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Nota da autora
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Epı́logo
Jonathan
Reconhecimentos
Nota da autora
Fit zgerald
Depois do ilme, tomo banho e coloco meu pijama favorito com estampa de
loco de neve. Cabelo enrolado em uma camiseta para secar meus cachos e
cantarolando Greensleeves, danço para o meu quarto. Pã o de mel, minha gata malhada
laranja, cochila, enrolada como uma estrela do mar na minha cadeira de bolinhas. Eu
a arranco antes de sentar em seu lugar, em seguida, coloco-a no meu colo.
Sorrindo ao ouvir o som e a sensaçã o de seu ronronar estrondoso
enquanto ela volta a dormir, ligo meu laptop e trago a tela à vida.
Uma foto de June, Eli e eu, juntos, preenche a tela. Eli sorri, cachos
ruivos caindo sobre seus olhos, que estã o semicerrados porque o
homem nã o pode deixar de piscar quando a foto é tirada. Cabelo preto
brilhante na altura do queixo, nariz enrugado, sorriso largo, June tê m os
braços enganchados em volta de nossos pescoços, tê mpora a tê mpora
com Eli, empurrando meus cachos na minha cabeça enquanto beijo sua
bochecha. A neve cobre nossas cabeças como açú car de confeiteiro, o
Winter Wonderland do conservató rio exibe uma tapeçaria de
intrincadas luzes cintilantes atrá s de nó s.
Olhando para a foto, ico impressionado com a gratidã o – por pais
amorosos que sã o boas pessoas, amigos que sã o os irmã os que eu
nunca tive, um animal de estimaçã o felino iel, uma cidade que me faz
sentir em casa, um trabalho que amo dirigido por pessoas que amo
ainda mais. Tenho muito pelo que ser grata. E se meu ú nico fardo
verdadeiro nesta vida – mesmo que ele seja um fardo muito grande e
ranzinza – for Jonathan Frost, acho que posso lidar com isso.
— Ei.
Me viro para enfrentar June parada na soleira do meu quarto.
— Você está bem? — Ela pergunta. — Sei que nó s icamos um
pouco intensos lá atrá s sobre a situaçã o do inimigo no trabalho. Eu
estou apenas sendo protetora com você . E Eli é um româ ntico incurá vel.
— Eu sei. — Sorrio. — Eu amo você s dois por isso. Estou bem. Só
cansada.
Ela acena com a cabeça.
— Tudo bem. Nã o ique acordada até tarde conversando com o Sr.
Reddit.
Rolo meus olhos.
— Sim mã e.
Eli e June admitiram que nã o entendem muito bem por que
converso diariamente com algué m que eu nunca conheci, cujo nome
verdadeiro nã o sei, cuja vida pessoal també m nã o sei muito, exceto que
– o menor dos mundos – descobrimos que moramos na mesma cidade.
Poderia tentar explicar meu relacionamento com o Sr. Reddit,
como June e Eli o chamaram, mas protejo o quanto me sinto bem em
conversar com ele. Atrá s da segurança de uma tela, sou meu eu mais
so isticada – articulada, espirituosa, perspicaz. O Sr. Reddit nã o me viu
lutar para ler suas expressõ es faciais ou observou quantas vezes uso
meus fones de ouvido com cancelamento de ruı́do ou aprendeu como
ico ansiosa quando a vida muda minha rotina. E ouça, eu me amo por
quem sou, cada parte de mim, as partes que se encaixam facilmente
neste mundo e as partes que nã o se encaixam, mas é uma coisa
totalmente diferente pedir a algué m que me ame por todas essas partes,
també m.
Nã o mostro ao Sr. Reddit as partes que nã o se encaixam tã o bem e,
ao fazê -lo, també m nã o arrisco que ele as rejeite.
Essa é a verdade por que nã o conto mais a June e Eli. Sei como eles
veriam isso. Eli me encorajaria a abraçar a vulnerabilidade. June diria
que a pessoa que me merece será selvagem por tudo de mim, caso
contrá rio, eles podem se foder.
E meus amigos estariam certos. Mas é fá cil para eles dizer. Eles nã o
entendem o que buscar amizade e romance é para mim, como ser
autista e demissexual signi ica nã o apenas me expor, como é para
qualquer um quando encontra pessoas e tenta estabelecer uma
conexã o, mas pensando quando e como con iar em algué m a verdade de
quem eu sou, uma verdade que nem sempre foi encontrada com
compreensã o, aceitaçã o ou gentileza.
Entã o, mantive o Sr. Reddit para mim mesmo desde que nos
conhecemos, há pouco mais de um ano em um tó pico do Reddit livresco
que icou muito acalorado quando um cara começou a homenagear
1984 de George Orwell, e outro algué m – que seria eu – pacientemente,
logicamente explicou o quã o errado ele estava.
