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Tabela de Conteúdos

Nota da autora
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Epı́logo
Jonathan
Reconhecimentos

Nota da autora

*pode conter spoilers*

Este romance de Natal é de portas abertas, o que signi ica que


retrata a intimidade sexual consensual nas pá ginas. Ele també m
apresenta personagens com realidades humanas que eu acredito que
merecem ser vistas com mais destaque no romance por meio de uma
representaçã o positiva e autê ntica – neste caso, neurodivergê ncia
(especi icamente, autismo, que é minha experiê ncia vivida), o espectro
assexuado (especi icamente, demissexualidade, que també m é minha
experiê ncia de vida) e diabetes tipo 1 (que eu fui informada por um
amigo com essa condiçã o). Com a orientaçã o de minha pró pria
experiê ncia e a autenticidade de leitores para este conteú do, espero ter
dado a esses assuntos o cuidado e o respeito que eles merecem. No inal
das contas, espero que este romance traga a você conforto e alegria,
uma histó ria de duas pessoas encontrando o caminho para serem
profundamente conhecidas e amadas por tudo o que sã o, o que é , para
mim – na vida real e na icçã o – o maior presente que nó s podemos
receber.

1

Playlist: “Let It Snow! Let It Snow! Let It Snow!” - Ella

Fit zgerald

O MUNDO É um globo de neve. Flocos espessos e gelados giram em


torno de mim, lutuando de um cé u de ouropel1 prateado. Uma rajada
de vento gelado pica minhas bochechas e bate em minhas roupas. E
minha caminhada matinal até a Bailey's Bookshop, onde sou co-gerente
e residente entusiasta nos feriados, e estou começando o mê s de
dezembro como faço há anos: minhas mã os enluvadas enroladas em
uma xı́cara de chocolate quente de hortelã -pimenta com chocolate
extra, enquanto a voz doce e esfumada de Ella Fitzgerald lui pelos
meus fones de ouvido.
Let it snow! Let it snow! Let it snow!
Abrindo a porta da livraria enquanto a mú sica termina e a voz de
Ella desaparece, tiro meus fones com cancelamento de ruı́do, cuja
pelú cia é de um branco inverno e torna os fones dobrá veis como
protetores de ouvido. Hora de encarar a realidade: essa vida
maravilhosa de mú sicas natalinas, neve pitoresca e administrar a
livraria Bailey's seria um sonho que se tornou realidade, se nã o fosse
por uma pequena coisa...
Meu olhar pousa no monte familiar de altura imponente, ombros
largos cobertos por um algodã o engomado como a neve.
Ok. Entã o ele nã o é exatamente uma coisa pequena.
— Senhorita Di Natale. — O calafrio da voz do meu antagonista
desliza pela minha espinha como uma gota d'á gua, recé m-saı́da de um
pingente de gelo.
Fecho a porta com minha bunda, entã o uso meu cotovelo para
deslizar para baixo o ferrolho e nos trancar, já que nã o abriremos por
mais uma hora. Agarrando meu chocolate quente e uma sacola de lona
com decoraçõ es caseiras de Natal para a fortaleza festiva, respondo
com falsa alegria:
— Senhor Frost.
Meu apropriadamente chamado inimigo lança um olhar
signi icativo para o reló gio antigo montado na parede, que de ine seu
rosto de per il. Nariz forte, maçã s do rosto que podem raspar gelo, uma
mandı́bula de cristal talhado. Uma sobrancelha escura arqueia quando
ele se vira e seus olhos de esmeralda me prendem no lugar.
— Que bom que você se juntou a nó s... trê s minutos atrasada.
Eu o odeio. Ele é a folha de azevinho espinhosa da guirlanda abeto
fraser da minha vida.
Por doze meses torturantes, tenho suportado co-administrar a
livraria independente mais antiga da cidade com Jonathan Frost, um
verdadeiro homem infeliz, e francamente, diria que foi um milagre eu
ter durado tanto tempo sem sair do fundo do poço.
Sustentando o seu olhar, tomo um gole longo e ú mido do chantilly
do meu chocolate quente, depois lambo meus lá bios, porque vai entrar
na pele dele, e depois daquela reprimenda de “trê s minutos atrasada”, é
o mı́nimo que ele merece.
Seu olhar se ixa em minha boca. Sua mandı́bula se contrai. Entã o
ele se vira.
— Deixe-me adivinhar. — Sua voz é rouca, seus olhos ixos em uma
caixa fechada de novos lançamentos enquanto ele sacode a lâ mina
retrá til de um canivete e corta a caixa como uma barriga de peixe, com
um rasgo limpo na costura. — Eles erraram no seu leite com chocolate
caro.
Meus molares rangem enquanto caminho pela loja.
— E chocolate quente. E esqueceram a hortelã . Nã o posso começar
a temporada de Natal sem ele.
Depois que passei por ele, ele destró i a pró xima caixa com a graça
luida de um assassino de sangue frio. Eu o vejo deslizar para baixo a
lâ mina retrá til, posicionar a faca perpendicular à borda do balcã o e, em
seguida, abrir a caixa em uma exibiçã o grá ica dos mú sculos
lexionados sob sua camisa.
E uma tragé dia que uma personalidade tã o só lida tenha um corpo
assim.
— Olhos para cima, Gabriella.
— Estou cuidando daquele canivete.
— Com certeza você está .
Minhas bochechas esquentam. Coloco as decoraçõ es do Natal no
balcã o com a força do meu aborrecimento e ouço um estalo.
— Qualquer um que soubesse quantos slashers2 você lê , Sr. Frost,
estaria de olho no canivete.
— Entã o, ela nã o está olhando apenas para meus mú sculos, mas també m para
minhas compras privadas na livraria.
— Eu... — Um rosnado enfurecido rola para fora de mim. Mas
quando me afasto dele, congelo, minha fú ria derretendo quando noto
um prato de delicados biscoitos de açú car empoleirado no balcã o.
Cortados em formas que sã o uma homenagem a todos os feriados de
inverno, eles cintilam com cristais de açú car brilhantes como
diamantes. Curvando-me para olhar mais de perto, eu os inspiro. Ricos,
amanteigados, doces. Já posso sentir o gosto deles derretendo na minha
lı́ngua. — De onde isso veio?
— Um palpite. — Jonathan coloca as duas caixas nos ombros,
fazendo com que coisas mais perturbadoras e musculosas aconteçam
sob sua camisa.
Me viro para encarar os biscoitos misteriosos, para nã o ser
acusada de cobiçar sua bunda enquanto ele caminha para as prateleiras
dedicadas a novos lançamentos. Destruindo meu cé rebro, coloco meu
chocolate quente na mesa, em seguida, tiro minhas luvas, cachecol e
casaco, e os penduro em seu gancho de costume. Pego um dos biscoitos
do prato, inspecionando-o.
— Os Baileys?
Jonathan suspira cansado.
— O que? E um palpite perfeitamente razoá vel!
Os proprietá rios da livraria, o Sr. e a Sra. Bailey, nã o vê m com
frequê ncia, mas sã o atenciosos e sã o como avó s para mim. Trabalho
para eles há seis anos, primeiro em meio perı́odo enquanto estava na
faculdade, e depois nos ú ltimos dois anos, desde a formatura, como
gerente. Eles sabem o quanto eu amo dezembro, tudo que é feriado e,
claro, doces. Pude imaginá -los mandando entregar biscoitos para nó s
na loja (eles gostam de Jonathan també m, por algum motivo
desconcertante).
Entã o, se eles nã o enviaram os biscoitos, quem enviou? Nã o há
mais ningué m, graças a um orçamento extremamente apertado este
ano e ao fato de que nossa ú nica ajuda, um estudante universitá rio de
meio perı́odo, pediu demissã o na semana passada. Aparentemente,
Clark achou a minha dinâ mica com Jonathan “toxicamente hostil”.
As crianças nos dias de hoje. Sem estô mago para o con lito.
— Bem, entã o, Sr. Frost. — Examino o biscoito. — Se nã o é dos
Baileys, de onde eles vieram?
Jonathan responde, alinhando uma linha perfeitamente uniforme
de livros.
— “Um palpite”, Gabriella, signi ica “um palpite”.
Perplexa, mas atraı́da pelo aroma celestial de biscoito de açú car,
quase dou uma mordida. Entã o faço uma pausa. Uma lâ mpada se
acende sobre minha cabeça. Apontando o biscoito em sua direçã o,
nivelo Jonathan com um olhar descon iado.
— Você .
Ele faz uma pausa, o livro que está segurando congelado no ar.
Lentamente, ele olha por cima do ombro e nossos olhares se prendem.
Seu rosto está ... ilegı́vel.
Embora as expressõ es das pessoas nã o sejam fá ceis de interpretar,
quanto mais as conheço, mais sou capaz de observar padrõ es e
memorizar seu signi icado. Depois de doze meses miserá veis
observando as muitas mudanças sutis em seus traços esculpidos de
gelo, conheço mais expressõ es de Jonathan Frost do que gostaria de
admitir. Essa é nova.
Perturbada, mordo meu lá bio inferior, uma lambida de dor para
me irmar. Vejo seu olhar descer para a minha boca, seus olhos
escurecerem.
De repente, estou icando quente em meu vestido de sué ter verde-
esmeralda. O aquecedor está aumentado?
— Se você me trouxe esses biscoitos… — Estou tentando recuperar
a vantagem, mas minha voz é estranhamente rouca. — A questã o é ...
por quê ?
O olhar de Jonathan levanta e encontra o meu. Outra expressã o que
nã o reconheço. Isso faz minha barriga revirar.
Ele abre a boca, como se estivesse prestes a me responder, quando
um punho bate na porta da frente da loja. Jonathan fecha a cara na
direçã o dela e late:
— Fechado até as dez!
A sala está mais fria agora, e as garras de quaisquer truques
mentais que Jonathan estava jogando com seus olhos desapareceram.
Sensı́vel e de volta à minha pele, largo o biscoito como uma batata
quente, limpo as migalhas de minhas mã os e caminho em direçã o à
porta da frente.
— Muito medo de provar um? — Ele fala arrastado.
Ele deve tê -los trazido. Provavelmente os assou do zero para poder
colocar um laxante na massa.
— O dia que eu comer algo que você fez será um dia frio no
inferno, Sr. Frost. E só para você saber, envenenar algué m é crime.
Ele está de volta à s estantes, alinhando os livros com uma precisã o
organizada.
— Se nã o for fatal, você cumprirá apenas alguns anos.
Eu tropeço na porta, gritando:
— Eu sabia!
— Honestamente, Gabriella. — Ele revira os olhos. — Eu leio
thrillers. Nã o signi ica que quero estar em um.
— Ainda estou escondendo os cortadores de caixa.
Quando estou prestes a destrancar a porta, vejo meu re lexo no
painel de vidro fosco. Entre a caminhada ventosa desta manhã para o
trabalho e os jogos mentais de Jonathan, pareço ter atravessado um
tornado: bochechas tã o rosadas quanto meus lá bios, olhos castanhos
largos como um pires, piscando freneticamente; meus cabelos
castanho-mel com cachos soltos, que geralmente icam nos meus
ombros, parecem eletri icados.
— Sim. — Enquanto eu arrumo meu cabelo e ordeno que meus
olhos pareçam menos perturbados, um formigamento de consciê ncia
dança pelo meu pescoço. Os olhos de Jonathan encontram os meus no
re lexo do vidro. Ele me joga outra sobrancelha arqueada e fria. Coloco
minha lı́ngua para fora.
— Realmente muito maduro. — Diz ele.
— Vindo do cara que está deixando um pobre entregador
congelando na calçada.
Jonathan – o mais chocante – é um durã o que nã o atende a porta
antes da loja ser aberta, mas à s vezes os entregadores dã o meia-volta e
nã o conseguem encontrar a entrada do beco. Eu sou a solidá ria que os
ajuda.
Com uma chave de parafuso, abro a porta para olhar o entregador
– suas pernas, pelo menos – cambaleando sob o peso de um buquê que
diminui sua parte superior do corpo.
Uma voz atrá s dele diz:
— Entrega para a Srta. Gabriella Di Natale?
Fico olhando para ele, de queixo caı́do. Sã o centenas de dó lares em
lores. Rosas carmesins e poinsé tias de veludo, ramos alegres de
pinheiro e azevinho, lı́rios brancos como a neve do tamanho de pratos
de jantar. Seu cheiro enjoativo atinge meu nariz, e um espirro vicioso
me dobra.
Um torso quente do tamanho de uma casa passa por mim
enquanto outro espirro destró i meu corpo. Jonathan agarra o vaso
cô nico como se fosse um galho em vez de quinze quilos de opulê ncia
loral e vai direto para a nota en iada dentro. Estou igualmente curiosa
para saber de quem é – o palpite dele é tã o bom quanto o meu.
— Hum, mas… — O entregador inalmente espia em volta do
buquê . — Isto é pela Srta. Gabriella Di… — A voz dele morre diante do
brilho á rtico de Jonathan. — Preciso de uma assinatura.
— Ela parece que pode assinar? — Jonathan vira a cabeça na
minha direçã o enquanto me dobro em outro espirro, entã o sinaliza com
um loreio. — Gabriella, diga a ele que nã o estou roubando suas lores.
— Ele nã o está . Está tudo bem. Obrigada – ah-ah-ah-ATCHIM.
— Boas festas. — Jonathan diz, enquanto fecha a porta na cara
dele. — Da ú ltima vez, cheguei em primeiro de dezembro com um pã o
de azeite bem assado. Você me acusa de envenená -la com biscoitos,
quando é seu namorado que está presenteando você com um risco
bioló gico. — Ele atravessa a loja em direçã o ao fundo, arrancando
sistematicamente cada lı́rio do buquê . — Que cara você tem para si
mesma.
Me dobro em um espirro que sacode meus seios da face.
— O-o quê ?
— Conhece você bem o su iciente para enviar um buquê com o
tema natalino, mas nã o o su iciente para garantir que seja de baixa
fragrâ ncia. Aromas fortes fazem você espirrar e disparar suas dores de
cabeça.
— Ele nã o é … espere. Como você sabe disso?
— Doze meses, Srta. Di Natale. — Jonathan coloca o buquê no
balcã o, abre a porta dos fundos do beco e joga lı́rios no valor de cem
dó lares na lixeira como se fossem vermes.
— Doze meses o quê? — Eu pergunto.
Depois de fechar a porta, ele entra na cozinha da sala de descanso,
onde guardamos um bule de café e canecas, junto com um armá rio de
salgadinhos cujas prateleiras sã o divididas ao meio por itas que
de inem limites, como se estivé ssemos em paı́ses rivais e o canto de
uma caixa de biscoito invadindo o territó rio inimigo é motivo de guerra.
Jonathan joga á gua na pia e arregaça as mangas até os cotovelos,
cada dobra do algodã o branco e crocante revelando cinco novos
centı́metros de mú sculos tensos e uma camada de cabelo escuro. Digo a
mim mesma para parar de olhar, mas nã o consigo.
Alé m dos meus dois melhores amigos, que també m sã o meus
colegas de quarto, a ú nica pessoa com quem passo tanto tempo é
Jonathan Geada-subindo-na-sua-bunda Frost, e acho que está
distorcendo meu cé rebro – dia apó s dia, oito horas eternas ao redor
dele. Escovando os cotovelos quando passamos um pelo outro na loja.
Observando-o grunhir e lexionar todos os mú sculos ao abrir caixas e
estocar prateleiras. Percebo seus olhos se estreitando para mim quando
eu quebro as regras e me jogo no chã o com um pequeno cliente,
abrindo um livro para ler para eles.
As vezes, nesses momentos nã o ditos, coisas como essa acontecem.
Minha mente limpa 52 semanas de brigas diá rias e pequenas batalhas
de poder e dá uma volta inexplicá vel, como ixar-se em seus antebraços,
olhando para suas mã os enquanto elas escorregam e se esfregam sob a
á gua. E entã o começo a pensar nas outras vezes em que os braços se
lexionam e as mã os icam molhadas. Penso nos dedos se curvando, e
agora seu polegar está circulando uma mancha de tinta na palma da
mã o, e estou pensando em seu polegar circulando outras coisas e...
— Doze meses. — Sua voz estala no ar, e me endireito como um
raio que atingiu minha espinha. — Cinquenta e duas semanas. Seis dias
por semana. Oito horas por dia. Duas mil quatrocentas e noventa e seis
horas. — De olho em sua tarefa, ele fecha a á gua, tira uma toalha de
papel do suporte com um violento rasgo e seca as mã os. — Acredite ou
nã o, descobri algumas coisas ao longo do caminho.
Preparando-me, cruzo os braços sobre o peito.
— Eu vejo. ‘Mantenha seus amigos perto, e seus inimigos mais
perto ainda.’ Nã o é esse o ditado?
Jonathan ergue os olhos e encontra meus olhos, seu olhar falando
uma linguagem enigmá tica que eu nã o conheço.
Odeio essa sensaçã o. E antigo e familiar, e nunca deixa de raspar a
crosta de minhas lutas sociais. Sou uma garota neurodivergente em um
mundo neurotı́pico, e meu cé rebro autista nã o lê as pessoas como o de
Jonathan Tá tico Frost. Foi uma das primeiras coisas que me fez
desgostar dele: posso sentir sua astú cia, sua mente fria e calculista. Ele
tem o que eu nã o tenho, ele vê o que eu nã o posso, e ele empunha
aquelas armas implacavelmente. E exatamente por isso que os Baileys o
contrataram.
Porque ele é tudo que eu nã o sou.
E nos meus piores momentos, isso me faz sentir que eu não sou o
su iciente.
Queria ser tudo o que os Baileys precisavam quando a Sra. Bailey
se aposentou da administraçã o e eles me promoveram. Os Baileys
també m queriam isso. Eles me amam. Eles amam como eu amo a
livraria. E seu resultado inanceiro certamente seria mais saudá vel com
apenas um gerente nos dias de hoje que está matando rapidamente as
livrarias independentes.
Mas depois do meu primeiro ano solo, vendo que eu estava me
afogando no dilú vio de tarefas administrativas, os Baileys me sentaram
para tomar chá e disseram que era pedir muito a uma pessoa – eu
merecia ser uma co-gerente.
Entã o Jonathan foi contratado, exatamente um ano atrá s.
Explodindo de alegria pelo Natal, entrei, apenas para vê -lo fazendo
amizade com o Sr. Bailey, e trazendo um rosado à s bochechas da Sra.
Bailey quando ele disse algo que a fez sorrir. Fui usurpada. Isso me
atingiu como uma bola de neve no plexo solar.
Ele está aqui desde entã o, fazendo os Baileys se apaixonarem por
ele, provando ser indispensá vel. Ele é con iante e friamente e iciente e,
apó s um ano sob sua in luê ncia, a livraria Bailey's funciona como uma
má quina bem lubri icada.
Jonathan é o cé rebro deste lugar. Eu admito isso.
Mas eu? Eu sou a alma.
Sou os toques caprichosos na vitrine, a adiçã o cuidadosa de
poltronas macias en iadas em cantos aconchegantes. Sou o sorriso
caloroso que dá as boas-vindas e a mesa de exibiçã o frontal que atrai
você . E Jonathan sabe disso. Ele sabe que sem mim, este lugar seria
laborioso, impessoal, arrumado, mas tedioso.
Resumindo: ele precisa de mim tanto quanto eu dele.
Sei que isso soa como um ó timo motivo para unir forças e deixar
de lado as diferenças. Mas desde que o The Dreaded Chain Bookstore
(també m conhecido como Potter's Pages) chegou ao bairro há dois
anos e nossos lucros sofreram um golpe, sei que é apenas uma questã o
de tempo até que os Baileys dê em a notı́cia de que nã o podem mais
pagar por nó s dois. E como o inferno, terei renunciado ao meu lugar,
para permitir que Jonathan Frost se tornasse a força dominante que
torna a escolha dos Baileys entre nó s algo ó bvio.
O que signi ica que, embora nossa rivalidade possa ter começado
como um choque de personalidades, agora é um duelo de morte.
Er. Morte pro issional, quero dizer.
Uma gota d'á gua da torneira cai com um tilintar, arrancando
minha mente de seu caminho sinuoso.
Percebo que estou olhando para Jonathan.
E Jonathan está olhando para trá s.
Aparentemente, estamos fazendo isso há algum tempo, a julgar
pela forma como o mundo começa a icar turvo e meus olhos gritam
para eu piscar.
Jonathan, é claro, por ser feito de alguma substâ ncia alienı́gena
criogê nica, parece inteiramente à vontade quando se inclina na porta,
os braços cruzados sobre o peito. Ele poderia fazer isso o dia todo.
Piscar é para os fracos.
Incapaz de ignorar o pedido de misericó rdia de meus globos
oculares, giro em direçã o ao enorme arranjo loral e pisco rapidamente,
mal sufocando um gemido de alı́vio enquanto giro o vaso e o
inspeciono. E quando vejo um pequeno cartã o preso dentro das lores.
Fiquei tã o abalada com Jonathan que esqueci de procurar o bilhete
explicando de quem era.
Minha mã o está na metade do caminho para o cartã o quando
Jonathan diz:
— Espere.
Congelado no lugar, o sinto atrá s de mim. Nã o tã o perto que seja
inapropriado ou invasivo, mas perto o su iciente para sentir seu calor
só lido atrá s de mim, para respirar seu leve cheiro de loresta de
inverno. Odeio que tantos cheiros me dê em dor de cabeça, mas o de
Jonathan é inegavelmente prazeroso.
Passando por mim, ele puxa a poinsé tia do clipe de plá stico que
segura o cartã o.
— Cuidado.
Olho para cima e encontro seus olhos. Eles sã o escuros perenes,
sua mandı́bula apertada. Sob as luzes quentes da loja, pego um
vislumbre de ruivo nas ondas de chocolate agridoce de seu cabelo.
— Cuidado com o quê ? — Eu pergunto.
— Poinsé tia. Elas podem causar erupçõ es na pele.
Bufo.
— Uma erupçã o na pele.
— Uma erupçã o na pele, Gabriella. — Ele projeta o queixo em
direçã o à nota. — Eu te disse, nã o é comigo que você tem que se
preocupar. Seu namorado enviou o pior pesadelo e as plantas tó xicas
para o seu nariz.
Lá está ele de novo. Meu namorado.
Trey e eu nã o estamos juntos há seis meses e, mesmo antes disso,
“juntos” era um termo generoso. Sou algué m que precisa de tempo para
sentir atraçã o e, embora certamente tenha sido atingida por Trey, o
sorridente cara de cabelos dourados que comprou meu chocolate
quente uma manhã na cafeteria onde o vi pedindo seu café com leite,
nã o tinha certeza de como me sentia sobre namorar com ele. Mas Trey
foi persistente e logo estava comprando minha bebida todas as manhã s,
me mandando mensagens de texto o dia todo, mandando um carro
particular para esperar do lado de fora da livraria depois do trabalho,
pronto para me levar de volta para que pudesse comer e beber vinho.
O que, em retrospecto, foi uma bandeira vermelha. Comuniquei
minha necessidade de tempo para descobrir como me sentia. Trey
apenas me perseguiu com mais fervor. E por dois meses, deixei a rotina
atraente de nossos jantares e conversas, receber mensagens de texto e
checadas, entorpecer os sinais de alerta estridentes em meu cé rebro.
Raciocinei comigo mesma, nó s acabamos bem, nã o é ? Claro, ele me
perseguiu um pouco agressivamente, mas a maioria das pessoas que eu
conhecia nã o precisavam do tempo que eu precisava.
Sendo demissexual, sinto atraçã o com menos frequê ncia e de
maneira diferente do que a maioria dos outros parecem sentir. Demoro
um pouco para saber se acho algué m atraente ou se o desejo
sexualmente, se gosto do cheiro de sua pele ou de sentir sua mã o
tocando a minha ou da ideia de ser isicamente ı́ntimo. Sempre que
experimentei esse tipo de desejo, ele veio depois de ter me vinculado a
essa pessoa, estabelecido uma conexã o e familiaridade. E isso leva
tempo para resolver.
Trey simplesmente nã o entendia isso e eu claramente nã o tinha
feito um trabalho bom o su iciente para me explicar. Ou entã o eu
pensei, naquela é poca. Agora sei melhor – que o que eu disse a ele
deveria ter sido o su iciente, que um bom parceiro teria honrado meus
limites, nã o passado direto por eles.
Jonathan percebeu que eu estava saindo com algué m. Trey nunca
foi à loja, o que me deixou um pouco triste, já que Bailey's é meu
orgulho e alegria, mas ele disse que estava ocupado e trabalhava no
outro lado da cidade com inanças, que certa manhã ele foi tomar um
café no meu lugar favorito e era por causa de uma reuniã o com clientes,
mas agora eu fazia com que dirigir pela cidade para tomar um café
todas as manhã s valesse totalmente a pena.
Eu recebia lores – e sim, elas sempre me faziam espirrar – com
notas melosas e poemas. Ele me mandou uma mensagem e ligou o
su iciente para icar ó bvio que havia algué m na minha vida.
Mas foi só até a nossa liquidaçã o de verã o, quando eu estava muito
ocupada, que Jonathan percebeu quem era quando viu o nome de Trey
aparecer no meu telefone.
O observei apontar para o meu celular, entã o me ixar com aquele
brilho á rtico.
— Quem é aquele?
— Nã o que seja da sua conta… — Peguei meu telefone do balcã o.
— Mas é o cara com quem estou saindo.
— É com quem você está . — Ele disse, sua voz dura e cheia de
desdé m. — Trey Potter. Filho e herdeiro da Potter's Pages, nosso
concorrente nú mero um, que está tentando nos comprar.
Lembro-me de meu coraçã o trovejando em meus ouvidos, a
humilhaçã o me inundando enquanto o mundo desabava sob meus pé s.
Trey me disse que era parente dos Potters, mas nunca que era ilho do
proprietá rio, nunca disse nada sobre uma aquisiçã o esperada. Nem os
Baileys, que entã o con idenciavam a Jonathan muito mais do que a mim
sobre as nuances inanceiras do negó cio.
Fiquei sob o olhar de desaprovaçã o de Jonathan Frost,
cambaleando enquanto as peças se encaixavam – as perguntas de Trey
sobre a livraria, sobre meu relacionamento com os Baileys, sua
relutâ ncia em mostrar seu rosto aqui, seu pedido para que
mantivé ssemos nosso relacionamento privado. Chocada, com o orgulho
ferido, levantei meu queixo desa iadoramente e usei cada grama de
força de vontade para nã o chorar quando dei a Jonathan o tratamento
silencioso e passei direto por ele.
Naquela noite, confrontei Trey e terminei as coisas com ele. Ele
implorou que eu acreditasse que me amava, que embora tivesse a tarefa
de "explorar um relacionamento comigo por suas possibilidades
estraté gicas", o que, depois de conversar com meus melhores amigos,
decifrei para signi icar, "ver se eu poderia ser atraı́da para o lado dos
Potter e persuadida a encorajar os Baileys a vender ” – ele se apaixonou
por mim no processo.
— Não posso viver sem você. — Ele disse. — Você não pode me
deixar. Eu nunca vou esquecer você.
Aqui está a coisa sobre ler romance: me ensinou a apreciar um
bom rastejar, mas també m me ensinou a reconhecer um personagem
tó xico quando vejo um. Trey, eu percebi, tinha tó xico estampado nele.
Desde entã o, tenho considerado esclarecer as coisas com Jonathan
inú meras vezes, dizendo que ele presumiu o pior de mim naquele dia,
quando ele nã o tinha ideia do que eu sabia ou nã o sabia. Que, embora
odeie como ele me disse, sou grato por ele ter jogado aquela bomba.
Que por causa de sua honestidade brutal, descobri os verdadeiros
motivos de Trey, terminei as coisas com ele e disse aos Baileys
exatamente o que tinha acontecido para ter certeza de que eles sabiam
que minha lealdade era totalmente para eles e este lugar.
Mas o que sempre me impede é o seguinte: nesta batalha pela
livraria nã o se acaba discutindo nossa vida pessoal, muito menos
confessar sentimentos de vulnerabilidade. Isso exigiria baixar nossa
guarda. Em nossa batalha sem im pela vantagem, esse é um risco que
nã o posso correr.
Nos meus momentos mais caridosos para com Jonathan, e talvez
eles també m sã o momentos em que eu me importava um pouquinho
sobre sua boa opiniã o de mim. Esperava que ele ia colocar dois mais
dois juntos. Que Jonathan perceberia que Trey era histó ria, quando
meses se passassem e nenhuma compra acontecesse, quando meu
relacionamento com os Baileys permanecesse afetuoso e familiar e nã o
houvesse sinal do meu ex. Claramente, isso era esperar demais.
E agora sei por quê . Jonathan Frost sempre pensou o pior de mim.
E talvez, no fundo, já soubesse disso. Mas agora que é lagrantemente
ó bvio, bem na minha cara, o prazer perverso que terei em provar que
ele está errado supera em muito a vulnerabilidade legı́tima que estou
prestes a admitir. Nã o posso mais fazer isso, nã o posso aguentar mais
um segundo, deixando-o ser tã o presunçoso e seguro sobre exatamente
o tipo de pessoa que ele decidiu que eu sou.
Entã o, olhando para Jonathan, digo a ele:
— E de initivamente algo que Trey faria. Exceto que ele nã o é meu
namorado desde que terminei com ele, há seis meses. Você foi, na
verdade, quem me esclareceu, Jonathan, mas é claro, presumiu que eu
já sabia sobre a compra, em vez de considerar que, desde que você
chegou aqui, fui expulsa de reuniõ es inanceiras importantes, e que eu
nã o tinha ideia. Graças a você , percebi que Trey estava comigo por
minha in luê ncia sobre os Baileys, esperando que ele pudesse me
colocar a seu lado e persuadi-los a aceitar a oferta de compra dos
Potters.
A pontada de vergonha sobre o que acabei de dizer é engolida pela
alegria enquanto vejo a cor escorrendo do rosto de Jonathan. Sua boca
se abre. Sua mã o cai das lores para o balcã o com um baque atordoado.
Deixei Jonathan Frost sem palavras.
Encantada, lanço a ele um sorriso satisfeito.
— Talvez seja hora de mudar para os procedimentos policiais, Sr.
Frost. Suas habilidades de investigaçã o estã o diminuindo.
Com essa nota triunfante, dou uma volta para longe do balcã o e
varro minhas decoraçõ es caseiras.
E hora de fazer deste lugar uma das maravilhas do inverno.

2

Playlist: “Greensleeves” - Mountain Man

OITO HORAS DEPOIS, sou saudada por dois gritos de ‘Bem-vinda ao


lar!’ enquanto fecho a porta atrá s de mim.
June e Eli, meus melhores amigos e també m colegas de quarto,
estã o posicionados em suas posiçõ es quando nossas noites livres se
alinham – Eli no sofá , esperando para compartilhar um cobertor
pesado, June, a governante solitá ria em seu trono recliná vel. Jogando
um marshmallow na TV, June assobia quando Ebenezer Scrooge, de
Michael Cain, entra na tela. A maratona de ilmes de Natal começou.
— Comida. — Eu murmuro turva, tirando minhas botas. Arranco
minha roupa de inverno e a deixo atrá s de mim em uma trilha
encharcada pelo saguã o de nosso apartamento.
— A sopa está quente. — Diz Eli.
— Otimo. Eu preciso descongelar.
Entro na cozinha e me sirvo de uma tigela da gloriosa canja de
galinha de Eli, lutando contra uma pontada de melancolia. As canecas
sujas de café para viagem de June estã o espalhadas pelo balcã o ao lado
dos livros de receitas. Eli ri do ilme enquanto June faz um gesto
colorido com a mã o para Scrooge. Fecho os olhos e saboreio o
momento, prendendo-o em minhas memó rias, porque sei que essa
con iguraçã o de colega de quarto nã o vai durar para sempre.
Desde a faculdade, nó s trê s moramos juntos porque isso nos
permitiu economizar dinheiro em uma cidade cara e pagar um lugar
melhor do que poderı́amos alugar por conta pró pria. Mas eu sei o que
está por vir. Em breve, Eli e seu namorado, Luke, vã o arrumar um lugar
juntos; June inalmente vai se aproximar do hospital porque está
cansada do longo trajeto.
E serei a solitá ria Gabriella, com seu gato Pã o de mel e suas pilhas
de romances do chã o ao teto. O que nã o é uma vida ruim, é só que... Vou
sentir falta deles e nã o consigo me ajustar à s mudanças, e a verdade é
que, embora o feriado de Natal seja a minha é poca favorita do ano, nã o
é só porque adoro neve e hortelã , todo chocolate e biscoitos de açú car e
as tradiçõ es comemorativas – sã o as pessoas com quem eu compartilho
esta é poca do ano que fazem com que isso signi ique tudo para mim. E a
nossa maratona de ilmes de Natal, e assarmos a receita de pizzelle da
minha famı́lia junto com o sufganiyot de Eli. Somos nó s trê s dando
nosso passeio anual pela exibiçã o do Winter Wonderland do
conservató rio com cidra alcoó lica em nossas garrafas té rmicas e June
iniciando uma luta de bolas de neve bê bada em nossa caminhada para
casa.
E se for nosso ú ltimo Natal morando juntos?
June me pega perdida em meus pensamentos sentimentais e
carrancas.
— Tudo certo?
— Sim. — Me afasto para que ela nã o possa me ver deprimida. —
Como foi o trabalho, você s dois?
— Ocupado. — Os dois respondem.
Isso é tudo que recebo deles quando pergunto sobre o trabalho, já
que é con idencial para o cliente. June é enfermeira da UTI e Eli é
terapeuta infantil.
— E para você ? — June me chama enquanto pego um pedaço de
pã o para mim.
— Esgotá vel. — Digo a ela, assistindo a abertura de The Muppet
Christmas Carol na TV. — Lidei com meu pró prio Scrooge o dia todo.
Jonathan estava mais carrancudo do que o normal enquanto eu
decorava a livraria e cantarolava junto com minha lista de reproduçã o
de Natal. Enquanto enfeitava os corredores com argila cintilante caseira
e locos de neve e dreidels de papel machê , kinnaras e á rvores de Natal,
piñ atas e menorahs de sete estrelas e sı́mbolos do solstı́cio de fogo e
luz, repetidamente o peguei olhando para mim com aquele novo franzir
de sobrancelhas, uma expressã o enigmá tica. E quando chegou a hora de
ele ir embora – nos alternamos quem ica até à s sete para fechar – ele
saiu furioso sem nem mesmo seu habitual ‘Boa noite’.
Quando volto para a sala de estar, Eli puxa o cobertor para mim no
sofá . Caio com um lop desajeitado e consigo nã o espirrar sopa em cima
de nó s.
— Entã o você lidou com o Sr. Scrooge. — Diz ele. — E é primeiro
de dezembro. Signi ica que você decorou a livraria hoje. Isso vai cansar
qualquer um. Como você faz isso sozinha está alé m de mim. Você
deveria contratar algumas pessoas para ajudar.
— Nã o há dinheiro para isso, El.
— Aquele idiota com quem ela trabalha poderia ajudá -la. — June
murmura em sua sopa.
— Hah. — Eu bufo. — Ele nunca faria. Jonathan é um grinch.
Pausando o ilme, Eli disse diplomaticamente:
— Talvez a é poca de Natal seja difı́cil para ele.
June e eu o olhamos com um olhar severo.
Ele levanta a mã o livre em sinal de rendiçã o.
— Só estou dizendo, por todos os tipos de razõ es vá lidas, nem todo
mundo adora o Natal.
— O que há para nã o amar? Eu trabalho muito para incluir e
representar todos os feriados de inverno, para garantir que todos que
visitam o Bailey's se sintam bem-vindos e vistos.
Eli coloca o cobertor pesado no meu colo.
— E você faz isso lindamente. Mas, seguindo sua ló gica, se
realmente acolhemos a celebraçã o da temporada de todos, isso inclui
receber até mesmo aqueles que nã o a consideram tã o comemorativa.
Torço meu nariz.
— Nã o gosto quando você faz sentido.
— Você deixaria seu chapé u de terapeuta no escritó rio e pararia de
ser tã o compassivo? — June se estica para fora de sua poltrona
recliná vel e puxa o controle remoto de seu colo. — Isso vai passar para
mim.
— Sim, El. — O cutuco de brincadeira com meu pé . — De que lado
você está , a inal? Devo lembrá -lo de que trabalhar com Jonathan Frost
cortou anos da minha vida? Que eu desenvolvi um re luxo á cido desde
que ele veio para a loja?
— Tudo bem. — Diz June. — A enfermeira em mim deve apontar
que seu re luxo á cido seria muito melhor controlado se você nã o fosse
uma chocó latra certi icada. E se sua dieta nã o fosse noventa por cento
de tomates.
— Eu sou meio italiana! Essas coisas nã o podem ser evitadas.
June se estatela de volta em sua poltrona com o controle remoto
com um suspiro de satisfaçã o.
— Deixando de lado as escolhas alimentares, o cara ainda é um
idiota e certamente nã o ajudou no seu re luxo.
— Posso perguntar algo? — Eli diz.
— Tudo bem. — Resmungo. — Mas seja rá pido. Quero assistir
Muppets vestidos com roupas vitorianas e esquecer a realidade.
— Jonathan sabe que você está no espectro3?
Me inquieto e mexo minha sopa.
— Nã o.
— Mas os Baileys sim. — Diz ele.
— Sim.
— Seu ponto? — June pergunta, nivelando-o com um de seus
olhares a iados e intimidantes.
— O que estou querendo dizer é que, com os Baileys, Gabby, você é
você mesma, certo?
Eu concordo.
— E nã o que eu ache que você precise se rotular com outras
pessoas para ser você mesma. — Continua ele. — Mas estou me
perguntando se há uma razã o para os Baileys saberem e Jonathan nã o.
Você é você mesma com ele?
Evito os olhos de Eli, olhando para minha sopa enquanto o vapor
sai de sua superfı́cie.
— Eu nã o sei. Sinceramente? Nã o escondo minhas coisas
sensoriais, e nã o injo ser outra coisa senã o quem eu sou ...
— Mas… — Eli diz suavemente.
— Mas eu nã o expliquei minhas lutas sociais, nada que eu
transmitiria ao tentar formar uma amizade ou relacionamento com
algué m, porque... bem, nã o tinha planos de ser amigo ou qualquer outra
coisa com ele.
— Por que nã o? — Eli pergunta.
— Ele sempre foi tã o... intimidante e arrogante e...
E você se irrita desde o dia em que o conheceu, o anjo em meu
ombro repreende, quando você o viu como a personi icação humana de
todas as aptidões que a fazem se sentir inadequada.
O diabo do meu outro lado nã o diz nada – apenas manobra seu
forcado, revelando uma alça extensı́vel que o torna longo o su iciente
para tirar o anjo do meu ombro e enviá -lo em queda livre gritando.
Acho que estou icando louca.
— Gabby? — A voz de Eli me tira do meu dilema anjo-diabo. — Eu
entendo sua ló gica, e você sabe que sempre respeitarei sua decisã o
sobre isso. Dito isso, você vê como seria melhor entre você s dois se ele
soubesse as coisas que ele faz que te confundem e tornam a
comunicaçã o difı́cil e apertam seus botõ es?
— Mas entã o… — Engulo nervosamente, lambendo meus lá bios. —
Mas entã o ele conheceria meu ponto fraco. E eu nã o saberia o dele.
O diabo em meu ombro acena com a cabeça em concordâ ncia.
— Ou ele pode seguir o exemplo e mostrar a você seu ponto fraco
també m. — Eli rebate. — E entã o você s teriam compartilhado a
vulnerabilidade juntos. Você s podem até se tornar amigos.
June dá a ele outro olhar penetrante. Algum tipo de conversa visual
neurotı́pica acontece.
— Ei. — Estalo meus dedos. — Pare de falar perto de mim.
— Eli lê muitos romances. — Diz June.
Franzo a testa entre eles. Eu leio e vendo romances para viver e
nã o estou fazendo a conexã o.
— Huh?
— Eu só me pergunto se ele gosta de você . — Eli diz,
cuidadosamente. — Mas porque ele nã o sabe como você funciona, ele
explodiu no inferno em mostrar a você que se importa.
Fico olhando para ele, atordoada. Uma bolha de silê ncio cresce na
sala até que eu explodi de tanto rir. Eu rio tanto, meus lados doem e há
lá grimas escorrendo pelo meu rosto.
— Oh Deus. Isso é bom.
Eli nã o está rindo.
— Estou falando sé rio.
— Nã o estou impressionada. — Diz June. — Mesmo que ele 'goste'
dela, ser um total idiota é uma forma completamente errada de
demonstrar isso.
— Nã o há chance. — Eu digo a eles. — Especialmente
considerando que, até hoje, ele claramente pensava que eu ainda estava
namorando o inimigo.
— Mas você terminou com Trey assim que descobriu quem ele
realmente era. — Diz Eli.
June pisca para mim em confusã o.
— Entã o, por que o idiota achou que você s dois ainda estavam
namorando?
— Eu nã o estava dando a ele um relató rio de relacionamento e,
embora achasse que era bastante ó bvio que Trey estava fora de
cogitaçã o, acho que Jonathan presumiu que ainda está vamos juntos e
que apenas me tornei mais discreta.
Eli chega mais perto no sofá .
— Ok, mas como ele soube que você se separou?
Fico olhando ansiosamente para o ilme, pausado na tela.
— Será que algum dia veremos um fantasma assustar Michael Cain
pra caralho?
— Depois de esclarecer isso. — Eli responde.
Suspirando, coloco minha sopa na mesa e caio de volta no sofá .
— Trey enviou um buquê de Natal grotescamente caro para a loja
esta manhã com um bilhete que dizia, e cito: 'Tudo que eu quero no
Natal é você .'
— Ecaaaa. — June faz uma careta. — Que idiota. Quantos nú meros
diferentes dele você bloqueou?
— Cinco. Achei que fui bem clara. Entã o este buquê veio. — Digo a
eles. — Jonathan viu o bilhete, e entã o ele me deu uma merda sobre
meu namorado nã o ser atencioso o su iciente para pedir um buquê de
baixa fragrâ ncia. Foi quando eu disse a ele que nã o tinha mais
namorado.
Eli se recosta, acariciando seu queixo.
— E como Jonathan respondeu a isso?
Me estico em direçã o à poltrona recliná vel de June e aperto o
controle remoto em sua mã o.
— Ele icou da cor da neve lamacenta da rua depois de um longo
dia de trá fego e icou boquiaberto como um quebra-nozes quebrado.
Foi maravilhoso.
Os olhos de June se arregalaram. Eli abre para ela um sorriso lento
e presunçoso, mas eu quase nã o percebo.
— Agora, podemos assistir The Muppet Christmas Carol? — Eu
pergunto a eles, apoiando meus pé s no colo de Eli. — Estou precisando
assistir outro Scrooge, para conseguir entender o que está na minha
vida.

