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Eva

Perpetua Batista

Eva

Lu Marriot

Fanny

Junho/2021
Bianca Brannen sabe que o tempo,
principalmente, cura todas as feridas.
Incluindo as que seus entes queridos podem
ter te dado involuntariamente. (Essas
demoram mais.)
Ela acha que está pronta quando uma
ligação a faz voltar para a vida de seu velho
amigo. Ou pelo menos o mais preparada
possível para ver o quarterback titular da
Organização Nacional de Futebol. Antes das
luzes, dos fãs e dos milhões, ele era um garoto
magro com um coração de ouro.
Sair da vida de Zac Travis deve ser fácil.
Tão fácil quanto ele saiu da dela.
“A notícia vazou! O Oklahoma Thunderbirds contratou o
quarterback Damarcus Williams para um contrato de dois anos
no valor de US$ 25 milhões. Essa mudança ocorre semanas
depois que a organização anunciou que Zac Travis está com o
passe livre após cinco temporadas em Oklahoma City. Michael
B, acabou para Travis como quarterback titular no NFO?”
O homem bonito de terno cinza escuro na televisão
visivelmente se irrita antes de se inclinar para a câmera. “Você
o viu jogar nas duas últimas temporadas? Não sei por que os
Thunderbirds esperaram tanto tempo para tirá-lo da lista! Quero
dizer, você está brincando comigo? No fundo do poço em sua
carreira, ele só conseguiu liderar uma equipe nos playoffs duas
vezes! O que...”
“Blanca, o que você está fazendo?”
Puta que pariu.
Instantaneamente desvio meu olhar da legenda piscando
na parte inferior da tela da televisão a cerca de cinco metros
de distância em que estava de olho, mal consigo pensar no que
eu estava fazendo antes da imagem de um homem de
aparência familiar, vestindo uniforme de futebol cinza, branco
e laranja, chamar minha atenção.
Como isso – ele sempre faz.
“Mudando de canal”, respondo ao homem do outro lado
do balcão, onde estou. Levanto o controle remoto na palma da
minha mão como prova.
Ele acabou de me chamar de Blanca de novo?
Eu sei, sem dúvida, que meu novo chefe está tentando me
impedir de não trabalhar. Ele está sempre rastejando,
aparecendo do nada quando você menos espera. Felizmente,
eu provavelmente só estive assistindo televisão por cerca de
um minuto. Apenas o tempo suficiente para reconhecer o
homem de que os comentaristas da The Sports Network estão
falando e pegar o começo de sua discussão.
Meu chefe — um dos meus três novos chefes, se eu for
técnica — me encara sem expressão de onde ele está do outro
lado do balcão, pensando que eu estou falando besteira ou
tentando descobrir como virar o que eu estava fazendo contra
mim para que ele possa ter uma desculpa para reclamar.
Porque é isso que ele faz — muito bem, infelizmente.
Tão bem que a maioria dos meus colegas de trabalho se
demitiu no último mês desde que a academia foi oficialmente
assumida pelos novos proprietários. Idiota 1, Idiota 2, e o cara
decente que infelizmente nunca está por perto e que também
pode ser um idiota se ele passar mais de cinco minutos na
Casa de Maio. É assim que nos referimos a eles — pelo menos
aqueles de nós que restam.
Ok, talvez seja apenas eu e Deepa quem os chama assim,
mas duvido disso.
“Um dos membros me perguntou se eu poderia mudar
isso”, continuo, mentindo descaradamente, mas não é como se
ele soubesse disso. Eu também não me sentirei mal por isso,
especialmente quando ele está massacrando meu nome desde
o dia que nos conhecemos. Eu o corrigi pelo menos dez vezes
e soletrei duas vezes, talvez mais. B-i-a-n-c-a M-a-r-i-a B-r-a-
n-n-e-n. Bianca porque minha irmã me deu o nome, Maria
para a abuela da minha mãe — sua avó — e Brannen por que...
era o sobrenome do meu pai.
“E é Bianca. Com um I. Não um L”, corrijo o homem que
agora está encarregado de assinar meus contracheques,
batendo em vão no crachá no lado esquerdo do meu peito com
um sorriso que é 200% forçado. Na mesma nota, preciso tirá-
lo daqui e voltar ao seu escritório antes que ele realmente
encontre algo do que reclamar.
Então, novamente, como aprendi, ele pode encontrar algo
errado em... bem, tudo. “Você precisava de algo?”
Além de uma vida e uma mudança de personalidade.
Talvez várias lavagens também, para tirar o que quer que
esteja alojado em sua bunda.
Meu chefe olha para mim por mais um segundo enquanto
se apoia no balcão em que eu fui contratada para trabalhar há
quase três anos atrás. A recepção de uma academia é o lugar
em que eu gostava de trabalhar até exatamente um mês atrás.
Eu não preciso olhar para frente do balcão para saber que
as palavras CASA MAIO estão pintadas na frente dele. A
academia mundialmente famosa não mudou de nome quando
foi oficialmente vendida algumas semanas atrás. Os três
investidores — um dos quais é Gunner, o homem que não
consegue se lembrar do meu nome de jeito nenhum —
compraram a marca e o legado por trás de uma academia. A
Casa Maio estava na família DeMaio há setenta anos e tinha
criado dezenas de atletas de classe mundial, começando com
boxeadores quando abriu, e agora atletas de artes marciais
mistas (MMA).
A atmosfera era ótima antes. Os membros eram todos
muito legais e eu gostava dos meus colegas de trabalho. Os
DeMaios também eram os melhores proprietários e gerentes.
Então, um dia, do nada, o Sr. DeMaio nos disse que
estava vendendo.
Foi o começo do fim. Quando a primeira sexta-feira
chegou, depois que a venda era oficial, um dos outros
funcionários da recepção, duas pessoas que administravam o
bar de sucos e o gerente assistente haviam pedido demissão.
Na semana seguinte, mais dois funcionários da recepção, o
zelador e o gerente de dois anos da academia também haviam
se demitido.
Principalmente por causa deste ser humano adorável.
Ele é um saco.
Eu propositadamente faço meu sorriso aumentar ainda
mais enquanto espero o pior chefe que já tive me dizer se ele
realmente precisa de algo.
Porque nós dois sabemos que ele não precisa. Ele está
apenas sendo um analista de micro-gerência que adora
assediar seus funcionários, e hoje é meu dia de sorte. Oba.
“Não”, responde Gunner, o lutador aposentado da United
Fighting League, com aquele olhar irritantemente vazio que me
faz pensar se ele tentou usá-lo na gaiola em seu auge. Eu o
pesquisei no primeiro dia em que ele me enlouqueceu por ter
bebido um smoothie atrás da recepção. “Eu não sei como eles
administravam as coisas aqui antes”, o pesadelo tentou me
dizer dois dias depois de começar a trabalhar aqui, “mas
nenhuma comida é permitida atrás do balcão, mesmo que seja
um smoothie do bar de sucos. E sem descontos também. Você
paga o preço que está no quadro, como todo mundo.”
Primeiro, eu nem tive um desconto quando meu colega de
trabalho fez meu smoothie. Eu o comprei pelo preço total. As
únicas vezes que tive descontos foi se um dos gerentes ou
proprietários o tivesse oferecido no momento. Em segundo
lugar, não era como se eu estivesse bebendo na frente dos
clientes. Eu tomei um gole entre as pessoas indo e vindo,
enquanto estava agachada atrás do balcão, porque tive que
pular meu almoço. E por que tive que pular meu almoço?
Porque minha colega de trabalho se demitiu no dia anterior,
depois que Gunner reclamou por ela pedir para chegar tarde
para que pudesse levar o filho ao médico.
“Eu não pago para você ficar assistindo TV, lembre-se
disso”, disse o homem naquele tom que me fez lutar para não
revirar os olhos.
Lembre-se disso.
Babaca.
Sentindo meus dedos instantaneamente se fecharem em
punho por si próprios, é preciso todo o meu esforço para
manter meu rosto neutro e meus olhos na largura normal
antes que consiga dizer ao meu chefe o mais docemente
possível, sorrindo sarcasticamente, “Eu sei. Não se preocupe.”
Ele precisa se preocupar é comigo colocando um pé em
sua bunda.
Como diabos eu deixei de gostar realmente de trabalhar
aqui, curtindo meus colegas de trabalho e a maioria dos
membros, ao ponto de sentar no meu carro, esperando até o
último minuto absoluto para entrar e de ter minhas chaves na
mão um minuto antes do meu turno terminar está além de
meu entendimento. Na maioria das vezes. Eu até comecei a
verificar a programação para ver em que dias Gunner deve vir,
para que eu possa me preparar mentalmente.
O irritante Gunner bate com os nós dos dedos no balcão
uma última vez antes de sair. Eu o observo passando pela
mesa e indo até a porta que dá para o caminho que liga a parte
da academia ao prédio em que trabalho com o prédio ao lado
que abriga o que chamamos de seção de MMA, já que a maioria
das pessoas que treina é de lutadores.
Eu preciso sair daqui.
E um dia — um dia em breve — farei isso.
Primeiro, só preciso que Deepa arranje outro emprego
para que eu não me sinta mal em deixá-la se virando com esse
imbecil. Eu falo disso pelo menos uma vez por dia, mas ela
ainda não se comprometeu em desistir, não importa o quanto
também odeie tolerar Gunner. Esperançosamente, mais cedo
ou mais tarde, ela realmente mudará isso, porque não tenho
certeza de quanto tempo vou durar aqui, mesmo agora que
estou trabalhando apenas meio período.
Preciso falar com ela sobre isso novamente o mais rápido
possível. Talvez amanhã de manhã, quando ela vier ao meu
apartamento para me ajudar. Poderemos olhar as listas de
empregos durante o intervalo. Sim, esse é um bom plano.
Agora, no que eu estava pensando antes de me distrair?
Uma receita. Estava tentando elaborar uma nova receita
na minha cabeça. Era nisso que pensava quando a TSN — The
Sports Network — exibiu aquele homem familiar na tela e fui
instantaneamente para o controle remoto mudar de canal.
Levo um segundo para voltar para onde estava pela última vez
no trem de receitas. Banana e chocolate, isso é tão longe
quanto cheguei antes de ficar fraca e ser sugada pelo que os
comentaristas estavam dizendo, mesmo que eu fosse mais
esperta que isso. Não é como se eles tivessem dito algo legal.
Mas mesmo assim.
Todo o tempo que passei parada pensando, era a minha
coisa favorita sobre esse trabalho antes. Era esta hora que eu
usava as ideias de receita na minha cabeça, avaliando seus
prós e contras enquanto era paga. Eu gostava de sair de casa
e tinha feito amigos aqui. Era uma vitória para todos.
E então Gunner aconteceu.
Meu telefone vibra contra minha bunda, e olho em volta
para me certificar de que o Idiota 1 não voltou e não está
escondido pelos cantos, esperando.
Ele não está. Pelo menos tenho certeza que ele não está.
Puxando para fora, dou uma espiada na tela, esperando
uma mensagem da minha irmã, já que não tive notícias dela o
dia todo.
Eu não fico desapontada.
CONNIE AMA PECKER, Preciso ajudá-la a encontrar
um par para o aniversário de quinze anos de Lola?
Isso não é... daqui uns meses? E você ainda precisa de
um par para a festa de aniversário de 15 anos? Claro, essa
parte da família está gastando algo como vinte mil dólares na
festa da minha prima de segundo grau; minha irmã ligou para
me dizer como eles são burros por jogar dinheiro fora assim,
quando todos sabemos que eles não podem pagar. No décimo
quinto aniversário de Connie, nossos pais compraram para ela
um carro antigo que não funcionava; ela ainda se preocupa
com isso. No meu décimo quinto aniversário, Mamá Lupe,
minha abuelita, minha avó, me deu dinheiro para ir a um
parque temático em San Antonio, e meu primo Boogie me
levou. Eu queria ir para a Disney, mas não havia dinheiro
naquela época. Meus pais disseram que me dariam um dia,
mas eu tenho 27 anos agora e ainda os espero cumprir essa
promessa.
Mas eu finalmente vou para a Disney World este ano e
estou empolgada. É meu presente para mim por sobreviver a
Kenny e suas besteiras. Eu vou comemorar meu futuro usando
orelhas de rato.
Olho para cima para garantir que a bunda assustadora
de Gunner ainda não apareceu magicamente e envio a minha
irmã uma resposta muito rápida.
Eu, preciso de um par?
Eu mal deslizo meu telefone de volta no bolso quando ele
vibra com outra mensagem recebida. Um segundo vem antes
mesmo que eu consiga retirá-lo. Mas elas não são da minha
irmã.
Ambas são de Boogie.
BOOGIE É MEU FAVORITO, Ligue para mim assim que
tiver uma chance
BOOGIE É MEU FAVORITO, Por favor, B
Eu posso contar com zero dedos o número de vezes que
meu primo — meu primo favorito que é basicamente meu
irmão e definitivamente um dos meus melhores amigos,
empatado com minha irmã — me pediu para ligar para ele. Ele
é alérgico a telefonemas. E também raramente me manda uma
mensagem no fim de semana, especialmente agora que ele tem
novamente uma namorada.
Gunner pode me encher o saco se me pegar; meu primo
precisa de mim.
Aperta o ícone do telefone na mensagem e o coloco no
ouvido. Boogie atende no segundo toque, me assustando ainda
mais. Eu também posso contar com uma mão o número de
vezes que ele atendeu uma ligação de alguém no primeiro
toque. Eu saberia. Eu já estive com ele mil vezes quando ele
olha para ver quem está ligando e depois passa vinte segundos
ponderando se deve ou não atender.
“Bianca”, Boogie sussurra antes que eu tenha a chance
de dizer oi ou perguntar o que está errado. “Paw-Paw (Vovô)
Travis está no hospital.”
“Oh”, é o que sai da minha boca primeiro, principalmente
porque meu cérebro ainda está desligado por precisar de um
par, a receita que estou tentando descobrir, como preciso sair
daqui e quão babaca Gunner é. Mas entendo rápido. Vou direto
ao nome que ele disse. Paw-Paw Travis? Quais são as
chances...? “Ah Merda. Ele está bem?”
Olho em volta novamente. A barra ainda está limpa,
felizmente. Ao meu lado, a nova garota trabalhando no bar de
suco olha para mim antes de desviar o olhar novamente muito
rapidamente. Ninguém quer ser preso. Eu não posso culpá-la.
“Eu não sei”, meu primo mais velho fala rapidamente, me
trazendo de volta à ligação enquanto ele parece assustado e
distraído e como se estivesse abafando sua voz. “A ambulância
o levou algumas horas atrás, e eles estão nos dizendo que ele
está fazendo exames.”
“Sinto muito, Boogie. O que posso fazer?” Pergunto,
pensando que, se Paw-Paw é como uma figura de avô para
mim, ele é quase como um pai para meu primo — um segundo
pai, mas mesmo assim um pai. Tanto quanto eu sei, Boogie
ainda vai a sua casa uma vez por semana para ver como ele
está, e esse tem sido o caso desde que ele voltou para a área
de Austin um tempo atrás.
“Preciso que você me faça um favor”, ele responde.
Assisto a porta da frente quando dois membros regulares
entram e vão direto para a recepção. Sorrio para os dois,
segurando o telefone junto ao ouvido com o ombro e
esquadrinho seus passes. “O que você precisar.” Não há uma
coisa que eu não faria por ele ou por qualquer um dos meus
entes queridos, e tenho muitos deles.
Paw-Paw incluso.
Nunca esqueceria as gentilezas que ele me fez quando eu
era mais jovem. Não o vejo há um tempo, mas a última vez que
ele me deu um grande abraço e me fez mil perguntas sobre
como eu está desde a última vez que nos vimos — um ano
antes disso. Quando eu era pequena, ele tirava moedas das
minhas orelhas. Em um de meus aniversários, ele me deu um
pingente de flamingo que pertencia à sua falecida esposa.
Ainda o tenho na minha caixa de joias.
A culpa mordisca meu estômago enquanto envio uma
oração silenciosa para que ele fique bem. Se ele ficar, farei
melhor. Posso visitar um pouco mais, talvez cada vez que for
ver Boogie. Posso ligar para pelo menos saber dele. Posso
enviar alguns presentes para ele. Boogie reclamou comigo há
não muito tempo sobre como Paw-Paw ainda está tentando
fazer muito em sua idade.
“...diga.”
“Tenham um bom treino”, sussurro para os membros
enquanto puxo o telefone para longe da minha boca. “Sinto
muito, Boog. O que você disse? Ainda estou trabalhando por
mais vinte minutos.”
Meu primo se repete. “Zac não está atendendo ao telefone.
Eu tentei ligar para ele e a mãe dele também, mas ele não está
atendendo. Você pode ir à casa dele e contar?”
Que diabos ele acabou de dizer?
Ele quer que eu diga a Zac que seu avô está no hospital?
Zac Travis, que foi o zagueiro titular dos Oklahoma
Thunderbirds da Organização Nacional de Futebol Americano?
Aquele sobre o qual os âncoras da TV estavam literalmente
falando? O homem cuja vida eu salvei quando éramos
crianças?
Sério, quais diabos são as chances?
“Por favor, B. Eu não pediria se não precisasse.”
Claro que sei disso. Boogie raramente pede alguma coisa.
Então, é claro, é claro, quando ele faz isso é algo assim.
“Mas ele não está atendendo, e estive com ele na última
hora. Sua mãe está tentando ligar também e nada”, meu primo
fala, estresse e preocupação pendendo em todas as suas
sílabas.
Ele usou a mesma voz quando Mamá Lupe estava doente.
Mas isso é diferente.
Meu primo quer que eu diga a seu melhor amigo que seu
avô está no hospital porque ele não atende ao telefone.
É simples assim, e fazia muito sentido.
De certa forma, não é nada.
Meu primo quer que eu vá contar ao seu melhor amigo,
que eu conheço por quase toda a minha vida, que me amou e
me tratou como uma irmãzinha uma vez, que há algo
acontecendo com seu avô, porque ele não está atendendo ao
telefone. Porque ele precisa saber. Claro que ele precisa. Claro
que deveria.
Não há razão para eu dizer não. Não há razão real para
eu sequer hesitar. Então, não nos vemos ou falamos há quase
dez anos; não é como se tivesse acontecido porque brigamos
ou porque eu fiz algo idiota para tornar as coisas estranhas.
Não. Não há um motivo real.
Apenas eu sendo covarde.
E ele... bem, isso não importa mais.
“Bianca?”
“Estou aqui”, respondo, olhando-me no reflexo do espelho
comprido que ocupa a maior parte da parede diretamente em
frente à recepção e ao bar onde fico o dia inteiro. Mesmo com
o cabelo solto, eu posso ver as bolsas debaixo dos meus olhos
inteiros. Eu fiquei acordada até tarde assistindo um romance
turco online na noite passada, e valeu totalmente à pena. Não
é como se os membros da academia não tivessem me visto no
trabalho com três ou quatro horas de sono regularmente.
Mas...
Por que ele tem que pedir isso de todas as coisas? Então,
novamente, é um milagre de Natal que demorou tanto tempo
para eu ser colocada nessa posição em primeiro lugar, ter que
ir ver Zac. Não é como se eu tivesse pensado em nunca mais
vê-lo. Apenas não tão cedo. Talvez na próxima década. Desde
o momento em que soube que ele está morando em Houston,
eu meio que me preparei para o fato de que meu tempo estava
chegando ao fim, e foi praticamente um milagre seu que meu
primo estivesse trabalhando fora do país nas últimas duas
semanas, para que ele não tivesse tido a chance de vir visitá-
lo.
Mas agora Boogie está pedindo.
Eu fiz minhas escolhas, e ele também. Não houve
ressentimentos.
Agora, aqui estamos nós.
Tudo o que preciso fazer é passar a notícia para ele. Só
isso. Nada demais.
Seguro um suspiro e dou ao meu primo a única resposta
real que posso. “Sim, claro que vou fazer isso.”
Eu adoraria vê-lo — Zac — em melhores circunstâncias.
Não que eu não tivesse tentado nos últimos dez anos. Apenas
nunca... deu certo.
Tudo bem, talvez eu pudesse ter tentado muito mais, mas
não o fiz. Ok, talvez eu não tivesse realmente tentado, ponto
final. Porque bem dentro de mim, a covarde ainda é forte em
algumas situações, mas extra, extra, especialmente quando se
relaciona com Zac Travis. O tempo curou muitas feridas, mas
não todas. Não, são as finas, pequeninas como fraturas da
espessura de fios cabelos que realmente atingem o seu âmago.
Mas o melhor amigo do meu primo precisa saber que o
avô dele está no hospital. E se ele não está atendendo o
telefone, e eu moro na mesma cidade em que ele treina durante
o período de entressafra? Provavelmente é o destino.
Uma imagem do que os comentaristas da The Sports
Network estão falando passa pela minha cabeça.
Ah bem.
Eu faria qualquer coisa pelas pessoas que amo e amo
Paw-Paw Travis. E amo Zac. Apesar de tudo, ainda assim, de
certa forma, e mais do que provavelmente, sempre amarei
Mas mesmo se não o amasse, não poderia dizer não a
Boogie.
“Eu saio do trabalho logo. Onde você acha que ele está?”,
consigo perguntar, ignorando aquele pedaço de medo e
nervosismo na minha barriga com a ideia de vê-lo novamente
depois de tanto tempo, especialmente hoje de todos os dias.
Mas talvez ele já saiba que isso está acontecendo. Que os
Thunderbirds estão contratando um novo quarterback.
Sim, pode ser isso.
E realmente, isso poderia ser pior. Ir vê-lo, quero dizer.
Pelo menos Zac nunca soube que eu estava apaixonada por
ele.
Graças a deus.
Ele apenas esqueceu tudo sobre mim.
Eu deveria ter ido para casa e jantado na frente da TV.
Coloco a última uva do copo de frutas que comprei no
posto de gasolina na minha boca e olho para a casa enorme
pela minha janela.
Esta é a casa em que Zac está morando, de acordo com o
endereço que Boogie me enviou por uma mensagem, logo
depois de termos desligado o telefone. Verifiquei os números
duas vezes para ter certeza de que eles estão certos e sim, sim.
Quero dizer, o código para o portão para entrar na vizinhança
também está correto... infelizmente.
Onde mais eu esperava que um milionário morasse? Eu
tenho 99% de certeza de que ele não é o dono da casa, já que
não fica em Houston a longo prazo, mas isso não muda o fato
de que o aluguel de um lugar como este tem que ser
astronômico. Eu vi fotos da casa de Zac em Oklahoma. Boogie
me enviou uma foto dele estendido no chão de mármore entre
uma grande escadaria composta de ferro e madeira boa, a
cabeça apoiada no punho, com Zac deitado no chão ao lado
dele na mesma posição. Isso me fez sorrir.
Quando eu realmente conhecia Zac, quando ele era meu
amigo, ele andava em um carro sem ar condicionado e um
pára-choque com tantos amassados que ele os chamava de
sardas. E agora? Bem, a última vez que Boogie me enviou uma
foto deles juntos, eles estavam em um BMW que provavelmente
custou mais do que a casa em que cresci.
Mas ele trabalhou duro por tudo o que tem e muito mais.
A casa grande, bom carro — ou talvez carros — e atenção
positiva. E, de acordo com minha visão atual, ele tem muitas
pessoas ao seu redor também.
Claro que ele tem.
Ele estava ocupado todas aquelas vezes que mandei uma
mensagem para ele e não obtive uma resposta, eu sei. Esse
conhecimento preciso me confortar como fez a uma década,
quando tínhamos... perdido o contato. Perdemos o contato. É
assim que eu vou chamar.
Pelo jeito, a casa em que ele está agora é tão grande e
provavelmente tão luxuosa quanto a que ele mora em
Oklahoma — dois andares, ampla e com uma entrada circular.
Fico um pouco surpresa ao ver que está cheia de carros. Assim
como a rua em frente a ela.
Por acaso, três pessoas estão subindo o caminho em
frente ao que é uma das maiores casas que já vi e estão bem
vestidas. Estaciono meu carro em frente a uma das casas
gigantes e espero que ninguém ligue para rebocá-lo.
E por que diabos ele tem que dar uma festa hoje?
Tranco meu carro e corro pela rua com meus tênis pretos,
olhando cada mansão por um segundo.
Apalpo meu celular e olho para a tela, checando três vezes
o endereço que Boogie me enviou, apenas por precaução.
Sim, ainda está correto.
Abro meu aplicativo de mensagens de texto antes de me
esquecer e mando uma nova mensagem para minha irmã. Ela
ainda não me respondeu sobre a necessidade de um par para
o aniversário.
Eu: vou para uma casa em que nunca estive antes. Se
eu não enviar uma mensagem de texto em uma hora, ligue
para a polícia. O endereço é 555 Rose Hill Lane.
Paro, penso sobre isso e envio a ela outra mensagem.
Eu: Não convide ninguém que eu não goste para o meu
funeral.
Então envio a ela outra.
Eu: E não se esqueça de jogar meu laptop no pântano,
se algo acontecer.
Penso nisso por mais um segundo.
Eu: E não esqueça que você é a única que eu quero
que limpe minha mesa de cabeceira. Use luvas e não me
julgue.
Coloco meu telefone de volta na bolsa quando paro em
frente ao que tem de ser uma casa de pelo menos dois mil e
quinhentos metros quadrados e observo a combinação de
paredes de tijolo e pedra, dizendo a mim mesma que tenho que
fazer isso. Boogie pediu.
E quanto mais cedo eu fizer isso, mais cedo posso ir para
casa.
Pela porta de vidro e ferro de grandes dimensões, posso
espionar muitas pessoas lá dentro, mas ainda assim, bato. E,
é claro, ninguém ouve, ou pelo menos eles fingem não ouvir ou
olhar por cima.
Toco a campainha, observando as pessoas saindo mais
um pouco, e ainda nada. Por que há tantas pessoas, está além
de minha compreensão. Não é o aniversário dele. Ele já está
em Houston há quase duas semanas a essa altura. Talvez
tenha sido apenas uma festa qualquer. Para comemorar a
entrada em um novo capítulo de sua vida sem os
Thunderbirds? Se fosse eu, provavelmente estaria enrolada no
meu sofá comendo marshmallows e chorando. O que eu sei?
Aguardo um pouco mais, esperando que alguém olhe...
mas ainda assim, ninguém o faz. Dois caras que posso ver lá
dentro são enormes, e meu instinto diz que eles também são
jogadores de futebol. Como Zac. É por isso que ele está aqui
em Houston agora, porque vai treinar com algumas pessoas
especiais ou algo assim antes do início da pré-temporada. Dos
pedaços que eu arquivei dos comentários de meu primo, ele
passou umas longas férias antes de vir pra cá.
Eu me pergunto o que ele fará agora que não está mais
com os Thunderbirds.
Saltando na ponta dos pés por um segundo, olho minha
camisa polo da Casa Maio e decido não dar à mínima. Bato
mais uma vez e, quando ainda assim ninguém me olha ali sem
jeito, vou para a maçaneta da porta. Tenho que fazer isso.
Eu a viro.
Ela abre.
Tudo certo.
Entro, fechando-a atrás de mim e olhando para todas as
pessoas bem vestidas lá dentro. Nenhuma delas usa smoking
ou terno, mas com certeza não usam uniforme. De repente,
desejo pelo menos ter passado um pouco mais de batom antes
de sair do meu carro.
Tanto faz.
A casa se abre em uma sala de jantar formal bonita,
porém básica, de um lado, e um escritório do outro. O
escritório tem apenas uma mesa, uma cadeira e uma
impressora. Não há nada pendurado nas paredes enquanto eu
continuo mais para dentro da casa, olhando o que tem que ser
quem sabe quantas pessoas na próxima parte aberta da casa
com seus tetos abobadados.
Todo mundo está conversando, e há um filme sendo
exibido em uma grande televisão montada sobre a lareira na
sala de estar. Vejo mais alguns caras que tem que ser algum
tipo de atleta por causa de suas composições muscular e
postura, e um deles encontra meus olhos e sorri para mim.
Mas ele não é o jogador de futebol que estou procurando...
mesmo que eu não me importasse em olhá-lo em
circunstâncias diferentes.
Segurando minha bolsa um pouco mais forte, caminho
lentamente pela sala, procurando aquela cabeça de cabelos
claros em um mar de malditos gigantes.
Tento olhar para cada rosto, mas não consigo encontrar
o que preciso. O que conheço.
Ainda mais nervoso se instala no meu estômago a cada
minuto que passa. Eu vou encontrar Zac, fazer o que tenho
que fazer, e tudo vai ficar bem. E sim, eu tenho más notícias
para dar a ele, mas pelo menos não são piores. Ele será
educado. Talvez nós sorriamos um para o outro, e quero dizer
principalmente eu.
Eu não seguro nada contra ele.
Eu verei o homem que conheci, darei a ele sua mensagem
e depois voltarei à minha vida. Talvez eu o veja novamente em
mais uma década, e talvez não. Será mais fácil aceitar e pensar
nisso desta vez, pelo menos.
Vou em direção a uma porta deslizante perto de um
recanto do café da manhã que dá para o lado de fora,
percebendo que ela continua sendo aberta e fechada quando
os foliões entram e saem. Eu não vou perguntar se Zac está em
um quarto ou não, a menos que precise. Enquanto ando por
duas pessoas que estão voltando para dentro ao mesmo tempo
em que saio, o som de risadas me faz virar. Eu o avisto.
Eu quase dou uma olhada dupla.
Numa espreguiçadeira, ladeado por duas mulheres, está
um homem que vi na televisão cerca de uma hora atrás,
quando os comentaristas discutiam sua carreira. De um
zagueiro titular de uma franquia de bebês a... bem, quem
diabos sabe o que agora. O melhor amigo do meu primo. Meu
velho amigo.
Eu sugo visualmente o homem que não vejo
pessoalmente desde sempre, enquanto caminho, passando por
grupos de pessoas que não estão prestando atenção em mim.
Sempre houve... algo sobre Zac. Algo que não há exatamente
uma palavra para isso, faz parte de sua boa aparência, mas
principalmente algo dentro dele que atrai uma pessoa — que
atrai pessoas. Algo quase magnético, e posso dizer que ainda
está vivo e bem, até de certa distância.
Essa é uma das coisas que fez dele um quarterback ideal.
Isso e seu enorme coração.
Pelo menos eu pensava isso no passado.
O chapéu de cowboy exclusivo de Zac esconde o que sei
que são cabelos loiros escuros, cheios de mechas ruivas e um
pouco de marrom. Uma das últimas vezes em que o vi ao vivo
na TV, já faz muito tempo. Pego uma fatia de um sorriso branco
brilhante — um sorriso que conheço constante e
permanentemente de seu rosto — enquanto ele conversa com
uma das mulheres sentadas ao seu lado. Suas longas pernas
estão esticadas na frente dele, cobertas de jeans como sempre.
Mesmo quando nós éramos crianças, eu não conseguia me
lembrar de ele estar de short, a menos que estivesse na piscina
com sunga longa e folgada que Boogie sempre tentava puxar.
Sorrio para algumas pessoas que chamam minha atenção
enquanto caminho através da multidão ali no pátio, e
felizmente ninguém me agarra e pergunta se estou perdida ou
no lugar errado.
O nervoso faz meu estômago parecer um pouco estranho,
mas o ignoro. Este é Zac. Eu o conheci — eu o conheço — por
mais de metade da minha vida. Ele me enviou presentes de
Natal por um tempo. Eu o amava, e ele me amava há muito
tempo. Ele é o melhor amigo do homem que tem sido mais que
um irmão para mim.
E daí se Zac é um famoso jogador de futebol americano?
E daí se ele esteve na capa de revistas?
Ou se foi o rosto de uma franquia de futebol?
Em daí se em uma das últimas vezes que eu o vi
pessoalmente, sua namorada na época esmagou minha
preciosa e frágil autoestima em pequenos pedaços com seu
sorriso falso e palavras duras? Eu não tenho mais dezessete
anos. Não peso meu valor próprio contra a opinião de outras
pessoas.
E realmente, mais do que qualquer outra pergunta, e daí
se ele não respondeu a nenhuma das minhas ligações ou
mensagens de texto por anos? Eu já superei isso e faz muito
tempo. Não me ressenti por ele estar ocupado.
Esfrego os dedos suados um contra o outro e aperto os
lábios enquanto continuo.
A loira bonita sentada à sua direita é a primeira a olhar
para mim e, felizmente, ela sorri. A morena à sua esquerda
não. Ela realmente não mostra nenhum tipo de expressão
facial, mas há algo em seus olhos que não preciso ser leitora
de mentes para saber que é mais parecido com o que você está
olhando, vadia? Pssh. Como se isso fosse intimidador. Você
não sabe o que é assustador até ler o que as pessoas pensam
sobre você na internet.
Não é até meus pés pararem na frente dos três que o
chapéu de cowboy se levanta e um par de olhos azuis claros,
um azul tão puro e macio que quase pode ser chamado de azul
bebê, pousa em mim, fazendo o seu caminho para o meu rosto
e ficando lá.
Ele me observa, ainda sorrindo aquele sorriso que já vi
um milhão de vezes, que é só brincadeira e bom humor. Pelo
menos ele não ficou arrasado com o que aconteceu com seu
ex-time, certo? Isso é bom. Então, novamente, eu já o vi sorrir
quando sabia que ele estava arrasado. Isso é exatamente o que
ele faz.
Leva um segundo, mas eu sorrio de volta para ele, apenas
uma coisinha, sacudindo quatro dedos para ele que tenho
certeza que ele não nota porque seu olhar não se move para
nenhum lugar abaixo do meu pescoço.
E a primeira coisa que digo a um homem que me
carregava nos ombros, que me deu carona pelo bairro da
minha abuela no guidão de sua bicicleta, é “Oi, Zac.”
E não, não, isso não é uma maldita coisa agridoce
subindo pela minha garganta.
Ele pisca novamente e continua sorrindo enquanto fala
com uma voz que ficou mais profunda ao longo dos anos,
“Como vai você?” Casual e amigável como sempre. Como a
porra do Zac.
Vou até a ponta dos pés, mantendo o olhar fixo em um
rosto que, pessoalmente, posso ver o quanto amadureceu. A
suavidade que existia antes, que era toda infantil e fofa,
desapareceu principalmente, deixando uma estrutura mais
magra com maçãs do rosto altas e uma mandíbula angular.
Pequenas linhas finas agrupadas e ao longo de sua boca. Ele
tem trinta e quatro agora, afinal.
E ainda é mais bonito do que na adolescência ou na casa
dos vinte e poucos anos, especialmente quando sorria do jeito
que está fazendo naquele momento. Torto. Ainda descontraído
e amigável. Big Texas personificado.
Ele é bem-vindo.
“Oi”, eu digo a ele com cuidado, ainda observando seu
rosto bronzeado impressionante. “Sou eu.”
Eu. Vinte e sete, não dezessete. Meu cabelo está comprido
e solto. Quando eu era mais jovem, sempre o tinha preso
porque não sabia o que fazer com meus cachos para endireitá-
los. Eu também uso maquiagem agora. Modelo minhas
sobrancelhas. Perdi um pouco de peso. Mas eu ainda sou eu.
O sorriso dele se alarga um pouco mais, mas posso dizer,
apenas dizer...
“Bianca”, eu digo, subindo para as pontas dos meus pés
novamente.
Zac pisca e ainda…
Olho de um dos olhos para o outro, vendo a cor que ainda
é tão rica e percebo... ele não me reconheceu. Ele não...
lembra? Ou, se lembra, então ele não dá a mínima.
Não há abraço. Não, Bianca! Puta merda! Faz tanto tempo!
Estou tão feliz em vê-la! O que você está fazendo aqui?”
Ele apenas continua olhando para mim, sem expressão,
mas educadamente.
E...
Meu coração cai. Eu não previ isso. Eu não pensei que
poderia ou aconteceria. Eu não queria, mas ele se cai. Até o
meu estômago, pelo menos. Provavelmente até os dedos dos
pés. Porque ele era uma das pessoas mais importantes da
minha vida há catorze anos, e ele não...
Isso não importa.
Estou aqui por um motivo, e independentemente de ele
se lembrar de mim ou não, isso não muda nada. Ele não se
lembra de mim, mas eu me lembro dele.
Eu nunca esqueci Zac. Ao contrário dele.
Meus dedos do pé se curvam dentro do meu tênis, e forço
o sorriso no meu rosto por pura vontade, enterrando
profundamente a decepção enquanto tento... Então o enterro
ainda mais fundo. Dentro e fora. Vamos fazer isso. “Posso falar
com você em particular?”
Uma das bochechas dele sobe um pouco mais antes que
o homem que estava nas minhas festas de aniversário até que
ele partisse para a faculdade aos dezoito anos diga, “Aww,
querida, podemos conversar aqui, não podemos?”
Ele ainda está sendo doce. Claro que ele está.
Meus dedos do pé enrolam um pouco mais no meu tênis
enquanto me agarro a essa “doçura” e me lembro novamente
de que não estou sendo irritante ou inconveniente naquele
momento. Estou aqui por uma razão. Uma importante.
“Acho que seria melhor se conversássemos em
particular”, tento explicar conforme parte do meu cérebro tenta
aceitar que ele não se lembra de mim ou não se importa. Tento
me dizer que não importa qual é o caso. Mas vou para a opção
A porque a opção B dói um pouco demais, mesmo que não
deva. “Zac, sou eu. Bianca Brannen.” Tento novamente, só por
precaução. “Sua mãe está tentando ligar para você...” Eu paro,
esperando que ele entenda. Esperando que ele não me obrigue
a aceitar que ele sabe quem eu sou e simplesmente não se
importa, mesmo que meu cérebro esteja ciente de que ele não
se sente assim há algum tempo.
Ele assimila algo, porque seu próximo piscar é lento. Seu
olhar fica afiado de repente. A testa dele franze.
Ele é lindo.
Ele se endireita e me encara com aqueles olhos azuis
claros. Por tanto tempo, eu pensei que eles eram os olhos mais
gentis do mundo, e isso diz algo porque conheço muitas
pessoas boas. Mas nenhuma delas tem os olhos de Zac, e não
tenho motivos para acreditar que ele não é a mesma pessoa,
independentemente de ele me deixar pra lá como um mau
hábito. Boogie ainda não seria amigo dele se ele tivesse
mudado demais, sei disso. Mamá Lupe costumava chamá-lo
de mi cielo por um motivo. Meu céu. Porque ela via as mesmas
coisas nele — essa bondade inata. Ela o amava tanto quanto
amava seus netos biológicos.
Então digo a mim mesma duas coisas.
Uma, não ficarei triste se ele não se lembrar de mim.
Duas, não ficarei triste se ele não me quiser por perto. Eu
saí do nada e pedi o seu tempo quando ele está ocupado. Não
é como se ele estivesse sendo mau ou rude.
E você não pode fingir aqueles olhos.
Engulo em seco e subo na ponta dos pés novamente,
como se realmente me fizesse mais alta. As palavras parecem
grossas na minha garganta. Estou aqui por uma razão. “Eu não
estou tentando incomodá-lo. Boogie me pediu para vir. Ele está
ligando para você também e...”
Esse belo homem que foi visto nu na capa de uma revista
alguns anos atrás se levanta em cerca de meio segundo. De
repente, sua boca se abre quando aqueles olhos muito, muito
azuis se movem por todo o meu rosto rápido, ligeiro, voando, e
mal posso ouvi-lo quando ele ofega, literalmente ofega,
“Espere. Bianca?
Oh.
Na verdade, não consigo me lembrar de conhecer Zac.
Também não me lembro de ver Mamá Lupe ou Boogie pela
primeira vez. Minhas memórias mais embaçadas e distorcidas,
todas os incluem, como se estivessem por aí desde sempre.
Como se a vida antes deles não tivesse sido memorável o
suficiente.
Na minha cabeça e no meu coração, eles sempre
estiveram por perto. Desde o começo. Como meus braços e
meus olhos, eles estavam apenas... lá.
Eu sei que os conheci quando tinha três anos, quando
meus pais se mudaram para Liberty Hill com Connie, de quinze
anos, e eu, sua oopsie, seu bebê temporão no final da vida. Em
algum lugar ao longo do caminho, pelo que sabia no mesmo
dia em que chegamos à casa de Mamá Lupe, Boogie e Zac
estiveram lá, junto com algumas tias e tios que eu nunca
conheci que moravam na rua também.
Acho que foi um mundo totalmente novo, passando de
viver apenas com meus pais e Connie para estar cercada por
todos esses estranhos que eram da família. Segundo Mamá
Lupe, eu caí direto nisso. Eles alegaram que eu não tinha
vergonha, mas agora eu sabia o quão bom era quase todo
mundo do lado da minha mãe, então deve ter sido fácil me
acostumar com o meu novo ambiente por causa deles.
Tornou-se casa. A casa. As pessoas.
Meus pais também não ficaram lá por muito tempo.
Quando eu tinha quatro anos, eles se foram — como se
estivessem ligados e desligados pelo resto da minha vida —
para salvar o mundo e deixaram Connie e eu para trás com
Mamá Lupe e o resto da família.
O que eu me lembro é do menino mandão, de cabelos
escuros, que costumava dizer aos nossos outros primos para
calar a boca quando eles me chamam de “la guera” — a menina
branca, mesmo que eu fosse apenas metade, estúpidos — e o
garoto loiro e magro que sempre estava na casa da minha
abuela. Os dois sempre foram legais comigo. Eu meio que me
lembro deles sentados em sua sala, me ajudando a construir
merdas com grandes blocos, mas isso é o mais longe que posso
ir quando penso que eles estavam presentes e ali.
O que não me lembro é do dia em que supostamente
empurrei Zac para fora do caminho de uma cobra cabeça-de-
cobre no quintal e aparentemente salvei sua vida. Todo mundo
me falou sobre isso. O que tenho certeza é que o garoto loiro e
magro foi sempre, sempre bom comigo depois disso.
Ambos foram — meu Boogie e Zac.
E com o tempo, eu poderia puxar muito mais memórias
com eles depois disso. Como me ensinaram a andar de
bicicleta. Como me deixaram andar de bicicleta com eles, pelo
menos até sermos pegos e Mamá Lupe gritar da varanda da
frente para eu descer antes que eles me matassem, mesmo que
eu não estivesse com medo.
Se eles não me convidavam e eu me oferecia e eles sempre
me deixaram acompanhar. Lembro-me disso — nunca me
sentir excluída, sempre sendo acolhido por eles.
Aqueles dois, junto com Connie e minha avó, me fizeram
sentir amada e desejada.
Apesar da lacuna em nossas idades, crescemos juntos.
Eu e eles. Eles ficaram mais velhos e mais velhos e ficaram por
perto menos tempo, mas nunca se esqueceram de mim. Não,
então. Nem mesmo aquele que passou de loiro claro e magro
para loiro sujo e ainda magro.
Eles tiraram a CNH e eu tinha que ir para passeios.
Quando havia um jogo de futebol quando eles estavam no
ensino médio, eu era a criança que saía com seu primo legal e
mais velho. Eu era a garota que recebi um aceno do cara por
quem todos os alunos e pais nas arquibancadas torciam.
E quando eles foram para a faculdade, eu chorei. Mas eles
ainda voltaram para visitar, e eu os via alguns fins de semana
e todos os feriados.
E então completei dezesseis anos e me apaixonei pelo
homem loiro que ainda era magro, mas não tão magro, e me
tratava como uma irmãzinha.
E... a vida nunca mais foi a mesma depois disso.

***

Levo um segundo, mas respondo a Zac, enquanto minha


garganta dói e meu estômago revira um pouco. “Sim. Sou eu.
Bianca.” Levanto os dedos novamente e dou a eles outro
meneio que é meio idiota.
Os cílios, que estão em algum lugar entre loiros e
castanhos, caem sobre aqueles olhos azuis bebê. “Não”, ele
praticamente sussurra no que soa como descrença. Talvez até
choque.
Balanço a cabeça para ele, séria como um ataque
cardíaco.
Aqueles olhos se movem sobre meu rosto novamente
antes de ele erguer uma daquelas mãos grandes — tento não
pensar em como eu pensava que ele tinha as maiores mãos e
pés que já vi quando era mais jovem — e ele gentilmente coloca
a ponta do dedo indicador ao lado do canto da minha boca.
Literalmente, talvez a dois milímetros de distância. Bem acima
da marca de beleza que eu odiava quando era mais jovem. Eu
tentei encobri-la com a maquiagem de minhas tias e Connie
pelo menos uma dúzia de vezes.
O dedo de Zac fica ali, enquanto seu olhar volta para mim
e meu velho amigo pergunta, ainda basicamente sussurrando
em um sotaque atordoado, “Peewee?”
Oh.
Ele realmente não sabia que era eu?
Calor enche meu peito — alívio, é alívio, só um
pouquinho; Eu posso admitir — enquanto lhe dou outro
pequeno sorriso, hesitante, se for honesta comigo mesma.
“Sim” é tudo o que eu dou a ele, principalmente porque é tudo
que posso. Ok, tudo que eu consigo.
A boca de Zachary James Travis — zagueiro profissional
e meu velho amigo — fica aberta, mostrando-me todos aqueles
dentes brancos e perfeitos, antes que a mão que ele tem ao
lado do meu lábio caía, e a próxima coisa que sei é que ele está
balançando a cabeça e declarando alto, definitivamente muito
surpreso, “Você está zoando comigo.”
Eu balanço minha cabeça em troca.
Aparentemente, essa resposta é tudo o que ele precisa,
porque antes que possa fazer ou dizer qualquer outra coisa,
Zac dá um passo à frente e, num piscar de olhos, aquele corpo
de um metro e oitenta está lá. Bem na minha cara.
Bem na minha cara e depois me levantando para um
abraço que faz meus dedos saírem do chão no tempo que me
leva a piscar quando ele diz, alto e no que realmente parece
que ele está impressionado, “Eu não acredito nisso”, quando
ele me abraça com tanta força contra ele, para aquele corpo
grande e duro, tão perto.
Alguns anos atrás, isso teria instantaneamente aliviado a
maior parte da tensão no meu corpo.
Ele se lembrava de mim.
Ele ficou feliz em me ver.
E eu não choraria porque ele não tinha me esquecido
totalmente. Ou que ele não era totalmente culpado por me ver
depois de tanto tempo, também. Eu não consigo.
Eu não relaxo totalmente. Porque já faz quase uma
década e porque, embora entenda que ele está ocupado e têm
centenas de pessoas que querem algo dele, isso não apaga a
dor de antes. Não apaga as lembranças de olhar para o meu
telefone e me perguntar o que fiz de errado para fazê-lo não
querer ser meu amigo depois de tanto tempo.
Eu não o abandonei. Também tive uma vida. Uma vida
pela qual trabalhei duro. Eu tinha pessoas que se importavam
e me amavam por um motivo, porque eu merecia. Penso que
sou uma pessoa decente, na maioria das vezes.
E apesar de tudo isso, ignorando a fina fratura de dor que
ainda sinto, eu ainda o amo. Nem por um segundo eu deixei
de querer o melhor para ele. Não houve um momento na minha
vida que não torci por ele, apesar de ele ter me superado e
depois me deixado no passado.
Ele está feliz em me ver naquele momento, e eu aceitarei.
Levanto os braços e os envolvo em seu pescoço e abraço
aquele corpo comprido de volta, firmemente por um segundo,
como se o tivesse perdido. Porque eu tinha. Só por um
momento, pressiono minha testa contra um ponto ao longo de
seu pescoço quente e suave.
Não há mal nisso. Eu costumava abraçá-lo o tempo todo.
Eu não vou pensar por que não nos vemos há tanto
tempo. Eu não ficarei triste por passar mais dez anos antes de
nos vermos depois disso. Pelo menos eu não ficarei triste por
mais um minuto.
Após esse abraço e depois do que eu preciso fazer, a vida
pode voltar ao normal.
“Eu não acredito que é você, Peewee”, Zac Travis sussurra
com aquela voz ainda surpresa, o sotaque do Texas que ele
herdou de passar tanto tempo com seu Paw-Paw, grosso e
doce. Ele me segura tão forte e alto que mal posso tocar o chão.
E eu seria uma mentirosa se dissesse que não percebo o quão
duro e musculoso seu peito está pressionado contra mim.
Um daqueles braços compridos se solta, e o que tem que
ser a palma da sua mão, segura a parte de trás da minha
cabeça em um gesto que me surpreende ainda mais quando
seu riso rico e familiar enche o meu ouvido mais próximo da
sua boca. “Eu não posso acreditar nisso, porra.”
Eu não posso deixar de sorrir um pouco contra sua
bochecha, ainda bem ali naqueles momentos finais que estou
me dedicando a absorver sua atenção depois de tanto tempo,
bem contra o peito que vi nu inúmeras vezes antes que ele
tivesse algum cabelo nele, e me permito saborear sua alegria
inesperada.
Quando ele me abaixa o suficiente para que eu possa
tocar o chão novamente com os pés no chão, olho para ele,
ainda sorrindo. Sentindo-me feliz e surpresa também.
Aliviada.
O homem bonito por quem me apaixonei quando era mais
jovem e mais burra sorri para mim com uma expressão
espantada que ilumina suas feições de uma maneira que eu
teria apostado contra minha vida, há um mês. O olhar de Zac
se desvia para tudo abaixo do meu pescoço por uma fração de
segundo antes de voltar para o meu rosto, provavelmente
pegando minha polo da Casa Maio, meus jeans azuis lisos que
estão dobrados nos tornozelos por serem muito longos, e meu
tênis preto liso com sola branca que permitem suportar oito
horas por dia. E aquele sorriso branco e radiante fica ainda
mais amplo antes daqueles braços fortes se abrirem ao seu
lado, sua expressão corada e satisfeita e sincera e totalmente
enlouquecedora de Zac antes da NFO. “Não acredito que é você.
Quando diabos você cresceu, hein?”
Claro que ele não pode acreditar que sou eu. Ele não me
vê há muito tempo ou até me procurou.
E lá vai pelo menos metade da minha alegria.
Isso é realidade para você, um chute na maldita vagina
quando você precisa e mais ainda quando não precisa.
Ele continua sorrindo brilhantemente conforme aqueles
olhos azuis claros se espalham por todo o meu rosto enquanto
minha espinha se aperta e meus ombros caem com o seu
comentário. “Peewee, você é uma adulta”, meu ex-amigo
adiciona, alheio ao que ele me lembra.
Mas eu superei essa merda. Então, aceno com a cabeça
novamente e digo, um pouco fraca, “Na maioria das vezes.”
“O que você está fazendo aqui?” Zac pergunta com a
mesma voz excitada, ainda inconsciente. Seu rosto está todo
angulado agora, e de perto, seus olhos estão tão gentis como
sempre. Seu dedo surge para tocar na minha marca de beleza
novamente conforme ele balança a cabeça mais uma vez. “Eu
não posso acreditar que você está aqui, vivendo e respirando
na minha frente.”
Eu me lembro porque estou lá.
Começo a alcançar a pele loirinha envolta pelos músculos
duros de seu antebraço antes de parar. Que diabos estou
fazendo? Abaixo a mão de volta para o meu lado e me forço a
encontrar aqueles olhos azuis claros para que possa fazer isso.
“Podemos conversar em particular?”
O grande sorriso ainda em seu rosto machuca meu
coração, especialmente quando ele olha para a mão que eu
puxei para trás, e parte dele derrete lentamente. Mas ele
balança a cabeça depois de um segundo, sua expressão se
transformando em algo confuso e hesitante, refletindo meu
humor, eu só posso imaginar. “Onde você quiser, querida”, ele
concorda facilmente.
Em outras circunstâncias, em outra vida, suas próximas
palavras teriam feito o meu dia. Elas teriam me levantado e
feito o meu mês inteiro. Eu o amava — o amava — mas
provavelmente por uma centena de razões diferentes, não nos
víamos há quase um terço da minha vida. “Quando isso
aconteceu? Você mora aqui?” Ele pergunta como se tivesse
esquecido instantaneamente que quero falar com ele em
particular. “Eu sinto que estou imaginando isso.”
Estou aqui por uma razão. Certo. Ele precisa saber;
quanto antes melhor. Tenho que focar. Ele realmente não se...
importa. Na verdade, não. “Você sabe onde está o seu
telefone?” Pergunto a ele em vez disso.
Isso faz seu sorriso vacilar instantaneamente. “Não. Eu
emprestei para alguém. Pensei que tinham devolvido...”
Ele está em cima de mim. Talvez finalmente tenha
reunido o que eu disse sobre a mãe dele e o telefonema de
Boog, sobre ser enviada para cá, sobre querer falar com ele em
particular.
“Quer entrar?”
Ele começa a acenar antes de parar, cada linha do seu
corpo caindo. Seus olhos se movem de um dos meus para o
outro enquanto ele pergunta, com muito, muito cuidado, o
calor em sua expressão desaparecendo no milissegundo. “É...”
O pomo de Adão dele balança. Aqueles cílios longos e da cor de
areia se agitam, e a dor, a preocupação e o terror estão lá
quando a voz que era brilhante e acolhedora quatro minutos
atrás pronuncia três palavras. “É o Paw-Paw?”
Não quero contar a ele aqui na frente de seus amigos, e
não preciso olhar em volta de seu corpo para saber que tem
que haver um punhado de olhos postos em nós. Nele. Eu posso
sentir isso. Ele também tem que saber.
“Ele está no hospital e eles estão fazendo exames. Isso é
tudo que sei. Sua mãe e Boogie estão tentando ligar para você,
mas...” Você não atende. Porque ele emprestou a alguém seu
telefone enquanto está dando uma festa. Mas não é como se
ele não pudesse juntar isso sozinho.
O homem que eu supus que passou a maior parte de sua
vida rindo e sorrindo fica pálido em cerca de meio segundo.
Eu preciso continuar.
“Boogie me deu seu endereço e me pediu para procurá-lo.
Cheguei aqui o mais rápido possível”, explico, olhando o braço
que está pendurado frouxamente ao seu lado e pensando em
segurar a mão dele, como fiz inúmeras vezes quando era
pequena. Só que agora aqueles dedos em que eu teria
entrelaçado nos meus são dedos de um milhão de dólares
enquanto os meus estão no clube de mil dólares. Mas eu não
pego a mão dele. Nós não estamos mais lá. Eu me concentro
naquele rosto magro e sutilmente impressionante, com suas
linhas de risada que estão escondidas e lábios rosados e
aqueles quentes olhos azuis. “Quer usar meu telefone e ligar
para ele enquanto isso?”
Aqueles olhos se voltam para mim, e o pomo de Adão dele
balança novamente quando ele assente e levanta uma mão
para esfregar bem entre os músculos peitorais, lustrosos o
suficiente para que aquele toque os faça formar um vale. Não
havia músculos lá antes, isso era certo. Sua cabeça vira para
a direita e ele grita, “CJ! Você pode ligar para o meu telefone?
Eu tenho que encontrá-lo.”
“Com certeza, Big Texas”, com quem ele está falando
responde com uma voz grave e profunda.
Big Texas. Eu duvidava que ele ainda pensasse em mim
sempre que alguém o chamava assim. Eu tinha a sensação de
que fazia muito, muito tempo desde que ele pensou.
Enfio meu telefone em sua direção. Quanto mais rápido
ele fizer isso, mais rápido posso sair. “Se ele ligar, eu ajudarei
a procurar enquanto você entra em contato com sua mãe.”
Aqueles olhos azuis se movem em minha direção, mas
estão total e completamente distraídos, como se eu estivesse
lá, mas não estivesse. Eu também não posso dizer que o culpo,
não depois de como o dia está indo.
Meu pensamento é confirmado quando ele olha para o
meu telefone com olhos sem visão. O homem radiante e feliz
de um minuto atrás se foi totalmente, e imagino que ele precise
de um momento. Ou dez. Mas ele realmente precisa ligar para
sua mãe ou meu primo.
E eu preciso ajudá-lo a encontrar o telefone para poder ir
para casa.
Eu me virei para descobrir para quem ele pediu ajuda e
encontro um homem bem atrás de mim com dreadlocks loiros
platinados e amarrados em um rabo de cavalo, segurando um
telefone celular no ouvido e balançando o olhar ao mesmo
tempo. Ele não é muito alto — não como se eu fosse alguém
com quem conversar — mas ele está realmente em forma.
Depois de lançar um último olhar para Zac, enquanto ele olha
para o meu celular como se não se lembrasse de como usá-lo,
eu enfrento o outro homem novamente e chamo sua atenção.
Dois olhos castanhos escuros voam para mim.
“Oi. Se você ligar, eu procuro.”
O homem bonitão me olha com um aceno de cabeça, seu
olhar deslizando para a minha camisa polo por um segundo
antes de dizer, “Vou continuar ligando até que você o
encontre.”
“Combinado.”
Demora muito tempo andando pela casa e pela multidão
de estranhos para finalmente encontrar um iPhone tocando
com uma grande rachadura na tela em um lavabo perto da
porta da frente. Eu bufo.
Esse homem que costumava ter um contrato de oito
dígitos tem um telefone com uma tela quebrada. Não é tão
diferente do Zac que eu conhecia que usava fita adesiva nos
buracos de sua jaqueta, colou papelão na janela do carro por
dois meses após uma ex-namorada quebrá-la e sempre pedia
no menu de um dólar porque era mais barato do que comprar
uma refeição no drive-through.
Ele realmente não mudou muito ao longo dos anos. É
agradável. Se a vida, as pessoas, os fãs e os críticos não
tivessem feito isso, eu sentia que nada e nem ninguém jamais
faria. E isso era ainda melhor.
Ele ficou feliz em me ver, não havia como esconder isso.
Aperto atender quando CJ Daniels — White Oaks passa
pela tela. “Achei. Obrigada.” Recebo um grunhido em troca e
desligo.
O telefone de Zac vibra e a tela se ilumina. É uma segunda
natureza minha olhar para isso.
NOVAS MENSAGENS DE TEXTO
AMY BLONDEWAITRESS OKC, [mensagem de imagem]
E abaixo disso, há notificações mais antigas.
KEISHA BLDIVORCELAWYER OKC, [mensagem de
imagem]
STACY BROWNBANKER OKC, Acabei de ouvir sobre…
VANESSA, [duas novas mensagens]
AIDEN, Ligue para mim.
TREVOR, O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? ME LIGUE
DE VOLTA
Amy. Garçonete loira. OKC.
Keisha. Loira? Advogada de divórcio. OKC.
Stacy. Banqueira morena. OKC.
E uma Vanessa.
Pelo menos ele tem seu jeito de se lembrar das... pessoas
que conheceu.
Por um pequeno, estúpido, desnecessário segundo,
imagino se ele tem Biancas em seu telefone. Mas tão
rapidamente quanto essa pergunta entrou na minha cabeça,
eu a chuto para o lado, o mais longe possível.
Não é da minha conta.
Eu volto pela casa, mas não o encontro no quintal onde
ele estava. Quando o amigo dele, o cara de dreadlocks,
encontra meu olhar, levanto o telefone quebrado de Zac para
reconfirmar que o encontrei e dou-lhe um polegar para cima
com a mão oposta, dando um aceno irregular. Agora onde
diabos ele está?
“Acho que ele foi para o quarto”, a loira que estava
sentada ao lado dele fala do mesmo lugar em que estava;
chamando minha atenção. Ela aponta para cima.
Ela sabe onde fica o quarto dele. Isso também não é da
minha conta.
“Ele ainda está no telefone”, continua ela, com a voz
agradável combinando com o rosto bonito. “Ele está bem?”
Eu levanto um ombro. Eu não a conheço. Eu não vou
espalhar os negócios de Zac, principalmente para alguém que
pode ou não ter uma descrição após o nome dela no telefone
dele. Eu não consigo imaginar conhecer ou encontrar tantas
pessoas que preciso descrevê-las para me lembrar delas. No
máximo, algumas pessoas têm sobrenomes nos meus
contatos.
Então.
“Obrigada por me dizer.” Eu ofereço um pequeno sorriso
que é genuíno porque ela está sendo legal. Eu gosto de pessoas
legais.
Mas agora preciso descobrir onde ele está, recuperar meu
telefone e sair.
“Como você conhece Zac?”
Olho para a voz desconhecida e encontro a outra metade
do pão do sanduíche de Zac, a morena que me deu um olhar
desagradável, ainda me dando um desagradável depois de
fazer sua pergunta.
Eu dou a ela a única resposta que posso ou vou,
especialmente em torno de alguém que não me dá vibrações de
pessoas legais. “Somos família.” Ela pode fazer com isso o que
quiser.
Seu rosto diz que ela não acredita em mim nem um
pouco, mas eu não dou à mínima. Eu me viro e volto para
dentro depois de me despedir da outra mulher. Encontrando
uma escada curva na sala, subo, observando todas as paredes
brancas lisas que combinam com todo o branco lá embaixo
também. Eu não consigo ouvir nada acima das vozes no andar
de baixo enquanto caminho pelo corredor, espiando por todos
os cômodos abertos.
Cada um é diferente. O primeiro está quase vazio, exceto
por uma moderna cama queen-size e cômoda. No segundo
quarto, há uma réplica exata com outra cama queen-size e
tudo novinho em folha, nunca usado. O tapete também está
intocado.
O terceiro quarto que encontro tem uma cama king-size
que ocupa a maior parte dele, e há uma tela plana de tamanho
médio montada na parede. A porta do armário está aberta lá
dentro, eu posso ver uma pitada de roupas penduradas. Na
cama há uma camiseta. E é enquanto espio naquele quarto
que ouço a voz de Zac. Passo por uma grande sala de mídia
com quatro poltronas grandes e um projetor. Também parece
novo.
Eu o encontro no que tem que ser um quarto principal,
ou pelo menos um dos quartos principais em uma casa tão
grande. Eu ficarei surpresa se não houver um no andar de
baixo também. Um dia, quando estava entediada no trabalho,
procurei planos para um novo empreendimento pelo qual
passei, e algumas dessas casas não tinham apenas uma, mas
duas suítes. C-h-i-q-u-e.
Zac está com meu telefone na orelha e há uma mala
aberta em cima de um colchão king-size. Um edredom branco
liso e lençóis estão enrolados ao pé dele. Um par aleatório de
meias está ao lado de tênis manchados de azuis e cinza. Um
copo meio cheio de água está na mesa de cabeceira mais
próxima da porta do quarto... mas isso é mais do que uma
grande cômoda preta contra a parede. Também não há nada
nas paredes do cômodo. Nada pessoal. Sem bugigangas.
“Uh-huh, tudo bem”, diz Zac, fazendo contato visual
comigo quando paro no batente da porta antes de ele inclinar
a cabeça como se estivesse gesticulando para que eu entrasse.
Uma mão está cavando agressivamente o cabelo loiro escuro
que é exatamente da mesma tonalidade de que me lembro, só
um pouco mais do que normalmente o vejo usando na TV.
Entro. Estive no quarto dele algumas vezes, mas não
consigo me lembrar de como era. Há apenas imagens fracas de
um quarto bagunçado e desarrumado que cheirava a suor e
pés e algum tipo de perfume que sua tia lhe dera no Natal todos
os anos supostamente.
A saudade me atinge na barriga por aquele garoto mais
novo que eu amava como figura de irmão e depois como
fantasia, mesmo que ele tivesse me decepcionado seguindo em
frente com sua vida e me deixando para trás. Mas é passado,
e eu entendi.
Eu assisto quando Zac se vira para a cômoda, tira
algumas roupas e as joga na mala.
Mas eu vejo isso. Vejo ele.
Suas mãos estão tremendo.
Elas estão tremendo muito.
Merda.
Ele diz “ok” e “uh-huh” mais algumas vezes enquanto joga
mais roupas em sua mala. E sim, eu ouço o tempo todo.
“Estarei aí o mais rápido que puder. Amo você, Mama.”
A mãe dele.
Ele está segurando meu telefone com força quando
termina a ligação e fica lá. Ele tirou o chapéu de caubói em
algum momento — essa coisa marrom simples — e seu cabelo
está jogado por toda a cabeça, bagunçado. Posso ver à luz do
quarto que ele está realmente bronzeado de todo o seu
treinamento ao ar livre, e parece mais musculoso do que já vi.
Seu torso é magro e sem fim, os ombros tão largos
pessoalmente, aqueles braços fortes alinhados com músculos
musculosos; Isso me pega desprevenida.
Mas o rosto dele...
Isso me lembra novamente de quanto tempo faz desde
que eu o vi pela última vez pessoalmente. Ele está prestes a
completar 35 anos em alguns meses. Eu consigo lembrar um
pouco do seu décimo sétimo aniversário quando Mamá Lupe,
minha avó e a pessoa que tomava conta de Zac há anos, o
surpreenderam depois do treino de futebol com seu bolo tres
leches favorito — bolo feito com três tipos diferentes de leite.
Ela manteve a foto dele soprando as velas naquele dia, com um
enorme sorriso no rosto, em sua lareira pelo resto da vida. Você
mal pode me ver bem ao lado do ombro dele, todo rosto e
queixo, espiando o que eu sabia que seria um bolo incrível,
com Boogie do outro lado de Zac.
Eu mantive a foto depois que limpamos a casa dela anos
depois. Eu a coloquei em uma gaveta em uma das minhas
mesinhas de cabeceira. Eu com uma das minhas pessoas
favoritas e um amigo de infância que cresceu para ser uma
estrela. Eu poderia contar aos meus filhos sobre isso algum
dia. Eu salvei a vida dele uma vez, eu poderia contar a eles
também.
Bem, por enquanto, meu trabalho está feito. Eu posso ir
para casa, assistir um pouco mais do romance turco e pensar
na minha receita de chocolate e banana um pouco mais. Posso
ligar para Boogie amanhã e ver como está o Paw-Paw.
“Zac...”
“Você poderia me levar para casa?”
Eu congelo.
Ele quer que eu o leve? Quando ele tem uma casa cheia
de gente?
Olhos azuis encontram os meus, cheios de preocupação
e angústia e provavelmente uma dúzia de outras emoções que
não sei classificar ou o que fazer.
“Por favor?” Zac pergunta com uma voz calma que escapa
direto para o lugar dentro de mim que conseguiu segurar o
amor que eu tinha por Zac, mesmo depois de tanto tempo.
A lembrança dele me surpreendendo na formatura do
ensino médio, segurando um balão de gás hélio e acenando
para mim como um lunático enquanto eu me aproximava da
minha família, me atinge naquele momento. Ele estava
morando em Dallas naquele momento. Eu estava com os pais
de Boogie há alguns meses. Ele me avisou, viu a mensagem de
texto, que não sabia se conseguiria ou não, mas conseguiu.
Foi uma das últimas vezes que nos vimos, mas isso não
vem ao caso.
Ele veio quando não precisava, e agora...
“Claro”, digo a ele, apenas um pouco relutante,
observando seu rosto. Fico surpresa que ele ainda se sinta
bastante confortável perto de mim, para me pedir. E se me
pergunto novamente por que ele não atacou uma das muitas
pessoas em sua casa — ou o que quer que seja esse lugar —
mantenho a pergunta para mim. Não é da minha conta, e ele
não me pediria a menos que houvesse uma boa razão.
Sua mão vai até o rosto e ele a passa pela testa. Como ele
ainda pode parecer um garoto inocente e um homem adulto ao
mesmo tempo está além de mim. Ele engole em seco enquanto
fecha a mala silenciosamente, me dando um sorriso tenso
depois, antes de gesticular em direção à porta.
Ele não está chorando, então isso é um bom sinal, certo?
Isso significa que nada pode ser tão ruim. Talvez eu deva
mandar uma mensagem para Boogie e perguntar, uma vez que
trocarmos os telefones.
Ando pelo corredor em silêncio, desço as escadas da
mesma maneira também. Na parte inferior delas, paro e olho
por cima do ombro para o rosto firme e tenso que está ocupado
focando no chão. Suas bochechas parecem vazias, a boca rosa
clara, fina. “Você precisa conversar com alguém antes de sair?
Ou expulsar todo mundo ou algo assim?”
O homem que eu conhecia olha com olhos mais
angustiados do que gentis naquele momento, com a testa
franzida. “Não.”
Tudo certo. Ele sabe o que está fazendo.
Balanço a cabeça antes de entregar a ele seu celular, que
enfiei no bolso de trás enquanto ele estava conversando com
sua mãe. Ele o pega com um mergulho de queixo e depois
entrega o meu. Continuamos em frente, e não posso ignorar os
olhares dos estranhos na casa enquanto observam Zac
carregando sua mala de mão em volta e através deles. Se eu
esperasse alguma bagagem cara com iniciais e logotipos de
designers por toda parte, ficaria decepcionada. Sua mala é
preta e parece ter dado a volta ao mundo algumas vezes.
Talvez tenha.
“Ei, cara, onde você está indo?” Um cara pergunta
enquanto passávamos.
Ele parece familiar...
“Por aí. Até mais”, responde meu velho amigo, distraído.
Eu realmente preciso saber se há alguma notícia sobre
Paw-Paw.
Nenhum de nós diz uma palavra — no meu caso, eu não
sei o que diabos dizer — quando saímos pela porta da frente,
mais algumas pessoas gritam cumprimentos a Zac que ele
responde vagamente e com aquela voz estranha que parece que
pertencia a outro ser humano — um ser humano que foi
oprimido por um bloco de concreto preso aos pés.
Na rua e no meu carro, eu abro o porta-malas para que
ele possa colocar sua mala dentro. Ele fecha enquanto eu o
observo, aquelas maçãs do rosto altas pressionando sua pele.
Tristeza e preocupação estão estampadas na superfície delas.
Anos atrás, eu sabia o quanto ele adorava seu avô. Da mesma
maneira que eu adorava a mãe da minha mãe, minha Mamá
Lupe.
Completa e totalmente, porque era exatamente assim que
eles nos amavam.
Eu nunca poderia esquecer como me senti quando ela
teve seu ataque cardíaco. Desamparada. Desesperada. Como
se o mundo tivesse sido expulso de debaixo dos meus pés.
Talvez Zac não fosse meu amigo por quase um terço da
minha vida, mas ele esteve lá por mim, uma e outra vez, nos
primeiros dois terços. Quando Mamá Lupe morreu, ele me
abraçou enquanto eu chorava contra ele, preocupado com o
que eu faria a partir de então. E eu nunca poderia esquecer
que ele chorou também. Ele chorou pela mulher que tomou
conta dele durante uma década. Que continuava fazendo bolos
de aniversário para ele, mesmo depois de ter ficado tão
ocupado com as atividades depois da escola que não precisava
de outro par de olhos para vigiá-lo. E não posso esquecer que
ele me prometeu que eu ficaria bem.
Eu sabia o que minha avó e meu primo queriam de mim.
Sabia o que eles gostariam que eu fizesse por alguém que
amavam tanto. Isso não é sobre mim e o que quero e preciso.
Então eu faço. Ofereço a única coisa que posso, o que eles
quereriam, mas me preparo para ser rejeitada por precaução.
“Ei”, digo a ele, dizendo a mim mesma novamente para
me preparar para um inferno não. “Você precisa de um abraço?
Você pode dizer não.”
O homem magro e bonito na minha frente — parecendo
que tem o peso de um sistema solar inteiro caindo sobre seus
ombros — olha para mim por um momento.
Então ele assente.
Sou eu quem diminui a distância entre nós até que estou
olhando para ele, como fiz tantas vezes enquanto crescia. Eu
teria sorrido se essa fosse qualquer outra circunstância, mas
o avô dele está no hospital, não tenho certeza do que a mãe
dele disse e ele pode ou não saber o que está fazendo com sua
carreira agora que seu time da NFO — Organização Nacional
de Futebol — contratou outra pessoa para o seu cargo. Além
disso, estou confusa, magoada e aliviada ao mesmo tempo.
Então decido olhar direto para aqueles olhos que não são mais
familiares.
Vou até a ponta dos pés e deslizo os braços em volta do
pescoço dele. Ele é um estranho e, no entanto, não um
estranho, e puxo seu calor e a força de seu peito contra o meu
que, de certa forma, parece quase frágil naquele momento.
E isso me faz abraçá-lo ainda mais apertado.
Sim, ele me machucou. A distância dele me machucou.
Mas não é disso que se trata. Isso vai mais longe do que isso,
quando as coisas estavam boas entre nós. Muito melhores.
Zac espera alguns segundos antes de envolver os braços
no meio das minhas costas, e então me puxa ainda mais perto
daquele corpo dele, como se eu não fosse uma garota que ele
não vê desde sempre, como se o tempo não tivesse passado e
fora ontem que ele me viu depois dos jogos de futebol da escola
e me apresentou, a quem estava por perto, como Peewee.
Quando ele chegava em casa da faculdade para visitar e
deitava perto da televisão na casa de Mamá Lupe, jogando
travesseiros em mim quando eu estava sendo uma praga.
Eu quero perguntar a ele o que sua mãe disse, mas não
pergunto.
Quando sinto o peito dele se expandir com uma
respiração após a outra, ouvindo um suspiro aqui, seguido por
outro ali, deixo esse momento ser suficiente por um momento.
Hesito por um segundo antes de deslizar as mãos para cima e
para baixo nos músculos ao longo de suas costas, como eu
teria feito com qualquer um dos meus amigos ou entes
queridos se eles precisassem de conforto. Porque um terço da
minha vida atrás, eu teria lhe dado um rim se ele precisasse.
Tudo bem, eu ainda daria a ele, mas daria a praticamente
qualquer um se realmente precisassem e só me tivessem.
As coisas mudaram. As pessoas mudaram. A vida
mudou. Eu sei e aceitei.
Seu telefone começa a tocar e ele interrompe nossa
conexão e se afasta.
Eu encontro seu olhar. “Vamos lá. Você pode atender
suas chamadas enquanto dirijo.”
Zac, que parecia tão feliz em me ver trinta minutos atrás,
continua acenando com a cabeça como resposta, o resto de
seus traços totalmente sóbrios.
Envio outra mensagem para minha irmã bem rápido
antes de voltar para o carro.
Eu: Dirigindo para Austin e voltando. Avisarei quando
chegar em casa.
O homem no meu banco do passageiro fala, mas apenas
no telefone enquanto fala com quem eu acho que é seu agente,
seu gerente — que era um cara chamado Trevor que eu conheci
uma vez e pensei que ele era um idiota, que também era o
homem que tinha mandado uma mensagem para ele, agora
que eu pensei sobre isso — e meu primo Boogie. Ele
basicamente transmite aos dois primeiros que seu avô está no
hospital e que ele está voltando para casa para ficar com ele.
“Não tenho certeza de quando voltarei”, Zac diz a Trevor,
que, pelo que eu reuni, não está muito feliz com sua decisão
de deixar Houston. Consigo ouvir partes dele respondendo a
Zac com uma voz aguda e dizendo palavras como “tempo” e
“não pode se dar ao luxo de” e “o que você está fazendo?” Ao
qual Zac responde cerrando os dentes e respondendo com uma
voz irritada que “é Paw-Paw” e “família vem primeiro, Trev” e
“sim, ele está em casa; não se preocupe com isso.”
A conversa deles me interessa mais, honestamente. Mas
lembro a mim mesma novamente que não é da minha conta o
que aconteceu e eu apenas desejo a Zac o melhor, como sempre
farei.
Então ele liga para alguém que mora com ele, baseado
nas pistas.
“Ei, eu saí de casa. Meu avô está no hospital e tenho que
chegar em casa para vê-lo... Sim... Olha, chute todo mundo
quando estiver pronto. A equipe de limpeza estará aí amanhã;
Eu os chamei de manhã, então você vai ser bom... Sim. Tudo
certo. Desculpe, Ceej... Certo. Tchau.”
Depois dessas ligações, Zac quase não diz nada, mesmo
quando paro em um grande posto de gasolina com um logotipo
de castor a caminho de Houston. Ele fica sentado no carro e
me espera enquanto entro. Compro duas salsichas no palito e
duas bebidas, com a intenção de compartilhar uma com o
homem que está esperando no carro, mas quando tento
entregar uma, ele me dá um pequeno sorriso e sacode a cabeça
de cabelo loiro escuro. E pega a garrafa de água que eu comprei
para ele.
O Zac que eu conheci nunca recusaria uma linguiça no
palito — ou qualquer comida de verdade. É apenas um
lembrete de que, de certa forma, ele não é a mesma pessoa. Até
meu estômago apertado concorda.
Isso ou ele tem uma dieta realmente rigorosa que não
inclui carnes processadas. Quem diabos sabe? Fico com a
opção B para me sentir melhor.
Dirijo com os pulsos, mãos cheias enquanto como as
duas salsichas porque elas não vão para o lixo, e nós — pelo
menos eu — ouvimos um podcast sobre afirmações e a história
dos feijões.
Mas, sim, o passeio inteiro é gasto sem que nós digamos
uma palavra um para o outro. Quando antes, nós dois
teríamos falado sem parar sobre tudo e qualquer coisa. Ele
falaria, e eu também.
É apenas mais um lembrete de que somos pessoas
diferentes.
Felizmente, eu não esperava nada, especialmente não
isso — levá-lo algumas centenas de quilômetros de volta à área
onde crescemos. Pelo menos eu não trabalho no dia seguinte.
Penso em ficar na casa de Boogie, para não dirigir para casa
no escuro, mas imediatamente decido contra. Preciso filmar
amanhã, e Deepa me avisou que ela tem algo para fazer à
tarde, então temos que começar cedo.
As horas passam rápido, pelo menos, e Zac finalmente
mencionou uma vez em qual hospital Paw-Paw está, chegamos
perto do norte de Austin e temos que usar o aplicativo de
navegação para chegar lá, pois não consigo me lembrar.
“Chegamos”, digo a ele quando paro em frente ao centro
médico.
Zac levanta a cabeça de onde está encostada na janela
pela última hora e suspira. Isso faz meu coração doer um
pouco. Tudo bem, talvez mais do que um pouco.
Estendendo a mão, coloco em seu ombro, dando um
tapinha rápido no que provavelmente será a última vez em
muito tempo. “Você precisa de mais alguma coisa antes de eu
ir?” Pergunto-lhe gentilmente enquanto tento encarar aquele
rosto não familiar pela última vez.
Você sabe, pelos velhos tempos.
Ele realmente ficou mais bonito. Se eu fechar um olho,
ele parecerá à inspiração de um ou dois príncipes da Disney.
Bom para ele.
As bordas de sua boca se abaixam quando ele franze a
testa para mim e pergunta com a mesma voz baixa e dolorida
de horas atrás, “Você vai embora?”
Bem, sim. Eu ia. Mas agora, com ele olhando para mim
todo estranho e triste...
Talvez... não?
Merda.
“Eu posso ficar se você quiser”, ofereço hesitante antes
que possa pensar demais ou inventar uma desculpa por que
preciso ir. Eu não tenho certeza do por que ele iria querer que
eu, de todas as pessoas, ficasse, mas...
Eu definitivamente não esperava o aceno com o qual ele
me responde instantaneamente, isso é certo.
Ele realmente quer que eu fique?
OK. Eu posso. Um pouco. Apenas o tempo suficiente para
deixá-lo com alguém e dizer oi ao meu primo. Nós conversamos
muito por mensagem, mas já faz quase dois meses desde que
nos vimos pessoalmente. Viajar a trabalho consome muito de
seu tempo ultimamente. A namorada dele também.
Balanço a cabeça para trás, dando a ele um pequeno
sorriso que é principalmente incerto — enquanto por dentro
estou surpresa pra caramba e tão confusa — e dirijo para
encontrar a garagem, entrando no primeiro espaço aberto
grande o suficiente para que eu possa estacionar facilmente.
Eu sou ruim em estacionar. E em dar ré. Todo mundo me
provoca por estacionar a uma milha de distância em todos os
lugares.
Zac não faz nenhum comentário quando preciso de duas
tentativas para entrar decentemente.
Penso na mala preta lisa no meu porta-malas e imagino
que irei pegá-la assim que souber o que está acontecendo, já
que ele tem outras coisas com que se preocupar. Zac e eu
caminhamos lado a lado para o hospital, e não posso deixar de
olhar para o rosto dele algumas vezes. Suas sobrancelhas
estão baixas, e ele parece cansado. Eu espero novamente, mais
do que tudo, que Paw-Paw esteja bem.
Ninguém presta muita atenção em nós enquanto
caminhamos pelo hospital. Inconscientemente, espero que
todos no mundo o reconheçam, especialmente na área de
Austin, onde ele foi o herói de todos pela maior parte de sua
vida. Zac foi um ícone aqui em seus dias de faculdade. Nas
ocasiões em que fui convidada para sair para comer com eles
naquela época, alguém sempre o reconhecia e tentava pagar
por sua comida ou lhe comprar uma.
Foi estranho, embora tivesse sido da mesma maneira, em
menor escala, quando ele estava no ensino médio.
Mas quando passamos pelos funcionários da recepção e
pelas pessoas aleatórias sentadas nas áreas de espera,
ninguém olha duas vezes em nossa direção. Por outro lado, Zac
é alto, mas não muito alto, e magro e musculoso, mas não
sobrecarregado com músculos volumosos, como os gigantes
com quem ele brinca. Há também o fato de que seu cabelo não
é atraente em sua cor e comprimento. Seu rosto é muito bonito,
mas não há nada que obrigue alguém a olhar em sua direção.
Definitivamente, não há nada de ultrajante em suas roupas
também.
Realmente, ele parece um cara atraente todos os dias.
Exceto que ele não é, na verdade, telefone quebrado ou
não. Eu não vou esquecer isso.
As bochechas da bunda de Zac estão coladas na capa de
Anatomy Issue da TSN — uma edição especial que a Sports
Network lança uma vez por ano que apresenta a anatomia de
um atleta profissional. Vulgo, eles estão todos nus, mas com
as joias da coroa fora de vista. Comprei uma cópia para apoiar.
Assim como milhões de outras pessoas. E tenho certeza de que
ainda está escondida na minha gaveta da mesa de cabeceira.
No hall do elevador, entramos com um casal assim que o
telefone de Zac começa a tocar mais uma vez. Ele o tira do
bolso, dá uma espiada e depois o coloca de volta onde estava.
Ele me pega olhando para ele e sorrio. Ele sorri de volta,
mas não está nem perto de estar no mesmo nível em que estava
quando me viu pela primeira vez horas atrás. “Um antigo
companheiro de equipe”, ele explica em uma voz que eu nunca
ouvi dele antes, mesmo na TV com pessoas empurrando
microfones em seu rosto e perguntando o que havia de errado,
ao mesmo tempo sugerindo que perder foi culpa dele. Ele está
tão preocupado.
Acabo de me contentar com outro aceno de cabeça,
enquanto me pergunto se é um “velho” de Oklahoma ou de
antes.
Uma de suas bochechas se ergue um pouco mais em um
sorriso apenas um milímetro maior que o anterior. “Obrigada
por me trazer, querida”, ele diz com uma voz cansada e
distraída.
“De nada.”
Quando as portas se abrem, saio na frente dele, seguindo
as placas. Paro na mesa e assino meu nome, sentindo Zac
ainda atrás de mim. Então preencho James Travis por ele,
decidindo que seu primeiro nome é demais. Você nunca sabe
quem pode ler a folha de entrada. Eu sei que sim.
“Eu também te registrei”, digo enquanto me viro.
Aqueles olhos azuis familiares e desconhecidos deslizam
para mim, seu queixo dobrado. “Obrigado”, ele repete, a voz
ainda baixa e plana.
Estamos andando por uma área de espera envolta em
vidro quando alguém grita: “Zac! B!”
Eu conheço aquela voz. Eu amo essa voz.
Eu me viro, já sorrindo, porque não posso evitar, apesar
das circunstâncias. Com certeza, Boogie está acenando para
nós conforme se levanta do assento em que está. De calça justa
e camisa sob medida, ele tem que ter vindo direto do trabalho.
Mas um olhar para a sala de espera me diz que ele não está
sozinho. Uma mulher está sentada no assento ao lado daquele
em que ele esteve. Ela levanta a mão e eu a minha. A namorada
dele.
Bleh.
Desviando o olhar dela, posso observar Boogie e Zac se
abraçando.
O de trinta e cinco anos e o de trinta e quatro anos. Eles
são melhores amigos desde a terceira série, quando Zac se
mudou para Liberty Hill para ficar mais perto dos avós, que
por acaso empregavam o pai de Boogie na época. Seus pais
nunca se casaram, e não tenho certeza se Zac sabe quem é seu
pai.
Boogie e Zac se conheceram na casa de Mamá Lupe
quando ela começou a ficar de olho nele depois da escola,
enquanto sua mãe trabalhava. Eles estudaram na mesma
escola no fundamental II e ensino médio. Mesmo quando Zac
estudou em Austin e Boogie estudou em San Antonio, eles
ainda se viam pelo menos um fim de semana por mês. Quando
Boogie ia aos jogos de Zac, ele sempre vinha me buscar e me
levava com ele. Então voltava depois de me deixar e sair com
ele... e com quem mais eles estavam.
Ao contrário do meu relacionamento com ele, eu nunca
duvidei do quanto aqueles dois se importam um com o outro,
especialmente em situações como essa, onde tenho certeza que
Boogie veio direto ao hospital para ficar com a família de Zac.
Mas esse é exatamente o tipo de cara que meu primo é e é uma
das muitas razões pelas quais o amo pra caramba. Ele é uma
das pessoas mais altruístas e leais do mundo.
Como sua namorada burra já aprendeu.
“Ele está consciente”, ouço Boogie dizer enquanto os dois
homens se abraçam. “O médico acha que seus níveis de açúcar
no sangue caíram. Descobriremos mais em breve. Ele teve
muita sorte.”
A cabeça de Zac cai para frente até descansar no ombro
do meu primo, e não perco a respiração aliviada que ele solta.
Também não sinto falta do seu “Bom deus.”
Meu primo dá um tapinha nas costas dele com força.
“Sua mãe está com ele. Eles têm um limite de dois visitantes.
Ele estava perguntando por você antes. Vá lá.”
Zac assente, e depois de outro tapinha nas costas, eu o
vejo dar um passo para longe do meu primo. Ele deve ter
olhado para a sala de espera como eu, porque um segundo
depois, levanta a mão da mesma maneira que eu e a solta
quase imediatamente.
Talvez Connie e eu não sejamos as únicas inseguras
sobre a namorada de Boog.
Isso me faz sentir um pouco menos odiosa.
Então eu o vejo olhar por cima do ombro para mim e dizer
a última coisa que eu esperava pela segunda vez em um dia.
“Você vem Peewee? Dizer oi para Mama?”
Ele acha que eu não a vejo há anos também?
E como eu poderia dizer não para dizer a Sra. Travis um
oi? Especialmente quando ele ainda a chama mama de forma
tão doce e com esse sotaque? Não posso, esse é o problema. O
limite de duas pessoas que se dane. Eu sairei se alguém
reclamar.
Eu balanço a cabeça para Zac provavelmente pela
vigésima vez e dou um rápido abraço e beijo na bochecha de
Boogie. Conversaremos mais tarde. Eu até levanto a mão mais
uma vez para a ruiva falsa também, porque machucaria os
sentimentos de Boogie se não o fizesse.
Zac e eu seguimos pelo corredor até o quarto de Paw-Paw,
seguindo os dígitos afixados em cada porta branca estéril. Um
homem e uma mulher estão de pé no posto de enfermagem, e
vejo a mulher nos olhar, olhar para baixo e depois olhar duas
vezes. Bem, não fui eu quem a fez olhar duas vezes. Ela dá
uma cotovelada no homem de bata ao lado dela e sussurra
algo.
Estou prestes a dizer algo para Zac, mas depois percebo
que ser reconhecido provavelmente é uma notícia velha para
ele.
Fecho a boca e continuo assim quando Zac olha e vê a
plateia. Ele levanta a mão grande novamente quando diz com
uma voz cansada: “Boa noite.”
A mulher o cumprimenta de volta. O homem não diz
nada.
Isso deve ser suficiente, porque Zac olha para mim com
estresse nublando aqueles olhos azul bebê. E eu seria uma
mentirosa se dissesse que uma onda de ternura não me atinge
naquele momento. “Obrigado por vir comigo”, ele diz em uma
voz fina como uma casca de ovo que parece seriamente
exausta, seu público esquecido. “Espero que Paw-Paw esteja
acordado. Ele adorará ver você.”
Eu não seguro um pequeno sorriso. “É o que ele sempre
diz.”
Zac está olhando para frente enquanto pergunta:
“Quanto tempo faz?”
“Mmm, não faz muito tempo”, admito, olhando para
frente também porque quero, não porque não quero fazer
contato visual.
Silêncio.
Então: “Quando foi a última vez que você viu Mama?”
Meu velho amigo fala em um tom que poderia me fazer olhar
para ele se eu tivesse algumas bolas... mas eu deixei cair as
minhas pelo caminho, em algum lugar. Provavelmente fora de
casa.
“Mesmo tempo. Na festa de aniversário de Boogie.” Em
março. “Eles disseram que você estava nas Bahamas.” Isso e
eu vi as fotos que ele postou em sua conta no Picturegram.
Havia uma dele em um iate cercado por água azul esverdeada
com dois companheiros de equipe e cinco mulheres. Boogie
alegou que foi convidado para ir, mas não conseguiu tirar uma
folga.
Olhando para cima, noto que Zac fez a menor e mais
minúscula cara. Eu me viro ao mesmo tempo em que ele olha
de relance.
Aponto para a porta que estamos procurando. “Olha, é
essa.” Sem esperar por ele, bato levemente e empurro a porta
lentamente, gesticulando para ele entrar primeiro.
Uma mulher familiar, com cabelos loiros escuros, está
sentada em uma poltrona reclinável, voltada para uma
pequena televisão na parede, com os braços cruzados sobre o
peito. Mas é no homem idoso deitado na cama do hospital com
os braços ao lado do corpo que me concentro. Ele tem alguns
tubos presos nos braços e um no nariz, e o mais importante,
seus olhos também estão grudados na televisão.
Acho que eles não me ouviram bater, porque no segundo
em que Zac dá cerca de quatro passos para dentro do quarto
do hospital, Paw-Paw Travis ofega e segue sorrindo tão grande
que ocupa a maior parte de seu rosto marcado e desgastado.
Aos oitenta e nove anos, seus cabelos são todos brancos e
macios, onde geralmente ele tinha todos os cabelos bem
penteados e bonitos.
“Zac”, o velho cantarola quando levanta a cabeça e mostra
a boca cheia de dentaduras. Eu sei que são dentaduras,
porque ele me deixou vê-las uma vez quando se soltaram. Paw-
Paw Travis deve ter me visto pairando atrás de seu neto,
porque ele solta um suspiro, aquele grande sorriso ainda em
seu rosto enquanto ele engasga meu nome naquele sotaque
grosso que até deixa Zac envergonhado. “Bianca.”
Pelo menos ele me reconhece.
“Oi, Paw-Paw Travis”, eu o cumprimento no momento em
que Zac chega à cama e imediatamente se inclina, deslizando
um braço sob a cabeça do avô sem esforço, seu braço livre se
curvando para abraçá-lo. Sorrio e não deixo de ouvir o soluço
que toma conta de Zac quando ele diz quem sabe o que no
ouvido do homem mais velho. Olho para a Sra. Travis, filha do
Sr. Travis, e a pego sentando e sorrindo cansada para o pai e
o filho enquanto eles se abraçam. “Oi, Sra. Travis.”
Ela se levanta com um suspiro exausto e nos abraçamos.
Eu a conheço desde que conheci seu filho. Nós não fomos tão
próximas enquanto eu era pequena — ela era uma figura
materna que trabalhava muito, e ela meio que me intimidava,
uma vez quando ela literalmente agarrou Zac pela orelha e o
arrastou para fora da casa de Mamá Lupe — mas ao longo dos
anos, nos aproximamos por causa de Boogie. “Bianca, muito
obrigada por trazê-lo”, diz a mulher.
“Não foi nada”, respondo, ainda no meio de um abraço.
“Alguma novidade?”
Ela se afasta e abaixa a voz apenas o suficiente para
sussurrar: “Estamos aguardando alguns resultados dos
exames. Tivemos sorte de encontrá-lo tão cedo.”
“Estou tão feliz que ele esteja bem. Tenho certeza que isso
te assustou muito. Precisa de alguma coisa? Posso fazer
alguma coisa?” Pergunto à mulher de cabelos loiros e olhos
azuis que se ergue sobre mim. Eu perguntei uma vez quão alta
ela era, e ela riu e disse um e setenta e oito.
“Não, não, eu estou bem. Boogie saiu correndo e nos
comprou um jantar mais cedo.” Ela aperta minha mão e abaixa
a voz ainda mais. “Meu bebê comeu alguma coisa?”
O bebê dela. Pfft. Eu quase rio.
Nós duas olhamos para a cama e encontramos Zac
estendido sobre ela ao lado de seu avô, de frente para ele, a
cabeça apoiada nos bíceps enquanto eles sussurravam um
para o outro. Esse homem crescido na cama com seu avô
igualmente comprido é muito adorável; eles parecem gêmeos
com lapso de tempo.
E, apesar de tão bonito quanto Zac parece com Paw-Paw,
estou prestes a denunciá-lo para sua mãe de qualquer
maneira. Eu não tenho certeza de ter feito isso antes. Essa é
uma das principais razões pelas quais ele e Boog sempre me
deixaram sair. Bem, isso e a coisa de salvar sua vida, eu
imagino. Os traidores sofrem as consequências, vadia, Connie
me ensinou quando eu tinha uns cinco anos.
Eu estava por perto quando Connie ensinou a filha o
mesmo ditado — menos a parte da vadia — e impressionou
minha irmã arrastando meu polegar pela garganta enquanto
fazia isso. Rimos muito depois, quando minha sobrinha não
estava por perto. Eu preciso visitá-las novamente em breve.
“Não, não comigo. Ele ficou realmente preocupado.”
“Como ele deveria estar.” Ela suspira; a atenção ainda
focada nas duas gerações de homens. “Muito obrigada por
encontrá-lo para nós. Boogie disse que ele teve que ligar e tirar
você do trabalho para procurá-lo.”
“Não é grande coisa. Eu estava quase terminando meu
turno quando ele ligou. Não foi nenhum problema.”
Os mesmos olhos azuis leitosos e claros de Zac, mas em
um rosto muito mais feminino, deslizam em minha direção. A
Sra. Travis é linda. Uma mulher bonita, pensante e avaliadora,
que sabe desde a nossa última interação que eu não via o filho
há anos. Aposto que ela não esqueceu essa parte.
“É difícil acompanhá-lo hoje em dia. Se ele conseguisse
se acalmar e ficar em algum lugar, comprar um lugar próprio,
nós não precisaríamos procurá-lo o tempo todo. Deus sabe que
mando listas de casas a cada duas semanas próximas a Paw-
Paw e a mim, mas ele simplesmente não cria raízes com nada
ou ninguém”, ela me diz calmamente e com uma expressão
exasperada.
A única coisa que eu posso fazer era sorrir para ela e
acenar com a cabeça como tendo entendido.
E acho que, de alguma forma, entendi.
E se esse comentário sobre se estabelecer com qualquer
coisa e alguém não é minha sugestão para sair dali, não sei o
que é. “Se estiver tudo bem, deixe-me dar um abraço em Paw-
Paw, e vou sair daqui antes que você tenha problemas por ter
muitas pessoas por perto.”
A Sra. Travis assente.
Vou até a cama enquanto Zac e Paw-Paw continuam
conversando. Assim que o homem mais velho me vê, ele para
de falar e me dá um sorriso cansado, mas de alguma forma
brilhante. Sua voz profunda e doce é fraca. “Você veio até aqui
para ver como eu estou?”
“Você sabe que sim.” Sorrio para ele antes de olhar para
Zac e sentir uma pequena parte da minha expressão
desaparecer. Olho de volta para o homem mais velho. “Você
gostou do presente que eu trouxe, Paw? Ele foi muito difícil de
encontrar.”
A mão do Sr. Travis, conectada a tubos, desliza pela cama
e dá um tapinha no quadril coberto de jeans do neto. “Melhor
presente que alguém já encontrou para mim. Deus te abençoe,
querida.”
Eu me inclino para frente e beijo o homem mais velho na
bochecha. Ele ainda tem um indício de colônia agarrada a ele.
Eu gosto. “Precisa de alguma coisa?”
“Sair daqui.”
Eu sorrio. “Vou falar bem de você para o médico, ok?
Talvez ele te deixe sair daqui mais cedo. Contrabandearemos
você, se não.”
“Isso seria muito bom, querida. Como está o trabalho?”
Ele pergunta com um bocejo repentino.
Esse é o meu segundo sinal para sair. “Tenho um novo
chefe, e ele é um idiota, mas estou lá.” Eu me abaixo e penteio
seu cabelo para o lado com meus dedos enquanto ele boceja
novamente. “Eu vou sair daqui antes que eles me expulsem.
Eles não querem que seu fã-clube ocupe todo o andar. Se você
precisar de alguma coisa, me ligue ou alguém mais me ligue,
ok?”
Seu sorriso fica suave, e me esforço para continuar
ignorando o conjunto de olhos que estão apontados para mim
desde o momento em que me aproximei da cama. “Eu vou”, ele
me assegura.
Acaricio a mão do Sr. Travis, suas veias grandes, azuis e
roxas, quando Zac se senta um pouco.
Certo. Hora de dizer tchau. E vou fazer isso direito,
porque Mama Lupe me assombrará nos meus sonhos hoje à
noite se não o fizer.
E também, a vida é curta, e eu não estou ressentida.
Apenas um pouco melancólica e agridoce. É isso.
Zac está sentado no momento em que chego ao seu lado,
e não hesito em colocar meus braços em torno das partes dele
que posso alcançar, abraçando-o também — não muito
apertado, mas apenas o suficiente.
Aqueles braços longos que sei que tem que ser fortes
passam pelas minhas costas instantaneamente.
Eu não mentirei para mim mesma; Eu quase suspiro.
Realmente senti falta desse cara, apesar de tudo. Mas há uma
razão pela qual os amputados sobrevivem e prosperam; você
aprende a viver sem.
Eu me afasto e sorrio um pouco quando digo ao homem
bonito olhando para mim: “Eu tenho que ir para casa. Você
ficará bem sobre voltar?”
“Você vai voltar agora?” O homem que eu não vejo há
quase uma década pergunta, me assustando. Mais uma vez.
Eu assinto.
“Você não pode passar a noite?”
Ele está com uma lista de surpresas, não é?
É bom saber que eu posso valorizar a amizade que
tivemos pelo resto da minha vida e continuar orgulhosa disso.
Meu amigo é um bom homem para as pessoas que ama. Ser
famoso e rico é apenas a cobertura de cereja no sundae. Esse
conhecimento me levanta e me mantém lá, longe o suficiente
para não ficar triste.
As coisas acontecem por uma razão.
“Não, me desculpe. Eu tenho que voltar para casa. Vou
fazer com que Boogie pegue sua mala no meu carro, para que
possa ficar aqui em cima”, falo rapidamente antes de subir na
ponta dos pés e beijá-lo na bochecha, como havia feito com seu
avô. Então dou outro pequeno sorriso quando meus olhos o
encaram uma última vez.
Ternura e nostalgia enchem meu estômago por um
segundo enquanto observo aquelas feições bronzeadas que
estão envelhecendo tão graciosamente, e não posso evitar. Eu
realmente não consigo quando toco sua coxa com as pontas
dos dedos por um segundo e solto o apelido que não uso desde
sempre. “Cuide-se, Snack Pack. Estou super orgulhosa de
você.”
Um leve e lento sorriso toma conta da metade inferior do
rosto de Zac quando seu olhar se fixa no meu, mas é Paw-Paw
quem ri do que eu o chamei.
Antes de ele ter sido “Big Texas”, ele foi “Zac the Snack
Pack.”
Certo.
Hora de ir.
Dou um passo para trás e aceno para os três. “Faça o que
o médico lhe disser, Paw-Paw Travis. Tchau!”
“Tchau, Bianca”, três vozes diferentes gritam. Ou pode ter
sido apenas duas delas. Eu não vou me perguntar muito sobre
isso. Zac pareceu genuinamente feliz em me ver no começo, e
isso foi bom o suficiente.
Estou fora de lá, abrindo a porta e fechando-a atrás de
mim, e então parando instantaneamente.
Porque do outro lado do quarto de Paw-Paw estão o que
parecem dez pessoas.
E todos estão olhando a porta como falcões.
Sim, a senhora reconheceu Zac.
Decido dizer a Boogie para avisá-los sobre a multidão do
lado de fora da porta — embora isso possa funcionar a seu
favor. Talvez eles sejam mais agradáveis com Paw-Paw se
soubessem quem é seu neto. Eles devem ser legais com ele
porque ele é maravilhoso, mas o que funcione, vale.
Encontro meu primo na sala de espera ao lado da
namorada dele. Ambos estão debruçados, digitando em seus
telefones. “Boogie Bolseiro, estou indo embora.”
Meu primo levanta-se com um bocejo. A camisa branca
está enrugada e a calça ainda pior; a única coisa que ainda o
favorece são seus sapatos pretos brilhantes, seu cinto
igualmente brilhante e o relógio caro e sofisticado que ele
comprou no seu trigésimo aniversário. Sobre a cadeira livre, ao
lado da cadeira em que ele está, está a jaqueta e a gravata.
Atrás dele, sua namorada está em seu assento.
“Você não quer passar a noite?” Ele pergunta me dando
outro abraço quando está perto.
Balanço a cabeça contra seu ombro, talvez pela
milionésima vez na minha vida. “Vou filmar amanhã”, explico
quando nos afastamos. “Virei visitar quando tiver outro fim de
semana de folga, se você não estiver ocupado.”
Eu quero desviar o olhar para a namorada dele, mas não
o faço. Prometi a mim mesma não ser uma idiota.
Principalmente, no entanto, eu não faço isso, porque só
machucaria Boog se ele visse.
Meu primo-irmão suspira, mas assente. Ele está
deixando sua barba crescer, e parece bom. “Você vai ficar bem
dirigindo de volta?”
“Oh sim. Ainda não estou cansada; vai ficar tudo bem.”
Ele continua franzindo a testa, então eu cutuco seu
sapato de sola vermelha com a ponta do meu tênis, tomando
cuidado para não arranhá-lo. Eu o provoquei por dez minutos
na primeira vez em que bisbilhotei seu armário e vi todos os
seus sapatos caros. Tinha voltado para quando o que eram
essas coisas estava acontecendo, e ele está filmando.
“Venha até o estacionamento comigo. Zac deixou sua
mala no meu porta-malas.”
Por trás dele, sua namorada diz, provando que está
ouvindo: “Vou esperar aqui.”
Boogie olha por cima do ombro. “Você tem certeza,
querida?”
“Sim, querido”, responde sua namorada nos últimos dois
anos.
Eu sei que é cruel e não me importo, mas graças a deus.
Quanto menos tempo ela estiver por perto, melhor.
Meu primo passa o braço por cima do meu ombro depois
de dizer algo em resposta. Balanço os dedos para ela
brevemente, obtendo um sorriso tenso e um aceno de volta, e
então partimos. Eu o chuto na parte de trás de sua perna, e
ele me chuta de volta. Eu o cutuquei, e ele me cutuca de volta.
Quando entramos no elevador, ele se vira para mim e franze a
testa. “O que há de errado?”
“Estou segurando um peido pela última hora e meia, e
meu estômago está doendo”, digo a ele, pressionando as
palmas das mãos na parte inferior do estômago. “E tenho
tentado não pensar nisso.”
Boogie começa a rir, passando a mão no rosto. “O que há
de errado com você? Espere até você entrar no seu carro para
fazê-lo.”
“Estou tentando”, eu gemo. “Mas isso dói.”
Realmente estou tentando. Eu exagerei comendo
salsichas e não apenas uma.
Meu primo ainda está rindo e ainda tem a mão no rosto
enquanto diz: “Tente mais.”
“Você costumava peidar perto de mim o tempo todo, seu
hipócrita. É uma função corporal totalmente natural. Haveria
algo errado comigo se eu não precisasse soltar uma bufa, Boog.
É tão natural quanto um arroto. Como uma menstruação.
Mas, em vez disso, sai da sua bunda.”
Meu primo puritano fecha os olhos, balança a cabeça
como sempre faz e muda de assunto. Eu o amo. Ele realmente
é o melhor. Ele nunca quer falar sobre menstruação, funções
corporais ou fluidos — ao contrário da minha irmã que me dá
um relatório detalhado sobre o período dela e quaisquer
movimentos intestinais incomuns que possa ter — mas sei que
se eu precisar de um absorvente interno, ele iria e me
compraria dez caixas para cada fluxo. Ele simplesmente não
faz contato visual comigo depois. “Mudando de assunto.
Obrigado por encontrá-lo. Ele disse que alguém estava com o
telefone dele e que tinha se esquecido disso.”
Por um segundo, penso na bela loira bonita que sabia
onde era o quarto dele. Então paro de pensar sobre isso. Bom
para ele. Pelo menos ela foi legal e não como a última
namorada que tive a infeliz sorte de conhecer. Porque foda-se
aquela garota ainda, mesmo dez anos depois.
“Sim, havia um monte de gente na casa dele quando
apareci”, digo. “Entrei e tive que circular para encontrá-lo.
Constrangedor.”
Ele bufa. “Você o surpreendeu?”
Dou de ombros contra o lado dele no momento em que as
portas se abrem e uma mulher mais velha entra no elevador
também. “Sim, ele não me reconheceu. Eu disse meu nome,
mas ele não clicou até que usei o seu.”
Isso faz Boogie me olhar. Não é a primeira vez que alguém
não me reconhece. Nós rimos muito disso antes, especialmente
quando nossa tia ofegou e quase perdeu a cabeça anos atrás.
Foi depois que eu estive na Carolina do Norte por alguns anos.
Então ela disse algum outro elogio e estragou tudo, mas
tudo bem.
“De qualquer forma, estou feliz por poder vê-lo.” Estou
contente. Uma coisa é vê-lo na TV, mas é totalmente diferente
em carne e osso. Melhor. Ele parece feliz e bem, apesar de suas
coisas com os Thunderbirds, antes de eu lhe dar as más
notícias. O que mais você pode pedir?
“Eu disse que ele ficaria feliz em vê-la.”
Ele disse. Anos atrás. Mas eu ainda levanto meu ombro.
“Bem, você sabe, passou tempo demais.” Eu luto contra o
desejo de limpar minha garganta.
Ele sabe parte do que aconteceu. Uma parte muito, muito
pequena. Ele sabe que eu tinha uma queda por ele que surgiu
do nada — mesmo que isso não fosse verdade — e que eu tinha
lutado com isso. Eu implorei para ele não dizer nada e me
deixar superar por conta própria. Mas só isso.
Não era como se eu duvidasse que meu primo me amasse
mais, mas ele me provou naquele dia e todos os dias depois em
que respeitou meus desejos.
Boogie fez uma careta que eu provavelmente poderia ter
visto do outro lado do corredor. “Você sabe que nós dois
tivemos que trabalhar para manter uma amizade depois de
todo esse tempo, e não tem sido fácil, principalmente quando
eu estava em Londres por um tempo. Estou ocupado. Ele está
ocupado...”
“Eu sei”, eu o interrompo, sem precisar — ou querer —
que ele se desculpe. Sem querer ouvi-las, honestamente. Qual
é o objetivo? “Está tudo bem.”
Eu entendo. Realmente entendo. Eu não consigo
imaginar quantas pessoas ele conhece. Quantas pessoas
querem algo dele.
E eu sou apenas... prima do melhor amigo dele. A garota
conhecida como Peewee naquela época. A garota que “salvou
sua vida” como ele me lembrou mil vezes ao longo dos anos,
mesmo que eu não conseguisse me lembrar de fazê-lo. E eu
sou fã dele porque não sei como não ser. Sou uma fangirl por
toda a vida, mesmo que ele tenha se esquecido de mim.
Porque eu entendo.
Sei que o que tínhamos quando crianças foi real. Ele me
amava como uma irmãzinha, e eu o amava de várias maneiras.
E sempre teria isso.
E espero que ele se sinta da mesma maneira.
Egoisticamente, sei que ajuda eu não ter passado os
últimos dez anos morrendo de saudade.
Eu não preciso olhar para saber que meu primo está me
lançando outro olhar.
Torço o nariz para ele e, felizmente, isso parece à coisa
certa a fazer, porque ele o deixou cair. Pelo menos por
enquanto. Talvez para sempre. Você nunca sabe com Boogie.
Ele me deixou escapar sem contato com Zac por anos depois
que insisti.
“Você parece muito cansada, B. Você está dormindo um
pouco? Ou os g-a-s-e-s estão atingindo você?”
A mulher mais velha no elevador olha para nós,
obviamente porque sabe soletrar, e eu balanço a cabeça para
Boogie com um sorriso no rosto.
“Não, não são os g-a-s-e-s. E estou dormindo um pouco.
Se quatro horas por noite, seis dias por semana contam.”
Sua boca fica plana, e sei que estou encrencada quando
ele coloca as mãos nos quadris como o primo e irmão
superprotetor que ele é. “Quatro horas não são suficientes. Já
conversamos sobre isso. Você precisa dormir. Tome um pouco
de sol enquanto estiver fazendo isso também. Você não pode
ficar presa na academia ou em seu apartamento o dia todo.
Ponha um pouco de sol nesses braços pálidos.”
Eu torço o nariz para ele.
Ele apenas continua fazendo uma careta para mim.
“Estou falando sério. É importante. Sei que você está
trabalhando apenas em período parcial na Casa Maio agora,
mas aposto que continua fazendo suas coisas de Lazy Baker a
cada minuto que não está lá. Eu pensei que foi por isso que
você reduziu suas horas.”
Ele não está errado.
“Por favor, B. De um viciado em trabalho para outro,
precisa reservar um tempo para você. Vá em frente e desista
agora que acertou as coisas com aquele idiota”, meu primo diz.
“E tome um ou dois probióticos para ajudar com os gases.”
Paro de torcer o nariz e assinto, sorrindo um pouco... e
pressiono minhas mãos na parte inferior do estômago
novamente. O problema é que Connie me disse exatamente a
mesma coisa há alguns dias. E eu vi meu rosto no espelho
ultimamente. Estou cansada. E não consigo me lembrar da
última vez que saí de casa para fazer algo que não era fazer
compras ou ir trabalhar.
Ele tem razão. Ambos têm. Essas duas pessoas que me
amam.
Mas eu realmente amo trabalhar e ter um propósito,
então... vou dar um jeito.
Boogie me chuta novamente na parte de trás da coxa
como se ele soubesse exatamente onde minha mente foi.
“Preciso ir a Houston para algumas reuniões. Quer pegar uma
carona?”
“Contigo? Não, estou bem.”
Boogie me chuta mais uma vez e eu rio. Como se fosse
dizer não para passar um tempo com ele. Por favor. “Vi um dos
seus vídeos curtos, os de um minuto; apareceu na minha linha
do tempo no outro dia. Alguém compartilhou. Era você e
Connie tentando fazer sanduíche de marshmallow usando
uma churrasqueira elétrica. Isso me fez rir.”
“Você gostou quando eu me queimei e gritei?” Eu rio,
beliscando-o na parte de trás do braço levemente. “Estou
fazendo biscoitos de abobrinha para minha próxima receita
'saudável'. Vi uma receita de pão de abobrinha e isso me fez
pensar.”
Boogie, que está acostumado com a comida que trouxe
um pouco de nome para mim mesma criando, tenta não
mostrar sua descrença, mas falha. Grande momento. E ele não
consegue esconder o vago desgosto em sua voz. “Biscoitos de
abobrinha, B? Sério? Você não pode simplesmente fazer lascas
de chocolate?” Meu primo pergunta, deixando pra lá outra
conversa potencialmente desconfortável.
Graças a Deus.
Balanço a cabeça lentamente e depois estendo a mão para
tentar espetar meu dedo em seu nariz talvez pela milionésima
vez em nossas vidas. “Vou mandar um e-mail para você. Você
vai comê-los e vai gostar deles.”
Boogie se contorce quando se afasta com uma risada que
me faz sentir tanto a falta dele naquele momento, que não
posso deixar de imaginar se eu deveria voltar para Austin para
estar mais perto dele.
Ou me aproximar de Connie novamente.
Afinal, não há realmente nada me mantendo em Houston.
Eu chutei esse motivo da minha vida e não me arrependi por
um segundo desde então. Mas essa foi a única coisa que fiz
direito em toda essa situação.
Preciso seguir em frente, porque certamente não estou
pensando em retroceder.
Estou esperando apenas alguns minutos na grade de
ferro forjado que cerca meu complexo de apartamentos quando
um carro prateado, familiar e elegante para atrás de uma
grande caminhonete preta no portão para entrar.
É meu vizinho, o gostoso que ouvi através da videira
terminando com sua namorada, dois meses atrás. Sei que
alguns dos vizinhos apostaram em quem seria o responsável
por manter o apartamento quando estivesse claro que as
coisas estavam indo ladeira abaixo para eles. Aparentemente,
ele ganhou.
Não fiquei exatamente desapontada, embora raramente
visse Santiago.
E, de repente, fico um pouco agradecida por, se eu
estivesse esperando no estacionamento dos visitantes Boogie
vir me buscar, pelo menos estou parecendo tão decente quanto
geralmente consigo. Nada me leva a esforçar-me como sair com
meu primo, que não sabe o significado de “bagunçado”. Além
disso, foi um bom dia de folga. Eu consegui não um, mas dois
novos vlogs filmados para o meu canal do WatchTube e a conta
do Picturegram. E quando conversei com Deepa novamente
sobre deixar a Casa Maio, ela se interessou. Entre os vídeos
enquanto almoçávamos, ela até começou a exibir anúncios on-
line para empresas contratadas, e eu a assisti enviar alguns e-
mails para obter mais detalhes. Isso foi mais do que ela fez nas
últimas vezes que eu trouxe isso à tona.
Então, por causa do meu bom dia e porque já havia me
maquiado e feito um pouco mais com o cabelo por causa das
filmagens, mantive minhas roupas de trabalho, que consistiam
em uma saia e uma blusa folgada embora nós fôssemos comer
asas de frango.
Naquele momento, estou preocupada com a minha saia
voando com uma rajada de vento aleatória e mostrando a todo
mundo dirigindo minha calcinha marrom.
Especificamente, Santiago, que está ha dois meses
solteiro e possivelmente pronto para socializar.
Talvez isso não seja uma má ideia.
Estou pensando em minha calcinha e Santiago quando a
caminhonete preta passa pelo portão e seu carro prateado para
no teclado em vez de na verificação como todo mundo.
A janela se abre logo antes de eu ouvir um “Bianca!”
Agradeço a Deus naquele segundo por nunca ter ficado
toda perturbada com os caras gostosos. As únicas coisas que
já me fizeram suar foram bolo tres leches, e sorvete de limão.
E às vezes certas partes do corpo masculino podem me
hipnotizar, mas não por muito tempo.
Então posso levantar minha mão e acenar para o homem
de cabelos pretos, inclinado para fora da janela do carro, com
o antebraço apoiado nela. “Olá, Santiago!”
“Você se trancou do lado de fora? Precisa de uma
carona?”
Uma carona. As piadas que eu poderia fazer com isso.
“Não, estou bem. Estou apenas esperando para ser pega.
Obrigada mesmo assim.”
“Tem certeza disso?” O homem que eu vi algumas vezes
sem camisa quando chegava em casa depois de uma corrida
grita, me fazendo imaginar o tanquinho por um segundo.
Dou um polegar para ele e respondo: “Sim, não, está tudo
bem. Ele está a caminho.” Eu me arrependo um pouco de não
ter entrado em detalhes sobre quem “ele” é, mas tudo bem. Faz
alguns meses desde que saí pela última vez.
Uma lembrança de Boogie me dizendo para sair mais
passa pela minha cabeça. Espero que ele não se lembre dessa
conversa, porque ele não seria feliz se eu tivesse que dizer a
verdade. Ir para a loja Target conta?
O xerife, com aparência muito bonita, me dá um sorriso
que faria uma mulher menor jogar a calcinha nele. “Tem
certeza?”
Sorrio de volta e, quando abro a boca, um carro imbica
na entrada do complexo e rapidamente vira à esquerda para
parar diretamente no estacionamento de visitante, bem na
frente de onde estou. É um carro que definitivamente
reconheço.
Um sedan preto de quatro portas. O carro de Boogie.
A janela do lado do passageiro se abaixa e alguém mais
familiar aparece, embora não seja quem estava esperando.
O rosto sorridente de Zac. O rosto sorridente de Zac com
sua pele bronzeada, maçãs do rosto altas e nariz perfeito. E ele
parece tão feliz.
“Entre, estamos morrendo de fome”, diz o homem que vi
semanas atrás.
O quê?
O sorriso do meu velho amigo fica um pouco mais amplo,
mostrando-me mais aquela linha imaculada de dentes brancos
destacados pelos óculos escuros que protegem seus olhos e
fazem sua pele parecer ainda mais bronzeada. Quando éramos
crianças, ele era pálido, mas ano após ano praticando e
treinando sob o sol quase o ano inteiro, havia lhe dado uma
incrível base. Ele era mais bronzeado do que eu era agora.
“Entre, Peewee”, ele diz como se eu não o tivesse ouvido
pela primeira vez.
Não posso ver meu primo, mas o ouço do banco do
motorista. “Vamos, B. Estamos com fome.”
Zac está no carro?
E ele vai com a gente?
Já faz mais de um mês desde que deixei Zac em Austin
para ver Paw-Paw. Faz semanas desde a última vez que pensei
nele, muito menos falei sobre ele. Quando pergunto sobre a
família Travis, Boogie apenas menciona o status do homem
mais velho, afirmando que ele recebeu alta do hospital, o que
é normal. Nos últimos anos, ele só mencionava seu melhor
amigo se eu o mencionasse ou se eles tivessem se visto.
E eu não perguntei sobre ele ultimamente. Eu mudei de
canal propositadamente toda vez que alguém ligou a The
Sports Network, e estou muito ocupada ultimamente para
navegar em outros sites de notícias sobre esportes para obter
atualizações sobre sua carreira. Pelo que eu sabia, ele ainda
está em Austin ou em uma cidade diferente, trabalhando com
uma nova equipe. Eu nem sei se ele assinou com alguém.
O que eu realmente sabia era que o acampamento — o
treinamento que eles fazem antes do início da temporada, já
havia começado.
E ele está aqui. Em Houston. Novamente.
Quando meu primo me mandou uma mensagem durante
sua pausa para o almoço mais cedo para confirmar que iríamos
comer asas, ele não disse nada sobre Zac vir conosco.
E agora ele está aqui.
No carro.
E eles querem ir comer.
Comigo.
Leva outro segundo antes que eu consiga concordar. O
que vou fazer? Dizer não? Inventar que estou com enxaqueca?
E então lembro com quem eu estava falando um segundo
antes. Olhando para cima, posso ver meu vizinho no teclado
do portão, a atenção ainda focada em minha direção. Ele
parece curioso... e tenho certeza que ele pode ter olhado para
minha bunda quando me inclinei um pouco para ter certeza
de que não estava imaginando que era Zac no banco do
passageiro. Hum. Levanto uma mão e aceno para ele. “Minha
carona está aqui. Até, Santiago! Obrigado por se preocupar!”
Meu vizinho assente, e no tempo que levo para pegar a
maçaneta do carro de Boogie e abri-la, o portão do complexo
está se abrindo e a janela do carro está aberta. Entrando no
sedan, fecho a porta e aliso minha saia nas coxas — pelo
menos até as coxas — e me viro para os dois homens na frente.
Inclinando-me, envolvo um antebraço no pescoço de
Boogie, fingindo sufocá-lo ao mesmo tempo, e ele aperta meu
antebraço. Então, porque eu sou adulta e porque não vou
ignorar que Zac está no carro, hesito apenas cerca de um
milésimo de segundo antes de dar um tapinha no ombro dele,
totalmente sem perceber o quão musculosa é essa parte do seu
corpo.
Ou como ele cheira a alguma colônia sutil e cara.
“Ei. Eu não estava esperando vocês dois.” Olho para o
meu primo, mas ele está olhando para frente, colocando o
carro na posição Dirigir enquanto coloco o cinto de segurança.
Ele poderia ter me dado um aviso, e nós dois sabemos
disso, mas tudo bem.
Zac se vira no banco o suficiente para me dar uma boa
visão daquela barba castanho clara ao longo de sua mandíbula
e a fatia do sorriso que ele tem apontado para mim — essa
coisa bonita e amigável que é tão natural para ele quanto
provavelmente respirar. Ele está apenas sendo ele mesmo. E
não é como se houvesse uma pessoa invisível ao meu lado que
ele está feliz em ver, por mais surpreendente que seja por ele
estar aqui em primeiro lugar. “Boog disse que você não se
importaria de eu ir junto”, afirma.
Algo que não é exatamente culpa se estabelece bem
dentro do meu peito, e eu lembro, e me lembro por precaução,
que isso não é grande coisa. Nós nos vimos não faz muito
tempo, e que está tudo bem. Nós dois somos adultos agora,
então comer também não é nada. Apenas dois amigos se
aproximando. Um acordo de dois por um — ver o melhor amigo
dele, que ele não vê o suficiente e ser forçado a me ver também,
já que estamos todos na mesma cidade e eu já tinha planos
com o melhor amigo.
Certo. Avançando. Não há como voltar atrás.
E isso me ajuda. Não é tão difícil dizer: “Eu não me
importo. É bom te ver de novo.”
Isso soa forçado pra caramba aos meus próprios ouvidos.
Provavelmente também para Boogie, já que uso a mesma voz
toda vez que converso com a namorada dele.
Zac sorri ainda mais, alheio à minha meia mentira e a
quão duvidosa sôo, e Boog olha para mim por um segundo, seu
pequeno sorriso no rosto.
Tudo bem. É bom. Nada demais. Tenho certeza de que
tem que ser um alívio para o meu primo depois de tanto tempo
existindo no meio entre nós.
“Fiquei surpresa. Eu pensei que você fosse um estranho
aleatório prestes a perguntar se eu queria um doce.”
Aparentemente, decidi tentar brincar, mas ainda havia um
pouco de hesitação na minha voz. Eu posso brincar com ele?
Devo brincar com ele? Droga, isso é complicado. Não precisa
ser.
Tudo está bem.
Zac olha para frente novamente, dando-me apenas a
menor visão de sua orelha e da parte de trás de sua cabeça.
“Nada de doce, mas tenho um pouco de carne seca na minha
bolsa aqui”, ele diz em troca.
“Estou bem”, eu digo a ele, encolhendo-me. Dobro as
mãos no meu colo e olho para o lado da cabeça de Boogie, me
debatendo se devo ou não chutá-lo mais tarde. Tecnicamente
eu estou bem, então ele não merece um chute na bunda.
Mas ainda poderia ter me avisado para que eu pudesse
me preparar mentalmente.
“Você conseguiu tudo o que queria hoje?” Meu primo
pergunta, como se pudesse ler minha mente.
Ainda estou olhando para o perfil dele. “Sim. Foi rápido.”
Olhando de novo para a cabeça de Zac, mudo de assunto. Nós
não precisamos falar nisso na sua frente. “Suas reuniões foram
boas? Você teve que lidar com aquele cara de quem não gosta?”
Boogie assente, a atenção ainda em frente. “Não, foi meu
dia de sorte. Ele ligou dizendo estar doente. Tenho mais um
amanhã de manhã e depois volto para casa à tarde.”
O som do meu celular tocando me fez suspirar.
CASA MAIO
Eu não consegui alterar o nome para CASA MAIO NÃO
PRESTA, mas eu faria isso.
“Desculpe. Espere um segundo”, murmurei para Boogie,
antes de dizer, “Porra”, baixinho, enquanto aperto o ícone de
resposta.
Ele assente quando a voz do meu chefe responde com
“Alô?”
Eu não deveria ter atendido; Sabia que não deveria.
Nenhuma pessoa inteligente atende ao telefone quando o
trabalho liga em um dia de folga. Sou horista, não tenho salário
fixo. Foi o que disse a mim mesma, pelo menos para justificar
não ser um “participante da equipe”.
“Alô?” Bem, se vamos entrar nisso, eu não via sentido em
enrolar. Se Gunner ligou, é apenas por um motivo específico.
“Você precisa de algo?”
Tenha certeza de que não é minha imaginação que ele
para, e então pergunta em um tom que sei que está agravado
porque esse é basicamente o único que ele tem: “Estou ligando
para ver se você poderia vir e fechar hoje à noite.
Não é uma pergunta, é uma afirmação.
Eu preciso do meu trabalho? Não mais.
Eu quero isso? Não.
Eu me sinto obrigada a mantê-lo porque minha amiga
ainda trabalhava lá e me sentiria super culpada por deixá-la
sozinha? Sim.
Mas ele não pode me demitir por não ir no meu dia de
folga, certo? Especialmente depois que já fiquei até mais tarde
duas vezes na semana passada. E ele se queixou de mim ontem
por falar com um membro por muito tempo.
“Olá, Gunner. Eu não posso fazer isso. Não estou em casa
e não tenho meu carro, mas irei amanhã.” Para o meu turno
programado. Otário.
Quase pergunto o que aconteceu com quem deveria
trabalhar; Tenho certeza de que era uma das novas garotas,
mas... bem, não vou entrar nessa merda. Eu não ligo muito.
“Não há como eu conseguir que você venha?”
Uau, alguém está desesperado. Isso foi depois dele falar
sobre nós não trabalharmos um segundo fora de nossa
programação, porque ele não pagaria um centavo além dos
nossos turnos previstos. Então, literalmente, vinte e quatro
horas depois disso, o Idiota 2 — outro dos proprietários — me
pediu para trabalhar um turno extra. Eles não fazem sentido.
“É, não. Desculpe. Eu realmente não estou em casa e não
vou estar por um tempo.” Faço uma careta para o meu colo.
Gunner responde com um bufo áspero, mas tanto faz.
Você colhe o que semeia. Seja um idiota e você será tratado
como um. Ele diz: “Tchau” e desliga.
Ahh, o doce sabor de estar sempre certo. Faço uma careta
para o meu telefone antes de colocá-lo de volta na minha bolsa
e me concentrar novamente nos dois amigos na frente. Eles
estão falando sobre... Trevor? Empresário de Zac?
“...ainda chateado por ter pessoas em casa. Ele fez
parecer que eu queimei a casa”, Zac diz com uma risada e um
aceno de cabeça. “Minha orelha ainda está soando.”
Continuo ouvindo, mas o lugar das asas é muito perto do
meu apartamento, e leva apenas cinco minutos no total até
entrarmos no estacionamento. Saímos, e talvez não tenha sido
bom, mas me certifico de me mover rapidamente antes de Zac
sair do carro. Vou direto para dar um abraço em Boogie.
“Droga, B, você fez o seu cabelo para mim?” Meu primo
pergunta quando se afasta.
Eu gemo para ele quando dou um passo para trás
também. “Eu me arrumei para o trabalho.” E então me
pergunto por que geralmente coloco algum esforço na minha
aparência quando vamos fazer as coisas. “Suas meias estão
combinando hoje?”
Meu primo ri quando enfia as mãos nos bolsos de suas
calças perfeitamente lavadas a seco. A única coisa que não é
absolutamente perfeita nele são as mangas de sua camisa azul
que ele arregaçou até os cotovelos, uma está ligeiramente mais
alta que a outra. Aposto que ele as consertará assim que
perceber que não estão iguais. “Elas sempre combinam.”
“Perfeccionista”, digo com um bufo pouco antes de uma
mão que não é minha ou de meu primo pousar no meu ombro.
Tenho que me lembrar pela centésima vez que tudo está
bem. Que não me convidei para estar aqui. Que não sou uma
inconveniente e que algumas pessoas realmente se esforçam
para sair comigo porque gostam de mim.
E que preciso me superar. Realmente preciso.
“Eu ainda não consigo superar que você é uma adulta”,
Zac me diz um segundo antes de seu braço — pesado e
musculoso — cair sobre meu ombro como se fosse uma
segunda natureza, como ele fez milhares de vezes antes, e seu
quadril entra em contato com o meu lado. Tenho certeza que
até a bochecha dele descansa no topo da minha cabeça, e
estaria mentindo se dissesse que não fico tensa com o toque
dele. Com a sua familiaridade. Ele ficou tão feliz em me ver em
sua casa há algumas semanas, mas... ainda não faz sentido
para mim. A menos que tenha sido um ato, mas... “Como você
tem estado?” Ele pergunta, com essa expressão... com esse
tom...
Ele está perguntando sobre as últimas duas semanas ou
os últimos dez anos?
“Bem, e você?” Eu respondo, certa de que posso ouvir a
tensão na minha voz, então com certeza não olho para meu
primo que me conhece muito bem.
“Muito bem, criança”, responde o homem alto, me
abraçando carinhosamente mais uma vez. Pegando-me
desprevenida também. Confundindo-me também, se eu for
totalmente honesta comigo mesma.
Mas é só uma espiada no rosto sorridente do meu primo
— algo nos olhos dele parece um pouco fora, mas o ignoro —
para me lembrar das minhas prioridades. Sobre quem eu sou
e o que Mamá Lupe gostaria para mim, ser suave e gentil com
alguém que ela amava muito, mesmo que ele não me amasse
muito — ou nada — há muito tempo.
Espero um segundo, depois levanto o braço para envolver
em suas costas, dedos curvando-se sobre suas costelas mais
baixas antes de lhe dar um abraço lateral por um segundo.
E essa é a minha sugestão para nos levar para comer e
voltar. Eu deixo ele e meu primo conversarem a maior parte do
tempo. Isso é bom para mim. Eu posso encontrar Boogie outra
vez.
“Bem, estou com fome”, digo, me esforçando para manter
meu tom leve.
Eu não perco o olhar lateral que Boogie me lança quando
deslizo para baixo do braço de Zac como um peixe, dando-lhe
um breve sorriso antes de entrarmos no restaurante. O lugar
é pequeno e já estivemos juntos aqui várias vezes no passado.
A anfitriã não faz nada além de olhar para meu primo em suas
roupas de trabalho, Zac em jeans escuro e camiseta branca
lisa, e eu antes de nos levar a uma cabine. Deslizo para um
lado primeiro, Boogie seguindo, e Zac sentando em frente a
nós.
Eu posso fazer isso.
Felizmente, Zac decide escolher meu primo quando ele
abre o cardápio e pergunta: “O que é esse olhar idiota em sua
cara, Boog?”
Eu olho. Ele tem uma expressão estranha no rosto ao ver
o cardápio como se não fosse pedir a mesma coisa que ele pede
todas as vezes. Ele está parecendo estranho porque eu estou
sendo estranha? Havia algo em seus olhos quando estávamos
do lado de fora...
Meu primo não olha para cima quando atira no seu
melhor amigo o dedo do meio.
Zac ri.
Preocupada, que seja eu fazendo com que ele faça essa
expressão estranha, cutuco Boogie. “Eu gosto daquele olhar
idiota no seu rosto.”
E uma das minhas pessoas favoritas no mundo me
cutuca de uma maneira que tenho certeza de que não está
causando nada antes de levantar a outra mão e disparar mais
um dedo do meio para o homem à nossa frente.
E isso faz Zac rir, o som ainda rico e familiar. Como nos
velhos tempos. Mas não como nos velhos tempos.
Concentrando-me no meu cardápio, lembro-me
novamente de que tudo está bem, que não vou olhar para o
rosto de Zac ou, muito menos, trazer algo do passado. Eu não
vou estragar o jantar com meu primo. Vou passar o resto do
dia e da semana e...
“Eu ia esperar até depois que terminássemos de comer,
mas o olhar idiota no meu rosto é porque estou pensando em
pedir que vocês dois estejam no meu casamento, e não tenho
certeza de como perguntar.”
Sim, nossos cotovelos caem da beira da mesa — os meus
e os de Zac — e, por qualquer motivo assustador, nos
entreolhamos. Azul claro para o meu azul muito escuro. Assim
como no passado, quando estávamos prestes a zoar Boogie por
causa de alguma coisa.
E é quando ele levanta a cabeça.
Pegos.
Sua expressão facial não é magoada nem triste. Ele ainda
tem uma cara de bebê demais para ser realmente bom em fazer
caretas, mas é mais... resignado. Ele nos conhece bem o
suficiente para ter uma ideia do que estamos pensando. Que
é, você quer casar com ela? De todas as pessoas no mundo... de
todas as mulheres que ele namorou ao longo dos anos... ela?
Mas ele não diz nada. Ele não explica nem se desculpa.
Ele tomou uma decisão, e todo mundo tem que viver com ela.
Meu primo — o homem que é basicamente meu irmão,
que estava lá para mim com mais frequência do que meu
próprio pai — vai se casar.
Com alguém que não o merece.
Merda.
“Parabéns?” Eu digo, tentando fazer não parecer uma
pergunta e falhando porque... bem, porque eu ainda não
consigo acreditar que ele irá se casar, ponto final, muito menos
com alguém de quem não gosto. Se eu alguma vez fantasiei
sobre isso, imaginei que ele se casaria com alguém que eu
gostasse tanto quanto gosto do marido da minha irmã.
“Parabéns”, diz Zac, soando apenas um pouco mais
convincente do que eu.
Pelo menos não fomos apenas Connie e eu que odiamos
a namorada de Boogie. Futura esposa. O que ela for agora. Isso
me faz sentir um pouco mais justificada por não gostar de ver
que Zac também não parece muito entusiasmado.
“Obrigado”, responde Boogie.
Coço meu nariz, e Zac apenas fica lá. Nenhum de nós tem
coragem de fazer uma careta, provavelmente porque nós dois
estamos sendo vigiados.
A língua de Boogie cutuca a parte interna de sua
bochecha, e ele continua fazendo constante e completo contato
visual com um de nós o tempo todo, enquanto continua
falando. “Vou fazer isso, e vocês dois estarão no casamento, se
divertindo ou não”, Boogie nos informa antes de trazer o menu
de volta ao seu rosto e esconder a maior parte dele. Do outro
lado, ele diz: “Estamos planejando fazer isso em fevereiro, no
nosso aniversário. Marquem nos seus calendários.” Ele fala
uma data específica no início do mês.
Eles já haviam planejado tão longe? Que diabos? E em
fevereiro?
E eu deveria ter ficado surpresa, mas não fico, quando
Zac ecoa, “Fevereiro?”
“Sim, fevereiro. Ainda não contei à minha mãe, ou a
ninguém”, ele termina ainda focado no cardápio.
E isso faz meus pensamentos pararem no lugar deles.
Por mais que eu não goste da namorada dele, bem...
Boogie é o meu favorito. Primo favorito. Homem favorito.
Parceiro favorito do jogo Pictionary. Ele é meu irmão de outra
mãe. E não há como ele se casar sem mim por perto.
Mesmo que eu ache que ele é um milhão de vezes bom
demais para a mulher com quem se casará.
Mas o mais importante, Boogie estava lá comigo desde o
momento em que meus pais se mudaram para a casa da minha
abuela e a cada segundo desde então.
Mesmo que isso seja um erro, é seu erro para cometer.
Ele me deixou fazer um punhado desses, sozinha. É apenas
outra razão pela qual eu não posso dizer nada a ele sobre se
casar.
Estive lá, fiz isso, estraguei tudo e me arrependi.
Além disso, mais do que tudo, meu primo é um bom
homem. Um dos melhores. E eu conheço o coração dele. Se ele
diz que perdoou o que quer que seja, ele realmente o fez. Até
os ossos dele.
Então, é isolar meu primo ou viver com isso. Se as coisas
não derem certo... bem, eu também estarei lá. Em bons e maus
momentos. Como ele sempre esteve pra mim. A priminha que
ele sempre tratou melhor do que uma irmã.
Assim que abro a boca para dizer a Boogie que estarei,
Zac se inclina para frente sobre a mesa.
“Olha, se você quer se casar com Lauren, eu estarei bem
ao seu lado.” O homem comprido estica a coluna quando ergue
um cotovelo e o coloca na parte de trás do estande,
espalhando-se sobre ele. Meu deus, quando diabos ele fez
crescer esses músculos no peito? Eu não me lembro de tê-los
visto com tanta clareza antes, mesmo nas fotos que ele postou
no Picturegram em uma praia ao redor do mundo. Eu me forço
a focar em seu rosto de príncipe da Disney enquanto ele
continua. “Você já sabe por que me sinto do jeito que me sinto,
mas sabe que quero o melhor para você.” Aqueles olhos azuis
então deslizam em minha direção, e as pequenas linhas nos
cantos deles se enrugam quando ele olha meu rosto, lento e
persistente em mim de uma maneira que me fez pensar por
que ele está demorando tanto olhando para mim. “Nós
queremos o melhor para você, porque você é o melhor. O
mesmo que você gostaria para nós, certo, Peewee?”
Sinto minhas narinas se dilatarem enquanto olho de um
lado para o outro entre os meus dois melhores amigos de longa
data. Dois opostos quase completos em todos os aspectos
físicos. Alto e não tão alto. O atleta e o... seja o que for que ele
faz. Ele me explicou uma dúzia de vezes, e eu ainda não
entendi. Gerenciar riqueza, seja lá o que diabos isso signifique.
Duas pessoas que se amam e se valorizam muito.
Que querem o melhor para si e sempre conseguiram.
De certa forma, é como eu e Connie. Não fazemos sentido
no papel, mas fazemos total sentido pessoalmente.
Porque as pessoas que te amam realmente querem o
melhor para você, e é por isso que eu apoiei Zac ao longo dos
anos, mesmo que ele me machucasse e não tivesse ideia de que
eu estava torcendo por ele o tempo todo. Então.
“Certo”, concordo, cutucando meu primo novamente.
“Adoramos seu rosto idiota, Boog. Contanto que esteja feliz, é
isso que importa.” Deus, isso foi difícil de sair. Eu realmente
não gosto de Lauren, mas não sou eu que me casarei com ela,
e felizmente, ela nunca fez parecer que odiava o quão próximos
Boogie e eu somos, então darei isso a ela.
Boogie, no entanto, exala em alívio. Ele é todo escuro,
cabelo curto e rosto de bebê para sempre, com suas roupas
adultas de camisa de botão, perdendo apenas a gravata que
usa para o trabalho. E meu primo diz, com uma voz que eu
posso ouvir: “Sim, é isso que quero. Você sabe.”
Claro que sim. Ninguém quer se casar e ter entes queridos
chateados com isso. Ele merece nos ter torcendo, mas
considerando as circunstâncias... isso é melhor que nada?
Estou arrependida por não querer isso mais ainda por ele.
Zac e Boogie assentem um para o outro, e eu apenas fico
lá e assisto.
Quando os olhos escuros do meu primo se movem em
minha direção, dou-lhe um sorriso que sei que é mais falso do
que eu gostaria, mas espero que seja genuíno o suficiente. Se
Zac pode fazer isso, eu também. Mesmo que ele não possa, eu
farei, porque posso fazer qualquer coisa por Boogie. E estar no
casamento dele é o mínimo. Eu sobrevivi a três meses
trabalhando para Gunner. Passei cinco anos em um
relacionamento com alguém que eu realmente não conhecia.
Li comentários maldosos sobre mim. Tive objetivos e alguns
sonhos. Eu posso lidar com qualquer coisa.
Incluindo, mas não limitado a isso. Então eu o cutuco.
“Estou velha demais para ser a menina das flores, a propósito”,
eu digo a ele. “Então, estou um pouco decepcionada que você
me fez esperar tanto tempo.”
Isso faz meu primo balançar a cabeça, um grande sorriso
surgindo em seu rosto. “Sinto muito, B.”
Sorrio de volta para ele, recostando-me no estande e
espiando Zac que ainda está esparramado ao seu lado com um
sorriso preguiçoso no rosto... olhando para mim.
Ainda olhando para mim.
Eu olho para ele e mantenho um pequeno sorriso; ele me
dá um grande em resposta que poderia ter me feito sentir um
pouco mal por não ser mais gentil e tentar fazer mil perguntas
para fazer parecer que eu queria recuperar o atraso.
A razão pela qual não o faço é porque acho que já conheço
a maior parte dos negócios dele. Não há muito no que pensar,
exceto no que ele está fazendo, mas isso tem que ser um
assunto dolorido.
“Zac vai ser seu padrinho? Eu serei sua melhor assistente
de madrinha?”
Meu velho amigo ri, mas é Boogie quem diz: “Assistente
de madrinha?”
“Sim. Talvez vocês dois já tivessem um plano elaborado.
Não sei se cuspiram nas mãos um do outro e as apertaram
para fazer um acordo. Talvez seja apenas uma coisa de garota.”
Isso faz meu primo me dar uma cara horrorizada. “O quê?
Você e Connie cuspiram nas mãos uma da outro e apertaram?
Para serem damas de honra?”
“Inferno sim, nós fizemos. Pensei que você soubesse. Por
isso eu era sua dama de honra quando tinha treze anos.
Fizemos um acordo.”
“Eu não sei o que há de errado com vocês duas.”
Eu bufo antes de decidir o que eu vou pedir. É o que eu
sempre peço — asas com molho de churrasco agridoce. Yum.
O spray para remover manchas está pronto na minha máquina
de lavar. E eu uso uma camisa que não é grande coisa se
acabar com molho por toda parte. Porque pode. Largo meu
cardápio e sorrio para meu primo. “A mesma coisa que está
errada com você. Ahhhh, vadia.”
Boogie geme.
Cutuco seu ombro, mantendo meu olhar nele, em vez do
homem à nossa frente. “Então, diga-me, quero dizer a nós,
mais sobre este casamento.”
“Você disse que vai ser em fevereiro?” Zac pergunta
novamente.
Meu primo fica tenso e faz outra cara de idiota que me faz
apertar os olhos para ele. “Sim. Pensamos em fazer mais cedo,
mas queremos fazê-lo em nosso aniversário para manter a data
igual e...”
E eu vejo, porque estou olhando para Boogie, vejo o olho
dele fazer aquela coisa estranha de se mexer, e eu sei. EU
SABIA.
Então sussurro, porque não posso acreditar no que
acabei de ver e no que aquela contração implica: “Boogie, ela
está grávida?”
Seus olhos fazem a coisa tremer novamente.
Até Zac larga o cardápio. Ele é tão dramático. E talvez eu
tivesse sorrido sob qualquer outra circunstância.
Meu primo xinga baixinho. “É um segredo. Você não pode
contar a ninguém.”
Coloquei minha mão em cima da mesa e sinto meus olhos
se arregalarem. CARALHO. “Não posso prometer isso. Você
sabe que não posso guardar segredos de Connie.”
Boogie revira os olhos enquanto geme. “Tudo bem, você
pode contar para Connie.” Então ela contará ao marido, mas
eu não vou falar disso.
“Oh, graças a Deus”, murmuro aliviada e outra coisa que
não tenho certeza de como processar ainda.
Então ele diz as palavras que eu sabia que deveria esperar
desse pequeno estremecimento de olho. “Eu pensei que ela
gostaria de se casar em breve, mas foi ideia dela fazer isso no
nosso aniversário. Lauren está esperando para perto do final
de março.”
Zac e eu nos olhamos novamente, olhos arregalados,
como se tivéssemos praticado isso ou algo assim, e não tenho
certeza de como me sinto sobre isso. Então não sentirei nada.
“Vocês já estão fazendo isso de novo?” Meu primo
pergunta, e isso me lembra quando éramos muito mais jovens
e sempre fizemos isso — apenas nos entreolhamos ao mesmo
tempo. Sempre me fez sentir especial, ou pelo menos me
lembrava de que éramos reais, que éramos amigos.
Eu não me esqueci disso há muito tempo.
“Eu não contei para minha mãe”, admite Boogie, e isso
faz com que Zac e eu nos voltemos a ele com um piscar de
olhos. Ele franze a testa. “Ainda não. Mais tarde.”
Estou olhando para ele com os olhos arregalados quando
levanto as mãos e enrolo o dedo indicador e médio em aspas.
“Mais tarde.”
Por mais que eu ame minha tia e aprecie tudo o que ela
já fez por mim — incluindo me deixar morar com ela enquanto
terminava o ensino médio e um tempo depois disso — não
posso dizer que não entendo por que ele ainda não contou a
ela. Eu nunca conheci alguém mais católico que minha tia. Ou
vai desmaiar ao ouvir que seu precioso bebê está tendo um
bebê, ou vai bater nele com um chinelo pelo fato de ele ter
engravidado alguém fora do casamento. Soem os alarmes.
“Sua mãe sabe como aumentar tudo, Boog, você sabe
disso, não é?” O homem de olhos azuis claros pergunta, sua
boca torcida de um lado em diversão.
Boogie faz uma careta quando uma garçonete chega à
cabeceira da mesa. Ela sorri para mim porque eu sorrio para
ela. “Oi, meu nome é Clary e eu serei sua garçonete hoje.
Desejam começar com alguma bebida? Temos... caralho, puta
que pariu.”
Sim, seu olhar mudou para Boogie enquanto ela falava e
terminou com Zac, assim como seu discurso.
A mulher fica boquiaberta com o homem do outro lado do
estande. O homem que está sorrindo para ela, todo inocência
e simpatia.
“Como vai'?” Ele pergunta alegremente.
“Eu posso…?” Ela limpa a garganta e trás um grande
sorriso a seu rosto enquanto seus olhos brilham e ela parece
tremer por um segundo de excitação ou nervosismo ou o que
quer que seja. “Oi, eu sinto muito. Posso…? Você se
importaria…? Posso tirar uma foto, Zac? Eu sou uma fã. Sou
desde os seus dias em Austin.”
Ele assente, levantando a mão para escovar o cabelo loiro
escuro para o lado. “Claro que sim, mas podemos esperar até
que eu termine de jantar?” Ele pisca, e eu vejo a mulher
inocente derreter instantaneamente.
“Sim, sim. Muito obrigada”, ela corre antes de se virar e
dar dois passos antes de parar. Então se vira e volta,
balançando a cabeça. “Eu não sei o que estou fazendo”, ela
admite às pressas, e eu sorrio para ela novamente. “O que
posso pegar para vocês beberem? Eu sinto muito.”
Sou a primeira quando nenhum deles se mexe para falar.
“Uma frozen margarita, por favor.”
Meu primo pede um pouco de cerveja artesanal e Zac diz:
“Água para mim, por favor e obrigado.”
Mas a realidade do que Boogie disse realmente afunda no
momento. Não o casamento com uma mulher que sinto que
não o merece. Não é o fato de que ele me pediu para não falar
com a mãe dele que vai perder a cabeça de qualquer maneira,
mas a parte antes disso. A parte sobre por que ele vai se casar
— talvez a causa principal.
Sua namorada — noiva, tanto faz — está grávida.
De um filho do meu Boogie.
Meu Boogie vai ter um mini Boogie. Uma garota Boogie.
Um garoto Boogie. Quem sabe? Quem se importa? A questão é
que é um mini Boogie.
E assim como me senti quando Connie estava grávida de
minha sobrinha e sobrinho, a alegria, essa simples, pura
alegria, enche toda a minha alma. E eu mal consigo fazer as
palavras parecerem mais altas do que um sussurro quando
digo: “Você vai ter um bebê.”
E diz tudo sobre Boogie que ele não ficou chateado pelo
fato de não termos gritado de felicidade no instante em que ele
sugeriu que sua mulher está grávida. Que agora que nós — ou
eu — realmente percebemos o que ele havia dito, parece o
maior presente que recebi há algum tempo. Alguém com
metade de sua composição genética irá nascer!
“Boogie!” Sussurro para ele antes de bater palmas bem
na frente dos meus seios. “Puta merda!”
Meu primo incrível e maravilhoso sorri
instantaneamente. Feliz. Nervoso, eu sempre posso dizer que
ele está nervoso. Mas principalmente, ele está feliz. Muito feliz.
“Eu sei”, ele concorda.
Pego o braço dele e o sacudo.
Oh, meu Deus, murmuro.
Oh, meu Deus, meu primo murmura de volta.
“É um menino? É uma menina? Você já sabe?”
Ele balança sua cabeça. “Ainda não. Em breve.”
Coloco as mãos contra minhas bochechas e abro a boca
novamente em um grito silencioso, e ele sorri de volta.
“Sabe, demorei um segundo, mas absorvi o que você
disse. Eu não pensei sobre isso”, — Zac murmura, soando
como se estivesse atordoado naquele momento. “Eu vou ser tio
de novo?”
Novamente? Ele não tem irmãos, não que eu saiba.
Seu pai nunca esteve na foto, ponto final. É por isso que
ele tem Travis como sobrenome. Ninguém nunca fala sobre ele.
“Sim”, responde meu primo, ainda sorrindo.
Zac desliza para fora da cabine com a fluidez da água e
se curva nos quadris antes de repente se abaixar e abraçar
Boogie, que se vira para o lado depois de uma fração de
segundo e o abraça de volta.
Eles são tão fofos que me matam.
Só abraços, amor e fazer esses barulhos felizes, enquanto
eles se dão carinho.
A garçonete chega no momento em que Zac desliza de
volta para a cabine, dando-me outro grande sorriso radiante
que retorno por cerca de um segundo antes de olhar para o
meu primo.
“Gostariam de começar com um aperitivo? Ou vocês
sabem o que querem?”
Eu recito meu pedido, e os outros dois também, enquanto
ela coloca nossas bebidas na mesa, enquanto olha para Zac
literalmente a cada segundo. Eu tenho que lhe dar parabéns,
embora. Ela não contou a nenhum de seus colegas de trabalho,
mesmo sabendo muito bem quem ele é. Para que não a
impeçam de servi-lo? Para que ela possa ser a única a tirar
uma foto? Talvez apenas para ser gentil e lhe dar privacidade?
Eu cutuco meu primo quando a garçonete diz algo para
Zac. “Psiu.”
Ele olha para mim.
“Eu só estou falando, mas Connie disse que fazer Kegels
antes de dar à luz foi a melhor coisa que ela poderia ter feito,
então talvez seja algo que Lauren deva investigar.” Sussurro.
Boogie franze a testa. “Fazer o que?”
“Kegels”, repito. Como diabos ele não sabe o que são os
exercícios de Kegels?
“O que é isso?”
Eu pisco para ele.
“Eu deveria saber o que é isso?”
Eu assinto.
Boogie vira-se para seu melhor amigo no momento em
que coloca o copo de água nos lábios. A garçonete se afasta.
“Você sabe o que é isso?”
“O que é o que?” Zac pergunta antes de tomar um gole.
“Bianca disse que Lauren deveria começar a fazer
Kegels...”
A água escorre pela borda do copo uma fração de segundo
antes de uma grande risada sair de Zac e atravessar a pequena
área de jantar.
Eu sorrio um pouco; então sorrio ainda mais para o rosto
confuso de Boogie.
Mas os olhos de Zac estão em mim quando ele pergunta:
“Você disse isso a ele?”
Eu balanço a cabeça, sentindo meu sorriso cair um
pouco. Eu não queria que Zac ouvisse, mas...
“Devo fazer uma pesquisa para descobrir o que é isso?”
Zac e eu dizemos: “Sim” ao mesmo tempo e sorrimos um
para o outro antes de eu desviar o olhar.

