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Title
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Otros Livros
1 - Clara
2 - Clara
3 - Clara
4 - Clara
5 - Jordan
6 - Clara
7 - Clara
8 - Derek
9 - Clara
10 - Clara
11 - Jordan
12 - Clara
13 - Clara
14 - Clara
15 - Clara
16 - Clara
17 - Clara
18 - Taylor
19 - Clara
20 - Clara
21 - Clara
22 - Jordan
23 - Clara
24 - Clara
25 - Clara
26 - Derek
27 - Clara
28 - Clara
29 - Clara
30 - Taylor
31 - Clara
32 - Derek
33 - Clara
34 - Clara
35 - Clara
36 - Derek
37 - Clara
38 - Clara
39 - Clara
Epílogo
Cena Bônus
Visualizar - Uma babá para los Fuzileiros
Autora
Uma babá
para os
Bombeiros
Copyright © 2022 Juicy Gems Publishing
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação
pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida de nenhuma
forma sem consentimento prévio da autora.
Traduzido por Moema Sarrapio
Revisado por Thomas Frizeiro

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Saved by the SEALs
The Proposition
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Sealed With A Kiss
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The Naughty List
Christmas Package
Trained At The Gym
Undercover Action
The Study Group
Tiger Queen
Triple Play
Nanny With Benefits
Extra Credit
Hail Mary
Snowbound
Frostbitten
Unwrapped
Naughty Resolution
Her Lucky Charm
Nanny for the Billionaire
Shared by the Cowboys
Nanny for the SEALs
Nanny for the Firemen
Nanny for the Santas
Shared by the Billionaires
1

Clara

Eu odiava – do verbo odiar muito – trabalhar no


restaurante da mama.
“Clara!”, ela gritou da cozinha com seu sotaque siciliano
pesado. “O temporizador está tocando!”
“Já ouvi!”, gritei de volta, entregando o troco a um
cliente. Com a voz mais doce, disse a ele, “Sua pizza ficará
pronta logo.”
Outro cliente entrava pela porta, mas me virei e apertei o
botão do forno para interromper o bipe incessante. Então
peguei a pá gigantesca para tirar a pizza do forno e abri a
porta. Uma lufada de ar quente atingiu meu rosto, enquanto eu
tirava a pizza lá de dentro e a depositava na caixa de papelão,
esferas de suor se formavam nas minhas têmporas e na minha
testa.
Eu nunca quis trabalhar lá. Eu fiz isso na época do
ensino médio porque era mais fácil do que sair procurando
trabalho e porque papa precisava de ajuda. Então fui para a
faculdade e passei quatro anos maravilhosos longe de um
forno de pizza. A única vez que me aproximei de uma caixa
registradora foi como cliente, comprando alguma coisa.
Mas voltei para a casa dos meus pais depois de me
formar, mais por culpa do que por vontade. Supostamente só
ficaria lá por alguns meses para ajudar a mama com o funeral
do Papa.
Um ano depois e eu ainda estava ali. E o restaurante
ainda se chamava Pizzaria do Tony, mesmo que meu pai fosse
só uma memória persistente.
“Obrigada, bom apetite”, eu disse ao cliente enquanto
entregava a caixa para ele. Virei para a mulher que entrava e
disse, “Bem-vinda à Pizzaria do Tony, como posso ajudar?”
Enquanto eu anotava o pedido dela, o telefone tocou
duas vezes. Minha mãe atendeu da cozinha, onde preparava as
pizzas. Depois de anotar o pedido da mulher, a cabeça da
mama apareceu na quina da parede.
“Entrega!”, ela disse. “A pizza sai em cinco minutos.”
Resmunguei. A única coisa pior do que trabalhar na
cozinha eram as entregas. Havia muitos caras estranhos por
ali, do tipo que oferecia uma grande gorjeta com uma
piscadela. Não era à toa que a maioria dos entregadores eram
homens.
A maioria dos restaurantes já tinha adotado pedidos
digitais, mas minha mãe insistia em fazer tudo manualmente.
Cada pedido era anotado em um pedaço de papel e afixado a
um varal na cozinha. Peguei o papel e conferi o endereço. A
rua estava legível, mas o número era só um amontoado de
riscos.
“South Henderson…”, meu coração acelerou. “Na
esquina?”
Só tinha um lugar que eu amava ir para fazer entregas: o
quartel dos bombeiros. Os caras eram maravilhosos! E não só
porque eles eram heróis de verdade que salvavam pessoas de
incêndios. Os bombeiros de Riverville, Califórnia eram
deliciosos. Uns galãs de calças largas e camisetas brancas.
Sorrisos charmosos e músculos pulsantes.
Eu gostaria de duas fatias com molho extra, por favor,
senhores.
Mas minha mãe chacoalhou a cabeça. “Na esquina não.
Seiscentos e vinte e três”, ela limpou a testa com uma das
mangas. “Alguns quarteirões pra baixo.”
Merda, pensei. Sexta-feira era dia deles pedirem pizza,
mas nada ainda. Talvez eles estivessem tentando mudar a
rotina alimentar.
“Por que o Dan não leva?”, perguntei.
“Dan ainda está fora com as últimas entregas”, minha
mãe respondeu impacientemente.
“Porque ele sempre para pra fumar antes de voltar”,
murmurei.
Ela me encarou.
“Tá bom, tá bom! Tô indo.”
Mama resmungou em italiano.
Eu ainda estava suada de trabalhar na cozinha, mas não
tinha tempo para me trocar. Coloquei duas pizzas na caixa
térmica e a carreguei para o carro.
Riverville era uma cidadezinha pitoresca da Califórnia
que ficava perto de Fresno. De um lado, subúrbios se
espalhavam misturados à centros comerciais e do outro,
fazendas cobriam todo o trajeto até as montanhas. Riverville
ficava estranhamente no meio do caminho. Não era
exatamente uma zona rural, mas tampouco super urbana.
O endereço para entrega ficava a cinco minutos. Tudo
em Riverville ficava a cinco minutos de tudo, dependendo dos
sinais de trânsito. A casa que pediu a pizza ficava a um
quarteirão da avenida principal. Não havia carros
estacionados, mas as luzes estavam ligadas.
Bati na porta e um garotinho magricelo de doze anos
abriu. “Entrega”, eu disse.
“Finalmente!”, o menininho arrogante respondeu. Atrás
dele, no corredor, vi um bando de pré-adolescentes dando
risadinhas. “Não é grátis se vocês demorarem para entregar?”
Sorri educadamente e olhei no relógio. “Demorei exatos
seis minutos e quarenta e cinco segundos pra chegar aqui. São
vinte e cinco dólares.”
O menino me entregou duas notas de vinte. Enfiei a mão
no bolso e tirei uma nota de dez e uma de cinco dólares. Ele
pegou o troco, as pizzas e começou a fechar a porta.
“Sabe, faltou a gorjeta”, eu disse.
Ele zombou. “Cala a boca, tia.”
“Tia? Eu só tenho vinte e quatro anos!”
Ele deu de ombros e bateu a porta na minha cara.
Comecei bem a noite.
Dirigi para casa de mau humor, não só por causa dos
clientes chatos. A grande merda de trabalhar em uma pizzaria
era que as noites mais cheias eram os finais de semana. Eu
sempre passava minhas noites de sexta, sábado e domingo
trabalhando. Depois de um tempo, eu já tinha me cansado.
Mama estava no telefone quando entrei no restaurante.
“Outra entrega”, ela disse.
Resmunguei. “Dan ainda não voltou?”
“Voltou, mas guardei essa pra você”, ela respondeu. Ela
tentou manter o rosto sério, mas o sorriso escapuliu por entre
seus lábios.
Corri para trás do balcão para ver o endereço da entrega.
South Henderson. Quartel dos bombeiros.
Tentei não comemorar. “Quanto tempo até a pizza ficar
pronta?”
“Dois minutos”, minha mãe disse por cima do ombro.
Corri para o banheiro de funcionários e freneticamente
tentei parecer mais apresentável. Limpei o suor do pescoço,
desamarrei meu rabo de cavalo e o refiz deixando algumas
mechas soltas. Tinha um respingo de molho de tomate no meu
peito que eu removi com um papel higiênico molhado.
“Anda logo!”, minha mãe gritou da cozinha.
Corri para fora do banheiro e peguei a pizza na mesa. Eu
ainda não estava como queria para encontrar os bombeiros,
mas pelo menos estava mais decente do que antes.
“Não demore muito dessa vez!”, minha mãe advertiu.
“Não sei do que você está falando.”
Mama me deu uma piscadela e eu corri para fora do
restaurante.
2

Clara

Tentei passar maquiagem no rosto no caminho do


quartel. Pela primeira vez na vida fiquei grata por todos os
sinais fechados que encontrei, porque aquilo me dava tempo
para me maquiar.
O Quartel de Bombeiros 31 ficava na esquina da South
Henderson com a Jackson. Eu não entendia por que aquele era
o quartel número 31 se Riverville só tinha seis mil habitantes e
aquela era a única estação da cidade. Parei em frente, tomando
cuidado para não bloquear a garagem do próprio quartel.
Era uma noite agradável e as portas estavam abertas. Os
dois caminhões vermelhos tinham sido lavados e estavam
reluzentes, e atrás deles, na garagem, três bombeiros estavam
sentados em cadeiras dobráveis assistindo um jogo de beisebol
em um laptop. Eles se viraram e sorriram abertamente quando
me viram.
Eu não gostava muito da ideia de um “lugar feliz”. O
tipo de lugar que as pessoas te mandam procurar dentro da sua
própria cabeça para se sentir bem ou relaxar. “Stress no
trabalho? Vá para o seu lugar feliz!”
Mas se havia um lugar feliz no mundo, era
definitivamente o quartel dos bombeiros. Eles sempre ficavam
felizes ao me ver – surpresa nenhuma, já que eu era a
entregadora de pizzas. Mas eu não podia evitar os calafrios
toda vez que eles sorriam para mim ou me convidavam para
bater um papo ou me davam um tapinha amigável nas costas
quando eu ia embora. Não importa o quão horrível tinha sido
meu dia, passar alguns poucos minutos preciosos com os
bombeiros de Riverville sempre me deixavam feliz – e não
tinha nada a ver com as gorjetas generosas. Eles só me
afetavam positivamente.
Eles não eram só caras legais. Os três brigadistas de
plantão naquela noite eram maravilhosos. Como grandes ursos
de pelúcia feitos de músculo. Mas eu gostava mais de Jordan.
Ombros largos, alto… ele era do tipo que parecia poder me
levantar com um braço só. Ele tinha um nariz aquilino e o
cabelo preto e sedoso. Seus lábios eram grossos e muito
atraentes e se abriram em um sorriso quando ele me viu, seus
olhos verdes calorosos brilhavam.
“Clara!”, ele exclamou com alegria. Ele exalava carisma,
como uma lareira, cheia de calor. “Bem na hora, estamos
famintos!”
Ele sabe meu nome, pensei, sorrindo internamente. Eu
definitivamente o conhecia, mas não tinha certeza de que era
mais do que a garota que entrega pizzas.
“Se vocês estão famintos agora, deveriam ter pedido uma
hora atrás”, respondi suavemente. “Vocês geralmente pedem
às cinco da tarde, estão lentos hoje.”
“Tivemos uma emergência”, respondeu Derek
Dahlkemper. Ele era Capitão, mas todo mundo o chamava de
Chefe, porque ele era o encarregado do quartel. Ele era ainda
maior que Jordan, barbeado e com uma intensidade que o
rodeava. Não é que ele não era amistoso, mas quase não
falava. Eu tinha a impressão de que era só sua personalidade,
com todo mundo.
“Ah, sim? Algo interessante?”
“O detector de monóxido de carbono disparou na casa de
Jan Karsh”, Taylor Heath se intrometeu. Os outros dois
trabalhavam em tempo integral, mas Taylor estava em estágio
probatório, trabalhando meio período até terminar as aulas da
faculdade. Ele escovou os cabelos loiros para trás e riu.
“Alarme falso. Melhor do que incêndio, não é?”
“Sim, totalmente!”, eu disse enquanto colocava a comida
na mesa perto do laptop. Duas pizzas família e uma bandeja de
massa. “Comam enquanto está quente. Mama colocou molho
extra na massa, como vocês gostam.”
“Você é um doce!”, Jordan disse, mesmo que não tivesse
sido eu a responsável pelo agrado. Senti minhas bochechas
corarem, como se eu tivesse aberto o forno de pizza.
Entortei a cabeça na direção dele e apontei para sua
barba fina. “Vocês não têm lâmina de barbear aqui?”
“Ha!”, Taylor exclamou. Até Derek deu uma risada.
“Ha, engraçadinha”, Jordan disse.
“Eu achava que os bombeiros tinham que fazer a barba
todo dia”, disse.
“Costumava ser assim”, Taylor respondeu por ele. Ele
tinha mordido um pedaço de pizza calabresa e continuou, com
a boca cheia. “Respiradores modernos tem sistemas de pressão
eficientes. Eles fornecem um fluxo constante. Assim, a fumaça
não entra, mesmo que a vedação não seja perfeita.”
“Não pode crescer muito”, Derek resmungou. “E eu acho
feio pra caramba. Parece que tem um furão na sua cara.”
Jordan rolou os olhos. Parecia que não era a primeira vez
que eles discutiam o assunto.
“Ah, não sei”, eu disse. “Eu gosto. A barba fina cai bem
em você.”
Jordan estava focado em abrir a embalagem da massa,
mas deu um sorriso.
“Não deixe ela fazer sua cabeça”, Derek disse
secamente. “Ela só está flertando com você.”
Mesmo com a barba escura no rosto de Jordan eu podia
ver suas bochechas ficando vermelhas. Aquilo me fez corar
ainda mais. Taylor se virou e fingiu que não tinha visto.
Para mudar de assunto, apontei o laptop. “Como está o
jogo?”
“Os Giants estão na frente”, disse Jordan.
“Merda!”, respondi.
Os três fizeram uma careta.
“Não diga que você torce pros Dodgers”, Jordan disse.
Eu me encolhi constrangida. “Meu avô morou no
Brooklyn quando chegou no país. A família toda é fã dos
Dodgers antes mesmo do time se mudar pra Califórnia.”
Derek resmungou, desaprovando.
“Achei que você fosse legal”, Taylor disse, brincando.
“Agora fiquei na dúvida.”
“Definitivamente você perdeu alguns pontos”, Jordan
concordou.
Apesar da provocação amigável, não pude evitar o
sorriso. Eu nem sabia que tinha marcado pontos, para
começar.
“Olha esse lance!”, Taylor insistiu, gesticulando com a
mão que não segurava uma fatia de pizza. “Posey vai mandar
bem, estou sentindo.”
Zombei, “Contra o Kershaw? Sem chances.”
“Óbvio que você é fã do Kershaw”, disse Jordan.
“É claro que sou. Ele não é só o melhor arremessador
dos Dodgers – ele é o melhor de todos.”
“Todos aqui nessa cidade, só se for”, disse Taylor,
rolando os olhos. “Aaah!”, ele gritou e pulou quando o
batedor, Buster Posey, amassou uma bola em direção ao
campo esquerdo. Ela foi para o alto e para longe… mas se
curvou no último minuto.
“Viu só?”, Taylor me repreendeu. “Estamos a poucos
metros de um grand slam.”
“Quem morre de véspera é peru”, respondi. “Meu pai
sempre dizia.”
Ao invés de se sentar de volta, Jordan se aproximou de
mim, perto da tela. “Noite cheia?”
“Sim, sabe como as sextas-feiras são”, respondi. “Mas
assim que o horário de pico do jantar acabar, tudo fica mais
tranquilo até fecharmos, às nove.”
“Legal”, Jordan disse. “Meu turno também acaba as
nove.”
Olhei de lado, esperando ele continuar falando. Não
podia ser só um comentário aleatório, certo? Mencionar que
saímos do trabalho na mesma hora… parecia que ele estava
pensando em alguma coisa.
Será que ele queria me convidar para sair?
Ele virou seus olhos cor de esmeralda para mim e revirou
os restos da borda da pizza entre os dedos. Ele abriu a boca
para dizer alguma coisa…
…e a sirene do quartel tocou.
Os três homens correram com uma facilidade prática.
Abriram os armários que ficavam na parede, rapidamente
vestindo seu uniforme e passando os suspensórios pelos
ombros. Assisti Jordan vestir a jaqueta e carregar o resto do
equipamento para o caminhão. Derek e Taylor estavam logo
atrás dele.
“Eu guardo a comida na cozinha pra vocês!”, gritei mais
alto que a sirene.
“Valeu!”, Taylor gritou de volta, levantando um polegar.
Antes que eles dessem partida no veículo, Jordan pulou
para fora e correu na minha direção. Seu rosto estava vermelho
por causa da pressa e seus olhos arregalados com a adrenalina.
“Ei, você, hm, quer tomar uma cerveja depois do
trabalho?”
“Eu…”, gaguejei. Um convite para sair era a última
coisa que eu esperava enquanto a sirene ainda estava
disparada. “Sim, eu adoraria.”
“JORDAN!”, Derek gritou. “Aperta o passo!”
“Te pego no restaurante!”, disse Jordan antes de me dar
um sorriso final e correr de volta para o caminhão.
Atordoada, vi o caminhão sair do quartel e descer a rua,
com as sirenes ligadas.
3

Clara

Sorri enquanto assistia o caminhão de bombeiros


desaparecer na rua principal de Riverville. Parcialmente
porque era emocionante ver os bombeiros vestirem seu
uniforme e dirigir rumo a um ato heroico, mas eu sorri
principalmente porque tinha um encontro com um deles.
Quando acordei do meu estupor, embalei a comida deles
e a levei para dentro da estação propriamente. Passei por
vários quartos com beliches e por um banheiro comunitário
enorme antes de chegar na cozinha. Primeiro, liguei o forno
para aquecer a massa, que já estava em uma embalagem de
alumínio, então só a coloquei lá dentro.
A pizza foi mais difícil. Apesar das caixas de papelão
não queimarem em temperaturas baixas, eu não sabia se eles
aprovariam eu colocar papelão direto no forno. Então,
encontrei duas formas no armário e comecei a transferir os
pedaços de pizza para elas. Cobri as duas formas com papel
alumínio e as coloquei no forno.
Pronto, os rapazes teriam comida quente quando
voltassem, e a temperatura estava superbaixa para ser
perigoso. Mas, para prevenir, analisei o fundo do forno,
procurando farelos ou pedacinhos de comida perdidos. Eles
não iam pegar fogo naquela temperatura, mas era melhor me
certificar.
Encontrei um bloco de notas, escrevi um bilhete sobre a
comida e então saí.
No caminho para fora, parei em um dos quartos. Uma
das beliches tinha escrito “Lloyd”, que era o sobrenome de
Jordan. Perto dela tinha um cavalete com uma tela em branco
e uma caixa de tintas no chão. Era de Jordan ou da pessoa na
cama ao lado? Ela tinha o sobrenome de Taylor, o bombeiro
em estágio probatório, “Heath”.
“Eu não devia estar bisbilhotando”, murmurei, e corri
para sair da garagem e alcançar meu carro.
“Por que demorou tanto?”, Mama reclamou quando
voltei para o restaurante. “Tem outra entrega esperando!”
“Desculpa! Os rapazes receberam um chamado e tiveram
que correr, então guardei a comida pra eles”, coletei a entrega
que estava esperando e parei. “Mama, tenho que te pedir um
favor. Posso sair quinze minutos mais cedo?”
“Cedo? Por quê?”, ela respondeu da cozinha.
“Eu meio que tenho… um encontro.”
Sua cabeça apareceu na quina do forno enorme de pizza.
“Um encontro? Com quem?”
“Jordan Lloyd. Um dos bombeiros.”
Um sorriso enorme partiu seu rosto. “Minha filha vai sair
com um bombeiro!”
Grunhi. “Mãe! Não é pra tanto.”
A mulher italiana abriu o forno e colocou uma pizza
dentro. “Não é pra tanto é o que ela diz!”, disse fechando o
forno e assobiando na minha direção em seguida. “Agora trate
de me dar netos!”
“Jason e Maurice já te deram netos!”, pontuei. Eles
tinham adotado um menininho e dado a ele o nome de LeBron,
o jogador de basquete favorito do meu cunhado.
“Eles só têm um!”, mama respondeu sorrindo. “Quero
mais. Me dê muitos netos pra amar!”
“É só um encontro, mãe. Vamos voltar para o planeta
Terra.”
Mama limpou suas mãos no avental e correu para o
balcão, saudando um cliente. “Bem-vindo à Pizzaria do Tony.
Minha filha tem um encontro com um bombeiro.”
Revirei os olhos e corri para fazer a entrega.
O resto da noite foi só um borrão de atividades. Tive
outras duas entregas e depois da última eu corri para casa para
pegar minha chapinha e uma muda de roupa – nada chique, só
um par de jeans e uma blusa limpos. Finalmente o rush do
jantar se acalmou por volta de oito e meia. Voltei para o
quartinho dos fundos, me limpei o máximo que pude e vesti
minhas roupas limpas.
Eu estava alisando meu cabelo quando a porta da frente
se abriu às oito e cinquenta.
Ele chegou cedo, pensei freneticamente. Eu não estava
pronta ainda – precisava de mais tempo! Mas quando puxei
meu cabelo da parte de trás, vi um garoto que deveria estar no
colegial esperando no balcão.
“Bem-vindo à Pizzaria do Tony”, eu disse a ele,
pousando a chapinha e me aproximando do balcão. “Vamos
fechar em dez minutos, então…”
“Tudo bem”, o garoto disse. Ele parecia doidão. “Quero
quatro pizzas extragrandes. Duas de calabresa, uma de carne e
uma havaiana.”
Gemi. Tecnicamente aceitávamos pedidos até as nove.
Mas para um pedido daquele tamanho, minha mãe precisaria
da minha ajuda.
“Quatro extragrandes…”, eu disse, escrevendo o pedido
no bloquinho.
Mama veio cambaleante da cozinha. “Não! Estamos
fechando!”
“Hm”, o doidão olhou no telefone, “mas não são nove
ainda. O site diz que vocês fecham às nove.”
“O site não é o dono do lugar!”, mama repreendeu. “Mas
eu sou! E estou te dizendo que estamos fechando. Minha filha
tem um encontro!”
“Mama…”, sibilei.
O doidão grunhiu. “Ah, relaxa. Vou pro Pizza Hut.”
“Eu podia ter ajudado com o pedido”, eu disse.
Ela fez um gesto desdenhoso.
“Eu sei que precisamos do dinheiro”, eu disse.
“Precisamos comprar uma caixa de gordura nova e substituir
os extintores de incêndio que usamos em fevereiro.”
“Dinheiro a gente ganha”, mama respondeu. “Seu
encontro é mais importante.”
“Não acho que Jordan vai aprovar a gente economizar
em dispositivos de segurança.”
Ela puxou minha cabeça para baixo e me deu um beijo
na testa. “Faz muito tempo que você não tem um encontro. É
importante.”
Fiquei grata por ela ter me priorizado, mas não podia
evitar a culpa que senti por atrapalhar os negócios. E a
animação dela não ajudava muito… ela já estava colocando
muita pressão no encontro.
Terminei de me arrumar e esperei ao lado da caixa
registradora. Bati meus dedos no balcão enquanto observava a
rua do lado de fora, esperando que cada carro que parava fosse
o de Jordan. Eu não sabia que carro ele tinha, sempre o via no
caminhão de bombeiros. E eu duvidava que ele ia usá-lo para
me buscar – no entanto, seria engraçado.
Finalmente uma picape cinza parou no estacionamento
de frente para a porta. “Ok, tchau!”, gritei para minha mãe.
Ela correu da cozinha para me dar um beijo de tchau e
disse: “Divirta-se! E pense nos meus netos!”
Senti seus olhos em mim enquanto saia do restaurante.
Eu só tinha vinte e quatro anos, não tinha ideia do que queria
fazer da vida, mas crianças não estavam na lista. Pelo menos
não por um bom tempo.
Uma coisa de cada vez, pensei quando caminhei para
fora. Foco no encontro dessa noite.
4

Clara

Jordan desceu do carro para me cumprimentar. Ele


estava usando jeans e uma camiseta cinza desbotada que
mostrava o formato musculoso do seu corpo – especialmente
seus ombros e braços. Suspirei aliviada. Eu não tinha certeza
do que usar, então também escolhi algo casual.
“Você está linda!”, ele disse, abrindo a porta do
passageiro para mim.
“Me arrumei em dez minutos no banheiro do
restaurante”, respondi.
“Deve ser um banheiro profissional, então!”, ele
respondeu sorrindo.
Sorri para mim mesma e entrei no carro. Tinha um rastro
de cheiro de fumaça – não de cigarros, mas de fumaça. Ele
fechou a porta atrás de mim e então deu a volta para assumir o
volante.
“Então qual é o plano?”, perguntei. “Você mencionou
cervejas?”
Ele deu a partida e se virou para me olhar. “Tenho uma
ideia. Mas só se estiver tudo bem por você.”
Deus, ele é sexy. O sorriso de Jordan era tão intoxicante,
especialmente quando era dirigido somente a mim, que eu
concordaria com qualquer coisa que ele propusesse. Mas algo
na maneira como ele falou me fez hesitar. Como se a ideia dele
envolvesse algo de fato incomum.
“Depende do que você tem em mente”, eu disse com
cuidado.
“Tem um filme que eu quero ver já tem um tempo e ele
vai estar em cartaz só mais essa semana. É um com a Emma
Stone e o Timothee Chalamet, e tem cerveja no cinema…”
Pisquei para ele. “Uma comédia romântica? Sério?”
Seu sorriso desapareceu. “Se você não quiser ver,
podemos fazer outra coisa…”
“Não! Eu definitivamente quero! Só estou surpresa por
você querer. Eu achei que você fosse um cara que gostasse
mais de ação.”
Ele colocou o braço na parte de trás do meu banco e se
virou para olhar enquanto dava ré. “Eu lido com incêndios o
tempo todo. No meu tempo livre quero ver coisas mais
suaves.”
Gargalhei. “Ei, sem julgamentos!”
Não havia cinema em Riverville, mas havia um a vinte
minutos, perto de Frenso. No caminho, Jordan falou sobre o
seu dia e sobre a chamada que eles receberam – era só um
pequeno fogo numa cozinha que não tinha se descontrolado.
Ele comprou cervejas e alguns petisco no quiosque –
pipoca para ele e M&Ms de amendoim para mim –, e nós
entramos na sala de exibição. Estava totalmente deserta.
“Boa!”, disse Jordan escolhendo assentos no meio.
“Posso comentar o filme com você sem me preocupar com
outras pessoas.”
Apertei os olhos na direção dele. “Um momento. Você é
desses que falam vendo filme?”
Ele se sentou e levantou o divisor entre os nossos dois
assentos. “Qual o problema?”
“Eu exijo silêncio absoluto durante filmes”, respondi.
“Mesmo comédias. Risadas não são permitidas.”
Jordan levantou uma das sobrancelhas escuras, se
inclinou sobre mim e disse: “Isso não vai dar certo.”
“Pelo menos já sabemos desde o início!”, roubei um
punhado de pipoca. “Agora não vou me sentir mal em me
aproveitar da sua comida.”
Dei um sorrisinho quando ele gargalhou da minha piada
idiota. Jordan era notavelmente fácil de lidar. Geralmente, eu
ficava toda estranha e quieta toda vez que estava perto de um
cara bonito, mas eu me sentia bem com ele. Era estranho. De
um jeito bom.
Assistimos os trailers e o filme começou. Sem o divisor
entre nós, Jordan podia esticar as pernas e ficar confortável.
Seu joelho estava muito próximo do meu, tão próximo que eu
sentia o calor que irradiava dele. Ele era grande e pesado e seu
cotovelo roçava meu braço toda vez que ele pegava um
punhado de pipoca.
Tomei um gole longo da minha cerveja e fiquei feliz de
estar no escuro, assim ele não podia ver que eu estava corada.
Como a maioria das comédias românticas, o filme era
previsível. Era um romance de reconciliação em que dois
namoradinhos da escolha se encontravam dez anos depois, já
adultos. Os primeiros vinte minutos do filme eram cheios de
tensão sexual e encontros estranhos entre os dois
protagonistas.
“Não sei o que ela está pensando”, Jordan disse, em um
suspiro não tão baixo. “Eu não voltaria com ele. Não depois do
que ele fez.”
“Mas ele mudou!”, sussurrei de volta.
Ele chacoalhou a cabeça, duvidando. “Sem chance. Ele
só está fingindo. Ele ainda é malvado no fundo.”
“As garotas gostam dos malvados”, pontuei.
“Só se elas puderem mudá-los.”
“E ela vai!”, insisti, brincando. “Preste atenção!”
“Ela vai se ferir de novo…”
Jordan fez barulhos de desaprovação durante o filme.
Toda vez que a protagonista sorria, ele resmungava. Quando o
protagonista dizia alguma coisa brega, ele bufava.
“Você está parecendo um búfalo”, eu disse.
Jordan respondeu com um barulho de animal
extravagante, entre um grasno e um mugido. Quase cuspi o
último gole de cerveja porque ri abruptamente.
“Outra?”, ele perguntou, esticando a mão para o meu
copo.
“Sim, por favor!”
Saboreei a visão da sua forma enorme e bem esculpida
enquanto ele caminhava pelo corredor para buscar mais
cerveja. Ele voltou alguns minutos depois.
“O que eu perdi?”, ele perguntou, me entregando outro
copo de cerveja.
“Eles apenas transaram”, respondi, sem mudar de
expressão.
Ele se afundou na cadeira e me encarou. “Ah, não!”
“Sim, foi superquente. Com nu frontal da Emma Stone.
E você perdeu.”
Jordan suspirou. “Vou ter que beber as duas cervejas pra
afogar minhas mágoas”, ele esticou a mão na direção da minha
bebida.
“Ei!”, dei um tapa na sua mão.
Ao invés de revidar, ele habilmente deslizou a mão por
entre minhas pernas, alcançando minha caixa de M&Ms. Ele
não chegou a me tocar, mas o papelão raspou o interior da
minha coxa quando ele mexeu na caixa e pegou alguns doces
com a sua palma imensa.
Um formigamento de empolgação travessa se espalhou
pela minha espinha.
Faz muito tempo que não sinto algo assim, mesmo tão
inocente. Às vezes, os pequenos gestos significam muito.
“Por favor?”, eu disse, me referindo à sua falta de
modos.
Ele mastigou o doce e me olhou. “Por favor, o quê?”
Repeti a frase completa que ele deveria ter dito: “Por
favor, posso comer alguns M&Ms?”
“Claro, mas não tem muitos”, ele levantou a caixa e
deixou cair um único doce na minha palma, então me deu um
sorriso bobo.
Tentei pegar a caixa da sua mão, mas ele rapidamente a
colocou de volta.
“Me dá!”, eu o escalei tentando alcançar o doce, mas ele
o manteve no alto como Michael Jordan protegendo uma bola
de basquete. Eu segurei seu braço e tentei puxá-lo para perto
de mim, mas era duro feito pedra. Uma pedra quente.”
Me dei conta que tinha escalado sua coxa e estava quase
sentada no seu colo, voltei para o meu próprio assento. “Eu
não queria mais doce mesmo.”
Jordan parecia tímido quando me entregou a caixa. “Ok,
você venceu, mas guarde uns para mim!”
Dessa vez ele me deixou pegar a caixa da sua mão. Me
sentindo idiota, virei a caixa perto da cabeça e derramei o resto
na minha boca. Era muito mais do que eu estava esperando,
mas eu tinha me comprometido com o jogo. Logo que esvaziei
a caixa, fiquei parecendo um esquilo que tinha coletado nozes
o suficiente para o inverno todo.
“Algum problema aí?”, ele perguntou casualmente.
Me virei para a tela e fingi que estava tudo bem.
“Problema nenhum”, tentei dizer, mas acabei o som saiu
abafado.
“O que foi isso? Tudo o que ouvi foi fofefa fefum.”
Sem poder falar, levantei os dois polegares para ele. Ele
rugiu uma risada que não tinha nada a ver com o filme.
Era muito bom ter o cinema todo para nós dois.
Geralmente não gostava quando as pessoas falavam durante os
filmes, mas era diferente estar em um encontro com alguém
que eu mal conhecia. Estávamos nos divertindo. Provocando e
fazendo piadas um com o outro.
Não me lembro de ter tido um primeiro encontro tão
divertido.
O cinema estava frio e Jordan deve ter reparado que eu
estava com frio porque passou um braço ao meu redor. Fiquei
tensa quando seus dedos encostaram nas minhas costas,
tocando a alça do meu sutiã pela blusa. Não acho que ele
pretendeu fazer aquilo.
Eu gosto do jeito que ele me segura, pensei.
Dei uma olhada para ele e ele imediatamente me olhou
de volta. A eletricidade passou pelos nossos olhares por um
momento, seus olhos se iluminaram com a luz da tela. Me vi
presa no seu olhar, hipnotizada pelo seu charme. Ele queria me
beijar? Eu sabia o que eu queria que ele quisesse fazer comigo.
Mas aqui? Pensei. Estávamos sozinhos no cinema,
ninguém iria ver. Eu nunca tinha feito nada assim, e a
empolgação de ser travessa com alguém – num primeiro
encontro! – me encheu de emoção.
Mas ele voltou a assistir o filme, embora seu braço tenha
permanecido em volta de mim. Suspirei e passei os últimos
vinte minutos do filme aninhada nele, saboreando seu calor.
“Isso foi muito bom”, disse Jordan quando caminhamos
para fora do cinema.
“Foi mesmo”, eu disse. “Mas o final do filme foi
estúpido. Era um problema complicado e eles ainda assim
ficaram juntos.”
“Dã!”, Jordan respondeu. “Regra número um das
comédias românticas: final feliz é obrigatório.”
“Eu sei! Mas eles poderiam ter feito melhor”, eu disse.
Ele olhou de lado para mim. “Quer dizer que você não
curtiu olhar pro Timmy Chalamet por uma hora e meia?”
“Ele é bonito de se ver”, admiti, “mas muito magricela.
Eu gosto de homens mais, sabe, homens.”
“Tipo um bombeiro?”, Jordan perguntou esperançoso.
Levantei uma sobrancelha para ele. “Talvez. Mais alguns
meses na academia e talvez você fique no ponto.”
Ele latiu uma risada, que me fez sorrir. Era ridículo dizer
que Jordan era menos do que enorme, forte, sarado. Ele devia
pesar uns cento e vinte quilos de puro músculo.
“Independente do final do filme”, eu disse, “eu me
diverti muito com você.”
Ele escorregou sua mão sobre a minha e a apertou.
“Mesmo eu sendo desses que falam vendo filme?”
“Todo mundo tem um defeito!”, eu disse, “Só espero que
você não tenha outro.”
“Vou ter que cobrir meu terceiro mamilo então”, ele
murmurou.
Dei uma cotoveladinha no seu braço. “Você não tem um
terceiro mamilo.”
“Claro que não!”, ele piscou dramaticamente. “Quantos
mamilos esse cara tem? Dois! É o que os meus amigos falam
quando me veem. Olha lá o cara que tem o número normal de
mamilos.”
Ele gargalhou e continuou segurando minha mão até o
carro.
A volta para casa foi uma discussão sobre nossas
comédias românticas favoritas. Achei que Jordan tinha
escolhido o filme por minha causa, mas ele realmente gostava
de comédias românticas. E sabia tudo.
“Simplesmente Amor não é uma comédia romântica”, ele
argumentou. “Mal tem comédia no filme. Apesar de ser ruim,
independente do gênero.”
“Eu assisto todo ano, no Natal”, respondi.
“Me lembre de evitar sua casa no fim do ano.”
Imitei uma falsa ofensa. “É melhor do que Dez coisas
que eu odeio em você. Aquele filme é uma versão enganadora
de A megera domada.”
“Enganadora? É uma releitura da história. É
intencional!”
“Intencionalmente ruim”, sussurrei.
“Continue assim”, ele disse, “e eu nunca vou te mostrar
meu terceiro mamilo.”
“Você não tem um terceiro mamilo”, hesitei “ou tem?”
“Você nunca saberá.”
Ele parou a camionete no estacionamento da pizzaria.
Meu carro era o único que restava. Antes que eu pudesse dizer
boa noite, ele desceu do carro, deu a volta e abriu a porta para
mim.
Jordan sorriu. “Mas aí eu não poderia te levar até lá.”
Cruzamos o estacionamento devagar. Ele não segurou
minha mão – tinha enfiado as duas mãos nos bolsos.
Será que ele vai me dar um beijo de boa noite? Me
perguntei. Espero que sim.
“Então é por isso que vocês pedem pizza toda sexta?”,
perguntei. “Só para me ver?”
Ele chacoalhou a cabeça. “Desculpa estragar sua
fantasia, mas vocês têm a melhor comida italiana da cidade.
Nós pedimos sempre, desde que Tony ainda estava por aqui.”
Meu sorriso sumiu devagar quando ele mencionou meu
pai. O tempo tinha curado a ferida, mas ainda doía se eu
apertasse.
Jordan pareceu ter se dado conta que disse algo errado,
então acrescentou. “Ele era um grande cara, seu pai.”
“Obrigada. Ele era mesmo!”, parei perto do meu carro e
me virei para ele. “Estou feliz por você ter me convidado pra
sair.”
“Eu também, Clara.”
Ele estava sorrindo como se quisesse me beijar. Eu podia
sentir a tensão no ar, como uma cena de cinema. O momento
antes do momento.
Mas havia uma pergunta na minha cabeça, e eu era
curiosa demais.
“O que te fez finalmente fazer isso?”, perguntei. “Eu
entrego comida pra vocês já faz um ano, desde que perdemos
os outros dois entregadores. Você teve muitas oportunidades
de me convidar antes.”
Jordan deu de ombros. “Não sei. Finalmente tive
coragem, eu acho.”
“Vamos lá!”, eu disse. “Qual é o motivo real? Você
estava saindo com outra pessoa? É por isso?”
“Não, eu não saio com ninguém já faz um ano. Eu…”,
ele parou, procurando as palavras certas. “Você quer mesmo
saber?”
“Desde que não tenha a ver com seu terceiro mamilo”,
respondi.
Ele sorriu por um momento e ficou sério de novo. “Os
caras que trabalham comigo também tem uma queda por
você.”
Fiquei chocada. “Sério?”
“Sim, Taylor e o Chefe. Derek. Tínhamos meio que uma
aposta de brincadeira sobre quem te convidaria para sair
primeiro. Bom, tenho certeza de que ambos estavam quase.
Então convidei primeiro, antes que eles pudessem.”
Eu não acreditava no que ele estava dizendo. Sair com
um bombeiro heroico era bom, mas descobrir que três deles
tinham uma queda por mim? Era demais.
Pensei nos outros dois por um momento. Taylor era o
cara loiro bonito, em estágio probatório no momento. E Derek
era imensamente lindo – apesar de ter quase quarenta anos. Eu
nunca tinha tido nada com um homem mais velho, mas aquela
era a exceção que eu estava esperando.
Jordan estava esperando minha resposta, então sorri para
ele. “Bom, nesse caso, me dê o número de Taylor pra eu ligar
para ele.”
Jordan riu. “Não tá interessada no Chefe?”
“Vou deixá-lo por último, depois de Taylor. Você acha
que ele vai tentar roubar meus doces?”
“Taylor não divide comida”, ele respondeu com uma
gargalhada. “Se você tentar comer sua pipoca, ele
provavelmente vai te fazer ir embora a pé do cinema.”
“Que bom que foi com você que saí hoje, hein?”
“Uma coisa muito boa”, ele concordou.
Sorrimos um para o outro. Jordan se inclinou um pouco
mais, os dedos da sua mão esquerda se moviam. Eu previ os
próximos movimentos na minha mente. Ele iria segurar minha
bochecha e me dar um longo beijo. Sua barba fina roçaria
minha pele fina, eu me inclinaria sobre ele, pressionando meu
corpo contra seu calor.
Faça isso, implorei com o olhar.
De repente, seu telefone tocou. Ele hesitou, ignorou, mas
então deixou sair um longo suspiro.
“Eu tenho que atender. Tecnicamente, estou de plantão
no caso de… sim, é do quartel.”
Tentei não o deixar perceber meu muxoxo.
“Ei, Chefe, sim. Estou aqui. Desculpa, perdi as outras
chamadas porque estava no cinema, e… OK. Estou indo.”
Ele desligou e me deu um olhar triste, como se pedisse
desculpas.
“Tenho que ir. Emergência no quartel. Se os outros
rapazes não dão conta…”, ele começou a se virar, mas mudou
de ideia no caminho e se inclinou sobre mim. Ele me deu um
beijo suave e respeitoso na bochecha. Por um milésimo de
segundo, experimentei sua barba contra minha pele, mesmo
que não fosse da forma que eu queria.
“Desculpa”, ele disse, e saiu correndo. “Eu te ligo?!”
Merda.
Acenei enquanto o assistia partir.
5

Jordan

Cara, pensa num azar.


Eu geralmente preferia ir devagar com as mulheres. Não
tinha nenhuma vantagem em acelerar ou tornar tudo físico
muito rápido. Era melhor aproveitar o tempo, conhecer melhor
a pessoa, ir moldando tudo. Assim, quando tudo começasse a
ficar mais quente e intenso, seria melhor ainda.
Mas alguma coisa sobre Clara Ricci me fazia querer
abandonar esse pensamento e mergulhar de cabeça. Nós nos
conectamos imediatamente no primeiro encontro, isso nunca
tinha me acontecido. Foi uma ligação difícil de explicar.
Mesmo que tivéssemos só trocado algumas gentilezas quando
ela ia até o quartel entregar comida, eu sentia que já a conhecia
fazia muito tempo.
Era o tipo de centelha que eu achava que só existia em
filmes.
Mas com ela era real, muito real.
Enquanto caminhávamos de volta para o carro dela, eu
não sabia o que deveria fazer. Normalmente, minha despedida
padrão depois de um primeiro encontro era um beijo na
bochecha. Mas eu queria fazer muito mais com Clara naquela
noite. Eu queria realmente beijá-la. Queria dobrar meus braços
em volta dela e sentir seu corpo cheio de curvas contra o meu.
Eu queria levá-la para casa e…
E então meu telefone tocou.
Em outro momento, eu teria ignorado até voltar para o
meu carro. Mas era por volta de meia-noite e só algumas
pessoas me ligariam tão tarde. Como previsto, o nome que
apareceu na tela foi Captain Dahlkemper.
“Venha para cá”, ele disse, “temos uma emergência.”
Eu estava tentado a fazer uma piada sobre ele atrapalhar
meu encontro, mas algo em sua voz me impediu. “Ok, estou
indo.”
E foi assim que acabei dando um beijo educado na
bochecha de Clara Ricci.
“Burro, burro, burro!”, eu me xingava dentro do carro, a
caminho do quartel. Era um final medíocre para uma noite tão
perfeita. Eu deveria ter terminado o encontro propriamente.
Com um beijo real, cheio de calor e promessas, como Clara
merecia.
Mas eu sabia que Derek não me ligaria a menos que
fosse importante, e cada segundo era precioso.
Quando cheguei no quartel, a primeira coisa que notei foi
que os dois caminhões ainda estavam na garagem. Estranho.
Se era uma emergência, pelo menos um deveria ter ido
atender. Caminhei pela garagem até chegar na sala de estar. Os
três caras do turno da noite estavam espalhados nos sofás e nas
poltronas, assistindo ao replay do jogo dos Giants.
Os turnos variavam entre cada quartel, cada estado. Nas
cidades maiores, o mais comum era trabalhar por vinte e
quatro horas e folgar por quarenta e oito. Outro tipo de divisão
envolvia doze horas de trabalho, quatro dias na semana.
Para uma cidade pequena como Riverville, não podíamos
nos dar ao luxo. Então trabalhávamos quatro dias e tirávamos
três dias de folga. Meu turno começava as 9h da manhã da
segunda e terminava às 9h da noite de sexta. E sempre
ficávamos em alerta nos três dias de folga.
Em uma cidade maior, seria uma escala muito cansativa.
Mas em Riverville não recebíamos muitas ligações. A maioria
era alarme falso ou pesquisas de opinião. Por exemplo, na
semana anterior, o momento mais empolgante tinha sido
quando ajudamos o pequeno Jeffrey Parker que havia ficado
com a cabeça presa na cerca.
“O que está acontecendo?”, perguntei aos caras de
plantão.
“Como é que vamos saber?”, Billy respondeu.
Eu gostava da maioria dos outros bombeiros da
guarnição, mas Billy Manning era um cuzão de marca maior.
Graças a Deus fiquei no time de Derek e Taylor ao invés de no
dele.
“O Chefe me ligou”, respondi, “disse que tínhamos uma
emergência.”
Billy rolou os olhos e voltou a prestar atenção no jogo.
Um dos outros caras apontou o dedo e disse, “O Chefe tá em
um dos quartos.”
Agradeci acenando e saí do cômodo.
O corredor entre a garagem e a sala de estar tinha seis
quartos. Todos estavam com as portas abertas, menos o que
tinha o nome Capitão Dahlkemper na porta. Bati gentilmente e
abri.
Diferente dos outros quartos que tinham beliches, o
quarto de Derek tinha uma cama queen size. Derek e Taylor
estavam parados perto da cama de costas para mim. Ouvi um
barulho estranho, não sabia de onde vinha.
Taylor olhou por cima do ombro com uma cara de:
caralho, mano.
“Chefe?”, perguntei, “O que está acontecendo?”
Derek olhou para mim com uma careta e se afastou da
cama. Taylor fez o mesmo.
Vi uma pequena cesta de roupa suja sobre a cama. Do
tipo que as pessoas usavam para carregar toalhas. Me
aproximei, sem saber muito bem o que eu estava prestes a ver.
Eu esperava tudo, menos um bebê.
Ele estava enrolado em várias toalhas felpudas, como se
fosse um pequeno ninho. Um pacotinho humano só com o
rosto e as mãos expostas. Ele piscou para mim, imitando a
mesma cara confusa que eu fiz.
“Ah”, eu disse. “Tem um bebê na cama, Chefe.”
“Obrigado”, Derek respondeu. “Eu não tinha reparado.”
Taylor me entregou um bilhete, sem dizer nada.

Por favor, encontrem um bom lar para o meu garoto.


Ele merece mais amor do que eu posso dar. Sinto muito,
muito mesmo.

Li o bilhete duas vezes, então olhei para o bebê. Ele


estava me encarando com expectativa, como quem dizia: você
é o adulto, eu sou só um bebê.
“Fiquei até mais tarde pra tomar banho porque eu queria
ir pro bar da Tracy direto”, Taylor disse. “Quando saí,
encontrei isso na frente da porta do quartel.”
“Ele”, corrigi. “O bilhete diz que é um menino. E deixar
um bebê na porta? Eu achava que isso só acontecia em filmes
antigos.”
“Eu também”, Taylor disse. “Isso é loucura. Você não
pode simplesmente abandonar um bebê assim.”
“As leis são parecidas na maioria dos estados”, Derek
explicou. “Não é proibido abandonar um recém-nascido. Até
agora não tinha acontecido em Riverville, mas não é algo tão
incomum.”
“O trouxemos pra dentro”, Taylor disse. “Não falei nada
com os outros caras ainda. Billy provavelmente vai querer
comê-lo, do jeito que é bizarro.”
O bebê fez barulhinhos e começou a se mexer dentro da
cesta. Estiquei os braços e o peguei no colo. Ele era tão
pequeno que, quando enrolei minhas mãos em volta da sua
barriguinha, meus dedos se tocaram.
Mantenha a cabeça segura, me lembrei da instrução de
quando meu sobrinho nasceu, cinco anos antes. Mantive sua
cabecinha em uma das minhas mãos e seu corpinho no meu
braço. Ele usava só uma fralda e nada mais.
“Olhem!”, disse Taylor. “Tem um envelope ali.”
Derek abriu o envelope. “É uma certidão de nascimento.
Seu nome é Anthony.”
“Anthony”, suspirei olhando para o garotinho. Seus
olhos se moviam como se ele estivesse tentando examinar meu
rosto todo de uma vez. Sorri para ele e ele sorriu de volta.
“Merda”, Derek exclamou. Ele apontou para a certidão
de nascimento. “Ele nasceu dois meses atrás.”
“E qual é o problema”, Taylor perguntou.
Derek cerrou o maxilar. “Na Califórnia você só pode
entregar um bebê para adoção até setenta e duas horas.”
Taylor olhou para a certidão. “Ele nasceu no Texas”, ele
pegou seu telefone e digitou alguma coisa. “Quer apostar
quanto que a lei é diferente lá… sim. As leis do Texas dizem
que você pode fazer isso em até sessenta dias.”
“A mãe pode ser processada por isso”, Derek se sentou
na cama e suspirou. “Ela achou que estava fazendo a coisa
certa, mas não se deu conta de que a lei varia de estado pra
estado.”
“Ok, então se há leis sobre isso”, eu disse, “o que
fazemos, Chefe?”
Ele cruzou os braços sobre o peito. “Minha irmã trabalha
no Serviço Social de Fresno. Enviei uma mensagem pra ela
perguntando o que fazer.”
“Não tem mais ninguém pra quem possamos ligar?”,
perguntei.
Derek apertou os olhos. “Eu preferia levá-lo pra ela do
que pra qualquer idiota burocrata que esteja de plantão hoje.
Por isso acho que o melhor é mantermos o bebê em segredo. A
última coisa que eu quero é Billy criando confusão.”
Taylor e eu acenamos imediatamente. Nenhum de nós
queria envolvê-lo naquilo.
De repente, o rosto do pequeno Anthony se contorceu,
concentrado. Como se ele estivesse solucionando uma equação
matemática. Então ele relaxou e começou a chorar
suavemente.
Os quartos do quartel eram todos à prova de som, com
alarmes individuais em cada um deles. Assim, as pessoas que
não estivessem de plantão poderiam dormir sem problemas se
precisassem, enquanto as pessoas de plantão ouviriam o
alarme. Taylor escorregou rapidamente para trás de mim e
fechou a porta para evitar que os outros caras ouvissem o
choro do bebê.
“Eeee, você não é mais fofo.”, entreguei o bebê para
Derek.
Ele manteve os braços cruzados. “Por que eu deveria
pegá-lo?”, ele perguntou.
“Sei lá. O que eu devo fazer?”
Nós dois nos viramos para Taylor.
“Não olhem pra mim, eu sou o caçula! Nunca troquei
fraldas na vida.”
“Esse é o problema?”, Derek me perguntou. “Trocar
fraldas?”
Abri sua fralda um pouquinho e imediatamente me
arrependi. “Eca, sim, fralda suja. Meu Deus, como pode algo
tão fofo criar uma coisa tão fedorenta?”
“Temos fraldas?”, Taylor perguntou. “Sem chance de
termos um pacote de fraldas dando sopa no quartel, certo?”
Derek pegou suas chaves na mesa de cabeceira. “A loja
do posto está fechada a essa hora, então vou ter que ir até o
Walmart em Fresno. Eu volto com suprimentos”, ele apontou
para mim. “Mantenha o bebê aqui e não deixe que os outros
saibam.”
Quando a porta se fechou atrás de Derek, encarei o bebê
choramingando nos meus braços. De repente, eu estava no
comando da situação. Era uma sensação enervante. A
experiência mais longa que tive com um bebê foi segurar meu
sobrinho por trinta segundos antes de entregá-lo para alguém
mais maternal.
E ali estava Anthony chorando. O som engatilhou
alguma coisa no meu cérebro. Como unhas riscando um
quadro negro.
“O que fazemos?”, Taylor me perguntou.
Olhei em volta. “O Chefe tem um banheiro privado.
Vamos limpar esse carinha.”
Os dez minutos seguintes foram uma comédia de
incompetência. Tirei a fralda suja de Anthony e a joguei num
saco de lixo, que Taylor amarrou duas vezes e escondeu dentro
do armário do banheiro. Então usamos papel higiênico para
limpar o pobre bebê. Não era muito adequado do ponto de
vista da eficácia, então usamos água morna da torneira.
Usando quatro mãos, viramos Anthony e colocamos sua
bundinha debaixo do jato de água.
Anthony gostou daquilo e deixou escapulir risadinhas
enquanto o movíamos debaixo d’água até limpar
completamente seu bumbum.
“Limpar a bunda de um bebê não era o que eu esperava
quando saí do cinema”, eu murmurei.
“É mesmo! Como foi o encontro?”, Taylor perguntou.
“Foi maravilhoso, na verdade”, respondi. Clara é…
especial. Nos conectamos de uma maneira que nunca tinha me
conectado com ninguém.”
“Ah, cara. Isso é incrível”, Taylor me deu um tapinha no
ombro, se deu conta de que sua mão estava molhada e então
deu de ombros. “Cara, eu ainda tô meio com inveja porque
você a convidou pra sair antes.”
“Vacilou, perdeu a vez.”
“Você comentou…”, Taylor hesitou. “Você sabe… aquilo
que nós três conversamos?”
Meu estômago afundou. Eu tinha me divertido tanto com
Clara que tinha me esquecido.
“Não, não comentei”, eu disse.
“O que você acha que ela ia dizer?”, Taylor insistiu. Ele
era mais jovem do que Derek e eu, e seus olhos estavam
arregalados e empolgados. “Eu sei que é algo estranho para
sugerir… mas você acha que ela toparia?”
“Não tenho ideia”, eu disse, o que era verdade. Eu não
tinha certeza nem se eu toparia. “Mas agora temos coisas mais
importantes para nos preocupar.”
Segurei o bebê Anthony e o limpei com uma toalha. Ele
se contorceu um pouco nas minhas mãos, mas não era muito
forte. Pelo menos ainda não. O enrolamos em uma das
camisetas de Derek e fizemos o melhor que pudemos para
mantê-lo preso e seguro. Não era uma fralda, mas servia por
enquanto.
É só por uma noite, pensei. Damos conta de um bebê por
uma noite.
6

Clara

Minha mãe não era uma criatura da noite. Ela geralmente


se deitava no momento em que chegava em casa do trabalho e
acordava às quatro da manhã. Mas quando cheguei em casa do
encontro com Jordan, a encontrei esperando na cozinha com
uma caneca de café nas mãos.
“Aí está minha filha!”, ela exclamou com alegria. “Como
foi o encontro? Foi bom, não foi?”
Contei a ela sobre minha noite. Os eventos foram saindo
de minha boca porque eu estava muito animada para contar.
Mama praticamente vibrava no banco da cozinha.
“Este homem, Jordan, vai me dar netinhos bombeiros!”,
ela declarou.
Rolei meus olhos. “Já falei, Jason e Maurice já te deram
um neto.”
“Um é maravilhoso”, ela disse, “mas é melhor ter
vários!”
Revivi a noite na minha cabeça enquanto me arrumava
para dormir. Uma coisa que me chamou a atenção foi o que
Jordan disse no fim da noite sobre os dois companheiros de
trabalho que tinham uma queda por mim. E que ele tinha
ganhado deles porque me chamou para sair antes.
Eu nunca pensei que fosse sair com nenhum deles. Ainda
mais agora, meu primeiro encontro com Jordan tinha ido
muito bem. Mas era bom saber que eu era desejada. Garotas
curvilíneas como eu geralmente não chamavam muita atenção.
Me fez me sentir a rainha do baile.
Mal posso esperar para sair com ele de novo.
Os finais de semana eram sempre os dias mais cheios no
restaurante e eu não tinha muito tempo livre. Eu sabia da regra
dos dois dias, mas a ignorei e mandei uma mensagem para
Jordan no Sábado.

Clara: A noite passada foi ótima! Espero que possamos


nos ver de novo em breve.
Jordan: Com certeza
Clara: Tudo certo no quartel?
Jordan: Por que não estaria? Você ouviu falar de alguma
coisa?
Clara: Não, eu estava falando da ligação que você
recebeu quando estávamos nos despedindo.
Jordan: Ah, sim. Tudo certo.
Jordan: Tenho que ir, nos falamos depois!