Foi para o sul rá pido. O cara começou a me xingar.
E entã o veio What_The_Charles_Dickens como um fodã o,
interrompendo-o na retó rica. Quer dizer, eu nã o precisava de um
cavaleiro Reddit de armadura brilhante, mas nã o me opus a um. E assim
começou nossa amizade livresca online.
Por acordo tá cito, What_The_Charles_Dickens, també m conhecido
como Sr. Reddit, e eu conversamos apenas à noite em uma plataforma
de bate-papo, Telegram, que exige que você se registre com seu nú mero
de telefone, mas permite que você mostre apenas seu nome de usuá rio.
Conhecendo minha propensã o ao hiperfoco, beirando a obsessã o,
propositalmente nã o baixei o aplicativo Telegram no meu telefone, o
que signi ica que só posso conversar com ele quando estou em casa no
computador.
Todas as noites, depois de conversar com June ou Eli, dependendo
de seus horá rios de trabalho, depois jantar e um banho, me acomodo
em minha mesa, com Pã o de mel no colo e encerro o dia conversando
com o Sr. Reddit. Sou uma criatura de há bitos e ele se tornou uma parte
vital da minha rotina. E por isso que, quando volto para a tela e abro o
bate-papo da á rea de trabalho do Telegram, meu coraçã o afunda. Nã o
há nenhuma mensagem nova.
E raro que o Sr. Reddit nã o deixe uma mensagem para mim. Desde
que começamos a conversar, isso aconteceu duas vezes, e nas duas
vezes ele explicou que estava doente e nã o sabia escrever.
Respiro fundo, tento exalar meu desapontamento e rolar a
conversa de ontem à noite entre o antigo What_The_Charles_Dickens,
que mudou seu nome de usuá rio para Sr. Reddit desde que escorreguei
sobre ser o apelido de minha colega de quarto para ele, e
MargaretCATwood, ou como Sr. Reddit me apelidou de MCAT, porque
nã o consigo evitar. Começo com a mensagem que estava esperando por
mim quando me sentei ontem à noite.
SENHOR. REDDIT: Podemos falar sobre como Marianne
Dashwood precisa de alguns exercı́cios de respiraçã o profunda?
MCAT: Ela é uma româ ntica incurá vel. Ela deveria parecer um
pouco dramá tica.
Ele está lendo Razão e sensibilidade, de Jane Austen, porque eu o
castiguei por apenas ter lido Orgulho e preconceito.
SENHOR. REDDIT: Um *pouco* dramá tica? “Não é o tempo nem a
oportunidade que determinam a intimidade; é apenas disposição. Sete
anos seriam insu icientes para fazer algumas pessoas se conhecerem e
sete dias são mais do que su icientes para outras”. Seriamente? Sete dias
“para determinar a intimidade”? Com aquela imensa sabedoria guiando
sua vida româ ntica, nã o vou mentir, acho que Marianne se apaixona por
um idiota.
MCAT: Quero dizer, sim, ela se apaixona por um cara que acaba
sendo um canalha. Mas nem tudo é culpa dela! Ele a tira do sé rio e
convenientemente se esquece de dizer que está falido e precisa se casar
com uma herdeira, o que Marianne de initivamente nã o é . Ela ica com
o coraçã o partido, entã o seja legal com ela.
SENHOR. REDDIT: SPOILERS!
MCAT: Oh qual é , ela é a româ ntica incurá vel do romance. Você
sabia que Austen iria esmagar sua alma.
SENHOR. REDDIT: SPOILERS, CATWOOD.
MCAT: Sinto muito!
SENHOR. REDDIT: Claro que você sente.
MCAT: Eu sinto! Eu nã o acho que estava em territó rio de spoiler.
Eu pensei que era ó bvio.
SENHOR. REDDIT: E tudo menos ó bvio! Estou lendo um romance,
esperando que o cara por quem ela está se apaixonando seja um
guardiã o, nã o um destruidor de coraçõ es.
Mesmo que esteja relendo, eu suspiro novamente. Pã o de mel pisca
para mim com sono e rola de costas. Esfregando sua barriga, suspiro
dramaticamente e balanço minha cabeça.
— Nã o se preocupe, Pã o de Mel, mostrei a ele o erro de seus
mé todos.
MCAT: Sr. Reddit. As histó rias de Austen costumam ser româ nticas,
mas nã o sã o exatamente romances no sentido moderno. Em primeiro
lugar, sã o romances de boas maneiras.
SENHOR. REDDIT: Uau. Achei que Austen foi uma das primeiras e
mais in luentes romancistas.
