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THE ROOMMATE

SITUATION
_______________________

ONLY IN ATLANTA #1

KATIE BAILEY
Sumário

1. Jess
2. Jess
3. Conor
4. Jess
5. Conor
6. Jess
7. Jess
8. Conor
9. Jess
10. Conor
11. Jess
12. Jess
13. Conor
14. Jess
15. Jess
16. Conor
17. Jess
18. Conor
19. Jess
20. Jess
21. Conor
22. Jess
23. Conor
24. Jess
25. Conor
26. Jess
27. Conor
28. Jess
29. Conor
30. Jess
31. Jess
1

JESS

Eu esqueci do calor.
Os profissionais de marketing de destinos importantes tentarão convencê-lo
de que a chamam de "Quentlanta" por sua vida noturna sexy. Mas não sou
enganada por um minuto. Oh não. Tenho cem por cento de certeza de que o
cobertor úmido, pegajoso e enjoativo de calor que sufoca mais do que um sutiã
esportivo muito apertado é a verdadeira fonte do apelido da minha cidade natal
(que, a propósito, os atlantes tendem a detestar).
Enquanto dirijo para o sul na I-85, o medidor de temperatura em meu painel
marca trinta e seis. Acrescente o fato de que o ar-condicionado do meu carro
velho quebrou meses atrás e que ainda estou usando a calça de moletom extra-
fofa que vesti antes de sair de Nova York ontem de manhã, e você terá uma boa
ideia de como as coisas estão indo.
Camisa? Encharcada de suor.
Cabelo? Úmido. Emplastrado no meu crânio enquanto, ao mesmo tempo,
conseguia frizz em todas as direções.
Humor? Nem vamos tocar nisso.
Eu levanto outro Twizzler do meu colo – convenientemente dobrando como
um prato – e o coloco entre meus lábios, como se fosse um cigarro. Serei
eternamente grata aos deliciosos alimentos à base de produtos químicos e açúcar
que me fizeram companhia ao longo desta jornada. Pontos de bônus para os
lanches que não derreteram com o sol forte. Em algum lugar da Carolina do
Norte, até dominei a arte de comer Twizzlers sem as mãos. Como uma tartaruga.
Considero isso uma vitória. O que diz muito sobre o estado atual da minha
vida.
Satisfeita por finalmente conseguir focar em alguns (embora questionáveis)
pensamentos positivos, aumentei o volume da minha playlist apropriadamente
chamada de “coração partido”. Aquela que está repetindo nos últimos dois dias
de viagem.
São principalmente canções do álbum 25 de Adele. E eu já ouvi tantas vezes,
agora tenho minhas próprias letras para cada música.
— Oláááá, Johnny — eu canto desafinadamente — Eu dirigi mais de 1.200
quilômetros para fugir de seus pés fedorentos.
É patético. 1.367 quilômetros depois, e o melhor insulto que posso inventar
para o meu ex-mentiroso e traidor é que seus pés cheiram mal?
Quer dizer, eles nem cheiram tão mal.
Implacável pelo fato de que James Corden não vai me convidar para
participar do Carpool Karaoke tão cedo, começo o refrão, agitando meu Twizzler
no ar. Minha voz falha nas notas altas.
— Hello from I-85
— Olá da I-85
It’s been a truly awful drive
Foi uma viagem realmente horrível
And I hope you’re sorry for pushing me out that door
E eu espero que você esteja arrependido por me empurrar para fora daquela
porta
But you’re prob-ah-bly busy with that wh…
Mas você está pro-vável-mente ocupado com aquela pu…
Eu engasgo com a última palavra. Embora a rima funcione, nunca fui de
xingar, especialmente com palavras depreciativas para as mulheres.
Normalmente, eu prefiro alternativas criativas de xingamento. Como pereba
ambulante. Ou... quebra-nozes feioso. Além disso, Sarah realmente não merece
ser xingada. Nem mesmo de quebra-nozes feioso. Ela é legal.
Bem, ela parece legal.
Ela tem um cabelo bonito.
Então é isso.
Mas, o que ela realmente tem a seu favor é que ela não era aquela com uma
namorada séria quando ela e Johnny ficaram juntos.
E, falando sério, estou falando de seis anos.
Sim. Seis anos dos meus loucos vinte, desperdiçados com alguém que
eventualmente me trocaria por uma empreendedora alta, magra e atraente, com
uma carreira deslumbrante no mundo das finanças.
E, no interesse da divulgação completa, por "loucos 20", estou me referindo a
estar falida, incapaz de vender uma única de minhas pinturas e nem mesmo ser
capaz de usar tops reduzidos devido ao meu peito assustadoramente grande.
(Talvez eu queira dizer “entediantes 20?” Afinal, minha ideia de uma boa noite é
mais uma maratona de Friends e uma xícara de chocolate quente do que sapatos
de salto alto e doses de tequila.)
Sob uma série de outdoors me dizendo para "Coma Mais Franguin", mudo de
faixa. Eu ignoro o olhar apavorado do homem no carro ao lado do meu enquanto
ele percebe minha aparência suja, empunhando um Twizzler e armada com
Adele. Seria apenas minha sorte se alguém ligasse com uma denúncia de uma
louca em um Honda prata entrando nos limites da cidade de Atlanta na
interestadual.
O engraçado é que nem estou tão brava com Johnny. Estou mais...
desapontada. Com ele, sim. Mas, mais ainda, comigo mesma. Estou desapontada
por tê-lo seguido até Nova York em primeiro lugar. Que me conformei com uma
relação medíocre com um homem que fazia o mínimo. Desisti de minhas
esperanças e sonhos para ajudá-lo a realizar os dele.
E agora, depois de quatro anos trabalhando como garçonete 60 horas por
semana para pagar as contas – sem mencionar aparecer em incontáveis eventos
financeiros entediantes como a acompanhante de Johnny – o homem passou de
uma bola de carne moída sem graça para um pamonha quente e gostosa. É por
isso que estou voltando para casa com o rabo entre as pernas.
Ainda quebrada. Ainda sem sucesso. Ainda não consigo encontrar uma loja
que venda sutiãs bonitos do meu tamanho.
Ugh, falando em fugir para casa, preciso informar meu irmão que vou dormir
com ele em um futuro próximo. Porque meus pais egoístas venderam a casa e
embarcaram em uma viagem de aposentadoria ao redor do mundo.
Não falamos muito, mas, pela última vez que ouvi, eles estavam ordenhando
iaques no Nepal.
Longa história.
Eu assopro uma mecha de cabelo suado do meu rosto, desligo Adele e ligo
para o Aiden, colocando no viva-voz. O telefone toca e toca até que eu recebo um
eventual, ofegante:
— Alô?
— Sou eu — respondo, e reprimo uma risadinha quando percebo o que fiz.
— O que foi, Jess? — A voz de Aiden, tingida de sono, aquece com a sílaba do
meu nome.
— Você parece cansado.
— Eu estou.
— Eu acordei você?
Uma pausa. Então um suspiro.
— Sim. Mas não se preocupe.
Posso imaginar meu irmão mais velho passando as mãos pelo cabelo escuro
enquanto se senta na cama, o rosto marcado por vincos de travesseiro. Como
fotógrafo profissional de sucesso e consultor de branding, Aiden trabalha muitas
horas e mantém uma rotina de sono incomum.
— Entãããão… — eu prossigo. Não muito delicadamente.
Aiden ri.
— Ok, J. Por que você não me diz o que está acontecendo?
Meu irmão é sempre a pessoa para quem ligo quando preciso de uma
conversa estimulante ou de uma amorosa e bruta. Deus sabe por quê. Embora eu
ame Aiden até a morte, somos opostos em quase todas as áreas importantes. Ele
é alto, eu sou baixa. Ele é rico e bem-sucedido, eu não. As mulheres se aglomeram
ao seu redor, e ele tem prazer em namorar todas elas – ao passo que minha
história de relacionamento consiste principalmente em Kevin Morrison no
décimo primeiro ano (gostei muito de seu aparelho elástico azul) e, depois disso,
Johnny.
Eu respiro fundo.
— Johnny e eu terminamos.
Há uma pausa significativa e a linha telefônica estala quando Aiden passa seu
celular de um ouvido para o outro. Ele tem o estranho hábito de fazer isso a cada
dois minutos enquanto está ao telefone. Ou talvez ele só esteja com medo de
ondas de radiação derretendo seu cérebro, ou algo assim.
Eu sei o que Aiden realmente quer dizer agora: que ele está satisfeito. Que
deveríamos ter terminado há muito tempo. Esse Johnny não me merecia.
Aiden sempre odiou Johnny.
Mas, Aiden é um bom ser humano e um irmão mais velho ainda melhor.
Então, ele morde a língua entre qualquer variação de eu-avisei.
— Sinto muito... Você está bem?
— Estou em Atlanta.
Aiden engasga. O que era de se esperar. Não vou para casa há dois anos.
— O que? — Ele consegue balbuciar.
— Sim, estou a… — Eu olho para a placa de estrada à frente. — Dez minutos
de distância de sua casa.
— Um aviso teria sido útil, J.
— Uhh... você pode considerar isso um aviso sobre sua irmã favorita vir ficar
com você por um tempo?
— Única irmã — corrige Aiden. Desnecessariamente. — Mas J, você vê, a coisa
é–
— Eu não me importo se a casa não estiver limpa. Eu vou limpar — eu adulo.
O que eu poderia oferecer para fazê-lo dizer sim? — E... comida chinesa esta noite
é por minha conta.
— Não, Jess…
— Tudo bem, pizza então — eu insisto.
— Não é isso — diz Aiden. — É que, agora, estou em Los Angeles a trabalho.
Desgraça.
Desgraça, desgraça, duas vezes desgraça.
A última coisa de que preciso é ligar para outra pessoa. Todos os
relacionamentos que deixei em Atlanta estão de alguma forma ligados a Johnny.
Não tenho mais amigos próximos aqui, e o único membro da família de quem
sou próxima é Aiden. Quem eu preciso agora.
Eu vasculho meu cérebro freneticamente antes de recuperar uma ideia
vencedora.
— Você ainda tem aquela chave reserva escondida sob aquele gnomo de
jardim horrível?
Aiden estala a língua, pensando.
— Bem, sim, mas…
— Perfeito — eu o interrompo rapidamente, aproveitando seu estado lento e
sonolento. — Vou entrar. Quando você volta?
— Em cerca de três semanas. Mas Jess, há algo que você…
— Eu prometo que não vou quebrar nada.
— Não, eu…
— Tchauamovocêêêêê — eu canto, desligando antes que Aiden possa
protestar mais.
Cruel? Sim.
Mas, tempos de desespero exigem medidas desesperadas. E para que servem
os irmãos mais velhos? Eu preciso recuar para a casa de Aiden para que eu possa
colocar meus pés no chão. É hora de começar a pensar em mim, para variar. É
hora de colocar minha carreira nos trilhos e perseguir meus próprios sonhos.
Sou uma mulher forte e independente... que só precisa de um lugar de graça
para ficar. Você sabe, por causa de toda aquela coisa sobre estar quebrada e sem
emprego.
Ligo meu pisca-pisca e saio da rodovia.
Eu estava animada para ver meu irmão, e me sinto um pouco desanimada por
não vê-lo por algumas semanas. Mas, há uma vantagem em estar sozinha esta
noite - eu posso chafurdar em um mar de vinho e pipoca enquanto assisto filmes
femininos na TV de tela grande de Aiden sem ninguém me julgando ou me
dizendo para não fazer isso.
Afinal, sou uma adulta.
2

JESS

Uma doce sensação de familiaridade passa por mim quando eu paro do lado de
fora do bangalô tradicional de Aiden em Peachtree Hills. Ele pagou muito caro
por ele alguns anos atrás e, embora o interior seja fechado e simples, meu irmão
ama sua casa como qualquer homem normal de 31 anos amaria sua parceira
humana.
Mas não Aiden. Aiden não faz essa coisa toda de amor. Na verdade, tenho
quase certeza de que sou a única garota para quem ele disse “eu te amo”.
Limpo o suor da testa, abro o porta-malas e pego minha mala surrada e o
único item doméstico que roubei do apartamento de Johnny – uma samambaia
úmida de limão em um vaso rosa ligeiramente lascado. Era uma coisa marrom
triste e desgrenhada quando comprei com cinquenta por cento de desconto no
Green Fingers Market em Greenwich Village. Mas, visto que meu próprio barraco
de apartamento tinha zero de luz natural, dei-lhe um lar na janela ensolarada da
sala de estar de Johnny no Upper West Side. Eu podei e reguei aquela plantinha
até sua saúde plena e voluptuosa.
Johnny pode tirar minha vida, mas ele nunca pode tirar minha planta favorita!
Eu canalizo meu Coração Valente interior e gargalho para mim mesma enquanto
abraço Fernie perto do meu peito. Terra derrama na minha camiseta, mas eu não
me importo. Pode fazer companhia ao ketchup e às manchas de suor.
Mal posso esperar para tomar banho. O aterrorizante motel de assassinato em
que estacionei ontem à noite nos arredores de Richmond prometia
estacionamento gratuito e TV a cabo por cinquenta e nove dólares por noite. O
que ele realmente entregou foi um colchão feito de molas quebradas e
absolutamente nenhuma água quente.
Estou grata por ter saído de lá viva. E sem tropeçar em nenhum cadáver.
— EI! — Uma voz estrondosa corta meus pensamentos, e minha preciosa
Fernie quase escapa das minhas mãos.
Eu me viro e fico surpresa ao ver uma senhora alta e magra e dois Golden
Retrievers babando correndo em minha direção. A mulher usa roupas esportivas
de grife e carrega uma grande mochila preta que balança enquanto ela corre. Seu
cabelo loiro está preso em um rabo de cavalo elegante sob um boné de beisebol.
Abaixo da aba, sua boca está franzida em uma careta. Seus olhos azuis brilham
como a geada matinal, e sua pele é rosada e manchada.
— Sente-se, Butch. Sente-se, Cassidy — Ela puxa as coleiras e os dois cães
largam as bundas no chão obedientemente. Meu primeiro instinto é
cumprimentá-la pelos nomes legais e perguntar se posso acariciar esses lindos
goldens, mas a expressão no rosto da mulher me faz dar um passo para trás em
vez disso.
Eu olho em volta, mas não há mais ninguém na rua. O que significa que ela
deve estar falando comigo.
— Oi?
Em resposta, ela aponta para mim. Aponta.
Dou mais um passo para trás, me preparando para correr. Eu morei em Nova
York por tempo suficiente para reconhecer uma pessoa maluca quando vejo uma.
E saber a importância de se afastar de todas as brigas de rua possíveis. Eu olho
por cima do meu ombro. A casa de Aiden fica a apenas dez passos de distância...
Posso facilmente fugir dela. Vou até sacrificar Fernie, se for preciso.
— Você é do Aiden? — Ela pergunta, seu dedo indicador acusador ainda
apontado na minha direção.
A pergunta bizarra me pega tão desprevenida que esqueço meu plano de
fugir.
— Com licença?
— Ai-d-en — ela diz lentamente. Como se ela estivesse falando com alguém
muito, muito burro. — O cara que é dono desta casa? Você é a namorada mais
recente dele?
Eu franzo o rosto em desgosto, e ela acrescenta:
— Par romântico? Parceira? Conquista? Sabor da semana? O que quer que as
pessoas estejam chamando hoje em dia.
Ela acena com a mão fria e desdenhosa – algo difícil de se fazer quando a
referida mão está presa a duas coleiras de cachorro rosa brilhante.
Ok, então ela sabe o nome do meu irmão. E, aparentemente, não gosta muito
dele. Ela parece ter a minha idade... ela é uma ex rejeitada? Oh, por favor, não.
Não posso lidar com isso agora. Minha cota do Hotel Corações-Quebrados está
cheia neste mês.
— Por que você quer saber? — Eu pergunto com cautela.
— Porque preciso que uma mensagem seja transmitida a ele — Ela diz isso
como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— E o que seria?
— Você pode dizer ao seu namorado para me ligar já? Eu coloquei uma carta
na porta há uma semana sobre preços de venda.
Neste ponto, não tenho certeza se ela é alguma ex-namorada maluca de Aiden
ou uma vendedora assustadoramente persistente.
— Ele não é meu namorado, ele é meu irmão — eu digo.
Por alguma razão, ela relaxa visivelmente quando digo isso. Tipo, sua raiva
literalmente foi drenada de seu rosto. Esquisito.
— Oh! — Ela ajusta sua mochila inexplicavelmente grande no ombro, então
estende a mão, de repente toda doçura e leveza. — Eu sou Courtney. A vizinha
do lado de Aiden. Compartilhamos uma cerca.
— Jess. Irmã de Aiden — reitero, olhando para a mulher estranha enquanto
aperto sua mão — Se você deixou algo para ele, ele não sabe. Ele está em LA
agora.
— Claro que sim — murmura Courtney enigmaticamente. Ela abre a boca
para dizer mais alguma coisa, mas meu eu superaquecido, suado e exausto não
está com humor para manter essa conversa.
— Bem, prazer em conhecê-la — Eu me afasto dela, caminhando para trás na
garagem. Eu quero ficar o mais longe possível da vizinha rude de Aiden.
— Se você puder deixar Aiden saber que eu entreguei as informações sobre
esgrima, isso seria ótimo — diz Courtney. Ela puxa as coleiras e a dupla de
irmãos goldens fica de pé preguiçosamente. Um dos cães boceja, e não posso
deixar de sorrir ao ver como ele é doce.
— Certamente — Eu concordo.
— Vou passar por aqui em breve.
Por favor, não faça isso.
— Ok — eu digo com um sorriso forçado. Eu mantenho meu sorriso fixo no
lugar enquanto ela salta para longe, e eu a observo cuidadosamente para ver se
ela realmente mora ao lado.
Quando eu verifico visualmente que Courtney realmente mora na casa ao
lado (ou ela tem uma chave, pelo menos), eu recupero o molho de chaves
sobressalentes de Aiden. Como esperado, elas estão escondidas sob o gnomo de
jardim feio e de olhos esbugalhados na varanda.
Mas, a cena quando eu entro pela porta da frente é completamente
inesperada. Minha boca se abre em choque, e quase deixo Fernie cair de novo.
O bangalô de Aiden foi reformado ao ponto de ser irreconhecível. O layout
anteriormente quadrado e fechado foi transformado em um andar principal de
conceito totalmente aberto, com paredes brancas e pisos de carvalho branco. Os
tetos são abobadados, chamando a atenção para as lindas vigas expostas do
telhado, manchadas de um marrom espresso. A cozinha combina o antigo e o
novo perfeitamente, e possui armários estilo shaker e sancas, juntamente com
eletrodomésticos de aço inoxidável e azulejos de metrô. A ilha de granito com
borda em cascata é de morrer.
Sem mencionar que está totalmente limpo – limpo do tipo “coma seu jantar
do chão”. Não há nada fora do lugar.
Estou mais que impressionada. Aiden deve ter trazido alguém que sabia
exatamente o que estava fazendo. Os elementos históricos da casa estão
perfeitamente preservados e combinados com as características modernas para
um visual que é pura magia interior. Isso é digno de HGTV. Eu olho em volta,
meio que esperando que Chip e Joanna saltem e gritem “surpresa!”
Quando Aiden fez tudo isso? Eu, claramente, estive longe por muito tempo.
Ansiosa para ver o resto da casa, despejo minha mala e corro pelo corredor
em direção aos quartos.
E é quando eu ouço.
Um rangido.
Eu congelo, como uma estátua. Brando Fernie na minha frente como uma
arma.
Lá está de novo.
Não apenas rangendo – passos.
Definitivamente, passos.
Meu coração pula de forma irregular, batendo nas minhas costelas como o
ciclo de rotação em uma velha máquina de lavar.
É possível que Aiden esteja aqui, me pregando uma peça?
Acho que não.
Eu engulo dolorosamente, todos os traços daquela mulher forte e
independente desaparecendo no ar. Então, outro rangido bem atrás de mim.
Uma porta se abre.
Eu permaneço perfeitamente, dolorosamente congelada. Não por escolha,
mas porque estou totalmente incapacitada. A adrenalina corre pelo meu corpo,
correndo como um líquido quente e gelado em cada veia. É isso. Minha
penitência por escapar ilesa do motel do assassinato. O assassino me rastreou até
aqui – um jogo de gato e rato adequado para qualquer filme de terror. E eu sou
aquela garota idiota em cada um desses filmes. Você sabe – aquela em quem você
grita e atira pipoca porque ela está fazendo absolutamente tudo errado.
Mas, ainda não consigo me mover. Onde está meu instinto de luta ou fuga?
Claramente, está quebrado, porque meu corpo não está fazendo nada. Meu
cérebro também não está me ajudando muito. Ele se transformou em uma pilha
irregular e inútil de purê de batatas.
Tudo que preciso é um plano. Sério, qualquer plano serviria.
Os passos se aproximam.
Dentro de instantes, estarei deitada em uma poça do meu próprio sangue.
Em minha mente, vejo meu funeral. Amigos e familiares chorando baixinho.
O que meu obituário diria? Jessica Shaw era uma... o quê, exatamente?
Irmã amorosa?
Amiga decente?
Cozinheira medíocre?
Proprietária de planta orgulhosa?
Os passos param atrás de mim.
Excelente. Vou morrer sem conseguir nada notável na minha vida.
Eu fecho meus olhos e me preparo para o golpe.
Algo toca o meu braço.
— Jessica?
Eu não posso dizer se é a sensação de dedos na minha pele nua, ou o fato de
que meu assassino sabe meu nome, mas algum tipo de instinto de preservação
finalmente – finalmente – entra em ação. Eu descongelo do meu transe e giro ao
redor.
— AGGHHHH!!!! — Eu grito.
Depois disso, tudo acontece em câmera lenta.
Fernie sai voando de minhas mãos, enviando uma chuva de sujeira para o ar
antes que o vaso se espatifasse no chão. Eu corro para frente às cegas e minha
parte superior do corpo colide com algo duro, quente e úmido.
O que–?
Eu estendo as minhas mãos para me firmar, e elas imediatamente fazem
contato com o que parece ser um peito forte e musculoso. Mas, por mais firme
que seja o peito nu do meu assassino, minhas palmas escorregam contra sua pele
úmida e eu caio no chão em uma pilha. Eu pousei sem cerimônia em cima do que
restou da pobre Fernie.
Eu fico imóvel por um momento, os olhos fechados enquanto me enrolo na
posição fetal para esperar pelo meu destino.
Mas, em vez de um golpe na cabeça, alguém xinga.
Eu pisco meus olhos abertos em surpresa.
E me pego olhando para um homem que se parece mais com um deus grego
do que com um homem.
Ele está ajoelhado ao meu lado, seus olhos verdes escuros enrugados de
preocupação. Eu não consigo evitar – meus olhos vagam sobre uma mandíbula
angular, lábios carnudos, cabelo castanho dourado despenteado e – oh meu Deus
– aquele peito. Esse cara não está apenas em forma. Ele tem músculos em seus
músculos. E então mais alguns.
Meus olhos viajam mais para o sul, observando um torso bronzeado e
esculpido e um vislumbre de um V profundo e desumanamente perfeito, apenas
visível acima dos shorts esportivos brancos. Eu morri e fui para o céu dos
gostosos?
Não me lembro de morrer.
Claramente, aquele filme de Ted Bundy estrelado por Zac Efron não me
ensinou nada, porque meu primeiro pensamento coerente é que esse cara não
parece um assassino. Nem um pouco. Ele se parece mais com o filho do amor de
Chris Hemsworth e Bradley Cooper.
Não que isso seja possível. Mas, talvez – esperançosamente? – no céu, seja.
Gostosão levanta suavemente uma das minhas mãos.
— Você está sangrando.
— Eu estou morta? — Eu resmungo, olhando para o corredor salpicado de
terra.
Ele ri. É um som quente e rico em que quero me banhar.
— Não, não está morta — Ele pressiona o polegar na minha palma e seus belos
lábios se curvam para cima. — É apenas um ferimento superficial. Um pequeno,
aliás.
Eu puxo minha mão e me sento com um sobressalto, a cabeça girando.
— Quem é você e por que ainda não me matou? — Eu exijo.
Os lábios do Gostosão puxam os cantos de novo, como se ele estivesse
tentando não rir.
— Sou Conor Brady — Ele me olha intrigado, como se procurasse um lampejo
de reconhecimento. Quando não respondo, ele continua falando — Eu não matei
você ainda porque eu não costumo assassinar pessoas como um passatempo.
Especialmente hóspedes que por acaso são a irmã do meu colega de quarto.
— Colega de quarto? — Eu gerencio. Minhas cordas vocais parecem que
foram esfregadas com uma lixa.
— Sim. Vou ficar com Aiden por alguns meses. Suponho que você seja a Jess?
— Os ombros de Conor estremecem um pouco.
Ele ainda está tentando não rir. Só agora, ele está falhando.
Eu espreito para ele através dos cílios abaixados, a mortificação perfurando
minha barriga. Um rubor furioso se espalha pela minha pele como um fogo
vermelho ardente.
— Sim, sou Jess — Eu me aproprio do meu nome como se estivesse admitindo
que tenho uma doença de pele altamente infecciosa. Conor continua me
observando, os olhos dançando com diversão. Ele claramente pensa que a irmã
mais nova de Aiden é uma maluca.
Não que eu o culpe.
Bem, isso é apenas minha sorte. O cara mais gostoso que eu já vi na minha
vida é o colega de quarto do meu irmão. E acontece que estou deitada em uma
pilha suada e suja no chão, acusando-o de querer me matar com um machado.
Por que Conor não poderia ter sido apenas um psicopata assassino?
Isso teria sido menos embaraçoso.
3

CONOR

Gelato1 de trufas de chocolate amargo.


É assim que se parecem os olhos da irmã mais nova de Aiden. Enormes
piscinas de sorvete derretido no meu sabor favorito de todos os tempos. Me
chamando para mergulhar de cabeça.
Aiden me ligou há dez minutos para me avisar sobre a chegada surpresa de
sua irmã. Eu estava correndo e não estava particularmente incomodado com a
ideia de uma nova colega de quarto.
Até que a vi.
Com os olhos arregalados, em pânico e brandindo uma planta de casa, em
uma fração de segundo depois de colocar os olhos nela, Jess se tornou a mulher
mais interessante que conheci em anos. A maioria das mulheres pisca os cílios;
Jess parecia que teria jogado um taco de beisebol na minha cabeça, se tivesse um.
Aiden fala muito sobre Jess. Mas, quando ele me disse que Jess mora em Nova
York e namora com um garoto prodígio de Wall Street, eu imaginei... ah, não sei,
uma modelo fina e sem graça com uma personalidade que combinava? Ou - se
ela adora sapatos tanto quanto o irmão - talvez um tipo Paris Hilton mimada com
um chihuahua e um grande problema de atitude?
O que eu NÃO tinha me preparado era para um tipo de garota de rosto
totalmente limpo que ficaria na porta ao lado. Uma garota da porta ao lado que
não é realmente uma garota, mas 100% cheia de curvas e uma mulher bonita.
Com um olhar mortal e uma arma, Tom Brady ficaria impressionado.
Não consigo desviar meus olhos.
Então, eu apenas fico aqui – ainda sem camisa e suado da minha corrida – e
fico olhando para ela. Como um esquisitão.
Eu sou esse tipo.
Não, não estou orgulhoso disso. E sim, estou dolorosamente ciente de que
esta não é uma boa aparência. Especialmente porque a assustei, fazendo pensar
que sou Freddie Kruger, aqui para cortá-la em pedaços.
Normalmente sou muito bom com mulheres. Sou charmoso e engraçado, ou
pelo menos é o que me dizem. Mas este não é exatamente o momento de dar um
rápido “como vai?” do Joey2, não é?
De sua posição esparramada no chão, Jess pisca lentamente. E o corte
momentâneo de nosso contato visual me dá uma fração de segundo para pensar.
Esta é a irmã mais nova de Aiden.

1 Gelato: sorvete feito no estilo italiano.


2 “Como vai?” do Joey: famosa cantada “how you doing?” dita por Joey em
Friends.
Quem vai viver aqui conosco.
E por falar em vida, não vamos esquecer que Aiden me mataria se soubesse
que eu achava que sua irmã era... bem, gostosa.
— Band-aids — digo, como se tivesse acabado de descobrir a solução para o
aquecimento global. Eu dou um passo para trás — Vou pegar um band-aid para
você.
E então, como o herói que sou, eu fujo. Deixando-a amassada, suja de terra e
amontoada no chão.
Cavaleiro de armadura brilhante. Um para os livros.
No meu quarto, passo uma toalha no torso. Eu a vi olhando para o meu peito
nu, aqueles olhos grandes como discos – por que não pensei em colocar uma
camiseta e ficar um pouco apresentável antes de me apresentar?
Meu telefone toca e eu o coloco no ouvido enquanto abro meu armário. Quero
voltar para Jess com um band-aid o mais rápido possível, mas quando o trabalho
liga, eu sempre atendo. Vou ser rápido.
— Olá?
— Conor, querido, ótimas notícias — uma voz suave ronrona. É a Karla,
minha corretora de imóveis.
— E aí? — Pego uma camiseta e coloco a ligação no viva-voz para que eu
possa me trocar. Estou apenas ouvindo pela metade, de qualquer maneira. Karla
é uma vendedora nata e está usando sua voz de corretora de imóveis... então, eu
não levaria tão a sério o termo “ótimas notícias”.
— Você conseguiu a casa em Edgewood.
— Oh — De repente estou prestando atenção — Isso é... uma boa notícia.
Eu não esperava conseguir esta. E não sei como me sinto. Desde que comecei
meu negócios de vender casas3 há alguns anos – Brady Homes, sim, eu sei que
ganho zero pontos de criatividade com esse nome – tenho tido o cuidado de não
correr muitos riscos.
E ter três – quatro, se você incluir a que acabei de comprar para mim – casas
na ativa? Parece arriscado para mim.
Já estou tão ocupado do jeito que está. Meu negócio de compra, reforma e
venda de casas cresceu assustadoramente rápido, e Brady Homes se tornou um
nome muito procurado no mercado de Atlanta. O dinheiro foi um efeito colateral
feliz de ter sucesso. E meu negócio, junto com minha conta bancária, continuará
crescendo se eu assumir vários projetos ao mesmo tempo. Isto é, se esse ritmo
não me matar primeiro.
— Como eu disse, uma ótima notícia — Karla altera minha declaração. Tudo
sobre Karla, desde seus ternos bem passados até seu cabelo ruivo, grita MOSTRE-
ME O DINHEIRO. Ela é uma boa pessoa, mas eu sei que, no fundo, o que mais
importa para ela é o sucesso. E que, para ela, sucesso significa ganhar o máximo
de dinheiro possível. Ela não vai parar por nada para receber suas comissões, e
ela consegue muitas delas trabalhando comigo. Ela até tem alguns figurões
alinhados que podem estar interessados em investir na Brady Homes, para que
eu possa expandir mais rápido.

3 House Flipping Business: consiste em comprar imóveis desvalorizados,


reformá-los e vendê-los a preços de mercado - prática comum nos Estados
Unidos.
Ao contrário de Karla, tendo a me concentrar menos no lado financeiro das
coisas e mais em dar a cada reforma o tempo e a atenção que merece. A meu ver,
cada casa tem uma história, uma história única. Adoro modernizar as casas e
fazer com que sejam funcionais para os compradores de hoje, mantendo o charme
e a herança originais da construção.
— Vamos verificar mais tarde? — A voz de Karla é baixa e sedutora. —
Podemos ir tomar uma bebida depois.
Eu estremeço. Karla faz muito isso. E sempre tento dispensá-la gentilmente,
porque eu nunca quis seduzi-la ou dar a ela uma ideia errada, também não quero
magoá-la. É um equilíbrio complicado, como andar na corda bamba. Mas eu sei
que a última coisa que quero fazer esta noite é sair para beber um drinque com
Karla. O que eu quero é passar algum tempo conhecendo Jess.
Que está deitada no chão. Sangrando. Onde eu a deixei.
Conor, seu idiota.
— Band-aids! — Eu exclamo.
— Com licença?
— Karla, eu tenho que ir — eu digo. — Me desculpe, eu não posso esta noite.
Talvez possamos verificar a casa amanhã?
— Encontro quente? — Karla ri, mas ouço uma aspereza em sua voz.
Eu rio sem jeito.
— Não. Sem encontro. Mas eu realmente preciso ir - conversamos mais tarde,
ok?
Karla finalmente desliga e eu começo a agir. Depois de uma bala de menta e
passar desodorante – não adianta chorar pelo leite derramado – eu volto para o
corredor. Tenho meu kit de primeiros socorros em mãos e estou pronto para
ajudá-la.
Mas, Jess se foi. Uma trilha de gotas de sangue e terra me dizem que ela está
no quarto de Aiden.
Ela provavelmente fugiu no segundo que eu saí. Eu não a culpo por querer
ficar longe do amigo estranho de seu irmão.
Ou talvez ela ainda não acredite que eu não sou um assassino em série.
Com um suspiro, vou buscar o aspirador de pó.

Limpar sempre me acalma.


Me chame de TOC Tipo A - tanto faz. Sou maniaco da limpeza e tenho
orgulho disso.
E, depois de aspirar o chão, esfregar as paredes e depositar o que sobrou da
planta de Jess em uma tigela de plástico na cozinha, eu decidi tomar um banho.
Um banho frio.
E não só porque está mais quente do que o fogo dos infernos do submundo lá
fora.
Desde que terminei um relacionamento de curta duração, alguns anos atrás,
estou mais ou menos casado com minha carreira. Brady Homes tem sido minha
vida e tenho me esforçado para ter sucesso por dois motivos – um, para ganhar
dinheiro suficiente para ajudar minha mãe, e dois, para provar a mim mesmo que
posso.
Sempre tive esse tipo de motivação para ter sucesso. E, como nunca tive
qualquer interesse em conhecer alguém e me estabelecer, estava contente em
trabalhar 70 horas por semana e namorar casualmente. Pelo menos, fiquei
contente por um tempo.
Ultimamente, tenho me sentido diferente. Como se eu quisesse algo mais.
Provavelmente é porque comprei uma casa para mim. Uma casa para a qual
irei me mudar quando as reformas estiverem completas... sozinho. O espaço é
muito grande para uma pessoa e, por algum motivo, isso me fez pensar em
encontrar alguém. Nos últimos anos, estive em muitos primeiros encontros. Mas
não tantos segundos encontros. Praticamente sem terceiros encontros. O trabalho
tem prioridade para mim, e nunca fui a um encontro com alguém que me fizesse
sentir como se eu quisesse o contrário.
Mas Jess imediatamente despertou minha curiosidade de uma forma que a
maioria das mulheres não faz.
O que é uma chatice. Como ela está obviamente fora dos limites. E acha que
tenho algum problema.
Apesar de meus melhores instintos, eu relembro todos os pequenos detalhes
que ouvi Aidem falar sobre Jess. Eu sei que ela é três anos mais nova que nós.
Que ela mora em Nova York há quatro anos. Que ela não vem para casa para
visitar há dois.
E eu sei que Aiden odeia seu namorado. Com todo fogo ardente de ódio que
apenas um irmão mais velho pode invocar quando se trata de sua irmã mais
nova.
Decido que odeio o namorado de Jess também. Embora minhas razões para
odiá-lo sejam definitivamente um pouco diferentes das de Aiden.
É exatamente por isso que não posso estar pensando da maneira que estou
agora.
Desligo o chuveiro e fico de pé no tapete do banheiro, olhando no espelho
acima da penteadeira.
— O que você vai fazer sobre isso? — Eu pergunto a minha consciência.
Eu deveria ficar longe dela. Mas ficar longe da sua colega de quarto é como
tentar cortar um bife com uma faca de manteiga - difícil e insatisfatório. Além
disso, preciso me desculpar, de qualquer maneira. Você sabe, por deixá-la no
chão, sangrando e coberta de terra.
Não demoro muito para decidir que a melhor maneira de fazer isso é com
macarrão.
É a coisa mais hospitaleira a se fazer. Quer dizer, é hora do jantar. E ela precisa
comer.
Então, eu poderia muito bem fazer o jantar para minha nova hóspede. Não
vai doer conhecê-la um pouco. Dar as boas-vindas à sua casa em Atlanta.
Estou apenas sendo amigável. Como qualquer um faria.
Satisfeito com minha decisão, faço um plano simples de cinco etapas:
Um: vou fazer macarrão.
Dois: vou bater na porta de Jess e oferecer macarrão.
Três: vamos comer macarrão juntos.
Quatro: Teremos uma conversa normal, mundana, para nos conhecermos.
E, finalmente, quando o jantar acabar, nunca mais vou pensar em Jessica
Shaw como outra coisa senão a irmã mais nova de Aiden e uma colega de quarto
temporária.
Uma situação que se resolverá em um momento.
Simples, certo?
4

JESS

Respire, Jess. Respire.


Repito o mantra para mim mesma pelo menos uma dúzia de vezes.
Depois que o gostoso – desculpe, Conor Brady – desapareceu para pegar um
band-aid para mim, eu fiz o que qualquer pessoa na minha situação teria feito:
peguei minhas pernas e as usei.
Não há tempo para chorar pela morte de Fernie. Tirei minha mala do lugar
perto da porta da frente e corri.
Então, eu me tranquei no quarto de Aiden. Que, não posso deixar de notar,
também foi maravilhosamente renovado com uma linda paleta de cores branco
e marinho. Os detalhes em madeira de mogno dão ao ambiente o toque certo de
masculinidade.
Sério, quem fez essas reformas era um gênio.
Passei alguns minutos pressionada contra a porta de Aiden, ouvindo. Eu
posso ouvir a voz de Conor vindo do quarto até o corredor. Ele está ao telefone.
Com uma mulher, pelo que parece. Kayla ou Marla, ou algo assim. Ela está no
viva-voz e eu entendo as palavras “encontro quente”.
Ela provavelmente é namorada dele. Claro que um cara assim tem uma
namorada para ir em encontros quentes.
Eu ligo para meu irmão e bufo algumas respirações enquanto espero ele
atender.
— Olá? — A saudação de Aiden é tingida de diversão.
— Desde quando você tem um colega de quarto? — Eu assobio em resposta.
Aiden ri, claramente se divertindo com isso.
— Você conheceu Conor?
— Uh, sim, conheci Conor! — Meu grito-sussurro é muito mais um grito do
que sussurro. — Por que você não me avisou? Achei que ele fosse um serial killer.
Eu... eu joguei uma planta nele!
Aiden ri. E por muito tempo. Afasto o telefone do ouvido, transbordando de
aborrecimento.
Irmãos.
O pequeno corte na palma da minha mão está sangrando de novo, e limpo
com um lenço de papel. Pobre Fernie. Seu pequeno pote explodiu em um milhão
de pedaços depois que eu o atirei no Conor. E, em vez de me matar, ele realmente
colocou a mão na minha para verificar o ferimento. Minhas bochechas queimam
com a memória de seu toque, mas eu a afasto. Quando terminar esta ligação,
tenho uma limpeza a fazer.
E pedir desculpas.
Quando Aiden finalmente termina de rir do meu aparentemente hilário quase
contato com a morte, ele passa a me irritar ainda mais, apontando o óbvio.
— Você desligou na minha cara. Eu não tive a chance de avisar você.
Quero dizer, ele está certo.
Mas ainda assim.
— E por que, exatamente, de repente você tem um colega de quarto? — Eu
exijo — Um que eu nunca tinha ouvido falar antes?
Eu espero enquanto Aiden muda o telefone para o outro ouvido.
— Nós nos conhecemos há cerca de um ano, quando Conor fez as reformas
na minha casa. Ele faz isso para viver - reforma casas. Nós nos demos bem na
hora, saímos para beber e...
Eu paro de ouvir. Por quê? Porque não sou mais capaz de ouvir. Ou pensar
com clareza. Ou fazer qualquer coisa, realmente.
Meu cérebro entrou em curto-circuito depois de ouvir as palavras “Conor” e
“reformar casas” tão juntas. Meu corpo esquenta enquanto minha imaginação
corre solta com imagens mentais de Conor todo suado e sem camisa, usando
botas de trabalho e um capacete e fazendo coisas masculinas que empreiteiros
masculinos fazem.
Calma, Jess.
— Conor fez isso com a sua casa? — Eu digo, me abanando com a mão livre.
Está muito, muito calor aqui? Eu preciso sentar.
Não querendo bagunçar os lençóis limpos com meu corpo coberto de terra,
eu me jogo no chão.
— Sim — responde Aiden. — Ele está bem, a propósito?
— Hmmm? — Eu digo sonhadoramente, meu cérebro está muito, muito longe
em Conorlândia. População: 2.
— Você disse que jogou uma planta nele? — Aiden ri novamente.
— Não é engraçado — eu respondo, sacudindo de volta para a dura realidade
de que Conor nunca iria querer que eu fosse morar com ele em Conorlândia
porque ele acha que eu sou louca. — A maioria das pessoas não gosta de ser
agredida.
— Bom — diz Aiden, seu tom de repente sério. Muito sério. Ele muda o
telefone novamente e suspira — Olha, se eu soubesse que você estava vindo,
nunca teria ido para Los Angeles.
— Sinto muito — eu digo. Eu falo sério também — Eu não pretendia invadir
assim. Não tinha ideia de que mais alguém morava aqui.
— Está tudo bem, Jess. Você sabe que é sempre bem-vinda em minha casa e,
para ser honesto, fico feliz que você tenha conseguido algum espaço de Johnny.
— Eu sabia que você estaria — Por mais que eu odeie ter que falar sobre
Johnny – especialmente enquanto tudo é tão recente - não posso deixar de me
permitir um sorriso. Aiden pode ser irritante, mas ele sempre me protege. No
que diz respeito aos irmãos mais velhos, ele é muito bom.
— É apenas...
— O quê, Aiden?
— Conor — Ele faz uma pausa e dá um grande gole na bebida. — Eu deveria
te dizer algo. Ele é um cara legal. O melhor. Mas ele é um pouco… — Aiden para
novamente, lutando por uma palavra. Eu prendo minha respiração — Galinha.
Eu exalo em um bufo nada feminino.
— E você não é?
— Ah bem. Hum... — Aiden se debate. Eu sorrio, e ele suspira como se
pudesse ver meu sorriso através do telefone. — Essa não é a questão. Você é
minha irmã mais nova. Ele é solteiro. Vocês dois estão na minha casa e eu estou
do outro lado do país.
Tento ignorar a alegria idiota que salta no meu estômago com a notícia de que
Conor está solteiro. Tome isso, Marla!
— O que você está tentando dizer, Aiden?
Silêncio. Eu ouço passos quando ele muda o telefone para o outro ouvido. Eu
o imagino andando de um lado para o outro em seu quarto de hotel.
— Só estou dizendo que Conor sai em muitos encontros. Talvez não aumente
esse número enquanto eu estiver fora, certo?
— O que é isso, década de 1850?
Um suspiro.
— Não, este é apenas o seu irmão mais velho cuidando de você. Você sabe
disso, certo?
Este provavelmente não é um bom momento para dizer a Aiden que tentar
achar um homem como Conor desinteressante seria tão fácil quanto colocar pasta
de dente de volta no tubo. Minha única esperança é que ele tenha uma
personalidade terrível.
Para a sorte de Aiden, a verdade e as minhas fantasias estão em extremos
opostos do universo, de qualquer maneira. Conor é um deus gostoso, e eu sou
apenas uma mortal comum. Aposto que Conor tem mulheres dando em cima
dele. Mulheres que parecem modelos da Victoria's Secret. O que eu não sou.
Além disso, mesmo se houvesse a mínima chance de que um cara como ele
olhar duas vezes para uma garota como eu, há a pequena questão de que eu o
acusei de tentar me matar. E eu tentei agredi-lo com uma samambaia. Então, em
vez de sonhar em me aproximar dele, terei que evitar Conor apenas para
sobreviver à minha mortificação.
O que, você sabe, deve ser muito fácil, já que estamos morando juntos.
— Obrigado, Aiden — eu digo — Eu sei que você está sempre cuidando de
mim. Mas, você não tem nada com que se preocupar. Eu deixei a pior primeira
impressão do planeta.
— Estarei de volta em algumas semanas. Vou ver se consigo trabalhar mais
dias para concluir o projeto mais rapidamente.
— Não há necessidade, Aiden. Eu sou uma garota crescida. Eu posso cuidar
de mim mesma.
— Você consegue? — ele provoca, e fico feliz em ouvir a leveza retornar à sua
voz.
Eu rio, mas meu coração acelera um pouco. Eu sei que ele está brincando, mas
para ser honesta, é uma pergunta válida neste momento da minha vida.
— Veremos, eu acho.
Aiden suspira novamente.
— Conor não passará de um cavalheiro, eu sei disso. Ele realmente é um cara
legal. E você está certa, você é uma adulta que pode tomar suas próprias decisões.
Acho que às vezes me preocupo.
— Aiden? — Eu me levanto e caminho para o banheiro privativo. Pego uma
toalha, ansiosa para entrar no chuveiro.
— Sim, Jess?
— Obrigada — eu digo com sinceridade.
— Pelo que?
Chego ao chuveiro a gás e o ligo.
— Por se importar o suficiente para se preocupar comigo.
— A qualquer hora, irmãzinha. Tem água correndo?
— Sim, estou prestes a tomar banho... Oh, isso me lembra — eu digo, doce e
casual como posso ser — Posso ficar no seu quarto enquanto você estiver fora?
— Absolutamente não.
— Você ficaria realmente bravo se eu dissesse que é tarde demais?
— EI, SAIA DO MEU BANHEIRO!

Depois de um banho muito longo – completo duas vezes com xampu e


condicionador, e aproximadamente metade de um frasco de gel de banho –
finalmente me sinto um tanto limpa. Dois dias de sujeira, fuligem e suor
demoram para desaparecer, certo? Ou talvez eu esteja apenas inventando
desculpas para ficar no banho e adiar ter que enfrentar Conor novamente.
O que vou dizer – desculpe, pensei que você fosse fazer de mim uma
almofada de alfinetes humana? Tanto que tentei quebrar sua cabeça com um pote
de cerâmica? Deixando uma bagunça que ainda não limpei?
No momento em que desliguei com Aiden, eu tinha esquecido
completamente que fugi da cena do incidente sem arrumar. O que significa que
Conor provavelmente adicionou “extremamente egoísta e insensata" à sua lista
mental das qualidades de sua nova colega de quarto. Logo abaixo de
“certificadamente insana''.
Saio do chuveiro e me envolvo em uma toalha grande e fofa. A sala está cheia
de vapor e eu respiro, mantendo o calor em meus pulmões por alguns segundos.
Eu preciso ver o lado bom. E o único ponto brilhante no universo de porcaria
que é a minha vida agora é que não pode ficar pior. Cheguei ao fundo do poço, e
o único caminho é para cima. Então, eu vou me vestir, colocar minha calça de
adulta, ir lá fora e conversar com ele. Pedir desculpas. Comportar-me como um
ser humano normal que pode viver com um homem gostoso no quarto ao lado e
não desmoronar no chão.
Uma batida na porta me tira dos meus pensamentos.
— Jess? — Conor chama.
Ohhhhhh, Senhor, tenha piedade. Essa voz poderia me fazer derreter em uma
poça humana.
Eu olho para baixo, para a minha própria toalha.
— Uhh, só um segundo.
Corro para minha mala do outro lado da sala e coloco a primeira coisa que
minha mão pousa – um short de pijama rosa. Então, em um pequeno pânico,
procuro uma camiseta nas gavetas de Aiden. Sem tempo para encontrar um sutiã.
Vou ter que optar pelo velho truque tão-casualmente-cruze os braços sobre o
peito.
Sem fôlego por causa da confusão, abro a porta do quarto. E congelo
imediatamente.
De alguma forma, Conor parece ainda melhor da segunda vez. Ele acabou de
tomar banho e seu cabelo úmido cai sobre sua testa. Ele está vestindo shorts
esportivos diferentes – azul, desta vez – e uma camiseta branca que abraça seu
corpo de uma maneira que me obriga a lembrar como aquele corpo se parece sem
camisa.
Um rubor floresce sob minha pele e eu cruzo os braços sobre o peito da
maneira mais estranha e menos casual que se possa imaginar. Eu me inclino
vertiginosamente contra o batente da porta.
— Você está molhado — eu digo, e lamento minhas palavras
instantaneamente.
Aparentemente, meu cérebro se desconectou da boca.
Ele ri.
— Você notou.
Minha mão sobe automaticamente para tocar meu cabelo encharcado. Então,
tarde demais, lembro-me da situação sem-sutiã, e coloco minha mão de volta
para baixo para cobrir meu peito – resultando em uma ação que parece que estou
dando a ele algum tipo de saudação bizarra.
Droga.
— Oh, ah, sim. Foi do, uh... chuveiro — eu digo espirituosamente.
Duas vezes droga.
Um sorriso lento e sexy se espalha pelo rosto de Conor, e o meu rubor se
transforma em uma queimadura de terceiro grau no corpo inteiro.
— Você está com fome, Jess? — ele pergunta. Quando não respondo, ele
acrescenta: — Estou fazendo macarrão.
Ele também sabe cozinhar?
QUAL É.
Conor olha para mim, claramente esperando por uma resposta, e por algum
milagre, eu consigo conectar meu cérebro de volta por tempo suficiente para
dizer:
— Eu gosto de macarrão.
— Perfeito — Os olhos verdes de Conor me percorrem da maneira mais
desconcertante — Nesse caso, o jantar está pronto.
Não confiando no que pode sair da minha boca se eu tentar falar novamente,
simplesmente aceno com a cabeça.
Ele faz uma pausa por um momento. Nossos olhos se conectam.
Ele está... esperando por mim?
Duas vezes droga com cobertura de cocô de bode.
— Eu, hum, uh… — Impotente como uma mosca em uma armadilha de
Vênus, bato as mãos e gesticulo sobre a área do meu peito.
— OH! — Aqueles lindos olhos esmeralda se arregalam em compreensão —
Eu sinto muito, eu vou... te ver na cozinha quando você estiver vestida. Uh,
pronta. Quero dizer, pronta. Sem pressa.
E com isso, ele sai correndo pelo corredor como um morcego saindo do
inferno.
Poucos minutos atrás, eu realmente acreditava que isso não poderia ficar pior.
Como pude ser tão ingênua?
Fecho a porta do quarto e começo minha busca para encontrar um sutiã limpo.
Depois de alguns momentos de farfalhar em minha mala, localizo um cutucando
para fora de um tênis.
Uma vez que meus peitos estão seguros em um sutiã bonito e confortável, eu
me visto com um vestido de verão floral azul com um decote positivamente
eduardiano. No espelho do banheiro de Aiden, eu me olho de todos os ângulos
para garantir que nenhuma parte do peito faça uma aparição durante o jantar.
Para ser mais seguro, eu adiciono um cardigan azul bebê. Apesar do calor
escaldante.
Aparentemente, sou uma otária por punição.
Eu puxo meu cabelo molhado em uma trança lateral, coloco uma camada de
rímel e gloss (para confiança) e uma camada extra de desodorante (para
necessidade). Então, eu saio da segurança do quarto de Aiden.
Estou chocada ao descobrir que o corredor está intocado. Todos os vestígios
de sangue e sujeira se foram, como se nunca tivessem existido. Conor fez isso?
Minha experiência anterior morando com homens (que é, embora, limitada a
crescer com Aiden e visitar o apartamento de Johnny) não me deu grandes
ilusões sobre ter um companheiro de quarto masculino. Estou falando de
macarrão com queijo velho grudado no interior da pia, meias EM TODOS OS
LUGARES e paredes cobertas de marcas de desgaste cuja origem não me importo
em ouvir falar. Mas se Conor fez isso – bem, ele é muito mais organizado do que
eu.
O cara parece cheio de surpresas...
E elas continuam vindo. Os sons suaves do jazz relaxante e o barulho suave
dos pratos chegam da cozinha. O aroma rico de alho e manjericão me dão água
na boca de antecipação. Eu sigo meu nariz e sigo descalço pelo corredor.
Conor está no fogão, mexendo uma panela com algo que cheira positivamente
celestial.
— Ei — eu digo, me sentindo um pouco estranha e mais do que um pouco
fora do lugar — Obrigado por limpar. Você realmente não precisava fazer isso.
Ele olha por cima do ombro para me atirar um sorriso que pode deslumbrar
a mais brilhante das estrelas.
— Eu queria.
E então, vejo o que sobrou de Fernie. Em cima do balcão. Em uma tigela.
Conor segue meu olhar.
— Eu tentei o meu melhor para resgatar sua planta.
Fique quieto, coração batendo.
5