***

Passamos o resto do jantar conversando sobre o


casamento de Boogie e seu bebê.
Depois que ele geme e geme seguindo sua busca para
descobrir o que são “Kegels” — exercícios no assoalho pélvico.
Mesmo eu explicando calmamente que os homens também os
fazem não o faz gemer menos. Provavelmente também não
ajuda que Zac tenha rachado o tempo todo em Boogie e eu
brigo com ele por isso. “Todo mundo deveria fazê-los” não é
legítimo o suficiente para ele.
Deixa pra lá.
Se eu pensava que estava surpresa com o bebê e o
casamento, Zac parece estar ainda mais surpreso com isso. O
sorriso dele nunca vacila, noto, mesmo quando abro meus
próprios sorrisos quando encontraram os dele.
Felizmente, é só quando estamos de volta ao carro do meu
primo que a conversa muda para algo diferente de um bebê e
um casamento. O que nunca foi mencionado, eu percebo horas
depois, é o que está acontecendo com Zac e sua carreira.
“B, você já pensou em mais receitas?” Boogie pergunta
aleatoriamente, cerca de três segundos depois que todos nós
entramos.
“Sim, umas duas”, eu digo a ele vagamente, olhando para
a parte de trás da cabeça de Zac. Ele estava me olhando muito
enquanto comíamos — esses longos olhares no meu rosto — e
algumas vezes, eu me perguntei o que ele pensava. Então tento
ser adulta e lembro a mim mesma que isso não importa. “Eu
disse a você que Connie virá pra cá no próximo mês, e vai trazer
Guillermo com ela?”
Guillermo é meu sobrinho favorito — meu único — e um
dos convidados favoritos dos meus seguidores. Eles estão
vindo para que ele possa filmar alguns vídeos para o meu canal
comigo. Mais do que uns dois, se pudermos encaixar, mas eu
vou contar com isso. As coisas sempre dão erradas quando eles
aparecem. Faz parte do seu apelo, além de ser adorável e
ótimo.
“Eles vão chegar no fim de semana?”
“Sim.”
“Eu não o vejo há uma eternidade. Diga-me quando e vou
ver se consigo fazer funcionar com Lauren.”
É preciso muito esforço para não zombar de seu nome.
Mas eu tento muito. Por que, Baby Boogie. Eu me pergunto
como ele ou ela irá parecer e agir. Espero que gostem de mim.
“Você é uma chef ou algo assim, Peewee?” Zac pergunta,
virando-se um pouco no assento para que possa me ver atrás
dele.
“Não, eu não sou”, respondo antes de olhar pela janela.
Eu não tenho certeza do quanto ele sabe, mas tenho certeza de
que não sabe nada sobre a minha vida. E, até certo ponto,
prefiro mantê-lo assim. Não é como se tivéssemos tempo, de
qualquer maneira, para entrar no que eu fiz com a minha vida
nos cinco minutos que temos para chegar ao meu
apartamento. Então mudo de assunto. “Ei, Boog, você vai ao
aniversário de quinze anos de Lola?”
Meu primo geme. “Eu não quero, mas tenho certeza que
vou terminar lá. Você quer ficar na minha casa?”
“Está tudo bem. Connie e eu provavelmente vamos dividir
um quarto de hotel”, respondo, ainda olhando pela janela.
A culpa é uma merda.
E me sinto mal por mal responder à pergunta de Zac. E
por mal falar com ele. O problema é que eu não sei o que
perguntar ou mesmo como tratá-lo, mesmo que ele não tenha
feito nada além de sorrir para mim. Como vão as coisas? Talvez
terrível. Você sabe o que vai fazer? Ótimo trabalho, lembrando-
o de que ele foi basicamente liberado de um time com quem
esteve por cinco temporadas. Como está seu avô? Vamos
lembrá-lo de que Paw-Paw esteve no hospital e ele está
preocupado.
Nada disso parece ser um bom tópico.
E nós realmente, realmente não temos tempo.
Antes que eu possa pensar em algo, meu primo vira seu
carro para o meu complexo de apartamentos e insere o código
para entrar. A única razão que me ofereci para encontrá-lo lá
fora foi porque estava com fome e só queria ir, em vez de
esperar que ele atravessasse o portão. Em pouco tempo, ele
está na frente do meu prédio.
Soltando o cinto de segurança, corro para o meio do
banco de trás e dou a meu primo outro abraço. “Tchau, Boog.
Obrigada pelo jantar. Tenha uma boa reunião amanhã. Vou te
mandar uma mensagem sobre Connie e Guillermo chegando.”
Ele dá um tapinha no meu cotovelo. “Me mande uma
mensagem quando entrar.”
“Certifique-se de contar a Lauren sobre os exercícios de
Kegels. Oh inferno, não, não faça essa cara para mim.”
Ele fez alguns barulhos que não me deixaram tão
confiante que ele iria, mas tanto faz.
Prendo a respiração e viro para a direita para ver Zac
inclinado em seu assento apenas o suficiente para que ele
possa me olhar com aqueles olhos azuis claros e aquele rosto
perfeito. Seu sorriso é largo. Sorrio para ele quando a culpa me
devora. Chegando à direção dele, coloco minha mão em seu
antebraço. “Tchau, Zac. Foi bom vê-lo novamente tão cedo.
Cuide-se, ok?”
A mão que não descansa em sua coxa segura a minha
entre o antebraço, e seu olhar se fixa em mim, sua testa
levemente franzida como se estivesse confuso ou pensando em
alguma coisa. Mas os cantos de sua boca ainda se inclinam
um pouco naquele sorriso de Zac de sempre. “Estou realmente
feliz por ter te visto, garota”, ele diz, sério e devagar.
Por um segundo, pensei que ele iria dizer mais.
E no segundo seguinte, decido que realmente não preciso
ouvi-lo dizer mais nada.
Puxo meu braço para trás, dou um tapinha nele e depois
em Boogie mais uma vez, e abro a porta. “Tchau! Dirija com
cuidado!” Eu a fecho antes que ambos terminem de me dizer
para estar em segurança também.
E, como a covarde que aparentemente sou, subo correndo
as escadas do meu apartamento e me chuto na bunda por ser
tão má.
Mas realmente foi o melhor.
“...não pago para que falem uma com a outra.”
Olho para Deepa, minha colega de trabalho, funcionária
e amiga e vejo que não são apenas minhas narinas que estão
queimando. As dela também estão. Nós estamos olhando nos
olhos uma da outra nos últimos dois minutos.
Dois minutos que eu nunca terei de volta.
Dois minutos que consistiram em olharmos uma para a
outra, para que não precisássemos olhar para o nosso chefe
enquanto ele nos mastigava. Novamente. Você imagina que eu
teria me acostumado depois de dois meses, mas não. Deepa
também não tem facilidade de fazer com que sua expressão
fique em branco no segundo em que ele começa a falar.
O homem mastigando-nos está encostado no balcão,
continuando a tagarelar e tagarelar e tagarelar, tudo porque
ele passou e veio, enquanto estamos falando sobre esse
membro e um dos caras — do MMA — com o maior, mais
redondo bumbum que qualquer um de nós já viu. Toda vez que
ele entra, conversamos sobre como a coisa era majestosa... e
se era real ou não.
Então sim, é claro que discutimos isso. Todo mundo
percebe isso. Eu chegaria ao ponto de dizer que era
hipnotizante. Implantes ou não, era algo especial.
E, claro, foi quando Gunner passou e nos pegou.
Porque estávamos distraídas demais conversando — e
encarando — para perceber a porta lateral se abrindo. Ficamos
muito boas em ficar de olho nele e imediatamente fazer parecer
que estamos ocupadas para não sermos pegas. Como fomos.
Como novatas, porra.
“Nós já conversamos sobre isso antes”, continua Gunner,
alheio ao fato de que estamos desconectadas o mais
humanamente possível.
Nós ficamos muito boas nessa coisa de “entra-por-um-
ouvido-e-sai-por-outro”.
Deepa e eu nos demos bem desde o momento em que nos
conhecemos, depois que fui contratada. Ela é minha melhor
amiga do trabalho e me ajuda algumas horas por semana no
meu apartamento, quando eu filmo. Nós nos conhecemos
quando ela tinha dezoito anos, e ela me lembrou muito de mim
na idade dela — jovem, sozinha em um lugar diferente de onde
ela havia crescido, e apenas tentando sobreviver. Mas ela é
filha única de um pai solteiro que mora longe demais para
visitar regularmente. Eu me senti protetora e quero o melhor
para ela.
Ela é a única pessoa na Casa Maio que sabe sobre o meu
“negócio secundário”. Mas, por mais amigável que
estivéssemos antes — porque ela realmente é a única razão
pela qual não saí da academia como muitos de nossos colegas
de trabalho — nada nos uniu mais nos últimos meses do que
nosso ódio mútuo pela mesma pessoa, Gunner.
“Vocês são pagas para trabalhar, não para ficar
conversando”, reclama nosso novo chefe. “Se precisarem de
mais coisas para fazer, me avisem. E se não querem trabalhar,
tudo bem comigo também. O McDonald's na rua está
contratando. Eles colocaram uma placa.”
Eu o odeio.
E gostaria de conhecer o código Morse para poder contar
isso a Deepa com minhas pálpebras.
“Eu me fiz claro?”
Ele deixou claro que somos pagas para trabalhar na
recepção — e, no caso de Deepa, no bar de sucos — e que não
podemos exatamente sair do balcão para fazer outras coisas?
Eu não confio em mim mesma, então apenas assinto, e
minha amiga também.
“São negócios, senhoras. Não levem para o lado pessoal.
Um dia, se tiverem sorte, talvez uma de vocês seja proprietária
de uma empresa e entenda de onde eu venho”, continua o
imbecil.
Se esse idiota soubesse.
Ele poderia enfiar seu conselho condescendente.
Eu sou dona da minha própria empresa. E a única razão
pela qual ainda estou por aqui é por causa das decisões idiotas
que tomei no passado — financeiras e pessoais.
Alguns dias atrás, depois que cheguei em casa depois de
jantar com Zac e Boogie, deitei na cama e pensei sobre o meu
futuro mais do que pensava há algum tempo. Pensei sobre o
que queria. Principalmente, porém, pensei no que sonho —
depois de me bater por ser tão fria com Zac e por não responder
a suas perguntas ou fazer as minhas.
Por não lhe contar o que venho fazendo com a minha vida
nos últimos anos.
Eu não tinha exatamente começado a filmar vídeos de
mim mesma cozinhando de propósito. Isso meio que...
aconteceu.
Tanto quanto me lembro, sempre amei fazer coisas na
cozinha. Era algo que eu herdara de todo o tempo que passei
com Mamá Lupe. Tinha sido o nosso tempo de ligação. Nosso
tempo feliz. Até o nosso tempo triste. Algumas de minhas
lembranças favoritas absolutas são de sua casa, fazendo
empanadas, bolo mole e guisado. Ela até comprou um livro de
culinária irlandês para que eu pudesse fazer algumas coisas
que a família do meu pai teria gostado... se ele ainda tivesse
alguma. E quando não estávamos cozinhando, adorávamos
assistir programas de entrevistas com segmentos de culinária.
Nós faríamos farra com Emeril. Ela teria feito isso divertido e
parecido com um programa de TV quando fazíamos as coisas
juntas, e isso transbordou e se transformou em um lugar de
conforto e amor.
Quando havia uma tonelada de outras coisas na minha
vida que eu não conseguia controlar, sempre fui capaz de
escolher o que fiz; isso era algo pelo qual não precisava confiar
em outras pessoas.
E mais tarde, estar na cozinha me fez sentir mais perto
da mulher que eu adorava, de quem sentia tanta falta. Ela me
deixou com um legado. Com uma maneira de ainda senti-la.
Então, sim, adoro fazer coisas que posso comer. Eu
sempre adorei. Eu amo comer.
Uma noite, cerca de sete anos atrás, depois de um dia
ruim no restaurante em que eu trabalhava como garçonete e
só tinha duas coisas na geladeira para preparar o jantar e sem
dinheiro para comprar mais mantimentos até o dia do
pagamento, foi quando aconteceu. Foi quando a primeira
semente de uma ideia foi plantada na minha cabeça. Olhando
para trás, eu só fui corajosa o suficiente porque Connie e sua
família não estavam em casa para me assistir. Eles estavam de
férias visitando a família de Richard.
Antes que eu pudesse me convencer do contrário, eu já
tinha feito. Upei um vídeo para o WatchTube apenas assim.
Para me divertir. Como eu disse, macarrão com calabresa,
porque tudo que eu tinha era macarrão, fatias de calabresa e
sobras de queijo parmesão em pacotes. Demorou um mês para
obter cinco visualizações. Um mês depois, upei outro no
aniversário de Mamá Lupe, só para ela. Naquela época, foi o
seu bolo tres leches favorito, uma receita que eu conhecia de
cabeça há anos. Recebi vinte visualizações e vinte polegares
dos membros da minha família depois de enviar o link para
Connie e Boogie. Meu namorado na época — aquele idiota —
sugeriu que eu continuasse fazendo isso.
Ninguém me disse que eu era péssima ou que era
desajeitada ou inconveniente, então continuei, porque fiquei
emocionada ao ver bons comentários, mesmo que fossem de
parentes e do meu ex. Eles fizeram eu me sentir bem. A pessoa
simpática em mim gosta de fazer as pessoas felizes e gosta de
fazê-las rir ainda mais. Eu lutei com minha auto-estima por
tanto tempo que foi bom, para mim, me sentir... legal.
E lenta, mas seguramente, essas visualizações
aumentaram e aumentaram ao longo dos anos.
Eu não sou chef como Emeril ou Rachel, mas sou Bianca.
Uma Cozinheira Preguiçosa. The Lazy Baker.
Eu deixei de postar um vídeo sempre que me apetecia,
para um vídeo por semana e, depois de algum tempo, para dois
por semana. Eu fiz isso por diversão até que finalmente
comecei a vê-lo como um negócio, o que foi uma decisão
estúpida que percebi anos depois, porque eu poderia estar
ganhando muito dinheiro. Era um futuro potencial. Meu
futuro. Brilhante que eu gostava de fazer, apesar das
desvantagens.
Então o meu ex idiota, tentou tirar isso de mim.
Mas ainda é meu.
Talvez eu ainda não esteja na situação ideal — graças a
todas as besteiras dele — mas estou caminhando adiante,
lenta, mas seguramente. Com o plano B, plano C e plano D. E
nada disso significa que preciso tirar uma folga de pernas para
o ar. O plano B, o plano C e o plano D estão me esperando.
E estou finalmente indo de férias para a Disney World,
porque eu vou me levar até lá.
Plano B, ter um site melhor. (Ainda não decidi alguns
detalhes menores no layout.)
Plano C, publicar um livro de receitas. (Tenho mais da
metade das receitas que planejo compartilhar.)
Plano D, ramificar-me em mais do que apenas postar
vídeos online. (Mas esse é o plano mais assustador e o que eu
não tenho tanta certeza de que sou corajosa o suficiente para
perseguir.)
Há mais planos, mas, por enquanto, esses são os mais
importantes.
Eu vou fazer isso por mim.
No entanto... nada disso importa naquele momento
enquanto estou ocupada.
Ocupada ouvindo esse ser humano escroto.
Gunner bate no balcão por fim quando nenhuma de nós
diz uma palavra para ele, e eu espero que ele saiba que nós
duas o estamos chamando de idiota em nossas cabeças. Não é
como se não tivéssemos feito o que somos pagos para fazer.
Nós fizemos. Foram literalmente dois minutos checando uma
bunda grande enquanto não estávamos ocupadas. Aposto que
ele checa todas as vezes que o cara passa.
Além disso, sei que Gunner enrola em seu escritório e joga
Tetris. Entrei lá duas vezes no começo, enquanto ele estava no
banheiro e vi a tela do computador. Hipócrita.
“Voltem ao trabalho”, ele tem a coragem de gritar por cima
do ombro enquanto se afasta como se não tivesse passado
cinco minutos sólidos tentando nos chutar na bunda com suas
palavras.
“Deus, eu odeio esse cara”, Deepa murmura quando ele
desaparece pelas fileiras de máquinas.
Fico assistindo para garantir que ele não volte à vista.
“Espero que ele pise em um Lego.”
Ela bufa e eu sorrio para a garota alguns anos mais nova
que eu. “Comecei a trabalhar no meu currículo como você
disse. Vou enviar por e-mail para mais algumas dessas
empresas que encontramos. Dedos cruzados.”
“Bom. Antes de sairmos, podemos espalhar um monte de
Legos por todo o escritório e rezar pelo melhor”, falo
calmamente.
Nós duas rimos, e ela volta ao trabalho um segundo
depois, quando um membro da academia vem até o balcão e
pede uma bebida.
Irritada, deslizo a mão sob o teclado e puxo meu celular.
Há uma mensagem. Mas não era o nome de Connie que
aparece na minha tela.
Há uma mensagem de um número que não reconheço. De
meia hora atrás, aparentemente. Asseguro-me de que Gunner
não está por perto, abro a tela e a leio.
512-555-0199: Oi
Ok.
Eu não respondo. Mas quando meu telefone vibra cinco
minutos depois, quando ainda não estou ocupada, dou outra
espiada. Há outra mensagem do mesmo número.
512-555-0199: Você está me ignorando?
Ignorando? Mando uma mensagem de volta para o
número.
Eu: Telefone novo, quem é?
Trinta segundos depois, uma resposta chega.
512-555-0199: Snack pack
Snack Pack?
Zac?
Faz três dias desde que Boogie me pegou e saímos para
comer. Três dias desde que vivi com o arrependimento de não
ser muito gentil com meu velho amigo quando ele tentou
perguntar sobre a minha vida. E dois dias inteiros desde que
fucei sua conta no Picturegram enquanto estava sentada no
vaso sanitário.
Não que eu não seguisse Zac online e não o seguisse há
anos. Eu vi todas as postagens dele. Mas ainda tinha rolado e
me demorado em algumas de suas fotos, especialmente
aquelas em que ele cortou cuidadosamente qualquer mulher
que estivesse sentada ao seu lado. Sempre foi óbvio. Isso não
é da minha conta e, 99% das vezes, não revira meu estômago
como quando eu era uma criança apaixonada pela última
pessoa no mundo que ela jamais poderia ter uma chance por
um milhão de razões diferentes.
Então eu saí do aplicativo, lembrando a mim mesma que
estou feliz por tê-lo visto e que estou muito feliz com o sucesso
dele. Apesar dos contratempos, mas todos passam por eles.
Ele merece tudo isso. Ele me motivou a seguir meu
próprio coração, mesmo que meu sonho fosse cerca de um
centésimo do tamanho dele. Mas se cada pessoa pesar seu
sonho contra o de outra pessoa, ninguém jamais sonhará.
De qualquer forma, além de uma mensagem de Boogie
sobre ele possivelmente vir visitar quando minha irmã estiver
aqui, não pensei muito sobre isso — tudo bem, Zac — desde
então.
Então a última coisa que esperava era que ele me
mandasse uma mensagem.
E que é exatamente quando outra mensagem chega.
512-555-0199: Zac, peewee
Ele pensou que eu esqueci quem é Snack Pack? O
problema é que eu não tenho o número dele no meu telefone
há provavelmente cinco anos, se não mais. Largo meu celular
no banheiro e tenho que começar tudo de novo com meus
contatos. Eu com certeza não estava prestes a pedir ao meu
primo pelo número dele. Não havia necessidade disso.
Tenho certeza de que ninguém está prestando atenção em
mim e mando uma mensagem de volta. Talvez eu não receba
uma resposta, mas... não seria a primeira vez e, pelo menos,
eu saberei que tentei. A escolha é minha e eu sei o pior que
pode acontecer, não voltar a ter notícias dele.
Estive lá, fiz isso, e tinha o adesivo.
Além disso, ainda me sinto uma idiota, e odeio saber que
tenho agido dessa maneira. Acho que sou melhor que isso. E
só quero saber que sempre tento. Ao contrário dele.
Eu: Oi Zac
Aqui vamos nós. Isso não é necessário, inconveniente ou
muito familiar.
Meu telefone vibra um minuto depois, e se meu coração
pula uma batida minúscula, bem, é idiota, e não preciso
prestar atenção a ele de qualquer maneira.
512-555-0199: Olá querida
512-555-0199: Você está livre depois do trabalho?
Eu não sei o que isso diz sobre mim que noto que ele usa
“querida” (abreviado) o suficiente para que seja salvo em seu
telefone, em vez de “querida”.
Mais importante ainda, como ele sabe que estou no
trabalho? E agora que penso nisso, ele tinha meu número ou
pediu a Boogie?
Você sabe o que? Não preciso de nenhuma dessas
perguntas respondidas.
Porque, independentemente disso, levou dez anos para
ele lembrar que eu existo.
Mas pelo menos desta vez, estou preparada para o que
pode acontecer a seguir. Não será um choque para o meu
sistema novamente. Eu sei onde estou, e essa seria a diferença
entre agora e antes.
Principalmente, porém, eu não quero ser uma idiota.
Eu: Sim. [emoji sorridente] Precisa de algo?
Isso foi bom, certo? Eu penso que sim. Espero que sim.
Talvez um pouco frio e blá, mas tudo bem.
Ele responde cinco minutos depois, mas levo mais vinte
minutos para lê-lo, porque alguém entra e se inscreve para
uma associação mês a mês.
512-555-0199: Eu só quero te ver se você tiver tempo
para mim.
Ok. Então ele quer conversar? Tudo certo. Eu não fui
muito gentil com ele, mas ele ainda está tentando, o que é tão
ele — ou pelo menos como ele costumava ser. E isso me faz
sentir um pouco pior.
Mas...
Ele está pedindo por isso, não eu. O fato é que, eu não
chorei até dormir à noite porque ele parou de se importar
comigo. E se ele quer voltar para a minha vida, mesmo que seja
apenas por algumas horas?
Tudo bem, também.
Expectativas.
E ele ama meu primo. E talvez eu o veja novamente
durante o casamento de Boogie. É melhor me acostumar com
a ideia.
Espio novamente para ter certeza de que a barra está
limpa e respondo.
Eu: Saio às 4. Avise-me quando estiver livre. [emoji de
rosto sorridente] Sem pressão.
Sem pressão. Um rosto sorridente. Muito passivo-
agressivo?
São necessários três minutos para obter uma resposta.
512-555-0199: Venha quando você sair do trabalho.
O quê?
Eu: hoje?
512-555-0199: Sim
Sim.
Por um breve segundo, penso em todas as coisas que
preciso fazer em casa. Lavar roupas, com certeza. Preparar
refeições para alguns dias. Responder a alguns e-mails. E
pensar em mais algumas ideias para as próximas receitas.
Assistir a outro episódio ou dois do programa turco em que fui
fisgada...
Mas uma imagem de Mamá Lupe se instala no meu
cérebro naquele momento — especificamente uma imagem de
Zac ao lado dela em seu vigésimo primeiro aniversário, com o
braço sobre os ombros dela, curvado tanto que a bochecha dele
descansava na cabeça dela. Ela o amou intensamente.
E sei o que ela gostaria que eu fizesse.
Também sei o que me mantém acordada à noite e o que
não.
Puta que pariu.

***

Quatro horas depois, estou chegando a uma casa que


parece ainda maior sem trezentos carros estacionados na
garagem e em frente à rua. Há carros na garagem, mas apenas
dois, um Mercedes novinho e um jipe vermelho.
Estaciono na rua depois dar uma ré, subo o caminho e
mando uma mensagem para Zac, informando que estou lá. Eu
não estou nervosa. Meu estômago também não dói. Tive horas
para aceitar o fato de que iria sair com ele — como dirigir
fisicamente para a casa dele e passar algum tempo com ele
individualmente. Porque ele me pediu.
E estou pensando em me desculpar por como agi.
Ok, talvez eu esteja um pouco nervosa, mas só um pouco.
E realmente, meu nervoso vem de mim não querendo
falar sobre certas coisas. Mas é isso.
Na porta, toco a campainha e espero, olhando para baixo
para ver se respondeu; ele não fez isso. Mas nem trinta
segundos depois, alguém se aproxima da porta de vidro e ferro.
Alguém que não pode ser Zac, por quanto mais baixo e
musculoso ele parece ser.
Lembro-me de que durante seus dias em Dallas, ele
morava com algum jogador famoso há alguns anos. O final
dessa situação de vida foi quando ele foi liberado daquela
equipe, os Three Hundreds. Boogie me disse que ele lutou
muito durante esse tempo; foi quando ele trabalhou em
Londres a longo prazo. Foi antes de Zac ser escolhido para
jogar em Oklahoma.
A porta se abre e o cara que ligou para o telefone de Zac,
aquele com os dreadlocks loiros platinados e loiros, está lá,
com as sobrancelhas escuras já levantadas e apontando para
mim.
Eu levanto a mão e ofereço a ele um sorriso, real. “Oi de
novo.” Estendo minha mão. “Eu sou Bianca.”
O cara musculoso olha para a minha mão. Ele olha por
tanto tempo que estou na metade do caminho esperando que
continue olhando, mas ele finalmente aceita, dando o
movimento mais lento enquanto diz, na voz mais profunda que
eu provavelmente já ouvi além de naqueles comerciais de
seguros, “CJ”.
CJ, certo. “Zac está aqui?”
“Ele está lá em cima.”
Meu telefone toca naquele exato momento e olho para
baixo para ver que é uma mensagem.
512-555-0199: Me dê 5. Desculpe.
Eu mostrei a ele a tela — lamentando por um segundo
não ter salvado o número de telefone dele e, provavelmente,
não vou — quando olho de volta para ele e o encontrei ainda
me olhando engraçado. “Ele disse que estará pronto em cinco
minutos. Posso esperar por ele lá dentro? Pernilongos
realmente gostam de mim.”
CJ assente, sua expressão ainda cuidadosa e quase
cautelosa, mas ele se afasta.
Entro, vendo como o lugar está limpo e espero por quem
eu tenho certeza de que também é jogador de futebol para
voltar à parte principal da casa antes de segui-lo, absorvendo
tudo agora que não estou procurando por Zac entre uma
massa de pessoas para lhe dar más notícias.
Com certeza, a casa está tão vazia quanto lembro.
Há apenas os móveis mais básicos. Nada nas paredes. É
tudo tão... baunilha. E tão diferente de Zac e sua tendência
acumuladora, que consigo lembrar. O carro dele estava uma
bagunça. Então, novamente, isto provavelmente é apenas um
aluguel que ele divide entre as temporadas, então por que isso
teria um toque pessoal?
Talvez um dia eu pergunte a Boogie sobre a situação.
Vou fazer isso direito. Eu sou uma — principalmente —
mulher adulta, e posso lidar com essa... amizade. Sei no que
estou me metendo. Ele me fez perguntas. Ele ficou feliz em me
ver. Estou pronta e disposta a ser o tipo de amiga que eu era
para todo mundo, por quanto tempo ele estiver por perto.
Bem, até certo ponto.
O passado aconteceu e é onde ele pertence, no passado.
Você vive e aprende, e todas essas coisas. Quando terminar
aqui, irei para casa e viverei minha melhor vida.
Como eu faço.
Uma respiração fortificante depois, agarro a bolsa na
minha mão quando chegamos à cozinha muito branca. Não
hesito antes de perguntar ao homem que conheci brevemente
semanas atrás: “CJ, você gostaria de um scone?”
O homem para no processo de se instalar em um
banquinho que já está puxado na ilha da cozinha, e eu não
perco o jeito que seus olhos se voltam para a bolsa de lona na
minha mão.
Eu a levanto um pouco mais. “Prometo que não estão
drogados e têm mirtilos. Óleo de coco também. Eles são
pequenos.” Este não é meu primeiro rodeio com ceticismo. Meu
sobrinho agiu como se eu estivesse tentando alimentá-lo com
arsênico na única vez em que lhe ofereci scones com alecrim...
ele acabou comendo quatro quando deu uma chance e parou
de engasgar antes de colocar alguma coisa na boca dele. Ele
nunca mais duvidou de mim depois disso.
Sim, o olhar de CJ ainda se estreita de qualquer maneira.
Então continuo. “Eu ia dá-los aos meus colegas de
trabalho, mas esqueci, e quando me lembrei...” Meus colegas
de trabalho favoritos já tinham ido, e eu não tinha mais
vontade de compartilhar, principalmente porque não queria
que Gunner comesse, então todo mundo perdeu. Mas paro de
falar porque esse cara, CJ, não precisa ouvir tudo isso.
Ele estreita os olhos ainda mais, e eu faço os meus irem
ainda mais longe para não sorrir. Jesus, ele está me fazendo
trabalhar por isso. Tudo certo.
Felizmente, eu sou uma covarde, mas não uma
desistente. Os scones são bons. Eles têm apenas seis
ingredientes e levaram cerca de dez minutos para fazer, dois
dos meus requisitos mais importantes para as receitas que
tento. E é um que acertei anos atrás e apenas ajustei um pouco
mais, para que sejam ainda melhores que a versão original. Os
scones de mirtilo estão no livro que quero publicar um dia em
um futuro próximo, também conhecido como plano C. “Eles
são mini scones. Quase biscoitos. Scookies, acho. Eu como um
se você...”
A maneira como a cabeça muito bonita do homem recua,
com os olhos arregalados, é o que me cala.
Então suas próximas palavras me mantém em silêncio.
Ele estala os dedos. “Eu sei por que você parece familiar”,
CJ diz, seu olhar aguçado.
Uh... “Nós nos conhecemos há algumas semanas por um
segundo”, eu lembro a ele. Não seria a primeira vez que alguém
se esquece de me conhecer, mas...
Ele imediatamente balança a cabeça e diz com aquela voz
profunda e assustadora que parece estar em desacordo com o
fato de que ele não tem nem um metro e oitenta de altura:
“Você é a Lazy Baker, não é?”
The Lazy Baker.
Eu não sei quem diabos fica mais surpreso, ele ou eu,
porque tenho certeza que grito: “Você viu meus vídeos?” Ao
mesmo tempo, a expressão de olhos estreitos cai de seu rosto
assim e ele aponta o dedo na minha direção. “É você.”
Balanço a cabeça porque, sim, sou eu. Eu sou The Lazy
Baker, ou pelo menos esse é o meu canal do WatchTube. E
Picturegram. E o site, que está bom por enquanto, mas em
breve será ainda melhor.
Eu tenho minhas mãos sobre o coração enquanto olha
boquiaberta para ele, com a boca aberta e tudo, porque é assim
que sou elegante.
Ele conhece meu canal!
ELE CONHECE MEU CANAL.
“Eu pensei que você parecia familiar na outra noite.” De
repente, ele sorri, todos os dentes brancos e brilhantes e um
sorriso que vira o rosto para o oposto do homem sério que
havia me deixado entrar.
“Você achou?” Eu só fui reconhecida pessoalmente talvez
umas cinco vezes. Cinco vezes em mais de seis anos.
É o meu cabelo. Eu sempre o uso preso e ajeito quando
faço vídeos, em vez de encaracolados como na “vida real”. E
uso muito mais maquiagem neles. Isso, e como um espectador
disse, eu não tenho exatamente um rosto memorável. “Ela é
gostosa, mas eu não entendo o porquê???” Outro espectador
escreveu depois desse primeiro comentário.
Então isso é legal. Um verdadeiro impulso ao ego da
Internet. Mas mesmo assim.
“Acabei de assistir aquele com você e sua irmã tentando
fazer o camarão com noz e mel falso alguns dias atrás”, admite
este jogador de futebol americano, ainda sorrindo, de uma
maneira que me assusta totalmente quando suas mãos vão
para seus quadris e ele balança a cabeça no que parece ser
uma descrença novamente. Descrença! De mim! “Eu tentei
fazer sua receita de pão de banana há uma semana.”
Ele fez meu pão de banana?
Eu me borro sempre que alguém me diz que fez isso, mas
agora?
Meu rosto já dói de tanto sorrir, e vou ignorar as lágrimas
tentando borbulhar nos meus olhos em reação. Eu fui
reconhecida. Ele fez minhas receitas.
Este pode ser um dos melhores momentos da minha vida
inteira.
“Você acabou de fazer o meu mês inteiro”, eu digo a ele,
certa que murmurei as palavras, ainda segurando minhas
mãos contra o peito enquanto tento não desmoronar. Eu quero
dar um abraço nele, mas talvez da próxima vez.
Se nos virmos de novo.
“Você quer um scone, então?” Sussurro, ainda flutuando
sobre ele ter feito meu pão de banana.
Naquele momento, o homem legal não hesita em acenar
com a cabeça enquanto continua basicamente sorrindo para
mim.
Lanço a ele outro sorriso que provavelmente me faz
parecer uma pessoa louca e vou até a ilha, abrindo a tampa do
recipiente de vidro e estendendo-a em sua direção.
Há literalmente alegria em seus olhos. Eu quase desmaio.
Eu exploro seu rosto como uma psicopata enquanto ele
mastiga pensativamente. Ele sabe quem eu sou! Eu balanço o
recipiente para ele, sentindo-me leve como uma pena de
repente. Eu não consigo acreditar. “Tem mais. Trouxe-os para
Zac, mas você pode ficar com a metade.”
Ele não espera. Meu novo melhor amigo, que não sabe
que ele é meu melhor amigo, pega mais três scones de mirtilo
e os segura em uma mão enquanto se alimenta com o outro
em pequenas mordidas legais que me fazem sorrir como uma
idiota por dentro — tudo bem, e por fora. Mas eu gosto, e não
tenho vergonha.
Eu posso me sentir subindo nas pontas dos pés
novamente. Ainda feliz. Tão feliz que ficarei feliz pelo resto do
mês, pelo menos. Talvez a minha vida inteira. “Você joga
futebol também?”
CJ balança a cabeça enquanto mastiga seu scone. “Para
os White Oaks. Receptador. Porra, isso é bom. Há realmente
alecrim neles?”
O White Oaks é o time de futebol profissional de Houston.
Eles não são os melhores e, na maioria das vezes, também não
são os piores. A maioria do que eu sei é que eles são um time
novato e seu quarterback é jovem. Eu não sei dizer quantos
anos CJ tem; ele tem um rosto que pode ter vinte e dois ou
trinta e quatro. O que sei é que gosto dele.
“Sim. Obrigada. De onde você é?”
“Philly, originalmente. Depois passei quatro anos em
Austin.”
Isso me faz ficar animada. Foi assim que ele conheceu
Zac? Algum tipo de ex-aluno alguma coisa?
Eu não tenho a chance de perguntar, no entanto. “Posso
te perguntar uma coisa?” O outro homem diz, ainda olhando
meus bolinhos minúsculos.
Eu seguro o recipiente em sua direção novamente.
“Claro.”
Ele pega mais dois, enquanto parece pensar nisso por um
segundo antes de tentar. “Você realmente inventa as receitas
no local?”
Eu recebi muito essa pergunta e quero muito responder.
Eu atraí meus telespectadores com a ideia de que vou quase
despreparada para cada episódio, especificamente para que
eles possam me ver falhar. Eu invento algo que quero fazer e
tento com a câmera gravando o tempo todo. Alguns dias, são
receitas originais. Alguns dias, tento fazer versões mais
saudáveis de pratos de fast food e restaurantes, com menos
ingredientes, e sigo meu instinto. Alguns dias, faço coisas que
não são exatamente saudáveis, mas são caseiras. Eu tento
quase tudo. Quando Guillermo, meu sobrinho, veio nos visitar,
fizemos episódios de culinária para crianças, e funcionou.
Fazer as coisas sem um plano, usar menos de dez ingredientes
e tentar facilitar ao máximo possível é o que faço. “Se não está
quebrado, não conserte”, é o meu lema na maioria das vezes.
“Eu penso muito isso na minha cabeça, mas no fim eu
improviso. Os assinantes gostam quando eu erro alguma coisa.
Esses vídeos costumam dar o melhor retorno, especialmente
se eu tiver alguém comigo.”
Eu não tenho muitas estrelas convidadas. Quase todas
as pessoas que participam dos meus episódios são membros
da família. A pequena porcentagem que não é composta de
outros blogueiros que entram em contato comigo e o resto são
amigos e familiares que pediram. Eu teria feito com mais gente,
mas a ideia de deixar estranhos entrarem no meu apartamento
é contra todas as lições que aprendi assistindo Law and Order.
É outra razão pela qual eu quero eventualmente alugar um
apartamento onde possa filmar separadamente. Esse é o plano
E. Um plano para o futuro distante.
CJ grunhe em torno do bolinho que ele colocou na boca.
“Esses são os meus favoritos.” Ele me olha com um sorriso
enquanto come outro scone. “Zac não fala muito sobre
ninguém além de sua mãe ou seu Paw-Paw, mas ele nunca
disse nada sobre você.”
Claro que ele não disse.
“Eu tenho certeza que ele não sabe sobre... isso. Outro
dia foi a primeira vez que o vi em dez anos”, admito.
CJ faz uma cara pensativa, mas puxa o banquinho entre
o que ele está pensando em sentar e o que eu estou ao lado.
Ele aponta para ele.
Tenho que usar a barra de suporte na parte inferior para
me impulsionar, e fico de frente para ele. Terei que perguntar
a Connie se ela sabe quem é CJ e esfregar na cara dela que o
conheci, se ela souber.
“Nós crescemos juntos. Éramos da mesma cidade. Ele é o
melhor amigo do meu primo”, explico para que ele não ache
que sou BIANCA BLACKHAIRGYM HOU no telefone. Eu
prefiro não ser nada no telefone dele, o que é mais do que
provável, com base em como a última década se passou. Não
que eu esteja chateada com isso.
E agora quero mudar de assunto. “Há quanto tempo você
joga aqui em Houston?” Eu raramente assisto futebol e,
quando assisto, é apenas quando Zac joga. Mas nunca
admitirei isso em voz alta.
“Desde que os White Oaks se juntaram à organização.
Eles me recrutaram.” CJ coça a nuca, flexionando os bíceps
sob a camiseta e tudo. “Você é menor pessoalmente do que
parece.”
Eu bufo enquanto coloco a mão na base de granito branco
atravessado com redemoinhos cinza e marrom. É uma
bancada agradável. Durável. Se algum dia eu tiver um estúdio
apenas para filmar, gostaria de algo parecido. A do meu
apartamento é branca, mas eu ainda adoro. “No começo,
quando comecei a postar coisas online, as pessoas diziam que
eu parecia uma anã. Que eles mal podiam me ver, então uso
saltos agora. Grandes plataformas antigas, então não pareço
estar no ensino médio.” Honestamente, eu me acostumei com
piadas sobre ser pequena desde que eu tinha uns oito anos.
Elas não são novidade. Elas nem são mais irritantes. Eu não
sou tão baixa assim.
CJ ergue uma sobrancelha impressionante ao mesmo
tempo em que levanta outro bolinho na boca. “Qual é a sua
altura?”
“Qual é a sua altura?”
Sua risada grande e inesperada me faz sorrir um segundo
antes dos sons da voz de Zac serem levados para a cozinha.
Esticando-me para o lado, olho em volta e o encontro parado
na porta que aprendi na semana anterior, leva a uma escada.
A mesma escada que leva para cima.
Ele está ao telefone, olhando em nossa direção. Eu posso
ver isso. E ele está discutindo. Eu posso ouvir isso.
“...é o problema? Estou fazendo o que tenho que fazer”, sua
voz baixa cospe irritação em cada centímetro de seu tom. De
jeans e camiseta marrom clara, Zac está lá com uma mão no
batente da porta e a outra ao seu lado, em punho.
Quando fazemos contato visual, aceno para ele.
Ele me dá um pequeno aceno de cabeça antes que a mão
fechada se erga e ele levante o dedo indicador.
Alguém está em uma ligação importante. Ok. Sem
problemas.
“Não, nós concordamos com isso. Não.” Ele abaixa a
cabeça novamente para resmungar no receptor. Ele o tem
praticamente pressionado contra a boca. É assim que sei que
ele está bravo. Eu tive conversas assim com meu ex. Eu o vi
passar a mão pelos cabelos loiros escuros e compridos
enquanto ele gritava, “Isso não é minha culpa!”
Caramba.
Virando-me para encarar CJ, sorrio para ele. Ele me dá
um de volta.
“Por que eu deveria ter que...” A voz de Zac continua por
um segundo, mas quando olho para trás na direção em que
está, ele não está mais lá. Mas ainda posso ouvi-lo.
“Trevor ainda está bravo com ele sobre a festa”, diz CJ do
nada.
Que festa? Aquela, aqui, semanas atrás?
“Espero que alguém o contrate. Ele ainda tem muito
nele.”
Olho para cima e encontro meu novo melhor amigo
olhando o recipiente de scones na minha frente. Eu os cutuco
em direção a ele novamente e vejo quando ele abre a tampa e
arranca mais dois. Eu quero perguntar se ele sabe alguma
coisa que eu não sei — mas quando você não sabe nada, que
é exatamente a quantidade de conhecimento em meu cérebro
sobre Zac e sua carreira, tudo é informação — mas mantenho
a boca fechada.
Se Zac quiser que eu saiba, ele apenas me dirá, certo?
Não que eu esteja esperando alguma coisa. E eu literalmente
não disse a mim mesma para cuidar dos meus assuntos quinze
minutos atrás?
Felizmente e infelizmente, não tive que me perguntar
muito sobre isso porque o telefone de CJ começa a tocar. O
toque deve ter significado alguma coisa, porque a próxima
coisa que sei é que ele está empurrando o banco para trás,
dizendo: “Eu preciso atender. Obrigado pelos scones, Bianca.”
Tudo o que consigo fazer é dizer: “De nada, CJ”, antes que
ele saia pela porta e suba as escadas.
Bem, isso foi interessante.
Isso fez o meu dia inteiro.
Viro de novo para olhar para onde Zac desapareceu. Eu
não consigo mais ouvi-lo. Talvez ele só queira alguma
privacidade para terminar uma conversa que não parece tão
agradável. Faz sentido. Eu posso esperar.
Enquanto estou sentada lá, pego meu telefone e abro meu
aplicativo de e-mail, imaginando que possa trabalhar enquanto
espero. Pessoas aleatórias me mandam mensagens o tempo
todo com várias perguntas sobre culinária, especialmente
quando estão tentando ajustar uma das minhas receitas, e eu
tento muito responder. Na maioria das vezes eu faço isso
enquanto estou no banheiro, mas não há sentido em ficar
sentada sem fazer nada, há?
Eu respondo um e-mail. Dois. Três. Quatro. Cinco, seis,
sete, oito, nove, dez e depois do décimo quinto — de dois dias
atrás — ter sido respondido, olho para o relógio no microondas
à minha frente... quase uma hora se passou.
A decepção em forma de marreta me atinge bem no centro
do peito.
Ele esqueceu que estou aqui?
Algo quente e desconfortável se espalha pelo meu esterno,
e me viro novamente para ver se ele voltou e está apenas...
quieto. Maldito pensamento, e sei que é. Eu sei.
Silenciosamente, o mais silenciosamente que posso, saio
do banquinho em que minha bunda se moldou e rastejo em
direção à escada.
A menos que ele esteja com uma capa de invisibilidade,
ele não está lá. Algo que pode ser sua voz flutua escada abaixo.
Ele levantou o dedo para me pedir para esperar por ele...
Mas isso foi uma hora atrás.
Quem diabos fala ao telefone por tanto tempo? Certo,
talvez eu com minha irmã, mas eu desligaria se tivesse algo
para fazer ou alguém estivesse visitando.
Provavelmente é algo realmente importante, meu cérebro
tenta argumentar.
Mas...
Tenho coisas a fazer. E aparentemente Zac também.
Coisas que não me incluem, afinal.
Passo o caminho inteiro até o supermercado tentando não
me decepcionar com o que aconteceu na casa de Zac.
Mais como... o que não tinha acontecido.
Mas, como a maioria das coisas, é mais fácil falar do que
fazer, como quando minha resolução de ano novo era acordar
às cinco da manhã todos os dias para malhar antes do meu
turno. Eu não tinha levado em consideração que raramente ia
dormir antes das duas da manhã.
A verdade é que fico desapontada com o meu
desapontamento.
Eu sou mais esperta que isso.
Eu fui lá com a intenção de me desculpar e não fiz isso.
Porque eu fui esquecida. Não pela primeira vez na minha
vida.
Meu estômago está estranho, não importa o quanto eu
“entenda” que Zac é “famoso” e provavelmente tenha um monte
de coisas acontecendo. Ele está ocupado com sua própria vida.
Eu estou ocupada com minha vida, e é claro que ele é ainda
mais ocupado do que eu. Ele me convidou quando pensou que
tinha um momento e eu não sei que as coisas surgem? Claro
que entendo. Houve várias vezes em que tive que parar ou ir
direto para casa do trabalho porque algo havia acontecido no
meu site ou por receber um e-mail sobre um erro que alguém
havia encontrado em um vídeo ou post e tive que fazer controle
de danos.
Eu disse a mim mesma que Zac havia me pedido para vir,
porque ele queria me ver.
E fico desapontada porque literalmente o vi por talvez
cinco segundos à distância.
Se algo não estivesse acontecendo, ele teria descido. Mas
eu conheci CJ, e ele sabia quem eu era e até fez uma das
minhas receitas. Isso deveria ter sido suficiente. Teria sido
mais do que suficiente em qualquer outra situação.
Mas meu estômago — e meu coração — não dão a
mínima.
Porque aquela camada de melaço do tipo “meu amigo me
salvou” realmente não vai a lugar nenhum na estrada ou
durante minha viagem de compras.
Dizer algo a si mesma e acreditar são duas coisas
totalmente diferentes.
Mas a ligação que chega ao meu celular enquanto estou
na fila do caixa ajuda. Um pouco.
Fico surpresa quando o telefone começa a tocar enquanto
eu carrego minhas compras na esteira e dou uma espiada na
tela para ver 512-555-0199 piscar na tela.
Olho o número por um segundo e penso em não atender.
Mas atendo de qualquer maneira, porque eu não sou uma
idiota. Porque tenho que tentar.
Eu simplesmente não colocarei muito peso em nenhuma
das minhas interações com Zac, principalmente porque não
espero nada.
Se você não tem expectativas, não pode se decepcionar.
Antes que eu possa pensar muito, atendo ao telefone... e
continuo carregando minhas compras.
“Alô?” Não que eu não soubesse que é ele, mas meus
sentimentos estão um pouco magoados, independentemente
de entender a situação.
“Aww, querida, eu sinto muito”, a voz que ainda é
familiar, porque eu a ouvi na televisão, passa pela linha assim
que coloco meu creme de baunilha na esteira.
Faço uma careta para mim mesma e olho para cima para
ver o caixa me observando. Eu forço um sorriso.
“Você está perto? Pode voltar?”
Voltar para a casa dele?
Alguma parte de mim fica tentada a dizer que sim. Eu
gostaria de falar com ele. Ouvir a voz que parece um abraço
caloroso naquele dia. Observar um rosto que sorriu para mim
o que parece ter sido centenas de milhares de vezes. Talvez
ouvir uma risada que ouvi quase tanto quanto. E dizer que
estou arrependida por ser tão estranha no jantar.
Mas sobre o que você realmente teria que falar? Qual é o
objetivo? Meu cérebro tenta sussurrar... e eu não posso
exatamente ignorar.
Meu coração dá essa pequena torção dolorosa que tento
ignorar, mas não consigo.
Ele me deixou lá embaixo sozinha por quase uma hora.
Depois de me convidar. Eu tinha merda para fazer.
Sorrio para o caixa mais uma vez quando termino de
carregar o resto das minhas coisas pesadas, leite e um saco de
batatas. “Eu não estou mais por aí.” Eu não estou sendo
amarga, ele mal percebeu que eu saí. “E estou saindo do
supermercado agora. Posso ligar para você quando terminar?”
Tenho que piscar os olhos quando outra onda de decepção
percorre meu peito por ter sido esquecida. Novamente.
É minha própria culpa por me sentir assim, e tenho que
me esforçar para sair disso. Fui até lá com a melhor das
intenções, querendo compensar como me comportei e, porra,
eu vou continuar com isso. Até certo ponto.
“A propósito”, falo, “deixei alguns scones no balcão para
você. Eles não são de tamanho normal, mas... se você não
gostar, basta dá-los ao CJ.”
Não há pressão sobre ele. Se ele não gostar deles, pelo
menos seu colega de quarto gosta. Ele não precisa se sentir
mal por não gostar deles. Além disso, contei a ele sobre eles,
em vez de deixá-los apodrecerem no balcão. Olhe para mim
tentando ser madura.
Há uma batida de silêncio, e depois outra, e eu faço uma
careta quando pego minhas sacolas de compras da
ensacadoura e pergunto: “Você está aí?”
“Sim”, responde meu velho amigo depois de um segundo.
“Sinto muito, querida. Tem certeza de que não pode voltar?
Você pode colocar suas coisas na geladeira...”
Eu não quero ser essa pessoa, quero? Aquele que fica
toda chateada quando eu sou melhor, quando ele não me deve
nada. Eu posso ser educada e ainda cuidar de mim. Fazer o
que é melhor para mim. Eu tinha tentado, e isso tem que ser
suficiente. Na verdade, isso é apenas mais um sinal de como
essa amizade entre nós não deve acontecer.
Eu consigo ler os sinais. Fechei os olhos para eles várias
vezes na minha vida, mas já aprendi minha lição. Só porque
você fecha os olhos e finge que algo não está lá, não o faz
desaparecer.
“Obrigada, mas tenho algo que preciso fazer.” Fazer o
jantar e assistir TV. Hesito por um segundo. “Cuide-se, ok?”
Há outra pausa, então: “Eu pensei que você fosse me ligar
quando chegasse em casa?”
Sim, eu estava mentindo quando me ofereci. Mas dera
pelo melhor. Para mim, e provavelmente para ele também. Ele
não precisa perder tempo. Pelo que parece, ele tem merda
suficiente para lidar.
Então, mesmo que eu não queira, mesmo que doa um
pouco, eu ainda digo isso porque quero ser legal, porque não
sinto mais ressentimento com o passado. “Falo com você mais
tarde, Zac.”
Mais tarde. Certo. Talvez nós dois saibamos o que eu
realmente quero dizer.
Há uma expiração suave que eu mal consigo ouvir antes
de: “Sinto muito, Peewee.”
Peewee.
Chega aquele aperto novamente e, dessa vez, dói. Só um
pouco, mas mais que o suficiente. “Eu sei. Está tudo bem. Até
mais.”
Há um som ao fundo que eu não sei o que fazer antes de
ouvir “Tchau, Bianca” e depois, eu desligo.
Não há muito mais o que dizer um para o outro, há?
Nós dois tentamos. Algumas coisas simplesmente não
devem ser.

***

“Você fez o quê?”


Na tela do meu telefone, posso ver minha irmã encostada
na câmera e mostrando os dentes para mim. “Eu usei algumas
dessas tiras de clareamento. O que você acha?”
O que eu realmente penso é que a boca de Connie agora
pode iluminar um campo de mini-golfe para brilhar no escuro.
“Con, acho que essas coisas desgastam o seu esmalte, mas
seus dentes estão bonitos”, digo a ela quando termino de cortar
a cebola branca que comprei cerca de uma hora atrás. “Eles
não serão tão agradáveis quanto as dentaduras que você vai
precisar, se continuar usando essas coisas.”
“Foi o que eu disse!” Meu cunhado, que está sentado ao
lado dela no sofá, bem na borda da tela, interfere. Eu mal posso
ver o joelho dele naquele momento, mas antes ele se inclinou
para a câmera e perguntou quando eu estava planejando
visitar.
Vejo a cabeça da minha irmã girar lentamente para a
direita, para onde ele está. Ela olha para ele.
“Punkin, estamos apenas cuidando de você”, o homem
que se casou com minha irmã catorze anos atrás — o pai de
seus dois filhos — tenta voltar atrás. Eu já sabia exatamente
que rosto apaziguador ele está lhe dando; Eu já vi
pessoalmente muitas vezes. “Eu te amaria com três dentes,
mas, por favor, não me peça. Eu posso rir se você começar a
assobiar através dele.”
Eu bufo. Minha irmã continua olhando para ele.
Doze anos mais velha que eu, Connie é mais uma figura
materna para mim do que uma irmã, pela maior parte da
minha vida. Junto com Boogie, ela é minha melhor amiga.
Apesar da diferença de idade entre nós, tínhamos
cimentado nosso vínculo pelas dezenas de vezes que ela bateu
na minha janela no meio da noite para que ela pudesse entrar
de novo. Eu ganhei sua lealdade por nunca denunciá-la —
principalmente porque sempre pensei que ela era o ser
humano mais legal, mas também porque, de acordo com o que
nossa mãe havia dito algumas vezes quando estava por perto,
eu saí do útero e nos apaixonamos uma pela outra.
Nós continuamos apaixonadas uma pela outra. Não faz
muito tempo, Connie disse algo sobre como criou três filhos e
não está pensando em ter mais nenhum. Ela deu à luz dois
deles, e sei que sou a terceira. A primeira. Seu bebê de treino.
Desde que consigo me lembrar, ela sempre foi minha força.
Ainda mais baixa do que eu — e realmente, basicamente,
um hobbit, se quisermos dizer as palavras, porque eu estou
abaixo da média, mas ela leva isso a um nível totalmente novo
— ela também é uma fonte regular de entretenimento. E ela é
muito amável, louca ou não.
Na tela, ela pisca para o marido.
Ele faz algo que faz parecer que ele se contorce.
Ela pisca novamente.
E novamente ele parece se contorcer.
Eu sinto a falta dela. E do marido dela. E dos filhos deles.
“Você ouviu isso?” Meu cunhado diz de repente,
levantando-se. “Acho que meu telefone está tocando. Deixe-me
ir procurar.”
Eu bufo: “Mentiroso!” Ao mesmo tempo, minha irmã
murmura: “Cocô de galinha.”
E então nós duas rimos e trocamos um sinal de positivo
através de nossas câmeras quando o microfone pega a voz do
meu cunhado: “Eu não estou mentindo! Tenho certeza de que
ouvi!”
Ele está mentindo, com certeza.
E isso nos faz rir mais.
Richard faz alguma merda de vez em quando, mas ele é
incrível. Depois da minha irmã e primo, ele provavelmente é
minha terceira pessoa favorita. Covarde ou não.
Ele me conquistou desde o início. Não é todo homem que
ficaria louco por sua cunhada se mudar por anos, mas ele foi
o primeiro a mencionar isso depois que Mamá Lupe morreu.
Nem uma vez nos anos em que vivi com eles, ele me fez sentir
mal, esquisita ou indesejada.
Há uma razão pela qual minha irmã ficou com ele e todos
as suas mudanças ao longo dos anos, enquanto ele estava
ativo no exército.
Na tela, porém, Connie quase instantaneamente fica séria
quando encara a câmera novamente e pergunta: “Agora que
Nosy se foi, você vai me dizer o que a deixou chateada, ou vou
ter que adivinhar?”
Droga. Eu sabia que deveria ter esperado para conversar
por vídeo com ela. O que mais eu esperava?
Felizmente, eu termino de cortar as cebolas ao mesmo
tempo em que ela joga sua pergunta para mim, então tenho
uma desculpa para colocar minha faca na tábua. Eu sei que
não devo tentar mentir para ela. Mas também não quero que
ela saiba da história completa. Zac Travis me convidou e depois
me esqueceu. Mas não é grande coisa, porque parece que ele
tinha uma ligação importante! Sim, assim ela voaria com a
psicopata que vive em Killeen, a horas de distância. Deus não
permita que alguém me machuque, mental, emocional ou
fisicamente.
Minha irmã nunca me deu um motivo para duvidar de
que ela viria direto para me ajudar se eu precisasse dela. E
mesmo quando não preciso dela. Crianças a reboque às três
da manhã e tudo.
Ela é minha heroína.
E talvez Zac tenha inadvertidamente ferido meus
sentimentos, mas eu não estou prestes a jogá-lo debaixo do
ônibus quando parte de mim entende que ele se desculpou e o
que aconteceu não foi planejado.
Ela o viu algumas vezes ao longo dos anos, e eu não quero
tornar as coisas estranhas. Ela nunca foi tão próxima de
Boogie ou dele como eu, mas eles não são totalmente
estranhos. Ela morou com a nossa abuela por alguns anos
antes de se mudar, depois que terminou o básico no colégio da
comunidade local.
“Eu deveria sair com um amigo, mas eles meio que me
deixou na mão. Não é grande coisa, mas eu apenas exagerei e
fiquei irritada.”
Olhos mais claros que os meus me encaram através do
meu tablet enquanto ela os estreita. Não somos totalmente
iguais. O cabelo dela é liso; o meu é tão encaracolado quanto
humanamente possível. A pele dela é clara como a do nosso
pai, e a minha é escura como a da nossa mãe. Ela sempre foi
magra e pequena, e eu ganho peso se apenas olhar para um
único Chips Ahoy. Connie sempre foi bonita e popular e tinha
meninos por todos os lados. Eu? Não muito. Pelo menos não
até os vinte e poucos anos.
Mas ela não está totalmente acreditando em mim;
Percebo pela expressão facial dela.
“Não é grande coisa”, insisto. Isso me rende uma revirada
de olhos que me faz querer mudar de assunto o mais rápido
possível. “Diga, você falou com seus pais ultimamente? Eles
não enviaram e-mails e vídeos ou me enviaram mensagens há
mais de uma semana.”
Isso faz minha irmã me lançar um olhar antes de grunhir.
Ela deixa a coisa dos “seus pais” passar, felizmente.
“Sim. Mamãe me mandou um email ontem...
“Mãe! Mamãe! Acho que colei meus dedos super juntos!”
Uma voz grita de algum lugar no fundo. “Oww! Mãe! Me ajude!”
Minha irmã suspira instantaneamente, levanta a mão e
belisca a ponta do nariz por um segundo antes de me lançar
um olhar sem graça. “Quero que pense nesse momento se
decidir ter filhos, Peewee. Pense muito e bem.” Um lado de sua
boca dá um meio sorriso que significa que nada de bom está
prestes a sair de sua boca. “Longo e duro é o que me levou a
esta situação.”
Aperto o nariz e cubro os ouvidos com as palmas das
mãos. “Não. Você está cruzando a linha. Eu já lhe disse antes,
Richard está na categoria Nunca-Quero-Ouvir-Nada-Sobre-
Isso.”
Ela gargalha. “Deixe-me ir lidar com isso. Te amo. Tchau”,
Connie diz antes de desligar somente depois que eu disse
tchau também.
Ainda estou tentando esquecer as informações
desnecessárias dela enquanto abro minha despensa e pego as
latas de feijão que preciso para a sopa que estou preparando
para o jantar — porque posso comer sopa no almoço e jantar e
ficar feliz pelo resto da minha vida — quando a campainha
toca.
Ah, que inferno.
Embora o complexo em que moro tenha um portão que
exija um código de acesso para entrar, e embora a mendicância
seja proibida de acordo com as placas postadas em todas as
entradas, de vez em quando, as pessoas ainda conseguem
entrar furtivamente. Na semana passada, alguém segurando
panfletos e oferecendo-se para falar com quem quisesse ouvir
sobre nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo tocou minha
campainha. A única razão pela qual verifiquei o olho mágico
com antecedência foi porque ouvi vozes do lado de fora da porta
— especificamente a voz do meu vizinho Santiago — e fiquei
curiosa. E nem fiquei com vergonha de admitir que havia me
deitado no chão por cinco minutos depois.
E de novo, eu fingi que não estava em casa quando
alguém que não conhecia bateu. Mesmo quando as escoteiras
apareceram e tentaram vender biscoitos. Eu não tinha força de
vontade.
Então, você pode dizer que eu sei que não devo atender
quem está tocando a campainha.
Coloco minha lata ao lado do forno holandês que estava
prestes a usar e rastejo o mais silenciosamente que posso em
direção à porta. Boogie tentou me dizer uma vez que você pode
ver sombras se moverem pelo olho mágico do lado de fora
quando eles são usados, mas eu não acreditei totalmente nele.
Eu parei de acreditar em tudo o que ele disse quando eu tinha
treze anos e ele tentou me dizer que beijar meninos fazia bebês.
Sim, eu encontrei os preservativos de Connie dois anos
antes e tive essa conversa com ela. Minha irmã me ensinou
sobre os pássaros e as abelhas usando uma cenoura e um
donut de canela. Há uma razão pela qual somos tão próximas.
Ela pode me dizer qualquer coisa.
Qualquer coisa que não esteja relacionada ao marido
dela, porque eu o vejo demais e simplesmente não quero
imaginar coisas.
De qualquer forma, um rápido olhar através do olho
mágico me faz cair da ponta dos pés para os calcanhares,
depois voltar para eles para ter certeza de que não imaginei o
rosto do outro lado inclinado em direção ao teto.
Não estou vendo coisas.
É Zac.
Como diabos ele tinha...
Essa é uma pergunta estúpida. Obviamente, há apenas
uma pessoa que poderia ou teria dado a ele meu endereço. Mas
por que ele pediu? E o que ele está fazendo aqui?
Pelo olho mágico, eu o vejo se inclinar para frente e, nem
um segundo depois, a campainha toca novamente.
Ok.
“Um segundo!” Eu grito, franzindo a testa para mim
mesma antes de virar a trava e depois o bloqueio inferior e abrir
a porta com cuidado para enfrentar o homem que foi meu
amigo há muito tempo. Um homem que é muito, muito
ocupado. E por isso fico muito feliz.
Eu não vou levar nada pessoalmente. E não vou me
machucar. Não vou me decepcionar mais do que já estive,
lembro a mim mesma enquanto forço um sorriso casual no
meu rosto.
“Oi”, digo a Zac, estremecendo por dentro com o quão
quase meia-boca minha saudação soa.
O homem de cabelos loiros e com o rosto recém barbeado
me lança um sorriso que parece cauteloso quando seus olhos,
num azul bebê quase perfeito, se fixam nos meus. Não posso
deixar de notar suas roupas — jeans, camiseta e botas de
cowboy gastas. “Oi, querida”, ele fala demoradamente.
O que diabos ele está fazendo aqui?
Ele deve saber que estou surpresa com a presença dele,
porque continua ali, apontando aqueles olhos para mim. Um
canto da boca rosada levanta-se — ele não tem a boca mais
cheia, mas é bem modelada e bonita — e também levanta um
daqueles ombros largos quando pergunta: “Tem um minuto
para mim, querida?” Ele tenta me dar espaço, eu darei isso a
ele. “Linda, por favor?”
Um flashback repentino da minha abuela reclamando
sobre deixar Zac se safar de tudo aparece do nada.
E eu a entendo completamente. Agora. Tantos anos
depois. É esse sorriso e a seriedade em seu rosto — mas
principalmente aquele maldito sorriso — que me puxa apesar
de tudo.
Ele está aqui, e ele é Zac, e talvez tenha machucado meus
sentimentos por se esquecer de mim, mas...
Ele está aqui. Sendo todo... ele mesmo, ou pelo menos me
mostrando os pedaços que formam a pessoa que eu conheci.
As partes importantes.
Droga.
Eu vou ficar bem. Não vou mostrar que ele me machucou,
porque eu sei que... de alguma forma... ele não teve a intenção
de fazer isso.
O mundo é um lugar pesado e tenho as costas delicadas.
Além disso, se alguém precisa se sentir mal, sou eu por
como me comportei em primeiro lugar.
As sobrancelhas dele se erguem. “Então... sim?”
Então... sim?
Fico de lado e gesticulo para Zac. “Claro. Entre.”
O sorriso dele fica largo.
Sim, há uma razão pela qual Mamá Lupe o amava e por
que fui tão apaixonada por ele, como amiga e muito mais,
naquela época.
“Eu estou no meio do jantar”, digo a ele, acenando para
Zac me seguir em direção à ilha que separa a cozinha da sala
de estar. Tenho dois bancos alinhados ao longo dela. “Quer
alguma coisa para beber? Eu tenho água, Pepsi e pó de
limonada rosa.”
Quando me mudei, há cerca de um ano e meio, não havia
comprado muitas coisas para a sala porque o depósito naquele
lugar foi muito caro. Havia um sofá-cama, uma cadeira que
está lá apenas porque eu peno que é fofa, porque com certeza
não é confortável, e uma TV que minha irmã e sua família
compraram, alegando que era meu aniversário e presente de
Natal pelos próximos dois anos. Ela não estava brincando
também. No Natal, ela me deu um cartão com uma foto da
televisão. Eu chorei de tanto rir. Eu tinha velhos pôsteres de
Mulan e O Rei Leão emoldurados na parede que um amigo me
presenteou.
A cozinha foi a razão de eu ter me mudado para esse
complexo caro, em primeiro lugar. Eu fiz um tour e sabia que
era isso que eu queria. Com armários brancos, gavetas
extraíveis, balcões de granito branco, azulejo backsplash de
vidro azul claro, utensílios de aço inoxidável e uma pequena
ilha no meio, eu imediatamente imaginei filmar blogs de vídeo
na cozinha pequena, mas perfeita. Foi amor à primeira vista.
Um dia, talvez, eu possa comprar uma casa com uma
linda e grande cozinha. Mas aceitarei alugar um estúdio para
filmar. Algum dia.
“Eu vou tomar um pouco de água”, responde Zac, me
trazendo de volta ao presente e me fazendo parar de admirar
minha cozinha.
Balanço a cabeça enquanto agarro um copo limpo e o
coloco no filtro de água de mesa que custou os olhos da cara
enquanto o som dele puxando um banquinho me diz o que está
fazendo. Ficando confortável. Com certeza, ele está sentado do
outro lado do balcão, me dando outro sorriso de lábios
cerrados quando coloco o copo na frente dele e o empurro um
pouco mais para perto.
Zac parece... desligado. Suas sobrancelhas marrons
claras estão fechadas, sua testa está franzida e as linhas ao
longo da boca estão profundas, e eu não gosto. Eu só não gosto
parcialmente de não gostar disso.
“Você está bem?” Eu cedo e pergunto, observando seu
rosto forte e bronzeado.
Ele realmente ainda parece algum tipo de príncipe de
conto de fadas.
Um príncipe de conto de fadas, com o qual muitas
mulheres querem fazer coisas sujas, de acordo com alguns dos
comentários em seus posts no Picturegram. Eu li alguns deles
depois que a TSN Anatomy Issue foi lançada — aquela com as
nádegas nuas — e meudeuso. Eu pensei que gostava de merda
suja. Não, comparada a algumas pessoas.
“Sim, além de me sentir uma merda sobre o que eu fiz,
com certeza, querida”, ele responde de volta, trazendo-me de
volta ao momento, aqueles olhos azuis de bebê se fixam em
mim quando ele levanta o copo e toma um gole.
Quero dizer... se ele quer se sentir mal...
Eu não sinto falta do jeito que ele olhava para isto antes
de tomar outro gole e lamber aqueles lábios rosa algodão doce.
“Essa água é deliciosa ou estou imaginando?”
Claro que ele tornaria isso difícil.
Eu bufo, e isso me vale meio sorriso de um rosto bonito.
“É sim. É uma coisa de máquina de osmose reversa. Isso filtra
tudo.”
Aquele olhar azul volta ao copo. “Você tem que escrever o
nome para mim”, diz ele depois de tomar outro gole, e juro pela
minha vida que ele estala nos lábios um pouco. “Isso é bom,
Peewee.”
Falar sobre filtros de água é bom e seguro. Isso funciona
para mim. “Eu escrevo. Vale cada centavo.”
“Quanto foi?”
Eu menti para todo mundo sobre o preço, mas... eu vi
fotos do seu último carro. Que carro ele dirige agora, eu não
faço ideia. Você imaginaria o mesmo, mas alguns caras do
MMA na academia compram um carro novo a cada três meses
por merdas e risadinhas. Você nunca sabe. Além disso, eu só
posso imaginar quanto dinheiro ele provavelmente gasta se
alimentando, ou mais como ter outras pessoas alimentando-o.
“Trezentos dólares, mas posso lhe dar um código de desconto.”
Ele não precisa saber que tenho um código de desconto que
promovo o tempo todo que a empresa me deu. Eu mantenho o
filtro de água no balcão para que ele possa ser visto em quase
todos os vídeos que gravo. A publicidade não é gratuita.
Durante muito tempo, parei de incluir patrocinadores —
pessoas que me pagavam para anunciar seus produtos — em
meus vídeos. Estou tentando compensar isso agora.
“Você disse trezentos dólares?” O maldito milionário unha
de fome engasga com seu gole.
Eu lhe dou as costas quando me viro com um bufo que
não esperava dez minutos atrás, ou uma hora atrás, ou cinco
anos atrás.
Este homem foi meu amigo, apesar da diferença de idade.
Ele cuidou de mim. Eu sabia que, há muito tempo, ele me
amava.
E foi por isso que a distância dele me machucou tanto.
Mas, mesmo depois de todo esse tempo e... tudo, ele ainda
é o mesmo cara que esperou seis meses para substituir a
janela do carro porque “a fita está funcionando bem.”
E então me surpreendo quando murmuro: “Você pode
pagar”, como eu faria se fôssemos amigos.
Se tivéssemos ficado amigos.
Preciso parar e apenas... levar isso pelo que é. Eu
realmente preciso. Uma visita rápida e amigável como a minha
deveria ter sido. Estamos nos reconectando.
“Jesus H. Cristo”, Zac resmunga, me fazendo focar nele.
“Por trezentos dólares, vou beber da mangueira”, ele afirma,
mesmo quando o ouço tomar outro gole.
Pego meu abridor de latas, balançando a cabeça
enquanto o coloco em uma das latas de que preciso. Eu posso
fazer isso. Eu posso falar com ele como qualquer pessoa
amigável que entra na academia. Eu não sou tímida. Eu nunca
fui.
Eu posso fazer isso pelas pessoas que amo.
“Você mora aqui sozinha?” Zac pergunta.
“Sim.” Ele não precisa saber a história toda. Abro uma
das latas de feijão cannellini, a palavra aqui saltando na minha
cabeça um pouco mais. “Eu realmente gostei da cozinha”,
explico, como se isso significasse algo para ele. Por uma fração
de segundo, eu me pergunto se CJ mencionou meu canal do
WatchTube para ele, mas não é como se isso importasse. Eu
não vou falar disso.
A menos que ele pergunte, eu acho.
“Com certeza é uma boa cozinha.”
“Pelo que estou pagando, deve ser.” Espreitando por cima
do ombro, não tenho que me forçar a sorrir para o meu velho
amigo que está sentado lá com os cotovelos no balcão e o
queixo apoiado em uma palma, aqueles olhos azuis claros em
mim, batendo contra o bonito e— agora que realmente dou
uma boa olhada nisso — rosto cansado.
Ele não está dormindo? Ou está apenas cansado e
estressado? Eu não ouvi uma palavra sobre o que está
acontecendo com sua carreira desde aquele primeiro dia.
Um canto daquela boca fofa sobe, lembrando-me
novamente do garoto que eu conhecia e amava que sempre foi
nada além de gentil e bom comigo... até que ele basicamente
desapareceu. “Nenhum companheiro de quarto?”
“Não”, explico, jogando os grãos em uma peneira e me
movendo em direção a pia para enxaguá-los. “É a primeira vez
que moro sozinha, mas gosto.” Limpo a garganta, querendo
mudar de assunto. “Seu colega de quarto, CJ, parece legal.”
“Sim, ele é um cara legal.” É a vez de Zac soltar um
suspiro que nem tenta abafar, mesmo que eu esteja de costas
para ele. “Sinto muito por ter deixado você esperando, Peewee”,
meu velho amigo disse inesperadamente, direto e reto ao
ponto, em uma voz clara que consegue parecer genuinamente
apologética.
Eu posso fazer isso.
“Está tudo bem”, começo a dizer, voltando-me para ele.
Ele está balançando a cabeça. As linhas em seus olhos vincam
profundamente quando ele franze a testa.
“Não, não está. É uma coisa real, querida, e sinto muito,
pra caramba. Mamãe teria curtido minha pele por fazer isso
com qualquer um, mas especialmente com você. Eu estava no
telefone com meu agente. Eu tive problemas por ignorar as
ligações dele por um tempo, quando estava em Liberty Hill, e
ele ficou todo irritado. Não é desculpa, mas desculpe-me por
não ter conseguido falar com ele mais cedo”, Zac diz numa
corrida de palavras, como se tivesse que falar. “Eu já tinha
Trevor no meu pé, e eu não aguentava meu agente por mais
tempo.”
Ele está com problemas? Porque seu agente está tentando
levá-lo para uma nova equipe ou algo assim e não está
atendendo suas ligações? Ou o quê?
Ele continua, mostrando cada vez mais peças do garoto
que conquistou minha lealdade e amor há muito tempo. “Você
vai perdoar o seu velho Snack Pack?” Ele pergunta daquele
jeito Zac que é todo açúcar e seriedade e aquele sorriso que
pode matar um dragão quando ele olha para mim por baixo
dos cílios.
Meu velho Snack Pack.
Ah, merda.
Ele também não terminou. “Da próxima vez, você pode
me ouvir sendo detonado, se quiser. Meu agente é profissional
e Trev também é bom nisso. Ele poderia dar algumas aulas
detonar pessoas novas, quando eles já estiverem por baixo.”
Eu pisco novamente.
Eu nunca fui o tipo de pessoa que guarda rancores
loucos. Até Connie esquece as coisas rapidamente.
Provavelmente é culpa dos nossos pais, honestamente. Seus
corações macios são a razão pela qual eles são bons médicos.
Nossa avó, por outro lado, se lembrava de tudo e não deixava
você esquecer.
Mas tudo sobre aquele corpo comprido aqui no meu
apartamento, porque ele é tão alto e todos os seus músculos
são tão intermináveis e rasgados quanto seus ossos, parece
apologético e honesto. Sincero. Aqueles olhos dele são gentis e
reais.
Eu nunca ouvi o que aqueles apresentadores de TV
disseram sobre ele, sobre como era imaturo e não confiável,
sobre como nunca atingiu seu potencial máximo.
O problema é que meu primo ainda não seria o melhor
amigo de um idiota.
E Zac não estaria aqui se ele não desse a mínima para me
deixar esperando.
Tudo isso me diz algo.
Essa é minha escolha — perdoar ou não. Não vivi minha
vida esperando que ele se lembrasse de mim. E quaisquer que
sejam as razões que ele teve... bem, ele as teve.
Então, depende de mim, e eu sei o que meu coração está
me dizendo. Um coração em que posso ouvir o sussurro
silencioso da minha avó. Um coração que reconhece o que
meus olhos podem ver.
“Sim, eu te perdoo”, suspiro, o que significa
completamente, até a parte inferior dos meus pés descalços.
“Obrigada por explicar.”
É a verdade, e isso me faz sentir muito melhor; é meio
chato o quanto melhor. Olho para ele por cima do ombro
novamente e vejo que ele descansou as mãos e está sentado
ereto no banco, suas feições sérias.
Seu olhar está vagando lentamente pelo meu rosto
também.
Eu me viro para o balcão. Também posso fazer minha
parte. “Ei, falando de coisas pelas quais pedir desculpas, me
desculpe, eu não ter sido muito legal quando saímos para
comer. Fiquei... surpresa em vê-lo.” E fui mesquinha.
Principalmente isso. Isso não sai da minha boca, embora. “Eu
sinto muito.”
“Não há nada no mundo para você pedir desculpas,
garota.”
Isso me faz sentir mais uma merda. Mas como não quero
falar sobre isso por mais tempo do que precisamos, aceito e
fujo. Então mudo de assunto, porque estou tentando,
caramba. “Então... você resolveu as coisas com seu agente,
pelo menos?”
“Mais ou menos”, ele responde. “Ele ainda está chateado,
mas estamos resolvendo o problema. Eu simplesmente não
posso mais sair inesperadamente.”
Antes que eu possa me parar, antes que o resto do meu
corpo possa alcançar a distância — não, a expectativa de não
esperar nada — minha boca se esforça como sempre faz com
pessoas que conheço, ou pelo menos me sinto confortável.
“Você precisa dizer ao Paw-Paw para sair do BSing e garantir
que ele não caia de novo, hein? Então você não vai precisar
sair aleatoriamente?” Eu pergunto, olhando para ele por cima
do ombro.
Isso o faz esboçar um sorriso que tem seus cotovelos
voltando para o balcão da ilha. Seu queixo quadrado também
pousa no berço da palma da mão larga. Mas são aqueles olhos
sorrateiros, sutis e calmantes que se iluminam. Familiar, velho
e natural. Como se não tivesse ido a lugar nenhum desde
sempre.
Senhor, como eu devo guardar rancor quando ele está me
olhando assim? Eu não consigo. Então é uma coisa boa que
esse não tenha sido o plano.
Então ele me arrasa com outro sorriso que poderia ter
deixado outra pessoa fraca dos joelhos. “Eu sei, querida. Ele
precisa parar de agir como se fosse um velho frágil.”
Sorrio e Zac me dá um sorriso enorme — um sorriso cheio
que faz o resto do seu rosto se iluminar ainda mais quando ele
ri.
Sim, há uma razão pela qual eu senti falta dele. Ele
sempre foi tão legal, e nós sempre nos demos tão bem.
E se esse é o caso, porque ele sente que me deve algo de
que eu não consigo me lembrar de ter feito... o que seja. Eu
não vou pensar demais. Estou perdoando e me sinto... certa
sobre isso. Bem com isso. Por quanto tempo isso durar, certo?
Eu me viro para a comida que preparei e digo: “Boogie me disse
que ele está em casa agora e está indo bem.”
“Ele está bem. Eles o mantiveram a noite toda como
precaução”, Zac responde. “Ele com certeza ficou feliz em vê-
la.”
Rasgo a sacola de couve que comprei e sacudo um pouco
dela na peneira para enfiar sob a torneira para enxaguar.
“Espero que ele saiba que eu amo vê-lo. E sua mãe. Juro que
ela parece a mesma de quando éramos crianças.” Eu seguro a
piada sobre a nossa diferença de idade, assim como estava
prestes a sair. Faz muito tempo, afinal.
Há uma batida de silêncio enquanto estou focada nos
verdes frondosos, mas Zac pigarreia e volta a suspirar, soando
um pouco diferente quando ele o fez. “Você vai fazer alguma
coisa o resto do dia? Pensei que você tivesse dito que tinha
planos ou algo assim.”
Bem, isso volta pra me morder na bunda bem rápido.
“Planejo fazer coisas aqui. Tenho que trabalhar amanhã. E
você?”
Felizmente, ele é muito educado ou se sente muito mal
por me deixar esperando para dizer que eu menti.
“Não. Meu único plano era alcançá-la, querida”, ele fala
pausadamente. “Ainda não acredito que você mora aqui.
Ninguém disse uma palavra para mim.” Há uma pausa e
depois: “Não consigo esquecer que não te reconheci. Quantos
anos você tem agora? Vinte... e sete?”
Eu sei por que ninguém disse nada. Porque em dez anos,
ele obviamente nunca se esforçou o suficiente para ver como
eu estava, porque ele poderia ter perguntado e não o fez. Se ele
se importasse. E essa é a coisa errada em que pensar.
Estou deixando essa merda de lado.
Ele está aqui agora. E tento não me apegar a coisas
assim, especialmente quando é óbvio que ele está tentando
agora.
E se ele pode tentar, eu também posso.
Expectativas.
Este homem me pegou na escola uma vez ou dez.
“Bem, se você quer sopa para o jantar, pode ficar. Não sei
se isso se encaixa no seu plano de refeições. Tem salsicha
nela”, aviso, principalmente esperando que ele recuse porque
tinha planos, como um encontro ou algo assim... talvez com
aquela bela loira.
Por isso, fiquei surpresa pra caramba, pela centésima vez
desde que nos vimos semanas atrás, quando Zac diz: “Adoro
sopa.”
Ele amava tudo no passado.
“Salsicha, feijão e couve?”
Esse tolo diz: “Mm-hmm”, e não posso deixar de olhar
para ele novamente. Ele está tomando outro gole de água,
espiando dentro do copo enquanto parece estranho, ou ele está
tentando descobrir se há mágica nele.
Ser fofo flui naturalmente para algumas pessoas.
“Eu imaginei que você tivesse planos”, deixo escapar,
apenas me arrependendo parcialmente quando acendo o
queimador embaixo do meu forno holandês.
Mas Zac não hesita em responder. “Eu te disse. Passar
algum tempo com você era meu único plano, Peewee.”
Lá vai ele novamente.
E talvez isso me faça sentir bem o suficiente para
continuar tentando brincar com ele, tentando voltar àquele
ponto em que construímos uma amizade de infância de catorze
anos. Isso surge dentro de mim como uma onda contra a qual
não tenho chance. É uma segunda natureza, e eu já a reprimi
o suficiente durante o dia no trabalho e nas últimas vezes em
que nos vimos.
“Bem, senhor pretensioso, sorte minha então”, digo a ele
sarcasticamente, como eu teria dito se ele fosse Boogie ou
Connie.
Zac ri, o som rouco e grosso, brilhante e familiar. “Você
sempre costumava estar tão animada para passar um tempo
comigo.”
Sim, isso é legal. Então eu aceito e brinco com ele. “Bem,
sim, porque todos os meus amigos moravam longe, e apenas
você, Boogie e Connie estavam por perto”, brinquei enquanto
espero a panela esquentar. Isso levará alguns minutos. “Então
Connie mudou, e só restaram vocês dois.”
Isso me rende mais uma daquelas risadas roucas e
brilhantes que parecem um velho par de calcinhas
confortáveis. “Você está tentando me dizer que algumas das
minhas melhores lembranças são mentiras?”
Eu realmente adorava passar um tempo com ele e Boogie
naquela época, e ele sabe disso. Não preciso confirmar nada.
Olho para ele. “Você não quer que eu responda isso. Hoje não
vou partir seu coração, mas provavelmente também não faria
perguntas à sua mãe sobre a fada dos dentes ou o Papai Noel
tão cedo, está bem?”
É a vez desse tolo piscar. E ele chega ao ponto de levantar
a mão e colocá-la no centro do peito. “Você está tentando
dizer...”
É muito difícil não bufar, mas se ele quer brincar... bem,
isso é uma segunda natureza para mim também. E mantenho
meu rosto sem expressão. “Acho que é uma conversa que você
precisa ter com ela. Sinto muito.”
Meu amigo de há muito tempo atrás pira. Ele balança a
cabeça como... se estivesse extremamente feliz. Por estar perto
de mim.
E eu gosto. Eu gosto muito mais do que qualquer negócio.
“Ah, querida, senti falta de você, e eu...” Zac se
interrompe.
Mas eu sei o que ele está prestes a dizer. Pelo menos meu
instinto sabe.
Eu senti falta de você e nem sabia disso. É isso que ele
começou a dizer. Sabe, porque ele se esqueceu de mim. Caso
contrário, ele teria perguntado ou entrado em contato
novamente em algum momento ao longo dos anos. Tudo o que
seria necessário era um telefonema. Um “oi” via mensagem de
texto.
Olho para o fogão e jogo um pouco de óleo na panela
holandesa, mordendo o interior da minha bochecha enquanto
o faço.
Ele esteve ocupado.
E está tudo bem. Eu também estive ocupada. Tive uma
vida.
Mas nada disso muda o silêncio estranho que enche
aquela lasca de segundo antes de Zac começar a dizer:
“Bianca...”
Eu não quero ouvir isso. Vou me concentrar no bem. No
aqui.
“Então, eles colocaram Paw-Paw sob algum
medicamento? Boogie não disse”, eu o interrompo.