MCAT: Bem, o trabalho dela foi romantizado pela cultura popular,
transformado em ilmes que enfatizam os aspectos româ nticos. E
Orgulho e Preconceito é absolutamente desolado como o inferno, nã o
posso argumentar contra isso. Seus outros romances també m tê m
algumas histó rias e momentos incrivelmente româ nticos. Ela é apenas...
nã o necessariamente uma romancista no sentido pleno do gê nero. Por
mais que adore Austen, há muito mais romance, e gostaria que mais
pessoas soubessem disso.
SENHOR. REDDIT: Eu gostaria de ter sabido també m. Porque
tolamente eu esperava um FELIZES PARA SEMPRE.
MCAT: Bem, pelo menos você conhece *esse* crité rio para
romance – o Felizes para sempre.
SENHOR. REDDIT: Eu sei que falamos sobre muitos livros
diferentes, mas tenho a sensaçã o de que romance é o seu gê nero
favorito. Estou certo?
MCAT: Com certeza. E tudo que posso ler ultimamente – bem, alé m
de reler Austen com você .
Era uma vez eu li uma variedade de icçã o, mas nos ú ltimos meses,
tem sido apenas romance. Depois de duelar com Jonathan Bah-
Impostor4 Frost o dia todo, preciso de idiotas para obter apenas sua
puniçã o e inais felizes. També m vendo muito romance na livraria.
Adoro fazer com que as pessoas desa iem esses estereó tipos nada
caridosos sobre o gê nero e tentem. Estava preparada para que o Sr.
Reddit exibisse alguns desses preconceitos també m.
Mas ele nã o fez isso.
Um sorriso aquece meu rosto enquanto leio sua resposta. Ontem à
noite, isso me fez iluminar como a á rvore de Natal da famı́lia depois que
papai jogou todas as luzes naquele idiota que ele pode. E esta noite, isso
me faz brilhar novamente.
SENHOR. REDDIT: Tudo bem, entã o CATwood. Me diga o que ler.
MCAT: Sé rio? Você vai ler um romance?
SENHOR. REDDIT: Eu vou. Por onde devo começar?
Percorro a lista de recomendaçõ es que dei a ele (posso ou nã o ter
me empolgado um pouco e listei meus favoritos em ordem, mas sou
uma bookstan – recomendar livros é minha alegria!). Quando chego ao
inal da nossa conversa, com o habitual ‘Durma bem, MCAT’ do Sr.
Reddit , mordo o lá bio e luto comigo mesma. Meus dedos pairam sobre
as teclas, doendo para digitar o que tenho pensado em escrever tantas
vezes nos ú ltimos meses, desde que minha mente começou a se
perguntar: e se?
E se minha amizade online com o Sr. Reddit se tornasse uma
amizade na vida real? E entã o, e se, um dia, se tornar algo mais? Essa
esperança – pela possibilidade de ter mais com ele – cresceu
lentamente em mim desde que terminei com Trey.
Sabendo como trabalho, nã o foi totalmente surpreendente, depois
de um ano conversando diariamente com o Sr. Reddit e crescendo tã o
perto, que algumas noites, quando a rara onda de desejo tomava conta
de mim, era o pensamento dele que conseguia me acalmar – o calor que
imaginei enchendo sua voz, a consideraçã o guiando cada pergunta e
curiosidade sobre minhas respostas.
Cada vez que isso acontece, sinto-me um pouco mais disposta a
perguntar a ele: Você acha que devemos nos encontrar?
Mas enquanto olho para a minha tela, minha coragem me falta,
especialmente à luz de seu silê ncio esta noite. E se ele só quiser ser meu
amigo? E se eu arruinasse essa conexã o boa, segura e reconfortante que
temos ao pedir para explorar nosso potencial para nos tornarmos mais?
Entã o, no inal, nã o digito o que quero. Nã o me atrevo a confessar o
que Marianne faz — aquela pobre româ ntica desesperada:
“Se eu pudesse ao menos conhecer seu coração, tudo se tornaria
fácil.”
3
Sabrina Carpenter
Lee
ME SINTO COMO uma morta-viva. Quase nã o durmo há uma semana.
Porque todas as noites, tenho medo de pegar um romance – em á udio
ou qualquer outro – para ler para mim mesma até dormir e arriscar
outro sonho eró tico de aristocrata estrelado por Jonathan Frost. E
entã o me deito na cama, olhando para o teto por horas, porque quando
eu desvio da minha rotina de dormir, meu sono é uma merda.
Muito ruim. Nã o posso ceder. Nada de romances à noite, nada de
duques lascivos e fantasias atrevidas estrelando Jonathan Frost. Nã o só
porque nã o quero fantasiar sobre Jonathan Frost, mas porque també m
nã o é inteligente, quando estou fazendo tudo que posso para derrubar
aquele idiota, bem como contando os dias até encontrar o Sr. Reddit,
homem que costumava ser a estrela dos meus sonhos, até que Jonathan
cara de merda Frost abriu caminho como um amante obstinado,
decadentemente sexual e obcecado por cunilı́ngua que...