Parecia que Jordan estava agindo estranho, mas não


queria pensar demais nisso. Nosso encontro tinha sido
fantástico e eu não ia deixar nada atrapalhar o brilho
vertiginoso que eu sentia.
O restaurante fechava nas segundas, então era
basicamente meu único dia de folga. Me permiti dormir até
tarde, almocei qualquer coisa e fui correr.
O dia estava lindo na Califórnia, vinte e cinco graus e
quase nenhuma humidade. Eu não era corredora, mas fazia um
esforço uma ou duas vezes na semana. Mesmo que fosse
impossível perder peso assim, o exercício fazia um bom
trabalho enchendo meu corpo com hormônios maravilhosos
que iluminavam meu humor.
E também limpava minha mente.
Eu pensava melhor quando estava correndo. Naquele dia,
meus pensamentos projetaram meu futuro. Eu não sabia
exatamente o que queria da vida. Eu nunca soube, na verdade.
Me graduei em Literatura Inglesa e não havia muita coisa que
eu podia fazer com isso. Ou pelo menos nada que me
interessasse tanto assim.
Quando papa ficou doente, voltei para casa e aquilo me
fez ter um senso de direção. Era a coisa mais fácil a se fazer.
Mas ele partiu e me senti perdida de novo. Vagando pelo
oceano da vida sem saber para onde eu deveria ir.
Sempre acreditei que as coisas acontecem por um
motivo. A vida me daria um sinal. Quando eu estava pensando
sobre onde estudar, um ônibus com uma propaganda da
Universidade de Irvine passou pelo restaurante. Interpretei
como um sinal e me inscrevi no dia seguinte. Quando estava
escolhendo o curso na livraria, uma biografia de Emily Bronte
caiu da estante e me atingiu na cabeça. Outro sinal.
Uma semana antes da graduação, quando eu tentava
decidir para onde ir depois, recebi as notícias sobre a saúde do
meu pai. Não era um bom sinal, mas decidiu as coisas por
mim.
Eu precisava desesperadamente de um sinal naquele
momento. fazia um ano que eu havia voltado para casa,
primeiro trabalhando na cozinha do restaurante e depois
fazendo um pouco de tudo. Muito tempo se passou. Eu
precisava de algo novo.
Olhei para as nuvens brancas onduladas, desejando que
elas me dessem uma dica sobre o meu próximo movimento.
Quando cheguei em casa, mamãe sorria para mim. “O
que foi?”
Ela casualmente acenou para o balcão da cozinha. “Te
ligaram enquanto você estava fora.
Corri para o balcão e peguei meu telefone.
“Foi o Jordan!”, ela disse antes que eu pudesse conferir.
“Sua intrometida!”
“Só olhei pro telefone quando tocou”, ela disse com sua
franqueza ítalo-americana. “Não é minha culpa.”
Rolei meus olhos e liguei de volta para Jordan. Achei
que ele não ia atender, mas depois do quarto toque, finalmente
ouvi um:
“Alô?”, que voz sexy!
Senti arrepios nos braços e comecei a falar com
empolgação. “Ei, Jordan! Sou eu, Clara. Vi que você me ligou,
o que é ótimo, porque eu ia mesmo te ligar e ver se você quer
fazer alguma coisa hoje. Sei que seu turno começa à noite,
então pensei em jantar cedo antes de você ir.”
“Oh”, ele respondeu, “eu tô, hm, meio ocupado mais
tarde. As coisas estão um pouco malucas por aqui.”
Eu não sabia onde era aqui, já que ele não estava
trabalhando, mas eu estava muito desapontada para pensar
sobre aquilo. Ele me dispensou.
“Ok”, eu disse estranhamente, com o estômago
revirando. Ignorei a sensação e continuei, “Talvez outro dia.
Então, você me ligou?”
O ouvi sussurrar do outro lado, falar com alguém
cobrindo o telefone. “Clara, você pode vir aqui no quartel?
Agora?”
“No quartel?”, meu coração se encheu de esperança,
talvez eu fosse encontrá-lo afinal de contas. “Sim, claro! Quer
dizer, posso se você quiser que eu vá.”
Mais sussurros do outro lado. “Ótimo! te vejo em breve.”
Desliguei e sorri para mama. “Ele quer me ver!”
“Isso é maravilhoso! Ele – ”
Levantei um dedo na direção dela. “Se você falar sobre
netos mais uma vez, eu juro que vou laquear minhas trompas.”
Ela fechou a boca tão rápido que me surpreendi quando
uma onda de choque não invadiu a casa.
Corri para o andar de cima para tomar um banho.
Quando eu saí, me dei conta de que ainda estava suando – eu
não tinha tido tempo de esfriar depois da corrida. Então tomei
outro banho, fiquei de frente para o meu closet e fiquei
agoniada sobre o que usar. Não era um encontro, ele só tinha
me convidado para ir até o quartel. Então jeans e uma camiseta
eram provavelmente a melhor opção.
Comecei a pensar sobre isso… por que ele estava no
quartel? Seu turno não começaria até a noite. Talvez ele
tivesse trocado com alguém e esse era o motivo pelo qual ele
não podia me encontrar mais tarde.
Dirigi para o quartel e estacionei na rua, mais uma vez
tomando o cuidado de não bloquear a saída dos caminhões.
Havia um Mustang verde horroroso no estacionamento com a
placa que dizia: BOBERO.
Bati na porta da frente. Alguns minutos depois, alguém
que eu não reconheci respondeu. Ele era careca, mas cabelos
pretos estavam começando a crescer. Sua cabeça era redonda e
grande – grande até demais, para ser honesta – com orelhas
pequenas dos lados. Talvez as orelhas pequenas fossem as
responsáveis pela cabeça parecer grande, por comparação.
Seus olhos redondos e pretos não ajudavam.
Ele assobiou para si mesmo. “Olá, você. Não é meu
aniversário, mas queria que fosse. Sou Billy e estou muito feliz
em conhecer você.”
Seus comentários e a forma como ele encarava meu
corpo me fizeram arrepiar de nervoso. Ignorei sua mão
esticada e respondi, “Sim, ok. O Jordan está aqui?”
O sorriso de verme de Billy desapareceu. “O que você
está fazendo com ele? Eu vou te tratar muito melhor.”
Eu não sabia como responder, então só fiquei ali parada.
Jordan de repente apareceu próximo dele. Ele deu um
empurrão não muito amigável em Billy e disse, “Por que você
tem que ser um cuzão com todo mundo que você vê?”
“Cuzão? Eu estava só me apresentando à donzela!”, ele
se virou para olhar para mim e me deu um sorriso ainda mais
sinistro.
“É sobre isso que estou falando. Pare!”, Jordan bloqueou
o corpo de Billy e gesticulou. “Entre.”
“Você é grande idiota, sabia?”, Billy disse a ele.
“Primeiro você fica aqui o fim de semana todo, e agora
isso…”
Jordan colocou uma mão no meu ombro, me guiando em
direção ao corredor. “Obrigado por nada, Billy.”
Senti o olhar do outro bombeiro na minha bunda quando
me afastei.
“Ficar aqui o fim de semana todo?”, perguntei.
“Longa história”, Jordan respondeu. “Obrigado por vir.”
Algo no seu tom me confundiu: era como se eu estivesse
fazendo um favor. “Sem problemas, o que houve?”
“Você verá em um minuto”, Jordan disse, cansado. Eu o
tinha olhado com mais atenção, ele parecia exausto e
despenteado, como se não tivesse dormido. Sua camiseta tinha
uma mancha pálida, como molho de iogurte. E sua barba
estava por fazer.
“Pensei que Derek não deixasse vocês ficarem com a
barba assim”, eu disse balançando o dedo amigavelmente.
“Estive meio ocupado”, ele respondeu.
Fiz uma careta. “Você trabalhou o fim de semana todo?
Sua escala já é meio injusta, e fazer você trabalhar uma
semana direto…”
“Não, não é isso.”
“Então o que houve?”, perguntei, com um crescente
alarme. “Por que você me convidou para vir aqui?”
Ele me guiou para o quarto com o nome Capitão
Dahlkemper escrito na porta. Derek estava lá dentro, parado
no canto. Ele se virou e franziu o cenho quando me viu. Mas
eu ignorei sua reação porque havia um bebê no seu colo.
Jordan gesticulou. “Foi por isso que pedi para você vir
aqui.”
7

Clara

Olhei para o bebê aninhado nos braços musculosos de


Derek. Meu cérebro demorou alguns segundos para processar.
Um bebê era a última coisa que eu esperava ver quando Jordan
me pediu para ir até o quartel.
Então meu instinto materno tomou conta de mim.
“Aaaah! Qual é o seu nome, garotinha?”
“É um menino, na verdade”, Taylor se intrometeu. “Não
sei porque o Chefe comprou um cobertor rosa.”
“Porque estava na promoção”, ele respondeu secamente.
“Seu nome é Anthony”, disse Jordan.
Congelei.
Anthony era o nome do meu pai. “Tony” Ricci.
A memória do ano anterior piscou na minha cabeça, e a
dor ainda era latente. Eu estava no hospital com o papa e
reclamei com ele sobre não ter a menor ideia do que fazer da
vida.
Mesmo no seu leito de morte, papa era um homem sábio.
“Clara”, ele disse, “se você não sabe o que quer fazer, então
encontre alguém e comece uma família. Criar você e Jason foi
a coisa mais gratificante que eu fiz na vida. E o meu maior
orgulho.”
“Talvez”, eu disse. “Mas tenho que encontrar o cara
certo antes.”
“Desde que você dê netos à sua mãe”, ele disse. “Vários
netos.”
Me lembro de ter sorrido para ele. “Prometo, Papa. E
meu primeiro menino vai se chamar Anthony.”
Papa sorriu de volta para mim. “Um bebezinho chamado
Anthony? Com uma promessa dessas eu acho que vou vencer
esse câncer no fim das contas.”
Eu pisquei e de repente estava de volta no quarto do
Capitão Dahlkemper no quartel, encarando um bebê
gorduchinho. Me senti tonta, então me sentei na cama.
“Ele foi abandonado aqui no sábado”, Jordan explicou.
“A identidade da mãe foi protegida por lei.”
Meu coração parecia estar sendo torcido em nós,
primeiro por causa da promessa que fiz ao meu pai e segundo
porque o bebê tinha sido abandonado. Seus pais não o
quiseram.
Como se ele também estivesse chateado com a situação,
o rosto do bebê Anthony se contorceu em uma careta e ele
começou a chorar. Eu o peguei do colo de Derek e fiz sons
reconfortantes enquanto esfregava suas costas.
“É por isso que eu disse que estava muito ocupado pra te
encontrar”, Jordan explicou.
“Ficamos com ele o fim de semana todo”, Taylor disse,
se sentando ao meu lado. “Nenhum de nós dormiu muito bem.
Somos meio novatos nessa coisa de bebês.”
Eu também não tinha nenhuma experiência com bebês.
Meu irmão mais velho, Jason, tinha trocado minhas fraldas
muitas vezes, e agora ele também tinha seu próprio filho, mas
eu não tinha irmãos mais novos. Não tinha ajudado a criar
ninguém. Eu era tão novata quanto aqueles três bombeiros.
Mas eles estavam me encarando com uma expressão de
esperança, como se eu fosse a salvadora que tivesse chegado
para salvá-los.
E eu realmente queria ajudá-los, de verdade.
“Eu sei alguma coisa”, eu disse, mas era mentira.
“Colocamos a fralda corretamente?”, Jordan perguntou.
“Assistimos alguns vídeos no YouTube, mas não sabemos se
está muito frouxa ou muito apertada…”
Bebê Anthony ainda estava chorando, então eu
gentilmente o deitei de costas para a cama. Abri a fralda – o
que demorou alguns momentos confusos até eu achar a fita – e
então a ajustei. Eu não tinha a menor ideia do que estava
fazendo, era puro instinto.
Mas o choro parou e o bebê Anthony deu gritinhos de
alegria e chacoalhou os bracinhos e perninhas na cama.
“Viu?”, Jordan disse a Derek. “Eu disse que era uma boa
ideia pedir a ajuda dela.”
Peguei bebê Anthony no colo. “Sim, muito melhor, não
é?”, eu o embalei em meus braços. É o que as pessoas
geralmente fazem com bebês, certo? Os embalam?
“Vocês disseram que estão com ele desde sexta”, eu
disse. “Não tem ninguém que possa ficar com ele?”
Derek cruzou os braços sobre o peito largo e respirou
fundo. “Eu liguei pra minha irmã. Ela trabalha no
departamento de Serviço Social da Califórnia. Mas eles estão
totalmente sem verbas agora. Eles não têm dinheiro nem
pessoal pra cuidar nem das responsabilidades que eles já têm,
imagina uma criança extra. Se o entregarmos pra eles, ele vai
ser enviado pra um abrigo lotado.”
“Não entendo”, eu disse devagar. “Pensei que havia
muita gente na fila de adoção de bebês.”
“Geralmente, sim. Mas aparentemente as agências de
adoção estão passando por um momento de calmaria”, Derek
disse amargamente. “Minha irmã disse que as coisas vão
melhorar com o fim do ano fiscal, porque eles têm um novo
orçamento e mais recursos. Mas até lá…”, ele deu de ombros.
“Não podemos entregar o bebê até sabermos que ele está
bem cuidado”, Taylor insistiu.
“Sem mencionar a mãe”, Derek adicionou. “Ela entregou
o bebê muito tarde, sem querer. Segundo as leis da Califórnia,
ela vai ser processada por abandono. Minha irmã está tentando
colocar o bebê no sistema e alterar a data, pra que a mãe não
seja imputada.”
“Então”, eu disse, “você vai cuidar do bebê até lá?”
Jordan e Derek responderam juntos.
“Sim”, Jordan disse.
“Não”, disse Derek.
Eles se entreolharam
“Você disse que ia pensar no assunto!”, disse Jordan.
Derek chacoalhou a cabeça. “Eu estou pensando no
assunto. Mas não importa o que decidirmos fazer, não há boas
opções.”
“Então vamos escolher a opção menos pior”, Jordan
insistiu.
“Isso é um quartel de bombeiros, não uma creche”,
Derek respondeu. “Eu não tenho ideia do que estou fazendo,
nem vocês. E mesmo que tivéssemos, como vamos trabalhar e
cuidar de uma criança ao mesmo tempo? O que acontece se
tivermos um chamado? Você acha que podemos simplesmente
carregar o bebê no caminhão conosco?”
“Claro!”, exclamou Taylor. “Podemos providenciar um
uniforme para ele. Um macacãozinho. Ele vai ser tipo nosso
mascote…”
Ele interrompeu a fala com um olhar do Chefe.
“Eu estava só brincando.”
“Chefe, vamos lá…”, disse Jordan.
Enquanto eles discutiam, encarei o bebê e ele me
encarou de volta. Jordan tinha me chamado porque eles
precisavam de ajuda. O problema é que eu não tinha nenhuma
experiência com crianças. Caramba, eu nem ficava confortável
com crianças. Não sei por que – eu apenas não tinha o gene
materno. Eu estava segurando o bebê Anthony como se ele
fosse uma bomba prestes a explodir.
Eu era a última pessoa apta a ajudar os bombeiros.
Abri minha boca para dizer isso, mas hesitei. Aqueles
caras estavam indefesos. Se eu não os ajudasse, alguém teria
que fazer. Eu gostava de Jordan – de verdade – e queria uma
desculpa para ficar perto dele. Queria me sentir útil.
E além daquilo tudo, o fato de o bebê ter o nome do meu
pai talvez fosse o sinal que eu estava procurando…
“Eu posso cuidar dele!”, eu disse.
Os três homens se viraram para mim.
“Tem certeza?”, Jordan perguntou. “Não queremos
impor…”
“Absoluta”, menti. “Eu sei o que estou fazendo. E vocês
três claramente precisam de ajuda. Vou levá-lo para a minha
casa e cuidar dele até o Serviço Social ter dinheiro pra dar a
ele uma casa de verdade. Dentro de um mês mais ou menos,
certo?”
Sentado perto de mim na cama, Taylor de repente me
envolveu – nos envolveu – num abraço. Ele era mais magro
que os outros dois homens, mas ainda assim coberto de
músculos.
“Obrigado”, ele sussurrou no meu cabelo. “Você é um
doce, Clara.”
“Vocês são uns doces por garantirem que ele fique bem”,
respondi. “Teria sido muito mais fácil entregá-lo ao sistema.”
Taylor se afastou e ficou constrangido pelo abraço. Bebê
Anthony piscou, também meio confuso.
“Você não pode levá-lo pra sua casa”, disse Derek.
“Existem complicações legais.”
“O que você quer dizer?”, perguntei.
“Antes de mais nada, estamos fazendo uma atividade
ilícita. Somos obrigados a entregar a criança imediatamente.
Cada dia que passa e não fazemos isso, corremos o risco de
nos meter numa confusão ainda maior.”
“Eu entendo, mas isso não significa que você quer que
ele fique longe do quartel? Pra evitar que vocês sejam pegos?”
Derek fez uma careta. “Pode parecer o ideal, mas não é.
Falei com uma amiga advogada sobre a situação. Ela disse que
se levarmos o bebê pra alguma das nossas casas e formos
pegos, pode parecer tentativa de sequestro. Entretanto, se o
mantivermos aqui pela maior parte do tempo, podemos alegar
que estávamos protegendo seus interesses. Que a ideia sempre
foi entregá-lo quando chegasse a hora. Minha amiga advogada
tem certeza de que, se mantivermos o bebê aqui, vai ser mais
fácil convencer o júri das nossas boas intenções. Não
precisamos mantê-lo aqui o tempo todo, mas pela maior parte
do tempo.
“Ok, eu posso ajudar nisso. Vou falar com a minha
mãe…” estremeci. Mama estava contando comigo para
trabalhar no restaurante. Eu poderia fazer isso se o bebê fosse
comigo para lá, mas ele tinha que ficar no quartel…
“Algum problema?”, Jordan perguntou. “Porque a gente
entende se você não puder fazer isso.”
“Sem problemas”, eu disse sem hesitar. “Só preciso
organizar meu horário.”
Derek acenou com calma para o grupo. “Ok. Parece que
temos o esboço de um plano. O mais importante é não contar a
ninguém sobre isso. Especialmente a Billy Manning”, ele se
virou para mim. “O careca de plantão agora…”
“Tive o prazer de conhecê-lo”, respondi.
“Billy não vai com a cara do Chefe”, Jordan explicou.
“Ele quer qualquer desculpa pra fazer Derek ser demitido.”
“E a última coisa que queremos é dar a ele a munição
que precisa”, disse Derek secamente. “Conseguimos manter a
existência da criança em segredo o fim de semana todo, graças
às paredes a prova de som. Mas eu não sei o que faremos no
próximo fim de semana. A última coisa que eu quero é ficar
trancado no meu quarto com um bebê infeliz.”
“Os outros não ficaram desconfiados com o fato de
vocês três terem ficado aqui?”, perguntei.
“Às vezes dormimos aqui quando não queremos ir pra
casa”, disse Taylor. “As paredes a prova de som são ótimas
quando preciso estudar.”
“Mas, se fizermos isso por dois fins de semana seguidos,
eles vão achar estranho”, disse Jordan.
“Vamos pensar nisso quando chegar a hora”, disse
Derek. “Por agora, ficamos muito gratos pela sua ajuda,
Clara.”
Olhei no relógio. “Se eu for ficar aqui, preciso ir pra casa
pegar algumas coisas. Vocês podem cuidar dele enquanto
isso?”
Jordan pegou o bebê Anthony do meu colo e o aninhou
no seu peito. A visão daquele pequeno bebê contra o peito
enorme daquele bombeiro era tão fofa que senti meus ovários
se contorcerem.
“Sobrevivemos até agora”, ele disse. “Podemos aguentar
mais.”

Eu estava em transe quando dirigi para casa. Parecia que


aquele encontro no quartel tinha sido um sonho – tolo e
impossível.
Eu tinha mesmo feito aquilo? Me oferecido para cuidar
de um bebê para eles?
Enquanto a ficha da gravidade da situação caia, comecei
a me sentir sobrecarregada. Eu não sabia o que estava fazendo.
Eu não podia fazer aquilo. Parecia que eu tinha mentido no
meu currículo e aceitado um trabalho para o qual eu não estava
qualificada. Só que era ainda pior, porque se tratava de um ser
humano e não de um emprego qualquer.
Também me senti vagamente desapontada por Jordan ter
me convidado para ir até o quartel para ajudar com o bebê e
não porque ele queria me ver. Mas ele precisava de mim, e era
uma boa desculpa para conhecê-lo melhor.
Sem falar no bebê, que se chamava Anthony.
Eu estava esperando por um sinal, algo que me apontasse
na direção certa na vida. Era um sinal ou apenas uma enorme
coincidência?
Independentemente, os três bombeiros precisavam de
mim. Bebê Anthony precisava de mim. Eu tinha concordado
em ajudá-los e eu teria que ir até o fim.
“Em casa tão cedo?”, mama perguntou quando eu
cheguei. “Ah, não. Ele terminou com você, não foi?”
“Nós nem estamos juntos, mãe. Só saímos uma vez. Mas
não, não foi isso.”
Expliquei a situação para ela. Ela não ficou chocada nem
surpresa, mas sim animada.
“Um bebê!”, ela exclamou, batendo palmas. “Eu quero
vê-lo! Traga-o pra mim!”
“Talvez no próximo fim de semana”, eu disse. “Assim
que entrarmos no ritmo. Mas mama, eu preciso de folga. Não
vou poder te ajudar no restaurante por algum tempo. Talvez
nos finais de semana, se os rapazes puderem cuidar do bebê
quando não estão trabalhando, mas…”
A pequena mulher ítalo-americana puxou minha cabeça
para baixo para poder me beijar na testa. “Não se preocupe!”
“Sério? Mas o restaurante…”
Ela acenou com uma mão. “Angelina vai me ajudar. Ela
me deve um enorme favor depois que eu cozinhei pra festa de
formatura do filho dela.”
“Mas só por algum tempo…”
“Ela é dona de casa e não tem nenhum filho pra cuidar.
O que mais vai fazer da vida? Ficar sentada em casa a noite
toda? Aff…”
Eu a abracei. “Obrigada, mama. Só tenho mais um favor
pra pedir.”
Ela sorriu para mim com todo o amor de uma mãe por
sua filha. “Qualquer coisa.”
“Preciso aprender o básico pra cuidar de um bebê.”
8

Derek

Não gostei nada da ideia.


“Eu disse que queria que ela nos ensinasse os cuidados
básicos com um bebê”, urrei para Jordan, “e virasse a porra da
babá.”
“Vamos lá, Chefe”, Taylor disse. “Isso é ótimo.
Precisamos de ajuda – muita ajuda, como você viu – e ela é
qualificada. Ela lida com o bebê naturalmente.”
“Ainda assim…”
“Se você tem um plano melhor, coloque na mesa”,
Jordan sugeriu. “Porque, entre todas as péssimas soluções,
essa é a menos ruim.”
Eu queria continuar argumentando, mas eles estavam
certos. Precisávamos de alguém para ajudar e Clara era a única
pessoa que eu conhecia.
É melhor do que entregar o bebê para o Serviço Social,
pensei com amargura. Eu não queria mandar o bebê Anthony
para um sistema sobrecarregado independente de qualquer
coisa. Eu sabia melhor do que ninguém que essa era uma
forma ruim de crescer.
Ele merecia mais do que aquilo, e significava que ele ia
ficar conosco mais um pouco.
“Vamos precisar de mais suprimentos”, resmunguei.
“Vou dar uma olhada no orçamento e ver o que posso fazer.”
Abri a porta um pouco, parei para me certificar de que a
barra estava limpa e então escorreguei para o corredor.
Tivemos a sorte de conseguir manter o bebê em segredo
durante o fim de semana. Se fosse num prédio mais antigo ao
invés do nosso que tinha sido construído seis anos antes, não
teríamos paredes a prova se som. Tivemos sorte.
Bom, eu tinha esgotado meu estoque de sorte porque
encontrei Billy na cozinha. Ele zombou de mim enquanto
colocava creme numa xícara de café.
“Passando o fim de semana todo no quartel… você deve
ter uma vida chata, Chefe.”
Ele não era exatamente insolente, mas sempre usava a
palavra chefe como se fosse um palavrão. Tecnicamente, eu
era o Chefe do batalhão – eu tinha patente de Capitão. Mas
todo mundo me chamava de Chefe porque era a mesma coisa.
“Estou declarando impostos”, eu disse secamente.
“Você declara seu próprio imposto de renda? Com seu
salário?”, ele ridicularizou. “Estou surpreso que você não
pague alguém pra fazer isso.”
Cerrei os dentes e me forcei a não continuar aquela
conversa. “Você precisa de alguma coisa, Manning?”
Ele deu de ombros. “Só queria saber se você pretende se
aposentar logo.”
“Existem outros vários quarteis com possibilidade de
promoção”, respondi. “Você devia pedir transferência pra um
deles.”
“Eu gosto de Riverville. Fico perto da minha ex-mulher e
dos meus filhos, que moram em Fresno.”
“Então peça transferência pra Fresno.”
“Riverville é mais tranquilo. Posso relaxar e assistir jogo
sem precisar atender muitos chamados.”
“A maioria dos bombeiros trata seu trabalho como uma
responsabilidade, não uma chateação”, eu disse secamente.
“Se você trabalhasse na sua atitude, talvez você conseguisse
uma promoção.”
Comecei a me mover, mas Billy entrou na minha frente.
“Você é arrogante agora, mas vai quebrar a cara quando der
uma escorregada. Aí seu trabalho confortável vai ser meu,
assim como o resto da estação.”
“Saia da minha frente”, urrei, “antes que eu mude seus
dentes todos de lugar.”
Billy me deu um sorriso de quem come cocô e se
afastou. Senti seu olhar sobre mim até chegar na administração
do quartel.
Meu trabalho só parecia confortável para quem via. Ser
um líder significa carregar sempre as responsabilidades no
ombro. Seguir ordens é fácil, mas coordenar? É muito mais
difícil. Se eu tomasse a decisão errada, pessoas morreriam.
Esse tipo de stress deixa uma pessoa esgotada com o passar do
tempo.
Sem contar as outras responsabilidades que eu tinha
diariamente. Manter o inventário de suprimentos, atribuir
deveres de código de incêndio para os outros caras. Cuidar de
um bebê perdido.
Essa era uma responsabilidade que Billy Manning jamais
entenderia. Se ele estivesse no meu lugar, eu sabia exatamente
o que ele faria: entregaria o bebê sem pensar duas vezes. Ele
não se importaria com o que ia acontecer ao pequeno Anthony,
desde que ele não atrapalhasse suas próprias prioridades
egoístas.
Billy não era um líder. Eu sabia instintivamente e
sacrificaria qualquer coisa que precisasse para evitar que ele se
tornasse Capitão.
Mas bebê Anthony era definitivamente um risco. Ele era
a munição pela qual Billy estava esperando, a razão para que
eu fosse demitido e ele pudesse assumir minha posição.
Manter o bebê a salvo era uma decisão correta, mas tinha seus
riscos.
Precisamos protegê-lo, pensei enfaticamente. Até minha
irmã nos informar que eles já têm condição de cuidar dele.
Passei uma hora analisando o orçamento que tínhamos,
movimentando dinheiro para conseguir comprar suprimentos
extras e cuidar do bebê. Não tínhamos muito o que fazer, mas
eu pagaria com meu próprio dinheiro se fosse necessário. Se
chegássemos a esse ponto.
O segundo turno terminou prontamente às 21h. Billy foi
embora sem se despedir – o que era comum – mas os outros
caras foram até o escritório me avisar que estavam indo.
Era um bom grupo, pena que eles tinham que trabalhar
com Billy.
Clara chegou cinco minutos depois. Ela correu pela porta
da frente carregando uma maleta, fechando a porta atrás dela e
olhando pela janela parecendo estar nervosa.
“Parei na esquina e esperei eles saírem. Fiquei mais
alguns minutos por garantia.”
Meus olhos escanearam seu corpo involuntariamente.
Clara tinha belas curvas, um quadril largo e seios fartos. Uma
figura voluptuosa que era acentuada pelos jeans apertados e
pela camiseta. Seu cabelo loiro estava geralmente preso
quando ela estava trabalhando, mas naquele momento estava
solto, como uma cortina de seda em volta do seu pescoço. Caía
bem nela.
Eu tinha ficado admirando Clara de longe desde que ela
começou a fazer nossas entregas. Todos nós a admirávamos,
na verdade. Mas sabíamos que ela só estava na cidade por um
tempo. Seu pai tinha adoecido e morrido. Era uma questão de
tempo até ela ir embora de novo.
Mas ela ainda não tinha ido. Ainda estava ali. Então
Jordan finalmente foi o primeiro a convidá-la para sair.
“Vou ligar pro oficial Balmer e pedir a ele que não te
multe por parar ali por tanto tempo”, eu disse, encarando-a.
“Obrigado por, hm, fazer isso.”
Ela tinha um sorriso tão caloroso e acolhedor, que
estampou seu rosto quando ela respondeu. “É claro, qualquer
coisa pelo bebê.”
“Consegui movimentar um pouco nosso orçamento.
Vamos conseguir te pagar pela consultoria. Vou saber o quanto
exatamente quando eu remover algumas despesas. Mas o
ponto é, você não vai fazer isso de graça. Sabemos que seu
tempo é valioso.”
“Ah, não precisa – ”
“Não é uma discussão”, eu disse firmemente. “Você está
essencialmente trabalhando em tempo integral por algum
tempo. Você precisa receber por isso.”
Ela acenou. “Sim, ok. Tem mais alguma coisa que eu
preciso saber?”
Hesitei. Tinha algo que eu precisava dizer a ela. E era
uma conversa meio estranha, primeiro porque eu gostava dela
e segundo porque ela estava nos ajudando.
Mas eu tinha que falar com ela sobre isso, não importa o
quão desconfortável fosse.
“Na outra noite”, eu disse, “quando você trouxe nossa
comida e precisamos sair numa emergência, você fez algo…”
“Ah, eu não estava xeretando”, ela me interrompeu.
“Olhei dentro de um dos quartos, mas só por um minuto.
Provavelmente pareceu estranho pelas câmeras de segurança,
mas eu não fiz nada de errado. Fiquei no corredor o tempo
todo.”
Chacoalhei a cabeça. “O quê? Não é isso. Você colocou a
comida no forno.”
“Ah, sim”, ela disse, visivelmente aliviada. “Eu queria
que ela ficasse quente. Não se preocupe – conferi se havia
farelos pra me certificar de que não ia pegar fogo.”
Travei meus maxilares. “Você não pode deixar o forno
aceso quanto não tem ninguém aqui, Clara. É negligente.
Negligência causa incêndios e incêndios causam mortes.”
Clara ficou boquiaberta. “O forno nem estava
propriamente aceso. Usei o modo aquecer. Eles não teriam
essa opção se não fosse segura.”
Segurança contra incêndio era um assunto importante.
Eu tinha visto casas que pegaram fogo e vidas que foram
perdidas graças à lógica de Clara. Fiquei puto com o fato dela
agir tão levianamente com aquela confrontação.
“Você não deveria ter feito isso. Foi um erro. Se você vai
viver aqui no quartel, você precisa saber disso. Porque preciso
que você se comprometa a não fazer mais nada negligente.”
“Negligente? Eu queria ajudar…”, ela parou de falar e
chacoalhou a cabeça. “Não importa. Sinto muito. Não vai
acontecer de novo.”
Ela passou por mim puxando sua maleta pelo corredor,
com lágrimas nos olhos.
Suspirei. Merda. Eu não queria fazê-la se sentir mal com
aquilo. Só queria alertá-la.
Se o fato dela se sentir ferida vai fazer com que ela
entenda a importância e leve o assunto a sério, pensei, que
assim seja.
O peso da responsabilidade é de fato grande.
Eu a acompanhei pelo corredor até os quartos
aborrecido, porque tinha começado com o pé esquerdo com a
Clara.
9

Clara

Me afastei de Derek com lágrimas nos olhos. Não sei


como, mas consegui não chorar efetivamente. Pelo menos uma
pequena vitória.
Eu só estava tentando ajudar! Os três eram heróis,
homens que passavam o dia arriscando suas vidas para apagar
incêndios e salvar pessoas. O mínimo que eu podia fazer era
tentar manter sua comida quente.
Já era o crush que Derek tinha em mim, segundo Jordan.
Parei de pensar nisso quando cheguei no quarto do bebê.
Eu podia não ter um talento natural para aquilo, mas nada
melhor para levantar o astral do que um bebê sorridente.
Taylor estava espreitando o bebê Anthony se revirando dentro
do cesto. Quando ele me viu, sorriu e ajeitou o cabelo loiro.
“Eu o fiz dormir faz uma hora”, Taylor disse, “mas ele
acordou de novo. Acho que ele gosta de receber atenção.”
“Não posso julgá-lo”, eu disse, pegando o bebê e o
aninhando no meu colo. “Já está na hora dele comer?”
“De acordo com a Internet, um bebê de dois meses deve
comer de quatro em quatro horas, cerca de 180 gramas de
comida”, ele me deu um olhar sarcástico. “Eu geralmente não
acredito em tudo o que vejo na Internet, mas me pareceu
coerente. E baseado na nossa curta experiência, ele fica com
fome mais ou menos com essa frequência.”
Havia uma penteadeira do outro lado do quarto. Taylor
abriu a gaveta mais alta e vi um pote grande de leite em pó
perto de algumas mamadeiras.
“Temos usado água quente pra fazer a mistura”, ele
adicionou. “Mas agora, temos acesso à cozinha e os outros
caras não estão de plantão, então podemos usar o fogão se for
o caso.”
Acenei. “Tem muitos brinquedos dentro do cesto.”
Taylor sorriu. Ele tinha um sorriso brilhante e cativante.
“Ah, sim! eu os comprei no brechó. Um tubo com essas coisas
custou tipo, cinco mangos. Escondi na mochila pra trazer para
cá”, ele riu. “Queríamos tira-lo daqui escondido, tivemos até
algumas chances quando os outros caras estavam dormindo.”
“Eu ia mesmo perguntar”, eu disse. “Temos mesmo que
mantê-lo aqui? Seria tão mais fácil levá-lo pra a minha casa. É
menos caótica, temos menos chances de sermos
descobertos…”
Taylor fez uma careta. “Falei a mesma coisa. Grandes
mentes pensam da mesma forma, não é? Mas o Chefe insistiu.
Acho que a tal da advogada sabe do que está falando. Eu não
sou advogado, então sigo o que os especialistas dizem, sabe?”
“É, acho que sim”, eu disse. Eu estava profundamente
ciente de que eu não era a única pessoa arriscando coisas para
cuidar da criança.
Fazia duas horas que bebê Anthony tinha comido, então
Taylor me ensinou a preparar a mamadeira. Coloquei o
garotinho no meu braço e estiquei a mamadeira para perto da
sua boca. Ele fechou os olhinhos e bebeu o leite ansiosamente.
Enquanto ele comia, Taylor e eu fomos para a sala de
estar. Jordan e Derek estavam sentados no sofá, conversando
baixo.
“Parece que você está fazendo um ótimo trabalho”,
Derek disse rispidamente. Parecia forçado, como se ele
estivesse tentando compensar a bronca de antes.
“É só uma mamadeira”, respondi. “Ele trabalha mais do
que eu.”
“Ele é um garotinho faminto”, Jordan concordou. “Vai
ser um meninão.”
Olhei pelo cômodo. “Eu deveria estar aqui? Se as sirenes
tocarem, não quero que o bebê se agite, ou que seus
ouvidinhos sejam comprometidos.”
“Sem chance”, Derek disse, correndo a mão pelo seu
cabelo preto, que era grosso e tinha alguns fios grisalhos.
“Temos controle de volume na estação e eu abaixei tudo.
Ainda vamos ouvir os alarmes das áreas públicas, mas não alto
o suficiente pra danificar os tímpanos de ninguém.”
Suspirei aliviada, eu ainda estava nervosa com a
lembrança de estar na garagem na sexta quando o alarme
tocou.
“Então… qual é a minha situação? Onde eu deveria
ficar? Vocês querem que eu fique com o bebê o tempo todo
ou…?”
Você pode dormir com o bebê Anthony no meu quarto”,
Derek respondeu. “Eu durmo no beliche com Jordan.”
“Você não precisa fazer isso”, eu disse. “Durmo em
qualquer lugar pra ser sincera.”
Ele torceu o lábio. “Não estou fazendo isso porque tenho
um bom coração. É o que faz mais sentido, logisticamente. Eu
tenho um banheiro privativo, que vai ser útil pro bebê. E você
vai ter mais espaço, os alojamentos são apertados.”
Ele olhou no relógio. “Ok, já passou das dez. Vou
descansar enquanto posso.”
“Eu também”, Taylor completou.
Eu pisquei, confusa. “O plantão começou faz uma hora,
vocês já vão dormir?”
“O período crítico acabou de passar”, Taylor explicou.
“É a hora mais cheia do dia pra nós – entre seis e nove da
noite. É o período que todo mundo chega em casa, liga os
eletrodomésticos pra preparar o jantar, essas coisas…”
“Tem um outro período crítico de manhã, pelo mesmo
motivo”, Derek disse. “Não se preocupe, já desabilitei o
alarme no meu quarto, se recebermos um chamado de
madrugada, você não vai ouvir. Obrigado por estar aqui, Clara.
Agradecemos sua ajuda.”
Parecia que ele não tinha mais nada para dizer, então ele
acenou rispidamente e saiu do cômodo. Taylor sorriu, acenou
rapidamente e o seguiu para os dormitórios.
“Você não vai dormir?”, perguntei a Jordan.
“Geralmente fico acordado um pouco mais. Temos
flexibilidade, desde que possamos ficar prontos imediatamente
se alguma coisa acontecer.”
Me sentei no sofá ao lado dele e mudei o bebê de um
braço para o outro. Ele reclamou um pouco quando tirei a
mamadeira da sua boca, o que me fez devolver imediatamente.
Não tinha muito leite, mas ele parecia feliz sugando o bico de
borracha.
“Uau, olhe só isso”, eu disse, acenando para a TV. “Os
Giants estão perdendo para os Diamondbacks.”
“Ainda é cedo”, Jordan respondeu rapidamente.
“É a sétima entrada.”
Jordan me encarou com a expressão dura, que mudou
logo que ele viu o bebê no meu colo. “Os dias têm sido uma
loucura. Quando você me mandou aquela mensagem no
sábado, eu estava meio ocupado aprendendo a trocar fralda.
Espero que minhas respostas curtas não a tenham deixado
chateada.”
“Na verdade, um pouco”, eu admiti. “Mas agora eu
entendo a situação.”
“É uma loucura, tudo isso”, Jordan chacoalhou a cabeça
pensativo. “E eu não acredito que isso aconteceu justamente
na noite em que eu finalmente tomei coragem e te chamei pra
sair.”
“Realmente. Péssima hora.”
Ou ótima hora, dependendo da perspectiva. Afinal de
contas, eu estava ali com Jordan e ia passar muito mais tempo
na sua companhia.
“Falando sobre hora”, eu disse, “você deveria colocar no
jogo dos Dodgers. Eles estão empatados e começando a nona
agora mesmo.”
“Estou feliz assistindo aos Giants, muito obrigado.”
“Para com isso, os Dodgers estão jogando com os
Brewers. É um jogo com mais potencial”, tirei a mamadeira da
boca do bebê e o coloquei contra o meu ombro, esfregando
suas costas suavemente. “Estou aqui, ajudando a cuidar desse
garotinho e você nem me deixa ver os Dodgers…”
Jordan me encarou de novo. “Por quanto tempo você vai
fazer isso?”
“Enquanto for possível! Além disso, os Giants são
péssimos.”
Jordan contraiu o peito como se tivesse tomado um tiro.
“Se você continuar falando isso, nada de segundo encontro pra
você.”
Levantei uma sobrancelha. “Isso significa que você quer
sair comigo de novo?”
“Talvez”, ele disse. “Depende de quanta merda sobre os
Giants eu vou ter que ouvir.”
“Os Giants são um time muito respeitável”, eu disse
diplomaticamente. “Mesmo com aquele uniforme de
Halloween.”
Me dei conta de que o bebê Anthony tinha dormido no
meu ombro. Devagar, me levantei do sofá e o levei para o
quarto de Derek – meu quarto, por algum tempo.
Assim que depositei o bebê no seu cesto cheio de
toalhas, Jordan sussurrou. “É meio patético deixar o bebê num
cesto de roupa suja, não é?”
Enrolei o bebê numa toalha e respondi, “Acho que é
fofo. Estamos fazendo o que a humanidade faz desde os
primórdios: se divertir com o que tem.”
Jordan se aproximou do cesto e passou o dedão na
bochechinha do bebê Anthony. “Não se preocupe, garotinho.
Vou comprar cobertores apropriados e um berço de vime na
próxima vez que sair.”
“É muito dinheiro pra investir em uma criança que vai
ficar com você temporariamente”, pontuei.
Jordan respondeu sem tirar os olhos do bebê. “Tudo o
que ele precisar. Além disso, podemos doar as coisas depois
que ele se for”, ele suspirou e finalmente me olhou. “Posso te
perguntar uma coisa?”
“É claro”, respondi suavemente.
“Estamos fazendo a coisa certa?”
Naquele momento eu achava que a situação toda era uma
loucura. Eu estava tentando manter a calma, mas ainda era
totalmente fora do comum para alguém como eu. Eu ainda
estava me esforçando para entender tudo.
Mas ver a forma como Jordan se preocupava com o bebê
e entender que eles tinham aceitado arriscar suas carreiras por
isso me fazia me sentir diferente.
“É claro que vocês estão fazendo a coisa certa”,
respondi. “Se vocês o entregarem para o Serviço Social, ele
vai ser só mais um no sistema que já está passando aperto. É
possível que ele vá parar em uma família que só se preocupa
com a pensão. Bebê Anthony está muito mais seguro com
vocês três, sem dúvida.”
Toquei sua bochecha para confortá-lo. O rosto rígido de
Jordan relaxou com minhas palavras e meu toque. Ele deixou
um suspiro aliviado escapar. “Acho que eu precisava ouvir
isso. Obrigado, Clara.”
“Obrigada por colocar os interesses do bebê em primeiro
lugar”, eu disse. “É muito altruísmo.”
Sorrimos um para o outro e de repente parecia que
tínhamos voltado para aquele momento do lado de fora do
meu carro na sexta a noite. A tensão sexual entre nós tinha
desaparecido nas últimas horas, mas de repente tinha voltado
com tudo. E ver aquele homem enorme e corpulento tocando o
bebê tão ternamente me deixava um bilhão de vezes mais
atraída por ele.
Jordan esticou a mão e tocou a minha, que ainda estava
na sua bochecha. Ele a apertou, envolvendo meus dedos com
sua mão enorme. Ele era tão quente e forte, mas ao mesmo
tempo sensível. Meu corpo se tensionou de antecipação.
Ele tocou minha bochecha, mais ou menos como eu tinha
tocado a sua e então se inclinou para pressionar seus lábios
contra os meus.
Nenhuma ligação telefônica nos interrompeu daquela
vez. Levantei a cabeça e aceitei seu beijo avidamente. Meu
corpo reagiu com empolgação enquanto ele agitava seus lábios
contra os meus, seus dedos segurando minhas bochechas com
uma força crescente.
Eu estava sem fôlego quando ele finalmente se afastou e
sorriu para mim. Mas seu sorriso desapareceu rapidamente.
“Talvez não seja uma boa ideia fazer isso.”
Eu virei a cabeça na direção do bebê. “Não acho que ele
se importa, desde que fiquemos quietos.”
“Eu digo isso por causa do… dos meus companheiros.
Taylor e Derek gostam de você…”
Me engasguei. “Derek? Tem certeza? Ele gritou comigo
porque coloquei a comida no forno outra noite.”
“É só o jeito dele”, Jordan respondeu. “Ele é durão com
todo mundo. Eu e Taylor somos como sua família, mas ele
ainda assim nos esculacha quando merecemos.”
“Ok, mas então o quê? Taylor é legal, mas nunca saí
como ele. Eu saí com você. Se eles gostam de mim, deviam ter
me convidado antes. É simples.”
Jordan fez uma careta. “É mais complicado do que isso,
na verdade…”
“Como?”, sibilei, tentando falar baixo. “Por que isso é
complicado?”
Ele chacoalhou a cabeça e tocou a ponte do seu nariz
aquilino. “Tem muita coisa acontecendo, especialmente com o
bebê envolvido, sabe? Talvez seja melhor pegarmos leve até
tudo se ajeitar.”
Eu queria argumentar, mas não queria parecer ansiosa.
Se ele estava sugerindo que esperássemos, eu não podia fazer
nada para mudar aquilo.
“Sim, claro”, eu disse, “quando as coisas se acalmarem a
gente recomeça de onde parou.”
Ele acenou com gratidão, sorriu amorosamente para o
bebê Anthony e então saiu do quarto. Pude ver sua silhueta
enorme no portal por um momento, então a porta se fechou
num clique retumbante.
Me deitei na cama e soltei um gemido. Eu não achava
que as coisas estavam indo rápido demais com Jordan. Nós
quase nos beijamos no primeiro encontro, e o beijo ali naquele
momento foi tão natural. Não foi estranho. E ele tinha
iniciado!
Me levantei e fui verificar o bebê. Anthony estava
aninhado nas toalhas, dormindo silenciosamente com um
sorrisinho no seu rosto minúsculo.
“Eu também sorriria, se fosse um bebê”, sussurrei. “Você
não precisa se preocupar com nada, especialmente porque tem
a nós para cuidar de você.”
Me virei para pegar minha mala e me trocar quando a
porta se abriu de novo.
A silhueta enorme de Jordan apareceu, imóvel. Ele
entrou no quarto e fechou a porta. Seus movimentos eram
quietos e intensos.
“Não consigo”, ele disse, avançando na minha direção.
“Não consigo simplesmente parar agora.”
Fechei meus olhos quando ele me tomou em seus braços.
10

Clara

Jordan me dobrou em seus braços e esmagou meus


lábios com os seus. O primeiro beijo tinha sido suave e cheio
de ternura, mas agora era um beijo cheio de desejo.
Um beijo cheio de necessidade.
Nos seus braços todas as minhas preocupações
desapareceram. O restaurante, minha mãe, até o bebê Anthony
– tudo sumiu na presença do abraço de Jordan. Enquanto
aquele momento durasse a única coisa que importava no
mundo era nós dois.
Seu peito longo era duro feito pedra esculpida, e ele
pressionava seu corpo todo contra o meu. Perdi o controle
enquanto o beijo ficava mais profundo e eu me abria feito uma
flor no sol da manhã. Jordan me empurrou gentilmente para
trás até eu sentir a cama por trás do meu joelho. Ele continuou
me pressionando, sem força, mas eu podia sentir sua
virilidade. Se ele quisesse, poderia me dobrar e desdobrar à
sua maneira.
Aquilo me excitou de uma forma que eu nunca tinha
experimentado.
“Clara”, ele murmurou com as mãos entrelaçadas no
meu cabelo. Ele apoiou um joelho na cama e me escalou, me
cobrindo com seu calor e proteção.
“Estou feliz por você ter voltado”, eu suspirei, “também
não podia esperar mais.”
“Eu não sei o que eu estava pensando.”
“Bem, você torce pros Giants.”
Jordan mergulhou no meu corpo com entusiasmo
renovado, moendo meu corpo com o seu. Enrolei meus braços
ao redor dele, saboreando o toque dos músculos das suas
costas largas enquanto eles se flexionavam e contraiam.
Isso é tão melhor que aquele beijo perto do carro.
Sua mão escorregou entre nós, deslizando pelo meu
corpo e se movendo cada vez mais para baixo. Abri minhas
pernas para ele enquanto ele alcançava o botão da minha calça
jeans, seus dedos explorando o cós da minha calcinha. Os
dentes do zíper fizeram um clique quando sua palma se
aprofundou e eu me tensionei toda quando ele encontrou meu
montinho e meus grandes lábios ensopados.
Assim que ele me tocou, a tensão se dissipou. Deixei um
gemido suave escapar quando ele curvou seus dedos dentro de
mim.
Jordan parou de me beijar o suficiente para dizer “Psiu,
você não pode fazer barulho ou…”, ele olhou na direção do
cestinho do bebê.
“Se você quer que eu fique quieta, é melhor parar com
isso”, respondi.
Seu sorriso ficou mais largo. “Sem chance alguma.”
Fechei meus olhos e suspirei quando ele mergulhou de
volta do meu corpo. Seus dedos entravam e saíam em espiral,
o suficiente para me tocar por dentro. Levantei o quadril na
direção dele, demandando mais dos seus dedos grossos. O
calor me consumia por dentro e eu precisava aliviar aquela
pressão.
Estiquei o braço entre nós e encontrei seu volume,
pulsando duro e quente. Jordan soltou um estrondo rouco
quando corri meus dedos sobre ele, acariciando seu membro
por cima do tecido e desejando que não houvesse nada entre
nós.
Quanto mais rápido eu roçava, mais rápido seus dedos
entravam e saíam de mim. Fiquei tensa como um fio de
eletricidade, mal podendo suportar a pressão. A única coisa
que me fazia não gritar de prazer era sua língua rolando pela
minha boca, mas aquela sensação só potencializava o que seus
dedos estavam fazendo…
O prazer entre as minhas pernas não podia mais ser
contido. Uma explosão de calor e pressão tão intensa invadiu
meu corpo como se alguém tivesse aberto um forno de pizza
de repente. Era tão ardente que quase doía. Tremi com o alívio
e abri a boca para gritar em êxtase, mas Jordan cobriu meus
lábios com a mão livre.
Finalmente me soltei e liberei meus gritos de prazer, que
foram propriamente abafados pela sua mão forte. Meus olhos
se fecharam e tudo vibrava com um barulho suave, como se o
mundo tivesse sido reduzido à átomos.
Enquanto o êxtase deixava meu corpo, a língua de Jordan
forçava seu caminho para a minha boca. Me conquistando e
me reivindicando. Segurei seu rosto, seu belo rosto, entre as
minhas mãos e o puxei na minha direção, exigindo que ele não
parasse de me beijar nunca.
Não me lembro dele tirar as calças com a mão livre. Só
me lembro do beijo sem fim e dos choques dos orgasmos que
me fizeram tremer por dentro. Seus dedos ainda estavam
trancados dentro da minha boceta, como se ele estivesse me
segurando e não pudesse me deixar sair. Foi no ponto. Gostei
de senti-lo dentro de mim.
Foi só quando ele finalmente tirou o dedo que eu abri
meus olhos. Jordan parou de me beijar e tirou a calça, que caiu
no chão. A única coisa cobrindo seu volume agora era sua
cueca boxer cinza, tão apertada que parecia ter sido pintada na
sua pele.
Só está apertada por causa do que está lá dentro…
Na luz suave do quarto sua saliência parecia enorme.
Maior do que eu tinha sentido com meus dedos. Minha
atenção se desviou rapidamente quando Jordan tirou a camisa
por cima da cabeça, revelando uma armada de músculos. O
volume do seu tanquinho apareceu primeiro, então os
músculos do seu tórax e finalmente a pulsação dos seus
ombros e braços.
“Agora entendo o porque das pessoas começarem
incêndios”, suspirei. “Se for você o bombeiro que vai aparecer
pro resgate.”
Ele sorriu discretamente. “Felizmente, você não vai
precisar recorrer a essas medidas.”
Jordan puxou meu jeans e eu escorreguei até a beirada da
cama com ele. Ele resolveu esse problema colocando uma mão
– e que mão forte! – no meu peito para me manter parada,
então usando seu outro braço, tirou o resto da calça. Me sentei
e beijei seu braço nu, sentindo a tensão dos seus músculos sob
meus lábios. Ele tirou sua cueca e um arrepio de empolgação
invadiu minha espinha quando vi o cume grosso do seu pau.
Tirei minha calcinha rapidamente e a joguei de lado.
Fiquei tensa, esperando Jordan enfiar mais do que apenas seus
dedos em mim.
Eu nunca quis algo com tanta intensidade antes.
Mas ao invés disso, Jordan se sentou na beirada da cama,
me puxou para o seu colo. Meus joelhos pressionaram a cama
enquanto nossas testas se encontravam. Deixei um gemido –
suave – escapar enquanto ele roçava meu pescoço.
Eu conseguia senti-lo debaixo de mim, a cabeça do seu
pau roçando contra minha entrada molhada. Cada toque, por
mais sutil que fosse, fazia meus ossos vibrarem com
eletricidade. Eu queria desesperadamente esticar meus braços,
guiar seu membro para dentro de mim, mas Jordan estava me
segurando com força demais e eu não conseguiria. Eu amava a
forma como ele me abraçava, um braço em volta da minha
cintura, me agarrando como se sua vida dependesse disso.
Aquilo me fez me perguntar se era assim que ele carregava as
pessoas para fora de prédios em chama.
Ele não é só um cara aleatório, pensei enquanto seus
lábios escorregavam pelo meu pescoço. Ele é um bombeiro.
Um herói.
Finalmente, sua mão escorregou pela minha lombar e ele
agarrou minha nádega. Mas ele não estava só me apalpando –
ele estava me colocando na posição certa.
Ele me penetrou, usando a pegada na minha bunda para
me puxar na sua direção.
O comprimento todo do seu pau me preencheu, da
cabeça até a base. Arqueei as costas e mordi os lábios para não
emitir nenhum som. Senti a pele de Jordan ficar dura no meu
pescoço, ele também teve que cerrar seu maxilar poderoso
para suprimir o gemido.
Permanecemos daquele jeito por um longo momento, os
dois simplesmente saboreando a sensação impecável de
finalmente estarmos unidos.
“Tenho pensado nisso desde sexta”, ele falou por entre os
dentes.
Corri meus dedos pelo seu cabelo e nuca, explorando
cada centímetro dele. “Você queria fazer isso na sexta?”
“E se eu quisesse?”
“Devo admitir que isso passou pela minha cabeça
também.”
Ele vibrou com uma risada, algo que eu senti pelo seu
corpo ao invés de ouvir. “Que bom que estamos na mesma
sintonia.”
Jordan usou suas coxas fortes para me penetrar devagar,
em movimentos giratórios. Estiquei minha cabeça para trás e
suspirei, permitindo que ele nos guiasse, mas não demorou
muito até que eu começasse a flexionar meu próprio quadril,
sincronizando com seus movimentos eróticos, encontrando-o a
cada estocada.
Pela primeira vez em um ano, me permiti esquecer tudo
o que estava acontecendo na minha vida. As dúvidas sobre a
carreira e o futuro que eu queria navegar sumiram. Assim
como o restaurante e a minha mãe superprotetora – mas
adorável – e até a ausência do meu pai… tudo isso esmaeceu
naquele momento.
A única coisa que importava era aquele homem lindo e
bem esculpido debaixo de mim, e a maneira lasciva como ele
me olhava com seus olhos verdes.
Pela primeira vez desde que eu me lembrava, eu estava
totalmente presente no momento.
E que momento para se estar presente!
Ele me beijou de novo, com gentileza primeiro, mas
depois a intensidade aumentou, assim como a velocidade dos
nossos corpos. Eu conduzi a maioria dos movimentos, subindo
e descendo, me empalando na vara dura de Jordan, sem parar,
enquanto nossos beijos se intensificavam e seus braços
comprimiam meu corpo com mais força. Seu peito estava
coberto de suor e brilhava, iluminando minha própria têmpora
melada, mas nenhum de nós se importava.
Eu era dele e ele era meu naquela noite.
Ali no quarto a prova de som do quartel, fizemos amor
até perdermos o fôlego, e nos perdermos nos movimentos
irracionais dos nossos corpos.
11