CONOR

Não.
Isso é o oposto de simples. Na verdade, isso é mais confuso do que um
campeonato estadual de comer costelas. Do tipo extra picante.
Porque ser “apenas amigo” de Jess parece que vai ser ainda mais difícil do
que eu pensava.
— Mmm — Jess dá outra mordida no tortellini, fecha os olhos e suspira. —
Esta é a melhor massa que já comi.
Estamos no pátio recém-reformado de Aiden, sentados um de frente para o
outro na mesa de jantar do bloco de açougueiro que eu construí. O calor
escaldante do dia deu lugar a um final de tarde ameno, e o céu está riscado com
um brilho de rosa e púrpura. Notas de citronela percorrem o ar espesso e quente.
Na mesa à nossa frente está uma deliciosa variedade de comida italiana de dar
água na boca. Mas eu mal noto, porque debaixo da mesa, meus joelhos estão a
poucos centímetros dos de Jess.
Ela tem uma mancha de molho de tomate no lábio inferior. Tenho o desejo
mais indescritível de estender a mão e afastá-lo com o polegar. Aparentemente,
estou ansioso para acumular mais pontos de esquisitão.
Para evitar que meu polegar rebelde execute ações lamentáveis por conta
própria, pego minha taça de vinho e bebo um grande gole de Merlot. Um gole
tão grande que quase engasgo. Elegante.
— Estou feliz por ter gostado — Eu coloquei meu copo na mesa com mais
força do que pretendia, resultando em um crack sem cerimônia que fez Jess pular.
Ela é irmã de Aiden, cara.
Repito: irmã de Aiden.
Estou tentando colocar todos os meus sentimentos confusos de lado e tratar
Jess como uma pessoa normal e humana. Olhar para ela como se ela fosse Aiden
em um vestido ou algo assim.
Mas Jess está tornando muito difícil para meu cérebro cooperar. Porque
quanto mais aprendo sobre Jess, mais quero saber.
Sobre nossos pratos cheios de quatro tortellini de queijo, ela me conta sobre
como se formou em História da Arte na Emory e como trabalhou em uma galeria
em Cabbagetown após a formatura. Ela se mudou para Nova York um ano
depois.
Mas, o que eu realmente aprendo são as coisas que estão por trás das palavras
de Jess. Aprendo que seu rosto se ilumina quando falamos de arte e que ela franze
os lábios quando não gosta de uma pergunta. Fiquei sabendo que ela coleciona
cartões-postais, acha que programas de entrevistas são idiotas e que nunca jura.
Eu descubro que ela mexe a comida no prato entre as mordidas e bebe o vinho
em pequenos goles, como se ela não tivesse certeza de que ama.
Mas, acima de tudo, aprendo que Jess não é apenas bonita.
Oh não. Jess é inteligente, engraçada, espirituosa, sarcástica e – talvez o mais
cativante de tudo - ela não tem ideia nenhuma disso.
Tipo, nada.
Quando Aiden ligou mais cedo para me avisar que Jess estava a dez minutos
de distância, ele mencionou que ela estava aqui devido a algum tipo de problema
com o namorado. Talvez eles tenham se separado?
— Então... por quanto tempo você está visitando? — Eu cavo mais fundo, a
pá mental pronta.
O sorriso de Jess desliza de seu rosto.
— Indefinidamente — Ela aborda seu prato.
Eu espero em silêncio, não querendo pressioná-la.
— Acabei de sair de um relacionamento — diz ela, espalhando as mãos sobre
a mesa. Seus dedos são pequenos, seu esmalte rosa claro lascado — Quando
terminamos, eu não tinha motivo para ficar em Nova York. Então, desisti do meu
apartamento e voltei para casa.
O demônio em um ombro dança de alegria, enquanto o anjo no meu outro me
diz para largar minha pá e parar de cavar. Eu não consigo superar o tom de voz
triste dela, o quão desesperada ela parece.
Tenho certeza de que há mais nessa história, mas não querendo chateá-la,
decido parar de cavar por agora.
— Eu sinto muito.
Seus olhos piscam para encontrar os meus por uma fração de segundo e ela
balança a cabeça.
— Tudo bem.
Ela vê a expressão cética em meu rosto e continua.
— Honestamente, é. Johnny e eu não éramos mais um grande par. Estávamos
muito... confortáveis. Desgastados. Como sapatos velhos, sabe?
— Eu sei — eu digo, pensando no meu Nike favorito cheio de buracos na
parte de trás do meu armário. Mesmo que eu nunca os use mais, não suporto me
separar deles.
Jess suspira.
— Os sapatos não serviam mais, mas eu estava com muito medo de jogá-los
fora. Caso eu... nunca encontrasse outro par de sapatos.
— Ninguém quer ficar descalço para sempre — eu concordo, então me chuto
mentalmente por dizer algo tão estúpido.
Mas Jess sorri suavemente.
— Exatamente.
Não há nada neste mundo tão atraente quanto uma mulher bonita por dentro
e por fora. Desde o momento em que coloquei os olhos nela, soube que Jess era
fisicamente atraente – com seu cabelo escuro e ondulado, olhos de gelato, salpicos
de sardas no nariz e seus lábios carnudos e rosados. Mas, enquanto nos sentamos
aqui e conversamos, ela se torna mais cativante a cada palavra que dizia.
E tudo isso sem nem mesmo tocar nas curvas matadoras que ela tem. Aquelas
que eu tento evitar olhar.
Você sabe, por causa daqueles fatos perturbadores.
— Então, Conor Brady — A voz de Jess me faz pular de novo. Ela gira sua
taça de vinho em pequenos círculos na mesa, criando um redemoinho em sua
taça. Seus olhos disparam em todas as direções, olhando para qualquer lugar,
menos para mim.
Ela está tentando mudar de assunto da maneira mais fofa possível.
— E aí? — Dou a ela um sorriso lento e sedutor. Eu juro, não consigo evitar.
Jess continua evitando contato visual.
— Me fale sobre você.
Limpo minhas mãos em um guardanapo e me inclino para ela. Ela toca seu
cabelo e pisca. Eu dou a ela outro sorriso.
— O que você quer saber?
Ela franze a testa ligeiramente e passa a língua pelos dentes. Uma ação
aparentemente inocente que ela precisa parar. Imediatamente.
— Aiden me disse que você é um reconstrutor de imóveis.
— Quando eu tenho uma folga do meu trabalho de assassino de machado —
eu brinco, desviando meus olhos de sua boca.
Jess estremece.
— Cedo demais?
— Eu vou trancar a porta do meu quarto esta noite, apenas por precaução.
— Escolha sábia — Eu sorrio — Então, o que mais posso dizer para acalmar
seus nervos sobre esta situação inesperada de colega de quarto?
— Deixe-me ver... — Jess bate um dedo contra o queixo — A primeira coisa
que me deixa desconfiada é que você é um reconstrutor de casas que não tem a
sua própria casa.
Eu franzo a testa.
— Atualmente, tenho três casas nas quais estou trabalhando.
— Mas você mora com Aiden?
Ahhh. É aonde ela quer chegar.
— Temporariamente — eu explico, colocando mais macarrão em seu prato
vazio. — Aiden me ofereceu um lugar para ficar por alguns meses enquanto eu
reformava uma casa que comprei para mim. Na verdade, é o quarto projeto que
tenho em andamento agora. Mas é um pouco difícil, incluindo a cozinha e os
banheiros. Então Aiden praticamente me salvou de ter que armar uma barraca
no meu quintal.
Jess fica vermelha e minha escolha de palavras nada ideal cai sobre mim como
chuva ácida. Sério, Conor? Eu sou tão suave quanto uma estrada de cascalhos.
Uma estrada de cascalhos cheia de buracos enormes.
Eu pressiono meus lábios e tento passar pelo constrangimento.
— Se você está desconfortável comigo estando aqui, Jess, eu posso encontrar
outro lugar para dormir amanhã. Até durmo em uma barraca do lado de fora
esta noite. Eu entenderia totalmente.
— Fique o tempo que quiser — Jess levanta as mãos e eu respiro um suspiro
de alívio. Talvez meu lapso freudiano tenha passado pela cabeça dela, afinal —
Não estou em posição de julgar, afinal. Você está olhando para uma senhora de
28 anos, desempregada e sem-teto, que teve que ir viver com o irmão.
— Um bom partido — eu provoco, feliz por ela não ter aceitado minha oferta
e efetivamente me expulsar da minha cama aconchegante.
— Diz o homem que está morando com meu irmão para não ter que passar o
verão acampando — Jess me lança um sorriso.
Levanto três dedos e inclino meu queixo.
— Eu era um escoteiro. Eu teria conseguido.
— Você também sabia como armar uma barraca naquela época?
Meu queixo atinge o chão e minhas sobrancelhas sobem. Ela não... Ela
simplesmente foi lá?
Eu examino seu rosto, procurando uma pista, e ela me encara de volta, todos
os olhos grandes e expressão inocente. Com a maior cara de sonsa. Ela quer uma
resposta literal? Tipo, se eu sei como colocar uma capa impermeável, montar as
varas de barracas e prender uma mosca?
Eu olho para aquele rosto inocente novamente e vejo o fantasma de um sorriso
cintilar na borda de seus lábios.
Isso não passou pela cabeça dela... Ela está totalmente brincando comigo.
Mas, eu preciso me comportar. Já cruzei tantas linhas, que poderia tecer um
cobertor para mim. Espero que eu possa me esconder embaixo. Porque eu
deveria estar me concentrando em ser amigo dela agora.
Eu não deveria estar flertando com ela.
E certamente não contando piadas inadequadas.
Mesmo se ela começasse.
Eu arrasto meus olhos para longe e me forço a pensar em algo - qualquer coisa
- além de suas bochechas rosadas. E esse cardigan azul bebê ridiculamente
impróprio para o clima que eu não estou morrendo de vontade de tirar dela. Não,
nem um pouco.
Um silêncio constrangedor se estende entre minha nova amiga e eu.
Eu finalmente digo.
— Bem...
Assim como Jess disse.
— Então…
Nossos olhos se encontram novamente e, em um único olhar, a tensão se
esvai. Nós dois rimos e eu respiro um suspiro de alívio.
— É melhor eu começar a limpar — Eu mudo a conversa para pastagens mais
seguras.
Porque, você sabe, é a IRMÃ DE AIDEN.
Eu começo a empilhar pratos vazios na mesa entre nós.
Jess pula de pé.
— Eu ajudo — Ela estende a mão e toca a minha, me parando no meio da
pilha — E Conor?
— Sim? — Eu digo, olhando incisivamente para onde seus dedos roçam
minha pele.
— Porque você fez o jantar e resgatou minha samambaia, não vou forçá-lo a
armar acampamento no quintal esta noite. Só não me mate, ok?
E com isso, ela sorri e pisca antes de sair cambaleando para a cozinha, a barra
do vestido azul balançando de um lado para o outro.
Deixando-me sozinho no pátio, olhando para ela e me sentindo tudo menos
amigável com minha nova colega de quarto.
6

JESS

Quando soube que Aiden estava fora da cidade, antecipei uma noite sozinha na
frente da TV. Eu ia colocar minha calça de moletom mais confortável e assistir a
intermináveis reprises de Friends enquanto comia o glacê Betty Crocker direto
da caixa. E então eu choraria, porque estava triste, sozinha, e tinha acabado de
comer o glacê da caixa.
E assim por diante, até que terminasse em uma espiral de fracasso e
arrependimento.
Mas então, em alguma reviravolta milagrosa do destino, meus planos foram
descarrilados e acabei no melhor jantar em que estive em anos.
E sim, eu sei que não foi um encontro.
Mas ainda era o melhor não-encontro em que estive desde sempre. O que,
francamente, diz muito sobre o estado do meu ex-relacionamento.
Conor me deu vinho e janta e, ao contrário da maioria dos homens, ele
realmente olhou para meu rosto durante nossa conversa, em vez de olhar
maliciosamente para meu peito. Eu me senti como uma Cinderela muito suada e
ligeiramente fofa. E em algum lugar entre a salada caesar e a segunda porção de
tortellini, meu cérebro até começou a funcionar de novo.
Pelo menos, funcionou tempo suficiente para descobrir que Conor é
genuinamente legal. O que, além de estar limpo e não ser um assassino, era outra
vantagem inesperada. Ninguém tão bonito também deveria ser tão legal. É como
receber uma mão de vinte e um no Blackjack enquanto nós, meros mortais,
agarramos três e quatros e nos perguntamos por que nos incomodamos em jogar
em primeiro lugar.
Nós conversamos. Sorrimos. Até flertamos um pouco... eu acho. Como um
tipo genuinamente desajeitado e com péssima qualidade, flertar nunca foi meu
forte.
Então, sim. O jantar foi acima e além de todas as expectativas que eu poderia
ter do companheiro de quarto surpresa do meu irmão.
Mas, enquanto estávamos lado a lado lavando e secando os potes de
macarrão, a campainha tocou. E agora, apenas uma hora depois, não estou
prestes a estrelar Cinderela quando estou em Branca de Neve. Só que, em vez de
ser a princesa cercada pelos sete anões, eu sou o anão, aparecendo como um
polegar ferido no meio de um grupo de amigos glamorosos e bonitos de Aiden e
Conor. Eles estão espalhados sem esforço, casualmente e com confiança nos
lindos sofás de vime ao ar livre.
A música vibra nos alto-falantes embutidos de última geração, e o pátio é
iluminado pelo brilho das luzes penduradas acima. O quintal parece saído de um
filme. Conor é claramente muito talentoso no que faz.
— Quer uma cerveja, Jess? — um cara chamado Luke pergunta. Ele tem me
contado tudo sobre seu trabalho como guru de marketing em uma empresa de
tecnologia no centro da cidade. Com seu relógio de grife, sombras no rosto e
barba por fazer, não tenho dúvidas de que ele é um grande negócio como parece
ser.
Ele é lindo, com certeza. Mas eu prefiro a aura robusta de Conor, sorridente,
martelando pregos em coisas para ganhar a vida.
Não que eu devesse pensar em Conor martelando alguma coisa.
Eu balancei minha cabeça.
— Não, obrigado.
Estou exausta neste momento, e a taça de vinho que tomei no jantar ainda está
zumbindo em minhas veias. A última coisa que preciso é beber muito e ficar
desleixada na frente dos amigos de Aiden. Já me envergonhei o suficiente hoje
por uma vida, muito obrigada.
— Vou levar uma — Uma mulher chamada Mindy se inclina sobre Conor
para aceitar uma cerveja de Luke. Ela chega mais perto do que o necessário,
roçando o braço no peito de Conor.
Um minúsculo monstro de olhos verdes ergue sua cabeça feia em mim. E sim,
eu sei que isso é loucura. Eu conheço Conor há algumas horas. O próprio Aiden
me disse que o cara é um verdadeiro mulherengo.
Mas ainda.
ECA.
— Então, o que a traz a Atlanta, Jess? — Mindy abre a tampa de sua cerveja e
toma um gole. Ela está vestida com um top decotado e shorts justos, e seu cabelo
loiro está preso em um rabo de cavalo alto. Ela é bonita... naquele jeito “garota
super relaxada que afirma ser um dos caras, mas na verdade está tentando roubar
seu namorado”.
Está bem, está bem. Sei que estou sendo um pouco injusta com Mindy,
especialmente considerando que a conheci há menos de uma hora. Ela
provavelmente é adorável. Mas, novamente, eu pensei que Sarah era adorável
também. Que ela era apenas a adorável colega do meu namorado.
Oh, meu Deus. Como pude ser tão cega? Tão estúpida? Sarah e Johnny
trabalharam juntos por muito tempo. Isso estava acontecendo debaixo do meu
nariz por um tempo e eu descubro apenas agora?
— Jess? — Mindy repete. Gentil o suficiente para que eu ache que a tenha
julgado mal.
Eu pisco e expiro. Tenho me saído bem em não ter pensado em Johnny até
agora e não quero ir por aí agora. Procuro como um louco algo para dizer.
— Oh! Desculpa. Estou, hum, só aqui para uh…
— Comprar alguns sapatos novos — Conor termina suavemente.
Eu olho para ele com surpresa, e ele sorri para mim. É um sorriso pequeno e
secreto, dirigido apenas para mim. Um sorriso que faz minhas entranhas se
transformarem em gelatina.
Mindy parece momentaneamente assustada – o que é justo, dada a falta de
contexto - mas ela se recupera rapidamente.
— Oh, eu adoro comprar sapatos. Definitivamente posso ir com você, Jess.
Você faz compras em butiques ou é o tipo de garota que gosta de ir ao shopping?
Shopping, certo?
Enquanto fala, ela levanta uma das pernas em um arco gracioso e passa um
pé nu e com unhas brilhantes na perna de Conor. Não perco a possessividade no
gesto, a maldade por trás de sua pergunta aparentemente inocente. Ela está
apostando em sua reivindicação tão obviamente que ela pode muito bem mijar
nele.
Parece que meu julgamento inicial estava correto.
Ou... talvez Conor e Mindy estejam juntos, e ela está me informando disso.
Quero dizer, ela está praticamente sentada em cima dele. Durante o jantar, nem
perguntei a Conor se ele tinha uma mulher em sua vida. Eu apenas concordei
com o que Aiden me disse.
Conor se mexe na cadeira, tentando tirar o pé de Mindy de cima dele. Talvez
eles não estejam juntos, mas ela com certeza quer estar. Isso está muito claro.
Talvez ela esteja lutando com Kayla/Marla pelo prêmio.
Dou um sorriso de boca fechada para Mindy.
— Você tem razão. Eu geralmente faço compras no shopping.
Não acrescento que as butiques sofisticadas me deixam ao mesmo tempo
desconfortável e sem estilo, e que os vendedores permanentemente sorridentes e
rondando meio que me assustam. Como regra geral, eu os evito como uma praga.
O que há de errado com a Macy's, afinal? Eles sempre têm ótimas ofertas.
Para evitar o prolongamento da dolorosa conversa sobre compra de sapatos,
volto minha atenção para Pete Stevenson, a única pessoa do grupo que conheço.
Ele e Aiden são amigos há anos e, aparentemente, eles adotaram um grupo social
totalmente novo enquanto eu estava fora.
Eu realmente deveria ter visitado mais.
— Como está Mia? — Eu pergunto a Pete.
Ele se ilumina como o Quatro de Julho com a menção de sua esposa.
— Ela está ótima. Em casa com Oliver esta noite. Continua reclamando que
não quer ir a lugar nenhum porque se sente como um elefante e nenhuma de suas
roupas serve.
Ele abre o telefone e me mostra um milhão de fotos de Oliver, de dois anos, e
de Mia, que está grávida de oito meses e é grande como uma casa. Concordo com
um sorriso plácido enquanto uma série quase idêntica de fotos passa diante dos
meus olhos – Oliver na praia, fazendo um castelo de areia, destruindo o referido
castelo de areia, Mia mergulhando os dedos dos pés na areia, Mia rindo e assim
por diante.
— Parabéns — digo a ele. — Por favor, mande lembranças para Mia.
— Vou mandar, Jess — ele responde. Ele toma um gole de cerveja e limpa a
boca com as costas da mão. — É bom ver você em casa. Aiden sente sua falta.
Um sorriso cruza meu rosto.
— Obrigada, Pete. Tenho saudade dele também.
— Tudo bem! — Luke explode, chamando minha atenção — Quem está
pronto para sair?
Uma linda morena solta um grito de alegria.
— Eu!
Na minha frente, Mindy calça um par de saltos incríveis e pega seu telefone
rosa brilhante.
— Vou pedir um Uber.
Há uma enxurrada de atividades à medida que todos se levantam.
Não me movo e, quando olho para cima, fico surpresa ao descobrir que Conor
está me observando. Eu levanto uma sobrancelha para ele, fazendo uma
pergunta silenciosa.
— Todo mundo está indo para um bar em Midtown — explica ele.
— É sexta-feira! — Mindy declara, deslizando o braço no de Conor. — Às
sextas-feiras, fazemos festa.
— Você quer vir? — Conor pergunta.
Eu hesito.
Eu não sou uma pessoa tão festeira. Nunca fui. Na verdade, o mais perto que
cheguei de curtir uma boate foi no último ano do ensino médio, quando de
alguma forma era considerado “legal” dançar Cupid Shuffle no estacionamento
da Taco Bell nas noites de sexta-feira. Logo depois que todos nós nos animamos
com quarenta doses de copos de Baja Blast Mountain Dew e chalupas4.
Não que eu vá admitir nada disso para Mindy.
Eu estudo Conor por um momento, incapaz de decifrar a expressão em seu
rosto. Não tenho certeza se ele está me pedindo para me juntar a eles por
obrigação ou por um desejo real de que eu vá. Parecia que ele estava flertando
comigo durante o jantar. Como se ele estivesse se divertindo tanto quanto eu.
Mas agora, há Mindy. Ela é uma coisa que existe.
Talvez ele seja apenas o cara que flerta tão naturalmente quanto respira.
Aquele que te provoca e brinca com você, mas isso sempre não significa nada.
Enquanto estou fazendo uma Olimpíada mental sobre o que tenho certeza de
que Conor pretende ser uma pergunta simples e direta, a exaustão de repente me
alcança. De uma só vez, os efeitos da viagem dolorosamente longa e da
montanha-russa emocional de um dia me atingiram bem no peito. Decido que
não importa quais são os motivos de Conor para me convidar. Porque o que eu
realmente preciso agora é dormir.
— Nah — Eu encolho os ombros no que espero ser um jeito fofo e casual. —
Estou exausta. Longa viagem hoje e tudo mais. Divirta-se, no entanto.
Conor olha para mim por mais um segundo antes de Mindy puxar seu braço.
— Vamos, garotão.
Tenho que me abster de revirar os olhos e fico grata em ver que Conor parece
estar fazendo o mesmo.
— Vejo você mais tarde — eu digo, mordendo meu lábio inferior para
esconder minha diversão.
Ele sorri aquele sorriso lento e sexy.
— Até mais tarde... colega de quarto.

No momento em que me arrasto para a cama, estou absolutamente arrasada.


Depois que Conor e seus amigos foram embora, peguei as latas de cerveja do
quintal e arrumei um pouco. Tive uma hesitação momentânea sobre se deveria

4 A chalupa é um prato especial do centro-sul do México, incluindo os estados

de Hidalgo, Puebla, Guerrero e Oaxaca.


trancar a porta da frente e finalmente decidi que deveria. Se Conor mora aqui, ele
deve ter uma chave. Ou, pelo menos, ele deveria saber sobre a chave do gnomo.
Em seguida, fui direto para o quarto. O quarto de Aiden. Não julgue – sua
cama king-size com colchão Casper e lençóis de 1000 fios está muito vazia e
disponível, e me chamou muito mais do que a dupla IKEA do segundo quarto
extra jamais poderia.
Hoje foi um turbilhão de proporções épicas, e eu não quero pensar em nada
além de como esses travesseiros, da Tempur, parecidos com nuvens parecem
macios contra minha cabeça dolorida e cansada. Ao contrário do que disse antes
de ele partir, não pretendo ver Conor mais tarde. Meu plano real é dormir
profundamente antes de ele voltar para casa.
Se ele voltar para casa.
Que é outra coisa que não me interessa pensar.
Antes de cochilar, decido enviar uma mensagem de texto para Aiden.
Jess: Ei. Só queria dizer obrigado por tudo.
Aiden: A qualquer hora, irmãzinha.
Jess: Conheci alguns de seus amigos esta noite. Eles parecem legais. Encontrei
Pete também.
Aiden: Incrível. O que vocês estão fazendo agora?
Jess: Todo mundo saiu. Eu fiquei em casa.
Aiden: Conor vai com eles?
Eu rolo meus olhos. Aiden está sendo tão sutil quanto um tijolo jogado através
de uma janela.
Jess: Sim. E vou dormir agora. Boa noite.
Aiden: É melhor você não estar no meu quarto.
Jess: Hahahahahahahahaha. Até parece.
Eu coloco meu telefone na mesa de cabeceira e rolo, fechando meus olhos
exaustos. Estou prestes a entrar na terra dos sonhos quando meu telefone toca
novamente.
Eu estou presa? Como Aiden sabe que eu estava mentindo? Ele
provavelmente tem câmeras de segurança equipadas, ou alguma telepatia
mágica entre irmãos, ou algo assim.
Pego meu telefone, pronta para negar, negar, negar.
Mas, não é Aiden.
Número desconhecido: Desculpe por tudo isso. Sua chegada inesperada me
fez esquecer que tinha planos para esta noite.
O calor se acumula em meu estômago, mas então eu leio o texto novamente e
franzo a testa. Não tem como ser Conor. Eu não dei meu número a ele. Este deve
ser um texto de número errado; apenas mais uma estranha coincidência para
terminar o dia mais estranho de todos os tempos.
Mas, de alguma forma, sei que não é um número errado.
Meus dedos voam sobre minha tela.
Jess: Quem é?
A resposta vem em poucos segundos.
Número desconhecido: Conor, é claro.
Número desconhecido: A menos que você tenha feito uma chegada
inesperada na casa de outra pessoa hoje, também?
Número desconhecido: Isso é algo que você faz regularmente?
Eu bufo. Então, eu sorrio.
Jess : Não vou atender até que você me diga como conseguiu meu número,
seu stalker.
Número desconhecido: Posso ou não ter pedido a Aiden.
E de repente, estou bem acordada. Porque Conor está em um bar. Com seus
amigos. Com Mindy. Mas ele está mandando mensagem para Aiden, pedindo
meu número.
Acrescento o número dele aos meus contatos e envio uma resposta.
Jess: E ele realmente deu para você? *emoji surpreso*
Conor: Disse a ele que precisava para emergências.
Jess: Isso é uma emergência?
Conor: Não...
Conor: *emoji sorridente*
Borboletas se acumulam em meu estômago. Ele está definitivamente
flertando agora. Eu estudo sua mensagem por um minuto, então decido ser o
mais legal possível.
Jess: Bem, nesse caso, boa noite, Conor.
Conor: Boa noite, colega de quarto. Vejo você pela manhã.
Adormeço sorrindo.
7

JESS

Já esteve no TikTok? Não é para os fracos de coração, deixe-me dizer a você. Perdi
dias reais para o TikTok, e a maioria deles envolveu uma montanha-russa de
emoções. Aprendi o quão chato é o emoji de chorar de rir, por que meus jeans
skinny não estão mais na moda e que eu deveria basicamente cavar um buraco e
me enterrar nele, em vez de tentar ser relevante.
Em defesa do aplicativo, no entanto, agora sei como fazer uma ótima massa
de tomate com queijo feta.
E então, com aquele pequeno vislumbre de bondade extravagante mantendo
meu ânimo alto, continuo assistindo vídeos no aplicativo. Repetidamente.
Mas, na minha primeira manhã ensolarada de volta a ATL, há tantos vídeos
do TikTok que posso assistir antes que minha curiosidade me domine (oitenta e
sete, caso você esteja interessado).
Eu deslizo para fora do meu casulo de lençóis deliciosamente sedosos, em
seguida, abro a porta do quarto de Aiden. Eu estava em um sono tão profundo
ontem à noite que um tornado quebrando a casa provavelmente não teria me
acordado. E então, não tenho ideia de quando – ou se – Conor voltou para casa.
Eu me inclino pela porta, enfiando minha cabeça no corredor. Sem passos.
Sem música. Nenhum tilintar de panelas e frigideiras. E, felizmente, nenhum
sinal de Mindy. A casa está mortalmente silenciosa... mas meu nariz se anima
com um aroma tentador no ar.
Café acabado de fazer.
Minha criptonita.
Eu hesito na porta por um momento, dividida entre minha necessidade de
cafeína e o conhecimento de que meu cabelo geralmente parece que foi
eletrocutado logo de manhã.
Eu realmente não quero que Conor veja meu cabelo de espantalho e se
arrependa de ter me enviado uma mensagem de texto. Não que eu me importe
que Conor me mande mensagens, lembro-me bruscamente – entre Mindy e
Marla, ele já tem as mãos cheias de mulheres.
No entanto, foi legal da parte dele interromper a terceira base de Mindy.
E seus textos me fizeram rir. Bastante.
Eu volto para o quarto de Aiden e fecho a porta. A única coisa razoável a fazer
é dizer “acordei assim”. Você sabe, aquele velho golpe amado por mulheres em
todos os lugares – aquele em que você passa horas se preparando para parecer
sem esforço. Então, ao primeiro elogio que você recebe, você encolhe os ombros,
olhando inocentemente para sua roupa cuidadosamente escolhida para dizer, “o
queeeeee? Essa coisa velha?”
Estou apenas me fazendo parecer apresentável para que o amigo totalmente
fora do meu alcance de Aideen não me ache um desastre total. Isso é tudo.
E então, eu passo os próximos minutos correndo por uma sessão frenética de
modelagem com babyliss, enquanto assisto a um tutorial do YouTube sobre como
aplicar o máximo de maquiagem possível para fazer parecer que não estou
usando nenhuma. Então, eu visto meu pijama mais fofo (então, basicamente, não
o macacão de girafa ou a calça de moletom manchada do UGA Bulldogs que eu
geralmente prefiro).
Quando meu cabelo finalmente está um pouco domesticado, saio do quarto
de Aiden e caminho pelo corredor. Viro a esquina e a cozinha é banhada por uma
poça de luz solar dourada matinal. É estranho estar aqui há menos de 24 horas e
me sentir mais em casa na casa de Aiden do que em meu próprio apartamento
em Nova York.
Conor está sentado em um banquinho na ilha e, a menos que Mindy esteja se
escondendo atrás do sofá, ele está sozinho. Ele está tomando café e lendo algo em
seu telefone, sua camisa de treino acentuando seus ombros largos e musculosos.
Mmm.
Ele se vira. Ele levanta as sobrancelhas.
— Mmm?
Cada gota de sangue do meu corpo corre para meu rosto e eu entro em pânico.
Eu realmente disse isso em voz alta? O que há de errado comigo? Este é por sua
conta, cérebro.
— Você não quer dizer, “bom dia, colega de quarto?” — Conor continua, seus
lábios se contraindo.
— Quero dizer... mmm, café. É isso. Eu amo o cheiro de café — eu deixo
escapar em um súbito acesso de inspiração.
Ufa, boa defesa. Nem um pouco óbvio.
Os lábios de Conor se esticam em um sorriso preguiçoso.
— Presumo que você dormiu bem?
— Como um bebê — eu alcanço o armário e pego uma caneca enorme que
declara “o irmão mais legal do mundo” (um presente de Natal deliciosamente
atencioso de mim mesma para Aiden no ano passado). Sirvo-me de café, tomo
um grande gole, fecho os olhos e digo “mmm” novamente em voz alta. Apenas
para reiterar meu ponto de vista.
— Obrigado pela cafeína — Eu sorrio, apoiando meus cotovelos na ilha. —
Como foi sua noite?
— Boa — Conor encolhe os ombros. — Com toda a franqueza, porém, não
gosto mais de sair. Eu prefiro ficar em casa.
Eu olho para Conor por um momento, minha respiração presa. Este homem
continua dizendo as coisas certas, e uma declaração como essa é 100% minha
linguagem de amor. A maneira como sua camisa está abraçando seus bíceps
também não ajuda. Embora, ele provavelmente usasse aquela camisa de
propósito, apenas para exibi-los.
— Você estava tão quieto que pensei que ainda pudesse estar dormindo. Ou,
que você pudesse não estar em casa ainda — eu digo e tomo um gole inocente de
café.
Eu estou investigando? Ah, quem sabe.
Os olhos de Conor enrugam nos cantos e de repente estou feliz que meus
cotovelos estão suportando meu peso para que eu não tombe em um desmaio
digno de Jane Austen.
— Eu estava quieto de propósito, então não acordei você — diz Conor. — Eu
me senti mal por mandar mensagem tão tarde quando você estava cansada.
Estou tão perdida em seus olhos verdes que respondo antes de pensar.
— Sim, e não era nem mesmo uma emergência.
Conor ergue as sobrancelhas um pouco e eu amaldiçoo minha boca grande –
POR QUE eu diria isso? Tenho certeza de que queria soar sedutora. Eu queria ir
para uma segunda rodada das nossas brincadeiras. Em vez disso, fiz parecer que
não quero que ele me envie uma mensagem.
Quero fazer uma petição para retirar minha declaração. Reivindique
insanidade temporária.
Mas, antes que eu possa fazer qualquer coisa, Conor sorri novamente.
— Você prefere que eu não mande mensagens em casos não emergenciais,
então?
Eu balanço minha cabeça um pouco ansiosamente, e seu sorriso se estende.
— Me mande uma mensagem quando você precisar de mim — eu digo
levianamente. — Mas, sou muito ocupada e importante, por isso entrarei em
contato com você quando puder.
— Ocupada... e... importante — Conor faz mímica de escrever algo. —
Entendi.
O brilho em seus olhos me pega desprevenida e eu me mexo.
— E não se preocupe em me acordar de manhã, eu durmo como um morto.
— Também anotado — Conor ergue uma sobrancelha para mim. — Algo mais
que eu deveria saber sobre minha nova colega de quarto? Alergias? Remédios?
Animais de estimação exóticos?
— Não, não, não — Eu rio e aponto para o tupperware salva-vidas na ilha. —
E somos só eu e Fernie. Você?
— Apenas um crocodilo de estimação. O nome dela é Susan.
Ele está brincando... eu acho.
— E você? — Eu decido que é melhor ignorar Susan e quaisquer questões em
torno de sua existência por enquanto. — Algo que eu deva saber?
— Bem — Conor se inclina para frente conspiratoriamente, e uma mecha
daquele cabelo castanho dourado espesso cai sobre sua testa. Seus olhos brilham
com malícia — Eu sou muito selvagem quando se trata de agendamento.
— Me deixou intrigada — Eu espelho seu movimento reflexivamente. O
homem tem um campo magnético, juro — Quer me informar sobre essa sua
agenda fora de controle?
Ele ri aquela risada rica e gutural.
— Eu sou uma criatura de hábitos. Eu preparo a refeição aos domingos, passo
aspirador às segundas, limpo os banheiros às terças-feiras. Quarta é dia de
lavanderia e quinta é dia de lixo.
Seus olhos são sinceros, e me lembro de como ele esfregou o corredor ontem
antes que eu pudesse chegar à bagunça. Ele está falando sério.
Uau. Um obcecado por limpeza que tem um dia designado para cada tarefa
doméstica. Por que isso é tão sexy?
Talvez porque eu seja o tipo de garota que nunca se lembra de lavar roupa,
resultando em frequentes buscas de pânico em meu cesto de roupa suja para
encontrar meias.
— Bem, ou você é limpo excessivamente por natureza ou uma mulher o
treinou bem — brinco, esperando que ele ria.
Mas a expressão de Conor se achatou e o brilho em seus olhos diminuiu.
— Algo assim — ele diz, então se levanta. Como se ele estivesse se preparando
para sair.
Droga. Obviamente, meu comentário tocou um nervo. E se ele realmente tiver
TOC e eu apenas zombei de sua condição médica?
— Você quer café da manhã? — Eu pergunto rapidamente, esperando que
não seja muito óbvio que estou tentando encontrar uma maneira de sair de ré
daquele túnel de quatro pistas que eu chamo de boca.
Observo sua expressão com cuidado e fico aliviada quando ele sorri. Ele
aponta para sua roupa.
— Tenho trabalho ao meio-dia, eu ia correr primeiro.
— Uma corrida! — Eu praticamente grito. Estou tão feliz que ele não vai
embora por causa do meu comentário idiota de que não consigo controlar meu
nível de decibéis, aparentemente — Sim, claro!
— Você quer vir?
— Hahahahaha — Não tenho certeza de por que estou rindo. Histeria, talvez.
— Uma corrida? Eu realmente não corro. Meu carro quase não funciona na
metade do tempo.
Minha nossa.
Conor enfia a língua na bochecha e sorri. Seus olhos verdes como o oceano
brilham dessa forma torturante de arrepiar que me deixa um pouco enjoada. Eu
viro minha cabeça e bebo meu café, deixando-o queimar minha garganta.
— Posso dar uma olhada nisso para você — diz ele.
Eu mordo meu lábio.
— Você pode?
— Claro. Eu ficaria feliz.
Eu sorrio fracamente. É gentil da parte dele oferecer, mas há o pequeno
problema de que não há nada de errado com meu carro. Exceto pelo ar
condicionado quebrado. Eu penso rápido e mudo de assunto.
— Você prepara o jantar, faz café e conserta carros para todos os seus colegas
de quarto?
Seu sorriso se transforma em um sorriso atrevido.
— Apenas para as bonitas.
Um brilho se espalha do topo da minha cabeça até os dedos dos pés, e eu cerro
os punhos para impedir que meus braços façam uma dança feliz improvisada.
Conor acha que sou bonita? Não, ele está apenas sendo legal, tenho certeza.
Tentando me fazer sentir melhor sobre o meu recente término. Aiden
provavelmente pediu a ele para ser muito doce comigo, ou algo assim.
— Existe alguma coisa que você não faz? — Eu mantenho meu tom leve, como
se estivesse brincando.
Mas estou falando sério. Como um ataque cardíaco.
— Café da manhã. — Ele pisca — Eu não tomo café da manhã.
E com isso, ele me dá um pequeno aceno, coloca seus airpods e se dirige para
a porta.
Touché, namoradeira.

Conor sai para sua corrida matinal (por que não nasci com um gene que me faz
querer me jogar nas calçadas da cidade em nome da saúde e da boa forma?), e eu
volto para o quarto de Aiden. Sem nunca desperdiçar meu cabelo e esforços de
maquiagem, vasculho minha mala até encontrar uma blusa branca e calças
pretas.
Não é a roupa mais elegante do mundo, mas espero que minha roupa seja
razoavelmente profissional. Como tenho zero dólares em meu nome, acho que
começar a procurar um emprego não pode machucar – não quero ficar ocupando
a casa do meu irmão para sempre e tenho uma lista de galerias que quero visitar.
Esse é o meu plano mestre: conseguir um emprego em uma galeria e, então,
assim que estiver dentro e amiga dos proprietários, vou convenientemente cair
na conversa que sou um artista. É um plano infalível.
Ou, talvez, um plano para um tolo. De qualquer forma, é tudo o que tenho
agora.
Eu adiciono um par de sapatos de salto pretos ao meu conjunto e cambaleio
até a porta da frente.
Eu sou forte. Eu sou confiante. Eu sou empregável.
Repito o mantra para mim mesma enquanto desço a calçada da frente. E,
quando digo “desço”, quero dizer manco. Como um pinguim. Sempre fui
péssima em andar de salto.
Estou procurando minhas chaves em minha bolsa quando ouço aquela voz
estrondosa novamente.
— BUTCH, NÃO!
Antes de saber o que está acontecendo, tenho um golden retriever de 36 quilos
comigo. E eu quero dizer literalmente na minha pessoa. O cachorro se joga em
mim com tanta velocidade que estou surpresa por não cair, visto que estou
praticamente usando pernas de pau. As patas de Butch estão no meu peito - ele
é quase tão alto quanto eu, de pé - e uma língua grande, úmida e rosa cobre meu
rosto em beijos babados de hálito de cachorro.
— Oi! — Consigo tirar meu rosto da linha de fogo e dar um tapinha na nuca
do cachorro, empurrando suavemente — Calma, garoto. Isso é um bom menino,
para baixo!
Para baixo, ele não entende.
— Sente? — Eu tento. — Por favor?
— BAIXA! — Courtney late o comando e o cachorro recua imediatamente,
caindo para se deitar aos meus pés obedientemente. Ele olha para mim com uma
expressão doce e apaixonada, seu rabo batendo ruidosamente na calçada. Apesar
do ataque, ele é fofo como pode ser.
Courtney sobe correndo a calçada com seu outro cachorro, Cassidy. Sua
mochila balança para cima e para baixo atrás dela, e ela agarra uma Tupperware
gigante.
— Eu sinto muito, uma vez que ele conhece você, ele pensa que vocês são os
melhores amigos da vida. Ele escorregou para fora da coleira.
— Sem problemas — eu digo. Embora as duas pegadas enormes e cobertas de
grama em meu peito sugiram o contrário.
Courtney prende o Grandalhão de volta na guia e na coleira, em seguida,
empurra a Tupperware em meus braços com muita força.
— Isto é para você — ela diz. — Eu assei alguns cupcakes para te dar as boas-
vindas à vizinhança. E para me desculpar por ter começado mal ontem.
— Obrigada — eu digo, suavizando em direção à minha nova vizinha. Os
produtos de padaria realmente são o caminho para o meu coração — Isso é muito
gentil e totalmente desnecessário.
Eu puxo a tampa da Tupperware e olho para alguns cupcakes protuberantes
de aparência muito questionável. Por que eles são verdes?
Coloco a tampa rapidamente e coloco o recipiente debaixo do braço.
— Esperançosamente eles são comestíveis. Se não, vou assar outro lote para
você — Courtney diz brilhantemente. Então, ela olha minha camisa. — Embora
eu deva fazer isso de qualquer maneira, visto que também tenho que me
desculpar por sua camisa manchada.
— Oh não, por favor, não — eu grito rapidamente. — Isto é suficiente. Mais
do que suficiente, obrigada.
Ela me dá um sorriso muito repentino e radiante.
— Você vai ficar um pouco? Como aquele outro cara?
O que é isso, Vigilância do Bairro? Courtney parece manter o controle de tudo
que está acontecendo na casa ao lado dela. Faço uma nota mental para perguntar
a meu irmão o que ele sabe sobre sua vizinha intrometida.
— Sim, Conor e eu estamos morando aqui temporariamente — Tenho medo
de dar muitas informações a Courtney. Tenho a nítida sensação de que tudo o
que digo pode e será usado contra mim. Esperançosamente não no tribunal.
Courtney acena com a cabeça.
— Aquela mulher ruiva é a namorada do Conor, então?
— Quem? — Eu pisco
— Aquela que está lá o tempo todo. Ela começou a aparecer logo depois que
ele se mudou.
Cara, Courtney com certeza tem muitas perguntas sobre as mulheres que
andam pela casa de Aiden.
Eu encolho os ombros, sem saber o que dizer. Nenhuma das mulheres do
grupo da noite passada tinha cabelos ruivos. Conheço Conor há menos de vinte
e quatro horas, mas a única coisa que sei com certeza é que parece haver muitas
mulheres em sua vida.
Courtney claramente interpretou mal o meu encolher de ombros, porque ela
gritou tão alto que seus filhotes pularam de pé.
— Oh, desculpe! Eu entendi tudo errado? Ele é seu namorado?
— O que? — Minha voz sai toda estranha e alta. — Não! Não não não. Não
senhor-aaaaa.
Então, para piorar as coisas, eu rio como uma hiena.
Ela parece sentir meu desconforto, porque ela revira os olhos como se
estivéssemos em conluio ou algo assim.
— Então, ele não é seu namorado, mas você quer que ele seja seu namorado?
Eu me assusto mais do que os cachorros. Courtney sorri como se soubesse
todos os meus segredos com apenas um olhar. É bastante enervante.
— Essa é... uma pergunta meio pessoal, Courtney.
— Gosto de conhecer os meus vizinhos — A mulher é imperturbável.
— Não — eu digo decisivamente. — Eu não quero que ele seja.
Ela me olha como se eu tivesse acabado de dizer que o céu é verde e a grama
é azul.
— Por que não? Ele é tão gostoso.
Porque eu não quero ser adicionada à longa lista de flertes de Conor?
Eu aperto meus lábios e mordo minha língua. Não estou no mercado para um
caso com um cafajeste. Quer dizer, eu tenho que viver com o homem. Somos
companheiros de quarto. E eu preciso tratá-lo como um colega de quarto. Pessoas
que compartilham um espaço, convivem pacificamente e contribuem de forma
igual.
Mas Courtney tem razão – Conor é gostoso. E doce. E engraçado. E um grande
namorador que sai em muitos encontros, de acordo com Aiden. É por isso que
não posso deixá-lo cozinhar o jantar para mim e me fazer corar e rir como uma
colegial. Não posso deixá-lo consertar meu carro e fazer coisas boas para me fazer
desmaiar por ele como qualquer outra mulher.
E, agora, ele está com um ponto contra mim depois de me preparar o jantar
na noite passada. Isso vai ter que mudar.
Sim, dois podem jogar nesse jogo, Conor Brady.
Percebo que fiquei em silêncio por muito tempo e há uma chance de Courtney
achar que eu sou a estranha agora. Então, eu rolo meus olhos e suspiro.
— Porque eu não gosto de homens que se interessam mais por si mesmos do
que as garotas com quem eles namoram. Ele pode ser gostoso, mas com certeza
sabe disso.
Para minha surpresa, o rosto de Courtney aperta e ela balança a cabeça em
concordância.
— Eu conheço um cara assim.
Compartilhamos um pequeno sorriso. Courtney pode ser um pouco
incomum, mas minha nova vizinha e eu podemos ter mais em comum do que eu
pensava.
— É melhor eu ir trocar de camisa — eu digo. — Obrigada novamente pelos
cupcakes.
— Sem problemas — Courtney sorri largamente. Então, sua sobrancelha
enruga — Oh, e Aiden falou da cerca? — Seus lábios se torcem sobre o nome do
meu irmão como se fosse uma palavra de quatro letras. — Eu sei que ele queria
substituí-la o mais rápido possível, visto que ele fez todas aquelas reformas.
— Não, desculpe — Aiden não falou nada sobre a cerca porque não mencionei
isso a ele ainda. Opa. Não querendo ser totalmente inútil, acrescento: — Conor -
o cara que definitivamente não é meu namorado - fez as reformas. Quer falar com
ele sobre isso?
Um olhar indecifrável cruza o rosto de Courtney antes que ela sorria
maliciosamente.
— Vou esperar até Aiden estar em casa. Tudo certo. Prazer em conhecê-la
novamente, Jane.
— Jess — eu corrijo.
— Oh, sinto muito. Jess. Sou péssima com nomes. Jess Mess. Jess Guess. Jess
Confess. — Ela para de rimar por tempo suficiente para fazer uma careta - língua
para fora, olhos cruzados, como se ela estivesse posando para uma foto do baile
idiota — Gosto de rimar para não esquecer as coisas.
Claro que ela gosta. E, no entanto, não posso deixar de me sentir um tanto
cativada pelas travessuras bizarras de Courtney. Ela é peculiar... mas ela parece
doce. Tenho a sensação de que nos veremos mais.
Courtney e eu nos despedimos e eu volto para casa para trocar minha camisa
manchada de grama. Enquanto caminho, penso nela chamando Conor de meu
namorado e bufo alto. Conor é um galinha, não está interessado em mais nada.
De acordo com tudo que vi e ouvi sobre ele, ele deveria ter me dito antes que ele
não tem relacionamentos, não café da manhã.
Eu não quero fazer parte disso. Além disso, quem disse que ele quer alguma
coisa comigo, afinal? Ele pode escolher qualquer uma.
Então, as chances de Conor e eu ficarmos juntos? Sim, vamos apenas dizer
que as chances são maiores de eu colar cada pedaço do pote quebrado de Fernie
de volta.
8

CONOR

— Estou muito impressionada — Uma mão fria e bem cuidada pousa no meu
antebraço nu.
Ela está flertando. Novamente.
— Obrigado, Karla — Dou um passo para longe da minha corretora de
imóveis e cruzo os braços sobre o peito o mais casualmente que posso, na
esperança de evitar qualquer contato desnecessário — Acho que deve estar
pronto em algumas semanas.
Há uma pausa estranha enquanto Karla registra minha distância entre nós.
Perturbado, pego duas peças de amostra para o backsplash que escolhi e as
mostro para ela.
— O que você acha?
Ela torce o nariz com a minha pergunta, então eu dou a ela um pouco mais de
contexto.
— O mosaico texturizado azul vai dar uma sensação de casa de fazenda, mas
a flor de lis marfim vai parecer mais clássica e elegante.
Fomos visitar minha nova compra em Edgewood uma hora atrás e agora,
estamos parados na cozinha de outro de meus projetos - um grande no estilo
Craftsman em Decatur que foi uma grande dor de barriga. Está quase concluído
agora, exceto por alguns detalhes estéticos.
Comprei esta casa por um valor acima do que ela valia. A outra parte
interessada era um grande incorporador que queria demolir o local e construir
condomínios. Mas, aquele meu maldito lado sentimental mostrou sua cabeça
insistente, e acabei pagando mais do que queria para salvar a propriedade
histórica.
A casa sempre teve boa estrutura. E agora, ela também tem tetos elevados,
uma cozinha de chef e uma suíte master ampliada, completa com closet e
chuveiro a vapor. A propriedade é deslumbrante e espero ter feito um bom
trabalho capturando a essência e a beleza da casa. Mas cara, as contas estão se
somando neste bebê.
Karla franze a testa para os ladrilhos que estou segurando, em seguida, acena
com a mão indiferente.
— O que parecer mais caro.
Eu tenho que me abster de revirar os olhos. Gosto e estilo nem sempre têm a
ver com preço. Mas, tentar fazer Karla acreditar nisso seria como tentar explicar
a teoria das cordas para uma criança de quatro anos.
— Falando em caro, porém, vamos falar de dinheiro — diz Karla, seu rosto se
iluminando.
Eu rio secamente. Karla definitivamente não tem meias palavras. É uma das
razões pelas quais trabalho com ela, para ser honesto - ela é realmente boa em
seu trabalho. Ela está nessa jornada comigo desde minha primeira tentativa, e
valorizo seu conhecimento de mercado. Com o passar dos anos, ela me deu
muitos bons conselhos - mesmo que nossas prioridades tendam a diferir na
maioria das vezes.
Eu mordo meu lábio enquanto me inclino contra a bancada da cozinha, um
pouco nervoso. Na renovação e venda de imóveis, encontrar o equilíbrio perfeito
entre gastar dinheiro para ganhar dinheiro é uma batalha constante. E eu sei que
gastei demais neste projeto.
Eu expiro e digo a ela por que estou no buraco.
Karla confirma meus medos quando seus olhos se arregalam um pouco. Ela
balança a cabeça.
— Decatur está em alta agora, está quente. Ambos sabemos disso. Mas, há
muita mercadoria, Conor, toneladas de casas de família disponíveis. E, com o
preço que você está procurando, uma casa desse tamanho precisa ter um toque
extra de magia. Isso é algo especial, sabe?
Eu concordo. Por mais que não queira admitir, eu sei. Há um limite para o
valor que você pode agregar atualizando os eletrodomésticos e personalizando
os azulejos do banheiro.
— Para obter um prêmio neste lugar, você precisará vender o estilo de vida
que vem com esse investimento — continua Karla. Ela torce uma mecha de cabelo
liso e ruivo em torno de uma unha comprida e vermelha enquanto fala — Que
significa…
Eu balancei minha cabeça.
— Minha irmã está prestes a estourar, ela não será capaz de ajudar nisso.
Minha irmã mais nova é geralmente minha referência para design de
interiores e conselhos de encenação. Depois que eu termino as reformas, ela é
quem realmente dá vida a cada casa. Ela sempre teve esse olho, e ele
definitivamente foi útil ao longo dos anos. Mas ela também está com cerca de mil
meses de gravidez agora. Eu não posso colocar ela nisso.
— Contrate um designer então. Ou uma empresa de decoradores
profissionais.
— Vou pensar sobre isso — Contratar uma empresa de decoração é a última
coisa que quero fazer. Já estou no vermelho neste ponto e, além disso, saí do meu
caminho para colecionar móveis e outros itens de montagem ao longo dos anos.
O que, com a ajuda de Mia, deixa todas as minhas casas lindas por uma fração
do preço.
— É melhor você pensar sobre isso rapidamente — Karla sorri —, porque
estou agendando a visitação pública para duas semanas a partir de agora.
Abro a geladeira e pego duas Cocas. Não existe preferência por Pepsi aqui em
Atlanta – isso seria blasfêmia. Eu estendo uma para Karla, que balança a cabeça.
Abro uma lata e tomo metade dela em um único gole. Ainda está muito quente
lá fora e, embora o local do projeto tenha energia, ainda não conectei o ar-
condicionado. Estou surpreso que Karla não esteja fervendo viva naquele
terninho.
— Encare isso, Conor — Karla alisa uma ruga imaginária em seu paletó azul
royal — Este foi um investimento arriscado para começar, e eu realmente acho
que você precisa correr um último risco para que isso valha a pena.
Enquanto ela começa seu discurso favorito de risco versus recompensa, tomo
o resto da minha Coca e jogo a lata vazia do outro lado da sala. Ela se arqueia
perfeitamente para a lixeira com um barulho alto. Karla me observa, seus olhos
azuis penetrantes fixos na minha boca. Limpo meus lábios desajeitadamente com
as costas da minha mão.
Além da conversa constante de “sair para beber”, ela me convidou para sair
duas vezes no passado, e eu a recusei o mais gentilmente possível. Ela é muito
inteligente e bonita também, mas não estou interessado nela desse jeito. Então,
fico murmurando desculpas vagas e idiotas sobre não misturar negócios com
assuntos pessoais - que gosto de separar ordenadamente todas as áreas da minha
vida e mantê-las separadas. E, porque me importo muito com limpeza, é
verossímil.
Eu sei que sou um hipócrita, no entanto.
Desde que Jess apareceu ontem, não fiz nada além de pensar na irmã mais
nova do meu amigo. O que eu sei que não é legal. Principalmente porque, quando
Aiden chegar em casa, terei que morar com os dois até que minha casa esteja
pronta. Por falar em ultrapassar as linhas.
Mas há algo na Jess.
Ontem à noite, eu estava me divertindo muito para conhecê-la - até que meus
amigos apareceram e estouraram nossa pequena bolha. Desde então, não consigo
parar de imaginar seus olhos castanhos líquidos que se estreitam toda vez que
ela tenta descobrir se estou brincando. Sua pele pálida fica vermelha toda vez que
a provoco. Sua boca macia e carnuda – possivelmente a boca mais perturbadora
que já conheci. Uma boca que implora para ser beijada.
Esta manhã, fiz os cantos daquela boca se abaixarem quando me fechei com a
piada que ela fez. Eu não queria – ela apenas me pegou desprevenido e levei um
momento para me recuperar.
Eu poderia dizer que ela ficou envergonhada, mas não consegui explicar
minha reação. Se eu fizesse isso, teria que dizer a ela a verdade: que não houve
nenhuma mulher na minha vida por anos, mas, ultimamente, tenho essa sensação
incômoda de que quero mais do que um encontro casual. Talvez ver minha irmã
e seu marido tão felizes tenha desencadeado algo dentro de mim, mas eu quero
alguém com quem eu possa ter uma vida fora do trabalho. Um relacionamento
para compartilhar os sucessos um do outro e ajudar um ao outro durante nossos
fracassos. Não ser mais um “eu”, mas sim um “nós”.
Não é exatamente uma conversa fácil e alegre de se ter com a mulher que
acabou de se mudar para a sua casa. Aquela que eu mandei mensagem de texto
na noite passada, embora eu soubesse que não devia jogar esse jogo. Depois de
uma ou duas cervejas, estava convencido de que um pouco de flerte inofensivo
era apenas isso – inofensivo. Como um flerte amigável.
Além disso, manter meu desejo crescente de me estabelecer e ter a minha
própria família é um lugar mais fácil e menos vulnerável de existir. Então, eu fui
em frente e coloquei minhas paredes de volta, mantendo as coisas na zona de
amigos-que-flertam.
Porque isso é totalmente uma coisa.
— Conor? — A voz de Karla me traz de volta ao presente. — Você está
ouvindo?
— Uh-huh — eu minto.
— Então-o? — Ela solta a última sílaba, franzindo os lábios artificialmente
carnudos.
Eu pisco, tentando lembrar do que estávamos falando antes de desligar
completamente.
Ela percebe minha expressão perplexa e ri.
— Mentiroso mentiroso! — ela canta — Você está tão fora de si hoje – noite
longa ontem, então?
— Algo assim — murmuro com um sorriso tímido.
— Só estava dizendo que preciso ir ao meu próximo compromisso. Mas, vou
perguntar sobre as opções para empresas de decoração acessíveis e verificarei
com você esta semana.
— Certo — eu digo — Obrigado, Karla. Desculpe pelo cérebro confuso hoje.
Ela me cutuca nas costelas e leva tudo de mim para evitar estremecer.
— Você pode me agradecer levando-me para tomar uma bebida quando esta
casa for vendida por mais do que você pedir.
Excelente. Eu me afasto por alguns instantes curtos e minúsculos e, nesse
tempo, consegui garantir bebidas com Karla. Não há nada que eu possa dizer
para evitar sem parecer rude, então simplesmente aceno com a cabeça.
Coloco meus óculos de sol e abro a porta da frente. Faço um gesto para que
ela saia na minha frente e ela espera que eu tranque a porta. Caminhamos juntos
pelo caminho da frente ladeado por árvores e, quando chegamos ao meio-fio, ela
paira por um momento.
— Obrigado novamente, Karla — eu sou o mais direto e profissional possível.
É meio difícil de fazer quando estou usando shorts esportivos e chinelos, mas que
seja. Então, eu ando para o meu veículo o mais rápido que posso, sem parecer
que estou tentando fugir (o que estou tentando fazer).
Conforme eu destranco minha caminhonete, meu telefone vibra no meu
bolso.
Jess: Minha vez de cozinhar esta noite.
Uma sensação de calor se acumula em minha barriga e meu rosto estúpido
sorri de orelha a orelha e com a ideia de ir para casa para uma refeição caseira
depois de um longo e árduo dia de trabalho. Indo para casa para Jess. Quando
conversamos sobre nossas rotinas esta manhã, Jess e eu sequer conversamos
sobre compartilhar a comida. Mas, tenho que admitir que amo essa ideia.
Na minha cabeça, estou imaginando algo saído de uma revista dos anos 1950.
Jess estava adorável em um lindo vestido de bolinhas e eu entrava pela porta e
gritava:
— Querida, cheguei! — Eu deixaria cair minha pasta para que eu pudesse
balançá-la em meus braços, em seguida, mergulhá-la e beijá-la.
Espere, o que?
Desde quando meu cérebro fica todo “I Love Lucy” em minhas fantasias? Eu
nunca gostaria que nenhuma mulher em minha vida sentisse que tinha que ficar
em casa e limpando o dia todo. Obviamente, porque eu quero que ela se sinta
capacitada para fazer o que quiser. Mas também, porque eu me encarrego da
limpeza.
Não há nada melhor do que expressar minhas emoções esfregando
agressivamente as bancadas. É terapêutico. Não que eu fosse admitir isso para
Jess. Para provar meu ponto de vista de que sou uma pessoa normal-e-limpa, até
deixei uma caneca suja na pia esta manhã, em vez de colocá-la na máquina de
lavar. Pegue isso, tendências esquisitas. Eu sou tranquilo e relaxado, viu?
— Tchaaau, Conor! — O latido de Karla corta minha confusão de
pensamentos como uma faca. Ela está na porta de seu Lexus branco, balançando
os dedos.
— Tchau — eu digo antes de pular na minha caminhonete. Eu inclino minha
cabeça contra o encosto de cabeça, então ligo a ignição. Um suspiro de alívio me
escapa quando o ar condicionado explode em meu rosto. Observo Karla se afastar
do meio-fio, mas em vez de colocar meu próprio veículo em movimento, digito
uma mensagem.
Conor: É mesmo?
Jess: O mínimo que posso fazer. Prepare-se para alguma excelência culinária.
Conor: Oh sim, o que você está fazendo?
Jess: Waffles.
Meu coração acelera ao dobrar enquanto sou lançado de volta à nossa
pequena conversa esta manhã. Antes que eu possa responder, outra mensagem
chega.
Jess: Então, prepare-se para tomar o café da manhã.
Oh, estou pronto.
9

JESS

— Você poderia mantê-lo em arquivo para o caso de acontecer alguma coisa? —


Eu sorrio com força.
A recepcionista de cara limpa, que parece que mal acabou de usar as fraldas,
me lança um sorriso simpático.
— Claro — ela diz, sua voz cheia de dúvida. Olho ao redor do saguão rosa
choque e cromado da Blend Creative, já sabendo que nunca mais vou ouvir falar
de ninguém desta empresa.
— Obrigada pelo seu tempo — Eu me viro e me afasto. Vou me mostrar
graciosamente. Posso não ter a experiência que nenhuma dessas empresas de
design sofisticado está procurando, mas pelo menos ainda tenho minha
dignidade.
Bem, eu tenho até tentar puxar a porta da frente. É uma porta de empurrar,
então eu acabo com o rosto plantado no vidro imaculado.
— Você está bem, senhora? — a recepcionista me chama, e não tenho certeza
se é o ovo de ganso se formando na minha testa ou a picada da centésima rejeição
da semana, mas meus olhos começam a arder.
Não precisando ser mais humilhada, finjo que fiquei temporariamente surda
e saio correndo para a rua.
Uma vez que estou segura fora desse pesadelo de escritório e de volta ao
inferno que é o centro de Atlanta, eu uso todo o meu controle para evitar um
colapso total.
Foi quase uma semana batendo perna e distribuindo currículos, falando com
recepcionistas esnobes que se recusam a me conectar com as pessoas com quem
eu realmente quero falar. Vamos enfrentar a verdade, quem quer contratar uma
aspirante a artista perdida, cuja última experiência em seu campo foi trabalhar
em uma galeria logo após a faculdade? Era um bom trabalho, mas depois que me
mudei para Nova York com Johnny, nunca mais consegui encontrar nada
comparável.
O triste é que não é como se eu não tivesse tentado. Candidatei-me a um
milhão de empregos em galerias de arte e empresas de design em Nova York.
Acabei conseguindo um cargo de voluntária no Museu de Arte Moderna duas
manhãs por semana, conduzindo passeios com grupos de alunos.
Alunos do ensino médio, não alunos de arte.
Visto que o aluguel da minha casa infestada de baratas custava mais do que
o pagamento da hipoteca todo mês, isso não pagava exatamente as contas. Então,
passei os últimos anos trabalhando longas noites no Cirque! – um “restaurante
de conceito vanguarda experimental” que era basicamente um restaurante de
circo. Completo com uniformes de garçonete com cartolas e jaquetas vermelhas.
Isso mesmo. Nada parece tão bom em um currículo quanto quatro anos
passados como uma aberração de circo entregando lulas.
As minhas longas noites de trabalho se chocavam tanto com o horário das
nove-às-cinco de Johnny que éramos, muitas vezes, navios distantes. E,
aparentemente, nos desencontramos tantas vezes que acabei flutuando no mar
sem rumo, enquanto ele atracava no porto de boas-vindas de Sarah.
Ai credo. Existe uma imagem mental que eu nunca quis.
Eu balancei minha cabeça vigorosamente, tentando expulsar todos os
pensamentos de Johnny e sua amante. Mas tudo o que faz é me dar dor de cabeça
e ganhar um olhar preocupado de uma mãe que passava por mim na calçada. Ela
pega a mão de seu filho e se afasta de mim, puxando-o para a segurança de um
Baby Gap.
Melhor fugir antes que a louca nos pegue!
O que minha vida se tornou?
Eu verifico meu relógio. São 3 da tarde. Numa quinta à tarde. Já perdi mais
de quarenta horas esta semana ouvindo que sou um fracasso e agora estou
cansada, suada e derrotada. Além disso, tenho quase certeza de que há uma bolha
se formando no meu dedão do pé.
É hora das únicas coisas que podem ajudar depois de uma semana como esta:
vinho e sorvete.
São cinco horas em algum lugar, certo?
Eu arranco meus calcanhares e caminho descalça para o meu carro, calorias
chamando meu nome.

