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— Sem sono?
Questiono, um pouco rouca, quando desisto de tentar me manter
dormindo. Vejo Beatriz sentada no chão do seu quarto, próxima da
porta da varanda, com a cabeça encostada de lado na parede e
olhar fixo na garoa insistente que ainda cai lá fora.
Certamente já passam das quatro da manhã, mas não consegui
realmente pegar no sono. Depois de comermos, engatamos em uma
cantoria que adentrou a madrugada, mas lá pelas duas e meia os
tios da garota resolveram ir embora, e mesmo morrendo de
saudades, seus pais também se renderam ao cansaço.
Eu, Bea e Pedro ainda ficamos um tempo conversando, mas a
comilança toda nos deixou preguiçosos, por isso, decidimos subir
para os quartos.
Ao ouvir minha pergunta, a garota desvia o olhar da rua e me
lança um sorrisinho.
— Te acordei?
— Não, perdi o sono. E você?
— Acho que é o jetlag, vou demorar uns dias ainda para
conseguir entrar no ritmo.
Afasto as cobertas e vou até ela, me sentando do outro lado da
guarnição. Imito sua postura, abraçando meus joelhos e
acomodando meu rosto no vão entre eles. Bea me fita com atenção
e eu faço o mesmo com ela.
Está usando uma regata fininha branca e uma calça de moletom
cinza como pijama, embora esteja abafado lá fora, o ar
condicionado do seu quarto deixa o ambiente em uma temperatura
muito mais agradável. Os cabelos estão presos em um coque alto,
ela disse que costuma usar uma touca de cetim, mas ficou com
preguiça de procurar nas malas.
— Gostou da noite? — pergunta baixinho.
— Muito, sua família é demais.
— Eles são, nossa… Não sei como aguentei tanto tempo longe.
— Você nunca veio visitá-los durante o intercâmbio? — Bea nega
com a cabeça. — Não consigo nem imaginar o quanto sentiu falta
de casa, eu não vejo meus pais há uns… Sei lá, quinze dias, e já
estou em cólicas.
— Com o passar do tempo, você se acostuma. Só que tem
aqueles dias em que tudo que você queria era chorar no colo da sua
mãe e você não pode, nesses dias eu quebrava. Ficava louca de
saudade e cogitava desistir de tudo — ela desabafa.
— O que te fazia ficar?
— Eles — ela solta um suspiro e vejo um sorriso largo se formar
em seu rosto. — Ao mesmo tempo que sentir falta deles me fazia
querer voltar imediatamente para casa, eu sabia o quão orgulhosos
eles estavam por eu ter sido aceita no processo de bolsas. Desde
que o processo de sucateamento das universidades federais
aumentou, o programa internacional se tornou ainda mais difícil e
porra… Eu estava representando o Rio de Janeiro numa faculdade
na Inglaterra, sabe?
— Isso é gigantesco — comento.
— É. Principalmente pra minha família, se somos o que somos
hoje, se temos o que temos, nós devemos tudo à universidade
pública. Meus pais foram os primeiros das suas famílias a
conseguirem um diploma de graduação, os primeiros a atingirem um
doutorado, os primeiros a conseguirem uma vida confortável. Isso é
enorme pra nós, sabe?
Essa não é nem de longe a minha realidade, mas o peso de cada
uma das suas palavras é sentido por mim. Seria impossível não
sentir, e se eu já admirava os Andrade por sua hospitalidade, agora
também os admiro por sua força e perseverança.
Não é fácil mudar de vida através do estudo no nosso país, os
obstáculos são inúmeros, ainda mais para pessoas negras, mas
saber que eles conseguiram, que Cristina e Jorge abriram portas
que jamais irão se fechar no legado da família deles, e que Bia e
Pedro estão dando continuidade a isso com orgulho… Nossa, isso
me enche de admiração e felicidade.
— Vocês são incríveis, sério. Quanto mais eu conheço, mais eu
quero conhecer — digo, um tanto atônita.
— Vai conhecer — ela assegura, estendendo a mão em minha
direção e tocando delicadamente o meu braço. — Vê se não some
quando voltar pra BH, viu?
— Se eu sumisse, você morreria de saudade. Vou te poupar de
tamanha tristeza — falo num tom teatral e ela dá risada, se
aproximando de mim o suficiente para nossos pés se tocarem. —
Você fica bonita quando sorri.
— Você fica bonita de qualquer jeito — ela retruca, rápido o
suficiente para me pegar desprevenida.
Mordo o lábio, nervosa, e seu olhar se prende nesse ato por
alguns segundos. Minha mente trabalha a todo vapor, buscando
alguma forma de reverter a situação e é quando um estalo surge.
— Ei! Se lembra do que me disse mais cedo? — pergunto.
