho que antes, mas não sei se isso será mesmo possível.
Não por nós dois, mas porque não consigo ter muitas expectativas.
A verdade é que nunca dei tanta importância para essa parte do meu
corpo, meu pau fazia sua parte e o resto sempre foi apenas um
complemento. Mas jamais imaginei que fosse me ver obrigado a abrir mão
realista e sei que dificilmente isso vai acontecer. Não vai ficar tudo bem, as
— Você tem que ter fé, Jay — ela insiste, apertando meus dedos
entre os seus —, com sorte o foco da doença era mesmo esse e agora tudo
olhos esperançosos.
— Como vou ter fé? É melhor viver esperando pelo dia em que vou
morrer, do que ficar acreditando nessa ladainha de que as coisas vão dar
certo, de que vou ficar bem e ser surpreendido com uma derrota. O caralho
que tudo vai ficar bem…
encaro —, o medo vai continuar existindo comigo, porque sempre vai haver
— E aqui estou eu, com câncer pela segunda vez! Vai começar tudo
de novo, Ashley, a quimioterapia e aquele maldito olhar de piedade que eu
não suporto. — Aponto o dedo para o rosto dela, sem conseguir me conter.
— Esse mesmo olhar que está na sua cara agora.
Ashley arqueia as sobrancelhas, como se eu estivesse dizendo
alguma bobagem.
— Jay, para com isso. Eu estou aqui por você.
— Sinto muito por as coisas não serem do jeito que você esperava,
eu também não queria nada disso.
magoou, mas não consegui evitar. Talvez seja melhor assim, mas depois que
ela sai, me afundo nos travesseiros e seguro o choro preso na garganta.
É o que eu deveria fazer, acabar com tudo de uma vez por todas.
Aparentemente até para isso é preciso uma coragem que está acima da que
ASHLEY
Jay está me afastando e eu não sei o que fazer para mudar isso.
Passo praticamente uma semana indo e vindo do hospital, mas ele mal me
olha. Jay chega a ter alta e aparece em casa, unicamente para tranquilizar as
soubesse que tem o meu apoio e fosse lidar com isso de um outro jeito, mas
me enganei. Ele está confuso, triste e com medo e eu estou de mãos atadas.
idiota, Ashley. O Jay sumiu de novo, não atende minhas ligações e você
vem e vai, evitando todo mundo, além disso, essa carinha triste não me
engana. O que foi? Vocês brigaram?
— Me conta, Ashley.
por perto.
— Não tem ninguém aqui. A Lore foi ver a Rosa e as gêmeas foram
procurar o Jay na concessionária, porque o tio Tray está pirando.
— O Jay está no hospital, Kyle — falo de uma vez, e é o bastante
para que meus olhos se encham de água novamente. — Ele está doente de
novo.
— Eu sinto muito por não ter contado, queria muito ter falado, mas
ele não deixava, ficou me pedindo para guardar segredo… Só que eu não
consigo mais, não dá, Kyle.
Meneio a cabeça.
— A Lore me ajudou a levar o Jay para o carro quando ele passou
É a leucemia de novo?
testículo.
— Porra! O Jay deve estar péssimo! Isso é pesado demais… Por que
aquele filho da puta não me contou? Eu poderia ajudar, ficar ao lado dele.
realmente estava lá, o que é um avanço, mas o Jay está arrasado, parece
estar com raiva de tudo. Fala comigo, mas nem me olha direito.
— Puta merda! Não é pra menos, nem posso imaginar o que ele está
sentindo… Isso… Você sabe se atrapalha em alguma coisa…
quesito.
— Não atrapalha, mas eu imagino que mesmo assim deve ser
complicado. O médico disse que a vida sexual continua ativa como antes e
eu não sei mais como ajudar. Ele não me quer por perto. Quer se isolar —
conto.
Kyle se senta ao meu lado outra vez e segura minha mão com
carinho.
nunca.
— Não dá para esconder isso deles. O Jay precisa de todo apoio, são
— Não vai, não. Pode até reclamar um pouco, mas isso é para o bem
dele, porque você se importa.
Respiro fundo e aquiesço. Não costumo falar sobre sentimentos com
ninguém, ainda mais quando o dono desses sentimentos é o Jay, mas Kyle
outro, em negação.
— Eu sabia que isso ia dar merda. Não quero nem ver quando seu
pai descobrir. — Ele levanta as mãos em sua defesa. — Eu nunca soube de
nada, hein? Vocês dois fizeram tudo escondido e não tenho nada a ver com
essa loucura.
— Mas foi mesmo, e no começo a ideia era só ficar. Acho que essa
coisa toda de câncer fez tudo tomar proporções muito maiores, fomos
criando intimidade…
— É que aquela rixa não era normal, não acha? E todo mundo sabe
que amor e ódio caminham lado a lado. Arrisco o palpite de que vocês se
gostam desde crianças, e era exatamente por isso que se incomodavam
tanto.
— Nunca havia pensado por esse ângulo — respondo, rindo do
comentário dele.
JAY
conta, sobre como era antes, quando eu era criança. Eu pensava que aqueles
dias tinham ficado para trás, ela sempre fez o possível para evitar as
memórias dolorosas e agora, em breve, será obrigada a reviver cada uma
delas.
força que tem nos braços. Ela me acompanha vagarosamente até a sala onde
a medicação será administrada. Me sento em uma das confortáveis cadeiras
e observo enquanto ela prepara tudo. A enfermeira sorri o tempo todo,
tentando me tranquilizar.
e pressiona as veias saltadas com a ponta dos dedos, depois fura a veia e
encaixa o acesso.
— Prontinho, Jay.
— Obrigado.
enfermeiras sempre passam por mim e conferem se tudo está certo, depois
vão embora.
essa é só a primeira sessão. Mas quando termina, me deixam sair para ver
um pouco de televisão na sala coletiva, reservada aos pacientes internados.
preferido, mas esse até que é bom. Noto quando um garotinho entra na sala,
acompanhado de uma das enfermeiras.
Ele se senta na poltrona à minha direita e nem se encosta, erguendo
o pescoço para conferir o que está passando na televisão. Acho que também
não faz o estilo dele, porque logo se vira para falar com a enfermeira.
para o garoto.
— Nossa! Muito tempo, né? Igual a idade do meu irmão.
— Sim.
Max já não tem mais cabelo e está bem magrinho. Como conhece as
enfermeiras pelo nome, deduzo que já esteja nessa há algum tempo. Ele
olha para o lado e me vê encarando, e já estica o braço se apresentando.
— Nunca te vi por aqui… — ele insiste, não parece ser do tipo que
desiste fácil.
A enfermeira me deixa sozinho com o garoto.
Assinto outra vez. Prefiro não dizer a ele que já tive câncer e já
passei por sessões de quimioterapia quando era mais novo que ele, mesmo
frente se não fosse por essa doença maldita e não dá para saber se ele vai ter
a mesma sorte que eu tive. A julgar pelo que disse, sobre quererem o deixar
internado, eu diria que não.
corujas, minha mãe seria uma avó maravilhosa e meu pai e o Ashton seriam
dois avôs caducos e barulhentos disputando a criança.
De repente percebo que imaginei o Ashton como avô do meu filho e
a Ashley como mãe. Puta que pariu, quando foi que caí de quatro desse
jeito por essa garota? Há uns dois meses atrás eu tinha pavor dela e agora
estou imaginando como seria ter a chance de viver uma vida ao lado dela.
metade, foi o que o médico disse, e ainda que eu possa fazer reposição
hormonal, não existem garantias.
maldito.
Meus pais terão os netos da Lisa e da Gal e a Ashley terá uma vida
linda com algum idiota decente, pomposo feito aquele tal de Timoty, mas
— Talvez algum dia você possa me levar pra dar uma volta, e eu
possa te levar na fazenda pra andar a cavalo.
Ele fala como se tivesse todo tempo do mundo. Provavelmente pela
idade, não entenda a gravidade da sua doença, ou talvez seja apenas muito
positivo.
— Combinado.
Vent'anni – Maneskin
ASHLEY
Não suporto mais a culpa de manter tudo em segredo, é um
sentimento que já vinha me corroendo a cada vez que recebia uma ligação
mesmo que Jay não queira mais falar comigo depois disso, vou trazer seus
pais pra perto, ele não pode passar pela quimio sozinho.
Então primeiro ligo para a minha mãe.
atira a cabeleira escura para o lado. — Rockstar, sua filha tá ligando, vem
ver esse milagre!
Queria eu que estivesse ligando com boas notícias, mas quando seus
olhos se voltam para a tela outra vez, lentamente seu sorriso morre.
— Que foi? Aconteceu algum problema?
outros e então se vira para mim outra vez, agora muito mais séria que antes.
— É o Jay… — falo, o mais baixo que posso, para que apenas eles
escutem.
— Como eu falo pra tia Jas que ele não tá bem? — pergunto,
— Filha…
Primeiro minha mãe desvia os olhos da tela para ele e em seguida meu pai
se levanta, o telefone é arrancado das mãos da minha mãe e o rosto
preocupado dele aparece.
— É que…
como se fosse tirar a mãe da forca! Estou ligando e ele não atende, as
— O câncer…
— Porra!
— Praga? Que foi, amor? — É tia Jas que está chamando agora.
Não ouço a resposta que minha mãe oferece a ela, porque a ligação
é encerrada, mas quando me volto para Kyle e Lore, os dois também estão
chorando. Nada nos preparou para esse momento, nenhum de nós imaginou
que um dia passaria por algo assim. Jay foi curado um dia, muitos anos
atrás e nunca pensamos que isso voltaria a nos assombrar.
preta que sobe, expondo toda a meia arrastão. Ela abraça meu travesseiro e
sorri, os dentes muito brancos contrastando com o batom preto de sempre.
parecendo nervosa.