***

“Então... o que você tem feito?” Zac me pergunta meia


hora depois, depois de contar sobre a saúde de Paw-Paw e de
contar mais algumas histórias sobre ele que eu nunca tinha
ouvido antes, que me fazem rir.
E o mais importante, contornar nosso passado.
O que eu tenho feito? Em vez de como tem sido a vida nos
últimos dez anos? Eu não sou a única em terreno estranho, e
está tudo bem. Eu não quero que as coisas fiquem estranhas
após seu último comentário sobre não perceber que ele sentiu
minha falta.
Eu sei que ele não está tentando me machucar
lembrando-me novamente que não nos víamos há tanto tempo
— e definitivamente não é por isso — mas... eu estou
escolhendo não deixar que isso me incomode.
E se ainda é um pouco dolorido, essa merda é comigo.
Mas, honestamente, na verdade, é a coisa mais fácil do
mundo perdoar Zac por qualquer coisa e falar com ele é como
vestir um par favorito de meias que foi separado por uma
secadora mágica por meses. Se eu quiser ser menos técnica é
como andar de bicicleta. Ele é tão simpático e bobo e falar com
ele também é...
Natural. Sair com ele, conversar com ele, é apenas... fácil.
De alguma forma, isso é irritante e agradável ao mesmo tempo.
“Você trabalha em uma academia? Acho que esse é o
último lugar em que Boogie me disse que você estava.” Ele
continua com as perguntas depois de me contar sobre Paw-
Paw Travis ligando para ele às seis da manhã para perguntar
como comprar alguns óculos de sol que viu na televisão que
ajudariam sua condução noturna.
Fazia seis anos desde que ele deveria ter deixado de
dirigir, mas isso não o impede, aparentemente. Paw-Paw alega
que ele só quer dirigir pelo rancho.
Espere.
Sua pergunta me leva um segundo para processar.
Boogie disse a ele onde eu trabalho? Não consigo me lembrar
de mencionar nada sobre isso no carro quando fomos jantar.
Ele perguntou a Boogie?
Ele sabe da academia, mas não do meu canal do
WatchTube?
“Sim. Trabalho algumas horas por semana na recepção
da Casa Maio”, falo para ele enquanto pego um monte de
linguiça e verduras do meu prato e reflito sobre isso. Isso é
informação suficiente sem ser demais. “É uma academia em
um prédio e o prédio ao lado é para MMA e outras coisas.”
Pelo canto do olho, posso vê-lo olhando para mim
enquanto engole a comida. Nós nos mudamos para sentar na
sala no sofá, mas a televisão não está ligada. Tenho um copo
de limonada rosa ao meu lado na pequena mesa lateral.
“Você faz MMA? Há quanto tempo está lá?”
Eu me mexo, dobrando minha bunda naquele canto para
encará-lo um pouco melhor. Seu perfil é nítido sob a
iluminação do ventilador, mas ele parece tranquilo, relaxado e
afundado no sofá marrom que herdei de um amigo do meu
primo, todos os membros longos e a pele que ficavam
bronzeados e mais bronzeados a cada ano. Ele tem um cotovelo
apoiado no braço do sofá e segura sua própria tigela no ar na
palma da mão. “Não. De modo nenhum. Estou aqui há cerca
de três anos, mas os proprietários originais a venderam há
pouco tempo e não gosto muito das pessoas novas.” Ou nada.
“Espero não ficar lá por muito mais tempo.”
Por que eu disse isso em voz alta?
Infelizmente, ele está prestando atenção. “Qual é o plano
para depois disso?”
Como outra colherada de salsicha e espero até engoli-la
para dizer-lhe vagamente: “Não sei. Estou brincando com a
ideia de me mudar, mas comecei a pensar nisso agora.
Veremos.” Eu não mencionei isso a ninguém, mas se ele falar
a Boogie, não será grande coisa. Eu provavelmente conversarei
com ele sobre isso mais cedo ou mais tarde, de qualquer
maneira.
Os olhos de Zac se voltaram para mim quando a palavra
“m” sai da minha boca, e eles ainda estão lá quando termino.
Aquelas sobrancelhas marrons claras se unem; elas não são
muito grossas, mas também não são finas. São perfeitas para
o rosto dele. Honestamente, tudo nele trabalha junto para
formar um garoto bonito, mas de alguma maneira ainda
masculino. “Mudar para outro apartamento ou outro lugar?
Voltar para casa?”
“Outro lugar”, respondo, puxando minhas pernas para o
sofá para que meus pés estejam plantados nele também e eu
possa equilibrar minha tigela em cima dos meus joelhos.
Quanto devo dizer a ele? “Gosto de Houston, mas não tenho
mais ninguém aqui além de alguns amigos. E eu gostava do
meu trabalho, mas agora não gosto. Connie vive em Killeen.
Boogie está em Austin...” Eu paro. “De qualquer forma, vamos
ver. Ainda tenho mais alguns meses em meu contrato para
decidir. Você está bem em Houston por enquanto? Está
planejando ir para outro lugar? Voltar para casa?”
Talvez eu devesse ter calado a boca e não perguntado
nada sobre o futuro dele.
Seu sorriso é tenso, e isso me faz sentir mal. “Está tudo
bem até agora. Ainda estou trabalhando com um treinador
aqui.” O levantar de ombro que ele dá diz todo o resto, penso.
“Você soube, eu acho?”
Sobre não continuar com os Thunderbirds? O que diabos
ele está perguntando? Balanço a cabeça, deixando isso em seu
campo.
Ele inclina a cabeça para o lado em silêncio. Tempo
suficiente para eu esperar que não quer mais falar sobre sua
carreira, e não posso culpá-lo. Eu não falaria. Aposto que todo
mundo quer conversar com ele sobre isso. Tem que ser
irritante. “Estamos resolvendo as coisas”, afirma ele depois de
um tempo, a colher ainda raspando ao longo dos lados da tigela
branca lisa.
Hã. Não é da minha conta para perguntar.
“Eu não sei, querida. Cá entre nós, talvez eu me
aposente.”
Eu quase cuspo minha comida. Tenho certeza de que
engasgo porque a linguiça cai na via errada e tenho que tomar
um gole da minha limonada antes de deixar sair: “Aposentar-
se?” Da mesma maneira que costumava dizer piolhos.
Zac se inclina, a mão indo para a almofada entre nós,
uma expressão preocupada em seu rosto perfeito. “Você está
bem?”
Assinto, tossindo um pouco, mesmo depois de um grande
gole de limonada azeda, que ele recusou.
Ele continua franzindo a testa, e tenho certeza que ele se
inclina um pouco mais. “Você tem certeza, querida? Seu rosto
está todo vermelho. Quer um pouco da minha água?”
Eu dou um polegar para ele, enquanto tusso um pouco
mais.
Ele não parece convencido, mas recosta-se no sofá e pega
sua tigela novamente, colocando-a no colo, mas não volta a
comer. Ele apenas olha para mim preocupado.
Portanto, mesmo que não seja da minha conta, pergunto
novamente, sem engolir meio quilo de linguiça dessa vez: “Você
disse que está pensando em se aposentar?” Eu não tinha
imaginado isso, certo?
Seus olhos azuis se voltam para mim. “Ouviu essa parte,
hein?”
“Sim.” Ele quer se aposentar? Só de pensar isso, a palavra
na minha cabeça é nojenta.
Sua resposta é levantar os ombros largos e espiar o
jantar. “Estou pensando sobre isso.”
Isso não é da sua conta, Bianca. Não é da sua conta.
“Por quê?” Pergunto antes que possa me parar.
“As coisas não estão indo exatamente como planejei,
querida”, afirma ele calma e uniformemente. Quase em...
resignação? “É julho, e não tenho exatamente um time
esperando por mim, sabe?”
Uma lembrança daquele maldito segmento no programa
esportivo de um mês atrás passa pela minha cabeça. Acabou
para Zac Travis como quarterback inicial da NFO?
Idiotas.
Tenho uma escolha e sei que sim. Manter minha boca
fechada e lamentar com ele. Dizer a ele que tem a vida inteira
pela frente para fazer o que quiser. Dizer que o futebol não é
tudo.
Ou não.
Porque como diabos ele pode estar pensando em largar
seu sonho agora? Depois de tanto tempo? Como?
Não é da sua conta, Bianca, meu cérebro tenta me dizer
pela milionésima vez.
E claro, talvez não seja — definitivamente não é — mas
como ele pode estar pensando seriamente em se aposentar?
Ele está louco?
Ele contou a mais alguém? Essa é uma pergunta
estúpida, é claro que ele provavelmente fez isso. Por que Boogie
me diria se ele tivesse? Não há razão. Eu posso ver Boog,
embora dizendo a ele que tudo dará certo.
Mas não está bem.
E antes que possa me parar novamente, pergunto: “É isso
que você quer?”
Aqueles ombros largos dele, sobem.
Eu posso aceitar isso como um não, certo? “O que seu
agente e seu empresário pensam?” Continuo com as perguntas
como se tivesse algum direito de saber as respostas.
Aquele olhar de olhos azuis se move para mim conforme
ele pega mais feijões e couve de uma maneira que parece
bastante distraída. “Eles estão... preocupados.”
Senhor, ele está me fazendo trabalhar para isso.
“Sobre…?”
Não é da sua conta. Não é da sua conta. Isso não é da...
Vejo sua hesitação, vejo a maneira como seus olhos se
voltam para o lado por uma fração de segundo, e vejo como
aquela mandíbula loira e cinza com pedaços marrons faz essa
esquisitice, mas ele me responde assim mesmo. “Eles estão
preocupados que eu esteja muito velho.”
Muito velho?
Ele faz um som e eu não sei o que pensar dele. “Não estou
pronto ainda. Pelo menos não me sinto como se estivesse. Há
outras coisas... Foi outra merda com o treinador em
Oklahoma. Não nos dávamos. Não clicávamos.”
Ohhh.
“Mas nem todo mundo entende ou vê dessa maneira. Não
era o lugar certo para mim.” Ele enterra aqueles dedos
compridos no cabelo, jogando os fios multicoloridos para trás,
para longe da testa. “Agora estou aqui. Trevor e meu agente
acham que outras equipes preferem alguém jovem”, concluiu
Zac. “Alguém para formar uma equipe e tudo mais.”
Pisco, bato no cabo da colher e olho para ele. Para aquele
príncipe da Disney, o nariz, a silhueta da boca e o resto do
rosto bonito.
O que diabos há de errado com ele?
“Eles estão preocupados porque você não é mais 'jovem'?
Eles acham que outras equipes não querem você porque é
velho? E decrépito? Quero dizer...” Ele está pedindo, não está?
Ele pisca. O lábio inferior de Zac cai literalmente, e ele se
apruma no meu sofá. Ofendido. Ou talvez seja machucado?
Chocado?
Jesus, me ajude. Talvez todos os três.
“Eu tenho apenas trinta e quatro”, ele diz basicamente em
um tom que poderia ter machucado meus sentimentos há uma
década. Olhos mais largos do que o habitual, ou pelo menos o
que eu considero “habitual”, com base nos rostos que
normalmente o vejo mostrando na câmera. Sim, ele está
insultado. “Por que você está fazendo parecer que eu estou
num andador?”
Eu pisco novamente, lutando muito para não rir, porque
ele realmente está tornando isso muito fácil. Muito fácil. E
muito divertido, mesmo que ele tenha perdido a cabeça com
sua conversa de aposentadoria. “Estou apenas trabalhando no
que você disse.”
Sua boca ainda está um pouco aberta enquanto as
sobrancelhas se unem, 100% ofendidas/chocadas/magoadas.
Mas pelo menos, não triste.
Então não posso evitar. Eu bufo. “Ei, você é quem está
fazendo uma festa de piedade para uma pessoa. Parecia um
convite. Você é o único que implica que você é um homem velho
e tudo mais.” Tudo certo. E lá estamos nós voltando para a
jovem Bianca que tratou Zac como Boogie, provocando e
brincando e normal.
Mas ele mereceu. Ele estava pedindo por isso.
Eu não tinha exatamente planejado pular direto para ele,
mas velhos hábitos morrem com dificuldade. E há coisas
piores no mundo a fazer do que pegar Zac Travis quando ele
está sendo dramático. Eu poderia estar drogada.
Zac pisca novamente, pensando. Eu posso dizer que ele
está pensando.
E então, então, olho para ele com uma expressão que diz
você é um idiota. Porque essa é a Bianca mais nova também.
Tudo bem, e Bianca adolescente e adulta, especialmente perto
de pessoas em quem confio e me sinto mais confortável.
Meu coração está em uma página diferente do meu
cérebro, e tudo bem.
Então, e só então sua boca se curva. Então ele balança a
cabeça com uma risada que parece surpreendê-lo. “Tudo bem,
tudo bem. Você fez o seu ponto, garota. Não sou velho. Eu sei
que não sou. Outras equipes podem se sentir assim, mas eu
não sinto isso. Era o que eu estava tentando dizer. Não estou
pronto ainda.”
“Você não é tão velho,” esclareço, tentando provocá-lo
para fora de seu pequeno mundo um pouco mais, polegada por
polegada.
“Não. Ainda não estou velho, ponto final.” Ele me dá um
olhar de lado que faz sua bochecha tremer. “Não mesmo.”
Mas é tarde demais. Falamos demais nisso agora, e isso
é familiar demais. Muito fácil. “Você tem certeza de que ainda
consegue jogar uma bola a alguns metros?”
Ele ri, e é leve e incrível, e não posso esperava o quão feliz
isso me deixa. “Alguns centímetros?”
Minha resposta é dar de ombros para ele.
Esse sorriso torto dele se liberta para o mundo. “Eu não
me lembro de você ter sido uma peste tão grande.”
“E eu não me lembro de você ser um poço de
negatividade.” Coloco mais alguns feijões e verduras na minha
colher antes de acrescentar: “O Zac, de dezessete anos, diria
ao Velho Zac soltador de puns agora mesmo, que ele deve parar
de chorar, porque algumas pessoas podem não acreditar nele.
Você se lembra de quanta dor as pessoas lhe causaram na
faculdade? Como eles te disseram que era muito magro
naquela época? O jovem Zac diria para você superar e
aproveitar todas as oportunidades que tiver, mesmo que isso
signifique voltar a ser da segunda turma escolhida novamente.
Ou terceira. Quem sabe, talvez um desses jovens se machuque
e eles liguem para você e lhe peçam para assumir. Apenas
dizendo.”
“Se as equipes pensam que nem querem considerá-lo, em
primeiro lugar, porque você está na casa dos trinta agora, não
lhes dê outra opção a não ser notá-lo. Publique seus exercícios
nas mídias sociais. Aproveite a sua plataforma Picturegram.
Mostre a todos que você ainda consegue e, mesmo que nada
aconteça, pelo menos você saberá que tentou. O Zac de
dezessete anos, estaria estalando os dedos para chegar lá, e
você sabe disso”, eu digo a ele com um sorriso.
Ele não ri ou sequer sorri com o meu comentário como eu
esperava.
Talvez eu tenha ido longe demais com base na expressão
que ele começou a me dar antes de lentamente virar a cabeça
em direção à tela da televisão em branco. Ele não diz nada por
tanto tempo, fico um pouco preocupada que ele vá ficar louco
agora.
Quero dizer, não somos realmente amigos. Não mais. Nós
fomos.
E eu não sou a mesma pessoa que costumava brincar e
falar merda com ele, porque estava muito segura em nossa
amizade, ou pelo menos do carinho que ele sentia por mim por
causa do que eu tinha feito por ele.
Mas eu disse a verdade, e não vou retirar. Se eu nunca
mais o vir depois desta noite, pelo menos ele terá a memória
de eu fazê-lo despertar no futuro se ele começar a sentir pena
de si mesmo. Mamá Lupe pensava que ele andava sobre a água
e, aos olhos de Paw-Paw, Zac não faz nada de errado.
Eu também pensava que ele era ótimo, mas isso não
significa que vou sentar e falar o que ele quer ouvir para que
ele possa flutuar por mais tempo ou fazê-lo pensar que desistir
é bom. E se você quer algo, não desiste quando chegar a um
obstáculo, não se isso realmente significa algo para você. Você
persiste e agarra. Eu não ligo para o que alguém diz. Eu não
tenho o maior público no WatchTube, e isso não significa que
eu não tente muito ou não dê o meu melhor em todos os vídeos
que publico. Eu não sou menor que outra pessoa porque elas
têm mais do que eu, e não sou melhor porque tenho mais do
que as outras pessoas. Eu tenho fome de mim mesma. Do meu
futuro.
E assim que ele abre a boca para me dizer para cuidar
dos meus assuntos, ou quem diabos sabe o quê, seu celular
toca.
Meu velho amigo, que veio para ficar comigo, me lança
um olhar rápido, que não me deixa saber o que pensar, antes
de ele tirá-lo do bolso em que guardou e fazer uma careta para
a tela.
É uma menina? Meu cérebro pergunta, sabendo que não
é da minha conta imaginar isso, plenamente consciente de que
não preciso responder a essa pergunta.
“É o meu agente de novo”, Zac deixa escapar o tempo que
levou para o seu toque começar novamente, mesmo que ele
não tenha que explicar nada. “Espero que isso não seja
constrangedor”, ele murmura, parecendo distraído.
“Lembra daquela vez em que você vomitou bolinho de
chuva em si mesmo porque subiu na montanha-russa logo
depois de comê-lo? Isso foi embaraçoso. Não ser detonado.”
Seu olhar vai para o meu, e sua boca se inclina para um
lado. “Você se lembra disso?”
Eu assinto. Como eu poderia esquecer? Boogie e eu
tínhamos conversado sobre isso alguns anos atrás quando
fomos a um parque de diversões com Connie e as crianças e
vimos bolinho de chuva. Nem precisamos dizer nada um ao
outro. Nós dois começamos a rir do nada.
“Esqueça que isso aconteceu”, ele diz com um sorrisinho
sorrateiro que me faz sentir melhor sobre sua reação à minha
conversa de merda antes de tocar na tela e levar o telefone ao
ouvido. “Pois não, senhor?”
Eu olho para minha TV desligada para lhe dar um pouco
de privacidade, dou mais algumas colheradas enquanto ele
não diz nada. Colherada, mastigação, repetir tudo de novo.
Essa sopa está boa.
Eu compartilhei a receita há alguns anos em um dos
meus vlogs. Os feijões, lingüiça e verduras são uma receita da
vovó Brannen que adaptei e mexi um pouco através da
memória. Eu nunca conheci vovó Brannen, a mãe do meu pai,
mas ele me deu seus cartões de receitas no meu aniversário
quando eu tinha dezesseis anos. Também teve muitas coisas
com as quais me atrapalhei quando não tinha todos os
ingredientes para outras receitas que gostava. E também tinha
toneladas de Mamá Lupe, mas a maioria sempre foi muito
pessoal para compartilhar.
Talvez eu possa mexer um pouco com alguns ingredientes
e postar uma receita atualizada disso? Como uma variação se
você tiver coisas diferentes na sua geladeira?
“Não se diz”, Zac responde de uma maneira que me faz
olhar para ele. Ele está olhando para a minha tela de televisão.
Correção, através da tela da minha televisão. O queixo coberto
de restolho está trancado e parece algo em uma estátua. “Isso
está certo?”
Oh-oh. Eu posso pensar nas minhas coisas mais tarde.
Ele continua olhando para frente, e eu continuo olhando
para ele, para aquela silhueta de rosto perfeita, tentando
captar alguma dica que ele possa dar, porque quero saber o
que seu agente está dizendo. Más notícias? Boas notícias?
“Sim”, Zac continua, não me dando nada.
Olho para uma de suas mãos grandes e vejo seus dedos
batendo em sua coxa.
São más notícias, não são?
Então ele respira fundo, acena com a cabeça para
ninguém e diz com uma voz tensa: “Claro que estou. Eu estarei
lá.” Ele respira fundo, o que me faz querer respirar fundo
também. “Entendi. Sim. Obrigado.”
Ele desliga.
Eu estarei lá?
Olho para o meu velho amigo e canto: “Diga-me, diga-me,
diga-me”, na minha cabeça, na esperança de projetar a
mensagem em sua mente sem ter que solicitá-la verbalmente.
Porque realmente não perguntarei a ele. Se ele quiser me dizer,
ótimo. Se não, tudo bem também. Estou seguindo a linha com
cuidado.
Aquele queixo bonito e esculpido se vira até seus olhos
azuis bebê se fixarem nos meus. A respiração gigante que ele
suga me preocupa.
Mas suas palavras não, conforme ele pergunta em uma
voz estranha, quase distorcida: “Peewee?”
Coloco meu prato na mesa lateral para lhe dar toda a
atenção, pronta para lhe dar um abraço, se ele precisar. E
quero isso. E não vou me machucar se não o fizer. “Sim?”
Seu pomo-de-adão balança quando ele respira fundo pela
boca antes de soltar pelo nariz. Ele ainda está apertando as
mãos em punhos. “Alguém não acha que sou velho demais ou
você é meu amuleto da sorte. Farei um treino com o Miami
Sharks.”
“Você ouviu?”
“Ouvi o quê?” Pergunto enquanto rolo a planilha que
Gunner praticamente empurrou para mim cinco minutos
antes. Está cheia de nomes de membros anteriores que
cancelaram suas matrículas por um motivo ou outro. Ele quer
que eu ligue para eles quando tiver uma chance.
Sabe, porque eu fiquei o dia todo de pernas para o ar.
Tenho certeza de que, se Deandre, o último gerente da
academia, ou Lenny ou o Sr. DeMaio, os proprietários
anteriores, me pedissem para fazer ligações aleatórias, eu teria
feito isso mesmo que me sentisse constrangida, mas como é
esse idiota pedindo, meu cérebro quer odiá-lo por princípio. Ele
tem sido extra idiota desde o dia em que eu não atendi a seu
pedido para vir e fechar no meu dia de folga. Apenas dois dias
atrás, ele abriu a gaveta sob o computador em que eu
trabalhava e jogou fora todas as canetas coloridas que eu
adorava usar porque “não eram profissionais”.
Levou todo meu autocontrole para não jogar fora seu
almoço naquele dia.
“Eles estão filmando algum comercial aqui ao lado hoje.”
Na porta ao lado, Deepa se refere ao prédio do MMA ao lado do
prédio em que trabalhamos. “A equipe de filmagem chegou
aqui enquanto você estava no almoço”, explica ela em um
sussurro. Eu não preciso olhar para seu rosto para saber que
ela está tentando não mexer os lábios.
Sabe, para não termos problemas. Porque é nesse
patamar que a vida por aqui chegou. Ter o seu chefe jogando
papéis para você e hesitando em falar porque você não quer
ser pega.
Eu mal consigo segurar, esfregando minha sobrancelha e
suspirando.
“Bianca? Você me ouviu?”
“Desculpe. O que você disse? Eles estão filmando um
comercial?”
“Sim, no prédio ao lado. Vi a equipe de filmagem e ouvi
Gunner no telefone. Talvez não seja um comercial para TV,
mas pode ser para algumas promoções online. Eu pensei que
você gostaria de dar uma olhada, mas você sabe quem está lá.”
“Isso é legal.” Eu me pergunto que tipo de equipamento
eles estão usando. Talvez possa encontrar uma razão para
esgueirar-me por lá bem rápido e espiar. Não que precise de
equipamento novo, já que comprei uma nova câmera 4K há
pouco tempo, mas seria interessante ver o que eles estão
usando. Algo fora deste mundo e bem caro, aposto.
“Você está bem?”
Faço questão de não olhar para ela quando digo: “Sim. Só
não quero ligar para essas pessoas. Se quiserem entrar na
academia novamente, entrarão. E só vão ficar irritados, sabe?”
Pelo canto do olho, eu a vejo assentir, e tenho certeza de
que ela também me espia antes de dizer baixinho: “Bianca,
você não precisa ficar aqui se estiver fazendo isso por mim. Eu
sei que você não precisa desse emprego.”
Olho para ela e faço uma careta. Ela me disse a mesma
coisa semana passada no meu apartamento. “Não comece de
novo...”
O som da porta da frente se abrindo me faz ficar ereta,
pronta para escanear o chaveiro de alguém para me dar uma
desculpa para não começar a passar pela lista estúpida.
Mas assim que o sorriso aparece no meu rosto, ele cai.
E fico parada quando os quatro homens se aproximam da
mesa em que estou trabalhando. O da esquerda é um homem
musculoso e volumoso, com um pequeno moicano. O cara do
meio ao do lado dele é muito maior em altura e tamanho. Ele
tem um corte de cabelo e os dentes mais brancos que já vi
quando ri de tudo o que o grande e bonzinho acaba de dizer.
Mas não é nenhum dos dois homens em forma que limpa o
sorriso do meu rosto. Ou o homem mais velho, com cabelos
grisalhos e um terno que grita que é caro.
É o homem à direita que me encara sem expressão
quando o grupo para em frente à minha mesa.
Aquele cabelo loiro escuro.
Aqueles olhos que podem ser descritos como azul bebê.
Um rosto tão magro que destaca as maçãs do rosto altas,
a mandíbula definida e o queixo que só fica mais bonito com o
tempo.
Uma boca que tem um sorriso incrível.
Um sorriso que está assumindo todo o resto daqueles
traços que formam um rosto impressionante.
Inesquecível.
Mas, principalmente, é familiar.
E não posso me segurar, mas vou até a ponta dos pés,
inclino-me para frente e digo o nome que acabei de falar em
voz alta, nem uma semana atrás, quando ele saiu do meu
apartamento. “Zac?”
Maldito Zac, de calça de moletom e camiseta branca, e
acima de tudo, uma expressão surpresa — mas feliz — em seu
rosto. “Querida?”
De seu lugar no balcão, Deepa ofega, e tenho certeza que
ela sussurra: “Esse é...?”
Mas não posso processar o fato de que eu sabia que ela é
fã de futebol — e que não contei a ela sobre Zac — porque estou
muito ocupada sendo surpreendida por ele estar aqui.
Aceno para ele e depois sorrio para os homens com ele.
Inclinando-me contra o balcão, levanto meu queixo. Quais são
as chances? “O que você está fazendo aqui?” Pergunto.
Ele saiu do meu apartamento há uma semana em uma
espécie de transe. Distraído. Talvez chocado? Ele terminou sua
comida, se ofereceu para me ajudar a lavar a louça — eu disse
que não — e depois saiu depois de me dar um abraço rápido,
dizendo que precisava fazer alguns planos e telefonemas. Eu
fiz questão de dizer a ele novamente para se cuidar e desejei
boa sorte com o treino que ele agendara em Miami. Quero
dizer, fiquei surpresa e feliz por ele. Claro, imaginei que ele se
sentisse da mesma maneira, já que estávamos literalmente
conversando sobre isso, sobre suas chances e seu futuro.
Então tinha ido para a cama naquela noite pensando que
estava feliz por ele ter vindo e me mostrado aqueles pedaços
dele que eu esperava que ainda estivessem lá. Foi fácil me
resignar à ideia de vê-lo novamente no futuro. Talvez para o
casamento de Boogie. Não apenas alguns dias depois.
“O que você está fazendo aqui?” Ele pergunta com um
grande sorriso no rosto radiante.
“Eu trabalho aqui.”
Aquelas sobrancelhas marrons claras sobem, sua
expressão satisfeita e surpresa fica ainda mais brilhante
quando seu olhar se dirige para o balcão na minha frente,
pairando sobre o logotipo pintado na frente dele. Ele tem que
estar lendo o CASA MAIO escrito sobre ela. “Você com certeza
trabalha aqui, hein? Esqueci o nome, até agora.”
O que ele ainda está fazendo aqui em Houston? Ele já
treinou em Miami?
Antes que eu possa pensar demais, meu velho amigo
abaixa o queixo e estende os braços ao lado do corpo em um
gesto universal. “Você não quer ser vista comigo em público?”
Umm... na verdade não?
Mas o quanto seria malvado não receber um abraço dele?
Penso em Gunner por um segundo. Mas... foda-se.
Dirigindo-me ao balcão, caminho até o homem com o
rosto familiar e passo os braços em volta do pescoço dele
enquanto ele me abraça sobre meus ombros, todo quente e
recém-banhado pelo cheiro dele. Ele me abraça forte de volta,
basicamente me empurrando para a extensão de um peito que
parece tão duro quanto eu imaginava.
Ele cheira muito bem também.
Mas ainda me afasto rapidamente e pergunto novamente:
“O que você está fazendo aqui?”
“Estamos fazendo um vídeo para uma instituição de
caridade.” Isso não me dá uma ideia sobre o que aconteceu
com o Miami Sharks, e isso está ok.
“Zac”, o homem mais velho que entrou com ele suspira
exasperado. Olho para ele em seu terno cinza feito sob medida,
camisa branca e gravata rosa clara. Ele nem está olhando para
Zac, mas para o telefone, com que está ocupado digitando.
Zac faz uma careta para mim que não consigo decifrar
antes de nos virar para encarar os outros homens. Ele pisca
para mim. “Bianca, este é Dwight e este é Kevin”, ele diz,
referindo-se aos dois caras maiores. “E este é Trevor, meu
empresário. Você pode chamá-lo de Trev. Caras, essa é
Bianca.” Sua atenção se volta para mim ao mesmo tempo em
que sua mão pousa no topo da minha cabeça de uma maneira
que me lembra de como ele fez isso uma tonelada enquanto eu
crescia. “Nos conhecemos há vinte e poucos anos.”
Vinte e quatro, mas tudo bem, não precisa ser técnico.
Tenho certeza que Deepa ofega um pouco, mas não olho
para ela. Terei algumas explicações para dar depois disso. Eu
chegarei lá.
Estendo a mão para o cara maior, porque ele é o único
sorrindo para mim. “Prazer em conhecê-lo.”
“Como vai?” O homem responde, pegando minha mão em
uma que é três vezes maior que a minha. E isso diz algo,
porque eu não sou uma pessoa enorme, mas tenho mãos
grandes.
“Bem, obrigada.” Eu me viro para o outro cara e aperto a
dele também. É grande, mas não tão grande quanto a do outro.
“Oi.”
“Oi.”
Então me viro para o homem mais velho, Trevor, e
estendo a mão para ele também, porque duvido que ele se
lembre de me conhecer anos atrás.
Ele olha para minha palma estendida e eu também. Há
algo de errado com isso?
E é aí que Zac estende a mão, pega a mão de seu
empresário de onde está pendurada frouxamente ao seu lado
e a estende para mim.
É preciso um esforço sobre-humano para manter uma
cara séria quando deslizo a mão na dele quase flácida, apenas
me seguro por causa de Zac que ainda a está apoiando e que
a move para cima e para baixo, enquanto sacode as minhas
costas. Olho para ele e posso ver como sua boca está fina...
porque ele está tentando evitar rir também. Eu o vi fazer a
mesma expressão um milhão de vezes no passado.
Nós sacudimos um pouco mais, muito mais do que o que
seria necessário ou normal, até que o outro homem finalmente
dá um aperto suave na minha mão, e eu a tiro da dele com um
olhar para Zac com olhos divertidos.
E ele pensou que eu era uma peste.
Acho que eu estava certa sobre Trevor não ser agradável
pelas lembranças que tinha dele.
“Oi”, eu digo a ele, lutando muito para não sorrir. “É
muito bom te conhecer.” Exceto que não é, de verdade.
“Você precisa que eu mova sua boca também ou...?” Meu
amigo para de falar e, até então, eu não sabia o quanto seria
mais difícil não rir do quão rude esse homem está sendo e
como isso não é inédito na maneira como Zac está agindo. Essa
é a única razão pela qual isso não machuca meus sentimentos.
Algo me diz que isso é normal para ele. Isso e Zac já havia
me falado sobre esse homem ser capaz de não ser muito gentil.
Por que diabos ele ainda está com ele? Talvez eu possa levar a
pergunta a uma conversa com Boogie um dia. Ele
provavelmente saberá.
O homem mais velho lança a Zac um olhar de nojo que
teria me insultado se eu não sentisse que ele é assim com
todos. “Olá”, Trevor diz com todo o entusiasmo de alguém
prestes a fazer uma colonoscopia sem o uso de anestesia. “Nós
já nos conhecemos. Você foi quem salvou a vida dele.”
Ele se lembrou disso?
Zac volta-se para mim, olhos azuis brilhando e aquela
boca enlouquecedora de lado como se estivesse surpreso que
Trevor também se lembre de mim. Talvez ele não se lembre de
que nos conhecemos? Eu não tenho certeza e não tenho a
chance de pensar muito, porque a cara engraçada que ele está
atirando em seu empresário, limpa minha memória.
“Zac, esta é minha amiga Deepa”, digo, gesticulando para
trás de mim.
Ela chia e acena.
Zac dá aquele seu sorriso educado e a cumprimenta
brevemente antes de se voltar para mim. “A que horas você sai,
Peewee?”
“Quatro”. Eu quase pergunto a que horas ele terminará,
mas decido contra. Não quero que ele assuma que estou
perguntando porque queria sair com ele.
Antes que qualquer um de nós possa dizer outra palavra,
a porta lateral que dá para fora se abre. Meu coração pula uma
batida porque eu não quero ser pega e repreendida.
Felizmente, um rosto que não reconheço aparece. A mulher
para ao ver os quatro homens ali e diz: “Oh. Você está aqui.
Ótimo, vamos lá. Iremos começar.”
Sorrio para Zac e dou um passo para longe dele enquanto
Trevor diz algo para a mulher que não consigo entender
totalmente. “Bem, divirta-se. Foi um prazer conhecer todos.”
Zac sorri, e eu falho totalmente em não sorrir. “Eu vou te
mandar uma mensagem mais tarde, garota”, ele me disse.
Dou de ombros, não querendo que se sinta forçado a isso
se ele se esquecer ou tiver outros planos. De jeito nenhum
quero que pense que suponho que nos veremos regularmente.
Já estou surpresa por termos nos visto tanto. Três vezes em
menos de dois meses? Eu nem consigo ver meus familiares
com tanta frequência.
Além disso, não tinha ideia do que está acontecendo com
ele e o futebol.
Mas essa deve ser a maneira errada de responder, porque
noto a maneira como seus olhos se estreitam, só um pouco,
mas o suficiente. Sou salva de quaisquer pensamentos em sua
cabeça quando seu empresário grita: “Zac!”
Aqueles olhos azuis se fixam em mim, ainda pensativos,
quando ele dá um passo para trás. “Eu vou te mandar uma
mensagem mais tarde.”
Claro que sim, mas ainda assim sorrio para ele. “Se você
tiver tempo e quiser. Tenha um bom dia.”
O rosto pensativo que ele está fazendo não chega a lugar
nenhum quando ele se vira e vai em direção a seus amigos e
empresário, dando um tapa nas costas de Trevor. Todos
seguem a mulher pela porta e entram no prédio adjacente ao
local onde trabalho. Penso que Zac pode olhar por cima do
ombro uma última vez, mas eu não estou certa desde que ele
faça isso no meio de seus amigos, ou quem diabos eles são.
Virando-me, dizendo a mim mesma para não esperar
merda, encontro Deepa parada no mesmo lugar em que ela
estivera no bar, com os lábios entreabertos.
E na frente dela, há um membro regular que reconheço,
fazendo a mesma coisa.
É ele quem pergunta: “Você conhece Zac Travis?”
E é Deepa quem pergunta: “Como você conhece Zac
Travis?”
Bem, vou direto para essa merda. Volto para a recepção
antes que minha sorte acabe e Gunner reapareça. “Nós
crescemos juntos.” Ou pelo menos tão juntos quanto duas
pessoas com uma diferença de idade de sete anos poderiam
crescer juntas.
Felizmente — mais ou menos — a mesma porta pela qual
Zac entrou se abre, e nós duas instantaneamente tentamos
parecer ocupadas. Pego o telefone do trabalho e olho para a
lista que Gunner me deu e, pelo canto do olho, vejo Deepa se
abaixar e fazer parecer que está olhando através de uma
prateleira. Para o que, eu não faço ideia, mas ela parece
ocupada, e é preciso muito esforço para não fazer uma careta.
Sei que ela irá me sobrecarregar com perguntas mais
tarde.
“Entendo”, começo a dizer para o receptor, embora não
haja ninguém do outro lado. “Muito obrigada pelo seu tempo.
Espero que mantenha em mente a Casa Maio, se voltar.”
Cara, eu sou boa.
E, com sorte, porque assim que termino meu discurso de
mentira, vejo Gunner em minha visão periférica, parando em
frente à mesa no segundo em que coloco o telefone de volta no
lugar.
O idiota bate no balcão, e é preciso muita paciência para
não revirar os olhos e, em vez disso, olhá-lo sem expressão.
“Como estão indo as ligações?”
“Bem.” Mantenho meu rosto tranquilo. “Você precisa de
algo?”
“Você pode ficar até tarde hoje?”
“Não, não posso.”
Sua mandíbula se move para o lado um pouco. “De jeito
nenhum?”
“Não.” Ele me ofereceu uma vaga de tempo integral logo
após as pessoas começarem a desistir, e eu disse a ele que era
grande ‘não’ para mim. Porque é.
Sua mandíbula se moveu um pouco mais. “Sabe, é
realmente lamentável que você nunca possa ficar até tarde
quando é necessário”, o idiota tenta dizer, acabando com meu
bom humor e ignorando descaradamente o fato de eu ter ficado
até tarde recentemente.
Só não nos dias que ele pede.
“Fiquei uma hora a mais ontem e três dias atrás...” Eu
paro, chamando-o de idiota com meus olhos.
“Que bem isso me faz hoje?”
E as pessoas se perguntam o que leva pessoas boas e
normais ao assassinato em primeiro grau.
Sempre fui uma jogadora de equipe, mas ele é um pé no
saco, eu simplesmente não consigo encontrar desejo em mim
para lhe fazer um favor. Os dois dias em que fiquei até tarde
foram depois que ele já se fora, caso contrário, eu teria dito não
a isso também. O novo gerente assistente, que foi contratado
depois que todos os outros deixaram o cargo, é um cara legal,
mas nenhum de nós tem confiança nele nos protegendo da ira
de Gunner.
Por outro lado, não é problema meu que eles não
contrataram pessoas novas o suficiente. Eu já vi alguns
entrando para entrevistas, e não sei por que quase nenhum
deles voltou. Ou talvez eles tenham sentido o mal nele e não
tenham aceitado as posições para que se candidataram.
“Tenho certeza de que posso encontrar alguém disposto a
fazer horas extras, se você não estiver.”
Aqui vamos nós novamente.
Mantenho o rosto em branco e digo: “Tenho certeza que
pode.”
Idiota.
Isso sela o acordo. Venha inferno ou água alta, vou dar o
fora deste lugar.
Vou encontrar outro emprego para Deepa em outro lugar.
Se eu estiver entediada em casa, poderei encontrar um hobby.
Talvez possa aprender um idioma. Ser voluntária.
Gunner faz uma careta, claramente irritado, e aponta
para as folhas que tenho na minha frente. “Certifique-se de
terminar essa lista antes de sair.”
Eu nem me incomodo em dar a ele um sorriso doce e
falso, em vez de um inclinar com a cabeça. Apenas um. Ele não
merece mais do que isso.
E, felizmente, cerca de três segundos depois que ele
termina de reclamar com Deepa por se manter ocupada, é
quando meu telefone vibra com uma mensagem recebida.
Olho para ele no segundo em que Gunner se afasta o
suficiente.
É Zac. Novamente.
512-555-0199: Você está livre hoje à noite?
Esta noite?
Eu: Sim.
Por quê?
Ele responde minha pergunta com a próxima mensagem.
512-555-0199: Posso te pagar para me levar a uma
concessionária?
Franzindo a testa, olho para cima para garantir que
ninguém esteja prestando atenção em mim e depois mando
uma resposta para ele.
Eu: Pagar-me??
E por que ele me pediu, e não a Trevor, CJ ou uma das
outras trezentas pessoas que ele aparentemente conhece?
512-555-0199: Com dinheiro.
Faço uma careta na minha tela e penso por um minuto.
Eu: Caia na real. Você não vai me pagar. Eu posso te
levar. Me avise quando quiser ir.
512-555-0199: Tem certeza?
Quero dizer eu não tenho, mas... eu vou.
Posso fazer isso, então farei. Se você pode fazer algo pelos
outros — pelo menos seres humanos decentes, sem contar
Gunner porque ele é um idiota — então você faz. É simples
assim.
Eu: Sim.
O estalar de dedos me faz olhar para cima.
Deepa está encarando. “Acho que você tem algumas
explicações a dar.”
Merda.

***

“Oi, CJ.”
CJ sorri para mim quando ele abre a porta. “Oi, Bianca.”
Seu olhar vai direto para minhas mãos.
Minhas mãos vazias.
“Eu não trouxe lanches. Ainda não filmei”, digo a ele.
“Estou planejando fazer isso no final da semana.”
Porque é verdade.
Após a última conversa com Gunner, sei que preciso sair
da academia. Preciso tirar Deepa de lá. Ela tem um bom
coração e é inteligente e detalhista, mas há algumas pessoas
em quem não confio ou com quem ela é muito amigável. Ela se
mudou para Houston para estudar, mas sei que ela não se
matriculou para o próximo semestre no outono. Fico em cima
dela porque não conheço ninguém além de sua mãe, mas...
Tenho que escolher minhas batalhas, como tenho certeza
de que Connie teve que fazer comigo muitas vezes.
Sei o quão sortuda tenho sido, mesmo que meus pais não
tenham sido muito ativos na minha vida, tenho outras pessoas
que se adiantaram e se responsabilizaram por mim. Isso me
enraizou. Quanto mais envelheço, mais percebo o quão
importantes são essas coisas.
Isso é parcialmente porque eu não a deixo pensar que seu
único membro da família está a algumas centenas de
quilômetros de distância.
De qualquer forma, fico muito mais agradecida por ter
algo me esperando fora da academia.
Odiar meu chefe é cansativo. Há partes boas e ruins sobre
focar todo o meu tempo no The Lazy Baker, assim como em
todos os trabalhos. As pessoas falam muito na seção de
comentários e nas mídias sociais; é muito trabalho já que faço
tudo sozinha, e é muito mais estressante agora. Não era anos
atrás. Mas isso foi antes de eu começar a ver isso como mais
como meu futuro e menos como um hobby divertido de que eu
fazia à parte.
“Não há um trabalho perfeito”, Boogie me disse um dia
quando recebi um dos primeiros comentários ruins em meus
vídeos e ele me encontrou chorando.
Mas se eu for ficar chateada, pelo menos será nos meus
próprios termos.
E mesmo que eu nunca tenha começado o vlogging com
expectativas reais, isso não significa que não irei levá-lo ao
próximo nível, se puder. Você não desperdiça oportunidades
na vida — pelo menos eu não.
Então vou fazer essa merda e fazer direito.
Parte disso é terminar de montar minhas receitas e
finalmente contratar um fotógrafo para o meu livro de receitas.
Também preciso ver como renovar meu site para ter mais
espaço para receitas com anúncios. Por fim, também preciso
tomar medidas mais conscientes de negócios, porque não
aproveitei meu alcance até quase tarde demais. Não levei a
sério o suficiente por muito tempo.
Mas isso é uma merda para se pensar no trabalho ou em
casa. Meu plano B, C, D e todos os outros depois disso. Meu
futuro.
De qualquer forma...
Tenho certeza de que o homem que, agora vejo novamente
sem estar nervosa, tem mais ou menos a minha idade com
grandes olhos castanhos e algumas cicatrizes de acne cística
nas bochechas, assente uma vez. “O que você vai fazer?”
Entro e espero que ele feche a porta atrás de mim. “Estou
aprimorando uma receita antiga de sopa e estou pensando em
tentar fazer brownies.”
“Brownies?” O companheiro de quarto de Zac pergunta
enquanto nos dirigimos para a cozinha. Ele tem que ter um
metro e setenta e sete, talvez um e setenta e oito, no máximo.
Vejo uma figura masculina disparar da cozinha na
direção do canto onde as escadas estão. Quem diabos é essa
pessoa? Tenho certeza que vi calças cinza e uma camisa
branca. Não era isso que Trevor está vestindo antes? Eu me
pergunto, mas me concentro novamente na pergunta de CJ.
“Sim, mas não quero usar ovos.”
CJ genuinamente faz “hmm” ao meu lado. “O que você vai
usar em vez disso? Um ovo de linhaça?”
Um ovo de linhaça? Quantos dos meus vídeos ele viu? Eu
não os uso com tanta frequência. Olho para ele. “Não. Estou
pensando que as bananas podem trabalhar para manter tudo
unido. O que você acha?” Pergunto quando paramos na sala
de estar e na cozinha. Zac não está por perto. Eu enviei uma
mensagem para ele no caminho, pensando que era melhor
notificá-lo, caso ele estivesse ocupado e precisasse me
dispensar antes de eu chegar aqui. Mas ele me mandou uma
mensagem de volta e não disse nada sobre estar ocupado.
Tudo bem. Isso é legal. Talvez ele estivesse tirando um
cochilo.
O jogador de futebol — eu me esqueci de procurá-lo ou
perguntar a Connie sobre ele — planta sua bunda contra as
costas do sofá cor de palha e aponta seus olhos castanhos
escuros para mim. “Você também não usou ovos na sua receita
de pão de banana, e pelo menos ficou bem no vídeo. Não
funcionou para mim, mas aposto que manteria seus
ingredientes unidos.”
“Não funcionou para você?”
“Não sou bom na cozinha”, ele diz, sério. “Você deveria
experimentar bananas.”
Quantas coisas ele estragou antes? “Acho que vou. E
também quero tentar não usar farinha.”
“Sem usar farinha nos brownies?”
Eu sorrio para ele. “Todo mundo usa farinha para
brownies. Eu tenho que tentar torná-los diferentes de alguma
forma.”
“Por uma boa razão”, afirma o companheiro de quarto de
Zac, soando cético pra caramba.
“Sim, mas não quero... Aww, não faça essa cara. Estou
pensando em usar manteiga de amendoim ou talvez manteiga
de amêndoa como uma gordura saudável... mas provavelmente
manteiga de amendoim porque mais pessoas têm isso em suas
despensas.”
“Eu gosto de manteiga de amendoim.” Um pouco do
ceticismo cai de seu rosto e seus olhos deixam de estar tão
estreitos. “Você não vai usar lascas de chocolate, então?”
Balanço a cabeça. “Não. Quero mantê-lo com menos de
quatro ou cinco ingredientes. Todas as minhas receitas são tão
simples quanto possível. Isso faz parte da minha “coisa” nas
minhas receitas.”
Ele torce o nariz, e isso me faz sorrir novamente. “O cacau
em pó ficará muito amargo se você estiver pensando em usá-
lo.”
Cacau em pó. Olhe para esse cara. Ele vai me fazer
desmaiar. “Sim, eu sei. O cacau em pó pode ser bom, e é mais
fácil de encontrar.”
CJ faz uma cara pensativa e incrédula, mas ele assente
depois de um momento.
“Se eles ficarem decentes, eu os trago”, ofereço.
“O que você vai trazer?”
Eu me viro para encontrar Zac atravessando a sala, de
banho tomado e sorrindo para mim. Ele está em sua roupa
normal, com o rosto barbeado. “Brownies sem farinha, mas
apenas se ficarem decentes.” Olho para seu companheiro de
quarto.
CJ grunhe, endireitando-se no sofá em que está
encostado. “Com bananas e sem lascas de chocolate”, ele me
lembra, fazendo parecer quase uma acusação.
Zac para na minha frente, e eu apenas congelo por um
segundo antes de estender a mão e colocar meus braços em
volta do pescoço dele, ele envolve o meio das minhas costas
enquanto nos abraçamos com força. Dando um passo atrás
depois de um segundo, sorrio para o rosto de Zac, enquanto
digo a CJ: “Talvez fique muito bom. Quem sabe?”
Isso faz CJ fazer um barulho com o nariz. “Como na
primeira vez que você tentou fazer salgadinhos de milho
Funyuns?”
Eu paro e rio.
O outro homem abre um sorriso. “Você encheu sua
cozinha de fumaça na primeira vez e, na segunda, cuspiu o
que fez.”
Eu posso sentir o olhar de Zac no meu rosto enquanto
murmuro: “Há algumas coisas que você deve deixar para os
profissionais.” Eu tinha esquecido tudo sobre encher de
fumaça a maldita cozinha. Os Funyuns caseiros ruins foram
minha primeira confusão no meu apartamento. Para ser justa,
mesmo na segunda vez, ainda era bastante nojento, como uma
lixa polvilhada com alho e cebola em pó. Eu desisti depois
disso. Qualquer mágica que eles colocam nos salgadinhos é
um segredo e deve ser mantida assim.
CJ ri ao mesmo tempo em que Zac pergunta em um tom
confuso, aqueles olhos azuis claros saltando entre seu colega
de quarto e eu: “Vocês dois já se conheciam?”
É CJ quem responde. “Não.” A pausa que ele dá me dá
tempo suficiente para olhar para o outro homem. “Você não
assistiu esse vídeo?”
Eu não disse a CJ que tenho certeza de que Zac não sabe
do meu vlog? Bem, acabaria por acontecer eventualmente,
especialmente com o quanto estamos nos vendo. Arranho
minha bochecha e me agacho cuidadosamente, fingindo
amarrar meu tênis enquanto me dou alguns segundos para
descobrir como diabos vou explicar isso.
“Que vídeo?” Meu velho amigo pergunta.
Faço uma careta para o meu tênis preto, mas seu
companheiro de quarto me vence novamente. “O Funyuns.”
“Que Funyuns? Os salgadinhos?”
Sim, ele não tem ideia.
Levei meu tempo agradável terminando o nó que não
precisava ser amarrado em primeiro lugar.
“No vlog dela”, CJ responde por mim. “The Lazy Baker.”
Merda. Bem, aí está a verdade. Eu me levanto e
instantaneamente encontro os olhos azuis que se voltaram
para mim.
Zac está um pouco carrancudo. “O quê? No WatchTube?”
“Sim.”
Tudo bem, definitivamente não era assim que eu esperava
que isso acontecesse, mas acho que poderia ter sido pior.
Ok, eu não tenho certeza de como poderia ter sido pior,
mas tenho certeza de que havia uma maneira.
Eu, de propósito, não lhe disse algo grande quando ele
me perguntou especificamente como a vida estava indo. Para
ser justa, eu não pensei que nos veríamos tão cedo. Mas
nenhuma dessas desculpas importa naquele momento porque
eu estou presa da pior maneira.
Então Zac olha para mim, e me sinto com cerca de três
centímetros de altura.
Pelo que devem ter acontecido umas vinte vezes desde
que nos vimos, dou de ombros novamente, como se não fosse
grande coisa, mesmo que uma parte do meu instinto tenha
percebido... bem, que ele pode não pensar que não é grande
coisa que eu propositalmente pulei grande parte da minha
vida.
Ou talvez seja apenas minha culpa por propositalmente
não contar a ele quando tive muitas oportunidades para fazê-
lo.
Eu tinha boas intenções, mas elas são difíceis de explicar.
Mentir tem essa capacidade de fazer uma pessoa se sentir
um pedaço de merda — às vezes um pedacinho de merda, às
vezes um pedaço de merda gigante, mas mesmo assim um
pedaço de merda. E agora meu pequeno pedaço de merda tem
que admitir o que eu fiz, não lhe disse algo que é importante
para mim. Muito importante para mim. Porque eu sou uma
idiota. “Eu tenho um canal do WatchTube, Zac. Eu filmo vídeos
e os carrego — tento explicar para o homem confuso que olha
para mim. “E tento fazer coisas — comida — por diversão.”
Ok, isso é um exagero. Tinha um cronograma. Publico
vídeos no mesmo dia e horário toda semana. Todos têm quase
o mesmo tamanho. Eu pego minhas roupas e as passo a ferro
antes de filmar. Faço minha maquiagem com cuidado. Arrumo
meu cabelo. Passo horas editando cada vídeo. Respondo a
centenas de e-mails e comentários por semana. Trabalho no
meu site regularmente. Converso com patrocinadores que
querem que eu promova seus produtos em meus vídeos.
Ganho dinheiro com isso e promovi um pouco meu nome.
E quase perdi tudo. Mantê-lo veio com um custo muito
alto. Raspei minha conta bancária por isso. É por isso que não
pensei em desistir da academia até recentemente.
Aquele rosto bonito balança em minha direção ainda
mais, as sobrancelhas franzidas, e posso perceber pelo olhar
em seus olhos que ele está realmente pensando sobre o que
acabei de explicar. “Por que eu não sabia disso?”
Porque ele não pergunta sobre mim há anos, mas não
digo isso. Apenas dou de ombros. Novamente. “Eu realmente
não conto a ninguém sobre isso, a menos que mencionem.
Apenas uma pessoa no meu trabalho sabe — a garota que te
apresentei.” Coço meu nariz novamente. “Não é grande coisa”,
tento insistir.
Pelo canto do olho, vejo o rosto de CJ franzir. “Você não
tem um milhão de inscritos?”
Ele não está ajudando, não está ajudando mesmo, e a
expressão que lhe atiro transmite isso. “Algo perto disso.” É
mais do que isso agora, mas…
A carranca de Zac fica ainda mais profunda, e há algo em
seus olhos que faz meu estômago apertar. “Você assa nos
vídeos?” Ele pergunta.
“Assa, faz refeições, lanches, mas as receitas estão em
toda parte, e ela as bagunça totalmente, de vez em quando”,
explica CJ para mim, ainda não ajudando, mas provavelmente
pensando que ele está.
Abençoado seja.
Bem, eu trouxe isso para mim, e tenho que admitir isso.
“Eu os faço a medida que avanço, e não anoto nada até
estar na frente da câmera”, confirmo. Sempre me irrita que as
pessoas pensem que massacro receitas de propósito.
“Desarrumar faz parte do que os espectadores gostam. As
pessoas gostam de ver outras pessoas falharem.” Meus vídeos
mais vistos são dos meus erros, sem dúvida.
O rosto de Zac ainda está torcido quando ele puxa o
telefone do bolso. “Você está no WatchTube?”
Ele tem que dizer assim? Todo surpreso? “Sim, e
Picturegram, mas não é grande coisa. Você realmente não
precisa olhar. A maioria dos vídeos é muito curta e tem eu
xingando quando erro. Você não está perdendo nada...”
“Como se chama mesmo? The Lazy...” meu amigo de
longa data me interrompe quando se concentra no telefone.
“The Lazy Baker”, digo, mas meu coração ainda se apega
ao fato de que estou fazendo meus vídeos há anos, e se Zac
tivesse realmente perguntado sobre mim... bem, Boogie
provavelmente teria contado a ele tudo sobre isso. Ele contou
a outras pessoas sobre isso e, aparentemente, contou a ele
algumas outras coisas.
Droga. Isso dói um pouco. Posso admitir.
Tudo bem, talvez mais do que um pouco.
Aqueles olhos azuis encontram os meus, e de repente
espero que ele não possa dizer pela minha expressão o que
estou pensando. Como você pode não ter perguntado sobre mim
por tanto tempo, Snack Pack? Hã? Como?
Mas se pode, ele não se preocupa com isso, porque a
próxima coisa que sei, é que ele pergunta: “Chama-se The Lazy
Baker?”
Bom. Bem. Bom. Forço um pequeno sorriso no meu rosto
quando assinto. “Não faço nada muito complicado ou com
muitos ingredientes.”
E felizmente, felizmente, um dos meus amigos mais
antigos — meu amigo mais antigo, honestamente, de quem não
sou parente — olha de volta para seu telefone enquanto cutuca
a tela, digitando quem sabe o quê. “Entendi... Jesus Cristo,
Peewee. Nada demais? Diz que você tem mais de quatrocentos
vídeos upados aqui!”, ele afirma com um movimento de cabeça
e bastante surpresa em seu tom, que não posso deixar de
sentir orgulho do que construí, do que fiz e pelo que lutei.
Talvez ele não tenha se importado o suficiente para pensar em
mim, mas eu tentei. Por mim. Por Mamá Lupe. Eu fiz o meu
melhor e há pessoas que estão e estiveram orgulhosas de mim
e felizes por mim o tempo todo ao longo do caminho.
Talvez eu tenha ficado envergonhada de falar sobre isso
— puxar esse assunto na maior parte do tempo — mas estou
orgulhosa de mim mesma e não deixarei que ele se esquecer
de mim, faça com que me sinta pequena agora. Eu não sou. A
vida é boa, apesar da pouca merda que posso mudar para
torná-la ainda melhor.
Estabilizando aquela dor no meu peito e forçando-a a se
afastar, me inclino sobre ele e espio seu telefone. Há seis
milhões de visualizações no primeiro. “Eh, nem eles todos têm
tantas visualizações. Esse se tornou viral porque minha mãe
pôs fogo no meu cabelo quando tentamos fazer crème brûlée.”
Foi um dia agridoce aquele. Minha mãe estava tão feliz...
e então eu não tive notícias dela por um mês depois disso. Eu
não posso nem dizer que foi a primeira ou a última vez que isso
aconteceu. O mesmo de antes. Sem novidades.
Aqueles olhos azuis deslizam para mim.
E CJ ainda não ajuda em nada. “O que você fez com seu
primo, acho que estava fazendo alguns biscoitos não assados,
também tem muitas visualizações.”
Sei exatamente de que vídeo ele está falando, e ainda mais
prazer enche meu corpo.
Não há nada para me envergonhar. Realmente não há.
Zac pisca inconsciente, e sorrio para ele, tentando passar
por essa dor de uma vez por todas. Não é grande coisa, repito
para mim mesma, esperando acreditar no que digo e penso.
“Sim, porque ele os cuspiu.” Prendendo a respiração e lutando
para controlar a não dor de que ainda estou me esquivando,
tento chamar a atenção de Zac. A culpa não é dele. Ele não quis
me machucar. “Sabe o quão dramático Boogie pode ser.”
Mas a expressão no rosto de Zac — surpresa misturada
com talvez confusão ou algo próximo — me chuta nas costas
dos joelhos. “Ele nunca disse uma palavra”, ele admite com
uma voz que vai diminuindo. “Ele me disse que via você ou que
você estava bem, mas só isso.”
Ele disse? Boogie nunca disse nada sobre Zac
perguntando sobre mim. Nem uma vez. Então, novamente...
ele me conhece melhor do que qualquer outra pessoa e sabe
que eu não queria ouvir. As ações falam mais alto que as
palavras todos os dias da semana.
Ele teve todas as oportunidades de descobrir por si
mesmo.
Eu levanto o ombro para mais longe dele, me firmando
um pouco mais. “Realmente não é grande coisa. Tenho certeza
que você tem coisas melhores para fazer com o seu tempo.”
CJ faz um barulho ao se levantar. “Eu peguei Amari
assistindo outro dia entre os sets enquanto estávamos
malhando.”
Aww. Isso faz eu me animar. “É alguém que vocês dois
conhecem?”
É Zac quem responde com aquela voz ainda estranha.
“Sim. Um novato. Ele é um receptor que está apanhando de
mim. Ele foi convocado pelos White Oaks.”
Sim, eu não tenho ideia de quem ele está falando. Eu só
assisti o draft — onde cada equipe da NFO escolheu novos
jogadores para suas organizações — um ano. O ano em que
Zac esteve nele.
“Qual vídeo devo assistir primeiro?”
Eu digo: “Nenhum deles”, ao mesmo tempo em que CJ
fala “Os biscoitos de chocolate não assados.”
“Droga, CJ”, desliza da minha boca antes que possa me
conter. “Sinto muito, CJ. Eu quis dizer isso, mas ainda sinto
muito.”
O homem ri pela primeira vez desde que eu o conheci, e é
tão profundo quanto sua voz. “Sem problemas. Mas esse é o
meu favorito. Você deveria assistir esse.”
Ao meu lado — e basicamente em cima de mim — Zac
toca no quarto vídeo enquanto digo: “Você realmente não
precisa.”
Seu dedo indicador para na tela, e não tenho certeza se
imagino a mágoa em seu tom quando ele pergunta: “Você não
quer que eu os veja?”
“Não é isso.” Era meio que isso, e tenho certeza que nós
dois sabemos disso. “São apenas vídeos bobos, e você não
precisa ir à concessionária ou algo assim?” Eu não tenho
certeza do que ele precisa fazer. Ele não vai comprar um carro
quando não tem certeza de onde irá ficar, certo? Eu nem vi
provas de que ele tem um carro aqui também.
Ele abaixa a cabeça, seus olhos azuis se movendo de um
dos meus para o outro e de volta antes de me dar um pequeno
sorriso que parece muito mais magoado do que eu esperava.
Ou queria. “Que tal um e vamos embora?”
Ele tem que falar e me fazer sentir mal? “OK.” Droga.
“Tudo bem... apenas um.”
Ele me dá outro pequeno sorriso que está definitivamente
fora quando seu dedo toca no botão Play da tela.
E por dentro, eu me encolho. “Olá amigos! Sou Bianca,
The Lazy Baker, e estou aqui hoje com um convidado muito
especial, meu primo Boogie!”
Oh deus, eu quero que ele pare, e tenho que me forçar a
espiar seu rosto.
Zac está sorrindo fracamente.
“Oi”, a voz de Boogie vem pelo alto-falante.
“Vamos tentar fazer biscoitos de chocolate não assados
hoje. Deseje-nos sorte! Como em todas as minhas receitas,
vamos tentar fazer isso com a menor quantidade possível de
ingredientes para começar. Nosso primeiro ingrediente será...
“Castanhas de cajus salgadas”, Boogie se intrometeu.
“Uma xícara de castanhas de caju salgadas e... que rufem
os tambores, Boog...”
“Tâmaras?”
“Sim, Boog, tâmaras. Confie em mim. Eu estou pensando
em... 220 gramas. É melhor usar o pacote inteiro para que não
estraguem.”
E tudo vai ladeira abaixo depois disso.
Mas o que me faz sorrir é o riso que sai de Zac durante o
vídeo de quatro minutos, a versão longa. Há um vídeo rápido
de um minuto que enviei para o Picturegram logo depois, que
é mais um destaque.
Quando o produto final sai do freezer, quinze minutos
editados depois, há lágrimas nos olhos de Zac e,
surpreendentemente, em um ponto ele deslizou um braço em
volta dos meus ombros e está praticamente me mantendo
refém contra seu lado quente quando Boogie engasga: “Droga,
B, isso tem gosto de bunda.”
Eu não preciso olhar para a tela para saber que estou
ficando vermelha quando respondo, envergonhada como
sempre fico e sempre ficarei quando algo atroz acontecesse:
“Quanto você já provou?”
Mas quando Zac enxuga os olhos, bem... eu não me
importo, principalmente quando ele olha para mim com
aqueles olhos azuis brilhantes e balança a cabeça. “Garota, eu
me esqueci da sua boca suja.” Um canto de sua boca sobe.
“Você é adorável.”
Oh.
Bem.
Eu dou um pequeno sorriso para ele. Eu deixarei o
comentário “adorável” pra lá. “Quero dizer, tudo a partir daí é
pior, então não pense que o resto deles fica melhor.”
“Duvido disso, querida.” Zac olha direto para minha alma
então, seu braço ainda em volta de mim. “Duvido muito disso.”

***

Zac age de forma estranha durante todo o trajeto até a


concessionária. Eu não consigo identificar exatamente o que
ele está fazendo que é estranho, especialmente porque não
conheço totalmente essa versão adulta dele, mas há uma
tensão ali semelhante à última vez que nos vimos no meu
apartamento. E sou covarde demais para perguntar em que ele
está pensando.
Em vez disso, decido perguntar o que ele fará na
concessionária... mas desisto da pergunta sobre por que ele
me pediu para trazê-lo em vez de outra pessoa.
“Eu o deixei algumas semanas atrás para fazer a revisão.
Houve um problema com a parte eletrônica”, ele responde.
“Preciso pegá-lo para o caso de precisar me mudar de uma
hora para outra.”
Se mudar de uma hora para outra. Porque ele assinou
com outra equipe, imagino.
“Oh”, digo a ele, tentando fazer parecer que não estou
muito curiosa pelos detalhes. “Eles não lhe deram um
reserva?”
Pelo canto do olho, eu o vejo encolher os ombros. “Eles
me ofereceram um, mas Trev nunca está por perto, então uso
o carro dele quando preciso.”
Isso ainda não explica por que ele não pediu que um carro
viesse pegá-lo, ou por que não pediu a CJ ou a mais ninguém,
mas... talvez seja porque eu pareço ter a vida menos ocupada
ou importante? Esse é um pensamento perverso.
“Então...” Eu paro, dizendo a mim mesma pela milésima
vez que a carreira dele não é da minha conta, mas vou
perguntar assim mesmo. “Posso perguntar como foi seu teste
em Miami?”
Ele está olhando pela janela enquanto responde. “Bem.”
Bem.
Isso é o que consigo. Eu deveria ter calado a boca e
colocado dois e dois juntos.
Zac suspira e esfregou a testa. “Eles não iam me
contratar. Soube no minuto em que cheguei lá. Eles estavam
me usando como uma ameaça para que o QB atual deles
aceitasse menos dinheiro. Foi uma maldita perda de tempo.”
Estremeço, lamentando trazê-lo à tona. “Sinto muito.”
Seu ombro mais próximo de mim sobe. “Está tudo bem.
Pelo menos eles pagaram minhas despesas de viagem e pude
ver algumas pessoas que conheço.
“Bem, espero que eles joguem mal este ano por fazer isso
com você.”
Tenho certeza que o ouço bufar um pouco, mas isso é
tudo o que ele me dá.
Assim, durante o resto do percurso, guardo as perguntas
e piadas para mim e ligo o rádio. A concessionária não está
perto o suficiente para eu me dar ao trabalho de iniciar um
podcast. É só quando estaciono e olho para ele com
expectativa, pensando que ele irá sair e que poderei continuar
com o meu dia, que ele diz: “Você vem comigo caso não esteja
pronto?”
Bem... tudo bem. Assinto.
Estacionamos e entramos. Zac nem dá três passos para
dentro do prédio de serviço quando um homem vem direto para
ele. “Olá, Sr. Travis, obrigado por entrar. Como eu disse por
telefone, estaríamos mais do que dispostos a levar o carro para
você.”
Então por que...?
Meu velho amigo pega a mão estendida do homem. “Isso
não é necessário, mas eu certamente aprecio isso. Ele está
pronto?”
“Sim, senhor, só precisamos que você assine a nota dos
reparos. Se não se importa, nosso gerente testá-lo enquanto
reviso a papelada com você... para fins de satisfação do
cliente.”
Para fins de satisfação do cliente. Certo. Aposto que isso
é normal.
O homem apresenta o gerente geral a Zac, e eles começam
a levá-lo a um dos escritórios mais próximos antes de Zac
parar. “Vamos, Peewee.”
Ele quer que eu vá com ele? “Preciso fazer xixi, mas vou
esperar por você aqui fora.” Tenho e-mails para responder.
“Tem certeza?”
Balanço a cabeça e retorno seu sorriso depois que ele me
dá um enquanto se dirige para o escritório, e não sinto falta a
sala de exposições fica subitamente cheia de funcionários
quando, um minuto atrás, não havia ninguém. E todos estão
olhando casualmente na direção em que os três homens
desapareceram.
Problemas dos ricos e famosos.
Um intervalo para o banheiro mais tarde, vejo uma
lanchonete e me arrasto até ela, pegando uma das garrafas de
água de cortesia no momento em que ouço “Oi”.
Há um homem e uma mulher em pé alguns metros atrás
de mim. “Oi.”
É a mulher que sorri e vai direto ao assunto. “Você acha
que Zac Travis se importaria de tirar uma foto conosco?”
O fato de eles o chamarem pelo nome é estranho. “Acho
que não.”
Eles assentem e sorrio para eles, esperando que digam
outra coisa, mas eles não dizem. E é estranho. Então, pego
meu telefone e abro o aplicativo de e-mail, totalmente
consciente de que ambos estão me olhando e sussurrando um
para o outro.
Eles provavelmente pensam que eu sou sua assistente,
considerando as mulheres com quem ele foi visto no passado.
Loiras bonitas.
Ruivas bonitas.
Morenas bonitas.
Sim, ele não tem um tipo, desde que sejam bonitas. Ainda
estou em minhas roupas de trabalho, com maquiagem que foi
tirada pelo quão irritada Gunner me deixou, e dormi cerca de
quatro horas na noite passada.
Eu não sou exatamente o tipo dele.
Essa pequena dor pinça meu coração, mas a ignoro.
Garotas baixas com cabelo preto é o tipo de alguns
homens, no entanto. Tive cinco caras que me pediram em
casamento ao longo dos anos. Quatro deles eu nunca levei em
consideração, e com um deles realmente pensei em me casar.
E é então que o texano alto sai do escritório, inclina-se
para o lado como se tivesse me visto do outro lado do prédio e
grita: “Peewee!”
Sim, Peewee. Sou eu. A garota dos sonhos dos homens.
Faço uma careta quando me dirijo a ele, os dois
funcionários intrometidos seguindo atrás, sussurrando um
para o outro.
“Isso foi rápido.”
O sorriso dele é sabedor. “Eles tornaram tudo muito fácil.”
Levanto as sobrancelhas para ele e tenho duas
sobrancelhas marrons claras levantadas de volta para mim.
“Aposto que sim, Sr. Especial. Perdão”, brinco, me sentindo
muito desanimada com isso.
“Você está perdoada.”
Sorrimos um para o outro, e é legal. Familiar. Ok.
Mais do que ok.
“Oi, Sr. Travis?” A mulher com quem eu estava falando,
fala em voz alta.
Zac vira-se para ela, oferecendo-lhe um sorriso educado,
o mesmo que ele me deu antes de descobrir quem eu era
semanas atrás. “Pois não, senhora?”
A mulher fica vermelha com a palavra com “s”. “Você se
importaria de tirar uma foto conosco, por favor?”
“Claro que sim”, responde meu amigo. “Vocês dois ou
apenas um?”
“Sozinho”, diz o homem, enquanto a mulher responde
com “Os dois.” Os dois fazem uma careta um para o outro
antes que o homem diz: “Ambos.”
“Eu posso tirar”, ofereço.
Quando devolvo o telefone às duas pessoas, há mais
funcionários por perto que também querem uma, então tiro
mais para eles. É uma sessão de fotos sem parar por um
segundo. Eu posso ter espiado a bunda de Zac uma ou duas
vezes enquanto estou nisso, me perguntando...
No instante em que ele termina, depois de se despedir de
quase todos que encontrou com acenos, apertos de mão e
algumas piscadelas, ele se aproxima, sorrindo
constantemente.
Sorrio de volta para ele. “Eu gosto de como você ainda é
legal com as pessoas.”
Ele para bem na minha frente. “Por que eu não seria,
querida? Eles são todos boas pessoas. O mínimo que posso
fazer é tirar algumas fotos. Não me custa nada.”
“Bem, tenho certeza que existem pessoas por aí que não
seriam tão legais com isso.” Inclino a cabeça para trás para ver
aquele rosto extremamente bonito, me dando um pequeno
sorriso torto quando seus olhos se movem sobre os meus pela
segunda vez naquele dia — como se ele estiver tentando se
lembrar dele ou algo assim. “Posso te perguntar uma coisa
pessoal?”
“Claro que sim.”
“É muito pessoal”, eu o aviso.
Zac inclina a cabeça para o lado. “Eu duvido que você
pergunte qualquer coisa que já não tenha sido perguntada um
milhão de vezes, garota.”
Está bem então. “Eles tiveram que prender suas bolas
quando você fez a edição de Anatomia?”
A boca de Zac se abre, e eu juro que até suas bochechas
ficam instantaneamente rosadas, e por um momento ou dois,
ele literalmente diz e não faz nada além de me encarar.
E então ele solta uma risada que me faz rir também.
“Bianca Brannen, meu Deus...”
Estou rindo tanto que não tenho certeza se ele me
entende. “Eu perguntei! Eu te avisei!”
Zac engasga a volta inteira da concessionária, dividido
entre rir e me olhar com descrença antes de rir um pouco mais.
E nunca responde à minha pergunta.
“Pessoal, é oficial! Bryce Castro está FORA! O Houston
White Oaks divulgou um comunicado ontem à noite. Castro teria
sofrido uma lesão no cotovelo em um acidente dentro de sua
casa. Ele deve ficar afastado pelo menos seis meses. Esta é uma
notícia devastadora para uma equipe tão jovem...”
“Porra, somos amaldiçoados”, o homem encostado no
balcão um pouco à minha esquerda murmura para seu amigo
enquanto todos lemos as legendas na tela da televisão mais
próxima de nós. Meu palpite é que o funcionário da lanchonete
mudou de canal enquanto eu estava no banheiro.
“Como alguém machuca o cotovelo dentro de casa?” O
amigo do membro responde balançando a cabeça.
Eu os observo cuidadosamente enquanto pego o controle
remoto, que foi colocado em seu lugar, pronta para mudar de
canal, se os comentaristas começarem a falar sobre Zac. Não
tenho certeza de que eles farão isso, mas estou preparada.
Ontem mesmo, eu entrei no trabalho depois do almoço para
ver que os comentaristas da TSN estavam falando sobre ele
tentar uma equipe em San Diego.
Fiquei muito feliz por ele e pelo próximo time.
E ainda me sinto muito, muito culpada por não ter
contado a ele sobre o meu negócio de Lazy Baker. Ele não disse
outra palavra sobre isso enquanto caminhávamos para onde
eu estacionei meu carro. Em vez disso, tudo o que ele fez foi
continuar rindo da minha pergunta sobre fita adesiva e suas
bolas, e então me deu um grande abraço e me convidou para
voltar para sua casa. Eu tinha coisas que precisava fazer e
recusei.
Ele me mandou uma mensagem duas vezes desde então,
o que sinceramente ainda me surpreendeu muito. Mas não
mencionou nada sobre outro treino.
A primeira mensagem foi:
512-555-0199: Vi o vídeo do seu bolo de amêndoa. É
tão bom quanto parece? E aquele flamingo que você usava
era de Maw Maw?
Isso me fez sorrir... e me deixou um pouco enjoada. Ele
assistindo meus vídeos era legal, mas isso me fez sentir
constrangida. Realmente autoconsciente.
Eu lhe respondi que o bolo estava realmente bom — a
receita está no meu livro — e que se eu tivesse tempo, talvez o
fizesse na próxima vez que nos víssemos. Também confirmei
que o pingente de flamingo que eu coloquei no meu avental
pertencia à avó dele.
Ele não me enviou uma mensagem depois disso.
Dois dias depois, recebi outra mensagem.
512-555-0199: Paw-Paw me disse para lhe agradecer
por seu quebra-cabeça e cartão. Disse para ligar para ele
quando tiver uma chance.
A mensagem chegou enquanto eu estava ocupada no
trabalho, e me esqueci de lhe enviar uma mensagem de volta.
Mas liguei para Paw-Paw no meu caminho de casa para o
trabalho no dia seguinte e ouvi Zac ao fundo dizendo para ele
me dizer oi. Aparentemente, ele voltou para Liberty Hill.
E essa foi a última vez que ouvi falar dele. Pelo menos até
ontem, quando as notícias de seu treino foram divulgadas.
Então agora tudo o que sei é que ele está em San Diego,
esperançosamente recebendo outra chance. As chances são de
que ele não voltará a Houston se tudo der certo. E isso é bom.
É ótimo. A pré-temporada está marcada para começar em
cerca de uma semana. É hora de crise para todos. Ele precisa
assinar com alguém, e tem que fazer isso em breve. Eu quero
isso para ele, mesmo que isso signifique... bem, o que quer que
isso signifique. Que não nos veremos novamente por um
tempo.
Nenhuma pressão sobre ele ou qualquer coisa. É apenas
a vida inteira pendurada na balança de um treino — um teste,
como quer que seja chamado.
“O que diabos eles vão fazer agora?” A voz de um dos
membros me tira da memória do dia anterior.
Olho para o cara de costas para mim antes de esboçar
um sorriso no meu rosto quando um membro totalmente
diferente entra pelas portas, examinando seu passe com um
rápido “Ei, Bianca” que consigo retornar, distraidamente.
Depois disso, olho para o relógio digital na parede. Não
sei a que horas seu treino deve começar, mas...
Hesito por um segundo... pensando nisso... então decido
apenas ir em frente. Espio ao redor da academia, certificando-
me de que Gunner não está visível e puxo meu telefone de
debaixo do teclado. Demora apenas um segundo para digitar
uma mensagem.
Então apago e escrevo outra.
Ele veio. E pediu desculpas. Ele fez perguntas suficientes
sobre o meu passado para parecer genuíno. Por algum motivo
estranho, ele me pediu para levá-lo à concessionária, em vez
de seu gerente, companheiro de quarto ou uma de suas
centenas de amigos em Houston.
Amigos apoiam, e realmente quero tentar fazer melhor,
pelo menos desta última vez.
Especialmente porque, do jeito que as coisas
aconteceram no dia em que eu o levei à concessionária, eu não
fui a única que pensei que nossa amizade era como andar de
bicicleta. Algumas coisas são fáceis. E há algumas pessoas na
vida em que você apenas... clica quando tem a chance.
Acontece que Zac é uma das pessoas mais agradáveis que já
conheci. Simplesmente não esquecerei que ele se dava bem
com todo mundo.
E eu também, na maioria das vezes — menos com
Gunner, mas ninguém gosta dele.
Então, vou continuar torcendo pelo meu amigo, decido, e
envio a mensagem para ele.
Eu: Você ainda consegue, velho.
Viu? Não está escrito de um jeito que ele se sentirá
obrigado a responder, e se não o fizer, não ficarei
decepcionada. Não fiquei na penúltima vez que ele não me
enviou uma mensagem de volta. É bom o suficiente, e fico
satisfeita. Eu tentei.
Por sorte, consigo esconder meu telefone de volta embaixo
do teclado cerca de três segundos antes da porta lateral se
abrir e Gunner, o Bundão de Microgerenciamento, entrar com
um dos outros novos proprietários atrás dele.
Pego uma pilha de panfletos em cima do balcão e começo
a endireitá-los para que não pareça que estou lá sem fazer
nada. Sabe, porque organizar e reorganizar as coisas consome
muito tempo. Certo.
Eu vou sair daqui. Um dia, em breve, caramba.
No momento em que começo a arrumar a pilha seguinte
— panfletos para treinamento pessoal — pelo canto do olho,
vejo Gunner e o Outro Proprietário Bundão vindo direto para a
mesa. Por algum milagre, os dois membros que estão ocupados
conversando sobre os White Oaks dizem algo sobre o time que
chama a atenção de Gunner no exato momento em que ele e o
Idiota #2 param em frente ao balcão.
Ele nem olha na minha direção antes de se virar para
encarar a televisão que os membros estão assistindo; Idiota #2
faz a mesma coisa.
“De jeito nenhum”, Gunner murmura, os olhos colados
na tela.
“Ele está fora?” O Dono Idiota #2 pergunta a ele, como se
não pudesse ler a manchete na tela onde diz Castro Sofre Lesão
no Cotovelo, Está fora por 6 meses.
“Que diabos? Fisher está bem, mas ele não é Castro”, Roy
murmura, referindo-se a alguém cujo nome é Fisher. O
quarterback reserva? Anos atrás, Houston tinha uma equipe
chamada Fire, mas eles se mudaram para a Carolina do Norte.
Felizmente, antes que alguém pudesse sentir muita falta deles,
os White Oaks nasceram.
Mantenho meu olhar para frente, ouvindo a ligeira
vibração do meu telefone e tentando disfarçar isso dos dois
idiotas que espero que não estejam por perto, caso os
comentaristas comecem a falar sobre Zac. E é assim que passo
os quinze minutos seguintes, tentando manter meu rosto
neutro enquanto conversam sobre zagueiros e White Oaks.
De qualquer forma, eu me considero sortuda pelo
zagueiro lesionado ser uma distração suficiente para que os
Idiotas 1 e 2 se esqueçam do que quer que tenham vindo fazer,
e saiam quando um dos caras do MMA entra e chama sua
atenção. Eles o seguem até o próximo prédio. Graças a Deus.
É quando eu pego meu telefone de volta, entre os
membros, e vejo uma mensagem que chegou.
512-555-0199: Esse voto de confiança…
512-555-0199: Obrigado querida
Penso no que mais quero dizer a ele por um segundo
antes de realmente enviá-lo.
Eu: Eu diria boa sorte, mas você não precisa.
XOX(Beijos e Abraços).
Aí está. Mais mensagens que não foram pressionadas. E
eu carrego aquele XOX nos meus ombros com orgulho. Eu
quero dizer isso. Parte de mim acha que isso também não será
bem-vindo, com base no número de abraços que ele me deu na
semana anterior. Se essa foi a última vez que trocamos
mensagens por um tempo, pelo menos eu coloquei meu amor
e apoio por ele.
Em um mundo em que as pessoas vivem criticando umas
as outras, pelo menos eu espero que ele saiba que há algumas
pessoas por aí que sempre se orgulharam dele. Que sempre
torcerão por ele. Talvez não sejamos pessoas perfeitas, mas
ninguém é. Nós dois tentamos — agora — e isso é alguma
coisa.
Meu trabalho, como amiga dele, está feito.
E realmente esperava que ele seja contratado.

***

“Você precisa da minha ajuda para encontrar um


acompanhante ou o quê?” Minha irmã me pergunta horas
depois, no momento em que finalmente consigo me sentar no
meio do sofá com um prato de sobras de carne bovina, quinoa
e sopa de batata. Cruzando as pernas debaixo de mim, flexiono
os dedos dos pés para que eles doam um pouco menos depois
de um dia de doze horas. A funcionária que deveria entrar
depois de mim telefonou e, como era Deepa trabalhando no bar
de sucos, me ofereci para ficar para que ela não estivesse
totalmente ferrada.
Mas agora estou cansada e lamentando parcialmente
minha decisão; meus pés, ombros e parte inferior das costas
estão doendo muito. Eu não estou mais acostumada a
trabalhar longos dias, apenas algumas horas aqui e ali. O bom
é que eu estou de folga amanhã.
Contorcendo-me profundamente no sofá, coloco um
pouco de comida na boca e, com ela cheia, resmungo: “Eu
realmente não acho que preciso de um acompanhante. É um
aniversário, Connie, não... Eu nem sei porque diabos preciso
de um acompanhante. Pra nada. Posso ir a qualquer lugar
sozinha.”
“Bianca”, minha irmã murmura, algo batendo no fundo.
Ela tem que ter tirado o telefone do rosto porque seu grito é
abafado. “Yermo! Que diabos você está fazendo aí em cima?
Dançando break? Não ouse quebrar o gesso de novo!”
Bufo no telefone e espero até ouvi-la respirar antes de
perguntar: “Ele quebrou o gesso?”
Ela bufa algo que soa porra baixinho antes de voltar para
a linha. “Eu não te enviei uma foto? Ele fez isso na semana
passada. Enfiou o pé inteiro na parede.
Eu rio. “Amo esse garoto. Diga a ele para gravar a si
mesmo e enviar para mim.”
Isso me rende um gemido. “Ele chutou Tony na cara há
uma semana, quando eles vieram e lhe deu um olho roxo.”
Imaginar meu primo Tony com um olho roxo me faz bufar
de novo. Tony é um pé no saco e sempre foi. “Ele pode estar
doido, Con, e Tony provavelmente precisa de outro chute no
rosto. De qualquer forma, acho que não preciso de um
encontro. Eu posso ficar lá por uma hora ou duas no máximo
antes que alguém me dê nos nervos e eu me esgueire.”
Minha irmã não diz nada por um segundo antes de dizer:
“Aposto na Tía Licha.”
“Eu também.” A lembrança da última vez que eu vi a tia
vem a mim de repente, e bufo novamente. “O que ela disse
quando a vimos pela última vez? Que você precisava começar
a usar creme para os olhos?”
Minha maldita irmã rosna. “Não, isso foi na vez anterior,
dois natais atrás. Da última vez, no casamento de Maggie, ela
veio até mim, tocou meu queixo e perguntou se dois não eram
suficientes.”
Tenho que segurar a merda da minha tigela para não
derrubá-la quando começo a rir. Sim, foi exatamente o que
aconteceu.
“Cale-se.”
Eu não calo. “Não se esqueça que ela veio até mim e
beliscou minha barriga e tentou me passar algumas pílulas de
queima de gordura que contrabandeara”, tento dizer...
sabendo que ela história dela definitivamente ainda é pior.
Estava do outro lado da sala quando a tia que nós sempre
tememos a encurralou, e eu a deixei sofrer por isso.
Principalmente porque ela teria feito a mesma coisa se
tivesse sido eu a encurralada.
Pelo menos uma de nós escapou ilesa.
Por enquanto.
Sorrio com a lembrança de Tía Licha cutucando o queixo
de Connie enquanto ela a encarava, tentando o máximo
possível ser educada e não afastar a mão como realmente
queria.
“Então você quer que Tía Licha fique toda julgadora sobre
você ficar velha e não ter um namorado?”
Eu rio enquanto mastigo minha comida. “Ela é apenas
zelosa, eu sou solteira e tenho toda a minha vida pela frente.”
“Ela é. Vi Tío Rudy de cueca aquela vez, lembra? Ela
perdeu. Algo como... grande momento.”
Nós duas rimos.
“Mãeeeee! Eu esqueci! Preciso levar cupcakes para a
escola amanhã! Você pode fazer um pouco?” Minha sobrinha
grita de algum lugar ao fundo.
Connie rosna para a linha. “Caralh... Peewee, depois te
ligo.”
Nós duas sabemos que ela não irá me ligar de volta.
Mas eu rio. “Ok, seja legal com minha garota. Tchau.”
“Tchau”, disse ela. Ouço um pedaço de “Luisa, o que...”
antes que ela desligue.
Estou sorrindo para mim mesma quando aperto Play no
controle remoto e me acomodo para assistir outro episódio do
drama turco que ainda não passou.
Assim que termino de comer, pego meu laptop e vasculho
a lista de receitas em que estou trabalhando lentamente para
o livro que espero lançar. Algum dia.
Não, não um dia. Um dia em breve. Eu mesma publicarei,
já que nenhum dos agentes aos quais enviei consultas
respondeu, decidi meses atrás.
E é esse dia que me mantém trabalhando no meu
computador, reescrevendo alguns resumos na parte superior
das receitas que estou pensando em usar, porque não tenho
muita vontade de fazer muito mais.
Pelo menos até desmaiar no sofá com o meu laptop.
Acordo com um sobressalto e verifico minha tela, dizendo a
mim mesma que não esperava que Zac tivesse enviado uma
mensagem com uma atualização — e isso é verdade. Eu não
estava esperando. Só desejando que ele tenha boas notícias.
Mas não há uma mensagem. Ele também não atualizou
sua conta do Picturegram, sei depois de percorrer meu feed.
Não há nada sobre ele ou San Diego ou qualquer coisa.
Dedos cruzados.
Então vou para a cama.

***

Três dias depois, porém, eu me pego puxando meu carro


para um local aberto em frente a casa em que Zac está
morando. Eu não quero estacionar na entrada circular. Há três
carros estacionados nela, incluindo o BMW que ele foi buscar,
e eu não quero bloquear ninguém.
Agarrando a grande sacola térmica que uso quando
compro coisas frias no supermercado, levanto o peso dos
quatro potes dentro dela, dois são do frozen yogurt que fiz no
dia anterior e os outros dois são de bolo. Duas para Zac e duas
para CJ. Sem pressão.
Fiquei surpresa pra caramba quando, na noite anterior,
estava mexendo na receita de bolo de amêndoa que meio que
havia gravado em um vídeo alguns anos atrás — a mesma que
Zac perguntou — quando meu telefone tocou com uma
mensagem recebida. Como destino.
512-555-0199 tinha me encarado de volta na tela do meu
telefone. Junto com uma mensagem: Você está livre?
E é assim que me vejo atravessando um gramado da
frente para chegar às pedras que levam à porta da frente antes
de tocar a campainha e dar um passo para trás para esperar.
Não fico surpresa ao ver uma figura familiar se aproximando.
Aceno.
O rosto levemente sorridente de CJ me recebe de volta
quando ele destranca e depois a abre.
“Oi, CJ.”
“Como tá indo? Entre.” Ele inclina a cabeça em direção
ao interior da casa.
“Estou bem. Como você está?” Eu pergunto, entrando e
estendendo minha mão.
CJ abaixa o queixo quando a sacode. “Tudo certo.” Ele
fecha a porta. “Zac desceu, disse para lhe dar um minuto.”
Eu o sigo pelo corredor até a sala principal. “Ok.” Abrindo
o zíper da bolsa, pego os dois potes que trouxe para ele com
“CJ” escrito em uma nota em cima deles e estendo quando
paramos na cozinha. “Aqui. Trouxe um frozen yogurt que fiz.
É de morango. O outro tem bolo de amêndoa e morango.”
Sorrio. “Eles tinham morangos congelados à venda, e fiquei um
pouco enlouquecida.”
Aqueles olhos castanhos se iluminam, e ele não perde um
segundo antes de arrancá-los da minha mão. Tenho certeza de
que não estou imaginando o fato de que ele os puxa em direção
àquele peito largo e os esconde sob uma camiseta cinza da
faculdade e os segura lá também. “É tão bom quanto o seu
creme?”
Ele fez o meu creme também? De que outra forma ele
saberia que é bom? Vou perguntar depois. Talvez. Se houver
um mais tarde. “É diferente, mas é bom, eu acho. Mas sou
tendenciosa.”
Tenho certeza de que ele realmente puxa os recipientes
para ainda mais perto do peito. “Obrigado.” Olhos castanhos
se voltam para o frozen yogurt. “Você fez isso para o vlog?”
“Sim. O bolo de amêndoa é um que eu fiz antes; Acabei
de mudar algumas coisas da receita original.”
“Sozinha?”
Assinto. “Eu não tenho ninguém que possa fazer um
comigo tão cedo.” E porque não tenho vergonha, sorrio para
ele. “Se você quiser fazer um, me avise. Mas sem pressão.”
O homem pálido pisca. “Sério?”
“Eu falo sério, se você falar sério. Quando quiser, mas não
se sinta obrigado.”
CJ assente, mas percebo que ele está pensando nisso.
Ou talvez ele esteja pensando que sou maluca.
“Desculpe por isso, Peewee”, ecoa pela sala e na cozinha.
Sentindo-me feliz por CJ sugerir que fez minha receita e
parecendo tão interessado em ser um convidado para estrelar
um vídeo, e também um pouco triste porque acho que Zac não
recebeu boas notícias sobre o time em San Diego já que ele
voltou para cá, olho para Zac que está atravessando a sala na
direção da escada dos fundos, dou a meu amigo de longa data
um sorriso ainda maior do que qualquer um dos que já lhe dei
antes.
Aqui. Agora. Tentar. Esse é o meu lema com esse cara a
partir de agora. O passado ainda está no passado.
“Está tudo bem”, falo para ele, sugando a expressão
brilhante em seu rosto e tentando não perceber como sua
camiseta velha da faculdade se encaixa nele, exibindo aquele
torso longo e musculoso.
Ele está sorrindo enquanto se aproxima de mim, e nós
nos aproximamos ao mesmo tempo. Meus braços vão para o
pescoço dele, subo até a ponta dos pés, e aqueles braços longos
e fortes dele envolvem minhas costas, me puxando para seu
peito, deixando-me sentir uma sensação sólida de todos
aqueles músculos magros e duros da garganta até os seus
quadris pressionados contra mim. Tenho certeza que até sua
bochecha vai para o topo da minha cabeça.
Ele me aperta tão forte quanto eu o aperto, e sei que não
imagino o suspiro profundo que ele solta antes de dizer no topo
da minha cabeça: “Você com certeza dá os melhores abraços.”
“Você também.” Porque ele realmente faz. Eles são tão
quentes e apertados.
Sou eu quem recua primeiro, mas é ele quem exibe
aqueles lindos dentes brancos enquanto olha para mim.
“Estava atrasado e entrei no chuveiro bem rápido. Desculpa
aí.”
“Nada demais. CJ estava...”
Saindo da ponta dos pés, me viro. CJ se foi. O mesmo
aconteceu com o frozen yogurt e o bolo de amêndoa.
Ok.
Bato os dedos. “Trouxe alguns pedaços do bolo de
amêndoa que você pediu e um sorvete caseiro. Bem, é uma
espécie de sorvete, é frozen yogurt. Se você quiser. Mas se não
quer, ou não gostar, tudo bem. CJ pode comer. Trouxe um
pouco para ele também, mas ele levou embora, acho.”
Zac começa a franzir a testa a meio caminho de mim
tagarelando, e está carrancudo no final, limpando todos os
vestígios do rosto radiante que estava atirando em mim quando
entrou na cozinha.
“O quê?” Pergunto a ele.
Sua carranca é apenas um pouco sutil. “Eu tenho
vontade de perguntar, o que há com você?”
“O que você quer dizer?”
Zac levanta as duas mãos no ar, o indicador e o dedo
médio formando aspas. “Se você quiser...”
O que?
Ele continua com as aspas aéreas. “Se você quiser... você
tem coisas melhores para fazer com o seu tempo”, ele repete,
soltando palavras que sei que usei com ele nas últimas vezes
em que estivemos juntos, mas não percebi que ele realmente
notou.
Merda.
A cabeça de Zac se inclina para o lado. “O que há com
tudo isso, querida?” Ele pergunta, parecendo muito, muito
cuidadoso de repente.
Duas vezes Merda.
“Pretendia perguntar a você outro dia quando você disse
alguma coisa, mas isso me escapou da mente”, ele continua
definitivamente pensativo, olhando-me de perto dessa maneira
que é muito observadora.
Eu fui tão óbvia?
Aqueles olhos azuis claros ficam ainda mais vigilantes, e
não posso confiar no jeito que um canto da boca dele desliza
um pouco para o lado.
Arranho a ponta do meu nariz. “Nada.”
Sim, aquele sorriso torto cai totalmente como uma mosca
em um piscar de olhos, e não estou pronta para o que sai da
boca dele em seguida. “Eu tenho pensado muito sobre isso,
sabe.”
Pensado muito sobre o que?
“Eu vi que você me segue no Picturegram.”
Sim, ele vai em frente. Em uma voz muito baixa e com
aquele olhar penetrante apontado diretamente para mim.
Como ele sabe que eu o sigo online? Ele finalmente me
procurou?
“Por que você não me disse que morava aqui? A última
vez que ouvi, você estava na Carolina do Norte com Connie”,
ele continua, mas por algum motivo, embora esteja olhando
para mim, não parece direcionado a mim... parece mais como
em geral, como se fosse a primeira vez que ele realmente
pensou sobre isso. “Por que mais ninguém me contou, garota?”
E isso não machuca exatamente meus sentimentos. Se
há uma coisa que aprendi durante o vlogging nos últimos anos,
são meus limites para as coisas que realmente podem me
machucar. Eu não vacilo mais sobre as pessoas implicando
com minha aparência ou personalidade, mas isso me
machucou por semanas no passado. Muitos comentários me
roubaram o sono. Pessoas malvadas me fizeram querer parar
uma ou dez vezes. Cinquenta. Cem. Mil.
Então agora...
Bem, agora, Zac levou dez anos por questionar o que
dividiu nossa amizade. Até certo ponto. Só porque eu bati a
realidade em meu coração ao longo dos anos.
Tudo o que consigo fazer é dar um sorriso vacilante,
principalmente porque não sei como responder.
Não, eu só não quero responder.
O homem descontraído que acabou de sorrir para mim
minutos atrás levanta aquelas sobrancelhas castanhas, sua
expressão cautelosa, a voz cuidadosa, tentando parecer
descontraído, mas apenas... não. “Por que isso?”
Esfrego minha têmpora, esperando acabar com isso.
“Porque não conversamos há dez anos?”
Deus, eu sou a pior.
Mas o que ele queria que eu dissesse? Ele quer fingir que
o passado não aconteceu? Ele quer fingir que não ignorou
minhas mensagens por quase dois anos até eu desistir?
E por que estou começando a suar?
Pensei que tinha superado isso. Eu apenas pensei que
nós dois iríamos avançar do passado e fingir que não tinha
acontecido. Isso estava bem para mim. Além de melhor para
mim. E fácil.
Os olhos de Zac se estreitam. “Conheço você desde os três
anos, Peewee. Seu primo é a coisa mais próxima que eu tenho
de um irmão”, ele afirma com firmeza como se eu não soubesse
tudo isso. “Por que ele não me disse que moramos na mesma
cidade?”
Porque você não pergunta sobre mim desde sempre.
Porque me machucou quando eu tinha dezessete anos e se
esqueceu de mim. Mas principalmente, porque ele sabe que eu
não queria te ver, e talvez Boogie ame a nós dois, mas ele me
ama mais.
Mas engulo as palavras, engoli meu coração e imagino
que sou uma adulta e não tenho nada a esconder. Sei como as
coisas aconteceram, e se ele quiser trazer isso à tona? Bem, ele
também é um homem adulto, e nós dois podemos assumir a
responsabilidade por nossas ações.
“Eu não queria incomodá-lo depois de tanto tempo.”
Tanto tempo. Quase uma década atrás, e essa loucura
ainda dói, não importa o quanto eu diga a mim mesma que
não? Eu não quero fazer isso. Não quero falar sobre isso.
Mas Zac não está na mesma página. “Me incomodar?” Ele
pergunta devagar.
“Você está ocupado.”
Os olhos dele se estreitam. “Me incomodar, Bianca?”
Ele tem que dizer assim? E realmente quer fazer isso?
Com esse tom e essa expressão e tudo?
“Você está falando sério?” Ele pergunta como se pudesse
ler minha mente.
Ok, aparentemente ele quer fazer isso. Tudo certo. “Sim,
incomodar você. Eu sei que está ocupado. Sei que tem muito
em mente e que está sempre conhecendo pessoas e as pessoas
estão sempre querendo coisas de você...” E merda, isso arde.
“Eu sabia que você estava aqui e não queria incomodá-lo. Eu
não vi um ponto, já que tem muitas outras coisas
acontecendo.”
E talvez, apenas talvez ele possa ter perguntado sobre
mim uma ou duas vezes, mas poderia ter tentado me encontrar
por conta própria. Descobrir como eu estava indo por conta
própria. Ele poderia ter apenas... me mandado uma mensagem.
Essa parte é culpa dele.
O homem que sorriu para mim tão largo um segundo
atrás se foi.
Ele quer isso, certo? Talvez eu não possa dar tudo a ele,
mas posso fazer um pouco. Metade disso. “Eu não gostaria que
você se sentisse obrigado a me ver ou algo assim.” Tudo bem,
isso não foi tão ruim. “Não nos vemos há dez anos, Zac. Eu não
queria apenas voltar à sua vida. Todo mundo sabe que você
está ocupado — sabem que estou ocupada — e que não
passamos um tempo juntos desde sempre. Não conversamos
há muito tempo, tenho certeza que Boogie não achou que você
se importaria de estarmos por perto. E ele estava fora do país
quando você chegou aqui.”
Aparentemente, ele apenas ouve parte do que eu digo.
“Você acha que seria uma obrigação?” Ele pergunta, ainda
falando devagar e franzindo a testa.
Bem, quando ele coloca assim... Ele quer a verdade,
certo? Eu não assumirei toda a culpa. “Sim”, confirmo. “Sim.
Você se sente obrigado em relação a mim desde a coisa da
cobra.” Não me machuca admitir. Eu cheguei a um acordo com
isso.
Mas ele pisca. “Não. Quero dizer, sim, mas não...”
Eu apenas olho para ele e vejo suas sobrancelhas caírem
em uma expressão severa e dura.
“Eu perguntei sobre você.”
Leva toda a minha concentração não bufar. Quão duro
ele realmente tentou? Ele poderia ter me procurado a qualquer
momento. Não era como se eu escondesse minha existência.
“Eu perguntei sobre você várias vezes desde que parou de
me mandar uma mensagem de volta.”
Desde que eu parei de mandar uma mensagem de volta?
Em que tipo de realidade alternativa ele está morando?
Mas tenho que responder por que estamos nisso, e não
vou me esconder. Eu errei de certa forma. Eu o incomodei
demais quando ele estava ocupado; Posso assumir a
responsabilidade por isso. Mas isso foi o pior que fiz, e irei para
o meu túmulo pensando nisso. “Desde que eu parei de mandar
uma mensagem de volta? Não foi assim que aconteceu. Eu não
desapareci simplesmente, Zac. Eu estava por aqui.” Tento
sorrir para ele, mas falho muito, porque isso dói muito.
“Vejo Paw-Paw uma vez por ano e só vi sua mãe algumas
vezes.” Eu não sei por que nenhum deles nunca mencionou
isso para ele. Mas eles falaram. Eu entrei e saí de conversas
que giravam em torno dele, evitando-as para que pudesse
evitar falar sobre vê-lo. Mais sobre não vê-lo. Eu não queria
falar sobre isso ou fazer parecer um grande negócio.
No final das contas, foi decisão de Zac não entrar em
contato comigo.
Não, em anos.
Ele esteve ocupado. Eu entendi. Por que ele teria se
preocupado e sentado ali e se perguntado como estava sua
velha amiga quando tinha tantos novos? Não que eu nunca
tivesse me perguntado o que meus amigos da escola primária
estão fazendo.
Mas isso é diferente, a voz na minha cabeça sussurra. E
eu sei que ela — aquela voz — está certa. Mas...
Não é isso que quero ou por que vim. Eu não quero falar
sobre isso. Tudo que quero é seguir em frente, ficar bem com
onde estamos agora.
Mas, aparentemente, Zac quer falar sobre isso depois de
tanto tempo.
“Por que não nos vimos?”
Você é apenas uma criança. Zac tem coisas melhores para
fazer, querida. Você entende? Ele está na NFO agora. Ele tem
pessoas mais importantes para passar o tempo. Não leve para
o lado pessoal.
As palavras ecoaram na minha cabeça uma e duas vezes
quando o pomo de Adão de Zac balança novamente na minha
frente.
Mas não foi totalmente isso, foi? Foi apenas o começo. A
ponta do iceberg.
Ele me ignorar aconteceu depois, depois que a semente
foi plantada, regada e germinada.
Eu não pude evitar; Fiquei na defensiva. Para a jovem
Bianca que amou demais o amigo. Disso ela era culpada. “Você
está me perguntando por quê?”
Aquele queixo de cerdas loiras mergulha.
“Porque não estamos na mesma cidade na mesma época
há anos”, eu digo a ele, que também faz parte do motivo, e
também não a totalidade. Eu apenas tive certeza de não
estarmos. Sempre que ele jogava em Houston, fazia questão de
ir visitar Connie para ter uma desculpa para não estar por
perto se Boogie viesse à cidade para assistir. Eu sabia que
minha irmã estava plenamente consciente do que eu estava
fazendo, mas isso era apenas porque ela me conhece muito
bem.
Mas essa desculpa não é suficiente para ele,
aparentemente. “Mas por quê? Eu sei que você tinha que ter
vindo visitar.” Ele respira fundo, e percebo que ele está
pensando, pensando e pensando — pensando em mim e ele e
em dez anos se passaram de alguma maneira e ele não
percebeu. “Nós costumávamos nos ver o tempo todo”, ele diz,
como se eu não soubesse disso. “Então, de um segundo para
o outro, você saiu da minha vida, mudou-se por todo o país, e
eu não te vi ou ouvi falar de você para sempre.”
Uh.
Algo quente e pontudo aparece na minha garganta, mas
eu ignoro. Pelo menos tento muito. Porque não é disso que
quero falar agora ou sempre. “Sim, quando as coisas eram
menos complicadas, nós nos víamos muito. Estive ocupada.
Você esteve ocupado. Eu me mudei para a Carolina do Norte
porque não tinha outro lugar para ir depois que me formei no
colegial, Zac.” Porque meus pais decidiram partir tão
rapidamente quanto chegaram, e minha avó foi enterrada, e eu
não queria morar com minhas tias e tios por um longo período.
Ao contrário dele, eu nunca o esqueci; Apenas continuei
com um buraco em forma de Zac no meu coração.
E foi o contrário. Ele desistiu da minha vida. Nada disso
foi minha culpa.
Mas o seu “Então?” me corta direto no centro. Profundo e
implacável. “Antes de você ir, eu te mandei uma mensagem e
você nunca me escreveu de volta. Então você parou de vir com
Boogie, e sei que perguntei, mas não me lembro do que ele
disse. Eu perguntei sobre você. Ele me disse que você se havia
se mudado. Não você.”
Mais como, ele pensou que tinha me mandado uma
mensagem, mas não mandou. E se ele perguntou sobre mim,
talvez Boogie tenha lhe dado uma resposta idiota que ele
aceitou e seguiu em frente com sua vida. Sem querer detalhes.
Sem se preocupar com mais.
Meu Deus, isso meio que dói. Mas é besteira. Besteira
pura e fedida.
E com certeza não me pertence.
“Eu tentei falar com você. Repetidamente. Amizades vão
nos dois sentidos”, falo com uma voz que parece tão baixa que
me machuca ainda mais.
Eu posso ver em seus traços. Nos olhos dele. Ele ainda
está pensando. Processando. Tentando lembrar o quê? Se
estou mentindo? Ou tentando juntar sua culpa em tudo isso?
Por que não podemos simplesmente seguir em frente? Eu
me convenci disso. Eu disse a mim mesma que está tudo bem
do jeito que está. Que posso seguir em frente, mas tudo isso
está me machucando. Fazendo-me sentir pequena e esquecida
— duas coisas que eu nunca mais quero sentir. Como se eu
não tivesse importado o suficiente, e talvez ainda não
importe... mesmo que a parte razoável do meu cérebro saiba
que isso não é verdade.
Mas o homem feliz e sorridente ainda está totalmente
perdido quando seus olhos percorrem os meus, procurando e
procurando. “Eu tentei.” Ele limpa a garganta. “Eu tentei
mandar uma mensagem para você. Eu juro, querida. Eu sei
que sim. Eu...”
O que quer que esteja no meu peito explode, ocupando
cada vez mais espaço, e não é isso que eu quero... mas é a vida.
Dando o que você quer e não quer, sem uma única
consideração.
“Você não mandou.” Ah, merda. Bem, aqui estamos nós.
“Você não me mandou uma mensagem de texto por anos, Zac.
Também nunca atendeu minhas ligações. Nunca recebi nada
de você e eu tentei.” E é muito mais difícil do que eu jamais
poderia imaginar levantar meu ombro e fazer parecer que,
quando aconteceu, não me incomodou. Mas eu não vou me
demorar nisso, caramba. Eu não vou. Eu não fui esquecida.
Eu importo. “Olha, isso foi há muito tempo. Não é mais
importante.”
“Não.” Ele se levanta ainda mais, tornando nossa
diferença de altura muito mais aparente quando tem que
inclinar o queixo para baixo para olhar para mim. “Isso
importa. Eu sei que te mandei uma mensagem. Eu não teria
ignorado nenhuma das suas mensagens.”
Levanto minhas duas sobrancelhas para ele enquanto
meu peito dói. Porque eu senti a falta dele. Porque eu sabia,
sem dúvida, que havia tentado. Não fui eu quem desapareceu.
Esqueci.
Ele sim, e ele está me lembrando. Machucando-me.
Sem querer.
Mas ainda está fazendo isso.
Eu o amava, pensava no mundo dele, e ele me deixou
para trás — para seguir seus sonhos, com certeza.
Mas ele ainda me esqueceu.
Depois de todas as vezes que ele revirou os olhos para os
meus pais quando eles invadiam a minha vida ou a de Connie
uma vez por ano, agindo como se estivessem tão felizes por
estar por perto e que não importava que nunca estivessem...
ele fez o mesmo de certa forma.
“Não”, ele repete, olhando para mim com aqueles suaves
olhos azuis. “Eu não teria. Talvez eu teria levado um minuto
para te enviar uma mensagem de volta, mas eu teria...” Sua
boca se abre e fecha. Até suas narinas dilataram. Rosa tinge
suas bochechas e ele balança a cabeça agressivamente. “Eu
teria escrito para você, querida. Eu não teria esquecido...”
Ele fecha a boca.
Nesse instante, ele fecha a boca.
Porque ele percebe isso então. Ele tinha. Talvez não dez
anos atrás, mas ao longo do caminho.
Porque ele parou de perguntar sobre mim em algum
momento.
Talvez em sua imaginação ele me mandasse uma
mensagem de volta ou me enviou uma mensagem. Talvez uma
vez, talvez duas. Mas tinha acontecido. Talvez ele tivesse toda
a intenção de me ligar de volta, mas isso também não tinha
acontecido. Eu parei de me aproximar, mas somente depois
que ele o fez.
E sim, isso doeu. Doeu muito. Tanto que tenho que
respirar e segurá-la e olhar em seus olhos, porque não me
permito fazer menos. Eu sou Bianca. Sou The Lazy Baker. E
eu fiz meu próprio destino. Fiz minhas próprias escolhas.
Talvez algumas pessoas se esqueçam de mim, me
superem ou nunca tiveram espaço para mim em primeiro
lugar.
Mas eu tentei. Com todos eles. Com cada pessoa, eu me
esforço.
E por algum milagre, meu telefone toca naquele
momento.
Não hesito. Não espero. Enfio a mão na minha bolsa e
pego o telefone, olhando para o rosto pensativo e perturbado
de Zac ao fazê-lo. BOOGIE É MEU FAVORITO brilha na tela,
e encontro aqueles olhos azuis bebê quando bato no ícone
verde e puxo o telefone para o meu rosto.
Eu tentei com ele, com Zac, e levarei isso para o túmulo
comigo.
“Oi, Boog”, respondo cautelosamente, encontrando o
olhar de Zac de frente.
“B, estou dirigindo, mas tenho uma pergunta rápida para
você”, responde meu primo. Há tanto barulho de fundo que sei
que ele está dirigindo. “Você conhece algum videomaker em
Austin?”
Alívio enche meu estômago. Estava preocupada que algo
ruim tivesse acontecido para ele ligar de novo.
“Hum, não. Mas conheço algumas pessoas em Houston
que podem fazer um ótimo trabalho se estiverem dispostas a
dirigir até lá”, digo a ele. “Para quê? Você...” Eu quase engasgo
com a palavra. Eu propositadamente tento não pensar em ele
se casar desde que soltou as notícias, mas ser lembrada disso
— dele se casar com alguém que não gosto, mesmo que ela
esteja esperando minha futura sobrinha ou sobrinho, e
percebo que preciso superar isso — azeda meu estômago.
Mas este é meu primo, que é o homem mais próximo que
tenho na minha vida, então vou engolir todo tipo de merda por
ele.
Mesmo se uma parte de mim morrer por dentro.
Essa é a vida dele, e ele sabe o que está fazendo. Casando
com uma idiota traidora. Uma idiota traidora que ele perdoou.
Então.
“Para o seu casamento?” Finalmente sai.
Ou eu faço um ótimo trabalho escondendo a tensão na
minha voz ou ele está fingindo não ouvi-la. “Sim, para o
casamento.” Ele diz alguma coisa, mas não parece que é para
meus ouvidos, e tenho certeza que ele está conversando com
sua noiva. “Deixe-me fazer algumas ligações por aqui, então, e
se eu não encontrar ninguém, ligarei para você por esses
números. Ligamos para uma empresa, mas eles são
contratados com muita antecedência.”
Eu pego o olhar de Zac. Ele está olhando para mim, a
testa alinhada, os lábios apertados. “Os bons sempre são. Me
avise, porém”, eu digo a ele.
Há mais sussurros, então: “Ok, obrigado, B.”
Eu paro. “Ei, você já contou a sua mãe sobre o bebê?”
Ele emite um som que quase sai como um bufo. “Sim. Ela
me deu um tapa na cabeça e depois me deu um abraço. Ela
está animada.”
“Espero que ela tenha batido em você com força.”
Meu primo ri. “Aposto que você espera. Vou te mandar
uma mensagem mais tarde, está bem?”
“Ok, te amo, tchau.”
“Amo você também. Até mais”, meu primo diz no
momento em que Zac estende a mão.
“Uh, espere um segundo, Boogie”, murmuro antes de
lentamente entregar meu telefone.
Zac pega, encontrando meu olhar com força enquanto diz
ao receptor, “Boog? É Zac… Sim, vamos sair. Eu tenho uma
pergunta para você que está me incomodando. Por que você não
me disse que Peewee morava em Houston?... O quê?.... Não...”,
Ele para de falar, afasta o telefone do rosto e diz: “Ele desligou
o telefone.”
“Boog desligou na sua cara?”
Aqueles olhos azuis claros sobem para os meus. “Sim. Ele
disse que não vai se meter no meio disso e que nós dois
precisamos resolver o problema sozinhos e desligou.”
Eu pisco.
Ele pisca.
Bem.
Acho que deveria ter previsto isso. Não posso nem dizer
que culpo meu primo. Isso é entre mim e Zac, e ele não merece
ser pego no meio disso mais do que já foi.
Puta merda.
Minha mão vai para a parte de trás do meu pescoço
quando o olho nos olhos novamente, a resignação bombeando
meu sangue de forma constante. “Olha, Zac, eu não quero
brigar com você. Isso foi há muito tempo e...”
Por que diabos ele está balançando a cabeça?
“O quê?”
Zac dá um passo à frente e franze a testa em seu rosto
suave. “Eu não quero brigar com você também, querida, mas
não é isso que estamos fazendo.”
“Eu tinha certeza de que era isso que estávamos fazendo.”
Aquelas sobrancelhas castanhas se erguem. “Não,
estamos discutindo o que aconteceu.”
“Discutindo?”
“Sim.”
“Zac...”
“Bianca.”
Esfrego a parte de trás do meu pescoço um pouco mais.
“Olha...” Tento novamente, mas novamente ele me interrompe
quando dá um passo à frente e tranca seu olhar no meu, com
o rosto concentrado.
“É por isso que você tem agido como você às vezes e como
se fôssemos estranhos o resto do tempo?” Ele pergunta
baixinho. “Por que não quis me contar sobre o seu Lazy Baker?
Por que quase não quer me dizer nada?”
Agindo como eu? O que? Brincando com ele? E ele
realmente precisa ressaltar o fato de que fui cautelosa e ele
percebeu? “É por isso o quê?” É o que decido escolher primeiro.
Aquele queixo fofo se inclina para cima um pouco quando
ele olha para o meu rosto muito de perto. Tenho que lutar
contra o desejo de colocar meu cabelo atrás da orelha
enquanto aqueles olhos azuis claros percorrem meu rosto
como estão fazendo desde que começamos a nos ver
novamente. “Você acha que eu nunca te mandei uma
mensagem de volta.”
Meu peito dói.
“É por isso que você está tão tensa ao meu redor, querida?
Por que está sempre se despedindo como se fosse a última vez
que me verá?”
Ele notou isso também?
A sobrancelha arqueada que ele está apontando para
mim diz: “Sim, eu notei.”
E meu rosto diz: “O que você quer que eu diga?”
E lá estamos nós. Parados. Porque eu não fiz nada de
errado, e na cabeça dele, a única coisa errada que ele fez foi
me esquecer. Eventualmente. Porque ele praticamente jura que
me mandou uma mensagem e que eu não respondi. Porque ele
perguntou sobre mim, supostamente, e ninguém havia lhe
dado detalhes.
Sim, isso ainda dói. Pensar nisso várias vezes não ajudou
a aliviá-lo. Não mesmo.
De modo nenhum.
Zac dá um passo para mais perto, e sinto algo leve roçar
meu antebraço. “Peewee, não sei o que diabos aconteceu, mas
sei que não há como eu não ter te mandado uma mensagem
de volta eventualmente. E juro pela vida de Paw-Paw que
escrevi para você também e nunca tive resposta. Eu pensei que
você estava ocupada, pensei que também estava sofrendo pela
perda de Mama Lupe já que se mudou para ficar com Connie
depois de terminar a escola e se instalar. Eu sei que te mandei
uma mensagem para saber como estava. Isso machucou muito
meus sentimentos, quando também não tive notícias suas,
garota, mas pensei que talvez você precisasse de algum espaço.
Talvez não quisesse um lembrete de como eu...”
Sim, ainda está doendo.
“Mas juro no túmulo da minha Maw-Maw, talvez eu tenha
demorado um pouco se estava ocupado ou algo assim, em
responder a você, mas de nenhuma maldita maneira eu fiz algo
assim por muito tempo.”
Por que está doendo mais com cada palavra que sai da
sua boca?
“Você tem certeza que estava me enviando mensagens e
não para outra pessoa? Tem certeza de que não se esqueceu
de mim?”
E isso me faz olhar de volta para ele. “A menos que você
tenha alterado seu número naquela época, eu tinha o mesmo
que sempre usava, Zac.” Mas isso de repente me faz pensar.
Ele mudou de número e se esqueceu de me dizer? Não que eu
tivesse recebido uma mensagem dizendo que o número não
estava mais ativo... mas isso foi há tanto tempo, isso já era
uma coisa usada naquela época?
Aquilo faz sentido?
“Eu mudei meu número algumas vezes, quando alguém
descobria que era meu, mas não me lembro de fazer isso há
muito tempo”, continua ele, pregando-me com aquela
expressão intensa que parece olhar para um eclipse. “Eu sei
que eu teria lhe dito se tivesse mudado e suas mensagens
estivessem nele. Eu sei disso.”
Mas ele não tinha.
Eu sei, sem dúvida, que mandei uma mensagem para ele.
Se ele se esqueceu de me dizer, ou Boogie, isso é uma coisa,
mas simplesmente não faz sentido. Mandávamos uma
mensagem uma vez por semana naquela época. Eu não estaria
no fundo do poço. Ele não teria se esquecido de mim em um
mês se eu continuasse a me comunicar com seu telefone.
E oh meu deus, isso realmente dói loucamente.
Eu não quero fazer isso. Não quero trazer essa merda de
volta. Não quero mais falar sobre isso. Está feito. Não há nada
que possamos fazer para voltar no tempo.
“Olha, eu não sei o que aconteceu, mas sei que te enviei
mensagens. Repetidamente. Não todos os dias ou qualquer
coisa, mas como costumávamos, sabe?”
Parece que ele quer acreditar em mim.
“E você nunca me mandou uma mensagem de volta, Zac.
Eu não mentiria sobre isso. Eu literalmente não tenho motivos
para isso”, falo, porque não quero que ele pense que estava
procurando desesperadamente por ele. Ele pode fazer o que
quiser, mesmo que isso inclua não ter tempo para mim. Mas
não serei culpada por nada. “Mesmo morando com Connie e
Richard, eu não estaria tão ocupada que não teria mandado
uma mensagem de volta. Você era meu amigo e eu te amava.
Foi um momento ruim para mim depois que Mamá Lupe
faleceu e tive que ir morar com os pais de Boogie por alguns
meses antes de terminar a escola, mas... estou lhe dizendo a
verdade. Eu tentei. Apenas pensei...”
Naquela época da minha vida, depois que tive que sair da
casa da minha abuelita dois meses antes da formatura do
ensino médio, quando Connie morava na Carolina do Norte,
Boogie estava super ocupado no trabalho, Zac está em Dallas
e meus pais... meus pais tinham viajado novamente, foi o
momento mais difícil da minha vida. Eu amava minha tia e tio,
mas eles não eram a mulher que me criou, nem minha irmã
mais velha. Mudar-me para tão longe para ficar com Connie foi
assustador, mas realmente foi minha única opção naquela
época. Eu poderia ter ficado com minha tia e tio, mas não
queria ficar mais tempo do que era necessário.
E então tudo com Zac aconteceu, e pareceu a coisa certa
a fazer.
Atingi meu limite de perda e sofrimento, então.
Olho para o teto por um segundo quando sinto meus
olhos lacrimejarem e meu nariz começar a ficar um pouco
engraçado também. Fungo e me forço a desviar o olhar
enquanto lhe digo outra coisa que é parcialmente verdade. “Eu
pensei que você não queria mais ser meu amigo.”
Suas feições afrouxam, e tenho certeza que o vejo morder
o lábio inferior por um segundo antes de sua testa ficar
alinhada mais uma vez quando ele balança a cabeça. “Em
nenhum momento da minha vida eu não quis ser seu amigo”,
ele me disse com uma voz ferida, “e eu sei que você não
mentiria, garota.” Seu olhar é sólido e firme. “Mas precisa
acreditar em mim que não teria ignorado você e também não
mentiria sobre isso. Eu não mentiria para você, ponto final.”
Bem, eu posso acreditar, porque aconteceu.
Mas…
“Você não acredita em mim.”
Ah, merda. “Acho que você acredita que não teria feito
isso, mas...” Você acreditou. “...Eu mandei uma mensagem e
liguei para você, e essa é a verdade.”
“Eu teria mandado uma mensagem para você, Peewee”,
ele insiste.
Mas ele não fez isso. Porque eu teria respondido.
“Eu estava ocupado naquela época. Tudo estava louco,
mas eu...” Ele engole em seco e, novamente, sei o que está
pensando. O que ele quer dizer, mas não quer dizer. Eu não
teria esquecido você, mas ele esqueceu.
Caso contrário, ele teria se esforçado mais para se
comunicar comigo ao longo dos anos.
Talvez ele tivesse perguntado a Boogie sobre mim.
Talvez ele tivesse pensado em mim de vez em quando no
começo, quando ele imagina ter me mandado uma mensagem
de volta, mas depois de um tempo, ele esqueceu.
E nós dois sabemos disso.
E de certa forma, fico feliz por ele não estar se forçando a
divulgar essa afirmação.
Seria pior.
Então, quando ele aponta aqueles olhos azuis claros e
tensos para mim, eu não sei o que dizer, como confortá-lo,
porque honestamente, também preciso de um pouco de
conforto. Os meus não estão sem culpa; é apenas na realidade.
Pesar pela perda.
“Olha, isso não importa mais, ok? Não faz sentido...
apontar dedos.” Porque nós sabemos quem tem o dedo maior
apontado. Não me assusta.
Zac fica olhando. “Não, isso importa, querida. Isso
importa para mim. Não vejo seu rosto há dez anos, e não
entendo o porquê, e quanto mais penso nisso, mais me irrita.”
Eu levanto as sobrancelhas para ele.
Ele continua. “Você costumava me abraçar o tempo todo,
brincava comigo o tempo todo.” Sua boca fica apertada e plana.
“Agora, você me trata como se mal nos conhecêssemos; mal
brinca comigo.”
“Eu brinco com você.” Isso soa fraco até para mim.
Ele balança a cabeça e solta um suspiro que faz seus
lábios ficarem framboesas. “Peewee, estou com o coração
aqui.” Ele aponta para o pescoço. “E estou ficando chateado.”
“Comigo?”
“Não, querida, não com você. Com... tudo. Comigo
mesmo.” Seu olhar se desvia para cima e ele solta outro
suspiro. “Como diabos isso aconteceu? Eu não entendo.”
O que ele quer que eu diga?
Aqueles olhos azuis se voltam para mim, e dessa vez, ele
suspira, seus ombros indo para baixo da mesma forma que fez
quando eu disse a ele sobre Paw-Paw, como apenas, para baixo
e triste e inseguro.
E honestamente, eu odeio.
“Não é à toa que você me olha assim”, ele afirma
calmamente.
Meu batimento cardíaco está na minha garganta, mas
pergunto de qualquer maneira, sabendo que não devo,
sabendo que é ruim fazê-lo se sentir pior. “Assim, como?”
O pomo de Adão dele balança. “Toda simpática com um
estranho. Brincando comigo e depois lembrando que não quer
fazer isso.” Zac desvia o olhar por um momento. “Eu perdi dez
anos da sua vida, garota. Nem te reconheci no começo. Não
achei se pudesse me sentir mais idiota do que naquela noite,
mas sinto.”
Ele perdeu dez anos, mas eu também perdi dez anos dele.
E essa escolha foi minha.
Suspiro e dou um passo para mais perto dele, mais perto
daquele corpo alto e magro que tenho certeza de que dever ser
um papel de parede em centenas de telefones celulares de
mulheres. Para aquele rosto que realmente merece estar na
capa de revistas com muito mais frequência. Estendo a mão
para agarrar seu braço quente e digo: “Eu poderia ter estendido
a mão para você também, mas meus sentimentos foram
feridos.” É a verdade. Mas não quero que ele foque muito nisso.
“Sinto muito, Zac. Sinceramente, pensei que você não me
queria mais por perto.” Essa também é a verdade, mais ainda
do que minha primeira declaração, e isso é drama suficiente
para mim. Chega de tristeza. Eu não quero falar sobre a outra
merda; isso foi cansativo o suficiente. E há ainda menos
sentido em trazer isso à tona.
Eu sei disso.
Então dou a ele mais da minha honestidade. Dou a ele
um pedacinho de mim que sei que estou escondendo ao seu
redor. Para minha segurança. “Eu também senti falta da sua
cara grande e idiota, Snack Pack.”
Os olhos dele se arregalam. Aqueles cílios escuros, quase
louros, caem lentamente sobre eles. E aquela boca dele se
separa um pouco.
De surpresa?
Eu dou a ele um pequeno sorriso em troca. Um sorriso
que eu queria que fosse maior, mas estou segurando por mais
um segundo. Para ter certeza. Para não me precipitar.
E então ele pisca e me dá um pedacinho de si também.
“Você poderia apenas dizer 'cara idiota'. Sabe que sou
sensível em relação à minha cabeça grande”, Zac brinca,
baixinho, quase hesitante.
Eu não posso evitar, assinto para ele. “Você cresceu em
sua cabeça grande, se isso faz você se sentir melhor.”
Sua boca se curva um pouco mais. “Sim. Obrigado,
querida.”
Meu sorriso fica largo, apesar dos alarmes de alerta que
soavam na minha cabeça que tentam me lembrar o que é isso,
quais devem ser minhas expectativas.
Mas o sorriso de Zac é como uma daquelas flores em
câmera lenta no canal de natureza.
Eu apenas, parcialmente, me odeio por amá-lo, não
porque eu o amo assim, mas porque ainda me importo tanto.
E às vezes é mais fácil não se importar com as pessoas — pelo
menos as pessoas que não investem tanto em você quanto você
nelas.
“Nós podemos ser amigos quando nós dois tivermos
tempo, se isso funcionar para você”, digo a ele gentilmente,
tentando sorrir. “Porque não estou brincando sobre sua cabeça
grande.”
Algo nele vacila por um momento — está em seus olhos,
eu posso ver — mas uma fração de segundo depois, ele abre os
braços.
E dou um passo para eles. Como adulta, como Bianca
adulta.
Ele me atrai para ele, em seu peito, em sua vida, acho.
Zac Travis me abraça e diz: “Eu realmente senti sua falta,
Little Texas.”
Algo em mim se abala com o apelido que ele não usa há
tempos.
Há tanto, tanto tempo.
Com minha bochecha contra o peito, digo a verdade. “Eu
também senti sua falta, Big Texas.”
O que tem que ser uma das mãos de um milhão de
dólares dele, bate na parte de trás da minha cabeça, e eu gosto.
Gosto muito disso. “Ah, querida. Vai levar algum tempo para o
meu coração não ser esmagado por você não querer que eu
soubesse que vivemos tão perto um do outro.”
Eu me afasto um pouco, observando o queixo loiro e
castanho claro e levanto o dedo indicador. Dou um tapinha no
nariz dele, como nos velhos tempos, e não fico surpresa por
não parecer errado. Ainda faço isso com Boogie, Connie e
minha sobrinha e sobrinho.
Continuo dizendo a verdade. “Eu só não queria ser um
incômodo ou alguém que quer algo de você. Isso é tudo.” Tem
pelo menos, 99% de precisão.
Tudo bem, 90%, mas quem está acompanhando? Só eu.
Seu nariz se enruga, e não tenho certeza de como tomar
seu olhar atento. Eu quero me incomodar, quero ter
consciência de tê-lo tão perto faz com que ele possa ver todas
as minhas imperfeições. As sobrancelhas que tenho uma
semana de atraso em depilar. O lábio superior também passou
do seu auge. As olheiras que só aparecem uma vez por semana.
Zac esteve perto de mulheres bonitas, bonitas e fofas a
vida inteira. Não é como se essa realidade fosse nova para mim.
Eu não sou feia — bem, não tão feia, de qualquer
maneira. Eu posso ter um encontro quando quero — tive
encontros quando quis.
Assim, fica mais fácil tê-lo bem na minha cara,
observando minhas feições porque ele quer ver se estou
mentindo ou porque ele ainda está tentando se lembrar de
como sou. “Eu me preocupei com você o tempo todo depois que
saí da escola, sabia?”
Ele está me matando.
“Eu também me preocupei com você, sabia? Ainda me
preocupo com você toda vez que joga. Eu te amei, ainda amo.”
Cale-se. “Mas você ficou ocupado e tinha outras coisas com
que se preocupar. Eu não guardo isso contra você.” Estremeço.
“Muito. Eu sabia que, quando você partisse, o mundo se
abriria para você. Ou pelo menos entendi, uma vez que fiquei
mais velha.” Depois que chorei no começo, mas ele não precisa
saber disso. Eu tinha apenas onze anos naquela época.
Além disso, não quero falar muito nos anos seguintes.
Não quero incomodá-lo, essa parte é absolutamente
verdadeira. Não quero ser a pessoa que sua ex-namorada me
acusou de ser. Mas há uma razão pela qual o pensamento de
que posso até incomodar meu amigo de longa data se formou
em primeiro lugar.
Por uma fração de segundo, penso na garota de cabelos
castanhos compridos que me deu esse lamentável sorriso falso,
logo antes de me fazer sentir minúscula. A garota que tirou
minha auto-estima e cutucou com a ponta do sapato. Duvidar
é uma coisa terrível para qualquer um.
Espero que ela tenha pegado piolhos em algum momento
ao longo dos anos.
Zac não diz nada para mim por tanto tempo que não
tenho certeza se ele dirá, apesar de seu grande abraço. Ele
apenas continua me observando e me observando um pouco
mais até que finalmente seus ombros parecem relaxar.
Eu espero, sem saber o que diabos está passando pela
cabeça dele agora, já que já o entendi errado. Ou talvez tenha
acertado, e então ele mudou de ideia.
Isso é confuso.
Felizmente, ele não me confunde mais exatamente. “Eu
ainda te amo também, Peewee”, Zac me diz com um suspiro,
ainda me observando muito de perto e com cuidado. Um canto
de sua boca levanta um pouquinho, um pouquinho.
Em outra vida, eu teria matado por aquelas palavras
significando de uma maneira diferente.
Mas eu as pego agora, embrulho em papel de seda e as
guardo em algum lugar seguro.
Sorrio para ele, e demora um segundo para o outro lado
da boca dele também, relutante e incerto. Cuidadoso demais.
O meu ex levou um ano para me dizer que me amava. Eu
não via Zac há dez anos, mas ele levou semanas para dizer as
mesmas palavras para mim — sob um significado diferente,
mas elas ainda querem dizer o que querem dizer. Fidelidade.
Amizade. Afeição. Essas três coisas estão basicamente
gravadas em seu DNA.
Como eu não posso amá-lo? Mesmo que essa porcaria
seja confusa.
Zac estende a mão para esfregar sua bochecha direita.
“Dez anos se passaram, garota.” Ele suspira novamente, seu
suave olhar azul persistente, imóvel e inflexível. “Ainda não
consigo acreditar que demorou tanto tempo.”
“Está tudo bem.”
“Não, não está.” Ele suspira mais uma vez, passando a
mão sobre o rosto novamente antes que seu dedo indicador
suba e ele pressione a ponta dele na pinta na borda da minha
boca. “Eu realmente não te reconheci.” Aquela cabeça loira
inclina-se para o lado, e ele não está olhando para nada além
dos meus olhos quando pergunta: “Quando você ficou tão
linda, hein?”
Isso teria sido um punhal para a porra do meu coração
quando adolescente, mas agora... agora eu sei o que é fofo.
Não que eu ainda achasse que há algum universo
alternativo em que Zac gostará de mim de outra maneira que
não como ele atualmente — porque mesmo isso, nesse
momento, é meio que um milagre. E está tudo bem. Está
totalmente bem.
Fico muito orgulhosa de mim mesma quando um sorriso
desliza sobre a minha boca, com relativa facilidade, e levanto
um ombro. “Parei de usar tanto gel no cabelo e aprendi que
não devia escová-lo. Exercício, quatro anos de aparelho
dentários, maquiagem. Connie diz que também não posso
agradecer a puberdade, já que ela começou cinco anos depois.”
Aquela idiota. Eu quase rio pensando sobre o jeito que ela
disse isso também, agora que pensei nisso. Mas eu não rio.
A expressão de Zac fica um pouco engraçada então, mas
aquele pequeno sorriso gradual permanece no lugar. “Nah,
você sempre foi linda, querida.”
Linda. Novamente. Eu ainda sorrio, aceitando seu elogio
pelo que é. Esse homem namorou modelos — Boogie
sussurrou seus nomes para mim quando me mostrou fotos
delas — e uma atriz ou duas. Eu também não consigo
esquecer.
“Você e Boogie foram os únicos a dizer isso”, admito para
ele. Minha irmã e minha avó — e até meus pais quando estão
por perto — sempre me dizem que eu sou bonita, mas a beleza
está nos olhos de quem vê. Eu sei em primeira mão de alguns
dos caras da academia. A maioria dos gostosos são realmente
caras legais e normais, mas alguns se tornaram imbecis
enormes e arrogantes que me fizeram torcer pelo cara com
quem estão brigando, porque eu queria que eles aprendessem
uma lição de humildade.
Legal, eu não sou — ou metade do tempo que não sou.
Mas todo mundo é assim. Pelo menos é o que digo a mim
mesma.
Este homem que está tentando ser meu amigo novamente
me dá um sorriso um pouco mais brilhante do que o anterior.
“Eu te disse naquela época que os meninos são burros.”
Eu bufo, e parece natural. Certo. “Eles ainda são.”
O sorriso de Zac fica torto em um piscar de olhos, e posso
ver o carinho surgir atrás de seus olhos. E isso é natural e
certo também. Familiar. “Quando você o perdeu, Peewee?”
Por que minha virgindade é a primeira coisa que me vem
à cabeça, eu não faço a mínima ideia. Então entendo. O peso.
A “gordura de bebê”, como me apeguei a chamá-lo.
“Demorou alguns anos, mas... ta-da.” Eu bufo e dou de
ombros. “Estou feliz.”
Aquele sorriso muito branco que é produto de três anos
de aparelho de acordo com Boogie — porque na minha cabeça
parece que ele só os tem há alguns meses — entra
completamente em mim. “Feliz fica bem em você.” Suas
narinas se alargam um pouco. “Você é demais, garota.”
Demais.
Considerando todas as mulheres com que ele saiu, as
mulheres realmente bonitas que ele conheceu, vou aceitar esse
elogio pelo que é, ele se importa comigo, e como eu pareço
nunca teve importância para ele. É um elogio de um homem
maravilhoso que me disse para não deixar meninos idiotas me
afetarem. Que foi à escola para me buscar com Boogie quando
eu tinha dezesseis anos, carrancuda o tempo todo porque
Boogie disse a ele que eu estava chateada que um garoto me
chamou de um nome feio, já que eu não deixei ele copiar meu
dever de casa e isso me atingiu.
“Obrigada, Snack Pack”, digo sinceramente, agarrando-
me a essa memória, ele exigindo que eu dissesse a eles quem
me fez chorar. Eu nunca disse, mas ele realmente tentou tirar
isso de mim. Ele e Boogie. “Então”, dou de ombros pela oitava
vez, “você quer frozen yogurt?”
Ele me olha de lado, dizendo: “O que você acha?”
Sorrio para ele e entrego. “Ei, foi Trevor que eu vi subir as
escadas quando cheguei aqui?”
“Tenho certeza que sim. Ele está aqui esta semana. Na
maioria das vezes, ele está em Los Angeles, às vezes em Nova
York e, de vez em quando, faz algumas ligações para os outros
jogadores que ele administra apenas para garantir que não
estejam estragando tudo.”
“Você e CJ deixaram ele ficar aqui? Ou a casa é de CJ e
ele deixa você ficar aqui?” Finalmente pergunto, tentando
entender essa merda.
“Esta casa é de Trevor. A casa dele em Houston.” Ele usa
aspas e balança as sobrancelhas. “Dele é de League City.” Esse
é um subúrbio nos arredores de Houston. “Ele está aqui
apenas uma semana do mês, se isso. Ele deixa eu e CJ
ficarmos aqui.”
Ohhh. Isso meio que explica as coisas. Os móveis
mínimos. O fato de a casa parecer nova em folha, porque
ninguém realmente mora nela.
“Não adianta desperdiçar dinheiro ficando em algum
lugar quando não vou ficar lá por muito tempo, sabe?”
Algo fino e triste desliza por cima e dentro do meu peito
lentamente. Deus, eu espero que tudo dê certo para ele. Espero
que ele possa se acalmar pelo resto de sua carreira e que seja
feliz.
Entendo o que ele quer dizer. Eu o segui de perto o
suficiente para entender. Ele foi libertado uma vez em Dallas,
e agora Oklahoma disse: “Até mais”. Tenho uma pequena
lembrança de ouvir Zac dizer a Boogie anos atrás sobre o
quanto ele e sua mãe se mudaram pelo Texas antes de
voltarem a morar com seus pais.
Mantenho minha boca fechada e meus pensamentos para
mim mesma.
“Não é tão ruim, hein?” Ele termina, mas não gosto do
jeito que ele pergunta.
Eu devo falar com Boogie, fazer com que ele se certifique
de que está realmente bem. Esse é o território de melhor amigo,
não o território de pessoa que não vejo ou me lembro em dez
anos.
Vou ficar na minha. Conheço meu lugar e me sinto
confortável nele. Ainda não consegui perguntar a ele sobre seu
teste em San Diego. Parte de mim espera que ele fale disso por
conta própria, mas darei a ele uma chance. Ou pelo menos um
pouco.
“Estou feliz que você ache que morar nesta casa grande
não é tão ruim”, digo a ele com uma cara séria, esperando
aliviá-lo um pouco enquanto isso. “Tenho certeza de que é
difícil fazê-lo na suíte master.”
Ele olha para mim por um segundo. Então sua risada se
arrasta para fora dele, toda lenta e preguiçosa. Mas até suas
feições se iluminam.
“Quero dizer, esses pisos de madeira não são de mármore,
velho. Não sei como seus pés sensíveis aguentam.”
Ele se endireita com um gemido, mas dou uma espiada
nesses dentes brancos, e está tudo bem. Muito legal. “Tudo
certo. Eu mereço isso.” Ele olha para o teto abobadado, aquelas
bochechas magras abertas com o sorriso ainda no rosto, um
grande sorriso. “Este lugar é maior que cinco das casas em que
crescemos, hein?”
“Sim. Você sabe que estou apenas brincando com você.
Sei que você está acostumado com as coisas boas da vida
agora. Boogie me mostrou algumas fotos da casa em que você
morou em Oklahoma. Você trabalhou duro por tudo o que tem.
Não precisa se desculpar por poder comprar coisas boas ou por
não querer comprar uma casa. Se eu pudesse pagar, moraria
em algum lugar tão legal, também.”
“Aquela casa em Oklahoma era apenas de aluguel.” Seu
sorriso fica um pouco menor enquanto continua apontando
para o teto com suas vigas de madeira, então não estou
totalmente esperando sua próxima pergunta. “Por que você
nunca veio visitar, Peewee? Você realmente pensou que eu não
queria te ver?”
E estamos de volta aqui. Ele ainda não está totalmente
deixando isso acontecer. Merda.
Eu não quero mentir para ele, no entanto. “Basicamente.”
Não gosto da expressão que ele faz.
Então faço uma careta de volta para ele. “Sabe, você está
colocando tudo isso em mim quando sua bunda poderia ter me
visitado também.” Se lembrasse que eu estava viva.
Felizmente, não há muita amargura no pensamento. Só um
pouco. Então isso é bom. “Eu não mudei meu nome ou entrei
no Programa de Proteção a Testemunha ou algo assim, sabe.”
Estou de bom humor. Estou seguindo em frente. Eu não
deixarei isso afetar nossa amizade.
Não mais.
Zac imediatamente fecha a boca, pisca e depois a reabre.
Seu olhar se fixa totalmente em mim então, e leva um segundo,
mas finalmente sai: “Sabe, ninguém fala comigo assim na
minha cara, exceto Boogie e Trevor.” Ele faz uma pausa. “E
mamãe.”
Ah. Mais familiaridade.
Vou até a ponta dos pés, estico a mão e bato no seu nariz
ainda reto. “Eu não sei sobre Trevor, mas o resto de nós te
conhecia quando você usava cuequinhas, então...”
Um Zac enlouquecido ri novamente, e isso faz algo quente
aparecer no meu estômago. “Eu ainda uso.”
Eu bufo. “Por favor, diga-me que elas ainda têm o
pequeno Homem-Aranha nelas.”
Zac balança a cabeça. “Eles são grandes Spiderman
agora.”
Esse idiota.
Nós dois rimos alto, e ele ainda está rindo quando
acrescenta: “Porra, eu senti sua falta, Peewee. Você e essa
boca.”
Senti sua falta, Peewee. Calor e uma significativa
quantidade de tristeza enchem meu peito. Eu não posso deixar
de dizer a verdade. “Eu sei. Também senti sua falta. Espero
que não passemos mais dez anos sem nos vermos.”
Talvez não seja a coisa perfeita para dizer, mas a maior
parte do sorriso de Zac não desaparece depois disso, pelo
menos. Aparentemente, ele está tentando também. “De jeito
nenhum isso vai acontecer”, ele me diz, olhando diretamente
nos meus olhos enquanto faz isso. “Então, você tem planos
hoje?”
“Grandes.” Encontrei seu olhar morto. “Tenho que fazer
compras no supermercado. Você?”
“Eu poderia fazer algumas compras de supermercado.”
“Você faz suas próprias compras?”
É a sua vez de piscar. “O que? Você acha que eu pago
alguém para fazer o que posso fazer?”
“Bem, sim. É algo como cinco dólares a mais. Sou apenas
exigente com meus produtos.” Eu o observei mais perto do que
antes e sussurro: “Você está tendo problemas financeiros?
Porque, há alguns anos, tive dívidas muito ruins no cartão de
crédito e demorou um pouco, mas saí delas e... por que está
sorrindo assim?”
Sim, ele está sorrindo e nem ao menos tentando
esconder. “Sorrindo como o quê?”
“Como um idiota”, digo a ele.
Zac pira e isso me faz rir. “Eu tenho bastante. Juro.”
Ok, então. “Então? Está falando sério? Realmente quer
ir?” A ideia de ele ir às compras no supermercado praticamente
me impressiona. A ideia de ele querer ir comigo às compras de
supermercado explode em outro estado.
Não que eu me interesse ou me importe.
Aquela mão grande e rápida surge do nada para me dar
um peteleco no nariz antes que eu possa me desviar do
caminho. “Conte comigo, querida. Um garoto também tem que
comer.”

