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SITUATION
_______________________
ONLY IN ATLANTA #1
KATIE BAILEY
Sumário
1. Jess
2. Jess
3. Conor
4. Jess
5. Conor
6. Jess
7. Jess
8. Conor
9. Jess
10. Conor
11. Jess
12. Jess
13. Conor
14. Jess
15. Jess
16. Conor
17. Jess
18. Conor
19. Jess
20. Jess
21. Conor
22. Jess
23. Conor
24. Jess
25. Conor
26. Jess
27. Conor
28. Jess
29. Conor
30. Jess
31. Jess
1
JESS
Eu esqueci do calor.
Os profissionais de marketing de destinos importantes tentarão convencê-lo
de que a chamam de "Quentlanta" por sua vida noturna sexy. Mas não sou
enganada por um minuto. Oh não. Tenho cem por cento de certeza de que o
cobertor úmido, pegajoso e enjoativo de calor que sufoca mais do que um sutiã
esportivo muito apertado é a verdadeira fonte do apelido da minha cidade natal
(que, a propósito, os atlantes tendem a detestar).
Enquanto dirijo para o sul na I-85, o medidor de temperatura em meu painel
marca trinta e seis. Acrescente o fato de que o ar-condicionado do meu carro
velho quebrou meses atrás e que ainda estou usando a calça de moletom extra-
fofa que vesti antes de sair de Nova York ontem de manhã, e você terá uma boa
ideia de como as coisas estão indo.
Camisa? Encharcada de suor.
Cabelo? Úmido. Emplastrado no meu crânio enquanto, ao mesmo tempo,
conseguia frizz em todas as direções.
Humor? Nem vamos tocar nisso.
Eu levanto outro Twizzler do meu colo – convenientemente dobrando como
um prato – e o coloco entre meus lábios, como se fosse um cigarro. Serei
eternamente grata aos deliciosos alimentos à base de produtos químicos e açúcar
que me fizeram companhia ao longo desta jornada. Pontos de bônus para os
lanches que não derreteram com o sol forte. Em algum lugar da Carolina do
Norte, até dominei a arte de comer Twizzlers sem as mãos. Como uma tartaruga.
Considero isso uma vitória. O que diz muito sobre o estado atual da minha
vida.
Satisfeita por finalmente conseguir focar em alguns (embora questionáveis)
pensamentos positivos, aumentei o volume da minha playlist apropriadamente
chamada de “coração partido”. Aquela que está repetindo nos últimos dois dias
de viagem.
São principalmente canções do álbum 25 de Adele. E eu já ouvi tantas vezes,
agora tenho minhas próprias letras para cada música.
— Oláááá, Johnny — eu canto desafinadamente — Eu dirigi mais de 1.200
quilômetros para fugir de seus pés fedorentos.
É patético. 1.367 quilômetros depois, e o melhor insulto que posso inventar
para o meu ex-mentiroso e traidor é que seus pés cheiram mal?
Quer dizer, eles nem cheiram tão mal.
Implacável pelo fato de que James Corden não vai me convidar para
participar do Carpool Karaoke tão cedo, começo o refrão, agitando meu Twizzler
no ar. Minha voz falha nas notas altas.
— Hello from I-85
— Olá da I-85
It’s been a truly awful drive
Foi uma viagem realmente horrível
And I hope you’re sorry for pushing me out that door
E eu espero que você esteja arrependido por me empurrar para fora daquela
porta
But you’re prob-ah-bly busy with that wh…
Mas você está pro-vável-mente ocupado com aquela pu…
Eu engasgo com a última palavra. Embora a rima funcione, nunca fui de
xingar, especialmente com palavras depreciativas para as mulheres.
Normalmente, eu prefiro alternativas criativas de xingamento. Como pereba
ambulante. Ou... quebra-nozes feioso. Além disso, Sarah realmente não merece
ser xingada. Nem mesmo de quebra-nozes feioso. Ela é legal.
Bem, ela parece legal.
Ela tem um cabelo bonito.
Então é isso.
Mas, o que ela realmente tem a seu favor é que ela não era aquela com uma
namorada séria quando ela e Johnny ficaram juntos.
E, falando sério, estou falando de seis anos.
Sim. Seis anos dos meus loucos vinte, desperdiçados com alguém que
eventualmente me trocaria por uma empreendedora alta, magra e atraente, com
uma carreira deslumbrante no mundo das finanças.
E, no interesse da divulgação completa, por "loucos 20", estou me referindo a
estar falida, incapaz de vender uma única de minhas pinturas e nem mesmo ser
capaz de usar tops reduzidos devido ao meu peito assustadoramente grande.
(Talvez eu queira dizer “entediantes 20?” Afinal, minha ideia de uma boa noite é
mais uma maratona de Friends e uma xícara de chocolate quente do que sapatos
de salto alto e doses de tequila.)
Sob uma série de outdoors me dizendo para "Coma Mais Franguin", mudo de
faixa. Eu ignoro o olhar apavorado do homem no carro ao lado do meu enquanto
ele percebe minha aparência suja, empunhando um Twizzler e armada com
Adele. Seria apenas minha sorte se alguém ligasse com uma denúncia de uma
louca em um Honda prata entrando nos limites da cidade de Atlanta na
interestadual.
O engraçado é que nem estou tão brava com Johnny. Estou mais...
desapontada. Com ele, sim. Mas, mais ainda, comigo mesma. Estou desapontada
por tê-lo seguido até Nova York em primeiro lugar. Que me conformei com uma
relação medíocre com um homem que fazia o mínimo. Desisti de minhas
esperanças e sonhos para ajudá-lo a realizar os dele.
E agora, depois de quatro anos trabalhando como garçonete 60 horas por
semana para pagar as contas – sem mencionar aparecer em incontáveis eventos
financeiros entediantes como a acompanhante de Johnny – o homem passou de
uma bola de carne moída sem graça para um pamonha quente e gostosa. É por
isso que estou voltando para casa com o rabo entre as pernas.
Ainda quebrada. Ainda sem sucesso. Ainda não consigo encontrar uma loja
que venda sutiãs bonitos do meu tamanho.
Ugh, falando em fugir para casa, preciso informar meu irmão que vou dormir
com ele em um futuro próximo. Porque meus pais egoístas venderam a casa e
embarcaram em uma viagem de aposentadoria ao redor do mundo.
Não falamos muito, mas, pela última vez que ouvi, eles estavam ordenhando
iaques no Nepal.
Longa história.
Eu assopro uma mecha de cabelo suado do meu rosto, desligo Adele e ligo
para o Aiden, colocando no viva-voz. O telefone toca e toca até que eu recebo um
eventual, ofegante:
— Alô?
— Sou eu — respondo, e reprimo uma risadinha quando percebo o que fiz.
— O que foi, Jess? — A voz de Aiden, tingida de sono, aquece com a sílaba do
meu nome.
— Você parece cansado.
— Eu estou.
— Eu acordei você?
Uma pausa. Então um suspiro.
— Sim. Mas não se preocupe.
Posso imaginar meu irmão mais velho passando as mãos pelo cabelo escuro
enquanto se senta na cama, o rosto marcado por vincos de travesseiro. Como
fotógrafo profissional de sucesso e consultor de branding, Aiden trabalha muitas
horas e mantém uma rotina de sono incomum.
— Entãããão… — eu prossigo. Não muito delicadamente.
Aiden ri.
— Ok, J. Por que você não me diz o que está acontecendo?
Meu irmão é sempre a pessoa para quem ligo quando preciso de uma
conversa estimulante ou de uma amorosa e bruta. Deus sabe por quê. Embora eu
ame Aiden até a morte, somos opostos em quase todas as áreas importantes. Ele
é alto, eu sou baixa. Ele é rico e bem-sucedido, eu não. As mulheres se aglomeram
ao seu redor, e ele tem prazer em namorar todas elas – ao passo que minha
história de relacionamento consiste principalmente em Kevin Morrison no
décimo primeiro ano (gostei muito de seu aparelho elástico azul) e, depois disso,
Johnny.
Eu respiro fundo.
— Johnny e eu terminamos.
Há uma pausa significativa e a linha telefônica estala quando Aiden passa seu
celular de um ouvido para o outro. Ele tem o estranho hábito de fazer isso a cada
dois minutos enquanto está ao telefone. Ou talvez ele só esteja com medo de
ondas de radiação derretendo seu cérebro, ou algo assim.
Eu sei o que Aiden realmente quer dizer agora: que ele está satisfeito. Que
deveríamos ter terminado há muito tempo. Esse Johnny não me merecia.
Aiden sempre odiou Johnny.
Mas, Aiden é um bom ser humano e um irmão mais velho ainda melhor.
Então, ele morde a língua entre qualquer variação de eu-avisei.
— Sinto muito... Você está bem?
— Estou em Atlanta.
Aiden engasga. O que era de se esperar. Não vou para casa há dois anos.
— O que? — Ele consegue balbuciar.
— Sim, estou a… — Eu olho para a placa de estrada à frente. — Dez minutos
de distância de sua casa.
— Um aviso teria sido útil, J.
— Uhh... você pode considerar isso um aviso sobre sua irmã favorita vir ficar
com você por um tempo?
— Única irmã — corrige Aiden. Desnecessariamente. — Mas J, você vê, a coisa
é–
— Eu não me importo se a casa não estiver limpa. Eu vou limpar — eu adulo.
O que eu poderia oferecer para fazê-lo dizer sim? — E... comida chinesa esta noite
é por minha conta.
— Não, Jess…
— Tudo bem, pizza então — eu insisto.
— Não é isso — diz Aiden. — É que, agora, estou em Los Angeles a trabalho.
Desgraça.
Desgraça, desgraça, duas vezes desgraça.
A última coisa de que preciso é ligar para outra pessoa. Todos os
relacionamentos que deixei em Atlanta estão de alguma forma ligados a Johnny.
Não tenho mais amigos próximos aqui, e o único membro da família de quem
sou próxima é Aiden. Quem eu preciso agora.
Eu vasculho meu cérebro freneticamente antes de recuperar uma ideia
vencedora.
— Você ainda tem aquela chave reserva escondida sob aquele gnomo de
jardim horrível?
Aiden estala a língua, pensando.
— Bem, sim, mas…
— Perfeito — eu o interrompo rapidamente, aproveitando seu estado lento e
sonolento. — Vou entrar. Quando você volta?
— Em cerca de três semanas. Mas Jess, há algo que você…
— Eu prometo que não vou quebrar nada.
— Não, eu…
— Tchauamovocêêêêê — eu canto, desligando antes que Aiden possa
protestar mais.
Cruel? Sim.
Mas, tempos de desespero exigem medidas desesperadas. E para que servem
os irmãos mais velhos? Eu preciso recuar para a casa de Aiden para que eu possa
colocar meus pés no chão. É hora de começar a pensar em mim, para variar. É
hora de colocar minha carreira nos trilhos e perseguir meus próprios sonhos.
Sou uma mulher forte e independente... que só precisa de um lugar de graça
para ficar. Você sabe, por causa de toda aquela coisa sobre estar quebrada e sem
emprego.
Ligo meu pisca-pisca e saio da rodovia.
Eu estava animada para ver meu irmão, e me sinto um pouco desanimada por
não vê-lo por algumas semanas. Mas, há uma vantagem em estar sozinha esta
noite - eu posso chafurdar em um mar de vinho e pipoca enquanto assisto filmes
femininos na TV de tela grande de Aiden sem ninguém me julgando ou me
dizendo para não fazer isso.
Afinal, sou uma adulta.
2
JESS
Uma doce sensação de familiaridade passa por mim quando eu paro do lado de
fora do bangalô tradicional de Aiden em Peachtree Hills. Ele pagou muito caro
por ele alguns anos atrás e, embora o interior seja fechado e simples, meu irmão
ama sua casa como qualquer homem normal de 31 anos amaria sua parceira
humana.
Mas não Aiden. Aiden não faz essa coisa toda de amor. Na verdade, tenho
quase certeza de que sou a única garota para quem ele disse “eu te amo”.
Limpo o suor da testa, abro o porta-malas e pego minha mala surrada e o
único item doméstico que roubei do apartamento de Johnny – uma samambaia
úmida de limão em um vaso rosa ligeiramente lascado. Era uma coisa marrom
triste e desgrenhada quando comprei com cinquenta por cento de desconto no
Green Fingers Market em Greenwich Village. Mas, visto que meu próprio barraco
de apartamento tinha zero de luz natural, dei-lhe um lar na janela ensolarada da
sala de estar de Johnny no Upper West Side. Eu podei e reguei aquela plantinha
até sua saúde plena e voluptuosa.
Johnny pode tirar minha vida, mas ele nunca pode tirar minha planta favorita!
Eu canalizo meu Coração Valente interior e gargalho para mim mesma enquanto
abraço Fernie perto do meu peito. Terra derrama na minha camiseta, mas eu não
me importo. Pode fazer companhia ao ketchup e às manchas de suor.
Mal posso esperar para tomar banho. O aterrorizante motel de assassinato em
que estacionei ontem à noite nos arredores de Richmond prometia
estacionamento gratuito e TV a cabo por cinquenta e nove dólares por noite. O
que ele realmente entregou foi um colchão feito de molas quebradas e
absolutamente nenhuma água quente.
Estou grata por ter saído de lá viva. E sem tropeçar em nenhum cadáver.
— EI! — Uma voz estrondosa corta meus pensamentos, e minha preciosa
Fernie quase escapa das minhas mãos.
Eu me viro e fico surpresa ao ver uma senhora alta e magra e dois Golden
Retrievers babando correndo em minha direção. A mulher usa roupas esportivas
de grife e carrega uma grande mochila preta que balança enquanto ela corre. Seu
cabelo loiro está preso em um rabo de cavalo elegante sob um boné de beisebol.
Abaixo da aba, sua boca está franzida em uma careta. Seus olhos azuis brilham
como a geada matinal, e sua pele é rosada e manchada.
— Sente-se, Butch. Sente-se, Cassidy — Ela puxa as coleiras e os dois cães
largam as bundas no chão obedientemente. Meu primeiro instinto é
cumprimentá-la pelos nomes legais e perguntar se posso acariciar esses lindos
goldens, mas a expressão no rosto da mulher me faz dar um passo para trás em
vez disso.
Eu olho em volta, mas não há mais ninguém na rua. O que significa que ela
deve estar falando comigo.
— Oi?
Em resposta, ela aponta para mim. Aponta.
Dou mais um passo para trás, me preparando para correr. Eu morei em Nova
York por tempo suficiente para reconhecer uma pessoa maluca quando vejo uma.
E saber a importância de se afastar de todas as brigas de rua possíveis. Eu olho
por cima do meu ombro. A casa de Aiden fica a apenas dez passos de distância...
Posso facilmente fugir dela. Vou até sacrificar Fernie, se for preciso.
— Você é do Aiden? — Ela pergunta, seu dedo indicador acusador ainda
apontado na minha direção.
A pergunta bizarra me pega tão desprevenida que esqueço meu plano de
fugir.
— Com licença?
— Ai-d-en — ela diz lentamente. Como se ela estivesse falando com alguém
muito, muito burro. — O cara que é dono desta casa? Você é a namorada mais
recente dele?
Eu franzo o rosto em desgosto, e ela acrescenta:
— Par romântico? Parceira? Conquista? Sabor da semana? O que quer que as
pessoas estejam chamando hoje em dia.
Ela acena com a mão fria e desdenhosa – algo difícil de se fazer quando a
referida mão está presa a duas coleiras de cachorro rosa brilhante.
Ok, então ela sabe o nome do meu irmão. E, aparentemente, não gosta muito
dele. Ela parece ter a minha idade... ela é uma ex rejeitada? Oh, por favor, não.
Não posso lidar com isso agora. Minha cota do Hotel Corações-Quebrados está
cheia neste mês.
— Por que você quer saber? — Eu pergunto com cautela.
— Porque preciso que uma mensagem seja transmitida a ele — Ela diz isso
como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— E o que seria?
— Você pode dizer ao seu namorado para me ligar já? Eu coloquei uma carta
na porta há uma semana sobre preços de venda.
Neste ponto, não tenho certeza se ela é alguma ex-namorada maluca de Aiden
ou uma vendedora assustadoramente persistente.
— Ele não é meu namorado, ele é meu irmão — eu digo.
Por alguma razão, ela relaxa visivelmente quando digo isso. Tipo, sua raiva
literalmente foi drenada de seu rosto. Esquisito.
— Oh! — Ela ajusta sua mochila inexplicavelmente grande no ombro, então
estende a mão, de repente toda doçura e leveza. — Eu sou Courtney. A vizinha
do lado de Aiden. Compartilhamos uma cerca.
— Jess. Irmã de Aiden — reitero, olhando para a mulher estranha enquanto
aperto sua mão — Se você deixou algo para ele, ele não sabe. Ele está em LA
agora.
— Claro que sim — murmura Courtney enigmaticamente. Ela abre a boca
para dizer mais alguma coisa, mas meu eu superaquecido, suado e exausto não
está com humor para manter essa conversa.
— Bem, prazer em conhecê-la — Eu me afasto dela, caminhando para trás na
garagem. Eu quero ficar o mais longe possível da vizinha rude de Aiden.
— Se você puder deixar Aiden saber que eu entreguei as informações sobre
esgrima, isso seria ótimo — diz Courtney. Ela puxa as coleiras e a dupla de
irmãos goldens fica de pé preguiçosamente. Um dos cães boceja, e não posso
deixar de sorrir ao ver como ele é doce.
— Certamente — Eu concordo.
— Vou passar por aqui em breve.
Por favor, não faça isso.
— Ok — eu digo com um sorriso forçado. Eu mantenho meu sorriso fixo no
lugar enquanto ela salta para longe, e eu a observo cuidadosamente para ver se
ela realmente mora ao lado.
Quando eu verifico visualmente que Courtney realmente mora na casa ao
lado (ou ela tem uma chave, pelo menos), eu recupero o molho de chaves
sobressalentes de Aiden. Como esperado, elas estão escondidas sob o gnomo de
jardim feio e de olhos esbugalhados na varanda.
Mas, a cena quando eu entro pela porta da frente é completamente
inesperada. Minha boca se abre em choque, e quase deixo Fernie cair de novo.
O bangalô de Aiden foi reformado ao ponto de ser irreconhecível. O layout
anteriormente quadrado e fechado foi transformado em um andar principal de
conceito totalmente aberto, com paredes brancas e pisos de carvalho branco. Os
tetos são abobadados, chamando a atenção para as lindas vigas expostas do
telhado, manchadas de um marrom espresso. A cozinha combina o antigo e o
novo perfeitamente, e possui armários estilo shaker e sancas, juntamente com
eletrodomésticos de aço inoxidável e azulejos de metrô. A ilha de granito com
borda em cascata é de morrer.
Sem mencionar que está totalmente limpo – limpo do tipo “coma seu jantar
do chão”. Não há nada fora do lugar.
Estou mais que impressionada. Aiden deve ter trazido alguém que sabia
exatamente o que estava fazendo. Os elementos históricos da casa estão
perfeitamente preservados e combinados com as características modernas para
um visual que é pura magia interior. Isso é digno de HGTV. Eu olho em volta,
meio que esperando que Chip e Joanna saltem e gritem “surpresa!”
Quando Aiden fez tudo isso? Eu, claramente, estive longe por muito tempo.
Ansiosa para ver o resto da casa, despejo minha mala e corro pelo corredor
em direção aos quartos.
E é quando eu ouço.
Um rangido.
Eu congelo, como uma estátua. Brando Fernie na minha frente como uma
arma.
Lá está de novo.
Não apenas rangendo – passos.
Definitivamente, passos.
Meu coração pula de forma irregular, batendo nas minhas costelas como o
ciclo de rotação em uma velha máquina de lavar.
É possível que Aiden esteja aqui, me pregando uma peça?
Acho que não.
Eu engulo dolorosamente, todos os traços daquela mulher forte e
independente desaparecendo no ar. Então, outro rangido bem atrás de mim.
Uma porta se abre.
Eu permaneço perfeitamente, dolorosamente congelada. Não por escolha,
mas porque estou totalmente incapacitada. A adrenalina corre pelo meu corpo,
correndo como um líquido quente e gelado em cada veia. É isso. Minha
penitência por escapar ilesa do motel do assassinato. O assassino me rastreou até
aqui – um jogo de gato e rato adequado para qualquer filme de terror. E eu sou
aquela garota idiota em cada um desses filmes. Você sabe – aquela em quem você
grita e atira pipoca porque ela está fazendo absolutamente tudo errado.
Mas, ainda não consigo me mover. Onde está meu instinto de luta ou fuga?
Claramente, está quebrado, porque meu corpo não está fazendo nada. Meu
cérebro também não está me ajudando muito. Ele se transformou em uma pilha
irregular e inútil de purê de batatas.
Tudo que preciso é um plano. Sério, qualquer plano serviria.
Os passos se aproximam.
Dentro de instantes, estarei deitada em uma poça do meu próprio sangue.
Em minha mente, vejo meu funeral. Amigos e familiares chorando baixinho.
O que meu obituário diria? Jessica Shaw era uma... o quê, exatamente?
Irmã amorosa?
Amiga decente?
Cozinheira medíocre?
Proprietária de planta orgulhosa?
Os passos param atrás de mim.
Excelente. Vou morrer sem conseguir nada notável na minha vida.
Eu fecho meus olhos e me preparo para o golpe.
Algo toca o meu braço.
— Jessica?
Eu não posso dizer se é a sensação de dedos na minha pele nua, ou o fato de
que meu assassino sabe meu nome, mas algum tipo de instinto de preservação
finalmente – finalmente – entra em ação. Eu descongelo do meu transe e giro ao
redor.
— AGGHHHH!!!! — Eu grito.
Depois disso, tudo acontece em câmera lenta.
Fernie sai voando de minhas mãos, enviando uma chuva de sujeira para o ar
antes que o vaso se espatifasse no chão. Eu corro para frente às cegas e minha
parte superior do corpo colide com algo duro, quente e úmido.
O que–?
Eu estendo as minhas mãos para me firmar, e elas imediatamente fazem
contato com o que parece ser um peito forte e musculoso. Mas, por mais firme
que seja o peito nu do meu assassino, minhas palmas escorregam contra sua pele
úmida e eu caio no chão em uma pilha. Eu pousei sem cerimônia em cima do que
restou da pobre Fernie.
Eu fico imóvel por um momento, os olhos fechados enquanto me enrolo na
posição fetal para esperar pelo meu destino.
Mas, em vez de um golpe na cabeça, alguém xinga.
Eu pisco meus olhos abertos em surpresa.
E me pego olhando para um homem que se parece mais com um deus grego
do que com um homem.
Ele está ajoelhado ao meu lado, seus olhos verdes escuros enrugados de
preocupação. Eu não consigo evitar – meus olhos vagam sobre uma mandíbula
angular, lábios carnudos, cabelo castanho dourado despenteado e – oh meu Deus
– aquele peito. Esse cara não está apenas em forma. Ele tem músculos em seus
músculos. E então mais alguns.
Meus olhos viajam mais para o sul, observando um torso bronzeado e
esculpido e um vislumbre de um V profundo e desumanamente perfeito, apenas
visível acima dos shorts esportivos brancos. Eu morri e fui para o céu dos
gostosos?
Não me lembro de morrer.
Claramente, aquele filme de Ted Bundy estrelado por Zac Efron não me
ensinou nada, porque meu primeiro pensamento coerente é que esse cara não
parece um assassino. Nem um pouco. Ele se parece mais com o filho do amor de
Chris Hemsworth e Bradley Cooper.
Não que isso seja possível. Mas, talvez – esperançosamente? – no céu, seja.
Gostosão levanta suavemente uma das minhas mãos.
— Você está sangrando.
— Eu estou morta? — Eu resmungo, olhando para o corredor salpicado de
terra.
Ele ri. É um som quente e rico em que quero me banhar.
— Não, não está morta — Ele pressiona o polegar na minha palma e seus belos
lábios se curvam para cima. — É apenas um ferimento superficial. Um pequeno,
aliás.
Eu puxo minha mão e me sento com um sobressalto, a cabeça girando.
— Quem é você e por que ainda não me matou? — Eu exijo.
Os lábios do Gostosão puxam os cantos de novo, como se ele estivesse
tentando não rir.
— Sou Conor Brady — Ele me olha intrigado, como se procurasse um lampejo
de reconhecimento. Quando não respondo, ele continua falando — Eu não matei
você ainda porque eu não costumo assassinar pessoas como um passatempo.
Especialmente hóspedes que por acaso são a irmã do meu colega de quarto.
— Colega de quarto? — Eu gerencio. Minhas cordas vocais parecem que
foram esfregadas com uma lixa.
— Sim. Vou ficar com Aiden por alguns meses. Suponho que você seja a Jess?
— Os ombros de Conor estremecem um pouco.
Ele ainda está tentando não rir. Só agora, ele está falhando.
Eu espreito para ele através dos cílios abaixados, a mortificação perfurando
minha barriga. Um rubor furioso se espalha pela minha pele como um fogo
vermelho ardente.
— Sim, sou Jess — Eu me aproprio do meu nome como se estivesse admitindo
que tenho uma doença de pele altamente infecciosa. Conor continua me
observando, os olhos dançando com diversão. Ele claramente pensa que a irmã
mais nova de Aiden é uma maluca.
Não que eu o culpe.
Bem, isso é apenas minha sorte. O cara mais gostoso que eu já vi na minha
vida é o colega de quarto do meu irmão. E acontece que estou deitada em uma
pilha suada e suja no chão, acusando-o de querer me matar com um machado.
Por que Conor não poderia ter sido apenas um psicopata assassino?
Isso teria sido menos embaraçoso.
3
CONOR
JESS
CONOR
Não.
Isso é o oposto de simples. Na verdade, isso é mais confuso do que um
campeonato estadual de comer costelas. Do tipo extra picante.
Porque ser “apenas amigo” de Jess parece que vai ser ainda mais difícil do
que eu pensava.
— Mmm — Jess dá outra mordida no tortellini, fecha os olhos e suspira. —
Esta é a melhor massa que já comi.
Estamos no pátio recém-reformado de Aiden, sentados um de frente para o
outro na mesa de jantar do bloco de açougueiro que eu construí. O calor
escaldante do dia deu lugar a um final de tarde ameno, e o céu está riscado com
um brilho de rosa e púrpura. Notas de citronela percorrem o ar espesso e quente.
Na mesa à nossa frente está uma deliciosa variedade de comida italiana de dar
água na boca. Mas eu mal noto, porque debaixo da mesa, meus joelhos estão a
poucos centímetros dos de Jess.
Ela tem uma mancha de molho de tomate no lábio inferior. Tenho o desejo
mais indescritível de estender a mão e afastá-lo com o polegar. Aparentemente,
estou ansioso para acumular mais pontos de esquisitão.
Para evitar que meu polegar rebelde execute ações lamentáveis por conta
própria, pego minha taça de vinho e bebo um grande gole de Merlot. Um gole
tão grande que quase engasgo. Elegante.
— Estou feliz por ter gostado — Eu coloquei meu copo na mesa com mais
força do que pretendia, resultando em um crack sem cerimônia que fez Jess pular.
Ela é irmã de Aiden, cara.
Repito: irmã de Aiden.
Estou tentando colocar todos os meus sentimentos confusos de lado e tratar
Jess como uma pessoa normal e humana. Olhar para ela como se ela fosse Aiden
em um vestido ou algo assim.
Mas Jess está tornando muito difícil para meu cérebro cooperar. Porque
quanto mais aprendo sobre Jess, mais quero saber.
Sobre nossos pratos cheios de quatro tortellini de queijo, ela me conta sobre
como se formou em História da Arte na Emory e como trabalhou em uma galeria
em Cabbagetown após a formatura. Ela se mudou para Nova York um ano
depois.
Mas, o que eu realmente aprendo são as coisas que estão por trás das palavras
de Jess. Aprendo que seu rosto se ilumina quando falamos de arte e que ela franze
os lábios quando não gosta de uma pergunta. Fiquei sabendo que ela coleciona
cartões-postais, acha que programas de entrevistas são idiotas e que nunca jura.
Eu descubro que ela mexe a comida no prato entre as mordidas e bebe o vinho
em pequenos goles, como se ela não tivesse certeza de que ama.
Mas, acima de tudo, aprendo que Jess não é apenas bonita.
Oh não. Jess é inteligente, engraçada, espirituosa, sarcástica e – talvez o mais
cativante de tudo - ela não tem ideia nenhuma disso.
Tipo, nada.
Quando Aiden ligou mais cedo para me avisar que Jess estava a dez minutos
de distância, ele mencionou que ela estava aqui devido a algum tipo de problema
com o namorado. Talvez eles tenham se separado?
— Então... por quanto tempo você está visitando? — Eu cavo mais fundo, a
pá mental pronta.
O sorriso de Jess desliza de seu rosto.
— Indefinidamente — Ela aborda seu prato.
Eu espero em silêncio, não querendo pressioná-la.
— Acabei de sair de um relacionamento — diz ela, espalhando as mãos sobre
a mesa. Seus dedos são pequenos, seu esmalte rosa claro lascado — Quando
terminamos, eu não tinha motivo para ficar em Nova York. Então, desisti do meu
apartamento e voltei para casa.
O demônio em um ombro dança de alegria, enquanto o anjo no meu outro me
diz para largar minha pá e parar de cavar. Eu não consigo superar o tom de voz
triste dela, o quão desesperada ela parece.
Tenho certeza de que há mais nessa história, mas não querendo chateá-la,
decido parar de cavar por agora.
— Eu sinto muito.
Seus olhos piscam para encontrar os meus por uma fração de segundo e ela
balança a cabeça.
— Tudo bem.
Ela vê a expressão cética em meu rosto e continua.
— Honestamente, é. Johnny e eu não éramos mais um grande par. Estávamos
muito... confortáveis. Desgastados. Como sapatos velhos, sabe?
— Eu sei — eu digo, pensando no meu Nike favorito cheio de buracos na
parte de trás do meu armário. Mesmo que eu nunca os use mais, não suporto me
separar deles.
Jess suspira.
— Os sapatos não serviam mais, mas eu estava com muito medo de jogá-los
fora. Caso eu... nunca encontrasse outro par de sapatos.
— Ninguém quer ficar descalço para sempre — eu concordo, então me chuto
mentalmente por dizer algo tão estúpido.
Mas Jess sorri suavemente.
— Exatamente.
Não há nada neste mundo tão atraente quanto uma mulher bonita por dentro
e por fora. Desde o momento em que coloquei os olhos nela, soube que Jess era
fisicamente atraente – com seu cabelo escuro e ondulado, olhos de gelato, salpicos
de sardas no nariz e seus lábios carnudos e rosados. Mas, enquanto nos sentamos
aqui e conversamos, ela se torna mais cativante a cada palavra que dizia.
E tudo isso sem nem mesmo tocar nas curvas matadoras que ela tem. Aquelas
que eu tento evitar olhar.