Kyle se aproxima dela e a envolve em um abraço, antes mesmo de
meu irmão é saudável, ele malha todo dia e é… Não, Ashley! Ele não tá
doente, que droga!
própria dor e não tenho como negar isso a ela, que está sofrendo. Tudo bem.
Ela não sabe…
— Não fala assim, Gal — Kyle pede, balançando a cabeça —, a
Ashley e o Jay se aproximaram muito e foi ela que ficou com ele esse
tempo todo e o levou até o hospital, ele nem teria ido se não fosse por ela.
E sai do quarto sem olhar para trás. Lisa se solta de Kyle e corre
atrás da irmã e nós três também as seguimos, cientes de que agora que tudo
veio à tona, enquanto Jay estiver naquele hospital, também estaremos.
JAY
Não me lembro de muita coisa sobre meu tratamento quando era
criança, afinal eu tinha três anos de idade e não tenho recordações antes dos
cinco ou seis anos. Talvez seja melhor assim, porque pulei toda a fase ruim.
escondidos. Não vou conseguir manter em segredo por muito tempo e tão
logo a turnê acabe, vou ter que falar com meus pais e, como fiz a primeira
sessão ontem, a próxima deve acontecer em quatro ou cinco dias.
— Jay!
que me deixa com a bunda de fora. Ela beija meu rosto e chora sem parar.
Lisa, Lore e Kyle entram logo depois, seguidos por Ashley, que não
consegue me olhar. O motivo é bem óbvio, ela fez o que pedi que não
fizesse e contou tudo a eles. Lisa me envolve também em seu abraço e
mas se mantêm uma de cada lado, como duas soldadas prontas para a
batalha.
vocês do sofrimento, assim como quero proteger nossos pais. Não quero
— Você não me deixou escolha. As coisas não podem ser assim, são
dela. — Ashley, eu e Lore decidimos contar e você vai encarar isso. Sabe
por quê? Não está sozinho e é assim que lidamos com as coisas nessa
família. Juntos.
dias, sendo visitado pela filha de Ray? Ashley saiu de pijama num jornal de
fofoca, só não chegou aos seus pais antes porque ela deu um jeito de
subornar o repórter.
isso, não queria Gal, sempre espevitada e alegre chorando toda destruída,
ou Lisa, minha menina doce e inocente, reconhecendo que a vida pode sim
o tratamento tenha sido bacana, não deixo de pensar que agora que todos
dissesse que não importa que eu esteja bravo, ela não vai arredar o pé daqui.
Meu almoço chega cerca de uma hora depois, mas estou enjoado e
— Não quero.
Ashley fala, com bastante propriedade para alguém que nunca fez.
Ela coloca os talheres no prato e põe a bandeja diante de mim.
— Ah, é mesmo?
Ashley nota os olhares das minhas irmãs e o sorrisinho de Kyle.
Melhor não comer pelo menos uma hora antes das sessões para não vomitar,
porque pode ter náuseas, e uma hora depois. Mas você não teve quimio hoje
e precisa se manter saudável, então agora vamos almoçar.
— Pode ficar bravo comigo, lindão. Já lidei com a sua raiva por
Com ela mandona assim não tenho como evitar e me vejo pegando o
garfo para levar um pouco de comida à boca. Kyle abafa uma risada e Gal
observa a cena atônita. Ashley não se importa, ela fica de pé ao meu lado,
nós.
algumas concessões no hospital, mas ainda assim é muita gente pra ficar
aqui com você.
acontecer agora.
Minha mãe corre até a cama, onde estou sentado, tentando parecer o
melhor possível, e me abraça forte. Suas lágrimas molham a minha roupa
na mesma hora. Meu pai também me agarra pelo outro lado e ficamos os
três assim, juntos, abraçados e chorando. Não consigo ser forte o bastante
por eles.
Porra, eu senti tanta falta dos dois.
— Meu moleque, caralho! O que essa doença maldita fez com você
está sempre rindo e fazendo piadas, seu relacionamento com a minha mãe é
como um forte e quase nada o abala. Por isso, ver o jeito como seus ombros
se sacodem com o pranto, e ouvir a sua voz entrecortada me quebra.
Minha mãe acaricia meus cabelos e beija meu rosto, sem acreditar
que isso esteja acontecendo. Por meio dos meus olhos nublados vejo sua
expressão de pavor.
desvio os olhos para o meu pai. Ashton está logo atrás dele, com os olhos
marejados também, e a mão em seu ombro, oferecendo apoio. — Pai, a
Não é bem verdade que eu me sinta assim, mas por eles, digo o que
é necessário.
— Nem brinca com isso. É só mais essa, pelo amor de Deus, meu
fizesse um esforço enorme para ser a rocha dos outros. Ashley tem a quem
puxar —, não fica assim. Escuta uma coisa, o Jay está passando por um
momento bem difícil, nós temos que ser fortes para ajudar ao Jay, certo?
família e precisamos passar por esse tipo de coisa juntos. Pirou é? Lógico
que tinha que falar.
— Devia ter falado antes, na verdade — Julia diz, se inclinando e
para te ver.
Eu me despeço de Ashton e Julia e logo depois Anelyse e Josh
entram no quarto. Eles se aproximam de onde estou e Ane abre a boca para
dizer alguma coisa, mas cai no choro antes disso. Josh abraça a esposa e
pede desculpa com os lábios, e aquiesço, ciente de que é isso que vou
enfrentar o dia todo. Vão chorar o dia inteiro quando me virem, como se eu
já tivesse morrido.
fico grato por não estenderem o assunto, não quero falar sobre isso com
eles.
— Tá tudo bem. Vocês chegaram no momento mais... complicado.
mas é na pediatria, você é um homem agora. Acho que não tem como ele
cuidar do seu caso.
— Mas a gente liga, pra ver se ele pode ajudar com qualquer coisa
— meu pai fala—, vou pedir pra ele ficar de olho em você aqui.
fala, com o cenho franzido. —, não precisa ficar segurando essa barra
sozinho.
— Eu sei... Só...
— Eu entendo, cara. Mas sua mãe é uma leoa, seu pai é forte pra
caralho. Eles dão conta e vão te apoiar até essa merda acabar, assim como
nós vamos — Ethan fala, interrompendo a desculpa que ele sabe que eu iria
usar.
Aquiesço, ciente de que tem razão.
— Sabe do que mais? — Josh se aproxima de mim, agora com um
sorriso no rosto. — Seu pai falou com o Azal e a Andy, quando essa
desgraça acabar, vamos comemorar com uma festa daquelas.
— Tá brincando? — Não acredito que até o Patel já está sabendo
disso.
— Amor, isso é hora de falar em festa? — Ane reclama, baixinho.
— Lógico. É um incentivo, Anjo. Vai ter tudo que você quiser,
Jayjay… Então agiliza essa melhora aí que o Aladim vai vir logo, direto de
Abu-Dhabi.
Quase um mês depois de iniciar o tratamento, as falhas no cabelo
começaram a aparecer. Eu me incomodo com isso, mas ainda mais com os
quilos que perdi. É difícil ver tudo o que conquistei na academia indo
embora sem poder fazer nada a respeito.
Ashley vem me ver todos os dias, mas conversamos apenas o
necessário. Ainda não falamos sobre nós, não tivemos oportunidade porque
sempre tem alguém junto, mas minha decisão já foi tomada para quando a
oportunidade surgir.
até colocaram uma outra cama no quarto, mesmo que não durmam aqui.
Minha mãe está alisando meu braço enquanto fala sobre as cartas de
aceitação que Gal e Lisa receberam das universidades, cheia de orgulho. Ela
me conta absolutamente tudo o que acontece fora daqui, não permite que eu
perca nada.
— Então, é isso, não tenho mais novidades. Vou deixar você
cabelo? — Tento fazer com que pareça uma pergunta despretensiosa, mas
embargada.
— Oi!
Minha mãe sorri, animada, já eu preciso me esforçar para fingir
— Oi, Ashley! Que bom que você chegou, assim pode fazer
Ashley e eu não nos falamos a sós mais, ainda que tenhamos trocado
algumas mensagens.
Como minha mãe foi em casa receber Andy e Azal que acabam de
chegar de viagem, fiquei sozinho e acho que ela aproveitou o momento para
conseguir falar comigo. É uma pena que seja a hora ideal também para
fazer o que venho adiando desde que soube o que tinha de ser feito.
mais alguém além da minha e da minha família, que já não tenho como
colada e branca, que molda seus seios com perfeição. Sinto uma fisgada na
virilha, que me lembra que, apesar de tudo, todo meu corpo reage a ela com
irritada.
— Que foi?
Agora a porra do meu cabelo está indo todo pelo ralo e eu não consigo
comer porque quero vomitar o tempo todo. Então não, não boto muita fé na
ciência.
íamos ficar juntos. Mas pode seguir seu discurso, Jay — fala, cruzando os
braços. — Me deixa adivinhar, algo do tipo, não é você, sou eu? Acho que
combina bem.
Dou de ombros, porque é a realidade.
espero que saiba que sou grato por tudo que fez por mim. Mesmo que tenha
feito mais do que pedi, não quero ser seu inimigo, eu só não posso ser mais
que um amigo.
— Tudo bem — ela concorda, aquiescendo.
Uma parte de mim esperava que insistisse, que recusasse minha
proposta. Que talvez ela gostasse de mim o bastante para querer ir a fundo e
saber meus motivos, mas Ashley apenas aceita minha decisão, sem
questionar.
— Certo…
porta.
Sinto uma pontada no peito no lugar onde com certeza deve estar
meu coração. Ainda que eu saiba que fiz o melhor por ela, é doloroso
assistir enquanto Ashley caminha para fora da minha vida, com um sorriso
nos lábios.