— Depende, eu te disse muitas coisas.
— “Respostas só depois de três cervejas” — repito suas
palavras. — Já bebemos bem mais do que três e eu tenho algumas
perguntas.
— Mas agora eu já estou sóbria de novo, não vale — ela
reclama, deitando-se no chão com a barriga virada para cima.
— Claro que vale, você não especificou as regras. — Imito-a,
deitando-me ao seu lado.
— O que quer saber? Deixo você perguntar três coisas, nada
além disso.
Rio nasalado, porque sei que ela está tensa.
— Por que estava nervosa mais cedo? — Começo, só para testar
o terreno.
— Fico nervosa quando falo com garotas bonitas. Elas me tiram
do eixo.
Na lata. De novo, eu não estava preparada.
— Eu tiro você do eixo?
— Te conheci num banheiro de aeroporto e há alguns minutos
atrás você estava dormindo na minha cama, acho que é meio auto-
explicativo — ela responde e nós duas damos risada. — Última
pergunta, vai.
De canto, vejo-a se virar de lado, dobrar o braço e usar a mão
para sustentar o rosto. Faço o mesmo, ficando de frente para ela
agora.
Tê-la tão perto é um estrago de níveis extremos ao meu auto-
controle.
— E-eu… — começo, ainda sem coragem.
— Você…?
Fecho os olhos e exalo com força. Posso estar prestes a fazer
uma grande merda, mas é o que dizem: quem não arrisca, não
petisca. Abro minhas pálpebras vagarosamente e encontro as íris
castanhas de Beatriz me encarando na quase penumbra, a luz
branca do poste da rua entra pela porta de vidro numa faixa fina,
deixando metade do seu rosto totalmente iluminado.
As bochechas salientes estão coradas, talvez pelo frio do ar
condicionado, os cílios curtos batem uns contra os outros conforme
ela pisca e os lábios cheios se remexem de um lado para o outro,
entregando que ela está um pouquinho nervosa.
Tão linda e tão fofa que eu sinto que vou explodir de tanto
admirá-la.
— Jade? — chama a minha atenção, me arrancando de um
pequeno devaneio.
— Sim?
— O que quer perguntar?
É agora ou nunca. Eu consigo.
Levo uma mão até a lateral do seu rosto e, sem tirar os olhos dos
seus, acaricio a pele macia com o polegar, notando sua respiração
acelerar de súbito e sua cabeça instintivamente inclinar-se na
direção do meu toque.
É um carinho sutil, mas seus olhos ganham um brilho vívido e
eles param de me fitar unicamente para se fixarem na minha boca.
Encaro isso como a dose de coragem que eu precisava.
— Beatriz?
— Hm? — ela murmura, entretida demais com o carinho que
recebe.
— Eu posso te beijar?
— Por favor!
Dou risada do seu tom beirando o desespero, e então, aproximo
meu rosto do seu devagar. Escorrego minha mão da sua face para a
sua nuca e, com os olhos fechados, chego ainda mais perto,
tocando meu nariz com o seu em uma carícia gostosa antes de
selar seus lábios em um beijo suave e demorado.
Sinto sua mão subir para a minha cintura, firme e certeira,
puxando meu corpo para ficar colado ao seu. Entreabro meus lábios
devagar, e no instante em que sua língua escorrega para dentro da
minha boca e eu sinto seu gosto, é como se meu coração tivesse se
transformado em uma Sapucaí lotada, ou quem sabe em um
Mineirão no minuto de um gol decisivo do clássico entre Cruzeiro e
Atlético.
Eu nunca presenciei nenhum dos dois momentos, mas se eu
tivesse que imaginar a sensação, acho que deve ser mais ou menos
como esse beijo.
É explosivo, mágico, cada uma das minhas células aquece e
vibra em resposta.
Como se eu estivesse esperando exatamente por isso há anos.
Por esse beijo, esse gosto, esse calor e, muito possivelmente, essa
garota.
Eu não sei como, mas Beatriz Andrade me traz a sensação de
que algo dentro de mim já a aguardava pacientemente. Sinto como
se fôssemos velhas conhecidas, ou qualquer coisa que não duas
estranhas.
Há pessoas que entram nas nossas vidas de maneiras
surpreendentes e aquecem nossos corações como se já estivessem
acostumadas a habitar neles. Não é como se houvesse uma
explicação, ou como se precisasse, elas simplesmente chegam com
os dois pés na porta.
Cabe a nós aceitar e viver para descobrir que coisas incríveis o
futuro nos reserva.
Nos afastamos brevemente, por falta de fôlego, e quando meu
olhar encontra o seu, sou arrebatada de vez pelo brilho alegre que
toma suas pupilas. Ela parece fascinada.
