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Mariana

Helena

Uma
Mentirinha
de Nada






Copyright (©) 2017 by Mariana Helena


Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte
deste livro poderá ser transmitida ou reproduzida sem prévia autorização por escrito da
autora.
Esta é uma obra fictícia qualquer semelhança com pessoas reais vivas ou mortas é mera
coincidência.


Mariana Helena
Revisão: Daniele Muniz



Prólogo
Há muitos anos, uma doce menina que estava perto de completar seus 15 anos, a
idade que toda, ou pelo menos a maioria das garotas sonha, conheceu um jovem que tinha
mais ou menos sua idade. Ana não almejava uma festa com pompas e glamour, mas em
seu coração havia sonhos e desejos a serem realizados. O rapaz era educado e de boa
aparência, como diriam ela e suas amigas: um gatinho. Os olhos azuis feito o céu num dia
ensolarado despertaram na mocinha sentimentos até então desconhecidos.
Toda vez que o via, seu coração palpitava tanto que a fazia se lembrar de uma
música de Sandy e Junior, a tal do turu turu. Quando Diego passava, seu coração batia
forte e ela decorava os movimentos dele. Poderia estar escuro, que ainda assim, ela
reconhecia seu jeito de andar. Suas mãos suavam e as palavras lhe fugiam.
Para o garoto, não era diferente. Toda vez que a via, tinha vontade de correr até ela e
ao menos dizer um oi, mas a coragem sempre o deixava na mão, o que era frustrante.
Sempre que um olhava, o outro desviava o olhar, mas não antes de o sustentar por
alguns segundos, segundos esses que faziam o coração de ambos falhar várias batidas.
Eram suspiros de cá, como eram de lá, sorrisinhos de cá, sorrisinhos de lá, porém nenhum
dos dois tinha coragem de se apresentar.
Ao contrário do que achavam, algumas pessoas já haviam percebido a troca de
olhares entre os dois. E esse foi o motivo que levou Maria Eduarda — prima de Ana, que
conhecia o jovem em questão — a querer acabar com o problema da falta de coragem.
Como um bom cupido, Duda — como chamam os mais íntimos — combinou com
os dois, sem que soubessem, para assistirem um filme no cinema e claro que Duda deu um
bolo nos dois.
Ana estava preocupada, ligava para a prima que não a atendia. Mas com uma
mensagem de última hora, avisou que não estava se sentindo bem, mas que não se
preocupasse, pois havia mandado companhia.
A menina não entendeu a mensagem, mas ainda assim entrou no cinema, pois era
um filme muito esperado por ela.
Ao se aproximar da poltrona que Duda escolheu ao comprar os ingressos, notou que
alguém estava sentado no lugar que a prima havia escolhido para si e seu coração parou ao
perceber que a pessoa era o garoto que fazia seu coração falhar algumas batidas e sua
respiração ficar pesada sempre que o avistava.
Ana ficou parada feito uma estátua no meio do corredor, sem saber se sentava e
assistia ao filme ou corria de volta para casa. Mas foi Diego, em um impulso de coragem,
quem falou primeiro:
— Acho que este lugar está ocupado. — informou ele, meio sem graça. O que fez
Ana pensar e entender que era uma armação da prima. Ah, Duda me paga!
— Acho que não. — Ana mostrou o ingresso para Diego. — Esse lugar é realmente
meu. Você é quem está no lugar errado. — Diego olhou para ela sem entender. — Pois é,
acho que alguém passou a perna na gente.
— Como assim? — O rapaz ainda estava confuso.
— A pessoa que espera, por acaso, é Maria Eduarda? — Diego assentiu. —
Verifique seu celular. Deve ter uma mensagem aí pra você também. — Ana balançou o
próprio celular.
Diego olhou para a tela e então compreendeu o que havia acontecido. Duda já havia
notado que ele estava de olho na prima dela e quis facilitar. Tudo bem, essa é a minha
chance.
— Bem, acho que merecemos. — ele disse ao constatar o óbvio. — Eu sou Diego.
— Eu sou Ana Carolina.
Ele estendeu a mão para ela que a pegou, porém ao contrário do que Ana esperava
Diego não a apertou, mas a levou de encontro aos seus lábios e a beijou.
Sim, Ana Carolina se derreteu no mesmo instante pelo rapaz de 17 anos que acabara
de beijar sua mão. Qual menino, nessa idade teria uma atitude assim? Nenhum.
— Vai ficar nesse corredor feito estátua — Ele sorriu, o que deixou Ana ainda mais
desconcertada, pois ele sorrindo era ainda mais lindo. Como isso é possível? — ou vai se
sentar aqui comigo? — E foi aí que Ana percebeu que estava em pé e com cara de boba,
diante do garoto mais lindo da cidade.
Depois desse dia, Ana e Diego não se separaram mais. O que não sabiam, era que
suas famílias escondiam um segredo, um segredo que poderia colocar tudo a perder entre
eles.
O rapaz, cada dia mais apaixonado, deu de presente de aniversário à garota um lindo
anel de compromisso, coisas que os adolescentes fazem quando acham que o que sentem
será para sempre.
E foi aí que as coisas começaram a mudar…

.::.

— Mãe! — Ana entrou na cozinha, enquanto a mãe e a avó preparavam o jantar em
comemoração ao seu aniversário. — Convidei o Diego junto com os pais para jantarem
conosco. — Ela bisbilhotava as panelas, como sempre fazia ao entrar na cozinha.
—Tira a mão daí! — A mãe repreendeu, dando-lhe um tapinha de nada em sua mão.
— Ai mãe! — A menina resmungou.
— Não sei se foi uma boa ideia, Ana. — A mãe estava séria e tinha medo da reação
do esposo ao saber do convite. A avó da menina apenas escutava a conversa. — Você
deveria ter me consultado antes de fazer o convite.
— Não entendo o porquê dessa implicância com a família do Diego. — a menina
disse frustrada e com medo de que o menino não fosse recebido de forma certa.
— Você não precisa entender. E esse jantar é somente para família.
— Ele é quase da família. — A mãe olhou para a filha sem entender. — Por isso! —
Ana mostrou a mão à mãe, que viu no seu dedo anelar um lindo e delicado solitário em
prata.
— Ah, meu Deus! — A mãe nervosa levou a mão à boca em surpresa, imaginando a
reação do esposo diante da situação. — Não quero estar perto quando seu pai souber disso.
— Souber o quê? — Para surpresa de todos, o pai estava encostado no batente da
cozinha.
— Que eu convidei um amigo com a família para jantar conosco hoje? — Ana
respondeu com uma pergunta.
— Qual amigo? — O pai desconfiado cruzou os braços sobre o peito.
— Diego Salvador. — A menina engoliu a seco.
— Ana, você enlouqueceu, menina? — O pai esbravejou.
— O que está acontecendo aqui? — Max, o tio superprotetor, apareceu para tirar a
menina do apuro em que tinha se metido.
— Tio Max, eu convidei um amigo, junto com os pais, para jantar conosco hoje.
— E qual é o problema disso, minha princesa! — Max apertou a bochecha de Ana,
sempre carinhoso com a sobrinha.
— O problema Max, é que os convidados são Alex e sua família. — O pai ainda
muito bravo, respondeu.
— Alex Salvador? — O tio perguntou confuso.
— Sim. — respondeu Ana.
— Ainda não vi o problema. — Max realmente não via problema algum.
— Eu não gosto deles. — O pai disse.
— Daniel, esqueça isso. — pediu Max. — Quem vive de passado é museu. Eu já
superei. Mantenho amizade com ele e Diego é um ótimo garoto.
Ana sussurrou um obrigada para o tio, que piscou para a garota deixando o pai
muito contrariado.
O jantar ocorreu da melhor forma possível, embora o pai estivesse mal-humorado e
de cara feia.

.::.

O pai da menina não estava satisfeito com o relacionamento da filha com o garoto,
por causa de coisas que aconteceram no passado e que envolviam as duas famílias.
Movido por um grande preconceito, o pai obrigou a filha a romper a amizade e o
que mais eles tinham. Não queria sua filha, com o que ele achava ser o filho de um
marginal.
Ana, que por sua vez era uma filha muito obediente e apegada aos pais, por mais que
lhe doesse o coração e a alma, tiraria Diego de sua vida sem pensar duas vezes. Para ela a
família era sagrada e sempre iria fazer de tudo para agradar ao pai.
Ana e Diego romperam o que tinham, mas o amor que nascera no coração dos dois,
esse não foi rompido. E por mais que doa, existem coisas que nem mesmo o tempo
consegue apagar.



Capítulo um

Rio de Janeiro.

Sou filha de uma professora e um Chef, — o mais renomado do país — o casal mais
fofo do mundo. Tenho um meio irmão, Jonas, que amo mais que tudo, ele é mais velho e
casado com uma pessoa maravilhosa.
Fui criada em um desses bairros nobres, com ruas cheias de árvores, uma pracinha
com bancos verdes e vermelhos, onde a galera se reúne depois da aula, ou numa noite
quente para conversar. Um lugar onde todos se conhecem e sabem até mesmo o nome do
seu cachorro e claro, onde a fofoca rola solta.
Eu e meus amigos moramos numa dessas ruas arborizadas, fomos criados mais
como primos, já que nossos pais são quase irmãos, são amigos desde sempre. Duda é filha
do meu tio Max (tio de verdade, ele é irmão da minha mãe) e minha tia Melissa. Iza (que
até alguns anos atrás era minha amiga) é filha da tia Carla e do tio Júlio. E tem meu irmão
lindo, Jonas. Esse sim é meu melhor amigo, embora a diferença de idade seja um pouco
grande entre nós.
Nossos pais não nos deixaram sair de casa. Disseram que só sairemos depois de
casados. Somos velhos e ainda moramos com nossos pais, o que torna isso muito
engraçado.
Cursei gastronomia, porque não tinha vocação para ser professora e Deus me livre,
pois sei como minha mãe sofreu durante todos esses anos de magistério. A verdade é que
essa é a classe menos reconhecida no país. Todos esquecem que para se formar em
qualquer profissão, é de um professor que se precisa. E aqui estou eu, assumindo os
negócios da família e seguindo a profissão do paizão.
Minha família é meio louca e com muitas histórias para contar, desde sequestros,
onde meu tio Max que era na época policial, solucionou todos eles, até ser meio irmã do
filho do meu tio paterno. Pois é, estranho não? Mas isso se deu porque meu tio (um
babaca, claro) engravidou minha mãe enquanto estavam na faculdade e a abandonou com
Jonas ainda na barriga. Minha mãe, dona Sophia, foi guerreira e criou Jonas com a ajuda
dos meus avós e do meu tio Max. Alguns anos depois ela conheceu meu pai, sem saber
que ele e o pai do Jonas eram nada mais, nada menos que irmãos. Foi uma confusão só,
mas tudo se resolveu no final. Hoje todos vivem bem e felizes.
.::.

— Ana Carolina, minha filha, acorda! — Ouvi papai dizer. — Acho que esse molho
passou do ponto.
Olhei para o molho dentro da panela, que de vermelho estava ficando marrom.
Joguei a panela na pia, lavei e comecei a preparar um novo molho.
— Ah pai, me desculpa.
— Onde você está com a cabeça menina? Isso nunca aconteceu com você. —
Realmente, tudo que eu fazia era com perfeição.
A voz dele estava cansada devido à idade. Meu pai já era um senhor de idade e
estava querendo se aposentar, mas só o faria quando eu estivesse apta para assumir o
restaurante.
— Minha cabeça estava na sua história e da mamãe.
— Sério? Por quê? — A surpresa o pegou em cheio.
— Não sei. Será que vou ter uma história assim, igual a de vocês?
— Eu amo sua mãe, mas não desejo que ninguém tenha uma história doida assim. A
única coisa boa, é que tenho histórias para contar para os meus netos. Ainda bem que o de
Jonas já está a caminho, porque se for esperar por você, vou morrer sem netos. — Meu pai
considera Jonas como um filho. Sempre nos tratou igual.
— Poxa pai, não fale assim. O senhor, mais que ninguém, sabe o quanto eu queria
estar casada, mas se lembra do que aconteceu. — Uma pontadinha feriu meu coração com
a lembrança do passado.
— Me desculpe filha, não queria te trazer lembranças ruins. Eu só quero te ver feliz.
— Eu sei pai. Uma hora alguém aparece.
— E você será tão feliz quanto eu e sua mãe somos.
— Ana, Ana. Tem uma pessoa querendo conhecer a Chef que fez o Pato ao molho
de laranjas. — Djacy, uma mulher de trinta e cinco anos, que mais parecia uma
adolescente por sua alegria constante, que era a recepcionista do restaurante, entrou
eufórica na cozinha. — Vamos Ana, vamos! — Isso para mim era tão normal. Muitos
clientes gostam de conhecer quem cozinha para eles.
— Tudo bem. Pai assume para mim? — Pedi enquanto lavava as mãos. Não iria
cumprimentar um cliente com as mãos cheirando a tempero. — E vê se não deixa o molho
queimar.
— Ha! Ah! Ah! — Ele já estava mexendo o molho na panela. — Meu nome é
Daniel Müller, minha filha! — Papai me deu uma piscadela enquanto eu jogava um beijo
no ar para ele.
Assim que passei pela porta que divide a cozinha do grande salão, o falatório me
atingiu. O restaurante estava lotado, havia pessoas de diferentes idades, alguns sorriam,
outros travavam uma discussão calorosa, mas dentro dos limites sonoros. Executivos
almoçando com suas secretárias e até me arriscaria citar os amantes almoçando às
escondidas.
— Esse cliente é diferente. — Djacy me deu uma cotovelada, me tirando dos meus
devaneios.
— Diferente como? Ele tem cabeça, olhos, boca, nariz, duas pernas e dois braços?
— Ela sorriu com minha pergunta.
— Sim, mas a diferença não é essa, Ana! — Ela cochichava enquanto
caminhávamos lado a lado. — É aquele lutador de MMA, dono do cinturão peso médio.
— Não sabia que você era fã de lutas. — Alisei minha roupa branca por puro
instinto, pois estava limpa e bem passada.
— Só vejo quando é ele quem está lutando. Ele é um gato! Não sei como não tem
paparazzi na entrada do restaurante.
— Djacy, você não acha que está com muito fogo, não?
— E você acha, que porque estou trabalhando não posso reparar nos gatinhos?
— Você está certíssima. Olha mesmo. Depois passo o contato dele para você.
— Vou adorar. — Nós duas rimos juntas.
Me perguntei quem era, no momento, o dono do cinturão em questão. E com esse
pensamento, minha barriga gelou. Não pode ser! E na área mais reservada do restaurante,
estava ele na mesa com os pais.
— Senhor Diego, quero te apresentar nossa Chef A…
— Ana! — Djacy nos olhou sem entender.
— Diego, quanto tempo! — Ele se pôs de pé no instante em que me viu.
— Quanto tempo mesmo. Você está linda.
— E você cheio de músculos. Não me lembro de você com eles. — Não resisti ao
impulso e cutuquei seu braço duro como pedra.
— Não sou mais aquele moleque que você conheceu. Caso não tenha reparado, virei
um homem. — Um sorriso lindo estava estampado em seu rosto perfeito. Os cabelos
escuros como os do pai e os olhos azuis como os da mãe. — Você se lembra dos meus
pais? — Claro, como esquecer que seu pai sequestrou minha tia? Lembra que falei em
sequestros? Então, essa é uma outra história, que conto depois.
— Sim, claro. Doutor Alex, doutora Amanda, como vão?
— Quer dizer que a namoradinha do nosso Diego cresceu, virou um mulherão e
assumiu os negócios do pai? — Amanda cantarolou. Ela continuava linda. A idade só a
havia favorecido. Os cabelos loiros e curtos, da forma que me lembrava e os olhos tão
azuis quanto os do Diego. — Seu pato estava maravilhoso. E pode me chamar apenas de
Amanda, Ana.
— Claro, como quiser. Fico muito feliz que tenham gostado, mais feliz ainda de ter
reencontrado vocês.
— Tudo bem, Ana? — Alex perguntou.
— Sim doutor Alex, e o senhor?
— Vou bem também. Sua comida estava maravilhosa.
— Ah, obrigada!
— Seu pai está por aqui? — Diego olhou para os lados, fingindo receio.
— Sim, está na cozinha. Ele ainda insiste em cozinhar.
— Você sabe que morro de medo dele, não sabe?
— Não seja bobo Diego, essas coisas estão no passado. — eu disse.
— Ainda mais porque já se passaram mais de 10 anos. — Foi a vez de Alex falar. —
Já estamos até com cabelos brancos. — Com uma mão ele apontou para a própria cabeça e
com a outra pegou minha mão e a beijou.
— O senhor, galante como sempre.
— Claro, quem sabe não será você quem colocará meu filho nos eixos?
— Pai! — Diego enrubesceu.
— Não seja bobo, Diego. E não perca as oportunidades que a vida lhe dá. — Eu
precisava levar na esportiva.
— Seu pai tem razão, Diego. — Pisquei para Alex, que sorriu em resposta. — A
conversa está muito agradável, mas a cozinha me espera. A casa está lotada.
— Ah sim, claro. Não queremos te atrapalhar. — Diego disse. — Você está
cozinhando muito bem, parabéns.
— Muito obrigada. Voltem sempre, será um prazer cozinhar para vocês mais uma
vez. — Sorri em agradecimento. — E vocês não incomodam.
Me despedi de todos e me virei para voltar ao trabalho. Sem notar a presença de um
ser, parado que olhava com cara de bobo o lutador, bati de frente com Djacy e quase caí.
Por sorte, os braços fortes de Diego me ampararam.
— Obrigada. — agradeci totalmente sem graça. — Se não fosse você, teria me
espatifado no chão.
— Às ordens. — Seu sorriso era o mesmo. O que me transmitia paz e segurança
quando éramos adolescentes.
Voltei a cozinha, com uma Djacy no meu encalço.
— Djacy, você não tem o que fazer? Para de ficar me perseguindo. — Se tinha uma
coisa que eu gostava nessa vida, era implicar com ela.
— Calma Ana, eu só queria saber de onde você conhecia aquele deus grego.
— Ele foi meu namorado na adolescência. Satisfeita? Agora me deixa trabalhar.
— Nossa, quanta grosseria. — Ela colocou a mão no peito, se fazendo de ofendida.
— Me desculpe, tá?! Da próxima vez peço um autógrafo pra você, está bem?
— Ah, então te desculpo!
Dei um beijo em sua bochecha e entrei na cozinha feliz por ter reencontrado alguém
que tanto gostava.









Capítulo dois

Final de expediente. Hora de ir para casa. O dia foi exaustivo, porém gratificante.
Embora eu passe o dia na cozinha, quando saio dela me sinto realizada. Principalmente
quando os clientes do nosso restaurante querem conhecer o Chef.
Papai e eu dividimos nossos horários. Em dias alternados ele abre e eu fecho o
restaurante. Já era bastante tarde quando o último cliente saiu. Com a ajuda dos meus
funcionários, fechamos o restaurante. Djacy, como sempre muito animada, cantarolava
baixinho feliz por ter conseguido o autógrafo do lutador mais amado no momento.
— Vocês bem que podiam voltar a namorar. — ela fala eufórica ao meu lado. — Eu
teria passe livre para as lutas. Eu ia adorar ver o abdômen definido de alguns lutadores.
— Só se for para meu pai me matar, e acho que não rola mais. Foi coisa de
adolescente, sabe? E Diego deve ter um monte de mulher aos seus pés. — De certa forma,
senti uma pontinha de ciúmes.
— Mas do jeito que ele te olhou, não sei não… — Djacy piscou para mim. — Olha,
amiga, se eu fosse você não perderia essa oportunidade. A felicidade bate em nossa porta
todos os dias, a gente só precisa saber reconhecê-la. — Minha amiga indicou com o
queixo a figura masculina que estava a minha frente e meu coração falhou uma batida. —
Já está na hora de esquecer aquele paspalho. — E ela se foi, com seus saltos fazendo
ruídos toda as vezes que encostava no asfalto, me deixando sozinha com aquele homem de
tirar o fôlego e que ainda por cima, tinha um buquê de margaridas nas mãos.
— Você ainda lembra! — Margaridas eram minhas flores preferidas.
— Como esquecer? Foi você quem deixou um rombo no meu coração. — Ele fez
cara de sofredor.
— Ah não seja tão dramático! — Diego colocou a mão sobre o peito, se fazendo de
ofendido. — Está querendo uma degustação gratuita de Pato ao molho de laranja, senhor
Salvador? — O tom de zombaria era nítido em minha voz.
— Isso não é uma má ideia, mas o restaurante já fechou.
— Então, o que o senhor deseja?
— Matar a saudade que o tempo não conseguiu sufocar. — Ele disse isso tão sério
que por um momento eu acreditei, mas em seguida, para minha frustração, ele sorriu
mostrando que era apenas uma brincadeira. — Fazendo tanta comida, eu duvido que tenha
lembrado de comer alguma coisa, mas que tal pararmos para comer um cachorro quente?
Nada comparado com Gray’s Papaya, mas é muito bom.
— E você já comeu no Gray’s Papaya?
— Sem querer me gabar, sim. Várias vezes. — Minha boca fez um “o”.
— Sempre tive vontade de comer lá… será que eles mandam por sedex? — Diego
gargalhou. — É tão bom quanto dizem nos filmes?
— Sim, são muito bons, mas nada que se compare a um certo pato.
— Ah, não seja bobo. E vamos logo, pois foi só falar em comida que minha barriga
roncou.
Entrei no carro com Diego e fomos a um lugar próximo ao restaurante, era simples e
aconchegante. O lugar estava lotado. Fizemos nosso pedido logo após a sessão de fotos,
pois um monte de gente reconheceu o rapaz que eu acompanhava, e nos sentamos em uma
mesinha.
— Hum, que delícia! Isso é realmente bom. — disse limpando o molho de minha
boca.
— Eu não falei? — Diego era um homem bonito e quando piscava então, Deus do
céu!
— E então, como você virou esse lutador famoso?
— Para, não sou tão famoso assim.
— Ah não, claro que não! Desde que entramos aqui, foram quantas fotos? — Fingi
contar usando meus dedos. — Perdi as contas. Sem contar que as garotas te comem com
os olhos.
— Foram apenas quatro e as garotas não me comem com os olhos.
— Imagina! Isso porque você está acostumado a vir aqui e todos já te conhecem.
— Isso é verdade. Venho sempre aqui. — Descobri porque enquanto ele se exibia
com os fãs, vi um painel cheio de fotos na entrada e Diego estava em várias delas. Sempre
com uma mulher diferente ao lado.
— A cada semana com uma garota diferente? — provoquei.
— É, pode-se dizer que sim. O pouco de fama que tenho, tem facilitado bastante
minha vida. Mas isso não foi o suficiente para esquecer o que venho tentando há anos. —
Dei uma mordida em meu cachorro quente. Diego falou isso olhando dentro dos meus
olhos, será que ele estava se referindo a mim? Não, não é possível. Isso faz tantos anos. —
Mas a verdade é que fiquei muito ferido quando a senhora — Ele apontou o dedo para
mim — terminou comigo. Fiquei mal por meses e foi através do esporte que consegui me
reerguer.
— Eu não sabia. Me desculpe, não foi minha intenção, até porque sofri bastante
também. Mas éramos jovens e teve toda aquela história do sequestro e tal…
— Tudo bem, já superei essa fase. Graças a Deus tive um bom desempenho e me
tornei o que sou hoje. Não sou o melhor, mas estou em uma fase boa, sabe?
— Ah sim, claro. Fama, dinheiro, mulheres…
— Mas isso não é tudo Ana Carolina. Nada disso vale a pena quando não se tem
quem amamos por perto. — Mais uma vez. Lá estava aquela profundidade no olhar, mas
Diego só a deixava aparecer por alguns segundos, ele logo mudava sua expressão. — Mas
acho que está tarde e ainda tenho medo do seu pai. Você ainda mora com ele?
— Ah sim, meu pai disse que só me deixará sair de casa quando me casar e isso está
muito longe de acontecer. — Ele parecia confuso.
— A última notícia que tive sua, era de que estava noiva.
— Não estou mais.
— Não? — A expressão dele agora foi de surpresa.
— E isso já faz tempo, senhor lutador. — Ele ergueu uma das sobrancelhas. —
Longa história. Quem sabe um dia eu não te conte, hein?!
— Que bom, já que não tem nenhum homem na jogada, posso ter você só para mim.
— Olhei para ele desconfiada. Ele arranhou a garganta. — Como amiga, claro.
— Mas você ainda tem medo do meu pai.
— Acho que sempre terei. — Ele fez careta enquanto brincava com um guardanapo.
— Não precisa, agora ele está velho e você forte. — Nós dois gargalhamos.
— Vamos? — Ele se levantou, estendeu a mão e eu a peguei.
Foi estranho, porque por alguns segundos, eu não sabia o que fazer. Não sabia se
soltava ou continuava segurando aquela mão tão grande. Por fim, resolvi soltar.
Diego me deixou no restaurante, pois meu carro estava no estacionamento e voltei
para casa. Assim que abri a porta, meu coração disparou com a pergunta que foi feita por
meu pai, que estava sentado em seu habitual sofá:
— Não acha que está muito tarde, mocinha?
— Nossa, pai! — Levei a mão ao peito. — Você me assustou.
— E você acha que não nos assustou, Ana? — Essa era a voz da minha mãe, que eu
nem tinha visto, me repreendendo.
— Me desculpem, mas acabei me distraindo. — Era melhor não falar para o meu pai
que estava com Diego. — Mas porque estão acordados?
— Precisamos conversar com você. — papai falou sério demais e isso me
preocupou.
— Aconteceu alguma coisa? Foi o Jonas, o bebê ou a Jacy? — Quando as coisas
eram sérias, eu tinha o hábito de sempre esperar o pior.
— Não, calma, não é nada disso. — Mamãe pegou um envelope rendado e me
entregou. — Isso é para você.
— O que é isso? — perguntei confusa.
— É um convite de casamento. — Ainda estava confusa. — Da Iza e do João.
Pela segunda vez na noite, meu coração falhou uma batida. Eles irão se casar. Isso
não pode estar acontecendo. Me joguei no sofá ao lado de mamãe.
Com as mãos trêmulas, abri o convite. O casamento seria em um mês, mas o que
mais me chamou a atenção foi o endereço da festa e da cerimônia.
— Como vocês permitiram uma coisa dessas? — perguntei irada.
— O que poderíamos fazer, Ana? Esqueceu que Carla e Júlio são como nossos
irmãos? — Mamãe soou indignada com minha pergunta.
— Então é isso? Vocês permitiram que ela se case no lugar onde fiz mil planos para
ame casar com ele? — Jamais pronunciaria o nome dele. Meu coração não aguentaria. —
Na fazenda e debaixo do ipê onde vocês dois casaram?
— Filha, Iza é como uma sobrinha para mim e sua mãe. — Papai a defendeu. — E
vocês cresceram juntas.
— Eu não acredito que você está defendendo aquela traidora. Vocês não lembram o
que ela fez comigo?
— Filha, já se passaram dois anos, está na hora de superar. — papai disse.
— Superar? Vocês só podem estar brincando comigo.
— Não estamos e ainda tem mais. — mamãe disse séria, séria demais para meu
gosto.
— Mais? — A indignação tomou conta de mim. — Mais do que casar com meu ex e
no lugar onde fiz planos para me casar? — Revolta era meu sobrenome. — Só falta ela ter
pedido ao tio Max para cantar na entrada dela. — Silêncio. Nenhum dos dois disse nada. E
eu já sabia a resposta. — E qual foi a resposta dele? — Não é possível que até meu tio me
traiu.
— Ele não respondeu. Pediu um tempo para pensar. — minha mãe respondeu.
— Isso não pode estar acontecendo, não pode! — Bufei me levantando.
Comecei a andar de um lado para o outro. Eu me sentia traída. Traída pela minha
própria família.
Como minha família pôde ter ficado contra mim? Como?
— Pois eu também tenho uma novidade. — Eles me olharam. — Estou namorando.
Amanhã trago Diego para o jantar, e espero que o recebam muito bem. — Para minha
defesa, poderia dizer que não estava raciocinando bem na altura do campeonato.
— Diego? — papai perguntou. — Diego Salvador?
— Ele mesmo. — Saí pisando duro, entrei no quarto e bati a porta.
O que eu acabei de fazer? Meu Deus, estou muito ferrada, muito!
A raiva me consumia e eu não pensei antes de falar, a única coisa que queria era
ferir meus pais. Eu sei que foi um pouco de infantilidade da minha parte, mas se ponha em
meu lugar. Acabei de descobrir que meu ex-noivo vai se casar com minha ex-melhor-
amiga e vão fazer todas as coisas que planejei fazer com ele quando éramos noivos.
Essa noite será longa.
E Diego? Ai meu Deus. Que loucura acabei de fazer!

Capítulo Três


A noite foi longa. Quando eu comecei a adormecer, era a hora de acordar. Hoje eu
abriria o restaurante. O cansaço pesava em meus olhos.
Papai e mamãe estavam a mesa para o café da manhã.
— Bom dia. — Foi a única coisa que disse, antes de passar pela porta e batê-la atrás
de mim. Não quero ter que dar explicações a eles.
Para minha surpresa, Jonas estava chegando.
— O que te traz tão cedo aqui?
— Precisava conversar com você.
— Tenho que ir para o restaurante. — Coloquei a bolsa no ombro e desci o primeiro
degrau.
— O restaurante pode esperar um pouco. — Jonas segurou meu braço. — Vamos,
sente aqui comigo. — Deveria ser algo realmente importante. Jonas não era de insistir
muito e ele sabia que eu precisava abrir o restaurante.
Nos sentamos na escada que dava acesso a porta de entrada da casa. Eu precisava
ouvir o que ele tinha a dizer.
— Foram eles que pediram para você vir? — Me referi aos nossos pais e ele
entendeu.
— Não, vim por conta própria. — Respirei pesadamente.
— O que foi Jonas? Não vai me dizer que Iza também pediu para que você fosse
padrinho dela?
— Ela pediu sim. — Mas antes que eu abrisse a boca, ele continuou. — Mas recusei.
— Graças a Deus, pelo menos um se salva nessa família de traidores. — Apoiei a
cabeça nos joelhos. — O que eu fiz para merecer isso? — O resmungo saiu abafado.
— Ana, eles ficaram no meio de um fogo cruzado. — Jonas era tão fofo, tão calmo,
tão bom, que às vezes me deixava louca.
— Não importa Jonas. — Me alterei um pouco e ele arqueou uma das sobrancelhas.
Eu precisava me controlar. — A família é minha, era pra ter ficado do meu lado.
— Mas e a amizade dos nossos pais?
— Se fossem amigos de verdade, compreenderiam. — Meu irmão ficou em silêncio.
— Preciso te contar algo, mas precisa me prometer que não vai contar nada a ninguém.
— Posso ficar calado, mas não vou esconder da Jacy. Só de me olhar, ela sabe que
estou guardando um segredo.
— Jacy é de confiança, não tem problema. Promete?
— Sim prometo. — Cuspi na minha mão e ele na dele, depois demos as mãos e
apertamos. Eu sei é nojento, mas fazíamos isso quando criança e ele sempre cumpria suas
promessas. Fiquei em silencio decidindo como contaria aquilo ao meu irmão.
— Então, o que é? Tenha coragem, Ana. — Jonas me incentivou.
—Jonas, eu reencontrei Diego.
— Diego? Diego, seu namoradinho da adolescência? Ele virou lutador, não foi?
— Sim, ele mesmo. Como você sabia disso e eu não?
— Será que é porque você não é tão ligada em esportes? — Dessa vez, eu arqueei
uma sobrancelha. — Tá, mas o que tem isso?
— Em um momento de raiva, eu disse aos nossos pais que estava namorando com
ele e que o traria para o jantar hoje.
— Ana…
— Só que é mentira, Jonas. Não estamos namorando. Saímos ontem, mas só.
— Só você garota.
— Como será que tio Max reagirá a isso?
— Acho que ele levará de boa, afinal foi padrinho de casamento do pai dele. E da
outra vez ele não implicou, não foi? Eles têm uma relação de amizade, não se preocupe.
E como não sei? Tudo o que se referia a Diego, na época que terminamos, eu tirei de
minha vida. Pedi a todos que não comentassem nada a respeito dele. Embora eu tivesse
apenas 15 anos, foi doloroso demais, ele tinha sido minha primeira paixão e sabemos que
tudo nessa idade é mais intenso.
— Tio Max até arrumou uma briga com papai.
— Então…
— Só que não quero ir a esse bendito casamento, que dirá sozinha. Tenho que
convencer o Diego a entrar nessa comigo, o problema é que ele diz ter medo do papai.
— Ana, não faça isso.
— Eu preciso Jonas. Não vou ser o alvo da família e de amigos. Não quero que
fiquem com pena de mim porque meu ex está casando com minha ex-melhor-amiga. Não
mesmo! — Eu bufei.
— Como você quiser, irmãzinha.
— Vou precisar de você.
— Pra ver um sorriso nos seus lábios, faço de tudo.
— Agora eu só preciso encontrar e convencer o Diego. Vai ser uma mentirinha de
nada.

.::.

— Djacy, preciso de um favor. — falei assim que a vi atrás do balcão.
— Bom dia para você também, Ana!
— Desculpa. Bom dia. — Ofereci um sorriso amarelo. — Preciso que você consiga
para mim o telefone do Diego. — Ela fez cara de espanto.
— Você saiu com o bofe e não pegou o telefone? — Djacy era boa em interpretar.
Não sei porque não virou atriz.
— Não faça essa cara de espanto. — Respirei fundo. — Não achei que fosse
precisar falar com ele tão rápido.
— Bom dia Djacy. — Meu pai. — Ana, precisamos conversar. — Olhei para ele.
— Não temos o que conversar, pai. — Olhei para Djacy. — Por favor, consiga o que
te pedi, com urgência. — E saí.
— Seu Daniel, bom di… — Não ouvi mais, pois entrei na cozinha.
— Filha?
— Oi.
— Tudo bem que você queira se vingar do João aparecendo com um homem mais
bonito que ele, mas precisa ser o Diego? — Essa foi boa!
— Pai, não é vingança. Eu gosto do Diego. — De certa forma era verdade. Eu
gostava dele e estava muito feliz em tê-lo de volta em minha vida.
— E por que ficou tão brava quando soube do casamento?
— Não foi por causa do casamento, pai. Foi por causa das coisas que planejei no
passado, mas tudo bem. Isso não é problema meu. — Papai apenas assentiu. — E porque
veio trabalhar cedo?
— Você não vai levar o namorado para o jantar? — Ele deu de ombros. — Tenho
que está em casa. — Estou ferrada! Apenas sorri para meu pai.
A hora que ele descobrir minha mentira…


.::.

Djacy conseguiu o número de Diego, graças ao meu bom Deus. Liguei para ele e
marquei de encontrá-lo na hora do meu almoço, na mesma lanchonete que fomos ontem.
Ainda bem que ele topou.
Com o coração acelerado e a respiração pesada, caminhei a passos largos para a
lanchonete. Sempre almoço no restaurante, mas dei uma desculpa esfarrapada para meu
pai, para que conseguisse sair sem levantar suspeitas.
Diego já estava me esperando. Como conhecia o dono do lugar, pediu uma mesa
reservada para que a gente pudesse conversar. Quando aqueles olhos azuis encontraram os
meus, meu coração falhou uma batida mais uma vez. O cabelo estava bagunçado, mas era
uma bagunça que o deixava extremamente sexy e a barba rala estava ameaçando a
aparecer. Respirei fundo e terminei o percurso de olho nele.
— Olá! — O cumprimentei assim que cheguei até ele. Diego se levantou e me deu
um beijo na bochecha.
— Oi. Não imaginava receber uma ligação sua. — Nem eu amigo, nem eu.
— Você está bem? — perguntei enquanto ele puxava a cadeira para que eu pudesse
sentar.
— Sim e você?
— Vou ficar, preciso beber algo. — Peguei o copo de água que estava em cima da
mesa e que provavelmente era dele, e bebi direto.
— Ei, ei, calma. O que houve? — Ele parecia preocupado.
— Diego, eu preciso que você me faça um favor. — Ele me olhava sem entender.
Fui direto ao ponto. — Será que você pode fingir ser meu namorado? — Em resposta, ele
gargalhou. — Não ria Diego, por favor!
— Fingir ser seu namorado? Mas por quê? Por que precisa de um namorado de
mentira? Você é linda, pode ter o cara que quiser. — Ele continuava rindo.
— Tem que ser você. — Olhei séria para ele, que parou de rir na mesma hora. —
Olha Diego, eu não quero falar da minha vida triste para você, mas resumindo, meu ex vai
se casar com minha ex-melhor-amiga e vão se casar na fazenda da minha família, no lugar
que fiz planos para me casar com o traste. — Eu não consegui decifrar a expressão de
Diego. — E então?
— Essa história é meio louca.
— Eu sei. O pior é que quando meus pais me contaram fiquei tão irada, que falei
que estava namorando, mas a única pessoa que veio em minha mente foi você.
— Isso não vai dar certo, Ana.
— Claro que vai. Eu preciso que de você. — Silêncio. — Eu não quero ter que ir a
esse casamento sozinha.
— E por que você tem que ir?
— Se eu não for, vão pensar que estou com dor de cotovelo.
— E você não está?
— As pessoas não precisam saber. — Disse como se fosse o óbvio.
— Então você ainda gosta dele? — Preferi não responder, até porque eu não tinha a
resposta para essa pergunta. — Seus pais não gostam de mim.
— Problema deles. Eles não pensaram em mim, quando decidiram aceitar esse
absurdo. — Ele respirou fundo. — É uma mentirinha de nada! Mas eu preciso de você,
não posso pedir isso a outra pessoa. Vai ser por pouco tempo. Por favor!
— Está preparada para entrar na minha vida? Não vou conseguir esconder um
namoro, mesmo que seja falso, da mídia.
— Não tinha pensado nisso. — Não mesmo, mas o que faria? Eu precisava dele.
Talvez a mídia até me ajude. — Mas não será problema.
— Já que você insiste.
— Está falando sério? — gritei.
— Shh! Não precisamos chamar a atenção.
— Desculpa! — Que vergonha! — Obrigada, Diego, de verdade. Vou ficar te
devendo essa.
— Quando é esse casamento?
— Daqui a um mês.
— Então temos tempo.
— Não temos não. — Dei um sorriso amarelo. — Disse para meus pais que te
levaria para jantar hoje.





