Depois do ilme, tomo banho e coloco meu pijama favorito com estampa de
loco de neve. Cabelo enrolado em uma camiseta para secar meus cachos e
cantarolando Greensleeves, danço para o meu quarto. Pã o de mel, minha gata malhada
laranja, cochila, enrolada como uma estrela do mar na minha cadeira de bolinhas. Eu
a arranco antes de sentar em seu lugar, em seguida, coloco-a no meu colo.
Sorrindo ao ouvir o som e a sensaçã o de seu ronronar estrondoso
enquanto ela volta a dormir, ligo meu laptop e trago a tela à vida.
Uma foto de June, Eli e eu, juntos, preenche a tela. Eli sorri, cachos
ruivos caindo sobre seus olhos, que estã o semicerrados porque o
homem nã o pode deixar de piscar quando a foto é tirada. Cabelo preto
brilhante na altura do queixo, nariz enrugado, sorriso largo, June tê m os
braços enganchados em volta de nossos pescoços, tê mpora a tê mpora
com Eli, empurrando meus cachos na minha cabeça enquanto beijo sua
bochecha. A neve cobre nossas cabeças como açú car de confeiteiro, o
Winter Wonderland do conservató rio exibe uma tapeçaria de
intrincadas luzes cintilantes atrá s de nó s.
Olhando para a foto, ico impressionado com a gratidã o – por pais
amorosos que sã o boas pessoas, amigos que sã o os irmã os que eu
nunca tive, um animal de estimaçã o felino iel, uma cidade que me faz
sentir em casa, um trabalho que amo dirigido por pessoas que amo
ainda mais. Tenho muito pelo que ser grata. E se meu ú nico fardo
verdadeiro nesta vida – mesmo que ele seja um fardo muito grande e
ranzinza – for Jonathan Frost, acho que posso lidar com isso.
— Ei.
Me viro para enfrentar June parada na soleira do meu quarto.
— Você está bem? — Ela pergunta. — Sei que nó s icamos um
pouco intensos lá atrá s sobre a situaçã o do inimigo no trabalho. Eu
estou apenas sendo protetora com você . E Eli é um româ ntico incurá vel.
— Eu sei. — Sorrio. — Eu amo você s dois por isso. Estou bem. Só
cansada.
Ela acena com a cabeça.
— Tudo bem. Nã o ique acordada até tarde conversando com o Sr.
Reddit.
Rolo meus olhos.
— Sim mã e.
Eli e June admitiram que nã o entendem muito bem por que
converso diariamente com algué m que eu nunca conheci, cujo nome
verdadeiro nã o sei, cuja vida pessoal també m nã o sei muito, exceto que
– o menor dos mundos – descobrimos que moramos na mesma cidade.
Poderia tentar explicar meu relacionamento com o Sr. Reddit,
como June e Eli o chamaram, mas protejo o quanto me sinto bem em
conversar com ele. Atrá s da segurança de uma tela, sou meu eu mais
so isticada – articulada, espirituosa, perspicaz. O Sr. Reddit nã o me viu
lutar para ler suas expressõ es faciais ou observou quantas vezes uso
meus fones de ouvido com cancelamento de ruı́do ou aprendeu como
ico ansiosa quando a vida muda minha rotina. E ouça, eu me amo por
quem sou, cada parte de mim, as partes que se encaixam facilmente
neste mundo e as partes que nã o se encaixam, mas é uma coisa
totalmente diferente pedir a algué m que me ame por todas essas partes,
també m.
Nã o mostro ao Sr. Reddit as partes que nã o se encaixam tã o bem e,
ao fazê -lo, també m nã o arrisco que ele as rejeite.
Essa é a verdade por que nã o conto mais a June e Eli. Sei como eles
veriam isso. Eli me encorajaria a abraçar a vulnerabilidade. June diria
que a pessoa que me merece será selvagem por tudo de mim, caso
contrá rio, eles podem se foder.
E meus amigos estariam certos. Mas é fá cil para eles dizer. Eles nã o
entendem o que buscar amizade e romance é para mim, como ser
autista e demissexual signi ica nã o apenas me expor, como é para
qualquer um quando encontra pessoas e tenta estabelecer uma
conexã o, mas pensando quando e como con iar em algué m a verdade de
quem eu sou, uma verdade que nem sempre foi encontrada com
compreensã o, aceitaçã o ou gentileza.
Entã o, mantive o Sr. Reddit para mim mesmo desde que nos
conhecemos, há pouco mais de um ano em um tó pico do Reddit livresco
que icou muito acalorado quando um cara começou a homenagear
1984 de George Orwell, e outro algué m – que seria eu – pacientemente,
logicamente explicou o quã o errado ele estava.
Foi para o sul rá pido. O cara começou a me xingar.
E entã o veio What_The_Charles_Dickens como um fodã o,
interrompendo-o na retó rica. Quer dizer, eu nã o precisava de um
cavaleiro Reddit de armadura brilhante, mas nã o me opus a um. E assim
começou nossa amizade livresca online.
Por acordo tá cito, What_The_Charles_Dickens, també m conhecido
como Sr. Reddit, e eu conversamos apenas à noite em uma plataforma
de bate-papo, Telegram, que exige que você se registre com seu nú mero
de telefone, mas permite que você mostre apenas seu nome de usuá rio.
Conhecendo minha propensã o ao hiperfoco, beirando a obsessã o,
propositalmente nã o baixei o aplicativo Telegram no meu telefone, o
que signi ica que só posso conversar com ele quando estou em casa no
computador.
Todas as noites, depois de conversar com June ou Eli, dependendo
de seus horá rios de trabalho, depois jantar e um banho, me acomodo
em minha mesa, com Pã o de mel no colo e encerro o dia conversando
com o Sr. Reddit. Sou uma criatura de há bitos e ele se tornou uma parte
vital da minha rotina. E por isso que, quando volto para a tela e abro o
bate-papo da á rea de trabalho do Telegram, meu coraçã o afunda. Nã o
há nenhuma mensagem nova.
E raro que o Sr. Reddit nã o deixe uma mensagem para mim. Desde
que começamos a conversar, isso aconteceu duas vezes, e nas duas
vezes ele explicou que estava doente e nã o sabia escrever.
Respiro fundo, tento exalar meu desapontamento e rolar a
conversa de ontem à noite entre o antigo What_The_Charles_Dickens,
que mudou seu nome de usuá rio para Sr. Reddit desde que escorreguei
sobre ser o apelido de minha colega de quarto para ele, e
MargaretCATwood, ou como Sr. Reddit me apelidou de MCAT, porque
nã o consigo evitar. Começo com a mensagem que estava esperando por
mim quando me sentei ontem à noite.
SENHOR. REDDIT: Podemos falar sobre como Marianne
Dashwood precisa de alguns exercı́cios de respiraçã o profunda?
MCAT: Ela é uma româ ntica incurá vel. Ela deveria parecer um
pouco dramá tica.
Ele está lendo Razão e sensibilidade, de Jane Austen, porque eu o
castiguei por apenas ter lido Orgulho e preconceito.
SENHOR. REDDIT: Um *pouco* dramá tica? “Não é o tempo nem a
oportunidade que determinam a intimidade; é apenas disposição. Sete
anos seriam insu icientes para fazer algumas pessoas se conhecerem e
sete dias são mais do que su icientes para outras”. Seriamente? Sete dias
“para determinar a intimidade”? Com aquela imensa sabedoria guiando
sua vida româ ntica, nã o vou mentir, acho que Marianne se apaixona por
um idiota.
MCAT: Quero dizer, sim, ela se apaixona por um cara que acaba
sendo um canalha. Mas nem tudo é culpa dela! Ele a tira do sé rio e
convenientemente se esquece de dizer que está falido e precisa se casar
com uma herdeira, o que Marianne de initivamente nã o é . Ela ica com
o coraçã o partido, entã o seja legal com ela.
SENHOR. REDDIT: SPOILERS!
MCAT: Oh qual é , ela é a româ ntica incurá vel do romance. Você
sabia que Austen iria esmagar sua alma.
SENHOR. REDDIT: SPOILERS, CATWOOD.
MCAT: Sinto muito!
SENHOR. REDDIT: Claro que você sente.
MCAT: Eu sinto! Eu nã o acho que estava em territó rio de spoiler.
Eu pensei que era ó bvio.
SENHOR. REDDIT: E tudo menos ó bvio! Estou lendo um romance,
esperando que o cara por quem ela está se apaixonando seja um
guardiã o, nã o um destruidor de coraçõ es.
Mesmo que esteja relendo, eu suspiro novamente. Pã o de mel pisca
para mim com sono e rola de costas. Esfregando sua barriga, suspiro
dramaticamente e balanço minha cabeça.
— Nã o se preocupe, Pã o de Mel, mostrei a ele o erro de seus
mé todos.
MCAT: Sr. Reddit. As histó rias de Austen costumam ser româ nticas,
mas nã o sã o exatamente romances no sentido moderno. Em primeiro
lugar, sã o romances de boas maneiras.
SENHOR. REDDIT: Uau. Achei que Austen foi uma das primeiras e
mais in luentes romancistas.
MCAT: Bem, o trabalho dela foi romantizado pela cultura popular,
transformado em ilmes que enfatizam os aspectos româ nticos. E
Orgulho e Preconceito é absolutamente desolado como o inferno, nã o
posso argumentar contra isso. Seus outros romances també m tê m
algumas histó rias e momentos incrivelmente româ nticos. Ela é apenas...
nã o necessariamente uma romancista no sentido pleno do gê nero. Por
mais que adore Austen, há muito mais romance, e gostaria que mais
pessoas soubessem disso.
SENHOR. REDDIT: Eu gostaria de ter sabido també m. Porque
tolamente eu esperava um FELIZES PARA SEMPRE.
MCAT: Bem, pelo menos você conhece *esse* crité rio para
romance – o Felizes para sempre.
SENHOR. REDDIT: Eu sei que falamos sobre muitos livros
diferentes, mas tenho a sensaçã o de que romance é o seu gê nero
favorito. Estou certo?
MCAT: Com certeza. E tudo que posso ler ultimamente – bem, alé m
de reler Austen com você .
Era uma vez eu li uma variedade de icçã o, mas nos ú ltimos meses,
tem sido apenas romance. Depois de duelar com Jonathan Bah-
Impostor4 Frost o dia todo, preciso de idiotas para obter apenas sua
puniçã o e inais felizes. També m vendo muito romance na livraria.
Adoro fazer com que as pessoas desa iem esses estereó tipos nada
caridosos sobre o gê nero e tentem. Estava preparada para que o Sr.
Reddit exibisse alguns desses preconceitos també m.
Mas ele nã o fez isso.
Um sorriso aquece meu rosto enquanto leio sua resposta. Ontem à
noite, isso me fez iluminar como a á rvore de Natal da famı́lia depois que
papai jogou todas as luzes naquele idiota que ele pode. E esta noite, isso
me faz brilhar novamente.
SENHOR. REDDIT: Tudo bem, entã o CATwood. Me diga o que ler.
MCAT: Sé rio? Você vai ler um romance?
SENHOR. REDDIT: Eu vou. Por onde devo começar?
Percorro a lista de recomendaçõ es que dei a ele (posso ou nã o ter
me empolgado um pouco e listei meus favoritos em ordem, mas sou
uma bookstan – recomendar livros é minha alegria!). Quando chego ao
inal da nossa conversa, com o habitual ‘Durma bem, MCAT’ do Sr.
Reddit , mordo o lá bio e luto comigo mesma. Meus dedos pairam sobre
as teclas, doendo para digitar o que tenho pensado em escrever tantas
vezes nos ú ltimos meses, desde que minha mente começou a se
perguntar: e se?
E se minha amizade online com o Sr. Reddit se tornasse uma
amizade na vida real? E entã o, e se, um dia, se tornar algo mais? Essa
esperança – pela possibilidade de ter mais com ele – cresceu
lentamente em mim desde que terminei com Trey.
Sabendo como trabalho, nã o foi totalmente surpreendente, depois
de um ano conversando diariamente com o Sr. Reddit e crescendo tã o
perto, que algumas noites, quando a rara onda de desejo tomava conta
de mim, era o pensamento dele que conseguia me acalmar – o calor que
imaginei enchendo sua voz, a consideraçã o guiando cada pergunta e
curiosidade sobre minhas respostas.
Cada vez que isso acontece, sinto-me um pouco mais disposta a
perguntar a ele: Você acha que devemos nos encontrar?
Mas enquanto olho para a minha tela, minha coragem me falta,
especialmente à luz de seu silê ncio esta noite. E se ele só quiser ser meu
amigo? E se eu arruinasse essa conexã o boa, segura e reconfortante que
temos ao pedir para explorar nosso potencial para nos tornarmos mais?
Entã o, no inal, nã o digito o que quero. Nã o me atrevo a confessar o
que Marianne faz — aquela pobre româ ntica desesperada:
“Se eu pudesse ao menos conhecer seu coração, tudo se tornaria
fácil.”

3

Playlist: “You're A Mean One, Mr. Grinch” - Lindsey Sterling ,

Sabrina Carpenter

NO MEU CAMINHO para o trabalho, manifesto uma atitude positiva.


Hoje vai ser melhor. Mesmo que na noite anterior tivesse me girado e
remexido, preocupada com o Sr. Reddit e porque ele nã o tinha enviado
mensagem, entã o coloquei um audiolivro de um romance histó rico
como de costume para me acalmar até o sono começar, tive a
experiê ncia perturbadora de ler um livro cujo heró i foi um toque
mortal para Jonathan Frost.
Enquanto eu ouvia da perspectiva da heroı́na, minha imaginaçã o se
recusou a conjurar qualquer pessoa alé m dele – esse heró i idiota e sem
sorrisos que cheirava a loresta de inverno e soava como Jonathan
á spero e carrancudo e parecia um Jonathan largo e musculoso.
Pior ainda, enquanto ainda ouvia meu audiolivro de romance,
inalmente adormeci. Foi quando meus sonhos assumiram.
Pego em um limbo estranho de um romance da Regê ncia da
Inglaterra iltrado pelos meus fones de ouvido e pelo trabalho perverso
do meu subconsciente, eu era uma intelectual intrometida me
escondendo do salã o de baile destruı́do na biblioteca de sua famı́lia
com um centavo terrı́vel. Jonathan era o duque sé rio e melancó lico
cujas visõ es radicalmente favorá veis sobre a industrializaçã o
escandalizavam os outros nobres, embora sua riqueza agrı́cola
estivesse morrendo rapidamente, entã o ele entrou sorrateiramente na
mesma biblioteca em que eu estava me escondendo para escapar de
seus colegas aristocrá ticos intransigentes e encontrar uma dose
revigorante do melhor uı́sque de malte de meu pai.
Mas em vez disso, ele me encontrou. E perguntou o que eu estava
lendo. Que, olá , comigo, é assim que você pula na via expressa para a
amizade: fale comigo sobre livros. Uma coisa levou à outra. A
brincadeira foi brincalhona. A intelectual Gabby era mais brincalhona
do que irritante. O duque Jonathan era curioso em oposiçã o ao
rabugento. Em vez da nossa dinâ mica hostil na vida real, é ramos
fogosos.
Tiramos a gravata e o espartilho, as aná guas e a carcela, e entã o foi
seu corpo grande e forte pesando sobre o meu, sua boca severa
sussurrando coisas sujas em meu ouvido enquanto ele me fazia
contorcer e suspirar embaixo dele. Era tã o vı́vido, um fogo rugindo,
roupas suaves abandonadas sob minhas costas, enquanto ele me
enchia, me tocava, persuadindo-me habilmente ao prazer, como se ele
tivesse mapeado cada centı́metro de mim e soubesse exatamente como
me deixar selvagem…
Uma buzina toca, arrancando-me de meus pensamentos. Eu entrei
no meio de um trá fego que se aproxima, que tem uma luz verde.
— Olhe por onde anda! — Um motorista de tá xi grita.
Felizmente, sua voz e buzinas intercaladas sã o abafadas pelos
meus fones de ouvido com cancelamento de ruı́do. Sons altos como
aquele machucam meu cé rebro. Levanto minha mã o em um pedido de
desculpas e corro para o outro lado da rua.
— Desculpa!
Acelerando, corro pela calçada. Estou atrasada de novo porque
acordei tã o perturbada do meu sonho, tã o ligada que mal consegui
colocar minhas roupas direito. Entã o saı́ porta afora sem minha bolsa
antes de perceber que nã o tinha calçado as botas. Eu sou uma bagunça.
E estou tendo uma crise. Porque nã o é assim que a atraçã o
funciona para mim – desejo pessoas de quem me sinto pró xima,
conectada. Quem eu gosto. E nã o gosto de Jonathan.
Mas gostar é realmente o que você precisa? O diabo sussurra em
meu ombro. Ou é proximidade? Um vínculo? Você está ligada a ele, não
está?
Mais como uma armadilha. O anjo do meu outro lado me lembra.
Emaranhada. Enlaçada. Estas não são coisas boas.
O anjo está certo, mas o diabo també m nã o está errado. Jonathan e
eu estamos ligados. Sim, é um vı́nculo tortuoso, unido em nosso amor
pela livraria, mas dividido pela forma de administrá -la, personalidades
opostas que nã o se suportam, mas que de muitas maneiras se
conhecem de dentro para fora, mas isso nã o torna as coisas menos que
um vı́nculo. E, meu Deus, a quantidade absurda de tempo que passamos
juntos, só nó s dois na livraria, brigando e provocando um ao outro.
Quantas horas Jonathan disse que eram? Mais de duas mil?
Isso é muito. Demais. Está claramente me afetando, enganando
meu corpo para fantasiar sobre a ú ltima coisa que eu deveria querer de
algué m que nã o suporto.
Há uma razão para você estar fantasiando com ele, o diabo
sussurra. Você não quer descobrir isso?
O anjo atira afetadamente, balançando a cabeça. Ela costumava
fantasiar sobre o Sr. Reddit. É sobre quem ela deveria fantasiar…
— Argh! — Jogo minhas mã os e piso na calçada. Nã o tenho tempo
para esses debates anjo-demô nio. Nem tenho tempo de pegar um
chocolate quente de hortelã para mim. O que signi ica que minha rotina
está desligada, estou com fome e carente de açú car, e estou
terrivelmente carente das boas bebidas sazonais.
Assim que meu humor está realmente piorando, meus fones de
ouvido começam a tocar uma versã o jazz de "Sleigh Ride" cantada por
Ella Fitzgerald (é claro), e eu nã o posso deixar de sorrir um pouco, a
felicidade repentina que a mú sica traz lembrando como comecei essa
caminhada para o trabalho: comprometida em permanecer positiva.
Entã o, me animo enquanto termino minha caminhada até a loja. Hoje
vai ser melhor! O trabalho vai ser ó timo! A livraria está lindamente
decorada para o Natal. Tenho um mê s inteiro de atividades divertidas e
festivas para atrair multidõ es, vender livros e espalhar alegria. E
nenhum sonho sexual traumá tico com Jonathan Frost em calças justas
vai me derrubar.
Abrindo a porta da livraria, que está destrancada como sempre é
porque Jonathan está sempre lá primeiro, sinto uma onda de alegria
enquanto bebo no espaço.
Pisos e colunas de madeira polida e brilhante, estantes de livros
embutidas, todas as vigas lindas curvadas ao longo dos tetos
abobadados. Fileiras e mais ileiras coloridas de lombadas de livros
enchendo as prateleiras e empilhadas em mesas de madeira, um baú de
tesouro com jó ias de livros. A lareira a gá s dança com chamas alegres
sob ela, que decorei com ornamentos em tons de joias enormes, neve
falsa brilhante e ramos de pinheiro macios. Por todo o teto pendurado
meu papel machê cintilante caseiro e decoraçõ es cozidas em argila que
homenageiam as fé rias de inverno, redemoinhos de itas brancas,
douradas e prateadas en iadas entre eles e re letindo a luz da manhã
como o nascer do sol espelhado em um lago congelado.
A visã o diante de mim, o cheiro reconfortante de livros misturados
com sempre-vivas recé m-cortadas, envolve-me em um cobertor de
felicidade festiva.
E por isso que dó i ainda mais quando sou atingida por um golpe
duplo de reconhecimento e pavor. Nã o é Jonathan Frost e seu brilho
á rtico me cumprimentando, me lembrando que estou trê s minutos
atrasada. Sã o os Baileys, sorrindo calorosamente. Os donos. Que
raramente estã o aqui, e nunca na primeira hora da manhã .
— Bom dia, querida! — A Sra. Bailey diz do outro lado da loja.
O Sr. Bailey caminha em meu caminho com um sorriso suave e
acena para mim.
— Entre, Gabby.
Ele está usando uma gravata borboleta xadrez alegre e
suspensó rios, que combinam com a saia da Sra. Bailey. Eles sã o tã o
preciosos que formam um nó na garganta. Essas pessoas sã o
importantes para mim – sua loja e este trabalho sã o importantes para
mim. E algo está errado. Eu sei disso.
Contornando a grande mesa central de exibiçã o, a Sra. Bailey me
envolve em um abraço.
— Boas festas, querida! A loja está linda... — Ela se afasta, me
examinando enquanto tento sorrir de volta para ela. — Qual é o
problema?
— Isso é o que eu quero saber.
Seu sorriso vacila um pouco.
— Oh, Gabby, nã o se preocupe. E apenas um pequeno bate-papo de
negó cios. Tudo vai icar bem.
O Sr. Bailey esfrega a testa e murmura para si mesmo:
— Só uma pequena conversa de negó cios.
— Relaxe, George. Nã o confunda os suspensó rios. — A Sra. Bailey
dá um tapinha gentil no braço dele e se volta para mim. — Gabby, vá em
frente e deixe suas coisas lá , entã o vamos sentar ao redor da mesa na
sala dos fundos. Jonathan acabou de ligar e disse que estará aqui em um
minuto.
— Ele está esperando por você ? — Minha voz sai um guincho.
A Sra. Bailey se acomoda em uma cadeira em uma extremidade da
mesa e franze a testa para mim.
— Contei a Jonathan sobre a reuniã o da semana passada, quando
passei por aqui pouco antes de ele fechar. Ele disse que passaria a
informaçã o para você . Ele nã o passou?
Alguns outros chefes podem usar mé todos modernos de
comunicaçã o, como e-mail ou mensagem de texto, ou inferno, até
mesmo uma ligaçã o, mas os Baileys sã o tecnó fobos lagrantes. Eles nem
mesmo tê m telefones celulares. Aprendo coisas com eles pessoalmente
ou nã o as aprendo de jeito nenhum. Jonathan está ciente disso. Isso o
leva até a parede. Aparentemente, nã o tanto que ele nã o se importe de
usar isso em seu proveito, no entanto.
Uau. Eu sabia que ele era um idiota, mas isso é novo.
Embora uma pequena parte de mim esteja realmente aliviada por
nã o ter tido isso pairando sobre minha cabeça por uma semana, visto
que minha ansiedade prospera no solo de desconhecidos e eu teria
passado os ú ltimos sete dias causando uma ú lcera, solicitando
desemprego e reorganizando inutilmente as estantes de livros, ainda
estou extremamente chateada.
Porque Jonathan nã o sabe que me poupou de uma semana de
ansiedade.
Ele nã o sabe que, idealmente, eu teria descoberto, digamos, um dia
antes, me dado vinte e quatro horas para catastro izar e me preparar
para o pior. Ele nã o estava tentando me proteger do talento da minha
mente para a preocupaçã o obsessiva. Nã o, ele escondeu essa reuniã o de
mim para ter a vantagem. E nã o vou deixar isso acontecer. O que
signi ica que nã o estou dizendo aos Baileys que nã o, Jonathan não me
avisou desse encontro, quando equivaleria a confessar que estou
totalmente despreparada.
— Ohhhh. — Minto, desenrolando meu cachecol e tirando o
casaco. — Aquela reuniã o. Claro. Eu só acabei confundindo.
A Sra. Bailey parece acreditar.
— Compreensı́vel. Eu ico tã o transtornada nesta é poca do ano. Há
muita coisa acontecendo!
Sorrindo com força, olho para o reló gio. Jonathan está dez minutos
atrasado. Ele nunca se atrasa.
— Entã o... onde está Jonathan?
— Aqui.
Salto um pé no ar e aperto meu peito sobre o meu coraçã o batendo
forte. Tento manter meu olhar para baixo, mas nã o consigo impedir de
rastrear seu corpo. Minhas bochechas esquentam. Depois daquele
audiolivro de romance que virou sonho na noite passada, mal consigo
olhar para ele. Exceto que meio que nã o consigo parar de olhar para ele.
Seu cabelo escuro e ondulado está espalhado pelo vento. Seus
olhos verdes claros brilham como pinheiros congelados. Um respingo
de rosa aquece suas maçã s do rosto pontiagudas, picadas pelo ar frio, e
ele está segurando um porta-bebidas para viagem. Algué m tã o mau nã o
deveria ser tã o quente. Nã o posso acreditar que tive um sonho sexual
com ele. Eu quero limpar a memó ria do meu cé rebro.
— Gabriella.
Meus olhos se erguem e encontram os dele.
— O que?
Ele arqueia uma sobrancelha.
— Posso passar por aqui?
— Oh! Certo. — Penso em tropeçar nele como vingança pela
sabotagem da reuniã o, mas penso melhor em fazer isso na frente dos
Baileys. Em vez disso, dou um passo para trá s e me inclino contra o
balcã o para que ele possa entrar na cozinha da sala de descanso, minha
mente girando com possibilidades de como posso fazê -lo sofrer mais
tarde.
Jonathan passa por mim, o cheiro de hortelã e chocolate emanando
de uma das xı́caras que ele está segurando. Esse idiota. Ele me deu
minha bebida. Ele provavelmente colocou arsê nico nela.
Meu olhar o segue enquanto ele coloca as bebidas quentes na mesa
e troca saudaçõ es matinais com os Baileys. Enquanto a Sra. Bailey retira
cada xı́cara da sacola, Jonathan se vira e tira o casaco. O cheiro da
loresta de inverno de seu corpo me atinge, trazendo novas memó rias
do meu sonho distorcido na noite passada – mã os fortes agarrando
minha cintura, me virando, levantando meus quadris até que estou de
joelhos. Uma palma á spera deslizando pelas minhas costas, os dedos
enrolando em volta do meu cabelo, alisando-o do meu rosto; lá bios
descendo pela minha espinha, minha bunda, para baixo, depois para
baixo…
Eu aperto meus olhos fechados e agarro o balcã o, irmando-me
contra o calor que inunda meu corpo.
— Tudo bem, Gabriella? — A voz de Jonathan está mais á spera esta
manhã , como imagino que seja como ele acorda.
Nã o que eu tenha imaginado isso em grandes detalhes – como
aquele corpo dele se parece à luz do sol da manhã , lençó is brancos de
inverno amontoados ao redor de seus quadris. O formato de sua boca
severa se suavizou em um sorriso sonolento. Seu peito nu se expande
quando ele se estica com prazer e geme ao acordar.
Nã o. Nunca pensei nisso. De initivamente, nã o estou pensando
nisso agora que conveniente, sabotador, ilho da put…
— Gabriella.
Meus olhos se abrem e encontram os dele, uma nova onda de
luxú ria crescendo dentro de mim. Isso é tã o injusto. Aqui estou eu,
prestes a ter Uma Reuniã o de Negó cios Muito Sé ria com meus chefes e
meu inimigo com quem eu tive um sonho ardente e nã o resolvido (se é
que você sabe o que estou dizendo). Estou despreparada, nervosa e
com tesã o, e aqui está Jonathan com bebidas quentes para todos, tã o
legal como a porra de um pepino.
Eu deveria sentir repulsa, mas em vez disso, meus seios estã o
sensı́veis e há uma dor profunda e quente entre minhas pernas. Ele
deveria parecer um pedaço de carvã o mal-humorado, com aquela
expressã o severa, seu sué ter preto tinta e calças carvã o, mas em vez
disso Jonathan Frost parece sexo e fumaça e um cé u noturno sem
estrelas.
Eu o odeio por isso.
— O que você quer? — Assobio.
Ele inclina a cabeça, examinando meu rosto.
— Eu perguntei se você está bem.
Como se ele se importasse. E tudo parte de sua atuaçã o na frente
dos Baileys.
Inclino meu queixo e jogo meus ombros para trá s.
— Por que nã o estaria?
Seus olhos procuram os meus. Eu ico olhando de volta.
— Prontos para começar? — A Sra. Bailey liga.
Jonathan pisca, entã o se vira na direçã o dela.
— Absolutamente.
— Sim! — A resposta sai ina e comprimida. Limpo minha
garganta, pressionando a mã o fria em minha bochecha enquanto sigo
Jonathan para a mesa.
Antes que eu possa alcançar a cadeira à minha frente, a mã o de
Jonathan se fecha em torno dela e a puxa para fora. Claramente outra
parte de seu ato cavalheiresco para os Baileys. O encaro e transmito um
aviso telepá tico: eu vejo através de você.
Jonathan arqueia uma sobrancelha. O canto de sua boca se inclina
em diversã o irô nica enquanto ele retribui com indiferença. Claro que
sim.
Com um acesso de raiva, eu sento. Ele desliza minha cadeira para
frente. E entã o ele dá a volta na mesa, abaixando-se para a cadeira à
minha frente.
A Sra. Bailey desliza uma xı́cara em minha direçã o.
— Isso deveria colocar um sorriso em seu lindo rosto, minha
querida.
— Ah, ó timo. Obrigada. — Tiro a tampa e inspiro. Sou
profundamente sensı́vel ao cheiro e sei exatamente como cheira o meu
chocolate quente de hortelã perfeito – doses duplas de hortelã -pimenta,
dois por cento de leite, creme extra e cobertura de chocolate.
E isso.
Como Jonathan sabe exatamente como eu bebo? E por que nã o
sinto cheiro de veneno de rato? O cianeto tem cheiro?
Por um momento, tudo está quieto. O Sr. Bailey bebe um café com
leite descomplicado. A Sra. Bailey bebe o dela també m, embora sua
xı́cara cheire a canela e noz-moscada. Os dois me olham com
expectativa.
Certo. Eu recebi algo. Boas maneiras sã o necessá rias. Pior,
gratidã o.
Se nã o for o veneno da minha bebida, é o que estou prestes a fazer
que vai me matar, mas engulo meu orgulho, exibo um sorriso careta e
digo entre os dentes cerrados:
— Obrigada, Jonathan, pelo meu chocolate quente de hortelã .
Ele levanta a tampa de seu café preto, entã o encontra meu olhar,
arqueando uma sobrancelha enquanto toma um gole longo e lento. Sua
lı́ngua dispara enquanto ele lambe um grã o de café do lá bio inferior.
Minhas coxas se prendem embaixo da mesa.
— De nada, Gabriella.
Um zing elé trico percorre o ar, como se o universo estivesse tã o
preparado para uma troca civil entre nó s quanto para a fusã o nuclear. A
boca de Jonathan se inclina, um leve movimento no canto, como se ele
tivesse lido minha mente e achado este momento tã o ironicamente
divertido.
— Entã o. — Sra. Bailey envolve as mã os em torno de sua xı́cara. —
Obrigado por se reunirem. O que você s querem primeiro – as boas ou
má s notı́cias?
— As má s. — Jonathan diz a ela, como eu digo:
— Boas.
O Sr. Bailey esfrega o rosto e suspira.
— Tudo bem. — Murmuro, antes de tomar um longo gole do
chocolate quente de hortelã -pimenta perfeito para me consolar. Estou
desesperada demais por açú car para me preocupar se ele está prestes a
me matar. — Apenas abaixe o boom.
— Tire isso, querido. — A Sra. Bailey diz ao marido.
O Sr. Bailey olha para ela insatisfeito e diz:
— Como esperá vamos, a chegada de um Potter's Pages à
vizinhança há dois anos inegavelmente levou à diminuiçã o dos lucros.
Seu preço competitivo e estoque massivo eram ruins o su iciente, mas
sua loja online, especialmente e-books... tornou-se impossı́vel competir
com eles.
O olhar de Jonathan se ixa entre os Baileys com uma espé cie de
intensidade focada em laser da qual nã o tenho ideia do que fazer. O que
estou perdendo?
O silê ncio se estende entre nó s quatro, e aproveito o momento
para examinar Jonathan em busca de alguma pista sobre o que está
acontecendo. Mã os cruzadas sobre a mesa como um executivo de sala
de reuniõ es, costas retas, sué ter de cashmere preto agarrado aos
ombros largos e ao peito como se tivesse sido derramado sobre ele, ele
parece saı́do daqueles romances de fantasia de 500 pá ginas que eu
devoro, como o vilã o quem acaba por ser o heró i. Exceto que isso é
realidade – e aqui, o vilã o é o vilã o.
— Historicamente — Diz Jonathan, quebrando o silê ncio. —, a
Bailey's nã o tentou competir com a estraté gia de uma rede de livrarias.
Nó s nos concentramos em fornecer uma experiê ncia pessoal de
boutique com curadoria, porque temos um pú blico-alvo diferente e
base de clientes do Potter's Pages. Você está dizendo… — Ele olha na
minha direçã o, depois volta para eles. — Que estã o considerando
alterar essa abordagem?
— Estou aberta a isso. — Diz a Sra. Bailey com cuidado,
encontrando os olhos do marido. O Sr. Bailey concorda com a cabeça. —
O ponto principal é que precisamos de mais clientes e mais vendas para
compensar o que perdemos para a Potter's. Do contrá rio, teremos que
olhar atentamente para o futuro da livraria e se abriremos nossas
portas novamente apó s o ano novo.
Meu mundo tomba para o lado. Agarro minha xı́cara com tanta
força que espero que o chocolate quente suba até o teto.
— Vamos ter que ser criativos — Continua ela. — sobre como
ampliamos nosso alcance e precisamos bater o recorde de vendas este
mê s. E, é claro, faremos mais alguns cortes nas despesas.
Ser criativo? Essa é a minha especialidade. Minha mente zumbe
com possibilidades. Uma grande venda pouco antes de fecharmos,
mú sica ao vivo, artesanato natalino, doces, bebidas quentes. Pode icar
um pouco bagunçado, mas é para isso que serve o limpador multiuso.
Talvez um clube do livro atraı́sse alguns novos clientes? Nã o sou muito
boa em con iguraçõ es de grupo, mas se for apenas uma vez por mê s e
todos comprarem o livro de nó s, pode valer a pena.
Claro, bem quando minhas ideias estã o realmente ganhando força,
Jonathan as esmaga como um piano esmagador de nú meros caı́do do
cé u.
— Com todo respeito. — Diz ele, um sulco profundo em sua testa.
— Nã o há nenhuma despesa sobrando para cortar. No ano passado, eu
assegurei de que fô ssemos o mais esguios possı́vel, reduzi nossas
despesas gerais em todos os lugares que pude. Fora da gestã o, temos
apenas um funcioná rio de meio perı́odo - bem, tinhamos, até ele se
demitir, e agora é só ...
— Nó s. — Eu digo fracamente.
Meu coraçã o despenca. Quando se trata de cortar despesas, só falta
cortar... um de nó s. Meu pior pesadelo acabou de se tornar realidade.
A Sra. Bailey suspira e bebe seu café com leite temperado.
— Essas sã o as má s notı́cias. Durante uma é poca do ano já
estressante e exigente, estamos encarregando você s de ainda mais um
estresse para que o lugar possa permanecer aberto por muitos anos, e
que Potter´s Page que se danem.
— E... as boas notı́cias? — Pergunto fracamente.
— A boa notı́cia… — A Sra. Bailey sorri entre nó s. — Tenho plena
fé de que seus esforços serã o um sucesso.