Você sabe, por causa daqueles fatos perturbadores.
— Então, Conor Brady — A voz de Jess me faz pular de novo. Ela gira sua
taça de vinho em pequenos círculos na mesa, criando um redemoinho em sua
taça. Seus olhos disparam em todas as direções, olhando para qualquer lugar,
menos para mim.
Ela está tentando mudar de assunto da maneira mais fofa possível.
— E aí? — Dou a ela um sorriso lento e sedutor. Eu juro, não consigo evitar.
Jess continua evitando contato visual.
— Me fale sobre você.
Limpo minhas mãos em um guardanapo e me inclino para ela. Ela toca seu
cabelo e pisca. Eu dou a ela outro sorriso.
— O que você quer saber?
Ela franze a testa ligeiramente e passa a língua pelos dentes. Uma ação
aparentemente inocente que ela precisa parar. Imediatamente.
— Aiden me disse que você é um reconstrutor de imóveis.
— Quando eu tenho uma folga do meu trabalho de assassino de machado —
eu brinco, desviando meus olhos de sua boca.
Jess estremece.
— Cedo demais?
— Eu vou trancar a porta do meu quarto esta noite, apenas por precaução.
— Escolha sábia — Eu sorrio — Então, o que mais posso dizer para acalmar
seus nervos sobre esta situação inesperada de colega de quarto?
— Deixe-me ver... — Jess bate um dedo contra o queixo — A primeira coisa
que me deixa desconfiada é que você é um reconstrutor de casas que não tem a
sua própria casa.
Eu franzo a testa.
— Atualmente, tenho três casas nas quais estou trabalhando.
— Mas você mora com Aiden?
Ahhh. É aonde ela quer chegar.
— Temporariamente — eu explico, colocando mais macarrão em seu prato
vazio. — Aiden me ofereceu um lugar para ficar por alguns meses enquanto eu
reformava uma casa que comprei para mim. Na verdade, é o quarto projeto que
tenho em andamento agora. Mas é um pouco difícil, incluindo a cozinha e os
banheiros. Então Aiden praticamente me salvou de ter que armar uma barraca
no meu quintal.
Jess fica vermelha e minha escolha de palavras nada ideal cai sobre mim como
chuva ácida. Sério, Conor? Eu sou tão suave quanto uma estrada de cascalhos.
Uma estrada de cascalhos cheia de buracos enormes.
Eu pressiono meus lábios e tento passar pelo constrangimento.
— Se você está desconfortável comigo estando aqui, Jess, eu posso encontrar
outro lugar para dormir amanhã. Até durmo em uma barraca do lado de fora
esta noite. Eu entenderia totalmente.
— Fique o tempo que quiser — Jess levanta as mãos e eu respiro um suspiro
de alívio. Talvez meu lapso freudiano tenha passado pela cabeça dela, afinal —
Não estou em posição de julgar, afinal. Você está olhando para uma senhora de
28 anos, desempregada e sem-teto, que teve que ir viver com o irmão.
— Um bom partido — eu provoco, feliz por ela não ter aceitado minha oferta
e efetivamente me expulsar da minha cama aconchegante.
— Diz o homem que está morando com meu irmão para não ter que passar o
verão acampando — Jess me lança um sorriso.
Levanto três dedos e inclino meu queixo.
— Eu era um escoteiro. Eu teria conseguido.
— Você também sabia como armar uma barraca naquela época?
Meu queixo atinge o chão e minhas sobrancelhas sobem. Ela não... Ela
simplesmente foi lá?
Eu examino seu rosto, procurando uma pista, e ela me encara de volta, todos
os olhos grandes e expressão inocente. Com a maior cara de sonsa. Ela quer uma
resposta literal? Tipo, se eu sei como colocar uma capa impermeável, montar as
varas de barracas e prender uma mosca?
Eu olho para aquele rosto inocente novamente e vejo o fantasma de um sorriso
cintilar na borda de seus lábios.
Isso não passou pela cabeça dela... Ela está totalmente brincando comigo.
Mas, eu preciso me comportar. Já cruzei tantas linhas, que poderia tecer um
cobertor para mim. Espero que eu possa me esconder embaixo. Porque eu
deveria estar me concentrando em ser amigo dela agora.
Eu não deveria estar flertando com ela.
E certamente não contando piadas inadequadas.
Mesmo se ela começasse.
Eu arrasto meus olhos para longe e me forço a pensar em algo - qualquer coisa
- além de suas bochechas rosadas. E esse cardigan azul bebê ridiculamente
impróprio para o clima que eu não estou morrendo de vontade de tirar dela. Não,
nem um pouco.
Um silêncio constrangedor se estende entre minha nova amiga e eu.
Eu finalmente digo.
— Bem...
Assim como Jess disse.
— Então…
Nossos olhos se encontram novamente e, em um único olhar, a tensão se
esvai. Nós dois rimos e eu respiro um suspiro de alívio.
— É melhor eu começar a limpar — Eu mudo a conversa para pastagens mais
seguras.
Porque, você sabe, é a IRMÃ DE AIDEN.
Eu começo a empilhar pratos vazios na mesa entre nós.
Jess pula de pé.
— Eu ajudo — Ela estende a mão e toca a minha, me parando no meio da
pilha — E Conor?
— Sim? — Eu digo, olhando incisivamente para onde seus dedos roçam
minha pele.
— Porque você fez o jantar e resgatou minha samambaia, não vou forçá-lo a
armar acampamento no quintal esta noite. Só não me mate, ok?
E com isso, ela sorri e pisca antes de sair cambaleando para a cozinha, a barra
do vestido azul balançando de um lado para o outro.
Deixando-me sozinho no pátio, olhando para ela e me sentindo tudo menos
amigável com minha nova colega de quarto.
6
JESS
Quando soube que Aiden estava fora da cidade, antecipei uma noite sozinha na
frente da TV. Eu ia colocar minha calça de moletom mais confortável e assistir a
intermináveis reprises de Friends enquanto comia o glacê Betty Crocker direto
da caixa. E então eu choraria, porque estava triste, sozinha, e tinha acabado de
comer o glacê da caixa.
E assim por diante, até que terminasse em uma espiral de fracasso e
arrependimento.
Mas então, em alguma reviravolta milagrosa do destino, meus planos foram
descarrilados e acabei no melhor jantar em que estive em anos.
E sim, eu sei que não foi um encontro.
Mas ainda era o melhor não-encontro em que estive desde sempre. O que,
francamente, diz muito sobre o estado do meu ex-relacionamento.
Conor me deu vinho e janta e, ao contrário da maioria dos homens, ele
realmente olhou para meu rosto durante nossa conversa, em vez de olhar
maliciosamente para meu peito. Eu me senti como uma Cinderela muito suada e
ligeiramente fofa. E em algum lugar entre a salada caesar e a segunda porção de
tortellini, meu cérebro até começou a funcionar de novo.
Pelo menos, funcionou tempo suficiente para descobrir que Conor é
genuinamente legal. O que, além de estar limpo e não ser um assassino, era outra
vantagem inesperada. Ninguém tão bonito também deveria ser tão legal. É como
receber uma mão de vinte e um no Blackjack enquanto nós, meros mortais,
agarramos três e quatros e nos perguntamos por que nos incomodamos em jogar
em primeiro lugar.
Nós conversamos. Sorrimos. Até flertamos um pouco... eu acho. Como um
tipo genuinamente desajeitado e com péssima qualidade, flertar nunca foi meu
forte.
Então, sim. O jantar foi acima e além de todas as expectativas que eu poderia
ter do companheiro de quarto surpresa do meu irmão.
Mas, enquanto estávamos lado a lado lavando e secando os potes de
macarrão, a campainha tocou. E agora, apenas uma hora depois, não estou
prestes a estrelar Cinderela quando estou em Branca de Neve. Só que, em vez de
ser a princesa cercada pelos sete anões, eu sou o anão, aparecendo como um
polegar ferido no meio de um grupo de amigos glamorosos e bonitos de Aiden e
Conor. Eles estão espalhados sem esforço, casualmente e com confiança nos
lindos sofás de vime ao ar livre.
A música vibra nos alto-falantes embutidos de última geração, e o pátio é
iluminado pelo brilho das luzes penduradas acima. O quintal parece saído de um
filme. Conor é claramente muito talentoso no que faz.
— Quer uma cerveja, Jess? — um cara chamado Luke pergunta. Ele tem me
contado tudo sobre seu trabalho como guru de marketing em uma empresa de
tecnologia no centro da cidade. Com seu relógio de grife, sombras no rosto e
barba por fazer, não tenho dúvidas de que ele é um grande negócio como parece
ser.
Ele é lindo, com certeza. Mas eu prefiro a aura robusta de Conor, sorridente,
martelando pregos em coisas para ganhar a vida.
Não que eu devesse pensar em Conor martelando alguma coisa.
Eu balancei minha cabeça.
— Não, obrigado.
Estou exausta neste momento, e a taça de vinho que tomei no jantar ainda está
zumbindo em minhas veias. A última coisa que preciso é beber muito e ficar
desleixada na frente dos amigos de Aiden. Já me envergonhei o suficiente hoje
por uma vida, muito obrigada.
— Vou levar uma — Uma mulher chamada Mindy se inclina sobre Conor
para aceitar uma cerveja de Luke. Ela chega mais perto do que o necessário,
roçando o braço no peito de Conor.
Um minúsculo monstro de olhos verdes ergue sua cabeça feia em mim. E sim,
eu sei que isso é loucura. Eu conheço Conor há algumas horas. O próprio Aiden
me disse que o cara é um verdadeiro mulherengo.
Mas ainda.
ECA.
— Então, o que a traz a Atlanta, Jess? — Mindy abre a tampa de sua cerveja e
toma um gole. Ela está vestida com um top decotado e shorts justos, e seu cabelo
loiro está preso em um rabo de cavalo alto. Ela é bonita... naquele jeito “garota
super relaxada que afirma ser um dos caras, mas na verdade está tentando roubar
seu namorado”.
Está bem, está bem. Sei que estou sendo um pouco injusta com Mindy,
especialmente considerando que a conheci há menos de uma hora. Ela
provavelmente é adorável. Mas, novamente, eu pensei que Sarah era adorável
também. Que ela era apenas a adorável colega do meu namorado.
Oh, meu Deus. Como pude ser tão cega? Tão estúpida? Sarah e Johnny
trabalharam juntos por muito tempo. Isso estava acontecendo debaixo do meu
nariz por um tempo e eu descubro apenas agora?
— Jess? — Mindy repete. Gentil o suficiente para que eu ache que a tenha
julgado mal.
Eu pisco e expiro. Tenho me saído bem em não ter pensado em Johnny até
agora e não quero ir por aí agora. Procuro como um louco algo para dizer.
— Oh! Desculpa. Estou, hum, só aqui para uh…
— Comprar alguns sapatos novos — Conor termina suavemente.
Eu olho para ele com surpresa, e ele sorri para mim. É um sorriso pequeno e
secreto, dirigido apenas para mim. Um sorriso que faz minhas entranhas se
transformarem em gelatina.
Mindy parece momentaneamente assustada – o que é justo, dada a falta de
contexto - mas ela se recupera rapidamente.
— Oh, eu adoro comprar sapatos. Definitivamente posso ir com você, Jess.
Você faz compras em butiques ou é o tipo de garota que gosta de ir ao shopping?
Shopping, certo?
Enquanto fala, ela levanta uma das pernas em um arco gracioso e passa um
pé nu e com unhas brilhantes na perna de Conor. Não perco a possessividade no
gesto, a maldade por trás de sua pergunta aparentemente inocente. Ela está
apostando em sua reivindicação tão obviamente que ela pode muito bem mijar
nele.
Parece que meu julgamento inicial estava correto.
Ou... talvez Conor e Mindy estejam juntos, e ela está me informando disso.
Quero dizer, ela está praticamente sentada em cima dele. Durante o jantar, nem
perguntei a Conor se ele tinha uma mulher em sua vida. Eu apenas concordei
com o que Aiden me disse.
Conor se mexe na cadeira, tentando tirar o pé de Mindy de cima dele. Talvez
eles não estejam juntos, mas ela com certeza quer estar. Isso está muito claro.
Talvez ela esteja lutando com Kayla/Marla pelo prêmio.
Dou um sorriso de boca fechada para Mindy.
— Você tem razão. Eu geralmente faço compras no shopping.
Não acrescento que as butiques sofisticadas me deixam ao mesmo tempo
desconfortável e sem estilo, e que os vendedores permanentemente sorridentes e
rondando meio que me assustam. Como regra geral, eu os evito como uma praga.
O que há de errado com a Macy's, afinal? Eles sempre têm ótimas ofertas.
Para evitar o prolongamento da dolorosa conversa sobre compra de sapatos,
volto minha atenção para Pete Stevenson, a única pessoa do grupo que conheço.
Ele e Aiden são amigos há anos e, aparentemente, eles adotaram um grupo social
totalmente novo enquanto eu estava fora.
Eu realmente deveria ter visitado mais.
— Como está Mia? — Eu pergunto a Pete.
Ele se ilumina como o Quatro de Julho com a menção de sua esposa.
— Ela está ótima. Em casa com Oliver esta noite. Continua reclamando que
não quer ir a lugar nenhum porque se sente como um elefante e nenhuma de suas
roupas serve.
Ele abre o telefone e me mostra um milhão de fotos de Oliver, de dois anos, e
de Mia, que está grávida de oito meses e é grande como uma casa. Concordo com
um sorriso plácido enquanto uma série quase idêntica de fotos passa diante dos
meus olhos – Oliver na praia, fazendo um castelo de areia, destruindo o referido
castelo de areia, Mia mergulhando os dedos dos pés na areia, Mia rindo e assim
por diante.
— Parabéns — digo a ele. — Por favor, mande lembranças para Mia.
— Vou mandar, Jess — ele responde. Ele toma um gole de cerveja e limpa a
boca com as costas da mão. — É bom ver você em casa. Aiden sente sua falta.
Um sorriso cruza meu rosto.
— Obrigada, Pete. Tenho saudade dele também.
— Tudo bem! — Luke explode, chamando minha atenção — Quem está
pronto para sair?
Uma linda morena solta um grito de alegria.
— Eu!
Na minha frente, Mindy calça um par de saltos incríveis e pega seu telefone
rosa brilhante.
— Vou pedir um Uber.
Há uma enxurrada de atividades à medida que todos se levantam.
Não me movo e, quando olho para cima, fico surpresa ao descobrir que Conor
está me observando. Eu levanto uma sobrancelha para ele, fazendo uma
pergunta silenciosa.
— Todo mundo está indo para um bar em Midtown — explica ele.
— É sexta-feira! — Mindy declara, deslizando o braço no de Conor. — Às
sextas-feiras, fazemos festa.
— Você quer vir? — Conor pergunta.
Eu hesito.
Eu não sou uma pessoa tão festeira. Nunca fui. Na verdade, o mais perto que
cheguei de curtir uma boate foi no último ano do ensino médio, quando de
alguma forma era considerado “legal” dançar Cupid Shuffle no estacionamento
da Taco Bell nas noites de sexta-feira. Logo depois que todos nós nos animamos
com quarenta doses de copos de Baja Blast Mountain Dew e chalupas4.
Não que eu vá admitir nada disso para Mindy.
Eu estudo Conor por um momento, incapaz de decifrar a expressão em seu
rosto. Não tenho certeza se ele está me pedindo para me juntar a eles por
obrigação ou por um desejo real de que eu vá. Parecia que ele estava flertando
comigo durante o jantar. Como se ele estivesse se divertindo tanto quanto eu.
Mas agora, há Mindy. Ela é uma coisa que existe.
Talvez ele seja apenas o cara que flerta tão naturalmente quanto respira.
Aquele que te provoca e brinca com você, mas isso sempre não significa nada.
Enquanto estou fazendo uma Olimpíada mental sobre o que tenho certeza de
que Conor pretende ser uma pergunta simples e direta, a exaustão de repente me
alcança. De uma só vez, os efeitos da viagem dolorosamente longa e da
montanha-russa emocional de um dia me atingiram bem no peito. Decido que
não importa quais são os motivos de Conor para me convidar. Porque o que eu
realmente preciso agora é dormir.
— Nah — Eu encolho os ombros no que espero ser um jeito fofo e casual. —
Estou exausta. Longa viagem hoje e tudo mais. Divirta-se, no entanto.
Conor olha para mim por mais um segundo antes de Mindy puxar seu braço.
— Vamos, garotão.
Tenho que me abster de revirar os olhos e fico grata em ver que Conor parece
estar fazendo o mesmo.
— Vejo você mais tarde — eu digo, mordendo meu lábio inferior para
esconder minha diversão.
Ele sorri aquele sorriso lento e sexy.
— Até mais tarde... colega de quarto.
JESS
Já esteve no TikTok? Não é para os fracos de coração, deixe-me dizer a você. Perdi
dias reais para o TikTok, e a maioria deles envolveu uma montanha-russa de
emoções. Aprendi o quão chato é o emoji de chorar de rir, por que meus jeans
skinny não estão mais na moda e que eu deveria basicamente cavar um buraco e
me enterrar nele, em vez de tentar ser relevante.
Em defesa do aplicativo, no entanto, agora sei como fazer uma ótima massa
de tomate com queijo feta.
E então, com aquele pequeno vislumbre de bondade extravagante mantendo
meu ânimo alto, continuo assistindo vídeos no aplicativo. Repetidamente.
Mas, na minha primeira manhã ensolarada de volta a ATL, há tantos vídeos
do TikTok que posso assistir antes que minha curiosidade me domine (oitenta e
sete, caso você esteja interessado).
Eu deslizo para fora do meu casulo de lençóis deliciosamente sedosos, em
seguida, abro a porta do quarto de Aiden. Eu estava em um sono tão profundo
ontem à noite que um tornado quebrando a casa provavelmente não teria me
acordado. E então, não tenho ideia de quando – ou se – Conor voltou para casa.
Eu me inclino pela porta, enfiando minha cabeça no corredor. Sem passos.
Sem música. Nenhum tilintar de panelas e frigideiras. E, felizmente, nenhum
sinal de Mindy. A casa está mortalmente silenciosa... mas meu nariz se anima
com um aroma tentador no ar.
Café acabado de fazer.
Minha criptonita.
Eu hesito na porta por um momento, dividida entre minha necessidade de
cafeína e o conhecimento de que meu cabelo geralmente parece que foi
eletrocutado logo de manhã.
Eu realmente não quero que Conor veja meu cabelo de espantalho e se
arrependa de ter me enviado uma mensagem de texto. Não que eu me importe
que Conor me mande mensagens, lembro-me bruscamente – entre Mindy e
Marla, ele já tem as mãos cheias de mulheres.
No entanto, foi legal da parte dele interromper a terceira base de Mindy.
E seus textos me fizeram rir. Bastante.
Eu volto para o quarto de Aiden e fecho a porta. A única coisa razoável a fazer
é dizer “acordei assim”. Você sabe, aquele velho golpe amado por mulheres em
todos os lugares – aquele em que você passa horas se preparando para parecer
sem esforço. Então, ao primeiro elogio que você recebe, você encolhe os ombros,
olhando inocentemente para sua roupa cuidadosamente escolhida para dizer, “o
queeeeee? Essa coisa velha?”
Estou apenas me fazendo parecer apresentável para que o amigo totalmente
fora do meu alcance de Aideen não me ache um desastre total. Isso é tudo.
E então, eu passo os próximos minutos correndo por uma sessão frenética de
modelagem com babyliss, enquanto assisto a um tutorial do YouTube sobre como
aplicar o máximo de maquiagem possível para fazer parecer que não estou
usando nenhuma. Então, eu visto meu pijama mais fofo (então, basicamente, não
o macacão de girafa ou a calça de moletom manchada do UGA Bulldogs que eu
geralmente prefiro).
Quando meu cabelo finalmente está um pouco domesticado, saio do quarto
de Aiden e caminho pelo corredor. Viro a esquina e a cozinha é banhada por uma
poça de luz solar dourada matinal. É estranho estar aqui há menos de 24 horas e
me sentir mais em casa na casa de Aiden do que em meu próprio apartamento
em Nova York.
Conor está sentado em um banquinho na ilha e, a menos que Mindy esteja se
escondendo atrás do sofá, ele está sozinho. Ele está tomando café e lendo algo em
seu telefone, sua camisa de treino acentuando seus ombros largos e musculosos.
Mmm.
Ele se vira. Ele levanta as sobrancelhas.
— Mmm?
Cada gota de sangue do meu corpo corre para meu rosto e eu entro em pânico.
Eu realmente disse isso em voz alta? O que há de errado comigo? Este é por sua
conta, cérebro.
— Você não quer dizer, “bom dia, colega de quarto?” — Conor continua, seus
lábios se contraindo.
— Quero dizer... mmm, café. É isso. Eu amo o cheiro de café — eu deixo
escapar em um súbito acesso de inspiração.
Ufa, boa defesa. Nem um pouco óbvio.
Os lábios de Conor se esticam em um sorriso preguiçoso.
— Presumo que você dormiu bem?
— Como um bebê — eu alcanço o armário e pego uma caneca enorme que
declara “o irmão mais legal do mundo” (um presente de Natal deliciosamente
atencioso de mim mesma para Aiden no ano passado). Sirvo-me de café, tomo
um grande gole, fecho os olhos e digo “mmm” novamente em voz alta. Apenas
para reiterar meu ponto de vista.
— Obrigado pela cafeína — Eu sorrio, apoiando meus cotovelos na ilha. —
Como foi sua noite?
— Boa — Conor encolhe os ombros. — Com toda a franqueza, porém, não
gosto mais de sair. Eu prefiro ficar em casa.
Eu olho para Conor por um momento, minha respiração presa. Este homem
continua dizendo as coisas certas, e uma declaração como essa é 100% minha
linguagem de amor. A maneira como sua camisa está abraçando seus bíceps
também não ajuda. Embora, ele provavelmente usasse aquela camisa de
propósito, apenas para exibi-los.
— Você estava tão quieto que pensei que ainda pudesse estar dormindo. Ou,
que você pudesse não estar em casa ainda — eu digo e tomo um gole inocente de
café.
Eu estou investigando? Ah, quem sabe.
Os olhos de Conor enrugam nos cantos e de repente estou feliz que meus
cotovelos estão suportando meu peso para que eu não tombe em um desmaio
digno de Jane Austen.
— Eu estava quieto de propósito, então não acordei você — diz Conor. — Eu
me senti mal por mandar mensagem tão tarde quando você estava cansada.
Estou tão perdida em seus olhos verdes que respondo antes de pensar.
— Sim, e não era nem mesmo uma emergência.
Conor ergue as sobrancelhas um pouco e eu amaldiçoo minha boca grande –
POR QUE eu diria isso? Tenho certeza de que queria soar sedutora. Eu queria ir
para uma segunda rodada das nossas brincadeiras. Em vez disso, fiz parecer que
não quero que ele me envie uma mensagem.
Quero fazer uma petição para retirar minha declaração. Reivindique
insanidade temporária.
Mas, antes que eu possa fazer qualquer coisa, Conor sorri novamente.
— Você prefere que eu não mande mensagens em casos não emergenciais,
então?
Eu balanço minha cabeça um pouco ansiosamente, e seu sorriso se estende.
— Me mande uma mensagem quando você precisar de mim — eu digo
levianamente. — Mas, sou muito ocupada e importante, por isso entrarei em
contato com você quando puder.
— Ocupada... e... importante — Conor faz mímica de escrever algo. —
Entendi.
O brilho em seus olhos me pega desprevenida e eu me mexo.
— E não se preocupe em me acordar de manhã, eu durmo como um morto.
— Também anotado — Conor ergue uma sobrancelha para mim. — Algo mais
que eu deveria saber sobre minha nova colega de quarto? Alergias? Remédios?
Animais de estimação exóticos?
— Não, não, não — Eu rio e aponto para o tupperware salva-vidas na ilha. —
E somos só eu e Fernie. Você?
— Apenas um crocodilo de estimação. O nome dela é Susan.
Ele está brincando... eu acho.
— E você? — Eu decido que é melhor ignorar Susan e quaisquer questões em
torno de sua existência por enquanto. — Algo que eu deva saber?
— Bem — Conor se inclina para frente conspiratoriamente, e uma mecha
daquele cabelo castanho dourado espesso cai sobre sua testa. Seus olhos brilham
com malícia — Eu sou muito selvagem quando se trata de agendamento.
— Me deixou intrigada — Eu espelho seu movimento reflexivamente. O
homem tem um campo magnético, juro — Quer me informar sobre essa sua
agenda fora de controle?
Ele ri aquela risada rica e gutural.
— Eu sou uma criatura de hábitos. Eu preparo a refeição aos domingos, passo
aspirador às segundas, limpo os banheiros às terças-feiras. Quarta é dia de
lavanderia e quinta é dia de lixo.
Seus olhos são sinceros, e me lembro de como ele esfregou o corredor ontem
antes que eu pudesse chegar à bagunça. Ele está falando sério.
Uau. Um obcecado por limpeza que tem um dia designado para cada tarefa
doméstica. Por que isso é tão sexy?
Talvez porque eu seja o tipo de garota que nunca se lembra de lavar roupa,
resultando em frequentes buscas de pânico em meu cesto de roupa suja para
encontrar meias.
— Bem, ou você é limpo excessivamente por natureza ou uma mulher o
treinou bem — brinco, esperando que ele ria.
Mas a expressão de Conor se achatou e o brilho em seus olhos diminuiu.
— Algo assim — ele diz, então se levanta. Como se ele estivesse se preparando
para sair.
Droga. Obviamente, meu comentário tocou um nervo. E se ele realmente tiver
TOC e eu apenas zombei de sua condição médica?
— Você quer café da manhã? — Eu pergunto rapidamente, esperando que
não seja muito óbvio que estou tentando encontrar uma maneira de sair de ré
daquele túnel de quatro pistas que eu chamo de boca.
Observo sua expressão com cuidado e fico aliviada quando ele sorri. Ele
aponta para sua roupa.
— Tenho trabalho ao meio-dia, eu ia correr primeiro.
— Uma corrida! — Eu praticamente grito. Estou tão feliz que ele não vai
embora por causa do meu comentário idiota de que não consigo controlar meu
nível de decibéis, aparentemente — Sim, claro!
— Você quer vir?
— Hahahahaha — Não tenho certeza de por que estou rindo. Histeria, talvez.
— Uma corrida? Eu realmente não corro. Meu carro quase não funciona na
metade do tempo.
Minha nossa.
Conor enfia a língua na bochecha e sorri. Seus olhos verdes como o oceano
brilham dessa forma torturante de arrepiar que me deixa um pouco enjoada. Eu
viro minha cabeça e bebo meu café, deixando-o queimar minha garganta.
— Posso dar uma olhada nisso para você — diz ele.
Eu mordo meu lábio.
— Você pode?
— Claro. Eu ficaria feliz.
Eu sorrio fracamente. É gentil da parte dele oferecer, mas há o pequeno
problema de que não há nada de errado com meu carro. Exceto pelo ar
condicionado quebrado. Eu penso rápido e mudo de assunto.
— Você prepara o jantar, faz café e conserta carros para todos os seus colegas
de quarto?
Seu sorriso se transforma em um sorriso atrevido.
— Apenas para as bonitas.
Um brilho se espalha do topo da minha cabeça até os dedos dos pés, e eu cerro
os punhos para impedir que meus braços façam uma dança feliz improvisada.
Conor acha que sou bonita? Não, ele está apenas sendo legal, tenho certeza.
Tentando me fazer sentir melhor sobre o meu recente término. Aiden
provavelmente pediu a ele para ser muito doce comigo, ou algo assim.
— Existe alguma coisa que você não faz? — Eu mantenho meu tom leve, como
se estivesse brincando.
Mas estou falando sério. Como um ataque cardíaco.
— Café da manhã. — Ele pisca — Eu não tomo café da manhã.
E com isso, ele me dá um pequeno aceno, coloca seus airpods e se dirige para
a porta.
Touché, namoradeira.
Conor sai para sua corrida matinal (por que não nasci com um gene que me faz
querer me jogar nas calçadas da cidade em nome da saúde e da boa forma?), e eu
volto para o quarto de Aiden. Sem nunca desperdiçar meu cabelo e esforços de
maquiagem, vasculho minha mala até encontrar uma blusa branca e calças
pretas.
Não é a roupa mais elegante do mundo, mas espero que minha roupa seja
razoavelmente profissional. Como tenho zero dólares em meu nome, acho que
começar a procurar um emprego não pode machucar – não quero ficar ocupando
a casa do meu irmão para sempre e tenho uma lista de galerias que quero visitar.
Esse é o meu plano mestre: conseguir um emprego em uma galeria e, então,
assim que estiver dentro e amiga dos proprietários, vou convenientemente cair
na conversa que sou um artista. É um plano infalível.
Ou, talvez, um plano para um tolo. De qualquer forma, é tudo o que tenho
agora.
Eu adiciono um par de sapatos de salto pretos ao meu conjunto e cambaleio
até a porta da frente.
Eu sou forte. Eu sou confiante. Eu sou empregável.
Repito o mantra para mim mesma enquanto desço a calçada da frente. E,
quando digo “desço”, quero dizer manco. Como um pinguim. Sempre fui
péssima em andar de salto.
Estou procurando minhas chaves em minha bolsa quando ouço aquela voz
estrondosa novamente.
— BUTCH, NÃO!
Antes de saber o que está acontecendo, tenho um golden retriever de 36 quilos
comigo. E eu quero dizer literalmente na minha pessoa. O cachorro se joga em
mim com tanta velocidade que estou surpresa por não cair, visto que estou
praticamente usando pernas de pau. As patas de Butch estão no meu peito - ele
é quase tão alto quanto eu, de pé - e uma língua grande, úmida e rosa cobre meu
rosto em beijos babados de hálito de cachorro.
— Oi! — Consigo tirar meu rosto da linha de fogo e dar um tapinha na nuca
do cachorro, empurrando suavemente — Calma, garoto. Isso é um bom menino,
para baixo!
Para baixo, ele não entende.
— Sente? — Eu tento. — Por favor?
— BAIXA! — Courtney late o comando e o cachorro recua imediatamente,
caindo para se deitar aos meus pés obedientemente. Ele olha para mim com uma
expressão doce e apaixonada, seu rabo batendo ruidosamente na calçada. Apesar
do ataque, ele é fofo como pode ser.
Courtney sobe correndo a calçada com seu outro cachorro, Cassidy. Sua
mochila balança para cima e para baixo atrás dela, e ela agarra uma Tupperware
gigante.
— Eu sinto muito, uma vez que ele conhece você, ele pensa que vocês são os
melhores amigos da vida. Ele escorregou para fora da coleira.
— Sem problemas — eu digo. Embora as duas pegadas enormes e cobertas de
grama em meu peito sugiram o contrário.