Depois de uma parada rápida no supermercado para um pote de um litro de Ben


& Jerry's Half Baked (ok, e um pote de Cherry Garcia, porque todo mundo sabe
que a variedade é o tempero da vida), eu paro em frente à casa de Aiden em um
humor muito melhor.
No caminho para casa, me levantei e coloquei minha cabeça em ordem. Em
vez de desabar no sofá com sorvete e vinho, decidi que talvez devesse começar a
pintar de novo (depois de comer meu sorvete, é claro). Se as pessoas não vão me
contratar para trabalhar em suas empresas, talvez o plano B seja começar a criar
arte novamente. Na esperança de que alguém o compre.
Os porcos voam ocasionalmente. Certo?
Vamos esquecer o fato de que não pinto há anos. Johnny não estava
exatamente encorajando minha arte quando nos mudamos para Nova York,
então, pouco a pouco, o pequeno estúdio que eu montei no meu apartamento
desapareceu lentamente. Meus pincéis foram guardados para dar lugar ao meu
uniforme de circo e meu cavalete foi substituído por uma bicicleta. Porque
Johnny insistiu que nós dois comprássemos bicicletas, para que pudéssemos nos
visitar sem pegar o metrô.
Só que nunca pedalamos juntos. Continuei pegando o metrô para a casa de
Johnny (pagar pelo estacionamento em Nova York é o suficiente para levar
qualquer pessoa à falência), e Johnny continuou a nunca me visitar em meu
apartamento e passou a usar táxis para ir a todos os outros lugares.
Mas isso foi a Jess do passado. Eu quero ser a nova Jess agora. E, visto que
Conor não vai chegar em casa por pelo menos algumas horas, vou aproveitar ao
máximo o meu tempo sozinha e pintar.
Por falar em Conor, quase não o vi nos últimos dias. Ele chega em casa do
trabalho todas as noites, cada vez mais tarde, e parecendo cada vez mais
estressado. Quando pergunto a ele se há algo errado ele apenas balança a cabeça.
Então, ele geralmente limpa a primeira coisa que vê em seu caminho.
Não jantamos juntos desde o fim de semana passado, quando preparei
waffles para ele. Deixe-me reformular isso… desde que tentei fazer waffles para
ele. Acontece que você não pode fazer waffles sem uma máquina de waffles. O
que Aiden não tinha. Porque, vamos ser realistas, quem compra uma máquina
de waffles?
E apenas uma dica útil da Deusa Doméstica - não importa o quanto o Google
possa lhe dizer o contrário, você não pode usar uma máquina de churrasco
George Foreman como substituto para fazer os waffles. Especialmente se a
referida máquina de grelhar foi encontrada escondida no fundo de um armário,
coberta por uma camada fina de gordura velha.
Meu irmão não compartilha as tendências de limpeza profunda e caprichosa
de Conor.
Honestamente, estou começando a me perguntar se Conor está voltando
tarde propositalmente para casa na tentativa de evitar que eu cozinhe.
Para dar crédito a quem merece, Conor tentou comer os waffles. Mesmo
depois que seus olhos se arregalaram de horror enquanto ele observava a cozinha
salpicada de massa e a fumaça com cheiro de hambúrguer saindo de Big George.
Ele se sentou na ilha, colocou um “waffle” (leia-se: pilha encharcada de entulho)
em seu prato e deu uma mordida. Engasgando. Educadamente ele fingiu que não
estava engasgando. Ele até foi dar uma segunda mordida antes de eu tirá-lo de
seu sofrimento e jogar todo o prato de waffles no lixo.
Rimos juntos, ele me ajudou a limpar a cozinha e, em seguida, dirigimos até
a Waffle House mais próxima. Lá, Conor (o esquisito) dispensou as torradas e os
waffles cobertos de chocolate e encharcados de calda, e pediu um frango
grelhado derretido. Quer dizer, quem faz isso?
Acho que Conor realmente não toma café da manhã.
Sentamos em uma mesa pegajosa, bebendo café descafeinado morno e
conversando. Antes que eu percebesse, as horas se passaram e, para minha
consternação, descobri que Conor realmente parece um cara legal. Com uma
personalidade bastante sólida. Não tocamos em nada profundo ou pessoal, é
claro, mas conversar com ele parecia estranhamente confortável – como se
houvesse um entendimento tácito entre nós para manter nossos tópicos de
conversa leves e superficiais. Longe do que pode estar por baixo da superfície.
Foi uma noite perfeita. O tipo de noite que tenho certeza que é apreciada, em
todos os lugares, por colegas de quarto normais e não-namorados.
Então, por que, todos os dias desde então, tenho esperança de passarmos mais
uma noite juntos? Em um ambiente casual, não-em-um-encontro, é claro.
Eu me sacudo e desligo o carro. Os lugares que minha mente vai depois de
uma longa semana. Em qualquer caso, Conor provavelmente vai trabalhar até
tarde esta noite, o que significa que ninguém estará aqui para ver meu vinho e
ingestão de açúcar.
Ansiosa para colocar o show na estrada, pulo do carro, um pote de sorvete
em cada mão. Estou praticamente pulando em direção à porta da frente
quando…
— EI!
— Ei, Court — Eu aceno, em seguida, coloco meu sorvete no chão para que
eu possa acariciar os irmãos dourados, que estão puxando suas coleiras em uma
tentativa louca de chegar até mim.
Durante a semana passada, Courtney e eu caímos em uma espécie de rotina
– uma em que ela basicamente me aborda sempre que me vê fora de casa, e então
conversamos um pouco. Descobri que ela é um ano mais velha que eu, nascida
em Atlanta, seu sobrenome é Turner e tem um negócio de passear com cães
chamado Life is Ruff. Ainda não paga as contas, então ela trabalha à noite como
recepcionista em um restaurante francês chique.
Para ser honesta, ela está crescendo em mim como uma erva daninha. Uma
erva daninha muito bonita, porém... como um dente-de-leão: brilhante e
desavergonhada, ousadamente ela mesma. Estou no ponto em que espero vê-la,
coleiras nas mãos, rabo de cavalo loiro e mochila balançando atrás dela.
Ela é doce. E gentil. Além disso, não tenho muitos amigos em Atlanta.
Então, eu preciso de uma amiga.
Eu só queria que ela parasse de assar cupcakes para mim. Meu lixo está cheio
até a borda com uma variedade de guloseimas da cor do arco-íris, totalmente não
comestível.
Não me olhe assim… agradeço o gesto, realmente agradeço. Infelizmente, tive
que parar de tentar consumir a comida depois de quase quebrar um dente no que
parecia ser um caroço de azeitona. Em um cookie de chocolate.
Não posso pagar uma consulta ao dentista agora.
Courtney, que está vestida com um macacão de estampa paisley hoje e
carregando sua mochila preta de costume, olha para os meus sorvetes.
— Grandes planos para esta noite?
— Não — eu digo decisivamente —, somos só eu, Ben e Jerry.
Não sou corajosa o suficiente para contar a ela meu plano real – pegar meus
pincéis e colocar algo na tela.
— Não teve sorte na caça ao emprego?
Eu balancei minha cabeça.
— Eu convidaria você para sofrermos juntas, mas seu namorado chegou em
casa há pouco tempo — Courtney dá uma piscadela exagerada. — Aposto cem
dólares que ele quer fazer algo com você esta noite.
Oh sim, essa é a outra coisa chata sobre Courtney. Não importa o quanto eu
proteste, ela está convencida de que Conor está a fim de mim. Diz que me olha
de forma diferente do que olha para a ruiva.
Eu não acredito nela.
— Ele não é meu namorado, e eu não quero fazer algo com ele esta noite —
eu digo ferozmente.
Há uma pausa estranha. Provavelmente porque ambas sabemos que estou
mentindo.
Depois da pausa, Courtney puxa suas coleiras. A dupla de Goldens se levanta,
as línguas penduradas para fora de suas bocas babosas e sorridentes.
— O que você disser, Jess. Vejo você mais tarde — Ela me dá uma piscadela
cúmplice e se afasta, cantarolando para si mesma.
Eu a vejo ir, em seguida, pego meu sorvete. O que agora é praticamente sopa.
Suspiro.
Entro e meu coração dá um salto quando vejo que Conor está, de fato, em
casa. Na verdade, ele está calçando os sapatos na entrada, com uma pilha de
sacolas de compras reutilizáveis a seus pés.
— Boa tarde, colega de quarto — Ele sorri perversamente. — Vejo que você
conheceu a vizinha de Aiden.
Meus olhos se arregalam. Por favor, por favor, não tenha ouvido nossa
conversa.
— Encontrei ela algumas vezes. Você conhece ela?
— Não muito bem — diz Conor. Ele faz uma pausa, como se estivesse
procurando as palavras certas para descrevê-la. — Ela parece um pouco...
— Ímpar? — Eu terminei.
Ele ri.
— Eu ia dizer “intensa”. Ela é super intensa na primeira vez que você a
conhece, mas então ela parece relaxar... muito parecida com você, na verdade. —
Conor sorri para mim. Eu faço uma careta para ele.
— É estranho, no entanto — ele continua —, ela se entusiasmou com você e
comigo muito rápido, mas ela realmente tem suas garras à mostra no que diz
respeito a Aiden. Odeia o cara. Tipo, o odeia o suficiente para arrancar seus olhos.
— Por quê? — Eu pisco
— Não faço ideia. — Conor encolhe os ombros — É muito engraçado, ela é
como um gato escaldado toda vez que ela ataca ele.
Conor olha para mim, vê minha confusão e sorri de forma tranquilizadora.
— Não se preocupe, o sentimento é mútuo. Aiden retribui a antipatia com
igual fervor. É como assistir a um velho casal brigando. Entretenimento bom e
barato.
— Entendo — eu digo. Embora eu não entenda.
Terei que perguntar a Courtney sobre Aiden quando a vir novamente. É tão
estranho que ela o odeie. Todo mundo adora o Aiden.
— O que você está fazendo em casa? — Mudo de assunto, repentinamente
ciente de que Conor está parado a menos de meio metro de mim, e estou nojenta,
suada e agarrada a um dia inteiro de calorias em forma de sorvete líquido.
Conor, por sua vez, está recém-banhado e vestido com uma camiseta branca
justa e shorts cinza claro que o fazem parecer mais bronzeado. Seu cabelo está
úmido e despenteado, e seu queixo forte tem todos os ângulos e a barba por fazer
que estou morrendo de vontade de passar minhas mãos. Ou senti-lo arranhar
minhas bochechas. Oh meu Deus.
Acalme-se, Jess.
— Terminei mais cedo. Foi uma longa semana, e é apenas quinta-feira. — Os
lábios de Conor comprimem levemente enquanto ele pega as sacolas. Eu sinto
sua dor. — Você está bem, a propósito? Você parece um pouco…
— Estou bem! — Eu interrompo. — Ótima como um belo dia de verão.
Do que diabos estou falando?
Os lábios de Conor se afrouxaram e agora estão se enrolando naquele sorriso
travesso dele.
— Ok, Senhorita Bem — Seus olhos viajam sobre mim, então pousam nas
minhas caixas de sorvete.
— Ceia — eu explico.
Ele balança a cabeça.
— Isso não é ceia.
— É meu jantar — eu digo desafiadoramente.
— Não — Ele se estica e arranca as caixas da minha mão.
Uh, com licença?
— Ei! — Eu protesto enquanto ele os leva embora. Para a cozinha, onde
guarda no freezer.
Conor me dá seu sorriso deslumbrante, e minha raiva derrete mais rápido do
que meu sorvete.
— Eu estava planejando fazer fajitas esta noite, se você quiser.
Eu gostaria de algumas. Muito. Porque as fajitas de carne não são apenas a
minha comida favorita no mundo, mas eu tenho vivido de miojo durante toda a
semana e escondido os pacotes vazios no lixo para que Conor não perceba minha
dieta horrível. Então, sim, eu quero fajitas.
Além disso, as fajitas são casuais. Amigáveis.
Principalmente se eu comer pelo menos três e não usar talheres.
— Claro — eu deixo escapar antes que eu possa me impedir.
— Carne ou frango?
Carne. Sempre carne.
— Hum, frango? — Eu escolho a opção mais barata e menos sofisticada.
Amigos comem frango juntos.
— Carne, então — Conor vai em frente e lê minha mente. Que bruxaria é essa?
— Como você…?
— Eu também gosto mais de carne — Conor para com a mão na porta da
frente. — Só preciso ir até a loja, depois que eu voltar começo a cozinhar.
Ele está saindo para comprar os ingredientes. Oh não, não, não.
— Eu posso ir! — Eu me jogo em direção à porta da frente. O mínimo que
posso fazer é comprar alguns dos ingredientes para esse jantar casual de colega
de quarto. Quer dizer, na verdade não posso pagar a carne – minha extravagância
de sorvete já não era sensata – mas Conor não precisa saber disso. E tenho certeza
de que meu banco entenderá que foi uma emergência.
— Certo — Conor encolhe os ombros — Você provavelmente poderia ir ao
supermercado de qualquer maneira. Posso familiarizá-la com as coisas que gosto
de chamar de frutas e vegetais. Uma maneira muito boa de evitar o escorbuto.
Claramente, eu não escondi minha evidência de miojo bem o suficiente.
— Oh, haha. Tão engraçado — Eu cruzo meus braços e o encaro com um olhar
feroz — Para que você saiba, comi uma maçã antes.
— Estava em uma caixa? Na forma líquida?
PEGA DE NOVO.
— Tudo bem, então talvez eu precise de mantimentos de verdade. — Eu
suspiro. — Você pode me dar vinte minutos para tomar banho e me trocar antes
de irmos?
Conor sorri aquele sorriso preguiçoso que faz todo o meu corpo explodir em
arrepios. Ele dá um passo mais perto de mim, tão perto que posso sentir seu
cheiro limpo e amadeirado. Seus olhos brilham com malícia quando ele deixa cair
as sacolas de compras no chão ao meu lado.
— Dez minutos e você tem um acordo.
A combinação de sua proximidade e rouquidão em sua voz me faz querer
desmaiar.
— Quinze? — Eu adulo, de repente um pouco sem fôlego.
Ele me olha por um longo momento. Mantém meus olhos cativos com os dele.
É difícil pensar com clareza com os olhos de Conor em mim. É como se ele
estivesse me tocando fisicamente, a maneira como seu olhar faz meu corpo reagir.
Então, muito lenta e deliberadamente, ele inclina o pulso. Olha para o relógio.
— Nove minutos e cinquenta segundos...
Eu corro para o chuveiro.
10

CONOR

Ok, então eu posso ter perguntado ao Aiden qual era a comida favorita de Jess.
E eu posso ter saído mais cedo do trabalho hoje para que eu pudesse cozinhar
seu favorito – fajitas de carne – para o jantar esta noite.
Mas, em minha defesa, vi as nojentas embalagens de miojo no lixo. Então,
realmente, estou apenas zelando pela saúde e bem-estar dela. Além disso, Jess
está obviamente com um orçamento apertado enquanto procura trabalho, e essa
parecia a maneira mais fácil de ajudá-la sem constrangê-la.
E, sim, há também o fato de que eu quase não a vejo desde wafflegate no
sábado passado. A maior parte dos meus móveis e utensílios domésticos está em
um depósito, mas no segundo que eu me mudar para a minha nova casa e
desempacotar minha máquina de waffles, vou dar de presente para ela. Como
ato de serviço público.
Ninguém deveria ter que sofrer com waffles grelhados em um George
Foreman nunca mais.
Enquanto Jess e eu vagamos pelos corredores do supermercado, tento não
olhar para ela com muita frequência. Mas, quando jogo um saco de cebolas no
carrinho, olho de esguelha. Seu rosto está enrugado em uma carranca enquanto
ela examina a seleção de pimentas, parecendo estar fazendo uma equação de
álgebra complexa. Ela vestiu um macacão jeans curto sobre uma camiseta branca,
com tênis converse branco combinando. Seus cachos castanhos estão amarrados
em um elástico amarelo, e ela está usando óculos grossos de aro preto que eu não
tinha visto antes. É um bom visual para ela. Tipo, um visual super bom.
É estranho sentir que senti saudade dela nos últimos dias?
Provavelmente.
Ela me vê olhando (não tão sorrateiramente quanto eu pensava) e dá de
ombros.
— Quais pimentas você gosta?
Eu passo por ela e seleciono um frasco aleatório.
— As vermelhas?
— Funciona para mim — Ela ri. — Estou cansada demais para pensar direito.
— Eu conheço o sentimento — Ofereço a ela um pequeno sorriso enquanto
coloco as pimentas no carrinho. É bom andar pela Whole Foods com Jess,
empurrando um carrinho no qual ambos colocamos mantimentos. Mantimentos
que serão colocados na mesma geladeira, na mesma casa. — Semana difícil?
Ela tira os óculos e esfrega os olhos.
— Sim. Acho que posso estar desempregada.
— Eu duvido muito disso — Pego uma caixa de kiwis que vi Jess olhando
melancolicamente e coloco no carrinho. — O que você fazia em Nova York?
— Garçonete — Ela franze a testa — Por necessidade, não por escolha. E
quando voltei para Atlanta, a ideia era que não teria que fazer isso de novo. Mas,
acho que talvez seja necessário.
— Você vai encontrar algo — eu asseguro a ela.
— Você disse que teve uma longa semana também? — Jess desvia a conversa
enquanto saímos da seção de hortifrutigranjeiros e entramos na padaria, que
cheira a massa quente e açucarada.
— Muito em movimento agora.
— Você sempre trabalha tantas horas?
Sim. Mas como posso dizer isso sem soar como um viciado em trabalho
completo?
O que eu não sou. Na verdade.
— Às vezes — eu decido dizer. Observo Jess enquanto ela estuda o pão e
seleciona o pão mais barato. Eu adiciono outro pedaço de quinoa e pão de linho.
Você sabe, por sua saúde. Porque Aiden ficaria feliz em saber que ela está
comendo direito. — Definitivamente vou tirar este fim de semana de folga.
Quer dizer, posso tirar o domingo de folga. Veremos.
— Algum plano? — Jess sorri com indiferença, mas seus olhos estão focados
nos meus.
Pego um pacote de wraps de tortilla.
— Eu vou ir em um churrasco na casa de Mia e Pete amanhã à noite.
As sobrancelhas de Jess se erguem de surpresa.
— Você os conhece bem?
— Eu espero que sim — eu rio. — Mia é minha irmã.
— O que? — Ela pisca, então puxa um cacho do rabo de cavalo. — Eu não
fazia ideia.
— Sim, ela conheceu Aiden através de Pete. Quando Aiden quis renovar sua
casa, ela me recomendou. Costumo comprar e vender as casas que reformo, mas
foi muito bom trabalhar com um cliente, dar vida à sua visão. Aiden e eu nos
tornamos amigos, e o resto é história — Eu explico enquanto caminhamos. Então,
eu vou em frente. — Quer vir comigo amanhã?
Ela para por um momento, a testa franzida. Eu observo seu rosto com
cuidado, meu coração batendo mais rápido do que o normal. Não tenho ideia de
por que estou tão nervoso. Nunca fiquei nervoso para convidar uma garota para
sair. Não que eu esteja convidando Jess para sair.
Só espero que ela diga sim. Como qualquer amigo faria.
— Mia disse que eu deveria convidar você. — Acrescento. Viu? Nem mesmo
ideia minha. Apenas estendendo a hospitalidade da minha irmã.
O rosto de Jess relaxa um pouco e ela assente.
— Oh, tudo bem. Isso seria bom. Adoraria vê-los.
A excitação explode dentro de mim, o que é um pouco ridículo, visto que Jess
só concordou em vir quando eu estendi o convite de Mia. Mas ainda... Significa
mais tempo juntos. Do qual estou rapidamente me tornando um grande fã.
— Excelente. Ela ficará encantada — Eu seguro dois potes — Salsa leve ou
média?
Jess sorri, exibindo duas fileiras de dentes quadrados e brancos.
— Apimentada.
Ela diria isso, não é? Acrescento dois potes ao carrinho, porque não vou dizer
a ela que o simples pensamento de algo mais picante do que um jalapeño é quente
demais para eu segurar.
Afinal, tenho uma reputação a defender.

— Você pode pegar os pães para mim? — Pete pergunta, casualmente virando
hambúrgueres com uma mão enquanto agarra sua cerveja artesanal com a outra.
Eu tomo um gole da minha própria cerveja e deixo o sabor azedo e crocante
azedar minha língua antes de engolir. É uma bela noite. O sol está baixo no
horizonte, ainda forte, apesar do anoitecer iminente, e o aroma forte de carne
fervendo e grama recém-cortada é quase inebriante. Eu amo o Verão.
— Claro — Largo minha cerveja e caminho em direção às portas abertas do
pátio e entro na cozinha, onde Jess e Mia estão picando vegetais para a salada.
O filho de Mia e Pete, Oliver, está sentado em uma cadeira alta ao lado deles.
Ele e Jess estão balbuciando e murmurando palavras doces para frente e para
trás, já completamente apaixonados um pelo outro.
Aos dois anos, Ollie já joga melhor do que eu. Respeito, homenzinho.
Eu observo Jess enquanto ela passa para Oliver uma fatia de pepino. Como
ela ri quando seus olhos se iluminam e ele a agarra com um punho ansioso.
O cabelo molhado do banho de Jess está comprido e solto, e seu rosto está sem
maquiagem. Ela está usando o mesmo vestido de verão floral azul bebê que usou
no jantar na noite em que a conheci. Só que esta noite, ela abandonou o suéter
combinando, deixando seus braços e clavículas delicadas em exibição (eu
mencionei que amo o verão?). Depois de uma semana sob o sol de Atlanta, ela
tem uma nova camada de sardas que dançam sobre seu nariz. Tenho a
necessidade completamente desnecessária, mas quase insaciável de beijá-las.
Todas elas.
Ela está sorrindo desde que entramos no quintal de Pete e Mia algumas horas
atrás – demais comparada a mulher esgotada e oprimida que chegou em casa da
caça de emprego ontem. Acho que já faz muito tempo que ela veio aqui. Ver
rostos familiares provavelmente era tudo o que ela precisava para se animar
depois de uma semana procurando trabalho inutilmente. É difícil acreditar que
ela não vai para casa para ver seus amigos e irmão há dois anos e, mais uma vez,
não posso deixar de me perguntar o que aconteceu com aquele ex dela. Por que,
exatamente, eles terminaram? O que realmente fez ela voltar para casa?
Fosse o que fosse, não posso deixar de ficar feliz por Jess estar de volta a
Atlanta. Ontem à noite, comemos fajitas de carne em frente à TV, enquanto
assistimos ao primeiro jogo da pré-temporada dos Falcons. Foi o mais
confortável, tranquilo e relaxado que me senti em anos. Mas, também me fez
perceber que tenho que ter cuidado para não gastar muito tempo ficando muito
aconchegante com Jess. Eu não posso me apaixonar por ela, porque isso seria
idiota. Realmente idiota.
— Ei, Conor. — Mia me percebe pairando na porta e sorri, seus olhos
castanhos quentes.
— Ei! — Eu corro a mão pelo meu cabelo, envergonhado por ter sido pego
olhando. — Eu só estou pegando pãezinhos. Os bifes estão prontos e os
hambúrgueres estarão prontos em um minuto.
— Perfeito — ela diz e me passa um pacote de pães redondos.
— Venha então, amigo — Jess murmura para Oliver. — Vamos te levar para
fora.
Eu a vejo tirar Oliver de sua cadeira alta e colocá-lo em seu quadril. Ele ri
enquanto ela faz cócegas em sua pequena barriga rechonchuda.
— Pronto para o seu jantar? — Mia dá um beijo na cabeça do filho enquanto
passa com uma bandeja de salada caprese — Tio Conor fez um hambúrguer para
você.
Embora eu nunca admita em voz alta, ainda é legal ser chamado de "Tio". É
como se eu fosse membro de algum clube exclusivo de adultos amorosos. E eu
amo Oliver, realmente amo. Acho que gosto de crianças em geral. Elas são tão
agradavelmente descomplicadas.
— Eu não sei se Oliver vai deixar Jess sozinha por tempo suficiente para
experimentar o hambúrguer que eu fiz para ele — eu provoco, sorrindo para Jess
— Eu deveria estar com ciúmes… passei dois anos cativando aquele garoto e
então você aparece e rouba meu trabalho em uma tarde.
Jess brilha para mim, sorrindo.
— Oliver é inteligente o suficiente para escolher suas pessoas favoritas. Eu
acho que ele pode ser superdotado.
— Bem, a criança superdotada acabou de vomitar em seu ombro.
— AI CREDO! — Seu rosto se contorce de nojo enquanto ela gira a cabeça
para examinar o vômito inexistente. Quando ela percebe que estou brincando,
ela me dá um tapa. Eu aperto meu peito dramaticamente, fingindo que seu
pequeno golpe doeu.
Oliver ri.
— Ele gosta! — Jess me bate de novo, e eu cambaleio para trás, ganhando
outra risada de Oliver.
Eu grito de dor falsa, e a criança apenas ri mais. Pequenas risadas
borbulhantes, gorgolejantes e alegres.
Jess se junta a ele.
E então, eu também.
Ainda estou rindo quando todos nós nos sentamos à mesa do pátio juntos
alguns minutos depois.
— Para amigos que se são como família! — Pete brinda, acenando com a
cabeça na direção de Jess, e todos nós batemos nossos copos enquanto repetimos
o sentimento. Percebo que a voz de Jess é quase um sussurro enquanto ela levanta
sua taça de vinho.
— Graças a Deus está quase escuro lá fora — Mia ri enquanto corta a comida
de Oliver em pequenos pedaços do tamanho de uma mordida. — Podemos fingir
que estamos comendo em um lugar bom.
— Gosto daqui — digo sem pensar, e Pete e Mia me olham com sorrisos
iguais.
Eu fico olhando ao redor do quintal deles, que está cheio de brinquedos de
plástico. Uma caixa de areia e uma piscina infantil ocupam a maior parte do
terreno na grama, mas Pete e Mia têm uma ótima casa. Dentro, há portões para
bebês, travas infantis e protetores de espuma em cada canto, mas toda vez que
estou aqui, não consigo esquecer o quão vivo é o lugar deles. Cheio de vida,
possibilidades e amor.
Embora esteja animado para mudar para meu novo lugar, há uma parte de
mim que às vezes deseja ter vinte e dois anos de novo, então seria apropriado
morar com colegas de quarto em tempo integral. Mesmo antes de Jess aparecer,
eu gostava de morar na casa de Aiden. Era bom não voltar para uma casa vazia
todas as noites.
— Ahh! — Oliver exige, abrindo bem a boca para mais comida. Ele está
sentado em sua cadeira alta entre Pete e Mia, com os cotovelos afundados em
carne moída e ketchup. Eles trocam um olhar carinhoso sobre a cabeça do filho.
É meio fofo (de uma forma um pouco enjoativa) como eles estão apaixonados
depois de anos em um relacionamento. Pete é aquele amigo que tem tudo
irritantemente junto: esposa pela qual ele está apaixonado, um filho incrível, um
trabalho chato em uma grande empresa corporativa de que ele realmente gosta.
Ele é o melhor cunhado que eu poderia ter pedido.
Eu e Aiden costumávamos criticá-lo por ir para casa cedo nas noites fora, ou
pular as viagens de fim de semana dos caras. Eu costumava achar estranho que
ele nunca se importasse que nós o incomodássemos, ou que ele não se importasse
em perder tanto.
Ultimamente, estou começando a pensar que talvez seja eu quem está
perdendo.
— Você pode passar o milho, por favor? — Jess me cutuca. Ela e eu dividimos
um banco de frente para a família feliz e, por um momento, parece que faço parte
de uma vida totalmente diferente. É um momento tão aconchegante e
domesticado – dois casais e uma criança, cozinhando, comendo e rindo juntos.
Só Jess e eu não somos um casal.
O que eu continuo esquecendo.
Lá se vai o flerte inofensivo.
Se Pete é o único em nosso grupo com sua merda junto, eu sou o mau amigo...
porque eu não consigo tirar a irmã mais nova do meu melhor amigo da minha
maldita cabeça.
Eu me pergunto se ela vai se juntar a nós quando formos ao bar mais tarde
esta noite. Honestamente, eu meio que gostaria que não fosse sexta-feira, e
poderíamos ficar aqui a noite toda em vez de sair com todo o nosso grupo de
amigos. Não gostei da maneira como Luke olhou para Jess na semana passada.
Como se ele estivesse em uma dieta rígida, sem açúcar, e ela fosse um cupcake
de baunilha com cobertura extra e granulado.
— Então, Conor, como está a casa? — Mia se inclina sobre a mesa e coloca
alguns espargos grelhados em seu prato.
— Qual delas?
— Decatur.
Suspiro mais pesadamente do que pretendia e suas sobrancelhas se erguem.
— Isso é bom, hein?
Esta é a primeira reforma com que Mia não me ajudou – Pete e eu colocamos
nossos pés juntos (pés?) no chão e insistimos para que ela descansasse – mas seus
olhos ainda brilham toda vez que falamos de negócios. Estou desesperado para
pegar o cérebro dela, porque, no final das contas, sou melhor em construir coisas
do que escolher espelhos e luminárias. Mas me sinto mal por falar sobre trabalho
quando ela vai ter seu bebê a qualquer momento. A conversa deve ser sobre ela
e sua família. Não eu.
— Karla acha que estou no vermelho com Decatur. — Eu encolho os ombros,
na esperança de encerrar o papo furado. Mas Mia gesticula para que eu continue,
então eu continuo: — Muitas casas de família foram construídas recentemente, é
um mercado de compradores. Estou duas semanas atrasado em minha própria
casa, também, então Aiden está selado comigo por um pouco mais de tempo. —
Eu sorrio para Jess, que está assistindo a conversa com interesse indisfarçável. —
Você também, eu acho.
— Eu não me importo — ela diz. Um pouco rápido demais. O que a faz corar.
— Por que você está no vermelho? — Pete pergunta, colocando salada de
repolho em sua boca. Eu engasgo. Eu odeio salada de repolho.
Eu me concentro na coisa nojenta e viscosa no garfo de Pete para não me
distrair com as lindas bochechas rosadas de Jess.
— A casa tem todas essas melhorias nas quais eu gastei dinheiro, mas nada
para diferenciá-la. Karla acha que precisamos ir além para encenar isso.
— Como assim? — Mia inclina a cabeça.
— Karla está pensando que precisamos de algo legal e ousado para despertar
o interesse na visitação pública, fazer com que pessoas suficientes apareçam para
justificar o preço de tabela… tentar atrair um comprador mais moderno disposto
a pagar um prêmio. Eu realmente não quero investir no uso de uma empresa de
decoração de luxo, então estou um pouco sem saber o que fazer.
— Às vezes é tão simples quanto uma boa arte e texturas únicas — Mia diz
seriamente, ajustando seus óculos grandes. Ela é o epítome da jovem mãe
descolada e moderna que estamos tentando atrair, mas não posso pedir para
trabalhar com ela agora.
— E quanto a Jess? — Pete pergunta de repente.
— Ooh, sim — Mia interrompe. — Jess é super artística, ela seria uma
decoradora natural.
Eu giro para olhar para ela. Ela parece um cervo pego pelos faróis.
Jess cora descontroladamente.
— Não sei nada sobre reformar casas.
— Decorar é apenas uma parte da reforma, é como o batom após a
reconstrução facial — brinca Pete.
Os olhos castanhos de Jess estão arregalados e selvagens, e minha mente
dispara enquanto considero a proposta de Pete e Mia. Jess disse que ela estudou
História da Arte na faculdade e, em seguida, trabalhou em uma galeria. Ela
provavelmente poderia ajudar com a decoração sem problemas. Em qualquer
caso, seria melhor do que qualquer coisa que eu mesmo pudesse fazer.
E se eu a contratasse para fazer isso por mim, poderia ajudá-la. Eu sei que ela
está lutando para encontrar um emprego.
E você vai passar muito mais tempo com ela, uma vozinha irritante canta na
minha cabeça.
Eu sei que disse que tenho que ter cuidado para não passar muito tempo com
Jess, mas antes que eu possa me conter, estou falando.
— Sabe, acho que contratar Jess é uma ideia muito boa, Pete.
— Você se divertiria muito com isso, Jess — acrescenta Mia — Conor já tem
todos os móveis e itens de decoração… há anos colecionamos coisas. Com seu
olhar artístico, tenho certeza que você fará com que pareça incrível. Conor tem
olho zero para o estilo.
— Ei! — Eu digo. Mas, eu não quis dizer isso. Ela está certa.
Jess balança a cabeça.
— Eu não poderia.
Eu sorrio para ela lentamente.
— Oh, mas você definitivamente poderia.
— Certamente, existem pessoas disponíveis que são realmente qualificadas
para o trabalho — Jess insiste.
— Eu poderia te ensinar o básico — Eu encolho os ombros, mantendo meus
olhos treinados nos dela e silenciosamente desejando que ela aceite o meu
desafio.
Eu sei que isso é um risco. Que, se ela não for adequada para o trabalho, vai
estragar meu projeto. Bombar a visitação pública desesperadamente para termos
lucro. Mas de alguma forma, eu não pareço me importar agora.
— Eu não poderia — ela repete, suas sobrancelhas franzidas enquanto ela
direciona seu olhar de volta para o meu.
— Sim, você poderia — eu digo novamente. Eu arregalo meus olhos,
desafiando-a a desviar o olhar. Porque quem desviar o olhar primeiro perde.
Uma corrente elétrica passa entre nós e posso sentir fisicamente as faíscas
aquecendo meu corpo.
Zumbido!
Meu telefone vibra sobre a mesa e estou assustado com o momento.
Eu olho em volta para ver Mia e Pete nos encarando como alguém que fez
uma pausa – Pete está com o garfo meio levantado na boca, Mia, a mão dela sobre
a outra. Tire uma foto, vai durar mais.
Então, Mia descongela e dá um sorriso de gato conhecedor. Eu a encaro com
um olhar antes de olhar furtivamente para Jess, que parece tão corada e
desorientada quanto eu. O que aconteceu entre nós?
Perplexo, quase me sinto grato por meu telefone ser a distração. Eu olho para
ele e verifico a mensagem.
Aiden: Como está tudo indo? Eu queria te agradecer por ser tão legal com a
Jess. Ela está em um ponto vulnerável agora e precisa de um amigo.
Sinto como se um balde de água gelada tivesse sido jogado sobre mim,
apagando o fogo que eu estava alimentando com imprudência.
Isso vai me ensinar a sentir qualquer coisa perto de faíscas com a irmã do meu
melhor amigo.
11

JESS

Decidi que não gosto de Mindy. Eu não gosto de seu rosto estúpido e presunçoso
e seu cabelo estúpido e perfeitamente alisado, e seu jeito estúpido de me elogiar
em cada oportunidade que ela tem.
Eu mencionei que não gosto de Mindy?
Porque ela é péssima.
E talvez, sóóóóó talvez, porque bebi um pouquinho, um pouquinho demais.
— Jess, seu vestido é, tipo, tão fofo. Precioso. Eu amo o estilo de Os Pioneiros
— Mindy, que infelizmente está sentada à minha esquerda, alterna entre
"conversa de garotas" passiva-agressiva e flerta escandalosamente com Luke
enquanto olha para Conor para ver se ele percebeu.
Ele não fez.
Mas, novamente, ele realmente não prestou muita atenção em mim desde que
chegamos aqui, então não posso exatamente me gabar. Ele está conversando
profundamente com uma ruiva – um fato que parece estar deixando Mindy e eu
malucas. Então, acho que temos uma coisa em comum.
Mais cedo, eu tinha certeza de que ele estava olhando para mim de uma
maneira que era... algo a mais. Agora, não tenho certeza de nada. Exceto o fato
de que quero ir para casa.
— Obrigada — eu respondo amargamente, girando meu canudo em volta do
meu copo — Tenho certeza de que Laura Ingalls Wilder ficaria orgulhosa.
— Quem? — Mindy me encara sem expressão.
Eu balanço minha cabeça.
— Esquece.
Mas ela já virou as costas – sua pergunta era aparentemente retórica. Eu faço
uma careta para suas costas. Porque agir como se tivesse cinco anos é,
atualmente, a única coisa que me faz sentir melhor.
Estamos neste bar super chique no centro da cidade, o tipo de lugar que é
legal o suficiente para atrair uma multidão jovem e descolada, e caro e
pretensioso o suficiente para ser frequentado por aqueles caras da cidade que
usam terno e bebem vodca com refrigerante, e que pensam que são um presente
de Deus para as mulheres – mas têm muito pouco a dizer quando terminam de
falar sobre seu novo iPhone e quanto custa o carro.
De qualquer forma, o bar não é o meu lugar. A música está alta, está tão escuro
aqui que fico tropeçando nas coisas, e a garçonete é chocantemente rude para
alguém que depende de gorjetas (claro, eu dou uma gorjeta obedientemente,
apesar disso).
Conor, no entanto, parece estar em seu meio.
Pela segunda sexta-feira consecutiva, tudo estava indo tão bem até que todo
mundo apareceu. Estou sentindo um padrão aqui.
Conor me surpreendeu novamente durante o jantar – ele é um tio apaixonado
de Oliver e claramente ama Mia mais do que a própria vida. A maneira como ele
cuida da irmã me lembra de como Aiden é comigo. E Conor me ofereceu o mesmo
cuidado e hospitalidade desde que cheguei a Atlanta, mas é exatamente por isso
que não posso aceitar sua oferta de emprego.
Em primeiro lugar, porque não sei nada sobre como funciona a parte de
decoração. Não se trata apenas de um design artístico bonito... trata-se de fluxo,
feng shui e psicologia do comprador. Coisas sobre as quais não sei nada. E em
segundo lugar, porque passar mais tempo com Conor seria perigoso. Uma. Ideia.
Muito. Ruim.
O problema é que meu pulso acelera toda vez que Conor está perto de mim...
mais do que quando eu estava com Johnny. Meu rompimento com Johnny foi
doloroso o suficiente– embora nosso relacionamento não estivesse em um bom
lugar por um tempo, ainda doía ser deixada de lado. Imagine o quão pior seria
ser machucada por um cara que me faz revirar por dentro com um único olhar.
Por um cara que, depois de apenas uma semana nos conhecendo, parece me
compreender de uma maneira que Johnny nunca fez.
Não preciso que meu coração se quebre de novo, e isso é o que aconteceria se
eu me apaixonasse por Conor.
Porque Conor não leva a sério nenhuma garota, muito menos alguém como
eu.
Porque Conor é meu maldito colega de quarto, e colegas de quarto não se
apaixonam.
Eu sei disso na minha cabeça. Eu sei, logicamente, que nunca poderíamos e
nunca estaríamos juntos. Mas, isso não impede as pontadas de ciúme e desejo
enquanto vejo mulheres se atirando em Conor. E eu digo mulheres, no plural,
porque são muitas.
Se este bar é uma selva, Conor é um leão que ruge.
Meu cérebro irracional, entretanto, está confuso com dois mojitos e quer
Conor só para ele. O que é uma loucura.
Eu chupo meu mojito ruidosamente. Ele está encostado casualmente no bar
enquanto espera por sua bebida, e a mulher ao lado dele está mexendo o cabelo
com tanta força que estou preocupado que ela leve uma chicotada.
Esta é a mesma ruiva de que Courtney estava falando? Espero que não. Essa
garota é deslumbrante. Ela está usando um vestido rosa apertado que mostra
seus – cof cof – ativos com perfeição. Eu posso literalmente sentir minha própria
bunda expandir enquanto eu olho para seu traseiro empinado e tonificado. Esta
mulher, junto com todas as outras mulheres que atingiram Conor esta noite, é
uma exótica ave do paraíso. Juntas, elas são um bando de pernas longas e magras
e penas coloridas e brilhantes.
Eu não tenho certeza de que criatura eu sou… Possivelmente um javali.
Por que eu vim aqui? Eu odeio sair. Só quero ficar em casa, de macacão de
girafa, comendo pipoca e assistindo lixo na TV. De preferência, aquele reality
show onde um homem crescido sempre acaba chorando pelo fato de ter muitas
mulheres bonitas ao seu redor e ser tão DIFÍCIL para ele escolher.
Pete e Mia tiveram o bom senso de abandonar essa excursão pelos bares. Eu
não os culpo. Prefiro sair com Oliver do que com Mindy também. Ele tem
habilidades de conversação muito melhores.
Eu olho ao redor da sala, apertando os olhos na escuridão. Conor está olhando
para trás e chama a minha atenção. Ele levanta um dedo, sinalizando para lhe
dar um minuto.
Sim, colega de quarto, boa tentativa. Não vou sentar aqui e esperar que você
termine de flertar. Luke, Mindy e eu somos os únicos que sobraram nesta mesa
e, como Mindy está praticamente no colo de Luke, tenho minha deixa para ir
embora.
Pego minha bolsa e deslizo para fora da cabine de couro liso. Ninguém me
nota sair. Nem mesmo quando tropeço em uma bolsa perdida e voo para o chão.
Consigo estender a mão a tempo de atingir o chão nojento e pegajoso antes do
meu corpo, o que é uma sorte. Mas, também meio que me faz parecer que estou
jogando Twister comigo mesma, o que é decididamente menos afortunado.
— Jess? — A voz incrédula fala de algum lugar acima de mim. Eu me levanto
cambaleando, amaldiçoando meus reflexos nada felinos, e fico cara a cara com...
Mark Cuthbert. O melhor amigo e colega de quarto de Johnny na faculdade,
em toda a sua glória abundantemente com gel no cabelo e literalmente
pulverizado de colônia. Claro, isso aconteceria agora.
— Oi! — Eu grito, estendendo minha mão desajeitadamente para... apertar a
dele? Por que, oh, por que eu apertaria sua mão?
Mark pisca e então pega minha mão estendida. Sim, a mesma mão que estava
no chão sujo e nojento.
Enquanto sua palma macia e quente desliza na minha coberta com bebida-
açucarada-e-sujeira, arrependimento pisca em todas as suas feições como um
letreiro de loja de penhores de néon. Ele recua de horror, então olha para sua mão
suja de Jess como se ela estivesse pegando fogo. Ele o agita no ar por um segundo,
então o deixa pendurado frouxamente à sua frente, obviamente não preparado
para limpá-lo em seu terno de mil dólares.
— Desculpe. — eu murmuro, não sentindo nada.
— O que você está fazendo aqui, Jess? O seu cara também está aqui? — Mark
dá um pequeno giro estranho, completo com revólveres e pés batendo, enquanto
examina a sala em busca de seu irmão há muito perdido.
Bom Deus.
— Johnny e eu terminamos no mês passado — digo a ele.
Com minhas palavras, seu rosto se transforma em uma careta peculiar,
torcendo e girando em todas as direções antes de finalmente se estabelecer em
um sorriso frágil juntamente com olhos cheios de simpatia. Não, não de simpatia.
De pena.
É uma expressão que me diz que ele sempre soube que isso iria acontecer.
Uma expressão que diz que ele não está nem um pouco chocado que acabou, mas
o que ele não consegue acreditar é quanto tempo durou em primeiro lugar. É
uma expressão que me deixa com baixa estima, que reforça o que eu deveria
saber sobre Johnny o tempo todo, mas estupidamente optei por ignorar. Eu não
aguento.
— Sinto muito, Jess — ele murmura, balançando a cabeça. Como se eu fosse
uma viúva enlutada.
— Eu terminei com ele — eu deixo escapar do nada.
Os olhos de Mark se arregalam com choque indisfarçável. Ele toma um
grande gole de sua (surpresa, surpresa) vodca-refrigerante.
Impelida pela força com que a mentira saiu da minha boca, eu aceno
vigorosamente e sigo em frente.
— Você sabe como é. Tenho que quebrar alguns corações ao longo do
caminho para chegar aonde você está indo.
O que eu estou fazendo? Não tenho ideia do que estou dizendo agora.
Mark me estuda por alguns segundos, obviamente confuso.
— Então vocês terminaram porque você estava... voltando para Atlanta?
— Isso mesmo. Fiz as malas e o deixei. Pobre rapaz. Recebi uma oferta de
trabalho que não pude recusar.
— Oh sim? — Diz Mark. Um pouco desinteressadamente. De forma
desinteressada, eu poderia simplesmente ter respondido "sim" e deixado por isso
mesmo.
Mas, ah, não. Abastecida com mojito, abandonada pelo ex e desesperada para
provar que está bem, Jess não sabe quando calar a boca.
— Sim. Eu sou uma… decoradora de casas.
QUE BELO INFERNO?
— Oh! — Mark parece tão surpreso quanto eu. Língua de mojito tem uma
mente própria. Preciso sair daqui antes que piore as coisas. — Aonde?
— Só estou terminando uma reforma em Decatur. Eu faço a decoração —
QUE? NÃO.
— Oh sim? — Mark ergue uma sobrancelha presunçosa e bem cuidada. Ele
faz com profissionais? Se sim, adoraria saber o nome de seu designer de
sobrancelhas.
Não. A resposta é não, só estava brincando.
— Sim.
— Isso parece uma explosão — diz Mark. As armas com os dedos fazem outra
aparência infeliz para acompanhar a palavra "explosão".
Enterre-me agora.
— Oh, é sim.
— Jess. — Mark pousa sua bebida e coloca a mão em cada um dos meus
braços. O contato indesejado parece nojento, e eu tenho que resistir a me
contorcer para escapar de suas mãos. — Eu sei que você não terminou com
Johnny. Você não acha que meu melhor amigo fala comigo de vez em quando?
Eu sei que ele está com Sarah, e isso é sério. Você não precisa mentir sobre
terminar com ele. Ou sobre a reforma da casa.
— Eu sou uma decoradora de casas — eu insisto. De repente, sinto um pouco
de lágrimas. — Espere, você acabou de dizer que era sério?
Mark faz uma careta, então suga uma inspiração que assobia por entre os
dentes. Ele me solta de suas mãos e me dá um tapinha no ombro. Como se eu
fosse um cachorrinho.
— Ouvi dizer que ele comprou um anel.
Devo ter ouvido mal. Está barulhento aqui. Escuro também. O que também
pode interferir na sua audição, segundo me disseram.
— Anel?
Mark acena com a cabeça.
— Ele está planejando levá-la às Bahamas no próximo mês para pedir ela em
casamento.
Ele nunca me levou para as Bahamas. Ou em qualquer lugar, por falar nisso.
Eu dou um passo para trás enevoada, olhos embaçados.
Eu não vou chorar.
Eu não vou chorar.
Eu não vou chorar.
Em vez disso, vou me tornar a membro fundadora do Clube dos Haters de
Mark (#clubemarkhaters). Planejarei realizar reuniões semanais para falar sobre
seu cabelo estúpido e tirar sarro de suas armas de dedo. Todos os anos, serei a
anfitriã da convenção Eu Odeio O Mark em Vegas para os membros mais
entusiasmados do clube. Vou fazer camisetas e lembranças comemorativas e...
ok, você entendeu.
O que quero dizer é que não posso acreditar que ele me abordou daquele jeito
com "seu cara" aqui também? Ele sabia o tempo todo o que tinha acontecido.
Que pequeno filho de uma fuinha sujo.
Por que, oh por que, eu não fiquei na segurança da sala de Aiden esta noite?
Eu poderia ter mergulhado em duas canecas de sorvete e uma comédia romântica
em que a garota estranha e peculiar fica com o cara e vive feliz para sempre.
Mas, esta não é uma comédia romântica. É a vida real. E, na vida real, a garota
é posta de lado por uma modelo mais nova, mais brilhante e mais bem-sucedida.
— Tenha uma boa noite, Jess. Cuide-se, ok? — Eu ouço Mark falando, mas
sua voz soa distante.
Uma lágrima ameaça escapar do meu olho, e não hesito mais um momento.
Esqueça Mark. Esqueça Johnny e Sarah e Mindy, Luke e Conor. Esqueça todos.
Eu estou tão, tão farta disso.
Eu pulo em ação e faço um caminho mais curto em direção à saída, apenas
esbarrando em uma mesa cheia de pessoas no meu caminho. Saio para a rua
como uma louca, tentando chamar um táxi.
E, apenas quando estou segura em um táxi, eu deixo as lágrimas derramarem
livremente pelo meu rosto.
Meu motorista, que tem cerca de cem anos e o rosto enrugado como uma uva
passa, me lança um sorriso gentil pelo espelho retrovisor. Como se eu fosse a
primeira garota bêbada que chorou em seu táxi a noite toda. O que eu sei que não
sou. É quase meia-noite. Deve ter havido muitas antes de mim.
— Awh querida, seque esses lindos olhos castanhos — o taxista fala
suavemente, seu sotaque sulista mais forte que melaço. — Seja ele quem for, não
vale as lágrimas de elefante.
Ele me oferece um lenço de papel. Mas, a gentileza do velho tem o efeito
oposto do pretendido porque eu apenas grito mais forte enquanto pego o lenço
de papel dele.
Não estou chorando por Johnny, por si só. Sei que não estou mais apaixonada
por Johnny, e sei que terminar foi o melhor. Mas ser substituída tão facilmente
depois de seis longos anos doeu. Especialmente quando aqueles seis anos
significaram desistir de todos os meus sonhos em favor dos sonhos dele. Só para
que ele pudesse encontrar outra pessoa e me deixar quando achasse.
E um anel? Qual é. Johnny nem mesmo cogitou a ideia de morar comigo.
Eu sei, no fundo, que ele é o pior. Estou feliz que acabou, estou mesmo.
Eu só queria não me sentir como uma idiota patética que partiu juntando um
milhão de pedaços.
12

JESS

Paramos do lado de fora de casa e eu pago ao meu adorável taxista um extra de


vinte para compensar o rímel que está em seu banco de trás ("Deus abençoe seu
coraçãozinho, querida menina"). Não consigo entrar em casa rápido o suficiente.
Meu telefone está tocando na minha bolsa, mas não ouso olhar para ele. Sem
dúvida Mark já tagarelou com Johnny sobre o que acabei de dizer a ele, e tenho
certeza de que todos estão rindo muito às minhas custas agora.
Eu entro na casa escura, sem me preocupar em acender as luzes. A escuridão
combina com meu humor agora. Tiro uma sandália e atiro na parede. Isso faz um
barulho satisfatório. Então eu faço o mesmo com o outro.
Então, me sinto mal e procuro por elas no escuro. Depois de alguns momentos
tateando, eu as coloco ordenadamente na sapateira no armário do corredor
porque eu sou uma tão boa e prestativa colega de quarto.
Um banho quente e uma cama confortável estão me chamando. Estou
tateando em direção ao quarto de Aiden, quando...
BANG!
A porta da frente se abre.
— JESS?
A luz do corredor acende e eu cubro meus olhos contra a claridade. Espio por
entre os dedos para ver Conor parado na porta, seu corpo grande e poderoso
praticamente preenchendo-a. Seu cabelo castanho está despenteado, seus olhos
verdes frenéticos.
O que ele está fazendo em casa? Ele não tem uma ruiva gostosa para cuidar?
A menos que... Eu olho para trás para ver se ele tem companhia.
Mas ele está sozinho.
— O que? — Eu coaxo. — Por que você está gritando?
— Que diabos, Jess? — Ele abaixa um pouco a voz, mas ainda está em um
nível que eu classificaria como gritos. — Por que você fugiu assim? Eu estava
muito preocupado. Tenho ligado, achei que algo tivesse acontecido com você.
Estou sem palavras quando ele dá um passo em minha direção. Quando seus
olhos pousam no meu rosto, sua testa franzida fica clara e sua voz cai para um
tom suave que desliza sobre mim como seda.
— Você estava chorando?
Sei que não adianta negar - meu rosto incha como se eu tivesse uma alergia a
picada de abelha quando choro. É profundamente pouco atraente e gostaria que
ele não tivesse que testemunhar, mas aqui estamos.
Eu dou um pequeno aceno de cabeça e Conor dá mais um passo em minha
direção. Suas mãos se fecham em punhos ao lado do corpo, fazendo os músculos
de seus braços ondularem. Ele parece além de chateado, mas sua voz é
cuidadosamente - quase assustadoramente - controlada quando ele fala.
— Aconteceu alguma coisa, Jess? Alguém te machucou? Você precisa me
dizer.
Eu balanço minha cabeça, mortificada.
— Não! Não, nada disso.
— Você pode me dizer a verdade — responde Conor. Todo o seu um metro e
oitenta está vibrando de raiva. A visão é simultaneamente assustadora e de tirar
o fôlego, como se ele fosse algum tipo de anjo vingador. Olhar para ele quase dói.
— Eu estou — eu gaguejo — falando sério. Acabei de encontrar o melhor
amigo do meu ex, só isso...
No segundo em que as palavras saem da minha boca, Conor relaxa
visivelmente. Todo o seu corpo dá um suspiro de alívio e seus punhos se abrem.
A raiva é imediatamente substituída por algo totalmente mais assustador -
preocupação e cuidado genuínos. Seus lindos olhos verdes procuram meu rosto
atentamente. Minha respiração falha mais uma vez.
— Você quer falar sobre isso?
Eu balanço minha cabeça uma segunda vez, novas lágrimas se formando.
— Me desculpe por fazer você se preocupar, eu deveria ter dito aonde eu
estava indo. Eu não posso acreditar que você me seguiu até em casa. Agora, sua
noite está arruinada. E você estava com aquela garota…
— Jess — Ele me interrompe abruptamente. Dá um passo mais perto. Ele está
praticamente cara a cara comigo agora. Ou, mais parecido com cara a peito - ele
tem cerca de 30cm a mais que eu. — Você não tem nada para se desculpar. Nem
agora, nem nunca. Eu estava preocupado com você, então vim para casa. Minha
decisão. Ok?
— Ok — eu respiro.
Não tenho certeza de como isso acontece, mas a próxima coisa que eu sei é
que, seus braços fortes estão ao meu redor, e meu corpo se derrete no dele. Uma
mão grande aperta minhas costas, enquanto a outra acaricia meu cabelo. É o
abraço mais terno e doce que já recebi.
E, eu me permito ceder, pressionando meu rosto em seu peito e inalando
aquele delicioso cheiro de roupa limpa misturado com pinho. Ele é tão caloroso
e sólido que, por um momento, esqueço tudo o que aconteceu esta noite. Esqueço
o estado da minha vida. Esqueço o passado, o presente e o que pode acontecer
amanhã. Eu só me deixo ser abraçada.
Eu não sei quanto tempo ficamos no corredor, os braços em volta um do
outro. Mas, quando ele finalmente se afasta de mim, me sinto melhor do que há
muito tempo. Como se seus abraços tivessem propriedades mágicas.
Enquanto ele se afasta, suas mãos permanecem na minha cintura por um
momento delicioso. Ele se inclina um pouco para frente, perto o suficiente para
que o calor de seu hálito se misture ao ar que estamos compartilhando.
— Melhor? — Ele sussurra.
Eu sorrio um sorriso verdadeiro, mais do que um pouco fraca nos joelhos.
— Sim.
— Boa — Conor também sorri e toda a sala se ilumina. — Bem, acho melhor
irmos para a cama.
Sou só eu ou parece que ele não quer que esse momento acabe?
— Eu ia assistir a um filme ou algo assim? — Eu digo isso como uma
pergunta. — Acho que ainda não consigo dormir.
Conor passa a língua pelo lábio inferior, os olhos fixos nos meus.
— Quer companhia?
Eu encolho os ombros com indiferença como se eu não pudesse me importar
menos. Mas, na realidade, sua companhia significaria tudo para mim. Eu não
quero ficar sozinha agora.
— Sim.
— Vejo você aqui em alguns minutos — Conor se afasta de mim, e sinto falta
de sua presença quente e ligeiramente inebriante quase imediatamente. Em
seguida, ele entra em seu quarto e fecha a porta.
Eu fico olhando para aquela porta fechada atentamente. Porque atualmente,
Conor está por trás dela. Se trocando. Tipo, tirando a roupa para colocar roupas
novas.
Isso é como a alteração das obras.
É evidente que estou tendo um derrame - o simples pensamento de Conor
tirando a roupa em qualquer lugar perto de mim me deixou em uma pirueta.
Além disso, minha pele queima deliciosamente com a memória de seus braços ao
meu redor. Quem teria pensado que um abraço amigável e casual de Conor
Brady poderia ser tão satisfatório?
Eu fico por muito tempo no corredor, olhando para o que é essencialmente
um pedaço de madeira branca. Minha mente rola sobre o que ele disse quando
bateu a porta. Ainda não consigo acreditar que ele veio atrás de mim. Eu nem
pensei que ele perceberia que eu tinha partido, mas ele apareceu momentos
depois que eu voltei. O que significa que ele deve ter me observado.
Eu tiro meu telefone da minha bolsa, de repente curiosa. Com certeza, tenho
quatro chamadas perdidas e algumas mensagens de texto, começando logo
depois que saí.
Meu coração pula uma batida. Mas então, eu me lembro de como seu abraço
foi gentil. Como sua raiva fervente se transformou em algo tão platonicamente
carinhoso. Faltando todos os traços de seu sorriso sedutor e sexy.
Talvez ele pense em mim como uma irmã mais nova. Talvez ele esteja sendo
legal porque eu sou a irmã mais nova de seu amigo. Conhecendo Aiden, ele
provavelmente pediu a Conor para cuidar de mim. Ficar de olho em mim.
Que outra razão na terra faria Conor deixar aquela linda garota no bar e voltar
para casa atrás de mim?
A percepção de afundamento me atinge com toda a força do Titanic se
chocando contra o iceberg. Em meu cérebro, a menor violinista do mundo saca
seu violino e faz uma serenata para mim enquanto meu navio afunda.
Eu preciso pisar no freio. Conor está sendo legal comigo, nada mais.
Eu tiro meus olhos da porta do seu quarto e entro no quarto de Aiden. Onde,
sim, ainda estou dormindo. Ele nunca precisa saber.
O espelho do banheiro confirma minhas piores suspeitas. Meu rosto está
manchado de rímel e da cor de beterraba. Meus olhos estão inchados, como
olhinhos de toupeira. Certamente, nenhum cara gosta do tipo amassada e
chorosa.
Ele está apenas sendo um cara bom. Lá para a irmã de seu amigo. Um amigo
para a sua companheira de quarto.
Eu limpo toda a minha maquiagem e tomo um banho rápido. Então, em um
ataque "amigável" de desafio ao meu cérebro cheio de fantasia - aquele em que
Conor é Leo e eu sou Kate, só que sou eu quem pinta aquele corpo glorioso e
ninguém se afoga desnecessariamente - eu visto o meu macacão de girafa. Faço
uma trança no meu cabelo molhado e saio do quarto sem maquiagem e pronta
para ser a melhor colega de quarto de todos os tempos.
Eu entro na sala de estar para encontrar Conor na cozinha, estourando pipoca.
E, oh, Deus que me ajudasse, ele parece bem. Ele também tomou banho e sua pele
está corada, o cabelo úmido e despenteado. Ele usa uma calça de moletom e um
moletom com capuz marinho que de alguma forma faz seus olhos parecerem
mais verdes do que nunca. E desde quando os moletons são tão atraentes?
Todos os meus sentimentos amigáveis voam para fora da janela enquanto
meus olhos vagam sobre ele.
Ele me pega olhando e seus lábios se abrem ligeiramente enquanto ele me
encara.
Então, acontece uma coisa muito intensa. Seu olhar se fixa em mim,
arrastando-se tentadoramente para cima em meus tornozelos. Seus olhos se
movem lentamente ao longo das minhas pernas, sobre meus quadris e, em
seguida, se arrastam centímetro a centímetro pela linha do meu corpo. Seu olhar
pousa momentaneamente em meus lábios, minhas bochechas...
Ele está olhando para mim com tanto cuidado, tão deliberadamente. É como
se seus olhos estivessem acariciando cada centímetro do meu corpo.
Então, seu olhar encontra o meu e eu prendo minha respiração.
— Belo macacão — ele sorri.
Eu imediatamente olho para baixo para ver minha roupa laranja e marrom de
girafa felpuda, completa com um capuz adornado com pequenos chifres de
girafa. Um rubor explode em minhas bochechas. Eu estava tão perdida no
momento que tinha esquecido que estava usando a roupa menos sexy já
inventada. Uma roupa tão pouco sexy que é um motivo perfeito para olhar
fixamente.
Eu me amaldiçoo por me deixar levar por aqueles olhos esmeraldas
estúpidos.
— Onde você conseguiu isso?
— Oh, é uma longa história — eu respondo.
Ughhhh por que estou fazendo trocadilhos idiotas de girafas agora? Meu
cérebro não pode ser sensível por um segundo? Realmente não é pedir muito.
Por algum milagre, ele ri da minha piada.
— Está pronta? — Ele aponta para a TV, onde a página inicial do Netflix já
está aberta. — Escolha do freguês.
Meu coração palpita no meu peito enquanto faço meu caminho para o sofá
macio e transversal. Eu me enrolo no canto e puxo um cobertor sobre mim. Isso
é o que eu estava querendo a noite toda. Mas, a vantagem inesperada da
companhia de Conor me deixa nervosa.
Pego o controle remoto e começo a passar pelo catálogo, mas não consigo me
concentrar em nenhum dos filmes porque minha atenção está em Conor.
— Doce ou salgado? — ele chama, transferindo o milho estourado para uma
enorme tigela de vidro.
— Doce, sempre — eu sorrio.
— Boa escolha — Ele puxa uma panela do armário e joga a manteiga, o açúcar
mascavo e a calda. — Oh, e Jess?
— Sim? — Eu olho para cima distraidamente e seus olhos perfuram os meus
do outro lado da sala.
— Só para deixar registrado — ele diz lentamente, sua voz baixa. — Aquela
garota com quem eu estava? Ela é minha corretora de imóveis, Karla. Estávamos
conversando sobre negócios porque alguém não quer me ajudar com a minha
decoração.
Ele diz isso tão levianamente, tão casualmente, que ele poderia estar falando
sobre o tempo. Então, sem esperar para avaliar minha reação, ele volta sua
atenção para a panela no fogão.
Ele cantarola baixinho, mexendo a mistura. Em seguida, ele desliga o fogo,
derrama a calda sobre a pipoca e franze a testa em concentração enquanto gira a
tigela. O cheiro de açúcar caramelizado enche o ar e minha boca enche de água.
E o tempo todo, eu fico olhando para ele, minha mente indo a um milhão de
milhas por minuto. Porque eu poderia realmente transformar minha mentira
estúpida para Mark em verdade, provar que não sou patética o suficiente para
mentir para o melhor amigo do meu ex em um bar sobre o que estou fazendo da
minha vida agora.
— Eu vou fazer isso! — Eu deixo escapar.
— Fazer o que? — Ele finge inocência enquanto atravessa a sala e se joga bem
ao meu lado no sofá de quase dois metros e meio. Perto o suficiente para sentir o
cheiro de seu shampoo. Mas não perto o suficiente para tocar.
Arrepios explodem por todo o meu corpo.
— A decoração — eu gaguejo. — Eu ajudo. Eu adoraria ajudar. Quero dizer...
espero poder ajudar.
Conor enfia a mão na tigela e pega um punhado de pipoca doce. Coloca o
punhado na boca e mastiga. Não consigo desviar os olhos, estou sentada lá
fixada, observando os músculos de sua mandíbula enquanto ele come.
Ele leva seu tempo. Mastiga lentamente. Engole. Toma um gole d'água.
O medo se agita em meu intestino. E se ele não quiser mais que eu ajude? E
se ele achar que é uma péssima ideia?
Assim que estou pronta para rastejar sob o cobertor, para nunca mais ser vista
novamente, Conor sorri. Um sorriso verdadeiro, grande e genuíno.
— Eu adoraria — Sua voz é suave, quase sensual, e arrepios percorrem minha
espinha. Tenho o desejo repentino de saltar sobre ele.
— Mesmo? — Eu digo em vez disso.
— Mesmo, mesmo — Há uma pausa carregada enquanto olhamos um para o
outro. Então, os olhos de Conor brilham maliciosamente. — Agora me dê isso.
Eu vou escolher o filme.
Ele estende a mão para arrancar o controle remoto da minha mão, e eu grito
em protesto simulado, meu aperto aumenta. Seus dedos roçam os meus, e a
tensão que estala entre nós é inegável. Os olhos de Conor se arregalam com o
contato e eu solto o controle remoto. Solto minhas mãos no meu colo.
Sem tocar na vida selvagem. Porque aquele leão pode facilmente arrancar sua
mão com uma mordida.
Rápido como um raio, Conor aponta o controle remoto para a TV e começa a
folhear os filmes.
Mas, ele não faz nenhum movimento para se afastar de mim.
Ele se aproxima um pouco mais.
13