— Merda…
Abro a gaveta ao lado da cama e pego a prancheta com a folha que
clara da devoção dela pela música. Em cima, desenhei uma coroa para
minha princesa, um detalhe que partiu de mim, mas que acho que ela vai
curtir. Não sei se Ashley vai realmente tatuar essa arte algum dia, mas
mesmo que seja a última coisa que eu faça por ela, vou concluir. Assim
como espero que ela finalize sua canção.
Acho que acabo adormecendo. É quase noite quando acordo com a
porta se abrindo outra vez.
— Jay? — Elijah coloca a cabeça para dentro do quarto e sorri. —
Posso entrar?
— E aí, cara? Entra!
Ele e Sean seguem até a cama, ambos com as mãos nos bolsos e
usando bonés. Os dois vieram me ver algumas vezes e continuam tocando
as coisas na concessionária sem mim, até que eu possa voltar ao trabalho.
trouxesse, mas não posso dizer que estava ansioso por isso.
— Eu sei, ela foi quem nos mandou. E também, que segredo pode
— Seu pai, o Ashton, meu pai, o Ethan e até o Azal que acabou de
chegar — Kyle fala, alargando o sorriso. — Ninguém tem cabelo mais
ASHLEY
Meus pais foram jantar na casa do tio Tray, porque Azal e Andy
chegaram hoje e tinham muita conversa para colocar em dia. Kyle, Gal,
deduzissem que apenas estava triste por causa da doença do Jay e não por
algo mais pessoal.
toa.
e despida de cabelos.
Achei o gesto deles incrível, não posso negar.
— Não é nada.
hora de se preocupar com isso, mas queria ficar ao lado dele. Eu não estava
pedindo nada.
— E por acaso ele disse que você não pode ficar ao lado dele?
— Não, disse que não podemos ser mais que amigos agora.
— Ele gosta de você, Ashley. Acha mesmo que ele iria correr o
risco de ferrar tudo com o tio Ashton se não gostasse? Só que o momento é
foda. Ele está mal, a quimio complica tudo, não dá pra manter um namoro
normal e seus pais não podem saber… Sei lá, fica por perto como amiga por
tornou.
— Não fala isso, Kyle. Se a tia Jas escutar algo assim ela te mata!
O barulho do vidro se quebrando é o primeiro indício de que fomos
pedaços.
Não sei o que responder e fico parada, atônita. Lisa vem correndo da
irmã.
— Como não? O Kyle disse que meu pai é seu sogro. Eu gosto de
rapazes… Lisa?
— Não estou…
que se cuide.
agora.
— Por quê? Porque deu pra ver que você se preocupa muito com ele
e, bom, vocês até que são bem bonitinhos juntos — Gal comenta, com uma
careta.
dele.
— Sei lá, ele não quer mais. Acho que por causa da doença…
Ela dá de ombros.
— Ninguém, mas eu tenho dois olhos, né? Aquela coisa de: Ai, não
conta pra ninguém… Eu vou com ele… — Lore imita minha voz. — Fala
sério, Ashley! Ele e o Kyle são unha e carne e elas são as irmãs. Por que
você? Eu sabia que tinha alguma coisa rolando desde que sumiram e
voltaram ao mesmo tempo.
O chalé…
que Lisa perguntou —, como estava falando com o Kyle, e quando tudo
isso terminar, a gente vê como fica.
Kyle tem toda razão.
Quem no meio de uma quimioterapia iria pensar em namoro? Nosso
foco agora é a saúde dele e é tudo o que me importa também. Jay não vai
ter forças ou energia para lutar contra a doença se tiver que se preocupar
comigo, com as paranoias relacionadas à vida sexual que devem passar por
sua cabeça e as preocupações com meu pai.
Então que seja, ninguém vence uma guerra de uma vez. É de batalha
em batalha que se chega à vitória. Isso não quer dizer que vou me afastar
dele. Não quando meu coração está naquele hospital.
Fecho meu caderno logo depois de concluir o último verso da minha
música, que finalmente está pronta e olho as horas. Meus pais já estão
dormindo. Chegaram bem tarde do jantar e Gal, Lisa, Kyle e Lore já foram
para casa.
meu carro da garagem. Por sorte o quarto dos meus pais fica do outro lado e
não dá para ouvir a menos que alguém os alerte a respeito.
peito sobe e desce, tranquilamente, as olheiras profundas que estão sob seus
olhos, quando noto o quanto ele parece frágil, e como perdeu peso no
último mês, como parece abatido, eu sei que não dormiria em paz se não
pudesse passar um tempo com ele.
Penso em arrastar a poltrona para a colocar bem colada a cama, mas
em um momento de loucura, faço pior. Me deito ao lado dele, seguro sua
mão na minha e beijo seu dorso com cuidado para que ele não desperte.
— Vou dormir aqui com você hoje, meu amor… — sussurro. —
Você não me deve nada, eu sei que não somos um casal, talvez você nem
TRAY
A vida é uma grandessíssima filha da puta e quando você menos
acontecer de novo.
Levamos um soco bem dado com a notícia sobre o Jay. Meu
moleque doente de novo, sendo sugado por essa doença parasita, é de foder
o psicológico de qualquer pai e mãe. Mas nós, Jasmim e eu, não somos do
desvia os olhos para a amiga de cabelos coloridos. — Você viu isso, Andy?
Arco-íris solta uma risada e balança a cabeça.
— Eles se esforçam bastante quando o assunto é esse, não dá para
negar.
— Vou lá no hospital dar a notícia pra ele! Quando acabar essa
— Eu entendo que ele vai gostar, Tray, mas pode esperar o menino
acordar.
— Não é o fato de não ter uma bola, amor. Caralho, não faz muita
diferença e no que faz, a prótese não vai resolver. Mas o fato de não estar
ali, a ausência, iria sempre lembrar a doença…
entro pela porta dos fundos e sigo pelo corredor, me valendo do disfarce
usual de óculos e boné, mas encontro Adam diante da porta, observando Jay
pela vidraça.
colocou de lados opostos. Mas foi algo passageiro, ele foi o médico que
cuidou do Jay quando criança e depois, ele e Amber, assessora da
para que eu faça silêncio. Curioso, faço o que ele diz e caminho até a porta,
e a cena que vejo faz todo o sangue fugir do meu rosto.
Jay está deitado, dormindo, e Ashley está ao lado dele. Na cama. Os
dois estão abraçadinhos, como se fossem a porra de um casal.
desgraça vem, o azar entra na fila, meu caro, porque agora fodeu bonito.
TRAY
Espero na sala privativa até ter certeza de que a pirralha foi embora.
Por sorte, ela deve saber que está fazendo uma merda colossal, então não
demora muito e posso entrar no quarto. Jay ainda está dormindo e com uma
carinha de inocente que chego a ficar com pena da treta em que ele foi se
meter.
as razões diárias da minha gastrite e sei bem o tipo de preocupação que elas
causam, eu poderia aceitar que Ray desse uns sopapos no Jay por se meter
Ashton que lute, porque não vai bater no meu pivete. Ainda bem que Azal
chegou, posso ameaçar soltar o Malífer no Ray, que morre de pavor, ou
playboy vagabundo.
— E aí, seu cachorro? Orgulhoso de ficar fazendo merda pro seu
velho resolver?
questionando pela primeira vez se ele não viu que Ashley dormiu aqui.
— Passou bem a noite?
progresso.
do rock!
— Isso aí. Escuta, o deus do rock veio falar de uma coisa que você
está evitando faz tempo, e vou chamar o titio Adam, porque ele entende
melhor que eu e já conversamos. Então agora você vai ouvir.
— Pai, se for sobre a cirurgia… — A expressão dele muda na
mesma hora.
como está se sentindo com essa merda toda, não é só o câncer, que é a pior
cabeça, o alertando para não falar sobre o que nós vimos. Deixo o assunto
— Devia ter dito então. O Alibabá precisou vir lá das arábias, com
para mim.
— Você pode ter uma bola novinha! — falo e em seguida faço uma
careta, notando que a frase saiu bizarra. — Pegou mal isso, mas tô falando
da que… Você sabe…
eu cuido da oncologia pediátrica como sabe, mas como seu pai disse, se
você quiser, pode fazer. Esteticamente vai ser a mesma coisa que antes. Em
breve você vai terminar o tratamento e se tudo correr bem, vai poder seguir
com a vida como era.
impossível, eu dificilmente vou poder ser pai, minhas chances são mínimas.
Porra, eu nem sabia que queria ser pai e agora não posso. Meus hormônios,
tão sérias, mas pelo visto é muito mais homem do que minha mentalidade
de pai me permitiu enxergar. Ele tem vinte e cinco anos já, nessa idade eu
era louco pela Jasmim, e com certeza sabia o que eu queria, ainda que tenha
demorado um pouco mais para que as coisas de fato se concretizassem.
testículo, Jay. O que significa que suas chances foram reduzidas, mas não
anuladas. Sobre a testosterona, você pode fazer reposição e nivelar, isso não
será um problema em hipótese alguma.
com medo.
Kyle também apareceu de surpresa, o moleque não desgruda. Ele, ao
contrário das garotas parece gostar bastante do tigre e só posso imaginar a
cara de pavor do Nicols se visse o filho acariciando a fera selvagem desse
jeito.
— Sabe que esse gatinho pode engolir seus dedos com uma dentada,
— Ele é manso, a tia Jas deu bastante carne pro Malífer. Não vai
gargalha.
Isso também está me tirando o sono. Não quero pensar nas minhas
garotas longe de casa, perto de marmanjos e conhecendo o mundo.
Lisa eu criei para usar um cinto de castidade, cara. Como ela vai sobreviver
a faculdade? E se os putos forem para cima dela?