4

Playlist: “Little Jack Frost, Get Lost” - Bing Crosby e Peggy

Lee

— BOM, ISSO FOI CRUEL — digo com um sorriso, acenando para os


Baileys.
Jonathan está ao meu lado, os braços cruzados sobre o peito,
enquanto observamos o tá xi deles entrar no trá fego de neve. Ele nã o diz
nada, mas vejo aquelas engrenagens girando em sua cabeça. Como se
ele tivesse percebido que estava o observando, seus olhos verdes claros
estalaram em minha direçã o. Ele me encara por um longo minuto, neve
caindo suavemente e o som de pneus derrapando na estrada
preenchendo o silê ncio entre nó s, estoico e frio como sempre.
Como ele pode estar tã o calmo agora? Oh, isso mesmo. Ele viu esta
reuniã o chegando. Ao contrá rio de mim, ele nã o teve o tapete
ocupacional puxado debaixo dele.
Finalmente livre para realizar minha vingança, começo com algo
que certamente o irritará . Aconteceu todas as outras vezes que iz isso.
Sorrindo para Jonathan, começo a cantarolar.
Little Jack Frost, get lost, get lost!
Seus olhos se estreitam. Sua mandı́bula aperta. Deus, é satisfató rio.
— Pena que você nã o tem o nome Jack. — Digo a ele, fazendo um
pouco de jazz square antes de repetir o refrã o. — Quero dizer, vamos.
Jack Frost? Consegue ser melhor do que isso?
Murmurando para si mesmo, ele escancarou a porta e me conduziu
até a soleira.
Nã o gosto de ser encurralada, mas nã o estou ansiosa para icar no
frio por mais tempo do que o necessá rio com apenas um vestido de
sué ter rosa na altura dos joelhos e sem jaqueta. Corro para dentro,
tremendo enquanto o calor da loja me envolve. Entã o me viro para
encarar Jonathan enquanto ele fecha a porta e a tranca, o lembrete
amargo de que estou presa aqui com ele em circunstâ ncias
pro issionais já tensas que só pioraram.
— Você sabe o que isso signi ica? — Pergunto a ele. — O que os
Baileys disseram?
Passando por mim, ele pega uma pilha de romances de Natal que
coloquei na mesa e os en ia debaixo do braço.
— Signi ica que esta livraria independente está à beira de um
colapso inanceiro apó s anos perdendo dinheiro por meio de mé todos
de negó cios desatualizados, um sistema de ventilaçã o deploravelmente
ine iciente, zero presença on-line e um desprezo lagrante por preços
competitivos.
— Bem, sim, mas nã o foi isso que eu quis dizer.
Ele para e se vira, olhos verdes de inverno pousando em mim.
— Entã o o que você quis dizer, Gabriella?
Seu tom a iado e condescendente abre a tampa da minha raiva
panela de pressã o. Furiosa, fecho a distâ ncia entre nó s e arranco os
romances de fé rias de suas mã os, voltando para a mesa principal.
— Como se você nã o soubesse o que eles estavam falando quando
falaram sobre corte de despesas. A menos que um milagre inanceiro
aconteça, um de nó s nã o conseguirá chegar ao ano novo.
Jonathan pega uma pilha do thriller paranormal de inverno que
acabou de sair e o joga na mesa de cinema com um baque, derrubando
meus romances de Natal.
— E claro que eles estã o dizendo isso. — Ele retruca. — Sei disso
desde que comecei, Gabriella. Tenho planejado isso desde o primeiro
dia.
Com raiva, eu empilho os romances novamente, colocando-os na
frente e empurrando seu thriller de inverno para trá s.
— Bom para você , Jonathan. Alguns de nó s, no entanto, temos
estado muito focados em nossas tarefas diá rias na livraria para perder
tempo calculando sabotagem pro issional.
— Ah, certo. — Diz ele friamente. — Claro. Eu sou o durã o e
malvado capitalista que veio e cruelmente tornou um negó cio e iciente,
enquanto você é a vı́tima inocente de minhas maquinaçõ es implacá veis,
que nunca desejou que eu fosse embora, cujo amor pelos livros e cujos
lindos sorrisos para clientes em decadê ncia é o que vai magicamente
manter as coisas à tona.
Minhas mã os se transformam em punhos.
— Eu vou admitir isso. — Ele diz, sua voz fria e aparentemente
suave. — Sou cerebral e estraté gico, Gabriella. Antecipei tudo o que foi
dito na reuniã o de hoje. Mas poupe-nos da besteira de que sou o ú nico
que tem uma agenda menos do que direta desde o dia em que fui
contratado.
— Diz o cara que escondeu essa reuniã o de mim!
Ele fecha os olhos e range os dentes. Ele sabe que está preso.
— Eu queria te dizer. Eu juro.
— Oh sim? — Cruzo meus braços sobre meu peito. — Quando?
— Ontem, mas… — Ele limpa a garganta. — Ontem me
desconcentrei e esqueci. Eu tinha toda a intençã o de dizer a você esta
manhã , no momento em que você chegasse aqui. Mas entã o os Baileys –
pela primeira vez e no pior momento da histó ria – chegaram cedo, e eu
me atrasei porque aquele maldito café que faz seu chique leite com
chocolate com hortelã ...
— Chocolate quente!
— A mesma coisa! Eles bagunçaram seu pedido, entã o pedi que
izessem de novo e, quando cheguei, era tarde demais. Pude ver quando
você me fuzilou com o olhar. Você já decidiu que eu te deixei no escuro
de propó sito.
— Você sabe há uma semana. — Atiro de volta. — Por que você
esperou até o ú ltimo minuto?
Ele esfrega o rosto.
— Garanto a você , Gabriella, se eu me explicasse, você nã o
acreditaria em mim.
Eu olho para ele.
— Você tinha tudo planejado, nã o é ?
— Como se você nã o fosse tã o culpada dessa mentalidade? — Ele
me encara com a mandı́bula cerrada. — Você acha que me entendeu
també m. E você nã o pode me suportar por isso.
— Eu... me ressinto de você . — Admito, odiando como minha voz
vacila.
Ele arqueia uma sobrancelha.
— Isso está muito claro.
— Você faz eu me sentir inadequada. — Digo a ele com o nó na
garganta. Pisco para afastar as lá grimas. — Quando eles contrataram
você , tudo que eu conseguia pensar era que você está aqui porque nã o
sou boa o su iciente.
Sua expressã o vacila. Ele abre a boca como se fosse dizer algo, mas
nã o é rá pido o su iciente. Estou indo bem.
— Admito que tenho, à s vezes, sido petulante sobre seu reinado
condescendente e solitá rio de terror de corte de orçamento, Sr. Frost,
mas passei o tempo o su iciente da minha vida sendo desprezada e
rejeitada, e nã o estou mais fazendo isso. Tenho todo o direito de me
defender.
Ele parece abatido agora, seus olhos disparando entre os meus. Ele
dá um passo mais perto. Eu dou um passo para trá s e bato em uma
mesa de livros, enviando uma pilha em cascata para o chã o.
— Gabriella…
— Eu amo esse lugar. Com todo o meu coraçã o. — Eu sussurro, o
fogo dentro de mim queimando mais forte. — E temos trê s semanas e
meia para salvá -lo. — Afastando-me da mesa, entro em seu espaço, até
que sou lembrada de que, embora eu seja alta, Jonathan é muito mais
alto. Nossos peitos se escovam. Nossos olhos se encontram. — Trê s
semanas e meia até o fechamento da loja neste ano. Pairando por um
milagre inanceiro, haverá cortes de despesas. Um de nó s terá que
deixar Bailey's.
Seus olhos procuram os meus por um momento carregado de
silê ncio.
— E simples assim? — Ele diz.
— E tã o sombrio. Você os ouviu. Você conhece os nú meros ainda
melhor do que eu.
— Eu conheço. — Jonathan me encara, feroz, sem piscar. — E eu
nã o vou desistir tã o facilmente. Nã o vou embora sem lutar por isso,
Gabriella.
Eu olho para ele.
— Eu antecipei isso. Entã o é assim que vai ser decidido. Quem
vender mais livros este mê s, é quem ica.
Ele ica em silê ncio por um longo e tenso momento. E quando ele
fala, sua voz é plana e fria.
— Essa é a ú nica maneira de você ver isso.
— Admito que a venda de livros brutos nã o é a medida mais
abrangente de competê ncia gerencial, mas vamos encarar os fatos, de
agora em diante, o vencedor estará aproveitando o que o outro trouxe
para o local. Sem mim, você teria uma livraria congelada em 1988.
Graças aos anos de minha in luê ncia, você tem um lindo espaço para
receber e vender aos seus clientes, repleto de toques pessoais e
convidativos; um layout acessı́vel e intuitivo por gê nero e subgê nero; e
um ano calendá rio inteiro de eventos já agendados e assinaturas de
livros. Graças a mim.
— E graças a mim — Diz ele. —, você tem um sistema de ventilaçã o
que nã o está derretendo sozinho as calotas polares, custando o PIB de
uma pequena naçã o em uma conta de serviços pú blicos e afastando os
clientes com sua incapacidade de regular a temperatura, uma expansã o
de estoque orientada por dados e estrategizada por clientes do
segmento-chave, oh, e é claro, aquele pequeno detalhe, um sistema de
pagamento e contabilidade que pertence ao sé culo XXI.
Eu fungo.
— Nã o era tã o ruim.
— O ar-condicionado queimava um fusı́vel duas vezes por semana,
os radiadores eram uma bomba-reló gio, nosso estoque nã o tinha base
em aná lises de consumo e aquele antigo á baco de bronze que você
chamava de ‘antiguidade’ era ine iciente e o culpado por incontá veis
erros de carga.
Suspiro.
— Gilda. Eu sinto falta dela.
— Gilda. — Ele olha para o teto, como se pedisse paciê ncia a Deus.
— Você estava inserindo os preços manualmente em uma caixa
registradora vitoriana.
— Uma caixa registradora vitoriana dourada. Gilda tinha
personalidade!
— Ela causou uma auditoria do IRS!5
Nó s olhamos um para o outro. Nossos rostos estã o perigosamente
pró ximos. Merda, ele cheira bem. Como sempre, ar de inverno e fumaça
de lenha. Eu sinto uma onda de calor embaraçosa manchar minhas
bochechas.
O olhar de Jonathan viaja pelo meu rosto – meu queixo
desa iadoramente erguido, meu rubor revelador. Sua mandı́bula aperta.
Sua testa franze. O silê ncio se estende, cru e tenso, entre nó s.
— Entã o? — Peço, desesperada para que isso acabe, para pô r
espaço entre nó s, porque estou lı́vida e també m indescritivelmente
excitada. Tudo que fantasiei na noite passada, tudo que estou sentindo
agora – seu calor, seu cheiro, a energia crua vibrando entre nó s, me faz
querer envolver minhas pernas em volta de sua cintura e arrastar sua
boca para a minha até que beijemos com ó dio e com força, desmaiamos
por falta de oxigê nio.
Fechei os olhos, cortando mentalmente o cordã o entre a fantasia
celestial do Jonathan e sua realidade infernal.
— Você está no meu espaço pessoal.
— Você começou. — Ele aponta.
Abro minha boca. Entã o fecho. Ele está certo, eu iz.
— Tudo bem. Bem, eu terminei com o tempo de espaço pessoal
agora.
Ele está a um pé de mim em um passo suave.
— Melhor?
— Muito. — Eu me afasto da mesa e tiro a poeira. — Agora, o que
você tem a dizer sobre meus termos, Sr. Frost?
Ele cruza os braços sobre o peito e me encara.
— Apenas vendas de livros?
— Apenas vendas de livros. — Con irmo.
Maldito seja ele e aquela sobrancelha arqueada condescendente.
— Você se lembra de que alguns dos melhores thrillers
psicoló gicos da memó ria recente foram lançados este ano ou estã o
prestes a ser lançados.
— Quatro palavras para você , Sr. Frost: livros infantis e romances
de Natal.
— Tecnicamente, sã o cinco…
Bato meu pé .
— Você sabe o que eu quero dizer! Agora já me responda, você
aceita esses termos ou nã o?
Um silê ncio tenso se estende entre nó s, perfurado apenas pelo
reló gio de parede marcando os minutos restantes neste miserá vel
carrossel de nossa inimizade pro issional.
Finalmente, ele diz:
— Eu os aceito.
— Excelente. — Com um sorriso insincero, passo por ele e volto à
minha exibiçã o meio destruı́da de romances de Natal.
— Com uma condiçã o.
Rangendo os dentes, o encaro por cima do ombro.
— Qual?
Jonathan se inclina contra uma das colunas de madeira polida que
se eleva até o teto abobadado da loja e me observa com os tornozelos
cruzados e as mã os nos bolsos.
— Se acabar que o futuro inanceiro da loja nã o é tã o terrı́vel,
a inal, e nó s dois podemos icar depois do ano novo, irmamos uma
tré gua.
Ele se afasta da coluna, perseguindo meu caminho até que ele pega
um dos meus romances histó ricos da Era da Regê ncia favoritos da
mesa. Seus dedos tamborilam na capa com tema de inverno, em
seguida, deslizam para abri-la para revelar a step-back6 – um casal mal
vestido cercado por neve, envolto em um aperto é pico.
Fico olhando para eles, o homem sem camisa olhando para a
mulher que ele segura com desejo desenfreado, seu braço musculoso
segurando sua cintura; a mulher, inclinada para frente, tã o dó cil, olhos
turvos, boca entreaberta. Eles sã o uma ode de quatro e um quarto por
quase sete polegadas à sensualidade.
— Uma tré gua? — Sussurro.
Jonathan acena com a cabeça, deixando a capa do livro fechar.
— Nó s co-gerenciamos... civilizadamente.
Bufo uma risada. Minha risada desaparece quando eu percebo que
ele parece mortalmente sé rio.
— Você acha que isso é honestamente possı́vel?
— Financeiramente? Nã o se as coisas continuarem como estã o,
mas ainda há tempo para que isso mude. Interpessoal? — Ele abre o
livro com os fã s, desta vez profundamente na histó ria. Eu envolvo
minha mã o em torno da dele e a fecho antes que ele estale a espinha. —
Isso ainda está para ser visto.
Ele olha para baixo, onde minha mã o agarra a dele, depois volta
para cima, um lampejo de algo que nã o consigo ler naqueles olhos
claros e astutos sob os cı́lios grossos e escuros.
— Achei que o tempo do espaço pessoal havia acabado. — Diz ele.
Arranco o livro de sua mã o.
— Tinha. Até que você estava prestes a dani icar a mercadoria.
— Eu ia comprar.
— O inferno que você ia. E um romance.
Ele arqueia uma sobrancelha.
— Ah, claro. Você sabe tudo sobre mim, incluindo todas as minhas
preferê ncias literá rias. Eu nã o leio romance. Eu nã o poderia.
Merda. Ele quer?
Eu olho para Jonathan quando ele se vira para a mesa e mais uma
vez desliza seus thrillers para a frente, odiando-o por me fazer duvidar
de mim mesma.
— Deixe-me adivinhar. — Digo a ele, estalando um quadril e
dando-lhe um olhar cé tico. — Sua ‘leitura de romance’ consiste em
Orgulho e Preconceito, e você acha que Jane Austen foi uma das
primeiras e mais in luentes romancistas.
Ele vacila por um segundo, quase deixando cair um livro ao
endireitar suas pilhas de suspense em pequenas torres.
— Eu sei que há mais no gê nero do que isso. — Ele murmura.
— Hm. — Olho para o romance histó rico que ele supostamente iria
comprar e que agora estou segurando. — Talvez você queira. Este, Sr.
Frost, é pelo menos um romance de romance adequado. Na verdade, é
meu favorito de todos os tempos.
Com uma falta de jeito incomum, Jonathan atrapalha a pilha de
thrillers e os joga no chã o. Seu olhar vira meu caminho, entã o para o
livro em minhas mã os.
— Esse é o seu favorito? — Ele diz, a voz baixa e irme, olhos claros
ixos em mim.
— Sim. — Digo, estendendo a palavra. — Por que você está sendo
estranho?
Ele pisca para longe, entã o olha para as estantes cheias de
romances histó ricos.
— Quais sã o alguns outros? Seus favoritos.
E um comando. Nã o é uma pergunta.
Nã o tenho ideia de porque ele está agindo assim ou porque estou
prestes a agradá -lo, mas a amante do romance em mim nã o consegue se
conter. Cruzo o espaço e caminho pelas estantes construı́das contendo
romances histó ricos, tocando tı́tulos como Vanna White na Roda da
Fortuna.
— Este. Este. Este. Este. — Deslizo meu dedo sensualmente ao
longo da prateleira. A deglutiçã o de Jonathan ecoa trê s metros atrá s de
mim. — Esse també m.
Olho por cima do ombro. A maneira como Jonathan está me
olhando é ... apavorante.
Eu sou a gazela e ele é o leã o. Ele está estranhamente parado, sem
piscar. E é assustadoramente uma lembrança da Fantasia de aristocrata
de Jonathan, que entrou, balançando o inferno fora de calças e botas de
Hessian, em seguida, fechou a porta da biblioteca atrá s de si com um
clique irrevogá vel de mudança de mundo.
Nada está a salvo dele? Ele deve dar os ombros e pisar em cada
canto da minha vida? Fico parada, congelada, irritantemente presa pela
intensidade de seu olhar, a maneira como ele está olhando para mim
como se tivesse me visto bem na medula dos meus ossos.
Eu me sinto nua.
— Você terminou de brincar comigo agora? — Sussurro.
Como se minhas palavras tivessem quebrado um feitiço, ele pisca e
entã o, como um grande gato espreitando pela grama, fecha a distâ ncia
entre nó s.
— Isso é o que você pensa que estou fazendo. Mexendo com você .
— Ele diz baixinho, os olhos procurando os meus, um novo e furioso
fogo em seu olhar. — Você poderia pensar menos de mim?
Meu queixo se levanta. Cada momento que ele estalou e
condescendeu, arrogantemente me corrigiu e me colocou no meu lugar,
lashes em minha memó ria.
— Por que diabos eu pensaria melhor?
Jonathan envolve sua mã o na minha enquanto eu seguro o
romance, me encarando.
— Você nã o está totalmente errada. — Ele admite. — Posso ser frio
e calculista, à s vezes rude e abrupto. Mas esta é a verdade, acredite você
ou nã o: eu me importo com os Baileys, esta livraria... e tudo que ela me
deu.
Jonathan arranca o livro da minha mã o, se vira e se afasta.
— Mesmo que — ouço-o murmurar para si mesmo — me faça
perder a cabeça.

5

Playlist: “Happy Holidaze” - Dana Williams

HOJE, DE FATO, acabou nã o sendo melhor. E nã o tenho muita


esperança para esta noite, també m. Depois de oito horas tensas
trabalhando ao lado de Jonathan, me esforçando para vender o má ximo
de livros possı́vel, volto para um apartamento vazio. Eli tem consultas
noturnas e June está com o turno da noite no hospital.
Tosto um pedaço de pã o, espalho a manteiga e inalo cada mordida
junto com a tigela de sopa de tomate que esquentei, o re luxo á cido que
se dane.
Depois disso, é o meu banho, penteado de camiseta e rotina de
pijama. Pã o de Mel felizmente acomodada no meu colo, eu veri ico meu
computador. Meu coraçã o parece um anjo de neve vertiginoso quando
vejo que há uma mensagem do Sr. Reddit:
SENHOR. REDDIT: Ei, MCAT. Desculpe, eu estava desaparecido na
noite passada. Tive um dia difı́cil no trabalho e decidi me refrescar com
alguns exercı́cios. Ficou mais tarde do que planejei, entã o voltei para
casa e caı́ no sono.
Faço um barulho simpá tico e digito:
MCAT: Sinto muito que o trabalho foi difı́cil. Mas nã o se preocupe em
nã o mandar mensagens – o trabalho també m foi difı́cil para mim, entã o
voltei para casa, assisti a um ilme de Natal e fui para a cama.
Onde você teve um elaborado sonho sexual com um aristocrático
Jonathan Frost, o demô nio sussurra em meu ombro. Um sonho sexual
muito longo e sinistro.
O anjo do meu outro lado desaprova.
SENHOR. REDDIT: Lamento ouvir isso.
Ele digita.
SENHOR. REDDIT: O trabalho ica mais estressante perto do Natal
nã o é ? Se bem me lembro, é uma é poca do ano agitada para você .
Minha barriga dobra. Ele lembrou.
MCAT: Isto é . Eu amo essa é poca do ano, entã o é divertida, mas
també m exaustiva. Uma vez que é dezembro, eu volto para casa à noite
e quase desmaio até fecharmos para as fé rias.
E depois que fecharmos para as fé rias deste ano, terei mais
vendido que Jonathan Frost e reivindicarei a livraria para mim
novamente. A vitó ria gloriosa será minha!
Solto uma gargalhada vil e giro em minha cadeira que faz Pã o de
Mel saltar em um miado descontente. Quando ouço os alto-falantes
tocarem com uma nova mensagem, paro minhas rotaçõ es e ico de
frente para a tela.
SENHOR. REDDIT: Nã o seja muito dura, certo? Eu quero você por
perto a longo prazo. Nã o posso falar merda sobre Willoughby sozinho.
Meu coraçã o mergulha de cisne de um banco de neve e pousa em
um travesseiro de alegria pulverulenta. Eu sorrio tanto que minhas
bochechas doem. E entã o impulsivamente digito algo horrı́vel pra
caralho, que grito assim que clico em enviar:
MCAT: Talvez um dia possamos nos encontrar e falar merda sobre
Willoughby pessoalmente.
— Nã o. NAO! — Estou prestes a clicar para cancelar o envio da
mensagem, mas o recibo de leitura é exibido. Oh Deus. Ele viu isso.
Grito novamente e deslizo da cadeira para o chã o, me debatendo
enquanto grito. — Por quê ? POR QUE eu acabei de fazer isso?
A culpa é deste dia horrı́vel. Primeiro o sonho perverso, depois
Jonathan me trazendo chocolate quente que estranhamente nã o estava
envenenado, as terrı́veis notı́cias de negó cios da livraria, nosso
confronto intenso depois que os Baileys foram embora. Meus ios estã o
cruzados. Eu inalmente desisti.
O computador toca novamente com uma nova mensagem.
Levantando-me do chã o, para ler o que ele escreveu:
SENHOR. REDDIT: Você realmente quer se encontrar
pessoalmente? Nã o está dizendo isso apenas por uma triste obrigaçã o
para com o cara que mandou mensagens para você todas as noites
desde que se conheceram online?
Boa pergunta, Sr. Reddit. Eu quero conhecê -lo? Sim. Mas també m
estou com medo de conhecê -lo. Porque entã o ele vai saber tudo de
mim. E ele poderia decidir que nã o é o su iciente ou que é demais.
Mas nunca saberei se nã o correr o risco, certo? O que vamos fazer,
conversar no Telegram pelos pró ximos sessenta anos e nunca mais sair
da zona do amigo?
Endireitando-me na minha cadeira de bola in lá vel, me puxo para
mais perto da mesa e respiro fundo para ter coragem. Minhas mã os
tremem enquanto digito.
MCAT: Eu quero conhecê -lo. E nã o me sinto obrigada. Você ?
Diz que ele está digitando. Eu mordo meu lá bio com tanta força
que sangra.
SENHOR. REDDIT: MCAT, nã o quero te assustar, mas eu queria te
conhecer há meses. Obrigado é a ú ltima palavra que usaria. Eu só nã o
queria parecer um idiota.
Eu pisco para a tela, atordoada. O Sr. Reddit,
What_The_Charles_Dickens, deseja me conhecer há meses.
Ele está ... a im de mim? Este encontro é como amigos? Parceiros
româ nticos em potencial? Amigos com potencial para romance?
Olho para a tela, repetindo as palavras, examinando-as. Eu nã o sei
o que dizer. E por isso que preciso de Eli e June. Eles costumavam me
provocar sobre isso na faculdade, quando é ramos novos amigos e
navegá vamos na cena do namoro, mas desde entã o descobriram que
sou uma verdadeira ignorante quando algué m está romanticamente
interessado em mim. Talvez seja porque a atraçã o nã o funciona assim
para mim ou talvez seja porque nã o percebo facilmente as intençõ es
das pessoas e as pistas sociais. Se algué m sorri calorosamente e fala
comigo, presumo que seja amigá vel e tenha algo sobre o qual acho que
vou gostar de conversar. E isso. June e Eli precisam me avisar quando
algué m está fazendo um movimento.
Eu daria qualquer coisa por sua visã o agora, mas nenhum deles
está aqui, e mesmo se estivessem, nã o tenho certeza se estaria pronta
para confessar o quanto estou investida no Sr. Reddit e em conhecê -lo
pessoalmente.
E em momentos como esse que gostaria de tê -lo conhecido ontem.
Meses antes. E estou prestes a propor que retiremos o Band Aid e nos
encontremos o mais rá pido possı́vel... mas entã o penso sobre o risco
que será um encontro. Pode ser ó timo. Pode ser desastroso. E se for um
desastre, serei esmagada.
Nã o posso arriscar isso agora. Nã o com o que está acontecendo no
trabalho. Preciso colocar toda minha energia em vendas fantá sticas,
garantindo meu emprego e salvando a livraria Bailey.
Com uma grande carranca deprimida em meu rosto, respondo:
MCAT: Entã o, por favor, acredite em mim. Realmente quero me
encontrar e gostaria que nos encontrá ssemos logo, mas acho melhor
esperar até as fé rias. Tudo bem?
SENHOR. REDDIT: Claro. E melhor para mim també m.
MCAT: Trabalho intenso para você també m?
SENHOR. REDDIT: E... complexo. E uma batalha difı́cil agora.
Trabalho para pessoas que considero o mundo todo, mas que resistem
profundamente a um plano que elaborei para modernizar totalmente
sua abordagem de vendas. Passei quase um ano construindo isso.
Tenho uma base ló gica só lida e os nú meros para sustentá -la. Isso vai
salvar seus negó cios. Mas eles estã o descon iados disso.
Estou um pouco surpresa por ele ser tã o direto sobre o trabalho, já
que geralmente nã o compartilhamos detalhes pessoais, mas nã o estou
reclamando. E... meio adorá vel ouvir mais sobre ele, aprender como ele
está navegando neste desa io pro issional.
MCAT: Tradicionalistas tecnofó bicos?
Me arrisco, sorrindo ao pensar nos Baileys.
SENHOR. REDDIT: Infelizmente. Eu sei por que eles querem que
as coisas continuem como estã o, o que eles tê m medo de perder se
abraçarem a minha ideia, mas eles vã o desistir no primeiro trimestre,
caso contrá rio. Eles nã o tê m chance sem isso.
Suspiro com tristeza, pensando na livraria e no aviso da Sra. Bailey
de que talvez nã o abramos as portas depois do Ano Novo.
MCAT: Você acha que eles vã o ouvir?
SENHOR. REDDIT: Espero que sim. Nã o só porque é um negó cio
só lido, mas porque me preocupo com as pessoas de lá e com o que elas
acreditam. Eles sã o muito diferentes de mim, todos coraçã o e nostalgia
por fazerem parte do bairro. Quando comecei a trabalhar nesse plano,
vi isso como um desa io de negó cios, um quebra-cabeça a ser resolvido.
Mas em algum lugar ao longo do caminho, isso mudou – eu queria lutar
para salvar o lugar para eles, porque eram importantes para mim. E
entã o percebi que comecei a lutar para salvá -lo para mim, porque era
importante para mim també m.
Meu coraçã o aperta.
MCAT: Parece que você realmente os ama – onde você trabalha e
com quem trabalha.
Sua resposta é imediata.
SENHOR. REDDIT: Você vê dessa maneira? Como amor?
MCAT: Sim. Só porque você os ama de forma diferente do que eles
amam, isso nã o signi ica que seja menos amoroso. Minha mã e diz que
existem inú meros tipos de amor, e amor o su iciente para todos. Esse
amor é um recurso in inito cujas expressõ es sã o igualmente
inumerá veis.
Ele nã o responde por um minuto.
SENHOR. REDDIT: Muitas pessoas reconheceriam que eu atuo
com amor.
MCAT: Ah sim, sua profunda ligaçã o com Fitzwilliam Darcy.
SENHOR. REDDIT: Hahaha. Exceto sem a “camisa molhada depois
de mergulhar no lago” para me redimir.
MCAT: De qualquer maneira, isso é apenas no ilme! Darcy é mais
do que adorá vel no livro, pelo menos no inal, e esse é o ponto de um
bom arco de personagem – ele cresce. Ele aprende a admitir seus erros,
assim como Lizzie. Duas pessoas, que nã o poderiam ter se odiado mais
no inı́cio enquanto lutavam contra o desejo inconveniente, acabam
escolhendo a humildade e o perdã o.
SENHOR. REDDIT: Muito bem dito. E como se você amasse Austen
ou algo assim, MCAT.
Eu sorrio, autoconsciê ncia aquecendo minhas bochechas.
MCAT: Quero dizer, ela é a voz quintessencial do romance.
SENHOR. REDDIT: Será que algum dia vou viver assim?!
MCAT: Eu só estou brincando com você . Provocaçã o impiedosa se
tornou um re lexo para mim. Uma habilidade que desenvolvi no meu
trabalho.
SENHOR. REDDIT: Parece um ambiente altamente pro issional.
Como sã o seus colegas de trabalho?
MCAT: Eu tenho somente um. E ele é tã o ruim quanto eu.
SENHOR. REDDIT: Como assim?
Hesito, porque geralmente nos mantemos longe de detalhes
pessoais, mas ele se abriu sobre seu trabalho, e essa tensã o com
Jonathan está dolorosamente reprimida dentro de mim. Mesmo se eu
torcer a rolha um pouco, liberar um pouquinho de pressã o, acho que
vou me sentir melhor.
MCAT: Nã o somos amigá veis o resto do ano, mas dezembro é
nosso pior mê s. Ele nã o aguenta os feriados. Eu adoro eles. Leva nosso
antagonismo a um nı́vel totalmente novo.
Nã o há resposta por um minuto. Entã o ele inalmente escreve:
SENHOR. REDDIT: Será que arruinei minhas chances se admitir
que també m nã o sou muito festivo?
Expiro lentamente, resistindo à minha primeira decepçã o com os
devaneios aos quais eu me entreguei – Sr. Reddit e eu olhando as
vitrines, admirando o show Winter Wonderland no conservató rio
enquanto a neve cai ao nosso redor, patinando no rinque do centro de
mã os dadas – se dissolve. Mas ele tem todo o direito de nã o ser festivo.
Como Eli disse, para algumas pessoas, os feriados simplesmente nã o
parecem comemorativos, e isso é vá lido.
Ele disse isso para que você pensasse em mostrar alguma compaixão
a Jonathan, o anjo em meu ombro me lembra. Como está indo para você?
O diabo do meu outro lado alcança a alça extensı́vel de seu forcado
enquanto as asas do anjo saltam desta vez, preparadas para um ataque
e prontas para voar.
Eu arruinei minhas chances? Medito sobre essas palavras. Eles
querem dizer o que eu acho que eles signi icam?
Eu me forço a ser corajosa e digitar.
MCAT: Claro que nã o. Poré m, de que tipo de “chances” você está
falando?
Há uma pausa por um momento, entã o ele está digitando.
SENHOR. REDDIT: Quero ser seu amigo, MCAT, nã o apenas online,
mas pessoalmente – nem é preciso dizer. E quando falo com você , tudo
que consigo pensar é que també m quero muito mais, mas tentei me
impedir de ir por aı́. Existem centenas de coisas que você pode nã o
gostar em mim na vida real. Eu nã o queria ter muitas esperanças. Eu
ainda estou com medo.
MCAT: També m tenho pensado assim.
Admito, aliviada por ele se sentir como eu.
MCAT: Preocupada em você nã o gostar de mim depois de ver como
o meu verdadeiro eu pode ser diferente da versã o online.
O bate-papo está silencioso, sem alertas de digitaçã o, sem sinos
alegres. Ele está pensando. Nó s dois estamos.
SENHOR. REDDIT: Entã o... isso pode soar extremo, talvez um
pouco á spero, mas me escute - e se pararmos de conversar até nos
encontrarmos? Dar a nó s mesmos algum tempo para rede inir nossas
expectativas, para separar as pessoas que estivemos por trá s dessas
telas das pessoas que encontraremos na vida real?
Meu estô mago embrulha. Penso em como vou sentir falta de falar
com ele, em como minhas noites serã o vazias. Mas, quando pondero
sobre isso, o que ele diz faz muito sentido. Se nos afastarmos um do
outro, será um novo começo. A chance de nos conhecermos com uma
tela em branco. E posso usar esse tempo para me concentrar
exclusivamente no trabalho e em chutar a bunda de Jonathan Frost nas
vendas. Por mais que isso me irrite, acho que o Sr. Reddit está no
caminho certo.
MCAT: Eu acho isso inteligente. Vai ser estranho nã o falar.
Respondo, puxando Pã o de Mel com força em meus braços para me
consolar, eu ganho seu miado sonolento e meio acordado.
SENHOR. REDDIT: Vai. Eu vou sentir falta disso.
MCAT: Eu també m. Mas vai valer a pena no inal. Como o desgosto
de Marianne.
SENHOR. REDDIT: SPOILERS, CATWOOD!
Bufo uma risada, feliz por um motivo para sorrir ao invé s de me
sentir triste.
Outra mensagem dele aparece em um carrilhã o.
SENHOR. REDDIT: Enviarei uma mensagem em breve com
algumas ideias sobre onde e quando nos encontrar, e você pode me
dizer o que parece bom. Isso funciona?
MCAT: Isso é perfeito.
SENHOR. REDDIT: Bem. Cuide-se, MCAT. E durma bem.
Alerta de spoiler: nã o durmo bem.

6

Playlist: “Winter Wonderland” - She & Him

ME SINTO COMO uma morta-viva. Quase nã o durmo há uma semana.
Porque todas as noites, tenho medo de pegar um romance – em á udio
ou qualquer outro – para ler para mim mesma até dormir e arriscar
outro sonho eró tico de aristocrata estrelado por Jonathan Frost. E
entã o me deito na cama, olhando para o teto por horas, porque quando
eu desvio da minha rotina de dormir, meu sono é uma merda.
Muito ruim. Nã o posso ceder. Nada de romances à noite, nada de
duques lascivos e fantasias atrevidas estrelando Jonathan Frost. Nã o só
porque nã o quero fantasiar sobre Jonathan Frost, mas porque també m
nã o é inteligente, quando estou fazendo tudo que posso para derrubar
aquele idiota, bem como contando os dias até encontrar o Sr. Reddit,
homem que costumava ser a estrela dos meus sonhos, até que Jonathan
cara de merda Frost abriu caminho como um amante obstinado,
decadentemente sexual e obcecado por cunilı́ngua que...
Pare com isso, cérebro! Pare!
Estou perdendo. Estou com privaçã o de sono e sofrendo, sentindo
falta do Sr. Reddit e furiosa com o Sr. Frost. Passei a primeira semana de
nossa barganha estourando minha bunda no trabalho enquanto estava
exagerando na fumaça, e nem tenho mais vendas para mostrar por isso.
Jonathan estava certo, aquele thriller voou das prateleiras. E nã o
apenas esse tı́tulo – ele tem vendido todos os tipos de slashers como
um pã o quente. Tanto para a alegria do feriado. Quem compra
romances violentos que retratam os piores impulsos humanos na é poca
do ano dedicada à paz na terra e à boa vontade para com todos?
Nã o consigo pensar nisso e ico com muita raiva.
Tenho que me concentrar no positivo. Sim, estou atrasada no sono
e nas vendas, e nã o, nã o vi uma gritaria dessas na semana passada, mas
esse sofrimento nã o vai durar para sempre. Uma semana exaustiva para
baixo, apenas mais duas para terminar. E hoje eu tenho Eli, que vai me
colocar de volta nos trilhos com minhas vendas.
— Eu já disse que você é um salva-vidas, Elijah?
— Uma vez ou vinte. — Diz ele, abrindo a porta da cafeteria com o
ombro e segurando-a para mim. Nó s estremecemos quando saı́mos,
segurando nossas xı́caras quentes para viagem contra o ar frio lá fora.
— E estou inclinado a concordar com você , considerando que já entrei e
li os livros do Hanukkah há apenas algumas semanas. Falando nisso,
você nã o teve muitos detalhes sobre o tempo da histó ria hoje. Qual é o
plano?
Eu bebo meu chocolate quente e evito seus olhos.
— Oh, um pouco disso. Um pouco daquilo…
Eli diminui a velocidade até parar na calçada.
— Gabriella So ia Di Natale, o que você fez?
— Eu poderia ter anunciado que nosso leitor convidado é um
terapeuta infantil local muito querido, e que seu livro, Color My Feelings,
foi um tı́tulo em destaque hoje na livraria, e que talvez, possivelmente,
ele assinaria có pias compradas, e biscoitos de açú car estã o envolvidos –
nã o se preocupe, eu tenho lenços umedecidos, mas é por isso que iz
você trazer uma muda de roupa, só para garantir – desculpe, sei que
sou a pior amiga de todos. — Suspiro por ar depois de vomitar isso em
uma longa expiraçã o encharcada de culpa.
Eli me encara.
— Você está me colocando nã o apenas crianças açucaradas, mas
també m pais que pensam que sou uma consulta terapê utica ambulante
gratuita no meu dia de folga.
— Eu prometo que Jonathan vai chutar qualquer um que seja um
idiota. Depois que eu os izer pedir desculpas e comprar trê s có pias do
seu livro. Tolerâ ncia zero para idiotice.
Eli me encara.
Eu coloco meu lá bio inferior para fora e olho para ele grandes e
tristes olhos de cachorrinho.
— Me desculpe, ok? Estou desesperada.
Suspirando, ele engancha o braço em mim e retoma a nossa
caminhada pela calçada.
— Eu te perdoo, mas apenas se você retribuir o favor.
— Qualquer coisa. — Digo a ele, tolamente.
Ele sorri para mim, piscando os longos cı́lios ruivos,
— Venha comigo para o jogo de hó quei do Luke esta noite.
— Esta noite? — Eu lamento. — Vai ser tã o tarde. E tã o frio.
— Você ama o frio.
— Eu amo a neve. — O corrijo.
Eli levanta uma sobrancelha.
— Você esqueceu a parte em que me vendeu para aumentar suas
vendas e prometeu compensar?
— Uh...Talvez?
— Gabby. Preciso de apoio moral. Luke está tã o chateado que eu
nunca consigo ir a nenhum de seus jogos, mas estou secretamente
aliviado pelo meu trabalho que atrapalha, porque nã o sei nada sobre
hó quei. Preciso que você me ensine o bá sico para que eu nã o faça papel
de idiota.
— El, ele nã o espera que você faça uma aná lise pó s-jogo.
— Eu sei, mas quero que ele sinta que pode falar comigo sobre isso
e vou entender por que foi um bom jogo ou nã o, por que ele jogou bem
ou lutou. Eu quero entender isso.
Balanço minhas sobrancelhas quando paramos do lado de fora da
livraria.
— Uau. Isso é sé rio. Elijah Goldberg quer aprender um esporte para
o seu namorado.
— Exatamente. — Diz ele, abrindo a porta e, em seguida,
empurrando-me suavemente para alé m dela. — Entã o venha comigo
esta noite e você está perdoada por tudo que estou prestes a suportar.
Eu vou dirigir. Você será a DJ de uma playlist de Natal doentia para o
passeio. Vou comprar chocolate quente com marshmallows extras. Você
vai me explicar o jogo. E um plano.
— Se eu conseguir icar acordada durante o jogo. — Resmungo.
— Como se isso importasse. — Diz ele. — Você poderia explicar
isso dormindo.
— Tente ter um pai que está no Hockey Hall of Fame e veja se sai
ileso. Murmuro as estatı́sticas da Stanley Cup quando estou no REM7.
Você entende como isso é perturbador?
— Uau. — Eli envolve sua mã o em volta do meu braço, nos fazendo
parar. — E ele?
Eu olho para os fundos da loja onde Jonathan está , de costas e
reabastecendo um novo lote de misté rios que ele vendeu ontem. Exceto
que, desta vez, ele os está colocando nas prateleiras bem na altura dos
olhos.
— Aquele ilho da puta. — Assobio, avançando em direçã o a ele e
arrastando Eli comigo. — Ele mudou meu romance de pequena cidade
no Alasca!
— Entã o é ele. — Sussurra Eli. — Puta merda, Gabby.
— Cale-se. Nem diga isso.
— Ele é tã o gostoso.
Lanço um olhar mortal para Eli.
— O que Luke diria?
— Luke diria que eu tenho olhos. Eu disse que ele é gostoso, nã o
que eu queira transar com ele.
— Otimo. Porque eu estarei batendo – com a cabeça dele em uma
parede. — Murmuro.
Ao nos ouvir, Jonathan olha por cima do ombro, os olhos se
estreitando para Eli antes de voltarem em minha direçã o.
— Senhorita Di Natale.
— Você mudou meus romances.
Ele arqueia uma sobrancelha escura.
— Está bem. Vou me apresentar. — Estendendo a mã o em direçã o
a Eli, e diz: — Jonathan Frost.
— Elijah Goldberg. — Eli sorri para Jonathan, com um brilho
de initivo nos olhos. Eu piso em seu dedo do pé , fazendo-o estremecer.
— Droga, Gabby.
— Ah, entã o ela é angelical com todo mundo. – Diz Jonathan.
Eli ri. Faço uma carranca. Jonathan sorri. Se eu tivesse poderes
má gicos, enviaria o candelabro coberto de guirlandas sobre ele.
— Entã o, Gabriella. — Jonathan diz. — Eu nã o sabia que esse era o
dia de trazer seu amigo para o trabalho.
— Nã o é . E o dia “traga seu companheiro de quarto, o terapeuta-
pediá trico-e-autor-infantil-publicado-para-uma-histó ria-e-maratona-
de-autografos de livros” — Digo a ele com um sorriso largo e triunfante.
— Colega de quarto. — Jonathan repete. Sua mandı́bula faz aquele
tique-taque agravado. Ele está controlando os misté rios que segura com
as duas mã os.
Eli envolve um braço em volta da minha cintura e sorri para mim.
— Nó s també m somos melhores amigos. Já que ela era uma
humilde caloura que passou pela minha bela bunda sê nior.
— Nã o iz isso! Falar que nã o consegui encontrar a biblioteca não
era uma frase de efeito!
Eli sorri.
— Eu gosto mais da minha versã o. — Ele se volta para Jonathan. —
Mostrei a ela onde icava a biblioteca, nos demos bem e, desde seu
segundo ano, moramos juntos.
Jonathan pisca.
— Moram juntos. Você . Ela.
— Com June, també m — Eli diz alegremente. —, que estava dois
anos abaixo de mim, um acima de Gabby. June e eu tivemos uma pré -
recreaçã o juntos, entã o June se deu bem com Gabby quando eu as
apresentei enquanto estudá vamos na biblioteca. Eu sou a cola que fez
de nó s trê s companheiros de quarto, quando elas ainda estavam na
graduaçã o e eu iquei por perto para fazer o meu mestrado.
Algo muda na expressã o de Jonathan.
— Ah. Eu vejo.
Eli inclina a cabeça.
— Isso provavelmente parece estranho, mas... você parece familiar.
Jonathan o encara por um minuto.
— Sim, pensando bem, você també m parece.
— Sem ilhos, certo?
— Deus, nã o. — Diz Jonathan. — Ainda nã o, pelo menos.
Tento e falho completamente em imaginar Jonathan possuindo um
ú nico osso afetuoso em seu corpo.
— Você sabe que as crianças precisam de coisas como calor,
sorrisos e conversas que vã o alé m do sarcasmo seco, certo Frost?
Jonathan me lança um olhar fulminante.
— Talvez a gente vá para a mesma academia? — Eli diz
calorosamente, tentando acalmar as coisas.
Jonathan olha em sua direçã o.
— Sim, talvez seja isso. Eu sou um membro do local em...
Deixando aqueles dois com sua pequena sessã o de ligaçã o
irritante, eu me liberto das garras de Eli e sigo para a sala de descanso
para pendurar meu casaco. A conversa continua sem mim, e quando eu
volto, eles parecem como carne e unha, desembrulhando os pratos de
biscoitos do feriado que eu encomendei para a hora da histó ria, já que
estava exausta demais para assar, ligando-se ao efeito prejudicial do
açú car sobre o corpo.
Limpo minha garganta ruidosamente. Seus olhos encontram os
meus.
Batendo no meu reló gio de pulso, levanto uma sobrancelha, uma
perfeita imitaçã o de Jonathan. Sua boca se curva no canto antes de
cobri-la com a mã o e limpar a garganta.
— E como se olhar no espelho. — Diz ele.
Coloco minha lı́ngua para fora.
— Agora que eu nã o faço.
Ignorando Jonathan, eu me viro para meu ex-melhor amigo que se
tornou um traidor e digo a ele:
— Trinta minutos para a hora do show, Elijah.
Meu telefone começa a zumbir no bolso do vestido enquanto Eli e
Jonathan voltam a conversar. Na verdade, eu percebi tardiamente que
está zumbindo há um tempo. Extraindo-o, sinto meus ombros se
elevarem em direçã o ao pescoço. Outra mensagem de um nú mero que
nã o reconheço. Mas eu sei quem é .
DESCONHECIDO: Você recebeu as lores?
DESCONHECIDO: Eu quero conversar.
DESCONHECIDO: Por favor, Gabby. Já se passaram seis meses. Você
não pode me dar outra chance?
— O que é ? — Eli diz, me observando mexer no meu telefone.
Balanço minha cabeça, bloqueando o nú mero, em seguida,
deslizando meu telefone de volta no meu vestido.
— Nada. Agora você me dá licença. Preciso de uma palavra com o
Sr. Frost.
Passando por Jonathan, eu levanto um dedo em direçã o à sala dos
fundos. Jonathan resmunga algo baixinho e depois me segue.
Quando chego ao arco que leva à cozinha, paro e giro, de frente
para ele. Seus olhos saltam da minha bunda. Ele tem a graça de parecer
um pouco envergonhado, e há um rubor escurecendo suas bochechas.
— Você acabou? — Eu pergunto.
Seus olhos se desviam.
— Eu nã o quis fazer… — Ele limpa a garganta, puxando o
colarinho. — Você tem enfeites em sua...
— Ah. — Sinto-me atrá s de mim e lá está , uma bela tira de enfeites
de prata agarrada à minha bunda. Eu o arranco e limpo minha garganta
també m. — Certo. Bem. De volta aos negó cios. Eu preciso de sua ajuda
com a hora da histó ria e a assinatura do livro depois.
Ele arqueia uma sobrancelha e inclina um ombro contra a arcada,
os braços sobre o peito.
— Minha ajuda para um evento que vai aumentar
desproporcionalmente suas vendas. — Ele estala a lı́ngua. — Sem
dados, Di Natale.
— Jonathan. — Eu me aproximo, baixando minha voz. — Por favor.
Preciso de algué m para manter a má ia sob controle. Os pais podem ser
intitulados idiotas.
Ele se inclina e diz:
— Eu sei. E por isso que nã o me preocupo com eles.
Um rosnado rola para fora de mim.
— Eu prometi a Eli que você faria com que qualquer um que
estivesse fora da linha levasse o chute.
— E isso é minha culpa? — Jonathan olha para baixo e tira o
telefone do bolso enquanto ele faz um ding repetido.
— Jonathan, isso nã o pode esperar?
— Você é uma hipó crita, Gabriella, já que acabou de checar o
telefone há um minuto. — Ele franze a testa para a tela, enxugando a
testa com a mã o livre. Percebo que seu rosto está ú mido, como se ele
estivesse suando. Sua mã o está tremendo um pouco.
Por apenas um momento, minha empatia vence meu
aborrecimento.
— Você está bem?
— Tudo bem. — Ele responde, guardando o telefone no bolso e
passando por mim em direçã o ao cabide.
Eu ico boquiaberta enquanto giro e sigo seu caminho.
— Está vamos conversando.
— A conversa acabou. — Ele desenganchou sua bolsa, que
segurava o laptop que ele sempre usava quando os clientes nã o estavam
por perto. Ele tem uma tela de proteçã o, entã o nã o consigo ver nada.
Acredite em mim, eu tentei. Com a bolsa no ombro, ele entra na sala de
contabilidade e fecha a porta atrá s de si com um baque.
Atordoada, cerro os dentes e olho para o teto. Ironia das ironias,
está vamos sob o azevinho.
— Gabriella! — Eli me chama.
— O que? — Volto rapidamente para a sala principal e vejo Eli, com
um biscoito em forma de loco de neve na mã o, sentado na poltrona que
posicionei ao lado da lareira a gá s, uma pilha gigante de Color Your
Feelings ao lado dele.
— Doce Senhor. — Diz ele, em partes iguais de horror e reverê ncia
ao ver quantas có pias aguardam sua assinatura. — Isso é muito.
Sorrindo, ofereço a ele um punhado de Sharpies pretos inos.
— Prepare-se para autografar, Sr. Goldberg.
Ele olha pela vitrine da loja para a ila crescente do lado de fora e
murmura:
— Espero que eles tenham tripla prorrogaçã o esta noite.
— Conhecendo a minha sorte, Eli, eles vã o.