Capítulo Quatro


Voltei para o restaurante um pouco menos nervosa, mas ainda estava apreensiva
quanto ao jantar. Não sei bem como será a reação de papai. Ele estava bastante
compreensivo hoje pela manhã, mas quando a esmola é muita, o santo desconfia.
O dia passou se arrastando e meu horário de saída finalmente chegou. O dia inteiro
estive sob o atento olhar do senhor Daniel, a impressão que eu tinha, era de que ele sabia
que eu estava armando tudo, que era tudo uma mentira.
Na hora marcada, a campainha tocou. Era ele. Respirei fundo e abri a porta.
Diego trazia em uma das mãos um buquê de flores, na outra uma garrafa de vinho e
no rosto um sorriso aberto.
— Oi meu amor! — Ele me deu um beijo estalado na bochecha.
— Oi. — Foi só o que consegui dizer. Minha família se concentrou logo atrás de
mim. E claro, meu irmão veio assistir de camarote, tudo o que aconteceria hoje.
— Amor, me desculpe, mas não trouxe nada para você. — Diego me ofereceu uma
piscadela. — As flores são para Dona Sophia e o vinho para o Seu Daniel.
— Que gentileza. — mamãe disse. — Venha, vamos, entre!
— Com licença.
— Tudo bem, Diego?
— Sim, senhor Daniel.
— Diego, lembra do meu irmão Jonas?
— Ah sim, claro. Tudo bem, Jonas?
— Tudo bem sim, cara. — Meu irmão sorriu. — Cuide bem da minha irmã, caso
contrário… — Isso foi uma ameaça com um sorriso. Jonas estava fazendo seu papel
perfeitamente, estava melhor do eu. — Essa é minha esposa Jacy.
— Muito prazer, Dona Jacy.
— Que dona, o que! Pode me chamar só de Jacy.
— Ah sim, tudo bem.
— Vamos nos sentar, o jantar está quase pronto. — papai chamou e fomos para sala
com ele. — Temos dois Chefs em casa, mas nenhum dos dois cozinhou hoje.
— Ei, isso quer dizer que não cozinho bem? — mamãe gritou da cozinha.
— Claro que não, mãe. Você cozinha melhor que meu pai e a Ana juntos.
— Ei, isso é uma ofensa. — me defendi.
— Não sei se Dona Sophia cozinha melhor, mas o Pato ao molho de laranjas da sua
irmã… Só de pensar, começo a salivar. — Diego, que estava sentado ao meu lado, passou
o braço por cima dos meus ombros.
Me senti um pouco desconfortável com o toque, mas eu teria que me acostumar com
ele.
Desde que me separei de João, não me relacionei com mais ninguém. Ele foi o
último a me tocar. Por isso a sensação do toque de Diego era tão estranha.
— Foi só isso que ela cozinhou para você? — Meu pai perguntou. Ele está
desconfiado, não é possível.
— Ainda não tivemos oportunidade. Mas já iremos resolver isso, não é amor? —
Diego mexeu em minha orelha e acariciou minha bochecha. Senti meu rosto queimar.
— Sim, claro. — Pigarreei.
— Desde quando estão namorando? — papai interrogou novamente.
— Na verdade não estamos. — Olhei para Diego assustada. Eu e Jonas. Não é
possível que Diego vai roer a corda logo agora. — Senhor, nós saímos algumas vezes, e
decidimos reatar nosso namoro, mas só posso fazer isso com sua autorização. — Como?
Olhei para ele confusa e ele apertou meu ombro. — O senhor me dá autorização para
namorar sua filha?
Papai ficou em silêncio por um instante. Parecia pensar. Se ainda tem aquela maldita
implicância com a família de Diego, estarei perdida. Não sei porque ele foi inventar isso.
Meu Deus, me ajuda!
— Por que não? — Essa foi a resposta de meu pai. — Vocês já perderam muito
tempo, Ana quase casou com o cara errado e isso seria culpa minha, pois eu a obriguei a
romper com você. — Papai respirou fundo. — Seja bem-vindo a família, filho.
Papai se colocou de pé, estendeu a mão para Diego e o puxou para um abraço.
Como estou ferrada! Meu pai parecia tão sincero, como vou terminar esse relacionamento
depois do casamento?
Ver os dois se abraçando, fez algo se agitar dentro de mim. Há alguns anos, isso era
tudo o que eu mais queria. Por que meu pai só teve essa atitude agora?
— Perdi alguma coisa? — Mamãe pegou os dois abraçados.
— Sim. — Jonas respondeu. — Diego acabou de pedir permissão para namorar a
Ana. E vou te dizer, ele foi muito corajoso. Não é qualquer um que faz isso com tanta
naturalidade e ainda por cima na frente de outras pessoas.
— Verdade, me lembro de quando você foi pedir permissão ao meu pai. — Jacy riu
ao lembrar da cena. — Jonas estava tão nervoso, que pensei que ele fosse desmaiar.
— Eu amo a Ana. — Isso ele falou olhando dentro dos meus olhos. — Nunca a
esqueci e quando a encontrei, decidi não deixá-la fugir de mim nunca mais. — Mais um
beijo na bochecha.
Meu namorado de mentirinha se remexeu no sofá, colocou a mão no bolso da calça e
tirou uma caixinha preta de lá. Tudo isso, ele fez sob meu olhar atento. Abriu a caixinha e
perguntou:
— Será que ainda cabe no seu dedo? — Levei a mão à boca, surpresa.
— Meu anel? Não acredito, você guardou mesmo?
— Sim, claro! — Com um pouco de dificuldade o anel entrou em meu dedo. Olhei
para ele em minha mão. — É ele mesmo. — Por puro instinto e felicidade, o abracei e
beijei-lhe a face.
— Ah, isso foi tão lindo, merecia um beijo de verdade. — mamãe disse e eu ri sem
graça.
— Ah qual é, na frente de você e do papai? Nem pensar. — falei tentando fugir da
situação.
— Eu não me importo. — papai disse.
— Nem eu, minha filha. Aproveite.
— Eu também não, vai fundo irmãzinha! — Anotar mentalmente: matar o Jonas
depois.
— Não, gente, que isso! — Eu ri sem graça.
— Ana. — Diego me chamou. Ele pousou a mão em minha nuca. Deus, ele estava
fazendo seu papel muito bem. — Vamos dar a eles o que querem.
Respirei fundo e assenti. Não havia como fugir daquela situação. Fechei meus olhos
e esperei pelo toque. O que senti, quando ele encostou seus lábios contra os meus, não
estava nos planos. Fui transportada para minha adolescência, o coração acelerado, mãos
trêmulas e suadas, pernas bambas. Se não estivesse sentada, com certeza cairia. Não me
lembrava de como nossas bocas se encaixavam perfeitamente bem; no final foi delicioso
ter beijado Diego.
O beijo foi suave, mas cheio de promessas que não foram cumpridas durante nossas
vidas separadas. Fomos interrompidos por um pigarrear. Eu conhecia bem o som, era meu
irmão.
Após finalizar o beijo, abri os olhos e me deparei com os olhos azuis de Diego
olhando os meus. Aquilo me incomodou um pouco e eu não sabia o porquê.
— Muito bem. — Mamãe sorria. — O jantar está na mesa.
Acho que não consigo levantar. Minhas pernas ainda estão bambas, parecendo
gelatina. Diego me deu a mão. Engoli seco e a peguei. Estava evitando o contato visual,
pois estava extremamente constrangida.
Meio que cambaleante, fui para a cozinha e me sentei ao lado dele. Jonas, com sua
mania de ser engraçadinho, me deu um ok e disfarçadamente peguei a faca e mostrei a ele.
A cara de espanto que meu irmão fez, foi hilária. Precisei me segurar para não gargalhar,
mas ele se veria comigo depois.
















Capítulo cinco


O jantar foi tranquilo. Por incrível que pareça, meu pai se comportou muito bem,
deixando Diego à vontade.
Durante toda a noite, Diego se comportou como um namorado de verdade, nem
parecia que estava fingindo ser tão apaixonado por mim. Eu precisava tomar cuidado para
não acreditar na mentira que contei.
— Preciso ir. — Diego falou.
— É, já está ficando tarde mesmo. — Papai olhava seu relógio no pulso. — Vou dar
uma ligadinha para o Victor, para saber como estão as coisas no restaurante. — Victor era
amigo da família e funcionário que ficava responsável pelo restaurante quando
precisávamos. — Diego, foi um prazer tê-lo conosco essa noite. Sinta-se à vontade para
voltar. — Papai esticou a mão e ofereceu ao meu falso namorado, que aceitou. — Com
licença.
— Bem gente, boa noite. Dona Sophia, o jantar estava divino.
— Volte sempre, filho. — Mamãe sempre com um sorriso acolhedor nos lábios.
— Com certeza. Vamos? — Ele olhou para mim e eu assenti. — Boa noite, Jacy,
Jonas. Até logo.
Eu e Diego descemos a escada que dá para a rua. Ele encostou no carro e eu fiquei
de frente para ele.
— Você é um bom ator, sabia? — Ele comprimiu os lábios e colocou uma mecha do
meu cabelo atrás da orelha. — Não precisa fingir, estamos a sós.
— Não estamos não. Sua mãe está na janela. — Tentei virar para vê-la, mas ele me
impediu. — Não vira não. — Diego umedeceu os lábios e olhou em meus olhos. — Acho
que precisamos nos despedir como namorados. — Sua voz era suave e tinha até um toque
de sedução. E eu não consegui parar de olhar para aquela boca que se encaixava tão bem à
minha. — Posso? — Eu não conseguia falar, só pensava em ser beijada por aqueles lábios.
Em minha mente eu repetia: é tudo encenação.
Quando os lábios dele tocaram os meus, minhas pernas falharam. Falharam
literalmente. Minha sorte, é que Diego é forte e me segurou, caso contrário, teria me
espatifado no chão. Mais uma vez. E ainda assim ele não parou de me beijar.
.::.

— Sonhando acordada, gatinha? — Djacy, não podia ser outra.
Ela me fez pular de susto. Entrei no vestiário para trocar de roupa e me esqueci da
vida, pensando no jantar de ontem.
— Quem eu? Claro que não.
— Então por que está com esse sorriso bobo no rosto?
— Eu nem estou sorrindo.
— Ah não, imagina. — Observadora como só ela, me analisou da cabeça aos pés. —
Ana! — ela gritou e eu pulei mais uma vez. — Você está apaixonada!
— Q-Quem? E-Eu? N-Não! — Gaguejar era uma mostra grátis da minha mentira.
— Está sim! É ele, não é? O lutador? — Todos saberiam do namoro e quanto menos
pessoas soubessem que era uma mentira melhor.
— Sim. Nós estamos namorando. Ele até pediu permissão ao meu pai ontem. — E lá
estava o sorriso bobo no meu rosto.
— Como assim estão namorando? Pensei que estavam apenas se pegando.
— Longa história. Mas olha aqui! — Mostrei a ela meu anel. — É o mesmo anel
que ele me deu quando começamos a namorar na nossa adolescência. Acredita que ainda
cabe no meu dedo?
— Isso que é uma história de amor.
— Você ainda vai encontrar seu príncipe encantado.
— Ana, minha flor, príncipes não existem e Diego não é um. Tenha consciência
disso.
— Tá, né?! Vamos trabalhar, então? Ele vem me buscar mais tarde, hoje tem luta. —
Fiz uma careta imaginando alguém destruindo aquele rostinho tão lindo.
— Será que terá alguém interessante por lá?
— Te mantenho informada, pode deixar. — E a doida da minha amiga ficou pulando
e batendo palminhas. Doidinha, doidinha! — Amiga? — Ela parou na mesma hora e
olhou para mim. — Se controle. — Ela fez uma careta. — Vou tentar arrumar um ingresso
pra você.
— Mentira? — Ela deu um grito.
— Ei, ei! Acalme-se. Desse jeito você vai estourar meu tímpano.
— Ai amiga! Na hora do almoço vou comprar um vestido novo. — E a doida saiu
cantarolando. Não estou falando?
Mandei uma mensagem para o Diego, perguntando se podia levar uma amiga, e
claro, ele disse que sim. E com isso Djacy passou o dia cantando e sorrindo.
O dia passou rápido feito um furacão. Fui chamada por três clientes que queriam
cumprimentar o Chef do Restaurante. E isso foi bem legal.

.::.

Na hora marcada, eu e Djacy estávamos esperando por ele, mas para nossa surpresa
quem desceu do carro foi um homem alto, magro e bonito, mesmo sem os cabelos na
cabeça. Meu queixo caiu. E se o meu caiu, imagina o da minha companheira ao lado? Pois
é, o queixo de Djacy estava literalmente no asfalto. Dei uma cutucada nela e a pobre
mulher se recompôs.
— Boa tarde, meninas. — Até a voz do cara era bonita. — Eu sou Benjamin, o
empresário do Diego. — Ele sorriu. — Mas podem me chamar de Ben. — Ele olhou
diretamente para minha amiga.
— Olá Ben, eu sou Djacy e essa é a Ana, a namorada do Diego. — Arqueei uma das
minhas sobrancelhas e olhei para ela. Djacy só me deu um sorriso. Já tinha sacado, ela
estava de olho no empresário.
— Muito prazer, Djacy. — O cara além de ser bonito e ter uma voz marcante, era
um cavalheiro: pegou a mão da minha amiga e beijou. São poucos os homens que fazem
isso. — Olá Ana! Diego me fez jurar que cuidaria bem de você. — Ele não beijou minha
mão, só para constar.
— Tudo bem? — Perguntei. — Por que ele não veio?
— Ele precisa estar concentrado para a luta, que não será nada fácil. — Uma ruga de
preocupação ocupou sua testa.
— Ele vai ficar bem?
— Ah sim, com certeza, mas a luta será acirrada. O oponente é tão bom quanto ele.
— Será que minha presença não irá atrapalhar? — perguntei preocupada. Deus me
livre Diego perder essa luta!
— Não, ele precisa de você. — Não entendi bem o que ele quis dizer, mas entrei no
carro. Nem preciso dizer que minha amiga ocupou o banco da frente. Também não preciso
dizer que foram tagarelando até o local da luta e fiquei esquecida no banco de trás do
carro, né?
O lugar estava cheio. Lotado para dizer a verdade. Um monte de gente gritando
coisas que eu não conseguia identificar. Benjamin nos encaminhou para onde Alex estava.
— Ana! — Alex parecia já esperar por mim.
— Doutor Alex! — Ele abriu os braços e eu o abracei.
— Menina, por favor, tire o doutor. Agora pertencemos à mesma família. — Sorri
sem graça. Não pensei muito nas consequências que esse namoro falso traria. — Fiquei
muito feliz com esse namoro. — Sorri mais uma vez.
— E Amanda?
— Ah, ela não gosta de o ver lutar.
— Não imagino o porquê. Estou tão preocupada.
— Não se preocupe, ele é bom.
— Isso não resolveu muito. — Nós dois sorrimos. — Essa é minha amiga Djacy.
Djacy, esse é Alex, pai do Diego.
— Muito prazer, Alex.
— O prazer é meu. — Eles apertaram a mão um do outro. — Vamos nos sentar, já
vai começar.
— Ah sim, vamos.
Nos sentamos, Benjamim se retirou e um homem engravatado entrou no octógono:
— Boa noite, senhoras e senhores! Nossa primeira luta de hoje será com os dois
lutadores mais queridos do momento. — Em meu peito, meu coração saltava. — Ele, o
atual campeão Peso Médio, com oitenta e três quilos e quinhentos gramas, Diego
Salvador, mais conhecido como Monstro! — E uma música estrondosa ecoou pelo lugar.
Diego apareceu acompanhado do treinador e o povo gritou o seu nome. Ele usava um
shortinho colado ao corpo e seu peito estava de fora. Pela primeira vez em anos, vi o
abdômen trincando do meu falso namorado. E não se parecia nem um pouco com o que
ele tinha na adolescência.
— Diego! Diego! Diego!
Até ouvi umas garotas, que estavam atrás de mim, dizendo que ele era gostoso. Fiz a
cara mais feia que consegui e as encarei. As criaturas ficaram assustadas e se calaram.
— Com oitenta e…. — O homem voltou a falar. Mas parei de ouvir, pois encontrei
os olhos de Diego.
Ele sorriu para mim. Um sorriso tão lindo que fez meu coração se contrair. Fiquei
hipnotizada em seu olhar e não percebi que minha cara de boba aparecia no grande telão.
— Vejam! Nosso Monstro está apaixonado! — O Homem falou. E foi aí que me vi.
Quem me visse, diria que realmente estava apaixonada por Diego.
Uma multidão de pessoas me olhava, me deixando completamente sem graça. E
Diego não colaborou nem um pouco quando jogou um beijo para mim, fazendo as
mulheres que ali estavam soltarem um suspiro, seja de emoção ou de frustração.
A luta começou. Os dois lutadores se colocaram no centro do octógono e se
cumprimentaram. Havia uma tensão no ar. Os dois não se davam bem, isso era visível.
O árbitro saiu do meio dos dois e antes que Diego percebesse, um soco chegou forte
em seu queixo. Ele cambaleou. Me levantei no mesmo instante que meu coração se
apertou dentro do peito.





















Capítulo Seis

Diego não perdeu tempo. Mesmo que o soco tenha deixado ele zonzo, meu
namorado atacou seu oponente.
O cara, que não sei o nome, porque minha atenção estava em um par de olhos azuis,
deu mais um soco no meu namorado. Diego reagiu com outro soco. Mas o Cara deu tanto
soco no rosto do meu amor, quer dizer namorado, que fez um corte em seu supercílio.
Diego partiu pra cima dele e o derrubou, mas acabou ficando por baixo, enquanto seu
inimigo ficou em uma posição bastante estranha. Sua parte pélvica ficou literalmente no
rosto de Diego e as pernas atrás da cabeça dele. O Cara tentava a todo custo acertar a
cabeça de Diego. O Treinador dele ficava dizendo: dá uma joelhada na cabeça dele, Luiz.
Vai Luiz. E com isso descobri seu nome. Luiz. Eu já o odiava.
Em uma manobra mágica, Diego conseguiu se virar e ficou por cima. Ele deferia
socos contra o rosto de seu oponente. Mas não ficou nisso. O Cara conseguiu se levantar e
encurralou Diego em um dos cantos octógono.
Alex gritava ao meu lado: saí daí filho. Você consegue. Eu também podia ouvir o
treinador de Diego dizer: Saí Diego. Se defende. Saí da daí, Diego.
Eu só conseguia enxergar, aqueles punhos enormes de Luiz golpeando as costelas, o
rosto e a barriga do meu falso namorado. Era desesperador.
Depois do que pareceu ser uma eternidade, Diego conseguiu sair do canto e com
uma força, tirada não sei de onde, ele simplesmente nocauteou seu oponente. E Luiz não
levantou mais. Diego ganhou, ele ganhou!
Diego ganhou, porém Luiz acabou com aquele rostinho tão lindo dele. Um olho e
boca inchada, cortes no supercílio, sangue escorrendo da boca. Era assim que meu falso
namorado estava.
O Árbitro levantou a mão de Diego, indicando o vencedor, os dois lutadores se
cumprimentaram e se retiraram.
Olhei para Alex:
— Eu preciso vê-lo. — Minha voz era puro desespero.
— Diego logo estará aqui.
— Não, Alex. Eu entendo porque Amanda não gosta de vê-lo lutar. Mas agora eu
preciso vê-lo. Ver se tudo está em seu devido lugar, por favor. — Eu praticamente
suplicava.
— Isso com certeza é amor. — Djacy disse e Alex sorriu.
Djacy não sabe de nada. Quem me dera amar Diego. Infelizmente, meu coração
ainda pertence ao traste do João. Tudo o que eu quero com esse falso namoro, é que ele se
arrependa de um dia ter me largado.
Engraçado. Há um tempo eu não suportava, sequer, pensar no nome dele. Durante
todo esse tempo, me referi ao João por ele e agora simplesmente o nome dele fluiu em
meus pensamentos. Eu hein!
Alex me levou até onde Diego estava.
— Diego? — Alex chamou e Diego levantou o olhar. Ele estava sendo examinado
por um médico. Benjamin e o treinador, que eu ainda não sabia o nome, também estavam
com ele. — Tem alguém aqui doida para ver se você está inteiro.
Os olhos azuis feitos céus em um dia ensolarado se concentraram em mim e ele
sorriu.
— Oi namorada. — ele disse com um sorriso radiante.
— Oi namorado.
— Parabéns Diego, você foi demais hoje. — Djacy falou.
— Obrigado. — ele respondeu timidamente.
— Vou deixá-los a sós. — Alex disse. Isso foi uma deixa para todos que estavam
com ele saírem também, inclusive o médico que já havia terminado seu trabalho.
— Ben, você pode levar Djacy em casa? — Diego perguntou. — Ainda vou demorar
um pouco aqui e quero curtir minha namorada.
— Ah claro. Vamos Djacy? — Ele ofereceu o braço e ela aceitou, mas antes de sair,
piscou um dos olhos para mim. Essa minha amiga.
Depois que todos saíram, corri em direção a Diego e agarrei seu pescoço.
— Ai. — ele resmungou de dor.
— Desculpa. — pedi arrependida. Ele devia estar cheio de dores.
— Está tudo bem, só estou um pouco dolorido por causa da luta.
— Eu devia ter imaginado, mas estava tão preocupada. Queria saber se você ainda
estava inteiro. Eu fiquei com muito medo.
— Eu estou bem.
— Ah, não está não. Você está péssimo.
— Você devia ter visto o outro cara. — Nós dois rimos, mas ele logo fez uma cara
de dor.
— O que foi?
— Tudo dói.
— Sinto muito. — Toquei em alguns hematomas que estava em seu peito e costela.
— Não sinta. Foi a profissão que escolhi.
— Por acaso você tem alguma luta próximo ao dia do casamento?
— O que é, não está querendo aparecer com um monstro no casamento?
— Não é isso. Até que você é bonitinho assim. — Ele riu.
— Você precisa de um homem apresentável para fazer seu ex-noivo se arrepender de
ter te largado, eu sei. Não precisa ficar sem jeito. — No fundo, acho que era isso mesmo,
mas não consegui dizer uma palavra e quando o silêncio ficou constrangedor demais, ele
falou. — Não tenho não, não precisa se preocupar.
— Eu não me importo, juro. — menti.
— Vou tomar um banho e te levo pra casa, ok?
Diego saiu sem olhar para trás. O que eu fiz? Caramba! Eu realmente precisava dele
intacto, eu realmente quero que João se arrependa. Mas, espera aí! Diego não tem motivos
para ficar assim, ele sabia que era um namoro falso. Ai meu Deus, que confusão.
— Vamos? — Dei um pulo, pois não percebi a presença dele. — Te assustei? Me
desculpa.
— Tudo bem, vamos?
O caminho foi silencioso. Eu tentava arrumar algum assunto para acabar com o
silêncio, mas nada vinha a minha mente. Era muito ruim não ter o que falar com ele.
— Está entregue. — Diego disse assim que estacionou na porta da minha casa.
— Está tudo bem?
— Sim. — Ele se limitou a dizer.
— Posso fazer uma pergunta? — Ele assentiu. — Como um homem como você está
solteiro? — Ele esboçou um sorriso.
— Não estou solteiro. — Meu coração gelou. Devo ter feito uma expressão de puro
pânico, pois ele sorriu. — Estou namorando você, esqueceu?
— Mas não é um namoro de verdade.
— É… — Ele respirou fundo e soltou o ar com força. — Para todos os efeitos estou
sim.
— Isso é verdade. Mas sério, por que estava sozinho? Você é um homem tão bonito,
tem um corpão e tal. Como não arrumou uma namorada?
— Essa é uma forma sutil de dizer que sou gostoso? — Ele sorriu de lado, o que era
lindo e senti meu rosto queimar. — Não precisa corar Ana. Ainda sou eu, o mesmo Diego
de antes.
— Ah, mas não é mesmo. Você mudou muito, sabia? — Ele riu mais uma vez. —
Sabe, ainda bem que você não tinha ninguém, caso contrário estaria ferrada. Não
conseguia pensar em mais ninguém além de você. E se você estivesse com alguém?
— Eu teria terminado com esse alguém na mesma hora.
— Por quê? Só para eu me vingar dos meus pais e não pagar tanto mico nesse
maldito casamento?
— Tem coisas que não são explicáveis, Ana. Você é alguém de quem gosto muito.
— Ele fez uma pausa antes de continuar. — Na verdade, uma amiga muito querida. —
Diego frisou bem a palavra amiga. Senti uma pontada de decepção, mas não sei explicar
o porquê.
— Entendo. — Olhei em seus olhos que olhavam fixamente os meus. — Acho
melhor entrar, amanhã trabalho cedo e está tarde. — Seus olhos pararam em minha boca e
eu engoli seco. Meu coração batia contra minhas costelas. — Você foi muito bem hoje. —
gaguejei. — Morri de medo, mas você foi bem. — Ele continuava me olhando fixamente.
— Preciso ir.
Desci do carro, feito uma louca. Não sei o que deu em mim, mas eu achei que ele
fosse me beijar e por um segundo eu quis ser beijada por ele.
Subi as escadas correndo, entrei em casa, encostei na porta e fechei os olhos,
pensando na sensação do beijo dele. Meu coração estava descompassado, não sei se pela
correria ou pelo meu desejo.
— Ana? — Ouvi meu pai chamar. — Está tudo bem? — Papai estava parado no
corredor de frente para mim.
— Sim. — Minha voz saiu fraca e eu arranhei a garganta. — Sim, está tudo bem. O
senhor viu a luta?
— Sim, ele foi muito bem. Fizeram um estrago, mas ele ganhou, né?
— Verdade. Morri de medo de que algo acontecesse a ele.
— Eu também.
A campainha tocou e eu pulei de susto. Eu ainda estava encostada na porta. Abri a
porta e dei de cara com meu falso namorado.
— Oi. Está tudo bem?
— Sim, você esqueceu seu celular no carro. Achei que fosse precisar.
— Ah, deve ter caído da minha bolsa.
— Boa noite, Daniel. Tudo bem? — Ele tirou os olhos de mim e olhou para papai.
— Sim, e você? Sua cara está péssima. — Diego sorriu.
— Você deveria ter visto o outro cara. Ficou bem pior.
— Na verdade eu vi. Realmente. Foi uma luta e tanto. Parabéns.
— Obrigada. — Ele me olhou. —Vou indo. — Ele se curvou e beijou minha
bochecha.
— Vai embora sem dar um beijo de verdade em sua namorada? — Papai só podia
estar de brincadeira. — Duvido que eu daria um beijo desses em Sophia.
— Pai!
— Ana, por favor, dê um beijo decente em seu namorado. Façam de conta que não
estou aqui. — Papai se sentou na poltrona, pegou um livro e fingiu que estava lendo.
Tenho certeza de que estava de olho em nós dois.
Olhei para Diego. Fiquei na ponta do pé e encontrei sua boca. Um beijo era tudo o
que eu queria e não sabia porquê. Então era a hora de matar minha vontade.
A língua dele pediu permissão e eu dei. Senti seu gosto que era maravilhoso. Ele
acariciou minha língua com a dele. Diego era bom no que fazia. O que me fez pensar que
nem João beijava tão bem. Diego tinha o poder de me deixar tonta.
Ele interrompeu rápido demais. Quando abri os olhos ele fazia uma careta.
— Está tudo bem?
— Sim, só está doendo um pouco. — Ele tocou os lábios, que estavam levemente
inchados.
— Se precisar de qualquer coisa, me ligue, ok? — eu pedi.
— Pode deixar. — Ele piscou para mim e eu me estiquei novamente e dei um
selinho nele. Diego tocou minha bochecha, virou as costas e saiu.
— Que beijo, hein!
— Pai! — Como os pais tem a mania de constranger os filhos, vou te falar!
Fechei a porta e fui para meu quarto. Só me restava pensar e entender tudo o que
estava acontecendo. Eu não podia me apaixonar por ele, não podia.































Capítulo Sete

Depois que o mundo soube que Diego estava namorando, virei alvo de paparazzi
que acampavam na frente do restaurante. Não sabia como, mas descobriram onde eu
trabalhava e quem era.
Até eu aparecer na vida de Diego, sua vida era trancada quase que a sete chaves e
nunca havia me ocorrido buscar notícias sobre ele no nosso querido e amado Google. Meu
falso namorado estava sempre cercado das mais belas mulheres do mundo da moda e da
televisão, mas nenhuma das mulheres era como eu, sem nome ou sem rosto perante a
mídia. Ele não tinha fama de galinha, nem nada disso, apenas tinha sua vida reservada.
A princípio fiquei assustada com tanto assédio, e segundo Diego, isso tudo acabaria
e logo esqueceriam minha existência e assim eu esperava.
A única coisa boa nisso tudo, é que o restaurante estava lucrando, pois os fãs de
Diego queriam frequentar o mesmo lugar que seu ídolo.
Papai estava ficando enlouquecido com o acampamento na entrada do seu local de
trabalho. Todas as vezes que ele entrava ou saía, alguns repórteres de sites de fofoca
tentavam pará-lo. E não era diferente comigo:
— Ana, Ana. — Um repórter chamou enquanto eu entrava no restaurante. — É
verdade que você e Diego namoraram na infância?
— Sim. — eu respondi. — Nos conhecemos há muito tempo.
— E qual foi o motivo do término?
— Coisas pessoais.
— Coisas pessoais como pai dele está envolvido no sequestro de sua tia? — Não,
definitivamente eu não estava preparada para aquilo.
Ofereci um sorriso e me esquivei.
— Senhores, assim como vocês preciso trabalhar. Por favor, me deem licença.
Entrei no restaurante bufando. Como eles descobriam essas coisas?
Não demorou muito para que Djacy aparecesse na cozinha com o celular em mãos
me mostrando a matéria de um site de fofocas:
Monstro in love era o título da matéria:
Diego Monstro Salvador está finalmente namorando, para alegria de uma e tristeza
de outras, principalmente daquelas que ainda sonhavam em conquistar o coração do
mocinho.
Depois de ser visto com algumas mulheres do mundo da moda, a quem ele chamava
apenas de amigas, nosso Monstro agora tem o coração conquistado por alguém sem rosto
no mundo das celebridades. Ana Carolina Müller, herdeira de um dos restaurantes mais
renomados do país, uma jovem com quem o nosso menino teve um relacionamento no
passado, uma namorada da adolescência, que segundo nossa informante, foi abrigada
pelo pai a romper o namoro, pois o pai do rapaz estaria envolvido em um sequestro de
alguém da família da moça, que aconteceu antes mesmo que os dois nascessem.
E agora, como será que o pai de Ana Carolina vê esse namoro?

Meu queixo caiu. Eu não sabia como proceder. Imediatamente liguei para Diego,
que já tinha visto a matéria.
— Diego, eu sinto muito.
— Eu te falei que seria difícil.
— Eu sei, mas não imaginei que coisas assim poderiam surgir. — Isso não seria
agradável para Alex. Voltar toda essa história não deve ser bom. E meus tios sendo
expostos dessa maneira. — Se você não quiser seguir adiante, vou entender.
— Ei, Ana. Não se preocupe, já passamos por coisas piores, te garanto. — Ele
tentava me animar. — E meu pai está acostumado a ter seu nome nos jornais. Sempre
alguém se lembra do que aconteceu.
— Mas ele deve se sentir péssimo sendo exposto dessa maneira.
— Quando eu venci minha primeira luta, isso foi desenterrado. As coisas que
fazemos sempre voltam para nos assombrar e papai sabe disso. Não se preocupe, essa fase
vai passar. Só é novidade. — Eu respirei fundo. Diego parecia saber lidar com tudo isso.
— Me desculpe mesmo assim, não queria fazer você e sua família passarem por
isso.
— Tudo bem, gatinha. Nós estamos acostumados a lidar com isso.
— Ainda assim, me perdoe.
— Tudo bem. — Ele fez uma pausa. — Meus pais pediram para te trazer para jantar.
— Ah Diego, como vou olhar para eles depois disso?
— Ei, já te falei, não se preocupe. Às 19h passo para te pegar.
— Tudo bem. — falei me rendendo.
— Até mais.
— Até. — murmurei antes que a ligação fosse encerrada.

.::.

Era estranho encontrar os pais do Diego depois do que aconteceu, mas eu precisava
ao menos pedir desculpas, pois tudo isso era culpa minha. Se eu não tivesse pedido Diego
para fingir ser meu namorado, nada disso teria acontecido.
Na hora marcada, Diego estacionou o carro em frente de casa. Meu namorado era
um homem pontual, ao contrário do outro que dizia estar chegando e ainda não tinha saído
de casa.
— Sabe, quando eu inventei esse falso namoro, não pensei nas consequências que
ele traria. — Respirei fundo. — Seus pais são tão atenciosos. Como vou olhar para eles
depois? Como será depois que rompermos? Ainda mais depois do que aconteceu. —
choraminguei. Eu tinha tantas perguntas, mas não tinha nenhuma resposta.
— Ana, vamos deixar isso para depois. — Ele me respondeu sem tirar os olhos da
estrada. — O importante é viver cada dia e depois a gente vê o que faz.
Aparentemente, Diego estava bem com toda aquela situação. E era evidente que a
culpa começava a tomar conta de mim.
— Você é tão bom, sabia? Não entendo porque ainda não encontrou ninguém.
Porque está sozinho.
— Já te disse, não estou mais sozinho. — Apenas assenti. Não sei porque, mas esse
assunto me incomodava. — Estou com você. — Ele me olhou enquanto estávamos
parados em um sinal. — Pode não ser um namoro de verdade, mas minha lealdade é sua.
— Ele olhava em meus olhos.
— Obrigada. — disse ao segurar sua mão.
— Não há de que! — ele disse piscando para mim.
Uma fileira de palmeiras se estende diante de nós, revelando um jardim lindo, com
as mais diversas flores. A casa de dois andares era em tom bege e as janelas brancas.
Alex e Amanda nos aguardavam na entrada da casa, que era linda.
— Ana. — Amanda me cumprimentou com um abraço.
— Oi, muito obrigada pelo convite.
— Que isso, você é como se fosse da família.
— Obrigada. — Olhei para Alex que me olhava com um sorriso no rosto. — Me
desculpe pelo o que aconteceu.
— Mas o que aconteceu, Ana? — Ele ainda tinha um sorriso nos lábios.
— Sobre a reportagem, sobre a história que envolve nossas famílias. — disse sem
jeito.
— Aquilo não foi nada, Ana. Te garanto. Já passamos por coisas piores.
— Mas mesmo assim.
— Esqueça isso, Ana. — Amanda disse. — E tira esse olhar triste do rosto. Você é
da nossa família. — Ah dona Amanda, se soubesse que isso é tudo uma mentira…
Diego, como se soubesse o que eu pensava, apertou minha mão e a beijou.
— Vai ficar tudo bem. Relaxa.
Diego ainda segurava minha mão, o que fazia meu coração acelerar. Esse homem
lindo e gostoso, tão perto de mim, causando tantas sensações, eu precisava tomar cuidado,
caso contrário sairia com o coração machucado mais uma vez.
O jantar foi agradável. Amanda e Alex realmente eram boas pessoas e me deixaram
completamente à vontade.
— Diego, leve Ana para conhecer o jardim. — Amanda pediu. — Acho que vocês
estão precisando de um momento à sós.
— Vamos, Ana? Minha mãe tem razão. — Ele me puxou pela cintura. — Quero
ficar um pouco com você. — ele disse ao beijar meu pescoço, lançando arrepios por todo
meu corpo.
O céu estava estrelado e a lua brilhava lá no alto. Diego me conduziu a um banco
que ficava no meio do jardim.
— Meus pais se casaram aqui. — ele disse.
— E os meus se casaram na fazenda, justamente onde Iza irá se casar o meu ex-
noivo.
— Isso ainda te incomoda?
— Sim. — Ele ficou em silêncio. — Não o fato dela se casar com ele, mas o fato de
se casarem onde eu queria me casar.
— Mas isso não impede que você se case lá.
— Acho que a magia do lugar acabou. Queria me casar lá, por causa da magia que
envolvia a história dos meus pais. Agora tudo acabou.
— Eu sinto muito. — Diego me fitou com seus olhos lindos e azuis. — Mas se você
se casar comigo, podemos nos casar aqui. — Ele não podia está falando sério. — Era para
você rir. — Diego disse sorrindo.
—Você me pegou desprevenida.
— Tudo bem. — ele disse passando os braços em torno de mim. — Acho que temos
companhia.
— Sério? — Ele assentiu. — Então, acho que precisamos fazer nosso papel direito.
— Ele assentiu mais uma vez, se aproximando do meu rosto. — Por mais que seja um
namoro de mentira, eu adoro te beijar.
— Jura? — ele sussurrou. E eu arregalei meus olhos. — O que foi?
— Tenho mania de falar mais do que devo.
Diego sorriu, segurou minha nuca com uma de suas mãos e com a outra me puxou
ao seu encontro, selando nossos lábios.
Será que é possível que um beijo melhore mais a cada vez? Porque Diego está
beijando muito melhor. Deus, eu não posso me apaixonar, não posso.
— Acho que está na hora de te levar para casa. — Ele disse assim que me soltou.
— Por que? Estava tão bom! — resmunguei.
— O que disse?
— Está mesmo na hora de ir. — Ele me olhou de forma travessa e me estendeu a
mão.
Me despedi de seus pais, com a promessa de voltar mais vezes. Diego me deixou em
casa, e não teve mais beijos, o que me deixou um pouco frustrada.
Era apenas um namoro de mentira. Nada mais que isso.







Capítulo Oito

D I E G O

Se você pensa que encontrei Ana por acaso no restaurante, está muito enganado. Eu
já estava observando os passos dela há muito tempo. Não pense que sou algum tipo de
maníaco, pois não sou. Estava apenas tentando uma forma de me reaproximar, porque na
verdade eu nunca a esqueci.
Quando eu disse a ela que entrei de cabeça nas Artes Marciais por causa dela, não
estava brincando. Foi verdade. Eu fiquei tão na fossa quando ela me dispensou que
precisei de algo para ocupar minha mente e aí acabei me tornando Diego Monstro. Viram
meu potencial, meu pai quis investir e aqui estou eu.
Não vou dizer que não tive outras mulheres. Claro que tive. Não sou santo. Mas eu
nunca consegui esquecer a minha primeira paixão. Quantas vezes, eu chamei a mulher que
estava comigo de Ana Carolina…. Foram várias vezes. A única coisa que podia fazer era
pedir desculpas. Algumas não ligavam, mas outras realmente ficavam chateadas.
E quando eu finalmente criei coragem e cheguei perto dela, minha intenção era me
aproximar aos poucos, reatar a amizade e depois conquistá-la. Eu só não sabia que ela
tinha o coração quebrado.
E em uma manhã, recebi uma ligação que mudou minha vida. Ela toda nervosa
pediu para que eu fingisse ser seu namorado. Então eu vi uma chance de conquistá-la de
verdade. Eu só tenho medo de que não consiga, afinal, ela só está nesse falso namoro para
se vingar dos pais, não aparecer sozinha no casamento e fazer o idiota do ex se arrepender
de tê-la largado.
Será um final de semana interessante e eu posso sair gravemente ferido dele.
Ana é como um sonho. Um sonho do qual não quero acordar. Um sonho que pode
virar um pesadelo.
Beijá-la novamente, me fez parecer um adolescente bobo. E tudo o que falei, para
ela ou para Daniel, foi verdadeiro. Aquele pedido foi real. Uma pena que ela não tenha
percebido.
O anel que guardei por tanto tempo…. Como fiquei com medo de que não desse no
dedo dela, passei em uma joalheria. Eu sabia que um anel podia ser aumentado em um
número e foi o que fiz. Aquele anel significava muito para mim, para nossa relação.
— Diego? — Papai entrou no vestiário. Estava me trocando para começar a treinar.
— Oi pai, bom dia!
— Bom dia, filho. Sabia que ia te encontrar aqui.
— Passou lá em casa? — perguntei enquanto colocava uma das luvas em minha
mão.
— Sim. — Silêncio. Eu já sabia o que ele queria. — Eu vim, porque preciso
conversar com você.
— Pai.
— Não, Diego. Você precisa contar a ela. Ana tem o direito de saber. — Olhei para
ele. — Eu vi, no dia da luta, aquela garota te ama, de verdade. — Ama não, pai. Você está
enganado. — Você tinha que ver como ela ficou, ela sofreu com cada soco que você
recebeu. — Isso porque ela precisa que eu esteja inteiro para o dia do maldito casamento.
— Ela precisa saber, filho.
— Eu sei pai. — Embora não estivéssemos juntos de verdade, eu precisava contar a
verdade a ela. Sei que Ana se importa comigo — não da forma que eu queria, mas ela se
importa — eu vi a cara dela quando chegou no vestiário no dia da luta, e por isso ela
precisa saber, mas não sei como contar.
— Não demore muito. Quanto mais demorar, pior pode ser. Ela pode se sentir
enganada.
— Eu vou contar. — Respirei fundo.
— Tudo bem. — Meu pai me ajudou a colocar a outra luva, e me deu um abraço. —
Eu te amo, filho. Estou com você.
— Obrigada, pai. Também te amo.
Meu pai se foi e eu fiquei sozinho. Olhei o grande saco de areia que estava a minha
frente e descontei nele, toda a raiva que sentia. Por todas as escolhas erradas que fiz.

.::.


— Bom dia, flor do dia! — Estava encostado no meu carro, com um buquê de rosas
vermelhas nas mãos. Ana descia as escadas de casa, pensando que ia trabalhar.
— Bom dia! O que faz aqui tão cedo? — ela perguntou ao se aproximar.
— Hum, é assim que fala com seu namorado? Magoei! — Fiz cara de triste e ela
sorriu. O sorriso mais lindo de todo o mundo. — São para você. — Entreguei-lhe as rosas.
— São lindas! — Ana fechou os olhos e inspirou o perfume das rosas. — São lindas
de verdade. Obrigada!
— Não há de que! — Pisquei para ela. — Vá trocar de roupa, você não vai trabalhar
hoje.
— Como não? — ela perguntou confusa.
— Seu dia hoje é comigo. Seu pai te deu folga.
— Mas ele não falou nada comigo.
— Ele vai falar agora. Olha ele lá na janela. — Ela olhou e Daniel estava nos
observando. Ele fez dois gestos para que ela entendesse que estava liberada. — Troque de
roupa. Ponha uma roupa confortável e principalmente tênis nos pés.
— Aonde vamos?
— Surpresa!