***

Se alguém me dissesse duas semanas atrás que eu iria a


uma mercearia ao lado de Zac, que estaria com minhas sacolas
reutilizáveis jogadas sobre um dos ombros enquanto tentava
ser discreto com um boné de beisebol laranja e branco
queimado pressionado baixo na cabeça, eu pensaria que eles
estariam cheios de merda.
Principalmente porque eu ainda não consigo acreditar
que esse sovina não esteja disposto a pagar alguns dólares
para alguém fazer suas compras.
Eu me certificarei de trazer isso à tona pelo menos mais
três vezes no caminho — um passeio que consiste comigo atrás
do volante, porque aparentemente alguém não “quer dirigir” e
porque meu carro tem “um porta-malas maior”. Quer dizer, eu
não me importo, mas se tivesse que escolher entre meu Honda
Accord ou seu veículo de luxo, teria escolhido o dele.
Principalmente porque nunca estive em nada mais caro que o
Audi de Boogie.
E se ele quiser arriscar sua vida sendo sequestrado,
passeando com o resto de nós, espero que seu gerente tenha
acesso à sua conta bancária para o dinheiro do resgate, porque
não arriscarei minha vida salvando-o de uma situação de
refém. Ele está vivo há mais tempo que eu. Tenha muito o que
viver.
Digo isso a ele também, o que o faz rir. “Nah, ninguém
nunca me reconhece”, afirma.
“Então, você tem uma lista ou vai apenas pegando coisas
aleatórias ao longo do caminho?” Pergunto a ele mais tarde
enquanto pego um carrinho de tamanho normal na entrada da
loja. Zac me provoca sobre o meu trabalho de merda no
estacionamento durante toda a caminhada.
Ele está ocupado pegando um de tamanho médio com
dois cestos, um pequeno no topo e outro maior no fundo. Ele
pisca para mim. “Nenhuma lista. Tudo virá para mim.”
“Uh-huh.” Porque isso sempre dá certo. Estou brincando
com fogo vindo sem comer algo antes.
Ouvindo o sarcasmo na minha voz, aquela boca quase
fina se arrasta em um sorriso. “Eu entendi, garota. O que você
vai comprar?”
Empurro meu carrinho em direção aos hortifruti
primeiro, como sempre faço. “Tenho uma lista bastante
grande.” Virando por cima do ombro, levanto o telefone para
mostrar meu aplicativo de anotações e vejo seus olhos se
arregalarem.
Ele empurra o carrinho para frente para caminhar ao
meu lado. “A última pessoa que conheci que fazia tantas
compras foi um end defensivo de duzentos e oitenta quilos.”
“Eu não como muito, e alguém está sempre aparecendo e
comendo na minha casa.”
Ele olha para mim. “Quem?”
Dou de ombros quando começo a pegar o aipo, caindo na
confortável armadilha de eu-te-conheço-e-me-sinto-à-vontade-
com-você-então-vou-brincar-com-você. Ele não precisa saber
que eu estou falando sobre Deepa. “Pessoas.”
Leva um segundo para Zac rir, mas ele faz assim que
larga o carrinho e se aproxima, pegando uma sacola de
cenouras para a qual espero que ele tenha um plano então não
estragará.
Espero até que ele esteja ao meu lado, pegando abacates
e testando o quão duro eles estão, para gentilmente perguntar:
“Então... posso perguntar a você sobre...” Eu me viro para ter
certeza de que ninguém está por perto. Não há. “Como foram
as coisas em San Diego, ou prefere não falar sobre isso?”
Eu posso sentir a surpresa saindo dele. Dura apenas
cerca de um segundo, mas está lá e depois some. “Você pode
perguntar, querida. Ninguém mais verifica.” Ele abaixa a voz.
“Tudo correu bem. Outro cara estava lá também, mas eu não
tive uma boa impressão de lá. Não estou esperando nada.”
Aqueles filhos da puta. Espero que eles percam todos os
jogos nesta temporada. Espio seu rosto, mas ele me pega, e
forço um sorriso. “Isso fede. San Diego é caro para se viver de
qualquer maneira.”
“Sim, você está certa.” E realmente não gosto da maneira
como ele inclina a cabeça para o lado. “Eu ainda tenho algum
tempo.”
Não muito, tenho certeza de que ambos sabemos, mas
nenhum de nós admite. A temporada começará em pouco
tempo.
Não fico surpresa que ele volte a mudar o assunto na
minha direção. “Você teve um bom dia no trabalho?”
“Eu só pensei em me demitir duas vezes. Isso é quanto
isso é bom para mim agora”, admito, colocando quatro
abacates nas sacolas de algodão que uso para meus produtos.
Ele se inclina e arranca a bolsa da minha mão, pega dois
e os coloca em seu carrinho. “O que está acontecendo com seu
chefe de novo?”
Olho para ele, me inclino como ele fez, agarro um e digo:
“Deixe-me te mostrar como escolhê-los.”
Então mostro a ele como os escolher, apontando para o
mamilo e contando tudo sobre o meu truque de sacola de papel
para fazê-los amadurecer. Depois que ele consegue três que
são tão bons quanto os que eu encontrei, respondo sua
pergunta sobre meus chefes.
“Eles são novos, três deles. Compraram a academia em
que trabalho, mas dois deles são basicamente parceiros
silenciosos. O outro é apenas um idiota, mas é assim com
todos, por isso me faz sentir um pouco melhor que não sou só
eu. E ainda odeio suas entranhas.”
“Você não ganha dinheiro suficiente com seu canal do
WatchTube?”
Olho para ele quando empurramos nossos carrinhos em
direção às cebolas, mas sou a única que pega uma. “Ganho.
Agora. E nos dois últimos anos, mas antes, flutuou muito, e
eu não queria desistir até ter certeza de que poderia continuar
ganhando a vida com meus patrocinadores e dinheiro com
anúncios”, explico. Ainda há tantas outras coisas que não
disse a ele que meu instinto sabe que virão à tona
eventualmente. “Outras coisas aconteceram na época, mas é
complicado e uma longa história. Vou lhe contar outra hora.
De qualquer forma, quero sair agora, mas minha amiga Deepa
que você conheceu...”
“A jovem?”
Assinto. “Eu me sinto mal por deixá-la lá, então só estou
esperando que ela encontre outro emprego para que eu possa
sair também. Ela trabalha para mim também, me ajudando
com as coisas quando filmo meus vídeos, mas não é o
suficiente para eu pagar em tempo integral. Faço toda a minha
própria edição.” Tive que aprender há dois anos, mas isso é
mais do que ele precisa saber nesse momento.
Ele levanta uma sobrancelha. “Você tem uma assistente?”
“Tipo.” Eu o cutuco. “Apenas para pequenas coisas. Faço
quase tudo sozinha.” Porque não confio mais em outras
pessoas para ajudar, mas isso faz parte da história que é muito
complicada para explicar no supermercado. “Então, sairei de
lá mais cedo ou mais tarde. Não estou muito preocupada com
isso. Acho que estou empolgada demais com a minha viagem
em alguns meses, para me preocupar demais com a academia.”
“Que viagem?”
“Vou para a Disney World em outubro.”
“Com Connie?”
“Não, sozinha”, respondo. “É minha viagem de redenção
doze anos atrasada. Estou tão animada.”
“Eu lembro que você sempre falava sobre ir um dia.” Ele
me dá um sorriso caloroso antes de parecer pensar em algo
que o faz ficar pensativo. “Garota, onde estão seus pais agora?”
Eu não estou realmente surpresa que ele demorou tanto
tempo para perguntar sobre eles. É claro que ele se lembraria
do básico do meu relacionamento com eles. Ou pelo menos, ele
tem uma ideia de como sempre foram, o que estavam bem em
deixar as filhas com a abuelita enquanto eles saíam e faziam
as próprias coisas. “Eles estão na Nicarágua agora mesmo em
uma viagem missionária. Minha mãe me enviou um e-mail há
alguns dias e disse que acha que eles ficarão lá por pelo menos
mais dois ou três meses.”
Seus dedos tamborilam na alça do carrinho, e eu só posso
começar a imaginar o que ele está pensando. “Eu não tinha
certeza se eles ainda estavam viajando o tempo todo ou não”,
é tudo o que ele diz... em uma voz tensa que alivia um pouco
meu coração.
“Sim, eles estão”, respondo. Eu me acostumei a eles
desaparecerem o tempo todo. Então, novamente, me
acostumei quando tinha seis anos.
Bem, a maioria do tempo.
Eu não quero mais falar sobre eles, e tenho certeza de que
ele provavelmente também não. “Eu terminei aqui, velhote,
você precisa de mais alguma coisa? Quer se separar?” Ofereço
com uma voz muito mais alegre do que realmente estou
sentindo.
“Eu vou te seguir.”
Ok. “Vou pegar camarão agora.”
Zac assente de volta e me segue. Vejo o homem familiar
atrás do balcão e acenei para ele quando fazemos contato
visual.
“Oi”, o funcionário me cumprimenta de volta, dando a
volta no balcão atrás dos refrigeradores alinhados com peixe
fresco e carnes. “Como vai? O que você precisa hoje?
“Dois quilos desse camarão descascado, por favor”, digo
ao empregado, dando-lhe um sorriso. “Anthony não está hoje?”
O homem mais velho sorri para mim quando abre a porta
do freezer e entra. “Não, é o dia de folga dele. Ele vai ficar feliz
a semana inteira se eu lhe disser que você perguntou por ele.”
Eu bufo quando Zac para ao meu lado. “Aww. Deixe-o em
paz.”
Os olhos do funcionário deslizam para o meu
companheiro, e ele faz uma cara de surpresa. Ele só me
pergunta pelo menos dez vezes no ano passado se eu ainda
estou solteira e, em geral, continua tentando oferecer seu
colega de trabalho mais jovem, mas muito fofo, como
pretendente de namorado. “Você saiu e conseguiu um
namorado?”
“Não.” Forço o sorriso no meu rosto. “Zac, este é George.
George, Zac.”
Os olhos de George se estreitam um pouco, e eu tenho
um pressentimento...
Zac bate a mão no meu ombro. “Como vai'?”
Tenho uma chance de mudar de assunto e agarro.
“George, como estão seus filhos? Sua filha entrou na escola de
enfermagem que esperava?”
É distração suficiente para fazer meu amigo na mercearia
me contar tudo sobre o último drama escolar de sua filha. As
pessoas gostam de me contar coisas e eu gosto de ouvir. Então,
felizmente, consigo fazer um pedido de bife para Zac também,
sem ele ser detectado. Eu digo a George que o verei mais tarde
e praticamente arrasto Zac dali antes que o outro homem
descubra por que ele pode ter achado que ele parece familiar.
“Você tem certeza que ninguém nunca te reconhece?”
Pergunto quando estamos longe o suficiente para não sermos
ouvidos.
Zac pega um pacote de espaguete sem realmente olhar
para frente. “Bem, às vezes. Não frequentemente.” Ele arqueia
uma sobrancelha. “Você?”
“Não. Seis vezes, incluindo CJ.”
Ele assente e sua boca torce para o lado por um momento
antes de perguntar: “Eu nunca perguntei. Você tem
namorado?”
Balanço a cabeça. “Nah, eu sou meu próprio namorado.”
E já que falamos sobre o assunto... “Você tem namorada?
Aquela loira no dia da sua festa é sua namorada?
“A loira no dia da minha festa...?” Ele pergunta e olha
para o teto, pensativo.
Esse tolo não tem ideia de quem diabos estou falando.
Então ele confirma, basicamente lendo minha mente.
“Não sei de quem você está falando”, ele disse depois de
um momento, na verdade parecendo envergonhado. “E não,
nenhuma namorada. Nenhuma. Não tenho tempo para esse
tipo de compromisso.”
Eu bufo. “Tempo, ok”, digo sarcasticamente.
Seu cotovelo me cutuca, e ele abre a boca para me dizer
quem sabe o que, assim como seu telefone começa a tocar. Ele
pega e lê o que está na tela, xingando baixinho. Seus olhos
azuis voam para mim logo antes dele murmurar, “É Trevor,
meu empresário”, como se eu não soubesse quem ele é. “Um
segundo... O que há, Trev?.... Ele acabou de ligar para você?
Zac pergunta com uma careta, fazendo contato visual comigo.
Eu sorrio para ele e me viro para as fileiras de feijões
enlatados no corredor, mantendo uma orelha a postos.
“Não... Sim... Falaremos sobre isso quando eu voltar para
casa em um minuto, estou no supermercado com Little Texas...
Little Texas... Bianca. Eu a apresentei quando fizemos o
comercial, lembra?.... Não. O que? Violação de direitos
autorais?” Zac solta um suspiro, e tenho certeza que ele revira
os olhos. “Quem você acha que inventou meu apelido, Trev? Ela
sempre foi Little Texas; então ela começou a me chamar de Big
Texas.”
Ele afasta o telefone do rosto, toca em algo na tela e
caminha em minha direção, perguntando baixinho: “Peewee,
quantos anos eu tinha quando começou a me chamar assim?”
Ele sabe que estou ouvindo, e mais tarde isso me fará rir.
Estou segurando duas latas de feijão preto quando me viro
para ele e digo a Trevor, “Eu tinha oito anos. Zac começou a
me chamar de Little Texas porque eu tinha essa camiseta que
eu usava o tempo todo com a bandeira do Texas. No Natal,
tentei desenhar um grande Texas em uma camiseta para ele, e
foi aí que comecei a chamá-lo assim.” Eu olho para Zac e
levanto minhas sobrancelhas. “Por quê? Vocês querem
começar a me pagar royalties por ter inventado o apelido dele?”
Zac levanta o rosto em direção ao teto, e tenho que
beliscar meu nariz quando Trevor gagueja. “Não. Eu só estou
perguntando. Zac, tire-me do viva-voz neste segundo.”
“Eu estou apenas brincando com os royalties.” Eu rio,
vendo meu velho amigo fechar os olhos enquanto continuava
rindo também.
“Zac!” O gerente sibila antes de ser cortado por Zac
tirando-o do viva-voz.
Mas eu ainda posso ouvir Zac responder. “Ela está
brincando, Trev. Não é como se tivéssemos feito camisetas com
o Big Texas nelas.”
“Mas você deveria”, eu falo antes de voltar para o feijão.
“Bianca acabou de dizer que deveríamos. Talvez quando
eu entrar em outro time...”
Quando ele entrar em outro time. Sorrio com o otimismo
dele. Fico feliz por ele não ter voltado a ser todo “desgraça sou
eu, talvez eu precise me aposentar”. Ficaria feliz se nunca mais
encontrar aquele Zac.
“Sim, falaremos sobre isso mais tarde... Não. Só não quero
falar sobre isso agora. Você quer algo do supermercado?” Zac
pega outro pacote de macarrão e joga no carrinho.
Zac fala ao telefone por mais um minuto ou dois.
Eu me pergunto sobre o que o gerente dele queria falar e
por que Zac não quis falar sobre isso na minha frente.
E não me deixo ficar decepcionada quando ele
imediatamente me pergunta se tenho camisetas The Lazy
Baker.
Eu não tenho.
Ele me pergunta por que não, e eu lhe digo o porquê —
porque não havia pensado nisso.
Ele não menciona mais nada sobre seu telefonema com
Trevor durante o resto de nossa viagem de compras ou a
viagem para casa.
Boogie é seu melhor amigo, não eu.
E isso está bem.
Eu simplesmente não consigo me esquecer disso.
“Sim, ele está vomitando de novo”, diz minha irmã Connie
ao telefone quando termino de guardar minhas compras cerca
de uma semana depois.
Faço uma careta para mim mesma enquanto acotovelo a
porta da geladeira.
“Oh merda, ele vomitou um pouco nos sapatos. Nojento!
B, vou te ligar de volta! Eu sinto muito!”
“Não, não se desculpe. Espero que ele se sinta melhor!
Diga a ele que eu o amo!” Falo para o receptor quando ouço
meu sobrinho, Guillermo, vomitando ao fundo no posto de
gasolina em que haviam parado.
“Ok, tchau”, diz Connie antes de desligar
instantaneamente.
Meu pobre sobrinho. Aparentemente, Luisa, minha
sobrinha, dizia desde o dia anterior que não está se sentindo
bem. Meu sobrinho alegou que ele estava se sentindo bem, mas
uma hora depois do começo da viagem de Guillermo e Connie
de Killeen para passar o fim de semana comigo, isso foi ladeira
abaixo muito rápido. Yermo começou a vomitar na estrada e
depois vomitou mais no posto de gasolina em que pararam.
Aparentemente, Richard, o marido de minha irmã, telefonou
para lhe dizer que Luisa também começou a vomitar. Então, é
claro, eles estão se virando e voltando para casa.
Isso faz sentido. E se isso vai me ferrar nos dois vídeos
que eu planejava filmar amanhã, bem, aconteceu. Eu só espero
que, pelo bem deles, melhorem logo. Eu vou me virar.
Faz dois meses desde a última vez que alguém veio para
ser meu “convidado” e isso foi porque eu estava pressionando
para fazer um com Guillermo e Connie. Desligando o telefone,
penso nas minhas opções. Boogie tem planos, eu sei disso.
Penso em alguns amigos que estão cientes do que eu faço a
parte, mas eles não estão loucos para estar em frente à câmera.
Preciso da ajuda de Deepa para fazer outras coisas fora do
enquadramento, então ela não dá. Meus pais também não
estão por perto, mesmo que fossem backups dos backups dos
backups. É realmente o último minuto para tentar encontrar
outra pessoa, especialmente quando tenho todos os
ingredientes que vou usar prontos. Eu já limpei minha cozinha
de fio a pavio e também não quero desperdiçar isso.
A quem mais posso pedir?
Penso nisso enquanto preparo um jantar rápido com
macarrão, azeite, parmesão, pimenta vermelha e um pouco de
brócolis e peito de frango. E é enquanto estou comendo na
frente da televisão, assistindo outro episódio do romance turco
que eu estou acompanhando, que a ideia me vem do nada.
E, como na maioria das coisas assustadoras da minha
vida, pergunto-me: Qual é a pior coisa que pode acontecer?
Leva dois minutos inteiros para encontrar a conta
Picturegram de CJ e outros dois minutos para escrever e
reescrever a mensagem que quero enviar a ele.
THELAZYBAKER: Oi, CJ! Por acaso, você conhece
alguém (ou duas pessoas?) que possa estar interessado em
fazer um vídeo comigo amanhã? Eu posso pagar em comida
ou em um pouco de dinheiro.
Direto ao ponto. Perfeito. As chances são de que, ele
provavelmente receba tantas mensagens que a minha será
enterrada, mas vale a pena tentar. Talvez, no pior caso, eu
possa reciclar um vídeo antigo? Se meu sobrinho estiver se
sentindo melhor, eu posso tentar mudar de turno com algumas
pessoas e ir até Killeen na próxima semana? Sei que tenho que
trabalhar no sábado. Alguns dos meus seguidores reclamarão,
mas algumas pessoas reclamam de tudo. Uma vez, alguém
falou da cor da minha camisa; machucou seus pobres e
sensíveis olhinhos, segundo eles.
Quero dizer, eu não posso magicamente fazer alguém
parecer estar em um vídeo comigo.
Por um pequeno segundo, penso em Zac... Mas ele não
tem tempo. Ele me enviou uma mensagem algumas vezes
desde o dia em que fizemos compras, mas pelas fotos que
postou em seu Picturegram, está ocupado fazendo exercícios e
qualquer outra coisa em que trabalha durante o tempo fora do
futebol. Fiquei feliz por ele estar postando mais coisas de treino
em suas contas, como sugeri semanas atrás.
Mas não quero incomodá-lo ou obrigá-lo a fazer isso por
mim. Porque sei que se eu disser a ele que estou em uma
situação difícil, ele se oferecerá. E isso, mais do que entrar em
contato com CJ, me faz sentir como se estivesse tirando
vantagem dele.
Além disso, CJ meio que sugeriu estar interessado em
estar em um dos meus vlogs, não sugeriu? E se ele disser não,
não é grande coisa. Ele já está ocupado com sua própria pré-
temporada. Mas talvez, apenas talvez, conheça alguém que
estará interessado.
Uma hora depois, quando meu telefone toca, fico
surpresa quando vejo o ícone de Picturegram na tela e o
Picturegram de CJ mostrar em letras pequenas ao lado:
CJDANIELS NEW MENSAGE.
Na pior das hipóteses, ele está dizendo não, ele não
conhece ninguém, e será isso. Nada demais. Abro o aplicativo
e vou para minhas mensagens diretas.
CJDANIELS: Ei. A que horas amanhã?
Oh, merddddda.
Eu respondo imediatamente.
THELAZYBAKER: 10:00? Honestamente, tenho o dia
inteiro. Normalmente filmo durante o dia, mas posso fazer
tudo funcionar a qualquer momento. [emoji de rosto
sorridente]
Estou relendo o que escrevi para ele quando uma
resposta vem.
Não fique excitada. Ele ainda pode não conhecer ninguém.
CJDANIELS: Ok.
Ok?
Bem, pelo menos não é um “não”. O que mais isso pode
significar? Talvez ele peça a alguém por mim?
Espero até o episódio de o programa turco terminar,
depois me levanto e carrego a máquina de lavar louça. Espero
até ter tudo acabado, pronta para a ligar no final da noite, caso
eu usasse mais alguns pratos, e depois vou verificar meu
telefone. A luz pisca na frente e vejo a tela mostrar que há uma
nova mensagem de Picturegram.
CJDANIELS: Qualquer um pode fazer isso?
THELAZYBAKER: Sim, desde que queiram e estejam
bem comigo postando quando estiver pronto.
Mendigos não podem escolher. Sua resposta vem
imediatamente.
CJDANIELS: OK
CJDANIELS: Onde?
THELAZYBAKER: Meu apartamento [emoji sorridente]
THELAZYBAKER: [endereço no Maps]
THELAZYBAKER: Você pensou em alguém que pode
estar interessado?
Sou insistente, mas... preciso saber para poder planejar.
CJDANIELS: Eu e Amari. Nós levaremos comida. Tudo
bem?
Ele?
THELAZYBAKER: SIM! Você tem certeza?
CJDANIELS: Sim. Ok até as 10
Puta merda. Não é o que eu esperava. Essa não era minha
intenção... principal. Eu teria aceitado alguém que ele
conhecesse que estivesse interessado. Eu só não queria contar
a mais alguém que já não sabia o que eu faço.
Ele não precisava fazer isso, e talvez eu devesse dizer a
ele para não se sentir obrigado, mas...
Eu seria uma idiota por arruinar uma coisa boa. E uma
idiota, eu não sou. Bem, na maioria das vezes eu não sou.

***

Estou esperando lá embaixo no portão, dez minutos antes


do previsto. CJ me enviou uma mensagem no Picturegram
dizendo que está a caminho, e não quero que ele se perca
tentando encontrar meu apartamento. É um pouco complicado
da primeira vez, e como ele está me fazendo um grande favor,
não quero que ele fique irritado dirigindo e depois decida ir
embora.
Eu ainda não posso acreditar que ele está vindo fazer isso
comigo — não porque ele é um jogador de futebol profissional,
mas porque não me deve nada. Se eu aprendi alguma coisa
nos últimos anos, foi que a maioria das pessoas não costuma
fazer coisas boas, a menos que receba alguma coisa.
E eu literalmente não consigo pensar em nada que ele
conseguiria fazendo isso. Ele tem muito mais seguidores no
Picturegram do que eu. Aparentemente, ele é um dos jogadores
mais populares do White Oaks.
O mínimo que posso fazer é não fazê-lo se arrepender de
me fazer um favor tão grande.
Um jipe vermelho vira de repente e imbica na entrada do
complexo, e eu reconheço o carro, como aquele que já vi na
entrada de Trevor. Com certeza, a janela se abre e um rosto
familiar aparece do outro lado. Eu corro e aceno. “Oi, CJ.”
“Ei.” Ele sorri para mim.
Alguém no banco do passageiro se inclina para frente e
levanta a mão. É um homem que nunca vi antes.
Eu levanto uma mão também. “Oi”, grito antes de me
concentrar novamente em CJ. “Eu posso pular no banco de
trás e dar as direções, se você quiser.”
“A porta atrás de mim está aberta”, ele concorda,
destrancando as portas.
Levo um segundo para abrir a porta de trás — congelando
porque Trevor está sentado no outro banco do passageiro
traseiro com uma expressão impaciente estampada em seu
rosto quando olha para mim — e pular para dentro. “Oi,
Trevor”, cumprimento o homem mais velho.
“Oi”, ele responde e depois olha para o telefone.
Tudo certo. Bem, isso tem que dar certo. Eu esperava que
ele não fosse o “amigo” que queria participar do vídeo, mas eu
o aceitarei também se não houver outra escolha.
Eu me inclino para frente para dar a CJ o código para
entrar no complexo. Quando as portas se abrem, dou um
tapinha em seus ombros. “Muito obrigada por ter vindo”, eu
digo antes de me virar para o homem no banco do passageiro
quando o olhar de Trevor parece queimar um buraco em mim.
O homem no banco do passageiro está com o corpo
inclinado em direção ao centro do jipe, seus olhos castanhos
escuros presos em mim. Ele está sorrindo. Que grande
momento.
Eu atiro minha mão em sua direção. “Oi. Eu sou Bianca.”
O homem, que finalmente posso ver, tem um rosto bonito
pra caramba — quase tão bonito quanto o de Zac — coberto de
pele marrom clara, sobrancelhas escuras pesadas e um sorriso
que parece quase tão amigável quanto... bem, Zac. Quase. Ele
pega minha mão e aperta.
“Eu sei quem você é”, ele diz com um sorriso branco
ofuscante. “Eu sou Amari”, diz o estranho, soltando minha
mão e confirmando que é o homem de quem CJ me falou. Ele
é outro jogador de futebol, alguém que treina com Zac antes
do início da temporada, se bem me lembro.
Sorrio e começo a dar instruções sobre como chegar ao
apartamento. CJ encontra uma vaga de visitante por perto, e
espero até que todos saiam do carro e os conduzo em direção
ao meu apartamento.
“Eu realmente não posso agradecer o suficiente por terem
vindo fazer isso”, eu grito para que possam me ouvir. Olho para
Trevor, que hoje usa calça escura e uma camisa de botão cinza
claro com as mangas arregaçadas enquanto está lá com uma
expressão vigilante no rosto. “Se mudarem de ideia, juro que
podem desistir a qualquer momento. Vocês não precisam fazer
nada que não queiram. Pedir foi um tiro no escuro, eu não
esperava nada.” Sorrio para os três, e apenas Trevor não
retorna a expressão. “Realmente. Sem pressão alguma.”
CJ muda de posição, e noto que ele usa uma camiseta
preta e jeans escuro, sua única joia é um relógio de ouro
pesado. Ele está bonito.
“Não sei cozinhar nem água”, ele diz de repente.
Tenho que pensar sobre isso por um segundo. “Tudo bem.
Eu provavelmente gritaria e cobriria minha cabeça se alguém
jogasse uma bola de futebol para mim. E nós só vamos
envergonhar um pouco. Está tudo bem.” Eu me viro para o
homem mais velho, precisando me preparar. “Trevor, você
também quer estar em um?”
O homem mais velho boceja antes de responder: “Não. Só
estou aqui para garantir que ele não esteja envolvido em fazer
um filme pornô ou algo mais estúpido.”
Eu pisco e tenho que ter certeza de que ouvi isso
corretamente.
Eu ouvi.
“Não. Eu prometo. Nenhuma merda esquisita. Hoje é
terça-feira.” Eu pisco novamente. “Estou brincando. Eu tenho
uma empresa, um contador e uma conta bancária comercial
real. Tenho um plano de aposentadoria.”
Ele não acha que sou engraçada, e não é a primeira vez
que isso acontece. Beleza.
Voltando, caminho em direção às escadas que sobem
para o segundo andar. “CJ, você acabou gostando do frozen
yogurt?”
“Eu comi tudo no mesmo dia.”
Sorrio.
“Quase comi o de Zac também, mas ele comeu antes de
mim.”
Aquele otário nunca me disse que ele comeu, muito
menos se gostou.
“Você tomou frozen yogurt?” Trevor pergunta do nada.
CJ responde.
“Eu tenho um pouco de sobra, se você quiser, Trevor. É
sabor morango”, ofereço ao homem tenso.
Ele faz uma pausa para pensar sobre isso. “Eu amo
morango.”
Aposto que sim. “É seu. CJ, você tem algum pedido para
o que deseja?”
Ele não hesita. “Pão de banana. Se você fizer frozen yogurt
no futuro, eu também quero um pouco.”
Eu farei os dois. É o mínimo que posso fazer. “Amari?”
“Qualquer coisa.”
Chegamos ao meu andar; minha porta é a segunda.
Destrancando, conduzo os três, dando a Amari e Trevor um
sorriso extra quando eles entram.
Deepa e eu já montamos quase tudo na minha cozinha.
Tratamos tudo como uma ciência. Papeis difusores cobrem
minhas janelas o ano todo, barrando a luz natural que entra.
Normalmente, eu fecho as persianas de qualquer maneira, mas
gosto da consistência de deixar o papel para cima. Isso porque
sou preguiçosa.
Minha câmera foi configurada para capturar a ilha e o
fogão, destacada por duas caixas de luz suaves instaladas em
lados opostos. Uma à esquerda e outra à direita, inclinadas
para baixo em ângulos de 45 graus em direção a onde eu
normalmente estou. Já verificamos os microfones de lapela
para garantir que o áudio esteja bom.
Tenho certeza de que as baterias da minha câmera estão
carregadas e, pelo olhar de Deepa ao lado do meu laptop, ela
está verificando novamente os cartões de memória para
garantir que não estejam cheios. Mesmo que eu já tivesse
avisado quem viria, ela ainda parece pular um pouco, e sei que
não estou imaginando que o sorriso dela está maior que o
normal quando a apresento a CJ e Amari. Ambos são educados
com ela. Trevor... tanto faz. Contarei a ela sobre ele mais tarde.
Conduzo meus convidados para a cozinha, percebendo o
quão pequena parece com os dois nela. Nós vamos nos virar.
Juntando meus dedos, eu os coloco debaixo do queixo e digo:
“Estou tão feliz que vocês estejam aqui. Realmente. Obrigada.”
É Amari quem diz: “De nada. Minha mãe vai adorar.
Posso dizer ‘oi, mãe’?”
“Sim, para toda a sua família. O que você quiser.” Eu pulo
na ponta dos pés. “Então, não tenho certeza de quanto tempo
vocês tem e posso trabalhar com isso. Não quero pegar mais
do que o necessário. Desejam fazer um com nós três ao mesmo
tempo? Ou querem fazer um cada? Eu tenho quatro receitas
prontas que podemos fazer. E tenho os ingredientes para todas
elas. Às vezes, podemos gravar um vídeo em uma hora, mas
isso é muito, muito raro, e às vezes leva três ou quatro horas,
dependendo se precisamos iniciar e parar.”
Eu tive a ideia de ter quatro receitas diferentes prontas
às nove horas da noite anterior e tive que fazer uma corrida de
última hora para o supermercado. E se eles não gostassem de
manteiga de amendoim? A ideia de petisco de manteiga de
amendoim de Rice Krispies não funcionaria nesse caso. Ou se
eles preferissem fazer uma refeição? Eu comprei coisas para
tentar fazer frango crocante e agridoce. Estou pensando em
cheesecake de limão há algum um tempo, também.
E foi ladeira abaixo a partir daí. Eu não queria estragar
isso perguntando ou sendo exigente, então, em vez disso, me
preparei. De qualquer maneira, estou apaixonada pelo que os
caras disseram que querem fazer. Um vídeo. Dois vídeos.
Metade de um vídeo. Tanto faz. Petisco de manteiga de
amendoim Rice Krispies. Cheesecake de limão. Frango
crocante e agridoce. Ou bolo pão-de-ló. Minha gulodice está
exultando nesta semana.
“O que acham?” Pergunto aos dois, tentando dar-lhes o
meu sorriso mais descontraído. “O que funcionar para vocês,
funciona para mim. Ainda podem voltar atrás também. Meus
sentimentos não serão feridos.”
“Eu quero, mas avisei que não sou bom na cozinha, a
menos que envolva o microondas”, CJ diz.
Amari dá de ombros, com aqueles dois ombros perfeitos.
“Não estou com pressa. O que você quiser fazer funciona para
mim.”
“O que vocês quiserem. Já checamos três microfones,
mas não precisamos usar todos.”
“O que acha de fazermos um juntos agora e se não for
ruim, eu poderia fazer outro mais tarde?” CJ pergunta.
Nem tento esconder minha emoção. “Quando você
quiser”, digo a ele.
Trevor boceja novamente quando se afasta para o lado na
minha cozinha. Ele está tão quieto que esqueci que está lá,
mas está ao lado de Deepa enquanto ela faz o que está fazendo
no meu laptop. “Você filma vídeos de culinária?” Ele pergunta.
Se ele quiser simplificar tanto assim... “Algo assim.”
“Para viver?”
CJ suspira, mas eu assinto. “Ainda não é meu trabalho
de período integral, mas será. Você pode buscar The Lazy
Baker, se quiser.”
O homem mais velho levanta e baixa as sobrancelhas,
desconfiado, eu posso dizer, mas ele ainda enfia a mão no bolso
para pegar o telefone. Eu me pergunto o que diabos ele está
pensando. Que estou mentindo? Mas eu nunca saberei porque
ele pergunta: “Hum. Existe algum lugar onde eu possa sentar
e esperar?
“Na sala está bem”, respondo antes de me concentrar nos
dois homens. “Então, vocês querem estragar uma receita,
então? Juntos?”
Amari sorri. “Vamos fazer um juntos. Se ficar ruim,
também quero que CJ vomite.”
Meu sorriso derrete e eu olho para os dois. “Olha, isso
aconteceu uma vez.”
Mas quando todos rimos, sei que isso será bom.

***

Cinco horas, vários quilos de asas congeladas e oito


biscoitos de uma caixa depois, estou esparramada no meu
sofá.
Sozinha.
CJ, Amari e Trevor foram embora meia hora atrás, me
agradecendo por ter convidado os dois para participar. Bem,
pelo menos, CJ e Amari tinham. Trevor, que eu tinha pegado
nos assistindo com muita atenção, murmurou um adeus que
quase pareceu genuíno — especialmente depois que eu lhe dei
o resto do meu frozen yogurt com sabor de morango. E depois
que ele leu o formulário de liberação, que pedi a CJ e Amari
para assinar.
E eles prometeram voltar e fazer outro vídeo “sempre que
eu quisesse”.
Deepa saiu dez minutos depois. Ela me deu um abraço e
me disse que ainda não podia acreditar que eles tinham vindo
e participado. Eu também não.
Limpamos meu freezer após os vinte minutos que levaram
— porque eu basicamente fiquei monitorando CJ e Amari em
ação — para misturar os ingredientes, soltar a massa para os
cheesecake de limão na forma muffin que CJ havia untado.
Então ficamos em pé na cozinha pelos vinte e cinco minutos
necessários para assá-los, quarenta e cinco minutos para
esfriarem e depois outra hora — que deveria ter sido mais como
quatro, eu percebi depois — para colocá-los na geladeira para
esfriar.
Não foi ruim. De jeito nenhum.
Durante esse tempo, ouvi o estômago de Amari roncar e
perguntei se eles queriam comer. Eu não fiquei surpresa nem
um pouco quando assentiram. Deepa e eu sempre tínhamos
uma pausa para o almoço enquanto as coisas assavam ou
quando terminávamos, se era algo rápido. O que me
surpreendeu foi Trevor se animar com a menção de comida.
Eu sabia que havia uma razão pela qual eu tinha comprado o
enorme pacote de asas congeladas tamanho família quando
foram colocados à venda.
Realmente foi um bom dia.
E agora estou editando um pouco o vídeo e me debatendo
se tentarei ou não espremer outro. É muito mais trabalho — e
muito mais arriscado — filmar sem Deepa me ajudar, mas ela
parecia muito inquieta, então eu disse que poderia ir para
casa. Além disso, não é como se eu realmente tivesse mais
alguma coisa para fazer. E todo o equipamento ainda está
configurado, então eu só preciso fazer alguns ajustes antes de
começar.
Eu me darei mais dez minutos antes de realmente decidir
se devo ou não fazê-lo, apesar de já ser tarde. Quero dizer, eu
já estou com maquiagem, passei a roupa na noite anterior, só
para garantir, e eu tinha sobressalentes.
Sim, mais dez minutos. Começo o vídeo novamente desde
o início.
“Olá, Lazy Bakers. Hoje estamos de volta com dois
convidados muito especiais.” Na tela, tamborilo minhas mãos
no balcão de granito de cor clara que fica a cerca de três
segundos de parecer pequeno demais.
É quando CJ e Amari entram na cena para ficar de cada
lado de mim, CJ com uma expressão fria que aquece muito
meu coração porque eu senti seu nervosismo, e Amari do outro
lado com a maior expressão pateta no rosto. Faço um gesto
para a esquerda no vídeo. “Meus dois novos amigos, CJ Daniels
e Amari”
O momento que meleca está em todo o meu rosto no vídeo.
Eu pensei em parar e reiniciar, mas tentei não fazer isso
porque pareceria ainda menos autêntico. Eu me orgulho de
fazer as coisas da maneira mais fluida possível. Que meleca e
tudo mais.
Mesmo quando essas merdas me incluem por não saber
o nome de alguém pela primeira vez. Acho que é o que consigo
por ter alguém que mal conheço para participar.
Na tela, minha cabeça vira-se para Amari, e meu rosto
mal consegue ficar totalmente rosado quando coloco o sorriso
mais idiota no rosto, coço a ponta do nariz e pergunto: “Ei,
Amari? Qual é o seu sobrenome?”
O maldito CJ ao meu lado perde a cabeça e começa a rir.
Alto. Na tela, me viro para olhá-lo com um grande sorriso no
rosto antes de começar a rir também.
“Sinto muito, Amari.” Eu rio.
O resto do vídeo corre muito bem; eles parecem um pouco
nervosos, mas se saem bem, dizendo algumas coisas aqui e ali,
pois todos nós fazemos pequenas alterações na mesma receita
para ver quem se sai melhor. Os cheesecakes de limão em
fatias são as que terminamos primeiro. A minha é a melhor. As
de CJ ficam bastante gelatinosas já que ele optou por deixar
de fora o ovo, e Amari acrescentou muito açúcar ao dele — CJ
e eu reclamamos por sua expressão super neutra.
É difícil, mas o potencial está lá. Eu só preciso de mais...
quatro horas para terminar de editá-lo. Normalmente, espero
até outro dia para começar, mas os caras pareciam muito
empolgados e quero ver apenas uma coisinha.
Meu telefone toca. Eu o pego e fico um pouco surpresa
com o nome que aparece na tela. Isso me faz sorrir, embora.
Aperto o botão de resposta. “O que há, velhote?”
Sua risada me atinge bem no ouvido. “Peewee. Você está
em casa? Está livre?”
“Oi, sim e não.”
“O que você está fazendo?”
“Assistindo pornografia.”
Ele não diz nada.
“Estou brincando. Estou editando um vídeo agora. Estou
pensando em filmar outro.” Devo contar a ele sobre CJ e
Amari? Quero dizer, acho que porque não? “CJ e Amari...
Villanueva acabaram de sair há pouco tempo.”
Quero dizer, não é como se tivéssemos tido um trio.
Pela ligeira pausa do seu lado, me pergunto se é isso que
ele está pensando. Ou talvez ele esteja pensando na minha
piada pornô.
Nah.
Ele provavelmente nem acha que tenho uma vagina.
“Por quê? O que está rolando?” Pergunto quando seu
momento de silêncio parece durar um segundo a mais.
Para lhe dar crédito, ele não hesita naquele momento ou
pergunta o que eles faziam aqui. Ele diz: “Estou ligando para
ver se você está com fome.”
Devo... convidá-lo? Eu não tenho que fazer outro vídeo.
Posso tirar o resto da tarde de folga. “Eu comi agora pouco.
Posso fazer um sanduíche ou dois para você, se quiser. Ou você
quer ir a algum lugar para comer?”
Há outra pausa antes que ele diga, com sua voz feliz e
habitual: “Vou comer um sanduíche.”
“Então siga em frente. O código do portão é 321125,
Snack Pack.” Mesmo sabendo agora que meu primo já deu a
ele na outra vez que veio.
“Vejo você em cerca de dez, querida.”
“Ok, dirija com segurança”, digo antes que ele se despeça
e desliguemos.
Nem quinze minutos depois, uma batida vem da minha
porta. Com certeza, é Zac do outro lado. Sorrio quando o deixo
entrar. Ele me beija na bochecha, me pegando de surpresa por
cerca de um segundo, e consigo plantar uma em sua própria
bochecha de volta.
“Onde diabos você estava, na rua?” Pergunto quando
fecho e tranco a porta.
Ele ri levemente, olhando para mim com aqueles olhos
azuis de bebê. Em uma camisa branca de botão, colete preto,
calça preta e sapatos brilhantes... ele parece incrível. Um
amigo muito bonito.
Ele esteve em um encontro? Tão cedo?
“A cerca de três quilômetros daqui. O proprietário do
White Oaks me convidou para almoçar”, ele diz
cuidadosamente.
“O dono?”
Ele assente, sua expressão séria.
“Isso é uma coisa boa?”
“Pode ser.”
Agarro seu antebraço. “Dedos cruzados, então?”
Seu sorriso é pequeno, como se ele estivesse tentando
mantê-lo assim de propósito, como se não quisesse ficar muito
animado. “Sim, sim, vamos ver. Toda a equipe é jovem como
Ceej...”
Levanto as duas mãos e cruzo os dois dedos para ele. Se
ele não quer falar muito ou brincar, eu entendo. Então penso
no que ele disse ao telefone. “Eu acho que você disse que estava
com fome?”
“Estou”, ele responde. “Tinha um chef chique e tudo mais,
mas eram entradinhas. Juro pela minha vida que o prato de
peixe que ele serviu era do tamanho de um dólar de prata com
algumas coisas marrons que pareciam excrementos de veados
e tinham gosto disso também.”
“Eu não sei como você sobreviveu.”
“Eu também não”, ele diz antes de me seguir para a
cozinha. Eu limpei enquanto estamos assando as cheesecakes.
Aprendi com Mamá Lupe, a necessidade de manter as coisas
limpas. Eu não consigo dormir sabendo que há louça suja na
pia, mas o bom é que geralmente eu sou a única que come, por
isso não é muito. Não há trezentos pratos vindos de uma
família grande. “Sua esposa — sua quinta esposa, ele alegou
— disse algumas coisas bastante perturbadoras para mim toda
vez que ela teve a chance.”
“Como o quê?” Ele não pode simplesmente deixar isso em
aberto assim.
Nossos olhos se encontram quando abro a porta do meu
forno e puxo as quatro fatias de pão que coloquei lá no
momento seguinte a ele ter ligado. Zac faz uma careta quando
coloco a bandeja de biscoitos em cima dos descansos de panela
que espalhei no balcão. “Ela mencionou uma festa de
máscaras que eles estão dando onde tudo acontece.”
Faço uma careta para ele por cima do ombro e ele
assente, olhos arregalados e patetas.
“Disse que eu deveria ir. Então mencionou, mais tarde,
como ele vai dormir às nove horas na maioria das vezes.”
Eu pisco. Ele pisca de volta.
Eu não posso evitar. Realmente não consigo. “É difícil ser
bonito?”
E esse idiota está totalmente com cara de pau quando
responde, “Muito.”
Sim, eu não posso evitar. Eu bufo. “Com que carga você
tem que viver.”
Zac ri. “Eu sou tratado como objeto diariamente.”
“Acredito nisso.”
“Ei, às vezes é difícil ser levado a sério”, ele diz. “Você sabe
como me sinto uma merda quando algumas mulheres me
dizem o quão bonito eu sou? Algumas me disseram do nada
como eu ficaria...” Ele para de falar.
Pego um saco de rosbife fatiado e olho para ele. “Como
você ficaria o que?”
“É gráfico”, alerta.
Reviro os olhos novamente quando abro a bolsa e puxo
uma fatia e enrolo como um cigarro. “Por favor, não me faça
dizer isso.” Dou uma mordida e mastigo. Ele sacode os dedos
para eu me aproximar, e eu vou.
“Dizer o quê?” Ele pergunta enquanto tira a fatia da
minha mão e coloca o resto na boca.
Tudo bem, então nós estamos de volta a este ponto em
nossa amizade. Compartilhando comida. Isso está bem pra
mim também. “Você sabe o quê”, tento me proteger, ainda
mastigando minha mordida. “Eu sei como os bebês nascem.”
Zac pisca.
“Eles saem dos ânus.”
Ele começa a rir, engasgando com a carne assada na
boca. Seu rosto fica vermelho. É o que ele ganha por roubar
minha carne. “Eu não posso acreditar que ele fez isso com
você”, ele ofega.
Uma vez, depois que ele tentou me contar sobre os bebês
que aconteciam apenas com o beijo, Boogie, meu querido e
amado Boogie, tentou me dizer que os bebês saíam dos ânus.
Palavra por palavra. Se minha memória me serve
corretamente, Zac estava rolando no chão de tanto rir depois.
Mas Connie já tinha me dito a verdade, então eu apenas
revirei os olhos e fui embora.
“Ele é tão bobo.” Eu sorrio. “Se o virmos juntos
novamente me lembre de perguntar se ele engravidou Lauren
fazendo coisas na bunda.”
Zac uiva, inclinando-se para frente e colocando a testa no
meu ombro enquanto fico lá.
Eu inspiro.
Ele cheira bem, algo como perfume caro.
Na verdade, conhecendo sua bunda sovina,
provavelmente é algo que sua mãe compra para ele no Natal
ou no seu aniversário todos os anos.
“Com quem diabos você tem andado nos últimos dez
anos?” Ele pergunta contra meu ombro, sua cabeça um peso
agradável e reconfortante em mim.
“As pessoas gostam de coisas de bunda, obviamente.”
Sua risada quente e ofegante atinge meu pescoço por um
segundo, e tenho que ficar muito, muito quieta enquanto ele ri
um pouco mais.
Depois de um segundo, eu fujo dele e volto a terminar
seus sanduíches, adicionando carne, maionese, um pouco de
rabanete e uma fatia de queijo cheddar aos dois. Porra, eles
parecem bons. Meu estômago ronca em apreciação. Então eu
cuidadosamente coloco o prato no balcão e o empurro para
perto do homem que ainda está rindo.
Mas não rindo o suficiente para não perceber que ele tem
comida a sua frente. Ele dá uma mordida enorme. “Mmm, isso
é bom.” Aqueles olhos azuis me atingem quando ele dá outra
mordida. “O que você fez hoje?” Ele pergunta, parecendo
casual.
Pego seu outro sanduíche e dou uma pequena mordida
no canto e coloco de volta, esperando até engoli-lo antes de
responder. “Eu filmei hoje.”
Tenho certeza que não é minha imaginação quando uma
das sobrancelhas dele se arqueia um pouco. “Cozinhando?”
“Sim. É por isso que CJ e Amari vieram aqui. Eles foram
meus astros convidados.”
Ele arrasta o prato para mais perto dele, dando outra
mordida enorme, assim me impede de dar outra mordida. Isso
está bom. “CJ não falou nada sobre isso ontem. Eu não sabia.”
“Pedi a ele bem no último minuto. Meu sobrinho ficou
doente no caminho para visitar no fim de semana e eles
tiveram que cancelar, então perguntei a ele.”
“Eu não sabia que você tinha o número dele.” Ele está na
metade do primeiro sanduíche.
“Eu não tenho. Enviei uma mensagem para ele no
Picturegram”, admito. “Foi um tiro no escuro, e ele chamou
Amari. Eles estavam aqui até pouco tempo atrás. Trevor veio
com eles para garantir que eu não estivesse tentando
convencê-los a fazer pornô. Suas palavras, não minhas.”
“Trev?”
Assinto.
Ele dá outra mordida.
Estendo a mão para o outro sanduíche e pego um
também antes de devolver. “O quê?” Pergunto a ele.
Zac não hesita. “Você poderia ter me pedido.”
“Eu não queria incomodá-lo pelo número dele. Não
esperava que ele dissesse sim.”
Sua cabeça se inclina para o lado, dando-me uma visão
da linha angulosa de sua mandíbula. “Você não me
incomodaria.” Ele pisca. “O que eu quis dizer foi que você
poderia ter me pedido. Eu teria feito isso com você.”
Oh.
Mas, aparentemente, ele não terminou. “Eu posso fazer o
outro com você”, ele diz enquanto engole. “Se você quiser. Você
disse que está pensando em fazer outro, não é?”
“Eu sei que você faria”, digo a ele. “Mas eu não quero tirar
vantagem de você. Perguntei ao CJ porque ele meio que fez
parecer que poderia estar interessado em fazê-lo, e ele é um
fã.” Um fã. Essa é literalmente a merda mais estranha que eu
poderia pensar ou dizer. Eu. Fãs. É uma viagem.
“Eu também sou fã.”
Eu pisco.
Zac finalmente pega o sanduíche que eu mordi e come
antes de dizer, “Eu sou seu fã. Um grande. O seu maior em
Houston.” Uma bochecha sobe enquanto ele come. “Eu sou.
Você vai fazer outro hoje ou não?”
“Eu pensei sobre isso”, digo a ele sinceramente. “Mas você
está aqui. E minha assistente foi embora, então é mais
demorado fazer coisas sem ela. E as coisas sempre dão erradas
quando não tenho alguém constantemente garantindo que o
áudio não seja cortado repentinamente ou que a bateria da
câmera não morra do nada. Pode esperar até meu próximo dia
de folga.”
Zac faz uma cara pensativa enquanto engole o que
mastigou. “Faça um enquanto estou aqui. Eu sei ficar quieto.
Se você me mostrar, eu posso ajudar.”
Eu fiz uma careta.
Ele faz uma careta de volta. “Eu faço!” Ele afirma com
uma risadinha. “Posso sentar na sala como um bom garoto e
assistir.”
“Pssh.”
Ele sorri. “Tudo bem, mas eu posso ser, prometo.” Seu
sorriso derrete em um sorriso suave. “Eu também quero ver.”
Eu o observo por um segundo antes de perguntar: “Tem
certeza? Provavelmente vai demorar três horas. Não sei quanto
tempo levará para assar o pão.”
Os olhos dele brilham. “Você vai fazer pão?”
“Pão de ló.”
Esse tolo lambe seus lábios como eu faço quando alguém
da família faz três leches. Eu sorrio.
“Você tem certeza que não se importa?”
“Tenho certeza.”
Olho para ele. “Tudo bem... se insiste.”
Ele come um pouco mais e assente. “O que tem que
fazer?”
“Me trocar, verificar os microfones — sim, o microfone —
verificar a iluminação e arrumar meu cabelo.”
“Eu como enquanto você se troca, e eu ajudo. Certo?”
Eu posso fazer tudo sozinha mais facilmente, mas
assinto. “Tudo certo. Vou me vestir então.”
Aqueles olhos azuis se movem do meu rosto para baixo e
param de volta em um segundo. “Por quê? Você não pode usar
a mesma coisa?”
“Não. Eu fiz isso uma vez e as pessoas notaram.” Dou de
ombros. “Me dê dez. Volto já.”
Felizmente, nem demoro dez minutos para tirar minha
camisa e vestir outra blusa. A parte de baixo não importa,
porque ninguém pode ver do outro lado da ilha. Tudo o que
faço é limpar meu rosto, aplicar um pouco de delineador e
batom e acho que está bom. Meu rosto não ficou muito oleoso
já que foi Amari quem tirou os cheesecake do forno.
Zac está em pé na cozinha com o prato contra o peito, o
dedo indicador pressionando contra a superfície para pegar
migalhas. Ele olha para mim e me dá um sorriso engraçado.
“O que?” Pergunto a ele, tentando não ser autoconsciente.
“Aww, querida, você parece doce como açúcar.”
Eu bato os olhos para ele sarcasticamente. Doce é legal.
É o que um amigo diria. “Obrigada.”
“Quanto tempo você leva para fazer isso no seu cabelo?”
“Depende de quão úmido está”, digo. Ele está falando
sobre endireitá-lo. “Pelo menos meia hora. Por quê? Você não
gosta?”
“Eu gosto de todas as maneiras que você usa”, ele diz com
um sorriso. “Posso sentar na sala e assistir?”
Assinto.
“Isso não vai te deixar nervosa?”
“Eu não fico mais nervosa fazendo isso. Fico apenas
consciente em assistir meus vlogs na frente de outras
pessoas.” Levantando a mão, eu o acerto na ponta do nariz. “E,
Snack Pack, eu costumava peidar na sua frente. Eu não acho
que poderia ficar nervosa na sua frente nem se tentasse. Sinto
muito.”
Ele ri. “E você costumava culpar Boogie por isso.”
É a minha vez de rir. “Há mais carne de delicatessen na
geladeira. Apenas me ajude a acertar minha iluminação
primeiro, beleza?”
“Demorou. O que você precisar.”
Entre nós, demoramos cerca de meia hora para acertar a
iluminação. Ele fica bisbilhotando nas minhas janelas, e tenho
que explicar por que há papel preso nelas. Depois ajustamos a
câmera e o faço ficar na ilha para garantir que não haja
sombras estranhas. Se eu estivesse sozinha, levaria muito
mais tempo. Zac se move para a sala, apoiando-se no sofá, de
frente para a parte de trás — na área da cozinha — de joelhos,
com os antebraços apoiados nela enquanto espia.
“Você está bem?” Pergunto, dando-lhe um polegar para
cima quando aperto o botão de gravação na minha câmera e
começo a andar pela ilha para me posicionar.
“Estou bem”, ele grita quando termino de se instalar.
Tudo certo.
Eu não estou nervosa, lembro a mim mesma enquanto
respiro fundo e depois respiro novamente. É como entrar em
uma personalidade com muito menos bagagem do que eu. Eu
construí esse negócio por conta própria e preciso acreditar em
mim mesma. Eu sou capaz. Esperta. E posso fazer isso.
Eu me concentro na câmera e começo. “Olá, Lazy Bakers!
Hoje tenho uma receita especial no cardápio que espero que dê
certo. Hoje, vou me esforçar para fazer um bolo de laranja com
cranberry bem a tempo de...”
“Ooh”, Zac murmura de seu lugar no sofá.
Merda.
Pisco para a câmera e posso sentir minha boca
começando a se contorcer.
Se controle. Se controle.
Fecho os olhos e bufo, reabrindo-os e olhando para o teto.
“Ok, eu preciso começar de novo.”
Ainda estou olhando quando ouço meu velho amigo
perguntar: “Você podia me ouvir?”
Eu rio e não posso deixar de sorrir para o rosto
inocentemente sorridente ainda no lugar, pairando sobre as
costas do sofá. “Sim, você me fez rir. Está tudo bem. Vou
começar de novo.”
“Oopsie.”
“Oopsie minha bunda. Ok. Vou começar de novo bem
rápido.” Ando pela ilha e vou em direção à minha câmera para
excluir a gravação.
“Eu gosto de como você começa cada vídeo”, Zac fala
enquanto estou ocupada. “Você parece legal, querida. Sua
cozinha é linda.”
“Ah é? Um dia eu gostaria de alugar um estúdio para
filmar, mas acho que isso é bom o suficiente por enquanto.”
“É mais do que bom o suficiente para mim.” Há uma
pausa. “É o avental da mamãe Lupe?”
Eu me viro para olhá-lo, surpresa — quando não deveria
estar — e digo: “Sim. Você se lembra?”
Ele assente, sua expressão ficando bastante agridoce.
“Ela não o usava com tanta frequência, apenas nos feriados.”
“Sim. Sempre foi o meu favorito”, admito, sentindo uma
tonelada de falta da minha abuelita. “Como... se mágica fosse
acontecer quando ela colocasse.” Olho para baixo e aliso as
mãos na frente do avental laranja xadrez que tem três flores
coloridas costuradas bem no canto do meu peito. Eu o lavo a
mão quando necessário. “Ele me faz sentir que ela está perto
de mim quando faço isso, como se ela estivesse orgulhosa.”
Olhando para cima, encontro a boca de Zac subindo em um
pequeno sorriso.
Ele assente. “Sim, Little Texas, ela ficaria muito orgulhosa
de você. E adoraria saber que você o usa.” Ele suspira. “Ela
ficaria muito orgulhosa de você com tudo isso.”
Erguendo um ombro, sorrio para ele. “Obrigada, Big
Texas.”
“Com certeza sinto falta dela.”
Suas palavras apertam meu maldito coração. “Eu
também sinto muita falta dela”, admito. “O tempo todo.” Então
me viro e aperto o botão de gravação novamente. “Tudo bem,
eu vou chorar. Deixe-me começar de novo primeiro.”
“Entendi. Ficarei quieto.”
Dou a ele outro sinal de positivo e vou para a ilha para
parar no lugar. Respiro fundo outra vez, fecho os olhos e depois
os reabro antes de empurrar meus ombros para trás e
recomeçar. “Olá, Lazy Bakers! Hoje tenho uma ideia especial
que quero tentar. Bolo pão de ló de laranja!”
Sua voz vem da sala de estar. “Eu pensei que você faria
bolo pão de ló de laranja com cranberry?”
Paro de falar e levanto meu olhar para pousar no rosto
sorridente de Zac ao redor da borda da câmera diretamente na
minha frente. “Eu vou. Droga. Ok, dane-se, vou começar de
novo.”
“Você pode fazer isso”, ele me aplaude.
Sorrio, me sacudo e depois foco novamente. Eu posso
fazer isso. OK. Eu apenas vou com isso. Exclua mais tarde. “Olá,
Lazy Bakers! Tenho uma ideia muito especial que quero
experimentar hoje. Nós vamos fazer bolo pão de ló de
cranberry!”
“Bolo pão de ló de laranja com cranberry”, Zac fala de
novo.
Fecho minha boca. “Merda!”
“Você sabe que é realmente boa nisso, querida. É um
nome longo. Um bocado grande. Bolo de pão de ló de laranja
com cranberry”, ele tenta me apaziguar enquanto eu quero me
bater por errar o nome novamente.
“Uma última vez, droga. Não vou recomeçar”, afirmo,
voltando à ilha e excluindo a gravação e começando
novamente. “Você está me distraindo. Não me lembro da
última vez em que tive que recomeçar tantas vezes.”
“Mamãe disse a mesma coisa várias vezes.”
“Eu tenho certeza que sim. Tenho certeza de que ela
também não foi a única.”
Seu silêncio me diz que ele está pensando sobre isso. “Sim
você está certa. Ela não foi.”
Eu rio. “Ok, vou começar de novo.” Atrás do balcão, eu
paro. “Tudo certo. Sem parar. Eu posso fazer isso.”
“Você pode fazer qualquer coisa, Little Texas”, meu amigo
diz com um sério aceno de onde ele ainda está no sofá. “Uma
tomada, você consegue.”
“Uma tomada, entendi.” Balanço os ombros, aperto os
lábios, mantenho minha cabeça erguida e volto a me
concentrar. “Ei, Lazy Bakers! Hoje, tenho uma ideia especial
que quero experimentar bem a tempo do outono! Bolo de pão
de ló de laranja com cranberry!
“Detonou”, Zac sussurra.
Merda. Eu começo a rir. “Droga, Zac!”
“O que eu fiz? Falei tão alto assim? Conseguiu me ouvir?
Eu estou ficando sério nisso. Você é tão profissional. Tudo é
tão legal. Acho que estou com um pouco com inveja que CJ fez
isso antes de mim.”
Suas palavras abraçam meu coração, e tenho que fazer
uma pausa. Eu realmente pensei que ele se ofereceu para
participar apenas para ser legal. “Zac, você quer participar?”
Ele nem hesita. E disse: “Ok”, instantaneamente, e no
tempo que levo para piscar, ele está de pé e se aproximando.
Tudo certo.
Ok.
Chega de começar de novo, certo?
Olho para a câmera. Chega de começar de novo. “Bem,
temos um convidado especial hoje, afinal.”
O homem alto e magro vem parar ao meu lado, quadril
assustador me batendo uns centímetros acima do meu.
Eu bufo e tento me manter controlada. “Meu amigo de
longa data...”
“E fã número um”, ele fala.
Eu pisco para a câmera e depois pisco para ele. “E fã
número um, perdão, Zac Travis.”
“Oi”, ele cumprimenta a câmera, forçando-me a voltar a
me concentrar no que estamos fazendo.
“E hoje, logo depois que eu pegar um microfone e um
avental para Zac, vamos fazer bolo de pão de ló de laranja com
cranberry.”
“Bem a tempo do outono”, Zac acrescenta alto, olhando
para mim ao mesmo tempo em que olho para cima.
Nós sorrimos um para o outro.
“Como nossos ingredientes hoje, vamos usar...”
Se eu alguma vez me perguntar como diabos acabei no
carro de Zac a caminho de Austin para a festa de 15 anos de
minha prima Lola...
Eu ficarei na merda, porque não tenho certeza de como
diabos isso realmente aconteceu. Num minuto, estou
arrumando minha mala e alguém está batendo na minha
porta. No minuto seguinte, Zac está no meu apartamento, com
roupas de treino úmidas, perguntando o que estou fazendo e
se eu quero almoçar?
Então, uma hora e três sanduíches depois, ele está
colocando sua bagagem de mão na traseira do carro enquanto
converso com CJ no andar de baixo sobre sua alegação de ser
um péssimo cozinheiro. Aparentemente, sua mãe também não
é uma ótima cozinheira e isso é herdado.
De qualquer forma.
Agora, horas, dois podcasts, uma lista de reprodução de
hits clássicos e algum K-pop que Zac pediu choramingando,
mais tarde... ele está estacionando seu carro no hotel que eu
reservei semanas atrás. Um hotel que tive que reservar porque
aparentemente havia muitos familiares na cidade, mas
ninguém além de meu primo se preocupou em nos convidar
para ficar com eles. Tenho duas tias e três tios, e todos têm
suas casas cheias. Mesmo assim, Boogie só tem um
apartamento de um quarto, então...
Sinceramente, fiquei aliviada por estarmos em outro
lugar, em vez de compartilhar um banheiro com outras oito
pessoas que não tem senso de privacidade ou espaço pessoal.
Estou dividindo uma cama com Luisa, e Connie está dividindo
uma cama com seu filho. O marido está em casa porque tem
que trabalhar.
Zac vai alugar seu próprio quarto... para ir conosco a uma
festa de 15 anos.
Zac Travis vai a uma festa de quinze anos.
“Você tem certeza que quer fazer isso?” Pergunto pela
décima vez enquanto caminhamos do carro em direção à
entrada do hotel. Ele estacionou literalmente no ponto mais
distante da entrada. Seu raciocínio é porque não quer que
ninguém estacione perto dele.
Zac bufa, puxando sua mala. Ele tentou pegar a minha
também, mas eu tirei dele. “Garota, quantas vezes eu já estive
com sua família?”
“Muitas. Mas isso foi no passado, antes de você se
transformar o Sr. Hot Shit (Bonzão)”, explico, puxando minha
mala também.
Ele resmunga. “Eu não estou exatamente em uma equipe
agora.”
“E...?” Eu não preciso convencê-lo a se sentir mal por si
mesmo. Ele pode fazer isso muito bem por conta própria. “Por
enquanto. Isso não significa que você ainda não é o Sr. Hot Shit
para algumas pessoas.”
Por acaso, olho e vejo um pequeno sorriso quebrar seu
rosto. “Mas não para você?”
“Não.” Eu dou uma cotovelada nele. “Mas, falando sério,
estou preocupada que seja assediado. Você disse a Boogie que
vinha? E você tem certeza de que não quer ficar no Paw-
Paw's?”
Ele me dá uma cotovelada de volta, fraca. “Eu disse a ele.
Ele se ofereceu para me deixar cair no sofá dele, mas...”
“Como diabos você conseguiria dormir no sofá dele? Ele
tem aquele pequeno e estúpido, que comprou porque gostou
da aparência.”
“Eu não vi isso.”
“Bem, você não está perdendo nada. Dormi nele uma
noite e acordei na manhã seguinte com dor no ombro e nas
costas. Você provavelmente precisaria de um realinhamento
depois.” Eu o cutuco novamente. “Sabe? Porque você é velho?”
Isso o leva a olhar para mim. “Entendi. E, sim, não faz
sentido ficar no Paw-Paw’s, porque estão todos em Lubbock no
fim de semana. Mamãe vai me matar por não contar a ela até
o último minuto em que eu estava vindo, mas está tudo bem.”
Ela provavelmente o matará por isso. Ele me disse que
tenta voltar para casa uma vez por mês, se não estiver lá com
eles a longo prazo durante o meio de temporada. Tenho certeza
que ele tem que estar pelo menos um pouco decepcionado por
sua família não estar na cidade, mas não pensei em convidá-
lo porque... bem, ele provavelmente tem coisas a fazer. Ele não
disse mais nada sobre os White Oaks, e eu não tenho coragem
de mencionar isso.
“Por que você não fica com a família, afinal?” Ele
pergunta. “Lembro que uma vez fomos a Corpus Christi com
Mama Lupe e ela colocou oito de nós em um quarto, lembra?”
Eu rio. “Ninguém nos convidou, e não, eu não me lembro
disso. Boogie teve que jogá-lo a noite toda no chão?”
“Apenas metade da noite.”
Eu bufo. “Bem, se você mudar de ideia e não quiser ver
todo mundo, corra. Eu disse a Connie que você viria, mas é
isso.”
É a vez dele de rir quando chegamos às portas deslizantes
do saguão.
“Sabe o que? Você quer que eu reserve seu quarto com o
meu nome? Vocês famosos costumam fazer isso, não é? Para
que seus fãs não saibam onde estão hospedados?”
“Pessoas famosas? Pare com isso”, ele geme. “Mas sim, é
isso que... é feito. Ou você pede para seu assistente reservar,
ou o assistente de seu empresário.”
“Então, vê? Me dê seu cartão de crédito.”
Zac me lança um olhar quando alcança atrás dele com a
mão livre e puxa a carteira — uma azul marinho, de aparência
nova — e me bate no topo da minha cabeça com ela antes de
eu arrancá-la da mão dele. Então tento afastá-lo. “Cai fora,
garoto, caso contrário, isso derrotará o objetivo se alguém o
reconhecer.”
Suas sobrancelhas se erguem ao mesmo tempo em que
um sorriso se espalha por sua boca. “Cai fora?”
“Dá o fora? Sair rapidamente?”
Esse tolo ri.
“Vá. Não mostre a ninguém seu rosto. Não preciso que
você seja sequestrado.”
Ele me dá um tapinha no nariz antes de dar um passo
para trás e pegar minha mala para levar com ele.
Demora apenas um segundo para verificar a minha
reserva e mais um segundo para obter outro quarto dois abaixo
do que eu dividirei com Connie e as crianças. Com quatro
chaves diferentes na mão, eu me arrasto em direção à Zac e
entrego a dele. “Aqui está. Está no mesmo andar que o nosso,
apenas a algumas portas.”
“LITTLE B (Pequena B)!”
Meus ombros caem e me viro lentamente, excitada e
irritada ao mesmo tempo. Então, novamente, isso
praticamente descreve completamente meu relacionamento
com Connie. Eu não posso viver com ela, e não poderia viver
sem ela.
Um olhar para a porta me faz encontrar minha irmã mais
velha puxando a bunda pelas portas deslizantes de vidro, no
que tem que ser um salto de dez centímetros, como se ela
estivesse tentando ganhar uma medalha de ouro. Connie pode
correr mais rápido em saltos do que descalça, isso é um fato.
Um impressionante também. Pelo menos eu penso assim.
Assim que está perto o suficiente, digo a ela: “Não em
público, Con. Palavra por palavra, foi o que pensei que
acordamos. Não me chame de Little B em...”
“Ninguém está ouvindo!” O corpo de um metro e
cinquenta afirma um segundo antes que ela se jogue em mim,
braços em volta dos meus ombros, pernas circulando minhas
coxas. “Eu senti saudades de você.”
Eu resmungo. “Oh meu Deus, saia.”
Ela não faz isso.
Apenas me aperta com mais força, e me sinto começar a
recuar com o peso dela. “Zac, por favor me ajude”, ofego, além
do ponto de tentar tirá-la, porque sei que ela não sairá.
Há uma risada atrás de mim antes que duas mãos
deslizem sob minhas axilas. Então algo que tem que ser o peito
dele surge logo atrás de mim também. “Eu pego você”, ele diz
acima da minha cabeça, realmente me apoiando. O calor do
seu corpo perfura minha camisa.
“Eu também senti sua falta, novilha. Você pode sair
agora?” Gemo abraçando-a de volta com a mesma força e
sentindo minhas costas protestando contra seu peso. Ela é
uma pessoa pequena, mas meu deus, ela é pesada.
Bem, isso e o maior peso que levantei foi um forno
holandês de ferro fundido.
“Oi, tia Bianca”, uma voz familiar diz de algum lugar atrás
da minha irmã.
Eu a empurro instantaneamente e me viro para o meu
sobrinho, puxando-o para perto enquanto ele me abraçava de
volta. Ele cresceu alguns centímetros desde a última vez que
nos vimos.
“Oi, Tía B”, diz outra voz.
Abraço minha sobrinha também, falando sobre como
suas roupas são fofas e abraço os dois novamente. Connie
abraçou Zac enquanto eu cumprimentava minha sobrinha e
sobrinho, e eu os encontro nos observando. Os dois estão
sorrindo.
Enquanto Zac não foi tão próximo de Connie, embora eles
tenham apenas cinco anos de diferença, ela ainda está por aí
há tempo suficiente, revirando os olhos e falando merda para
ele e Boogie na periferia. Basicamente, ele testemunhou ou
ouviu todo tipo de coisa. E sei que ele a viu pelo menos
algumas vezes ao longo dos anos.
“Você está ficando com fome? Quer deixar nossas coisas
e depois ir à Tía Meche para comer, já que é o mínimo que eles
podem fazer por serem rudes?”
“Eles compraram comida ou alguém fez isso?” Pergunto,
querendo ter certeza de que não irei me colocar em uma
situação que ir a um restaurante me salvaria. Eu amo esse
lado da minha família, mas às vezes eles falam coisas que eu
realmente não quero ouvir. É por isso que avisei Zac que
provavelmente não ficarei na festa por mais de duas horas.
“Todo mundo está trazendo alguma coisa”, explica
Connie. “Exceto nós.”
Levo um momento para processar o que ela está
sugerindo. “Não”, ofego quando entendo.
Minha irmã assente. “Ela vai levar três leches.”
Bem, merda. Isso resolve tudo. Eu posso ouvir qualquer
coisa por um tempo, se isso significar bolo de três leches. “Ok,
vamos fazer isso.”
“Quem fez três leches?” Até Zac pergunta desconfiado,
parecendo obcecado.
Tinha esquecido que ele ama isso tanto quanto eu, ou
pelo menos ele amava. “A esposa de Rico.”
“Rico, aquele com a tatuagem no pescoço?”
A tatuagem no pescoço que é um conjunto de lábios que
me faz rir toda vez que eu as vejo? “Sim.”
Ele pisca. “Vamos lá.”
Nós nos amontoamos no BMW dele... depois que corro
para o banco da frente antes de Connie tente roubá-lo. Como
ela não sabe o que ele dirige em primeiro lugar, não foi uma
competição.
“Trapaceira do caralho”, ela suspira enquanto desliza no
banco de trás.
“Eu me perguntava se vocês estavam iguais... e é bom ver
que não mudaram nem um pouco”, Zac diz em uma voz alegre
enquanto liga o carro ao mesmo tempo em que as crianças
batem as portas.
Espio minha irmã no banco de trás, e nós dois
encolhemos os ombros.
Não mudamos muito. Seu marido, Richard, suspirava
sobre nós sem parar durante o tempo em que vivi com eles.
Connie pode estar chegando aos quarenta anos, e eu posso
estar perto dos trinta, mas quando estamos juntas, é como se
estivéssemos compensando o fato de não termos sido crianças
pequenas, então fazemos isso daqui em diante.
“Tio Boogie diz que elas estão presas nos doze anos”, meu
sobrinho diz. “Então mamãe diz que ele tem onze anos e ele ri.”
“O que eu te disse sobre o tio Boogie?” Pergunta Connie.
“Eu não vou dizer isso!” Guillermo afirma.
Eu me viro para Zac e posso vê-lo olhando para frente,
pressionando seus lábios juntos.
“Diga-me”, eu sussurro para o meu sobrinho, que
balança a cabeça. “Você vai contar para Zac?”
Ele balança a cabeça novamente. “Tem uma palavra
ruim”, ele tenta explicar.
“Por favor. Conte-me. Não direi a Boogie que você disse.”
O garoto de dez anos parece pensar nisso.
“Eu vou te dar cinco dólares.”
Pelo canto do olho, vejo minha sobrinha de oito anos se
mover para frente e deixar escapar: “Mamãe disse que o tio
Boogie é um bundão. Posso ficar com os cinco dólares?”
Zac engasga, eu começo a rir, e Connie ri mesmo depois
de dizer: “Essa é a única vez que você pode dizer essa palavra,
Luisa.” Então ela olha para mim e diz: “Diga-me que estou
errada.”
“Sim, você pode ficar com os cinco. Você está errada”, eu
rio. “E ele é apenas um pouco bundão. Não é inteiro.”
Zac ri enquanto dirige, e ouvimos Guillermo e Luisa
brigando durante toda a viagem até a casa de nossa tia. Claro,
há cerca de cem carros estacionados na rua. Ele encontra uma
vaga há algumas casas abaixo. Nós descemos e vejo o carro de
Boogie enquanto nos dirigimos para a casa de dois andares em
que estive centenas de vezes ao longo da minha vida. A mesma
em que vivi enquanto terminava o ensino médio e decidia o que
ia fazer depois.
Na porta da frente, Connie toca a campainha uma vez e
depois abre a porta, sem se preocupar em esperar.
“Quero pegar comida primeiro e depois dizer oi a todos”,
digo por cima do ombro. “Quer vir comigo ou vai procurar
Boogie?”
“Comida”, responde Zac imediatamente, me fazendo
sorrir.
Exceto por algumas crianças monopolizando a sala que
acenam para nós, em vez de realmente se levantarem para nos
dar um abraço, quase não há ninguém na casa. Ponto para
nós. Pelo som, todo mundo está lá fora. Meu tio e tia montaram
uma cama elástica na parte de trás... mesmo que ainda não
tenham um neto. Na cozinha, pego uma pilha de pratos de
papel e passo para eles.
Connie segue seus filhos, observando o que eles escolhem
e adicionando mais em seus pratos. Zac segue atrás de mim
pegando comida. No momento em que vou colocar uma fatia
de bolo em um pequeno prato de papel, um borrão de uma
cabeça escura surge do nada. Um garoto que reconheço como
Tony corre até os três leches e enfia a mão na forma, pegando
um monte de bolo e enfiando-o na boca.
“Eca, Tony, não use sua mão. Eu vou ajudá-lo se você
quiser um pouco. Coloque em um prato”, eu agarro,
imaginando que posso cortar a parte onde seus dedos
pequenos e sujos estiveram. Sério, eles estão sujos. A última
vez que o vi, meses atrás, ele estava arrancando caca do nariz
e as comendo.
O garoto, provavelmente com nove anos, zomba de mim
quando começa a recuar. “Cuide da sua vida”, ele diz antes de
fugir.
Engulo em seco quando meu sobrinho diz: “Mãe!”
Olhando para o pequeno idiota, eu só consigo balançar a
cabeça. “Hoje vou lutar com uma criança. Posso sentir isso.”
Algo quente pousa na parte de trás do meu pescoço, e sei
sem olhar que é a mão de Zac. “Você é do mesmo tamanho que
uma, então vá em frente.”
Olho para ele com uma cara séria. “Sabe de uma coisa,
Zac?”
Aqueles olhos azuis estão trancados nos meus quando ele
fala, sério, muito sério demais para o brilho em seus olhos:
“Diga-me, querida.”
“Você é um pé no saco.”
Sua risada enche meus ouvidos quando aperta a parte de
trás do meu pescoço novamente. “Quer que eu pague sua
sobrinha para pegá-lo?”
Penso nisso por um segundo antes de assentir. “Se não,
talvez meu sobrinho possa chutá-lo na cara novamente.”
Uma sobrancelha divertida sobe. “Eu quero saber como
isso aconteceu?”
Connie entra na conversa enquanto coloca comida no
prato de Luisa, usando os dedos como aspas. “Dançando
break.”
“Mãe! Foi dançando break! Eu juro!” Meu sobrinho
insiste.
Connie pisca para ele. “Continue dizendo isso. Não estou
nem um pouco brava com você.”
“Mas você está com raiva de mim pelo buraco na parede.”
“Isso foi diferente.”
“De quem é esse garoto?” Zac pergunta.
“Você se lembra de Chuy?”
Ele faz uma cara pensativa e depois balança a cabeça.
Reviro um ombro para trás. “Eh. É filho dele.”
“Olhos apertados? Cabeça gorda? Corpo pequeno?”
Connie ofereceu antes de franzir o rosto. “Não importa, isso é
como metade dos nossos primos.”
“O que é?” Uma voz familiar pergunta do nada.
É Boogie. Eu me viro para encontrá-lo vindo da sala e
segurando uma pilha de pratos vazios e usados.
“Olhos apertados, cabeças gordas e corpinhos”, minha
irmã responde.
Ele geme quando se aproxima, colocando os pratos em
um grande saco de lixo preto antes de seguir em frente. Ele me
abraça, depois Zac, e finalmente vai para as crianças.
Luisa está no meio de um abraço quando diz: “Tio Boogie,
eu te chamei de bundão, mas eu te amo, e Tía Bianca me pagou
cinco dólares para dizer isso.”
Meu primo pisca e pego um sorriso antes de ele estender
a mão. “Me dê metade.”
“Não!”
“Me dê um beijo então?”
Ela suspira, mas bate com as mãozinhas nos ombros dele
e o beija na bochecha. Mas percebo como Boogie dá a ela outro
abraço. Ele será um pai tão bom que posso sentir.
E isso me lembra que preciso começar a tentar ser mais
gentil com sua futura esposa na próxima vez em que a vir, o
que felizmente não será hoje porque ela está trabalhando em
Nova York ou algo assim.
Vamos para fora e eu mal atravessei a porta de vidro que
Boogie abriu para nós quando ouço: “Ah, merda! Las güeras
estão aqui!
Connie e eu nos entreolhamos.
“Zac? É você?” A mesma pessoa fala. Tenha certeza de
que é meu primo com a tatuagem no pescoço. Não importa
quantas vezes Boogie diga a ele para parar de nos chamar de
las güeras, as meninas brancas, porque somos mestiças, ele
ainda faz isso. Idiota.
E no verdadeiro jeito Boogie de ser, ele murmura: “Cala a
boca, Rico.”
Eu o amo.
Mas eu ainda grito: “Não se preocupe, meu espanhol é
melhor que o seu, Rico.” Você imaginaria que depois de tanto
tempo ele pararia de apontar que nosso pai é irlandês, mas
não. Ele ainda diz algo sobre isso toda vez que o vemos.
Ele não diz nada em troca.
“Bianca!” Um dos meus priminhos grita do nada, e eu mal
tenho tempo de colocar em algum lugar meu prato de bolo e
tamales antes que um pequeno corpo bata na parte de trás das
minhas pernas. “Você vem pular na cama elástica comigo?”
Olhando para baixo, encontro minha prima de seis anos
com os braços em volta de mim, piscando para mim com
profundos olhos castanhos. Ela tem tranças, uma está mais
alta que a outra e faltam dois dentes da frente. Ela é adorável,
e eu não tenho ideia de como ela está relacionada ao demônio
que come bolos lá de dentro.
“Por favor?” Ela implora.
Bem, merda. Olho para ela e sei que há apenas uma
resposta. “Sim. Me dê um segundo, ok?”
Ela assente e olho para cima para encontrar Zac me
observando, com um pequeno sorriso no rosto.
“Eu vou proteger sua comida, não se preocupe.”
Tenha certeza que ouço Connie rindo baixinho enquanto
passa por mim.
Digo a todos um oi muito rápido — mesmo Rico, o
irritante — enquanto minha prima me puxa em direção à cama
elástica, e assim que termino, eu a persigo, agradecendo a
deus por estar usando tênis. Já há duas outras primas suadas
e rindo. Mas a garota de seis anos, com quem brinquei na
última vez que chegamos à casa da minha tia, continua
puxando meu jeans, dizendo: “Faça de novo! Faça isso
novamente!”
Isso.
O mortal de costas.
“Eu não sei...”, digo a ela quando pulo um pouco. “Não
podemos simplesmente pular?”
“Não! Por favor!” Ela implora.
Eu literalmente pratiquei ginástica por uns três meses,
vinte anos atrás.
“Por favor”, ela implora um pouco mais.
Eu sei que vou me arrepender, realmente. “Ok, deixe-me
tentar”, digo a ela, já me odiando, mas não tendo certeza de
como posso me safar quando ela está gritando.
Assim faço, com uma menina de sete anos, uma menina
de seis anos e uma menina de cinco anos torcendo por mim.
Bem, eu tento fazer um mortal.
E minhas costas dizem que não.
Eu aterrizo.
Mas não.
“Oh, meu Deus”, sussurro para mim mesma enquanto
rolo para estar deitada de costas, ofegando por ar, porque de
alguma forma a parte inferior das costas, não me deixa
respirar.
“Você está bem?” Minha priminha sussurra enquanto
está em cima de mim.
“Você está morta?” A prima mais velha pergunta.
“Eu quero estar”, digo a elas com um gemido.
“Quer que eu chame Connie?” A mesma prima mais velha
pergunta.
Oh infernos não. Ela é a última pessoa que quero que veja
isso e ria de mim por tentar fazer um mortal que não conheço
ou tenho experiência suficiente para fazer. “Estou bem, apenas
me dê um segundo”, resmungo; ainda deitada lá de costas.
“Peewee?” Uma voz familiar surge do nada. “Você está
bem?”
Bem, Zac é literalmente melhor que Connie. Movo minha
cabeça para o lado para vê-lo parado no lado oposto de onde
entramos no trampolim. Ele não tem uma expressão
preocupada no rosto, mas já é alguma coisa.
“Sim, sabe, apenas travei minhas costas um pouco,
acho.”
Eu posso dizer que os cantos da boca dele sobem. “Só um
pouco?”
“Sim, só um pouco.”
Seus lábios ainda tremem por tentar não sorrir ou rir
quando ele pergunta: “Precisa de ajuda?”
“Isso seria legal.”
Então ele sorri e, antes de me dizer o que está fazendo,
suas mãos vão para os meus tornozelos e ele está me
arrastando pela cama elástica em direção à beira. Eu me sento
o máximo que posso, uma vez que minha bunda atinge a borda
de metal, mas seus braços deslizam sob as costas dos meus
joelhos e ombros, e ele me levanta nos braços, sorrindo o
tempo todo.
Bem, pelo menos até que ele se vira, se ajoelha e me
abaixa para a grama ali mesmo, onde a maior parte da cama
elástica nos impede de sermos vistos por todos no deck.
“Incline-se para frente”, ele diz no segundo em que sento.
Eu faço e gemo o tempo todo. Tenho certeza de que
também lamento.
Ele ri. “Você está bem; você torceu. Acontece comigo o
tempo todo. Relaxe.”
Relaxar?
Seus dedos cravam na minha parte inferior das minhas
costas um segundo depois, e eu me endireito com um grunhido
quando ele amassa meus músculos.
“Esse foi um mortal bastante impressionante”, ele diz de
trás enquanto cava um pouco mais nas minhas costas e eu
gemo novamente. Dói, mas parece bom ao mesmo tempo. Mas
principalmente dói.
“Espero que sim, se não conseguir andar amanhã, droga.”
“Você vai ficar bem”, ele me assegura um segundo antes
de suas mãos passarem por baixo da minha camisa e tocarem
minhas costas nuas.
Eu apenas congelo por um segundo antes de relaxar e
deixá-lo continuar fazendo isso. Quero dizer, ele faz massagens
o tempo todo. O que é uma pequena pele nua? Não é como se
ele estivesse tocando minha bunda ou algo assim.
“Obrigada”, digo a ele com outro grunhido.
“De nada”, ele diz, ainda trabalhando aqueles dedos
incrivelmente fortes logo acima da cintura nos meus jeans.
Espero que meu traseiro não esteja aparecendo. “Você precisa
ter cuidado para não se machucar.”
Espero até que ele mude o movimento que está fazendo e
me mudo para um local um pouco diferente. “Obrigada por vir
me salvar”, digo a ele, tentando ignorar a sensação de suas
pontas dos dedos quentes.
E o desejo de tremer sob elas.
Seus polegares pressionam profundamente minha coluna
e estremeço. “Eu estava mais preocupado com você voando
para o lado e quebrando um braço.”
“Eu apenas quebrei minhas costas, não é grande coisa.”
Sua risada é baixa enquanto ele continua me
massageando.
“Zac?”
“Hmm?”
“Quem está tomando conta de nossos tres leches se você
está aqui?”