Apesar das minhas reclamaçõ es sobre este jogo de hó quei tarde da
noite, nã o posso deixar de sorrir quando entramos e temos nosso
primeiro vislumbre do rinque. Eu amo a atmosfera – o arranhar e
espatifar das lâ minas no gelo, o ar frio e seco enchendo meus pulmõ es.
Uma onda de felicidade toma conta de mim enquanto eu levanto
meu telefone, tiro uma foto e, em seguida, envio para meus pais.
EU: Por que todo rinque de hó quei tem a mesma sensaçã o má gica?
Meu telefone vibra imediatamente.
MÃE: A sensaçã o de congelar o traseiro enquanto respira o cheiro
de corpos suados e roupas de hó quei maduras?
PAI: Você quer dizer a sensaçã o de estar agradavelmente gelado
enquanto admira belos exemplares de gló rias atlé ticas transpirantes?
PAI: Sua mã e apenas bufou com isso. Estou ofendido.
MÃE: Depois te compenso.
Eu estremeço. Eles estã o 100% sentados em extremidades opostas
do sofá , brincando com os pé s enquanto fazem isso.
EU: Pare de lertar em texto no grupo da famı́lia. E nojento.
MÃE: Acabou, prometo.
PAI: Quem está jogando, garota?
EU: Namorado do Eli. Ele está na liga competitiva local.
PAI: Esses caras sã o muito habilidosos. Deve ser divertido de
assistir. O que te fez querer ir?
EU: Eli. Ele me fez um trabalho só lido, entã o estou retribuindo o
favor com um tutorial de hó quei.
Eli me pega pelo cotovelo quando começamos a subir as
arquibancadas, enquanto me concentro em encerrar com meus pais.
Assim que ele nos guia para nossos assentos, coloco meu telefone no
bolso.
— Desculpe, fui pega no bate-papo da famı́lia.
— Está tudo bem. — Sentado ao meu lado, ele vasculha o ringue e
sorri quando avista Luke. Seu sorriso se torna uma careta quando Luke
veri ica um cara no quadro. — Eu nã o posso acreditar que seu pai fez
isso. Ele é o maior ursinho de pelú cia e o hó quei é tã o...
— Um jogo brutal? — Eu encolho os ombros.
— Sim, é .
Meu pai, Nicholas Sokolov, é um dos maiores atacantes que já
jogou. No ringue, ele sempre foi uma fome pura e ardente; mas fora, ele
é e sempre foi a pessoa mais gentil que eu conheço. Quando comecei a
vê -lo jogar, foi um choque ver aquele homem instá vel no gelo.
O olhar de Eli rastreia Luke enquanto ele diz:
— Acho que nã o deveria estar surpreso. Luke é um ursinho de
pelú cia també m, e olhe para ele. — Luke joga seu ombro no ataque do
outro time e ganha o disco, entã o patina em direçã o ao banco.
— Espere, por que Luke já está indo embora? — Eli pergunta.
— A mudança dele acabou.
— Ele icou no gelo por sessenta segundos!
— Menos do que isso. Mais para quarenta e cinco. Nã o parece
muito tempo, mas é difı́cil. O hó quei é um esporte anaeró bico – você vai
o mais forte que puder o tempo todo no gelo, troque, recupere o fô lego,
hidrate-se e depois volte para lá .
— Entã o ele nã o está sendo penalizado. — Diz Eli.
— Nã o. Ele está fazendo exatamente o que deve fazer.
Eli sorri.
— Otimo.
Respondendo a mais perguntas de Eli, explico a cereja do bolo e as
desvantagens e porque alguns acertos sã o considerados justos e outros
nã o. Conforme os jogadores mudam novamente, eu noto o cara mais
alto do grupo balançar suas longas pernas sobre as tá buas e, em
seguida, atirar no gelo como se tivesse nascido para estar lá . Um toque
de consciê ncia dispara pela minha espinha. Arrepios dançam na minha
pele.
Há algo de familiar nele.
— Esse cara é rá pido. — Diz Eli. — Nú mero 12.
Aceno atordoada, tentando ignorar meu coraçã o batendo forte
enquanto puxo meus fones de ouvido. Posso sentir que um gol se
aproxima, e logo a buzina que o anú ncio vai tocar em um volume que
meu cé rebro nã o aguenta.
Meus olhos rastreiam o Nú mero 12, cravados, a curiosidade me
agarrando. Quem é ele?
E difı́cil ter uma noçã o do corpo de um jogador quando eles estã o
em suas almofadas e equipamentos, mas há algo tã o familiar sobre a
largura de seus ombros, a linha longa de suas pernas, uma mecha de
cabelo escuro enrolado na parte inferior de seu capacete.
Fico olhando para ele como se simplesmente olhar por tempo
su iciente fosse resolver o enigma. Eu o conheço. Juro que sim.
Pelos pró ximos trinta segundos, o nú mero 12 é tudo que penso,
tudo que vejo, á gil e rá pido como um relâ mpago no gelo, liderando o
ı́mpeto ofensivo de seu lado, retrocedendo quando seu companheiro de
equipe perde o disco e a defesa do outro time o envia para seus
atacantes. Ele está lá em um lash, ganhando posse, explodindo em uma
nova explosã o de velocidade atravé s do gelo. Atingindo o goleiro, ele
inge um golpe, corta a marca e, atrevidamente, acerta a rede com o
backhand, bem por cima do ombro do goleiro.
A luz brilha em vermelho e meus fones de ouvido diminuem o
barulho da buzina para um zumbido fraco. Eli comemora, sorrindo
enquanto dá um tapinha na minha coxa em sua excitaçã o.
O nú mero 12 nã o é um exibido. Ele simplesmente levanta o queixo
para reconhecer seus companheiros de equipe que o cercam. Nã o vejo
seu sorriso por trá s do protetor bucal, se é que ele sorri. A multidã o de
jogadores bloqueia minha visã o, batendo em seu capacete e abraçando-
o.
Mas eu vejo seus olhos. Porque eles sobem nas arquibancadas e
pousam em mim.
Verdes inverno. Frio á rtico.
Eu suspiro.
— O que? — Eli diz, virando-se para mim. — O que é ?
Puta merda. O nú mero 12 é Jonathan Frost.

7

Playlist: “Santa Baby ” - Haley Reinhart

— EU TENHO QUE IR. — Pulo da minha cadeira.


— Nã o seja ridı́cula. Eu que trouxe você . — Eli agarra minha mã o e
me puxa de volta para baixo. Eu caio com um lop. — O que está
acontecendo?
— I-i-isso… — Gesticulo freneticamente em direçã o ao gelo, onde
Jonathan ainda está olhando para mim, um entalhe familiar de
frustraçã o em sua testa que posso sentir mesmo à distâ ncia. — Aquele
é Jonathan.
— Jonathan que– ohhhhh. — Eli olha para trá s em direçã o ao gelo e
aperta os olhos. — Nossa, é ele! Eu sabia que ele parecia familiar. Deve
ser por isso. Talvez ele seja amigo do Lukey. — Eli acena.
Eu bato em sua mã o.
— Nã o acene para ele. Ele é o inimigo. Inimigo. Antagonista.
Provocativo.
— Ok, Thesaurus.com8, relaxe. Você nã o está no trabalho. Acha que
pode deixar isso de lado agora? Ele está no time de Luke, e queremos
que Luke vença!
Fico boquiaberta com Eli enquanto ele coloca seu chá quente entre
as coxas, em seguida, coloca dois dedos na boca e assobia alto.
— Uau!
— Isso é pior. — Murmuro no meu chocolate quente.
— E melhor tirar o melhor proveito disso. — Diz ele. — Porque
você de initivamente me deve todo esse jogo.
— Elllliiiii. — Lamento.
Ele olha para mim bruscamente.
— Duas horas, Gabriella. Eu autografei livros e li histó rias e segurei
crianças com dedos pegajosos de biscoito de açú car no meu colo como
um maldito Papai Noel por duas horas hoje.
E Jonathan nunca mostrou seu rosto, nunca ajudou. Ele icou
escondido na sala de contabilidade, fazendo qualquer merda secreta
que ele faz em seu laptop, e me deixou ao arbı́trio de meus pró prios
dispositivos, maldito seja. Felizmente, os pais estavam se comportando
da melhor maneira possı́vel.
— Ponto justo. — Digo a Eli. — Mas se eu tiver que ver Jonathan
quando este jogo acabar, nã o me peça para ser legal.
Eli revira os olhos, voltando ao jogo.
— E você o chama de Scrooge.
A contragosto, tenho que admitir que o jogo é divertido de assistir,
assim como meu pai prometeu. Pelo menos, é divertido, até que
Jonathan se transforme no jogador mais valioso.
Apó s o primeiro gol, o adversá rio empatou antes do té rmino do
primeiro perı́odo. No segundo tempo, o namorado de Eli, Luke, que é
defensor, faz uma incrı́vel separaçã o de Jonathan e uma assistê ncia para
o segundo gol de Jonathan. Entã o, no terceiro perı́odo, o outro time
empatou, mas com dois minutos do im, Jonathan marcou mais uma
vez, o que nã o só ganhou o jogo, mas també m fez um hat-trick.
Ele vai ser insuportá vel no trabalho amanhã .
Tento ao má ximo nã o fazer beicinho como uma criança de cinco
anos enquanto esperamos por Luke depois do jogo, mas estou lutando.
Eli nos levou, entã o estou presa até que ele esteja pronto para ir – um
plano com o qual eu estava bem antes de saber que toparia com
Jonathan Frost.
Realmente nã o sei se aguento vê -lo assim, depois de arrasar no
meu esporte favorito, suado, tomado pelo banho e brilhando de
orgulho, cheio de adrenalina e arrogante como o inferno.
Na verdade, eu sei que nã o posso.
O primeiro dos jogadores sai do vestiá rio, e meu coraçã o salta do
peito para a garganta. Girando, vou para as portas do saguã o.
— Vou esperar no carro.
— Você vai precisar das minhas chaves. — Eli diz, um pouco
satisfeito demais consigo mesmo. — Já que está trancado.
Eu congelo, giro e congelo novamente. Merda. Estou atrasada.
Porque, saindo do vestiá rio, ombro a ombro com Luke, está
Jonathan. Seu cabelo escuro está molhado e mais ondulado do que o
normal, uma mecha grossa fora de sua ordem normal escovando sua
testa. Ele olha para cima e o ar sai dos meus pulmõ es. Suas bochechas
estã o rosadas pelo esforço, e há um brilho de fogo em seus olhos verdes
pá lidos.
Minhas pernas vacilam um pouco.
Eli agarra meu cotovelo.
— Você está bem?
— Uh.
— Certo algué m nã o está deixando você com os joelhos bambos,
está ? — Eli diz com o canto da boca. Dou uma cotovelada nele com
tanta força que ele resmunga: — Você precisa de aulas de controle da
raiva.
— Eu sei. E culpa dele. — Muitas coisas sã o culpa de Jonathan. A
azia implacá vel que desenvolvi no ano passado, a dor nos nó s dos dedos
das mã os formando punhos o dia todo, o sonho deplorá vel que sabotou
meu sono. E agora, ele é responsá vel por cada gota de calor lı́quido
inundando minhas veias, acumulando baixo e doce dolorido entre
minhas pernas.
E como se minha libido – à s vezes extinta, outras vezes, uma chama
fraca e silenciosa ganhando vida no ar da conexã o – agora fosse um fogo
devastador, devorando cada momento em que estivemos juntos,
queimando mais e mais brilhante. Eu nã o aguento mais.
Limpando minha garganta, tento parecer digna quando encontro
seus olhos.
— Jonathan.
— Gabriella. — Sua boca se inclina no canto, um quase sorriso
satisfeito que faz meu estô mago embrulhar. — Uma surpresa
inesperada. Mas isso é um pouco demais, você nã o acha – me seguindo
até o meu jogo? Se você quisesse me ver fora do trabalho, uma simples
mensagem teria bastado.
— Ha-ha. — Coloco a mã o na minha barriga e digo para parar de
dar cambalhotas enquanto empurro minha cabeça em direçã o a Eli
dando um beijo de parabé ns em Luke. — Fui trazida aqui contra a
minha vontade.
O olhar de Jonathan dança sobre mim.
— Gostou do que viu?
Rolo meus olhos.
— Você sabe que seu desempenho foi impressionante.
Suas sobrancelhas se erguem. Um rubor loresce em suas
bochechas já vermelhas.
— Uau.
— Nã o. — Aponto o dedo para ele. — Eu nã o quis dizer isso.
Ele levanta ambas as mã os inocentemente.
— Eu apenas disse “uau”.
— Estou tã o feliz que você veio. — Luke diz a Eli.
— Eu també m. — Eli sorri para ele. — Você foi incrı́vel.
— Nã o tã o incrı́vel quanto esse cara. — Luke diz, empurrando o
ombro de Jonathan de brincadeira, mas ele nã o se move. — Ele
intensi icou esta noite. Fazendo um show para algué m, garotã o?
Pela primeira vez, vejo outra pessoa ganhar aquele brilho á rtico.
— Joguei como sempre jogo.
— Uh-huh. — Virando-se na minha direçã o, Luke me oferece um
punho para socar. — Gabby. Obrigado por ter vindo.
Eu olho para longe de Jonathan e sorrio para Luke, que é
absurdamente bonito. Pele escura, olhos â mbar, o tipo de estrutura
ó ssea que June cobiça e recria com sua rotina diá ria de maquiagem.
— Você foi bem, garoto. — Digo a ele.
Luke me dá um sorriso largo e brilhante.
— Bem, vindo de você , isso é alguma coisa.
— O que isso signi ica? — Jonathan diz, olhando entre nó s.
— Nada. — Dou uma olhada em Luke. Eu nã o revelo quem é meu
pai. As pessoas sã o faná ticas por ele. E uma grande parte do motivo
pelo qual eu uso o nome de solteira da minha mã e. Sokolov é um
sobrenome russo bastante comum, mas nos Estados Unidos, e
especialmente nesta cidade obcecada por hó quei, onde papai passou os
ú ltimos cinco anos de sua carreira antes de se aposentar, as pessoas
imediatamente associam "Sokolov" a ele.
Luke murmura desculpas, entã o se vira para Jonathan.
— Esqueci de fazer as apresentaçõ es. Foi mal! Gabby, este é meu
bom amigo Jonny. Jonny, esta é Gabby. Ela é …
— Eu conheço Gabriella. — Jonathan diz, e há um tom estranho em
sua voz. — O que eu não sabia era que Eli, seu namorado, é Elijah, o
colega de quarto dela.
— Ou aquele amigo de Luke, Jonny — Diz Eli. —, é Jonathan, seu
colega de trabalho. — Nó s quatro olhamos um para o outro.
— Uau. — Luke diz. — Isso é estranho. Entã o, espere… oh, merda.
— Seus olhos se arregalam quando ele olha de mim para Jonathan. —
Entã o ela é …
Luke nã o consegue terminar a frase porque Jonathan deixa cair sua
bolsa de equipamentos, taco de hó quei e tudo, bem no pé de Luke,
fazendo-o xingar quando um grupo de crianças passa.
— Vamos lá , cara. — Grita um jogador de seu time, passando as
mã os sobre a cabeça de seu ilho. — Orelhinhas.
— Desculpe. — Luke murmura em seu caminho, pulando em um
pé antes de dizer a Jonathan: — Que diabos?
Jonathan se inclina, pega sua bolsa de equipamentos novamente e
diz sem nenhum remorso:
— Opa.
Luke encara Jonathan. Jonathan olha para Luke. Outra conversa
neurotı́pica sobre os olhos passa por cima da minha cabeça.
— Bem. — Eli diz, sorrindo brilhantemente para todos. — Que
mundo pequeno!
Desviando o olhar de Jonathan, Luke nos diz:
— Prontos para pegar um pouco de comida?
Eu desin lo. Sã o dez da noite e, mesmo com meu dia de folga de
ontem, depois de uma semana de sono de merda, estou delirantemente
cansada. Eu nã o quero sair para comer. Eu quero ir para a cama, mas eu
sei que Eli está morrendo de vontade de icar com Luke. Ambos sã o
pro issionais ocupados e nã o se veem tanto quanto gostariam. Ele está
contando com esse tempo.
— Estou exausta. — Eu admito. — Talvez você possa me deixar em
casa no caminho?
Eli morde o lá bio.
— Luke queria ir para a lanchonete bem no inal da estrada aqui.
— Eles tê m o melhor queijo grelhado. — Diz Luke. — Ah, e
milkshakes. O que você adora por doces.
— Gabriella nã o gosta de milkshakes. — Jonathan diz a ele, os
olhos em mim. — Apenas leite com chocolate e hortelã -pimenta.
— Chocolate quente de hortelã -pimenta. — Eu o lembro.
— Semâ ntica. — Jonathan diz, chegando perto de um sorriso
adequado. — De initivamente nã o é um milkshake.
E um territó rio familiar, indo e voltando assim, exceto que nã o há
nada do tom usual em nossas palavras. Parece vivido, quase... amigá vel.
— Odeio dizer isso. — Digo a Luke e Eli, embora meus olhos se
recusem estranhamente a deixar Jonathan. — Mas ele tem razã o. Eu
nã o gosto de milkshakes. A textura nã o é minha praia. Mas eu ainda
posso aguentar e ir…
— Vou te levar para casa. — Diz Jonathan.
Luke hesita e pergunta:
— Tem certeza?
Eli olha entre nó s.
— Nã o queremos incomodar ningué m…
— Está tudo bem. — Eu anuncio, meus olhos ixos nos de Jonathan.
Isto é bom. Nã o é grande coisa. Na verdade, é uma excelente
oportunidade de provar que esse bobagem da libido em fú ria é apenas
isso – uma bobagem. Eu estou indo de carona no carro de Jonathan
Frost por trinta minutos para a cidade, nã o vou derreter em uma poça
tesã o, e vou mostrar a nó s o tã o legal como um pepino que eu posso ser.
— Aı́ está . — Jonathan diz a eles. Ele coloca a mã o nas minhas
costas, me guiando na frente dele. Eu respiro fundo porque, puta merda,
isso é bom – o calor de seu toque escoando pelo meu casaco. Eu me
inclino para ele apenas um pouco, como um gato se enroscando em
uma mã o afetuosa. Isso nã o é um bom pressá gio para o plano legal
como um pepino.
Estamos passando por Luke e Eli.
— Uh, tchau? — Eu olho por cima do ombro e vejo os dois, todos
sorrisos, parecendo irritantemente satisfeitos. — Eles sã o ameaças. —
Eu murmuro.
— Conte-me sobre isso. — Passando por mim e abrindo a porta do
saguã o para nó s, Jonathan aponta seu controle remoto para um robusto
e despretensioso SUV preto que apita duas vezes obedientemente
enquanto ele o destranca.
Quando chego mais perto, percebo que nã o é um daqueles carros
crossover baixos disfarçados de SUV. E um chassi de caminhã o
adequado, alto e formidá vel.
— Sim, é grande. — Assim que sai da minha boca, eu percebo como
isso soa. Eu olho para Jonathan. — Juro que nã o queria que isso soasse
como uma insinuaçã o.
— Nunca pensei nisso. — Exceto que Jonathan está quase sorrindo
de novo, os olhos ixos no chã o enquanto ele limpa a garganta.
Entã o ele abre minha porta e me oferece uma mã o. Eu ico olhando
para ele em confusã o. Ele nã o gosta disso.
— Cristo, Gabby. Nã o cuspi na palma da mã o. E apenas uma mã o
levantada.
Nunca o ouvi dizer meu nome, nã o o nome que todo mundo usa.
Nã o tenho certeza de como me sinto sobre o fato de que minha pele
está zumbindo e minhas bochechas estã o quentes, e o som do meu
nome em seus lá bios ecoa no silê ncio de neve. Gabby.
Nossos olhos se mantê m.
Meus dedos se aproximam mais de sua mã o estendida.
Nã o sei por que estou fazendo isso. Eu nã o sei como parar.
— Por que? — Eu pergunto suavemente.
A neve cai do cé u, espanando o cabelo escuro de Jonathan e seu
blusã o preto como a meia-noite. Sua garganta engole em um gole, entã o
ele diz:
— Porque eu quero.
Di icilmente é uma resposta, mas aparentemente é uma resposta
su iciente para mim. Porque de alguma forma eu encontro meus dedos
roçando os dele, deslizando sobre calosidades e pele á spera, até que
nossas palmas se conectem.
O ar escapa dos meus pulmõ es. Seu aperto é quente e só lido
enquanto ele me puxa para cima, e apenas quando estou dizendo a mim
mesma que nã o, isso nã o é um Darcy-carrega-Elizabeth-para-sua-
carruagem-e-o-mundo-dá -dicas-sobre-isso momento, seu polegar roça
as costas da minha mã o. Aparentemente, há uma via expressa nervosa
entre aquele ponto e cada zona eró gena do meu corpo, porque eu caio
como uma boneca de pano no meu assento, uma batida de desejo
batendo em meus membros.
Se Jonathan sente algo parecido com o que eu acabei de fazer, ele
nã o demonstra. Seu rosto está ilegı́vel, seus traços suaves quando ele
fecha minha porta.
O que foi aquilo sobre não derreter em uma poça de tesão? O
diabinho em meu ombro gargalha enquanto ela traça uma chama no ar
com seu forcado. Você está tão caída por ele.
O anjo do meu outro lado dá ao diabo um olhar afetado e
reprovador. Ela deveria estar cobiçando o Sr. Reddit.
Fervendo, eu ico olhando para a neve rodopiando do lado de fora
do carro. Odeio que tanto o anjo quanto o demô nio estejam certos. Eu
odeio querer estar ligado ao Sr. Reddit e, em vez disso, é Jonathan Frost
quem me transformou em uma bagunça quente e luxuriosa enquanto
ele está calmo e tranquilo como sempre.
Mas enquanto o observo dando a volta no carro, seu corpo longo e
largo envolto em um redemoinho de neve que cai rapidamente, sua mã o
se lexiona e depois se fecha em um punho brutal.
Talvez algué m nã o seja tã o afetado, a inal.
Presunçosa de satisfaçã o, molho o polegar e o indicador, em
seguida, pego a chama que está ardendo no ar, porque se ele está
desejando tanto quanto eu, isso o torna... neutro. Ou alguma coisa.
O pequeno demô nio em meu ombro faz uma careta. O anjo sorri
em aprovaçã o.
Jonathan abre a porta com força e entra. Franzindo a testa, ele abre
o telefone e toca em um ı́cone de aplicativo que nã o consigo ver. Entã o
estico um pouco o pescoço.
— Pare de bisbilhotar, Gabriella.
Olho para longe, com as bochechas vermelhas e envergonhadas.
— Você estava praticamente mostrando o meu caminho.
— Eu nã o estava.
— Tava sim.
— Estava sim. — Ele corrige.
— Argh! — Jogo minhas mã os, em seguida, alcanço a maçaneta da
porta. — Estou voltando para casa.
As fechaduras das portas do carro clicam. Lentamente, eu me viro
e o encaro.
— E assim que eu morro, nã o é ?
Jonathan esfrega o rosto antes que suas mã os caiam em seu colo.
Ele vira a cabeça e me encara.
— Gabriella.
— Jonathan.
— Por favor, nã o ameace caminhar para casa na neve. Ou fazer
piada sobre eu te matar. — Ele alcança o console central e abre uma
pequena porta, revelando um pequeno estoque de... doces?
— Quem é você ? — Eu pergunto enquanto o vejo desembrulhar
dois mini copos de pasta de amendoim com e iciê ncia e colocá -los na
boca.
— Jonathan Frost, co-gerente que você adora odiar. Achei que
tivé ssemos abordado isso. — Mastigando rapidamente, ele aperta o
botã o para ligar o carro.
— Você tem doces em seu carro. — Um arrepio me destró i. Meus
dentes começam a bater. — Você come açú car? E gosta?
— Sou um homem de muitos misté rios, Gabriella. Fique à vontade.
Eu olho em direçã o ao console. Há ...
— Chocolate M&M's de menta? — Meus dentes estalam com tanta
força que mal consigo pronunciar as palavras.
— Todo seu. — Ele liga o aquecedor do meu assento, entã o
aumenta o aquecedor e aponta todas as aberturas na minha direçã o.
Minha barriga dá uma reviravolta desconcertante. Ele percebeu
que estou com frio. Ele está se certi icando de que estou aquecida.
— Você nã o gosta deles?
— Nem um pouco. — Ele diz. — Chocolate de menta é nojento.
— Entã o por que você tem M&Ms de chocolate com menta?
Jonathan se recosta na cadeira novamente e passa a mã o pelo
cabelo, puxando com força, a mandı́bula trabalhando até que ele
inalmente diz:
— Porque eu os vi no supermercado depois do trabalho hoje,
pensei em você e os comprei. Porque eu fui um idiota esta manhã , e me
arrependo disso, comprei chocolates de desculpas e entã o percebi
como isso foi ridı́culo, quando estou começando a achar que nã o há
M&Ms su icientes no mundo para melhorar as coisas entre nó s.
Estou nada menos que chocada com essa admissã o.
Há uma batida espessa de silê ncio. Eu ico olhando para os M&Ms.
Jonathan olha para a neve.
Finalmente, ele quebra o silê ncio, pegando um cantil de aço
inoxidá vel em seu porta-copos, bebendo em dois goles longos que
fazem seu pomo de adã o balançar e irritantemente me fazem pensar
em arrastar minha lı́ngua por sua garganta. Em seguida, ele veri ica seu
telefone novamente. Depois de ler tudo o que diz, ele parece satisfeito.
Ele dá ré no carro e começa a recuar.
Eu ainda estou em choque.
— Entã o... você comprou isso... por minha causa? Porque você se
sentiu mal por esta manhã ?
Jonathan para o veı́culo com um solavanco na metade do caminho
para fora da vaga, depois se vira e me encara. De repente, este grande
SUV parece muito pequeno.
— E tão inacreditá vel?
— Uh... Bem… — Eu lambo meus lá bios. Parece um teste. Um que
de initivamente irei falhar.
— Nã o é . — Ele me diz, porque aparentemente eu disse isso em
voz alta. — E você nã o pode falhar. Você acabou de responder à
pergunta.
Eu ico olhando para ele com curiosidade, as linhas fortes de seu
nariz e maçã s do rosto. Seus impressionantes olhos claros brilhando na
luz fraca. Há esse... puxão, bem dentro de mim, me implorando para
subir no console, escarranchar em seu colo e beijá -lo até sentir o gosto
de chocolate agridoce e ar de inverno, até respirar o calor de sua pele,
quente e limpa do exercı́cio seguido por uma esfregada rá pida com
sabonete que o deixa cheirando como uma caminhada longa e cheia de
neve em uma loresta de sempre-vivas.
E eu nã o entendo isso. Nã o entendo por que parece que algo está
me arrastando, centı́metro a centı́metro, em direçã o a Jonathan Frost.
Isso nã o deveria estar acontecendo. Nã o quando, em apenas algumas
semanas, eu vou conhecer o cara que eu realmente me importo, e esse
mutante do Sr. Freeze com quem trabalho estará fora da minha vida
para sempre.
O que há de errado comigo?
— O inferno se eu sei. — Murmuro, respondendo ao dilema de
Jonathan e ao meu. Acalmando a dor da minha crise existencial, abro os
M&Ms de chocolate com menta e despejo metade do saco na minha
garganta.
Jonathan suspira ao retomar a saı́da do estacionamento.
— Tanto açú car, Gabriella.
— Cala a boca. — Digo a ele. — Você os comprou para mim. Por...
remorso, o que, uau, isso soa estranho.
Seu aperto no volante ica mais forte. Seus tiques de mandı́bula,
enfatizando a cavidade em suas bochechas e a promessa de uma
covinha, se ele sorrisse. Está sombreado por uma barba escura e densa
e, só de olhar, posso sentir sua nuca lixa arranhando minhas coxas.
Minha mente corre com isso, imaginando beijos quentes e ú midos
daquela boca severa molhando minha pele, arrastando-se cada vez
mais alto, até ...
— Eu quero dizer isso. — Jonathan diz, arrancando-me de meus
pensamentos luxuriosos. — Eu sinto muito. Eu sei... eu sei que à s vezes
sou grosseiro e faço saı́das abruptas. — Ele faz uma pausa, como se
procurasse o que dizer a seguir. — Nã o tem nada a ver com você , mas
afeta você . E... eu sinto muito.
Fico olhando para ele, o M&Ms baixando para o meu colo. E
estranho sentir um pouco de contriçã o de Jonathan Frost, ouvi-lo
reconhecer suas qualidades menos cativantes e pedir desculpas por
elas, mas... eu acredito nele. Entã o, me mexendo um pouco na cadeira
para vê -lo melhor, digo a ele:
— Eu... te perdoo.
Olhos na estrada, ele diz:
— Isso parecia doloroso.
— Falar ‘Eu te perdoo’? — Rio levemente. — Meio que foi. Nó s
temos sido hostis por tanto tempo, eu realmente nã o sei como falar com
você de outra forma.
Jonathan está em silê ncio, com a testa franzida. Ele parece
preocupado.
Por um momento, tenho o impulso mais estranho de deslizar meus
dedos suavemente por seu cabelo, traçar meu polegar ao longo da
marca em sua testa e alisá -la.
— Eu nã o deveria ter te encurralado na hora da histó ria esta
manhã e tentado te culpar por isso. Eu... sinto muito també m.
— Está tudo bem. — Ele limpa a garganta. — E para que conste, a
ilmagem das câ meras de segurança é transmitida para a sala de
contabilidade. Eu estava de olho nas coisas, se tivesse saı́do do controle,
eu teria estado lá imediatamente.
Fico olhando para ele, confusa, como se um vé u tivesse sido
levantado, revelando uma pessoa que eu mal reconheço, mas que
també m é estranhamente familiar, como olhar para um rosto e saber
que já o vi antes, incomodando no fundo do meu cé rebro.
— Entã o — Ele limpa a garganta. — O que foi aquele momento
estranho com Luke? Quando você disse que ele jogou bem? E ele disse
que isso é um grande elogio vindo de você . Você joga hó quei ou algo
assim?
— Oh… — Meu instinto é severamente guardar esta parte da
minha vida, mas suponho que se Jonathan é capaz de um pedido de
desculpas, eu posso ser capaz de um pouco de con iança.
— Meu pai é Nicholas Sokolov. Nem preciso dizer que conheço o
jogo muito bem.
Jonathan me dá uma dupla surpresa antes de voltar a me
concentrar na estrada.
— Isso nã o é engraçado.
— Nã o é uma piada.
Ele pisca lentamente, atordoado.
— Explique-se.
— Bem, ele e minha mã e se conheceram e se apaixonaram, entã o
eles izeram uma bebê Gabby…
— Gabriella. — Ele avisa.
Eu bufo uma risada.
— Tudo bem, eu vou falar sé rio. Meu pai quer uma vida tranquila.
Nó s trê s queremos. Nó s mantemos um per il baixo para nã o termos que
lidar com as multidõ es. E eu atendo pelo nome de famı́lia da minha
mã e, Di Natale. Isso torna as coisas mais fá ceis.
Jonathan balança a cabeça lentamente.
— Puta merda.
Honestamente, ele está aceitando melhor do que a maioria das
pessoas. Ele nã o desviou do carro. Ele nã o parece prestes a desmaiar. E
ele nã o me pediu um autó grafo.
— E por isso que ele nunca visita o trabalho. — Eu explico. — Bem,
isso nã o é verdade, eu trouxe meus pais depois de fechado para mostrar
o lugar, mas nã o quando estamos abertos, porque as pessoas podem ser
tã o intensas e atacam você e pedem autó grafos e simplesmente...
— Estragam isso. — Jonathan diz calmamente. — Sua capacidade
de ter uma vida normal com ele.
Eu olho para ele.
— Sim.
Ele concorda.
— Tenho certeza que ele é muito protetor com isso. E com você . Eu
seria.
— Ele é . — Sussurro.
— Bem… — Jonathan pigarreia, os olhos ixos na estrada. — Seu
segredo está seguro comigo.
Eu mexo com o pacote M&M, inquieta com o quã o aliviada estou
por ele saber a verdade, como tenho certeza de que posso con iar em
sua palavra.
— Obrigada, Jonathan. Obrigada.
O silê ncio se estende entre nó s até que seja tenso e denso. E quase
insuportá vel.
Até Jonathan dizer à Siri para tocar “Rá dio de Natal” com uma nota
de comando em sua voz que é totalmente pornográ ica.
Agora isso é insuportá vel.
Eu ico boquiaberta com ele. Ele olha na minha direçã o, entã o ica
surpreso.
— O que?
— Nunca ouvi sua voz soar assim.
Ele arqueia uma sobrancelha.
— Assim como?
— Muito severa e mandona. — Eu cruzo minhas pernas contra a
dor que é quase dolorosa agora. — Tipo... mandona no quarto.
Ele me lança um olhar de soslaio incré dulo.
— Eu disse à Siri para tocar uma estaçã o de mú sica, Gabriella, nã o
icar de joelhos.
Eu engasgo com um novo gole de M&Ms.
Jonathan olha para a estrada, lutando contra um sorriso e mal se
segurando no chã o.
— Você tem uma mente suja.
— Eu? Você é quem acabou de dizer...
— Shhh, você . — Ele diz, jogando minhas palavras de volta para
mim. — E aproveite esse ataque aos ouvidos que estou aguentando por
sua causa.
Bufo uma risada. Mas minha risada desaparece conforme a mú sica
enche o carro, as palavras quentes e cheias de signi icado:
I’ll wait up for you, dear. Santa baby, so hurry down the chimney
tonight9.
Jonathan limpa a garganta e gira os ombros, como se suas roupas
parecessem muito apertadas. Eu me contorço em meu assento, em
seguida, abro a janela. Minhas bochechas queimam.
— Calor? — Ele pergunta.
Deus, estou sempre.
— Um pouco. — Digo a ele.
Com a sobrancelha franzida, Jonathan baixa o botã o do aquecedor
e racha a janela també m. Essa mú sica com tesã o nã o ajuda em nada.
Estamos ambos corados, os olhos ixos na estrada. Posso ouvir cada
respiraçã o profunda que ele dá , sentir cada batida forte de seu coraçã o.
Talvez seja assim que eu soe també m.
Em pâ nico, coloco minhas mã os no colo e discretamente toco a
progressã o de acordes da mú sica, como se minhas coxas fossem teclas
de piano. E um movimento calmante que sempre me acalma.
E enquanto me acalmo, passo a passo o que aconteceu desde que
entrei neste carro. Estou cada vez mais excitada e desorientada. O
mundo parece aquele poema de Shel Silverstein, “Backward Bill” – de
cabeça para baixo e irreconhecı́vel.
Jonathan voluntariamente me levou para casa. Ele comprou M&Ms
de chocolate com menta para mim porque está arrependido de como
ele agiu esta manhã . Ele está tocando mú sica natalina para minha
diversã o, embora ele odeie. Ou ele tem outra personalidade que
escondeu por 12 meses ou está tramando algo.
Me viro em meu assento, de frente para ele novamente.
— Por que você está sendo legal comigo?
Seu olhar permanece ixo na estrada, que está coberta de neve.
Depois de uma pausa longa e tensa, ele diz:
— Vou responder à sua pergunta com outra pergunta.
— Eu nã o gosto disso.
— Que pena. — Diz ele, antes de uma inspiraçã o profunda. Entã o
ele exala, ino e lento. — Por que você acha que estou sendo legal com
você ?
— Porque você tem uma estraté gia. Um novo â ngulo para me
derrubar no trabalho.
— E se eu te dissesse outra coisa alé m disso, você acreditaria em
mim?
Depois de um ano de antagonismo mú tuo implacá vel, a resposta
sai da minha boca antes que eu conscientemente pense nela.
— Nã o, eu nã o acreditaria.
Mas pela primeira vez desde o dia em que nos conhecemos e o frio
Jonathan Frost derrubou meu globo de neve de cabeça para baixo, eu
me pergunto se talvez – apenas talvez – eu esteja errada.

8

Playlist: “Mille Cherubini In Coro” - Andrew Bird

ENTRE A MÚSICA DE NATAL e minha furtiva execuçã o de piano de


colo, Jonathan e eu brigamos o resto do nosso caminho de volta para a
cidade, discordando sobre qual é a rota mais direta para o meu
apartamento e que també m evita o pior trá fego, até que Jonathan
comece a estacionar nos paralelos em frente do meu pré dio. Porque é
assim que a vida rola para Jonathan Frost, embora eu possa contar com
a minha mã o, nos dois anos que morei aqui, quantas vezes consegui
uma vaga até mesmo a um quarteirã o do meu apartamento.
Eu olho para ele.
— Sé rio mesmo? Bem na frente da minha casa?
Ele me dá um arco de autossu iciê ncia de uma sobrancelha, um
quase sorriso irô nico.
— Eu tenho a melhor sorte do mundo com estacionamento.
— Claro que você tem. — Murmuro sombriamente.
Acertando o carro na vaga, Jonathan desliga a igniçã o, entã o me
encarando, sua garganta engolindo em seco.
— Eu li aquele romance que comprei na Bailey's.
Eu olho para ele, surpresa e... intrigada.
— Oh?
Ele concorda.
— Foi bom. Nã o é Austen, mas…
— Pare com isso. — Dou um soco de brincadeira em sua coxa dura
como pedra, sentindo uma estranha sensaçã o de dé jà vu. — Pare de me
provocar!
Sua boca se inclina, tã o perto de um sorriso, antes de se dissolver,
deixando apenas silê ncio e uma carga espessa e pesada no ar. A
mandı́bula de Jonathan funciona. Seus olhos procuram os meus.
— Eles sã o muito diferentes. — Diz ele. — Os interesses amorosos.
Eu concordo.
— Opostos, basicamente.
— Mas… — Seu olhar desliza até minha boca. — Isso acaba
realmente dando certo para eles. E a batida do coraçã o de sua conexã o,
sendo atraı́dos pelas diferenças um do outro, e se esticam para diminuir
a distâ ncia entre eles sem se perderem. Eles crescem. Juntos. E mais
profundamente em seu verdadeiro eu.
Meu coraçã o está batendo forte contra minhas costelas. Maldito
seja ele por dizer isso com tanta perfeiçã o.
— A proximidade forçada també m ajuda. — Eu digo, mais baixo,
quase um sussurro. — Ficar preso em uma carruagem por dias
seguidos, uma pousada com apenas um quarto e...
— Apenas uma cama. — Diz ele, sua garganta trabalhando com um
novo gole. — Eu li sobre isso. Essa é uma trope popular. Eu posso ver o
porquê .
— Claro que você leu sobre tropes de romance.
— Eu li sobre todo o gê nero maldito. — Seus dedos tamborilam no
volante. — Eu nã o faço as coisas pela metade, Gabriella.
— Nã o… — Procuro seu rosto. — Nã o, você nã o precisa.
A mã o de Jonathan se lexiona em torno do volante. Sua mandı́bula
aperta. E entã o, de repente, ele escancarou a porta.
Eu pisco, saindo de um torpor. Entã o eu percebo o que ele está
prestes a fazer. Droga. Ele vai abrir minha porta em seguida e ser
cavalheiresco novamente. Eu nã o posso lidar com isso, considerando
que um aperto de mã o me deixou tã o nervosa que estive me
contorcendo no meu assento durante todo o caminho para casa.
Tento pegar a maçaneta, desesperada para chegar antes dele, mas
ele já está lá , abrindo minha porta, e mais uma vez me oferecendo sua
mã o. Eu olho para o monte de neve aos meus pé s que preciso superar. A
contragosto, pego sua mã o e tento ignorar o calor elé trico que me
sacode, irradiando de onde nossas mã os estã o unidas até a ponta dos
pé s.
Saltando sobre o banco de neve, eu caio na maciez pulverulenta
com um baque, entã o olho para o cé u e o pó de açú car da Mã e Natureza
caindo sobre nó s. Eu estendo minha lı́ngua e sorrio.
A neve traz à tona a criança em mim. A maravilha. Eu nunca
deixarei de amar isso.
Um loco grosso e frio pousa na minha lı́ngua. Eu cantarolo de
prazer, entã o lentamente abro meus olhos. Jonathan está me olhando
atentamente.
— O que é ?
— A sua capacidade de alegria — Ele diz baixinho. — E...
extasiante.
Um elogio de Jonathan Frost. E nã o qualquer elogio – um que faz
meu coraçã o parecer visto e brilhando, como a luz de uma vela caindo
de uma janela em uma noite fria e escura.
Minha visã o embaça com a ameaça de lá grimas. Minha garganta
está grossa.
— Você nã o acha que é bobo?
Ele balança a cabeça.
— Nã o.
— Impar? Estranho? Juvenil? — Eu sussurro. Apenas uma amostra
de como fui chamado quando minha felicidade transbordou em torno
daqueles que a acharam “demais”.
Dando um passo lento mais perto, as botas esmagando a neve, ele
me olha nos olhos.
— Nã o, Gabriella. Nã o acho que seja bobo, ou estranho, ou juvenil
segurar com as duas mã os o melhor de quem somos quando somos
jovens e nã o deixar que a vida tire isso de você . Eu acho que é corajoso
e durã o e irritantemente impossı́vel nã o admirar você por isso.
Seus dedos roçam minha bochecha e meus olhos começam a se
fechar. Parece tã o absolutamente certo, quando tudo o que posso
pensar é que isso é absolutamente errado.
Isso nã o faz sentido. Jonathan Frost nã o é afetuoso ou terno. Ele
nã o lê a merda de um romance que eu amo ou olha para mim com a
necessidade queimando em seus olhos. Ele nã o segura minha mã o, nem
me aquece, nem me encara como se tudo o que ele quer no mundo
estivesse bem na sua frente.
E, no entanto, aqui está ele – mã os grandes e á speras segurando
suavemente meu rosto, perto, calmas e intensas, seus olhos na minha
boca. Eu preciso te beijar, seu olhar diz. Tanto.
Fico olhando para ele enquanto seus polegares circulam as
covinhas de minhas bochechas, enquanto o calor derrama seu corpo,
tã o perto do meu que nossas coxas se tocam, nossos peitos se
encontram enquanto nó s dois respiramos fundo. Eu sinto esse puxã o
em direçã o a ele na boca da minha barriga, e perigosamente mais para
cima, onde meu coraçã o bate contra um nó apertado de algo que estou
com muito medo de sequer começar a analisar.
Nunca entendi nada menos – o quanto eu quero Jonathan, o quã o
profundamente eu sofro por ele. Mas talvez seja exatamente por isso
que isso precisa acontecer, para dissipar a tensã o, para quebrar o laço
retorcido de inimizade que nos trançou nos ú ltimos doze meses. Talvez
um beijo seja tudo de que precisamos. E entã o estarei livre dessa
tortura.
Enquanto eu seguro seu olhar, ele vê o que estou lhe dizendo: eu
também preciso disso.
Minhas palmas sobem em seu peito em um leve roçar no tecido.
Jonathan olha para mim, cı́lios escuros abaixados sobre os olhos verdes
invernais, aquela boca que é tã o frequentemente apertada e severa
agora está exuberante e aberta.
— Eu nã o deveria fazer isso. — Ele diz asperamente, tã o baixinho
que quase nã o o ouço. — Ainda nã o.
Nã o entendo o que ele está dizendo, mas estou alé m do sentido,
alé m do pensamento. Tudo que eu quero é me libertar do tormento que
o está desejando, que me cravou os dentes, e fazê -lo ir embora. Eu vou
beijar para tirá -lo fora do meu sistema. Tem que funcionar
Jonathan se inclina para mais perto, apesar de suas palavras,
enquanto eu pressiono meus dedos dos pé s e, inalmente, nossas bocas
se tocam, suavemente, entã o profundamente. Eu inspiro, e é pura
alegria, como um gole de ar revigorante enquanto desço uma montanha
de neve. Ele tem gosto de chocolate rico e á gua fria e – doce Jesus – sua
lı́ngua dá um tapinha na minha e meus joelhos cedem. Eu jogo meus
braços em volta do seu pescoço, passo os dedos pelas mechas grossas e
sedosas de seu cabelo enquanto seus braços me envolvem até que
estamos esmagados juntos, peito a peito, o coraçã o batendo forte.
Inclinando a cabeça, Jonathan aprofunda nosso beijo até que esteja
quente e liso, uma dança desesperada que bate no ritmo do sim, mais e
não para. Seus dedos afundam em meu casaco e ele puxa nossos
quadris juntos. Eu suspiro, sentindo-o grosso e meio duro já ,
aconchegando onde estou doendo e molhada sob minhas roupas. Nossa
respiraçã o é á spera e irregular, entre cada deslizamento febril e
devorador e cada golpe de lá bios e lı́ngua. Eu me pressiono contra ele.
Nossos corpos balançam juntos.
As mã os de Jonathan apertam minha cintura e deslizam pelas
minhas costas, enrolando no meu cabelo enquanto ele me beija tã o
profundamente, é como se nossas bocas estivessem fazendo amor.
Estou frené tica, selvagem, sugando sua lı́ngua, e ele geme, á spero e
baixo em sua garganta, como se nã o houvesse agonia mais doce do que
esta. Um gemido indefeso me deixa també m. Eu pareço arrasada.
Porque eu estou.
Por que esse é o melhor beijo da minha vida? Por que tinha que ser
ele?
— E muito bom. — Eu sussurro atravé s do nó na minha garganta, a
dor no meu coraçã o, mesmo enquanto o beijo novamente e novamente.
— Nã o era para ser tã o bom.
— Nã o era, hein? — Ele diz suavemente contra meus lá bios. —
Claro que você está me insultando. Mesmo enquanto nos beijamos.
Beijando. A palavra ecoa no silê ncio nevado enquanto a realidade
me atinge como uma bofetada gé lida do vento de inverno. Eu me afasto,
dedos trê mulos escovando meus lá bios. Oh meu Deus. Eu beijei
Jonathan Frost. Mais de uma vez. Na verdade, muitas vezes.
Apaixonadamente.
Jonathan me olha como se uma né voa tivesse se dissipado para ele
també m. Como se ele tivesse acabado de processar o que fez e nã o
acredite que fez. Antes que qualquer um de nó s possa falar – mas o que
diabos poderı́amos dizer? – eu cambaleio para trá s, subindo correndo
os degraus para a entrada do meu pré dio. Mas, por alguma razã o
inexplicá vel, quando chego ao topo, me viro e o encaro.
Jonathan me encara, ainda respirando com di iculdade.
Ainda estou respirando assim també m, como se nã o houvesse ar
su iciente, como se o ú nico ar que eu queria fosse cada respiraçã o
irregular roubada entre beijos que nos desemaranham e nos enredam.
Que desastre absoluto.
Freneticamente, corro para dentro e escada acima para o meu
apartamento no segundo andar. Fechando a porta, eu caio contra ela e
afundo no chã o.
— Que porra foi essa? — Sussurro no silê ncio.
De onde estou sentada, posso ver direto o corredor até meu quarto
e minha mesa, o laptop empoleirado em sua superfı́cie. Penso no Sr.
Reddit e meu estô mago afunda. Ele é aquele por quem eu estava
esperando, aquele que eu deveria beijar algum dia quando a neve cair
do cé u.
Nã o, nã o estamos juntos, mas nó s dois mais ou menos admitimos
que esperá vamos por isso, uma vez que nos conhecermos e nos
encontrarmos pessoalmente. Como eu perdi isso de vista? Como deixei
o cheiro de inverno sensual de Jonathan e seu discurso de romance e
seu carro aconchegante e seu estoque de M&Ms de chocolate com
menta me in luenciarem tã o facilmente?
Um medo nauseante toma conta de mim. E se eu tiver entrado em
um territó rio perigosamente familiar com Jonathan?
Já fui seduzida por motivos ocultos antes, e embora Trey fosse tã o
diferente de Jonathan em termos de personalidade quanto o dia da
noite – todo charme e lerte, em comparaçã o com meu colega de
trabalho frio e rude – seus objetivos sã o muito semelhantes, nã o sã o?
O objetivo inal de Trey era que o negó cio de sua famı́lia fosse dono
da Bailey's Bookshop e, para tentar garantir isso, ele se aproveitou da
minha con iança, do meu romantismo, da minha crença no melhor das
pessoas. Jonathan també m quer a livraria para si e ele provou ser
ambiciosamente estraté gico e calculista. Nã o tenho certeza de como
essa campanha sedutora, essa rotina de cara legal e me beijando sem
fô lego, atua em seu esquema, mas que razã o tenho para acreditar que é
outra coisa senã o isso – um esquema?
Qualquer que seja o motivo de Jonathan para explorar essa atraçã o
sexual que nã o posso negar mais do que posso negar os cachos em
minha cabeça ou a cor dos meus olhos, tenho que parar com isso. Agora
mesmo. Nem mais um momento meditando sobre o desejo em seu
olhar, aquele quase sorriso sexy quando ele saiu do vestiá rio e me viu
lá . Chegou a pensar no meu chocolate quente de hortelã -pimenta
perfeito ou em seu estoque de chocolate com menta, ou em sua
apreciaçã o pelo romance ou em seu sincero pedido de desculpas...
Ou aqueles beijos. Deus, esses beijos.
Entã o, novamente... talvez cada coisa doce e sensual que o homem
espremeu em uma pequena hora seja exatamente o que eu deveria estar
pensando. Talvez seja hora de usar as armas de Jonathan Frost contra
ele.
Tropeçando, corro para o meu quarto e abro a porta do armá rio
para procurar o vestido que vence todos os vestidos. Eu o desenterro, e
em seguida, penduro na porta do armá rio, inspecionando com uma
inclinaçã o de minha cabeça. Pã o de Mel dá uma olhada no vestido,
depois solta um longo miado.
— Concordo, Pã o de Mel. E muito va-va-voom para o trabalho, mas
você sabe o que dizem: tempos de desespero exigem medidas
desesperadas.
Se Jonathan Frost pensa que vai me emprestar o Lothario
imediatamente, ele tem outra coisa vindo.
Eu me empurro enquanto pressiono as rugas de cada painel
carmesim do meu vestido e escolho o par perfeito de brincos
soberbamente festivos. Lembro-me do fogo nos olhos de Jonathan
quando ele me disse: Não vou embora sem lutar por isso, Gabriella.
Eu me detesto por ser vı́tima de seu ato de cara legal no carro.
Me detesto por beijá -lo tanto quanto ele por me beijar, por deixá -lo
me segurar em seu corpo, feroz e quente e duro, quando ele nã o deveria
ser quem eu quero.
Detesto que, enquanto eu vejo neve caindo fora da minha janela,
tudo que vejo sã o locos de neve coroando seu cabelo escuro, e quando
eu lambo meus lá bios, tudo que eu sinto é aquele primeiro toque
intoxicante de sua boca e da minha.
Jogando-me na cama, vestido vermelho apertado e esperando
como uma armadura, pronta para a batalha amanhã , eu envolvo Pã o de
Mel em meus braços e enterro meu rosto em seu pelo macio aveludado.
Ela mia, olhando para mim curiosamente.
— Qual é o meu plano, você pergunta? — Eu beijo seu nariz rosa
perfeito. — Vou trabalhar amanhã e vou deixar Jonathan Frost de
joelhos.