Ele se levanta, finalmente se afastando do tigre.
assim como a Ashley. Por que caralhos acha que vão querer ficar aqui por
perto?
— Porque o meu tio é muito esperto e sabe que eu vou ficar de olho
— A família vem em primeiro lugar, tio Tray. Elas não vão querer
deixar o irmão agora, só precisamos dar um toque e a Princeford é tão boa
faltava.
Entro em casa e encontro Jasmim sentada à mesa. Andy está de pé,
passando uma tinta azul em uma mecha dos cabelos escuros de Gal.
— Ela não desmaia, pai — Gal responde, rindo, mas encara Andy
com dúvida.
— Já faz tempo. Vocês eram mais gatos e eu era mais jovem e boba
isso — sussurra para que apenas Gal escute, mas em um tom alto demais
para manter o segredo.
anos, mas continua sendo a praga mais linda que já habitou essa Terra
fodida. Os olhos ainda são os mesmos nos quais me perco toda noite e seu
que querem, vou dizer que nos faria feliz. — A Florzinha aponta o dedo
— Sério? Pensei que só fosse deixar depois dos vinte, porque Gal
não tem juízo.
Jas meneia a cabeça, rindo, mas não se nega a fazer o que peço.
meus fios de cabelos brancos que teimam em aparecer nas laterais da minha
— É o Jay! Ele tá aprontando uma coisa, que vai fazer essa casa cair
algo assim?
— Ele fez. — Me levanto e começo a andar de um lado para o
Jay! Não era metendo o pau onde não foi chamado! — resmungo para mim
mesmo.
— Isso que você ouviu! O Ashton vai querer matar o Jay, mas eu
não posso deixar. Nosso filho tá doente, aí vou ter que dar um soco no Ash,
o Josh vai ter que separar, mas é um frango, vai acabar apanhando. Aí o
Azal vai cancelar a festa, e o Ethan com aquela pinta de açougueiro vai
— Eu disse o que é!
— Pelados?
— Não, mas…
— Então para de drama! Calma que pode não ser nada disso.
eu fomos amigos assim por muito tempo, antes que as coisas mudassem.
Lisa e Kyle são assim, como se fossem irmãos e não há segundas intenções.
Pode ser que eu esteja exagerando.
Jas segue para o closet para se trocar e eu respiro fundo mais uma
vez, antes de colocar um sorriso no rosto e sair do quarto.
ASHLEY
Não estava esperando que minha avó Eleanor fosse aparecer hoje,
mas quando recebo seu abraço apertado, me sinto bem instantaneamente.
Vovô Carter entra logo atrás, os dois se mudaram para uma casa afastada da
cidade já tem alguns anos, mas sempre aparecem para passar um tempo
aqui e na casa da tia Ane.
— Como está a Princesa da vovó?
— Mamãe foi resolver umas coisas do escritório e meu pai saiu com
o Ethan, mas disse que já volta.
— E eu não ganho um abraço?
quando meus pais se conheceram e por muitos anos depois disso. Foi assim
que ele e minha avó se conheceram e se apaixonaram.
Sua avó achou que seria uma boa ideia trazer uma muda de flor para o
garoto, como presente. O resultado foi esse que você está vendo.
A camisa dele está coberta de terra, eu não havia notado.
— Vai ficar tudo bem, pelo que soube ele está reagindo bem ao
tratamento, certo?
— Acho que fui contagiada pelo medo dele, porque nunca se sabe,
não é? E se isso se espalhar mais? E se não tiver mais cura? Jay acha que
não pode confiar na ciência porque o que está acontecendo foge ao controle.
estão aí para nos provar isso e eles estão por toda parte, basta saber olhar,
você conhece a sua história, não conhece?
Franzo o cenho, analisando o que ela diz e começando a visualizar
grávida, havia feito uma inseminação… Não acha que aquilo tudo que
aconteceu, desde o incidente que colocou a sua vida e a dela em risco, até a
descoberta que fizeram depois, foram milagres?
um milagre, o modo como sua família foi unida mostra o agir de Deus, o
modo como Jay veio até nós e fez com que Tray e Jasmim se
a Deus uma oração. Nunca soube fazer isso, meus pais não são muito
religiosos, ainda que acreditem em Deus.
Peço a Ele que cure Jay, que permita a ele viver e ser feliz, sem
sequelas. Uma vida plena. Peço que essa doença nunca mais volte, imploro
por um milagre, peço que devolva a alegria aos dias dele e da sua família.
Não tenho nada a pedir por mim, não quero ser egoísta e pedir que
Jay me escolha depois de tudo. Se ele estiver bem, vivo e feliz, terá que ser
o bastante.
JAY
São quatro ciclos de quimioterapia e estou encerrando o terceiro.
Cada ciclo é feito em um intervalo de mais ou menos vinte e um dias, o que
medicações, meus órgãos estão bem e o tratamento pôde ser levado até o
fim, então daqui a mais ou menos um mês essa parte da minha vida terá fim
e, agora, depois de passar pela maior parte do processo, começo a enxergar
Depois que meu pai falou sobre o tal ciclista, andei estudando sobre
ele e outros casos semelhantes e o futuro já não parece tão obscuro. Atirar a
moto em uma árvore qualquer não me soa mais tão atrativo e ver Ashley
alguma coisa, mas como vomitei todo o café da manhã, nada me parece
muito atrativo.
— Oi, Jay…
rodas e é Adam quem o empurra. Eu não havia pensado nisso, mas faz
muito sentido que seja ele a cuidar de Max.
Ele não parece muito bem hoje e, apenas de olhar para o seu rosto,
percebo que emagreceu bastante desde a última vez que nos vimos, Max
falo para Max que Adam cuidou de mim, porque acho que nossos
resultados não serão os mesmos, infelizmente.
— É mesmo? Ele também é meu amigo! Me trouxe um jogo muito
legal outro dia. u tenho um irmão também — ele diz, emendando uma coisa
— Entendi…
Jay.
Max assente e ainda me conta várias outras coisas, mas dessa vez
não consegue se animar tanto, percebo que está cansado. Depois que Adam
retorna e o leva de volta para o quarto e eu também volto para o meu, fico
melhores hospitais do país e sua família está fazendo tudo ao seu alcance
para o salvar. Gostaria de poder fazer algo pelo garoto, mas me vejo
Ainda que não duvide do meu pai, não foi uma situação premeditada
e até ela mencionar o ocorrido, eu tinha plena convicção de que havia
não havia sido proposital, mas desde então dona Jasmim não tira os olhos
de mim, principalmente quando Ashley aparece. Fica cheia de indiretas,
como agora.
reergueu e lutou pra cacete até chegar no ponto em que estamos hoje, não é
o tipo de pessoa que aceita um não com facilidade e não se dá por vencida
— O que foi?
— Perguntei o que podíamos fazer pelo menino e a mãe disse que
ele não pode sair daqui, mas que não para de falar em um cavalo e o
hospital não vai permitir que entrem com o animal aqui, eles já tentaram e
foram taxados de caipiras.
Ergo as sobrancelhas, confuso, tentando assimilar.
— O Xerife?
— O próprio. Disseram que sabem quem é seu pai e que pra quem
montou camelos por aí, trazer um cavalo pra um hospital deve ser moleza.
Olha o que você fez!
Isso me faz sorrir, pode ser inusitado, mas realmente faria Max
muito feliz.
— Pode ser o último desejo dele, mãe.
fundos e que podem abrir uma exceção. Eles vão mandar buscar o cavalo.
— Obrigado por isso, mãe.
— Tudo por você, querido.
Tão logo Lisa fala, Kyle, Lore e Ashley entram. Engulo em seco,
perdendo o foco por um momento. Ela está perfeita. Faz alguns dias que
não nos vemos e é impossível evitar que meu coração traiçoeiro dispare no
peito com a sua presença.
Ashley sorri e acena, e eu apenas a encaro com a boca seca. Como
pode ser gostosa desse jeito? Estou nessa cama há tempo demais e isso está
mostrando a língua.
você secando a Ashley desse jeito, soube que uma bicuda dele pode te
de mim com um beijo na minha testa. Ela deixa o quarto e Gal se senta,
segurando uma de minhas mãos.
mais de quarenta minutos de carro, então vamos nos ver sempre aos fins de
legais, espero que você nunca leve minha irmã em surubas, ou vou ter que
fazer uma orquiectomia em você.
— Tem razão, e você fez aquele negócio batido pra ele tomar, que
diz que é saudável. Jay precisa ficar saudável, então Ashley fica aqui e dá o
sozinhos e agarra o braço de Lisa, a arrastando para fora. Gal puxa Lore
— Fiz, também trouxe torta de maçã. Acho que ficou melhor que
aquela vez que fiz no chalé.
smoothie todo dia — falo, fitando os olhos dela —, quem sabe eu consiga
Não era a resposta que eu queria, mas esqueço isso quando vejo a
que ela está se referindo. Ashley trouxe a máscara para que eu durma, nem
consigo acreditar.
— Você trouxe! Não sabe como entra claridade por essas janelas...
— Ah! Eu sei.
Estreito os olhos, desconfiado, mas ela apenas dá de ombros e me
entrega a máscara.
— Fico feliz que esteja fazendo planos para quando sair daqui —
ao lado da cama e pego o desenho que terminei. — Fiz esse plano pra você.
O que acha?
Ashley pega a folha das minhas mãos e analisa o desenho. Seus
olhos brilham com algo parecido com devoção, ela sorri e sinto alívio ao
— Que meu pai nunca te ouça dizer isso — ela fala, quebrando o
silêncio.
Eu sorrio.
Eu a encaro de volta.
— Para sempre.
um para sempre.
situação.
sempre sonho.
— O quê?
— É, na maioria das vezes você está pelada, mas podia ser apenas
uma exceção.