Courtney prende o Grandalhão de volta na guia e na coleira, em seguida,
empurra a Tupperware em meus braços com muita força.
— Isto é para você — ela diz. — Eu assei alguns cupcakes para te dar as boas-
vindas à vizinhança. E para me desculpar por ter começado mal ontem.
— Obrigada — eu digo, suavizando em direção à minha nova vizinha. Os
produtos de padaria realmente são o caminho para o meu coração — Isso é muito
gentil e totalmente desnecessário.
Eu puxo a tampa da Tupperware e olho para alguns cupcakes protuberantes
de aparência muito questionável. Por que eles são verdes?
Coloco a tampa rapidamente e coloco o recipiente debaixo do braço.
— Esperançosamente eles são comestíveis. Se não, vou assar outro lote para
você — Courtney diz brilhantemente. Então, ela olha minha camisa. — Embora
eu deva fazer isso de qualquer maneira, visto que também tenho que me
desculpar por sua camisa manchada.
— Oh não, por favor, não — eu grito rapidamente. — Isto é suficiente. Mais
do que suficiente, obrigada.
Ela me dá um sorriso muito repentino e radiante.
— Você vai ficar um pouco? Como aquele outro cara?
O que é isso, Vigilância do Bairro? Courtney parece manter o controle de tudo
que está acontecendo na casa ao lado dela. Faço uma nota mental para perguntar
a meu irmão o que ele sabe sobre sua vizinha intrometida.
— Sim, Conor e eu estamos morando aqui temporariamente — Tenho medo
de dar muitas informações a Courtney. Tenho a nítida sensação de que tudo o
que digo pode e será usado contra mim. Esperançosamente não no tribunal.
Courtney acena com a cabeça.
— Aquela mulher ruiva é a namorada do Conor, então?
— Quem? — Eu pisco
— Aquela que está lá o tempo todo. Ela começou a aparecer logo depois que
ele se mudou.
Cara, Courtney com certeza tem muitas perguntas sobre as mulheres que
andam pela casa de Aiden.
Eu encolho os ombros, sem saber o que dizer. Nenhuma das mulheres do
grupo da noite passada tinha cabelos ruivos. Conheço Conor há menos de vinte
e quatro horas, mas a única coisa que sei com certeza é que parece haver muitas
mulheres em sua vida.
Courtney claramente interpretou mal o meu encolher de ombros, porque ela
gritou tão alto que seus filhotes pularam de pé.
— Oh, desculpe! Eu entendi tudo errado? Ele é seu namorado?
— O que? — Minha voz sai toda estranha e alta. — Não! Não não não. Não
senhor-aaaaa.
Então, para piorar as coisas, eu rio como uma hiena.
Ela parece sentir meu desconforto, porque ela revira os olhos como se
estivéssemos em conluio ou algo assim.
— Então, ele não é seu namorado, mas você quer que ele seja seu namorado?
Eu me assusto mais do que os cachorros. Courtney sorri como se soubesse
todos os meus segredos com apenas um olhar. É bastante enervante.
— Essa é... uma pergunta meio pessoal, Courtney.
— Gosto de conhecer os meus vizinhos — A mulher é imperturbável.
— Não — eu digo decisivamente. — Eu não quero que ele seja.
Ela me olha como se eu tivesse acabado de dizer que o céu é verde e a grama
é azul.
— Por que não? Ele é tão gostoso.
Porque eu não quero ser adicionada à longa lista de flertes de Conor?
Eu aperto meus lábios e mordo minha língua. Não estou no mercado para um
caso com um cafajeste. Quer dizer, eu tenho que viver com o homem. Somos
companheiros de quarto. E eu preciso tratá-lo como um colega de quarto. Pessoas
que compartilham um espaço, convivem pacificamente e contribuem de forma
igual.
Mas Courtney tem razão – Conor é gostoso. E doce. E engraçado. E um grande
namorador que sai em muitos encontros, de acordo com Aiden. É por isso que
não posso deixá-lo cozinhar o jantar para mim e me fazer corar e rir como uma
colegial. Não posso deixá-lo consertar meu carro e fazer coisas boas para me fazer
desmaiar por ele como qualquer outra mulher.
E, agora, ele está com um ponto contra mim depois de me preparar o jantar
na noite passada. Isso vai ter que mudar.
Sim, dois podem jogar nesse jogo, Conor Brady.
Percebo que fiquei em silêncio por muito tempo e há uma chance de Courtney
achar que eu sou a estranha agora. Então, eu rolo meus olhos e suspiro.
— Porque eu não gosto de homens que se interessam mais por si mesmos do
que as garotas com quem eles namoram. Ele pode ser gostoso, mas com certeza
sabe disso.
Para minha surpresa, o rosto de Courtney aperta e ela balança a cabeça em
concordância.
— Eu conheço um cara assim.
Compartilhamos um pequeno sorriso. Courtney pode ser um pouco
incomum, mas minha nova vizinha e eu podemos ter mais em comum do que eu
pensava.
— É melhor eu ir trocar de camisa — eu digo. — Obrigada novamente pelos
cupcakes.
— Sem problemas — Courtney sorri largamente. Então, sua sobrancelha
enruga — Oh, e Aiden falou da cerca? — Seus lábios se torcem sobre o nome do
meu irmão como se fosse uma palavra de quatro letras. — Eu sei que ele queria
substituí-la o mais rápido possível, visto que ele fez todas aquelas reformas.
— Não, desculpe — Aiden não falou nada sobre a cerca porque não mencionei
isso a ele ainda. Opa. Não querendo ser totalmente inútil, acrescento: — Conor -
o cara que definitivamente não é meu namorado - fez as reformas. Quer falar com
ele sobre isso?
Um olhar indecifrável cruza o rosto de Courtney antes que ela sorria
maliciosamente.
— Vou esperar até Aiden estar em casa. Tudo certo. Prazer em conhecê-la
novamente, Jane.
— Jess — eu corrijo.
— Oh, sinto muito. Jess. Sou péssima com nomes. Jess Mess. Jess Guess. Jess
Confess. — Ela para de rimar por tempo suficiente para fazer uma careta - língua
para fora, olhos cruzados, como se ela estivesse posando para uma foto do baile
idiota — Gosto de rimar para não esquecer as coisas.
Claro que ela gosta. E, no entanto, não posso deixar de me sentir um tanto
cativada pelas travessuras bizarras de Courtney. Ela é peculiar... mas ela parece
doce. Tenho a sensação de que nos veremos mais.
Courtney e eu nos despedimos e eu volto para casa para trocar minha camisa
manchada de grama. Enquanto caminho, penso nela chamando Conor de meu
namorado e bufo alto. Conor é um galinha, não está interessado em mais nada.
De acordo com tudo que vi e ouvi sobre ele, ele deveria ter me dito antes que ele
não tem relacionamentos, não café da manhã.
Eu não quero fazer parte disso. Além disso, quem disse que ele quer alguma
coisa comigo, afinal? Ele pode escolher qualquer uma.
Então, as chances de Conor e eu ficarmos juntos? Sim, vamos apenas dizer
que as chances são maiores de eu colar cada pedaço do pote quebrado de Fernie
de volta.
8
CONOR
— Estou muito impressionada — Uma mão fria e bem cuidada pousa no meu
antebraço nu.
Ela está flertando. Novamente.
— Obrigado, Karla — Dou um passo para longe da minha corretora de
imóveis e cruzo os braços sobre o peito o mais casualmente que posso, na
esperança de evitar qualquer contato desnecessário — Acho que deve estar
pronto em algumas semanas.
Há uma pausa estranha enquanto Karla registra minha distância entre nós.
Perturbado, pego duas peças de amostra para o backsplash que escolhi e as
mostro para ela.
— O que você acha?
Ela torce o nariz com a minha pergunta, então eu dou a ela um pouco mais de
contexto.
— O mosaico texturizado azul vai dar uma sensação de casa de fazenda, mas
a flor de lis marfim vai parecer mais clássica e elegante.
Fomos visitar minha nova compra em Edgewood uma hora atrás e agora,
estamos parados na cozinha de outro de meus projetos - um grande no estilo
Craftsman em Decatur que foi uma grande dor de barriga. Está quase concluído
agora, exceto por alguns detalhes estéticos.
Comprei esta casa por um valor acima do que ela valia. A outra parte
interessada era um grande incorporador que queria demolir o local e construir
condomínios. Mas, aquele meu maldito lado sentimental mostrou sua cabeça
insistente, e acabei pagando mais do que queria para salvar a propriedade
histórica.
A casa sempre teve boa estrutura. E agora, ela também tem tetos elevados,
uma cozinha de chef e uma suíte master ampliada, completa com closet e
chuveiro a vapor. A propriedade é deslumbrante e espero ter feito um bom
trabalho capturando a essência e a beleza da casa. Mas cara, as contas estão se
somando neste bebê.
Karla franze a testa para os ladrilhos que estou segurando, em seguida, acena
com a mão indiferente.
— O que parecer mais caro.
Eu tenho que me abster de revirar os olhos. Gosto e estilo nem sempre têm a
ver com preço. Mas, tentar fazer Karla acreditar nisso seria como tentar explicar
a teoria das cordas para uma criança de quatro anos.
— Falando em caro, porém, vamos falar de dinheiro — diz Karla, seu rosto se
iluminando.
Eu rio secamente. Karla definitivamente não tem meias palavras. É uma das
razões pelas quais trabalho com ela, para ser honesto - ela é realmente boa em
seu trabalho. Ela está nessa jornada comigo desde minha primeira tentativa, e
valorizo seu conhecimento de mercado. Com o passar dos anos, ela me deu
muitos bons conselhos - mesmo que nossas prioridades tendam a diferir na
maioria das vezes.
Eu mordo meu lábio enquanto me inclino contra a bancada da cozinha, um
pouco nervoso. Na renovação e venda de imóveis, encontrar o equilíbrio perfeito
entre gastar dinheiro para ganhar dinheiro é uma batalha constante. E eu sei que
gastei demais neste projeto.
Eu expiro e digo a ela por que estou no buraco.
Karla confirma meus medos quando seus olhos se arregalam um pouco. Ela
balança a cabeça.
— Decatur está em alta agora, está quente. Ambos sabemos disso. Mas, há
muita mercadoria, Conor, toneladas de casas de família disponíveis. E, com o
preço que você está procurando, uma casa desse tamanho precisa ter um toque
extra de magia. Isso é algo especial, sabe?
Eu concordo. Por mais que não queira admitir, eu sei. Há um limite para o
valor que você pode agregar atualizando os eletrodomésticos e personalizando
os azulejos do banheiro.
— Para obter um prêmio neste lugar, você precisará vender o estilo de vida
que vem com esse investimento — continua Karla. Ela torce uma mecha de cabelo
liso e ruivo em torno de uma unha comprida e vermelha enquanto fala — Que
significa…
Eu balancei minha cabeça.
— Minha irmã está prestes a estourar, ela não será capaz de ajudar nisso.
Minha irmã mais nova é geralmente minha referência para design de
interiores e conselhos de encenação. Depois que eu termino as reformas, ela é
quem realmente dá vida a cada casa. Ela sempre teve esse olho, e ele
definitivamente foi útil ao longo dos anos. Mas ela também está com cerca de mil
meses de gravidez agora. Eu não posso colocar ela nisso.
— Contrate um designer então. Ou uma empresa de decoradores
profissionais.
— Vou pensar sobre isso — Contratar uma empresa de decoração é a última
coisa que quero fazer. Já estou no vermelho neste ponto e, além disso, saí do meu
caminho para colecionar móveis e outros itens de montagem ao longo dos anos.
O que, com a ajuda de Mia, deixa todas as minhas casas lindas por uma fração
do preço.
— É melhor você pensar sobre isso rapidamente — Karla sorri —, porque
estou agendando a visitação pública para duas semanas a partir de agora.
Abro a geladeira e pego duas Cocas. Não existe preferência por Pepsi aqui em
Atlanta – isso seria blasfêmia. Eu estendo uma para Karla, que balança a cabeça.
Abro uma lata e tomo metade dela em um único gole. Ainda está muito quente
lá fora e, embora o local do projeto tenha energia, ainda não conectei o ar-
condicionado. Estou surpreso que Karla não esteja fervendo viva naquele
terninho.
— Encare isso, Conor — Karla alisa uma ruga imaginária em seu paletó azul
royal — Este foi um investimento arriscado para começar, e eu realmente acho
que você precisa correr um último risco para que isso valha a pena.
Enquanto ela começa seu discurso favorito de risco versus recompensa, tomo
o resto da minha Coca e jogo a lata vazia do outro lado da sala. Ela se arqueia
perfeitamente para a lixeira com um barulho alto. Karla me observa, seus olhos
azuis penetrantes fixos na minha boca. Limpo meus lábios desajeitadamente com
as costas da minha mão.
Além da conversa constante de “sair para beber”, ela me convidou para sair
duas vezes no passado, e eu a recusei o mais gentilmente possível. Ela é muito
inteligente e bonita também, mas não estou interessado nela desse jeito. Então,
fico murmurando desculpas vagas e idiotas sobre não misturar negócios com
assuntos pessoais - que gosto de separar ordenadamente todas as áreas da minha
vida e mantê-las separadas. E, porque me importo muito com limpeza, é
verossímil.
Eu sei que sou um hipócrita, no entanto.
Desde que Jess apareceu ontem, não fiz nada além de pensar na irmã mais
nova do meu amigo. O que eu sei que não é legal. Principalmente porque, quando
Aiden chegar em casa, terei que morar com os dois até que minha casa esteja
pronta. Por falar em ultrapassar as linhas.
Mas há algo na Jess.
Ontem à noite, eu estava me divertindo muito para conhecê-la - até que meus
amigos apareceram e estouraram nossa pequena bolha. Desde então, não consigo
parar de imaginar seus olhos castanhos líquidos que se estreitam toda vez que
ela tenta descobrir se estou brincando. Sua pele pálida fica vermelha toda vez que
a provoco. Sua boca macia e carnuda – possivelmente a boca mais perturbadora
que já conheci. Uma boca que implora para ser beijada.
Esta manhã, fiz os cantos daquela boca se abaixarem quando me fechei com a
piada que ela fez. Eu não queria – ela apenas me pegou desprevenido e levei um
momento para me recuperar.
Eu poderia dizer que ela ficou envergonhada, mas não consegui explicar
minha reação. Se eu fizesse isso, teria que dizer a ela a verdade: que não houve
nenhuma mulher na minha vida por anos, mas, ultimamente, tenho essa sensação
incômoda de que quero mais do que um encontro casual. Talvez ver minha irmã
e seu marido tão felizes tenha desencadeado algo dentro de mim, mas eu quero
alguém com quem eu possa ter uma vida fora do trabalho. Um relacionamento
para compartilhar os sucessos um do outro e ajudar um ao outro durante nossos
fracassos. Não ser mais um “eu”, mas sim um “nós”.
Não é exatamente uma conversa fácil e alegre de se ter com a mulher que
acabou de se mudar para a sua casa. Aquela que eu mandei mensagem de texto
na noite passada, embora eu soubesse que não devia jogar esse jogo. Depois de
uma ou duas cervejas, estava convencido de que um pouco de flerte inofensivo
era apenas isso – inofensivo. Como um flerte amigável.
Além disso, manter meu desejo crescente de me estabelecer e ter a minha
própria família é um lugar mais fácil e menos vulnerável de existir. Então, eu fui
em frente e coloquei minhas paredes de volta, mantendo as coisas na zona de
amigos-que-flertam.
Porque isso é totalmente uma coisa.
— Conor? — A voz de Karla me traz de volta ao presente. — Você está
ouvindo?
— Uh-huh — eu minto.
— Então-o? — Ela solta a última sílaba, franzindo os lábios artificialmente
carnudos.
Eu pisco, tentando lembrar do que estávamos falando antes de desligar
completamente.
Ela percebe minha expressão perplexa e ri.
— Mentiroso mentiroso! — ela canta — Você está tão fora de si hoje – noite
longa ontem, então?
— Algo assim — murmuro com um sorriso tímido.
— Só estava dizendo que preciso ir ao meu próximo compromisso. Mas, vou
perguntar sobre as opções para empresas de decoração acessíveis e verificarei
com você esta semana.
— Certo — eu digo — Obrigado, Karla. Desculpe pelo cérebro confuso hoje.
Ela me cutuca nas costelas e leva tudo de mim para evitar estremecer.
— Você pode me agradecer levando-me para tomar uma bebida quando esta
casa for vendida por mais do que você pedir.
Excelente. Eu me afasto por alguns instantes curtos e minúsculos e, nesse
tempo, consegui garantir bebidas com Karla. Não há nada que eu possa dizer
para evitar sem parecer rude, então simplesmente aceno com a cabeça.
Coloco meus óculos de sol e abro a porta da frente. Faço um gesto para que
ela saia na minha frente e ela espera que eu tranque a porta. Caminhamos juntos
pelo caminho da frente ladeado por árvores e, quando chegamos ao meio-fio, ela
paira por um momento.
— Obrigado novamente, Karla — eu sou o mais direto e profissional possível.
É meio difícil de fazer quando estou usando shorts esportivos e chinelos, mas que
seja. Então, eu ando para o meu veículo o mais rápido que posso, sem parecer
que estou tentando fugir (o que estou tentando fazer).
Conforme eu destranco minha caminhonete, meu telefone vibra no meu
bolso.
Jess: Minha vez de cozinhar esta noite.
Uma sensação de calor se acumula em minha barriga e meu rosto estúpido
sorri de orelha a orelha e com a ideia de ir para casa para uma refeição caseira
depois de um longo e árduo dia de trabalho. Indo para casa para Jess. Quando
conversamos sobre nossas rotinas esta manhã, Jess e eu sequer conversamos
sobre compartilhar a comida. Mas, tenho que admitir que amo essa ideia.
Na minha cabeça, estou imaginando algo saído de uma revista dos anos 1950.
Jess estava adorável em um lindo vestido de bolinhas e eu entrava pela porta e
gritava:
— Querida, cheguei! — Eu deixaria cair minha pasta para que eu pudesse
balançá-la em meus braços, em seguida, mergulhá-la e beijá-la.
Espere, o que?
Desde quando meu cérebro fica todo “I Love Lucy” em minhas fantasias? Eu
nunca gostaria que nenhuma mulher em minha vida sentisse que tinha que ficar
em casa e limpando o dia todo. Obviamente, porque eu quero que ela se sinta
capacitada para fazer o que quiser. Mas também, porque eu me encarrego da
limpeza.
Não há nada melhor do que expressar minhas emoções esfregando
agressivamente as bancadas. É terapêutico. Não que eu fosse admitir isso para
Jess. Para provar meu ponto de vista de que sou uma pessoa normal-e-limpa, até
deixei uma caneca suja na pia esta manhã, em vez de colocá-la na máquina de
lavar. Pegue isso, tendências esquisitas. Eu sou tranquilo e relaxado, viu?
— Tchaaau, Conor! — O latido de Karla corta minha confusão de
pensamentos como uma faca. Ela está na porta de seu Lexus branco, balançando
os dedos.
— Tchau — eu digo antes de pular na minha caminhonete. Eu inclino minha
cabeça contra o encosto de cabeça, então ligo a ignição. Um suspiro de alívio me
escapa quando o ar condicionado explode em meu rosto. Observo Karla se afastar
do meio-fio, mas em vez de colocar meu próprio veículo em movimento, digito
uma mensagem.
Conor: É mesmo?
Jess: O mínimo que posso fazer. Prepare-se para alguma excelência culinária.
Conor: Oh sim, o que você está fazendo?
Jess: Waffles.
Meu coração acelera ao dobrar enquanto sou lançado de volta à nossa
pequena conversa esta manhã. Antes que eu possa responder, outra mensagem
chega.
Jess: Então, prepare-se para tomar o café da manhã.
Oh, estou pronto.
9
JESS
CONOR
Ok, então eu posso ter perguntado ao Aiden qual era a comida favorita de Jess.
E eu posso ter saído mais cedo do trabalho hoje para que eu pudesse cozinhar
seu favorito – fajitas de carne – para o jantar esta noite.
Mas, em minha defesa, vi as nojentas embalagens de miojo no lixo. Então,
realmente, estou apenas zelando pela saúde e bem-estar dela. Além disso, Jess
está obviamente com um orçamento apertado enquanto procura trabalho, e essa
parecia a maneira mais fácil de ajudá-la sem constrangê-la.
E, sim, há também o fato de que eu quase não a vejo desde wafflegate no
sábado passado. A maior parte dos meus móveis e utensílios domésticos está em
um depósito, mas no segundo que eu me mudar para a minha nova casa e
desempacotar minha máquina de waffles, vou dar de presente para ela. Como
ato de serviço público.
Ninguém deveria ter que sofrer com waffles grelhados em um George
Foreman nunca mais.
Enquanto Jess e eu vagamos pelos corredores do supermercado, tento não
olhar para ela com muita frequência. Mas, quando jogo um saco de cebolas no
carrinho, olho de esguelha. Seu rosto está enrugado em uma carranca enquanto
ela examina a seleção de pimentas, parecendo estar fazendo uma equação de
álgebra complexa. Ela vestiu um macacão jeans curto sobre uma camiseta branca,
com tênis converse branco combinando. Seus cachos castanhos estão amarrados
em um elástico amarelo, e ela está usando óculos grossos de aro preto que eu não
tinha visto antes. É um bom visual para ela. Tipo, um visual super bom.
É estranho sentir que senti saudade dela nos últimos dias?
Provavelmente.
Ela me vê olhando (não tão sorrateiramente quanto eu pensava) e dá de
ombros.
— Quais pimentas você gosta?
Eu passo por ela e seleciono um frasco aleatório.
— As vermelhas?
— Funciona para mim — Ela ri. — Estou cansada demais para pensar direito.
— Eu conheço o sentimento — Ofereço a ela um pequeno sorriso enquanto
coloco as pimentas no carrinho. É bom andar pela Whole Foods com Jess,
empurrando um carrinho no qual ambos colocamos mantimentos. Mantimentos
que serão colocados na mesma geladeira, na mesma casa. — Semana difícil?
Ela tira os óculos e esfrega os olhos.
— Sim. Acho que posso estar desempregada.
— Eu duvido muito disso — Pego uma caixa de kiwis que vi Jess olhando
melancolicamente e coloco no carrinho. — O que você fazia em Nova York?
— Garçonete — Ela franze a testa — Por necessidade, não por escolha. E
quando voltei para Atlanta, a ideia era que não teria que fazer isso de novo. Mas,
acho que talvez seja necessário.
— Você vai encontrar algo — eu asseguro a ela.
— Você disse que teve uma longa semana também? — Jess desvia a conversa
enquanto saímos da seção de hortifrutigranjeiros e entramos na padaria, que
cheira a massa quente e açucarada.
— Muito em movimento agora.
— Você sempre trabalha tantas horas?
Sim. Mas como posso dizer isso sem soar como um viciado em trabalho
completo?
O que eu não sou. Na verdade.
— Às vezes — eu decido dizer. Observo Jess enquanto ela estuda o pão e
seleciona o pão mais barato. Eu adiciono outro pedaço de quinoa e pão de linho.
Você sabe, por sua saúde. Porque Aiden ficaria feliz em saber que ela está
comendo direito. — Definitivamente vou tirar este fim de semana de folga.
Quer dizer, posso tirar o domingo de folga. Veremos.
— Algum plano? — Jess sorri com indiferença, mas seus olhos estão focados
nos meus.
Pego um pacote de wraps de tortilla.
— Eu vou ir em um churrasco na casa de Mia e Pete amanhã à noite.
As sobrancelhas de Jess se erguem de surpresa.
— Você os conhece bem?
— Eu espero que sim — eu rio. — Mia é minha irmã.
— O que? — Ela pisca, então puxa um cacho do rabo de cavalo. — Eu não
fazia ideia.
— Sim, ela conheceu Aiden através de Pete. Quando Aiden quis renovar sua
casa, ela me recomendou. Costumo comprar e vender as casas que reformo, mas
foi muito bom trabalhar com um cliente, dar vida à sua visão. Aiden e eu nos
tornamos amigos, e o resto é história — Eu explico enquanto caminhamos. Então,
eu vou em frente. — Quer vir comigo amanhã?
Ela para por um momento, a testa franzida. Eu observo seu rosto com
cuidado, meu coração batendo mais rápido do que o normal. Não tenho ideia de
por que estou tão nervoso. Nunca fiquei nervoso para convidar uma garota para
sair. Não que eu esteja convidando Jess para sair.
Só espero que ela diga sim. Como qualquer amigo faria.
— Mia disse que eu deveria convidar você. — Acrescento. Viu? Nem mesmo
ideia minha. Apenas estendendo a hospitalidade da minha irmã.
O rosto de Jess relaxa um pouco e ela assente.
— Oh, tudo bem. Isso seria bom. Adoraria vê-los.
A excitação explode dentro de mim, o que é um pouco ridículo, visto que Jess
só concordou em vir quando eu estendi o convite de Mia. Mas ainda... Significa
mais tempo juntos. Do qual estou rapidamente me tornando um grande fã.
— Excelente. Ela ficará encantada — Eu seguro dois potes — Salsa leve ou
média?
Jess sorri, exibindo duas fileiras de dentes quadrados e brancos.
— Apimentada.
Ela diria isso, não é? Acrescento dois potes ao carrinho, porque não vou dizer
a ela que o simples pensamento de algo mais picante do que um jalapeño é quente
demais para eu segurar.
Afinal, tenho uma reputação a defender.
— Você pode pegar os pães para mim? — Pete pergunta, casualmente virando
hambúrgueres com uma mão enquanto agarra sua cerveja artesanal com a outra.
Eu tomo um gole da minha própria cerveja e deixo o sabor azedo e crocante
azedar minha língua antes de engolir. É uma bela noite. O sol está baixo no
horizonte, ainda forte, apesar do anoitecer iminente, e o aroma forte de carne
fervendo e grama recém-cortada é quase inebriante. Eu amo o Verão.
— Claro — Largo minha cerveja e caminho em direção às portas abertas do
pátio e entro na cozinha, onde Jess e Mia estão picando vegetais para a salada.
O filho de Mia e Pete, Oliver, está sentado em uma cadeira alta ao lado deles.
Ele e Jess estão balbuciando e murmurando palavras doces para frente e para
trás, já completamente apaixonados um pelo outro.
Aos dois anos, Ollie já joga melhor do que eu. Respeito, homenzinho.
Eu observo Jess enquanto ela passa para Oliver uma fatia de pepino. Como
ela ri quando seus olhos se iluminam e ele a agarra com um punho ansioso.
O cabelo molhado do banho de Jess está comprido e solto, e seu rosto está sem
maquiagem. Ela está usando o mesmo vestido de verão floral azul bebê que usou
no jantar na noite em que a conheci. Só que esta noite, ela abandonou o suéter
combinando, deixando seus braços e clavículas delicadas em exibição (eu
mencionei que amo o verão?). Depois de uma semana sob o sol de Atlanta, ela
tem uma nova camada de sardas que dançam sobre seu nariz. Tenho a
necessidade completamente desnecessária, mas quase insaciável de beijá-las.
Todas elas.
Ela está sorrindo desde que entramos no quintal de Pete e Mia algumas horas
atrás – demais comparada a mulher esgotada e oprimida que chegou em casa da
caça de emprego ontem. Acho que já faz muito tempo que ela veio aqui. Ver
rostos familiares provavelmente era tudo o que ela precisava para se animar
depois de uma semana procurando trabalho inutilmente. É difícil acreditar que
ela não vai para casa para ver seus amigos e irmão há dois anos e, mais uma vez,
não posso deixar de me perguntar o que aconteceu com aquele ex dela. Por que,
exatamente, eles terminaram? O que realmente fez ela voltar para casa?
Fosse o que fosse, não posso deixar de ficar feliz por Jess estar de volta a
Atlanta. Ontem à noite, comemos fajitas de carne em frente à TV, enquanto
assistimos ao primeiro jogo da pré-temporada dos Falcons. Foi o mais
confortável, tranquilo e relaxado que me senti em anos. Mas, também me fez
perceber que tenho que ter cuidado para não gastar muito tempo ficando muito
aconchegante com Jess. Eu não posso me apaixonar por ela, porque isso seria
idiota. Realmente idiota.
— Ei, Conor. — Mia me percebe pairando na porta e sorri, seus olhos
castanhos quentes.
— Ei! — Eu corro a mão pelo meu cabelo, envergonhado por ter sido pego
olhando. — Eu só estou pegando pãezinhos. Os bifes estão prontos e os
hambúrgueres estarão prontos em um minuto.
— Perfeito — ela diz e me passa um pacote de pães redondos.
— Venha então, amigo — Jess murmura para Oliver. — Vamos te levar para
fora.
Eu a vejo tirar Oliver de sua cadeira alta e colocá-lo em seu quadril. Ele ri
enquanto ela faz cócegas em sua pequena barriga rechonchuda.
— Pronto para o seu jantar? — Mia dá um beijo na cabeça do filho enquanto
passa com uma bandeja de salada caprese — Tio Conor fez um hambúrguer para
você.
Embora eu nunca admita em voz alta, ainda é legal ser chamado de "Tio". É
como se eu fosse membro de algum clube exclusivo de adultos amorosos. E eu
amo Oliver, realmente amo. Acho que gosto de crianças em geral. Elas são tão
agradavelmente descomplicadas.
— Eu não sei se Oliver vai deixar Jess sozinha por tempo suficiente para
experimentar o hambúrguer que eu fiz para ele — eu provoco, sorrindo para Jess
— Eu deveria estar com ciúmes… passei dois anos cativando aquele garoto e
então você aparece e rouba meu trabalho em uma tarde.
Jess brilha para mim, sorrindo.
— Oliver é inteligente o suficiente para escolher suas pessoas favoritas. Eu
acho que ele pode ser superdotado.
— Bem, a criança superdotada acabou de vomitar em seu ombro.
— AI CREDO! — Seu rosto se contorce de nojo enquanto ela gira a cabeça
para examinar o vômito inexistente. Quando ela percebe que estou brincando,
ela me dá um tapa. Eu aperto meu peito dramaticamente, fingindo que seu
pequeno golpe doeu.
Oliver ri.
— Ele gosta! — Jess me bate de novo, e eu cambaleio para trás, ganhando
outra risada de Oliver.
Eu grito de dor falsa, e a criança apenas ri mais. Pequenas risadas
borbulhantes, gorgolejantes e alegres.
Jess se junta a ele.
E então, eu também.
Ainda estou rindo quando todos nós nos sentamos à mesa do pátio juntos
alguns minutos depois.
— Para amigos que se são como família! — Pete brinda, acenando com a
cabeça na direção de Jess, e todos nós batemos nossos copos enquanto repetimos
o sentimento. Percebo que a voz de Jess é quase um sussurro enquanto ela levanta
sua taça de vinho.
— Graças a Deus está quase escuro lá fora — Mia ri enquanto corta a comida
de Oliver em pequenos pedaços do tamanho de uma mordida. — Podemos fingir
que estamos comendo em um lugar bom.