CONOR

Minha determinação não aguenta muito. Eu sou um homem forte. Um homem


de princípios (na maioria das vezes). Mas Jess está deixando cada pedaço de mim
absolutamente louco agora.
Ela concordou em trabalhar comigo. Me ajudar a decorar Decatur. O que
significa que passaremos ainda mais tempo juntos.
É praticamente o meio da noite, e ela está sentada no sofá ao meu lado, vestida
com um pijama de girafa esquisito que não deveria ser nem um pouco sexy. Mas,
de vez em quando, sua mão delicada mergulha na tigela de pipoca equilibrada
no meu colo, ou sua risada enche o ar em resposta à estúpida comédia romântica
que finalmente decidimos assistir, e é como se toda a lógica voasse pela janela.
Não posso explicar como me senti antes, quando a vi com aquele ensebado
no bar. Eu estava vendo eles conversando com o canto do meu olho e pude sentir
o desconforto de Jess por todo o ambiente.
Levei exatamente dois segundos para identificar o cara - eu conheço o tipo
perfeitamente. Um cara crescido, garoto de fraternidade, que está perto dos
trinta, mas ainda age como se fosse uma década mais jovem. Sempre há grupos
deles à espreita no bar, agindo como se o mundo fosse um restaurante brasileiro
de rodízio e as mulheres fossem as carnes que eles podem provar quando e como
quiserem.
De qualquer forma, estou divagando. Em um momento, vi o cara com as mãos
nos braços de Jess. Virei-me por trinta segundos para pagar ao barman pela
minha bebida e, quando olhei para trás, os dois haviam sumido. Nenhum lugar
para ser visto.
Presumi que ela foi embora com ele. O que, talvez, foi um pouco idiota, mas
cara, eu já estava irritado naquele ponto. Não apenas com ciúme – embora o
monstro de olhos verdes certamente estivesse se mexendo – mas algo mais do
que isso.
Preocupação. Preocupação real e verdadeira. Eu vi a maneira como ela falava
com cara de bunda, a maneira como seus ombros cederam e ela sorriu aquele
sorriso que eu já sabia que era falso como aroma de framboesa azul. Ela estava
com os braços cruzados – como se quisesse se proteger.
E então, embora Jess seja uma mulher forte e independente que pode fazer
suas próprias escolhas – mesmo ela sendo apenas minha colega de quarto e ela
pode sair com quem ela quiser – eu mandei uma mensagem para ela. Eu queria
ver se ela estava bem.
Quando ela não respondeu a essa mensagem, ou a próxima, ou respondeu a
nenhuma de minhas ligações, eu peguei minhas coisas. Direto para casa. Para
encontrá-la chorando.
Naquele momento, eu estava pronto para caçar o cara e matá-lo. Não sou um
cara irritado em geral e sei que a violência nunca é a resposta. Mas naquele
momento? Sim, a violência parecia a solução óbvia. Eu me acalmei quando
descobri que ele não a machucou... embora eu ainda tenha um desejo intenso de
socar seu cabelo estúpido e bagunçado.
Estar perto de Jess é diferente de tudo que já experimentei. Ela é linda, mas é
mal-humorada e engraçada e, francamente, diferente de qualquer pessoa que já
conheci – o que é possivelmente a coisa mais cativante sobre ela.
Meu coração se parte porque alguém tão maravilhosa está tão vulnerável
agora por causa da maneira como o melhor amigo de seu ex a fez se sentir esta
noite. E, embora eu saiba que ela é forte, tudo em mim quer cuidar dela. Fazer
ela sorrir. Manter ela segura.
É exatamente por isso que sei que devo manter uma distância cuidadosa. Ela
não precisa de um cara para complicar as coisas para ela, especialmente depois
de seu ex. Ela precisa de um bom amigo. Como Aiden tão-gentilmente me
lembrou antes.
Mas ela está tornando isso difícil. Não posso deixar de notar a maneira como
seus olhos brilham quando ela olha para mim, as pupilas dilatadas, o rosto
vermelho, os lábios entreabertos. Então, a menos que ela esteja experimentando
hiperreflexia autônoma toda vez que olha para mim (sim, sim, eu assisto muito
o House), estou começando a pensar que a atração entre nós pode ser apenas
mútua.
Como se estivesse lendo meus pensamentos, Jess de repente olha para mim.
— Ei, Conor?
— Mmm? — Eu digo, tão evasivamente quanto consigo.
— Obrigada.
— Pelo quê, Jess?
Ela sorri timidamente.
— Se importar.
Quero abraçá-la novamente, mas resisto.
— Claro que me importo — Se ela soubesse quanto. — E eu sei que você disse
que não queria falar sobre o que aconteceu esta noite, mas estou aqui se você
mudar de ideia.
Jess fecha os olhos, torce o nariz e solta um suspiro. Um suspiro tão alto e forte
que parece que está trancado ali há semanas.
— Meu ex está ficando noivo.
Eu congelo, pego de surpresa.
— O que?
Ela franze o rosto e se mexe um pouco, colocando a cabeça no braço do sofá.
— De Sarah. Ela tem um cabelo bonito.
— Sinto muito — eu murmuro, desejando ter algo mais original para dizer.
Algo que fosse realmente reconfortante. Talvez eu pudesse me oferecer para
agredir um pouco o cara? O pensamento me dá muito prazer.
— Não sinta. Eu sei que foi o melhor. Eu realmente quero. Aquele cara que
encontrei esta noite...
Ela para de falar, então eu pego suas palavras.
— Ele fez você se lembrar de todos os bons momentos com o seu ex?
Jess bufa.
— É, não.
Eu gostaria de não me sentir tão feliz com essa reação. Mas, como eu disse,
minha resolução não aguenta tanto.
— O que foi então?
Ela suspira.
— Foi ele quem me disse que Johnny comprou um anel para Sarah. Que ele
está planejando propor.
Bolas de simpatia em meu intestino. Pobre Jess.
Ela olha para as mãos e pega um pedaço de esmalte rosa do polegar. Quando
ela fala, sua voz é baixa, resignada.
— Estivemos juntos durante seis anos. Seis. E ele nunca quis se comprometer
com nada. Mas, ele comprou um anel para Sarah depois de seis semanas. Então
sim. Acho que sou bastante substituível.
Eu gentilmente coloco meus dedos sobre os dela e aperto sua mão.
— Acho isso difícil de acreditar.
Ela me dá um sorriso fraco.
— Isso é legal da sua parte.
Eu estou falando sério, no entanto. Ela é incrível e não tem ideia. E, mais uma
vez, me pergunto se há mais na história de Johnny do que ela está revelando.
— Jess, o que você deve estar passando…
— Eu disse a ele que era uma decoradora de casas.
Eu inclino minha cabeça para o lado.
— Perdão?
— O cara com quem eu estava conversando esta noite – Mark. Ele perguntou
por que eu voltei para casa e eu disse que tenho uma nova carreira em reformas
de casas. — Os olhos do gelato de chocolate de Jess estão arregalados e sem
piscar, como se ela estivesse confessando um crime terrível. —Não sei por quê,
entrei em pânico.
Eu fico olhando para ela.
— Deixe-me ver se entendi. O melhor amigo do seu ex disse que seu ex estava
se casando e você respondeu dizendo a ele que... você é um decoradora de casas?
— Basicamente.
Eu aceno lentamente.
— Então é por isso que você mudou de ideia sobre o trabalho de decoração.
Ela morde o lábio inferior, parecendo indescritivelmente triste. Por um
momento, acho que ela vai chorar de novo.
O que não estou esperando é a gargalhada que escapa de sua boca.
— Que tal uma entrevista de emprego?
Eu observo toda a sua glória de pijama de girafa.
— Você está contratada.
Jess bufa de novo e, antes que eu perceba, nós dois caímos na gargalhada.
Risadas reais e profundas que parecem tão, tão boas. Lágrimas picam em meus
olhos e Jess se inclina contra mim enquanto ela cai na gargalhada, o som
enchendo a casa tão lindamente.
Me ocorre que eu faria qualquer coisa para fazer Jess rir assim.
Depois que finalmente nos acalmamos, ela olha para mim.
— Diga-me a verdade. Está tudo bem se eu trabalhar com você?
Eu sorrio quando uma ideia se forma em minha mente. Algo que eu acho que
pode realmente ajudá-la.
— Está mais do que bem.
14

JESS

BANG. BANG. BANG.


Eu rolo na cama e gemo “nããããão” no meu travesseiro.
O que está acontecendo agora e por que não vai embora?
— Jess, acorde — Conor chama.
Espere o que?
Eu me endireito na cama. Onde eu verifico meus arredores para confirmar
que sim, estou na cama. E também que sim, estou sozinha. A voz de Conor está
vindo do outro lado da porta do meu quarto. Uma porta na qual ele parece estar
batendo sem motivo.
Estou um pouco confusa com o que aconteceu na noite passada. Depois que
eu derramei as entranhas da minha triste saga sobre ser descartada (uma saga
mais longa e muito menos interessante do que a Saga Crepúsculo) e admiti minha
enorme burrada de falar sobre ser uma decoradora, Conor não fugiu gritando. O
que era estranho.
Em vez disso, ele riu loucamente e me disse que o trabalho ainda era meu. O
que me faz questionar vagamente suas habilidades de contratação, mas que seja.
Eu tenho um emprego! De verdade! Não tenho ideia do que realmente estarei
fazendo, porque não sei exatamente nada sobre decoração, ou qualquer coisa a
ver com reformar uma casa. Além do que aprendi na TV, é claro, que é muito
fácil – sua maquiagem sempre parece perfeita e você ganha bilhões de dólares só
para se divorciar, casar novamente com um inglês e se divorciar dele também.
Em seguida, a emissora oferece o seu próprio programa, que trata principalmente
de malhar e dirigir pela costa em um conversível.
Mas, de alguma forma, não acho que isso seja totalmente fiel à vida real.
De qualquer maneira. Rimos, assistimos ao filme, comemos pipoca... e depois,
tenho certeza que adormeci.
Tenho uma vaga lembrança de braços fortes me segurando e me levando para
a cama. Gentilmente me deitando e puxando as cobertas sobre mim. E então – a
menos que eu estivesse sonhando, o que convenhamos, eu poderia muito bem
estar – pareço me lembrar de uma mão traçando minha bochecha por um
momento.
Deve ter sido um sonho.
Um sonho muito bom.
— Jess, acorde! — Conor fala de novo. Eu olho para o meu telefone - 8h30. O
que o homem pensa que está fazendo? Ficamos acordados até tarde, deve ser
uma piada de mau gosto.
— Não, estou dormindo! — Eu grito de volta, caindo em meu casulo de lençol
e me enterrando como uma pequena toupeira. Uma toupeira muito cansada.
— Não, você não está. Você está falando comigo.
— Não, eu estou dormindo e falando. Eu falo enquanto durmo.
— Sim, você fala — Sua voz suaviza carinhosamente quando ele diz isso e
meu coração despenca no meu estômago. Por favor, por favor, por favoooooooor,
pelo amor de tudo que é mais sagrado, diga-me que não dormi falando com ele
ontem à noite.
Eu sou uma falante do sono. Também sou conhecido por me envolver em
sessões ocasionais de sonambulismo. Quando criança, costumava trazer pedaços
de queijo para Aiden no meio da noite. Tipo, literalmente roubar queijo da
geladeira e levar para o quarto do meu irmão como um rato ladrão. Quando eu
tinha 12 anos, minha mãe me encontrou tentando sair pela porta da frente da casa
de nossa família às 3 da manhã. Eu tinha uma mala totalmente feita em minhas
mãos e, aparentemente, disse a ela para ir embora para que eu pudesse ir para
Los Angeles para encontrar a Oprah.
Em primeiro lugar, nunca xingo. Em segundo lugar, não tenho nenhuma
lembrança disso, pois estava ADORMECIDA na época. Mas, de alguma forma,
eu ainda fui castigada por duas semanas por usar linguagem chula.
Então, todas as apostas estão canceladas quando se trata do que diabos eu
poderia ter dito a Conor na noite passada. Conhecendo a minha sorte,
provavelmente era algo como “eu tinha 36 covinhas de celulite na minha bunda
da última vez que contei” ou “eu quero comer sua camisa”.
Conor bate na porta novamente, mais suave dessa vez.
— Eu tenho algo para te mostrar.
Meu estômago embrulha. Algo para me mostrar?
— Quero dizer, um lugar para mostrar a você — ele corrige na velocidade da
luz. — Um lugar para te mostrar.
Estou de pé em um instante. Eu não me importo para onde ele está me
levando. Só sei que quero ir com ele.
— Você pode me dar vinte minutos para tomar banho? — Eu pergunto pela
porta. Então eu dou uma olhada no meu reflexo no espelho. Eu tenho cabelo
elétrico, uma ruga de travesseiro na minha bochecha e posso sentir meu próprio
hálito matinal nojento — Na verdade, você pode me dar trinta minutos?
— Você tem dez minutos — Eu posso ouvir o sorriso provocador em sua voz,
e eu rolo meus olhos com a memória da última vez que negociamos sobre o
tempo de ficar pronta.
— Quinze? — Tento a sorte, como da última vez.
— Nove minutos, cinquenta segundos...
Vinte e três minutos depois, estou sentada no banco do passageiro da
caminhonete de Conor, bebendo uma xícara de café que ele fez para mim. Meu
cabelo está em um nó rebelde e me vesti como Conor instruiu: em algo que não
me importava de destruir (então, uma camiseta que roubei da gaveta de Aiden e
um par de leggings pretas antigas com um buraco na coxa).
Conor dirige com as janelas abertas e o rádio ligado. Sons suaves do country
e o aroma da doce madressilva enchem a cabine da caminhonete. Ele tem uma
grande mão no volante, seu braço bronzeado tenso com músculos, e a outra
balançando para fora da janela. Eu observo seu perfil avidamente, junto com a
camiseta justa e os jeans que abraçam sua bunda (sim, eu me permiti um ou três
olhares enquanto o seguia para fora de casa mais cedo). Meu olhar permanece
em seu boné de beisebol da Brady Homes virado para trás e na linha de barba
por fazer em sua mandíbula forte. Seus Ray Bans escondem seus olhos verdes
brilhantes.
No momento, ele poderia dizer que estávamos fazendo um tour pela estação
de tratamento de esgoto local e provavelmente eu estaria fora do ar. Esses bíceps
estão praticamente me hipnotizando e, pela primeira vez, estou me permitindo
ceder. Depois do que aconteceu ontem à noite, do jeito que ele me abraçou, uma
garota pode olhar para o bíceps do colega de quarto, certo?
— Pare de me encarar — ele diz sem tirar os olhos da estrada. Como ele soube
?! — Isso não vai me fazer dizer a você.
Eu ruborizo e, em um turbilhão, tomo um grande gole de café quente. O
líquido rico e escuro praticamente queima minha língua e eu grito alto.
Conor inclina a cabeça.
— Tudo bem aí?
— Sim, sim, bem como…
— Um bom, ótimo, dia de verão?
Oh, pelo amor de Deus. Este homem tem memória de elefante ou o quê?
— Sim. Isso — Eu aceno minha cabeça firmemente. — E se você não está me
dizendo para onde estamos indo, pelo menos ganho uma pista?
— Não.
Ele está muito presunçoso agora, com seu sigilo e usando minhas próprias
citações estúpidas contra mim. Decido tentar outra tática.
— Pooor favooor — eu adulo.
— Não!
Estendo a mão para puxar sua camisa como uma criança que quer doces. Ele
bate na minha mão de brincadeira.
Eu vou dar um segundo puxão. Estou apenas brincando, brincando. Isso não
é uma desculpa para chegar perto daqueles abdominais perfeitos ou algo assim,
de jeito nenhum.
Conor ri.
— Está bem, está bem. Uma pista.
Vitória! Estou prestes a me gabar quando ele diz "óculos".
Isso me faz parar no meio do caminho. Eu pisco.
— Espere, o quê?
— Óculos — Conor diz uma segunda vez.
O que?
— Isso não é uma pista.
— Claro que é — Conor tira os olhos da estrada por um momento para que
ele possa se virar e sorrir para mim.
Eu enrugo meu nariz.
— Como óculos de natação? Óculos de esqui?… Óculos de visão noturna?
Conor ri.
— Algo parecido.
Ele sai da estrada principal e entra em uma bela área residencial. Só estamos
dirigindo por alguns minutos, não podemos já estar no nosso destino?
Conor estaciona na entrada da casa de fazenda, de um andar, mais adorável
que eu já vi. A casa tem o revestimento amarelo-limão, um telhado de ardósia e
uma enorme varanda envolvente. Uma vegetação luxuriante e canteiros de flores
cercam o exterior, e há um enorme carvalho branco no jardim da frente com um
balanço de madeira pendurado em um galho grosso. Persianas brancas adornam
as janelas e a porta da frente é do vermelho dos ônibus de Londres – um toque
de cor perfeito dando as boas-vindas à casinha mais perfeita.
— O que estamos fazendo aqui? — Eu digo, um pouco sem fôlego.
Conor sorri com a minha reação. Ele puxa as chaves da ignição e, em seguida,
tira os óculos escuros, me dando todos os efeitos ofuscantes daquele olhar tão
verde.
— Vamos lá, eu vou te mostrar. Ah, e coloque isso.
Ele enfia a mão na parte de trás da caminhonete e tira uma camisa de flanela
vermelha e azul grande demais. Antes que eu possa fazer mais perguntas, ele
salta da caminhonete e caminha em direção à casa, vestindo uma segunda camisa
de flanela enquanto caminha.
Eu paro por um momento e, em seguida, coloco a camisa. É enorme em mim,
envolvendo meu corpo, e eu enrolo as mangas nos punhos. Tem cheiro de roupa
limpa do Conor e de pinho, misturado com notas de serragem e alvejante.
Resistindo ao desejo insano de apenas sentar e inalar, eu saio da caminhonete
e corro atrás de Conor, minhas pernas curtas lutando para acompanhar seus
passos longos. Quando eu finalmente alcanço, eu desafiadoramente fico para
trás, caminhando alguns passos atrás dele de propósito. Não quero parecer muito
ansiosa com sua surpresa. E, definitivamente, não porque eu quero dar outro
olhar apreciativo a esse traseiro.
O que? Eu sou só humana. Não é como se eu admirar seu corpo musculoso
signifique alguma coisa.
— Esta é uma das suas vendas?
— Não exatamente — Conor sobe os degraus da varanda e tira um molho de
chaves do bolso. Ele destranca a porta da frente, então sorri para mim como um
aluno do colegial, a covinha em sua bochecha esquerda estourando. Ele empurra
a porta da frente aberta, em seguida, faz um gesto para que eu vá primeiro. —
Esta é a minha casa.
Eu paro no meio do caminho.
Essa foi a última resposta que eu esperava.
Esta doce e adorável casa de fazenda pertence a Conor? Estou além de
apaixonada.
Estou encantada. Maravilhada.
Enfeitiçada.
E então, eu passo pela porta da frente.
Se o exterior desta casa é a combinação perfeita do elegante e clássico, caseiro
e impressionante, então o interior é... O polo oposto.
As paredes são revestidas com papel de parede rosa salmão. Os tetos são rosa
salmão. Poxa vida, até o acabamento janela é rosa salmão. Tapete espesso e
felpudo em – você adivinhou – rosa salmão, vai de parede a parede. Até cheira a
peixe aqui. Como comida de gato velha. Bleugh.
— Conor — gaguejo, minha mente lutando por um elogio. O que devo dizer
sobre isso? — Oh meu Deus! Sua...
Conor ri da minha expressão enquanto me recebe na sede do Fancy Feast5.

5 Fancy Feast é uma marca de ração para gatos


— É realmente incrível, não é?
Minha boca abre e fecha de novo – estou fazendo uma ótima impressão de
um salmão. Estou me debatendo (trocadilho muito intencionado) por qualquer
palavra que possa ser dita para descrever este lugar.
— É rosa.
— Sim, é — Conor concorda com uma piscadela. Ele acena para que eu o siga,
e entramos em uma pequena cozinha fechada com armários de madeira laranja
e uma bancada salpicada de rosa e cinza. Ele pula para se sentar nele, balançando
suas longas pernas. — A senhora de quem comprei não renovava o interior há
cerca de meio século.
Eu ri.
— Isso está muito claro.
Conor me mostra outro sorriso delicioso com covinhas enquanto explica
como ele comprou a casa com a intenção de reformá-la. Ele decidiu mantê-la para
si mesmo depois de traçar os planos para as reformas e se apaixonar por sua visão
para o lugar.
— É um trabalho muito instintivo, mas vai valer a pena — O rosto de Conor
fica animado enquanto ele fala. — Graças a Deus por Aiden me deixar ficar nesse
meio tempo.
Eu olho em volta, então franzo a testa.
— Espere, o que isso tem a ver com óculos?
— Bem, tenho gasto todo o tempo extra que tive nas últimas semanas
limpando este lugar e preparando-o para uma demo — Os olhos de Conor
brilham. — Está finalmente pronto.
Eu franzo os lábios, sem entender.
Ele me passa algo - um par de óculos de proteção.
Óculos de segurança.
— Eu sei que você está ferida agora, Jess. Mas, às vezes, quando somos
magoados pelas pessoas, ficamos com muita raiva. E você sabe o que eu gosto de
fazer quando estou com raiva?
Meu batimento cardíaco acelera.
— O que?
Conor pula do balcão e coloca seus próprios óculos de proteção. Seus olhos
estão fixos nos meus e quase me esqueço de onde estamos. Ele dá um passo em
minha direção. E… estende um pé-de-cabra.
— Esmague as coisas — diz ele com voz rouca.
INFERNO, SIM.
Pego o pé-de-cabra de sua mão, o coração batendo descontroladamente.
Posso não ter assistido programas de renovação de interiores o suficiente para
saber os meandros da decoração, mas definitivamente sei o que está acontecendo
agora.
— Você está me dizendo que hoje é dia de demolição?
— Estou lhe dizendo que hoje é o dia de demolição — Aquele sorriso lento e
sexy está se formando em seu rosto novamente. Ele pega uma marreta e a balança
em sua mão, fazendo os músculos do braço ondularem — O que você acha, Jess?
Eu olho ao redor, mas minha decisão está tomada.
— Por onde eu começo?
— Em qualquer lugar. Esta sala inteira está sendo destruída.
Ele liga o rádio antigo no canto. Um grito estridente e sangrento nos ouvidos
reverbera pela sala, seguido pelo choque de acordes de guitarra enquanto uma
canção de rock ecoa em um nível ensurdecedor.
Eu coloco minhas mãos em meus ouvidos, e Conor cai na gargalhada.
— É apenas um pouco de música ambiente! — ele grita sobre o rugido. Ele
brande a marreta com uma das mãos e a ergue sobre o ombro. Seus amplos
músculos das costas ficam tensos antes que ele bata com força total na parede.
BUM!
Pedaços de drywall voam para todos os lados, espalhando confetes cor de
salmão no ar. Um enorme buraco é deixado no rastro da marreta. Conor agarra a
borda do buraco da parede com a mão livre, arrancando um pedaço inteiro de
uma vez.
Eu não consigo desviar o olhar. Meus olhos estão fixos nele e minha boca está
seca. Não só é extremamente sexy vê-lo com a marreta, mas ver isso é como
desembrulhar um novo pedaço de doce na caixa de chocolates que é Conor. O
homem cuidadosamente controlado se foi com olhos sugestivamente brilhantes
e um sorriso lento e deliberado. Em seu lugar está esta força de destruição
completamente desfeita, indomada e poderosa .
E esqueça a contenção, porque estou AQUI PARA ISSO.
Depois de derrubar cerca de metade da parede, Conor olha para mim. Uma
gota de suor escorre por sua têmpora e eu tenho que morder minha língua para
parar a vontade de lambê-la.
Ele sorri para mim e gesticula em direção à cozinha.
— Sua vez.
Ele não precisa me dizer duas vezes. Cheio de uma mistura estranha e
inebriante de antecipação, medo e atração ardente, pego meu pé-de-cabra com as
duas mãos e ataco o armário da cozinha. Eu balanço. Forte.
Racha.
O pé de cabra se conecta com a frente de vidro, quebrando-o em um milhão
de pedaços. Meu estômago dá um salto e minha cabeça gira delirantemente. Isso
é bom. Como o doce alívio de pular em um oceano fresco no calor mais quente
do dia. A primeira mordida no bolo de chocolate após alguns sucos detox.
Me sinto forte. Irresponsável. Totalmente fora de controle da melhor maneira.
— Uaaaaau! — Conor grita, jogando os braços no ar. — Novamente!
Meu coração bate no ritmo da música rock furiosa e raivosa, bombeando
sangue e adrenalina em minhas veias.
— AGGHHHH! — Dou um grito de guerra que deixaria os espartanos
envergonhados e me viro para o gabinete novamente, com o pé de cabra acima
da minha cabeça.
Eu bato a barra no armário sem parar. Estou vagamente ciente de Conor rindo
e torcendo por mim, da dor em meus braços com o esforço. Mas, tudo que posso
focar é em como isso é bom, em como estilhaços de madeira e vidro estão
chovendo ao meu redor com a minha surra insistente.
Quando a música rock chega ao fim, eu paro para respirar. Conor está
encostado no balcão, me observando, e seus olhos estão ardendo com algo novo.
Uma emoção que nunca vi em seu olhar antes... Orgulho?
Eu coro sob seu escrutínio.
— Eu fui bem?
— Bem, como você se sente?
Eu expiro feliz.
— Mais leve.
— Então, você foi incrível.
Eu aceno para a marreta em sua mão.
— Acha que posso tentar isso?
A sugestão de um sorriso puxa seus lábios.
— Sim.
— Este negócio de reformar uma casa é moleza! Eu sou praticamente um
profissional na minha primeira tentativa. — eu me regozijo quando Conor
estende a marreta para mim. Eu alcanço-a, cheia de confiança. Eu sou forte, sou
capaz, posso fazer qualquer coisa que me proponha.
Eu sou mulher, ouça-me rugir!
Pego a arma da mão de Conor ansiosamente...
E, imediatamente, atinge o chão.
— Ufa! — Meu ombro está praticamente puxado para fora do lugar. A coisa
pesa cerca de 45 quilos.
— Pesado? — Conor ergue uma sobrancelha, os olhos dançando. Ele sabia
que isso iria acontecer. Idiota.
— Como você estava balançando isso, fazendo parecer tão fácil? — Eu exijo.
A língua de Conor corre ao longo de seu lábio inferior, uma visão
hipnotizante.
— Prática.
Aposto.
Eu cuidadosamente envolvo as duas mãos ao redor do cabo da marreta e a
levanto cerca de três centímetros do chão. Sim, pesa uma tonelada. Não tenho
como balançar essa coisa sozinha.
Estou prestes a admitir a derrota e deixar minha confiança cair um pouco
quando Conor está de repente bem atrás de mim. Eletricidade estala em meu
corpo.
— Quer que eu te mostre? — Ele diz baixinho, seu hálito quente no meu
pescoço.
Eu me estremeço involuntariamente.
— C-claro — eu gaguejo, meu coração pulando como um salmão. O que é
apropriado, considerando o nosso ambiente.
Ele dá um passo mais perto para que seu peito toque nas minhas costas.
Lentamente, ele circula seus braços em volta de mim e coloca suas mãos fortes
sobre as minhas. Elas são calejadas e ásperas da melhor maneira. Ele as move
suavemente para agarrar ainda mais a alça, um diretamente acima do outro.
— Assim, vê?
Eu aceno vertiginosamente, minha cabeça cheia do cheiro limpo de Conor.
Minhas terminações nervosas formigam onde ele me toca.
— Agora — ele respira — Nós apenas recuamos, assim.
Com as mãos de Conor ainda cobrindo as minhas, levantamos a marreta
juntos e a balançamos para trás. Meu coração troveja, batendo como um tambor
quando me inclino para ele, deixando seu grande corpo me envolver enquanto
nós enfiamos a marreta na parede.
Bang!
A marreta acerta com tanta força que meus braços tremem. Uma nuvem
empoeirada de drywall irrompe ao nosso redor e eu, trêmula, afundo ainda mais
em Conor enquanto observo meu – nosso – trabalho manual.
Paramos por um longo momento, ambos em silêncio. Posso sentir seu coração
batendo nas minhas costas. Forte e reconfortante.
— Novamente? — ele pergunta, sua voz rouca.
— Sim — eu praticamente suspiro.
Juntos, levantamos a marreta novamente e causamos mais danos à parede.
Mas, não estou mais pensando em como é bom quebrar as coisas. Em vez disso,
tudo que posso pensar e sentir é como seu corpo é bom pressionado contra o
meu. Como toda essa experiência é absolutamente sensual. Estou uma bagunça
absoluta.
Muito rapidamente, ele abaixa a marreta, desliza as mãos das minhas e se
afasta. Ele coloca distância suficiente entre nós para ajudar a limpar a névoa ao
redor da minha cabeça, mas meu corpo anseia descaradamente pelo dele. Volte.
—Bom trabalho — Conor sorri. — Destruição bem-sucedida.
E então, algo terrível acontece. Ele levanta a mão... Para um toca aqui.
Um toca aqui.
Um toca aqui estúpido.
Eu sou rudemente ejetada do meu transe, a realidade se catapultando em
minha direção e me acertando no rosto como uma vaca. Eu levanto a mão e bato
frouxamente.
Lá estava eu, fantasiando sobre ser uma experiência sensual... e ele queria um
high five. Não há nada de sensual em um high five.
15

JESS

Depois do nosso infeliz momento do “toca aqui”, eu volto para a segurança do


meu pé de cabra, e nós quebramos e quebramos a cozinha em pedacinhos. Tudo
isso mantendo uma distância apropriada e sem embaçamento entre si.
No momento em que fazemos uma pausa – por volta do meio-dia – eu estou
uma bagunça empoeirada, cansada, suada e não consigo sentir meus braços. Vou
sofrer por isso amanhã. Isso é o máximo que eu me exercitei em ... bem, em uma
eternidade, na verdade. Malhar nunca foi minha praia.
Conor encolhe os ombros fora de sua flanela, joga seus óculos de segurança e
me dá um sorriso deslumbrante. Sua camiseta está úmida e gruda em seus
músculos de uma forma que meu cérebro não consegue suportar. Esse peito
estava pressionado contra mim.
— Vamos — Conor me leva para fora da porta dos fundos e para o quintal,
segurando um cooler na mão.
É mais um dia escaldante e o sol crepita no alto, queimando tudo em seu
caminho.
A parte de trás da casa de Conor é tão linda quanto a frente – um mundo
longe da monstruosidade do rolo de pele de salmão lá dentro. O quintal é cercado
por árvores de magnólia e o ar ainda está fortemente perfumado com resquícios
de sua floração recente. Há um grande pátio com bancos embutidos e uma
gigantesca piscina oval.
— Uau — eu resmungo, minha garganta seca como o Saara.
Conor sorri.
— Refiz o paisagismo do quintal e refiz a piscina assim que consegui o lugar.
Não queria que fosse desperdiçado neste verão.
— Posso? — Eu pergunto, olhando para ele e inclinando minha cabeça em
direção à piscina.
Ele levanta as sobrancelhas. Acena com a cabeça.
— Vá em frente.
Corro em direção à água, tiro os sapatos, enrolo as leggings e mergulho os
pés. Uma rajada de ondas geladas atinge meus tornozelos e me inclino para trás
em minhas mãos, apreciando o contraste da água fria e do sol quente no meu
rosto.
Conor se abaixa ao meu lado e arregaça sua calça jeans. Ele balança os pés na
água ao lado dos meus.
— Eu pensei que você fosse pular.
— Talvez eu devesse — eu respondo.
Ele abre o cooler.
— Com sede?
— Muita — Aceito uma lata de refrigerante gelado e pressiono contra minha
testa, saboreando o choque pungente do frio em minha pele. Então, eu abro e
praticamente dreno tudo em um único gole. A efervescência doce acalma minha
garganta seca e rachada e eu gemo de prazer.
Conor me observa com atenção, sorrindo.
— Você precisa se manter hidratada neste calor.
Eu levanto meu queixo em reconhecimento, tentando manter minha mente
longe do fato de que ele está todo suado, bagunçado e oh-tão-sexy de todo aquele
trabalho físico.
Eu coloco a lata ao meu lado e tiro a camisa de flanela antes de estender a mão
para mergulhar minhas mãos na piscina. Eu jogo a água em meus braços e no
rosto.
— Você se importa? — Ele aponta para sua camiseta.
Meu cérebro sai da minha cabeça e não consigo responder de forma coerente.
Tudo o que posso fazer é sacudir um pouco a cabeça e, em seguida, tentar – e não
conseguir – desviar os olhos enquanto ele tira a camiseta e a joga por cima do
ombro.
Não vi Conor sem camisa desde que esbarrei em seu peito nu no dia em que
nos conhecemos. A visão é ainda mais majestosa do que eu me lembrava. Eu mal
posso afastar meus olhos quando ele alcança a piscina e espirra água no rosto.
Sua pele é lisa e bronzeada, seus braços fortes e perfeitamente musculosos –
mas de uma forma que diz a você que ele é o tipo que vai à academia
regularmente e se cuida, mas não injeta esteroides ou posta vídeos de treino no
Instagram. Ele não é apenas musculoso, ele é poderoso e masculino com suas
mãos grandes e calosas e ombros largos decorados com grossas faixas de
músculos que se estreitam em uma cintura estreita e... Puta que pariu, Batman!
Esse tanquinho.
Todos os oito.
OITO.
Eu contei. Duas vezes.
Como diabos ele achou que eu me importaria?
Eu tiro minha mandíbula do chão por tempo suficiente para voltar a engajar
meu cérebro e fazer uma pergunta-isca. Você sabe, então meu olhar abjeto não
será tão óbvio para todos em um raio de 160 quilômetros.
— Quando você acha que este lugar estará pronto?
— Mal pode esperar para se livrar de mim, hein? — Conor sorri e toma um
gole de seu refrigerante.
É, não. Definitivamente não é isso.
Mesmo sabendo que ele está brincando, é um lembrete gritante de que Conor
estará se mudando em algum momento no futuro próximo. Ele ainda vai querer
sair comigo quando não tivermos a proximidade forçada nos empurrando?
Porque eu realmente gosto de sair com Conor como amigo. Um amigo muito
gostoso, sim. Mas ainda assim, um amigo.
— Não — eu digo lentamente. — Só parece que dá muito trabalho.
Conor ri e chuta o pé direito, espirrando um borrifo de água na superfície da
piscina.
— Muitos desses lugares envolvem muito trabalho. Em geral, você obtém um
melhor retorno sobre o investimento quando há postos de trabalhos próximos.
Bem, se ele está fazendo um trabalho assim o dia todo, todos os dias, isso
explica o abdômen óctuplo.
— Por que esta aqui?
— Hmm?
— O que fez você decidir manter esta casa para você em vez de vendê-la? De
todas as casas que você vira, o que há de diferente nesta?
Conor considera isso por um longo momento, seus olhos enrugados em
pensamento. Quando ele finalmente fala, sua voz está séria.
— Eu gostei que parecia tão perfeito lá fora. Era a casa que eu nunca soube
que queria e me apaixonei à primeira vista. Então, eu entrei e foi o maior desastre
que eu já vi. Mas, eu olhei além da bagunça. Eu vi como isso poderia ser perfeito.
Eu só precisava trabalhar.
Ele olha para mim e encolhe os ombros, e é um gesto tão docemente
vulnerável que meu coração aperta.
— Eu acho que, às vezes, tudo tem que ser quebrado antes que você possa
começar do zero e construir o que quiser.
Apesar do calor, minha pele formiga com arrepios. Conor pode estar falando
sobre sua casa, mas para mim, suas palavras são mais profundas.
Achei que perder Johnny, desistir do meu apartamento, não ter emprego e
voltar para casa furtivamente derrotada significava que tinha um milhão de
pedaços da minha vida para recolher. Mas, talvez eu não precise. Talvez eu só
precise varrer aqueles pedaços de partir o coração, que mudaram a vida e jogá-
los fora. Recomeçar. Com uma base em branco para construir a vida que eu
desejo.
Com as coisas que mais significam para mim.
Isso afunda e eu me sinto sem fôlego com o pensamento do que isso poderia
significar. Pela minha vida, pelo meu futuro. E, pela primeira vez em muito
tempo, vejo possibilidades.
— Você está bem? — Conor coloca sua mão ao lado da minha, apenas perto o
suficiente para que seu dedo mindinho roce meu polegar. Eu estremeço
involuntariamente. Duas vezes. Primeiro, com a deliciosa sensação de sua pele
contra a minha. Em segundo lugar, pelo fato de que ele não tira o dedo. Ele
permanece pressionado contra o meu. — Você parece perdida em pensamentos.
Eu balanço minha cabeça enquanto um sorriso lentamente surge no meu
rosto.
— Não perdida. Nem um pouco, na verdade.
16

CONOR

Jess é linda. Eu já sabia isso.


Todo mundo sabe. Tenho certeza de que, se eu fosse cego, ainda saberia disso.
Mas, o que eu não sabia era que ver Jess em minha casa – se apaixonando
pelos mesmos detalhes que me fizeram amar o lugar – se tornaria a coisa mais
linda que já vi na minha vida.
Depois de uma manhã de demolição (onde aproveitei a oportunidade muito
oportunista para dar a ela uma demonstração prática de como brandir uma
marreta), estamos sentados à beira da piscina. A água fresca e calmante envolve
meus tornozelos, mas essa sensação é superada pelo fato de que nossos dedos
estão se tocando. Dedos mindinhos, para ser mais específico. Apenas aquele
pequeno ponto de toque acende milhares de chamas por todo o meu corpo. Eu
sei que deveria puxar minha mão, mas não o faço.
— Você se divertiu esta manhã?
— Muita diversão — Jess sorri amplamente. — Melhor do que terapia, eu
imagino.
Eu rio.
— Mais barato do que a terapia também.
— Eu não acho que já tinha quebrado nada antes — Jess balança os pés para
frente e para trás na piscina, criando ondas que batem nas minhas panturrilhas.
— Uh, seu vaso de planta seria diferente — eu provoco.
Ela imediatamente fica em um tom fofo de rosa.
— Obrigada novamente por salvar seus restos mortais. E, hum, por comprar
um novo pote para ela. É lindo.
Estou imediatamente satisfeito por ela gostar. Algumas noites atrás, fui ao
Lowe's Garden Center depois do trabalho para escolher um e passei muito tempo
estudando a seleção. Eu finalmente escolhi um pote de concreto cinza com uma
faixa branca ao redor do meio e uma borda de ouro - simples e elegante, mas
interessante e bonito. Assim como a Jess.
Mas, em vez de dizer isso, encolho os ombros.
— Ah, eu estava no Garden Center de qualquer maneira, para pegar algumas
coisas para o quintal da reforma de Decatur.
Conversamos um pouco sobre Decatur e conto a ela como entendo a
decoração para trabalhar e o que ela fará para ajudar. A conversa então se volta
para meus planos para minha casa, e conversamos facilmente, as ideias indo e
vindo. Jess está repleta de sugestões, e a maioria delas são fantásticas - algumas,
eu nunca teria pensado. Jess entende sobre luz, cor e equilíbrio tão bem que me
deixa ainda mais animado que ela crie algo realmente especial na decoração de
Decatur para a visitação pública.
— Você sabe muito sobre design — digo a ela, impressionada.
Jess enfia uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Eu amo arte, então acho que vejo tudo com os olhos de um artista.
— Você estudou História da Arte, certo?
Ela acena com a cabeça, e a brisa bate em seu cabelo.
— Você já fez alguma arte sozinha?
— Costumava fazer. Faz um tempo que não. Espero começar de novo quando
voltar a colocar os pés no chão com o trabalho. — Ela enrubesce. — O que eu
tenho agora, graças a você.
— Adoraria ver um pouco do seu trabalho.
— Ah, talvez um dia — Jess dá um aceno evasivo com a mão. Então, ela se
mexe, pegando o tecido de sua camiseta ridiculamente grande e sacudindo-a
para criar uma brisa em seu corpo. — Eu estou quente.
Sim, você está.
Uma gota de suor escorre pelo seu pescoço e eu quero prová-la. Na verdade,
estou morrendo de vontade de me aproximar e beijá-la. Dizer a ela como não
consigo parar de pensar nela. Como, quando a vi chorando na noite passada,
tudo que eu queria era protegê-la de tudo que poderia machucá-la.
Mas, amigos não beijam amigos. Jess acabou de sair de um relacionamento e
ela é a irmã mais nova de Aiden. Com quem eu moro. Existem tantos motivos
pelos quais eu não deveria me apaixonar por ela.
Eu vou admitir, no entanto. Estou me apaixonando de qualquer maneira.
Claramente, meu plano de flerte inofensivo não é inofensivo, porque tudo o
que é faz é me lembrar continuamente do que eu não posso ter. Que não posso
fazer o que quero. Que é, esmagadoramente, beijar Jess.
— Está mais quente aqui fora do que o normal — eu digo, um tanto
estupidamente. Qualquer coisa para parar meus pensamentos rebeldes.
Jess ri e o som é como música.
— Está mesmo.
A risada em seus olhos me atrai. Antes que eu possa me conter, minha cabeça
inclina-se instintivamente em direção à dela. Minha mente é um borrão vazio de
estática - toda razão e lógica desapareceram diante daqueles olhos castanhos
infinitos e hipnotizantes.
Desculpe, as luzes estão acesas, mas não há ninguém em casa.
Eu me movi alguns centímetros em direção a ela antes de finalmente me
controlar e colocar meu cérebro de volta em ação. Não sei se é adrenalina por
estar tão perto dela, ou se tive um caso repentino de insolação que obscurece meu
julgamento racional, mas o que faço a seguir não tem explicação. Nenhuma
mesmo.
Porque eu continuo me movendo em direção a ela... Mas, ao invés de beijá-la,
eu a empurro na piscina.
Tipo, empurro ela. Totalmente vestida.
Dentro da piscina.
SPLASH!
Jess tomba como uma bola de boliche e atinge a água com força suficiente
para lançar um jato de gotas em cima de mim.
Eu fico olhando, boquiaberto e chocado. O que eu acabei de fazer?
Um segundo se passa.
Dois.
Três.
Quatro... oh meu Deus, e se ela não souber nadar?!
Agora que eu já fiz isso. O pensamento me atinge como um soco no estômago
e o sangue bombeia em meus ouvidos. Eu me levanto, pronto para mergulhar e
salvá-la.
Mas, como Moisés abrindo o Mar Vermelho, dois braços emergem da piscina
e Jess se puxa para a superfície. Ela coloca os cotovelos na lateral da piscina e eu
estremeço, esperando que sua ira seja liberada. Em vez disso, ela joga a cabeça
para trás e ri. Risos e risos.
Então, eu rio também, uma cacofonia de emoções chocando-se dentro de mim
– alívio por ela estar bem, felicidade por eu tê-la feito rir e puro choque com
minha ação impensada.
— Ok, ok — Jess diz, sorrindo para mim e estendendo a mão. — Agora não
estou mais com calor. Me ajude?
Eu me agacho para frente e estendo minha mão, pronto para puxá-la para fora
da água. Jess me dá o sorriso mais doce.
— Obrigada.
Então, sua mão se fecha em torno da minha e ela puxa. Forte.
KERSPLASH!
Eu vou voando, de cabeça, para a piscina. Que é exatamente o que mereço.
Mas, como não estou nem um pouco preparado, inalo uma golfada de água
clorada. Quando entro na superfície, estou tossindo e cuspindo.
Jess ri ainda mais forte.
— Isso é o que você ganha, seu idiota.
— Eu… me… — tosse, tosse — desculpe! — Eu inclino minha cabeça,
ofegando e ofegando para respirar.
Jess, impiedosa e vingativa, tenta me enterrar. Em meu estado de engasgo. Lá
se vai a doçura..
Quando vejo seu rosto de relance, ela está sorrindo como uma vilã. Uma vilã
realmente fofa.
— Ei! — tosse — Você está pedindo ASSIM! — Eu agarro seu braço e a torço
para longe, tentando afundá-la de volta. Em resposta, ela se move como um
tornado, girando na água com um braço deslizando pela superfície. O
movimento cria um tsunami de água que me atinge no rosto.
— Ok, agora você está realmente entendendo! — Eu me recuperei o suficiente
para entrar em movimento, saltando sobre ela para que ambos afundamos.
Passamos a tarde inteira assim, brigando na piscina como duas crianças sem
nenhuma preocupação no mundo. Não penso em limites, ou no que devo ou não
devo pensar ou fazer, apenas me permito desfrutar o momento com ela. Fazendo-
a rir. Sendo eu mesmo.
É lindo. Perfeito.
Cada maldito segundo disso.
17

JESS

— VOCÊ GOSTA DELE, SUA PEQUENA ATREVIDA!


— Fale mais alto, Court, acho que algumas pessoas em Timbuktu não
perceberam isso — eu sibilo, olhando ao redor para verificar se ninguém estava
ouvindo.
Minha nova amiga se contorce de alegria, seus olhos brilhando de uma forma
ligeiramente maníaca.
— Conte-me tudo. Abra a matraca.
— Ouça a você mesma! Você está parecendo uma criança — eu provoco. — E
não há matraca nenhuma para abrir. Não há nada para contar.
— Mentiras.
Eu balanço minha cabeça.
Courtney aponta um dedo acusador para mim.
— Mentiras terríveis, horríveis e perversas.
Eu puxo meus óculos de sol para baixo no meu rosto em vez de responder, e
sento na minha espreguiçadeira. Courtney e eu temos passado mais tempo juntas
ultimamente e estou começando a gostar muito de minha vizinha. Hoje, estamos
no quintal de Aiden, nos bronzeando em nossos maiôs e bebendo as “famosas
pinãs coladas caseiras” de Courtney.
Para ganhar algum tempo da inevitável conversa sobre Conor, tomo outro
gole do meu coquetel. Eu atiro a Courtney um grande sorriso para evitar um
engasgo.
— Boa? — Courtney diz.
— Mmmm — Eu aceno o mais convincentemente que posso enquanto coloco
meu copo na mesa. O mais longe possível de mim.
Chamar isso de coquetel seria extremamente generoso. Até mesmo chamá-lo
de bebida pode ser exagero.
Parece e tem gosto de lixo tóxico.
Mas Court saiu de seu caminho para comprar os ingredientes para as pinãs
coladas, apenas para compartilhá-los comigo. Sua hospitalidade significa muito
para mim, não tenho coragem de lhe dizer a verdade.
— Lembre-me o que você colocou nisso de novo? — Eu pergunto através do
meu sorriso enquanto tento engolir o mingau viscoso.
— Receita secreta — Courtney balança as sobrancelhas — E pare de tentar
mudar de assunto, mocinha.
— Está bem.
Eu caio de volta na espreguiçadeira e ajusto meu maiô. Normalmente, eu me
sentiria desalinhada ao lado de uma criatura alta, bronzeada e magra como
Courtney. Ela tem um daqueles corpos extensos como uma gazela, todos os
ângulos agudos e membros graciosos. E seios empinados perfeitos, de tamanho
normal – ela provavelmente pode usar aqueles tops de biquíni triangulares sem
se preocupar com o fato de seu peito ter vontade própria e tentar fazer um lance
desesperado pela liberdade.
Sim, isso é baseado em uma história real.
E não, não quero falar sobre isso.
De qualquer forma, uma das coisas mais legais sobre Courtney é que, embora
ela seja alta, magra e linda, ela não faz julgamentos. Pela primeira vez na vida,
não estou querendo me comparar. Somos diferentes e tudo bem.
Courtney vira de lado e me olha com expectativa.
— Diga-me.
Solto um suspiro feliz.
— Não sei, Court. Não há nada acontecendo entre nós. Não aconteceu nada.
Ele nunca fez um movimento. Mas há, tipo, essa... química quando ele está perto
de mim. Tipo, ele tem um campo de força para o qual estou sendo sugada.
Eu paro para respirar, percebendo o quão estúpido isso deve soar. Eu não
acho que estou imaginando isso, no entanto. A maneira como ele olhou para mim
na piscina na semana passada, eu poderia jurar que ele estava prestes a me
beijar... logo antes de me empurrar na água.
Courtney, enquanto isso, se abana com uma revista People, fingindo
desmaiar como uma espécie de heroína de um romance vitoriano.
— Posso viver indiretamente através de você? — ela pergunta
melancolicamente entre os abanos — Tenha pena desta pobre solteirona que só
ama os cães.
Eu pego um pedaço de gelo da minha bebida e jogo nela.
— Oh, por favor. Um encontro desastroso do Tinder e você está agindo como
se fosse fugir e entrar para um convento.
Courtney saiu com um cara que ela conheceu pelo aplicativo na semana
passada, que acabou se tornando o Sr. TUDO Errado. Martin parecia ótimo tanto
no papel (bem, na tela do telefone) quanto pessoalmente - ele é um advogado de
sucesso com uma aparência classicamente bonita. Amante de livros, beisebol e
carros antigos, de acordo com seu perfil. Ajudei Courtney a escolher um
deslumbrante vestido rosa decotado e ela saiu para encontrá-lo em um lindo
restaurante no rio, o que foi um ótimo começo. Mas, tudo piorou a partir daí.
Para recapitular:
Ele disse a Courtney que era “seu aperitivo”, mas depois pediu um White
House6 antes de perguntar o que ela queria beber (que por acaso era uísque com
gelo). Ele, em seguida, sugeriu que pedissem comida do menu de aperitivos para
compartilhar. Então, basicamente, um pão-duro. Primeiro erro.
Depois, com um sorriso malicioso, ele começou a verificar todas as mulheres
no restaurante. E ele teve a coragem de fazer um elogio indireto sobre como o
vestido de Court era bonito, se você gosta do tipo de coisa curta e justa. Então,
pervertido e misógino. Ficando pior a cada segundo.
O terceiro golpe – e a cereja no topo do fogo da lixeira – veio quando Martin
jogou gasolina na mesa de jantar. Tipo, o homem peidou durante um encontro.
Ruidosamente. Como Court tão delicadamente apontou depois, se você tem

6 Marca de uísque.
vontade de soltar gases em um encontro – ou em qualquer lugar em público –
você deve ir ao banheiro e fazê-lo em particular. Ninguém corre riscos assim.
— Esqueça Marty, o peidorreiro — Digo a minha amiga. — Ele era um
fracasso total. Esse encontro não reflete nada de você como pessoa, você poderia
escolher qualquer cara. E, como eu disse a você, não há nada para você viver
indiretamente quando se trata de mim e Conor. Porque nada está acontecendo.
Ponto.
— Por que não? Ambos são jovens, solteiros e gostosos. E ele está a apenas
um quarto de distância. — Courtney dá um sorriso de Gato Cheshire e eu mostro
minha língua para ela.
— Oh, puxa, muito obrigado por apontar isso, Court. Eu nunca tinha
percebido. — Eu reviro meus olhos para ela. Então, eu suspiro — Mas a questão
é que acho que ele me vê como uma amiga. Ele quase não flerta mais comigo.
Além disso, caras assim sempre sabem quando uma garota acha que eles são
gostosos. O que significa que ele poderia ter agido a qualquer momento e tentado
a experiência completa de colegas-de-quarto-com-benefícios. O que eu teria
recusado, obviamente.
Courtney bufa uma risada, que ela prontamente tenta disfarçar como uma
tosse.
— Não, você não teria.
Mas eu não estou mentindo. Eu teria recusado qualquer proposta como essa.
Porque gosto de Conor como pessoa. Bastante. E não quero ser uma aventura
casual de ninguém – minhas emoções não podem deixar de se envolver. Além
disso, para começar, não gosto desse tipo de coisa.
Mas, apesar de minhas palavras para Courtney, estou começando a achar que
Conor também não gosta desse tipo de coisa. Eu nunca o vi fazer nada mais do
que conversar com outra mulher, e ele também não é o grande paquerador que
eu originalmente imaginei.
Ele tem sido muito doce comigo ultimamente. Um bom colega de quarto e um
bom amigo. Que me empurrou na piscina, em vez de me beijar como pensei que
ele faria. O que me leva ao meu segundo ponto...
— Mas eu não tive que recusar porque ele não tentou nada. O que me faz
pensar que ele provavelmente não se sente atraído por mim.
Eu suspiro profundamente desapontada comigo mesma por me importar
tanto. Não posso acreditar que já se passou quase uma semana desde que Conor
me levou para sua casa para demolição. Quase uma semana desde que ele me
seguiu do bar para casa, me abraçou enquanto eu chorava e fez pipoca para mim.
No dia da demolição, eu tinha certeza de que algo estava se formando entre
nós. A mera memória de suas mãos nas minhas enquanto balançamos a marreta
faz meu corpo formigar. Mas desde então? Nada.
Ele tem estado ocupado no trabalho a semana toda, e só nos vimos
brevemente aqui e ali – embora eu ainda acorde com um bule de café acabado de
fazer todas as manhãs. A maior quantidade do tempo que passamos juntos em
dias foi quando ele me levou para ver a casa em que estarei trabalhando, que é
deslumbrante. Enquanto estávamos lá, ele me deu minha oferta por escrito para
contratar a Brady Homes como decoradora – por mais dinheiro do que eu
ganhava em um mês no Cirque!. Eu disse a ele que era generoso demais, mas ele
insistiu que era o preço normal dos decoradores.
Naquela tarde, corri para a biblioteca e verifiquei todos os livros que eles
tinham sobre decoração de casas.
— Pense nisso, Jess. Você acabou de sair do rompimento, está morando com
ele, e ele lhe ofereceu um emprego – o que significa, tecnicamente, que agora você
trabalha para ele. Talvez ele seja apenas um cara legal e não queira ultrapassar
nenhum limite.
Foi por isso que ele me empurrou na piscina quando eu tinha certeza que ele
iria me beijar? Limites?
— Ou talvez ele só esteja preocupado em chatear seu irmão estúpido —
Courtney continua com um encolher de ombros.
Eu levanto uma sobrancelha para ela.
— Lembre-me, por que você odeia tanto Aiden?
Courtney, com toda a sua arrogância, é surpreendentemente muda sobre o
assunto do meu irmão – a menos que ela esteja reclamando de algo que ele
supostamente fez de errado.
— Eu não o odeio.
— Eu não acredito em você.
— Isso não é sobre Aiden. É sobre Conor. Que é claramente cego se não se
sente atraído por você.
— Mudança suave de conversa — digo a ela. Mas, eu deixo de lado o assunto
sobre Aiden, que é claramente delicado.
Agradeço o apoio de Courtney, mas ela está sendo legal demais. Não sou a
garota que consegue o cara que todo mundo quer. Eu sou a garota que fica para
outra pessoa.
— Cego ou não, não importa. Preciso parar de pensar no fato de que isso
nunca vai acontecer e seguir em frente. O importante é que ele é legal e está
realmente me ajudando a me dar trabalho — Eu sorrio para mim mesma. — O
que é mais do que qualquer cara já fez por mim.
O sorriso de gato de Courtney está de volta.
— E isso, minha querida, é exatamente o que quero dizer.