Cedi ontem à noite, e ouvi meu audiolivro de romance porque eu


estava desesperadamente mal dormida e precisava estar descansada
para o meu plano de ataque. Infelizmente, isso levou a outro sonho
eró tico de aristocratas na biblioteca que envergonhou seu antecessor.
Eu não consigo pensar sobre isso.
Nã o sem corar da cabeça aos pé s e se lembrar de cada lugar onde
as mã os e a boca de Jonathan na fantasia estavam na noite passada.
E por isso que, enquanto desço a calçada em direçã o à livraria,
estou fazendo tudo o que posso para me distrair. Checando
mentalmente minha lista de afazeres pelo resto da semana, tenho
mú sicas de Natal tocando em meus fones de ouvido e con io
inteiramente na minha visã o para garantir que nã o serei levada por um
carro como um pino de boliche sobressalente. Isso signi ica que meus
fones de ouvido bloqueiam nã o apenas o ruı́do do trá fego, mas també m
o som de passos se aproximando, deixando-me totalmente
despreparado quando uma mã o envolve meu cotovelo.
Soltei um grito instintivo e deixo cair meu chocolate quente de
hortelã na calçada enquanto a autodefesa entra em açã o. Estou prestes
a agarrar seu pulso e, como mamã e me ensinou, puxo para frente e, em
seguida, giro, mas eles soltam meu braço antes que eu possa.
Assim que estou girando para jogar a palma da minha mã o em seu
nariz, o cheiro familiar de colô nia avassaladora lutua pelo ar e refresca
minha memó ria.
— Trey!
Cabelo loiro, curto nas laterais, mais longo na parte superior.
Grandes olhos azul-celeste. Ele parece um boneco Ken que icou
surpreso.
Ofegante, tiro meus fones de ouvido e o encaro.
— Que diabos, Trey? Você me assustou!
Ele abre a boca para me responder, mas nã o é a sua voz que ouço. E
do Jonathan.
— Gabby! — Puta merda. E sua voz Siri- ique-de-joelhos.
Comandante, profunda e estrondosamente alta.
Estou sem palavras quando olho por cima do ombro de Trey,
observando Jonathan correr cada vez mais perto.
Trey parece sentir que tem muito pouco tempo.
— Gabby, me escute. — Ele diz. — Os dias de Bailey estã o
contados. Venha trabalhar comigo. Traga aquele charme de loja
pequena para o Potter's. As livrarias independentes estã o morrendo,
quase extintas. Tudo o que resta é trazer o que você adora nelas para a
experiê ncia da rede de lojas.
Eu recuo diante disso.
— Nã o é isso que eu quero. Eu quero salvar a Bailey's.
— Você nã o pode. — Ele argumenta, dando um passo em minha
direçã o. — Nã o seja ingê nua. Seu idealismo nã o vai salvar…
Felizmente, Trey nã o consegue terminar esse pensamento de
desprezo. E interrompido abruptamente quando Jonathan o restringe
em um movimento suave, prendendo-o contra um pré dio pró ximo.
Ele poderia ter seu corpo veri icado e brutalizado, mas Jonathan
está controlado, deixando Trey intacto, apenas atordoado, sua
respiraçã o raspando levemente sob o antebraço de Jonathan.
— Você está machucada? — Jonathan me pergunta, me
examinando em busca de sinais de perigo.
— Estou bem. Ele me pegou de surpresa e me assustou, mas nã o
me machucou. Você pode deixá -lo ir.
Imediatamente, Jonathan abaixa o braço e vem na minha direçã o,
ignorando Trey, que inge tossir e esfregar a garganta.
Alé m do fogo em seus olhos, a forma irme de sua boca, Jonathan
parece completamente calmo. Ele nem está sem fô lego.
— Você tem certeza que ele nã o te machucou?
— Tenho certeza. — Sussurro, algo emocionante e aterrorizante
acontecendo dentro do meu coraçã o. Minha caixa torá cica é um taco
quando a bola cai à meia-noite – cintilante, brilhante, efervescente.
— Eu nã o estava tentando assustar você , Gabs. — Trey diz,
quebrando o momento.
Gabs. Deus, odeio esse apelido. Desviando meu olhar de Jonathan,
eu olho em sua direçã o.
— E ainda assim você agarrou meu braço por trá s?
— Eu chamei seu nome uma dú zia de vezes. — Diz ele com ar
condescendente, como se isso fosse de alguma forma um descuido da
minha parte. — Você nã o me ouviu.
— Claro que nã o te ouvi! — Eu aponto para meus fones de ouvido.
— E eu ainda nã o quero.
— Bem, o que mais eu deveria fazer? — Trey diz, me dando
aqueles olhos azuis suplicantes paté ticos que ele tentou quando eu
terminei com ele. — Eu tentei ligar e enviar mensagens de texto para
você de um punhado de nú meros, nenhum dos quais passou depois da
minha primeira mensagem. Escrevi notas para você . Te enviei um
buquê . Eu disse que sentia muito e que estava com saudades. Nã o ouvi
nada.
— Isso é porque eu bloqueei todos os nú meros que você usou e
porque quando eu disse que está vamos acabados, Trey, eu quis dizer
isso! Acabados. E agora vou trabalhar. Pela ú ltima vez, me deixe em
paz.
— Gabs… — Ele implora, entrando no meu espaço. — Ouça-me...
— Nã o, Trey.
— Por favor. — Ele se aproxima, estendendo a mã o para mim. —
Somente…
A mã o de Jonathan pousa com um tapa forte no peito de Trey, em
seguida, o empurra de volta até que Trey nã o possa me alcançar. Sua
voz é fria como gelo – letal, mas sombria e aparentemente suave.
— Ela disse não.
Trey olha para Jonathan, em seguida, encolhe os ombros,
afastando-se de seu toque, recuando enquanto tira sua jaqueta babaca
onde a mã o de Jonathan ainda está impressa no caro preenchimento de
penugem. Perscrutando meu caminho, ele zomba.
— O quê , ele é seu namorado agora ou algo assim? A ajuda da
livraria? — A condescendê ncia que ele resume em uma palavrinha é
surpreendente.
— Jonathan e eu somos co-gerentes, Trey. E embora nosso
relacionamento nã o seja da sua conta, vou lhe dizer uma coisa: ele é dez
vezes a pessoa que você é . Agora vá se foder e tenha um pequeno natal
miserá vel.
Passando por meu ex pedaço-de-lixo, começo a descer a calçada.
Jonathan acompanha o meu passo, duas vezes olhando
ameaçadoramente por cima do ombro, provavelmente para assustar o
inferno fora de Trey para que ele nã o me siga. Nã o falamos enquanto
caminhamos pelo quarteirã o entre Bailey's e onde Trey me parou.
Quando chegamos à loja, Jonathan destranca a porta da frente e a
manté m aberta para que eu possa entrar primeiro.
— Obrigada. — Digo a ele em voz baixa.
Antes que ele possa responder, eu passo a caminhar até a sala dos
fundos, arrancando minhas luvas, desenrolando meu lenço, piscando
para afastar as lá grimas ameaçadoras.
Trey fodido. Me dizendo que sou ingê nua e idealista. Que nã o
posso salvar este lugar. Eu vou mostrar pra ele. Eu tenho que fazer isso.
Há uma batida suave contra a madeira pró xima, e eu sei por quê .
Depois do meu susto, Jonathan está sendo atencioso, nã o quer me
assustar. Meu inimigo frio e ranzinza se foi, e em seu lugar está algué m
que eu disse a Trey dez vezes mais que ele.
E eu quis dizer isso.
Porque eu simplesmente nã o posso acreditar que Jonathan Frost
viria correndo em minha direçã o e se jogaria isicamente entre mim e a
ameaça de dano, entã o se viraria e tentaria me seduzir, trapacear ou
sabotar minha carreira.
O que, eu percebo, depois de todos esses meses odiando suas
entranhas, é um alı́vio profundo. Desprezar algué m é exaustivo e
acreditar no pior dessa pessoa é um fardo para a alma. Eu nã o percebi o
quã o cansada isso me deixava, até agora, como tirar roupas molhadas
frias depois de um longo dia na neve, eu sinto um peso levantar, o calor
da esperança hesitante envolvendo-me.
Nã o tenho certeza do que penso de Jonathan. Ainda nã o. Só sei que
o que pensei dele nã o se encaixa no que acabei de vivenciar. Eu sei que
ele me defendeu e me protegeu e você nã o faz isso por algué m cuja vida
e trabalho você quer arruinar.
Alé m disso, nã o sei o que pensar.
O que eu sei é que o rumo dos acontecimentos, infelizmente,
assopra o vento das minhas velas com a escolha do guarda-roupa hoje.
Agora, este vestido nã o é vingativamente sexy. E simplesmente... sexy. E
tenho certeza de que depois de nos beijarmos do jeito que izemos
ontem à noite, parecer sexy para Jonathan Frost nã o é uma ideia tã o
boa.
— Gabriella. — Calma e baixa, a voz de Jonathan dança como a
ponta do dedo de um amante direto pela minha espinha.
— Sim. — Eu respondo.
— Você está bem?
De costas para ele, mantenho meu casaco e olho para a parede.
Eu estou bem? Nã o, eu nã o estou. Meu ex merda apenas me
assustou e defendeu seu comportamento invasivo. Jonathan veio
correndo para me defender. E agora estou de pé na minú scula sala dos
fundos, com nada alé m de um casaco de lã , impedindo Jonathan Frost
de me ver no vestido vermelho muito sexy. Estou parada aqui, meu
coraçã o batendo forte, porque meu mundo está se reorganizando,
porque apesar do meu desejo mais profundo de manter Jonathan Frost
na caixa organizada da inimizade envolto em um arco de antipatia
orgulhosa, ele abriu um buraco naquela caixa na noite passada e depois
destruiu inteiramente esta manhã .
Agora eu nã o tenho... nada. Nem inimizade, nem braço furioso,
nem mesmo um casaco de lã ou um vestido vermelho ou pele e ossos,
protegendo meu coraçã o dele.
E eu tenho que enfrentar isso. Eu tenho que enfrentá -lo.
Entã o, tirando meu casaco, me viro para Jonathan, e eu o enfrento.

9

Playlist: “Merry Christmas (I Don't Want To Fight Tonight)” -

Alex Lahey

— GABRIELLA. — JONATHAN DIZ novamente, mais gentil, paciente,


quando começo a me virar e encará -lo. — Eu perguntei se você … — Sua
voz morre. Seu olhar desliza pelo meu corpo como se nã o pudesse
ajudar, antes que ele feche os olhos e deixe cair a cabeça contra a porta
com um baque audı́vel. — Jesus Cristo.
— E um pouco demais para o trabalho. — E admito, olhando para o
tecido vermelho luido, mordendo meu lá bio. — Ok, é muito para o
trabalho.
Jonathan está tã o quieto.
— Você está bem aı́? — Pergunto.
— Eu perguntei a você primeiro. — Ele diz com a mandı́bula tensa.
Seus olhos ainda estã o fechados, seu cabelo escuro bagunçado pelo
vento, um rubor no alto de suas bochechas. Ele respira profundamente
pelo nariz e sua mandı́bula clica a cada respiraçã o. Meu olhar percorre
o sué ter perene com decote em V abraçando seus braços fortes e peito
largo, caindo um pouco em sua cintura, deixando-me imaginar o prazer
das minhas mã os viajando naquele tecido macio e os mú sculos rı́gidos e
in lexı́veis por baixo.
Suas mã os sã o punhos nos bolsos de suas calças marrons de
camurça, perfeitamente ajustadas a uma bunda gloriosamente dura e
longas pernas musculosas, a clá ssica constituiçã o poderosa de um
jogador de hó quei. Suas botas marrons polidas piscam sob as luzes da
loja. Ele parece tã o bom como sempre, nã o – melhor. Ele parece muito
bem.
Fico olhando para o meu vestido vermelho, um laço macio e
esvoaçante na cintura, um decote em V profundo com uma pressã o que
o manté m junto ao aumento do meu decote. As mangas redondas e a
bainha esvoaçante, combinadas com botas de salto grossas, deixam
meu busto nã o tã o substancial, acentuam meus quadris largos e fazem
minhas pernas parecerem com uma milha de comprimento.
Ambos trouxemos nossos sedutores nı́vel A de guarda-roupa e, por
um momento, me pergunto se Jonathan també m suspeita de mim
exatamente do que eu suspeitava dele.
Que par fazemos.
— Eu vou icar bem. — Eu inalmente respondo a ele. Jonathan nã o
abriu os olhos. — Justo é justo. Eu respondi. Agora você .
Ele balança a cabeça de um lado para o outro. Lentamente, eu
caminho em direçã o a ele, cada estalo das minhas botas no piso de
madeira quente uma batida do coraçã o ecoando. E quando eu paro, nos
colocando frente a frente, percebo que estamos parados sob o azevinho.
Lentamente, Jonathan abre os olhos. Mas ele nã o olha para mim.
Ele olha para o azevinho pendurado acima de nó s, com uma ita
dourada amarrada em torno dele.
E por um momento, tenho o pensamento ridı́culo de que eu amaria
nada mais do que beijar Jonathan Frost até o im dos tempos.
Mas, mesmo com a minha con iança recé m-adquirida de que ele
nã o está jogando sujo, nã o tentando me tirar do vestido e ir para o
desemprego, nossa rivalidade ainda existe. Mesmo que nã o sejamos os
mais vil dos inimigos como pensei que é ramos, nossos objetivos ainda
sã o fundamentalmente opostos.
E entã o há minha maior razã o de todas. Meu amigo online, o cara
que queria me conhecer há meses, que eu també m queria conhecer. O
bom, gentil e nerd Mr. Reddit.
Nã o posso me permitir esquecer isso. Nã o posso sonhar acordada
em beijar Jonathan Frost no trabalho ou na minha cama ou fora em um
dia de neve. Nã o posso cobiçar ele. Nã o quando tenho menos de duas
semanas para chutar a bunda dele e fechar o ano com vendas recordes.
Nã o quando o Sr. Reddit está quase ao alcance.
Finalmente, Jonathan baixa seus olhos até que eles encontrem os
meus. Nunca vi algué m se esforçar tanto para nã o olhar para meus
seios.
— Senhorita Di Natale.
— Sim, Sr. Frost.
Ele olha de volta para o teto.
— Você manté m roupas sobressalentes aqui, nã o é ?
— Sim. Por quê ?
— Preciso saber o que será necessá rio para você trocar esse
vestido e colocar essas roupas.
Eu bufo uma risada.
— Mas estou confortá vel. Eu nã o quero mudar.
Ele suspira como se soubesse que eu ia dizer isso.
— A menos que… — Levanto o quadril e bato no queixo, ingindo
pensar.
Ele abaixa o olhar até que ele pousa na minha boca.
— A menos que o quê ?
— A menos que... você perca um dia de vendas para mim.
Seus olhos se erguem e encontram os meus, o fogo cintilando
neles.
— Voltar para aquele seu negó cio maldito, nã o é ?
Encolho os ombros, esperando parecer mais indiferente do que me
sinto. Meu coraçã o está batendo forte.
— E o seu negó cio també m. — Digo friamente. — Você concordou
com isso.
Ele ri vagamente, balançando a cabeça. A arrogante
condescendê ncia de sua resposta atira um io em mim.
— Nã o tenho certeza do que há de tã o engraçado em nossa
barganha e o que está em jogo, Sr. Frost. A situaçã o está de alguma
forma abaixo de você ? Estou sendo ridı́cula, exigindo isso de nó s?
Talvez eu deva deixar de lado nosso entendimento, já que nos
empolgamos um pouco na noite passada e porque você me defendeu
esta manhã enquanto eu lidava com meu ex-idiota – o mesmo cara que,
vou te contar um segredinho, foi a ú ltima pessoa em quem cometi o
erro de con iar que teria as melhores intençõ es e quase sabotou minha
carreira.
Jonathan me olha com o olhar mais frio que já vi naqueles olhos
verdes de inverno.
— Talvez, Gabriella, você possa considerar que nem todo mundo é
um idiota moralmente falido como Trey Fodido Potter. Mas é claro, por
todos os meios, mantenha essa barganha. Jogue isso na minha cara a
cada momento que formos alé m da mera civilidade e certamente nã o
deixe nada como as ú ltimas doze horas, muito menos os ú ltimos doze
meses, entrar em seu caminho.
Ele se afasta da parede e dá um passo em minha direçã o, até que
nossos peitos roçam e icamos cara a cara, compartilhando olhares
acalorados e lı́vidos.
— Deus, é proibido você con iar em mim. — Diz ele. — Ou pensar
bem de mim, ou aceitar pela menor possibilidade de que torná -la infeliz
e desempregada nã o seja o meu chamado na vida. Nã o importa o que eu
faça ou diga, Gabriella, você só vê o que quer: um vilã o.
— E por que nã o deveria? Estou esquecendo de algo? Você veio ou
nã o a esta loja há doze meses, me lançou um olhar frio e desdenhoso e,
em seguida, começou a criticar sistematicamente tudo que eu estava
fazendo de errado, zombando de meus mé todos – sim, admito, um tanto
caó ticos, e repetidamente abrindo caminho em todas as minhas ideias
criativas sobre como dar a este lugar uma chance de lutar porque nã o
era uma abordagem “orientada por dados”? Você concordou ou nã o em
garantir seu lugar como ú nico gerente aqui apó s o ano novo,
ultrapassando-me em vendas?
Ele se inclina, a voz baixa e perigosa.
— Tudo bem. Nã o tenho sido a personalidade mais calorosa e
posso ter parecido frio no inı́cio, mas você tem uma lembrança muito
interessante dos ú ltimos doze meses, Gabriella. Porque, de onde estou,
você passou o ano passado repetidamente percebendo mudanças
prá ticas nas operaçõ es de negó cios como ataques pessoais,
ressentindo-se de mim por fazer o trabalho para o qual fui contratado,
para tornar esta loja mais e iciente e lucrativa, e o tempo todo – ou
entã o eu pensei, até bem recentemente – namorando a porra da
competiçã o.
Abro minha boca, mas ele pressiona, sua respiraçã o difı́cil, seus
olhos queimando.
— Quanto à sua pequena “barganha” sobre quem vai acabar
administrando este lugar, sim, eu concordei. Mas está se esquecendo de
um detalhe bastante importante, Srta. Di Natale: essa ideia foi sua, seus
termos, seu ultimato. Você nunca considerou um resultado diferente ou
solicitou minha opiniã o sobre os mé todos para alcançá -lo. Porque, aos
seus olhos, tudo o que poderı́amos ser é uma oposiçã o mesquinha e
rancorosa. — Inclinando-se até que sua respiraçã o seja suave na minha
orelha, sua boca tã o perto que eu poderia me virar e nossos lá bios se
roçariam, ele sussurra: — Quem é o verdadeiro vilã o aqui?
A raiva inunda meu corpo como lava, quente derretida, queimando
por mim. A audá cia que ele tem…
O tilintar da porta dos fundos nos faz nos separar. A Sra. Bailey está
cantarolando para si mesma enquanto entra, toda sorrisos quando ela
olha para cima.
— Bom dia!
Nó s dois conseguimos dar um bom dia afetado em resposta
enquanto ela fecha a porta atrá s de si e tira as luvas de couro pretas
amanteigadas. Seu sorriso vacila enquanto ela olha entre nó s.
— Tudo está certo?
Jonathan limpa a garganta e coloca as mã os nos bolsos.
— Muito bem, Sra. Bailey.
— Sim. — Eu forço um sorriso. — Tudo.
Olhando para o ramo de azevinho pairando sobre nó s, ela suspira.
Entã o, sem dizer uma palavra, ela nos contorna em direçã o à sala de
contabilidade.
Ainda estou olhando para a Sra. Bailey quando Jonathan vai até o
cabide, pega a jaqueta e as luvas e sai pela porta dos fundos em uma
rajada de vento á rtico que o segue.

Enquanto a Sra. Bailey lida com qualquer sombria realidade


inanceira que a aguarda na sala de contabilidade e Jonathan
permanece estranhamente ausente – nã o que eu tenha icado de olho
em seu retorno ou algo assim – eu continuo ocupada.
Com meus fones de ouvido habituais, eu abafo a repetiçã o das
palavras amargas de Jonathan, porque se eu pensar muito sobre elas,
começo a entrar em pâ nico.
E se eu estivesse errada sobre ele? Sobre nó s? Sobre tudo?
Recuo contra esse medo crescente e afasto o mundo com mú sica
natalina enquanto reorganizo as vitrines, refaço a arte em giz do
cavalete externo e, em seguida, envio um e-mail para nossos assinantes
sobre o grande evento de liquidaçã o em nosso ú ltimo dia aberto, 23 de
dezembro, com descontos sem precedentes, os melhores doces
sazonais da padaria local, artesanato de presentes de Natal e mú sica ao
vivo.
Quando meu estô mago começa a ter espasmos de fome, eu saio do
meu foco profundo por tempo su iciente para vagar até a sala de
descanso e inalar uma barra de proteı́na de chocolate com menta.
Tomei dois goles inteiros do meu chocolate quente de hortelã antes que
Trey o tirasse de susto e nã o bebi mais nada desde entã o.
Assim que estou terminando minha ú ltima mordida, a Sra. Bailey
põ e a cabeça para fora da sala dos fundos e diz:
— Gabby, querida – meu escritó rio, por favor?
— Claro. — Digo a ela, tentando muito nã o catastrofar enquanto a
sigo para a sala de contabilidade, onde me deparo com a visã o de uma
mesa desordenada que faz Jonathan urinar.
Gesticulando para a cadeira do outro lado da mesa, ela diz:
— Por favor, sente-se.
Sinto como se tivesse sido chamado à sala do diretor. Nesse caso,
quero que meu parceiro no crime receba a mesma conversa.
— Jonathan está se juntando a nó s? — Eu pergunto.
— Nã o tenho certeza se Jonathan vai voltar. Liguei para o celular
dele e disse-lhe para tirar o dia de folga se precisar.
Meu estô mago embrulha.
— O que?
Ele vai perder um dia de vendas. E, alé m disso, Jonathan é muito
bunda dura, ele só perde o trabalho se estiver doente à beira da morte.
Aconteceu duas vezes em doze meses, e ele sumiu um dia de cada vez.
— Eu nã o me preocuparia. — Diz ela.
Exceto que estou preocupada. Porque desde que ele saiu esta
manhã e apesar de meus melhores esforços para me distrair, tenho
repetido cada palavra do discurso de Jonathan. O estado em que estive
desde o dia em que ele começou aqui parece que está desmoronando.
E se eu nã o estivesse apenas errada sobre minhas suspeitas de
seduçã o? E se eu estiver errada sobre o pró prio Jonathan? E se o
homem que vi esta manhã , cujo comportamento mudou minha
percepçã o dele e nossa dinâ mica, nã o for um estranho tanto quanto
algué m que raramente vejo?
Mas se for esse o caso, por que ele nã o me contou? Nunca conheci
uma pessoa mais direta do que Jonathan Frost. Ele nã o faz rodeios, nã o
mede palavras. Ele lança verdades brutais como dardos, sem se
preocupar em como eles grudam quando afundam no alvo de suas
esperanças e sonhos e na reconfortante familiaridade de tudo que você
já conheceu. Por que ele nã o me corrigiu antes?
— Gabby. — A Sra. Bailey remove os ó culos e apoia os cotovelos na
mesa. — Posso te perguntar uma coisa?
— Sim, Sra. Bailey.
— O que faz você ainda ver Jonathan como seu inimigo? Eu
entendo por que você fez, em primeiro lugar. Ele invadiu sua rotina,
nossa velha maneira de fazer as coisas, ele é pro iciente nas á reas em
que você nã o é , assim como você é forte em muitas á reas em que ele
nã o é , gostaria de acrescentar. Mas eu esperava... — Ela suspira,
inclinando a cabeça. — Eu esperava que agora você s dois tivessem
passado de brigas. Especialmente com o que estamos enfrentando
agora, esperava que você encontrasse uma maneira de deixar de lado as
diferenças e ver... tudo o que poderia ser possı́vel entre você s.
Pisco para conter as lá grimas, todo o peso disso caindo sobre mim
enquanto a voz de Jonathan ecoa em meus pensamentos.
Você nunca considerou um resultado diferente ou solicitou minha
opinião sobre os métodos para alcançá-lo. Porque, aos seus olhos, tudo o
que poderíamos ser é uma oposição mesquinha e rancorosa.
— E tã o difı́cil. — Sussurro. — Quando você foi aproveitada no
passado, quando sua parte mais vulnerá vel é explorada tã o
profundamente. E difı́cil con iar, abrir-se mais uma vez e dar à s pessoas
o benefı́cio da dú vida. E assustador correr o risco de errar de novo.
Os olhos da Sra. Bailey se enrugam de preocupaçã o.
Limpo as lá grimas dos meus olhos e tento sorrir de forma
tranquilizadora.
— Eu sinto muito. Estou bem, sé rio. Eu nã o deveria estar dizendo
isso para você …
— Gabby, querida, é claro que você deveria. Eu perguntei. Eu quero
saber. — A mã o macia e envelhecida da Sra. Bailey pousa quente em
cima da minha. Ela aperta suavemente. — O que você disse, sobre ter
sua con iança quebrada, ser manipulado, isso é sobre o garoto Potter?
A memó ria desta manhã me faz estremecer. O toque indesejado de
Trey, Jonathan correndo em minha direçã o como se nada no mundo
fosse impedi-lo.
E entã o essas palavras. Ele te machucou?
Assentindo, enxugo as lá grimas. A Sra. Bailey sabe o que aconteceu
com Trey meses atrá s, porque eu disse a ela. Ela sabe que eu nã o tinha
ideia de quem ele realmente era, que assim que percebi suas
verdadeiras intençõ es, está vamos acabados. Contar a ela foi estranho e
nã o foi minha conversa favorita, mas a Sra. Bailey foi compreensiva e
me garantiu que acreditava em mim. Ainda me senti pé ssima sobre isso
por meses.
— Isso realmente me confundiu. — Sussurro.
Ela acena com a cabeça.
— E compreensı́vel icar atenta depois de algo assim. E sejamos
claras, embora Jonathan nã o seja tã o... sinistro como você o percebe, ele
també m nã o é nenhum santo. Ele e eu tivemos algumas conversas sobre
como ele se comporta com você e també m com nossos clientes. Ele é
exigente, orgulhoso e impaciente, e certamente suportaria sorrir mais.
— Tente sempre. — Murmuro.
Sra. Bailey ri.
— Você s sã o pessoas muito diferentes. Eu sabia que seria um
começo difı́cil, e foi. Adicione alguns mal-entendidos, algumas lutas
pelo poder, estilos gerenciais ligeiramente con litantes...
— Ligeiramente con litante?
Ela sorri com um pouco de tristeza.
— Eu nã o contava com o quã o teimosos você s dois seriam, o quã o
resistentes a... dar uma chance um ao outro. — Por um momento de
silê ncio, a Sra. Bailey procura meus olhos. Liberando minha mã o, ela se
recosta. — E se você s tentassem ser amigos?
— Me desculpe, o quê?
— Muitas vezes o melhor caminho a seguir é descobrir um de cada
vez. E uma jornada difı́cil de inimizade para amizade, mas nã o
impossı́vel.
Amizade. Eu provo a palavra na minha lı́ngua, experimentando.
Amizade. Eu poderia ser... amiga de Jonathan?
Me permito imaginar isso, terminando este longo e á rduo trabalho
dos ú ltimos doze meses em uma curva inal digna na estrada. Nossas
cabeças erguidas, respeito mú tuo e que-o-melhor-ganhe, bons votos
amigá veis para o outro enquanto nos separamos.
Mas entã o penso em como me sinto quando minha mã o toca a dele,
quando os olhos de Jonathan encontram os meus e há calor em suas
bochechas e ele está olhando para mim como fez depois da reuniã o de
negó cios, no carro, quando nos beijamos, quando nos enfrentamos esta
manhã – intenso, carregado...
Nada disso é amizade para mim. Pelo menos, nã o como qualquer
amizade que já conheci. Mas talvez esteja tudo bem. Talvez seja o que
for que a amizade pareça para Jonathan e eu, por este perı́odo de tempo
antes de nos separarmos, nã o tenha que se parecer com qualquer outra
amizade no meu passado.
A Sra. Bailey parece ler minha mente, como se soubesse uma coisa
ou duas sobre como é andar na linha entre o desejo e a aversã o e tentar
abrir um caminho seguro entre os dois, para encontrar um meio-termo
suave.
— Vale a pena tentar, nã o é ? No espı́rito da temporada? — Ela
acrescenta, com um brilho nos olhos. — Para ter um pouco de paz aqui
na livraria Bailey´s?
Imagino propor amizade a Jonathan, largando minha arma
primeiro, estendendo minha mã o enquanto ofereço uma tré gua.
Lembro-me de como foi a sensaçã o de sua mã o segurando a minha. As
pontas dos meus dedos e palmas icam quentes, chamuscadas com a
memó ria.
Particularmente, re lito que “paz”, quer sejamos amigos ou
inimigos, é a ú ltima coisa que encontrarei com Jonathan Frost. Mas o
que digo à Sra. Bailey é :
— Vou tentar. Eu prometo.