— Jay! Não pode ficar falando essas coisas, esse tipo de sonho você
— E isso é ruim?
Ashley me olha, considerando e por fim dá de ombros.
— Acho que não pra nós, mas tenho um encontro hoje. Não vai ser
muito justo com o cara, ficar com ele, lembrando de outra pessoa.
Ela me dá as costas, se dirigindo a porta e sinto um gelo na boca do
estômago.
— Chamou?
— Tá me provocando, né? Você não vai em um encontro enquanto
eu estou no hospital…
aliviado.
Há uma verdade universal sobre pessoas em estágio terminal. Antes
de chegar a esse ponto irreversível, muitas coisas são negadas, proibidas.
aquela guloseima antes proibida passa a ser aceita de bom grado e quando
os pedidos mais bizarros, são realizados sem muita burocracia.
Foi assim que eu tive certeza de que Max não iria sobreviver.
viver no céu. Lá vou fazer novos amigos, conhecer outros animais e até
coisas que não existem aqui. Então fico triste por deixar tudo que eu gosto,
mas estou bem curioso sobre o que vou encontrar por lá.
Uma lágrima escorre pelo meu rosto e eu a seco com as costas da
mão.
Como pressentiu, Max se foi uma semana depois de se reencontrar
com Xerife. Ele não morreu, apenas se mudou para um lugar mais bonito e
histórias alegres.
ele nos dê as notícias e do lado de fora estão todos os outros, tão ansiosos
quanto nós.
poupar.
Meu pai e minha mãe apertam minhas mãos, um de cada lado,
ansiosos.
espalhou para vários outros órgãos, por isso a taxa de mortalidade é tão alta.
Nós nos abraçamos, e meus pais choram tão alto que imagino que
do lado de fora possam pensar que as notícias são ruins, mas sei que é um
choro de alívio, o mesmo sentimento que tenho agora. Adam também está
emocionado e ele segue até a porta e a abre. Sei que os outros estão lá fora,
esperando o resultado, torcendo por mim.
começaram, mas sei que vão ligar em breve para ter notícias. Acima de toda
a barulheira, eu escuto o choro dela e uma única palavra que Ashley não
para de repetir.
Obrigada. Obrigada. Obrigada. Obrigada. Obrigada.
recupero, mas sei que vou aproveitar cada segundo dessa dádiva chamada
vida.
— E aí, rapaz? — Azal Patel aparece na sala da minha casa. O árabe
dessa vez está usando os trajes típicos do seu país e surge acompanhado do
seu fiel escudeiro, Malífer. — Pronto para recuperar o tempo perdido e tirar
o mofo?
— Prefiro fazer isso me mantendo inteiro, se não se importar. O
Malífer já comeu?
— Claro que já, Jay. Acha que eu visito as pessoas e levo meu filho
pra comer meus anfitriões? Cada uma…
hospedados na sua casa esse tempo todo, sua mãe ia começar a desmaiar
igual a Andy, de tensão por causa do Malífer.
escuto. Anders? — Ele grita por meu pai. — Seu filho é educado demais,
puxou pra quem, hein?
— Ah, a Florzinha estragou ele, me desculpa, Azal.
muda mesmo, passe o tempo que for, se falar em festa, ele vai se sentir na
obrigação de inovar.
— Tá bom, mas eles vão organizar tudo — ela fala, apontando para
os dois —, e nada de álcool para você.
AVISO DA AUTORA
ASHLEY
Kyle mora com outros três caras em uma construção moderna e bem
espaçosa perto da universidade e quando souberam que o árabe queria o
Minha mãe foi quem deu a ideia de que fosse um baile de máscaras,
ela fez parecer algo genial, mas acho que só não queria sua imagem de
Encontro uma loira com uma roupa minúscula de colegial e ela me agarra
pelo braço.
— Você viu o Kyle? Duas meninas vieram se apresentar me falando
que namoram com ele, Ashley. O que eu faço com esse moleque?
— Tia Ane?
— Tá mesmo! Seus pais tão dando maior amasso ali na sala, se não
quer se traumatizar, melhor não ir lá.
ignora…
— Tá bom.
— Viu a Gal?
— Acho que entrou naquele quarto com a Lisa. — Ela aponta para o
final do corredor e eu sigo na direção indicada, me esquivando dos corpos
suados.
— Que isso?
— Nada!
Apoio as mãos na cintura.
— Tem maconha nisso, não tem? Vocês comeram? Quem deu isso
pra vocês.
arrastando.
— É mesmo, tão colorida! Deveria ser preta que seria mais bonita.
Meneio a cabeça e decido deixar as três ali, ao menos se ficarem
trancadas no quarto não vai acontecer nada a nenhuma delas e logo o efeito
Ele se vira ao ouvir minha voz e faz sinal para que eu entre e feche a
porta.
— É um leãozinho, Ashley — fala, e realmente é um filhote.
— Não é possível que você acredite mesmo nisso. O Azal fez sua
cabeça!
— Nós fomos feitos um para o outro, Ashley. Azal me mostrou o
perna também. Você não vai voltar para a festa? — pergunto o observando.
— Depois, estou com medo de que ele fuja e isso aqui vire um caos.
Kyle ri.
— Boa sorte, só não entra no banheiro do terraço. Tá rolando
suruba.
corrimão, tentando entender que tipo de disputa está havendo e percebo que
um hambúrguer enorme e, pelas torcidas, acho que quem terminar sua parte
primeiro vence. Como ótima estrategista, tia Ane fica atirando tampinhas de
mascarado por causa das tatuagens e Andy, pelos cabelos coloridos. Eu não
sei em que mundo esses dois acharam que teriam alguma chance, porque de
onde estou consigo ver que mal estão conseguindo respirar, e as máscaras
que estão usando pioram tudo. Só podem ter bebido muito. Na verdade tia
Andy está roubando, porque seus joelhos estão apoiados no chão, mas
ninguém parece ter notado. Por alguma razão, o mais estranho de tudo é tia
mesmo precisando.
Meu pai e minha mãe continuam se devorando no canto da sala.
minha noite, e estou com fome. Desço para a cozinha e pego alguns dos
salgadinhos que foram servidos, os devorando rapidamente, para fugir
daqui o quanto antes, também tomo mais um copo de cerveja e planejo meu
Shower Singers, mas não vi o Chade e os outros, então acho que não
vieram. Quando tento passar pela sala novamente, sou interceptada por um
— Oi, Ashley!
— Oi! Com licença — peço, tentando me esquivar.
— É meio insano, não é? Quando o Jay disse, pensei que fosse por
Ele aponta para o centro da sala e então eu vejo. Tudo que havia
antes, já não existe mais. Agora Azal está no meio do cômodo, com os
braços erguidos, ensinando passos de uma dança típica do seu país para
umas quarenta pessoas que o imitam.
está segurando tia Ane por uma mão e o Malífer pela outra. Até meus pais
pararam a sessão de amassos e estão dançando, mas quando penso que já vi
de tudo, alguém troca a música de Azal por uma que está fazendo sucesso
no tiktok, um funk brasileiro.
Eu furaria meus olhos para não ter que assistir ao tio Josh descendo
até o chão de mãos dadas — ou patas — com Malífer, mas já é tarde, então
filmo tudo porque sei que posso precisar disso em algum momento e depois
tento me mover no meio da loucura que virou isso aqui.
O problema é que já não tenho mais tanta destreza, meus passos são
desordenados e minha cabeça começa a girar. O que Lorena disse passa a
fazer sentido, realmente a vida é vibrante e colorida e enquanto tento subir
para o andar de cima, penso ver tio Tray escorregando pelo corrimão da
escada, seguido pela esposa.
Tropeço um pouco em meu caminho, porque os degraus estão altos
e eu não bebi tanto. Foram apenas dois copos, não posso estar bêbada.
Preciso jogar uma água no rosto e melhorar.
Abro a porta do banheiro e vejo Jay, mas ele não está sozinho. Tem
uma menina com ele, uma que nunca vi. Os dois me olham, mas ela
rapidamente desvia o olhar e se volta para ele, suas mãos estão nos ombros
dele.
Droga…
E ele ainda escolheu usar a minha máscara de dormir como
apetrecho da festa, presa em cima da testa
Sigo até o quarto onde sei que Kyle está e entro, ele ainda está
brincando com o leão.
— O que você tem? — pergunta, mas sua voz está esquisita, longe.
acho que está bêbada, mas não rolou nada, eu juro pra você.
Fungo, tentando me controlar, porque não posso ser a pessoa que
tem um ataque de ciúmes como esse, sendo que nem sou a namorada dele.
bolinhos.
—E aí você estava fazendo xixi na menina…
amanhã?
Aquiesço, apenas para que ele fale. Torcendo para que não seja o
caso.
— É uma conversa meio bad pra ter agora, deixa pra lá.
— Pensei que você gostasse de mim, Jay.
muito louco e acho que não vai ser bom ele te encontrar chapada.
— Mas…
— Eu fico com você, e depois a gente desce, tá?
que ainda não estou bem, porque ele meneia a cabeça e desliza os dedos
pela minha face.
— Não podemos ficar mais por aqui, ou seu pai vai pegar a gente.
— Não.
Olho para o rosto dele, tão perto do meu e não resisto a me
aproximar um pouco. Passo a mão pelo seu queixo, pela pontinha do seu
nariz, pelos seus lábios.
— Ashley…
rosto.
Abro a porta e dirijo um último olhar a ele.
— Se fosse meu sonho, não teria fim.
Te olhar é um milagre
Te amar é meu milagre)
My Miracle – Ashley F. Ray
ASHLEY
Acordo sentindo a boca seca e procuro instintivamente por uma
garrafa de água no frigobar, mas não encontro nenhuma. É bem raro eu o
pior que eu, o que é óbvio, afinal eu mal bebi e se não estou completamente
bem é só porque algum idiota achou que seria uma ótima ideia batizar a
Meu pai está usando apenas uma sunga e ela é cor-de-rosa. Não faço
ideia do motivo, já que nem havia piscina na festa de ontem, mas acho
melhor não perguntar.