***

Sinto um peso quente balançar atrás de mim, um hálito


quente soprando na parte de trás do meu pescoço.
“Você está acordada?” A voz sussurra.
Estou de lado, segurando o telefone no meu rosto
enquanto responde: “Não.”
Connie crava os nós dos dedos em um ponto na minha
espinha, e eu chio quando ela me deixa nervosa. “Você está
acordada agora?” Ela ri a centímetros do meu pescoço.
Alcançando atrás de mim, tento pegar para o braço dela,
mas ela está muito perto e agarra meu punho com as duas
mãos, segurando-o no lugar para que eu não possa pegá-la.
“Oh meu deus, por que você faria isso? Minhas costas ainda
doem, seu monstro. O que você está fazendo?”
“Ah, você está bem. Eu vi você congelado. Luisa está
tomando banho”, ela sussurra. Seu filho está desmaiado na
outra cama. Ele foi o primeiro a entrar e tomar banho e caiu
como um tronco quando eu saí.
“Você está bem?” Pergunto a ela, desligando a tela e
rolando de costas com cuidado, com outro grunhido, para dar
uma boa olhada nela. Zac trabalhou nas minhas costas por
pelo menos cinco minutos, garantindo-me o tempo todo que eu
ficaria bem mais tarde, mas ainda dói. Voltei para o carro dele
como se precisasse de uma bengala... e fui provocada o tempo
todo por isso.
Com o cabelo todo molhado e sem maquiagem, ela parece
uma versão de Connie que não vejo desde antes que ela era
jovem demais para fazer maquiagem. Nossos pais não a
deixaram até que ela fizesse dezesseis anos. Bem, Mamá Lupe
não a deixou até que completasse dezesseis anos. “Eu estou
bem.” Ela solta minha mão e tenta me apertar novamente, mas
desta vez, é a minha vez de agarrar sua mão e garantir que ela
não possa me pegar novamente. Ela levanta as sobrancelhas.
“O que se passa contigo?”
“Nada, eu estou bem. O trabalho é péssimo, mas todo o
resto é bom. Sorrio para ela.
“Você vai me fazer perguntar ou você vai me dizer por
conta própria?”
Eu pisco. “Te dizer o quê?”
Ela suspira. “O que está acontecendo com você e...” Ela
fez as sobrancelhas subirem e descerem.
“Quem?” Tento pensar no que fiz naquela noite.
Depois de sair na casa da minha tia e quase jogar fora
minhas costas, todos nós ficamos ao redor da mesa e
conversamos — a maioria merda. De um jeito bom, não da
maneira que nossa tia malvada tenta escapar dizendo coisas.
Um dos meus primos trouxe seu amigo, mas o cara está
sentado do outro lado da mesa e eu não fiz mais do que
cumprimentá-lo. Estou muito ocupada conversando com Zac,
Boogie, minha irmã e as crianças para fazer mais. E
conversamos muito durante esse tempo, mesmo as crianças
adicionando suas próprias piadas, foi muito divertido.
Então... eu literalmente não tenho ideia do que diabos ela
está falando.
E é evidente que ela não acredita em mim.
Mas então percebo que ela usou drogas no banheiro
quando diz: “Zac”.
“Zac?” Olho para ela. “Você está sob o efeito de alguma
coisa?”
“Não em quinze anos.”
Eu bufo e cutuco seu rosto.
Ela pega minha mão e a enfia embaixo do queixo. “Eu não
estou brincando. O que está acontecendo com vocês dois?”
“Nada.”
Eu... fiz alguma coisa? Olhei para ele de forma estranha?
Eu gosto do Zac. Eu gosto muito dele.
Mas é isso.
Mas ela não vai largar o osso agora. “Vocês dois estão
saindo juntos uma tonelada.”
Mantenho meu rosto quieto. “Porque somos amigos e
moramos na mesma cidade. Sempre fomos amigos.”
“Isso foi há dez anos.”
“Qual é a diferença agora e depois?”
“Exatamente. Isso foi há dez anos e algumas centenas de
meninas atrás.”
Bem, isso é uma merda, e eu poderia ter ficado sem a
imagem mental. “Sim, mas ele não conhece nenhuma dessas
garotas desde que tinham três anos como eu.”
Ela torce o nariz. “Sim, não é isso que quero dizer, e você
sabe disso.”
“Sim, mas você sabe que sempre nos demos bem.”
“E era fofo quando você era mais jovem, mas agora...”
“O que agora?”
“Agora parece um pouco suspeito.”
Eu não gosto de para onde isso está indo e sei que preciso
acabar com isso o mais rápido possível. “Você parece um pouco
suspeita”, eu murmuro.
Connie revira os olhos. “Apenas me diga a verdade.”
“Nada está acontecendo”, sussurro, levantando um pouco
para olhar por cima do ombro e ter certeza de que meu
sobrinho está dormindo.
Ele está.
“Ele é apenas meu amigo.” Engulo. “E sei que ele não me
vê assim, Con. Eu acho que ele está sozinho ou algo assim. Ele
provavelmente ainda sente que me deve, uma vez que eu 'salvei
sua vida' há um milhão de anos. E ele raramente fala comigo
sobre coisas de futebol. Também não pergunto muito sobre
isso. Ele provavelmente gosta de ficar longe disso às vezes.”
Isso faz o rosto da minha irmã amolecer.
“Nós somos apenas amigos. Não o estou seguindo como
um filhote. Ele me liga. Ele me convida para a casa dele. Eu o
deixo em paz. Ele vem algumas vezes”, digo a ela em outro
sussurro, assim que a água no chuveiro é desligada. “E nos
damos muito bem. Como sempre fizemos.”
“B, eu não estou colocando tudo sobre você. Ele também.
Sei que você teria me dito se o convidasse, mas sei que não.”
“Bem, sim. Ele se convida. Eu gosto disso; Sinto falta
dele. Você sabe que tenho alguns amigos, conheço muitas
pessoas, mas é diferente com o Zac. É como calçar sapatos
velhos que se encaixam realmente bem.”
“Você tem certeza?”
É a minha vez de revirar os olhos. “Sim, tenho certeza. Eu
não sou o tipo dele, Con. Estou apenas o fazendo lembrar sobre
quando eu peidava com ele há não muito tempo. Eu o amo,
mas só sonho com coisas que posso fazer acontecer, agora.”
“Ou comigo.”
Eu sorri. “Ou com você.”
“Não pergunto por que me preocupo com seus
sentimentos, B. Você sabe disso, certo? Eu só quero saber se
há algo acontecendo que você não queria me contar.”
“Não.”
Seu rosto fica pensativo novamente.
“Não”, eu repito.
Ela suspira. “Vocês se dão tão bem... eu não sei, B. Acho
que seria engraçado se as coisas fossem diferentes.” Eu não
tenho certeza do que ela quer dizer com diferente. O que? Se
Boogie não fosse seu melhor amigo? Se eu fosse mais velha ou
mais bonita? Ou ele fosse diferente e quisesse algo sério?
“Bem, nós apenas fomos feitos para sermos amigos, e não
há nada assim. Duvido que ele faça algo para arruinar o
relacionamento mais longo que já teve.”
“Bem, tanto faz. Seria bom conseguir alguns ingressos na
bilheteria, se você souber o que estou dizendo.” Ela me dá uma
cotovelada.
Eu sorrio. “Tenho certeza que se você apenas pedir, ele
conseguirá ingressos.”
“Ele provavelmente fará, certo?”
“Acho que sim.”
“Os ingressos do clube seriam legais.”
Olho para ela.
“Bilhetes de bilheteria seria melhor.”
“Você é um monstro.”
“Sua mãe é um monstro.”
Estamos dentro do salão de eventos quando Boogie para
em frente às portas duplas que levam ao salão de baile e
levanta os braços para nos impedir de ir mais longe.
Estou no final do nosso pequeno grupo — as crianças,
Connie, Zac, meu primo e eu...
Tentando não mancar sobre minha estupidez. Decidi
usar sapatos novos sem quebrá-los, como uma novata, e
preciso de um curativo o mais rápido possível. No momento em
que nos sentarmos, vou chutar cada um deles e roubar um ou
dois de Connie. Ela sempre tem um monte na bolsa. Logo no
início do dia, antes da missa para o aniversário de Lola, fomos
ao shopping e Guillermo estourou sua bunda no
estacionamento, exigindo dois.
“O que você está fazendo, Boog? Preciso tirar esses
sapatos antes que meus dedos dos pés comecem a sangrar —
lamento no segundo em que vejo o que ele está fazendo.
“Sim, Boog, o que você está fazendo?” Connie ecoa
enquanto segura o telefone contra o rosto. “Não, mãe, estou
conversando com Boogie”, ela volta ao receptor.
Estou olhando para ela e escutando sua conversa
durante todo o percurso até o salão de eventos. Tentei ligar
para minha mãe enquanto estávamos no shopping, mas ela
não atendeu. Tudo o que eu queria era entrar em contato com
ela. Ela também não me ligou de volta, mas ligou
aleatoriamente para Connie. Grito um “oi” no carro e recebo
um “olá, meu amor” de volta.
Não reviro os olhos. Parei de fazer isso há muito tempo.
“Eu pensei que a comida iria começar a ser servida em
breve?” Zac entra enquanto paira ao meu lado, me trazendo de
volta ao que diabos Boogie está fazendo.
Tento com muita força não olhar para Zac, especialmente
depois da conversa que tive com minha irmã na noite anterior.
E especialmente não quando ele está vestido com um
elegante terno azul escuro que abraça seu corpo como se
tivesse sido feito sob medida para ele — o que é mais do que
provável — e uma camisa branca. A pior parte é que ele
escovou os cabelos em algum momento desde que tomamos o
café da manhã; ele foi ao Boogie depois e passou horas jogando
Call of Duty ou algo assim antes. Quando minha sobrinha
abriu a porta depois que ele bateu e entrou no nosso quarto
pequeno e bagunçado, senti algo em mim gaguejar por um
segundo. Mas me controlei, apesar de ter assobiado para ele e
perguntado se sua mãe fez as malas para ele.
A verdade é que ele parece ótimo, como um príncipe, mas
melhor.
E, infelizmente, tenho um monte de parentes distantes
sem vergonha de estar me preparando mentalmente para ter
que aturar, aparecendo e bajulando em cima dele. Quero dizer,
eles podem fazer o que quiserem, e ele também.
“Um segundo”, Boogie nos diz antes de baixar os braços.
“Preciso que você me prometa algo.”
Depois de olhar em volta como se houvesse alguém mais
com quem ele pudesse estar conversando, Connie pergunta:
“Quem?”
Nosso primo aponta o dedo para nós — para mim e Con.
Eu pisco. “O quê? Por que eu?”
“A dança”, ele começa a dizer antes que Connie zombe.
“Você não vai fazer isso de novo. Vamos sentar”, ela
murmura, empurrando-o para o lado e depois dizendo algo
para a nossa mãe no telefone.
Aponto para Boogie e mostro a língua quando passamos
por ele, indo em direção a uma mesa perto de uma das quatro
belas paredes cobertas de cortinas, bem na beira do corredor.
Felizmente, chegamos cedo e não há muitas pessoas no salão.
A maioria da nossa família é uma merda em chegar a qualquer
lugar a tempo, mas todos nós queremos tirar proveito da
comida de graça. Bem, pelo menos, alguns de nós gostamos.
Eu não posso falar por Zac, mas tenho certeza de que vi um
pacote de petisco de carne seca no bolso do seu paletó.
Sentamos ao redor da mesa, Zac ocupando uma cadeira
do outro lado de Boogie, bem ao meu lado. Meu sobrinho está
do meu outro lado.
“Não, me escute”, nosso primo começa de novo quando
desliza a cadeira. “Há certas coisas que ninguém quer ver,
especialmente eu. Então vocês duas precisam se manter
compostas.
“Eu não sei do que você está falando. Bianca, você sabe
do que ele está falando?” Connie pergunta enquanto empurra
a cadeira e cruza as mãos em cima da toalha de lantejoulas
lavanda. Ela já terminou de falar, acho. Isso foi rápido.
Balanço a cabeça enquanto empurro a cadeira para frente
também e agarro o guardanapo que foi dobrado na forma de
um cisne, pronta para usar essa merda no segundo em que a
comida começar a ser servida, a qualquer momento, imagino.
“Não, eu não tenho ideia do que ele está falando.”
Na verdade, tenho certeza que sim — principalmente
porque me lembro do que aconteceu na última vez em que
Connie e eu estivemos em uma festa de família que tinha
bebida e pista de dança. Não me arrependo de nada.
“Besteira”, Boogie murmura antes de se encolher. “Sinto
muito, crianças.”
Connie e eu bufamos. Como se não tivessem ouvido coisa
pior a cada duas horas de suas vidas. Oh, Boogie.
“Besteira”, ele se corrige e continua. “Você tem que
mantê-lo permitido para menores hoje à noite. Há crianças por
perto; isto não é um casamento. Sem gestos explícitos...
Não sei o que dizer sobre mim e minha irmã que nós duas
ofegamos.
Zac desliza para a direita, virando aquele olhar azul suave
para mim com uma expressão divertida no rosto. “Você é jovem
demais para saber como fazer isso”, ele diz com uma risada.
Eu dou a ele um sorriso inocente. “Sou?”
Boogie nos ignora e continua. “Ainda estou com cicatrizes
do casamento de Chato. Nada disso hoje à noite.”
Zac não para de me olhar com seu rosto curioso, como se
não acreditasse no que meu primo está dizendo, então dou de
ombros para ele.
“Por que sinto que você não está me ouvindo?” Pergunta
Boog.
“Estou.” Bato na minha toalha de cisne. “Foi a dança do
martelo? Foi isso que te assustou? Porque eu disse a Connie
que era demais.”
Connie desata a rir quando Boogie revira os olhos e Zac
pergunta: “Eu perdi você fazendo a dança do martelo?”
Minha sobrinha suspira do nada. “Tio Zac, na festa de Tio
Rico e Tía Maria, elas dançaram essa música sobre apoiar...”
“O que eu te disse sobre contar as nossas coisas?” Connie
pergunta à filha, balançando a cabeça como se não pudesse
acreditar que sua própria filha contará seus segredos.
“E mamãe tentou mostrar a tia B como fazer o extintor”,
Guillermo diz enquanto pega um pouco de hortelã que foi
colocada no prato à sua frente.
Boogie geme.
Estou muito ocupada rindo apenas me lembrando
daquela noite e de Boogie tentando nos arrastar da pista,
especialmente depois de tentarmos colocar nossas bundas
uma contra a outra, depois contra ele, mesmo quando ele
tentava nos afastar.
“Você aproveitou, então nem comece.” Eu bufo,
apontando para o meu primo.
“É menos embaraçoso se eu estiver envolvido”, ele tenta
se defender, mas começa a rir também porque está falando
merda. Ele ficou na pista de dança o mesmo tanto que nós,
depois disso. Fizemos um pequeno círculo com membros da
família indo e vindo a noite toda.
“Mãe, o que o tio Boogie fez? Você lembra? Ele machucou
as costas?” Meu sobrinho pergunta. “O golfinho?”
Zac se endireita, aqueles olhos azuis bebê balançando em
minha direção. “Foi isso…?”
“Sim.” Eu gargalho, sabendo exatamente a que ele está se
referindo. “Ele tentou fazer a minhoca.”
“Eu fiz a minhoca!”
Zac joga as duas mãos na cabeça. “Você não aprendeu
sua lição na primeira vez, seu burro?”
“Eu tenho costas ruins!”
Eu dublo “merda” para Zac.
Sua boca está aberta e os dentes brancos estão
aparecendo quando ele assente.
“Quer saber? Eu odeio todos vocês. Você não Yermo e
Luisa, mas vocês três...”
Connie funga enquanto pega seu próprio guardanapo de
cisne. “Os inimigos sempre odeiam.”
Estou muito ocupada bufando quando os garçons
começam a surgir do nada com carrinhos cheios de comida, e
tenho certeza que minha sobrinha bate palmas de emoção.
“Tia B, eles deveriam ter pedido para você fazer a comida
e o bolo”, meu sobrinho anuncia.
Jogando a palma da mão sobre meu peito, digo a ele que
o amo. Então pergunto a ele quando virá fazer outro vídeo
comigo.
Não demora muito tempo para a comida ser servida, com
cestas de pão sendo deixadas no meio de cada mesa, e estamos
todos muito ocupados comendo para fazer mais do que fazer
caretas um para o outro. Encontro os olhos de Zac em certo
momento e sorrimos um para o outro. Bem na hora em que
estamos terminando, as luzes no salão de baile caem, e as
luzes rosa e brancas nos arredores da sala iluminam as
paredes enquanto nossa prima caminha ao som de uma
música bastante majestosa que parece totalmente exagerada.
Nós aplaudimos, e Connie grita. Lola dança com o pai, depois
com os irmãos, quando os garçons chegam e pegam todos os
pratos.
Então a música começa.
Eu só luto com Connie por cerca de três segundos quando
ela se levanta, agarra o filho com uma mão, gesticula para a
filha com o queixo e depois pega minha mão.
“Eu acabei de comer. Me dê um segundo”, gemo enquanto
ela puxa meu braço.
“Você precisa trabalhar essas calorias”, ela responde,
realmente colocando algum peso nisso. “Pare de ser uma vaca.
Você sabe que quer.”
Eu quero.
Ah, foda-se.
Faço um gesto para Boogie quando me levanto. “Venha
me salvar se eu não voltar em trinta.”
Ele tem um palito na boca que parece um charuto. “OK.
Uh-huh.”
Ele é um inútil. Eu sei. “Salve-me, Zac”, grito para meu
amigo enquanto sigo minha irmã e seus filhos.
“Eu te salvo, querida”, ele grita atrás de mim, enquanto
pega um palito de pão também.
Tenho certeza de que o vejo bater o pão contra o de Boogie
como se fossem espadas antes de eu caminhar.
Mas... ele não me salva. Ele não salva de jeito nenhum.
Perco a conta de quantas músicas tocam enquanto
dançamos em círculo, minha irmã, eu e seus dois filhos, com
mais alguns primos se juntando ao longo do caminho. Algumas
vezes, agarro minha sobrinha ou sobrinho um a um, e pelo
menos duas vezes Connie apoia sua bunda contra mim, e
tenho certeza de que ouço a voz de Boogie por cima da
música... provavelmente nos dizendo para parar.
Finalmente, em algum momento, fujo e volto para a nossa
mesa, encontrando Zac lá... cercado por quatro mulheres
diferentes. Conheço uma delas. Eu só posso ver o perfil dele, e
parece que ele está sorrindo para elas.
E isso é bom. Bom. Pelo menos ele não está entediado e
infeliz.
Onde diabos está Boogie?
De alguma forma, Zac deve ter percebido minha
aproximação porque seus olhos se voltam instantaneamente
para mim no segundo em que chego perto o suficiente e vejo a
verdade. Ele está sorrindo, mas é seu sorriso educado, não o
real que é tão brilhante que o ilumina de dentro para fora.
Sorrio.
Um canto da sua boca fica mais alto que o outro.
Suas novas companheiras devem ver que ele para de
prestar atenção nelas, porque quando me vêem me
aproximando, duas empurram as cadeiras para trás e se
levantam, o que é estranho, mas tudo bem.
“Aí está ela”, Zac grita quando eu paro atrás da cadeira
em que estava sentada e bebo minha limonada restante.
Ele estende seu próprio copo em minha direção, e eu pego
e bebo tudo também. Estou com muita sede.
“Desculpe, senhoras”, meu amigo diz quando se levanta
enquanto eu coloque seu copo na mesa. “Eu devo uma dança
a alguém.”
Ele deve?
“Ela está tão ocupada que eu tive que agendar isso”, ele
mente enquanto coloca a cadeira debaixo da mesa.
Ele está me usando como uma desculpa para fugir. Tudo
certo. Meus pés doem e quero me sentar, mas não o deixarei
na mão.
Faço contato visual com minha prima em segundo grau,
que é uma das pessoas ao seu redor e a única que reconheço,
e aceno.
Eu não gosto da expressão curiosa que ela faz de volta
para mim, mas tanto faz, ela ainda acena em troca. Olho de
volta para Zac quando ele chega ao meu lado, pega minha mão
e me leva para a pista quando — como se estivesse sido
planejado — uma música country começa a tocar nos alto-
falantes.
Zac sorri quando alcança minha mão livre quando
estamos na beira da pista de dança e a coloca em seu ombro.
“Ainda se lembra como dançar dois prá lá dois prá cá?”
Uma lembrança embaçada dele ensinando Boogie — e eu
— a dançar uma vida atrás, enche minha cabeça e me faz
sorrir. “Merda.”
Ele sorri para mim, suas mãos quentes e as minhas
provavelmente ainda mais quentes, enquanto me leva direto,
movendo-se pelo chão, girando-me de vez em quando, e
felizmente não pisando nos dedos dos meus pés uma única
vez. “Garota, você é melhor nisso do que eu”, ele fala alto, sua
boca rosada arregalada de riso.
“Sou melhor do que você em muitas coisas”, brinco. “Você
está enferrujado.”
“Enferrujado?” Ele tem a coragem de perguntar. “Eu faço
isso desde que você usava fraldas, Peewee.”
“É.”
Não tenho certeza se ele especificamente me puxa para
dentro ou se isso meio que acontece quando nos mexemos,
mas estamos lá juntos, nossas coxas constantemente roçando
juntas. Zac me rodopia no final algumas vezes, e ele faz uma
careta para me avisar enquanto me inclina de volta no final,
com uma risada que me faz sufocar também quando o sangue
escorre pelo meu nariz.
Quando outra música country começa logo depois, ele me
gira mais um pouco, investindo tudo como se eu o tivesse
ofendido ou algo assim durante a primeira música.
Se ele espera que eu tropece nos meus próprios pés ou
pise na ponta dos seus pés... ele terá uma surpresa real.
Sei que ele fica impressionado quando seu olhar pega o
meu, a testa franze quando ele pergunta com uma voz que mal
capto: “Com quem você tem dançado assim?”
Pego um vislumbre do rosto de minha irmã quando ele
me gira, e espero até que estejamos nos encarando novamente
— bem, estou encarando seu peito mais do que seu rosto até
que levante minha cabeça — e respondo alto o suficiente para
ele ouvir, espero: “Com pessoas.”
Eu passo um sábado por mês indo a clubes com um dos
meus antigos colegas de trabalho. Meu ex costumava me odiar
por ir, mas já que ele não gostava de dançar, eu não o ouvia.
Meus parceiros favoritos sempre foram os homens mais velhos
cujas esposas estão tão ocupadas dançando com outras
pessoas que deixam seus maridos com estranhas. Esses
homens sabem dançar.
Assim como Zac.
Fluido e quase sinuoso, um atleta vitalício que conhece
todos os movimentos de seu corpo. Forte e seguro.
Eu me pergunto por um segundo quantas parceiras ele
teve que se tornou tão bom nisso.
Tanto faz.
Aparentemente, minha resposta não é suficiente para ele,
porque no segundo em que estamos nos encarando
novamente, ele abaixa a cabeça para falar na minha orelha,
sua respiração faz cócegas na pele sensível de lá: “Que
pessoas?”
Minha boca está a centímetros do peito dele. Posso sentir
o cheiro doce e limpo de sua colônia. “Pessoas no clube,
imbecil. Bons professores, hein?”
Seu hálito ainda está no meu ouvido. “Que clube?”
Eu digo o nome, imaginando-o indo por um momento —
imaginando-o dançando com qualquer uma das centenas de
mulheres que participam — e então me forço a parar essa
imagem mental.
Ele espera um tempo para dizer mais alguma coisa e suas
próximas palavras me surpreendem mais do que deveriam.
“Eu vou dançar com você quando quiser.”
“Ah é?” Pergunto, levantando meu rosto.
Ele está focado em mim, no meu rosto — olhos, tanto faz.
“Sim” É sua resposta simples.
“Você não se importa com a diferença de altura?” Eu tirei
meus sapatos e coloquei Band-Aids depois que comemos.
“Nuh-uh, baixinha”, ele diz com um sorriso que me
ilumina completamente, todo carinho, amor e conforto. “Você
se move muito bem comigo.”
Espero até que ele me gire novamente para dizer: “É Srta.
Baixinha para você, e você ainda consegue, velhote.”
Sinto sua risada na forma como seu peito treme contra o
meu, mais do que ouço.
Nós nos movemos para a direita e depois para a esquerda,
a mão que em algum momento se moveu para abranger o
centro das minhas costas desliza um pouco mais abaixo do
meu vestido dourado. Posso sentir a pressão e o peso de cada
um dos seus dedos em mim. É quando olho e vejo Connie e
Boogie se movendo pela pista... discutindo.
“Olhe para esses idiotas”, murmuro, gesticulando em
direção a eles com meu queixo.
A risada de Zac roça minha orelha novamente, e isso me
faz sorrir quando ele levanta a cabeça e olha para eles. A mão
que ele tem nas minhas costas flexiona por um segundo antes
de nos mover. “Eu te disse como você está bonita hoje?”
“Não.”
Sua respiração fez cócegas na minha orelha novamente.
“Bem, você parece muito bem, garota. Eu gosto do seu cabelo
assim.”
Aperto sua mão e sorrio para ele. Eu apenas o deixei
encaracolado e o amarrei frouxamente com algumas mechas
saindo, porque meu cabelo não gosta de ser contido, a menos
que eu o endireite. “Obrigada, Snack Pack. Você está muito
bem também.”
Ele pisca para mim, e me dá seu sorriso torto, que é o
meu favorito.
Dançamos outra música, essa coisa lenta que nos faz nos
movermos juntos em um círculo com os braços nos ombros
dele e aquelas mãos grandes, muito grandes na minha cintura.
Poderia ter sido romântico e doce... se fôssemos outras
pessoas. Em vez disso, contamos piadas o tempo todo.
E é quando o DJ chama todos para a pista... para fazer a
dança hokey pokey.
As mãos de Zac se afrouxam e ele dá um passo para trás.
Agarro seu antebraço. “Aonde você vai?”
Seu rosto está um pouco rosado sob as luzes, mas ele
está sorrindo. “Sentar fora dessa.”
“O quê? Por quê?”
Um canto de sua boca sobe e ele dá uma olhada à mesa
em que estamos ao lado. “Por que. É o hokey pokey.” Ele passa
o antebraço na testa antes de me brindar com outro sorriso
branco brilhante.
Eu pisco para ele. “Você vai me deixar fazer isso sozinha?”
Ele ainda está sorrindo enquanto sua cabeça pende para
o lado. “Certo. Vamos lá, eu vou fazer o hokey pokey com você,
então.”
E ele faz, sua expressão quase doía, mas ele ri o tempo
todo, ele se mexe junto com as duzentas outras pessoas no
local.
Depois, Boogie vem e me convida para dançar, minha
irmã gesticulando para Zac vir até ela.
Uma dança de passinho e outra música depois, minha tia
vem e rouba meu primo, e aproveito para colocar meus sapatos
de volta, com um gemido, e ir buscar algo para beber e fazer
xixi. Zac está girando Luisa, minha sobrinha, e minha irmã
está conversando com o pai de Boogie.
É quando sou encurralada pela única pessoa da família
que todos tentam evitar. A única pessoa que eu
propositadamente vigiei para garantir que não chegássemos
perto o suficiente para que ela sentisse a necessidade de vir e
dizer olá. Escolhemos nossa mesa junto à parede de propósito.
Merda!
“Olá, Bianca”, diz a mulher mais velha, enquanto
propositadamente bloqueia a saída do banheiro.
Eu colo o sorriso quase mais falso do universo no meu
rosto — um que rivaliza com todas as expressões que já dei a
Gunner — quando termino de secar as mãos. “Oi, Tía Licha”,
digo, tomando um tempo para me virar e dar um abraço nela
— o abraço mais idiota da história dos abraços, mas não é
como se ela merecesse mais. Ela sempre foi má, especialmente
com minha mãe, Connie e eu.
A prima da minha mãe olha para cima e para baixo do
meu corpo enquanto fica exatamente onde está. “Gostei do seu
vestido.”
Espere.
“Você ganhou peso?”
Ela ganhou peso, mas tudo bem. Tento sorrir para ela,
mas tente formar um sorriso quando seu maldito rosto é feito
de granito. Resulta numa careta. É definitivamente uma careta
que eu faço para ela, tentando muito disfarçar-se de um
sorriso e falhando muito. Porque sei tudo sobre respeitar
idosos. Consigo me lembrar da única vez que minha abuelita
me chamou e respondi com ¿que? — que — em vez de ¿mande?
Acho que nunca recuei tão rápido na minha vida.
Mas até minha mãe perdeu a paciência com a prima há
muito tempo. Não tenho certeza do que foi dito, mas sei que
meu pai teve que pegar mamãe pelas costas da calça e carregá-
la para fora da sala como se ela fosse uma bola de boliche. Isso
foi depois de anos de pequenos comentários que ela era
conhecida por dar a todos.
Então eu sei que serei educada, mas nem um centímetro
a mais do que preciso.
Ela é tão má, sinceramente me surpreende que ainda
receba convites e que todo mundo não apenas tenha uma
reunião em que todos concordem em manter em segredo os
encontros familiares, para que ela não vá.
Decido encolher os ombros para ela. Se eu não disser
nada, talvez ela se entedie e pare de falar comigo mais rápido.
Não dá certo.
“Onde estão seus pais?”
É para onde ela está indo com isso desde o início. Eu
deveria ter esperado isso. “Eles estão na Nicarágua agora.”
O “Hmmph” dela diz tudo. “Onde está o seu namorado?”
E ela foi lá também.
Pisco para ela; então pisco para ela um pouco mais. Não
posso exatamente chamar minha tia de vaca intrometida,
posso? Por mais que eu queira, porra. Sabendo que não tenho
tempo, sorrio para ela. “Qual deles?”
Ela pisca.
Eu espero que ela tenha um joanete.
“Foi bom ver você, tchau.” Eu grito por cima do ombro
enquanto corro em direção à porta e saio dali.
Virando-me, eu dou à porta os dois dedos do meio. Porra,
terei que contar a Connie tudo sobre essa merda. Aquela
mulher é impossível.
“O que você está fazendo?”
Eu pulo e encontro uma figura encostada no pilar em
frente à porta do banheiro com um grande sorriso no rosto.
É Zac, e seu rosto está vermelho.
“Escapando da minha tia e a mandando as favas”, digo a
ele quando paro na frente dele, colocando meus dedos de volta
no meu punho, pronta para lutar outro dia. “O que você está
fazendo, estranho?”
Ele ri e ignora minha pergunta, fazendo uma. “Qual
delas?”
Estendo a mão e a deslizo na dobra do seu cotovelo,
tentando puxá-lo para longe. A última coisa que quero é que
ela apareça e nos veja conversando e faça algum outro
comentário ou pergunta idiota. Felizmente, ele me deixa guiá-
lo. “Licha. Ela só conseguiu perguntar se eu ganhei peso e
depois perguntou sobre o meu ex, então foi o meu dia de sorte,
de certa forma.”
Ele me segue em direção às portas do corredor, seu
cotovelo na palma da minha mão. “Seu ex?” Ele pergunta.
“Uh-huh. Ela fez parecer que não sabia que nos
separamos, quando sei que ela sabia muito bem disso”,
explico.
Pelo canto do olho, eu o vejo olhando para mim, mas não
olho para cima. “Que ex?”
Bem, não era como se fosse algum segredo, e tudo bem,
talvez eu tenha evitado mencioná-lo de propósito, mas é
apenas porque gosto de fingir que esse estágio da minha vida
não aconteceu. Um total de cinco anos. Kenny. Eu não gosto
de falar sobre isso. Nós nos separamos há quase dois anos. Eu
não quero contar o resto, mas o conhecendo, ele vai perguntar.
“Ficamos juntos por cinco anos. Ele é o motivo de eu me mudar
para cá. Nós nos conhecemos quando eu morava na Carolina
do Norte com Connie. Seu trabalho o transferiu para cá e,
eventualmente, Richard, que é o marido de Connie, foi
transferido para o Texas e eles voltaram também.”
“Cinco anos?” Ele pergunta devagar.
“Sim, ficamos noivos por um minuto e tudo mais.”
Sob minha mão, seu braço fica tenso. “Eu não sabia
disso. O que aconteceu?”
Claro que ele ia perguntar. “No começo, era a mesma
velha merda. Ele me disse que estava saindo da cidade para
trabalhar, mas, surpresa, meus colegas de trabalho me
convidaram para ir ao cinema e disse que sim, e ele estava lá
com sua ex-namorada, que acho que tinha voado para vê-lo.
Ele tinha o braço em volta dela e tudo. Que tal isso, hein?”
Pronto. Feito. Olho para ele e instantaneamente encontro
seus olhos.
Ele está franzindo a testa. “O que você fez?”
Paramos do lado de fora das portas do salão de eventos e
eu solto o braço dele. “Fui ao apartamento dele, deixei a aliança
e a chave no balcão da cozinha, depois passei as duas horas
seguintes mandando mensagem contando para todo mundo
que sabia o que ele havia feito e pedindo, por favor, para não
contar a ele nada sobre mim, e bloqueei seu número. Connie
dirigiu naquela noite com as crianças e ficou comigo. Acontece
que meu contrato de aluguel com meu colega de quarto na
época estava quase terminando, e me mudei duas semanas
depois e fiz meu novo.” Eu originalmente deveria morar com
ele, mas...
As linhas em sua testa ficam profundas.
Eu sorrio para ele. “Ele foi ao meu trabalho algumas vezes
e eu fingi não conhecê-lo. Ele pediu desculpas, tentou dizer
que nada havia acontecido e disse que era a primeira vez.
Tanto faz. Eu deveria saber que ele era um fracassado quando
disse que preferia fazer uma vasectomia a ir à Disney World
comigo.” Dando de ombros, digo: “Então ele tentou me
processar. Então é isso. Da próxima vez, ouvirei Boogie quando
ele me disser que não gosta de alguém.”
“Boog não gostava dele?”
“Nããão. Mas ele já estava namorando Lauren e as coisas
já eram estranhas entre nós, então simplesmente não
conversamos sobre elas na frente uma da outra.” Penso nas
mulheres com quem Zac esteve e decido não perguntar sobre
sua vida amorosa.
Eu não quero saber.
Ele para de repente e se vira. “Espere, querida. Você disse
que ele tentou processar você?”
Estava esperando por isso. Não é onde queria falar sobre
isso, mas sabia que ele não me deixará adiar por mais tempo.
“Sim. Ele alegou que tinha direito a parte do meu negócio do
Lazy Baker. Que me ajudou a pensar nisso. Que me ajudou a
executá-lo, apesar de tudo o que ele fez foi editar meus vídeos
e ajudar nas filmagens. Idiota. Acabei tendo que fazer um
acordo para que ele finalmente desistisse.”
A cabeça de Zac recua e sua testa está franzida. “Você fez
um acordo com ele? Por quanto?”
Mordo meu lábio. “Eu nunca contei a ninguém a
quantidade certa.” E então digo a ele.
E Zac pisca lentamente. “Dólares americanos?”
“Infelizmente.”
Mesmo com pouca iluminação, posso dizer que o rosto
dele fica pálido. “Onde diabos você conseguiu esse tipo de
dinheiro?”
Eu o cutuco. “No meu cofrinho, onde mais?” Sorrio para
ele, satisfeita comigo mesma por ganhar o suficiente para que
nem ele possa acreditar. Isso me faz sentir mais orgulhosa de
mim mesma. Só por um momento, antes de me lembrar de
quanto sou idiota. “Ele sabia de tudo. Quanto dinheiro eu
estava ganhando, quanto eu tinha em poupança. Tudo. Então
foi atrás de mim por tudo isso.” A raiva mexe no meu peito, e
forço um sorriso tenso e desconfortável no meu rosto. “É por
isso que não deixei meu emprego na academia. Acabei de pagar
seis meses atrás. Eu mal estou colocando meus pés de volta
no chão. Parei de aceitar patrocinadores enquanto tudo isso
acontecia, porque estava realmente preocupada com o fato de
que quanto mais dinheiro ganhasse, mais teria que dar a ele e
não queria que ele acabasse com mais dos meus ganhos
suados de trabalhos. Mas ele ainda conseguiu muito disso. Me
sinto uma idiota.”
Sua boca se abre e seu olhar é intenso no meu. “É por
isso que você nunca disse nada?”
“Sim. Quão estúpida eu sou, Zac? Pensei em me casar
com aquele idiota. Não vi que ele era capaz de algo assim. Perdi
muito tempo e energia. E ele recebeu quase todo o meu
dinheiro. Honestamente, entre nós, isso realmente me feriu por
um tempo. Eu ainda tenho problemas de confiança. Levei
quase um ano, depois que nos separamos, para finalmente
amolecer e contratar alguém para me ajudar a filmar, porque
eu não queria deixar ninguém entrar.”
“Eu não posso acreditar que você pagou a ele.”
“A família dele tinha dinheiro, e sei que ele teria brigado
comigo para sempre. Tenho que dizer a mim mesma que não
valia a pena para mim, atrapalhar meus negócios por tanto
tempo. E pelo menos nunca mais vou ter que vê-lo ou ouvi-lo.
Foi isso que acrescentei ao nosso acordo quando o paguei. Que
é melhor ele nunca mais entrar em contato comigo. Lamento
tudo isso, mas aprendi uma lição valiosa.”
“E qual foi?” Ele pergunta em uma voz plana, com a testa
ainda enrugada.
“Nunca namore alguém que Boogie odeia.” Forço um
sorriso e tento mudar de assunto. “Enfim, estou pensando em
sair logo. Estou cansada.”
Ele está me observando com muito cuidado quando
responde: “Eu também estou me sentindo um pouco cansado,
querida. Estou pensando em pegar um carro de volta para o
hotel. Você quer voltar comigo?
Meus pés doem, e lá dentro, posso ver Connie ainda
dançando. Ela vai continuar por horas. Eu sei. “Quer saber?
Sim. Vou me certificar de que ninguém a sequestre e que eu
possa trabalhar um pouco para não me sentir culpada por tirar
o dia inteiro de folga.”
Ele sorri, mas está sempre sorrindo. “Você é tão
atenciosa.”
“Eu sei. Sorte sua, certo?”
Isso o faz sorrir ainda mais e me dá um peteleco no nariz.
De volta ao interior, dizemos adeus a todos, com Connie
gritando: “Você tem certeza que não quer ficar? A festa vai
continuar na casa de Tío Chato!” Há apenas uma resposta para
isso: claro que não. Isso me rende um beliscão na bunda que
eu sei que vai deixar um hematoma antes que Zac e eu
estejamos fora dali, saímos na hora certa que o carro que ele
pediu chega, já que viemos no SUV de Connie.
O Ford para ao longo da calçada, e Zac acena para o
motorista antes de me contornar para abrir a porta de trás,
inclinando a cabeça para o lado. Eu entro e ele me segue logo
depois. Eu digo “Oi” um segundo antes de ele falar “Boa noite.
Como vai'?”
O motorista, um homem na casa dos cinquenta, solta o
cinto de segurança e dá meia-volta em seu maldito assento. Os
dedos da mão direita vão direto para o apoio de cabeça, os
dedos agarrados ao couro. A boca dele fica boquiaberta.
Zac já está sorrindo para ele como se fosse uma segunda
natureza.
O motorista se assusta. “Não se importe com o meu
palavreado, mas porra...”
Eu bufo e puxo o cinto de segurança por cima do ombro,
prendendo-o.
Zac estende a mão e o motorista não hesita em apertá-la,
antes de gesticular para mim. “Mohamed, Bianca, minha
esposa. Bianca, Mohamed.”
Lanço um olhar para Zac e seguro a mão do homem no
segundo em que está livre, embora tenha certeza que ele só a
deixou de fora por causa do choque.
“Oi”, digo a ele, sacudindo-a rapidamente, o que ele não
se registra porque está muito ocupado olhando boquiaberto
para Zac.
Ele e Mohamed, um homem muito simpático, com três
filhos — duas filhas e um filho de 20 anos para os quais Zac
assina um autógrafo — conversam praticamente durante todo
o trajeto até o hotel.
“Podemos tirar uma foto?” Mohamed pergunta quando
para em frente ao hotel.
“Sim, claro”, Zac concorda quando o homem mais velho
tira o telefone do suporte e o transforma no modo selfie. Zac
solta o cinto de segurança e se inclina para frente. Tento me
mover para o lado para dar espaço para ele se esgueirar para
cima e para frente, mas uma mão grande e familiar se
estabelece no meio das minhas costas.
Ele sorri para mim enquanto também me guia para frente
até estarmos ao lado do encosto de cabeça de Mohamed. Ele
se certifica de que meu queixo esteja bem ali e a bochecha de
Zac também esteja bem perto da minha. As cerdas minúsculas
fazem cócegas no meu rosto, e tento muito ignorar o calor da
sua pele.
“Sorriam!” Mohamed fala antes de tirar uma, depois duas
fotos que tem o flash me cegando pra caramba.
Depois de dizer tchau, caminhamos pelo saguão, e é só
quando entro no elevador que percebo o que fiz.
“Deixei minha carteira no carro de Connie.”
Zac segura o paletó em uma mão e tem um quadril contra
a parede enquanto o elevador nos leva. Sua camisa branca está
desabotoada na garganta e úmida em alguns lugares. “Você
precisa de dinheiro?” Ele pergunta.
“Não, minha chave do quarto está lá”, digo a ele, enquanto
desbloqueio o telefone e envio uma mensagem de texto para
Connie.
“Oh. Espere no meu quarto até Connie voltar. Ou você
quer voltar e pegar a chave?”
Voltar? Já foi bastante difícil apertar meus pés de volta
nas armadilhas mortais chamadas de sapatos, para que eu
não precisasse andar descalça do lado de fora do corredor e
pelo hotel.
“Vou esperar, se você estiver bem com isso”, digo a ele.
“Acabei de enviar uma mensagem para ela. Quando estávamos
no corredor, ela disse que está indo para a casa do meu tio,
mas aposto que ela pode aparecer primeiro aqui e depois ir até
lá.”
Ele está olhando para mim. “Eu não me importo, garota.
Mas se eu cair no sono, não tire fotos assustadoras minhas.”
A porta do elevador se abre. “Sem promessas.”
Ele sorri, e eu também.
“Você se divertiu?” Pergunto enquanto caminhamos na
direção do quarto dele.
“Toque nas minhas costas.”
Puxo meu braço para o meu lado, não confiando nele ou
neste pedido. “Por quê? Porque você está suado?”
“Sim, de toda a dança. Toque na minha camisa.”
Balanço a cabeça, franzindo o nariz. “Obrigada, mas não,
obrigada. Acredito em você.” Porque acredito. Seu cabelo está
escuro e emaranhado, e seu pescoço ainda está vermelho. Sei
que estou suada pra caramba, também. Estou segurando
meus braços esticados ao meu lado para lhes dar uma brisa
para que possam secar.
“Tem certeza?”
“Positivo.”
Ele pisca para mim enquanto desliza seu cartão-chave na
fenda da porta e acende as luzes antes de me fazer sinal. Entro
no quarto que era praticamente é um espelho daquele que
compartilho com Connie e as crianças, exceto que, em vez de
duas camas de casal, há apenas uma king. Não penso duas
vezes em tirar os sapatos na porta quando Zac abre a
fechadura e a barra de segurança de metal acima dela. Sento
na beira da cama quando ele joga o blazer de lado e começa a
desabotoar a camisa.
Olho para o meu telefone então, mesmo que não tenha
tocado ou vibrado com uma resposta de Connie... ou de
alguém.
Eles me darão a chave do quarto se não tenho meu
documento de identidade? Provavelmente não. E eu
definitivamente não quero fazer Zac perguntar, caso ele possa
se safar de coisas que o resto de nós não possa.
“Eu vou tomar um banho”, meu amigo diz enquanto seus
dedos puxam o botão inferior da camisa. Ele a tira. A fina
camiseta branca que ele usa está agarrada a ele, e quero dizer
agarrada a todos os pontos em seu peito e abdômen, tornando-
a quase transparente.
Ele é construído como o sonho molhado que eu não tenho
direito. A parte superior do corpo é longa e perfeitamente
modelada. A cintura dele esbelta e os ombros largos...
E é aí que fazemos contato visual.
Sorrio para ele e ele sorri de volta para mim.
Eu apenas estou checando ele. Nada demais. Ele
provavelmente está acostumado.
“Vou garantir que ninguém entre e tente tirar fotos de
você nu.”
Ele joga sua camisa suada para mim e, quando a tiro da
frente, ele fecha a porta do banheiro atrás dele. Penduro a
camisa dele na cadeira em frente à cama para secar e pego meu
telefone novamente, indo para a mesa de cabeceira mais
afastada da porta para ligar meu telefone ao carregador de Zac.
Envio outra mensagem para Connie.
Eu: deixei minha carteira no seu porta-malas. Você
pode vir deixá-la aqui, por favorrrrr
Se ela estiver dançando... porra. Isso levará uma
eternidade. Uma olhada no relógio da mesa de cabeceira
mostrava 11:15. A festa está programada para durar até as 2
e então... então talvez ela olhe para o telefone antes de irem
para o meu tio? Eu não pensei nisso.
Envio uma mensagem para o meu sobrinho também.
Richard e Connie ainda não deram um telefone celular a Luisa.
O som da água sendo ligada no chuveiro me faz olhar
para a porta fechada.
E isso me faz suspirar.
A próxima coisa que me faço é me dar um tapa na testa.
Ele é muito divertido. Nós nos damos muito bem, e ele é
uma das minhas pessoas favoritas, mesmo depois de tanto
tempo. O episódio que gravamos para o bolo de pão de ló de
laranja com cranberry foi honestamente o mais divertido que
eu provavelmente já fiz fazendo coisas de Lazy Baker. Rimos
muito desde o momento em que ele veio pro meu lado até
terminarmos de filmar. Nós sempre estamos rindo.
E acontece que ele é fácil de olhar.
Tenho muita sorte de tê-lo por perto, ponto final.
Eu não vou estragar tudo. Não dessa vez. Não importa
que seu corpo seja abençoado por deuses gregos ou que ele
seja uma pessoa maravilhosa com um coração tremendo.
Ele é meu amigo, e é isso.
Recostando-me, pego o controle remoto da mesa de
cabeceira e ligo a televisão, esperando uma resposta de Connie
ou Guillermo. Flexiono meus dedos dos pés e pés, rolando
meus tornozelos por causa de toda a dança maldita. Tudo está
dolorido, e estou suando.
Levo meu tempo zapeando nos canais, deixando em uma
reprise de Um maluco no pedaço enquanto levanto os braços
sobre a cabeça e tento esticar a parte inferior das costas sem
contaminar o resto da cama de Zac.
“Eu preciso disso”, meu velho amigo diz em um longo
bocejo, me assustando, porque eu nem percebi que ele abriu a
porta do banheiro. “Estou me sentindo novo agora.”
Ele está parado no batente da porta com outra camisa
branca fina e... cueca boxer.
Sim, aquilo não é um short nele. Aquilo e uma cueca
boxer. Azul marinho.
Bem, se ele não vai fazer muita coisa a respeito, eu
também não.
Ele fica ali esfregando a cabeça com uma toalha, as
pernas longas e nuas. Os músculos de seus braços se
contraem quando ele seca o cabelo. Aquele sorriso habitual
dele está fixo em sua boca. Engulo.
“Aposto que sim. Eu também poderia usar uma”, digo a
ele. Para o rosto dele. Não para sua cueca boxer.
“Entre lá. Eu trouxe uma camisa extra e algumas cuecas
boxer que você pode pegar emprestado”, ele oferece, seu olhar
azul em mim enquanto tira a toalha da cabeça.
Olho para o meu telefone conectado ao seu carregador.
Talvez demore um pouco.
“Tem certeza?” Pergunto.
“Contanto que você não peide nelas.”
Eu rio. “Eu não vou marcar seu território.”
Zac ri quando entra no quarto, indo direto para sua bolsa
e tirando uma camiseta azul escura e, sim, uma cueca boxer
também. Levanto e pego as roupas dele, escovando meu dedo
ao longo do ponto doce de suas costelas que o faz se esquivar
de mim em uma risada.
Tomando banho sem pressa, aproveitando o xampu e
condicionador gratuitos que estão na parede. Felizmente, eu
me depilei antes de me vestir para o casamento e nada voltou
a crescer agressivamente em algumas horas. Meu cabelo ia
ficar desarrumado sem os produtos de cabelo habituais, mas
prefiro que esteja limpo e crespo a suado.
Além disso, Zac me conhece de antes quando eu não fazia
nada, além de colocar um monte de gel no meu cabelo e ainda
estava uma bagunça.
Olho para o tubo de creme dental e coloco um pouco no
meu dedo, espalhando-o sobre os dentes e a língua antes de
enxaguar. Eu me sinto muito melhor quando abro a porta. Zac
está deitado contra a cabeceira da cama, o telefone em uma
mão. Ele deixa de lado quase instantaneamente antes de me
olhar.
Não me deixo de sentir me constrangida em ficar ali de
cueca boxer e camiseta. Minha calcinha e sutiã também estão
úmidos pelo suor, então eu os coloquei no meu vestido e acho
que é bom o suficiente. Quero dizer, se ele olhar com bastante
atenção, pode dizer que não estou usando sutiã, mas não o
vejo fazendo isso. Entre futebol e namoro, ele provavelmente
viu mais mamilos em sua vida do que a maioria das pessoas
em várias vidas.
Sorrio para ele.
Seu olhar desliza para as minhas roupas por um
segundo, seus lábios se curvando um pouco. “Às vezes acho
que você não pode ser mais fofa, e então você vai e coloca
minha cueca.”
Pisco e me agarro à piada dele. “Estou um pouco
decepcionada por não haver um Homem-Aranha gigante nelas,
honestamente.”
“Homem Aranha gigante? Você vai me fazer corar,
garota.”
Gemo e ando ao redor da cama, esperando que meus
seios não estejam pulando por todo o lugar. Ele dá um tapinha
na cama ao lado dele com outro de seus grandes sorrisos
quando cruzo a frente dele, pegando seus pés descalços que
ele cruzou nos tornozelos. Eles são bons pés. Eles não são
brancos como eu esperava.
Sento do outro lado da cama e verifico meu telefone.
Então puxo o travesseiro de baixo do edredom e o coloco no
meu colo e na frente do meu peito — porque o quarto está
muito mais frio do que eu pensei originalmente — enquanto
pressiono minha coluna contra a cabeceira da cama, joelhos
juntos e o lado em direção a Zac.
“Bom banho?” Ele pergunta, parecendo tão fofo, sua pele
ainda macia, rosada e úmida. Por alguma razão, ele me lembra
o jovem Zac naquele momento.
“Muito”, suspiro antes de bocejar. “Con ainda não me
ligou de volta. Também tentei Yermo, mas ele também não me
mandou mensagem.” Torço os dedos dos pés quando o ar
condicionado solta mais ar frio. “Eu posso ver se eles me
deixam entrar no meu quarto para que você possa dormir.”
Sua cabeça rola para o lado. “Fique aqui até que ela traga,
Bibi. Não vou te expulsar.”
Bibi? Ele nunca me chamou assim antes, mas eu posso
acompanhar. Levanto um ombro. “Talvez você queira dormir
ou fazer outra coisa...”
Zac vira de lado para olhar para mim.
Ele realmente é muito fofo. Ele se barbeou, e isso apenas
faz seu rosto parecer ainda mais bronzeado.
“Fazer o que?” Ele pergunta suavemente, parecendo
sério. “Querida, estou dormindo às dez toda noite. E com quem
mais eu gostaria de sair?”
Eu sei disso. “Você conhece muitas pessoas aqui, e eu
não quero...”
“Juro pela minha vida, se você usar a palavra 'incomodar'
ou 'interromper' ou 'inconveniente', farei algo que não vai
gostar”, ele tenta ameaçar. “Vou colocar o Titanic.”
Levo um segundo, mas rio. “Você se lembra disso?”
Ele ri também. “Como diabos eu poderia esquecer? Você
odiava e não parava de falar sobre o quanto odiava. Você me
fez odiar.”
Eu deixo a cabeça cair novamente na cabeceira da cama.
“Eu realmente odeio ele. Eu ainda odeio. Ela poderia
totalmente ter fugido. Eu teria.”
Todas aquelas feições brilhantes e enrugadas se retorcem
ainda mais, esplêndidas e brilhantes e tudo mais. “Você teria.
Eu sei.”
Sorrio para ele com um encolher de ombros.
“E estou falando sério. Eu não prefiro estar em nenhum
outro lugar, Peewee. Só porque conheço muitas pessoas, não
significa que quero vê-las o tempo todo. Porque não quero.”
Meus dedos apertaram a barra de sua camiseta. “Você
gostava de sair e sempre estava fazendo coisas com outras
pessoas. Eu apenas assumi.”
“Ainda faço isso, mas menos do que antes, e somente
quando me apetece. O que, como digo, é muito menos agora
do que costumava ser. Mamãe diz que finalmente estou
crescendo e apreciando a qualidade em detrimento da
quantidade, e acho que ela está certa.” Suas pálpebras caem
sobre os olhos azuis por um momento. “Estive em tantos altos
e baixos que aprendi quem importa e com quem devo manter
um pé atrás, e isso é a maioria das pessoas.”
“Sim”, concordo com cuidado. “Existem pouquíssimas
pessoas que realmente importam, e você pode escolhê-las,
para que também seja exigente. Eu não era exigente o
suficiente... e veja o que aconteceu comigo. Só não quero que
você pense que estou tentando monopolizar seu tempo ou algo
assim.”
“Você não está.” Os músculos longos e fortes de suas
coxas flexionam quando ele desliza a parte de baixo de suas
solas ao longo da parte superior do colchão. “Se eu lhe contar
uma coisa, você promete não dizer nada a ninguém?”
“Juro de mindinho”, digo a ele instantaneamente.
Seu rosto está uniforme e sério quando ele diz: “Meu
contrato com os White Oaks acabou de chegar. É oficial.”
O contrato dele? “Não diga.”
Zac assente, sério, unindo os dedos e colocando-os no
colo, sua expressão indo direto para a TV. Seus ombros se
erguem, e eu o vejo revirá-los com um suspiro profundo. “Sim.
Meu empresário me mandou uma mensagem enquanto ainda
estávamos na festa que o contrato está chegando. Eu o abri
agora mesmo enquanto você estava tomando banho. Um ano.
Parte de mim não esperava que isso realmente acontecesse.
Não posso mais me segurar.”
“Não, você não pode”, concordo antes de pegar seu braço,
puxando sua mão em direção ao meu rosto e pressionando a
parte de trás contra minha bochecha. “Estou tão feliz por
você!” Aplaudo, aconchegando sua mão desde que um abraço
está fora de questão por causa dos meus seios.
E se ele se pergunta por que eu não apenas o abraço em
vez de apertar a mão no meu rosto e depois dar um selinho,
ele não diz uma palavra. Seu olhar desliza para o meu, porém,
um pouco apreensivo — eu conheço seus traços muito bem
para não reconhecer o que diabos estou vendo — mas tenho
certeza que há mais emoção lá do que não. “Sim, estou
empolgado, mas... vamos ver o que acontece. Não vou começar
jogando, mas vou aceitar.”
Veremos o que acontece? “É muita pressão para se
colocar, mas se alguém puder fazer isso, você pode”, digo a ele,
ainda segurando sua mão com a minha. “Estou tão feliz por
você. Não direi nada a ninguém. Mas estou tão, tão, tão feliz.
Você vai ser incrível. Espero que o outro cara jogue como uma
merda e você comece, mas mesmo se ele não jogar, você ainda
estará lá, esperando, e isso é tudo o que importa. Sabe quantos
caras matariam para ter essa oportunidade?”
Um canto de sua boca sobe, e é doce e relutante. “Vou
esperar para contar à mamãe e à paw-paw amanhã. Eles vão
anunciar na segunda-feira.” Ele faz uma pausa. “Odeio
guardar segredos.”
“Guardar segredos é péssimo, mas tudo bem. Acho que
todo mundo vai entender. Eu sei o que eu entendo.” E não
posso acreditar que ele realmente me contou.
Posso?
Seus olhos azuis se movem em minha direção. “Que tipo
de segredos você tem, garota?”
Engulo em seco e abaixo a mão dele do meu rosto.
“Alguns deles.”
Sua palma gira e seus longos dedos envolvem os meus
suavemente, dando-lhes um aperto leve. “Como o quê?”
“Bem, não é um segredo se eu te contar, é?” Bufo e puxo
minha mão de volta para coçar minha bochecha, mesmo que
não precise.
Ele sorri. “Mas você só vai dizer a mim.”
“Então não é um segredo se eu te contar?”
“Você conta segredos a Connie, não é?”
Eu assinto. “Eu conto quase tudo a ela.”
“Diga-me uma coisa então.”
“Você me diz uma coisa primeiro.”
Sua boca fica plana, mas ele tem uma expressão
contemplativa e pensativa no rosto. “Eu quase fui para a
universidade de Oklahoma, em vez de Austin. Eu nunca disse
isso a ninguém.”
“Não”, eu ofego.
Ele assente e levanta o polegar e o indicador cerca de um
centímetro. “Cheguei tão perto. Não me lembro mais por que
quase fui para lá, mas quase aconteceu.”
“Quem é você?” Sussurro, imaginando a devastação que
Paw-Paw poderia ter sentido se ele tivesse feito isso. Ele
poderia ter chorado.
Mas Zac ri profundamente. “Ok, sua vez.”
Eu coço o nariz. “Um segredo meu?”
Ele abaixa o queixo.
Tenho que pensar sobre isso. “Eu realmente não tenho
segredos meus. Mais, eu sei coisas sobre outras pessoas.” Isso
é parcialmente uma mentira, mas também um tipo de verdade.
“Não, eu quero um seu.”
“Meu deus, você é um filho da puta intrometido.”
Isso me rende outra risada profunda e gutural que me faz
sorrir. “Pense em algo. Um bom.”
O que…?
Tenho que pensar sobre isso.
“Não é realmente um segredo, mas... eu acho que você
tem uma bunda bonita?” Ofereço. “É como uma bundinha
perfeita de pêssego. Foi a melhor da revista.”
Seu sorriso é brincalhão e presunçoso. “Isso não é
segredo, mas obrigado. É por isso que eles colocaram na capa.”
Sorrio. “Muito convencido?”
Zac sorri. “Só um pouco. Conte-me um verdadeiro
segredo, porque não vou esquecer.”
Um real? Isso é dificil. Há um que consigo pensar que
definitivamente não quero compartilhar, mas o que mais há?
Eu sei qual.
Antes que meu cérebro possa alcançar minha boca
grande, digo a ele a única coisa que penso que pode fazê-lo
ofegar de surpresa. Porque, e eu direi isso a mim mesma mais
tarde, para não ficar envergonhada, não é grande coisa. É um
lembrete de uma vida de muito tempo atrás, quando eu era
criança. “Eu tinha uma grande paixão por você quando era
adolescente.”
Bem, eu fiz isso. Não há como voltar agora.
E tenho o tipo de reação que eu estava esperando. Um
pouco.
Ele faz uma cara confusa. “Você tinha?”
Balanço a cabeça, certificando-me de olhá-lo nos olhos
para que não seja algo realmente tão ruim. Nada pode ser tão
ruim se você não tiver que se esconder disso. “Sim. Imensa. Só
por um ano...” Hesito. “Ou dois, mas sim. Eu pensava que você
era praticamente perfeito. Estou feliz que você não sabia. Você
teria sido muito gentil e compreensivo sobre isso, e isso teria
sido pior.” Está na hora de mudar de assunto. “Que outros
segredos você tem?”
Ele ignora minha pergunta. “Quando?”
Droga. “Eu gostava de você? Quando era adolescente, eu
te disse. Agora, que outros segredos você tem?”
Ele continua a me ignorar. “Mas quando? Eu nunca
notei.”
“Oh, não tão no passado assim. Tenha calma. Quando eu
tinha dezesseis anos.” Olho seu rosto sério e sorrio. “Dezessete
e dezoito também, talvez?” Dou de ombros. “Você me deu um
grande abraço e um beijo, e tudo foi daí pra pior por um tempo
depois disso. Era um segredo bem guardado, acho.”
Bem, até eu perceber que sonhar com alguém como Zac
nunca significaria nada, porque eu era eu e ele era ele, e eu
não estava nem perto de ser o tipo dele. Eu posso ter desejado
uma estrela e cada vela de aniversário que eu tive nesses dois
anos, esperando, desejando e sonhando com a possibilidade
de que um dia ele me olhasse e me visse. Visse que eu o amava
e que não ligava para ele ser um jogador de futebol. Que eu
gostava dele. Seu humor, sua bondade, seu amor.
Obviamente, isso nunca aconteceu e, finalmente, depois
de anos suspirando à distância, eu tinha chegado a um acordo.
Eu viveria o resto da minha vida amando alguém que também
me amava, mas como uma irmãzinha.
Pelo menos ele me amava, disse a mim mesma um dia
depois de o ver com uma garota que ele está saindo. Ele não
as amava, mas me amava. Isso me fez especial.
Ao longo dos anos, ficou mais fácil, principalmente depois
que perdemos o contato.
E aqui estamos nós.
Em sua cama de hotel, ambos de pijama que são
realmente roupas íntimas, com ele sendo mais um melhor
amigo para mim do que nunca.
E aquele amigo, meu amigo, para quem acabei de dizer
que tive sentimentos, vira seu corpo para olhar para mim com
uma expressão que não é exatamente enojada, mas
completamente surpresa. “Eu dei?”
Isso é o pouco que isso significou para ele — um beijinho
na bochecha — mas eu me forço a empurrá-lo para trás, para
não levá-lo dessa maneira. E levanto um ombro e mantenho o
sorriso no meu rosto. “Sim. Bem aqui.” Aponto para o lado da
minha boca onde está minha pinta, propositalmente sem
pensar em como eu pensei em como seus lábios apenas
tocaram o canto dos meus. “Pensei nisso como o meu primeiro
beijo por um tempo.” Eu mostro os dentes para ele, tentando
dizer que sei que é bobo, mas não estou realmente
arrependida.
Aqueles grandes olhos azuis piscam para mim um pouco
mais, e vejo seus olhos passarem por onde eu aponto, seu rosto
ainda confuso.
Estendo a mão e dou um tapinha em seu joelho nu. “Mas
isso foi há muito tempo atrás. Prometo que não penso em você
assim há muitos anos.”
Ele apenas continua olhando para mim, não se
afastando, apenas... ali. Em cima da cama. Me assistindo.
Merda. “O que?” De repente e instantaneamente me
arrependo de abrir minha boca grande. Eu deveria ter ficado
quieta e deixado isso ir para o túmulo comigo. “Sinto muito por
dizer algo. Não achei que você se importaria. Eu pensei que
você iria rir.”
Demora um segundo, mas no seguinte, eu percebo, ele
percebe e força um sorriso tenso em seu rosto.
E meu estômago afunda até os dedos dos pés.
Passa dos dedos dos pés. Diretamente através da crosta
terrestre.
“Zac...”, começo a dizer. Deus, por que diabos eu abri
minha boca? Que burra, Bianca. Instantaneamente olho para
frente e imagino que eu posso tentar descer e pegar uma chave.
A mão de Zac vai para minha perna, aqueles dedos
compridos envolvendo a rótula, engolindo-a inteira. “Ei.” Seus
olhos encontram os meus, e não há um toque de pânico ou
repulsa em seu rosto. Mas não há alegria ou aquela expressão
descontraída que lhe vem tão naturalmente. Sua testa está
franzida e seus lábios parecem um pouco tensos, mas eu não
sei o que fazer. “Por que você está ficando tensa?”
Eu estou tensa. Expirando, tento afastar isso.
Enquanto faço, sei que não estou imaginando ele se
aproximando. Sua coxa quase nua está alinhada à minha, sua
mão ainda está no meu joelho, as pontas dos seus dedos
ancoradas ao redor do osso.
Demora um segundo, mas finalmente olho para ele,
sentindo meus lábios pressionados. “Sinto muito, Zac. Não
achei que você se importaria.”
“Ei.” O que tem que ser a ponta de seu dedo cutuca meu
queixo, inclinando meu rosto mais para o alto. Ele não está
carrancudo, mas também não está sorrindo.
Olho em seus olhos, percebendo o quão longo e bonito
são seus cílios quase dourados, como a área ao redor da pupila
é um tom de azul brilhante que sangra quanto mais longe ele
fica. E quando a ponta de seu dedo desliza ao longo da minha
mandíbula e bate suavemente em um ponto a meio caminho
da minha orelha, prendo a respiração. O que ele vai fazer?
Dizer que ele não quer mais ser meu amigo? Esse não é Zac.
Esse nunca será ele.
Não é como se eu o culpasse por não me amar de volta ou
até gostar de mim de volta. Eu nunca mantive e nunca
segurarei isso contra ele.
Ele ainda não está sorrindo. Ele apenas... olha.
Ele olha e olha e olha.
Bem nos meus olhos enlouquecidos. Um pouco acima do
meu rosto. Permanecendo no canto da minha boca onde eu
apontei.
E ele não diz nada.
Um minuto se passa, talvez dois, mas parece meia hora.
Isso depende de mim. Este é apenas Zac. Não há nada
para se assustar. Essa pessoa é meu amigo.
Esgueiro minha mão e estou prestes a colocá-la em sua
coxa, mas a desvio para pousar em seu antebraço, e ignoro o
quão musculoso e firme é. “Ei, me desculpe. Prometo que foi
há muito tempo. Você é um dos meus melhores amigos e
nunca iria querer estragar isso entre nós. Sinceramente,
pensei que você riria. Sinto muito por te deixar desconfortável.”
“Você não me deixou desconfortável”, ele responde
instantaneamente, olhando sem vacilar. “Não há nada para se
desculpar.”
“Mas existe. Eu não quis fazer você se sentir estranho.”
A ponta de seu dedo volta ao meu queixo, e tenho certeza
de que outro dedo pousa ao lado dele. As linhas em sua testa
ficam mais profundas. “Bianca, acho que não há algo que você
possa fazer para me fazer sentir estranho.”
Eu não tenho tanta certeza disso.
A mão no meu joelho aperta. “Você me pegou
desprevenido, é tudo. Eu não sabia. Não fazia ideia. Boog
nunca disse nada. Ninguém fez.”
“Porque não teria mudado nada. Connie sabia. Boogie
montou tudo sozinho, mas você sabe que ele não teria me
provocado por isso. Ele é legal demais com esse tipo de coisa.”
Solto seu antebraço e coloco minha mão em cima da que ele
tem na minha perna. “Eu era uma criança. Não significou
nada.”
Sua mandíbula faz essa coisa estranha, e posso ver suas
narinas se dilatando por um segundo antes de ele abaixar o
queixo. “Você era uma criança.”
Uma garota que se agarrara a ele como um macaco-
aranha. Um tipo de irmãzinha. Ele foi muito gentil em dizer
isso para mim, mas era a verdade, e nós dois sabíamos disso.
“Estamos bem? Você me perdoa?”
“Não há nada a perdoar”, ele diz depois de um segundo,
suas palavras lentas.
Olho para ele pelo que parece um longo tempo. Essas
feições não foram exatamente atormentadas. Elas não estão
nem perto de ficarem angustiadas também. Elas estão
apenas... pensativas.
Muito pensativa.
Qualquer tipo de consideração é muito atenciosa.
Tudo o que eu queria e esperava era uma risada, e agora
estamos aqui.
Quando ele ainda não diz nada depois do que parece meia
hora, mas provavelmente leva apenas um minuto sólido, mudo
de uma bochecha para outra, ignorando a mão que ainda está
no meu joelho e digo: “Você não vai ser todo estranho agora,
vai?
Isso é o que acontece.
Aqueles olhos azuis claros que são uma mistura perfeita
de azul bebê brilhante e leitosos, piscam, e em questão de dois
segundos, seus lábios lentamente se abrem em um sorriso
suave e familiar. “Eu, estranho?”
Viro minha cabeça para o lado e não posso deixar de
sorrir para ele.
Seus lábios ficam torcidos. “Quem você está chamando
de estranho?”
“Você é o único que está sentado quieto e estranho, Snack
Pack.” Aí, isso nos leva de volta à nossa amizade — pelo menos
é o que espero. “Eu só quero ter certeza de que não preciso
fazer com que você volte ao normal.”
Ele ri. “Você acha que vai me entediar?”
Boa. Essa é boa. “Se for preciso, Sr. White Oak.”
Uma sobrancelha quase loira sobe, e eu o sinto mexer sua
bochecha para me encarar um pouco melhor.
Eu levanto as duas sobrancelhas de volta para ele,
agarrando-me a isso, querendo essa familiaridade. “Vamos
fingir que isso não aconteceu ou...?”
“Oh, eu não vou fingir merda nenhuma, querida.”
É a minha vez de piscar.
E esse idiota sorri ainda mais. “O que? Eu não vou. Quer
que eu minta para você?”
Eu assinto.
Ele ri. “Eu nunca esqueço, então...”
“Então o que você está dizendo é que vamos fazer isso?”
“Sim, porque eu não vou esquecer que você gostava de
mim-”
“Oh infernos, não.” Eu rolo no meu quadril e vou
enlouquecida para ele.
Não para a cabeça, mas para as costelas. O ponto fraco
dele.
“Que porra é essa, Bianca!” Zac literalmente grita, quando
joga seu corpo e a cabeça contra a cabeceira da cama, seus
braços batendo no lugar contra suas costelas... e meus dedos.
Eu gargalho, cavando meus dedos ainda mais
profundamente em seus lados. “Você se lembra agora? Quem
é seu pai, hein?
Aqueles braços grandes e fortes vão para cima e para
baixo ao longo de seus lados, tentando me afastar enquanto
ele tenta deslizar na cabeceira da cama para se afastar de mim.
“Você disse que ia me dar um cascudo! Que diabos está
fazendo? Pare com isso!”
“Duh. Ai!”
Ele imediatamente para de se mover, e eu também,
surpresa, que ele realmente parou depois que seu cotovelo
cortou um dos ossos do meu pulso.
O rosto de Zac está vermelho, os olhos brilhantes, e eu
decido ter pena dele. Então sorrio, mantendo meus dedos onde
eles estão, mas não cavando mais. “Você pensou que eu não
lembrava?” Pergunto a ele antes de mergulhar meu rosto ainda
mais perto. Então sussurro, como uma psicopata: “Eu lembro
de tudo.” Bato os dedos levemente ao longo de seus lados,
sentindo-o recuar. “Especialmente você sendo coceguento.”
Aqueles olhos azuis penetram nos meus, e sua boca fica
quase plana. A voz de Zac também é quase um sussurro
quando ele diz: “Você me perguntou quem é meu pai?”
Eu assinto gravemente.
Sua voz ainda é um sussurro quando ele continua: “Você
é meu pai agora, eu acho.”
Afastando meus dedos, sento sobre meus calcanhares e
rio. “Combinado. Prometo não usar isso contra você, a menos
que precise.”
Suas narinas queimam, e ele me olha bem nos olhos
enquanto diz, ainda em voz baixa: “Bianca.”
“Sim?”
“Eu também me lembro das coisas.”
O que?
Antes que eu possa processar quem é esse homem, o que
ele faz da vida e quais talentos ele aperfeiçoou ao longo dos
anos, ele me procura com uma daquelas mãos que são
extremamente rápidas e precisas. Zac lambe a ponta do dedo
indicador e enfiou aquela porcaria no meu ouvido quando
começo a gritar: “Não se atreva!”
Ele se atreve.
No momento em que o empurro, estamos respirando com
dificuldade e rindo, e tenho que me convencer a olhar para o
meu telefone para ver se tenho uma resposta em vez de esperar
por ela vagarosamente.
Ele está me olhando com cuidado, provavelmente se
certificando de que não vou atacar novamente, quando pego
meu celular e olho para ele. Não há uma única resposta dela
ou de Guillermo. E digo isso a ele.
“Fique aqui até Connie voltar. Sim?”
“Se você não se importa.”
Ele pega o controle remoto, me olhando bem no olho.
“Estou brincando! Sim. Ok. Sim.”
Os cantos da boca dele se curvaram ainda mais. Então
não estou totalmente esperando quando ele puxa o edredom e
os lençóis da cama e desliza debaixo deles. E não espero que
ele se incline para frente, de modo que suas costas estejam
curvas e sacudam nos ombros. “Você pode me pagar coçando
minhas costas como a mamãe Lupe costumava.”
Ele quer que eu...?
É uma ideia idiota?
Nah.
Nós somos adultos, e ele está me pedindo porque somos
amigos, e eu apenas vou tocar suas costas. Quero dizer, ele
tem massagistas e treinadores que estão sempre o estão
esfregando inteiro. Com seus companheiros de equipe, ele está
acostumado a ser muito tátil. Isso não significa nada para ele.
Tudo bem para mim.
“Eu farei isso por você, se fizer por mim”, tento
barganhar.
Um olho azul aponta para mim. “Combinado.”
Antes que eu me mexa, ele puxa a camisa para cima das
omoplatas e volta a se sacudir. Sorrio para mim mesma antes
de me ajoelhar, bem no quadril dele, e coçar suas costas,
começando pelos músculos do trapézio e descendo de um lado,
tentando ignorar as sardas nas costas... e como são suaves e
macias... imaculada sua pele é.
O que não posso ignorar são seus malditos gemidos.
E o seu “Por favor, bem aí. Aí.” Então o seu “Isso é
incrível.” E um casal “Eu pagaria que fizesse isso todos os
dias.”
Balanço a cabeça enquanto faço mais uma passagem na
parte superior das costas até o fundo, exatamente onde o
elástico de sua cueca boxer começa. E antes que eu possa me
convencer disso, me debruço, e fico tão perto dele que minha
coxa está pressionada contra a dele através do edredom e puxo
o travesseiro de volta na minha frente antes de balançar meus
próprios ombros. “Minha vez. Estou pronta, velho.”
Ele faz uma pausa enquanto se senta. Prendo a
respiração por um segundo, esperando que ele levante minha
camisa. Mas não é o que acontece. Em vez disso, ele a puxa,
demorando-se em afastar sobre meus ombros e, na respiração
seguinte, suas unhas estão lá, leves e surpreendentes na
minha pele. Movendo-me das omoplatas para baixo. Sem
pressa.
Aperto meus braços nos meus lados para segurar meus
seios. É muito bom. Muito bom.
Eu só o deixo fazer uma passagem antes de me sentar,
ainda ao lado dele. “Perfeito, obrigada.”
Olho para ele por cima do ombro. Ele já está com as mãos
no colo, aqueles olhos azuis claros no meu rosto. Eu me afasto
um pouco até que não estamos nos tocando.
Tudo bem então.
Ele boceja, e eu também.
“Vou manter meu telefone aqui, apenas para o caso de
cair no sono e Com ligar, ok?” Pergunto, dando um tapinha no
telefone que coloco no meu peito enquanto me recosto na
cabeceira da cama.
E talvez apenas um segundo depois, ele pergunta:
“Bianca?”
“Hã?”
“Você realmente achava que eu era perfeito?”
Faço uma careta para mim mesma. “Eu disse
praticamente perfeito. E isso foi há muito tempo, quando eu
era jovem e inocente.”
“O que havia de errado comigo naquela época?”
Eu bufo e olho para ele. Ele está sorrindo. “Você
realmente quer fazer isso? Sim? Em primeiro lugar...”
Ele já está tentando não rir.
“Havia as meninas. Você namorou quase todas elas e
partiu o coração delas pelo que me lembro de você e Boogie
conversando.”
Ele geme. “Deixa pra lá. Estou satisfeito. Esqueça que eu
perguntei.”
É a minha vez de rir. “Você tem certeza?”
“Positivo.”
Eu bufo.
Depois de um momento, ele diz novamente: “Bianca?”
“Sim?”
“Você quase se casou com aquele idiota?”
O meu ex. “Sim.”
“Por quê?”
Faço uma careta, mas não olho para ele. “Eu não sei.
Porque eu gostava dele. Ele prestou muita atenção em mim por
um tempo, pelo menos até o fim, quando perdeu o interesse, e
acho que eu estava sozinha. Ele era fofo. Eu não sei, Snack
Pack. Não me importo de ficar sozinha, mas odeio estar
sozinha. Você sabe o que quero dizer? Acho que só queria
alguém por perto. Ou pelo menos, alguém que voltaria. Parece
realmente ingrato agora que ouço em voz alta, porque sei
quantas pessoas me amam, mas têm suas próprias vidas, e
não posso esperar que elas me façam o centro do mundo.
Espero que você entenda o que quero dizer.”
Se ele olha para mim, não fazia ideia, porque ele fica
quieto por um momento antes de dizer: “Entendi o que você
quer dizer. Eu odiava o quanto seus pais viajavam. Ainda não
entendo como eles podem ficar tanto longe. E lembro como
você ficou triste quando Connie se mudou para ir à
universidade depois da faculdade comunitária.”
“Também não entendo como eles podiam nos deixar
tanto, não por muito tempo. Eu tentei conversar com eles sobre
isso, mas tudo o que eles disseram foi que eles achavam que
eu seria melhor instalada em algum lugar. Que eu estaria
segura e em boas mãos. Que eu poderia perguntar a Connie o
quanto era péssimo mudar a cada ano. Honestamente, mesmo
estando perfeitamente bem sem eles, ainda me ressinto um
pouco por nos deixar com Mamá Lupe, mesmo sabendo o
quanto eles ajudam outras pessoas em seu trabalho. Isso me
faz sentir culpada. Egoísta. Mas você sabe, todo mundo tem
que viver suas vidas e cumprir seus destinos, então... eu tento
me concentrar também. E agora sei que não devo esperar
demais de alguém.”
Olho para ele, e ele já está olhando para mim.
“E você? Você nunca conheceu alguém de quem gostou o
suficiente para pensar em se estabelecer?” Pergunto.
Suas narinas se alargam um pouco, mas ele balança a
cabeça. “Não. Há muitas mulheres adoráveis por aí, mas nas
palavras de Paw-Paw, nenhuma delas jamais me fez sentir
mais do que gostar delas. E sabe, pela maneira como meu pai
tratou mamãe — desaparecendo assim que ele descobriu que
ela estava grávida — eu não quero que ninguém esteja
gastando muito tempo comigo se eu não estiver planejando
gastar muito, muito tempo com elas.” Ele encolheu os ombros.
“E, Peewee, eu não sei se eu poderia confiar em alguém o
suficiente para sentir isso por ela.”
Eu rio, mas entendo o que ele quer dizer. “Bem, talvez um
dia você encontre alguém que queira perder todo o tempo com
você. Talvez seja como times de futebol; você só precisa
encontrar as pessoas certas, a pessoa certa. Alguém merece
sua confiança. Mas se não, talvez um dia possamos ser
vizinhos em um lar de idosos. Podemos ter o futuro Baby
Boogie nos visitando.”
Ele ri. “Eu já posso imaginar você assediando os
funcionários do sexo masculino na casa de convivência,
perguntando a eles sobre suas nozes.”
Caio na gargalhada. “Só faço perguntas como essa às
pessoas em quem confio.”
“Uh-huh.”
“Mas de verdade... pelo menos me diga, eles colocaram
maquiagem em suas nádegas porque elas...”
Todo o seu corpo está chacoalhando. “Você precisa ir
dormir.”
A última coisa que lembro antes de cochilar é nós dois
rindo por sua bunda e por que ele não me dá uma resposta.
Minhas bochechas começam a doer, eu sei disso.
O que eu também sei é que, algum tempo depois, ouço
Zac sussurrando: “Aqui comigo. Deixe-a dormir... Sim, ela está
bem.”
Tenho quase certeza de que algo escova minha cabeça,
minha orelha e toca minha bochecha.
Eu devo ter adormecido, porque a próxima coisa que sei
é que acordo em um quarto escuro... com o rosto em uma axila
com cheiro limpo.
Meu braço está jogado sobre algo duro e macio ao mesmo
tempo. Meus pés estão pendurados na beira da cama. E tenho
certeza de que babei por todo o meu rosto.
Zac está de costas, com um braço jogado sobre os olhos.
Sua cabeça está para o lado e dobrada, respirando firmemente
no meu cabelo. Calmo e maravilhoso.
Ele está sorrindo mesmo dormindo.
É quando percebo onde está o outro braço dele. Enfiado
entre nós. Ele está segurando minha mão.
É quando eu sei que estou com problemas.
“Ele está de mau humor hoje”, Deepa sussurra para mim
duas semanas depois, depois quando eu volto do almoço.
Os músculos ao longo dos meus ombros ficam tensos. Eu
não preciso perguntar sobre quem ela está falando. Eu sei.
Assim como sei que ele vai aparecer por volta do meio dia e que
eu terei a manhã sem a presença dominadora de Gunner.
Porque verifico a programação todos os dias.
“Por quê?” Sussurro de volta, colocando minha bolsa
debaixo do teclado.
“Richie” — ele é um dos personal trainers da academia —
“disse que o ouviu ao telefone. Ele acha que estava discutindo
com um dos outros proprietários.”
“Sobre o que?” Sussurro, levantando-me.
Eu não preciso olhar diretamente para o rosto dela para
adivinhar que está olhando ao redor para garantir que ele não
tenha aparecido magicamente do nada. “Algo sobre
conservação de funcionários.”
Eu rio e ouço Deepa rindo de volta. “Grande surpresa.”
“Certo?”
A porta lateral se abre e nós duas começamos a tentar
parecer ocupadas. Mas não é Gunner. É um dos caras do MMA
entrando.
Eu quase caio de alívio e cumprimento o cara enquanto
ele exibe sua carteirinha e segue em frente com um “Oi”.
No segundo em que ele parte, voltamos uma para a outra
discretamente, prontas para nos mover e mudar de posição, se
for necessário. “O lar de idosos ligou de volta?”
“Não, ainda não. Vou ligar amanhã de manhã. Eles
pareceram realmente interessados durante a minha entrevista,
mas ainda não ligaram.” Ela pega uma garrafa embaixo do
balcão e pulveriza a superfície. “Minha mãe ligou ontem e disse
que não está se sentindo bem. Estou preocupada com ela. Ela
vai ao médico amanhã.”
“Sinto muito, Dee. Me fale o que o médico disser”, digo a
ela.
Ela assente enquanto limpa o balcão. “Ainda está tudo
certo pro domingo?”
Olho para ela. Ela está falando sobre filmar. “Sim.”
“Algum de seus amigos vem?” Ela sussurra.
“Não, eles estão ocupados.” Eles estão.
“Por que não...” ela começa a perguntar, e é um milagre
que eu esteja olhando para frente novamente quando a porta
lateral se abre e o Idiota entra.
Pego o telefone o mais rápido que posso e finjo estar em
uma ligação. Bem na hora.
Posso ver pela maneira como ele está andando que está
de mau humor. Eu posso ler os sinais dele, o quão ruim está a
situação.
Infelizmente, ele vem direto para mim. Foda-se a minha
vida.
Segurando o telefone no ouvido, acho que posso acabar
logo com isso e digo — para ninguém, literalmente ninguém,
porque é apenas o tom de discagem que pode me ouvir — “Não
há problema algum. Tenha um bom dia.”
Gunner começou a me observar desde o segundo em que
entrou, e tenho certeza que ele pensa que estou mentindo e
fingindo estar no telefone, mas ele nunca tem certeza. Otário.
“Oi, Gunner.”
Sim, ele não dá a mínima. Apenas olha para mim com sua
expressão irritada. “Tem um segundo?”
Não. “Claro”, digo, como se ele não soubesse que eu tenho
um segundo. Obviamente, ele pode ver que não há uma fila de
pessoas tentando entrar.
Ele faz essa coisa estranha na boca enquanto olha para
mim. Eu o observo respirar pelo nariz antes de dizer: “Ouvi um
boato.”
Merda.
“É verdade que você é amiga de Zac Travis?”
Pelo canto do olho, vejo Deepa virando na direção oposta.
Não por culpa, eu sei, mas mais para fugir, para que ela não
seja arrastada para a conversa.
Agora eu posso lidar com isso de algumas maneiras
diferentes. Na verdade, há apenas duas maneiras. Posso dizer
que sim, ou posso dizer não.
Sim. Somos amigos.
Não. Nós não somos amigos.
Cuide de sua vida não é exatamente o ângulo que quero
assumir. É rude, e eu não serei completamente rude. Isso não
muda o fato de que não é da conta dele.
Olho bem naqueles olhos imbecis e digo: “Sim.”
Eu não vou perguntar por quê. Eu não vou apresentar ou
dar uma dica para prolongar essa conversa. Se há algo que ele
quer perguntar, pode perguntar.
Ele não fica surpreso com a minha resposta. “Bons
amigos?” Ele tem a coragem de perguntar.
Tudo bem, neste caso, há três maneiras diferentes de
lidar com isso.
Uma pessoa inteligente diria, “Sim, senhor”. Então, se
perguntar como pode usá-lo a seu favor.
Uma pessoa decente responderia “Sim” e deixaria assim.
Uma pessoa que quer dar apenas uma resposta suficiente
para não ter problemas responderia com “Não”.
Um idiota diria... bem, eles responderiam da maneira que
respondo. “Não tenho certeza de como minha resposta tem
alguma coisa a ver com o meu trabalho.”
Porque não é da conta dele. Eu sei. Ele sabe muito bem
disso também.
Eu tenho bastante certeza de que legalmente ele não pode
me perguntar isso. Assim como ele não pode questionar se
estou grávida ou se tenho filhos ou estou planejando ter algum.
Mas no final do dia, o que ele vai fazer? Me demitir por
não dizer nada a ele? Não é como se ele pudesse me pegar por
qualquer outra coisa. Nunca me atrasei, nunca liguei dando
desculpas, nunca saí cedo. Quando o novo gerente assistente
me pergunta se eu posso ficar, eu geralmente o faço. A única
vez que disse não foi quando ele fez o pedido. Há provas de
tudo isso.
E eu não usarei Zac, não por nada, mas principalmente
por essa pessoa.
Não quando ele está tão ocupado com sua nova
oportunidade. A nova chance dele. O futuro dele.
Desde o fim de semana do aniversário de Lola, eu só o vi
duas vezes. Ele veio ao meu apartamento no dia seguinte ao
primeiro treino com os White Oaks e comeu sobras no sofá ao
meu lado, me dizendo tudo sobre o que a equipe fazia de
maneira diferente do que ele havia feito em Oklahoma. Ele
estava calmo, centrado e bonito. E me beijou na cabeça quando
saiu naquela noite e me ligou logo depois que eu fechei a porta
para perguntar: “Você trancou a porta?” E eu ri e disse a ele:
“Sim.”
Então eu o vi novamente no dia seguinte ao seu primeiro
jogo com o time — ele não havia jogado — e ele me convidou.
Trevor estava lá, assim como CJ, e nós no divertimos. Zac fez
seu espaguete “mundialmente famoso” e me fez passar para
eles as duas versões dos vídeos que fizemos juntos para o meu
canal Lazy Baker.
Bem, ele e CJ me fizeram repetir seus vídeos três vezes
cada para aumentar as visualizações. Foi muito fofo o quão
empolgados eles ficaram com a forma como se saíram. As
visualizações foram incríveis, como eu sabia que seriam. As
pessoas comiam com esses caras grandes em pé na minha
cozinha com aventais brilhantes que mal cabiam.
Desde então, Zac me mandou uma mensagem quase
todos os dias, geralmente à noite, para fazer o check-in ou me
dizer que havia assistido a um dos meus vídeos. Às vezes eu
enviava uma mensagem para ele durante o dia, mas não tão
frequentemente desde que sabia o quanto ele estava ocupado.
Ele está ocupado praticando ou recebendo massagem ou vendo
filmagens, cochilando ou na fisioterapia ou fazendo uma das
outras milhões de coisas que precisa. Eu entendo e fico muito
feliz por ele. Quero que ele arrase na oportunidade que lhe foi
dada.
Então eu posso manter a cabeça erguida por isso, por ele
e por sua vida e privacidade. Eu gostaria. Não importa o que.
Então não desvio o olhar quando o de Gunner se estreita,
e juro que até seus ouvidos se mexam um pouco. Sim, ele está
chateado. Isso é óbvio como o inferno.
Seu rostinho carnudo também não me influencia.
Havia muitas pessoas que eu jogaria aos lobos, mas Zac
não é e nunca será um deles.
E eu espero que meu rosto diga isso.
Gunner parece pensar em algo, e eu o vejo torcer o nariz.
Continuamos olhando um para o outro por mais um momento
ou dois antes que ele diga: “Isso não tem nada a ver com o seu
trabalho.”
Olho para ele.
Ele olha para mim.
E se ele pensou que ia ganhar esse impasse olhando para
mim, bem, ele tem outra coisa por vir.
Seus lábios se contorcem, e eu claro como o dia o ouço,
até Deepa tem que ouvi-lo dizer: “Vou postar a programação de
outubro em breve. Não tenho mais certeza se vou conseguiu
atender ao seu pedido, a propósito. Considerando que temos
poucos funcionários.”
Eu nunca, nunca quis machucar alguém mais do que
tenho naquele momento.
Nem o meu ex traidor.
Nem a antiga namorada de Zac.
Ninguém.
Ele está ameaçando minhas férias. Por quê? Porque eu
não o deixarei usar minha amizade?
Não é nada menos que um milagre que seu celular
comece a tocar no seu bolso ou onde quer que ele o guarde.
Entre as nádegas, enfiadas embaixo das bolas, em qualquer
lugar. Mas ele ainda se concentra em mim com aqueles olhos
odiosos, enquanto coloca o celular no rosto e atende com um
“Gunner falando”.
Minha segunda coisa a agradecer é que ele é um idiota
paranóico porque também se afasta, voltando para a porta
lateral para que não possamos ouvi-lo.
No momento em que a porta se fecha, eu cerro minhas
malditas mãos no mesmo momento em que Deepa diz: “Oh,
diabos, Bianca.”
Porque ela sabe exatamente do que ele me ameaçou, o
que ele tirando. Minhas malditas férias na Disney World pela
qual eu espero.
Esse babaca fodido.

***

Continuo pensando o resto do meu turno e no caminho


todo para casa.
Não me arrependo do que fiz, mas não posso deixar de
ficar muito chateada com Gunner por ser tão idiota. Ele não
pode me demitir por causa disso. Tenho certeza. Ele só faz o
que pode para me irritar. Talvez ele realmente não ache que
seja capaz de me afastar — que eu estaria tão desesperada que
comeria toda a porcaria com que ele tenta me alimentar — ou
talvez seja exatamente isso que ele quer. Que eu me demita.
Mas ele não me conhece. Eu não farei nada a menos que
seja nos meus termos, especialmente quando está relacionado
com ele. Ele não vai me intimidar.
Agora vou ficar por princípio, ou pelo menos até Deepa
sair de lá, como meu plano original.
Mas o que sua pequena ameaça me faz é pensar no que
está por vir. Meu contrato de aluguel está prestes a terminar e
ainda não o renovei. Eu não tenho certeza do que quero fazer
ou para onde quero ir. Quanto mais penso sobre isso, mais
incerta fico.
Naquela tarde, recebi um e-mail da fotógrafa e estilista de
alimentos que estou contratando para fotografar meu livro de
receitas. Ela tem uma vaga em novembro e quer saber se quero
mudar minha reserva.
Eu tenho muito mais trabalho a fazer e não tenho certeza
de como posso fazer isso acontecer, mas sei que é uma boa
ideia deixá-la me mudar para a fila. Tenho um pressentimento
sobre o que terei que fazer para fazer tudo a tempo... mas ainda
não estou pronta para tomar essa decisão e partir meu próprio
coração. Mesmo que isso pareça destino.
Oh, bem, penso enquanto me dirijo ao meu apartamento
horas depois.
Não é como se Zac tivesse aparecido na Casa Maio com a
intenção de me ver e me enfiado a essa situação. Mas me
pergunto novamente como diabos Gunner pode ter descoberto
em primeiro lugar. Parte de mim esperava que alguém
publicasse uma foto ou um vídeo de Zac no aniversário de Lola,
mas eu não vi nada aparecer felizmente, e se tiver acontecido,
eu não fui marcada e nem ele. Gunner não tem contas de
mídias sociais, então duvido que ele tenha visto Zac no meu
canal.
Suspiro e coço a ponta do nariz quando paro no topo do
patamar para o meu apartamento naquela noite.
Porque bem ao lado, encostado na minha porta, há um
homem.
Um homem alto e magro.
Sua cabeça pende de onde ele a segura, de frente para a
parede oposta em branco.
Eu reconheço seu lento e leve sorriso antes de notar as
roupas familiares de jeans, botas e camiseta muito branca.
“Oi, Peewee”, Zac fala com tanto entusiasmo quanto eu
para limpar meu ralo do chuveiro quando entupido.
Algo está errado. Ele treinou naquela manhã e tarde. Ele
me disse na noite anterior via mensagem.
“Oi, Snack Pack”, digo cuidadosamente, dando um passo
à frente agora que sei que ele não era um assassino em série.
Eu paro bem na frente dele, absorvendo seus músculos do
bíceps de como ele está ali com os braços cruzados antes de
deixá-los cair de lado.
Há algo definitivamente errado. Seu sorriso está meio
aberto, mas está tudo errado. Além disso, seus olhos também
não parecem bem. Eles estão escuros, e sua pele parece
esticada por todos aqueles ossos angulosos e bonitos do rosto.
“O que aconteceu?” Pergunto a ele, deixando a alça da
bolsa deslizar do meu ombro e pousar na minha palma aberta.
Coloco minha mão oposta em seu antebraço. Por favor, deus,
diga-me que não o liberaram. “Quer falar sobre isso ou não?”
O pomo de Adão dele balança, e me rasga um pouco mais.
“Você quer que eu dê uma rasteira em alguém? Precisa
de um abraço? Quer uma massagem da casa?” Ofereço mais
um pouco, esfregando meu polegar sobre seu antebraço firme
e musculoso.
Aqueles ombros largos parecem ceder bem na frente dos
meus olhos, e eu me pergunto o que diabos aconteceu. As
coisas estão bem. Estão ótimas. Ele pareceu normal na noite
passada. Tudo nele, nas últimas semanas, grita otimismo
cauteloso. Ele parece gostar de seu treinador e companheiros
de equipe. Eu até perguntei se ele estava bem por não começar
jogando, e ele apenas me deu um sorriso torto dele e disse:
“Alguém me lembrou que eu deveria agradecer minha estrela
da sorte, mesmo que eu seja o número dois, e é isso que estou
fazendo, querida.”
Então sim, estou muito preocupada agora.
“Zac, o que aconteceu?” Sussurro, alcançando-o
instantaneamente e deslizando meus braços em volta do
pescoço dele. Eu o abraço. Sem ser convidada, sim, mas algo
não está certo.
E ele me dirá para me afastar, se não me quiser ali.
Passo minha palma para cima e para baixo ao longo de
sua coluna enquanto olho para o rosto de príncipe da Disney.
Mas ele não responde, pelo menos não com palavras. O
que ele faz é expirar. Seu corpo se solta e depois se enrola em
mim, uma parte da cabeça dele descansando contra o topo da
minha. Um antebraço vai ao redor do ponto mais baixo das
minhas costas, me ancorando no lugar, bem ali. Contra ele.
Eu o seguro, e ele me segura, e fico ali, ouvindo suas
respirações profundas. Se ele não quer me dizer o que está
acontecendo, tudo bem. Eu não preciso saber.
Não é como se eu não escondesse as coisas dele que meu
instinto acredita que ele não precisa saber. Ou mais, ele não
precisa se incomodar com comentários que não tem propósito.
Não mais.
Mais do que tudo, se ele realmente quiser me dizer, ele o
fará. Ele me contou sobre assinar com Houston antes de
contar a mais alguém. Eu estava no carro com ele quando ele
ligou para a mãe e o avô no caminho de volta para Houston
depois da noite da festa. Parte de mim ainda não pode acreditar
nisso.
Continuamos de pé ali. Com seu peito inspirando e
expirando na frente do meu. Com seu braço em volta da minha
nuca e o que pode ter sido sua bochecha ou testa descansando
contra o topo da minha cabeça. Com as pontas dos nossos
sapatos se tocando. Minha bolsa descansando em cima deles.
E continuo movendo a palma da mão para cima e para
baixo nas costas dele, tentando muito acalmar o que diabos o
está incomodando.
O que poderia ter sido meia hora depois, ele finalmente
levanta a cabeça da minha, e eu tomo esse momento para dar
um pequeno passo para trás, arqueando meu pescoço para
cima para ver suas feições novamente.
Ele já está focado em mim, aqueles olhos azuis bebê
grudados em seu rosto, sua boca ainda em uma forma que não
está nem perto do feliz com que estou acostumada.
Eu não gosto disso.
Estendo a mão e coloco a ponta do meu dedo na ponta do
seu nariz, no mais longo momento de todos os tempos. Nós não
precisamos conversar sobre isso. Tudo bem comigo. “Estou
tendo um dia péssimo e ia pedir uma entrega. Quer comer
comigo?”
Aqueles olhos azuis ficam no meu rosto e fico feliz por ter
dormido um pouco mais do que o habitual na noite anterior e
por não ter sido mesquinha com a maquiagem. Só porque
percebi que não temos uma chance no inferno para que isso
importe, ainda me importo. Tanto faz. Posso me orgulhar da
minha aparência.
Ele me dá outro daqueles meios sorrisos que dizem tudo
e nada ao mesmo tempo.
Bato o dedo em seu nariz novamente. “Vou deixar você
escolher o que comemos se isso o animar.”
Ele não ri... mas sorri. Um pequeno, mas genuíno. Um
genuíno com algo em suas profundezas que faz meu pequeno
coração doer um pouco com o que o está incomodando.
“Eu poderia comer uma chalupa”, ele me diz. “Foi esse
tipo de dia.”
Chalupa? É isso o que ele quer?
Eu provavelmente irei me arrepender, mas ainda assim
digo: “Tudo bem. O restaurante mais próximo está longe
demais para a entrega, mas eu dirijo.”
Ele faz algum tipo de ruído que quase soa como um
fungar. “Vai ter sabor melhor quente.”
Aposto que sim. “Eu vou pegar as coisas, então espero
que valha a pena.”
Ele pisca e, exatamente ao mesmo tempo, nós dois caímos
na gargalhada.
Zac cobre os olhos com a palma da mão e murmura:
“Jesus Cristo, garota.”
Ele não me vê sorrindo enquanto o cutuco nas costelas,
mas eu pego sua própria boca começando a se formar em um.
Tudo bem, talvez tudo não esteja totalmente certo no mundo,
mas está chegando lá.
A mão de Zac cai de seu rosto para se instalar brevemente
no meu ombro, apertando-o levemente. “Precisa fazer algo
dentro primeiro?”
“Nah, nós podemos ir.”
Desço as escadas e pergunto: “Quer que eu dirija, afinal
de contas, ou quer pegar seu carro de luxo?”
“O que você quiser.”
Nós podemos pegar o meu. Ele parece muito distraído
para ser um bom motorista.
Zac não diz uma palavra quando eu nos guio em direção
ao meu carro e ainda não diz nada quando entramos nele e
saio do complexo e entro na estrada. É quando a ideia me
ocorre. Olhamos um para o outro quando paro no sinal
vermelho, e eu não sou nem um pouco sorrateira quando tiro
meu telefone da bolsa e bato algumas vezes na tela. Assim que
o farol fica verde, encontro o que estou procurando e bato no
pequeno triângulo na parte inferior da tela.
Espero um segundo.
Dois segundos.
Os alto-falantes do meu carro finalmente dão sinal de
vida e eu ainda espero.
E meu amado Zac não me decepciona.
São necessárias duas batidas da música tocando no meu
carro antes que ele bufe e as costas da mão cutuquem meu
braço.
Eu sorrio para ele no momento em que acelero.
Levantando o dedo, aponto para ele e canto as duas últimas
palavras da primeira estrofe, “...vão meninas”. O ombro mais
próximo dele se move a tempo da batida da música que eu fui
forçada a ouvir meio milhão de vezes perto dele quando era
mais jovem. Zac bufa novamente.
Pelo canto do olho, posso ver os dedos dele tocando a
batida na coxa, e continuo cantando, sabendo que estou
gritando a letra totalmente desafinada e não dando a mínima,
especialmente não quando ele começa a rir logo antes do
refrão.
E então, então, esse tolo se junta a mim.
A pleno pulmões, com aquele sotaque que parece um
abraço, ele canta sobre esquecer que é uma dama.
E juntos, quase no topo de nossos pulmões, cantamos
sobre nos sentirmos selvagens, sobre saias curtas e
principalmente... sobre nos sentirmos como uma mulher.
Nós dois estamos morrendo de rir no final.
Há lágrimas nos meus olhos, e ele está encostado no
assento, as duas mãos em cima da cabeça enquanto o torso
magro se move para dentro e fora com respirações irregulares
enquanto ele continuava rindo.
“Oh, eu precisava disso”, ele ofega, arrastando aquelas
palmas grandes pelo rosto para limpar os olhos e as
bochechas.
“Então se prepare para o resto da minha lista de
reprodução, amigo”, eu o aviso quando a próxima música
começa.
E então, estamos de novo nisso. Eu faço isso por ele. Para
ter aquele sorriso de volta em seu rosto. A luz atrás dos seus
olhos.
Funciona.
Cantamos sobre apenas respirar, sobre alguém chamado
Jolene, e quando estou estacionando o carro, pensamos que
estamos no apresentando no The Voice enquanto cantamos
sobre ter amigos em lugares baixos.
Desligo o carro e me viro para Zac, querendo perguntar
se ele está melhor, mas não querendo estragar tudo quando
posso ver em seus olhos que ele está. Porque ele está sorrindo
aquele grande e velho sorriso de Zac que faz seu rosto inteiro
parecer luzes de Natal. E não posso deixar de retornar a
expressão.
Ele pega minha mão de onde eu a coloquei no meu colo e
a leva ao rosto, beijando as costas com aqueles lábios firmes e
quentes.
Eu estaria mentindo se não admitisse que meu pequeno
coração gagueja um segundo.
Mas não penso duas vezes em me inclinar e dar um beijo
rápido em sua bochecha. “Aqui está o meu Big Texas.” Eu bato
na bochecha dele com a mão livre e digo: “Estou sempre aqui
para você, se precisar de mim.” Ele sabe disso. Então eu bato
no nariz dele mais uma vez. “Vamos. Vamos acabar com isso,
para que possamos abastecer um ao outro no caminho de
volta.”
Ele dá uma risada. “Eu vou ficar bem. É com você que
estou preocupado agora.”
Puxo minha mão da dele e bufo quando me sento e vou
para a maçaneta da porta. “Você deveria estar. Eu não como
isso há anos. Se você tivesse me deixado escolher, estaríamos
comendo carne assada e sanduíches de queijo derretido.
Tenho certeza que ele ri quando sai, e ele me encontra
perto do porta-malas, deslizando os óculos de sol para cobrir
seu rosto. Talvez devêssemos ter pedido no carro e comido no
carro, mas ele diria alguma coisa se tivesse muito problema em
estar em público. Eu imagino. Fomos às compras. Fomos
juntos a uma festa de 15 anos. Além disso, foi ideia dele,
dizendo que teria um sabor melhor quente. Não estamos com
pressa.
Ele olha para o meu carro por um segundo e depois olha
para mim.
Está estacionado bastante torto. Bem. Eu posso admitir.
“Deixe-me em paz”, eu murmuro.
Zac sorri com força, mas assente.
Ninguém presta atenção em nós lá dentro, cada um pede
uma refeição e nós dois pegamos dinheiro ao mesmo tempo.
“Vamos dividir”, tento oferecer.
“Eu pago”, ele diz ao mesmo tempo.
Nós nos encaramos.
“Quantas vezes você me fez jantar agora?” Ele pergunta,
arqueando uma daquelas sobrancelhas loiras irritantes. “Eu
tenho que começar a comprar mantimentos para você.”
Nós nos encaramos um pouco mais.
O caixa pigarreia, e nós dois deveríamos ter percebido que
estamos sendo irritantes segurando a fila.
“Sinto muito”, peço desculpas a ele, ainda olhando para
Zac. “É melhor que eu consiga algumas dessas coisas de
canela enquanto estivermos nisso, se você vai pagar.”
“As coisas de canela também, por favor. Obrigado.”
O funcionário revira os olhos e pega seu dinheiro,
bufando algo baixinho, provavelmente nos chamando de
idiotas. Caramba. Zac e eu fazemos uma careta um para o
outro depois que ele aceita o troco e vamos para o lado. “Você
tem planos para amanhã, garota?”
“Trabalho de manhã, mas nada à tarde. Você?” Eu quero
saber como foi o treino — e se o humor dele tem alguma coisa
a ver com isso — mas não quero perguntar.
Honestamente, eu só quero que ele me diga por conta
própria, mas sei que não devo ter esperança. Expectativas e
tudo isso. Somos apenas amigos, eu me lembro disso nada
menos que uma vez por dia desde que acordei em sua cama de
hotel segurando sua mão.
Pelos óculos escuros, posso ver seus olhos focados em
mim quando ele abaixa a voz e diz: “Nada demais. Um dos
meus colegas de equipe perguntou se eu posso passar por esta
casa mal assombrada em que ele investiu, que será aberta
amanhã. Quer ir?”
“Com você?”
Ele faz uma careta. “Com quem mais?”
Faço uma careta de volta para ele.
Ele aperta meu ombro. “Então sim?”
Ele realmente quer que eu vá com ele? “Você não quer
perguntar a um de seus outros amigos?”
Isso o faz inclinar a cabeça para o lado. “Outros amigos?”
“Sim, seus outros amigos aqui.”
Aquelas sobrancelhas dele apenas se unem, e até aquele
lábio inferior dele fica mais cheio com o movimento. “Você é
minha única amiga aqui, querida”, ele explica, sua voz
cuidadosa. “Se você não quiser ir, tudo bem.”
Merda. Pela segunda parte. Não o começo. A primeira é
obviamente... bem, acho que entendi. Eu conheço muitas
pessoas, mas também sei que elas não são todas minhas
amigas. Há uma diferença. “Eu irei com você para uma ópera,
se você realmente quiser, eu pensei que...”
Ele ergue as sobrancelhas.
Ok, não há como escapar disso. “Eu sei que você não tem
muito tempo e sei que saímos quando você tem uma chance.
Eu não queria que você...”
“Me sentisse obrigado?” Ele pergunta devagar.
“Sim, talvez.” Aperto os lábios. “Não faça essa cara para
mim. Você tinha todas aquelas pessoas na sua casa naquele
dia em que fui pela primeira vez e...”
“Esses são meus amigos, mas eles não são meus amigos,
querida. Não como você.” Ele olha para mim com aqueles olhos
de bebê. “E eu prefiro sair com você. Se está ficando cansada
de mim...”
Faço outra careta para ele. “Oh, consiga uma vida,
fracassado. Você sabe que não estou.”
Ele tosse. “Fracassado? Eu? Vou escrever isso e contar à
minha mamãe.”
Eu bufo. “O que você vai dizer a ela? Mamãe, Bianca está
sendo má comigo.”
Sua parte superior do corpo estremece e eu o ouço
engasgar. “É assim que você pensa que eu soo?”
Tenho 95% de certeza de que o cara da caixa registradora
que olha inexpressivamente para frente sussurra baixinho: “É
assim que você soa”.
Eu levanto minhas sobrancelhas para Zac como quem
diz, viu?
“Bem, agora você acabou de se foder e vai compartilhar
essas coisas de canela comigo.”
Isso me faz rir.
E isso o faz sorrir para mim, não levando a mim ou a si
mesmo a sério. “Eu ainda vou dizer a mamãe”, ele ameaça com
um pequeno sorriso e um cutucão.
“Seu pedido está pronto”, o caixa finalmente grita,
empurrando uma bandeja do balcão para frente, sua
expressão vigilante de repente.
Eu sorri para ele.
Ele não sorri de volta.
Pego alguns molhos e deixo Zac levar a bandeja em
direção à estação de bebidas. Cada um de nós enche nossos
copos e pegamos a mesa no canto, o mais distante do balcão
da frente. Eu estarei sofrendo em breve. Entretanto, farei valer
a pena. Meu estômago está roncando.
Dou uma mordida nos meus tacos crocantes e depois
digo: “Eu irei com você, se você quiser. Já estive em uma casa
mal assombrada uma vez e fechei os olhos o tempo todo, mas
será divertido, certo?”
Zac, que está com a boca cheia de chalupa, assente.
“Muito divertido.”
Mentiroso. Não tenho problemas com filmes de terror,
mas fecho os olhos de vez em quando — na maioria das vezes.
Falando em fazer as coisas juntos. “Ei, você assistiu ao
nosso vídeo que upei por último?”
Ele balança sua cabeça.
“Já atingiu quatro milhões de visualizações.”
Zac coloca sua chalupa no prato. “Está falando sério?”
Eu balanço a cabeça para ele e sorrio. “Sim. Eles ficaram
loucos na semana passada. Faz anos desde a última vez que
obtive tantas visualizações tão rapidamente. Todo mundo
adorou.” Especialmente eu. Isso me fez sorrir as vezes que
assisti. Tudo bem, eu sorri o tempo todo em que editei o vídeo,
mas essa é uma história diferente. Eu simplesmente adoro
assistir Zac falar e fazer tudo em geral.
Oh Deus, estou ferrada e preciso parar de pensar dessa
maneira.
“Mais uma vez obrigada por fazer isso por mim”,
acrescento, dando-lhe um sorriso que espero ser o mais
apreciado possível.
Seu próprio sorriso em resposta é grande. “Mamãe e Paw-
Paw assistiram e adoraram. Mamãe disse que eu deveria fazer
mais com você.”
“Ei, quando quiser.”
“Quando você quiser”, ele insiste.
Eu não posso deixar de sorrir para ele. “Combinado.
Minhas assinaturas aumentaram cerca de dez mil depois da
que fiz com CJ e Amari.” Aquele também se saiu muito bem.
“Subiu outros vinte depois do seu.”
“Claro que eles fizeram, querida.”
“Seus fãs parecem super empolgados com isso. Você leu
algum dos comentários? Um cara escreveu que ele nunca foi
seu fã antes, mas é agora”, digo a ele.
Ele sorri.
Então digo a ele outro. “Outra senhora disse que você é
mais bonito de avental do que de uniforme.”
O sorriso dele aumenta. “O que mais você tem?”
Penso por um segundo, penso especificamente em alguns
comentários que implicam mais ou menos a mesma coisa. Eles
adoraram o nosso vídeo.
ALGUÉM PODE ME DIZER QUE VOCÊS ESTÃO JUNTOS
Fã número um???! #morto #falecido
Casem já!!!!
Eu acho que morri de sobrecarga de fofura. Zac Travis +
The Laxy Baker = magia
A TENSÃO SEXUAL!!! Outro episódio, por favor!
Eu te amo, Bianca, mas, por favor, mude o canal para THE
LAZY BAKER E ZAC TRAVIS SHOW. Preciso de mais!
Vim pela culinária, saio com a necessidade de me
masturbar.
“Vá lê-los você mesmo”, digo e decido mudar de assunto.
“Está tudo bem com a equipe? É uma pena que vocês tenham
perdido o último jogo, mas eles poderiam ter te colocado, então
é meio que a culpa deles.”
Ele me dá um longo olhar enquanto mastiga.
Oh deus. Eles o liberaram. Aqueles pedaços de...
“Eu vou começar jogando, Bibi.”
Largo o pacote de molho apimentado que acabei de abrir.
“Como?”
Ele não parece feliz, o que não ajuda a me convencer de
que o ouvi corretamente. “Eu vou começar. Fisher rasgou seu
Ligamento Cruzado Anterior no treino sesta manhã.
Sim. Ofego e mal consigo manter a voz baixa quando
pergunto: “Você está falando sério?”
Ele assente.
“Por que você não parece animado, Snack Pack? Eu
pensei que você ficaria muito feliz. Estou muito feliz”, sussurro.
Sua boca rosada se contorce um pouco para o lado, e sei
naquele instante o que o levou a vir e receber um grande
abraço está de volta. “Eu deveria estar, você imaginaria.”
Sim, ele deveria estar.
A mão de Zac se levanta e ele brinca com o cabelo curto
na sua orelha. “Estou apenas...”
“Nervoso?”
Sua boca torce um pouco mais. “Algo assim”, ele admite.
“Não me sinto assim há um tempo, mas muitas coisas parecem
estar em jogo agora. Coisas que não pareciam estar em risco
antes e...” Zac solta um suspiro em direção a sua comida, e ele
parece olhar sua chalupa por um minuto antes de continuar.
“Estou deixando uma merda que ouvi ficar na minha cabeça.
Eu deveria estar empolgado, mas estou preocupado que
também vou estragar tudo.”
“Você não vai estragar nada”, digo a ele o mais
calmamente que posso.
“Meu último treinador disse que eu poderia estragar um
acordo, se alguém deixasse sozinho comigo por tempo
suficiente”, ele diz com um encolher de ombros enganosamente
casual. “Eu não quero estragar tudo isso. Eu quero fazer bem
feito. Eu sempre quis, mas agora é diferente. Agora parece que
pode ser assim. Na maior parte da minha vida, Peewee, senti
como se estivesse sentindo falta de alguma coisa — apenas
uma coisinha que não consigo me livrar, não importa o que
aconteça... Talvez seja só eu que preciso realmente viver à
altura do que as outras pessoas pensam de mim, o que elas
esperam. Não quero ser uma decepção para mim ou para mais
ninguém.”
“Você não é uma decepção, Zac. Você é incrível. Você é
tremendo. Algumas pessoas são apenas idiotas, e você não
deve ouvi-las. Sabe disso. Você dá conta disso.”
“Mas e se eu não der?” Ele pergunta suavemente, ainda
olhando para sua comida e quebrando meu coração. “E se
perdi o jeito? E se eu estiver quebrado, como eles disseram?”
Eu não sei quem diabos eles são, mas vou acendê-los em
chamas se descobrir. É preciso todo o meu autocontrole para
manter minha voz calma, meu rosto neutro. “Você não está,
mas se for necessário, Snack Pack, compraremos muita super
cola então. Apenas para reforçar tudo. Para verificar que você
está melhor do que nunca.”
Seus cílios se levantam, e ele coloca aquelas íris azuis
leitosas em mim. Zac não diz nada nem sequer suspira, o que
eu consideraria uma coisa boa. Ele apenas olha para mim.
Calmamente. Totalmente. Seus olhos percorrem meu rosto por
tanto tempo e com tanta intensidade que não posso fazer nada
além de sorrir para ele.
É como... se ele estivesse olhando para mim pela primeira
vez e algo o pega desprevenido.
Depois de um momento, com o olhar ainda fixo em mim
e as sobrancelhas unidas, ele apenas diz: “Tudo bem, garota.
Esse é um plano então.”
E é a minha vez de piscar para ele.
Terminamos de comer nossa comida rapidamente, com
Zac mudando de assunto e me contando uma conversa que ele
acabou de ter na noite anterior com Paw-Paw em um tom um
pouco mais contido do que o habitual. Ele junta nosso lixo e
vai despejá-lo enquanto eu lavo as mãos. Acabamos de chegar
à porta para sair quando o caixa grita: “Os White Oaks são
uma droga”, assim que Zac começa a empurrar a porta.
Ele para por um segundo, e vejo algo ondular em seu
rosto.
E eu não gosto.
Eu não gosto nada, especialmente depois da conversa que
tivemos.
E essa proteção feroz que sento por Zac, uma que sempre
senti por ele, surge dentro de mim, e me viro para franzir a
testa para o cara parado ali com uma expressão ranzinza no
rosto idiota.
“Sua cara é péssima. Tenha um bom dia”, grito para ele
de volta, mesmo dando-lhe um aceno sarcástico enquanto
gesticulo muito para Zac continuar andando.
Ele pisca, e demora talvez três segundos, mas seu sorriso
se alarga antes de sair e eu o sigo.
“Que perdedor. Sinto muito, Snack Pack.”
Meu amigo para bem na beira do meio-fio e se vira para
mim com uma expressão que não está nem perto de estar
devastada como antes. Ele parece... divertido. Mas mais que
isso. E ele ainda está me olhando de maneira diferente. “Você
disse a ele que a cara dele é péssima?”
“Eu deveria ter dito que a atitude dele também é péssima,
mas foi tudo o que pensei no momento. Da próxima vez digo.”
Aquela palma grande dele vai para o topo da minha
cabeça e a aperta. Aqueles olhos azuis brilhando. Aqueles
dentes brancos e piscando para mim em um sorriso tão doce
que eu o absorvo como se fosse de ouro.
Eu pisco para ele novamente. “Você tem que ser legal,
mas isso não significa que eu precise.”
“Você é a melhor, garota.”
Dou de ombros para ele. “Sou ok.”
“Você é mais do que ok”, ele diz, ainda me observando de
perto. “Nem sequer é uma competição.”
E meu coração... meu coração faz alguma merda que não
deve. E bate. Novamente. Com reconhecimento. Com um amor
tão profundo, que sei que me esmagará se eu deixar.
E isso me assusta.
Estou me apaixonando por ele.
Felizmente, meu estômago também rola naquele
momento — um tipo diferente de rolagem — e sei o que está
acontecendo. Estou me dando uma chance. Lembrando o que
tínhamos. E isso era amizade. Uma amizade que durará
décadas.
E eu irei segurá-la com as duas mãos.
Ou pelo menos com uma no momento.
Olhando atrás de mim, sorrio e bato no ar... e então faço
isso, então jogo uma bola imaginária para ele.
Não é tão imaginária.
Eu jogo meu peido em Zac.
Jogo para ele e digo: “Ataque.”
No tempo que ele leva para piscar de surpresa, ele peida
também, mas não um silencioso, um barulhento que deve ter
ronronado em suas nádegas...
Então ele está segurando e jogando uma de volta para
mim, rindo.
Eu o amo e sei disso. Eu realmente sei. E não deveria
fazer isso.
Zac está olhando para os calcanhares das minhas botas
desde o momento em que parou para me encontrar lá fora,
esperando por ele.
E está olhando para eles agora, enquanto caminhamos
pelo enorme estacionamento instalado em alguns acres ao
redor da casa assombrada.
Ainda não há muitos carros no estacionamento. Por outro
lado, estamos lá quinze minutos antes das portas se abrirem.
Zac disse que seu companheiro de equipe queria que eles
fossem os primeiros “visitantes” até o dia da abertura. Para
evitar as multidões, imaginei, e tirar fotos deles para serem
postadas nas mídias sociais.
Eles são Zac, CJ e Amari, que estavam no carro quando
ele parou para me pegar. Nós conversamos sobre CJ
“praticando” cozinhar o passeio inteiro. Zac está tentando
ensiná-lo.
“Você tem certeza disso?” Zac finalmente pergunta,
apontando em direção aos meus pés com o queixo.
Eu levanto os dedos dos pés. “Sim, por quê?”
“Você não acha que tênis seria melhor?”
“Elas são apenas plataformas e não têm nem cinco
centímetros. Eu posso correr mais alto que elas” eu zombei.
“Eu domino isso.”
Seu rosto implica que ele não acredita em mim.
“Prometo. Connie me treinou para correr de salto alto.”
Isso me fez levantar uma sobrancelha. “Treinou você?”
“Ficamos entediadas uma noite.”
Ele pisca, mas balançou a cabeça com um sorriso depois
disso.
De jeans, suas botas de sempre e uma camiseta cinza
clara que eu já o vi usar uma ou duas vezes naquele momento,
ele parece feliz e ótimo — nada parecido com o homem que
apareceu no meu apartamento parecendo tão triste. dias
antes. Mais como o homem que jogou seu peido em mim...
depois que eu joguei um nele. E ainda mais como o homem
que cantou sobre andar em uma fila, chorando na chuva e
então chorou rindo comigo depois de gritar a pleno pulmões
sobre esculpir nossos nomes em picapes.
E hoje, ele pareceu ter voltado ao normal quando abaixou
a janela e gritou: “Vamos lá, Bibi. Ticktock.”
Com base na expressão que está fazendo para os meus
sapatos novamente, ele está definitivamente em um clima
familiar.
“Não se preocupe, Snack Pack”, digo a ele. “Você tem mais
chances de tropeçar do que eu. Eles são super confortáveis.”
Sim, ele parece cético como o inferno, e não está tentando
esconder isso. “Se torcer o tornozelo eu vou te deixar para trás,
garota.”
Eu rio. “Pssh. Eu desço e levo você comigo.”
A mão de Zac pousa na parte de trás do meu pescoço
enquanto ele ri.
Atrás de nós, Amari — eu sei que é ele porque a voz de CJ
é muito grave e essa não está no mesmo nível; é apenas uma
voz normal e agradável — pergunta: “Como vocês se
conheceram mesmo?”
Zac mantém a mão quente no meu pescoço enquanto
responde: “A avó de Bianca costumava cuidar de mim.”
Olho para Zac e encontro aqueles suaves olhos azuis em
mim. Sorrio. Ele sorri de volta.
Com certeza, há talvez vinte pessoas na fila para entrar
na casa assombrada. Há alguns punhados de funcionários
vestidos como tudo, de zumbis a palhaços realmente feios, com
sangue e tripas falsas grudadas em suas máscaras e roupas,
rastejando pelas linhas de corda ajustadas e prontas para as
multidões que sem dúvida começarão a aparecer. Talvez não
hoje, já que é apenas o começo de outubro, mas mais perto do
Halloween, com certeza.
“Um de vocês disse a ele que estamos aqui?” Zac pergunta
por cima do ombro.
É Amari quem responde. “Eu disse. Ele disse para esperar
e que estará aqui em um minuto.”
Paramos em círculo, ao lado da entrada da fila. Posso ver
ao redor do ombro de CJ e noto que as pessoas já estão
olhando em nossa direção. Para eles. Nenhum dos caras é
anormalmente alto, mas há algo nas posturas deles que diz,
“Olhe para mim.” Então eu me desvio para a esquerda para que
o corpo rasgado de CJ possa me esconder um pouco melhor.
Se ele nota que está sendo vigiado, não se registra em seu
rosto quando pergunta: “O que há no menu esta semana?”
“Bolo de baunilha e mais uma tentativa daqueles
brownies estúpidos que eu estraguei.”
“Eu posso fazer outro quando quiser”, Amari fala. “Foi
divertido.”
“Sim, quando você quiser.” Não quero que ele se sinta
obrigado. As pessoas sempre se oferecem para fazer coisas
boas, mas apenas para serem educadas.
O homem extremamente bonito tira o celular do bolso.
“Qual é seu número? Te mando uma mensagem.”
Eu nem penso duas vezes sobre isso. Eu falo o número
para ele.
Mas sinto algo estranho e olho para cima e encontro Zac
olhando Amari. E quero dizer, olhando para ele. Que diabos é
isso?
Uma voz muito grave, quase tão boa quanto a de CJ, grita
de alguma maneira que todos nos viramos para encontrar um
homem do tamanho de Zac e Amari juntos, caminhando com
três seres humanos de tamanho normal atrás dele, dois dos
quais são vestem roupas pretas e usam walkie-talkies e tem
coisas diferentes presas nos cintos. O grandalhão levanta a
mão em saudação e, se as pessoas na fila não estavam
prestando atenção antes, estão agora.
Eu fico lá quando o grandalhão dá um tapa nas costas de
Zac, CJ e Amari antes de Zac me apresentar. “Esta é Bianca.”
Estendo minha mão para ele, e ele a aperta. “Oi, obrigada
por me deixar vir também.”
O homem faz uma careta, aperta os olhos e levanta um
dedo para apontar para mim depois. “Você é a garota Baker,
não é?”
Bem, merda. Aperto os lábios e assinto.
“Sim, sim. Agradável. Obrigado por ter vindo.”
Tenho certeza que meu rosto fica quente e rosa. A garota
Baker. Bem, bem, bem.
O cotovelo de Zac cutuca o meu, e olho para cima para
vê-lo fazendo uma careta. “Viu? Você é famosa”, ele murmura,
e eu reviro os olhos e o cotovelei de volta. Mas, falando sério,
tenho certeza que meu coração começa a bater mais rápido.
“Vou colocar vocês na fila para passar primeiro, tirar
algumas fotos e podem entrar rapidamente”, explica o homem
enquanto sonho com ele sabendo quem eu sou.
Eu dou uma cotovelada em Zac um pouco mais quando
somos levados em direção à fila, e os caras param para dar
autógrafos para as pessoas que descobrem quem são eles. Eu
fico lá e tiro algumas fotos para eles e finjo que não noto os
olhares curiosos sendo lançados em minha direção. Mas eles
são principalmente todos adolescentes. Ninguém se importa
quando o homem maior manobra nosso pequeno grupo para a
frente da fila, e posso ouvir o clique de mais câmeras de
telefone atrás de nós.
Então a pessoa segurando a câmera “real” começa a
gesticular com os caras se juntarem, e tento dar um passo para
trás para me esconder atrás de Zac, mas o grandalhão diz:
“Garota Baker! Você também! Diga, você vem à minha festa?”
Festa? Que festa?
Eu não tenho a chance de perguntar antes de Zac chegar
atrás e pegar meu pulso. “Vamos garota. Frente e centro.”
Isso me faz bufar e me acomodar ao lado dele, meu lado
esquerdo totalmente alinhado ao dele, o braço de Zac
deslizando sobre meus ombros, sua mão colocada na frente do
meu peito. À minha direita, CJ está a um centímetro ou dois
de distância, perto, mas não me tocando. O flash começa a
funcionar e é então que percebo para o que eles vão usar essas
fotos.
Para a internet. Para mídias sociais.
Pelo menos a parte boa é que eu não estou tentando
esconder minha amizade com Snack Pack. Eu já fui descoberta
pela única pessoa de quem eu queria manter em segredo.
Eu só... você sabe...
Tanto faz. Sorrio e tento não parecer constipada.
O som de uma serra elétrica disparando dentro do prédio
me faz encontrar o olhar de Amari, e ele me lança uma
expressão engraçada.
“Você está assustado?”
Ele inclina a cabeça para o lado. “Por quê? Se disser que
sim, você segurará minha mão?”
Bem, eu não estou pedindo para flertar. Estou apenas
brincando. Mas...
“Não”, respondo. “Eu vou estar muito ocupada segurando
a mão de Zac. Não quero que ele tenha pesadelos esta noite.”
Ele ri quando sinto uma mão pousar na parte de trás do
meu pescoço novamente, moldando-se em torno dele.
Inclinando a cabeça para trás, encontro aqueles
familiares olhos de bebê em mim. Eu sussurro: “Mas, de
verdade, não acho que vou ficar com medo, mas se o fizer, vou
usar você como um escudo humano. Você viveu uma vida
muito mais completa do que eu. Tecnicamente, Amari é maior,
mas...”
Meu velho amigo zomba. “Nós somos do mesmo tamanho.
Você sabe que as pessoas ainda me chamam de 'Big Texas',
não é?”
“Sim, eu sei, mas comecei a te chamar assim quando você
era o maior cara que eu conhecia. Você nem é tão grande
assim.”
“Como?”
É muito divertido pegá-lo. “Você é grande, mas não é tão
grande.”
A cabeça de Zac recua. “Você não tem um metro e meio
de altura?”
“Um e cinquenta e sete.”
Zac pisca.
Eu pisco.
Ele estreita os olhos. “Juro por deus, vou dizer a Mama.”
“Se estiverem prontos”, o grandalhão, cujo nome eu não
faço ideia de qual é, grita com um aceno de mão na direção do
buraco negro de uma porta que dá para a casa mal-
assombrada. O som de uma serra elétrica girando novamente
faz meu pequeno coração acelerar um pouco. O exterior do
lugar realmente parece bastante assustador.
Caramba.
Isso é falso. Eles são todos atores. Tudo vai ficar bem.
De alguma forma, de alguma maneira, Zac é empurrado
para frente — eu aposto que é para fotos porque, alôu, ele é o
quarterback do White Oaks agora — e ele volta, me arrastando
para ficar diretamente atrás dele em vez de mais para o final
da nossa fila de cinco pessoas. A quinta pessoa é o
proprietário. CJ está diretamente atrás de mim.
“Bianca”, ele sussurra enquanto avançamos.
“Sim, CJ?”
“Acho que você deve tentar menos manteiga de amendoim
nos brownies da próxima vez.”
Fico feliz por ele estar em paz e poder pensar em comida.
“Eu estava pensando a mesma coisa”, respondo por cima do
ombro.
“Eu também posso gravar outro vídeo, se você quiser”, ele
oferece.
“Seria uma honra.” A motosserra começa a rugir ainda
mais alto.
Olho para frente novamente e vejo que Zac parou bem na
entrada. Corro até ele e empurro seu quadril. Não penso duas
vezes em deslizar o dedo por uma das presilhas do seu jeans
quando ele entra no prédio. Luzes estroboscópicas brilham
enquanto vozes computadorizadas gritam e choram lá em
frente. O que parecem teias de aranha, roçam meu rosto e
cabeça, mesmo que eu esteja me curvando diretamente atrás
de Zac, agarrando seu jeans em desespero.
“Você está bem?” Ele pergunta... com risos em sua voz.
“Sim!”
Um rosto aparece na porra da parede à minha esquerda,
do nada, e eu grito, tropeçando à minha direita, porque de onde
diabos isso veio? Atrás de mim, ouço CJ assobiar algo que soa
muito como “Filho da puta.”
E na minha frente, Zac deve ter sentido meu puxão em
seu jeans, porque ele para, e no breve flash da luz
estroboscópica, pego vislumbres de sua expressão divertida.
Sim, eu agarro seu maldito jeans novamente com as duas
mãos naquele momento e empurro no meio das suas costas
com a minha testa.
À nossa direita, há um recanto com dois caixões sob luz
amarela pálida, e eu sei que sei que algo ruim irá acontecer.
Por que diabos eu concordei com isso? Jesus. Eu já estive em
uma casa mal assombrada antes; não é como se eu tivesse
gostado tanto disso.
Eu sou velha demais para essa merda. Meu coração está
velho demais para essa merda. Eu tenho muito que viver.
Zac e eu chegamos quase à beira do caixão quando esse
filho da puta sai voando de um alçapão de onde os caixões nos
distraíram, e ouço alguém atrás de mim gritar: “Droga!”
E uma fração de segundo depois, algo me atinge pelas
costas.
Enquanto estou dando um passo.
Eu tropeço.
E sinto meu tornozelo simplesmente ir para os lados.
Sim.
Lateralmente.
“Whoa-ho-ho”, eu grito, levantando a perna e envolvendo
as mãos em torno dela, esbarrando nas costas de Zac.
CJ grita de trás: “Desculpe! Amari me empurrou!”
Algo agarra meu ombro, e quando estou prestes a
empurrá-lo, Zac grita: “O que diabos aconteceu?”
“Eu estou bem”, digo a ele, sem saber se ele pode me
ouvir, mas sabendo o que ele vai dizer se o fizer.
Ele se agacha na minha frente, as luzes piscando em seu
rosto e feições. “Você torceu o tornozelo?”
Eu assinto.
Sua boca fica achatada sob a iluminação.
“Está tudo bem. Estou bem.”
Ele olha para o pé que eu ainda estou segurando por um
momento, depois se levanta e se vira.
Zac cai em uma posição agachada e diz por cima do
ombro, “Vamos. Suba.”
Eu tento colocar meu peso para baixo e não.
“Você está bem?” CJ pergunta de trás.
Aceno com a mão para ele. O que vou fazer? Em vez disso,
dar um passeio nas costas dele?
Não.
Coloco as mãos nos ombros de Zac e tento pular o mais
longe que posso. Aquelas palmas grandes agarram nas costas
das minhas coxas, me levantando mais alto até que estou
praticamente montando nele por trás. Por cima do ombro, ele
diz: “Lembre-se disso, Peewee.”
“Sim, sim, obrigada”, digo em seu ouvido no momento em
que alguém pula do nada novamente, e tenho certeza que
Amari grita. Alguém ri e fico feliz que um de nós esteja se
divertindo, apesar de ter certeza de que é o proprietário que
está tendo o momento de sua vida rindo de seus companheiros
de equipe.
“Ei?” Zac grita para que eu possa ouvi-lo.
“O quê?”
“Lembra daquela vez em que você disse que ficaria bem
em uma casa mal assombrada de salto e virou o tornozelo dois
minutos depois?”
Faço uma careta que ele não pode ver porque a minha
cabeça está ao lado dele. Os cabelos curtos em seu rosto me
fazem cócegas. “Cuide de sua vida.”
Eu o sinto rir mais do que ouço quando nos aproximamos
de um longo corredor que está escuro como breu. Ótimo.
Realmente, ótimo.
Aperto meus braços em volta dos ombros de Zac, apenas
no caso dele sair correndo. Eu duvido disso; ele não gritou até
agora, ao contrário dos meus novos amigos que espero que
ainda estejam atrás de nós e não tenham sido assassinados.
Não quero me arriscar a olhar para trás e ver alguém nos
seguindo, tentando me assustar. Há apenas uma coisa que me
lembro de ter assustado Zac, e com certeza não foi filmes de
terror.
A última vez que eu trouxe à tona — uma década atrás —
ele ainda insistia que não estava realmente assustado e que
ele simplesmente não tinha tomado café da manhã e foi por
isso que eu desmaiei.
Okay, certo.
“Você está com medo?” Ele grita quando começamos a
descer o corredor.
“Com medo que você vá me deixar”, digo, enquanto meu
coração acelera. Quero dizer, meu coração e a maior parte do
meu cérebro reconhecem que isso é falso e que todas essas
pessoas são atores que nem sequer nos tocam... mas o resto
de mim percebe a música assustadora e o som da serra elétrica
ainda está saindo de algum lugar adiante...
Bem, tanto faz.
“Eu não vou largar você, garota.”
“Ok”, eu resmungo em seu ouvido quando alguém começa
a bater no outro lado das paredes pelas quais estamos
passando. “Isso é tão estúpido. Eu deveria ter ficado em casa.”
Um queixo aparece na minha visão quando Zac tenta me
olhar por cima do ombro. “Está no papo.”
“É.”
Uma das mãos na parte de trás das minhas coxas dá um
tapinha nela. “Está no papo.”
“Eu vou cutucá-los nos olhos, e você corre.”
Abaixo de mim, posso senti-lo rir. “Jogue algumas
bombas de peido neles.”
Pressionando minha testa no ombro dele, eu rio. “Você
gostou disso, hein?”
“Garota, eu gosto de tudo, caramba! Não faça isso!”
Eu não tenho a chance de ficar com medo porque o ator
que aparece do nada aparece ao lado de Zac onde meu rosto
não está. Mas quando ele grita, levanto minha cabeça e olho
para ver alguém com uma máscara de palhaço assustador
andando ao nosso lado, o nariz literalmente a centímetros do
rosto de Zac. Sim, foda-se isso. Fecho os olhos e coloco o rosto
de volta onde estava, bem na garganta dele que cheira a sua
bela colônia.
“Foda-se, apenas corra. Amari e CJ estão por conta
própria. Eles são grandes. Eles podem se salvar.”
“Tudo bem, ele se foi”, Zac me aconselha um momento
depois. “Vamos esperar um segundo. Quero ver se eles gritam
também.”
Eu mantenho os olhos fechados, mas meus ouvidos
abertos.
“Oh inferno, não, este é o trabalho do diabo”, eu tenho
certeza que CJ grita.
Nós bufamos. Então eu sinto Zac começar a se mover
novamente.
“Seus olhos estão fechados?”
Eu balanço a cabeça contra o pescoço dele. “Eles estão
realmente secos.”
Ele está rindo de novo. Eu posso sentir. “Tenho certeza
que sim, querida.”
O som da motosserra fica mais alto a cada passo que Zac
dá, e algumas vezes eu o ouço respirar fundo. Coloco meus
braços em volta dele ainda mais apertado, mas ele não
reclama. Por duas vezes sinto suas mãos flexionarem sob
minhas coxas.
“Eu acredito em você”, eu sussurro. “Salve-nos.”
Ao som da serra elétrica logo à frente, ele começa a andar
mais rápido, e eu espio com um olho aberto para ver uma
figura parada na boca do que é uma porta aberta com névoa
rodopiando. E com certeza, ele está segurando o que soa como
uma serra elétrica, mas não parece.
“Se não sairmos vivos, quero que saiba que eu te amo”,
digo em seu ouvido e o sinto rir novamente.
“Vejo você nos portões?”
“Do inferno? Sim, vejo você lá.”
Sei que ele balança a cabeça porque sinto seu queixo
roçar meu antebraço.
Então ele caminha, avançando, meus instintos avisando
que o cara da motosserra está ali.
Algo brilha além das minhas pálpebras e sei que alguém
tirou uma foto.
Bem, pelo menos eles pensam que é assustador e vieram
conferir.
Abro os olhos quando Amari, CJ e o outro grandão saem.
E andando, eu quero dizer, CJ está fazendo uma careta, Amari
está diretamente atrás dele, parecendo muito descontente, e o
proprietário está sorrindo largamente.
“Você pode me por no chão. Eu posso voltar mancando
para o seu carro”, falo para Zac, batendo no braço dele.
E vejo um lampejo do queixo dele. “Então você pode torcer
o outro na caminhada de volta para o carro?”
“Ha, ha, ha.”