Pare com isso, cérebro! Pare!
Estou perdendo. Estou com privaçã o de sono e sofrendo, sentindo
falta do Sr. Reddit e furiosa com o Sr. Frost. Passei a primeira semana de
nossa barganha estourando minha bunda no trabalho enquanto estava
exagerando na fumaça, e nem tenho mais vendas para mostrar por isso.
Jonathan estava certo, aquele thriller voou das prateleiras. E nã o
apenas esse tı́tulo – ele tem vendido todos os tipos de slashers como
um pã o quente. Tanto para a alegria do feriado. Quem compra
romances violentos que retratam os piores impulsos humanos na é poca
do ano dedicada à paz na terra e à boa vontade para com todos?
Nã o consigo pensar nisso e ico com muita raiva.
Tenho que me concentrar no positivo. Sim, estou atrasada no sono
e nas vendas, e nã o, nã o vi uma gritaria dessas na semana passada, mas
esse sofrimento nã o vai durar para sempre. Uma semana exaustiva para
baixo, apenas mais duas para terminar. E hoje eu tenho Eli, que vai me
colocar de volta nos trilhos com minhas vendas.
— Eu já disse que você é um salva-vidas, Elijah?
— Uma vez ou vinte. — Diz ele, abrindo a porta da cafeteria com o
ombro e segurando-a para mim. Nó s estremecemos quando saı́mos,
segurando nossas xı́caras quentes para viagem contra o ar frio lá fora.
— E estou inclinado a concordar com você , considerando que já entrei e
li os livros do Hanukkah há apenas algumas semanas. Falando nisso,
você nã o teve muitos detalhes sobre o tempo da histó ria hoje. Qual é o
plano?
Eu bebo meu chocolate quente e evito seus olhos.
— Oh, um pouco disso. Um pouco daquilo…
Eli diminui a velocidade até parar na calçada.
— Gabriella So ia Di Natale, o que você fez?
— Eu poderia ter anunciado que nosso leitor convidado é um
terapeuta infantil local muito querido, e que seu livro, Color My Feelings,
foi um tı́tulo em destaque hoje na livraria, e que talvez, possivelmente,
ele assinaria có pias compradas, e biscoitos de açú car estã o envolvidos –
nã o se preocupe, eu tenho lenços umedecidos, mas é por isso que iz
você trazer uma muda de roupa, só para garantir – desculpe, sei que
sou a pior amiga de todos. — Suspiro por ar depois de vomitar isso em
uma longa expiraçã o encharcada de culpa.
Eli me encara.
— Você está me colocando nã o apenas crianças açucaradas, mas
també m pais que pensam que sou uma consulta terapê utica ambulante
gratuita no meu dia de folga.
— Eu prometo que Jonathan vai chutar qualquer um que seja um
idiota. Depois que eu os izer pedir desculpas e comprar trê s có pias do
seu livro. Tolerâ ncia zero para idiotice.
Eli me encara.
Eu coloco meu lá bio inferior para fora e olho para ele grandes e
tristes olhos de cachorrinho.
— Me desculpe, ok? Estou desesperada.
Suspirando, ele engancha o braço em mim e retoma a nossa
caminhada pela calçada.
— Eu te perdoo, mas apenas se você retribuir o favor.
— Qualquer coisa. — Digo a ele, tolamente.
Ele sorri para mim, piscando os longos cı́lios ruivos,
— Venha comigo para o jogo de hó quei do Luke esta noite.
— Esta noite? — Eu lamento. — Vai ser tã o tarde. E tã o frio.
— Você ama o frio.
— Eu amo a neve. — O corrijo.
Eli levanta uma sobrancelha.
— Você esqueceu a parte em que me vendeu para aumentar suas
vendas e prometeu compensar?
— Uh...Talvez?
— Gabby. Preciso de apoio moral. Luke está tã o chateado que eu
nunca consigo ir a nenhum de seus jogos, mas estou secretamente
aliviado pelo meu trabalho que atrapalha, porque nã o sei nada sobre
hó quei. Preciso que você me ensine o bá sico para que eu nã o faça papel
de idiota.
— El, ele nã o espera que você faça uma aná lise pó s-jogo.
— Eu sei, mas quero que ele sinta que pode falar comigo sobre isso
e vou entender por que foi um bom jogo ou nã o, por que ele jogou bem
ou lutou. Eu quero entender isso.
Balanço minhas sobrancelhas quando paramos do lado de fora da
livraria.
— Uau. Isso é sé rio. Elijah Goldberg quer aprender um esporte para
o seu namorado.
— Exatamente. — Diz ele, abrindo a porta e, em seguida,
empurrando-me suavemente para alé m dela. — Entã o venha comigo
esta noite e você está perdoada por tudo que estou prestes a suportar.