— Só que no meu caso, não foi por vontade própria, algum imbecil
colocou maconha nos salgados e eu estava com fome! Comi como se não
— Puta que pariu, Ashley! Isso é muito sério, elas têm dezoito anos!
Cadê as garotas?
garotas comeram.
Tio Tray parece assustado agora. Ele meneia a cabeça e franze o
cenho, olhando para o meu pai sem acreditar no que está ouvindo.
eu faço? O que vai ser das minhas bebezinhas sem o pai para as proteger? O
com minhas meninas, ele é pior que a sua irmã e ela já era uma pirralha
desolado.
Penso que um copo dessa bebida me faria bem. Tio Josh e tio Ethan
também já estão por aqui, pelo horário e o fato de estarem os quatro
reunidos, só pode significar que pretendem ensaiar, então decido que esse é
o momento perfeito para mostrar a eles a minha música, uma decisão que
tomei depois de tudo que aconteceu com Jay. Não quero mais seguir
vivendo algo que não é o meu sonho.
— Vão para o estúdio? De ressaca?
Quatro idiotas.
— Mas que agora estão sãos — meu pai diz, tomando sua bebida,
com cara de nojo —, e podiam desistir desse ensaio e voltar para a cama.
— Não podiam, não. Vamos descer que eu quero mostrar uma coisa
enquanto toma seu smoothie, porque influenciei até ela nas receitinhas para
o café da manhã.
seu rosto com carinho. — Eu compus uma música e quero que ouçam.
Eles serão os primeiros, quem sabe um dia outros também escutem,
talvez Jay ouça e reconheça como a mesma canção que cantei para ele lá no
chalé. Só que hoje, eu não odeio amá-lo, como dizia a estrofe original, que
foi alterada.
— Está dizendo que escreveu uma música? Pensei que… Que não
gostasse mais…
— Eu sei. — Dou de ombros, sem jeito. Não sei como dizer a ele e
aos outros o monte de besteira que já pensei, quanta coisa permiti que
barrasse meu sonho por todos esses anos. — Estava com medo.
— Medo? Do que, filha? Você tem a mim, tem a banda, tem o apoio
que precisar. Sempre achei que iria cantar, mas você quis estudar, como a
sua mãe e nós nos orgulhamos da profissão que escolheu, porque pensamos
pai, me dando apoio —, você conquistou muitas coisas com seu nome, Ash.
Eu acho louvável que a Ashley tenha se preocupado com isso, ela não
outros assumem seus lugares atrás dos instrumentos e só então percebo que
pretendem me acompanhar, enquanto eu canto. Minha mãe se senta à nossa
frente e me faz um gesto de incentivo com o polegar, mas eu simplesmente
travo.
até onde estou. Ele apoia as duas mãos nos meus ombros.
— Saca só, finge que não tem ninguém ouvindo. Fecha os olhos e só
canta, a gente toca e fica quieto, você segue em frente e só para no final,
beleza?
de mostrar, as letras não são baseadas em nada real, é só arte, ok? E nada de
Mas tio Josh nem olha para mim. Como compositor oficial da
Pego meu celular e encaminho a cifra para todos eles, depois ajusto
as águas calmas a nossa frente e a neve muito branca. Nada mais para tirar
nosso sossego, uma vida inteira pela frente e a minha música…
Eu canto.
que nos trouxe até aqui. Talvez Kyle tivesse razão quando disse que o
destino havia nos escolhido desde sempre e que toda aquela implicância já
Because the moment you smiled
ganhou cor. Eu deveria saber que o coração que batia em meu peito não era
mais meu…
Your smile is a miracle
Te olhar é um milagre
Para alguém que sempre se bastou, alguém cuja família representa o
mais puro afeto, se doar a outra pessoa sem egoísmo ou jogos, isso é o que
faz sentido.
Uma lágrima escorre pelo meu rosto enquanto penso nele. Não de
caminho um para o outro, mas de gratidão, porque essa música é sobre isso,
sobre ele, que é meu milagre. Sobre um garoto que me fez acreditar que
existe algo além do céu, que existe um Deus que ouve as orações
Your smile is a miracle
Repito a última estrofe com a minha alma, quase como se fosse uma
prece. Pela ciência só teremos certeza de que ele está livre da doença em
alguns anos, mas eu agora creio em algo maior, que traz o impossível para a
realidade.
Quando a nota final deixa meus lábios e abro meus olhos, percebo
que minha mãe está cabisbaixa e talvez um pouco emocionada. Ela ergue o
choro, e noto que tio Tray deixa o estúdio sem olhar para trás, pedindo
— Dá um oi, Ashley…
Meio sem jeito, aceno para a câmera e ele encerra o vídeo,
apenas a sunguinha
trocar. Estou decidida a ir falar com Kyle hoje e tirar uma dúvida a respeito
de algo que Jay me falou ontem e que ele com certeza vai saber. Mas
quando abro a porta, encontro tio Tray sentado na minha cama, o rosto todo
molhado e a cabeça baixa.
— Oi.
assombração, mas precisava falar com você e não tinha como ser perto do
seu pai.
Como ele saiu no final da música, isso me dá uma ideia do que está
acontecendo aqui.
retornar e suas próximas palavras me mostram que ele entendeu tudo o que
eu escrevi e cantei.
Ashley, não me lembro de ter feito na primeira vez que aconteceu, mas
quando Jay melhorou eu pensei… Deus existe e é gigante — ele fala, com a
voz embargada. — Eu não tive pai e mãe, mas ganhei a Dominium como
família e a Jas e nossos filhos. Eu não podia aceitar que Ele ia levar meu
Jay. Então dessa vez, do meu jeito errado e torto, eu orei e pedi muito que
Deus o salvasse, porque eu não ia suportar, mas mesmo agora que meu filho
está em casa eu morro de medo, ainda não consigo dormir de pavor de que
isso volte.
Nós nos confortamos aqui, porque compartilhamos esse sentimento
de pavor por muito tempo, mas eu não sinto mais isso e é o que digo a ele.
— Nunca pensei muito em Deus, tio, até precisar. E eu sei que… —
Respiro fundo, porque sei que a partir do momento em que essas palavras
saírem da minha boca, estarei declarando o que eu sinto, mesmo sem dizer
as palavras exatas.
Ele me fita e seus olhos carregam um peso enorme. Como pai, sei
se foda pra explicar isso pro seu pai, porque ele vai matar todo mundo!
Isso me arranca um sorriso, ele sempre consegue dizer coisas
impróprias em momentos em que elas não cabem, acho que a barraca sou
eu.
— Jay e eu não temos nada.
— Como não tem? E essa música? Eu saí de lá parecendo um
maricas, chorando mais que com cebola! Não disse que seu milagre é amar
o meu moleque?
— Isso não quer dizer que a gente esteja junto, só quer dizer que ele
está vivo, e bem.
bota ele numa camisa de força se for preciso, porque agora eu quero! Você
não tá entendendo, Princesa. Já visualizei, sacou? Você é minha nora, o Jay
é seu milagre, a música nas paradas de sucesso… — fala, abrindo os braços
para exemplificar. — Porra, que coisa linda! Não, isso vai rolar e o
apocalipse vai ter que ficar pra depois.
— Que apocalipse? — Franzo o cenho, confusa.
ideia. Porque nem o Ashton pode se meter nisso aí, coisa divina a gente tem
que aceitar e pronto.
terminou comigo.
Ele balança a cabeça em negação.
— Não terminou.
Jay pode pensar que não me lembro, mas cada palavra e cada cena
da noite de ontem ficaram gravadas na minha mente.
— Ahá! — Tio Tray bate palmas e salta no lugar. É incrível como
cinquenta por cento menos chances de ser pai, em teoria tem mesmo. Mas
ele ficou falando nisso e percebi que o incomodou bastante.
— Mas… Não pode ser isso. Ele nem sabe se eu quero filhos! Além
— Ele ficou obcecado quando mencionei um cara que foi pai depois
da retirada do testículo, então, se quer meu palpite, é isso sim. Pode parecer
precipitado, mas o Jay não é o tipo de cara que pensa só no agora, ele pensa
no depois. Além disso, estamos falando de você, ele não ia entrar nessa sem
pesar tudo, incluindo o futuro, por causa do que envolve, como seu pai, a
— Filha, se seu pai não percebeu que a música era sobre o Jay,
sinceramente, vou ter que rever o casamento. Não consigo acreditar que
possa ser tão lerdo! Ou inocente… Não sei.
bolso da calça e disco o número dele, que atende logo no primeiro toque.
— Oi…
— Oi, será que consegue começar aquela tatuagem?
E começo a lembrar
Eu estou parada
Em uma varanda, no ar do verão)
JAY
Desde que éramos crianças, Ashley sempre foi como minha versão
feminina. Minha arqui-inimiga, que era páreo para mim porque usava
melodia e dessa vez ouvir a letra completa, entoada por aquela voz
angelical. Foi como ter meu coração arrancado de dentro do peito e
sorriso que mostra todos os dentes. — Você viu o que estão falando dela?
Deixou a todos apaixonados.
— Bando de arrombados.
— Tá com ciúmes, Jay? — Elijah pergunta, achando graça na minha
raiva.
— Vocês estão tentando me irritar? Eu nem sei por que vim até aqui,
devia ter ficado em casa descansando.
pai dela e seguir em frente. Mas é por ela, pela menina que consegue mexer
comigo dessa maneira, que decidi abrir mão do que eu quero, que resolvi
pisca na tela.
desligue.
um para Ashley também, apenas para caso precise dar uma carona a ela.