***

“Como está seu tornozelo, garota?”


A bolsa de gelo que coloquei no segundo em que
chegamos ao meu apartamento deixa os dedos dos pés à
mostra e cobre a barra inferior do meu jeans. Ele me carregou
pelas escadas, e eu sei que demorará muito tempo até que ele
me deixe viver com isso. Balanço os dedos dos pés em Zac, que
está sentado na extremidade oposta do sofá. Ele está bebendo
uma das latas de refrigerante de uva que tirou da minha
geladeira quando fui pegar a bolsa de gelo para ajudar o
inchaço. Não está doendo muito, mas está duro, e como terei
que trabalhar amanhã, quero impedir que fique pior do que
preciso.
“Está tudo bem. Eu apenas torci.” Mantenho meu rosto
quieto. “Poderia ter sido pior.”
Os cantos de sua boca torcem ao redor da borda da lata.
“Poderia? Poderia ter sido pior?”
Pego o controle remoto para ligar a televisão. “Sim.
Poderia. Eu poderia realmente ter luxado, e então meu chefe
ficaria bravo comigo.”
“Seu chefe ficaria bravo com você por torcer o tornozelo?”
Eu solto um suspiro. “Ele fica bravo comigo por deixar
minha camisa polo amassada.” Ele ficaria bravo comigo por
respirar também, eu apostaria, se eu fizer isso alto o suficiente.
Ele franze a testa. “Este é o mesmo chefe que você odeia?”
“O primeiro e único.”
“As coisas não melhoraram?”
Arrancando a bolsa de gelo, eu a jogo na mesa lateral à
minha esquerda. “Nah, elas pioraram”, admito antes de
perceber o que disse.
Claro que ele prossegue. “Por quê?”
Eu não quero contar a ele, mas... eu também não quero
contar.
“O que aconteceu?” Ele exigiu calmamente.
Coço a ponta do nariz e estico a perna um pouco para
acabar na almofada entre nós. “Ele tem sido mais idiota porque
eu continuo dizendo não quando ele me pede para trabalhar
por mais turnos. Agora ele descobriu que somos amigos e
tentou me perguntar sobre isso, mas eu cortei o assunto.”
Aqueles cílios loiros escuros caem, e a expressão
agradável em seu rosto também. Ele até coloca a lata de
refrigerante de uva no chão aos pés. “O quê?”
“Acho que ele pode querer que eu peça para você ir à
academia ou algo irritante.”
Uma carranca assume seu rosto perfeito.
“Está tudo bem”, digo a ele, até mesmo dando de ombros,
para que ele realmente acredite em mim que não é grande
coisa.
“Se você diz, mas me diga se há algo que eu possa fazer
para ajudar. Não vejo por que ainda não se demitiu, sim, eu
sei que é por causa de sua amiga, mas você não precisa tolerar
esse tipo de bobagem, Bibi.”
“Eu sei”, murmuro. “Eu sairei de lá em breve, venha o
inferno ou a maré alta. Falando nisso, não contei, mas a
fotógrafa que fará o meu livro perguntou se podíamos mudar a
reserva para novembro, então estou tentando resolver isso.”
Ele ainda está franzindo a testa enquanto estica as
pernas na frente dele e segue em frente. Ele me lança um olhar
de lado que é principalmente uma careta. “Se houver algo que
eu possa fazer para ajudar, estou falando sério, me avise.”
Eu sei que ele está falando sério, então aceno para ele.
“Nós vamos na festa de Halloween?” Ele pergunta.
Eu me esqueci disso, mesmo que o dono tivesse trazido à
tona novamente — apontando um dedo para mim enquanto ele
dizia isso como se houvesse outra Baker Girl por perto —
depois que todos passaram pela casa assombrada. Mas eu
estava muito distraída discutindo com Zac sobre minhas botas
plataforma para fazer mais do que sorrir e acenar com a
cabeça. Mas agora não estou distraída.
“Eu pensei que ele estava apenas sendo legal em me
convidar.”
Ele me inclina um olhar. “Ele te disse duas vezes e me
mandou uma mensagem quando estávamos saindo”, explica.
“Você vem então?”
“Quando é? Não tenho roupa e estou tentando
economizar agora para pagar a fotógrafa.” É a verdade.
Independentemente de quão longe eu levar minha vontade de
sair, tenho que guardar tudo o que posso até então. “Eu não
deveria gastar em coisas assim.”
Ele me dá a mesma expressão exata que deu um
momento atrás. “Você precisa de dinheiro? Por que você não
me contou?”
“Não preciso de dinheiro. Só não preciso gastá-lo agora.”
Sorrio para ele. “Mas obrigada por se preocupar. Tenho certeza
que você pode conseguir...”
“Bianca, eu juro que se você tentar me ajeitar com outra
amiga fingida de novo...”
“Eu vou contar para a Mama”, eu zombo dele antes de
começar a rir.
Ele aperta os lábios.
Eu rio mais, tão forte que há lágrimas nos meus olhos
quando ele decide ignorar o que estou fazendo e dizendo. Ele
não se esqueceu do que estamos falando.
“Eu vou deixar você pegar emprestado o dinheiro que você
precisar pagar para sua fotógrafa”, ele afirma, com o cenho
franzido.
Eu nunca pegarei o dinheiro dele... a menos que precise,
mas ainda não cheguei lá. E não está com vontade de discutir
com ele, então não digo nada e o deixo continuar tagarelando.
“E se você for comigo escolher uma fantasia, eu também
comprarei a sua.”
Suspiro. “Você pode ir sozinho, sabe.”
“Se eu quisesse ir sozinho, eu faria.”
Aposto que sim.
Aposto que se ele quisesse um encontro com uma mulher
bonita, também poderia conseguir em uma fração de segundo.
Era isso que eu estou prestes a lembrá-lo. Mas, em vez disso,
ele quer ir comigo. Eu não tenho certeza do porquê. Realmente
não entendo. Tanto quanto eu sei, ele não está com ninguém,
em nenhum lugar, desde o dia da sua festa. Todas as suas
postagens são relacionadas ao futebol.
Toda vez que me pergunto por que ele gosta de passar um
tempo comigo, a única pergunta na minha cabeça que surge é
que poder ser porque ele pode ser ele mesmo perto de mim.
Mas isso não contribui porque ele não age de maneira diferente
com outras pessoas. Talvez ele seja um pouco mais ridículo na
minha presença, mas a verdadeira essência dele, ele
compartilha com todos. É parte do que o torna tão agradável e
carismático. Além disso, são aqueles olhos malditos.
E o resto dele, honestamente.
Me toca o fato de ele ter ido à casa mal-assombrada para
apoiar seu companheiro de equipe. Isso diz muito sobre ele.
Pelo menos eu penso assim.
Bem, tanto faz. Não vou falar disso, então nunca saberei;
portanto, tenho que pegar as informações disponíveis para
mim — que, se ele quiser ir com outra pessoa, ele pode
facilmente — e tomar uma decisão.
“Ok. Pode ser meu presente de Natal”, concordo.
Ele bufa, mas assente. Então me inclino para frente e o
cutuco e sou cutucada de volta. Sorrimos um para o outro.
“Meus amigos estão planejando vir visitar para assistir
um jogo”, ele diz. “Ainda não tenho certeza. Eles têm três filhos.
E realmente quero que você os conheça.”
Ele quer? Eu assinto. “Ok. Diga-me quando.”
Sua atenção avança novamente e, um momento depois,
seu telefone começa a tocar do seu lugar na almofada do meio
entre nós, bem ao lado do meu pé. Dou uma olhada na tela e
vejo o nome piscar antes de ele apertar o botão ignorar.
ALICIA BLONDEATTY HOU
Engulo em seco.
Zac fica em silêncio por um segundo, mas não está
olhando para o telefone — ele mal olha para ele. Está focado
na televisão.
Ele nem está olhando para mim também quando põe a
mão no meu tornozelo e o segurou lá, apertando levemente.
Está quente e seco.
Ele deixa lá por um tempo.
Eu não posso deixar de imaginar um pouco mais quem é
Alicia. Alguém que ele conheceu em Houston aparentemente.
Não deveria ser uma surpresa.
Talvez seja a mesma loira da festa. Mais do que provável,
porém, é diferente. Ele não se lembrava dela quando eu a citei
há um tempo. Legal. Bem. Ok.
Meu telefone toca naquele momento e espio a tela para
ver que fui marcada em alguma coisa.
Marcado por HTWONHAUNTEDFACTORY.
Destravo a tela e aperto o ícone para abrir.
Eu cutuco os ombros de Zac, fazendo com que aqueles
olhos azuis balancem na minha direção. E mostro a tela para
ele.
Nele está Zac, principalmente, a boca aberta enquanto ele
ria, e atrás do ombro — como as outras vinte fotos que minha
avó tem na casa dela — estou eu. Um antebraço enrolado em
seu pescoço, rosto enrugado, olhos fechados. Atrás de nós está
o homem segurando a serra elétrica falsa, agindo como se
estivesse nos perseguindo, o que ele provavelmente está, mas
estou muito ocupada com os olhos fechados para ter certeza.
O homem proprietário me marcou no post. E Zac.
Eu. The Lazy Baker.
Zac. Zac “Big Texas” Travis.
Bem, se nossa amizade era um segredo antes, não é mais.
A mão no meu tornozelo aperta levemente, e olho para
cima para encontrar os olhos azuis claros de Zac no meu rosto.
“É uma boa foto, hein?” Pergunto a ele.
Seu polegar esfrega ao longo da sola do meu pé. “Sim,
garota. É realmente boa”, ele concorda, me olhando bem nos
olhos.
Eu teria pagado para ter uma foto do rosto de Trevor
quando ele nos viu caminhando até as portas da frente do
clube onde a festa de Halloween está sendo realizada, semanas
depois.
Honestamente, pelas poucas interações que tivemos, eu
não tenho certeza de que ele é fisicamente capaz de fazer mais
do que revirar os olhos, fazer uma careta ou deixar suas feições
completamente sem emoção. Então isso é alguma coisa. Quero
dizer, Zac precisou levantar a mão para fazê-lo apertar a minha
na segunda vez que nos conhecemos.
Primeiro, ele piscou.
Então juro que ele esfrega os olhos com a mão fechada e
olha para nós novamente, como se seus olhos o tivessem
enganado.
Eles não tinham.
Embora eu não goste do rosto incrédulo dele assim como
Zac, ainda assim me empolgo. E eu sei, sem dúvida, que Zac
me dá um grande pontapé porque começa a me dar uma
cotovelada e a rir. Todo “hehehe” baixinho enquanto
caminhamos pelo estacionamento com CJ e Amari atrás de
nós, mais do que provavelmente puxando suas próprias
roupas. Eu os ajudei a criar uma roupa rápida no dia anterior,
quando fui até a casa buscar Zac para que pudéssemos fazer
compras.
Sal e pimenta.
Isso quase trouxe uma lágrima ao meu olho.
Mas nada me fez rir como o que Zac e eu conseguimos
encontrar na loja de roupas.
Mas Trevor não está rindo enquanto olha para nós com
um suspiro e murmura: “Sério?”
O cotovelo coberto de xadrez de Zac atinge o meu coberto
de roupa.
Quero dizer, foi um destino assustador — como se
tivéssemos planejado quando não tínhamos. No entanto,
funciona perfeitamente. Além de perfeito, honestamente. Até
CJ balançou a cabeça quando nos encontrou fora de casa
enquanto esperávamos o carro que Zac chamou. “Vocês dois
iriam” é tudo o que ele diz antes de tirar uma foto nossa. Zac
tem um cotovelo no meu ombro, porque por que não quando
está nivelado e eu posso basicamente ser usada como muleta?
Eu pedi a CJ que tirasse uma para mim também no meu
telefone, e então Zac pegou meu celular e a enviou para si
mesmo.
“O que você acha, Trev?” Zac pergunta quando paramos
na frente de seu empresário de longa data.
Trevor esfrega o rosto novamente, finalmente me fazendo
ver o “traje” que ele usa.
Não é muita coisa. Honestamente, ele parece como
costuma parecer. Tenho certeza que o vi usando o mesmo
terno uma semana atrás, quando fui buscar Zac antes de ir ao
cinema. Ele estava estressado pra caramba naquele dia — eu
pude perceber pelo rosto dele, mas foi por causa do jogo que o
White Oaks foi definido para jogar no dia seguinte. Ir ao cinema
foi minha ideia de tentar tirar o pensamento dele das coisas.
Infelizmente, o time perdeu o primeiro jogo que Zac havia
iniciado, mas venceu o segundo e passou com outra vitória
pelo terceiro.
Boogie chegou a Houston e assistimos ao jogo em casa —
o primeiro desde que Zac assumiu o controle — nas
arquibancadas, enquanto gritávamos. Depois, Zac veio ao meu
apartamento e fez churrasco no meu pátio para comemorar.
Foi muito divertido.
Foi a poucas semanas — semanas nas quais eu não vi
Trevor novamente, mesmo que tenha visto Zac quase todos os
dias quando ele não ficou até tarde para assistir filmes ou fazer
o que fazia nas instalações dos White Oaks. Nos dias em que
não o vi, ainda mandamos mensagem. Às vezes ele ligou. Estar
muito perto dele começava a ser uma segunda natureza.
E então nós fomos à loja de Halloween em um de seus
dias e meio.
Trevor, por outro lado, não foi a uma loja de roupas. Ele
está em um terno preto fino e elegante, com uma camisa
branca e uma gravata preta. A única diferença é que o cabelo
que ele usualmente penteia e passa gel para trás está repartido
no meio e poder ter um pouco de óleo nele. Está muito mais
longo do que parece quando ele usa o estilo normalmente;
atinge quase o queixo.
Ele está…?
“Acho que não deveria me surpreender”, ele diz
secamente em resposta à pergunta de Zac sobre o que ele
pensa sobre nossas roupas.
Zac olha para baixo ao mesmo tempo em que olho para
cima, e nós dois sorrimos, os cotovelos se encontrando
novamente, conforme isso nos agrada. Porque faz. Há tantas
vezes que você tem que agir como um adulto, mas se tenho a
oportunidade de não... bem, eu aceito. “Você tem apenas a
idade que diz a si mesmo”, Mamá Lupe dizia. E tenho muita
sorte que Zac se sente da mesma maneira.
Mesmo que eu sinta que o traje dele não é muito
exagerado, mas é o que o torna ainda melhor.
Em suas botas mais “country”, que sua mãe enviou para
ele da noite para o dia, com esporas nelas e tudo mais; jeans
azuis apertados que abraçam cada centímetro daquelas pernas
longas e musculosas; uma grande e antiga fivela de cinto
vintage que ele me disse pertencer a Paw-Paw, que sua mãe
também enviou; e uma camisa xadrez amarela de mangas
compridas e botão... ele poderia passar por um cowboy. Mas é
o colete estampado de vaca, a bandana vermelha, a grande
estrela falsa presa ao colete e o chapéu de cowboy inclinado
que realmente arremata tudo.
Sentei do lado de fora da porta do provador rindo muito
por pelo menos dois minutos quando ele saiu com o que a loja
de roupas forneceu.
E foi enquanto eu ria que ele perguntou ao funcionário se
eles tinham a roupa que estou vestindo atualmente.
Eles tinham, e ele trouxe para mim como uma oferta.
Eu não pensei duas vezes sobre isso. Eu concordei. E
mesmo que fosse para alguém mais alto e maior que eu — um
homem pequeno — fiquei feliz por não ter ser totalmente
impermeável. É apenas regular e apertado. O spandex branco
tem algumas linhas verdes ao redor do estômago e dos
antebraços. Eu uso um cinto preto grosso e, sobre o peito, há
uma peça de espuma com botões vermelhos, ombreiras e mais
detalhes em verde. O capuz do terno de spandex é roxo e
esconde quase todo o meu cabelo. Uso sapatilhas prateadas e
coloquei tecido verde sobre os dedos com fita dupla face que
tenho a sensação de que cairão nos primeiros trinta minutos.
A única coisa que falta é um laser e asas retráteis.
Mas de qualquer forma. Não é sexy, mas eu e Zac rimos,
então fiquei feliz com isso. Estou tão estressada e confusa
sobre outras coisas acontecendo, que preciso disso.
Perguntei a ele como estava, e ele cruzou os braços sobre
o peito, balançou a cabeça e disse: “Absolutamente linda,
querida.”
Uma mentira, mas eu aceitei.
Eu me concentro de volta em Trevor. “Ei, Trev.”
Ao meu lado, Zac engasga. Ele já havia explicado o quanto
odeia ser chamado de Trev, mas desde que ele não é
particularmente gentil comigo — mais como se sofresse com a
minha presença quando estou por perto — acho que estamos
bem.
“Trevor”, ele corrige.
Sim Sim. “Você deveria ser John...”
“Wick. Sim. Vamos entrar. Quero sair daqui em uma
hora. Eu vim direto do aeroporto. Tenho coisas a fazer.”
Uma mão pousa no ombro acolchoado do meu traje Buzz,
apertando-o por um momento antes que aqueles dedos se
enrolem na minha nuca e fique lá enquanto seguimos Trevor.
Há uma fila, é claro, mas ele vai direto para os seguranças,
segurando o que parece ser um passe holográfico laminado que
os homens verificaram com lanternas e sob algum tipo de luz
azul antes de acenarem para o nosso pequeno grupo. Eu não
posso ouvir Amari ou CJ sobre a música que entra pelas portas
e paredes enquanto passamos por elas. Não está nem perto do
barulho que um clube costumava ter, mas ainda é barulhento
o suficiente para que eu pense que terei que ficar olhando
bocas o resto da noite para entender o que alguém diz — se
alguém falar comigo essa noite, em primeiro lugar.
Já há muitas pessoas lá dentro.
E como se pudesse ler minha mente, Zac se inclina bem
perto, o leve fôlego de sua respiração fazendo cócegas em
minha orelha enquanto ele reafirma: “Fique comigo, está
bem?”
Eu já estava pensando nisso desde que ouvi falar sobre
isso. “Tudo bem. Você não precisa tomar conta de mim ou algo
assim. Eu sei que você pode ter que fazer as suas coisas.
Ficarei bem por um tempo. Se eu quiser sair, sei como chegar
em casa.” Sorrio para ele.
As sobrancelhas dele se abrem sob a aba baixa do chapéu
de cowboy. “Chegar em casa? Sozinha?” Ele pergunta como se
eu tivesse acabado de dizer que irei competir nas Olimpíadas
de ginástica.
Olho para seu rosto bonito e assinto. Ele realmente é o
Woody perfeito. Mas o que? Ele pensou que eu iria para casa
com alguém? Ele sabe que eu tenho que trabalhar na manhã
seguinte; Mencionei isso no mínimo seis vezes. Eu não ficarei
aqui a noite toda. Ele também não planejou isso, pelo que
disse.
Zac se aproxima, inclinando a cabeça para que eu possa
dar uma boa olhada em seus lábios. “Que tal isso, ficaremos
por uma hora e depois sairemos daqui como Trev está
planejando. Nós podemos fazer o que você quiser depois disso.
Combinado?”
O “sim” está lá, mas também o conhecimento que ele
conhece pessoas aqui. “Zac, você sabe que meus sentimentos
não serão machucados se você preferir sair com...”
Ele pressiona o dedo indicador contra os meus lábios.
Eu pisco para ele e digo com o dedo ainda sobre a boca:
“Eu vou lamber seu dedo, e você sabe que vou.”
Zac ri, me dando um tapinha no nariz. “Prefiro sair com
você a ficar aqui. Você me entende? Ou tenho que dizer de novo
pelo... o quê? A quinquagésima vez?”
Eu não preciso olhar o rosto dele para saber que está me
dizendo a verdade. Então assinto e pergunto: “O que eu
quiser?”
Ele assente sério.
“Ok.”
“O que você está pensando?”
“Drive-through Taco Bell.”
Zac pisca. “Drive-through?”
“O que, você é bom demais para drive-through agora?”
“Eu criei um monstro.”
“Travis!” Alguém grita do nada.
É um cara grande e corpulento que vem andando.
Grande. Muito grande. Quando Zac nos vira em sua direção,
seu braço não se move nem um centímetro.
“'Sup, cara?” O homem pergunta. “Você é... Woody?”
“Woody, e tenho meu companheiro, Buzz, aqui.”
Eles se abraçam, e o outro homem olha de mim para Zac
e depois de volta para mim novamente.
Zac desliza o braço sobre os meus ombros antes de
encostar a cabeça na minha. “Bianca, esse é Milton. Milton,
Bianca”, Zac diz.
Estendo a mão em direção a ele, e ele a toma na sua mão
enorme, o braço em mim não indo a lugar algum. “Prazer em
conhecê-lo.”
“Prazer em conhecê-la.” O outro homem estremece. “Você
é a Bianca?”
A Bianca?
“Sim”, é Zac quem responde. “Aquela de quem eu lhe
contei.”
Ele está falando de mim?
“Não brinca.” De repente, ele parece muito mais
interessado. “A Baker?”
“Lazy Baker”, Zac o corrige para mim. “Ela tem mais de
dois milhões de seguidores no WatchTube. Pra ser exato.”
Aqui estou eu mantendo minha vida em segredo de quase
todo mundo, e aqui está ele dizendo a todos.
“Sim, sim, sim”, o cara estala os dedos. “De receitas. Zac
me mostrou sua página.”
Ele mostrou?
Seu sorriso é tão doce que tenho que piscar. Eu fico ali
enquanto eles conversam sobre alguma coisa, mas estou muito
chateada por ele ter dito a seus colegas sobre mim que fico bem
quieta, absorvendo tudo.
Maravilhada com isso.
Ele realmente é o melhor cara.
E não pela primeira vez, meu coração dá uma pequena
cambalhota com o fato.
Mas no segundo em que o outro homem se afasta, saio de
debaixo do seu braço e pergunto: “Você contou às pessoas
sobre o meu canal?”
Ele me dá um pequeno sorriso engraçado. “Sim, por quê?”
Ele assinala a cabeça para o lado. “Você não queria que eu
dissesse nada?”
Eu disse a mim mesma pelo menos duas vezes por dia no
último mês que não voltei a me apaixonar por Zac. Que eu não
vou. De jeito nenhum. Não mesmo. Isso não vai acontecer.
Às vezes eu consigo acreditar em mim mesma; outras
vezes, sei que estou me enganando.
E ele está dificultando essa opção A. Muito, realmente.
“Não, quero dizer, você pode fazer o que quiser. Mas não é
grande coisa...”
“Por que você está sempre tentando minimizar isso, hein,
querida? É um grande negócio, e estou muito orgulhoso de
você, mesmo que eu não tenha nada a ver com isso.” Ele move
a cabeça para o lado. “Bem, você costumava me fazer coisas,
então eu meio que fui sua cobaia, hein?”
Eu... Bem...
“E você nunca me subestima”, ele argumenta.
“Porque não há nada para subestimar.”
“Estou apenas na organização agora porque os White
Oaks perderam os dois quaterbacks, garota.”
Ele está prestes a levar um soco na lateral. “E? Você é
incrível. Você é incrível.”
“Você acha que sou incrível?” Pergunta este boneco.
Mantenho o rosto calmo; Eu não estou disposta a enganá-
lo. “Eu sei que você é. Você é quem parece esquecer isso.”
Ele me observa de perto com aqueles olhos. Assim que
abre a boca, alguém ao lado tropeça para trás contra mim.
Mas, assim que sou empurrada pelo peso do estranho, a
mão de Zac se estica, empurrando a pessoa de volta para onde
veio antes que ela possa cair sobre mim. Olho para ele e não
perco a carranca no rosto de Zac quando o homem se vira para
olhar quem o empurrou.
Pela cara que ele faz, ele o reconhece. “Desculpe,
desculpe”, o cara pede desculpas rapidamente.
Zac não diz uma palavra quando agarra meus ombros e
me aproxima da parede ao nosso lado, colocando seu corpo
entre mim e a multidão.
“Você está bem?” Ele pergunta quando o cara se vira e se
afasta.
“Sim, estou bem. Ele apenas pisou em mim um pouco.”
Olho para ele quando me ajoelho para esfregar a parte superior
do meu pé. “Obrigada por me proteger.”
Um lado da boca dele se inclina para cima. “Peewee, eu
nunca deixei nada acontecer com você.”
Lá se vai meu coração novamente, e tento escondê-lo com
um sorriso. “Como você sabe, eu nunca deixaria nada
acontecer com você?”
Ele assente uma vez. “Bem desse jeito.”
Ele estende a mão e me ajuda a levantar.
E é quando eu os vejo.
Sei imediatamente quem eles são usando suas roupas de
Morticia e Gomez Addams. O vestido preto apertado e o batom
preto não escondem quem ela é. O terno preto e o que eu sabia
que é um bigode preto falso também não escondem a
identidade dele.
Eu chio e Zac me dá um olhar interessado. “O que é?”
Agarro seu antebraço. “Oh meu Deus, Zac, é Jasmine e
Ivan Lukov!” Eu sussurro.
Sua cabeça vira na direção em que estou olhando, e nem
tenho certeza de que ele está olhando para o mesmo casal que
eu, porque ele pergunta, “Quem?”
Quem? Ele está brincando comigo? “Eles só ganharam
uma medalha de ouro! Oh meu Deus, eu vou desmaiar. Eles
são apenas o melhor par de patinação artística de todos os
tempos!” Não estou brincando. Posso desmaiar. Eu assisti a
todas as competições de patinação artística em que eles
participariam, só para vê-los andar de patins. E assisti a um
vídeo do WatchTube de dois anos atrás, e eles me encantaram
completamente desde então.
“Como você sabe disso?” Zac pergunta, quase com uma
risada, enquanto sua mão envolve meu pulso.
Olho para cima para encontrar seu olhar e puxo o
antebraço que eu ainda estou segurando. “Como você não sabe
disso? Me apresente! Por favor!”
Ele olha para mim e dá de ombros, seus dedos dando um
aperto suave nos meus. “Tudo bem, tudo bem. Também não os
conheço, garota, mas podemos inventar algo. Vamos.”
***

Acabo de sair da cabine do banheiro após o xixi mais


longo da minha vida — depois de lutar por cinco minutos
sólidos para tirar o estofamento de espuma da metade superior
do meu traje Buzz Lightyear e depois tirar o traje de spandex
até que ele estivesse em meus joelhos — quando vejo a próxima
pessoa que me faz parar no lugar. Eu realmente não tenho
ideia de por que as pessoas usam macacão. Eu morreria. Ou
faria xixi em mim. Foi por pouco.
Estava segurando por pelo menos uma hora. Uma hora
em que vinte minutos foram gastos conversando com o par de
patinadores vencedores de medalhas de ouro por quem ainda
estou mais apaixonada depois de conhecer. Eles são
autodepreciativos e engraçados, e Jasmine é ainda mais bonita
pessoalmente do que na TV. E eu quero ter um rosto
presunçoso tão bom quanto o dela. Ivan Lukov também é o
homem mais bonito que eu já vi — sua beleza só é superada
pela de Zac, mas de uma maneira diferente. Zac tirou uma foto
minha com eles, o que fez o meu ano.
Outros vinte minutos foram gastos conosco na pista de
dança, e depois o resto do tempo comigo ao lado de Zac
enquanto ele conversava com algumas pessoas que conhece.
E quando chegou a hora de sairmos da festa de
Halloween, o telefone dele começou a vibrar com um alarme
que eu nem sabia que ele havia ativado, e decidi ir para o
banheiro antes de sairmos.
E é por esse motivo que estou lá nesse exato momento.
Para encontrá-la na pia, lavando as mãos, vestindo uma
fantasia de Chapeuzinho Vermelho com uma máscara de lobo
em cima do balcão.
No maldito banheiro, de todos os lugares.
Dez anos se passaram, mas eu reconheço aquela porra de
cara.
O rosto que pertence a uma princesa da Disney — uma
princesa da Disney que eu pensei originalmente pertencer a
um príncipe da Disney.
Como adulta agora, talvez ela ainda mereça um príncipe
da Disney... em um filme diferente.
Ela era uma Cinderela cadela... e eu sou Mulan. E Zac...
Zac é... bem, Zac parece o príncipe da Bela Adormecida, mas
por dentro, ele é um Olaf.
E Olaf é o meu favorito.
Ele não merecia essa imbecil. Ele nunca mereceu. Parte
de mim entende que ele estava pensando com o pau dele e não
com a cabeça quando namoraram por alguns meses, mas
ainda me surpreende que ele deixasse alguém tão horrível em
sua vida. Ele não viu? Ele não sabia? Eu não tenho certeza.
O que eu sei é que agora ela está aqui. Na minha frente.
Na porra do banheiro.
Eu nunca a procurei uma vez em todos os anos desde que
ela esmagou meu orgulho e auto-estima em pedacinhos. Eu
pensei sobre isso uma ou duas vezes, mas me parei a tempo.
Mas isso não significa que não fiz uma promessa para
mim mesma — uma promessa que fiz no dia em que decidi que
seria mais do que uma criança com quem alguém passeava por
pena. No dia em que decidi que iria me orgulhar primeiro.
Se eu vir àquela cadela de novo, vou contar a ela. Vou dizer
a ela “obrigada por ter sido uma idiota comigo e você machucou
meus sentimentos por anos. Vá se foder.
Na maioria das vezes, penso que sou madura, ou pelo
menos mais madura. Mas naquele segundo, com ela parada
na pia, tão bonita como sempre — parte de mim deseja que
tivesse crescido um monte de pêlos faciais ao longo dos anos
nela — qualquer maturidade que eu tivesse em mim
desaparece. Simplesmente assim.
Ela olha para cima, seu olhar pegando o meu através do
reflexo.
E talvez, talvez, se ela tivesse sorrido ou feito algo
diferente de me olhar de cima a baixo, talvez eu tivesse deixado
para lá. Mas as palavras ainda soam frescas em minha alma.
Ela não faz nada amigável. Parece me avaliar com seu
olhar ainda insensível, me encontro ausente, depois termina
de se enxaguar na pia. Sem importância e esquecida.
Eu fico lá quando ela sacode as mãos, a água voando por
toda parte, e me inclino para frente para me aproximar do
espelho montado na parede.
E sei o que vou fazer.
O que eu tenho que fazer. Para o ‘eu’ mais jovem. Para
qualquer outra pessoa que ela já tenha sido feia, isso também
não se sustentou.
Especialmente quando Zac está parado em algum lugar
próximo à porta, pronto para sair comigo depois que já passou
horas na minha companhia. Porque ele se importa comigo e eu
me importo com ele.
Porque fomos feitos para sermos amigos. Estar na vida
um do outro. Nas últimas semanas, ele se tornou meu melhor
amigo também.
Porque foi tanto minha culpa como de Zac que nos
separamos ao longo dos anos, mas Boogie está certo, você tem
que se dedicar às amizades e relacionamentos, e muita coisa
poderia acontecer já que eu basicamente desisti e recuei. Por
causa dela. E talvez se eu continuasse tentando remotamente
depois de desistir inicialmente, ele teria voltado para mim com
as duas mãos.
De qualquer maneira, ela foi uma idiota, e eu quero que
ela saiba que não esqueci suas palavras e ações.
É quando um pedaço de um pensamento de Zac vendo-a,
me bate bem no peito. De vê-la e lembrar que eles namoraram
um pouco. Das chances de ele ainda a achar atraente e
reacender algo.
Mas... tudo bem. Se ele quiser iniciar um relacionamento
com alguém como ela novamente tudo porque ela é linda,
então... tanto faz. Será culpa dele.
Mas isso, isso é sobre mim.
Empurrando meus ombros para baixo — eu visto minha
roupa de novo — fico exatamente onde estou e digo o nome
dela. “Jessica?”
A mulher imediatamente olha para mim no reflexo do
espelho, as sobrancelhas unidas em confusão. Ela faz uma
pausa, como se estivesse pensando sobre isso, como se não
tivesse certeza se nos conhecemos e se esqueceu, mas
responde depois de um segundo: “Sim?” Ela se vira, aquela
expressão confusa crescendo em seus traços ainda bonitos.
Zac não tem mais tempo para você, querida. Ele tem coisas
a fazer, e é bom demais para lhe dizer isso. Talvez se você
reprimir o quão carente está dele...
“Meu nome é Bianca”, digo a ela, sem esperar que ela se
lembre e sem surpresa quando ela não reage. “Nós nos
conhecíamos há muito tempo. Você namorou meu amigo
Zac.” E, caso ela tenha namorado mais de um Zac, entro em
detalhes. “Zac Travis.”
Eu nunca vi pessoalmente alguém literalmente ficar
branco. Sou pálida e ainda mais pálida durante o inverno, mas
não sou nada como ela, então. Nem mesmo perto.
Então, outra coisa desliza por seu rosto. Medo. Pânico.
Ela se lembra do que disse?
Bem, eu não corro o risco de que ela não saiba o que
carreguei palavra por palavra nos últimos dez anos. “Eu não
sei se você se lembra, mas você me disse...”
Ela dá um passo para trás, esbarrando no lavatório de
uma maneira que parece que nem sente que esbarrou. “Oh
merda”, ela sussurra tão baixo que mal ouço. “Eu sinto muito.”
Ela já está se desculpando antes que eu possa lembrá-la
do que me fez? Estou esperando por essa merda há anos. “Você
se lembra do que me disse?” Pergunto a ela quando suas mãos
vão para a beira do balcão, como se ela estivesse tentando se
segurar.
“Eu, eu, merda. Merda”, a mulher gagueja. “Me desculpe,
eu esqueci. Eu... eu esqueci. Eu pretendia fazê-lo apenas por
um tempo... Por alguns meses, mas eu esqueci até agora...
Merda. Merda, merda, merda”, ela ecoa, olhando para mim
com olhos arregalados e medrosos que não fazem sentido.
Do que diabos ela está falando?
“Você só queria fazer o que por um tempo?” Ela me
confundiu com outra pessoa? Ela foi ruim com outra pessoa
na vida de Zac? Um de seus primos, talvez?
Mas ela não responde, porque está muito ocupada
repetindo: “Oh merda, oh merda, oh merda”, baixinho,
enquanto levanta as mãos ao rosto... e depois as tira de
repente.
Muito rainha do drama? Eu planejava isso há anos.
Estava deitada na cama e elaborei meu discurso há muito
tempo, pronta para essa oportunidade, e agora ela está
tentando mudar de ideia e fazer isso sobre ela? Nuh-uh.
“Você me disse coisas. Você se lembra? Você me disse que
eu era...
A mulher bonita balança a cabeça, o rosto ainda mais
pálido que algo pálido, e dá um passo à frente. “Olha, me
desculpe. Sinto muito pelo que fiz. Eu não deveria ter vindo...”
Minha boca fala antes que eu possa parar. “Sim, você
deveria sentir. Você foi má. Eu tinha acabado de deixar de ser
criança e você...”
Ela levanta a mão, como se tentando me impedir de ficar
muito perto dela. “Ele te amava muito, e eu estava com ciúmes,
e sinto muito...”
“Eu não quero seu pedido de desculpas. Você me
machucou. Deixei uma das minhas pessoas favoritas do mundo
se afastar por dez anos por causa do que você disse.”
Se eu pensava que ela parecia assustada antes, suas
feições ficam aterrorizadas depois do meu último comentário.
“Oh, Deus”, ela murmura antes de se virar, quase
tropeçando enquanto se dirige para a porta, dizendo por cima
do ombro: “Sinto muito. Eu sinto muito.”
Ela sai de lá, deixando sua máscara para trás.
E, porra, minhas mãos estão sujas — talvez eu possa
tocar seu rosto com as mãos sujas como vingança — mas vou
atrás dela, parando para esguichar um pouco de sabonete nas
mãos porque eu não sou um monstro total... mas confusa pelo
fato de ela parecer tão doente e assustada. Porque algo me diz
que não é a reação de alguém que se sentiu mal por como se
comportou na casa dos vinte anos. É mais profundo que isso.
Em algum lugar do meu coração, eu sei disso.
E é por isso que vou atrás dela pela porta.
E é por isso que paro instantaneamente do outro lado.
Porque ela esbarrou em Zac, e todo o seu corpo treme e
sua boca escorre por uma longa fila de palavras sem
interrupção, sem respiração, sem piscar de olhos.
“Sinto muito, ter me esquecido... eu só queria fazer isso
um pouco, mas depois você se separou de mim uma semana
mais tarde e eu estava zangada e não me importei e pensei que
você ia corrigir tudo e eu sinto muito, sinto muito, sinto muito
Eu nem tenha certeza se Zac a reconheceu pela expressão
que porra é essa no rosto dele quando ela derrama suas
desculpas.
Mas o homem que eu não reconheci que se posta para
ficar ao lado de Zac deve entender o suficiente, porque ele
coloca a mão no ombro dela e diz, “Bebê, do que você está
falando?”
Bebê? O namorado dela? Marido?
Na verdade... ele parece um pouco familiar.
Ela quase desmaia. Ela engole em seco. Parecia que ela
quer correr, mas fisicamente não pode porque está tremendo
muito.
“Jessica, o que você fez? O que você achou que ele
consertaria?” O homem alto e super musculoso pergunta à
mulher que me chutou com suas palavras na adolescência.
O olhar azul bebê de Zac encontra o meu em confusão, e
eu sei que tenho que dizer a ele. O que ela disse, o que fez e o
que eu fiz.
Me distanciei. Parei de mandar mensagens para ele. Me
afastei totalmente.
Eu desisti dele de certa forma.
Assim que abro a boca para dizer a ele, Jessica olha para
mim, depois para o rosto confuso de Zac, e de volta para mim.
E ela exala quatro palavras que não fazem sentido. “Eu estava
com ciúmes.”
É o homem que pergunta gentilmente, pois sua própria
expressão é tão confusa quanto à de Zac: “De quê?”
Eu não tenho certeza do que diz sobre mim o fato que não
sinto nenhuma simpatia por ela. Nenhuma.
É então que Zac pisca e pergunta: “Espere um minuto.
Você parece familiar. Nós...” Ele para e olha para o homem que
ele deveria ter conhecido, parecendo envergonhado de repente
“...saímos? Há muito tempo atrás?”
Vou dar um tapa nele. Na bunda, para não estragar seu
rosto fotogênico. Ele não se lembra dela.
Eu não tenho certeza se isso torna as coisas melhores ou
piores.
Talvez ele precise de mais informações. JESSICA
BRUNETTUDUDENT DAL. Pelo menos ela era uma estudante
quando eles namoraram.
Eu quero chutá-lo bem na bunda.
A mulher, Jessica, faz um barulho na garganta enquanto
levanta os olhos lentamente para fazer contato com Zac, uma
expressão de surpresa varrendo suas feições. Tenho 99% de
certeza de que há raiva em seus olhos quando ela olha para
ele.
Então, naquele exato momento, eu posso sentir um pouco
de pena dela. Mas só um pouquinho. Porque caramba.
Só por um segundo. Até que ela abre a boca novamente,
a raiva se transforma em incredulidade em um piscar de olhos.
“Por três meses, Zachary Travis”, ela diz friamente.
Ela solta o sobrenome dele. Sim, ela está definitivamente
chateada e insultada.
O outro homem pisca surpresa, mas se é pelo tom dela
ou pelo fato de que ele não sabia que eles haviam “namorado”,
eu não faço ideia. Estou tão brava que não consigo terminar o
que queria fazer, caramba.
“Ainda mais burro do que uma caixa de pedras, hein?”
Ela diz com uma voz malvada que faz o outro homem ficar
quieto. Zac, por outro lado, estreita os olhos como se estivesse
tentando se lembrar... e falhando. Eu posso dizer pela
expressão em seu rosto; um olho fica mais vesgo que o outro.
Mas eu não esqueci.
E ela não está prestes a dizer nenhuma merda assim para
ele.
“Não fale com ele assim”, eu falo irritada.
Ela revira os olhos, o medo e o corpo trêmulo se foram
magicamente. “Você. Ainda o defendendo. Ainda o segue por aí
como um cachorrinho, hein?”
Para onde diabos a cadela assustada foi? Eu me
pergunto, ofendida e louca de novo. Eu não sou o filhote de
ninguém. Eu sou um pastor alemão, talvez um Malinois Belga;
não o menor ou o maior, mas forte, orgulhoso e leal.
Foda-se ela. Idiota.
“Então?” Pergunto a ela porque é a primeira coisa que me
vem à cabeça. Eu quase digo que pelo menos ele se lembra de
mim, mas não veio rápido o suficiente.
“Jessica”, o homem declara, nos distraindo. “Do que você
está falando? O que você fez?” Ele faz uma pausa. “E não
minta. Nem pense nisso.”
E lá está ela, voltando a ter medo. Ou talvez não esteja
tão assustada quanto... presa. Resignada e aterrorizada com
isso, é o que isso é.
E eu não devo ser a única pessoa a entender porque Zac
diz: “Eu me lembro de você agora.” E num piscar de olhos, sua
cabeça se levanta, sua expressão muda para uma tão séria que
é assustadora, e ele pergunta: “Do que você está falando?”
O homem diz o nome dela tudo lento e tenso.
Ela engole em seco novamente, e uma profunda sensação
de medo enche meu estômago. Um aviso. Uma premonição.
Lágrimas enchem seus olhos. Lágrimas em que eu
realmente não acredito pela rapidez com que aparecem e com
o quão sem esforço ela bate nos cílios. “Sinto muito, ok?” Ela
sussurra em uma voz minúscula que me faz querer bater nela
também. Não no imbecil.
E já que eu não confio nesses caras para não aplaudirem
seus lindos olhos azuis ficando lacrimosos, interfiro. “Pelo que
você sente muito? Pelo que me disse?”
Não. Isso não. “Pelo que eu fiz”, ela responde, ainda
usando a voz minúscula que quero pisar. “Com os números de
telefone...”
Os números de telefone?
Eu penso que é Zac quem realmente diz essas mesmas
palavras em voz alta em uma pergunta.
Jessica assente timidamente e no chão novamente.
Quais números de telefone?
É o homem que pergunta com um rosto confuso: “Que
números de telefone? O que você fez? Diga a verdade.”
O fato de ele continuar perguntando o que ela fez não se
instalaria no meu cérebro por horas. Que tipo de pessoa você
é? Gostaria de saber mais tarde, que alguém assumiria que
você fez alguma coisa. Mas não me preocuparia com isso por
horas. Até tarde. Até depois de tudo isso ser esclarecido.
Ela começa a chorar, apenas uma lágrima, depois duas,
e funga. “Os números de telefone.”
Do que diabos ela está falando?
“Eu... me desculpe. Eu estava com ciúmes, Enzo. Voce
entende? Eu estava com ciúmes, e eu... eu era muito mais
jovem e me desculpe, ok? Me desculpe, eu fiz isso.” Ela para,
fungando, fungando e fungando.
Falsa, falsa, falsa. As pessoas realmente se apaixonam
por esse ato? Olho para o meu velho amigo para verificar sua
reação e congelo com sua expressão.
“O que você fez?” Zac pergunta com a voz mais calma e
mais plana que eu já ouvi dele. Seus ombros estão abaixados,
e aquele brilho em seus olhos, que é quase tão estável quanto
o sol, se foi. Até todas as linhas em seu rosto estão suaves.
Duas faixas de rosa marcam suas bochechas, e eu sei que não
é um rubor. É raiva.
Zac está com raiva.
Ela move o olhar para ele, lacrimejando e murmura:
“Sobre trocar seus números...”
O que?
Zac olha para mim. “Querida, você sabe do que ela está
falando?”
Eu não tenho ideia e digo isso.
A mulher começa a chorar, e posso ver alguns rostos se
virando ao som. As lágrimas parecem tão falsas que não posso
acreditar. Minha sobrinha é melhor no choro falso do que isso
desde quando ela tinha um ano de idade. Eu já vi Connie
chorar centenas de vezes, e ela poderia ter ganhado um Oscar
por seu trabalho como atriz.
Jessica tem experiência, eu posso dizer, mas não tem o
mesmo talento que minha irmã ou minha sobrinha em fazê-lo.
Além disso, eu não gosto dela, então não me divirto.
Meu estômago fica tenso.
“Quais números você trocou?” O cara, Enzo, pergunta,
com cuidado, devagar também.
Ela funga novamente, e eu mal a ouço responder. “O
deles...”
Do que diabos ela está falando?
Um deles deve ter perguntado por que ela responde.
“Desculpe, ok? Eu sinto muito. Acabei por esquecer, e pensei
que eles acabariam percebendo e não seria grande coisa, e eu
não sabia, ok? Eu não quis...”
“Jessica.” O homem chamado Enzo dá um passo atrás
antes de perguntar: “O que você fez exatamente? Não. Minta.”
Ela coloca as mãos no rosto enquanto seus ombros se
curvam, e tenho certeza que mal a ouvimos.
Mas nós a ouvimos bem. Pelo menos a maior parte.
“Troquei seus números de telefone em cada um de seus
telefones.” Ela choraminga. Falsa, falsa, fodidamente falsa.
“Eu... eu... vocês deixaram seus telefones por perto e eu os
peguei, ok? Peguei e troquei seus números pelos da minha avó,
e me desculpem. Me desculpem.”
Respiro fundo que apenas eu ouço, principalmente
porque tenho certeza que Zac faz o mesmo som. E Enzo para.
Ela...
Ela...
“Você...” Zac começa a dizer com uma voz tão dura e
quebradiça que acho que ele aprendeu isso com Trevor. É
malvado. Implacável. Rígido. “Você está dizendo que pegou
meu telefone e mudou o número de Bianca?”
Não.
Ele continua, todo frio e gelo e absolutamente diferente
do homem que eu conheço e amo. “É isso que você está
tentando dizer?”
“Você se queixou de sua avó ter um celular que ela se
recusava a usar...” Enzo para, parecendo atordoado.
Ela chora ainda mais.
E isso me faz sentir tão fodidamente fria.
Doente.
Louca.
Porque tenho certeza que entendo o que ela fez.
Ela ficou com ciúmes.
Ela tirou nossos celulares de onde quer que eles
estivessem perto dela durante uma das poucas vezes em que a
encontrei.
Ela mudou os números sob nossos contatos para o
telefone da avó?
É isso o que ela está dizendo? Um telefone que pode
nunca ter sido atendido ou verificado? Meus pais deram a
Mamá Lupe um telefone pré-pago que morava no porta-luvas
dela. Ela usava apenas o telefone residencial.
E então Zac terminou com ela logo depois disso e ela
nunca consertou? Nunca disse nada?
“Por que você faria isso?” Pergunto a ela antes que possa
me parar, com os braços formigando e quase dormente.
Ela mudou nossos números.
Ela mudou nossos números.
Essa Jessica Idiota soluça. “Eu sinto muito!”
Acho que nunca quis tanto dar um soco em alguém na
minha vida. E espero que nunca queira. Minhas mãos estão
congelando e meu estômago aperta.
Eu posso ouvir Zac dizendo algo para ela. Posso ouvir o
outro cara falando também. Todos os três parecem estar
falando ao mesmo tempo, mas meu coração está batendo tão
rápido que faz meus ouvidos zumbirem, e tudo que quero
naquele momento é uma coisa.
Bater na bunda dela, mas como não posso fazer isso —
não farei isso, ela não vale a pena ir para a cadeia — há apenas
uma opção, considerando que quero matá-la.
Dar o fora daqui e me afastar dessa porra de monstro.
Eu nem sequer processo pegar meu telefone e solicitar
um carro.
Sei que Trevor diz algo para mim enquanto passo por ele
na saída, olhando para o meu telefone e para o ponto piscante
que diz que meu motorista está perto. Talvez até CJ disse
alguma coisa quando passei por ele, e talvez eu tenha dito
alguma coisa para ele de volta, mas não tenho certeza.
Tudo que sei é que fodidamente quero... não tenho
certeza do que quero fazer. Gritar. Chorar. Chutar a bunda de
alguém.
Eu quero chutar minha própria bunda, acima de tudo.
Mas o que eu sei é que quero dar o fora dali, pelo menos.
Eu quero ir para casa.
E é o que faço quando entro no carro, que já está
estacionado e aguarda no estacionamento quando empurro a
multidão. Talvez tenha sido o mesmo passeio que alguém fez
lá. Não é como se isso importasse.
Pode ter passado apenas cinco minutos, talvez menos —
apenas o tempo suficiente para eu e o motorista nos
apresentarmos — quando meu telefone vibra. A tela mostrava
ZAC THE SNACK PACK nela. Por um milissegundo, penso em
não atender.
Mas essa não sou eu, e este não é o momento certo. Ele
não fez nada.
Talvez ele estivesse certo.
Talvez ele realmente tenha tentado me ligar. Ou me
mandado uma mensagem.
Talvez ele não tenha recebido algumas das minhas
mensagens ou ligações também.
Eu não consigo pensar em uma única pessoa que odeio
tanto quanto odeio Jessica naquele momento. Nem o ex que
me traiu. Nem a garota com quem ele me traiu que sabia que
ele tinha uma namorada. Ninguém. Nem mesmo Gunner. Nem
as pessoas mais malvadas que já deixaram comentários nos
meus posts.
Quem faz esse tipo de merda? Quem vai no telefone de
alguém e faz isso? Porque ela estava com ciúmes? Eu tinha
dezessete anos e basicamente era um membro da família. Não
era como se ele estivesse apaixonado por mim ou me tivesse
tratado de alguma maneira que fosse diferente de uma
irmãzinha amada e irritante. Eu estava na idade em que mal
construí meu senso de valor próprio, e ela roubou quase tudo
com seus terríveis comentários. Ela me fez abandonar um dos
relacionamentos mais importantes da minha vida depois que
perdi Mamá Lupe, quando estava literalmente no meu nível
mais baixo.
E agora, aparentemente, isso não foi a única coisa que ela
roubou.
Ela levou algo muito mais precioso, tempo.
Então eu atendo. Porque não vou perder o que acabei de
recuperar, especialmente não por causa de Jessica novamente.
“Oi”, eu atendo, esfregando meu osso da testa com o dedo
indicador. “Eu estou...”
Ele me corta. “Onde você está?” Sua voz está fraca, toda
tensa e áspera.
“Sinto muito, Zac. Eu saí. Tive que sair de lá.”
Ele diz algo baixinho que eu não consigo entender.
Deus, eu me sinto como uma idiota. Eu deveria, pelo
menos, ter avisado a ele na saída em vez de apenas... sair. “Eu
sinto muito. Fiquei tão brava. Não estava pensando direito.
Fiquei chateada, estou chateada...”
Há uma pausa, depois um suspiro sobre o receptor. “Você
está indo para casa?”
“Sim”, sussurro.
“Ok. Encontro você lá.”
Oh infernos, não. “Não. Não, está tudo bem. Fique aí.
Estou bem. Eu só estou... triste e brava e quero pensar nas
coisas.” Talvez ele queira ir para casa e pensar nas coisas
também. “Ligo para você amanhã. Eu vou até sua casa.
Combinado?”
Há uma batida de silêncio. Então posso até ouvi-lo engolir
em seco. “Bibi...” ele começa a dizer antes de eu interromper.
“Prometo.”
Consegui ouvi-lo respirar sobre a linha.
“Eu simplesmente não posso acreditar no que aconteceu.
Acho que estou um pouco em choque, mas prometo que vou a
casa amanhã. Estou bem. Estarei em casa em vinte minutos.”
Ele faz outro som antes de dizer: “Envie uma mensagem
quando você chegar lá?”
Ela roubou isso de mim.
Eu a deixei roubar isso de mim.
Eu não consigo acreditar.
“Sim.”
“Certo.”
“Você está bem?” Pergunto.
“Na verdade não, querida.”
Eu te entendo, eu quero dizer, mas não digo. “Conte-me
todas as fofocas amanhã, ok? E me desculpe, você gastou todo
esse dinheiro nessa fantasia e eu mal consegui usá-la. Sinto
muito por vir embora. Sinto muito...” Por ser uma idiota.
Ele cantarola quando a voz familiar de Trevor diz algo em
segundo plano que eu não consigo entender — minha sugestão
para desligar o telefone.
“Eu vou deixar você ir. Vou mandar uma mensagem
quando chegar em casa. Esteja seguro, ok?”
O “sim” dele é um pouco simples demais, mas eu deixo
para lá.
“Tchau.”
“Tenha a chave pronta para quando sair do carro, está
bem?”
Isso traz um sorriso de volta para o meu rosto.
Este é o homem que me ama por metade da minha vida.
“Sim, eu terei. Esteja seguro também. Te amo.”
Seu “Também te amo, garota” é instantâneo.
E carrego suas palavras comigo na viagem silenciosa para
casa, subo as escadas e entro no meu apartamento. Minhas
mãos parecem cubos de gelo e meu coração parece ter crescido
para o tamanho de uma pedra dentro de mim. Algo profundo
dentro da minha cavidade nasal também queima.
Eu não posso acreditar, porra.
Respiro fundo pelo nariz enquanto meus olhos coçam e
meu peito dói. Começo a tirar minha fantasia, as ombreiras
indo primeiro.
Eu choro lágrimas de verdade por causa de como alguma
idiota insignificante me fez sentir.
A parte do moletom com capuz do macacão é a próxima.
Eu perdi dez anos de amizade com alguém que amo por
causa das palavras e ações de uma pessoa.
Uma ou duas lágrimas quentes escaparam dos meus
olhos, mas eu seguro o resto delas.
Eu não vou chorar por isso. Não vou. Eu me recuso.
Pego as peças da roupa que Zac precisa devolver — ou
que eu provavelmente me oferecerei para devolver uma vez que
ele pagou o aluguel — e a dobro no chão ao lado da porta,
limpando meu rosto uma vez com as costas da minha mão. De
volta ao meu quarto, me lavo no chuveiro enquanto meus olhos
tentam vazar um pouco mais, e consigo escorregar em uma
camiseta regata e vestir algumas calças velhas quando minha
campainha toca.
Então um punho bate na porta. “Bibi, sou eu.”
Eu congelo.
É quando meu celular começa a tocar de onde eu o deixei
no balcão da cozinha.
“Bianca?”
Merda!
“Eu posso ouvir seu telefone. Estou preocupado com
você.”
Eu quero dizer a ele que está bem e que vá para casa, mas
já sei como isso vai acabar. Ele se perguntando por que eu não
abria a porta, esperando o pior e ameaçando entrar.
“Não estou vestida para ter companhia”, grito fracamente.
“Como se eu me importasse.”
Estava preocupada que ele diria isso.
Nenhum de nós diz nada até ele bater de novo, mais fraco
naquele momento.
“Por favor?” Zac implora baixinho.
Suspiro enquanto me aproximo da porta, destrancando e
abrindo a porta para encontrá-lo em seu traje de Woody,
parado ali, com um ombro encostado na parede com uma
expressão no rosto que grita... exaustão. E pela primeira vez,
ele não sorri exatamente enquanto estou lá, de pijama velho,
exibindo minha mochila não um tanquinho de seis. Não vou
assumir que ele não percebe que meus olhos estão mais do que
provavelmente vermelhos de tentar muito não chorar desde
que cheguei em casa.
“Oi.”
“Eu estava preocupado com você”, ele diz com firmeza,
aquele olhar suave se movendo sobre o meu rosto lentamente.
“Eu também estava preocupada com você”, digo,
apertando a porta aberta apenas o suficiente para que ela não
fique aberta e lhe mostre o interior do meu apartamento. “Sinto
muito por ter deixado você lá. Eu só... me desculpe. Eu não
deveria ter deixado você. Sei que você não teria me deixado. Foi
uma coisa de idiota que eu fiz.”
Sua bela cabeça inclina-se para o lado, mas não há
nenhum sorriso lá. Ele está desligado. Posso ver a firmeza de
sua respiração pela maneira como sua camisa e colete sobem
e descem, a estrelinha presa ao peito fazendo o mesmo.
“Sinto muito, Zac.” Sinto as lágrimas aparecerem nos
meus olhos novamente quando minha garganta começa a
fechar. Tento prender a respiração para não chorar. E falho.
Quando meu olhar fica distorcido, estendo a mão e uso
parte da minha camisa para enxugá-las. Os ombros de Zac
caem e mal o ouço dizer: “Oh, garota.”
Respiro fundo pelo nariz e levanto os ombros, enxugando
ainda mais os olhos. “Eu deveria ter lhe contado”, sussurro,
olhando para os meus pés descalços se equilibrando na porta
antes de pisar no concreto do lado de fora.
Mas as pontas de suas botas vêm à minha vista,
alinhando-se bem ao longo dos dedos dos pés um momento
antes que aqueles braços fortes e quentes venham ao meu
redor, me puxando suavemente contra seu peito, em um
abraço que faz minha bochecha ir para a camisa amarelo de
botão aberto. “Você não tem nada sobre o que chorar.”
“Mas eu tenho.”
“Não, você não tem.” Sua mão quente se curva sobre meu
quadril nu.
Eu balanço a cabeça, seu distintivo de estrela cavando
minha bochecha. “Sim. Eu nunca te disse.”
A mão que ele tinha no meu ombro desliza pela minha
espinha, seus dedos quentes quando pousam nas minhas
costas nuas. “Diga-me o que você quiser, por dentro, sim? Nós
precisamos conversar.”
Oh, porra, inferno.
Fico tensa.
E talvez se eu não tivesse ficado tensa em seus braços,
ele não teria notado. Mas estou neles, tudo agradável, seguro
e quente, e ele sente. Seu queixo cai perto da minha orelha, as
cerdas arranham. “O que é que foi isso?”
“Nada”, eu minto, tentando pensar em qualquer desculpa
possível por que não podemos entrar e falhar.
É quando ouço a porta se abrir e ele me arrastar um
passo antes que eu possa nos parar. É o suficiente para ele ver
minha sala de estar nua.
“O que são todas essas caixas?” Ele pergunta devagar.
Merda. “Algumas das minhas coisas.”
É a sua vez de ficar tenso, como se ele pudesse sentir que
algo está errado e há uma razão pela qual eu tenho caixas na
minha sala de estar. “Suas coisas? Você vai doar? Ele
pergunta, as pontas dos dedos roçando minhas costas apenas
o suficiente para me deixar ainda mais tensa.
“Não?”
“Não ou não?”
“Não?”
“Bianca?” Ele pressiona a palma da mão contra a minha
pele, aquecendo-a instantaneamente.
E tenho que lutar contra um arrepio ao seu toque. “Sim?”
Seu queixo se inclina, roçando minha têmpora. “Por que
você não quer que eu entre?”
Eu me viro para que minha testa fique no meio do peito
dele, e a única razão pela qual eu não tento me afastar é porque
não quero olhar para o rosto dele. E, aparentemente, também
não quero falar com ele, porque dou de ombros, como uma
coisinha fraca.
O que ele vai fazer? Dizer que não posso arrumar minhas
coisas? Ou que não posso me mudar?
O queixo dele volta para a minha têmpora. “Por quê?” Ele
pergunta tão docemente que quase quero lhe contar.
“Por que.”
“Por que o quê?” Aqueles dedos inteligentes fazem
cócegas novamente. “Você vai se mudar?” O peito dele sobe.
“Vai morar com alguém?”
“Eu ainda não sei”, respondo honestamente, ainda
falando em sua camisa. “Eu tive tempo livre na outra noite e
achei que poderia começar a arrumar algumas coisas.”
Todo o seu corpo fica tenso; Eu até sinto seus músculos
do estômago endurecerem contra os meus. “Com quem você
vai viver?”
Ele parece louco, ou eu estou imaginando isso? “Eu não
sei. Meu contrato está prestes a terminar em algumas
semanas. Minha colega de trabalho disse que eu poderia morar
com ela até decidir o que quero fazer, mas estou pensando que
posso ir para Connie ou ficar com os pais de Boogie ou...”
Ele fica muito quieto.
Eu levanto uma mão e pego um dos botões de pérola de
sua camisa com a unha, ainda mantendo minha atenção.
Eu planejei contar a ele, falar com ele sobre isso. Eu
apenas não tinha chegado tão longe ainda. Eu fico indo e
voltando entre ficar em Houston, ir para Austin ou até mesmo
ir para Killeen para ficar com minha irmã. Também estou
procurando um bom apartamento que eu possa alugar
mensalmente, até que tome uma decisão.
Gunner acabou por não programar minhas férias, e
mesmo que ele me irrite além das palavras, de certa forma,
acabou sendo o melhor. Acabei reprogramando a fotógrafa
para agora e ainda tenho muito trabalho a fazer antes disso.
E, é claro, tudo isso está acontecendo quando meu contrato
está chegando ao fim. Estou de olho em algumas casas que
posso alugar em Austin e Houston, onde poderemos fazer a
sessão de fotos do meu livro, já que não vou ficar na minha
casa por muito mais tempo.
Eu só não quero incomodar Zac com os detalhes,
principalmente porque ele foi essencialmente promovido e tem
o peso de um time em seus ombros.
Eu não quero estressá-lo depois do que ele admitiu para
mim naquele dia no Taco Bell.
Ele tem merda o suficiente para se preocupar sem
adicionar eu e meus problemas ao seu prato.
As mãos de Zac vão para meus ombros, me afastando
para que aqueles olhos azuis claros estejam lá, pairando a
centímetros dos meus quando ele franze a testa em
preocupação. “Diga a verdade agora, Peewee. Pela alma de
Mama Lupe, o que diabos está acontecendo?”
Ah, merda. “Você teve que chegar a esse ponto?”
Ele assente, nem mesmo parecendo um pouco mal por ter
recorrido a isso. Ele parece... bem, ele não parece mais tão
cansado também. Ele parece... preocupado.
“Nada de ruim. Meu contrato está terminando em um mês
e eles não me permitem renová-lo mês a mês, e não quero
assinar outro contrato. Não sei se devo ficar aqui, ou se devo
ficar mais perto de Boog e Con. Estou me preparando para o
que decidir. E sei que mencionei minha sessão de fotos com
essa fotógrafa para que meu livro de receitas seja alterado, e
isso em algumas semanas, então tenho que decidir tudo... “
Os tendões ao longo do seu pescoço ficam retesados.
“Você não vai morar com alguém, então?”
“Não um estranho aleatório, se é isso que você está
perguntando...” Eu paro, vendo sua expressão estranha.
Sua boca torce, e leva tanto tempo para ele dizer algo que
não tenho ideia do que está prestes a sair de sua boca. Sua
mão vai para a palma da sua cabeça enquanto ele pisca
lentamente, suas palavras um gotejamento. “Por que você não
disse nada?”
Vou até a ponta dos pés, me contorcendo. “Eu ia... Não
me olhe assim. Você tem o suficiente acontecendo; Não vou
colocar minha merda em você. Você tem que se concentrar. Eu
não preciso te distrair. Você precisa se preocupar com sua
própria carreira e finanças.”
Sua boca está entreaberta, e ele está olhando para mim e
olhando para mim... e....
“Você acha que eu tenho pouco dinheiro?”
“Espero que você esteja bem. Você disse que está...”
A palma em sua testa se transforma em dois grandes
dedos pressionando a pele delicada nos cantos dos olhos.
“Querida.” Ele expira profundamente e pode ter seguido isso
com uma pequena oração a Jesus antes de continuar. “Possuo
vinte casas alugadas, sete Six Guys Burgers, cinco Pedro’s
Pizzarias e investi cedo em um aplicativo de calçados que está
detonando. Meu amigo não faz mais nada, mas mexe com
ações durante o dia.” Seu olhar me prende. “Estou bem de
dinheiro e posso me concentrar na minha carreira e me
preocupar com você ao mesmo tempo.”
“Você o que?”
Ele pisca.
Eu pisco. “Por que eu não sabia disso?”
“Porque você nunca perguntou.”
Por que eu deveria? “Boogie sabe?”
“Ele sabe sobre isso.” Antes que eu possa refletir sobre
isso, com base na expressão que ele faz, algo ocorre a ele, e ele
cambaleia. “Sua viagem à Disney não deveria estar chegando?
Você não diz uma palavra sobre isso há um tempo.”
Apenas a lembrança do meu sacrifício me faz estremecer.
E esse lembrete quase me faz chorar. Dou de ombros. “Eu
adiei. Recebi a maior parte do meu dinheiro de volta. Eu tenho
que reunir tudo para as fotos do meu livro. Não posso tirar
uma semana inteira e estar pronta para isso. Sei o que estou
fazendo, deixando-a mudar a data, mas... ainda estou um
pouco decepcionada.” Mais como muito decepcionada, mas
não posso chorar muito por isso. É uma escolha minha.
“Aww, Bianca.” Ele exala, abaixando a cabeça para trás
ao mesmo tempo em que sua mão pousa sobre seu coração.
Eu juro que aqueles olhos azuis suaves brilham e sua voz está
dolorida quando ele diz: “Você está me matando, garota.”
“Eu não quero te matar, e você não precisa se preocupar
comigo...”
“Que pena.”
Às vezes me pergunto como é possível não me apaixonar
pela mesma pessoa uma, mas duas vezes. É por isso, por ele
ser tão bom.
Isso me faz sorrir, embora seja principalmente agridoce.
“Você é um bom amigo, Snack Pack, mas, sério, não precisa se
preocupar comigo. Tenho sorte de ter para onde ir, pessoas
com quem posso ficar nesse meio tempo. Só não lhe contei
porque você tem coisas suficientes para pensar, e não é como
se eu me fosse me mudar para outro lugar e perderemos o
contato novamente.”
E isso me lembra da porra da Jessica.
Se isso lembra Zac também, não aparece em seu rosto
naquele momento. Se alguma coisa, ele tem um brilho nos
olhos que me preocupa. “Sim, você está certa, você tem para
onde ir. E nenhum deles é tão longe”, afirma. “Você vem
comigo.”
“O que é isso?”
Ele já está acenando para si mesmo, porque com certeza
não é para mim. Ele está com o rosto pensativo. “Não se
preocupe. Eu vou resolver isso. Tudo o que você precisa fazer
é estar pronta para partir.”
Ele disse que estou indo com ele? “Zac. Não.”
Seu foco está de volta. “Bianca. Sim.”
“Não. Eu não sou sua responsabilidade. Se sou de
alguém, Connie é minha irmã mais velha e precisa se
preocupar comigo...”
“Você não ouviu o que eu disse? Preocupar-se com você é
como... amar o maldito sol no meu rosto, garota. Como
respirar. Isso nunca vai deixar de acontecer.” Ele olha para
mim com aqueles ombros e rosto tensos, subindo para aquela
altura impressionante que me faz esticar o pescoço para olhar
para seu belo rosto. “Deixe-me explicar. Fique comigo o tempo
que precisar. Contanto que você queira. Acho que enquanto eu
estiver aqui e os White Oaks não se livrarem de mim.”
Lá está ele, me matando um pouco demais. “Oh, Zac, eles
seriam estúpidos em deixar você ir. Você e a equipe estão indo
maravilhosamente bem.”
Sim, ele ainda está olhando para mim.
Eu amaldiçoo. “Você é um bastardo sorrateiro e
manipulador, sabia disso?”
“Sim. Tenho certeza de que mamãe me chamou da mesma
coisa uma ou duas vezes.”
Como diabos hoje foi por água abaixo tão rápido? “Eu não
preciso que você sinta que precisa cuidar de mim.”
Seus ombros caem um pouco. “Diga-me que você não
faria o mesmo por mim.”
Droga. Ele me encurralou e sabe disso.
Seus dedos envolvem meu pulso, quentes e sólidos. “E
mesmo se não quisesse, eu ainda faria qualquer coisa por
você.” A voz dele está séria. “Talvez eu tenha estragado tudo e
ficado com a cabeça na minha bunda por um minuto, mas
sempre vou me preocupar com você. Pelo resto da minha vida.
Eu nunca vou estar muito ocupado para estar lá para você.
Você me ouve?”
Suas palavras me cortam no centro. Esfolando-me
largamente. Deixando tudo importante e tudo não importante
aberto e vulnerável.
Então tudo que posso fazer é apertar meus lábios, olhar
para aquele rosto com sua estrutura óssea imaculada e direto
para aqueles suaves olhos azuis... e assentir.
E tudo o que Zac faz no segundo seguinte é levantar a
mão livre e enterrar aqueles dedos longos e valiosos no meu
cabelo, embalando a parte de trás da minha cabeça... e se
concentrar em mim.
Eu sorrio e ele... meio que sorri.
Tipo isso.
Está principalmente em seus olhos, de alguma forma.
Algo se moveu neles que eu não sei o que fazer ou como
começar a reconhecer. Algo grande.
Antes que eu possa pensar muito, aquelas pontas dos
dedos coçam levemente meu couro cabeludo e ele exala, sua
respiração tocando minha boca.
Oh cara.
“Querida?”
“Sim?”
As unhas dele coçaram um pouco mais. “Agora que
resolvemos isso, você quer me dizer agora o que aconteceu?”
Estou atordoada. Seus lábios estão ali... e isso não
significa nada para ele, mas significa demais para mim. “Com
o que?”
Aqueles dedos dele fazem sua coisinha que agora percebo
que também posso sentir nas costas dos meus joelhos. “Com
Jessica.”
Como se eu achasse que realmente iria me safar por não
falar mais sobre isso. Droga.
Com os ombros caídos, agarro toda a minha força interior
e digo a ele — ignorando os arranhões que estão deixando
meus joelhos fracos o máximo possível. “Você quer saber o que
aconteceu no banheiro ou antes?”
Ele pensa por um segundo. “Antes.” Sua expiração toca
minha boca novamente, e tenho que me lembrar tudo sobre
minhas expectativas. “Juntei as coisas fora do banheiro o
suficiente. Eu vi Trevor falando com você e pensei que ele iria
ficar com você, mas quando fui procurá-lo, ele disse que você
tinha partido. Deveria ter ido com você, querida, mas preciso
entender do que diabos ela estava falando. Eu não fazia
ideia...”
Ele fecha a boca e os músculos de suas bochechas
ondulam.
Eu respiro tão fundo que faz meus olhos lacrimejarem ao
lembrar o que ela fez.
Eu ainda não consigo acreditar. Eu não sei se um dia
conseguirei.
“Ela me disse”, Zac continua depois de um segundo, em
algo muito, muito perto de um coaxar que me faz olhar
diretamente para aqueles olhos azuis claros. “Enzo é um cara
legal. Era quarterback aqui, mas se aposentou duas
temporadas atrás. Ele estava me contando tudo sobre sua
nova esposa e como eles estavam na cidade visitando sua
família antes de vocês saírem, e como ela não queria ir à festa,
mas ele a implorou... Ele a fez explicar. Eu não posso acreditar
que ela fez isso, mas quanto mais eu pensei sobre isso, mais
sentido fez. Você disse que eu nunca te escrevi de volta ou
respondi, e eu lhe disse que não havia como ter deixado isso
acontecer. Eu sei que tentei entrar em contato com você
também, garota. Não tem como eu não ter. E sei que isso não
é desculpa para todos os últimos dez anos, mas eu realmente
comecei a acreditar lá atrás que você simplesmente não queria
que eu fizesse mais parte da sua vida.”
Algo terrível e amargo belisca minha língua com a
lembrança da alegria em seu rosto quando ele percebeu que
era eu naquele primeiro dia, o quão feliz ele pareceu estar.
E ele pensou que eu não o queria por perto?
“Zac, por que você foi tão gentil comigo no primeiro dia,
se pensou que eu me sentia assim?”
Ele fecha a boca e olha para mim. “Porque fiquei feliz em
vê-la. Senti sua falta. Eu não estou mentindo. Nunca te
esqueci. Perguntei sobre você cada vez menos, mas ainda me
perguntava... quando não estava ocupado com minha própria
cabeça na minha bunda.”
Lágrimas picam meus olhos novamente com a bondade
infinita nele. Quando o vi, fiquei tão magoada, e tudo que eu
queria era manter distância, para não dar a ele a oportunidade
de me machucar novamente. E ele — ele tentou e continua
tentando, mesmo pensando que eu não o queria por perto
também.
Claro que eu ainda estou apaixonado por ele. Claro que
eu me apaixonei por ele novamente. Eu não tenho escolha.
Seus dedos deslizam do meu cabelo, e ele me encara
ainda mais. “Ela mudou seu número no meu maldito telefone.
Mudou meu número no seu porque estava com ciúmes. Porra
de ciúmes.”
Ele dá um passo para trás enquanto balança a cabeça,
deixando-me cambaleando novamente enquanto caminha em
direção à parede da sala e depois gira nos calcanhares,
parando instantaneamente. Suas mãos esfregam suas coxas
cobertas de jeans, e ele faz um barulho terrível na garganta
que me faz querer ir até ele.
“Há mais na história, não há?” Ele me pergunta baixinho,
me forçando a voltar ao presente.
“Sim.”
Aqui está.
“Me desculpe, ok? Quero que você saiba agora que sinto
muito por... ser burra e jovem e por deixar isso acontecer, ok?”
Eu o amo mais do que nunca quando ele assente sem
hesitar.
“Quando eu tinha dezessete anos”, começo, “você estava
em sua segunda temporada em Dallas... Boogie e eu fomos
visitá-lo. Fomos ver um jogo. Saímos para comer com dois de
seus colegas de equipe e você trouxe Jessica. Eu já a conhecia
antes. Eu sentei ao seu lado, acho. Eu não sei, talvez eu
estivesse falando demais com você em vez de deixá-lo falar com
todo mundo... e Jessica veio até mim no banheiro e disse... ela
disse... coisas. Sobre eu ser um inconveniente. Sobre você não
ter tempo para mim. E disse algumas outras coisas. Eu tive
que ir sentar no carro de Boogie depois. Vocês acharam que eu
estava chateada com Mamá Lupe.”
Estou lhe dizendo isso para fazer você se sentir melhor.
Você é jovem, mas não vai a lugar nenhum. Ele não gosta de
você assim, ok? Você é um bebê.
Felizmente, não conto mais do que isso. Eu não preciso,
e realmente não quero.
Principalmente porque, com cada palavra da minha boca,
aquele rosto normalmente calmo e descontraído derrete em um
tão sério, um tão... tão... estrondoso... há tempestades se
formando atrás de seus olhos e trovões borbulhando sob suas
maçãs do rosto... e me forço a correr adiante.
“Eu acreditei nela, Zac. Talvez não naquele momento,
mas você parou de responder às minhas mensagens duas
semanas depois. Você foi para a minha formatura e estava
tudo bem; então voltou para casa e ela estava com você, e então
pareceu real. Foi quando eu parei de receber suas mensagens
e isso partiu meu coração... e eu apenas... tentei depois disso,
sabe, mandando uma mensagem. Tentei me dizer que não era
grande coisa e que daria tempo para não incomodá-lo, mas
ainda assim nunca tinha notícias suas e isso partiu meu
coração ainda mais. Então fiquei envergonhada e comecei a
dizer a Boogie que estava ocupada quando ele me convidava
para ir vê-lo... me mudei... e a próxima coisa que eu sabia, fazia
anos. Mas nunca parei de seguir sua carreira ou algo assim;
Eu sempre acompanhei tudo. Eu ainda era... talvez não seja
sua fã número um, mas pelo menos estou entre os cinco
primeiros. Sinto muito, Snack Pack. Me desculpe, eu acreditei
nela, e me desculpe por não ter dito nada, mas estava com
vergonha...”
Ele está lá.
Seu “garota” é suspirado no meu cabelo no momento em
que seus braços envolvem meus ombros, sua bochecha
pousando contra a minha cabeça.
Zac me abraça com força, com tanta força que eu não sou
capaz de respirar fundo, mas não me importo. Eu não ligo, não
ligo, não ligo. E minha própria bochecha está contra seu peito,
enquanto arrependimento, dor e decepção por mim e por
Jessica, e até um pouco por Zac, enchem meus pulmões.
Decepção por todas as coisas que eu poderia ter tido
durante anos, mas não tive. Mas o que mais há para fazer ou
dizer? Nada. Porque está no passado, e tudo o que posso fazer
agora é estar aqui e presente como eu posso e deveria ter
estado todos esses anos atrás.
“Sinto muito”, digo a ele novamente. “Meus sentimentos
foram feridos, e eu não queria incomodá-lo mais, embora eu
soubesse que você se importava comigo, mas era apenas mais
fácil não tentar do que ter que isso jogado na minha cara.”
Seus braços se apertam ainda mais, me puxando para tão
perto que não há como escapar de sua presença ou da leve
mistura de colônia e aquele cheiro natural de Zac que enche
minhas narinas por estar tão perto dele. “Você não tem nada
para se desculpar, está me ouvindo? Nada, Peewee. Me
desculpe.” Tenho certeza de que seu nariz pressiona contra a
minha cabeça, porque sua voz fica ainda mais calma, como se
sua boca estivesse abafada no meu cabelo. “Sinto muito por
ter passado tempo com alguém capaz disso em primeiro lugar.
Sinto muito por não ter me esforçado mais ou incomodado
mais Boog. Me desculpe, eu fiquei tão ocupado que achei que
você também não me queria por perto e deixei os anos
passarem. Não tenho sido um bom amigo e sinto muito por
isso também. Mas nada disso é culpa sua, entende? É minha.”
Seus braços se afrouxam quando sua cabeça se afasta, e
ele aponta aqueles olhos azuis pastel para mim. A angústia
aparece nas linhas da testa e da boca. “Eu gostaria que você
tivesse me dito que ela disse alguma coisa, mas também não
deveria ser um amigo bom o suficiente, se você não se sentiu
à vontade o suficiente para me contar.”
Suas palavras me dão um soco no peito. “Não. Não. Você
sempre foi um amigo tão bom, mesmo quando tinha muita
coisa acontecendo. Você mal estava na NFO por duas
temporadas e estava ocupado e ficando mais ocupado e...” Eu
estava apaixonada por você e não sabia o que fazer comigo
mesma. Essa é a verdade. Mas eu não direi isso. Não que eu
tivesse vergonha. Se ele juntar as peças, descobrirá por conta
própria. Simplesmente não há sentido em trazer isso à tona.
Uma daquelas grandes mãos de quaterback envolve meu
cabelo em minha nuca e seu olhar fica ainda mais atento. “Eu
nunca vou acreditar nisso”, ele me diz. “E nada vai me fazer
sentir melhor. Você não precisa me desculpar pelo que fiz e
pelo que não fiz. Isso foi culpa de Jessica, com certeza, e espero
que ela entenda o que está acontecendo com ela — acho que
sim, se o rosto que Enzo estava fazendo para ela significar
alguma coisa — mas no final das contas, isso é culpa minha.”
“Zac...”
“Sinto muito, garota. Sinto muito por tudo isso.”
“Não, a culpa é minha também. Fiquei tão triste depois
que Mamá Lupe morreu e...” Engulo em seco, e meus ombros
balançam sob seus antebraços. “Sinto muito por não acreditar
mais em você. Eu estava apenas... Estava acostumada a
pessoas se ocupando e se esquecendo de mim. E acho que me
convenci de que você só foi legal comigo por causa da coisa da
cobra que nem me lembro.”
A boca de Zac fica achatada e vejo o pomo de Adam dele
se mexer. “Eu não gosto muito de você porque você salvou
minha vida, garota. Estar perto de você sempre me fez feliz.
Mesmo quando era bebê, você sempre me fazia rir.” Sua cabeça
inclina-se para frente e eu mal o ouço, mas ouço. “Você ainda
faz. É por isso que eu... é por isso que estou sempre
incomodando você. Você faz tudo divertido. Tudo bom. Você
sempre foi minha garota favorita, garota. Sem dúvida.”
Eu não tenho certeza se ele sorri primeiro ou se eu sorrio,
mas o que eu sei é que eu o amo de todo o coração, mesmo
sabendo que não devo.
Pelo menos ele também me ama. À sua maneira.
Eu: vou me atrasar para chegar em casa. Jante sem
mim. Desculpe cancelar, mas vou fazer um bolo de
amêndoa para compensar. Xoxo
Envio a mensagem com a mão direita, me recosto no
assento em que estou e suspiro.
Eu não posso acreditar, porra.
Parte de mim quer olhar para o homem no assento ao
lado do meu, mas não consigo me convencer disso. Eu sei que
essa é a minha realidade. Caso contrário, eu não estaria
sentada onde estou, com ele ao meu lado.
Tendo um dos piores dias da minha vida.
O único lado positivo de tudo isso é que ele está fingindo
que eu não estou perto dele também.
Felizmente, ele ainda está fazendo isso quando meu
telefone toca talvez um minuto e meio depois que enviei minha
mensagem de texto.
EU AMO QUANDO ZAC LIGA atravessa a tela — eu não
tenho certeza de quando ele furtou meu telefone e alterou suas
informações de contato, mas me fez sorrir quando o vi pela
primeira vez — e eu atendo.
“Oi”, digo.
“Oi. Você vai ficar até tarde no trabalho? Quer que eu
traga algo para você comer antes que fique com fome?” Meu
amigo pergunta num fôlego só, em quase um sussurro que me
faz pensar no que diabos ele está fazendo exatamente. Ele me
disse que tinha uma reunião na sede de White Oaks com a
equipe técnica. Nós só tínhamos planejado nos espremer no
jantar porque... bem, acho que nós dois ficamos abalados
depois do que aconteceu com Jessica e a troca de nossos
números, e nós dois provavelmente nos sentimos mal com isso.
Talvez. Pelo menos eu me sinto. Eu tive muito no que pensar
ultimamente, e isso está no topo da minha lista.
Esfrego meu osso da testa com a mão direita e olho para
o homem ao meu lado para me certificar de que ele ainda está
pendurado no telefone. “Não, eu não vou trabalhar até tarde.”
Infelizmente.
Mas Zac me interrompe antes que eu tenha a chance de
explicar. “Você vai sair hoje à noite ou... tem, uh, um encontro
ou algo que está me escondendo?”
Levanto a cabeça e olho para a direita mais uma vez para
me certificar de que ele não está prestando atenção. “Pssh. Eu
nunca te esconderia de um cara. Estou no pronto-socorro...”
“Onde?” Ele pergunta.
“Pronto-socorro...”
Há um som no fundo uma fração de segundo antes de
sua voz ficar suave, mas aguda. “Você está no hospital?”
“Eu estou bem”, tento sair correndo, olhando para o meu
telefone para me certificar de que a pessoa que rosna para mim
através da linha é realmente Zac. É. “Eu caí no trabalho e
cortei meu cotovelo.”
Há alguns barulhos no fundo, e tenho certeza de que ouço
alguém dizer o nome dele antes que ele basicamente exija sob
um longo suspiro: “Você está bem? Isso acabou de acontecer?”
“Cerca de uma hora atrás? Acabamos de chegar aqui.
Estou na sala de espera. Não vou sangrar nem nada, mas dói.”
Há mais sons ao fundo, alguns sussurros antes de Zac
perguntar: “Qual deles?”
“Eu só preciso de alguns pontos, talvez.”
Ele solta um suspiro que enche a linha, e sua voz está
mais firme durante a próxima pergunta. “Bianca. Onde você
está?” Juro que posso ouvi-lo se mexendo. Andando. Alguma
coisa assim.
“Você realmente não precisa...”
Ele não me deixa terminar. “Eu realmente preciso. Em
que pronto-socorro você está?” Antes que eu possa dizer outra
palavra, ele acrescenta: “Estou chegando. É melhor você nem
começar com o seu absurdo novamente.”
Suspiro, segurando meu cotovelo latejante um pouco
mais apertado contra a barriga. Falo o nome da clínica de
atendimento urgente para a qual Gunner me levou, e é quando
meu chefe finalmente se vira para me olhar, em vez de seu
telefone, pela primeira vez desde que chegamos aqui. Ele teve
a coragem de revirar os olhos quando eu arrebentei minha
bunda na frente dele, e Deepa gritou para alguém chamar uma
ambulância.
Não houve ambulância. Ele me trouxe. Depois que
lembrou a todos que aconteceu coisa muito pior quando ele
costumava lutar. Idiota.
“Chego logo”, Zac me diz. “Me avise se eles te levarem para
os fundos, para que eu saiba onde você está, certo?”
Ele está vindo. Deus, ele realmente é o melhor. “Ok, eu
irei, mas se você não puder vir, prometo que ficarei bem. Só
não queria que você esperasse para comer comigo.”
“Estarei aí o mais rápido possível”, disse meu amigo antes
de desligar sem se despedir.
Suspiro e coloco o telefone na minha coxa, olhando para
a tela preta.
“Namorado?” Vem a pergunta de Gunner do nada.
Deslizo um pouco mais reta na cadeira mal almofadada
da sala de espera do centro de atendimento de urgência a que
ele nos levou. “Não, meu amigo. Ele está a caminho, se você
quiser ir. Ele deve estar aqui em pouco.”
E, na verdade, eu realmente prefiro que ele vá embora.
Perguntei se Deepa poderia me levar em vez dele, mas ele disse
que alguém tinha que ficar e trabalhar no bar de sucos, já que
teríamos que deixar a recepção vazia, então não, Deepa não
poderia me levar. Este homem precisa de Jesus. E talvez um
exorcismo.
E, aparentemente, ele vai ignorar o meu pedido
novamente. “Eu vou esperar”, diz Gunner, soando como se
preferisse estar em qualquer outro lugar.
Ele está fazendo isso para me irritar.
“Está tudo bem, no entanto. Eu sei que foi um acidente.
Posso pagar a conta quando receber. Eu tenho certeza que eles
não vão me dar atestado para hoje à noite”, digo ao homem que
realmente responsabilizo por toda essa merda.
Tudo porque ele não escutou.
E ele também sabe muito bem que é culpa dele.
“Não, eu vou esperar”, repete Gunner, parecendo irritado.
Como se eu quisesse estar aqui. Como se eu quisesse abrir
meu cotovelo.
Como se eu quisesse que alguma das coisas que
aconteceram hoje, acontecesse.
Eu só quero voltar para a cama e começar o dia inteiro
novamente.
Tudo começou com um telefonema de Deepa enquanto eu
me vestia para ir trabalhar há algumas horas. A mãe dela está
doente, ela tem câncer de mama no estágio três e ela vai voltar
para casa para ajudá-la. Ela se desculpou repetidamente por
ter decidido sair, e por sair da casa que está dividindo com
duas colegas de quarto — uma casa que ela se ofereceu para
me deixar morar enquanto eu descobria o que faria. Ela se
ofereceu para me deixar ocupar o quarto que alugou, mas eu
não queria morar com pessoas que eu mal conhecia. Minha
assistente, minha amiga, está indo, e eu não tenho ideia do
que diabos farei ou quem me ajudará a partir de agora. Eu
sentirei muita falta dela, mas no final do dia, o que realmente
importa é que Deepa estará com sua mãe e que a outra mulher
vai lutar o máximo que puder por sua saúde.
Então houve isso.
E depois houve a segunda coisa. O email que iniciou tudo.
Outra coisa estúpida, estúpida que eu fiz.
Eu só estava segurando isso porque estava no trabalho
quando os e-mails dos meus espectadores começaram a
aparecer. Eu li as mensagens e verifiquei meu canal do
WatchTube por conta própria para confirmar o que eles
estavam tentando me dizer durante meus breves intervalos
entre os membros e os loops de terror de Gunner ao redor do
prédio.
Meus espectadores não estavam mentindo. O perfil no
meu canal foi alterado para uma pessoa falsa.
E talvez eu tenha ficado bastante distraída com isso
quando arrebentei minha bunda e me aterrei no pronto
socorro, esperando ver um médico para que possa ser
costurada ou colada novamente ou o que quer que eles
precisem fazer. Tenho certeza que finalmente parei de sangrar,
mas meu cotovelo está latejando como um louco ao mesmo
ritmo que meu pulso.
Fechando os olhos, tento me dizer — tudo isso hoje — não
é o fim do mundo. Que eu realmente não perdi nada. Que
posso recuperar tudo. A maior parte disso. Deepa não. E
preciso fazer algumas ligações, preencher um formulário ou
dois, e então tudo voltará ao normal, que foi o meu plano no
instante em que percebi o que havia acontecido.
Eu estava acabando de formular um plano para começar
a fingir engasgos e tentar sair do trabalho mais cedo quando
essa merda aconteceu.
Como diabos deixei isso acontecer? Eu me pergunto
enquanto me movo na cadeira desconfortável e faço contato
visual com uma mulher do outro lado da sala que está
encostando a cabeça na parede e genuinamente parecendo
uma merda.
Mas eu sei. Eu sei como isso aconteceu. Tinha acabado
de rezar para que não acontecesse. Mas tinha que sair para o
trabalho e fiquei distraída com a ligação de Deepa e acabei por
me dizer o que fiz o suficiente.
E agora...
Aperto os olhos para não chorar. Eu não estou
desamparada. Tudo dará certo. Eu tenho tudo o que o
WatchTube possivelmente precisa ou deseja confirmar minha
identidade.
Mas esse minúsculo fio de medo ainda pulsa no meu
corpo com o e se.
E se eles não me devolverem meu canal?
Inspirando profundamente pelo nariz, digo a Gunner:
“Você realmente não precisa ficar. Eu vou ficar bem.”
“Eu vou esperar”, ele repete. Infelizmente.
O antigo proprietário da academia em que trabalho, o Sr.
DeMaio, me disse uma vez que não há ninguém mais teimoso
do que um atleta profissional. “Não importa se eles estão
aposentados ou no meio de suas atividades, Bianca, eles são
teimosos. Basta olhar para minha neta. E me lembro de como
ele disse isso exatamente quando ela passava, porque ela
apontou para ele, a caminho do escritório do gerente, e
respondeu com “Merrrrda. Olhe no espelho, vovô.” E nós três
rimos, e cara, eu sinto muita falta deles.
Um deles teria vindo comigo se isso tivesse acontecido
enquanto ainda eram donos da Casa Maio.
A diferença é que eu não teria reclamado se um deles
estivesse por perto, tomando o lugar de Gunner. Eu não teria
me importado. Eles não são idiotas.
E acho que essa teimosia explica por que Zac está vindo,
embora eu tenha dito a ele para não ir.
Suspiro e tento cavar fundo no meu coração e ser mais
paciente. Seja uma pessoa melhor e não seja agravada por
Gunner apenas por ser agravado porque era ele aqui.
Eu tenho uma merda maior para me preocupar.
Claro, ele é irritante. E um micro-gerente. E um pé no
saco. E não é carismático ou agradável o suficiente para se
safar com as coisas passivo-agressivas que vomita de sua boca.
“Vou pegar algo para beber”, meu chefe atual diz de
repente, levantando-se. Ele para por um segundo, e tenho
certeza de que não é minha imaginação que o machuca
oferecer: “Você quer alguma coisa?”
“Não, obrigada.” Vê? Estou tentando. Porque finalmente
sei que não ficarei na Casa Maio por muito mais tempo. Esse
é o único lado positivo de hoje, mesmo que seja uma alegria de
dois gumes. Perder minha amiga, mas ganhar minha
liberdade.
Gunner dá de ombros e segue em direção a um canto
enquanto eu permaneço sentada, segurando o cotovelo contra
o meu lado e inspirando e expirando pelo nariz.
Se eu tivesse ido por outro caminho em direção aos
banheiros...
Puxo o telefone novamente e começo a enviar uma
mensagem para minha irmã antes de decidir que devo esperar
até que esteja toda costurada. Eu não a quero enlouquecendo,
porque ela enlouquecerá, ou explodirá meu telefone, porque
ela fará isso também. Mandarei uma foto para ela quando isso
terminar e eu estivermos fora daqui. Será perfeito.
Recostando-me na cadeira, fecho os olhos e tento pensar
no que posso fazer no meu próximo vídeo. Terá que ser algo
fácil por causa dos pontos, com certeza. Pelo menos é o meu
braço esquerdo.
Hmm. Faz um tempo desde que eu fiz algo frio. Ainda está
quente o suficiente, pelo menos em Houston, para onde isso
seja um sucesso.
Mais frozen yogurt?
Algo tocando meu joelho me faz puxar a perna para trás
e abro os olhos com um sobressalto.
Mas no segundo em que foco, encontro um conjunto
familiar de olhos azuis claros a centímetros de mim.
Ele realmente veio.
O rosto de Zac é cuidadoso quando seu olhar desliza da
minha cabeça para o cotovelo que estou segurando no meu
colo, enrolado em uma toalha. A mão com que ele me tocou,
flexiona no meu joelho, e ele inclina a cabeça para o lado antes
de perguntar suavemente: “Você está bem, querida?”
“Sim”, respondo. “Isso dói.”
Ele franze o cenho e uma dessas ótimas mãos grandes
pousa no meu antebraço, seu polegar calejado fazendo um
pequeno círculo lá. Ele está de moletom e camiseta, um boné
abaixado cobrindo os cabelos e a maior parte do rosto. E ele
nunca pareceu melhor para mim do que quando olha para o
meu braço com a testa franzida. “Aposto que sim. O que
aconteceu?”
“Alguém quebrou um copo mais cedo e não varreu tudo.
Eu tropecei e caí como uma idiota. Acabei por arrebentar
minha bunda. Havíamos pedido ao gerente um aspirador para
limpas todas as peças, mas ele nunca trouxe”, explico
enquanto ele me encara. “Por que você está olhando assim
para mim?”
“Por que você não me ligou?” Ele responde, levantando a
cabeça. Suas sobrancelhas estão unidas e os cantos da boca
estão apertados.
“Porque é apenas um pequeno corte, e você tem coisas
mais importantes para fazer.”
Isso me dá uma piscada. “Mesmo? Como o quê?”
Aperto os lábios. “Eu não sei. Fazer sua parte com sua
equipe de treinamento. Coisas de futebol. Não quero que você
tenha problemas por minha causa.”
“Bianca.” Ele ainda está me observando atentamente.
“Por que você sempre diz coisas assim?”
Sorrio parcialmente quando o polegar no meu antebraço
faz um pequeno círculo que parece muito legal na pele sensível
lá.
E sinto aquele polegar e toda a palma da mão, deslizar
para o meu braço e apertá-lo suavemente, o olhar ainda
intenso. “Eu já não disse que nunca estarei muito ocupado
para você? Estamos claros nisso agora? De uma vez por
todas?”
Engulo em seco, e ele apenas levanta as sobrancelhas. Eu
poderia ter desmaiado se já não estivesse sentada. E é melhor
você não entender as palavras dele assim, porque ele não as
entende dessa maneira, lembro a mim mesma. Sutilmente.
“Você diz coisas assim, e isso machuca meus
sentimentos, querida, mas falaremos sobre isso mais tarde
quando você não estiver sangrando até a morte. Vou pensar
em te perdoar quando souber que vai viver.”
“Aww, Zac...”
“Não me dê esse aww, Zac. Seus sentimentos também se
machucariam se eu me machucasse e não lhe dissesse por que
pensei que você estaria muito ocupada.”
Eu odeio quando ele tem razão. Mas é diferente. Eu gemo,
e ele balança a cabeça um pouco enquanto se agacha lá na
minha frente.
“Não. Não se atreva a dizer merda alguma. Posso ver nos
seus olhos que quer dizer algo sem sentido. Conhecendo você,
algo como 'oh, mas eu não sou você’, estou certo?”
Ok, isso pode ser quase palavra por palavra o que eu teria
dito.
O polegar no meu braço faz outro pequeno círculo, e tudo
que posso fazer é assentir.
Ele não se diverte com o fato de ter adivinhado
corretamente. “Eu não sou mais importante que você. Você é
mais importante que eu...”
Eu bufo, e isso me rende um levantar das sobrancelhas
castanhas.
“Agora, minha querida, me diga o que posso fazer. Quer
que eu vá falar com eles e veja se consigo convencê-los a ser
mais rápido? A te dar um analgésico?” Ele esfrega meus braços
um pouco mais, com força e me esquenta. “Tenho certeza que
dói como o inferno, hein?” Ele pergunta gentilmente com um
pequeno sorriso de pena, que como com uma colher
imaginária.
Eu assinto. “Eu mostraria a você, mas provavelmente não
quer ver.” Na verdade, tenho certeza que ele não vai querer ver.
Essa é parte da razão pela qual eu não queria lhe dizer onde
estou.
“Bianca?”
Olho para Zac e desejo, de repente, que ele estivesse
usando óculos de sol ou algo mais que escondesse seus traços
mais do que apenas algo que esconde seus cabelos. Viro a
cabeça ao mesmo tempo em que a mão que Zac tem em mim
empurra um pouco e encontro os olhos de Gunner, enquanto
ele fica parado do lado. Há uma carranca no rosto. “Meu amigo
está aqui agora. Acho que ele ficará comigo então você pode ir.”
Posso sentir o olhar de Zac no meu rosto, duro e quente.
Eu me viro para ele. “Você vai ficar comigo, certo?”
Ele inclina a cabeça para o lado. “A noite toda, se precisar,
querida.”
Eu sorrio para ele antes de olhar de volta para Gunner.
“Ele vai ficar”, confirmo.
A carranca no rosto do meu chefe fica um pouco mais
profunda. “Eu te disse que ficaria. Preciso acertar sua conta.”
Zac aperta meu braço antes de se levantar. Ele vira o
corpo comprido em direção ao último homem com quem eu
gostaria que ele interagisse e diz: “Eu cuido da conta dela. Você
não precisa se preocupar com isso.”
Este é o momento certo para dizer a ele que não tenho
plano de saúde e não me importo de pedir a Gunner para
acertar isso?
“É minha responsabilidade. Eu sou o chefe dela.”
“Eu sei quem você é”, Zac diz em um tom enganosamente
lento que faz cócegas na base do meu pescoço. Eu gostaria de
poder ver seu rosto, mas ele se afastou demais. O que eu posso
ver é a maneira como seus ombros caem e seu queixo se inclina
para cima. “Você já fez o suficiente, amigo. Eu cuido de tudo
de agora em diante.”
“Bianca Brannen?”
Eu me levanto e envio uma expressão vazia para meu
chefe. “Obrigada por me trazer, mas eu realmente vou ficar
bem.” Eu me ajeito com a conta mais tarde.
Zac ainda não está olhando para mim quando diz em voz
baixa: “Eu cuido dela.”
Gunner olha para mim, seu rosto duro sem emoção. “Tire
três semanas de folga, uma licença médica remunerada. Volte
depois disso.” Depois de outro olhar para Zac, ele se vira e se
afasta.
“Bianca Brannen?” A enfermeira chama de novo e, dessa
vez, Zac levanta a mão em um aceno para ela.
Eu cutuco o lado dele. “Quer esperar aqui fora?” Eu me
pergunto se ele sabe que eu me lembro de sua não-é-uma-
fobia. Eu não quero colocá-lo sob pressão.
Seu olhar desliza para mim, e suas narinas dilatam. O
pomo de Adão dele balança com força uma vez, antes que ele
me surpreenda e sacuda a cabeça. “Eu vou com você.”
Ele o quê?
Quero dizer... “Você pode esperar aqui fora.”
Sua resposta é roçar a ponta do dedo contra o canto da
minha boca.
E eu respondo a isso prendendo a respiração.
Ele está tocando minha pinta.
“Você tem certeza?”
O pomo de Adão dele balança.
Certo. “Você pode apenas... olhar para mim o tempo todo,
se quiser entrar. Não para o médico ou qualquer coisa na sala”,
eu sussurro a sugestão para ele.
Ele está olhando na direção da minha boca quando os
cantos da dele sobem e ele abaixa o queixo em concordância.
Ele está falando sério. Ele quer ir comigo.
Eu não consigo acreditar. Ele tem que me amar. Eu sei
disso, então.
Mas eu não digo outra palavra porque não sei o que dizer.
Ou pensar.
Uma enfermeira de aparência cansada começa a dizer:
“Ele precisa... oh.” Ela pisca e seus olhos se arregalam. “Oh.
Umm, deixa pra lá. Me siga.”
Por cima do ombro, sorrio para Zac, estremecendo um
pouco quando bato o cotovelo por acidente.
A enfermeira confere meus sinais vitais, sendo realmente
muito educada o tempo todo, enquanto Zac está ao lado da
cadeira em que estou sentada, uma mão no topo da minha
cabeça. Eu posso senti-lo tocando meus cachos, puxando um
e depois outro. Ele pode me colocar para dormir, se fizer isso
por mais tempo, e eu ficar quieta, apenas apreciando seu
toque.
No momento em que ela sai, eu me viro para Zac, pronta
para distraí-lo. “Então, você está pronto para amanhã?”
“Mova suas mãos.”
Eu as movo para o lado e vejo quando ele se vira e se
acomoda no meu colo, não deixando todo o seu peso cair sobre
mim, mas a maior parte. Abaixo os braços, penso por um
momento e os coloco ao redor dele, descansando uma mão em
sua coxa e segurando meu cotovelo com a outra. “Olha, você
se encaixa.”
Seu sorriso não é totalmente brilhante, mas
principalmente quente, quando ele coloca as mãos em cima da
minha livre. “Faz muito tempo que me sentei no colo de
alguém.”
“Sorte minha.” Suas coxas são como uma pedra. “Você
tem sorte de eu não ter pernas ossudas; caso contrário, seria
bastante desconfortável.”
Ele flexiona os músculos longos do quadríceps enquanto
coloca um braço em volta dos meus ombros. “Você tem muita
experiência em sentar no colo das pessoas?” Ele pergunta
baixinho.
“Apenas de algumas pessoas.”
“De quem?”
Eu sorrio para ele, brincando. “Pessoas”, respondo.
“Então, você está pronto para amanhã?” Até agora, os White
Oaks jogaram três vezes em casa, e eu assisti a todos eles.
Boogie veio, e nos divertimos. Eu até me comportei quando
Lauren o acompanhou uma vez e tentei muito ser legal com ela
e fazer perguntas sobre o casamento. Eles decidiram ter um
pequeno e não vão ter padrinhos, nem damas de honra nem
nada. Funciona para mim.
Zac ainda está franzindo a testa e parece que realmente
quer dizer algo que não seja relacionado ao futebol, mas ele
finalmente diz: “Sim. Tão pronto quanto posso estar. Você virá,
não é?”
Pressiono a bochecha contra seus bíceps e sorrio para ele.
“Você correu para cá quando provavelmente estava em uma
reunião e está sentado no meu colo quando nós dois sabemos
que provavelmente vou precisar de pontos. Sim, eu vou, Snack
Pack.” E então me lembro do que aconteceu com meu canal e
a dor em mim fica feroz. “Preciso te contar o que aconteceu
antes.”
Seus dedos roçam as costas da minha mão levemente. “O
que aconteceu?”
E é então que a médica bate e espia pela porta.

***

Uma hora e cinco pontos depois, Zac está saindo da sala


de cuidados urgentes ao meu lado, segurando um pequeno
saco de papel com gaze que a médica empurrou para mim. Pela
falta de surpresa no rosto da médica quando ela entrou, a
enfermeira já havia avisado quem estava dentro da sala ou ela
não tinha ideia de quem era Zac. Ela não pestanejou.
Especialmente quando viu Zac sentado em meu colo.
A médica foi muito educada quando deu uma espiada no
meu cotovelo e afirmou que eu precisaria de pontos, como
pensei. E quando Zac se sentou em um banquinho que a
médica deslizou, ele deslizou os dedos pelos meus —
parecendo suados e desconfortáveis - especialmente quando
ela me injetou algumas coisas entorpecedoras. Ele também
continuou segurando-a enquanto ela me costurava,
sussurrando, contando sua última conversa com Paw-Paw
enquanto eu apertava a mão dele com muita força, imaginando
que eu sentia aquela agulha maldita perfurando minha pele, e
ao mesmo tempo, me forçando a apertar os lábios para não rir.
“Quão ruim é isso?” Pergunto a ele enquanto esperamos
receber alta. Ele está olhando intensamente em nossas mãos,
fazendo questão de não olhar para outro lugar.
“Você quer a verdade?”
“Sim.”
“Você está marcada por toda a vida, querida.”
Não há uma conta inicial, e eu também não falar nisso.
Eu posso pagar por isso, mesmo que senta que Gunner
deveria. Mas, com as três semanas que ele alegou que me dará,
acho que está equilibrado. Foi culpa dele não apenas abrir o
armário e nos dar o maldito aspirador como pedimos. E Deepa
irá embora a qualquer momento e sua pobre mãe está doente,
então...
Eu consigo ir por todo o caminho até que estamos prestes
a entrar no carro dele, antes de começar a chorar.
Finalmente.
Tenho certeza que ele congela em seu lugar ao meu lado,
prestes a abrir a porta do passageiro, quando para. “O que há
de errado? Seu braço realmente dói? Ele pergunta com a voz
mais suave e terna do mundo antes de dar um tapinha na
minha bochecha. Lágrimas caem na pele de suas mãos de um
milhão de dólares.
Mas consigo dizer a ele, com grandes inspirações entre
todas as outras palavras, “Zac, perdi o controle do meu canal
Lazy Baker. Alguém o hackeou esta manhã.”
Antes que qualquer outra palavra saia de sua boca, ele
está lá, bem na minha frente, sua outra mão indo para a minha
cintura. “Diga isso de novo, querida. Não tenho certeza se te
ouvi corretamente.”
Então tento contar a ele novamente. Do começo. “Alguém
invadiu minha conta hoje de manhã. Minha conta do Lazy
Baker WatchTube. Recebi um e-mail de uma empresa pedindo
para anunciar no meu canal hoje de manhã. Parecia legítimo.
Quando cliquei no link do produto que eles queriam enviar,
um instalador se enterrou no meu computador.”
“Eu sabia o que estava acontecendo e forcei meu
computador a reiniciar e alterei todas as minhas senhas, mas
acho que era tarde demais. O hacker ignorou minha
autenticação de dois fatores e entrou na minha conta e retirou
as informações do WatchTube do meu e-mail. Aconteceu
enquanto eu estava no trabalho e... e...”
Zac se aproxima e sinto seu queixo roçar minha têmpora.
“Respire fundo. Tudo certo. Alguém invadiu sua conta,
querida?”
“É todo o meu trabalho duro”, eu sussurro.
Algo quente e úmido pressiona contra minha têmpora.
Seus lábios. Tem que ser seus lábios. “Eu sei. Ok, respire
fundo. O que podemos fazer? Como podemos recuperá-lo?”
“Eu preciso ligar...”
“Ei, shh. Você pode chorar, mas não soluce. Eu não gosto
de você soluçando. Ok, então precisamos ligar. Você pode ligar
no carro? E se eu ligar também, isso vai ajudar?”
Dou de ombros sob seu rosto e sinto a pressão de sua
boca contra minha têmpora novamente. “Provavelmente. Sim.
Tenho certeza que sim, mas você...”
“Se você me disser que não preciso, vou torcer seu
pescoço, garota. Claro que farei o que puder. Vou dizer ao Trev
para ligar também, se ajudar. Eu perguntarei se você pode
passar por outra maneira de voltar à sua conta e alterar a
senha para obtê-las, mas você sabe melhor do que eu o que
pode ser feito. Ei, não, não. Chega de chorar.” Ele se inclina
para trás e vejo sua mão ir em direção ao seu estômago antes
de ele puxar a camiseta e usar a parte inferior para esfregar
minhas bochechas e sob os olhos com ela. Ele até bate no meu
nariz com isso, o que me faz chorar mais.
“Bibi, querida, isso já aconteceu antes, certo? Outras
pessoas foram hackeadas também? Vamos recuperá-lo,
prometo. Você não vai perder todo o seu trabalho duro. Você
não vai perder nada.”
Eu fungo sob seu olhar quando ele solta sua camisa de
volta no lugar, mas levanta sua mão para emoldurar minha
bochecha. “Mas e se eles excluírem todos os meus vídeos? Ou
excluir meu canal?”
“É por isso que eles os invadiram? Para excluí-los?”
“Bem não. Eles os vendem...”
Ele começa a acenar com o rosto perfeito. “Ok, então eles
vão vender. Por quanto? Vou comprar de volta para você.”
Eu me estico e agarro sua mão, apertando-a. “Eu
realmente amo você, e não sei por que é tão legal comigo depois
do que fiz.”
“Você não fez nada, entende? Nós não vamos falar sobre
isso e o que aconteceu com aquela garota. Ela não é nada. Você
é minha amiga e eu faria qualquer coisa por você. Tudo o que
precisa fazer é me dizer.”
Tudo que tenho que fazer é dizer a ele.
Ele não entende. Eu o amo, mas não assim. Não quando
ele está fazendo toda essa merda legal comigo, como vir a um
hospital, mesmo que ele esteja suando e sentar ao meu lado
enquanto recebo pontos e se oferece para pagar minhas contas
e pagar para recuperar meu canal e...
Sua mão escorrega da minha, e então as duas estão no
meu rosto, segurando minhas bochechas. “Ei, shh. Vamos
recuperar, está bem? Você ainda vai sair do seu emprego. Nós
faremos com que esses hackers se arrependam de ouvir seu
nome quando terminarmos com eles, certo? Não precisa se
preocupar. Eu cuido de você, garota. Não vou a lugar nenhum.”
Sua cabeça se abaixa e aquela boca quente roça minha testa.
“Vamos à casa de Trev, você liga para o WatchTube, eu preparo
uma sopa para você e ligo também. E se eles não fizerem nada,
lançaremos nossa arma secreta, Trev.”
Ele está me matando.
Aprendi a confiar nos meus instintos ao longo do tempo,
e todos ficaram fritos na presença dele. Inclinando a cabeça
para trás, olho para ele com os olhos embaçados. “Zac, você
sabe que me pagou um milhão de vezes pela coisa da cobra,
certo?”
Penso que os cantos da boca dele se inclinam para cima,
mas não posso ter certeza disso, quando meus olhos estão
tentando muito para se transformar em fontes de água. Eu
sinto o polegar dele roçar no meu queixo. “Não estamos nem
perto de ficar quites. Venha aqui, me dê outro abraço, e então
vamos entrar no carro e fazer o que precisamos fazer.”
Não assinto nem nada. Vou direto para os braços dele e
envolvo o meu bom na sua cintura, em vez do pescoço, um dos
dele vem para o meio das minhas costas e outro para a parte
de trás do meu pescoço. Zac se enrola ao meu redor e dentro
de mim, sua presença quente e constante. Eterna.
“Você me assustou mais cedo, garota. Dizendo que estava
num pronto socorro.” Seus dedos cutucam um ponto logo atrás
da minha orelha que deixa meus joelhos fracos. “Você nunca
ouse fazer isso comigo de novo, ok? Da próxima vez, não se
machuque, temos um acordo?”
Eu rio, lacrimejante e leve, mas assinto contra ele.
“O que mais você precisa?” Ele pergunta, acariciando
minha cabeça enquanto seus dedos fazem isso com meu
ouvido novamente. “O que mais vai fazer você se sentir melhor,
hein?”
Só tenho que pensar nisso por um segundo. “Posso dar
um tapa?”
Seus braços estremecem, e sinto seu peito inchar um
pouco. “Você está perguntando o que acho que está
perguntando?”
“Sim.” Pressionando meu nariz no osso entre seu peitoral,
digo: “Isso me fará sentir melhor; Eu sei que sim.”
Ele está tentando ao máximo não rir, mas posso senti-lo
fazendo isso. “Se isso vai fazer você se sentir melhor”, ele diz,
e posso ouvir a diversão em sua voz.
Ele demora a se afastar. Ele me dá um longo olhar
também, antes de se virar com um sorriso no rosto.
Zac olha para mim por cima do ombro, em seguida, coloca
um quadril para o lado... o que também levanta uma banda da
sua bunda. Seu sorriso puxa sua boca para o melhor sorriso
de todos os tempos, todo provocador, amoroso e incrível. Assim
como Zac.
Então eu faço.
Eu bato na parte de baixo de sua bunda.
E eu estava certa. Isso me faz sentir melhor.
Dois dias depois, estou voltando para casa e o ZAC
VELHOTE aparece na tela do meu celular como uma chamada
recebida.
Eu não penso nada disso. Eu o vi na noite anterior após
o jogo — a segunda derrota sob seu comando — e ele parecia
bem. Ele até fez um ombro gingar do nada enquanto estava
sentado no sofá de Trevor, e eu cocei suas costas. Ele oohed e
aahed o tempo todo. Acho que ele estava bem e não totalmente
deprimido. Então atendo sua ligação com um: “Oi, velhote.”
“Peewee, você ouviu falar sobre o seu canal?”
Eu sorrio mesmo que não esteja necessariamente
totalmente feliz. “Hoje não. Aparentemente, eles estão muito
ocupados. Mas disseram que estão trabalhando nisso.”
“Sinto muito”, ele diz sinceramente. “O que você está
fazendo, então?”
“A caminho de casa, no supermercado. E você?”
Ele geme com o lembrete de que estou dirigindo por aí
com uma mão, como se não estivesse dirigindo com uma mão
nos últimos dez anos. Ele percebeu meu caso depois que me
levou de volta à Casa Maio depois do meu colapso no
estacionamento do pronto socorro e depois de ir a sua casa
tomar uma sopa — que ele fez em casa apenas para mim, com
almôndegas, espinafre, arroz e feijão — e vários telefonemas
meus para a sede do WatchTube, dele e até de CJ.
Um dos meus seguidores me enviou um e-mail ontem
para me dizer que viram meu canal à venda em um site que
vende canais do WatchTube invadidos e que todos os meus
vídeos foram retirados. O que resultou em eu explodir e ligar
para o WatchTube novamente. E, sinceramente, chorando de
novo.
Depois de tudo o que passei, o medo de perdê-lo, de ter
que ficar na Casa Maio, afinal, me aterrorizou.
Quarenta e oito horas depois, eu ainda não recuperei meu
canal. Eles sabem o que está acontecendo e alegam estar
fazendo algo. Pessoalmente, eu não entendo o que diabos há
para “fazer” a não ser tirá-lo e devolvê-lo para mim, mas...
Estou tentando ser otimista. Tenho toda a esperança de
recuperá-lo, e se eu chorar um pouco de vez em quando, bem,
isso faz parte. Estou preocupada.
E meu cotovelo doendo também não ajuda. Não ajuda em
nada.
De qualquer forma...
Por telefone, Zac diz: “Nada”, de uma maneira que
parece... suspeita.
Então pergunto: “Você quer vir? Há algo que você quer
que eu faça por você?
Então o seu “Mmm. Algo assim. Vejo você na sua casa,
garota. Dirija com segurança”, define alarmes na minha
cabeça.
Já estou cautelosa quando estaciono meu carro e vejo
uma pequena multidão em volta da escada, que eu e três
outros vizinhos compartilhamos. O problema é que Santiago
raramente tem companhia e meus outros dois vizinhos só
estão em casa no fim de semana. E hoje não é um fim de
semana.
Olho em volta. Não há ambulância ou caminhão de
bombeiros. Que diabos eles estão...?
Acelero, segurando minha bolsa e minha sacola com força
na mão direita, observando o grupo de oito ou nove se mover
como se estivessem tentando dar uma olhada melhor no que
há no segundo andar. Alguns deles estão segurando seus
telefones, tentando tirar fotos ou gravar alguma coisa. Deslizo
pelo grupo de pessoas para chegar à escada.
Com certeza, ainda estou na metade do caminho quando
ouço a voz de Zac: “De nada, querida.”
Mas o que eu não espero é o “Sem problemas”, com o qual
passei tempo suficiente agora para reconhecer como sendo de
CJ.
E há uma terceira voz que parece familiar.
É de Amari, confirmo um segundo depois. Porque os três
estão com meu vizinho Santiago e outras três pessoas que não
reconheço. Dois homens e uma mulher.
A mulher está segurando o antebraço de Zac entre as
duas mãos, olhando para ele como se ele fosse um diamante
de dez quilates.
Ele está segurando um pequeno saco plástico na mesma
mão.
Mas no segundo em que chego até o último degrau, a
cabeça de Zac se vira para mim e ele me pega com um grande
sorriso e um “Demorou o suficiente, querida”.
Sorrio para ele, olhando a mulher ainda agarrada a ele
por um momento e depois sorrio para CJ e Amari; é Amari
quem se vira e me dá um abraço primeiro, tomando cuidado
para não bater no meu braço esquerdo. CJ e eu batemos os
cotovelos — bem, ele bate no meu braço e eu bato no quadril
dele com o meu bom, mas perto o suficiente. Lanço um olhar
para Zac, quase certa de que vislumbro uma pequena carranca
que ele rapidamente esconde antes de perguntar: “O quê?
Nada para mim?”
Tento não olhar para a mulher que afasta as mãos dele.
Ela é uma vizinha? Eu não tenho certeza. Não é como se isso
importasse.
Andando em direção a ele, estendo a mão e passo um
braço em volta de suas costas, sentindo uma palma pesada na
parte de trás do meu pescoço, sua bochecha pressionando o
topo da minha cabeça enquanto a outra mão pousa no meu
braço esquerdo e esfrega com a palma quente e seca, enquanto
sua bolsa balança contra mim.
“Oi, Bianca.”
Abaixando o braço para soltar Zac, viro a cabeça para ver
meu vizinho. “Oi, Santiago.”
A mão na parte de trás do meu pescoço treme.
Estendo a mão e coloco os dedos em seu antebraço,
cavando as pontas dos dedos e murmuro: “Espasmo
muscular?”
Aquele nariz de príncipe da Disney se enruga por um
momento antes de ele levantar o olhar, erguer a mão sobre a
minha cabeça e dizer: “Claro que foi um prazer conhecer todos
vocês. Muito obrigado por todo o apoio. Esperamos ver vocês
em um jogo no futuro. Tenham um bom dia.”
E se esse não é o meu sinal para abrir a porta e entrar no
apartamento, eu não tenho ideia do que pode ser.
Então é exatamente o que faço, vislumbrando outra vez
as pessoas paradas, parecendo desapontadas por Zac ter
interrompido a visita.
Uma visita sobre a qual vou querer uma explicação mais
cedo ou mais tarde.
E chega no instante em que destranco a porta e levo os
três jogadores de futebol profissionais para dentro.
Zac vai direto ao assunto enquanto se dirige para a
cozinha e abre um armário enquanto eu tranco a porta.
“Querem um pouco de água? Bianca, estamos aqui para pegar
suas coisas. Quanto tempo você leva para terminar de fazer as
malas?”
No momento em que me pergunto sobre o que ele está
falando, Amari diz: “Sim”, e CJ diz: “Estou bem.”
Ele já está enchendo o terceiro copo de água, a bolsa
pendurada no pulso, quando pergunto: “Do que você está
falando?”
Zac está entregando seu copo a Amari quando ele
responde. “Suas coisas. O que você ainda não encaixotou.” Ele
estende um para mim também, e eu pego, observando-o com
cuidado, ainda confusa. “Roupas. Coisas de cozinha. Temos
caixas no meu porta-malas. Entre nós quatro, podemos
organizar tudo em uma ou duas horas no máximo, aposto.”
Prendo a respiração. “E para onde vamos levar minhas
coisas?”
Ele está de costas para mim enquanto pega seu próprio
copo de água para tomar um gole. “Para a casa de Trev,
querida.”
Meus ouvidos estão zunindo? “E por que elas iriam para
a casa de Trevor?”
“Porque é onde podemos levá-la para morar agora, até
que eu descubra uma opção melhor.”
Repito as palavras em voz alta como se não as tivesse
ouvido corretamente.
Mas, aparentemente, eles estão certos antes de ele acenar
para mim como sim. Como se dizendo não é grande coisa.
Como se ele tivesse pensado sobre isso e isso fizesse todo o
sentido para ele.
“Zac...” Eu paro, tentando pensar no que diabos dizer.
Mas é quando CJ aparece perto das minhas janelas. Ele
está olhando para o papel que as cobre. “Trevor não se
importa.”
Eu duvido disso, e isso deve aparecer no meu rosto
porque Zac diz: “Eu perguntei. Ele deu de ombros quando saiu
e disse que voltaria em duas semanas.”
O que diabos está acontecendo?
Zac continua. “Enquanto isso, Bibi, enquanto ajeito as
coisas.”
“Zac...” Sorrio para CJ, que olha para mim por um
segundo antes de voltar sua atenção para as janelas cobertas
de papel. Eu me concentro no meu amigo novamente.
“Podemos conversar no meu quarto?”
Ele balança sua cabeça.
“Zac”, continuo, coçando a bochecha. “Meu amigo... meu
amigo favorito que eu sei que está apenas tentando me ajudar
e que eu amo muito, muito... podemos conversar no meu
quarto? Por favor?”
Seu sorriso fica torto e, ainda assim, ele balança a cabeça.
“Nos deixe fazer isso. Você precisa sair em breve. Isso lhe dará
tempo para limpar o local, para que possa recuperar seu
depósito e, se você quiser filmar mais vídeos, eu a vi verificando
a cozinha de Trev. Você pode fazer suas filmagens lá. Tem
muito espaço.”
Eu pisco.
E ele continua. “Trev não vai voltar por um tempo, e
somos bons companheiros de quarto. Não somos, Ceej?
CJ assente.
Amari... Amari está apenas encostado no balcão,
assistindo e bebendo água.
Zac inclina a cabeça para o lado e caminha até mim,
parado ali, me olhando com aqueles olhos azuis claros. Sua
mão livre procura a minha, as pontas dos dedos fazendo
cócegas nos meus. “Querida, vamos lá. Não estamos em casa
a maior parte do tempo, para que você possa fazer o que quiser.
Trev tem quase as mesmas coisas que você na casa dele. Você
pode filmar e fazer suas fotos lá, sem pagar aluguel. E esta é a
única vez que ficaremos livres por pelo menos duas semanas.
Com seu braço doente, você não será capaz de carregar as
coisas por conta própria, e sabe disso. É melhor tirar vantagem
de nós.” Suas narinas inflam por um momento, e é apenas
porque eu o conheço tão bem que ouço o engate em sua voz.
“A menos que você tenha decidido que vai ficar com Connie.”
As pontas dos dedos levantam, roçando minha palma. “Ou
você pode morar perto do seu melhor amigo no mundo todo.
Você já está lá o tempo todo, de qualquer maneira.”
Eu pensei nisso desde a última vez que discutimos. Mas
ainda não tenho certeza do que quero fazer ou para onde quero
ir. E... uma pequena parte de mim está se segurando em
Houston por causa de Zac. Não porque eu ache que preciso
dele, mas principalmente porque ele ainda me procura tanto
em vez do milhão de outras pessoas que ele tem que conhecer.
Eu não entendo totalmente o porquê.
Mas, por outro lado, sou uma boa amiga e sei que ele tem
que sentir falta de casa até certo ponto, então talvez não seja
um mistério.
Eu sou sua velha calça de moletom.
E talvez... talvez não seja tão terrível ficar um pouco mais,
pelo menos até que eu tome uma decisão real que não seja
sobrecarregada por um milhão de outras coisas acontecendo.
E Trev tem uma boa cozinha, e os caras não ficam em casa...
Depois que a temporada terminar, talvez seus pés voltem
a se acalmar, e ele estará fora, viajando e vivendo sua vida
como antes. Expectativas. Eu sei o que são.
Ele inclina a cabeça para o lado como se soubesse o que
estou pensando. “Bibi?”
Eu sei o que ia dizer antes que as palavras cheguem a
muito mais do que meu coração.
“Posso conseguir mais pessoas para fazer vídeos para
você na casa de Trevor”, continua Zac. “Mas mesmo se não
quiser ficar, eu ainda ofereceria.” Ele me mata com outro
sorriso enquanto levanta sua sacola de compras. “Mas você
conseguiu um presente de boas-vindas para você. O que acha
disso?”
E ali, ali mesmo, está o maior problema que tenho com
Zac.
Que ele é fantástico.
Ele é um bom neto, filho, melhor e constante amigo.
Ele é uma ótima pessoa.
E meu pobre coração indefeso criou esse nicho que é do
tamanho dele ao longo dos anos.
Eu amo esse tolo. Assim, muito mesmo.
E naquele momento, eu decido que não fará mal ficar um
pouco mais. Zac pensou nessa opção para mim, e ele está aqui.
Leva todo meu autocontrole mim para não pigarrear
enquanto olho para onde ele está, seus dois companheiros de
equipe em segundo plano e pergunto: “O que há aí?”
“Confira.”
Pego a sacola e a abro. Parece uma camisa ou algo
dobrado.
“Tire”, ele me persuade.
Olho para ele e pego o presente, sabendo quase
instantaneamente que é um avental. Tiro e não posso deixar
de sorrir e balançar a cabeça. É amarelo, tem imagens de
especiarias e diz: “FAZENDO UMA NOVA RECEITA PARA SUA
PANÇA”. Olho para Zac e digo: “Obrigada. Amei. Aventais azuis
são os meus favoritos.”
Ele pisca para mim.
Este homem fantástico, incrível. Bem, só há uma
resposta que eu posso dar a ele. Então eu dou. “Ok. Você está
certo. Enquanto Trevor estiver bem com isso.”
“Ele está.”
“Então tudo bem.” Sorrio para Zac e murmuro:
“Obrigada” novamente.
Ele responde em voz alta, com aquele sorriso torto eterno,
ainda em seu rosto. “De nada, querida.”