Depois que Courtney vai para casa para cuidar dos amores de sua vida – Butch
e Cassidy – eu decido que não há tempo como o presente para começar a
trabalhar em algumas pinturas. Estou adiando há dias, lutando contra a
incômoda dúvida e pensamentos de fracasso. Usei convenientemente meus
livros de decoração para procrastinar, dizendo a mim mesma que estava ocupada
demais lendo para fazer minha própria arte.
Mas o trabalho com Conor é único, temporário. Vou precisar de mais
empregos no futuro, então tenho que dar o braço a torcer algum dia. Decidi
facilitar minha criatividade fazendo uma pintura para Aiden. Algo para
agradecê-lo por me deixar ficar em sua casa sem pagar aluguel. Há um ponto
acima do sofá onde eu adoraria pendurá-la.
Murmuro para mim mesma enquanto recupero os suprimentos que comprei
em uma loja de arte local e me instalo no quintal – não vou arriscar pintar o piso
imaculado da casa renovada de Aiden. Espalhei a folha de proteção no gramado
e apoiei minha tela em um cavalete improvisado montado com velhas cadeiras
de plástico de jardim que encontrei no galpão. Obviamente banidas para o exílio
após a reforma do pátio.
Ainda estou de maiô, mas como o dito maiô é uma peça roxa, velha e
enrugada que não faz nada para a minha figura, não estou muito preocupada em
sujar a pintura. Além disso, Courtney ficaria encantada com uma desculpa para
me levar para comprar biquínis. Quando eu apareci fora para tomar sol com ela
mais cedo, eu tive uma palestra de dez minutos sobre abraçar minha gatinha
sexual interior e exibir o que o Bom Deus me deu.
Pfft. Gatinha sensual interior, minha bunda. Tente uma gata malhada, velha,
obesa e com picadas de pulgas com metade de uma orelha faltando.
De qualquer forma, apesar da falta de atratividade inata do meu maiô, me
sinto bastante segura com o fato de que ninguém vai me ver andando no quintal
com meus pincéis. Courtney está acomodada com segurança em casa, Aiden está
escondido em LA e Conor está trabalhando até tarde novamente hoje. Fiz questão
de confirmar por mensagem.
O que significa que sou apenas eu, minha tela e, com sorte, inspiração.
Eu organizei meus pincéis, paleta de mistura e tubos de tinta, e então coloquei
meus fones de ouvido. Também posso ter desenterrado a velha “Heartbreak
Playlist Part 2” – a edição da Taylor Swift.
Com os sons amargos de separação de “I Knew You Were Trouble”
explodindo em meus ouvidos, eu circulo a tela em branco, estudando-a. Eu aceno
para mim mesma, minha adrenalina crescendo enquanto a criatividade começa
a fluir em minhas veias como uma droga. Faz muito tempo desde que pintei, e
agora que trabalhei até este momento, a emoção vibra através de mim.
Eu senti falta disso.
Pego meu pincel, salpico gotas de cor verde-marinho, ocre queimado e
marinho em minha paleta e começo a trabalhar.
Algo engraçado acontece quando você se perde na criação. É como se sua
mente e corpo se tornassem um, se movendo em conjunto para perseguir uma
visão. Você faz algo conceitual se tornar tangível diante de seus próprios olhos.
Espaço, tempo e preocupações – coisas que você tem que fazer, dizer ou ser –
tudo simplesmente se esvai. Quando eu pinto, sou apenas eu e o pincel,
dançando em nosso próprio mundo de cor, movimento e beleza.
Há apenas uma pequena desvantagem em potencial para entrar neste mundo
especial: você perde toda a visão e o controle do mundo real. O que pode ser
maravilhoso.
Mas, também pode ser não tão maravilhoso.
Tipo, quando você está gritando junto com Taylor Swift, andando por aí em
um maiô que perdeu toda a elasticidade da bunda, e o seu colega de quarto
gostoso aparece.
Com a sua corretora de imóveis igualmente gostosa a reboque.
— Urghh! — Eu faço um som estrangulado e solto meu pincel enquanto
Conor e a ruiva da noite no bar – Karla – me encaram. O pincel cai no chão,
enviando um spray de respingos de cor verde-marinho por todas as minhas
pernas no processo.
Minhas pernas muito nuas, muito pálidas e precisando de uma depilação.
Droga, droga droga.
— Conor, Karla... olá! — Eu grito. Minha voz está tão alta que posso ouvi-la
em meus fones de ouvido estridentes. Eu os arranco e jogo no chão ao lado do
meu pincel. Eu cruzo meus braços sobre meu peito. Cruzo minhas pernas.
Descruzo as pernas quando percebo que deve parecer que preciso correr para o
banheiro. Finalmente, eu me conformei em sorrir muito brilhantemente. — E aí?
O tempo todo, os dois simplesmente me encaram como se eu fosse um animal
exótico em um zoológico.
Um hipopótamo, talvez.
E o que há comigo e todas as comparações da natureza ultimamente?
Os traços perfeitos de Karla se contorcem de horror enquanto seus olhos se
movem sobre mim, enquanto o belo rosto de Conor se contorce em diversão
indisfarçável.
— Oi Jess — ele diz com seu sorriso você-sabe-o-quê. Seus olhos verdes
sustentam meu olhar, brilhando com uma risada silenciosa. Ele está claramente
se divertindo muito com isso — Passamos por aqui para pegar a papelada antes
de verificar algumas listas para os próximos projetos e pensamos em dizer oi. O
que se passa com você?
— Ah você sabe — Eu encolho os ombros com indiferença. Ou, da forma mais
indiferente possível, com o rosto vermelho e usando a peça única mais
desfavorável do mundo. — Pintando.
— De maiô?
— Sim — eu digo suavemente. Siga em frente, nada para ver aqui. — É uma
técnica que muitos artistas usam.
— É mesmo? — Conor dá um passo em minha direção. — E como é chamada
essa técnica?
— Pontilhismo — Eu dou um passo para longe dele. Principalmente para que
eu possa pensar melhor. Porque não tenho ideia do por que disse isso.
— Pontilhismo — Conor repete lentamente. Esse sorriso maldito puxa seus
lábios novamente. Aquele que me dá vontade de dar um tapa na cara dele, mas
também gritar “tenha meus bebês!”
Vou para um tom ainda mais alarmante de beterraba. Todo o caminho até
minhas pernas. O que, pelo lado bom, significa que elas não estão mais tão
pálidas.
Karla franze a testa.
— Não é pontilhismo quando você faz muitos pontos minúsculos? — Ela
levanta uma mão perfeitamente bem cuidada e imita o processo.
Claro. Karla não é apenas a epítome da elegância dos negócios em seu
terninho branco, salto agulha de couro envernizado e bolsa combinando, mas ela
sabe que estou mentindo. Ela não tem absolutamente nenhuma pintura em sua
pessoa, sua maquiagem é perfeita e ela provavelmente raspou as pernas esta
manhã, embora esteja de calça. Quem faz isso?
— Pode ser — Eu aceno, tentando parecer casual.
Conor ainda está sorrindo. Mas então, seu olhar se eleva quando ele se
concentra em algo atrás de mim.
Minha pintura.
Meus pulmões se contraem e, por um momento, esqueço minha aparente
determinação de sempre me envergonhar. Eu me viro para ver meu trabalho
através dos olhos de Conor.
Sabe aquela coisa que os homens fazem quando veem uma Ferrari ou uma
lancha sofisticada? Onde eles circulam o objeto lentamente, quase com
reverência, inclinando a cabeça para olhar para ele de todos os ângulos,
estudando-o como se fosse a oitava maravilha do mundo?
É isso que Conor faz com minha pintura.
Conforme ele se aproxima da tela, percebo que estou prendendo a respiração,
esperando sua reação. Também percebo como a reação dele é importante para
mim. E, no entanto, uma sensação quente e difusa se acumula em meu estômago
e se espalha por todo o meu corpo. Ninguém jamais deu esse tipo de consideração
à minha arte antes.
Johnny mal olhou para minhas pinturas. Meus pais achavam que meus
sonhos de ser artista eram apenas isso – sonhos.
Mas, Conor está olhando para o meu trabalho como se isso significasse algo.
Como se importasse.
— Jess — ele finalmente diz, olhando para mim. Minha respiração fica presa
quando vejo o fogo naqueles olhos verdes. — Isto está incrível.
— Você acha? — Não sei para onde olhar, então fico olhando para o chão.
Não estou acostumada a receber esse tipo de elogio.
Conor dá mais um passo em minha direção. E outro. Calor arrepia minha
nuca com sua proximidade. Mas, desta vez, não recuo.
— Jess — ele diz novamente. Sua voz é baixa. — Olhe para mim.
Lentamente, inclino minha cabeça para encontrar seu olhar esmeralda. Cada
nervo do meu corpo chia enquanto olhamos um para o outro.
— É fantástico — diz ele gravemente, seus olhos sinceros. — Quero dizer isso.
Demoro um momento para aceitar que ele está falando sério. Realmente sério.
Ele não está tentando me agradar ou me fazer sentir melhor – ele realmente
gostou.
Meu coração dispara.
— Eu fico feliz. — Minha voz é tão gutural que parece que engoli um enxame
de abelhas.
Há um momento de peso entre nós – um momento de antecipação dolorosa
que me tira o fôlego. É um pouco como o momento na piscina em que ele (talvez)
quase me beijou. Não, parece muito com aquele momento.
Meu corpo vibra e meu cérebro sai pela janela. Minha conversa com Courtney
de repente desaparece muito, muito longe no esquecimento. Agora, posso
acreditar que Conor pode querer me beijar. Agora, tudo que estou ciente é a
intensa atração que sinto por ele.
Não só pelo magnetismo que ele projeta, mas porque, de alguma forma e sem
razão aparente, ele acredita em mim. Parece ver algo em mim que alimenta
minha alma.
Acho que ele deve sentir isso também, porque, ainda olhando nos meus olhos,
ele toca o canto do lábio inferior com a mão.
— Você tem um pouco… — ele murmura, então ele se inclina para frente.
Move a mesma mão em direção ao meu rosto.
E meu coração para.
O tempo para.
Tudo para quando ele passa a ponta do polegar na minha boca. Eletricidade
faísca em meus lábios com seu toque. Eu inalo profundamente e suas pupilas
dilatam.
Seu rosto está a apenas alguns centímetros do meu e sinto minha respiração
acelerar.
Ele vai…
— Tinta no rosto! — O grito de Karla termina a frase de Conor, matando o
momento. E por um momento, eu quero assassiná-la também.
Nós giramos e Conor puxa a mão para trás, piscando como se tivesse acabado
de se lembrar de onde está. Ele respira trêmulo.
— Sim. Você tinha um pouco de tinta no queixo.
— Também está no seu cabelo — acrescenta Karla.
Eu relutantemente movo meus olhos em direção a Karla e, acima de seu
sorriso oh-tão-útil, ela está me lançando adagas, seus olhos estreitos e frios.
A tensão no ar é mais densa do que o melaço. E de repente estou desesperada
para sair desta situação complicada.
Agora.
— Oh, que boba eu — Minha risada nervosa me faz parecer uma colegial. E
não o tipo de colegial Hit Me Baby One More Time . Mais como uma adolescente
fanática por Justin Bieber. — É melhor eu ir me lavar.
Os olhos de adaga de Karla nunca deixam os meus enquanto ela passa um
braço possessivo ao redor do bíceps de Conor e o aperta.
— É melhor irmos de qualquer maneira ou vamos nos atrasar — ela me lança
um sorriso falso de desculpas. — Desculpe, temos que voar, telefonemas de
negócios. Conor não terá nenhuma casa para reformar se ficarmos parados e
conversando o dia todo. Você sabe como é.
Eu não sei como é. E tenho certeza que ela está ciente disso.
A julgar pelo brilho em seus olhos, ela também sabe que fez um ótimo
trabalho em me fazer sentir pequena e sem importância. Apenas uma idiota tonta
e respingada de tinta em um maiô enrugado ao lado de uma mulher de negócios
esguia, bonita e bem-sucedida em um terninho.
Isso parece desconfortavelmente familiar...
A mão de Karla ainda está enrolada no braço de Conor e eu quero afastá-la.
Até que eu viro meus olhos para ele.
Porque, apesar do fato de que Karla tem a vantagem em todos os sentidos
agora – tanto física quanto metaforicamente – ele está olhando para mim.
Atentamente.
— Te vejo mais tarde, Jess — Conor diz em uma voz que envia arrepios na
minha espinha e me faz querer começar a contar os minutos até que “mais tarde”
chegue.
18

CONOR

Estamos na metade do caminho para o carro quando mudo de ideia.


— Quer saber, Karla?
Ela se vira, inclina a cabeça.
— Hmm? — Ela balança as chaves do carro na mão, sem realmente ouvir.
Eu estendo a papelada para ela.
— Não acho que preciso ver as novas listagens.
A testa de Karla se enruga em uma carranca profunda. De repente, ela está
prestando atenção.
— O que? Por quê?
Porque eu trabalho demais do jeito que está. Não preciso de mais projetos
com que me preocupar.
Porque Jess está no quintal agora, coberta de tinta, e contra todos os meus
melhores instintos, a única coisa que quero fazer agora é me juntar a ela.
Porque cansei de tentar ficar longe dela.
Eu encolho os ombros, tentando o meu melhor para soar casual.
— Eu quero desacelerar um pouco, tirar alguns projetos da minha mesa antes
de assumir qualquer coisa nova. Além disso, tive uma ideia para a decoração em
Decatur.
Não é mentira. Agora que vi a arte que Jess cria, tive a melhor ideia do mundo
para a visitação pública. E, eu não quero perder mais um segundo.
Karla me olha com ceticismo.
— O que é essa grande ideia?
— É uma… surpresa.
— Odeio surpresas — Karla franze os lábios e respira fundo entre os dentes.
— Que tal irmos para o seu depósito juntos mais tarde? Também posso ajudar na
decoração.
Meus pensamentos disparam.
— Eu prefiro ir sozinho porque, hum... sua roupa vai ficar suja?
Eu sei que sou uma pessoa terrível e um grande mentiroso para começo de
conversa, mas não sou burro. Pelo menos, não idiota o suficiente para contar a
Karla meu plano real. Além disso, se alguma coisa vai dar motivo para Karla
parar, é a ideia de sujar suas roupas de grife.
Karla hesita por um momento, passando de um salto para o outro enquanto
avalia seu terninho branco.
— Ok…
— Ok, está resolvido então — Eu forço um sorriso brilhante e inocente.
Sim, terrível. Mas agora, eu não me importo. Só quero voltar para o quintal.
De volta para Jess.
O rosto de Karla se contrai, mas ela não discute. Ela cambaleou para o carro
com um pouco de raiva, me olhando por cima do ombro. Eu ando em direção à
minha caminhonete e sacudo as chaves na minha mão. Mas, no segundo que
Karla puxa para fora de sua vaga de estacionamento, eu me viro.
Volto para dentro de casa.
Posso ver Jess pelas portas do pátio. Ela ainda está no quintal, a poucos metros
de sua pintura. Ela a encara atentamente, como se isso fosse revelar todos os
segredos do universo se ela estudasse com atenção.
E eu não consigo tirar meus olhos dela, causando uma espécie estranha que
parece uma cena de A Origem, mas com olhar fixo.
O que está acontecendo por trás daqueles olhos de trufa de chocolate dela?
Já se passou quase uma semana desde que levei Jess para minha casa. Quase
uma semana desde que cheguei tão perto de beijá-la na piscina e, efetivamente,
rasgar em pedaços minha promessa de não ser nada além de amigável com ela.
Quase não nos vimos desde então – uma combinação de minha agenda de
trabalho ocupada e o fato de que tenho tentado colocar alguma distância entre
nós.
Eu precisei. Porque eu sei que, da próxima vez, não vou conseguir me
controlar. Não terei força para parar de reivindicar aqueles lindos lábios.
Então, em vez disso, canalizei todo o meu autocontrole para ser o melhor
amigo que poderia ser para Jess – o que significava ficar o mais longe possível
dela. O que não é fácil quando a pessoa de quem você está tentando evitar dorme
no quarto ao lado.
Mas meu plano estava funcionando. Ou, pelo menos, pensei que estava.
E então, eu a vi no quintal hoje. Vestindo aquele maiô ridículo que parecia ter
sido feito para as muito, muito idosas... Não que isso fizesse alguma coisa para
esconder suas curvas incríveis. Minha única reclamação real era que a vestimenta
monstruosa cobria muito de sua pele bronzeada e sardenta. Seu cabelo, mãos e
braços estavam listrados em um arco-íris de tinta, e quando ela se virou para
mim, com os olhos arregalados e a boca aberta, uma mancha de tinta adornando
seu lábio inferior, toda a minha determinação de aço se dissipou em nada.
Puf! Foi embora.
Como se eu tivesse usado uma borracha mágica7 nela.
E agora, de repente, tenho um novo plano. Bem, chamar isso de "plano" é um
pouco forçado. Basicamente, decidi que não posso mais ficar longe de Jess. Seja
o que for que haja entre nós, vale a pena qualquer risco que possa acarretar para
descobrir. Porque quando se trata de Jess, eu percebi que sou praticamente
impotente para me conter. O que significa que meu cuidadoso programa de
proteção de cinco etapas foi substituído por uma única resolução: jogue o
cuidado ao vento e deixe as fichas caírem onde podem.
Abro as portas francesas e vou para o pátio.
— Jess?
Ela sai de seu estado de estátua e se vira.
— Conor? — Um sorriso delicioso surge em seus lábios e eu sou um caso
perdido. Me lembra por que eu estava tentando ficar longe dela de novo? Jess
inclina a cabeça. — Você se esqueceu de algo?

7 Borracha mágica: ferramenta Magic Eraser do Photoshop.


— Sim — Eu concordo. — Você.
Seus olhos se arregalam um pouco, o líquido castanho mais escuro do que o
normal, como um café expresso fresco. Sua boca está ligeiramente aberta e, após
um longo momento, seus cílios caem, abanando suas bochechas enquanto ela
desvia o olhar para baixo.
O calor borbulha em meu peito e meu novo plano de jogo de repente parece
um vencedor.
— E quanto a Karla e as novas listagens? — Jess resmunga, mas algo que
parece esperança toma conta de sua expressão.
— Esqueça Karla — Eu balanço minha cabeça, querendo manter a conversa
em Jess. — Para que é este quadro?
— Estava pensando em pendurá-la na sala de estar, naquele lugar vazio acima
do sofá — Jess diz baixinho, torcendo as mãos no tecido desalinhado daquele
maiô horrível. — Eu queria agradecer a Aiden por me deixar ficar aqui, e eu não
tinha exatamente os recursos para comprar algo bom para ele. Então... — ela
gesticula desajeitadamente em direção à pintura, depois ri secamente. — É
estúpido.
— Sua pintura é muito melhor do que qualquer coisa que você possa comprar
— eu digo sério, com sinceridade em cada palavra.
Jess brinca com a tampa de um tubo de tinta, mordendo o lábio inferior.
Observo suas mãos, pequenas e delicadas, as pontas dos dedos torcendo para
frente e para trás. Eu me pergunto como seriam aqueles dedos emaranhados no
meu cabelo, descendo pelos meus braços...
Eu respiro fundo.
— Jess, eu tenho uma ideia. Posso te mostrar?
Ela faz uma pausa por um momento. Então, ela acena com a cabeça.

Vinte e seis minutos depois (sim, eu cronometrei ela novamente), estou dirigindo
minha caminhonete para o meu depósito com uma Jess recém-banhada e sem
tinta no banco do passageiro. A cabine da caminhonete se enche com o cheiro
inebriante de sabonete cítrico e xampu, misturado com sua pele quente e úmida
– ela cheira muito melhor do que qualquer perfume chique.
Ela usa shorts jeans, chinelos e uma camiseta listrada em preto e branco, e seu
cabelo fica solto e úmido em volta dos seus ombros. Ela está usando seus óculos
sensuais de aro grosso de novo, e todo o visual me faz querer dirigir para algum
lugar privado para estacionar como se fôssemos adolescentes.
Mas, Jess merece muito melhor do que isso.
Nós paramos no depósito, e ela me segue até a unidade de armazenamento
da Brady Homes. Eu destranco a porta da garagem e deslizo para abri-la.
Jess solta um grito e eu deslizo um olhar de soslaio em sua direção. Ela coloca
as mãos nas bochechas em puro deleite enquanto olha para dentro.
— Isso é TÃO legal. Como aquele show do Storage Wars! — Ela se vira para
mim, toda branca, com dentes sorridentes e olhos brilhantes. Karla odeia vir aqui
– empoeirado demais – e estou apaixonado por ver o quanto Jess gosta disso.
Eu rio.
— Eu comprei um armário de armazenamento uma vez, como você vê
naquele programa.
— Você fez?
— Sim, parecia que havia alguns sofás bons lá. Mas, acontece que eles estavam
apenas escondendo um cultivo de maconha. Tivemos que entregar tudo à polícia.
Os olhos de Jess são como pires.
— Isso é uma loucura! Melhor do que qualquer coisa que vi acontecer no
programa.
— Na verdade não... eles nem me deixaram ficar com meus novos sofás!
Jess ri enquanto ela pula para dentro. Ela corre o dedo indicador sobre a borda
de uma penteadeira de mogno vintage, em seguida, coloca a palma da mão na
cabeceira da cama king size acolchoada.
— Onde você conseguiu tudo isso?
— Há anos que coleciono móveis. De vendas de garagem, leilões, brechós,
vendas de imóveis – você escolhe. Mia me ajuda, ela adora essas coisas.
Foi uma das minhas melhores ideias – uma que não só tem sido muito
divertida, mas também me salvou uma fortuna em decoração ao longo dos anos.
E Mia tem sido inestimável quando se trata de estilizar as peças velhas e baratas
para ficarem bem em minhas casas.
— Então, qual é a sua ideia? — Jess pergunta agora.
Eu coloco uma mão gentil em seu ombro macio e a viro em direção à parede
direita, onde a coleção de arte está reunida. E eu digo "arte" com uma pitada de
sal.
— Olhe esses — Eu aponto na direção das telas envoltas em plástico. — Me
diga o que você acha.
Jess leva alguns minutos para estudar a mistura de arte de linha geométrica,
tigelas de frutas, gravuras de praias sem nome e genéricas e paisagens urbanas
em preto e branco.
Ela faz uma pausa realmente longa, então olha para mim.
— Hmm…
— Você gosta deles? — Eu empurro.
— Bem, eu... hum, sim.
— Mentirosa — eu digo baixinho, e dou um passo em sua direção. Arrepios
apimentam sua pele enquanto eu me aproximo e aproveito cada segundo de seu
desconforto.
— Eu, uh…
— Você não gosta deles? — Repito sério.
Seus olhos estão arregalados e sua boca se contrai abrindo e fechando. Ela
olha ao redor, olhando para qualquer lugar, menos para mim. Então, ela parece
ceder, balançando a cabeça. Ela enfia uma mecha de cabelo atrás da orelha,
fazendo seu brinco brilhar ao captar a luz.
— Desculpe, eu não quero ser esnobe. É apenas…
Não consigo segurar minha expressão por mais um momento e começo a rir.
Sua boca se abre e ela dá um soco no meu braço. Forte.
— Seu otário! — Ela grita. Me bate de novo.
Eu circulo meus dedos em torno de seu pulso delicado, segurando-o entre o
polegar e o indicador para parar seu ataque.
— Me desculpe, me desculpe — Eu libero meu aperto em seu pulso e envolvo
minha mão em torno da dela. — Eu não pude resistir.
— Isso foi maldoso — Ela faz beicinho, mas mantém a mão na minha. É tão
perfeita ali, pequena e quente em minhas mãos. Eu aperto meus dedos com um
toque e sou recompensado por senti-la estremecer.
— O que eu estava tentando chegar é que colecionar pinturas legais e tal para
decorar tem sido difícil. Arte é uma coisa muito pessoal, e um espaço precisa
mostrar a arte que está nele… enquanto toda a arte que temos apenas preenche
espaços nas paredes. Não acrescenta nada.
— Você quer que eu te ajude a encontrar uma nova arte? — Jess pergunta, e
eu quase rio de sua expressão fofa.
— Não, boba. Eu quero que você faça algo novo. Encha a casa Decatur com
suas pinturas, sua visão. Dessa forma, você pode escolher peças de decoração que
farão sua arte se destacar. Essa casa precisa de algo especial, Jess. E sua arte é
especial.
Ela estremece de novo e eu resisto à vontade de envolvê-la em meus braços.
Um passo de cada vez.
— Vou pagar um extra — acrescento.
— Eu não sei, Conor — Ela franze a testa. Morde o lábio inferior novamente.
— E se os compradores em potencial odiarem?
— Eles não vão — Eu sorrio para ela. — Sua pintura me surpreendeu, eu não
tinha ideia de como você é talentosa.
Seus olhos procuram meu rosto atentamente, como se ela estivesse
procurando por sinais de sarcasmo.
Eu franzo a testa quando algo se encaixa no lugar. Meus olhos examinam seu
rosto.
— Ninguém nunca te disse o quão talentosa você é?
Ela estremece. Remove sua mão da minha e afunda em um sofá de veludo
laranja particularmente vistoso. Sua mandíbula aperta e tenho a impressão de
que ela tem algo a dizer.
Eu me sento ao lado dela. Espero pacientemente, dando-lhe tempo para falar
se ela quiser.
— Aiden sempre me diz o quanto gosta da minha arte. Para ser justa, ele tem
que fazer isso, ele é meu irmão — ela começa lentamente, e então sorri com o
pensamento. Eu amo o quão próximos eles são – assim como Mia e eu. Então, seu
rosto escurece. — Mas, Johnny... Bem, Johnny costumava agir como se estivesse
me dando indulgência, como se fosse um hobby idiota que não levaria a lugar
nenhum.
Ela encara suas mãos, seus ombros caídos, e meu coração realmente dói ao
vê-la assim. Ela enfia uma mecha de cabelo atrás da orelha e continua.
— Acho que, com o tempo, as palavras dele começaram a penetrar e eu
comecei a acreditar nelas também. Comecei a acreditar que estava perdendo meu
tempo. Que havia coisas melhores para eu fazer...
Ela para de falar e eu não posso mais evitar. Eu chego mais perto e olho
diretamente em seus olhos. Eu empurro aquela mesma mecha de cabelo para trás
de seu rosto, deixando meus dedos permanecerem em sua têmpora. Seu pulso
salta sob o meu toque, e eu engulo em seco antes que possa dizer minhas
próximas palavras.
— Jess, acredite em mim, você não está perdendo tempo pintando. Você tem
verdadeiro talento. Johnny é um idiota por não ver isso.
— Obrigada — ela diz, mas não tira os olhos das mãos.
Eu inclino suavemente seu queixo para que seus olhos encontrem os meus.
— Quero dizer isso. Eu quero que seu trabalho artístico lidere a decoração.
Pinte o que quiser e escolha os móveis e a decoração que vão funcionar com a sua
visão.
Seu olhar fica ansioso e preocupado.
— Eu sei o quanto o seu trabalho significa para você, no entanto. Tem certeza
de que confia em mim para fazer isso?
Eu sorrio, nem mesmo tendo que considerar minhas palavras. Eles são
simplesmente a verdade.
— Eu confiaria a você em qualquer coisa.
Ela sorri fracamente em resposta.
— Por que você é tão legal?
— Eu nasci assim.
Ela me empurra. Mas, seu sorriso se alarga em um sorriso verdadeiro.
— Ok — diz ela lentamente. Então, ela pula de pé. Acena com a cabeça. —
Vamos fazer isso.
Jess passa a próxima hora examinando móveis, coleções de vasos e vários
vasos de plantas. Ela vasculha caixas de cortinas, roupas de cama e mantas. E,
conforme ela toca couro, madeira e algodão, é como se ela pudesse de alguma
forma invocar ideias de suas texturas. Ela se ilumina, com o rosto brilhando,
sempre que encontra algo de que gosta.
É incrível vê-la se mover pelo espaço. Fico cativado enquanto ela tagarela,
pensando em voz alta. Ela descreve como pode combinar certos itens para fazer
uma combinação, como ela imagina uma aconchegante sala de estar moderna de
meados do século, uma cozinha onde tudo se baseia em mostrar a luz natural do
sol que preenche o ambiente. Nunca a vi falar tanto, nunca a vi vibrar com tanta
vida e vigor.
Eu me agarro a cada palavra dela, entrando em sua visão ao lado dela. Se eu
fechar meus olhos, quase posso fingir que não estamos trabalhando em uma
reforma, mas comprando a casa real que possuo.
E, pela primeira vez, começo a imaginar minha casa realmente parecendo um
lar. Isso é parte do que torna Jess tão bonita – ela tem a incrível capacidade de
trazer calor, vida e emoção para algo tão mundano como comprar móveis. Ela
torna possível imaginar um lar.
Percebo com um choque que vou sentir falta da presença dela mais do que
qualquer coisa quando sair da casa de Aiden. Não vou mais vê-la de manhã, com
os cabelos desgrenhados na cabeça e com seus óculos. Não vou mais sentar ao
lado dela no sofá à meia-noite, nossas mãos se esfregando enquanto comemos
pipoca.
Se eu sei que uma coisa é verdade, é que quero continuar vivendo esses
momentos com ela.
— Conor? — Jess olha para mim, a cabeça curvada e a diversão dançando em
suas feições.
Eu pisco, voltando para a terra.
— Desculpe, eu perdi o que você disse.
— Você estava muito, muito longe lá por um minuto — Jess ri.
Eu nunca quero ficar longe de Jess. Quero estar com Jess, o mais próximo
possível, o tempo todo. Mas, se quero fazer isso com ela, preciso fazer direito.
Começando agora.
— Está com fome? — Eu deixo escapar.
Ela franze a testa.
— Claro... você quer ir para casa, então?
De jeito nenhum.
— Eu estava pensando que poderíamos comer alguma coisa.
As sobrancelhas de Jess se enrugam.
— Tipo, em um restaurante?
— É geralmente onde as pessoas vão comer, sim.
— Eu e você? — Jess se atrapalha, parecendo adoravelmente incerta. Mas
aqueles olhos arregalados não estão apenas nervosos, eu também vejo uma
pitada de... desejo.
E, nesse olhar, eu sei. Ela me quer também.
Eu sorrio lentamente.
— Jessica Shaw, você gostaria de jantar comigo?
Ela exala tremulamente.
— Sim.
— É um encontro.
19

JESS

Código vermelho. CÓDIGO VERMELHO.


Isso não é um treinamento. Repito, NÃO é um treinamento.
Conor Brady e eu estamos em um ENCONTRO DE VERDADE.
Em um restaurante de verdade. Com mesas e comida e vinho e... oh meu
Deus, cale a boca!
Meus nervos estão em alerta máximo e a eletricidade percorre meu corpo.
Estamos sentados no pátio de um belo restaurante em uma cobertura, decorado
com dosséis macios e ondulados, cabines íntimas e uma rica variedade de
trepadeiras e hera. Há até uma fonte de água!
Parece algo saído de alguma prestigiada revista “Os melhores telhados do
mundo” (se é que existe tal coisa), mas o clima descontraído garante que não seja
pretensioso ou forçado. Não me sinto como um polegar machucado no meu short
e na minha combinação de camiseta.
Johnny nunca me levou a nenhum lugar assim – ele preferia os tipos de
lugares chiques que se esforçam demais. Você sabe, aqueles que sempre têm
molho de espinafre caro e toneladas de painéis de madeira escura.
Conor sorri suavemente para mim, seus traços ainda mais esculpidos sob as
luzes decorativas cintilantes. Eu me sinto como se estivesse em "Sonho de Uma
Noite de Verão". Embora espero que eu não seja aquele personagem que acaba
se transformando em um burro.
— Você gostou daqui?
Eu aceno, sem fôlego.
— Eu amei.
Estou prestes a perguntar como ele descobriu esta joia escondida, mas então,
eu me lembro com quem estou tendo um encontro. É claro que Conor conhece o
melhor local para encontros em toda Atlanta.
— Você traz muitas garotas aqui, então? — Eu deixo escapar.
Conor reage surpreendentemente bem à minha total falta de graça e ri, os
olhos esmeralda brilhando.
— Não. Nunca trouxe ninguém aqui. A menos que você conte Mia. O que
seria estranho – então, por favor, não faça isso.
Eu mordo meu lábio para conter um sorriso.
— Por que não?
Ele encolhe os ombros.
— Este lugar é especial para mim.
Especial. Meu coração acelera, saltando em volta do meu peito como um
coelho desonesto. Ele me levou a um lugar especial.
— Como assim? — Eu apoio meu cotovelo na mesa e descanso meu queixo
casualmente na minha mão em concha.
Conor gira a água em torno de seu copo, franzindo a testa. Ele faz uma pausa
por um momento e eu o observo atentamente. Ocorreu-me que poderia observar
seu rosto por horas, escolher os pequenos detalhes e fazer uma lista deles.
Então, ele suspira.
— Meus pais passaram por um divórcio muito ruim quando eu estava no
colégio. Minha mãe nos mudou para Atlanta, e moramos em um pequeno
apartamento em um bairro de baixa qualidade.
Eu me recosto na cadeira. Essa não era a resposta que eu esperava.
— Eu não sabia que você não era daqui.
— Estou aqui há tempo suficiente para que pareça que sou.
— De onde você se mudou?
— Durham.
Eu aceno lentamente e continuo a observar Conor. Ele ainda está girando o
líquido em torno de seu copo.
— Então, como você encontrou este lugar? — Eu pergunto gentilmente.
— Mamãe trabalhava à noite, então ela não ficava muito por perto. Na época,
eu estava na décima série e Mia na oitava. Ela estava passando por dificuldades
em sua nova escola, tinha dificuldade em se adaptar. Tantas noites, ela voltava
para casa triste e não havia nada que eu pudesse fazer para fazê-la se sentir
melhor. O ensino fundamental era separado do ensino médio, então eu não podia
nem almoçar com ela.
Conor respira fundo, sua carranca escurecendo. Estou em silêncio, apenas
olhando para ele.
— Eu pegava ela depois da escola — ele continua. — E íamos para o centro
da cidade e passávamos horas caminhando, explorando. Sempre parecia tão
brilhante e sofisticado em comparação com o lugar onde morávamos. Por
algumas horas, poderíamos esquecer os problemas de nossas vidas reais.
Especialmente depois que nós tropeçamos neste lugar. O proprietário costumava
nos deixar sentar no canto dos fundos. Ele fazia milkshakes de baunilha para nós
e fazíamos nosso dever de casa.
Minha respiração fica presa e meu coração se expande um pouco mais por
Conor. A cada momento que passo com ele – cada pequena coisa que aprendo
sobre ele – meu coração abre espaço para ele. O quer mais.
Antes que eu possa responder, porém, nosso garçom tatuado aparece ao
nosso lado e enche nossos copos de água.
— Posso pegar mais alguma coisa para vocês dois beberem?
— Nós vamos querer dois milkshakes de baunilha — eu digo decisivamente.
O garçom olha entre mim e Conor e um lampejo de confusão cruza seu rosto.
Eu apenas o encaro de volta, como se dissesse – isso mesmo, somos dois adultos
de trinta e poucos anos e queremos beber milkshakes.
Ele se recupera rápido o suficiente e anota nosso pedido.
— Uh-claro. É pra já.
Quando volto para Conor, ele está sorrindo.
— Onde sua mãe mora agora? — Eu pergunto, desviando um pouco o
assunto. Tenho certeza de que ele não quer minha pena.
Ele parece sonhador por um momento.
— A primeira casa que fiz foi para ela. Ela não gostava de morar na cidade
grande, então comprei uma casa de campo em um subúrbio distante e a
transformei na casa que ela sempre quis.
Meu coração geme com a nova estria que aparece após esse comentário.
— Ela deve estar tão orgulhosa de você.
— Ela e Mia são o meu mundo.
Eu aceno, entendendo. Porque é como sempre me sinto em relação a Aiden.
Eu sorrio e me inclino para frente, feliz por aprender tanto sobre o passado
de Conor e faminta por mais. Com fome de saber tudo sobre ele.
— Então, foi aí que a Brady Homes começou. Como você acabou fazendo sua
empresa crescer até o ponto que está hoje?
Conor pega seu guardanapo e passa o material entre os dedos.
— Conheci Karla enquanto fazia aquela primeira reforma – ela era a corretora
de imóveis que vendia o chalé. Começamos a conversar e contei a ela sobre minha
visão. Ela queria dar mais um passo em sua carreira e, com seu conhecimento de
mercado, fazia sentido nos associar e utilizá-la em todos os projetos. Bem,
naquela época fazia sentido.
Eu vou admitir que a pirralha egoísta dentro de mim fez uma dança feliz com
o uso do tempo passado.
Jess feia.
— O que mudou?
— As prioridades de Karla são um pouco diferentes das minhas às vezes —
Uma sombra cruza as feições de Conor. — Eu me importo muito com restauração,
Karla mais com... outras coisas. Ela acha que eu deveria aceitar investidores,
mas…
— Dois milkshakes de baunilha! — O garçom interrompe alegremente,
colocando dois copos enormes praticamente transbordando de um líquido
branco cremoso e chantilly — Estarei de volta em breve para pegar seu pedido
de comida.
— Obrigada — Aceito a guloseima e agito o canudo no copo antes de tomar
um grande gole. É delicioso… abundante, espumoso e doce. — Mmm.
Abro os olhos para ver Conor me observando, seus olhos semicerrados e
brilhando.
— Bom?
— Tão bom. — Limpo minha boca com as costas da mão — Por que você não
trabalha com outro corretor de imóveis se não gosta da direção que Karla está
sugerindo?
— Eu não sei — A carranca de Conor se aprofunda enquanto ele envolve os
dedos ao redor do vidro gelado. — Karla e eu trabalhamos juntos há anos. Ela
tem sido uma conselheira, mas desta vez, não tenho certeza se quero seguir o
conselho dela.
— Eu amo que você se preocupe com a restauração. E as pessoas apreciam o
cuidado que você dedica às coisas, eu sei que elas apreciam — Eu digo com mais
paixão do que pretendo. — Foi a primeira coisa que notei quando entrei na casa
de Aiden. Você realmente conseguiu preservar o caráter do lugar.
Conor sorri, seus lábios se separando ligeiramente. Então, sem aviso, ele
estende a mão sobre a mesa para pegar minha mão. As pontas de seus dedos
estão geladas de onde seguraram seu copo, e um arrepio percorre todo o caminho
até meu braço. O tipo bom de estremecimento. O tipo que faz os pelos da nuca se
arrepiarem e o estômago despencar em queda livre.
Ele me olha com tanta intensidade, tanta sinceridade, que minha respiração
fica presa.
— Jess — Sua voz é baixa. — Por que você não acredita em si mesma como
acredita nas outras pessoas?
Meu sorriso desaparece enquanto eu me perco em seus olhos.
— Hmm?
Ele se inclina mais perto, tão perto que posso sentir o calor irradiando de sua
pele. Sentir aquele cheiro de pinho e roupa limpa que me faz querer saltar sobre
ele como um tigre faminto em um bife cru.
— Você não acredita em si mesma, mas acredita em todos os outros — ele
repete, e eu fico hipnotizada observando seus lábios se movendo em torno das
palavras. — Você deveria estar pensando em como você poderia começar seu
próprio negócio vendendo a sua arte. Você poderia ser tão bem sucedida.
Suas palavras afundam e eu mexo na minha cadeira, rindo nervosamente.
Como é que este homem – um verdadeiro estranho até duas semanas atrás – pode
ver dentro de mim os meus desejos mais profundos, maiores medos e dúvidas
mais fortes? Ele parece me conhecer de uma maneira que meu namorado de seis
anos nunca começou a descobrir.
Conor espera por mim pacientemente, seus olhos examinando meu rosto.
— Oh, eu não sei — Eu finalmente hesito, desconfortável.
— Você deveria — O tom de Conor é firme, como se ele estivesse afirmando
um fato bem conhecido.
E talvez seja a confiança em seu tom, sua crença clara em mim ou a corrida do
açúcar que se aproxima, mas pela primeira vez em anos, começo a entreter o
pensamento de que talvez eu realmente queira prosseguir com a pintura. Sério.
O pensamento é fugaz e é rapidamente seguido por camadas de dúvidas e
incertezas. Mas as palavras de Conor acendem um fogo em mim que não tenho
certeza se apagará tão cedo.
Passamos horas naquele telhado, como ele e Mia faziam todos os dias depois
da escola. Nós conversamos, rimos e compartilhamos nossas esperanças e sonhos
como se nos conhecêssemos desde sempre, mas querendo passar a eternidade
nos conhecendo melhor. No final da noite, eu não tomei um único gole de álcool
– preferindo um segundo milkshake em vez de uma taça de vinho – mas estou
bem e verdadeiramente bêbada de Conor Brady.
Saímos com relutância quando o restaurante fecha para a noite, e durante
todo o caminho para casa, ficamos em silêncio. Meu pulso martela na minha
garganta e eu continuo roubando olhares para Conor. Às vezes, pegando ele no
ato de roubar olhares para mim.
Nunca estive em um primeiro encontro tão perfeito.
Mas, eu também nunca estive em um primeiro encontro em que nosso destino
final seja a MESMA CASA. Onde a pessoa com quem estou no referido encontro
mora no PRÓXIMO QUARTO.
O ar na cabine da caminhonete está crepitante, cheia de estática, e minha
cabeça gira.
Quando chegamos em casa, minhas entranhas estão em choque. Eu salto para
fora da caminhonete muito rápido, quase caindo de cara na calçada.
Conor está ao meu lado em um instante. Ele estende o braço para me firmar.
— Uau.
— Eu bebi muito — eu brinco fracamente.
Ele ri.
— Milkshakes de baunilha têm esse efeito em você com frequência?
— O que posso dizer? Eu sou um peso leve.
— Nesse caso, você fica fofa quando bebe demais — Conor sorri.
Caminhamos pelo – nosso – caminho juntos, sua mão no meu braço, e eu juro
que vejo as cortinas se movendo na janela da Senhorita-ocupadíssima-ao-lado.
Tenho certeza de que meu telefone vai começar a explodir a qualquer minuto,
Courtney está me enviando mensagens de texto loucamente para saber o que está
acontecendo entre Conor e eu agora.
O que provavelmente não é nada. Nada vai acontecer.
Mas, independentemente disso, pretendo mantê-la adivinhando até amanhã,
pelo menos. Serve para ela por aquelas suposições perversas que sei que ela está
fazendo.
Porque nada está acontecendo.
Certo?
Conor abre a porta da frente e faz um gesto para que eu entre.
— Depois de você.
Ficamos na entrada olhando um para o outro. Ele está perto o suficiente para
que eu possa sentir o cheiro limpo de sua camisa. Perto o suficiente para que eu
possa ouvi-lo respirar. Perto o suficiente para ter certeza de que ele pode
literalmente ver meu coração batendo forte através da minha camiseta.
Cada centímetro da minha pele está implorando para ser tocada por ele. Tanto
que estou quase reconsiderando minha postura contra uma situação de colegas-
de-quarto-com-benefícios.
Não!
Jess FEIA.
— Então, normalmente, eu acompanho uma garota até a porta da frente dela
depois de um primeiro encontro — Conor me lança um sorriso torto e sexy e eu
poderia jurar que meus ovários gritam alto para mim. — Mas, como nós dois
moramos do outro lado da porta da frente, talvez eu possa acompanhá-la até a
porta do seu quarto.
OH MEU DEUS. É isso. Ele vai dar em cima de mim, e eu estarei impotente
para seus encantos.
Ele estende a mão em minha direção e eu pulo com antecipação. Então, eu
percebo que ele está indicando para eu segurar sua mão. Eu rio um pouco alto
demais, abalada, mas ele continua sorrindo aquele sorriso divertido e sexy.
Caminhamos pelo corredor. Lentamente.
Minha mente está acelerada. Como posso dizer a ele que não gosto de coisas
casuais? Que eu não sou aquela garota? Que... talvez ele goste de um tipo de
garota muito diferente de mim.
Antes que eu possa deixar escapar qualquer um dos meus pensamentos
confusos, chegamos à porta do quarto de Aiden (sim, ainda estou dormindo lá).
Conor me encara e gentilmente desembaraça sua mão da minha.
— Eu me diverti muito esta noite.
— Você também — Eu coloco a mão sobre minha boca. — Uh, quero dizer,
hum…eu também.
— Boa noite, Jess — Conor dá um meio sorriso e se inclina para a frente.
Minha mente fica vazia de desejo. Não quero nada mais no mundo do que ele me
beijar agora.
E é isso.
Finalmente está acontecendo.
Meu pulso acelera e minha pele fica vermelha.
Ele roça seus lábios contra os meus por um segundo, de parar o coração. O
fogo arde pelo meu corpo com a sensação de sua boca na minha.
Mas, em vez do beijo profundo e apaixonado que construí na minha cabeça –
onde o agarro e o puxo para mais perto – ele dá um passo para trás. Sorri com
conhecimento de causa, como se pudesse ouvir cada um dos meus pensamentos
constrangedores. Então, ele se vira e sai, fechando a porta do quarto atrás de si.
Deixando-me sozinho no corredor, atordoada e desejando mais.
Eu tropeço para o quarto de Aiden, estrelas e borboletas girando em um halo
em volta da minha cabeça. Meu corpo inteiro parece gelatina. Eu toco meus dedos
em meus lábios, repetindo o beijo dolorosamente curto.
Eu quero mais. Mais beijos. Mais tempo com Conor. Mais tudo com Conor.
Mas, ele me respeitou o suficiente para me tratar como uma princesa no
primeiro encontro – do lindo restaurante, à conversa íntima, ao beijo mais casto
e cavalheiresco. Um beijo que durou apenas uma fração de segundo, mas de
alguma forma pareceu mais sensual do que uma sessão de amasso quente.
É assim que meu ser responde a Conor Brady, aparentemente. É diferente de
tudo que experimentei com qualquer outro homem. E, parece que o cara doce,
sensível e sexy por quem estou me apaixonando não é o pegador que pensei que
ele fosse.
Porque é verdade, estou totalmente apaixonada por Conor Brady. Anzol,
linha e chumbada.
Meu telefone acende na cama ao meu lado, e eu o alcanço, de repente muito
ansiosa para contar tudo a Courtney.
Mas, não é Courtney.
Conor: Oi
Meu coração bate descontroladamente e o sorriso mais bobo possível se
espalha pelo meu rosto.
Jess: Oi de novo
Conor: Estou apenas verificando se você chegou em casa em segurança.
Eu rio alto. Talvez ele não seja um pegador, mas é definitivamente um
charmoso.
Jess: Sim, obrigada. E não existe uma regra onde você espera três dias antes
de enviar uma mensagem de texto para alguém após um encontro?
Do fundo do corredor, juro que o ouço rir também. Meu telefone acende
novamente um segundo depois.
Conor: Sim. Mas vale a pena quebrar as regras.
Jess: Oh, por favor. Se você realmente violasse as regras, teria me deixado
pagar o jantar.
Discutimos sobre a conta até que Conor a pegou, largou o cartão de crédito e
despachou o garçom com ela. Pondo fim à minha insistência em que pelo menos
a dividíssemos. Johnny sempre quis dividir a conta – o que eu não me importava,
por si só, porque posso pagar minhas despesas.
Mas, ao dizer isso, havia algo muito bom na persistência de Conor, dizendo
que pagar o jantar era o mínimo que ele poderia fazer para me agradecer por tê-
lo ajudado com a casa. Mesmo que ambos saibamos que ele está me pagando por
isso também.
Conor: Essa é uma regra que sempre sigo. Não negociável. Agora que está
estabelecido... Quer me deixar pagar o jantar de novo algum dia?
Minha respiração fica presa e minha pele fica quente. Se eu estivesse em um
daqueles desenhos animados dos anos 90, meus olhos estariam em forma de
coração.
Jess: Conor Brady. Você está me convidando para um segundo encontro?
Sua resposta chega menos de um minuto depois.
Conor: Estou.
Eu coloco minha mão na colcha em alegria vitoriosa para evitar gritar alto.
Um segundo encontro!
Tenha calma, Jess, tenha calma.
Jess: Acho que posso encaixar você em minha agenda muito ocupada e
importante.
Conor: Fico feliz em ouvir isso.
Conor: Ah, e Jess?
Jess: Sim?
Conor: Eu não beijo assim no segundo encontro.
AI. MEU. DEUS.
Suas palavras enviam uma nova chama de fogo pelo meu corpo, e meu único
pensamento coerente é que este segundo encontro não pode vir rápido o
suficiente.
20

JESS

Na última semana, aprendi muito sobre moderação.


E quando digo moderação, quero dizer que levei cada pequenina grama de
meu autocontrole para não me lançar nos braços de Conor toda vez que o vejo.
Mas, o homem parece ter uma vontade de ferro, e ele está além de determinado
a manter nosso encontro bem separado da nossa situação de colega de quarto.
O que é muito fofo, eu sei. Mas também é muito frustrante quando tudo que
eu quero fazer é agarrá-lo pela camisa e exigir que ele me beije. Não que eu jamais
fizesse algo assim na realidade – talvez em minhas fantasias, eu sou uma mulher
perversa e devassa que agarra o que quer pela camisa. Mas, na realidade, sou
uma grande covarde que tem muito medo da rejeição – e muito queimada no
passado – para tentar algo desse tipo.
Além disso, nós dois estivemos trabalhando até o pescoço a semana toda.
Entre minha pintura e decoração, e os últimos retoques finais de Conor na
construção, ainda não tivemos a chance de ir naquele segundo encontro
prometido.
Eu me sinto como uma criança em um carnaval, parada na frente do carrinho
de algodão doce. Morrendo de fome e ansiando por um alto teor de açúcar que
nada mais neste mundo irá satisfazer. Só que o algodão doce custa $1,99 e só
tenho um dólar no bolso.
Tão perto, e ainda, tão longe.
À noite, nos divertimos, cozinhamos e assistimos filmes juntos. As vezes que
estamos na casa de Decatur, trabalhando juntos, conversamos normalmente. E,
todas as manhãs, acordo com um bule de café fresco na cozinha. Tem sido
maravilhoso em todos os sentidos, como sempre é passar um tempo com Conor.
Mas, não houve mais beijos. Ou até mesmo uma sugestão de beijo.
E é o suficiente para enlouquecer qualquer mulher.
— Preparada? — Conor sorri para mim e eu engulo. Forte.
Estamos em sua caminhonete juntos pela primeira vez desde nosso encontro
na semana passada, e a proximidade com ele está me deixando com os nervos à
flor da pele. Estou hiper consciente de suas mãos no volante, de como seu braço
musculoso repousa tão perto do meu.
— Mmm-hmm — Eu murmuro, enquanto estacionamos do lado de fora da
casa de Decatur. A reforma parece fenomenal. A linda casa foi embelezada em
poucos centímetros de sua vida com tinta branca fresca, uma porta da frente
amarelo-manteiga e canteiros de flores nos parapeitos das janelas transbordando
com petúnias vermelhas. Uma versão mais nova e melhor de sua personalidade
cheia de vida.
Eu sorrio ao ver as flores alegres, que foram ideia minha.
A visitação pública é em apenas algumas horas, e estou nervosa pra caramba
para ver o que todos pensam do meu trabalho. Todas essas pessoas olhando para
a minha arte pendurada nas paredes, a maneira como arrumei os móveis para
brincar com as pinturas...
Abro minha porta e deslizo para o chão, mas quando estou prestes a me
afastar do veículo, Conor aparece na minha frente. Tipo, bem na minha frente.
Meros centímetros entre nós. Ele coloca a mão gentilmente no meu braço e eu
respiro fundo.
— Ei, Jess.
— Ei — eu grito.
— O que você fará esta noite? — O tom de Conor é irritantemente casual e
coloquial.
Eu forço uma risada.
— Bem, dependendo de quanto tempo vai durar a visitação pública, estou
supondo que estarei limpando e dormindo?
— Não.
— Não?
— Isso não — Ele desenha um círculo preguiçoso no meu braço nu, fazendo
minha cabeça girar.
— O que você estava pensando? — Minha voz está mais ofegante do que eu
gostaria.
— Eu estava pensando naquele segundo encontro — Seus olhos perfuram os
meus, e aquele polegar continua desenhando círculos. Eu mordo meu lábio
inferior para parar de fazer um barulho na minha garganta, e seus olhos piscam
para a minha boca. — Na verdade, não parei de pensar nesse segundo encontro.
— Nem eu — consigo responder. Um desejo inconfundível brilha nos olhos
verdes de Conor e minhas pernas quase cedem.
— Boa. Está marcado, então — Seus olhos podem estar em chamas, mas ele
parece tão casual quanto pode ser. Ele solta meu braço, dá um passo para trás e
desce a calçada da casa, balançando as chaves enquanto caminha.
Eu me inclino contra a caminhonete, não confiando em minhas pernas para
me carregar até recuperar o fôlego.
Conor olha para trás por cima do ombro com aquele sorriso malicioso.
— Vamos, não temos o dia todo.
Eu ando atrás dele com pernas bambas como um filhote de veado. O tempo
que se estende entre agora e esta noite parece um abismo vasto e sem fim.
Tomo um grande gole de café. Vou precisar de toda a ajuda que puder para
superar isso.