Quando chego ao shopping, sigo até o estúdio que está fechado, já que é
meu orgulho com as sandálias pretas de salto alto. O batom vinho é a minha
ruína.
— Oi, Jayjay…
nos isolando aqui. A descarada ainda passeia os olhos pelos meus braços e
brinca com a língua na ponta dos lábios pintados. Ela veio com a intenção
de me foder.
— Princesa, eu não como ninguém faz meses. Precisa fazer isso
comigo?
— Nossa, Jay! Quanto drama, só vim me tatuar, como combinamos.
tirar a calça e a gente só subia um pouco a blusa se fosse preciso, não sabe?
Ela não parece se importar nenhum pouco com isso quando ergue
empinada para o meu lado e eu perco o rumo. Não tenho mais a menor
noção do que deveria fazer agora.
resto de sanidade que me sobrou. Puxo Ashley pela nuca e beijo sua boca,
engolindo seu gemido quando minha língua encontra a sua. Minha mão
entra pelo cós da calcinha que ela antes insinuava e deslizo o dedo até
encontrar a entrada da boceta molhada. Porra! É meu paraíso, como ela é
gostosa.
Toco seu clitóris e brinco com ele na ponta dos dedos, enquanto
e a vontade de me enterrar nela faz com que cada gesto meu seja movido
pelo desespero. Ashley corresponde com a mesma fúria, ela morde minha
boca e arranha minhas costas, lambe meu pescoço e fala sobre o quanto me
para mim.
embaixo e de que essa é a primeira vez que avanço até aqui, desde então.
Eu não preciso dizer nada, porque ela entende perfeitamente o que se passa
pela minha cabeça.
— Para de pensar besteira, isso não faz a menor diferença. Se você
não meter esse pau agora em mim, eu não me responsabilizo pelos meus
atos.
os riscos são mínimos mesmo, não nos relacionamos com outras pessoas há
muito tempo e a vontade é tão grande que não consigo sequer raciocinar
direito.
— Quer meu pau tanto assim?
— Jay…
aumento meu ritmo, gradualmente, até estar metendo forte e duro. Qualquer
pessoa que passe do lado de fora do estúdio vai saber o que está
acontecendo aqui.
Ashley geme e grita, ela chama meu nome e, caralho, é como uma
— Você também.
que falei em voz alta e que possivelmente estraguei tudo, mas ela apenas
sorri e rebola, me incentivando a continuar, como se não fosse nada demais.
entrega de uma forma tão profunda que quando goza seu corpo se contorce
todo e leva um minuto inteiro para que sua respiração comece a voltar ao
normal e os gemidos diminuam. Intensifico meus movimentos, meus dedos
mais fundo e fita meus olhos de um jeito que acho que nunca vou esquecer.
ela faz, é como se ela entendesse o que se passa na minha cabeça e mesmo
assim quisesse ficar, mas não tem como ser isso. Como poderia?
perfume. Sinto seu corpo nas minhas mãos, me preparando para voltar à
dura realidade, na qual Ashley não pode ser minha.
fala, baixinho.
esse o motivo?
— Você não entende, Ashley. Hoje pode parecer besteira, não está
pensando em ter filhos, em ser mãe, mas um dia vai pensar e aí quando for
a hora e se eu não puder, vai se ressentir.
— E você está deduzindo isso por mim? — Ela segura meu queixo e
me faz olhar em seus olhos. — Não faz ideia do que eu sinto por você, Jay.
— Acho que faço sim, eu ouvi você cantando hoje.
— Então sabe que você é o meu milagre, se isso te preocupa,
não acho que seja razão para não ficarmos juntos, a menos que você não
em te deixar ir e é por te amar tanto que decidi abrir mão, pra que você
possa ter tudo, Ashley. Nem sabemos o que vai ser de mim, essa doença…
— Você é meu milagre, Jay. Não entendeu ainda?
fim.
— Não, eu tenho fé o bastante por nós dois, mas você vai ver, isso
mas você é persistente. Eu não aguento… Se você tem certeza de que quer
ficar comigo mesmo assim, então tudo bem, não consigo ficar rejeitando a
ela é ter essa mulher na minha garupa. Sentir o vento no rosto enquanto
corto a cidade na minha moto, tendo os braços dela ao redor da minha
cintura, é indescritível.
pouco, e decido ir até a cozinha para comer alguma coisa enquanto espero
por ela.
Estou sentado diante da mesa, comendo um pão com ovos que Tícia
pediu que preparassem e tomando suco de laranja, quando Ashton aparece.
coisa.
— E aí, Jay? Tudo bem?
rumo da conversa.
Saio para o corredor e sigo para a sala de entrada, com Ashton ainda
ao meu lado. Preciso disfarçar e fazer com que ele volte, ou vai ver Ashley
me esperando do lado de fora.
— A Ashley fez uma música, linda pra cacete e fiquei até
emocionado. Mas depois fiquei pensando, sabe? Era romântica demais pra
uma garota que não está apaixonada, não tem como.
— Sei…
— E aí a Ju veio com um papo sobre ela estar crescida, que eu
precisava me tocar de que a menina não ia ser só minha pra sempre e acho
que ela sabe de alguma coisa.
— Bom, ela tem razão nisso, não tem? A Ashley tem vinte e três
anos.
— Claro, eu não sou um doido, porra. Se o cara for decente, tudo
bem. Eu só não gosto de gente mentirosa! Pra que iam ficar se escondendo
se não tivesse nada errado? Ficar pegando a filha dos outros escondido é
coisa de quem não tem boa intenção.
hospital.
Ashton abre a porta, parecendo considerar o que eu digo. Não era
pra abrir, era pra ele voltar para a porra da cozinha! Ele sai caminhando
para a grama em silêncio, cabisbaixo e não vejo outra alternativa a não ser o
seguir.
Não avisto Ashley de primeira, então digito uma mensagem para ela
rapidamente, avisando que seu pai está aqui fora e clico em enviar. Ashton
se encosta no carro do meu pai, que está estacionado ao lado da minha
moto.
— Você não faria isso se quisesse namorar com uma garota, com
certeza iria falar com a família dela.
— Isso depende das…
enquanto eu dou uns cinco passos para trás, já erguendo as mãos em minha
defesa.
— Calma, Ashton! Eu juro que tem uma explicação muito razoável!
respeito ao seu pai, mas vou te dar uns bons tapas, seu desgraçado!
Por falar em meu pai, ele sai correndo pela porta da frente, seguido
por Josh e Ethan. Apesar da situação tensa, os três parecem estar achando
muita graça.
— Vai dar tapa em quem, Ray? Não vai bater no meu moleque, não.
Pode esquecer.
— Ele tá pegando a Ashley, Tray! Um safado, mentiroso! — Ashton
está com o rosto vermelho, parece que vai explodir. — Ficou com um papo
fala, também se colocando ao meu lado —, lembra que quando foi me bater
quem tomou foi a coitada da Rosa? Ela nunca mais esqueceu.
— Isso é verdade — Ethan concorda —, todo Natal ela conta a
mudar de direção.
— Você acha que minha filha é brinquedo, moleque? Vou quebra o
meu pai e Josh se sentam no gramado e começam a rir, Ethan apoia as mãos
nos joelhos e meneia a cabeça, como se fosse a coisa mais hilária do
mundo, e eu encaro a cena com horror crescente.
turnê eu nunca tinha olhado pra Ashley diferente, juro. Foi só depois do
frango, além disso a maior parte do tempo eu fiquei internado, então me dá
um desconto, vai?
a mim, porque eu vou ser teu pesadelo nessa casa, aqui ninguém acampa na
barraca no meu turno, rapaz. Vai dormir na sua casa e a barraca vai ficar
fechada atééééééé você se casar com ela — conclui, com um sorriso
vitorioso.
Mal sabe ele que abri a barraca pouco mais cedo, mas é melhor não
saber.
qualquer outro no meu lugar, estaria no chão igual à minha moto, então vou
relevar o que fez com a Ducati.
— Vai me dar outra moto?
fosse eu.
— Sinto muito por você, Ray. Essa coisa de ser fornecedor é
difícil…
— Sente, é? Abre teu olho que você tem duas barracas em casa,
logo os campistas abusados começam a aparecer.
— Bobagem, andei estudando e tem uma nova onda entre as
blogueiras. Voto de castidade.
— Você fala perto do microfone dele, sabe aquela parada que fica
escutando as nossas conversas, vendendo nossas informações e você fala
assim: Porra, preciso de um tênis novo! E aí aparece propaganda de tênis
toda hora? É isso! Fica falando perto dele, cinto de castidade, ser uma
menina de Jesus, honrar meu pai e minha mãe... Essas coisas.
chegou, eu também não acredito. E então ele volta para dentro de casa, mas
não sem antes dar uma última bicuda na roda torta.
JAY
Faz duas semanas desde que Ashley e eu assumimos que estamos
juntos para a nossa família e hoje é o dia em que decidi apresentar ela
Mas quando chego de carro na casa dela para buscá-la, estão todos
orelha.
nos seguem, e pareço ser o único que não sabe que porra está acontecendo
aqui.
— Claro que sabe, porra. E quebrei sua moto porque não podia
Meu pai faz sinal de joia para mim, me incentivando, e decido entrar
no jogo.
teve a mesma ideia — ele diz e aponta para algo no fundo da garagem.
cavalo?
— Que doideira é essa? É o Xerife?
Minha mãe se aproxima de mim e segura minha mão, me olhando
com carinho.
— Acho que você também não esperava por essa. A mãe do Max
me procurou, disse que o filho queria que você cuidasse dele, querido.