10

Playlist: “Make Way for the Holidays” - Le Bon

UMA HORA DEPOIS, A Sra. Bailey se foi e a loja abriu 45 minutos


depois. Já vendi dois romances, um misté rio aconchegante e – piada –
trê s thrillers. O lugar está vazio por enquanto, e estou indo fazer uma
xı́cara de chá com leite açucarado, quando noto que o azevinho caiu da
arcada que leva do registro para a sala dos fundos. Esticando-me na
ponta dos pé s, eu o prendo de volta por seu io dourado.
E quando a porta dos fundos se abre para Jonathan Frost e com ele,
uma rajada de vento de inverno. Ele a fecha silenciosamente, entã o
espia por baixo dos cı́lios escuros, aqueles olhos verdes marcantes ixos
em mim. Eu me abaixo em meus calcanhares enquanto Jonathan
caminha pelo corredor, um copo de bebida decorado com locos de neve
em cada mã o.
— Eu sinto muito. — Dizemos ao mesmo tempo.
— Podemos conversar? — Eu pergunto.
Jonathan examina meus olhos.
— Sim.
Envolvo minha mã o em torno do copo que ele está segurando que
cheira a hortelã -pimenta e chocolate agridoce. Nossos dedos se roçam.
— Eu acho que eu poderia usar um pouco de coragem lı́quida
primeiro.
Sua boca se levanta no canto, a sombra de um sorriso.
— Você está com sorte, entã o.
— Obrigada. — Olhando por cima do ombro, vejo que a loja ainda
está vazia. Olho de volta para Jonathan e inclino minha cabeça em
direçã o à sala de descanso. — Está tudo bem agora? Você se importa?
Ele balança a cabeça.
— Eu nã o me importo.
Lidero o caminho para a sala dos fundos, chocolate quente na mã o,
e me sento à mesa, observando-o pousar o café na mesa e tirar as luvas,
dedo por dedo. Ele tira o casaco, que escorrega pelos ombros, pelas
costas, antes que ele passe a mã o pelo cabelo e ajeite as ondas varridas
pelo vento.
Sentado na minha frente, Jonathan pega sua xı́cara, que nã o
percebi que tinha enrolado em minha mã o. Seu polegar roça meu dedo,
uma garantia.
— Obrigada novamente por isso. — Digo a ele.
— De nada, Gabriella.
Tomo um gole do meu chocolate quente de hortelã -pimenta.
Jonathan toma um gole de café . Ficamos sentados em silê ncio, o vapor
saindo de nossas bebidas.
Até que encontro minha coragem e digo:
— Nã o sou boa em ler as pessoas e... os acontecimentos recentes
me levaram a acreditar que, por um bom tempo, talvez desde que você
começou aqui, eu o tenha interpretado completamente mal. E por causa
disso, eu talvez, potencialmente, tenha sido um pouco mais hostil do
que o necessá rio. — Limpo minha garganta e estendo minha mã o. —
Entã o, eu quero me desculpar por isso e propor amizade.
A testa de Jonathan franze quando ele olha para minha mã o.
O silê ncio paira, mais frio do que o ar externo que o seguiu em seu
retorno. Minha mã o começa a vacilar, assim como minha coragem. Mas
apenas quando eu começo a recuar, ele a agarra, seu aperto é quente e
forte. O alı́vio corre atravé s de mim, brilhando como a luz do sol na
neve e enfeites nos galhos das á rvores.
O polegar de Jonathan acaricia as costas da minha mã o enquanto
diz:
— Agradeço por isso. E eu també m sinto muito. — Sua boca se
inclina no canto. — També m, talvez, potencialmente, fui um pouco mais
hostil do que o garantido.
— Amizade? — Pergunto. Seu polegar está me deixando louca. Eu
cruzo minhas pernas sob a mesa e me concentro no assunto em
questã o.
— Amizade. — Ele diz.
— Excelente. — Afasto minha mã o mais abruptamente do que
pretendia, mas amigos nã o icam com tesã o de segurar as mã os, e eu
tenho que manter isso sob controle. — Excelente. Amizade, entã o.
Inclinando a cabeça, Jonathan envolve seu café com as mã os
grandes. Eu deveria receber uma santidade por como eu evito olhar
para aqueles dedos longos e como eles se enrolam em torno da xı́cara.
— O que você disse antes de eu sair…
— Isso foi duro da minha parte. — Minhas bochechas esquentam.
— Eu me empolguei.
— Gabriella. — Ele diz baixinho, seu pé cutucando o meu por baixo
da mesa. — Me deixe terminar.
Aceno e olho para o meu chocolate quente de hortelã .
— O que você disse sobre como me comportei com você quando
comecei. — Diz ele. — Você está certa, e eu sinto muito. Nunca fui bom
em suavizar golpes, transmitir verdades duras em palavras
reconfortantes. Eu nã o ico emocionado com essas coisas, mas você sim.
Profundamente. E eu nã o entendia nem sentia empatia. — Ele olha para
o seu café e suspira pesadamente. — Eu me arrependo daquilo.
— Nã o se culpe. Somos pessoas muito diferentes com visõ es muito
diferentes para este lugar, Jonathan. Acho que, mesmo com nosso
melhor comportamento, está vamos fadados a entrar em con lito.
Ele olha para cima, ixando seu olhar em mim.
— Qual é a sua visã o?
Sorrio, porque é impossı́vel nã o sorrir quando falo da livraria.
— Eu quero manter o coraçã o do lugar. Quero que seja uma base
comunitá ria que recebe de braços abertos qualquer pessoa que queira
entrar. Quero que seja pessoal, separado das livrarias online e das
redes. Eu quero manter sua alma. — Procurando seus olhos, pergunto a
ele: — E você ?
Ele parece hesitar por um momento, em busca das palavras certas,
antes de inalmente dizer:
— Eu... quero que seja uma empresa e iciente e modernizada que
seja inanceiramente segura o su iciente para sobreviver, para que a
‘alma’ de quem você fala tenha um lar assim que possı́vel.
Ao ouvi-lo dizer isso, meu coraçã o dá um salto duplo e ixa o
pouso, uma onda de alı́vio alegre.
— Viva isso. — Eu bato minha xı́cara suavemente com a sua.
Depois de um momento de silê ncio, Jonathan diz:
— Mudança de marcha.
— Preparada.
— O que há com o vestido vermelho de tortura, Gabriella? — Ele
está fazendo aquela coisa de novo em que ele muito diligentemente não
está olhando para meus seios.
Eu ri.
— Oh isso. Entã o, ontem à noite, depois de – você sabe – me
convenci em uma paranó ia turbulenta de que você estava usando seus
truques sexuais para me seduzir para fora do trabalho.
Suas sobrancelhas se erguem.
— O que?
— Você tinha motivo para azevinho, ou entã o eu pensei...
— O que diabos é ‘motivo para azevinho’?
— Vamos, Frost. Siga meu raciocı́nio. O azevinho pendurado é uma
armadilha de encontro, uma armadilha sensual. Como seus supostos
motivos. Você está monitorando?
Ele morde o lá bio e olha para o teto.
— Monitorando.
— Entã o, eu percebi que você tem esse â ngulo sedutor de
sabotagem, me levando para casa na noite passada, brincando de
cavalheiresco com aquele negó cio sexy de Darcy oferecendo uma mã o
para sua carruagem…
— Espere, o quê?
— Deixando minhas pernas inteiras como um macarrã o, me
beijando…
— Ei, você me beijou també m. — Ele aponta. — Nó s nos beijamos.
— Justo. Nó s nos beijamos. Isso foi um e-erro... — Hesito, porque é
difı́cil chamar aqueles beijos incrı́veis de erros, mas eles eram.
Nã o foram?
— A questã o é — Eu continuo. —, nó s nos beijamos, sim, mas tudo
que levou a isso, foi tudo você . E eu nã o conseguia descobrir por quê .
Entã o presumi o pior. Até você me provar que estou errada esta manhã .
E agora eu percebo que, embora nã o exatamente em nossas
personalidades ou estilos gerenciais ou visõ es de livraria, você nã o tem
feito a minha vida um inferno, e em certos â ngulos eu nã o sou muito
severa com os olhos, e talvez você seja um pouco quente para mim, e à s
vezes um beijo é apenas um beijo.
Ele está em silê ncio, seus olhos escuros e intensos.
— Eu nã o queria tornar sua vida um inferno, Gabriella. E nã o estou
tentando seduzi-la para fora do trabalho. — Jonathan olha para a mesa,
traçando uma espiral na ibra da madeira. — E você de initivamente
nã o é difı́cil de se olhar, de qualquer â ngulo. Mas nã o tenho tanta
certeza sobre a ú ltima parte.
— O beijo? Ou melhor, beijos?
Ele concorda.
— Estou contigo. Eu nã o beijo as pessoas apenas por beijá -las. Eu
també m nã o sinto desejo sexual inesperado por elas. Nã o até que eu me
sinta emocionalmente conectada. O que meio que me deixou perplexa
no inı́cio, quando percebi que estava... — Limpo minha garganta
enquanto um rubor aquece minhas bochechas. — Na sua. Sou
demissexual e nunca quis algué m de quem nã o gostasse
profundamente depois de me aproximar dele. Mas entã o eu raciocinei,
embora eu nã o tenha gostado muito de você na maior parte do tempo
que o conheço, Sr. Frost, eu forjei um vínculo com você – nosso amor
por este lugar, nossas responsabilidades compartilhadas, até mesmo a
maneira como posso prever o que vai irritá -lo tanto quanto o que vai
agradar seu coraçã o de Scrooge, que conta o dinheiro. E um vı́nculo
profundamente carregado, mas mesmo assim é um vı́nculo. Há
familiaridade e, ironicamente, uma forma bizarra de segurança em
nossa dinâ mica e sua previsibilidade. Uma espé cie de... intimidade. Isso
faz de você , infelizmente, um jogo justo. Mas e você ?
Passo meu dedo atravé s do chantilly em cima do meu chocolate
quente, coloco na minha boca e chupo.
Um som baixo e pintado deixa Jonathan, como se ele estivesse
morrendo silenciosamente.
— O que? — Eu pergunto.
Ele enterra o rosto nas mã os.
— Você tem que parar de fazer isso.
— Estou apenas curtindo minha bebida festiva, Sr. Frost. Vamos,
quero ouvir sua teoria sobre os beijos.
Uma longa e irregular exalaçã o o deixa.
— Já disse tudo o que posso fazer agora.
— Por que?
Finalmente ele levanta a cabeça. Com um toque suave de seu
polegar em meus lá bios, ele deixa todo o meu corpo em chamas.
— Você tem chantilly — Ele engole rudemente. — Bem no canto da
sua boca. E nã o posso me concentrar nesta conversa, especialmente
uma sobre atraçã o sexual, enquanto você está assim.
Um novo rubor sobe pela minha garganta e bochechas. Um silê ncio
pesado paira entre nó s.
Lentamente, jogo minha lı́ngua para fora, molhando meus lá bios
até sentir o gosto de outra gota de creme chantilly doce e pesado.
— Que tal agora? Está melhor?
— Nã o. — Ele diz baixinho, seus olhos grudados na minha boca. —
De jeito nenhum.
Minha respiraçã o ica presa na minha garganta.
— Por que nã o?
O olhar de Jonathan levanta e encontra o meu.
— Porque eu quero beijar você mais do que nunca. E você quer me
beijar també m. E, dadas as circunstâ ncias atuais, isso nã o deveria estar
acontecendo. Nã o entre... amigos.
Deus, ele está certo. Eu nã o deveria querer beijá -lo. Nã o quando
mal cruzamos da inimizade para o territó rio amigá vel, nã o quando há o
Sr. Reddit esperando por mim no inal dessa loucura.
E, no entanto, aqui estou eu, olhando para Jonathan e sua boca,
lembrando como era beijá -lo – o desejo que me inundou com cada
carı́cia de sua lı́ngua, cada toque profundo e quente de seus lá bios.
Amizade, o anjo em meu ombro canta. Você concordou com
amizade!
Amigos não se beijam assim, o diabo ronrona do meu outro lado,
girando seu forcado de fogo diabolicamente entre as mã os. Amigos não
estrelam suas fantasias noturnas quentes…
Fortalecendo minha decisã o, eu levanto minha xı́cara e ofereço um
brinde.
— A amizade.
Lentamente, Jonathan levanta sua xı́cara e bate com a minha.
— Amizade.
— Para fazer tudo o que podemos para salvar Bailey's. Para vender
o maior nú mero possı́vel de livros, mesmo que ainda concorram entre
si. Podemos ser competitivos pro issionalmente, mas ainda assim
amigá veis uns com os outros, certo? Podemos concordar em nã o lutar
mais? Bom, nã o brigamos um com o outro, mas ainda brigamos pela
loja, porque estou lutando por isso. Bailey's é o meu mundo. Nunca quis
trabalhar em outro lugar.
Ele ica quieto por um momento.
— Eu sei disso.
— Você nã o pode ir trabalhar em outro lugar depois do ano novo?
— Eu imploro, minha elaborada torrada abandonada. Colocamos
nossas bebidas na mesa. — Você é tã o conhecedor de negó cios. Nã o
quer fazer cá lculos em um daqueles arranha-cé us no centro da cidade,
ganhar muito dinheiro, dirigir um SUV novinho em folha?
Ele arqueia uma sobrancelha.
— Uau, Gabriella. Você poderia me fazer parecer mais super icial?
— Eu sinto muito. — Penduro minha cabeça. — Você nã o é . Eu sei
que você nã o é . Eu simplesmente sinto que você pode ter sucesso em
qualquer lugar. E eu nã o sou assim.
Movendo-se para que uma de suas botas deslize entre as minhas,
Jonathan bate de joelhos comigo.
— Quando você diz: ‘Eu nã o sou assim’, o que isso signi ica?
— Isso signi ica… — Eu prendo minhas botas em torno das dele e
nervosamente as bato. E entã o aqui estã o elas, as palavras que segurei
por tanto tempo: — Signi ica que sou autista. E encontrar ambientes de
trabalho que atendam à s minhas sensibilidades, que afetem meus
pontos fortes, nã o é tã o fá cil para mim quanto para você s neurotı́picos.
Isso signi ica que nã o sou muito boa com as pessoas, mas com os livros,
sou melhor. Os livros me ajudam a entender os outros e me ajudam a
dar sentido aos outros. Eles sã o meu canal, uma das melhores maneiras
de me relacionar com as pessoas. Nunca houve um lugar onde eu
tivesse tanta certeza de que estou fazendo exatamente o que devo, de
que estou bem onde pertenço, como quando estou ajudando algué m a
encontrar o livro perfeito aqui na Bailey's, conectando-se com eles por
meio de um personagem, apresentando a uma criança a histó ria que dá
inı́cio ao seu amor pela leitura, transformando um cı́nico cansado do
mundo em um leitor de romances voraz.
Jonathan me encara. Timidamente, sua mã o viaja pela mesa e seus
dedos se enredam nos meus.
Nem uma ú nica palavra sai de seus lá bios, mas como nosso
primeiro beijo, sua voz está na minha cabeça, tã o clara. Eu quero saber.
Diga-me tudo o que quiser, ou nada, se quiser. Estou ouvindo.
— Isso signi ica que nã o tenho a consciê ncia social mais sutil e me
saio melhor com uma comunicaçã o muito direta e honesta. — Digo a
ele, um pouco mais calma, repentinamente ciente do quanto estou
confessando. — Signi ica que ruı́dos altos e repentinos machucam nã o
apenas meus ouvidos, mas meu cé rebro e me assustam muito – é por
isso que uso tanto meus fones de ouvido com cancelamento de ruı́do.
Signi ica que adoro começar o dia com um chocolate quente e
geralmente como o mesmo almoço, porque as rotinas sã o calmantes e
organizam o que parece ser um mundo muito caó tico. Signi ica que
tenho o mesmo vestido sué ter em seis cores, porque encontrar roupas
que sejam realmente confortá veis e adequadas ao trabalho é mais difı́cil
do que você pensa, e quando encontro um unicó rnio assim, eu o
acumulo. Isso signi ica que a mú sica nã o é apenas um prazer para mim,
é vital para minha felicidade. Signi ica que estou con iante, e literal, e fui
subestimada e mal compreendida mais do que meu orgulho gostaria
que eu admitisse. E també m signi ica que sou uma pessoa criativa e
sonhadora, uma pessoa artisticamente expressiva que se entrega à s
suas paixõ es e as ama ferozmente – as causas e as pessoas pró ximas ao
meu coraçã o – e nã o faz nada disso por meias-medidas.
Enquanto respiro fundo, inalmente desabafando, arrisco um olhar
para Jonathan. Sua mandı́bula está tensa, seus olhos em chamas.
— Eu me sinto muito vulnerá vel agora. — Eu sussurro. — Diga
algo.
— Eu… — Ele engole asperamente. — Eu gostaria de ter sabido. E,
ao mesmo tempo, sinto que també m já sei muito sobre isso. — Seus
dedos dançam ao longo dos meus. — Estou feliz por saber ainda mais
agora.
Engulo nervosamente.
— Percebo que só porque expliquei tudo isso nã o signi ica que de
repente sou necessariamente fá cil de entender.
Ele inclina a cabeça, olhando para mim.
— Mas acho que entendo você , Gabriella... pelo menos um pouco.
Nã o pude evitar, mas comecei a descobrir você , passando tanto tempo
juntos.
— Nã o sinto como se tivesse entendido você .
Sua boca se curva.
— Eu tenho uma excelente cara de pô quer.
— E rude. — Começo a puxar minha mã o, mas ele a segura com
força.
— E um mecanismo de defesa. — Diz ele. — Eu sou bom em
esconder coisas que você nã o é . E talvez isso pareça uma vantagem,
mas como você tem sido você mesma perto de mim, de vá rias maneiras,
Gabriella, aprendi do que você gosta e do que precisa. Eu descobri que a
mudança estressa você e as coisas desconhecidas lhe causam uma
ansiedade insuportá vel.
Fico olhando para ele.
— Você aprendeu?
— E por isso que nã o contei a você s sobre a reuniã o de negó cios
com uma semana de antecedê ncia. Eu sabia que você se preocuparia. E
eu… — Ele se interrompe com um suspiro, esfregando a testa. — Eu
nã o queria que você se preocupasse, entã o pensei em te contar no dia
anterior, mas entã o as lores vieram naquele dia, e você jogou aquela
bomba sobre Trey, e isso me confundiu, e entã o na manhã seguinte,
antes do encontro…
— Eu sei. — Aperto sua mã o, ainda emaranhada com a minha. —
Você planejou me dizer naquela manhã . Mas os Baileys chegaram mais
cedo.
Seu olhar procura o meu.
— Acredita em mim agora?
Eu sorrio.
— Acredito.
O alı́vio invade sua expressã o.
— Bom.
Nossos olhares se mantê m. E tã o intenso. Tã o... estranhamente
ı́ntimo. E opressor. Entã o olho para longe, olhando para sua mã o
enrolada na minha, nossos dedos roçando.
— Gabriella. — Jonathan diz.
Mantenho meus olhos baixos, o coraçã o batendo forte.
— Sim, Jonathan.
Seu polegar acaricia as costas da minha mã o.
— Obrigado por con iar em mim.
— Obrigada por me deixar segura para con iar.
Jonathan separa nossas mã os, depois agarra seu café novamente,
girando-o lentamente no sentido horá rio.
— Suponho que, no espı́rito de amizade, eu poderia retribuir e
ser... vulnerá vel també m.
— Nã o parece muito animador.
Ele me lança um olhar maligno.
— Estou tentando aqui, Gabriella.
— Desculpa. — Cutuco seu pé debaixo da mesa. — Obrigada.
Ele encara seu café .
— Eu tenho diabetes tipo 1. E bem administrado. Mas ainda me
afeta. Isso nos impactou. As vezes, quando estou mal-humorado,
quando encerro abruptamente as conversas e me afasto, é porque nã o
me sentia bem ou porque meus alertas estavam me avisando que estava
muito alto ou baixo. Porque eu precisava veri icar meu açú car no
sangue ou fazer um lanche rá pido ou recuperar o fô lego e esperar o
ajuste de insulina entrar em açã o.
Muitos momentos que me confundiram no ano passado
começaram a se encaixar.
— Na hora da histó ria com Eli. Seu nı́vel de açú car no sangue
estava baixo?
Ele concorda.
— E no carro, quando você comeu seu doce, estava baixo també m?
Ele acena com a cabeça novamente.
— Seu telefone, você acompanha de alguma forma.
— Isso mesmo. Eu tenho um aplicativo que está conectado ao meu
CGM – meu monitor contı́nuo de glicose – mas també m veri ico meu
açú car no sangue com picadas de dedo usando um glicosı́metro. Meu
CGM nã o é infalı́vel e nã o gosto de con iar apenas nisso. Entã o, ontem à
noite, por exemplo, veri iquei com o glicosı́metro um pouco antes de
sair do vestiá rio depois do meu jogo, e estava um pouco baixo. Quando
eu soube que estava dirigindo com você , quis ter certeza de que estava
bem centrado e seguro ao volante, entã o veri iquei novamente no carro
usando o aplicativo e meu CGM, e ainda estava mais baixo do que
queria. Assim, os copinhos de manteiga de amendoim.
Ele ainda está olhando para o café como se nã o estivesse pronto
para me enfrentar depois disso. Me pergunto se, como eu e minha
relutâ ncia em se abrir antes de hoje, ele tem medo de ser visto de forma
diferente. Quero que ele saiba que está seguro comigo, que saber disso
sobre ele é como se eu tivesse ganhado uma chave para uma sala de seu
coraçã o na qual muito poucos tê m permissã o para entrar, e esse é um
presente que protegerei ferozmente.
Batendo sua bota suavemente sob a mesa, eu inalmente ganho
seus olhos e dou a ele as palavras de a irmaçã o que ele me deu.
— Obrigada por con iar em mim.
Seus olhos procuram os meus e ele empurra meu pé para trá s.
— Obrigado por me deixar seguro para con iar.
— Você pode me dizer de agora em diante, ok? Quando você nã o se
sente bem ou precisa de um descanso. Assim como tentarei ser real
com você , especialmente quando estou lutando. — Paro por um
momento, para tentar encontrar as palavras, porque isso importa e
quero dizer isso direito. — Sei que nã o entendo, no sentido de que
també m nã o tenho diabetes, mas... talvez eu entenda um pouco,
conviver com algo persistente e fora do seu controle. Você nã o pode
tirá -lo, afastar-se dele ou deixá -lo de lado por um tempo. E mesmo
quando você se acostuma com a realidade, quando nã o é realmente
ruim ou bom, apenas... é, à s vezes é difı́cil quando está com outras
pessoas. Quando você sente aquela sensaçã o de diferença e distâ ncia
deles enquanto lida com a parte de si mesmo que eles nã o entendem,
que você tem que pensar em situaçõ es sociais e em sua vida diá ria de
maneiras que eles nã o entendem.
Jonathan está quieto. Mas entã o suas botas seguram suavemente
as minhas, nossos pé s emaranhados embaixo da mesa.
— Obrigado, Gabriella. Isso... — Ele limpa a garganta e, quando fala
novamente, sua voz soa diferente. Mais quieto, apertado, como se ele
mal estivesse segurando algo. — Isso signi ica muito para mim.
Nossos olhos se encontram. Nó s nos aproximamos. Um pouco mais
perto. Sinos de alerta tocam em minha cabeça. Sua coxa está bem ali,
entre as minhas. Estou olhando para sua boca, lembrando-me de cada
um de nossos beijos perfeitos.
E graças a Deus, bem quando estou prestes a agarrar meu amigo
pelo seu lindo sué ter perene e beijá -lo no inı́cio do ano, o sino toca na
porta, anunciando um cliente.

11

Playlist: “The Holidays With You” - Sara Watkins

QUANDO O GRANDE Evento de Venda – també m nosso ú ltimo dia de


abertura – chega, Jonathan e eu passamos os ú ltimos onze dias nos
comportando com sucesso. Sem disputas mesquinhas. Nã o há discussã o
sobre de quem é a vez de fazer o café e quem o fez forte demais. Nada
de troca de prateleira juvenil ou reorganizaçã o de mesa de recursos
para privilegiar nossos gê neros preferidos.
Sem beijos frené ticos e sem fô lego.
Tem sido devastadoramente chato.
Exceto pela parte em que, a partir do total de ontem que Jonathan
administrou – com a minha supervisã o, é claro, para garantir que nã o
houvesse nada engraçado quando ele calculasse os nú meros –, nossas
vendas de dezembro totalizaram vinte e cinco por cento maior que as
do ano passado e eu estou inequivocamente na liderança.
Nã o estou exatamente surpresa, porque, embora Jonathan ainda
esteja lutando com os clientes para fazer vendas decentes, ele també m
passou um bom tempo franzindo a testa para o computador, me
enxotando quando cheguei perto demais. A cada momento que ele
digitava em seu laptop, eu estava no chã o, registrando mais vendas do
que ele. Uma estraté gia que me deixou um pouco perplexa. O que ele
está fazendo com aquele computador? Nã o consigo nem imaginar, a
menos que ele tenha começado a se candidatar a empregos inanceiros
em arranha-cé us no centro da cidade.
Isso deve me deixar em ê xtase. Eu deveria estar dando voltas de
vitó ria em torno de Jonathan Frost para o tema Chariots of Fire. E, no
entanto, enquanto olho para o reino da minha livraria, nã o sinto
nenhuma gló ria em meu triunfo. Em vez disso, estou quase chorando.
O que é um absurdo. Isso é o que eu queria – o cofre da livraria,
pelo menos por enquanto, meu lugar seguro. Fiz as pazes com Jonathan
e nos separaremos em bons termos. Em apenas alguns dias, vou
conhecer o Sr. Reddit e, com sorte, sentir por ele todas as coisas
maravilhosas que senti online.
Entã o, por que estou à beira das lá grimas? O que há de errado
comigo?
Enquanto enxugo os olhos com as costas da mã o, Jonathan se junta
a mim, com as mã os na cintura, inspecionando a loja, que, posso
admitir, meio que se parece que a o icina do Papai Noel e o Abominá vel
Homem das Neves teve um bebê e vomitou tudo por todo o lugar.
Guirlanda, ouropel, neve falsa, papel machê caseiro cintilante e
estrelas e locos de neve de argila, kinaras e dreidels, piñ atas de sete
estrelas, menorá e sı́mbolos do solstı́cio, bem como itas brilhantes de
prata e ouro enroladas penduradas no teto e, vamos ser honestos, todas
as superfı́cies possı́veis nas quais algo pode ser suspenso.
O ar cheira a açú car em pó e chocolate amargo, frutas cı́tricas e
pinho recé m-cortado. Luzes cintilantes brilham no topo das estantes, e
estatuetas metá licas iridescentes decoram prateleiras e mesas – renas,
pequenas caixas de presente e pinhas. O trem apita suavemente em
seus trilhos minú sculos, girando em torno da base da á rvore de Natal
da loja, decorada com luzes brancas e itas em tons de joias, guirlandas
e enfeites, aninhada perto da lareira.
Pilhas coloridas de livros iluminam cada mesa que a loja possui,
colocando-as na frente e no centro, ao alcance, guarnecidas com
pequenas etiquetas inteligentes que listam gê nero, tropes, temas,
cená rio e “Se você gosta de Tal e Tal Título, você vai adorar isso”. Ao
lado da vitrine, de um lado, está uma enorme mesa de doces, que ica ao
lado de outra mesa de suprimentos de artesanato – bolas de algodã o,
pratos de papel e cola para fazer pessoas da neve e animais de inverno
como raposas, coelhos e ursos polares. Materiais para casa de pã o de
mel, iltros de purpurina e café para fazer locos de neve, tinta a dedo e
papel de construçã o e limpadores de cachimbo coloridos para fazer
qualquer tipo de artesanato festivo que uma criança possa desejar e
marcadores de livros de madeira pré -cortados para as pessoas
decorarem como quiserem.
Suspirando, Jonathan esfrega a tê mpora.
— Isso é o inferno.
— Nã o é tão ruim. — Digo a ele. — Pelo menos, nã o será até que
tenhamos que limpar depois de fechar hoje à noite.
— Isto é . E será ainda pior quando seus malditos caras das cançõ es
de Natal vierem.
A felicidade engole minha melancolia. E bom voltar à nossa velha
rotina de brigas.
— E um trio de jazz.
Aı́ está , aquele arquear de desaprovaçã o familiar de sua
sobrancelha.
— Que vai cantar cançõ es de Natal.
— E muitas outras mú sicas de inverno. — Cutuco ele nas costelas.
— Nã o seja tã o grinch. E só um pouco de diversã o festiva.
— Diversã o festiva? — Ele se vira e me encara, fazendo-me
cambalear para trá s. Mas antes que meu corpo atinja a coluna de
madeira dura atrá s de mim, a mã o de Jonathan desliza em volta da
minha cintura, me parando, me puxando contra ele. Por apenas um
momento, nó s olhamos um para o outro e tudo o mais... derrete.
Muito deliberadamente, Jonathan libera minha cintura. Mas ele nã o
recua. E nem eu.
— Glitter, Gabriella. — Ele inalmente diz. — Cola quente. Confete.
Pã o de mel. Biscoitos de açú car. Glacê ... Nada disso vai com os livros.
Eu sorrio brilhantemente.
— Indiretamente eles vã o. Eles atraem clientes, atraem-nos para a
loja e os obrigam a comprar nossos livros.
Resmungando para si mesmo, Jonathan se vira e caminha em
direçã o à sala dos fundos.
— Estou me drogando. Já estou com dor de cabeça.
— E bom para os negó cios! — Eu chamo atrá s dele.
— Eu sei! — Ele chama de volta. — E ainda me reservo o direito de
desprezá -los!
Rindo, volto e examino o andar principal, entã o faço alguns ajustes
de ú ltima hora. Outro pacote de lenços umedecidos na mesa de
confeitaria – espero que as pessoas entendam a dica e limpem as mã os
antes de tocar nos livros. A mesa de artesanato mais pró xima da frente,
para que os passantes que olhem as vitrines possam ver a diversã o de
fazer presentes de Natal em açã o, junto com os mú sicos, que estarã o
parados na frente da outra vitrine.
O trio de jazz chega na hora certa, se acomoda e acaba de fazer o
aquecimento com o tema “Charlie Brown Christmas” de Vince Guaraldi
quando giro a placa para dizer Open. Nem um minuto depois, um garoto
com cabelo escuro irrompe na loja, uma mulher com o mesmo cabelo
escuro logo abaixo dos ombros correndo atrá s dele.
— Jack!
Ele congela, a mã o pairando sobre a mesa de confeitaria,
especi icamente um enorme biscoito de chocolate cheio de pedaços de
bengala de doces.
— O que?
— Desacelere. — Agarrando-o à sua frente, ela me oferece um
sorriso cansado. Há algo ligeiramente familiar sobre os dois – sua
estrutura ó ssea, seu cabelo escuro e ondulado. Nã o consigo entender
por que os conheço, no entanto. — Desculpe a entrada explosiva. — Diz
a mulher. — Eu sou Liz. E este é Jack. — Ela olha para ele e arqueia a
sobrancelha, o que também é familiar. — Que tem algo a dizer.
Jack me olha, parecendo envergonhado.
— Desculpe, eu tentei pegar um biscoito.
— Está tudo bem. — Digo a ele enquanto me agacho para que
iquemos no mesmo nı́vel. Ele parece estar no ensino fundamental, mas
alto para sua idade. Sorrindo, eu ofereço a ele minha mã o. Ele sorri de
volta e aperta minha mã o com irmeza. — Eu sou Gabby.
— Jack. — Diz ele. — Prazer em conhecê -la.
— Da mesma forma, Jack.
Ele inclina a cabeça.
— Você gosta do Natal, hein?
Mexo meus brincos de sino e ajusto minha bandana de chifre de
rena. Jack olha os locos de neve reversı́veis de lantejoulas brancas em
meu vestido de sué ter vermelho.
— O que te deu a dica?
Ele ri.
— Você é engraçada.
— Ah, obrigado. — Eu inclino minha cabeça em direçã o à mesa de
confeitaria. — Se Liz estiver bem com isso, você pode icar com o
biscoito que deseja.
Ele olha para ela e ganha seu sorriso.
— Mamã e? Posso icar com ele?
— Sim, você pode.
Com a aprovaçã o de sua mã e, passo para Jack um pequeno prato
de papel reciclado que estampa à mã o com locos de neve. Jonathan
de initivamente quase estourou um ó rgã o nã o me provocando por
trabalhar neles cada minuto livre que eu tinha quando um cliente nã o
estava por perto, e a parte mais estranha é que eu sentia falta de sua
reclamaçã o.
Usando a pinça habilmente, Jack desliza o biscoito em seu prato.
— Chocolate com menta é o meu favorito. — Eu digo a ele.
Ele sorri para mim, a boca já cheia de biscoitos.
— O meu també m.
Seus olhos vagam pela loja enquanto ele mastiga sua mordida, e
entã o eles se arregalam quando ele vê um livro na seçã o infantil que
mantenho nas prateleiras mais baixas para que as crianças possam
acessá -los. Ofegante, ele deixa cair o prato de biscoitos na mesa de
confeitaria e corre em direçã o a ele.
— Jack, espere! — Sua mã e liga. — Use um… — Ele já puxou o livro
da estante e caiu no chã o, folheando as pá ginas. — Lenço umedecido. —
Diz ela, desamparada. — Vamos comprar isso, eu prometo.
— Eu nã o estava nem um pouco preocupada. Você gostaria de um
café ? — Pergunto a ela, apontando para as garrafas que armei. — Ou
chá ? També m temos chocolate quente e cidra com especiarias.
Antes que Liz possa me responder, a voz de Jonathan interrompe,
fria como uma nevasca.
— Isto nã o é uma biblioteca, criança. Você navega e compra.
Me viro, carrancuda para ele do outro lado da loja.
— Jonathan Frost! Nã o seja tã o Scrooge.
Ele arqueia uma sobrancelha para Jack, que está olhando para ele e
diz:
— Bah, impostor.
Raiva pulsa por mim. Eu corro em direçã o a Jonathan, preparada
para dar a ele um pedaço de minha mente. Mas de repente o rosto de
Jack se abre em um sorriso, e ele salta do chã o, lançando-se sobre
Jonathan.
— Tio Jon!
Jonathan o levanta e o levanta no alto dos braços.
— Ei, camarada.
— Me jogue! — Jack diz. — Vamos lá , me jogue!
Revirando os olhos como se eu o tivesse visto tantas vezes,
Jonathan suspira.
— Ah, nã o sei.
— Faça, faça, faça! — Jack grita.
Jonathan vira a cabeça de um lado para o outro, como se estivesse
deliberando. Entã o, pegando Jack completamente desprevenido, ele o
joga bem alto no ar, fazendo seu sobrinho gritar de felicidade.
Os observo com uma sensaçã o crescente de pâ nico. Eu nã o
aguento mais, vendo Jonathan tã o con iante e capaz com seu sobrinho,
jogando Jack de forma divertida mais e mais alto, antes de abraçá -lo
com força. Meu coraçã o está derretendo como um caramelo quente,
aquecendo cada canto de mim.
Depois de um ú ltimo arremesso que rendeu a risada estridente de
seu sobrinho, Jonathan coloca Jack no chã o, nem um pouco sem fô lego,
um leve rubor em suas bochechas a ú nica pista que ele apenas jogou
uma criança de trinta libras para o ar meia dú zia de vezes. Nossos olhos
se encontram.
— Liz, Jack. — Jonathan diz, os olhos em mim enquanto ele passa
um braço em volta dos ombros de Jack. — Presumo que você já
conheceu Gabriella. Gabriella, esta é minha irmã , Liz, e seu ilho, meu
sobrinho, Jack. Quem eu não sabia que viria.
Ele dá a ela algum tipo de olhar crı́tico de irmã , mas Liz apenas
sorri para ele, um olhar que é totalmente desarmado. Ela tem covinhas
profundas e longas em ambas as bochechas e seus olhos azuis escuros
brilham. Isso me faz pensar se Jonathan ica ainda mais deslumbrante
quando sorri també m.
— Nó s nos conhecemos. — Diz Liz. — Gabby foi muito gentil com a
nossa entrada nada tranquila.
Jack diz a ele:
— Ela me deu um biscoito e me deixou olhar os livros. E ela é
muito bonita, como você disse…
A mã o de Jonathan cobre a boca de Jack, suas bochechas icando
ainda mais rosadas.
— Já ouviu falar de um segredo, Jack?
— Eu te avisei. — Liz passa com um lenço umedecido e limpa as
mã os do ilho. — Nã o diga a ele nada que você nã o queira que ele
repita.
— Ele perguntou. — Jonathan murmura defensivamente,
incisivamente nã o encontrando meus olhos. — O que eu ia fazer,
mentir?
Jonathan me mencionou para sua famı́lia? Ele acha... eu sou bonita?
Quer dizer, nó s nos beijamos, entã o acho que sabia que ele me achava
atraente, mas há algo diferente em ouvir isso, em ver a maneira como
ele me olha agora, sé rio e um pouco tı́mido.
Ele desvia o olhar.
— Vamos procurar mais alguns livros, com as mã os limpas. — Diz
Liz, levando Jack de volta à seçã o infantil e deixando nó s dois sozinhos.
A versã o do trio de jazz de “The Christmas Song” toca suavemente ao
fundo enquanto Jonathan e eu olhamos um para o outro.
— Ele é muito doce. — Digo baixinho.
Jonathan lança um olhar para o sobrinho e enterra as mã os nos
bolsos.
— Ele é um demô nio do caos.
E tã o seu humor, tã o obviamente um desvio. Eu me pergunto
quantas vezes a sagacidade seca encobriu o que Jonathan realmente
sente.
— Você o ama. Ele tem você enrolada em seu dedo.
Ele olha para trá s em minha direçã o.
— Excepcionalmente.
— Sorte dele. — Eu sussurro.
Os olhos de Jonathan ixam-se nos meus. A mú sica do trio de jazz
desaparece quando a mú sica termina, deixando um novo e pesado
silê ncio entre nó s.
Mas entã o a melodia otimista de “Ocho Kandelikas” colore o ar, a
porta se abre para uma multidã o de clientes, o silê ncio atropelado por
sua chegada.

Estou amarrando um laço de prata brilhante em volta de uma


sacola de papel reciclado estampada com o logotipo da Livraria Bailey's
quando sinto Jonathan atrá s de mim, grande e quente, cheirando a
fumaça de lenha e á rvores de Natal.
Meu cliente també m o sente e parece um pouco intimidado.
— Obrigado por seus negó cios. — Digo a eles brilhantemente
enquanto coloco o recibo dentro da sacola. — Nã o se esqueça de pegar
uma bebida quente de cortesia antes de sair, e tenha um feliz natal!
Eu me viro e enfrento o sorriso atrá s de mim. Ele está carrancudo.
— Vire essa carranca de cabeça para baixo, Jack Frost.
Sua carranca se aprofunda.
— Você parou desde que o lugar abriu?
Eu torço meu nariz, pensando.
— Talvez?
— Coma. — Ele coloca um biscoito de chocolate com pedaços de
bengala no balcã o, pega meu cotovelo e me joga em um banquinho. — E
beba isso. — Ele aponta para um grande copo de á gua gelada.
— Uau. — Já estou mastigando o biscoito. Tem gosto de cé u. — Isto
é incrı́vel.
Ele cola um quase sorriso educado para o pró ximo cliente cujos
livros ele começou a ligar e diz por cima do ombro:
— O papelã o teria um gosto incrı́vel depois de tanto tempo.
O calor me inunda.
— Você tem icado de olho em mim?
— Absolutamente. — Ele começa a escanear a pró xima pilha de
livros. — Você nã o está desmaiando e me deixando sozinho nesta
paisagem infernal de bomba de purpurina.
Eu bufo uma risada.
— Ah, vamos, Frost. Nã o é tã o ruim.
Ele arqueia uma sobrancelha, deslizando o cartã o do cliente no
leitor de cartã o e me lançando um olhar severo.
— Beba sua á gua, Gabriella.
— Tã o mandã o. — Murmuro para o copo antes de esvaziá -lo em
um longo gole.
Recebo um grunhido em resposta.
— Aı́ está você ! — A voz de Eli vem bem atrá s de mim. Eu me viro e
o vejo, ombro a ombro com Luke e June.
— Olhe para você s dois. — Luke diz, suspirando feliz enquanto
admira Jonathan e eu. — O retrato da felicidade pro issional.
Jonathan dá a seu amigo um olhar mortal enquanto Eli e eu nos
abraçamos. Antes que eu possa desempacotar exatamente o que está
acontecendo, June joga seus braços em volta de mim em seguida.
— O lugar parece ó timo. — Diz ela.
— Obrigada. — Eu sussurro, abraçando-a de volta. — Hum. Entã o.
— Limpo minha garganta enquanto nos afastamos e coloco o polegar
por cima do ombro. — Nã o o desmembre, mas este é Jonathan Frost.
Jonathan, esta é minha querida amiga, June Li.
June olha para ele, e é uma jornada e tanto, visto que June tem
1,75m em um dia bom e Jonathan é bem mais de trinta centı́metros
mais alto que ela. Ela dá a ele um lá bio franzido, um olhar vazio.
— Hm. — Ela diz.
— Temos uma tré gua. — Digo a ela com o canto da boca. —
Lembra?
Eli suspira.
— June. Seja legal. E o Natal.
— Bah, impostor. — Ela murmura.
Jonathan arqueia a sobrancelha.
— Essa é a minha fala.
A boca de June se contorce. Ela está lutando contra um sorriso.
— Contanto que você a esteja tratando como uma rainha agora. —
Ela murmura, estendendo a mã o.
Jonathan a pega e a sacode com irmeza.
— Estou fazendo o meu melhor.
— Ele tem sido uma joia. — Digo a ela. — Ele me trouxe biscoitos e
á gua.
June concorda.
— Eu aprovo. Ela se negligencia.
— Viu? — Jonathan me diz, parecendo irritantemente justi icado.
— Ei. — Olho entre eles. — Eu ico distraı́da à s vezes. Eu nã o me
negligencio.
— Como você chama de nã o comer por seis horas seguidas,
Gabriella? — Jonathan cruza os braços sobre o peito. — Hm?
— Con ie em mim. — Diz Eli. — Nó s sabemos tudo sobre isso.
— Ok. — Pulo do banquinho e coloco o resto do biscoito na boca.
— Chega de hora de conspiraçã o contra a Gabby. Vou levar June para
um tour pelo lugar.
Eli faz beicinho.
— E quanto a mim?
Eu o levanto de brincadeira.
— Você já viu na hora da histó ria. Vá procurar com seu amor. Ah, e
Frost.
Jonathan está me observando atentamente.
— Di Natale.
— Nem tente roubar minhas vendas. Ligue para eles, justo e
honesto, promete?
Sua boca se levanta no mais fraco sussurro de um sorriso.
— Honra de escoteiro, Gabriella.
— Bom. — Arrastando June comigo pelo corredor, eu a puxo para
fora para o beco e bato a porta atrá s de nó s.
June franze o cenho.
— Achei que estava fazendo um tour.
— Estou enlouquecendo.
Seus olhos se arregalam.
— Ok. — Diz ela lentamente. —Sobre o que?
— Sobre Jonathan. E o Sr. Reddit. E como se meu cé rebro fosse um
nó gigante de luzes de Natal emaranhadas, e nã o posso dizer o que está
ascendendo para quem, e me sinto culpada porque é como se estivesse
traindo o Sr. Reddit, e estou com medo de Jonathan por causa disso, é
tudo tã o novo ser amigo dele, mas de alguma forma nã o parece nada
novo, e estou estranhamente feliz com ele e...
— Uau. — June coloca as mã os nos meus ombros e aperta. —
Respire fundo, Gabby.
Eu respiro fundo.
— E fora. — Diz ela calmamente.
Eu expiro.
— Bom. Agora. — Ela abre a porta e me arrasta de volta para
dentro. — Está frio como as bolas de Sataná s lá fora. Vamos encontrar
um armá rio para conversar.
— Mas está quente no inferno.
— Nã o de acordo com Dante. — Murmura June, guiando-me à
frente dela. — Encontre um armá rio, sim? No Inferno de Dante, Sataná s
está congelado até a cintura, suas asas batendo furiosamente, mas
ironicamente isso apenas manté m o lago congelado. O cı́rculo mais
interno do inferno é a auto-sabotagem... e as bolas que sã o blocos de
gelo.
— Uau. Eu esqueci disso. — Abro a porta do armá rio onde
guardamos os suprimentos de zeladoria e pego uma caixa de limpador
industrial. June segue atrá s e fecha a porta.
— Falando em auto-sabotagem. — Ela diz, se virando para mim. —
Senta.
E isso.
— Estou cercado por calças de chefe.
— Algué m precisa equilibrar Eli. — Diz ela, tirando os itens de uma
caixa de papel higiê nico até que esteja livre para ela se sentar. — Ele é
muito carinhoso. Ouça. — June se inclina, os cotovelos sobre os joelhos.
— Você precisa dar um tempo. Você está sobrecarregada no trabalho,
tentando salvar este lugar. E o seu ú ltimo dia antes do Natal, você está
arrasando e passando o dia se culpando por um cara que nunca
conheceu na vida real e um cara que você odiava há quase um ano e que
acabou de começar a ser civilizado. Você nã o deve nada a eles, Gabby. Se
este Sr. Frost, que realmente ica de olho em você e a faz feliz, acaba
sendo sua pessoa, entã o era assim que deveria ser, e o Sr. Reddit era
algué m que era certo para você uma vez e nã o o outro, e tudo bem. Se,
depois de conhecer o Sr. Reddit pessoalmente, você perceber que,
embora tenha um vı́nculo intenso com seu colega de trabalho depois de
passar os ú ltimos doze meses, o vı́nculo que você e o Sr. Reddit
construı́ram em bate-papos noturnos forjou algo muito mais profundo,
entã o será o que você deveria descobrir e está tudo bem. Ou os dois
podem acabar sendo idiotas que eu tenho que bater, e vou bater, e isso
vai icar bem també m.
— June. Sem grosseria.
— Tudo bem. — Ela resmunga. — Mas só porque é natal. — Seus
olhos procuram os meus. — Meu ponto é , você é muito dura consigo
mesma.
— Mas isso nã o faz sentido! — Eu gemo, esfregando meu rosto. —
E confuso, e sou emotiva e...
— Ei. — June envolve seus braços em volta de mim enquanto as
primeiras lá grimas escorrem pelo meu rosto. — Vamos apenas levar
isso uma hora de cada vez, ok? Você está indo bem.
Me afasto e limpo meus olhos.
— Você acha?
— Eu sei. Você deve estar muito orgulhosa do que fez por aqui. E
lindo. Está ocupada. Você derramou seu coraçã o neste lugar, Gabby, e
isso transparece. Entã o, vamos comemorar isso. Hoje, concentre-se em
sua incrı́vel realizaçã o pro issional aqui. Daqui a trê s dias, lidaremos
com o Sr. Reddit. Depois disso, lidamos com a pessoa alta, morena e
rude lá fora. Agora... — Levantando-se, ela endireita o gorro preto que
está usando, que quase combina com seus cachos de zibelina. — E hora
de você me dar um tour de verdade.
June e eu saı́mos do armá rio e entramos na livraria, e meu coraçã o
dá um salto de alegria. Depois de horas imerso na agitaçã o, eu o vejo
com novos olhos – luzes cintilantes e ornamentos em tons de joias,
decoraçõ es cintilantes e madeira polida e ileiras e mais ileiras de
lombadas de arco-ı́ris. Clientes tomando xı́caras fumegantes, crianças e
adultos fazendo artesanato, o trio de jazz com um pequeno grupo de
clientes dançando perto da porta. E tudo que eu esperava que pudesse
ser.
Entã o olho para Eli e Luke que estã o ao lado de Jonathan no caixa,
conversando com os Baileys. Isso está alé m do que eu poderia ter
imaginado, mas é tã o certo – tudo isso, todos nó s, juntos.
A Sra. Bailey me olha nos olhos e pisca. Eu sorrio para ela, antes de
levar June para a grande turnê .
Cada passo que dou, sinto os olhos de Jonathan em mim, ao
cumprimentar novos clientes, responder à s perguntas de outros.
Quando me afasto de June por tempo su iciente para icar na ponta dos
pé s e chegar ao meu romance de natal favorito, porque é exatamente o
que este cliente precisa. No momento em que fazemos o nosso caminho
de volta para o caixa, quando June inalmente viu tudo, meu coraçã o
está voando, curvando a curva do que eu nã o sei, antes de pular no ar e
girar e girar…
Eu olho para cima, sabendo que vou encontrar seus olhos, e eu os
encontro, enquanto meu coraçã o pousa, seguro e certo. Isso é o que é ,
ser capturado pelo olhar de Jonathan, ser abraçado, caloroso e irme:
um presente.
Um que estou com medo de nã o conseguir manter.