Jordan

Quando segurei Clara no meu colo, e nos beijamos


agarrados, pensei: não acredito que esperei tanto tempo para
convidá-la para sair.
Eu tinha uma queda por ela desde o primeiro dia que ela
entregou pizza no quartel. Depois daquele dia, eu esperava
ansiosamente a pizza de sexta à noite, nossa última refeição
antes do fim do turno. Tudo para ver Clara Ricci. Mesmo
quando eles estavam prestes a fechar, ela sempre entregava
nossa comida com um sorriso no rosto e conversava um pouco
antes de ir embora. Ela nos fazia sentir especiais, não só
pessoas que ela agradava por gorjetas.
Ela era certamente muito mais do que a garota da entrega
para mim.
Eu tinha esperado todo aquele tempo para convidá-la
porque não esperava que ela fosse ficar na cidade. Todo
mundo sabia o que tinha acontecido com seu pai, Tony, e ela
só estava lá para ajudar com as questões urgentes. Eu sabia
que, em algum momento, outra pessoa passaria a entregar
nossa pizza, e saberíamos que ela tinha ido embora da cidade.
Eu não era o típico cara que tinha aventuras de uma
noite. Não por falta de tentativa, mas não era meu tipo de
encontro preferido. Eu não conseguia manter coisas casuais,
eu sempre me apegava e até me apaixonava às vezes,
dependendo da garota.
Então eu não a convidei para sair, mesmo que eu
realmente quisesse.
Mas ali, tudo parecia um desperdício. Flertamos por
quase um ano, eu poderia ter tomado uma atitude meses atrás.
Por que esperei tanto?
Cale a boca, cérebro. Pensei, enquanto Clara afundou os
lábios nos meus. Pare de pensar e aproveite.
Era tão bom sentir Clara com a minha palma. Sua pele
era macia e eu não me cansava de suas curvas. Eu queria
agarrar e apertar cada parte do seu corpo, e nunca mais soltar.
Ela me cavalgava mais rápido, arqueando suas costas
para me tomar o máximo que podia. Quando ela tremeu e
sacudiu seu corpo aliviada, eu não consegui mais aguentar.
Sua boceta se fechou em torno da minha vara como um torno,
espremendo o que restava de mim.
Agarrei sua cintura e me guiei para dentro dela, o mais
duro que pude, para aquelas estocadas finais. Clara gemia em
êxtase com os lábios cerrados para abafar o som. Seus olhos
também se cerraram enquanto ela cavalgava nas ondas de
prazer comigo.
Então meu próprio orgasmo me invadiu como uma
explosão no sistema elétrico de um prédio em chamas, sem
aviso. Em um momento, eu o senti crescer e, no minuto
seguinte, eu estava sobrecarregado de luxúria. Minha visão
ficou clara quando explodi dentro dela, pulsando em jorros
após jorros. Eu não confiava em mim mesmo para não gritar
com as ondas tórridas de prazer, então eu puxei sua cabeça
para perto de mim e a beijei. Nós dois gememos na boca um
do outro, usando nossas línguas para abafar os gritos
provocados pelo nosso orgasmo.
Caí de costas na cama, trazendo-a comigo. Nossos
corpos estavam lisos com o suor e nossos peitos arfavam como
se tivéssemos acabado de fazer exercício físico.
Foi bom ter cedido, pensei. Estou feliz de ter mudado de
ideia.
“Então”, eu disse depois de um momento. “Você
realmente pensou em fazer isso na sexta?”
Acariciei seu cabelo gentilmente. Tudo era macio como
seda, menos a parte das suas têmporas, onde o cabelo estava
molhado. “Você disse que isso passou pela sua cabeça.”
Senti seu sorriso contra meu peito. “Não quero parecer
fácil demais, mas sim. Isso passou pela minha cabeça quando
você caminhou comigo até meu carro.”
“Comédias românticas produzem os melhores
encontros”, eu disse.
Ela se virou para me olhar. “Espere um minuto. Foi por
isso que você escolheu aquele filme? Pra me inspirar?”
“Não exatamente. Mas eu achei que Timmy Chalamet
aqueceria seus motores, se é que você me entende.”
Ela se inclinou para a frente para me beijar. Foi um beijo
melado e suado, mas nenhum de nós se importava. O
momento era perfeito demais.
“Eu te disse, ele é muito magro pra mim. Prefiro um
homem de verdade. Um que consiga me carregar pra fora de
um prédio em chamas.”
“Foi por isso que você quis sair comigo? Pra realizar sua
fantasia com bombeiros?”
“Eu nunca tive fantasia com bombeiros, na verdade”, ela
admitiu. “Mas depois dessa noite, eu acho que só vou ter
fantasias com bombeiros”, ela roçou suas unhas pelas minhas
costelas, espalhando arrepios onde tocava. “Também fico feliz
por ver que você realmente não tem um terceiro mamilo.”
“Talvez eu tenha, você que não olhou com atenção.”
Ela olhou para mim e nós dois explodimos em uma
risada. Momentos depois, nos demos conta de que estávamos
rindo alto demais. Ambos congelamos e encaramos o cesto do
bebê. Não ouvimos nenhum som.
“Estou feliz por não o termos acordado”, eu disse. “Uma
coisa que descobri essa semana foi que bebês chorando são
como alguém arranhando um quadro negro com unhas
longas.”
Ela deu uma risadinha e deitou a cabeça no meu peito de
novo. “Eu também. Acredite, eu quis gritar várias vezes. Essas
paredes à prova de som vão ser muito úteis se nós quisermos
dar o bebê pros outros caras em algum momento.”
Eu ri, mas a menção dos outros caras de repente me
lembrou de uma conversa que tivemos na semana anterior.
Uma conversa que surgiu depois de alguns litros de cerveja na
nossa noite de folga, mas que permaneceu na minha cabeça no
dia seguinte e eu acabei convidando Clara para sair.
Prometi ao Taylor e ao Derek que mencionaria isso. Eles
eram meus colegas de equipe e meus melhores amigos. Eu
confiava neles com a minha vida e eu sabia que eles também
confiavam em mim com a deles. Na verdade, nossa lealdade
tinha sido provada mais de uma vez quando estávamos
salvando prédios em chamas juntos.
E ainda assim eu não fiz o que eles pediram.
Clara pareceu se dar conta de que seu comentário mudou
meu humor. Ela dobrou os braços debaixo do queixo e olhou
para mim, preocupada.
“Eu não devia ter falado deles? Você está culpado por ter
dormido comigo, já que eles também têm uma queda por
mim?”
“Um pouco. É… complicado.”
Ela fez uma careta. “Você disse isso mais cedo quando
me beijou. Mas o que você quis dizer de verdade?”
Eu queria falar sobre aquilo, mas eu nunca tinha tido
conversas desse nível com nenhuma outra mulher. Não era
algo que eu podia simplesmente deixar escapar.
Mas se houvesse um momento perfeito para contar a ela,
seria naquele momento de êxtase pós-coito. Eu certamente não
pensava que podia fazer isso em nenhuma outra ocasião.
Então respirei fundo – o que fez com que ela subisse e
descesse no meu peito – e disse.
“Taylor e Derek não tem só uma queda por você. Nós
meio que combinamos de te chamar pra sair. Os três.”
Ela ergueu as sobrancelhas. “Tipo, os três me chamarem
pra sair e ver quem eu escolho?”
Hesitei. “Não exatamente. Queríamos saber se você
sairia com os três. Ao mesmo tempo.”
Ela me encarou e eu continuei falando.
“Queríamos que você saísse com os três ao mesmo
tempo. Dividir você.”
Ela me encarou mais firmemente.
“Nossa escala torna encontros ordinários muito
complicados”, expliquei. “Minha última namorada dizia que
era como namorar meio homem, porque a outra metade era
casada com o quartel. Então Taylor, Derek e eu conversamos
sobre isso. Entendemos que talvez poderíamos dar atenção
completa se os três saíssem com a mesma garota. Dar o que
uma mulher merece.”
Ela continuou me encarando estática.
“Eu sei o que você está pensando”, eu disse.
“Duvido”, ela disse, inexpressiva.
“Você acha que agora estamos todos no mesmo turno”,
eu disse. “Qual é o ponto em dividir uma garota se estamos
todos ocupados ao mesmo tempo? Mas nossos plantões
mudam com frequência. Não vai ser sempre assim. Na
próxima escala, estaremos alinhados pra… bom. O que eu
acabei de te explicar.”
Clara me encarou por tanto tempo que eu comecei a
pensar que ela tinha se transformado em uma estátua. Ela nem
piscou. Continuou me encarando com aqueles olhos grandes e
redondos.
Finalmente ela se sentou e começou. “Vocês três…
querem me dividir?”
Sorri hesitante para ela. “Sim.”
Ela riu de nervoso. “Isso é uma piada? Caí numa
pegadinha?”
“É sério.”
Ela chacoalhou a cabeça e começou a piscar
rapidamente. “Isso não faz sentido. Três caras como vocês não
têm problema nenhum em encontrar garotas no Tinder. Eu não
tinha nenhuma fantasia com bombeiros antes de hoje, mas sei
que muitas mulheres têm.”
“Você ficaria surpresa”, eu disse. “Claro, mulheres
querem transar com bombeiros. Mas um relacionamento
conosco é uma outra história, com os horários malucos e os
turnos longos.”
Ela entortou a cabeça. “Você está falando sério, não
está?”
“Mais sério do que o alarme de incêndio”, confirmei.
“Nós estamos falando sério. Os três. Temos conversado sobre
a ideia de compartilhar uma mulher e… queremos saber se
você está interessada.”
“Ok. Uau”, ela engoliu. “Isso é, hm…”
“Eu sei que é demais. Se você não está confortável com
isso, eu entendo, mas prometi ao Taylor e ao Derek que falaria
com você. Pra que você pudesse ao menos considerar.”
Pude ver o esforço interno pelos seus olhos quando ela
realmente pensou na ideia. Ela estava pesando os prós e os
contras.
Antes que ela pudesse responder, a luz vermelha de LED
do alto falante perto da porta começou a piscar. Nenhum som
foi emitido porque Derek tinha desabilitado o áudio do alarme
naquela parte, mas eu sabia que a sirene estava tocando no
resto do quartel. Senti uma pancada quando Derek – ou Taylor
– pulou de uma das camas no quarto ao lado. Podíamos sentir
as vibrações do chão, mas não ouvíamos nada.
“Preciso ir”, dei um beijo de tchau nela, peguei minhas
roupas e corri pela porta. Com os dedos na maçaneta eu sentia
a pulsação da sirene pela porta. Esperei três segundos e então
saí, sincronizando a abertura da porta com o silêncio de
segundos da sirene, para não incomodar o bebê.
Derek e Taylor estavam correndo pelo corredor. Derek
me olhou duas vezes quando me viu de cueca, mas continuou
correndo para o caminhão. Vesti as roupas enquanto os seguia.
Apesar de estarmos nos quartos, só levamos cerca de
trinta segundos a mais do que o normal. Me enfiei no uniforme
e pulei no banco de trás do caminhão logo após Derek e um
segundo antes de Taylor.
Peguei o radiotransmissor. “Qual é o endereço?”
“Rua Sycamore, número 84”, o atendente respondeu.
“Outro alarme de monóxido de carbono.”
“Na casa de Jan Karsh de novo”, eu disse a Derek.
“Entendido.”
Ele dirigiu o caminhão para fora da estação e desceu a
rua, luzes ligadas, mas sem sirene. Quicamos dentro do
veículo em silêncio por alguns quarteirões.
“Eu vi que você saiu do meu quarto”, Derek disse
finalmente. “Em um estado de… nudez.”
Derek não era só meu chefe – ele era como um irmão
mais velho para mim. Eu não ia mentir para ele, mesmo que
quisesse.
“Dormimos juntos”, eu disse.
Derek deixou escapar um suspiro-gemido. “Sério? No
quartel?”
“Não se preocupe, não fizemos barulho”, respondi. “O
bebê dormiu o tempo todo.”
Ele me olhou. “Eu estava mais preocupado com vocês
usarem a minha cama.”
“Ah”, estremeci. “Sim, desculpa por isso, Chefe.”
“Está tudo bem”, ele resmungou. “Eu suponho que você
não falou sobre a nossa… ideia?”
“Na verdade, sim, contei a ela.”
Derek me olhou com surpresa e esperança. “E o que ela
disse?”
“O alarme disparou antes que ela pudesse dizer alguma
coisa. Mas ela parecia chocada. Acho que ela precisa de tempo
pra digerir.”
“Felizmente, tempo é algo que temos de sobra”, ele
disse. Eu sabia o que ele queria dizer com aquilo: uma coisa
boa sobre ser bombeiro era o tempo livre quando não tínhamos
nenhuma emergência.
Derek virou uma esquina e encostou em um bangalô
pequeno, onde uma frágil Jan Karsh estava de pé no jardim,
acenando.
“Boa noite, Sra. Karsh”, eu disse, descendo do
caminhão. “Mesmo problema com o alarme de monóxido de
carbono?”
“Continua disparando!”, ela disse. “Me desculpem
incomodar tão tarde, mas…”
“Não peça desculpas”, Derek a acalmou. “Só estamos
fazendo nosso trabalho. Fique aí enquanto verificamos.”
“Belo robe, Jan!”, Taylor disse a ela. “É novo?”
Ela sorriu. “Ah, você sempre nota, Taylor. Minha neta
me deu de aniversário. E o seu também está chegando?”
“Algumas semanas!”, ele disse alegremente. “Qual vai
ser meu presente?”
“Você é um espertinho”, ela disse, rindo.
Derek e eu compartilhamos um sorriso sarcástico
enquanto entravamos na casa.
12

Clara

Fazia algum tempo desde a última vez que eu tinha


transado. Desde a faculdade, na verdade. Antes de me mudar
de volta para Riverville.
Eu tinha esquecido como era bom. Braços e pernas
enrolados uns nos outros, grunhidos e apertões e movimentos
de corpos juntos em perfeita harmonia. Talvez fosse culpa do
torpor pós sexual, mas Jordan era melhor do que todos os
homens da minha vida. Foram poucos, mas mesmo assim.
Meu namorado de longa data no colégio era estranho e
nervoso na cama. E Jordan era certamente melhor do que Peter
Abraham, o cara com quem eu tinha perdido a virgindade no
ensino médio, que terminou imediatamente após começar.
Isso é muito melhor do que me satisfazer sozinha, pensei,
deitada na cama.
Fora o sexo, Jordan era o tipo de cara que eu sempre
quis. Grande e forte, mas não um brutamontes. Ele tinha bom
coração, seu trabalho era ajudar as pessoas. Era o tipo de cara
que cumpria todos os meus requisitos. Nunca esperei encontrar
um homem assim.
Quem dirá três.
A oferta de Jordan mal parecia real. Ele e os outros dois
bombeiros queriam compartilhar uma mulher? E eles tinham
me considerado para o acordo? Meio que parecia que alguém
estava me oferecendo um bilhete de loteria premiado. Era bom
demais para ser verdade. Alguma coisa estava errada.
Eu queria aquilo? Jordan e eu tínhamos acabado de
começar a sair, mas parecia que o que tínhamos era bom. Eu
sentia atração por Taylor e Derek, certamente. Mas há uma
diferença entre apreciar um cara que é um colírio para os olhos
e querer ser compartilhada por três homens como a senha do
Netflix.
Deixei aquilo para lá. Eu não queria pensar no momento.
Fiquei feliz demais depois de dormir com Jordan. Minhas
partes íntimas doíam de forma maravilhosa, como os músculos
da perna doem depois de uma corrida muito boa. Eu dormiria
bem naquela noite.
Se não fosse pelo bebê.
Anthony acordou alguns minutos depois, lamentando
com suavidade no cestinho. “Estou aqui, garotinho”, eu disse,
pegando-o. “Você é muito amado.”
Ele estava molhado, então peguei uma fralda limpa na
gaveta para trocar. Foi mais difícil do que eu esperava. Ah,
mas é só tirar a usada e colocar uma nova!
Não.
Bebê Anthony se contorceu e guinchou. Mesmo sendo
pequeno, ele tinha um chute surpreendentemente forte.
Finalmente coloquei a fralda nova nele, mas não foi nada fácil.
Eu esperava que ele fosse dormir de novo depois da
fralda limpa, mas ele estava super acordado e pronto para a
farra. Era muito cedo para dar mais comida para ele, então o
coloquei nos meus ombros e cantarolei uma canção.
Ele finalmente caiu no sono. Voltei para a cama e tentei
fazer o mesmo, mas ele acordou uma hora depois. Preparei
uma mamadeira, dei a ele e então o coloquei para dormir de
novo. Esperei que fosse a última vez.
Mas não foi.
Consegui entender o quão difícil tinha sido o fim de
semana dos rapazes. Ele acordou muitas outras noites durante
a noite, uma vez com a fralda suja e outras duas sem razão
aparente. Sentei-me na cama com as costas na cabeceira e
deixei bebê Anthony dormir no meu peito, mas sempre que eu
tentava levá-lo de volta para o cesto, ele acordava
imediatamente e chorava.
Somando tudo, só dormi duas horas no total naquela
noite.
Não ouvi os rapazes voltarem da emergência. Jordan não
foi me ver – provavelmente porque ele presumiu que eu
estivesse dormindo – e as paredes a prova de som dos quartos
fizeram seu trabalho. Teria sido um ambiente perfeito para um
sono tranquilo se não fosse meu companheiro de quarto, o
bebê.
Bebê Anthony estava totalmente acordado – é claro –
então o carreguei do quarto para a cozinha. Os rapazes
estavam limpando seus pratos depois do café da manhã, mas
todos sorriram quando me viram com o bebê.
“Aqui está o mascote do quartel!”, Taylor disse com
alegria. Ele se aproximou e apertou a bochecha do bebê
Anthony. “Você deve ter dormido muito bem.”
Eu tossi. “O que te faz pensar isso?”
“Fui te ver faz meia hora”, Jordan disse. “Você estava
desmaiada. Nem respondeu quando eu disse que o café da
manhã estava pronto.”
“É porque ele não dormiu muito bem”, eu disse, exausta.
“Ele me manteve acordada a noite toda.”
“Ele tem um bom pulmão, isso é verdade”, Derek
murmurou.
Fiz uma careta para eles, que vestiam calças azul
marinho e botas. “Vocês vão sair? Não ouvi o alarme
disparar.”
“Vamos fazer uma apresentação sobre segurança no
Acampamento de Verão Clearlake”, Jordan explicou.
“Voltamos em algumas horas.”
“Fiz café da manhã para você!”, Taylor disse, apontando.
“Ovos mexidos, bacon e torradas. O prato está no forno pra
não esfriar.”
“Você vai notar que o forno está desligado”, disse Derek
secamente. “Ele continua aquecido por algum tempo sem
correr o risco de botar fogo na cozinha.”
Eu estava muito cansada para dizer qualquer coisa. Mas
Jordan saiu em minha defesa.
“Você já falou sobre o forno ontem”, ele disse ao seu
chefe. “Ela já entendeu.”
Derek nem olhou para ele, como quem se pergunta se
deveria ou não receber ordens dos seus subordinados. Ele só
colocou o último prato na lava-louças e disse, “Vamos lá.”
Ele e Taylor saíram, mas Jordan ficou e me deu um beijo
na bochecha. “Voltaremos logo, me liga se precisar de alguma
coisa.”
“É só isso que eu ganho?”, respondi. “Nem um beijo
decente?”
Ele hesitou. “Com o bebê no seu colo…”
“Ele não se importa, eu prometo.”
Jordan sorriu, então me dobrou nos seus braços e
abaixou seus lábios até encontrar os meus. Por cinco segundos
longos e gloriosos eu estava envolvida pelo feitiço do seu
beijo e do seu abraço.
“Melhor assim?”, ele perguntou suavemente, com o rosto
ainda perto do meu.
“Muito melhor”, eu suspirei alegremente. “A noite
passada foi muito melhor também.”
“Melhor do que o quê?”
“Hm, melhor do que não fazer aquilo?”, eu disse. “Foi
bom, é o que quero dizer.”
“Foi mesmo”, Jordan apontou para mim enquanto se
afastava. “Vamos fazer de novo qualquer hora dessas.”
Sorri quando ele desapareceu pela porta da garagem.
Quando ouvi o caminhão se afastar, virei bebê Anthony para
mim.
“Parece que somos só nós dois agora, homenzinho.”
Ele piscou como se não tivesse tanta certeza.
Durante toda a minha vida, eu tinha sido muito próxima
do meu pai. Realmente próxima, mais do que a típica relação
pai e filha. Eu contava tudo para ele. Sobre os garotos de quem
eu gostava, sobre as matérias da escola em que eu estava tendo
dificuldade, até mesmo sobre as meninas do sétimo ano que
tiravam sarro dos meus ossos grandes. Aquilo era algo que eu
nunca contaria à mama.
Meu pai era um bom ouvinte e sempre tinha conselhos
sábios para compartilhar comigo, não importava o assunto.
Eu poderia usar seus conselhos agora.
Nunca fui muito próxima do meu irmão mais velho
Jason, mas logo que papa morreu, nos apoiamos um no outro
para dar apoio e nos tornamos mais próximos do que antes.
Ele não exatamente substituía o papel paterno, mas entre todos
os homens ao redor, ele não era tão ruim nisso. Ele era mais do
que aceitável. E sempre estava lá para mim, sem quase
nenhum tipo de julgamento.
Depois de dar a mamadeira ao bebê Anthony, liguei para
ele. Ele atendeu no segundo toque. “Aí está minha irmãzinha
favorita.”
“Sou sua única irmãzinha”, pontuei.
“Ambos estamos corretos. Como vai, maninha?”
Passamos alguns minutos falando sobre ele. Como
estavam Maurice – seu marido – e LeBron – seu bebê.
Finalmente, o assunto naturalmente seguiu para a minha vida.
“Eu meio que preciso de conselhos sobre cuidar de um
bebê.”
Ele hesitou. “Por quê? Você está trabalhando de babá ou
algo do tipo?”
“Algo do tipo…”
Expliquei a situação para ele. Ele emitia sons tristes e
simpáticos enquanto ouvia sobre o bebê abandonado. Mas no
final, estava rindo inapropriadamente.
“Você é babá num quartel de bombeiros? Não conte ao
Maurice, ele vai insistir em ir te visitar. Acho que estar
rodeado por uma dúzia de bombeiros suados e uma de suas
maiores fantasias.”
“Não é uma dúzia. Só três.”
“Três é demais. Eles são bonitos? Você pode desenvolver
algum tipo de relacionamento com algum deles?”
“Bem, engraçado você mencionar isso…”, abaixei a voz,
mesmo estando sozinha no quartel. “Dormi com um deles,
Jordan.”
“Isso é fantástico! Não conte à mama. Ela vai começar a
encher seu saco querendo netos. Ela fez isso na primeira vez
que falei sobre Maurice, e só estávamos juntos fazia um mês.”
“Ela já começou”, eu disse, gargalhando. “Mama estava
falando sobre netos antes mesmo do primeiro encontro. Mas…
não é só isso. A situação fica ainda mais estranha.”
“Mais estranha do que cuidar de crianças
clandestinamente para um bando de bombeiros?”
Não havia forma fácil de contar a ele, então apenas
deixei sair. “Eles querem me dividir. Os três.”
Esperei Jason rir na minha cara ou me acusar de
mentirosa. Mas sua reação foi ainda mais estranha.
“É sério?”, ele disse. “Que mundo pequeno.”
“Mundo pequeno? O que você quer dizer com isso?”
“Bem, você lembra dos meus camaradas fuzileiros? Lá
de Los Angeles?”
“Sim, eu os conheci no seu casamento.”
“Você viu quem eles levaram para o casamento? A
mesma mulher. A mulher que eles estão dividindo. Ela era
babá dos filhos deles. Então eles começaram a namorar…
agora está tudo sério. Tipo, muito sério. Já tem alguns anos e
eles estão mais felizes do que nunca.”
“Espera”, eu disse. “É a mesma mulher sobre quem
Maurice falou no brinde do seu jantar de casamento? A
responsável por vocês terem se conhecido?”
“Sim, ela estava grávida no casamento e sua bolsa
estourou antes do Maurice jogar o buquê. Enfim, ela está
numa situação como essa com seus três homens.”
Minha mente se acelerou. “Então isso é algo que as
pessoas realmente fazem? Não é loucura?”
“Talvez seja um pouco de loucura”, ele respondeu. “Mas
algumas das melhores coisas da vida são loucas. Não pra todo
mundo, com certeza. Eu jamais quereria compartilhar
Maurice com ninguém. Somos monogâmicos por natureza.
Mas outras pessoas… e quem sou eu para julgar? Amor é raro
nesse mundo, Clara. Não importa como você o encontra, é
uma coisa preciosa.”
“Eu não tenho muita certeza se há amor envolvido nessa
história”, eu disse, com uma risadinha. “Tive a impressão de
que eles estão falando sobre um relacionamento físico. Além
disso, eu só saí uma vez com Jordan. Não vamos passar a
carroça na frente dos bois.”
“Mesmo que seja só físico, tudo bem”, ele insistiu. “Você
pode desfrutar de atenção, especialmente depois da seca na
qual você se encontrava.”
“Jason!”, eu o repreendi.
“Estou mentindo? Quantos encontros você teve desde
que se mudou de volta pra Riverville?”
“É uma cidadezinha”, eu disse defensivamente.
“Mas fica perto de Fresno, que não é pequena. Não tem
motivo nenhum pra uma mulher esperta e atraente como você
não ter um encontro a cada fim de semana.”
“Eu trabalho nos finais de semana no restaurante. Ou
melhor, trabalhava, antes dessa confusão.”
“Finais de semana, dias de semana, não importa. Minha
questão é que você deveria aproveitar essa oportunidade.”
“Talvez”, bebê Anthony estava se contorcendo no cesto,
então eu disse, “Voltando pro motivo pelo qual te liguei. Tenho
um bebê aqui e preciso de um guia. Você pode me ajudar?”
“Hoje é seu dia de sorte. Eu fiz uma planilha com tudo o
que aprendemos cuidando do LeBron, pra nos lembrarmos
quando adotarmos nosso segundo filho. Vou te mandar.”
Bufei. “Planilha? Você é um grande nerd. Não acredito
que te deixaram ser um fuzileiro.”
“Também te amo, irmãzinha. E tente aproveitar, ok?”
“Vamos ver”, eu disse, ainda incerta do que aconteceria.
13

Clara

A planilha de Jason salvou minha vida.


Não era só uma lista com as coisas que eles tinham
aprendido. Era basicamente uma enciclopédia sobre bebês.
Havia quatro guias, cada uma com um título e um tema.
Alimentação, Sono, Higiene, Brincadeiras e Outros. Também
havia fontes e links para vídeos no YouTube e livros sobre
bebês.
Por exemplo, na aba Alimentação, uma das linhas dizia:
“Você não precisa esquentar a mamadeira, isso é lenda urbana.
A maioria dos bebês prefere leite em temperatura ambiente ou
até mesmo frio. A escolha do bebê é sempre a melhor.”
No final da nota havia um link para um vídeo do
Youtube com uma especialista em maternidade explicando
tudo.
“Escrevi artigos na faculdade que eram tão completos
assim”, murmurei enquanto lia.
Ter alguma coisa, qualquer coisa como referência
tornava o cuidado com o bebê Anthony muito mais fácil. Era
como se eu estivesse trapaceando a maternidade.
Entramos numa rotina nos dias que seguiram. Bebê
Anthony preferia seu leite em temperatura ambiente, ele bebia
com mais vontade do que quando estava morno.
Sobre a higiene, havia um conselho que mudou minha
vida: “Sempre distraia o bebê enquanto troca sua fralda”, e
então comecei a recrutar um dos rapazes para me ajudar toda
vez que fazia isso com bebê Anthony. Taylor fazia barulhinhos
ridículos e usava um chocalho para frente e para trás,
hipnotizando o bebê enquanto eu o limpava e colocava uma
fralda limpa.
Eu não tinha ideia do básico quando recebi a planilha,
mas depois de dois dias eu me sentia uma especialista. Minha
confiança parecia transparecer para os três bombeiros, que
começaram a relaxar mais e confiar que eu tinha tudo sob
controle.
O único problema era que bebê Anthony ainda dormia
com dificuldade. Mesmo com a recomendação da planilha de
dar doses extras de comida antes de colocá-lo na cama,
Anthony acordava de hora em hora.
Infelizmente, havia uma dica na aba Sono escrita em
negrito e destacada em amarelo: “Se o bebê é muito agitado,
não há nada que você possa fazer. Apenas conforte-o quando
ele acordar e em algum momento ele vai se acalmar.”
Então eu sofria com suas variações de humor durante a
noite e tentava dormir sempre que podia. Me tornei
especialista em pegar no sono praticamente no momento em
que minha cabeça tocava o travesseiro, embora aquilo tivesse
mais a ver com minha exaustão severa do que com qualquer
habilidade particular.
“Acho que ele é uma criatura da noite”, eu disse numa
manhã enquanto me movia pela cozinha com o bebê no colo.
“Ele dorme mais de dia do que de noite.”
“Ele é um bebê”, Jordan respondeu, me servindo uma
caneca de café. “Ainda está aprendendo.”
Era estranho estar com o Jordan enquanto eu cuidava do
bebê. Parecia que estávamos brincando de casinha. Exceto
pelo fato de estarmos em um quartel de bombeiros, com outros
dois caras, e o bebê não ser nosso.
Ok, não tinha nada a ver com brincar de casinha. Mas
ainda assim era estranho. Tínhamos saído só uma vez,
dormido juntos só uma vez e de repente estávamos morando
juntos. Parecia que tínhamos pulado vários passos no
processo.
Beijá-lo era meio estranho quando seus colegas estavam
por perto. Jordan ficava mais confortável do que eu, mas eu
comecei a me acostumar devagar. Derek e Taylor pareciam
não se importar, e eles tentavam nos dar espaço toda vez que
Jordan começava a ficar mais carinhoso, me abraçando ou
tocando minha bochecha.
Mesmo que eu fosse a pessoa a cuidar do bebê, os
rapazes tinham uma rotina de sono estranha. Ocasionalmente,
eles recebiam um chamado no meio da noite, e acho que
aquilo interferia. Derek parecia lutar contra o sono com doses
extras de café enquanto Jordan e Taylor tiravam cochilos toda
vez que podiam. Não era incomum entrar na sala de estar e
encontrar um dos dois adormecido na poltrona e o outro no
sofá, não importava a hora do dia.
Comecei a decorar suas rotinas e ficar ainda mais
admirada com a vida de um bombeiro. Os caras saíam na terça
para fazer compras, no caminhão de bombeiros, para o caso de
receberem um chamado. Eles também voltavam com
suprimentos para o bebê: fraldas, lenços umedecidos, leite em
pó e até uma babá eletrônica, que eu apreciei muito, porque
significava que eu podia deixar bebê Anthony dormindo no
quarto enquanto eu ficava na cozinha ou na área de estar.
Aprendi que o café da manhã era a maior refeição do dia.
Taylor dava tudo de si: todos os dias tínhamos uma
combinação de ovos, bacon, salsicha, torradas, muffins, pães
na chapa, waffles, panquecas e frutas. Eles comiam sanduíches
no almoço – Derek e Jordan preferiam com peru enquanto
Taylor gostava de creme de amendoim com geleia.
O jantar era sempre um tipo de mexidão. A cozinha do
quartel tinha seis caçarolas e Taylor as usava todas.
“Não que eu me importe”, eu disse numa noite de quarta,
assistindo Taylor cozinhar enquanto Jordan cochilava e Derek
cuidava do bebê Anthony no quarto. “Eu amei tudo o que você
cozinhou até agora. Mas você não tem outro tipo de panela
que não seja uma caçarola?”
Taylor estava de costas para mim, misturando os
ingredientes numa tigela. O movimento fazia sua bunda – que
era linda – mexer para frente e para trás. De repente eu estava
admirando seu corpo de forma não sutil enquanto ele
cozinhava. Eu estava exausta demais para disfarçar.
“É comida estratégica”, Taylor disse por cima do ombro.
“Estratégica? Como é que comida pode ser estratégica?”
“O horário de pico da noite é entre seis e nove”, ele
explicou. “As possibilidades de receber um chamado são
maiores e temos que sair de repente. Se estou preparando uma
refeição chique – como uma boa picanha e vários
acompanhamentos, o que acontece se estou na metade e
recebemos um chamado? Eu tenho que apagar todas as bocas
do fogão e arruinar a comida. Vou ter que cozinhar a picanha
pela metade, sair para atender o chamado e voltar para
continuar cozinhando, não vai ficar gostoso. Acredite em mim
– já tive que fazer isso.”
Ele se virou e verteu a mistura de dentro da tigela para
um prato de vidro. Havia frango, caldo de carne e vários
vegetais misturados. “Mas mexidão? É muito mais fácil de
consertar. Se não estiver no fogo ainda quando recebemos o
chamado, tudo o que temos que fazer é desligar o fogão e tirar
a caçarola de cima. Não importa se o conteúdo vai ter que
esperar até voltarmos, é só colocar no fogo de novo e
continuar a cozinhar. Geralmente, é claro.”
“Faz sentido”, admiti. “Especialmente a parte do fogão.
Aprendi que é importante não o deixar aceso quando você
precisa sair, mesmo que seja com o fogo baixo.”
Taylor me deu um olhar arrependido e abaixou a voz.
“Não leve isso para o lado pessoal. O Chefe é muito chato com
essa regra.”
“E eu não sei?”, murmurei.
Taylor cobriu o prato com uma porção saudável de
queijo ralado e o colocou no forno. Então ele correu a mão
pelo cabelo loiro sedoso e suspirou. “O Chefe gosta de você.
Ele só tem uma forma estranha de demonstrar às vezes.”
“Foi o que Jordan me disse”, falei olhando para o outro
cômodo. Eu não achava que ele fosse me ouvir, mas mantive
minha voz baixa. “Ele disse que Derek tem uma queda por
mim. Mas acho que não, depois da bronca horrível que ele me
deu.”
Taylor cruzou seus braços e se inclinou casualmente
contra o forno. “E o que mais Jordan te contou?”
Pronto. O assunto estranho que eu tinha tentado evitar a
semana toda tinha surgido. Tinha sido fácil não pensar naquilo
enquanto eu cuidava do bebê e tentava dormir o máximo que
podia, mas agora eu encarava o problema diretamente. Taylor
estava me encarando intencionalmente e achei difícil suportar
seu olhar.
“Ele me disse que vocês três gostam de mim”, eu disse.
“E que vocês… hm. Que vocês queriam…”, respirei fundo
para completar a frase. “Que vocês queriam me compartilhar.”
Taylor sorriu com suavidade e seus olhos azuis brilharam
em júbilo. “Sim. É mais ou menos essa a ideia”, ele levantou
uma mão. “Eu não vou te perturbar, perguntar se você tomou
uma decisão sobre isso, mas vou dizer uma única coisa. Não
queremos que você concorde com algo que não te faz se sentir
confortável. Você provavelmente está se sentindo
sobrecarregada com isso tudo, certo?”
Dei uma risadinha e encarei seu olhar por um momento.
“É exatamente como eu me sinto.”
Taylor deu de ombros. “Tudo bem. Caramba, é
provavelmente a reação mais normal de alguém que recebe
uma oferta como essa. Pense com calma e tome sua decisão
quando se sentir preparada – concordando ou não.”
“Você faz parecer que eu estou aceitando uma oferta de
emprego.”
Taylor riu. Era um som suave e despreocupado que
acabou deixando minha mente tranquila. “Meio que parece
isso, não é? É tudo novo pra mim também. Por isso eu me
sinto meio estranho.”
Você, estranho? pensei. Você está suave e charmoso
nessa história, se comparado a mim.
Uma pergunta surgiu na minha cabeça e eu disse em voz
alta antes que pudesse dar para trás. “Você acha que consegue
fazer isso? Dividir uma mulher com outros dois caras?”
Ele deu de ombro. “Como vou saber? Eu acho que
consigo. Estou disposto a tentar! Especialmente se for…”
Especialmente se for você, ele estava prestes a dizer.
Como se eu fosse alguém especial, alguém que valesse a pena
compartilhar. Eu nunca tinha me sentido daquele jeito na vida
toda, mas por alguns segundos, me senti a mulher mais linda
do mundo.
“…especialmente se for a mulher certa”, Taylor terminou
a frase.
“Vou ser honesta”, eu disse. “Eu gosto de conhecer um
cara antes de… ir fundo. Quer dizer, geralmente. Jordan e eu
meio que pulamos etapas, mas tivemos realmente um primeiro
encontro muito bom, o que me fez sentir que já nos
conhecíamos por mais tempo. Isso faz sentido? Sinto que
estou falando asneira.”
Taylor deu um passo para a frente e colocou uma mão no
meu braço, me reconfortando. “Você não precisa se explicar.
Eu entendo. Sem pressão, só considere a oferta. E ao mesmo
tempo, cuidamos do bebê Anthony.”
Sorri para ele e ele sorriu de volta, me desarmando
totalmente. Como se realmente não houvesse pressão e eu
pudesse levar o tempo que precisasse.
Seu comentário sobre o bebê me fez fazer uma careta.
“Faz tempo que não ouço barulhos vindo do quarto…”, eu
disse.
Taylor arqueou a sobrancelha. “Definitivamente está
quieto demais. Melhor você ir conferir enquanto preparo a
salada.
Saí da cozinha e atravessei a sala de estar. Derek estava
na poltrona, esticado, vendo TV. Bebê Anthony estava
dormindo no seu peito, com as extremidades espalhadas em
todas as direções na sua camiseta branca.
Meu coração se encheu com a visão. Não havia nada
mais sexy do que um homem grande e musculoso com um
bebê. Era uma parte primitiva do meu cérebro, a mesma que
lidava com todos os instintos femininos. Como saber que
chocolate era um dos alimentos mais importantes do mundo,
aquela parte do meu cérebro me disse que Derek seria um bom
pai, e que eu deveria me unir a ele.
Afastei o sentimento e me aproximei. Derek se virou e
sorriu para mim.
“Ele fica calmo com você”, sussurrei.
“Sim”, ele parecia confuso. “É estranho. Não me lembro
de ter me dado bem com nenhuma outra criança.”
Me sentei no braço do sofá perto dele. “Não acho que é
estranho. Você o está protegendo. Arriscando seu trabalho para
se certificar que ele tenha uma boa família ao invés de ser
jogado no sistema sem estruturas. Ele consegue sentir isso.”
“Talvez. Como vai o jantar?”
“Taylor disse que o mexidão sai em vinte minutos. E não
se preocupe – se vocês precisarem sair para um chamado, eu
cuido de tudo. Não vou deixar o fogão sozinho.”
Seus lábios se contorceram e seus olhos me estudaram.
Ele parecia estar tentando decidir se ria ou me criticava por
fazer piada de uma situação séria.
“Eu sei que sou muito exigente quando se trata de
segurança”, ele disse.
Levantei uma mão. “Você não precisa explicar, eu
entendo.”
Ele continuou com a voz baixa, como seu eu não tivesse
falado nada. “Recebemos um chamado de um dormitório cerca
de dez anos atrás, quando eu trabalhava em Fresno, antes de
ser transferido para cá. Alguns universitários colocaram uma
pizza no forno e dormiram, bêbados. A pizza queimou, pegou
fogo e a chama se espalhou. O dormitório inteiro queimou.
Nenhuma morte, graças a Deus. Mas foram as piores
queimaduras que já vi na vida.”
Coloquei uma mão sobre a boca. “Oh, uau…”
“Muitos fornos são seguros”, ele continuou acariciando
gentilmente as mechas pretas de Anthony. “Mesmo que pegue
fogo dentro, eles controlam as chamas. Mas esse era velho e
alguém abriu e tentou tirar a pizza de dentro. Meu ponto é:
sempre é arriscado. E essa é uma grande parte do nosso
trabalho, educar pessoas para minimizar esses riscos, porque
eles se somam. Talvez eu seja muito exigente com esse tipo de
coisa e, se eu for, sinto muito.”
As últimas palavras pareciam ter sido arrancadas da sua
boca cm um bisturi, mas ainda assim ele as disse. Olhei para o
homem maduro e experiente e pude notar que ele não disse
aquilo da boca para fora.
“Entendo”, eu disse. “Eu também seria exigente no seu
lugar.”
“Ok, então”, Derek acenou para o bebê no seu peito. “Eu
estou segurando o xixi faz meia hora, porque não queria
incomodá-lo.”
“Eu cuido dele até o jantar”, recolhi bebê Anthony
gentilmente. Quando o fiz, meus dedos roçaram os músculos
duros do peito de Derek. Senti um comichão subir pela minha
espinha. Do mesmo tipo que tinha me invadido quando vi o
bebê no seu colo.
Esse é um homem de verdade, pensei, afastando meu
olhar dele. Os três são.
Me sentindo melhor com minha relação com Derek,
carreguei o bebê Anthony de volta para o quarto.
14

Clara

Quando cheguei no quartel na segunda a noite, me senti


meio deslocada. Uma visitante, uma intrusa, alguém que
certamente não deveria estar ali com aqueles homens
corpulentos e massivos que ocupavam o lugar.
Mas na quinta-feira eu já me sentia como um deles.
Todo mundo era amistoso, até Derek, uma vez que
quebramos o gelo sobre o incidente com o forno. Ele não era
tão alegre quanto Taylor ou cuidadoso quanto Jordan, mas era
amistoso à sua maneira.
Pela primeira vez desde que voltei para casa em
Riverville, eu me empolgava com o que fazia. E não só porque
significava estar rodeada por aqueles três bombeiros sensuais.
Eu gostava de cuidar do bebê Anthony na verdade. Era
satisfatório de uma forma que eu nunca tinha experimentado.
Um programa materno começou a ser executado no meu
cérebro e agora estava totalmente sincronizado. Mesmo
quando o bebê estava com algum dos rapazes, eu pensava nele
de forma protetiva.
Mama me ligou naquela tarde. “Quando vou conhecer
seu bebê?”, ela perguntou.
“Não é meu bebê”, respondi. “E você não pode vir aqui.
Estamos tentando manter segredo, mama. Por algum tempo.”
“O bebê está com você. Então por enquanto ele é SEU”,
ela insistiu. “O que faz dele meu neto temporariamente. Eu
quero vê-lo!”
Comecei a contar para ela que vê-lo poderia tornar difícil
para ela a separação, quando o devolvêssemos ao Serviço
Social. Foi quando me dei conta de que seria difícil para mim
quando chegássemos àquele ponto. Mesmo o conhecendo por
não mais que uma semana, eu já estava apegada ao garotinho.
Sorri com pesar para ele dentro do cesto e ele sorriu de volta
para mim, balançando seus dedos gordinhos.
“Como está o restaurante?”, perguntei à Mama. “Você
está se virando bem sem mim?”
“Sem problemas”, mama respondeu. “Angelina trabalha
duro. Mais duro do que você. Ela é tão rápida nas entregas!
Não fica flertando com bombeiros!”
“Jesus, obrigada por isso, Mama”, respondi. “Não sei o
que vai acontecer nesse fim de semana, mas eu provavelmente
vou para casa buscar mais coisas.”
O pensamento me atormentou naquela noite enquanto eu
trocava a fralda de Anthony. O que aconteceria se eu me
apegasse ao rapazinho? Quando eu tinha dez anos, minha mãe
me deixou adotar um gatinho. Fiquei com ele por duas
semanas, mas aí Jason voltou do acampamento de verão e
descobrimos que ele era mortalmente alérgico a gatos. Eu
tinha certeza de que deveríamos doar o Jason ao invés de
devolver o gato, mas não consegui convencer meus pais.
Devolver aquele gatinho foi uma das coisas mais difíceis
que já fiz na vida. Certamente naquela altura não parecia algo
tão grave, e eu sei que ele foi parar numa boa casa. Mas me
lembro do quão devastada me senti na época. Como se alguém
tivesse arrancado um pedaço do meu coração.
Bem no fundo, eu sabia que devolver o garoto seria
muito, muito mais difícil. Mesmo que eu só o conhecesse por
alguns dias, ele não fosse meu e eu soubesse desde o início
que aquilo seria temporário. Depois de três dias com ele, eu já
o amava.
Não posso pensar nisso agora, tentei convencer a mim
mesma preparando a mamadeira do bebê. Tudo o que preciso
fazer é me concentrar em uma tarefa por vez.
Criamos uma rotina com o bebê. Eu ficava com ele na
maior parte do tempo, mas muitas vezes recebia ajuda dos
rapazes. “Nós a contratamos para nos ajudar, não para fazer
todo o trabalho sozinha”, Jordan disse naquela noite. “Eu não
me importo de cuidar dele enquanto você toma banho.”
“Prometo não demorar, não vou lavar o cabelo”, eu disse
com um beijo.
“Sério?”, Jordan perguntou, confuso. “Por quê?”
“Você não deve lavar seu cabelo todos os dias”, eu disse.
Sua expressão de confusão se intensificou. “Não?”, ele
correu os dedos pelo cabelo como se esperasse que fosse cair
de repente.
Dei uma cotovelada suave nele e fui para o banheiro de
Derek. Era bom ter uma banheira ao invés de usar o chuveiro
comunitário. Não que houvesse algo de errado lá – eles
mantinham tudo limpo. Mas as cabines individuais no
banheiro grande me faziam me sentir na faculdade, e eu
preferia ter privacidade durante o banho.
Quando abri a porta, esperava que o quarto estivesse
vazio. Os rapazes me deixavam muito a vontade, nem mesmo
Derek entrava sem bater. Mas Jordan estava deitado do seu
lado da cama, com a cabeça apoiada em um dos braços
flexionados.
Me senti meio puritana por um momento. Eu só usava
uma toalha em volta do meu corpo, que mal cobria minhas
partes íntimas. Ok, Jordan e eu tínhamos dormido juntos, mas
eu ainda me sentia estranha com isso. Havia um certo nível de
conforto que eu precisava atingir com um homem antes de sair
por aí com meus bens a mostra.
“Achei que você ia cuidar do bebê”, eu disse.
“Taylor está com ele”, ele respondeu. “Ele queria ensiná-
lo o alfabeto.”
“O alfabeto? Ele só tem dois meses. Não acho que ele
consiga processar qualquer pensamento diferente de comer e
fazer cocô.”
Jordan se moveu até estar na beirada da cama, e se
sentou de frente para mim. “Foi o que eu disse ao Taylor. Mas
ele insistiu em tentar. O que significa que temos sorte e algum
tempo sozinhos…”
“Ah.”
Ele ficou de pé, me olhando de cima, com fome nos
olhos. Ele soltou o canto da toalha e desenrolou-a pelo lado,
me deixando ali parada, totalmente pelada. Por alguns
momentos ele só me observou. Eu sentia seu olhar varrendo
minha pele como um carinho.
Tínhamos nos beijado pela estação durante a semana
toda, mas nos controlávamos sempre que Taylor ou Derek
estavam por perto. Só que aquele beijo ali, naquele momento?
Foi real, dado com seu corpo todo. Ele não segurou nada, e eu
pude sentir o quanto ele precisava de mim enquanto seus
dedos dançavam pela minha pela. Era um reflexo do meu
próprio desejo por ele, que tinha se intensificado desde a noite
de segunda.
Jordan me levantou, me virou e me jogou na cama. Era
um movimento totalmente desnecessário já que eu estava a uns
trinta centímetros da cama. Mas eu não me importava em ser
carregada por aquele homem, mesmo que por alguns segundos
breves.
Ele me sufocou com outro beijo profundo, sua barba
roçava meu pescoço maravilhosamente, e meu corpo ganhava
vida debaixo dele.
“Relaxa”, ele sussurrou, me dando um sorriso travesso, e
então desceu beijando meu corpo, partindo do meu pescoço.
Me contorci quando seus lábios roçaram meu mamilo, seu
nariz cavando a pele do meu peito, e suas mãos ainda se
movendo pela minha pele.
Eu nunca tinha tido necessidade de sexo oral. Não era
algo consciente, ou pelo menos não essencial. Ser chupada era
bom, eu acho, mas não era muito especial para mim. Eu
preferia ser preenchida, corpo a corpo, beijando e me movendo
na dança do amor.
“Eu quero você”, eu disse a ele, esticando a mão e
agarrando seu cabelo. “Volte aqui e me beije.”
“Ah, eu vou beijar você”, ele respondeu, evitando minha
mão. “Como eu disse: relaxa. Isso é sobre você agora.”
Apesar das suas palavras, permaneci tensa enquanto ele
se aproximava das minhas partes íntimas, com a respiração
atravessando meu ventre. Suas mãos fortes agarraram a parte
interna das minhas coxas e as abriram, me expondo
totalmente. Pensamentos invadiram minha cabeça, comecei a
pensar no tipo de depilação que os rapazes preferiam e se ele
realmente gostava daquilo, ou se estava só sendo legal.
Todos esses pensamentos desapareceram quando seu
queijo encontrou meu clitóris. Ele enfiou seu nariz entre meus
grandes lábios, me acariciando ao invés de começar o trabalho.
Ele respirava fundo e o que eu podia ver do seu rosto me dizia
que parecia que ele estava cheirando um buquê de flores.
Ele me acha sexy. Ele gosta do meu cheiro.
Comecei a relaxar. Devagar, mas assertivamente.
Jordan me puxou para mais perto da beirada da cama e
então abraçou minhas coxas com seus braços massivos. Senti
tremores de excitação quando ele finalmente esticou a língua
para cima e para baixo na minha fenda ensopada. Seus
movimentos não eram relutantes – parecia que ele chupava um
sorvete, ansioso para lamber até a última gota.
Ah, pensei. Isso é tão boooom.
Os últimos resquícios de dúvida desapareceram e eu me
rendi ao seu toque firme. Naquele momento, me envaideci
enquanto ele me glorificava com sua língua.
“Você está ensopada”, ele retumbou dentro de mim,
palavras profundas e sombrias, quase sem som.
A voz de Jordan me fez pegar fogo. Ele deve ter sentido
meu desejo porque sua língua escorregou profundamente
dentro de mim, se mexendo para cima e para baixo enquanto
ele se enfiava mais na minha fenda cheia de luxúria.
Fechei meus olhos e saboreei a sensação. Era totalmente
diferente de outras experiências que eu tive com sexo oral
antes. Era como assistir um time amador jogar contra um time
profissional de beisebol.
Sua língua circulava meu clitóris e voltava para dentro
de mim. Ele desenhava um oito, intensificando a pressão a
cada volta, antes de finalmente sugar meu clitóris todo com os
lábios. Dois dedos acariciavam minha entrada, e ele os
lubrificava com meu suco antes de enfiá-los profundamente
sem parar de chupar meu clitóris.
Eu não me cansava da sua maneira de fazer amor
comigo. Jordan me fazia me sentir como uma deusa que ele
estava adorando ao invés de eu ser a sortuda por tê-lo comigo.
Arqueei minhas costas, relaxei na cama e as arqueei de novo
quando a velocidade aumentou.
O que eu fiz para merecer isso?
Meu orgasmo foi sendo construído tijolo por tijolo.
Jordan levou o tempo que precisei, sem impaciência,
permitindo o prazer crescer. De repente, eu me sentia como
um furacão reunindo forças no oceano distante. Eu podia
sentir a proximidade da costa e o cheiro da destruição.
Me destrua, eu pensei enquanto seus dedos se moviam
mais rápido. Me esfregue e me leve embora, não deixe nada
para trás!
Meus gemidos aumentaram e eu mordi minha língua
para silenciá-los. Então me lembrei que não precisava ficar
quieta. Estávamos só os dois ali, no quarto a prova de som.
“Aaaah”, gemi, arqueando as costas violentamente.
“Bem assim. Ah, Jordan.”
Eu estava perto. Muito perto. A língua de Jordan se
movia pelo meu clitóris e o furacão do meu orgasmo varria a
costa, pronto para me destruir com êxtase.
E então sua língua parou de se mover abruptamente.
“O que você está fazendo? Não pare!”, implorei.
Senti sua boca formar um sorriso. “Gosto de te
provocar.”
Agarrei sua cabeça e o puxei de volta para mim.
“Continue, estou quase lá…”
Sua língua voltou a se mover em torno do meu clitóris e
o furacão voltou a se agitar. Seus dedos se curvaram para a
frente, tocando meu ponto G e uma nova onda de eletricidade
se espalhou pelo meu corpo quando cheguei na beirada do
abismo e estava prestes a cair…
Mas ele parou de novo, abruptamente, bem na hora.
Dessa vez ele tremeu, gargalhando. Puxei meus lábios
contra ele e tentei segurar sua cabeça, mas ele se afastou e
tudo o que eu senti foi seu hálito quente perto da minha
boceta.
“Você está me torturando!”
Seus olhos verdes me encararam de baixo do meu monte.
“Vai valer a pena no fim, acredite!”
“Se você não terminar o que começou eu nunca – aah.”
Eu parei de falar quando sua língua circulou meu clitóris
duas vezes. Só duas. De novo, senti meu orgasmo bem ali.
Jordan ia e voltava, me trazendo para a borda do clímax
e parando antes que eu pudesse atingi-lo. As sensações eram
cada vez mais intensas e poderosas do que antes. Se era um
furacão de nível um no começo, agora certamente já era nível
cinco.
Depois de alguns minutos muito perto do clímax, virei
massa de bolo nas mãos de Jordan.
“Por favor”, implorei. “Não pare. Me dê o que eu quero.”
“Você quer?”, ele me perguntou.
Balancei a cabeça olhando para ele. “Eu preciso.”
Sua língua voltou devagar para o meu clitóris, o
empurrando para a frente e para trás como se fosse seu saco de
pancadas. Os dois dedos dentro de mim começaram a se
mover de novo e o orgasmo reuniu forças de novo. Travei
meus músculos internos em torno dele, implorando que ele
continuasse. Eu assinaria um contrato doando a minha vida se
ele simplesmente terminasse o que estava fazendo.
Sua língua se contorceu e seus dedos se moviam como
um pistão, cada vez mais rápido. Eles se curvaram em um
movimento de venha aqui, roçando meu ponto G cada vez
mais, reativando a bomba nuclear que se armava entre minhas
pernas. Enquanto o prazer crescia, eu queria acreditar que
dessa vez aconteceria. Que eu finalmente chegaria até a borda
do abismo e me aliviaria, mas eu sabia que não ia acontecer.
Mas então ele me deu o que eu queria.
Meu orgasmo se contorcia e se intensificava, me
trazendo mais uma vez para o cume, e Jordan não parou.
O furacão destroçou minha costa, com mais poder do que
nunca.
Eu me engasguei e tentei respirar. Meu corpo desabou
totalmente sob o toque de Jordan, seus dedos batendo no meu
ponto G e sua boca sugando meu clitóris. O fogo de mil sóis
invadiu meu corpo dos pés a cabeça, em um prazer espiral.
Gritei com toda a força dos meus pulmões e comprimi sua
cabeça com as minhas coxas, o segurando dentro de mim
enquanto eu gozava mais e mais, onda após onda, com as
costas arqueadas na cama.
Gritei até esvaziar meus pulmões, respirei outra vez e
gritei mais um pouco. Me empurrei em direção ao rosto de
Jordan com as pulsações de prazer que surgiam dentro de
mim. Então meu corpo todo tremeu e eu suspirei.
Quando finalmente fiquei parada, ele estava gentilmente
beijando o lado de dentro da minha coxa e sorrindo para si
mesmo.
“O que é tão engraçado?”, perguntei com a voz rouca.
“Nunca vi uma mulher fazer isso antes”, respondi.
“Nunca vi um homem fazer isso antes!”, estiquei a mão e
toquei seu cabelo, entrelaçando-o com os dedos. “Traga seu
rosto sexy aqui e me beije, caramba.”
Ele me cobriu com seu corpo quente e obedeceu. Eu
sentia meu próprio gosto nos seus lábios, mas aquilo não me
dava nojo, mas me deixava mais excitada. Um lembrete
erótico das coisas maravilhosas que ele tinha acabado de fazer
comigo.
“Foi a minha primeira vez na borda”, ele admitiu.
“Borda?”
“É como eu chamo levar alguém à borda do orgasmo e
parar. E começar de novo. A intenção é fazer o clímax ficar
ainda mais poderoso.”
“Espere um minuto”, me apoiei em um cotovelo. “Foi a
primeira vez que você fez isso?”
Ele riu com alegria. “E foi bom, não foi?”
“Foi maravilhoso, mas torturante”, mordi meu lábio e
estiquei a mão para o meio de suas pernas, alcançando seu
membro longo dentro da calça. “Me pergunto se alguém já fez
isso com você.”
Dei um apertão no seu pau por baixo da calça azul do
uniforme de bombeiro e ele saltou de excitação.
“Me pergunto a mesma coisa”, ele sorriu, “talvez nós…
merda.”
“O quê?”
Me virei para olhar a porta. A luz de LED estava
piscando. O alarme tinha disparado.
“Ainda bem que isso aconteceu depois que terminamos”,
ele disse.
“Mas e você? Me sinto mal por você não…”
“Eu não me importo”, ele segurou a ponta do meu
queixo e correu para a porta. “Eu aproveitei o mesmo tanto
que você.”
Bom, eu duvido muito, pensei enquanto me vestia para ir
cuidar do bebê.
15

Clara

“É sobre o bebê de novo?”, Jason perguntou ao telefone.