Eu vou dirigir. Você será a DJ de uma playlist de Natal doentia para o
passeio. Vou comprar chocolate quente com marshmallows extras. Você
vai me explicar o jogo. E um plano.
— Se eu conseguir icar acordada durante o jogo. — Resmungo.
— Como se isso importasse. — Diz ele. — Você poderia explicar
isso dormindo.
— Tente ter um pai que está no Hockey Hall of Fame e veja se sai
ileso. Murmuro as estatı́sticas da Stanley Cup quando estou no REM7.
Você entende como isso é perturbador?
— Uau. — Eli envolve sua mã o em volta do meu braço, nos fazendo
parar. — E ele?
Eu olho para os fundos da loja onde Jonathan está , de costas e
reabastecendo um novo lote de misté rios que ele vendeu ontem. Exceto
que, desta vez, ele os está colocando nas prateleiras bem na altura dos
olhos.
— Aquele ilho da puta. — Assobio, avançando em direçã o a ele e
arrastando Eli comigo. — Ele mudou meu romance de pequena cidade
no Alasca!
— Entã o é ele. — Sussurra Eli. — Puta merda, Gabby.
— Cale-se. Nem diga isso.
— Ele é tã o gostoso.
Lanço um olhar mortal para Eli.
— O que Luke diria?
— Luke diria que eu tenho olhos. Eu disse que ele é gostoso, nã o
que eu queira transar com ele.
— Otimo. Porque eu estarei batendo – com a cabeça dele em uma
parede. — Murmuro.
Ao nos ouvir, Jonathan olha por cima do ombro, os olhos se
estreitando para Eli antes de voltarem em minha direçã o.
— Senhorita Di Natale.
— Você mudou meus romances.
Ele arqueia uma sobrancelha escura.
— Está bem. Vou me apresentar. — Estendendo a mã o em direçã o
a Eli, e diz: — Jonathan Frost.
— Elijah Goldberg. — Eli sorri para Jonathan, com um brilho
de initivo nos olhos. Eu piso em seu dedo do pé , fazendo-o estremecer.
— Droga, Gabby.
— Ah, entã o ela é angelical com todo mundo. – Diz Jonathan.
Eli ri. Faço uma carranca. Jonathan sorri. Se eu tivesse poderes
má gicos, enviaria o candelabro coberto de guirlandas sobre ele.
— Entã o, Gabriella. — Jonathan diz. — Eu nã o sabia que esse era o
dia de trazer seu amigo para o trabalho.
— Nã o é . E o dia “traga seu companheiro de quarto, o terapeuta-
pediá trico-e-autor-infantil-publicado-para-uma-histó ria-e-maratona-
de-autografos de livros” — Digo a ele com um sorriso largo e triunfante.
— Colega de quarto. — Jonathan repete. Sua mandı́bula faz aquele
tique-taque agravado. Ele está controlando os misté rios que segura com
as duas mã os.
Eli envolve um braço em volta da minha cintura e sorri para mim.
— Nó s també m somos melhores amigos. Já que ela era uma
humilde caloura que passou pela minha bela bunda sê nior.
— Nã o iz isso! Falar que nã o consegui encontrar a biblioteca não
era uma frase de efeito!
Eli sorri.
— Eu gosto mais da minha versã o. — Ele se volta para Jonathan. —
Mostrei a ela onde icava a biblioteca, nos demos bem e, desde seu
segundo ano, moramos juntos.
Jonathan pisca.
— Moram juntos. Você . Ela.
— Com June, també m — Eli diz alegremente. —, que estava dois
anos abaixo de mim, um acima de Gabby. June e eu tivemos uma pré -
recreaçã o juntos, entã o June se deu bem com Gabby quando eu as
apresentei enquanto estudá vamos na biblioteca. Eu sou a cola que fez
de nó s trê s companheiros de quarto, quando elas ainda estavam na
graduaçã o e eu iquei por perto para fazer o meu mestrado.
Algo muda na expressã o de Jonathan.
— Ah. Eu vejo.
Eli inclina a cabeça.
— Isso provavelmente parece estranho, mas... você parece familiar.
Jonathan o encara por um minuto.
— Sim, pensando bem, você també m parece.
— Sem ilhos, certo?
— Deus, nã o. — Diz Jonathan. — Ainda nã o, pelo menos.
Tento e falho completamente em imaginar Jonathan possuindo um
ú nico osso afetuoso em seu corpo.
— Você sabe que as crianças precisam de coisas como calor,
sorrisos e conversas que vã o alé m do sarcasmo seco, certo Frost?
Jonathan me lança um olhar fulminante.
— Talvez a gente vá para a mesma academia? — Eli diz
calorosamente, tentando acalmar as coisas.
Jonathan olha em sua direçã o.
— Sim, talvez seja isso. Eu sou um membro do local em...