12

Playlist: “Have Yourself A Merry Little Christmas” - Birdy

— SENHORITA DI NATALE. — Jonathan fecha a porta dos fundos atrá s


de si apó s sua ú ltima ida à lixeira, trancando durante a noite.
Caio em uma das asas em frente à lareira, gemendo enquanto tiro minhas botas.
— Sr. Frost.
Caminhando em minha direçã o, Jonathan tira a etiqueta com o
nome que coloquei entre suas omoplatas horas atrá s e a segura com os
polegares e indicadores.
— Há quanto tempo eu ando por aı́ com meu crachá na frente
dizendo, Sr. Frost, e meu crachá nas costas dizendo… — Ele faz uma
pausa para um efeito dramá tico. — “Na verdade, é o Sr. Grinch”.
Mordo meu lá bio.
— Isso seria... depois que você roubou o casal de mim quando eu
estava prestes a vender a caixa da sé rie de romance...
— Eu nã o roubei. — Ele amassa o crachá com o nome, joga-o no
cesto de lixo sem nem mesmo olhá -lo, como se tivesse certeza de que
vai acertar – o que, irritantemente, acontece – entã o cai com um gemido
na cadeira em frente a mim. — Eu girei. Você fez sua venda, entã o eu iz
a minha. Eles compraram o conjunto de caixa de romance…
— E metade da lista de fundos de Stephen King.
Jonathan suspira enquanto estica suas longas pernas e as cruza na
altura dos tornozelos. Sua cabeça cai para trá s contra a cadeira,
expondo a longa linha de sua garganta, a saliê ncia proeminente de seu
pomo de Adã o. Ele está lindo. E como se ele trabalhasse muito para
transformar minha grande ideia de liquidaçã o de sá bado em realidade.
Isso me faz sentir um pouco culpado por meu movimento juvenil.
— Desculpe pela pegadinha do crachá .
Seus olhos permanecem fechados.
— Está bem. També m dei um tapa em um nas suas costas horas
atrá s.
Suspiro.
— O que? — Procurando o crachá , tento primeiro por cima do
ombro, depois por baixo. Está no ú nico lugar que nã o consigo alcançar.
— Eu nã o consigo ver.
Sua boca se contorce em outro sorriso frustrado. Ele abre um olho
e olha na minha direçã o.
— Essa é a ideia, Di Natale.
— Tire isso, seu malvado. — Cruzo o pequeno espaço entre nossas
poltronas e viro para que meu crachá de pegadinha ique voltado para
ele.
Está tudo quieto por tanto tempo que olho por cima do ombro.
Jonathan está olhando para mim, a luz do fogo banhando seu rosto,
tornando seus olhos escuros.
Lentamente, ele se endireita na cadeira, descruzando as pernas e
me colocando dentro delas. Ele coloca as mã os em meus quadris e me
persuade a voltar. Uma mã o permanece na minha cintura, enquanto a
outra lentamente tira o crachá do nome. E entã o ele se senta com ele,
amassando o crachá em uma bola.
— Nã o é justo! — Eu grito, puxando sua mã o. Jonathan puxa de
volta.
Isso me faz cair em seu colo. O ar sai correndo dele.
— Cristo, mulher. — Ele geme. — Você acabou de pulverizar meu
fı́gado.
— Desculpe. — Murmuro sem entusiasmo, liberando a etiqueta
com o nome amassada de sua mã o e cuidadosamente puxando-a ao
meio. A parte de trá s nã o é mais muito pegajosa, depois de um longo dia
em meu vestido de sué ter felpudo, entã o, depois de algumas manobras
cuidadosas, está amassado, mas aberto, com as palavras — Fora dos
limites sob o azevinho.
Dou a ele um olhar plano.
— Uau. Que maneira de destruir o patriarcado.
— Eu vi nada menos que cinco pessoas batendo em você hoje. Eu
estava apenas tentando transmitir que você está aqui para fazer seu
trabalho e se divertir, nã o para se defender de avanços indesejados.
— Quem estava dando em cima de mim? Eu nem percebi.
Ele me lança um olhar fulminante.
— Nã o inja que nã o sabe, Gabriella.
— Estou falando sé rio! Eu nã o posso saber quando as pessoas
estã o lertando comigo.
Ele me encara por um momento, sua expressã o tensa, antes de
limpar a garganta e dizer:
— Bem, con ie em mim. Eles estavam.
— Hm. — Eu ico olhando para o crachá . — Entã o, ele está
sabotando minhas vendas, a inal.
— Você me vendeu por baixo da mesa hoje e sabe disso.
— Sim, eu iz. — Inclinando-me, sussurro: — Entã o. Muitos. Livros.
Infantis.
Seu olhar mergulha na minha boca. E quando percebo que ainda
estou em seu colo, nossos rostos a meros centı́metros de distâ ncia. Me
inclino um pouco mais perto. Jonathan també m. E parece uma lá grima
no meu centro, um terrı́vel e doloroso cabo de guerra.
Vou me encontrar com o Sr. Reddit daqui a trê s dias – Boxing Day,
do lado de fora da exibiçã o do Winter Wonderland no conservató rio, à s
10h em ponto – um plano que escolhi entre os que ele propô s em nosso
bate-papo no Telegram, como prometido. Estou contando os dias,
empolgada e nervosa porque inalmente vamos nos encontrar.
Mas é mais difı́cil agora, lembrar a mim mesma que estou
esperando pelo Sr. Reddit, o amigo imprová vel que encontrei, que eu
esperava que pudesse se tornar mais, quando Jonathan Frost e eu
estamos a segundos de nos beijarmos.
Fique forte, Gabriella! o anjo em meu ombro sussurra.
Antes que o diabo do meu outro lado possa intervir e me tentar, eu
pulo do colo de Jonathan e remexo as lantejoulas do meu vestido de
loco de neve.
— Você quer uma xı́cara de chá ?
Jonathan també m se senta e pigarreia. Há um rubor em suas
bochechas.
— Uma xı́cara de chá ?
— Com um pouco de uı́sque. Acho que merecemos.
— Ah, entã o você també m sabe que a Sra. Bailey manté m isso no
armá rio para quando ela tiver que fazer as inanças de im de mê s.
Eu rio.
— Antes de você chegar, aquela garrafa de uı́sque apareceu, muitas
vezes em nosso chá , pelo menos uma vez por semana.
— Certo. Entã o vamos tomar um chá .
Jonathan vai se levantar, provavelmente para contribuir com a
preparaçã o do chá , mas eu gentilmente agarro seus ombros e o
empurro para trá s.
— Sente. Você fez muito para que o dia de hoje acontecesse.
— Você també m. — Diz ele. — Eu posso ajudar.
— Nã o discuta comigo pelo menos uma vez, certo, Frost? Você fez
uma tonelada. Agora deixe-me fazer chá .
— Eu vou te fazer companhia, pelo menos. — Ele diz, gentilmente
segurando meus cotovelos e me guiando de volta para que ele possa
icar de pé .
Depois de caminhar juntos para a sala dos fundos, preparo o chá
na cozinha enquanto Jonathan vasculha sua bolsa, tira o glicosı́metro e
dá uma picada no dedo enquanto se senta à mesa da sala de descanso.
Aparentemente satisfeito com o que seu glicosı́metro tem a dizer,
Jonathan arruma seu kit e o guarda em sua bolsa. Ele dá um passo atrá s
de mim.
— Tem certeza que nã o posso ajudar?
E tã o insuportavelmente prazeroso, sua voz baixa e tranquila, seu
grande corpo bem atrá s de mim, que quase me queimo, servindo chá .
Quero me inclinar para ele, deixar minha cabeça cair para trá s em seu
ombro e sentir seus braços em volta de mim.
— N-nã o precisa. Eu tenho tudo sob controle.
Ele parece hesitar por um momento, como se estivesse pensando
em... alguma coisa. Mas seja o que for, passa. Sem outra palavra,
Jonathan volta em direçã o à lareira e se joga na lateral da escada com
um suspiro.
— Como você está se sentindo? — Eu pergunto, olhando
furtivamente para ele enquanto preparo nossos chá s com uı́sque.
Ele se recosta na lateral como um rei em seu trono, uma longa
perna esticada e um braço jogado atrá s da cabeça. A luz do fogo pinta
seu rosto, a longa linha de seu nariz, as cavidades de suas bochechas.
Nossos olhos se encontram e ele inclina a cabeça, me examinando.
— Tudo bem, Gabriella.
Fico olhando para as ondas escuras de seu cabelo, seus olhos
verdes frios e nariz comprido. Maçã s do rosto acentuadas e boca
exuberante. E, no entanto, apesar de toda sua beleza severa, há algo
mais suave nele quando olha para mim, quando eu olho para ele.
Duas xı́caras de Darjeeling na mã o, com um pouco de leite e uı́sque
em cada uma, volto com cuidado para as cadeiras e passo uma para ele.
— Coloquei um cubo de açú car e uma lor de manteiga de
amendoim no pires. Nã o tenho certeza se você poderia usar um
pequeno impulso ou nã o agora.
— Obrigado. — Ele pega a xı́cara de mim e renuncia ao cubo de
açú car, mas morde o biscoito.
Sentando em frente a ele, coloco minhas pernas embaixo de mim.
Bebemos nosso chá e mastigamos nossos biscoitos em silê ncio,
olhando para o fogo. Até que olho em sua direçã o e percebo que
Jonathan está me observando.
— O que é ?
Ele me encara por mais um momento antes de esvaziar o chá ,
depois o deixa de lado e diz:
— Os nú meros chegaram. Parabé ns, Srta. Di Natale. Você ganhou.
Meu estô mago afunda.
— Eu nã o quero falar sobre isso.
— Por que nã o? Você deveria estar orgulhosa, Gabriella. Você me
superou. Nã o que eu alguma vez tenha duvidado que você faria.
Lá grimas embaçam minha visã o. Parece um furador de gelo
perfurando meu peito.
Eu dreno meu chá , esperando que ele derreta o frio que se espalha
pelo meu corpo, mas eu nem mesmo sinto o uı́sque queimando
enquanto digo:
— Você nã o está desistindo, certo?
Jonathan me examina com cuidado, as mã os entrelaçadas na
barriga.
— Esses foram os termos do nosso contrato.
— E se eu mudar de ideia? — Sussurro em torno das lá grimas
engrossando minha garganta. — E se eu quisesse que você icasse?
Ele está muito quieto. Muito quieto. Até que ele inalmente disse:
— Você gostaria disso?
Fico olhando para ele, rasgando mais fundo dentro de mim. Devo
querer Jonathan por perto? Quando me sinto atraı́da por ele, quando
sinto falta de nossas brigas e gostaria de poder beijá -lo novamente,
quando encontro o Sr. Reddit, o amigo que esperava que pudesse se
tornar mais?
As palavras icam presas na minha garganta. Eu nã o sei o que dizer.
Nã o sei o que quero. Eu sinto que estou desmoronando.
— Eu… — As palavras icam presas na minha garganta, até que
inalmente saem. — Estou dividida.
— Sobre o que? — Jonathan pergunta baixinho.
Olho para longe, para o fogo.
— Porque tudo o que está acontecendo conosco... está mexendo
comigo. E há algué m de quem me preocupo, mas é ... complicado. No
momento, somos apenas amigos. Isso é tudo o que sempre fomos.
— Amigos. — Ele repete suavemente.
— Eu esperava que talvez tivé ssemos nos tornado mais, e acho que
ele també m esperava, mas agora… — Pisco para afastar as lá grimas. —
Nã o sei o que espero ou penso. Nunca nos conhecemos pessoalmente
antes. Nó s apenas conversamos online. Quer dizer, já se passou mais de
um ano, entã o eu sinto que conheço pelo menos partes dele muito bem,
mas isso nã o é o mesmo que conhecer algué m na vida real, é ?
Ele esfrega os nó s dos dedos na boca.
— Como você s se conheceram?
— Você é praticamente a ú nica pessoa com quem eu nã o tenho que
começar falando “nã o ria'', porque você nã o parece possuir aquele
impulso corporal, mas eu o conheci em um tó pico de Reddit estudioso
nerd. Ele é ... perfeito. — Eu digo a ele desoladamente. — Pelo menos no
nosso chat ele é . E nesse chat, sou perfeita també m. Nã o há tensã o na
vida real, quase nenhum dos meus traços autistas em primeiro plano
para con iar nele e espero que ele seja gentil. Eu disse a mim mesma
que é uma coisa má gica, como nos damos bem, mas isso nã o é
realidade, e eu sei que tenho me escondido atrá s de uma tela, me
escondido de ser totalmente conhecida e amada por tudo que sou. E
por isso que disse a mim mesma que seria corajosa. E agora tenho
planos de conhecê -lo pessoalmente.
— Quando? — Jonathan diz, a voz suave e sombria como uma
caminhada de neve à meia-noite.
— Depois de fecharmos para o Natal. Daqui a trê s dias.
A mã o na frente de sua boca se fecha em um punho.
— Onde você vai encontrá -lo?
Dou uma olhada para ele.
— Nem pense em brincar de segurança. Já tive que falar por cima
com June, que fez questã o de querer ir. Concordamos que ela pode
observar de uma distâ ncia discreta. Ela assiste muito Criminal Minds…
— Gabriella. — Ele diz, os olhos ixos nos meus enquanto ele se
repete. — Onde você s vã o se encontrar?
— A exposiçã o Winter Wonderland no conservató rio.
A mã o fechada de Jonathan cai em seu colo, seu olhar ixo em mim.
— Parece algo que você adoraria.
— E. — Eu admito. Ele segura meus olhos com tanta intensidade
que começo a me mexer inquieta na cadeira. — E que tal — Luto contra
o rugido de ciú me arranhando atravé s de mim. — E você ? Há algué m?
— Uma... amiga. — Ele inalmente diz. — Ela é algué m que conheci
online, na verdade. Uma espé cie de amigo por correspondê ncia.
Eu sorrio.
— Mesmo? Você s se conheceram pessoalmente?
— Nã o. — Ele desvia o olhar, olhando para o fogo. — Ainda nã o.
Gentilmente, cutuco seu joelho.
— Por que nã o? Sr. Frost, o que você tem a esconder sobre si
mesmo atrá s da proteçã o con iá vel das salas de bate-papo online?
Ele revira os olhos.
— Vamos ver. Uma primeira impressã o muito menos que calorosa
e alegre. Humor sombrio, especialmente em torno dos feriados.
Evitando a conversa de “Eu tenho diabetes”.
— Por favor. Você tem uma fachada grinch, mas por baixo está um
coraçã o de ouro. E quanto ao seu pâ ncreas pouco cooperativo, se ela te
irritar... — Imito um soco duplo. — Deixe-me falar com ela.
Nem acho que ele me vê . Ele está perdido em pensamentos,
olhando ixamente para o fogo.
— O que acontece — Ele pergunta baixinho. —, quando você
encontra ele e... E se ele nã o for como você o imaginou? E se ele for a
ú ltima pessoa que você esperava?
— Eu nã o sei. Só queria ter conhecido ele meses atrá s, e isso nã o
seria um problema. Eu gostaria de nã o ter essa idealizaçã o construı́da
que teremos que desaprender e trabalhar.
— Entã o, você gostaria de saber as verdades complicadas. — Seu
olhar estala na minha direçã o. — As partes difı́ceis de amar dele.
— Nã o é ? Você nã o se sente assim por ela?
Seus olhos procuram os meus.
— Sim. Muito.
— Entã o seja corajoso. — Digo a ele, fechando a distâ ncia entre
nó s e apertando sua mã o, dilacerada enquanto luto contra a
possessividade irracional que sinto por ele. — Prometa-me que a
conhecerá e, quando ela o conhecer, terá a sorte de ver o verdadeiro
você , todo você , Jonathan Frost.
Olhando para mim, ele ica quieto por um longo momento antes de
virar a mã o e apertar a minha de volta.
— Você acha que ela vai gostar?
— Jonathan. Você é um mesquinho rabugento, mas també m é uma
das melhores pessoas que conheço. Você se dedicou a este lugar. Você
faria qualquer coisa pelos Baileys. Você tem sido um bom amigo para
mim nos ú ltimos onze dias e um co-gerente excepcional. Você ama
tanto seu sobrinho, ver você s dois juntos fez meus ová rios fazerem
giná stica...
— Fez eles fazerem o quê?
— Shh, estou sendo poé tica. Deixe-me falar com você . Você é um
tio e irmã o estrela do rock – você foi limpar o carro da sua irmã antes
de eles partirem porque tinha nevado, eu vi você . Você é inteligente e
tem o humor mais seco de qualquer pessoa que já conheci, e se você é
como nos meus sonhos sexuais, você é um amante incrı́vel – oh meu
DEUS, eu acabei de dizer isso.
Coloco ambas as mã os sobre minha boca.
Os olhos de Jonathan se arregalam.
— O que você acabou de dizer?
— Nada. — Um rubor aquece minhas bochechas. Um rubor como
eu vejo aquecendo suas bochechas també m. — Eu devo ir.
De pé , desligo a lareira a gá s, fujo para a sala dos fundos e começo
a me arrumar para ir para casa. Tenho que sair daqui, antes que diga ou
faça qualquer outra coisa para quebrar esta coisa adorá vel e frá gil que
construı́mos.
Amizade.
Mas entã o eu o sinto atrá s de mim, quente e pró ximo. Tã o
tentadoramente perto.
— Gabriella…
— O que eu quis dizer… — Eu sussurro, na semi-escuridã o da loja,
de costas para ele. Aperto meus olhos fechados e respiro fundo para me
acalmar. — Se ela for digna de você , ela nã o vai gostar de conhecer você
todo, Jonathan. — Me viro com seu casaco na mã o e o coloco
delicadamente em seus braços. — Ela vai adorar.
Jonathan puxa lentamente sua jaqueta. Eu escorrego no meu. Só
depois de colocar as luvas é que me dei conta de que esqueci de abotoar
o casaco.
— Droga. — Murmuro.
Jonathan afasta minhas mã os quando eu começo a remover minhas
luvas e me aproxima, abotoando habilmente cada um deles. Ele parece
mais sé rio do que nunca, os olhos voltados para sua tarefa, e eu o
observo com um nó na garganta. Respiro seu cheiro de loresta de
inverno e absorvo a visã o dele.
— Quando te verei?
Ele se atrapalha com um botã o.
— Em breve. Há muito o que trabalhar com a loja.
— Ok. — Eu sussurro.
Sua boca se inclina no canto.
— Vai sentir minha falta, Di Natale?
— Como se eu perdesse um dente com abscesso.
Sua boca se inclina um pouco mais. E o mais pró ximo de um
sorriso ainda.
— Bom.
E entã o saı́mos para o mundo nevado. Jonathan trava, a boca
franzida enquanto se concentra antes de dizer:
— Vou acompanhá -la até sua casa.
— Jonathan, você nã o precisa.
— Está tarde e nã o é seguro para você andar sozinha. — Ele se vira
e, em seguida, segura meus fones de ouvido de onde estã o ao redor do
meu pescoço, aninhando-os nas minhas orelhas. — Nã o precisamos
conversar. — Diz sua voz abafada. — Nó s podemos apenas… — Ele olha
para a neve, em seguida, ergue o rosto para o cé u.
— Ser. — Termino por ele.
Ele olha para mim, seus olhos quentes.
— Sim.
E fazemos exatamente isso, passos longos e silenciosos ao longo da
calçada coberta de neve. Cotovelos batendo, olhos dançando um no
caminho do outro. Eu cantarolo para mim mesma, e Jonathan ica em
silê ncio, olhando para a frente, um soldado marchando para a batalha.
Ele parece tã o sé rio, e me pergunto o que está pesado em sua mente.
Mas eu nã o pergunto. Porque nã o deveria querer saber. Eu nã o deveria
querer arrastá -lo para dentro do meu apartamento, aquecê -lo e pedir-
lhe para abrir seu coraçã o.
Quando paramos em frente ao meu pré dio, me viro e encaro
Jonathan.
— Obrigada por sua escolta, bom senhor.
Ele me lança um olhar severo.
— Você nã o tem que andar sozinha, especialmente com aqueles
fones de ouvido, entendeu?
Encolho os ombros.
— Isso manté m a vida emocionante.
— Emocionante. — Ele massageia a ponte do nariz. — Cristo,
Gabriella.
Cuidadosamente, me aproximo e sorrio para ele, piscando para
afastar a neve e a ameaça de lá grimas.
— Boas festas, Jonathan.
Para meu absoluto deleite estonteante e espanto agridoce,
Jonathan me envolve em seus braços e coloca sua bochecha no topo da
minha cabeça. Uma longa e lenta exalaçã o o deixa.
— Feliz Natal, Gabriella.
Nó s nos separamos, estabelecendo a distâ ncia necessá ria entre nó s
enquanto eu digo a ele:
— Prometa que você vai encontrar sua amiga online, ok?
Ele concorda.
— Eu prometo. E você també m?
— Sim. — Engulo um nó na garganta. — Espero que ela seja tudo o
que você queria.
Jonathan me encara, procurando meu olhar.
— Já sei que ela é .
Rolo meus olhos.
— Você é tã o arrogante. Alguns de nó s, no entanto, que també m
estã o encontrando nossos amigos por correspondê ncia on-line
anô nimos, estã o tremendo em nossas botas de neve.
— E melhor seu Sr. Reddit estar tremendo nas botas. Ele tem muito
a provar antes de ser digno de você .
Um rubor aquece minhas bochechas.
— Estou falando sobre o que ele pensa de mim. Estou nervosa. Mas
estou pensando em ir ao batismo de fogo e aparecer com meu sué ter de
Natal mais feio. Toca mú sica. Se ele pode lidar com isso, nó s podemos
sobreviver a qualquer coisa.
O rosto de Jonathan se abre em um sorriso tã o devastador que tira
o ar dos meus pulmõ es. Isso o transforma, duas covinhas lindas
esculpindo em suas bochechas, seus olhos enrugados lindamente nos
cantos. Sua garganta funciona enquanto ele ri alto e profundamente.
Entã o ele me puxa para seus braços novamente, me abraçando forte
enquanto sussurra algo em meu cabelo.
— Ei! — Eu chio. — Pare de me sufocar! Você inalmente sorriu, e
estou perdendo!
Ele se afasta e exala asperamente, o sorriso desapareceu,
substituı́do por algo cru e feroz.
— O que é ? — Pergunto.
Mas ele nã o me responde. Ele abre a porta do meu pré dio e me
empurra para dentro. E entã o ele pousa a mã o enluvada no vidro da
porta. Coloquei minha mã o lá també m.
Um momento depois, ele dá um passo para trá s, se vira e
desaparece na noite de neve.
— Que homem estranho e adorá vel.
Minha visã o está aguada, uma lá grima solitá ria escorrendo pela
minha bochecha, mas eu sorrio para mim mesma durante todo o
caminho até as escadas.

13

Playlist: “You and Me at Christmas” - Why Don't We

TALVEZ SEJA EXAUSTÃO ACUMULADA, mas pela primeira vez em


semanas, meu sono é um cobertor preto, pesado e sem sonhos. Acordo
descansada na vé spera de Natal e preparo um brunch com Eli e June
antes de ir para a casa dos meus pais para comemorar. Sã o risos e boa
comida e mú sica, um caos feliz que eu adoro, mas també m requer
muito tempo com fones de ouvido.
També m durmo sem sonhos naquela noite e acordo com um lindo
natal branco.
Bing canta a famosa cançã o apropriada enquanto a neve cai do cé u
e meus pais e eu abrimos os presentes na frente da á rvore. Quando a
pró xima mú sica começa, meu coraçã o torce.
Little Jack Frost, get lost, get lost.
Eu tento muito banir Jonathan de meus pensamentos, porque
amanhã é meu encontro com o Sr. Reddit. Mas depois de mais um longo
dia de comemoraçã o, depois de cair na cama naquela noite, saboreando
o conforto aconchegante do meu apartamento e meu fofo Pã o de Mel,
nã o tenho tanta sorte quanto tive nas ú ltimas duas noites.
Desta vez, meus sonhos sã o diferentes. As mã os e o corpo me
segurando perto, me amando, me enchendo, sã o mais gentis,
cuidadosos, como se fosse nossa primeira vez e houvesse um mundo a
descobrir entre nó s. Nã o é Jonathan... e ainda assim algo no fundo da
minha mente diz que é . Enquanto eu nado para a superfı́cie dos meus
sonhos, eles se transformam em Jonathan e eu nos despedindo do lado
de fora do meu apartamento, assim como depois da grande liquidaçã o.
Jonathan está olhando para mim, algo feroz e quente em seu olhar
enquanto ele me conta o que ele me disse naquela noite:
— É melhor seu Sr. Reddit estar tremendo nas botas. Ele tem muito a
provar antes de ser digno de você.
Sr. Reddit... Isso agarra meu cé rebro, engancha meus pensamentos
e me puxa para mais perto, mais perto da superfı́cie da vigı́lia.
Sr. Reddit...
Nunca disse esse nome a ele. Eu só disse ao pró prio Sr. Reddit.
Estou me debatendo entre as ondas onde a memó ria e os sonhos
quebram e aumentam, estendendo a mã o para ele, sufocada e sem
palavras.
Não saia! Eu quero contar a ele. Não vá embora quando eu acabei
de te encontrar!
Estou com tanto medo de que ele se dissolva na escuridã o da meia-
noite, como fez quando nos despedimos. Mas em vez disso, Jonathan me
agarra com força e me puxa para a superfı́cie, envolvendo-me em seus
braços, sua boca tomando a minha, me enchendo de palavras, ar e
esperança. Sou eu, ele sussurra. Sempre fui eu.
Levantando-se na cama, eu suspiro. Meu coraçã o está batendo
forte.
Eu nã o posso acreditar. E, no entanto, é a ú nica coisa em que posso
acreditar.
E difı́cil entender que algo tã o imprová vel possa ser verdade, mas
sei que nunca usei o nome ‘Sr. Reddit’ perto de Jonathan. Tem que ser
ele. Nã o há outra explicaçã o.
Enquanto corro ao redor, repetindo nossa conversa na noite em
que fechamos o Bailey's, as perguntas que ele fez, sua hesitaçã o e
ternura, a cautela em sua expressã o, ico cada vez mais segura. E ele.
Jonathan é meu Sr. Reddit.
Puxando freneticamente minhas leggings forradas de lã , minhas
mais extravagantes meias listradas em cana-de-açú car, vacilo quando
percebo que meu feio sué ter de Natal nã o está em lugar nenhum.
Demoro um momento para lembrar quando o vi pela ú ltima vez, e
é quando me lembro – deixei na Bailey's. Meus confortos sensoriais
variam de um dia para o outro, entã o sempre trago roupas de reserva
para o caso de o que estou vestindo começar a me incomodar. Naquele
ú ltimo dia de trabalho, eu levei o sué ter feio e outro par de leggings
forradas de lã semelhantes ao que estou vestindo agora, e depois nã o
consegui trazê -los para casa.
Eu poderia usar outra coisa. Mas entã o me lembro do sorriso de
tirar o fô lego de Jonathan, aquela risada profunda e rica quando
prometi usar o feio sué ter de Natal.
Meu coraçã o dá um pulo, ponta do pé apó s ponta do pé , enquanto
eu visto uma camiseta de algodã o de manga comprida que usarei sob o
sué ter, enquanto escovo os dentes e arrumo meu cabelo rebelde, em
seguida, corro para fora de casa. Mil perguntas invadem minha mente.
Há quanto tempo ele sabe? Quando ele descobriu? E por que ele nã o me
contou?
Corro, desesperada por respostas e desesperada para vê -lo,
escorregando na neve, disparando em torno de slowpokes embrulhados,
meus fones de ouvido acalmando o mundo em um silê ncio pacı́ ico
enquanto a neve beija minha pele como uma bê nçã o e uma promessa.
Sua voz ecoa na minha cabeça, o que ele disse quando eu disse a
ele que esperava que seu amigo online fosse tudo o que ele queria.
Eu já sei que ela é.
Meu coraçã o está voando, eu tenho asas. Sobrevoo o ú ltimo
quarteirã o que leva a Bailey's e entro na loja. Está quieto por dentro,
um silê ncio de vazio que eu amo, composto por meus fones de ouvido.
A luz do dia entra, nenhuma luz acesa. O cheiro de livros e graxa para
madeira faz có cegas em meu nariz.
Rapidamente, caminho para a parte de trá s e localizo a bolsa de
lona pendurada no meu cabide. Eu o abro, puxo meu feio sué ter de
Natal e o coloco, o que tira meus fones de ouvido e envia uma onda de
som aos meus ouvidos.
— Por que você nã o contou a ela? — A voz da Sra. Bailey chega da
sala de contabilidade.
Congelo. Minha respiraçã o soa mil vezes mais alta do que deveria.
— Você sabe o porquê . — Meu estô mago embrulha. Esse é a voz de
Jonathan. — Ela vai me desprezar por isso.
O sangue ruge em meus ouvidos. Tento respirar, tento entender o
que ele está dizendo.
— Talvez no inı́cio. — A Sra. Bailey disse calmamente. — Mas
assim que ela vir que esta é a ú nica maneira de salvar a livraria, ela vai
entender.
Parece que o chã o está desmoronando embaixo de mim. Luto por
algo para me irmar enquanto imagino: Sra. Bailey gentilmente me
chamando em seu escritó rio quando voltarmos depois do ano novo,
segurando minha mã o, me agradecendo por tudo que eu dei ao lugar,
me dizendo que ela sente muito, mas ela tem que pensar primeiro no
negó cio e no que Jonathan trouxe a ele.
As palavras de Jonathan cortam meu coraçã o: Ela vai me desprezar
por isso.
Desesperada para escapar, sigo meu caminho pela loja o mais
silenciosamente possı́vel, e deslizo para fora. Entã o eu começo a correr,
rastejando pela calçada, escorregando no gelo e na neve, as lá grimas
borrando minha visã o…
O barulho da buzina de um carro me para bem a tempo antes de eu
correr mais para a faixa de pedestres.
E quando eu percebo que deixei meus fones de ouvido com
cancelamento de ruı́do na loja.
Tropeçando de volta para a calçada, eu caio contra a vitrine da
cafeteria de todos os lugares, onde comprei meu chocolate quente de
hortelã seis dias por semana em dezembro, nã o muito longe de onde
Trey me abordou e Jonathan veio correndo e tudo mudou. Eu suspiro
por ar e olho para o cé u, pequenos locos de neve caindo.
— O que eu faço? — Sussurro. Fechando meus olhos, deixei o vento
frio beijar minha pele. Eu deixei meu coraçã o lento e irme.
E entã o, como a beleza suave da neve recé m-caı́da, minha mente
ica clara. Estou sendo... ridı́cula. Entrei no meio de uma conversa entre
duas pessoas que sempre me mostraram que sã o dignas de minha
con iança e que nã o me trairiam. O que estou pensando, fugindo assim?
Estou segura com os Baileys e com Jonathan. Tem que haver um motivo.
Uma explicaçã o.
— Gabby! — A voz de Jonathan vem de baixo do quarteirã o.
E assim como naquela manhã , ele veio correndo em minha direçã o,
ele está correndo de novo, ultrapassando bancos de neve e evitando
casais sinuosos. Eu o observo, vindo em minha direçã o, o vento
chicoteando seu cabelo escuro, o fogo queimando naqueles olhos
verdes invernais.
E entã o ele para aos meus pé s, olhando para mim intensamente,
meus fones de ouvido na mã o.
— Eu os vi. — Diz ele. — E sabia que você tinha estado lá , e nã o sei
o que tudo que você ouviu Gabby, mas eu prometo que estou do seu
lado…
— Eu sei. — Me aproximo, envolvendo minha mã o na dele. — Eu
sei que você está .
Seus olhos procuram os meus.
— Você sabe?
Sorrio levemente, pegando meus fones de ouvido e colocando-os
em volta do meu pescoço.
— Eu sei. E també m estou do seu lado. Eu nã o sei o que você estava
discutindo. Só sei que você está com medo de me dizer.
— Eu… — Ele envolve suas mã os em volta dos meus ombros. — Eu
tentei tantas vezes, mas estava com tanto medo de que você odiasse.
— Eu ouvi essa parte. Mas eu con io em você , Jonathan.
— Você con ia?
— Eu con io.
Ele franze a testa.
— E isso?
Aceno, piscando para afastar as lá grimas.
— Sim. Quer dizer, eu nã o me importaria de ouvir mais sobre
quaisquer medidas capitalistas implacá veis que você tomou para salvar
o lugar pelo qual você tem certeza que vou te desprezar, mas eu con io
em você .
Sua mandı́bula lateja, como se ele estivesse se preparando.
— E... uma versã o online da livraria. Có pias impressas, á udio, e-
books. Os leitores de romance sã o nosso segmento-chave, nosso cliente-
alvo nú mero um. Isso vai direcionar o trá fego para o site e nã o
necessariamente para a loja fı́sica, e sei que você odeia isso. Sei que
você quer o lugar cheio de gente, como antes, Gabby, mas era esse tipo
de livraria ou nenhuma livraria. — Seus olhos procuram os meus. — Eu
queria que fosse seguro para você , para manter Bailey's aberto para
você por anos e anos. Sei que nã o é o ideal, mas é a ú nica maneira…
— Jonathan. — Eu sussurro.
Ele me encara, sem fô lego, com os olhos arregalados. Ele parece
um pouco apavorado.
— Obrigada. — Digo a ele, levando a mã o ao rosto, acariciando
suavemente sua bochecha com meu polegar enluvado. — Por explicar
isso. Por... tudo que você fez. Eu nã o posso começar a dizer o quanto
isso signi ica, e quero ouvir muito mais, mas a questã o é ...
Olho para Jonathan, e aquela lá grima dentro do meu coraçã o se
costura, enquanto tudo que eu passei a admirar e adorar nesses dois
homens – meu inimigo e meu amigo, minha dura realidade e minha
mais doce fuga – se fundem em um de tirar o fô lego, realidade
perfeitamente imperfeita.
Dele.
— Na verdade, eu tenho um encontro. — Sussurro, ainda
acariciando sua bochecha. — E eu nã o gostaria de deixá -lo esperando.
Ele me encara com muito cuidado, procurando minha expressã o.
— Acontece que eu també m.
Lá grimas pairam em meus olhos, ameaçando transbordar.
— Diga-me onde.
Ele se aproxima.
— O Winter Wonderland no conservató rio. — Ele diz suavemente.
— 10h em ponto. Vou conhecer a MargaretCATwood dos meus sonhos.
E eu apenas espero…
Eu me jogo nele, esmagando minha boca na dele, quente, forte e
frené tica. Seu gemido profundo e á spero faz meus dedos do pé se
curvarem, faz faı́scas dançarem pela minha pele. A boca de Jonathan se
abre para mim, sua lı́ngua encontra a minha, é fome e espera, e desejo, e
alı́vio. E febril e fervoroso, suspiros ofegantes enquanto nos abraçamos
como o im do mundo e estamos segurando nossa preciosa vida.
— Gabriella. — Suas mã os descem pelas minhas costas, agarrando
meus quadris, me segurando contra ele.
— Jonathan. — Eu sussurro em meio à s lá grimas, agarrando-o com
força. — E você .
Ele acena com a cabeça, suas mã os deslizando ao longo das minhas
costas.
— Você nã o está desapontada?
— Desapontada? — Eu rio em meio à s lá grimas e beijo o canto de
sua boca, sua mandı́bula, em seguida, chupo sua garganta, fazendo seus
quadris balançarem contra os meus. — Estou agindo como se estivesse
desapontada?
— Nã o. — Ele diz asperamente, deslizando a mã o profundamente
dentro do meu cabelo, massageando meu couro cabeludo, sua outra
mã o subindo pela minha cintura. Ele me beija novamente, profundo e
quente aveludado. — Nã o, você nã o está .
— Estou aliviada. — Minhas mã os encontram seus bolsos traseiros
e apertam sua bunda redonda e dura atravé s do tecido. —
Entusiasmada. Alé m de feliz. Meu coraçã o estava partido. Eu queria
você s dois e agora nã o tenho que escolher, porque é tudo... você .
Ele sorri contra o nosso beijo.
— Mesmo com minhas artimanhas capitalistas e a livraria online?
Aceno e enterro meu rosto em seu pescoço, respirando fumaça de
lenha e lorestas invernais.
— Especialmente com suas artimanhas capitalistas e a livraria
online. Você salvou a Bailey's.
— Para você .
— Para mim.
Sinto seu sorriso se aprofundar enquanto ele me acaricia, em
seguida, beija meu pescoço até a clavı́cula.
— Nã o vou trabalhar lá . — Diz ele. — Se você nã o quiser. Você
pode ter tudo para você …
— O que? — E um balde de á gua gelada bem em cima de mim.
Tirando minhas mã os de seus bolsos, eu pego sua cabeça. Nossos
narizes roçam, mas nã o há beijo, apenas carranca. — Eu acabei de te
encontrar e agora você está me deixando?
O sorriso de Jonathan é doce e gentil enquanto ele me puxa de
volta em seus braços e retorna minhas mã os aos bolsos de trá s.
— Você sempre me teve, Gabriella. E adoraria icar, mas nã o se isso
nã o te izer feliz.
Eu derreto dentro de seus braços, enquanto as mã os de Jonathan
derivam em cı́rculos suaves pela minha cintura, entã o espalmam minha
bunda afetuosamente.
— Isso me deixaria in initamente feliz. — Digo a ele. — Somos a
equipe perfeita, você e eu. — Nossos olhos procuram um ao outro.
Deslizo a mã o de seu bolso e tiro uma mecha de cabelo escuro de seu
rosto. — Quando você soube? — Eu pergunto.
Ele se inclina ao meu toque, seus olhos fechando.
— Nossa luta apó s o encontro com os Baileys. Quando peguei o
romance e você fez aquela piada sobre Jane Austen. Foi quase
literalmente o que eu disse, o que conversamos em nosso bate-papo.
Pensei que estava perdendo o controle por um segundo, imaginando
coisas, mas entã o eu pedi para você citar mais de seus romances
favoritos, e os que você apontou eram todos os tı́tulos que MCAT tinha
me dito. Depois fui para casa e tentei falar com você no Telegram sobre
trabalho para ver se conseguia mais pistas. Quando você disse que
tinha um colega de trabalho que a deixava infeliz e odiava os feriados,
eu sabia que era você . Pelo menos, tinha tanta certeza quanto podia.
— E por isso que você disse isso. — Sussurro. — Quando nos
beijamos. Eu não deveria fazer isso. Ainda não.
Suspirando, ele abre os olhos.
— Eu queria esperar até que nó s dois soubé ssemos, até que tudo
estivesse exposto. Só que você estava tã o perfeita, parada ali pegando
locos de neve na sua lı́ngua, um sorriso iluminando você , e eu sabia
que você me queria, mesmo estando dividida. Passei trinta minutos
com você no meu carro, ouvindo a fumaça em sua voz, vendo você
contorcer sua bunda no assento, esfregando suas coxas, olhando para
minha boca e – Deus, Gabby, eu nã o consegui me conter. Nã o quando
você estava ali comigo.
— E quando nos beijamos? — Mordo meu lá bio, lembrando de
cada mancha quente e ú mida de nossas lı́nguas e bocas, a maneira
como suas mã os afundaram em meu casaco e prendeu nossos quadris.
Ele ica quieto por um momento enquanto me encara, me
segurando com força, com tanta força, como se ele tivesse medo, no
momento em que ele me soltar, eu pudesse desaparecer.
— Foi quando eu orei, porque beijar você era á gua no deserto, a luz
do sol rompia o horizonte, e eu ia embora por você , sem volta. Nã o sou
um homem de oraçã o, Gabriella, mas rezei muito para que nã o fosse
uma piada horrı́vel, que você icasse feliz quando percebesse que era
eu, que qualquer força có smica me deu o dom de tropeçar em seu a vida
nã o era cruel o su iciente para me impedir de sempre pertencer a ela.
— Jonathan. — Me afasto, segurando seu rosto. — Meu Sr. Reddit.
Meu pró prio Scrooge McGrinch mal-humorado. Foi você . Tinha que ser.
— Como você soube? — Ele pergunta baixinho.
Eu sorrio tanto que meu rosto dó i.
— Você escorregou. Na noite em que fechamos, você mencionou o
Sr. Reddit.
Seus olhos se arregalam.
— Merda. Eu iz?
Eu concordo.
— Nã o processei até ontem à noite – bem, de manhã cedo. Nos
meus sonhos.
Seu sorriso é lento e preguiçoso e tã o arrogantemente sensual, eu
quero beijar seu rosto.
— Andou sonhando comigo, nã o é , Di Natale?
O empurro de brincadeira.
— Já admiti isso na noite em que fechamos. — Nosso humor vai
embora enquanto procuro seus olhos. — Por que você nã o me contou
assim que suspeitou?
Ele desliza os nó s dos dedos pela minha bochecha, a testa franzida.
Tã o sé rio.
— No inı́cio, porque eu estava cambaleando. Precisava de tempo
para resolver isso na minha cabeça. E porque você me odiava, Gabriella.
Especialmente quando percebi o quanto eu queria que funcionasse,
percebi que você precisava de tempo para ver minhas qualidades
menos terrı́veis... — Ele sopra uma lenta corrente de ar. — E eu
precisava de tempo para terminar a construçã o da livraria online e, em
seguida, encontrar coragem para contar a você sobre isso. E nã o parecia
certo, a ideia de revelar quem eu era, quem nós fomos antes de eu lhe
disse tudo, incluindo a loja.
— Estou tã o feliz por ter sido você . — Sussurro, jogando meus
braços em volta do pescoço e segurando-o com força. — Eu queria
tanto que fosse você .
Ele me bebe e um sorriso terno levanta sua boca.
— Olhe para você .
Olho para baixo para o meu sué ter de Natal feio com suas luzes
cintilantes desagradá veis, apenas esperando eu virar o interruptor
escondido que vai fazer ele cantar. — Brutal, certo?
— Linda. — Ele sussurra, as mã os acariciando minha cintura,
puxando-me para perto. — A mais bonita. Aqui. — Ele se curva e beija
minha tê mpora. — Aqui. — Sobre meu coraçã o. — E aqui. — Em
seguida, seus lá bios roçam os meus.
Minha boca se abre enquanto ele me envolve com mais força em
seus braços. Esse beijo é tranquilo e gentil, mas nã o ica assim por
muito tempo. Antes que percebamos, Jonathan está me acompanhando
de volta até que batemos contra uma parede. Estou começando a
arrancar sua jaqueta, arrastando a minha.
— Espere. — Ele diz, embora pareça a ú ltima coisa que ele quer
dizer, especialmente quando deslizo minha mã o por sua coxa dura, em
direçã o aonde vejo evidê ncias claras de que ele está sofrendo tanto
quanto eu. — Desacelere. Gabriella. — Deus, aquela voz, profunda e
autoritá ria, é exatamente como ele soava em meus sonhos de
aristocrata imundo, enrolando lençó is, horas fazendo amor, fantasias.
Isso me deixa selvagem.
— Eu preciso de você . — Digo a ele.
— Deus, Gabby. — Ele me puxa para mais perto e suas mã os
deslizam pela minha bunda, até minhas coxas, me levantando e
caminhando minhas pernas em volta de sua cintura. — Eu preciso de
você també m.
— Entã o... sobre esse encontro? — Digo a ele. — Que tal realocá -
lo? Em algum lugar com uma cama. E ningué m que precise de nada de
nó s. Por dias.
— Minha casa. — Ele diz. — Sem companheiros de quarto. Sem
interrupçõ es.
Eu o beijo forte e profundamente, entã o deslizo lentamente por
seu corpo.
— Seu lugar. — Dou um passo para trá s.
— Ei. — Ele franze a testa. — Aonde você está indo? Nó s temos um
encontro.
— Eu só preciso de… uma parada rá pida na minha casa? Quinze
minutos?
— Quinze minutos! — Ele grita como se disse quinze anos.
— Só para pegar alguns itens essenciais. Dica: nã o vou levar
roupas ı́ntimas.
Seus olhos escurecem. Ele começa a andar em minha direçã o.
— Eu vou levar você . Vai ser mais rá pido.
Um sorriso tı́mido aparece.
— Eu disse quinze minutos, Frost, e falei sé rio.
Eu grito de tanto rir quando ele se inclina e me joga por cima do
ombro, golpeando suavemente minha bunda.
— Tudo bem. Esteja pronta para recuperar o tempo perdido.