Ana voltou vestida da forma que falei. Entramos no carro e fomos em direção da
Floresta da Tijuca.
Quando éramos adolescentes, Ana sempre que via o Pico da Tijuca, dizia que
gostaria de ir lá. Eu já tinha ido algumas vezes com meus pais, e quando programamos
para levá-la, terminamos.
Conforme íamos avançando, ela ia conhecendo o lugar.
— Diego, você está me levando onde acho que está me levando?
— Não sei. Diga você. — respondi sem tirar os olhos da estrada.
— Eu conheço bem esse caminho. Sempre que passávamos por aqui, eu dizia que
um dia iria fazer trilha na Floresta.
— E você fez alguma vez?
— Não. Sempre achei que era uma coisa nossa e não quis ir com mais ninguém. O
pessoal da faculdade veio pra cá algumas vezes, mas não quis vir. — Paramos no
estacionamento.
— Ótimo, então serei o primeiro. — Corri e abri a porta do carro para ela. — Me dá
a honra, senhorita? — Estendi minha mão.
— Claro, senhor cavalheiro!
Peguei, no carro, minha mochila, que continha água, frutas e lanches. Passei
repelente nela, queria cuidar de Ana para sempre. Sua pele era tão suave.
A trilha não era tão difícil, era bem sinalizada. Pessoas leigas até poderiam se
perder, mas não eu. Conheço o lugar como a palma da minha mão.
No caminho avistamos milhares de borboletas, micos, lagartos que assustaram Ana e
me fizeram cair na gargalhada. Paramos algumas vezes para beber água e comer alguma
coisa. A mata era fechada, o que nos protegia do sol. Mas quando chegamos à rocha, a
sombra havia acabado. E mais uma vez cuidei da minha Pequena. Passei protetor solar em
seu rosto e braços e num gesto de carinho ela também passou em mim. Me senti cuidado
por ela.
A vista de cima da pedra era gratificante. Com certeza valia a pena todo o esforço da
trilha. Tínhamos uma vista privilegiada do Rio de Janeiro, onde podíamos ver a cidade em
360 graus. Avistamos a extensão da orla, a Lagoa Rodrigo de Freitas, o Cristo Redentor, o
Maracanã, a Ponte Rio-Niterói e até o Engenhão. Era tudo muito lindo.
Tiramos algumas fotos para eternizar o momento.
O clima no pico era bem mais fresco por causa do vento. Vi Ana passando as mãos
nos braços. Puxei-a para perto de mim e a abracei. Eu podia dar meu casaco, que estava na
mochila, para ela, mas a queria perto de mim e não desperdicei a chance.
Ana por sua vez, encostou a cabeça no meu peito. Ela estava quieta demais,
provavelmente absorvendo toda a energia presente naquele lugar.
— É lindo demais. — ela sussurrou.
— Gostou? — perguntei, com ela ainda em meus braços.
— Se eu gostei? Claro que não. — Meu coração parou. — Eu amei. — Meu coração
voltou a bater, aliviado. Ela ficou de frente para mim. — Me prometa que me trará aqui
mais vezes!
— Com todo prazer. — Dei um beijo em sua testa e a puxei para um abraço.
Ficamos assim um bom tempo, vendo a paisagem até que um barulho me fez perceber que
tinha passado da hora de alimentar minha Pequena. O estômago da Ana havia roncado.






Capítulo Nove

Infelizmente, o fatídico dia havia chegado. Era hora de pôr o pé na estrada e ir até a
fazenda. Só tinha uma coisa boa nisso tudo: ver meus avós, meus tios, primos e estar em
família. Será um longo final de semana. Ainda bem que eu tinha o Diego comigo. Pelo
menos isso.
A viagem é longa. Meus pais foram no carro com Jonas e Jacy. E eu estou indo com
Diego. Não caberiam todos em um único carro e assim foi melhor, porque poderíamos ter
um pouco mais de privacidade e combinar algumas coisas.
— Diego, quando começamos a namorar? — perguntei.
— Há uns dois meses. Nos reencontramos no restaurante. Pintou um clima, te
chamei para sair e depois disso não nos largamos mais.
— E onde nós fomos?
— Onde nós fomos? — ele perguntou confuso.
— Sim, no dia que você me chamou para sair.
— Você acha que vão perguntar isso?
— Vai por mim. Quando a Iza e todos os outros me verem com você, será uma
enxurrada de perguntas. Vão nos testar ao máximo, pois vão querer ter certeza de que não
estou te levando apenas por dor de cotovelo.
— Mas não é por isso? — ele perguntou com os olhos na estrada.
— Isso não vem ao caso. — Ele arqueou uma das sobrancelhas e abriu a boca para
perguntar algo, mas antes que ele conseguisse, refiz a pergunta. — Então, onde você me
levou quando saímos?
— Pode ser na lanchonete do meu amigo? Seria verdade e não estaríamos mentindo.
Ou é muito ralé?
— Não. Não sei se lembra, mas não sou de ostentar.
— Verdade. E depois disso?
— Depois disso, você foi jantar lá em casa e fez aquele pedido fofo ao meu pai. —
Olhei para meu anel. — Os homens ainda fazem isso?
— Acho que não. Só os que amam de verdade. — Ele tirou os olhos da estrada e me
olhou. Meu coração palpitou. — Eu só queria que fosse real.
— Mas não foi. — resmunguei e Diego olhou para mim.
— Foi sim, Ana. Aquele momento foi real porque aconteceu.
— Mas nosso namoro é uma farsa, Di. — Ele olhou para mim e sorriu.
— O que foi?
— Você me chamou de Di. — Foi completamente espontâneo. Eu nem tinha
percebido. — Gostava tanto quando você me chamava assim.
— Eu também gostava. Vou te chamar assim mais vezes, então.
Paramos em um semáforo e Diego tirou os olhos mais uma vez da estrada e olhou
para mim. Abriu um sorriso encantador, tirou uma mecha do meu cabelo que estava em
meu rosto e com as costas do dedo indicador, fez carinho em minha bochecha. Meu
coração acelerou com o toque e minhas bochechas queimaram.
— Você é linda, sabia? — Foi a minha vez de sorrir para ele.
— Obrigada. Você também é muito bonito e tem um corpão. — Ele arqueou uma
das sobrancelhas. — O que foi? Falei a última parte alto, não foi? — Na mesma hora levei
minha mão à boca e meu rosto esquentou. Ele gargalhou.
— Não fique assim. Fico feliz que tenha reparado.
— Eu tenho uma boca grande demais. Falo demais.
— Para, eu gostei. — E mais uma vez ele acariciou minha bochecha. Seus olhos
azuis estavam grudados nos meus.
Esse olhar do Diego mexia com algo dentro de mim. Era impressionante o turbilhão
de sentimentos e vontades que se agitavam em mim somente com seu olhar. Eu precisava,
realmente, tomar cuidado para não acabar acreditando na mentira que estava contando.
Ainda estávamos nos olhando, quando uma buzina soou do lado de fora, avisando
que o semáforo estava aberto, interrompendo nosso contato visual.
— Agora é minha vez de perguntar. — Olhei para ele curiosa. — Qual foi o melhor
lugar que te levei?
— Ah, não vão perguntar isso.
— E se perguntarem?
— Não precisarei inventar nada. Foi na Floresta. O dia que passamos lá foi mais que
especial. — Ele sorriu.
— Que bom. — Essa foi a resposta dele. Que bom. Que raios isso significava? Eu
não queria ficar pensando nisso. Minha mente estava cheia o suficiente. — Que tal uma
música? A viagem é tão longa e preciso de algo para preenchê-la.
— Só minha companhia não basta?
— Claro né? Saiba que não há companhia melhor, viu?!
— Bom saber. Tem um pendrive aí no porta-luvas.
Procurei pelo tal pendrive e o coloquei no aparelho de som. A primeira música que
tocou foi Photograph do Ed Sheeran.
— Adoro essa música. — eu disse.
— Eu também. Sempre que a ouço, lembro-me de você.
— Nós dois temos muitas memórias juntos. — Ele balançou a cabeça
negativamente, mas ficou em silêncio.
Por alguns momentos ficamos em silêncio, apenas absorvendo a letra da música.
Talvez fossem coisas que queríamos falar, mas não conseguíamos.
.::.

Já era final de tarde quando chegamos à Fazenda. Amanhã à noite terá um jantar
para toda a família e domingo será o casamento. Respirei fundo ao descer do carro.
Vovó e vovô já nos aguardavam do lado de fora. E foi uma alegria vê-los. Eu estava
realmente com saudades.
— Vovó, vovô! — Foi um abraço triplo.
— Ana! — eles falaram em uníssono. Depois que me soltaram, viram que eu não
estava só.
— Vó, vô, vocês lembram do Diego?
— Diego Salvador? — vovô perguntou coçando a barba branca.
— Isso mesmo. — Diego respondeu. — É um prazer vê-los novamente. — Diego
estendeu à mão ao meu avô, que rejeitou, mas o puxou para um abraço.
— O prazer é meu. Como você tá crescido! Tenho visto suas lutas e a última foi a
melhor de todas.
— Foi mesmo. — Foi a vez da vovó. — Mas achei que você fosse perder. — minha
avó disse enquanto o abraçava.
— Vovó, a senhora anda assistindo luta? — perguntei incrédula.
— Depois de uma certa idade, Aninha, não há muito o que fazer, então a gente vê
televisão. Mas confesso que descobri um hobby. Gosto muito de lutas, principalmente
quando é você quem está lutando. — Ela apontou para Diego.
— Obrigado. — Di agradeceu sem jeito.
— Nada, meu filho. Cadê seus pais? — vovô perguntou.
— Já devem estar chegando por aí. Passamos por eles no centro da cidade. Eles
andam como tartaruga por causa do neto.
— Tem que cuidar do meu netinho direitinho. Não vemos a hora de ver um seu, mas
estamos vendo que não está muito longe de acontecer.
— Vó! — Dona Ellen ainda me mata de vergonha.
— Ora, ora! Olha quem chegou. — Iza desceu as escadas da casa principal,
escoltada por João. Engoli a seco. Diego na mesma hora passou os braços pela minha
cintura e me puxou para perto dele. — E acompanhada.
— Olá Iza, olá João. — Minha voz saiu tão firme que até eu fiquei surpreendida. —
Esse é Diego, meu namorado. — Olhei para ele, que abriu um sorriso enorme e me deu
um selinho.
Meus avós sorriram. Iza e João ficaram de boca aberta.
— Muito prazer. — Diego disse ainda agarrado a mim.
— Eu vi a reportagem. Sei quem você é. — Iza sorriu. Ela era mais falsa que nota de
três reais. — O filho do cara que sequestrou minha tia Melissa. — Que mulherzinha
intragável.
— Meu pai não sequestrou ninguém. — Diego disse entre os dentes.
— Claro. Ele apenas foi cúmplice.
— O que você está fazendo, Iza? — perguntei já me estressando.
— Não sei como você consegue. Ela é a sua tia. — Iza falou.
— Iza, não se meta nisso. — Vovó disse.
— Admiro a senhora, concordando com uma coisa dessas. Esse homem não deveria
estar aqui.
— Quem não deveria estar aqui? — Meu tio Max perguntou. — Acho que você, Iza,
não deveria se meter em assuntos de família. — Meu tio foi bastante ríspido. Nunca o vi
falar assim com ninguém.
Tia Melissa estava junto a ele.
— Diego! Quanto tempo. — minha tia o cumprimentou com um abraço.
— Dona Melissa, como vai?
— Eu vou bem. Almocei com sua mãe semana passada, ela te falou?
— Sim. Falou sim. Ela adora sua companhia.
— Ela me contou que estão namorando de novo e eu estou muito feliz com isso.
— Obrigada.
— Ana, minha flor de formosura. — Tia Mel era uma fofa.
— Tia Mel! — Recebi um abraço carinhoso.
Enquanto eu abraçava tia Melissa, vi que tio Max abraçava Diego.
— Ana, minha sobrinha preferida! — Tio Max brincou.
— Você só diz isso, porque sou a única. — Ele abriu os braços para mim e eu me
aconcheguei no seu abraço. — Obrigada, tio.
— Não há de quê. Alguém tem de dar limites a essa garota. — ele falou no meu
ouvido.
— Cadê a Duda?
— Ela vem amanhã. Tinha prova hoje.
— Hum… — Eu precisava perguntar. — Tio, você não ficou chateado por eu estar
com Diego?
— Claro que não, Ana! Alex é meu amigo. E eu realmente estava torcendo para que
você não viesse sozinha. Sei o quanto isso tudo — ele gesticulou, apontando para a
fazenda. — é difícil para você. E a propósito, eu não aceitei cantar para ela.
— Pelo menos você ficou do meu lado.
— Mas não foi fácil, Ana. Eu tenho uma amizade muito antiga com os pais dela.
— Eu sei tio. Mas obrigada assim mesmo. — Dei mais um abraço nele.
— Agora no casamento de vocês, com certeza eu irei cantar! — Ah tio Max!
Tia Melissa e Diego estavam em uma conversa animada. Isso era bom. Meus pais
chegaram com Jonas e perdi totalmente a atenção da família.
Iza e João já haviam sumido. Nem percebi quando saíram.
— Ana, seu chalé está arrumado, só esperando por vocês. — Vovó disse.
No decorrer dos anos, cada um foi fazendo um chalé na Fazenda. Meus pais, quando
vinham para cá, usavam o quarto que era da minha mãe antes de se casarem. Meus tios,
também usavam o antigo quarto do tio Max. Eu, Duda e Jonas fizemos, cada um, o seu
próprio chalé. E ainda havia o chalé das visitas, fora os quartos vagos na casa principal,
que era enorme.
— Os dois vão dormir juntos? — meu pai perguntou.
— Não seja bobo, Daniel. Lembre-se que dormíamos juntos bem antes de nos casar.
— mamãe defendeu.
— Diego pode ficar com o chalé das visitas. — eu disse, tentando sair dessa situação
embaraçosa. Não estava preparada para dormir no mesmo quarto que ele.
— Todos os quartos desta fazenda estão ocupados. — vovô disse. — Largue de ser
puritano, Daniel. Você corrompeu minha filha muito antes do casamento. — Meu pai ficou
quieto. — As chaves estão no lugar de sempre, querida.
— Bom, então com licença. — Olhei meu falso namorado. — Vamos, Di?
Diego passou o braço por cima do meu ombro e beijou o topo da minha cabeça e nos
encaminhamos para o chalé abraçados.





















Capítulo Dez

Olhei para meu quarto. O que havia nele? Uma cama de casal, um armário, uma
televisão, uma poltrona e uma cozinha improvisada, com um fogão de duas bocas, um
micro-ondas e um frigobar. Poderia morar ali tranquilamente. Havia também o banheiro,
onde não economizei nem um pouco, com uma banheira enorme, que cabiam até três
pessoas. Eu, Duda e Jacy cansamos de ficar horas nela.
Isso seria bem complicado.
— Não se preocupe, eu posso dormir na poltrona, ou na banheira.
— De forma alguma. Nós dois cabemos nesta cama. Eu sei que você irá me
respeitar.
— Com certeza.
— Vamos arrumar nossas coisas e depois vamos para a piscina? Estou morrendo de
calor, e piscina ao entardecer é uma maravilha!
— Vamos sim.
Arrumei nossas coisas no pequeno armário, trocamos de roupa, passamos na cozinha
e fizemos um lanche. Eu ainda não tinha visto nem tia Carla e nem o tio Júlio. Mas o
barulho que vinha de fora da casa, indicava que todos tinham pensado como eu. Estavam
todos na piscina.
— Ana, como você está? — Diego me perguntou enquanto fazíamos o nosso lanche.
— Por incrível que pareça estou bem. — E era a verdade. Ver João não fez nem meu
coração acelerar.
— Sério? — Nos sentamos à mesa e utilizamos as cadeiras que estavam uma do
lado da outra, mas as viramos de forma que ficamos frente a frente.
— Uhum…. Eu me sinto bem. — Por cima da mesa, Diego pegou minha mão e
entrelaçou seus dedos nos meus. Esse toque fez meu coração se aquecer.
— Que bom, fico feliz. — O sorriso do Diego era tão lindo. Ficamos nos encarando
por alguns minutos, até que uma voz nos fez pular de susto.
— Atrapalho? — Era João.
— Na verdade sim. — Diego disse.
— Ah que pena. — João deu um sorriso forçado. — Eu sou João. Você já deve ter
ouvido falar de mim. Sou o ex—noivo. — João estendeu a mão para Diego, que rejeitou, é
claro. O babaca, não sei porque, frisou a palavra ex-noivo. E ele era exatamente isso, mais
nada.
— Não, acho que não. — João recolheu a mão, totalmente sem graça. Diego me
olhou. — Não me lembro desse nome, amor. — A cara de tacho do João era impagável.
Precisei me esforçar para não rir da cara dele.
— Deve ser porque é passado. — eu disse olhando para João.
— Pois é. — Diego falou. — E aproveitando, já que você é o ex e eu sou o atual, eu
só tenho a te agradecer, por ter deixado a Ana livre para mim. Muito obrigado, cara! —
Diego disse na maior cara de pau e João ficou emburrado.
— Tanto faz. — João respondeu dando de ombros.
Diego me olhou nos olhos, colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e
sussurrou:
— Eu vou te beijar agora. — Pela minha visão periférica, vi que João ainda
continuava em pé, olhando para nós dois.
Diego se aproximou e eu podia sentir seu hálito quente em meu rosto. Sua
respiração estava tão descompassada quanto a minha. Ele se aproximou mais e encostou
seus lábios nos meus. Com suavidade, ele mordeu meu lábio inferior, o que fez meu corpo
arrepiar. Um beijo terno, repleto de carinho, foi o que ganhei.
Quando acabamos, percebi que João não estava mais entre nós. Olhei para Diego
que me fitava intensamente:
— Obrigada!
— Não há de quê!
Diego me puxou para um abraço e eu apoiei minha cabeça em seu peito enorme.
Meu falso namorado, fazia carinhos em meus cabelos, fazendo com que eu desejasse ficar
ali para sempre. Era tão bom estar ali, era reconfortante. Era como se eu estivesse em casa.
— Acho que a piscina nos aguarda.
— Por mim, ficaria aqui para sempre.
— Meu peito está confortável?
— Muito. Seria estranho se eu me sentisse em casa? — Apoiei meu queixo em seu
peito e olhei para ele.
— Claro que não. Quando estou com você, me sinto assim também. — Ele me olhou
nos olhos e sorriu ternamente. — Vamos? Precisamos enfrentar algumas feras! — Ele se
levantou e me ofereceu a mão.
— Saiba que você está me tirando do meu lugar preferido. — eu disse pegando em
sua mão.
— Hum…. Muito bom ouvir isso. — Diego me deu um selinho, entrelaçou seus
dedos nos meus, deu um beijo em minha mão e fomos em direção à piscina.
— A Fazenda mudou muito desde que vim aqui.
— A gente foi melhorando nosso espaço. Eu amo esse lugar. — Digo observando o
extenso gramado que percorre a fazenda. — Se eu pudesse viria mais vezes aqui.
— Aqui realmente é um lugar muito bom. — Ainda estávamos de mãos dadas. Era
tão fácil estar com ele.
O falatório foi ficando maior. Todos estavam em volta da piscina e conversavam
sobre o casamento. Assim que nos aproximamos, todos nos olharam. Inclusive João, que
começou olhando para nossas mãos unidas.
— Ana! — tia Carla me cumprimentou.
— Oi tia, tudo bem? — Eu a abracei.
— Sim e você?
— Também estou bem. Esse é meu namorado, Diego.
— Olá Diego, seja bem-vindo a essa família.
— Obrigado.
Tio Júlio também nos cumprimentou, ele até foi simpático. Iza nos olhava de cara
feia o tempo todo. Como se eu me importasse.
— Então, quando vocês começaram a namorar? — Iza perguntou.
— Há cinquenta e oito dias, para ser mais exato. — Uau! Diego respondeu.
— E como foi? — Foi a vez de João perguntar.
Sério?
Eu e Diego nos sentamos na mesma espreguiçadeira, ele atrás e eu na frente. E
encostei em seu peito, voltando ao meu lugar preferido.
— Eu já estava procurando por ela. — ele disse e eu o olhei. Nós não tínhamos
combinado isso. — Na verdade eu nunca esqueci essa garota. — Ele segurou minha mão e
a acariciou. — Aí, marquei um almoço no restaurante do pai dela, e pedi para
cumprimentar o Chef. Eu já sabia que era ela. E quando eu pus os olhos nela, foi como se
a visse pela primeira vez. Coração palpitando, mãos suadas e trêmulas. — Diego passou
os braços em torno de mim e beijou o topo da minha cabeça. Eu conseguia ouvir os
suspiros das mulheres que ali estavam menos da Iza que permanecia de cara amarrada.
Parecia até que sabia que estávamos contando uma mentira. — Agora, a única coisa que
quero, é ficar ao lado da mulher que amo. — Me virei para ele e dei um selinho em seus
lábios.
— Nossa, mas já ama? — Iza perguntou com desdém.
— Nunca deixei de amar.
— Vocês têm uma história. — Tia Carla falou. Nós dois sorrimos.
— Vamos dar um mergulho, amor? — Era melhor sair de perto da Iza antes que eu a
jogasse na piscina.
— Só se for agora! — Diego tirou a blusa e eu juro que vi, todas as mulheres
admirando o abdômen definido do meu namorado, inclusive a senhora minha mãe.
Eu e Diego pulamos juntos na piscina, jogando água em todos que estavam fora
dela. E alguém reclamou:
— Mais que droga! Dá para não jogar água nos outros? — ela gritou.
— Iza, você está na beira de uma piscina. Se não quer se molhar, meu bem, saia
daqui.
— Olha como você fala comigo, garota. Deve ser a convivência com esse marginal!
— ela falou e saiu andando. Meu sangue ferveu.
— Iza! — tia Carla e tio Júlio falaram ao mesmo tempo, mas não a pararam.
Na mesma hora saí da piscina e fui atrás dela. Diego tentou me impedir, sem
sucesso. Quando a alcancei, ela já estava na cozinha.
— Iza! — Segurei em seu ombro e ela se virou para mim. — Quem você pensa que
é para falar nesse tom comigo e dessa forma com meu namorado? — Minha voz soou
amedrontadora. Até eu me assustei quando a ouvi. Mas eu já estava de saco cheio dessa
garota, e se não colocássemos os pingos nos is, ficaria difícil ficar aqui até domingo. Ela
arregalou os olhos quando percebeu que estávamos sozinhas. — Não basta você ter
tomado o João de mim, o que foi uma bênção, — levantei as mãos para cima em forma de
agradecimento — fazer em seu casamento tudo o que eu planejei para fazer com ele? Ou
você é muito insegura, ou não tem um pingo de criatividade.
— Eu faço o que quero, o casamento é meu como você mesma disse. — Sonsa! Sem
sal! Idiota!
— Ah claro! Você pode fazer o que quiser, mas me trate com respeito e ao meu
namorado também. Caso contrário, — Apontei o dedo em sua cara e ela recuou um passo
— vou fazer o inferno para você, nesses três dias. E não se esqueça de que tudo aqui — eu
abri os braços — é meu. Se eu quiser, acabo com essa palhaçada e faço meus avós te
chutarem daqui. — Não sei se conseguiria essa proeza, mas a deixaria pensar que sim.
Virei as costas e saí da cozinha. Eu estava tentando me controlar. Respirava pelo
nariz e soltava o ar pela boca de tão nervosa que estava.
Ao sair da cozinha dei de cara com meu irmão, que estava escondido ouvindo a
conversa alheia.
— Ouvindo a conversa dos outros, Jonas? — briguei.
— Eu não chamaria isso de conversa! — Ele zombou e olhei de cara feia para ele.
— Mamãe pediu para que eu viesse atrás de você, mas não quis interromper. Você
precisava colocar essas coisas para fora. E eu adorei. A parte que mais gostei, foi quando
você disse que isso era tudo seu. Perfeito, irmã! — Ele abriu os braços para mim e eu me
aconcheguei em seu peito.
Ninguém nesse mundo tem um irmão melhor que o meu!
















Capítulo Onze

— Ela já cozinhou para você? — Ouvi João perguntando a Diego. Não sei o que
houve, mas João e Diego ficaram sozinhos na piscina. Os dois estavam sentados nas
espreguiçadeiras, cada um em uma.
— Sim, claro. — Isso era uma mentira.
Preferi fazer igual ao Jonas, ficar escondida e ouvir a conversa alheia. Precisava
saber onde isso daria.
— Já comeu o Conchiglione de abóbora e carne seca? — Diego negou. — Então ela
não gosta tanto de você assim. — Vi Diego fechar as mãos em punho. — É a
especialidade dela.
— Qual é o seu problema, cara? — Diego perguntou visivelmente raivoso.
— Nenhum. — João deu de ombros, se fazendo de desentendido.
— Achou que ela viria sozinha e que ainda correria atrás de você? — Diego
gargalhou. — Você se enganou. Ela está comigo agora, se contente com isso.
— Eu não teria tanta certeza.
— Não foi você quem largou ela? Quem a trocou pela prima? O que você quer,
afinal, as duas? — Diego não gritava, mas sua voz estava bastante irritada.
— Não é uma má ideia. — João provocou. — Se bem que eu nunca deixei de ter a
Ana. — Diego se levantou.
— Você quer que eu arrebente a sua cara? — João olhou para ele assustado, pois
sabia que não teria chances contra Diego, e se pôs de pé.
— Você não faria isso.
— Eu não teria tanta certeza. — Diego disse bem próximo ao rosto de João.
— Calma cara. — Um João covarde levantou as mãos, tentando impedir, em vão, a
aproximação de Diego.
— Calma? Você me provoca e depois pede calma? Você só pode estar de gozação!
— Diego disse segurando João pela gola de sua camiseta.
Eu não queria me meter, queria era mais que Diego desse um soco bem dado na cara
do safado. Como assim ele nunca deixou de me ter? Ele só pode ser louco.
— O que foi, vai gritar pedindo socorro, gazelinha? — Diego parecia realmente
bravo.
— Me solta, por favor. — João implorava e eu gargalhava.
— Eu vou soltar, mas se você ousar me provocar novamente, não serei tão bonzinho.
Diego o soltou e foi em direção ao chalé. Eu ainda fiquei escondida onde estava. Vi
João chutar o vento, muito bravo dentro de suas roupas, o que me deu mais vontade de rir.
João era um idiota, como não vi isso antes?
Sem saber, João havia me dado uma excelente ideia. Qual era mesmo a comida
preferida do Diego? Fui na dispensa da casa e peguei tudo o que precisava. Procurei entre
as coisas da vovó por velas, mas as únicas que encontrei foram aquelas finas e compridas,
que usávamos quando acabava a energia. Quem não tem cão, caça com gato. Seriam elas
mesmo. Hoje a noite seria nossa.
Antes de voltar ao chalé, pedi ajuda ao papai, que me fez prometer que eu não faria
nada do que fosse me arrepender durante essa noite. Eu sabia do que ele estava falando. Se
meu pai soubesse, não ficaria tão preocupado.
Papai ficou de distrair Diego enquanto eu preparava as coisas no chalé.
Assim que Diego saiu do chalé com papai, eu entrei e comecei a preparar as coisas.
Diego adorava fricassé. Era um prato fácil de fazer e delicioso.
Preparei tudo da melhor forma possível. Acendi as velas, que não eram apropriadas,
mas que serviriam. Tomei um banho e coloquei uma roupa confortável e esperei por ele.
— Ana? — O ouvi chamar. — Por que está no escuro? Estamos sem luz?
— Nossa, Di, como você é romântico! — eu disse e foi aí que ele percebeu que as
velas não eram por falta de energia.
— O que você fez?
— Cozinhei para você. Se não me engano, seu prato preferido era fricassé.
— Você cozinhou para mim? — A pouca iluminação, não me deixou ver bem sua
feição, mas sua voz soou emocionada.
— Claro, por que não? Você merece isso e muito mais!
— Ana! — Diego veio em minha direção e me abraçou. Um abraço forte.
— O que foi?
— Nada. Eu só não esperava.
— Hei, tá tudo bem?
— Sim, claro. — Ele ainda estava me abraçando.
— Vamos jantar, então?
— Vamos. — E foi aí que ele me olhou.
Seus olhos azuis brilhavam tanto, e ele me fitava intensamente. Ora meus olhos, ora
minha boca. E eu fiz o mesmo. Seus lábios estavam tão convidativos, que não perdi
tempo. Me estiquei, ficando nas pontas dos pés, pois só assim o alcançaria, passei meus
braços pelo pescoço dele e colei meus lábios nos dele. Não sei o que deu em mim. Talvez
tenha sido as velas, seu olhar, mas não consegui resistir a vontade de beijá-lo. E ele
correspondeu. Foi um beijo urgente, voraz. Onde cada pedaço do meu ser se consumia
naquele beijo. Meu coração estava descompassado, e eu já estava sem fôlego, mas ainda
assim não queria parar, não queria largar aquela boca, aqueles lábios. Meus lábios já
estavam doloridos, mas mesmo assim continuaria aquele beijo pela eternidade, se possível
fosse. Mas ele interrompeu, para minha tristeza e vergonha.
Diego encostou sua testa na minha e me deu selinho.
— Me desculpa, não sei o que deu em mim.
— Tá se desculpando por beijar seu namorado?
— Meu falso namorado né? — constatei, ainda com os braços em volta do seu
pescoço e com a testa colada na dele.
— Acho que não tem nada de falso aqui. — ele disse, me apertando ainda mais
contra seu corpo.
— Vamos jantar? — Preferi mudar de assunto. Eu não sabia o que estava
acontecendo comigo, com a gente. A única coisa que eu sabia era que eu me sentia bem
com ele, bem demais, por sinal.
— Vamos, antes que esse fricassé esfrie. — Ele beijou minha testa e me soltou. —
Deve estar uma delícia!
Para acompanhar, fiz arroz branco e salada verde. Arrumei o prato dele como
sempre arrumo os pratos no restaurante. Abri a garrafa de vinho, coloquei na taça e
entreguei a ele.
— Tratamento vip? O que eu fiz para merecer isso tudo?
— Você é o meu melhor amigo. Não quero que isso mude nunca.
— Não irá, eu prometo.
— Que bom! — Levantei a taça. — A nós dois!
— A nós dois. — ele disse erguendo sua taça. — Hum…. Que minha mãe não me
ouça, mas esse é o melhor fricassé que já experimentei na vida! — comentou após a
primeira garfada.
— Para de bobeira. Está normal, como todos que já comi.
— Não, então o seu não foi tirado do mesmo lugar que o meu. — Diego colocou um
pouco em seu garfo e me deu. — Experimente o meu, está divino.
— O seu saiu do mesmo lugar que o meu, seu bobo.
— Vamos, experimente. — Não tendo para onde fugir, abri a boca e deixei que ele
me desse. — Agora assume que você colocou bem mais que tempero nesse fricassé.
— Ok, eu assumo. — disse assim que engoli o que estava em minha boca. —
Coloquei bastante amor, porque queria te agradar.
— Ah sim. Agora melhorou. — E ele continuou a devorar o conteúdo do seu prato.
— Eu escutei sua conversa com João. — Ele me olhou. — Hoje na piscina.
— Ah, agora eu entendi. — Ele soltou o garfo ruidosamente sobre o prato. — Então
foi por isso? Foi por causa dele esse jantar? — Diego falava baixo, mas parecia chateado.
— De certa forma sim. — Diego se levantou tão rápido que a cadeira que ele estava
sentado caiu, fazendo um barulho alto. — O que foi, Di? — Levantei e fiquei atrás dele.
Passei meus braços em sua cintura. Eu realmente não estava entendendo a reação dele.
— Ana, por favor. — Ele tirou meus braços dele e se encaminhou para a porta.
— Onde você vai?
— Preciso de ar, de um tempo. — Corri, passando a sua frente, tranquei a porta e
coloquei a chave no sutiã. — Não seja infantil.
— Eu estou sendo infantil? — Eu estava magoada com sua reação. — Eu fiz um
jantar para você, e olha a desfeita que está fazendo? — Ele me deu as costas.
— Você não fez para mim. Tudo tem a ver com aquele idiota.
— Do que você está falando?
— Estou falando do que você ouviu. Foi por causa dele que você fez tudo isso. —
Diego estava se alterando.
— Ei, você está louco. Eu fiz esse jantar porque vi que eu nunca tinha feito nada
para você. Ao contrário do que tem feito por mim. João me fez ver o quanto tenho quer ser
grata. Você entrou nessa para me ajudar, está fingindo ser meu namorado enquanto podia
estar curtindo sua vida de solteiro. Sem contar a mulherada que estou afastando por que a
mídia sabe do nosso namoro. — Agora eu estava me alterando. — Você me fez aquela
surpresa tão linda, me levando à Floresta, que será sempre o nosso lugar. E está aqui
suportando essas pessoas falsas por minha causa. — Diego se virou para mim. — Eu só
queria te agradecer, ter uma noite agradável com você, só isso. — Eu já tinha me
controlado um pouco.
— Me desculpe. — ele disse olhando em meus olhos.
— Eu tinha pensado em tudo. Desde o jantar até o banho de banheira. — Ele me
olhou curioso. — De roupas, é claro. — E ele gargalhou.
— Me desculpas, tá?! Por favor, eu não sei o que deu em mim.
— Tudo bem.
— Será que podemos voltar aos seus planos? Adorei a parte da banheira. — Ele
sorriu de lado.
— Palhaço! — Fui de encontro ao seu corpo e o abracei forte. — Obrigada, Di.
Você é muito importante para mim. — Ele apoiava seu queixo em minha cabeça.
— Você é importante para mim também, Pequena.
— Pequena? — Ele riu. — Amanhã à noite você verá a pequena, quando eu estiver
no meu salto quinze.
— Vai ficar do meu tamanho?
— Vou ficar maior que você.
— Ah! Essa eu quero ver.
Ficamos abraçados durante tanto tempo que o fricassé esfriou.








Capítulo Doze

Senti algo mexendo no meu pé, era algo que estava me incomodando. Eu mexia o pé
e a coisa parava de me incomodar, mas logo depois incomodava novamente. Mas que
droga, o que tem no meu pé?
Abri o olho devagar. E a coisa continuava a me incomodar. Levantei um pouco a
cabeça que latejava um pouco, devido ao vinho que tomamos enquanto estávamos na
banheira, e o vi. Ele ainda dormia. Um sono tranquilo. Até dormindo o cara era lindo.
Seus braços estavam em volta de mim, minha cabeça em seu peito e nossas pernas
estavam enroscadas. Não acredito que dormi no peito dele!
E a coisa no meu pé continuava me incomodando, até que resolvi ver o que era:
Duda, Jonas e Jacy estavam ao pé da minha cama. Nem preciso dizer que tomei um baita
susto. Jonas observava a cena em que me encontrava com a sobrancelha arqueada. Fingi
não reparar, era constrangedora demais aquela situação. Ainda bem que acordei primeiro
que ele.
— O que fazem aqui? — sussurrei.
Duda tinha um sorriso que ia de orelha a orelha, enquanto me via enroscada com
Diego na cama.
— Vem com a gente! — ela sussurrou de volta.
Saí com todo cuidado para não o acordar e fomos para fora do chalé.
— Oi pra você também, Ana!
— Oi Duda! — Dei um abraço em minha prima. — Que bom que chegou. Não
esperava que viesse tão cedo.
— Cedo, Ana Carolina? Já está quase na hora do almoço. — Meu irmãozinho lindo,
acusou.
— O quê? — Como eu dormi tanto?
— Mamãe pediu para ver se estava tudo bem, pois você não acorda tarde. Pelo visto
estava tudo muito bem! — Jonas fez cara de safado, caçoando da minha cara.
— Não é nada disso que você está pensando.
— É sim, ele não é seu namorado? — Duda perguntou. E eu não ia coloca-la nessa
enrascada. — Jonas não tem nada com isso e não venha se fazer de puritano. Amiga, se
joga, porque ele é muito gato.
— É o que estou fazendo. — disse sem ânimo.
— Vá tomar um banho, escovar esses dentes, porque o bafo está brabo e vem nos
encontrar na piscina. — Revirei os olhos. — Precisamos colocar a fofoca em dia. — Duda
ordenou.
— Que fofoca?
— Já rolou um barraco essa manhã. Iza e João brigaram feio e parece que foi por sua
causa. — Jacy disse.
— Minha causa? Me conta isso direito. Melhor não, não quero saber nada que venha
desses dois.
— Ganhei a aposta, amor. Pode passar meu cenzinho para cá! — Jacy disse
contente.
— O quê? — perguntei indignada. — Vocês fizeram uma aposta sobre isso? Fala
sério! — Virei as costas para voltar ao chalé.
— Ana, mesmo que você não queira saber, iremos te contar. Então nos encontre na
piscina. — Duda ordenou.
— Ok. — Marchei de volta ao chalé e Diego estava no meio do quarto, com a toalha
enrolada na cintura. Eu cobri os olhos com as mãos, mas não totalmente, eu precisava ver
aquilo de perto, se possível até apalpar. Mas o que eu estava pensando!
— Me desculpe, não sabia que voltaria agora.
— Tudo bem. Ahn… vou… vou… t-tomar… — Eu não conseguia parar de espiar
aquele abdômen definido e aquele peito, cheio de gotas de água. Secaria aquele peito com
minha língua. Meu Deus, o que tô pensando? — Vou… Ai, droga! — De tanto pensar
besteira, bati o quadril na mesa. — Vou… t-tomar um banho.
Entrei no banheiro e coloquei o chuveiro no frio. Precisava esfriar meu corpo que
estava em combustão. Diego está mexendo comigo, meu Deus!
.::.