Deixando aqueles dois com sua pequena sessã o de ligaçã o
irritante, eu me liberto das garras de Eli e sigo para a sala de descanso
para pendurar meu casaco. A conversa continua sem mim, e quando eu
volto, eles parecem como carne e unha, desembrulhando os pratos de
biscoitos do feriado que eu encomendei para a hora da histó ria, já que
estava exausta demais para assar, ligando-se ao efeito prejudicial do
açú car sobre o corpo.
Limpo minha garganta ruidosamente. Seus olhos encontram os
meus.
Batendo no meu reló gio de pulso, levanto uma sobrancelha, uma
perfeita imitaçã o de Jonathan. Sua boca se curva no canto antes de
cobri-la com a mã o e limpar a garganta.
— E como se olhar no espelho. — Diz ele.
Coloco minha lı́ngua para fora.
— Agora que eu nã o faço.
Ignorando Jonathan, eu me viro para meu ex-melhor amigo que se
tornou um traidor e digo a ele:
— Trinta minutos para a hora do show, Elijah.
Meu telefone começa a zumbir no bolso do vestido enquanto Eli e
Jonathan voltam a conversar. Na verdade, eu percebi tardiamente que
está zumbindo há um tempo. Extraindo-o, sinto meus ombros se
elevarem em direçã o ao pescoço. Outra mensagem de um nú mero que
nã o reconheço. Mas eu sei quem é .
DESCONHECIDO: Você recebeu as lores?
DESCONHECIDO: Eu quero conversar.
DESCONHECIDO: Por favor, Gabby. Já se passaram seis meses. Você
não pode me dar outra chance?
— O que é ? — Eli diz, me observando mexer no meu telefone.
Balanço minha cabeça, bloqueando o nú mero, em seguida,
deslizando meu telefone de volta no meu vestido.
— Nada. Agora você me dá licença. Preciso de uma palavra com o
Sr. Frost.
Passando por Jonathan, eu levanto um dedo em direçã o à sala dos
fundos. Jonathan resmunga algo baixinho e depois me segue.
Quando chego ao arco que leva à cozinha, paro e giro, de frente
para ele. Seus olhos saltam da minha bunda. Ele tem a graça de parecer
um pouco envergonhado, e há um rubor escurecendo suas bochechas.
— Você acabou? — Eu pergunto.
Seus olhos se desviam.
— Eu nã o quis fazer… — Ele limpa a garganta, puxando o
colarinho. — Você tem enfeites em sua...
— Ah. — Sinto-me atrá s de mim e lá está , uma bela tira de enfeites
de prata agarrada à minha bunda. Eu o arranco e limpo minha garganta
també m. — Certo. Bem. De volta aos negó cios. Eu preciso de sua ajuda
com a hora da histó ria e a assinatura do livro depois.
Ele arqueia uma sobrancelha e inclina um ombro contra a arcada,
os braços sobre o peito.
— Minha ajuda para um evento que vai aumentar
desproporcionalmente suas vendas. — Ele estala a lı́ngua. — Sem
dados, Di Natale.
— Jonathan. — Eu me aproximo, baixando minha voz. — Por favor.
Preciso de algué m para manter a má ia sob controle. Os pais podem ser
intitulados idiotas.
Ele se inclina e diz:
— Eu sei. E por isso que nã o me preocupo com eles.
Um rosnado rola para fora de mim.
— Eu prometi a Eli que você faria com que qualquer um que
estivesse fora da linha levasse o chute.
— E isso é minha culpa? — Jonathan olha para baixo e tira o
telefone do bolso enquanto ele faz um ding repetido.
— Jonathan, isso nã o pode esperar?
— Você é uma hipó crita, Gabriella, já que acabou de checar o
telefone há um minuto. — Ele franze a testa para a tela, enxugando a
testa com a mã o livre. Percebo que seu rosto está ú mido, como se ele
estivesse suando. Sua mã o está tremendo um pouco.
Por apenas um momento, minha empatia vence meu
aborrecimento.
— Você está bem?
— Tudo bem. — Ele responde, guardando o telefone no bolso e
passando por mim em direçã o ao cabide.
Eu ico boquiaberta enquanto giro e sigo seu caminho.
— Está vamos conversando.
— A conversa acabou. — Ele desenganchou sua bolsa, que
segurava o laptop que ele sempre usava quando os clientes nã o estavam
por perto. Ele tem uma tela de proteçã o, entã o nã o consigo ver nada.
Acredite em mim, eu tentei. Com a bolsa no ombro, ele entra na sala de
contabilidade e fecha a porta atrá s de si com um baque.
Atordoada, cerro os dentes e olho para o teto. Ironia das ironias,
está vamos sob o azevinho.
— Gabriella! — Eli me chama.