“Sim, mas é importante dessa vez, prometo”, respondi.
“Você verificou a planilha?”
“A planilha tem ajudado muito, mas dessa vez não
encontrei.”
Ouvi meu irmão suspirar. “Ok, o que foi?”
“Cocô de neném.”
“Cocô de neném.”
“A cor é muito estranha”, eu disse.
Meu irmão expirou. “Eu estava almoçando, mas acho
que agora já era. Qual é a cor do cocô do bebê, Clara?”
“Desculpa! É uma cor meio mostarda, muito estranha.
Tipo amarelo escuro. Não pode ser normal, certo?”
“Criei uma aba na planilha com isso”, Jason disse
impacientemente.
“A planilha diz que cocô cinza é motivo de preocupação,
porque significa que o bebê não está digerindo bem a comida.
Mas não tem nada sobre cocô amarelo.”
“Amarelo está bem. Cinza é de fato preocupante.”
“Tem certeza? Acho que você só quer se livrar de mim e
voltar pro seu almoço.”
“Acredite: meu almoço oficialmente acabou. Maurice?
Você pode vir falar com a minha irmã, por favor?”
Houve uma pausa e então a voz alegre do meu cunhado
invadiu a linha. “Oi, querida! Por que meu marido está
revirando os olhos?”
“Eu perguntei sobre cocô de bebê. Amarelo. Alguma
ideia?”
Maurice gargalhou. “Ah, querida, é totalmente normal.
Nojento, mas normal. O pequeno LeBron tinha demônios
dentro da barriga, eu juro. Você não precisa se preocupar.”
Suspirei aliviada. “Obrigada, eu só queria ter certeza sem
acreditar em tudo o que a internet diz.”
“E você não deveria mesmo. Agora, o mais importante é:
como estão seus bombeirões? Suados no momento? Numa
escala de um a dez, o quão suados eles estão no presente
momento?”
“Ui, Jason contou a você?”
“Ele me conta tudo, querida. E agora você também vai
ter que me contar tudo. Você está vivendo um poliamor? U-lá-
lá!”
“Não estou vivendo nada ainda”, respondi, jogando a
fralda suja longe. “Jordan sugeriu, mas ainda não pensei sobre
o assunto.”
“Três bombeirões fazem uma proposta dessa e você não
pensou ainda sobre o assunto?”, Maurice perguntou,
incrédulo.
“Estive muito ocupada com o bebê. Você sabe. O que
estou tomando conta sem nenhuma experiência?”
Ele me ignorou e continuou falando. “Você gosta dos
outros dois?”
“Acho que sim”, eu disse. “Taylor é um querido. E o
Chefe também é legal, quando você vence a camada externa.”
“Chefe? Que sexy. Já começou por cima, hein?”
“Tecnicamente ele é só o Capitão, mas todo mundo o
chama de Chefe.”
“Ok, então já sabemos que você gosta dos dois. Você
sente atração por eles?”
Eu gargalhei. “Derek é um bombeiro forte e corpulento.
E Taylor é mais magro que os outros, mas ainda assim coberto
de músculos. Eu o vi sair do banheiro outro dia só com uma
toalha e… hm.”
“Então tente! O que está te impedindo?”
Segurei o bebê Anthony no meu peito e movi o telefone
para a outra mão. “Tenho medo disso atrapalhar o que eu já
tenho com Jordan. É novo e empolgante e tem potencial. Não
quero estragar tudo.”
“Que tal isso”, Maurice disse. Ele soava como um
negociador da polícia. “Saia com os outros dois. Em um
encontro. Dê uma chance. E se você não gostar, pode voltar
para a sua relação exclusiva com Jordan. O melhor de dois
mundos.”
“Talvez”, respondi, duvidosa.
Houve um estrondo na estação. Naquele momento eu já
sabia que era só o caminhão de bombeiro entrando na
garagem.
“Maurice, tenho que ir”, eu disse. “Diga ao Jason e ao
pequeno LeBron que eu os amo.”
“Boa sorte, querida!”
Os rapazes tiraram o equipamento no corredor e vieram
para a cozinha. Taylor sorriu para mim, mas fez uma careta
após cheirar o ar. “Que cheiro é esse?”
“Algum bicho morto?”, Jordan perguntou logo atrás
dele.
“É o bebê Anthony”, expliquei. “Temos algumas fraldas
que podemos classificar como lixo nuclear.”
“Que bom que perdemos isso”, disse Derek fazendo
careta.
Taylor se inclinou perto de mim e fez carinho na
bochecha do bebê. “Deveríamos telefonar para as Nações
Unidas, porque você é uma arma que pode causar destruição
profunda.”
“Considerando de onde veio, deveria ser uma arma que
pode causar destruição com a bunda”, disse Jordan com um
enorme sorriso.
Todo mundo gargalhou, incluindo bebê Anthony. Ele
moveu as perninhas no meu colo, chacoalhando seu corpinho
todo.
“Ele está alegre hoje”, disse Jordan.
“Sim, ele está se acostumando com o lugar”, eu disse.
“Ele é um garotinho feliz.”
Derek se inclinou na parede da cozinha e limpou a
garganta. “Precisamos falar sobre a situação.”
“O cara de Jersey Shore?”, Taylor perguntou.
Derek o silenciou com um olhar, então continuou. “Falei
com a minha irmã. A lista de famílias acolhedoras está
crescendo devagar. Dependendo do orçamento do próximo
trimestre, talvez a gente consiga entregá-lo para o Serviço
Social na próxima semana.”
“Isso é ótimo”, eu disse.
“É mesmo”, ele concordou. “Mas significa que temos um
problema nesse fim de semana. O que faremos com o garoto e
como o manteremos afastado dos outros caras?”
Jordan cruzou os braços e fez uma careta. “Me explique
melhor. O que acontece se o entregarmos para o Serviço Social
hoje? Não pode ser tão ruim… certo?”
“Na região há três famílias que podem acolhê-lo”, Derek
disse. “Minha irmã disse que nenhuma delas é a ideal. Eles
receberam múltiplas queixas sobre elas e ainda têm a tutela de
algumas crianças. Minha irmã não aprecia a ideia de entregar
um bebê pra nenhuma delas.”
“E as agências de adoção?”, perguntei. “Com certeza
podemos contactar algumas…”
“Já pensei nisso”, Derek disse suavemente. Seu rosto
estava duro mas seus olhos escuros transmitiam calor. “Todas
as agências de adoção requerem tempo pra processar. Bebê
Anthony ainda teria que ficar com uma família durante o
trâmite”, ele chacoalhou a cabeça. “Prefiro mantê-lo conosco
do que entregá-lo a uma família sobrecarregada e exausta. Eu
confio mais na Clara do que em qualquer outra pessoa.”
Inchei de orgulho com o elogio. Ele disse isso tão claro,
olhando na minha direção. Eu sabia que era verdade. Ele não
estava só tentando ser legal.
“Sem mencionar a mãe”, Derek adicionou. “Temos que
dar tempo à minha irmã para inserir Anthony no sistema sem
causar complicações para a mãe por tê-lo entregado tão tarde.”
“Ok, então vamos mantê-lo”, disse Taylor. “Por que não
nos inscrevemos como, hm, uma família temporária de
verdade?”
“Nós?”, perguntou Jordan. “Uma família?”
Taylor deu de ombros. “Ou a Clara. Não sei. Só estou
procurando outras soluções.”
Derek chacoalhou a cabeça. “Demora muito até a licença
de família temporária sair. Semanas ou até meses, mesmo nas
melhores circunstâncias. Considerando o quão ocupado o
Serviço Social está agora…”, ele separou as mãos, duvidando.
“Tem que haver outra opção”, Jordan murmurou.
“Bem…”, Derek cerrou seu maxilar. “Se entrarmos em
contato com a mãe biológica do bebê Anthony, podemos pedir
a ela que assine um termo de guarda temporária pra nós. Isso
evitaria a burocracia.”
“Vamos fazer isso, então!”, Taylor disse animadamente.
A careta de Derek ficou mais profunda. “Temos alguns
problemas. Um, ela entregou a criança, significa que
provavelmente não quer ser encontrada. Dois, ela o entregou
depois do período previsto por lei. Se a encontrarmos e
colocarmos seu nome em um papel, aumentamos as chances
de ela ser processada. E três”, ele adicionou, “ela vai se dar
conta que o mantivemos fora do sistema na última semana. Ela
pode nos denunciar. Ou seja, é muito arriscado envolvê-la a
essa altura.”
“Ok”, disse Jordan devagar. “Então continuamos o que
estamos fazendo. O que fazemos sobre o fim de semana?”, ele
olhou no relógio. “Os outros caras estarão aqui em algumas
horas. Se Billy Manning descobre essa criança…”
“Não temos boas opções”, Derek disse, exausto. “Se
ficarmos aqui pelo segundo fim de semana seguido, dentro dos
quartos o tempo todo, Billy vai suspeitar. Acho que não temos
nenhuma outra opção a não ser levar bebê Anthony para outro
lugar este fim de semana.”
“Mas você disse que é importante que ele fique aqui”,
Jordan pontuou. “Por razões legais.”
Derek cruzou seus braços sobre o peito de forma
teimosa. “Sei que eu disse, mas mesmo que o levemos para
casa neste fim de semana, ele vai ter passado a maior parte do
tempo no quartel. Sete dias aqui e mais três fora. Se formos
pegos e tivermos que depor diante do juiz, acho que podemos
provar que não pretendíamos mantê-lo. Que mantivemos seu
interesse em primeiro lugar.
Eu tinha ficado quieta a maior parte do tempo até aquele
momento, mas me dei conta de que poderia ser útil. “Posso
levá-lo para a minha casa! Eu cuido dele de lá, longe de vocês,
pra evitar suspeitas.”
“É muito gentil você oferecer”, Derek disse. “Mas acho
que deveríamos mantê-lo na minha casa. São quatro quartos
numa propriedade isolada no nordeste da cidade. Quase nunca
recebo visitas. Ninguém vai saber que ele está conosco.”
É um bom argumento, pensei. Mama sempre recebia
visitas aleatórias: nossos vizinhos, amigos e outros locais para
ver se ela está bem. Ela era um pilar na comunidade de
Riverville, e mesmo que já tivesse um ano que meu pai tinha
morrido, ainda apareciam pessoas para prestar condolências e
oferecer apoio.
“Tudo certo, então!”, Taylor comemorou. “Noite do
pijama na casa do Chefe!”
16

Clara

Se eu fosse dormir fora de novo, precisava de mais


roupas e outros itens pessoais. Era arriscado deixar Anthony
com os rapazes porque eles podiam receber um chamado a
qualquer momento, mas decidimos fazer assim mesmo. Se eles
recebessem um chamado, me mandariam uma mensagem
imediatamente e eu correria de volta para o bebê.
Com aquilo na cabeça, corri para casa e coletei roupas
limpas. Não levei as roupas sujas para casa – eu poderia lavá-
las na casa de Derek. Se essa situação de babá continuasse um
pouco mais, eu precisaria lavar e reutilizar roupas de qualquer
forma.
O restaurante era no caminho de volta para o quartel,
então decidi parar e ver se mama estava de fato bem sem mim.
Angelina, uma de nossas vizinhas, estava do outro lado do
balcão anotando o pedido de um cliente.
“Uma extragrande, metade calabresa, metade abacaxi.
Uma grande com azeitona, pimentão e cogumelo. Cerca de
quinze minutos”, ela anotou o pedido num pedaço de papel e
então me viu. “Clara! Você está de volta!”
“Oi, Angelina. Tudo certo por aí?”
“Acho que sim”, ela colocou o pedido no varal e o
empurrou na direção da cozinha, então virou a cabeça para
zangar com seu filho. “O pedido está esperando, Marcus! Por
que você está demorando tanto?”
“Estou indo”, o adolescente reclamou. Ele pegou o
pedido de cima do balcão voltou para o fundo.
“Desculpa por isso”, ela disse, limpando as mãos numa
toalha. “Como vai seu projeto?”
“Projeto?”
“Sua mãe disse que você está trabalhando num projeto
criativo por uma ou duas semanas. Por isso ela precisa da
minha ajuda aqui no restaurante. Que tipo de projeto é?
Pintura?”
“Hm… Sim! É um quadro. Estou aprendendo e está
muito difícil, mas estou me, hm, divertindo muito!”
Ela me deu um abraço rápido. “Você tem trabalhado
tanto desde que seu pai morreu. Você merece uma folga. Sua
mama está na cozinha.”
Sorri para ela e fui para a cozinha. Fiquei surpresa que
mama não falou sobre o bebê, de verdade. Quando se tratava
de segredos, ela geralmente não durava horas sem contar a
todo mundo o que sabia.
Seu rosto se iluminou quando ela me viu me aproximar
do balcão perto do forno de pizza. “Aí está minha filha! Onde
está o bebê?”, ela checou minhas costas, como se eu o
estivesse escondendo ali. “Você terminou? O bebê foi
embora?”
“Ainda estamos com ele”, expliquei. “Mas vamos
precisar tirá-lo do quartel no final de semana.”
“Você vai pra casa?”, seus olhos se iluminaram. “Ou pra
casa do Jordan?”
“Na verdade, eu e o bebê vamos pra casa do Chefe.”
Ela gritou de empolgação. “Chefe Dahlkemper! Muito
mais bonito que Jordan. Vocês dois estão…”
“Não! Nós quatro vamos ficar lá. Estamos cuidando do
bebê juntos. Não se empolgue.”
Mama mudou de assunto. “Cadê o bebê? Quero vê-lo!”
“Ele está no quartel.”
“Traga-o para mim essa noite!”, ela insistiu. Eu nunca
tinha visto minha mãe tão empolgada antes. “No caminho pra
casa do Chefe Bombonzinho. Só um minuto! Bem rápido!”
“Vamos ver”, eu disse, mas sabia que não podia fazer
isso. Era sexta à noite, e o restaurante estaria lotado em breve.
Alguém me veria com o bebê e todo mundo faria perguntas.
Dei um beijo de tchau na minha mãe e corri de volta para
o quartel. Felizmente, nenhum chamado tinha acontecido.
“São sete horas”, disse Derek. “Você deveria levar
Anthony agora, pro caso de algum dos caras do outro turno
chegar mais cedo.”
Ele me deu as chaves da sua casa, que estavam presas em
um chaveiro de extintor de incêndio. Estacionei o carro mais
perto da estação e eles discretamente trouxeram o cestinho de
Anthony para mim. O depositamos no chão do assento do
passageiro, mas então Derek se inclinou e olhou dentro do
carro.
“Não pensei em comprar um bebê conforto”, Derek
lamentou.
“Não se preocupe – vou dirigir com cuidado e o mais
devagar possível”, respondi.
Ele correu uma mão no seu cabelo escuro e fez uma
careta. “Talvez eu deva levá-lo. É mais seguro.”
Olhei para o GPS no meu telefone. “Sua casa fica a 6
quilômetros daqui!”
“Eu posso correr”, ele disse teimosamente. “Eu corri
onze quilômetros em uma hora quando estava na academia.
Volto em uma hora.”
“Prometo mantê-lo a salvo”, eu disse.
Ele não parecia feliz com a decisão, mas finalmente
assentiu. “Nos vemos à noite”, ele disse, fechando a porta do
passageiro.
Enquanto dirigia para a casa de Derek, usando ruas
paralelas e não ultrapassando 20 quilômetros por hora, pensei
no quão protetor ele era com o bebê. Ele estava inclinado a
carregá-lo nos seus braços pelo caminho todo só para evitar
que ele estivesse em um carro sem segurança por um curto
período de tempo. Era muito carinho.
Sem mencionar o fato de ele estar arriscando seu
trabalho para assegurar que Anthony recebesse o melhor
cuidado ao invés de virar apenas mais um número no sistema.
Bombeiros provavelmente tinham um bom plano de
aposentadoria, além de outros benefícios. Eu sabia que ele
tinha 37 e já tinha trabalhado por 15 anos. Ele já tinha
acumulado muito tempo de serviço para se aposentar.
E estava arriscando isso por aquele pacotinho de alegria
no chão do meu carro.
Ele é mais do que um bombeiro grandão e mau
humorado, pensei. Ele é um bom homem.
Anthony se mexeu com alegria no cestinho, sem saber
aonde ia.
A casa de Derek era em uma esquina na divisa nordeste
de Riverville. Nenhum dos lotes ao redor tinha casa, então era
só ele rodeado por terrenos. Era uma casa grande, de dois
andares, pintada de azul elétrico e com acabamento em branco.
Uma cerca de piquetes também branca rodeava o jardim e eu
tive que sair do carro para abrir o portão e entrar na garagem.
Quatro jornais estavam espalhados na varanda, os que ele
tinha perdido enquanto estava de plantão.
“Derek tem uma ótima casa”, sussurrei para bebê
Anthony, carregando-o para dentro.
Apesar de ser uma casa mais antiga, o interior era limpo
e bem cuidado. O primeiro andar tinha quatro metros
quadrados e o andar de cima tinha quatro quartos. A escada de
madeira crepitou quando carreguei o bebê para lá, explorando
minha residência naquele fim de semana. Os primeiros dois
quartos eram quartos de hóspedes, adornados com móveis de
madeira antigos e camas adornadas com edredons de
matelassê.
O terceiro quarto tinha uma cama e seu próprio banheiro,
mas metade do cômodo estava tomado por máquinas de
escrever. Seis delas estavam sobre mesas, reluzentes e
imaculadas como se fosse uma vitrine. Havia seis caixas
empilhadas no canto e uma olhada rápida me mostrou mais
máquinas de escrever.
“Estranho”, eu disse, saindo do cômodo.
O último quarto era a suíte master. Uma cama com
dossel enorme ocupava grande parte do cômodo, com um
espelho de corpo todo ao lado e um banheiro adjacente. Tudo
estava limpo e organizado. Me perguntei se Derek tinha uma
diarista.
Eu estava quase saindo do quarto quando notei um porta-
foto na mesinha de cabeceira. Dei uma olhada mais de perto
no casal na foto: uma mulher usando um vestido de noiva de
chifon e um véu transparente, e o homem usando um terno
bem ajustado com um colete vermelho e um lenço que
combinava no bolso.
Derek era tão jovem na foto que quase não o reconheci.
Ele era casado?, pensei.
De repente, pensei que eu estava bisbilhotando demais.
Devolvi a foto para o lugar e deixei o quarto. Carreguei
Anthony para o andar de baixo, peguei o resto das coisas no
carro e deixei na sala de estar. Liguei a TV no jogo dos
Dodgers e comecei a dar a mamadeira para o bebê.
“Está vendo?”, perguntei a Anthony. “Esses são os
Dodgers. Eles estão ganhando e nós gostamos disso. Gostamos
dos Dodgers. Odiamos os Giants.”
Anthony respondeu sugando com alegria sua mamadeira.
17

Clara

Os rapazes chegaram em casa por volta de nove e meia,


seus faróis invadiram as janelas da casa. Eles entraram pela
porta da frente em silêncio, como se estivessem invadindo
uma propriedade.
Segurei Anthony e fui os encontrar na porta. “Não se
preocupem, ele está acordado.”
Eles passaram a andar normalmente. “Queríamos ter
certeza”, Derek respondeu. “A casa é velha e estala muito e,
diferente do quartel, não é à prova de som.”
“Tudo certo por lá?”, perguntei.
Taylor parou para apertar a bochecha de Anthony. “Foi
horrível. Um jovem trouxe nossa pizza de sexta a noite. Nem
perto de ser uma loira linda”, ele pontuou dando uma
piscadela.
Sorri e senti minhas bochechas corarem.
“Guardamos pra você”, Taylor adicionou. “Está no
forno.”
“Espero que o forno esteja desligado”, eu disse
enfaticamente.
Derek ignorou a alfinetada. “Billy Manning estava
agindo estranhamente. Ele disse que sentiu um cheiro no ar.
Cheiro diferente.”
“Joguei o lixo das fraldas na caçamba do fim da rua”,
disse Jordan. “O cheiro deve ter ficado no ar.”
“A culpa é da bundinha do Anthony”, Taylor disse.
“Como vamos dormir, Chefe?”
Derek depositou sua mochila perto das escadas. “Você e
Jordan podem ficar nos quartos de hóspedes, assim Clara e o
bebê tem acesso ao banheiro do outro quarto.”
“O quarto das máquinas de escrever?”, perguntei.
“É esquisito, não é? Quem coleciona isso?”
“Várias pessoas”, Derek disse curtamente. “Tom Hanks
tem uma coleção impressionante.”
“Aaah”, disse Taylor com falso entusiasmo. “Bom, se
Tom Hanks tem uma, tudo bem.”
Derek o ignorou e pegou uma sacola. “Eu trouxe mais
leite em pó e brinquedos. Se alguém precisar de produtos de
higiene, o banheiro do corredor está equipado com tudo.”
“Obrigado, Chefe”, disse Jordan. “Estou exausto, vou
dormir.”
“Ele ama dormir até tarde aos sábados”, disse Taylor.
“Sim, e não consegui fazer isso semana passada”, Jordan
reclamou. Ele hesitou, mas me deu um beijo na bochecha. “Se
você precisar de ajuda com o bebê amanhã, estou livre.”
“Você é um doce.”
“Também vou puxar o bonde”, disse Taylor. “Vou correr
de manhã, Chefe, se você quiser ir comigo…”
Deve ter sido uma piada, porque Derek grunhiu de
infelicidade e Taylor deu uma risadinha. Ele me deu um
tchauzinho amistoso e correu para o andar de cima com sua
mochila.
Derek caminhou até a cozinha e eu o segui com Anthony
no colo. Ele se virou para mim e disse, “Fico com o bebê se
você quiser ir para o quarto de Jordan e…”, ele não terminou a
frase.
“Estou bem aqui”, eu disse. “Anthony ainda está
acordado, então vou continuar brincando com ele até ele se
cansar.”
“Bom”, Derek respondeu. “Como eu disse, a casa não é
exatamente a prova de som”, como se provasse o que ele disse,
o teto crepitou e gemeu com os passos dos outros dois no
andar de cima.
“Ok”, eu disse, sem querer prolongar a discussão sobre o
volume das minhas atividades sexuais.
Derek pegou duas cervejas na geladeira e me ofereceu
uma. Aceitei com gratidão e nós fomos para a sala de estar
juntos. Coloquei Anthony de volta no seu cestinho e abri a
cerveja. Estava gelada e desceu redondo.
Derek fez um barulho quando se deu conta que a TV
estava ligada. “Nesta casa, assistimos aos Giants”, ele pegou o
controle remoto e mudou para o jogo, os Giants perdiam de
quatorze a três.
Dei um olhar arrogante na direção dele.
Ele grunhiu, infeliz. “Vou abrir uma exceção esta noite.
Vamos ver os Dodgers.”
“Muito melhor”, respondi.
Nós dois assistimos ao jogo em silêncio enquanto
bebíamos nossas cervejas. Derek se levantou no final do
primeiro ciclo e pegou mais duas, me entregando uma sem
dizer nada.
O silêncio se prolongava e eu me dei conta de que havia
um elefante na sala. Os rapazes tinham proposto me
compartilhar. Eu tinha falado sobre aquilo com Jordan e
Taylor, mas não com Derek. Eu só sabia do seu interesse
indiretamente, porque Jordan me disse.
Finalmente ficou esquisito demais e no final da minha
segunda cerveja eu estava pronta para abordar o assunto
cuidadosamente.
“Vocês três querem dividir uma namorada, então?”, falei.
Ok, talvez não tenha sido uma abordagem muito
cuidadosa, mas pelo menos eu falei.
Derek respondeu, surpreso. “Sim.”
“Sim? É só isso?”
“Sim.”
“Você não parece ter muito a dizer sobre o assunto.”
“A proposta é bem explicativa”, ele respondeu. Seus
olhos escuros viajaram entre mim e a TV. “E você ainda não
tem uma resposta pra nos dar, ou tem?”
“Ainda estou pensando no assunto”, me levantei, peguei
duas cervejas, entreguei uma ao Derek quando voltei. “Por que
você preferiria dividir uma garota do que ter uma só pra
você?”
“Presumi que Jordan e Taylor tivessem contado o
porquê.”
“Eles me contaram o porquê deles. Quero saber o seu.”
Derek abriu a latinha de cerveja e tomou um longo gole.
As veias do seu braço pareciam pular quando ele colocou a
latinha na mesa perto do sofá. “Eu nunca fui bom com
relacionamentos convencionais. A escala é um saco, três dias
dentro do quartel, quatro dias de folga. Mulheres não gostam
disso e eu não posso culpá-las.”
“Foi por isso que você se divorciou?”, perguntei.
Ele me deu uma olhada. Levantei as duas mãos em
defesa.
“Eu não estava bisbilhotando, juro. Fui conferir os
quartos e vi a foto do seu casamento perto da sua cama.”
De repente, um alarme ecoou na minha cabeça: e se ele
não fosse divorciado? E se ela tivesse morrido? Esperei pela
sua reação, tremendo, antes da sua resposta.
“Minha ex está bem viva”, ele retumbou. “Só ficamos
casados por dois anos. Ela está com outra pessoa agora. Estão
juntos já faz oito anos. Espera, não. Nove anos no mês que
vem. O tempo voa de verdade.”
Ele chacoalhou sua cabeça. “Mas respondendo à sua
pergunta: não. Não foi o trabalho que fez isso conosco.”
Ele não continuou, e eu fiquei curiosa, então disse:
“outros problemas conjugais, então?”
“Nosso relacionamento era perfeito”, ele disse. “Éramos
perfeitos de todas as formas. Exceto uma”, ele inspirou
profundamente e expirou lentamente. “Eu queria filhos. Ela
não. No final, nossas expectativas diferentes ficaram muito
grandes pra serem ignoradas.”
Grunhi. “Ai. Isso é um saco. Vocês não discutiram antes
do casamento?”
“Ah, eu sabia que ela não queria ter filhos desde o
começo”, Derek se inclinou na sua cadeira e sorriu com
tristeza. “Achei que ela fosse mudar de ideia. Todas as
mulheres acabam sofrendo de comichão maternal em algum
momento, não é? Menos ela. Ela não queria filhos e sabia que
isso nunca mudaria. E está tudo bem. Ela sempre foi muito
honesta sobre isso. É minha culpa não ter acreditado nela.”
Anthony estava agitado, então o carreguei para o sofá e
me sentei perto de Derek. “Ah, Derek, sinto muito.”
“Eu também”, ele sorriu para Anthony. “A vida é um
saco as vezes, não é, garotinho?”
Anthony o olhou meio confuso, arqueando as
minissobrancelhas.
Meu coração ficou partido com a história de Derek
naquele momento, enquanto ele e o bebê se encaravam. Isso
explicava uma grande parte da situação, uma que não tinha
ficado clara antes: por que Derek arriscaria tudo por aquele
garotinho? Ele queria filhos. Ele queria ser pai. E o instinto
paterno estava se manifestando na sua insistência em fazer o
melhor para Anthony, mesmo que arriscasse suas carreiras.
De repente me lembrei da pergunta de Maurice no
telefone: você sente atração por eles? Antes daquele
momento, a resposta era sim, eu estava fisicamente atraída por
eles. Os três eram inegavelmente lindos, mesmo que não
fossem bombeiros.
Mas, naquele momento, me dei conta de que estava
atraída por mais do que somente o corpo de Derek. Ele era um
bom homem, o que fazia seu exterior bem esculpido ainda
mais sexy.
Eu deveria chamá-lo para sair. Poderíamos pedir aos
outros dois que cuidassem do bebê Anthony e jantar ou algo
do tipo no dia seguinte. Se ele não ia me convidar, eu o
convidaria.
Antes que eu pudesse, as escadas de madeira crepitavam
enquanto Taylor desceu. Ele estava usando uma cueca boxer
vermelha e uma regata branca. Seu cabelo estava despenteado.
“Teve um pesadelo, garoto?”, Derek perguntou
condescendente.
Taylor mostrou o dedo do meio para ele e se virou para
mim. “Ei, eu estava pensando… você quer sair amanhã? Tipo
num encontro?”
“Ah”, eu disse. Sua pergunta me pegou desprevenida.
“Sim. Parece divertido.”
“Tem certeza?”, ele perguntou. “Eu não quero forçar o
assunto sobre dividir você. Só pensei que poderia ser um bom
momento, já que os outros dois podem ficar com o bebê…”
Eu estava pensando na mesma coisa para sair com
Derek.
“Eu adoraria sair com você”, eu disse.
“Ótimo. Beleza. Maravilha”, Taylor sacudiu a cabeça.
“Ok, vou voltar para a cama agora.”
“Boa noite”, eu disse.
Os degraus crepitaram e rangeram quando ele subiu.
“Então”, Derek disse calmamente. “Você precisa tomar
uma decisão sobre nossa… oferta.”
“Talvez”, respondi. “Vamos ver.”
18

Taylor

Eu tinha uma queda estúpida e enorme por Clara Ricci.


Ela era uma grande e gostosa dor de cabeça.
Desde que comecei a trabalhar no quartel, sempre
esperei ansiosamente pelas sextas-feiras, porque era o dia de
pedir pizza do Tony. Era o dia de Clara entregar comida na
estação - às vezes, quem ia era um outro cara, Dan, o que era
um saco, mas geralmente era Clara.
Nós sabíamos que ela era gostosa, curvilínea na medida
certa, tinha seios fartos e um cabelo sedoso que me dava
vontade de acariciar. E isso eram só as impressões
instantâneas, cinco minutos após conhecê-la. Eu tentava não
objetificar mulheres tanto, mas caramba, era impossível não
olhar para Clara quando ela estava por perto.
Mas agora que tínhamos passado uma semana quase
morando juntos, eu sabia que ela era mais do que bonita. Ela
era divertida, esperta e atenciosa. Muito atenciosa! A maneira
como ela cuidava do bebê me deixou todo sorridente
permanentemente.
Como meus amigos diziam: ela era para casar.
Me sentei na cama, encarando o teto, incapaz de dormir.
Geralmente eu dormia rápido. Eu tive que aprender. No meu
ramo, é preciso aproveitar toda e qualquer oportunidade para
tirar um cochilo. Mas naquela noite, Clara invadiu meus
pensamentos.
Será que ela estava interessada na nossa proposta? Ou
ela só queria ficar com Jordan?
Demorei meia hora para criar coragem e ir convidá-la
para sair. Só para convidá-la. Pelo menos eu saberia de uma
vez por todas. Mas apesar do meu medo, ela aceitou o convite.
Fiquei tão feliz que quase corri para o andar de cima.
Mas não consegui dormir depois, acho que por causa da
ansiedade.
E porque Jordan estava roncando no quarto ao lado do
meu. Derek tinha razão: as paredes eram finas.
Dormindo bem ou não, acordei cheio de energia na
manhã seguinte. Vesti meu short de corrida, calcei meus tênis
e corri para o andar de baixo. Derek estava tomando café na
cozinha enquanto lia o jornal.
Fiz uma careta. “Esse é o jornal de terça? O jogo dos
Athletics na capa é de terça?”
“Eu gosto de ler as notícias que perdi durante a semana”,
Derek respondeu. Ele dobrou o jornal e continuou. “Então
você tem um encontro com a Clara hoje à noite?”
“Sim!”, respondi alegremente. “Estou empolgado. Achei
esse restaurante maneiro do outro lado da cidade, e depois nós
vamos…”
Parei de falar quando ouvi alguém descendo as escadas.
Era Clara, com bebê Anthony nos braços.
“Bom dia, coisa linda!”, apertei a bochecha do bebê e
olhei para cima. “Bom dia pra você também, Clara.”
Ela mostrou a língua para mim. “Engraçadinho. Você vai
correr?”, ela perguntou, me analisando.
“Sim, meus cinco quilômetros diários. Tem uma trilha no
fim da rua que parece interessante.”
“Você se importa se eu for também?”, ela perguntou. “Eu
trouxe minhas roupas de correr, por via das dúvidas.”
“Sim, claro! Você se importa em ficar com o bebê,
Derek?”
Ele colocou o jornal na mesa e pegou a criança. “A ideia
disso tudo foi minha. Vamos ter um momento de clube do
Bolinha, não é?”
Anthony se mexia alegremente nos seus braços.
Clara correu para o andar de cima, se trocou e nós
saímos da cozinha. Ela estava usando calças apertadas de yoga
e tinha prendido o cabelo num rabo de cavalo. Nos alongamos
um pouco na sala, então saímos da casa e subimos a rua para
achar a trilha.
“Qual é o seu ritmo médio?”, perguntei.
Ela fez uma careta. “Eu sou lenta. Geralmente cinco
quilômetros em meia hora. Talvez seis, se eu estiver num bom
dia.”
Meu ritmo era quase o dobro, mas eu não queria fazê-la
se sentir mal. Além disso, eu queria correr com ela, então
disse: “Hoje é um dia tranquilo de treino. Dez quilômetros por
hora está perfeito.”
Chegamos na trilha e começamos a atividade. Era larga o
suficiente para corrermos ombro a ombro, mas não era
pavimentada. O rabo-de-cavalo de Clara se movia de um lado
para o outro, quase tocando meu ombro enquanto corríamos.
“O bebê dormiu bem?”, perguntei depois de alguns
minutos. “Eu não o ouvi chorar.”
“Ele dormiu muito bem”, ela respondeu, sorrindo. “Me
acostumei com os sinais de que ele está se movendo. Agora
consigo pegá-lo no colo antes que ele comece a chorar.”
“Então o ronco não incomodou você?”, perguntei.
“Ronco? Eu nem te ouvi.”
“Eu não, Jordan”, expliquei. Seu ronco parece uma
metralhadora. Você tem sorte de estar num quarto do outro
lado da casa.”
Clara deu uma risadinha. “Meu irmão, Jason, roncava
quando era criança. Nós dividimos o mesmo quarto até eu
fazer oito anos. Acho que desenvolvi uma certa tolerância.”
“Sortuda!”
A trilha passava por árvores, cortava alguns campos e
descia para uma pequena floresta. Em alguns pontos ficava
estreita e tínhamos que passar um de cada vez. Então Clara
acelerava e ia antes, e eu a seguia.
Então meus olhos deslizavam.
Eu não podia evitar, a mulher era boa. E estava usando
calças justas. Sua bunda se flexionava hipnoticamente
enquanto corríamos. Era como se eu estivesse num transe,
acompanhando seu ritmo mas com os olhos vidrados no seu
traseiro.
Então meu pau ficou duro.
Caralho, pensei. Meu short de corrida era fino, e uma
ereção me deixaria numa situação embaraçosa. Foquei no seu
rabo-de-cavalo balançando e tentei não pensar em coisas
sexuais.
Beisebol. Os Athletics de Oakland. Treinamento de
campo. Aquele velho enrugado que ajudamos a sair da
banheira semana passada.
Consegui manter a ereção sob controle até chegarmos na
casa de Derek. “Bom trabalho!”, exclamou Clara, dando um
soquinho no meu braço.
“Você também”, sorri. Ela estava suando mais do que eu,
mas lhe caía bem. E me fazia imaginar outras formas de fazê-
la suar, seu corpo me hipnotizando de outra maneira, sem as
calças de yoga cobrindo suas coxas deliciosas e sua bunda
suculenta…
“Vou tomar banho”, eu disse, correndo para o andar de
cima antes da barraca dentro do meu short se armasse
completamente.
Passei o dia estudando dentro do quarto. Jordan pediu
sanduíches para o almoço e foi bom fazer uma pausa, mas
além disso, fiquei com o nariz enterrado nos livros até nosso
encontro, às seis.
Clara estava me esperando na sala, ela usava um vestido
longo azul cristal que tinha a cintura marcada e o tecido
ondulava em torno do decote. Era perfeito para sua forma,
especialmente quando ela se virou de lado para mostrar o
vestido, como uma modelo.
Meu pau deu um pulo quando eu a vi, e eu tive que usar
toda a minha concentração para fazê-lo se comportar.
“Uau”, eu disse. “Você está incrível.”
“Obrigada”, ela disse. “Foi totalmente sem intenção.
Joguei um monte de roupas aleatórias na minha mala e
felizmente este vestido estava no meio.”
“Que sorte a minha. Quer dizer, a sua”, me encolhi, mas
Clara apenas sorria mais.
Jordan colocou o braço em volta do meu ombro. “Então,
para onde é que você está levando esta dama sortuda?”
“Vamos pra um lugar legal”, respondi. “Te conto tudo
depois do encontro.”
Jordan pegou bebê Anthony do cesto e fez sua mãozinha
acenar. “Diga tchau! Divirtam-se!”
“Se cuidem”, disse Derek, acenando.
Dirigi para o restaurante italiano do outro lado da cidade.
Não sei como, mas consegui fazer reservas no último minuto.
Conseguimos uma mesa no pato do lado de fora, sobre o rio
homônimo à cidade.
Assim que a garçonete saiu, Clara se inclinou sobre a
mesa e disse, “Não acredito que você me trouxe na
concorrência.”
Meu coração afundou no meu estômago. Oh, não. Como
eu pude ser tão estúpido? Sua família era dona de um
restaurante italiano, e eu a tinha trazido para outro restaurante
italiano…
Meu rosto deve ter ficado mortificado, porque ela
rapidamente colocou a mão sobre a minha. “Não! Eu estava
brincando!”
“Tem certeza?”, perguntei.
“Eles não são concorrência. Nós vendemos basicamente
pizza pra viagem, o foco deles são refeições e jantares no
local.”
Meu coração ainda socava meu estômago, então tomei
água para tentar me acalmar. “Falando em restaurantes, como
está a pizzaria?”
Clara deu de ombros. “Sobrevivendo. O restaurante é
lucrativo, mas só o suficiente. É um prédio velho e está
conosco faz três décadas. O forno de pizza foi produzido no
governo Nixon”, ela suspirou. “Estamos sempre a um passo do
vermelho.”
“Isso é um saco”, eu disse. Que tipo de homem fala isso?
“Mas estou feliz em estar aqui pra ajudar”, ela
continuou. “Mama precisava mesmo de ajuda depois que papa
se foi. Meu irmão, Jason, ficou aqui um tempo depois do
funeral, mas mama precisava de ajuda a longo prazo. Papa
organizou tudo relacionado aos negócios: finanças,
fornecedores, marketing e todo o resto. Ajudei mama a
entender tudo. Eu não sei o que ela teria feito sem mim.”
“É muito altruísta dar uma pausa na sua própria vida pra
ajudar sua família”, eu disse. “Ela tem sorte em ter você como
filha.”
“Ela quer netas”, ela disse, aceitando uma taça de vinho
servida pela garçonete. “Mas não precisamos falar sobre isso.
E você? Você é tecnicamente um bombeiro voluntário, certo?”
“Tecnicamente, estou em estágio probatório. Depois que
eu terminar a formação, serei parte do quadro”, expliquei.
“Estou terminando o curso de Serviços de Emergências
Médicas. Logo que eu terminar, no ano que vem, serei
promovido e terei um aumento.”
“Isso é muito legal”, Clara se inclinou para a frente,
realçando o decote do seu vestido. “O que te fez querer isso?”
“Mister Rogers”, respondi.
Ela piscou. “Mister Rogers? O programa de TV?”
Assenti. “Ele dizia que, quando você vê coisas
assustadoras na TV, sempre tem alguém ajudando. Eu achava
que era uma ideia muito legal. Quando coisas ruins acontecem,
existem ajudantes. São tipo super-heróis, mas só que de
verdade. Eu queria ser a pessoa que os outros procuram
quando precisam de ajuda.”
Parei para tomar um gole do meu vinho e continuei.
“Meu vizinho, Francis, era do Exército. Ele era médico.
Quando criança, eu achava aquilo tão legal. Ele ia pra casa e
caminhava pelo bairro no seu uniforme. Eu achava superlegal.
Eu queria ser como ele, passar a vida ajudando pessoas. Me
dei conta que me tornar bombeiro era mais fácil do que me
alistar no Exército.”
“E mais seguro!”, Clara complementou. “Quer dizer,
relativamente. Não quis dizer que a vida de um bombeiro não
é perigosa.”
“Ninguém nunca atirou em mim”, admiti. “Isso é um
bônus.”
“E como funciona sua escala de trabalho com as aulas?”,
ela perguntou.
“Algumas aulas são só no fim de semana”, expliquei.
“Não posso me matricular em tempo integral, mas devagar
consigo terminar.”
Clara fez uma careta. Ela era absolutamente adorável
quando fazia careta. “Por que você não tem aula esse fim de
semana? Você não está matando aula só pra sair comigo,
está?”
Eu sorri. “Estamos no verão. Minhas aulas são só
durante o outono e o inverno.”
“Ah, claro!”, ela chacoalhou a cabeça. “Espera, então o
que você estava lendo hoje? Te vi estudando no quarto o dia
todo.”
“Bem, estou tentando me adiantar”, respondi. “Tenho
todo o programa do outono planejado. Por exemplo, tenho
aulas de Gerenciamento de Traumas e Populações Especiais.
Mesmo que as aulas não comecem até o fim de agosto, eu
trouxe os livros e já comecei a ler pra me inteirar. Porque logo
que o semestre começar, pode ser difícil fazer isso enquanto eu
trabalho.”
“Deve ser difícil ter uma agenda tão caótica”, Clara
refletiu.
“Você não tem ideia! Em algumas semanas, quase não
temos emergências e eu tenho muito tempo para estudar. Na
semana seguinte, justo quando tenho uma prova, é claro que
ficamos ocupados o tempo todo e eu me esforço pra achar
tempo.”
“É como funciona”, ela disse com um aceno triste. Seu
cabelo loiro se mexia pelos seus ombros. “Os chamados
acontecem nas horas mais inconvenientes.”
“Não existe hora conveniente pra uma casa pegar fogo”,
eu disse.
“Verdade.”
“É por isso que ensinamos as pessoas a não deixar o
forno ligado quando elas não estão em casa”, eu disse,
impassível.
Ela me deu um olhar matador. “Não acredito que você
me lembrou disso.”
“Te lembrei do quê?”, bebi meu vinho casualmente.
“Estou apenas falando da regra mais básica da prevenção de
incêndios. Nunca deixe o forno ligado se você for sair, não
importa a temperatura.”
Clara bufou, o que me fez sorrir mais ainda.
“É maravilhoso você querer ajudar pessoas”, ela disse.
“Tem tanta coisa ruim no mundo, é encorajador ver gente feito
você, que quer fazer a diferença.”
“Bom saber que você aprecia”, respondi.
“Um brinde a isso!”, nos tilintamos nossas taças e ela me
deu um sorriso terno. Meu estômago palpitou, como se eu
estivesse em uma montanha-russa.
Sim, eu definitivamente gosto dessa garota.
“E você?”, perguntei. “O que você queria ser quando
crescesse?”
“E eu lá sei!”, ela disse. “Sou formada em Literatura
Inglesa. Porque eu gosto de Literatura Inglesa. Mas não é fácil
conseguir trabalho. A menos que eu queira ser professora, o
que eu não quero. Tenho inveja das pessoas que sabem o que
querem da vida, como você.”
Dei de ombros. “Você é ótima com o bebê Anthony. Se
nada der certo, você pode virar babá profissional.”
“Depois das fraldas que eu tive que trocar nas últimas 24
horas, não tenho certeza se quero fazer isso
profissionalmente.”
Nós dois gargalhamos e acenamos para a garçonete
trazer mais vinho.
19

Clara

Antes do encontro começar, eu estava um poço de


nervoso. Eu tinha tido todos os tipos de ansiedade pré-
primeiros encontros, com a adição da total anormalidade da
situação: eu ia sair com Taylor, melhor amigo e colega de
Jordan, com quem eu já tinha dormido.
Dizer que eu estava uma pilha de nervos era pouco.
Mas acontece que Taylor era um homem maravilhoso.
Era fácil estar perto dele – ele era divertido e despreocupado,
leve, sem pressões ou esquisitices sobre a situação na qual nos
encontrávamos. Tudo parecia natural com ele, e eu relaxei
rapidamente.
Eu percebi que queria ser totalmente honesta com ele.
“Quer saber um segredo?”, perguntei depois que ele
sugeriu que eu deveria ser babá profissional.
“Depende, é bom ou ruim?”, ele perguntou.
“Deixo você decidir”, pausei para escolher minhas
palavras com cuidado. “Quando vocês me pediram ajuda na
semana passada e me perguntaram se eu sabia alguma coisa
sobre bebês, eu disse que sim.”
Taylor correu os dedos pelo cabelo loiro. “Certo.”
“Eu menti”, admiti. “Eu não sabia nada sobre bebês. Eu
nunca nem fui babá antes. A única vez que segurei um bebê
antes foi quando LeBron, meu sobrinho, nasceu. Eu o segurei
por cerca de dez segundos antes de entregá-lo de volta para o
meu irmão.”
“Seu sobrinho se chama LeBron?”, Taylor perguntou.
“Tipo o jogador de basquete?”
“Longa história”, eu disse, acenando. “A coisa mais
importante é que eu menti pra você. Pra vocês.”
Taylor colocou a taça de vinho sobre a mesa e fez uma
careta. “Isso é foda. E eu aqui achando que tínhamos muita
química. Que pena que você é uma grande mentirosa.”
Sua cadeira raspou o chão quando ele se levantou, jogou
seu guardanapo e caminhou para longe. Fiquei horrorizada,
encarando a cena até ele chegar até o meio do pátio. E então
ele se virou e voltou, sorrindo.
“Não tem graça!”, eu disse. “Você me enganou por um
segundo!”
“Não me importo se você mentiu”, ele disse.
“Sério? Você não acha que eu fui covarde?”
“Covarde?”, Taylor se engasgou. “Você foi é corajosa.”
“Corajosa”, murmurei. “Agora você só está sendo legal.
Bombeiros são corajosos. Eu sou só uma garota cuidando de
um bebê.”
Taylor se inclinou do outro lado da mesa, com os olhos
fixos nos meus. “Quando atendemos a um chamado, sabemos
o que estamos fazendo. Somos treinados pra isso. Temos
experiência. Mas você? Você se ofereceu pra ajudar com um
bebê sem nenhuma experiência. É preciso coragem pra fazer
isso.”
“Ou estupidez”, eu disse.
“Talvez, mas eu não acho que você seja estúpida, Clara.”
Eu estava tentando me autodepreciar, mas a maneira
como Taylor inverteu as coisas me deixou sorridente pelo resto
do jantar.
Dividimos uma sobremesa – bolo lava de chocolate com
sorvete de baunilha – e saímos do restaurante. Mas o encontro
não tinha acabado ainda. Taylor me levou para um pequeno
estúdio de arte na vizinhança.
“O que estamos fazendo aqui?”, perguntei quando
entramos. Para ser honesta, eu estava surpresa por estar aberto
tão tarde.
Taylor sorriu. “Vamos fazer aula de pintura. Por uma
hora.”
Uma memória invadiu meu cérebro. “Espera um minuto.
Aquele material de pintura que eu vi no quartel… era seu! Eu
não tinha me dado conta de que você é um artista.”
Taylor deu de ombros modestamente. “Fiz uma matéria
eletiva no curso de Artes, foi divertido. Eu gosto, espero que
você também.”
Havia um cômodo privativo no fundo do estúdio com
estações de pintura individuais arranjadas. O instrutor não
parecia Bob Ross, mas ele tinha a mesma voz calma,
instrucional e suave enquanto nos guiava (éramos seis alunos
no total) pelo processo de pintura.
Ocasionalmente, quando eu desviava o olho da minha
tela por um segundo, notava que uma nova pincelada tinha
surgido. Na terceira vez, peguei Taylor no flagra, jogando tinta
na minha pintura.
“Cuide da sua arte!”, sibilei para ele.
Aquilo evoluiu para risadinhas e sabotagens em ambas as
nossas telas. Um dos outros alunos se virou e nos encarou com
seriedade, mas estávamos nos divertindo muito para nos
importar.
“O meu ficou muito melhor que o seu”, eu disse no
carro, voltando para casa, enquanto segurava os dois quadros
lado a lado.
“O seu parece merda”, Taylor disse. “O meu é
absolutamente uma obra-prima. Vou emoldurar e pendurar no
quartel.”
Era brincadeira, na verdade os dois quadros pareciam
quase idênticos, só com algumas pinceladas de diferença.
Ainda estávamos rindo e provocando um ao outro sobre
os quadros quando Taylor estacionou na garagem de Derek.
As luzes estavam apagadas – estavam todos dormindo.
Taylor desligou o carro, mas não se moveu. “Eu me
diverti muito essa noite, Clara.”
“Eu também.”
“Ter dois namorados bombeiros não é tão ruim assim, ou
é?”
Eu ia fazer uma piada sobre como eu era sortuda, mas
decidi mudar o rumo da conversa. “Vocês realmente querem
me compartilhar?”
“Depois da diversão de hoje, você acha que não?”, ele
perguntou.
“Isso significa que você quer sair comigo, me namorar.
Não que você quer me compartilhar com Jordan e talvez
Derek. Eu aposto que vocês concordaram com isso só porque
Jordan me convidou para sair antes e agora a única forma de
vocês poderem fazer o mesmo é me compartilhando.”
Taylor fez uma careta. “Não.”
Eu me virei na direção dele e dei um empurrãozinho no
seu braço. “Admita. Se você tivesse sido o primeiro e nós dois
estivéssemos saindo, você concordaria em me compartilhar
com seus colegas?”
Uma expressão distante invadiu seu rosto. “Hmm. Bom
argumento. De verdade? Eu não sei como me sentiria se as
coisas tivessem sido desse jeito”, ele se virou para me olhar.
“Mas eu não estou interessado em hipóteses e em verbos no
condicional agora. Estou feliz por estar aqui agora. Mesmo
que esteja acontecendo dessa maneira doida.”
“O que é mais doido?”, perguntei. “Cuidar de um bebê
aleatório ou me compartilhar com seus amigos?”
“Ambos!”
Gargalhamos e nos aproximamos dentro do carro. Sua
mão segurou minha bochecha, puxando meu rosto para mais
perto antes dele me dar um beijo suave.
Derreti contra ele e o beijo se intensificou. A língua de
Taylor espreitava minha boca, primeiro timidamente, mas com
confiança e luxúria crescentes. Nossas bocas se uniram
sedentas dentro do carro.
Pensei que Jordan fosse bom de beijo, mas Taylor era
outro patamar. Seus lábios eram inebriantes e viciantes, e
engoliam os sons suaves que eu comecei a fazer.
Eu o quero, me dei conta. Eu o queria muito. E eu sentia
o mesmo desejo vindo dele. Taylor não queria só me dar um
beijo educado de boa noite ou uns amassos dentro do carro.
Ele me queria toda, um desejo crepitante que eu sentia
nos seus lábios, língua e peito.
“Você quer ir lá pra dentro?” perguntei, sem ar.
“Mais do que qualquer coisa no mundo”, ele suspirou.
Seus olhos pareciam mais azuis do que o normal sob a luz da
lua quando ele olhou para a casa. “Mas…”
“Ah, sim”, me dei conta. “As paredes são finas. Se você
consegue ouvir o ronco de Jordan no quarto ao lado, eles vão
conseguir ouvir…”
“Não é isso”, ele fechou os olhos por um minuto,
reunindo as palavras.
“O que é, então?”, perguntei. “Algum problema?”
“Eu nunca… fiz isso antes. Sexo.”
Me engasguei. “Você é virgem?”
20

Clara

Eu o olhei de cima a baixo. Taylor só tinha 22 anos, mas


era lindo. Tinha maçãs do rosto protuberantes e um rosto oval
que realçava seus olhos azuis. Sem mencionar seu corpo,
esbelto e forte, totalmente esculpido. Taylor era um petisco
delicioso.
Como alguém tão perfeito assim nunca fez sexo?
Por um momento, ele pareceu magoado. “Eu deveria ter
dito alguma coisa…”
“Não! Espera.”, segurei sua bochecha. “Só estou
surpresa. É só isso. Eu esperava que um cara como você já
estivesse estado com uma dúzia de mulheres.”
“Eu saí com várias mulheres”, ele disse, defensivamente,
“mas nunca cheguei tão longe. Sempre terminei antes de me
sentir preparado pra, você sabe, estar com elas.”
O fogo da luxúria aumentou dentro de mim. “E você
acha que está preparado pra estar comigo? Depois de um
encontro?”
“Não sei porque, mas é diferente com você”, ele disse.
Então eu o beijei, com mais intensidade do que antes.
“Mas e as paredes”, perguntei. “Elas são finas. Você não
quer privacidade na sua primeira vez?”
“Estamos todos nessa situação de compartilhar você”, ele
disse esperançosamente. “Não pode ser tão estranho assim.”
“Isso não significa que eu quero que todo mundo nos
ouça.”
Taylor deu um sorrisinho. “Então é só ficarmos
realmente quietos, não é verdade?”
Me arrepiei de empolgação com o pensamento. Movendo
nossos corpos juntos, afogando os gemidos e gritos um do
outro com os lábios.
Eu e Jordan tínhamos feito isso no quartel para não
acordar o bebê Anthony. Por mais divertido que tenha sido, eu
não queria me segurar com Taylor. Eu queria fechar meus
olhos e ceder. E eu queria que ele fizesse o mesmo na sua
primeira vez.
Olhei por cima do ombro. “Seu banco traseiro está
limpo.”
Ele também olhou. “Na verdade eu aspirei – ”, ele
interrompeu a fala quando se deu conta do que eu estava
falando.
Encaramos um ao outro por três longos segundos. Então,
simultaneamente abrimos a porta e fomos para o banco de trás.
A boca de Taylor se conectou a minha como se
tivéssemos um ímã. Suas mãos exploravam meu corpo
enquanto nos beijávamos. Não havia nada que nos segurasse
naquele momento – só havia luxúria entre nós, uma luxúria
que aumentava constantemente.
Eu não me importava de só ter saído com ele uma vez,
ou com o fato de tê-lo conhecido melhor só naquela semana.
Não me sentia esquisita em sair com dois colegas ao mesmo
tempo. Eu não me importava com o fato de que, logo que
terminássemos, teríamos que entrar e cuidar do bebê que era
temporariamente nosso.
Enquanto eu beijava Taylor no banco de trás, a única
coisa que importava era ele.
Em contraste com a forma lenta e sexy que Jordan me
chupou no nosso último encontro sexual, Taylor e eu éramos
como dois adolescentes tentando consumar o ato antes dos
pais chegarem em casa. Ele escorregou suas mãos pelo meio
das minhas coxas e eu levantei minha bunda para ele poder
puxar meu vestido até minha cintura, enquanto eu tirava seu
cinto e abria seu zíper. Nós dois nos despimos – ele ficou de
cueca e eu de calcinha – e então nos beijamos de novo, ele me
empurrou de costas até eu ficar deitada de lado sobre o banco.
“Nunca transei num carro”, suspirei.
“Nem eu”, ele respondeu.
Depois de um segundo, ambos rimos da frase.
“Dãã!”, eu disse.
Ele sorriu. “Não sei porque eu disse isso.”
“Cala a boca e me beija.”
Ele obedeceu com entusiasmo, mergulhando entre meus
lábios. Eu sentia seu volume duro entre nós, roçando a minha
entrada molhada. Ele gemeu profundamente quando eu
estiquei a mão e segurei sua vara de forma amorosa.
Eu o guiei para cima e para baixo, cobrindo a cabeça
com meu suco e então o posicionei bem na entrada. Ele
assumiu dali para a frente, empurrando seu corpo contra mim e
me preenchendo devagar.
Nós dois gememos juntos quando ele enfiou seu pau em
mim. Eu o tomei com ansiedade, enrolando minhas pernas em
volta dele e o segurando dentro de mim para saborearmos o
momento. Era meio estranho fazer isso no banco de trás de um
carro, mas parecia correto. Era para ser daquele jeito.
“Jesus Cristo”, Taylor vibrou no meu pescoço, com a
respiração quente na minha pele. “Clara, nunca pensei que
fosse tão bom.”
Eu o beijei. “Você ainda não viu nada.”
Soltei minhas pernas que estavam em volta da sua
cintura e comecei a mover meu quadril contra ele. Seu corpo
ganhou vida contra o meu enquanto ele se movia comigo,
sincronizando as estocadas.
Pode ter sido sua primeira vez, mas ele tinha bons
instintos. Taylor rolou seu corpo contra o meu num ritmo
perfeito, devagar e estável. Ele segurou meu cabelo, com os
dedos tocando meu escalpo e eu me ergui com desejo.
Nos perdemos na luxúria desenfreada enquanto fazíamos
amor no banco de trás. Eu estava grata pela privacidade,
porque logo começamos a gemer alto, com liberdade, sem
precisar ficar em silêncio.
Taylor acelerou o ritmo e enviou novas ondas de prazer
pela minha espinha. Arqueei minhas costas para recebê-lo
melhor, minhas mãos apertavam sua bunda bem esculpida
estimulando-o a ir mais rápido, a me dar tudo o que eu queria.
Ele começou a se engasgar e gemer, e eu me
impulsionava contra ele, apertando minha boceta em volta do
seu pau. O comprimento duro do seu membro me deixou
maluca de desejo, e então ele explodiu dentro de mim.
“Clara!”, Taylor gritou, me olhando nos olhos por meio
segundo. “Ah, Clara!”
O som do meu nome na sua boca me levou até o limite, e
nós dois trememos e nos arrepiamos aliviados enquanto ele me
enchia com seu líquido.
Nos abraçamos por um longo tempo, ofegantes e suados
no estofamento de couro falso, muito satisfeitos para nos
mexer.
“Nada mal”, eu disse, “pra uma primeira vez.”
Ele me deu um olhar surpreso. “Sério?”
Eu beijei seus lábios suados. “Você tem um talento
natural.”
“Aposto que você diz isso pra todos.”
“Só para os que são bons de cama”, eu pausei, “ou bons
de carro.”
Fomos nos desembaraçando um do outro devagar,
coletando nossas roupas. Não era uma tarefa fácil se vestir no
banco de trás de um carro, mas conseguimos, afinal.
Saímos do carro e caminhamos de mãos dadas até a porta
da frente, mesmo que fossem só alguns metros. Taylor parou
em frente a porta e se virou para mim.
“Eu me diverti muito essa noite, durante o encontro e
depois”, ele me deu um beijo na bochecha.
Levantei uma sobrancelha. “É só isso que eu ganho?”
“Não quero que você fique muito presunçosa após um
único encontro”, ele disse, casualmente. “Tenho que te deixar
querendo mais.”
Nós dois rimos e então nos beijamos de verdade.
“Quer dormir comigo?”, ele perguntou.
“Não acabamos de fazer isso?”, respondi.
“Eu quis dizer dormir mesmo. Não transar. A menos que
você não seja muito fã de conchinha…”
“Dormir de conchinha é a melhor coisa”, respondi, “mas
o bebê está comigo. E ele vai acordar a noite toda.”
“Não me importo”, disse Taylor, “vale a pena pra dormir
com você.”
Ele era fofo. E eu queria dizer sim, queria que ele se
deitasse comigo, queria ver seu peito subir e descer com as
respirações que se desacelerariam até ele cair no sono.
Mas eu sabia que ele precisava dormir no final de
semana. Dormir mesmo. Sem um bebê interrompendo com seu
choro. Claro, as paredes eram finas e ele provavelmente o
ouviria no outro quarto, mas estar em quartos diferentes
ajudaria no seu sono.
“Vamos dormir de conchinha outra noite”, eu propus,
“ou durante seus cochilos de dia.”
Ele sorriu para mim. “Sou um grande fã de cochilos.”
Nos beijamos de novo e entramos na casa. Continuamos
de mãos dadas até o primeiro degrau da escada e então fomos
soltando devagar.
Meu Deus, ele é sexy, pensei, assistindo-o subir as
escadas. Não acredito que ele era virgem. E que eu fui a
primeira.
Encontrei Derek no estúdio adjacente à sala de estar, no
fundo da casa. Ele estava descansando numa poltrona, com
bebê Anthony adormecido no seu peito.
A minha parte materna se contorcia com a visão. Não
havia nada mais sexy do que um homem grande e forte
segurando um bebê, e a sensualidade só aumentava quando o
bebê em questão estava dormindo no seu peito. Mesmo que eu
tivesse acabado de transar com outro cara, minhas partes
intimas e meus ovários se contorceram um pouco.
Seus olhos se abriram e ele me encarou. “As crianças se
divertiram?”
Fiz uma careta. Que atitude era aquela? A forma como
ele disse crianças me pareceu vagamente insultante. Me fez
pensar se ele estava chateado de ter que cuidar do bebê ou com
inveja do meu encontro com Taylor.
Ele não teria ciúme do Taylor, pensei. Ou teria?
“Nos divertimos muito”, eu disse. “Você sabia que é
perigoso dormir com um bebê no seu peito? Ele pode rolar e
cair se você não tomar cuidado.”
Eu só sabia daquilo porque aprendi com a planilha do
meu irmão, mas eu disse com a confiança de alguém que diz
algo óbvio.
“Eu não dormi. Só estava descansando meus olhos”, ele
se levantou e colocou o bebê no cestinho. Seus movimentos
eram carinhosos e ternos, como se ele estivesse carregando
algo precioso. Então ele pegou um envelope sobre a mesa. “É
para você.”
Fiz uma careta, mas peguei o envelope. Havia dinheiro
dentro. Uma pilha de notas de vinte. “O que é isso?”
“Você está não-oficialmente na folha de pagamento”, ele
disse. “Esse é seu salário da semana.”
Eu devolvi o envelope para ele. “Não posso aceitar.
Estou feliz por cuidar do bebê.”
Ele se recusou a pegar o envelope de volta. “Você parou
de trabalhar no restaurante pra nos ajudar e eu prometi
recompensá-la por isso. Seu tempo tem valor, Clara”, ele
hesitou, e então adicionou, “eu realmente não sei o que
teríamos feito sem você nessa última semana.”
Abaixei o envelope nas mãos. “Como eu disse, fico feliz
em ajudar bebê Anthony. O resto é só bônus.”
Uma das suas sobrancelhas se ergueu. “O resto?”
Mesmo que a sala fosse no fundo da casa, eu de repente
pensei no que eu e Taylor tínhamos acabado da fazer no carro.
Eu não tinha motivos para me envergonhar, mas um calor
invadiu meu rosto.
Mas então Derek se levantou e me abraçou.
Fiquei surpresa no começo, mas então relaxei nos seus
braços. Ele era um homem do tamanho de um urso, era bom
ser abraçada por ele. No fundo, toda mulher quer um homem
que a abrace assim. Especialmente a forma como sua mão
segurou minha nuca e a forma como ele cheirou meu cabelo…
Talvez ele esteja de fato interessado em mim.
“Anthony mamou faz uma hora”, ele disse, se afastando.
“Também troquei sua fralda no mesmo horário. Acho que ele
está bem por mais um tempo. Quer que eu o leve pra cima pra
você?”
“Não”, eu disse. “Deixa que eu faço.”
Derek acenou. Sem mais nenhuma palavra, ele saiu do
cômodo e subiu as escadas, me deixando confusa sobre o que
ele realmente pensava de mim.
21

Clara

Carreguei bebê Anthony para o andar de cima e


encontrei alguém me esperando na cama. Achei que era
Taylor, mas então vi uma mecha de cabelos pretos na sua
cabeça.
Jordan rolou na minha direção e disse, sonolento, “Ei”.
Fechei a porta atrás dele. “Você está no quarto errado,
senhor.”
Ele se sentou na cama. O cobertor rolou até sua cintura,
revelando seu peito nu sob a luz do luar que entrava pela
janela. “Talvez eu goste de dormir no meio de máquinas de
escrever. Já pensou nisso?”
“É por isso que você está aqui?”
“Não”, ele admitiu. “Eu queria te ver.”
Coloquei bebê Anthony na cama e cruzei meus braços.
“Você queria saber se eu e Taylor estaríamos na cama juntos,
certo?”
“Honestamente, não”, ele disse. “Eu estava dormindo no
meu quarto quando o ouvi chegar. Então enquanto ele foi ao
banheiro, atravessei o corredor sorrateiramente e vim aqui.”
“É por que você quer terminar o que começamos no
outro dia, quando o alarme disparou e interrompeu nossas
atividades sexuais?”
Ele me deu um olhar austero. “Um homem não pode só
querer dormir de conchinha sem ser interrogado? Que droga.”
Dei um beijo na sua testa. “Taylor também queria
conchinha e eu o dispensei.”
Jordan deu um sorriso. “Que bom, a cama não é grande o
bastante para três.”
“Eu o dispensei porque não queria que o bebê o
incomodasse.”
“Meu sono é pesado. Dormi durante o terremoto Loma
Prieta em 89.”
Argumentei: “Espera um minuto. Você nem era
nascido!”
“Não mesmo”, ele admitiu. “Mas e se eu fosse? Eu teria
dormido profundamente durante o evento todo.”
Me preparei para dormir e então me deitei na cama com
Jordan. Ele se virou de frente e eu me aninhei sobre seu corpo
e deitei a cabeça no seu braço.
“O encontro foi bom?”, ele murmurou.
“Foi”, respondi simplesmente.
“Não pode ter sido tão bom. Taylor não se deu bem.”
Tentei rir da piada, mas foi estranho. E Jordan também
notou.
“O quê?”, ele perguntou. “Vocês fizeram no banheiro do
restaurante ou algo do tipo?”
Eu não sabia o que responder. Outra complicação dessa
história de ser compartilhada: teríamos que conversar sobre o
que aconteceria com os outros rapazes? Ou deveríamos fingir
que não acontecia sexo?”
Mas tinha sido uma noite de honestidade – eu tinha dito
a Taylor que eu não tinha experiências prévias com bebês e
Taylor me contou que era virgem. Então decidi manter o
padrão.
“Nós fizemos no carro”, eu disse devagar. “Na
garagem.”
Senti ele virar a cabeça para me olhar. “Sério, Clara?”
Acenei com a cabeça no seu peito.
Ele latiu uma risada. “No carro? Como dois
adolescentes?”
“Cala a boca!”, sussurrei. “Você vai acordar o bebê!”
“Vocês podiam ter vindo pra dentro”, ele disse.
“Pra todo mundo nos ouvir? Não, obrigada.”
“Não é como se não soubéssemos. Caramba, dividir você
foi ideia nossa.”
“Isso não significa que não precisamos de privacidade”,
respondi. “Especialmente pra a primeira vez de Taylor.”
Jordan ficou tenso. “Espera, o quê?”
Eu suspirei. “Merda. Eu não devia ter falado.”
“Taylor é virgem?”
“Era.”
Jordan grunhiu. “Eu jamais saberia.”
“Nem eu. Um cara sexy e charmoso como ele…”
“Ei, ok, chega.”
Me virei até meu queixo ficar sobre seu peito e olhei
para ele. “Hm, você está com ciúme?”
“Não.”
“Sim, você está.”, eu bati meu dedo na ponta do seu
nariz. “Você está com ciuminho.”
“Talvez eu tenha ciúme porque ele passou a noite com
você enquanto eu estava preso em casa com o Chefe e o bebê.
Anthony tudo bem, mas o Chefe é entediante.”
“É assim que funciona essa história de compartilhar”, eu
disse, “se você me quisesse exclusivamente, deveria ter
proposto…”
“Eu sei, eu sei”, ele me virou para o lado e me abraçou
de conchinha. “Boa noite, Clara.”
“Taylor disse que você ronca.”
“Taylor mentiu.”
“Se você roncar”, eu disse. “Vou te chutar da cama.”
Ele vibrou numa risada silenciosa e nossos corpos
suspiraram alegremente juntos debaixo da coberta.
Acontece que Jordan roncava sim. Em alguns minutos
ele estava sibilando suavemente, mas evoluiu para um ronco
retumbante e profundo. Mas não era tão ruim. E eu estava tão
feliz em ter seu corpo em volta do meu que não me importei.
Vale a pena ouvir esse ronco para dormir com ele.
Bebê Anthony acordou duas vezes de noite. Mas nas
duas vezes, Jordan se levantou e cuidou dele. Insisti em fazê-
lo porque ele deveria voltar a dormir, mas ele gentilmente me
empurrou de volta para a cama.
“Tudo bem, volte a dormir, bonitinha.”
Bonitinha. Eu gostava do som da palavra. Um encontro e
duas transas e ele já tinha um apelido para mim.
No breu do quarto, assisti os músculos de Jordan
enquanto ele cuidava do bebê. Ele checou sua fralda e o
aninhou no seu ombro, sacudindo-o suavemente até ele dormir
de novo.
Do mesmo jeito que aconteceu quando vi o bebê dormir
no peito de Derek, meus ovários se contorceram com a cena.
Um pequeno humaninho nos braços de um enorme e heroico
bombeiro.
Cale a boca, vagina, pensei enquanto pegava no sono. Já
entendi. Homens fortes cuidando de bebês é sexy.