Quando saí do banheiro, para sorte dele, Diego já estava vestido, o que também era
uma pena, pois aquele corpo era admirável. Ô lá em casa… Pior é que estava na minha
casa e na minha cama. Como vou resistir a isso tudo?
— Ana, você está bem? — Diego perguntou depois de um tempo em que fiquei
parada, igual a uma idiota, olhando para ele.
— Sim, claro. — Respirei fundo. — Não consegui parar de pensar na toalha. —
resmunguei.
— O quê? — ele perguntou sem entender.
— Nada, deixa. Vamos? Devem estar esperando a gente para o almoço.
A família estava reunida em volta da piscina, se preparando para almoçar. Diego
segurou minha mão enquanto nos aproximávamos.
— Desculpa estar de toalha, mas juro que estava de cueca.
— Fala sério, Di. — Eu já havia recobrado o juízo. — Já vi várias vezes seu
abdômen super definido.
— Então porque cobriu os olhos?
— Para não cair em tentação. — soltei.
— Eu sou uma tentação?
— Droga, quando vou aprender a deixar minha boca fechada?
Ele parou, ficando de frente para mim, enlaçou minha cintura e me beijou.
— Adoro quando você fala demais, sabia?
— Se você ficar me beijando assim, vou entrar em combustão.
— O que disse?
— O que eu disse? — perguntei, tentando escapar da furada em que estava me
metendo.
— Você está entrando em combustão, é? — Ele ainda segurava em minha cintura.
Diego passou a barba rala pelo meu pescoço, causando arrepios no meu corpo. — Sério?
— Diego, por favor. — Minha voz saiu melosa, enquanto ele mordia meu pescoço.
— É muito bom saber que causo essas sensações em você. — ele sussurrou no meu
ouvido, enquanto eu estava mole em seus braços.
— Engraçado, eu não sei as sensações que causo em você.
— Não tem outro lugar para vocês se agarrem não? — Era a estraga prazer. Logo
agora.
— Bom dia para você também.
— Bom dia? — ela perguntou com desdém. — Boa tarde, né!
— Nossa, Iza. Você está tão amarga. Nem parece que se casará amanhã. —
provoquei.
— É o nervosismo. — Sei! — Me dá licença.
— Toda. — Olhei para Diego, que não me largou nenhum instante. — Vamos? —
Peguei em sua mão e caminhamos até a piscina. Continuei sem saber as sensações que
causo nele.
— Olha o casal vinte. A felicidade estampada no rosto deles. — Jacy anunciou nossa
chegada.
— Cunhada, você é suspeita.
— Vocês demoraram muito. — minha cunhada falou. — A noite não foi o
suficiente? — Papai cruzou os braços e me olhou de cara feia. Fingi não ver.
— Cunhada, não me envergonhe. — supliquei.
— Venham, vamos almoçar. — vovó chamou.
— Deixa que eu arrumo para você. — Diego falou. — Quero retribuir a noite de
ontem.
— Hum… — A mulherada fez ao mesmo tempo e senti meu rosto esquentar.
João e Iza pareciam se incomodar com a nossa felicidade. Era para ela estar mais
feliz do que eu, afinal irá se casar com o homem que ama.
Enquanto Di arrumava meu almoço, Jacy e Duda se aproximaram.
— Está vendo a cara deles? — Duda perguntou enquanto sentávamos em uma das
mesas que ficavam em volta da piscina.
O sol já estava escaldante, o calor insuportável. Ainda bem que o Ipê dos meus pais
fazia sombra na beira da piscina.
— Estou. É estranho. Deveriam estar felizes, mas não estão.
— É porque não devem estar felizes. — Jacy emendou.
— Eu e Jacy ouvimos a briga.
— Vocês ficaram ouvindo a conversa dos outros? — Olhei para elas ao constatar o
óbvio. — Isso tem acontecido muito por aqui. — Elas me olharam sem entender.
— Só sei que seu nome foi citado no barraco. — Duda apontou para mim. — Iza
disse: “eu vi você olhando para ela”, “que conversa foi aquela de que você era o ex-
noivo“, “tomara que Diego te dê um soco”. — Duda afinou a voz, imitando a Iza.
— João disse que ficou em dúvidas quando te viu. — Jacy disse, um pouco
cautelosa.
— Em dúvida de quê?
— Dúvidas se ainda queria casar.
— Ele disse isso a ela? — Eu realmente fiquei surpresa. Não se pode dizer uma
coisa dessas a noiva um dia antes do casamento. — Estou chocada! Se Diego ouvir isso da
boca dele, com certeza não sobrará nenhum dente para contar histórias.
— Você não se importou com o que João disse? — Jacy perguntou surpresa. Ela e
Jonas são os únicos que sabem sobre meu falso namoro.
— Para ser sincera, não. — Era estranho dizer isso em voz alta, devido a todos esses
anos que pensei que ainda o amava, mas eu dizia a verdade. João não tinha mais nenhum
efeito sobre mim. — Acho que gosto do Diego. — Jacy me olhou mais uma vez surpresa.
— De verdade. Ele é tão fofo, tão especial. Ele tem sido tão bom para mim, ele me faz tão
bem.
— Uau! — Jacy disse. Acho que Duda ainda não tinha se dado conta, mas também
não iria contar. — Isso é fantástico.
— É sim. Nunca pensei que fosse dizer isso, mas eu quero é mais que Iza e João se
casem e sejam felizes, pois eu quero viver minha vida com Diego. — Fiz uma pausa.
Provavelmente eu estava com cara de boba. — Ontem ficamos até de madrugada na
banheira tomando vinho.
— Hum… — as duas disseram um uníssono.
— Não aconteceu nada, estávamos de roupa de banho, mas foi tão bom ter aquele
momento só para nós dois.
— Sei como é, cunhada. Adoro ir para banheira com seu irmão.
— Jacy, por favor, me poupe dos detalhes. Como você mesma disse, ele é meu
irmão e é estranho pensar nele dessa forma. — Nós gargalhamos. — Não sou cega, ele é
lindo, tem um corpão e tal, mas é meu irmão. Ele sempre foi lindo.
— Quem sempre foi lindo? — Diego perguntou atrás de mim. — Trouxe seu
almoço.
— Meu irmão. — Peguei meu prato. — Obrigada. — Diego se sentou conosco.
— Você acha seu irmão bonito? — ele perguntou numa careta.
— Ei, meu marido é lindo, tá Diego. — disse uma Jacy emburrada.
— Não vou achar homem bonito, tá me estranhando? — Nós rimos. — Agora, se
me perguntassem se Ana é bonita, eu responderia que não. — Olhei para ele espantada. —
Eu diria que ela é linda! — Depois dessa declaração, ele me deu um selinho.
— Arg! Que melação! Preciso conversar com Amanda sobre isso.
— Não meta minha mãe nisso, Duda!
Diego e Duda tinham um relacionamento de amizade por causa da tia Mel e da
Amanda. Eles se viram bastante durante a adolescência, mas depois que viraram adultos,
cada um seguiu se caminho e quase não se encontraram mais.
— Então vou falar com Alex.
— Vai perder seu tempo, os dois aprovam meu relacionamento com Ana, e se
prepare, pois não largarei essa mulher nunca mais. — ele disse olhando em meus olhos. —
Quero que ela seja a mãe dos meus filhos. — Oi?
— Pelo visto teremos outro casamento em breve. — Jacy disse.
— No que depender de mim. — Ele pegou minha mão e a beijou. — E vocês serão
as madrinhas.
Ele não pode estar interpretando, não pode.
— Casamento à vista! — Duda brincou e ela e Jacy foram arrumar os pratos. E eu
sorri totalmente sem graça.
— O que faremos a tarde? — perguntei quando o silencio chegou. — Será que a
gente poderia andar a cavalo? — sugeri.
— Essa eu passo. — Diego disse ao colocar uma garfada em sua boca. — Tenho
pavor de cavalos. — ele respondeu depois que viu minha cara de espanto.
— Cavalos são tão dóceis.
— Isso porque você não caiu de um.
— Sério que você caiu de um cavalo? — gargalhei.
— Caí, literalmente.
— É o que eu mais gosto de fazer quando estou aqui. Entro por esse matagal e me
perco.
— Deus me livre.
— Você confia em mim? — perguntei.
— Cegamente.
— Então, eu e você montaremos na Princesa.
— Quem é Princesa?
— Minha égua.
— Não, não, não. Não vou montar em um cavalo.
— Princesa não é um cavalo, ela é uma égua. — zombei. — Di você vai estar
comigo. Ela é mansa, está acostumada comigo. Confie em mim.
— Não sei. Tenho pavor.
— Ok. Se a gente for na charrete, tudo bem?
— Nem tanto, mas pelo menos não estaria em cima dela.
— Então fechou. Vamos fazer um piquenique.
— No meio do mato?
— Não, na beira do lago. — Apontei na direção do lago. Ele era imenso. — Está
vendo aquela árvore. — ele afirmou. — Vamos esticar um lençol, deitar lá e tirar um
cochilo abraçadinhos.
— Abraçadinhos? — Ele sorriu, aquele sorriso de lado que me deixa louca. —
Gostei da ideia. Vamos causar inveja a todos os casais dessa fazenda.
— Essa não é minha intenção.
— E qual é a sua intenção? — Ele arqueou a sobrancelha.
— Passar a tarde com você.
— Abraçadinha comigo?
— Sim.
— Hum…. Acho que isso será bom. — Diego pegou minha mão e a acariciou.
— Também acho. E acho que se a gente não sair agora, vamos ficar presos aqui
nessa piscina, com essas fofoqueiras a tarde toda. — Duda e Jacy voltavam com uma
conversa animada. — É agora ou nunca.
— Agora.
Eu e Diego nos levantamos e saímos de mãos dadas, antes que as duas percebessem.
A única coisa chata foi deixar nossos pratos sobre a mesa, mas tenho certeza que vovó não
se chatearia.
Ouvimos as meninas chamarem por nós, mas fingimos não escutar.
— O que acha de um banho de banheira antes de irmos para o lago? — Diego
perguntou agarrando minha cintura por trás. — Foi tão bom ontem. — E foi mesmo.
Ficamos horas naquela geringonça. A água quente em minha pele, o toque dele, os
beijos… — Podemos abrir mais uma garrafa de vinho?
— Por acaso o senhor está querendo me embebedar?
— De forma alguma. — Diego beijou meu pescoço e eu mordi o lábio inferior
tentando conter o turbilhão de sentimentos que se agitava dentro de mim.
De repente, ele me virou e ficamos frente a frente. Seus olhos faiscavam e por
alguns segundos antes dele me beijar, vi que todas as coisas que ele me disse, eram reais.
O que estava acontecendo com a gente?


Capítulo Treze

Depois do banho de banheira, nos arrumamos e saímos feitos dois fugitivos para o
estábulo. Jacy e Duda bateram na nossa porta, porém mais uma vez fingimos não escutar.
Pegamos a charrete e fomos para o lago. Era final de tarde e não poderíamos
demorar, por causa do tal jantar.
Estiquei um lençol embaixo da árvore, coloquei o cesto que trouxemos em cima e
sentamos. Diego apoiou as costas no tronco da árvore, eu sentei entre suas pernas e
encostei minhas costas no peito dele. Meu falso namorado colocou meus cabelos de lado
para ter acesso ao meu pescoço e o beijou.
— Adoro esses beijos.
— Eu adoro esse seu pescoço.
— Acho que precisamos conversar, não? — perguntei sem olhar para ele.
— Vamos deixar as coisas como estão. — Ele deu mais um beijo em meu pescoço.
— Vamos aproveitar o agora, e quando for a hora, conversaremos.
— Tudo bem.
Talvez eu tenha interpretado errado. Talvez ele só esteja mesmo interpretando, talvez
ele esteja querendo viver apenas o momento e quando tudo isso acabar, cada um seguirá
seu caminho.
— Você está preparada para hoje à noite?
— Sim. Di, o João não significa mais nada para mim. Quero mais que ele se case e
seja feliz.
— Isso é ótimo.
— Sim.
Ficamos em silêncio por tanto tempo, apenas um aproveitando a companhia do
outro.
Comemos, brincamos, fizemos cócegas um no outro. Era bom ter a companhia dele,
estar com ele.
— O pôr do sol aqui é tão lindo.
— É sim. Estar na fazenda, deitada em seu peito… não tem coisa melhor.
— É mesmo, moça? — Assenti. — Pois saiba que eu também penso do mesmo
modo. — Ele beijou minha cabeça. Diego agia como se gostasse de mim. Mas então, por
que quando o chamei para conversar, ele não quis? Ele me deixa tão confusa às vezes!
— Acho que está na hora de irmos. Temos um jantar para comparecer. — ele
chamou. Sempre tão pontual.
— É verdade!
Levantamos e recolhemos as nossas coisas. Fizemos todo o trajeto de volta para o
estábulo, pois precisávamos colocar Princesa em seu devido lugar.
— Di, se você quiser, pode ir na frente. Vou escovar o pelo da Princesa e depois vou
para o chalé.
— Tem certeza?
— Sim, preciso conversar um pouco com ela. — Ele sorriu. — Faz tempo que não
venho aqui, estava com saudades.
— Tudo bem. Vou adiantar meu banho.
— Perfeito. — Ele me deu um selinho e saiu.
Peguei a escova da Princesa e comecei a passar sobre seu pelo.
— Ei, menina. Quanta saudade senti de você. — Em resposta, Princesa soltou um
relincho baixinho. — Eu sei que sentiu minha falta também. Está gostando do carinho?
— Você ainda perde seu tempo conversando com essa égua? — Ninguém merece!
— O que faz aqui? — João estava encostado, de braços e pernas cruzadas, na porta
de entrada do estábulo.
— Vim ver se precisava de ajuda, afinal fazíamos isso sempre. — Olhei para ele
sem entender. — A gente cavalgava e depois escovávamos os pelos dos cavalos.
— Sabe que nem me lembro disso? — E era verdade. Me lembrava de cavalgar,
agora do João escovar os pelos dos cavalos, isso não lembrava mesmo. — Sem contar que
você já está arrumado para a prévia do casamento. Você não vai querer sujar seu lindo
terno. — Ofereci um sorriso forçado. Não estava gostando da presença dele ali.
— Ana, Ana! Você tem andado muito esquecida. — João ignorou completamente
meu comentário e se aproximou. — A gente ainda poderia se divertir muito junto. —
Recuei um passo. — Eu sinto sua falta. — Ele deu mais um passo. Não estava gostando
do rumo dessa conversa. — Por que está fugindo de mim? — Ele continuava se
aproximando. Um pânico tomou conta de mim e de repente, me vi com medo do homem
que pensei amar por um bom tempo. — Hein, Ana?
— Não chegue perto de mim, ou eu vou gritar.
— Pode gritar, ninguém vai te ouvir. — Ele deu mais um passo. — Ouça a música
— ele levou o indicador até o ouvido. — que está tocando. Irá gritar em vão, então é
melhor aproveitar o momento. Sei que também tem saudades de mim e que trouxe esse
cara só para me fazer ciúmes, o que realmente aconteceu. Não suporto ver ele ao seu lado,
— dei mais um passo, porém fiquei encurralada ao sentir minhas costas na gelada parede
de madeira. — Não suporto ver ele te tocar. — João passou o dedo pelo meu rosto,
fazendo um calafrio percorrer meu corpo. — Descobri que ainda te amo, Aninha. —
Princesa começava a ficar alterada. Ela relinchava alto agora, mas João não se importou.
— Ontem quando o vi te beijando, minha vontade era de tirá-lo de perto de você. — Ele
umedeceu os lábios. Os lábios que um dia amei beijar, mas que agora me deixava
repugnada. Só a ideia de ser tocada por eles, me embrulhava o estômago. — Estou doido
para te beijar.
— Sai de perto de mim. — eu disse entre os dentes, mas ele não me ouviu.
Ele se aproximou mais e me pressionou contra a parede, segurando minhas mãos no
alto da minha cabeça. Esmagou minha boca com a dele. Princesa continuava agitada.
Quando João forçou com a sua língua a entrada da minha boca, senti náuseas. Teria
vomitado em cima dele se não tivesse tido a ideia de morde-lo. E mordi, mordi com toda
minha força os seus lábios. Na mesma hora ele me soltou.
— Por que você fez isso? — Ele passava a mão na boca.
— Não encoste em mim de novo. — Não tinha como sair, pois, João bloqueava a
saída.
— Você é minha, Ana! — João vociferou.
E ele se aproximou de novo, me esmagando contra a parede. Só que dessa vez ele
saiu rápido demais. Mas ele não saiu, foi arremessado. Diego o tirou de cima de mim,
jogando-o num monte de feno. João rolou pelos fenos, sujando seu terno com a palha.
— Se você encostar em um fio de cabelo da minha mulher mais uma vez, eu vou te
matar, cara. Já te dei uma chance, e estou te dando outra. — Diego apontava o dedo no
rosto de João. Nos olhos do meu namorado havia ódio, fúria. — Você tá me ouvindo, seu
monte de merda? — Diego puxou João de cima dos fenos pelo colarinho e deu um soco no
olho dele. — Você está me ouvindo? — Meu namorado sacudia João, que parecia um
pedaço de papel em suas mãos.
— Diego. — Ele não me olhou. Ele continuava sacudindo o João. — Di. — Chamei
mais uma vez sem sucesso. Cheguei por trás dele e o abracei. — Solte ele, amor. Não vale
a pena. — E Diego o soltou.
— Suma daqui, agora! — João saiu com o terno amarrotado, com cara de assustado
e o olho inchado. Queria ver a explicação dele para isso. Diego se virou para mim. —
Ana, como você está? — Diego me analisava.
— Estou bem, mas só estou porque você chegou. — Eu o abracei. Estava com tanto
medo do que poderia ter acontecido, caso ele não aparecesse. Ele me apertava tanto contra
seu corpo, que não parecíamos dois e sim, um. E foi aí que as lágrimas chegaram. Soluços
romperam por minha garganta.
— Shhh… Vai ficar tudo bem. Ele não ia fazer nada demais com você, ele não é
louco. — Diego beijava meu rosto, minha cabeça, minha boca. — Fica calma.
— Como vou olhar na cara dele? Como vou olhar na cara da Iza? — perguntei entre
os soluços.
— Ana, você não tem culpa do que aconteceu. — A voz do Diego era tão calma e
cheia de amor, me passava confiança, proteção.
— Eu sei, mas é o casamento deles amanhã.
— Não quero nem pensar como será isso. Mas se não quiser ir, tudo bem.
— Se eu não for, ele vai achar que estou com medo. Ele precisa saber que estou no
comando da situação e que se ele me perturbar mais uma vez, eu conto para a Iza. — disse
secando minhas lágrimas.
— Certo, então vamos, pois estamos atrasados.
— Por que você voltou?
— Eu parei para trocar uma conversa com seu irmão e quando ele se foi, ouvi
Princesa agitada, relinchando e quis ver se estava tudo bem com você.
— Você é meu herói, meu protetor.
— Amo ser seu herói, seu protetor. — Amo… Ele ama? Di me abraçou mais uma
vez bem apertado. — Vamos, Pequena. Você tem um salto quinze para usar.
Nós dois rimos e fomos em direção ao chalé, nos arrumar para essa palhaçada de
jantar de ensaio de casamento.

Capítulo Quatorze

Nem mesmo no salto quinze eu conseguia chegar ao tamanho de Diego. Ele era alto,
mas eu era baixa demais, abaixo da média. Pior era ser zoada por ele:
— Alguém disse que ia ficar maior que eu, sabe?
— Não é você que é alto, eu que sou pequena demais. — eu disse piscando para ele.
— Ah sim.
Nossas mãos estavam entrelaçadas. Era sempre assim, mesmo que não estivéssemos
perto de outras pessoas, lá estávamos nós com algum contato, seja de mãos dadas,
abraçados, ou apenas um acariciando o outro. Não conseguíamos ficar perto um do outro
sem nos tocar.
Durante toda a tarde, algumas pessoas arrumaram toda a área do jardim e piscina,
com mesas e flores para a prévia do casamento, e, diga-se de passagem, estava tudo muito
lindo e de bom gosto. E assim que colocamos nossos pés no jardim, todos os que estavam
lá olharam para mim e Diego. Foi meio que constrangedor, um monte de gente me
olhando, me sentia um E.T. Não conseguia entender se era por eu ser a ex-noiva do João,
ou porque éramos o casal mais bonito da festa. Tenho que confessar, mesmo sendo um
casal de mentira, — Tá! Nem tão mentira assim! — fazíamos um belo casal.
Duda e Jacy, acenaram para mim e meu namorado e nos encaminhamos para a mesa
delas. Mas no meio do caminho, encontramos dona Leyla, a mãe de João, minha ex-sogra.
— Ana! Quanto tempo! — Ela me abraçou e beijou minha bochecha.
— Oi, dona Leyla, tudo bem?
— Estou indo, preferia você a essa garota mimada. — Diego pigarreou. — Me
desculpe, não percebi que estava acompanhada. Esse casamento está me deixando
estressada. — Ela deu uma golada na bebida azul que estava em seu copo.
— Imagino. — Respirei fundo. Também estava me deixando. — Esse é Diego, meu
namorado.
— Olá Diego, como vai? — Meu namorado, como um perfeito cavalheiro, beijou a
mão da mãe de João.
— Vou bem, obrigado.
— Olha, um cavalheiro. Está de parabéns, Ana!
— Obrigada. Diego é realmente mais do que eu esperava e merecia.
— Espero que seja muito feliz, menina! — Ela tocou em meu rosto. — Cuide bem
dela, Diego. Essa menina merece ser muito feliz. — Ela sorriu para Diego. — Preciso ir
ver os noivos, João fez um aceno, me chamando.
— Sim, claro. — E foi aí que os vi. Os dois encaravam a mim e ao Diego.
— Sou mais do que merecia, é? — Ele me virou para que ficasse de frente para ele,
e ele me deu um selinho que me deixou mole.
— Hummm… — respondi.
— É, dona Ana, desse jeito vou acabar gamado em você. — Assim eu espero. E João
continuava me encarando.
A vontade que tinha era de ir embora, não precisava estar ali, não precisava passar
por isso. Não precisava olhar a cara do João, ainda mais depois do que ele havia me feito.
— Diego, quero ir embora. — disse assim que Diego me largou.
— Como ir embora?
— Quero ir para o nosso chalé. Tô de saco cheio desses dois.
— Está de saco cheio, ou está com ciúmes?
— Você só pode estar de brincadeira! — Olhei em seus olhos. — Ainda não te dei
provas suficientes de que não quero mais o João?
— Não quer mais? — ele perguntou.
— Não.
— Por quê?
— Por causa disso! — Eu o beijei. Beijei. Acredite ou não. Cansei desses jogos.
Cansei de fingir que meu coração não batia por ele. Eu estou apaixonada e espero não ser
a única.
— Uau! Por essa eu não esperava. — Ele colou nossas testas. — Quer dizer,
esperava, mas não que fosse assim, agora, desse jeito.
— Me tira daqui?
— Só se for agora. — Diego se afastou para pegar minha mão, o único problema é
que todo mundo daquele lugar, nos olhava mais uma vez. — Acho que estamos chamando
mais atenção do que os noivos.
— Também acho.
Diego começou a me arrastar, pelo meio das pessoas que ali estavam. Tinha tanta
gente. Avistei alguns parentes da Iza e do João.
Quando estávamos conseguindo atravessar o mar de pessoas, ouvi meu nome.
— Ana! — Iza me chamava pelo microfone. — Ana, minha prima querida! Cadê
você?
— Vamos, Ana, vamos deixá-la para lá. — Diego pediu.
— Ana, cadê você! — ela chamou mais uma vez.
— Aqui. — Algumas pessoas disseram.
— Fugindo da festa, priminha? — Ela me ofereceu um sorriso falso. O que ela
queria, dessa vez? — Nós vamos começar os discursos, será que você pode fazer um? Nós
duas fomos criadas juntas, você me conhece tão bem quanto eu te conheço. — Que saia
justa! Que mulher nojenta! Respira fundo, Ana. Respira fundo.
— Você não precisa fazer isso, Ana. — Diego disse.
— Venha, prima! — Olhei ao redor, e minha família inteira me olhava. Alguns
estavam chocados, outros me encorajavam. Eu estava em uma situação muito difícil.
— Ana, vá. — tia Carla pediu. Isso era jogo sujo!
— Desculpa Diego. Minha família está me esperando.
Respirei fundo e fui até onde minha prima estava. Encontrei com um garçom no
caminho, peguei uma taça de champanhe e virei de uma vez só e peguei outra para o
brinde. Já que vou fazer isso, eu precisava de um pouco de álcool correndo em minhas
veias. Ela me entregou o microfone, e eu não fazia a mínima do que dizer.
— Boa noite. Hoje é um dia de festa, um dia de alegria para Iza e para o João. Um
dia que marcará suas vidas para sempre, um dia onde se inicia um novo ciclo. Eu desejo a
vocês toda a felicidade do mundo. — falei, falei e não falei merda nenhuma. Ergui minha
taça. — Um brinde aos noivos, pois vocês se merecem! — Bebi de uma vez só o conteúdo
da minha taça. Odiei o que fiz, odiei o que Iza me fez fazer.
As pessoas me olhavam estranho. Iza veio de cara feia pegar o microfone. Por acaso
não era isso o que ela queria? Que eu fizesse o tal do discurso?
— Ana, você enlouqueceu? — Duda veio em minha direção.
— O que você queria que eu fizesse? Aquela vaca fez de propósito! — eu disse
tomando outra taça de champanhe.
— Não estou falando de você ter falado e sim do que falou no final.
— Eu disse: um brinde aos noivos.
— E o restante?
— Que restante, Duda? Pelo amor de Deus!
— Pois vocês se merecem? — Arregalei os olhos e levei a mão à boca.
— Eu não disse isso em voz alta.
— Claro que disse. Ou você acha que estou lendo pensamentos agora?
— Meu Deus! — Parei para pensar. — Quer saber? Que se dane. Ela me obrigou a ir
e depois do que aconteceu hoje, eu ainda fiz muito em estar aqui.
— O que houve? — Duda perguntou curiosa. Ô porcaria de boca grande!
— João tentou me agarrar no estábulo.
— Por isso o olho roxo? — Assenti e Duda gargalhou. — Foi você amiga?
—Claro que não.
— Foi o Diego?
— Sim!
— Meu Deus!
— Não fique de boca aberta, pode entrar mosca! — Minha prima gargalhou. —
Duda, ele tentou me agarrar, isso é sério. Nem sei o que poderia ter acontecido, caso
Diego não tivesse chegado.
— Ele disse que foi andar de bicicleta e que a corrente tinha saído, e quando foi
colocá-la no lugar acertou o olho no guidão. — Ela gargalhou novamente. — E porque
não levaram isso adiante?
— Iza jamais acreditaria e ainda causaria um mal-estar…
— … Grávida! — Eu e Duda olhamos juntas para ela, igual a menina do Exorcista,
— ou sei lá de que filme, pois odeio filmes de terror — Iza acabara de fazer uma
declaração. — Isso mesmo que você escutou, estou grávida! — ela disse olhando para
mim.
Ela disse em alto e bom tom. Iza intercalava o olhar de mim para João. O trouxa
deixou o copo de uísque que tinha nas mãos cair. A criatura ficou pálida e tinha os olhos
arregalados e o infeliz olhava diretamente para mim.
— Ah meu Deus! — Duda exclamou. — Ele está olhando pra cá. Será que ele ainda
gosta de você?
— Duda, se eu não queria nada com João antes, agora que ele será pai é que não
quero mesmo! — Um garçom passou perto de mim e troquei minha taça vazia por uma
cheia e mais uma vez, virei o líquido de uma vez só. — Me dá licença, vou atrás do meu
namorado.
Sabe qual era o meu problema? João. Esse cara era uma pedra no meu salto 15, meu
Deus! Enquanto eu procurava por Diego, que havia sumido no meio da multidão, João me
alcançou. Eu já não estava tão próxima da parte onde estavam os convidados, quando senti
um abraço por trás. Me virei achando que era Diego, mas dei com os burros n’água.
— Um olho roxo só não basta?
— Me quebro todo se no final eu conseguir ter você como prêmio.
— Você pode me soltar, João?
— Não, não posso.
— Eu vou contar para Iza esse seu comportamento.
— Conta, será um favor que me fará. — João ainda me prendia em seus braços e
minhas mãos estavam espalmadas em seu peito, tentando evitar que ele se aproximasse
mais. Eu consegui sentir o cheiro do álcool que saia de sua boca. Pelo visto ele andou
bebendo e muito!
— João, me solta!
— Não.
— Se alguém ver você me agarrando assim, achará que estamos juntos e não te
quero mais.
— Você é minha, Ana. Minha. — Eu gargalhei.
Pra mim já deu! Peguei meu lindo joelho e acertei seus países baixos. Sim, eu fiz
isso! João caiu de joelhos, com as mãos entre as pernas. Seu rosto ficou vermelho, seus
olhos esbugalhados e se contorceu de dor no chão.
— Que fique claro, eu não te amo mais. Fique com a Iza e com seu bebê que está a
caminho. Você fez essa escolha, agora aguente.
— O que aquele cara tem que eu não tenho? — Ele perguntou gemendo de dor.
— Posso fazer uma lista imensa. Primeiro de tudo, o cara tem caráter, coisa que
você não tem. — Eu contava em meus dedos os atributos do Diego. — Segundo, ele é o
meu melhor amigo, posso confiar nele de olhos fechados. Terceiro, ele é romântico, coisa
que você nunca foi. — Ele ainda se contorcia. — Quarto, Diego é inteligente. Quinto, bom
de cama. Muito melhor que você! — Essa parte era mentira, mas ele não precisava saber.
Eu não sabia como Diego era, mas imaginava… — Acho que posso parar por aqui, né?
Você já entendeu. — Eu ia me virando, mas desisti. — Ah, tem uma última coisa: Eu o
amo. Por favor, não interfira mais em minha vida. Bye! — Balancei meus cinco dedos e o
deixei no chão se contorcendo de dor.
Depois que deixei o idiota do João no chão, voltei a procurar pelo meu amor. Meu
amor.
Onde estava Diego? Andei por toda a fazenda e não o achei, então preferi voltar
para o chalé.
A porta estava semiaberta e a cena que avistei, fez meu coração falhar uma batida.
— O que você está fazendo?
— Arrumando as malas. — ele respondeu secamente.
— Por que? O que houve?
— O que houve, foi que eu vi você se agarrando com aquele babaca no jardim. Logo
depois de ter feito aquele discurso e depois da sua prima dizer que estava grávida. —
Diego não gritava. Ele falava baixo e olhava em meus olhos. E o que eu vi em seus olhos,
foi mágoa e isso partiu meu coração em mil pedacinhos. — Eu ouvi sua gargalhada.
Estava zombando de quem? De mim ou da Iza? Ou de nós dois?
— Não é nada disso que você está pensando.
— Não? Depois de tudo o que fiz por você, o que eu esperava, no mínimo era que
você tivesse a decência de me falar. Eu sabia que você ainda sentia algo por ele, mas não
imaginei que fosse tão falsa. Você desejou felicidades ao casal e depois foi se agarrar com
o noivo. — Senti minha mão estalar contra o rosto de Diego. Sim, eu dei um tapa no rosto
dele. Diego me ofendeu. Mas me arrependi no instante seguinte.
— Me desculpa, eu…
— Não precisa dizer nada, Ana. Não se preocupe, ainda estarei aqui amanhã para o
seu grand finale. Só não quero ter que dividir a cama com alguém feito você. — Diego
pegou sua mala e estava passando pela porta, quando decidi contar a ele a minha mais
recente descoberta.
— Eu te amo, Diego. — Ele parou, mas continuou de costas para mim. — Olha nos
meus olhos e vê se estou mentindo para você. — Ele continuava parado, junto ao batente
da porta. — João estava mais uma vez me agarrando. Não tenho porque mentir para você.
— Ele continuou parado, em silêncio. Pelo menos estava me escutando. — Lembra que eu
queria sair da festa, antes da Iza me chamar? — Silêncio. — Eu te beijei, lembra? —
Silêncio. — Di, olha para mim. — Eu cheguei mais perto e o abracei por trás. — Fala
comigo, Di. Eu te amo. — Lágrimas copiosas desciam pelo meu rosto. — Eu sei que
talvez você não sinta o mesmo por mim, mas não me deixe, eu te amo tanto.
— Repete o que você disse.
— Eu sei que você não sente o mesmo por mim. — Eu funguei.
— Não, depois disso. — Entendi o que ele queria ouvir.
— Eu. Te. Amo. — disse pausadamente.
Diego se virou numa brusquidão, me pegou pela cintura e me levantou. Encaixei
minhas pernas em seu quadril e com o pé ele fechou a porta.
— Diz de novo, por favor. — ele implorou com sua boca colada a minha.
— Eu te amo.
— Você não sabe o quanto esperei para ouvir isso. — ele falou enquanto beijava
meu rosto, boca e pescoço. — Eu te amo, Ana. — Ele parou de me beijar e olhou em meus
olhos. — Sempre te amei. Nunca deixei de te amar.
Algo dentro de mim se agitou. Ele me amava! Eu não acreditei sozinha na história
que contamos.
Diego me beijou com urgência. Minhas costas bateram na parede fria, que era o
contraste do seu corpo colado ao meu, que pegava fogo. Ele me imprensou contra a parede
e me beijava vorazmente, devorando cada pedaço da minha boca.
A noite estava apenas começando…












Capítulo Quinze

Diego parou de me beijar e olhou em meus olhos.
— Tem certeza que quer fazer isso? — Eu assenti. Eu queria, eu o desejava e muito. Meu
corpo ardia por ele. Parecia febril, mas essa febre era de puro desejo.
Diego me levou até a cama e me deitou nela. Foi até os meus pés e tirou meus
sapatos, sem interromper o contato visual. Seus olhos azuis, quase negros por causa das
pupilas dilatadas, estavam atentos aos meus.
Ao longo dos meus vinte e cinco anos, João havia sido o único homem que tive e
nem com ele me senti tão amada e completa quanto me sinto agora com Diego. Era uma
sensação única de pertencimento. Parecia que tínhamos sido feitos um para o outro. Era
uma conexão que eu jamais havia tido com nenhum homem, nem mesmo os
namoradinhos que beijei por aí.
Era Diego, tinha quer ser ele. Eu pertencia a ele e ele a mim. Nossos corpos se
encaixavam, me fazendo sentir completa, ao ponto de não querer e nem precisar pensar
em mais nada, pois eu era toda ele, tudo em mim era para ele, dele.
Os braços de Diego em minha volta eram como uma rocha, forte e inabalável, que
me dava segurança e confiança. Com ele, me sentia segura e em paz.
Com uma delicadeza extrema, ele beijou cada pedaço do meu corpo. Por onde sua
boca passava, minha pele queimava como fogo.
Meu namorado, que até a pouco tempo era de mentirinha, com uma rapidez
invejada, rasgou meu vestido ao meio — o que não me incomodou nem um pouco —
deixando meu corpo exposto. Não senti vergonha, nem constrangimento. Pelo contrário,
me senti confortável com a situação, era como se não houvesse erros, era certo, era o certo
para aquele momento, era o certo para sempre, tudo era permitido. Eu me sentia amada
por ele. Eu me sentia venerada, adorada por ele, por sua boca, por seu corpo.
Diego percorria meu corpo com olhos desejosos, febris. A paixão estava visível. Me
senti a mulher mais linda do mundo, apenas com o olhar que ele me lançava.
Meu amor parou de adorar meu corpo com seus lindos olhos azuis, e invadiu minha
boca com a sua. Ele se deliciava com meus beijos. Era como se de minha boca saísse mel
e ele se deleitava, se saciava com o beijo.
— Quero que essa noite seja especial para você. — ele sussurrou, enquanto
mordiscava meu lábio inferior. — Quero que você jamais esqueça essa noite.

Minha respiração irregular e coração acelerado, me impediram de dizer qualquer
coisa. Eu só sentia, e sentia coisas que nunca havia experimentado antes. Me sentia
mulher, me sentia amada.
Desfiz o nó de sua gravata, desabotoei um por um os botões de sua camisa e
acariciei seu peito nu. Aquele corpo seria todo meu. Não somente o corpo, porém o mais
importante eu já tinha: seu coração. Dei um beijo em seu peito, no lugar onde seu coração
estava, Diego fechou os olhos e senti seu corpo estremecer com o contato e beijei todo seu
peito e abdômen. Ah abdômen, aquele que quis tocar tantas vezes e agora eu tinha livre
acesso!
Por que demorei tanto para me perder em seus braços, corpo e beijo? Se soubesse
que seria assim, teria me entregado a ele na primeira vez.
Cada pedaço meu, fervia, queimava, ansiava por mais. Enrosquei minhas pernas em
seu quadril para que ele ficasse mais próximo de mim. Eu estava à beira de um delírio.
A medida que ele me beijava, fogo percorria meu corpo trêmulo, ao mesmo tempo
em que arrepios gelados circundavam minha espinha. Era fogo e gelo, uma discordância
total.
Diego apertou seu corpo contra ao meu, no momento em que nossos corpos, juntos,
estremeceram e chegamos ao ápice do prazer. Era amor, eu sabia. Eu o amava. Ele me
amava. Diego me abraçou e beijou minha testa.
Eu só conseguia pensar no quanto eu era feliz por tê-lo comigo, por ter conquistado
aquele coração, por ter conquistado o homem da minha vida. A partir de agora nada mais
importava, apenas eu e ele.
— Eu amo você, garota. Como nunca amei outra mulher. — Eu meu apertei mais
contra o corpo dele banhado pelo suor, deitando minha cabeça em seu peito.
— Obrigada por não desistir de mim e me fazer enxergar que eu ainda o amo. —
Beijei seu peito nu.
Diego pegou em meu queixo, me fazendo olhar para ele:
— Repete de novo que me ama, por favor? — Ele selou meus lábios com os seus. —
Parece que estou sonhando.
— Acha mesmo que é um sonho? — Eu sorri e o beijei. — Se for um sonho,
também estou sonhando, mas não é. Isso é melhor que um sonho. Não tem como sentir as
coisas que senti, na intensidade que senti, em um sonho. Isso é real. — Eu olhava em seus
olhos — Eu estou aqui, você está aqui. Estamos juntos. Estou com você. Eu sou sua. Eu te
amo. — Ele me apertou mais contra seu corpo. — Ei, assim você me quebra ao meio.
— Me desculpe! — Ele beijou o topo da minha cabeça. — É felicidade que não cabe
em mim.
— Também estou feliz. Não imaginava que chegaríamos até aqui.
— Nem eu. Mas eu fiz uma coisa errada.
— O que foi? — perguntei preocupada.
— Eu cometi um erro, que preciso reparar imediatamente. — Diego se pôs de pé, ele
estava nu e pude admirar, por um instante, seu corpo perfeito, e depois se ajoelhou e meu
coração acelerou. — Ana, você quer ser minha namorada? — Eu sorri. — Minha
namorada de verdade.
— Achei que já era! — respondi ao encontrar seus lábios e o beijar.
— Ótimo, perfeito! — Ele me estendeu a mão. — Vamos aproveitar aquela
banheira? Finalmente podemos entrar nela sem roupas. — Eu gargalhei.
— Então você não gostou de dividir a banheira comigo? — Me fingi de ofendida.
— Eu adorei, mas vou adorar mais agora. — Diego enlaçou minha cintura com seus
braços, me pegou no colo e me levou para a banheira.

.::.

— Ana! Abra essa porta! — Fui acordada com barulho de socos contra a porta e
gritos. — Eu sei que você está aí. Abra essa porta! — E mais socos eram deferidos contra
a pobre porta.
— O que está acontecendo? — A voz rouca de Diego, sussurrou ao meu lado. —
Será que o sítio está pegando fofo?
— Não sei. Parece a voz da Iza. — Me levantei para abrir a porta.
— Ela parece nervosa, deixa que eu vou. — Diego se enrolou na toalha e abriu a
porta.
Os olhos dela passaram pelo corpo dele seminu, por mim enrolada no lençol e
nossas roupas jogadas pelo chão — meu vestido rasgado — como rastro do que tínhamos
feito durante a noite. Ela respirou fundo ao constatar o óbvio:
— Vocês estão realmente juntos. — Ela entrou no chalé, abaixo dos seus olhos
haviam manchas roxas, olheiras que foram deixadas por uma noite mal dormida. Olhos
vermelhos e inchados, provavelmente por horas de choro.
— O que houve, Iza? — Diego perguntou.
— Ele me deixou. — Iza se sentou ao pé da cama, colocou as mãos no rosto e pôs-se
a chorar.
— Como? — eu perguntei chocada.
— Eu achei que você tinha vindo para atrapalhar meu casamento. — ela disse ainda
chorando. — Eu vim aqui para tirar satisfação e dizer que você tinha conseguido. Mas
vendo vocês como estão, praticamente nus, percebi que a noite de vocês foi bem melhor
que a minha.
— Eu não vim para atrapalhar seu casamento. — disse colocando a mão sobre sua
perna. — Diego continuava parado nos olhando. — Confesso que fiquei com medo do que
poderiam dizer de mim, afinal nós fomos noivos. Mas aí, Diego entrou na minha vida, —
olhei para ele nesse momento — e tudo mudou. Me desculpe se causei algum dano, não
foi minha intenção. Fiz de tudo para mantê-lo longe. Quase não ficava sozinha.
— Ele me contou o que aconteceu no estábulo. Por que não me contou?
— Você acreditaria em mim?
— Acho que não.
— Foi o que pensei.
— Ana, eu sinto tanto…. Tanto pelo o que aconteceu. — Iza ainda chorava. — Nós
éramos amigas e eu… eu me apaixonei por ele. Não pensei em ninguém, só na minha
própria felicidade. Me perdoa pelo o que fiz, você não merecia.
— Tudo bem, Iza. Hoje eu consigo ver que João não era para mim. Meu lugar é com
aquele homem ali. — Apontei para Diego, que abriu um sorriso encantador para mim. —
Eu sofri, mas as vezes o sofrimento é necessário. Eu teria sido infeliz se tivesse me casado
com João, eu não o amava de verdade.
— Eu fiz de tudo para tê-lo. Eu o amo… de verdade. Não sei o que vou fazer.
— Ele já foi? — perguntei, tendo uma ideia louca.
— Ainda não.
— Onde ele está?
— Deve estar arrumando as coisas.
— Ok. Eu vou vestir uma roupa. Vou falar com ele.
— Você faria isso?
— Sim, claro.
— Você pode até ir, mas eu vou junto. — Diego disse. — Nem que seja para ficar
grudado na porta ouvindo a conversa.
— Tudo bem, meu amor. Vou colocar uma roupa. Iza, você espera aqui.

.::.