— Gosto daqui — digo sem pensar, e Pete e Mia me olham com sorrisos
iguais.
Eu fico olhando ao redor do quintal deles, que está cheio de brinquedos de
plástico. Uma caixa de areia e uma piscina infantil ocupam a maior parte do
terreno na grama, mas Pete e Mia têm uma ótima casa. Dentro, há portões para
bebês, travas infantis e protetores de espuma em cada canto, mas toda vez que
estou aqui, não consigo esquecer o quão vivo é o lugar deles. Cheio de vida,
possibilidades e amor.
Embora esteja animado para mudar para meu novo lugar, há uma parte de
mim que às vezes deseja ter vinte e dois anos de novo, então seria apropriado
morar com colegas de quarto em tempo integral. Mesmo antes de Jess aparecer,
eu gostava de morar na casa de Aiden. Era bom não voltar para uma casa vazia
todas as noites.
— Ahh! — Oliver exige, abrindo bem a boca para mais comida. Ele está
sentado em sua cadeira alta entre Pete e Mia, com os cotovelos afundados em
carne moída e ketchup. Eles trocam um olhar carinhoso sobre a cabeça do filho.
É meio fofo (de uma forma um pouco enjoativa) como eles estão apaixonados
depois de anos em um relacionamento. Pete é aquele amigo que tem tudo
irritantemente junto: esposa pela qual ele está apaixonado, um filho incrível, um
trabalho chato em uma grande empresa corporativa de que ele realmente gosta.
Ele é o melhor cunhado que eu poderia ter pedido.
Eu e Aiden costumávamos criticá-lo por ir para casa cedo nas noites fora, ou
pular as viagens de fim de semana dos caras. Eu costumava achar estranho que
ele nunca se importasse que nós o incomodássemos, ou que ele não se importasse
em perder tanto.
Ultimamente, estou começando a pensar que talvez seja eu quem está
perdendo.
— Você pode passar o milho, por favor? — Jess me cutuca. Ela e eu dividimos
um banco de frente para a família feliz e, por um momento, parece que faço parte
de uma vida totalmente diferente. É um momento tão aconchegante e
domesticado – dois casais e uma criança, cozinhando, comendo e rindo juntos.
Só Jess e eu não somos um casal.
O que eu continuo esquecendo.
Lá se vai o flerte inofensivo.
Se Pete é o único em nosso grupo com sua merda junto, eu sou o mau amigo...
porque eu não consigo tirar a irmã mais nova do meu melhor amigo da minha
maldita cabeça.
Eu me pergunto se ela vai se juntar a nós quando formos ao bar mais tarde
esta noite. Honestamente, eu meio que gostaria que não fosse sexta-feira, e
poderíamos ficar aqui a noite toda em vez de sair com todo o nosso grupo de
amigos. Não gostei da maneira como Luke olhou para Jess na semana passada.
Como se ele estivesse em uma dieta rígida, sem açúcar, e ela fosse um cupcake
de baunilha com cobertura extra e granulado.
— Então, Conor, como está a casa? — Mia se inclina sobre a mesa e coloca
alguns espargos grelhados em seu prato.
— Qual delas?
— Decatur.
Suspiro mais pesadamente do que pretendia e suas sobrancelhas se erguem.
— Isso é bom, hein?
Esta é a primeira reforma com que Mia não me ajudou – Pete e eu colocamos
nossos pés juntos (pés?) no chão e insistimos para que ela descansasse – mas seus
olhos ainda brilham toda vez que falamos de negócios. Estou desesperado para
pegar o cérebro dela, porque, no final das contas, sou melhor em construir coisas
do que escolher espelhos e luminárias. Mas me sinto mal por falar sobre trabalho
quando ela vai ter seu bebê a qualquer momento. A conversa deve ser sobre ela
e sua família. Não eu.
— Karla acha que estou no vermelho com Decatur. — Eu encolho os ombros,
na esperança de encerrar o papo furado. Mas Mia gesticula para que eu continue,
então eu continuo: — Muitas casas de família foram construídas recentemente, é
um mercado de compradores. Estou duas semanas atrasado em minha própria
casa, também, então Aiden está selado comigo por um pouco mais de tempo. —
Eu sorrio para Jess, que está assistindo a conversa com interesse indisfarçável. —
Você também, eu acho.
— Eu não me importo — ela diz. Um pouco rápido demais. O que a faz corar.
— Por que você está no vermelho? — Pete pergunta, colocando salada de
repolho em sua boca. Eu engasgo. Eu odeio salada de repolho.
Eu me concentro na coisa nojenta e viscosa no garfo de Pete para não me
distrair com as lindas bochechas rosadas de Jess.
— A casa tem todas essas melhorias nas quais eu gastei dinheiro, mas nada
para diferenciá-la. Karla acha que precisamos ir além para encenar isso.
— Como assim? — Mia inclina a cabeça.
— Karla está pensando que precisamos de algo legal e ousado para despertar
o interesse na visitação pública, fazer com que pessoas suficientes apareçam para
justificar o preço de tabela… tentar atrair um comprador mais moderno disposto
a pagar um prêmio. Eu realmente não quero investir no uso de uma empresa de
decoração de luxo, então estou um pouco sem saber o que fazer.
— Às vezes é tão simples quanto uma boa arte e texturas únicas — Mia diz
seriamente, ajustando seus óculos grandes. Ela é o epítome da jovem mãe
descolada e moderna que estamos tentando atrair, mas não posso pedir para
trabalhar com ela agora.
— E quanto a Jess? — Pete pergunta de repente.
— Ooh, sim — Mia interrompe. — Jess é super artística, ela seria uma
decoradora natural.
Eu giro para olhar para ela. Ela parece um cervo pego pelos faróis.
Jess cora descontroladamente.
— Não sei nada sobre reformar casas.
— Decorar é apenas uma parte da reforma, é como o batom após a
reconstrução facial — brinca Pete.
Os olhos castanhos de Jess estão arregalados e selvagens, e minha mente
dispara enquanto considero a proposta de Pete e Mia. Jess disse que ela estudou
História da Arte na faculdade e, em seguida, trabalhou em uma galeria. Ela
provavelmente poderia ajudar com a decoração sem problemas. Em qualquer
caso, seria melhor do que qualquer coisa que eu mesmo pudesse fazer.
E se eu a contratasse para fazer isso por mim, poderia ajudá-la. Eu sei que ela
está lutando para encontrar um emprego.
E você vai passar muito mais tempo com ela, uma vozinha irritante canta na
minha cabeça.
Eu sei que disse que tenho que ter cuidado para não passar muito tempo com
Jess, mas antes que eu possa me conter, estou falando.
— Sabe, acho que contratar Jess é uma ideia muito boa, Pete.
— Você se divertiria muito com isso, Jess — acrescenta Mia — Conor já tem
todos os móveis e itens de decoração… há anos colecionamos coisas. Com seu
olhar artístico, tenho certeza que você fará com que pareça incrível. Conor tem
olho zero para o estilo.
— Ei! — Eu digo. Mas, eu não quis dizer isso. Ela está certa.
Jess balança a cabeça.
— Eu não poderia.
Eu sorrio para ela lentamente.
— Oh, mas você definitivamente poderia.
— Certamente, existem pessoas disponíveis que são realmente qualificadas
para o trabalho — Jess insiste.
— Eu poderia te ensinar o básico — Eu encolho os ombros, mantendo meus
olhos treinados nos dela e silenciosamente desejando que ela aceite o meu
desafio.
Eu sei que isso é um risco. Que, se ela não for adequada para o trabalho, vai
estragar meu projeto. Bombar a visitação pública desesperadamente para termos
lucro. Mas de alguma forma, eu não pareço me importar agora.
— Eu não poderia — ela repete, suas sobrancelhas franzidas enquanto ela
direciona seu olhar de volta para o meu.
— Sim, você poderia — eu digo novamente. Eu arregalo meus olhos,
desafiando-a a desviar o olhar. Porque quem desviar o olhar primeiro perde.
Uma corrente elétrica passa entre nós e posso sentir fisicamente as faíscas
aquecendo meu corpo.
Zumbido!
Meu telefone vibra sobre a mesa e estou assustado com o momento.
Eu olho em volta para ver Mia e Pete nos encarando como alguém que fez
uma pausa – Pete está com o garfo meio levantado na boca, Mia, a mão dela sobre
a outra. Tire uma foto, vai durar mais.
Então, Mia descongela e dá um sorriso de gato conhecedor. Eu a encaro com
um olhar antes de olhar furtivamente para Jess, que parece tão corada e
desorientada quanto eu. O que aconteceu entre nós?
Perplexo, quase me sinto grato por meu telefone ser a distração. Eu olho para
ele e verifico a mensagem.
Aiden: Como está tudo indo? Eu queria te agradecer por ser tão legal com a
Jess. Ela está em um ponto vulnerável agora e precisa de um amigo.
Sinto como se um balde de água gelada tivesse sido jogado sobre mim,
apagando o fogo que eu estava alimentando com imprudência.
Isso vai me ensinar a sentir qualquer coisa perto de faíscas com a irmã do meu
melhor amigo.
11
JESS
Decidi que não gosto de Mindy. Eu não gosto de seu rosto estúpido e presunçoso
e seu cabelo estúpido e perfeitamente alisado, e seu jeito estúpido de me elogiar
em cada oportunidade que ela tem.
Eu mencionei que não gosto de Mindy?
Porque ela é péssima.
E talvez, sóóóóó talvez, porque bebi um pouquinho, um pouquinho demais.
— Jess, seu vestido é, tipo, tão fofo. Precioso. Eu amo o estilo de Os Pioneiros
— Mindy, que infelizmente está sentada à minha esquerda, alterna entre
"conversa de garotas" passiva-agressiva e flerta escandalosamente com Luke
enquanto olha para Conor para ver se ele percebeu.
Ele não fez.
Mas, novamente, ele realmente não prestou muita atenção em mim desde que
chegamos aqui, então não posso exatamente me gabar. Ele está conversando
profundamente com uma ruiva – um fato que parece estar deixando Mindy e eu
malucas. Então, acho que temos uma coisa em comum.
Mais cedo, eu tinha certeza de que ele estava olhando para mim de uma
maneira que era... algo a mais. Agora, não tenho certeza de nada. Exceto o fato
de que quero ir para casa.
— Obrigada — eu respondo amargamente, girando meu canudo em volta do
meu copo — Tenho certeza de que Laura Ingalls Wilder ficaria orgulhosa.
— Quem? — Mindy me encara sem expressão.
Eu balanço minha cabeça.
— Esquece.
Mas ela já virou as costas – sua pergunta era aparentemente retórica. Eu faço
uma careta para suas costas. Porque agir como se tivesse cinco anos é,
atualmente, a única coisa que me faz sentir melhor.
Estamos neste bar super chique no centro da cidade, o tipo de lugar que é
legal o suficiente para atrair uma multidão jovem e descolada, e caro e
pretensioso o suficiente para ser frequentado por aqueles caras da cidade que
usam terno e bebem vodca com refrigerante, e que pensam que são um presente
de Deus para as mulheres – mas têm muito pouco a dizer quando terminam de
falar sobre seu novo iPhone e quanto custa o carro.
De qualquer forma, o bar não é o meu lugar. A música está alta, está tão escuro
aqui que fico tropeçando nas coisas, e a garçonete é chocantemente rude para
alguém que depende de gorjetas (claro, eu dou uma gorjeta obedientemente,
apesar disso).
Conor, no entanto, parece estar em seu meio.
Pela segunda sexta-feira consecutiva, tudo estava indo tão bem até que todo
mundo apareceu. Estou sentindo um padrão aqui.
Conor me surpreendeu novamente durante o jantar – ele é um tio apaixonado
de Oliver e claramente ama Mia mais do que a própria vida. A maneira como ele
cuida da irmã me lembra de como Aiden é comigo. E Conor me ofereceu o mesmo
cuidado e hospitalidade desde que cheguei a Atlanta, mas é exatamente por isso
que não posso aceitar sua oferta de emprego.
Em primeiro lugar, porque não sei nada sobre como funciona a parte de
decoração. Não se trata apenas de um design artístico bonito... trata-se de fluxo,
feng shui e psicologia do comprador. Coisas sobre as quais não sei nada. E em
segundo lugar, porque passar mais tempo com Conor seria perigoso. Uma. Ideia.
Muito. Ruim.
O problema é que meu pulso acelera toda vez que Conor está perto de mim...
mais do que quando eu estava com Johnny. Meu rompimento com Johnny foi
doloroso o suficiente– embora nosso relacionamento não estivesse em um bom
lugar por um tempo, ainda doía ser deixada de lado. Imagine o quão pior seria
ser machucada por um cara que me faz revirar por dentro com um único olhar.
Por um cara que, depois de apenas uma semana nos conhecendo, parece me
compreender de uma maneira que Johnny nunca fez.
Não preciso que meu coração se quebre de novo, e isso é o que aconteceria se
eu me apaixonasse por Conor.
Porque Conor não leva a sério nenhuma garota, muito menos alguém como
eu.
Porque Conor é meu maldito colega de quarto, e colegas de quarto não se
apaixonam.
Eu sei disso na minha cabeça. Eu sei, logicamente, que nunca poderíamos e
nunca estaríamos juntos. Mas, isso não impede as pontadas de ciúme e desejo
enquanto vejo mulheres se atirando em Conor. E eu digo mulheres, no plural,
porque são muitas.
Se este bar é uma selva, Conor é um leão que ruge.
Meu cérebro irracional, entretanto, está confuso com dois mojitos e quer
Conor só para ele. O que é uma loucura.
Eu chupo meu mojito ruidosamente. Ele está encostado casualmente no bar
enquanto espera por sua bebida, e a mulher ao lado dele está mexendo o cabelo
com tanta força que estou preocupado que ela leve uma chicotada.
Esta é a mesma ruiva de que Courtney estava falando? Espero que não. Essa
garota é deslumbrante. Ela está usando um vestido rosa apertado que mostra
seus – cof cof – ativos com perfeição. Eu posso literalmente sentir minha própria
bunda expandir enquanto eu olho para seu traseiro empinado e tonificado. Esta
mulher, junto com todas as outras mulheres que atingiram Conor esta noite, é
uma exótica ave do paraíso. Juntas, elas são um bando de pernas longas e magras
e penas coloridas e brilhantes.
Eu não tenho certeza de que criatura eu sou… Possivelmente um javali.
Por que eu vim aqui? Eu odeio sair. Só quero ficar em casa, de macacão de
girafa, comendo pipoca e assistindo lixo na TV. De preferência, aquele reality
show onde um homem crescido sempre acaba chorando pelo fato de ter muitas
mulheres bonitas ao seu redor e ser tão DIFÍCIL para ele escolher.
Pete e Mia tiveram o bom senso de abandonar essa excursão pelos bares. Eu
não os culpo. Prefiro sair com Oliver do que com Mindy também. Ele tem
habilidades de conversação muito melhores.
Eu olho ao redor da sala, apertando os olhos na escuridão. Conor está olhando
para trás e chama a minha atenção. Ele levanta um dedo, sinalizando para lhe
dar um minuto.
Sim, colega de quarto, boa tentativa. Não vou sentar aqui e esperar que você
termine de flertar. Luke, Mindy e eu somos os únicos que sobraram nesta mesa
e, como Mindy está praticamente no colo de Luke, tenho minha deixa para ir
embora.
Pego minha bolsa e deslizo para fora da cabine de couro liso. Ninguém me
nota sair. Nem mesmo quando tropeço em uma bolsa perdida e voo para o chão.
Consigo estender a mão a tempo de atingir o chão nojento e pegajoso antes do
meu corpo, o que é uma sorte. Mas, também meio que me faz parecer que estou
jogando Twister comigo mesma, o que é decididamente menos afortunado.
— Jess? — A voz incrédula fala de algum lugar acima de mim. Eu me levanto
cambaleando, amaldiçoando meus reflexos nada felinos, e fico cara a cara com...
Mark Cuthbert. O melhor amigo e colega de quarto de Johnny na faculdade,
em toda a sua glória abundantemente com gel no cabelo e literalmente
pulverizado de colônia. Claro, isso aconteceria agora.
— Oi! — Eu grito, estendendo minha mão desajeitadamente para... apertar a
dele? Por que, oh, por que eu apertaria sua mão?
Mark pisca e então pega minha mão estendida. Sim, a mesma mão que estava
no chão sujo e nojento.
Enquanto sua palma macia e quente desliza na minha coberta com bebida-
açucarada-e-sujeira, arrependimento pisca em todas as suas feições como um
letreiro de loja de penhores de néon. Ele recua de horror, então olha para sua mão
suja de Jess como se ela estivesse pegando fogo. Ele o agita no ar por um segundo,
então o deixa pendurado frouxamente à sua frente, obviamente não preparado
para limpá-lo em seu terno de mil dólares.
— Desculpe. — eu murmuro, não sentindo nada.
— O que você está fazendo aqui, Jess? O seu cara também está aqui? — Mark
dá um pequeno giro estranho, completo com revólveres e pés batendo, enquanto
examina a sala em busca de seu irmão há muito perdido.
Bom Deus.
— Johnny e eu terminamos no mês passado — digo a ele.
Com minhas palavras, seu rosto se transforma em uma careta peculiar,
torcendo e girando em todas as direções antes de finalmente se estabelecer em
um sorriso frágil juntamente com olhos cheios de simpatia. Não, não de simpatia.
De pena.
É uma expressão que me diz que ele sempre soube que isso iria acontecer.
Uma expressão que diz que ele não está nem um pouco chocado que acabou, mas
o que ele não consegue acreditar é quanto tempo durou em primeiro lugar. É
uma expressão que me deixa com baixa estima, que reforça o que eu deveria
saber sobre Johnny o tempo todo, mas estupidamente optei por ignorar. Eu não
aguento.
— Sinto muito, Jess — ele murmura, balançando a cabeça. Como se eu fosse
uma viúva enlutada.
— Eu terminei com ele — eu deixo escapar do nada.
Os olhos de Mark se arregalam com choque indisfarçável. Ele toma um
grande gole de sua (surpresa, surpresa) vodca-refrigerante.
Impelida pela força com que a mentira saiu da minha boca, eu aceno
vigorosamente e sigo em frente.
— Você sabe como é. Tenho que quebrar alguns corações ao longo do
caminho para chegar aonde você está indo.
O que eu estou fazendo? Não tenho ideia do que estou dizendo agora.
Mark me estuda por alguns segundos, obviamente confuso.
— Então vocês terminaram porque você estava... voltando para Atlanta?
— Isso mesmo. Fiz as malas e o deixei. Pobre rapaz. Recebi uma oferta de
trabalho que não pude recusar.
— Oh sim? — Diz Mark. Um pouco desinteressadamente. De forma
desinteressada, eu poderia simplesmente ter respondido "sim" e deixado por isso
mesmo.
Mas, ah, não. Abastecida com mojito, abandonada pelo ex e desesperada para
provar que está bem, Jess não sabe quando calar a boca.
— Sim. Eu sou uma… decoradora de casas.
QUE BELO INFERNO?
— Oh! — Mark parece tão surpreso quanto eu. Língua de mojito tem uma
mente própria. Preciso sair daqui antes que piore as coisas. — Aonde?
— Só estou terminando uma reforma em Decatur. Eu faço a decoração —
QUE? NÃO.
— Oh sim? — Mark ergue uma sobrancelha presunçosa e bem cuidada. Ele
faz com profissionais? Se sim, adoraria saber o nome de seu designer de
sobrancelhas.
Não. A resposta é não, só estava brincando.
— Sim.
— Isso parece uma explosão — diz Mark. As armas com os dedos fazem outra
aparência infeliz para acompanhar a palavra "explosão".
Enterre-me agora.
— Oh, é sim.
— Jess. — Mark pousa sua bebida e coloca a mão em cada um dos meus
braços. O contato indesejado parece nojento, e eu tenho que resistir a me
contorcer para escapar de suas mãos. — Eu sei que você não terminou com
Johnny. Você não acha que meu melhor amigo fala comigo de vez em quando?
Eu sei que ele está com Sarah, e isso é sério. Você não precisa mentir sobre
terminar com ele. Ou sobre a reforma da casa.
— Eu sou uma decoradora de casas — eu insisto. De repente, sinto um pouco
de lágrimas. — Espere, você acabou de dizer que era sério?
Mark faz uma careta, então suga uma inspiração que assobia por entre os
dentes. Ele me solta de suas mãos e me dá um tapinha no ombro. Como se eu
fosse um cachorrinho.
— Ouvi dizer que ele comprou um anel.
Devo ter ouvido mal. Está barulhento aqui. Escuro também. O que também
pode interferir na sua audição, segundo me disseram.
— Anel?
Mark acena com a cabeça.
— Ele está planejando levá-la às Bahamas no próximo mês para pedir ela em
casamento.
Ele nunca me levou para as Bahamas. Ou em qualquer lugar, por falar nisso.
Eu dou um passo para trás enevoada, olhos embaçados.
Eu não vou chorar.
Eu não vou chorar.
Eu não vou chorar.
Em vez disso, vou me tornar a membro fundadora do Clube dos Haters de
Mark (#clubemarkhaters). Planejarei realizar reuniões semanais para falar sobre
seu cabelo estúpido e tirar sarro de suas armas de dedo. Todos os anos, serei a
anfitriã da convenção Eu Odeio O Mark em Vegas para os membros mais
entusiasmados do clube. Vou fazer camisetas e lembranças comemorativas e...
ok, você entendeu.
O que quero dizer é que não posso acreditar que ele me abordou daquele jeito
com "seu cara" aqui também? Ele sabia o tempo todo o que tinha acontecido.
Que pequeno filho de uma fuinha sujo.
Por que, oh por que, eu não fiquei na segurança da sala de Aiden esta noite?
Eu poderia ter mergulhado em duas canecas de sorvete e uma comédia romântica
em que a garota estranha e peculiar fica com o cara e vive feliz para sempre.
Mas, esta não é uma comédia romântica. É a vida real. E, na vida real, a garota
é posta de lado por uma modelo mais nova, mais brilhante e mais bem-sucedida.
— Tenha uma boa noite, Jess. Cuide-se, ok? — Eu ouço Mark falando, mas
sua voz soa distante.
Uma lágrima ameaça escapar do meu olho, e não hesito mais um momento.
Esqueça Mark. Esqueça Johnny e Sarah e Mindy, Luke e Conor. Esqueça todos.
Eu estou tão, tão farta disso.
Eu pulo em ação e faço um caminho mais curto em direção à saída, apenas
esbarrando em uma mesa cheia de pessoas no meu caminho. Saio para a rua
como uma louca, tentando chamar um táxi.
E, apenas quando estou segura em um táxi, eu deixo as lágrimas derramarem
livremente pelo meu rosto.
Meu motorista, que tem cerca de cem anos e o rosto enrugado como uma uva
passa, me lança um sorriso gentil pelo espelho retrovisor. Como se eu fosse a
primeira garota bêbada que chorou em seu táxi a noite toda. O que eu sei que não
sou. É quase meia-noite. Deve ter havido muitas antes de mim.
— Awh querida, seque esses lindos olhos castanhos — o taxista fala
suavemente, seu sotaque sulista mais forte que melaço. — Seja ele quem for, não
vale as lágrimas de elefante.
Ele me oferece um lenço de papel. Mas, a gentileza do velho tem o efeito
oposto do pretendido porque eu apenas grito mais forte enquanto pego o lenço
de papel dele.
Não estou chorando por Johnny, por si só. Sei que não estou mais apaixonada
por Johnny, e sei que terminar foi o melhor. Mas ser substituída tão facilmente
depois de seis longos anos doeu. Especialmente quando aqueles seis anos
significaram desistir de todos os meus sonhos em favor dos sonhos dele. Só para
que ele pudesse encontrar outra pessoa e me deixar quando achasse.
E um anel? Qual é. Johnny nem mesmo cogitou a ideia de morar comigo.
Eu sei, no fundo, que ele é o pior. Estou feliz que acabou, estou mesmo.
Eu só queria não me sentir como uma idiota patética que partiu juntando um
milhão de pedaços.
12
JESS
CONOR
JESS
JESS
CONOR
JESS
6 Marca de uísque.
vontade de soltar gases em um encontro – ou em qualquer lugar em público –
você deve ir ao banheiro e fazê-lo em particular. Ninguém corre riscos assim.
— Esqueça Marty, o peidorreiro — Digo a minha amiga. — Ele era um
fracasso total. Esse encontro não reflete nada de você como pessoa, você poderia
escolher qualquer cara. E, como eu disse a você, não há nada para você viver
indiretamente quando se trata de mim e Conor. Porque nada está acontecendo.
Ponto.
— Por que não? Ambos são jovens, solteiros e gostosos. E ele está a apenas
um quarto de distância. — Courtney dá um sorriso de Gato Cheshire e eu mostro
minha língua para ela.
— Oh, puxa, muito obrigado por apontar isso, Court. Eu nunca tinha
percebido. — Eu reviro meus olhos para ela. Então, eu suspiro — Mas a questão
é que acho que ele me vê como uma amiga. Ele quase não flerta mais comigo.
Além disso, caras assim sempre sabem quando uma garota acha que eles são
gostosos. O que significa que ele poderia ter agido a qualquer momento e tentado
a experiência completa de colegas-de-quarto-com-benefícios. O que eu teria
recusado, obviamente.
Courtney bufa uma risada, que ela prontamente tenta disfarçar como uma
tosse.
— Não, você não teria.
Mas eu não estou mentindo. Eu teria recusado qualquer proposta como essa.
Porque gosto de Conor como pessoa. Bastante. E não quero ser uma aventura
casual de ninguém – minhas emoções não podem deixar de se envolver. Além
disso, para começar, não gosto desse tipo de coisa.
Mas, apesar de minhas palavras para Courtney, estou começando a achar que
Conor também não gosta desse tipo de coisa. Eu nunca o vi fazer nada mais do
que conversar com outra mulher, e ele também não é o grande paquerador que
eu originalmente imaginei.
Ele tem sido muito doce comigo ultimamente. Um bom colega de quarto e um
bom amigo. Que me empurrou na piscina, em vez de me beijar como pensei que
ele faria. O que me leva ao meu segundo ponto...
— Mas eu não tive que recusar porque ele não tentou nada. O que me faz
pensar que ele provavelmente não se sente atraído por mim.
Eu suspiro profundamente desapontada comigo mesma por me importar
tanto. Não posso acreditar que já se passou quase uma semana desde que Conor
me levou para sua casa para demolição. Quase uma semana desde que ele me
seguiu do bar para casa, me abraçou enquanto eu chorava e fez pipoca para mim.
No dia da demolição, eu tinha certeza de que algo estava se formando entre
nós. A mera memória de suas mãos nas minhas enquanto balançamos a marreta
faz meu corpo formigar. Mas desde então? Nada.
Ele tem estado ocupado no trabalho a semana toda, e só nos vimos
brevemente aqui e ali – embora eu ainda acorde com um bule de café acabado de
fazer todas as manhãs. A maior quantidade do tempo que passamos juntos em
dias foi quando ele me levou para ver a casa em que estarei trabalhando, que é
deslumbrante. Enquanto estávamos lá, ele me deu minha oferta por escrito para
contratar a Brady Homes como decoradora – por mais dinheiro do que eu
ganhava em um mês no Cirque!. Eu disse a ele que era generoso demais, mas ele
insistiu que era o preço normal dos decoradores.
Naquela tarde, corri para a biblioteca e verifiquei todos os livros que eles
tinham sobre decoração de casas.
— Pense nisso, Jess. Você acabou de sair do rompimento, está morando com
ele, e ele lhe ofereceu um emprego – o que significa, tecnicamente, que agora você
trabalha para ele. Talvez ele seja apenas um cara legal e não queira ultrapassar
nenhum limite.
Foi por isso que ele me empurrou na piscina quando eu tinha certeza que ele
iria me beijar? Limites?
— Ou talvez ele só esteja preocupado em chatear seu irmão estúpido —
Courtney continua com um encolher de ombros.
Eu levanto uma sobrancelha para ela.
— Lembre-me, por que você odeia tanto Aiden?
Courtney, com toda a sua arrogância, é surpreendentemente muda sobre o
assunto do meu irmão – a menos que ela esteja reclamando de algo que ele
supostamente fez de errado.
— Eu não o odeio.
— Eu não acredito em você.
— Isso não é sobre Aiden. É sobre Conor. Que é claramente cego se não se
sente atraído por você.
— Mudança suave de conversa — digo a ela. Mas, eu deixo de lado o assunto
sobre Aiden, que é claramente delicado.
Agradeço o apoio de Courtney, mas ela está sendo legal demais. Não sou a
garota que consegue o cara que todo mundo quer. Eu sou a garota que fica para
outra pessoa.
— Cego ou não, não importa. Preciso parar de pensar no fato de que isso
nunca vai acontecer e seguir em frente. O importante é que ele é legal e está
realmente me ajudando a me dar trabalho — Eu sorrio para mim mesma. — O
que é mais do que qualquer cara já fez por mim.
O sorriso de gato de Courtney está de volta.
— E isso, minha querida, é exatamente o que quero dizer.
Depois que Courtney vai para casa para cuidar dos amores de sua vida – Butch
e Cassidy – eu decido que não há tempo como o presente para começar a
trabalhar em algumas pinturas. Estou adiando há dias, lutando contra a
incômoda dúvida e pensamentos de fracasso. Usei convenientemente meus
livros de decoração para procrastinar, dizendo a mim mesma que estava ocupada
demais lendo para fazer minha própria arte.
Mas o trabalho com Conor é único, temporário. Vou precisar de mais
empregos no futuro, então tenho que dar o braço a torcer algum dia. Decidi
facilitar minha criatividade fazendo uma pintura para Aiden. Algo para
agradecê-lo por me deixar ficar em sua casa sem pagar aluguel. Há um ponto
acima do sofá onde eu adoraria pendurá-la.
Murmuro para mim mesma enquanto recupero os suprimentos que comprei
em uma loja de arte local e me instalo no quintal – não vou arriscar pintar o piso
imaculado da casa renovada de Aiden. Espalhei a folha de proteção no gramado
e apoiei minha tela em um cavalete improvisado montado com velhas cadeiras
de plástico de jardim que encontrei no galpão. Obviamente banidas para o exílio
após a reforma do pátio.
Ainda estou de maiô, mas como o dito maiô é uma peça roxa, velha e
enrugada que não faz nada para a minha figura, não estou muito preocupada em
sujar a pintura. Além disso, Courtney ficaria encantada com uma desculpa para
me levar para comprar biquínis. Quando eu apareci fora para tomar sol com ela
mais cedo, eu tive uma palestra de dez minutos sobre abraçar minha gatinha
sexual interior e exibir o que o Bom Deus me deu.
Pfft. Gatinha sensual interior, minha bunda. Tente uma gata malhada, velha,
obesa e com picadas de pulgas com metade de uma orelha faltando.