Depois de viver com a minha mãe pelos últimos anos,


era estranho estar em outra casa. O quartel era o quartel, mas a
casa de Derek era diferente. Era como estar em uma pensão,
mas ao invés de pagar o aluguel, eu cuidava de um bebezinho
fofo.
Era estranhamente calmo. Nós ficávamos juntos,
assistíamos TV e relaxávamos. No domingo, me sentei na
cadeira de balanço na varanda enquanto bebê Anthony dormia
e li um livro no meu telefone. Era quase como estar de férias.
Certamente havia períodos de caos quando o bebê não
parava de chorar. E suas fraldas eram radioativas. Mas no
geral, era bom sair da rotina do restaurante um pouco.
E a companhia ajudava, é claro.
Taylor e eu cochilamos juntos no domingo a tarde. Não
demos uns amassos nem nada – só nos enrolamos no sofá e
dormimos por uma hora enquanto Derek cuidava do bebê.
Na segunda à tarde, Derek e Taylor saíram para fazer
algumas coisas. Bebê Anthony estava dormindo no seu cesto
na sala de estar, então me esgueirei por trás de Jordan
enquanto ele estava se servindo de leite na cozinha.
O beijei longamente. Então, sem dizer uma palavra,
fiquei de joelhos na frente dele no chão frio.
“O que é… ahh.”
As palavras de Jordan viraram grunhidos e gemidos sem
sentido enquanto eu o chupava na cozinha. Sempre duvidei
minha capacidade de executar um bom boquete, mas Jordan
gozou nas minhas bochechas em minutos. Olhei para ele e
devorei tudo ao ver sua cara de êxtase, seu rosto se contorcia
com o prazer intenso.
Era muito bom ser safada.
“O que foi isso?”, ele perguntou.
Me levantei e elegantemente limpei a borda do meu lábio
com a língua. “Estou retribuindo o que você fez na outra
noite.”
“Não pude deixar de notar que você não me torturou da
mesma forma que eu te torturei”, ele disse.
Dei um cutucão no seu peito. “É porque eu sou legal. E
eu também não sei por quanto tempo os rapazes vão ficar fora
e Anthony vai ficar calmo.”
Ele sorriu e me deu um beijo demorado.
“Estou surpresa por você me beijar depois disso”, eu
disse.
“Por quê? Porque sua boca estava em volta do meu
pau?”, ele olhou para o seu membro ainda exposto,
amolecendo lentamente pelo zíper da sua calça. “Isso não me
dá nojo. Eu amo meu pênis. Somos bons amigos.”
“Também gosto dele”, eu o beijei e ele sorriu enquanto
me beijava de volta. “O quê?”
“Eu estava pensando que você provavelmente não fez
isso com Taylor.”
Dei um cutucão de brincadeira nele. “Viu? Você está
com ciúme. Você não quer me dividir de jeito nenhum.”
“Eu definitivamente quero te dividir”, ele respondeu,
enrolando os braços em volta da minha cintura e acariciando
meu nariz com o seu. “Mas vamos ter que fazer piadas sobre
isso durante o processo.”
Meu próprio sorriso se alargou. “Eu ainda não consigo
ler Derek. Justo quando eu acho que ele vai mostrar alguma
atração por mim, ele muda de direção.”
“Como eu disse: ele é assim”, Jordan insistiu. “Ele
demora mais pra se abrir.”
Me perguntei se ele algum dia se abriria. Mas se não,
tudo bem. Eu estava muito feliz com Jordan e Taylor. Eu
poderia fazer um esforço por aqueles amantes bombeiros bem
esculpidos.
Ouvi a porta da frente se abrir. “Voltamos”, Taylor
anunciou.
Derek entrou no cômodo carregando uma caixa grande
nos braços. Ele a depositou no chão e eu vi a imagem: era um
bebê conforto.
“Sério? Você comprou um bebê conforto?”, perguntei.
Derek franziu o cenho. “Não me importo se é uma rota
de cinco quilômetros. Eu quero que ele fique em segurança.
Quando isso terminar, vou doar pro abrigo de mulheres em
Fresno.”
Taylor estava sorridente segurando uma sacola.
“Compramos roupas novas para ele também! Agora ele não
precisa usar o mesmo macacão o tempo todo.”
“Ótimo!”, peguei a sacola e analisei o conteúdo. Minhas
mãos congelaram quando peguei um macacão laranja e preto
em particular. Eu o tirei da sacola para todos verem.
Era um macacão dos Giants.
“Não vou encostar nele quando ele estiver usando isso.”
Os três bombeiros caíram na gargalhada.
Naquela noite, nós fizemos as malas e nos preparamos
para voltar para o quartel pelos próximos dias.
“Você tem certeza de que não quer mantê-lo aqui?”,
perguntei. “Seria tão mais fácil…”
“Eu sei, eu sei”, disse Derek. “Pensei muito sobre isso.
Ultimamente, estou paranoico com os problemas de custódia
no caso de sermos pegos. Ele precisa ficar no quartel a maior
parte do tempo.”
“Além disso, você ficaria sozinha aqui”, Taylor pontuou,
“enquanto no quartel você tem mais três pessoas pra te
ajudarem com esse garotinho, certo?”
Ele chacoalhou o pezinho de Anthony e o bebê deu
gritinhos de alegria.
“Vamos te mandar uma mensagem quando for seguro”,
Derek disse, depositando uma chave sobre a mesa. “Tranque
tudo antes de sair e certifique-se de que as luzes estejam todas
apagadas.”
“Tenho certeza de que ela sabe fazer isso, pai”, Taylor
provocou.
Derek fez uma careta enquanto eles saíam pela porta.
Refleti um pouco sobre aquilo enquanto esperava pela
mensagem. Por que Derek era tão hesitante em demonstrar que
estava atraído por mim – por causa da diferença de idade? Ele
tinha 37, mais velho do que eu, mas não necessariamente
velho. Ele só tinha alguns fios brancos no seu cabelo preto. E
apesar de ser ranzinza, ele tinha energia e era tão sarado
quanto seus dois companheiros mais jovens.
Ele era definitivamente atraente. Fisicamente, ele era
excelente. Não apenas ok, mas tipo ‘uau’. Além do corpo
poderoso e do rosto robustamente belo, ele tinha a vantagem
da experiência. Ele caminhava como um líder e tinha
confiança nos olhos. Ele era um homem atraente.
Sem mencionar a forma como ele cuidava do bebê
Anthony. Todas as suas tendências paternas eram a cereja
daquele bolo delicioso.
Recebi uma mensagem de “barra limpa” de Jordan por
volta de nove e meia. Eu já tinha colocado tudo no carro e
estava pronta para ir. O novo bebê conforto tinha uma alça que
facilitava o manuseio mesmo fora do carro. Bebê Anthony
amassou seu rostinho consternado quando eu o prendi no
dispositivo, mas depois aceitou seu novo receptáculo sem
maiores problemas.
Ainda assim, dirigi bem devagar e com cuidado por todo
o trajeto até o quartel. Agora eu entendia o motivo de todos
aqueles adesivos bebê a bordo que eu via nos carros.
Parei atrás do quartel para poder descarregar o carro sem
que ninguém visse da avenida principal. Jordan estava me
esperando com os braços esticados.
“Há quanto tempo!”
Mas ao invés de me abraçar, ele tomou o bebê conforto
da minha mão e atacou o bebê, fazendo cosquinhas na sua
barriga e conversando com ele de forma inteligível. Taylor se
aproximou e fez caretas para o bebê, mostrando a língua e
cruzando os olhos.
“Bom ver vocês também”, eu disse com ironia.
“Xiu!”, Jordan exclamou. “Estamos conversando aqui!”
Manobrei o carro e o estacionei na rua, para ninguém
suspeitar. Enquanto eu caminhava de volta para o quartel, me
sentia muito bem com tudo. Estávamos fazendo um bom
trabalho cuidando de Anthony e nos certificando de que ele
iria para um bom lar. Pela primeira vez na vida, meu instinto
materno tinha despertado e estava acelerado tomando conta do
meu cérebro. Eu só tinha ficado perto dele por uma semana,
mas eu faria qualquer coisa para proteger aquele carinha.
Talvez Taylor estivesse certo: eu poderia ser babá
profissional.
Mas o mais importante era que eu sabia que os rapazes
também se sentiam assim. Nós estávamos alinhados em
relação ao bebê.
Exceto pelo macacão dos Giants, é claro. Eu planejava
“acidentalmente” manchá-lo de forma irreparável na primeira
oportunidade que eu tivesse.
Fiz uma careta ao me aproximar do quartel quando vi o
Mustang verde limão estacionado. Ele não estava lá quando
descarreguei o carro, dez minutos antes…
Meu estômago afundou quando li a placa BOBERO. Me
lembrei a quem o carro pertencia.
Ah, não.
Corri para dentro, sabendo o que iria encontrar. Meus
três bombeiros estavam parados na sala de estar, encarando um
quarto homem que estava a paisana. Derek segurava bebê
Anthony de forma protetora em seus braços.
O homem virou para me olhar. Billy Manning me deu o
mesmo sorriso desprezível que eu tinha visto quando o
conheci.
“Muito bem”, ele disse, “o que temos aqui?”
22

Jordan

Billy Manning era um pedaço de merda sorrateiro, um


cuzão, um maldito pegajoso. A escória da humanidade.
Desculpa, essa é minha opinião sobre aquele cara.
Ele terminou seu turno por volta das nove, junto com os
outros. Então esperou que assumíssemos nosso turno. Clara
voltou para o quartel com o bebê e seus suprimentos. Então
Billy voltou para o quartel e fingiu que tinha esquecido
alguma coisa.
“Desculpem, caras, vou sumir da vista de vocês logo”,
ele disse, entrando no quartel. “Esqueci minha carteira, sou um
pateta, só vou…”
Foi aí que ele nos pegou no flagra, parados ao redor do
novo bebê conforto com Anthony dentro.
“Então vocês têm um bebê. De todas as coisas que eu
imaginei, essa seria minha última hipótese. Ele é filho de
quem, hein? Desembuchem.”
Entrei em pânico. Fomos pegos. Todo o cuidado para
nada.
Derek e eu nos entreolhamos. Não havia nada que
podíamos fazer, a não ser contar a verdade. Que outra escolha
tínhamos?
Derek pegou o bebê e o segurou nos seus braços. “Billy,
vou explicar tudo. Mas espero que você, assim que ouvir a
história, seja…”
Ele parou de falar quando Clara entrou no quartel.
Billy a escaneou com os olhos de uma forma que me fez
ficar furioso. Me senti no direito de dar um soco nele. Naquele
momento não havia mais nada no mundo que me faria mais
feliz do que acertar sua cara horrorosa e estúpida.
“O que temos aqui?”, ele perguntou a ela.
Clara congelou. Ela estava tão chocada quanto nós. Mas
então ela improvisou algo maluco.
Algo maravilhoso.
“Muito obrigada por me ajudarem”, ela disse de repente.
Ela pegou o bebê dos braços de Derek e o deitou sobre seu
ombro. “Quando meu garotinho começou a tossir no carro, eu
entrei em pânico. Achei que ele estava se engasgando. Eu não
sabia o que fazer! Ainda bem que eu estava perto do quartel
quando isso aconteceu. E obrigada pelos primeiros socorros,
Capitão… Dahlkemper, certo?”
Olhei para Taylor. Caralho. Ela criou uma desculpa
plausível. Nós três tínhamos congelado quando fomos pegos,
mas ela teve jogo de cintura.
Billy olhou para ela, e então para nós. Então balançou o
dedo para Clara. “Você quase me enganou. Que bela história!
Mas eu vi o que você fez. Você parou atrás da estação por
alguns minutos e então desceu a rua, estacionou seu carro e
voltou. Seu bebê não estava se engasgando. Você não quer que
ninguém saiba que você está aqui.”
Merda. A história teria convencido provavelmente se nós
três não parecêssemos tão culpados.
Derek fez uma careta para Billy. “Você estava nos
vigiando?”
“Não, não, não”, Billy censurou. “Não tente virar o jogo
contra mim. Vocês estavam escondendo esta coisa”, ele
apontou para o bebê, “o que está acontecendo?”
Clara suspirou. “Ok, você me pegou. Vou dizer a
verdade, mas você não pode contar a ninguém.”
Billy apertou os olhos. “Decido depois que te ouvir.”
Clara segurou bebê Anthony e deu um beijo na sua testa.
“Eu o concebi fora do casamento. Consegui esconder a
gravidez por algum tempo, mas minha barriga ficou grande
demais. Quando minha mãe descobriu, ficou furiosa. Me
xingou de todos os nomes possíveis. Quando o bebê nasceu,
ela me expulsou de casa. Não tinha pra onde ir, então…”
Derek de repente encheu o peito para completar a
história. “Há um precedente para o uso de instalações públicas
como quarteis de bombeiros ou delegacias de polícia com a
finalidade de abrigar pessoas que precisam. Fica a critério do
Capitão. Então estou permitindo que ela fique aqui até
encontrar um lugar seguro pra morar.”
Billy olhou para cada um de nós. “Qual de vocês é o
responsável então?”, ele olhou para o bebê. “Cabelo escuro,
não pode ser seu, Taylor Swift. Então deve ser de um de
vocês…”
Ele apontou o dedo para mim e para Derek.
“Nenhum de nós é o pai”, eu disse. Era fácil e
convincente, porque era verdade. “Estamos apenas ajudando
alguém em uma situação vulnerável e sem saber pra onde ir.”
O olhar de escárnio de Billy desapareceu. Caralho. Ele
está acreditando na história, pensei.
“Você é a garota da pizzaria, certo?”, Billy perguntou.
“Não sabia que você tinha emprenhado. Mas também não me
lembro da última vez que estive na pizzaria do Tony…”
Ele estava fazendo as contas. Clara tinha voltado para a
cidade fazia um ano, o bebê tinha alguns meses. Era possível
que ele não a tivesse visto no restaurante recentemente.
Billy zombou de Derek. “Eu sabia que o quartel estava
cheirando a merda de neném. Quanto tempo ela vai ficar
aqui?”
“Pelo tempo que ela precisar”, Derek disse firmemente.
“Temos espaço de sobra pra ela e o bebê.”
“Não gosto da ideia de transformar o quartel em
albergue”, o rosto de Billy se contorceu com presunção. “E
tenho certeza que nossos superiores também não.”
Derek deu um passo para a frente, apontando o dedo para
Billy. “Ela está aqui porque precisa de ajuda. Ela está indefesa
e não tem mais ninguém. Deixe de lado nossas diferenças
pessoais e pense nisso, Billy.”
“Eu poderia fazer isso, eu acho”, Billy respondeu, “se
conseguir algo em troca, é claro.”
Derek endureceu e mordeu cada palavra. “Uma
recomendação. No seu próximo relatório de desempenho.”
“Gosto disso”, Billy esticou a mão. “Temos um trato,
chefinho.”
Eles apertaram as mãos, mas não de forma agradável.
Parecia mais uma trégua do que um acordo. Billy se virou para
Clara e deu um sorriso cheio de dentes.
“Não estou tão ocupado. Posso ficar aqui e brincar com o
pequeno. Ou você pode brincar com o meu pequeno. Eles
podem cuidar do seu filho enquanto te levo para tomar um
drink e um banho, gata.”
Me movi na direção dele sem pensar, com os punhos
cerrados, mas Taylor me impediu com um braço. Ele também
tremia de raiva.
Billy não nos viu, pois estava vidrado em Clara. Ela
bufou e respondeu, “Tentador, mas não. Obrigada.”
“Sua mulher não está te esperando em casa?”, Derek
perguntou.
Billy deu de ombros. “O que os olhos não veem, o
coração não sente”, ele olhou de volta para Clara. “Só um
drink. Eu não mordo.”
“Obrigada, mas prefiro beber veneno”, ela disse
docemente. “Entretanto, se eu mudar de ideia, sei a quem
recorrer.”
Fiquei tenso esperando a reação de Billy – ele era
temperamental e metido a macho. Homens como ele não
reagiam bem quando mulheres negavam qualquer coisa,
especialmente sob insultos.
Mas Billy apenas gargalhou. “Gosto dela”, ele nos disse.
“Tem coragem. Certifique-se de não deixar murrinha de bebê
pra trás antes do nosso turno na sexta, ok, queridinha?”
Ele continuou gargalhando sozinho enquanto saía do
quartel.
Fui até a janela e o acompanhei com os olhos até ele
entrar no carro e sair do estacionamento. Foi só nesse
momento que voltei a respirar normalmente, aliviado.
“Essa foi por pouco”, eu disse.
Clara deu uma risadinha. “O cara é casado e age dessa
forma nojenta? Eca. Que escroto.”
“Isso porque você não divide o quartel com ele”, Taylor
disse.
Me virei para Clara. “Bom trabalho, ótima desculpa.”
“Duas vezes!”, Taylor interrompeu. “Nós três ficamos
totalmente patetas, pegos com a boca na botija. O Chefe quase
falou a verdade.”
“Ainda bem que não falei”, Derek disse secamente. “Mas
ele ainda está desconfiado. Mesmo que Billy tenha acreditado
na história – o que eu ainda duvido – precisamos ter mais
cuidado.”
“Ele já suspeitava de alguma coisa”, Taylor pontuou. “Se
não, por que ficaria nos esperando, espreitando o quartel? Ele
sabia que algo está acontecendo.”
Me aproximei do meu chefe e falei com o tom mais
suave. “Talvez não valha a pena, Chefe. Talvez seja melhor
entregarmos bebê Anthony pro Serviço Social. É melhor do
que você se meter em confusão.”
O rosto de Derek ficou duro. “Não.”
Taylor argumentou: “Mas seu trabalho…”
“Foda-se meu trabalho”, ele respondeu, com a voz
estalando como um chicote. “Somos a única proteção que bebê
Anthony tem no mundo. Não vou entregá-lo para um bando de
estranhos até eu ter certeza de que encontraram um bom lar
temporário pra ele e ponto final. Não quero mais discutir o
assunto. Entenderam?”
“Sim, senhor”, Taylor e eu respondemos em uníssono.
Houve um silêncio constrangedor. Ele se estendeu por
alguns segundos, mas foi interrompido por bebê Anthony, que
gritava com alegria no colo de Clara.
Ela o ajustou e me encarou.
Por quanto tempo conseguiríamos manter a situação?
23

Clara

Eu podia sentir a adrenalina invadindo meu corpo após


sermos descobertos. Aquilo me deixou super nervosa. Sem
mencionar as ações de Billy. Ele me olhava como se eu fosse
um pedaço de bolo de chocolate. E não no bom sentido.
E ele era casado. Ao invés de ir para casa após três dias
de plantão, ele estava flertando com uma mulher aleatória.
Odeio caras assim.
O próximo passo do plano era incrementar nossa nova
história, fazê-la mais plausível. O bebê era meu e eu tinha sido
expulsa de casa. Funcionaria melhor se Billy não tivesse me
reconhecido, mas como isso não aconteceu, tive que ligar para
mama e contar a ela.
“Odeio mentiras!”, ela disse enfaticamente.
“Não estamos mentindo, estamos… ocultando a verdade.
Pra proteger o bebê!”, respondi.
Pude ouvi-la grunhir com insatisfação. “Vou fazer isso.
Vou mentir. Mas só se você me deixar ver o bebê!”
“Ok”, me rendi. “Eu deixo você ver o bebê este fim de
semana.”
Ela bateu palmas com empolgação. “Vejo o bebê, minto
por você! Tudo bem, sem problemas!”
Depois de resolver o assunto, fui para a cozinha. Taylor
estava balançando bebê Anthony. Havia uma mamadeira vazia
sobre a mesa.
“Mama está dentro”, eu disse. “Vocês acham que Billy
vai aceitar a recomendação que você ofereceu? Ou ainda vai
nos causar problemas?”
“Não tenho ideia do que ele vai fazer”, disse Derek,
resignado. “Vou ligar pra a minha irmã amanhã pra saber se há
alguma forma de acelerar o processo. Por via das dúvidas.
Enquanto isso, não há nada que podemos fazer a não ser
relaxar e começar nosso turno.”

Acontece que as coisas estavam meio paradas para os


rapazes. Eu estava super ocupada com bebê Anthony, mas eles
não receberam nem um único chamado.
Eles assistiam muita TV. Derek estava reassistindo Os
Sopranos, mas os episódios eram intensos e ele só conseguia
assistir alguns antes de mudar para algo mais suave e fácil.
Para matar o tempo, tínhamos jogos de tabuleiro.
Jogamos Banco Imobiliário e Ludo. Derek perdeu os dois e
passou o resto do dia reclamando sobre Jordan ter trapaceado.
Não receber nenhum chamado fez com que os rapazes
passassem mais tempo comigo. De forma mais íntima. Dormi
com Taylor de novo enquanto Jordan cuidava do bebê.
“É estranho estar com você nessa situação”, ele
sussurrou, me acariciando devagar e com ternura.
Suspirei com o nariz no seu pescoço. “O que você quer
dizer?”
“Aqui. Numa cama. E não no banco de trás do meu
carro”, Taylor sorriu para mim. “É um luxo absoluto.”
“Não sei”, provoquei, mordendo meu lábio. “Você estava
mais animado no carro.”
Ele levantou uma sobrancelha e então mergulhou no meu
corpo com mais força e velocidade, como se tivesse aceitado o
desafio.
No dia seguinte, Jordan inventou uma desculpa para
cochilar comigo à tarde. Deixei o bebê com Derek e
sorrateiramente fui para o quarto de Jordan, mas ele não estava
lá – ele estava no banheiro.
Ele gritou de surpresa quando abri a cortina do chuveiro,
no banheiro comunitário.
“Você quase me matou do coração!”, ele disse, sua voz
ecoou pelas paredes de azulejo. Então ele se deu conta de que
eu estava nua. Ele me escaneou, arregalando os olhos
enquanto eles percorriam meu corpo.
“Eu não queria te assustar”, eu disse com a voz inocente.
“Se você quiser que eu vá embora…”
Me virei de costas, mas Jordan segurou meu braço e me
puxou para debaixo do chuveiro quente. Ele me inclinou para
a frente e me tomou rápido e com força, sem desperdiçar
nenhum segundo daquele momento de intimidade e
privacidade.
O banheiro não era a prova de som, mas Jordan tampou
minha boca com a palma da mão enquanto gozávamos juntos,
abafando meus gritos de prazer.
Era estranho alternar entre os dois. Uma noite com
Taylor e o dia seguinte com Jordan. Era quase uma sensação
de infidelidade, roubando beijos toda vez que tínhamos
privacidade e o bebê não estava por perto. Afinal, eu não
estava acostumada a ser compartilhada por dois caras.
Mas Jordan e Taylor estavam totalmente no mesmo
clima. Eles faziam piadas e se provocavam durante o dia,
fingindo que eram possessivos. À noite, antes de dormir, eles
competiam por meus beijos, tentando se superar o tempo todo.
Eu não me importava, afinal, era eu quem estava
recebendo atenção e amor extra. A forma como eles agiam
eliminava toda estranheza da situação e me fazia me sentir
confortável.
Ainda não acredito, pensei, ao adormecer ao lado de
Taylor. Estou sendo compartilhada por dois bombeiros. Eu era
a mulher mais sortuda do mundo. Eu nunca teria acreditado
que esse seria meu futuro se alguém tivesse me dito logo que
voltei para Riverville no ano anterior.
Mas eu ainda me perguntava o que se passava na cabeça
de Derek, que não demonstrava interesse. Ele era educado e
cordial, mas só isso.
O que ele está esperando?
Até quarta-feira os rapazes ainda não tinham recebido
nenhum chamado. Nem mesmo um chamado de ajuda da
polícia. Tudo estava muito bem em Riverville.
“É um bom problema”, Derek disse.
“Acho que sim”, Jordan respondeu.
Derek olhou no relógio. “Está quase na hora do jantar.
Por que não vamos até o restaurante chinês e buscamos ao
invés de pedir.”
“Tô dentro”, disse Jordan, pulando do sofá. “Preciso de
qualquer desculpa pra sair daqui e fazer alguma coisa.”
Os rapazes colocaram seus uniformes para o caso de
receberem um chamado enquanto estavam fora e terem que
atender sem precisar voltar para o quartel. Enquanto segurava
o capacete, Derek me olhou.
“Quer ir conosco?”, ele perguntou. “De carona no
caminhão.”
Resmunguei. “É sério?”
“Você pode se sentar no banco de trás com o bebê”, ele
respondeu, “colocamos equipamento de proteção nele, vai ser
divertido.”
Mudei Anthony de braço. “Você foi o maluco da
superproteção antes de comprar o bebê conforto e agora quer
carregar o bebê no caminhão de bombeiros?”
“Desde que ele esteja preso em segurança no bebê
conforto, tudo bem pra mim. O caminhão tem bons
amortecedores, vai ser uma rota suave. Mas se você prefere
ficar aqui fazendo nada…”
Eu estava tão entediada quanto eles, então concordei em
ir. O caminhão de bombeiros tinha uma cabine grande: dois
assentos na frente e uma segunda fileira que era do tamanho de
uma van. Afivelei o bebê conforto em um dos assentos com
firmeza e me sentei ao lado dele. Taylor se sentou em um dos
bancos de frente para mim e os outros dois tomaram os
assentos da frente.
Bebê Anthony parecia confuso com o que estava
acontecendo, especialmente quando colocamos fones de
proteção sobre seus ouvidinhos. Mas assim que o veículo
começou a se mover, ele olhou tudo ao redor com atenção, sua
boquinha se contraía com concentração. Eu praticamente
podia ver a engrenagem da sua cabecinha se movendo.
“Isso é divertido!”, gritei, sobrepondo o barulho do
motor. “Eu nunca andei em um desses quando era criança.”
Taylor sorriu para mim. “A primeira vez que andei em
um, eu estava na quarta série.”
Jordan se virou para nós. “Quer dizer ano passado?”
Taylor mostrou o dedo para ele. “Doze anos atrás. E eu
ainda gosto de andar nisso.”
“Você tem o coração jovem!”, respondi.
Derek resmungou de trás do volante. “Coração, corpo e
mente jovens…”
Taylor revirou os olhos.
Paramos no restaurante chinês e Jordan correu para
dentro para buscar nossa comida, mas antes que ele pudesse
voltar, o rádio no painel de controle do caminhão fez um
barulho de sirene.
“Unidade de Riverville, temos uma emergência”, disse
alguém que eu deduzi ser o atendente da emergência.
“Caminhão dois de Riverville na escuta”, Derek
respondeu.
Eles conversaram por um tempo no rádio, usando uma
linguagem que eu não entendia. A única frase que reconheci
foi “linha não emergencial”. Jordan voltou para o carro com a
comida.
“O que tá pegando?”
“Dez-quatro, estamos a caminho”, Derek colocou o rádio
na base e se virou para Jordan. “Temos uma parada no
caminho de volta.”
“Lei de Murphy”, Jordan disse enquanto colocava o
cinto de segurança. “Claro que receberíamos um chamado bem
agora.”
“É um dos tranquilos”, Derek respondeu, “vai ser
divertido pra Clara e o bebê. Se segurem todos!”
Me segurei, mas Derek dirigiu com cuidado e sem a
sirene ligada. Bebê Anthony me encarava, como se estivesse
medindo a situação com base nas minhas reações. Sorri de
volta para ele e esperei para descobrir onde é que estávamos
indo.
O destino ficava a alguns quarteirões do restaurante da
minha família, na esquina de um bairro residencial. Paramos
em frente a uma casa onde quatro pessoas – dois adultos e
duas crianças – estavam parados na grama, acenando para nós.
“O que é isso?”, perguntei. “Não sou sentimental, mas
não gosto de ver pessoas angustiadas…”
“Acredite: você vai ficar bem”, Jordan já estava rindo.
“Olha!”
“Há!”, disse Taylor, descendo da cabine. “Já faz um
tempo desde a última ocorrência como essa.”
Fiz uma careta olhando para a família parada no jardim.
O que os rapazes estavam achando tão engraçado? Então olhei
para além deles, diretamente para a casa. Mais
especificamente para o telhado.
Um Husky cinza estava sentado no telhado.
“Que dia…”
Abri a janela do veículo para ouvir a conversa.
“Loki ficou preso no telhado de novo?”, Derek
perguntou.
A mãe acenou. “Cachorro pateta. Acha que tem asas.”
O cachorro – Loki – estava parado orgulhosamente, com
o maxilar aberto enquanto encarava os humanos. Era uma casa
de um andar só, sem janelas perto do telhado. Como ele foi
parar lá?
“Loki?”, Jordan chamou. “Você acha que é um bom
garoto?”
“Au! Au!”, o cachorro respondeu estrondosamente.
“Ele é um garoto mau!”, a mãe respondeu, apontando o
dedo para ele. “Cachorro mau, Loki!”
O cachorro se sentou nas patas traseiras e uivou,
argumentando.
A cena era tão engraçada que eu não conseguia parar de
rir. Dentro do bebê conforto, bebê Anthony se uniu a mim com
sua própria risadinha infantil.
Taylor e Jordan desceram uma escada do caminhão e a
carregaram em direção a casa. Eles desdobraram a estrutura
enquanto o pai da família os alertou sobre as calhas. Durante o
tempo todo, o Husky continuou uivando para tudo e todos.
“Pode ir”, Jordan disse.
Taylor ficou surpreso. “Por que eu?”
“Porque você é o mais novo e quem fez isso da última
vez fui eu. Suba lá e encare esse cachorro.”
“Auuuuuuuuu!”, o cachorro respondeu.
Enquanto a família – e naquele momento os vizinhos –
olhavam, Taylor subiu na escada e alcançou o telhado. Loki, o
Husky se afastou quando Taylor chegou no topo e começou a
caminhar pelas telhas.
“Vem cá, amigão.”
Taylor esticou a mão para o cachorro, mas Loki não
queria ir. Habilmente, ele correu para o meio do telhado que
era mais íngreme, então caminhou pelo cume até a borda.
Taylor resmungou e o seguiu, mas toda vez que ele chegava
perto, Loki se virava e corria para o outro lado. Durante todo o
momento, ele uivava de uma forma que só um Husky uiva,
com o maxilar mastigando o ar, emitindo sons irreproduzíveis.
“Pare de brincar e pegue o cachorro”, Derek ordenou.
Todo mundo estava rindo, exceto Taylor, que tentava
manter o equilíbrio no telhado. Eles iam e voltavam, se
perseguindo, como se fossem Tom e Jerry.
“Vem aqui”, Taylor grunhiu.
“Au au au!”, Loki argumentou de volta.
Finalmente o cachorro chegou na borda do telhado e
saltou para o telhado do vizinho. A distância entre as duas
casas devia ser de uns seis metros, mas parecia muito fácil
para ele. Dali, ele pulou para o telhado do galpão e em seguida
para o chão. Ele correu de volta para sua família, e então se
sentou perto da base da escada e latiu até Taylor descer.
“Você é um grande pedaço de…”, Taylor começou a
dizer.
“Cuidado com o linguajar na frente das crianças”, Derek
repreendeu.
“…bolo”, disse Taylor descendo pela escada. “Um
grande pedaço de bolo.”
Loki uivou, concordando.
“Mais um dia glorioso na vida de um bombeiro”, disse
Jordan, sorrindo na minha direção.
Sorri de volta para ele enquanto eles recolhiam a escada
e voltavam para o caminhão.
24

Clara

Os rapazes se divertiram às custas de Taylor pelo resto


da noite. Entretanto, era tudo muito suave, e até eu entrei na
brincadeira.
Eu o compensei naquela noite. Jordan ficou com bebê
Anthony enquanto eu entrei sorrateiramente no quarto de
Taylor, o beijando silenciosamente enquanto me enfiava
debaixo das cobertas. Eu o puxei para baixo na cama e pulei
sobre ele de pernas abertas, cavalgando-o lentamente até a
cama chacoalhar demais e me deixar com medo de quebrar as
pernas.
Era bom ter dois caras com quem eu podia fazer
qualquer coisa que quisesse, a qualquer hora. Tipo um Uber
sexual. E sem aplicativo – eu só precisava estalar os dedos e lá
estavam eles.
O dia seguinte foi tão entediante quanto os outros. Taylor
parecia estar de mau humor e eu não sabia o porquê.
A resposta veio depois do jantar, quando Jordan apareceu
de repente, trazendo um bolo de chocolate da despensa. Sete
velas estavam acesas no topo.
“Feliz aniversário!”
Taylor se afundou no sofá e deu uma risadinha. “Achei
que vocês tinham esquecido!”
Jordan zombou. “Jamais nos esqueceríamos do sétimo
aniversário do nosso camarada!”
“Ha-ha. Que engraçado!”, disse Taylor, mas ele sorria de
orelha a orelha. Era notável que ele tinha ficado feliz com a
surpresa.
Nós cantamos “Parabéns pra você” e ele assoprou as
velas. Enquanto Jordan partia o bolo, perguntei. “De onde veio
esse bolo?”
“Chefe fez”, Jordan respondeu.
Virei minha cabeça para olhar Derek. “Você fez um
bolo?”
“Por que a surpresa? É fácil, basta seguir as instruções.”
“Você é um doce”, eu disse. Ele deu de ombros de forma
estranha, mas assim que se virou de costas, percebi que ele
estava tentando esconder um sorriso.
Então ele tem um coração.
“Quando são seus aniversários?”, perguntei enquanto
comia o bolo.
“dez de março”, Derek respondeu.
“25 de novembro”, Jordan disse com a boca cheia.
Parei com o garfo na metade do caminho para a minha
boca. “Sério, 25 de novembro?”
Ele fez uma careta. “É um saco, sempre cai perto do Dia
de Ação de Graças.”
“Vai cair no Dia de Ação de Graças ano que vem”, eu
disse, “eu sei porque é meu aniversário também!”
Derek resmungou.
“Sério? Sem chance!”, Jordan disse.
Tirei minha carteira de motorista do bolso. “Olha aqui.
25 de novembro.”
Jordan me olhou de forma engraçada.
“O quê? Você acha que é um documento falso?”
Ele deu uma olhada para o documento de novo, e então
perguntou: “Seu nome é Clarice?”
Recuei, “Ah, não…”
Derek pegou a carteira de motorista da minha mão e latiu
uma risada. “Puta merda, Clara é apelido de Clarice.”
Resmunguei e fechei meus olhos. “Quando minha mãe
se mudou pra cá no início dos anos noventa, ela ouviu esse
nome em todos os lugares. Quando nasci, seis anos depois, ela
decidiu me chamar de Clarice. Ela não se deu conta da
origem.”
“Olá, Clarice!”, Jordan disse com a voz sinistra.
Revirei meus olhos. “Quanta originalidade. Ouvi isso
durante o ensino médio todo.”
“Cara, que bom que eu não descobri isso antes”, ele
disse. “Eu jamais teria dormido com você se eu soubesse. Eu
não conseguiria parar de pensar em Hannibal Lecter!”
“Eu não me importo!”, Taylor anunciou, colocando uma
mão nas minhas costas. “Nada me faria não querer dormir com
você.”
Derek resmungou e se afastou de forma estranha.
“Sério?”, Jordan insistiu. “Nem se você pensar no
Hannibal dissecando alguém e comendo seu fígado com fava e
uma taça de Chianti?”
“O filme foi lançado antes de eu nascer”, Taylor
respondeu simplesmente. “Eu nunca nem assisti.”
Derek se virou. “Você nunca assistiu O Silêncio dos
Inocentes?”
“Sério?”, Jordan adicionou.
“Não gosto de filmes de terror. Além disso, ouvi dizer
que é superestimado. O tal do Hannibal, o vilão do filme, só
aparece por tipo oito minutos no total.”
“O vilão é Búfalo Bill”, Derek o corrigiu.
Taylor contorceu o rosto, confuso. “Não, tenho certeza
de que é Hannibal. E convenhamos que não é um nome muito
criativo. Ele é um canibal e seu nome é Hannibal? Que tipo de
trocadilho idiota é esse?”
“O filme é um clássico”, Jordan insistiu.
“Clássico?”, Derek fez uma careta. “Obrigado por me
fazer me sentir velho. E olha que fiz um bolo pra vocês.”
“Independente disso, deveríamos assistir ao filme hoje à
noite”, Jordan disse.
“Passo”, Taylor disse. “Não quero ver um filme de
terror.”
“Tá com medinho de ter pesadelos?”, Derek o provocou.
“Ei, é aniversário dele”, brinquei. “Deveríamos assistir
algo mais apropriado para a idade. Deve ter alguma coisa nova
no Disney plus.”
Taylor mexeu um dedo na minha direção. “Filmes da
Disney não são só para crianças. São divertidos pra família
toda!”
Nós gargalhamos e continuamos a nos provocar
mutuamente. Até bebê Anthony quis se unir à diversão e
deixou um gritinho de felicidade super alto escapar. Taylor
pegou um pedaço de bolo e ameaçou iniciar uma guerra de
comida, o que nos fez procurar abrigo.
Não ouvimos a porta do quartel se abrir.
“Não se atreva a jogar isso”, Derek alertou. “Ou você vai
limpar o banheiro pelo próximo mês todo!”
“Olá?”, uma voz não familiar ecoou no ar.
Nós quatro congelamos.
“Tem alguém aqui”, Jason murmurou.
“O – Olá?”, a voz repetiu, se aproximando. “Preciso de
ajuda.”
Peguei o bebê conforto e corri pelo corredor para o
quarto. Coloquei bebê Anthony na cama e espreitei o caminho
de volta para a cozinha.
Um homem usando um traje de ciclismo entrou
mancando no cômodo. Uma das suas pernas estava arranhada
e o sangue escorria até seu calcanhar. Ele estava segurando seu
braço esquerdo e seu rosto se contorcia de dor.
Os três bombeiros correram para ajudá-lo a se sentar.
“Senhor, o que aconteceu?”
“Meu pneu estourou”, ele respondeu, com a voz trêmula.
“Eu perdi o controle e caí no chão com muita força. Eu não
queria chamar a ambulância porque eu estava perto daqui– ”,
ele começou a apontar com o braço ferido, mas a dor o invadiu
e ele deu um grito de agonia.
Taylor pegou um kit de primeiros socorros e começou a
limpar a ferida na perna do homem. “Como está sua cabeça?”,
Derek perguntou.
“O capacete evitou o pior, mas bati com força mesmo
assim. Estou escutando um zumbido. Achei que tinha ouvido
um bebê gritando quando entrei aqui.”
“Não há bebês aqui”, Taylor disse, impávido.
Jordan soltou seu capacete e o removeu gentilmente.
“Vamos fazer um teste de concussão, só pra garantir.”
Derek pegou o braço do homem e o esticou com
cuidado. “O braço está quebrado. Vamos ter que chamar a
ambulância de qualquer maneira.”
“Ah, caras”, o homem disse, “desculpa o incômodo…”
“Não se preocupe”, disse Jordan. “Vamos cuidar de você
até eles chegarem aqui.”
Derek olhou para mim e levantou as sobrancelhas. Foi
por pouco.
Voltei para o quarto e fiquei com bebê Anthony antes da
ambulância chegar.
25

Clara

Peguei no sono rapidamente naquela noite, mas acordei


suando frio um pouco depois. Sonhei que tínhamos sido pegos
e bebê Anthony levado para o Serviço Social, e que Derek
havia perdido seu emprego. Billy Manning se tornou o chefe
do quartel e por alguma razão – lógica estranha de sonhos – eu
tive que ficar lá e fazer tudo o que ele mandava.
Acordei ofegante tentando respirar de novo. Queria
conseguir esquecer porque foi só um sonho estúpido, mas a
iminência de sermos pegos era real. Não só por causa do
ciclista que entrou no quartel, mas por causa de Billy. O fato
de ele saber que eu estava com um bebê na estação de
bombeiros não resultaria em nada bom. Em algum momento a
história desabaria.
Me virei na cama esperando ver bebê Anthony dormindo
no seu bercinho – que Derek tinha comprado quando comprou
o bebê conforto – mas ele estava vazio. Demorei três longos
segundos para me dar conta do que via.
O bebê não está aqui.
Saí correndo do quarto em pânico e fui para a sala. Tive
que me controlar para não gritar a plenos pulmões e acordar
todo mundo porque o bebê tinha sumido.
Derrapei quando vi a cena na sala de estar: Derek estava
sentado no sofá e bebê Anthony estava dormindo no seu peito.
Ele subia e descia com a respiração daquele homem enorme.
O alívio tomou conta de mim quando vi. E mais uma vez
meu coração derreteu por Derek. A forma como ele se
importava com o bebê era tão linda.
Ele me olhou e sussurrou: “Por que você não está
dormindo?”
Caminhei até ele e me sentei na beirada do sofá. “Eu é
que deveria estar fazendo essa pergunta.”
“Estresse”, ele respondeu suavemente, colocando a mão
nas costas do bebê com cuidado. “Eu estava preocupado com
esse garotinho.”
Sorri tristemente. “Eu também. O ciclista me assustou. E
o fato de Billy ter descoberto…”
“Sim”, Derek acariciou o bebê com carinho. “Tenho me
perguntado se estamos fazendo a coisa certa. Fico pensando e
repensando. Seria mesmo ruim se uma das famílias
temporárias cuidasse dele? Talvez seja melhor do que arriscar
meu emprego.”
O bebê se moveu com o suspiro de Derek. “Então peguei
Anthony do berço e o trouxe para cá. E agora vendo ele dormir
no meu peito tenho certeza de que não vou deixá-lo ir parar
nas mãos de ninguém que não lhe assegure cem por cento
amor e atenção. Existem várias famílias temporárias por aí,
mas as disponíveis agora não são boas. Eu não posso deixar
que ele vá morar com gente que só pensa em dinheiro.”
Estiquei a mão e coloquei-a sobre a sua, nas costas do
bebê. “Você é um bom homem, Derek.”
“Sou só um homem fazendo o que acha que é certo. Não
existe bom ou mau nesse caso.”
Havia algo de profundo no seu comentário. Um sinal de
vulnerabilidade. E eu me agarrei nela enquanto estava
disponível.
“Por que você está fazendo isso?”, perguntei, “Qual é o
real motivo? Você está sendo muito empático em garantir que
o bebê vá parar numa boa família temporária.”
Esperei que ele fosse erguer barreiras e insistir que não
havia nenhum motivo especial. Mas ao invés disso, ele
respondeu sem rodeios.
“Porque três décadas atrás eu estava na mesma posição”,
ele acenou pro bebê com a cabeça. “Fiquei órfão aos quatro
anos e fui parar no sistema que estava em colapso. Foi
horrível.”
Meu coração ficou apertado. “Ah, Derek…”
“Não me entenda mal – existem muitas famílias
temporárias maravilhosas por aí”, ele disse. Sua voz não tinha
emoção nenhuma, possivelmente resultado de anos de prática
falando sobre seu passado doloroso. “Mas a família que
cuidou de mim não era legal. Eles faziam aquilo pelo dinheiro.
Sem amor, sem apoio, sem carinho nenhum no ambiente. O
pai nos odiava e nunca falou mais de duas palavras comigo. A
mãe era pelo menos neutra. Éramos cinco no total, com a
mesma família. E nós meio que cuidávamos uns dos outros.”
Ele sorriu. “E nós sobrevivemos. Foi por isso que minha irmã
– que também morou com essa família – resolveu trabalhar
pro Departamento de Serviço Social da Califórnia. Para
garantir famílias melhores pra as crianças.”
Coloquei uma mão no seu braço. “Derek, sinto muito
pelo que aconteceu com você.”
“Sim, eu também. Mas isso me transformou no que eu
sou hoje. E esse é o motivo pelo qual estou arriscando meu
emprego pra proteger esse carinha”, ele sorriu para mim. “E é
tudo tão mais fácil com você aqui. Obrigado por nos ajudar.”
“Você está me pagando”, eu o lembrei.
Ele me olhou longamente, como quem sabe. Aquilo me
fez tremer, mas não de forma ruim. Seu olhar era como
carícias na minha pele desnuda.
“Você não está fazendo isso pelo pagamento”, ele disse
simplesmente. “Você está fazendo isso porque quer ajudar.”
Me encolhi. “Você precisa saber que eu originalmente
quis ajudar pelos motivos errados. Quando concordei, só o fiz
porque queria ficar perto de Jordan.”
Uma das sobrancelhas de Derek se levantou. “Sério?”
Assenti e me encolhi depois de confessar. “É verdade. Eu
estava fazendo isso por motivos egoístas. E porque pensei que
o bebê fosse um sinal.”
“Um sinal?”
“Ele tem o mesmo nome que o meu pai”, eu disse.
“Parece estupidez agora, eu sei. Anthony é um nome comum.
Mas muitas coisas mudaram na última semana. Esse
garotinho? Eu me importo tanto com ele. Eu sinto que sou
mais do que uma babá. Me sinto como sua mãe, colocando
todas as suas necessidades acima das minhas sem pensar duas
vezes. Eu faria qualquer coisa por ele.”
Derek assentiu. “Me sinto da mesma forma”, ele
gentilmente depositou o bebê no bebê conforto. “E você está
certa. Muita coisa mudou em uma semana. Você está saindo
com os dois, Jordan e Taylor.”
Esperei ele falar mais alguma coisa, mas ele estava
focado em Anthony, cobrindo-o com um cobertorzinho. Por
que ele tinha tocado no assunto? Parecia que ele estava me
julgando.
Ele gosta de mim ou não?
Eu estava cansada de meias palavras. Num dia Derek me
tratava com respeito, no outro ele parecia não se importar
comigo. Eu estava muito casada, muito exausta e estressada
para lidar com aquilo. Eu precisava de respostas.
“Ei”, eu disse, tocando seu braço para chamar sua
atenção. “Você realmente gosta de mim ou não?”
Ele resmungou. “O que você quer dizer com isso?”
“Jordan me disse que você e Taylor querem me
compartilhar”, eu disse. “Mas quando vim pra cá para ajudar,
você ficou chateado porque Jordan me convidou pra sair.
Então gritou comigo por causa do forno idiota. Às vezes eu te
pego me olhando quando você acha que eu não estou
prestando atenção, mas em outros momentos me dá banhos de
água fria. Eu não entendo nada.”
“Eu gosto de você, Clara”, ele disse, sem rodeios.
Expirei pelo nariz. “Então qual é o problema? Você não
agiu até agora, não me mostrou sua afeição desde que eu
cheguei.”
Ele apoiou a cabeça no braço e suspirou. “Eu não sei.
São muitas coisas.”
“Tipo o quê?”, perguntei. Ele não respondeu, então o
cutuquei com meu pé. “Ei, vamos lá. Desembucha.”
“É tudo novo pra mim”, ele respondeu. “Nunca dividi
ninguém antes. Eu não sei como funciona. E eu não queria
parecer presunçoso sobre como você se sente. Eu estava
preocupado. Além de não saber o que você pensa sobre a
nossa diferença de idade.”
“Você não é tão velho”, eu disse.
“Não”, ele disse com um sorriso sarcástico. “Mas sou
velho o suficiente pra isso ser estranho. Não por sua causa ou
minha causa, mas por causa dos outros.”
“Eu não me importo com o que as pessoas pensam”, eu
disse automaticamente. Depois de um momento me dei conta
de que eu realmente concordava com aquilo.
“E tem ele”, Derek apontou para o embrulhinho de
alegria dentro do bebê conforto. “Estou totalmente
concentrado nele. Ele tem ocupado quase completamente
minha atenção e meus pensamentos.”
“Entendo”, eu disse. “Mas me parece inútil se preocupar
com algo que você não pode controlar.”
“Você não está errada, mas isso não significa que eu não
faça isso. Estar no controle é um fardo”, ele chacoalhou a
cabeça e se virou para me olhar do sofá, seus olhos brilhavam
com a luz suave do abajur. “Eu gosto de você, Clara. De
verdade. Especialmente agora que eu te conheço melhor.”
“Você demonstra de forma estranha”, murmurei.
Aborrecimento surgiu nos seus olhos, mas de repente a
atmosfera mudou. Antes que eu pudesse reagir, ele escorregou
no sofá, segurou minha cabeça com as duas mãos fortes e me
beijou.
Tensionei em surpresa, mas então senti o desejo dele. Ele
estava falando a verdade: ele queria fazer aquilo já fazia muito
tempo, mas ficou se segurando.
Respirei seu cheiro, uma mistura de fumaça, madeira de
cedro e almíscar. Meu corpo ganhou vida quando seus lábios
pressionavam os meus com desejo e eu o beijei de volta com a
mesma paixão.
Onde você esteve nas últimas duas semanas?
Derek se afastou e me deu um sorriso de satisfação. “E
agora, ainda demonstrando de forma estranha?”
Mordi meu lábio e acenei. “Hm, assim está bem melhor.”
Uma das suas sobrancelhas se arqueou. “Só melhor?”
Ele mergulhou em mim novamente, me beijando com
mais intensidade do que antes e me empurrando contra as
almofadas com seu corpo. Meu quadril se ergueu com desejo
quando ele me deitou, provando finalmente como ele
realmente se sentia.
Eu olhei para o corredor que dava na porta da frente do
quartel. “E se alguém entrar aqui?”
“Não me importo”, ele respondeu.
E ele estava falando sério. A única coisa que ocupava
sua cabeça naquele momento era o que ele estava fazendo
comigo.
Nos agarramos um no outro enquanto o beijo se
intensificou. Seus dedos dançavam perto do meu umbigo, me
fazendo arrepiar. Abri minhas pernas para ele com desejo. Ele
entendeu a dica e enfiou a mão pelo elástico do meu pijama,
além da minha calcinha e no fundo molhado da minha boceta.
Inclinei a cabeça e suspirei alto.
“Você está ensopada”, ele suspirou, com o hálito quente
no meu pescoço.
“Por você”, respondi.
Ele sorriu maliciosamente e começou a me despir. Não
sei como ele tirou meu pijama e minha calcinha sem rasgar
tudo. O ar frio invadiu meu corpo nu enquanto eu o observava
tirar seu uniforme até ficar de cueca.
Por um breve segundo vi que ele estava duro feito pedra
antes de me esmagar com seu corpo. Suas ações eram
desesperadas e famintas enquanto ele guiava sua cabeça contra
minha abertura, respirando de forma acelerada.
Me engasguei quando ele me penetrou, jogando todo o
peso do seu corpo naquele ato erótico. Nós dois gememos
juntos, com os músculos tensionados e os dedos se agarrando
enquanto saboreávamos o momento.
Agora somos quatro, pensei debilmente.
Mas aquele era o momento de Derek. Ele sabia o que
queria e iria me provar. Nada mais o faria esperar.
Segurei sua cabeça entre minhas mãos e o beijei
enquanto nós dois nos rendíamos ao tesão e desejo reprimidos
e acumulados.
26

Derek

Nas duas últimas semanas eu não conseguia nem


começar a pensar em relacionamentos amorosos. Caramba,
seria egoísta demais pensar nisso enquanto tínhamos o bebê
Anthony sob nossa tutela. Sem contar todo o trabalho no
quartel.
Mas Clara estava lá e eu a queria desesperadamente. Eu
a queria desde a primeira vez que ela pisou na estação para
entregar pizza no ano anterior. Ela era tantas coisas: simpática,
bonita, gostosa, maravilhosa e cheia de curvas.
Uma mulher de verdade. Tudo o que eu sempre soube
que queria.
E não importava o que estava acontecendo, eu não
conseguia mais esperar.
A eletricidade tomou conta de nós enquanto fazíamos
amor freneticamente no sofá. Era mais do que atração física:
nós compartilhávamos a paixão por cuidar de outras pessoas.
Éramos pessoas unidas pelo desejo de fazer a coisa certa, sem
nos importar com as consequências.
Estar no mesmo time fazia toda a diferença. A maneira
como me senti quando nos beijamos pela primeira vez era
coisa de outro mundo.
E quando eu estava dentro dela?
A boceta de Clara era inspiração para poemas épicos. Ela
era como Helena de Tróia. No momento em que a penetrei
fundo, pensei que se morresse, morreria feliz. E só estou
exagerando um pouco.
Estar dentro dela era confortável. Eu me sentia seguro.
Como o lar que eu nunca soube que tinha.
Eu mergulhei nela no sofá sem me segurar. Clara enrolou
suas pernas em volta de mim e me envolveu com desejo,
recebendo cada estocada com seu corpo voluptuoso inteiro. Eu
podia sentir seus mamilos rígidos pela blusa do seu pijama,
roçando contra a minha camiseta, e então enfiei a mão por
dentro da blusa para poder tocá-los. Ela estava plena e quente
sob meu toque, e era muito melhor do que eu tinha imaginado.
E eu tinha imaginado demais nas últimas duas semanas.
Não trocamos uma palavra sequer enquanto nos
rendíamos aos movimentos de nossos corpos famintos. Saber
que alguém podia entrar na estação em algum momento
aumentava o prazer de alguma maneira e adicionava urgência
ao nosso ato.
O corpo todo de Clara endureceu como metal quando ela
abriu a boca num grito silencioso de prazer. Ela apertou sua
boceta em volta de mim enquanto atingia seu clímax, o que me
fez literalmente desabar. Me enfiei mais fundo para que ela me
tomasse inteiro e fui destruído por um orgasmo superpoderoso.
Meu pau explodiu dentro dela e eu tive que cerrar os dentes
para conter meu grito de êxtase.
Clara olhou para mim com desejo e continuou me
comprimindo, como se quisesse ordenhar até a última gota do
meu leite. Pulsei e latejei e me engasguei dentro dela,
liberando duas semanas de tensão sexual, enquanto ela
agarrava meu cabelo me puxando para perto.
Pela primeira vez na minha vida eu me perdi numa
mulher.