Encontrei João sentado na cama, com a cabeça entre as mãos, cabisbaixo. Bati na
porta e ele olhou para mim:
— Veio me dá outra joelhada?
— Não, vim aqui porque acho que está fazendo besteira. — disse entrando no
quarto. Diego ficou do lado de fora, mas João não o viu.
— Eu amo você.
— Quando foi que se deu conta disso? Estamos separados há mais de dois anos.
— Quando te vi chegar. Você estava tão linda. Seus olhos estavam brilhantes.
Percebi naquele instante que ainda sentia algo. — João se levantou e veio em minha
direção.
— Não chegue perto. Por favor. — Ele parou na mesma hora. — Olha João, você
acha que ainda sente algo por mim, porque me viu chegar com Diego. Isso é orgulho
ferido. Você não me ama. Quem ama, não faz o que você fez. Você nunca me amou. —
Ele respirou fundo. — Ela está grávida. Vocês dois terão um filho e essa ligação é para
sempre. — João apenas ouvia o que eu tinha a dizer. — E eu, eu amo Diego. Acho que
nunca deixei de amar. Ele foi o meu primeiro amor e será o último. Isso, — apontei para
mim e para ele — não daria certo nunca. A Iza sim, ela te ama.
— Onde ela está?
— No meu chalé.
— Eu vou lá falar com ela. Você está certa. Eu achei que você ainda gostava de mim
e quando chegou me ignorando, meu orgulho ficou ferido. Me perdoe pelo que fiz.
— Tudo bem. Só não use minha cama, por favor.
João saiu e Diego entrou:
— Você é boa. Salvou um casamento.
— Eu não podia deixar isso acabar assim.
— Você é linda! — Diego me envolveu em um abraço apertado e beijou o topo da
minha cabeça. — A cada minuto me apaixono mais.
— Eu te amo.
— Também te amo, Pequena.
— Acho que precisamos nos arrumar, temos um casamento para ir.
— Verdade. Vamos?
— Vamos, mas antes, deixaremos o casal conversar um pouco. Estou com fome. —
Reclamei.
— Também depois de ontem.
— Realmente, você acabou comigo.
— Eu acabei com você, Ana? Acho que foi ao contrário.
— Bobo! Vê se não vai rasgar o vestido de hoje.
— Isso depende. — Arqueei uma das sobrancelhas. — Isso depende do quão
gostosa você estará nele. — Dei um tapa em seu braço.
— Aquele vestido foi muito caro, sabia?
— Me desculpe. — Ele parecia mesmo culpado. — Vou comprar outro para você.
— Acho bom. — Fiquei de frente para ele, enlacei seu pescoço e sussurrei no seu
ouvido: — Mas para ter noites como a que eu tive ontem, deixo você rasgar quantos
vestidos quiser.
— Ana, desse jeito não vamos a casamento nenhum e muito menos tomar café… —
ele sussurrou enquanto mordia o lóbulo da minha orelha.
— Então, vamos parar por aqui. Temos um casamento para ir.
Nós dois gargalhamos e fomos tomar café da manhã em família. Minha barriga
estava roncando, pra variar.







Capítulo Dezesseis

I Z A
Eu e Ana crescemos juntas. Nossos pais eram amigos de longa data. Eu a
considerava mais que uma amiga, talvez uma irmã.
Depois que crescemos, continuamos juntas, feito cutícula e unha. Ana começou a
namorar o João. Ele era o cara mais lindo que já tinha visto na minha vida. Alto, moreno,
cabelos cacheados, olhos castanhos e sorriso maroto. Me apaixonei por ele no mesmo
instante em que o vi. Não era certo, e eu sabia disso. Mas era mais forte que eu. Era um
sentimento que me devastava. Eu não suportava vê-los juntos. Não suportava a felicidade
que Ana vivia sentindo, odiava cada sorriso que ela dava, principalmente quando ele era o
motivo.
Eu tentei de todas as formas esquecer esse homem que arrebatava meus sonhos, que
me fazia perder noites e mais noites de sono, mas não consegui. Não consegui tirar ele de
dentro do meu peito, da minha cabeça.
Então, sem pensar nas consequências, tomei uma atitude que mudou minha vida por
completo. A minha, da Ana e do João.
João era um cara fácil. Comecei a jogar charme e todas as vezes que Ana não estava
presente, eu me insinuava. Como ela confiava em mim, não era difícil ficar sozinha com
ele.
De tanto insistir, ele acabou caindo.
O primeiro beijo que dei nele, me levou aos céus. Eu nunca havia beijado uma boca
tão gostosa. Me senti totalmente compatível a ele.
Ficamos nos encontrando escondidos por uns dois meses, até que Ana nos flagrou.
Lembro-me como se fosse hoje. Nós dois estávamos enroscados na minha cama. Meus
pais haviam viajado e eu fiquei em casa sozinha. Chamei João para dormir comigo. E na
manhã seguinte, Ana entrou direto, como sempre fazia. Nós tínhamos essa liberdade uma
com a outra. Ela só não imaginava que encontraria o namorado na minha cama. O que de
certa forma, foi um alivio, pois não aguentava mais viver dessa forma. Um alívio e um
pesadelo, tudo ao mesmo tempo.
Pode não parecer, mas doeu mais em mim do que nela. Ela era minha irmã e eu a
amava. É claro que você vai questionar a veracidade do meu amor, mas só quem passou
pelo que passei, entenderá o que estou dizendo. Então, se você não passou por isso, não
me julgue, pois não sabe como é amar um homem escondido e comprometido, passar
noites em claro com uma dor terrível no peito, ter que ocultar um sentimento tão grande
que mal cabe dentro de você, não poder estar com ele na frente de todos ou à luz do dia.
Saber que quando ele não está com você, está com a namorada. Não sabe o que é ter que
sofrer em silêncio, porque você acaba virando refém do próprio sentimento. E não tem
amor próprio que resolva.
Aquele que nunca errou, que atire a primeira pedra.
E foi assim, Ana nos flagrou, ela saiu magoada, ferida. Foi um escândalo. Meus pais
ficaram sem falar comigo por meses e ainda perdi minha melhor amiga.
Ana e João terminaram e eu, finalmente, tive ele só para mim. Começamos a
namorar e depois de um tempo, ele me pediu em casamento. Foi lindo e especial. João me
levou para jantar e do nada uns homens apareceram tocando uma música mexicana, ele se
ajoelhou com uma caixinha de veludo preta na mão e um solitário com uma pedra enorme.
Naquele momento, me senti amada e vi que nunca iria conseguir viver sem ele.
Quando eu era mais nova e sonhava em me casar, sonhava com a Fazenda dos avós
da Ana. Sempre achei linda a história do casamento da tia Sophia com tio Daniel.
Coincidentemente ou não, Ana tinha o mesmo sonho. Não foi proposital. Eu amava aquele
lugar, adorava quando as férias chegavam para ir à Fazenda, tomar banho naquela piscina
enorme, andar a cavalo e fazer piquenique na beira do lago.
Quando Ana chegou na sexta, com Diego à tira colo, me surpreendeu. Eu achei que
ela não iria. E pensei as piores coisas. Morri de medo do João achar que a amava, dele me
largar às vésperas do casamento. Achei que ela tinha trazido Diego, apenas para provocar
João, mas não. Eles realmente se amavam. E vi isso no domingo de manhã, quando os
peguei seminus no chalé.
No mesmo instante me arrependi de tudo que fiz, por ela ter passado por tudo que
passou, sem ao menos me ter como amiga para ajudá-la. Me arrependi por ter sido
totalmente egoísta, pois foi isso que fui. Só pensei em mim e no meu umbigo. Só não
podia me arrepender de ter o João.
João havia decidido me largar. Nem mesmo a novidade do bebê, fez ele voltar atrás.
Foi ela quem o convenceu. Ela fez por mim, algo que eu não faria por ela. Se fosse ao
contrário, não teria perdoado, mas Ana tem um bom coração e graças a isso, João se casou
comigo. E espero que sejamos felizes juntos. E que Ana seja ainda mais feliz do que eu.


































Capítulo Dezessete


A N A
Não posso negar que o casamento foi lindo e também não foi tão do jeito que
sonhei. A única coisa que tinha em comum, era ser na fazenda e isso incluía ser embaixo
do Ipê dos meus pais. Ele é intitulado assim, porque meus pais se casaram embaixo dele. E
foi justamente na época em que ele floria, o que deu um toque totalmente especial à
ocasião. Sei disso, porque passei minha adolescência suspirando ao olhar as fotos do
álbum de casamento deles.
Mas, enfim, tudo foi muito bonito. Iza estava realmente feliz e eu saí de lá com a
sensação de dever cumprido.
Era hora de pôr os pés na estrada. O fim de semana longo acabou e da melhor forma
possível. Era hora de retornar as nossas atividades cotidianas.
Estar em casa tinha dois lados, o bom e o ruim. O bom era que estava com saudades
da minha casa, da minha cama. O ruim era que teria que passar minhas noites longe do
Diego. Foram apenas dois dias dividindo a cama com ele, mas acabei me acostumando
com sua presença, seu cheiro…
— Não quer passar a noite no meu apartamento? — Eu sorri. Vontade não me
faltava.
— Só se for para meu pai te capar, e eu não quero que isso aconteça.
— Mas passamos dois dias no mesmo quarto.
— Eu sei, mas ele me fez jurar que não faria nada, jura essa que quebrei.
— Fala sério, Ana. — Ele ria da minha cara. — Vou ter que passar mesmo a noite
sem você?
— Infelizmente.
— Estou tão viciado em você. — ele declarou, mordiscando meu pescoço. Sua voz
era doce e apaixonada. E a sensação era maravilhosa.
— Eu também. Será tão difícil para você quanto para mim. — Ele continuava
mordendo e beijando meu pescoço. — Se você continuar assim, não vou conseguir sair do
seu carro.
— Essa é a intenção. — Ele alcançou minha boca.
— Amanhã, quando eu sair do restaurante, passo na sua casa, pode ser?
— Que dureza ter que esperar até amanhã.
— Você é insaciável!
— Não, você que é viciante! — Diego mordeu meu lábio inferior, o que fez uma
cadeia de sentimentos brotar dentro de mim.
— É melhor eu ir. Te vejo amanhã, ok?
— Tá, né! — ele disse sem ânimo.
Desci do carro, peguei minha mala e o beijei mais uma vez. A vontade que tinha era
de acompanhá-lo até sua casa e ficar com ele a noite inteira.
.::.

A segunda-feira veio com tudo. Restaurante lotado. Trabalhei feito uma condenada
durante toda manhã e no horário do almoço. Mas ainda assim, eu tinha prazer no que
fazia. Eu amava minha profissão.
Minha amiga fez um monte de perguntas sobre o fim de semana, como havia sido o
casamento e principalmente se Diego era bom de cama. Em resposta, apenas dei um
sorrisinho. Jamais faria propaganda, nem para melhores amigas.
O dia inteiro pensei em Diego. Estava com saudades. Queria vê-lo, beijá-lo, abraçá-
lo. Estava com muitas expectativas com a relação à nossa noite.
Fui chamada por uma cliente, que queria cumprimentar o Chef do restaurante. Isso
era algo tão comum, que a cada vez ficava mais fácil.
— Olá, boa tarde. — Djacy cumprimentou a moça. Ela era uma mulher muito linda,
loira, olhos claros, parecia até mesmo ter o meu biotipo. Ao lado dela, tinha um menino,
que ao contrário dela, tinha os cabelos escuros, mas tinha os olhos tão azuis, que me fez
lembrar meu namorado. E era só pensar nele, que o sorriso bobo aparecia em meus lábios.
— Essa é Ana Carolina, nossa Chef.
— Olá, muito prazer.
— O prazer é meu. Meu nome é Rachel e esse é o meu filho Ítalo. — O menino, que
devia ter uns cinco anos, sorriu para mim. — Será que você pode se sentar, para
conversarmos um pouco?
— Eu adoraria, Rachel. Me sinto lisonjeada, mas a casa está lotada. Não posso ficar,
infelizmente. — falei com a maior delicadeza do mundo. Jamais magoaria um cliente.
— É um assunto do seu interesse. — ela disse bastante séria.
— Como? — Como essa estranha poderia ter alguma coisa que me interessaria?
— Vou deixar mais claro. Meu nome é Rachel Salvador e esse menino é filho do
Diego. — ela falou calmamente. — Eu sou esposa dele.
No instante em que me dei conta do que a mulher estava falando, minhas vistas
escureceram e só não caí porque estava perto o suficiente da mesa para me segurar.

.::.

D I E G O

Eu nunca estive tão feliz em toda minha vida. Ana era a mulher que sempre quis
para mim e era com ela que eu queria me casar. Era com ela que queria formar uma
família. Realizar com ela esse sonho.
Quando a vi nos braços do João, uma angústia se abateu sobre mim. Eu a odiei
naquele momento. Eu só não sabia que mais uma vez ele a estava agarrando. Interpretei
mal, tirei conclusões precipitada. Se ela não tivesse se declarado para mim, hoje estaria
infeliz e com o coração estraçalhado.
A expectativa de tê-la em meus braços era grande demais. Amo essa mulher.
Sei que preciso contar algo muito importante para ela, algo que pode mudar muitas
coisas em nosso relacionamento, mas durante todo o final de semana, não consegui. E eu
não queria atrapalhar o nosso momento. Mas já está decidido. Hoje será o dia que todos os
segredos deixarão de existir.
Enquanto estou planejando a noite, meu telefone toca. É um número que não
conheço, mas ainda assim, atendo.
— Alô?
— Diego, boa tarde. Aqui é a Djacy, amiga da Ana. Lembra de mim? — A voz
feminina do outro lado da linha perguntou. Achei estranho essa ligação. Será que
aconteceu algo com a Ana?
— Claro, Djacy. Aconteceu alguma coisa com a Ana?
— Ela está bem, quer dizer, fisicamente. Aconteceu algo sim. — Meu coração
acelerou.
— O que houve?
— Eu não devia me meter nisso, até porque não é problema meu, mas eu vi como
minha amiga chegou aqui no restaurante toda feliz, me contando o final de semana
maravilhoso de vocês. — Sua voz calma estava me dando nos nervos, eu queria que ela
fosse direto ao ponto e descobrir o que havia acontecido com minha namorada. — E eu só
estou te ligando porque quero a felicidade da Ana. — Ela fez uma pausa. — Na hora do
almoço, uma mulher apareceu aqui com uma criança. Eu ouvi parte da conversa. E essa
mulher se apresentou como sua esposa.
— Não acredito. Isso não pode estar acontecendo.
— Mas está. Eu não ouvi a conversa que elas tiveram, mas Ana está muito magoada
com você. Não vou te perguntar se é verdade ou não. Não cabe a mim. Mas eu vi, no dia
em que apareceu aqui com seus pais, depois quando veio buscá-la no fim do expediente e
também no dia da luta. Então, eu sei que a ama. E é só por isso que estou dizendo que ela
não quer mais te ver. Para que você faça alguma coisa e explique a ela toda essa confusão
que eu sei que tem alguma explicação.
— Realmente tem. Eu estava decidido a contar sobre isso a ela hoje, mas pelo visto,
Rachel se antecipou.
— Então o garoto é mesmo seu filho e ela sua esposa?
— O garoto sim é meu filho, mas ela não é minha esposa.
— Entendo.
— Djacy, obrigada por me contar. Vou tentar falar com a Ana. Ela vai ter que me
escutar. E posso te garantir que meu amor por ela é verdadeiro.
— Tudo bem. Juízo, vocês dois.
E assim a ligação foi encerrada.
O que farei? E se Ana não quiser ouvir a minha parte da história? Não sei se consigo
ter meu coração partido por ela mais uma vez.
A hora dela sair do trabalho está próxima. Vou esperá-la na porta do Restaurante,
para contar minha versão. Espero que ela me escute e que Deus me ajude.




Capítulo Dezoito

A vida realmente é uma caixinha de surpresas. Diego foi meu primeiro namorado e
por causa de uma doideira que envolvia a minha família e a dele, meu pai me obrigou a
romper o namoro.
Alex, pai de Diego, era noivo da minha tia Melissa. O bisavô de Diego foi sócio do
pai da tia Mel e em um dado momento da história, para resumir, eles romperam a
sociedade pois o pai da tia Mel, Seu Ângelo, descobriu que o então sócio estava roubando
a empresa.
A família do Alex, quando ele era bebê, sofreu um acidente, onde a mãe dele morreu
na hora e o pai ficou tetraplégico. Seu Armando, avô de Alex pediu ajuda ao Ângelo, que
negou devido ao histórico dos dois.
O pai do Alex se matou, quando descobriu que o pai havia gasto toda a sua fortuna
com tratamento para que ele pudesse voltar a andar.
Seu Armando por sua vez, arquitetou um plano: Alex começaria a trabalhar na
empresa do pai da tia Mel e desviaria todo o dinheiro que conseguisse. O que Armando
não contava, era que seu neto poderia se apaixonar por Melissa. Eles dois ficaram noivos,
mas Armando não estava satisfeito apenas com os desvios que o neto fazia. E mais uma
vez elaborou um plano, um muito pior: sequestrar tia Melissa.
E onde tio Max entra nessa história?
Tio Max era um policial infiltrado para colher informações sobre uma quadrilha que
agia em sequestros. Para sorte da tia Mel, ele estava com o bando que a sequestrou. Se
apaixonaram, mas Alex ameaçou minha tia. Foi uma loucura na época. Depois
descobriram que todas as atitudes de Alex foram por causa do avô que o obrigava e ainda
maltratava ele. Alex havia sido uma vítima de Armando, assim como tia também foi.
Alex pagou sua dívida com a sociedade, foi perdoado por meus tios, se casou com
Amanda e tiveram o homem que amo.
Mas por que contei essa história toda? Somente para você entender o porquê do meu
término com Diego.
Meu pai não era a favor do nosso relacionamento e me obrigou a terminar com ele,
porque papai era um homem preconceituoso e não acreditava no arrependimento de Alex.
Depois do Diego, veio o João. O único com quem me permiti ter algum tipo de
relacionamento, depois de 6 anos sem ninguém. Dei uns beijos em outros caras, mas nada
sério, nada que fosse importante.
João me traiu com minha amiga.
Por obra do destino ou não, Diego entrou novamente em minha vida, trazendo à tona
todos os sentimentos adormecidos.
Uma vez ouvi uma frase, que hoje faz todo sentido: “o amor não morre, apenas
adormece nos braços da esperança“. E é a mais pura verdade. Meu amor por Diego estava
apenas adormecido e agora, estou vivendo um pesadelo, estou me sentindo traída,
enganada pelo homem que tanto amo.
Terminei a tarde de trabalho, com o coração esmagado, triturado, partido em mil
pedaços.
Na hora de sair, repasso em minha mente toda a conversa que tive com Rachel.

— Eu e Diego nos casamos quando estávamos na faculdade. Eu engravidei quando
estava no último período. — Olhei para o menino. Ele realmente era a cópia do pai.
Lindo como o pai. Ítalo brincava com a comida no prato tranquilamente, totalmente
alheio ao que estava acontecendo. — Diego sempre fez questão de esconder a nossa
relação, nunca entendia o porquê. Agora eu sei. — Ela estava se referindo a mim.
— E por que você apareceu somente agora? E por que falar comigo? — Eu tentava,
com muito custo me manter calma, afinal Rachel não tinha culpa de nada. Diego era o
grande vilão da história.
— Nós moramos nos Estados Unidos. Há alguns anos Diego veio para o Brasil, nos
deixando por lá. — Ela respirou fundo. — Uma vez por mês ele vai nos visitar. E nós
viemos para falar com você, porque estou lutando pelo meu casamento e gostaria que
você se afastasse.
— Então vocês não estão juntos? — Perguntei ao constatar o óbvio.
— Eu ainda sou a esposa dele.
— Você não tem o direito de me pedir isso. Não cabe a mim. Você tem que se
resolver com Diego.
Eu estava morrendo de ódio do Diego. Por que ele não me contou? Isso era uma
coisa que ele não devia ter feito. Ele é casado, tem uma mulher, um filho. Não quero ser a
outra. Não quero e não vou ser! Mas também não vou falar para ela. Minha conversa
será com ele. Não, não terá conversa, não quero nunca mais ver a cara do infeliz!
— Eu sei que não tenho, mas se ponha no meu lugar.
— Olha Rachel, eu preciso trabalhar. Resolva a sua questão com seu esposo. Com
licença.
Precisei usar todo meu autocontrole para não chorar. Eu me sentia traída. Eu
confiei nele, e ele me apunhalou pelas costas.
Depois de tantos anos, fui me apaixonar por um homem casado.

.::.

Peguei minha bolsa e saí do Restaurante. Mas para minha surpresa, ele estava lindo
como sempre, encostado no carro, com braços e pernas cruzadas, olhando diretamente em
meus olhos. Nem preciso dizer o quão rápido meu coração bateu, né?
— O que você faz aqui? — Minha voz soou mais ríspida do que imaginei. Até vê-lo,
eu não fazia ideia do quanto estava magoada.
— Precisamos conversar, Ana. — ele disse calmamente.
— Não tenho nada para conversar com você. Diego, você é casado. Pelo amor de
Deus! — Passei as mãos pelo rosto e cabelo em uma medida desesperada.
— Eu não sou casado. — Ele continuava calmo.
— Ah não? — Como ele era tão cara de pau ao ponto de mentir para mim? — Então
porque ela se apresentou como sua esposa? Usou seu nome e tudo?
— Será que podemos conversar em outro lugar? As pessoas estão nos olhando e me
reconhecendo. Já vi alguém tirando fotos. Vamos para o meu apartamento.
— Diego, eu não tenho nada para conversar com você. Por mais que não seja
casado, você escondeu seu filho de mim. Pai você é, ou vai negar isso também? — Eu
estava a ponto de estapeá-lo.
— Se você não vai por bem, vai por mal.
Diego me pegou pela cintura e me jogou no ombro, com muita facilidade. Eu me
debatia e batia nele. Ele abriu a porta do carro, me colocou lá dentro, passou o cinto de
segurança em volta do meu corpo e o prendeu. Deu a volta e entrou no carro. Eu podia ter
saído? Com certeza. Mas eu o amava tanto, o amava mais do que tinha mágoa e queria
ouvir tudo o que ele tinha a dizer, afinal, ele tinha esse direito.
Fizemos todo o trajeto até seu apartamento em silêncio. De vez em quando ele me
olhava, mas fingia não ver. Ou olhava para frente, ou para o lado. Não queria olhar para
ele. Eu estava em uma luta interna.
Assim que entrei no apartamento, observei o lugar. Um caminho de pétalas de rosas
fazia um trajeto, que provavelmente levaria ao quarto, pois para mim, se perdia no
corredor.
— Isso era para você. — ele disse, enquanto jogava a chave na mesinha de centro,
fazendo um barulho de nada, mas que ainda assim, fez meu coração pulsar mais forte. Eu
ainda observava o ambiente. O apartamento era bonito, só faltava uns toques femininos.
— Ana. — Eu estava de costas para ele. — Olha para mim.
— Não quero olhar para você agora. — disse calmamente. Meu coração doía. —
Você me enganou. No fim das contas, você não é muito diferente do João.
— Não me compare com aquele cara! — ele esbravejou, me virando, fazendo-me
ficar de frente para ele. — Não me compare a ele, por favor. — Sua voz soou mais calma.
— Você me enganou. Você é casado. Como pôde fazer isso comigo?
— Eu não sou casado, Ana!
— E por que ela se apresentou como sua esposa e usou seu nome? — Não é possível
que ela tenha me enganado também.
— A Rachel é doida! Eu nunca nem morei com essa mulher! — Diego respirou
fundo, tentando se acalmar. — Só tem uma forma de provar que não sou casado. E isso eu
vou te provar. — Diego entrou no corredor e alguns minutos depois, voltou com uma folha
plastificada e entregou nas minhas mãos. — Está vendo isso? — Olhei para o papel. — É
minha certidão de nascimento. Como pode ver, é a original. Está até plastificada. — Diego
estava mais calmo. — Quer ouvir a história? — Minha cabeça estava um nó. Aquela
mulher mentiu para mim.
— Você pode até não ser casado, mas o filho é seu. E não adianta negar, Ítalo é a sua
cara.
— Não estou negando. O menino é mesmo meu. — Ele passou a mão pelo rosto. —
Quer ou não ouvir a história?
Eu estava em uma luta interna: sair correndo e mandar Diego me procurar na
esquina; ou me acalmar e ouvir tudo o que ele tinha a dizer. Ainda tinha esperança de tudo
ser um mal-entendido.
— Conte-me.
— Obrigado. — Ele respirou fundo e nos sentamos de frente para o outro. Queria
olhar em seus olhos enquanto contasse sua história. — Depois que nós dois terminamos,
eu fiquei meio sem rumo, até encontrar algo que eu realmente gostava. Imagina, um
adolescente de 17 anos, que estava apaixonado, e levou um pé na bunda? Esse era eu. Não
fiz besteiras, pois tinha meus pais como apoio. E aí eu conheci as artes marciais e me
joguei nisso. Cada soco que eu dava em um saco de areia, aliviava a dor que sentia em
meu peito. — Diego fez uma pausa. Ele estava visivelmente emocionado. — Essa parte eu
já te contei. Meu pai investiu em mim e me tornei quem sou hoje. Mas ainda assim, eu fui
para a faculdade, fiz Educação Física, porque era ligado ao esporte que mais amava na
vida. E na festa de formatura, eu bebi muito. Eu já conhecia Rachel, ela fazia o mesmo
curso que eu e todas as vezes que olhava para ela, eu me lembrava de você. — Realmente,
ela lembrava mesmo o meu biotipo, já tinha feito essa comparação. — E na festa, como eu
disse tinha bebido muito. Era uma conquista, então eu festejei da forma que todo homem
festeja, com bebida. Rachel se insinuou e o pouco que me lembro daquela noite, era de
estar com você naquela festa. Era seu nome que eu chamava, era com você que eu estava,
que meu coração estava. Mas quando acordei no dia seguinte, com a cabeça latejando e
uma ressaca dos infernos, não era você, e sim a Rachel que estava dormindo ao meu lado.
— A voz do Diego soava tão dolorida. Eu havia seguido em frente, enquanto ele, ficou
preso ao passado. — De lá para cá, ela não largou do meu pé e depois que descobriu que
estava grávida, só piorou a situação. Eu não podia me casar com uma mulher que não
amava. Estaria assinando meu atestado de infelicidade. E ainda a faria infeliz e ao meu
filho também. Foi um choque saber da gravidez e em momento algum pensei ou propus
um aborto. Sabia da besteira que tinha feito e iria assumir as consequências. Deixei claro
que assumiria a criança. Ela, eu não poderia. Rachel surtou e sumiu com meu filho. Faz
pouco tempo que os achei, Ana.
— Por que você não me contou? — perguntei secando uma lágrima que escorreu
pelo meu rosto.
— Eu tinha acabado de te encontrar. Eu era seu falso namorado. Eu ia fazer o quê?
Olha, Ana. Eu aceito sua proposta, mas saiba que eu tenho um filho? Eu não podia fazer
isso com você. Não naquele momento.
— Mas você devia ter me contado.
— Eu ia te contar. Ia fazer isso hoje. — Ele se levantou. — Embora eu ainda te
amasse, e estivesse usando esse falso namoro para que você percebesse que eu ainda era
ligado na sua, não imaginava que a gente fosse ficar junto nesse final de semana. Foi uma
surpresa para mim.
— Para mim também.
— Me perdoa, vai? Eu não sou casado, nunca me casei com essa mulher, nem
namoramos, nem sequer moramos juntos. — Em sua voz havia dor. E em meu peito
também.
— Diego, eu te amo. Muito, até. Mas eu preciso absorver tudo isso, toda essa
história. Você tem um filho que mal te conhece, precisa passar mais tempo com ele…
— Não, Ana. Você não entende. Eu não posso te perder agora, não posso te perder
mais. — Me levantei e fiquei de frente para ele. — Eu não suportaria ter meu coração
quebrado por você novamente. — Ele segurou meu rosto com as duas mãos e encostou a
testa na minha.
— Eu preciso de um tempo, Diego. Sinto muito, mas preciso absorver tudo isso. —
Me afastei, pegando minha bolsa que estava em cima do sofá e olhei o apartamento ao
redor. Olhei as pétalas, olhei para ele, minha vontade era de me atirar em seus braços, mas
a mágoa de ter sido enganada, ainda estava dentro do meu peito. Tudo bem que ele não era
casado, mas ele tinha que ter me contado sobre o filho e ele não o fez. Abri a porta em
silêncio, eu sabia que ele me olhava, e saí. Meu coração também foi quebrado mais uma
vez.














Capítulo Dezenove

Assim que eu passei pela porta, Diego me agarrou por trás e me puxou, fazendo meu
corpo colidir contra o seu. Eu dei um grito de susto e alguns vizinhos abriram a porta para
ver o que acontecia.
— Você não vai a lugar nenhum. Eu não vou deixar. — ele sussurrou no meu
ouvido. — Me desculpem, é só minha namorada tentando fugir de mim. — ele disse aos
vizinhos, que nos olharam de cara feia.
— Me solta Diego! — pedi tentando me soltar.
— Não. — Ele beijou meu pescoço. — Não vou te perder de novo.
Diego me arrastou para dentro do apartamento, trancou a porta e colocou a chave
dentro das calças. Precisei segurar o riso. Ele não imagina, que para pegar aquela chave
eu faria o sacrifício de enfiar as mãos em suas calças. Sai pra lá, pensamentos perversos!
— Isso é infantilidade. — repeti a fala dele, de quando estávamos na fazenda, na
noite do jantar que fiz para ele, quando tranquei a porta e coloquei a chave no sutiã.
— Acho que aprendi com você. — explicou dando aquele sorrisinho de lado que
adoro. — Eu não vou te perder. Não de novo. Eu falei sério quando disse que não
suportaria. — Diego estava diante de mim, tão próximo, com a respiração tão
descompassada quanto a minha. — Será que não vê o quanto eu amo você? — Ele pegou
minha mão e a colocou sobre o peito. — Sente isso. — Eu conseguia sentir o coração dele,
batendo tão rápido e forte quanto o meu. — Ele está batendo assim por sua causa. — Sua
voz era quase um sussurro. — Eu te amo, Ana. Nunca consegui te esquecer.
Deus, como eu amo esse homem!
Larguei minha bolsa, que caiu no chão e me atirei em seus braços. Eu queria senti-
lo, queria amá-lo e ser amada. Um abraço apertado e esmagador foi o que tentei dar.
Queria me fundir a ele, ser ele, tamanha era a intensidade do que estava sentindo.
Nossas desavenças ficariam para depois, pois agora eu só queria senti-lo.

.::.

Era mágica a sensação de estar nos braços de Diego. Não tinha lugar melhor para
estar. Deitar na cama, com a cabeça apoiada no peito do meu amado, ele acariciando meus
cabelos e eu sua barriga; sinto que é o meu lugar, é onde eu pertenço.
— Quero que você conheça o Ítalo. Ele é uma criança incrível.
— Já conheço ele.
— Não, você deve ter visto o garoto por apenas alguns minutos. Quero que você o
conheça de verdade.
— Rachel pediu para eu me afastar de você. — eu disse e ele sentou na cama na
mesma hora e olhou para mim.
— Como é que é?
— Isso mesmo que você ouviu. Ela pediu para eu me afastar, pois ela estava lutando
pelo casamento de vocês.
— Essa mulher é maluca. Ana, ela sumiu com meu filho. Durante anos procurei por
eles. Até contratei um detetive.
— Mas você tem direito de ver seu filho.
— Sim, e já estou lutando na justiça por isso. Mas não quero falar sobre ela. —
Diego passou os braços em torno do meu corpo. — Já me perdoou?
— No instante em que você me agarrou e me trouxe de volta para o apartamento.
— Que bom, Ana, como eu disse e torno a dizer, não suportaria ter meu coração
quebrado por você mais uma vez.
— Nem eu suportaria ficar longe de você, Di.
— Ainda bem. — Ele beijou meu pescoço.
— Você não sabe como fico mole com esses beijos.
— Gatinha, essa é a intenção.
— Hum…
— Tenho uma luta amanhã. Gostaria muito que você fosse.
— Ai Di, é tão ruim ver alguém te batendo. — choraminguei, me apertando contra
seu corpo quente.
— Eu sei, mas é o que eu amo, Ana. Adoro estar naquele lugar, adoro lutar. Adoro o
pseudônimo que me deram.
— É, Monstro? — Passei minhas pernas por cima dele, sentando em seu colo,
ficando de frente para ele. — Adoro esse apelido. — Mordi seu lábio inferior. — Meu
Monstro favorito. O Monstro que acaba comigo.
— Acabo, é? — Assenti. — Acho que não, acho que é o contrário. — Eu o beijei.
— O que é, está querendo o que?
— Ainda não percebeu? — Beijei seu pescoço.
— Quero que diga. — Sorri para ele.
— Quero você. — sussurrei.
Foi o suficiente para ele me tomar em seus braços e me amar mais uma vez.

.::.

Depois de tanto esforço físico, a fome bateu e por incrível que pareça, não estava
afim de cozinhar. Não queria perder nenhum minuto longe dos braços do meu namorado.
Nossa, como isso soa bem. Meu namorado. Sorri feito uma boba.
Para aplacar a fome, pedimos uma pizza, contra os protestos de Diego.
— Não acredito que não cozinhará para mim.
— Amor, teremos a vida toda para você degustar os pratos que faço.
— Repete?
— O que?
— Você me chamou de amor.
— Foi? Nem percebi. Você vai ficar pedindo para eu repetir tudo agora?
— Somente as coisas que gosto de ouvir de você. — Ele me pegou pela cintura, me
aproximando de seu corpo.
— Amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor… Tá bom ou quer mais?
— De você, quero sempre mais.
— Ei, espera pelo menos eu colocar algo pra dentro, porque senão, não aguento. —
Ele gargalhou.
— Ok, vou tomar um banho, então. Não quer vir comigo?
— O cara da pizza pode chegar. — Ele fez uma careta.
— Verdade, tudo por culpa da Chef mais preguiçosa que conheço.
— Não é preguiça, só não quero ficar longe de você.
— Tudo bem. Já que é assim, como pizza numa boa. Ficar agarradinho com você é
melhor que comer a melhor iguaria do mundo.
— E que tal um filme de mulherzinha?
— Sério? — Assenti. — Acho que não tenho outra escolha.
— Vai tomar seu banho, vai.
Enquanto eu procurava algum filme decente na internet, o que deixava com dúvidas
sobre o que assistir, a campainha tocou.
— Ana, deve ser a pizza. — Di gritou do banheiro. — Pega dinheiro na minha
carteira.
— Ok.
Eu vestia uma blusa do Diego, que mais parecia um vestido, então não vi o porquê
trocar de roupa. Quando peguei a carteira dele, vi algo que me tirou o fôlego. Era uma foto
nossa, antiga, de quando éramos adolescentes. Fiquei olhando para ela. Aquela foto estava
ali há muito tempo. Como ele pôde ter guardado ela por tantos anos? A cada minuto que
se passava, me apaixonava mais por ele.
Porém, todo encanto do momento foi quebrado por uma campainha que tocava
insistentemente. Peguei o dinheiro e abri a porta. Para minha surpresa, não era a pizza. Era
Rachel.
Ela me olhou de cima para baixo. Por dentro, me encolhi com seu olhar, mas não
demonstrei e nem me deixei intimidar. Ao contrário, empinei meu queixo e olhei
diretamente para ela.
— O que você faz aqui?
— Vim atrás do meu marido.
— Seu marido? — Gargalhei. — Não, acho que não. Acho que bateu na porta
errada, porque a mulher do Diego sou eu.
— Onde Diego está? — Ela ignorou meu comentário.
— E quer saber por que? — Ela forçou a entrada.
— Pelo visto você não atendeu ao meu pedido. Dormindo com um pai de família.
— Pode parar de palhaçada, que eu sei que não tem família nenhuma. Mas se quer
entrar no meu ninho de amor esteja à vontade. — Abri espaço e deixei ela passar.
— Ana, estou faminto. — Diego apareceu no corredor, com uma toalha enrolada na
cintura e outra secando os cabelos. Só para constar, odiei que Rachel tenha visto ele dessa
forma, e odiei mais ainda a forma como ela olhou para ele. — O que faz aqui? — ele
perguntou ríspido.
— Acho que a gente precisa conversar. Mas pelo visto cheguei na hora errada. —
Ela passou os olhos pelo corpo dele, fazendo careta ao ver as pétalas no chão e me olhou
com desdém.
— Não temos nada a conversar. Nossa conversa será na justiça.
— Não terá juiz que me fará entregar meu filho para você. — ela gritou.
— Você não precisa me entregar, apenas deixar que eu tenha contato com ele.
— Ou você fica com a gente, ou não ficará com ele.
Dito isto, Rachel saiu em disparada, batendo a porta com força atrás de si. Fiquei de
boca aberta.
— Me desculpe por isso. — ele pediu.
— Tudo bem, Di. Eu vou te apoiar no que precisar.
— Tô com medo, Ana. Medo dela sumir com Ítalo de novo.
— Você já falou com seu advogado? Eu não entendo muito, mas será que não há
uma forma legal de fazer com que ela fique no país?
— Ela é a mãe.
— E você o pai, Di. Você tem todo direito de ter seu filho por perto.
— Você tem razão. Preciso conversar com meu advogado. — ele suspirou.
— Se quiser, pode me deixar em casa, não me importo.
— De forma alguma. Não perco você de jeito nenhum. — Ele me abraçou. —
Vamos fazer nosso lanche e assistir aquele filme de mulherzinha que você escolheu
agarradinhos.
— Já que você insiste. Mas, por favor, coloque uma roupa, caso contrário não vou
conseguir me concentrar no filme.
— Negativo. Vou ficar desse jeito. Estou muito confortável assim.
— Vai ser difícil…
A campainha tocou e dessa vez era a nossa pizza. Assistimos Uma longa Jornada,
uma adaptação do livro de Nicholas Sparks. Já conhecia a história, pois havia lido o livro.
Diego assistiu tudinho, sem cochilar. Talvez por cousa das partes em que o Luke estava
em cima de um touro.
— Dorme aqui comigo.
— Meu pai vem me buscar com uma vara de goiaba na mão. E amanhã tenho que ir
cedo para o restaurante.
— Droga! Acho que vou ter que me casar com você, pois te quero em minha cama
todas as noites.
Ok, por essa eu não esperava. Não consegui responder. Apenas sorri e dei-lhe o meu
melhor beijo.