— O que? — Volto rapidamente para a sala principal e vejo Eli, com
um biscoito em forma de loco de neve na mã o, sentado na poltrona que
posicionei ao lado da lareira a gá s, uma pilha gigante de Color Your
Feelings ao lado dele.
— Doce Senhor. — Diz ele, em partes iguais de horror e reverê ncia
ao ver quantas có pias aguardam sua assinatura. — Isso é muito.
Sorrindo, ofereço a ele um punhado de Sharpies pretos inos.
— Prepare-se para autografar, Sr. Goldberg.
Ele olha pela vitrine da loja para a ila crescente do lado de fora e
murmura:
— Espero que eles tenham tripla prorrogaçã o esta noite.
— Conhecendo a minha sorte, Eli, eles vã o.
Apesar das minhas reclamaçõ es sobre este jogo de hó quei tarde da
noite, nã o posso deixar de sorrir quando entramos e temos nosso
primeiro vislumbre do rinque. Eu amo a atmosfera – o arranhar e
espatifar das lâ minas no gelo, o ar frio e seco enchendo meus pulmõ es.
Uma onda de felicidade toma conta de mim enquanto eu levanto
meu telefone, tiro uma foto e, em seguida, envio para meus pais.
EU: Por que todo rinque de hó quei tem a mesma sensaçã o má gica?
Meu telefone vibra imediatamente.
MÃE: A sensaçã o de congelar o traseiro enquanto respira o cheiro
de corpos suados e roupas de hó quei maduras?
PAI: Você quer dizer a sensaçã o de estar agradavelmente gelado
enquanto admira belos exemplares de gló rias atlé ticas transpirantes?
PAI: Sua mã e apenas bufou com isso. Estou ofendido.
MÃE: Depois te compenso.
Eu estremeço. Eles estã o 100% sentados em extremidades opostas
do sofá , brincando com os pé s enquanto fazem isso.
EU: Pare de lertar em texto no grupo da famı́lia. E nojento.
MÃE: Acabou, prometo.
PAI: Quem está jogando, garota?
EU: Namorado do Eli. Ele está na liga competitiva local.
PAI: Esses caras sã o muito habilidosos. Deve ser divertido de
assistir. O que te fez querer ir?
EU: Eli. Ele me fez um trabalho só lido, entã o estou retribuindo o
favor com um tutorial de hó quei.
Eli me pega pelo cotovelo quando começamos a subir as
arquibancadas, enquanto me concentro em encerrar com meus pais.
Assim que ele nos guia para nossos assentos, coloco meu telefone no
bolso.
— Desculpe, fui pega no bate-papo da famı́lia.
— Está tudo bem. — Sentado ao meu lado, ele vasculha o ringue e
sorri quando avista Luke. Seu sorriso se torna uma careta quando Luke
veri ica um cara no quadro. — Eu nã o posso acreditar que seu pai fez
isso. Ele é o maior ursinho de pelú cia e o hó quei é tã o...
— Um jogo brutal? — Eu encolho os ombros.
— Sim, é .
Meu pai, Nicholas Sokolov, é um dos maiores atacantes que já
jogou. No ringue, ele sempre foi uma fome pura e ardente; mas fora, ele
é e sempre foi a pessoa mais gentil que eu conheço. Quando comecei a
vê -lo jogar, foi um choque ver aquele homem instá vel no gelo.
O olhar de Eli rastreia Luke enquanto ele diz:
— Acho que nã o deveria estar surpreso. Luke é um ursinho de
pelú cia també m, e olhe para ele. — Luke joga seu ombro no ataque do
outro time e ganha o disco, entã o patina em direçã o ao banco.
— Espere, por que Luke já está indo embora? — Eli pergunta.
— A mudança dele acabou.
— Ele icou no gelo por sessenta segundos!
— Menos do que isso. Mais para quarenta e cinco. Nã o parece
muito tempo, mas é difı́cil. O hó quei é um esporte anaeró bico – você vai
o mais forte que puder o tempo todo no gelo, troque, recupere o fô lego,
hidrate-se e depois volte para lá .
— Entã o ele nã o está sendo penalizado. — Diz Eli.
— Nã o. Ele está fazendo exatamente o que deve fazer.
Eli sorri.
— Otimo.
Respondendo a mais perguntas de Eli, explico a cereja do bolo e as
desvantagens e porque alguns acertos sã o considerados justos e outros
nã o. Conforme os jogadores mudam novamente, eu noto o cara mais
alto do grupo balançar suas longas pernas sobre as tá buas e, em
seguida, atirar no gelo como se tivesse nascido para estar lá . Um toque
de consciê ncia dispara pela minha espinha. Arrepios dançam na minha
pele.
Há algo de familiar nele.
— Esse cara é rá pido. — Diz Eli. — Nú mero 12.