Pelas próximas duas horas, Conor e eu corremos pela casa, afofando almofadas,
arrumando flores em vasos, acendendo velas perfumadas e arrumando as camas
dos quartos com lençóis limpos.
No final, optei por um clima contemporâneo na casa, com apenas um toque
de boho chic. Portanto, móveis de sala de estar confortáveis e de cor neutra, uma
linda mesa de jantar de madeira de bordo com cadeiras modernas contrastantes,
cortinas de linho branco, espelho redondo e tapetes de juta. Então, eu trouxe
cores e texturas ricas através de uma infinidade de almofadas em tons de joias,
mantas de tricô e uma verdadeira estufa de plantas em adoráveis vasos de
cerâmica.
Até encontrei uma pequena samambaia de limão para a mesinha de centro.
E, o mais louco de tudo, minhas pinturas adornam várias paredes. Uma série
de cenas de oásis no deserto levemente abstratas e aconchegantes que unem todo
o design. Eu não posso deixar de sentir aquele pequeno salto de esperança em
meu peito. Para mim, parece lindo. Conor me disse mil vezes que ele amou.
Mas, ainda estou muito nervosa por estar, de alguma forma, vendo algo que
ninguém mais verá. Que os possíveis compradores e os investidores em potencial
de Conor irão odiar o lugar. Provando, mais uma vez, que não vale a pena
arriscar na minha arte.
Que provavelmente deveria voltar a trabalhar como garçonete de aberrações
de circo.
— O que você está pensando? — Conor pergunta por trás da pilha de lençóis
que está carregando. Entramos no quarto principal e tenho plena consciência de
que esta é a primeira vez que entramos em um quarto juntos.
A compreensão faz meu interior já misturado se liquidificar ainda mais.
— Apenas nervosa.
Ele coloca a pilha de algodão branco na cama e olha para mim.
— Para a visitação pública ou para o nosso encontro?
— Ambos.
— Não precisa ficar nervosa para a visitação pública, este lugar é fenomenal.
Mordi meu lábio, mas não consegui disfarçar meu sorriso esperançoso.
— Você acha que?
— Eu sei — Conor acena com firmeza. — Eu já te disse que, na minha primeira
casa aberta, o corpo de bombeiros teve que evacuar o local?
— O que?
Conor ri e se senta na beira da cama.
— Eu li online que você deve encher a casa com cheiros caseiros para ajudar
as pessoas a imaginarem suas vidas lá. Então, joguei um pão no forno. E
prontamente me esqueci disso. Avance uma ou duas horas e havia tanta fumaça
saindo do forno que disparou o alarme de incêndio — Ele bufa com a memória
— Karla estava tão sufocada.
— O que aconteceu então?
— Um dos presentes ligou para o corpo de bombeiros, embora eu estivesse
cuidando disso. Era apenas um pedaço de pão fumegante. Eles apareceram com
as sirenes tocando, em marcha completa, preparados para um incêndio na
estrutura. Achei que Karla pudesse me matar. Mas deu certo no final, porque um
dos bombeiros amou tanto a casa que a comprou.
Eu comecei a rir.
— Isso é incrível.
— Foi — Conor concorda com um pequeno sorriso nostálgico. — Então, não
precisa ficar nervosa com a visitação pública hoje. Se você conseguir superar esse
desastre, ficarei totalmente impressionado.
Eu sorrio de volta, tranquila. Mas então, eu percebo o que ele não disse.
Coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Então, eu tenho motivos para estar nervosa para o encontro?
Conor sorri.
— Claro. O segundo encontro é quando as mulheres se apaixonam profunda
e irrevogavelmente por mim. Não há como voltar atrás.
Ele está brincando.
Eu penso.
— Duvido que isso vá acontecer — Eu jogo meu cabelo e tento encará-lo. O
que eu percebi que foi uma ideia muito, muito ruim no segundo que eu encontro
aqueles olhos.
— Oh não? — A voz de Conor desce um tom — Nem mesmo se eu te beijar
direito?
Eu balanço minha cabeça o mais veementemente que posso.
— Quero beijar você agora — acrescenta.
Meus olhos varrem seu rosto e eu engulo em seco. Audivelmente. Alguém
aumentou o termostato para mil aqui?
— Você quer? — Eu coaxo.
— Eu quero. — Conor olha direto para mim e eu respiro fundo — Mas eu não
vou.
A frustração deve ser evidente no meu rosto porque ele sorri.
— Ainda não, de qualquer maneira — ele emenda. — Mas, em nosso segundo
encontro, como eu prometi.
— Tudo bem por mim — Eu digo desafiadoramente, embora meu corpo
inteiro esteja protestando o contrário, não querendo esperar mais um momento.
Muito controlada...
— A menos que você queira fazer as coisas avançar... tenho tempo na minha
agenda para fazer isso acontecer. — Conor olha para o relógio e depois para mim
— Duas horas até o início da visitação pública. Talvez haja tempo para apertar
um segundo encontro.
Conor dá um passo em minha direção e minha mente dá um pequeno passeio
giratório. Minha ansiedade pela visitação pública já está nas alturas, e a
proximidade de Conor, embora inebriante, não está ajudando meus nervos
agora. Eu preciso passar por esta visitação pública antes que eu possa sequer
pensar sobre como seria a sensação de beijar Conor Brady em nosso segundo
encontro.
E então, sabendo que meu cérebro vai girar em um redemoinho direto para
uma queda livre se ele se aproximar, eu pego um elefante decorativo de cerâmica
e o brando contra ele.
— Fique aí, camarada.
— Camarada? — Ele repete, sua boca puxando os cantos.
— Você me ouviu — Eu mexo Ellie na frente dele — Fique atrás. Meu elefante
de ataque morde.
— Você passou de um ataque de samambaia de ataque para um elefante? —
Conor ri — Eu sou tão perigoso?
Sim.
— Não posso me apaixonar por você antes de terminar a visitação pública,
então é melhor você ficar para trás.
— Eu não acho que posso esperar até mais tarde — O olhar de Conor é tão
impetuoso, seu tom tão intenso, que quase deixo Ellie cair e a esmago em
pedaços.
Meu coração dá uma série de saltos para trás quando meus olhos se fixam nos
de Conor. A tensão na sala estala como eletricidade estática. Todas as suas piadas,
provocações e sarcasmo se foram, e ele está apenas olhando para mim. Realmente
olhando para mim.
E minha resolução se reduz a nada.
— Eu também.
Conor se lança em minha direção e é como se não pudéssemos chegar perto
rápido o suficiente. O mundo gira enquanto levanto meu queixo. Fecho meus
olhos. Ansiosa por seus lábios encontrarem os meus...
— TIA JESS! — O furacão Oliver entra na sala em um tornado de macacão
jeans Oshkosh e dedos pegajosos.
Abro os olhos com um sobressalto e dou um passo para trás, quase perdendo
o equilíbrio.
Os olhos grandes e redondos de Oliver se iluminam.
— UM HEFFALUMP8!
Ele se joga em mim e em algum lugar bem no fundo de mim, meus instintos
carinhosos entram em ação. Pego o garotinho em meus braços. Balançando-o no
meu quadril.
Habilidades de maternidade desbloqueadas – simmm!
Solto a respiração instável que não sabia que estava segurando.
— Ollie! Oi! De onde você veio?
— Mamãe está aqui — ele murmura, enrolando um braço rechonchudo em
volta do meu pescoço e acariciando Ellie com o outro.
— Sua mãe está aqui? — Eu pergunto.
— Lá embaixo.
— Tia Jess? Uma reunião e você já é família, hein? — Conor diz, mas sua voz
é leve e provocante.
— Olá, tio Conoww — Oliver olha para Conor sério — O que você estava
fazendo?
Boa pergunta, homenzinho. Ótima pergunta.
Finalmente ouso olhar para Conor, curiosa demais para me importar com o
quão envergonhada devo parecer.
Um pequeno sorriso delicioso aparece em seus lábios enquanto fazemos
contato visual.
— Não sei o que estávamos fazendo — diz Conor. — Tia Jess aqui parece me
fazer esquecer todas as minhas regras.
Ollie olha para mim, decepção estampada em seus traços minúsculos.
— Você e o tio Conoww estão sendo maus?
Eu ri.
— Sim, eu acho que nós estamos, Oliver. Que bom que você nos parou.
Conor me olha por cima da cabeça da criança.
— Até mais tarde.

8Heffalump: são uma espécie de elefantes fictícios presentes no universo do


Ursinho Pooh.
Uma emoção percorre minha espinha.
Lá embaixo, Mia está parada no meio da sala. Ela está usando um vestido de
verão com botões na frente, os botões que estão pressionando desesperadamente
sobre sua protuberância de melancia. Que ela está embalando enquanto examina
uma das minhas pinturas.
Ela ergue os olhos quando nos ouve.
— Oh, ei. Pensei em dar uma olhada no lugar. Espero que Ollie não tenha
interrompido nada.
— Tia Jess quebou as regas — Oliver canta.
Pirralho.
Eu coro como uma criança que foi pega com a mão no pote de biscoitos, mas
Conor sorri facilmente.
— Não, de jeito nenhum.
Ele vai até a irmã e lhe dá um beijo na bochecha.
— Como você está se sentindo, quer se sentar?
— Eu não sou uma inválida! — Mia revira os olhos e faz uma pausa. — Mas
sim, eu quero.
Ela afunda – com grande dificuldade – em uma poltrona cor de aveia,
deixando escapar um "ufa!" enquanto ela tira o peso de seus pés.
— Só vou dar uma olhada no quintal — diz Conor — Vem, Ollie?
— Yay! — Oliver comemora enquanto Conor habilmente o pega no colo e o
coloca em seus ombros. Os punhos gordinhos da criança se fecham no cabelo
grosso de Conor e fico momentaneamente com ciúme do pequeno Ollie.
Enquanto Conor e Oliver vão para fora, Mia se vira para mim, mudando seu
peso desajeitadamente.
— Mal posso esperar até que essa criança saia de mim.
— Aposto — Sento-me recatadamente na beirada de um sofá, com medo de
bagunçar alguma coisa. Eu dou uma olhada ao redor da área de estar
completamente decorada. Então, eu respiro fundo — Então… o que você acha?
Meu estômago dá um nó nervoso enquanto observo o rosto de Mia com
cuidado. Percebo que a opinião dela significa muito para mim.
Porque ela mesma é uma artista ou porque é irmã de Conor?
— Jess, este lugar parece incrível — Ela balança a cabeça, os olhos arregalados
de admiração. — Você se superou.
— Obrigada — Eu coro em um vermelho brilhante com seu elogio — Estou
tão nervosa.
— Você não deveria estar — Mia sorri. — Isso é melhor do que qualquer coisa
que eu já fiz. Você é realmente talentosa.
— Obrigada — eu digo novamente, abraçando um travesseiro no meu peito.
As franjas de seda fazem cócegas em meus braços nus.
— Então, me diga uma coisa.
— Claro. — Eu me inclino para frente, esperando uma pergunta sobre um dos
elementos de design.
Mas, Mia me lança um sorriso malicioso – um que a faz parecer exatamente
como seu irmão mais velho.
— O que está acontecendo com você e Conor?
Meu rubor se aprofunda.
— Eu… não tenho certeza. — Eu respondo. Honestamente.
Mia levanta uma sobrancelha delicada.
— Ele olha para você como Ollie olha para seus biscoitos Goldfish.
— Como se ele quisesse me esmagar? — Eu estremeço com a memória de
Ollie “comendo” Goldfish com os punhos amassados e babados.
Mia ri.
— Não. Como se você fosse um lanche.
— Oh — Minhas palavras me faltam enquanto o calor sobe às minhas
bochechas.
— Ele gosta de você, Jess. Eu posso dizer.
Suas palavras me dão flutuabilidade, como se eu estivesse me afogando em
um lago e ela simplesmente me jogasse um colete salva-vidas. E, de alguma
forma, pela primeira vez em muito tempo, sinto que posso dizer como realmente
me sinto.
— Eu também gosto dele — eu digo, timidamente.
— Então, quando é o casamento? — Mia balança as sobrancelhas para mim e
eu rio.
Eu me sinto mais leve, mais livre depois de admitir a verdade para ela. Tanto
que quero segurar a almofada sobre o rosto e gritar como uma adolescente
apaixonada. Mas eu não faço. Por causa de todas as moderações que desenvolvi
esta semana.
— Você contou ao Aiden?
Aiden.
Não. Eu não contei a Aiden. Porque o que eu diria a ele? Oh, ei mano,
adivinha? Seu colega de quarto e melhor amigo me levou para um encontro e
depois me acompanhou até a porta do meu quarto. Ele me beijou, mas o beijo foi
mais curto e mais casto do que os que sofri da tia-avó Mildred. Isso foi uma
semana atrás. Nada aconteceu desde então – embora vivamos sob o mesmo teto
– mas nunca experimentei uma tensão como essa em minha vida, e se algo não
acontecer logo, esta panela de pressão vai explodir. E ninguém quer limpar
aquela bagunça da Jess.
Sim, Aiden estaria no próximo avião para Atlanta para me registrar no asilo
mais próximo.
Para os criminosos apaixonados.
Eu balanço minha cabeça e Mia ri de novo, então estremece.
— Não deveria rir tanto. Não quero fazer xixi na sua cadeira.
Eu pisco.
— Desculpa?
— Bexiga de gravidez. É uma coisa. E não me deixe mudar de assunto... Aiden
vai adorar ouvir sobre o que aconteceu na casa dele enquanto ele esteve fora.
— Nada aconteceu entre Conor e eu — digo a ela — Eu acho que ele está
apenas sendo legal.
Mia sorri, seus olhos brilhando.
— Eu conheço meu irmão. E tudo o que está acontecendo entre vocês dois...
não é isso, acredite em mim.
Aproveito para saber mais.
— E quanto a Karla?
— E quanto a Karla? — Mia se recosta e acaricia sua barriga distraidamente.
— Não aconteceu nada entre eles? Todo aquele tempo passado sozinhos em
casas abandonadas? — A imagem mental enche minha boca de bile, mas preciso
saber.
Mia bufa, então faz uma cara de dor.
— Oops. Sem movimentos bruscos. E não, nada aconteceu entre eles. Essa
mulher é tão sanguinária quanto um grande tubarão branco. Tenho certeza de
que Conor vê isso. Ele não é cego.
Um brilho hesitante de calor se acumula em meu peito. Não, não é calor.
Esperança. Espero que Conor seja realmente um dos bons...
— Por que você pergunta isso?
O brilho se dissipa tão rapidamente quanto chegou. Eu olho para Mia, para
sua postura desconfortável, seus olhos gentis e genuínos. Seu rosto se parece
muito com o de Conor quando eu fico olhando para ele por muito tempo.
Posso ser honesta com ela, decido.
Eu olho para as minhas mãos, lascando o esmalte do meu dedo mindinho, o
que sempre costumo fazer quando estou nervosa.
— Meu ex me deixou por uma mulher como Karla — eu admito calmamente.
— Uma mulher que ia longe, tinha tudo sob controle. É... difícil para mim
imaginar que Conor não faria o mesmo. Não iria para alguém tão equilibrado,
elegante e bem-sucedido.
A testa de Mia franze enquanto ela considera minhas palavras, considera a
gravidade de minha confissão. Então, sua mão para os círculos em sua barriga e
ela se senta para me olhar com sinceridade.
— Jess, sinto muito pelo que aconteceu com você — Ela balança a cabeça, a
ação cheia de simpatia. — Mas, Conor não é seu ex. Nunca diga a ele que eu disse
isso, mas ele é um cara bom. E, mesmo que nem sempre aja assim, ele sabe que
um dia quer fazer uma mulher realmente feliz. De baixo de todo o flerte e
personalidade confiante, ele é apenas um cara legal procurando por uma garota
legal. Para a vida. — Ela para. Sorri novamente — Pelo menos, ele estava
procurando por alguém. Acho que ele pode ter interrompido a busca.
— Que busca foi interrompida? — A voz de Conor vem atrás de nós, e nós
duas quase saltamos fora de nossas peles.
Eu me viro para vê-lo olhando para nós, divertido. Oliver está segurando sua
mão.
Mia se recupera mais rápido do que eu.
— A busca pelo controle da minha bexiga. Agora, me ajude a levantar antes
que eu molhe sua poltrona.
— Eu estou implorando, por favor, mantenha seus fluidos corporais para você
— Conor responde, mas ele está ao lado de sua irmã em um piscar de olhos. Seu
toque é gentil e carinhoso enquanto a ajuda a se levantar — Mia, você tem certeza
de que deveria ter dirigido até aqui sozinha?
— Não! — ela diz alegremente — Agora, alguém pode me dizer onde fica o
banheiro?
21

CONOR

Está indo... bem.


Muito bem.
Na verdade, no que diz respeito às casas abertas, eu consideraria esta um
home run. Batido direto para fora do parque.
Durante toda a tarde, um fluxo constante de jovens famílias, profissionais e
alguns casais mais velhos passaram pela casa, fazendo oohs e ahhs em todos os
cômodos. Os sons me dão esperança de que este projeto não seja um poço sem
fundo, e que depois de tudo, eu possa realmente ter uma chance de lucrar com
isso.
Karla trouxe seus amigos investidores figurões – um par de homens idosos
com bronzeado permanente, dentes muito brancos e ternos de três peças
imaculados e combinando, que apelidei de Chaz & Chad – e até eles parecem
impressionados.
Mas a melhor parte é que organizei um leilão silencioso no final da casa aberta
para as pinturas de Jess e ela não tem ideia. Quando perguntei o que ela queria
fazer com as pinturas depois que a visitação pública acabasse, ela foi muito
rápida em dizer que as distribuiria. Mas, eu não posso deixar isso acontecer. Suas
pinturas valem mais do que isso, e mal posso esperar para ver o que valem.
Jess passou a maior parte da tarde no quintal, andando ao redor da piscina e
sorrindo para as pessoas quando elas passavam. Seus sorrisos não me enganam,
porém – seus olhos estão arregalados e selvagens, o medo gravado claramente
em suas íris cor de chocolate de veludo.
Ela realmente não tem ideia do trabalho incrível que fez. Não tenho ideia de
que não fui capaz de me concentrar em mais nada durante toda a semana, agora
que sei o gosto dela – quente e doce – e como seus lábios carnudos são macios
contra os meus.
Quero falar com ela mais do que qualquer coisa, mas no momento estou
sendo mantido como refém na cozinha por um doce casal de trinta e tantos anos
– uma mulher rechonchuda de bochechas rosadas e um homem de óculos e
excessivamente sério. Eles estão conversando sobre querer uma casa grande o
suficiente para seus seis gatos.
— Planejamos adotar um sétimo em breve — ronrona a orgulhosa mãe gata.
Ela tem uma marca vermelha de raiva na bochecha que se parece muito com um
arranhão de gato, mas decido que é mais seguro não perguntar.
— Parabéns? — Murmuro, desejando que a palavra não tivesse saído soando
como uma pergunta.
— Obrigado — O pai gato ajusta seus óculos. — Estamos muito
entusiasmados com este lugar. Com certeza faremos uma oferta.
Dou a ele meu melhor sorriso profissional e aperto de mão.
— Estou tão feliz em ouvir isso. Estamos ansiosos para ouvir de você.
Enquanto o casal se afasta (e não posso deixar de notar a mulher arrancando
pêlos de gato de seu suéter enquanto caminha), Karla se lança ao meu lado. Ela
está vestida com um terno marinho e salto agulha carmesim. Sua blusa branca e
impecável tem muitos botões abertos e seu cabelo ruivo está penteado para trás
em um coque apertado. O que faz sua testa parecer estranhamente rígida.
Embora possa ser apenas o botox, eu acho.
Ela agarra duas taças de martini e estende uma para mim.
— Aqui.
— Não, obrigado — Eu nunca bebo no trabalho. Melhor manter a mente
afiada.
— Você merece um — objeta Karla, pressionando a taça na minha mão com
tanta força que estou surpreso que ela não se estilhaça. — Isso realmente está
indo bem.
Eu aceno e coloco a taça na ilha atrás de mim.
— Sim. Jess foi incrível, não foi?
Eu amo minha irmã, e Mia faz um trabalho incrível de decoração, mas
qualquer mágica que Jess tenha tecido neste lugar é apenas outro nível.
— Muito boa, sim — O tom de Karla fica tenso e ela coloca a mão no meu
braço. Ela se inclina para dizer outra coisa, mas não ouço uma única palavra do
que ela diz porque estou focado na porta da frente. Bem, não tanto a porta, mas
a pessoa que acabou de passar por ela.
O homem tem mais ou menos a minha idade, seu cabelo penteado para trás
com gel suficiente para se banhar. Ele está usando óculos escuros espelhados,
ostenta um anel de sinete de ouro no dedo mindinho e está usando um daqueles
ternos da moda realmente irritantes onde a bainha das calças são um pouco
curtas demais. Emparelhado com mocassins de camurça, sem meias.
Os cinco centímetros de tornozelo nu e peludo não são uma boa aparência.
Mas, não é isso que me incomoda sobre este city slicker9. O que me incomoda
é que eu o conheço de algum lugar... Não consigo identificá-lo, mas tenho um
mau pressentimento ao olhar para ele. Ele é um corretor de imóveis com quem já
negociei?
O homem tira os óculos escuros e olha ao redor da sala, com um sorriso
arrogante no rosto. Ele pega seu celular e começa a tirar fotos. O que?
— Com licença — digo a Karla, e caminho em direção à porta da frente.
— Conor Brady, da Brady Homes — Eu estendo minha mão para o homem.
Sou atingido por uma parede de desodorante corporal Axe e tenho que segurar
uma careta. Quem é esse palhaço? — Como posso ajudá-lo? Você é um
comprador potencial?
O homem ri zombeteiramente.
— Em Decatur? Não.
Ele aperta minha mão em um aperto e fico grato em ver que suas mãos
parecem pequenas, macias e pálidas em meu aperto. Eu aperto um pouco mais

9 City slicker é uma expressão usada para alguém acostumado a uma cidade
ou estilo de vida urbano.
forte, só porque eu posso. Então, eu o olho bem nos olhos, desafiando-o a mostrar
fraqueza.
Não tenho ideia de por que meus pelos estão tão arrepiados agora. Há
simplesmente algo sobre esse cara.
— Estou procurando por Jessica, na verdade. Jessica Shaw — Ele está
positivamente sorrindo agora enquanto olha ao redor da sala lotada.
Eu largo sua mão como se tivesse sido queimada, a realização me acertando
no rosto.
É aquela babaca idiota do bar.
Aquele que fez Jess chorar.
O melhor amigo de seu ex.
De repente, todos os meus instintos raivosos e territoriais fazem um pouco
mais de sentido. Coloco meu maior e mais falso sorriso.
— Oh, como você conhece Jess?
Com o uso casual do nome de Jess, o homem parece prestar atenção. Ele me
olha direito pela primeira vez, me observando. Sinto o ar ao nosso redor mudar,
esfriando dez graus em um único batimento cardíaco.
— Foi a muito tempo. Vocês?
Lembro-me de Jess dizendo que ela mentiu para esse cara, disse a ele que ela
era uma decoradora. Por enquanto, não é mentira, mas faço questão de
embelezar. Só um pouco.
— Ela projetou este lugar inteiro. Incrível, não é?
O queixo de babaca idiota cai aberto. É uma pena que não haja nenhum gel
de cabelo projetado para manter uma expressão de choque firme no lugar.
— Uau.
— Eu sei. Ela é incrível, a melhor da cidade — Estou realmente me aquecendo
agora. — Ela está em alta demanda, ela tem uma lista de espera de meses de
duração. Venha, vou te levar ao jardim. Ela ficará encantada de ver um velho
amigo, já que vocês se conhecem a muito tempo e tudo.
Posso ver que ele quer dar uma desculpa para ir embora, mas ele realmente
não tem escolha neste momento. Ele se encolheu em um canto. Na verdade, ele
parece francamente confuso. A julgar pela forma como seu sorriso arrogante não
está em lugar nenhum, ele obviamente parou na visitação aberta simplesmente
para pegar Jess mentindo. Humilhá-la ainda mais.
Que pouco…
— Como você conhece a Jess? — o homem pergunta enquanto me segue pela
sala.
Dou a ele um sorriso ainda maior e baixo minha voz conspiratoriamente.
— Depois de pedir sua ajuda por semanas, ela finalmente concordou em fazer
esse trabalho comigo. Mas, espero que leve a mais. Ela está em alta demanda em
mais de uma maneira, se é que você me entende.
Eu faço a coisa toda piscadela-piscadela-cutucada para realmente esfregar
isso, e por um momento, eu acho que posso ter ido longe demais. Atuar nunca
foi meu forte.
Mas, um Oscar pode estar no meu futuro ainda, porque de alguma forma, o
cara o compra isso. E a julgar pela maneira como suas sobrancelhas praticamente
saltam do seu rosto, parece que ele não está aqui apenas por Johnny. Ele
claramente tem segundas intenções com a ex-namorada de seu bom amigo.
Cara elegante.
Eu dou a ele um olhar falso de desculpas.
— Oh! Desculpa! Vocês costumavam estar envolvidos?
Ele se sacode.
— Não, eu, uh...
Dou um tapinha no ombro dele, cheio de pena.
— Má sorte, mano.
A essa altura, estamos do lado de fora e Jess está a apenas alguns metros de
distância, conversando com Luke e Pete. O que não poderia ter funcionado
melhor, a julgar pela forma como o rosto deste cretino escurece.
— Jess! — Eu chamo, avançando.
Ela olha para cima e um milhão de emoções cruzam seu rosto quando ela vê
quem está me seguindo.
— Alguém está aqui para fazer uma surpresa. — Volto-me para o homem e,
no tom mais ambivalentemente agradável e sincero que consigo, acrescento: —
Perdoe-me, esqueci o seu nome. Dick, não é?
Jess gagueja, quase espirrando um gole de sua bebida no pobre Pete, que está
assistindo a cena se desenrolar em perplexidade. A boca de Luke cai aberta.
— Eu nunca te dei meu nome — o homem diz secamente, suas bochechas
ficando vermelhas.
— Mark, o que você está fazendo aqui? — Jess pergunta. A voz dela está
calma, mas eu noto a maneira como ela fecha as mãos na bainha de seu vestidinho
preto (com o qual ela fica incrível, aliás).
— Oh! — Eu dou um tapa nas costas de Mark. Mais forte do que o necessário?
Sim. — Erro meu, Marky Mark.
Dick combinava melhor com ele, eu acho. Mas, talvez seja só eu.
Mark recua e eu quase – quase – me sinto mal por ele. Mas então, eu me
lembro de Jess chorando e eu não me sinto mal.
Enquanto isso, Pete e Luke dão desculpas precipitadas e começam a se afastar.
Terei muitas perguntas para responder mais tarde, mas por enquanto, não me
importo com isso. Eu olho para Mark com expectativa e ele luta por algo para
dizer.
— Você se saiu bem — Ele gagueja, a expressão arrogante que tenho certeza
de que ele aperfeiçoou se foi sem deixar vestígios. — É um lugar legal, Jess.
O rosto de Jess está sombrio.
— Obrigada. Foi só para dizer isso que você passou por aqui?
— Eu – bem – uh, podemos, talvez, conversar em particular? — Mark me
lança um olhar de soslaio e nós dois olhamos para Jess.
Ela cruza os braços sobre o peito. Naquele exato momento, uma brisa quente
nos envolve, tirando o cabelo de seus ombros. Ela parece um pôster de Mulheres
Malvadas que Não Deve Se Mexer.
E, estou aqui para isso.
— Qualquer coisa que você quiser me dizer, você pode dizer na frente de
Conor.
Mark franze a testa e olha entre nós dois.
— O que – vocês dois são algum tipo de coisa ?
— Eu desejo — eu digo firmemente. — Eu teria sorte de ter uma garota como
Jess em minha vida. Qualquer um teria sorte. Você não acha, Mark?
Mark fica com um tom castanho-avermelhado altamente prejudicial à saúde.
Jess, entretanto, olha para mim com a expressão mais significativa que eu poderia
imaginar – gratidão. Gratidão por alguém finalmente ter ficado do lado dela,
defendido ela. Mas a loucura é que a última coisa que ela precisa sentir é grata.
Estou falando a verdade... qualquer um teria sorte de ter Jess em sua vida.
E percebo, naquele momento, que quero ser o sortudo. Seriamente.
Quero que Jess me olhe assim – quero fazê-la sorrir assim – todos os dias da
minha vida. Até ficarmos grisalhos e velhos e tivermos de usar fraldas.
Ok, bem, espero que não a parte das fraldas, mas você entendeu.
Pela primeira vez, estou altamente consciente de que algo está faltando em
minha vida. Ultimamente, pensei que fosse apenas uma família, alguém com
quem me estabelecer. Mas não foi isso. Pelo menos não completamente...
Eu estava procurando por Jess. Ela estava faltando na minha vida. E, com ela
ao meu lado, sinto-me inteiro, completo.
Casa.
— Mark, eu acho melhor você ir — Jess diz friamente, continuando a entrar
em seu próprio poder e força. Eu a observo, impressionado e ligeiramente
hipnotizado. — Eu diria para você mandar minhas lembranças para Johnny, mas
não faria diferença. Tenho certeza que você estará se reportando a ele no segundo
em que sair pela porta.
Mark tosse, mas pelo menos tem a boa vontade de parecer aplacado. Como
um garotinho sendo repreendido por dizer uma palavra maldosa.
Eu quase não noto nada disso, porque estou olhando para Jess. Olhando para
a mulher que mudou tudo para mim.
Eu ligaria para Aiden agora para dizer a ele que quero ficar com sua irmã,
mas Jess pode ter algo a dizer sobre isso. Então, esta noite, vou dizer a Jess que
estou totalmente dentro. Que eu quero fazer isso de verdade, aconteça o que
acontecer. Que lutarei por ela e nunca a decepcionarei como seu ex idiota fez.
Que ela é especial e vale a pena.
— Não deixe a porta bater em você no caminho para fora.
A voz doce de Jess corta meus pensamentos e, quando eu olho para cima, ela
está sorrindo para Mark, um brilho diabólico em seus olhos.
Eu quero beijá-la mais do que nunca.
22

JESS

Exausta é um eufemismo.
Estou drenada até os ossos, estourada, esgotada, fatigada, despedaçada,
morta de cansaço. E, no entanto, nunca me senti tão energizada em minha vida.
Porque a visitação pública foi um sucesso estrondoso. As pessoas adoraram o
design, a decoração. Até a arte. Além disso, consegui enfrentar o estúpido do
Mark quando ele apareceu bisbilhotando para meu ex ainda mais estúpido e, o
melhor de tudo, Conor me protegeu a cada passo do caminho.
Ele disse que teria sorte em me ter.
E então, a maior surpresa veio no final do evento, quando Conor anunciou
que estava ocorrendo um leilão silencioso para as obras de arte nas paredes.
Minha arte nas paredes.
E embora eu insistisse novamente que estava feliz em doar minhas pinturas,
que elas não valiam nada, Conor olhou para mim com ferocidade e disse: “não,
não valem”. Ele revelou que já havia vários lances.
Foi mais do que eu poderia ter pedido, e estou além de grata por sua crença
em mim.
Uma onda de felicidade dispara pelo meu corpo enquanto eu coloco a última
caixa de sobras de salgadinhos na parte de trás da caminhonete de Conor. Eu o
coloco no porta malas, viro-me, penso duas vezes e volto, abrindo a caixa para
roubar outro biscoito. Eu enfio na boca.
Mmm. Pedaços de chocolate quente derretem na minha língua, misturando-
se perfeitamente com os sabores de manteiga espessa e açúcar mascavo da massa.
Podemos ter exagerado na comida, mas quem não gosta de biscoitos de
chocolate? Karla, aparentemente. Porque eu não a vi comendo nenhum.
Eu me inclino contra a caminhonete e tiro meu telefone da bolsa. Courtney
tem mandado mensagens de texto a tarde toda, perguntando como estão as
coisas. Finalmente tenho algum tempo para responder.
Courtney: Como foi?
Courtney: Desculpe, não pude estar aí, eu tinha seis cachorros hoje e não achei
que seu namorado gostaria que eu aparecesse com a turma heterogênea.
Courtney: Jess, atenda seu telefone. Estou morrendo aqui!
Courtney: Você está brava por eu tê-lo chamado de seu namorado? Se for
assim, sinto muito. Mas se você não está brava, eu não sinto muito.
Eu gargalho e mando uma mensagem de volta para minha melhor amiga.
Jess: Não estou brava. Também não é meu namorado. Correu super bem!
Courtney: Pinãs coladas na minha casa para comemorar?
Eu me encolho um pouco, de repente muito feliz por ter uma desculpa para
deixar de beber as “famosas pinãs coladas” da Courtney novamente esta noite.
Jess: Não posso, desculpe. Eu tenho um encontro.
Courtney: SEU NAMORADO ESTÁ LEVANDO VOCÊ NO SEGUNDO
ENCONTRO?
Jess: Ainda não é meu namorado. E simmmmm.
Courtney: Estarei aí às 7h amanhã. Penetrante. Porque vou precisar de cada
detalhe pessoalmente.
Courtney: A menos que você queira que eu vá ai mais tarde esta noite. Não
tenho certeza se posso esperar até de manhã.
Jess: Te vejo amanhã *emoji de língua de fora*
Courtney: Seja boazinha. Ou não. *emoji de beijinho*
Estou sorrindo para o meu telefone como uma idiota quando a voz sexy de
Conor me distrai.
— Do que você está sorrindo?
Minha cabeça se levanta para ver que ele está parado na minha frente, os
braços cheios de caixas.
— Oh, eu, uh… — eu gaguejo, então sorrio fracamente — Esquece. Não é
importante.
Ele passa por mim para empilhar o resto das coisas no porta malas da
caminhonete. Então, ele estende a mão. Eu fico olhando para aquela mão grande
por muito tempo. Ele quer que eu a segure? Faça um "toca aqui"? Balançar?
— Pegue minha mão, Jess — ele diz. Mas não de uma forma mandona. De
uma forma suave e sedosa que me dá vontade de fazer tudo o que ele pede.
Eu deslizo minha palma em seu aperto quente, e ele dá um pequeno aperto
na minha mão. Seu sorriso faz meus joelhos fraquejarem e seus olhos claros
fixam-se nos meus.
— Hoje foi ótimo. Você foi incrível, e não posso te agradecer o suficiente.
Minha boca está seca e sinto que vou flutuar em uma nuvem. Porque estou
claramente no céu.
Mas então, sua expressão se torna perversamente brincalhona.
— Agora, você está pronta para começar esta noite?
Não.
Sim.
Eu poderia realmente estar pronta para um encontro com Conor Brady?
Eu me contento com um aceno casual, o coração batendo rápido.
— Onde está Karla?
Conor sorri enquanto subimos o caminho e voltamos para a casa vazia.
— Foi embora — Ele diz. — Todo mundo se foi. Somos só você e eu.
Calafrios explodem em minha pele. Finalmente é hora do nosso segundo
encontro.
Conor me leva de volta para casa e espero que ele apague a última luz da sala
antes de trancar o lugar. Eu suspiro feliz enquanto olho em volta, emocionada e
aliviada com a forma como o dia foi.
Conor apaga a luz da sala, mas então, em vez de se preparar para sair, ele
puxa suavemente minha mão, me levando em direção às escadas.
Eu franzo a testa, perplexa.
— Onde estamos indo?
— Para o nosso encontro.
Ele começa a subir as escadas e a decepção borbulha em meu peito, amarga e
aguda. Eu sei o que está lá – uma tonelada de quartos mobiliados com camas
recém-feitas.
Eu paro rápido, sinais de alerta vermelhos piscando em minha mente.
— Conor Brady, eu não vou para o quarto de uma casa estranha com você...
isso não é o que eu classificaria como um encontro.
Conor se vira para mim e seus olhos verdes brilham com o que parece...
aborrecimento. A decepção cresce, queimando e pesando em meu peito. Eu o
julguei completamente mal esse tempo todo? Não consegui ver o que estava
debaixo do meu nariz? Conor tem feito coisas boas para mim apenas para tentar
me levar para a cama – um entalhe na cabeceira da cama para esquecer amanhã?
E agora que eu disse não, ele está bravo?
Nesse caso, ele é o pior tipo de cara. O pior.
Um flash de raiva queima minhas veias e eu puxo minha mão de seu alcance.
Eu vou para a porta da frente sem olhar para trás, minha cabeça girando
incontrolavelmente. Eu vim aqui com Conor em sua caminhonete, mas preferia
caminhar para casa do que ficar presa com um cara que não entende o conceito
de "não".
— Jess. Espera. Não vamos para o quarto — A voz de Conor fala atrás de
mim. — Apenas olhe para mim, Jess. Por favor.
Há uma severidade em sua voz que eu nunca ouvi antes. E, por algum motivo,
isso me faz virar.
Seus olhos queimam quando olham para o meu rosto e, quando ele fala
novamente, sua voz é cortada e direta.
— Eu estava levando você para um piquenique no telhado. Não para uma
rapidinha em um quarto estranho. O que eu não faço com ninguém, para que
fique registrado. Apesar do que você possa pensar de mim, eu realmente sinto
que o sexo é melhor quando é reservado para alguém especial.
Eu franzo a testa, raiva e decepção ainda acendendo um fogo em minhas
veias. Mas então, eu noto a forma como sua testa se enruga, a forma como seus
lábios se contraem nas bordas. Seus olhos se recusam a encontrar os meus e o
mundo para de girar.
Conor não parece aborrecido ou frustrado. Ele parece... magoado.
De repente, a raiva ardente que senti evapora no ar. Uma onda pesada de
mortificação percorre meu corpo.
— Conor, sinto muito, eu...
Eu paro, sem palavras. Eu claramente fiz uma suposição terrível sobre ele. Eu
me senti péssima.
— Não se desculpe — Conor balança a cabeça e me oferece um pequeno
sorriso. — Eu só quero que você saiba que eu nunca te usaria assim. Eu não sou
esse cara. Você merece muito mais do que alguém que está atrás de uma coisa.
Eu inclino minha cabeça, estreitando meus olhos.
— Então... você não quer me levar para a cama?
Ele ri.
— Claro que gostaria de te levar para a cama, Jess. Eu sou só humano. Mas,
quero conhecê-la ainda melhor. E quero começar o processo de conhecer você
melhor, levando você a um segundo encontro agradável.
— Oh — eu digo estupidamente.
Ele dá um passo hesitante para perto de mim.
— Vale a pena conhecer você, Jess. Quero ficar com você, ouvir seus
pensamentos, descobrir qual é a sua cor favorita, quando você deu seu primeiro
beijo... o que você acha que é o sentido da vida.
Conor focaliza seu olhar em mim, todos os vestígios de riso se foram, quando
ele vem para ficar bem na minha frente. Ele estende a mão e coloca uma mecha
de cabelo atrás da minha orelha, roçando minha bochecha enquanto faz isso.
Minha pele ilumina onde ele a toca, e não posso deixar de me fixar em seu rosto,
a poucos centímetros do meu.
Sua voz cai para pouco mais que um sussurro.
— Eu quero saber tudo isso. Tudo o que faz de você a pessoa que você é. Ok?
— Ok — Eu digo. Minha voz está trêmula e meu batimento cardíaco dispara
descontroladamente.
Conor sorri aquele sorriso lento e sexy dele, e eu quase me derreto em uma
poça.
— Agora que isso está esclarecido, você gostaria de subir? Para o telhado?
Eu concordo. Sorrio também.
— Eu adoraria.
Ele pega minha mão novamente e me leva escada acima, passando pelos
quartos, até o pátio da cobertura. Quando saio, minha respiração falha e pisco
algumas vezes, mal acreditando que isso é realidade. Conor Brady acabou com
todas as minhas expectativas pela milésima vez.
É uma noite feliz – nem muito quente nem muito fria. A brisa quente de verão
traz o cheiro de hortênsias e da fumaça de lenha de um churrasco próximo. Todo
o pátio é decorado com lanternas chinesas bruxuleantes, a luz quente e
aconchegante. Além do pátio, a paisagem urbana de Atlanta é o cenário mais
fascinante. No chão, uma toalha de piquenique quadriculada apresenta uma
tábua de queijos, uma garrafa de champanhe e duas taças de vidro. Ao lado deles,
há um pote do que parece ser um sorvete de chocolate.
Eu olho para ele, boquiaberta, e ele apenas encolhe os ombros.
— Viu? Piquenique.
Não tenho palavras, então decido abraçá-lo. Eu fecho minhas mãos atrás de
seu pescoço e enterro minha cabeça em seu peito. O tecido de sua camiseta é
macio e quente contra minha pele. Ele ri e envolve seus braços em volta de mim,
me abraçando de volta. E, por alguns minutos, ficamos nos braços um do outro,
balançando ao som da trilha sonora da cidade pulsando à distância. Ele me
segura com força, como se ele nunca quisesse me deixar ir, e meu coração brilha.
Quando finalmente nos separamos, ele está sorrindo.
— Eu não tive a intenção de confundir você, ou fazer você pensar que eu não
a respeitava, Jess.
— Você não foi nada além de um cavalheiro — Digo a ele. Bem, um cavalheiro
extremamente sedutor e sexy. Mas, eu não vou dizer isso a ele. — Acho que estou
apenas no limite depois do que aconteceu antes com Mark.
Conor se senta na toalha de piquenique e aponta para o local ao lado dele. Eu
desabo no chão, feliz por descansar minhas pernas cansadas.
— Qual é o problema daquele cara, afinal? — Conor se ocupa me servindo
uma taça de vinho, mas não perco a sombra que cruza seu rosto.
— Ele é o garotinho de recados de Johnny. E eu sei que os dois são patéticos,
mas ainda assim, me incomoda que Johnny queira ficar de olho em mim — eu
esfrego minha nuca enquanto falo, cansada e exausta. — Com toda a
honestidade, estou surpresa que Johnny não tenha me enviado uma mensagem
de texto. Ele adora interferir quando descobre que eu poderia realmente ser feliz
sem ele.
— O que você quer dizer?
Eu ruborizo e olho para o chão. Não sou alguém que compartilha esse tipo de
informação levianamente. Até hoje, poucas pessoas sabem disso sobre mim e
Johnny. Mas, há algo sobre Conor... embora só nos conheçamos há algumas
semanas, sinto que posso confiar nele.
Eu respiro fundo.
— Nós terminamos uma vez antes. Ele não me ligou por dois meses e eu ouvi
que ele estava namorando. Então, fui a um encontro com um cara de quem
realmente gostava e, de repente, Johnny estava ligando, mandando mensagens
de texto e mandando flores.
— E vocês voltaram? — Conor gira seu vinho em sua taça, olhando para o
redemoinho que ele criou.
— Como uma idiota — eu balanço minha cabeça quando a vergonha me
domina. — Eu sou uma idiota.
Eu aperto meus olhos, me lembrando daquela época. Já faz alguns anos.
Apesar de minha luta por independência, meu desejo de ser forte e confiante,
descobri que sou apenas mais uma história triste. O cara parte o coração da
garota. A garota termina com o cara. A garota pega o cara de volta e ele acaba
partindo o coração dela de novo.
Quer dizer, peguei de volta meu ex mentiroso. Deixei ele me machucar duas
vezes. Quem faz isso?
— Você não é uma idiota. — Conor diz bruscamente. — Você é um ser
humano e vocês tiveram uma história juntos. É compreensível o porquê de você
ter tentado novamente. Especialmente se ele tentasse tanto reconquistá-la.
— Talvez — eu arrisco. Se ele soubesse tudo o que aconteceu.
— Você acha que ele tentará reconquistá-la agora, mesmo quando está noivo
de outra pessoa?
— Eu não sei — Eu pego minha unha do polegar, franzindo a testa — Uma
das razões pelas quais deixei Nova York em primeiro lugar foi para colocar
distância suficiente entre nós para ter certeza de que estávamos terminados para
sempre desta vez. Mas, mesmo agora que ele está noivo, ele ainda está enviando
Mark atrás de mim para me verificar. Tipo, ele não me quer, mas não quer que
eu siga em frente.
Conor pousa o copo com estrépito.
— É ele que é um idiota, se for o caso.
Apesar do peso da minha confissão, adoro o quanto Conor não gosta de
Johnny simplesmente porque sabe que ele me magoou. A preocupação dele me
enche daquele tipo especial de luz que você recebe quando as pessoas de quem
você gosta também se importam com você.
— Hum, esta noite, eu… eu não estava com medo do físico, uh, parte de tudo
— Eu gaguejo. — Tipo, quando eu pensei que você estava me levando para cima.
— Eu engulo sem jeito. Pausa.
Conor segura minhas mãos.
— Vá em frente — diz ele suavemente.
Incapaz de olhar em seus olhos, eu encaro nossas mãos entrelaçadas, minhas
bochechas quentes.
— É mais porque eu estava com medo de que fosse tudo o que você queria de
mim. Que você estava sendo legal comigo apenas por esse motivo. Depois de
Johnny, minha confiança está um pouco... inexistente.
— Você não deve ser nada além de confiante, Jess — O polegar de Conor traça
a ponta da minha mão e o movimento me deixa tonta da melhor maneira. — Você
deve ter confiança em si mesma antes de mais nada. Só então você pode ter
confiança em outra pessoa. Em mim e nas minhas intenções. E, para que conste,
não precisamos fazer nada físico até que você esteja completamente pronta. O
tempo que for preciso. Como eu disse, quero conhecer você. Tudo sobre você.
Eu espreito o homem bonito na minha frente, me dizendo para acreditar em
mim mesma. Que vale a pena acreditar em mim. Ele se senta pacientemente, os
olhos fixos no meu rosto abertamente, e eu percebo o que há de tão especial em
Conor – ele não só acredita em mim, mas está me dando espaço e confiança para
aumentar minha fé em mim mesma. Ele não está exigindo que eu derrube minhas
paredes, ele está simplesmente me pedindo para abrir uma janela. Respirar um
pouco de ar fresco.
E, de repente, não quero nada mais do que que ele me conheça... E quero
conhecê-lo também. Cada pedacinho do que o torna quem ele é.
— Roxa. Trevor Newton, décimo ano. No cinema. Eu estava com um bocado
de pipoca na boca quando ele se inclinou e fiquei tão surpresa que engoli tudo.
Ele quase teve que me aplicar a Manobra de Heimlich — um pequeno sorriso
cruza meus lábios —, eu eu não acho necessariamente que haja um significado.
Mais que estamos aqui para fazer o bem, melhorar as coisas. Ser feliz.
Conor pisca.
— Huh?
Quase caí na gargalhada com sua expressão perplexa.
— Você tinha perguntas para mim, e essas são as minhas respostas — Eu
sorrio, feliz por tê-lo pego desprevenido. — E você?
Conor morde o lábio inferior, um gesto inocente que envia um turbilhão de
borboletas por cada um dos meus órgãos internos.
— Azul. Rebecca Sanderson, sétima série, em um desafio. Eu não tinha ideia
do que estava fazendo e bati meus dentes nos dela. Felizmente, melhorei minha
técnica ao longo dos anos.
— E o sentido da vida?
Os olhos de Conor encontram os meus.
— Encontrar alguém de quem você realmente gosta e acordar todos os dias
querendo dar-lhe o mundo. Construindo uma casa com essa pessoa.
A energia corre por meu ser com suas palavras, com sua expressão sincera.
Ele está certo, posso não estar pronta para deixá-lo entrar totalmente ainda, mas
tenho 1000% de certeza de que estou pronta para uma coisa.
Ele me vê olhando e inclina a cabeça.
— O que?
— Eu estava pensando em como me foi prometido um beijo de verdade.
Chamas aparecem em seus olhos e ele puxa suas mãos das minhas. Meu
estômago cai deliciosamente enquanto ele lentamente, meticulosamente, começa
a deslizar suas mãos pelos meus braços. Eu inalo trêmula, respirando seu cheiro
amadeirado e quente. Uma de suas mãos se enreda no meu cabelo, enquanto a
outra segura meu queixo.
Ele se move em minha direção e meu batimento cardíaco acelera. Eu observo
seu queixo forte e angular, sua barba sexy e cabelo despenteado. Ele é o homem
mais lindo que já vi.
E ele quer me beijar.
— É mesmo? — Conor diz baixinho.
Ele se move um pouco mais perto. Ainda não está perto o suficiente.
Eu faço um barulho impaciente e ele sorri. Esse sorriso sexy e sexy. Ele abaixa
a cabeça em direção à minha e seus lábios roçam minha bochecha.
A sensação acende fogo na minha pele e eu respiro fundo.
— Devo beijar você aqui? — ele pergunta, provocando.
Eu balanço minha cabeça, tento torcer minha boca para encontrar a dele. Mas,
suas mãos me seguram firme.
Ele abaixa ainda mais a cabeça, seus lábios pressionando beijinhos ao longo
do meu queixo, fazendo minha cabeça girar. Eu mordo meu lábio para evitar de
gritar alto.
— Aqui? — ele pergunta novamente, sua voz mais baixa. O desejo óbvio em
seu tom desperta uma nova onda de desejo em mim.
— Por favor — eu digo suavemente.
É a palavra mágica.
Sua boca cobre a minha, quente, doce e forte. Minha respiração acelera
imediatamente e eu enrolo meus braços em volta dele, puxando-o para mais
perto. O mais perto que posso chegar. Mas ainda assim, ele me beija lentamente,
tentadoramente. Leva o seu tempo. Suas mãos se movem pelo meu cabelo e eu
deslizo minhas palmas sobre suas costas, sentindo os músculos tensos se
contraírem ao meu toque.
— Conor — eu respiro contra sua boca.
Ele se afasta por um momento, os olhos nadando em um mar de emoções.
— Está tudo bem? Você está bem?
A preocupação em seu tom é o som mais adorável que já ouvi. Ver que ele me
quer, mas que está tentando levar as coisas devagar para me fazer sentir
respeitada e querida, é o suficiente para fazer meu coração explodir. Eu nunca,
nunca conheci um homem como Conor Brady.
Eu sorrio.
— Mais do que bem.
Eu inclino minha cabeça em direção a ele, querendo mais. E ele exige. É o
melhor beijo da minha vida inteira, e estou tonta e tremendo quando finalmente
voltamos para respirar.
Conor passa o dedo pela minha bochecha.
— Está ficando tarde, é melhor eu te levar para casa.
Eu balancei minha cabeça.
— Eu não quero ir para casa ainda.
Meus olhos caídos devem me denunciar, porque ele ri suavemente e beija
minha testa.
— Você está prestes a adormecer em pé. Além disso, não é um encontro a
menos que eu te deixe em casa e te acompanhe até sua porta.
E então, como um verdadeiro cavalheiro, Conor me leva para casa, me leva
até a porta do meu quarto e me dá o beijo de boa noite mais suave e doce que eu
poderia ter sonhado.
— Eu me diverti muito esta noite, Jess — diz ele, com a voz rouca.
Eu sorrio para ele.
— Eu também.
— Posso sair com você de novo algum dia?
— Gostaria disso.
— Bom — Conor aperta minhas mãos e se vira para sair. — Boa noite, Jess.
— Ei, Conor? — Eu chamo atrás dele. Ele se vira.
— Sim?
— Obrigada por um segundo encontro perfeito.
Ele sorri.
— A qualquer hora, colega de quarto.
23