De qualquer forma, apesar da falta de atratividade inata do meu maiô, me
sinto bastante segura com o fato de que ninguém vai me ver andando no quintal
com meus pincéis. Courtney está acomodada com segurança em casa, Aiden está
escondido em LA e Conor está trabalhando até tarde novamente hoje. Fiz questão
de confirmar por mensagem.
O que significa que sou apenas eu, minha tela e, com sorte, inspiração.
Eu organizei meus pincéis, paleta de mistura e tubos de tinta, e então coloquei
meus fones de ouvido. Também posso ter desenterrado a velha “Heartbreak
Playlist Part 2” – a edição da Taylor Swift.
Com os sons amargos de separação de “I Knew You Were Trouble”
explodindo em meus ouvidos, eu circulo a tela em branco, estudando-a. Eu aceno
para mim mesma, minha adrenalina crescendo enquanto a criatividade começa
a fluir em minhas veias como uma droga. Faz muito tempo desde que pintei, e
agora que trabalhei até este momento, a emoção vibra através de mim.
Eu senti falta disso.
Pego meu pincel, salpico gotas de cor verde-marinho, ocre queimado e
marinho em minha paleta e começo a trabalhar.
Algo engraçado acontece quando você se perde na criação. É como se sua
mente e corpo se tornassem um, se movendo em conjunto para perseguir uma
visão. Você faz algo conceitual se tornar tangível diante de seus próprios olhos.
Espaço, tempo e preocupações – coisas que você tem que fazer, dizer ou ser –
tudo simplesmente se esvai. Quando eu pinto, sou apenas eu e o pincel,
dançando em nosso próprio mundo de cor, movimento e beleza.
Há apenas uma pequena desvantagem em potencial para entrar neste mundo
especial: você perde toda a visão e o controle do mundo real. O que pode ser
maravilhoso.
Mas, também pode ser não tão maravilhoso.
Tipo, quando você está gritando junto com Taylor Swift, andando por aí em
um maiô que perdeu toda a elasticidade da bunda, e o seu colega de quarto
gostoso aparece.
Com a sua corretora de imóveis igualmente gostosa a reboque.
— Urghh! — Eu faço um som estrangulado e solto meu pincel enquanto
Conor e a ruiva da noite no bar – Karla – me encaram. O pincel cai no chão,
enviando um spray de respingos de cor verde-marinho por todas as minhas
pernas no processo.
Minhas pernas muito nuas, muito pálidas e precisando de uma depilação.
Droga, droga droga.
— Conor, Karla... olá! — Eu grito. Minha voz está tão alta que posso ouvi-la
em meus fones de ouvido estridentes. Eu os arranco e jogo no chão ao lado do
meu pincel. Eu cruzo meus braços sobre meu peito. Cruzo minhas pernas.
Descruzo as pernas quando percebo que deve parecer que preciso correr para o
banheiro. Finalmente, eu me conformei em sorrir muito brilhantemente. — E aí?
O tempo todo, os dois simplesmente me encaram como se eu fosse um animal
exótico em um zoológico.
Um hipopótamo, talvez.
E o que há comigo e todas as comparações da natureza ultimamente?
Os traços perfeitos de Karla se contorcem de horror enquanto seus olhos se
movem sobre mim, enquanto o belo rosto de Conor se contorce em diversão
indisfarçável.
— Oi Jess — ele diz com seu sorriso você-sabe-o-quê. Seus olhos verdes
sustentam meu olhar, brilhando com uma risada silenciosa. Ele está claramente
se divertindo muito com isso — Passamos por aqui para pegar a papelada antes
de verificar algumas listas para os próximos projetos e pensamos em dizer oi. O
que se passa com você?
— Ah você sabe — Eu encolho os ombros com indiferença. Ou, da forma mais
indiferente possível, com o rosto vermelho e usando a peça única mais
desfavorável do mundo. — Pintando.
— De maiô?
— Sim — eu digo suavemente. Siga em frente, nada para ver aqui. — É uma
técnica que muitos artistas usam.
— É mesmo? — Conor dá um passo em minha direção. — E como é chamada
essa técnica?
— Pontilhismo — Eu dou um passo para longe dele. Principalmente para que
eu possa pensar melhor. Porque não tenho ideia do por que disse isso.
— Pontilhismo — Conor repete lentamente. Esse sorriso maldito puxa seus
lábios novamente. Aquele que me dá vontade de dar um tapa na cara dele, mas
também gritar “tenha meus bebês!”
Vou para um tom ainda mais alarmante de beterraba. Todo o caminho até
minhas pernas. O que, pelo lado bom, significa que elas não estão mais tão
pálidas.
Karla franze a testa.
— Não é pontilhismo quando você faz muitos pontos minúsculos? — Ela
levanta uma mão perfeitamente bem cuidada e imita o processo.
Claro. Karla não é apenas a epítome da elegância dos negócios em seu
terninho branco, salto agulha de couro envernizado e bolsa combinando, mas ela
sabe que estou mentindo. Ela não tem absolutamente nenhuma pintura em sua
pessoa, sua maquiagem é perfeita e ela provavelmente raspou as pernas esta
manhã, embora esteja de calça. Quem faz isso?
— Pode ser — Eu aceno, tentando parecer casual.
Conor ainda está sorrindo. Mas então, seu olhar se eleva quando ele se
concentra em algo atrás de mim.
Minha pintura.
Meus pulmões se contraem e, por um momento, esqueço minha aparente
determinação de sempre me envergonhar. Eu me viro para ver meu trabalho
através dos olhos de Conor.
Sabe aquela coisa que os homens fazem quando veem uma Ferrari ou uma
lancha sofisticada? Onde eles circulam o objeto lentamente, quase com
reverência, inclinando a cabeça para olhar para ele de todos os ângulos,
estudando-o como se fosse a oitava maravilha do mundo?
É isso que Conor faz com minha pintura.
Conforme ele se aproxima da tela, percebo que estou prendendo a respiração,
esperando sua reação. Também percebo como a reação dele é importante para
mim. E, no entanto, uma sensação quente e difusa se acumula em meu estômago
e se espalha por todo o meu corpo. Ninguém jamais deu esse tipo de consideração
à minha arte antes.
Johnny mal olhou para minhas pinturas. Meus pais achavam que meus
sonhos de ser artista eram apenas isso – sonhos.
Mas, Conor está olhando para o meu trabalho como se isso significasse algo.
Como se importasse.
— Jess — ele finalmente diz, olhando para mim. Minha respiração fica presa
quando vejo o fogo naqueles olhos verdes. — Isto está incrível.
— Você acha? — Não sei para onde olhar, então fico olhando para o chão.
Não estou acostumada a receber esse tipo de elogio.
Conor dá mais um passo em minha direção. E outro. Calor arrepia minha
nuca com sua proximidade. Mas, desta vez, não recuo.
— Jess — ele diz novamente. Sua voz é baixa. — Olhe para mim.
Lentamente, inclino minha cabeça para encontrar seu olhar esmeralda. Cada
nervo do meu corpo chia enquanto olhamos um para o outro.
— É fantástico — diz ele gravemente, seus olhos sinceros. — Quero dizer isso.
Demoro um momento para aceitar que ele está falando sério. Realmente sério.
Ele não está tentando me agradar ou me fazer sentir melhor – ele realmente
gostou.
Meu coração dispara.
— Eu fico feliz. — Minha voz é tão gutural que parece que engoli um enxame
de abelhas.
Há um momento de peso entre nós – um momento de antecipação dolorosa
que me tira o fôlego. É um pouco como o momento na piscina em que ele (talvez)
quase me beijou. Não, parece muito com aquele momento.
Meu corpo vibra e meu cérebro sai pela janela. Minha conversa com Courtney
de repente desaparece muito, muito longe no esquecimento. Agora, posso
acreditar que Conor pode querer me beijar. Agora, tudo que estou ciente é a
intensa atração que sinto por ele.
Não só pelo magnetismo que ele projeta, mas porque, de alguma forma e sem
razão aparente, ele acredita em mim. Parece ver algo em mim que alimenta
minha alma.
Acho que ele deve sentir isso também, porque, ainda olhando nos meus olhos,
ele toca o canto do lábio inferior com a mão.
— Você tem um pouco… — ele murmura, então ele se inclina para frente.
Move a mesma mão em direção ao meu rosto.
E meu coração para.
O tempo para.
Tudo para quando ele passa a ponta do polegar na minha boca. Eletricidade
faísca em meus lábios com seu toque. Eu inalo profundamente e suas pupilas
dilatam.
Seu rosto está a apenas alguns centímetros do meu e sinto minha respiração
acelerar.
Ele vai…
— Tinta no rosto! — O grito de Karla termina a frase de Conor, matando o
momento. E por um momento, eu quero assassiná-la também.
Nós giramos e Conor puxa a mão para trás, piscando como se tivesse acabado
de se lembrar de onde está. Ele respira trêmulo.
— Sim. Você tinha um pouco de tinta no queixo.
— Também está no seu cabelo — acrescenta Karla.
Eu relutantemente movo meus olhos em direção a Karla e, acima de seu
sorriso oh-tão-útil, ela está me lançando adagas, seus olhos estreitos e frios.
A tensão no ar é mais densa do que o melaço. E de repente estou desesperada
para sair desta situação complicada.
Agora.
— Oh, que boba eu — Minha risada nervosa me faz parecer uma colegial. E
não o tipo de colegial Hit Me Baby One More Time . Mais como uma adolescente
fanática por Justin Bieber. — É melhor eu ir me lavar.
Os olhos de adaga de Karla nunca deixam os meus enquanto ela passa um
braço possessivo ao redor do bíceps de Conor e o aperta.
— É melhor irmos de qualquer maneira ou vamos nos atrasar — ela me lança
um sorriso falso de desculpas. — Desculpe, temos que voar, telefonemas de
negócios. Conor não terá nenhuma casa para reformar se ficarmos parados e
conversando o dia todo. Você sabe como é.
Eu não sei como é. E tenho certeza que ela está ciente disso.
A julgar pelo brilho em seus olhos, ela também sabe que fez um ótimo
trabalho em me fazer sentir pequena e sem importância. Apenas uma idiota tonta
e respingada de tinta em um maiô enrugado ao lado de uma mulher de negócios
esguia, bonita e bem-sucedida em um terninho.
Isso parece desconfortavelmente familiar...
A mão de Karla ainda está enrolada no braço de Conor e eu quero afastá-la.
Até que eu viro meus olhos para ele.
Porque, apesar do fato de que Karla tem a vantagem em todos os sentidos
agora – tanto física quanto metaforicamente – ele está olhando para mim.
Atentamente.
— Te vejo mais tarde, Jess — Conor diz em uma voz que envia arrepios na
minha espinha e me faz querer começar a contar os minutos até que “mais tarde”
chegue.
18
CONOR
Vinte e seis minutos depois (sim, eu cronometrei ela novamente), estou dirigindo
minha caminhonete para o meu depósito com uma Jess recém-banhada e sem
tinta no banco do passageiro. A cabine da caminhonete se enche com o cheiro
inebriante de sabonete cítrico e xampu, misturado com sua pele quente e úmida
– ela cheira muito melhor do que qualquer perfume chique.
Ela usa shorts jeans, chinelos e uma camiseta listrada em preto e branco, e seu
cabelo fica solto e úmido em volta dos seus ombros. Ela está usando seus óculos
sensuais de aro grosso de novo, e todo o visual me faz querer dirigir para algum
lugar privado para estacionar como se fôssemos adolescentes.
Mas, Jess merece muito melhor do que isso.
Nós paramos no depósito, e ela me segue até a unidade de armazenamento
da Brady Homes. Eu destranco a porta da garagem e deslizo para abri-la.
Jess solta um grito e eu deslizo um olhar de soslaio em sua direção. Ela coloca
as mãos nas bochechas em puro deleite enquanto olha para dentro.
— Isso é TÃO legal. Como aquele show do Storage Wars! — Ela se vira para
mim, toda branca, com dentes sorridentes e olhos brilhantes. Karla odeia vir aqui
– empoeirado demais – e estou apaixonado por ver o quanto Jess gosta disso.
Eu rio.
— Eu comprei um armário de armazenamento uma vez, como você vê
naquele programa.
— Você fez?
— Sim, parecia que havia alguns sofás bons lá. Mas, acontece que eles estavam
apenas escondendo um cultivo de maconha. Tivemos que entregar tudo à polícia.
Os olhos de Jess são como pires.
— Isso é uma loucura! Melhor do que qualquer coisa que vi acontecer no
programa.
— Na verdade não... eles nem me deixaram ficar com meus novos sofás!
Jess ri enquanto ela pula para dentro. Ela corre o dedo indicador sobre a borda
de uma penteadeira de mogno vintage, em seguida, coloca a palma da mão na
cabeceira da cama king size acolchoada.
— Onde você conseguiu tudo isso?
— Há anos que coleciono móveis. De vendas de garagem, leilões, brechós,
vendas de imóveis – você escolhe. Mia me ajuda, ela adora essas coisas.
Foi uma das minhas melhores ideias – uma que não só tem sido muito
divertida, mas também me salvou uma fortuna em decoração ao longo dos anos.
E Mia tem sido inestimável quando se trata de estilizar as peças velhas e baratas
para ficarem bem em minhas casas.
— Então, qual é a sua ideia? — Jess pergunta agora.
Eu coloco uma mão gentil em seu ombro macio e a viro em direção à parede
direita, onde a coleção de arte está reunida. E eu digo "arte" com uma pitada de
sal.
— Olhe esses — Eu aponto na direção das telas envoltas em plástico. — Me
diga o que você acha.
Jess leva alguns minutos para estudar a mistura de arte de linha geométrica,
tigelas de frutas, gravuras de praias sem nome e genéricas e paisagens urbanas
em preto e branco.
Ela faz uma pausa realmente longa, então olha para mim.
— Hmm…
— Você gosta deles? — Eu empurro.
— Bem, eu... hum, sim.
— Mentirosa — eu digo baixinho, e dou um passo em sua direção. Arrepios
apimentam sua pele enquanto eu me aproximo e aproveito cada segundo de seu
desconforto.
— Eu, uh…
— Você não gosta deles? — Repito sério.
Seus olhos estão arregalados e sua boca se contrai abrindo e fechando. Ela
olha ao redor, olhando para qualquer lugar, menos para mim. Então, ela parece
ceder, balançando a cabeça. Ela enfia uma mecha de cabelo atrás da orelha,
fazendo seu brinco brilhar ao captar a luz.
— Desculpe, eu não quero ser esnobe. É apenas…
Não consigo segurar minha expressão por mais um momento e começo a rir.
Sua boca se abre e ela dá um soco no meu braço. Forte.
— Seu otário! — Ela grita. Me bate de novo.
Eu circulo meus dedos em torno de seu pulso delicado, segurando-o entre o
polegar e o indicador para parar seu ataque.
— Me desculpe, me desculpe — Eu libero meu aperto em seu pulso e envolvo
minha mão em torno da dela. — Eu não pude resistir.
— Isso foi maldoso — Ela faz beicinho, mas mantém a mão na minha. É tão
perfeita ali, pequena e quente em minhas mãos. Eu aperto meus dedos com um
toque e sou recompensado por senti-la estremecer.
— O que eu estava tentando chegar é que colecionar pinturas legais e tal para
decorar tem sido difícil. Arte é uma coisa muito pessoal, e um espaço precisa
mostrar a arte que está nele… enquanto toda a arte que temos apenas preenche
espaços nas paredes. Não acrescenta nada.
— Você quer que eu te ajude a encontrar uma nova arte? — Jess pergunta, e
eu quase rio de sua expressão fofa.
— Não, boba. Eu quero que você faça algo novo. Encha a casa Decatur com
suas pinturas, sua visão. Dessa forma, você pode escolher peças de decoração que
farão sua arte se destacar. Essa casa precisa de algo especial, Jess. E sua arte é
especial.
Ela estremece de novo e eu resisto à vontade de envolvê-la em meus braços.
Um passo de cada vez.
— Vou pagar um extra — acrescento.
— Eu não sei, Conor — Ela franze a testa. Morde o lábio inferior novamente.
— E se os compradores em potencial odiarem?
— Eles não vão — Eu sorrio para ela. — Sua pintura me surpreendeu, eu não
tinha ideia de como você é talentosa.
Seus olhos procuram meu rosto atentamente, como se ela estivesse
procurando por sinais de sarcasmo.
Eu franzo a testa quando algo se encaixa no lugar. Meus olhos examinam seu
rosto.
— Ninguém nunca te disse o quão talentosa você é?
Ela estremece. Remove sua mão da minha e afunda em um sofá de veludo
laranja particularmente vistoso. Sua mandíbula aperta e tenho a impressão de
que ela tem algo a dizer.
Eu me sento ao lado dela. Espero pacientemente, dando-lhe tempo para falar
se ela quiser.
— Aiden sempre me diz o quanto gosta da minha arte. Para ser justa, ele tem
que fazer isso, ele é meu irmão — ela começa lentamente, e então sorri com o
pensamento. Eu amo o quão próximos eles são – assim como Mia e eu. Então, seu
rosto escurece. — Mas, Johnny... Bem, Johnny costumava agir como se estivesse
me dando indulgência, como se fosse um hobby idiota que não levaria a lugar
nenhum.
Ela encara suas mãos, seus ombros caídos, e meu coração realmente dói ao
vê-la assim. Ela enfia uma mecha de cabelo atrás da orelha e continua.
— Acho que, com o tempo, as palavras dele começaram a penetrar e eu
comecei a acreditar nelas também. Comecei a acreditar que estava perdendo meu
tempo. Que havia coisas melhores para eu fazer...
Ela para de falar e eu não posso mais evitar. Eu chego mais perto e olho
diretamente em seus olhos. Eu empurro aquela mesma mecha de cabelo para trás
de seu rosto, deixando meus dedos permanecerem em sua têmpora. Seu pulso
salta sob o meu toque, e eu engulo em seco antes que possa dizer minhas
próximas palavras.
— Jess, acredite em mim, você não está perdendo tempo pintando. Você tem
verdadeiro talento. Johnny é um idiota por não ver isso.
— Obrigada — ela diz, mas não tira os olhos das mãos.
Eu inclino suavemente seu queixo para que seus olhos encontrem os meus.
— Quero dizer isso. Eu quero que seu trabalho artístico lidere a decoração.
Pinte o que quiser e escolha os móveis e a decoração que vão funcionar com a sua
visão.
Seu olhar fica ansioso e preocupado.
— Eu sei o quanto o seu trabalho significa para você, no entanto. Tem certeza
de que confia em mim para fazer isso?
Eu sorrio, nem mesmo tendo que considerar minhas palavras. Eles são
simplesmente a verdade.
— Eu confiaria a você em qualquer coisa.
Ela sorri fracamente em resposta.
— Por que você é tão legal?
— Eu nasci assim.
Ela me empurra. Mas, seu sorriso se alarga em um sorriso verdadeiro.
— Ok — diz ela lentamente. Então, ela pula de pé. Acena com a cabeça. —
Vamos fazer isso.
Jess passa a próxima hora examinando móveis, coleções de vasos e vários
vasos de plantas. Ela vasculha caixas de cortinas, roupas de cama e mantas. E,
conforme ela toca couro, madeira e algodão, é como se ela pudesse de alguma
forma invocar ideias de suas texturas. Ela se ilumina, com o rosto brilhando,
sempre que encontra algo de que gosta.
É incrível vê-la se mover pelo espaço. Fico cativado enquanto ela tagarela,
pensando em voz alta. Ela descreve como pode combinar certos itens para fazer
uma combinação, como ela imagina uma aconchegante sala de estar moderna de
meados do século, uma cozinha onde tudo se baseia em mostrar a luz natural do
sol que preenche o ambiente. Nunca a vi falar tanto, nunca a vi vibrar com tanta
vida e vigor.
Eu me agarro a cada palavra dela, entrando em sua visão ao lado dela. Se eu
fechar meus olhos, quase posso fingir que não estamos trabalhando em uma
reforma, mas comprando a casa real que possuo.
E, pela primeira vez, começo a imaginar minha casa realmente parecendo um
lar. Isso é parte do que torna Jess tão bonita – ela tem a incrível capacidade de
trazer calor, vida e emoção para algo tão mundano como comprar móveis. Ela
torna possível imaginar um lar.
Percebo com um choque que vou sentir falta da presença dela mais do que
qualquer coisa quando sair da casa de Aiden. Não vou mais vê-la de manhã, com
os cabelos desgrenhados na cabeça e com seus óculos. Não vou mais sentar ao
lado dela no sofá à meia-noite, nossas mãos se esfregando enquanto comemos
pipoca.
Se eu sei que uma coisa é verdade, é que quero continuar vivendo esses
momentos com ela.
— Conor? — Jess olha para mim, a cabeça curvada e a diversão dançando em
suas feições.
Eu pisco, voltando para a terra.
— Desculpe, eu perdi o que você disse.
— Você estava muito, muito longe lá por um minuto — Jess ri.
Eu nunca quero ficar longe de Jess. Quero estar com Jess, o mais próximo
possível, o tempo todo. Mas, se quero fazer isso com ela, preciso fazer direito.
Começando agora.
— Está com fome? — Eu deixo escapar.
Ela franze a testa.
— Claro... você quer ir para casa, então?
De jeito nenhum.
— Eu estava pensando que poderíamos comer alguma coisa.
As sobrancelhas de Jess se enrugam.
— Tipo, em um restaurante?
— É geralmente onde as pessoas vão comer, sim.
— Eu e você? — Jess se atrapalha, parecendo adoravelmente incerta. Mas
aqueles olhos arregalados não estão apenas nervosos, eu também vejo uma
pitada de... desejo.
E, nesse olhar, eu sei. Ela me quer também.
Eu sorrio lentamente.
— Jessica Shaw, você gostaria de jantar comigo?
Ela exala tremulamente.
— Sim.
— É um encontro.
19
JESS
JESS
Pelas próximas duas horas, Conor e eu corremos pela casa, afofando almofadas,
arrumando flores em vasos, acendendo velas perfumadas e arrumando as camas
dos quartos com lençóis limpos.
No final, optei por um clima contemporâneo na casa, com apenas um toque
de boho chic. Portanto, móveis de sala de estar confortáveis e de cor neutra, uma
linda mesa de jantar de madeira de bordo com cadeiras modernas contrastantes,
cortinas de linho branco, espelho redondo e tapetes de juta. Então, eu trouxe
cores e texturas ricas através de uma infinidade de almofadas em tons de joias,
mantas de tricô e uma verdadeira estufa de plantas em adoráveis vasos de
cerâmica.
Até encontrei uma pequena samambaia de limão para a mesinha de centro.
E, o mais louco de tudo, minhas pinturas adornam várias paredes. Uma série
de cenas de oásis no deserto levemente abstratas e aconchegantes que unem todo
o design. Eu não posso deixar de sentir aquele pequeno salto de esperança em
meu peito. Para mim, parece lindo. Conor me disse mil vezes que ele amou.
Mas, ainda estou muito nervosa por estar, de alguma forma, vendo algo que
ninguém mais verá. Que os possíveis compradores e os investidores em potencial
de Conor irão odiar o lugar. Provando, mais uma vez, que não vale a pena
arriscar na minha arte.
Que provavelmente deveria voltar a trabalhar como garçonete de aberrações
de circo.
— O que você está pensando? — Conor pergunta por trás da pilha de lençóis
que está carregando. Entramos no quarto principal e tenho plena consciência de
que esta é a primeira vez que entramos em um quarto juntos.
A compreensão faz meu interior já misturado se liquidificar ainda mais.
— Apenas nervosa.
Ele coloca a pilha de algodão branco na cama e olha para mim.
— Para a visitação pública ou para o nosso encontro?
— Ambos.
— Não precisa ficar nervosa para a visitação pública, este lugar é fenomenal.
Mordi meu lábio, mas não consegui disfarçar meu sorriso esperançoso.
— Você acha que?
— Eu sei — Conor acena com firmeza. — Eu já te disse que, na minha primeira
casa aberta, o corpo de bombeiros teve que evacuar o local?
— O que?
Conor ri e se senta na beira da cama.
— Eu li online que você deve encher a casa com cheiros caseiros para ajudar
as pessoas a imaginarem suas vidas lá. Então, joguei um pão no forno. E
prontamente me esqueci disso. Avance uma ou duas horas e havia tanta fumaça
saindo do forno que disparou o alarme de incêndio — Ele bufa com a memória
— Karla estava tão sufocada.
— O que aconteceu então?
— Um dos presentes ligou para o corpo de bombeiros, embora eu estivesse
cuidando disso. Era apenas um pedaço de pão fumegante. Eles apareceram com
as sirenes tocando, em marcha completa, preparados para um incêndio na
estrutura. Achei que Karla pudesse me matar. Mas deu certo no final, porque um
dos bombeiros amou tanto a casa que a comprou.
Eu comecei a rir.
— Isso é incrível.
— Foi — Conor concorda com um pequeno sorriso nostálgico. — Então, não
precisa ficar nervosa com a visitação pública hoje. Se você conseguir superar esse
desastre, ficarei totalmente impressionado.
Eu sorrio de volta, tranquila. Mas então, eu percebo o que ele não disse.
Coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Então, eu tenho motivos para estar nervosa para o encontro?
Conor sorri.
— Claro. O segundo encontro é quando as mulheres se apaixonam profunda
e irrevogavelmente por mim. Não há como voltar atrás.
Ele está brincando.
Eu penso.
— Duvido que isso vá acontecer — Eu jogo meu cabelo e tento encará-lo. O
que eu percebi que foi uma ideia muito, muito ruim no segundo que eu encontro
aqueles olhos.
— Oh não? — A voz de Conor desce um tom — Nem mesmo se eu te beijar
direito?
Eu balanço minha cabeça o mais veementemente que posso.
— Quero beijar você agora — acrescenta.
Meus olhos varrem seu rosto e eu engulo em seco. Audivelmente. Alguém
aumentou o termostato para mil aqui?
— Você quer? — Eu coaxo.
— Eu quero. — Conor olha direto para mim e eu respiro fundo — Mas eu não
vou.
A frustração deve ser evidente no meu rosto porque ele sorri.
— Ainda não, de qualquer maneira — ele emenda. — Mas, em nosso segundo
encontro, como eu prometi.
— Tudo bem por mim — Eu digo desafiadoramente, embora meu corpo
inteiro esteja protestando o contrário, não querendo esperar mais um momento.
Muito controlada...
— A menos que você queira fazer as coisas avançar... tenho tempo na minha
agenda para fazer isso acontecer. — Conor olha para o relógio e depois para mim
— Duas horas até o início da visitação pública. Talvez haja tempo para apertar
um segundo encontro.
Conor dá um passo em minha direção e minha mente dá um pequeno passeio
giratório. Minha ansiedade pela visitação pública já está nas alturas, e a
proximidade de Conor, embora inebriante, não está ajudando meus nervos
agora. Eu preciso passar por esta visitação pública antes que eu possa sequer
pensar sobre como seria a sensação de beijar Conor Brady em nosso segundo
encontro.
E então, sabendo que meu cérebro vai girar em um redemoinho direto para
uma queda livre se ele se aproximar, eu pego um elefante decorativo de cerâmica
e o brando contra ele.
— Fique aí, camarada.
— Camarada? — Ele repete, sua boca puxando os cantos.
— Você me ouviu — Eu mexo Ellie na frente dele — Fique atrás. Meu elefante
de ataque morde.
— Você passou de um ataque de samambaia de ataque para um elefante? —
Conor ri — Eu sou tão perigoso?
Sim.
— Não posso me apaixonar por você antes de terminar a visitação pública,
então é melhor você ficar para trás.
— Eu não acho que posso esperar até mais tarde — O olhar de Conor é tão
impetuoso, seu tom tão intenso, que quase deixo Ellie cair e a esmago em
pedaços.
Meu coração dá uma série de saltos para trás quando meus olhos se fixam nos
de Conor. A tensão na sala estala como eletricidade estática. Todas as suas piadas,
provocações e sarcasmo se foram, e ele está apenas olhando para mim. Realmente
olhando para mim.
E minha resolução se reduz a nada.
— Eu também.
Conor se lança em minha direção e é como se não pudéssemos chegar perto
rápido o suficiente. O mundo gira enquanto levanto meu queixo. Fecho meus
olhos. Ansiosa por seus lábios encontrarem os meus...
— TIA JESS! — O furacão Oliver entra na sala em um tornado de macacão
jeans Oshkosh e dedos pegajosos.
Abro os olhos com um sobressalto e dou um passo para trás, quase perdendo
o equilíbrio.
Os olhos grandes e redondos de Oliver se iluminam.
— UM HEFFALUMP8!
Ele se joga em mim e em algum lugar bem no fundo de mim, meus instintos
carinhosos entram em ação. Pego o garotinho em meus braços. Balançando-o no
meu quadril.
Habilidades de maternidade desbloqueadas – simmm!
Solto a respiração instável que não sabia que estava segurando.
— Ollie! Oi! De onde você veio?
— Mamãe está aqui — ele murmura, enrolando um braço rechonchudo em
volta do meu pescoço e acariciando Ellie com o outro.
— Sua mãe está aqui? — Eu pergunto.
— Lá embaixo.
— Tia Jess? Uma reunião e você já é família, hein? — Conor diz, mas sua voz
é leve e provocante.
— Olá, tio Conoww — Oliver olha para Conor sério — O que você estava
fazendo?
Boa pergunta, homenzinho. Ótima pergunta.
Finalmente ouso olhar para Conor, curiosa demais para me importar com o
quão envergonhada devo parecer.
Um pequeno sorriso delicioso aparece em seus lábios enquanto fazemos
contato visual.
— Não sei o que estávamos fazendo — diz Conor. — Tia Jess aqui parece me
fazer esquecer todas as minhas regras.
Ollie olha para mim, decepção estampada em seus traços minúsculos.
— Você e o tio Conoww estão sendo maus?
Eu ri.
— Sim, eu acho que nós estamos, Oliver. Que bom que você nos parou.
Conor me olha por cima da cabeça da criança.
— Até mais tarde.
CONOR
9 City slicker é uma expressão usada para alguém acostumado a uma cidade
ou estilo de vida urbano.
forte, só porque eu posso. Então, eu o olho bem nos olhos, desafiando-o a mostrar
fraqueza.
Não tenho ideia de por que meus pelos estão tão arrepiados agora. Há
simplesmente algo sobre esse cara.
— Estou procurando por Jessica, na verdade. Jessica Shaw — Ele está
positivamente sorrindo agora enquanto olha ao redor da sala lotada.
Eu largo sua mão como se tivesse sido queimada, a realização me acertando
no rosto.
É aquela babaca idiota do bar.
Aquele que fez Jess chorar.
O melhor amigo de seu ex.
De repente, todos os meus instintos raivosos e territoriais fazem um pouco
mais de sentido. Coloco meu maior e mais falso sorriso.