Aceno atordoada, tentando ignorar meu coraçã o batendo forte
enquanto puxo meus fones de ouvido. Posso sentir que um gol se
aproxima, e logo a buzina que o anú ncio vai tocar em um volume que
meu cé rebro nã o aguenta.
Meus olhos rastreiam o Nú mero 12, cravados, a curiosidade me
agarrando. Quem é ele?
E difı́cil ter uma noçã o do corpo de um jogador quando eles estã o
em suas almofadas e equipamentos, mas há algo tã o familiar sobre a
largura de seus ombros, a linha longa de suas pernas, uma mecha de
cabelo escuro enrolado na parte inferior de seu capacete.
Fico olhando para ele como se simplesmente olhar por tempo
su iciente fosse resolver o enigma. Eu o conheço. Juro que sim.
Pelos pró ximos trinta segundos, o nú mero 12 é tudo que penso,
tudo que vejo, á gil e rá pido como um relâ mpago no gelo, liderando o
ı́mpeto ofensivo de seu lado, retrocedendo quando seu companheiro de
equipe perde o disco e a defesa do outro time o envia para seus
atacantes. Ele está lá em um lash, ganhando posse, explodindo em uma
nova explosã o de velocidade atravé s do gelo. Atingindo o goleiro, ele
inge um golpe, corta a marca e, atrevidamente, acerta a rede com o
backhand, bem por cima do ombro do goleiro.
A luz brilha em vermelho e meus fones de ouvido diminuem o
barulho da buzina para um zumbido fraco. Eli comemora, sorrindo
enquanto dá um tapinha na minha coxa em sua excitaçã o.
O nú mero 12 nã o é um exibido. Ele simplesmente levanta o queixo
para reconhecer seus companheiros de equipe que o cercam. Nã o vejo
seu sorriso por trá s do protetor bucal, se é que ele sorri. A multidã o de
jogadores bloqueia minha visã o, batendo em seu capacete e abraçando-
o.
Mas eu vejo seus olhos. Porque eles sobem nas arquibancadas e
pousam em mim.
Verdes inverno. Frio á rtico.
Eu suspiro.
— O que? — Eli diz, virando-se para mim. — O que é ?
Puta merda. O nú mero 12 é Jonathan Frost.
7
Alex Lahey
Stefani
Jonathan
Foi uma alegria escrever a histó ria de Jonathan e Gabby. Foi a primeira
vez que escrevi uma novela, com um ú nico ponto de vista, e um
romance de fé rias, e seguir por aı́ me senti como aquela primeira vez
descendo uma colina "real" quando você aprende a esquiar – uma
aventura assustadora, estimulante e acelerada que começa um pouco
nervosa e termina em uma emoçã o Wow-eu-tenho-que-fazer-isso-de-
novo. Estou muito feliz com o resultado da histó ria deles e sou muito
grata a todos que ajudaram a torná -la possı́vel.
Meus sinceros agradecimentos a Michelle, Jessica e toda a equipe
da Kobo que apoiaram este projeto em cada etapa do processo; ao meu
insubstituı́vel editor, Jackie; e por ú ltimo, mas certamente nã o menos
importante, à minha fenomenal agente, Samantha. Um agradecimento
muito especial també m a Ellie e Izzy, cujo feedback sobre a estrutura,
nuances e representaçã o deste romance foi inestimá vel.
Por im, agradeço de todo o coraçã o aos leitores que tornam
possı́vel esta jornada de autoria. Cada e-mail e comentá rio atencioso e
gentil, cada mensagem sincera – eu os estimo e a você alé m das
palavras.
XO,
Chloe
Notas
[←1]
Lâmina de latão, fina e polida, que imita o ouro ou a prata, e de longe tem seu
brilho.
[←2]
Slasher é um subgênero de filmes de terror quase sempre envolvendo assassinos
psicopatas que matam aleatoriamente.
[←3]
Transtorno do espectro autista (TEA), um distú rbio do neurodesenvolvimento
caracterizado por desenvolvimento atı́pico, manifestaçõ es comportamentais,
dé icits na comunicaçã o e na interaçã o social.
[←4]
“Bah, impostor” Frase u lizada pela personagem Ebeneezer Scrooge de Charles
Dickens.
[←5]
Departamento da Receita Federal (impostos do EUA)
[←6]
"Capas de retrocesso'', em tradução livre. Estão na primeira página do livro, após a
capa. Modelos são iguais aos da capa, mas em uma pose diferente; mais fácil
encontrá-las em romances históricos gringos.
[←7]
També m conhecido como a ú ltima fase do sono, dura geralmente 20 minutos, e
é nessa fase do sono na qual ocorrem os sonhos mais vı́v idos.
[←8]
É uma enciclopédia online muito u lizada pelos americanos.
[←9]
Vou esperar por você, querido. Papai Noel, então desça pela chaminé esta noite.