Capítulo Vinte

— Ana, Arthur está querendo falar com você. — Era mais um dia típico no
restaurante, quando Djacy entrou pela cozinha, esbaforida como sempre. Olhei para ela,
tentando lembrar qual Arthur. — Arthur Bittencourt, nosso fornecedor.
— Ah sim, claro. Já estou indo. — Olhei ao redor, procurando alguém para me
substituir, entre as panelas, fogões e pessoas com roupas brancas. — Victor, você pode dar
uma olhada nesse frango pra mim?
— Claro, Ana.
Me dirigi à mesa, onde estava o nosso fornecedor. A empresa dele era a referência
em peixes e frutos do mar. Hoje ele estava acompanhado por duas mulheres, um homem e
um bebê. Como a vida do Arthur mudou no último ano.
— Boa tarde! — Arthur se levantou e me abraçou.
— Olá Ana, como vai?
— Vou bem, e você?
— Melhor do que nunca. — Ele olhou para a moça morena ao seu lado. — Deixa eu
te apresentar a mulher que mudou minha vida. — Ele pegou a mão da morena. — Essa é
minha esposa Cristiane. — Graças a Deus que ele se livrou da nojenta da Thalita, sua ex-
noiva. Ô mulher intragável!
— Oi Cristiane, como vai? É um prazer conhecê-la. — Como de costume de toda
mulher carioca, demos dois beijinhos no rosto uma da outra.
— Vou bem. Arthur sempre fala desse restaurante e da Chef. Agora sei o porquê.
Seu tempero é maravilhoso.
— Obrigada. — agradeci com as bochechas queimando.
— Deixa eu continuar. — Arthur nos interrompeu. — Essa é a outra mulher da
minha vida: Helena. Minha filha. — Uma bebezinha linda.
— Ela é linda, estão de parabéns! — Os dois sorriram.
— Obrigado. Essa é minha cunhada Clicia e seu esposo André. — Arthur olhou para
o casal a nossa frente.
— Muito prazer em conhecê-los.
— O prazer é nosso. — Disse a Clicia. Morena como a irmã, mas com olhos grandes
em um rosto delicado, o que a deixava ainda mais bonita.
— Eu nunca comi um peixe tão gostoso. — Cristiane disse.
— Muito obrigada. Fico muito feliz que estejam aqui. — Vi um flash. Alguém tirou
uma foto, mas não consegui ver de onde era.
— Quando você tira férias? Queremos te hospedar em nossa pousada. — Arthur
disse. — Ilha Grande te espera.
— Sabe que sempre quis conhecer esse lugar, mas nunca tive oportunidade?
— A oportunidade está batendo em sua porta, é só me ligar. — Cristiane disse. — A
hora que quiser, a pousada estará à sua disposição e principalmente para cozinhar para
nós. — Nós rimos. Era mesmo uma boa pedida. Relaxar em um paraíso com Di, longe de
toda essa confusão que está nossas vidas.
— Prometo que vou pensar no assunto e ligo para vocês.
— Acho ótimo. — Foi a vez do Arthur.
— Vou conversar com meu namorado. — Mais uma vez vi o flash.
— Seu namorado ou meu marido? — Uma voz de mulher soou atrás de mim. Engoli
seco. Ela não ia fazer isso, não aqui. Sorri para os clientes e me virei para ela.
— O que faz aqui, Rachel? — Mais um flash.
— Eu pedi você para se afastar e você não me ouviu. — ela falou um pouco alto. —
Vai continuar saindo com um homem casado? — Mais um flash.
— Você não vai fazer isso aqui. Não no meu restaurante. — Os seguranças já
haviam notado que algo estava errado e se aproximaram. Alguns clientes nos olhavam
sem entender. — Ou você vai sair por bem, ou por mal. A escolha é sua.
— Você acha que é assim? Sai com meu marido e vai ficar por isso mesmo? — ela
continuava falando alto.
— Nós duas sabemos que Diego não é e nunca foi casado com você. Vamos parar
com o show, porque isso não vai me impedir de ficar com ele. — falei baixo o suficiente,
para que apenas ela escutasse. Meus pais me educaram muito bem.
Djacy estava em alerta, assim como os seguranças. Bastava apenas um aceno meu e
eles viriam ao meu encontro.
— Você não vale nada. — Rachel levantou a mão para me bater, mas por puro
reflexo, segurei sua mão no ar.
— Ei, moça. Acho que já foi o suficiente. — Cristiane estava ao meu lado e eu ainda
segurava a mão de Rachel bem firme para que ficasse a marca da minha mão em seu
pulso.
— Está se metendo por que? — Rachel perguntou a ela.
— O que você está fazendo não é o certo e caso não tenha percebido, estamos em
maior número. — Clicia também estava em pé. Fiquei ladeada pelas duas.
— Vocês acham que tenho medo? — Ela gargalhou. Não dava mais para aguentar.
Acenei para os seguranças que vieram na mesma hora.
— Senhora, por favor, queira se retirar.
— Isso não vai ficar assim, Ana. Não vai. Eu vou sumir com o Ítalo e a culpa será
sua. — Ela gritava enquanto os seguranças arrastavam ela para fora do restaurante.
Precisei me segurar para não desabar ali mesmo, na frente dos meus clientes.
— Amigos, me desculpem o transtorno. Foi apenas um mal-entendido. Com licença.
— Meu coração martelava contra minhas costelas. Meu rosto estava quente e lágrimas
ameaçavam saltar de meus olhos a qualquer momento. Saí do salão o mais rápido possível
e fui direto para o banheiro, meu segundo lugar preferido para botar para fora as coisas
que me incomodavam.
Djacy estava em meu encalce.
— Vai ficar tudo bem, Ana. — ela disse assim que passamos pela porta do banheiro
e me deu um abraço.
— Ela só veio aqui para me fazer passar vergonha, diante dos meus amigos, clientes
e funcionários. Todos vão pensar que sou uma adultera e não sou. — Eu chorava, porque
não tinha mais o que fazer.
— Ei. — Cristiane apareceu na porta. — As pessoas que te conhecem jamais
pensarão isso de você. — Sua voz era doce e compressiva.
— Obrigada, Cris.
— Olha. — Ela colocou a mão sobre meu ombro. — Passei por algo parecido.
Arthur tinha uma noiva, você deve ter conhecido ela. — Eu assenti. Quem não conhecia
Thalita Mendes? — Ele não queria se casar e foi passar as férias na Ilha, com os avós. Nos
reencontramos, pois tínhamos sido namorados durante nossa infância e adolescência e o
nosso amor renasceu. — Ela fez uma pausa e percebi que nossas histórias eram parecidas.
— Thalita nos infernizou. Quase perdi a Helena por causa dela. Mas nós conseguimos e
vocês conseguirão também. O amor sempre vence. Pra essa mulher, fazer o que fez, é
porque ele te ama e ele não quer nada com ela. Não deixe ela afastar vocês.
— Obrigada, Cris. — Ela me deu um abraço e saiu.
— Uau! Que mulher é essa? — Djacy perguntou. — Ótimos conselhos. —
resmungou mais para si, do que para mim.
— Obrigada, D. Você está sempre aqui, segurando as pontas comigo. — disse,
fungando e secando minhas lágrimas.
— Vai ficar tudo bem, minha amiga.
Meu telefone, no bolso da calça tocou. Era Diego. Não queria que ele soubesse o
que aconteceu aqui. Respirei fundo e atendi com minha melhor voz.
— Oi amor.
— Ana, você está bem? — Sua voz era urgente.
— Sim, por que?
— Não mente para mim, Pequena. Benjamin me ligou. Acabei de ver em um site de
fofocas. — Isso não pode estar acontecendo.
— O que você viu? — perguntei alarmada e com o coração na boca.
— Tem fotos suas no restaurante, sua e da Rachel. — Ele fez uma pausa. — E um
texto enorme falando sobre nós dois e meu suposto casamento com ela.
— Isso não pode estar acontecendo. — Aquela maldita me paga!
— Me desculpe, Pequena. Não queria te arrastar para isso.
— Ela armou para mim, Diego. — Voltei a chorar.
— Não chore, por favor. Saber que está triste, corta meu coração.
— Eu vou ficar bem. — Mentira. Eu não ia. Estava sendo muito difícil para mim ser
alvo de uma fofoca dessas.
— Eu sei que foi armação e vou consertar isso. Benjamin está preparando uma
coletiva.
— Você vai se expor?
— Não posso deixar que pensem que sou casado e muito menos que você é minha
amante. — Sua voz, como sempre calma, o que era um alento para o meu coração. — Vou
contar a história que tanto fiz para esconder.
— Sinto muito por ter que passar por isso.
— Eu que sinto, Pequena. Mas eu só escondi porque não queria que você soubesse,
então não faz mais sentido escondê-la. — Ele respirou fundo. — Não esquece que te amo.
— Também te amo.
Encerramos a ligação e eu me pus a chorar novamente.
Assim que me recompus, voltei à cozinha sobre o atento olhar de Seu Daniel. Com
certeza já estava sabendo do barraco. Djacy logo apareceu, avisando que Diego estava
dando a tal entrevista.
Fomos até a área dos funcionários. Diego estava com os cabelos perfeitamente
alinhados, usava uma blusa de malha e uma calça jeans, totalmente despojado.
Vários repórteres estavam em volta dele, com microfones, gravadores, celulares.
Todos faziam perguntas ao mesmo tempo, até que Benjamin falou:
— Fiquem calmos, Diego responderá apenas a cinco perguntas. — O empresário
apontou para uma mulher. — Você primeiro.
— Diego, qual seu relacionamento com Ana Müller?
— Ana é minha namorada, a mulher que amo e com quem pretendo me casar em
breve. — Djacy e meu pai me olharam. Nem preciso dizer o quanto meu coração se
encheu de alegria ao ver aquela declaração em rede nacional e talvez até internacional, né?
— Mas você, já não é casado? — Um homem perguntou.
— Não, nunca fui e aqui está minha certidão de nascimento para provar. — Diego
levantou a certidão e o cameraman focou no documento. — O que aconteceu, foi apenas
um mal-entendido.
— O menino é realmente seu filho? — Uma mulher perguntou.
— Sim, Ítalo é meu filho e vou lutar pela guarda dele.
— Por que escondeu por tanto tempo a existência de seu filho?
— Porque até alguns dias eu não sabia onde encontrá-lo.
— Como assim? — Um outro perguntou.
— Rachel fugiu de mim quando recusei me casar com ela.
— Mas o que houve entre vocês?
— Paramos por aqui. — Benjamin interveio. — Diego já respondeu as cinco
perguntas e já ficou claro que ele não é e nunca foi casado. Sua responsabilidade de pai ele
vem tentando arcar desde que soube da gravidez. Precisamos ir, com licença.
— Seu Diego? — Os repórteres chamavam por ele, porém Diego não respondeu
mais nenhuma pergunta e se afastou deles e eu desliguei a TV. Meu pai me olhou.
— Agora você pode me explicar o que está acontecendo? — Exalei ruidosamente.
— Diego tem um filho que até pouco tempo não sabia onde encontrar.
— E por que não sabemos disso?
— Porque eu fiquei sabendo há poucos dias. — Olhei para meu pai. — A mãe do
menino veio me procurar, ela me disse que era esposa do Diego, mas como todos viram,
ele não é um homem casado, nem nunca morou com ela. Rachel sumiu do mapa quando
Diego se recusou a casar.
— Entendo. Mas e o filho, ele vai assumir?
— Está brigando na justiça.
— A história é um pouco parecida. — Meu pai coçou a barba por fazer. — Você não
queria uma história como a minha e a da sua mãe? — Ele sorriu. — Então, Diego tem um
filho, assim como sua mãe teve. E para completar, tem essa mulher, a mãe do menino para
perturbar o juízo de vocês, assim como teve a Patrícia para perturbar a mim e a sua mãe.
— Essa é uma outra história maluca da família.
Essa Patrícia, era louca pelo meu pai. Seu Daniel já arrasou corações. Ela até
sequestrou minha mãe. E se não fosse pelo tio Danilo — pai do Jonas, irmão do meu pai
—, eu não existiria hoje.
— Só espero que Rachel não queira me sequestrar.
— Vire essa boca para lá, menina! — Eu sorri. — Viu, foi desejar uma história
como a minha. Desejo atendido.
— Se tudo der certo, no final com certeza terá valido a pena.
Papai me abraçou.
— Eu te amo, filhota. Pode contar comigo para o que precisar.
— Obrigada pai, também te amo.
— Tira o restante do dia de folga. Você precisa. Eu e Victor nos viramos aqui.
— Obrigada. Hoje Diego tem uma luta, não queria ir, mas…
— Será que tem um lugar para mim?
— Com certeza. Vou falar com o Di.
— Tá bom, agora vá se produzir. Quero você bem bonita hoje à noite.
Dei um beijo na bochecha do papai e ele saiu.




































Capítulo Vinte e Um

Não falei com Diego depois do ocorrido. Ele precisava se preparar para a luta e já
tinha tido problemas demais para um dia só.
Em todos os canais de televisão passavam a entrevista de Diego, fotos minhas e da
Rachel. Era tão estranho ver minha foto na TV, ser vista como suposta amante de Diego e
futura esposa do atual campeão do peso médio de MMA. Até a mídia esquecer esse
fatídico dia, iria demorar.
Na hora marcada, Benjamin nos buscou na frente do restaurante — Eu, papai e
Djacy. Era nítido o clima entre ela e o Benjamin.
Diego seria o último a lutar e o local estava cheio. Pessoas gritando, berrando para
ser mais clara, pulando, ovacionando e vaiando. Eu estava nervosa, nervosa demais.
Detestava assistir as lutas do meu namorado, detestava ver alguém batendo nele, era de
partir o coração.
Alex já esperava pela gente:
— Ana, que bom que veio. — Meu futuro sogro me deu um abraço apertado. —
Sinto tanto pelo que aconteceu.
— Eu também. — Respirei fundo. — Mas não vamos falar disso agora. Estou tão
preocupada e nervosa com Diego. Olhe minhas mãos? — Alex pegou minhas mãos que
estavam frias e suadas. Meu estômago se revirava dentro de mim.
— Fique calma. Tudo dará certo.
— Assim espero.
— Daniel, como vai? — Meu pai abriu um sorriso para Alex. Acho que finalmente,
papai entendeu que as coisas do passado devem ficar onde exatamente estão: no passado.
— Vou bem, e você? Será que nosso garoto ganha?
— Não tenho dúvidas. Não quero ser um pai babão, mas meu filho é muito bom.
— E eu não sei? — Os dois sorriram e engataram em uma conversa animada.
Djacy, que havia ficado para trás, me apareceu com a boca meio estranha. Seu
batom estava borrado e um sorriso bobo estava em seu rosto.
— Pelo amor de Deus, Djacy. Limpe essa boca. Ninguém precisa saber que estava
aos beijos com Benjamin. — cochichei em seu ouvido.
— Não sou de ferro, e ele é tão… tão…
— Tão?
— Tão másculo, tão homem… Tão lindo… — Ela suspirou enquanto olhava os
lábios num pequeno espelho que guardava em sua bolsa.
— Acho que tem alguém apaixonada… — Assoviei.
— Não sou de ferro, querida! — Nós duas gargalhamos.
Djacy deu um aceno para Alex, assim que limpou a boca e retocou o batom.
Diego foi chamado, era a vez dele. Senti meu coração se encolher dentro do meu
peito, ficou tão pequeno quanto uma noz.
Ao contrário das outras vezes, Diego não entrou com uma música estrondosa. Ele
trazia em suas mãos um cartaz, que de longe eu não conseguia ler. A música, reconheci
nos primeiros acordes. Era Photograph do Ed Sheeran. Acho que era, oficialmente a nossa
música.
— Olha, olha! — disse que o homem engravatado, que até hoje não sei como
chamá-lo, que estava com o microfone, no meio do octógono. — Parece que é um pedido
de casamento. — Oi?
Diego se aproximou mais, e eu pude ler o que estava escrito no cartaz improvisado,
com uma letra garrafal e nada bonita. Mas quem se importa? O que importava era o que
estava escrito nele. E sim, era um pedido de casamento:

ANA QUER SE TORNAR UMA SALVADOR? É SÓ DIZER SIM.

Meus olhos se encheram de lágrimas no mesmo instante em que consegui ler
aquelas palavras. Levei minhas mãos ao rosto, enquanto balançava a cabeça
freneticamente, para cima e para baixo e as lágrimas desciam feito cascata sobre minha
face.
Diego abriu um sorriso enorme e disse “Eu te amo” de onde estava. Eu não
conseguia dizer nada, pois a emoção tomava conta de mim. A plateia gritava e aplaudia.
Papai me abraçou e beijou o topo da minha cabeça. Era emoção demais. Meu coração
parecia que explodiria a qualquer momento de tanta felicidade.
Ainda estava chorando, quando o oponente de Diego entrou na arena. Nem ouvi o
nome do infeliz, mas ele era tão grande e forte quanto Di.
Mas ao contrário das outras lutas, Diego nocauteou o cara com 19 segundos. Foi seu
melhor tempo em uma luta. O cara não acertou nenhum soco sequer no meu namorado-
noivo, levando os fãs, a família e a pobre namorada aqui, ao delírio.
Corri em direção a ele, deixando todos para trás e sem saber se podia. Seus olhos
estavam atentos em mim e um sorriso lindo foi o que ele me ofereceu. Corri o mais rápido
que as pessoas ao meu redor permitiam. Diego já havia saído da arena, estava à minha
espera.
Meu corpo se chocou contra o dele com força, fazendo meu namorado perder o
equilíbrio e que nos levou ao chão. Ouvi as pessoas que estavam ao nosso redor, fazerem
um coro “oh”, mas não me importei. Caí por cima do corpo duro do meu noivo e beijei-
lhe a face toda. Minha sorte é que estava de calça jeans, caso contrário o mico em rede
nacional seria maior.
— Ana, Ana! — Eu parecia uma louca, sabia disso, mas como me conter diante de
toda essa emoção? — Calma, assim você vai me matar! — ele disse. Parei na mesma
hora. Meus olhos encontraram os seus, que estavam num azul tão límpido quanto o céu em
dia de sol. E nesses olhos tão azuis, vi refletido o amor que Diego sentia por mim. —
Deus, como eu te amo! — Essas foram as palavras que saíram de sua boca.
Fiquei hipnotizada em seus olhos, não conseguia ver, nem ouvir ninguém. Eu apenas
conseguia ouvir as batidas do meu coração, que mais parecia uma dança frenética. Nossa
respiração estava totalmente descompassada. Meu peito subia e descia em alta velocidade.
Estávamos em nosso transe particular, tendo uma conversa que ninguém escutava, mas
tanto eu quanto ele, entendíamos muito bem. Com apenas um olhar, conseguíamos dizer o
quão importante um era para o outro.
Um arranhar de garganta nos tirou do momento mais precioso de nossas vidas.
— Acho que você já pode levantar, filha. — Era papai. — Já pagou mico suficiente
por toda a sua vida. — Esse era meu pai, com suas piadas e o velho hábito de me fazer
sentir vergonha. Olhei para ele totalmente sem graça. Para ele e para todas as pessoas que
estavam ao nosso redor olhando a forma como nos encontrávamos. E a maioria delas,
tinham em posse um celular que apontava diretamente para gente. Ótimo, seremos notícia
nos sites de fofoca novamente.
Antes de levantar, Diego me puxou para um beijo lento e calmo, mas que despertou
sensações muito gostosas pelo meu corpo.

.::.

Uma legião de repórteres nos aguardava na saída. Eram tantas perguntas e flashes
que fiquei zonza. Não respondemos nenhuma delas. Todos queriam saber sobre o Ítalo,
Rachel e a novidade do momento: nosso noivado.
Diego segurou minha mão e com muita dificuldade, conseguimos driblar os
repórteres e entramos no carro. Assim que sentamos, minhas mãos tomaram posse do
pescoço do meu noivo e minha boca se chocou com a dele.
— Ei, vai com calma, assim que não vai sobrar Diego para festa.
— Festa? — perguntei confusa.
— Mamãe preparou uma festa para mim, onde receberemos alguns convidados.
Deixei uma roupa para você com sua mãe.
— Qual motivo? Estou totalmente por fora.
— Vamos comemorar minha vitória. — ele respondeu. — E não te contei antes
porque ela resolveu de última hora.
— E como ela sabia que você iria ganhar? — Eu ainda estava confusa.
— Ana, eu sou o Monstro, esqueceu? — ele disse com um sorriso malicioso nos
lábios.
— Mas é claro. — Eu sorri. — Você é o melhor, com certeza. — Dei-lhe um
selinho. — Deve ser um festão, já que você até me comprou uma roupa.
— É apenas para compensar o outro que rasguei. — Diego me puxou para mais
perto e mordiscou o lóbulo de minha orelha. Seu olhar era tão intenso e com olhos
desejosos, que fez um arrepio percorrer meu corpo.
— Entendi. — Diego tinha o habito de me deixar confusa e sem palavras, uma
verdadeira tonta.
— Não se preocupe Pequena, não é nada demais.
— Sua mãe confia mesmo em você. — Ele apenas afirmou.
Diego me puxou para seus braços, apoiei minha cabeça em seu peito e ele beijou o
topo da minha cabeça.
— Eu te amo, Ana. — Sua voz era um sussurro. — Te amo tanto. — Apoiei meu
queixo em seu peito e olhei em seus olhos.
— Eu também te amo. — Seus olhos brilhavam.
— Quero passar o resto da minha vida ao seu lado. — ele disse e me beijou. Um
beijo doce, calmo, sereno e verdadeiro.
O carro parou em frente à minha casa, o motorista abriu a porta e saltei para fora do
carro. Eu precisava ficar linda.
Minha casa estava estranhamente silenciosa. Papai havia chegado primeiro, pois eu
fiquei esperando Diego.
Corri para o quarto e me deparei com minha mãe e Jacy, arrumadas lindamente e
meu vestido esticado sobre a cama.
— Alguém pode me dizer o que está acontecendo? — perguntei ao olhar para elas.
— Esperávamos que você pudesse nos responder. — Jacy disse. — E a propósito,
parabéns pelo noivado.
— Ah, vocês viram? — perguntei me sentando na cama, toda melosa e apaixonada.
— Vimos — mamãe respondeu me pegando pelo braço e me fazendo levantar. — Já
para o banho. Caso não tenha percebido, estamos atrasadas.
— Calma, mãe. — Dona Sophia me empurrou pelo banheiro me lembrando das
vezes em que ela me colocou para tomar banho forçado. E foram muitas vezes em minha
fase rebelde de adolescente.

.::.


Banho tomado. Cabelo penteado. Maquiagem pronta. Vestido colocado.
Me olhei no espelho mais uma vez. Eu estava realmente bonita. O vestido que Diego
havia escolhido era lindo. Azul, justo e rendado até a cintura, com a saia em formato godê
até o meio das minhas coxas. Ele havia acertado em cheio.
Meus cabelos loiros e longos estavam de lado, deixando à mostra o decote nas
costas.
Passei as mãos sobre o vestido, calcei meu salto quinze e desci as escadas.
Eu estava achando aquilo tudo muito estranho. Papai e Jonas estavam engravatados.
Mamãe e Jacy estavam muito bem arrumadas em seus vestidos de festa. E esse meu
vestido? Tudo bem que Diego me devia um vestido, mas se é apenas uma simples
comemoração, por que tudo isso? Não conseguia entender.
Não conversei muito com minha família durante o trajeto à residência dos Salvador.
Meu coração batia contra minhas costelas e eu não sabia o porquê. Era estranha a sensação
que me corroía por dentro e eu não via a hora de vê-lo.
A casa estava da mesma forma que me lembrava. Um longo caminho ladeado por
palmeiras com luzes verdes, faziam o trajeto até o grande jardim em frente à casa. Quanto
mais me aproximava, mais meu coração martelava dentro de mim.
A casa de dois andares em tom bege e janelas brancas estava à nossa frente, mas a
pequena recepção estava no jardim. Havia algumas pessoas que não conhecia, mas avistei
Djacy com Benjamin e minha família, incluindo meus avós paternos dona Rita e seu
Heitor e maternos, dona Ellen e seu Marcos. Estava cada vez mais confusa. Por que eles
estariam aqui?
Um homem de preto abriu a porta do carro para descermos e caminhados até onde
estavam meus parentes.
Cumprimentei todos, mas meus olhos estavam à procura do causador de tudo isso e
não o encontrei em lugar algum.
— Duda, você pode me dizer o que está acontecendo?
— Você não sabe?
— Não e todos se recusam a me dizer.
— Ah prima, não serei eu quem irá te contar. — Ela sorriu e eu fiz uma careta que
foi substituída por um sorriso assim que meus olhos avistaram um homem vestido em um
terno preto que caminhava em minha direção.
— Oi. — ele disse sem tirar os olhos de mim.
— Vou deixá-los a sós. — Duda disse, se retirando.
— Acho que terei que me esforçar ao máximo para não rasgar esse vestido também.
— ele disse próximo ao meu ouvido, fazendo meu corpo estremecer.
— Acho bom o senhor se comportar e me dizer o que está acontecendo aqui, porque
até agora estou perdida.
— Você já vai saber. — Di pegou em minha mão. — Vem comigo.
— Aonde?
— Você já vai saber.
— Só sabe dizer isso?
— Isso e eu te amo.
— Você realmente sabe como me fazer tremer nas bases. — Ele me abraçou.
— É mesmo?
— Sim. Você me deixa como gelatina.
— Então, acho que você irá derreter agora, dona gelatina.
— Por que?
— Boa noite amigos, familiares. — Eu e Diego estávamos no meio do jardim. Ele
segurava minha mão enquanto se dirigia as pessoas que se aproximavam de nós. Eu
continuava sem entender absolutamente nada. — Nessa noite eu quis reunir todos vocês,
pois eu queria oficializar meu noivado com a Ana. — Senti meus olhos se arregalarem. —
Para ela, hoje era apenas uma comemoração de mais uma vitória, porém como todos
viram, eu a pedi em casamento enquanto entrava para lutar. E agora, diante das nossas
famílias, quero oficializar o meu pedido. — Diego se pôs de joelhos e tirou do bolso uma
caixinha preta. Lágrimas já escorriam por minha face. Ainda bem que a maquiagem era a
prova d’agua. — Ana, meu avô Diego deu esse anel a minha avó Marisa quando a pediu
em casamento. Muitos anos depois, meu pai usou o mesmo anel para convencer a minha
mãe a se casar com ele. — Ele sorriu para mim, um sorriso tão lindo que fez meu coração
se comprimir dentro de meu peito. — E agora estou eu aqui, tentando convencer você a se
casar comigo. E o que você me diz?
— Diego! — Minha voz saiu como um sussurro. — Mas é claro que aceito. Você é
tudo o que eu quero.
— Ufa, que bom! — Todos ao nosso redor sorriram.
Ele se levantou e colocou o anel em meu dedo.
— Ele é lindo. Eu te amo.
— Eu também te amo. — Diego me puxou pela cintura e selou nossos lábios com
um beijo. Todos ao nosso redor sorriam e aplaudiam, menos minha mãe e Amanda que se
debulhavam em lágrimas nos braços de seus esposos, que também estavam visivelmente
emocionados.
Assim que nos separamos, os convidados vieram nos cumprimentar.
— Ana! — minha prima Duda gritou. Gritou e se jogou em cima de mim, quase me
derrubando no chão. — Você vai se casar! — Ela pulava agarrada a mim. Essa pessoa era
mesmo da minha família? — Quero ser a madrinha!
— Quem mais seria, Duda?
— Pois é. Eu sou a responsável por isso. — Ela apontou para mim e para Diego.
— Ah pode parar, eu também quero ser madrinha! — Disse uma grávida emburrada,
de braços cruzados.
— Cunhada, você é minha grávida preferida e com certeza você também será minha
madrinha. — Um par de olhos estava fixado diretamente em mim: Djacy. — Na verdade,
Duda, Jacy e Djacy. — As três sorriram contentes e Diego nos olhava confuso.
— Já perceberam o quanto os nomes de vocês duas são estranhamente parecidos? —
ele perguntou, se referido a minha cunhada e minha amiga. — Se fossem parentes não
seriam tão parecidos.
— O meu é em homenagem à minha bisavó e é de origem indígena. — minha
cunhada disse. — Deusa da Lua, para ser mais exata.
— Ui! — Diego zombou.
— O meu, acredito que seja uma variante do seu. Nunca me preocupei em saber.
Mamãe quis assim, e assim foi. — Djacy disse de forma despreocupada.
— Vocês são tão estranhas quanto o nome.
— Diego! — repreendi batendo em seu peito. As duas caíram na gargalhada.
— O que foi amor? Essas duas vivem te perturbando, deixa eu perturbar um pouco
também.
— Deixe ele, Ana. Diego tem a sorte de ser querido por mim, caso contrário, estaria
ferrado.
— Ah, Djacy, muito obrigado! Me sinto lisonjeado!
Embora meu noivo tenha chamado minhas amigas de estranhas, sei que ele estava
apenas brincando e era muito bom ver ele interagindo assim com as pessoas que amo.
Amanda, minha futura sogra chegou, acabando com nossa brincadeira e distração.
Minhas amigas se retiraram enquanto Amanda me abraçava.
— Ana estou te entregando meu bem mais precioso, por favor, cuide do meu filho.
— ela disse enquanto segurava meu rosto.
— Pode deixar. Prometo que cuidarei dele.
Mamãe tinha lágrimas nos olhos quando me abraçou e papai estava evidentemente
emocionado:
— Quem diria que um namoro falso te traria até aqui. — papai disse e meu
estômago gelou. — Não precisa arregalar esses olhos tão lindos. Sempre soubemos de
tudo, Ana.
Olhei para mamãe e ela apenas sorria.
— Como assim? Não estão bravos?
— Depois que recebemos o convite para o casamento da Iza, percebemos o quanto
aquilo estava te fazendo mal. E quando você contou que estava namorando Diego, na
verdade eu me enfureci. Ainda existia preconceito por minha parte e não me orgulho
disso, filha. Mas quando esse homem — papai apontou para Diego que estava ao meu lado
— chegou em nossa casa com uma garrafa de vinho nas mãos e com um sorriso bobo nos
lábios, vi quanto mal havia feito a ele e que ele realmente a amava.
— Papai… — Meus olhos se encheram de lágrimas.
— Eu sei, vi isso antes de você. — Diego tinha um sorriso nos lábios. — Resolvi dar
uma chance a ele, principalmente quando vi que ele te fazia feliz e que a fez superar o
idiota do João.
— Obrigada papai. — Ele me abraçou forte. — Me diga, como soube? — pedi
quando ele me soltou.
— Ouvi sua conversa com Jonas. Não foi por querer, mas acabei ouvindo. Me
desculpe.
— Eu que peço desculpas, pai. Eu enganei vocês. — Olhei para mamãe.
— Tudo bem, filha. Nós merecemos. Não devíamos nunca ter permitido aquele
casamento na fazenda, onde você sonhava em se casar.
— Agora não tem mais problema. Já superei. Tenho Diego que me faz tão feliz. —
Di passou os braços pela minha cintura, me fazendo ficar mais próximo dele.
— Eu também gostaria de pedir desculpas a vocês, mas a verdade é que em
momento algum eu menti. Eu nunca esqueci a filha de vocês. Eu a amo.
— Seja bem-vindo a família, filho. Não há o que perdoar. — Os dois se abraçaram.
— Vamos deixar os pombinhos, Daniel. — E assim os dois saíram e nos deixaram a
sós.
Diego me puxou, colando seu corpo no meu.
— Acho que agora teremos que procurar um lugar para a nossa cerimônia.
— Acho que esse jardim seria perfeito. — disse enquanto passava meus braços pelo
pescoço dele e acariciava seus cabelos.
— Está falando sério? — Seus olhos azuis brilharam. Assenti. — Meus pais se
casaram aqui.
— Perfeito! — Beijei-lhe os lábios.
— Quatro meses é o suficiente?
— Quatro meses? — perguntei assustada.
— Não quero mais dormir longe de você.
— É só por isso? — Fiz charme.
— Claro que não. A verdade é que não quero mais ficar longe de você. — Ele me
apertou mais contra seu corpo.
— Sendo assim, eu aceito os quatro meses.
Eu estava embarcando em uma aventura. Faz o quê, cinco meses que estamos
juntos? Mas quem liga? Quando duas pessoas se amam e sabem o que querem, pra que
ficar adiando o inevitável?






















Capítulo Vinte e Dois



Trabalho e correria com as coisas do casamento não estavam combinando, por isso
nomeei, oficialmente, Jacy, Duda e Djacy como minhas madrinhas. Eu dizia o que queria
e como queria, e elas como fiéis amigas tinham todo o trabalho.
Rachel estava silenciosa e eu tinha receio de que ela estivesse tramando alguma
coisa. E por isso, eu precisava ter uma conversa séria com ela, de mulher para mulher.
— O que você faz aqui? — ela perguntou assim que me viu parada em sua porta.
— Acho que precisamos conversar.
— Não temos nada a conversar.
— Tia Ana? — Ítalo apareceu na porta e abriu um sorriso. — Que bom que você
veio. — Ele correu em minha direção e abraçou minhas pernas. Assim que ele as soltou,
me abaixei para ficar na sua altura e dei um beijo em sua testa.
— Como você está garotão?
Meu relacionamento com Ítalo ia de vento em poupa. Diego havia conseguido a
permissão para visitar o menino nos finais de semana e registrá-lo como seu filho. O único
problema era que Rachel não gostava, de forma alguma, de me ver presente na vida do
filho dela, mas disso eu não tinha culpa. Todas as vezes que íamos pegar o menino ela me
olhava com cara de poucos amigos, fazendo com que eu a ignorasse.
— Eu estou bem. — Ele me olhou. — Por que veio? Cadê meu pai, ele não veio?
— Não, meu amor. — Passei a mão em seu rosto. — Vim porque precisava
conversar com sua mãe.
— Vá para seu quarto, Ítalo.
— Mas mãe…
— Vá para seu quarto, filho. Por favor. — O menino se retirou, eu me levantei e a
encarei. — Entre e diga logo o que quer.
— Olha Rachel, eu sinto muito pelo o que aconteceu entre você e o Diego, mas eu
não tenho culpa dele não te amar.
— Não precisa jogar na minha cara. — Sua voz era dura. Essa mulher realmente me
odiava.
— O que eu vim te falar é bem simples. Diego é o pai do Ítalo, legalmente falando.
Se você for viajar ou sair do país, sem a permissão dele, você pode ser presa. — Ela tentou
falar algo, mas continuei. — Eu sei que você me odeia e que não quer seu filho perto de
mim, mas saiba que se você for presa, eu irei criá-lo. Ítalo passará a ser meu filho e
cuidarei dele com todo meu amor. E também sei que você odiaria isso. — Os olhos de
Rachel brilharam por lágrimas que preencheram seus olhos. — Então, por favor, antes de
fazer qualquer besteira que queira fazer, pense duas vezes, pois caso contrário você não
terá mais filho.
— Era só isso o que você queria?
— No momento sim.
Virei as costas para sair, mas ela me impediu.
— Ana. — Fiquei de frente para ela. — Vou ficar fora do caminho de vocês. Eu já
entendi que é você quem ele ama e sempre amou.
— Obrigada.
Me virei e sai. Meu coração pulsava em minhas costelas. Eu tinha medo de que
Diego não entendesse meus motivos, mas só pensava nele e no Ítalo que já viveram muito
tempo separados.
Voltei ao meu local de trabalho um pouco mais tranquila, mas assim que passei pela
recepção, minha amiga e madrinha me chamou:
— Ana, você tem visita.
— Quem? — Ela apenas indicou com a cabeça. — Ah não. Não acredito. —
Caminhei a passos largos até a mesa onde meu visitante estava sentado. — Oi João. O que
faz aqui?
— Ana! — Ele se levantou. — Estás ainda mais bela. — Sério isso produção?
— O que você quer João? — Fui totalmente seca. Não quero a amizade e muito
menos a presença dele em minha vida.
— Sente-se comigo por um instante. — Respirei fundo e sentei. — Eu vi o pedido
de casamento e confesso que senti inveja.
— Achei que essa página já estava virada.
— Eu também, mas a questão é que eu realmente não te esqueci.
— Pode parar por aí. Eu amo Diego e vou me casar.
— Eu sei. É por isso que estou aqui. Quero mais uma chance. — Ele tentou pegar
minha mão, mas me afastei.
— João, sem chance. Sinto muito. Você me traiu, me largou, se casou com minha
melhor amiga e ela está gravida de você.
— Ela não está. — Olhei para ele confusa. — Ela me enganou para que eu não a
largasse. Iza percebeu que você ainda mexia comigo.
— Olha João, eu sinto muito. Não há possibilidade nenhuma da gente voltar. Eu
amo meu noivo. — Me levantei, deixando ele com cara de taxo na mesa.
Troquei minha roupa e fui para o lugar onde mais me sentia à vontade: minha
cozinha.
— Por onde andou Ana? — papai quis saber.
— Precisava resolver algumas coisas, pai.
— Eu vi João.
— Ele estava me esperando. Veio me dizer que ainda me amava.
— Como assim? Esse cara é doido, só pode. — Papai parecia chocado.
— Parece que sim. Mas já deixei claro que amo Diego.
— Você está feliz, não é?
— Muito pai.
— Posso ver seus olhinhos brilhando e eu fico muito feliz com isso. — Papai me
abraçou e beijou o topo de minha cabeça. — Estou muito orgulhoso da mulher que se
tornou.
— Eu te amo, pai.
— Também te amo, filha.

.::.

— Ana, você tem mais uma visita. — Djacy anunciou.
— Bem na hora do meu almoço? — resmunguei. — A visita é boa, pelo menos?
— Veja com seus próprios olhos. — Bufei e caminhei para fora da cozinha.
Era meu noivo, sentado em uma das mesas no restaurante. E mais uma vez meu
coração palpitou, mas agora era de pura felicidade.
— Olá, boa tarde. O que o senhor deseja? — perguntei com um sorriso nos lábios.
— Eu desejo almoçar com você.
— Seu desejo é uma ordem. — respondi dando um beijo em sua bochecha.
— Está tudo bem?
— Sim. Apenas preciso te contar duas coisas. — Não esconderia nada dele. — E
espero que não fique chateado.
— O que houve?
— Fui procurar Rachel hoje de manhã.
— Por que? — Sua feição se transformou. Ficou nítido que ele não gostara do que
fiz. Engoli seco.
— Fui alertá-la de que qualquer burrada que ela faça, Ítalo seria criado por mim. —
Ele me olhou sem entender. — Caso ela resolva fugir do país, você poderia denunciá-la e
ela seria presa.
— Entendi. — Ele uniu as mãos por cima da mesa e sua expressão continuava muito
séria.
— Não que eu não queira criar o Ítalo. Não teria problema nenhum para mim, mas
gostaria que ela se comportasse para não te dar nenhum problema. E nem gerar algum
problema para o menino. Fiz mal?
— Você não deveria ter procurado por ela sem falar comigo.
— Eu sei, me desculpe.
— Tudo bem — Ele respirou fundo. — Não vou ficar chateado com isso. Sei que
quer o meu bem.
— Com certeza.
— E a segunda coisa?
— Essa sim pode te chatear de verdade.
— O que mais você fez Ana? — Sua voz soou preocupada.
— Eu não fiz nada. — Respirei fundo. — João apareceu aqui, disse que ainda me
amava.
— De novo essa história? Esse cara não se cansa? — Ele socou a mesa, me fazendo
pular e chamando a atenção de alguns clientes ao nosso redor. — Eu vou arrebentar a cara
dele. — Diego falou entredentes.
— Não vai não. Ele não é páreo para você.
— Vai ficar defendendo esse cara? Está com saudades?
— Ouça o que está falando! Isso é ridículo. — Eu estava indignada, mas não alterei
a voz.
— Me desculpe, mas esse cara me faz enxergar vermelho. — Ele pegou minhas
mãos. — Eu sei o que ele significava para você.
— Como você mesmo acabou de dizer, significava. É passado Diego. Meu presente
agora é você. — disse olhando os olhos azuis mais lindos que existiam.
— Isso é porque eu ainda tenho medo de perder você.
— Não precisa ter medo, Diego. Eu sou sua.
— Me desculpe.
— Tudo bem.
— Eu não vim aqui pra brigar, vim para ter um almoço agradável com você.
— Então, faça seu pedido.
Diego beijou minha mão, pegou o menu e o analisou.
Conversamos sobre nossos planos para o casamento. Depois do casamento, vamos
ficar no apartamento dele, que é amplo e bonito. Apenas precisa de redecoração, o que
ficou por minha conta.
Estávamos felizes e contando os dias para que pudéssemos viver juntos.
A paz parecia reinar em nossas vidas. Problema com Rachel resolvido e João parecia
ter entendido que tudo havia acabado. Agora era apenas nós dois.
— Amor, preciso voltar ao trabalho.
— Eu sei querida. Se dependesse de mim, ficaria o dia inteiro com você.
— Vou com você até lá fora. — Peguei em sua mão e nos encaminhamos para fora
do restaurante.
— Vou sentir sua falta. — ele disse, me puxando para seus braços.
— Mais tarde nos veremos. — Beijei-lhe os lábios.
— Ok. Vou treinar para o tempo passar mais rápido. — Diego me apertou contra seu
corpo e meu deu um último beijo antes de me deixar.
Eu estava encantada com a beleza do meu noivo, tão encantada que fiquei parada,
igual uma boba olhando ele atravessar a rua. Estava pensando o quão feliz eu era por ter
Diego comigo, por ele ser meu melhor amigo, meu parceiro, quando um barulho de carro
chamou minha atenção. O carro vinha em alta velocidade e ia na direção do meu noivo.
Meu coração se apertou com a possibilidade de que algo acontecesse a ele. Diego estava
distraído e se eu gritasse, não daria tempo. Não pensei duas vezes. A cena parecia em
câmera lenta. Quanto mais eu me esforçava para correr, mas distante ele ficava. Quando
cheguei perto o suficiente de Diego, o empurrei, tirando-o do caminho. O único problema
foi o meu erro de cálculo. Nunca fui boa em física: força, velocidade, distância. Eu não
entendia nada disso e talvez tenha sido por isso, que quando eu tirei Diego da frente, tenha
virado o alvo principal do carro.
O carro bateu com toda força contra meu corpo, que parecia um pedaço de papel. A
dor percorreu cada pedaço em mim e a última coisa que ouvi, antes do silêncio e a
escuridão chegarem, foi meu nome vindo dos lábios do homem que acabei de salvar e que
amava mais do que minha própria vida.






























Capítulo Vinte e Três



Luzes. Elas passam por mim correndo. Era estranho, porque eu nunca soube que
luzes corriam. E além de correrem, elas ainda incomodavam meus olhos. Não conseguia
ficar muito tempo de olhos abertos.
As pessoas ao meu redor estavam correndo junto com as luzes. Pessoas de branco. O
que está acontecendo? Onde estou?
E mais uma vez a escuridão e o silêncio tomam conta de mim.

.::.