***

Leva quatro horas para arrumar minhas coisas.


Quatro horas dos caras fazendo cerca de uma dúzia de
perguntas sobre minhas panelas de ferro fundido — deve ser
tão pesada? — e depois outros trinta minutos comigo fazendo
algo para comer para que eu possa “limpar” minha geladeira.
Basicamente, são apenas omeletes, queijo e alguns legumes
que eu tinha na fruteira, mas ninguém reclama. Eu pego CJ
lambendo as pontas dos dedos.
Zac enche minhas malas de uma maneira tão organizada
que meio que me surpreende muito com a eficiência dele.
Então, novamente, ele usou uma mala mais do que eu já usei
ou mais do que provavelmente usarei, então ele tem
experiência. Com apenas um braço bom, fico muito agradecida
por todos os três terem ajudado. A única coisa que realmente
faço é arrumar minha mesa de cabeceira, calcinhas e sutiãs,
afastando um pouco o fato de eu estar saindo do meu
apartamento. Eu não estou com o coração tão partido sobre
isso, mas ainda é triste saber que não vou ficar aqui por mais
tempo. Este lugar foi um paraíso para mim depois de tudo o
que aconteceu com meu ex. Mas eu tenho o futuro pela frente.
Agora só preciso recuperar meu canal. Eu não vou chorar
por isso na frente deles.
“Tudo se encaixou, exceto a sua TV”, diz Zac quando
fecha a traseira do jipe de CJ no momento em que terminamos
de descarregar a última das minhas coisas no lugar de Trevor.
“Vou perguntar a CJ se ele quer acordar cedo e buscá-la
antes do treino”, ele oferece, colocando as mãos nos meus
ombros e amassando-os levemente enquanto estamos na
entrada da casa de Trevor.
“Você não precisa fazer isso. Tenho certeza de que, se
pedir aos meus vizinhos, eles me ajudarão a carregá-la e
colocá-la no meu carro. Então talvez um de vocês possa me
ajudar a colocá-la na garagem ou em algum outro lugar.” Eu
decidi que vou ligar amanhã para doar meu sofá e cama. O
colchão é o mesmo que eu tinha quando morava na casa de
Mamá Lupe, e posso me mimar com um sofá novo, finalmente,
quando chegar a hora. Eu não ficarei na casa de Trevor por
tanto tempo. Apenas algumas semanas, no máximo. Tempo
suficiente para terminar meu livro e ter algum espaço para
realmente pensar no meu futuro. E independentemente do que
eu decida, definitivamente verei Zac jogar mais algumas vezes.
Eu vou dirigir. Agora, se eles entrarem nos playoffs...
Enquanto isso, posso sair da casa o máximo possível,
ficar no quarto quando estiver em casa, manter a casa limpa,
talvez cozinhar e, basicamente, não ser inconveniente. Eu serei
uma boa hóspede.
E uma amiga ainda melhor.
As mãos nos meus ombros dão a eles outro aperto,
aqueles olhos azuis claros sólidos e firmes. “Ou CJ e eu
podemos pegar se você me der uma chave.”
“Não quero incomodar vocês mais do que eu já fiz.”
Ele faz aquela cara novamente.
“Não revire os olhos para mim, velhote. É verdade. Todos
vocês já fizeram o suficiente. Muito mais do que precisavam.”
Aquelas mãos grandes cobrem meu rosto, as palmas das
mãos apertando minhas bochechas enquanto eu o encaro,
piscando lentamente. “O. Que. Eu. Já. Disse? Você. Não. É.
Um. Incômodo. E nunca será.”
É a minha vez de gemer.
Ele aperta minhas bochechas um pouco mais. “Deixe-me,
sim? Se ele não quiser ajudar, você pode acordar mais cedo e
perguntaremos ao seu vizinho que gosta de você se ele vai
ajudar.”
Olho para ele. “Qual vizinho?”
Ele para de apertar minhas bochechas, aquele olhar azul
claro segurando o meu. “O do outro lado do corredor.”
“Você acha? Santiago?” Pergunto. “Humm.”
Os polegares de Zac deslizam sob a gola da minha camisa
enquanto ele massageia meus músculos lá. “CJ vai ajudar”, ele
diz, mudando do assunto de Santiago gostar de mim.
Sorrio para ele e me escondo debaixo de suas mãos
quando gemo com o que ele está fazendo comigo. “Ok, mas se
você não puder, eu posso lidar com isso. Prometo. Eu tenho
pessoas para quem posso pedir.”
“Sim. Eu.”
Lá se vai meu pobre coração de novo, todo indefeso e cru.
Então eu o cutuco na barriga. “Obrigada novamente, por fazer
isso.”
“De nada.”
Sorrio para ele que sorri para mim.
Ele pega minha mão. “Vamos. Tenho um filme para
assistir e você tem coisas de computador para fazer.”
Eu bufo. “Coisas de computador. Quantos anos você
tem?”
“Sou muito velho, pelo jeito que você fala comigo.”
Eu o cutuco novamente, e ele bate na ponta do meu nariz
antes de me guiar para dentro da casa pela porta da frente. A
porta da frente da casa onde morarei por um tempo.
De repente, do nada, penso na loira bonita que esteve em
sua festa no primeiro dia em que nos vimos; aquela que sabia
onde ficava seu quarto.
Ele vai trazer outras garotas para cá? Para o quarto duas
portas abaixo daquele em que eu vou ficar?
Se eu pudesse começar a suar sob um comando, haveria
uma gota escorrendo pela minha espinha.
Por que não pensei nisso antes? Como não pensei nisso
antes?
Mantenho meu olhar para frente enquanto digo: “Ei, se
você ou CJ quiserem que eu saia a qualquer momento, você,
porque vão ter companhia ou algo assim” — merda, meu
estômago dói — “tudo que precisam fazer é me dizer. Ok?”
Ele para de repente, e leva dois passos no espaço entre a
mesa da sala de jantar e o escritório para eu perceber.
“O quê?” Pergunto a ele.
Posso ver sua língua cutucando o interior de sua
bochecha quando seu olhar se fixa em mim. Seu peito sobe e
desce quando ele olha para baixo, e tenho certeza de que sinto
um nervo pulsando ao longo de sua mandíbula. Mas depois de
um segundo, ele assente uma vez e tudo o que diz é: “Tudo
bem” antes de começar a andar novamente.
Apenas tudo bem.
Não, “Não, isso não vai acontecer.” Não, “Não se preocupe
com isso.” Nada.
E tenho que prender a respiração e me lembrar que isso
não é um erro. Eu não deixarei que seja.
Tudo bem.
E sou uma maldita mentirosa.
Eu sou uma mentirosa porque de repente me sinto
enjoada, enjoada e com ciúmes. Tanto ciúmes que coça a parte
de trás do meu pescoço, embora não coce. Eu construí essa
fantasia na minha cabeça que, quando não está saindo comigo,
ele está ocupado com os White Oaks ou fazendo algo em casa.
Não... festejando como ele costumava fazer.
Eu sou mais esperta que isso.
Mas devo ser uma boa amiga depois de tudo que ele fez
por mim. Eu posso fazer isso por ele. E farei isso por ele.
Chegamos à sala e encontramos a The Sports Network
ligada. Não há ninguém assistindo televisão, mas isso não
muda o que os correspondentes da noite estão discutindo.
Acho que CJ tinha ligado.
Porque a reprise da manhã tem o título em negrito.
OS WHITE OAKS TÊM UMA CHANCE?
É o âncora Michael B que está no meio da conversa, e é
claro que ele está falando sobre Zac. Sua voz alta e elétrica.
“Claro que ele tem mostrado sinais de brilhantismo, mas isso
não significa que vai durar! Eu preciso ver mais! Zac Travis já
passou do auge da carreira e não posso deixar de estar
convencido de que isso não é um acaso. Ele não tem um histórico
consistente para alimentar qualquer tipo de crença.”
Sinto Zac parar diretamente atrás de mim e não preciso
me virar para saber que ele está assistindo e ouvindo.
Então faço a única coisa que posso. Pulo para o maldito
controle remoto que está no sofá e mudo de canal.
Mas não sou rápida o suficiente. Porque quando
finalmente viro, eu vejo. A mágoa oculta e a insegurança em
seus olhos. E eu o conheço muito bem para não reconhecer.
Eu odeio isso. Absolutamente odeio. E sei que preciso
mudar isso.
Então, faço o que faço de melhor quando me sinto
desconfortável, sorrio. E digo a ele: “Quer pegar uma chalupa?
Eu tenho uma nova lista de reprodução e estou esperando um
motivo para lembrá-lo de que todas as suas ex-namoradas não
moram no Texas, não importa o que a música diga.”
Demora um segundo, mas apenas um segundo.
Mas sua expressão desaparece.
E a próxima coisa que eu sei, aqueles braços longos e
fortes estão em volta de mim, e ele está me puxando para seu
corpo quente e sólido. Aqueles lábios secos e firmes
pressionados contra minha testa, minha têmpora e minha
bochecha quando ele diz calmamente, me segurando lá: “Eu
não sei o que eu faria sem você, garota.”
A verdade é que eu também não sei o que faria sem ele.
Não há muitas coisas mais estranhas do que acordar em
um lugar que não é seu.
Eu me preparei mentalmente para isso na noite anterior
enquanto me instalava em um quarto de hóspedes na casa de
Trevor, uma porta abaixo de CJ e duas de Zac. A casa é bonita
e tudo está limpo — graças ao serviço prestado duas vezes por
semana — e o quarto em que estou hospedada tem até seu
próprio banheiro. Quando eu morava com Connie, e mesmo
com minha colega de quarto, tinha que dividir o banheiro.
Mesmo que CJ e Zac tivessem me garantido que Trevor
está “bem” comigo por ficar na casa dele por um tempo, ainda
é estranho.
Não é a primeira vez que fico com pessoas por pena. Foi
assim que acabei na casa de minha tia e tio depois que Mamá
Lupe faleceu e meus pais decidiram que tinham que voltar
para a República Dominicana o mais rápido possível, para que
eu pudesse terminar meu último ano do ensino médio.
Ninguém queria que eu morasse sozinha, e ninguém poderia
pagar a hipoteca dela para colocar a casa à venda. Se meu
relacionamento com Connie fosse diferente, eu pensaria que
foi um convite de pena quando eles me disseram para ir, mas
eu a conhecia e Richard, seu marido, muito bem para
confundir o que eles ofereceram.
De qualquer forma.
A casa está vazia quando desço as escadas. Fiz questão
de limpar depois de tomar o café da manhã e fiquei ocupada
tomando banho e depois sentada na ilha da cozinha,
trabalhando no computador por algumas horas. É só depois
que fiz minha comida e estou sentada ali comendo, que meu
telefone toca.
Olho para a tela e xingo. “Alô?” Atendo, sabendo que vou
me arrepender dessa conversa.
“Blanca, é Gunner.”
Não brinca. Ele está me ligando do trabalho, que está
listado no meu telefone agora como CASAMAIOÉUMADROGA.
E ele me chamou de Blanca de novo? Meu estômago fica
aborrecido e eu apoio o garfo no prato. “Sim?” Eu respondo
firmemente.
Ele vai direto ao assunto. “Eu estava pensando, enquanto
você está de férias pagas...”
Período de férias? É assim que ele está chamando?
“...Você pode fazer com que seu amigo Zac apareça e
poste uma foto ou duas dele malhando aqui?”
Este imbecil. Estremeço, balançando a cabeça em
descrença. Ele realmente espera que eu diga sim? “Não, ele não
tem tempo”, digo a ele, diretamente. Qual é o pior que ele fará?
Vai me demitir?
Há um som agudo. “Não?”
“Não.” Eu deveria saber que haveria um problema com
sua oferta. Se alguma coisa, deveria ser surpreendente é que
demorou tanto tempo para ligar com seu plano. Ele
provavelmente pensou nisso desde o momento em que fez a
oferta. “É tudo o que você precisa?”
“Não?” Ele repete, parecendo atordoado.
Eu espero que sim.
“Não”, confirmo. “Ele não pode. Como eu te disse da
última vez que você perguntou. Preciso ir agora, tchau.” Antes
que ele tenha a chance de dizer mais alguma coisa, eu desligo.
Estou bufando com a cara de pau dele quando a porta da
frente se abre e ouço um familiar “Garota?”
“Estou aqui”, grito enquanto coloco o telefone na mesa e
salvo as imagens que eu estou no meio da edição e viro a
banqueta para encontrar Zac entrando, segurando uma
pequena mochila com uma mão e uma garrafa de vidro de água
na outra.
A única coisa sobre ele é o sorriso estranho em seu rosto.
“O que você tem?” Pergunto a ele instantaneamente.
Ele congela por um segundo enquanto larga a bolsa
contra a parede e depois se dirige para onde eu estou sentada.
Zac passa o antebraço em volta do meu pescoço por trás e me
beija duas vezes na bochecha, bem no meu olho. Ele cheira
como se tivesse acabado de sair do chuveiro, e eu gosto. Muito.
Demais.
“Querida, como você sempre sabe quando algo está
errado?” Ele pergunta, sua bochecha parando por cima da
minha cabeça. Eu gosto muito disso também.
Bem, se ele quer ser carinhoso... Dobro meu queixo e
pressiono meus lábios em seu antebraço brevemente. “Porque
eu te conheço muito bem. Você mostrou praticamente todos os
rostos possíveis na minha frente em um ponto ou outro. E você
parece muito pálido. Você está doente?”
Ele não se move de sua posição, a bochecha ainda na
minha cabeça, e posso sentir seu peito logo atrás de mim,
subindo e descendo.
“Zac?” Pego seu braço e tento inclinar minha cabeça para
cima para olhar para ele. “Se você não quer falar sobre isso...”
“Eu acho que posso estar com febre.”
Seu braço está agradável e frio sob a minha mão... e ele
não pareceu corado entrando na casa. Meus sentidos por Zac
estão disparando. “Quer que eu verifique?” Pergunto a ele
desconfiada.
Ele faz uma pausa e depois assente.
“Curve-se então”, digo a ele e sinto seu braço flexionar.
“O que?”
“Vou verificar pelo reto.” Eu rio. “É o mais preciso, seu
mentiroso. O que está realmente errado?”
Ele se afasta um pouco. Aquele rosto bonito ainda parece
totalmente desanimado, mesmo quando ele estreita os olhos
para mim e diz: “Estou tentando me dizer que não me sinto
bem”, ele admite cuidadosamente, parecendo envergonhado. O
que é raro, porque eu não acho que ele tem um osso
envergonhado em seu corpo incrível. Quero dizer, corpo.
“Preciso fazer o PRP de joelhos em uma hora.”
“O que é PRP?”
Zac pega o banquinho ao meu lado, puxa minha tigela de
macarrão em sua direção e começa a comê-lo, enquanto me
explica o tratamento que exige que suas plaquetas sanguíneas
sejam reinjetadas em seu corpo para reduzir a inflamação que
ele está sentindo e causando dores no joelho. A coisa é... ele
parece doente o tempo todo, ele me contou sobre isso, e eu não
fico surpresa quando entendo o porquê.
Eles tiveram que tirar sangue dele, o que já era ruim o
suficiente. Então o reinjetaram, várias vezes em vários lugares.
Para a maioria das pessoas, isso não seria grande coisa, e parte
de mim fica surpresa porque ainda é grande coisa para ele,
considerando o fato de que está com trinta e cinco anos e
provavelmente já passou por quem sabe quantas injeções de
cortisona ao longo de sua vida.
Mas, aparentemente, Zac ainda está com medo de
agulhas.
Ou não assustado, pois tenho certeza que ele insistiria se
isso acontecesse.
Ele não precisa dizer as palavras reais, mas eu entendo.
Esse é o seu segredo sujo.
Levanto-me, coloco o restante do macarrão que deixei de
lado na mesma tigela que ele ainda está demolindo e pego
outro garfo. Eu apunhalo mais alguns pedaços de macarrão e
frango e observo seu rosto enquanto ele tenta mudar de
assunto para um telefonema que teve com Paw-Paw a caminho
de casa.
Mas ele não está me enganando.
“Zac?” Pergunto a ele depois que engulo um pedaço de
frango.
“Hmm?” Ele responde enquanto come mais macarrão.
“Não que você precise que eu vá ou algo assim... mas
gostaria que eu fosse com você para fazer o seu tratamento?
Para que eu possa trazê-lo para casa se... não estiver se
sentindo bem depois?”
Não estiver se sentindo bem depois. Pssh.
Eu me lembro das histórias dele desmaiando quando teve
que tomar antialérgicos todos os meses por um tempo quando
era mais jovem.
Seus olhos azuis me espiam quando ele espeta um
pedaço de couve-flor e o mastiga lentamente. “Você tem
tempo?” Ele pergunta com cuidado. “Eu ia pedir um carro para
ir para lá e outro pra volta.”
Eu não consigo rir ou sorrir. Eu não quero magoar seus
sentimentos. Porque Deus sabia que, se chegar o dia em que
aparecer uma barata voadora, eu vou gritar a pleno pulmões
para que ele venha matá-la.
“Se você quiser pegar um carro, vá em frente. Mas eu levo
você, se quiser.”
Ele olha a tigela entre nós e a empurra em minha direção
para a última mordida. “Sim.” Ele limpa a garganta e passa a
junta do dedo indicador pela sobrancelha. “Tudo certo. Sim.”

***

“Sr. Travis, estou pronta para você, se você me seguir”,


diz a mulher bonita de calça cáqui e blusa dobrada uma hora
depois.
Zac e eu nos sentamos na pequena área de espera da
pequena instalação onde seu treinador marcou sua consulta.
Ele admitiu para mim no caminho que conhecia pessoas que
haviam recebido esse tipo de tratamento antes, mas é sua
primeira vez. Eu dirigi seu carro com uma mão e fiz o meu
melhor para não parecer surpresa quando ele fez a sugestão.
Dois globos oculares azuis claros olham para mim.
E tenho que apertar os lábios para não sorrir para o que
tenho certeza que ele está me pedindo para seguir.
Sou tocada.
E eu não vou estragar tudo.
“Eu posso ir também?” Pergunto à enfermeira, sabendo
que provavelmente parece e soa como uma namorada
pegajosa, mas não dou a mínima. Só estou pedindo para ir
porque tenho a sensação de que ele quer que eu vá.
Ela olha para Zac, sorri um pouco e assente.
Eu tenho muita certeza de que Zac está respirando muito
mais forte do que o normal, enquanto segue o caminho atrás
da mulher, e tenho que morder o lábio, depois morder a língua
para não rir do fato de que ele está tão nervoso e tentando
desesperadamente esconder.
Eu coloco a mão em sua cintura, sentindo como é fina, e
dou-lhe um aperto de apoio.
Ele coloca uma mão em cima da minha e a mantém lá
enquanto eu o sigo, a centímetros de distância enquanto nos
dirigimos para a pequena sala de exames. Nós nos
apresentamos quando Zac senta-se na mesa de exame, e posso
ver as inspirações profundas que ele está tentando não
demonstrar, mas falha e as faz de qualquer maneira.
Ele já está pálido, ou pelo menos mais pálido do que
estava quando chegou à casa.
E eu sei que a mulher também sabe, porque o olhar dela
passa das suas mãos levemente trêmulas para seu rosto e
costas.
Eu encontro os olhos dela e sorrimos uma para a outra.
Ela sabe. “Ok, Zac, isso não vai demorar muito. Vou tirar
o sangue do seu braço direito e depois trabalharemos no seu
joelho. Se você estiver bem com isso, eu tenho esse spray que
o ajudará a não sentir nada, tudo bem?”
Seu “Sim, senhora” quase me mata.
Bem, estou aqui por um motivo, mesmo que ele esteja em
negação.
“Ei, Zac?” Pergunto antes de me sentar ao lado da mesa
e depois me aproximar dele.
Aqueles olhos azuis se movem para mim e o pomo de
Adão dele balança violentamente. “Sim, Bibi?” Ele pergunta
com uma voz fraca.
Deslizo a mão entre a dele e sua coxa, deslizando meus
dedos pelos dele, unindo-os. Eles estão gelados. Ele está de
short e posso sentir o pelo de sua perna sob meus dedos.
“Liguei para o WatchTube novamente. Eles não vão me dizer o
que está acontecendo ainda. Você acredita nisso?”
“Eles não vão te dizer o que está acontecendo?” Ele
pergunta, olhando na direção da mulher que está ocupada
puxando agulhas e quem diabos sabia o que, para fora.
“Não”, digo a ele com um suspiro que parece trêmulo para
mim. “Tudo o que eles estão dizendo é que estão 'investigando'.
Filhos da puta. E para 'dar tempo a eles'.” Seu olhar ainda está
na mulher que se virou para encará-lo enquanto brinca com a
embalagem de uma agulha. “Você acredita nisso?” Pergunto,
tentando fazê-lo olhar para mim. “Eu chorei novamente.”
Isso faz com que ele se volte para mim, uma careta no
rosto tenso. “Não chore. Vamos recuperá-lo. Eu te prometi.
Vou pedir para Trevor ver se ele consegue encontrar o número
de alguém e ligar para ele para resolver o problema.”
Bom, ele ainda está olhando para mim. “Ele não precisa
fazer isso, mas se você quiser...” Sorrio. Pelo canto do olho, vejo
o braço direito de Zac ser puxado e sei que ela está prestes a
retirar o sangue dele, então aperto sua mão oposta. “Tenho
certeza de que vou recuperá-lo, mas eles retiraram todos os
meus vídeos, e se não puderem restaurá-los?”
“Então nós vamos fazer com que os restaurem”, ele diz,
movendo os dedos ao redor dos meus em um gesto de
massagem. “Você está quase pronta para a fotógrafa? Quando
ela vem?”
“Estou chegando lá. E é semana que vem.” Eu falei sobre
as datas em que ela estaria na casa de Trevor. “Você tem um
jogo em casa, e eu vou tentar tirá-la de casa quando você
estiver lá para que possa relaxar.”
Sua boca fica plana. “Por que você a apressou? Eu quero
ver tudo também. Tudo o que você precisa, tudo o que precisa
fazer é pedir.” Seus dedos massageiam os meus um pouco
mais. “Estou tão orgulhoso de você, Bibi.”
“Estou tão orgulhosa de você também, velhote.”
Ele está olhando para mim quando o telefone toca.
Soltando minha mão, ele o puxa para fora do bolso da calça
jeans, faz uma careta e o coloca em cima de sua coxa antes de
se inclinar apenas o suficiente para pegar minha mão
novamente. Ele não olha para a mulher, que desde então
retirou seu sangue e o colocou em uma máquina centrífuga
giratória que está trabalhando, e sei que tenho que manter sua
atenção até que ele termine o resto do tratamento. Mas minha
mente vaga por um segundo.
Seria uma garota ligando?
Alguma ruiva bonita de Houston agora?
Ou talvez uma loira de Dallas?
Uma morena de Oklahoma?
“O que é essa cara?” Ele pergunta baixinho.
Encontro o olhar dele e balanço minha cabeça, ignorando
aquele pequeno, ok, não tão pequeno, ponto de ciúmes no meu
estômago. E meu peito. E cabeça.
“O que você está pensando?”
Eu balanço a cabeça novamente, sabendo que preciso
continuar falando com ele e não ser a amiga ciumenta que não
deve que se sentir dessa maneira.
“Diga-me”, ele insiste.
Bem. Eu o olho direto nos olhos e dou de ombros
novamente. “Você realmente tem tantas garotas no telefone
que precisa colocar como elas são e o que elas fazem, para que
se lembre de todas?” Pergunto, esperando como o inferno que
eu mantenha meu rosto em branco.
Os dedos ao redor dos meus se contraem, e ele tem uma
expressão engraçada no rosto que me faz sentir como se
estivesse pensando no que acabei de perguntar. Zac até olha
para o telefone como se estivesse considerando. “Eu...” Ele
fecha a boca, mas encontra meu olhar novamente. Suas
sobrancelhas estão unidas, e pela primeira vez desde que ele
entrou na casa, há um pouco de cor em suas bochechas. Rosa
especificamente.
“Está tudo bem; Estou apenas sendo intrometida”, minto,
oferecendo a ele um pequeno sorriso que também espero como
louca que seja neutro. “Você não precisa me dizer nada, Zac.”
“Eu nem as conheço”, ele diz calmamente depois de um
segundo. “Eu nunca atendo ou escrevo de volta. Não mais.”
Por que diabos eu trouxe isso à tona? Eu deveria ter
ficado de boca fechada e cuidando do meu próprio negócio.
De repente, sinto náuseas.
“Não faz muito tempo”, ele acrescenta em uma voz suave
que me faz olhar para o chão. Eu o vejo dar um ligeiro toque
no telefone que o faz se mover um centímetro através da coxa.
“Exclua-os para mim.”
Finjo olhar para as unhas, entre as coxas.
“Todos eles, assim.” Ele continua com aquela voz doce
que não faz nada por mim.
Balanço a cabeça e me inclino para frente, colocando
minha testa em cima de sua coxa, meu olhar grudado nos
ladrilhos no chão. “Sou muito cara. Você não quer me pagar
por hora para isso”, murmuro. “E estou começando a ter dor
de cabeça”, digo a ele enquanto endireito os dedos e tento tirá-
los dos dele.
Ele não me deixa.
Aqueles dedos de um milhão de dólares apertam os meus
em um super aperto. “Você quer saber como está sua descrição
em meus contatos?”
Eu quero dar de ombros, mas isso parece muito pessoal.
“Peewee?”
“Não.” Seus dedos se afastam dos meus, mas antes que
eu tenha a chance de fechar meu punho e tirá-lo, ele está de
volta, acariciando meu polegar antes de fazer o mesmo com
meus outros quatro dedos. “Tente novamente.”
Nesse momento, dou de ombros. “Bianca?”
“Não.” Ele une nossos dedos novamente, e noto então que
eles não estão mais tão frios ou úmidos.
“Eu não sei, Zac”, digo a ele.
A coxa sob minha testa salta um pouco. “Chute.”
Leva tudo em mim para não suspirar.
Ele me ama. Claro que ele gosta de mulheres e faz sexo
com elas. Claro que há uma tonelada de mulheres que querem
fazer sexo com ele e provavelmente aproveitaram a
oportunidade de ter o seu número.
Eu teria sido uma delas.
Sabe, se houvesse uma chance. Mas não há.
E isso não é culpa dele.
Se não fosse pela nossa amizade, ou pelo fato de termos
crescido juntos, ou pelo fato de termos nos dado tão bem, eu
não teria nenhum tipo de amizade com ele. Eu não o teria na
minha vida. É uma chance em um bilhão que nos conhecemos,
em primeiro lugar. Aquelas circunstâncias nos conectaram.
Eu não quero puni-lo por não retornar meus sentimentos.
Porque eles são sentimentos idiotas e inúteis que não fazem
nada além de me enroscar e me machucar.
Então, eu tento muito aliviar minha voz enquanto ofereço:
“Ok. Bianca, a Baker?”
Sua perna se move sob minha testa novamente. “Não.
Você não precisa de nada depois do seu nome”, ele diz
calmamente.
Eu tenho que cavar fundo para tirar uma piada do meu
coração. “Meu Novo Papai?”
Ele ri levemente. “Não. My Litle Texas.”
Eu bufo fracamente e o sinto começar a brincar com
meus dedos novamente.
“Bibi”, ele começa a dizer antes que a enfermeira corte.
“Zac, vou entorpecer seu joelho um pouco e começar o
tratamento, ok? Você pode sentir alguma pressão.”
Então eu me sento, movendo meu aperto para esgueirar-
se entre seus dedos novamente. Foi por isso que vim, estar
aqui para ele. E sei que fiz a coisa certa quando o encontro já
pálido e encarando a agulha que ela está segurando ao seu
lado como se estivesse prestes a matá-lo.
“Lembre-se de respirar”, ela lembra.
Ele não está respirando. Ele está olhando para a agulha.
“Ei.” Aperto seus dedos.
A mulher levanta uma mão apaziguadora. “Está tudo
bem, Zac.”
Oh, meu Deus.
Aperto sua mão com mais força. “Ei você. Bubba. Olhe
para mim. Deixe-a fazer o trabalho dela. Você sentou comigo
recebendo pontos como um campeão.”
Sim.
Ele faz isso cerca de três minutos antes de desmaiar.

***

“Como você está se sentindo?” Pergunto a Zac algumas


horas depois.
Ele está sentado no sofá, sua cabeça apoiada nas costas
dele. Seu olhar apenas desliza para mim sem o resto da cabeça
se mexer. “Estou bem”, ele responde, realmente parecendo
bem.
Ele não estava soando bem há uma hora. Ele não parece
tão bem também.
Eu me controlei para não rir quando ele abriu os olhos
depois de desmaiar e perguntou: “O que aconteceu?” Eu tive
que segurá-lo até correr para a farmácia ao lado e comprar um
suco de laranja, que ele bebeu depois de uma garrafa de água
que a enfermeira forneceu. Ela me disse imediatamente depois
que seus olhos rolaram para a parte de trás de sua cabeça, que
homens desmaiando enquanto doam sangue ou tomam
injeções é bastante comum.
Eu disse a ele no caminho de volta para casa, mas ele
apenas me deu um olhar sujo e disse: “Se você vai rir querida,
vá em frente e faça isso.”
Foi só porque eu o amo muito que segurei, tentei manter
a cara séria e disse: “Não vou rir. Eu já sabia que você se
assusta com agulhas. Eu provavelmente desmaiaria se visse
uma aranha.”
“Com uma aranha eu poderia lidar.”
Mas não uma agulha minúscula. Eu não disse isso, mas
pensei. Quando ele estava consciente e sua pressão arterial
boa, saímos da instalação e voltamos para casa. Eu o fiz deitar
no sofá com uma toalha fria sobre a cabeça enquanto ele
cochilava e eu trabalhei no meu computador, tentando não
pensar na possibilidade iminente de perder permanentemente
meu canal.
Colocando-me na chaise ao lado de seus joelhos, eu pego
uma. “Você quer água? Precisa de alguma coisa?
Ele funga. “Uma massagem nas costas seria legal.”
Uma massagem nas costas?
Ele funga novamente.
Ah, merda. “Certo. Vamos, seu traseiro mimado. Sua avó
transformou você nesse monstro? Porque não vejo sua mãe
fazendo isso.”
Ele ri quando desliza um pouco sobre a chaise e bate no
local entre ele e o apoio de braço, e me afasto, me mexendo lá
dentro. Minhas mãos vão direto para seus ombros, absorvendo
o calor de sua pele através de sua camisa e exercitando os
músculos lá.
Ele faz parecer que teve uma cirurgia em vez de apenas
desmaiar um pouco. Eu terei que contar a Boogie para que ele
possa rir. Ele será o único a entender.
“Está tudo certo?” Pergunto a ele depois de alguns
minutos.
“Oh, isso é tão bom”, Zac geme, inclinando-se para frente,
de modo que sua camiseta se estica sobre suas costas
musculosas.
Eu bufo quando enfio os polegares em seus ombros,
amassando os músculos o mais forte que posso. “Parece que
você não recebeu uma massagem neste século, seu
pervertido.”
Sua resposta é um gemido, e isso me faz bufar de novo.
“É tão bom quando você faz isso.”
“Eles não pagam as pessoas da equipe para fazer isso por
você? Eles são muito melhores nisso do que eu.”
Zac sacode a cabeça quando ela balança para frente.
“Sim, mas nenhum deles faz isso com amor como você.” O
gemido que ele faz vai direto para os meus mamilos. “Oh, esse
é o lugar, aí.”
Oh Deus, isso foi uma má ideia. Tarde demais agora. Eu
cavo no local bem na base de seu pescoço e subo uma mão
para massagear ao longo da coluna, e o sinto se transformar
em gosma.
Nenhum deles faz isso com amor como você.
Ele não faz ideia.
Mas eu faço, e é um pequeno lembrete de que estou aqui
há apenas alguns dias e preciso descobrir o que vou fazer para
que possa sair daqui. Eu não sou responsabilidade de Zac, e
seria uma péssima ideia ficar aqui por muito tempo.
Arriscar a chance de ver algo que absoluta,
positivamente, não quero ver.
Eu quero sair de Houston? Realmente quero me mudar
para Killeen? Ou mesmo Austin?
Eu não tenho uma ideia do caralho, e esse é o maior
problema.
Debaixo de mim — bem, minhas mãos — tenho certeza
que Zac ronrona enquanto curva suas costas ainda mais. “Eu
pagaria para você fazer isso todos os dias”, ele murmura.
Minhas mãos estão começando a se cansar, e eu o solto
antes de deslizar as pontas dos dedos pelas laterais de suas
costas e as bater contra suas costelas. Seus braços batem em
cima dos meus dedos, prendendo-os contra sua pele.
“Você é uma valentona.”
Eu rio quando vejo CJ descendo as escadas e entrando
na sala de estar enquanto tento enrolar meus dedos de volta
ao seu lado para fazer cócegas nele. “Eu sou? Eu sou uma
valentona?
Eu devo ter conseguido pressão suficiente lá, porque ele
respira fundo e diz: “SIM!”
“Você está pegando Zac de novo?” CJ pergunta enquanto
passa por nós, com um pequeno sorriso no rosto.
“Com certeza ela está.” Zac se inclina para trás, talvez
esperando me empurrar para fora do caminho, então eu deixo
pra lá quando ele diz: “Você vê como ela me trata? Vê como ela
me manipula, Ceej?”
A parte de trás de sua cabeça descansa no meu ombro,
me empurrando o suficiente para que meus dedos não possam
alcançar mais suas costelas, mas eu as coloco em seus ombros
e o beijo a lateral da sua cabeça enquanto rio novamente.
“Você está colocando isso na sua lista de coisas para
contar à mamãe?” Eu o provoco.
Ele vira a cabeça para olhar para mim, aqueles olhos
marcantes, apesar do quão pastel eles são. “Sim”, ele afirma,
mas posso ver parte da boca dele sorrindo.
“Linguarudo.”
Ele bufa enquanto sorri, ainda permanecendo no lugar
enquanto inclina seu peso contra mim. “O que você vai fazer
no resto da noite?” Ele pergunta.
“Eu não sei. Responder a alguns e-mails, talvez. Fiz tudo
o que queria hoje. Essa coisa de trabalhar em casa é muito
legal. E vocês?”
Eu me arrependo de fazer a pergunta no segundo em que
sai da minha boca.
Mas ele balança a cabeça. “Nada. Não me sinto muito bem
com os meus níveis de açúcar no sangue estando todos
estranhos.” Ele me lança um olhar como se estivesse
esperando que eu contradissesse o que o fez desmaiar.
Eu apenas mordo meus lábios.
“Quer assistir a um filme?”
“O que vão assistir?” CJ pergunta da cozinha. Pelo som,
ele está puxando algo da geladeira e vai esquentá-lo.
“Não sei o que vai passar. Eu não verifiquei, mas tem que
haver alguma coisa”, responde Zac antes de se inclinar
novamente para olhar meu rosto. “A menos que você tenha um
encontro ou algo assim.”
“Vou assistir a um filme”, digo a ele. “Eu poderia fazer
uma pausa.”
“Aposto que sim, Senhorita Popular.”
“Vou rastejar pelo chão quando você estiver dormindo,
tirar suas meias e fazer cócegas nos seus pés, não me tente.”
Ele sorri. Então tenta enfiar o dedo na minha orelha.
De alguma forma, ele pega o controle remoto sem olhar e
começa a mudar de canal. Eu não penso muito nisso até que
ele se senta e corre de volta para a chaise, seu quadril
diretamente contra o meu, sua perna alinhada com a minha.
Um braço passa pela parte de trás do meu pescoço e ele me
puxa para o lado dele.
Então ele joga o cobertor sobre nós.
Ele está apenas sendo carinhoso, digo a mim mesma,
quando ele olha para frente novamente e começa a passar
pelos canais de filmes.
Ele gostava de... aconchegar-se.
E tenho sorte de ser a garota por perto para ele fazer isso.
A segura. Aquela com quem ele se sente muito confortável.
Sorte minha.
Estou lá embaixo lavando a louça, cerca de duas semanas
depois, ouvindo Zac conversando no telefone com seu agente
— CJ saiu para andar por aí — quando a campainha toca.
Ele olha para mim e dou de ombros. Não convidei
ninguém.
Bem, ninguém além da fotógrafa que veio. Eu ainda não
consigo acreditar que isso aconteceu, muito menos entender o
quão incríveis são as fotos que ela tirou. Levou cinco dias para
fazer todas as fotos.
Cinco dias de Zac choramingando e choramingando
comigo enquanto passava sua semana de folga — uma espécie
de semana de férias que todo time faz durante a temporada —
no sofá e ao redor da cozinha, observando a mulher em ação.
Ele me ajudou a cozinhar e limpar e foi meu apoio moral o
tempo todo.
Parte de mim esperava que ele se despedisse e saísse de
férias como CJ — que foi para as Ilhas Virgens com Amari e
outro jogador cujo nome não consigo lembrar. Mas ele não tem
ido a lugar algum, nem mesmo para visitar sua amada mamãe
ou Paw-Paw. Ele tem saído comigo. Temos ido às compras de
supermercado, ao cinema, à praia, mesmo com muito vento e
fizemos algumas longas caminhadas.
E se não fosse pelo fato de eu ainda não ter recuperado
meu canal, teria sido uma ótima semana que passamos juntos.
Mas a perda paira sobre minha cabeça e meu coração, embora
eu tente ao máximo não pensar nisso, pois não há muito que
eu possa fazer além de ligar e enviar e-mail repetidamente.
Então...
Quando tiro o sabão das mãos e as enxugo, a campainha
toca novamente. Zac coloca a mão sobre o receptor. “Me dê um
segundo, querida, e eu atendo.”
Murmuro: “Eu atendo.”
Ele precisa se concentrar em sua conversa sobre a
próxima temporada. Eu estava ouvindo o tempo todo que ele
está ao telefone e sei exatamente que tipo de plano eles estão
formulando.
Assinar outro ano com os White Oaks se eles o quiserem,
ou ele irá a qualquer outro lugar se não o quiserem.
Mas tudo depende de uma coisa importante, os jogos
restantes da temporada.
Se ele conseguir levar o time para os playoffs — o que eu
espero que mais do que tudo aconteça, há uma chance. Os
White Oaks são o azarão da estação. Principalmente por causa
de Zac e pela maneira como ele jogou e liderou o time. Estava
no limite do meu lugar dias atrás, quando ele esteve no Arizona
e eles ficaram chateados do nada no último quarto do jogo.
Fiquei feliz que Trevor não estivesse em sua casa, porque eu
estava gritando alto e pulando para cima e para baixo quando
Zac lançou um passe com o qual CJ se conectou e ganhou o
jogo deles.
Eu fiquei acordada naquela noite para fazer rosquinhas
que eles poderiam comer quando chegassem em casa na
manhã seguinte como um deleite. Até Deepa me mandou uma
mensagem com emojis de fogos de artifício no final. Eu me
despedi dela alguns dias atrás, quando fui até a casa dela e a
ajudei a fazer as malas antes que ela voltasse para casa para
ficar com a mãe. Eu sentirei muita falta dela, mas sei que ela
tem que ir. Nós manteremos contato, tenho certeza disso.
Ainda não tenho ideia do que farei sem ela ou em geral.
Zac me ajudou na última vez que filmei, mas sei que não posso
confiar que ele sempre esteja por perto. Eu ainda estou
gravando vídeos, me preparando para o dia em que recuperarei
meu canal. Zac está tentando me manter otimista.
Então.
Claro, a temporada atual ainda não terminou, mas eles
têm que vencer os próximos dois jogos para chegar aos
playoffs. Se eles entrarem nos playoffs, isso é uma coisa. Se
eles não... bem, isso será uma história totalmente diferente
para Zac.
A pressão sob a qual ele está, me mantém acordada à
noite.
Bem, isso e o fato de o WatchTube ainda não ter tirado o
acesso do meu canal dos idiotas hackers que o roubaram de
mim. Eu fiz um barraco na semana passada e alguns dos meus
telespectadores ligaram e enviaram e-mails também. Eu até
tenho alguns outros amigos blogueiros postando sobre isso.
E eles ainda não me deram uma atualização ou
simplesmente me devolveram.
Mas quanto mais tempo leva, mais me convenço de que
irei recuperá-lo e disparar direto para a maldita lua com ele.
Eu não vou perdê-lo, especialmente para alguns idiotas. Se
tiver que processar o WatchTube, eu o farei.
Vou acabar vendendo um rim para conseguir um
advogado.
Ou pedirei a uma das duas pessoas que me amam que
me dariam o dinheiro sem pestanejar, se eu parar de ser
teimosa.
Se eu não estivesse tão estressada com o futuro de Zac,
não sei o que diabos eu faria e onde viveria, e todo o drama de
ter meu canal hackeado, eu ficaria muito feliz por que algumas
coisas estão progredindo.
As coisas estão melhorando; Eu posso sentir isso. Só
tenho que ficar forte e ficar de olho no prêmio.
E sair do meu emprego.
Vou fazer essa merda no segundo em que recuperar meu
canal, decido. Minhas três semanas de folga do trabalho estão
chegando ao fim e estou pronta para cortar os laços, agora que
não sinto nenhuma obrigação de ficar na Casa Maio. O aviso
prévio de duas semanas já foi digitado e salvo como rascunho.
Agora, só preciso do meu canal de volta.
Caminho em direção à porta depois de gesticular para ele
de novo que vou atender, instantaneamente avistando uma
mulher em pé na frente da porta de vidro, segurando um bebê
em um quadril e seu celular no outro.
Ela é bonita. Linda mesmo. Muito mais alta que eu. E o
bebê em seus braços, contorcendo-se para descer pelo que
parece, não pode ter mais que três anos. Uma criança.
Uma vizinha?
Uma... amiga de Zac?
A mulher tem cabelos loiros escuros com as pontas em
um verde escuro. O bebê tem cabelos escuros e uma rica pele
marrom. Aceno através do vidro e a mulher demora um
segundo para me ver antes de levantar a mão quase hesitante
em troca.
Oh, Deus. Por favor, deus não deixe que essa seja uma
mulher com quem Zac saia. Eu não quero ter que sair logo
naquele segundo. Mas eu farei. Eu farei, eu farei.
Planejei isso, pensei sobre isso durante os espaços vazios
do meu dia desde que me mudei. Me preparei mentalmente, ou
pelo menos gosto de pensar que sim. Mas aceito naquele
momento que não estou preparada para nada.
E isso me aterroriza.
Destrancando a porta, tento sorrir enquanto estou na
porta, mantendo a porta o mais próxima possível do meu lado
enquanto digo: “Oi.”
A mulher parece um pouco mais velha que eu e tem uma
expressão cautelosa no rosto. “Oi”, ela responde com uma voz
igualmente cuidadosa com a qual eu não tenho certeza do que
fazer.
“Posso ajudar?”
Sim, o sorriso dela é direto. “Zac está aqui?”
É isso que estava pronta para temer. Aperto meus lábios,
sem saber se respondo ou não, porque... e se ela for uma fã? E
se realmente não o conhecer e tiver tido a sorte de encontrar o
endereço dele de alguma forma?
“Zac?” Pergunto devagar, ainda com esperança de que
não for o que eu penso.
“Sim. Zac”, ela responde cautelosamente, seu olhar indo
de mim para a menina e voltando. Ela parece desconfortável.
“Eu tenho tentado ligar para ele, mas ele não atende.”
Nada disso significa nada para mim. Ela pode estar
inventando.
“Eu sou Vanessa”, ela diz, estendendo a mão para mim.
“Você é…?”
Vanessa.
Por que esse nome parece familiar?
Oh. A Vanessa que eu vi que não precisa de uma
descrição em seu telefone. Eu já vi as mensagens dela várias
vezes. E vi Zac sorrir quando ele responde a elas. Ele
mencionou uma vez o quanto ela esteve lá por ele anos atrás,
mas isso é tudo que sei.
Meu estômago cai um pouco quando pego a mão dela e a
aperto. “Oi. Bianca.”
O sorriso que surge dela me pega completamente
desprevenida. “A Peewee?”
Eu não tenho certeza se ela saber sobre mim é uma coisa
boa ou não.
Ela namorou Zac também? E está aqui para fazer um
pouco mais? Não é de se surpreender que ele tenha namorado
uma mãe. Eu não ficaria surpresa se ele tivesse feito isso várias
vezes antes.
E oh meu Deus, odeio esse maldito pensamento.
Preciso me acostumar com isso, e sei disso.
Mas ainda respiro pelos meus pulmões.
“Sim”, digo a ela e tento não me sentir mal, porque parece
que estou recebendo uma sonda anal sem lubrificante.
Ela ainda está sorrindo para mim, e eu ainda estou
tentando imaginar seu lindo rosto bem na frente de Zac, amado
e apreciado e apenas Vanessa.
E estou afundando nesse pensamento quando uma voz
masculina profunda grita: “Ele está aqui?”
Uma figura enorme vem subindo o caminho, vindo do que
eu percebo ser um SUV que eu reconheço estacionado na
garagem. Mas não é seu corpo enorme e volumoso que chama
minha atenção. São os dois garotinhos, cada um segurando
uma mão, o que mais me interessa. Ambos estão vestindo
camisetas. Um deles está com uma camisa do Oklahoma
Thunderbirds. O outro em uma camisa de San Diego.
E mesmo que seus rostos pareçam que devem ser
meninos, eles são enormes.
Quanto mais perto o homem fica, mais familiar ele
começa a ficar. Ele é um antigo companheiro de equipe de Zac?
Todo de cabelos escuros, com barba curta, maciça e
musculosa e atraente de uma maneira que não é a qualidade
do príncipe Disney de Zac, mas mais um guerreiro medieval.
Ele é maior que Zac, CJ e Amari.
“Eu não sei...” A mulher para, me olhando rapidamente
porque... bem, ela não sabe. Eu não disse que sim ou não.
“Ele ainda não está atendendo ao telefone?” O grandalhão
pergunta, levantando cada um dos garotos pelos braços,
ganhando gritos de garotos felizes — e o homem sorri para eles.
Eu sei que o conheço de algum lugar. Eu só não tenho
certeza de que é dos dias dele com os Three Hundreds ou os
Thunderbirds.
“Não...”
“Bibi, ninguém está tentando sequestrar você, certo?” A
voz familiar de Zac chama do corredor.
Tudo o que consigo dizer é “uh” antes que o grandalhão
que tenho quase certeza de que é um ex-companheiro de
equipe de Zac grite: “Você tem tempo para atender seu telefone
agora?”
Ouço os passos de Zac vacilarem atrás de mim.
Então ele diz: “Aiden?”
O mais velho dos dois garotinhos solta a mão do
grandalhão e avança, gritando: “Tio Zac!” A pleno pulmões.
Tio Zac?
“Sammy?” Eu ouço Zac dizer. O outro garoto continua
agarrado à mão de seu pai, mas a garotinha também tentou
espiar pelo corredor, os olhos brilhantes e interessados quando
pergunta: “Tio Zac?”
“Sim, seu tio Zac, Fi. Você se lembra dele?” A mulher,
apenas Vanessa, confirma.
A menina assente.
Um momento depois, Zac toca meu quadril, equilibrando
um menino em seus ombros. Ele pisca para mim antes de ir
direto para a mulher com a criança, ignorando
descaradamente o grandalhão que revira os olhos, exasperado.
“Como está minha doçura e como está minha mini doçura?”
Ele pergunta antes de abraçar a mulher — Vanessa — e
estender os braços para a menina. “Você se lembra de mim,
Fiona? Eu sou seu tio Zac.”
A garotinha hesita por um segundo antes de acenar com
a cabeça e estender os próprios braços para que ele possa
pegá-la também.
E em menos de um minuto, Zac tem dois filhos nele —
um nos ombros, o outro nos braços, dando-lhe um beijo na
bochecha. Se isso não fosse fofo o suficiente, ele está sorrindo
largamente.
Deus precisa ter piedade da minha alma.
Eu preciso me afastar dele. Recarregar. Colocar minha
mente de volta nos trilhos e lembrar-me de minhas
expectativas.
Lembrar-me de que eu não quero me machucar no futuro
se deixar meu coração correr solto.
“Eu acho que nunca vou entender o que você fez para se
tornar o encantador de crianças”, a mulher chamada Vanessa
murmura surpresa, mas principalmente exagerada quando
Zac lhe dá outro abraço. “Mas somos todos bons. Seria melhor
se você atendesse seu telefone pelo menos uma vez, Zac.”
Ele ri enquanto faz cócegas na menina. “Estava prestes a
ligar de volta, querida. Estava no telefone com meu agente, e
Bibi não tinha voltado, e eu estava preocupado que alguém
estivesse tentando roubá-la de mim.”
Como se alguém fosse me sequestrar.
Zac se endireita, se vira na minha direção e diz: “Um
segundo, querida. Perdoe minhas maneiras. Eu tenho mais
uma pessoa muito importante para dizer oi e depois vou
apresentar todos vocês.” Ele pisca para mim um segundo antes
de cair de joelhos, ainda equilibrando as duas crianças em
seus braços e ombros, e sorri para o outro garoto. “Como vai
amigo? Você tem um abraço ou cinco para mim?”
O garoto menor, que tem que ter... eu não faço ideia, já
que ele é tão grande que pode ter três ou quinze, dá de ombros
e estende a mão. Zac bate nela. Então se levanta e inclina o
queixo um pouco mais alto para olhar para o homem, talvez
um centímetro ou dois mais alto que ele. Eles se encararam, e
então Zac ri e se inclina para dar um tapinha nas costas dele.
“Como está indo, Big Guy?”
O grandalhão de fato lhe dá um único tapa na coluna que
tenho certeza que teria quebrado minhas costas.
Então, finalmente, meu amigo volta. “Onde eu estava?
Bianca, essa aqui é Vanny, e esse aqui é Aiden. E esses
anjinhos são Fiona, Grayson e Sammy.” Ele balança a garota.
“Minha sobrinha e sobrinhos.”
O grandalhão revira os olhos novamente, mas a mulher
bonita — Vanessa — sorri.
“Eles são alguns dos meus melhores amigos, mesmo que
só me visitem uma vez por ano.”
“Sabe, eu tenho certeza que você só vem visitar uma ou
duas vezes por ano também, então...” A mulher para,
avançando na direção do grandalhão, que a leva para o lado
dele, estende a mão e coloca a mão no quadril mais longe dele.
Eles são bem fofos juntos.
“Eu pensei que vocês não fossem chegar aqui até
amanhã?” Zac pergunta antes de sussurrar quem sabe o que
para a menina.
Vanessa dá de ombros. “Nós estávamos em Austin
visitando Diana. Meu irmão está aqui a negócios, então
descemos para vê-lo também. Estávamos ligando para ver se
queria ir comer conosco, mas você não estava atendendo, por
isso decidimos vir e garantir que ainda estivesse vivo.”
Aiden desliza para a mulher — ela tem uma enorme pedra
colorida no dedo anelar, então tenho que apostar que ela é sua
esposa — um olhar. “E?”
Ela olha para trás antes de suspirar. “E eu queria ver a
casa de Trevor”, Vanessa admite. “Parte de mim ainda não
pode acreditar que ele não tenha apenas um caixão em algum
castelo em algum lugar.”
Zac ri, e também o homem maciço, o som de seu tipo
enferrujado, não como o de Zac, que é claro, feliz e bem usado.
“Eu não entro no quarto dele, então você nunca sabe no
que ele está dormindo lá dentro.” Zac bate no meu cotovelo
com o dele livre, olhos azuis pegando os meus. “Você viu?”
“Não, ainda não”, digo, sem saber o que dizer.
A mão de Zac pousa na parte de trás do meu pescoço,
apertando-o antes de deslizar e esfregar entre as omoplatas.
“Entrem então. Vou deixar vocês bisbilhotarem. Onde vocês
vão comer?”
A mulher fala de um lugar que não é um restaurante, mas
mais um centro de diversão para a família com fichas e jogos
para os quais eu levei Guillermo e Luisa antes, a cerca de meia
hora de distância.
A resposta dela também é minha sugestão para fazer
alguma coisa. “Bem, eu tenho algumas coisas para fazer, mas
foi uma reunião agradável...”
“Venha conosco”, Zac interrompe.
Ele perdeu a parte em que foi convidado e não nós dois?
Tento dizer a ele com meus olhos o que estou pensando, mas
quando o sorriso dele não vacila ou faz nada, eu sussurro:
“Ehm, eles vieram te ver.”
Zac não sussurra de volta. “Vanny, diga a ela que pode
vir.”
“Claro que você está convidada. Não sabia que você era a
Peewee.”
Ela pensou que eu era BIANCA CABELOESCURO HOU.
Zac pisca, o que também não ajuda.
“Deleite de Aiden”, ele diz.
O cara Aiden apenas o encara, mas Zac está alheio.
“Você vem?” Ele solta os grandes braços enquanto sorri
para Zac. “Por favor?”
Eu quero dizer a ele que realmente devo trabalhar, mas…
como posso dizer não a esse 'por favor'?
Tenho certeza que ele sabe que a resposta é que não
posso dizer não a ele e a seus ‘por favor’.
É assim que, uma hora mais tarde, depois que as três
crianças fizeram xixi, me vejo percebendo que tenho que ser a
única pessoa que não sabe quem é Aiden. Ele jogou em Dallas,
como eu imaginava. E, embora eu não tenha dúvida de que ele
jogou em alguma posição defensiva com base em seu tamanho,
ele deve ter sido muito amado e admirado, já que os fãs de
Houston não são exatamente fãs do Three Hundreds. Porque
no segundo em que entramos no centro de entretenimento da
família — que sei de memória que tinha pizza, hambúrguer e
nuggets de frango — parece que todos os olhos se voltam para
o grandalhão e o príncipe quarterback da Disney que joga
peidos em mim.
Se alguém me perguntasse, o cara de Aiden certamente
não é ruim para os olhos, mas Zac... bem, Zac é Zac. Se eu
fosse olhar para alguém, seria ele. E não apenas por causa da
maneira como seus ossos e pele são unidas, mas também por
causa do resto dele. As coisas que você não pode ver do lado
de fora tão facilmente.
Tudo o que tenho que pensar é no jeito que ele acolheu
as crianças e as banhou com atenção desde o momento em que
as viu.
Não deveria ter sido surpreendente; ele sempre gostou de
crianças, mesmo quando não era nada além de um. Sou a
prova viva disso. Deus não permitisse que houvesse um
bebezinho em algum lugar; ele tentaria beijá-lo e depois roubá-
lo. Eu meio que desejei que houvesse um bebê, honestamente.
Mas ele é tão fofo com a criança e o garoto que conheci que
agora tem quase sete anos e o quieto que eu pensei que poderia
ter 13 anos com uma certidão de nascimento falsa que diz
cinco.
“Eu posso te ajudar com alguma coisa?” Pergunto a
Vanessa depois que chegamos à enorme instalação, com um
playground interno, uma pista de boliche e centenas de jogos.
Aiden comprou para nós pulseiras e para as crianças “fichas”
digitais para usar. Para dar crédito a Zac, eu o vi sentado junto
a ele na caixa registradora, eles brigavam, brigavam com
cartões de crédito, e então Zac revirou os olhos e enfiou o seu
de volta na carteira.
“Você pode olhar Fi por um segundo?” A outra mulher
responde quando o mais novo dos dois garotinhos sussurra
uma pergunta para ela.
Parado ao lado, Zac está conversando com Aiden com o
garoto mais velho, a cabeça inclinada para trás, ouvindo-os.
Dos pedaços que eu pego, eles estão conversando sobre
futebol.
“Claro”, digo antes de me sentar na cadeira vazia ao lado
dela.
A menina de três anos pisca para mim com cílios pretos
e muito compridos dos quais tenho muito mais inveja do que
uma mulher adulta deveria sentir.
Sorrio para ela. “Gosto do seu arco de cabelo.”
Aqueles grandes olhos escuros piscam para mim.
“Mamãe que fez.”
“Uau. Minha mãe nunca me deu arcos de cabelo tão
bonitos”, digo a ela e estremeço.
Senhor, isso me afeta um pouco.
Para ser justa, minha mãe fez algumas coisas no meu
cabelo, mas apenas em um mês ou mais em um ano que ela
estava nos Estados Unidos. Meu Deus, isso realmente dói um
pouco quando penso nisso. Ela me mandou um e-mail há duas
semanas para fazer o check-in. Ela até me enviou uma foto
dela e do meu pai com alguns moradores.
“Quantos anos você tem?” Pergunto a ela, afastando
meus pais. Eles estão perto da aposentadoria, mas sei que as
coisas nunca vão mudar. Estou bem com isso.
Ela levanta dois dedos quando Vanessa termina de contar
ao marido — Zac confirmou no caminho para o complexo,
explicando tudo sobre como os três moraram juntos por alguns
meses, durante o final de seu período em Dallas — que o outro
garoto precisava fazer xixi. “Fi, mais um dedo”, ela corrige a
garotinha enquanto se vira para nós.
Fiona me mostra três dedos, e eu faço ooh e ahh por eles.
Pelo canto do olho, vejo Zac sair com Aiden e os dois garotos
para onde só posso imaginar ser o banheiro.
“Seus filhos são tão fofos”, digo a ela. “Os meninos são
enormes.”
Vanessa ri. “Eles puxaram o pai deles. Eu disse a Aiden
que eles terão barbas aos 13 anos, e as mulheres vão pensar
que são homens adultos.”
Eu rio. “Eu disse a Zac no carro que achava que o mais
velho — Sammy? — poderia ter sete ou quinze, e não tinha
certeza.”
Isso a faz rir também. “Ambos foram bebês de quatro
quilos e meio.”
Eu não quero fazer uma careta, mas faço, e felizmente
isso só a faz rir mais.
“Todo mundo faz essa cara. Não se sinta mal.”
É a minha vez de rir, toda estranha. “Eu sinto muito.
Quão grande ela era?” Pergunto.
“Ela foi prematura. Tinha apenas um quilo e oitocentos
gramas.” Sua mão vai ajustar o arco da menina.
Zac explicou no carro que eles originalmente pretendiam
ser os pais adotivos de Fiona, mas foram por apenas alguns
meses antes de decidirem adotá-la.
A outra mulher olha por cima do ombro antes de se voltar
para mim. “Bianca, antes que eles voltem, eu queria
perguntar... como está o Zac? Fiquei realmente preocupada
com ele. Eu estive tão ocupada, e ele não conta a Aiden as
mesmas coisas que me diz, então realmente não sei se ele está
bem mentalmente.”
Eu quero falar com essa mulher que eu mal conheço
sobre Zac?
Um olhar para o rosto dela, e pensando em suas breves
menções, e sei que ele se importa muito com ela.
Então sim, aparentemente, eu quero.
“Ele está bem agora. Ele está estressado, sabe. Durante a
pausa da temporada, eu também estava preocupada com ele,
apenas por algumas coisas que ele estava dizendo.” Ela franze
a testa como se não soubesse disso. “Mas ele realmente está
se concentrando, e não está saindo pelo que sei, exceto para
fazer as coisas comigo. E está sob muita pressão, mas ainda
está sendo ele mesmo.”
Ela já está assentindo antes de eu terminar de falar. “Eu
não sabia sobre a pausa. No ano passado, sabia que ele estava
realmente lutando e fazendo algumas escolhas idiotas pelo que
eu queria matá-lo, mas queria ter certeza de que ele não
estivesse explodindo na minha bunda quando me dissesse que
está melhor agora.” Um canto da sua boca sobe um pouco. “Ele
me disse que você daria um chute no traseiro dele, se não se
controlasse.”
Eu bufo. “Nah, ele não precisa de mim. E sabe o que
precisa fazer.”
Ela olha para mim um pouco, meio que sorri, e depois dá
de ombros. “Ele tem um coração de ouro, mas eu ainda...”
“Sobre o que vocês duas estão fofocando?”
É Zac que coloca as mãos em cima da minha cabeça, os
dedos deslizando pelos meus cabelos.
“Você”, digo a ele.
Ele geme, seus dedos ainda amassando no meu couro
cabeludo. Eu quero gemer por me sentir tão bem. E é claro que
é quando seu telefone começa a tocar. Eu o ouço suspirar e sei
que ele o puxa depois que tira as mãos da minha cabeça. Ele
me dá um tapinha no ombro. “É Amari. Volto já.”
Inclino minha cabeça para trás para encontrar seu olhar
e assinto.
Ele sorri para mim antes de se virar e se afastar um
pouco. Quando me viro para a mesa, cinco rostos estão
olhando para mim. Três pequenos e dois grandes. Vanessa é a
única sorrindo. Eu nem percebi os outros três apareceram.
Eles me encaram. Eles me encaram com expectativa. Eu
não acho que uma criança tenha me feito querer me contorcer
mais. Porque sei o que eles estão fazendo. O que eles estão se
perguntando.
“Eu nunca faria nada para machucá-lo ou tirar vantagem
dele. Ele tem sido meu melhor amigo desde que eu tinha a
idade de Fiona, mais ou menos”, explico, então espero que eles
não continuem olhando para mim como se eu fosse a pessoa
má.
O garoto mais velho estreita os olhos para mim com seu
rosto de criança/adolescente. “Qual é a sua cor favorita?”
“Sammy!” Vanessa assobia para ele. “Não use esse tom
de voz com ela, e você não está fazendo uma entrevista.”
Ele está me entrevistando? Eu quase caio na gargalhada.
Ele realmente está preocupado que eu vá... o quê? Machucar
Zac? Não ser amiga dele?
“Mãe, você disse que precisamos de bons amigos. Não
muitos, apenas bons. E eu só quero ver se ela é boa ou ruim”,
responde o garotinho, super sério.
Bem.
Encontro os olhos de Vanessa quando ela o repreende e
tento dizer que está tudo bem. Ela deve ter entendido o que eu
estou sugerindo porque diz, “Três perguntas antes que ele volte
e é isso, só porque está tudo bem com ela. Não assumimos que
sabemos o que as outras pessoas pensam ou sentem, não é?”
“Não, mãe.”
Tenho certeza que até o homem Aiden está tentando
conter uma risada quando olho para ele. Ele está encarando
sua esposa com muita força, dizendo a ela sei lá que diabos,
com seus olhos.
Então o garotinho se concentra em mim e pergunta:
“Qual a cor favorita dele?”
Dobro as mãos em cima da mesa e digo a ele: “Verde.”
É a resposta certa, porque ele faz outra pergunta, pronto
para continuar. “Qual a comida favorita dele?”
“Espaguete.”
Ele estreita os olhos de menino para mim um pouco mais.
“Você o ama?”
Essa não é a porra da pergunta. Mas digo a verdade.
“Muito muito.”
O assento ao lado do meu é puxado, e a próxima coisa
que eu sei é que Zac está sentando nele, perguntando: “Do que
vocês estão falando agora?”
Eu o cutuco. “Ainda de você.”
Aquela mão dele pousa entre minhas omoplatas
enquanto ele sorri. “O que sobre mim?”
“Você não gostaria de saber?” Brinco logo antes do garoto
mais velho, Sammy, perguntar sobre comida.
É apenas alguns minutos depois quando meu telefone
vibra. Eu dou uma olhada nisso.
ZAC É MEU FAVORITO TAMBEM nova mensagem.
Quando diabos ele mudou suas informações de contato
novamente?
Abro a mensagem.
ZAC É MEU FAVORITO TAMBEM: Quer caminhar
comigo depois disso?
Para fazer o que? Eu penso. Realmente quero ir para casa
e editar um vídeo. Eu só vim aqui porque ele pediu.
Mando uma mensagem de volta.
Eu: Prefiro voltar à casa de Trevor, se estiver tudo
bem. Realmente preciso fazer algumas coisas.
Só meia hora depois, enquanto estamos ocupados
detonando uma pizza — enquanto noto que o homem Aiden
comeu três saladas — ele me envia uma mensagem de volta.
ZAC É MEU FAVORITO TAMBEM: O que você quiser,
querida

***
Acordei no meio da noite para pegar um copo de água e
espio pela porta da frente.
Eu paro.
Havia apenas dois carros na garagem, o meu e o de CJ.
Certa BMW está faltando.
De volta ao meu quarto, envio uma mensagem para Zac.
Eu: Você está bem?
Espero uma hora para ter uma resposta que nunca vem.
É meu celular tocando que me acorda na manhã
seguinte.
Irritadiça e cansada, olho quando um número
desconhecido de Nova York passa pela tela enquanto eu o
seguro no meu rosto com um olho fechado.
É o WatchTube?
“Alô?” Espero não parecer tão cansada quanto me sinto.
Eu me forcei a voltar a dormir depois de uma hora esperando
Zac me mandar uma mensagem, e me virei e me revirei a noite
toda, totalmente inquieta. Nas vezes em que acordei o
suficiente, verifiquei meu telefone para ver se havia novas
mensagens na minha caixa de entrada.
Mas não havia merda nenhuma. Apenas alguns e-mails e
algumas notificações de mídia social.
Estou esperando um estranho, mas não é isso que ouço.
“Bianca, é Trevor. Onde diabos está Zac?”
Meus olhos se abrem, mesmo quando a sensação um
pouco repugnante da noite anterior — ao lembrar que o carro
dele não estava lá na noite passada — aumenta novamente.
Nojenta, grossa e imprudente.
E totalmente inútil, porque quem sou eu para ficar com
ciúmes dele? Ele é meu amigo, e esse é o começo e o fim. Eu
nunca esperei algo diferente.
“Eu não sei, Trev”, respondo honestamente.
Porque não quero denunciá-lo. Eu não preciso de
detalhes, mas Trevor não me ligaria às... nove da manhã sem
motivo.
Ele deve ter acreditado em mim porque mergulha em
outra pergunta enquanto ainda estou lutando com o fato de
que ele está me ligando. Para perguntar onde está Zac. E como
ele conseguiu meu número? “Quando foi a última vez que você
teve notícias dele?”
O que é isso? Quem quer ser um bilionário?
“Na noite passada. Passamos algum tempo com seus
amigos, e então ele voltou, me deixou e disse que ia fazer
algumas coisas.” Eu verifiquei alguns sites de notícias
enquanto estava acordada para garantir que nada foi
publicado sobre Zac ter se acidentado ou algo assim.
Ele bufa.
“Por quê? Aconteceu alguma coisa?”
“Enviei uma mensagem para ele ontem à noite e ele não
respondeu.”
Bem-vindo ao clube. Esfrego os olhos com meu pulso
enquanto mais daquele sentimento nojento brota dentro de
mim. Ciúme, tudo bem, é a porra do ciúme. Eu duvido muito
que ele tenha sofrido um acidente. “Talvez ele esteja apenas se
divertindo muito?” Isso me faz querer vomitar, mas guardo isso
para mim.
Ele ri de uma maneira que me faz piscar para o teto. O
teto dele. “Estamos em crise, Bianca. Se eu mandar uma
mensagem, ele precisa responder. E precisa estar no seu
melhor jogo, não festejando, tirando fotos com mulheres
aleatórias em boates...”
Ele foi a uma boate?
Ele para de falar, e tenho certeza que não é porque eu
engasgo ou algo assim. Pelo menos espero mais do que
qualquer coisa que eu não tenha emitido algum som. Meus
lábios estão apertados por um motivo. E de que fotos ele está
falando? Como sabe que há mulheres?
Eu descobrirei depois. Talvez.
Não. Não, eu não farei isso. Porque não é da minha conta.
Oh deus, eu realmente estou enjoada. E só preciso me
controlar um pouco mais. “Trevor? Você está aí?”
Há uma pausa. Então eu o ouço suspirar. “Bianca, olha,
garota, eu gosto de você, está bem? E tenho um
pressentimento sobre você, então vou dizer isso porque não
quero que perca esse brilho nos seus olhos...”
Eu não quero dizer isso, mas digo. “Você está me
assustando.” Ele disse... ele disse que gosta de mim? Ontem à
noite, Vanessa me contou tudo sobre como Trevor foi com ela.
O quanto nenhum deles pode se suportar e sobre o quão feliz
ela está por ele não ser mais agente de Aiden.
Eu senti que havia mais nessa história, mas não tive a
chance de perguntar a Zac sobre isso.
Então, para ele — que nunca sequer sorriu para mim,
mas comeu minha comida — dizer que gosta de mim e que não
quer que eu perca o brilho nos meus olhos?
Eu não vou gostar do que ele está prestes a dizer, e sei
disso.
“Zac é a coisa mais próxima que tenho de um filho. Sei
tudo sobre ele, tudo de bom e ruim, como você, e é minha
responsabilidade mantê-lo na linha o máximo possível, porque
quero o melhor para ele.”
Sim, eu não gosto para onde isso está indo.
Ele continua. “Mas ele teve uma garota legal, doce e
perfeita após a outra em sua vida desde que nos conhecemos,
e tenho certeza que você sabe disso. Eu sei que ele se importa
com você. Qualquer um com olhos pode ver isso, mas não
quero que você tenha expectativas que acabem...”
Por que parece que levei um soco no peito o mais forte
possível?
Por que quero chorar?
E de todas as palavras do mundo ele teve que usar
'expectativas'?
Não que eu realmente tivesse pensado que tinha uma
chance. Eu sei que alguns dos meus sonhos são apenas isso
— sonhos. Alguns sonhos você tem uma palavra a dizer.
Alguns sonhos que você pode fazer acontecer…
E há alguns sonhos em que você não tem chance.
Você não pode fazer alguém te amar.
Mais importante, não pode fazer alguém que já a amou,
amá-la de maneira diferente.
“Não, Trev, está tudo bem. Eu não... não tenho nenhuma
expectativa. Eu sei... sei que não espero nada. Aprendi isso há
muito tempo”, digo a ele, tentando manter minha voz leve e
sem falhar. Ou talvez não falhe. Talvez ele não note.
Ele não acredita em mim, e sei instantaneamente. “Eu
não quero que você fique decepcionada. Zac é apenas Zac. Ele
nunca quis machucar ninguém, e posso dizer que você está no
topo da lista para ele. Mas às vezes machucamos pessoas sem
querer.”
Às vezes machucamos. Ele está certo. “Eu sei que ele não
gosta de machucar ninguém. Acabei de abrir a porta para ele
ontem, quando encontrou um lagarto em casa. Ele não queria
que ele morresse dentro.” Tentando ser uma adulta, prendo a
respiração um pouco, tentando me agarrar ao fato de Trevor
ter dito que se importa comigo — não que isso seja uma
surpresa. Eu sei que ele sabe. Mas uma garota legal atrás da
outra? Eu poderia ter passado sem isso, não que já não
estivesse totalmente ciente disso. “Mas obrigada, Trev. Eu
agradeço.”
Há outra pausa. Outro suspiro. “Talvez eu esteja dizendo
isso como um idiota egoísta, porque não quero que você se
machuque e o deixe pendurado. Você é boa com ele. Para ele.
Apenas... me ouça.”
Pressiono os lábios por um momento e tento muito
manter minha voz nivelada. “Eu vou.”
Por fim, ele muda de assunto. “E não ouça tudo o que
Vanessa diz.”
Aquela Vanessa? Eu não digo nada. Como diabos ele sabe
que ela dirá alguma coisa?
E isso deve ter feito ele rir, porque sabe exatamente o que
estou fazendo. “Se o vir ou souber dele, peça para que me ligue.
Tchau, Bianca.”
“Tchau, Trev.”
Ele nem me corrige naquele momento, e isso me faz sentir
um pouco pior.
Soltando o telefone em cima do meu peito, exalo e olho
para o teto alto.
Antes que eu possa me convencer de que é uma má ideia,
ou que não é da minha conta, ou que amigos não fazem esse
tipo de coisa de perseguidora, pego meu telefone novamente e
abro o aplicativo Picturegram, confiável e antigo, e vou à busca
de opções.
Não tenho orgulho de mim mesma, mas digito o que
digito.
Não demora muito para encontrar. Apenas algumas
fileiras abaixo, descubro o que Trevor estava falando. Uma foto
que alguém postou horas atrás.
É de Zac sentado com uma mulher no colo.
Ele está no que parece ser uma cabine ampla, com aquele
sorriso que me incomoda e ela está lá, empoleirada, com os
peitos no rosto dele.
As pontas dos meus dedos ficam dormentes. O resto das
minhas mãos formiga também, se eu for honesta. Eu posso até
me sentir enjoada.
Tento procurar algum sinal de que estou errada, que a
foto não foi tirada ontem, mas não consigo me lembrar o que
diabos ele estava vestindo. E a garota está cobrindo a maioria
das roupas dele com o corpo de qualquer maneira. Seu cabelo
parece mais longo ou estou imaginando?
E o que? Se não foi tirada ontem à noite, de repente seria
melhor se tivesse sido há uma semana? Duas semanas atrás?
Três semanas atrás? Tento argumentar comigo mesma.
Principalmente, estou tão orgulhosa de mim por sair com
calma do aplicativo e lentamente subir para uma posição
sentada.
Isso não é novidade. Eu já vi isso antes, apesar de já fazer
meses. Ele me convidou e eu disse que não. Talvez tivesse
acontecido mesmo se eu tivesse ido junto.
Tudo bem.
Eu fungo.
Ok, não está tudo bem, e sou uma idiota por pensar que
posso fazer essa merda. Que posso ver e lidar com isso. Que
minha falta de expectativas me manteria no chão.
Ele não precisa de mim. Sou apenas sua velha amiga que
o faz se sentir... seguro. Ele odeia o silêncio. Ele sente falta de
casa.
Eu sou uma tola. Uma tola de tantas maneiras que não
posso nem começar a contá-las.
Mas não demorarei muito e sei o que preciso fazer.
Eu me arrasto da cama e vou para o chuveiro.
É quando meu telefone toca novamente. Era um zero
oitocentos.
As chances são de que não há nada com que se animar,
mas...
Atendo. “Alô?”
“Alô. Posso falar com a Sra. Brannen?”
“Sou eu”, respondo.
“Ótimo. Estou tão feliz por ter você no telefone, Srta.
Brannen. Estou ligando para você em relação à reivindicação
que registrou...”

***

A próxima coisa que me acorda é a batida no quarto do


hotel horas e horas depois.
A batida super leve.
Uma espiada no meu telefone mostra que são onze e meia
da noite. Há algumas mensagens perdidas de Connie... e de
Zac também, aparentemente. Eu responderei a elas em um
minuto, penso, levantando com um bocejo. Eu espio o quarto
com as crianças. Os dois meninos estão dividindo uma cama
de solteiro e a menina Fiona está desmaiada no berço.
Nós nos divertimos muito mais cedo.
Não tenho certeza de quem ficara mais surpreso com isso,
eu ou eles, a família Graves. Porque quando a campainha da
casa tocou naquela tarde, quando eu sabia que Zac tinha que
treinar, fiquei surpresa ao ver a família parada do outro lado
da porta de vidro.
Zac disse a eles que eu estava lá. Zac que me mandou
uma mensagem logo após Trevor ligar para me dizer que ele
estava bem e eu estava bem? Como se ele não tivesse
desaparecido.
Então, de alguma forma, uma coisa levou a outra, e a
próxima coisa que eu sabia, eu os levei ao Museu das Crianças
e fiz várias outras coisas divertidas.
Aiden ainda não fala muito, mas sorri muito ao redor dos
filhos e da esposa. Ele até me deu um pequeno sorriso quando
deixei seus filhos me perseguirem e agiram super superiores
quando caí no chão quando eles me pegaram. Eu soube que
aquele homem enorme agora está aposentado da NFO e, de
acordo com Vanessa, Aiden está muito feliz como um pai que
fica em casa. Eu admito que é adorável imaginá-lo dessa
maneira. Portanto, não foi nenhum tipo de dificuldade me
oferecer para vigiar as crianças se eles quisessem sair.
E, surpreendentemente, eles concordaram, prometendo
voltar por volta da meia-noite.
O que está a alguns minutos de distância.
Por que eles estão batendo na porta do quarto? Eles não
correriam o risco de acordar seus filhos, e dei a eles meu
número de telefone.
Com um bocejo, vou à ponta dos pés e olho através do
olho mágico.
Eu estaria mentindo se dissesse que meu coração não
torce um momento antes de começar a bater mais rápido. A
correr. Ok, ele está correndo... como um cavalo que quer fugir.
Mas não sou esse tipo de pessoa e, como já disse a mim
mesma várias vezes ao longo da manhã e da tarde, Zac não fez
nada. Nenhuma de suas ações teve algo a ver comigo. Agora,
se ele falar merda sobre mim, isso é uma coisa; se ele falhar
comigo ou mentir para mim ou não estiver lá quando prometer
estar, isso também é outra coisa.
Mas tudo o que ele fez foi sair, como tem todo o direito, e
sair com mulheres, como ele também tem todo o direito. Não é
como se eu não soubesse que ele tem uma vida. No entanto,
nenhum desses conhecimentos faz uma única coisa pelo meu
coração.
Também não muda a decisão que tomei antes. Na
verdade, estou mais determinada do que nunca a fazer o que
tinha pensei.
Então abro a porta e forço um pequeno sorriso no meu
rosto antes de fechá-la principalmente atrás de mim, parada
ali no espaço para bloquear nossas vozes.
E Zac está lá, em seus jeans mais velhos e uma camiseta
laranja velha da faculdade, parecendo cansado e preocupado.
Ele tem um grande jogo nesta semana, afinal. O futuro dele
depende disso. Também já passou da sua hora de dormir.
“Oi”, sussurro, percebendo como aqueles olhos azuis
claros se movem sobre mim. O que? Certificando-se de que
estou bem?
“Eu tentei te mandar uma mensagem e ligar para você
quando não chegou em casa, Bibi. Estava preocupado com
você”, ele diz cuidadosamente, ainda me olhando.
Mantenho aquele sorriso estúpido no meu rosto.
“Desculpe, meu telefone estava no silencioso.” Mentira, estava
no vibrar. Eu simplesmente não vi um ponto em responder
enquanto estava acordada.
Ou até mesmo olhar as mensagens, em primeiro lugar.
E isso me faz sentir uma idiota agora que penso nisso.
Ele deve pensar que estou cheia de merda porque as
linhas na testa dele enrugam. “O que você está fazendo aqui?
Liguei para Vanny, mas ela não atende.” Por que ela faria isso?
“Liguei para Boog e sua irmã, e os dois riram e desligaram
quando disse que estava preocupado que você não estivesse
em casa.”
Parte da minha boca sobe com isso. Claro que estou bem.
Eles sabem que posso me cuidar. E eu estava mandando
mensagens para Boogie mais cedo sobre coisas sobre Baby
Boog.
“Estou bem”, digo a ele, mantendo aquele sorriso
estúpido no rosto, mesmo quando levanto um ombro. “Só aqui
sendo babá das crianças. Seus amigos provavelmente estarão
aqui em breve, mas eu vou ficar mesmo se não chegarem.”
Aqueles olhos azuis-claros percorrem meu rosto, e os
vincos na testa também não vão a lugar algum. “Eu estava
preocupado com você”, ele repete.
E ainda assim, eu dou a ele o mesmo rosto.
“O que há de errado?” Ele pergunta.
“Nada.”
“Tem certeza disso?”
Eu assinto.
“Quer que eu espere com você até que eles voltem?”
“Está tudo bem. Eles estão dormindo. Tenho certeza que
você precisa descansar”, digo calmamente, talvez até
friamente, olhando-o diretamente nos olhos para o lembrete
sutil e mesquinho de que ele não voltou para casa na noite
passada porque saiu. E ficou fora. O que não é da minha conta.
“Eu posso ficar com você até que eles voltem.”
“Está tudo bem. Provavelmente não deveríamos estar
conversando aqui para não acordá-los. Eu sou uma garota
grande; Ficarei bem.” Essa expressão estúpida ainda não vai a
lugar nenhum. “Obrigada por se oferecer, no entanto.”
Ele hesita, e algo se move em seu rosto. “Você tem certeza,
garota?” Ele pergunta suavemente.
“Positivo. Durma um pouco. Você precisa disso.”
E talvez seja a coisa errada a dizer, porque ele
definitivamente franze a testa, mesmo quando dá um passo
para trás.
Um passo atrás antes de eu fechar a porta em seu rosto.
“O que você tem?”
Saindo do devaneio em que estou bem no meio da frente
da geladeira na casa de Trevor, olho por cima do ombro para
ver o gerente de Zac sentado na ilha da cozinha com o
computador aberto na frente dele. Ele não está olhando para
mim. Está focado na tela, mas não é como se houvesse alguém
com quem ele estivesse conversando.
Eu nem sabia que ele estava de volta até que ele saiu do
quarto mais cedo, falando no celular e colocando o laptop no
balcão. Pelos pedaços que eu entendi de sua conversa, ele
voltou ao amanhecer e tirou uma soneca. Talvez Zac soubesse
que ele estava vindo, mas não passou a mensagem para mim.
Quero pensar que é porque mal conversei com ele, mas
sei que é apenas porque fiz isso dessa maneira.
Ontem mesmo, Boogie veio assistir ao jogo de Zac comigo.
Saímos para comer depois, e eu saí principalmente porque não
queria alarmar nenhum deles se tentasse escapar com uma
desculpa estúpida. E também porque sabia que aqueles dois
podiam falar um com o outro por horas, para que eu nem
precisasse me concentrar mais do que queria, e isso não era
muito. Eles perceberam, mas me aceitaram tendo muita coisa
acontecendo.
Eu estava pensando em muitas coisas, incluindo, sem
limitação, a ligação que chegou no mesmo dia da ligação de
Trevor, confirmando que eu tinha meu canal de volta. É a
única luz brilhante na minha vida no momento.
E isso é negativo, patético e mentiroso.
Tenho muitas luzes brilhantes em minha vida. Só porque
tive meus sentimentos machucados, foi minha própria culpa,
e Zac ainda é uma das luzes brilhantes nela. Eu não vou
segurar isso contra ele, que ele não se sinta por mim do jeito
que quero. Não é culpa dele. Quero pensar que não é minha
também. Você tentou não se apaixonar por Zac.
Então...
Eu sou a única em casa, ou assim eu pensava. CJ e Zac
estão ambos no treino até tarde, e eu estaria mentindo se
dissesse que não foi um pouco de alívio que ele se foi.
Sabe, meu amigo por quem estou apaixonada.
Mas Zac, felizmente, não tem nada a ver com o que me
zoneia no meio da cozinha branca e brilhante em que eu
terminei de filmar, pouco antes de Trevor irromper na sala de
estar, de volta de Nova York ou Los Angeles ou de qualquer
lugar do inferno em que ele esteve.
Virando-me para encará-lo e seu laptop brilhante, cruzo
as mãos no balcão e conto a verdade. “Eu devo começar a
trabalhar amanhã e estou me debatendo se devo deixar meu
emprego imediatamente ou se devo notificar minhas duas
semanas. Eu não consigo decidir.” Eu pedi a opinião de
Connie, e isso não ajudou em nada.
Trevor murmura: “Hmph”, então não tenho certeza
absoluta de que ele está prestando atenção.
Mas ele está mais no grupo neutro do que qualquer outra
pessoa que conheço, então já que ele perguntou e está aqui...
“Você pode me dizer o que pensa? Minha preocupação em
tentar avisar sobre duas semanas é que meu chefe será um
idiota extra e me deixará ainda mais infeliz do que o habitual,
mas me sinto culpada por me demitir de repente, então...”
Isso faz olhos passarem rapidamente por mim da parte
superior do computador por um momento antes de ele voltar a
digitar. “Você vai notificar Bianca. Ele não precisa ser legal com
você.” Seus dedos se acalmam sobre o teclado por um
momento, olhando rapidamente para trás antes de
acrescentar, “Espere. Como você vai sair? Você conseguiu seu
canal de volta ou de repente conseguiu um contrato sobre o
livro?”
Como diabos ele sabe sobre eu querer lançar um livro em
primeiro lugar? Eu me perguntarei sobre isso mais tarde.
“Recuperei meu canal. Eles ligaram anteontem e me
disseram. Estou tão feliz.” Porque eu estou.
A coisa mais ridícula e inesperada acontece então.
Trevor sorri para mim. Talvez eu não consiga ver tudo de
uma vez, mas vejo a maior parte por cima do computador dele.
E é um sorriso. Um verdadeiro sorriso ao vivo.
E ele nem está sendo sarcástico quando diz: “Isso é
ótimo.”
“Obrigada. Eu pularia e daria um salto, mas
provavelmente vou cair errado e torcer o tornozelo, então você
pode imaginar.”
Mesmo que meu peito estivesse queimando, mandei uma
mensagem para Zac naquela tarde depois que descobri e ele
me enviou uma resposta com um monte de carinhas
sorridentes.
Respondi com uma única carinha sorridente que me fez
sentir mal novamente por não ser tão legal com ele quanto ele
merecia.
E assim, o sorriso cai do rosto de Trevor como se não
existisse em primeiro lugar. Talvez não tivesse existido. Talvez
eu tenha imaginado.
Aceno. “O que você acha? Duas semanas de aviso ou não?
Estou pensando em um aviso. Não vai doer ser profissional.”
Minha irmã disse que eu não deveria me preocupar em dizer
nada. No fundo, Richard, seu marido, balançou a cabeça para
mim, dizendo-me para não ouvi-la também, como meu instinto
disse. E se eu perder meu canal novamente e não o recuperar?
Demorou muito tempo. Ou se meus espectadores não
voltarem? E se eu tiver que me candidatar a outro emprego no
futuro e eles pedirem referências? Eu não tenho certeza de que
seria inteligente sair em más condições.
E eu já tomei decisões idiotas suficientes.
“Eu também acho”, ele admite, pensativo. “Quanto antes
melhor.”
Oh, ele tem razão. “Amanhã?”
“Ou hoje.”
Admito que isso faz meu estômago doer. “E voltar ao
trabalho quando não estou no meu turno?”
Ele revira os olhos de novo antes de se concentrar
novamente em seu computador. “Faça hoje. Deixe seu chefe
dormir com isso, já que você está tão preocupada com ele ser
mau ou o que quer que isso signifique, e ele terá superado isso
amanhã.”
Tenho certeza de que não é assim que Gunner funciona,
mas eu gostaria. E também entendo o ponto de Trev. Mas...
Ainda estou pensando alguns minutos depois, quando ele
diz quase bufando: “Eu irei com você, se quiser. Zac me contou
sobre seu chefe e estou curioso.”
Há apenas uma resposta para isso. “Sim claro. Talvez ele
seja menos idiota com plateia. Ele tentou me convencer a fazer
Zac publicar uma foto sua online, e eu disse que não. Tenho
certeza que ele ainda vai ficar chateado com isso. Eu serei
rápida. Tenho minha carta escrita há um tempo agora.”
Ele assente e espera até que eu esteja na sala para
perguntar por cima do ombro: “Qual é o nome desse chefe,
mesmo?”
***

Quarenta e cinco minutos depois, com um homem de


cinquenta e cinco anos ao meu lado que provavelmente parece
mais um mantenedor do que um pai de verdade — porque por
que ele me faria companhia enquanto eu faço isso não faz
qualquer sentido, mas felizmente não me importo com o que
as outras pessoas podem presumir — entro direto, segurando
meu aviso de duas semanas na mão.
E eis que meu arqui-inimigo está de pé no balcão onde
trabalho, um braço apoiado onde sempre está... enquanto ele
reclama de uma nova contratação, que só vi uma ou duas
vezes. Eu não preciso ouvir as palavras para dizer o que está
acontecendo. Eu fiz a mesma cara que o novo cara, quase todos
os dias desde que Gunner começou a trabalhar na academia.
É uma cara “foda-se minha vida.”
Pobre rapaz.
Mas graças, Jesus, Maria, e José, eu estarei livre dessa
cadela, logo. Obrigada, Deepa, WatchTube e minha fotógrafa.
E tenho apoio comigo. Talvez eu possa denunciar Gunner
ao Ministério do Trabalho ou algo assim, se eles o ouvirem
sendo cruel comigo. Eu não pensei nisso até agora.
Com certeza, Gunner vira-se para a porta quase que
instantaneamente. Trevor muda-se para seguir logo atrás de
mim. Ele usa óculos escuros e já tem o celular na mão, batendo
na tela.
Meu chefe pisca, então eu pisco de volta.
“Olá, Gunner. Posso falar com você no seu escritório?”
Ele fica ereto, olhando rapidamente para Trevor,
provavelmente observando o jeans casual e a camisa pólo que
ele usa, e o dispensa. “Eu não tenho tempo e não vou lhe dar
mais licença, se é isso que você está tentando pedir.”
Que ser humano maravilhoso. “Não, eu não estou aqui
para pedir mais tempo”, asseguro a ele. E obrigada por
perguntar, meu cotovelo está se curando muito bem. Idiota. “Eu
queria te dar isso.” E lhe entrego a folha de papel.
Ele não pega.
“É o meu aviso prévio de duas semanas”, explico,
segurando-o mais perto dele.
Eu juro que ele zomba. Ele pode até rir também quando
levanta uma sobrancelha também. “Seu aviso?”
Parece uma coisa ridícula de se fazer? Eu assinto.
E estendo para ele um pouco mais perto. “Vou trabalhar
ainda por duas semanas, então...”
“Eu já tenho pouco pessoal graças a sua amiguinha
Deepa saindo do nada. Você pode esperar até...”
Ele é de verdade? Essa é uma pergunta idiota; claro que
ele é. “Eu não vou esperar.”
Ele definitivamente zomba então. “Eu não dou a mínima
para o que você...”
Eu o odeio. Eu o odeio tanto que posso sentir o gosto.
Fiquei tão aliviada nas últimas três semanas por estar longe
dele e de seu comportamento tóxico que esqueci o quão mal ele
me faz sentir. E sabe de uma coisa? Também me odeio por não
apenas usar a borda do papel para enfiar sua bunda no
pescoço, mas c’est la vie. Felizmente, ele pega uma entre as
correias dos dedos por conta própria. Ele é muito idiota.
“Pegue a notificação”, vem a voz de Trevor atrás de mim.
Merda. Eu cutuco o estômago de Gunner com o meu
aviso, disposta e pronta para tirar vantagem do meu aliado.
“Sim, pegue.”
Ele não faz.
O que ele faz é olhar para Trevor com uma careta.
“Preste atenção. Deixe que ela trabalhe suas duas
semanas”, Trevor diz naquela voz calma e fria.
Eu balanço a cabeça e o cutuco novamente com a ponta
dela.
Mas ele não ouve. “Não.”
“Não é assim que isso funciona”, Trevor diz calmamente
antes de deslizar um olhar para mim. Ele já parece exasperado
dois minutos depois. “Apenas faça e conte a ele.”
Faço uma pausa e depois murmuro: “Dizer a ele o que?”
Ele inclina a cabeça para o lado como se realmente
pensasse que eu sei do que diabos ele está falando.
Trevor, porém, revira os olhos novamente. “O que o outro
garoto dria para você fazer?”
O outro garoto? Zac?
Oh. Oh.
Ele diria que está orgulhoso de mim e do que eu construí.
Ele me diria para não deixar esse jumento me empurrar.
Então ele provavelmente diria, “O que Shania faria,
garota?” Só para me fazer rir.
E Shania... Shania provavelmente me diria que eu não
mereço essa merda.
E eu mereço.
Levantando o queixo, penso no homem que me cutucaria.
Meu amigo, que se eu tivesse contado a ele o que estaria
fazendo, teria vindo comigo. Mas eu não contei. Por causa de
minha própria culpa e de meus próprios sentimentos
estúpidos.
Em vez disso, tenho o seu empresário no seu lugar.
O que me lembra novamente o que preciso fazer mais
tarde hoje ou amanhã, o mais tardar.
Mas esse não é o momento de focar muito nisso.
Esse já é o agora. Bem aqui. Meu futuro.
O que eu construí principalmente sozinha, mas com um
pouco de ajuda e apoio de pessoas que se importam comigo.
Vou fazer isso em homenagem a todos os funcionários
que este homem afastou. E farei isso com muito orgulho. Eu
tentei ser a responsável, mesmo que não quisesse. Então...
Talvez Jessica, a Imbecil, tenha me esquecido. Talvez Zac
também tenha, por um tempo, e se esse filho da puta se
lembrar de mim por um tempo, eu darei a ele uma razão.
“Na verdade, vou seguir em frente e sair agora”, digo.
É a vez dele de zombar. “Não espere que eu lhe dê uma
referência.”
“Eu não preciso de uma, Gunner. Tenho um negócio de
sucesso que me paga muito mais do que você. Eu ia sair antes
mesmo que o Sr. DeMaio vendesse a academia, mas... já vou
sair agora. Um dia, se estiver entediado, procure o The Lazy
Baker online. Talvez ela pareça familiar.” Lanço a ele um
sorriso brilhante, enquanto me olha fixamente, e me viro antes
de levantar minha mão e balançar dois dedos para ele. “Boa
sorte com a rotatividade de funcionários!”
Trevor não está sorrindo quando fazemos contato visual,
mas é algo bem perto disso. “Bom trabalho.”
Ele nem se queixa no caminho de volta para sua casa
enquanto repasso todos os detalhes novamente como se ele
não tivesse estado lá para testemunhá-los pessoalmente. Ele
até assente e mantém o olho rolando. E quando chegamos em
casa e vejo o carro de Zac na entrada da garagem, o que
também não pode prejudicar meu bom humor enquanto
saímos do carro de Trevor, e praticamente pulo até a porta da
frente, aliviada e honestamente me sentindo 50 quilos mais
leve. Estou livre! Livre!
“Muito obrigada, Trev”, digo a ele novamente enquanto
caminha atrás de mim pela sala principal da casa. “Esse foi
um dos melhores momentos da minha vida.”
Ele não ri, nem bufa, nem nada, mas percebo que há
prazer em sua voz quando ele diz: “Não há necessidade de me
agradecer. Se você disser a alguém que eu gosto de ver
pássaros abrirem suas asas, negarei até que morrer.”
Começo a rir quando vejo Zac parado ao lado da ilha da
cozinha. Ele está nos observando.
Isso tira um pouco do vento das minhas velas, mas ainda
consigo dizer: “Oi.”
“Oi.” Ele franze a testa por uma fração de segundo. “Você
já comeu?” Ele pergunta, sua voz um pouco engraçada. “Eu
estava justamente mandando uma mensagem para você
tentando descobrir.” Ele olha para Trevor novamente quando
o homem mais velho dá a volta para pegar seu computador de
onde o deixou na ilha. “Oi, Trev.”
“Zac. Eu estarei no escritório. Tenho uma ligação que
preciso fazer.” Então ele vai pelo corredor, nos deixando em
paz.
E aqueles olhos azuis que foram misturados com leite se
voltam para mim.
Certo. “Eu comi mais cedo”, admito. “Obrigada, porém,
mas não estou com fome.” Isso é mentira; Estou sempre com
fome, mas solto as palavras antes de me lembrar que não é
assim que eu quero estar com ele.
Não é o que ele merece.
E ele sabe que eu estraguei tudo, ou me arrependi, pela
carranca que cuidadosamente se forma sobre suas feições
novamente.
Merda.
“Bibi”, Zac diz devagar, talvez até com cuidado, seu olhar
percorrendo meu rosto enquanto ele continua encostado na
ilha. Ele parece cansado. “O que está acontecendo?”
Ele merece mais que isso. Mais do que eu, digo a mim
mesma. Então tenho que tentar por ele. “Nada. Por quê?”
“Porque você com certeza está agindo de forma estranha,
querida”, ele responde, ainda falando lentamente.
Dou de ombros, mas não funciona.
Ele continua, seu cenho ficando cada vez mais profundo
a cada segundo. “Você mal falou ontem. Então correu para o
seu quarto no segundo em que voltamos depois do jantar.”
Ele percebeu isso?
“Você também não me mandou uma mensagem esta
manhã”, ele me diz. “Se eu fiz alguma coisa, me diga.”
Devo dizer a ele que me apaixonei por ele como uma
idiota? Não. Não é isso que ele quer. E isso é bom. Ótimo.
“Você não fez nada”, digo a ele, exalando, dizendo a mim
mesma que devo fazer isso agora antes de perder minha
confiança. “Eu não quis lhe dar essa impressão, Zac.”
Ele dá um passo para mais perto, sua mandíbula
apertada, parecendo atento, preocupado e concentrado. Ele
sabe que está cheio disso. “Não posso consertar se não souber
o que aconteceu.”
“Nada. Você não fez nada. Tudo o que fez foi ser um bom
amigo, e eu aprecio tudo o que você fez por mim.”
É ele quem torceu o nariz. Aquelas sobrancelhas
franzindo ainda mais.
Então eu sigo em frente. “Por favor, não pense que não
sou grata por tudo.”
“O que você está fazendo?” Ele pergunta, ficando em pé.
“Eu tenho pensado muito sobre isso, e acho que, como
você não estará aqui no Dia de Ação de Graças, vou sair cedo
para ir ver minha irmã e as crianças. Vou dar uma olhada em
alguns apartamentos em Killeen, em Austin...”
Seu “O quê?” parece sem fôlego, e há tantas linhas
cruzando sua testa que levaria muito tempo para contá-las.
“Eu não quero mais me impor a você e Trev, e isso faz
sentido. Eu também posso tirar vantagem indo até lá.” Não faz
sentido. Pelo menos não sentido total. Eu não amo Killeen.
Realmente não amo. E Boogie está prestes a se casar e ter seu
primeiro bebê, e quero estar lá por ele, mas quanto poderei
realmente me intrometer em sua nova família? Acho que se eu
estiver em algum lugar, será mais perto da minha irmã. Não
sei quando voltarei, mas vou ficar com Connie.
“Fique comigo. Se não quer ficar sozinha no Dia de Ação
de Graças, voe para Nova York. Vou comprar sua passagem.
Podemos conseguir serviço de quarto.”
Parece um soco direto no coração para o qual eu não
estou nem um pouco preparada. “Não, você fez mais do que
suficiente, Zac. E CJ me contou como o time faz o seu trabalho
de Ação de Graças quando jogam fora de casa.”
“Fique comigo depois disso. Foi o que eu quis dizer
também.”
Oh cara. “Não posso ficar aqui para sempre. Você sabe
disso. Eu deveria ficar só pouco.”
Aqueles olhos azuis suaves, azuis bebê e mais pastel que
vibrantes, estão total e completamente nivelados em mim.
Seus ombros estão abaixados, sua boca está apertada... e está
partindo meu coração dizer a ele tudo isso.
Mas sei que preciso. Não tenho escolha.
“O que você está fazendo? Você mesmo disse que nem
gostava de Killeen há algum tempo. Eu não vou te expulsar.
Trev também não. Se você não quiser morar aqui mais um
pouco... posso pedir que Trev encontre um apartamento para
nós.”
Nós?
E depois o que? Ele sai de férias fora da estação e festeja,
e eu sento e trabalho e vejo suas fotos online? E o vejo trazer
as meninas para casa? Espero que ele volte? Ele quer que
sejamos... colegas de quarto?
Uma pequena parte de mim morre por dentro só de
imaginar. Eu não consigo ver isso pessoalmente. De jeito
nenhum. Eu sei que já tive sorte por não ter testemunhado
isso acontecer, mas culpei o fato de ele estar cansado e
estressado após cada treino e não querer sair novamente.
Novamente.
Havia tanta coisa que meu espírito aguenta. “Não. Você
não precisa fazer nada disso. Eu entendo. Não sou sua
responsabilidade.”
Ele dá um passo à frente e levanta o braço para apoiar a
parte de trás do pescoço. “Você meio que é”, ele me diz
suavemente.
Por que ele tem que fazer isso? Por que tem que ser um
amigo tão bom? “Não, eu não sou, mas eu amo você por pensar
isso.” Tento sorrir para ele. “Você já fez o suficiente. Não quero
tirar vantagem de você.”
“Vantagem?” Ele está tão parado. “De mim?”
Eu assinto, não confiando em minhas palavras.
“Bianca”, ele diz, franzindo a testa e meditando em um
piscar de olhos. “Do que diabos você está falando? Eu pensei
que você gostava de estar ao meu lado. Little Texas e Big Texas
reunidos.”
Esse é o problema. “Eu sei, Zac. Eu amo estar perto de
você. Eu amo você. Muito. Para sempre. Mas não posso ficar
aqui pelo resto da minha vida. Eu não posso... morar com você.
Você tem uma vida. Você tem coisas que gosta de fazer que
provavelmente não pode fazer comigo por aqui.”
Ele sacode a cabeça para trás. “Como o quê?”
“Eu não sei.” Isso soa fraco até para meus ouvidos. “Sair.
Eu não sei, coisas que não incluem... a mim. Eu não quero ser
um inconveniente. Não quero ficar no seu pé. Não quero tirar
vantagem do seu grande, enorme coração.”
“Bianca, o que você faz para me incomodar?” Ele exige,
largando a mão para que ela penda ao seu lado. “Quando eu
te dou a impressão de que não te quero por perto? Convido
você para fazer tudo comigo.”
A lembrança da foto me dá um corte no meio das costuras
dos meus dedos, raso, mas doloroso. E é preciso toda a minha
força para manter minha voz quase nivelada, para não chorar,
honestamente. “Nunca. Você nunca deu, e eu amo e aprecio
muito isso. Você é uma das minhas pessoas favoritas no
mundo inteiro, mas não me deve nada. Você nunca deveu.
Você não precisa se sentir culpado por ter perdido o contato
ou sentir que me deve uma merda por causa daquela coisa
idiota de cobra quando éramos crianças e tentar me
compensar agora sendo tão bom.”
Aqueles olhos azuis penetram nos meus, e juro que ele
quase empalidece. “Você acha que é isso que eu estou tentando
fazer?”
“Não é?”
“Não, não é.”
Oh cara, eu quero esfregar meu rosto. “Zac, eu voltarei,
ok? Não vamos perder o contato. Não vamos seguir caminhos
separados e não nos veremos por mais dez anos. Eu juro,
velhote. Eu só vou lá no Dia de Ação de Graças, e depois vou
ficar um tempo vendo para casas e outras coisas. “
Ele não está ouvindo ou, se está, não está prestando
atenção porque diz, “Por que você está tentando ir tão rápido?”
“Eu não estou.”
“Diga-me o que eu fiz, então. Me diga por que você quer
ir. Você disse que ficaria e nunca volta atrás à sua palavra,
então quero saber por que você está tentando fazer isso agora.”
Voltar na minha palavra?
“Conte-me sobre a alma de Mama Lupe”, ele exige.
Nesse momento, não consigo impedir minhas mãos de
esfregarem meu rosto. Eu quero chorar. “Porque não faz
sentido ficar aqui. Não há diferença entre eu ir agora ou em
algumas semanas.”
“Por que você tem que sair daqui a algumas semanas?
Por que você não pode ficar aqui?”
“Eu já te disse por que me mudei para Houston em
primeiro lugar. Não há razão para eu ainda estar aqui.”
Sua garganta sacode novamente. “Quero você aqui,
garota. Essa é uma razão suficientemente boa? Eu gosto de ter
você aqui. Você acha que sua irmã ou Boog gostam de ter você
por perto mais do que eu? Porque eles não gostam. Tenho
certeza que não.”
Prendo a respiração enquanto meu nariz queima. Não há
como escapar disso. Eu sei que não há. Eu fiz isso. É minha
culpa. “Oh, Zac, por favor, não me faça fazer isso. Eu te disse
que voltarei. Nós sempre seremos amigos. Verei você o máximo
que puder, tanto quanto você tiver tempo, mesmo que
moremos em lugares diferentes.”
“Eu quero saber por que você não vai ficar”, ele diz, como
o burro teimoso que ele é, e sei que não vou sair disso.
Ele quer isso. A verdade. E ele não vai deixar pra lá.
“Eu não quero”, digo honestamente, fechando meu punho
depois quando sinto que estou tremendo um pouco. Tenho que
levantar minha mão e escovar a articulação sob meus olhos
quando começa a fazer cócegas, e fico mais surpresa ao vê-la
voltar molhada.
O cenho dele fica ainda maior. “Se você está chorando, eu
quero saber ainda mais, querida.”
“Eu não quero te perder.”
“Me perder?” Ele parece atordoado. “Agora você pensa que
vai me perder? O que diabos está acontecendo? Nós vamos de
eu te convidando para almoçar a você estar toda fechada e
depois dizendo que quer se mudar para outro lugar, mesmo
que eu esteja aqui dizendo para ficar comigo, e agora está
implicando com vai me perder? O que diabos aconteceu? O que
eu não estou vendo?”
Como diabos isso ficou tão fora de controle? Eu quero
chorar. Quero enterrar a cabeça na areia e fingir que nada
disso está acontecendo, mas isso não seria realidade. “Olha,
estou me sentindo sobrecarregada e não quero falar com você.
Só acho que seria o melhor e não vou mudar de ideia.”
“Por quê?” Ele pergunta, sua voz áspera, então. “Você
disse que gostava de Houston. Disse que gosta de ficar perto
de mim.”
“Oh meu deus, você pode, por favor, largar isso? Pode
dizer: 'Eu entendo perfeitamente, Peewee. Quero que você faça
o que quer que vá fazer você feliz...'“
“Eu quero que você seja feliz, garota”, ele diz com uma
tremenda careta que está me consumindo a cada segundo.
“Mas não entendo por que isso não pode ser aqui.”
Ele vai me matar. “Porque você não precisa de mim aqui.”
“Quem diabos disse isso?”
Estou a segundos de chorar. “Não, você não precisa.”
“Sim. Eu preciso”, ele insiste. “Você estava aconchegada
no sofá comigo outro dia e agora nem quer estar na mesma
cidade.”
Levantando a mão, esfrego a testa, observando seu rosto
perplexo. Seus olhos confusos. E eu não tenho ideia do que
fazer com eles. “Se você quer alguém com quem se aconchegar,
há mil garotas em sua lista de contatos que adorariam fazer
isso, Zac. Se você quer um melhor amigo, não precisa de mim
aqui. Você fez isso com Boogie nos últimos quinze anos. Se eu
morar em outro lugar, não vamos nos perder. Eu te amo e sei
que você também me ama.”
Seus ombros caem e algo enorme passa por seu rosto com
a menção de Boogie. Algo como exasperação ou derrota. Ou
algo que eu não consigo entender. Seu olhar vai para o teto, e
ele fecha os olhos quando diz, com uma voz áspera: “Claro que
eu te amo, garota.”
Eu terei que contar a ele. Não há uma maneira de
contornar isso. O medo surge no meu peito, rápido e firme,
mas ele nunca entenderá, ao contrário. E eu tenho que
acreditar que poderemos superar qualquer coisa juntos.
Incluindo eu e meus sentimentos idiotas.
“Esse é o problema, Zac. Eu sei que você ama. Eu sei
disso. Mas eu... eu te amo de maneira diferente. De uma
maneira que não é... amigável. De uma maneira que não devia,
ok? E eu sei disso”, falo baixinho. “Por favor, não me faça falar
mais sobre isso. Perdi você por dez anos e não quero perdê-lo
por mais dez novamente, porque deixei as coisas estranhas.
Você foi primeiro de Boogie... e eu entendo. Você e eu fomos
feitos para sermos amigos. Melhores amigos.”
Tudo o que eu posso ouvir é sua respiração suave nos
momentos seguintes.
Ele está me olhando com essa expressão devastada que
me parte ao meio.
“Bianca”, ele começa a dizer suavemente com os mais
pesados olhos azuis. “Eu te amo, querida...”
Inclino a cabeça para trás com um suspiro.
“Não posso te dizer quantas vezes eu desejei que você não
fosse prima de Boogie.”
Ele está me esfolando viva agora.
Eu gostaria que você não fosse prima do meu melhor
amigo, ele diz.
Talvez em outra vida... essas palavras parecem assim.
E na história de nossas vidas, em nossa amizade, o
telefone dele toca.
Mas ele nem olha para ele. O “prima” está pousado em
seus lábios. O eu te amo que parece tão certo e natural, que ele
não precisa dizer as palavras em voz alta porque eu as conheço
tão bem. É a nossa música silenciosa um para o outro. A única
que cada um de nós entende.
Ele não está me dizendo algo que eu não sabia. Porque eu
sei.
Não é culpa dele que ele me ame, mas não... não assim.
Não é nenhum dos nossos defeitos que nós dois amemos
tanto Boogie.
Eu entendo tudo.
“Atenda seu telefone, Zac. Conversamos depois”, digo a
ele... mentindo. Sabendo que estou mentindo.
Ele não diz nada.
“Pode ser importante”, eu o aviso.
Seu peito se expande e sua expressão está dolorida. “Eu
preciso voltar em breve para uma reunião.”
É a minha vez de concordar. “Você precisa se concentrar.
Eu sei. Eu quero que você faça isso.”
Mas essas palavras não são suficientes porque esse
homem que eu amo continua me encarando, a boca
ligeiramente aberta com algo em seus olhos que parece... algo
que não consigo reconhecer. Mas finalmente ele exala quando
seu telefone para de tocar e depois começa novamente, e sua
pergunta é baixa e quase rouca: “Conversamos mais tarde?”
Eu assinto, mentindo novamente. Ele me perdoará, eu
sei. Um dia. Mas mais do que provável, não demorará tanto
tempo, porque ele não é esse tipo de pessoa.
Mas vou descobrir.
Porque vou embora.
Será melhor assim. Para nós dois. Eu apenas sei disso.
“Peewee, você vai nos contar o que está acontecendo ou
vamos ter que incomodá-la?” Minha irmã pergunta do outro
lado da cozinha enquanto puxo uma bandeja de biscoitos de
chocolate do forno e os coloco em cima de seu fogão.
Eu as fiz por solicitação do meu sobrinho. Ele pediu tudo
sorrateiramente e de forma muito doce, vindo deitar na cama
comigo naquela manhã e apontando um cabelo grisalho que
ele encontrou em cerca de três minutos em sua visita. Então
ele fez as pazes comigo — de certa forma — se oferecendo para
arrancar minhas sobrancelhas... depois me dizendo que eu
posso confiar nele com uma pinça, porque sua mãe está
sempre pedindo para ele depilar seu lábio superior. E às vezes
o queixo dela.
E aqui está, essa vaca está mentindo para mim há anos
— se gabando — sobre como ela é “naturalmente” sem pêlos.
Fazer biscoitos para Guillermo não foi difícil depois disso.
Será munição que eu posso usar contra ela pelo resto da minha
vida. A vaca mentirosa.
Não é necessário dizer que esse pequeno pedaço de
conhecimento foi o destaque das minhas últimas duas
semanas. Em circunstâncias normais, eu ficaria muito feliz em
poder pegar minha irmã. Mas, aparentemente, não estou
sendo muito boa em esconder que algo está me incomodando,
mesmo que tenha tentado muito esconder.
Porque não importa o quanto eu tente, Connie está me
apontando meu blefe. Um rápido olhar para Boogie me diz que
ele também está envolvido, mesmo que tenha chegado à casa
dela naquela manhã. É aniversário de Richard e vamos
comemorar no fim de semana. Será basicamente um dia e meio
fazendo duas das coisas que ele mais ama, jogar boliche hoje
e amanhã vamos dirigindo até Houston para assistir ao jogo
dos White Oaks contra o Three Hundreds. O time antigo de
Zac. Eu ainda estou zangada com eles, muitos anos depois,
por deixá-lo ir.
Pensando em Zac...
Meu peito dói um pouco. Mais que um pouco. Um montão
mesmo.
“Não há muito o que dizer”, digo, tentando manter a voz
o mais indiferente possível, sorrindo e fazendo parecer que está
tudo bem. É o que tento fazer desde que cheguei à casa de
Connie.
Depois que saí da casa de Trev enquanto Zac estava fora,
eu dirigi até Killeen e bati na porta da minha irmã às onze
horas da noite. Eu até fiz questão de não chorar para que ela
não suspeitasse. E esperei para soltar — só um pouco — até
que estivesse no quarto de Guillermo para realmente fazer isso,
e cobri meu rosto com minha jaqueta para não fazer barulho.
Zac começou a me mandar mensagem quando eu estava
dirigindo a cerca de três horas, quando imagino que ele chegou
em casa e me encontrou... fora de lá.
ZAC, O VELHO: Onde você está?
ZAC, O VELHO: Peewee?
Enviei uma mensagem de texto para ele no primeiro sinal
fechado que peguei, com o coração na garganta. Não queria
que ele se preocupasse.
Eu: No caminho para Killeen. Me desculpe, Zac.
Entendo se você está bravo, mas realmente quero ver
minha irmã e conferir alguns lugares. Sair do seu caminho
por um tempo também, para que você possa se concentrar.
Eu prometo que estou bem. Vou mandar uma mensagem
quando chegar lá, se você quiser.
Suas respostas chegaram quase instantaneamente, mas
esperei até chegar a outro sinal vermelho, pouco antes de
chegar à casa dela, para lê-las.
ZAC O VELHO: Bianca
ZAC O VELHO: Por favor, me avise quando chegar lá
ZAC, O VELHO: Ou volte. Você disse que íamos
conversar
Eu: Eu vou. E podemos conversar sempre. [emoji de
rosto sorridente]
Esperei até que tivesse estacionado para enviar outra
mensagem e, em seguida, coloquei meu telefone no silencioso
para não fazer nada na frente de Connie que lhe desse uma
pista de que as coisas não estão ótimas. Então, foi só quando
eu estava no quarto do meu sobrinho que li sua próxima
resposta.
ZAC, O VELHO: Que bom que chegou bem. Não estou
feliz por você ter ido, em primeiro lugar. Volte
ZAC, O VELHO: Podemos conversar amanhã?
ZAC, O VELHO: Comendo o pão de abobrinha de
chocolate que você deixou. Você deve colocá-lo em seu
próximo livro.
Foi isso que me fez chorar no quarto do meu sobrinho.
Porque quanto eu quero que ele realmente me queira de
volta?
Finalmente, quando posso, envio uma mensagem de volta
para ele, limpando meus olhos com as costas da mão depois
que me recomponho.
Eu: Você está ocupado amanhã, lembra? Te mando
uma mensagem. Além disso, sim, se houver um próximo
livro, eu o colocarei lá. Talvez com mais nozes.
Ele me manda uma mensagem de volta imediatamente,
mesmo que já passe muito da sua hora de dormir.
ZAC, O VELHO: Haverá outro livro.
ZAC, O VELHO: Já sinto sua falta, garota. Volte.
Podemos conversar e resolver as coisas.
Eu não respondo depois disso. Eu não sei o que dizer. Eu
não voltarei até ter um plano real. Afinal, deixei a maioria das
minhas coisas no quarto de Trevor.
Mas isso não para Zac. Ele envia mais mensagens no dia
seguinte. E naquele depois desse. E todos os dias desde então.
Mensagens que dizem o que ele está fazendo (treinando,
comendo), coisas que Trevor diz ou faz, mas, principalmente,
ele me pede para voltar e diz que sente minha falta.
Eu mando uma mensagem de volta para ele todas as
vezes, mesmo que meu coração doa.
Todas as mensagens quase me fazem chorar, mas sorrio
porque Connie não precisa se meter nisso mais do que o
habitual.
E eu pensei que fiz um trabalho bastante decente em
guardar as coisas para mim, mas aparentemente não é esse o
caso.
Especialmente quando Boogie, que está sentado à mesa
de Connie, também aparece. “Eu pensei que estava
imaginando isso.”
“Vocês dois estão imaginando merda”, digo,
concentrando-me nos biscoitos que estão dando água na boca.
Meu cunhado, que também está sentado à mesa, abre
uma lata de refrigerante de laranja antes de dizer: “Nós três,
Bianca. Porque juro que ouvi você chorando na cama algumas
noites atrás, mas às vezes sua irmã chora sem motivo quando
está menstruada, então não tinha certeza se era isso que
estava acontecendo com você ou não.”
Eu me viro lentamente para encarar o homem tomando
um gole de seu refrigerante sem me importar com o mundo.
Eu não sou a única olhando para ele também porque
minha irmã está fazendo o mesmo, mas com a boca aberta um
pouco enquanto ela faz isso.
“O que?” Pergunta o marido, como se estivesse confuso
com o silêncio. “Diga que estou mentindo. Você nem tenta
esconder.”
“O que aconteceu?” Boogie pergunta, saindo de seu
estupor. “Você teve problemas com o WatchTube novamente?”
Eu quero mentir, realmente quero. Quero culpar o roubo
do meu canal, porque isso seria uma boa desculpa. Mas eu não
faço.
“Não. Tudo está bem com eles agora.”
“Kenny está tentando falar com você de novo?”
Kenny. Ugh. Meu ex pode comer merda. “Não. Não tenho
notícias dele desde que pegou todo o meu dinheiro.”
“Então o que há de errado?”
Pelo canto do olho, vejo meu cunhado se mexer um
pouco, trazendo a lata de volta à boca para tomar um gole. “É
Zac? Ele te traiu? Porque se ele fez, eu vou dizer a todos que
ele está usando esteroides. Me teste.”
Silêncio.
Um silêncio total e completo enche a área da cozinha e do
café da manhã.
Nossos rostos estão todos diferentes.
Tenho certeza que o meu está horrorizado.
Connie parece que não sabe quem diabos está sentado ao
lado dela.
Boogie parece que alguém acabou de lhe dizer que sua
mãe é uma alienígena.
E meu cunhado, de estatura média, magro e adorável,
está olhando para nós como se não tivesse ideia de por que
estamos todos olhando para ele.
“O que? Você quer que eu o mate ou algo assim? Porque
uma vez fui caçar com meu pai e, sem mentir, desmaiei quando
ele...”
Querido deus.
“B, há algo que eu deveria saber sobre você e... e...?”
Boogie gagueja, olhando para algum lugar entre sua mente
sendo soprada e o começo de ficar louco.
“Querido”, minha irmã começa a dizer, sua voz quase...
um sussurro? E por que ela parece excitada? E por que eu sei
como é o rosto com tesão? “O que faria você pensar que há algo
acontecendo com B e Zac?”
“Há algo acontecendo com você e Zac?” Boogie ecoa.
O que diabos está acontecendo?
Meu cunhado encolhe os ombros casualmente, ainda
bebendo seu refrigerante sem se importar com o mundo...
como se ele não tivesse acabado de jogar uma bomba de
hidrogênio em nossos traseiros.
Em todos nós. Sério.
Em Boogie, na forma de, possivelmente, haver algo no
mundo entre mim e seu melhor amigo.
Em Connie, que está olhando para esse homem com
quem ela está há quase duas décadas, como se não o
conhecesse... mas a pequena aberração gosta do que vê.
E em mim, por não ser tão secreta quanto eu pensava.
Ou talvez, na verdade, ele seja muito mais perspicaz do
que qualquer um de nós já lhe deu crédito.
Então ele continua, levantando um dedo indicador. “Bem,
Peewee não queria falar sobre ele há anos. Agora eles são
amigos novamente e me parece que passam o tempo todo
juntos, e então ela foi morar com ele. Olá, e você sabe, eu
sempre achei que ele era um jogador, mas ele não vai sair com
uma garota de que ele não gosta.”
“Eles se conhecem desde que éramos crianças”, meu
primo murmura, ainda parecendo e soando fora de sintonia.
Merda.
Meu cunhado bufa. “E? Ele não via Bianca há dez anos.
O que? Você acha que ele vai pensar nela como uma
irmãzinha? Você é mais esperto do que isso, Boogie. E Yermo
me contou tudo sobre eles no aniversário de Lola, está bem?
Há 'eu te amo como uma irmã' e há 'eu te amo como pessoa'.
Eu sei que não poderia ter sido o único a sentir a química
naquele vídeo que eles fizeram juntos também... mas tudo
bem, talvez eu estivesse. Cara, vocês dois precisam prestar
mais atenção.”
Nenhum de nós pode dizer nada.
E, aparentemente, meu cunhado toma isso como um
sinal para continuar, e ele o faz.
“Mas, B, ele te traiu? Mentiu? Porque ele parece um cara
legal, mas eu nunca fui fã de White Oaks, então vou fazer isso.
Da próxima vez que fizer uma injeção de B-12, vou guardar a
agulha e usá-la como prova”, afirma Richard, tudo em seu
rosto estreito totalmente sério.
“O que mais você sabe que não me contou?” Minha irmã
sussurra.
“Eu não sei nada com certeza; Só tenho meus palpites.”
Seus palpites. Este homem está desperdiçando sua vida
no exército quando provavelmente poderia fazer uma fortuna
sendo um maldito médium — ou pelo menos levando as
pessoas a pensarem que ele é um médium.
Eu fico atordoada.
“O que está acontecendo? Há algo acontecendo com você
e Zac?” Boogie pergunta novamente, apontando seus olhos
quase negros para mim.
Puta que pariu.
Coçando a ponta do nariz, prendo a respiração por um
segundo e decido que entrai direto nisso — pedi mesmo, por
que porque pensei que eles não notariam que algo está errado
comigo? Eles me conhecem melhor do que ninguém. Incluindo
Richard.
Mas uma coisa de cada vez, começando com meu primo.
“Não, não há nada acontecendo comigo e com Zac”, digo a ele.
Ele cede, mas é Connie quem se senta mais ereta antes
de apontar para mim. “Você está mentindo.”
“Não use a voz da sua mãe em mim, vaca. Eu não estou
mentindo. Nada aconteceu conosco além de abraços e alguns
beijos nas bochechas, que dou a todos, pra começar.”
Meu primo ainda parece relaxado, cauteloso, mas
relaxado. Ele sabe que eu não mentiria para ele, e isso me faz
sentir melhor. Ele simplesmente não vai gostar do que vou
dizer a ele em seguida. Isso com certeza.
Mas não há como contornar isso agora.
“Mas eu sou burra e comecei a realmente... gostar dele,
como mais do que um amigo. Não que eu quisesse que isso
acontecesse, mas aconteceu. Novamente. Disse a mim mesma
para não deixar isso acontecer, mas, novamente, aconteceu. E
eu sabia que não tinha chance de ele se interessar por mim
assim, mas...” Dou de ombros, resignada a estar na mesma
maldita posição mais uma vez — a idiota que se apaixonou pelo
melhor amigo de seu primo. E não apenas qualquer homem
normal. Mas Zac Travis. As nádegas do Texas. “Fiquei um
pouco chateada porque baixei a guarda e ele fez algo inocente
que me lembrou o porquê de eu saber disso.”
Os olhares em seus rostos estão questionando, então
suspiro.
“Uma garota postou uma foto deles juntos, ok,
intrometidos? Ela estava sentada no colo dele. Isso machucou
meus sentimentos, mas não estamos juntos. Em absoluto. Ele
nem gosta de mim assim. Eu disse a ele, e ele começou a dizer
algo sobre como ele desejava que eu não fosse sua prima, Boog.
Portanto, não. Ele não fez nada de errado. Eu não quero parar
de ser amiga dele. Na verdade, só preciso me lembrar de que
tipo de amigos somos, e isso é platônico, e ficarei bem em
pouco tempo. Não estou pensando em passar o resto da minha
vida pintando com spray 'Bianca ama Zac' em qualquer vagão
ou viaduto. Vou encontrar outra pessoa para namorar, talvez
nos casemos, e talvez tenha dois filhos, mas talvez tenha
alguns cães ou gatos e seja uma balzaquiana algum dia. Eu
não sei. Eu sou bem aberta. Enfim, estou bem, nada
aconteceu. Eu não estou traumatizada para a vida toda ou algo
assim, então podemos, por favor, nunca mais falar sobre isso?”
Boogie não parece exatamente atordoado, mas ele
parece... surpreso? Pensativo? Talvez até... desconfortável?
“Nada aconteceu entre vocês dois, então?” Ele pergunta
devagar.
Olho para ele. “Ele é seu melhor amigo, Boog. Não. Somos
afetuosos e confortáveis um com o outro. Eu nunca vi a
salsicha dele, mesmo que eu tenha tentado.”
Ele se afasta e seus olhos quase saltam. “Bianca!”
“O que? Era o que você estava se perguntando, eu posso
ver.”
Connie assente, um olho ainda no marido. “Isso é o que
você estava se perguntando, e eu teria perguntado se você não
tivesse me vencido.”
Ela teria totalmente.
“Ele também é meu melhor amigo, Boog. Vocês são meus
melhores amigos. Todos os três, quatro, são meus melhores
amigos.”
E, felizmente, meu primo tem que saber disso até os
ossos, porque ele não espera para assentir, mesmo que sua
expressão desconfortável não chegue a lugar algum. “Mas você
gosta dele mais do que isso?”
Eu levanto um ombro. “Eu não quis que isso acontecesse,
mas sim. Eu o amo, mas posso aprender a amá-lo como apenas
um amigo. É onde mais da metade vai de qualquer maneira.
Então, estamos bem, ou alguém tem mais perguntas idiotas?”
“Eu tenho uma pergunta, e não é uma pergunta idiota”,
minha irmã fala, levantando a mão como se ainda estivesse na
escola. “É por isso que você está aqui procurando
apartamentos?”
“Apenas 10%”, digo a ela, um pouco mentindo, mas não
totalmente. Na realidade, são mais de 60%... 70%.
Ainda será bom vê-la, as crianças e meu cunhado muito
perceptivo o tempo todo.
“Eu tenho outra pergunta, ainda não é idiota”, ela diz, e
sem surpresa, levanta a mão novamente.
“Sim, Connie.”
“Ele te checou para se certificar de que você estava bem
desde que partiu?”
Eu assinto para ela.
E minha irmã sorrateira assente lentamente.
Viro para Boogie, que é a pessoa com quem mais me
preocupo. “Você está bem ou ainda está prestes a sofrer um
ataque de merda, mesmo que nada tenha acontecido e ter
meus sentimentos feridos foi culpa minha? E você não pode
ficar bravo com ele, porque ele nunca tentou mexer comigo ou
algo assim, mesmo que eu desejasse que ele o fizesse.”
“Eu não tenho ataques de merda” é o que ele diz primeiro.
Até Richard olha para Boogie.
Ele nos ignora. “Estou bem. Realmente. Na verdade não.
Você poderia ter me dito, Peewee”, ele diz, virando seus olhos
escuros para mim com o começo do que parece ser uma
expressão magoada. Talvez porque eu não contei a ele antes.
Eu geralmente digo tudo a ele.
Então, novamente, ele não me disse que estava pensando
em pedir para a namorada se casar com ele, então ele não é
um que pode falar tão cedo.
Ainda estou um pouco chateada por causa disso, mesmo
que eu diga que nós dois estamos nesse ponto. Mas não
precisamos entrar nisso. O que precisamos fazer é suavizar as
coisas, porque a última coisa que quero é estragar minha
amizade com ele, ou a amizade de Zac com ele.
“O que eu ia lhe dizer, Boog? ‘Ei, eu tenho andado muito
com Zac e acho que estou apaixonada por ele? Novamente?’” Eu
lhe dou um olhar. “Me desculpe, eu não disse nada e apenas
joguei isso em você, mas sei que foi idiota. Eu sabia que era
idiota quando era adolescente. Eu sei que é burro e sem
sentido agora. É como se esse tipo de amor fosse a única coisa
que meu coração soubesse, mas vou controlá-lo. Isso soa
ridículo como merda, mas é verdade. Ele é seu melhor amigo,
e a última coisa que quero é tornar as coisas estranhas entre
vocês dois, quando ele não fez nada.”
“Não é idiota”, meu primo murmura pensativo depois de
alguns momentos, depois de um suspiro profundo em que
esfrega a testa enquanto olha para o colo.
“Eu sinto muito. Eu apenas mantive isso em segredo
porque estou envergonhada e sei que não vai rolar”, digo a ele.
“Eu amo você e você significa o mundo para mim. Não quero
estragar nada.”
Pelo canto do olho, posso ver o olhar de Connie saltando
para frente e para trás entre Boogie e eu. Richard está fazendo
a mesma coisa, ainda bebendo aquele refrigerante de laranja.
Nenhum de nós diz uma palavra por mais algum tempo.
Até Boogie quebrar o silêncio com outro suspiro antes de
levantar a cabeça e me olhar com um pequeno sorriso
cauteloso no rosto que me diz que tudo ficará bem. “Você não
pode controlar quem ama às vezes, mesmo que saiba que
talvez não deva ou que talvez vá doer.”
Bem, merda. Eu acho que de uma maneira que eu nunca
pensei sobre isso sobre ele. Eu ainda não gosto da sua futura
esposa, mas…
“Ele é meu melhor amigo, mas você também é B. É um
pouco estranho, é muito estranho, mas...” Ele suspira mais
uma vez. “Você está realmente bem?”
“Eu só me machuquei, prometo.”
Porque é exatamente o que aconteceu. Eu me machuquei.
Eu posso admitir.
Mas vou consertar isso. Eu ficarei bem.