Nos agarramos com os corpos suados e ainda quentes do


ato.
“Fico feliz que nenhum ciclista entrou aqui”, Clara
ronronou.
Seu pescoço estava exposto, então me inclinei e o beijei
suavemente. “Deveríamos nos vestir por via das dúvidas.”
“Você diz isso”, ela respondeu, “mas não se move.”
“Meu corpo não obedece. Ele quer ficar dentro de você.”
Ela deu um sorrisinho, o que fez seus músculos interiores
se apertarem ainda mais em torno da minha vara. “Não me
importo.”
Finalmente nos afastamos e nos vestimos. Clara esticou
o braço e tentou me dar um tapa na bunda quando me abaixei,
mas eu agarrei seu braço e a joguei no sofá, dando um tapa
ainda mais forte na sua bunda firme. Ela gargalhou e me
empurrou de brincadeira para recolher suas roupas.
Essa mulher me faz agir como se eu tivesse vinte anos.
Mas não era só agir. Ela me fazia me sentir com vinte anos de
novo. Como se fossemos dois adolescentes dando uns
amassos. Jovens, brincalhões e divertidos.
Eu certamente não me importava.
Me sentei no sofá. Clara me deu um longo beijo e então
se deitou e pousou a cabeça no meu colo. Eu gentilmente
acariciei seu cabelo, macio e sedoso, mais do que aparentava.
Esperei um ano para correr meus dedos por esses
cabelos. O pensamento me deixou feliz. E em paz.
“Você deveria ter feito isso na semana passada”, Clara
disse. “Ao invés de ser um resmungão.”
“Eu tenho uma desculpa. Tem muita coisa acontecendo,
não sei se você notou.”
“Isso não te impede de ser um cara legal”, ela disse.
“Eu sou um cara legal. Fiz um bolo de aniversário pro
Taylor.”
“Você poderia ter sido mais legal comigo”, ela explicou.
Corri meu polegar pela sua sobrancelha. “É isso que
você quer? Que eu seja legal na cama? Posso ser gentil da
próxima vez, se você quiser.”
Ela se virou sorrindo. “Não se atreva a mudar.”
Me inclinei e a beijei. “Não estava planejando isso.”
Relaxamos juntos por um momento até ela se levantar
para usar o banheiro. Quando ela voltou, foi a minha vez.
Me olhei no espelho e me dei conta de que estava
sorrindo. Um sorriso genuíno. Eu não me lembrava da última
vez que tinha sorrido assim.
Ela tem razão, pensei. Eu deveria ter feito isso na
semana passada.
De repente uma sirene cortou o ar. Não era muito alta
porque eu tinha diminuído o volume e soava mais como o
despertador de um telefone do que um alarme de uma estação
de bombeiros, mas era alta o suficiente para chamar nossa
atenção e acordar o bebê.
Anthony estava chorando no colo de Clara quando corri
de volta para a sala de estar. Por um segundo, sua beleza me
distraiu. Ela ali, cuidando do bebê de forma protetiva, parecia
maternal e poderosa. O homem das cavernas que habitava em
mim se sentiu imediatamente atraído por aquela cena toda.
“Um chamado a essa hora? Uma da manhã?”, ela disse,
confortando o bebê. “Espero que não seja nada sério.”
“Vamos ver”, dei um beijo na sua bochecha enquanto
passava por ela, e toquei a bochecha do bebê Anthony, então
corri para a garagem. Jordan e Taylor chegaram alguns
segundos depois de mim.
Adrenalina era um remédio forte. Mesmo com o coração
ainda acelerado do que eu tinha acabado de fazer com Clara,
consegui me controlar, vestir meu equipamento e ficar
preparado para trabalhar.
“Central, aqui é a unidade de Riverville”, Jordan disse no
rádio enquanto eu dirigia o caminhão para fora da garagem do
quartel. “Qual é a emergência?”
“Fogo em uma cozinha na Rua Alston, número um-três-
nove”, ela respondeu. “Eles apagaram com o extintor, mas os
vizinhos já tinham acionado.”
Taylor se engasgou no banco de trás. “Pete está fazendo
suas quesadillas da madrugada de novo.”
Eu fiz uma careta. Não era o primeiro chamado vindo
daquele endereço e era sempre porque Pete Delgado acordava
com fome no meio da noite, começava a preparar alguma coisa
e adormecia de novo.
Enquanto eu dirigia para o local, pensei em Clara e no
que tínhamos feito. Eu não tinha me dado conta do quanto eu
precisava daquilo. Me senti com a cabeça limpa pela primeira
vez em muito tempo.
“Você tá bem, Chefe?”, Jordan perguntou.
Me dei conta de que ele estava me encarando. “Por
quê?”
“Você parece… feliz.”
“Minha felicidade te preocupa?”
“Um pouco, sim”, ele respondeu.
Tentei agir casualmente, mas eu não conseguia evitar o
sorriso. E é claro, tentar esconder só o deixava mais óbvio.
“Espera um minuto. Você finalmente fez o que eu estou
pensando?”, ele perguntou.
Parei o carro em frente à casa dos Delgado, fumaça saía
pela lateral. “Talvez.”
“O que aconteceu? O que eu perdi?”, Taylor perguntou.
“Chefe finalmente afogou o ganso com a Clara.”
“Caralho!”, Taylor parecia um cachorrinho empolgado.
“Isso é uma metáfora? O ganso é o pênis?”
“Cale a boca e trabalhe”, eu disse, descendo do
caminhão.
Os dois continuaram rindo e me parabenizando pelo
caminho.
E quanto a mim? Eu não conseguia parar de sorrir.
27

Clara

“Preciso da sua opinião honesta”, eu disse com uma


seriedade grave, “se eu estiver sendo estúpida, você precisa me
dizer. Ok? Aqui vai. Estou namorando três homens ao mesmo
tempo.”
Bebê Anthony me encarou do seu berço.
“A ideia foi deles!”, eu disse, defensivamente. “Eles que
querem me compartilhar. E nem se sentem estranhos com isso,
tirando as piadinhas que eles fazem. Isso é muito errado? É um
escândalo total? Uma grande loucura?”
Bebê Anthony fez uma careta, parecia estar tentando
encher sua fralda.
“Sim, ninguém te perguntou”, eu murmurei para ele.
Continuei revisitando a noite na minha cabeça. Senti que
Derek e eu fomos de conhecidos educados para amantes num
piscar de olhos. Acho que toda aquela tensão sexual era real
durante o tempo todo.
E olha, valeu a pena esperar.
Os três eram bons de cama. Melhor do que bons. Mas
Derek tinha uma confiança diferente dos outros dois. Uma
deliberação que era incrivelmente sexy. Se aquilo vinha com a
idade, não me importo em envelhecer.
Olhei no relógio. Era uma e meia. Quando acordei, uma
hora atrás, estava ansiosa e estressada. Agora tudo parecia que
ia dar certo.
Acho que as vezes só precisamos de uma noite de sexo.
Derek chegou em casa e se juntou a mim na cama depois
de algum tempo. “Tudo bem?”, perguntei.
“Incêndio na cozinha”, ele disse, escorregando para
debaixo das cobertas comigo. “Já tinham controlado quando
chegamos lá.”
Eu farejei. “Você está com cheiro de fumaça.”
Ele parou no meio do processo de se cobrir. “Já tomei
banho, mas posso tomar outro…”
“Fique quieto e venha me abraçar”, eu disse, “não me
importo.”
O cheiro era um pouco perturbador, mas valia a pena ter
aquele corpo quente e poderoso dormindo de conchinha
comigo. Eu me sentia segura em seus braços. E feliz.
Quando acordei na manhã seguinte, me perguntei como
contaria a notícia para os outros dois. Parecia rude
simplesmente dizer: “Ei, eu dormi com o Chefe”, enquanto
comíamos bacon e ovos.
Mas quando cheguei na cozinha, os três já estavam
acordados e falando sobre isso.
“Ouvi dizer que você teve uma noite mais movimentada
do que a nossa ontem!”, Jordan disse com um sorriso de quem
sabia.
Taylor estava balançando o bebê no seu peito. “Ele
finalmente se abriu, hein? Bom, acho que isso é ótimo!”
“Não precisamos discutir isso”, Derek resmungou
tomando café. “Isso não é uma reunião de condomínio.”
Jordan deu um tapinha no seu ombro. “Ah, vamos lá,
Chefe. Somos realmente sócios agora.”
“Acho que o termo correto é irmãos esquimós”, Taylor
se intrometeu, pegando a mãozinha de bebê Anthony e
acenando para Derek com ela, “diga bom dia para os irmãos
esquimós!”
“Eu me arrependo de tudo, meu Deus do céu”, disse
Derek.
“Tudo?”, perguntei.
Ele se levantou e andou na minha direção com um
sorriso amoroso. “Tudo, exceto isso”, Derek me tomou em
seus braços e me deu um longo beijo.
“Bom dia”, ele murmurou.
“Mas eu ainda nem escovei os dentes”, eu disse, sorrindo
feito uma idiota.
“Nunca entendi quem faz isso”, disse Taylor. “Escovar
os dentes logo que você acorda não faz sentido. Deveríamos
esperar até depois do café da manhã pra então escovar os
dentes.”
“Falando sobre café da manhã, um de vocês pode por
favor preparar um prato pra mim?”
“Sim, senhora”, disse Jordan, “ele começou a me servir
salsichas de uma frigideira. “Quantas você quer?”
“Três, por favor”, respondi.
Jordan riu. Eu o encarei.
“O quê?”, ele perguntou. “Foi uma boa metáfora.”
“Se você tiver onze anos”, disse Derek. “Eu esperaria
isso de Taylor, mas não de você.”
Taylor fez uma careta. “Ah, qual é?”
Jordan colocou o prato diante de mim na mesa. Me dei
conta de que estava faminta, então rapidamente engoli os ovos
e as salsichas.
“O que você acha?”, Jordan perguntou.
“As gemas estão um pouco moles, mas não me importo”,
eu disse.
“Eu me referia a… situação. E eu não estou fazendo
referência ao idiota de Jersey Shore.”
“Ah”, eu parei de comer. “Por que você está me
perguntando isso agora? Acho que ficou claro que estou de
acordo, não?”
“Mas você não tinha passado pela coisa toda ainda”,
Taylor pontuou. “É diferente agora que você dormiu com os
três. O que você está pensando?”
“Acho que discutir isso durante o café da manhã é meio
estranho”, olhei para ele, então para Jordan, então para Derek.
“Mas apesar disso, não me importo em ser compartilhada por
vocês três.”
“Não se importa?”, Jordan perguntou incrédulo. “Achei
que você ficaria mais entusiasmada com a coisa toda. Eu
ficaria se tivesse três mulheres maravilhosas me
compartilhando.”
O encarei e ele ficou vermelho em dois tons diferentes.
“Não que eu queira três outras mulheres”, ele
acrescentou rapidamente. “Você é o suficiente pra mim.”
“Foi o que pensei”, eu espetei a salsicha com o garfo e
fiz um gesto com ele. “Não faz muito tempo que isso
começou. Vamos dar tempo ao tempo antes de julgar. Ficar
com vocês três pode se tornar difícil quando nos sentarmos, e
sei lá, tentarmos ver um filme juntos.”
Derek deu uma risada. “Jordan gosta de comédia
romântica e Taylor nem mesmo viu O Silêncio dos Inocentes.
Se discutir que filme vamos escolher é o suficiente pra te
assustar, Clara, temo que isso não vai durar nem até o próximo
sábado.”
“É um filme idiota!”, Taylor insistiu. Ele virou bebê
Anthony nos seus braços e começou a falar com ele com a voz
suave. “Seu nome é Hannibal e ele é um canibal. Se esse filme
fosse lançado atualmente, as redes sociais iriam o destruir com
opiniões.”
Derek rolou os olhos e virou a página do jornal.
Jordan se inclinou no balcão da cozinha e cruzou os
braços sobre o peito. Ele me assistiu comer por dois minutos.
“O que foi?”, finalmente perguntei. “Você está me
fazendo me sentir um animal de zoológico.”
“Ah, nada”, ele respondeu, “só estava imaginando de
qual de nós você gostou mais. Na cama.”
Quase cuspi minha colherada de ovos. “Sério? Eu
esperava mais maturidade de vocês.”
“Que pergunta infantil”, Derek concordou. E então
abaixou o jornal lentamente. “Especialmente porque a resposta
é bem óbvia. Eu.”
Taylor disse: “Nem em sonhos, velhote. Err, quer dizer,
Chefe.”
“Você acha que é você?”, Jordan perguntou a Taylor.
“Ela quer um homem de verdade. Ganhe mais massa muscular
e talvez você consiga mudá-la de posição na cama.”
“Eu sou sarado, diferente de vocês, gorilas”, Taylor
respondeu.
Bebê Anthony debatia seus bracinhos como se fosse
parte do argumento.
“Vocês três tem talentos”, eu disse diplomaticamente.
“Por isso que eu gosto de estar com os três. Os estilos
diferentes se completam.”
Os três ficaram em silêncio por um momento.
“Isso não foi uma resposta”, Derek pontuou.
“Eca!”, eu carreguei meu prato até a pia, enxaguei o
resto de comida e o coloquei na lava-louças. “Minha atração
pelos três está diminuindo cada vez mais.”
Jordan se aproximou e me abraçou por trás. “Vamos
parar. Só estamos competindo de brincadeirinha.”
Suspirei alegremente em seus braços. “São oito da
manhã. Vamos deixar esse tipo de discussão pra mais tarde.
Depois que eu tomar café, combinado?”
“Combinado.”
Ele me deu um beijo no topo da cabeça e nós ouvimos
um barulho familiar na estação. Segundos depois um rosto
familiar apareceu no corredor que dava para a cozinha.
Me assustei. “Mama?”
Minha mãezinha siciliana nem me notou. Ela correu até
Taylor e tirou o bebê de seus braços, falando com ele em
italiano, balançando seu corpinho para a frente e para trás e
sorrindo como se estivesse no céu.
“Ah”, Derek começou. “Senhora Ricci? O que você está
fazendo aqui?”
“Xiu”, ela disse, “hora do bebê”, ela o virou em seus
braços e abriu a boca para ele. Anthony retribuiu copiando a
ação, abrindo sua boquinha desdentada em um grande sorriso.
Derek me deu uma olhada e eu assenti.
“Mãe, você não pode vir aqui!”, eu disse, “É muito
arriscado. Ninguém deve saber que o bebê está aqui.”
“Eu não me importo!”, ela anunciou teimosamente. “Eu
tenho sido paciente. Esperei. Até menti por você. Agora quero
ver o bebê.”
“Você mentiu por mim? Quando?”
Ela se sentou e balançou o bebê no seu colo. Ela tinha
um talento especial porque qualquer coisa que fazia deixava o
bebê gritando de alegria. “Aquele homem veio no restaurante.
Homem terrível. Eca. Flertando com Angelina, mesmo ela
sendo casada.”
“O que ele te disse?”, Derek perguntou.
“Ele perguntou sobre o bebê. Fingi que estava brava e
que não queria falar sobre a minha filha. Ele acreditou, eu
acho. Então mereço meu prêmio!”, ela encheu o bebê de
beijos.
O maxilar de Derek travou. “Eu sabia que Billy ia
xeretar. Confirmar nossa história.”
“Ele perguntou sobre o pai do bebê”, mama continuou,
“mas eu não disse nada. Só fingi estar brava. Acho que fiz um
bom papel porque eu jamais ficaria brava. Eu ficaria muito
feliz com netos.”
“Você tem um neto”, eu a lembrei. “O filho de Jason e
Maurice.”
“Eu amo LeBron, mas ele mora em Los Angeles e você
está aqui”, ela disse, então ficou de pé e caminhou até Jordan.
“Eu quero muitos bebês. Você conhece alguém que possa fazer
bebês nela, hein?”
Jordan parecia um fugitivo pego no flagra quando mama
se aproximou e apertou sua bochecha. Ela ainda apertou um
dos seus braços e disse, “Bebês fortes! Muito fortes!”, antes de
voltar sua atenção para bebê Anthony.
Me encolhi durante toda a cena. “Mama, chega.”
“O quê?”, ela apontou para ele. “Ele é grande e forte.
Muito bom. Eu aprovo”, ela se virou para ele. “Eu aprovo,
bombeiro! Leve minha filha!”
Deixei escapar um longo e envergonhado resmungo.
Derek deixou mama ficar lá por meia hora. Fomos para a
sala de estar e ela brincou com ele no chão. Quando Jordan
tentou ligar a TV para assistir ao replay do jogo dos Giants da
noite anterior, mama o pressionou a colocar no jogo dos
Dodgers. Ele mudou de canal sem nem tentar resistir.
“Mama pode ser pequenina, mas sempre consegue o que
quer”, sussurrei para ele. “É melhor não dizer não.”
“Percebi.”
Finalmente, Derek limpou a garganta e comentou sobre
precisar limpar o quartel. Mama entendeu a deixa e finalmente
se levantou do chão.
“Vou trazer comida pra vocês”, ela disse. “Presente. Para
agradecer por brincar com o bebê.”
“É muito generoso da sua parte”, disse Derek. “Mas
insistimos em pagar.”
Ela o ignorou e apertou a bochecha de Jordan. “Minha
filha ama trazer comida sexta. Quando você liga, ela faz cara
boba!”
“Ai, Mama. Para com isso!”
Taylor riu. “Quero saber mais sobre a cara boba, Senhora
Ricci.”
“Mama precisa ir abrir o restaurante”, eu disse, guiando-
a pela porta da frente. “Ela precisa preparar os ingredientes
antes do almoço.”
Ela fez um som irritado. “O restaurante não precisa de
mim tanto assim. Ninguém pede almoço.”
Derek limpou a garganta. “Os negócios não estão indo
tão bem, Senhora Ricci?”
“Vi algumas mesas na última vez que estive lá!”, disse
Taylor, alegremente. “Acho que eram só duas, mas mesmo
assim…”
Antes que minha mãe pudesse começar a falar sobre os
problemas financeiros do restaurante, continuei empurrando-a
para a porta. “Obrigada Mama, te amo, tchau.”
Os rapazes estavam sorridentes quando voltei para a
cozinha. “Netos, hein?”, Jordan perguntou.
“Nem começa”, alertei.
Taylor apertou o bíceps de Jordan, “Tão forte!”
“Você está com inveja porque ela gosta de mim”, disse
Jordan.
“Parece que ela não quer um genro”, Derek disse. “Ela
quer um doador de esperma pra filha. E você parece o
candidato ideal.”
“Ou é o que ela pensa”, Taylor disse sorrindo. “Me
pergunto o que ela vai pensar do nosso acordo.”
“E vamos continuar nos perguntando”, cortei
forçadamente, “porque ela nunca vai saber. Tivemos sorte por
ser Jordan me abraçando quando ela chegou. Se fosse um de
vocês dois, não sei como explicaria.”
“Eu gosto dela!”, disse Taylor. “Pra uma mulher tão
pequena, ela tem muita atitude. Aposto que era ainda mais
ousada quando jovem.”
“Ao contrário do que você pensa, ela ficou assim com a
idade”, tirei Anthony do berço para checar sua fralda. “E ela
não vai ficar satisfeita até conseguir formar a seleção italiana
de futebol só com seus netos.”
“Aposto que ela vai gostar de nós três!”, Taylor insistiu.
“Mais homens significa mais chances de…”
Ele interrompeu quando o encarei fulminantemente.
“Faz só uma semana”, eu disse secamente. “Vamos pegar
leve.”
Mas quando fui colocar o bebê para dormir, não pude
evitar o sorriso ao pensar no fato de que eles tinham conhecido
minha mãe e todos tinham se dado bem.
Era um passo estranho num relacionamento a quatro.
Mesmo assim, um passo à frente.
28

Clara

Como na semana anterior, transferimos todo o nosso


assentamento de cuidado com o bebê para a casa de Derek em
fases. Saí da estação por volta de sete horas para evitar os
caras do outro turno.
Eu não tinha certeza se aquilo importava. Billy já sabia
que eu estava lá esporadicamente, mesmo sem saber o motivo
real. E a fofoca provavelmente já tinha se espalhado entre os
outros caras. Mas quanto menos me visse, menos Billy me
interrogaria. Eu não me considerava uma mestra da mentira,
então eu fiquei feliz em poder evitar qualquer chance de ser
pega em flagrante.
Me sentei na sala de estar com bebê Anthony. Os
Dodgers já tinham jogado e ganhado (Uhul!), o que
significava que era o jogo dos Giants na TV (Uuu!). Mas o
bebê parecia gostar dos sons da TV e eu gostava de torcer
contra os Giants.
Os rapazes chegaram em casa dez minutos depois das
nove. Eles entraram na casa nas pontas dos pés como
adolescentes com medo de serem pegos, mas relaxaram
quando viram que eu estava acordada dando a mamadeira para
Anthony.
“Ele está acordado faz tempo”, eu disse. “Vai ser uma
noite daquelas.”
Derek sorriu e gentilmente colocou sua mão nas costas
do bebê. “Nunca vou me cansar em ver vocês dois assim.”
Levantei uma sobrancelha. “Por quê? Porque a função da
mulher é cuidar dos bebês?”
Eu só estava provocando, mas ele me respondeu de
forma séria. “Não. Porque você sorri quando o segura. Você
parece feliz de uma maneira diferente do normal.”
Fiz uma careta, incapaz de pensar em uma boa resposta.
“Seu bombeiro favorito perguntou sobre você”, disse
Jordan.
Demorei um momento para entender de quem ele estava
falando. “Eca. Não fale isso nem de brincadeira.”
“Ele ficou estranhamente desconfiado quando não te viu
lá”, Taylor se intrometeu. Ele fez carinho na minha bochecha,
mas ficou com vergonha na sequência e seu rosto corou. “Os
outros caras do turno não parecem se importar. Mas Billy está
terrivelmente curioso sobre a sua vida.”
“Eles provavelmente entendem que você não quer ficar
perto de Billy”, disse Jordan. “Todo mundo sabe a merda que
ele é.”
“Que tal se não falarmos sobre ele?”, sugeri. “Qual é o
plano para o final de semana? Relaxar e ver os Giants
perderem para os Padres? Ah, não, espera – isso já está
acontecendo. Eles estão perdendo por seis no nono turno”,
apontei para a TV sorrindo.
Derek rolou seus olhos. “Tenho um plano pro bebê
Anthony.”
Pisquei. “Ahn?”
“Minha irmã e eu vamos para Sacramento conversar com
um dos administradores do Serviço Social”, ele explicou.
“Talvez nós consigamos acelerar as coisas ou conseguir
alguma verba emergencial sem precisar dar muitos detalhes.
Minha irmã acha que vale a pena. Pelo menos vamos
conseguir ter uma ideia de quanto mais teremos que esperar
antes de entregá-lo para o sistema. E aí saberemos a melhor
forma de lidar.”
“Isso é ótimo”, eu disse, “quando vocês vão?”
“Vamos sair bem cedo. São só três horas de carro, então
espero estar de volta no fim do dia. De qualquer forma, só vou
voltar quando eu souber o que fazer”, ele gentilmente
acariciou o cabelo do bebê.
“Com sorte, vamos ter uma ideia melhor do que
acontecerá a seguir”, eu disse. “O que quer que aconteça,
cuidarei do bebê pelo tempo que for necessário”, dei um beijo
na testa de Anthony para enfatizar.
Derek sorriu para mim e então se virou para seus
colegas. “Tenho uma missão pra vocês dois.”
“Uma missão? Claro, Chefe”, disse Taylor.
Jordan fez uma careta. “Por quê?”
Derek me deu um sorriso malicioso. “Porque cheguei
atrasado na história de dividir a Clara e preciso recuperar o
tempo perdido.”
No momento em que Jordan pegou o bebê dos meus
braços, Derek se abaixou como um jogador de futebol prestes
a chutar a bola, me agarrou pela cintura e me jogou sobre seus
ombros. Deixei escapar um gritinho quando ele subiu as
escadas me carregando.
“Eu estou com cheiro de leite em pó!”, protestei.
“Você poderia estar com cheiro de leite azedo”, Derek
urrou, “e isso não me impediria de fazer o que estou prestes a
fazer com você.”
Eu ri enquanto ele me carregava para o andar de cima. A
última coisa que ouvi foi Jordan sussurrar. “Exibido.”
A casa de Derek era grande e confortável. Depois das
nossas atividades eróticas, dormi feito pedra. Aquilo
provavelmente tinha mais a ver com a forma como o capitão
dos bombeiros tinha me deixado exausta do que com o
conforto da cama, mas, de qualquer maneira, dormi feliz até
meu alarme disparar.
Acordei sozinha com um bilhete no travesseiro:

Vamos continuar quando eu voltar.


Sorri e fui para o andar de baixo para tomar café da
manhã. Então sorri com mais intensidade quando vi os outros
dois sentados a mesa. Taylor parecia totalmente normal com
uma colher na mão, mas Jordan tinha um novo acessório.
Um canguru para bebê conectado ao seu peito. Anthony
dormia profundamente nele, com as extremidades penduradas
enquanto o bombeiro enorme comia Sucrilhos.
“Essa é uma bela visão”, eu disse.
“Eu estava prestes a dizer o mesmo”, ele respondeu.
“Gosto desse pijama.”
Fui até a geladeira e me inclinei propositalmente, mesmo
sabendo que o suco de laranja estava na prateleira de cima. Os
rapazes estavam me encarando tão intensamente que eu podia
praticamente sentir.
Jordan girou no seu banco até ficar de costas para mim.
“Qual é o problema?”, perguntei. “Não quer ver?”
“Definitivamente sim”, ele respondeu, “estou virando
porque bebê Anthony também quer ver”, ele se inclinou e
abaixou o tom de voz. “Acredite em mim, amiguinho, você vai
apreciar isso um dia.”
“Nojento”, disse Taylor. “Ela está cuidando dele como
uma mãe.”
“Hm, ela é mais uma babá”, Jordan respondeu. “Eu me
apaixonei pela babá quando era criança.”
“Acho que é um pouco diferente quando o bebê é tão
jovem que ainda mama”, eu disse secamente. “Para ele, meus
seios são mais como um restaurante do que algo sexy.”
Jordan grunhiu e se virou de volta. “Ok. Agora se incline
para eu poder desfrutar da visão.”
“Não”, respondi me servindo de suco de laranja.
“Perdeu.”
“Muito obrigado”, Jordan murmurou para o bebê que
continuava dormindo pacificamente no canguru.
Depois de um café da manhã cheio de provocações e
leveza. Taylor foi visitar sua família para celebrar seu
aniversário. Jordan e eu passamos o dia vendo comédias
românticas no Netflix e discutindo o realismo das histórias.
Jordan fez sanduíches de queijo para o almoço enquanto
eu alimentava o bebê. Depois de mais comédias românticas,
cozinhei frango marsala com vegetais assados.
Foi divertido. Era como brincar de casinha – mesmo
aquela não sendo nossa casa. Não havia pressão a não ser
manter o bebê e sua fralda limpos.
Eu gostava daquilo. Tudo trazia uma sensação
satisfatória. Como se eu estivesse degustando o futuro. Ou um
futuro que eu poderia compartilhar com alguém.
Ou três alguéns, pensei.
Derek telefonou e nos disse que não voltaria antes da
manhã seguinte. Ele e sua irmã não tinham conseguido a
reunião que precisavam com o administrador, mas ela estava
tentando marcar para Domingo depois da missa.
Taylor voltou da celebração com sua família um pouco
depois. “Preciso de uma bebida”, ele disse assim que cruzou a
soleira da porta.
“Você se divertiu, hein?”, perguntei.
Ele pousou a mochila em uma cadeira. “Não me entenda
mal. Eu os amo, mas em pequenas doses. Seis horas foi um
pouco demais.”
Jordan abriu a porta do armário de bebidas. “Derek disse
que é para nos sentirmos em casa. Parece que ele tem tudo o
que precisamos pra fazer margaritas.”
“Quero sete”, disse Taylor.
Levantei uma sobrancelha na direção dele. “Você tem
idade o suficiente pra beber?”
“Ha ha”, ele respondeu secamente, “só por isso você não
vai ganhar um beijo de bom te ver de novo.”
Carreguei o bebê para perto dele e o beijei na boca. Ele
devolveu o beijo com vontade, sem tentar me parar.
“Foi o que pensei”, eu disse com uma piscadinha.
Jordan fez margaritas muito fortes, com muito sal na
borda do copo. Eu me senti bem e meio alta depois de uma só
e parecia que os rapazes não estavam muito longe disso.
Taylor estava navegando no seu telefone, mas fez uma
careta para a TV quando se deu conta do que estávamos
assistindo. “Que diabos vocês estão vendo? Tom Hanks e Meg
Ryan?”
“Mensagem para você é um clássico!”, Jordan
argumentou.
“Clássico é só outra forma de dizer velho.”
“Você não tem permissão pra dar opiniões sobre filmes
mais”, provoquei. “Você pode escolher o desenho de amanhã
cedo.”
Ele me deu uma encarada de brincadeira. “Você sabe que
sua mãe chegou na hora certa ontem.”
Coloquei bebê Anthony no bebê conforto que estava no
chão. “Hora certa como?”
“Ela te ajudou a se esquivar da pergunta que fizemos.
Sobre qual de nós é o melhor na cama.”
Dei uma gargalhada. “Tinha me esquecido disso.
Obrigada, Mama.”
Taylor se aproximou de mim no sofá até nossas coxas se
encostarem. Ele estava usando uma calça jeans, mas eu sentia
seu calor contra minha pele. “E então? Você vai responder à
pergunta agora?”
“Como eu disse: vocês têm diferentes habilidades.”
“Isso não é uma resposta”, Taylor reclamou.
“É a verdade”, respondi tomando um gole da minha
segunda margarita.
Do meu outro lado, Jordan respirou fundo. “Ela está
tentando não ferir seus sentimentos, amigão. Tenho certeza de
que você não vai gostar da resposta verdadeira.”
“Pfff. Ok, certo”, Taylor correu os dedos pelos cabelos
loiros. “Não é verdade. É, Clara?”
Dei de ombros casualmente. “Se vocês continuarem a me
encher o saco, vou dizer que vocês três são horríveis de cama.”
Jordan escorregou o braço em volta do meu ombro.
“Agora sei que você está mentindo.”
“Definitivamente”, Taylor concordou.
“Se vocês acham que sim”, eu disse inocentemente.
Os dedos de Jordan começaram a acariciar minha nuca.
“Parece que você precisa de provas. Taylor, você se importa
em cuidar do bebê essa noite?”
Taylor fez uma careta. “Você passou o dia com a Clara.
Eu esperava passar algum tempo sozinho com ela agora.”
“Vocês não disseram quem é o primeiro!”, eu disse.
Os dois se encararam, então gritaram “EU PRIMEIRO!”
ao mesmo tempo.
“Xiu, vocês vão acordar o bebê”, eu sussurrei.
“Eu falei antes”, disse Jordan.
Taylor discordou. “Não falou nada!”
“Essa disputa é muito sexy”, eu disse.
Jordan me ignorou e começou a acariciar minha perna.
“Vou levar Clara para o andar de cima.”
Taylor ficou de pé. “Então também vou.”
“Você está sugerindo que nós a compartilhemos?”,
Jordan perguntou, zombeteiro.
“Por que não?”, Taylor respondeu. Ele colocou a mão na
minha outra perna. “Já estamos compartilhando de outras
formas!”
“Por mim tudo bem”, Jordan respondeu. “Desde que
Clara concorde.”
Congelei. “Esperem um minuto. Vocês estão sugerindo o
que eu estou pensando?”
29

Clara

Os rapazes pareciam confusos, como se não tivessem


entendido o que estavam realmente concordando em fazer.
Então Taylor percebeu e sua cara mudou para uma expressão
de surpresa.
“Sim”, Jordan disse. “Acho que estamos sugerindo isso.”
Devagar, Taylor acenou.
Demorei alguns segundos para finalmente encontrar as
palavras que eu queria dizer: “Vocês querem fazer sexo a
três?”
“Acho que você pode chamar de ménage”, Jordan
respondeu. Taylor concordou, acenando.
“Como é que eu vou saber o nome!”, sibilei, tentando
manter minha voz baixa para não acordar o bebê. “Nunca fiz
isso antes!”
Taylor coçou a nuca de forma estranha. “Nem eu.”
“Eu também não”, disse Jordan em voz baixa. “Não
exatamente.”
Eu me virei na direção dele. “Não exatamente?”
“Ok, nunca”, ele admitiu. “Nunca fiz sexo a três. Mas
estou disposto a tentar.”
Olhei para os dois, um de cada vez. Eu estava meio
desnorteada com o fato de eles estarem interessados nisso. Me
dividir em noites diferentes era uma coisa, mas assim,
juntos…
Eu quero fazer isso, me dei conta. Eu nunca tinha
fantasiado sobre sexo a três antes, mas talvez fosse porque eu
não conhecesse os homens certos. Mas agora que eu estava
ladeada por eles no sofá, sendo o alvo do seu desejo? Eu
queria muito.
“E você?”, perguntei ao Taylor. “Você se sente
confortável com isso?”
Taylor engoliu o resto da sua segunda margarita. “Ok,
sim”, ele disse, limpando sua boca. “Me sinto confortável com
isso. Especialmente porque isso nos coloca em outro patamar
em relação ao Chefe.”
Dei uma olhada para ele. “Esse é o único motivo pelo
qual você quer fazer isso. Pra provocar Derek?”
Taylor sorriu. “Não o único motivo.”
Devagar, nos levantamos do sofá e nos encaminhamos
para o andar de cima. Jordan carregou Anthony no bebê
conforto. Os degraus pareciam extremamente barulhentos
naquela noite, como se a casa toda estivesse nos julgando pelo
que havíamos decidido fazer.
Julguem o quanto quiserem, pensei. Isso vai acontecer.
Fomos para o meu quarto, o que eu dividia com as
máquinas de escrever. Taylor fechou a porta, mesmo que não
fosse necessário. Jordan cuidadosamente colocou o bebê
conforto no chão, e então pausou para se certificar que
Anthony ainda estava dormindo calmamente.
Então se virou para mim, me jogou na parede e me
beijou como se estivesse tentando ganhar um concurso.
Derreti sob o beijo de Jordan e a força inesperada de sua
paixão. Aquilo tudo me pegou de surpresa – uma boa surpresa.
Muito boa.
Jordan nunca tinha agido assim antes. E eu gostava
daquele lado dele.
Então Taylor se aproximou, me afastou do seu amigo e
tomou seu turno, me segurando contra seu corpo enquanto
cheirava meu pescoço. Inclinei minha cabeça e ofeguei,
respirando fundo enquanto eu podia. Jordan se encostou na
parede com os olhos famintos e nos assistiu.
Não acredito que estou fazendo isso.
Eu tinha estado com os dois separadamente. Todo mundo
sabia o que estava acontecendo. Mas beijar Taylor na frente de
Jordan e Jordan na frente de Taylor despertou uma safadeza
em mim que eu não sabia que tinha.
Aquilo elevou tudo de zero a dez. E não tínhamos nem
começado.
Jordan me afastou de Taylor, me abraçando por trás e
beijando minha nuca enquanto se roçava na minha bunda.
Senti seu pau duro através das nossas roupas. Ele estava tão
excitado quanto eu. Talvez até mais.
Taylor tirou sua blusa e se sentou na beirada da cama.
Seus olhos me analisavam, observando a macheza de Jordan
ao me manusear, acariciar e beijar. Ele não precisou me afastar
– Jordan me inclinou sobre a cama e eu caí no colo de Taylor,
que esperava ansioso.
Eu sentia o olhar de Jordan em mim enquanto eu e
Taylor nos beijávamos. Era como uma carícia se movendo
pelo meu corpo, para cima e para baixo, me causando arrepios.
As mãos de Taylor se moviam pelas minhas costas, então ele
agarrou minha blusa e a puxou para cima. Fechei os olhos e
expirei suavemente enquanto ele se levantou e enfiou meus
mamilos na boca – primeiro o esquerdo, depois o direito,
mordiscando com só um pouco de pressão.
“Você está bem?”, ele parou para perguntar, com os
olhos arregalados e ansiosos.
Acenei sem pensar. “Nunca estive tão bem na minha
vida.”
Jordan respondeu por trás de mim com um gemido: “Que
bom”, e então me afastou de Taylor, com uma mão na minha
coxa e a outra curvada em volta da minha cintura, me
erguendo do chão. E então me dobrou na cama perto de
Taylor.
Me engasguei quando Jordan tirou minha calça e minha
calcinha ao mesmo tempo. Seus dedos dançavam pela minha
pele desnuda e Taylor se recostou na cama para assistir. Senti
meu corpo se tensionar, cada músculo, dos meus dedos dos pés
até meu pescoço, esperando para saber o que Jordan faria. Sua
respiração estava quente na minha pele: na minha nuca, no
meio das minhas coxas e na minha bunda. Os olhos de Taylor
acompanhavam seus movimentos, ansiosos para saber o que
veria a seguir.
Tentei abrir a boca para pedir a ele que continuasse, mas
o máximo que consegui foi um gemido longo.
“Ela vai acordar o bebê”, Jordan retumbou no meu
cabelo molhado de suor. “Enfia alguma coisa na boca dela
para abafar o som.”
Taylor já estava tirando a calça, a dureza do seu pau
invadiu minha visão. Na meia-luz do quarto eu pude ver o
brilho da lubrificação na cabeça do seu pau, mais prova de
como eles estavam gostando.
Então Taylor enroscou os dedos nos meus cabelos, os
segurou com força e puxou meu rosto em direção a ele.
Eu quase não tive tempo para pensar quando seu pau
invadiu minha boca. Mas ao invés de ficar alarmada ou
surpresa, a forma como ele assumiu o controle me deixou mais
excitada do que eu esperava. Ele não aplicava muita pressão –
não me engasgou nem nada. Só usou minha boca da forma
como ele queria.
Gemi em volta da sua vara enquanto ele movia minha
cabeça para cima e para baixo.
“Mais ou menos assim”, Jordan disse com os dentes
cerrados antes de voltar a língua para o meu clitóris,
circulando em volta do cerne antes de enfiá-la profundamente
na minha abertura.
Eles me tomaram daquele jeito por alguns momentos –
um me chupando por trás enquanto o outro movia minha
cabeça pelo seu pau. É isso, pensei enquanto me rendia ao
momento. Estou fazendo isso. Estou fazendo sexo a três com
dois dos bombeiros.
Nunca esperei que isso aconteceria quando vinha
entregar pizza no quartel.
E então o pensamento se foi, sobrescrito pelas ondas de
prazer erótico me golpeando por duas entradas enquanto eles
se divertiam comigo.
30

Taylor

Foi estranho com Jordan no começo. Como não seria?


Clara – a garota com quem ambos estávamos saindo – chupou
meu pau na frente dele, enquanto ele se encarregava das suas
partes íntimas, devorando-a como um rodízio de pizza (e ele
era muito bom naquilo, julgando pelos sons emitidos por Clara
enquanto engolia meu pau).
Na semana anterior, eu era virgem. Naquele momento,
eu estava fazendo sexo a três.
Vou ser totalmente honesto: nunca pensei que fosse fazer
sexo a três. Não era algo que eu esperava que fosse acontecer
comigo. Como ganhar na loteria ou ser atingido por um raio.
Mas quando eu fantasiava sobre isso, era um pouco diferente:
eu e duas garotas. Não eu, uma garota e outro cara.
Mas foda-se isso tudo. Dividir a Clara era uma delícia.
Primeiro, Jordan fazendo o que queria com ela e então me
entregando seu corpo para eu poder fazer o mesmo. E então,
chupando sua boceta enquanto ela fazia o mesmo com meu
pau. Foi maravilhoso. Foi melhor do que maravilhoso. Foi
sensacional de uma forma que eu nunca esperei.
Talvez o fato de Jordan e eu sermos próximos como
irmãos tenha ajudado. Trabalhar no quartel de bombeiros fazia
isso. Jordan tinha literalmente arrastado meu corpo
inconsciente para fora de um prédio em chamas, quando
minha válvula de respiração estragou. Eu tinha salvado sua
vida outras incontáveis vezes também.
Compartilhar uma mulher era fácil se compararmos a
isso.
Clara segurou meu pau e começou a acariciá-lo no
mesmo ritmo que o sugava, e então todos os pensamentos
sobre meus companheiros de trabalho imediatamente
desapareceram da minha cabeça.
Puxei o cabelo sedoso e loiro de Clara com meu punho e
a afastei de mim, levantando seu corpo para poder enfiar
minha língua na sua boca. Dividimos um beijo longo e
profundo, zumbindo em vibrações de prazer que vinham da
sua língua para a minha, até eu não aguentar mais.
“Sai daí”, pedi ao Jordan.
Ele mal teve tempo de se afastar e eu tomei seu lugar por
trás de Clara. Coloquei minha mão na sua lombar com a
pressão adequada. Sua bunda era uma obra de arte vista
daquele ângulo. Duas orbes grudadas à sua cintura. Seu botão
de rosas na fenda da sua carne, logo acima dos seus grandes
lábios melados.
Ficou ainda mais bonito quando enfiei meu pau nas suas
profundezas, encontrando sua boceta tão molhada quanto
parecia. Alcancei o fim em uma única estocada.
Ela se engasgou e se inclinou na cama, com o rosto
enfiado na coberta e a bunda no ar. Apertei uma das suas
nádegas, sentindo o peso da minha palma enquanto eu me
enfiava nela o mais profundamente que conseguia.
Tenho medo de me mover, pensei, sorrindo, porque já
sinto que estou prestes a explodir.
Enquanto aquilo acontecia, Jordan se despiu e se
ajoelhou na cama. Como eu tinha feito antes dele, ele agarrou
um punhado do seu cabelo e enfiou seu pau na sua boca. Ela
engoliu sua cabeça ansiosamente, abafando mais um longo
gemido.
Clara estava absolutamente ensopada. Mesmo que sua
boceta estivesse apertada contra meu pau como se estivesse
tentando espremer minha vida, quando me movi, o fiz com
uma fácil suavidade. Eu mal conseguia sair de dentro dela, só
alguns centímetros – porque precisava estar dentro dela, me
sentir totalmente enfiado. Só a metade não era suficiente.
Agarrei sua bunda com minhas duas mãos e a fodi
constantemente, me maravilhando com a textura incrível dela.
Assisti meu pau deslizar para dentro e para fora enquanto suas
nádegas perfeitas balançavam contra minhas coxas.
Acho que sou um grande fã de bundas.
Não sei quanto tempo ficamos ali, tomando-a pelos dois
lados. Dez segundos, dez minutos… o tempo parou de fazer
sentido enquanto eu estava dentro de Clara. Era como um
buraco negro. Mas finalmente Jordan puxou Clara para a
frente, rolando-a de lado para que ela ficasse deitada com as
costas na cama, com as pernas abertas. Jordan não perdeu
tempo e enfiou seu pau entre suas pernas, e eu sabia o exato
momento que ele tinha atingido suas profundezas porque seu
corpo ficou duro feito uma pedra.
Clara esticou a mão na minha direção, me convidando.
Como eu podia dizer não ao chamado de uma donzela?
Me ajoelhei na cama perto de Clara, me inclinando para
segurar seu peito e chupar seu mamilo. Mas ela tinha outras
coisas em mente – ela agarrou meu pau e me puxou para perto
do seu rosto, enrolando seus lábios em volta da minha vara e
continuando o boquete que ela tinha começado mais cedo,
como quem compensa pelo tempo perdido.
Jordan e eu tínhamos evitado olhares até aquele
momento. Nos pareceu uma regra básica do sexo a três, certo?
Mas de repente, acidentalmente ou de propósito, nossos
olhares se conectaram.
Você acredita que isso está acontecendo? Jordan parecia
perguntar com o olhar.
Não, não acredito, respondi com meu olhar. Mas estou
feliz.
Jordan começou a golpear a boceta de Clara com longas
estocadas que faziam seu corpo todo tremer. Novos gemidos
irromperam da garganta de Clara e ela começou a me chupar
mais rápido.
Não vou durar muito se ela continuar fazendo isso,
pensei.
Felizmente, os outros dois estavam no mesmo fluxo que
eu. Clara se contorceu e arqueou suas costas enquanto Jordan a
cavava fundo, bombeando-a com tanta intensidade que era
como se ele estivesse tentando provar alguma coisa. Mas ele
estava fazendo algo especial para Clara, que ia e voltava na
cama, debaixo dele. Uma de suas mãos unhava seu peito e a
outra segurava minhas bolas, apertando-as com urgência
enquanto sua língua se movia pela cabeça do meu pau.
Finalmente ela se arqueou quase violentamente, e deixou
escapar o grito do início do seu clímax. Ela mordeu seu lábio
para conter o som e sua mão escorregou pela minha vara, me
bombeando com mais fervor do que eu podia aguentar.
Uma pontada correu pelas minhas bolas e atingiu meu
pau, como os primeiros sintomas de um orgasmo cataclísmico.
Tentei alertá-la, dizer a ela o que estava preste a acontecer,
mas ela parecia saber – apesar dos olhos cerrados e da boca
semiaberta em gritos de êxtase. Ela puxou meu pau contra seu
peito, apontando a ponta para seu decote e me agarrando com
dedos desesperados.
Gozei tão forte que me surpreendi não ter rugido alto o
suficiente para tremer as paredes. De alguma forma, consegui
conter a maioria dos meus grunhidos animalescos enquanto
Clara me esvaziava no seu peito e cobria seus seios com
minhas jorradas brancas e enevoadas.
Então Jordan tirou seu pau de dentro dela e engatinhou
pela cama, se ajoelhando com o membro em mãos,
adicionando mais sêmen ao peito de Clara. Ela segurou nossas
varas uma em cada mão, assumindo o controle da situação,
nos estocando ao mesmo tempo, ordenhando até a última gota
do nosso leite, até perdemos a capacidade de nos mover.
31

Clara

“Não acredito no que acabamos de fazer”, sussurrei.


Nós três estávamos deitados de costas para a cama, um
dos rapazes de cada lado. Já tínhamos nos limpado, mas ainda
não estávamos nos acariciando – estávamos só espalhados na
cama com as extremidades empilhadas e enroscadas, tentando
respirar e processar o que tinha acabado de acontecer.
Eu tinha sido fodida por dois caras.
“Isso aconteceu, não aconteceu?”, Taylor perguntou. Ele
esticou um dos braços e beliscou a própria mão. “Sim, isso não
é um sonho.”
“Devo admitir que estava um pouco cético no começo”,
disse Jordan. “Mas não foi estranho.”
“Não mesmo”, Taylor concordou. “Logo que
começamos, parecia que estávamos trabalhando juntos.”
“O que fazemos todos os dias”, Jordan completou,
“somos colegas de trabalho.”
“Mas, ao invés de apagar um incêndio”, eu disse, dando
uma risadinha, “vocês estavam provocando um entre as
minhas pernas.”
Os dois viraram a cabeça na minha direção.
“Isso foi realmente brega”, disse Taylor.
Jordan concordou. “A sorte é que você é bonita, porque
qualquer outra pessoa teria acabado com a noite.”
Arqueei minhas costas na cama, me alongando.
“Ninguém ou nada conseguiria acabar com a noite que
tivemos.”
Taylor acariciou minha bochecha. “Foi bom assim?”
Acenei vigorosamente. “Aham.”
“O suficiente pra fazermos de novo?”, Jordan perguntou.
Fingi estar ofendida. “Se não fizermos isso de novo, eu
termino com vocês dois.”
A risada deles deve ter saído do controle porque de
repente ouvi bebê Anthony chorar e reclamar. Nossos sons de
felicidade se tornaram lamentos.
“Eu cuido disso”, Taylor disse, me dando um beijo antes
de se levantar da cama. Ele caminhou até o bebê, totalmente
nu. “Obrigado por nos esperar terminar, amiguinho. Você já
está aprendendo a não enfiar o pé na janta dos amigos.”
“Não achei estranho durante”, disse Jordan. “Mas – eca,
cara! Vista sua calça antes de se inclinar sobre o bebê!”
Taylor se virou, com o pênis balançando livremente.
“Estamos acostumados com o chuveiro comunitário. Você
nunca reclamou assim antes.”
“Isso é diferente”, Jordan cobriu os olhos com o bíceps.
“Vá se vestir, cara.”
“Quando eu terminar de trocar essa fralda”, Taylor
começou a cantarolar enquanto colocava o bebê na mesinha e
removia sua fralda.
Dei uma risadinha observando seu corpo sarado
enquanto Jordan continuou a reclamar.

Na manhã seguinte, meu irmão Jason me ligou para


perguntar como estavam as coisas com o bebê e saber se eu
precisava de mais algum tipo de ajuda ou conselho.
“Não, estou bem”, respondi. “A planilha está salvando
minha vida. Sinto que sei o que estou fazendo!”
“Espere até ele fazer um ano”, Jason respondeu. “Só
piora, mas de formas diferentes.”
Fiz uma careta olhando o bebê no berço em frente o sofá.
Me dei conta de algo estranho. Algo que tinha sido claro desde
o início, mas que tinha se tornado mais abafado a medida em
que eu me concentrava nas tarefas diárias de cuidado com o
bebezinho.
“Não vou estar por perto quando ele fizer um ano.”
“Ah, certo. Clara…”
“Tudo bem”, acrescentei rapidamente. Minha voz ficou
estranhamente abafada, como se eu estivesse ouvindo a mim
mesma por uma porta. “Eu sabia que ia ser assim. Sempre foi
temporário.”
Houve uma longa pausa na linha. “É normal se apegar.
Quaisquer emoções que você esteja sentindo agora são
normais e – ”
“Eu disse que estou bem”, repeti com mais força. O
caroço na minha garganta começou a diminuir. Mas o estrago
já tinha sido feito. Eu me sentia como se tivesse sido
esfaqueada e toda a felicidade acumulada do meu corpo
estivesse vazando pelo buraco.
Talvez bebê Anthony não tenha sido um sinal, pensei.
Talvez ele ter o nome do meu pai seja só coincidência.
“De qualquer maneira, obrigada pela planilha”, eu disse
ao meu irmão. “Mais alguma coisa?”
“Espera, Maurice quer falar com você”, ouvi um barulho
quando ele passou o telefone para o marido. A voz alta de
Maurice surgiu do outro lado. “Clara, como está sua situação?
E eu não estou falando do bebê. Você não consegue ver, mas
estou piscando pra você agora mesmo.”
“Se você está se referindo aos bombeiros, está tudo indo
bem”, respondi. “Muito bem.”
“Não quero respostas genéricas. Quero detalhes!”
Afastei minha cabeça do telefone para ouvir. Os rapazes
estavam tomando café e tudo na casa estava silencioso. Ainda
assim, dei uma resposta comedida à pergunta de Maurice.
“Estou me dando muito bem com os três.”
“Eu disse detalhes! Você já fez sexo a três? Com dois
deles ao mesmo tempo?”
Me engasguei, surpresa. “Não posso te contar isso! Você
é como um irmão pra mim!”
“Jason é como um irmão pra você”, Maurice disse
secamente. “Eu sou o cunhado maneiro, para quem você pode
contar todos os detalhes suculentos. Na verdade, você tem a
obrigação de contar. Tenho certeza de que isso está escrito no
papel que assinei quando me casei com seu irmão.”
“Não acho que é assim que casamentos funcionam.”
“Bem, então me conte mesmo assim. É domingo, estou
entediado.”
Olhei para bebê Anthony no berço e ele me olhou de
volta com curiosidade. Parecia errado discutir essas coisas na
frente dele. Mas tínhamos feito essas coisas no mesmo quarto
que ele na noite anterior. Então acho que falar era o menor dos
problemas.”
“Eu fiz sexo a três ontem com Jordan e Taylor”,
sussurrei. Mas Maurice não escutou nem metade do que falei
porque logo que ouviu o termo sexo a três ele começou a
gritar.”
“Eu sabia! Eu sabia que você se divertiria muito mais se
cedesse! Continue contando. Quero saber tudo!”
Ouvi meu irmão perguntar alguma coisa do outro lado da
linha. Maurice o enxotou
“Não vou te contar nada enquanto meu irmão estiver no
mesmo cômodo que você!”, protestei.
“Tudo bem, estou caminhando lá pra fora. Os mosquitos
são um pé no saco, mas vale a pena encará-los pra ouvir isso.
Ok, estou sozinho agora. Conta tudo!”
“Não vou te dar mais detalhes do que já dei”, eu disse,
gargalhando. Só de falar sobre a noite anterior me fazia me
arrepiar. “Mas vou te dizer que todas as partes envolvidas se
divertiram muito.”
“Meus Deus! Você é a piranha mais sortuda do mundo!”
“Maurice!”
“Não fique toda sofridinha. Eu disse isso como um
elogio. Eu mataria para estar na sua posição!”
Escutei meu irmão do outro lado: “Que posição?”
“Nenhuma, chuchu. Só estou tirando sarro da sua irmã”,
Maurice abaixou a voz de novo. “Não estou brincando, que
inveja! Arrasa, garota!”
Passei o resto da manhã pensando na conversa com
Maurice e como ela afetou minha própria reação ao evento da
noite anterior. Sexo a três não era algo normal. Era do tipo de
aventura que acontece numa noite enquanto você sai bêbado
com colegas da faculdade, ou com casais entediados tentando
salvar a relação. Quando me dei conta daquilo, me senti
envergonhada pelo que tínhamos feito na noite anterior,
mesmo que eu tivesse me divertido o tempo todo.
Mas falar com Maurice e descrever o evento em voz alta
era estranhamente libertador. Ele estava empolgado por mim.
Ele estava com inveja. Aquele tipo de reação afastou o estigma
do ato e o fez mais aceitável, de uma forma mais normal.
Jordan, Taylor e eu tínhamos feito sexo a três. Foi ótimo.
E não havia nada de errado com aquilo, não importava a
opinião de outras pessoas.
Nós três relaxamos o dia todo. Taylor estudou no seu
quarto enquanto Jordan e eu nos amontoamos no sofá e
maratonamos Mork & Mindy. A série tinha sido lançada
muitos anos antes, mas ainda era um grande sucesso. E tinha
Robin Williams como ator principal.
Derek chegou em casa tarde naquela noite, vimos os
faróis do seu carro invadirem o interior quando ele estacionou
na garagem. Animada com a sua volta, corri para a porta de
entrada com bebê Anthony nos braços. Derek sorriu para mim
como um marido voltando para a casa após um longo dia, me
deu um beijo na bochecha e pegou o bebê no colo.
“Como está nosso garotinho?”, ele perguntou, aninhando
o bebê no seu peito e beijando sua cabecinha. “Você se
comportou enquanto eu estive fora, como combinamos?”
“Anthony se comportou bem, mas ele, hm, bebeu sua
tequila”, disse Taylor. “Aquela cara.”
“Ele sabia?”, Derek perguntou secamente.
Taylor acenou gravemente. “Sim, ele tem gosto
refinado.”
Enquanto eu assistia Derek, não pude deixar de admirar
o quão feliz ele estava em ver o bebê de novo. Ele estava
tratando Anthony como seu filho, e não um fardo do qual ele
estava tentando se livrar.
Que pena que sua ex-mulher não queria ter filhos,
pensei. Ele vai ser um pai maravilhoso algum dia.
“Como foi, Chefe?”, Jordan perguntou. “Você conseguiu
alguma informação sobre como devemos proceder?”
Derek me entregou o bebê de volta – relutantemente – e
pegou o telefone do bolso. “Fiz algumas anotações. A
administradora com quem conversamos nos deu muitas
informações. Muitas coisas não são muito relevantes pra nós, o
que é minha culpa porque eu perguntei várias coisas sem
contar a ela qual é nossa situação. Mas o mais importante é
que: eles vão receber mais verba em duas semanas, e mais
uma dúzia de novas famílias temporárias serão inseridas no
sistema. Tudo vai melhorar significativamente.”
“Duas semanas?”, Jordan perguntou esperançoso. “Tem
certeza?”
Derek acenou uma vez. “Só mais duas semanas e
poderemos entregar bebê Anthony pra o Serviço Social e saber
que ele vai parar em um lar bom pra ele.”
Jordan e Taylor deram um tapinha um nas costas do
outro. Derek sorriu, mas a felicidade não parecia estar presente
no seu olhar. Ele parecia estar se dando conta da mesma coisa
que eu tinha me dado conta mais cedo: nosso tempo com bebê
Anthony estava acabando.
Movi o bebê para o outro braço e dei um abraço em
Derek. Sem dizer nada, ele me agarrou de volta e então deixou
um suspiro escapar. Eu não sabia se significava alívio ou
desapontamento.
Eu sei como você se sente, pensei.
Celebramos naquela noite fazendo um churrasco na
varanda dos fundos de Derek. Estava frio, era uma noite
pacífica e o sol estava laranja, se pondo atrás das árvores.
“Estas margaritas ficariam melhores com a outra
tequila”, Derek reclamou, virando um bife na churrasqueira.
Ele olhou para os rapazes – mas não para mim – com um tom
de julgamento.
“Você disse que era pra nos sentirmos em casa”, Jordan
respondeu. “Levamos a sério.”
Derek resmungou, desaprovando.
Taylor estava brincando com o bebê no berço, então me
levantei e me aproximei de Derek. Enrolei meus braços em
volta dele por trás, pressionando meu rosto contra seu corpo
firme. A camisa que ele usava cheirava a desodorante
defumado e apimentado.
“Você está sendo cuidadoso com a churrasqueira?”,
perguntei.
Seu torso se encolheu quando ele deu de ombros. “O
fogo é aberto, e está longe de qualquer coisa inflamável. Além
disso, eu tenho um extintor de incêndio debaixo da
churrasqueira, sem contar o reserva que fica na cozinha.”
“Só estava te provocando.”
“Segurança nunca é demais”, ele disse. “Você consegue
imaginar um incêndio aqui e os caras de plantão precisarem
vir apagar?”, ele deixou escapar um silvo de dor. “Billy
Manning não iria me deixar esquecer nunca mais.”
Sorri e então me sentei na cadeira mais próxima,
encarando Derek. “Tudo bem ficar triste.”
Seu rosto se escureceu de uma forma que deixou claro
que ele sabia ao que eu estava me referindo. Ele olhou por
cima do ombro para se certificar que os outros não estavam
ouvindo e respondeu. “Por que eu estaria triste?”
Meu pai dizia que uma resposta silenciosa era melhor do
que dizer alguma coisa. Então encarei Derek e não disse nada.
Ele se concentrou nos bifes por algum momento. Eu não
achava que ele ia dizer alguma coisa, mas finalmente ele
suspirou. “Enviá-lo para uma boa família temporária e
encontrar alguém para adotá-lo é nossa meta desde o início. Eu
não deveria me sentir assim e isso me frustra.”
Jordan disse alguma coisa muito engraçada. Taylor
gargalhou alto e o bebê o copiou. Jordan sorriu e bebeu um
gole de margarita.
“Emoções não precisam fazer sentido”, eu disse
quietamente. “Como mulher, acredite: às vezes elas não fazem
nenhum sentido. Mas está tudo bem. Significa que você é
humano.”
“Eu não tenho que gostar disso”, ele resmungou.
Eu me levantei e o abracei de novo, de frente para ele
dessa vez. “Então vamos aproveitar enquanto podemos.”
Nos beijamos e houve um entendimento mais profundo
na forma como nossos lábios se tocaram. Estávamos
emocionalmente em sintonia, passando pela mesma coisa no
mesmo momento.
Mas o momento foi interrompido quando Taylor surgiu
carregando o bebê e explicando para ele como um professor.
“Isso é fogo. É muito mal. Nosso trabalho é lutar contra ele.
Mas ele também é bom às vezes. Como agora, para assar bifes
deliciosos”, ele parou para refletir sobre o que tinha dito. “Hm,
acho que várias coisas na vida são assim. Boas ou ruins,
dependendo do contexto.”
“Acho que ele é muito pequeno pra tanta filosofia”, disse
Derek.
Nós gargalhamos e continuamos a fazer piadas até nos
sentarmos para jantar. Mais do que nunca, parecia que nós
quatro – mais Anthony – estávamos brincando de casinha.
Como se fossemos uma grande família feliz. O que nós
tínhamos não era normal. Na verdade, era muito anormal. Mas
por alguma razão, parecia certo. E era bom no momento,
decidi.
No dia seguinte, arrumamos as coisas para voltar para o
quartel. Tudo voltou a parecer normal, como uma rotina.
Havia um conforto no ritual de fazer minhas malas e trocar a
fralda do bebê. Mesmo que ele estivesse sendo sombreado
pelo fato de eu saber que só duraria mais duas semanas. Eu
conseguia ignorar porque estava bem no momento.
Até chegarmos na estação e tudo mudar.
32