Um som irritante de um bip me incomoda me tirando de um abismo de escuridão. A
luz do ambiente que estou é tão forte que não me deixa abrir os olhos de uma única vez.
Quando mexo um dos meus braços, sinto algo espetar, totalmente desconfortável.
Aperto os olhos por causa da luz que ofusca minha visão e logo tem alguém ao meu
lado segurando minha mão. Um homem muito bonito por sinal, olhos tão azuis quanto o
céu, cabelos escuros bagunçados, os lábios finos, porém bem desenhados, como diria
minha avó, ele era um pão.
E mais rostos ansiosos atrás do rapaz me olhavam. Papai, mamãe, Jonas e Jacy. Era
minha família.
— Pequena, você acordou. — o homem disse, acariciando minha bochecha.
— Quem é você? — perguntei. Os olhos azuis se tornaram escuro e seu rosto se
contorceu de dor. — Mamãe.
Todos olhavam para mim como seu eu estivesse cometendo um pecado horrível, e
mamãe se aproximou de mim assim que a chamei.
— Vou chamar um médico. — o homem disse se retirando do lugar.
— Mãe, onde estou? Quem é ele? — Eu estava confusa.
— Filha, você sofreu um acidente. Não se lembra mesmo dele? — Balancei a cabeça
em negação. — Ana, ele é o Diego. Lembra-se do Diego, aquele que você namorou na
adolescência?
— Aquele que papai me fez terminar o namoro? — Eu não estava entendendo. Se
papai havia feito com que eu terminasse meu namoro com ele, o que ele fazia aqui?
— Sim. Vocês estão noivos. — Noivos? — Estão de casamento marcado, não se
lembra?
Abri minha boca para falar algo, mas Diego, meu suposto noivo, e o médico
entraram no quarto.
— Ana, vejo que acordou. Como está? — O médico pegou uma lanterninha e com a
luz olhou meus olhos. — Parece que você está bem.
— Não está não, doutor. — Diego disse. — Ela não se lembra de mim. — Sua voz
soava angustiante. — Pelo visto só de mim, que ela não lembra.
— Me desculpe. — Meu coração se contraiu dentro do meu peito e pedir desculpas
era a única coisa que eu podia fazer.
— Ana, você se lembra dessas pessoas? — Papai, Jonas e Jacy. É claro que eu me
lembrava deles, só não me lembrava do tamanho da barriga da minha cunhada.
— Sim. Jacy, você está grávida? Eu vou ser tia? — Jonas chegou mais perto e
apertou minha mão. Eu iria ser tia e sequer sabia disso. Meu irmão será pai. De repente
uma felicidade se instalou em mim, não sabia que ser tia me provocaria essa emoção.
— Qual a última coisa que você se lembra? — Forcei um pouco minha memória e
meu coração doeu com a lembrança de encontrar minha prima com meu noivo.
Imediatamente meus olhos se encheram de lágrimas.
— O que foi querida? — mamãe perguntou.
— João. Ele me traiu com a Iza. — Uma lágrima rolou por minha face. Todos se
olharam e o rapaz que se dizia meu noivo, ficou com os olhos mais tristes ainda.
— Acredite, Ana. Você já superou isso. — Jonas disse, se sentando ao pé da minha
cama e apertando minha mão.
— Isso faz quanto tempo? — o médico perguntou à minha família.
— Cerca de dois anos e meio.
— Bem, vamos prepará-la para alguns exames. — disse o doutor.
Meu pai e Jacy nada disseram. Apenas olhavam para mim com suas caras tristes.
Jonas estava de um lado e mamãe do outro. Eles pareciam sofrer por minha causa. Diego
estava na janela, observando algo que estava do lado de fora.
Eu não sabia o que pensar. Estava noiva e não me lembrava de nada? Não me
lembrava do meu noivo? Não me lembrava de que o amava? E ainda por cima, meu
coração doía com a lembrança de João me traindo. O que aconteceu em dois anos e meio?
Um enfermeiro veio para me levar para fazer os tais exames que o médico pediu.
Após todos ao meu redor me olharem com cara de pena e entrar em uma máquina
que mais parecia um caixão, voltei ao meu quarto junto com o médico.
— Os exames não apontaram nenhum tipo de lesão cerebral.
— Então por que não me lembro de nada?
— O que você tem Ana, é chamado de Amnésia Psicogênica. Você sofreu um
trauma. Foi atropelada e isso pode ter desencadeado a amnésia. A amnésia psicogênica
ocorre porque aquelas memórias que não se consegue lembrar provocam sensações fortes
de dor e sofrimento, e assim o cérebro age bloqueando as informações como mecanismo
de defesa.
— Eu vou me lembrar das coisas? — perguntei a parte mais importante. Se eu era
noiva, precisava me lembrar, pois o homem com rosto ansioso a minha frente estava
claramente sofrendo.
— Com o tempo. É uma perda de memória temporária, você esqueceu trechos da
sua vida.
— Os últimos dois anos não são trechos.
— Sim, é verdade. Mas apenas tenha paciência, tudo vai voltar quando menos
esperar.
— E qual é o tratamento? — Pela primeira vez ouvi a voz de papai?
— A recuperação pode ser estimulada com o uso de fotos ou objetos que estão
associados a informação esquecida e vou te encaminhar a um Psicoterapeuta.
Eu respirei fundo.
— Então é isso? — Diego disse quase que desesperado. — Só precisamos de
tempo?
— Sim. Tempo e paciência. — o médico respondeu.
— E se ela não se lembrar? — Diego perguntou.
— Ela vai meu jovem, tenha um pouco de fé. — o médico disse. — Ana ficará em
observação por 24 horas. — O médico olhou para os meus familiares. —Por hora,
aconselho que a deixem descansar. Ela já teve uma carga emocional muito grande por
hoje.
— Eu posso apenas dar uma palavra com ela antes de sair? — Diego pediu e todos
olharam para mim, querendo uma resposta. Apenas assenti.
Todos se retiraram e ficamos apenas nós dois. Meu coração estava acelerado e
minhas mãos suavam. Eu não sabia o que dizer a ele.
— Ana. — ele disse ao se aproximar e pegar minha mão. — Você não se lembra
mesmo de nada do que aconteceu nos últimos meses?
— Me desculpa Diego.
— Tudo bem, eu vou ter paciência. Eu te amo demais, Pequena. — Ele estava aflito,
isso era nítido. Eu também estaria se estivesse no lugar dele. — Nós vamos ficar bem. —
Diego disse sem muita convicção. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, parecia estar
sendo torturado.
Meu suposto noivo me deu um beijo na testa e saiu apressado do quarto, me
deixando sozinha.
O que aconteceria agora? E se eu não me lembrasse? O que seria de mim?
Continuaria sofrendo por um João que me traiu com minha melhor amiga? O que seria
desse rapaz, que aparentemente me amava e que estava sofrendo?
Mais uma vez eu tinha um monte de perguntas e não tinha as respostas para elas.
















Capítulo Vinte e Quatro



D I E G O

Quando Ana abriu os olhos e não me reconheceu, me senti impotente. Não havia
nada que eu pudesse fazer para que o quadro de amnésia dela fosse mudado. E sabe qual é
o pior de tudo? Ela estava nesse estado por minha causa. Foi para me salvar. Era para o
maldito carro ter me atropelado. E tudo culpa de quem? Do idiota do João que resolver me
tirar da jogada, achando que se eu estivesse morto, Ana ficaria com ele. Que cara estúpido.
Assim que Ana foi atingida, um desespero tomou conta de mim. Para mim, Ana
estava em segurança em seu local de trabalho, mas ao contrário disso, ela se pôs em perigo
por minha causa.
Quando a vi deitada no chão, imóvel, inconsciente, aos meus olhos Ana parecia sem
vida. Minha primeira reação foi pegar o telefone e ligar para emergência. Não podia
perder tempo, pois não sabia como ela estava, se havia algum dano fatal. A segunda foi
verificar sua pulsação e meu coração sentiu certo alívio ao perceber que ela estava viva.
Não me preocupei com o carro ou motorista. A justiça que se virasse depois para
encontra-lo, já que o covarde não prestou socorro. Minha única preocupação e angústia era
se Ana ficaria bem e eu pedia a Deus para que cuidasse dela.
Então, creio que você pode imaginar o meu drama quando ela finalmente acordou,
depois de horas que mais pareceu uma eternidade e não me reconheceu. Não reconheceu o
homem que ela amava, que cuidou dela e não a deixou por um segundo sequer. Ah, isso
foi demais para meu pobre coração que foi partido em mil pedacinhos pela mesma mulher.
Será que a vida nunca iria sorrir para mim?
Mas eu não poderia desistir, não agora. Eu precisava ter calma, me esforçar para que
ela se lembre, para que volte aos meus braços.

.::.


A N A
— Ana? — Uma batida na porta me acordou de um cochilo. Sim, ainda estava no
hospital, cheia de remédio na corrente sanguínea e sonolenta.
Diego ainda estava sentado ao meu lado. Ele não saiu nem por um instante.
— Oi Duda. — Ela tinha o olhar triste.
— Oi, como você está?
— Na medida do possível bem. — Dei-lhe um sorriso fraco. — Estou um pouco
sonolenta, pode ser que eu não me lembre se sua visita depois. — Ri sem humor.
— Isso vai passar. — Ela se aproximou, olhou para Diego e apertou seu ombro. —
Você está bem? — Duda perguntou a ele.
— Vou ficar, não se preocupe.
— Você se importa de me deixar um pouquinho com ela, Diego?
— Claro que não. — Ele se levantou. — Vou aproveitar para comer algo.
E assim ele se foi. De certa forma, senti um vazio. Ele estava comigo o tempo
inteiro.
— Ana, como você está? De verdade.
— Não sei Duda. Minha mente está confusa. Não me lembro de nada do que
aconteceu entre mim e ele. — Bufei. — É tão frustrante.
— Eu imagino. — Duda se sentou na cama ao meu lado. — Você é mais que minha
prima, sabe disso não sabe? — Eu assenti. — Você é minha melhor amiga, minha irmã. A
irmã que não tive. — Sua voz estava embragada. — Quando soube do que aconteceu,
fiquei tão preocupada. Larguei tudo e vim correndo para cá. — Peguei em suas mãos que
estavam geladas e trêmulas.
— Eu estou bem, Duda. Não se preocupe.
— O desgraçado que fez isso com você, tem que pagar. Ele não pode ficar impune.
— Já descobriram quem foi? — Duda hesitou.
— Não. Parece que pegaram a placa, mas a polícia está investigando.
— Como aconteceu esse acidente?
— Diego foi te ver no restaurante e você foi leva-lo até a saída. Um carro veio em
alta velocidade e ia em direção ao Diego. Você saiu correndo feito uma louca, empurrou
Diego, mas não conseguiu escapar do impacto.
— É a minha cara. — Nós duas rimos.
— Isso porque provavelmente você não se lembra de quando Diego fez o pedido de
casamento e você pulou em cima dele. — Levei a mão a boca.
— Eu fiz isso?
— Sim. E os dois foram parar no chão.
— Eu preciso me lembrar Duda, preciso. — choraminguei.
— O que o médico disse?
— Que é temporário. Só preciso ter paciência.
— E paciência é algo que você não tem, não é?
— Sim. — Respirei fundo. — Não aguento ver esse homem tão bonito sofrendo por
minha causa.
— Se você se importa assim, talvez seu coração não tenha esquecido. Isso é na sua
mente. — Duda bateu com dois dedos em minha têmpora.
— Será?
— Creio que sim. Isso vai passar. — Minha prima me abraçou. — Eu preciso ir.
Tenho prova, preciso estudar. — Duda fungou e secou uma lágrima que escorria em sua
face. — Vou te deixar com o homem mais bonito da terra.
— Ah pode tirar o olho, ele é meu! — soltei e Duda arregalou o olho.
— Será isso um reflexo de sua memória?
— Não sei. Será? Acho que não. Acho que foi pura expressão, ou como você disse,
meu coração ainda se lembra, apenas minha mente que não. — Maria Eduarda acariciou
meu rosto e beijou minha bochecha.
— Fique bem, ok?
— Pode deixar.
E ela se foi.

.::.


D I E G O

Não consigo comer. Nada desce pela minha garganta. Sempre que fico ansioso ou
nervoso, meu apetite foge.
Quando Duda saiu do quarto de Ana, eu estava encostado ao lado da porta, não
escutei a conversa, apenas não tinha para onde ir e não queria ficar longe.
— Ei, como você está? — Duda me perguntou assim que me viu.
— Vou ficar bem quando ela ficar.
— Eu sinto muito, eu juro.
— Eu sei. Obrigado.
— Ela vai se lembrar, ela é louca por você. Sei disso desde quando os vi na Fazenda.
— Ela suspirou. — Ana irradiava felicidade. Será que ainda vou ter um amor como o de
vocês? — Ela suspirou novamente.
— Não seja boba! — Eu ri.
— É sério, vocês juntos são tão lindos. Espero que um dia, alguém me ame como
você a ama. Minha prima merece ser feliz. João não vale o prato de comida que come.
— Não fale o nome desse sujeito perto de mim. — disse irritado. Não suportava
ouvir o nome desse canalha.
— Me desculpe, não quis te irritar.
— Tudo bem, Duda. É que ele é a única coisa que a Ana se lembra e isso me
machuca.
— Diego, mesmo que Ana não se lembre de nada, ainda que ela esqueça para
sempre esses últimos meses, o que existe entre vocês não morreu, tenha certeza. O que a
mente não lembra, o coração sabe muito bem o que é. Ela vai perceber o quanto João é
patético e o quanto você é maravilhoso. — Duda colocou uma das mãos sobre meus
braços cruzados.
— Obrigado, Duda. Você é uma boa amiga.
— Por nada. Só não se esqueça de que ainda serei sua madrinha, esse casamento
acontecendo agora ou daqui a vinte anos.
— Deus me livre! — Nós dois rimos.
— Conte comigo para o que precisar. — Ela me deu um abraço. — E tenha
paciências, as coisas vão acontecer. Tenha fé. — Duda disse antes de ir.
Fé. Esperança. Acreditar. Confiar.
Por que é tão difícil conseguir ser fiel a essas palavras? Na hora que em que
precisamos que elas permaneçam conosco, é a hora que a dúvida aparece. E se…, e se…,
e se… E se ela não lembrar? E se ela lembrar e não me quiser mais? E se eu não conseguir
conquista-la novamente? Eram questões que eu não saberia responder. E mesmo tudo
sendo contrário, eu precisava, necessitava deixar as incertezas de lado e passar a ter
esperança.






































Capítulo Vinte e Cinco



Eu e Diego entramos num acordo ao sair do hospital: ele me veria todos os dias, me
contaria uma história nossa e me mostraria fotos de nós dois juntos, o que não foi tão
necessário, pois no meu quarto havia algumas fotos nossas de quando fomos à Floresta da
Tijuca, um lugar onde eu sempre quis conhecer e agora que conheço, não me lembro. Uma
outra foto nossa na fazenda da minha família, que eu descobri que foi tirada no casamento
da Iza e do João. Imagina minha decepção ao saber que ele tinha se casado? Pois é, foi
duro. E a última foto foi do nosso noivado. Eu parecia muito feliz na foto. Estava com um
sorriso radiante, porém essas fotos de nada adiantaram e isso era frustrante.
Recebi a visita da recepcionista do restaurante do papai; até onde sabia, ela era
minha amiga e eu trabalhava com ela. Eu a reconheci, ela trabalha há anos com meu pai,
só não me lembrava de ser tão próxima dela.
Meus tios, junto com Duda também vieram me visitar, até mesmo tia Carla e o tio
Júlio, mas nada ativou minha memória, o que era uma droga.
Jonas e Jacy me mostraram o vídeo do pedido de casamento, que estava no Youtube
fazendo o maior sucesso. Diego era lutador e havia me pedido em casamento enquanto
entrava no octógono, ele foi um fofo e o que mais me envergonhou foi eu pulando em
cima dele logo depois da luta. Nós dois caíamos no chão. Foi vergonhoso.
— Ei. — Diego disse ao entrar em meu quarto.
Eu estava sentada em minha cama, com uma das muitas fotos que tiramos no nosso
noivado. Levantei meu olhar e me deparei com os olhos mais azuis que já tinha visto na
vida e lhe ofereci um sorriso.
— Você está bem? — ele perguntou enquanto sentava ao meu lado.
— Sim, e você?
— Estou indo. — Diego parecia triste, mas também não era para menos. — O que
você tem aí?
— Uma foto nossa. — Mostrei a ele a foto na qual eu estava com um sorriso de
ponta a ponta da orelha. — Não consigo me lembrar de nada, me desculpe.
— Tudo bem, Ana. Eu disse que teria paciência.
— Eu sei, mas eu não aguento te ver assim. — Ficamos em silêncio por um instante.
Era muito frustrante tentar me lembrar de algo e não conseguir. — Nem as terapias têm
funcionado. — Ele segurou minha mão.
— Vai ficar tudo bem.
— Me conta como começamos a namorar, por favor.
— Na verdade, nosso namoro no início era uma farsa. João e Iza iam se casar e você
ficou uma fera porque o casamento seria na Fazenda. — Ele pronunciou o nome do João
como se tivesse algo azedo em sua boca e ao ouvir o nome do traste, meu coração doeu.
Se eu já tinha superado essa história uma vez, superaria de novo. Assim eu esperava.
— E por que eu escolhi você?
— A gente tinha se reencontrado. Eu nunca esqueci de você. — Diego acariciou
minha bochecha. — Não sei te dizer ao certo porque me escolheu, mas acho que era uma
vingança contra seus pais, por terem permitido o casamento na Fazenda
— Entendo. E como se tornou real?
— Acho que a convivência mostrou que ainda tínhamos sentimentos guardados.
— Não consigo acreditar que fiz isso. — E era verdade. Não me imaginava
mentindo assim para meus pais. Não parecia comigo.
— O que importa é que nos amamos e que somos felizes juntos.
Diego se aproximou, colocando uma mexa do meu cabelo atrás da minha orelha e
fez menção de me beijar, mas eu me levantei e andei pelo quarto. Eu sei que talvez
devesse beijá-lo, mas eu simplesmente não conseguia. A única boca que me lembro de ter
beijado era de João. Eu sei que ele não era mais meu, que estava casado, mas o que eu
podia fazer se meu coração ainda batia por ele? Ou pelo menos eu pensava que ainda o
amava.
— Me desculpe. — pedi. — Eu não posso.
— Para de me pedir desculpas, Ana. — Diego choramingou. — Eu sou seu noivo.
Eu te amo.
— Mas eu não te amo. Eu mal sei quem você é. Não te conheço mais. — Falei e me
arrependi no instante seguinte, pois vi o choque se abater em seu rosto que se contorcia de
dor. — Me desculpe. — Não consegui olhar em seus olhos.
— Sou eu que peço desculpas. — Ele respirou fundo. — Eu não devia ficar te
pressionando. — Diego fez uma pausa. — Tenho que ir, hoje eu tenho uma luta. — Meu
suposto noivo beijou minha testa e saiu do quarto tão rápido como um trovão.
Não demorou muito para que minha mãe entrasse no quarto.
— O que houve, Ana? — ela perguntou preocupada.
— Mãe, eu não consigo me lembrar e não aguento ver esse homem sofrendo por
minha causa. — eu disse chorando.
— Ei, não fica assim. — mamãe disse me abraçando. — Vai ficar tudo bem, vai
ficar tudo bem.


.::.


Jonas teve a brilhante ideia de me levar à luta de Diego. Ele, meu pai e Duda foram
comigo. Minha prima estava eufórica com a possibilidade de ver uma luta entre homens
suados e sangrando. Ela era realmente esquisita.
A sensação de estar ali era estranha. Ao mesmo tempo em que parecia que eu
conhecia o lugar, ele era desconhecido.
Alex me cumprimentou com um abraço e ele parecia realmente triste, o que me
deixava triste também.
— Não se preocupe, quando menos esperar você se lembrará de tudo. — ele disse
enquanto me abraçava.
Alex era uma pessoa boa.
— E Amanda, não vem? — Ele sorriu. — Antes do acidente eu saberia a resposta,
certo? — Alex comprimiu os lábios.
— Sim. Mas não tem problema. — Ele apertou meu ombro. — Ela não gosta de vê-
lo lutar.
— E eu não imagino o porquê. — respondi irônica.
— Essa foi a resposta que me deu, quando te disse isso pela primeira vez.
— Isso mostra que não mudei tanto assim.
— Verdade. Por isso disse, para não se preocupar. Você vai lembrar. Eu acredito em
você.
— Obrigada, Alex. — Meu ex-futuro sogro piscou para mim.
Diego foi chamado e não pude deixar de reparar em seu peito nu, o abdômen bem
definido e braços cheios de músculos. Ele era realmente bonito.
Quando seu oponente entrou, Duda cochichou:
— Menina, que homem é esse?
O homem era quase do mesmo tamanho que Diego e tinha quase a mesma
quantidade de músculos. Ele era bonito, mas Diego, sem dúvida era mais.
— Se comporte, Maria Eduarda, ou não a trago mais aqui.
— Chamou pelo nome completo, deu ruim. — Jonas disse.
— Não se mete, primo. — Duda brigou. — Deve ser porque você só traz sua outra
amiga. — Olhei para ela sem entender. — Djacy. — ela disse emburrada.
— Eu nem sabia disso e agora não é hora de ciúmes. A luta vai começar. — Duda
cruzou os braços e fez beicinho. Ô menina birrenta. — Prometo te trazer mais vezes. —
Ela sorriu e me abraçou. Era bom ter Duda como amiga.
Meu suposto namorado não parecia concentrado e levou um soco que o fez
cambalear, fazendo meu peito doer. Eu assisti todas as lutas dele e fazia muito tempo que
ele não perdia. Ele não estava focado e a culpa era minha.
O primeiro round acabou.
— Alex, eu preciso falar com ele.
— Agora?
— Sim. Ele não pode perder por minha causa.
— Se Diego perder, não será por sua causa.
— Será sim. Ele não está concentrado por causa do acidente, porque minha mente
cisma em não lembrar. — Minha vontade era de chorar.
— Vamos lá. — ele disse e eu o segui.
Diego estava sentado em um banquinho, recebendo instruções do treinador e um
homem cuidava das feridas em rosto tão lindo, quando me aproximei.
— Diego. — Chamei e ele me olhou pela grade de proteção.
— O que faz aqui? — Ele tinha um corte no supercílio e um olho inchado.
— Até onde sei, sempre assisto suas lutas. — Olhei em seus olhos. — Se concentra,
por favor. Eu sei que nossa situação é difícil, mas se concentra. Eu já tenho muita coisa
com o que lidar, não quero ter que lidar com isso também. Não me perdoaria caso você
perdesse. — Ele me ofereceu a mão, que eu peguei e apertei. — Ganhe, não por mim, mas
por você.
— Vou fazer o meu melhor, prometo. — Ele beijou minha mão, pelo vão da grade.
— Obrigada.
Voltei ao meu lugar e a luta recomeçou. Diego voltou com tudo e derrubou seu
oponente. Ele olhou para mim e viu que eu estava atenta aos seus movimentos.
Em uma manobra muito rápida, Diego nocauteou seu oponente, sendo vitorioso.
— Ana. — Jonas me chamou enquanto esperávamos Diego para parabenizá-lo. —
Não se lembrou de nada? Das vezes que você esteve aqui, com ele?
— Não Jonas e isso é frustrante demais. — Ele passou os braços pelos meus ombros
e me apertou contra ele.
— Eu sinto muito.
— Eu também. Pior é olhar para Diego.
— Imagino.
Nosso campeão se aproximou, recebendo abraços do pai, do meu pai e de Jonas.
— Ei, parabéns. — eu disse sem saber ao certo como agir.
— Obrigado, mas isso é mérito seu. — Ele segurou meu rosto com as mãos. — Se
você não tivesse ido falar comigo, com certeza teria perdido.
— Me sinto responsável por isso.
— Você não é. Se eu perdesse, a culpa seria exclusivamente minha. Eu tenho que
aprender a não deixar fora do octógono os meus problemas.
Diego se aproximou tão rápido que quase não percebi. Ele beijou minha testa,
passou o braço pelos meus ombros.
— Vamos? Janta comigo? — ele pediu.
— Estou um pouco cansada, Diego. Foi muita emoção para um dia só. — Eu não
sabia como agir com ele. Diego todo carinhoso e eu sem saber o que sinto. Era melhor ir
para casa. — Prefiro ir para casa.
— Como quiser. — Com certeza ele ficou triste com minha recusa. E eu sentia
muito por isso.

.::.
Um mês se passou e minha memória continuava bloqueada. Diego passou a me ver
com menos frequência e apesar de tudo eu sentia falta dele.
Papai teve a ideia de me levar ao restaurante para ver como me sairia e por incrível
que pareça, na cozinha eu sabia exatamente o que fazer.
— Ana, minha flor! — Djacy veio toda sorridente falar comigo e eu fiquei
totalmente constrangida por não conseguir corresponder a sua empolgação.
— Me desculpe. — Eu precisava ouvir Diego e parar de pedir desculpas.
— Tudo bem, amiga. Eu te conquistei uma vez, te conquistarei de novo. — ela disse
dando uma piscadela. — Só não deixe o boy magia fugir. Ele te ama e sei o quanto você o
ama também.
— A grande questão é que eu não sei se amo.
— Dê tempo ao tempo, tudo se resolverá.
— Já se passou um mês, D.
— D? Você me chamava assim. Será que vi um reflexo de sua memória?
— Desculpe, mas não. Acho que foi espontâneo. Bem, vou para meu local de
trabalho. — Dei um aceno à minha suposta amiga e entrei na cozinha.
Um cliente havia pedido Pato ao molho de laranja e recomendou que fosse feito por
mim.
Peguei os ingredientes para começar a preparo.
Flashes de Diego parado à porta da minha casa com um buquê de flores e uma
garrafa de vinho nas mãos, me atingiram em cheio. Eram apenas fragmentos, nada
concreto ou específico.
— Oi meu amor! — Ele me deu um beijo estalado na bochecha.
— Oi. — Foi só o que consegui dizer. Minha família se concentrou logo atrás de
mim. E claro, meu irmão veio assistir de camarote, tudo o que aconteceria hoje.
— Amor, me desculpe, mas não trouxe nada para você. — Diego me ofereceu uma
piscadela. — As flores são para dona Sophia e o vinho para o Seu Daniel.
Apertei meus olhos e mais um fragmento apareceu.
— Vamos nos sentar, o jantar está quase pronto. — papai chamou e fomos para sala
com ele. — Temos dois Chefs em casa, mas nenhum dos dois cozinhou hoje.
— Ei, isso quer dizer que não cozinho bem? — mamãe gritou da cozinha.
— Claro que não, mãe. Você cozinha melhor que meu pai e a Ana juntos.
— Ei, isso é uma ofensa. — me defendi.
— Não sei se dona Sophia cozinha melhor, mas o Pato ao molho de laranjas da sua
irmã… Só de pensar, começo a salivar. — Diego, que estava sentado ao meu lado, passou
o braço por cima dos meus ombros.
Eu me sentia um pouco zonza e um cheiro de queimado pairou no ar.
— Ana. — Ouvi papai me chamando ao longe. Eu ainda concentrada nos flashes
que apareceram em minha mente. — Ana. — Olhei para meu pai e tudo ao meu redor
parecia em câmera lenta.
O que estava acontecendo comigo? Um suor percorreu pela minha coluna, tendo
como origem minha nuca.
— Ana. — papai chamou mais uma vez. — Você está bem, filha?
— Eu não sei pai. — disse me apoiando nele.
— O que aconteceu?
— Não sei. Era como se eu não estivesse aqui.
— E estava onde? — Papai me arrastava para uma área mais reservada da cozinha.
— Eu… eu estava em casa, abrindo a porta e Diego apareceu com um buquê de
flores e vinho. Eu… eu… — Eu estava confusa.
— É sua memória, filha. Está voltando. Isso é ótimo. — papai falou um pouco alto.
— Shhh! Não fale alto, por favor. — pedi. — Não quero que ninguém saiba.
— Por que, filha?
— Eu não tenho controle sobre isso. Não quero dar falsas esperanças a Diego.
— Mas você não sentiu nada?
— Não sei pai, estou confusa.
— Vamos para casa. Eu te levo.
— Não, eu consigo dar conta. Estou melhor. — Passei uma das mãos pela minha
testa, que estava banhada de suor.
— O que você estava fazendo?
— Um pato ao molho de laranjas. — A boca de papai de abriu em um “o” perfeito.
— Esse foi o gatilho para trazer sua memória. Diego quando veio aqui pela primeira
vez, fez esse pedido. — Papai socou o ar. Ele parecia ter descoberto algo que eu ainda não
entendia. — Só precisamos descobrir qual é o gatilho certo, que trará tudo de volta.
— Pai, por favor, me promete que não contará a ninguém.
— Não posso esconder isso da sua mãe. — Eu respirei fundo.
— Tudo bem, a mamãe pode saber. — Espero que não se empolgue tanto. Tenho
medo de que seja alarme falso. — Eu quero voltar para a cozinha, o senhor me ajuda?
— Claro, filha. Claro.
Papai parecia mais contente. De certa forma, era uma esperança de que tudo poderia
voltar ao normal. E era tudo o que eu mais queria. Não suportava a ideia de que Diego
sofria por mim.
























Capítulo Vinte e Seis



D I E G O

Todos precisam saber a hora de sair de cena. E essa era a minha hora. Não que eu
não tenha paciência, pois eu tenho. A grande questão é que não suporto que ela esteja me
rejeitando. A cada dia ela se afastava mais. E eu não poderia culpá-la.
Eu queria que Ana fosse feliz, independentemente de ser comigo ou com outro cara.
Acho que isso é amor. Renunciar a pessoa que ama para que ela seja feliz. Eu sei, é
altruísta da minha parte, mas não suporto vê-la dessa forma, querendo lembrar-se de algo
que sua mente fez questão de apagar por minha causa. Não, eu não podia fazer isso com
ela e por isso, eu havia tomado minha decisão.
Recebi uma proposta para passar um ano nos Estados Unidos e decidi ir. Era uma
proposta muito boa que iria alavancar minha carreira.
Rachel e Ítalo iriam comigo, pois eu não deixaria meu filho para trás, mas já havia
explicado a ela que nossa relação era apenas de mãe e pai do Ítalo, nada mais do que isso.
A coisa mais difícil que faria, seria contar a Ana. Mais uma vez, eu teria o coração
estraçalhado, mas eu iria superar. E talvez esse um ano que ficarei fora, serviria para ela
colocar os pensamentos em ordem e quem sabe recobrar a lembrança.
Para despedida, fui até o restaurante. Eu sabia que ela havia voltado a trabalhar. Pedi
meu prato preferido feito por ela: Pato ao molho de laranjas.
Minhas mãos suavam, meu coração estava acelerado e apertado. Eu precisava me
despedir.
— Djacy, você pode chamá-la para mim? — pedi a nossa amiga. — Mas não diga
que sou eu, por favor.
— Sim, claro. Espero que você tenha sorte dessa vez. — Djacy apertou meu braço.
— Obrigada.
Ana apareceu no seu habitual uniforme, sendo guiada por Djacy até a minha mesa.
Ela tinha um sorriso tímido nos lábios.
— Oi Ana!
— Então foi você quem pediu o pato? — Como ela sabia?
— Meu preferido. Se bem que tudo o que você faz é gostoso.
— Obrigada. — Ela sorriu. Ah seu sorriso, era ele quem iluminava todas as minhas
manhãs.
— Será que você pode sentar um pouco aqui comigo? Sei que a casa está cheia, mas
eu realmente preciso conversar com você. — E ela se sentou. Achei que seria mais difícil.
— Sou todo ouvidos. — ela disse brincalhona.
— Bem. — Comprimi meus lábios. Eu precisava ter coragem.
— O que foi? Está com dor de barriga? — Ana zombou de mim. Eu não estava
acreditando nisso.
— Não. — Eu ri. — Estou tentando te dizer algo.
— Vamos Di. — Di? — Tenha coragem. Até onde sei, somos noivos.
— Não somos mais. — Ela me olhou sem entender. — Estou te liberando desse
compromisso.
— O que houve? Encontrou alguém? — Uma ruga de preocupação apareceu em sua
testa. — É a mãe do seu filho?
— Não. Apenas não quero que você se sinta obrigada a lembrar de algo por minha
causa.
— Mas isso não é apenas sobre você, Diego. É sobre mim também. Uma parte da
minha vida, da minha história foi roubada com esse acidente.
— Eu sei e é por isso que estou saindo de cena. Você precisa de tempo e comigo no
seu encalço não vai funcionar. — Ela pegou minhas mãos que estavam em cima da mesa.
Seu toque fez com que meu corpo ardesse em fogo. Há quanto tempo não a tocava? Não a
beijava? Deus, como eu amo essa mulher! — Estou indo para os Estados Unidos. Recebi
uma proposta e não há nada que me segure aqui. — Os olhos dela se encheram de
lágrimas.
— Eu sinto tanto por não lembrar. — As lágrimas desceram e eu as sequei. — Eu
queria tanto.
— Ei, não chore. O que vivemos foi intenso e forte e sei que uma hora irá lembrar e
quando isso acontecer, me ligue que volto correndo. — Ela fungou.
— E quando você vai?
— Hoje à noite. Meu voo será às 22h.
— Me perdoe mais uma vez. — Os olhos de Ana estavam vermelhos.
— Posso te dar um abraço? — ela assentiu.
Foi um abraço gostoso como todos os que já demos um no outro. Eu podia sentir seu
cheiro, seu corpo, sua pele macia por baixo da roupa.
Sua respiração tão pesada quanto a minha. Eu não queria soltá-la, e sentia que ela
também não queria me soltar, mas era necessário.
Precisei de todo meu autocontrole para não a beijar ali mesmo, na frente de todos.
Beijei sua testa, saí do restaurante com os olhos cheios de lágrimas e com o coração
esmagado.





























Capítulo Vinte e Sete



— Posso te abraçar? — ele perguntou e eu apenas assenti.
Assim que meu corpo se encaixou ao dele, seu cheiro invadiu minhas narinas e
quase perco os sentidos. Era um cheiro familiar. Um cheiro bom, que eu amava. Isso
minha mente recordava.
Diego beijou minha testa e se foi. Ele se foi. Diego se foi levando junto a esperança
de um dia recobrar minha memória.
Não consigo impedir a torrente de lágrimas que caem dos meus olhos e o soluço que
rompe em minha garganta. Os clientes ao meu redor, olham para mim, uns com pena,
outros sem entender, mas não me importava. A dor que sentia em meu peito era
excruciante.
Minha amiga me pegou pelo braço e me guiou até o banheiro. Eu precisava me
recompor e eu apenas não conseguia impedir que as lágrimas saíssem dos meus olhos, era
como se tivessem vontade própria.
E a dor? Era insuportável. Afligia minha alma. Era como se eu estivesse perdendo
algo muito precioso.
O que minha mente desconhecia, meu coração conhecia muito bem. Meu coração
amava aquele homem. E como eu permitiria que ele partisse? Eu não poderia. Mas o que
eu poderia fazer? Eu não me lembrava, não me lembrava de nada. E a dor continuava a
esmagar meu peito. Era uma angústia que parecia que jamais passaria.
Fui submetida à minha adolescência, quando meu pai me obrigou a terminar com
Diego.
— Calma amiga. — Djacy afagava minhas costas. — O que houve?
— Ele vai embora. Ele vai embora. — eu repetia sem parar. — Está doendo tanto.
E como flashes, novamente como mais cedo, eu o vi. O meu desespero ao pedir a ele
para ser meu falso namorado, nosso primeiro beijo, o passeio na Floresta, as lutas, o
casamento, João me agarrando no estábulo, Diego me defendendo, a briga com Iza, nossa
primeira noite, o pedido de casamento, nossos planos para o futuro, os passeios com Ítalo,
o acidente. Eu o salvei. Tudo voltou. Todas as lembranças. Logo agora que ele se foi.
— D, eu me lembro. — eu disse num sussurro.
— O quê?
— Eu me lembro de tudo. Eu me lembro! — Disse secando minhas lágrimas.
— Você se lembra? — ela gritava. — Amiga, que felicidade! — Ela me abraçou. —
Você não pode deixa-lo ir. — Ela me soltou. — Você precisa ir atrás dele, Ana.
— Como? Não falta muito para que o avião saia. Como vou fazer isso?
— Vou ligar para o Ben.
— Hum…. Quer dizer que vocês se acertaram? — perguntei fungando.
Mesmo que eu não conseguisse resolver meu problema com Diego, pelo menos
minha amiga ficaria feliz.
— Você se lembrou mesmo das coisas. — Ela pegou o celular e discou o número do
namorado.
— Preciso falar com papai.
— Enquanto você fala com seu pai, converso com Ben.
Entrei na cozinha correndo e avistei papai que estava na beira de um dos fogões. O
abracei por trás de forma bruta, que ele quase se queimou.
— O que houve, minha filha?
— Eu me lembro, pai. — disse eufórica. — Eu me lembro!
— Ah! Mais que maravilha! — papai gritou. — Obrigado, meu Deus! — Meu pai
me abraçou e me beijou meu rosto. — Minha filha se lembra! — A euforia havia tomado
conta dele.
Contei tudo a papai, das coisas que me lembrava e que Diego estava indo embora.
— Você precisa ir atrás dele, Ana. — papai repetiu a mesma coisa que Djacy.
— E como eu faço isso?
— Não conseguimos falar com Diego. Então, Ben está comprando uma passagem
para você. — Djacy disse. — Já falei com sua mãe que está arrumando uma bolsa e
pegando seus documentos. Jonas já está a caminho para te pegar.
— Como você conseguiu tudo isso em tão pouco tempo? — perguntei assustada.
— Eu sou eficiente, meu bem. Seu Daniel — ela olhou para papai. — não se
esqueça do meu aumento. — Nós gargalhamos.
O que era sofrimento, em poucos minutos se tornou felicidade.
É impressionante como nossa vida pode mudar em questão de segundos.
No segundo que entrei em casa e meus pais tinham em mãos um convite de
casamento, minha vida mudou; quando inventei que Diego era meu namorado; quando um
acidente roubou minhas memórias e agora, quando tudo voltou ao seu devido lugar.
Estava torcendo para chegar a tempo no aeroporto. Não podia deixá-lo partir.
Jonas chegou ao restaurante, ele me levou em casa, dei um abraço em minha mãe,
peguei minha mala e corremos para o aeroporto.
Ninguém tinha uma família como a minha. Todos me apoiaram nessa aventura
louca, de ir atrás de Diego para um país desconhecido.
O trânsito em nossa cidade, por incrível que pareça, estava bom, mas quando
chegamos ao aeroporto, os passageiros já haviam entrado no avião e por pouco não
consigo embarcar no voo das 22h.
— Se cuida. Qualquer coisa me liga que vou te buscar. — Jonas disse ao me abraçar.
— Eu te amo, irmãzinha.
— Também te amo, meu herói. — Dei um beijo em sua bochecha e corri para dentro
do avião.
Não sei como, mas Benjamin havia conseguido comprar minha passagem para o
assento ao lado de Diego.
Quando reconheci seus cabelos que ultrapassavam o encosto da poltrona por causa
de sua altura, meu coração começou a ficar descompassado.
Como eu contaria a ele que me lembrei de tudo?
— Senhora, eu preciso que se sente, nós já iremos decolar. — Uma aeromoça me
informou.
Respirei fundo e segui para meu assento. Diego estava mexendo no celular e nem
notou minha presença ao seu lado.
— Esse lugar está vago? — perguntei para que ele me olhasse.
— O que faz aqui? — Embora seus olhos brilhassem, ele estava confuso.
— Essa é a forma correta de receber sua noiva que acabou de ter as lembranças
recuperadas? — Seus olhos se arregalaram e Diego levantou num pulo.
— Você só pode estar de brincadeira. — Balancei a cabeça negativamente. — Não
brinque comigo, Ana.
— Não estou. — falei emocionada. As lágrimas haviam voltado. — Eu me lembro
de que depois da nossa primeira noite juntos, você se ajoelhou ao pé da cama, nu e me
pediu em namoro. — A palavra nu eu disse num sussurro. Ninguém precisava saber.
O rosto de Diego se iluminou e um grande sorriso aqueceu meu coração.
Diego me puxou pela cintura, e me beijou. Nem mesmo o pouco espaço que
tínhamos no corredor do avião, nos impediu de nos beijar e nos agarrar feitos dois loucos.
Como eu sentia saudades daquele beijo, do seu toque, do seu abraço.
Para variar, minhas pernas bambearam e se não fosse por ele, teria caído. Essa era a
melhor reação que ele causava em mim.
Os passageiros ao nosso redor começaram a aplaudir e a gritar. A pobre aeromoça,
queria que nos sentássemos para que o avião pudesse alçar voo.
— Senhores, por favor.
— Deixe-os em paz, aeromoça. — Ouvi alguém dizer.
— Parece que estão se reconciliando. — um outro disse.
— Mas eu preciso que se sentem. — ela enfatizou.
Com muito custo, Diego me soltou. Eu não queria, mas foi necessário. Nos
sentamos sem ao menos interromper nosso contato visual.
— Eu amo você. — eu disse.
— Eu te amo mais. — ele respondeu.
E assim, nossa mentira se tornou real. Nosso amor reviveu e nossas vidas mudaram.
Se me perguntarem se me arrependo de ter ficado com João, responderei que não,
pois foi ele quem me trouxe até aqui. O término triste me levou a praticamente implorar
Diego para fingir ser meu namorado e por causa disso, meu amor se tornou real.
Não me arrependo de nada e faria tudo novamente, se fosse para o destino me trazer
o Diego.
Fim.