— Bonita, cheirosa, beija bem e mora longe. — Ela encosta a
testa na minha e suspira, fazendo drama. — Coitadinha de mim.
Solto uma gargalhada forte, e ela se aproveita do momento para
me derrubar completamente e ficar por cima de mim. Meu riso cessa
no mesmo momento.
Beatriz me esquadrinha, varrendo cada centímetro meu com as
íris escuras e atentas. Posiciono minhas duas mãos uma de cada
lado do seu rosto e a fito com a mesma atenção, querendo gravar
cada milésimo de segundo desse momento, porque sei que vou
querer me lembrar dele em detalhes por um longo tempo.
— Acho que esse foi o Natal mais maluco da minha vida —
confesso.
— Pelo menos teve ceia e rabanada — ela diz, divertida. —
Depois eu te mando um presente pelos correios, vou ficar devendo
isso. Não estava preparada.
Rolo os olhos e inclino a cabeça para cima, deixando meus lábios
quase colados aos seus.
— Pode me dar o meu presente agora — falo sorrindo.
— Ah é? E o que quer?
— Me beija mais um pouco — peço, baixinho, completamente
mergulhada no seu cheiro gostoso e na sensação de tê-la deitada
sobre mim.
— Só um pouco? — provoca, soltando a respiração devagar.
— Temos umas duas horas e meia até eu ir embora… — sugiro.
— É realmente pouco, mas ainda é alguma coisa.
Dito isso, sua boca se choca contra a minha e eu me derreto sob
o seu corpo. Os beijos são exploratórios, doces e muito, muito
viciantes. Acho que vou me lembrar disso pro resto da minha vida, e
voltar para BH vai ser uma droga, porque agora que sei como essa
garota conseguiu mexer comigo com tão pouco tempo, ela ficará
entranhada em cada maldito espaço do meu cérebro.
Eu tô tão ferrada.
FIM.
INGREDIENTES
1 pão de rabanada grande
3 ovos
1 xícara de leite integral
2 colheres de chá de extrato de baunilha
3 colheres de açúcar mascavo (que você pode substituir por
açúcar normal)
aproximadamente 150g de brigadeiro tradicional
açúcar de confeiteiro para enfeitar
MODO DE PREPARO
Comece misturando os ovos, o leite, a baunilha e o açúcar bem
para não ficar com cheiro de ovo.
Em seguida, corte seu pão em fatias de aproximadamente 2
dedos de largura e depois faça um corte no meio, mas sem separar
completamente o pão.
Adicione o brigadeiro, recheando bem, mas sem exagerar!
Logo após, hidrate o pão já recheado na mistura de leite e ovos,
até o pão começar a amolecer.
Esquente bem uma frigideira, adicione 2 partes de óleo para 1 de
manteiga até cobrir o fundo da panela, deixe ficar bem quente e
então adicione suas rabanadas. Virando quando ficarem bem
douradinhas.
Faça em fogo baixo para cozinhar a mistura de ovos de dentro do
pão. Escorra num papel toalha.
Finalize com açúcar de confeiteiro peneirada.
INGREDIENTES
MASSA
1 lata de leite condensado
1 xícara de leite de vaca
4 ovos inteiros
CALDA
1 xícara (chá) de açúcar
1/3 de xícara (chá) de água
MODO DE PREPARO
CALDA
Em uma panela, misture a água e o açúcar até formar uma calda.
Unte uma forma com a calda e reserve.
MASSA
Bata todos os ingredientes no liquidificador e despeje na forma
caramelizada.
Leve para assar em banho-maria por 40 minutos.
Desenforme e sirva.
AAAAAAAAAA.
Chegamos ao fim de mais um livro. Confesso que ainda não
estou acreditando que consegui colocar mais um casal do
maryverso no mundo, principalmente esse, que é tão significativo
pra mim.
Em primeiríssimo lugar, meu agradecimento vai para você, leitor,
que deu uma chance para essa obra, para essas meninas e para o
meu trabalho. Muito obrigada, mais uma vez, por entre tantos livros
na Amazon, você ter escolhido apoiar uma autora brasileira e
independente. Isso significa muito, mesmo!
Um agradecimento enorme para todos os profissionais envolvidos
com a preparação deste livro, desde a betagem até a leitura crítica,
revisão, diagramação, capa, ilustração, divulgação… Vocês são
maravilhosos.
Quero agradecer também a minha família, por todo o apoio que
recebi ao lançar o meu primeiro livro, “Como Eu Não Me Apaixonei
Por Você”, que me abriu grandes portas dentro do mercado
independente e fez com que a escrita pudesse sair do imaginário e
se tornar, de fato, a minha profissão.
Nessa obra, no entanto, eu peço licença para todos aqueles com
quem divido sangue, sobrenome e amor, para agradecer em
especial a ela: Viviane Dionisio.