Então parece que além de pilotar motos, agora você também cavalga…
tagarela. Ainda há algo que quero fazer, se não por Max, por outras crianças
que possam vir a sofrer o que ele sofreu. Acaricio o pelo do Xerife, que
relincha, contente.
— E aí, amigão? Eu não faço a mínima ideia do que fazer com você,
mas a gente vai descobrir, certo? Vamos dar altos rolês por aí e deixar o
novidade.
— Posso deixar o cavalo aqui por enquanto? Vou na concessionária,
o outro canto e acompanho seu gesto. — Minha moto, não ia comprar uma
não sou um monge, né? Mas pode ficar com a Kawasaki ZX10, acabei de
comprar.
Ele comprou para mim. Realmente é um pouco mais barata que a
moto?
— Some, antes que eu mude de ideia, pivete.
e por sua expressão, ele não parece mais tão contente, mas com o barulho
da moto não consigo entender nada.
Olho para minha Princesa e noto que ela está de saia e, como se
abdômen, me apressando.
Ashton mira um chute na minha perna e eu saio cantando pneu, sem
olhar para trás, essa foi por pouco! Começo a rir quando tomamos as ruas
de Seattle. Posso imaginar a cara que ele está fazendo agora, porque sabe
muito bem que ela precisou tirar a roupa pra fazer aquela tatuagem, ele vai
Ashley quando nos vê chegar. Apesar dos meus ciúmes bobos, eu sei
reconhecer os amigos que tenho, e esses caras ficaram felizes de verdade
por mim, pela minha recuperação e por me ver bem com ela, eles torcem
por nós.
história, o que inclui o romance dos meus pais e como ele descobriu sobre
mim. Conto sobre a leucemia e o transplante e falo sobre os anos bons que
tive ao lado da minha família, apresento Ashley a eles, mesmo sabendo que
muitos já a conhecem por causa da Dominium.
Falo sobre nossa infância e sobre o quanto implicava com a
que vocês estão vendo. Foi impossível tirar os olhos dela — conto,
segurando o riso —, mas ao mesmo tempo comecei a me sentir mal, ter
fortes dores de cabeça, uma confusão mental estranha, vômito… E percebi
que as coisas não iam bem. Eu sabia que estava doente, mas não tinha
coragem de investigar e descobrir o que era. Eu tive medo pra caralho.
bem e, como ele disse, sou boa em atazanar a vida dele, nós nos
envolvemos nesse período, eu não conseguia resistir a esses músculos todos
e às tatuagens, mas era tudo escondido. Não sei se vocês sabem, mas meu
pai é muito bravo. — Ela sorri, me transmitindo calma. — E depois fiz com
porque foi algo vergonhoso e doloroso para mim, mas não é mais. Se os
homens não tivessem tantos problemas de ego nesse sentido, provavelmente
se examinariam com mais frequência e esse tipo de tumor não teria tanto
câmera.
Além disso, ele sabe que nosso lance é sério… Eu até vou me casar com a
Ashley.
— Quê? — ela pergunta, achando graça no meu comentário. — Vai
se casar, é?
todo canto. E só tem quinze dias! — Tiro a caixinha rosa, com laço preto do
bolso e ela arregala os olhos.
— Eu quase morri, duas vezes. Não tenho tempo pra perder com
incertezas ou joguinhos, você disse que eu sou seu milagre, mas você,
Ashley, é minha razão. É a razão pela qual estou aqui, porque sem você, não
sei o que teria sido de mim… Mas o que eu sinto não é gratidão, ainda que
capacidade dele de regerar tudo dentro de mim, minha mente, minha alma,
meu físico e transbordar, te envolvendo.
— Mas meu amor… Eu estou mais que envolvida — ela responde,
secando o canto dos olhos —, eu amo você, Jay. E quero me casar com
você. — Ashley me beija, com um sorriso nos lábios e depois se volta para
o computador.
— Sai do chat, pai! Eu disse que vou me casar, mas daqui um ano,
Ashlindapraele123 disse: Não sou o pai dela, mas acho muito cedo,
vocês namoram tem quinze dias, porra! E não vem me falar que se
conhecem a vida toda, ou que venceram a morte e essa ladainha aí. E a
ASHLEY
me acostumando porque é o que tia Jas vai ser muito em breve, já que o
assim como Kyle, mas ele e Jay estão malhando há horas na academia, e
com o Jay.
começou a gritar.
— Cara, eu queria ter visto a cena que ele fez com a moto — Lisa
comenta, pensativa.
— Já eu queria saber como foi que vocês escaparam aquele dia na
festa na fraternidade. Eu tranquei a porta e esqueci vocês três lá, mas depois
para cada uma delas, mas Lore cobre o rosto com as mãos se negando a
entrar na conversa.
— E por falar no meu primo, me digam uma coisa, como ele está se
virando com o leãozinho na universidade? Porque imagino que não tenham
— Não acredito que você está fazendo isso, Lisa! Nunca entendi
essa coisa do Azal com esses animais selvagens, eles podem arrancar a
cabeça de uma pessoa em uma mordida e agora você e o Kyle entrando
nessa, sinceramente…
— O quê? — ela pergunta, como se não fosse nada demais, Lisa
— Assim como esse seu lance com o Kyle — Lore resmunga, mas
todas nós ouvimos.
— Não tem lance nenhum, larga de falar besteira. Sabe muito bem
me intrometendo.
Kyle a segura pela cintura e a puxa para dentro da piscina, atirando água
a água do cabelo.
— Acho que ele não tinha percebido que estava com a mão no lugar
errado até você mencionar — comento, me divertindo mais com essa
— Claro que não! Só que não foi de propósito, não precisava sair
coisa, porque ele é um safado e você merece mais do que ficar assistindo às
noitadas dele.
— É o que eu sempre digo — Lorena concorda, me fazendo sinal de
positivo.
— Então parece que todo mundo sabia da paixonite dela e só eu
mundo.
— Bruxa.
Sou recompensada quando ela me mostra o dedo do meio, com um
sobre a Kawasaki, subindo a montanha que leva ao chalé do lago. Dessa vez
somos apenas nós, sem as preocupações e tristezas, sem os problemas que
nos acompanhavam na última vinda.
Deixo as chaves da moto penduradas perto da porta logo que entro
para Ashley e eu. Não apenas porque é o nosso dia, mas por várias outras
razões. A vida era boa antes de ficarmos juntos, mas ela é ótima desde que
nos apaixonamos.
cenário está bonito pra cacete e sei que sua intenção foi fazer algo
romântico, eu entendo o que estamos comemorando aqui.
esforçar para levar um estilo de vida que pudesse barrar qualquer problema
de saúde, e Ashley me acompanhou, então nossa bebida está mais para um
suco frisante, disfarçado de champanhe, mas serve ao propósito.
Sirvo a massa que ela preparou nos dois pratos e jantamos enquanto
single e o show que irá acontecer em Seul, na Coreia, na outra semana. Falo
lado do gramado.
do vestido. Ela se vira para me encarar e noto que agora está usando a coroa
que dei a ela de presente de boas-vindas, quando retornou da universidade
para a minha vida, tanto tempo atrás.
tá bom? As crianças da Lisa vão e você vai se divertir bastante por lá.
Meus sobrinhos pintam e bordam com Xerife e ele adora. Isso
sempre me faz pensar em Max e no quanto deve estar feliz com a vida que
seu cavalo leva, sempre cercado por crianças que o adoram. É uma pena
que Ashley e eu não tenhamos os nossos filhos, mas somos apaixonados
ao seu lado e puxo sua cabeça para que a apoie no meu peito.
— Obrigado por ficar comigo, Princesa. Você me faz feliz pra
caralho.
— Não mais do que você me faz, Jay. Não é incrível como as coisas
engravidam por acidente o tempo todo! O que significa que muitos não
entendem que gerar uma vida é um milagre, que é difícil e mágico e que por
Estamos celebrando a vida. A minha, a sua e a que nós fizemos, que tem
exatas oito semanas e está crescendo… — Ashley pega minha mão, que
está tremendo agora e a posiciona sobre seu ventre plano. — Bem aqui
dentro, papai.
Por um momento me falta o ar e meu coração parece parar, apenas
para disparar em seguida.
— Princesa, não brinca com uma coisa dessas.
— Acha que eu brincaria com um sonho nosso, Jay? Acha que não
fiz vinte e oito testes antes de ter coragem de te contar?
— Put… Não! Não vou falar palavrão! — Olho para o mesmo céu
que ela encarava minutos antes. — Obrigado, Deus! Muito obrigado por
ouvir minha esposa e fazer milagres. Eu sou meio idiota, mas ela sempre
— Obrigado, Princesa. Por ser você, por não desistir de mim, por
— Eu sei, mas mesmo assim. Não consigo não ser grato por ter você
na minha vida.
Encosto meu ouvido em seu ventre, como se fosse conseguir escutar
alguma coisa. Estou tão feliz que não consigo me controlar, mesmo sabendo
que oito semanas é pouco tempo para isso.
— Oito semanas são dois meses, certo? Então temos mais sete! Será
que se eu pedir pra Deus durante sete meses ele manda gêmeos, igual fez
com meu pai? — pergunto, me virando para a encarar.
— Pode ser que a gente não consiga outra vez, então podiam vir
Gustavo: com certeza não existe marido melhor que você! Obrigada
por me apoiar, por me amar descabelada e de pijama, ou de salto e
por ser meu referencial de amor e minha melhor escolha. Te amo pra
sempre!
Meus filhos: agradeço por me darem boletos para pagar e com isso,
Você é perfeita! Obrigada Maria Vitória, minha assessora linda, que cuidou
dessa capa maravilhosa, e que trabalhou e fez seu possível para que o
vocês esse livro não existiria e possivelmente, nem eu como autora. Vocês
tornam o processo mais especial e o resultado único. Amo cada Sarete do
fundo do meu coração.
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