— Oh, como você conhece Jess?
Com o uso casual do nome de Jess, o homem parece prestar atenção. Ele me
olha direito pela primeira vez, me observando. Sinto o ar ao nosso redor mudar,
esfriando dez graus em um único batimento cardíaco.
— Foi a muito tempo. Vocês?
Lembro-me de Jess dizendo que ela mentiu para esse cara, disse a ele que ela
era uma decoradora. Por enquanto, não é mentira, mas faço questão de
embelezar. Só um pouco.
— Ela projetou este lugar inteiro. Incrível, não é?
O queixo de babaca idiota cai aberto. É uma pena que não haja nenhum gel
de cabelo projetado para manter uma expressão de choque firme no lugar.
— Uau.
— Eu sei. Ela é incrível, a melhor da cidade — Estou realmente me aquecendo
agora. — Ela está em alta demanda, ela tem uma lista de espera de meses de
duração. Venha, vou te levar ao jardim. Ela ficará encantada de ver um velho
amigo, já que vocês se conhecem a muito tempo e tudo.
Posso ver que ele quer dar uma desculpa para ir embora, mas ele realmente
não tem escolha neste momento. Ele se encolheu em um canto. Na verdade, ele
parece francamente confuso. A julgar pela forma como seu sorriso arrogante não
está em lugar nenhum, ele obviamente parou na visitação aberta simplesmente
para pegar Jess mentindo. Humilhá-la ainda mais.
Que pouco…
— Como você conhece a Jess? — o homem pergunta enquanto me segue pela
sala.
Dou a ele um sorriso ainda maior e baixo minha voz conspiratoriamente.
— Depois de pedir sua ajuda por semanas, ela finalmente concordou em fazer
esse trabalho comigo. Mas, espero que leve a mais. Ela está em alta demanda em
mais de uma maneira, se é que você me entende.
Eu faço a coisa toda piscadela-piscadela-cutucada para realmente esfregar
isso, e por um momento, eu acho que posso ter ido longe demais. Atuar nunca
foi meu forte.
Mas, um Oscar pode estar no meu futuro ainda, porque de alguma forma, o
cara o compra isso. E a julgar pela maneira como suas sobrancelhas praticamente
saltam do seu rosto, parece que ele não está aqui apenas por Johnny. Ele
claramente tem segundas intenções com a ex-namorada de seu bom amigo.
Cara elegante.
Eu dou a ele um olhar falso de desculpas.
— Oh! Desculpa! Vocês costumavam estar envolvidos?
Ele se sacode.
— Não, eu, uh...
Dou um tapinha no ombro dele, cheio de pena.
— Má sorte, mano.
A essa altura, estamos do lado de fora e Jess está a apenas alguns metros de
distância, conversando com Luke e Pete. O que não poderia ter funcionado
melhor, a julgar pela forma como o rosto deste cretino escurece.
— Jess! — Eu chamo, avançando.
Ela olha para cima e um milhão de emoções cruzam seu rosto quando ela vê
quem está me seguindo.
— Alguém está aqui para fazer uma surpresa. — Volto-me para o homem e,
no tom mais ambivalentemente agradável e sincero que consigo, acrescento: —
Perdoe-me, esqueci o seu nome. Dick, não é?
Jess gagueja, quase espirrando um gole de sua bebida no pobre Pete, que está
assistindo a cena se desenrolar em perplexidade. A boca de Luke cai aberta.
— Eu nunca te dei meu nome — o homem diz secamente, suas bochechas
ficando vermelhas.
— Mark, o que você está fazendo aqui? — Jess pergunta. A voz dela está
calma, mas eu noto a maneira como ela fecha as mãos na bainha de seu vestidinho
preto (com o qual ela fica incrível, aliás).
— Oh! — Eu dou um tapa nas costas de Mark. Mais forte do que o necessário?
Sim. — Erro meu, Marky Mark.
Dick combinava melhor com ele, eu acho. Mas, talvez seja só eu.
Mark recua e eu quase – quase – me sinto mal por ele. Mas então, eu me
lembro de Jess chorando e eu não me sinto mal.
Enquanto isso, Pete e Luke dão desculpas precipitadas e começam a se afastar.
Terei muitas perguntas para responder mais tarde, mas por enquanto, não me
importo com isso. Eu olho para Mark com expectativa e ele luta por algo para
dizer.
— Você se saiu bem — Ele gagueja, a expressão arrogante que tenho certeza
de que ele aperfeiçoou se foi sem deixar vestígios. — É um lugar legal, Jess.
O rosto de Jess está sombrio.
— Obrigada. Foi só para dizer isso que você passou por aqui?
— Eu – bem – uh, podemos, talvez, conversar em particular? — Mark me
lança um olhar de soslaio e nós dois olhamos para Jess.
Ela cruza os braços sobre o peito. Naquele exato momento, uma brisa quente
nos envolve, tirando o cabelo de seus ombros. Ela parece um pôster de Mulheres
Malvadas que Não Deve Se Mexer.
E, estou aqui para isso.
— Qualquer coisa que você quiser me dizer, você pode dizer na frente de
Conor.
Mark franze a testa e olha entre nós dois.
— O que – vocês dois são algum tipo de coisa ?
— Eu desejo — eu digo firmemente. — Eu teria sorte de ter uma garota como
Jess em minha vida. Qualquer um teria sorte. Você não acha, Mark?
Mark fica com um tom castanho-avermelhado altamente prejudicial à saúde.
Jess, entretanto, olha para mim com a expressão mais significativa que eu poderia
imaginar – gratidão. Gratidão por alguém finalmente ter ficado do lado dela,
defendido ela. Mas a loucura é que a última coisa que ela precisa sentir é grata.
Estou falando a verdade... qualquer um teria sorte de ter Jess em sua vida.
E percebo, naquele momento, que quero ser o sortudo. Seriamente.
Quero que Jess me olhe assim – quero fazê-la sorrir assim – todos os dias da
minha vida. Até ficarmos grisalhos e velhos e tivermos de usar fraldas.
Ok, bem, espero que não a parte das fraldas, mas você entendeu.
Pela primeira vez, estou altamente consciente de que algo está faltando em
minha vida. Ultimamente, pensei que fosse apenas uma família, alguém com
quem me estabelecer. Mas não foi isso. Pelo menos não completamente...
Eu estava procurando por Jess. Ela estava faltando na minha vida. E, com ela
ao meu lado, sinto-me inteiro, completo.
Casa.
— Mark, eu acho melhor você ir — Jess diz friamente, continuando a entrar
em seu próprio poder e força. Eu a observo, impressionado e ligeiramente
hipnotizado. — Eu diria para você mandar minhas lembranças para Johnny, mas
não faria diferença. Tenho certeza que você estará se reportando a ele no segundo
em que sair pela porta.
Mark tosse, mas pelo menos tem a boa vontade de parecer aplacado. Como
um garotinho sendo repreendido por dizer uma palavra maldosa.
Eu quase não noto nada disso, porque estou olhando para Jess. Olhando para
a mulher que mudou tudo para mim.
Eu ligaria para Aiden agora para dizer a ele que quero ficar com sua irmã,
mas Jess pode ter algo a dizer sobre isso. Então, esta noite, vou dizer a Jess que
estou totalmente dentro. Que eu quero fazer isso de verdade, aconteça o que
acontecer. Que lutarei por ela e nunca a decepcionarei como seu ex idiota fez.
Que ela é especial e vale a pena.
— Não deixe a porta bater em você no caminho para fora.
A voz doce de Jess corta meus pensamentos e, quando eu olho para cima, ela
está sorrindo para Mark, um brilho diabólico em seus olhos.
Eu quero beijá-la mais do que nunca.
22
JESS
Exausta é um eufemismo.
Estou drenada até os ossos, estourada, esgotada, fatigada, despedaçada,
morta de cansaço. E, no entanto, nunca me senti tão energizada em minha vida.
Porque a visitação pública foi um sucesso estrondoso. As pessoas adoraram o
design, a decoração. Até a arte. Além disso, consegui enfrentar o estúpido do
Mark quando ele apareceu bisbilhotando para meu ex ainda mais estúpido e, o
melhor de tudo, Conor me protegeu a cada passo do caminho.
Ele disse que teria sorte em me ter.
E então, a maior surpresa veio no final do evento, quando Conor anunciou
que estava ocorrendo um leilão silencioso para as obras de arte nas paredes.
Minha arte nas paredes.
E embora eu insistisse novamente que estava feliz em doar minhas pinturas,
que elas não valiam nada, Conor olhou para mim com ferocidade e disse: “não,
não valem”. Ele revelou que já havia vários lances.
Foi mais do que eu poderia ter pedido, e estou além de grata por sua crença
em mim.
Uma onda de felicidade dispara pelo meu corpo enquanto eu coloco a última
caixa de sobras de salgadinhos na parte de trás da caminhonete de Conor. Eu o
coloco no porta malas, viro-me, penso duas vezes e volto, abrindo a caixa para
roubar outro biscoito. Eu enfio na boca.
Mmm. Pedaços de chocolate quente derretem na minha língua, misturando-
se perfeitamente com os sabores de manteiga espessa e açúcar mascavo da massa.
Podemos ter exagerado na comida, mas quem não gosta de biscoitos de
chocolate? Karla, aparentemente. Porque eu não a vi comendo nenhum.
Eu me inclino contra a caminhonete e tiro meu telefone da bolsa. Courtney
tem mandado mensagens de texto a tarde toda, perguntando como estão as
coisas. Finalmente tenho algum tempo para responder.
Courtney: Como foi?
Courtney: Desculpe, não pude estar aí, eu tinha seis cachorros hoje e não achei
que seu namorado gostaria que eu aparecesse com a turma heterogênea.
Courtney: Jess, atenda seu telefone. Estou morrendo aqui!
Courtney: Você está brava por eu tê-lo chamado de seu namorado? Se for
assim, sinto muito. Mas se você não está brava, eu não sinto muito.
Eu gargalho e mando uma mensagem de volta para minha melhor amiga.
Jess: Não estou brava. Também não é meu namorado. Correu super bem!
Courtney: Pinãs coladas na minha casa para comemorar?
Eu me encolho um pouco, de repente muito feliz por ter uma desculpa para
deixar de beber as “famosas pinãs coladas” da Courtney novamente esta noite.
Jess: Não posso, desculpe. Eu tenho um encontro.
Courtney: SEU NAMORADO ESTÁ LEVANDO VOCÊ NO SEGUNDO
ENCONTRO?
Jess: Ainda não é meu namorado. E simmmmm.
Courtney: Estarei aí às 7h amanhã. Penetrante. Porque vou precisar de cada
detalhe pessoalmente.
Courtney: A menos que você queira que eu vá ai mais tarde esta noite. Não
tenho certeza se posso esperar até de manhã.
Jess: Te vejo amanhã *emoji de língua de fora*
Courtney: Seja boazinha. Ou não. *emoji de beijinho*
Estou sorrindo para o meu telefone como uma idiota quando a voz sexy de
Conor me distrai.
— Do que você está sorrindo?
Minha cabeça se levanta para ver que ele está parado na minha frente, os
braços cheios de caixas.
— Oh, eu, uh… — eu gaguejo, então sorrio fracamente — Esquece. Não é
importante.
Ele passa por mim para empilhar o resto das coisas no porta malas da
caminhonete. Então, ele estende a mão. Eu fico olhando para aquela mão grande
por muito tempo. Ele quer que eu a segure? Faça um "toca aqui"? Balançar?
— Pegue minha mão, Jess — ele diz. Mas não de uma forma mandona. De
uma forma suave e sedosa que me dá vontade de fazer tudo o que ele pede.
Eu deslizo minha palma em seu aperto quente, e ele dá um pequeno aperto
na minha mão. Seu sorriso faz meus joelhos fraquejarem e seus olhos claros
fixam-se nos meus.
— Hoje foi ótimo. Você foi incrível, e não posso te agradecer o suficiente.
Minha boca está seca e sinto que vou flutuar em uma nuvem. Porque estou
claramente no céu.
Mas então, sua expressão se torna perversamente brincalhona.
— Agora, você está pronta para começar esta noite?
Não.
Sim.
Eu poderia realmente estar pronta para um encontro com Conor Brady?
Eu me contento com um aceno casual, o coração batendo rápido.
— Onde está Karla?
Conor sorri enquanto subimos o caminho e voltamos para a casa vazia.
— Foi embora — Ele diz. — Todo mundo se foi. Somos só você e eu.
Calafrios explodem em minha pele. Finalmente é hora do nosso segundo
encontro.
Conor me leva de volta para casa e espero que ele apague a última luz da sala
antes de trancar o lugar. Eu suspiro feliz enquanto olho em volta, emocionada e
aliviada com a forma como o dia foi.
Conor apaga a luz da sala, mas então, em vez de se preparar para sair, ele
puxa suavemente minha mão, me levando em direção às escadas.
Eu franzo a testa, perplexa.
— Onde estamos indo?
— Para o nosso encontro.
Ele começa a subir as escadas e a decepção borbulha em meu peito, amarga e
aguda. Eu sei o que está lá – uma tonelada de quartos mobiliados com camas
recém-feitas.
Eu paro rápido, sinais de alerta vermelhos piscando em minha mente.
— Conor Brady, eu não vou para o quarto de uma casa estranha com você...
isso não é o que eu classificaria como um encontro.
Conor se vira para mim e seus olhos verdes brilham com o que parece...
aborrecimento. A decepção cresce, queimando e pesando em meu peito. Eu o
julguei completamente mal esse tempo todo? Não consegui ver o que estava
debaixo do meu nariz? Conor tem feito coisas boas para mim apenas para tentar
me levar para a cama – um entalhe na cabeceira da cama para esquecer amanhã?
E agora que eu disse não, ele está bravo?
Nesse caso, ele é o pior tipo de cara. O pior.
Um flash de raiva queima minhas veias e eu puxo minha mão de seu alcance.
Eu vou para a porta da frente sem olhar para trás, minha cabeça girando
incontrolavelmente. Eu vim aqui com Conor em sua caminhonete, mas preferia
caminhar para casa do que ficar presa com um cara que não entende o conceito
de "não".
— Jess. Espera. Não vamos para o quarto — A voz de Conor fala atrás de
mim. — Apenas olhe para mim, Jess. Por favor.
Há uma severidade em sua voz que eu nunca ouvi antes. E, por algum motivo,
isso me faz virar.
Seus olhos queimam quando olham para o meu rosto e, quando ele fala
novamente, sua voz é cortada e direta.
— Eu estava levando você para um piquenique no telhado. Não para uma
rapidinha em um quarto estranho. O que eu não faço com ninguém, para que
fique registrado. Apesar do que você possa pensar de mim, eu realmente sinto
que o sexo é melhor quando é reservado para alguém especial.
Eu franzo a testa, raiva e decepção ainda acendendo um fogo em minhas
veias. Mas então, eu noto a forma como sua testa se enruga, a forma como seus
lábios se contraem nas bordas. Seus olhos se recusam a encontrar os meus e o
mundo para de girar.
Conor não parece aborrecido ou frustrado. Ele parece... magoado.
De repente, a raiva ardente que senti evapora no ar. Uma onda pesada de
mortificação percorre meu corpo.
— Conor, sinto muito, eu...
Eu paro, sem palavras. Eu claramente fiz uma suposição terrível sobre ele. Eu
me senti péssima.
— Não se desculpe — Conor balança a cabeça e me oferece um pequeno
sorriso. — Eu só quero que você saiba que eu nunca te usaria assim. Eu não sou
esse cara. Você merece muito mais do que alguém que está atrás de uma coisa.
Eu inclino minha cabeça, estreitando meus olhos.
— Então... você não quer me levar para a cama?
Ele ri.
— Claro que gostaria de te levar para a cama, Jess. Eu sou só humano. Mas,
quero conhecê-la ainda melhor. E quero começar o processo de conhecer você
melhor, levando você a um segundo encontro agradável.
— Oh — eu digo estupidamente.
Ele dá um passo hesitante para perto de mim.
— Vale a pena conhecer você, Jess. Quero ficar com você, ouvir seus
pensamentos, descobrir qual é a sua cor favorita, quando você deu seu primeiro
beijo... o que você acha que é o sentido da vida.
Conor focaliza seu olhar em mim, todos os vestígios de riso se foram, quando
ele vem para ficar bem na minha frente. Ele estende a mão e coloca uma mecha
de cabelo atrás da minha orelha, roçando minha bochecha enquanto faz isso.
Minha pele ilumina onde ele a toca, e não posso deixar de me fixar em seu rosto,
a poucos centímetros do meu.
Sua voz cai para pouco mais que um sussurro.
— Eu quero saber tudo isso. Tudo o que faz de você a pessoa que você é. Ok?
— Ok — Eu digo. Minha voz está trêmula e meu batimento cardíaco dispara
descontroladamente.
Conor sorri aquele sorriso lento e sexy dele, e eu quase me derreto em uma
poça.
— Agora que isso está esclarecido, você gostaria de subir? Para o telhado?
Eu concordo. Sorrio também.
— Eu adoraria.
Ele pega minha mão novamente e me leva escada acima, passando pelos
quartos, até o pátio da cobertura. Quando saio, minha respiração falha e pisco
algumas vezes, mal acreditando que isso é realidade. Conor Brady acabou com
todas as minhas expectativas pela milésima vez.
É uma noite feliz – nem muito quente nem muito fria. A brisa quente de verão
traz o cheiro de hortênsias e da fumaça de lenha de um churrasco próximo. Todo
o pátio é decorado com lanternas chinesas bruxuleantes, a luz quente e
aconchegante. Além do pátio, a paisagem urbana de Atlanta é o cenário mais
fascinante. No chão, uma toalha de piquenique quadriculada apresenta uma
tábua de queijos, uma garrafa de champanhe e duas taças de vidro. Ao lado deles,
há um pote do que parece ser um sorvete de chocolate.
Eu olho para ele, boquiaberta, e ele apenas encolhe os ombros.
— Viu? Piquenique.
Não tenho palavras, então decido abraçá-lo. Eu fecho minhas mãos atrás de
seu pescoço e enterro minha cabeça em seu peito. O tecido de sua camiseta é
macio e quente contra minha pele. Ele ri e envolve seus braços em volta de mim,
me abraçando de volta. E, por alguns minutos, ficamos nos braços um do outro,
balançando ao som da trilha sonora da cidade pulsando à distância. Ele me
segura com força, como se ele nunca quisesse me deixar ir, e meu coração brilha.
Quando finalmente nos separamos, ele está sorrindo.
— Eu não tive a intenção de confundir você, ou fazer você pensar que eu não
a respeitava, Jess.
— Você não foi nada além de um cavalheiro — Digo a ele. Bem, um cavalheiro
extremamente sedutor e sexy. Mas, eu não vou dizer isso a ele. — Acho que estou
apenas no limite depois do que aconteceu antes com Mark.
Conor se senta na toalha de piquenique e aponta para o local ao lado dele. Eu
desabo no chão, feliz por descansar minhas pernas cansadas.
— Qual é o problema daquele cara, afinal? — Conor se ocupa me servindo
uma taça de vinho, mas não perco a sombra que cruza seu rosto.
— Ele é o garotinho de recados de Johnny. E eu sei que os dois são patéticos,
mas ainda assim, me incomoda que Johnny queira ficar de olho em mim — eu
esfrego minha nuca enquanto falo, cansada e exausta. — Com toda a
honestidade, estou surpresa que Johnny não tenha me enviado uma mensagem
de texto. Ele adora interferir quando descobre que eu poderia realmente ser feliz
sem ele.
— O que você quer dizer?
Eu ruborizo e olho para o chão. Não sou alguém que compartilha esse tipo de
informação levianamente. Até hoje, poucas pessoas sabem disso sobre mim e
Johnny. Mas, há algo sobre Conor... embora só nos conheçamos há algumas
semanas, sinto que posso confiar nele.
Eu respiro fundo.
— Nós terminamos uma vez antes. Ele não me ligou por dois meses e eu ouvi
que ele estava namorando. Então, fui a um encontro com um cara de quem
realmente gostava e, de repente, Johnny estava ligando, mandando mensagens
de texto e mandando flores.
— E vocês voltaram? — Conor gira seu vinho em sua taça, olhando para o
redemoinho que ele criou.
— Como uma idiota — eu balanço minha cabeça quando a vergonha me
domina. — Eu sou uma idiota.
Eu aperto meus olhos, me lembrando daquela época. Já faz alguns anos.
Apesar de minha luta por independência, meu desejo de ser forte e confiante,
descobri que sou apenas mais uma história triste. O cara parte o coração da
garota. A garota termina com o cara. A garota pega o cara de volta e ele acaba
partindo o coração dela de novo.
Quer dizer, peguei de volta meu ex mentiroso. Deixei ele me machucar duas
vezes. Quem faz isso?
— Você não é uma idiota. — Conor diz bruscamente. — Você é um ser
humano e vocês tiveram uma história juntos. É compreensível o porquê de você
ter tentado novamente. Especialmente se ele tentasse tanto reconquistá-la.
— Talvez — eu arrisco. Se ele soubesse tudo o que aconteceu.
— Você acha que ele tentará reconquistá-la agora, mesmo quando está noivo
de outra pessoa?
— Eu não sei — Eu pego minha unha do polegar, franzindo a testa — Uma
das razões pelas quais deixei Nova York em primeiro lugar foi para colocar
distância suficiente entre nós para ter certeza de que estávamos terminados para
sempre desta vez. Mas, mesmo agora que ele está noivo, ele ainda está enviando
Mark atrás de mim para me verificar. Tipo, ele não me quer, mas não quer que
eu siga em frente.
Conor pousa o copo com estrépito.
— É ele que é um idiota, se for o caso.
Apesar do peso da minha confissão, adoro o quanto Conor não gosta de
Johnny simplesmente porque sabe que ele me magoou. A preocupação dele me
enche daquele tipo especial de luz que você recebe quando as pessoas de quem
você gosta também se importam com você.
— Hum, esta noite, eu… eu não estava com medo do físico, uh, parte de tudo
— Eu gaguejo. — Tipo, quando eu pensei que você estava me levando para cima.
— Eu engulo sem jeito. Pausa.
Conor segura minhas mãos.
— Vá em frente — diz ele suavemente.
Incapaz de olhar em seus olhos, eu encaro nossas mãos entrelaçadas, minhas
bochechas quentes.
— É mais porque eu estava com medo de que fosse tudo o que você queria de
mim. Que você estava sendo legal comigo apenas por esse motivo. Depois de
Johnny, minha confiança está um pouco... inexistente.
— Você não deve ser nada além de confiante, Jess — O polegar de Conor traça
a ponta da minha mão e o movimento me deixa tonta da melhor maneira. — Você
deve ter confiança em si mesma antes de mais nada. Só então você pode ter
confiança em outra pessoa. Em mim e nas minhas intenções. E, para que conste,
não precisamos fazer nada físico até que você esteja completamente pronta. O
tempo que for preciso. Como eu disse, quero conhecer você. Tudo sobre você.
Eu espreito o homem bonito na minha frente, me dizendo para acreditar em
mim mesma. Que vale a pena acreditar em mim. Ele se senta pacientemente, os
olhos fixos no meu rosto abertamente, e eu percebo o que há de tão especial em
Conor – ele não só acredita em mim, mas está me dando espaço e confiança para
aumentar minha fé em mim mesma. Ele não está exigindo que eu derrube minhas
paredes, ele está simplesmente me pedindo para abrir uma janela. Respirar um
pouco de ar fresco.
E, de repente, não quero nada mais do que que ele me conheça... E quero
conhecê-lo também. Cada pedacinho do que o torna quem ele é.
— Roxa. Trevor Newton, décimo ano. No cinema. Eu estava com um bocado
de pipoca na boca quando ele se inclinou e fiquei tão surpresa que engoli tudo.
Ele quase teve que me aplicar a Manobra de Heimlich — um pequeno sorriso
cruza meus lábios —, eu eu não acho necessariamente que haja um significado.
Mais que estamos aqui para fazer o bem, melhorar as coisas. Ser feliz.
Conor pisca.
— Huh?
Quase caí na gargalhada com sua expressão perplexa.
— Você tinha perguntas para mim, e essas são as minhas respostas — Eu
sorrio, feliz por tê-lo pego desprevenido. — E você?
Conor morde o lábio inferior, um gesto inocente que envia um turbilhão de
borboletas por cada um dos meus órgãos internos.
— Azul. Rebecca Sanderson, sétima série, em um desafio. Eu não tinha ideia
do que estava fazendo e bati meus dentes nos dela. Felizmente, melhorei minha
técnica ao longo dos anos.
— E o sentido da vida?
Os olhos de Conor encontram os meus.
— Encontrar alguém de quem você realmente gosta e acordar todos os dias
querendo dar-lhe o mundo. Construindo uma casa com essa pessoa.
A energia corre por meu ser com suas palavras, com sua expressão sincera.
Ele está certo, posso não estar pronta para deixá-lo entrar totalmente ainda, mas
tenho 1000% de certeza de que estou pronta para uma coisa.
Ele me vê olhando e inclina a cabeça.
— O que?
— Eu estava pensando em como me foi prometido um beijo de verdade.
Chamas aparecem em seus olhos e ele puxa suas mãos das minhas. Meu
estômago cai deliciosamente enquanto ele lentamente, meticulosamente, começa
a deslizar suas mãos pelos meus braços. Eu inalo trêmula, respirando seu cheiro
amadeirado e quente. Uma de suas mãos se enreda no meu cabelo, enquanto a
outra segura meu queixo.
Ele se move em minha direção e meu batimento cardíaco acelera. Eu observo
seu queixo forte e angular, sua barba sexy e cabelo despenteado. Ele é o homem
mais lindo que já vi.
E ele quer me beijar.
— É mesmo? — Conor diz baixinho.
Ele se move um pouco mais perto. Ainda não está perto o suficiente.
Eu faço um barulho impaciente e ele sorri. Esse sorriso sexy e sexy. Ele abaixa
a cabeça em direção à minha e seus lábios roçam minha bochecha.
A sensação acende fogo na minha pele e eu respiro fundo.
— Devo beijar você aqui? — ele pergunta, provocando.
Eu balanço minha cabeça, tento torcer minha boca para encontrar a dele. Mas,
suas mãos me seguram firme.
Ele abaixa ainda mais a cabeça, seus lábios pressionando beijinhos ao longo
do meu queixo, fazendo minha cabeça girar. Eu mordo meu lábio para evitar de
gritar alto.
— Aqui? — ele pergunta novamente, sua voz mais baixa. O desejo óbvio em
seu tom desperta uma nova onda de desejo em mim.
— Por favor — eu digo suavemente.
É a palavra mágica.
Sua boca cobre a minha, quente, doce e forte. Minha respiração acelera
imediatamente e eu enrolo meus braços em volta dele, puxando-o para mais
perto. O mais perto que posso chegar. Mas ainda assim, ele me beija lentamente,
tentadoramente. Leva o seu tempo. Suas mãos se movem pelo meu cabelo e eu
deslizo minhas palmas sobre suas costas, sentindo os músculos tensos se
contraírem ao meu toque.
— Conor — eu respiro contra sua boca.
Ele se afasta por um momento, os olhos nadando em um mar de emoções.
— Está tudo bem? Você está bem?
A preocupação em seu tom é o som mais adorável que já ouvi. Ver que ele me
quer, mas que está tentando levar as coisas devagar para me fazer sentir
respeitada e querida, é o suficiente para fazer meu coração explodir. Eu nunca,
nunca conheci um homem como Conor Brady.
Eu sorrio.
— Mais do que bem.
Eu inclino minha cabeça em direção a ele, querendo mais. E ele exige. É o
melhor beijo da minha vida inteira, e estou tonta e tremendo quando finalmente
voltamos para respirar.
Conor passa o dedo pela minha bochecha.
— Está ficando tarde, é melhor eu te levar para casa.
Eu balancei minha cabeça.
— Eu não quero ir para casa ainda.
Meus olhos caídos devem me denunciar, porque ele ri suavemente e beija
minha testa.
— Você está prestes a adormecer em pé. Além disso, não é um encontro a
menos que eu te deixe em casa e te acompanhe até sua porta.
E então, como um verdadeiro cavalheiro, Conor me leva para casa, me leva
até a porta do meu quarto e me dá o beijo de boa noite mais suave e doce que eu
poderia ter sonhado.
— Eu me diverti muito esta noite, Jess — diz ele, com a voz rouca.
Eu sorrio para ele.
— Eu também.
— Posso sair com você de novo algum dia?
— Gostaria disso.
— Bom — Conor aperta minhas mãos e se vira para sair. — Boa noite, Jess.
— Ei, Conor? — Eu chamo atrás dele. Ele se vira.
— Sim?
— Obrigada por um segundo encontro perfeito.
Ele sorri.
— A qualquer hora, colega de quarto.
23
CONOR
Os dias que se seguem ao nosso encontro no telhado são alguns dos meus
favoritos nos últimos tempos.
Em primeiro lugar, a casa Decatur recebe várias ofertas, desencadeando uma
guerra de lances. Karla está em êxtase. E Chaz & Chad estão clamando para
marcar uma reunião e investir na Brady Homes.
Em segundo lugar, o leilão silencioso para as obras de arte de Jess acaba sendo
um sucesso estrondoso, e a senhora que tem a melhor oferta pela casa oferece
uma grande quantidade extra de dinheiro para levar as pinturas junto com a casa.
Todas elas. Ainda não contei a quantia para Jess, porque estou aguardando a
concretização do negócio. Mas mal posso esperar para ver seu rosto quando ela
descobrir.
E por último, mas certamente não menos importante, tenho acompanhado
Jess até a porta de seu quarto todas as noites desde nosso segundo encontro.
Dando um beijo de boa noite e desejando bons sonhos. Porque eu sei que tenho
que – e eu quero – levar isso devagar e com calma com ela. Mostrar a ela, não
apenas dizer a ela, que ela é especial para mim. Que eu realmente me importo
com ela.
Quando ela pensou que eu estava apenas usando-a, só queria levá-la para a
cama, mal pude acreditar. Ela realmente achava que eu a via como uma
oportunidade para uma aventura passageira? Ela parecia tão assustada, tão
ansiosa, que me fez pensar de novo o que exatamente aconteceu com aquele
namorado dela. Como Jess parece acreditar tão pouco em si mesma?
O que quer que tenha acontecido com Johnny, ela me dirá se quiser, quando
estiver pronta. Tudo o que posso fazer até então é tentar fazê-la se sentir querida.
Fazer ela se sentir o suficiente.
Porque ela é mais do que suficiente.
Então, eu a levei em uma série de encontros. Todas as noites, fizemos algo
novo: boliche de dez pinos (onde ela me aniquilou totalmente), filme em um
drive-in (onde nos sentamos na parte de trás da minha caminhonete em uma
pilha de casacos e de mãos dadas), o Aquário da Geórgia (onde ela amou tanto
os tubarões-baleia que comprei um de pelúcia).