Mãe, obrigada por tantos ensinamentos ao longo da vida, por ter
feito por mim e pelo meu irmão o possível e o impossível, por ter
nos criado com tanto zelo, carinho, amor e respeito. Obrigada pelas
chamadas de vídeo para matar a saudade, pelos conselhos quando
eu cheguei a duvidar de que eu realmente deveria continuar
escrevendo, por todas as vezes em que precisei me reencontrar e
seus braços foram o porto seguro onde me repousei.
Se hoje sou tudo que sou, devo muito a você. Obrigada por,
desde que eu era bem pequena, você ter me ensinado sobre a
importância do amor, e sobre como ele deve ser livre dos
preconceitos que a sociedade nos impõe.
Tenho muito orgulho da mulher, mãe e ser humano que você é.
Obrigada pelo carinho e acolhimento que você me deu naquele 04
de dezembro de 2020 quando me assumi pra você, eu nunca vou
me esquecer das suas palavras: “eu fico feliz porque você vai poder
ser livre muito antes do que eu pude”.
Obrigada por ser uma referência para mim, e por ter me mostrado
o quão revolucionário é quando uma mulher ama outra mulher sem
medo de ser feliz. O mundo nem sempre é gentil conosco por isso,
mas ter você ao meu lado nessa luta me faz ter sede por mudanças.
Para que nunca mais nenhuma garota precise chamar o amor da
sua vida de “amiga” para “amenizar” o fato delas serem um casal.
Mamãe, eu te amo muito e me inspiro muito em você cada vez
que defendo e luto por um mundo mais justo e com menos ódio.
Obrigada por ser você.
Agradeço aos meus orixás por me protegerem e me guiarem
nessa estrada louca que é a vida, porque eu não seria nada sem
eles.
A Samara Rigueiro, Isabel Schumann e Júlia Alves, meu tão
amado grupinho, por fazerem os dias na faculdade serem um pouco
menos caóticos, e por cuidarem tão bem de mim. Obrigada por
serem a minha família.
A Caroline Kimura, Marcella M, Brooke Mars, Nicole Casagrande,
Englantine e Beatriz Bernardo, por tornarem a loucura que é ser
escritora uma experiência que trata mais sobre ganhos do que
perdas. Por me ouvirem, me darem broncas (e também muito amor),
e me tornarem uma profissional e pessoa melhor por estar
crescendo junto de vocês.
A Beatriz Holtz, minha amiga e social media INCRÍVEL, por ter
feito o planejamento e execução impecáveis da divulgação desse
livro. E também por todo seu apoio e carinho comigo e com o meu
trabalho.
E um obrigada especial para Renata, a moça do Starbucks perto
da minha casa onde eu sempre passo boas horas escrevendo, por
ser tão gentil em dias que o trabalho me deixa esgotada e ter
sempre boas histórias para contar.
E por último, mas nem um pouco menos especial, obrigada
Nando Reis por encantar o mundo com suas canções, por ter sido a
injeção de vida nas minhas veias ao longo desses meus recém
completados 20 anos, e por ter feito história na música deste país.
Você é e sempre será um dos nomes mais geniais da cultura
brasileira.
No mais, obrigada você por ter lido até aqui.
Nos vemos em breve em um novo livro.
Com todo o amor do mundo, da sua escritora carioca (favorita ou
não)
Mary Dionisio.
Mary Dionisio é carioca da gema, nascida em plena primavera da
cidade maravilhosa. Romântica incurável, descobriu sua paixão pela
escrita logo cedo, e começou a criar mundos através das palavras
aos onze anos, em um caderninho que a acompanhava nas aulas
de matemática.
Atualmente vive em Niterói, onde realiza sua graduação em
Letras na Universidade Federal Fluminense, mas sempre que
possível viaja pelo mundo através das suas histórias.
Publicou seu primeiro livro em 2022, de forma independente.
“Como Eu Não Me Apaixonei Por Você” que conta com mais de 7
mil exemplares vendidos e mais de 5 milhões de páginas lidas pelo
Kindle Unlimited.
Em suas redes sociais Mary compartilha um pouco da rotina de
uma jovem que se divide entre ser uma graduanda e uma escritora
independente, mantendo uma relação próxima e divertida com os
seus leitores/seguidores, o famoso “grupo”.
Para saber mais sobre seus futuros trabalhos, não deixe de
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[1]
Expressão regional. Significa “ao relento”.
[2]
Olá, eu posso ajudar você? em inglês.
[3]
Orixá de religiões de matriz africana associado à metalurgia e às batalhas. No Rio de
Janeiro, é associado — pelo sincretismo cristão — ao santo católico São Jorge.