***

“Eu não posso acreditar que você não me contou”, minha


irmã diz algumas horas depois, antes de me atacar como uma
víbora, indo direto para o meu mamilo como se ela fosse dar
um giro.
É mais experiência do que instintos que me fazem afastar
a mão dela e cobrir os meus seios com as mãos.
Ela tenta ir atrás de mim novamente, então estendo a
mão e finjo que farei isso de volta.
Mas eu não o farei, porque na única vez em que fiz isso,
ela fez questão de me fazer de volta duas vezes mais forte para
me ensinar uma lição. Nada vale a pena conseguir um twister,
nem sequer dar um.
“Estava me perguntando por que você demorou tanto
para perguntar”, digo a ela. Ainda estou cobrindo meus
mamilos, e se alguém notou, eu realmente não me importo.
Estou muito ocupada lendo uma mensagem que Deepa acabou
de me enviar e não estou prestando atenção em Connie.
A mensagem diz,
DEEPA É LEGAL: Você ouviu que eles expulsaram
Gunner da academia? Há rumores de que alguém comprou
a parte dele.
Terei que comemorar isso mais tarde. É tarde demais
para me beneficiar, mas esse idiota procurou isso. Já era
tempo de os outros proprietários perceberem que não podiam
manter funcionários por causa dele.
Olhando para cima, Connie está encostada ao balcão do
bar no boliche, porque é lá que estamos comemorando o
aniversário do meu cunhado. Era sua coisa favorita para fazer
desde que consigo me lembrar. Eu costumava ir a seus
torneios em Fayetteville. Estou dando um tempo depois do
nosso último jogo, e aparentemente minha irmã também.
“Eu estava esperando porque prometi a Richard que
deixaria você em paz.”
Ah, Richard. Ele me disse que está arrependido por deixar
meus negócios no caminho. Então ele se ofereceu novamente
para espalhar o boato sobre Zac e esteróides, se eu quisesse.
“E acho que esperava que minha irmã me amasse o
suficiente para vir me dar todos os detalhes pessoalmente.”
Eu bufo e pego minha Sprite. “Você realmente pensou que
eu ia facilitar as coisas?”
Ela me envia um olhar plano que me faz sorrir.
“E não há nada a dizer, Con, então não há nada para
compartilhar.”
“Não há nada para contar”, ela zomba de mim usando
dedos como aspas e tudo. “Mentira.”
“Na verdade não, porque nada vai acontecer, então...”
“Punkin!” Richard grita quando se aproxima de nós da
pista em que esteve jogando boliche enquanto fazíamos uma
pausa. “Eu pensei que você iria esperar para assediar Peewee.”
“Ela começou a falar sozinha.”
Meu cunhado e eu nos entreolhamos, e deixamos para lá.
“Você está realmente pensando em se mudar para cá?”
Eu assinto.
Richard para ao lado da minha irmã, passando um braço
pelos ombros dela enquanto rouba sua cerveja. “Você pode
ficar conosco o tempo que precisar.”
“Espero que ela volte para Houston”, diz uma voz
diferente, mas muito familiar.
Meu cérebro congela. Meu corpo inteiro congela. Não
ficarei surpresa se até os meus glóbulos vermelhos o fizeram
também.
E meu coração vai direto para a garganta.
Direto para lá. Sem parar. Voando expresso.
Eu conheço aquela voz.
Colocando minha Sprite no balcão, pego a cerveja de
Richard, tomo um gole, devolvo e, finalmente, viro minha
cadeira o suficiente para ver o homem que não havia se
mudado de onde ele está, atrás da minha cadeira enquanto ele
falou.
Porque com certeza, lá está ele. Zac. Chapéu de cowboy
marrom, calça jeans de sempre e uma camiseta que se estende
sobre o peito magro e musculoso. Aquelas mãos grandes estão
em seus quadris e ele...
Bem, ele está focado em mim.
Ele parece cansado.
“Snack Pack?” Pergunto como se não conhecesse seu
rosto por dentro e por fora.
Seu sorriso é pequeno, mas doce. “Oi, querida.”
“O que diabos você está fazendo aqui?” É o melhor que eu
posso dizer, enquanto observo seus traços exaustos um pouco
mais. “Você tem um jogo amanhã”, afirmo como se ele não
soubesse disso.
O que ele está fazendo?
Ele dá de ombros um pouco indiferente com seu jogo no
dia seguinte, outro jogo que representa seu futuro potencial,
não é grande coisa. “Mudei meu número de celular há pouco
tempo. Queria vir te contar cara a cara e te dar o novo”, ele
explica lentamente, me olhando direto nos olhos.
“Do que você está falando?” Pergunto a ele antes que
possa pensar duas vezes sobre isso. “Por que você mudou seu
número? Você precisava estar em casa descansando, seu
velhote, não... aqui. Porque o que diabos ele está fazendo aqui
pra começar? E por que mudou seu número?
E por que ele não podia simplesmente me mandar uma
mensagem e dizer que havia comprado um novo?
Meu comentário faz com que o sorriso dele fique ainda
maior, transformando-se em um sorriso grande e natural de
Zac que é basicamente minha criptonita. “Algumas coisas são
mais importantes do que descansar, garota.” Seus olhos
examinam meu rosto lentamente, sua expressão
permanecendo exatamente onde está. Aquela palma grande
dele vem até o centro do seu peito, e ele esfrega um círculo bem
ali, enquanto diz em uma expiração: “Eu realmente senti sua
falta.”
Pelo canto do olho, vejo minha irmã bater em Richard com
as costas da mão no braço.
E talvez eu tivesse reagido se meu coração não parecesse
ter acabado de ser atingido por um desfibrilador.
“Eu também senti sua falta”, digo a ele, impressionada
com a maneira como ele está olhando para mim, como se
realmente tivesse sentido minha falta. Muito.
Tanto, que tudo que quero é um abraço naquele
momento.
Hesito por talvez um segundo antes de deslizar do
banquinho e me aproximar dele, jogando os braços em volta do
seu pescoço antes que ele perceba o que estou fazendo. Eu o
abraço apertado. E, no tempo que levo para inspirar, encher
meus pulmões com o perfume doce e sutil de sua colônia, seus
braços estão ao meu redor, me apertando com força e bem
perto, sua bochecha ou boca pressionando o topo da minha
cabeça.
Eu juro pela minha vida que o ouço murmurar: “Oh”,
suavemente quando a palma da sua mão desliza pela extensão
da minha coluna, parando apenas quando ela cobre a parte
inferior das minhas costas.
Eu absorvo seu calor e o longo comprimento de seu torso
pressiona o meu tão solidamente por um momento. Então o
solto de uma respiração para a outra, dando um passo para
trás tão rapidamente que o forço a soltar os braços. Eu o
observo inspirar, vejo um pequeno entalhe determinado
aparecer entre suas sobrancelhas e depois o vi me observando
como...
Como se ele tivesse tomado algum tipo de decisão e
estivesse se preparando para as consequências.
Aqueles seus pulmões poderosos e em forma, se enchem
antes que ele fale. “Eu vim conversar com Boogie também”, ele
diz com força, sua mão voltando para ficar bem no meio do
peito.
Dou outro pequeno passo para trás. “Sobre o que você
precisa falar com ele, que não poderia simplesmente fazer ao
telefone ou amanhã?” Pergunto, muito confusa pelo fato de ele
estar aqui, por ter mudado seu número, e principalmente pelo
jeito que ele está olhando para mim naquele momento. “Você
está bem? Aconteceu alguma coisa?”
O que está acontecendo? Ele finalmente se perdeu. Foi
demitido muito duro na semana passada, e eu fiquei em pé na
frente da televisão...
Aquele queixo real ergue. “Eu estou bem.”
Ele está bem, mas nada disso faz sentido.
“Eu deveria ter falado com ele meses atrás, mas não posso
mais adiar”, ele diz com cuidado, ainda me observando de
perto.
Quero pensar que foi minha irmã que me chutou na
panturrilha, mas não me surpreenderia se fosse meu cunhado.
Vou até a ponta dos pés, engolindo o rosto que não vejo
há semanas como uma pessoa faminta que sabe que dever ir
com calma. “Não que eu não esteja feliz em vê-lo, mas você está
tentando irritar Trevor e seu agente?”
Um sorriso parcial ergue o canto da boca dele. “Eu não
estou preocupado com Trev ou qualquer outra pessoa, e você
disse que falaria comigo por telefone, mas faz semanas e ainda
não ligou.”
Bem, ele me pegou, caramba. Engulo em seco. “Zac...”
Seus olhos percorrem meu rosto por tempo suficiente
para que eu levante minhas sobrancelhas, e é então que ele
suspira e desvia o olhar para o lado. “Estou sendo rude.
Connie, Richard, espero que todos estejam bem. Posso ter
Bianca agora?”
“Sim, se conseguir ingressos para outro jogo no futuro,
por favor”, Richard responde.
Olho para os dois urubus que deveriam me amar... mas
que estão me dando por possíveis ingressos de futebol.
E Zac formula isso de forma estranha ou é minha
imaginação?
Ele assente para eles. “Vocês terão.” Então ele olha de
volta para mim, e meu coração dá duas pancadas fortes. “Você
tem tempo para falar comigo agora?”
Eu ainda não consigo acreditar que ele está aqui em
primeiro lugar. “Zac, eu falaria com você por telefone se
soubesse que estava vindo. Que diabos, cara? E por que você
mudou seu número? Você tem um perseguidor agora?”
“Venha comigo para falar com Boogie bem rápido, e
depois eu direi o que você quiser ouvir”, ele diz, me olhando
com aqueles olhos azuis que amo.
Tenho certeza que minha irmã bate no marido
novamente.
“Você está me assustando”, digo a ele, passando por uma
dúzia de cenários diferentes na minha cabeça. Eles são todos
terríveis.
Os cantos de sua boca sobem novamente naquele sorriso
que me faz sentir engraçada. As sobrancelhas dele também.
“Você confia em mim?”
Suspiro e faço uma careta. “Sim. Mas eu já disse a ele...
o que disse a você.” Que estou apaixonada por você. “Ele sabe
que você não fez nada, que nada aconteceu. Boog sabe que
você o ama demais para arruinar sua amizade.”
Sua boca fica plana e branca nas bordas, e suas narinas
se alargam por um momento antes que aqueles olhos azuis
claros se movam sobre o meu rosto novamente, e ele diz com
uma voz firme: “Não se preocupe com isso. Apenas confie em
mim, ok?”
Ele estende a mão em minha direção.
E eu pego, com a certeza que, mais uma vez, minha irmã
derrotou Richard.
Apenas confie em mim, ele pede.
Bem... não é como se eu tivesse outra escolha. Então eu
a pego.
“Eu voltarei”, digo a eles, encontrando o olhar redondo e
convencido da minha irmã por cima do ombro.
Ela bufa. “Sim, com certeza você vai.”
Zac aperta meus dedos e esqueço seu comentário
enigmático antes de segui-lo, perguntando: “Zac, sério, o que
você está fazendo aqui?” Enquanto nos dirigíamos para a pista
onde Boogie está parado, assistindo um amigo de Richard
subir na sua vez.
Tento deslizar meus dedos nos dele, mas tudo o que ele
faz é fundir os seus mais longos nos meus.
Ele sorri para mim também. “Eu te disse, querida. Eu vim
falar com você e seu primo.”
Mas sobre o que? “Eu sei que Trevor vai ficar no seu pé
por viajar. Você deveria estar em casa.”
Ele puxa minha mão de brincadeira. “Não posso ficar a
noite toda, criança. Apenas um pouco.” Ele me dá outro
daqueles sorrisos açucarados. “E ele sabe onde estou.”
Olho para ele.
Ele continua sorrindo. “Vamos. Quanto mais rápido
fizermos isso, mais rápido podemos conversar.”
“Eu poderia ter falado com você por telefone. Não quero
que você estrague nada, não quando joga amanhã.”
“Eu não estou estragando nada. Pode perguntar ao Trev.
Ele me deu sua bênção para vir, para que eu possa tirá-lo de
sua miséria.”
A benção de Trevor? “Você está sendo um pé no saco?”
Ele me lança um olhar lateral que me faz bufar.
“Você está sempre sendo um pé no saco, minhas
desculpas.”
Ele ri ao mesmo tempo em que meu primo vira, no meio
de um sorriso quando vê Zac primeiro. Então me vê segurando
a mão dele.
E ele não para de sorrir, mas seu rosto fica um pouco
estranho. Um pouco tenso. Talvez até um pouco
desconfortável, como antes. Basicamente, os três junto.
Eu não sei o que pensar disso.
Contei a verdade, e sei que ele acreditou em mim sobre
não haver nada acontecendo entre nós.
O que estou, porém, é feliz por ter contado a Boogie como
me sinto. Odeio guardar segredos dele, mas sei que ele entende
por que fiz isso.
Olho para Zac para ver se está tenso ou constrangido,
mas ele apenas parece determinado. Eu já o vi fazer as mesmas
expressões faciais antes, nos dias de jogo.
Boogie diz algo ao amigo ao seu lado antes de se
aproximar, sua boca formando uma linha plana. Ele para
diretamente na nossa frente, expressão calma, mas cuidadosa
e totalmente como meu primo.
Só então Zac solta minha mão e vai direto para dar-lhe
um abraço que meu primo retorna. Um normal. Fácil. Dá um
tapa nas costas dele e tudo. Isso me alivia.
Mas quando ele se afasta, meu velho amigo coloca as
duas mãos nos ombros do meu primo. “Você sabe que eu te
amo”, Zac diz firmemente.
E meu primo assente, com o rosto sério. “Eu sei. Você
sabe que eu também te amo.”
Somente esses dois podem dizer que se amam como se
fosse a coisa mais natural do mundo. Sempre amei isso. E
entendo por que Zac não coloca nada entre eles. Eu realmente
entendo. Quem sou eu para estragar tudo?
Realmente estou fazendo a coisa certa. Só preciso de
tempo para superar isso — tempo e talvez uma distração.
Talvez eu possa reagendar minha viagem a Orlando e tirar
umas férias prolongadas.
“Você é o irmão que nunca tive e nunca quis”, Zac
continua, trazendo meu foco de volta para ele e a maneira
como está olhando para o meu primo.
Isso faz Boogie sorrir.
E sou eu quem se sente um pouco desconfortável. Isso
parece um rompimento ou estou imaginando? Tenho que estar
imaginando isso. Eu já vi casamentos menos favoráveis do que
a amizade desses dois.
“Eu te amo, está bem?” Zac repete.
Meu primo suspira.
Por que diabos ele está suspirando?
Oh deus, tenho um mau pressentimento no estômago.
“Por que vocês dois agem como se estivessem terminando?
Nada aconteceu, Boogie, eu juro.”
“Quem disse que estamos nos separando, querida?” Zac
pergunta, soltando uma mão do ombro do meu primo para
estender a mão e pegar meu antebraço gentilmente, seu
polegar áspero roçando por dentro.
“Nós não estamos terminando”, confirma meu primo
antes de focar novamente em seu melhor amigo com uma
respiração profunda e depois um suspiro longo e prolongado
que sai direto de sua alma. Estou bastante certa, até que os
ombros dele caem por um segundo, mas ele os coloca de volta
no lugar, e isso me faz sentir novamente como se eles
estivessem se separando. “Diga o que você tem a dizer para que
eu possa seguir em frente com a minha vida”, diz Boogie,
erguendo o queixo e tudo. “É por isso que você tem me ligado
todos os dias para falar sobre nada?”
Ele está ligando para ele todos os dias?
Zac não hesita. “Sim. Eu deveria ter lhe contado quando
percebi. Não esperava que isso acontecesse, mas aconteceu”,
ele diz a ele com firmeza. “Lutei, juro, mas não tive a menor
chance, Boog. Era como lutar contra o inevitável. Tentar lutar
contra uma parede de tijolos. Juro pela vida de Paw-Paw, não
tive chance nenhuma. Ela veio atrás de mim quando eu não
esperava e me deu a porrada de uma vida.”
“Alguém bateu em você?” Pergunto confusa, olhando-o,
mas não encontrando machucados em nenhuma parte de sua
pele exposta.
Boogie não diz nada.
Eu literalmente não tenho ideia do que eles estão falando
e quero mais algumas pistas de contexto para que possa
descobrir.
Zac, no entanto, não deixa nada impedi-lo. Ele lambe os
lábios e apruma os ombros firmemente, preparando-se para...
alguma coisa. “Eu não quero mais tentar lutar contra isso. Não
posso. Sei que você quer o melhor para mim, e é isso, e acho
que sabe disso.” Ele respira e diz com muito cuidado uma frase
que faz meu coração disparar. “Durante toda a minha vida,
senti como se estivesse sentindo falta de algo, tentando
encontrar algo. Não sei como explicar, e agora parece que eu
encontrei, Boog. Estava bem na frente do meu maldito rosto o
tempo todo.”
Meu primo olha para ele, e seu rosto pensativo está
atento. Leva um momento, sua respiração longa e profunda,
antes de inclinar a cabeça em direção ao teto e finalmente
dizer: “Quero dizer que você poderia ter me contado tudo isso
por telefone, mas estaria mentindo. Eu poderia dizer por um
tempo agora que havia algo que você queria me dizer, mas fui
apanhado por Lauren e o bebê e deixei para lá.” Ele abaixa o
olhar e suspira novamente. “E eu sei que você nunca teve uma
chance. Você nunca teve. Mas precisamos de regras básicas.”
“Ok.”
O rosto de Boogie fica sério. “Só existe uma. Você nunca
fala sobre merda que eu não quero ouvir. Isso é tudo o que
quero; tudo o que pode me preocupar, e sei que não preciso.
Não teríamos essa conversa a menos que você tivesse certeza
absoluta de que sabe o que está fazendo.”
Zac assente solenemente.
Meu primo olha para mim e depois sorri.
Eu faço uma careta. “Não sei do que vocês dois idiotas
estão falando. No começo, pensei que era sobre mim, e agora
não faço ideia.”
Seu sorriso fica muito maior.
“Não, é sério. Do que vocês estão falando?”
Boogie ri então, apagando todos os vestígios da pressão
que estivera em suas maçãs do rosto um segundo atrás.
“Estamos esclarecendo as coisas.”
Esclarecendo o quê? Eu dou uma cotovelada em Zac, que
ainda está segurando meu antebraço. “Eu não estou tentando
atrapalhar nada. Prometo. Eu amo vocês dois, e cada um de
vocês sabe disso, e não quero que este romance de amigos
precise de terapia porque estou sendo idiota.”
Meu amigo alto me dá um sorriso torto. “Como você está
sendo idiota?”
Olho para Zac, já que ele fez a pergunta. Então olho para
o meu primo porque ele sabe, desde que eu expliquei. Eu quero
lembrá-lo como me sinto sobre ele? Absolutamente não. Mas
não parece que eu tenha mais escolha, caramba. “Por ter
sentimentos e deixar as coisas estranhas, mas prometo que já
conversei com Boogie e lhe dirá que não há nada com que se
preocupar, porque vou superar isso em pouco tempo.”
“Superar?”
Por que Zac está parecendo sufocado?
Meu primo sorri, depois bufa e se vira, dizendo por cima
do ombro: “Bianca estava dizendo mais cedo que ela pegaria
alguns cães ou gatos e seria um puma algum dia. Você está
por sua conta com isso. Obrigado por aparecer por um minuto
inteiro para me ver. Você é um amigo de verdade.”
Isso faz Zac bufar de novo. “Vejo você amanhã.”
“Qualquer coisa que você diga.” Meu primo ri mais uma
vez, indo direto para a pista novamente, balançando a cabeça.
“O que foi aquilo?” Murmuro para o que ainda está
segurando meu antebraço, confuso. “Quem bateu em você?”
Ele... começou a namorar alguém? Ele começou a ver alguém
nas últimas duas semanas?
É a vez de Zac rir quando puxa meu braço, dando um
passo para trás. As olheiras sob seus olhos são mais aparentes
quando ele inclina a cabeça para olhar para mim, outro grande
sorriso em seu rosto. “Eu estava falando sobre você, garota.”
Por um momento, sinto como se tivesse caído no tempo e
no espaço antes de resmungar: “Eu?”
Ele assente, puxando meu braço para segui-lo, e eu o
faço... principalmente porque mal posso sentir minhas pernas
e estou começando a questionar se isso tudo é real ou não.
“Sim, você. Quem mais?”
Ele está me levando em direção à saída, o que imagino
que não seja estranho ou inédito. Ele só quer um pouco de
privacidade? Para falar comigo sobre...
Espera aí.
Eu repito algumas das escolhas de palavras que eles
usaram durante a conversa e penso mais sobre elas quando
Zac empurra as portas, mantendo uma aberta para mim antes
de deixá-la fechar atrás de nós. Estava tão preocupada com o
fato de eles ficarem chateados um com o outro que fiquei mais
focada em cada palavra que eles usaram do que em toda a
mensagem.
Mas agora...
“Zac?” Pergunto conforme ele me leva em direção ao seu
carro.
“Sim?”
Ele destrava as portas e também abre a porta do lado do
passageiro. Paro ao lado do carro, inclinando a cabeça para
encontrar aqueles olhos super azuis que parecem brilhar
mesmo sob as luzes da rua. Ele está sorrindo, lenta e
preguiçosamente. Ele não parece mais nervoso ou cansado.
Zac parece... bem, ele parece vivo e brilhante e... determinado
e aliviado.
“O que era o inevitável de que você estava falando?” É a
primeira coisa que consigo perguntar.
Sua expressão — aquela que me faz sentir como se não
houvesse nada no mundo que possa ser tão ruim se ele estiver
por perto — não chega a lugar algum quando sua mão pega a
minha mais uma vez. Possessivo, protetor e firme, ele a pega
por inteiro. E inclina a cabeça para o lado, aquele sorriso de
Zac me fazendo subir até a ponta dos meus pés em
antecipação. “Você, garota, o que mais?”
Eu quase desmaio.
E ele percebe o meu quase desmaiar, porque ri todo
intenso e perfeito. “Vamos. Entre no carro. Temos que
conversar.”
Entro no carro, principalmente porque não tenho certeza
de que meus joelhos me sustentarão por muito mais tempo.
Também porque não tenho certeza de que não irei desmaiar,
bater a cabeça no espelho lateral e esquecer tudo o que acabou
de acontecer. Pelo menos as partes que posso compreender.
E esse tolo ainda está sorrindo quando fecha a porta
depois que entro, e está sorrindo enquanto sobe atrás do
volante e liga o carro. Tudo enquanto eu vacilo. Atingida. Presa.
Espantada. Aterrorizada. Confusa também.
Principalmente confusa.
Ele... Ele...
Respiro fundo pelo nariz e coloco meus pensamentos em
ordem quando ele liga o carro e vira-se para mim.
“Zac?”
Ele parece tão sério. “Sim, querida?”
Não consigo olhar para o rosto dele enquanto pergunto
isso, então me concentro na tela do console enquanto pergunto
com uma voz firme: “Você... você...?” Eu mal consigo pensar
nas palavras, muito menos dizer em voz alta. “Você está...?”
Eu não consigo parar de gaguejar. Porque não consigo
entender o que ele está tentando sugerir.
Ele faz um som suave pelo nariz. “Você roubou meu
coração, fugiu com ele e disse te vejo mais tarde? Porque a
resposta é sim.”
Eu realmente estou prestes a desmaiar, e leva tudo em
mim para sussurrar: “Não, de verdade.”
“Estou sendo sincero”, ele responde facilmente, um canto
da boca enrolado em um sorriso preguiçoso. “E pensei sobre
isso. Acho que aconteceu em algum momento entre você me
dando aquela conversa horrível sobre o velho Zac chutando a
bunda desse Zac e você jogando bombas em mim, eu diria.”
Ele está dizendo...
Ele está tentando me dizer...
Forço minhas pálpebras a não piscar, penso um pouco
mais e pergunto novamente. “Zac?”
Ele se recosta na porta e cruza os braços sobre o peito,
parecendo presunçoso, gostoso e ainda aliviado. “Sim,
querida?” Ele pergunta com tanto amor e paciência, que não
sei mais o que fazer com isso.
“Por que você realmente está aqui?”
“Porque eu te amo”, responde Zac.
Eu desvio o olhar novamente. Não vou olhar para ele. Não
posso. Mas direi a verdade. “Você literalmente me disse que
nunca pensou que se apaixonaria porque nunca seria capaz
de confiar em alguém o suficiente para fazer isso”, admito,
desejando que meu coração seja razoável. Seja esperta. Não
dispare e comece a imaginar todo tipo de merda quando é mais
esperta que isso.
Ele faz um som divertido que só faz meu coração cair. “É
verdade.”
Pisco e me viro para ele novamente.
“Mas...” Ele para.
Enfio os dedos sob minhas coxas.
“Você não é apenas 'alguém', é, garota?”
Que merda ele acabou de sugerir?
E continua falando. Porque não consegue ler minha
mente. Seus braços se cruzaram, e ele se senta ereto no
pequeno interior de seu carro chique, sua cabeça a milímetros
de roçar o teto enquanto aponta aquele olhar direto para mim
com a força de mil faróis. “E não houve me apaixonar por você,
Bianca. Eu apenas fiz. Simples assim, sabe? Te amei, quero
dizer. Foi como disse a Boog, você se escondeu atrás de mim
quando eu não estava olhando e me deu uma surra até eu não
ter escolha a não ser vê-la. Ver quem você se tornou. Ver quem
você será. Ver me surpreende, garota. Você vai dominar o
mundo um dia e quero estar lá para vê-la. Quero estar lá para
ajudá-la da maneira que puder. Amar você é a coisa mais fácil
que já fiz, e é a coisa mais fácil que vou fazer. E apenas sei
disso.” Ele faz uma pausa e suas sobrancelhas se erguem ao
mesmo tempo que seus ombros. “Eu nunca disse isso assim
para ninguém antes, e fiquei um pouco assustado, mas achei
que nada poderia ser pior do que não dizer e você sair, e uau...
isso realmente parece certo. Muito certo.”
Prendo a respiração e juro que posso ouvir meu coração
bater. Talvez até o dele também. E então, sinto que ele pode ler
minha mente porque ele sorria para mim, e é terno e diferente
e algo que lembrarei pelo resto da minha vida.
“Eu senti sua falta”, ele diz, olhando diretamente para
mim.
Sim. Vou desmaiar.
“Zac?” Sussurro.
“Sim, querida?”
Se não vomitar, vou desmaiar. Talvez vomite e depois
desmaie. Talvez suje minhas calças também. Quem sabe?
Mas não sou covarde. E tenho que saber. Preciso. “Você
tem certeza de que... realmente se sente assim por mim?”
Pergunto, engolindo em seco. “O suficiente para dizer isso?
Para Boogie? Porque há amor de amigo e há...”
Sua mão pousa na minha coxa. Inclino meu queixo,
fazemos contato visual. “Mais seguro do que eu estou de
qualquer coisa.” Ele aperta minha perna. “Mais seguro do que
estou de mim mesmo. Era o que eu queria lhe dizer naquele
dia em que você partiu, mas não sabia como. Eu nunca iria
querer fazer você escolher, e acho que estava preocupado que
você escolheria Boogie. No momento em que cheguei em casa,
pronto para dizer para você me dar um tempo para resolver as
coisas, você tinha sumido.”
Eu me belisco no queixo apenas para ter certeza de que
não estou imaginando. E não estou. Dói.
E Zac vê isso porque ele ri, seu sorriso quente e eterno
enquanto seus dedos se movem para deslizar pelos meus. “Eu
não queria arriscar estragar o que consegui com Boogie, Bibi,
mas nessas duas últimas semanas sem você... eu tenho estado
infeliz. E queria você de volta. E senti falta de tudo em você. E
tive que pensar no que eu tinha para lhe oferecer quando você
já tem muita coisa acontecendo. Hoje finalmente fiz a última
coisa que preciso antes de poder falar com você sobre tudo.
Antes de sentir que merecia tentar.”
Aperto os lábios por cerca de uma fração de segundo, meu
nariz formigando. Meus olhos ardendo. Minha alma gritando.
“Bibi?”
“Sim, Snack Pack?”
“Você vai perguntar se tenho certeza que sou louco por
você?”
Esse idiota.
Isso finalmente me fez cavar fundo para descobrir como
me sinto. E há apenas uma resposta que posso dar a ele. “Não,
eu não estou pensando nisso. Por que você não teria?” Brinco.
E eu quis dizer isso.
Todos os pequenos sinais... aqueles que ignorei ou
considerei outra coisa — amizade, foi uma amizade profunda
e imutável — estiveram ali ao longo do caminho.
Como meu primo disse, ele não diria algo e não estaria
aqui se não estivesse falando sério. Eu conheço Zac como um
piadista, tanto quanto o conheço como o homem que
geralmente tem uma autodisciplina incrível e sonhos maiores
do que qualquer coisa. Ele é um homem que conquistou a
amizade e devoção das pessoas.
Ele sabe o que quer da vida mais frequentemente do que
não sabe. Mas, às vezes, todos nós precisamos de um pequeno
empurrão. Se é um gentil ou um empurrão duro é a questão.
E seu sorriso naquele momento é tão largo quanto o
Texas. “E aqui estava eu pensando que teria que fazer uma
lista de razões pelas quais eu sou”, ele diz, divertido, com tanto
carinho que ameaça partir meu coração ao meio.
Mas apenas ameaça, porque não me assusto facilmente.
Estou acostumada a receber essas pequenas chances
microscópicas e a me virar com elas. Tudo o que preciso em
qualquer coisa é uma oportunidade e minha bunda gananciosa
leva tudo.
Porque ele se importa comigo.
Ele está aqui nesta noite, antes do jogo, porque sente
minha falta.
Porque disse que me amava.
Porque eu importo.
São todas as coisas que eu sabia, mas de uma maneira
diferente. Uma maneira muito diferente. E eu queria tanto isso,
mas nunca pensei seriamente que era uma possibilidade.
Mas é claro que era. Deveria ter sido sempre. Ele pode
fazer muito pior do que eu.
“Não”, digo a ele, estendendo a mão pelo console e dando
um tapa no nariz dele com a mão livre, mesmo que trema. “Eu
acredito em você.”
E tão rapidamente quanto aquela alegria sutil surgiu
dentro de mim, vai embora.
Porque lembro.
Lembro do que diabos me levou a vir até aqui. Passar
duas semanas olhando apartamentos. Ter passado meu Dia de
Ação de Graças sentindo sua falta. Ter minhas pessoas
favoritas me atormentando na cozinha da minha irmã.
Meu humor cai apenas. Desse. Jeito.
Afasto a mão como se ele tivesse me queimado, e sua
expressão feliz desaparece instantaneamente. “O que é?”
Colocando minha mão debaixo da perna, digo a mim
mesma para ser adulta e apenas... dizer. “Você está sendo
muito gentil comigo e dizendo tudo isso, e... e... é mentira.”
“O que é mentira?”
“Isto. O que você está dizendo.”
Aquele seu olhar de olhos azuis se estreita. “Não, não é.”
Eu balanço a cabeça um pouco sarcasticamente, um
pouco mesquinha. “Bem, sim, meio que é.”
“Diga-me por que pensa isso.”
“Porque... duas, três semanas atrás, você deixou uma
garota sentar no seu colo e empurrar os peitos dela na frente
do seu rosto. Se é assim que você pensa que deveria amar
alguém, está fazendo algo errado. Sei que você disse que é
novo, mas não é burro.”
Ele pisca uma vez. “Não, eu não fiz isso.”
“Sim, você fez. Eu vi a foto, Zac.”
Sua testa se enruga, e ele está franzindo a testa enquanto
suas duas mãos seguram as minhas. Aquele belo rosto de
príncipe da Disney está carrancudo, provavelmente o mais
profundamente que eu já vi nele. “Não, eu não fiz isso.”
Ele está negando.
Olho para ele, sabendo sem dúvida que ele não mentiria.
Não para mim. Não sobre algo assim. Eu sei.
Então, o que diabos isso significa? Eu sei o que vi. Eu não
imaginei essa merda. Eu vi a data em que ela postou.
“Eu não fiz isso, querida. Nem sei do que você está
falando. Eu não tenho nenhuma garota perto do meu colo em...
eu não sei quanto tempo. Desde sempre.” Sua carranca fica
ainda mais feroz. “Desde antes de você aparecer. Mais tempo
que isso.”
Quero franzir o cenho para ele ou pensar que isso é
mentira ou pelo menos afirmar que é, mas... eu conheço essa
pessoa. Eu o conheço bem. Melhor que qualquer um.
Olho para o rosto dele, para o seu rosto bonito e perfeito
parecendo confuso e preocupado, e aquela ponta afiada de
ciúme e raiva vacila bastante.
“De que foto você está falando?”
Prendo a respiração um pouco. “Uma mulher postou uma
foto dela sentada no seu colo.”
“Quem?”
“Eu não sei. Uma garota no Picturegram.”
Ele nem parece pensar nisso. “Mostre-me.”
Eu penso sobre isso, pondero e balanço a cabeça. “Eu não
salvei nem nada, velhote. Não sou masoquista. Ela postou no
dia seguinte ao surgimento de seus amigos. Trevor também
viu.”
Ele pensa sobre isso. “O dia em que fui ao Amari’s?
Depois de sairmos com Aiden e Vanny?”
Fomos até o Amari’s? “Sim.” Sim, quando saímos com
Aiden, Vanessa e seus filhos. Mas no Amari’s?
Zac ainda está pensando nisso, enquanto balança a
cabeça. “Bibi, assistimos filme na casa dele. Fui à loja comprar
uma roupa nova e fui para a casa dele logo depois. Foi por isso
que ele ligou enquanto estamos com Van e as crianças para
nos convidar. Eu te perguntei, lembra? Sua mãe nos fez
comida. Eu estava cansado e desmaiei no sofá. A mãe dele era
a única mulher lá e provavelmente me daria um tapa se eu
pedisse para ela sentar no meu colo.”
Eu me sinto como uma idiota.
“O que você viu, querida, tinha que ser uma imagem
antiga. Foi por isso que Trev me ligou para reclamar? Dizendo
que eu preciso tirar minha cabeça da minha bunda antes de
arruinar minha vida?” Ele estende a mão e pega a minha, seus
dedos grandes e fortes em torno dos meus. “Eu juro que tem
que ser antiga. Essas garotas tiram fotos e as guardam por um
tempo e as compartilham aleatoriamente. Às vezes elas até
pedem uma foto, você diz que sim e depois vêm e sentam no
seu colo sem perguntar.”
Olho para ele. Ele aperta a boca quando seu olhar salta
de um dos meus olhos para o outro.
“Eu juro”, ele me diz, seu rosto sério. “Você sabe que eu
não mentiria para você, não é?”
Olho para o rosto dele, para aqueles olhos azuis por tanto
tempo que tenho certeza que ele está se contorcendo.
Seus dedos estão quentes ao redor dos meus. “Bianca...
eu sei que fiz algumas coisas no passado que gostaria que você
não soubesse, mas não sou mais assim.”
Bem, merda.
“Sim, sim. Eu sei que você não mentiria para mim. A
imagem parecia recente; por isso pensei... Você está sempre
cercado por garotas, Zac. E costumava sair o tempo todo.
Pareceu fazer sentido.”
“Eu costumava, sim, mas não quero mais isso. Só há uma
coisa que eu quero. Uma pessoa que me deixa mais feliz do que
um milhão de outras pessoas juntas”, ele diz. “Eu apaguei
todos esses números semanas atrás. E mudei meu número
para que ninguém ligasse. Não queria lhe dar um motivo para
ter dúvidas sobre mim. Quero que saiba que estou nisso de
verdade. Nenhuma dessas outras merdas já importou. Mas
você sim, sempre. E sempre vai.”
Eu respiro fundo.
“Tinha que ser uma imagem antiga, eu prometo”, ele jura.
“Eu sei que você acredita em mim.”
Eu acredito, e talvez de certa forma, devo estar feliz por
saber tanto sobre ele. Não há segredos deixados entre nós. Não
havia motivo para duvidar dessa coisa assustadora que parece
ter sido tirada dos meus sonhos e jogada no meu colo. Ele me
amar não é novo.
Mas esse tipo diferente de amor é. Amor 2.0. Mais como
Amor 5.0.
Eu não tenho motivos para duvidar disso. Ou dele.
E com certeza não vou correr.
Zac me ama. A mim.
E... eu vou explorar essa merda pelo resto da minha vida,
se eu puder. Talvez eu não tenha muita experiência como ele,
mas isso não significa que não irei aterrorizá-lo. Porque eu vou.
Porque eu posso.
“Eu acredito”, concordo. E levanto meu queixo e enrolo
meus dedos ao redor dos dele, pronta para isso. Estou pronta
para isso para sempre. “Só para ter certeza, se um cara postar
uma foto minha sentada no colo dele em um ano, também será
antiga, ok?”
Seus dedos estremecem, e eu quase rio do rosto incrédulo
que ele faz. “Que cara?”
“Um cara que não me lembro. Eu conheci muitos deles,
então...” Olho para ele com um sorriso.
Ele não está sorrindo.
Mas eu estou.
“Você não é engraçada.”
“Eu sou super engraçada.”
É a vez dele de desviar do olhar. “Você acredita em mim
então?”
Eu gemo. “Cara, eu disse que sim. Se você quiser que eu
finja que não acredito e rode a baiana, eu finjo.
E simples como isso, o seu sorriso está de volta, largo e
bonito e tudo no mundo. “Você vai fazer birra por mim?”
Eu balanço a cabeça, sentindo um sorriso rastejar no
meu rosto. “Apenas por você. Mas juro por Deus, se alguém
colocar os peitos na sua cara e você não os afastar
imediatamente, eu mato você, depois te trago de volta à vida e
te mato de novo. Eu já fui enganada e não vou passar por isso
de novo.”
“Eu nunca faria isso. Nunca.” Ele sorri, e isso cresce e
cresce, e a próxima coisa que sei é que ele está se inclinando
para frente e pegando minha mão, puxando-a em sua direção.
Me puxando em sua direção. “Venha aqui.”
“Por quê?” Pergunto a ele, embora não esteja lutando.
“Porque”, ele diz enquanto continua me puxando para ele.
Estou com a mão na coxa dele enquanto digo: “Só para
constar, você me disse que era louco por mim antes mesmo de
me beijar. E se eu não gostar do jeito que você beija?”
Ele ri com o rosto a centímetros do meu. “É com isso que
você está preocupada?”
“Quero dizer...” Dou de ombros, provocando o inferno fora
dele. É como o melhor dos dois mundos. “E se?”
Ele balança a cabeça, ainda sorrindo. “Você é uma piada,
garota.” Sua respiração escova meus lábios. “Vamos ver. Se
você não gostar, tentarei novamente até acertar. Não tenho
medo de praticar.”
Estou rindo quando ele se inclina, diminuindo a distância
entre nós.
E eu ainda estou rindo quando seus lábios roçam os
meus.
Finalmente.
Mas, no momento seguinte, eles estão me beijando. Eles
são meus, e eu sei que ele é meu. Porque ele sempre foi.
Acabamos por nos perder por um tempo, mas não voltaremos
a isso.
Sua boca está quente quando toca a minha. Suavemente.
Levemente.
Estou esperando por essa merda desde sempre. Meus
dentes pegam seu lábio inferior, puxando-o suavemente,
fazendo-o respirar fundo.
Alcançando-o enquanto eu me ajoelho no meu assento e
pairo sobre o console central, deslizo a mão pelo cabelo dele,
colocando a parte de trás da sua cabeça na palma da minha
mão e abro a boca, beijando-o lentamente de volta, como se
não houvesse outro lugar onde eu preferisse estar. Ninguém
mais que eu preferiria beijar.
Porque não há.
Ele se afasta um pouco. “Quem te ensinou a beijar
assim?” Ele pergunta, sua voz rouca.
“Pessoas”, brinco, roçando meus lábios nos dele.
Ele resmunga. E Zac... ele responde. Significativamente.
Sua mão vai para a minha bochecha, a outra passa a
envolver da minha nuca sobre o meu cabelo, e ele abre a boca,
sua língua roçando instantaneamente a minha, levemente na
primeira vez, depois mais profundamente na segunda. Ele é
quente e doce, e eu amo tudo sobre o gosto dele. Adoro a
maneira suave como ele move sua língua contra a minha, a
maneira como ele me segura lá.
Ele demora um pouco. Saboreando. Persistindo.
Seus lábios pegam os meu entre os dele, sugando-o
suavemente antes de roçar sua língua contra a minha
novamente.
Eu realmente amo o jeito que ele beija meu lábio superior
antes de fazer tudo de novo.
Zac beija e beija como se tivesse o dia todo. Como se não
houvesse mais nada que ele preferisse, e chupa minha língua
um pouco enquanto segura meu rosto naquelas mãos
tremendas e impressionantes. Lábios quentes e firmes
provocam os cantos da minha boca e queixo antes de pegarem
os meus mais uma vez.
Ele me ama, e se não tivesse basicamente dito as
palavras, eu seria capaz de dizer.
Porque ninguém nunca me beijou assim antes, e tenho a
sensação de que ninguém mais o fará.
Não, não é uma sensação. É uma certeza. Ele é meu
passado, mas também é meu futuro.
Zac ronrona profundamente em sua garganta, o som
suave e tão satisfeito. Seus lábios roçam a ponta do meu
queixo enquanto ele murmura, quase sonolento. “Mmm,
querida. Você será o meu maldito fim; Eu já posso dizer.”
Eu me afasto um pouco e sorrio para ele, lambendo meus
lábios porque, sim, eu poderia beijá-lo o dia todo. Ele é bom
nisso. Ótimo nisso.
Mas não vou contar isso a ele.
“Sim, acho que precisamos praticar um pouco mais
primeiro”, digo a ele.
Sua risada me faz sorrir contra sua boca quente e
maravilhosa. “É? Você acha?”
Balanço a cabeça, inclinando-me para beijar seu queixo,
amando a sensação das cerdas de seus pêlos faciais nos meus
lábios e a sensação de sua coxa sob a minha mão. “A prática
leva à perfeição.”
Ele me dá um beijo no nariz. “Perfeição parece divertido.”
Eu o observo então, quando seu rosto paira tão perto, sua
mão acariciando meu ombro até o meu braço.
“Estamos bem por enquanto?” Ele pergunta.
“Por enquanto?”
“Sim, ainda precisamos conversar sobre algumas outras
coisas.”
Precisamos?
“E quero te mostrar uma coisa.”
Faço meus olhos se arregalarem. “Eu quero ver, mas tudo
bem, pervertido.”
Zac começa a rir. “Eu não estou falando sobre isso... mas
isso também.”
Eu bufo, e ele ri.
“Você vai para o jogo, certo?”
“Sim.”
“E vai me deixar te mostrar uma coisa depois?”
Prendo a respiração e assinto antes de me inclinar para
ele e escovar meus lábios nos dele mais uma vez. Porque eu
posso. Porque ele quer que eu faça isso. E se eu duvidasse, o
gemido baixo em sua garganta e a mão que ele usa para
segurar a parte de trás da minha cabeça teriam confirmado
isso para mim.
Então digo a ele: “Sim.”
Seus lábios pegam os meus mais uma vez, e então ele
sussurra: “Bom.”
“O que em nome de Deus está na sua cara?”
Eu me viro completamente e sorrio para Trev nas
arquibancadas atrás de nós, sentado no final da fila em que a
Sra.Travis e Paw-Paw estão.
Eu já tinha dado um abraço em Paw-Paw e na Sra. Travis.
Boogie me mandou uma mensagem quando ele estava a
caminho com eles, e fui esperar pela chegada deles, antes de
liderar o caminho de volta pelas escadas para tentar impedir a
queda de Paw-Paw, se ele perdesse o equilíbrio.
O homem mais velho riu agradável e profundamente
quando percebeu que era eu ali de pé para cumprimentá-los.
Levanto as duas mãos, giro o bigode azul falso que Connie
colocou no meu lábio superior antes de sairmos de casa. “Eu
não sei, mas gosto”, diz Trevor.
O homem suspira e pega minha irmã quando ela se vira.
Todo o seu rosto está coberto de tinta azul — em vez de
vermelho como o meu — e ela tem um bigode branco assassino
que se enrola nas extremidades a meio caminho de suas
bochechas. Eu chamo de velho bigode de garimpeiro. O
marido, Richard, por outro lado, tem o rosto branco e bigode
vermelho. Nós somos trigêmeos. Apenas Boogie, que está
sentado na nossa fila, não tem nada no rosto. Ele está vestindo
uma camiseta da TRAVIS, enfiada em seu jeans perfeitamente
apertado. Connie e eu rimos dele e ele nos mostra o dedo do
meio.
Trevor balança a cabeça e poder até ter revirado os olhos,
mas isso me faz sorrir. Eu posso ter achado então, que não é
um revirar os olhos feio. É o olhar dele “Acho que posso
suportar você”.
Basicamente, ele realmente, realmente gosta.
Connie me dá um soco no braço e me viro para olhar para
Boogie, com quem realmente não tenho a chance de conversar
desde a noite anterior, quando nos vimos pela última vez. Só
conseguimos um abraço quando o encontrei na barraca de
vendas, porque fiquei muito ocupada conversando com Paw-
Paw. Ele está olhando para frente e eu o cutuco com o cotovelo.
“Boog?”
Ele está pensando em Zac e eu?
Meu primo me cutuca de volta com o cotovelo. “Estou
bem”, ele responde, ainda olhando para frente, como se
soubesse exatamente o que estou pensando.
“Você tem certeza?” Sussurro para que minha irmã,
esperançosamente, não possa ouvir. Não tenho certeza do que
faria se ele dissesse que não está bem, mas... só posso esperar
que ele não estivesse mentindo ontem à noite.
Eu repassei as partes da conversa que ele e Zac tiveram,
pelo menos as partes que consegui reter, e isso me manteve
acordada por algumas horas depois que voltamos à Connie’s.
Boogie pareceu bem depois que voltei para o boliche, uma vez
que Zac saiu, mas eu não queria apertar os botões dele mais
do que potencialmente já tínhamos feito. Minha boca formigou
por um tempo depois que ele me deu um beijo de despedida.
Zac e eu ficamos no carro dele por pelo menos meia hora
enquanto ele me contou sobre CJ — ele fez um bolo decente
enquanto eu estava fora — e algumas outras fofocas sobre
alguns outros jogadores que conheci na noite da festa de
halloween. Ele admitiu que Trevor foi quem comprou a
academia de Gunner depois que eu trouxe as notícias de
Deepa. Aparentemente, a academia foi um bom investimento.
Ele até disse que Enzo — o homem que esteve na festa de
Halloween com Jessica — o procurou e pediu desculpas por
suas ações. Eles são casados, mas aparentemente não por
muito mais tempo. Tinha que haver mais nessa história, mas
Zac não perguntou. Eu não o culpo.
De qualquer forma, ficar sentada em seu carro e
conversar com ele acabou por cimentar o fato de que ele não é
apenas meu melhor amigo, mas que eu o amo de todo o
coração.
E se ele também me ama — o que parece absolutamente
que sim - então preciso me agarrar a isso com as duas mãos e
nunca largar. Talvez seja tudo novo, fresco e maravilhoso, e
talvez eu devesse estar em choque total — estou apenas na
metade disso — mas a verdade é que eu vejo. Eu posso sentir
isso. Então o que vou fazer? Não aceitar?
Inferno que não.
Mas, acima de tudo, eu amo Boogie, e Boogie me ama.
Não quero escolher, e espero que ele nunca me peça,
principalmente quando ele ama a mesma pessoa que eu.
Meu primo me olha por cima do ombro, dando-me um
sorriso que é um pouco relutante, mas apenas um pouco. “Eu
me preparei mentalmente para a possibilidade disso quando
você tinha dezessete anos”, ele admite. “Então vocês dois
pararam de se falar, e me esqueci, e estive tão ocupado, que
esqueci. Não prestei atenção.”
Eu pisco. “Sério?”
“Sim.” Ele me cutuca novamente. “Ele sempre te amou e
se preocupou com você, B. Assim como você.” Ele dá de ombros
e revira os olhos antes de me deslizar outro olhar e outro
cutucão. “Eu não tinha certeza de que isso iria acontecer, sabe,
mas até Laurie trouxe isso à tona. Mamá Lupe disse alguma
coisa antes de morrer também. Não me lembro do que vocês
dois estavam fazendo, estavam pintando seu quarto ou algo
assim, e ele estava lá, e podíamos ouvi-los rindo, acho, e ela
me disse para não ficar com ciúmes — eu não estava com
ciúmes. B. Eu nunca tinha ciúmes de vocês dois. Nunca. E ela
disse que algumas coisas são apenas para serem ou algo
assim.”
“Pensei nisso naquela época. E assistia vocês dois, e sim,
vocês se davam tão bem. Pensei que, se algo acontecesse,
passaria muito tempo a partir de então, e que talvez nada
acontecesse de qualquer maneira. Ele não olhava para você
assim naquela época, mas eu sabia como você se sentia. E
acho que pensei um pouco desde ontem, quando você me
contou como se sentia e... acho que Mamá Lupe estava certa.
Algumas coisas são destinadas a serem assim. Quais eram as
chances de ele estar em Houston? Ele quase tinha ido a Dallas
para treinar. Esse era o plano até o dia anterior à sua partida,
e então ele mudou de ideia.”
O olhar sombrio de Boogie se move em minha direção e
ele ri um pouco. “Você nunca quis que eu falasse sobre isso,
mas ele perguntava sobre você o tempo todo, Peewee. Mesmo
quando pensou que você não queria mais ser amiga dele, ele
perguntava como você estava. Ele nunca se esqueceu de você.
Lembro-me, por um tempo, os sentimentos dele foram feridos
quando você perdeu o contato, mas então vocês dois saíram e
fizeram suas próprias coisas e pareceu que estava tudo bem.
Os ombros dele sobem. “Talvez ele não tenha entrado na minha
vida por mim. Estou começando a pensar que talvez fosse por
você.”
Eu vou precisar me deitar, já. Mas não há nenhum lugar
limpo, então terei que me segurar, mesmo quando meu mundo
balança um pouco naquele momento.
“Ou talvez ele devesse estar em nossas duas vidas.”
Boogie sorri.
“Mas você está bem com isso?” Pergunto a ele
calmamente. “Porque se não está...” Que diabos eu farei?
Implorarei? Suplicarei?
“Pare.” Boogie me dá outro olhar longo como se pensasse
que estou sendo uma praga. “Eu sei o que ele fez. Sei quem ele
é. E também te conheço. E acho que, se eu pudesse escolher
alguém para você, não seria Zac.”
“Quem seria?”
“Jesus.”
Eu me inclino contra ele enquanto bufo.
Ele me cutuca novamente com o cotovelo, mas a parte de
sua boca que posso ver está enrolada em um sorriso. “Mas
acho que ele seria minha segunda escolha. Eu sei que ele te
ama. Vi com meus próprios olhos nas últimas vezes que
saímos. Não queria ver, mas vi. Vi sim. Então ele vestiu a
camisa mais cedo, e se eu tivesse alguma dúvida, elas teriam
ido embora naquele momento.”
Ele viu isso?
Mas espere... “Que camisa ele está vestindo?”
Meu primo solta um suspiro quando puxa o telefone do
bolso. Um momento depois, ele tem o aplicativo TSN aberto e
um anúncio está sendo exibido. “Espere um segundo”, ele me
avisa quando olho para ele. É um pequeno vídeo antes do jogo
e, um segundo depois, as imagens mostram os jogadores que
entram no estádio.
O segundo que eles mostram é o único que importa.
E quando vejo o que Boog está falando, meus joelhos
ficam fracos.
Ele usa uma camiseta que nunca tinha vi antes — uma
azul com uma enorme fonte branca que diz “THE LAZY
BAKER”.
Eu. Ele está me vestindo.
“Entende?” Ele pergunta antes de me bater no quadril.
“Mas, na verdade, estou falando sério sobre essa regra básica,
então vocês dois precisam descobrir isso.”
“Obrigada por estar bem com isso”, consigo murmurar
enquanto continuo assistindo a tela do celular até que eles se
concentram em outro jogador chegando.
Ele fez a camisa? Ele encomendou? Não que importe, mas
não posso deixar de sentir essa incrível e esmagadora dose de
amor direto enchendo minhas veias com o que ele fez.
E ele não disse nada.
“O que vou fazer? Dizer a vocês para não serem felizes?
Amar você, B, é a coisa mais fácil do mundo. Ele nunca teve
chance”, diz Boogie, fazendo-me levantar o rosto para olhar
para ele e aquele rosto que realmente amo tanto. Esqueço Zac
e sua camiseta por um minuto. “Algumas coisas são sozinhas,
mas outras melhoram juntas, como queijo e hambúrgueres.”
Balanço a cabeça para ele, mantendo os olhos
arregalados para não chorar. “Cheeseburgers são incríveis.”
Meu primo sorri. Empurro seu ombro um pouco, e ele
empurra o meu de volta.
“Eu disse a Liz naquela noite, depois que você o deixou
no hospital, que seria apenas uma questão de tempo.”
Boogie e eu nos viramos para a fila acima de nós e
encontramos Paw-Paw com um sorriso no rosto. Foi ele quem
fez o comentário. Liz é o primeiro nome da mãe de Zac.
“Paw-Paw”, a Sra. Travis geme do seu lugar ao lado dele.
Ela tem uma tatuagem temporária na bochecha com o número
4 de Zac e a camisa dele por baixo da jaqueta.
O homem mais velho coloca as mãos sobre o peito,
cobrindo o logotipo do White Oaks da jaqueta grossa que veste.
“Eu disse isso. Não estou mentindo. A última vez que Zac
apareceu e ele nos contou tudo sobre Bianca, eu não disse isso
de novo?”
Ela solta um suspiro e olha para mim com um leve
sorriso. “Você disse.”
Oh cara. Eu nem pensei em ficar quieta ou contar a Paw-
Paw ou a Sra. Travis sobre... nós — não quando foi ontem que
ele disse alguma coisa.
Talvez Zac quisesse contar a eles? Talvez... ele não
quisesse que eles soubessem?
Nah.
Bem, agora é muito tarde agora.
Cruzando as mãos, olho para os dois com esperança no
coração. “Vocês dois estão bem comigo e Zac nos vendo?”
“Vocês vão fazer mais do que se verem”, minha irmã
zomba baixinho enquanto finge olhar para o campo, mas eu
não desvio os olhos dos dois membros da família Travis. E a
chuto na perna.
“Sim”, confirma a Sra. Travis, aquele sorriso fraco se
transformando em um sorriso feroz. “E preciso de ajuda para
manter esse garoto na linha. Espero que você esteja pronta
para isso.”
Estou pronta para isso, e digo isso a ela com uma risada.
Um segundo depois, meu telefone vibra dentro do meu
bolso, e o tiro, imaginando quem estará me mandando uma
mensagem. Deepa?
O nome na tela me deixa congelada.
ZAC THE SNACK PACK: Você conseguiu?
Sorrio para minha tela.
Eu: Sim. Paw-Paw e sua mãe estão atrás de nós.
Eu: Connie colou um bigode no meu rosto, a
propósito.
Recebo uma resposta quase que imediatamente.
ZAC THE SNACK PACK: Um bigode??
Eu: Um azul. Acho que Trevor pode ter feito o sinal da
cruz quando o viu.
E aparece que ele está digitando uma resposta antes
mesmo de eu clicar em Enviar no meu segundo texto.
ZAC THE SNACK PACK: Sempre tive uma coisa por
bigodes
Eu rio.
Eu: Você vai ter uma surpresa, então. É uma boa.
Eu: Além disso, você vai se sair bem hoje. Estou tão
orgulhosa de você e todos os outros também.
Eu quase espero não receber uma resposta dele, mas meu
telefone vibra após cerca de um minuto com um novo texto.
ZAC THE SNACK PACK: Nesse caso, vou me esforçar
ainda mais para não decepcionar todos vocês.
Meu coração aperta.
Eu: Você nunca poderia nos decepcionar. E mesmo
que não ganhe e o time não vá aos playoffs, você ainda será
convidado a ir à Disney World comigo quando eu
reprogramar minha viagem.
ZAC THE SNACK PACK: Você só deve ir lá se ganhar
tudo.
Eu: Você está ganhando apenas por estar onde está
agora.
O ícone de digitação fica na tela por quase um minuto
antes de eu receber outra mensagem.
ZAC THE SNACK PACK: Você está certa.
ZAC THE SNACK PACK: Siga Trev depois do jogo, ok?
ZAC THE SNACK PACK: Te amo criança
“Amo você, criança”, ele diz como se tivesse dito isso
centenas de vezes antes.
O que ele disse.
Mas vejo na mensagem dele agora. A diferença. E não
tenho certeza de como posso explicar a nuance, mas está lá,
tão diferente quanto dia e noite.
Ele me ama. Eu. E ele quer dizer isso.
Penso nisso até que ele está correndo para o campo com
seus companheiros de equipe — alguns dos quais também são
meus amigos agora — para jogar outro grande e importante
jogo que a maioria dos comentaristas aponta a favor dos Three
Hundreds, porque eles foram um pouco melhor na temporada.
Zac é bom demais para esfregar algo no rosto de alguém—
bem, na maioria das vezes — mas espero que eles chorem
lágrimas silenciosas quando os White Oaks vencerem.
Fico parada na arquibancada com meu primo de um lado,
minha irmã e Richard do outro, e a mãe, Paw-Paw e o
empresário de Zac diretamente atrás de mim, torcendo tanto
quanto todos no estádio enquanto o jogo se prepara para
começar. E ficamos assim por um longo tempo.
Por todo o jogo.
Porque é estressante pra caramba. Os Three Hundreds
estão querendo provar um ponto. Infelizmente para eles, o
mesmo acontece com os White Oaks.
Por três quartos, as equipes estão quase cabeça a cabeça.
Os Three Hundreds marcam pontos e os White Oaks fazem o
mesmo. Todos os torcedores no estádio gritam no campo por
ataques, perdas de bolas e interceptações.
E então, com menos de cinquenta e cinco segundos
restantes no relógio, Zac e Amari conseguem.
Eles marcam.
Eles vencem.
ELES GANHAM.
E quase todo mundo fica maluco.
Boogie e eu nos abraçamos, e tenho certeza de que
Connie e eu nos abraçamos enquanto pulamos para cima e
para baixo. Richard e eu nos abraçamos pelos ombros e
gritamos um no outro, tão alto que os tampões eu coloquei no
início do jogo não servem pra nada muito. Eu abraço Paw-Paw
e a Sra. Travis também. Ele tem lágrimas nos olhos, e está
chorando, então eu a abraço novamente.
É então que Trevor me agarra pelo pulso e faz uma careta
para me dizer para segui-lo. Aponto para a família Travis, mas
Paw-Paw me faz sinal para ir sozinha. Trev me leva através de
um labirinto de pessoas, em torno de uma barricada, descendo
algumas escadas e através de um posto de controle enquanto
os fãs do White Oaks estão ficando loucos por sua vitória.
É um passo mais perto dos playoffs.
“Bianca!” Uma voz grita ao redor do segurança.
É Zac, segurando o capacete em uma mão enquanto um
jogador após o outro passa por ele, dando um tapa em seu no
ombro, gritando e berrando enquanto descem o túnel escuro
pelo qual nos aproximamos. Seu rosto está rosa e seus cabelos
estão emaranhados na cabeça, mas ele parece feliz, vivo e
incrível.
O que eu lembrarei pelo resto da minha vida é encontrá-
lo no meio do caminho e como ele me segura com os braços
amarrados embaixo da minha bunda depois que me puxa para
eles, sorrindo tão largo quando eu o abraço e beijo suas
bochechas e sua boca e suas bochechas um pouco mais.
“Eu sabia que você faria isso! Eu sabia que você ia fazer
isso!” Digo a ele, pressionando minha boca contra sua orelha
úmida para que eu não tenha que gritar em seu rosto pelo
barulho ensurdecedor dos fãs ainda enlouquecendo.
Ele se afasta um pouco e sorri para mim, o maior sorriso
até hoje, provavelmente já existente. Sua mão se move, e ele
apalpa minha bochecha enquanto seu olhar viaja pelo meu
rosto pintado, aquele sorriso perfeito ainda lá. Tudo para mim.
“Como estou?”
Ele passa a ponta do dedo sobre o meu bigode falso.
“Como a melhor coisa que eu já vi.”
E então ele me beija novamente.

***

Horas mais tarde, depois que ele teve que me deixar ir —


depois de beijar meu rosto mais vezes, embora eu o avisasse
sobre o meu sangramento na pintura do rosto — e depois de
uma entrevista após a outra, Zac comemora com sua equipe
no vestiário enquanto o resto de nós vai até a casa de Trevor.
A família Travis, Connie, Richard e Boogie esperam por ele lá.
Comemos a comida que Trev pediu e devoramos o bolo
comemorativo. CJ saiu com alguns dos outros jogadores do
time, mas Zac não.
É só depois que Connie volta para o hotel e Boogie decide
voltar para Austin para que ele não deixe Lauren sozinha por
mais tempo do que o necessário, que Zac agarra minha mão e
pergunta se quero ir procurar algo com ele. Sua mãe e seu avô
apenas sorriem e acenam.
Eu cumpro minha promessa e digo que sim.
Nada poderia ter me preparado para a viagem de três
horas e meia que nos leva terrivelmente perto de Liberty Hill.
Eu nem percebo há quanto tempo estamos no carro, porque
estamos muito ocupados conversando sobre o jogo e quão
incrível foi e todas as outras pequenas coisas que haviam sido
ditas no vestiário antes e depois.
“Você está planejando me levar para o meio do nada e
desovar meu corpo?” Pergunto quando ele fez uma curva
acentuada à direita em uma estrada de terra que não vi até o
último minuto.
“Hoje não. Talvez daqui a sessenta anos”, ele diz com um
sorriso que mal percebo graças à luz do seu painel.
Meu coração bate forte como uma criança que acabou de
saber que está indo para a Disney — não que eu saiba por
experiência própria, mas posso imaginar. “Ah? Sessenta
anos?”
Seu sorriso fica ainda maior quando ele nos navega pela
rua escura como breu. “Se você jogar bem as suas cartas,
talvez sejam setenta.”
Estou muito ocupada absorvendo a magnitude de suas
palavras para responder.
Ele olha para mim. “É demais?”
Demais? Aperto as mãos em punhos e as coloco sob
minhas coxas pela segunda vez em dois dias, mas desta vez é
porque... eu não sei o que fazer com elas, não porque quero
bater nele. “Não. É só que... não estou acostumada. Não parece
real, acho.”
“O que não parece real?”
“Vocês. Isto. Tudo.” Rio, sentindo-me nervosa de repente.
“Quero dizer, estou bem. Não estou reclamando, mas é
apenas... muito para absorver.”
Zac estende a mão pelo console e eu a pego, deslizando
minha palma pela dele.
“Ontem eu pensei que precisaria ficar longe por um tempo
para te esquecer, porque não havia como continuar com você
a alguns metros de distância e agora...”
“E agora estamos chegando ao que eu queria mostrar
para você”, ele me interrompeu com um aperto de mão
enquanto embica o carro em uma propriedade cercada com um
portão com cavalos.
Olho pela janela lateral, mas está escuro demais para ver
algo além de uma cerca branca ao longo dos lados do carro.
“Onde estamos?”
Mais à frente, os faróis iluminam uma casa de dois
andares cercada por um punhado de árvores grandes.
Olho para Zac e o pego olhando para mim com um
pequeno sorriso no rosto.
“Por que você parece nervoso?” Questiono.
“Eu não estou nervoso.”
“Essa é a sua cara nervosa, Snack Pack.”
“Não é minha cara nervosa”, ele tenta reivindicar.
Mas é a cara nervosa dele. Por que diabos ele está
nervoso?
Ele lentamente para o carro na entrada de cascalho e o
estaciona.
“De quem é este lugar?”
Ele ri quando desliga o carro. “Tantas perguntas. Vamos.
Venha comigo.”
Lanço outro olhar para ele, mas abro a porta e saio. Ele
já está circulando pela frente e, novamente, estende a mão
para mim. Sorrio para ele, sentindo-me nervosa, e a aceito. “Se
formos presos por invasão, vou culpar você, ok?”
Ele me puxa para mais perto e pressiona a boca na minha
têmpora antes de me levar para frente. Incapaz de ver muito
enquanto nos dirigíamos para a porta da frente, tropeço em
algo e apenas evito arrebentar minha bunda quando Zac
levanta meu braço com uma risada também.
“Você colocou aqueles saltos de novo?”
“Não! Talvez...” Eu rio enquanto coloco meus pés debaixo
de mim.
Ele pega o telefone e pisca a tela em direção ao chão.
Então lentamente olha de volta para mim. Se eu tivesse alguma
esperança de que ele não reconhecesse meus sapatos, elas
teriam ido para o inferno com o olhar que ele me envia.
São as mesmas botas que eu usei no dia em que fomos
para a casa mal-assombrada.
Sua boca se contrai.
Eu apenas pisco para ele.
Ele pisca de volta.
“Vamos entrar ou...?”
Ele balança a cabeça e não precisa dizer nada, enquanto
continuamos indo até a porta da frente e paramos lá. Usando
o telefone, ele ilumina a maçaneta da porta e vejo que há um
teclado acima da maçaneta. Ele aperta alguns botões e ele
destranca.
Zac me lança outro olhar quando abre a porta e apenas
alcança dentro, acendendo as luzes. “Vamos lá”, ele diz.
Então eu continuo. Zac me leva pela porta do vestíbulo
de paredes brancas e entra em uma área aberta, com uma
espaçosa sala de estar à esquerda, com uma parede cheia de
janelas, e à direita há uma cozinha grande, muito grande. A
primeira coisa que noto é a geladeira dupla, depois os fornos
duplos, uma ilha com uma linda bancada branca e um fogão
de seis bocas com acendedores vermelhos. E depois há os
armários de dois tons; os que estão contra a parede são
brancos e os inferiores são azul marinho.
“Oh, uau”, digo. “Este lugar é incrível.”
Os dedos que seguram os meus se contraem. “Você
acha?”
“Sim. Quero dizer, a casa de Trev é incrível, não me
interprete mal, mas esta...” Olho para ele com um sorriso.
“Esta é alugada por temporada? Sinto que não estamos tão
longe da casa de Paw-Paw, mas eu saberia se eles
remodelassem seu lugar.”
“Não, aqui não é do Paw-Paw”, ele confirma. Zac apoia o
quadril contra a ilha, cruza os braços sobre o peito e diz isso.
“Eu não quero que você se mude para Killeen.”
Pisco. “OK...”
Então ele assente. “Se você se mudar, eu vou com você.”
Eeeee eu congelo. O peso de suas palavras é como um
chute no estômago. “Do que diabos você está falando, Zac?”
“Se você se mudar para Killeen, Marrocos, Orlando... eu
vou com você.”
Meu estômago aperta de repente.
“Eu sei que você disse que isso é tudo novo e não parece
real e é muito rápido, mas... Bibi, eu sempre soube o que
queria. Talvez às vezes eu não pense direito e possa tirar onda,
mas uma vez que eu ponha a cabeça no lugar e decida algo,
vou fazer isso. E se eu aprendi alguma coisa nas últimas duas
semanas, é que não quero ficar sem você. Estou tão
apaixonado por você, garota, e quero estar onde você está.”
Ele se levanta de repente e vira aqueles olhos azuis claros
brilhantes para mim, suas mãos indo para os meus pulsos,
onde os engole, fazendo-os parecer pequenos. Ele respira
fundo e seus ombros caem. “Eu sei que você tem sua própria
vida, e sei que tem esses sonhos e planos para os quais não
precisa de mim, mas eu comprarei a melhor cozinha que puder
pagar se você não for embora.” Uma mão solta meu pulso, mas
tudo o que ele faz é esticar meus dedos e depois os esfregar.
“Se você ficar comigo. Se me der uma chance.”
Meu coração está batendo forte no meu peito a esse ritmo.
Em cerca de três segundos. Talvez dois.
“Zac...” começo a dizer.
“Eu não sei onde diabos vou terminar daqui a um mês ou
daqui a duas semanas, e me desculpe...”
“Zac”, tento interrompê-lo novamente.
Ele não me deixa. “Mas eu comprei este lugar. Fechei
negócio há dois dias. Há vinte e sete acres, muito espaço para
construirmos um estúdio para você ou algo parecido com o que
disse que queria. Não posso prometer que não terei que me
mudar no futuro próximo, mas quero ter algum lugar para
voltar para casa. Algum lugar que não vai a lugar algum.” Ele
mordeu o lábio inferior. “Se você não gostar de algo...”
“Zachary James Travis”, eu sussurro.
Ele para de falar e levanta as sobrancelhas. “Bianca Maria
Brannen.”
“Você me disse que me amava ontem e hoje está me
dizendo que comprou uma casa? Você me comprou uma
casa?”
Seu sorriso aparece do nada. “Espero que você me deixe
viver com você. Podemos economizar espaço e dividir um
quarto.”
Colocando as mãos nos ombros dele, vou até a ponta dos
pés, deixando a emoção de suas palavras penetrar nos meus
ossos, me esmagando, me dominando. Esse maníaco. Esse...
esse incrível psicopata. “Você nunca vai facilitar as coisas, não
é?” Suspiro.
“Não.” Ele sorri.
Suas mãos seguram minhas bochechas uma fração de
segundo antes que a boca — aquela boca — se assente na
minha. Não com um selinho que eu estou mais do que
esperando, mas como se ele estivesse nisso a longo prazo.
Porque é assim que acontece quase imediatamente depois
que ele me segura e roça sua língua na minha.
Eu escovo a minha contra a sua no mesmo instante,
amassando seus ombros e braços enquanto o segura perto.
Eu não consigo acreditar. Em nada disso.
Suas mãos se movem lentamente enquanto sua boca faz
o mesmo depois disso. Aquela boca quente roça suavemente
um dos cantos da minha, depois vai para minha mandíbula,
criando uma linha doce e perfeita antes de seguir em direção
ao meu pescoço. Eu o inclino para o lado para lhe dar um
melhor acesso, amando o jeito que ele mal roça a pele, tão leve
e úmida, que faz arrepios aparecerem nos meus braços e até
nas costas dos meus joelhos. E ele deve perceber o quanto eu
amo o que ele está fazendo e começa a chupar suavemente a
pele fina que parece ter uma linha reta nos meus mamilos.
Eu gemo e estou agradecida pra caramba por não haver
mais ninguém na casa.
Que posso tê-lo agora só para mim em um dia tão incrível.
Como posso não amá-lo? Não o querer? Eu quero pelo
que parecem capítulos na minha vida. E agora ele está aqui, e
suas mãos estão nos meus quadris enquanto ele chupa um
ponto após o outro ao longo da coluna da minha garganta,
convencendo meus mamilos a se endurecerem contra seu peito
quando me pressiono para mais perto dele.
É quando eu sinto. O comprimento longo e duro que está
preso dentro de sua calça jeans, dobrado contra sua coxa
enquanto eu achato nossos corpos juntos.
Zac está duro. Por mim.
E não preciso usar minha mão para saber que ele não é
apenas longo, mas ele também é grosso.
Merda.
Ele está escondendo um monstro ali, ao longo do seu
corpo forte, mas magro.
Eu vou escalá-lo como uma maldita árvore.
A cabeça de Zac se move quando ele belisca e chupa em
outro ponto do outro lado do meu pescoço, e enterro os dedos
em seus quadris, puxando-nos ainda mais juntos, ganhando
um gemido do homem. Ele recua, olhos escuros e quase
vidrados, e sei que não estou imaginando a respiração
profunda que seus pulmões estão puxando no segundo antes
de eu levantar meu queixo novamente e ele beijar mais meus
lábios.
E então são apenas mãos.
Minhas mãos de volta em seus braços, mantendo-o lá, na
minha frente, perto, depois minhas mãos de volta em seus
quadris, segurando-os contra o meu estômago enquanto ele
aperta seu pau lá. Então mais mãos, na minha bunda, coxas
e ele está me levantando. Enrolo as pernas em torno de seus
quadris, tão alto nele que a costura do meu jeans stretch é
pressionada contra a parte mais dura de seu abdômen inferior
enquanto nos beijávamos.
E nos beijamos.
E sugamos e mordemos em nossas bocas como se o
mundo fosse acabar se não o fizermos.
Aperto meus quadris contra seu estômago, braços em
volta de seu pescoço quando ele me beija e me beija um pouco
mais.
E recuo, respirando com dificuldade, para perguntar:
“Existe uma cama nesta casa?”
“Os donos anteriores deixaram uma, a cabeceira da cama
era pesada demais para movê-la.” Ele respira com força contra
minha mandíbula antes de pressionar aquela boca macia e
úmida logo abaixo da minha orelha enquanto responde: “Eu
não quero apressar você em nada.”
Ele não está me apressando na merda, e é isso que tento
dizer a ele antes de inclinar minha boca na dele, mantendo a
cabeça firme para que ele possa continuar me beijando.
Ele deve entender a mensagem porque começa a andar,
me segurando em seus braços, um braço musculoso enrolado
no meio das minhas costas e outro debaixo da minha bunda,
me segurando no lugar enquanto balanço meus quadris, com
certeza minha calcinha e calça jeans têm que estar molhadas
agora, querendo atrito e ele e tudo o mais.
“Eu te amo, Zac.” Sussurro contra sua orelha quando
tenho que me afastar para recuperar o fôlego e ele me abraça
ainda mais forte contra si, seu rosto dobrado contra a minha
garganta quando percebo que ele nos levou a um quarto
pequena com uma cama queen-size.
Ele cantarola contra minha camiseta, me apertando com
força enquanto diz em uma voz baixa e calma: “Você nem
sabe...”
“Você quer ficar nu? Porque também não quero apressar
você.”
Ele começa a rir. “Você vai me apressar?”
“Bem, somente se você quiser. Tenho certeza que deve
estar cansado.”
Zac me abaixa para o chão tão rápido que nós dois rimos.
Ele sorri antes de agarrar a parte inferior da camiseta e puxá-
la sobre a cabeça. Eu ainda estou rindo enquanto faço o
mesmo com a minha, jogando pelo quarto como se quanto
mais longe estivesse, menos chances houvesse de voltar a
colocá-la em breve.
“Mas sério”, digo a ele, parando enquanto desabotoo a
calça quando a razão realmente me atinge. “Sei que você não
dormiu o suficiente e não precisamos fazer nada.”
Zac vira-se para mim antes de se sentar na beira da cama
e deslizar para trás, sem camisa e bronzeado e tão
perfeitamente construído, eu não entendo por que ninguém
nunca o colocou em um anúncio de roupas íntimas. “Nós
podemos fazer o que você quiser, querida. Por que não vem
aqui por um segundo enquanto pensamos nisso?”
Pensamos nisso?
Sorrio e assinto.
E talvez eu esteja me precipitando um pouco, tirando
minhas calças, mas faço de qualquer maneira. Recebo um
pequeno murmúrio de Zac, o que me faz olhá-lo de lado
quando me levanto. “O quê? Não uso jeans quando vou para a
cama.”
Ele está esparramado no colchão, a parte superior do
corpo apoiada na cabeceira da cama — essa coisa grossa e
gravada com cavalos e cowboys que é bem épica — seu sorriso
preguiçoso, mas diferente quando seus olhos se movem sobre
mim em pé, de calcinha e sutiã. “Venha aqui. Venha sentar
comigo.”
Ele não tem que me dizer duas vezes. Eu me arrasto para
a cama, totalmente consciente do fato de que não pareço uma
supermodelo ou mesmo uma modelo aspirante, mas não me
importo. Levei meia hora para tirar a maquiagem do rosto, e
tenho certeza de que há manchas nas bordas, perto da minha
linha do cabelo. Uso um sutiã bonito e uma calcinha que não
exatamente combinam, mas estão perto o suficiente.
Mas o mais importante, posso ver a barraca em seus
jeans quando uma de suas mãos desce para o botão e abre. “O
quê? Não consigo dormir com eles abotoados”, ele fala com
uma piscadela.
Sorrio quando entro entre as pernas estendidas e
levemente abertas quando ele me alcança, levando-me para
perto dele, então meu quadril se acomoda ao lado dele, minhas
pernas entre a dele e a parte superior do corpo,
principalmente, compartilhando o travesseiro que ele apoiou
na cabeceira da cama. Sua mão não perde tempo indo para o
meu quadril e deslizando pelas minhas costelas enquanto ele
sorri para mim, calorosamente e com tanto amor, e não precisa
usar palavras novamente ou tão cedo para eu entendê-lo.
Seus dedos fazem cócegas na pele sensível das minhas
costelas enquanto ele as apalpa. “Isso é muito legal”, ele diz
enquanto sua mão oposta vai para minha coxa, seu polegar
traçando uma linha.
Coloco a mão em seu peito entre seus peitorais, sentindo
o cabelo claro sob meus dedos. “Isso é legal”, concordo,
levantando a cabeça para dar um selinho na garganta dele.
Sua pele está quente e macia.
Ele se vira e me beija, selinhos e beijos calmos e lentos
que tem sua língua mergulhando na minha boca, depois beijos
de boca aberta e mais beijinhos. Eu nem tenho certeza quando
isso acontece, mas em algum momento, minha mão está em
sua bochecha enquanto o segurava lá. E definitivamente não
tenho ideia de quando a mão dele desliza por baixo da minha
calcinha, a palma da mão segurando minha bochecha nua.
Mas no segundo que sei, no segundo em que percebo,
arqueio contra ele, querendo que ele me toque mais enquanto
nos beijamos.
“Eu já te disse o quão legal é isso?” Ele pergunta
enquanto arrasta os lábios para a minha garganta e me dá
outra leve chupada lá enquanto sua mão segura a parte mais
carnuda da minha bunda. “Você gosta? Do quanto eu amo
olhar para você?”
“Não. Você sempre pode me dizer de novo”, murmuro,
arrastando a mão entre seus peitorais até chegar ao centro do
seu abdômen duro e musculoso antes de fazer uma linha de
volta.
Então ele me beija mais, e nem tenho certeza de quando
sua mão levanta minha perna direita ainda mais alto, de modo
que ela está presa sobre seu quadril oposto, minha perna
esquerda ainda descansando entre suas coxas. E a próxima
coisa que sei, estou me inclinando sobre ele, beijando-o, minha
perna inquieta enquanto esfrega contra ele e parte de seu
jeans. Seus dedos se movem, deslizando cada vez mais baixo
até que as pontas deles roçam meus lábios inferiores, macios
e quase parecidos com penas, da parte de trás indo para a
frente.
Eu gemo quando eles voltam na direção em que vieram.
Arqueio meus quadris, tentando obter mais de seu toque
enquanto ele roça minha costura, de trás para frente e de
frente para trás, enquanto continuo tentando segui-lo. Eles.
Os dedos dele.
“Você estaria bem com um pouco mais?” Ele pergunta
depois de afastar sua boca, seus lábios milímetros dos meus.
Tudo que posso fazer é assentir, minhas palavras se
foram.
Ele balança a cabeça também, os olhos quentes, quando
um de seus dedos finalmente roça minha costura, deslizando
entre os meus lábios e apenas roçando levemente meu clitóris
enquanto faz isso. Tem que ser o dedo médio, porque o
indicador e o anelar ainda roçam as laterais antes que a ponta
mergulhe dentro. Apenas a ponta. Ele se move sobre a minha
costura novamente, deslizando e escovando, acariciando-me.
Então desliza um pouco mais do seu dedo, gemendo com o que
tenho certeza de que tem que ser eu super encharcada.
A cada passada, ele mergulha um pouco mais fundo até
que todo o dedo está enterrado dentro de mim, e estou
mexendo meus quadris, moendo contra ele quando empurra
dentro e fora, gemendo. “Puxa vida, Bibi”, ele sussurra,
bombeando mais forte.
Mordo seu pescoço e seu peito fica duro como pedra.
Ele sai de mim de repente e se contorce na cama,
encontrando meus olhos o tempo todo enquanto murmura:
“Venha aqui, querida.”
Sento instantaneamente e monto em seu estômago,
pensando que é isso que ele quer. Porque sei o que quero. Eu
quero tirá-lo da sua cueca e quero sentar nele.
E é exatamente o que digo a ele.
Seu gemido é longo e rouco, e tenho a sensação de que
irei me lembrar da maneira que soa pelo resto da minha vida.
“Você pode sentar no que quiser”, ele sussurra, “por quanto
tempo quiser, querida, mas sente-se aqui por um minuto, ok?”
Ele dá um tapinha no peito, a boca úmida dos nossos
beijos, o rosto, o pescoço e o peito corados.
E sei o que ele quis dizer.
Ele não tem que me dizer duas vezes. Estou doendo,
quente e molhada, e faria qualquer coisa que ele quisesse por
um minuto. Então pulo sobre ele; nervosa e animada quando
jogo minha perna sobre sua cabeça, e ele não espera. Ele puxa
minha calcinha para o lado. Quando inclina meus quadris, ele
deve me encontrar no meio do caminho, porque sua boca está
lá. Sua língua lá. Em toda parte.
Gemo de dentro da minha alma quando ele gentilmente
chupa um dos meus lábios em sua boca e depois o outro antes
de sua língua mergulhar em mim como seu dedo.
“Zac!” Eu assobio quando seus dedos se curvam sobre a
parte superior das minhas coxas, me segurando no lugar
quando ele de repente chupa meu clitóris.
Levantando os quadris, encontro seus olhos quando ele
olha para mim e pergunta: “Posso...?”
Aquelas mãos que amo vão para os meus quadris, me
levantam e me guiam pelo peito e pelos abdominais. Vou para
o zíper em seu jeans quando me inclino para frente e o beijo.
Minha mão se enfia em sua cueca, apalpando a base quente e
dura que tem seu pau dobrado ao longo de sua coxa e o puxo
para fora. Ele me deixa escorregar quando eu o agarro com as
duas mãos, absorvendo o pênis rosa profundo que é do
tamanho que eu imaginava.
Puxa vida. Ele é grande, porra.
E tudo o que ele me deixa fazer é envolver minha boca na
cabeça uma vez, dar uma chupada, antes de gemer: “Oh,
querida, querida, isso é tudo que posso aguentar.”
Eu o puxo para fora e sigo com os lábios ao longo dele,
polegada após polegada, quando ele ergue os quadris e sorri
para mim com um olhar louco no rosto.
“Não me envergonhe assim da nossa primeira vez, Bibi.”
Sorrio e lambo bem debaixo do topo da cabeça dele uma
vez, ganhando uma elevação de seus quadris. “O que? Você
prefere se envergonhar dentro de mim?” Eu o provoco.
Ele uiva quando suas mãos vão para minhas coxas e me
cutuca para frente, para mais perto dele. E eu vou.
“Eu não tenho camisinha, mas se você quiser montar
para cima e para baixo no meu pau...”
Eu o agarro, deitando-o contra o estômago bronzeado, e
monto em seu pau, deslizando minha costura ao longo de seu
órgão quente. Não quero mais esperar. E não preciso. “Não
acho que você precise de um, mas se quiser...”
Ele inclina a cabeça para trás, os tendões em sua
garganta flexionando quando eu me esfrego contra ele. “Juro
pela minha vida que fui testado quando entrei para a equipe e
nem sequer olho para ninguém desde muito antes disso, e
nunca deixei de usar...”
Debruço sobre ele, mordendo seu queixo antes de
sussurrar: “Eu também não, e tomo pílula. Tem certeza de que
está tudo bem?”
Suas mãos amassaram minhas coxas enquanto arrasto
minha costura ao longo de seu pênis um pouco mais, deixando
a base grossa brilhante e úmida. “Mais do que bem, querida,
por favor...”
Deslizo a mão entre seu pau e seu abdômen, levanto-o
direto no ar e coloco sua ponta dentro de mim. Apenas um
centímetro, um centímetro em que nós dois gememos antes de
ele se sentar e pegar minha boca. Eu levanto os quadris antes
de cair e tomar um pouco mais, agradecida por tê-lo chupado
um pouco, ainda mais feliz por ter esfregado minha umidade
nele. Lenta, mas seguramente, trabalho nele, provocando. As
mãos de Zac estão na minha bunda enquanto trabalho para
cima e para baixo em seu comprimento até que finalmente
estou em suas coxas e ele está me enchendo em todas as
direções. Ofego, e ele geme.
Então tudo fica descontrolado, eu mexendo meus
quadris, Zac levantando o dele com aqueles quadris fortes e
músculos abdominais. Meu clitóris esfrega contra seu osso
púbico. Ele me levanta e coloca minhas pernas em torno de
seus quadris, e então aqueles braços estão trabalhando, me
levantando e me deixando cair sobre ele, até a metade do
caminho e depois de volta. A maior parte do caminho desce e
depois recua para que apenas sua cabeça esteja dentro. De
novo, de novo e de novo outra vez.
Eu gemo em seu ouvido, e ele geme e grunhe, suas mãos
segurando minha nuca enquanto me segura lá contra ele.
Totalmente contra ele. O suor escorre entre seus peitorais,
molhando meu peito enquanto me movo para cima e para
baixo.
E posso sentir isso. Seguro minha respiração e apoio
minha pélvis contra ele, lá, ali, bem ali...
“Oh”, sussurro, pressionando a boca contra seu pescoço
enquanto grito, meu orgasmo rolando através de mim, me
fazendo pulsar em torno dele.
“Merda”, ele sussurra também, empurrando mais rápido
e me empurrando para baixo mais e mais rápido.
“Zac”, eu choramingo, apertando seus ombros com força,
desesperadamente.
Ele me segura apertado também, um braço passando pelo
meio das minhas costas enquanto monto seu colo. “Porra!
Porra!” Ele engasga, rosna e me segura enquanto seus quadris
diminuem, seus impulsos longos, e posso senti-lo pulsando,
pulsando quente e molhado. Os músculos de suas coxas estão
se apertando, como se estivessem espasmódicos, e tenho
certeza de que também posso sentir seus bíceps estourando.
“Oh, meu Deus”, ele sussurra em meus cabelos, meu
rosto ainda totalmente enfiado em seu pescoço úmido. “Acho
que você pode ter me matado”, ele resmunga. “Meus dedos
estão tendo cãibras.”
Eu bufo, esfregando minha mão para cima e para baixo
em sua espinha quando seu pau se contorce mais uma vez.
Zac desliza a mão pelas minhas costas, e se ele não
estivesse tão suado, eu teria ficado constrangida com o quão
suada tenho que estar também.
“Acho que não tenho mais porra em mim”, ele sussurra,
ainda sem fôlego.
Eu me afasto o suficiente para que possa olhar para o
rosto dele, levantando uma mão para enterrá-lo na parte de
trás de sua cabeça, enroscando meus dedos em seus cabelos.
“Vou ver.”
Ele joga a cabeça para trás com uma risada. “Não!”
Ele está sorrindo enquanto suas mãos acariciavam
minhas costas, costelas, quadris e de volta aos meus cabelos.
Ele me beija suave e docemente enquanto seu olhar se move
sobre o meu rosto antes de me abraçar novamente, peito
contra peito, com a cabeça encostada no topo da minha
cabeça.
“Snack Pack?”
“Hmm?”
“Eu não preciso de casas chiques ou cozinhas lindas, ok?
Ou esses grandes gestos como você dirigindo no dia anterior a
um dos maiores jogos da sua vida. Só quero você. Isso é tudo
que sempre quis. E não tenho essas expectativas loucas. Você
tem tanta pressão sobre você, e a última coisa que quero é ser
mais uma coisa em que deve trabalhar muito. Especialmente
agora, depois de hoje.”
Seu corpo fica tenso sob o meu, mas sinto sua mão
acariciar minhas costas lentamente, demorando um pouco.
Sua respiração está um pouco irregular, mas está lá, soprando
no meu cabelo. “Garota, olhe para mim.”
Eu me sento um pouco, só um pouco, para poder olhar
para o rosto dele, e sorrio para ele.
A mão dele acaricia minhas costelas; seu rosto está
decidido. “Vou lhe falar quantas vezes for necessário, porque
sei que você não ouviu o suficiente e merece, e porque também
gosto de dizer, certo? Você é importante. Você é importante
para mim mais do que qualquer jogo. Qualquer treino.
Qualquer coisa. Onde você for eu vou. Você nunca será algo
que tenho que agendar. Você nunca deixará de ser uma
prioridade para mim.” Ele se inclina para frente e acaricia meu
rosto então. “Você apareceu na minha vida quando eu mais
precisei de você até então, e vou precisar que fique por aqui o
resto dela.” Ele faz uma pausa. “Estamos nisso juntos,
entendeu?”
Eu entendi. Eu entendi muito bem.
E de alguma forma, consigo tirar um pensamento da
minha cabeça enquanto estou lá olhando para este homem que
adoro. Pelo qual eu faria qualquer coisa. Iria a qualquer lugar.
“Isso significa... você vai para a Disney comigo quando eu
reagendar minha viagem?”
Seu sorriso se suaviza, e ele pressiona a testa contra a
minha, as pontas dos dedos quentes fazendo cócegas nas
minhas costas. “Pode apostar nisso, garota.”
Cerca de dois meses depois, ele mantém sua palavra.
Vamos à Disney World.
Zac acena para as pessoas enquanto segura um troféu do
tamanho da minha sobrinha, e posso andar no carro alegórico
que ele está ao lado do motorista, aproveitando tudo.
Os jornais, analistas e comentaristas consideraram isso
a “maior perturbação da história da NFO”. Eu chamo isso de
Zac sendo sovina e sabendo que se ele ganhasse o maior jogo
de sua vida, poderia me levar de graça. Independentemente do
que alguém quisesse chamar, há uma coisa que sei com
certeza.
Às vezes, os sonhos realmente se realizam.
Um dos meus, por acaso, tem um metro e oitenta e
noventa e cinco quilos e tem a bundinha gostosa mais fofa do
mundo.
Ele tem um nome e é Zac.
E eu sei que isso é apenas o nosso começo.
Tento ficar o mais quieta possível enquanto entro no
quarto na ponta dos pés, segurando um copo de água em uma
mão e meu celular morto na outra.
Não quero acordar Zac.
Ele tentou ficar comigo, mas na segunda vez que eu o
encontrei com a cabeça caída para o lado, os olhos fechados
enquanto estava sentado no sofá do meu escritório, disse para
ele se deitar. E pela luz lateral que ainda está acesa e o tablet
deitado de bruços em seu peito, sei que ele ainda tentou me
esperar. Apenas quando não penso que possa amá-lo mais do
que já amo, ele faz coisas assim, ficando acordado quando sei
que está exausto.
Largando meu copo e colocando meu telefone para
carregar, sento na beira da cama e espio seu rosto perfeito e
adormecido.
Eu ganhei a maldita loteria com esse cara.
Ele parece tão doce e inocente com os olhos fechados. Tão
bronzeado como sempre, e ainda está rodeado com aqueles
músculos longos e magros que se esticavam e flexionavam a
cada um de seus movimentos quando está acordado. Sua
respiração está agradável e suave. Seus cílios estão compridos
contra as maçãs do rosto.
Sou tão suspeita, mas posso olhar para o rosto dele o dia
todo.
E com ele dormindo... bem, eu posso. Pelo menos sem ele
perceber e depois piscar para mim e me puxar. Parte de mim
meio que espera que ele acorde agora que eu pensei sobre isso.
Mas sei que ele precisa dormir.
Eu nunca diria a ele cara a cara, mas ele está demorando
um pouco mais e mais a cada ano para se recuperar depois de
um jogo. Ele acabou de chegar em casa essa manhã de uma
vitória em Oklahoma. Eu tive muito prazer com o White Oaks
chutando o traseiro do Thunderbirds na noite anterior.
Como tive toda vez que eles fizeram nos últimos cinco
anos. É uma profunda satisfação pessoal que penso que todos
nós que amamos Zac sentem quando o outro time perde. Até a
filha de Boogie correu pela sala dando “toca aqui” quando
todos assistiam o jogo em nossa casa na noite anterior. Eu
ainda posso ouvir Paw-Paw buzinando uma corneta.
Parte de mim não pode acreditar que ainda estamos em
Houston. Ou que Zac ainda está começando, não depois de
tudo o que aconteceu com ele durante a primeira metade de
sua carreira.
Então, novamente, a outra parte de mim — a maioria de
mim — pode acreditar. Facilmente.
Zac encontrou seus pés, seu lugar, e ele floresceu. Até o
comentarista da TSN, Michael B, que não fez nada além de
criticá-lo por mais tempo, canta seus elogios agora.
E Zac tem dois troféus enormes para provar que vale
todos os seus elogios.
Por outro lado, ele sempre valerá todas as palavras
positivas já ditas sobre ele — pelo menos eu penso assim. Eu
sou suspeita, embora.
“Mas nenhum deles é o meu trofeu mais importante”, ele
me disse piscando alguns meses atrás, quando os trancou no
cofre de nossa casa perto de Austin.
“Você está me encarando de novo, garota?” Zac boceja,
abrindo um olho antes de sorrir lentamente. Seus ombros se
curvam ao redor do queixo enquanto ele se estica um pouco.
“Você está bem?”
“Sim, apenas contando todos os cabelos grisalhos da sua
barba”, sussurro, tirando o tablet do seu peito e colocando na
mesa de cabeceira.
Ele ri enquanto se mexe mais profundamente sob os
lençóis antes de virar para o lado e levantá-los para eu me
esgueirar para baixo. Eu pego uma espiada de sua cueca boxer
preta e todas as belas e intermináveis linhas de seu corpo
quando entro, puxando meu travesseiro para mais perto dele.
Zac sorri para mim antes de bocejar novamente e desliza
também até ficarmos cara a cara em nossa cama. “Quantos
você contou dessa vez?”
“Eu perdi a conta depois dos cinquenta, velhote”, minto.
Ele ri quando se acomoda. “Você consertou seu site?” Ele
pergunta, referindo-se ao que eu estava fazendo no meu
escritório quando ele desmaiou.
“Sim, demorou muito mais do que eu esperava”,
respondo, deslizando um dedo na linha do seu nariz.
Aquela mão grande e quente dele se enrosca em meu
quadril talvez pela centésima milésima vez nos últimos anos.
“Bom. Você finalmente retornou para Trevor e disse a ele que
fará o programa?
O programa. Trevor.
Essa é outra coisa em que não posso acreditar, o fato de
Trevor agora também ser meu empresário. Meu agente e
empresário em um. Ele veio até mim com a proposta cerca de
um mês depois que Zac ganhou seu primeiro trofeu, semanas
depois de termos ido para Austin após nossa primeira viagem
à Disney. “Você tem potencial e eu tenho as conexões. O que
você acha?” Ele ofereceu. E eu dei o salto, confiando nele, e
posso honestamente dizer que não me arrependo muito...
somente quando ele me incomoda. E mesmo assim, não me
arrependo realmente, mais como aborrecimento temporário.
Mas definitivamente não me arrependi quando ele veio até
mim com uma oferta para eu julgasse em um programa de
culinária infantil para o Food Channel.
Nessa oportunidade, eu ainda não consigo acreditar.
“Sim. As datas funcionam perfeitamente com o seu
período fora de temporada”, falo, aproximando-me mais do seu
corpo quentinho. Ele passa o braço ainda mais ao meu redor,
me deixando tão perto que meus joelhos roçam suas coxas.
“Estou tão animado por você”, ele diz suavemente
enquanto as pontas dos seus dedos roçam minhas costas. “A
próxima coisa que você saber é que eles oferecerão seu próprio
show.”
Eu só posso sonhar. Meu canal do WatchTube cresceu
nos últimos cinco anos, lenta e constantemente. Consegui
gerenciar tantas outras aparições de “convidados” desde que,
com CJ sozinho gravando dez vídeos comigo, Zac claramente
em suas mais de quarenta agora, porque ele é o favorito dos
telespectadores — e o meu favorito — e eu ainda tive mais
alguns de seus colegas de equipe e dois treinadores
participando. Até Vanessa, a amiga íntima de Zac e agora
minha grande amiga também, fez um comigo.
Mas foram meus livros que realmente decolaram.
Alguns dias, eu não sei o que diabos fiz para merecer o
que tenho, começando com o homem olhando para mim em
nossa cama com a expressão mais pateta e cansada em seu
rosto. Ele mal consegue manter os olhos abertos. E isso faz
meu estômago parecer pateta.
Bem, mais pateta do que se sentia ultimamente.
Estava esperando para contar pessoalmente o que
descobri no dia anterior, não querendo dar a ele as notícias por
telefone.
Tenho certeza que ele tem uma ideia, mas... conhecendo
Zac, há uma chance de ele estar totalmente alheio a isso
também. Mas sei que tenho que contar a ele, e que preciso
contar o mais rápido possível. Simplesmente não encontrei a
hora certa durante o dia porque a mãe de Zac e Paw-Paw
apareceram, então meu site caiu e eu queria um momento
calmo e tranquilo para que ele soubesse.
“Snack Pack?” Sussurro enquanto coloco a mão entre
seus peitorais, tocando os cabelos encaracolados lá.
Ele pisca para mim sonolento antes de se inclinar para
frente e me dar um beijo e um “Hmm?” Aqueles dedos leves
roçam minhas costas um pouco mais. Ele realmente é bonito
demais para o seu próprio bem.
“Você decidiu se vai fazer a próxima edição de Anatomia?”
Pergunto, indo para essa pergunta primeiro.
Parte da boca dele se curva. “Ainda não, querida, mas se
você está se preocupando pela minha bunda em formato de
pêssego do Texas, saiba que ela é toda sua.”
Eu bufo. “Eu só estava pensando. Mas seria bom
atualizar a imagem emoldurada que tenho na minha mesa com
uma mais recente.”
Sua risada cansada é uma baforada na minha boca que
me faz sorrir.
Ele está sucumbindo rápido, e sei que posso esperar até
amanhã, mas... não quero.
“Zac?”
Seus olhos já estão fechados novamente quando ele
pergunta: “Sim, querida?”
“O que você pensaria sobre... um Pequenino Texas?”
Os olhos azuis claros de Zac se arregalam em um maldito
instante. Ele levanta um cotovelo e olha para mim, me dando
uma visão completa daquele peito incrível. “Um Pequenino
Texas?” Ele pisca. “Está falando sério?”
Eu aponto para ele. “Big Texas.” Aponto para o meu peito.
“Pequeno Texas.” Então aponto em direção ao meu ventre,
totalmente exposta pelo top cortado que uso. “Pequenino
Texas.”
Antes que eu saiba o que diabos está acontecendo, suas
mãos me puxam várias vezes, então estou montada em seus
quadris. Seus olhos estão mais brilhantes do que nunca, seu
rosto chocado, mas não branco. Até sua boca está um pouco
entreaberta quando ele basicamente ofega, completamente
acordado. “Você está falando sério, Bibi?”
Lambo os lábios e assinto. Nós conversamos sobre
crianças logo antes de nos casarmos naquele verão, depois de
sua primeira temporada com o White Oaks, mas foi uma
daquelas coisas que nós dois demos de ombros, pensando em
um dia. Quando der. Qual é a pressa?
Mas não que eu não soubesse que ele ama crianças. Eu
também. Uma noite, cerca de um ano atrás, conversamos
casualmente sobre como chamaríamos nossos filhos um dia,
se os tivéssemos. “Lupita”, ele sugeriu, se tivéssemos uma
menina, e meu coração quase explodiu em homenagem à
minha avó. Ou “William James”, em homenagem a Boogie e
Paw-Paw.
Eu toco sua bochecha. “Eu ainda não fui ao médico, mas
fiz o teste ontem e... deu positivo”, digo, observando seu rosto
e seus olhos enquanto ele faz o mesmo de volta. “Então... está
sentindo um 'viva' ou você está com medo? Porque, de verdade,
estou com um pouco de medo. Mas também, tecnicamente,
isso é culpa sua. Eu lhe disse que me esqueci de tomar
algumas das minhas pílulas e então você começou a me fazer
cócegas, então eu comecei a fazer cócegas em você, e então nós
dois ficamos ambos...”
Se alguém tivesse me dito há uma década que um dia eu
estaria sentada no colo de Zac uma noite, com ele de cueca,
em nossa casa, em nossa cama, eu teria pensado que eles
estavam repetindo algo diretamente dos sonhos.
E se alguém tivesse me dito que eu estaria fazendo isso,
dizendo que eu estaria grávida de seu bebê, um bebê Zac, e
que ele se sentaria e passaria os braços em volta de mim,
beijando minhas bochechas e minha boca e pescoço e peito...
bem, eu pensaria que eles estariam sendo cruéis.
Mas é o que acontece.
Zac me beija e me beija novamente enquanto sussurra
coisas na minha pele que parecem “Eu te amo tanto” e “Eu não
posso acreditar” e “Você está falando sério?” e “Precisamos ir
ao médico amanhã de manhã” e “Do que diabos você tem
medo? Nós vamos arrasar nisso” e “Você é o amor da minha
vida, garota.”
E ele está certo.
Juntos, damos conta disso, eu e o amor da minha vida.
Sem dúvida.

Fim.

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