Cada encontro com Jess é o melhor encontro que já tive. E, pela primeira vez
em anos, fui de mal passar por um um primeiro encontro, para esperar
animadamente, todos os dias, pelo trabalho terminar para que eu possa levar essa
garota em outra aventura e criar mais memórias com ela.
Eu sei que Aiden estará de volta na próxima semana, e vamos ter que
enfrentar algumas realidades difíceis. Por exemplo, como posso explicar que me
apaixonei pela irmã dele quando ele estava fora? Mas estou determinado a
mostrar a ele que minhas intenções são boas. O mesmo que estou determinado a
mostrar a Jess.
Esta noite, vou levá-la para minha nova casa novamente para uma mudança
de ritmo. Uma espécie de encontro de trabalho. O que, em um local de trabalho
corporativo real, violaria quase todas as regras do manual do RH.
Porque namorando minha decoradora contratada, que por acaso também é a
irmã do meu melhor amigo e nova colega de quarto? Isso é como a tríade de
quebrar regras.
Mas vale a pena quebrar as regras pela Jess. Eu sei isso.
A mão de Jess é quente e macia na minha enquanto subimos o caminho para
minha casa. Quando entramos, ela respira fundo.
— Uau!
Eu sorrio, observando sua reação – a maneira como seus olhos se arregalam,
sua boca se abre em um pequeno “o” perfeito, sua pele bronzeada enruga em
torno de seu sorriso. Eu ficaria feliz em passar dias estudando todas as expressões
de Jess, tentando guardar cada pequeno detalhe na memória.
Eu sabia que minha casa provocaria tal reação. Porque se foram os tapetes
salmão e os pedaços de parede rasgados. E em seu lugar há um grande espaço
de planta aberta que é como uma tela em branco.
Ela se vira para mim e quase posso sentir sua empolgação.
— Você sabe o que vai fazer aqui?
Eu me sinto tímido de repente. Mais uma emoção incomum que Jess arranca
de mim.
— Eu, uh, esperava que você realizasse meus planos comigo — Minhas
bochechas ficam vermelhas enquanto eu falo — Me dar sua opinião.
— Sobre o projeto da casa? — ela chia, e eu aceno.
— Dois segundos — Pego um conjunto de plantas baixas e um pote de lápis
de um armário da cozinha e estendo as plantas pelo chão — Venha dar uma
olhada.
Jess se senta, de pernas cruzadas, na frente dos papéis desenrolados. Está um
pouco mais fresco esta noite, e ela está usando leggings pretas com uma camiseta
rosa claro grande demais que cai em um ombro bronzeado. Ela prende o cabelo
em um coque enquanto se inclina para a frente para examinar as páginas. Seus
óculos escorregam em seu nariz cerca de um centímetro, e eu não posso deixar
de sorrir com o quão bonita ela é.
Eu sento ao lado dela. Nos meus joelhos. Porque não tenho ideia de como as
mulheres conseguem fazer com que sentar de pernas cruzadas pareça tão fácil.
Com um lápis, aponto onde estou pensando em criar uma nova cozinha em
forma de L. Para onde vai o banheiro. Como as portas francesas em estilo
acordeão correrão ao longo da parte de trás da casa, exibindo o bonito jardim
arborizado e a piscina. Ela acompanha, franzindo a testa em concentração
enquanto eu falo.
— O que você acha? — Eu pergunto, ainda um pouco nervoso.
— Incrível! Absolutamente incrível — Ela sorri. — Eu não posso acreditar o
quanto você pode mudar um espaço movendo algumas paredes ao redor.
Eu respiro um suspiro pesado de alívio, ainda sem saber exatamente por que
estou tão preocupado com a opinião dela.
Porque eu me importo com ela, então, eu me importo com o que ela pensa.
Eu a observo traçar os desenhos com o dedo, apaixonada por seus detalhes.
— Você sugere alguma coisa?
Jess dá de ombros.
— Talvez encontre um espaço para uma despensa na cozinha? Esta é uma
casa de família perfeita. Se você eventualmente tiver uma família aqui, você vai
querer uma despensa — Ela se mexe um pouco sem jeito, como se tivesse acabado
de tocar em um tópico tabu. O pensamento a deixa desconfortável?
— Boa ideia — Eu concordo. — Onde você sugere?
Analisamos as plantas da casa juntos por quase uma hora, parando
brevemente para pedir um delivery de comida tailandesa. Encontramos um lugar
para uma despensa, e eu aceito as sugestões de Jess para empilhar a máquina de
lavar e secar na lavanderia para que eu possa adicionar uma pia e expandir o
armário do corredor porque “você sempre vai acumular sapatos".
Quando nossa comida chega (curry vermelho para Jess e Pad Thai para mim,
o tempero secreto), carregamos as caixas para fora e nos sentamos à beira da
piscina. O sol está se pondo e uma explosão de listras vermelhas e rosa
resplandece no céu que escurece. Realmente se parece com a tela de um artista.
— Tão bonita — Jess suspira, olhando para o céu enquanto coloca um pedaço
de frango na boca.
— Você é bonita — Murmuro. Sim, estou sendo brega como uma novela
mexicana agora, mas ela é linda. Eu falo apenas a verdade.
— Nada disso.
— Você é — Eu insisto — Eu soube no segundo que te vi.
Jess bufa.
— Deitada no chão em uma pilha de sujeira?
— Naquele exato momento.
Os olhos de Jess se movem rapidamente e ela morde o interior da bochecha.
Então, ela faz sua própria confissão.
— Eu pensei que você estava muito bem... para um tipo estranho de Charles
Manson.
Eu comecei a rir.
— Por favor, por favor, me diga que você não é secretamente uma daquelas
pessoas deturpadas que escreve cartas para assassinos em série na prisão,
declarando amor por eles?
— É chamado de hibristofilia — Jess diz séria.
Eu recuo em falso horror.
— É melhor haver um bom motivo para você saber disso.
Ela encolhe os ombros.
— O que posso dizer? Sou uma verdadeira fã do crime.
— Esquisita — Eu digo afetuosamente.
— Menos esquisita do que lavar todos os pratos antes de colocá-los na
máquina de lavar.
— Eu disse a você, caso contrário entope o ralo.
— Então desentupa depois — Jess diz levianamente.
Eu engasgo.
— Isso é absolutamente nojento.
Ela coloca seu rosto bem perto do meu.
— Nojento?
— No-jen-to — Eu digo solenemente. Então, eu sorrio — Mas, eu ainda gosto
de você de qualquer maneira.
Jess sorri e me olha por baixo dos cílios.
— Isso é conveniente... porque eu gosto de você também.
Suas palavras são tudo que eu quero ouvir. Eu deslizo minha mão para tocar
a pele sensível e macia na parte de trás de seu pescoço. Meus lábios encontram
os dela, famintos por ela, e ela responde imediatamente, agarrando meus ombros
enquanto caímos de cabeça no beijo mais incrível.
Eu não consigo o suficiente dela. Seus lábios têm um gosto doce e picante.
Minha mente está nadando, e quando ela faz um pequeno barulho em sua
garganta, eu inclino sua cabeça para trás para que eu possa aprofundar o beijo.
Eventualmente, nós nos separamos, respirando com dificuldade, mas eu me
certifico de não deixá-la ir.
— Aquilo foi…
— Uau — Jess termina para mim, sua voz áspera e estridente — Isso foi uau.
Eu a puxo para mais perto de mim, puxando-a em meu peito para um abraço.
Eu enterro meu rosto em seu cabelo, inalando o cheiro cítrico de seu shampoo.
— Eu poderia beijar você a noite toda — Murmuro em seu cabelo.
— Então faça — diz ela.
Eu me inclino para trás para poder olhar para ela, um milhão de perguntas
correndo pela minha mente. Até agora, nossos beijos têm sido doces e suaves,
mas não menos inebriantes. Claro que a quero. Mas, ainda mais do que isso,
quero que ela saiba o quanto me importo com ela.
Estou aqui para jogar o jogo longo com Jess. Aquele em que acabamos juntos.
Esperançosamente para sempre. O que significa dar um passo de cada vez, como
e quando ela estiver pronta. Não há necessidade de me apressar em nada –
porque não vou a lugar nenhum.
— Jess, eu...
Jess olha para a minha expressão séria e sorri suavemente, suas bochechas
brilhando como pétalas de um rosa.
— Apenas beijos — Ela esclarece. — Eu só quero beijar você e dormir em seus
braços.
Seus olhos piscam quando encontram os meus, e meu estômago dá um
solavanco.
— Bem, eu acho que é justo que eu dê a você o que você quer.
Se ela quer adormecer em meus braços, não quero esperar mais um minuto
para abraçá-la. Para envolver meus braços ternamente em torno de seu corpo
para que possamos cair no sono juntos... Neste momento, eu nunca quis tanto
nada.
Jess claramente teve a mesma ideia, ao se levantar de um salto.
— Vamos para casa?
— Vamos para casa — respondo com um sorriso.
Enquanto dirigimos, o ar na cabine da caminhonete parece denso e pesado. A
eletricidade – a tensão – no ar é diferente de tudo que já experimentei. Preciso de
toda a minha força de vontade para me concentrar na estrada à frente, e não na
sensação da mão de Jess na minha. Como as suas unhas arrastam suavemente
nas costas da minha mão, incendiando todas as minhas terminações nervosas.
Achei que essa viagem fosse de apenas quinze minutos. Por que está
demorando tanto?
Meu coração bate forte, e percebo que não me sinto tão animado com a
perspectiva de beijar uma garota desde... bem, provavelmente desde Rebecca
Sanderson na sétima série.
Nunca quis ninguém como quero Jess. E eu quero Jess de verdade. Não
apenas fisicamente, eu quero o coração dela, e quero dar a ela o meu. Sossegar e
ter uma família com ela. Isso tudo parece um pouco louco, mesmo em minha
mente, já que produz esses pensamentos. Mas, quando você sabe, você sabe.
O que eu sei é que Jess é especial, e nunca quero deixá-la ir.
Eu deslizo meus olhos para longe da estrada e olho para ela. Ela está sentada
ao meu lado com uma expressão de dor no rosto.
— O que você está pensando? — Eu pergunto, curioso.
Ela aperta minha mão um pouco mais forte.
— É um pouco estranho? Que somos colegas de quarto, mas, você sabe…
— Estamos indo para casa para se beijar a noite toda? — Eu ofereço, e sou
recompensado com o rubor vermelho feroz de Jess.
— Sim, isso — ela diz suavemente.
Eu rio.
— Acho que teremos que contar a Aiden antes que ele volte.
Jess faz uma pausa e acena com a cabeça.
— Sim... Podemos esperar para fazer isso amanhã? Ligar para ele de manhã?
— Com certeza — Eu sorrio. — Hoje à noite, somos só nós.
— Só nós — Jess ecoa feliz.
Nós finalmente – finalmente – estacionamos para fora da casa de Aiden, e de
repente estou impressionado com o quão incrível foi a sincronia. Que acabamos
aqui, juntos, sob o mesmo teto. Apaixonados um pelo outro no meio de um
conjunto tão louco de circunstâncias.
Estou prestes a desligar o motor quando o telefone de Jess toca, cortando
nossa bolha de felicidade.
Eu gemo e bato minha cabeça contra o encosto de cabeça.
— Por favor, não me diga que é Aiden, ligando porque ele tem um estranho
sexto sentido de irmão e ele de alguma forma ouviu toda a nossa conversa.
Eu olho para Jess, procurando o sorriso em seus lábios. Em vez disso, ela está
pálida enquanto olha para a tela do telefone.
— Muito pior — Ela sussurra — É o Johnny.
Johnny. Eu congelo, meus dedos agarrando o volante.
Ele não ligou depois da visitação pública, como ela pensou que ele faria. Mas,
aqui está ele, ligando quase uma semana depois. Aposto que ele tentou não ligar,
mas acabou cedendo. Só tinha que ficar de olho nela, não é?
A última coisa de que precisamos é que o ex de Jess estrague nossa noite. E
ele não tem uma noiva para ligar? Antes que eu possa pensar no que estou
fazendo, pego seu telefone na velocidade da luz. A boca de Jess se abre enquanto
eu deslizo a barra na tela para atender a chamada.
— Sim?
— Uh, o quê? Olá, Jess? — Johnny parece ainda mais irritante do que seu
amigo Dick. Ele também parece bêbado.
— Não é Jess — Eu digo calmamente — Eu posso te ajudar com alguma coisa?
— Quem é?
— Eu sou Conor. Quem é? — Ok, estou me divertindo agora.
Enquanto isso, Jess está olhando para mim, uma mão em cada bochecha.
Estilo Esqueceram de Mim.
Johnny estala e ri cruelmente.
— O mesmo Conor que estava com ela na visitação pública semana passada?
Mark disse que a arte maluca dela estava espalhada pelas paredes.
— Tenho certeza que sou eu — Eu digo friamente. — E os compradores
adoraram a arte, obrigado por perguntar.
— Vocês estão, tipo, juntos ou algo assim? Jess realmente me deixou por um
operário de construção?
— Jess te deixou porque você é um idiota. Nenhuma outra razão.
— Com licença?! — Johnny enfurece-se ao telefone, gaguejando ligeiramente.
— Você está dispensado — Eu respondo calmamente — E, estou um pouco
ocupado agora. Então, vou perguntar mais uma vez antes de ir, posso ajudá-lo
com algo?
— Não, bem, eu…
— Ok, estamos bem então. Eu diria que foi bom conversar com você, Johnny,
mas não foi.
— Espere…
— Ah, e Johnny? — Eu sorrio loucamente.
— O que? — Johnnyzinho resmunga.
— Por favor, não ligue para minha namorada de novo.
Antes que ele possa dizer mais alguma coisa, desligo o telefone, a adrenalina
correndo em minhas veias. Foi tão bom colocar aquele idiota em seu lugar.
Então, eu vejo o rosto horrorizado de Jess, e minha bravura heroica se
transforma em pó.
— Oh, Jess, sinto muito. Eu não queria ultrapassar, eu só...
Não consigo terminar minha frase porque, antes que eu saiba o que está
acontecendo, Jess se jogou em mim. Sua boca colide com a minha e eu pisco em
choque antes de reagir à sensação de seu beijo. Faminto e desesperado.
E reajo. Todo pensamento racional salta pela janela quando eu me inclino e
desabotoo o cinto de segurança. Eu a puxo para mim, e ela sobe no console central
e no meu colo, me beijando com tanta força que minha cabeça bate contra o
encosto de cabeça. Eu a seguro contra mim, pressionando seu corpo contra o
meu. Cada um dos meus sentidos está acelerado – o cheiro cítrico de sua pele, o
som inebriante de sua respiração vindo forte e rápida, o doce sabor de seus
lábios...
— Obrigada — Ela se afasta o suficiente para sussurrar — Muito obrigada.
Eu encosto minha testa na dela, recuperando o fôlego.
— Eu deveria ter agradecido a ele. Porque se ele não tivesse agido como um
idiota, não estaríamos aqui agora.
Jess joga a cabeça para trás e ri. Uma gargalhada real e profunda que
reverbera ao nosso redor, enchendo cada centímetro do ar com esperança e
felicidade.
Eu me inclino para frente e coloco um beijo na área sensível na base de seu
pescoço, deleitando-me com o fato de poder provar sua pele. Ela estremece,
inclina a boca em direção à minha e, mais uma vez, estamos emaranhados um no
outro.
Procuro a maçaneta da porta e, de alguma forma, saímos da caminhonete e
chegamos à calçada. Eu a inclino contra a caminhonete, inclinando sua cabeça
para aprofundar nosso beijo. Ela responde enrolando as mãos na minha camiseta
e me puxando para mais perto.
Nunca amei beijar tanto quanto agora. Nuca.
— Vamos — Eu digo rispidamente. — Vamos entrar.
Eu deslizo minhas mãos sob suas coxas e gentilmente a pego, segurando seu
corpo contra o meu. Suas pernas envolvem minha cintura e ela se agarra a mim
como um imã, rindo até a porta da frente.
Assim que chegarmos lá, eu a deixo no chão para poder destrancar a porta.
Mas, de alguma forma, acabamos pressionados contra a porta, nos beijando
freneticamente de novo, como se fôssemos dois adolescentes.
Tenho certeza de que a vizinha esquisita da casa ao lado está olhando, mas
não me importo. Estou delirantemente feliz por estar aqui, perdido neste
momento com Jess.
Eu finalmente coloco a chave de minha casa na fechadura, e nós dois caímos
pela porta em uma pilha, rindo loucamente e nos agarrando um ao outro.
Então, eu pisco.
Por que todas as luzes estão acesas?
Eu olho para cima, desorientado, e meus olhos pousam em... Aiden.
Aiden, que não deveria estar em casa por mais alguns dias. Sentado na sala
de estar com os braços cruzados. Seu rosto está marcado com suspeita quando
ele vê Jess e eu, com o rosto vermelho, suado e sem fôlego.
— Surpresa — Diz ele, torcendo a boca em uma careta.
24
JESS
Acorde, é uma linda manhã! Acorde, está um lindo dia! Os pássaros estão
cantando, as abelhas estão zumbindo, os esquilos estão... sendo esquilos. O que
os esquilos fazem?
Enfim, não importa. O que quero dizer é que aconteceu ontem à noite.
Conor e eu nos beijamos até ficarmos sem fôlego. De novo e de novo. E sabe
como achei que nosso primeiro beijo foi o melhor beijo da minha vida? Sim,
ERRADO. Como tudo com Conor, até o beijo fica melhor. Cada. Pequena. Vez.
Ele não estava errado quando disse que aperfeiçoou seu jogo de beijos ao
longo dos anos. Tanto é que eu provavelmente deveria enviar a Rebecca
Sanderson uma carta de agradecimento.
Sério, é tão bom.
E tudo ficou ainda melhor pelo fato de ele me chamar de namorada. E, claro,
há uma boa chance de ele ter dito isso simplesmente para irritar Johnny. Mas vou
aceitar.
E sim, meu irmão inesperadamente voltou para casa. Sim, eu tive que pensar
rápido e inventar uma história estranha sobre como eu estava me agarrando a
Conor porque ele estava me salvando de uma barata voadora particularmente
agressiva. E claro, foi uma merda, depois disso, todos nós tivemos que sentar na
sala de estar e ouvir as histórias muito, muito chatas de Aiden sobre LA (Ok, elas
não eram tão ruins, mas eram muito chatas em comparação com o que eu ytinha
acabado de fazer com Conor).
No entanto, nada disso fez muito para diminuir meu humor. Meus pés
estavam bem e verdadeiramente plantados nas nuvens, e nada poderia arruinar
isso para mim.
E eu também estava feliz em ver meu irmão, por mais inoportuno que fosse o
momento. Até que descobri que ele jogou, sem cerimônia, todos os meus
pertences no chão de seu outro quarto de hóspedes para que pudesse reivindicar
seu próprio quarto de volta. Argh.
Ontem à noite, me acomodei em minha cama nova, muito menos confortável,
com a certeza de que Aiden não tinha suspeitado de nada. Então, uma mensagem
veio.
Conor: Você sabe que estamos compartilhando uma parede agora?
Por mais que eu desejasse que Conor estivesse do meu lado da parede – ou
que eu estivesse do lado da dele – e ele estivesse me segurando e me beijando
como tínhamos planejado, o pensamento me fez sorrir. Um sorriso que
permaneceu em meu rosto até que adormeci.
Meu coração salta quando eu jogo minhas cobertas e salto para fora da cama,
quase escorregando no pequeno tapete felpudo. O quarto de hóspedes não tem
o luxo de um banheiro privativo, então pego minha bolsa de higiene e corro para
o corredor, olhando em volta furtivamente enquanto ando. Não quero correr o
risco de encontrar Conor antes de tomar um banho.
Ando na ponta dos pés pelo corredor e... Sucesso!
Abro a porta do banheiro, olhando para o corredor mais uma vez. E
imediatamente colido com algo duro, sólido e... úmido.
Eu já estive aqui antes. Eu sei exatamente de quem é o peito sólido que acabei
de invadir, porque quem poderia esquecer como é um Conor Brady sem camisa?
Eu grito e salto para trás, observando a visão de Conor em toda a sua glória
pós banho. Seu cabelo está úmido e despenteado, seu peito musculoso brilha com
gotas de água. E – oh meu Deus, ele está em uma toalha.
— Eek! — Eu coloco minhas mãos sobre meus olhos — Desculpa!
Eu tropeço para trás e minhas costas batem na parede. Ele ri, um som baixo e
gutural, e então suas mãos cobrem as minhas, puxando-as dos meus olhos.
— Bom dia, linda — Ele pisca, olhando para mim como se eu fosse algo para
comer. Meu estômago borbulha vertiginosamente ao ver seu sorriso — Alguém
já lhe disse que você está linda de manhã?
Antes que eu possa dizer qualquer coisa, ele me beija na boca. Forte. Seus
lábios são frios e mentolados, e eu estendo a mão para agarrá-lo, puxá-lo para
mais perto. Mas ele já está em movimento. Meus olhos levantam de surpresa,
travando nele enquanto ele sai do banheiro com aquele sorriso enlouquecedor no
rosto. Eu só posso ficar lá, sem fôlego e perplexa.
— Já estou sentindo sua falta — Ele pisca e fecha a porta atrás de si.
Minha mão voa para meus lábios e meu coração vibra contra minhas costelas,
vibrando como um beija-flor. O que acabou de acontecer?
Em transe, vou até o espelho. Então, quase grito de novo ao observar minha
aparência. Eu tenho o caso mais louco de cabelo de quem acabou de acordar e
pedaços feios de rímel pontilham a região sob meus olhos. Isso vai me ensinar a
não dormir com maquiagem.
Linda de manhã? Só estou surpresa por ele não ser o único gritando.
Enquanto escovo os dentes e limpo meu rosto com almofadas de algodão
embebidas em removedor de maquiagem, penso em como Conor sempre desafia
minhas expectativas. Como ele vê o melhor em mim, mesmo quando me vê no
meu pior.
Ele quis dizer isso quando disse que era meu namorado na noite passada, ou
foi apenas para tirar vantagem de Johnny? Ele parecia que ia dizer algo sobre isso
quando desligou o telefone, mas meu ataque cheio de adrenalina imediatamente
colocou um ponto final em qualquer conversa.
Estou curiosa para saber o que está acontecendo em sua cabeça... e só há uma
maneira de descobrir.
Corro de volta para o meu quarto e escolho um vestido de verão amarelo
alegre. Então, prendo meu cabelo em um rabo de cavalo.
No momento em que chego à cozinha, Aiden e Conor estão lá – Conor
fazendo café e Aiden fazendo ovos mexidos. Porque nós, irmãos Shaw, temos
bom senso suficiente para saber que o café da manhã é a refeição mais importante
do dia.
A cozinha está impecável, como sempre. Fernie está sentada no meio da ilha
da cozinha, saudável e florescente em seu vaso novo. Eu sorrio para minha
plantinha, lembrando-me do infeliz e muito literal confronto entre Conor e eu.
Quem teria pensado que as coisas seriam assim?
— Dia — Minha voz sai ofegante e trêmula, e os dois homens se viram para
olhar para mim.
— Bom dia, irmãzinha — Aiden coloca sua espátula e se move para me dar
um abraço. — Como foi dormir na sua nova cama?
Eu me inclino para fora de seu abraço e mostro minha língua para ele.
— Terrível. Minhas costas doem.
Aiden sorri.
— Sua punição por mentir para mim.
Meu coração para e quase engasgo com minha própria saliva. Ele sabe? Conor
disse alguma coisa?
— M-mentir para você? — Eu gaguejo. Meus olhos giram de Aiden para
Conor, que parece um pouco pálido de repente.
— Sobre dormir no meu quarto — esclarece Aiden, despenteando meu cabelo.
— Não fique tão assustada, J. Só vou fazer você tirar o lixo e limpar o banheiro
algumas vezes antes de perdoá-la devidamente.
Eu exalo de alívio e coloco um sorriso.
— Qualquer coisa para compensar você, querido irmão.
Rapaz, preciso do meu café da manhã. Agora.
— Aposto que você quase perdeu o controle, vivendo com essa aqui nas
últimas semanas — diz Aiden para Conor, felizmente inconsciente do pânico
momentâneo que acabou de causar. — Ela é mais bagunceira do que eu, estou
surpreso que você não se mudou.
— Foi uma luta, com certeza — Conor fixa seus olhos nos meus, e meu
estômago se revira com o olhar em seus olhos. É o tipo de olhar que me faz querer
trancar Aiden em seu quarto e jogar fora a chave para que eu possa ter esta manhã
com Conor só para mim.
Uau, me apaixonar por alguém realmente trouxe à tona o meu lado egoísta.
Eu tomo um grande gole de café.
— Falando em mudar — Aiden continua alegremente, colocando ovos em um
prato. — Como vai a reforma do seu novo lugar?
— Chegando lá — Conor sorri facilmente.
— Mal posso esperar para ver — diz Aiden, depois sorri de brincadeira. —
Além disso, é hora de você se mudar, agora que minha irmã está dormindo aqui.
Você sabe o que dizem: dois é bom e três é demais.
Aiden ri de si mesmo, definitivamente não é uma piada engraçada, mas meu
grande gole de café desce do jeito errado e eu engasgo pela segunda vez esta
manhã.
Porque Conor vai se mudar assim que as reformas forem feitas em sua casa.
Mas eu? Eu ainda estarei aqui. Provavelmente morando com meu irmão até
nós ficarmos grisalhos e velhos.
Eu olho para Conor, que agora está sentado no balcão e mandando
mensagens de texto. Ele levanta a caneca do "irmão mais legal do mundo" de
Aiden até os lábios, um sorriso tímido em seus lábios, e eu paro por um momento
para encará-lo. Bebendo-o. Ele é tão perfeitamente bonito e muito bem-sucedido
em seu trabalho. Ele tem sua própria casa, seu próprio negócio. Ele tem tudo a
seu favor.
Tudo o que tenho para mostrar são quatro anos de experiência como
garçonete do restaurante com temática de circo e uma única visitação ao público
de sucesso. Uma voz feia, mas muito familiar, me lembra que o sucesso
provavelmente teve mais a ver com as belas reformas de Conor do que com
qualquer coisa que eu tenha feito, de qualquer maneira.
Meu telefone vibra no bolso, me tirando dos meus pensamentos. Eu tiro meus
olhos de Conor, grata pela interrupção.
Conor: Suas costas estão realmente em agonia? Eu conheço um cara que pode
te fisgar com uma massagem muito boa.
Oh Deus, as borboletas estão de volta. Todo um exército delas.
Meu rosto fica vermelho, e eu olho para ver que Aiden está seguramente
absorto em comer ovos antes de ousar olhar para Conor. Quando meus olhos
encontram os dele, ele sorri perversamente.
— Nós vamos? — ele murmura.
Eu digito furiosamente no meu telefone.
Jess: Pare com isso, Aiden está literalmente sentado bem ali.
Os olhos de Conor se arregalam um pouco quando a mensagem chega. Mas
então, ele sorri e começa a digitar. Eu espero por sua mensagem com expectativa.
Aiden escolhe aquele momento exato para se inserir em nossa bolha.
— Para quem você está enviando mensagens de texto? — Ele pergunta a
Conor naquele tom que os caras sempre usam quando falam sobre garotas.
Conor ergue a cabeça e um raio de sol atinge seu rosto. E, vamos colocar desta
forma, ele não parece diferente de um anjo.
— Uhhh, ninguém. Estou, hum, jogando... Angry Birds?
Aiden bufa.
— Isso é estranho, eu não acho que ninguém joga Angry Birds desde, tipo,
2016.
— Conor gosta de Angry Birds — acrescento, prestativamente. — Joga por
horas todos os dias.
Conor coloca seu telefone no balcão e sorri para mim.
— Isso definitivamente me mantém alerta.
— Bem — Aiden coloca outra garfada de ovos em sua boca. —Talvez não
revele sua obsessão secreta de Angry Birds para seu encontro amanhã à noite.
Conor volta os olhos desconfiados para meu irmão e cruza os braços sobre o
peito largo.
— Qual encontro?
Eu me viro para Aiden também, minha testa franzida. Não tenho ideia do que
Aiden está falando... mas já sei que não gosto do que ele quer chegar com isso.
Aiden sorri e estufa o peito com ousadia.
— Lembra daquelas garotas com quem nós saímos antes de eu ir para LA –
Jennifer e Brooke? Marquei um segundo encontro duplo com elas.
Conor, pela primeira vez na vida, parece sem palavras.
Aiden pisca para ele.
— De nada.
Se Conor parece sem palavras, não posso imaginar como eu devo estar agora.
O inferno não tem fúria como uma mulher desprezada…
Provavelmente não é uma boa ideia dar um soco na cara do seu irmão quando
ele está lhe dando alojamento e alimentação grátis na casa dele. Certo?
Eu me inclino contra o balcão da cozinha e agarro minha xícara de café, mal
ciente do calor que irradia queimando minhas palmas. Aiden vai até a pia. Joga
os pratos sujos dentro. Conor também se levanta e coloca os pratos na máquina
de lavar.
Aiden dá um soco no braço de Conor de brincadeira.
— Você não parece tão animado quanto eu esperava. Achei que você gostasse
da Jennifer — Então ele para, examina a carranca de Conor e ri. — Não fique tão
azedo, você não disse que queria vê-la de novo? Eu lembro de você me dizendo
isso.
Meu estômago cai como uma âncora. Mas, eu fixo meus olhos em Conor,
procurando por sua reação antes de tirar conclusões precipitadas novamente.
— Eu, uh… — Conor se debate sem rumo. Meu estômago afunda ainda mais.
Aiden estreita os olhos.
— Espere, finalmente aconteceu alguma coisa entre você e Karla?
Meu queixo quase cai no chão, mas eu me recupero bem a tempo, meu coração
disparando. O que Aiden quer dizer, finalmente? Tipo, é com quem ele espera
que Conor acabe eventualmente?
Conor empalidece.
— Não é isso não. É…
— Mindy, então? — Aiden adivinha.
DESCULPA, O QUE?
Conor balança a cabeça e Aiden sorri.
— Bem então. O que está parando você?
Conor olha para mim. É aqui que devemos contar a Aiden o que está
acontecendo, não é? Mas algo no fundo do meu coração se contrai
dolorosamente, um aperto físico como se estivesse sendo espremido. Conor pode
escolher entre um milhão de mulheres...
Assim como Johnny fez.
Uma onda familiar de bile enche minha garganta enquanto a dúvida se fecha.
As paredes batem de volta ao redor do meu coração. Grandes, com arame
farpado no topo. E uma placa piscando "proibido entrar" em letras vermelhas em
neon.
— Aiden, uh… — Conor começa. Então, ele para e me lança um olhar de
soslaio.
E, de repente, eu sei o que tenho que fazer.