— Puta merda. — Ao que parece, June deixa cair sua caneta


delineador. — Scrooge é o Sr. Reddit? Jonathan Frost?
— E coisa de icçã o. — Digo a ela, embalando a mala de pijama
mais caó tica do mundo. Meu pró prio travesseiro. Meias felpudas.
Nenhuma roupa ı́ntima. Muitos sué teres. Novelas de romance. Biscoitos
inos de menta. — E, no entanto, é a minha realidade. Eu nunca vou
parar de me beliscar.
— Você s vã o apagar as luzes um do outro, nã o vã o?
— Por dias. — Me jogo na minha cama ao lado de Pã o de Mel e a
alimento com um punhado de guloseimas. — Nã o sinta muito a minha
falta. — Digo a ela. — E nã o se preocupe, vou trazer Jonathan em breve
para que você possa conhecê -lo.
Pã o de Mel ronrona como um motor sem silenciador e, embora
seja provavelmente porque dei a ela trê s vezes mais guloseimas do que
o normal, estou optando por acreditar que é sua empolgaçã o em
encontrar o homem que espera nã o tã o pacientemente lá embaixo em
seu SUV.
— Gabby? — A voz de June vem do banheiro Jack e Jill que conecta
nossos quartos.
— Sim?
— Quais sã o as chances? Você colocou sua cabeça ao redor disso?
Olhando para a janela que dá para a rua e para o carro de Jonathan
abaixo, eu o imagino – cabelo escuro, feiçõ es severas, olhos verdes de
inverno, aquele sorriso suave e caloroso só para mim.
— Terrivelmente. — Digo a ela. — Eu sou a pessoa mais sortuda do
mundo.
Saindo da cama, jogo minha bolsa por cima do ombro. Parece
manhã de Natal de novo.
June me pega no espelho, observando meu sorriso atordoado, os
coraçõ es dançando em meus olhos.
— Uau. — Ela diz. — Você é um caso perdido.
Eu sorrio ainda mais.
— Sim.
— Bem, é melhor ele merecer você . — Ela murmura, de volta ao
seu delineador.
— Considerando que ele construiu uma loja online com lucros
projetados o su iciente para que o Bailey's estivesse seguro
inde inidamente, e ele fez tudo por mim…
— Puta merda. — Uma faixa de delineador preto marca sua
tê mpora. June joga a caneta de lado e se vira para me encarar, com
lá grimas nos olhos. — Chega dessa coisa mole. Está bagunçando meu
delineado de gatinho. Por que você deve me torturar com uma
baboseira de destruir a maquiagem do coraçã o?
— Porque eu quero o seu apoio. Seu e de Eli.
Ela bufa, enxugando os olhos.
— Nó s sabemos que Eli concorda com isso.
— Verdade. Ele já está planejando nosso casamento duplo com ele
e Luke. Ele está na lua. Eu quero que você ique també m, June.
Cruzando o pequeno espaço entre nó s, ela me abraça com força,
sua voz rouca enquanto beija minha tê mpora.
— Se algué m merece um inal feliz, é você . — Ela bate na minha
bunda enquanto corro para fora do banheiro. — Agora vá ser safada!

14

Lista de reprodução: “Under The Christmas Lights” - Gwen

Stefani

COM O CORAÇÃO BRILHANDO, desci as escadas do meu pré dio, pulei


para fora da porta e me lancei nos braços de Jonathan.
Ele ri, quente e profundo, enquanto beija minhas bochechas, meu
nariz, minha boca.
— Senti sua falta. — Ele diz. — Os piores quinze minutos de todos
os tempos.
— Pareceu quinze dias. — Sorrio para ele, pegando sua mã o
quando ele a oferece para que eu possa pisar em outro banco de neve e
sentar em seu SUV.
Jonathan dirige e nó s brigamos. Reclamo de ele respeitar os limites
de velocidade quando só tem um pouco de neve na estrada e quero
desesperadamente estar na casa dele, já nua. Ele me lembra que
concorda em estar na casa dele e já pelado, mas fui eu que pedi uma
parada em casa. Honestamente, depois de nos comportarmos por duas
semanas, é ó timo. E como deslizar para dentro da minha camisa mais
macia e debaixo do meu cobertor mais aconchegante – familiar, seguro
e correto.
— Satisfeita? — Ele diz, jogando o carro no estacionamento.
— Ainda nã o. — Escalando o console central, eu monto seu colo do
jeito que queria da primeira vez que ele me levou para casa. — Mas
logo estarei.
Jonathan nã o consegue nem esconder seu sorriso enquanto eu
deslizo minhas mã os por sua camisa, tomando cuidado com o local da
infusã o acima de seu quadril, e provoco seu estô mago e peito. Seus
olhos se fecham enquanto eu beijo meu caminho até sua garganta, sua
mandı́bula, suas maçã s do rosto e, em seguida, o canto de sua boca.
— Eu quase passei um sinal vermelho lá . — Ele murmura,
deslizando as mã os pelos meus quadris até minhas costas, acariciando,
amassando... — Graças a você e suas demandas sexuais.
— Você gosta das minhas demandas sexuais.
— Eu gosto. — Ele admite, movendo-me contra ele onde ele está
duro e lutando contra sua calça. — Mas eu gostaria de subir na cama
em frente ao fogo.
Me afasto, caindo como uma bola de neve torta de volta no meu
assento e abrindo a porta.
— Se apresse!
Rindo, Jonathan corre ao redor do carro e me envolve em seus
braços. Eu me envolvo em torno dele como um coala enorme enquanto
ele destranca a porta de seu pré dio e sobe as escadas correndo.
— Forma fı́sica impressionante. — Digo a ele.
— Hó quei é bom para alguma coisa.
— Subindo um lance de escadas correndo com sua mulher
sexualmente exigente e nã o icando sem fô lego?
Ele arqueia uma sobrancelha ao abrir a porta de sua casa.
— Sim, mas de forma mais geral… — Ele fecha a porta com um
chute atrá s de nó s. — Luz.
Com o apertar de um botã o remoto, as chamas ganham vida na
lareira da sala de estar de seu apartamento.
— Uau. — Eu sussurro.
Ele sorri e diz:
— Segure esse pensamento.
Em uma impressionante demonstraçã o de força, Jonathan arrasta
sua cama de plataforma baixa de seu canto no estú dio, para o outro
lado da sala, até que ela repouse, coberta por cobertores aconchegantes
bem em frente ao fogo.
Antes que eu possa dizer uma palavra, Jonathan tira meu casaco
dos meus ombros e o pendura. Pressionando um beijo leve como uma
pena no meu pescoço, ele me inspira. Eu suspiro, deixando minha
cabeça cair para trá s em seu ombro, como eu queria. Seus braços me
envolvem por trá s enquanto alcanço as costas e coloco a palma dele
sobre o contorno duro e grosso de sua ereçã o.
— Eu te quero tanto que mal consigo ver direito. — Ele diz
asperamente.
— Aquele foguete festivo no trabalho deixou você com tesã o? — Eu
sussurro. — Com seus quadris generosos e cachos cabeludos e uma
tendê ncia para apertar seus botõ es.
Ele geme uma risada.
— E como se você falasse por experiê ncia pró pria ou algo assim.
Tem um colega por quem você gosta?
— Você me deixa louca. — Giro em seus braços e rosno as palavras
contra sua boca enquanto nos beijamos, mordendo seu lá bio. — Você
foi projetado para me deixar feroz.
Ele aperta meu rosto e me beija novamente, forte e faminto, nos
levando para a cama.
— Você nã o tem ideia.
— Eu quero saber.
— Desde o momento em que percebi a probabilidade estatı́stica de
que MCAT era você . — Diz ele entre beijos. — Dadas todas as
circunstâ ncias e evidê ncias sobrepostas, eu fui embora. Tudo o que
estive reprimindo ao seu redor, Gabriella – beijo – tudo que eu me
neguei a imaginar com a MCAT – beijo – se fundiu. Eu estou destruı́do.
Tive que ver você andar pela loja e me encarar, ainda me odiando. E
entã o eu tive que ir para casa e me masturbar no chuveiro todas as
noites porque você me deixou furioso e duro pra caralho.
Minha boca se abre.
— Eu quero um replay mais tarde.
— Estou tã o feliz por ser você , Gabriella. — Ele passou da conversa
sobre tesã o, para o romance, puxando-me contra ele, provocando meus
mamilos por cima do meu sué ter. — Eu nã o seria capaz de suportar de
outra maneira.
— Jonathan. — Eu sussurro, delirantemente feliz com a forma
como ele está me tocando. — Eu també m.
Pegando minha mã o, ele se senta na cama e me puxa para baixo, o
fogo dançando atrá s de nó s.
Eu caio em seu colo, olhando para Jonathan enquanto ele alisa os
cachos errantes para longe do meu rosto e coloca um atrá s da minha
orelha. Deslizo minha mã o por baixo de sua camisa, subindo em seu
peito para descansar sobre seu coraçã o, e entã o o beijo. Nossas lı́nguas
se tocam, e é pederneira e aço, o ar correndo para fora de nó s, nó s dois
tirando os sapatos, rastejando de volta na cama, atacando as roupas um
do outro.
— Você cheira incrivelmente bem. — Sussurro, enterrando meu
nariz em seu pescoço, respirando-o. — Como você cheira tã o incrı́vel?
Ele bufa uma risada, mas ica apertada e á spera enquanto eu
lambo seu pomo de adã o, sentindo o gosto de sua pele.
— E só o meu sabonete. Quando percebi que cheiros fortes te
davam dor de cabeça, parei de usar colô nia e mudei para este.
Eu suspiro de prazer, descaradamente me esfregando contra ele,
tocando-o, provando-o.
— Isso é inaceitavelmente doce.
— Eu tentei. — Ele admite, beijando um ponto extremamente
sensı́vel no meu pescoço, mordendo minha orelha com os dentes. — De
maneiras muito furtivas.
— Roupas. — Choramingo. — Tirando. Todas elas.
Ele agarra a bainha da minha camisa e começa a levantá -la.
— Diga-me, Gabriella. O que você quer. O que você nã o faz.
Prometa.
— Eu prometo. — Digo a ele, beijando sua mandı́bula,
espalmando-o sobre sua calça onde ele está duro e esticando o tecido.
Jonathan tira meu sué ter, depois minha camisa por baixo, expondo
meus seios para ele, já que nã o estou usando sutiã . Qual era o ponto
quando ele iria apenas tirá -lo de qualquer maneira?
Suas mã os tremem enquanto ele as desliza pela minha cintura e
gentilmente segura meus seios. Seus polegares circulam meus mamilos
enquanto ele beija meu pescoço, minha mandı́bula, minha boca.
— Como você é tã o bonita?
— Porque eu sou sua.
— Minha. — Ele sussurra, se curvando para beijar meus seios,
arrastando cada mamilo em sua boca com chupadas longas e lentas que
enviam ondas de prazer pelo meu estô mago, mais abaixo, onde estou
molhada e morrendo por seu toque.
Pressionando-me de volta na cama, ele puxa para baixo minha
legging. E quando ele me vê , ele suga uma respiraçã o irregular. Suas
mã os vagam para minha bunda nua e me puxam para mais perto.
— Eu quero deixar você selvagem. — Ele murmura.
Me apoio nos cotovelos, para que eu possa vê -lo melhor, observar
suas mã os viajando pelo meu corpo.
— Por favor faça. Você foi muito legal nas ú ltimas duas semanas.
Estou em abstinê ncia.
Rindo, ele pressiona um beijo no meu quadril e depois na minha
barriga. No primeiro e gentil beijo no meu clitó ris, eu me curvo e caio
na cama.
Ele sorri, parecendo extremamente satisfeito.
— Isso é impressionante, hein?
Me empurro de volta.
— Vá mais devagar, Sr. Frost. Eu mesma tenho que te despir.
Primeiro tiro seu sué ter, o jade mais profundo, como sempre-vivas
à meia-noite. Entã o eu tiro sua camiseta branca apertada, expondo um
corpo bonito e musculoso salpicado de cabelos escuros. Eu toco seu
peito duro e seus mamilos escuros e planos. Entã o eu os beijo e chupo,
fazendo-o gemer.
Quando eu chego a sua calça, me paro. Minha mã o repousa em seu
quadril, perto de seu local de infusã o e do bolso onde vejo sua bomba.
— Mostre-me?
— Eu… — Ele limpa a garganta. — Eu gosto de desconectar, entã o
posso me mover livremente e nã o me preocupar em puxar o tubo. — Eu
o observo cuidadosamente enquanto ele desconecta o tubo ino e
transparente conectado à sua bomba do pequeno disco aderido à sua
pele, em seguida, o segura em sua mã o. — Só nã o me deixe adormecer
depois de me cansar. — Ele me abre um sorriso. — E melhor conectar
novamente depois.
— Eu nã o vou deixar você adormecer. — Digo a ele baixinho,
suavemente traçando o V ao longo de seu quadril, até os mú sculos
fortes unidos em suas costelas.
Tirando a bomba de seu bolso, Jonathan coloca a bomba e o tubo
em segurança na mesa de centro pró xima. E quando ele se vira, eu lhe
dou um beijo longo e lento.
— Para o que foi isso? — Ele diz.
— Porque eu queria.
Ele sorri, reconhecendo suas pró prias palavras na noite em que me
levou para casa, na noite em que tudo começou a mudar.
— Eu queria fazer muito mais do que ajudá -la a entrar no meu
carro, Gabriella.
— Esse sentimento foi mú tuo. — Digo a ele, empurrando Jonathan
de costas. Eu abaixo seu zı́per, em seguida, arrasto sua calça e cueca
boxer para baixo. Deus, ele é lindo, todo mú sculos longos e poderosos e
uma ereçã o espessa e protuberante. Beijo suas coxas grandes e
musculosas, seus quadris magros, cada centı́metro dele que é duro sob
a pele irme e quente.
— Gabriella. — Ele sussurra, puxando-me para perto, beijando
meu pescoço, minha clavı́cula, puxando suavemente um dos meus
mamilos com a boca, depois o outro. — Eu quero que você goze.
— Eu quero que nó s dois. — Sorrio enquanto ele me empurra de
costas e rasteja pelo meu corpo.
— Você primeiro. — Diz ele, todo rosnado e comando que me faz
abrir minhas pernas descaradamente largas. — Assim, hein? — Ele
pergunta timidamente, beijando seu caminho entre minhas coxas.
— Deus, sim. E eu iz o teste recentemente. Sem DSTs.
— Eu també m. Em ambas as contagens. — Ele diz suavemente. Um
gemido de dor o deixa enquanto ele me acaricia com a ponta dos dedos.
— Porra, você está molhada. E macia. E linda. — Entã o ele desce e me
arrasta pelos quadris até que estou bem na cara dele, sua lı́ngua está
exatamente onde eu quero.
Ele começa a dar voltas rı́tmicas suaves em meu clitó ris, em
seguida, desliza um dedo profundamente dentro, trabalhando-me de
forma constante, me observando, aprendendo o que me faz derreter e
gemer.
Nã o é rá pido para mim, mas Jonathan nã o parece se importar nem
um pouco. Ele lambe, prova e provoca, me acaricia com os dedos. Ele
diz todas as coisas imundas que eu sabia que ele diria e algumas que
nã o vi chegando, palavras que fazem minhas costas arquear, fazem o
desejo cantar em minhas veias.
Estou com calor e, ainda assim, estou tremendo, o prazer girando
bem no fundo de mim, irradiando para meus seios e garganta, pontas
dos dedos das mã os e dos pé s.
— E tã o bom. — Sussurro.
Um zumbido profundo e satisfeito ressoa em sua garganta.
— Bom.
— Tão bom. — Digo a ele novamente, quando ele encontra aquele
ritmo perfeito de sua boca e mã os, sua lı́ngua rodando meu clitó ris, dois
dedos esfregando meu ponto G. Eu arco para fora da cama. — Nã o pare.
Bem desse jeito. Por favor, nã o pare.
Jonathan geme de novo, tã o claramente excitado por me excitar. Ele
empurra sua pé lvis no colchã o no ritmo dos movimentos de seus dedos,
seus olhos fechados como se estivesse em ê xtase. Eu quero vê -lo
fodendo a cama porque ele está tã o desesperado por mim, mas
enquanto ele me trabalha com mais força, mais rá pido, meus olhos se
fecham e o prazer dispara, apertado e branco quente atravé s de meus
membros. Eu dobro minhas pernas, prendendo-as em torno de seus
ombros. Inclinando meus quadris contra sua boca, eu deslizo meus
dedos em seus cabelos.
— Oh Deus, estou tã o perto. Por favor, estou tã o…
Eu me despedaço, ofegando de novo e de novo enquanto ele
persegue meus quadris trê mulos com sua lı́ngua, esticando meu
orgasmo até que eu o afasto suavemente, implorando por nada mais.
— Gabriella. — Ele diz, inclinando-se sobre mim.
— Jonathan. — Digo a ele sem fô lego, puxando seus quadris perto
dos meus. — Sem DSTs. Nó s cobrimos isso. Eu tomo a pı́lula todas as
manhã s.
Seu comprimento grosso, escuro e ú mido na ponta esfrega contra
mim.
— Sem preservativos? — Ele range para fora.
— Eu nã o gosto da sensaçã o deles. Entendo sua importâ ncia e
posso usá -los se necessá rio, mas se você está bem em nã o...
— Eu estou muito bem em nã o usar. — Ele segura meu seio e se
move contra mim, trabalhando-me para outro orgasmo com golpes
lentos e seguros de seu pê nis sobre o meu clitó ris.
Estou tã o perto, esfregando-me contra ele, implorando sem
sentido, até que inalmente consigo dizer:
— Dentro de mim. Eu quero você dentro de mim.
Jonathan me beija com fome e começa a se inserir, mas está
apertado e eu começo a entrar em pâ nico. Sua mã o desliza em meu
cabelo, massageando meu couro cabeludo. Ele beija minha bochecha,
meu nariz, meu arco de cupido.
— Relaxe para mim, Gabriella.
Eu gemo com o comando em sua voz, sentindo meu corpo se soltar
em resposta. Suavemente, ele balança um pouco mais fundo.
— Respire, linda. — Diz ele contra a minha orelha, antes de
pressionar um beijo longo e quente no meu pescoço. Ele é grande e é
apertado, mas estou molhada, muito molhada, e ele me beija, me elogia,
até que o sinto totalmente encaixado por dentro.
Eu agarro seus ombros, arqueando-me para ele.
— Eu preciso de você .
— Estou aqui. — Ele geme enquanto bombeia em mim, seu aperto
é forte e possessivo no meu quadril. — Eu estou bem aqui, e você é
malditamente extraordiná ria. Porra, você é tã o boa. Tã o apertada e
quente.
Jonathan me segura perto, acariciando um lugar bem dentro de
mim que faz minha respiraçã o prender, faz meus quadris baterem nos
dele freneticamente.
Ele envolve seus braços mais apertados em volta de mim, seu peso
me empurrando contra o colchã o, me fazendo sentir cada cutucada de
seus quadris, o esfregar constante de sua pé lvis contra meu clitó ris. Ele
beija meu pescoço, minha boca, meus seios. E rá pido e desesperado e
eu começo a tremer embaixo dele, a resistir e chorar, e entã o estou
gozando em ondas tã o poderosas, que apenas seu corpo pode me
segurar.
— Gabby. — Ele sussurra. — Oh, Deus, eu sinto você .
Ele se afasta e bate em mim, mais rá pido, mais forte, o ar correndo
para fora dele.
— Eu vou gozar, Gabby.
O seguro perto quando ele cai novamente e desliza seus braços em
volta de mim, entre minhas costas e a cama. Ele bate em mim, me
enviando mais alto no colchã o com cada grunhido profundo de dor. Eu
o sinto se soltar, sinto ele entregar seu corpo ao meu enquanto eu o
seguro com força.
— Oh Deus, Gabby. Oh porra…
— Eu quero tudo. — Digo a ele atravé s de um beijo duro,
afundando minhas mã os em sua bunda, incentivando-o a continuar. —
Me dê tudo.
Com um grito, ele empurra em mim e se derrama, socos longos e
quentes, frené ticos de seus quadris enquanto ele chama meu nome, até
que ele esteja exausto. Depois de um momento de silê ncio e uma dú zia
de beijos carinhosos e sem fô lego, Jonathan se solta do meu corpo e me
puxa para seus braços. Contentes e atordoados, procuramos nos olhos
um do outro.
— Uau. — Eu sussurro.
— ‘Uau’ está certo. — Ele diz com um sorriso suave, sua mã o
envolvendo minha cintura. Ele me encara tã o intensamente, aquele
sorriso suave se aprofundando.
— O que é ?
Ele suspira feliz.
— Você está aqui.
Agora meu sorriso re lete o dele.
— Estou aqui. Acabamos de fazer sexo incrı́vel. O que eu iz para
merecer isso? Eu fui travessa? Ou legal?
Ele ri profundo e rico, puxando-me para mais perto em seus
braços, beijando-me lentamente.
— Ambos.
Afastando-me, eu deslizo minhas mã os por seu cabelo e o
examino.
— Você sabe como nó s somos sortudos? Que nos encontramos nã o
uma, mas duas vezes?
Ele procura meus olhos, sua expressã o sé ria.
— Os mais sortudos.
— Por que você está com essa aparê ncia que te deixa triste?
Ele me puxa para mais perto e me beija novamente.
— Estou muito familiarizado com probabilidade e estatı́stica.
— O que isso signi ica?
— Signi ica um movimento errado. — Ele diz baixinho, sua testa
contra a minha. — Um ú nico passo em falso e eu teria sentido sua falta.
E eu nã o quero esse mundo. Eu nunca quero um mundo sem você .
— Jonathan. — Seguro seu rosto, procurando seus olhos. Ele está
molhado. — Ei. Está tudo bem. Estou aqui.
Ele me aperta em seus braços e enterra o rosto no meu pescoço,
respirando em mim.
— Ameixas com açú car. — Ele sussurra. — Você cheira a ameixas
azedas e açú car com canela, e é o melhor cheiro do mundo.
Eu sorrio, deslizando meus dedos por seus cabelos de uma forma
que espero acalmá -lo.
— Você tem estado um pouco estressado, nã o é ? Você teve todo
esse conhecimento e preocupaçã o engarrafada sob a superfı́cie de
durã o.
Ele me aninha e se esconde na curva do meu pescoço, beijando-me
suavemente.
— Naquela noite passada no trabalho, quando você me disse onde
o encontraria – me encontraria – eu queria tanto te contar. E tantas
vezes nesses trê s dias que estivemos separados, quase mandei uma
mensagem, quase liguei, quase fui no Telegram e contei tudo, mas… —
Ele se afasta, segurando meus olhos. — Mas eu simplesmente nã o
conseguia. Eu continuei enlouquecendo, que diria a você e você
realmente me desprezaria pelo que eu iz com a loja, e entã o eu te
perderia...
— Nunca. — Digo a ele.
— Eu sei disso agora. — Ele diz baixinho, quase para si mesmo,
brincando com uma mecha do meu cabelo. — E por isso que fui até a
Sra. Bailey, para obter conselhos sobre como inalmente ter coragem de
te contar.
— Você descobriu. — Eu sorrio para ele. — Nó s dois izemos.
— Sim. — Seus olhos procuram os meus. — Nó s izemos.
E por muito tempo, icamos ali deitados em silê ncio, nada alé m da
dança suave das chamas do fogo, o som de nossa respiraçã o e vozes
sussurradas enquanto nos tocamos e olhamos um para o outro,
explosõ es de risos e sorrisos, reconstruindo o passado ano, costurando
cada parte de nó s mesmos e nosso passado em um todo glorioso e
promissor.
Depois de um beijo doce e lento, Jonathan acena com o queixo em
direçã o à á rvore de Natal em miniatura aninhada no manto de sua
lareira, brilhando com pequenas luzes cintilantes.
— Isso é o que você fez comigo. — Ele resmunga. — Eu tenho uma
á rvore de Natal. Sou um agnó stico que, apesar da minha perspicá cia
para os negó cios, detesta os impulsos consumistas vazios da é poca, e
aqui estou eu, com uma á rvore de Natal no manto.
— Eu nã o acho que seja pequeno o su iciente. E de initivamente
está faltando um enfeite de á rvore do tamanho de uma unha. — Eu o
beijo suavemente. — E a coisa mais doce, Jonathan, mas só para você
saber... você nã o precisa amar os feriados. Eu os amo o su iciente por
nó s dois.
Fica quieto por um minuto. Ele traça meus seios com a ponta do
dedo, tornando meus mamilos duros e sensı́veis.
— Nã o é que eu odeie os feriados. — Diz ele. Eu simplesmente
nã o... tenho muitas lembranças felizes deles. Meus pais nã o eram bons
juntos. Eles sempre brigavam muito, mas icavam piores na é poca das
festas – brigas e gritaria, portas batendo, saindo de carro à noite e só
voltando no dia seguinte. Minha irmã Liz, que você conheceu, é mais
velha e carregava um fardo enorme naquela é poca do ano, tentando
compensar a animosidade dos meus pais, para tornar as coisas ainda
mais ‘festivas’ e ‘felizes’ para mim. Conforme fui crescendo, isso me
pareceu profundamente injusto e opressor, essa pressã o e culpa se nã o
fô ssemos sempre ‘alegres’ simplesmente porque era o mê s de
dezembro e ‘o Natal estava chegando!’
Olho para ele, deslizando meus dedos por seu cabelo.
— Eu sinto muito. Isso faz todo o sentido.
Ele vira a cabeça e beija minha palma.
— Você nã o precisa se desculpar, Gabriella. E tudo isso para dizer,
embora eu nã o tenha muitas associaçõ es positivas com o natal... — Ele
gentilmente segura meu seio, entã o me beija lentamente. — Eu acho
que daqui pra frente eu vou.
Suspiro em nosso beijo, mas entã o eu me afasto, encontrando seus
olhos.
— Eu ainda sinto muito por ter sido difı́cil. Para você e Liz.
— Obrigado Gabby. — Ele está me beijando mais, tentando superar
o momento. E eu entendo. Mas eu preciso que ele saiba disso.
Sentando-me, pressiono Jonathan em suas costas, em seguida, monto
seu colo. Eu coloco minhas mã os em seus ombros e olho para baixo,
uma sobrancelha arqueada.
Ele me dá um sorriso divertido e afetuoso.
— Eu vejo o que você está fazendo. E você nã o está completamente
lá . — Gentilmente, com o dedo indicador, ele levanta mais o arco da
minha sobrancelha. — Melhor.
— Boa. Agora ouça, campeã o.
— Campeã o, hein?
— Você me ouviu. — Deixo de lado o ato e coloco meu peso sobre
ele, fazendo Jonathan expirar com força e agarrar minha cintura. —
Especialmente agora que sei por que os feriados nã o sã o seus favoritos,
preciso que você acredite em mim – que, sim, adoro alegria e diversã o
festiva, mas nã o tanto quanto amo… — Procuro seus olhos, com medo
de diga algo tã o verdadeiro tã o cedo. Em vez disso, digo a ele: — Nã o
quero que você mude por mim. Eu quero você , assim como você é ,
Jonathan Frost. Isso é mais do que su iciente.
Seus olhos procuram os meus.
— Eu acredito em você . E eu sei que você nunca esperaria que eu
mudasse. Só acho que vai ser quase impossı́vel nã o amar os feriados um
pouco, agora que vou compartilhá -los com você .
Eu mordo meu lá bio para nã o chorar.
— Isso é ... absurdamente fofo, Jonathan.
Sorrindo, ele me puxa para baixo e me envolve em seus braços.
— Gabriella. — Ele diz baixinho, passando minha perna em volta
de sua cintura.
Ele está duro de novo, confortá vel e quente entre minhas coxas.
— Jonathan. — Eu sussurro.
Seus lá bios roçam os meus enquanto ele me diz:
— Gabriella, eu te amo. Nã o espero que você diga de volta, mas nã o
posso icar nem mais um minuto sem que você saiba a verdade.
Eu suspiro, alegre e emocionada, mas ele me beija antes que eu
possa dizer uma palavra, um beijo de derreter os ossos, de derrubar o
mundo.
— ‘Não posso ixar a hora' — Diz ele em voz baixa. — 'Ou o local, ou
o olhar ou as palavras, que estabeleceram o alicerce. Já faz muito tempo.
Eu estava no meio antes de saber que tinha começado.’
Calor derrama meu coraçã o em minhas mã os, tocando-o, em meus
lá bios, beijando-o. Meu amor é um nascer do sol brilhante derramando-
se sobre o solo duro e coberto de neve.
— Orgulho e preconceito. — Eu sussurro.
Ele concorda.
— O melhor de Austen.
— Sim, realmente é .
— Há muito mais coisas no gê nero romance, para que você saiba,
mas O e P é um bom livro. Tanta frustraçã o… — Ele rosna contra a
minha pele. — E desejo e trabalho.
— Antes que eles estejam prontos para deixar de lado seu
julgamento e noçõ es preconcebidas. — Eu procuro seus olhos. — Para
ser corajoso e estabelecer suas defesas. E quando eles se vê em
claramente. E eles se apaixonam perdidamente.
Ele me beija, profundo e lentamente. Eu provo o quanto ele me
quer.
— E eles conquistam seu inal feliz.
— Chega de desejos nã o correspondidos. — Digo a ele.
— Chega de ser corajoso sozinho. — Diz ele. — Agora somos
corajosos juntos.
— Juntos. — Sorrio para ele e seguro seus olhos. — Eu també m te
amo, você sabe.
Ele sorri, enrolando uma ita do meu cabelo em torno de seu dedo,
em seguida, trazendo-o aos lá bios para um beijo reverente.
— Eu sei.
O estudo, caracterı́sticas severas suavizadas quando ele encontra
meu olhar e abre um sorriso ainda mais brilhante. Eu baguncei seu
cabelo lindo e escuro. Há um rubor em suas bochechas. Seus olhos
verdes claros brilham. Eu quero cem vidas para olhar para aquele rosto
e amá -lo.
— Eu te amo. — Sussurro, alcançando entre nó s, acariciando-o
enquanto ele balança contra mim. — E eu quero você . Desse jeito. De
mil maneiras.
— Deus, sim. — Ele geme. Ele relaxa dentro de mim, enquanto
deitamos de lado, um de frente para o outro, uma mã o nas minhas
costas, a outra entre nó s, esfregando meu clitó ris. Eu me agarro a ele,
montando em seu comprimento, olhando em seus olhos, banhada pela
luz do fogo e pelos lençó is emaranhados e pelo calor de seu corpo
contra o meu.
Nã o é frené tico desta vez, mas deliciosamente lento e paciente,
demorado tanto porque estamos desesperados para que nã o acabe. Os
quadris de Jonathan giram com os meus, seu aperto aumenta. E quando
seu polegar circula meu clitó ris apenas para a direita, eu começo a
gozar em torno dele.
Segurando meus olhos, Jonathan me agarra com força e se enterra
em mim enquanto encontra sua pró pria libertaçã o. E depois, icamos
deitados nos braços um do outro, sem fô lego, banhados pela luz do fogo
e pelas menores luzes cintilantes da á rvore de Natal.
Minha mã o sobre seu coraçã o acelerado, sua mã o sobre a minha,
beijo o homem que amo. Meu inal feliz mais feliz.
Ele me beija també m, suave e frio como neve caindo, e sussurra o
que eu já sei, até meus ossos.
Eu també m sou o inal feliz dele.
Epílogo

Jonathan

Playlist: “Merry Christmas, Marry Me” - Crofts Family

ELA SE INCLINA PARA FORA da porta, o vento do inverno acariciando


seus cachos castanho-mel, jogando seu vestido de sué ter vermelho
contra seu corpo exuberante. Nunca gostei muito de presentes, mas
agora tenho ainda menos uso para eles – Gabriella já é um presente
su iciente.
— Feliz Natal! — Grita para seu ú ltimo cliente da calçada, uma
criança agasalhada e usando protetores de ouvido brancos felpudos que
evocam velhas e doces lembranças e uma pontada de nostalgia.
— Feliz Natal! — Gabriella grita de volta, acenando e sorrindo
brilhantemente.
E, como sempre, sua alegria radiante me atinge como uma lecha
no coraçã o.
E, como sempre, ela ica do lado de fora por muito tempo com nada
alé m de um vestido ino para mantê -la aquecida.
— Sra. Frost.
Ela olha por cima do ombro, cachos balançando, olhos castanhos
cintilantes e covinhas profundas e doces em suas bochechas. Deus, ela é
linda.
— Sim, Sr. Frost?
— Eu gostaria que minha esposa e eu passá ssemos o ano novo esta
noite sem um caso de hipotermia em nossas mã os.
— Oh, meu Deus. Fiquei um pouco arrepiada naquela caminhada
pelo solstı́cio. Eu nã o estava hipotérmica.
— Nã o é o que June disse.
Ela revira os olhos, voltando-se e acenando mais uma vez para a
criança do lado de fora.
— Você e June sã o duas ervilhas superprotetoras em uma vagem.
— També m conhecidos como pragmá ticos que amam você , apesar
de seu apego impraticá vel a vadear pela neve que chega até os quadris.
— Dando um passo atrá s dela, eu envolvo meus braços em volta de sua
cintura. — Que tal você se juntar a mim no calor?
Suspirando, Gabby me deixa girá -la e puxá -la para dentro, em
seguida, fecha a porta atrá s de nó s. E você nã o sabe, ela está tremendo.
Deslizando os braços em volta da minha cintura, ela se encosta no meu
peito para se aquecer.
— Congelando sua bunda para os clientes. — Murmuro.
— Eliminar um patrono faz com que eles se sintam apreciados e
especiais. — Ela me diz afetadamente. — E isso é chamado de
experiê ncia positiva de atendimento ao cliente, que nossa pesquisa de
mercado indica que é um dos principais motivos pelos quais os clientes
relatam o retorno à loja fı́sica. Algué m por aqui tem que fazer acontecer,
visto que o outro cara que anda por aı́ é um verdadeiro grinch.
— Hmm. — Eu corro minhas mã os ao longo de seus braços,
aquecendo-a. — Você devia dar um chute nele.
Seu sorriso está de volta com força total e é deslumbrante.
— Acho que vou icar com ele. Ele pode parecer que está fazendo
mais mal do que bem, carrancudo para os clientes enquanto eles
folheiam seus livros.
— Nossos livros. E esta nã o é uma biblioteca. Eles navegam e
compram.
— Nossos livros. — Ela admite, seus dedos deslizando pelo meu
cabelo. — Esse cara, entretanto, ele é enganador. A princı́pio pensei:
‘Ele é um Scrooge!’ Acontece que ele tem um coraçã o de ouro. Ele
investiu bem e tornou esta livraria solidamente lucrativa nos ú ltimos
dez anos, entã o adivinhe o que ele fez? Ele começou a doar dinheiro!
Eu assobio porque sei que isso a fará rir.
— Pior ainda. — Ela diz em meio a ataques de riso. — Ele teve a
ousadia de co-fundar uma instituiçã o de caridade comigo dedicada a...
— Ela se inclina conspiratoriamente. — Necessidades de inverno.
Pessoas que precisam de ajuda para pagar para aquecer e iluminar suas
casas. Casacos, botas, chapé us e luvas para quem nã o os tem. E um
grande fundo para comprar presentes para crianças cujas famı́lias nã o
podem pagar.
— Parece um verdadeiro pedaço de trabalho.
— Oh, ele é . — Ela envolve seus braços em volta do meu pescoço e
nos balança de um lado para o outro. — Mas eu o amo. Muito, muito
mesmo.
Minhas mã os deslizam para baixo em sua cintura e eu a levo de
volta até que ela esteja pressionada contra a porta.
— Jonathan! — Ela sibila. — O que você está fazendo? Vamos
traumatizar um pobre garoto que só quer entrar e comprar um livro...
— A loja está fechada. — Viro a placa, fecho o ferrolho e a pego nos
braços, carregando Gabby em direçã o ao mais novo recurso da loja:
uma escada de madeira resistente que desliza pelas estantes
embutidas. Isso cumpriu a fantasia de Gabriella de recriar o momento
de Bela em A Bela e a Fera, e cumpriu a minha fantasia de descansar
perto do fogo e ver o vestido dela direito.
— Nã o podemos simplesmente fechar a loja. — Diz ela. — Temos
um resultado inanceiro a manter, Sr. Frost. Lucros cruciais serã o
perdidos.
— Deus, eu adoro quando você fala sobre dinheiro comigo.
Felizmente, depois de um dia longo e difı́cil. — A coloquei em um
degrau da escada, deslizo seu vestido pelas coxas até os quadris
decadentemente cheios, em seguida, abro as pernas até que ela possa
sentir e apreciar o duplo sentido em minhas palavras — Vi os nú meros,
conclui que podemos perder quinze minutos de negó cios.
— Quinze minutos? — Ela arqueia uma sobrancelha. —
Extremamente con iante em seus poderes de seduçã o depois de todos
esses anos, Jonathan Frost.
— Certo.
Sua cabeça cai para trá s contra a escada enquanto eu beijo sua
garganta, abaixo o decote de seu vestido e liberto seus seios. Eu
provoco cada mamilo com minha boca em chupadas duras e rı́tmicas,
enquanto meus polegares traçam sua sedosa parte interna das coxas
em cı́rculos lentos que a deixam selvagem.
— O que eu iz para merecer um orgasmo no meio da manhã ? —
Ela pergunta, um sorriso sonhador em seu rosto lindo.
— Você foi travessa, Gabriella.
Ela morde o lá bio.
— Foi apenas uma pequena pegadinha de feriado.
— Foi uma auditoria muito real do IRS, até que vi que foi
endereçada a Jonathan Scrooge McGrinch.
Ela gargalha.
— Tenho que mantê -lo alerta, Frost.
Eu belisco seu pescoço, entã o o sigo com um beijo quente e ú mido.
— Você tem sorte que eu te amo.
— Tanta sorte. — Ela respira, suas mã os deslizando pelas minhas
costas, entã o mais abaixo, me puxando para perto. — Agora me lembre
o quã o sortuda sou, por favor.
— Eu sou o sortudo. — Digo enquanto ela abre minha ivela, ainda
atenta ao meu local de infusã o pró ximo e ao tubo em meu quadril.
Pressionando um beijo quente e lento no oco da minha garganta,
ela desliza minha bomba do meu bolso da frente para o de trá s, como
um batedor de carteira sexy, entã o está fora do caminho, em seguida,
arrasta para baixo o zı́per da minha calça e liberta meu pau, que lateja,
forte e dolorido por ela.
No momento em que me afundo dentro dela, nó s dois gememos de
alı́vio.
Quantas vezes eu já iz isso? Quantos lugares e caminhos? E ainda
assim, toda vez que estou com ela, estou desesperado e desfeito,
doendo pelo momento em que estou dentro dela.
No primeiro impulso profundo de meus quadris, seus olhos se
fecham. Ela afunda as mã os na minha camisa e morde meu lá bio. Duro.
A visã o disso me faz gemer á spero e baixo na minha garganta.
Gabby se aperta ao meu redor, me torturando porque ela adora, e
eu nã o poderia viver sem isso. Isso me faz agarrar a escada com força e
envolvê -la com força dentro do meu outro braço.
— Comporte-se.
Ela ri sem fô lego.
— Eu pre iro nã o.
Outro aperto em torno de mim me faz resistir a ela.
— Porra, Gabby.
Assistindo seus lá bios carnudos se separarem de prazer, aqueles
olhos castanhos felinos se abrindo e encontrando os meus, eu toco seu
clitó ris exatamente como ela ama, em cı́rculos apertados e rá pidos que
a fazem trabalhar em cada centı́metro de mim e me cavalgar forte,
perseguindo sua liberaçã o. A escada range. Os gritos de Gabby icam
mais altos, desinibidos, enquanto ecoam ao nosso redor, esfumaçados e
sem fô lego. Eu absorvo cada chamada desesperada do meu nome, cada
suspiro sim e por favor e eu te amo até que ela goze, com força e sem
fô lego, e me leve com ela.
Depois de limpar e endireitar nossas roupas, eu pego Gabby em
meus braços novamente e a carrego para uma das poltronas em frente
ao fogo.
— O que há com todo esse transporte? — Diz ela, com os braços
em volta do meu pescoço, a cabeça pesadamente pendurada no meu
ombro. Sua voz está lâ nguida e satisfeita. Eu vivo para esse som em sua
voz.
— Porque uma breve passagem pela porta de um apartamento
depois do casamento nã o é absolutamente su iciente.
Ela ri.
— Depois daquela performance na escada, se eu ainda nã o tivesse
feito isso, eu me casaria com sua bela bunda em um piscar de olhos,
Jonathan Frost.
— Eu sei. — Digo a ela, beijando-a enquanto a coloco no chã o. —
Mas é bom saber que você se casou comigo anos atrá s e por mais do
que o poder das minhas impiedosas maquinaçõ es capitalistas de deixá -
la viva com leite com chocolate.
— Chocolate quente. — Ela rosna de brincadeira, segurando minha
cintura e me beijando novamente. Seus olhos procuram os meus. —
Falando em maquinaçõ es capitalistas implacá veis, ainda nã o tenho
certeza se te perdoo pelo que você fez depois do casamento.
— Gabriella. — Sento-me em uma das laterais e a puxo para o meu
colo. — O que eu ‘puxei’ foi um presente de casamento.
Tirando as botas, ela se enrola perto do meu peito, aninhada bem
onde eu a quero. Com a ponta do dedo, ela traça minha aliança de
casamento – uma faixa larga de ouro branco gravada com locos de neve
dentro dela, uma ré plica exata da faixa mais delicada que adorna seu
dedo.
— Comprar este lugar para nó s é a coisa mais imperdoavelmente
româ ntica, Sr. Frost. Mas estou tentando o meu melhor para deixar o
passado no passado. — Sua expressã o ica sé ria enquanto ela olha para
mim. — Foi o melhor presente de todos. E eu nunca vou ser capaz de
dar a você um presente como esse em troca.
— Gabriella. Amor da minha vida, você já me deu.
Ela inclina a cabeça, seu sorriso suave e curioso.
— Que presente é esse?
Coloco sua mã o sobre meu coraçã o e a beijo com tudo que tenho.
— Você .
FIM
Reconhecimentos

Foi uma alegria escrever a histó ria de Jonathan e Gabby. Foi a primeira
vez que escrevi uma novela, com um ú nico ponto de vista, e um
romance de fé rias, e seguir por aı́ me senti como aquela primeira vez
descendo uma colina "real" quando você aprende a esquiar – uma
aventura assustadora, estimulante e acelerada que começa um pouco
nervosa e termina em uma emoçã o Wow-eu-tenho-que-fazer-isso-de-
novo. Estou muito feliz com o resultado da histó ria deles e sou muito
grata a todos que ajudaram a torná -la possı́vel.
Meus sinceros agradecimentos a Michelle, Jessica e toda a equipe
da Kobo que apoiaram este projeto em cada etapa do processo; ao meu
insubstituı́vel editor, Jackie; e por ú ltimo, mas certamente nã o menos
importante, à minha fenomenal agente, Samantha. Um agradecimento
muito especial també m a Ellie e Izzy, cujo feedback sobre a estrutura,
nuances e representaçã o deste romance foi inestimá vel.
Por im, agradeço de todo o coraçã o aos leitores que tornam
possı́vel esta jornada de autoria. Cada e-mail e comentá rio atencioso e
gentil, cada mensagem sincera – eu os estimo e a você alé m das
palavras.
XO,
Chloe
Notas

[←1]
Lâmina de latão, fina e polida, que imita o ouro ou a prata, e de longe tem seu
brilho.
[←2]
Slasher é um subgênero de filmes de terror quase sempre envolvendo assassinos
psicopatas que matam aleatoriamente.
[←3]
Transtorno do espectro autista (TEA), um distú rbio do neurodesenvolvimento
caracterizado por desenvolvimento atı́pico, manifestaçõ es comportamentais,
dé icits na comunicaçã o e na interaçã o social.
[←4]
“Bah, impostor” Frase u lizada pela personagem Ebeneezer Scrooge de Charles
Dickens.
[←5]
Departamento da Receita Federal (impostos do EUA)
[←6]
"Capas de retrocesso'', em tradução livre. Estão na primeira página do livro, após a
capa. Modelos são iguais aos da capa, mas em uma pose diferente; mais fácil
encontrá-las em romances históricos gringos.
[←7]
També m conhecido como a ú ltima fase do sono, dura geralmente 20 minutos, e
é nessa fase do sono na qual ocorrem os sonhos mais vı́v idos.
[←8]
É uma enciclopédia online muito u lizada pelos americanos.
[←9]
Vou esperar por você, querido. Papai Noel, então desça pela chaminé esta noite.

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