Epílogo

Depois de tudo o que aconteceu e do longo caminho que eu e Diego trilhamos para
chegar até aqui, posso dizer que tudo valeu a pena.
Diego cumpriu sua parte no contrato que recebera e depois de um ano estamos de
volta ao Brasil.
Rachel finalmente entendeu que a relação dela com Diego era apenas por causa do
Ítalo. Não que ela me aceite, mas pelo menos não atrapalha.
Após recuperar minha memória, descobri que João estava por trás do meu
atropelamento. A intenção dele era matar Diego, porém as coisas não saíram da forma
como ele planejou. Ele não contava que eu fosse aparecer e me jogar na frente de Diego.
Ele foi preso e está pagando sua dívida com a sociedade.
Finalmente o dia mais esperado da vida de uma mulher havia chegado. O dia em que
ela vai ao altar e diante da sociedade se une matrimonialmente com o homem que ama.
Uma cerimônia simples e para poucas pessoas no jardim dos pais do meu amor, no
mesmo lugar onde selaram a união deles.
— Está pronta? — papai perguntou ao abrir a porta do quarto em que eu estava. —
Uau! Nunca pensei que um dia você ficaria mais bonita do que já era. — Ele estava de
boca aberta.
— Fecha a boca, Daniel. — mamãe disse. — Caso contrário entrará mosca. — Ela
brincou.
— Ana está tão linda quanto você, no dia que nos casamos, amor. — Papai beijou a
testa de minha mãe. Era tão lindo vê-los juntos.
— Daniel, você trouxe o que te pedi? — papai assentiu. — Ana, nós temos uma
surpresa para você. — mamãe disse.
Meu pai entregou a ela uma caixa preta de veludo. Quando ela abriu a caixa, eu não
imaginava o que pudesse estar dentro dela, mas era a coisa mais linda: o par de brincos e o
colar de pérolas que ela havia usado ao se casar com meu pai.
— Sua vó Ellen ganhou esse conjunto do seu avô quando ele a pediu em casamento.
— Minha mãe parecia emocionada. — Sua avó me deu quando me casei e agora estou
dando a você. — Ela estendeu a caixa em minha direção. — Se não for pedir muito,
gostaria que usasse.
— Mãe, nem sei o que dizer. São tão lindos. — Ela sorriu e eu os peguei para ver de
perto. Abracei os dois. — Obrigada.
— Acho que está na hora. Diego está muito nervoso.
— Então vamos. — Respirei fundo. — Também estou bastante ansiosa.
Era final de tarde quando desci as escadas da casa dos meus sogros.
Nossos amigos estavam reunidos no pequeno jardim, onde seria a cerimônia e a
recepção.
Até eu conseguir encontrar Diego, fui avistando algumas pessoas importantes e meu
coração se encheu de alegria ao compartilhar com eles esse momento tão importante de
minha vida.
Boca seca, joelhos trêmulos, coração acelerado e mil borboletas instaladas em meu
estômago.
Porém no momento em que meus olhos encontraram Diego, tudo isso mudou, tudo
no mundo parou e silenciou. Não vi mais as pessoas, meus pais não estavam mais ao meu
lado e o juiz não estava a minha frente. Não havia ninguém, apenas eu e ele.
Diego sorriu para mim e meu coração parou. Seus olhos azuis eram como uma
bússola, que indicava a direção que eu deveria tomar, me guiando diretamente para ele.
Seus olhos prendiam os meus, de forma que eu não conseguia desviar nem para
direita, nem para esquerda.
Quando finalmente o caminho findou e eu cheguei até o meu amor, eu o beijei. Não
consegui resistir aos lábios finos e bem desenhados que convidavam os meus. O silêncio
ainda tomava conta dos meus ouvidos, até que risos e um arranhar de garganta chamaram
nossa atenção.
— Senhorita, ainda não está na hora. — Imediatamente meu rosto esquentou. —
Boa tarde. Estamos reunidos para celebrar a união de Ana Carolina e Diego. — Ele olhou
para cada um de nós enquanto falava nossos nomes. — A partir de hoje, vocês não viverão
para si mesmo e sim um para outro.
E a partir daí, não consegui prestar atenção em mais nada, pois um par de olhos
azuis tinha os meus presos. Estávamos conectados.
Em minha mente, um filme se passou. Todas as coisas que vivemos para chegarmos
aqui. As mentiras que contei, o rancor por ter sido traída, a felicidade ao descobrir meu
amor por Diego.
Meu coração ainda martelava contra minhas costelas e a forma como ele me olhava
não ajudava muito. Diego me olhava intensamente, cheio de paixão e eu amava a forma
como ele me olhava.
Era a hora dos votos.
— Diego, no dia em que você entrou no meu restaurante, eu não imaginei que
chegaríamos até aqui, nesse momento tão sublime. — As palavras saíam trôpegas da
minha boca, por conta da emoção. — Você trouxe luz para minha vida escura e
amargurada. Através de você, descobri o poder do perdão e a força do amor. — Ouvi
alguns suspiros dentre os convidados. — Passamos por muitas dificuldades, e sei que
muitas ainda virão, mas as batalhas só servem para fortalecer o nosso amor. Você é a
melhor coisa que me aconteceu. Sua vida agora é a minha vida e vou cuidar de você
enquanto viver. — Coloquei a aliança em seu dedo. — Eu te amo.
— Ana — Diego tinha os olhos fixos nos meus. — Desde quando te vi pela primeira
vez e isso faz muito tempo, eu soube que você seria minha. E embora estivéssemos
separados por um bom tempo, em meu coração eu sabia que um dia a teria de volta e aqui
estamos nós. Obrigado por me proporcionar momentos tão belos e intensos, pela vida que
jamais imaginei ter. Saiba que não há a menor possibilidade de eu não te amar, pois eu
nasci para isso. — Lágrimas desciam pelo meu rosto. Não há como não se derreter com
essas palavras. — Amo você de uma forma que jamais imaginei amar alguém. — Ele
colocou a aliança em meu dedo e o beijou sem interromper nosso contato visual.
— Então eu os declaro marido e mulher. — o juiz disse. — Ana, agora você pode
beijar o noivo. — E os nossos convidados aplaudiam, assoviavam e gritavam nossos
nomes.
E foi aí que realmente comecei a viver.















Uma Nova
Mentirinha
(Conteúdo extra)


Infelizmente nem tudo na vida é como a gente quer, nem tudo são flores. Você já
ouviu falar da crise dos sete anos em um casamento? Pois bem, é exatamente isso que
estou passando no momento. Depois de sete anos de muito amor, amizade e cumplicidade,
hoje sequer consigo olhar no rosto do meu marido e quando o faço, a vontade que tenho é
de correr para o banheiro e colocar para fora tudo o que está em meu estômago.
Principalmente depois que encontrei um bilhete de uma mulher no bolso da calça de
Diego. Sem contar o cheiro de perfume barato que senti assim que ele chegou a casa,
depois de tanto demorar na rua.
— Diego, você pode me explicar o que é isto? — Estiquei o papel em sua direção.
Meu marido me olhou, depois seus olhos desviaram para o pedaço de papel em
minha mão e toda a cor de seu rosto sumiu.
— Não é nada disso o que você está pensando.
— Sério Diego? Não havia nada melhor para dizer?
— Eu sei que é clichê, mas estou dizendo a verdade, Ana. Eu juro. — Ele tentou se
aproximar, porém recuei um passo.
— Então esse bilhete era para outro Diego? Porque para mim está claro que se refere
a você. “Di, foi muito bom estar com você essa noite. Espero que se repita muitas vezes.”
— Li o bilhete improvisado num guardanapo. — Por acaso você já ligou para ela? Não sei
se viu, mas além de ter deixado um beijo com um batom de cor brega e um cheiro
enjoado, ela deixou o número de telefone. — Esbravejei.
Porém assim que terminei de falar, aquele cheiro invadiu minhas narinas, me
fazendo visualizar meu marido abraçando e tocando outra mulher e imediatamente meu
estômago se contorceu. Precisei correr para o banheiro, com Diego em meu encalço.
— Ei, Ana. Você está bem? — Ele segurou meu cabelo, fazendo com que meu
estômago se contorcesse ainda mais. Estava com nojo do meu marido.
— Não encosta em mim. — Levantei-me e lavei a boca na pia e voltei para o quarto.
— Você está me traindo, Diego e isso eu não vou suportar. Eu quero o divórcio.
Nunca, nem em meus piores pesadelos, achei que fosse ouvir essas palavras de
minha boca, mas no momento era o que eu realmente queria. Não suportava mais aquela
situação. Todos os dias a gente brigava, fazendo-me esquecer completamente porque havia
me casado com Diego.
— Você não pode estar falando sério. — Diego parecia desesperado. — Eu amo
você. Como pensa em algo assim?
— Não aguento mais. Você chega tarde todos os dias, às vezes com cheiro de bebida
e perfume barato. Sem contar as inúmeras discussões que temos. Não conseguimos passar
um dia sequer sem brigar. E eu não sou mulher para ser traída.
— Ana, eu nunca te traí. Que loucura é essa?
— E esse bilhete, não significa nada, claro! Foi só um engano. — Disse
ironicamente.
— Sim. Eu posso explicar. — Em sua voz havia um fio de esperança de que eu
voltasse atrás, mas eu estava decidida. Queria o divórcio e nada iria mudar isso.
— Eu quero o divórcio.
— Ana… — Ele choramingou.
— Que pensasse antes de me trair.
— Eu não te traí. Eu te amo.
— E o Papai Noel realmente existe. — Encarei o armário, peguei travesseiro e um
cobertor e entreguei a ele. — Não durmo mais na mesma cama que você. Boa noite.
Empurrei-o, até que estivesse fora do quarto e fechei a porta. Ouvi meu nome sendo
chamado por ele algumas vezes, até que por fim, ele desistiu. Melhor assim, pois quanto
mais ele me chamava, mais raiva sentia.
A noite foi longa. Revirei-me o tempo inteiro na cama. Durante esses sete anos de
casamento, não houve uma única noite em que passei longe de Diego. Entretanto, eu
precisaria me acostumar. Afinal, seria uma mulher livre assim que o processo de divórcio
terminasse.
E esse pensamento, fez meu coração se contrair, pois ele me lembrou como eu era
apaixonada por Diego e o quanto eu o amava. Não seria fácil, mas necessário.
*
A campainha tocava freneticamente, interrompendo meu sono. Demorei tanto a
dormir, que quando consegui, os raios de sol já começavam a invadir meu quarto. Olhei o
relógio e constatei que havia dormido apenas uma hora. Que ótimo!
Abri a porta do quarto e me deparei com um amontoado de cobertor, travesseiro e
gente, me fazendo quase cair. Era meu marido que dormira no chão da porta do quarto.
— O que… — Balancei a cabeça, totalmente irritada ao constatar que Diego havia
dormido ali.
— Não queria ficar longe de você…
— Acho bom você começar a se acostumar.
— Eu não vou assinar. Tive bastante tempo para pensar durante a noite.
— Vai querer mesmo complicar as coisas? — Coloquei as mãos na cintura, pronta
para começar mais uma briga, quando a campainha tocou novamente. — Quem em sã
consciência toca a campainha uma hora dessas? — Bufei e desci as escadas para atender a
porta e quando a abri, tive certeza de que as coisas só piorariam.
— Surpresa! — Papai e mamãe estavam parados a minha porta, com malas e sacolas
em mãos.
— É… o que fazem aqui tão cedo? — Perguntei totalmente incrédula.
— Precisamos conversar… — Mamãe disse, entrando sem ser convidada e
colocando a mala no chão e se dirigindo à cozinha. — Trouxemos pão, vou passar um
café. — Ouvi sua voz abafada por estar em outro cômodo.
— É… eu também tenho novidades… — Disse quando meu pai passou pela porta e
me deu um abraço.
— Senti saudades, minha princesa. — Era tão reconfortante seu abraço, me sentia
completamente em casa e segura.
— Também senti pai…
Meu pai havia se aposentado e finalmente eu havia assumido o restaurante da
família, o que me deixava totalmente esgotada.
— Que surpresa boa! — Diego desceu as escadas com o mesmo sorriso lindo que
me conquistou.
— Meu genro preferido! — Papai me largou para ir em direção ao meu esposo. Com
um abraço terno os dois se cumprimentaram.
— A que devo a honra de tão ilustre visita?
— Nós precisamos conversar… — Papai disse sério.
— Aconteceu alguma coisa, pai? — Fiquei preocupada com o tom de sua voz.
— O café está pronto. — Mamãe anunciou.
Nos encaminhamos para a cozinha. Mamãe abraçou Diego da mesma forma
carinhosa que meu pai.
— O que houve, papai? Está me deixando preocupada.
Ele me olhou sério, mas foi minha mãe quem falou:
— Seu pai teve um ataque cardíaco. — Fiquei totalmente sem ação.
— Quando foi isso? — Diego quem perguntou, pois minha voz havia sumido e
minha garganta estava fechada.
— Foi na semana passada. — Papai respondeu, segurando minha mão.
— E por que não me avisaram? — Perguntei assim que consegui me concentrar.
— Não queríamos te preocupar. — Mamãe disse.
— Como assim não queriam me preocupar? — Levantei estupefata. — E agora,
depois de uma semana vocês aparecem em minha casa pra dizer que meu pai estava
doente? E se tivesse acontecido algo? Se meu pai tivesse… morrido? Não, não quero nem
pensar nisso.
Nesse momento, uma turba de sentimentos me envolveu e caí num choro
compulsivo, sendo amparada por Diego. Toda a raiva que sentia por ele, ao saber do que
havia acontecido com meu pai, se dissipou.
— Vai ficar tudo bem, Ana. — Diego disse carinhosamente ao me abraçar.
— Filha, eu estou bem. Só não posso ter fortes emoções… — E lá se vai o pedido de
divórcio, pelo menos por enquanto.
Como posso estar pensando nisso, diante dessa situação?
— Nós viemos também por outro motivo… — Mamãe começou. — Seus avós, no
próximo final de semana, fazem 50 anos de casados e queremos fazer uma comemoração
familiar. Max e Melissa já estão resolvendo algumas coisas.
— Tudo bem. — Disse assim que me recompus.
— E nós queremos ficar aqui com vocês, essa semana. — Papai disse. — Há algum
problema?
Olhei para Diego, que parecia ter um sorrisinho triunfante nos lábios.
— Não, problema nenhum. — Respondi.
Lá se vai meus planos de dormir longe do meu marido…

Depois do café, fui me arrumar para o trabalho. Com meus pais hospedados em
casa, iria deixar Cassiano — meu braço direito no restaurante desde que papai se
aposentou — responsável por tudo. Precisava passar mais tempo com minha família.
Diego entrou no quarto sorrateiramente:
— O que você vai fazer?
— A saúde de meu pai não está boa. Por enquanto vou esquecer a história do
divórcio, mas saiba que não esqueci a traição.
— Quantas vezes tenho que te dizer que não te traí? Já disse que posso explicar.
— Não quero ouvir nada que venha de você, Diego.
— Está certo… Vou continuar no quarto de hóspedes?
— Claro que não! — Ele sorriu. — Mas não se anime muito, pois o chão te aguarda.
— O sorriso no rosto de meu esposo morreu na hora. Yes!
*
A semana havia voado, fiz o máximo possível para deixar meus pais confortáveis
em minha casa. Diego dormiu religiosamente todos os dias no chão, em uma cama
improvisada. Teve dias que realmente fiquei com pena, mas meu orgulho ferido e a
lembrança da traição não me deixaram ceder.
Mas foi no último dia da semana, que minha mãe resolveu preparar um café e levar
até o nosso quarto. Ainda estávamos dormindo quando ela bateu a porta:
— Ana, Diego! — Ela chamou. — Posso entrar, estão vestidos?
Ainda sem saber exatamente o que estava acontecendo, chamei por Diego que ainda
dormia.
— Filha! — Mamãe chamou mais uma vez. — Trouxe café na cama para meus
filhos!
— Só um minuto, mãe. — Pedi. Se ela visse Diego dormindo no chão, desconfiaria
de algo. — Diego. — Sussurrei. — Joga sua cama no closet, fecha a porta e venha para a
cama. — Ele sorriu, fazendo lembrar-me de como amava aquele sorriso. Revirei os olhos.
Diego fez o que pedi e se deitou ao meu lado. Meu marido passou um dos braços ao
meu redor, me puxando para perto e repousei minha cabeça em seu peito. Há quanto
tempo não fazia isso? Há quanto tempo não me sentia tão próxima do meu esposo?
Parecia uma eternidade e essa aproximação fez meu coração se amolecer um pouco,
desejando ficar em seus braços para sempre.
Levantei minha cabeça e olhei em seus olhos, que fitavam com tanta ternura.
Aqueles olhos tão azuis, que pareciam gritar o quanto me amavam. E eu quase, quase
acreditei, porém no instante seguinte, imagens de meu marido tocando em outra mulher
apareceram em minha mente e senti repulsa. Uma repulsa tão grande, que mais uma vez
meu estômago se contorceu e uma onda de enjoo me atingiu.
— Posso entrar? Já colocaram as roupas?
— Pode entrar, sogrinha querida. — Diego disse por mim.
— Ah, é tão lindo vê-los assim! — Mamãe parecia em êxtase. — Trouxe um café da
manhã especial para vocês.
Lembra do enjoo? Pois é, senti novamente quando o cheiro do café invadiu o quarto.
E dessa vez não deu para segurar.
Com a mão na boca, corri em direção ao banheiro. Mamãe e Diego logo correram
até a mim.
— Estou bem. — Disse antes que me perguntassem algo. — Deve ter sido algo que
comi. Ou alguma virose, não sei…
Diego olhou para mim desconfiado. Mamãe juntou as mãos em frente ao rosto e
tinha um sorriso nos lábios.
— Com que frequência esses enjoos vêm acontecendo? — Ela quis saber. Parecia
animada demais por causa de um enjoo.
— Tem acontecido muito, Sofia. — Diego respondeu.
— Ai não acredito! — Mamãe só não pulava porque a idade não permitia. — Vou
ser avó de novo!
— O quê? — Eu e Diego perguntamos em uníssono.
— Ana, sua menstruação está atrasada?
— Não sei, não controlo muito… — Respondi totalmente em dúvida. Será? —
Normalmente, Diego sabe mais do que eu.
O gosto amargo ainda estava em minha boca e minha garganta ardia por conta do
suco gástrico. Fui em direção a pia e escovei os dentes, enquanto Diego parecia fazer
contas.
— Está sim. Muito atrasada. — Ele disse, mais branco que papel.
Diego se direcionou ao closet, trocou de roupa na velocidade da luz e disse:
— Não faça xixi agora. Já volto. — E saiu correndo feito um louco.
*
Sentada na privada, olhei para aquele pequeno bastão em minha mão. Conforme a
segunda listra foi aparecendo, meu coração foi acelerando. Isso não podia estar
acontecendo, não agora.
Era um misto de medo e felicidade. Esperança e insegurança.
— Ana, qual resultado? — Diego perguntou da porta.
Eu e Diego, tentamos por anos ter um bebê. Procuramos por vários especialistas.
Todos diziam que nem eu, nem ele tínhamos problemas. Éramos um casal fértil, mas que
não engravidava. Depois de tantas lutas, desistimos. E justo agora, quando estamos em
meio a uma crise, prestes a nos separar, depois de uma traição um bebê resolve aparecer.
Isso era demais.
— Ana? — Foi a vez de mamãe.
Respirei fundo e abri a porta. Entreguei o bastão na mão de Diego e mais uma vez a
cor de seu rosto sumiu.
— Nós vamos ter um bebê? — Ele perguntou eufórico. Apenas assenti.
Diego correu em minha direção e me abraçou. Um abraço apertado, cheio de ternura
e felicidade. E foi aí, que deixei as primeiras lágrimas caírem. Meu coração parecia que
explodiria a qualquer minuto, mas também o medo, a incerteza de ter que criar essa
criança sozinha depois do divórcio me consumia.
— Você me faz o homem mais feliz do mundo a cada dia. Eu te amo tanto! — Diego
disse enquanto me abraçava. E então um soluço escapou de minha garganta. — O que foi
Ana? Não está feliz? — Ele me olhou. Seus olhos tinham um brilho tão lindo, ao contrário
dos meus, que deviam estar opacos.
Ele me conduziu até a cama e sentou de frente para mim. Naquele momento minha
mãe já não estava mais no quarto. Saiu sem que percebêssemos.
— A gente quis esse bebê por tanto tempo e agora… agora que estamos prestes a
nos divorciar…
— Shhh… Isso não vai acontecer. — Ele me abraçou. — Eu te amo, você me ama.
Nós fomos feitos um para o outro, Ana. E você sabe disso.
— Eu não sei de nada, Diego. Só sei que você me traiu.
— Meu amor, eu não te traí. Foi tudo um mal entendido, eu juro. — Ele me apertou
mais forte em seus braços. — Eu posso explicar tudo.
— Eu também juro que queria acreditar em você, mas eu não consigo. Sinto muito,
Diego. Não posso conviver com isso.
— Vamos fazer o seguinte… Deixa eu te provar que te amo. Me dá esse final de
semana, onde vamos estar na fazenda, que é um lugar tão especial para gente. Depois, o
que você decidir eu vou aceitar. Eu juro. — Meu marido praticamente suplicava.
Ele me apertou mais contra seu corpo e eu me agarrei a ele.
Eu sentia tanta dor, mas de certa forma, aquele abraço me trazia segurança, paz,
conforto. Diego ainda era o meu porto seguro, a minha rocha.
— Tudo bem. — Eu concordei.
Diego segurou meu rosto com as duas mãos e olhou em meus olhos. Com
delicadeza, acariciou meu lábio inferior com o polegar. Beijou meus olhos, meu nariz,
minhas bochechas, minha testa. E quando finalmente achei que beijaria minha boca, ele se
afastou, me deixando completamente zonza e cheia de vontade de provar seus lábios mais
uma vez. Estava com tanta saudade de seus beijos, de uma forma que jamais imaginei
sentir.
— Você precisa se alimentar. Agora você tem um bebezinho dentro de você e que
provavelmente vai sugar tudo o que comer. — Sorri.
Seu cuidado comigo não havia mudado. Eu só andava estressada demais para
perceber isso.
*
Eu sabia que o ar puro da fazenda me faria bem. Era colocar o pé naquele lugar que
tudo mudava. A fazenda de meus avós era meu lugar preferido no mundo inteiro. Esse
lugar me trazia muita paz.
Embora a gente visitasse esse lugar com bastante frequência, dessa vez é diferente.
Estar com Diego em nosso chalé depois de tudo o que aconteceu, me leva há alguns anos,
onde eu o trouxe para o casamento de minha prima e meu ex-noivo, onde eu mentia para
minha família e meu marido era meu cúmplice. E agora, mesmo depois de casados e após
anos, sinto como se continuasse mentindo. Todos viam em nós um perfeito casal, e agora
grávida era como se fôssemos esses casais clichês de livros. Não que eu não goste de um
bom clichê, mas não queria ser vista assim, até porque minha vida está longe de ser
perfeita.
Depois de cumprimentar a grande família, me dirigi ao estábulo. Precisava ver
minha Princesa, pois sempre gostava de passar alguns momentos com ela, principalmente
porque não poderia montá-la dessa vez:
— Minha Princesa, como vai? — Passei a mão em seu longo focinho, acariciando-
a. Em resposta ela soltou um relincho. — Tenho novidades… Dessa vez não vou poder
montá-la, porque você vai ganhar um irmãozinho. — Peguei uma escova e comecei a
escová-la. Seu pelo longo e negro ainda brilhava. — Com quem será que seu irmãozinho
parecerá?
— Irmãozinho de quem? — Uma voz me fez pular, me lembrando de quando João
apareceu sorrateiramente no estábulo e Diego me salvando de suas garras. Mas ao
contrário de João, quem me encarava era Duda.
— Você me assustou, Duda! — Reclamei.
— Desculpa, não foi minha intenção. — Ela me abraçou. Duda ainda não estava
reunida a família quando chegamos. — Agora me conta, que vai ganhar um irmãozinho?
— Princesa e Ítalo. — Duda arregalou os olhos.
Ítalo é o primeiro filho de Diego que está viajando em férias com a mãe.
— Mentira! — Ela gritou. — Você está grávida? — Duda agarrou meu pescoço,
quase me tirando todo ar. — E por que não me contou? — Ela me soltou de repente,
dando um tapa em meu braço.
— Ai! — Resmunguei. — Será que é porque eu acabei de saber? E esse tapa doeu.
— Ah, para de frescura. Foi um tapinha de nada. Só porque está grávida vai ficar se
fazendo de vítima?
— De forma alguma, só que o tapa doeu!
— Deixa eu te dar um abraço de verdade. — Minha prima me abraçou forte. — Que
essa criança venha cheia de saúde, trazendo muitas alegrias a essa família louca. — Duda
me soltou e olhou em meus olhos que estavam cheios de lágrimas. — O que houve, não
está feliz?
— É só que… Essa criança não veio em uma boa hora. — Falei me arrependendo de
ter dito e passando a mão por minha barriga que não tinha nenhuma evidência de que
havia um bebê em formação ali.
— Como não, Ana Carolina? — Duda parecia zangada. — Uma criança é benção
em qualquer circunstancia.
— Eu sei, me expressei mal.
— Você não está bem. Isso está nítido em seus olhos. O que está acontecendo? Vi
essa mesma tristeza nos olhos de Diego.
— Ele não te contou?
— Há algo para ser contado? — Ela inqueriu.
— Estamos prestes a nos separar. — Dizer essas palavras para Maria Eduarda fez
meu coração doer porque estava trazendo a existência tudo o que eu achava ser coisa
apenas de minha cabeça.
— Como é que é? — Minha prima parecia em choque.
— Diego está me traindo. — Disse de uma vez só.
— Espera, me conta essa história direito. Esse homem não me parece o tipo de
homem que trai alguém, ainda mais alguém que ele tanto ama.
— E como sabe que ele ainda me ama? — Uma lágrima escorreu por minha face.
— É só olhar nos olhos dele, Ana. O que Diego sente por você é visível para todos.
— Eu não sei…
— Me conta logo o que está acontecendo, enquanto damos uma volta pela fazenda.
— Duda pediu. — Esse cheiro de cavalo está de matar.
— Também estou achando. Nada contra você, Princesa. — Minha égua relinchou,
acariciei seu pescoço e me afastei.
Narrei a ela todo o acontecido. Do cheiro de bebida e perfume barato, das vezes que
meu esposo chega tarde em casa, do bilhete… Contei tudo, não deixei nada de fora.
— Ana, ainda assim, não creio que Diego esteja te traindo. Pode haver várias
explicações para aquele bilhete. Inclusive pode ter sido plantado.
— Plantado? Por quem? Não, não acredito nisso. E Diego não parecia surpreso
quando viu o bilhete em minha mão.
— Ana, eu nunca vi ninguém olhar para uma pessoa, como Diego olha para você.
Ele te ama e é um amor tão puro, tão genuíno, tão bonito… Ele não teria coragem de fazer
isso com você. Tenho certeza absoluta disso.
— Eu não ponho a mão no fogo.
— Pois eu ponho, sem medo de me queimar. Eu vi o quanto aquele homem sofreu
quando tio Daniel te obrigou a terminar com ele.
— Isso tem tantos anos, Duda… Muita coisa mudou depois disso.
— Sim, muita coisa pode ter mudado, mas não o amor que ele sente por você. Tenho
certeza.
Eu e Duda passamos a tarde conversando na beira do lago. Só nos demos conta de
que estava anoitecendo quando os pernilongos começaram a nos atacar.
Nossa volta foi silenciosa. Cada uma imersa em seus próprios pensamentos. As
palavras dela sobre Diego, ainda ecoavam em minha mente. Será que Diego não havia me
traído? Será que ele ainda me amava tanto assim?
Quando cheguei em frente ao chalé, me despedi de minha prima, com a promessa de
nos encontrar na casa grande em poucos minutos, após cada uma banha-se. Eu só não
esperava encontrar o que encontrei.
Já estava anoitecendo quando abri a porta do chalé. Este estava iluminado somente
por velas. Eram tantas velas que eu não sabia de onde Diego tinha tirado todas elas. Tinha
vela no chão, na mesa, na cômoda, no criado mudo, na bancada da pequena cozinha, na
pia, na mesa. E não era apenas uma vela em cada lugar. Eram muitas velas juntas.
— Está querendo colocar fogo no chalé? — Perguntei.
— Na verdade quero colocar fogo em você. — Ele respondeu.
Olhei em seus olhos, que refletiam a luz das velas e eles pareciam faiscar.
— Vá tomar um banho. Eu te espero aqui. — A voz de Diego era tão aveludada, tão
macia e ele me olhava de um jeito, como se fosse me devorar a qualquer momento que fez
meu corpo se arrepiar. Há tempos não me sentia assim. — Separei uma roupa para você
colocar, está no banheiro. — Arqueei uma das sobrancelhas e ele se aproximou. —
Apenas vá, Ana. E não demore, por favor. Estou sedento de você. — Diego colocou uma
mecha de meu cabelo atrás da orelha e beijou minha bochecha, bem próximo a minha
boca.
Entrei no banheiro com a respiração ofegante e o corpo em chamas. Todas as
palavras de Duda voltaram como uma enxurrada em minha mente, fazendo-me ter
incertezas sobre o que realmente aconteceu com Diego.
No banheiro também havia velas. Muitas velas. A roupa que ele havia separado era
um vestido azul, muito semelhante ao que ele rasgou quando tivemos nossa primeira noite
juntos. Isso deixou meu corpo mais quente ainda.
— Esse homem só pode estar de brincadeira comigo.
Depois do banho, me arrumei e saí ao encontro de meu marido. Deus, como ele é
lindo. Os anos só favoreciam a ele. Ele estava ainda mais bonito do que há sete anos.
E pensando em sete anos, essa noite está bastante parecida com a que eu fiz um
jantar para ele, em agradecimento por toda a mentira que estava contando por mim.
— Queria fazer uma surpresa para você e como esse lugar é muito especial para
gente…
— Não pense que esqueci as coisas que você fez só porque está fazendo esse
jantar… — Não podia deixar barato.
— Não é bem um jantar, já que eu nunca pensei em aprender a cozinhar porque eu
tenho a melhor chef em casa.
Ignorando completamente o que eu disse, Diego enlaçou minha cintura, beijando em
seguida meu pescoço, fazendo mais um arrepio percorrer meu corpo.
Quando me soltou, me conduziu até a mesa e eu vi o que seria nossa refeição:
— Isso é serio? Nós vamos comer miojo?
— Há algum problema com a miojo? — Ele perguntou preocupado. — Não vá me
dizer que o cheiro do tempero está te enjoando?
— Claro que não. É que passei o dia inteiro pensando em comer miojo, só isso.
Acho que é a gravidez.
— Ótimo, fico feliz em atender às suas vontades, mesmo sem saber delas. — Diego
pegou minha mão e a beijou. — Posso servi-la, senhora Salvador?
— Por favor, senhor Salvador. — Estendi meu prato em sua direção.
— A noite está só começando, senhora minha esposa.
E estava mesmo. Diego estava sendo um perfeito cavalheiro.
Depois de jantar, assistimos a um filme que ele escolheu. E era um filme de
mulherzinha, filme que ele detestava, mas para me deixar feliz valia tudo. Essas eram as
palavras dele.
Como eu não podia beber por causa da gravidez, ficamos no suco de uva.
Depois do filme, ele me convidou para um banho de banheira, que segundo ele
poderíamos tomar de roupa para relembrar os velhos tempos. Mas não achei necessário,
afinal ele era meu marido e eu iria aproveitar para me deliciar com seu abdômen que
continuava trincado.
A água estava na temperatura ideal. Acomodei-me entre suas pernas e ali relaxei.
Mas aquele maldito bilhete sempre vinha em minha mente, para me lembrar que nem tudo
é perfeito e que meu marido podia sim ter me traído e se eu tivesse a certeza absoluta de
que a traição se concretizou, não sabia do que seria capaz de fazer.
— Diego?
— Hum? — Ele acariciava meus braços.
— Acho que estou pronta para ouvir a sua versão dos fatos. — Ele parou com a
carícia instantaneamente.
— Tem certeza? Tenho tanto medo de que não acredite em mim e que esse momento
tão gostoso se acabe…
— Eu tenho. Não aguento mais essa dúvida me corroendo. — Diego virou meu
corpo para que ficássemos frente a frente.
— Então tenha em mente a certeza de que jamais te trairia. — Meu marido olhava
em meus olhos, dentro dos meus olhos. Aqueles olhos azuis, fixos nos meus, sem desviar
nenhum milímetro. E eu podia ver a verdade neles. Ele não podia mentir assim.
— Então não precisa ter medo. Conte-me.
Ele respirou fundo e então começou:
— Você estava andando tão estressada, tão sobrecarregada que eu não sabia o que
fazer. Todos os dias a gente brigava. Todos os dias, sem exceção. Então para escapar de
uma briga com você, porque isso estava me matando, comecei a passar em um bar todas
as noites depois do treino para espairecer. — Ele fez uma pausa. — Eu só via você
crescendo em seu trabalho, cada vez mais se sobressaindo. Sei que você caiu de cara no
trabalho porque não conseguíamos ter um bebê. Eu não a julgo por isso. Mas eu acabei
ficando um pouco de lado nessa história. Sem contar que uma onda de má sorte me atingiu
e minha carreira estava em decadência. Não que isso fosse afetar nossa situação
financeira, porque você sabe que sempre fui um cara com o pé no chão, eu sei que a fama
passa, mas a luta, a ascensão era minha vida. Não queria ser um perdedor.
— E por que você não conversou comigo? — Perguntei. A tristeza em seus olhos me
doía a alma.
— E você acha que não tentei? Foram tantas vezes, Ana. Mas você estava sempre
estressada, tão irritada, tão cansada… Preferi deixar você no seu canto e distrair minha
mente com outras coisas.
— Com mulheres… — Falei mais para mim do que para ele.
— Jamais. Esse jamais foi o foco de todas as vezes que ia a algum bar. Eu só queria
distrair minha mente. Tomava um suco, um refrigerante, uma bebida e depois ia embora.
— E o cheiro dos perfumes que sentia?
— Sempre havia uma mulher ou outra que se aproximava, que me reconhecia ou até
as que queriam uma transa casual. Algumas queriam um abraço, outras fotos… Mas eu
nunca te traí. Eu juro por tudo o que é mais sagrado. Nunca nem pensei nisso.
— E o bilhete?
— Ah, esse bilhete infeliz. — Diego soltou um urro de frustração. — Eu ia jogar
aquela porcaria fora, mas acabei me esquecendo. — Arqueei uma das sobrancelhas. —
Nesse dia, uma mulher se aproximou e pediu para que eu pagasse uma bebida para ela. Eu
não estava a fim de papo e achei que ela se tocaria, mas não. Ficou se empoleirando em
mim, mesmo eu dizendo que não queria absolutamente nada com nenhuma mulher, que
estava ali somente para relaxar. Então ela disse, que seu pagasse uma bebida ela cairia
fora. Sem pensar duas vezes eu pedi ao garçom que dessa a bebida para mulher e ela se
foi. Quando fui pagar a conta, o garçom me entregou o maldito guardanapo com o recado
da mulher. Para você ter noção eu nem sei o nome dela. — Diego segurou meu rosto com
as duas mãos e olhou, mais uma vez, no fundo dos meus olhos. — Eu não te traí, acredita
em mim, por favor. — Diego praticamente suplicava.
— Você jura que não me traiu, Diego?
— Eu juro. Juro pelo o que você quiser. Eu te amo tanto. Pensar em te perder, em
ficar sem você me faz perder o ar. Dói, dói aqui dentro. — Ele pegou minha mão e
colocou sobre seu peito. Eu podia sentir seu coração acelerado. — Eu amo você, Ana.
Desde a primeira que te vi quando eu tinha apenas dezessete anos.
— É muito tempo amando uma mulher só…
— Mas é você que meu coração insiste em amar e eu não vou reclamar, sabe por
quê? Porque eu amo te amar.
E foi nesse momento que eu tive a plena certeza de que meu marido não me traiu.
Senti o peso de suas palavras, e principalmente senti todo seu amor nelas.
Cerrei a distância entre nós dois e o beijei. O beijo de Diego era ainda muito melhor
do que quando nos beijamos pela primeira vez. Esse beijo fez tantas sensações percorrer
pelo meu corpo que quando percebi, estava em seu colo.
— Veste aquele vestido pra mim, veste… — Sua voz era tão rouca, tão carregada de
desejo que jamais conseguiria negar esse pedido. — Estou a fim de rasgar mais um
vestido seu… — Ele mordiscou meu pescoço.
— Ainda bem que foi você quem comprou…
*
A festa de meus avós foi linda. Celebrar 50 anos de casados não é para qualquer um.
Espero que eu e Diego possamos um dia chegar lá.
Eu e Diego nos acertamos e prometemos manter o diálogo acima de tudo.
Descobri que meu pai não teve problema nenhum no coração e que tudo não passou
de uma mentirinha de nada que me contaram. Meu marido traidor ligou para meu pai
contando o que havia acontecido entre a gente e pediu ajuda. Mamãe e papai não caíram lá
em casa de paraquedas, foi tudo proposital e bem armado para que eu não anunciasse o
pedido de divórcio e com isso Diego ganharia tempo. Para mim, essa foi uma saída de
mestre e honestamente? Mesmo com essa mentira, eu sei que tenho uma família de ouro e
que é capaz de tudo por mim. Não que mentir seja correto. Nada justifica uma mentira,
mas o amor, ah esse sim justifica tudo.





Agradecimentos

Ei! Quero agradecer você, que chegou até aqui, que leu a história da Ana e do
Diego, que provavelmente ficou até tarde da noite lendo, ou está atrasado para o
serviço/escola. Obrigada por me acompanhar nessa aventura. Muito obrigada mesmo. Se
eu te conhecesse, com certeza te abraçaria, então se sinta abraçado por mim.
Agradeço ao meu marido lindo, Adriano Rodrigues pelo apoio, incentivo e
compreensão. Te amo.
Minha família, meus irmãos Suzana e Paulo e principalmente meus pais, pelo
incentivo e por ser minha base para vida. Meu amor é de vocês.
Minha amiga Daniele Muniz, pela ajuda com a revisão. “Dani, você foi demais,
garota. Ainda bem que tenho uma amiga como você. Muito obrigada!”
Minhas amigas, que embora distantes, muitas vezes foram minha inspiração e
motivação para não desistir da escrita. Muito obrigada meninas, principalmente àquelas
que me emprestaram seus nomes para compor meus personagens: Ana Carolina Silveira,
Djacy Souza, Jacy Fernandes, Rachel Freitas, Harayllza Ferreira, Leyla Kelly, Cristiane
Azeredo, Clicia Batista, Nathalia Marques, Maria Eduarda Prata, Socorro (Soh) Borges,
Socorro Rodrigues, Daniele Damasceno e Déborah Mendes.
Não podia deixar de agradecer também a Editora Sonho Azul e a minha amiga
Shirleyde Mota pela oportunidade e confiança.
E por último e não menos importante quero agradecer a Deus pela graça que ele me
concedeu. Nem todas as palavras do mundo seriam suficientes para expressar minha
gratidão. Obrigada, meu Deus!

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