Derek

Eu tive uma conversa interessante com a minha irmã no


caminho para Sacramento no dia anterior.
“Vou te dizer honestamente: isso é bastante complicado”,
ela disse, sem rodeios.
Olhei para ela no banco do passageiro. “Sutileza passou
longe.”
Ela levantou as mãos. “Ei, não me culpe, só estou te
dando uma opinião franca, foi você quem pediu.”
“Desculpa”, reconheci, porque ela estava certa.
“É bastante complicado, mas não necessariamente uma
coisa ruim”, ela completou.
“Como você sabe?”
Ela deu de ombros. “Eu trabalho para o Serviço Social.
Já vi todo tipo de família do mundo. Casais tradicionais, casais
de gays e lésbicas, pais e mães solteiros de todos os tipos. E
você sabe o que aprendi? Todo mundo tem problemas. As
famílias ditas normais são geralmente as mais disfuncionais
quando você acessa uma camada mais profunda e descobre
que todo mundo finge que está tudo bem.”
“Ok”, eu disse, mas sem entender muito bem.
“Então você está dizendo que está em uma situação
poliamorosa, dividindo uma mulher com dois colegas?”, ela
deu de ombros de novo. Ela fazia muito isso. “É meio
problemático, mas todos os relacionamentos são meio
problemáticos. Se você conseguir fazer dar certo, parabéns pra
você.”
Fiz uma careta com as mãos no volante. “Espera um
minuto. Então você está me dando sua benção?”
Ela gargalhou. “Posso ser sua irmã mais velha, mas
quem sou eu pra dar a benção? Se você está feliz, ótimo! Essa
é a lição que aprendi com tudo isso: faça o que te deixa feliz.
Dentro do razoável, é claro. Não estou te dizendo pra começar
a usar heroína.”
Eu sempre recorria à minha irmã para receber conselhos,
desde que éramos pequenos. Geralmente, eu não gostava do
que ela tinha para dizer. Ela era honesta e raramente dizia o
que eu queria ouvir. Eu esperava que ela dissesse que meu
relacionamento esquisito com Clara, Jordan e Taylor era
insano, e que eu deveria parar com isso antes que fosse tarde.
“Ela quer as mesmas coisas que você?”, ela perguntou.
“Você quer dizer filhos?”
“Claro que estou falando de filhos. Me parece o mais
importante pra você”, sua risada segurou toda a amargura que
eu senti no momento ao pensar no meu primeiro casamento e a
forma controversa como acabou.
“Não sei o que ela quer”, admiti.
Ela me deu uma olhada atenta. “Então certifique-se de
descobrir.”
“Ela é ótima com o bebê.”
Minha irmã revirou os olhos. “Pare com isso. Existe uma
enorme diferença entre ser babá e querer ser mãe. Pare de
rodeios e pergunte a ela, Derek.”
Eu sabia que ela estava certa. Era uma pergunta que eu
devia fazer a Clara, mas eu achava que era muito cedo. Que o
nosso relacionamento era confuso e ainda muito frágil para
aguentar o stress de uma pergunta tão profunda e cheia de
significado.
Enquanto íamos para Sacramento, me dei conta que tinha
medo da pergunta porque gostava muito de Clara. Desde que
dormimos juntos, eu não conseguia parar de pensar nela. Doía
ficar longe dela e, se eu fechasse os olhos e me concentrasse,
podia sentir seu gosto de morango nos meus lábios, rastro do
nosso último beijo.
Estou feliz, me dei conta. E isso me assusta. Não quero
saber se ela quer ter filhos algum dia, porque a resposta pode
me aterrorizar.
Aquela percepção tinha surgido no caminho para
Sacramento, mas, quando cheguei em casa em Riverville, ela
tinha se entranhado no meu corpo como espinhos de uma
planta venenosa. Um comichão que eu não podia coçar.
Afoguei o sentimento com margaritas feitas de tequila
barata e tentei me convencer de que me preocuparia com
aquilo no futuro. Assim que a situação com bebê Anthony
estivesse resolvida.
Voltamos para a estação na segunda à tarde. Mais uma
vez, deixamos Clara e o bebê em casa com a instrução de
esperar por nossa mensagem para se juntarem a nós. Eu não
tinha certeza se deveríamos continuar fazendo daquele jeito, já
que Billy sabia, mas eu não queria que ele ficasse perto dela
nem do bebê. Aquilo só causaria problemas.
Infelizmente, o problema já estava nos esperando no
quartel.
“Onde estão a garota da pizza e o bebê fedorento?”, Billy
perguntou quando entramos no quartel.
Taylor e Jordan ficaram tensos, mas eu tinha passado o
final de semana mentalmente me preparando para a atitude de
Billy. “Eles ficaram na minha casa no final de semana. Me dei
conta de que você não queria um bebê fedorento por aqui.”
O rosto de Billy se contorceu de escárnio. “Ela vai
voltar?”
“Talvez”, eu disse. “Ela que sabe. Vamos ajudar com
qualquer coisa que ela precise.”
Billy me encarou por um longo tempo e então voltou
para o seu quarto.
Resolvi a situação com o resto dos caras do outro turno.
Eles eram legais e vários deles perguntaram sobre Clara – não
da forma irritante como Billy fazia, mas com uma
preocupação genuína. Às nove horas, todos pegaram suas
coisas e partiram.
Billy foi o último a ir e ficou fazendo hora na cozinha.
Sua boca de verme se movia enquanto ele cantarolava. Ou ele
estava reunindo coragem para dizer alguma coisa.
“Posso ajudar?”, perguntei.
Ele me olhou com seus olhos pequenos. Eu podia vê-lo
parado um pouco mais ereto, como se estivesse tentando
adicionar força ao que ele estava prestes a dizer.
“Estive pensando”, ele disse com um sorriso que não era
nada caloroso. “O bebê não se parece com ela.”
Eu o encarei. “É um bebê.”
Ele deu de ombros. “Sim, mas ainda assim. Ele tem
cabelos escuros e ela é loira. A menos que ela pinte, o que não
acho que seja o caso.”
“O pai deve ter cabelos escuros”, respondi secamente.
“E quem pode ser?”, ele se perguntou em voz alta.
Eu não gostei da sua linha de pensamento. Ele estava
sugerindo que um de nós era o pai, e mesmo que não fosse
verdade, comecei a me preocupar com o motivo dele pensar
nisso.
“Se você tem algo a dizer, apenas pare de rodeios”, eu
disse.
Ele ficou ereto novamente. “Não acho que o filho é
dela.”
Me forcei a parecer entediado. “E o que te faz pensar
isso?”
“Só um pressentimento.”
Eu estava prestes a interromper o assunto, insistir que eu
não tinha tempo para aquilo e que se ele quisesse criar teorias
da conspiração, que ele devia fazer isso em casa.
Mas então ele pegou um pedaço de papel de dentro do
bolso.
“Ah, e eu também tenho isso”, ele disse, desdobrando.
Meu estômago se revirou quando ele esticou o papel para me
mostrar.
A certidão de nascimento.
“Isso estava no meu quarto”, grunhi.
“Talvez você tenha deixado a porta aberta. E talvez eu
tenha entrado pra conferir que tudo estava certo e seguro.”
Ele estava obviamente mentindo. Eu tinha trancado a
porta antes de sair e a certidão de nascimento de Anthony
estava dentro da minha gaveta, também trancada. Deu algum
trabalho para ele conseguir acesso.
Dei um passo para a frente sem pensar no que estava
fazendo. “Escute aqui, seu merda – ”
“Não”, ele interrompeu, dando um passo para trás e
ficando ereto mais uma vez. “Você me escute, Capitão
Dahlkemper. O jogo acabou. Eu sei de tudo. Aquele bebê foi
abandonado aqui. E você o pegou pra você.”
“Isso não é verdade!”
“É verdade”, ele apontou para a certidão de nascimento.
“Por que essa garota? A mãe de verdade? Procurei por ela e
entrei em contato. Ela confirmou tudo. E, meu Deus, ela ficou
muito surpresa com o fato de que seu bebê precioso não tenha
sido inserido no sistema da Califórnia.”
Um gosto de cobre invadiu minha boca. Senti como se
alguém estivesse apontando um holofote para mim e eu não
tinha para onde correr. O sentimento era ainda pior porque a
pessoa era Billy.
“Escute aqui”, eu disse, devagar. “Você não deveria ter
ligado para ela. No Texas, você tem 60 dias para entregar uma
criança, mas na Califórnia são apenas três. Ela pode ter que
enfrentar consequências legais.”
“Ah, eu estou ciente disso”, Billy respondeu. “Mas ela
não. Não até eu explicar. Ela ficou bem assustada, começou a
chorar. Chorou feito um bebê no telefone”, Billy gargalhava
como se fosse uma piada.
Minhas pernas ficaram dormentes, então me sentei em
uma das cadeiras da cozinha. “Ok, vamos resolver essa
situação.”
Billy tossiu. “O que, você vai me oferecer outra
recomendação no meu relatório? Foda-se”, ele pontuou. “Eu
quero usar seus sapatos. Quero ser o Capitão desse quartel de
bombeiros. Renuncie e me recomende para substituí-lo e eu
não vou contar a ninguém sobre o bebê que você roubou.”
Meu estômago se contorcia. “Roubei? Você não tem
ideia do que está acontecendo. Minha irmã trabalha para o
Serviço Social. Eles estão sobrecarregados e não tem verba.
As famílias temporárias estão ocupadas. Estamos cuidando do
bebê por algumas semanas até as coisas se ajeitarem. É por
isso que o mantivemos em segredo.”
A risada de Billy era aguda e maníaca, como uma
criança que acabou de vencer um jogo. “Não me importo! A
única coisa que me importa é a sua posição. A dê para mim e
eu não conto a ninguém sobre seu segredinho.”
O desespero na minha garganta se transformou em raiva,
branca e quente. Eu não era um homem violento. Eu passei
minha vida salvando pessoas, não as machucando. Mas bem
ali eu tinha uma urgência avassaladora de segurar e socar
Billy. Os dedos da minha mão direita doíam tentando não se
curvar em um soco.
O desejo era tão forte que me assustava.
Billy se inclinou para a frente e me deu um tapinha no
ombro, um gesto sem significado depois de tudo que ele tinha
dito. “Relaxa, Dahlkemper. Se você se preocupa realmente
com aquela bostinha, renuncie e me dê sua posição. É uma
decisão fácil, certo?”
Ele se ergueu com um saltinho. “Tire uma semana pra
pensar nisso”, ele dobrou a certidão de nascimento e a colocou
de volta no bolso, então deu um tapinha sobre o tecido.
“Enquanto isso, eu guardo o documento. Só por segurança.”
Billy saiu da estação assobiando feliz.
“Você está bem, Chefe?”, Jordan perguntou alguns
momentos depois. Ele e Taylor estavam parados na porta.
Suspirei e segurei minha cabeça entre as mãos. “As
coisas acabaram de se complicar muito. Billy sabe de tudo.”
33

Clara

Eu gostava da rotina que tínhamos desenvolvido. Meus


três namorados bombeiros – era o que eles eram, certo? –
saíram cedo. Esperei na casa de Derek um pouco mais com
bebê Anthony, brincando com ele no chão da sala de estar. Ele
se chacoalhava e gargalhava e sorria como se fosse a coisa
mais divertida do mundo.
“Você e eu, amiguinho”, eu disse.
Eu estava me apegando a ele, eu sabia. Era como se ele
fosse meu bebê. Era impossível cuidar de uma criança por
tantas semanas na sequência sem se sentir daquele jeito. Só
que eu sabia que ia acabar.
No entanto, até esse momento chegar, eu aproveitaria
cada segundo.
Por volta de nove e meia, coloquei tudo no carro e fui
para o quartel com bebê Anthony. Eu soube que algo estava
errado assim que entramos. O ar estava azedo.
“O que está acontecendo?”, perguntei quando entrei na
cozinha.
E então eles me contaram.
“Ele não pode fazer isso!”, exclamei com amargura. O
bebê estava no peito, eu o segurava como se pudesse protegê-
lo daquilo tudo.
“Ele pode, e vai”, Derek respondeu com a voz grave. “A
questão é: o que nós vamos fazer?”
“Que tal entregar o bebê pro Serviço Social assim que
possível?”, Jordan sugeriu. “Se o bebê não estiver aqui, então
as acusações de Billy não terão valor nenhum.”
“Como dar descarga nas drogas antes dos policiais
invadirem seu quarto?”, Taylor disse. “Cara.”
Jordan fez uma careta. “Ah, cara, não foi o que eu quis
dizer. “Ele deu um passo para a frente e colocou a mão nas
costas do bebê.
Derek chacoalhou a cabeça. “Entregá-lo agora pro
Serviço Social não nos trás benefício nenhum. Billy está com
sua certidão de nascimento. Ele ainda vai me reportar e vou
perder meu emprego de qualquer forma. Além disso, o bebê
vai ser entregue a uma família temporária horrível e sua mãe
vai ser processada por abandono. É o pior de todos os cenários
possíveis.”
Eu podia ver a determinação e a dor causada na sua
própria infância em seus olhos. Não importava o que
aconteceria, ele não deixaria Anthony crescer da mesma forma
que ele.
“Isso é chantagem”, eu disse com a voz fraca. “É ilegal.
Você deveria entregar Billy à Polícia.”
“Por mais tentador que seja, isso revelaria o que estamos
fazendo com o bebê”, disse Derek. Seu rosto lindo estava mais
sombrio do que nunca. “Existe um motivo pelo qual
chantagens funcionam.”
Ele ficou de pé e nos encarou. “Não importa o que eu
faça, vou perder meu emprego. Isso vai acontecer, então o
mínimo que posso fazer é garantir que o bebê vá pra uma boa
família. Vou dar ao Billy o que ele quer, vou renunciar ao
cargo.”
Jordan se curvou sobre a mesa da cozinha, com os dedos
tão curvados contra a madeira que parecia que eles iam se
romper. “Billy Manning não é um líder. Ele seria um capitão
terrível.”
“Não discordo”, disse Derek, tocando seu ombro. Ele
esperou até Jordan olhar em seus olhos para continuar. “Mas
estamos sem boas opções. O que significa que vamos ter que
escolher a menos pior.”
Jordan tombou a cabeça, derrotado, com os olhos
cerrados. Finalmente ele acenou e aceitou. Os dois se
abraçaram, batendo as mãos nas costas um do outro.
“Sinto muito”, eu disse a Derek. Para a minha surpresa,
ele sorriu.
“Eu sabia que era um risco quando ficamos com esse
garotinho”, ele apertou a bochecha de bebê Anthony. “Talvez
nós devêssemos tê-lo deixado na minha casa o tempo todo e
assumir o risco do problema legal.”
“Deveríamos, poderíamos…”, Jordan disse, colocando a
mão nas costas de Jordan. “Fizemos o máximo que pudemos
com as informações que tínhamos no momento.”
O clima era de funeral. Parecia que alguém tinha morrido
e nós estávamos começando a organizar o velório. Quando
falei, minha garganta estava apertada de emoção.
“O que acontece a seguir?”
Derek pegou uma garrafa de água da geladeira. “Billy
me deu uma semana para decidir, mas eu presumo que ele vá
querer uma resposta assim que terminarem o plantão de sexta-
feira. Pretendo continuar trabalhando até lá. Isso vai me dar
tempo para lidar com a papelada envolvida e recomendar a
promoção de Billy…”
Ele parou quando ouviu um barulho na porta da frente do
quartel. Não foi uma batida, foi mais como o vento soprando.
“Se for Billy…”, Derek resmungou.
Todos paramos, esperando mais barulhos. Ouvimos uma
porta de carro bater e um motor retumbar. O barulho diminuiu
até desaparecer.
Corremos para a porta para inspecionar. Derek a abriu e
olhou para as duas direções do lado de fora. A rua estava
deserta.
“Chefe!”, disse Taylor. “Deixaram um bilhete na porta.”
Debaixo do batente havia um envelope branco brilhante.
Não havia nada escrito do lado de fora. Taylor o pegou e abriu
a carta que estava dentro.
“Precisamos conversar”, Taylor leu em voz alta. “Tem
um número de telefone logo abaixo. É isso. Assinado por uma
tal de Melanie.”
Derek se assustou. “Você disse Melanie?”
“Quem é Melanie?”, perguntei.
A cor desapareceu do rosto de Derek. “Melanie é o nome
que aparece na certidão de nascimento de Anthony. É a mãe
dele.”

Nos sentamos na sala de estar da estação. Taylor trouxe


um saco de tortilhas com ele, mas nenhum de nós comeu.
Estávamos tensos demais para isso.
“O que a mãe quer agora?”, perguntei em voz alta.
“Billy disse que ligou para ela”, Derek explicou. “Ela
está provavelmente chateada por entregar o bebê e ele ainda
não estar no sistema do Serviço Social. Eu ficaria, se fosse
ela.”
“Talvez ela queira outra coisa”, Jordan sugeriu.
“Talvez ela tenha decidido ficar com o bebê”, Taylor
disse. Ele estava caminhando para a frente e para trás com o
bebê no colo. “Ela entregou o bebê. Duas semanas se
passaram. Agora ela está culpada e mudou de ideia.”
“Ela não mudou de ideia”, Derek grunhiu. “Eu aceito
alguém entregar um bebê pro Serviço Social porque não pode
cuidar dele. Mas se arrepender depois? Absolutamente não.
Ela tomou sua decisão.”
“Hm, rapazes?”, eu disse. “Ela deixou o número de
telefone. Por que não ligamos e perguntamos?”
Os três me olharam como se eu tivesse descoberto o
fogo.
Derek pegou o celular e discou o número que estava
escrito na carta. Mas antes de tocar em ligar, ele parou. “O que
eu devo dizer?”
“Apenas pergunte a ela o que ela quer discutir”, disse
Taylor. “Vagamente. Deixe-a falar.”
Derek acenou e então ligou. Ele colocou a chamada no
alto-falante, para que pudéssemos ouvir. O silêncio entre nós
era tão absoluto que poderíamos ouvir uma agulha cair no
chão.
Ouvimos um clique e então uma mensagem gravada.
“Olá! Aqui é a Mels, você sabe o que fazer.”
O barulho de bip ressoou e Derek finalizou a chamada.
Então ele discou de novo, da segunda vez foi direto para o
correio de voz, depois de um toque. Ele não deixou uma
mensagem.
“Ela está nos ignorando”, ele disse tremendo.
“Provavelmente é sua tática. Ela quer nos fazer ficar
nervosos.”
Rolei meus olhos. “Ela é jovem. Provavelmente prefere
mensagens de texto. Me dê isso.”
Peguei o telefone e digitei uma mensagem, lendo-a em
voz alta enquanto fazia isso. “Aqui é o Capitão Derek
Dahlkemper, da estação de bombeiros de Riverville. Recebi
sua carta. Imagino que você queira conversar? Tentei te ligar
duas vezes”, acenei. “Pronto. Enviada.”
Derek pegou o telefone de volta. “Não sei. Se ela não
respondeu nossa ligação, não espero que ela vá responder a
mensagem de texto, não importa o quão jovem ela sej– ah! Ela
está respondendo!”
Nos amontoamos ao redor de Derek e seu telefone. Os
três pontinhos indicavam que a outra pessoa estava
respondendo. Eles sumiram, reapareceram e então sumiram de
novo.
“Por que ela está demorando tanto?”, Derek perguntou.
Finalmente a mensagem apareceu.

Melanie: Me encontre na Pizzaria do Tony amanhã às 5


horas da tarde.

Taylor se engasgou. “Ela quer encontrar no restaurante


da sua família? Que coincidência maluca!”
Derek cerrou os dentes. “Não é uma coincidência. Isso
significa que ela sabe que Clara está envolvida. Billy deve ter
contado a ela.”
Fiz uma careta. Eu estive envolvida em toda a situação,
mas não estava diretamente implicada. Ver a mãe do bebê
mencionar o restaurante da minha família fez tudo parecer real
de repente.
Me pergunto se ela pode nos processar, pensei. Mas
abandonei o pensamento. O que importava no momento era
bebê Anthony. No momento em que ele estivesse em boas
mãos, pensaríamos nas outras consequências.
Derek respondeu.

Derek: Podemos nos encontrar no quartel? Estou de


plantão pelos próximos quatro dias.
Melanie: Tem que ser no Tony. 17:00.

“Bom, parece que não temos escolha”, disse Derek. Ele


se levantou e acenou. “Vamos nos encontrar com a mãe de
Anthony amanhã.”
34

Clara

Me preparar para a reunião no dia seguinte foi a coisa


mais tensa que já fiz na vida.
Passei o dia cuidando das minhas obrigações com
Anthony, mas minha mente estava cheia de perguntas sem
respostas. E se ela o quisesse de volta? Isso solucionaria
alguns dos nossos problemas. Poderíamos fingir que ela nunca
tinha abandonado o bebê, o que nos absolveria – e a ela – de
quaisquer implicações legais. O único problema era Billy, e a
certidão de nascimento que ainda estava com ele. Mas
daríamos um jeito nisso depois.
Derek não gostava da ideia de devolver Anthony, não
para alguém que o havia entregado para o sistema em primeiro
lugar. Mas se era o que a mãe queria, o que poderíamos fazer a
respeito?
Havia um cenário ainda pior do que aquele: e se a mãe
estivesse brava porque não entregamos bebê Anthony para o
Serviço Social? Poderíamos explicar o porquê – já que era
uma razão legitimamente honesta – mas e se ela não se
importasse? E se ela estivesse furiosa com a situação toda? Eu
não tinha certeza se podíamos ser processados por aquilo, mas
as pessoas processam umas as outras por diversos motivos. Se
invertêssemos os papeis, eu provavelmente me sentiria como
ela.
Os rapazes receberam dois chamados: uma cozinha que
pegou fogo de manhã e um detector de fumaça que disparou
por engano à tarde. Foi bom para eles se distraírem, mas eu
fiquei sozinha no quartel com o bebê, o que parecia complicar
ainda mais minha resposta emocional.
Durante o segundo chamado, depois de trocar a fralda de
Anthony, eu o coloquei contra o meu peito e chorei. Uma dor
tinha se formado no fundo do meu estômago e não passava. E
logo que comecei a chorar, também não consegui mais parar.
Comecei a pensar que o encontro com Melanie seria o fim de
tudo. Que eu nunca mais veria Anthony novamente.
“Não estou pronta pra dizer adeus”, sussurrei para o bebê
entre soluços. “Agora que comecei a te conhecer melhor.”
Olhando para trás, eu deveria ter esperado por isso. Era
inocente da minha parte pensar que eu cuidaria do bebê e não
me apegaria a ele. Mas eu não me dei conta de que seria tão
difícil. Era como saber que meu braço seria amputado no fim
do dia.
“Eu te amo tanto”, disse a ele. “Eu sei que não sou sua
mãe e que só estou cuidando de você faz algumas semanas.
Mas ainda assim eu te amo, quero que você saiba disso.”
Desejei saber mais sobre a mulher. Se eu soubesse seu
nome completo, eu poderia investigar suas redes sociais e
saber que tipo de pessoa ela era. Aquilo me ajudaria a me
preparar mentalmente para o encontro do fim do dia.
Mas só Derek sabia seu nome todo e Billy tinha levado a
certidão de nascimento. Eu jamais conseguiria saber.
Como os rapazes estavam tecnicamente de plantão,
preparamos o caminhão e fomos para o restaurante da minha
família. Assim, se um chamado surgisse durante o encontro,
eles poderiam sair rapidamente. Eles estacionaram o caminhão
na rua atrás da pizzaria e Derek saiu.
“Vocês dois ficam no caminhão com o bebê”, Derek
instruiu. “Não quero que ele entre no restaurante a menos que
Melanie peça. Eu ligo se precisar de vocês”, ele acenou para
mim. “Você está pronta?”
Me assustei. “Você quer que eu entre no restaurante com
você?”
“Ela mencionou o seu restaurante especificamente, então
significa que você está envolvida. Além disso, isso pode
ajudar, se ela souber que há uma mulher cuidando do bebê.”
“Entorpecida, o segui do caminhão até a porta do
restaurante. Não poderíamos estar vestidos de forma mais
diferente: ele com seu uniforme de bombeiro e eu com um
vestido e sandálias. Aquilo acentuava o sentimento de que eu
não deveria estar ali.
Entramos no restaurante, chegamos meia hora antes
porque Derek insistiu em ver a mulher se aproximar. Ele
queria saber que carro ela tinha ou se ela traria outras pessoas.
Naquela hora do dia, só havia uma mesa ocupada por um casal
de cabelos grisalhos dividindo uma pizza pequena.
Mama estava parada atrás do balcão, contando o dinheiro
da máquina registradora. Fazendo a contabilidade da tarde
antes do pico do jantar, um trabalho que seria meu se eu
estivesse trabalhando. Ela olhou para nós, voltou a olhar para
o dinheiro e então se deu conta do que tinha acabado de ver.
“Clara!”, ela deu a volta no balcão para me abraçar
apertado. “Como você vem aqui e não traz o bebê?”
Olhei por cima do ombro, para o casal sentado na mesa.
“Mama, xiu. Estamos aqui para encontrar a mãe do bebê.
Preciso que você não se envolva, ok? Apenas fique atrás do
balcão e finja que está tudo bem.”
“A mulher que abandonou o bebê?”, ela desdenhou,
então olhou para Derek. “E ela me diz para não me envolver.
Sua própria mãe. Eu me lembro quando ela era desse tamanho
e eu dava as ordens.”
Derek deu uma risadinha. “Aposto que ela era difícil.”
“Tenho fotos!”, mama colocou uma mão no seu braço
suavemente. “Te mostro, espera aqui!”
“Mama”, eu insisti. “Só precisamos de privacidade até
acabarmos. Então você pode mostrar todas as fotos que quiser.
Ok?”
Ela rolou os olhos e voltou para trás do balcão,
resmungando em italiano.
“Por favor, não deixe minha mãe te mostrar minhas fotos
de criança”, eu disse.
Derek deu um sorrisinho. “Por quê? Você vai ficar com
vergonha? Talvez você pense duas vezes antes de tirar sarro da
minha coleção de máquinas de escrever.”
Nos sentamos no canto, perto da janela, ambos de frente
para a porta e o estacionamento do restaurante. Derek olhou no
relógio. “Ainda temos vinte minutos.”
Eu ia responder, mas congelei. “Olha!”
Do outro lado do restaurante, uma mulher jovem saiu do
banheiro. Ela se sentou na mesa mais próxima, onde um copo
de refrigerante esperava por ela. Ela tomou um gole, ansiosa,
então olhou para o lado de fora, nervosamente.
“Você não acha que– ”, comecei.
A mulher varreu o restaurante com os olhos até nos
encontrar. Eles estavam arregalados e ela parou por três longos
segundos.
Então começou a chorar.
É ela, me dei conta. É a mãe de Anthony.
35

Clara

Depois de soluçar até quase se engasgar, a mulher


colocou a bolsa no ombro e se levantou da cadeira. Ela
caminhou pelo restaurante como alguém que se aproxima da
forca, e parou em frente à nossa mesa.
“Melanie?”, Derek perguntou gentilmente.
Ela acenou e se sentou numa cadeira de frente para nós.
Foi então que eu pude dar uma boa olhada nela. Me dei conta
de que ela era mais jovem do que eu esperava. Sua calça jeans
tinha buracos, mais como um estilo meio punk do que em
função do desgaste. Ela estava usando uma camiseta preta com
uma foto da Billie Eilish. Seu cabelo preto tinha mechas roxas
perto dos ouvidos e suas sobrancelhas eram afiadas sobre seus
olhos jovens e inexperientes.
Ela é uma adolescente, me dei conta.
Derek limpou a garganta. “Sou o Capitão Dahlkemper,
mas você pode me chamar de Derek. Eu só queria dizer que
Billy Manning– ”
Melanie levantou uma mão para pará-lo. “Posso apenas
me explicar antes? Tipo… antes de você dizer qualquer
coisa?”
Sua mão tremia. Meu coração ficou apertado. Ela estava
apavorada.
“Ok”, disse Derek.
A garota – era impossível pensar nela como uma mulher
adulta – enfiou a mão na bolsa e tirou um fichário de dentro,
parecia muito um que eu tinha no ensino médio. Ela abriu
numa página cuja ponta estava dobrada, formando uma orelha,
e então começou a ler.
“Tudo começou no baile do meu último ano”, ela disse,
com a voz trêmula. “Meu namorado e eu, nós… hm…”, ela
parou e colocou o caderno na mesa. “Posso apenas contar?”
Derek esticou uma mão e colocou sobre a dela. “Você
pode fazer o que quer que te deixe confortável”, sua voz era
gentil e parecia tranquilizar Melanie.
Ela assentiu. “Então, no baile… eu sei, éramos
adolescentes estúpidos e cometemos um erro. De qualquer
forma, um mês depois era tarde demais. Tipo tarde mesmo. Eu
não sabia o que fazer, então contei aos meus pais. Eles
enlouqueceram e eu não posso culpá-los por isso. Logo que as
coisas ficaram mais calmas, eles me convenceram a ter o bebê.
Eu não sabia o que eu queria, então eles argumentaram bem e
me convenceram.”
Melanie limpou a garganta e olhou de Derek para mim,
então continuou. “A gravidez não foi ruim no início. Todo
mundo na escola me apoiou muito. Mas o terceiro semestre foi
um inferno. Entrei em pânico sobre o que fazer. Minha mãe
disse que eram apenas os hormônios me fazendo enlouquecer,
mas era mais do que isso. Eu não queria um bebê. Eu não
estava pronta pra ser mãe ainda e não queria mesmo que
minha vida saísse dos trilhos”, ela olhou para a mesa e
chacoalhou a cabeça. “Eu sei que isso parece uma merda.
Odeio pensar no bebê como um fardo, mas… sim. Eu sabia
que não estava pronta pra ser mãe.”
“Não vamos te julgar”, eu disse suavemente. “Deve ter
sido muito difícil.”
Ela olhou para mim, então olhou de volta para a mesa.
“Estávamos de férias quando tive o bebê. No Texas, visitando
nossa família. Então é claro que o bebê decidiu nascer três
semanas antes. Mas ele era saudável e lindo.”
Isso explica a certidão de nascimento expedida no Texas,
pensei.
Seus olhos escuros se acenderam e por um breve
momento eu pude ver os traços de Anthony nela. “Ele era tão
lindo! Eu o segurei e não o queria deixar ir. Nunca amei algo
tanto assim na minha vida. Ah, e nós fazemos aniversário no
mesmo dia. Fiz dezoito anos no dia que ele nasceu.”
Dezoito, pensei. Tão jovem.
O sorriso de Melanie vacilou e ela deixou os ombros
caírem um pouco mais. “Tudo ficou difícil quando saímos do
hospital e voltamos pra Califórnia. Eu não conseguia dormir.
Ele chorava muito, o que eu sabia que era normal pra um bebê,
mas era difícil. Meus pais não me ajudaram o tanto que
haviam prometido”, seus olhos cintilavam. “Tentei cuidar dele
sozinha, mas eu era uma péssima mãe. Nada que eu fazia o
acalmava. Minha prima, Suzanne, tem um garotinho e ele
sempre para de chorar quando ela o segura. Anthony não era
assim comigo. E eu sabia que ficaria pior quando as aulas
voltassem. Minha mãe trabalha, então teríamos que pagar uma
creche e é tão caro. Tipo, muito caro, vocês não têm ideia. Não
tínhamos como pagar. Então…”
Ela fechou os olhos e lágrimas rolaram pela sua face.
“Quando eu estava no hospital no Texas, pesquisei sobre
o que fazer e aprendi sobre as leis relacionadas a abandono de
bebês. Soube que as leis permitem entregar um bebê até
sessenta dias depois do nascimento.”
Derek e eu nos entreolhamos, mas não dissemos nada.
“Vocês têm que entender que eu tentei”, ela alegou.
“Tentei de todas as formas ser uma boa mãe. Mas quando a
data limite estava se aproximando, eu tive certeza de que não
poderia dar ao bebê a vida que ele merece. É tudo o que eu
quero, sabe? O melhor pro bebê. Mesmo que seja em outra
família.”
Melanie assoou o nariz em um lenço. “Nós moramos no
norte de Fresno, então eu vim até aqui pra entregá-lo na
estação de bombeiros sem ninguém me reconhecer. Por via das
dúvidas. Depois de deixá-lo na porta, chorei por todo o
caminho de volta pra casa”, ela fungou mais profundamente.
“Mas eu sabia que estava fazendo a coisa certa. É o que eu
continuamente disse a mim mesma nestas últimas semanas:
que ele estava provavelmente com uma boa família. Em uma
casa legal, de cerca branca e um Golden Retriever dormindo
perto do seu berço, o protegendo. Tentei me convencer disso.”
Ela piscou algumas vezes. “Então recebi um telefonema
de um bombeiro e ele me disse que…”, ela me olhou, depois
olhou para Derek. “O bebê ainda está com vocês? Eu não
entendo. Por que ele não está com uma família amorosa
ainda?”
A última frase saiu meio acusativa. Senti Derek ficar
tenso ao meu lado. Era a hora de contar a verdade a ela, e
esperar que ela compreendesse nossos motivos.
“Quando encontramos o bebê na porta da estação”,
Derek começou a explicar, “eu não tive certeza sobre o que
fazer. Eu conhecia as leis de abandono, mas nunca tinha me
acontecido antes. Minha irmã trabalha no departamento de
Serviço Social da Califórnia, então liguei para ela. Ela me deu
todas as informações sobre como entregá-lo e preencher os
documentos. Então…”, ele disse, com ênfase dramática. “ela
fez um comentário casual. Ela disse que era uma pena que ele
não tinha sido entregue algumas semanas mais tarde, porque
então eles teriam um orçamento maior e mais opções de
famílias temporárias. Acontece que o sistema estava
sobrecarregado e sem recursos. Havia poucas famílias
disponíveis na área de Fresno, e todas elas tinham reclamações
anteriores nos seus registros.”
Melanie ficou estática na cadeira.
“Cresci numa família temporária que era assim”, Derek
disse. “E eu não queria que Anthony passasse pela mesma
experiência. Então decidi mantê-lo por mais algumas semanas
até o novo orçamento ser disponibilizado e as novas famílias
serem inseridas no sistema pra então entregá-lo.”
Melanie tinha lágrimas nos olhos de novo. “Eu não… eu
não sabia que meu bebê…”
“Não”, Derek disse enfaticamente. “Você não tinha como
saber. Não é sua culpa. Isso é algo que eu decidi fazer pelo
bem dele. Esse foi o motivo pelo qual eu não o entreguei
imediatamente: porque eu estava esperando pela minha irmã
me dizer quando a situação estivesse melhor. Assim o bebê
poderia ir pra uma boa família, como você queria.”
“Você fez isso por ele?”, Melanie perguntou. “Você
cuidou de um bebê que você nem conhecia enquanto fazia seu
próprio trabalho como bombeiro?”
“Sim.”
Melanie relaxou visivelmente. “Foi tão legal da sua
parte. Obrigada!”, um sorriso tocou seus lábios. “Obrigada por
fazer o melhor pelo meu bebê.”
Ele olhou para mim e então continuou, “Eu também
estava tentando fazer o melhor pra você.”
“Como assim?”, ela perguntou.
Derek hesitou antes de responder. “A lei diz que você só
tem até 72 horas após o nascimento para entregar o bebê.”
Melanie piscou, confusa. “O outro bombeiro me disse
isso no telefone, mas ele estava errado. Eu procurei
informações quando estava no hospital com Anthony. São
sessenta dias…”
“No Texas, sim”, eu disse gentilmente. “Na Califórnia
são 72 horas. E como você o entregou na Califórnia, é a lei do
estado que vale.”
O sangue desapareceu do rosto de Melanie à medida em
que ela foi se dando conta do que tinha feito, então começou a
chorar de novo.
Me levantei e me sentei do outro lado da mesa, ao lado
dela, colocando um braço em volta do seu ombro. “Você não
sabia. Está tudo bem. Você fez o que achou melhor.”
“Se nós o tivéssemos entregado ao Serviço Social”,
Derek explicou, “você poderia ter sido legalmente processada.
Talvez o juiz pegasse leve com você, mas…”, ele deu de
ombros porque não dava para saber. “Minha irmã estava
trabalhando em uma forma de colocar o bebê no sistema com a
data retroativa, então pareceria que você o entregou dentro do
limite.”
Eu a segurei quando seus soluços aumentaram. Minha
mãe esticou a cabeça de trás do balcão para tentar nos ouvir,
mas eu acenei para que ela parasse.
“Obrigada”, Melanie disse finalmente, após assoar o
nariz. “Obrigada por fazer o melhor pro bebê e por tentar
ajudar. Estou muito feliz que tudo deu certo no final.”
Derek se encolheu. “Bem, ainda não deu totalmente
certo. Aquele homem que te ligou, Billy Manning, descobriu
que estávamos mantendo o bebê fora do sistema. Ele está me
chantageando por isso.”
Os olhos de Melanie se arregalaram de novo. “Ah,
não…”
“Tudo vai ficar bem com você e o bebê”, Derek
acrescentou rapidamente. “Vou dar ao Billy o que ele quer e
me certificar de que ninguém descubra sobre você e o bebê.”
“Ah, ok.”, Melanie piscou. “O que ele quer?”
Derek sorriu tristemente. “Não importa. Vale a pena pra
me certificar de que bebê Anthony vai para uma família boa.
Mas eu queria te alertar, caso Billy tente entrar em contato de
novo.”
“Não vou mais falar com ele. Vou ignorar suas
chamadas, prometo.”
“Obrigada”, eu disse.
Melanie sorriu esperançosamente. “Só fico triste por ter
causado tanto aborrecimento pra vocês. Quando entreguei o
bebê, não pensei que fosse ser um problema pra ninguém. A
última coisa que eu quero é que alguém se meta em confusão
por causa disso.”
“Vai ficar tudo bem”, Derek disse, “desde que eu saiba
que é tudo pelo bebê.”
“Eu não queria entregar”, Melanie sorriu tristemente.
“Originalmente, eu queria encontrar uma família pra adotá-lo
diretamente. Sem uma agência ou nada mais no caminho.
Assim eu saberia que ele iria pra uma boa família. Mas a data
limite estava próxima e eu não tinha tempo… é uma pena que
eu não conheça ninguém que queira adotá-lo. Teria sido a
melhor solução sem colocá-los em uma situação complicada.”
Eu estava prestes a dizer a ela que não se preocupasse,
que encontraríamos uma solução graças aos contatos de Derek
no Serviço social, mas o bombeiro mais velho tinha um olhar
curioso. Ele estava encarando a almofada entre Melanie e eu
como se ele fosse um mestre enxadrista que tinha acabado de
pensar num movimento bom, mas ainda estava se certificando
de que ele era perfeito.
“Você está bem?”, perguntei.
Derek piscou como quem acorda do transe e então sorriu
para mim. “Acho que acabei de pensar no que podemos fazer.”
36

Derek

Era tudo tão simples.


Eu sempre quis uma família. Não só uma mulher, mas
filhos. Uma casa cheia de amor, risadas e vários pequeninos
correndo. Eu queria cuidar deles, eu tinha muito amor para dar.
Bem no fundo, eu sabia que tinha nascido para ser pai.
Esse foi o motivo do meu divórcio. Eu amava minha ex-
mulher ferozmente, mas só ela não seria suficiente. Eu
precisava de uma família completa. Era minha necessidade,
não culpa dela.
Depois daquilo, pensei nas coisas sequencialmente.
Eu precisava achar a mulher perfeita.
Precisava me casar com ela.
E então começaríamos uma família juntos.
Mas ali, sentado naquela mesa com Clara e Melanie, eu
sabia que eu estava errado sobre essa lógica. Eu não precisava
fazer aquilo em nenhuma ordem em particular. Eu poderia
ignorar alguns passos se eu precisasse.
E nesse caso? Pular alguns passos era a solução para
todos os nossos problemas.
Era um pensamento que não tinha me ocorrido antes.
“Vou adotar Anthony”, eu disse.
As duas mulheres do outro lado da mesa reagiram como
se eu tivesse contado uma piada confusa. “Você vai o quê?”,
Clara perguntou.
“Uma adoção particular”, expliquei. “Você me endossa a
adoção de Anthony. Eu o adoto. Sem agências. Sem papelada,
exceto por alguns formulários que precisaremos preencher e
um advogado.”
Clara estava perplexa. Melanie disse, “Você quer mesmo
adotar um bebê? Eu quero que ele vá pra uma casa legal, e não
seja adotado por alguém que só quer impedir uma
chantagem…”
“Eu sempre quis ter filhos”, expliquei. “Isso arruinou
meu primeiro casamento, porque eu queria filhos e ela não.
Essas últimas semanas cuidando de Anthony…”
Eu não precisei fingir, um sorriso brotou no meu rosto.
“Estas últimas semanas foram as mais felizes da minha
vida. Cuidar de Anthony, trocar suas fraldas e alimentá-lo.
Caramba, até acordar no meio da noite pra fazê-lo dormir de
novo. Eu amei cada minuto. A experiência só reforçou a
certeza de que eu nasci pra ser pai.”
“Derek vai ser um pai maravilhoso”, Clara estava
falando com Melanie, mas seus olhos estavam grudados nos
meus. “Nunca vi um homem tão focado em fazer o melhor pra
um bebê. Ele já está tratando Anthony como seu próprio filho.
Se você quer alguém pra adotar seu bebê, não acho que exista
alguém melhor do que ele.”
Pisquei e me dei conta de que tinha lágrimas nos olhos.
Aquilo era impossível. Eu não chorava desde que tinha seis
anos, quando meu cachorro morreu.
A mãe de Clara deve estar cortando cebolas na cozinha,
pensei enquanto discretamente limpava meus olhos na manga.
É a única explicação.
“Um bombeiro”, Melanie disse devagar. “Não posso
pensar em um pai melhor pro Anthony.”
“Podemos fingir que você nunca entregou o bebê”,
expliquei. “Não há registros oficiais. A papelada vai mostrar
que você cuidou do bebê como sua mãe até a data da adoção.
Ninguém vai saber sobre o que aconteceu nas últimas semanas
enquanto as coisas estavam no limbo.”
“E o que faremos sobre Billy?”, Clara perguntou.
Dei de ombros. “Que provas ele tem?”
“A certidão de nascimento, só isso.”
“Não se preocupe com isso”, eu disse. “Tenho uma ideia
para pegá-la de volta sem problemas.”
Clara esticou o braço sobre a mesa e pegou minha mão.
“Derek, você tem certeza de que quer fazer isso?”
Sorri. “Mais certeza do que qualquer coisa que já fiz na
vida, Clara!”, senti meu sorriso crescer, “Desde que você
queira continuar namorando um pai solteiro.”
Agora era Clara quem tinha lágrimas nos olhos. “É claro
que sim! E quero ajudar a cuidar dele!”
“Ótimo”, eu disse. “Porque vou precisar de ajuda.”
Eu queria me inclinar sobre a mesa e beijá-la, mas sua
mãe nos assistia do balcão. E de todo o drama acontecendo
naquele dia, eu estava certo de que Clara não queria ter que
explicar para sua mãe que ela estava saindo comigo, Jordan e
Taylor.
Ao invés disso, nós três nos inclinamos sobre a mesa e
nos abraçamos em grupo de forma meio estranha. As mulheres
estavam chorando e as cebolas na cozinha estavam me
incomodando de novo.
“Então você tem ajudado a cuidar do bebê?”, Melanie
perguntou a Clara.
Ela acenou. “Pelas últimas duas semanas.”
“É uma história engraçada, mas Anthony é meio que a
razão pela qual começamos a sair”, expliquei, “ele nos uniu.”
“Isso é maravilhoso!”, Melanie gritou de alegria. “Eu
estava imaginando quem era você e qual seria sua função no
quartel.”
Fiz uma careta. “Espera um minuto. Você não sabia
quem Clara era?”
Melanie piscou. “Não. Eu deveria?”
“Bem, você insistiu em nos encontrar aqui no Tony,
então pensei que fosse por causa do envolvimento de Clara
com o bebê.”
Melanie olhou para ela, e então para mim. “O que você
tem a ver com essa pizzaria?”
Clara e eu nos entreolhamos. Algo não estava certo.
“Por que você insistiu em nos encontrar aqui?”, Clara
perguntou cuidadosamente.
“É uma história boba”, Melanie disse estranhamente.
“Conte-nos”, eu insisti, “não vamos te julgar.”
“Bem…”, Melanie corou. “Começou quando eu descobri
que estava grávida. Foi antes de contar pros meus pais. Então
eu fiz Jake – meu ex-namorado, o pai biológico de Anthony –
dirigir até uma clínica longe de Fresno, pra ninguém nos
reconhecer.”
“Ah, você passou por aqui, tem uma clínica na esquina.”
Melanie acenou. “Foi quando fizemos o primeiro
ultrassom, ecografia, não sei o nome. O procedimento que nos
mostra o bebê naquela tela borrada. Estávamos os dois meio
pirados depois disso, então viemos aqui comer pizza e falar
sobre o assunto. Jake queria que eu cuidasse do bebê, se é que
vocês me entendem, mas eu não sabia o que queria fazer.
Tivemos uma briga feia e meio que causou uma comoção aqui.
Jake disse que tinha que buscar a carteira no carro pra pagar
pela pizza, mas então… foi embora e me deixou aqui.”
“Ele te deixou aqui?”, Clara perguntou. “Que cuzão!”
Melanie sorriu. “Ele é um cuzão. Fico feliz de ter
descoberto logo, porque foi fácil terminar com ele depois
disso. Então eu estava aqui sozinha e assustada. Foi quando o
dono do restaurante veio falar comigo. Eu acho que era o
dono. Seu nome era Tony, como o da pizzaria, então eu
presumi que fosse.”
Clara congelou ao lado dela, mas Melanie continuou
como se não tivesse notado.
“Ele era um homenzinho frágil. Acho que ele era
italiano, mas seu inglês era muito bom. Achei que ele fosse
exigir que eu pagasse, mas ele foi tão legal. Ele se sentou e me
perguntou se eu estava bem. Meus hormônios já estavam
loucos, porque eu desabei e contei tudo a ele. Cada detalhe,
como se ele fosse meu terapeuta. Eu devo ter falado por uns
dez minutos, e ele não me interrompeu nem saiu da mesa. Ele
apenas me ouviu.”
A boca de Clara se abriu completamente.
“Ele disse que a pizza era cortesia da casa. E então, ao
invés de chamar um Uber pra mim, ele se ofereceu pra me
levar em casa. Normalmente, eu não aceitaria uma carona de
um estranho, mas Tony parecia diferente, sabe? Realmente
genuíno. Ele me levou de volta pra Fresno, enfrentou uma
hora de trânsito sem reclamar. Ele ouviu mais da história e me
disse que tudo ia ficar bem. Foi por isso que voltei pra
Riverville pra entregar o bebê. Achei que essa cidadezinha
pudesse ter mais pessoas como ele, e que poderia ser um bom
lugar pro meu bebê.”
Ela deu uma risadinha e olhou por cima do ombro para o
balcão. “Foi por isso que insisti em vir aqui hoje. Porque esse
lugar me parece seguro, sabe? Eu esperava ver Tony hoje, mas
acho que ele não está trabalhando. Queria dizer a ele…”, ela
parou.
“O quê?”, Clara perguntou, com a voz tão fraca que
quase não ouvimos. “O que você queria dizer a ele?”
Melanie deu de ombros. “Durante minha gravidez, ele
foi a pessoa mais doce que eu conheci. Ele me fez me sentir
que tudo ia ficar bem, só dizendo isso. Dei ao bebê o nome
dele. Sei que parece tolo, dar o nome pro meu filho de um cara
que me deu pizza e carona, mas…”
Clara chorava copiosamente neste momento. Finalmente
Melanie se deu conta de que algo estava errado. Ela me olhou,
confusa. Como se tivesse chutado um filhote acidentalmente.
Não consigo imaginar o que Clara está sentido agora,
pensei. Escutar essa história um ano depois que seu pai
morreu…
“Esse lugar”, eu disse, gesticulando. “É o restaurante da
família dela. O homem que você conheceu era seu pai.”
“Ele estava doente”, Clara se engasgou com as lágrimas.
“Você deve tê-lo visto um pouco antes dele ser internado. Ele
queria trabalhar até seu último dia de vida, então estava super
frágil…”
“Ah, não!”, Melanie disse. “Sinto muito! Eu não queria–

“Não! Não peça desculpas!”, Clara disse com uma risada
feliz. Era um som estranho, já que lágrimas corriam pela sua
face. “Quando comecei a cuidar do bebê, eu pensei que fosse
um sinal. Ele tem o nome do meu pai. Na verdade, foi um
sinal. Você não tem ideia de como foi bom ouvir sua história
sobre meu pai. Se ele estivesse aqui agora, estaria tão feliz…”
Dei a volta na mesa para abraçar Clara enquanto ela
soluçava.
37

Clara

Eu estava certa. O bebê era um sinal. Mas não da


maneira como eu esperava.
Durante o ano anterior eu tive dificuldade em aceitar a
morte de meu pai. Claro, eu logicamente sabia que ele tinha
partido. Estive no funeral, ajudei minha mãe com todos os
detalhes que vem depois, mas eu não aceitava no meu coração.
Emocionalmente era como saber que eu tinha falhado em uma
prova, mas tinha medo de olhar a nota.
Sua morte e sua ausência na minha vida pairavam na
minha cabeça o tempo todo. Uma dor pulsante que eu poderia
lidar no futuro.
Ouvir a história de Melanie deixou aquela dor bem
evidente. Meu pai tinha partido. Para sempre. Mas ele tinha
deixado um legado sem nem saber. Uma ironia do destino
engraçada que tinha mudado o curso da minha própria vida.
Enquanto eu chorava nos braços de Derek, uma
constatação calma me invadiu. Meu pai tinha partido, sim, mas
ele tinha deixado um sinal para mim. Um sinal em forma de
bebê que tinha recebido seu nome, porque ele tinha sido gentil
com uma estranha em necessidade.
É meu destino cuidar dele, pensei quando as lágrimas
começaram a diminuir. Bebê Anthony é realmente o sinal que
eu pensei que ele fosse.
Eu ainda não sabia o que queria fazer da vida. Pelo
menos não a longo prazo. Mas naquele momento eu tinha um
caminho claro adiante. Especialmente se Derek fosse de fato
adotar aquele garotinho.
Os outros rapazes estavam cansados de esperar no
caminhão, então os convidamos para entrar. Eu tive medo de
que Melanie mudasse de ideia sobre a adoção quando visse o
bebê de novo, mas ela foi adorável e amistosa e não conseguia
parar de falar sobre o quão feliz ela estava com o fato de um
bombeiro adotar o bebê.
Pedimos três pizzas e passamos uma hora discutindo o
assunto.
Tínhamos alguns dias até o próximo plantão de Billy.
Normalmente, era tempo o suficiente para preencher a
papelada, mas Derek achou melhor garantir e cobrou alguns
favores. Sua amiga advogada – a mesma que nos aconselhou
manter o bebê no quartel o máximo possível – preparou os
papéis da adoção particular. O primeiro era um formulário de
consentimento que transferia a custódia legal
permanentemente para Derek. Melanie o assinou
imediatamente, mas ela tinha que conseguir a assinatura do pai
biológico também. Derek ficou preocupado que aquilo
pudesse ser um problema.
Acabou não sendo uma questão. O ex de Melanie
assinou o documento no dia seguinte. Ela nos disse que ele
ficou impaciente para assinar, porque ele estava com medo
dela exigir pensão para o bebê.
Então, a irmã de Derek expediu a papelada pelo
departamento de Serviço Social. “Você não precisa da certidão
de nascimento pra isso?”, perguntei enquanto ele colocava os
documentos em um envelope para entregar a ela.
Derek sorriu. “Já estou com ela e fiz uma cópia pro
processo.”
“Como você a conseguiu?”, Jordan perguntou.
Derek se encostou na parede e cruzou os braços. “Fiz
uma ligação pra mulher de Billy. Suspeitei que o casamento
deles não ia muito bem e eu estava certo. Ela disse que faria
qualquer coisa para se vingar daquele cuzão traidor e
mentiroso. Suas palavras, não minhas. Então ela vasculhou seu
escritório, encontrou a certidão de nascimento e a trouxe pra
mim. E a carta de Melanie quando entregou o bebê.”
Logisticamente, agimos como se o bebê nunca tivesse
sido deixado no quartel. Aquilo manteve os três bombeiros
longe de problemas por não entregar o bebê para o Serviço
Social imediatamente e protegeu Melanie contra um possível
processo por abandono. Se alguém perguntasse o motivo de os
bombeiros terem tomado conta do bebê durante as últimas
semanas, diríamos que eles estavam negociando sua adoção e
cuidando dele para ver se a dinâmica funcionaria.
Sexta de manhã tudo estava pronto. Bom, quase tudo. O
estado da Califórnia previa 30 dias de revogação. Era o
período que os pais biológicos tinham para mudar de ideia
sobre a adoção e vetar a coisa toda. Mas nós sabíamos que o
pai não faria nada e Melanie insistiu que não mudaria de ideia.
“Sei que meu bebê vai pra uma casa melhor do que eu
jamais poderia oferecer”, ela nos disse no quartel na sexta a
tarde. Ela não estava triste ou super emocionada – ela falou
verdadeiramente. “Me faz tão feliz saber que você o está
adotando.”
Coloquei meu braço em volta de Derek e o abracei.
“Você vai ser um ótimo pai.”
Ele levantou uma sobrancelha. “Por que você acha isso?”
Taylor bufou. “Tá brincando, Chefe? As últimas duas
semanas provaram que você nasceu pra isso. É uma pena que
você ainda não tenha um punhado de pivetes.”
“Não tenho certeza, mas prometo fazer o melhor que
posso”, ele acenou para Melanie. “E eu devo te agradecer
também. Não só por me deixar adotar Anthony.”
Ela fez uma careta. “Por quê?”
Derek hesitou. Tive a impressão de que ele não tinha
certeza se queria dizer aquilo na frente de Jordan e Taylor. Mas
ele continuou.
“Cresci num lar temporário”, ele começou. “Minha mãe
me entregou pra a adoção quando eu era muito pequeno. Eu
nunca a conheci, mas sempre a odiei por ter me abandonado.”
Os olhos de Melanie se arregalaram. “Hm, você queria
me fazer me sentir melhor? Porque isso está fazendo o efeito
contrário…”
Cutuquei as costelas de Derek. “Vá direto ao ponto antes
que você a faça chorar.”
“Eu odiava minha mãe porque não entendia seus
motivos”, disse Derek, “mas passei a entender depois de
conversar com você e ouvir a história da sua gravidez e os
motivos pelos quais você não quer ficar com o bebê. Eu
desconheço as circunstâncias da minha própria mãe, mas
escolhi acreditar que ela era como você, Melanie. Uma jovem
tentando fazer o melhor pro seu bebê.”
Melanie atravessou o cômodo e o abraço. “Nunca
ninguém me agradeceu por estragar tudo.”
“Vou tentar ser mais empático com as situações das
outras pessoas”, ele refletiu.
“Isso vai ajudar agora que você é pai!”, Taylor se
intrometeu.
“Especialmente se o bebê crescer e fizer algo muito
ruim”, eu disse, “tipo deixar um forno ligado pra evitar que a
comida esfrie.”
Derek me encarou, mais de brincadeira do que de forma
azeda.
Nos despedimos de Melanie e voltamos para o trabalho
na parte da tarde. Os rapazes tinham tarefas a cumprir no
quartel, como lavar o caminhão de bombeiros e as mangueiras,
além de limpar os equipamentos. Passei o tempo todo na frente
da TV, enquanto bebê Anthony dormia no berço ao meu lado.
Antes que nos déssemos conta, já era noite e quase hora
da troca de turno. Jordan estava praticamente pulando de
alegria.
“Mal posso esperar para ver a cara de Billy quando
souber que sua chantagem não funcionou.”
Derek deixou um suspiro escapar. “Na verdade… bom,
agora é um bom momento pra contar a vocês, rapazes. Eu
ainda vou renunciar ao posto de Capitão.”
Nós três nos engasgamos. “O quê? Por quê?”, Jordan
perguntou. “Você não precisa ceder à chantagem de Billy
mais!”
Derek sorriu com tristeza. “Eu amei trabalhar aqui em
Riverville. Mas as horas não ortodoxas não vão ajudar com a
criação do bebê.”
“Podemos manter o bebê aqui!”, sugeriu Taylor. “Como
temos feito esse tempo todo.”
Derek o olhou com paciência. “Nós todos sabemos que
não é o ideal. Além disso, é tarde demais. Já assinei minha
transferência. Três outras unidades estão competindo por
mim.”
Jordan e Taylor se entreolharam. “Você vai simplesmente
nos abandonar?”, Jordan perguntou.
“Jordan”, Derek disse gentilmente. “Isso vai ser bom
para o seu desenvolvimento profissional. Um novo Capitão
com um estilo diferente de comandar…”
“Foda-se”, Taylor disse, “nos leve com você.”
Jordan virou a cabeça para ele. “Nos leve?”
“Por que não?”, Taylor correu os dedos pelos cabelos
loiros. “A unidade de Fresno fica ainda mais perto da
faculdade. E Jordan, você não tem nada que te prenda a
Riverville. Por que não se transferir pra Fresno?”
“Duvido que as unidades para as quais Derek se
candidatou tem vagas para nós dois”, Jordan respondeu.
Os olhos de Derek se acenderam. “Na verdade, posso
usar minha influência e insistir que qualquer uma das unidades
aprove a transferência de vocês. Não acho que vai ser um
problema.”
“E sua casa?”, Taylor perguntou.
“Vou mantê-la. São só 25 minutos de Fresno.”
Jordan me olhou, depois olhou para os outros. “Vou
precisar pensar nisso. Sei que Fresno não é longe, mas… e
você, Clara?”
“O que tem eu?”
“Você vai ficar em Riverville permanentemente?”,
Jordan perguntou. “Sei que só estamos juntos faz algumas
semanas, mas seus planos podem interferir no que eu vou
decidir”, de repente ele corou. “Merda. Isso provavelmente
soou muito grudento. Não quero planejar meu futuro com
você ou nada do tipo. Só estou tipo… tentando entender…”
Eu caminhei até ele e calei sua boca com um beijo longo.
“Você não está sendo pegajoso. Eu gosto de estar nos seus
planos.”
Ele suspirou aliviado. “Então, o que você vai fazer?”
“Honestamente? Não sei”, respondi. “Ainda me sinto
obrigada a ajudar no restaurante, mas sei que não estamos bem
financeiramente. Não importa o que eu decida fazer, quero que
isso continue. Nós quatro. E eu quero definitivamente
continuar ajudando com Anthony.”
Como se tivesse ouvido seu nome, Anthony começou a
balbuciar do seu bercinho.
“Bom”, Jordan disse. “Então não importa o que
aconteça, vamos tentar ficar juntos. Seja em Riverville ou em
Fresno.”
Os caras do outro turno chegaram um pouco depois
daquilo. Eles se saudaram e os recém-chegados se reuniram
em volta do bebê para brincar com ele.
Exceto Billy Manning. Ele caminhou casualmente até
Derek e abaixou sua voz, mas eu estava perto o suficiente para
ouvir.
“Você tomou sua decisão, Capitão?”, ele perguntou.
“Sim. Onde está a certidão de nascimento da criança?”
Billy tossiu de forma estranha. “Hm, está comigo ainda.
Em casa, em algum lugar, por segurança. Eu trago depois.”
Um sorriso sutil apareceu nos lábios de Derek, mas
desapareceu em seguida.
“Então?”, Billy insistiu com os olhos famintos. “Você
tem um anúncio a fazer enquanto todos estão aqui?”
“Tenho”, Derek aumentou a voz. “Atenção todos, eu
tenho algo a dizer. Estou renunciando ao cargo de Capitão
desta unidade. Vou me transferir para Fresno nas próximas
semanas.”
Um murmuro de surpresa veio da direção dos outros três
rapazes. Billy sorriu presunçosamente, como um olimpiano no
pódio logo antes de receber sua medalha.
“Fiquei aqui por dez anos e é hora de mudar”, Derek
explicou. “Vocês são um bom grupo e vão obter êxito sob
nova liderança.”
“Quem vai te substituir?”, Billy perguntou casualmente.
Derek acenou para ele. “Não cabe a mim escolher meu
substituto. Eu só posso recomendar alguém pro chefe
municipal da grande área de Fresno. Mas as recomendações
pesam muito na decisão deles e eu tenho o prazer de anunciar
que vou recomendar…”
Billy deu um passo a frente e começou a abrir a boca.
“…Brandon McDonald.”
Billy tropeçou nos próprios pés e quase caiu. Os outros
caras irromperam em aplauso e felicitações direcionadas à
Brandon McDonald.
“O que você está fazendo?”, Billy se aprumou na cara de
Derek e rosnou com raiva. “Tínhamos um acordo.”
Derek fez uma careta. “Acordo? Não sei do que você
está falando.”
“O bebê”, ele apontou para o berço do outro lado do
cômodo. “Vou contar a todo mundo.”
“Contar o que a eles? Que eu estou legalmente adotando
o bebê? Que não é segredo nenhum e que todos saberão logo?
É por isso que estou me transferindo pra Fresno. Pra trabalhar
em turnos tradicionais de 24 por 48 horas.”
“Você roubou o bebê!”, Billy disse, ainda mais alto. Os
outros caras olharam assustados. “O bebê foi entregue nesta
estação e você ficou com ele.”
Derek olhou em volta confuso. “Eu tenho discutido a
adoção legal com a mãe biológica do bebê por algumas
semanas. Estamos cuidando dele pra sua adaptação. Ele nunca
foi deixado aqui. De onde você tirou essa ideia?”
Os olhos avermelhados de Billy se arregalaram,
surpresos. “Eu… mas você… eu tenho provas! A certidão de
nascimento! E a carta da mãe quando ela deixou o bebê aqui!”
“Isso é impossível”, respondeu Derek. “A certidão de
nascimento está comigo. E certamente não existe nenhuma
carta da mãe. Você está se sentindo bem, Manning? Talvez
você esteja doente pra trabalhar neste fim de semana.”
Billy arfava com ódio, então correu para os dormitórios e
bateu a porta.
Nos despedimos dos outros rapazes e juntamos nossas
coisas. No caminho para o carro, Taylor começou a rir. Jordan
se uniu a ele. E então estávamos os quatro gargalhando. Era o
alívio da vitória.
“Então”, Derek falou comigo. “O que você pensa de se
tornar a babá permanente do bebê?”
Minha mão alcançou o rosto de Derek. Apertei sua
bochecha e disse. “Vou ser muito mais do que isso.”
Gargalhamos com mais intensidade enquanto
entrávamos no carro.
38