— Ele adoraria ir! — Eu deixo escapar, meu olhar fixo em Conor. Seus lindos
olhos esmeralda se arregalam e eu aceno, pressionando. Aja primeiro, pense
depois, todas aquelas coisas boas. Eu tiro meus olhos dele para olhar para Aiden
— Olhem para vocês, indo a um encontro duplo com algumas gatas.
O que diabos eu estou falando? E desde quando falo como um garoto de
fraternidade? Eu realmente quero que Conor vá a um encontro com outra
mulher?
Não, eu não quero. Mas, é melhor dar a ele a opção antes que ele possa dar
uma de Johnny e me dizer que sou ótima e tudo mais, mas há outra pessoa.
Alguém que tem tudo de uma forma que eu não tenho.
Dar o primeiro golpe certamente fará com que o impacto do soco metafórico
no estômago doa menos.
Aiden me olha de soslaio.
— Uh, você está bem aí, J?
Eu o ignoro. Concentre-se em Conor. Quem está atualmente me encarando,
carrancudo. E, ah, ele fica gostoso quando faz cara feia.
Não! Concentre-se, Jess!
Eu fico olhando de volta, com o rosto impassível. Espero que Conor diga algo.
Confesse tudo. Afirme que ele não quer ir. Qualquer coisa.
Mas, depois de um breve impasse, a boca de Conor se contorce.
— Claro, Aiden. Vamos lá.
E aí está. A verdade. Eu não sou sua namorada, porque Conor Brady não tem
relacionamentos. Ele sai casualmente com muitas mulheres bonitas. E eu sei que
nós tivemos muito mais do que apenas um encontro, mas talvez seja
simplesmente por causa da nossa situação de colegas de quarto. O que
inevitavelmente chegará ao fim em breve. E depois?
Tento não estremecer visivelmente com o soco que suas palavras causam. Ao
pensar nele e Jennifer juntos. Eu me levanto de onde estou encostada no balcão
da cozinha, incapaz de ficar aqui mais um minuto.
— Eu vou ir ver a Courtney.
Aiden faz uma reconstituição perfeita de O Exorcista com a cabeça girando –
ele está praticamente espumando pela boca.
— Courtney, tipo, minha vizinha Courtney?
Ele diz "vizinha" como se fosse uma série de palavrões. Quase esqueci que
eles se odeiam. Ainda não sei o porquê. Mas, como estou com raiva de Aiden por
marcar este encontro duplo estúpido, sorrio para meu irmão como se estivesse
felizmente inconsciente da briga.
— Sim — eu coloquei minha caneca ao lado da pia, propositalmente
derramando café pela borda e no balcão. Estou grata em ouvir Conor
praticamente engasgar.
Extremamente mesquinha, teu nome é Jessica Shaw.
— Por quê? — O queixo caído de Aiden.
— Porque ela é minha nova melhor amiga. E, porque ela está nos preparando
em nosso próprio pequeno encontro duplo para amanhã à noite.
Mas ela não está.
Ela realmente, realmente não está.
O QUE EU ESTOU FAZENDO?
Aiden balança a cabeça, parecendo tão atordoado como se eu tivesse acabado
de dizer a ele que estava saindo com um pequeno marciano verde com três
cabeças e tentáculos de polvo. Enquanto isso, Conor parece ter sido esculpido em
pedra. Bonito, esculpido e totalmente inabalável. O que ele está pensando?
— Ótimo — Conor fala de repente, sua voz um pouco casual demais. Ele vai
até a pia e limpa o café que derramei. — Devíamos ir todos juntos, um encontro
quádruplo. Vai ser aconchegante.
— NÃO! — Aiden e eu gritamos em uníssono.
— Isso não vai acontecer — Eu acrescento.
— Por que não? — Ele me olha calmamente, sua voz monótona — Existe
algum motivo que você gostaria de participar, Jess?
— Não. Sem motivo algum — Eu cerro meus dentes — Na verdade, não sei
por que fui tão precipitada em dizer não. Um encontro quádruplo é uma ideia
fantástica.
Aiden, entretanto, ainda está no trem Courtney.
— Ela gosta de você? — Aiden exige, coçando atrás da orelha — Ela me odeia.
Eu sorrio docemente.
— O sentimento não é mútuo?
— Bem, que melhor maneira de enterrar a machadinha do que um grande
encontro em grupo — Conor diz com muito entusiasmo. Eu resisto ao desejo de
mostrar minha língua para ele.
Aiden ainda está coçando a orelha.
— Não vai ser... estranho?
Sim.
— Não — eu digo, no lugar. — De jeito nenhum. Vou deixar para vocês
fazerem as reservas – mesa para amanhã, às oito da noite. Vou contar a Courtney
agora!
Então, eu saio de lá antes que Conor possa dizer outra palavra.
Na casa de Courtney, busco refúgio sob uma enorme manta rosa estampada e
duas enormes bolas de penugem que parecem pensar que são cachorros de colo.
Courtney está sentada à minha frente em uma poltrona, batendo os dedos no
apoio de braço como se ela fosse o Poderoso Chefão ou algo assim.
— Então deixe-me ver se entendi. Seu irmão voltou para casa. Quase pegou
você e Conor se beijando. Então, você mentiu para ele e disse a Conor para ir a
um encontro com outra pessoa porque...?
— Eu não sei — Eu gemo, enterrando meu rosto nas costas douradas e
peludas de Butch – ou é Cassidy? – e soltando um distintamente parecido com
um pirata — Argggggggggggh.
Courtney dá outra mordida no que parece ser um brownie e mastiga
pensativamente. Pacientemente. Espero por suas palavras de sabedoria.
— Você é ridícula — Ela se voluntaria. — Eu espero que você saiba disso.
Eu jogo minhas mãos para o alto.
— Eu simplesmente surtei. Aiden disse algo sobre Conor ficar com Karla, e
eu não pude evitar.
Courtney balança a cabeça e tira migalhas perdidas de seu colo.
— Conor não quer aquela ruiva. Eu te disse, ele nunca olha para ela como
olha para você.
Eu suspiro, meus dedos apertando na pele dourada do cachorro. Butch, como
se sentisse minha ansiedade, vira a cabeça para lamber minha mão.
— Sim, bem, como você sabe que o mesmo é verdade com Mindy? Ou com
Jennifer? Como posso saber se ele é mais sério comigo do que todas as outras
mulheres em sua vida? É isso que os jogadores fazem, Court. Eles namoram todo
mundo e não se comprometem com ninguém.
Courtney desdenha.
— Bem, você deu a ele a opção de se comprometer com você? Porque você
acabou de me dizer que praticamente o forçou a sair com alguém que não era
você.
Eu franzo a testa. Abro a minha boca e a fecho novamente.
— Você pelo menos pensou em perguntar a Conor se ele queria sair com
Jennifer de novo? Ou você apenas presumiu com base no que Aiden disse?
Eu me sinto um pouco envergonhada de repente.
— Não... acho que não.
— Bem, talvez seja hora de começar a usar esses seus miolos — Courtney se
levanta da cadeira e bate na lateral da minha cabeça com os nós dos dedos. Não
muito gentilmente. — Olááááááááááá? Tem alguém em casa?
Eu afasto a mão dela.
— Então, posso ter exagerado um pouco.
— Um pouco? — Ela grita — Eu não posso acreditar que estou dizendo isso,
mas você é quase pior do que seu irmão no departamento de reação exagerada.
E ele colocou uma placa de "À venda" no meu carro depois que eu o bloqueei
acidentalmente.
Apesar de tudo, eu bufo de tanto rir.
— Ele o quê?
Os lindos olhos azuis de Courtney brilham de indignação.
— Recebi vinte e sete ligações em meia hora!
— E tudo o que você fez foi bloqueá-lo acidentalmente?
— Bem, quero dizer, eu deixei para ele aquela multa falsa de estacionamento.
Mas, como uma piada bem-humorada de vizinhança, isso é tudo — Courtney
acena com a mão com desdém, como se esse detalhe não importasse. — De
qualquer forma, meu ponto é – você exagerou. Diga a Conor que você realmente
não quer que ele vá ao encontro, e tenho certeza de que ele dirá que também não.
Simples.
— Hum, não é tão simples.
— Por que não?
— Há apenas um pequeno detalhe que eu não contei a você ainda — Eu
admito.
Courtney se joga ao meu lado e passa o braço em volta dos meus ombros.
— Tenho certeza de que não é nada que não possamos controlar. O que é?
— Bem, eu disse a Conor que você estava me preparando para um encontro
duplo amanhã à noite, também.
— O QUE? — Ela grita.
— Fica pior — Eu me preparo para sua explosão inevitável — Eu disse a ele e
a Aiden que todos nós iríamos como um grande grupo. Conhece algum cara
solteiro que estaria pronto para um octo-encontro?
Courtney solta uma sequência colorida de palavrões que qualquer marinheiro
ficaria orgulhoso.
Eu puxo a manta sobre minha cabeça.
25
CONOR
JESS
Mas, aparentemente, Conor tem uma ideia totalmente diferente do que significa
estar sozinho.
No segundo em que passamos pela porta da frente, eu me movo para beijá-
lo, mas ele me segura, quase no comprimento do braço. Tento fazer beicinho no
estilo Jennifer para protestar contra a mudança repentina de eventos, mas Conor
apenas passa o dedo pelo meu queixo e sorri.
— Devemos nos trocar primeiro, para que nossa pequena charada doentia
seja verossímil se Aiden voltar de repente para casa?
Eu concordo. Poucos minutos depois, eu acabei de colocar uma velha calça de
moletom e uma regata quando uma batida soa na porta do meu quarto.
Meu coração pula na minha garganta, enquanto eu sento, de pernas cruzadas,
na cama.
— Entre.
Conor entra pela porta, dois copos de água gelada equilibrados em uma de
suas grandes mãos. Ele está vestindo uma camiseta cinza claro e shorts de
ginástica, e seu cabelo castanho dourado está úmido e despenteado. Nunca
deixarei de me surpreender com a rapidez com que os homens podem tomar
banho.
— Oi — Ele diz.
— Oi — Eu olho para a colcha, de repente tímida. De repente, muito ciente de
que Conor está em meu quarto.
Conor coloca os copos na mesa de cabeceira e se senta na beira da cama. Tipo,
bem na borda.
— Jess, eu quero falar com você sobre uma coisa — Diz ele calmamente —
Algo que eu deveria ter falado com você antes de tentar beijá-la novamente.
Seu tom grave me surpreende e minha cabeça imediatamente se inclina em
sua direção. Ele parece sério. Muito sério.
— Falar sobre o quê? — Eu pergunto, minhas palmas formigando.
Ele passa a mão pelo cabelo e o ar se enche com o cheiro limpo de seu xampu.
— Você sabe quando Aiden mencionou o encontro duplo com Jennifer?
Eu concordo.
— Bem, você mal hesitou. Você parecia tão ansiosa para me enviar naquele
encontro com outra pessoa. E estive me perguntando: por quê?
Eu mordo o interior da minha bochecha. É uma pergunta válida. Realmente.
Só não sei por onde começar. Como você diz ao homem por quem você se
apaixonou que é apenas uma questão de tempo antes que ele descubra que é bom
demais para você?
Mas, Conor está olhando para mim com aqueles olhos verdes claros, e eu me
lembro da maneira como ele me tirou daquele restaurante. Ele se preocupa
comigo, eu sei disso. Talvez seja hora de mostrar a ele que também me importo.
E isso significa fazer exatamente a coisa que mais me apavora.
É agora ou nunca. É hora de arrancar o band-aid. Salte do avião. É hora de
Conor conhecer a garota que eu realmente sou. Eu respiro fundo.
— Eu não contei a você toda a história com Johnny. Ele... bem, ele me traiu.
— O que? — A voz de Conor é praticamente um latido, e quase salto para fora
da minha pele com o som. Ele se levanta e anda como um tigre enjaulado. Um
tigre feroz pronto para matar — Ele te traiu? É por isso que você terminou?
A vergonha turva minha visão e sinto uma lágrima gorda rolar pela minha
bochecha. Eu rebato.
— Sim. Ele teve um caso. Com Sarah, a garota de quem ele está noivo.
Há uma longa pausa. Quando ouso olhar para cima, mal reconheço o homem
na minha frente. O rosto de Conor está praticamente roxo, seus olhos em chamas.
Seus punhos estão cerrados como se ele estivesse prestes a abrir um buraco na
parede.
— Conor — Eu sussurro, não tenho certeza do que mais dizer.
Ele se assusta com o som da minha voz e se vira para mim. E no segundo que
seus olhos encontram os meus, cada centímetro de raiva é drenado de sua
expressão. Aqueles olhos verdes brilhantes se enchem de suavidade, e ele está ao
meu lado em um instante, me pegando em seus braços.
— Jess, eu sinto muito — Conor murmura em meu cabelo. Sua voz está calma,
mas pressionada contra ele, ouço seu batimento cardíaco selvagem e irregular. —
Lamento que ele tenha feito isso com você.
Eu me afasto de seu abraço para poder olhar para ele. Porque ainda não
terminei com essa admissão humilhante da verdade. Se contar a Conor a verdade
sobre Sarah foi pular do avião, admitir que a próxima parte é queda livre.
— Isso... isso não é tudo — Eu sussurro, minha voz trêmula — É por isso que
terminamos da primeira vez também.
Conor franze a testa, uma pequena peculiaridade em sua testa. Ele abre a
boca, mas eu o interrompo.
— Alguns anos atrás, de repente ele começou a trabalhar até tarde. O tempo
todo. E, por um tempo, eu acreditei nele. Até que fui ao escritório dele para
surpreendê-lo. Ele não estava lá, e a expressão no rosto de sua secretária me disse
tudo que acho que já sabia, no fundo.
Eu me estremeço com a memória angustiante. Como, mesmo depois do
terrível rompimento, mesmo depois de tentar seguir em frente... Johnny havia
voltado. E eu o aceitei de volta. Eu fui tão rápida em acreditar nele quando ele
disse que seria diferente.
Uma poderosa mistura de dor e compaixão passou no rosto de Conor,
entrelaçando-se na ruga de sua testa, na contração de sua boca. Ele fica sentado
muito quieto por um momento, seus olhos cansados na luz fraca do quarto.
— Por que você não me contou nada disso?
— Eu nunca disse a ninguém — Eu balancei minha cabeça. — Nem mesmo
Aiden, embora eu ache que ele tenha uma ideia de que as coisas não estavam
bem entre Johnny e eu. A coisa toda foi simplesmente... humilhante — Eu
encolho os ombros fracamente — E, além disso, quem quer ficar com uma garota
com uma bagagem dessas?
Conor passa a mão pelo meu braço.
— Todos nós temos bagagem, Jess. E você precisa saber que não fez nada de
errado. Isso é com ele. Ele te tratou horrivelmente, e você não merecia nada disso.
Nem por um segundo.
Eu mordo meu lábio, desesperada para acreditar nele.
Então, os olhos de Conor se arregalam um pouco.
— Espere. É por isso que você me disse para ir ao encontro — Sua voz é aguda,
quebrando ligeiramente. — Porque você acreditou que eu faria isso com você
também?
Uma bolha de vergonha incha na minha garganta e outra lágrima escapa do
meu olho quando eu aceno.
— Olha, Conor, eu sou a garota que é trocada por mulheres como Jennifer e
Karla. Mulheres que têm tudo junto, têm suas vidas planejadas. Mulheres que
não aceitam de volta seus ex-namorados traidores.
Minha voz está mais forte do que o pretendido, mas Conor não recua. Ele me
encara, seus olhos fixos em mim. Me apoiando.
Eu esvazio sob seu olhar amável, balançando minha cabeça.
— Eu sou uma bagunça, Conor. Por que você gostaria de estar com uma
bagunça?
Para minha surpresa, os lábios de Conor se inclinam ligeiramente para cima.
Ele pressiona as costas dos dedos na minha bochecha, seu toque suave
enxugando minhas lágrimas.
— Jess — Ele sussurra, suas mãos se movendo para segurar meu rosto. — Eu
gostaria que você não tivesse passado por nada disso. Eu gostaria que Johnny
tivesse te tratado como você merecia, e eu gostaria de poder apagar cada pedaço
dessa dor. Sinto muito, não posso fazer isso por você. Mas, o que posso fazer é
dizer a verdade.
Seus olhos estão fixos nos meus e eu percebo que não estou respirando. Só
estou ciente do lugar onde sua mão se conecta ao meu rosto e as palavras que
saem de seus lindos lábios.
— Você não é uma bagunça — diz ele em uma voz suave e firme. — Você foi
colocada em situações complicadas e seria o suficiente para atrapalhar qualquer
pessoa. Mas, em vez disso, o que você passou a tornou mais forte, mais corajosa,
mais empática.
O mundo gira, e eu descanso minha testa contra a de Conor em uma tentativa
desesperada de me firmar, processar o que ele está dizendo.
Ele sorri suavemente antes de continuar.
— Tantas pessoas ficariam duras e amargas depois de serem tratadas como
você. Mas você? Você continua lutando, continua acreditando no melhor das
pessoas. Você é uma amiga leal e uma irmã incrível, e você é mais doce, mais
talentosa e mais engraçada do que qualquer pessoa que eu já conheci. Quando
eu olho para você, não vejo uma bagunça. Eu vejo uma obra-prima. Eu vejo cada
pedaço do seu lindo coração como uma pincelada na tela, e o resultado é uma
obra de arte.
Suas palavras passam pela minha pele como chocolate derretido e, de repente,
não estou mais em queda livre.
Mesmo depois de tudo que eu disse a ele, toda vez que tentei afastá-lo, ele
está aqui. Meu paraquedas. Eu tentei cortar as cordas duas vezes agora, me
coloquei de volta nas falhas de queda que eu acreditava que me definiam. Mas,
ele segurou, me animando. Decidido em me pegar antes que eu caia.
Mas, não antes de eu ter me apaixonado profundamente por ele.
Ele ainda está olhando para mim, seus olhos brilhando enquanto se
concentram, sem vacilar, em mim. Como se o que eu digo a seguir fosse a coisa
mais importante do mundo para ele.
E eu sei, em um golpe repentino de certeza, que isso é real.
Ele me pegou.
27
CONOR
JESS
CONOR
— Você está acordado — diz Aiden rispidamente enquanto fica bem na minha
frente. Ele ainda está usando a camisa e as calças do ridículo encontro em grupo
da noite anterior... embora pudesse ter acontecido com a mesma facilidade no
ano passado. A barba por fazer embala sua mandíbula e seus olhos estão
inchados. E ainda, o fogo de mil sóis se enfurece dentro deles.
Ele está segurando duas xícaras de café, mas pela expressão em seu rosto, não
tenho certeza se ele trouxe a segunda para me dar ou para derramar na minha
cabeça.
— Sim — Eu resmungo nervosamente. — Foi uma noite longa.
Eu me sento na cadeira laranja de plástico do hospital onde eu estou curvado
e esfrego os olhos. Ainda estou envolto em uma névoa de sono. A sala de espera
cheira a uma combinação infeliz de água sanitária e café rançoso, mesclada com
o leve cheiro metálico de sangue. Juntos, isso me dá um pouco de vontade de
vomitar na lata de lixo mais próxima.
Eu não diria que sou um homem sensível. Eu doo sangue regularmente e
frequentemente me pego inclinado para a frente, intrigado, quando há uma cena
de operação acontecendo na série House.
Mas nada poderia ter me preparado para o milagre do parto. É sempre difícil
ver alguém que você ama sofrer... E ver minha irmã com tanta dor não é algo que
eu queira reviver às pressas.
Pete estava horas atrasado, então eu sentei ao lado da cama de Mia durante
todo o início do trabalho de parto. Eu fiz exatamente o que a enfermeira sugeriu,
e obedientemente alimentei ela com pedaços de gelo – até que ela mordeu meu
dedo, é claro.
Aparentemente, essa era sua maneira de comunicar que não queria mais gelo.
As coisas ficaram ainda mais assustadoras quando chegou a hora de ela
empurrar. Segurei sua mão como se eu quisesse salvar minha vida, fechei os
olhos com força e fiz uma oração. As marcas das unhas em minha mão podem
ficar ali permanentemente.
Mas, falando sério, Mia foi uma campeã absoluta. Ela estava calma diante da
ausência do marido, sabendo que ele estava correndo na interestadual para
chegar até ela a tempo. E ela ficou mais calma ainda quando o médico disse que
o novo plano era uma cesariana de emergência.
Eu, por outro lado? Sim, tive que me sentar porque me sentia tonto.
Desmaiei. Com a simples menção de uma cesariana.
Eu estava mortificado. Mas também tonto e precisando de um suco de laranja.
Então, vamos apenas dizer que deixei de ser útil para ser um obstáculo de uma
só vez.
Felizmente, minhas orações foram respondidas na forma de Pete aparecendo
a tempo de ir para a cirurgia com Mia. Caso contrário, havia uma chance de os
médicos tivessem dois pacientes nas mesas de operação.
Passei o resto da noite na sala de espera, balançando para frente e para trás,
traumatizado... Brincadeira.
Na maior parte.
Mas uma coisa é certa – eu tenho uma avaliação totalmente nova de como as
mulheres são duronas, fortes e incríveis. Seriamente. O que eles passam para ter
filhos faz com que nós, homens, parecemos um bando de adolescentes pré-
púberes na academia, vestindo camisetas regatas de cores vivas enquanto
tentamos, e falhamos, no supino até a metade do nosso peso corporal (o que pode
ou não, ser uma história triste, mas verdadeira, sobre Conor de quatorze anos e
seus amigos).
A única vantagem de Pete chegar tão tarde ao hospital era que Aiden estava
dormindo na sala de espera quando eu saí. Eu estava exausto demais para falar,
especialmente sobre mim e Jess. Depois de pegar meu telefone para mandar uma
mensagem de texto para Jess e perceber que não havia área dentro no hospital,
caí em um sono desconfortável, mas muito bem-vindo, sem sonhos.
Agora é de manhã. E Aiden e eu somos os únicos aqui – exceto Cynthia, a
rechonchuda e sorridente recepcionista que está nos observando como se
fôssemos o último episódio do Big Brother.
Eu me pergunto onde Jess está. Ela está vindo?
Aiden considera as xícaras em suas mãos, como se ainda estivesse decidindo
o que fazer com a reserva. O silêncio se estende entre nós como um elástico tenso.
Um que está prestes a estourar.
— Café? — ele diz.
O alívio inunda minhas veias e eu, hesitante e com gratidão, pego a xícara.
— Obrigado.
Ele me dá um pequeno aceno de cabeça.
— Pete veio alguns minutos atrás. Ele está correndo para casa para pegar Ollie
e nos pediu para ficar com Mia e conhecer sua nova sobrinha enquanto ele está
fora.
— Nossa nova sobrinha — eu corrijo automaticamente. Porque, em nosso
grupo de amigos unidos, Aiden se tornará "Tio Aiden" para a bebê tanto quanto
eu sou Tio Conor.
Amigos que são como família, certo? É por isso que preciso me explicar para
Aiden o mais rápido possível. Pelo bem da nossa amizade, que eu realmente
valorizo. Nunca quis quebrar a confiança dele, e é hora de enfrentar as
consequências.
— Aiden, eu… — Eu começo, mas ele levanta a mão.
— Vamos fazer isso depois — Ele parece tão cansado quanto eu. — Mia vem
primeiro agora.
— Ok — eu concordo. Porque não apenas sei que ele está certo, também sei
que preciso deixar essa conversa se desenrolar nos termos dele. Por mais que eu
queira perguntar a ele se ele teve notícias de Jess, sei que não é a hora, nem o
lugar.
E assim, caminhamos, por corredores iluminados por lâmpadas fluorescentes
e cheios de máquinas que zumbem, até a sala 5107, onde encontramos Adelyn
Joy Stevenson pela primeira vez. Ela é linda. Perfeita. Incrível em todos os
sentidos. E pela forma que Aiden e eu reagimos a minúscula humana diante de
nós, esta pequena senhorita vai ser uma menina extremamente mimada.
Sério, estou apaixonado.
— Parabéns, você foi incrível — Beijo minha irmã na testa antes de voltar meu
olhar para a pequena Addie, deitada em seu berço ao lado da cama. Ela tem o
mesmo nariz que Mia e eu temos, o que me faz sorrir. — Como você está se
sentindo?
— Exausta. Dolorida — Mia diz cansada. Ela está mortalmente pálida, sua
voz é baixa e ela estremece cada vez que se move, mas o puro amor e paixão
queimando em seus olhos é o suficiente para me dizer que a dor valeu a pena
para ela, agora que Addie está aqui.
Não pela primeira vez nas últimas doze horas, me permiti imaginar estar
nesta situação com Jess algum dia. Como seria a sensação de estar ao seu lado no
nascimento de nossa filha. Ou filho.
Com sorte, eu me sentiria um pouco menos tonto do que desta vez.
Depois de cumprimentar Mia e arrulhar um pouco sobre Addie, Aiden
afunda em uma cadeira perto da cama. Eu fico desajeitadamente perto, em vez
de sentar na outra cadeira. Tenho a sensação de que Aiden não me quer
particularmente sentado ao lado dele agora.
Mas, perspicaz como sempre, Mia percebe minha hesitação. Ela olha
desconfiada de mim para Aiden.
— Está acontecendo algo com vocês dois?
Talvez seja um toque de delírio por falta de sono adequado, mas minha boca
entra em ação antes que meu cérebro o faça e eu respondo à pergunta de Mia
honestamente.
— Estou apaixonado pela Jess.
— Dã — diz Mia, ao mesmo tempo em que Aiden praticamente grita:
— VOCÊ O QUÊ?
O rosto de Aiden fica branco quando ele lança um olhar em pânico de soslaio
para Adelyn dormindo pacificamente. Satisfeito por ela não estar se mexendo,
ele abaixa a voz para um sussurro e repete: "você o quê?"
Mia abana a mão com desdém, fazendo-a estremecer novamente.
— Oh, por favor, ele está apaixonado por Jess desde o momento em que ela
entrou pela sua porta. O cara não tinha esperanças desde o primeiro dia.
Eu faço uma careta para minha irmã.
— Bem, não foi bem assim...
— Você está apaixonado por ela? — Aiden parece perdido. Além de
atordoado. Como um homem que acabou de descobrir que a água não é molhada.
— Eu nem pensei que você sabia o que era amor.
Eu cruzo meus braços defensivamente.
— Uh, posso dizer o mesmo de você, amigo.
Ele encolhe os ombros, sem se sentir ofendido.
— Exatamente. Achei que você e eu sentíamos o mesmo sobre tudo isso –
amor, relacionamentos, namoro... É por isso que avisei a Jess que você tinha
encontros com toneladas de mulheres e que poderia se jogar em cima dela.
Nojento.
Eu olho para o meu amigo severamente, definitivamente ofendido.
— Com licença?
— Ok, ok — Aiden cede a contragosto. — Não toneladas, mas bastante. O
suficiente para que a última coisa que eu esperasse era que você fosse se
apaixonar pela minha irmã – quero dizer, vamos lá, é um clichê.
— Olha, eu não queria que você descobrisse dessa forma. E, eu sei que parece
ruim, mas acredite em mim…
— Jess parece muito feliz desde que voltei — Aiden me olha com um olhar de
morte súbita, seu tom ameaçador entrando em conflito com suas palavras muito
mais agradáveis. — Você fez isso?
Eu pisco, sem saber exatamente como essa conversa está realmente indo.
— Eu faço o meu melhor para fazê-la feliz todos os dias. Para mostrar a ela
que ela é maravilhosa e que minha vida é muito melhor com ela.
— Sim — acrescenta Mia, os olhos brilhando. — Ele quer dizer sim. Ele fez
isso. Eles fazem um ao outro um estupidamente feliz, é adorável assistir. Você
vai ver.
Aiden olha de mim para Mia e de volta para mim.
— Johnny a deixou infeliz.
— Eu sei — eu digo a Aiden — Jess me contou tudo sobre isso e,
honestamente, estou maravilhado com ela. Jess é uma das pessoas mais fortes,
gentis e compassivas que já conheci. E, eu sei que é muito cedo para ela entrar
em outro relacionamento, mas, eu nunca me colocaria em cena se seus desejos e
necessidades não estivessem em primeiro lugar. Nos meus planos e nos dela.
Porque eu quero construir uma vida – um futuro – com ela.
— Meu melhor amigo e minha irmã — Aiden repete, mais pensativo desta
vez.
— Você está começando a soar como Ross de Friends — diz Mia. O que nos
faz rir.
Aiden torce o nariz, e ele se parece muito com Jess por uma sombra muito
assustadora de segundo.
— Preciso de um minuto para me acostumar com isso.
Mia e eu ficamos quietos enquanto Aiden esfrega a testa, fechando os olhos.
Meu estômago se contorce em um nó nervoso enquanto espero por suas
próximas palavras – porque, embora nem Jess, nem eu, precisamos de sua
permissão para estar com a pessoa que amamos, Aiden significa muito para nós
dois. E, como tal, sua bênção significa muito também.
Finalmente, ele suspira.
— Ela sabe que você a ama?
Eu balancei minha cabeça.
— Eu ia contar a ela ontem à noite, mas…
— Você foi interrompido — Aiden termina.
— Exatamente.
Aiden ajusta a gola de sua camisa antes de se inclinar para frente, seu olhar
fixo em mim como se ele fosse algum tipo de cão de caça premiado, e eu sou a
infeliz raposa.
— Então, me diga, Conor. Se ela ainda não sabe que você a ama — A voz de
Aiden está perigosamente baixa. — Por que diabos você ainda está sentado aqui?
Eu lanço para ele um olhar penetrante, meu rosto um ponto de interrogação.
Aiden acena com a cabeça, e é tudo que preciso.
Ele não precisa me dizer duas vezes. Eu freneticamente coloco meu suéter e
corro para beijar a bochecha da minha irmã.
Mia ri, depois geme de dor e usa algumas palavras bem escolhidas de quatro
letras.
— Saia daqui antes que você abra meus pontos!
— Desculpe, desculpe! — Lanço um olhar de desculpas a Mia, em seguida,
bato no ombro do meu melhor amigo ao passar por ele. Eu chego à porta antes
de voltar a mim mesmo — Uh, vou precisar da chave de algum carro.
Aiden me joga as chaves com uma sugestão de sorriso.
— Estou orgulhoso de você, mano... Mas se você estragar tudo com Jess, se
você machucá-la, você é um homem morto. Compreende?
Tenho certeza de que poderia ganhar de Aiden em uma luta, mas ele não
precisa saber que eu acho isso. Então, eu aceno em concordância.
— Alto e claro.
Aiden sorri de verdade, desta vez.
— Bem, o que você está esperando? Vá atrás dela.
E assim, com tudo finalmente arrumado, corro pelos corredores em direção à
saída do hospital.
Porque se esse fosse realmente um episódio de Friends seria "Aquele em que
Conor e Jess têm o seu Final Feliz".
30
JESS
JESS