CONOR

Os dias que se seguem ao nosso encontro no telhado são alguns dos meus
favoritos nos últimos tempos.
Em primeiro lugar, a casa Decatur recebe várias ofertas, desencadeando uma
guerra de lances. Karla está em êxtase. E Chaz & Chad estão clamando para
marcar uma reunião e investir na Brady Homes.
Em segundo lugar, o leilão silencioso para as obras de arte de Jess acaba sendo
um sucesso estrondoso, e a senhora que tem a melhor oferta pela casa oferece
uma grande quantidade extra de dinheiro para levar as pinturas junto com a casa.
Todas elas. Ainda não contei a quantia para Jess, porque estou aguardando a
concretização do negócio. Mas mal posso esperar para ver seu rosto quando ela
descobrir.
E por último, mas certamente não menos importante, tenho acompanhado
Jess até a porta de seu quarto todas as noites desde nosso segundo encontro.
Dando um beijo de boa noite e desejando bons sonhos. Porque eu sei que tenho
que – e eu quero – levar isso devagar e com calma com ela. Mostrar a ela, não
apenas dizer a ela, que ela é especial para mim. Que eu realmente me importo
com ela.
Quando ela pensou que eu estava apenas usando-a, só queria levá-la para a
cama, mal pude acreditar. Ela realmente achava que eu a via como uma
oportunidade para uma aventura passageira? Ela parecia tão assustada, tão
ansiosa, que me fez pensar de novo o que exatamente aconteceu com aquele
namorado dela. Como Jess parece acreditar tão pouco em si mesma?
O que quer que tenha acontecido com Johnny, ela me dirá se quiser, quando
estiver pronta. Tudo o que posso fazer até então é tentar fazê-la se sentir querida.
Fazer ela se sentir o suficiente.
Porque ela é mais do que suficiente.
Então, eu a levei em uma série de encontros. Todas as noites, fizemos algo
novo: boliche de dez pinos (onde ela me aniquilou totalmente), filme em um
drive-in (onde nos sentamos na parte de trás da minha caminhonete em uma
pilha de casacos e de mãos dadas), o Aquário da Geórgia (onde ela amou tanto
os tubarões-baleia que comprei um de pelúcia).
Cada encontro com Jess é o melhor encontro que já tive. E, pela primeira vez
em anos, fui de mal passar por um um primeiro encontro, para esperar
animadamente, todos os dias, pelo trabalho terminar para que eu possa levar essa
garota em outra aventura e criar mais memórias com ela.
Eu sei que Aiden estará de volta na próxima semana, e vamos ter que
enfrentar algumas realidades difíceis. Por exemplo, como posso explicar que me
apaixonei pela irmã dele quando ele estava fora? Mas estou determinado a
mostrar a ele que minhas intenções são boas. O mesmo que estou determinado a
mostrar a Jess.
Esta noite, vou levá-la para minha nova casa novamente para uma mudança
de ritmo. Uma espécie de encontro de trabalho. O que, em um local de trabalho
corporativo real, violaria quase todas as regras do manual do RH.
Porque namorando minha decoradora contratada, que por acaso também é a
irmã do meu melhor amigo e nova colega de quarto? Isso é como a tríade de
quebrar regras.
Mas vale a pena quebrar as regras pela Jess. Eu sei isso.
A mão de Jess é quente e macia na minha enquanto subimos o caminho para
minha casa. Quando entramos, ela respira fundo.
— Uau!
Eu sorrio, observando sua reação – a maneira como seus olhos se arregalam,
sua boca se abre em um pequeno “o” perfeito, sua pele bronzeada enruga em
torno de seu sorriso. Eu ficaria feliz em passar dias estudando todas as expressões
de Jess, tentando guardar cada pequeno detalhe na memória.
Eu sabia que minha casa provocaria tal reação. Porque se foram os tapetes
salmão e os pedaços de parede rasgados. E em seu lugar há um grande espaço
de planta aberta que é como uma tela em branco.
Ela se vira para mim e quase posso sentir sua empolgação.
— Você sabe o que vai fazer aqui?
Eu me sinto tímido de repente. Mais uma emoção incomum que Jess arranca
de mim.
— Eu, uh, esperava que você realizasse meus planos comigo — Minhas
bochechas ficam vermelhas enquanto eu falo — Me dar sua opinião.
— Sobre o projeto da casa? — ela chia, e eu aceno.
— Dois segundos — Pego um conjunto de plantas baixas e um pote de lápis
de um armário da cozinha e estendo as plantas pelo chão — Venha dar uma
olhada.
Jess se senta, de pernas cruzadas, na frente dos papéis desenrolados. Está um
pouco mais fresco esta noite, e ela está usando leggings pretas com uma camiseta
rosa claro grande demais que cai em um ombro bronzeado. Ela prende o cabelo
em um coque enquanto se inclina para a frente para examinar as páginas. Seus
óculos escorregam em seu nariz cerca de um centímetro, e eu não posso deixar
de sorrir com o quão bonita ela é.
Eu sento ao lado dela. Nos meus joelhos. Porque não tenho ideia de como as
mulheres conseguem fazer com que sentar de pernas cruzadas pareça tão fácil.
Com um lápis, aponto onde estou pensando em criar uma nova cozinha em
forma de L. Para onde vai o banheiro. Como as portas francesas em estilo
acordeão correrão ao longo da parte de trás da casa, exibindo o bonito jardim
arborizado e a piscina. Ela acompanha, franzindo a testa em concentração
enquanto eu falo.
— O que você acha? — Eu pergunto, ainda um pouco nervoso.
— Incrível! Absolutamente incrível — Ela sorri. — Eu não posso acreditar o
quanto você pode mudar um espaço movendo algumas paredes ao redor.
Eu respiro um suspiro pesado de alívio, ainda sem saber exatamente por que
estou tão preocupado com a opinião dela.
Porque eu me importo com ela, então, eu me importo com o que ela pensa.
Eu a observo traçar os desenhos com o dedo, apaixonada por seus detalhes.
— Você sugere alguma coisa?
Jess dá de ombros.
— Talvez encontre um espaço para uma despensa na cozinha? Esta é uma
casa de família perfeita. Se você eventualmente tiver uma família aqui, você vai
querer uma despensa — Ela se mexe um pouco sem jeito, como se tivesse acabado
de tocar em um tópico tabu. O pensamento a deixa desconfortável?
— Boa ideia — Eu concordo. — Onde você sugere?
Analisamos as plantas da casa juntos por quase uma hora, parando
brevemente para pedir um delivery de comida tailandesa. Encontramos um lugar
para uma despensa, e eu aceito as sugestões de Jess para empilhar a máquina de
lavar e secar na lavanderia para que eu possa adicionar uma pia e expandir o
armário do corredor porque “você sempre vai acumular sapatos".
Quando nossa comida chega (curry vermelho para Jess e Pad Thai para mim,
o tempero secreto), carregamos as caixas para fora e nos sentamos à beira da
piscina. O sol está se pondo e uma explosão de listras vermelhas e rosa
resplandece no céu que escurece. Realmente se parece com a tela de um artista.
— Tão bonita — Jess suspira, olhando para o céu enquanto coloca um pedaço
de frango na boca.
— Você é bonita — Murmuro. Sim, estou sendo brega como uma novela
mexicana agora, mas ela é linda. Eu falo apenas a verdade.
— Nada disso.
— Você é — Eu insisto — Eu soube no segundo que te vi.
Jess bufa.
— Deitada no chão em uma pilha de sujeira?
— Naquele exato momento.
Os olhos de Jess se movem rapidamente e ela morde o interior da bochecha.
Então, ela faz sua própria confissão.
— Eu pensei que você estava muito bem... para um tipo estranho de Charles
Manson.
Eu comecei a rir.
— Por favor, por favor, me diga que você não é secretamente uma daquelas
pessoas deturpadas que escreve cartas para assassinos em série na prisão,
declarando amor por eles?
— É chamado de hibristofilia — Jess diz séria.
Eu recuo em falso horror.
— É melhor haver um bom motivo para você saber disso.
Ela encolhe os ombros.
— O que posso dizer? Sou uma verdadeira fã do crime.
— Esquisita — Eu digo afetuosamente.
— Menos esquisita do que lavar todos os pratos antes de colocá-los na
máquina de lavar.
— Eu disse a você, caso contrário entope o ralo.
— Então desentupa depois — Jess diz levianamente.
Eu engasgo.
— Isso é absolutamente nojento.
Ela coloca seu rosto bem perto do meu.
— Nojento?
— No-jen-to — Eu digo solenemente. Então, eu sorrio — Mas, eu ainda gosto
de você de qualquer maneira.
Jess sorri e me olha por baixo dos cílios.
— Isso é conveniente... porque eu gosto de você também.
Suas palavras são tudo que eu quero ouvir. Eu deslizo minha mão para tocar
a pele sensível e macia na parte de trás de seu pescoço. Meus lábios encontram
os dela, famintos por ela, e ela responde imediatamente, agarrando meus ombros
enquanto caímos de cabeça no beijo mais incrível.
Eu não consigo o suficiente dela. Seus lábios têm um gosto doce e picante.
Minha mente está nadando, e quando ela faz um pequeno barulho em sua
garganta, eu inclino sua cabeça para trás para que eu possa aprofundar o beijo.
Eventualmente, nós nos separamos, respirando com dificuldade, mas eu me
certifico de não deixá-la ir.
— Aquilo foi…
— Uau — Jess termina para mim, sua voz áspera e estridente — Isso foi uau.
Eu a puxo para mais perto de mim, puxando-a em meu peito para um abraço.
Eu enterro meu rosto em seu cabelo, inalando o cheiro cítrico de seu shampoo.
— Eu poderia beijar você a noite toda — Murmuro em seu cabelo.
— Então faça — diz ela.
Eu me inclino para trás para poder olhar para ela, um milhão de perguntas
correndo pela minha mente. Até agora, nossos beijos têm sido doces e suaves,
mas não menos inebriantes. Claro que a quero. Mas, ainda mais do que isso,
quero que ela saiba o quanto me importo com ela.
Estou aqui para jogar o jogo longo com Jess. Aquele em que acabamos juntos.
Esperançosamente para sempre. O que significa dar um passo de cada vez, como
e quando ela estiver pronta. Não há necessidade de me apressar em nada –
porque não vou a lugar nenhum.
— Jess, eu...
Jess olha para a minha expressão séria e sorri suavemente, suas bochechas
brilhando como pétalas de um rosa.
— Apenas beijos — Ela esclarece. — Eu só quero beijar você e dormir em seus
braços.
Seus olhos piscam quando encontram os meus, e meu estômago dá um
solavanco.
— Bem, eu acho que é justo que eu dê a você o que você quer.
Se ela quer adormecer em meus braços, não quero esperar mais um minuto
para abraçá-la. Para envolver meus braços ternamente em torno de seu corpo
para que possamos cair no sono juntos... Neste momento, eu nunca quis tanto
nada.
Jess claramente teve a mesma ideia, ao se levantar de um salto.
— Vamos para casa?
— Vamos para casa — respondo com um sorriso.
Enquanto dirigimos, o ar na cabine da caminhonete parece denso e pesado. A
eletricidade – a tensão – no ar é diferente de tudo que já experimentei. Preciso de
toda a minha força de vontade para me concentrar na estrada à frente, e não na
sensação da mão de Jess na minha. Como as suas unhas arrastam suavemente
nas costas da minha mão, incendiando todas as minhas terminações nervosas.
Achei que essa viagem fosse de apenas quinze minutos. Por que está
demorando tanto?
Meu coração bate forte, e percebo que não me sinto tão animado com a
perspectiva de beijar uma garota desde... bem, provavelmente desde Rebecca
Sanderson na sétima série.
Nunca quis ninguém como quero Jess. E eu quero Jess de verdade. Não
apenas fisicamente, eu quero o coração dela, e quero dar a ela o meu. Sossegar e
ter uma família com ela. Isso tudo parece um pouco louco, mesmo em minha
mente, já que produz esses pensamentos. Mas, quando você sabe, você sabe.
O que eu sei é que Jess é especial, e nunca quero deixá-la ir.
Eu deslizo meus olhos para longe da estrada e olho para ela. Ela está sentada
ao meu lado com uma expressão de dor no rosto.
— O que você está pensando? — Eu pergunto, curioso.
Ela aperta minha mão um pouco mais forte.
— É um pouco estranho? Que somos colegas de quarto, mas, você sabe…
— Estamos indo para casa para se beijar a noite toda? — Eu ofereço, e sou
recompensado com o rubor vermelho feroz de Jess.
— Sim, isso — ela diz suavemente.
Eu rio.
— Acho que teremos que contar a Aiden antes que ele volte.
Jess faz uma pausa e acena com a cabeça.
— Sim... Podemos esperar para fazer isso amanhã? Ligar para ele de manhã?
— Com certeza — Eu sorrio. — Hoje à noite, somos só nós.
— Só nós — Jess ecoa feliz.
Nós finalmente – finalmente – estacionamos para fora da casa de Aiden, e de
repente estou impressionado com o quão incrível foi a sincronia. Que acabamos
aqui, juntos, sob o mesmo teto. Apaixonados um pelo outro no meio de um
conjunto tão louco de circunstâncias.
Estou prestes a desligar o motor quando o telefone de Jess toca, cortando
nossa bolha de felicidade.
Eu gemo e bato minha cabeça contra o encosto de cabeça.
— Por favor, não me diga que é Aiden, ligando porque ele tem um estranho
sexto sentido de irmão e ele de alguma forma ouviu toda a nossa conversa.
Eu olho para Jess, procurando o sorriso em seus lábios. Em vez disso, ela está
pálida enquanto olha para a tela do telefone.
— Muito pior — Ela sussurra — É o Johnny.
Johnny. Eu congelo, meus dedos agarrando o volante.
Ele não ligou depois da visitação pública, como ela pensou que ele faria. Mas,
aqui está ele, ligando quase uma semana depois. Aposto que ele tentou não ligar,
mas acabou cedendo. Só tinha que ficar de olho nela, não é?
A última coisa de que precisamos é que o ex de Jess estrague nossa noite. E
ele não tem uma noiva para ligar? Antes que eu possa pensar no que estou
fazendo, pego seu telefone na velocidade da luz. A boca de Jess se abre enquanto
eu deslizo a barra na tela para atender a chamada.
— Sim?
— Uh, o quê? Olá, Jess? — Johnny parece ainda mais irritante do que seu
amigo Dick. Ele também parece bêbado.
— Não é Jess — Eu digo calmamente — Eu posso te ajudar com alguma coisa?
— Quem é?
— Eu sou Conor. Quem é? — Ok, estou me divertindo agora.
Enquanto isso, Jess está olhando para mim, uma mão em cada bochecha.
Estilo Esqueceram de Mim.
Johnny estala e ri cruelmente.
— O mesmo Conor que estava com ela na visitação pública semana passada?
Mark disse que a arte maluca dela estava espalhada pelas paredes.
— Tenho certeza que sou eu — Eu digo friamente. — E os compradores
adoraram a arte, obrigado por perguntar.
— Vocês estão, tipo, juntos ou algo assim? Jess realmente me deixou por um
operário de construção?
— Jess te deixou porque você é um idiota. Nenhuma outra razão.
— Com licença?! — Johnny enfurece-se ao telefone, gaguejando ligeiramente.
— Você está dispensado — Eu respondo calmamente — E, estou um pouco
ocupado agora. Então, vou perguntar mais uma vez antes de ir, posso ajudá-lo
com algo?
— Não, bem, eu…
— Ok, estamos bem então. Eu diria que foi bom conversar com você, Johnny,
mas não foi.
— Espere…
— Ah, e Johnny? — Eu sorrio loucamente.
— O que? — Johnnyzinho resmunga.
— Por favor, não ligue para minha namorada de novo.
Antes que ele possa dizer mais alguma coisa, desligo o telefone, a adrenalina
correndo em minhas veias. Foi tão bom colocar aquele idiota em seu lugar.
Então, eu vejo o rosto horrorizado de Jess, e minha bravura heroica se
transforma em pó.
— Oh, Jess, sinto muito. Eu não queria ultrapassar, eu só...
Não consigo terminar minha frase porque, antes que eu saiba o que está
acontecendo, Jess se jogou em mim. Sua boca colide com a minha e eu pisco em
choque antes de reagir à sensação de seu beijo. Faminto e desesperado.
E reajo. Todo pensamento racional salta pela janela quando eu me inclino e
desabotoo o cinto de segurança. Eu a puxo para mim, e ela sobe no console central
e no meu colo, me beijando com tanta força que minha cabeça bate contra o
encosto de cabeça. Eu a seguro contra mim, pressionando seu corpo contra o
meu. Cada um dos meus sentidos está acelerado – o cheiro cítrico de sua pele, o
som inebriante de sua respiração vindo forte e rápida, o doce sabor de seus
lábios...
— Obrigada — Ela se afasta o suficiente para sussurrar — Muito obrigada.
Eu encosto minha testa na dela, recuperando o fôlego.
— Eu deveria ter agradecido a ele. Porque se ele não tivesse agido como um
idiota, não estaríamos aqui agora.
Jess joga a cabeça para trás e ri. Uma gargalhada real e profunda que
reverbera ao nosso redor, enchendo cada centímetro do ar com esperança e
felicidade.
Eu me inclino para frente e coloco um beijo na área sensível na base de seu
pescoço, deleitando-me com o fato de poder provar sua pele. Ela estremece,
inclina a boca em direção à minha e, mais uma vez, estamos emaranhados um no
outro.
Procuro a maçaneta da porta e, de alguma forma, saímos da caminhonete e
chegamos à calçada. Eu a inclino contra a caminhonete, inclinando sua cabeça
para aprofundar nosso beijo. Ela responde enrolando as mãos na minha camiseta
e me puxando para mais perto.
Nunca amei beijar tanto quanto agora. Nuca.
— Vamos — Eu digo rispidamente. — Vamos entrar.
Eu deslizo minhas mãos sob suas coxas e gentilmente a pego, segurando seu
corpo contra o meu. Suas pernas envolvem minha cintura e ela se agarra a mim
como um imã, rindo até a porta da frente.
Assim que chegarmos lá, eu a deixo no chão para poder destrancar a porta.
Mas, de alguma forma, acabamos pressionados contra a porta, nos beijando
freneticamente de novo, como se fôssemos dois adolescentes.
Tenho certeza de que a vizinha esquisita da casa ao lado está olhando, mas
não me importo. Estou delirantemente feliz por estar aqui, perdido neste
momento com Jess.
Eu finalmente coloco a chave de minha casa na fechadura, e nós dois caímos
pela porta em uma pilha, rindo loucamente e nos agarrando um ao outro.
Então, eu pisco.
Por que todas as luzes estão acesas?
Eu olho para cima, desorientado, e meus olhos pousam em... Aiden.
Aiden, que não deveria estar em casa por mais alguns dias. Sentado na sala
de estar com os braços cruzados. Seu rosto está marcado com suspeita quando
ele vê Jess e eu, com o rosto vermelho, suado e sem fôlego.
— Surpresa — Diz ele, torcendo a boca em uma careta.
24

JESS

Acorde, é uma linda manhã! Acorde, está um lindo dia! Os pássaros estão
cantando, as abelhas estão zumbindo, os esquilos estão... sendo esquilos. O que
os esquilos fazem?
Enfim, não importa. O que quero dizer é que aconteceu ontem à noite.
Conor e eu nos beijamos até ficarmos sem fôlego. De novo e de novo. E sabe
como achei que nosso primeiro beijo foi o melhor beijo da minha vida? Sim,
ERRADO. Como tudo com Conor, até o beijo fica melhor. Cada. Pequena. Vez.
Ele não estava errado quando disse que aperfeiçoou seu jogo de beijos ao
longo dos anos. Tanto é que eu provavelmente deveria enviar a Rebecca
Sanderson uma carta de agradecimento.
Sério, é tão bom.
E tudo ficou ainda melhor pelo fato de ele me chamar de namorada. E, claro,
há uma boa chance de ele ter dito isso simplesmente para irritar Johnny. Mas vou
aceitar.
E sim, meu irmão inesperadamente voltou para casa. Sim, eu tive que pensar
rápido e inventar uma história estranha sobre como eu estava me agarrando a
Conor porque ele estava me salvando de uma barata voadora particularmente
agressiva. E claro, foi uma merda, depois disso, todos nós tivemos que sentar na
sala de estar e ouvir as histórias muito, muito chatas de Aiden sobre LA (Ok, elas
não eram tão ruins, mas eram muito chatas em comparação com o que eu ytinha
acabado de fazer com Conor).
No entanto, nada disso fez muito para diminuir meu humor. Meus pés
estavam bem e verdadeiramente plantados nas nuvens, e nada poderia arruinar
isso para mim.
E eu também estava feliz em ver meu irmão, por mais inoportuno que fosse o
momento. Até que descobri que ele jogou, sem cerimônia, todos os meus
pertences no chão de seu outro quarto de hóspedes para que pudesse reivindicar
seu próprio quarto de volta. Argh.
Ontem à noite, me acomodei em minha cama nova, muito menos confortável,
com a certeza de que Aiden não tinha suspeitado de nada. Então, uma mensagem
veio.
Conor: Você sabe que estamos compartilhando uma parede agora?
Por mais que eu desejasse que Conor estivesse do meu lado da parede – ou
que eu estivesse do lado da dele – e ele estivesse me segurando e me beijando
como tínhamos planejado, o pensamento me fez sorrir. Um sorriso que
permaneceu em meu rosto até que adormeci.
Meu coração salta quando eu jogo minhas cobertas e salto para fora da cama,
quase escorregando no pequeno tapete felpudo. O quarto de hóspedes não tem
o luxo de um banheiro privativo, então pego minha bolsa de higiene e corro para
o corredor, olhando em volta furtivamente enquanto ando. Não quero correr o
risco de encontrar Conor antes de tomar um banho.
Ando na ponta dos pés pelo corredor e... Sucesso!
Abro a porta do banheiro, olhando para o corredor mais uma vez. E
imediatamente colido com algo duro, sólido e... úmido.
Eu já estive aqui antes. Eu sei exatamente de quem é o peito sólido que acabei
de invadir, porque quem poderia esquecer como é um Conor Brady sem camisa?
Eu grito e salto para trás, observando a visão de Conor em toda a sua glória
pós banho. Seu cabelo está úmido e despenteado, seu peito musculoso brilha com
gotas de água. E – oh meu Deus, ele está em uma toalha.
— Eek! — Eu coloco minhas mãos sobre meus olhos — Desculpa!
Eu tropeço para trás e minhas costas batem na parede. Ele ri, um som baixo e
gutural, e então suas mãos cobrem as minhas, puxando-as dos meus olhos.
— Bom dia, linda — Ele pisca, olhando para mim como se eu fosse algo para
comer. Meu estômago borbulha vertiginosamente ao ver seu sorriso — Alguém
já lhe disse que você está linda de manhã?
Antes que eu possa dizer qualquer coisa, ele me beija na boca. Forte. Seus
lábios são frios e mentolados, e eu estendo a mão para agarrá-lo, puxá-lo para
mais perto. Mas ele já está em movimento. Meus olhos levantam de surpresa,
travando nele enquanto ele sai do banheiro com aquele sorriso enlouquecedor no
rosto. Eu só posso ficar lá, sem fôlego e perplexa.
— Já estou sentindo sua falta — Ele pisca e fecha a porta atrás de si.
Minha mão voa para meus lábios e meu coração vibra contra minhas costelas,
vibrando como um beija-flor. O que acabou de acontecer?
Em transe, vou até o espelho. Então, quase grito de novo ao observar minha
aparência. Eu tenho o caso mais louco de cabelo de quem acabou de acordar e
pedaços feios de rímel pontilham a região sob meus olhos. Isso vai me ensinar a
não dormir com maquiagem.
Linda de manhã? Só estou surpresa por ele não ser o único gritando.
Enquanto escovo os dentes e limpo meu rosto com almofadas de algodão
embebidas em removedor de maquiagem, penso em como Conor sempre desafia
minhas expectativas. Como ele vê o melhor em mim, mesmo quando me vê no
meu pior.
Ele quis dizer isso quando disse que era meu namorado na noite passada, ou
foi apenas para tirar vantagem de Johnny? Ele parecia que ia dizer algo sobre isso
quando desligou o telefone, mas meu ataque cheio de adrenalina imediatamente
colocou um ponto final em qualquer conversa.
Estou curiosa para saber o que está acontecendo em sua cabeça... e só há uma
maneira de descobrir.
Corro de volta para o meu quarto e escolho um vestido de verão amarelo
alegre. Então, prendo meu cabelo em um rabo de cavalo.
No momento em que chego à cozinha, Aiden e Conor estão lá – Conor
fazendo café e Aiden fazendo ovos mexidos. Porque nós, irmãos Shaw, temos
bom senso suficiente para saber que o café da manhã é a refeição mais importante
do dia.
A cozinha está impecável, como sempre. Fernie está sentada no meio da ilha
da cozinha, saudável e florescente em seu vaso novo. Eu sorrio para minha
plantinha, lembrando-me do infeliz e muito literal confronto entre Conor e eu.
Quem teria pensado que as coisas seriam assim?
— Dia — Minha voz sai ofegante e trêmula, e os dois homens se viram para
olhar para mim.
— Bom dia, irmãzinha — Aiden coloca sua espátula e se move para me dar
um abraço. — Como foi dormir na sua nova cama?
Eu me inclino para fora de seu abraço e mostro minha língua para ele.
— Terrível. Minhas costas doem.
Aiden sorri.
— Sua punição por mentir para mim.
Meu coração para e quase engasgo com minha própria saliva. Ele sabe? Conor
disse alguma coisa?
— M-mentir para você? — Eu gaguejo. Meus olhos giram de Aiden para
Conor, que parece um pouco pálido de repente.
— Sobre dormir no meu quarto — esclarece Aiden, despenteando meu cabelo.
— Não fique tão assustada, J. Só vou fazer você tirar o lixo e limpar o banheiro
algumas vezes antes de perdoá-la devidamente.
Eu exalo de alívio e coloco um sorriso.
— Qualquer coisa para compensar você, querido irmão.
Rapaz, preciso do meu café da manhã. Agora.
— Aposto que você quase perdeu o controle, vivendo com essa aqui nas
últimas semanas — diz Aiden para Conor, felizmente inconsciente do pânico
momentâneo que acabou de causar. — Ela é mais bagunceira do que eu, estou
surpreso que você não se mudou.
— Foi uma luta, com certeza — Conor fixa seus olhos nos meus, e meu
estômago se revira com o olhar em seus olhos. É o tipo de olhar que me faz querer
trancar Aiden em seu quarto e jogar fora a chave para que eu possa ter esta manhã
com Conor só para mim.
Uau, me apaixonar por alguém realmente trouxe à tona o meu lado egoísta.
Eu tomo um grande gole de café.
— Falando em mudar — Aiden continua alegremente, colocando ovos em um
prato. — Como vai a reforma do seu novo lugar?
— Chegando lá — Conor sorri facilmente.
— Mal posso esperar para ver — diz Aiden, depois sorri de brincadeira. —
Além disso, é hora de você se mudar, agora que minha irmã está dormindo aqui.
Você sabe o que dizem: dois é bom e três é demais.
Aiden ri de si mesmo, definitivamente não é uma piada engraçada, mas meu
grande gole de café desce do jeito errado e eu engasgo pela segunda vez esta
manhã.
Porque Conor vai se mudar assim que as reformas forem feitas em sua casa.
Mas eu? Eu ainda estarei aqui. Provavelmente morando com meu irmão até
nós ficarmos grisalhos e velhos.
Eu olho para Conor, que agora está sentado no balcão e mandando
mensagens de texto. Ele levanta a caneca do "irmão mais legal do mundo" de
Aiden até os lábios, um sorriso tímido em seus lábios, e eu paro por um momento
para encará-lo. Bebendo-o. Ele é tão perfeitamente bonito e muito bem-sucedido
em seu trabalho. Ele tem sua própria casa, seu próprio negócio. Ele tem tudo a
seu favor.
Tudo o que tenho para mostrar são quatro anos de experiência como
garçonete do restaurante com temática de circo e uma única visitação ao público
de sucesso. Uma voz feia, mas muito familiar, me lembra que o sucesso
provavelmente teve mais a ver com as belas reformas de Conor do que com
qualquer coisa que eu tenha feito, de qualquer maneira.
Meu telefone vibra no bolso, me tirando dos meus pensamentos. Eu tiro meus
olhos de Conor, grata pela interrupção.
Conor: Suas costas estão realmente em agonia? Eu conheço um cara que pode
te fisgar com uma massagem muito boa.
Oh Deus, as borboletas estão de volta. Todo um exército delas.
Meu rosto fica vermelho, e eu olho para ver que Aiden está seguramente
absorto em comer ovos antes de ousar olhar para Conor. Quando meus olhos
encontram os dele, ele sorri perversamente.
— Nós vamos? — ele murmura.
Eu digito furiosamente no meu telefone.
Jess: Pare com isso, Aiden está literalmente sentado bem ali.
Os olhos de Conor se arregalam um pouco quando a mensagem chega. Mas
então, ele sorri e começa a digitar. Eu espero por sua mensagem com expectativa.
Aiden escolhe aquele momento exato para se inserir em nossa bolha.
— Para quem você está enviando mensagens de texto? — Ele pergunta a
Conor naquele tom que os caras sempre usam quando falam sobre garotas.
Conor ergue a cabeça e um raio de sol atinge seu rosto. E, vamos colocar desta
forma, ele não parece diferente de um anjo.
— Uhhh, ninguém. Estou, hum, jogando... Angry Birds?
Aiden bufa.
— Isso é estranho, eu não acho que ninguém joga Angry Birds desde, tipo,
2016.
— Conor gosta de Angry Birds — acrescento, prestativamente. — Joga por
horas todos os dias.
Conor coloca seu telefone no balcão e sorri para mim.
— Isso definitivamente me mantém alerta.
— Bem — Aiden coloca outra garfada de ovos em sua boca. —Talvez não
revele sua obsessão secreta de Angry Birds para seu encontro amanhã à noite.
Conor volta os olhos desconfiados para meu irmão e cruza os braços sobre o
peito largo.
— Qual encontro?
Eu me viro para Aiden também, minha testa franzida. Não tenho ideia do que
Aiden está falando... mas já sei que não gosto do que ele quer chegar com isso.
Aiden sorri e estufa o peito com ousadia.
— Lembra daquelas garotas com quem nós saímos antes de eu ir para LA –
Jennifer e Brooke? Marquei um segundo encontro duplo com elas.
Conor, pela primeira vez na vida, parece sem palavras.
Aiden pisca para ele.
— De nada.
Se Conor parece sem palavras, não posso imaginar como eu devo estar agora.
O inferno não tem fúria como uma mulher desprezada…
Provavelmente não é uma boa ideia dar um soco na cara do seu irmão quando
ele está lhe dando alojamento e alimentação grátis na casa dele. Certo?
Eu me inclino contra o balcão da cozinha e agarro minha xícara de café, mal
ciente do calor que irradia queimando minhas palmas. Aiden vai até a pia. Joga
os pratos sujos dentro. Conor também se levanta e coloca os pratos na máquina
de lavar.
Aiden dá um soco no braço de Conor de brincadeira.
— Você não parece tão animado quanto eu esperava. Achei que você gostasse
da Jennifer — Então ele para, examina a carranca de Conor e ri. — Não fique tão
azedo, você não disse que queria vê-la de novo? Eu lembro de você me dizendo
isso.
Meu estômago cai como uma âncora. Mas, eu fixo meus olhos em Conor,
procurando por sua reação antes de tirar conclusões precipitadas novamente.
— Eu, uh… — Conor se debate sem rumo. Meu estômago afunda ainda mais.
Aiden estreita os olhos.
— Espere, finalmente aconteceu alguma coisa entre você e Karla?
Meu queixo quase cai no chão, mas eu me recupero bem a tempo, meu coração
disparando. O que Aiden quer dizer, finalmente? Tipo, é com quem ele espera
que Conor acabe eventualmente?
Conor empalidece.
— Não é isso não. É…
— Mindy, então? — Aiden adivinha.
DESCULPA, O QUE?
Conor balança a cabeça e Aiden sorri.
— Bem então. O que está parando você?
Conor olha para mim. É aqui que devemos contar a Aiden o que está
acontecendo, não é? Mas algo no fundo do meu coração se contrai
dolorosamente, um aperto físico como se estivesse sendo espremido. Conor pode
escolher entre um milhão de mulheres...
Assim como Johnny fez.
Uma onda familiar de bile enche minha garganta enquanto a dúvida se fecha.
As paredes batem de volta ao redor do meu coração. Grandes, com arame
farpado no topo. E uma placa piscando "proibido entrar" em letras vermelhas em
neon.
— Aiden, uh… — Conor começa. Então, ele para e me lança um olhar de
soslaio.
E, de repente, eu sei o que tenho que fazer.
— Ele adoraria ir! — Eu deixo escapar, meu olhar fixo em Conor. Seus lindos
olhos esmeralda se arregalam e eu aceno, pressionando. Aja primeiro, pense
depois, todas aquelas coisas boas. Eu tiro meus olhos dele para olhar para Aiden
— Olhem para vocês, indo a um encontro duplo com algumas gatas.
O que diabos eu estou falando? E desde quando falo como um garoto de
fraternidade? Eu realmente quero que Conor vá a um encontro com outra
mulher?
Não, eu não quero. Mas, é melhor dar a ele a opção antes que ele possa dar
uma de Johnny e me dizer que sou ótima e tudo mais, mas há outra pessoa.
Alguém que tem tudo de uma forma que eu não tenho.
Dar o primeiro golpe certamente fará com que o impacto do soco metafórico
no estômago doa menos.
Aiden me olha de soslaio.
— Uh, você está bem aí, J?
Eu o ignoro. Concentre-se em Conor. Quem está atualmente me encarando,
carrancudo. E, ah, ele fica gostoso quando faz cara feia.
Não! Concentre-se, Jess!
Eu fico olhando de volta, com o rosto impassível. Espero que Conor diga algo.
Confesse tudo. Afirme que ele não quer ir. Qualquer coisa.
Mas, depois de um breve impasse, a boca de Conor se contorce.
— Claro, Aiden. Vamos lá.
E aí está. A verdade. Eu não sou sua namorada, porque Conor Brady não tem
relacionamentos. Ele sai casualmente com muitas mulheres bonitas. E eu sei que
nós tivemos muito mais do que apenas um encontro, mas talvez seja
simplesmente por causa da nossa situação de colegas de quarto. O que
inevitavelmente chegará ao fim em breve. E depois?
Tento não estremecer visivelmente com o soco que suas palavras causam. Ao
pensar nele e Jennifer juntos. Eu me levanto de onde estou encostada no balcão
da cozinha, incapaz de ficar aqui mais um minuto.
— Eu vou ir ver a Courtney.
Aiden faz uma reconstituição perfeita de O Exorcista com a cabeça girando –
ele está praticamente espumando pela boca.
— Courtney, tipo, minha vizinha Courtney?
Ele diz "vizinha" como se fosse uma série de palavrões. Quase esqueci que
eles se odeiam. Ainda não sei o porquê. Mas, como estou com raiva de Aiden por
marcar este encontro duplo estúpido, sorrio para meu irmão como se estivesse
felizmente inconsciente da briga.
— Sim — eu coloquei minha caneca ao lado da pia, propositalmente
derramando café pela borda e no balcão. Estou grata em ouvir Conor
praticamente engasgar.
Extremamente mesquinha, teu nome é Jessica Shaw.
— Por quê? — O queixo caído de Aiden.
— Porque ela é minha nova melhor amiga. E, porque ela está nos preparando
em nosso próprio pequeno encontro duplo para amanhã à noite.
Mas ela não está.
Ela realmente, realmente não está.
O QUE EU ESTOU FAZENDO?
Aiden balança a cabeça, parecendo tão atordoado como se eu tivesse acabado
de dizer a ele que estava saindo com um pequeno marciano verde com três
cabeças e tentáculos de polvo. Enquanto isso, Conor parece ter sido esculpido em
pedra. Bonito, esculpido e totalmente inabalável. O que ele está pensando?
— Ótimo — Conor fala de repente, sua voz um pouco casual demais. Ele vai
até a pia e limpa o café que derramei. — Devíamos ir todos juntos, um encontro
quádruplo. Vai ser aconchegante.
— NÃO! — Aiden e eu gritamos em uníssono.
— Isso não vai acontecer — Eu acrescento.
— Por que não? — Ele me olha calmamente, sua voz monótona — Existe
algum motivo que você gostaria de participar, Jess?
— Não. Sem motivo algum — Eu cerro meus dentes — Na verdade, não sei
por que fui tão precipitada em dizer não. Um encontro quádruplo é uma ideia
fantástica.
Aiden, entretanto, ainda está no trem Courtney.
— Ela gosta de você? — Aiden exige, coçando atrás da orelha — Ela me odeia.
Eu sorrio docemente.
— O sentimento não é mútuo?
— Bem, que melhor maneira de enterrar a machadinha do que um grande
encontro em grupo — Conor diz com muito entusiasmo. Eu resisto ao desejo de
mostrar minha língua para ele.
Aiden ainda está coçando a orelha.
— Não vai ser... estranho?
Sim.
— Não — eu digo, no lugar. — De jeito nenhum. Vou deixar para vocês
fazerem as reservas – mesa para amanhã, às oito da noite. Vou contar a Courtney
agora!
Então, eu saio de lá antes que Conor possa dizer outra palavra.

Na casa de Courtney, busco refúgio sob uma enorme manta rosa estampada e
duas enormes bolas de penugem que parecem pensar que são cachorros de colo.
Courtney está sentada à minha frente em uma poltrona, batendo os dedos no
apoio de braço como se ela fosse o Poderoso Chefão ou algo assim.
— Então deixe-me ver se entendi. Seu irmão voltou para casa. Quase pegou
você e Conor se beijando. Então, você mentiu para ele e disse a Conor para ir a
um encontro com outra pessoa porque...?
— Eu não sei — Eu gemo, enterrando meu rosto nas costas douradas e
peludas de Butch – ou é Cassidy? – e soltando um distintamente parecido com
um pirata — Argggggggggggh.
Courtney dá outra mordida no que parece ser um brownie e mastiga
pensativamente. Pacientemente. Espero por suas palavras de sabedoria.
— Você é ridícula — Ela se voluntaria. — Eu espero que você saiba disso.
Eu jogo minhas mãos para o alto.
— Eu simplesmente surtei. Aiden disse algo sobre Conor ficar com Karla, e
eu não pude evitar.
Courtney balança a cabeça e tira migalhas perdidas de seu colo.
— Conor não quer aquela ruiva. Eu te disse, ele nunca olha para ela como
olha para você.
Eu suspiro, meus dedos apertando na pele dourada do cachorro. Butch, como
se sentisse minha ansiedade, vira a cabeça para lamber minha mão.
— Sim, bem, como você sabe que o mesmo é verdade com Mindy? Ou com
Jennifer? Como posso saber se ele é mais sério comigo do que todas as outras
mulheres em sua vida? É isso que os jogadores fazem, Court. Eles namoram todo
mundo e não se comprometem com ninguém.
Courtney desdenha.
— Bem, você deu a ele a opção de se comprometer com você? Porque você
acabou de me dizer que praticamente o forçou a sair com alguém que não era
você.
Eu franzo a testa. Abro a minha boca e a fecho novamente.
— Você pelo menos pensou em perguntar a Conor se ele queria sair com
Jennifer de novo? Ou você apenas presumiu com base no que Aiden disse?
Eu me sinto um pouco envergonhada de repente.
— Não... acho que não.
— Bem, talvez seja hora de começar a usar esses seus miolos — Courtney se
levanta da cadeira e bate na lateral da minha cabeça com os nós dos dedos. Não
muito gentilmente. — Olááááááááááá? Tem alguém em casa?
Eu afasto a mão dela.
— Então, posso ter exagerado um pouco.
— Um pouco? — Ela grita — Eu não posso acreditar que estou dizendo isso,
mas você é quase pior do que seu irmão no departamento de reação exagerada.
E ele colocou uma placa de "À venda" no meu carro depois que eu o bloqueei
acidentalmente.
Apesar de tudo, eu bufo de tanto rir.
— Ele o quê?
Os lindos olhos azuis de Courtney brilham de indignação.
— Recebi vinte e sete ligações em meia hora!
— E tudo o que você fez foi bloqueá-lo acidentalmente?
— Bem, quero dizer, eu deixei para ele aquela multa falsa de estacionamento.
Mas, como uma piada bem-humorada de vizinhança, isso é tudo — Courtney
acena com a mão com desdém, como se esse detalhe não importasse. — De
qualquer forma, meu ponto é – você exagerou. Diga a Conor que você realmente
não quer que ele vá ao encontro, e tenho certeza de que ele dirá que também não.
Simples.
— Hum, não é tão simples.
— Por que não?
— Há apenas um pequeno detalhe que eu não contei a você ainda — Eu
admito.
Courtney se joga ao meu lado e passa o braço em volta dos meus ombros.
— Tenho certeza de que não é nada que não possamos controlar. O que é?
— Bem, eu disse a Conor que você estava me preparando para um encontro
duplo amanhã à noite, também.
— O QUE? — Ela grita.
— Fica pior — Eu me preparo para sua explosão inevitável — Eu disse a ele e
a Aiden que todos nós iríamos como um grande grupo. Conhece algum cara
solteiro que estaria pronto para um octo-encontro?
Courtney solta uma sequência colorida de palavrões que qualquer marinheiro
ficaria orgulhoso.
Eu puxo a manta sobre minha cabeça.
25

CONOR

— Você poderia, por favor, passar a manteiga, Jessica? — Eu olho através da


mesa para onde Jess está sentada ao lado de um homem perfeitamente legal cuja
cadeira estou morrendo de vontade de derrubar acidentalmente.
— Claro, Conor — Jess passa a manteiga para mim, e eu exagero para pegar
o prato, certificando-me de que as pontas dos meus dedos encostem nos dela. Ela
dá um pequeno suspiro repentino e agudo com o contato, e eu não perco as
faíscas que piscam em minha própria pele também.
— Tudo certo? — O par de Jess – Rob – inclina a cabeça para olhar para ela.
— Ela está bem — Courtney interrompe bruscamente.
— Você está? — Eu me inclino para frente nos cotovelos, olhando para Jess.
— Tudo bem, no caso?
— Sim — Ela se senta com as costas retas em sua cadeira, o mais equilibrada
possível. Mas, sua voz quebra como um ovo sobre o som "m", traindo todo o seu
ato não afetado.
Ela cora e desvia o olhar. Na penumbra do restaurante, sua pele parece
luminosa, seus olhos maiores e mais escuros do que nunca. E, meu Deus, ela
parece bem esta noite naquele vestido de seda verde-floresta que desliza como
um líquido sobre cada curva. De jeito nenhum Rob teria ideia do que fazer com
uma mulher assim em sua vida.
— Posso comer um pouco de manteiga também? — Meu "encontro"
choraminga.
Agora não, Jennifer.
Eu sorrio para Jennifer fracamente quando passo a ela o prato de manteiga, e
quando nossos dedos se tocam, tudo que eu percebo são suas unhas
extremamente afiadas.
Emitindo um suspiro silencioso, eu me inclino para trás na minha cadeira e
esfrego meus olhos. Eu tive o dia mais longo da terra. Chaz, Chad e Karla
estavam preocupados com meus negócios durante nossa reunião sobre o
investimento proposto e, honestamente, pensei que acidentalmente pisei no set
de Shark Tank.
Eles passaram horas estudando minhas finanças, apontando "despesas
desnecessárias" em minhas reformas que acho muito necessárias –
especificamente que todas as coisas em que gastei dinheiro foi para preservar o
caráter e a história das casas. Chaz foi particularmente agressivo com as contas
da casa Decatur, embora ela tenha sido vendida a preços exorbitantes. Ele
também recebeu várias ofertas que eu sei que tinham a ver com a decoração de
Jess e com o leilão de arte silencioso.
Estou muito orgulhoso de nossos esforços, orgulhoso de termos conseguido
abrir um poço de dinheiro e obter lucro. Mas, ah, não, isso não é o suficiente para
os velhos Chaz & Chad, que começaram a divagar sobre a "nova direção" que
precisamos tomar uma vez que injetem seu dinheiro.
Na minha opinião, porém, a direção deles está errada – essencialmente
cortando atalhos e produzindo casas idênticas, pré-fabricadas, que usam
materiais produzidos em massa. Entrar e sair, rápido e fácil. Menos esforço, mais
dólares.
Trabalhei até os ossos por tantos anos para crescer e expandir meu negócio. É
por isso que me juntei a Karla em primeiro lugar. E Chaz & Chad? Eu sei que eles
estão me oferecendo uma oportunidade única de continuar crescendo. Mas, com
toda a honestidade, algo sobre a visão proposta parece profundamente errada.
Eu não comecei a reformar e vender casas apenas pelo dinheiro. Eu fiz isso
para tornar a vida das pessoas melhor, para tornar seus sonhos realidade. Como
fiz pela minha mãe. Vale a pena despender tempo e esforço com esses projetos.
Mas, não importa o quanto eu apontei o valor em restaurar casas – e como
artistas talentosos como Jess trazem tanto para a mesa – eles não cederiam. Eles
vetaram a ideia de contratar Jess para a nossa próxima casa, o que eu não entendi,
no início, visto que Jess trabalhava por menos dinheiro do que qualquer outro
decorador que eu contratei. Então, eu vi o olhar de ciúme no rosto de Karla, e não
demorei muito para descobrir quem estava por trás disso.
Eu disse a eles que sua nova direção era estúpida. Não me preocupei em
medir minhas palavras também. Mas, eu estava em desvantagem nessa discussão
particular.
Então agora, eu fui deixado para "pensar sobre o que eu gostaria de fazer" – o
que me fez sentir um pouco como uma criança travessa sendo mandada para um
castigo. O que não é a melhor sensação quando se trata do seu próprio negócio
que você construiu do zero.
Chaz & Chad podem ter sucesso, mas não vou deixar que eles me
menosprezem ou me pressionem.
Então, como você pode imaginar, depois de um longo dia de discussões, a
última coisa que quero é ter um encontro com uma mulher em que não tenho
nenhum interesse. Principalmente enquanto a mulher em que estou interessado
desfruta de um encontro com outro cara do outro lado da mesa.
Ainda não sei por que Jess me cortou ontem de manhã. Achei que ela queria
contar a Aiden sobre nós, mas em vez disso ela me jogou no fundo do poço e
insistiu que eu fosse a um encontro com outra mulher. E então, ela passou a
esfregar sal na ferida, anunciando que ela viria... com o seu próprio par. Que é
um sonso total, por falar nisso.
A química e a tensão entre nós ainda são palpáveis, então a única coisa que
posso pensar é que Aiden a assustou com toda a sua conversa fútil sobre outras
mulheres. A fez recuar. Jess sempre duvida de si mesma e, para ser justo, a
conversa não me pintou exatamente da melhor maneira. Em outro momento, eu
poderia ter tido um segundo encontro com Jennifer. Mas, o mês passado parece
ter sido há uma eternidade. E, o que Aiden não sabia quando organizou esse
encontro é que eu não quero mais sair com nenhuma outra mulher. Nunca mais.
Porque Jess é tudo para mim. Única. E quero que ela saiba que é assim que
me sinto.
Logo depois, eu passo o resto deste encontro de pesadelo provando a ela que
ela quer ficar comigo da mesma forma. Eu quero que ela acredite em si mesma o
suficiente para defender o que ela quer e como ela se sente.
— Aiden, suas herpes estão se curando? Bem, espero? — Courtney pergunta
docemente, tirando-me dos meus pensamentos.
Aiden engasga com a boca cheia de vinho e praticamente espirra uma fonte
de Merlot no ar.
— Oopsie — Canta Courtney. Ela lhe entrega um guardanapo, então se vira
para Brooke, o encontro de Aiden — Ouvi dizer que banhos de aveia coloidal
mornos fazem maravilhas para os casos em que a erupção é muito forte. Ou você
pode fazer uma pasta de amido de milho para esfregar nas costas dele. Muito
efetivo.
Brooke parece que está prestes a vomitar sua truta arco-íris por toda a mesa.
Seus olhos se estreitam na direção de Aiden.
— Você não me disse que tem herpes.
— Isso é porque eu não tenho — Aiden olha para Courtney, que está feliz
mastigando seu ravióli. — Eu te disse que o meu telhado precisava de telhas
novas, não que eu tenha herpes.
Courtney dá de ombros e pisca seus grandes olhos azuis, a imagem da
inocência.
— Bem, você não pode esperar que eu me lembre de tudo o que você diz.
— Erro fácil de cometer, querida — O acompanhante de Courtney, cujo nome
passou pela minha cabeça, dá um tapinha no braço dela de maneira
condescendente. — Vocês, senhoras, não precisam se preocupar com a
construção, de qualquer maneira. É trabalho de homem.
Antes que eu tenha tempo de gritar esse comentário abertamente sexista do
cara-de-pau, aquele choramingo vem de novo no meu ouvido.
— Conor? Eu preciso da faca de manteiga?
Por que não usa sua faca normal, Jennifer?
— Oh. Desculpe — eu digo ao invés, deslizando a faca em direção ao meu
"encontro" enquanto mantenho meus olhos fixos em Jess.
Claro, Jennifer é bonita, daquele jeito excessivamente maquiado. Mas, ela não
tem nada a ver com a Jess. Além disso, ela tem me feito perguntas rudes a noite
toda sobre quanto dinheiro eu ganho. E ela continua colocando a mão na minha
perna. O que me fez dizer que gostaria de sair com essa garota pela segunda vez?
— Então, o que você faz no trabalho, Rob? — Eu pergunto com um sorriso tão
falso quanto a linha do cabelo.
— Eu sou um contador — Rob limpa a boca com o guardanapo — E você?
Claro que ele é um contador.
Eu mantenho meus olhos cuidadosamente treinados em Jess enquanto ela
toma um gole de vinho.
— Eu renovo casas.
— Oh, como eles fazem na TV? — Rob pergunta com a boca cheia de nugget
de frango. Que ele pediu no menu infantil, alegando que era alérgico a todo o
resto.
— Não — Eu sei que estou sendo um idiota territorial agora, mas de alguma
forma, eu simplesmente não consigo me importar.
Os olhos de Jess se movem rapidamente e ela se contorce
desconfortavelmente sob o meu olhar. Finalmente, ela joga o guardanapo na
mesa e se levanta.
— Eu preciso ir ao banheiro.
Eu olho na direção de Aiden e, felizmente, ele está ocupado tentando
persuadir seu par de que não há nenhuma herpes terrível e com bolhas à espreita
sob sua camisa de grife.
— Eu também — Eu fico de pé.
Jess estreita os olhos para mim.
— Você não pode vir comigo.
Eu dou a ela um sorriso malicioso.
— Eu preciso ir.
— Não, você não precisa.
— Sim, ele precisa — Courtney se junta a ele. — Os banheiros são na outra
extremidade do restaurante, vocês podem caminhar juntos.
— Obrigado, Courtney — Eu digo com um aceno de cabeça em sua direção.
Não tenho ideia de por que ela está do meu lado agora, mas sinto uma nova
sensação de simpatia em relação à nossa vizinha.
Jess fica furiosa.
— Talvez eu também vá — Disse Brooke, empurrando a cadeira para trás.
— Não, você não vai — Algo no sorriso de tubarão de Courtney faz Brooke
reconsiderar suas ações, e ela puxa a cadeira de volta à mesa imediatamente.
Eu sorrio.
— Acho que somos só você e eu, Jessica.
Jess fecha a boca com força, gira nos calcanhares e começa a andar
rapidamente. Muito rápido. Os saltos altos que tento não notar fazem com que
suas pernas pareçam ter mais de um quilômetro de comprimento. Enquanto eu
a sigo, um som alto como uma almofada de pum vem do outro lado da mesa, e
eu juro que ouço Courtney murmurar "sério, de novo?"
Assim que dobramos o corredor em segurança, Jess se vira para mim.
— O que você está fazendo agora? — ela sibila.
— Jantando. A comida é boa, não é?
— Eu não saberia — Ela cruza os braços sobre o peito. — Eu não tive um
momento para dar uma mordida em meio a todo o caos que se instaurou na mesa.
— Foi você quem sugeriu isso, lembra?
— Porque você queria!
— Porque eu o quê?!
Jess aperta os lábios, os olhos ferozes.
Eu olho em volta rapidamente. O restaurante em que estamos é um daqueles
lugares chiques e coxos, com um esquema de cores frio e forte e molho de
espinafre caro. Nunca escolho restaurantes como este, mas, aparentemente, é o
favorito de Jennifer. No entanto, a única vantagem de lugares como este é que
eles sempre têm banheiros individuais bonitos.
Confiante de que ninguém pode nos ver, agarro Jess pelo braço e a puxo para
um dos banheiros privativos. Eu tranco a porta atrás de mim, então a deixo ir.
— O que você pensa que está fazendo? — ela exige, a cor queimando em suas
bochechas.
— Por que você achou que eu queria sair com Jennifer? — Eu retruco. O
banheiro é minúsculo e estou perto o suficiente para sentir o cheiro do perfume
leve que ela está usando. Ela cheira a luz do sol — Você não me perguntou, você
apenas começou a duvidar de si mesma. Duvidar de mim. Duvidar de tudo que
eu disse a você.
As narinas de Jess dilatam e ela cruza os braços novamente.
— Aiden disse que você queria vê-la novamente.
— Jess, isso foi antes mesmo de eu conhecer você. Você não pode usar isso
contra mim.
— Bem, se você não queria vê-la novamente, você poderia ter levado Mindy
ou Karla ao invés — A voz de Jess está fria, mas não sinto falta de seu lábio
inferior balançando.
— E se eu não quisesse levar Mindy ou Karla?
Jess pisca.
— Então... você não queria ir a um encontro esta noite?
— Oh, eu queria ir a um encontro — Eu me aproximo dela e ela dá um passo
para trás, mas não consegue se mover mais. Ela está pressionada contra a pia. —
Mas não com seis outras pessoas a reboque. E especialmente não com uma
mulher que não seja você.
Eu levanto uma sobrancelha, desafiando-a a mostrar suas cartas também. Ela
abre a boca. Fecha novamente. Então, ela franze seus lindos lábios rosados e solta
um longo suspiro, sua expressão cheia de remorso.
— Mesmo?
A doçura em sua voz me acalma, me ancora e me sinto mais à vontade do que
durante todo o dia. Eu corro um dedo ao longo de seu braço nu, me deliciando
com o seu arrepio em resposta.
— Eu quero estar com você, Jess. Só você — eu admito.
Um pequeno sorriso aparece em seu rosto.
— E você também quer ficar comigo — dou um passo final para frente,
movendo-me para onde ela está encostada na pia — Estou errado?
Jess prende a respiração, seus olhos procurando os meus quase
desesperadamente. Então, ela balança a cabeça.
— Você não está errado.
Meu coração bate com força com suas palavras e eu movo meu rosto perto do
dela. Tão perto que há apenas dois centímetros entre nossos lábios.
— Eu vou precisar lutar contra Rob?
Finalmente, Jess sorri. Um sorriso doce que me faz querer reivindicar seus
lábios ainda mais.
— Não.
Seu hálito quente roça minha bochecha e eu não aguento mais um segundo.
Eu tenho um milhão de coisas que quero falar com ela, mas agora, meu cérebro
e meu corpo não estão se comunicando. Porque ela acabou de confirmar que quer
ficar comigo também. Porque já se passaram quase dois dias desde que beijei essa
garota direito, e isso são dois dias longos demais.
Esquecendo completamente onde estou, inclino-me para ela…
Toc Toc!
— Alguém aqui?
Nós nos separamos antes que nossos lábios se encontrassem, e quase tropecei
no vaso sanitário. Literalmente trazido de volta à terra com um estrondo.
— Ocupado — eu grito.
Jess parece um pouco estrelada e fica vermelha de escarlate ao olhar para a
porta. Tudo o que posso pensar é que Jess merece ser beijada de uma forma mais
agradável do que no banheiro de um restaurante, e que não posso ficar nessa
farsa de encontro por mais um minuto.
— Quer sair daqui? — Eu pergunto, minha voz quase um rosnado.
Jess olha para mim, e aquele brilho selvagem e apaixonado brilha em seus
olhos.
— Não podemos. E quanto a Rob, Jennifer e…
— Siga o meu comando.
26

JESS

Não tenho ideia do que aconteceu.


Em um minuto, Conor e eu estamos sentados em lados opostos da mesa, com
nossos próprios acompanhantes para a noite. No próximo, estamos prestes a nos
beijar em um banheiro público.
Estou fodidamente abalada. (Veja, Courtney, eu também posso usar
palavrões impróprios para crianças.)
Quando saímos do banheiro, Conor tira seu paletó sexy marinho e o coloca
em volta dos meus ombros. Isso me afoga, e não consigo resistir a inalar o cheiro
do tecido.
Eu levo um momento para apreciar o quão bem ele fica vestido assim. Sua
barba por fazer acentua perfeitamente os ângulos de sua mandíbula, e seu cabelo
tem a quantidade certa de produto nele. Sua colônia cheira tão deliciosa que
quero me afogar nela. Ele usa calça social marinho e uma camisa branca de
botões, os punhos enrolados e esticados em torno de seus antebraços musculosos.
A camisa é desabotoada na gola para revelar um triângulo tentador de pele
bronzeada.
Pele que quero colocar na boca. Agora.
Antes que eu possa desmaiar e me envergonhar ainda mais na frente dos
clientes do restaurante, ele envolve um daqueles braços fortes em volta de mim.
Sua mão quente aperta meu ombro enquanto ele me direciona de volta na direção
de nossa mesa.
— O que você está fazendo? — Eu assobio. Quando ele sugeriu que saíssemos
daqui, eu estava tendo visões de pular pela janela do banheiro e sair correndo –
sem enfrentar a música primeiro.
Ele não responde.
— Conor! — Tento cravar os pés, mas sem sucesso.
À medida que nos aproximamos, seis rostos se movem em nossa direção.
Aiden parece perplexo, e Courtney, positivamente alegre. O par de Courtney, o
infeliz Marty Peidorreiro, e seu amigo, Rob o Chato, parecem vagamente
intrigados. E Brooke e Jennifer parecem que estão prestes a fazer um teste para o
WWE Smackdown!10 – ou seja, elas não estão felizes. Nem um pouco.
Eu estremeço e espero que Conor tenha um plano. É melhor ele ter um plano.
— Pessoal — A voz de Conor é baixa e urgente. — Alguém mais pediu fajitas
de carne?
Seis cabeças balançam.

10 WWE Smackdown!: programa de luta livre.


— Oh, ufa. Éramos apenas nós dois, então — Conor balança a cabeça
gravemente e abaixa a voz ainda mais, para um sussurro conspiratório — Jess
vomitou em todo lugar, acho que pode ser uma intoxicação alimentar.
Jennifer engasga e empurra sua salada para longe. Não que ela estivesse
comendo alguma coisa, de qualquer maneira.
— Devo, uh, te levar para casa? — Rob me pergunta, meio se levantando e
pairando em uma posição estranha agachada.
— Não se preocupe — Conor acena com a mão. Sua voz carrega tanta
autoridade que eu quase acredito na história que ele está contando — Estamos
indo para a mesma casa. Vou economizar gasolina para você, Robbie.
— Oh, uh. Obrigado — Rob murmura, olhando ao redor como se não tivesse
certeza do que fazer a seguir.
Aiden franze a testa.
— Você está bem, Jess? Você parece um pouco corada.
Sim, mas não é o que você pensa...
Eu fungo um pouco, fazendo minha parte. Eu me sinto um pouco culpada por
enganar Aiden, mas como todo esse pesadelo de um octo-encontro é meio que
culpa dele, minha culpa é superada pelo meu desejo de sair daqui com Conor.
Desculpe, mano.
— Eu vou ficar bem. Só preciso chegar em casa e dormir, eu acho.
— Vamos lá, então. Nós vamos embora — Aiden toma um gole d'água e se
levanta. Toca Brooke no ombro. — Desculpe por encurtar a noite, pessoal.
— Não! — Eu digo. Um pouco alto demais. Todos ficam boquiabertos para
mim, e eu diminuo um pouco a voz — Quero dizer, uh – não, você não tem que
vir. Por que estragar a noite de todos?
— Só eu e Jess comemos as fajitas — acrescenta Conor.
— Mas, eu dirigi até aqui — Aiden tamborila os dedos na mesa.
Oh, droga. Eu tinha esquecido que nós três viemos no mesmo carro até aqui,
por insistência de Aiden. Seu amor pelo meio ambiente é geralmente admirável,
mas agora, é totalmente inconveniente.
Jennifer faz beicinho.
— Eu queria que Conor me levasse para casa.
— Aiden — Courtney estende a mão e faz um movimento de "me dê". — As
chaves do seu carro.
— Por quê? — Aiden exige. Eles se encaram por um longo e carregado
segundo.
— Porque Conor pode levar Jess para casa agora, e eu deixarei você em casa
mais tarde. Quando terminarmos — Courtney suspira como se isso fosse muito,
muito óbvio.
Aiden olha para ela.
— Você não pode decidir isso.
— Eu ainda não me importo de levar Jess para casa se…
— Cale a boca, Rob! — Todo mundo grita.
Rob se calou. Pobre Rob.
— Courtney — Conor aproveita o silêncio momentâneo. — Obrigado por
levar Aiden para casa. Agora, vou tirar Jess daqui antes que ela vomite na mesa.
E com aquela imagem infeliz e nada sexy, Conor me gira nos calcanhares e
me leva para a porta. É como aquela cena fundamental em todo filme de ação,
onde o herói derrama querosene em tudo, acende um fósforo e se afasta vitorioso,
enquanto o mundo explode em carnificina atrás dele.
Lanço um olhar morbidamente curioso por cima do ombro para ver o que
desencadeamos. Jennifer, ainda fazendo beicinho, já está se aproximando de Rob.
Brooke cruza os braços, claramente irritada. Courtney sorri como uma palhaça
de circo e me dá uma piscadela teatral – que ela rapidamente se transforma em
um dramático ato de "há algo em meu olho" quando Aiden olha em sua direção.
E então, eu viro meus olhos para Conor. Ele está caminhando rapidamente,
propositalmente. Um homem com uma missão, que acaba de afirmar sua
autoridade sobre toda uma situação. E ele está com o sorriso mais sexy e confiante
que já vi.
Nunca na minha vida eu quis tanto ficar sozinha com alguém.