Clara

Demorou duas semanas até a transferência de Derek para


a Estação de Bombeiros Número Dezesseis de Fresno ser
finalizada. Ficava na divisão leste da cidade, o que era fácil
para ele ir da sua casa em Riverville sem precisar cruzar as
rodovias mais movimentadas.
Jordan e Taylor também foram transferidos. No final, foi
uma decisão extremamente fácil para Jordan. “Nós quatro
temos algo especial”, ele disse quando se decidiu. “Parece que
eu também estou adotando o bebê. Ou que sou o tio legal.”
“Tio legal”, Taylor disse, saboreando as palavras pela
primeira vez. “Gosto disso. Vou ser o responsável por comprar
o primeiro fardo de cerveja pra Anthony.”
Derek o olhou com censura.
“Hm, estou brincando”, Taylor disse. Mas me deu um
olhar e um sorriso secretos que me disseram que não era
brincadeira.
Demorou mais duas semanas para os novos bombeiros se
instalarem na estação de Riverville. E então finalmente os
rapazes começaram a trabalhar no novo quartel. Diferente do
turno maluco de Riverville, a nova estação era maior e aderia
ao padrão dos bombeiros: vinte e quatro horas trabalhando e
quarenta e oito horas de folga. Aquilo ainda me parecia meio
duro, mas os três estavam muito empolgados.
E para mim era bem mais fácil cuidar do bebê. Ao invés
de cuidar dele por vários dias seguidos, eu só ficava com ele a
cada três dias. O que era bom, porque eu tinha tempo para
trabalhar em outras coisas.
A Pizzaria do Tony não estava indo muito bem em
Riverville. A cidade era muito pequena e longe o suficiente de
Fresno para alcançar seu público. Estávamos quase no
vermelho quando meu pai morreu e as coisas só pioraram. Em
um ano estaríamos falidos certamente.
Tive que trabalhar duro, mas finalmente convenci minha
mãe a fechar o restaurante.
Bom, tecnicamente não estávamos fechando. Iriamos
mudar de locação, porque um amigo de Derek era casado com
uma corretora de imóveis que conhecia um bom lugar no
centro de Fresno. Ficava só a alguns quarteirões do estádio de
beisebol e tinha cem metros quadrados. O suficiente para uma
pizzaria.
Mama resmungou e reclamou: o lugar era muito
pequeno, só tinha seis mesas ao invés de vinte, a mesa de
preparação na cozinha era mais baixa do que a antiga. Mas
suas reclamações desapareceram depois da inauguração,
quando ela viu a fila de clientes na porta esperando por uma
pizza.
Eu não tinha visto mama tão feliz desde a morte de papa.
Trabalhei na cozinha na inauguração e a ouvi saudar com
alegria todos os clientes.
“Tony era meu marido!”, ela dizia para cada um deles.
“Anthony Alessandro Ricci. A receita do molho era
orginalmente da minha família, mas ele a melhorou com o
passar do tempo…”
Fiquei surpresa com a multidão e contei aos rapazes no
outro dia.
“Taylor espalhou a notícia entre os colegas de
faculdade”, Jordan explicou.
“Você tem aquilo tudo de colegas?”, perguntei.
Taylor deu de ombros. “Saí falando com todo mundo no
dormitório. Depois contei às garotas do dormitório feminino.”
“Que surpresa”, Derek disse secamente “as universitárias
se prontificando a ajudar o bombeiro bonitão.”
“Não é bem assim!”, Taylor respondeu. Ele me olhou
nervoso. “Não flertei com ninguém.”
“O que você estava vestindo?”, Jordan perguntou.
“O de sempre”, Taylor respondeu. “Minhas calças de
trabalho e a camiseta do quartel.”
“Aquela justa?”, respondi gargalhando. “Sim, agora
entendo o porquê do nosso sucesso. Foi muito gentil da sua
parte.”
O beijei suavemente e ele sorriu pelo resto da noite.
Ir de Riverville para Fresno não era tão ruim. Eram vinte
minutos até o quartel e vinte e cinco até a pizzaria no centro.
Então mantivemos nossas casas em Riverville.
Eu cuidava de Anthony a cada três dias, quando os
rapazes estavam trabalhando. Era muito fácil agora que não
precisávamos mais esconder nada de ninguém. Eu cuidava
dele em casa e então o levava para o restaurante. Ele era um
bebê comportado – eu podia colocá-lo no berço e deixá-lo no
fundo do restaurante comigo enquanto eu preparava tudo. Ele
raramente chorava e felizmente focava nos bonequinhos
girando no seu móbile.
Mama dava muita atenção a ele. Ela até contratou outra
pessoa para ajudar a cuidar da caixa registradora e anotar os
pedidos pelo telefone. Ela insistiu que era porque estávamos
muito ocupadas, mas eu sabia que era porque ela gostava de
escapulir até a cozinha para brincar com Anthony. Não
demorou para ela começar a fazer mais isso do que trabalhar
de verdade.
Eu não me importava. Ela tinha parado de me encher o
saco sobre netos. Era vantajoso para nós duas.
Ela continuava acreditando que eu só estava saindo com
Jordan e que eu era babá de Anthony como um favor, e não
porque eu tinha um relacionamento com Derek. Às vezes, eu
me perguntava como ela reagiria se soubesse que eu estava
saindo com os três bombeiros. Talvez eu contasse a ela no
futuro. Mas, naquele momento, ela estava feliz por ter um
bebê por perto e brincar tanto tempo durante a semana.
Falando em namorar os três, aquela parte da minha vida
estava indo muito bem. A nova escala facilitava muito para
mim. Eu passava tempo com cada um deles individualmente.
Às vezes, eu dormia na casa de Derek, às vezes no
apartamento de Jordan. Mas era com Taylor que era mais
divertido. Ele estava no último ano da faculdade de Fresno,
mas ainda dividia o dormitório.
“Eu só fico lá algumas noites”, ele explicou, “os
dormitórios são mais baratos do que alugar um apartamento.
Estou economizando tanto dinheiro.”
Ele tinha um quarto individual, então eu não me
importava. E era meio divertido dar uns amassos na cama de
solteiro dele enquanto uma festa rolava na sala. Eu me sentia
na faculdade de novo – mais ou menos.
E é claro, valia super a pena para estar com Taylor. Ele
se tornava cada vez mais amoroso e afetuoso. Ele era o mais
atencioso dos três. Depois do sexo, ele acariciava minha
barriga e gentilmente rolava seus dedos pela minha pele,
acariciando minhas costas até eu dormir. Ele gostava de
massagear meus pés, especialmente depois de um dia inteiro
de pé no restaurante. E ele amava me fazer carinho. De
manhã, antes de nos levantarmos, no restaurante, quando nos
sentávamos perto um do outro, e na casa de Derek, enquanto
estávamos todos no sofá. Se Taylor estava por perto, sua mão
não me deixava.
Tudo era maravilhoso com Jordan e Derek também. Eu e
Jordan tínhamos uma vida típica de casal de namorados.
Saíamos juntos para jantar e assistir comédias românticas no
cinema. Enquanto isso, Derek e eu tínhamos uma conexão
profunda por causa do cuidado com bebê Anthony. Parecia
que estávamos brincando de casinha. Finalmente, parei de
sentir que estávamos brincando e começou a parecer de
verdade. Um lar de verdade.
Anthony podia ser seu filho no papel, mas eu não podia
evitar o sentimento de mãe. Era muito satisfatório.
Aquele sentimento se intensificou quando os trinta dias
passaram e Derek recebeu oficialmente a papelada que o
tornava pai de Anthony.
“Não acredito que já tem um mês!”, disse Jordan.
Estávamos todos sentados na sala de estar, Anthony estava no
bebê conforto no chão. “Parece que foi ontem que estávamos
correndo pra preencher os papeis antes que Billy descobrisse.”
“Talvez o tempo tenha voado pra você”, disse Derek,
“mas pra mim foi o mês mais longo da minha vida.”
“Você não pensou que Melanie pudesse mudar de ideia,
pensou?”, perguntei.
“Não, não pensei. Mas eu ainda assim me sinto muito
mais relaxado hoje, agora que é oficial”, ele se inclinou para
baixo e pinçou o pezinho do bebê. “Você é meu agora,
garotinho. E eu sempre vou te amar.”
Sorri quando vi o olhar paternal de Derek. Pela primeira
vez na vida, ele era exatamente o que queria ser. E aquilo me
fazia sentir um comichão interno. Especialmente porque eu
sabia que era parte de tudo.
Passamos os dias seguintes formalmente preparando o
quarto do bebê. Movemos todas as máquinas de escrever de
Derek para o sótão – não foi uma tarefa fácil, considerando o
peso delas e a escada íngreme que dava para o cômodo. Então
pintamos o quarto de azul bebê. Taylor usou seu talento para
pintar algumas nuvens e passarinhos batendo as asas em um
dos cantos do cômodo.
Assim que adicionamos o berço e o trocador, o quarto do
bebê ficou completo.
Celebramos com margaritas (feitas com tequila de
qualidade) naquela noite. Taylor preparou tacos de frango com
guacamole apimentada e creme azedo.
Quando finalmente bebê Anthony adormeceu, nós já
estávamos felizes e ébrios.
“Os Dodgers vão recuperar”, eu disse, apontando para a
TV com a minha quarta margarita nas mãos. Ou talvez fosse a
quinta. “Eles só estão perdendo por uma corrida.”
“Sem chance. Os Giants estão mais perto de encerrar o
jogo”, Jordan argumentou.
“Aposto que eles não vão conseguir”, eu disse.
Jordan apertou minha mão. “Apostado.”
Não se passaram nem dois minutos e os Dodgers
rebateram e passaram na frente. Pulei do sofá e fiz uma
dancinha comemorativa ridícula pela sala de estar.
“Você não tem muito espírito esportivo”, Derek pontuou.
“Foda-se o espírito esportivo. Os Giants fedem!
Hahaha!”
Taylor se esticou no sofá com uma mão atrás da cabeça.
“Vocês apostaram, mas não mencionaram o prêmio.”
“Uma massagem nas costas”, Jordan sugeriu.
Sorri para ele. A margarita tinha subido e me fez mais
ousada do que eu era normalmente. E depois de ter passado
tanto tempo muito próxima dos rapazes, eu não tinha mais
vergonha.
O que significava que eu não tinha medo de pedir o que
queria. Algo que eu tinha evitado por algum tempo.
“Que tal uma atividade em grupo?”, sugeri.
“Tipo jogo de tabuleiro?”, Taylor perguntou.
Derek fungou. “Acho que não é disso que ela está
falando, campeão.”
Taylor piscou e de repente se sentou ereto. “Ah!”
Levantei uma sobrancelha. Um sorriso de luxúria se
espalhou no rosto de Jordan. “Eu topo. Não tenho certeza se o
Chefe vai querer.”
Derek fez uma careta. “O que isso significa?”
“Você nunca vai topar sexo a três, ou a quatro”, disse
Jordan.
“Por que você pensa isso?”
“Você é meio antiquado”, Taylor interrompeu. “E
possessivo.”
“E gosta das coisas de um jeito muito específico”, Jordan
acrescentou.
Derek fez uma careta confusa. “Quando foi que
iniciamos o campeonato de jogar merda no Derek?”
Fui até ele e me sentei em seu colo. “Você não gostaria
de me compartilhar?”
“Eu já te compartilho”, ele respondeu com a voz
profunda.
Eu acariciei sua bochecha. “Na cama. Juntos. Nós
quatro.”
Um lampejo de interesse invadiu seus olhos. “Eu poderia
fazer isso.”
Me inclinei para mais perto e meus lábios ficaram muito
próximos dos dele quando eu provoquei. “Então prove.”
39

Clara

Derek hesitou por apenas um momento, então se


levantou do sofá. Ele me pegou pela mão e me levou para o
andar de cima, Jordan e Taylor nos seguiram.
Quando chegamos na suíte master, ele não esperou pelos
outros. Me jogou contra a parede, me amassando em um beijo
apaixonado que eu senti com o corpo todo. Eu nem mesmo
percebi que os outros fecharam a porta do quarto.
Tão rápido quanto ele começou, Derek parou de me
beijar e me virou de lado. Fui parar nos braços de Jordan que
me esperava ávido para continuar o beijo, sua língua se movia
contra a minha de forma possessiva.
Perto dele, Derek rugia, faminto. Seus olhos analisavam
meu corpo enquanto Jordan me acariciava com paixão.
Então senti outras mãos em mim – dois pares para ser
exata, e nenhum deles pertencia a Jordan. Essas mãos
removeram minha blusa, desabotoaram minha calça e me
forçaram a ficar de joelhos no chão. Os movimentos de Derek,
Jordan e Taylor eram possessivos e famintos naquela noite.
Como se eles fossem lobos disputando uma presa.
Está finalmente acontecendo, pensei, com arrepios
percorrendo meu corpo. Vou finalmente transar com os três ao
mesmo tempo.
Jordan não queria parar de me beijar, mas Taylor me
arrancou de seus braços indicando que era sua vez. Enquanto
ele me beijava, eu me ergui, e ele segurava minha nuca com
uma mão enquanto a outra vasculhava minha calcinha. Gemi
quando o tecido se afastou e implorei por mais quando senti
seu dedo dentro de mim.
Derek ficou de joelhos atrás de mim e me deu o que eu
queria. Ele tirou minha calcinha com tanta força que eu fiquei
surpresa por ela não se rasgar – e eu não me importaria se isso
tivesse acontecido. A única coisa que me importava era a
forma como meus três homens lutavam por mim no momento.
Assim que minha calcinha caiu no chão, Derek colocou
uma mão na minha lombar e me inclinou para a frente para
poder cair de cara na minha boceta por trás. Gemi com o
prazer de duas línguas dentro de mim – a de Taylor na minha
boca e a de Derek na minha fenda molhada.
Enquanto eles me adoravam, eu vi Jordan de relance.
Sua forma musculosa estava recortada contra a janela
enquanto ele se despia vagarosamente. Primeiro, sua camiseta
voou pela sua cabeça, e então ele arrancou seu cinto e deixou
sua calça cair no chão. Sua vara dura cortou o ar, prova do
quanto ele me queria.
“Eu amo seu gosto”, Derek murmurou. “Mesmo
enquanto eu te divido com eles.”
Antes que eu pudesse responder, ele mergulhou sua
língua ainda mais fundo na minha boceta. Me afastei do beijo
de Taylor e inclinei minha cabeça e gemi alto.
Jordan se aproximou e me puxou gentilmente dos braços
dos outros dois. Ele me deu um beijo rápido e áspero, e então
me encarou.
“Não posso esperar. Quero você.”
Me engasguei enquanto ele me dobrava para a frente na
cama. Virei gelatina nos seus braços fortes enquanto ele me
empurrava mais para baixo até encontrar o ângulo perfeito. Me
rendi ao seu capricho e havia uma beleza, uma confiança
erótica que surgiu com aquela rendição.
Eu aceitaria tudo o que aqueles homens me dessem. Eu
os amava e eles me amavam.
A cabeça de Jordan pressionou minha entrada e então
nós dois gememos num dueto de prazer quando ele agarrou
minha bunda e se enfiou dentro de mim com uma estocada
longa e poderosa. Sua força me fez sentir ondas de choque
pelo corpo e eu perdi o equilíbrio, caindo para a frente. Jordan
veio comigo, se assegurando de não escorregar para fora, até
me cobrir com seu corpo na cama.
Eu estava mais molhada do que nunca e Jordan não
podia mais parar. Ele estava sobre mim, com os braços
enrolados na minha cintura, segurando um dos meus peitos
enquanto girava seu quadril. Eu estava vagamente ciente de
que Derek e Taylor estavam se despindo enquanto Jordan me
atingia com seu pau, de forma intensa e maravilhosa, inclinado
perfeitamente, nossas peles estalando a cada estocada.
Senti sua respiração quente no meu ouvido quando ele
disse, “Hora de mostrar ao Derek o que compartilhar significa
de verdade.”
Ele agarrou um punhado do meu cabelo e forçou minha
cabeça para cima. Derek estava de joelhos na cama, de frente
para mim, com seu próprio pau enorme mais duro do que
nunca. Abri bem a boca e o aceitei, faminta, embrulhando sua
cabeça com meus lábios. Eu não podia me mover para a frente
– Jordan segurava meu corpo com força enquanto me fodia –
então Derek teve que mexer o quadril para frente e para trás.
Primeiro, ele experimentou, parecendo não ter certeza do
quão profundo ele poderia ir. Mas logo meus gemidos ficaram
tão altos, mesmo abafados pelo seu pau na minha boca, que ele
soube que eu estava amando cada segundo daquilo. Ele
afastou a mão de Jordan e segurou meu cabelo ele mesmo, na
posição ideal para ele continuar fodendo minha boca
implacavelmente.
Fechei meus olhos para saborear a sensação. Ter os dois
buracos preenchidos ao mesmo tempo por aqueles bombeiros
gigantes era incrível. Eu era seu brinquedo sexual, e queria ser
usada da maneira que eles achassem apropriada.
E eu não queria que fosse de outra forma.
Jordan me bombeava por trás, mas soltou um gemido e
se afastou de mim. Taylor ocupou seu lugar imediatamente, se
sentando nas ancas e puxando meu quadril para trás para que
eu pudesse ficar de joelhos. Eu o cavalguei naquela posição,
guiada pelas suas mãos no meu quadril.
A posição era estranha, porque eu ainda estava inclinada
para a frente. Então Derek ficou de pé na borda da cama,
puxando minha cabeça na sua direção até eu estar cavalgando
Taylor propriamente como uma vaqueira invertida. Derek
soltou um pouco a pega do meu cabelo e eu aproveitei para
agarrar seu pau e o masturbar enquanto o chupava.
Ele inclinou a cabeça para trás e gemeu da forma mais
profunda e satisfatória que eu já ouvi na vida. Acelerei,
tomando-o com a minha boca enquanto rebolava no pau de
Taylor.
Jordan estava próximo de mim na cama, puxando minha
cabeça na sua direção. Seu pau pulou no momento em que eu
o enrolei com meus lábios. Dei uma longa sugada, enfiando
seu pau profundamente na minha garganta, me afastei e fiz a
mesma coisa com Derek. Eu ia e voltava, chupando os dois
alternadamente enquanto os masturbava ao mesmo tempo, um
com cada mão.
Mesmo que eu estivesse por cima de Taylor, ele me fodia
da mesma forma que eu o fodia – ele empurrava o quadril para
cima, me encontrando a cada estocada. Nossas peles se
estapeavam cada vez mais alto a medida em que
aumentávamos a velocidade. Éramos uma bagunça de suor,
têmporas e peitos melados com a umidade dos esforços
conjuntos dos nossos corpos.
Finalmente Taylor me abraçou pela cintura e me afastou
dos outros dois. Ele me segurou num abraço de urso por trás,
beijando minha nuca antes de me jogar de lado na cama.
Como se eles tivessem ensaiado, Derek escorregou e
caiu entre as minhas pernas, me penetrando facilmente com
seu pau todo.
Me perdi nos braços famintos dos meus homens, me
agarrando, me empurrando e me puxando por todos os lados.
Enquanto Jordan fodia minha boca, Taylor apertava meus
peitos e chupava meus mamilos com a velocidade e
intensidade perfeitas. Então Jordan empurrou minha cabeça
para o lado e me fez chupar o pau de Taylor por alguns
segundos. Eu aceitei com entusiasmo e ansiedade, me
rendendo aos movimentos impensados dos nossos corpos na
cama.
Meu orgasmo veio de repente e poderoso. Uma sensação
de tremor que invadiu meu corpo todo. Me fixei no pau de
Derek, ordenhando-o enquanto ele também gozava, acelerando
à medida em que eu gritava de prazer.
Com os três homens ao meu redor a consciência de que
eu estava fazendo sexo em grupo, meu clímax se estendeu.
Ondas e ondas de prazer arrebatavam meu corpo com a mesma
força que a vara de Derek. Arqueei as costas e gemi em volta
do pau de Taylor, então em volta do pau de Jordan, e então
Taylor… eles se revezavam para foder minha boca.
Finalmente, senti Taylor tremer. Seus dedos se cravaram
na minha nuca, e na minha bochecha, ele parecia se agarrar a
qualquer coisa enquanto retumbava num orgasmo. Mantive os
lábios apertados em volta do seu pau quando ele explodiu na
minha garganta, jorrando seu leite, pulsando sem parar. Engoli
tudo, agarrando sua vara com a mão, querendo espremer até a
última gota da sua rola dura.
“Meu Deus”, Derek disse enquanto se enfiava
profundamente na minha boceta. Sua mão segurava meu peito,
o apertando com tanto desejo que eu estava no limiar entre o
prazer e a dor. “Clara! Clara!”
Um novo jato de prazer invadiu minha espinha feito
eletricidade quando Derek gozou dentro de mim. Seu rugido
de êxtase foi tão alto que eu quase não senti Jordan me
escalando e enchendo meu peito com seu leite quente.
Os olhos de Jordan penetraram os meus, intensos e
cheios de luxúria e amor enquanto ele espalhava seu sêmen
pelos meus seios. Eu senti os jatos em todas as partes, do
pescoço aos ombros. Taylor finalmente tirou o pau da minha
boca e se afastou para que Jordan enfiasse a cabeça do seu pau
na minha boca, me dando as gotas restantes do seu líquido do
amor.
Então nós quatro suspiramos, relaxamos e ficamos em
silêncio, largados estáticos na cama.

“Eu disse que podia compartilhar.”


Derek estava sentado na cama, com as costas na
cabeceira. Eu estava esticada entre suas pernas, minha cabeça
descansava no seu peito enquanto ele acariciava meus cabelos
gentilmente. Jordan e Taylor estavam um de cada lado, suas
cabeças nas minhas coxas, acariciando minhas pernas com as
pontas dos dedos.
Eu posso me acostumar com isso, pensei.
“Estou muito feliz que você provou que eles estavam
errados”, eu disse.
Taylor suspirou alegremente. “Nunca duvidei, Chefe. Eu
só estava te provocando.”
“Eu tinha minhas dúvidas”, Jordan admitiu. “Mas já
sanei.”
“Sempre fico feliz em dar bom exemplo pros meus
companheiros”, Derek disse presunçosamente. “É uma das
vantagens de ser o líder.”
“Não foi muito… intenso pra você, foi?”, Taylor
perguntou. Demorei alguns segundos para entender do que ele
estava falando.
“Muito intenso?”, eu ri. “Foi exatamente na medida
certa. Eu gosto de estar com vocês três ao mesmo tempo.”
“Faz sentido”, Derek perguntou. “Mais pintos, mais
mãos, mais lábios.”
Virei a cabeça para beijá-lo gentilmente. “É mais do que
quantidade. Vocês três agem diferente quando estão juntos.
Como se estivessem competindo.”
“Desculpa”, disse Jordan. “Fui impulsionado pelo
instinto e– ”
“Não!”, o interrompi. “Não peça desculpas. Foi
maravilhoso. Faça isso mais vezes, por favor.”
Nós todos rimos.
“Só estou surpresa de o bebê não ter acordado”, eu disse,
“por causa das paredes finas…”
Senti que Derek assentia por trás de mim. “Ele tem
dormido mais pesado nas últimas semanas. Acho que em
breve ele não vai mais acordar durante a noite.”
“Uma noite toda dormindo? Todas as noites?”, suspirei.
“Parece ficção!”
“O trabalho de pai não é fácil”, Derek disse. “Mas eu não
trocaria aquele garotinho por nada nesse mundo.”
“Um brinde a isso”, eu disse. “Ei, estou pensando. Vocês
estão de folga amanhã. Querem assistir aquele filme novo,
com o James Maslow?”
“Comédia romântica?”, Taylor perguntou. “Eu vi o
trailer um dia desses.”
“Não precisa dizer mais nada. Tô dentro”, disse Jordan.
Taylor resmungou. “Você nem sabe sobre o que é.”
“Comédia romântica. Minha garota favorita. O que mais
eu preciso saber?”
Me inclinei e o beijei no topo da cabeça. “Então é um
encontro.”
“Vocês se importam se eu for com vocês?”, Taylor
perguntou. “Faz muito tempo que não vou ao cinema e não
tenho aula amanhã.”
“Quem disse que queremos sua companhia?”, Jordan
perguntou.
Taylor se virou e olhou para ele. “Cara, passamos a
última hora compartilhando coisas mais íntimas. Um filme não
é nada perto disso.”
“Cuidado, Jordan fala enquanto assiste filme”, alertei,
“ele gosta de comentar todas as cenas.”
“Sem problemas, estou acostumado a mandá-lo calar a
boca.”
Jordan deu um tapinha em Taylor.
Atrás de mim, Derek se intrometeu. “Hm, posso ir
junto?”
Nós três olhamos para ele. “Sério, Chefe?”, Taylor
perguntou.
Derek deu de ombros. “Claro. Por que eu não iria?”
“E o bebê?”, perguntei.
“Eu encontro alguém pra cuidar. Quanto você acha que
sua mãe cobra?”
Me engasguei. “Você está brincando? Ela pagaria pelo
privilégio de cuidar dele por uma noite. Ela já trata Anthony
como se fosse meu próprio filho.”
“Ele meio que é”, Derek pontuou. “Talvez não
oficialmente. Mas na realidade? Você passou mais tempo com
ele do que eu.”
Sorri. Parecia mesmo que ele era meu filho. Uma voz no
fundo da minha mente me dizia que era uma ideia péssima.
Que eu não podia me apegar tanto a Anthony para o caso de
Derek e eu nos separarmos.
Mas eu rapidamente calei aquela voz. Eu estava muito
feliz para me preocupar com esse tipo de coisa no momento.
Às vezes, uma garota só quer viver o presente.
Taylor procurou pelo horário do filme no telefone. “Tem
uma sessão às oito horas.”
“Oito é muito tarde”, disse Derek, “pode ser mais cedo?”
“Jesus, vovô”, Taylor provocou, “quer fazer uma reserva
no restaurante pra três da tarde também?”
“Eu posso facilmente te chutar da minha casa”, Derek
respondeu.
“Desculpa, desculpa”, disse Taylor, “vou me comportar.
Eu gosto mais de ficar aqui do que no dormitório.”
“Tem outra sessão às seis”, Jordan disse, “eles servem
jantar no cinema, então podemos comer por lá.”
“A comida nunca é boa nesses lugares”, disse Derek.
“Por mim tudo bem!”, eu disse. “Como qualquer coisa.”
Jordan riu. “Reformulando sua frase: você coloca
qualquer coisa na boca?”
Dei uma cotoveladinha nele. “Só por isso, você não vai
colocar nada nessa boca por uma semana.”
Ele se virou e sorriu para mim. “E se eu me oferecer pra
colocar suas coisas na minha boca?”
“Qual é sua proposta?”
Bebê Anthony escolheu aquele momento para começar a
chorar. Me levantei da cama rapidamente e agarrei o robe de
Derek no banheiro. Era muito grande para mim, mas eu não
me importava porque era macio e quente.
“Vocês decidem o horário, vou cuidar do bebê.”
Eles continuaram argumentando sobre aquilo enquanto
caminhei até o quarto do bebê. Peguei Anthony no colo e
verifiquei sua fralda. Estava molhada. Eu o coloquei no
trocador para iniciar os trabalhos.
“Você sabia que seu nome é uma homenagem ao meu
pai?”, eu disse suavemente. Anthony chacoalhava suas
perninhas me encarando.
“Seu nome era Anthony. Anthony Allessandro Ricci. Ele
era um homem gentil e amoroso. Amigo de todo mundo que
entrava no seu restaurante. Incluindo sua mãe! Sua mãe
biológica. Antes de Derek te adotar. E aqui está você!”
Bem no fundo eu sabia que coincidências existiam. Nem
tudo tinha que ser um sinal. Talvez Anthony fosse só uma
coincidência dentre muitas naquela cidadezinha perto de
Fresno. Coisas muito mais malucas aconteciam pelo mundo
todos os dias.
Independente de como nossas vidas se cruzaram, eu
estava tão feliz por Anthony fazer parte da minha. Porque,
enquanto eu o tivesse, eu sentia que tinha um propósito maior.
Uma razão para acordar de manhã além de saber que eu
precisava ir para o restaurante trabalhar.
E meus três bombeiros, pensei enquanto adesivava a
fralda limpa e levantava o bebê nos meus braços. Eu tenho os
três me esperando todos os dias.
Fosse coincidência ou um sinal sobrenatural de verdade,
eu não me importava. Eu só me importava com o fato de que
minha vida tinha mudado para melhor.
Epílogo

Taylor
Um ano depois

“Travessuras ou gostosuras!”, as crianças gritaram na


varanda.
Sorri para eles. Eu amava crianças. Sempre tinha amado.
Era uma das coisas legais de ser bombeiro. As crianças me
admiravam. Tanto o quartel de Riverville quanto o de Fresno
recebiam muitas excursões escolares. Vestindo nossos
uniformes, explicávamos a importância de segurança contra
incêndio. Parar, soltar e rolar. Dirigíamos o caminhão de
bombeiro com as crianças dentro, apertando a buzina. Eles
enlouqueciam.
Então sim, eu sempre amei crianças. Mas eu as amava
ainda mais agora que tínhamos Anthony. Ele me deu uma nova
noção sobre a ideia toda, sabe?
“Que fantasias maneiras!”, eu disse com entusiasmo.
Nem precisei exagerar. “Vamos ver. Uma aranha, um fantasma
e o Homem-Aranha”, eu e a garota que usava a terceira
fantasia trocamos um soquinho. “Você é uma das minhas
colegas, sabia?”
Ela me olhou espantada. “Sou?”
Mostrei a ela minha própria fantasia, segurando meu
martelo feito de papel machê. “Eu sou Thor! Especificamente
Thor de cabelos curtos em Ragnarok. Thor e Homem-Aranha
são colegas Vingadores.”
“Thor?”, ela perguntou.
“Você precisa assistir os filmes da Marvel”, eu disse.
“Mas na ordem cronológica, não na ordem de lançamento. É
muito melhor”, parei. “Espera. Quantos anos você tem?”
A garotinha Homem-Aranha me mostrou oito dedos,
quatro em cada mão.
“Ok, talvez você ainda seja muito nova pra esses filmes.
Mas em mais ou menos uns seis anos você vai amar. Acredite.
Ok. Quem quer guloseimas?”
Riverville não era uma cidade grande, mas ainda assim,
várias crianças e adolescentes saíam à caça de doces no Dia
das Bruxas. E mesmo que a casa de Derek fosse mais afastada,
muitos deles vinham bater à porta.
Isso provavelmente ajudou a espalhar a palavra dos
nossos doces tamanho família. Aquilo deixava as crianças em
chamas.
Depois de entregar os doces, me despedi e fechei a porta.
Derek estava parado do lado de dentro, me olhando com
impaciência.
“O quê?”
“Uma garotinha de oito anos não pode assistir filmes da
Marvel”, ele disse.
“Ei. Ela estava vestida de Homem-Aranha. Eu só estava
puxando assunto”, gesticulei. “Além disso, é você quem tem
que recrutá-la, Capitão.”
Derek vestia um macacão azul e carregava o escudo
circular do Capitão América. Ele nunca tinha visto nenhum
dos filmes e torcia o nariz para coisas de super-heróis. Mas
como nós todos escolhemos o mesmo tema, ele não quis ficar
de fora.
Clara apareceu do seu lado, usando sua fantasia de Viúva
Negra. Um macacão que acentuava suas curvas tão
maravilhosamente que eu continuamente tinha que desviar os
olhos. Aqui vai uma dica: é impossível esconder uma ereção
usando shorts de ginástica.
“Deixe o Capitão América em paz”, ela disse, enlaçando
o braço de Derek com o seu. “Ele tem oitenta anos. Respeite
os octogenários.”
Derek resmungou. “Capitão América não é velho assim.
É aquele ator jovem que faz o papel.”
“Chris Evans”, eu disse. “E ele é sim velho. Ele foi
congelado. Você não o viu lutando contra os nazistas?”
“Eu não vi Capitão América fazendo nada, a não ser
propagandas de TV”, Derek resmungou. “Eu não deixaria
você escolher essa fantasia se soubesse que ele era tão velho.”
“Escolhemos esse personagem porque você é o Capitão,
não porque você é velho”, Clara o beijou na bochecha. “Não
seja tão sensível.”
De repente, Maurice, o cunhado de Clara, apareceu no
cômodo. Ele carregava seu filho, LeBron, no colo. “Eu gosto
de homens sensíveis. Acho que equilíbrio é tudo. Um exterior
forte e musculoso e um interior sentimental e sensível…”, ele
estremeceu suavemente.
Jason, irmão de Clara – marido de Maurice – colocou um
braço em torno dele. “Ok, acho que você já bebeu ponche
demais.”
“Qual é o problema em dizer a um bombeiro bonitão que
ele é bonitão, musculoso e uma delícia?”, Maurice perguntou.
“Não é segredo para ninguém”, ele se virou para mim. “Você
tem um uniforme extra para emprestar pro meu marido?
Precisamos disso pra uma coisa.”
Jason grunhiu e rolou os olhos. “Acho que já passou da
hora de LeBron ir pra cama.”
“Qual LeBron?”, Maurice apontou para a própria
fantasia. “Sou o LeBron dos Cavaliers”, ele balançou a criança
no seu colo. “Este é o LeBron dos Lakers. E você é o LeBron
do Miami Heat.”
“Vocês dois, LeBrons”, Jason respondeu. “Foi bom ver
vocês todos. Clara, nos acompanha até a porta?”
Apertei a mão de Jason – e aceitei um abraço longo de
Maurice – antes deles saírem da sala.
“Você não precisa que eu use um uniforme de
bombeiro”, Jason disse ao marido. “Se você se comportar, uso
meu uniforme branco da marinha hoje.”
A última coisa que ouvi foi Clara resmungando e
pedindo ao irmão para não falar sobre sua vida sexual na sua
frente.
O ano tinha passado rápido. Primeiro, o novo emprego
em Fresno e a adaptação a uma nova rotina e uma nova escala.
Antes que nos déssemos conta, já era maio e eu estava me
formando na faculdade. Minha família toda veio e eu
finalmente os apresentei a Clara.
Eu tinha namorado sério antes, mas ninguém como ela.
Ela era a primeira de quem eu gostava o suficiente para
apresentar para a minha família. E ela encarou tudo com
charme, graça, conquistando todo mundo – incluindo minha
mãe. É claro que não tínhamos contado a eles sobre nosso
acordo com Derek e Jordan, mas eles não precisavam saber.
Depois da formatura, fui promovido de bombeiro
probatório a bombeiro efetivo. Era meramente uma distinção,
mas fiquei muito honrado. Significava que eu era um
bombeiro de verdade, e não mais um recruta.
Derek me deixou ficar no seu apartamento até eu
encontrar algo permanente. Aquilo tinha começado cinco
meses antes e eu ainda estava na casa enorme de Derek. Tudo
estava funcionando tão bem para nós quatro. Não estávamos
mais brincando de casinha. Aquilo se tornava cada vez mais
real. O closet da suíte master era vagarosamente tomado pelas
roupas de Clara.
Era como gostávamos daquilo. Estávamos mais felizes
juntos, por mais estranho que parecesse.
Terminei de distribuir doces e voltei para dentro para
ajudar a colocar bebê Anthony na cama. Ele estava mais para
o pequeno Anthony naquele momento: ele pesava onze quilos
e ele estava crescendo rápido. Seu cabelo preto estava mais
denso e ele tinha começado a andar no mês anterior. Ele tinha
se tornado uma máquina de caminhar, vagando pela casa no
primeiro sinal de distração.
Nós quatro passávamos pelo ritual de colocá-lo na cama
juntos. Vestíamos seu pijama e nos alternávamos beijando-o
no berço. Mas eu tinha minha própria rotina. Depois que todos
iam para o andar de baixo, eu escorregava até o quarto dele e
me curvava sobre o berço. Anthony sorria para mim com
alegria.
“Taylor”, eu sussurrava para ele, enunciando
cuidadosamente. “Tay-lor. Tay-lor. Taylor. Você consegue
dizer Taylor?”
Anthony já estava balbuciando fazia alguns meses, mas
ainda não tinha dito sua primeira palavra real. E eu estava
determinado a ensiná-lo a dizer Taylor. Claro, era mais
complexo do que mama ou papa. Mas eu estava determinado,
caralho.
“Talvez amanhã”, dei um beijo final na sua cabeça.
“Fique tranquilo, carinha.”
Eu dei um soquinho na mãozinha fechada dele – uma das
primeiras coisas que eu ensinei logo que ele começou a andar!
– e o deixei sozinho para dormir.
“Quanto de doce ainda temos?”, perguntei quando
cheguei no andar de baixo. Os outros estavam no sofá, mas a
TV estava desligada. “O jogo dos Giants ainda está
passando?”, perguntei.
“Na verdade, temos uma surpresa diferente”, disse
Jordan. Vestido de Hulk, ele estava coberto de tinta verde, a
não ser o rosto, a pintura já tinha saído quase toda.
“Surpresa?”, perguntei.
Jordan apontou o controle para a TV. Um filme
começou, o leão rugiu quando a logo da MGM apareceu na
tela. A cena de abertura era uma floresta nebulosa ao som de
violinos.
“O que nós…”, parei quando vi os nomes na tela: JODIE
FOSTER, ANTHONY HOPKINS.
“Não…”
Clara irrompeu em um ataque de risos. “Sim!”
“Não vamos assistir O silêncio dos inocentes!”
Derek me pegou pelo ombro e me colocou no sofá. “É
hora de virar um homem, Taylor.”
Clara esticou o braço e entrelaçou os dedos nos meus.
“Eu seguro sua mão o tempo todo.”
Jordan se sentou na poltrona do meu lado direito com um
pote de pipoca. “Todos prontos?”
Derek estava vagando pela cozinha. “Podem começar, só
vou checar o correio. Ei, Clara, você recebeu uma carta.
Do…”, ele pausou. “Departamento de Serviço Social da
Flórida?”
Clara saltou do sofá. “Oh! Me dê! Me dê!”, ela tomou a
carta da mão de Derek. “Tenho algo a dizer. Pra todos vocês.”
Peguei o controle da mesa de centro e pausei o filme.
“Oba! Uma distração!”
“Clara?”, Derek perguntou. “O que é isso?”
Ela pegou a mão de Derek e o guiou até o sofá. “Este
último ano foi maravilhoso. Criar Anthony com vocês. Com
vocês três”, ela acenou para mim e então para Jordan. “É como
uma grande e feliz família. Nós funcionamos muito bem
juntos.”
“Sim”, concordei.
“Nunca achei que fosse ser tão feliz”, Jordan disse.
“O que diz a carta, Clara?”, Derek perguntou.
Ela a segurou no alto, ainda fechada. “Nos inscrevi para
o programa de pais temporários.”
Derek se engasgou. “O quê?”
“Pensei muito nisso”, ela explicou com pressa. “Vocês
todos sabem que eu quero ter uma família em algum momento.
Não é segredo.”
Um sentimento quente se espalhou pelo meu peito como
uma flor desabrochando no sol. Eu me sentia daquele jeito
sempre que Clara falava sobre ter filhos, porque eu queria a
mesma coisa. O último ano me fez ter certeza absoluta de que
eu queria meus próprios filhos. E eu suspeitava que Jordan e
Derek se sentiam da mesma forma.
“Mas há tantas crianças precisando de amparo por aí”,
Clara continuou. “Liguei pra a sua irmã semana passada.
Atualmente, há cerca de oitocentas crianças esperando por um
lar temporário na Califórnia. Não podemos ajudar todas elas,
mas podemos ajudar algumas. Assim, evitamos os lares
temporários lotados. Evitamos que crianças tenham o destino
que temíamos por Anthony.”
Ela segurou a bochecha de Derek. “Evitamos
experiências como a que você teve quando criança.”
Eu nunca tinha visto Derek Dahlkemper chorar antes. A
mera ideia me parecia insana, como se alguém me contasse
que bolos de chocolate eram feitos de terra. Mas naquele
momento, lágrimas jorravam dos seus olhos e ele ficou parado
imóvel, encarando Clara.
“Você faria isso?” ele perguntou. “Ser uma mãe
temporária pra crianças que precisam?”
“Claro que sim”, ela respondeu gentilmente. “Desde que
você seja o pai temporário comigo”, ela olhou para mim. “E
Taylor e Jordan também.”
Jordan e eu nos entreolhamos. Nós dois sabíamos que
estávamos em sintonia. “É claro que sim”, Jordan disse.
Soltei o “É isso aí!”, mais entusiasmado que pude.
Nós quatro nos abraçamos no sofá. Derek não soluçou
ativamente, mas lágrimas corriam pelas suas bochechas e ele
não conseguia mais falar. Ele apenas sorriu e abraçou Clara.
Ela era a personificação de uma boa mulher. A
habilidade de despertar o melhor em um homem, além de
trazer à tona suas partes mais sensíveis e vulneráveis. Dei uma
batidinha nas costas de Derek e abracei Clara apertado.
“Não precisamos ser casados pra sermos pais
temporários?”, Jordan perguntou.
“Ei, vamos com calma”, Clara respondeu gargalhando.
Jordan deu um sorrisinho. “Podemos cuidar de crianças
juntos, mas discutir casamento é um pouco demais?”
Era uma piada recorrente entre nós todos. Como um
grupo poliamoroso como o nosso leva as coisas pro próximo
nível? O sistema legal não reconhece uma mulher casada com
três homens.
“Respondeu esta questão: não!”, Clara disse felizmente.
“Casais que não são casados também podem ser pais
temporários, desde que cumpram os outros requisitos e passem
pela inspeção. Na verdade, é bem comum, especialmente pra
casais que estão juntos por mais de um ano. Se formos
aprovados, podemos cuidar de crianças temporariamente.”
“E então?”, Derek finalmente disse com a voz
engasgada. “Abra a porra da carta!”
Dava para ouvir uma agulha cair no chão quando Clara
abriu a carta e leu. Lágrimas jorravam dos seus olhos. Por um
breve momento eu fiquei aterrorizado com a possibilidade de
serem lágrimas de decepção.
Mas então ela sorriu e acenou e nós nos abraçamos de
novo.
Eu ainda queria ter meus próprios filhos com Clara. Era
ela, um fato que eu sabia com muita certeza no fundo do meu
coração. Mas ainda era muito cedo e não tínhamos pressa.
Para o momento, eu aceitava o fato de poder compartilhar
filhos temporários com ela. Crianças desesperadas por uma
família carinhosa e amorosa.
Clara estava se debulhando em lágrimas quando ela
disse, “como vamos conseguir assistir um filme de terror
agora?”
Aproveitei o comentário para completar: “Tem razão!
Vamos assistir ao jogo dos Giants!”
Derek agarrou o controle remoto e apertou o play. “Você
não vai se livrar disso tão fácil.”
Nos sentamos no sofá para assistir ao filme. “Hannibal, o
canibal”, sussurrei. “Que nome idiota pra um personagem.”
“Cale a boca”, disse Clara, apertando minha mão. Mas
ela disse isso com um sorriso enquanto seus olhos me diziam
eu te amo.
Também te amo, eu disse com os olhos enquanto nos
aninhamos juntos para assistir ao filme.
Cena Bônus

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Heather

Não tínhamos sido pegos. Não ainda.


“Você tem certeza de que é uma boa ideia?”, Maurice
sussurrou perto de mim.
“Sim!”, murmurei. “Cale a boca e aja naturalmente.
Ênfase no aja.”
Estávamos no andar superior da Crypto.com Arena, e o
som dos dribles com a bola de basquete e os guinchos dos
tênis enchiam o ar. Os Los Angeles Lakers estavam jogando
contra os Milwaukee Bucks, mas não conseguíamos ver muito
dos nossos assentos. Nossos ingressos eram para a última fila,
tão no alto que nós podíamos praticamente esticar o braço e
tocar o teto.
Certo, eram ingressos grátis que ganhamos do nosso
professor, Sr. Howard. Deveríamos ter ficado contentes com
qualquer lugar. Eu já morava em Los Angeles faziam três anos
e até então não tinha ido a nenhum tipo de evento esportivo.
Era difícil para uma aspirante a atriz que mal conseguia pagar
as contas. Então agora que eu estava ali, eu queria realmente
ver o jogo. E nós não conseguíamos ali da última fila.
Queríamos chegar mais perto.
Bem, eu deveria dizer que eu queria chegar mais perto.
Maurice, meu melhor amigo, estava relutante.
“Não vale o risco”, ele sussurrou.
Fiz um sinal com as mãos para ele parar enquanto
observava os funcionários da Arena no outro andar. “Vai dar
tudo certo.”
“Heather, você não está me ouvindo”, insistiu Maurice.
Como um ator, ele tinha uma forma de enunciar cada sílaba.
“Eu não posso ser preso. Mesmo. Não tenho dinheiro para a
fiança. Só o bilhete do metrô até aqui levou embora metade do
saldo que eu tinha em conta.”
“Não vamos ser presos”, eu disse, impacientemente. “Se
formos pegos, fingimos que estamos perdidos. O máximo que
eles podem fazer é nos expulsar do ginásio.”
“Você não pode ter certeza”, ele suspirou. “Quero chegar
mais perto da quadra tanto quanto você, mas…”
“Na vida, você nem sempre consegue o que quer”, disse
a ele. “Você só consegue as coisas pelas quais luta.”
Era uma das frases que meu pai sempre dizia, que
acabou ficando guardada na minha cabeça. Sempre tentei viver
daquele jeito. Era o que havia me trazido tão longe.
Segurei o rosto de Maurice pelas bochechas e olhei nos
seus olhos. “Você confia em mim?”
“De jeito nenhum”, ele respondeu, dando uma
gargalhada.
“Bom, finge que confia então. Vou nos fazer chegar mais
perto do jogo. E, com sorte, descolar petiscos e bebidas.”
O design da Crypto.com Arena era como o da maioria
dos estádios modernos. Havia um andar térreo que dava acesso
aos assentos mais próximos da quadra. E um andar superior
que dava aos assentos mais altos – onde eram os nossos, e
onde estávamos de pé naquele momento.
Mas havia um andar intermediário entre os dois. Era lá
que ficavam os lugares mais caros. Aquele andar só podia ser
acessado pela escada rolante e funcionários guardavam a porta
o tempo todo para verificar os ingressos.
Dos nossos lugares, no andar superior, dava para ver a
escada rolante que dava no andar das tribunas. Dois
funcionários de calças amarelas e camisas roxas – as cores
dos Lakers – estavam guiando as pessoas de forma educada,
porém firme para os assentos baratos.
“O que estamos fazendo?”, sussurrou Maurice.
“Esperando pela funcionária certa”, eu disse. “Quando
chegamos aqui, havia mais alguém ali. Uma senhorinha mais
velha. Ela parecia mais amistosa do que os dois que estão ali
agora. Acho que eles se revezam.”
“Estamos parados aqui há dez minutos”, Maurice
reclamou. “Estou perdendo o LeBron. Aposto que ele já está
todo suado agora. Imagine isso, Heather, os músculos de
LeBron brilhando com as luzes dos holofotes enquanto ele
enterra uma bola…”
“Você pode cobiçar seu namorado do andar das
tribunas”, eu disse. “Você vai poder realmente vê-lo de lá.”
“Não se nunca chegarmos lá.”
Levantei uma mão. “Xiu, vai começar a troca.”
Logo abaixo, a funcionária de cabelo grisalho que eu
tinha visto antes se aproximou e tocou no ombro de um dos
outros dois. Eles trocaram algumas palavras e então a Vovó –
era como eu estava chamando na minha cabeça – assumiu seu
posto de verificadora de ingressos.
“Luzes, câmera, ação”, eu disse, pegando meu celular.
“Venha, vamos tirar uma selfie.”
Maurice franziu o cenho enquanto eu segurava o
telefone. “Por que estamos tirando uma selfie bem agora?”
“Apenas confie em mim. E sorria.”
Maurice estava vestindo um terno para o jogo, porque é
óbvio que sim. Ele nunca saía de casa vestindo menos que
esporte fino. Eu estava usando meu vestido favorito, azul com
um decote profundo e a cintura marcada. Completando meu
visual, uma aliança de noivado com um diamante pomposo
brilhava no terceiro dedo da minha mão esquerda. Era falsa, só
um adereço da aula de interpretação do Sr. Howard, mas
parecia real o suficiente. Posicionei minha mão no peito
enquanto tirava a selfie para assegurar que a aliança estava
bem visível.
Depois de tirar a foto, vaguei próximo ao gradil acima
dos funcionários. O andar superior continuava ao longo da
parede externa da arena, com vista para as tribunas logo
abaixo. Elas não estavam lotadas. Na verdade, depois de
caminhar por uns seis metros naquela área observando os
funcionários, não vi ninguém abaixo de nós. Todo mundo
estava dentro de sua respectiva tribuna assistindo ao jogo.
Eu estava a pelo menos 15 metros de altura. Muito longe
para pular, mas não tão longe para um pequeno objeto de
metal…
Tirei a aliança do meu dedo, coloquei-a sobre o gradil e a
deixei cair. Após um longo momento de silêncio, a aliança
tilintou no andar de baixo, desaparecendo da vista.
“O que você está fazendo?”, Maurice sibilou. “Se o Sr.
Howard descobre que você perdeu um dos seus adereços…”
“Ele nem sabe que peguei emprestado”, respondi.
“O QUÊ!”, Maurice deixou escapar. Ele chacoalhou sua
cabeça devagar e disse, “Você perdeu o juízo. Estou
conversando com uma pessoa louca. Do tipo que deveria ser
levada para um hospício em uma camisa de força.”
Agarrei a mão dele. “Confie em mim. Tenho um plano.
Siga-me.”
Eu o guiei até a escada rolante. Maurice estava inquieto
enquanto descemos um andar. Assim que nos aproximamos do
andar das tribunas, Vovó e a outra funcionária olharam para
nós. Nos avaliando e se preparando para nos despachar para a
outra escada rolante que nos carregaria para o andar de baixo.
Fechei meus olhos e inspirei profundamente, como sempre
fazia antes de entrar em um personagem.
Na vida, você nem sempre consegue o que quer. Eu disse
a mim mesma. Você só consegue as coisas pelas quais luta.
“Com licença!”, eu disse para a Vovó. “Você pode nos
ajudar, por favor?”
Ela gesticulou. “A entrada geral é por ali, aqui é só para
–”
“Estamos na tribuna dezessete”, eu disse, com a voz
pomposa. “A comida estava simplesmente medíocre. Sem
opções veganas ou sem glúten. Inaceitável, especialmente
vindo de MacKenzie Scott, entre tanta gente! Você consegue
imaginar? Eu esperava este tipo de tratamento vindo do seu
ex-marido Jeff, mas MacKenzie sempre teve bom gosto.”
Vovó piscou confusa na nossa direção. “Hmm…”
Coloquei meu braço em volta de Maurice e o pousei em
seu ombro. “Então meu maravilhoso noivo e eu fomos
procurar opções aceitáveis para comer. Percorremos este lugar
de cima a baixo – honestamente, é como um labirinto. Juro
que meus sapatos Stuart Weitzman estão gastos de tanto
andar.”
Aqueles eram, na verdade, sapatos de dez dólares da JC
Penny, mas eu esperava que Vovó não notasse a diferença.
“Felizmente, meu noivo – ” (Me certifiquei de enfatizar
a palavra dessa vez) “ – encontrou opções vegetarianas no
andar de cima. Rolinhos primavera com repolho orgânico de
produção local, obviamente. Simplesmente delicioso e melhor
do que eu esperava neste lugar.”
Os olhos de Vovó vasculharam minha mão. “Como ele
pode ser seu noivo se você nem tem uma aliança?”
“Você é muito observadora!”, me emocionei. “Este é
precisamente o problema. Eu estava tão aborrecida com as
opções de comida que minha aliança deve ter escorregado do
meu dedo quando saímos da tribuna! Você pode imaginar?
Perder uma aliança de noivado uma semana após o pedido?”
A outra funcionária, muito austera, não estava
acreditando em nada daquilo. “Posso ver seus ingressos para a
tribuna, por favor?”
“Os deixamos lá dentro”, eu disse. “Corremos para fora
sem pensar…”
Maurice colocou seu braço em volta de mim e
finalmente entrou no jogo. Ele era devagar na improvisação,
mas era um ator excelente.
“É minha culpa por não ter ajustado o tamanho da
aliança corretamente”, ele disse, com a voz cheia de medo e
arrependimento. “Eu sabia que deveria tê-la levado para
ajustar assim que ela aceitou se casar comigo, mas a Tiffany
não tinha horário disponível até o próximo mês! Simplesmente
precisamos encontrar a aliança. São seis quilates, então vai ser
fácil de achar”, ele levantou uma palma, confiante. “Não que
pudesse ser um problema comprar outra. Meu pai tem uma
mina de diamante em Serra Leoa. Mas é uma questão de
princípios!”
“Querido, não se culpe”, eu disse, acariciando sua
bochecha. Então me virei para Vovó e disse, “acho que
perdemos a aliança por ali. Se você puder nos ajudar a
verificar, tenho certeza de que podemos encontrá-la
rapidamente…”
Vovó olhou para a outra funcionária. Por um momento
pensei que elas não fossem nos deixar ir. Naquele caso, eu
teria que explicar ao Sr. Howard como perdi a aliança.
“Vou com você”, a outra funcionária disse. Não Vovó –
a de cara austera. “Mas se não houver aliança nenhuma, vou
chamar os seguranças.”
“Se não houver aliança nenhuma”, eu disse
dramaticamente, “você vai ter que chamar a funerária –
porque vou me jogar deste andar de angústia!”
A funcionária revirou os olhos e nos guiou até as
tribunas de honra. Diferente das áreas superior e inferior, este
andar estava praticamente deserto. Todo mundo estava dentro
das cabines.
“Paramos aqui para olhar o mapa”, eu disse, apontando.
“Eu estava mexendo na aliança, por pura inquietação. Devo tê-
la deixado cair ali.”
A funcionária olhou em volta. “Não vejo nenhuma
aliança.”
“Deve estar aqui em algum lugar…”, entrei em pânico
enquanto procurava. A funcionária era mais durona do que
Vovó. O truque não ia funcionar com ela. E a aliança não
estava em lugar nenhum, o que significava que alguém já
deveria tê-la encontrado.
“Não vejo nada”, a funcionária repetiu. “Deve ter sido
encontrada, posso te acompanhar até o setor de Achados e
Perdidos…”
“Ali!”, Maurice disse com um alívio genuíno. Ele
apontou para a quina da parede. “Estou vendo. Bem onde a
parede se encontra com o chão…”
A funcionária foi mais rápida do que nós. Ela levantou a
aliança, olhos arregalados para o tamanho do diamante. Ela
nos olhou, então olhou de volta para a aliança, perplexa.
“Muito obrigada”, eu disse, esticando a mão.
Ele ia me entregar, então mudou de ideia. “Como eu vou
saber se é sua?”, ela perguntou. “Você pode ter visto alguém
deixar cair e está tentando roubá-la.”
Sorri e peguei meu telefone. “Tenho certeza de que tenho
uma foto aqui, deixe-me ver… Ah, sim. Aqui está.”, virei o
telefone para mostrar a ela a selfie que tínhamos tirado antes.
“Não fica maravilhosa em mim? Maurice insistiu que seis
quilates eram muita coisa, mas os homens não sabem de
nada.”
Enquanto ela apertava os olhos para a tela, dei um olhar
de eu te disse para Maurice.
O rosto austero da funcionária foi substituído por um
sorriso caloroso. “Madame, vou ser honesta. Pensei que vocês
dois estavam inventando isso tudo só para entrar. Dei corda só
porque esse trabalho é um tédio e eu queria uma distração.
Mas posso ver que vocês estavam falando a verdade. Me
desculpe por ter duvidado.”
“Não precisa se desculpar!”, eu disse. “Estou apenas
muito feliz por ter encontrado minha aliança.”
“É realmente uma beleza”, ela apertou os olhos para ler.
“O que a gravação dentro significa?”
Merda. Eu não sabia que tinha alguma coisa escrita na
aliança. Eu tinha usado o acessório para diferentes esquetes,
mas nunca tinha olhado tão de perto.
“Ah”, eu disse. “Bom, a gravação…”
“Está escrito verum, que é a palavra em latim para seja
verdadeiro,” Maurice disse suavemente. “Quando finalmente
nos unirmos em matrimônio, minha aliança terá os mesmos
dizeres.”
A funcionária sorriu e finalmente me entregou a aliança.
“Ah, que meigo.”
“Obrigada…”, olhei para seu crachá. “… Lisa. Me
certificarei de mencionar como você foi prestativa da próxima
vez que encontrar Jeanie.”
Ela franziu a testa. “Jeanie?”
“Jeanie Buss”, eu disse improvisando. “A proprietária
majoritária dos Lakers, obviamente.”
Ela encolheu os ombros timidamente: “Ah, você não
precisa fazer isso. Aproveitem o resto do jogo e certifiquem-se
de ficar com seus ingressos da próxima vez”, e se afastou.
Abracei Maurice. “Ah, obrigada, querido! Eu não sei o
que faria se tivesse perdido a aliança…”
Maurice murmurou, “Ela já foi. Pode parar com o
teatro.”
Eu ri e respondi, “eu te disse que funcionaria! Aprenda a
lição: sempre confie em Heather Hart.”
“Só funcionou porque lembrei da inscrição no anel.”
Olhei para ele de lado. “Sim, como você sabia disso?”
Ele bufou. “Você não é a única que gosta de pegar
adereços emprestados do Sr. Howard. Às vezes eu também
gosto de ficar bonito.”
Peguei sua mão e o guiei até o andar das tribunas. “Mina
de diamantes em Serra Leoa, hein?”
“Você me disse pra entrar no jogo”, ele respondeu. “Se
somos ricos o suficiente para estar nas tribunas, precisamos de
um bom enredo.”
Abanei meu dedo adornado com o diamante. “Se sua
família fosse realmente dona de uma mina de diamantes, você
saberia que este só tem quatro quilates. Você disse à
funcionária que eram seis.”
Maurice revirou os olhos de novo. “Ok, James Bond.
Estamos no andar das cabines. O que fazemos agora?”
“Agora”, eu disse, “encontramos a suíte certa para nos
infiltrar.”

Uma babá para los Fuzileiros


Cassie Cole é uma escritora de Romances de Harém
Reverso que vive em Forth Worth, no Texas. Uma apaixonada
piegas de coração, acredita que romances são melhores com
um enredo picante!

Otros livros de Cassie Cole


(em Português)
Uma Babá Colorida
Tentação Tripla
Uma babá para os Fuzileiros
Uma babá para os Bombeiros

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(em Inglês)
Broken In
Drilled
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Shared by her Bodyguards
Saved by the SEALs
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Full Contact
Sealed With A Kiss
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Extra Credit
Hail Mary
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Frostbitten
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Nanny for the Billionaire
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