Mas, aparentemente, Conor tem uma ideia totalmente diferente do que significa
estar sozinho.
No segundo em que passamos pela porta da frente, eu me movo para beijá-
lo, mas ele me segura, quase no comprimento do braço. Tento fazer beicinho no
estilo Jennifer para protestar contra a mudança repentina de eventos, mas Conor
apenas passa o dedo pelo meu queixo e sorri.
— Devemos nos trocar primeiro, para que nossa pequena charada doentia
seja verossímil se Aiden voltar de repente para casa?
Eu concordo. Poucos minutos depois, eu acabei de colocar uma velha calça de
moletom e uma regata quando uma batida soa na porta do meu quarto.
Meu coração pula na minha garganta, enquanto eu sento, de pernas cruzadas,
na cama.
— Entre.
Conor entra pela porta, dois copos de água gelada equilibrados em uma de
suas grandes mãos. Ele está vestindo uma camiseta cinza claro e shorts de
ginástica, e seu cabelo castanho dourado está úmido e despenteado. Nunca
deixarei de me surpreender com a rapidez com que os homens podem tomar
banho.
— Oi — Ele diz.
— Oi — Eu olho para a colcha, de repente tímida. De repente, muito ciente de
que Conor está em meu quarto.
Conor coloca os copos na mesa de cabeceira e se senta na beira da cama. Tipo,
bem na borda.
— Jess, eu quero falar com você sobre uma coisa — Diz ele calmamente —
Algo que eu deveria ter falado com você antes de tentar beijá-la novamente.
Seu tom grave me surpreende e minha cabeça imediatamente se inclina em
sua direção. Ele parece sério. Muito sério.
— Falar sobre o quê? — Eu pergunto, minhas palmas formigando.
Ele passa a mão pelo cabelo e o ar se enche com o cheiro limpo de seu xampu.
— Você sabe quando Aiden mencionou o encontro duplo com Jennifer?
Eu concordo.
— Bem, você mal hesitou. Você parecia tão ansiosa para me enviar naquele
encontro com outra pessoa. E estive me perguntando: por quê?
Eu mordo o interior da minha bochecha. É uma pergunta válida. Realmente.
Só não sei por onde começar. Como você diz ao homem por quem você se
apaixonou que é apenas uma questão de tempo antes que ele descubra que é bom
demais para você?
Mas, Conor está olhando para mim com aqueles olhos verdes claros, e eu me
lembro da maneira como ele me tirou daquele restaurante. Ele se preocupa
comigo, eu sei disso. Talvez seja hora de mostrar a ele que também me importo.
E isso significa fazer exatamente a coisa que mais me apavora.
É agora ou nunca. É hora de arrancar o band-aid. Salte do avião. É hora de
Conor conhecer a garota que eu realmente sou. Eu respiro fundo.
— Eu não contei a você toda a história com Johnny. Ele... bem, ele me traiu.
— O que? — A voz de Conor é praticamente um latido, e quase salto para fora
da minha pele com o som. Ele se levanta e anda como um tigre enjaulado. Um
tigre feroz pronto para matar — Ele te traiu? É por isso que você terminou?
A vergonha turva minha visão e sinto uma lágrima gorda rolar pela minha
bochecha. Eu rebato.
— Sim. Ele teve um caso. Com Sarah, a garota de quem ele está noivo.
Há uma longa pausa. Quando ouso olhar para cima, mal reconheço o homem
na minha frente. O rosto de Conor está praticamente roxo, seus olhos em chamas.
Seus punhos estão cerrados como se ele estivesse prestes a abrir um buraco na
parede.
— Conor — Eu sussurro, não tenho certeza do que mais dizer.
Ele se assusta com o som da minha voz e se vira para mim. E no segundo que
seus olhos encontram os meus, cada centímetro de raiva é drenado de sua
expressão. Aqueles olhos verdes brilhantes se enchem de suavidade, e ele está ao
meu lado em um instante, me pegando em seus braços.
— Jess, eu sinto muito — Conor murmura em meu cabelo. Sua voz está calma,
mas pressionada contra ele, ouço seu batimento cardíaco selvagem e irregular. —
Lamento que ele tenha feito isso com você.
Eu me afasto de seu abraço para poder olhar para ele. Porque ainda não
terminei com essa admissão humilhante da verdade. Se contar a Conor a verdade
sobre Sarah foi pular do avião, admitir que a próxima parte é queda livre.
— Isso... isso não é tudo — Eu sussurro, minha voz trêmula — É por isso que
terminamos da primeira vez também.
Conor franze a testa, uma pequena peculiaridade em sua testa. Ele abre a
boca, mas eu o interrompo.
— Alguns anos atrás, de repente ele começou a trabalhar até tarde. O tempo
todo. E, por um tempo, eu acreditei nele. Até que fui ao escritório dele para
surpreendê-lo. Ele não estava lá, e a expressão no rosto de sua secretária me disse
tudo que acho que já sabia, no fundo.
Eu me estremeço com a memória angustiante. Como, mesmo depois do
terrível rompimento, mesmo depois de tentar seguir em frente... Johnny havia
voltado. E eu o aceitei de volta. Eu fui tão rápida em acreditar nele quando ele
disse que seria diferente.
Uma poderosa mistura de dor e compaixão passou no rosto de Conor,
entrelaçando-se na ruga de sua testa, na contração de sua boca. Ele fica sentado
muito quieto por um momento, seus olhos cansados na luz fraca do quarto.
— Por que você não me contou nada disso?
— Eu nunca disse a ninguém — Eu balancei minha cabeça. — Nem mesmo
Aiden, embora eu ache que ele tenha uma ideia de que as coisas não estavam
bem entre Johnny e eu. A coisa toda foi simplesmente... humilhante — Eu
encolho os ombros fracamente — E, além disso, quem quer ficar com uma garota
com uma bagagem dessas?
Conor passa a mão pelo meu braço.
— Todos nós temos bagagem, Jess. E você precisa saber que não fez nada de
errado. Isso é com ele. Ele te tratou horrivelmente, e você não merecia nada disso.
Nem por um segundo.
Eu mordo meu lábio, desesperada para acreditar nele.
Então, os olhos de Conor se arregalam um pouco.
— Espere. É por isso que você me disse para ir ao encontro — Sua voz é aguda,
quebrando ligeiramente. — Porque você acreditou que eu faria isso com você
também?
Uma bolha de vergonha incha na minha garganta e outra lágrima escapa do
meu olho quando eu aceno.
— Olha, Conor, eu sou a garota que é trocada por mulheres como Jennifer e
Karla. Mulheres que têm tudo junto, têm suas vidas planejadas. Mulheres que
não aceitam de volta seus ex-namorados traidores.
Minha voz está mais forte do que o pretendido, mas Conor não recua. Ele me
encara, seus olhos fixos em mim. Me apoiando.
Eu esvazio sob seu olhar amável, balançando minha cabeça.
— Eu sou uma bagunça, Conor. Por que você gostaria de estar com uma
bagunça?
Para minha surpresa, os lábios de Conor se inclinam ligeiramente para cima.
Ele pressiona as costas dos dedos na minha bochecha, seu toque suave
enxugando minhas lágrimas.
— Jess — Ele sussurra, suas mãos se movendo para segurar meu rosto. — Eu
gostaria que você não tivesse passado por nada disso. Eu gostaria que Johnny
tivesse te tratado como você merecia, e eu gostaria de poder apagar cada pedaço
dessa dor. Sinto muito, não posso fazer isso por você. Mas, o que posso fazer é
dizer a verdade.
Seus olhos estão fixos nos meus e eu percebo que não estou respirando. Só
estou ciente do lugar onde sua mão se conecta ao meu rosto e as palavras que
saem de seus lindos lábios.
— Você não é uma bagunça — diz ele em uma voz suave e firme. — Você foi
colocada em situações complicadas e seria o suficiente para atrapalhar qualquer
pessoa. Mas, em vez disso, o que você passou a tornou mais forte, mais corajosa,
mais empática.
O mundo gira, e eu descanso minha testa contra a de Conor em uma tentativa
desesperada de me firmar, processar o que ele está dizendo.
Ele sorri suavemente antes de continuar.
— Tantas pessoas ficariam duras e amargas depois de serem tratadas como
você. Mas você? Você continua lutando, continua acreditando no melhor das
pessoas. Você é uma amiga leal e uma irmã incrível, e você é mais doce, mais
talentosa e mais engraçada do que qualquer pessoa que eu já conheci. Quando
eu olho para você, não vejo uma bagunça. Eu vejo uma obra-prima. Eu vejo cada
pedaço do seu lindo coração como uma pincelada na tela, e o resultado é uma
obra de arte.
Suas palavras passam pela minha pele como chocolate derretido e, de repente,
não estou mais em queda livre.
Mesmo depois de tudo que eu disse a ele, toda vez que tentei afastá-lo, ele
está aqui. Meu paraquedas. Eu tentei cortar as cordas duas vezes agora, me
coloquei de volta nas falhas de queda que eu acreditava que me definiam. Mas,
ele segurou, me animando. Decidido em me pegar antes que eu caia.
Mas, não antes de eu ter me apaixonado profundamente por ele.
Ele ainda está olhando para mim, seus olhos brilhando enquanto se
concentram, sem vacilar, em mim. Como se o que eu digo a seguir fosse a coisa
mais importante do mundo para ele.
E eu sei, em um golpe repentino de certeza, que isso é real.
Ele me pegou.
27

CONOR

Um cara de carreira. É assim que sempre me descrevi – um cara que colocou


sangue, suor e lágrimas para dirigir seu próprio negócio para que pudesse... o
quê, exatamente? Comprar um bom veículo, uma boa casa, roupas chiques para
comer em restaurantes chiques?
Além do desejo de cuidar da minha mãe, percebo agora que todas as minhas
ambições na vida foram totalmente egoístas. Todas as minhas motivações
giravam em torno de conseguir coisas.
E eu não quero coisas.
Eu quero a Jess.
Enquanto nos sentamos em seu quarto juntos, minha mão pressionada contra
sua bochecha enquanto ela compartilha algo tão profundo, tão pessoal, tão
significativo, eu sei que uma coisa é verdade – eu me apaixonei por Jess, e, se
meu coração está me conduzindo bem, acho que ela me ama também.
Mas, se quero ser um bom namorado para ela, traçar um futuro com ela, então
a primeira coisa que preciso fazer é parar de ser casado com meu emprego.
Obtenha um divórcio rápido e desapareça daqui. Ou alguma coisa assim. Eu
realmente nunca entendi esse ditado.
Amanhã cedo, vou dizer a Chaz & Chad que o negócio está cancelado. Vou
dizer a Karla que estou diminuindo o ritmo – um projeto de cada vez a partir de
agora. E, antes disso, é hora de dizer a Jess exatamente o que está pesando em
mim. Que é ela. Que eu quero estar com ela de verdade. Que eu a amo mais do
que tudo.
Eu corro minha mão ao longo de sua bochecha, sua pele lisa e
impossivelmente macia sob meus dedos calejados. Meu coração bate mais rápido
com a minha eminente confissão.
— Jess, eu…
— EU SABIA!
Um grito triunfante quebra o momento quando a porta do quarto de Jess se
escancara.
— Eu tinha razão — Um Aiden muito nervoso e de rosto vermelho resfolega
enquanto estende o dedo indicador para nós, sacudindo-o para frente e para trás
como se ele fosse uma bruxa do Halloween. Ele está sorrindo como um maníaco
na vitória – Aiden sempre teve uma veia competitiva. Então, ele parece se
lembrar exatamente SOBRE O QUE ele estava certo, e seu sorriso presunçoso
desliza de seu rosto.
— Vocês não estavam atendendo seus telefones! — Courtney irrompe no
quarto quente nos calcanhares de Aiden, sua expressão em pânico. E... espere, é
a Brooke atrás dela?
Sim.
Ah, e aí está Jennifer. Atirando adagas pelos olhos. Fantástico.
Tudo que preciso agora é que os encontros estranhos de Jess e Courtney... ah,
deixa pra lá. Eles também estão aqui. Rob e o qual-o-nome-dele colocam suas
cabeças em torno do batente da porta para entrar em ação. Por que não fazer uma
festa de verdade?
Jess faz uma careta para o irmão, com as mãos na cintura.
— Alguém pode me dizer o que está acontecendo?
— Eu acho que eu deveria estar perguntando isso a você — Jennifer estala, os
lábios contraídos como se ela estivesse chupando rodelas de limão. — O que
aconteceu com a intoxicação alimentar?
Rob ajusta seus óculos.
— Sentimos muito por nos intrometer assim...
— SHH! — Aiden grita. A ironia disso não passou despercebida.
Ele dá um passo em minha direção e eu me preparo para o que está para
acontecer. Esta é a maneira menos oportuna dele descobrir, mas pelo menos
agora será revelado.
— Vocês não estavam atendendo ao telefone — repete Aiden, como se isso
explicasse tudo. — Então viemos ver vocês.
Courtney olha entre mim e Jess, seus olhos profundamente apologéticos.
— Tentamos ligar para vocês. Eu juro, eu tentei de tudo para impedi-lo de vir
aqui, mas…
O rosto de Aiden fica ainda mais vermelho quando ele se vira para Courtney,
seus olhos brilhando com fogo.
— Você SABIA sobre eles?!
As bochechas de Courtney ficam rosadas.
— Bem, eu…
Ele não espera por uma resposta. Em vez disso, ele se vira para mim – sua
cabeça girando para frente e para trás tão rápido que é como se ele tivesse
assentos na primeira fila do torneio de tênis em Wimbledon.
E estou prestes a ser nocauteado.
— Você e a Jess? — A voz de Aiden cai cerca de uma oitava e é como se toda
a sala gelasse.
Eu mantenho meus olhos em Aiden e levanto minhas mãos com cuidado. Eu
concordo.
— Sim. Mas, Aiden, há algo que você precisa saber...
— Isso é estúpido. Eu vou embora! — Jennifer choraminga, claramente não
tendo tempo para esse drama. Ela gira em um salto alto e sai ruidosamente pelo
corredor. Eu faço uma careta ao pensar nas marcas que seus sapatos podem fazer
na madeira, e então me repreendo. Como se isso importasse agora.
Menos de um segundo depois, Brooke também vacila, e Aiden fica
momentaneamente distraído. Ele põe a cabeça no corredor atrás de Brooke.
— Liga para mim? — Ele resmunga, e então balança a cabeça, passando os
dedos pelos cabelos — Ah, quem eu estou enganando? Ela não vai ligar.
Aiden volta a olhar para mim e sua raiva dispara mais uma vez.
— Isto é culpa sua!
Antes que eu possa falar, Courtney exala alto e revira os olhos. Para minha
intensa surpresa e diversão, ela empurra Aiden – um cara que se eleva sobre ela
– para fora do caminho e passa por ele.
— AGORA NÃO!
Mas, antes que eu possa abrir minha boca, Jess leu minha mente mais uma
vez.
— Está tudo bem, Court — ela diz suavemente — É hora de contarmos a ele.
— Nós provavelmente deveríamos ir — Rob murmura, a primeira coisa certa
que ele disse a noite toda.
— Então vá! — Courtney, Aiden, Jess e eu gritamos em uníssono.
Pelo menos todos nós concordamos em algo.
Eu respiro fundo novamente.
— Aiden, eu estou…
— Conor — Courtney late, agitando os braços como se estivesse dirigindo um
avião na pista — Sua irmã está em trabalho de parto.
QUE?
— É por isso que estamos aqui — ela continua — Aiden recebeu uma ligação
quando ninguém conseguia entrar em contato com você.
Eu olho para Aiden, que confirma.
— A bolsa de Mia estourou esta noite. Um vizinho a levou para o hospital,
mas Pete foi hoje a Savannah para trabalhar. Ele está te ligando. Ele já está
voltando para casa, mas até que ele chegue, você é o encarregado, Conor.
— E, atualmente, você é absolutamente péssimo em seu trabalho — Courtney
disse alegremente.
Minha boca fica seca e eu procuro no meu bolso o meu telefone. Com certeza,
está no modo silencioso e mostrando 52 chamadas perdidas de Pete, Aiden e
Courtney (espere, por que Courtney está aparecendo como um contato no meu
telefone?)
O sangue escorre do meu rosto. Não tenho certeza se estou pronto para
assistir ao nascimento de uma criança. Não tenho certeza se alguém poderia estar
pronto para isso. Jess coloca uma mão reconfortante nas minhas costas, e seu
toque me acalma um pouco.
Até Courtney abrir a boca novamente.
— Anda logo! — Ela me agarra pela manga da camisa e me põe de pé. Não
deixo de notar que ela é assustadoramente forte para alguém tão magra — Esse
bebê não vai esperar você verificar seu telefone a noite toda.
Ponto justo, bem feito. Agora de pé, continuo a olhar para Courtney,
esperando por mais instruções por algum motivo. Ela revira os olhos, então late
outro pedido.
— Aiden, leve Conor para o hospital. Ele parece estar em choque demais para
dirigir.
Aiden se levanta obedientemente, mas sua linguagem corporal é tensa,
enrolada como um tigre. Ele me encara.
— Não pense que essa coisa de bebê vai deixar você em paz. Terminaremos
essa conversa mais tarde.
— Espere, e quanto a Oliver? — Em meio a todo o caos, consigo reunir um
pensamento coerente.
— O vizinho está de olho nele agora — Courtney diz rapidamente, e então se
vira para sua amiga. — Jess, vista-se em algo que você possa realmente usar fora
de casa sem assustar as pessoas. Nós iremos até lá e tomaremos conta dele.
Nós três piscamos para ela e ela bate palmas como uma professora de
educação física muito ansiosa. Se ela tivesse um apito, tenho certeza de que
estaria soprando-o agora.
— Bem, não fiquem aí parados. Vão em frente!
28

JESS

É uma noite muito, muito longa.


Tipo, o tipo de noite que merece uma semana de férias com tudo incluído no
Caribe. Completo com uma espreguiçadeira à beira da piscina e abundantes
pinãs coladas. Não a receita de Courtney, obviamente.
O que é um pouco egoísta, já que não sou eu que sofro uma dor indescritível
por trazer uma vida humana ao mundo.
Mas Oliver é um cara mal-humorado e irritado que não quer uma babá – ele
só quer sua mãe.
"Tia Jess" Como ele tão afetuosamente costumava se referir a mim, foi
substituído por "WAHHHHHHHHHH!" e "EU QUELO MINHA MAMÃ".
Eu me sinto mal pelo garotinho, de verdade. Mas, também me sinto mal por
meus tímpanos. A versão "calmante" de Courtney de "Baa Baa Ovelha Negra"
não está ajudando. Pete me liga de vez em quando para checar e ver se temos
alguma atualização – normalmente é apenas quatro horas de carro de Atlanta a
Savannah, mas ele sofreu vários atrasos nas obras. Claro.
E acabei de ser atingida no rosto por um punhado de iogurte de pêssego.
Maravilhoso.
Depois de algumas horas disso, a criança muito pegajosa e manchada de
iogurte e de lágrimas adormece com a cabeça no meu colo, e Courtney e eu não
ousamos fazer barulho. Em vez disso, olhamos, como zumbis, para Bubble
Guppies berrando na TV.
Eu gentilmente puxo um dos meus braços para longe de Ollie para que eu
possa verificar meu telefone. Ainda nada de Conor. Ou Aiden.
— O que você acha que está acontecendo? — Eu sussurro para Courtney. O
fato de não termos ouvido nada está me deixando super ansiosa, e meu estômago
embrulhou em um milhão de nós.
— Não se preocupe. Tenho certeza de que se Conor e Aiden brigassem, Conor
venceria — Responde Courtney, sorrindo com o pensamento.
— Não ajuda — eu assobio.
Meu irmão é uma pessoa extremamente razoável em geral. E embora ele
tenha descoberto sobre Conor e eu, sem dúvida, na pior das circunstâncias, tenho
certeza de que eles conseguiram ter uma conversa calma e racional sobre a coisa
toda.
Espero.
Quando se trata do silêncio, a verdadeira preocupação é que algo possa ter
dado errado com o parto de Mia. O pensamento faz os nós em forma de pretzel
na minha barriga ficarem mais apertados, e fecho os olhos com força, rezando
para que Mia e o bebê estejam bem...
A próxima coisa que sei é que Pete está me sacudindo para acordar.
— Jess?
— Hurrrrrrrrrgh — Courtney geme. Ela está aninhada em mim no sofá, de
boca aberta e babando no meu ombro. Não pela primeira vez, sinto uma florescer
de gratidão por minha nova amiga. Foi gentil da parte dela ficar por aqui esta
noite quando ela absolutamente não precisava.
Pisco algumas vezes e Pete entra em foco. Ele sorri gentilmente, antes de tirar
Oliver ainda adormecido do meu colo e pegá-lo em seus braços.
— Pete? Quehorasão? — Eu resmungo como um marinheiro bêbado.
— 6 horas da manhã.
Eu pulo em pé, como se alguém acendesse um foguete embaixo de mim.
Agora estou bem acordada.
— O que aconteceu? Mia está bem?
Pete acena com a cabeça e sorri.
— Ela foi levada para uma cesariana de emergência por volta das 2 da manhã.
Adelyn Joy nasceu meia hora depois.
— Oh! — Exclamo aliviada e encantada. — É um nome tão bonito.
— Shhhh — Sussurra Courtney, antes de virar a cabeça e fazer um pequeno
som de ronco.
Pete está positivamente radiante, saltando enquanto embala Ollie em seu
peito. Ele acaricia o cabelo do filho com amor.
— Três quilos e 280 gramas. 52 centímetros. A mãe e o bebê estão bem.
Não tenho ideia se alguma dessas estatísticas é boa ou não. Mas, visto que
Pete parece tão satisfeito, aproveito a deixa para sorrir e parabenizá-lo.
— Você voltou a tempo?
— Eu voltei. Estou muito grato por Conor estar lá com ela nesse meio tempo.
Aiden, Deus o abençoe, estava dormindo na sala de espera quando eu cheguei lá
— Pete parece um pouco com os olhos marejados. — Nada como bons amigos e
família.
Lembro-me do brinde de Pete no churrasco algumas semanas atrás – "para
amigos que parecem família". Na época, fiquei chocada porque não reconheci
aquele sentimento. Aiden sempre foi meu amigo mais próximo e um irmão mais
velho maravilhoso, mas fora dele, eu não me sentia particularmente próxima de
ninguém. Principalmente depois de Johnny.
Mas, avance algumas semanas, e eu entendi. Não só me importo
profundamente com Pete, Mia, Oliver e agora, Adelyn, mas também tenho
Courtney ao meu lado. E, o melhor de tudo, eu tenho Conor... que foi,
rapidamente, de colega de quarto sexy, para novo melhor amigo, para o cara por
quem estou com os-quatro-pneus-arriados. O cara que me protege e gosta de
mim por causa dos meus defeitos, não apesar deles.
Meu coração aquece e eu pego meu telefone de dentro das almofadas do sofá.
Mas, ainda não há nada de Conor. Só posso esperar que Aiden não o tenha
colocado em sua própria cama de hospital em um ataque de superproteção
equivocada.
— Conor ainda está no hospital? — Eu pergunto.
— Tanto Conor quanto Aiden estavam lá quando eu saí. Aiden iria procurar
um café, então acordar o Conor para que eles pudessem estar com Mia e conhecer
o bebê — Diz Pete. Tenho que evitar desmaiar – imaginar Conor segurando um
bebê recém-nascido é o suficiente para me deixar nervosa — Eu vim para casa
para pegar Ollie para que ele possa conhecer sua irmã mais nova.
— Aposto que ele mal pode esperar para conhecê-la — Eu sorrio em lágrimas,
dominada de alegria pelos meus amigos.
— Obrigado por estar aqui ontem à noite, Jess — Pete olha amorosamente
para seu filho que ainda cochila e usa o polegar para limpar uma mancha branca
na bochecha de Oliver.
— Iogurte — Eu ofereço, um tanto inutilmente.
Pete acena com a cabeça como se essa explicação fosse suficiente.
— Vou dar um banho nesse garotinho e alimentá-lo com o café da manhã
antes de irmos, então fique à vontade para ir até lá para encontrar a bebê quando
quiser.
— Com certeza — Eu meio grogue começo a árdua tarefa de me retirar do
sofá, o que está me chamando para me aconchegar de volta para mais alguns
cochilos. — Eu vou para casa e tomar um banho, então vou direto.
É inconveniente, porque adoraria chegar ao hospital o mais rápido possível,
mas o banho é necessário porque tenho meia caixa de iogurte de pêssego presa
no cabelo e não escovo os dentes há 24 horas. Nojenta.
Admito que estou ansiosa para conhecer a bebê Adelyn, mas também gostaria
de verificar toda a situação de Conor e Aiden. Devo interpretar isso como um
bom sinal de que Aiden está pegando café para Conor, mas não me deixa
exatamente confiante que eu não tenha ouvido uma palavra de nenhum deles a
noite toda.
O que diabos aconteceu no hospital?
— Vamos, Bela Adormecida — Eu mexo o ombro de Courtney em uma
tentativa de fazê-la se mexer.
Ela resmunga algo incoerente, mas se senta, enxugando a baba da boca. Ela
se levanta, se espreguiça e me joga as chaves do seu carro. Mas, porque eu não
estou prestando atenção, eles saltam fora meu peito e caem no chão com um
sonoro clank.
— Você pode dirigir? — Ela boceja — Eu estou muito cansada.
— O mínimo que posso fazer — Pego as chaves e dou um pequeno abraço em
minha amiga. Porque é o mínimo.

Eu estaciono o jeep de Courtney na nossa rua no momento em que o sol começa


a aparecer acima das árvores, tingindo as folhas de um ouro cintilante. É aquela
hora perfeita e tranquila do dia, quando o mundo inteiro parece fazer uma pausa.
— Vou dormir uma semana — Courtney se espreguiça no assento ao meu
lado. — Isso foi exaustivo... Lembre-me de nunca ter filhos!
Eu rio de sua piada, mas por dentro, estou mais pegajosa do que uma panela
de brownies mal cozidos.
Porque, embora eu esteja igualmente exausta, e apesar da dificuldade com as
birras e gritos, Oliver adormecer em meus braços fez meu coração aumentar.
Tudo naquele momento – como Ollie cheirava a talco de bebê, como sua
mãozinha de estrela do mar agarrou meu dedo, como seus cílios longos vibraram
em suas bochechas redondas – me fez pensar sobre o quanto eu quero exatamente
isso no meu próprio futuro.
Quero criar minha própria família, criar um lugar ao qual realmente pertenço.
Até o mero pensamento de Conor segurando a pequena Addie recém-nascida me
deixa tonta com a ideia de ele segurar nosso bebê algum dia.
Porque, desde que voltei para Atlanta, minha vida começou a parecer plena
e vibrante novamente. O futuro está repleto de possibilidades e estou lenta, mas
seguramente, ganhando confiança. Quero correr riscos e colocar minha própria
felicidade em primeiro lugar.
Pintar me deixa feliz. Conor também me deixa feliz.
E, o que pode me deixar mais feliz de tudo é o fato de que Conor acredita em
mim com tanta força que estou começando a acreditar em mim mesma.
Eu deslizo para fora do jeep e respiro o ar fresco da manhã. O calor perpétuo
e abafado do verão está finalmente dando lugar a amanheceres bem amenos e
crepúsculos agradáveis.
Nunca gostei tanto do outono. Não apenas porque eu realmente não entendo
o apelo das botas de cano curto ou Latte de abóbora apimentada do Starbucks
(eu sou uma grande cliente do mocha chocolate branco, faça chuva ou faça sol),
mas porque eu nunca gostei da ideia de tudo ter que desmoronar – para morrer
– a fim de crescer novamente na primavera seguinte.
Mas agora, pela primeira vez, eu sinto como se fosse um outono iminente e
compreendo um pouco. Na vida, as estações são inevitáveis e às vezes as coisas
têm que se desintegrar completamente para produzir um crescimento real. E não
importa o quão difícil isso pareça no momento, o crescimento final vale a pena a
dor da perda. Porque, além da perda, há algo novo. Um novo começo de vida.
E por falar em começos de vida, tenho que tomar banho o mais rápido
possível e chegar ao hospital para ver Mia, Adelyn, Aiden e Conor. O homem
por quem me apaixonei. E se não me engano, estava prestes a me dizer que me
ama também... antes que todo o clã do octo-encontro invadisse nosso momento.
Esperança e felicidade aquecem meu peito, e dou outro abraço de adeus em
Courtney ("porque súbito festival do amor, Shaw?"). Então, eu corro em direção
à porta da frente de Aiden, a água do chuveiro refrescante já me chamando.
Porque você sabe que, se Aiden não estiver em casa, usarei seu luxuoso banho de
vapor privativo em vez do chato e comum para convidados.
Enquanto subo a garagem, vejo um grande pacote embrulhado em plástico
bolha na porta da frente. Eu franzo a testa e me aproximo com cautela.
O que diabos poderia ser isso? O carteiro geralmente não chega antes da
tarde.
À medida que me aproximo, noto que há uma nota anexada a ele. Está
desdobrado e colado no topo para que todos possam ver. Então, eu não vou
bisbilhotar se eu ler, certo?
Eu me agacho para decifrar a caligrafia rabiscada.

Devolvendo-os ao seu legítimo proprietário. Algum leilão silencioso haha.


–Karla
Uma sensação totalmente diferente começa a borbulhar em meu peito, a
sensação de desconfiança. Levanto a ponta do papel de embrulho e confirmo que
este pacote é o que penso: minhas pinturas. Da visitação aberta. Aquelas que
estavam em leilão.
O que significa que, se elas estão sendo devolvidas ao seu "dono legítimo"
agora, que ninguém as comprou. Fazendo de mim sua legítima dona.
Conor me disse que havia vários lances. Que as pessoas estavam ficando
loucas por elas, eles as amavam. Que ele não queria me dizer o número final pelo
qual as pinturas foram vendidas porque era uma grande e emocionante surpresa.
Reli a nota de Karla.
Haha. Haha. Haha. Haha.
Sua risada rabiscada zomba de mim e as lágrimas picam os cantos dos meus
olhos, fazendo suas palavras borrarem na página. "Algum leilão silencioso" está
certo.
Conor realmente me fez acreditar que as pessoas gostavam de minhas
pinturas. Que eu poderia fazer isso de verdade, eu só precisava acreditar em mim
mesma.
Meu frágil balão de esperança para o futuro lentamente começa a esvaziar,
vazando ar de um furo. Em vez de entrar na casa, me viro. Caminho em direção
ao meu carro. A ansiedade cresce em mim a cada passo, enquanto me faço a
mesma pergunta repetidamente.
Por que ele mentiria para mim?
29

CONOR

— Você está acordado — diz Aiden rispidamente enquanto fica bem na minha
frente. Ele ainda está usando a camisa e as calças do ridículo encontro em grupo
da noite anterior... embora pudesse ter acontecido com a mesma facilidade no
ano passado. A barba por fazer embala sua mandíbula e seus olhos estão
inchados. E ainda, o fogo de mil sóis se enfurece dentro deles.
Ele está segurando duas xícaras de café, mas pela expressão em seu rosto, não
tenho certeza se ele trouxe a segunda para me dar ou para derramar na minha
cabeça.
— Sim — Eu resmungo nervosamente. — Foi uma noite longa.
Eu me sento na cadeira laranja de plástico do hospital onde eu estou curvado
e esfrego os olhos. Ainda estou envolto em uma névoa de sono. A sala de espera
cheira a uma combinação infeliz de água sanitária e café rançoso, mesclada com
o leve cheiro metálico de sangue. Juntos, isso me dá um pouco de vontade de
vomitar na lata de lixo mais próxima.
Eu não diria que sou um homem sensível. Eu doo sangue regularmente e
frequentemente me pego inclinado para a frente, intrigado, quando há uma cena
de operação acontecendo na série House.
Mas nada poderia ter me preparado para o milagre do parto. É sempre difícil
ver alguém que você ama sofrer... E ver minha irmã com tanta dor não é algo que
eu queira reviver às pressas.
Pete estava horas atrasado, então eu sentei ao lado da cama de Mia durante
todo o início do trabalho de parto. Eu fiz exatamente o que a enfermeira sugeriu,
e obedientemente alimentei ela com pedaços de gelo – até que ela mordeu meu
dedo, é claro.
Aparentemente, essa era sua maneira de comunicar que não queria mais gelo.
As coisas ficaram ainda mais assustadoras quando chegou a hora de ela
empurrar. Segurei sua mão como se eu quisesse salvar minha vida, fechei os
olhos com força e fiz uma oração. As marcas das unhas em minha mão podem
ficar ali permanentemente.
Mas, falando sério, Mia foi uma campeã absoluta. Ela estava calma diante da
ausência do marido, sabendo que ele estava correndo na interestadual para
chegar até ela a tempo. E ela ficou mais calma ainda quando o médico disse que
o novo plano era uma cesariana de emergência.
Eu, por outro lado? Sim, tive que me sentar porque me sentia tonto.
Desmaiei. Com a simples menção de uma cesariana.
Eu estava mortificado. Mas também tonto e precisando de um suco de laranja.
Então, vamos apenas dizer que deixei de ser útil para ser um obstáculo de uma
só vez.
Felizmente, minhas orações foram respondidas na forma de Pete aparecendo
a tempo de ir para a cirurgia com Mia. Caso contrário, havia uma chance de os
médicos tivessem dois pacientes nas mesas de operação.
Passei o resto da noite na sala de espera, balançando para frente e para trás,
traumatizado... Brincadeira.
Na maior parte.
Mas uma coisa é certa – eu tenho uma avaliação totalmente nova de como as
mulheres são duronas, fortes e incríveis. Seriamente. O que eles passam para ter
filhos faz com que nós, homens, parecemos um bando de adolescentes pré-
púberes na academia, vestindo camisetas regatas de cores vivas enquanto
tentamos, e falhamos, no supino até a metade do nosso peso corporal (o que pode
ou não, ser uma história triste, mas verdadeira, sobre Conor de quatorze anos e
seus amigos).
A única vantagem de Pete chegar tão tarde ao hospital era que Aiden estava
dormindo na sala de espera quando eu saí. Eu estava exausto demais para falar,
especialmente sobre mim e Jess. Depois de pegar meu telefone para mandar uma
mensagem de texto para Jess e perceber que não havia área dentro no hospital,
caí em um sono desconfortável, mas muito bem-vindo, sem sonhos.
Agora é de manhã. E Aiden e eu somos os únicos aqui – exceto Cynthia, a
rechonchuda e sorridente recepcionista que está nos observando como se
fôssemos o último episódio do Big Brother.
Eu me pergunto onde Jess está. Ela está vindo?
Aiden considera as xícaras em suas mãos, como se ainda estivesse decidindo
o que fazer com a reserva. O silêncio se estende entre nós como um elástico tenso.
Um que está prestes a estourar.
— Café? — ele diz.
O alívio inunda minhas veias e eu, hesitante e com gratidão, pego a xícara.
— Obrigado.
Ele me dá um pequeno aceno de cabeça.
— Pete veio alguns minutos atrás. Ele está correndo para casa para pegar Ollie
e nos pediu para ficar com Mia e conhecer sua nova sobrinha enquanto ele está
fora.
— Nossa nova sobrinha — eu corrijo automaticamente. Porque, em nosso
grupo de amigos unidos, Aiden se tornará "Tio Aiden" para a bebê tanto quanto
eu sou Tio Conor.
Amigos que são como família, certo? É por isso que preciso me explicar para
Aiden o mais rápido possível. Pelo bem da nossa amizade, que eu realmente
valorizo. Nunca quis quebrar a confiança dele, e é hora de enfrentar as
consequências.
— Aiden, eu… — Eu começo, mas ele levanta a mão.
— Vamos fazer isso depois — Ele parece tão cansado quanto eu. — Mia vem
primeiro agora.
— Ok — eu concordo. Porque não apenas sei que ele está certo, também sei
que preciso deixar essa conversa se desenrolar nos termos dele. Por mais que eu
queira perguntar a ele se ele teve notícias de Jess, sei que não é a hora, nem o
lugar.
E assim, caminhamos, por corredores iluminados por lâmpadas fluorescentes
e cheios de máquinas que zumbem, até a sala 5107, onde encontramos Adelyn
Joy Stevenson pela primeira vez. Ela é linda. Perfeita. Incrível em todos os
sentidos. E pela forma que Aiden e eu reagimos a minúscula humana diante de
nós, esta pequena senhorita vai ser uma menina extremamente mimada.
Sério, estou apaixonado.
— Parabéns, você foi incrível — Beijo minha irmã na testa antes de voltar meu
olhar para a pequena Addie, deitada em seu berço ao lado da cama. Ela tem o
mesmo nariz que Mia e eu temos, o que me faz sorrir. — Como você está se
sentindo?
— Exausta. Dolorida — Mia diz cansada. Ela está mortalmente pálida, sua
voz é baixa e ela estremece cada vez que se move, mas o puro amor e paixão
queimando em seus olhos é o suficiente para me dizer que a dor valeu a pena
para ela, agora que Addie está aqui.
Não pela primeira vez nas últimas doze horas, me permiti imaginar estar
nesta situação com Jess algum dia. Como seria a sensação de estar ao seu lado no
nascimento de nossa filha. Ou filho.
Com sorte, eu me sentiria um pouco menos tonto do que desta vez.
Depois de cumprimentar Mia e arrulhar um pouco sobre Addie, Aiden
afunda em uma cadeira perto da cama. Eu fico desajeitadamente perto, em vez
de sentar na outra cadeira. Tenho a sensação de que Aiden não me quer
particularmente sentado ao lado dele agora.
Mas, perspicaz como sempre, Mia percebe minha hesitação. Ela olha
desconfiada de mim para Aiden.
— Está acontecendo algo com vocês dois?
Talvez seja um toque de delírio por falta de sono adequado, mas minha boca
entra em ação antes que meu cérebro o faça e eu respondo à pergunta de Mia
honestamente.
— Estou apaixonado pela Jess.
— Dã — diz Mia, ao mesmo tempo em que Aiden praticamente grita:
— VOCÊ O QUÊ?
O rosto de Aiden fica branco quando ele lança um olhar em pânico de soslaio
para Adelyn dormindo pacificamente. Satisfeito por ela não estar se mexendo,
ele abaixa a voz para um sussurro e repete: "você o quê?"
Mia abana a mão com desdém, fazendo-a estremecer novamente.
— Oh, por favor, ele está apaixonado por Jess desde o momento em que ela
entrou pela sua porta. O cara não tinha esperanças desde o primeiro dia.
Eu faço uma careta para minha irmã.
— Bem, não foi bem assim...
— Você está apaixonado por ela? — Aiden parece perdido. Além de
atordoado. Como um homem que acabou de descobrir que a água não é molhada.
— Eu nem pensei que você sabia o que era amor.
Eu cruzo meus braços defensivamente.
— Uh, posso dizer o mesmo de você, amigo.
Ele encolhe os ombros, sem se sentir ofendido.
— Exatamente. Achei que você e eu sentíamos o mesmo sobre tudo isso –
amor, relacionamentos, namoro... É por isso que avisei a Jess que você tinha
encontros com toneladas de mulheres e que poderia se jogar em cima dela.
Nojento.
Eu olho para o meu amigo severamente, definitivamente ofendido.
— Com licença?
— Ok, ok — Aiden cede a contragosto. — Não toneladas, mas bastante. O
suficiente para que a última coisa que eu esperasse era que você fosse se
apaixonar pela minha irmã – quero dizer, vamos lá, é um clichê.
— Olha, eu não queria que você descobrisse dessa forma. E, eu sei que parece
ruim, mas acredite em mim…
— Jess parece muito feliz desde que voltei — Aiden me olha com um olhar de
morte súbita, seu tom ameaçador entrando em conflito com suas palavras muito
mais agradáveis. — Você fez isso?
Eu pisco, sem saber exatamente como essa conversa está realmente indo.
— Eu faço o meu melhor para fazê-la feliz todos os dias. Para mostrar a ela
que ela é maravilhosa e que minha vida é muito melhor com ela.
— Sim — acrescenta Mia, os olhos brilhando. — Ele quer dizer sim. Ele fez
isso. Eles fazem um ao outro um estupidamente feliz, é adorável assistir. Você
vai ver.
Aiden olha de mim para Mia e de volta para mim.
— Johnny a deixou infeliz.
— Eu sei — eu digo a Aiden — Jess me contou tudo sobre isso e,
honestamente, estou maravilhado com ela. Jess é uma das pessoas mais fortes,
gentis e compassivas que já conheci. E, eu sei que é muito cedo para ela entrar
em outro relacionamento, mas, eu nunca me colocaria em cena se seus desejos e
necessidades não estivessem em primeiro lugar. Nos meus planos e nos dela.
Porque eu quero construir uma vida – um futuro – com ela.
— Meu melhor amigo e minha irmã — Aiden repete, mais pensativo desta
vez.
— Você está começando a soar como Ross de Friends — diz Mia. O que nos
faz rir.
Aiden torce o nariz, e ele se parece muito com Jess por uma sombra muito
assustadora de segundo.
— Preciso de um minuto para me acostumar com isso.
Mia e eu ficamos quietos enquanto Aiden esfrega a testa, fechando os olhos.
Meu estômago se contorce em um nó nervoso enquanto espero por suas
próximas palavras – porque, embora nem Jess, nem eu, precisamos de sua
permissão para estar com a pessoa que amamos, Aiden significa muito para nós
dois. E, como tal, sua bênção significa muito também.
Finalmente, ele suspira.
— Ela sabe que você a ama?
Eu balancei minha cabeça.
— Eu ia contar a ela ontem à noite, mas…
— Você foi interrompido — Aiden termina.
— Exatamente.
Aiden ajusta a gola de sua camisa antes de se inclinar para frente, seu olhar
fixo em mim como se ele fosse algum tipo de cão de caça premiado, e eu sou a
infeliz raposa.
— Então, me diga, Conor. Se ela ainda não sabe que você a ama — A voz de
Aiden está perigosamente baixa. — Por que diabos você ainda está sentado aqui?
Eu lanço para ele um olhar penetrante, meu rosto um ponto de interrogação.
Aiden acena com a cabeça, e é tudo que preciso.
Ele não precisa me dizer duas vezes. Eu freneticamente coloco meu suéter e
corro para beijar a bochecha da minha irmã.
Mia ri, depois geme de dor e usa algumas palavras bem escolhidas de quatro
letras.
— Saia daqui antes que você abra meus pontos!
— Desculpe, desculpe! — Lanço um olhar de desculpas a Mia, em seguida,
bato no ombro do meu melhor amigo ao passar por ele. Eu chego à porta antes
de voltar a mim mesmo — Uh, vou precisar da chave de algum carro.
Aiden me joga as chaves com uma sugestão de sorriso.
— Estou orgulhoso de você, mano... Mas se você estragar tudo com Jess, se
você machucá-la, você é um homem morto. Compreende?
Tenho certeza de que poderia ganhar de Aiden em uma luta, mas ele não
precisa saber que eu acho isso. Então, eu aceno em concordância.
— Alto e claro.
Aiden sorri de verdade, desta vez.
— Bem, o que você está esperando? Vá atrás dela.
E assim, com tudo finalmente arrumado, corro pelos corredores em direção à
saída do hospital.
Porque se esse fosse realmente um episódio de Friends seria "Aquele em que
Conor e Jess têm o seu Final Feliz".
30

JESS

Eu me sento no estacionamento do Piedmont Atlanta Hospital por alguns


minutos, observando o sol subir mais alto no céu. Ao meu redor, as pessoas vêm
e vão em ondas – famílias felizes segurando balões, uma mulher sozinha com
uma expressão assustada e comprimida e, quando eu finalmente saio do meu
veículo, alisando meu cabelo emaranhado de iogurte, um homem carregando
uma pequena garota com um braço quebrado.
— Olá! — Ela acena seu braço engessado rosa choque, atirando-me um sorriso
sem dentes, rabos de cavalo pretos ondulados balançando.
— Olá — Eu sorrio de volta — Gesso legal.
— Vou tirar isso hoje — Diz a garotinha, sua expressão agora solene — Papai
disse que eu tenho que ser muito corajosa.
Seu pai levanta as sobrancelhas para mim de forma conspiratória.
— Eu disse a Daisy que ela não tem nada com que se preocupar. Tirar o gesso
não vai doer tanto quanto quando ela o colocou.
— Mas eles têm que cortá-lo! — A voz de Daisy aumenta em pânico — E se
cortarem meu braço?
— Eles não vão — seu pai a tranquiliza, colocando um cacho perdido atrás da
orelha de sua filha. — Confie em mim.
Eu vou para o lado do pai e da filha e sorrio gentilmente para Daisy, que está
mordendo o lábio.
— Como você quebrou o braço?
— Patins — Daisy vira olhos escuros brilhantes para mim. — Desci uma
grande colina.
— Uau! — Eu digo. — Você desceu de patins uma colina? Nunca fui corajosa
o suficiente para descer uma colina de patins.
Daisy me dá um pequeno sorriso.
— Mesmo? É muito fácil.
— Para você, talvez. Mas, eu ficaria com muito medo. — Nós chegamos às
portas da frente do hospital e uma rajada fria de ar-condicionado antisséptico nos
cumprimenta quando entramos no saguão.
Daisy balança a cabeça para mim.
— Eu não estava com medo.
— Bem, se você não tinha medo de andar de patins descendo uma grande
colina, certamente não há nada do que temer quando tirar o gesso.
— Eu sou muito corajosa — declara Daisy, seu rostinho contorcendo-se de
determinação.
— A mais corajosa! — Eu respondo, enquanto entramos em um elevador
vazio.
Daisy insiste em apertar o botão do andar certo e, enquanto ela se ocupa, seu
pai murmura um "obrigado" acima de sua cabeça. Eu sorrio, e quando Daisy
termina, eu examino as placas de informações e aperto o botão para o andar da
maternidade.
— Podemos tomar sorvete depois, papai? — Daisy pergunta, suas lágrimas
de pânico esquecidas. Eu sorrio.
— Com certeza podemos, querida.
Ping!
As portas do elevador abrem em seu andar, e desejo boa sorte a Daisy
enquanto aceno adeus. Agora, de pé no elevador sozinha, respiro fundo e solto o
ar lentamente, trêmula.
Porque eu sei que preciso seguir meu próprio conselho. Eu sei que preciso ser
corajosa e confiar. Já caí e provei a mim mesmo que poderia voltar a subir. A pior
dor já passou. Eu estive quebrada, mas os ossos foram restaurados. Posso tirar
meu gesso e seguir em frente.
As portas do elevador se abrem e, preenchida com uma onda de adrenalina e
propósito, eu me impulsiono para frente. E colido com um tórax musculoso
muito familiar pela terceira vez nas últimas semanas.
— Ufa! — Eu gemo, enquanto coloco minhas mãos para me firmar.
— Jess! — Os olhos de Conor se iluminam e ele coloca as mãos nos meus
ombros. Suas mãos grandes são calorosas e acolhedoras. — Você está aqui! Eu
estava indo te procurar, tenho que te contar uma coisa...
É hora de enfrentar meus medos de frente ao invés de fugir. Seja corajosa.
Como Daisy.
— Porque você mentiu para mim? — Eu deixo escapar, interrompendo-o. —
Você não precisava mentir para mim, sabe. Eu poderia ter lidado com a verdade.
A confusão se transforma em rugas na testa de Conor.
— Do que você está falando?
— As pinturas! O leilão silencioso! Por que você me disse que havia vários
lances? — Eu continuo. A velha Jess teria varrido aquilo para debaixo do tapete,
fingido que estava tudo bem. Eu teria me deixado ser enganada. Mas agora não.
Eu sei que mereço a verdade. E, se Conor e eu temos alguma esperança de um
futuro juntos, precisamos ter conversas difíceis e fazer as coisas difíceis quando
for necessário.
— Foram vários lances — diz Conor. Uma bela enfermeira passa e dá a Conor
um sorriso sedutor, mas seus olhos permanecem cuidadosamente treinados em
mim, procurando meu rosto.
— Então, por que todas as minhas pinturas estavam na nossa porta da frente
esta manhã? Com uma nota de Karla dizendo que ela está devolvendo-os ao
"legítimo dono"?
O rosto de Conor fica vermelho. Muito vermelho. Tipo, mais vermelho do que
eu já o vi. Eu não sabia que o homem era capaz de corar – ele geralmente é mais
tranquilo do que um urso polar descansando em uma geleira – mas agora, ele é
beterraba.
— Uh... porque eu sou o dono.
— O que?
Conor sorri timidamente.
— Houve muitos lances, e a senhora que comprou a casa foi a que deu o lance
mais alto. Mas, eu simplesmente não conseguia deixá-las ir. Então, eu apresentei
um lance de última hora para o pessoal do leilão silencioso.
— Seu pequeno cabeçudo sorrateiro! — Estou, literalmente, atordoada.
Ele me olha por baixo dos cílios.
— Me desculpe por não ter te contado. Eu... eu vou pendurá-los na minha
casa quando estiver pronta.
— Por que diabos você faria isso?
— Porque eu amo sua arte, Jess — Os dedos de Conor apertam meus ombros
e ele olha nos meus olhos. — Eu te amo, Jess. E, desde o momento em que você
jogou aquela samambaia idiota em mim, eu sabia que você era a pessoa para
mim. Não há ninguém com quem eu prefira construir uma vida, um futuro, um
lar. O lar é onde está o coração... e meu coração pertence a você, Jessica Shaw —
Ele dá um pequeno sorriso esperançoso que faz meu coração doer de amor por
ele — Se você quiser, é claro.
Solto um suspiro lento e trêmulo, a força da revelação de Conor se
estabelecendo em mim, deslizando sobre meus ombros como um moletom
aconchegante que se encaixa perfeitamente.
— Eu também te amo, Conor Brady — eu digo, enlaçando meus braços ao
redor de seu pescoço e puxando-o para perto. Porque Conor e eu, juntos? Nós
nos encaixamos perfeitamente. E apesar dos milhões de motivos pelos quais não
deveríamos ter nos apaixonado, cada uma dessas peças se encaixou
perfeitamente.
Conor se inclina para me beijar e fico imediatamente perdida nele. Mas,
depois de alguns segundos, ele se afasta. Funga.
— Jess?
— Hmm? — Eu digo sonhadora, ainda envolvida na sensação do nosso beijo.
— Por que você cheira a iogurte?
31

JESS

DEZ MESES DEPOIS ...

— O que você acha? — Eu pergunto, gesticulando em um taa-daa! É um dia


quente e ensolarado de primavera em Atlanta, e o ar está pesado com o doce
aroma de mel das flores de azaleia.
Courtney está ao meu lado, parecendo chique como sempre em um macacão
de linho branco que combina com sua grande mochila preta. Mas, sua expressão
está totalmente impressionada quando ela abaixa os óculos escuros e olha para a
adorável (se é que posso dizer) van azul marinho com escrita roteirizada branca
que acabou de parar na nossa frente.
Ou talvez ela apenas não esteja impressionada em ver quem está no banco do
passageiro.
Aiden pula do banco do passageiro e corre para me dar um abraço.
— Ei, J — Ele sorri solenemente, em seguida, estreita os olhos quando seu
olhar muda. — Courtney.
— Encantador como sempre, Aiden — Courtney cruza os braços sobre o peito
e devolve o olhar de desprezo em dividendos.
— É Príncipe Encantado para você.
— Mais como o sapo — Courtney retruca.
— Ei, ela beijou o sapo também. Lembra?
— Parem, crianças — eu digo sem entusiasmo, sabendo que minhas palavras
são inúteis. Isso não é novidade para Aiden e Court – na verdade, a coisa mais
surpreendente sobre aquela pequena conversa foi o notavelmente bom
conhecimento de Aiden sobre os filmes de princesas da Disney.
— Você gostou da van ou o quê? — Conor bate a porta do lado do motorista
e caminha em nossa direção de uma forma que me faz querer reconsiderar nossa
festinha e arrastar meu marido direto para o quarto.
Nosso quarto. Em nossa casa. Em nossa cama, na qual dormimos juntos,
enrolados um no outro como suportes de livros, todas as noites nos últimos cinco
meses. Desde que dissemos: "Sim".
Meu irmão mais velho brincou que nos daria sua bênção no segundo que
Conor me transformasse em uma mulher honesta. Então Conor aceitou o falso
desafio e se casou comigo o mais rápido que podíamos fazer um casamento
acontecer.
E todos os dias desde então até agora, Conor me fez sentir mais amada e mais
querida. Mesmo quando deixo manchas de café na bancada.
Depois que oficialmente ficamos juntos, Conor foi morar com Mia e Pete até
o nosso casamento. Ligado instantaneamente à pequena Addie, Conor estava
feliz o suficiente por morar com eles no seu hospício luminoso e barulhento com
alguns minúsculos novos colegas de quarto temporários. E Mia disse que ele era
um hóspede extremamente útil, até mesmo se levantando para trocar algumas
fraldas no meio da noite. Ela se referiu a ele como seu "babó", que eu acho que
ele gostava secretamente.
Continuei a ficar com Aiden, desfrutando de bons momentos com meu
melhor e único irmão mais velho, e Conor e eu passamos cada momento livre
trabalhando na nova casa – e projetamos cada centímetro quadrado do lugar
juntos. Acontece que trabalhamos bem como uma equipe, nossos talentos se
sobrepõem perfeitamente e se suavizam mutuamente.
Quando a casa foi finalmente concluída – minhas pinturas em todas as
paredes – tivemos uma bela cerimônia em nosso quintal. E então, empurrei
Conor na piscina. Por vingança, você sabe. Só porque sou casada, não significa
que tenha ficado toda mole e amorosa em todas as oportunidades.
— Oi amor — eu sorrio para Conor enquanto ele envolve seus braços fortes
em volta de mim e acaricia meu cabelo. Tanto Courtney quanto Aiden
redirecionam seus olhares em nossa direção.
Sim, então eu devo estar mentindo sobre a coisa amorosa e melosa.
Mas, o amor faz coisas incríveis para uma pessoa. E, se minha melhor amiga
e meu irmão largassem todo o seu fandango de inimigos-torturados, talvez eles
acabassem com algo incrível também. Mas hey, essa é outra história para outro
dia.
— Desculpe pelo atraso! — Mia diz quando a própria van da família
Stevenson – um veículo de sete lugares, três filas, fantasia de carro da mãe-do-
futebol – para em frente à nossa casa.
— Não é tarde — Eu corrijo — Perfeitamente na hora certa.
Hoje à noite, vamos dar uma festinha no jardim para nossos amigos. Luke e
Mindy, que agora são um casal, estarão presentes. Mindy e eu nunca seremos
melhores amigas, mas ela se acalmou logo depois que ela e Luke ficaram juntos.
Ela também nunca tentou roubar meu namorado. Não que ela poderia ter tido
sucesso.
Karla, por outro lado, não estará presente. Ela e Conor seguiram caminhos
separados, profissionalmente. A última vez que soube, ela se especializou em
coberturas no centro da cidade para os tipos de pessoas mais urbanas. O que
parece ser mais a velocidade dela.
A festa só começa daqui a uma hora, mas reunimos Courtney, Aiden, Mia,
Pete e as crianças mais cedo para a revelação da grande van.
Pete sorri e acena enquanto sai da van-da-mamãe-do-futebol e começa a
desafivelar Oliver. No segundo em que ele está livre, a criança corre em nossa
direção, de braços abertos.
— Tia Jess! — Ele envolve seus braços pequenos e rechonchudos em volta da
minha canela, e eu bagunço seu cabelo.
Courtney, enquanto isso, desce para ajudar Mia com a bebê Adelyn, que
aparentemente mudou sozinha a opinião da minha melhor amiga sobre a coisa
de "sem filhos". Ela pega Addie em seus braços, arrulhando para ela e acariciando
suas bochechas grandes e rechonchudas.
— Não deixe o bebê cair — Murmura Aiden, mais para si mesmo do que para
Courtney. Porque até ele sabe que seria uma má ideia ela ouvir isso.
Mia corre e envolve a mim e a Conor em um grande abraço coletivo.
— Eu amei sua nova van, pessoal. Amo, amo, amo isso.
Seus olhos são grandes e brilhantes e, embora Mia sempre transborde de
positividade, ela está suspeitamente entusiasmada com a van. Como se ela
soubesse de algo.
Eu olho de lado Conor, mas ele apenas dá de ombros e murmura:
— Eu não disse a ela.
— A Família Brady — Pete lê lentamente a escrita na lateral de nosso novo
veículo de negócios.
Mia aplaude e eu sorrio com a forma como o nome soa. Sorrio ao pensar em
tudo o que isso significa para nós.
Você vê, Conor e eu nos divertimos tanto reformando nossa casa e projetando
uma casa dos sonhos para passarmos juntos para sempre, que ele percebeu que
trabalhar assim era infinitamente mais gratificante – e agradável – do que vender
peças de conserto baratas e vendê-las para compradores sem nome e sem rosto
por meio de corretores de imóveis e visitações públicas.
Quando Conor considerou os últimos anos, os únicos projetos que chamaram
a atenção dele foram a casa que ele reformou para a sua mãe e o trabalho que ele
fez na casa de Aiden. Seu destaque foi ver os rostos das pessoas de quem gostava
depois de terminar o trabalho e ser capaz de dizer "bem-vindo ao lar".
E então, depois de nosso casamento e nossa lua de mel turbulenta na Costa
Rica (menos passeios do que eu esperava, mas vimos muito do interior do nosso
quarto de hotel), estamos trabalhando em nosso novo empreendimento conjunto.
Renomeamos Brady Homes para ser nosso novo negócio familiar – A Família
Brady. Concentramo-nos na modernização das casas históricas, mantendo ao
mesmo tempo o seu encanto e o seu carácter original. E então, criamos um design,
móveis e obras de arte perfeitos para unir nossas transformações.
E, para meu deleite absoluto, minha arte é tão popular que, na verdade, vendo
algumas à parte. Para quem não precisa de reforma, apenas uma lufada de ar
fresco na decoração da casa. Eu até recebi uma ligação de um comprador
anônimo na cidade de Nova York na semana passada, mas não tenho tempo ou
inteligência para pensar em quem poderia ser. Estou muito ocupada sendo feliz
e realizada e perseguindo os meus sonhos.
E, claro, A Família Brady tem outro significado...
— Só não tenho certeza sobre o nome — Courtney franze a testa novamente
— Na série de TV The Brady Bunch, eles tinham, tipo, um milhão de filhos. E
família sugere alguns. Você sabe, como um cacho de bananas? E há apenas dois
de vocês... — Seus olhos se estreitam de repente — A não ser que…
As cabeças giram para olhar para mim, e não consigo tirar o sorriso do rosto.
Eu olho para Conor. Aceno com a cabeça.
Mia grita.
Courtney soltou um enorme "UUOOOO!"
E Pete e Aiden apenas piscam em confusão.
Meu marido lindo, maravilhoso e incrível coloca a mão no braço do meu
irmão mais velho.
— Você vai ser um tio, de novo.
Não sei quem começa, mas de repente, estamos nos abraçando. E, conforme
me inclino para o calor das pessoas mais próximas que tenho em minha vida,
sinto o braço de meu marido em volta de mim, forte e firme. E (eu culpo os
hormônios por isso), tão de repente, estou chorando.
— Eu te amo, Jessica Brady — Conor sussurra em meu ouvido. Eu inclino
minha cabeça para olhar para ele, e a visão de seus olhos verdes brilhantes faz
meu estômago revirar com uma mistura agora familiar de amor, desejo e
felicidade pura e desenfreada.
— Também te amo — eu sorrio para ele em meio às minhas lágrimas de
alegria.
Porque, finalmente, estou em casa. Onde eu pertenço.

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